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C
invadir o mercado mediterrânico sob o controlo dos venezianos. Estes em 1494
compraram na Sicilia 130 cântaros, enquanto da Madeira receberam, passados
dois anos, 3000 ~ántaros'~.
A Madeira afirmou-se, entre o último quartel do século XV e a primeira
metade da centúria seguinte, como o principal mercado a~ucareiroeuropeu, des-
tronado os mais directos competidores no Mediterrâneo, como a Sicilia e
Granada. Esta alteração ocorreu também ao nível dos agentes e dos principais
centros distribuidores, O açúcar, que era quase um exclusivo de árabes e venezia-
i nos, abriu-se a novos agentes e mercados. A partir de 1526 com o açúcar atlân-
I
i tico, da Madeira ao Brasil e As Antilhas, eclipsou-se a posição dos venezianos e
/ da sua cidade com centro redistribuidor do açúcar.
ai
U.Mendonça Dias, A Vida de Nmsos Avós, vol. 2, Vifa-Franca do Campo, 1944,32-44.
fazendo-a depender de licengas especiais. Quanto a Madeira foi a impossibiIidade
da sua vizinhança sem licença expressa da coroa e a interditação da revenda no
mercado local, A Câmara, por seu turno, baseada iiestas ordenações e i10 desejo
expresso dos seus moradores ordenara a sua saida até Setembro de 1480, no que ,
foi impedida pelo senhorio. Somente em I489 foi reconhecida a utilidade da
presença dos mercadores estrangeiros na ilha, ordenando D. João I1 ao duque
D. Manuel, entãio Duque de Beja, que os estrangeiros fossem coiisiderados como
"naturaes e vizinhos de nossos regnos"22.
Na década de noventa, de novo, os problemas do mercado a~ucareirocon-
duziram ao ressurgimento desta política xenófoba. Os estrangeiros passaram a
dispor de três ou quatro meses, entre Abril e meados de Setembro, para comerciar
os seus produtos, não podendo ter loja e feitor na cidade. Somente em 1493
D.Manuel reconheceu o prejuízo que as referidas medidas causavam A economia
madeirense, afugentando os mercadores, pelo que revogou todas interdições ante-
riormente impostas23.As facilidades concedidas a estadia destes forasteiros
conduziram B sua assiduidade bem como a fixação e intervenção na estrutura fun-
diária e administrativa.
A comunidade de mercadores estrangeiros na Madeira foi dominada pela
presença de italianos, flamengos e franceses, que surgem no Funchal atraídos pelo
tão solicitada "ouro branco". Os florentinos e genoveses foram, desde meados do
século XV,os principais agentes do comércio do açúcar alargando depois a sua
actuavão ao domínio fundiário, possível por meio da compra e laços matrimo-
niais. Na década de setenta, mediante o contrato estabelecido com o senhorio da
ilha, detinham já uma posição maioritária na sociedade criada para o comércio do
açúcar, sendo representados por Baptista Lomellini, Francisco Calvo e Micer
Leão. No irltimo quartel do século juntaram-se Cristóvão Colombo, João Antóiiio
Cesare, Bartolomeu Marchioni, Jerónimo Sernigi e Luis Doria. A este grupo
" Alberto VIEIRA, O Comércio Inter-Insular nos Séculos XV e XVI, Funchal, 1987.79.
Descobrimento da Ilha da Madeira I..), Lisboa, 1947, 102.
25
1 rense para Itilia se processou com maior incidência no período de 1490 a 15 10,
momento em que este mercado e mercadores dai oriundos encontraram condipões
favoráveis junto da coroa nos diversos contratos de compra de açúcar.
ACUCAR
MERCADORES ARROBAS
JO&I Francisco Affaitati 177.907,5
Feducho Lamoroto 32.039,5
Bartolomeu Marchioni 5 1.238
Benedito Morelli 50.348
Matia Manardi 134.423,5
Ouwos 179.604
TOTAL 625.559,5
68
As actividades comerciais de Diogo Fernandes Branco não são episódicas,
inserindo-se no contexto da estrutura comercial madeirense da segunda metade do
século dezassete, comprovando uma das dominantes estruturais da ilha com
intermediária entre os interesses da burguesia comercial do Novo e Velho Mundo.
Um dos componentes deste p d e era o porto do Funchal, onde uma chusma de
pequenos burgueses aguardava a oportunidade para singrar. O Brasil é outro dos
vértices privilegiados deste triânguIo. Episodicamente surge-nos Barbados, que só
singrou a partir da afirmação hegemónica da burguesia comercial britânica no
mundo atlântico.
0 CONSUMO DO A Ç ~ C A R
JAN FBV MAR ABR MA1 JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
1508 - - 315 - 320 320 290 - 283 286 501 305
153 450 500 500 - 500 515 535 560 650 -
São ainda de assinalar outras variações sazonais, quase diárias, o que evi-
dencia o valor da lei da oferta e da procura. Veja-se o que sucedeu com o preço
do açúcar branco no Funchal em 1508.
Abril
Maio
Junho
Julho
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
' '
'I V. M.GODINHO, "Preçose conjuntura do dculo XV ao X I X in Dicioiscirio rle Hisibriu
&, Vol. Ilf, pp. 488-5 16;Jok Gentil da SILVA, "Echges et troc: I'exemple des Canaries
" in Annales, XVI, no 5, Paris, 1461, pp. 1004-1011; Manuel LOBO
Medidas en Canarias en e1 siglo XVI, Las Palmas, 1989,pp. 10-13;
0 6 .cit., pp. 147-148.
Jmhins PEREIRA, Estudos sobre História da Madeira, Funchal, 1991,
Estas cotwões são mais explícitas no registo de saída da alfândega de Santa
Cruz em 1524.
I
,
O açúcar branco apresentava dois preqos, consoante fosse de uma ou duas
cozeduras. Na Madeira o último preço correspondia em 1494 a quase o dobro do
primeiro. Se tivermos em conta, que em 15000 arrobas da primeira cozedura
ficava apenas 10000 na segunda, nota-se uma forte valorizaqão do produto fina$.
Esta insistência no aqúcar de segunda cozedura e considerada condição necesslia
para a valorização do produto, impedindo que chegasse ao mercado europeu em
condições mas, acima de tudo, uma medida benkfica que reduzia
quivo Histórico da Madeira, Vol XV, pp. 64, carta de 3 Setembro de 1472.
-. 44 Arquivo Htrfdrico dn Madeira, Vol XV, p. 46, 14 de Julho de 1469; p. 229, 11 de Janeiro
; pp. 3 13, 3 18, 3 de Setembro de 1495; pp. 372-380; Gaspar FRUTUOSO,Livro Primeiro
71
A oferta não se resumia apenas ao aqtçúcw branco, pois a ele deve juntar-se
subprodutos, como as escumas, rescumas, mel, remel, mascavado e mel
mascavado e, depois alguns derivados, como as conservas e casquinha. E, ainda,
possivel estabelecer uma relação entre estes subprodutos e o açúcar branc4
expressa nos níveis de produção e preço. Em Gran Canaria no século XVI essa
rela@o fazia-se da seguinte forma: em 2500 arrobas de açficar correspondem 60%
ao branco, 12% As escumas, 8% de rescumas e 20% de açúcar refinado. O mesmo
sucede na Madeira no periodo de 1520 a 153745.
das Smda&s da Terra, p. 1 13; Armando de CASTRO, "O sistema monethrio" in Hisfbria de
Por~yga!~ Vol. 111, Lisboa, 1983,pp. 236-238.
Manuel LOBO CABRERA, ibidem, p. 1 1 6; Fernando Jasmins PEREIRA. &idos sobre
Histdria da Madeira, Funchal, 1991, pp. 2 1 9-224.
Os preços de venda variavam também de acordo com a qualidade e tipo do
produto transaccionado, como se poderá verificar pelo quadro:
1526
1550 950
1580 1800 21 12
Sousa Vitertio, Artes e Indústrias Portuguesas. A Induseia Sacarina, Coimb ta, 1909.
16 e 28; Arquivo Regional da Madeira, Câmara Municipal do Funchal registo geral, t.lV, fl. 4.
F. Mauro, Le Portugal etl 'Atlantigue, Paris, 1960, p.190
AS CONSERVAS E A DOÇARIA
Antbnia Arwo, A Madeira vista por Estrangeiros. 1455- 1 7013, Funchal, 198 1, p.37
49 António Aragiio. A Madeira vista por Estrangeiros. 1455- 1 700,Funchal. I98 1. p. 1 30
Antbnio Aragão, A Madeira vista par Estrangeiros. 1455-1 700, Funchnl, 198 i, p. 159
51
António AragBo, A Madeira vista por Eslrangeiros. 1655- 1700, Funchal, 198 1, p. 198
5Z Arquivo Histbrico dos Açores, vol.XV, p.45-46
53 PEREIRA. Fernando Jasmins, Livros de Contas da Ilha da Madeiro. 150.1-1537,
I1 Registo da Produção de açaicar, Funchal, C E M , 1 989.
s4 Livro Segundo das Saudades da Terra, Porto. 1 925. pp.2 1 2-2 13. Cf. Luciana Skgagno
Picchio, O Sacro Coltgio de Alfenim, in Actas do I1 Col6quio Ipt~ernaciorialde História di
-
Madeira, Lisboa. 1990, pp. 1 8 1 190.
preferencial das conservas e doqaria madeirense era a Casa Real portuguesa.
D. Manuel foi o consumidor preferencial e aquele que divulgou as suas qualidades
na Europa. Foi com conservas que Vasco da Gama presenteou o Xeque de
Moçambique. No período de 150 1 a 1561 a Casa Real consumiu 1 129 arrobas e 58
barris de qúcar em conservas e frutas secas. A par disso o rei havia estabelecido, a
partir de 1520, o envio anual de 10 arrobas de conserva para o feitor de Flandres.
Esta indústria manteve-se por todo o skulo XVII, suportada com o pouco
aqúcar da produção local ou com as importações dele do Brasil. Em 1680
importaram-se 2.575 arrobas para o fabrico de casca. Aliás, de acordo com uma
informação dada ao goveriiador da i lha, D. António Jorge de elo^^, "é a casquinlia
negócio muito grande porque há aniio que se carregão com aquella terra inais de 20
embarcações de Ilum so doce para o qual he necesareo comprar assucar da terra ou
manda10 vir do Brasil". A correspondência de William ~ o l t o d \ m v a que a
conserva de citrinos estava em grande prosperidade na década de noveilta do século
XV11, sendo usada no abastecimento das embarcações que demandavam a ilha, ou
exportadas para Lisboa, Holanda e França. Parte significativa do movimento
comercial pode ser reconstituída atraves da correspondência comercial de dois
mercadores: Diogo Fernandes Branco (1 649- 1652), William Boiton (1 696-1 7 15) e
Duarte Sodré Pereira (1 710- 1 7 12)57-
Diogo Femandes Branco parece ter sido o principal interveniente do comércio
com os portos nórdicos, quase só baseado na exportação de casca e conservas. Para o
curto período que dura a correspondência é evidente a iinportãncia assumida pelo
dito comércio. Em 1649, não obstante o aqúcar da produção local ser de mau
qualidade, a falta de cidra e tardar a vinda dos navios do Brasil, a procura manteve-
se activa, gerando dificuldades aos fornecedores, como Diogo Fernandes Braiico,
que tiveram que socorrer-se de todos os meios para poder satisfazer a eiicomenda. A
conjuntura conduziu inevitavelmente ao aumento do preço do produto. A situação
continuou de modo que em Novembro de 165I carregaram na ilha nove navios
franceses. No ano imediato inverteu-se o curso. A casca abundou e em Outubm
ainda tardavam em chegar os navios para a leva-la ao seu destino, o que era motivo
para preocupa@o. Duarte Sodré Pereira surge, nos anos imediatos, como o
continuador do comércio deste produto. A actividade mercantil, neste lapso de
Fonte: José Perreira da Costa, Livro de Contas da ilha da Madeira. 1504.1537,voI. lI, Funchal, 1989.
61/bidem, p.79
62No período de 1508 a 1514 gastaram-se 1000 arrobas com as despesas de socorro a Safim.
63 Cf. Alberto Vieira, O Comércio /nter-insular nos séculos XV e XV/, p.23; V. Magalhães
Godinho, Ensaios, 11,Lisboa, 1978, pp. 29-71, 281-322.
64De entre as suas ofertas à Madeira destacam-se uma cruz processional para a Sé, uma pia
baptismal para a Ribeira Brava, uma escultura em Madeira e as colunas de mármore do portal lateral
da matriz de Machico.
65Apenas para o Funchal em 1536, Ribeira Brava em 1517 e 1536, Ponta do Sol em 1526 e
] 537 e Calheta em 1509, 15]4 e 1534; veja-se Femando Jasmins PEREIRA, Livro de contas da ilha
da Madeira 1502-/537, VoI. lI, Funchal1989.
78
O lavrador e o proprietário do engenho serviam-se usualmente do produto
da safra para o pagamento da mão-de-obra assalariada. Entre 1509 e 1537 ha
referência a diversos pagamentos em açúcar por serviços prestados na lavoura e
laboração do engenho e, mesmo na compra de qualquer manufactura ou prestação
de serviço artesanal. O pagamento dos serviços da safra do açiícar atingiu
3 1,41 %, sendo 1 6,62% no cultivo e apanha da cana e 1439%. Em termos de
ofícios é dominado pelos sapateiros (27,62%) e ferreiros (24,48%). Esta
distribuição dos lucros acumulados por proprietiirios de canaviais e mercadores de
açúcar contribuiu para um manifesto progresso da sociedade rnadeirense no
século dezasseis, com evidentes reflexos no quotidiano e panoramas artístico e
arquitectónicoM.
66
David Ferreira de GOUVEIA, "Oaçiicar e a economia madeirense (1420.1550). Consuino
de excedentes", Islenha, no8, 199 1 ), pp. 1 1-22.
mercadores de açúcar contribuiu para o progresso da sociedade madeirense no
século dezasseis, com evidentes reflexos no quotidiano e panorama artístico e
arquitectónico.
A definição do mercado externo esteve sujeita as oscilqões e apetências do
mercado. A determinação regia das escápulas em 1499 pode ser definida como a
imagem das rotas do comércio do açúcar madeirense. As praças do mar do norte
dominaram o comércio, recebendo mais de metade destas escápulas. A Flandres
adquiriu uma posiçrio dominante no mercado da Europa do Norte, eiiquanto os
portos italianos assumiam idêntico papel para o espqo ineditemânico, Se
compararmos estas com o açricar consignado as diversas prwas europeias, para o
periodo de I490 e 1550, verifica-se que o roteiro não estava aquém da realidade.
As iinicas diferenças relevantes surgem nas Praças da Turquia, França e Itália.
Aqui, C manifesto o reforço da posiqão das cidades italianas, que poderá resultar
da sua actuação como centros de redistribuição no mercado levantino e francês.
-
I ' l . l . 1 . I - I
Espnha Flandres França ]tala Pomieai Outros
83
porto de destino, sem proceder a qualquer descarga. O não acatamento das ordens
do municipio implicava a pena de 200 cruzados e um ano de degredo.
A pressão dos homens de negócio do Funchal envolvidos neste comércio
veio a permitir uma solução de consenso para ambas as partes. Em 1612 ficou
estabelecido um contrato entre os mercadores e o municipio em que os primeiros
se comprometiam a vender um terço do açúcar de terra,'~esdeI603 estava
proibida a compra e venda de açiicar, sendo os infractores punidos com a perda do
produto e a coima de 200 cruzados. Mas a partir de Dezembro de 161 I a venda de
açúcar brasileiro só seria possiveI após o esgotamento do da terra. Em t 657 a
proporção de cada açiícar era de metadeb9.
Ap6s a Restaucação da independência de Portugal o comércio com o Brasil
foi alvo de múltiplas regulamentações. Primeiro foi a criação do monopólio do
comércio com o Brasil, através da Companhia para o efeito criada, depois o esta-
belecimento do sistema de comboios para maior segurança da navegação. A esta
situação, estabelecida em 1649, ressalva-se o caso particular da Madeira e Açores,
que a partir de 1650 passaram a poder enviar, isoladamente dois navios com
capacidade para 300 pipas com os produtos da terra, que seriam depois trocados
por tabaco, açúcar e madeiras. Mais tarde, ficou estabelecido que os mesmos não
podiam suplantar as 500 caixas de qúcar. O movimento das duas embarcações da
Madeira fazia-se com toda a deçcriqão, conforme recomendava o conselho da
Fazenda, mediante as licenças e a sua entrega deveria ser feita no sentido de favo-
recer todos os mercadores da ilha. Alguns destes navios, fora do niirnero estabele-
cido para a ilha, declaram sempre serem vítimas de um naufrágio ou de ameaças
de corslios, o que não os impedem de descarregarem sempre algumas caixas de
açúcar. Será esta uma forma de iludir as proibiç6es estatuidas? Todavia os
infractores sujeitavam-se
- -.,.,-
a prisão.
-.? ",., ,
, . !,.
m , , ,,,d*> <+<'-
INVESTIMENTO E OSTENTAÇAO
84
propriethrios de canaviais, para o período de 1509 a
690,revela a existência de um grupo que assumia uma posiçb destacada na socie-
M e local. Muitos, de entre estes, evidenciaram-se pela riquem acumulada com a
~plom@oaçucareira que usam de forma ostentatória na constru@o de capelas ou
dádivas em obras artísticas. Para um total de 298 proprietários teremos 37 com
I I I
30AO ESMERALDO IPonta de1 1526 1 3277,s 1 2.419$650 ICapela do Espirito Santo (Lombada)
I
Irnatriz da R.Brava) I
I
madeirenses. A sua volta anichou-se um vasto hinterland agricola, ligado por terra e
mar. O povoado, traçado por João Gonçalves Zarco, começou por ser a sede da
capitania do mesmo nome mas, a riqueza do vasto hinterland projectou-o para ser a
primeira e i5nica cidade e porto de ligação ao mundo. Machico perdeu a batalha,
porque os seus capitães não foram capazes de acompanhar o ritmo dos funchalenses.
O progresso e importãncia do Funchal foram rápido, De vila passou a cidade e sede
1
do-primeirobispado e, depois arcabispado, das t e m atlânticas portuguesas.
I
Islenha, n.' 8 (1991), pp. 1 1 -22. Luisa Clode e Fernando Aniónio Pereira, Museu de Arte Sacra do
Funchoi. Arteflamelgga, Funchal, Edicarte, 1997. lohn Everaert, Os Barões Flamengos do açúcar na
Madeira (ca. 1480-ca. l620), in Fiandres e Portugal na confluencia de duns Culturas, Lisboq
I ediçlies Inapa, 1991, pp.W-117
" Cf.Antbnio Aragiío, Para n História do Funchal, Funchal, 1 979.
'' VIEIRA, Alberto, -O Regime de Propriadade na Madeira: o Caso do Açúcar (1500-1 537,
in Actas do I Colóquio Iniernacional de Histhria da Madeira. 1986,Funchal, 1989, pp.539-6 1 1.
No terreno evoluiu o traçado urbanistico e a construção de imponentes
edificios. As palhotas, dispostas de modo anárquico, vão dando lugar a casas
assoalhadas, alinhadas ao longo de armamentos paralelos a costa e em torno da praça
que domina o templo religioso. O capitão, de Santa Catarina, avançou encosta acima
até se fixar no alto das Cruzes, no espaço dominado pelo actual Museu da Quinta das
Cruzes. Do outro lado, no Cabo do Calhau, surgiu o burgo popular, dominado pelo
mar e pela rua que o ligava a ermida de Nossa Senhora da Conceição de Baixo. Foi a
partir daí que avançou aquilo a que mais tarde veio a ser a cidade. Do nicho do cabo
do Calhau, passou-se a Ribeira Santa Maria (hoje de João Gomes) e aos poucos
conquistou-se esp- aos canaviais para traçar ruas e erguer casas de sobrado.
D. Manuel, desde que tomou posse do senhorio da ilha, apostou na sua
valorização político e institucional, fazendo com que a ilha se moldasse a irnageiis
e semelhança do reino. O Funchal, que crescera de forma desordenada, recelie
orientaqões urbanísticas. Em 1485'~determinou que no seu melhor campo de
canaviais, conhecido como campo do Duque, se traçasse uma praça servida das
casas do concelho e picota da igreja. A necessidade de salvaguarda do iiúcleo
urbano levou a coroa a determinar em 149374que se fizesse uma cerca e muros na
forma do que acontecia em Setúbal, Todavia a reacção contrária dos madeirenses
obrigou o rei a recuar em 9 de Janeiro de 1494~',ficando esta determinação a ser
cumprida por ordem do duque de 8 de ~ u l h o do' ~ mesmo ano.
Atd a década de trinta do século XVI os reditos fiscais, resultantes da
produção e comércio do açUcar, são fontes de fmanciamento do reino e projectos
expansionistas. O rendimento da coroa na ilha, entre finais do século XV e principios
da centúria seguinte, era superior a cem mil arrobas, atingindo em 1512 as 144.065
L arrobas, o que corresponde a 45.380.475 reais. Este açúcar, depois de retirada a
redizima, isto é, a décima parte propriedade do capitão do donatário, era usado pela
coroa de formas diversas, como meio de pagamentos dos salários, esmoias aos
conventos e miseriwrdias, benesses a principes e infantes da Casa Real e despesa
. aduaneira da ilha, enquanto a parte sobrante era vendida, directamente em Flandres
peIos feitores do rei, ou por mercadores, por vezes, a troco de A sua
aplicação na ilha era eventual, resumindo-se as despesas como a construção da Sé e
alfândega do Funchal, que receberam, respectivamente, 1 .O00e 3.000 arrobas de
apícar. Poder-se-á, ainda, incluir, com um caricter quase permanente, o pagamentc
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