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ROTAS E MERCADOS

REGIA0 AUTÓNOMA DA MADEIRA


A MADEIRA E O MERCADO DO AÇUCAR
Séculos XV - XVI

Centro de Estudos de História do Atlântico


aviein@nesos.net

"...Valestodos cheios de açúcar que aspergiam muito pelo mundo"


[Gomes Eanes de Zurara, Crónica de Guine, Cap. 111

A cana-de-açricar está indissociavelmente ligada a afirmação do espaço


atlântico a partir do século XV'.A rota do açúcar, na transrnigração do Mediterrâ-
neo para o Atlântico, tem na Madeira a principal escala. Foi aqui que a planta se
adaptou ao novo eco sistema e deu mostras da elevada qualidade e rendibilidade.
Deste modo quem quer que seja que se abalance a uma descoberta dos canaviais e
do açúcar na vetusta origem no século XV, tem obrigatoriamente que passar pela
i lha.
A Madeira manteve uma posiqão relevante no processo de expansão da
cultura, por ter sido a primeira área do espwo atlântico a recebe-la. E, por isso
mesmo, foi aqui que se definiram os contornos da realidade sócio-económica, que
teve plena afirmação nas Antilhas e Brasil. A cana-daaçúcar iniciou a diaspora
atlântica na Madeira, onde surgiram os primeiros contornos sociais (a escrava-
tura), técnicos (engenho de água) e político-economicos (trilogia rural) que mate-
rializaram a civilização do açúcar. Por tudo isto torna-se imprescindível a análise
da situação madeirense, caso estejamos interessados em definir o percurso do
açricar no mundo atlântico.

Segundo Vitorino Magalhhes Godinho [Mito e mercadoria, Utopia e prática de navegar.


Sicnlos XIII-XYIII, Lisboa, Difel, 1990, p.4781 "A genese do mundo atlântico esti pois, em grande
parte, ligada Aquilo a que Fernand Braudel chama muito apropriadamente as dinlmica do açucar.".
A referência tem a ver com o livro O Mediterrâneo e o Mundo Mediierrânico na kpoda de Filipe 11,
Lisboa, 2 vols, 1983
O século XV marcou o inicio do processo de transmutação do mercado
aqucareiro, que a centúria seguinte confirmou. Na Europa do século XVI a
Madeira e as Canárias eram conhecidas como as ilhas do aç6ca?. Jogo Galego,
em finais do século XVI, apresentava assim a Madeira: " es ysla adonde se cargan
muchos navios y naves de asucaY3. O centro de divergência das rotas transferiu-
se do Mediterrgneo para o Atlhtico. A Madeira ensaiou com sucesso a cultura,
que passou a fazer-se de forma intensiva, levando a elevada disponibilidade do
produto. Este facto chamou a atenção dos agentes e capitalismo europeu, que se
lanparam ao assalto da ilha e aos novos mercados que se sucederam4.
O açúcar tardou muito tempo em entrar nos hábitos de consumo. A raridade
levou a que o consumo fosse limitado e que a venda se fizesse por muito tempo
nas farmáciasdNa Europa medieval, o preço, o uso e procura definiam-no como
uma especiaria. Desta forma em 1472 alguns comerciantes tentavam persuadir os
madeirenses da euforia açucareira, dizendo que "o açiicar é mantimento
voluntário e non ne~esskio"~. A mesma opinião tem o infante D. Fernando que
recomenda cautelas no fomento da cultura, uma vez que o consumo nos mercados
europeus era de 10.000 arrobas, quando a ilha já produzia o dobro6. Estes dados
provam que a forma de exploração da cultura na ilha aconteceu de forma diferente
daquilo que até então vinha sucedendo, passando-se a uma produqão em larga
escda que viria a provocar algumas crises de superprodução e uma quebra gene-
ralizada dos pregos. A mudança foi o prelúdio de uma nova era no comércio e
e x p d o do aqhcar.
A planta e o produto, antes de chegarem A Madeira, tiveram um passado de
mais de setecantos mos na bacia mediterrânea, por influência dos árabes. A
cultura expandiu-se a Siria, Egipto, Andaluzia, Marrocos, Sicilia e Chipre.
Mercadores árabes e venezianas foram os principais promotores das rotas de
expansgo m c w i a l que, rapidamente, suplantaram o recinto atlântico e expandi-
ram-se ate a Europa do Norte. Em meados do século XV a cukura chegou a
Madeira, erxmnlmndo condiqões para uma produpão em larga escala, que vai por

A. Rumeu de Armas, Cndrias y e1 Atlântico. Piraterius y ataques Navales, Las Palmas,


1991, vol. 1,283.
Citado por V, Magalhães Godinho, Os Descobrimentos e A Economia Mundial, vol. 11,
p.79.
Afirma: "dwastdora do antigo equilíbrio, a cana é tanto mais perigosa quanto e apoiada
por um capitalismo poderoso, que, no século XVI,provém tanto de IGlia, como de Lisboa ou de
Antutrpia, e ao qual ningu6rn consegue resistir" [F. Braudel, O Mediteraneo e o Mundo
Mediterrânico na época de Fiiipe 11, Lisboa, 1983, vol. I, p.1 781
V. Magalhães Godinho, Os De.scobrimentos e a Economia MuPtdiul, vol. 11, p.75.
O documento de 3 de Setembro de I472 estA publicado no Arquivo Histórico da Madeira, vol. XV,
1972, pp.62-65.
Esta preocupação surge em dois documentos do Infante: cartas de 14 de Julho de 1469 e 8
de Junho de 1470, Arquivo Histbrico da Madeira, vol. XV, 1972, pp.45-47, 52.
em causa os mercados mediterrânicos. A pressão da Madeira sobre as áreas pro-
dutoras do Mediterrâneo fez-se sentir rapidamente7.Em 1477 a região de Gandia
foi a primeira iutea açucareira inediterrânica a sentir os efeitos da concorrência do
açúcar, que se afirma pela qualidade e preços Já em princípios do séc. XVI o
mesmo efeito devastador da concorrência madeirense atingiu a sicília9.Os valo-
res de produção não permitem comparaqão, pois enquanto a Madeira atinge valo-
res superiores às 100,000 arrobas, chegando a mais de duzentas mil em princípios
do século XVI, A Sicilia e outras áreas do Mediterrâneo, pelos valores que são
conhecidos, estão muito longe. Como reflexo disso o açúcar madeirense começa a

C
invadir o mercado mediterrânico sob o controlo dos venezianos. Estes em 1494
compraram na Sicilia 130 cântaros, enquanto da Madeira receberam, passados
dois anos, 3000 ~ántaros'~.
A Madeira afirmou-se, entre o último quartel do século XV e a primeira
metade da centúria seguinte, como o principal mercado a~ucareiroeuropeu, des-
tronado os mais directos competidores no Mediterrâneo, como a Sicilia e
Granada. Esta alteração ocorreu também ao nível dos agentes e dos principais
centros distribuidores, O açúcar, que era quase um exclusivo de árabes e venezia-
i nos, abriu-se a novos agentes e mercados. A partir de 1526 com o açúcar atlân-
I
i tico, da Madeira ao Brasil e As Antilhas, eclipsou-se a posição dos venezianos e
/ da sua cidade com centro redistribuidor do açúcar.

O desenvolvimento sócio-econoinico do mundo insular articula-se de modo


directo, com as solicitações da economia euro-atlântica. As regiões periféricas do
centro de negócios europeus ajustaram o desenvolvimento económico as necessi-
dades do mercado europeu e às carências alimentares europeias. Depois, passaram
a mercado consumidor das manufacturas de produçlo continental em condições
vantajosas de troca para o velho continente e, finalmente, intervbm como inter-
mediário nas ligações entre o Novo e Velho Mundo. A partir de princípios do
século XVI, o Meditewüneo Abldndico define-se como centro de contacto e apoio
ao comércio africano, indico e americano.

FÁBREGAS GARCIA, Adela, Prohccidn y comercio de Amicar en e1 Mediterrdneo


medieval. E1 ejemplo del Reino de Granada, Granada universidad de Granada 2000. pp.2 10.2 12
a PEREZ VIDAL, José, Lcr Cultarrn de Ia Caiia de Amcar em ei Levante Espafiol, Madrid,
CSIC, 1973, p.43
' Carmelo Trasselli, Storia dello Succhero Siciliano, Roma, 1982, pp. 19, 183.: Giovanni
Rebora, Un 'irnpresa Zuccheriera dei Cilaquecento, Nápoles, 1968, pp.56-58
'O Camelo Tríisselli, Storia de110 Succhero Siciliano, Romq 1982, p.246
A rudo isto acresce que os interesses da burguesia e aristocracia dirigente
peninsular se cruzaram no processo de ocupação e valorização económica das
novas sociedades e economias insulares. Esta componente peninsular foi refor-
çada com a participaçgo da burguesia mediterrânica, que apareceu atraída por
novos mercados, fácil e rápida expansão dos seus negbcios. Um grupo de italia-
nos ligados as grandes sociedades comerciais mediterrânicas participa activa-
mente no processo de reconhecimento, conquista e ocupaç8o do novo espaqo
atlântico. A sua penetração no mundo insular ficou facilitada e levou-os a alcan-
çar uma posição muito importante na sociedade e economia. O investimento de
capital de origem mercantil, nacional ou estrangeiro surgiu apenas numa Óptica da
nova economia de mercado, sendo gerador de novas riquezas adequadas is soti-
citações da troca. O comércio foi o denominador comum para os produtos a intro-
duzir, sendo valorizados os que activavam as rotas e o tráfico comercial. A cana-
de-açiicar e o cobiçado produto final, o açúcar, detém aqui uma posição cimeira.
A Madeira foi no começo o mais importante entreposto, Os descobrimentos alia-
ram-se ao comércio e, por isso, desde meados do século XV, manteve-se um trato
assíduo com o reino, activado com a disponibilidade das madeiras, urzela, trigo e,
depois, o aqiicar e vinho. Este movimento que se alargou h-cidades nórdicas e
mediterrânicas motivou o aparecimento de estrangeiros interessados no comércio
do açúcar.
Segundo opinião de Vitorino Magalhães Godinho o regime de trocas em
torno do comércio do qúcar madeirense nos séculos XV e XVI oscilava "entre a
liberdade fortemente restringida pela intervenção quer da coroa quer dos podero-
sos grupos capitalistas, de um lado, e o monopólio global, primeiro, posterior-
mente um conjunto de monopolio cada qual em relqão com uma escápula de
outra banda"". O comércio apenas se manteve em regime livre até 146912,altura
em que a baixa do preço veio condicionar a intervenpão do senhorio, que estipu-
lou o exclusivo aos mercadores de Lisboa. Mas nada disto agradou ao madei-
rense, habituado que estava a negociar com os estrangeiros, Mesmo assim o
Infante D. Fernando decidiu em 1471l 3 estabelecer o monopólio a uma companhia
formada por Vicente Gil, Álvaro Esteves, Baptista Lomelim, Francisco Calvo e
Martim Anes Boa Viagem, Desta decisão resultou um aceso conflito entre a
vereação e os referidos contratadores, Passados vinte e um anos a ilha debatia-se
ainda com uma conjuntura difícil no comércio açucareiro, pelo que a coroa reto-
mou em 1 4 8 8 'e~ 1495'~ a pretensgo do monopólio, mas apenas conseguiu impo

li Os Descobrimentos e Economia Mundial, vot. [V,p.87


l2 Arquivo Histdrico da Madeira, vol. XV(1972), pp.45-47, carta de D.Fernmdo de 14 d
Julho.
13
Arquivo Histbrico da Mudeira, vol. XV(1972), p.57, carta regia de 16 de Outubro.
l4 Arquivo Histdrico da Madeiro, vol. XV(1972), pp. 209-210, carta do Duque de 25 de Abril.
'' Arquivo Histórico da Madeira, vol. XV(19721, p.3 13, carta do Duque de 3 de Setembro.
um conjunto de medidas regulamentadoras da cultura, safra e comércio, que ocor-
rem em 1490~" 149617. Esta política, definida no sentido da defesa do rendi-
mento do aqúcar, saldou-se num fracasso, pelo que em 149818 foi tentada uma
nova solução, com o estabelecimento de um contingente de cento e vinte mil
arrobas para exportação, distribuídas por diversas escitpulas europeias.
Estabilizada a produção e definidos os mercados do açiicar, a economia
madeirense não necessitava de t8o rigorosa regularnentaqão, pelo que em 149919o
monarca acabou com algumas das prerrogativas estipuladas no ano anterior,
mantendo-se, no entanto, até 1508~' O regime de contrato para venda seiido revo-
gada toda a legislação anterior, ficando o trato em regime de total liberdade.
O foral da capitania do Funchal de 1515 enuncia: "os ditos açúcares se poderão
carregar para o Levante e Poente e pera todas outras partes que os mercadores e
pessoas que os carregarem aprouver sem lhe isso ser posto embargo algum"21.

I MERCADORES, BOTICAS E CONSUMIDORES

A Madeira atraiu a primeira vaga de mercadores forasteiros, mercè da prio-


ridade atribuida a cultura dos canaviais no processo de ocupaqão. Só o impediram
as ordenanças limitativas da sua residência na ilha. Todavia, em meados do século
XV a coroa facultou a entrada e fixação de italianos, flamengos, franceses e bre-
tões, por meio de privilégios especiais, como forma de assegurar um mercado
europeu para o agúcar, Mas, o impacto e a influência destes foi lesivo para os
mercadores nacionais e coroa, pelo que se foi necessário impedir que os mesmos
pudessem "asy soltamente trautar todos", pelo que o senhorio proibiu a sua per-
manência na ilha como vizinhos, A questão foi levada lis cortes de Coiinbra de
1472-1473 e de Évora em 1481, reclamando a burguesia do reino contra o rnoiio-
pólio de facto, dos mercadores genoveses e judeus no comércio do açúcar, pro-
pondo a sua exploração nesse regime a partir de Lisboa.
O monarca comprometido com esta posição vantajosa dos estrangeiros,
mercê dos privilégios que Llies concedera actuou de modo ambíguo procurando
L salvaguardar os compromissos anteriormente assumidos e as solicitaqões dos
i moradores do reino ao estabelecer limitações à sua residência no reino e

'"rquivo Histórico da Madeira, vol. XV(l972), pp.229-231, carta do Duque de 1 1 de


Janeiro.
"A I * ~ U ~ V LHistórico
I $n Madeira,vol.
XV(1972), p.3 13, carta de 3 de Setembro.
IB
Arquivo Histdrico da Madeira. vol. XV(1972), pp.372-380, carta de 2 1 de Agosto.
Ig Arquivo Histórico da Madeira, vol. XV(1972), pp.385-387,carta de 20 de Março.
2o Arquivo Histórico da Mudeira, vol. XV(1972), pp.5040-505, cartas rkgias de 8 e 17 de

ai
U.Mendonça Dias, A Vida de Nmsos Avós, vol. 2, Vifa-Franca do Campo, 1944,32-44.
fazendo-a depender de licengas especiais. Quanto a Madeira foi a impossibiIidade
da sua vizinhança sem licença expressa da coroa e a interditação da revenda no
mercado local, A Câmara, por seu turno, baseada iiestas ordenações e i10 desejo
expresso dos seus moradores ordenara a sua saida até Setembro de 1480, no que ,
foi impedida pelo senhorio. Somente em I489 foi reconhecida a utilidade da
presença dos mercadores estrangeiros na ilha, ordenando D. João I1 ao duque
D. Manuel, entãio Duque de Beja, que os estrangeiros fossem coiisiderados como
"naturaes e vizinhos de nossos regnos"22.
Na década de noventa, de novo, os problemas do mercado a~ucareirocon-
duziram ao ressurgimento desta política xenófoba. Os estrangeiros passaram a
dispor de três ou quatro meses, entre Abril e meados de Setembro, para comerciar
os seus produtos, não podendo ter loja e feitor na cidade. Somente em 1493
D.Manuel reconheceu o prejuízo que as referidas medidas causavam A economia
madeirense, afugentando os mercadores, pelo que revogou todas interdições ante-
riormente impostas23.As facilidades concedidas a estadia destes forasteiros
conduziram B sua assiduidade bem como a fixação e intervenção na estrutura fun-
diária e administrativa.
A comunidade de mercadores estrangeiros na Madeira foi dominada pela
presença de italianos, flamengos e franceses, que surgem no Funchal atraídos pelo
tão solicitada "ouro branco". Os florentinos e genoveses foram, desde meados do
século XV,os principais agentes do comércio do açúcar alargando depois a sua
actuavão ao domínio fundiário, possível por meio da compra e laços matrimo-
niais. Na década de setenta, mediante o contrato estabelecido com o senhorio da
ilha, detinham já uma posição maioritária na sociedade criada para o comércio do
açúcar, sendo representados por Baptista Lomellini, Francisco Calvo e Micer
Leão. No irltimo quartel do século juntaram-se Cristóvão Colombo, João Antóiiio
Cesare, Bartolomeu Marchioni, Jerónimo Sernigi e Luis Doria. A este grupo

l2 F. MAURO, ibidem, p. 225; ARM, RGCMF, T, I, fls. 5v0-6, Lisboa 6 de Outubro de


1471, carta rkgia sobre o trauto do açúcar, in Arquivo Histdrico da Madeiro, Xv, 57; ibidem,
fls. 148-148v0, Breja, 5 de Março de 1473, carta da infanta C . Beatriz acerca dos estrangeiros, in
Arquivo Hisf6rico da Madeira, XV,68; H, Gama BARROS, Ibidern, X, 152-153; Ibidem, Vol. 330;
V. RAU, O açúcar na Madeira /.../, p. 26, nota 27: Monurnenta Henricina, XV,Coimbra, 1974,87-
89; ARM, CMF, no 1298, 8. 37, 22 Dezembro de 1484; Ibidern. fl. 68, 15 de Abri! de 1486; Ibidem,
fl 87P, 7 de Junho de 1486; ARM, RGCMF, T. I, fls. 292.293, Lisboa, 7 de Agosto de 1486;
ANTT, Gavetas, XV-5-8. ~vora,22 de Dezembro de 1489, sumarido in As Gavetas da Torre do
Tombo, TV, Lisboa, 1984, 169-170.
23 H. Gama BARROS, ibidern, X, 155; Fernando Jasmins PEREIRA, Alguns elementos para
o estudo da Historia económica da Madeira (...I, 139-162; ARM. RGCMF,T. 1, fls. 262v0, Torres
Vedras. 12 de Outubro de 1496, in Arquivo Histbrico da Madeira, XVII, 350-358; ibidem, no 1302,
fls. 83-83v0, 26 de Novembro de 1496; ARM,RGCMF, T. I, fls. 291 P-292, Lisboa 22 de Março de
1498 in Arquivo Histórico da Madeira, XVII, 369. Veja-se Alvaro Rodrigues de AZEVEDO
"Anotações",in Saudades da Terra, Funchal, 1873,68 1-682.
seguiu-se, em princípios do século XVI, outro mais numeroso que alicerçou a
comunidade italiana residente, destacando-se, aqui, Lourenço Cattaneo, João
Rodrigues Castigliano, Chirio Cattano, Sebastião Centurione, Luca Salvago,
Giovanni e Lucano Spinola.
O estrangeiro para manter a amplitude de operações comerciais nas ilhas
contava com um grupo de feitores ou procuradores: Gabriel Affaitati, Luca
Antonio, Cristovão Bocollo, Matia Minardi, Capella e Capellani, João Dias, João
Gonçalves e Mafei Rogell. O grupo inicial é, na sua maioria, coi~stituídopor ita-
lianos, ligados ao comercio do açricar, e que os segundos pertencem a algumas
famílias mais influentes da ilha.
Os mercadores-banqueiros de Florença destacaram-se nas transacções
comerciais e financeiras do açúcar madeirense no mercado europeu. A partir de
Lisboa, onde usufruíam uma posição privilegiada junto da coroa, controlaram
uma extensa rede de negócios que abrange a Madeira e as principais praqas euro-
peias: primeiro conseguiram da Fazenda Real o quase exclusivo do comércio do
açúcar resultante dos direitos reais por contrato directo a que se seguiu o exclu-
sivo dos contingentes estabelecidos pela coroa em 1498. Assim, tivemos Barto-
lorneu Marchioni, Lucas Giraldi e Benedito Morelli com uma intervenção desta-
cada no trato do açúcar, na primeira metade do século XVI. A manutenção desta
rede de negócios foi assegurada pela acção directa dos mercadores, seus procura-
dores ou agentes sub estabelecidos. Benedito Morelli em 1509-15 10 tinha na ilha,
como agentes para o recebimento do aqúcar dos quartos, Simão Acciaiuolli, João
de Augusta, Benoco Amador Cristbvão Bocollo e António Leonardo. Marchioiii
em 1507-1509 fazia-se representar por Feducho Lamoroto. João Francisco
Affaitati, crernonês, agente em Lisboa de uma das mais importantes companhias
comerciais da época, participou activamente neste comércio entre 1502 e 1526,
conseguindo os contratos de compra e venda dos açúcares dos direitos reais
(1 5 16- 15 18, 1520- 152 1 e 1529) e pagamentos em açúcar a troco de pimenta.
O mesmo actuou, ainda, em sociedade com Jerónimo Sernigi, João Jaconde,
Francisco Corvinelli e Janim Bicudo, quer isoladamente, tendo para o efeito coino
feitores e procuradores na ilha, Gabriel Affaitati, Luca António, Cristóvão
Bocollo, Capela de Capellani, João Dias, João Gonçalves, Matia Manardi e
Maffei Rogell.
A afirmação deste grupo de mercadores na sociedade madeirense foi evi-
dente, sendo resultado do usufruto de privilégios reais e do relacionamento fami-
liar. A intervenção é notada na estrutura administrativa, abrangendo os domínios
mais elementares do governo, como a vereaqão e as repartiçaes da fazenda, todas
com intervenção directa na economia açucareira. São maioritariamente proprietá-
rios e mercadores de açúcar, que se instalaram nas terras de melhor e maior pro-
duqão, tornando-se nos mais importantes proprietários de canaviais. E o caso de
Rafael Cattano, Luís Dória, Jogo e Jorge Lomelino, João Rodrigues Castelhano,
Lucaç Salvago, Giovanni Spínola, João Antão, João Floreilça e Simão Acciaiuolli
e Benoco Amatori.
Os franceses e flamengos, a exemplo dos italianos, surgiram na ilha, desde
finais do século XV, atraídos pelo comércio do açficar, não se enraizrtram na
sociedade insular. O seu interesse era única e exclusivamente a aquisição do açú-
car a troco dos arteactos, alheando-se da realidade produtiva e administrativa.
O caso de João Esmeralda e a excepção. A presença francesa foi muito activa,
afirmando-se nas operaç6es de troca em torno do açúcar, na primeira metade do
século XVI, surgindo com frequência nas comarcas do Funchal, Ponta do Sol,
Ribeira Brava e Calheta, onde adquiram grandes quantidades de açúcar que trans-
portavam nas suas embarcaqões aos portos franceses. Neste trato evidenciaram-se
mestre Antániu, Archeiern, Antbnio Coyros, Antonio Caradas e Francisco Lido.
Os últimos afiavam a Madeira i rede de negócios das Canárias, uma ramificação
das p p s n a i w e andaluzas.
As &pulas, até 1504, e o produto dos direitos reais eram canalizados ao
mercado eurq~u,quer por carregação directa, quer ainda, por negiicio livre ou a
troco de pimenta. Este açucar era arrendado por mercadores ou sociedades
comereiriis, d a d o s em Lisboa. Neste grupo destacam-se os italianos, como João
Francisco Pr&M e Lucas Salvago.
As -rações comerciais em torno do açúcar, no periodo de 1501 e 1504,
estivema amtmiizwdas em mercadores ou sociedades comerciais que, a partir de
Lis- wntmlavam o trato por meio de uma complicada rede de feitores e p r ~
cu- A sua intervenção, dominante nos três primeiros decénios do século,
decresceu da forma acentuada na última década. Isto atesta que os mercadores,
em fw da -juntura de instabilidade do mercado açucareiro madeirense nos
prjimeimstzintaanos, o fizeram substituir pelo de ou&as origens.
A p m m y de italianos na Madeira deriva, não só, da sua forte implantação
na península e manifesto empenho na revelação do novo mundo, mas também, da
ilha se haw tmnsformado numa importante área de produção e comércio do
açúcar. Em Portugal e Csistela procuraram os portos ribeirinhos de maior ani-
mação comercial, e evidenciaram-se como mercadores, mareantes e banqueiros.
Aqui, os oriunda de Génova e Florença, cidades de grande animaçgo mmercial e
marítima, abriram novas vias para o comércio com o mercado mediterrânico.
A partir de Lisboa ou W i s intervinham, primeiro, no comércio peninsular, e,
depois, nas navegações e actividades de troca,
Os italianos, pala al4m de divulgadores de novas técnicas comerciais,
foram, depois dos árabes, os promotores da expansão de algumas culturas, como a
cana-de-açiicar. A posi@o charneira da península itiilica propiciara a hegemonia
no mercado Mediterrâneo, onde foram os principais interessados no comércio de
açUcar oriental. Por isso era inevitável a sua presença na expansão para Ocidente
da cultura e comércio: primeiro em Chipre e Sicília e, depois, em Valença e iio
1 Algarve. O maior ou menor impacto da sua presenqa, depende da dimensão
i adquirida por esta cultura. Deste modo no Mediterrâneo Atlântico é mais elevada
a sua presença na Madeira e nas Canarias, do que nos ca ores^^. Note-se que em
ambos os arquipélagos eles adquiriram uma posição proeminente na agricultura e
comercio, sendo o açúcar o principal iilteresse.
De acordo com a informação de Jerónimo Dias Leite, o Infante D.
Henrique liavia mandado buscar à Sicília, na década de vinte, canas "pera se
possarem na ilhav2', mas Valentim ~ernandes~' referia ein 1506 que elas teriam
vindo de Valença, onde então se cultivavam. cadamosto2' ao descrever, em inea-
dos do skculo XV, a ilha estabelece inúmeras comparações entre a Madeira e a
Sicilia, mas em relaçãlo ao açúcar refere apenas que "o dito senhor mandou pôr
nesta iiha muitas canas, ...".será que ele se esqueceu de referir a relação entre
I ambas as ilhas através da referida cultura?
I A par disso convém salientar que no ~ l ~ a r vou e *em
~ Valença a cultura se
> encontravam associados italianos, nomeadamente genoveses. Os genoveses
acompanharam o périplo da cana-de-açúcar para Ocidente e depois além-Atlân-
tico. Por outro lado este empenho genovês no mercado atlântico terh a ver com a
perda de posipão mo mercado rnediterriinico, mercê da rivalidade com Veneza e
das ameaças propiciadas com o avanço turco. A perda de influência no mercado
açucareiro cipriota foi compensada com a intervenção privilegiada nas ilhas
atlânticas2'. A eles associaram-se os f l ~ r e n t i n o sOs
~ ~ venezianos
. continuaram até
meados do século XVI empenhados no mercado do Mediterrâneo Orieiital, de que
Chipre foi, a partir de 1489, um dos principais pilares.
A rede de negócios estabelecida pelos italianos no Novo Mundo manteve
! as mesmas características das que tinham na Europa do Norte e Muiido
Mediterrânico. A familia foi a chave do sucesso, a garantia da execução em plena
segurança e a continuidade das referidas operações3'.A partir daqui foi possível
estabelecer a estrutura dos negócios, que tinha como porto de divergência a
cidade de origem. No caso do espaço atlântico podia ser Cádis ou Lisboa, impor-
tantes centros de confluência e divergência das rotas comerciais do Novo Mundo.

" Alberto VIEIRA, O Comércio Inter-Insular nos Séculos XV e XVI, Funchal, 1987.79.
Descobrimento da Ilha da Madeira I..), Lisboa, 1947, 102.
25

2" O rnanilscrito de Valentitn Fernandes, Lisboa, 1940. p. 1 1 1.


"Navegações...",in A Madeira vista por Estrangeiros, Funchal, 198 1, 36-37.
Note-se que em 1404 k referenciado em Quarteira um João da Palma, mercador
genovês, com terras de canas, veja-se H. Gomes de Amorim PARREIRA, "Histbria do Açhcar em
Portugal", in Anais (Junta de Investigações do Ultramar, vol. VII, t. 1 , 1952, 18-19.
29 Confronte-se F. C. LANE, Venise une République maritime, Paris, 397-398.
30 Confornte-se Alberto VIEIRA, ob. cit., quadros ni 1 e 3, 8-9-10,
31
! F. C. LANE, ob. cit.. 198; Manuel LOBO CABRERA, E1 Comercio Canario Ezwopeo
r BajoFelipeII,Funchal,1988,197.
Tendo em conta a importância que a Madeira e Canárias assumiram no
comércio do açúcar dos skulos XV e XVI, parece-nos inevitável a presença da
comunidade italiana, nomeadamente genovesa, nos principais portos de ambas as
ilhas32.AS representações em Lisboa e Chdis de algumas casas ramificaram-se até
aos portos do Funchal, Las Palmas e Santa Cruz de Tenerife e, a partir daí, surgiu
uma nova rede de negócios. E de realçar a existência em ambos os arquipélagos
de agentes ou familiares da mesma casa: os Adornos, Lomelinos, Justinianos, di
Negros, Salvagos, Espindolas e ~ o r i a s ~ ~ .
A presença da comunidade italiana na ilha, não obstante as resistências
iniciais, foi salutar, porque eles, para além de propiciar o maior'desenvolvimento
das relafles de troca em torno do açiicar, foram portadores das novas técnicas e
meios de comércio. A eles se deve o incremento das companhias e sociedades
comerciais e o uso das letras de câmbio nas vuItuosas operações comerciais. Os
florentinos experientes nas transaqões financeiras, surgem com grande destaque,
sendo de realpar a acpão de Feducho Lamoroto e de Francisco ~ a ~A epar~disso ~ .
a rede de negócios em torno do aqúcar, foi recriada e incentivada por estes
mercadores, que através de familiares e amigos lançaram uma rede de negócios.
O seu domínio atingiu, não só, as sociedades criadas no exterior e com
intervençgo na ilha, mas também, o numeroso grupo de agentes ou feitores e pr*
curadores sub estabelecidos no Funchal. São várias as sociedades, em que inter-
vém os italianos, para o comércio do açúcar ou arrendamento dos direitos reais.
Bendito Morelli e Bartolomeu Marchioni, sobrinho e tio, que viviam em Lisboa,
actuavam em conjunto no trato do açúcar por meio de outros italianos, como
Feducho Lamoroto, Benoco Amador, que foram seus agentes. A par disso partici-
param ein sociedade com outros italianos - Simão Acciauolli, Luís Dória e
António Spinola - no arrendamento dos direitos de 15 16.I 5 1835. Entretanto, no
período de 1506 a 1508, Benoco Amador, tio de Simão Acciauolli, que foi pro-
curador destes, havia participado noutras duas sociedades para arrendamento dos

32 Sobre os italianos em Canbias veja-se I. M. Gomez GALTIER, "E1 genoves Francisco de


Cerca, prestamista y comerciante de orchilla en Las Palmas de Gran Canaria en cl decenio 1517-
1526", in Revista de Historia, XXIX, La Laguna, 1963-64;L.de LA ROSA OLIVEIRA. "Francisco
Riberol y Ia colonia genovesa en Canarias", in Estudos Hisfbricos sobre 10s Canarias Orientales.
Las Palmas, 1978, 169-289; M. LOBO CABRERA, "Los mercadores italianos y el comercio
azucarero c a n a 0 en Ia primem metad de1 siglo XV", in Aspecti deila vito economica medieval,
Firenze, 1985, 268-282; M. MARRERO RODRIGUES, "Genoveses en Ia colonízación de Tenerife
1496-1509", in Revista de Historia, XVI, La Laguna, 1860, 52-65; H. SANCHO DE SOPRANlS,
"Los Sopranis en Canarias 1490-1620", in Revista de Historia, La Laguna, 1951.3 18-336.
Conforntese Alberto ViEIRA, O Comércio hter-lnsuiar (..), quadros nis. I e 3; Manuel
LOBO CABRERA, Ei Comercio Canario Europeo Bajo Felipe I!, pp.-188- 198.
" Albem VIEIRA, ob. cii., 59,
'' Fernando Jasmins PEREIRA, O Açricar Mndeirense I . .), 68-93.
direitos do açúcar e da alfândega, com outros compatrícios - Quirino Catanho,
,Feducho Larnoroto.
Quanto ao comercio de açúcar, desde a década de setenta, que estes vinham
tuando em sociedades para tal fim,Na primeira que conhecemos participavam
ista Lomelino, Francisco Calvo e Micer leão, tendo como objectivo o
ércio de todo o aqúcar produzido na ilha. Com as escápulas definidas ein
8, surgiu em 1502 uma sociedade em que intervem António Salvago, João
rancisco Affaitati, Jerónimo Sernigi, Francisco Corvinelli e Jogo Jaconde, todos
italianos, para a venda das trinta mil arrobas das escápulas para os portos mediter-
râneos - Águas Mortas, Liorne, Roma e Veneza. O primeiro destes detinha uma
importante rede de feitores ou procuradores em que se destacam Gabriel Affaitati,
Luca António, Cristóvão Bocollo, Capello de Capellani, João Dias, Matia
Manardi e Maffei ~ o j e ? ~ .
Tudo isto girava em torno do comdrcio do aqúcar de que o mundo
mediterrânico, dominado pelos italianos, deveria consumir 43% do valor expor-
tado da ilha, conforme o estabelecia a escápula de 1498. Aqui, 30% ficava em
Itália, sendo 42% para Veneza, 36% para Génova e os restantes 22% para Porto

ITALIA OUTROS DESTINOS


Arrobas % Arrobas %
ESCÁPULAS 36.000 30 78.000 70
MERCADO 140.626 52 130.896 49
MERCADORES 407.530,5 80 112.900 21

Numa análise comparada, entre o valor das escápulas, o açúcar exportado e


a intervenção dos mercadores desta origem, constata-se a plena afirmação dos
italianos, De acordo com o valor estabelecido para as eschpulas, apenas tinham
direito a 30% do açúcar exportado, mas na realidade receberam no período de
1490 a 1550, mais de metade do açúcar que saiu da ilha. Deste 97% foi para aí
i enviado na década de 150 1 a 15 10. Para o período em que vigoraram as estipulas
(1498-1499) apenas se conhece a saída de 2.909 arrobas para tal destino, isto é,
! apenas 8% do total de arrobas para aí consignadas. O comércio de açúcar madei-

1 rense para Itilia se processou com maior incidência no período de 1490 a 15 10,
momento em que este mercado e mercadores dai oriundos encontraram condipões
favoráveis junto da coroa nos diversos contratos de compra de açúcar.

36 Alberto VIEIRA, ob. cit., quadros nos. 13 e 14, pp. 204-205.


A par disso as operaqões de comércio em tomo do aqucar, envolvendo
italianos têm o seu apogeu na década inicial de quinhentos, decaindo de forma
acentuada nas seguintes. Ai merece destaque especial a acçk de quatro italianos
que controlaram 64% do açúcar transaccionado.

ACUCAR
MERCADORES ARROBAS
JO&I Francisco Affaitati 177.907,5
Feducho Lamoroto 32.039,5
Bartolomeu Marchioni 5 1.238
Benedito Morelli 50.348
Matia Manardi 134.423,5
Ouwos 179.604
TOTAL 625.559,5

João Francisco Affaitati, mercador cremonês de família nobre, chefe da


sucursal em Lisboa da companhia Affaitati, uma das principais da praça, surge no
período de 1502 a 1529 como o principal activador do comtrcio do aqúcar madei-
reme, tendo transaccionado sete vezes mais açúcar que todos os portugueses.
Durante este periodo, arrematou, em 1502, as escápulas de Águas Mortas, Liorne,
Roma e Veneza. Ainda, conjuntamente com Jerónimo Sernigi, João Jaconde e
Francisco Corvinelli arrematou a venda do qúccu dos direitos (15 12- 15 18, 1520-
-I 52 1,1529) e actuou em operações diversas de compra directa de açúcar e da sua
troca por pimenta ou dúvidas3'.
Para manter esta amplitude das operações comerciais contava na ilha com
um grupo numeroso de feitores ou procuradores: Gabriel Affiitati, Luca Antonio,
Cristóvão Bocollo, Matia Minardi, Capella e Capellani, João Dias, João
Gonçalves e Mafei Rogell. Por outro lado aceitou procuraç8o de Garcia Pimentel,
Pedro Afonso de Aguiar e João Rodrigues de Noronha. O grupo inicial era cons-
tituído por italianos, ligados ao comércio do agiicar, e os segundos com algumas
das mais influentes famílias madeirenses. Cristóvão Colombo fora, também,
aímido pelo owro branco, pois esteve na ilha em Agosto de 1478, ao serviço de
uma sociedade de Ludovico Centurione, por intemkdio do seu representante ein
Lisboa, Paolo di Negro, com a finalidade de comprar 2400 arrobas de açiicar e

:ir de um acto nota Agosto I479 sobre


remessa de açiicar da
A tradição madeirense, baseada no testemunlio de Álvaro de ~ z e v e d o ~ ~ ,
afirma que o navegador, aquando da sua estáncia no Funchal, teria repousado nos
aposentos de João Esmeraldo, no Funchal. Num e noutro momento havia no
Funchal uma importante comunidade de italianos, onde predominavam os geno-
veses. Em 1478, quando Colombo se deslocou pela primeira vez ao Funclial,
deveria ter contactado com os seus compatrícios Francisco Calvo, Baptista
Loinelino e Antonio Spínola. Já na sua segunda estância poderia associar-se ao
convívio de outros patrícios seus, como João Antonio Cesare, os Dórias, E, final-
mente, em 1498, no decurso da terceira viagem que fez Bs Indias, a passagem pelo
Funchal a comunidade italiana era muito importante, tendo-se juntado aos já
existentes, os florentinos Bartolomeu Marchioni, Jerónimo e Dinis sernigi3'.
A comunidade italiana controlava a quase totalidade do comércio do açúcar
com as principais praças europeias sendo seguida pela portuguesa e castelhana.
Os mercadores nórdicos não apresentam uma posição de relevo nestas operações,
o que demonstra, mais uma vez, que a rota e mercado flamengo se mantiveram
sob o controlo da feitoria portuguesa. Os italianos tiveram o exclusivo do cornér-
cio na primeira dtcada do século XVI e uma posição dominante nas duas seguin-
tes, sendo substituídos pelos portugueses, a partir dos anos trinta, complementada
pela afirmação de castelhanos e franceses. No conjunto dos mercadores estrangei-
ros nota-se uma tendência concentracionista, pois apenas os cinco principais
detêm 71% do açúcar transaccionado. Todos eles apresentam valores superiores a
dez mil arrobas, enquanto iios nacionais apenas um tem mais de 1080 arrobas.
A rede de negócios funchalense, em torno do trato do açúcar, foi criada e
incentivada pelo mercador estrangeiro, alemão ou italiano, que aí aportou depois
da escala em Lisboa. Não obstante ter morada fixa em Lisboa, Flandres ou
Génova, controlava as principais sociedades do comércio açucareiro, atingindo o
seu dominio as criadas no exterior, com intervenção na ilha, e o grupo de agentes
ou feitores e procuradores sub estabelecidos no Funchal. A escollia era criteriosa:
primeiro os familiares, depois os compatrícios enraizados na sociedade e, final-
mente, os madeirenses ou nacionais.
As principais casas iritervenientes no trato açucareiro madeirense podem
ser definidos de acordo com o número de representantes, destacando-se então,
Baptista Morelli, B. Marchioni, Welser, Claaes, Charles Correa, Pero de Ayala e
Pero de Mimença. Os Welsers e Claaes actuaram na praça do Funchal por inter-
médio de agente estabelecido em Lisboa, respectivamente, Lucas Rem e Erasino
Esquet, que depois sub estabelecem feitores. O primeiro tinha como interlocutores

Confornte-se Manuel C. de Almeida CAYOLLA ZAGALLO, Crisidvão Colombo e a


I i h da Madeira. A casa de João Esmeraldo, Lisboa, 1945, 34-35; Agostinho de ORNELLAS,
Membria sobre a residncia de Colombo na ilha da Madeira, Lisboa, 1892,s-9.
'O Manuel C. de AImeida CAYOLLA ZAGALLO, ob. cii., 34-36.
no Funchal, em princípios do século XVI, João de Augusta, Bono Bronoxe, Jorge
Emdorfor, Jácome Holzbuck, Leo Ravenspurger e Hans Schonid.
Aqueles que actuavam na aposição de procuradores e feitores, ou de inter-
locutores dos mercadores europeus não ligaram-se a um grupo numeroso de
societários. Estes, por sua vez, não se prendiam apenas a um representante, con-
cedendo-a a um grupo variado de feitores e procuradores. Benoco Amatori, que
representava B. Marchionni, B. Morelli, Álvaro Pimentel e Jerónimo Sernigi, é o
exemplo da primeira situação. João Francisco Affaitati, que entre 1500-1529
estava representado por Gabriel Affaitati, Luca Antonio, Cristóvão Bocollo,
Capella de Capellani, João Dias, João Gonçalves, Matia Manardi, Mafei Rogell e
Lucas Giraldi, ilustra a última.
A partir de meados do século XVII o açúcar madeirense foi paulatinamente
substituído pelo brasileiro. Neste circuito de escoamento e comércio é evidente a
intervenção de madeirenses e açorianos. A oferta de vinho ou vinagre era
compensada com o acesso ao rendoso comércio do açúcar, tabaco e pau-brasil.
O trajecto das rotas comerciais ampliava-se até ao tráfico negreiro, cobrindo um
circuito de triangulação, criando os madeirenses a sua própria rede de negócios,
através de compatrícios residentes em Angola e Brasil.
Diogo Fernandes Branc040é o exemplo perfeito desta rede de negócios.
A sua actividade incidia, preferencialmente, na exportação de vinho para Angola,
onde trocava por escravos que, depois, ia vender ao Brasil por açúcar. O circuito
de triangulação fechava-se com a chegada à ilha das naus carregadas de caixas de
açúcar ou rolos de tabaco. A partir daqui seguia-se outro processo de transforma-
ção do produto em casca ou conservas. Tarefa caseira que ocupava muitas mulhe-
res na cidade e arredores. Os mercadores, como Diogo Fernandes Branco, coor-
denavam todo o processo de fabrico, de acordo com as encomendas, uma vez que
o produto depois de laborado deveria ter rápido escoamento. Os principais portos
de destino situavam-se no norte da Europa: Londres, St MaIo, Amburgo, Rochela,
Bordéus. Ele foi o interlocutor directo dos mercadores das praças de Lisboa, Lon-
dres, Rochela ou Bordéus, satisfazendo a sua solicitação de vinho e derivados do
açúcar a troco de manufacturas, uma vez que o dinheiro e as letras de câmbio,
raramente encontravam destinatário na ilha. A par disso manteve a rede de negó-
cios, apoiado em alguns mercadores de Lisboa, e das principais cidades brasilei-
ras. São múltiplas as operações comerciais registadas na documentação epistolar.
À primeira vista parece-nos que o mesmo se especializou em duas actividades
paralelas: o comércio de vinho para Angola e Brasil e do açúcar e derivados para
os repastos da mesa europeia.

41J ALBERTO VIEIRA, O PÚblico e o Privado na História da Madeira, Funcha1, CEHA,


1996.

68
As actividades comerciais de Diogo Fernandes Branco não são episódicas,
inserindo-se no contexto da estrutura comercial madeirense da segunda metade do
século dezassete, comprovando uma das dominantes estruturais da ilha com
intermediária entre os interesses da burguesia comercial do Novo e Velho Mundo.
Um dos componentes deste p d e era o porto do Funchal, onde uma chusma de
pequenos burgueses aguardava a oportunidade para singrar. O Brasil é outro dos
vértices privilegiados deste triânguIo. Episodicamente surge-nos Barbados, que só
singrou a partir da afirmação hegemónica da burguesia comercial britânica no
mundo atlântico.

0 CONSUMO DO A Ç ~ C A R

O princípio fundamental que regeu o movimento de circulação do açúcar


i foi a necessidade de suprir as carências do mercado europeu, substituindo oriental
!
i e mediterrânico, Esta conjuntura impos a nova cultura no espaço atlântico e ditou
i as regras do mercado. A premência do consumo interno de açricar é uma
: exigência tardia, sendo gerada por novos hábitos alimentares ou pelas contingên-
'
cias do mercado do produto. Aqui assume importincia o dispêndio de açircar na
industria de conservas e casca como resultado da solicitação dos veleiros que
demandavam o Funchal. Acresce, ainda, que a vulgarização do açircar no quoti-
diano madeirense derivou da conjuntura do mercado em finais do século XV.
O aparecimento de novos mercados produtores, como a Madeira, fez baixar o
'
preço, provocando a generalização do consumo. A importância que o açúcar
adquiriu na economia madeirense fê-lo assumir a função de medida de troca e de
pagamento dos mais diversos serviços. Isto é resultado da sua afirmação no
'
quotidiano madeirense e da falta crónica de moeda na ilha.

Não é fácil estabelecer com clareza a evoluç50 dos preços do açhcstr


porque não existem núcleos documentais que permitam a reconstituição
de séries. Os dados disponiveis são avulsos e desconexos. Na Madeira foi
possivel reunir o maior niimero de informações para a década de trinta do
século XVI.
Várias condicionantes influem de forma decisiva nos pregos. Em primeiro
Iugar está a falta crónica de moeda nas ilhas e o recurso ao aqúcar como meio de
troca, a que se associa nos séculos XV e XVI a insistente desvalorização. O açú-
car, como moeda de troca, foi uma realidade quer na Madeira, quer nas Canárias,
mas foi neste Último arquipélago que adquiriu melhor expressão4'.Mas foi a lei
da oferta e procura que condicionou a evolução do preço do qúcar. A variação
mensal ajusta-se ao período da safra do açúcar e da presença de embarcações inte-
ressadas no trato4'. Assim, os preços mais elevados surjam nos meses de Junho e
Julho, precisamente o momento em que se disponibilizava o primeiro açhcar do
ano, que sempre foi um forte atractivo aos mercadores.

JAN FBV MAR ABR MA1 JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
1508 - - 315 - 320 320 290 - 283 286 501 305
153 450 500 500 - 500 515 535 560 650 -

São ainda de assinalar outras variações sazonais, quase diárias, o que evi-
dencia o valor da lei da oferta e da procura. Veja-se o que sucedeu com o preço
do açúcar branco no Funchal em 1508.

MEs DIA PREÇO


Março 14 360
16-21 315

Abril
Maio
Junho
Julho
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro

' '
'I V. M.GODINHO, "Preçose conjuntura do dculo XV ao X I X in Dicioiscirio rle Hisibriu
&, Vol. Ilf, pp. 488-5 16;Jok Gentil da SILVA, "Echges et troc: I'exemple des Canaries
" in Annales, XVI, no 5, Paris, 1461, pp. 1004-1011; Manuel LOBO
Medidas en Canarias en e1 siglo XVI, Las Palmas, 1989,pp. 10-13;
0 6 .cit., pp. 147-148.
Jmhins PEREIRA, Estudos sobre História da Madeira, Funchal, 1991,
Estas cotwões são mais explícitas no registo de saída da alfândega de Santa
Cruz em 1524.

MES DIA PREÇO M& DIA PREÇO


Janeiro II 400 - 500 Julho
15 400
Fevereiro 13 500 Agosto
Março 30 500 Setembro
Maio 4 SOO
Junho 500
530

I
,
O açúcar branco apresentava dois preqos, consoante fosse de uma ou duas
cozeduras. Na Madeira o último preço correspondia em 1494 a quase o dobro do
primeiro. Se tivermos em conta, que em 15000 arrobas da primeira cozedura
ficava apenas 10000 na segunda, nota-se uma forte valorizaqão do produto fina$.
Esta insistência no aqúcar de segunda cozedura e considerada condição necesslia
para a valorização do produto, impedindo que chegasse ao mercado europeu em
condições mas, acima de tudo, uma medida benkfica que reduzia

mercado se pautava por excedentes.


A partir da década de setenta o prqo do açúcar entrou em quebra
metade
a oferta do açiicar, favorecendo a competitividade do produto, numa altura que o

ntuada, como testemunham nas intervenções do senhorio a partir de 1469 que


stia na solução do monopólio para o comércio. A negação dos rnadeirenses a
melhante solução levou o Duque D. Manuel a avançar com novas medidas.
ssim em 1496 fixou o preço de 350 réis para o açúcar da primeira cozedura, 600
segunda, Passados dois anos optou por estabelecer uma cota mhima de
ação, que se cifrava em 120.000 arrobas.
Os dados disponíveis revelam este movimento de quebra do açúcar.
'primeiro a~iicarfeito em Machico vendeu-se a 2000 réis arroba. J i em 1469 o
estava em 500 arrobas para o de uma cozedura e 750 para o de duas, Em
temos a noticia que subiu para 1000 réis a arroba, mas esta deverá ser uma
particular resultante da quebra acentuada da moeda, pois que em 1478
u A normalidade. O movimento de queda foi uma constante até princípios
GUIO XVI, só se inverteu na década de vinte44.

quivo Histórico da Madeira, Vol XV, pp. 64, carta de 3 Setembro de 1472.
-. 44 Arquivo Htrfdrico dn Madeira, Vol XV, p. 46, 14 de Julho de 1469; p. 229, 11 de Janeiro
; pp. 3 13, 3 18, 3 de Setembro de 1495; pp. 372-380; Gaspar FRUTUOSO,Livro Primeiro

71
A oferta não se resumia apenas ao aqtçúcw branco, pois a ele deve juntar-se
subprodutos, como as escumas, rescumas, mel, remel, mascavado e mel
mascavado e, depois alguns derivados, como as conservas e casquinha. E, ainda,
possivel estabelecer uma relação entre estes subprodutos e o açúcar branc4
expressa nos níveis de produção e preço. Em Gran Canaria no século XVI essa
rela@o fazia-se da seguinte forma: em 2500 arrobas de açficar correspondem 60%
ao branco, 12% As escumas, 8% de rescumas e 20% de açúcar refinado. O mesmo
sucede na Madeira no periodo de 1520 a 153745.

das Smda&s da Terra, p. 1 13; Armando de CASTRO, "O sistema monethrio" in Hisfbria de
Por~yga!~ Vol. 111, Lisboa, 1983,pp. 236-238.
Manuel LOBO CABRERA, ibidem, p. 1 1 6; Fernando Jasmins PEREIRA. &idos sobre
Histdria da Madeira, Funchal, 1991, pp. 2 1 9-224.
Os preços de venda variavam também de acordo com a qualidade e tipo do
produto transaccionado, como se poderá verificar pelo quadro:

PREÇOS DO A Ç ~ C A RDE ACORDO COM A QUALIDADE^^


Tipo de açbcar 1530 I 1581-1587
81800
Meles 500 1400
Mascavado 450 16QO
Escumas 400
Meles mascavados 400 1200
I Rescumas 250

Caso se estabeleça uma comparação dos preços praticados na Madeira, na


segunda metade do século XVI, com os que acontecem no Brasil constata-se que o
madeirense continua a apresentar valores mais elevados. Isto 6 resultado da menor
produpão, mas também da fama da qualidade, que cedo conseguiu granjear, como se
pode verificar pelos preps praticados em 157847,

LOCAL PKEÇO por moba


Madeira 2400
S. Tomé 660
Brasil 1400

Na Madeira e as Caniirias o preço da arroba de branco apresenta valores muito


próximos:

MADEIRA GRAN CANARIA

1526
1550 950
1580 1800 21 12

Sousa Vitertio, Artes e Indústrias Portuguesas. A Induseia Sacarina, Coimb ta, 1909.
16 e 28; Arquivo Regional da Madeira, Câmara Municipal do Funchal registo geral, t.lV, fl. 4.
F. Mauro, Le Portugal etl 'Atlantigue, Paris, 1960, p.190
AS CONSERVAS E A DOÇARIA

Parte significativa do açúcar produzido na ilha, e mais tarde importado do


Brasil, era usado no fabrico de conservas e de dqxria. São vários os documentos
denunciadores da mestria dos madeirenses no fabrico destes produtos. Em meados
do século quinze ~adarnosto~~ refere a feitura de "muitos doces brancos
perfeitissimos", enquanto em 1567 Pompeo ~ r d i t ida~ ~ conta da "conserva de
açiicar" que se Fazia no Funchal "de óptima qualidade e muita abundânciatf.E, esta
tradição perpetuou-se na ilha para alem do fulgor da produção açucareira local pois,
segundo Hans sloanesoem 1687, o rnadeirense produzia "açúcar indispensável aos
gastos caseiros e ao fabrico de doces, indo ainda comprá-lo ao Brasil". Dois anos
após John 0vington5' refere a indiistria da conserva de citrinos que se exportava para
França.
Tal como se deduz de um documento de 1469'~o fabrico de conservas era
indústria importante para a sobrevivência de muitas famílias, uma vez que ocupava
"molheres de boas pesoas e muytos pobres que lavraram os açuquares bayxos ein
tamtas maneyras de conservas e alfeni e confeitas de que am grandes proveytos que
dam remedio a suas vidas e dam grande nome a t e m nas partes onde vam. ..". Os
livros do quarto e quinto do açúcar informam-nos sobre o disphdio que dele se fazia
no fabrico de conservas, fnrtas seca e marmelada. Nisso gastaram-se cerca de
quatrocentas arrobas de açúcar de vários tipos, sendo na sua maioria para consumo
dos proprietários do referido a9úm?3.
A fama da arte da confeitaria rnadeirense espalhou-se por toda a Europa e teve
o máximo expoente na embaixada enviada por Simão Gonçalves da C h a r a ao Papa
que, segundo Gaspar ~ r u t u o s osecompunha
~~, de "muitos mimos e brincos da ilha de
conservas, e o sacro palácio todo feito de assucar, e os cardiais todos feitos de
alfenim, domados a partes, o que lhes dava muita graça, e feitos de estatura de hum
homemtf.
Um dos factores de promoção da indústria de conservas foi a importância
assumida pelo Funchal como porto de escala de abastecimento para a navegação
atlântica. Muitas embarcações aportavam ai com o intuito de se fornecerem de
conservas de citrinos para a dieta de bordo. Mas, sem duvida, o consumidoi

Antbnia Arwo, A Madeira vista por Estrangeiros. 1455- 1 7013, Funchal, 198 1, p.37
49 António Aragiio. A Madeira vista por Estrangeiros. 1455- 1 700,Funchal. I98 1. p. 1 30
Antbnio Aragão, A Madeira vista par Estrangeiros. 1455-1 700, Funchnl, 198 i, p. 159
51
António AragBo, A Madeira vista por Eslrangeiros. 1655- 1700, Funchal, 198 1, p. 198
5Z Arquivo Histbrico dos Açores, vol.XV, p.45-46
53 PEREIRA. Fernando Jasmins, Livros de Contas da Ilha da Madeiro. 150.1-1537,
I1 Registo da Produção de açaicar, Funchal, C E M , 1 989.
s4 Livro Segundo das Saudades da Terra, Porto. 1 925. pp.2 1 2-2 13. Cf. Luciana Skgagno
Picchio, O Sacro Coltgio de Alfenim, in Actas do I1 Col6quio Ipt~ernaciorialde História di
-
Madeira, Lisboa. 1990, pp. 1 8 1 190.
preferencial das conservas e doqaria madeirense era a Casa Real portuguesa.
D. Manuel foi o consumidor preferencial e aquele que divulgou as suas qualidades
na Europa. Foi com conservas que Vasco da Gama presenteou o Xeque de
Moçambique. No período de 150 1 a 1561 a Casa Real consumiu 1 129 arrobas e 58
barris de qúcar em conservas e frutas secas. A par disso o rei havia estabelecido, a
partir de 1520, o envio anual de 10 arrobas de conserva para o feitor de Flandres.
Esta indústria manteve-se por todo o skulo XVII, suportada com o pouco
aqúcar da produção local ou com as importações dele do Brasil. Em 1680
importaram-se 2.575 arrobas para o fabrico de casca. Aliás, de acordo com uma
informação dada ao goveriiador da i lha, D. António Jorge de elo^^, "é a casquinlia
negócio muito grande porque há aniio que se carregão com aquella terra inais de 20
embarcações de Ilum so doce para o qual he necesareo comprar assucar da terra ou
manda10 vir do Brasil". A correspondência de William ~ o l t o d \ m v a que a
conserva de citrinos estava em grande prosperidade na década de noveilta do século
XV11, sendo usada no abastecimento das embarcações que demandavam a ilha, ou
exportadas para Lisboa, Holanda e França. Parte significativa do movimento
comercial pode ser reconstituída atraves da correspondência comercial de dois
mercadores: Diogo Fernandes Branco (1 649- 1652), William Boiton (1 696-1 7 15) e
Duarte Sodré Pereira (1 710- 1 7 12)57-
Diogo Femandes Branco parece ter sido o principal interveniente do comércio
com os portos nórdicos, quase só baseado na exportação de casca e conservas. Para o
curto período que dura a correspondência é evidente a iinportãncia assumida pelo
dito comércio. Em 1649, não obstante o aqúcar da produção local ser de mau
qualidade, a falta de cidra e tardar a vinda dos navios do Brasil, a procura manteve-
se activa, gerando dificuldades aos fornecedores, como Diogo Fernandes Braiico,
que tiveram que socorrer-se de todos os meios para poder satisfazer a eiicomenda. A
conjuntura conduziu inevitavelmente ao aumento do preço do produto. A situação
continuou de modo que em Novembro de 165I carregaram na ilha nove navios
franceses. No ano imediato inverteu-se o curso. A casca abundou e em Outubm
ainda tardavam em chegar os navios para a leva-la ao seu destino, o que era motivo
para preocupa@o. Duarte Sodré Pereira surge, nos anos imediatos, como o
continuador do comércio deste produto. A actividade mercantil, neste lapso de

5 s 1. C. Nascimento, Documentos para a Histbria das Capifcrnicisda Madeira, Lisbon, 1930.


pp.16-17,22-23.
56
António Aragão, A Madeira vista por Estrangeiros. 1455-1700. Funchal. 1981, pp.307-
386
57
ALBERTO VIEIRA. O Pzíblico e o Privado na Hisiória da Madeira, Funchal. CEHA,
1996; Antbnio Aragão, A Madeira vista por Estrangeiros. 1455-1700, Funchal, 1981. pp.307-386:
Maria jiilia de Oliveira e Silvo, Fidalgos-Mercadores no século XI'III. Dunrte S d r i Pereira,
Lisboa, 1992;
tempo, esteve dedicada, tarnbkm ao comércio do açúcar do Brasil e a exportação de
casca para o norte da Europa, nomeadamente, Amesterdão.
No fabrico das conservas e doces variados merecem atenção as freiras do
Convento de Santa Clara, da Encarnagão e Mercês. Aliás, em 1687 Hans Sloane
referia-se de forma elogiosa aos doces e compotas que comeu i10 Conveilto de Santa
Clara, e ao referir que "nuncavi coisas tão boas". Num breve relance pelos livros de
receita e despesa do Convento da Encamação, Misericórdia do Funclial, e
Recolhimento do Bom Jesus, constata-se as assíduas despesas com a compra de
açúcar da ilha ou do Brasil para o consumo interno5'. A Misericórdia do Funchal
para alem das esmolas que recebia em açúcar ou marmelada consumia açúcar que
comprava. Do primeiro tanto se poderia dar aos doentes ou vender pata fora. Em
1636 gastaram-se 6.180 réis na compra de 3 arrobas de açíicar para os doces da
procissão das Encomendas. Ademais, são conhecidas outras despesas na compra de
abóbora, ginjas, peras, marmelos para o fabrico de doce. Em 4 de Junho de 1700 a
Misericórdia do Funchal gastou 101.500 réis na compra de 34 arrobas para o fabrico
de doces a serem consumidos ao longo do ano, Para o período de 1494 a 1700 a
mesma instituição gastou 634.400 réis na compra de 227 arrobas de açúcar e 14
canadas de mel.
O consumo de aqúcar no Convento da Encarnação, no período de 1471 a 1693
era constante e elevado. De acordo com o registo mensal dos gastos com as compras
de produtos para a: dispensa do convento pode-se ficar com uma ideia da
sazonalidade do consumo da doçaria, que consistia em coscorões, batatada, talhadas,
queijadas, arroz-doce e bolos. Aqui destacaram-se a Quinta-Feira de Endcenças,
Páscoa, Espírito Santo, Nossa Sra, EncarnaMo e do Carmo, Natal. Distribuía-se a
cada &ira, para a Consoada, 8 libras de açúcar. Além disso parte significativa do
açúcar de várias qualidades, era usado para o "tempero do comer" e fazer conserva.
No total desgenderam-se 190 m b a s de açúcar por estes vinte e dois anos para um
total aproximado de seis dezenas de recolhidas.
Extintos os converrtos quase que desapareceu a tradição da doçaria. Hoje, o
único testemunho que resta do doce madeirense e o bolo de mel. O alfenim manteve-
o a tradigo dos ex-votos das festas do espírito Santo na ilha Terceira, único local
onde ainda persiste a tradição.

Eduarda Maria de Sousa Gomes, O Convento do ficarnação do Funchal, Funchal.


CEHA, 1995; Maria Dina dos Ramos Jardim, A Santa Casa da Misericdrdia do Funchal, Funchal,
CEHA, 1996.
O DISPENDIO DO AÇUCAR DOS DIREITOS
O açúcar e derivados dele que se produziam na Madeira tinham um
consumo variado. O de maior e melhor qualidade era canalizado para a
exportação aos principais inercados estrangeiros. Do açúcar laborado há que
distinguir aquele que pertence aos proprietários de canaviais e engenho e o que é
da coroa, por arrecadação do almoxarifado dos quartos ou da Alfândega,
resultante dos direitos que oneravam a produção (quarto/quinto/oitavo) e saida na
Alfândega (dizima). Enquanto a cobrança do último era feita directamente nas
alfindegas do Funchal e Santa Cruz, o primeiro poderia ser recolhido pela
estrutura institucional criada para o efeito - o almoxarifado dos quartos (1485-
1522) - ou então ficava a cargo da anterior. Ainda nesta situação poderia suceder
a arrecadação por contratadores, maioritariamente e~trangeiros~~, oscilando o
valor entre as 18.507 e 3 1 .a76 arrobas nos anos de 1497 e 1506.

Expansão do iiçbcer madeirense no mercado europeu


(data da primeira referência)
Bristol
Bruges
Florença
Ruão, Dieppe, Pesaro
Bretanha, Vila do Conde
Veneza
Guadalupe
Gtnova
Constantinopla, Onios, Barcelona, Cádiz, Lagos, Anvers
Chios, Valencia, Açores
Roma, Saint-Pol
Aguas Morias
Bordtus
Tenerife, Nantes
Gmd
Viana
Pisa
Medina de1 Campo

O açúcar arrecadado pela coroa era gasto em despesas ordinárias, na


carregação directa e nas vendas feitas aos mercadores elou sociedades comer-
ciais60.Na primeira despesa estavam incluídos, a redizima dos capitães, os gastos
pessoais do monarca, da Casa Real, as esmolas, para alem dos soldos dos
funcionários, do transporte e embalagem do açúcar. Esta variou entre as 1.070 e

59 F. Jasmins Pereira, O Açúcar Madeirense de 1500 a 1537. Produção e Preços, Lisboa,


1969, pp.55-69.
O' Ibidern, pp.69-9
2.114 arrobas, sendo a média anual no período de 150I a 1537 de 1622 arrobas61.
No caso das esmolas é de realçar as das Misericórdias - Funchal (1512), Ponta
Delgada em S. Miguel (1515), Todos os Santos em Lisboa (1506), Conventos -
Santa Maria de Guadalupe (1485), Jesus de Aveiro (1502), Conceição de Évora.
Os lucros arrecadados pela Coroa na ilha com o açÚcar eram também usados no
custeamento dos socorros às praças africanas62ou no provimento das armadas63.
Finalmente, temos a política de ofertas com que D. Manuel I presenteou a
Madeira, que muito contribuíram para o enriquecimento do património artístic064.
O dispêndio do açÚcar do lavrador fazia-se de forma diversificada. Às
vendas directas aos mercadores, muitas vezes de antemão, associam-se os
pagamentos de dívidas ou por trocas de produtos e serviços. A partir daqui poder-
se-á saber quem eram os principais compradores e a testemunhar o uso no
pagamento de serviços65.Apenas para a Madeira, na primeira metade do século
dezassete é possível estabelecer com clareza esta forma de dispêndio do açÚcar
conseguido por proprietários de canaviais e engenhos. Tivemos cerca de 81.280
arrobas distribuídas por 2.492 compradores. A tendência era para a disseminação
pelos pequenos compradores, acabando com os interesses monopolistas de
algumas casas comerciais, que haviam dominado o comércio na época de apogeu.

DISPENDIO DE AÇÚCAR NA CAPITANIA DO FUNCHAL 1509-1537


COMARCA DATA COMPRADORES ARROSAS
AÇÚCAR MÉDIA
Calheta 1509 532 26360 49,5
]514 286 ]2795 44,7
1534 270 7886 29,2
Funchal 1530 522 11453 21,9
R" Brava 1517 456 10177 22,3
1536 170 3499 20,5
Ponta Sol ]526 163 6727 41
1537 93 2383 25,6
TOTAL 2492 81280 32

Fonte: José Perreira da Costa, Livro de Contas da ilha da Madeira. 1504.1537,voI. lI, Funchal, 1989.

61/bidem, p.79
62No período de 1508 a 1514 gastaram-se 1000 arrobas com as despesas de socorro a Safim.
63 Cf. Alberto Vieira, O Comércio /nter-insular nos séculos XV e XV/, p.23; V. Magalhães
Godinho, Ensaios, 11,Lisboa, 1978, pp. 29-71, 281-322.
64De entre as suas ofertas à Madeira destacam-se uma cruz processional para a Sé, uma pia
baptismal para a Ribeira Brava, uma escultura em Madeira e as colunas de mármore do portal lateral
da matriz de Machico.
65Apenas para o Funchal em 1536, Ribeira Brava em 1517 e 1536, Ponta do Sol em 1526 e
] 537 e Calheta em 1509, 15]4 e 1534; veja-se Femando Jasmins PEREIRA, Livro de contas da ilha
da Madeira 1502-/537, VoI. lI, Funchal1989.

78
O lavrador e o proprietário do engenho serviam-se usualmente do produto
da safra para o pagamento da mão-de-obra assalariada. Entre 1509 e 1537 ha
referência a diversos pagamentos em açúcar por serviços prestados na lavoura e
laboração do engenho e, mesmo na compra de qualquer manufactura ou prestação
de serviço artesanal. O pagamento dos serviços da safra do açiícar atingiu
3 1,41 %, sendo 1 6,62% no cultivo e apanha da cana e 1439%. Em termos de
ofícios é dominado pelos sapateiros (27,62%) e ferreiros (24,48%). Esta
distribuição dos lucros acumulados por proprietiirios de canaviais e mercadores de
açúcar contribuiu para um manifesto progresso da sociedade rnadeirense no
século dezasseis, com evidentes reflexos no quotidiano e panoramas artístico e
arquitectónicoM.

Nos séculos XV e XVI, o comércio do açúcar foi coino o principal


animador das trocas com o mercado europeu. Durante mais de um século a
riqueza das gentes da ilha e o fornecimento de bens alimentares e artefactos
dependeu do comércio do produto. Mas a partir dos anos trinta do século XVI os
madeirenses tiveram que conviver com a concor@ncia de outros mercados
insulares, como as Cankias e S. Tomé, e, finalmente as Antilhas e o Brasil.
O dispêndio do açúcar pelo lavrador acontecia de forma diversificada. AS
vendas directas aos mercadores, muitas vezes de antemão, associam-se os
pagamentos de dividas ou por trocas de produtos e serviços. 0 s livros do quarto e
do quinto, como forma de controlo dos direitos em jogo, contabilizam o modo
como os lavradores despendiam o seu açúcar. No global tivemos cerca de 8 1.280
arrobas distribuídas por 2,492 compradores. A tendência é para a disseininação
pelos pequenos compradores, acabando com os interesses moiiopolistas de
algumas casas comerciais, que haviam dominado o comércio na época de apogeu.
O lavrador de canas e o proprietário do engenho serviam-se usualmente do
produto da safra para o pagamento da mão-de-obra assalariada. Entre 1509 e 1 53 7
surgem referências a diversos pagamentos em açúcar por serviços prestados na
lavoura e laboração do engenho e, mesmo na compra de qualquer manufactura ou
prestação de serviço de qualquer artesão. Os pagamentos dos serviços
relacionados com a safra do açtícar atingem 3 1,4 1 %, sendo 1 6,62% para o cultivo
e apanha da cana. Os pagamentos aos artesãos atingem 14,59%, sendo dominados
pelos sapateiros (27,62%) e ferreiros (24,48%), Por fim, registe-se que a
distribuição diversificada dos lucros acumulados por proprietários de cailaviais e

66
David Ferreira de GOUVEIA, "Oaçiicar e a economia madeirense (1420.1550). Consuino
de excedentes", Islenha, no8, 199 1 ), pp. 1 1-22.
mercadores de açúcar contribuiu para o progresso da sociedade madeirense no
século dezasseis, com evidentes reflexos no quotidiano e panorama artístico e
arquitectónico.
A definição do mercado externo esteve sujeita as oscilqões e apetências do
mercado. A determinação regia das escápulas em 1499 pode ser definida como a
imagem das rotas do comércio do açúcar madeirense. As praças do mar do norte
dominaram o comércio, recebendo mais de metade destas escápulas. A Flandres
adquiriu uma posiçrio dominante no mercado da Europa do Norte, eiiquanto os
portos italianos assumiam idêntico papel para o espqo ineditemânico, Se
compararmos estas com o açricar consignado as diversas prwas europeias, para o
periodo de I490 e 1550, verifica-se que o roteiro não estava aquém da realidade.
As iinicas diferenças relevantes surgem nas Praças da Turquia, França e Itália.
Aqui, C manifesto o reforço da posiqão das cidades italianas, que poderá resultar
da sua actuação como centros de redistribuição no mercado levantino e francês.

FSCMULAS. 1498 MERCARORES.1490-1550


DESTMO
ARROBAS % ARROBAS ARROBAS
FLANDRES 40.000 33 105896,s 1 13753
FRANÇA 9.000 13 soo 8469,5
INGLATERRA 7.000 6 1438 1072
ITALIA 21.000 30 140626 407530,5
PORTUGAL 7.000 6 20657 23798
WRQUIA 15.000 13 2372.5
OUTROS 32 68185

Os dados dispaniveis para o comércio do açúcar na Madeira evidenciam a


constância dos mercados flarnengo e .italiano. O reino, circunscrito aos portos de
Lisboa e Viana do Castelo surge em terceiro lugar com apenas 10%. Observe-se
que o porto de Viana do Castelo adquiriu, desde 15 11, grande importancia neste
circuito, actuando como centro redistribuidor para Espanha e Europa nórdica.
Aliás, no periodo de 1581 a 1587 Viana é o único porto do reino mencionado nas
exportaqões de aqucar, mantendo, uma posição inferior a 1490-1 550. Esta funqão
redistribuidora dos portos a norte do Douro ficara evidenciada entre 1535 e I 550,
pois das cinquenta e seis embarcações entradas no porto de Antuérpia com açúcar
da Madeira, dezasseis são do norte e apenas uma de Lisboa, Na primeira 50% são
provenientes de Vila do Conde, 31% do Porto e 19% de Viana do Castelo. Em
1505 o monarca considerava que os naturais desta região tinham muito proveito
no comércio do a~ucarda ilha, sendo este trato assegurado em 1538 por um
numeroso grupo de grupos de mercadores daí oriundos. Entre eles estavam Aires
Dias, Baltazar Roiz, Diogo Alvares Moutinho e Joham de Azevedo. Também nas
trocas com o mundo mediterriinico onde se contava com os entrepostos de Cádis e
Barcelona, que surgem no periodo de 1493 a 1537 com os portos de apoio ao
comércio com Génova, Constantinopla, Chios e Aguas Mortas.

-
I ' l . l . 1 . I - I
Espnha Flandres França ]tala Pomieai Outros

FWORTAÇAODE AÇUCAR DA MADEIRA. PRINCiPAlS MERCADOS (EM ARROBAS)

Os dados disponiveis para exportaçgo para o período de 1490 a 1550


testemunham esta realidade: a Flandres surge com 39% e a Itália com 52%. Aqui
destaca-se a posição dominante dos mercadores italianos neste trato, uma vez que
foram responsáveis pela saída de 78% do açúcar. As iniciais dificuldades a
presença de estrangeiros desapareceram na década de oitenta, surgindo como
vizinhos, que se comprometeram com a cultura e comércio do açucar. Para a
segunda metade do século dezasseis escasseiam os dados sobre o comércio do
açúcar madeirense. Somente entre 1581 e 1587 temos nova informação. Neste
periodo a ilha exportou 199.300 arrobas de qúcar para o estrangeiro e 4830 para
o porto de Viana do Castelo.
EXPORTAÇÃOE AÇÚCAR- em arrobas

A partir de princípios do século XVZ o comércio do açúcar diversifica-se.


A Madeira, que na centúria de quatrocentos surgira como o único mercado de
produção, debater-se-á, a partir de finais desse século, com a concorrência do
açúcar das Canárias, de Berbéria, de S. Tomé e, mais tarde, do Brasil e das
Antilhas. Esta múltipla possibilidade de escolha oferecida aos compradores
condicionou a evolu~ão do comércio açucareiro. Mesmo assim o açijcar
madeirense manteve um lugar cativo no mercado europeu (Florenga, Anvers,
Ruão), apresentando-se como o mais caro.
Na Europa do Norte o comércio açucareiro na primeira metade do skculo
.I. XVI foi dominado pelas ilhas e litoral do Atlântico, afirmando-se nas primeiras, a
Madeira, Tenerife, Gran Canaria e La Palma. Na década de trinta, os navios
normandoo ocupadas neste comercio dirigiam-se preferencialmente a esta irea.
A maioria das embarcações que rumavam a Marrocos faziam escala na Madeira, 1
ida e no regresso, o que a valorizava no comércio com a Normandia. A situavão
dominante do mercado madeirense perdurou nas décadas seguintes, não obstante
a forte concorrência da ilha de S. Tomé.Esta ilha firmou-se, entre 1536 e 1550,
como o principal fornecedor de açúcar a Flandres.
~IU!?-L.tu
NAVIOS PORTUGUESES COM AÇÚCAR PARA ANTUÉRPIA 1536-155067
ORIGEM AÇÚCAR CARGA MIXTA TOTAL
CABO GUER I I 2
CANÁR1AS I 5 6
CABO VERDE I 7 8
MADEIRA 28 28 56
SÃO TOMÉ 88 38 16
LISBOA 16 16

A Madeira, que até à primeira metade do século dezasseis havia sido um


dos principais mercados do açúcar do Atlântico, cedeu lugar a outros (Canárias,
S. Tomé, Brasil e Antilhas). Deste modo as rotas desviaram-se para novos merca-
dos, colocando a ilha numa posição difíci1. Os canaviais foram abandonados,
fazendo perigar a manutenção da importante indústria de conservas e doces.
O porto perdeu a animação que o caracterizara noutras épocas. É aqui que surge o
arquipélago vizinho. O comércio canário, baseado nos mesmos produtos que o
madeirense, será um forte concorrente na disputa dos mercados nórdico e medi-
terrânico. Os produtos dos dois arquipélagos surgem, lado a lado, nas praças de
Londres, Anvers, Ruão e Génova. A única vantagem do madeirense resultava de
ter sido o primeiro a penetrar com o açúcar e o vinho no mercado europeu,
ganhando a preferência de muitos vendedores e consumidores.
A solução possível para debelar a crise da indústria açucareira madeirense,
desde a segunda metade do século dezasseis, estava no recurso ao açúcar
brasileiro, usado no consumo interno para as indústrias de conservas ou de re-
exportação para o mercado europeu. Por isso os contactos com os portos brasilei-
ros adquiriram uma importância fundamental nas rotas comerciais madeirenses do
Atlântico Sul.68 Desde finais do século dezasseis estava documentado o comércio
do açúcar, servindo os portos do Funchal e Angra como entrepostos para a saída
legal ou de contrabando para a Europa.
O comércio do açúcar do Brasil, por imperativos da própria coroa ou por
solicitação dos madeirenses, foi alvo de frequentes limitações. Desde 1596 as
autoridades intervêm na defesa do açúcar de produção local, prova evidente da
renovação da aposta na cultura. Em Janeiro deste ano os vereadores proibiram
António Mendes de descarregar o açúcar de Baltazar Dias. Passados três anos o
mesmo surge com outra carga de açúcar da Baía, sendo obrigado a seguir o seu

67 V. M. GODINHO, ob. cit.. vol. IV, pp. 98-99.


68 José Gonçalves Salvador, Os Cristãos-Novos e o comércio no Atlântico Meridional,
S. Paulo, Pioneira, 1978,

83
porto de destino, sem proceder a qualquer descarga. O não acatamento das ordens
do municipio implicava a pena de 200 cruzados e um ano de degredo.
A pressão dos homens de negócio do Funchal envolvidos neste comércio
veio a permitir uma solução de consenso para ambas as partes. Em 1612 ficou
estabelecido um contrato entre os mercadores e o municipio em que os primeiros
se comprometiam a vender um terço do açúcar de terra,'~esdeI603 estava
proibida a compra e venda de açiicar, sendo os infractores punidos com a perda do
produto e a coima de 200 cruzados. Mas a partir de Dezembro de 161 I a venda de
açúcar brasileiro só seria possiveI após o esgotamento do da terra. Em t 657 a
proporção de cada açiícar era de metadeb9.
Ap6s a Restaucação da independência de Portugal o comércio com o Brasil
foi alvo de múltiplas regulamentações. Primeiro foi a criação do monopólio do
comércio com o Brasil, através da Companhia para o efeito criada, depois o esta-
belecimento do sistema de comboios para maior segurança da navegação. A esta
situação, estabelecida em 1649, ressalva-se o caso particular da Madeira e Açores,
que a partir de 1650 passaram a poder enviar, isoladamente dois navios com
capacidade para 300 pipas com os produtos da terra, que seriam depois trocados
por tabaco, açúcar e madeiras. Mais tarde, ficou estabelecido que os mesmos não
podiam suplantar as 500 caixas de qúcar. O movimento das duas embarcações da
Madeira fazia-se com toda a deçcriqão, conforme recomendava o conselho da
Fazenda, mediante as licenças e a sua entrega deveria ser feita no sentido de favo-
recer todos os mercadores da ilha. Alguns destes navios, fora do niirnero estabele-
cido para a ilha, declaram sempre serem vítimas de um naufrágio ou de ameaças
de corslios, o que não os impedem de descarregarem sempre algumas caixas de
açúcar. Será esta uma forma de iludir as proibiç6es estatuidas? Todavia os
infractores sujeitavam-se
- -.,.,-
a prisão.
-.? ",., ,
, . !,.
m , , ,,,d*> <+<'-

INVESTIMENTO E OSTENTAÇAO

A riqueza acumulada com o comércio do açúcar beneficiou os madeirenses


senhorio e a coroa. A ostenta#io acontece de diversas formas mas tem na expre
artística o exemplo perfeito. Muitos dos destacados proprietários e
imponentes palacios a que juntaram, por vezes uma capela, decorada com
mas pinturas de arte sacra, na sua maioria, com origem na ~landres'~.
Ao nivel arq
tectónico foi evidente a valorizaqão do casco urbano7'
60
Arquivo Regional da Madeira, Ccimara Municipul do Funchal, t.11. fl.44+', t. 11, R.
lbidern, no. 13 18, fls. 62-64P, n0.1333, fls.5vn-6v0.
'O Pierre Goemaere, Si le monde avait éte' plus grand ... . Bruxelas, 1974; GOUVEIA, D
Ferreira de, O açiicar e a economia madeirense (1 420-1 550). Produção e acumulação, in Atlrún
n." 16, 1988, pp.262-283; O açúcar e a economia madeirense (1420-1550). Consumo de exceden

84
propriethrios de canaviais, para o período de 1509 a
690,revela a existência de um grupo que assumia uma posiçb destacada na socie-
M e local. Muitos, de entre estes, evidenciaram-se pela riquem acumulada com a
~plom@oaçucareira que usam de forma ostentatória na constru@o de capelas ou
dádivas em obras artísticas. Para um total de 298 proprietários teremos 37 com

I I I
30AO ESMERALDO IPonta de1 1526 1 3277,s 1 2.419$650 ICapela do Espirito Santo (Lombada)

I
Irnatriz da R.Brava) I

O Funchal foi, no decurso dos skulos XV e XVI, o principal centro do


arquipélago. Desde os primiirdios da wupaqão da ilha que o lugar como vila e desde
1508 como cidade foi o centro de divergência e convergência dos interesses dos

I
madeirenses. A sua volta anichou-se um vasto hinterland agricola, ligado por terra e
mar. O povoado, traçado por João Gonçalves Zarco, começou por ser a sede da
capitania do mesmo nome mas, a riqueza do vasto hinterland projectou-o para ser a
primeira e i5nica cidade e porto de ligação ao mundo. Machico perdeu a batalha,
porque os seus capitães não foram capazes de acompanhar o ritmo dos funchalenses.
O progresso e importãncia do Funchal foram rápido, De vila passou a cidade e sede

1
do-primeirobispado e, depois arcabispado, das t e m atlânticas portuguesas.

I
Islenha, n.' 8 (1991), pp. 1 1 -22. Luisa Clode e Fernando Aniónio Pereira, Museu de Arte Sacra do
Funchoi. Arteflamelgga, Funchal, Edicarte, 1997. lohn Everaert, Os Barões Flamengos do açúcar na
Madeira (ca. 1480-ca. l620), in Fiandres e Portugal na confluencia de duns Culturas, Lisboq
I ediçlies Inapa, 1991, pp.W-117
" Cf.Antbnio Aragiío, Para n História do Funchal, Funchal, 1 979.
'' VIEIRA, Alberto, -O Regime de Propriadade na Madeira: o Caso do Açúcar (1500-1 537,
in Actas do I Colóquio Iniernacional de Histhria da Madeira. 1986,Funchal, 1989, pp.539-6 1 1.
No terreno evoluiu o traçado urbanistico e a construção de imponentes
edificios. As palhotas, dispostas de modo anárquico, vão dando lugar a casas
assoalhadas, alinhadas ao longo de armamentos paralelos a costa e em torno da praça
que domina o templo religioso. O capitão, de Santa Catarina, avançou encosta acima
até se fixar no alto das Cruzes, no espaço dominado pelo actual Museu da Quinta das
Cruzes. Do outro lado, no Cabo do Calhau, surgiu o burgo popular, dominado pelo
mar e pela rua que o ligava a ermida de Nossa Senhora da Conceição de Baixo. Foi a
partir daí que avançou aquilo a que mais tarde veio a ser a cidade. Do nicho do cabo
do Calhau, passou-se a Ribeira Santa Maria (hoje de João Gomes) e aos poucos
conquistou-se esp- aos canaviais para traçar ruas e erguer casas de sobrado.
D. Manuel, desde que tomou posse do senhorio da ilha, apostou na sua
valorização político e institucional, fazendo com que a ilha se moldasse a irnageiis
e semelhança do reino. O Funchal, que crescera de forma desordenada, recelie
orientaqões urbanísticas. Em 1485'~determinou que no seu melhor campo de
canaviais, conhecido como campo do Duque, se traçasse uma praça servida das
casas do concelho e picota da igreja. A necessidade de salvaguarda do iiúcleo
urbano levou a coroa a determinar em 149374que se fizesse uma cerca e muros na
forma do que acontecia em Setúbal, Todavia a reacção contrária dos madeirenses
obrigou o rei a recuar em 9 de Janeiro de 1494~',ficando esta determinação a ser
cumprida por ordem do duque de 8 de ~ u l h o do' ~ mesmo ano.
Atd a década de trinta do século XVI os reditos fiscais, resultantes da
produção e comércio do açUcar, são fontes de fmanciamento do reino e projectos
expansionistas. O rendimento da coroa na ilha, entre finais do século XV e principios
da centúria seguinte, era superior a cem mil arrobas, atingindo em 1512 as 144.065
L arrobas, o que corresponde a 45.380.475 reais. Este açúcar, depois de retirada a
redizima, isto é, a décima parte propriedade do capitão do donatário, era usado pela
coroa de formas diversas, como meio de pagamentos dos salários, esmoias aos
conventos e miseriwrdias, benesses a principes e infantes da Casa Real e despesa
. aduaneira da ilha, enquanto a parte sobrante era vendida, directamente em Flandres
peIos feitores do rei, ou por mercadores, por vezes, a troco de A sua
aplicação na ilha era eventual, resumindo-se as despesas como a construção da Sé e
alfândega do Funchal, que receberam, respectivamente, 1 .O00e 3.000 arrobas de
apícar. Poder-se-á, ainda, incluir, com um caricter quase permanente, o pagamentc

" Arquivo Histbrico da Madeira, Vol. XVI, pp. 189-192.


74
Arquivo Histdrico da Madeira, Vol. XVI, pp. 284.
'' Arquivo Histórica da Madeira, Vol. XVI, pp. 292.
'' Arquivo Histórico da Madeira, Vol. XVI, p. 299.
&;C. , Cf. Fernando Jasmins Pereira, Estudos sobre Histeria do Madeira, Funchal, 1991, 163
7, EPb
dos inúmeros pedidos de socorro e abastecimento das praças mmquinas, e
provimento das armadas da índia, por norma, em vinho7'.
Em 1529, com o Tratado de Saragop foi encontrada uma solução provisória
que a curto p m parecia agradar a ambas as partes, D.João 111 viu-se forçado a
pagar 350.000 ducados para assegurar a posse das Molucas que afinal se
encontravam dentro da área de influência de Portugal. Mais uma vez é possível
assinalar uma ligqão a Madeira com o contributo de avultada quantia de
empréstimo para o pagamento do referido contrato. Manuel de Nomnha ficou cum o
encargo de arrecadar a contribuição rnadeirense. João Rodrigues Castelhano &
referenciado também como recebedor do referido empréstimo, tendo desembolsado
da sua fazenda 300.000 reais. A este juntaram-se Fernão Teixeira com 150.000reais
e Gonçalo Fernandes com 200.000 reais. O pagamento fez-se nos anos de 1530-3 1 à
custa dos dinheiros resultantes dos direitos da coma sobre o açúcar.
Os dados fiscais de I53 1 permitem uma ideia da evolugão da receita e despesa
da ilha. Os réditos sobre as rendas do açúcar foram de 6.990.573 reais de que se
gastaram 10°/o nos vencimentos do clero da capitania do Funchal e 7% no
pagamento do empdstimo que João Rodrigues Castelhano a Coroa para pagar o
contrato das Molucas. Mais de cinquenta por cento das receitas iam directamente
para o reino a engrossar os cofres da Fazenda Real. A partir desta informação, ainda
que avulsa, conclui-se que os madeirenses foram activos protagonistas da expansão
lusiada dos séculos XV e XVI emprestando a própria vida e reditos, arrecadados
com a safra do aqúcar, no financiamento deste projecto e das exorbitâncias e
caprichos quotidianos da Casa Real.
A forma de D. Manuel compensar os madeirenses pelos elevados réditos
que a ilha atribuiu a coroa foi através de diversas ofertas referidas pela tradição;
A Sé do Funchal recebeu um porta-paz e uma cruz processional; a igreja matriz
da Ribeira Brava a pia baptismal; a de Machico as colunas de mármore do portal
da parede lateral, a escultura a virgem e o menino, os pesos da Câmara; a da
Calheta o sacrhrio em ébano e prata, Note-se ainda que foi sob o ser governo que
se construíram os templos mais sumptuosos da ilha; como a Se do Funchal e as
igrejas de Machico, Santa Cruz, Ribeira Brava e Calheta. Hoje ainda persiste na
ilha vestígios evidentes deste período de prosperidade. Foi com mesmo sentido de
retribuição que o monarca elevou em 21 de Agosto de 1508'~ o Fuiichal h
categoria de cidade. Segundo o mesmo afirma a vila "tem creçido em muy grande
provorapn e como vivem nella muytos fidallgos cavalleyros e pessoas honrradas
e de grarndes fazemdas pollas quaaes e pello grande trauto (...) esperamos (...)
[ muyto mays se em nobreza e acrepente (...) ".
'' Sobre as asslduas despeas com o socorro às praças africanas podemos citar, a título de
exemplo, o concedido eritre 1508 e 1514 a Safirn. Neste período gastywn-se mil arrobas de açúcar e
83.8 15 reai5 enquanto em 153 1 o provimento de vinhos As armadas da India orípu em 124.480 reais.
7g Arquivo Hi~tóricoda Madeira, vol. XVIII, pp.512-513.
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