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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

DOCENTE: PROF. DR. RAIMUNDO CLÁUDIO GOMES MACIEL

DICENTE: KÁSSIO HOLANDA DA SILVA

FICHAMENTO DO CAPÍTULO 2:

A EXPANSÃO COMERCIAL E MARÍTIMA, O MERCANTILISMO E O ESTADO


ABSOLUTISTA

RIO BRANCO. ACRE


2023
A expansão comercial e marítima, mercantilismo e o estado absolutista. (pp. 76 –
104). Segundo Capítulo.

Flávio A. M. de Saes; Alexandre Macchione Saes. História Econômica Geral.


São Paulo: Editora Saraiva, 2013.
“A crise do século XIV havia se manifestado de forma aguda pelo declínio
abrupto da população. Ao perder cerca de um terço de seus habitantes, a Europa
também viu muitas áreas rurais despovoadas e cidades abandonadas. Embora
esse resultado possa ser atribuído de modo imediato à Peste Negra, na verdade
ele reflete uma crise do sistema feudal: seja por uma pressão crescente da
população sobre os recursos naturais (especialmente a terra), seja pela
insuficiência do produto gerado para sustentar a população, dada a forma de
organização social da produção, o sistema feudal mostrava-se incapaz de manter
a expansão que o havia caracterizado desde o ano 1000, expansão que se
manifestara pela ocupação e colonização de áreas até então vazias.” (p. 76)

“(...) a redução da população diminuiu a demanda por cereais básicos, como o


trigo. Admite-se que a produção não se reduziu tanto quanto a população porque
as áreas que continuaram a ser cultivadas eram as mais férteis. Desse modo,
entende-se a sensível redução dos preços desses cereais, com forte impacto
sobre a renda daqueles que vendiam seus excedentes no mercado, em especial,
os senhores feudais. Portanto, a crise do século XIV marca o início de um
enfraquecimento relativo da classe feudal.” (p. 76; 77)

“Desse modo, embora seja difícil exagerar o impacto da crise do século XIV, é
necessário qualificá-la, pois nem todas as atividades foram afetadas igualmente.
Cidades ligadas ao comércio ou à produção de bens de luxo não sofreram os
efeitos profundos da crise, embora tenham passado por dificuldades. Um dos
aspectos da crise do século XIV ilustra seu impacto desigual sobre a economia
europeia: o comércio com o Oriente, mesmo com a crise, era deficitário, o que
exigia constantes remessas de metal para cobrir o excesso de importações sobre
as exportações.” (p. 77)
“A partir de 1460, observa-se a retomada do crescimento populacional e também
o alívio da crise monetária pelo uso de novas técnicas que permitiam a
exploração das minas em maiores profundidades (ou mesmo pela descoberta de
novas minas). (p. 77)

“Se a expansão feudal entre 1000 e 1300 chamava a atenção pela colonização
de novas e extensas áreas em moldes tipicamente feudais, a partir da segunda
metade do século XV as fontes da expansão revelam uma nova dinâmica da
economia europeia, que se projeta para fora de seu espaço geográfico. Em certo
sentido, a expansão comercial e marítima da Europa a partir de meados do século
XV expressou a reação da sociedade europeia ao impacto da crise feudal do
século XIV. Embora se dirigisse a novas rotas e mercados, esta expansão tinha
como referência o comércio que se realizava na Europa medieval, em especial a
partir do século XII. Assim, convém observar, de início, como se caracterizava
esse comércio e como se organizava a cidade medieval.” (p. 77)

“Nessa mesma época foi estabelecida outra corrente de comércio, esta ao norte
da Europa Ocidental. Os povos escandinavos – em geral identificados com os
vikings, conhecidos por seu ímpeto guerreiro – também tiveram papel importante
para a criação de uma rota comercial no norte da Europa Ocidental até a Rússia.
Por via marítima e fluvial atingiam o interior russo, onde obtinham mercadorias da
própria Rússia e também do Oriente. A rota da Rússia foi explorada
principalmente pelos suecos; na outra direção – da Inglaterra, da Escócia e da
Irlanda – dirigiram-se dinamarqueses e noruegueses” (p. 78; 79)

“Desse modo, no século X já estavam definidas as duas principais rotas


marítimas que orientaram o renascimento comercial da Idade Média, o qual
reflete, em parte, o crescimento populacional e a expansão da área colonizada na
Europa Ocidental. No entanto, há alguns eventos que merecem referência. É o
caso das Cruzadas. (p. 79)

“Desse modo, processou-se a crescente integração do comércio do sul com o do


norte: uma rota terrestre unia o norte da Itália à região de Flandres. E nessa rota
foram criadas feiras que tinham o objetivo de promover a distribuição das
mercadorias pelos comerciantes europeus.” (p. 79)
“Os mercadores do norte da Europa também estavam presentes nessas feiras.
As rotas do norte da Europa, abertas pelos escandinavos, foram dominadas, no
século XIII, pelos mercadores alemães. Voltados principalmente à Rússia, de
onde traziam peles, mel, madeiras e centeio, integraram os tecidos de Flandres a
esse comércio. Os mercadores alemães dessas diversas cidades organizaram-se,
no século XIV, na chamada Liga Hanseática (ou Hansa Teutônica), que tinha
feitorias em vários locais (inclusive em Flandres e na Inglaterra), a indicar sua
forte penetração em mercados europeus. As cidades alemãs da Liga Hanseática
(principalmente Colônia e Lübeck) tiveram, no comércio do norte da Europa, o
mesmo domínio de Veneza e Gênova em relação ao comércio do sul.” (p. 80)

“Diferentemente do campo, nas cidades não existia a servidão. E, embora muitas


cidades tivessem se formado em terras de senhores feudais (devendo obrigações
em relação a eles), a grande maioria tornou-se autônoma com base em uma carta
de franquia concedida pelo senhor territorial (ou obtida por compra ou pela força
das cidades).” (p. 80)

“O quadro típico da produção e do comércio em uma cidade medieval é o de


pequenos donos de oficinas e lojas – os mestres – que realizam sua atividade
com o auxílio de alguns companheiros e aprendizes, a indicar reduzida
diferenciação social entre eles.” (p. 81)

“Também em relação ao governo das cidades, estabeleceu-se uma distinção


entre os núcleos urbanos menores e as grandes cidades ligadas ao comércio a
longa distância. Ao conquistarem sua autonomia diante dos senhores territoriais,
as cidades tenderam a organizar governos em que estavam presentes membros
associados às corporações urbanas. Outros habitantes urbanos, como os nobres
e os assalariados, não tinham qualquer tipo de participação nos governos.” (p. 81)

“Portanto, na segunda metade do século XIV, em muitas cidades da Europa


Ocidental, o caráter relativamente democrático do poder já havia sido substituído
por formas tipicamente oligárquicas, expressando a ascensão e consolidação de
um capital comercial e financeiro ligado às operações internacionais” (p. 80; 83)
“A expansão europeia a partir da segunda metade do século XV teve a busca de
novas rotas – agora marítimas – como uma de suas diretrizes; tais rotas deviam
permitir o acesso direto às fontes das mercadorias orientais integradas ao
comércio europeu. Seu resultado foi muito além desse objetivo, pois culminou
com a descoberta de novos territórios e com o colonialismo mercantilista.” (p. 82)

“A partir de meados do século XV, surgiram pressões no sentido de uma nova


fase de expansão. É certo que o início da recuperação demográfica (passados os
efeitos mais drásticos da peste) apontava nessa direção. Frequentemente se
atribui a expansão comercial e marítima – as grandes navegações do século XV –
à busca do ouro (dada a escassez de metais para a circulação monetária) e de
especiarias, pois o comércio com o Oriente continuava controlado pelas cidades
italianas – especialmente Veneza – e pelos mercadores muçulmanos que tinham
acesso direto às fontes desses produtos de luxo e especiarias. Assim, os preços
pagos aos produtores orientais multiplicavam-se dezenas ou centenas de vezes
até chegar aos mercados da Europa Ocidental.” (p. 83)

“A expansão permitiria compensar a nobreza pela queda de sua renda e riqueza


e também ocupar os trabalhadores que, pressionados pelos senhores,
ameaçavam a ordem com revoltas.” (p. 84)

“Sem negar a importância da busca do ouro e das especiarias, Wallerstein


entende que necessidades de alimentos, matérias-primas e combustíveis foram,
no longo prazo, mais importantes. Um exemplo típico é o do trigo: se a Europa
Ocidental era autossuficiente até o século XIV, mais tarde passou a importar trigo,
em especial da Europa Oriental, pois parte de suas terras foram desviadas para
outros tipos de produção (como uvas para vinho, cevada para cerveja e pastos
para a criação de ovelhas). Igualmente importante foi a busca de novas fontes de
madeira: a devastação das florestas locais exigiu a importação de madeira,
principalmente dos países bálticos, para seu uso como combustível, como
material de construção e como matéria-prima para a indústria naval.” (p. 84)

“Portugal foi pioneiro nesse novo movimento de expansão. Embora a natureza


das pressões sobre Portugal fosse semelhante às do resto da Europa, havia
algumas circunstâncias que favoreciam sua projeção para fora do continente
europeu.” (p. 84)
“Portugal foi pioneiro nesse novo movimento de expansão. Embora a natureza
das pressões sobre Portugal fosse semelhante às do resto da Europa, havia
algumas circunstâncias que favoreciam sua projeção para fora do continente
europeu. Uma linha de expansão indica que os portugueses buscaram terras para
obter alimentos: a ocupação das ilhas da Madeira, Canárias, Açores e Cabo
Verde, no Atlântico, já na primeira metade do século XV, teve como estímulo
encontrar novas fontes de cereais (um problema particularmente agudo para
Portugal) e outros alimentos. Nessas ilhas, além de trigo, produziram açúcar e
vinho que eram destinados a Portugal e a outros mercados.” (p. 84)

“Espanha seguiu Portugal em sua expansão marítima e comercial. A descoberta


da América lhe deu a possibilidade de se apropriar, já no século XVI, dos tesouros
acumulados pelas populações nativas. Além disso, pôde explorar as minas de
metais por meio da utilização de mão de obra das próprias colônias (que foi
submetida a um regime – o da encomienda – com alguma semelhança com o da
servidão). O risco de conquista dessas minas por outras potências fez com que a
Espanha concentrasse seus esforços na defesa das regiões mineradoras,
relegando ao segundo plano a agricultura de exportação. Assim, definiu-se um
padrão de colonização distinto do português, mas cujo objetivo final era
semelhante, ou seja, a geração de riqueza para a metrópole” (p. 86)

“As outras potências europeias também participaram desse movimento de


expansão marítima e comercial, porém chegaram mais tarde do que Portugal e
Espanha. No entanto, ao longo do século XVII, os países ibéricos foram
superados por Holanda, Inglaterra e, em menor grau, França como grandes
potências mercantilistas” (p. 86)

“Em suma, se no século XVI coube a Portugal e Espanha a liderança na


expansão marítima e comercial, no século XVII, Holanda, Inglaterra e França
ofuscaram o papel exercido pelas potências ibéricas.” (p. 88)

“Em suma, a expansão marítima e comercial, iniciada por Portugal ainda no


século XV, levou à constituição de uma economia mundial integrada por fluxos
comerciais e mesmo à difusão de novas formas de produção na América. Essa
expansão não se fez espontaneamente, mas contou com a participação decisiva
dos novos Estados Nacionais que se consolidavam nos séculos XVI e XVII.” (p.
89)
“A expansão comercial e marítima da Europa a partir de meados do século XV
não resultou apenas das ações de uma burguesia mercantil ou mesmo de
parcelas da nobreza que procuravam compensar a redução de sua riqueza com o
aumento da posse de terras em outros espaços. Na verdade, o suporte do Estado
foi essencial para essa expansão: em parte pelo apoio material a certos
empreendimentos (como o das coroas espanhola e portuguesa para as
expedições de Colombo e de Cabral em direção ao Novo Mundo e para a
expansão marítima em geral); mas principalmente pela adoção de medidas de
política econômica que sustentaram a expansão das economias europeias rumo à
constituição de uma economia mundial. Essas medidas de política econômica
foram, mais tarde, rotuladas de “Mercantilismo”.” (p. 89)

“Em relação aos fins, Heckscher caracteriza o Mercantilismo como um sistema


unificador e como um sistema de poder. Unificador porque, ao propor a
consolidação do Estado, o mercantilismo lutava contra o universalismo e o
particularismo medieval.” (p. 90)

“A noção geral comum aos vários autores e às várias épocas do mercantilismo é


a do metalismo. Poderia ela ser admitida como fundamento do Mercantilismo? Ou
seja, até que ponto, a noção de que metal é riqueza e de que quanto mais metal
(ou moeda) um país acumular, mais rico (e poderoso) ele é, pode ser entendida
como a base do pensamento e da política mercantilista?” (p. 91)

“É provável que os mais antigos mercantilistas efetivamente advogassem que o


acúmulo de metal representasse, por si, uma vantagem para o país, talvez por
meio de uma analogia entre a riqueza do monarca e a riqueza do Estado.7 No
entanto, o fato de o metalismo estar presente em autores posteriores pode ser
entendido como uma forma de justificar determinadas políticas a partir de uma
noção – de que metal é riqueza – aceita à época (e talvez até hoje) sem maior
contestação. Porém como um país poderia aumentar a quantidade de metal que
tinha em suas reservas se não dispunha, em seu território ou no de suas colônias,
de minas de metais (ouro ou prata)?” (p. 91)
“Isto nos leva ao segundo elemento característico do mercantilismo: a balança
comercial favorável. Assim, o objetivo de se obter um saldo favorável na balança
comercial poderia ser associado ao desejo de aumentar as reservas metálicas do
país por meio do comércio internacional. Ao excesso de exportações sobre as
importações corresponderia a entrada de moeda/metal (os pagamentos pelas
exportações, feitos em metal ou moeda metálica, superariam os pagamentos
pelas importações, gerando um saldo metálico líquido que aumentaria as reservas
do país). Desse modo, o aumento da riqueza, atribuído ao aumento da
quantidade de metal no país, justificava uma política que promovesse o excesso
de exportações sobre as importações – a balança comercial favorável.” (p. 92)

“Se em certas épocas (especialmente no século XVI), a “obsessão metalista”


podia ser a justificativa para a balança comercial favorável, é provável que, mais
tarde o “metalismo” (ou seja, um certo consenso ideológico de que o aumento das
reservas metálicas ampliasse a riqueza do Estado) fosse o pretexto para se obter
uma balança comercial favorável que era desejável por outras razões. Lembra
Dobb, o saldo favorável na balança comercial representava um acréscimo das
vendas em relação ao mercado doméstico, um mercado razoavelmente limitado à
época. Assim, ao exportar mais do que importar era possível ampliar a produção
além daquilo que o mercado interno era capaz de absorver, atendendo a
interesses do comércio e da produção.” (p. 92)

“Outra implicação da entrada de metais e da balança comercial favorável era a


possibilidade de comprar barato e vender caro: a entrada de metal no país
superavitário tenderia a elevar os preços internos (e, portanto, os preços dos
produtos exportáveis) e a deprimir os dos países deficitários (portanto, os preços
dos produtos importados pelo país superavitário), favorecendo as relações de
troca no comércio internacional para o país superavitário” (p. 92)

“Muitos mercantilistas já tinham a percepção de que o aumento da quantidade de


metal (e da moeda em circulação) provocava um aumento nos preços, como mais
tarde foi formalizado na Teoria Quantitativa da Moeda.” (p. 92)
“Em suma, os mercantilistas acreditavam firmemente que a regulamentação do
Estado era capaz de interferir adequadamente no mercado, induzindo
movimentos de preços nas direções desejadas. Não é estranho que o monopólio
fosse um instrumento típico do Estado absolutista, aplicado tanto na esfera do
comércio como em certas atividades produtivas.” (p. 93)

“Nos séculos XIV e XV, o metalismo podia ser combinado a uma política de
aprovisionamento, uma forma de protecionismo típica do predomínio da visão dos
consumidores: proibir exportações, estimular importações essenciais a fim de
garantir abundância e barateza das mercadorias. Era a política das cidades
transposta para o plano do Estado. No entanto, é claro que havia um conflito entre
a política de aprovisionamento e o metalismo: aquela limitando o ingresso de
metais e impondo seu gasto com importações e este valorizando o aumento do
volume de metais no país. Esse conflito se resolvia, em parte, pela proibição da
exportação de metais. Por outro lado, o estabelecimento dos monopólios de
comércio – em especial sob a forma de concessões às companhias privilegiadas
– parece corresponder ao desejo de comprar barato e vender caro, típico do
capital comercial.” (p. 93)

“Se o metalismo permaneceu como pano de fundo, o que dá unidade às políticas


e ao pensamento mercantilista é a confiança na intervenção do Estado como
controlador do mercado por meio de concessões, monopólios, regulamentos. Tal
crença responde, em parte, ao desenvolvimento limitado dos mercados, mas
também à necessidade de criar mecanismos institucionais para a geração de
lucros substanciais para o capital. Numa época em que a produção agrícola e
manufatureira ainda apresenta reduzida produtividade (ou seja, gera um
excedente pequeno), o lucro na produção é relativamente restrito. Daí a
necessidade de monopólios, privilégios, regulamentações que permitissem a
elevação do preço de venda do produto e a redução dos custos (na compra de
matérias-primas ou no pagamento de salários), atendendo, em especial, ao
interesse da produção manufatureira.”
“Desse modo, o Mercantilismo não se limitaria a fortalecer o poder do Estado; ele
seria um instrumento para promover a acumulação de capital – em especial,
porém não exclusivamente, de uma burguesia mercantil e financeira – por meio
da intervenção do Estado na esfera econômica. O outro componente do
Mercantilismo – o colonialismo – se ajustava claramente a esse sentido geral. As
relações entre metrópoles e colônias não estavam pré-concebidas; elas foram
construídas à medida que a ocupação das terras conquistadas colocava o
problema de ajustar a exploração das áreas coloniais às necessidades e aos
interesses metropolitanos.” (p. 94)

“As riquezas metálicas acumuladas pelas populações nativas propiciaram, de


início, o puro e simples saque dessas riquezas. A seguir, a exploração das minas,
com a mão de obra local, submetida ao regime de encomienda (uma espécie de
servidão), gerou um fluxo contínuo de metais preciosos para a metrópole por
cerca de um século.” (p. 94)

“A crescente pressão de outras potências, inclusive com o ataque de piratas às


embarcações espanholas para saqueá-las, levou durante certo período ao regime
de frotas: o comércio com as colônias só podia ser feito a partir de Sevilha e por
meio de embarcações que vinham à América em comboios. Estes comboios
partiam em épocas pré-determinadas e se dirigiam apenas a alguns portos da
América Espanhola. Desse modo, o comércio com as colônias era completamente
controlado e monopolizado pelos mercadores metropolitanos. Além disso, o
regime de frotas restringia a oferta de produtos nas colônias, com o efeito de
elevar seus preços. Em suma, a metrópole não só absorvia as riquezas metálicas
das colônias, mas também lucrava pela imposição de preços elevados às
mercadorias enviadas às colônias, graças a um rígido exercício do monopólio de
comércio (ou do exclusivo metropolitano).” (p. 94; 95)

“As características gerais do regime colonial também estão presentes na América


Portuguesa: o monopólio de comércio, sob a forma da permissão apenas para
navios portugueses aportarem no Brasil, se estabelece tão logo a produção e os
preços do açúcar se elevam; após a Restauração em 1640, algumas licenças
foram concedidas à Inglaterra e à Holanda para o comércio direto para a colônia,
mas isso num quadro político em que o apoio daqueles países a Portugal era
importante para sua luta contra a dominação espanhola.” (p. 95)
“Quanto à mão de obra, a presença da escravidão, de início dos próprios nativos
e depois dos africanos, reafirma o caráter compulsório do trabalho na colonização
americana.” (p. 95)

“Se analisarmos as características do regime colonial num plano mais geral, sua
aderência aos objetivos do Mercantilismo se torna mais clara. O monopólio de
comércio garantia, ao capital comercial metropolitano, ganhos extraordinários por
meio do próprio efeito do monopólio: ao comprar as mercadorias coloniais podia
exercer uma pressão para reduzir seus preços (em relação ao preço que vigoraria
se comerciantes de vários países competissem por esse produto); ao mesmo
tempo, ao vender produtos metropolitanos na colônia podia pressionar seus
preços para cima. Assim, os comerciantes metropolitanos podiam praticar preços
de monopólio tanto na compra como na venda dos produtos na colônia, o que
estimulava o lucro comercial e, portanto, a acumulação de capital na metrópole.
De certo modo, a metrópole “explorava” a colônia pelo exercício do poder de
monopólio.” (p. 96)

“Ainda no plano geral, há mais razões para explicar o caráter compulsório da


força de trabalho colonial. A abundância de terras não apropriadas na América
permitiria que um trabalhador livre se apossasse de uma área de terra e ali
produzisse para a sua subsistência; desse modo, o objetivo da colonização – de
produzir mercadorias para o comércio europeu – seria inviabilizado.” (p. 97)

“Além disso, o trabalho colonial também deveria ser um trabalho barato que, ao
favorecer baixos custos de produção, viabilizava o pagamento de preços
reduzidos pelos produtos coloniais e, logo, lucros elevados para o comércio
metropolitano. Quando se generaliza a utilização do escravo africano, outra fonte
de lucro se afirma: o próprio tráfico de escravos da África para a América também
gerou grandes lucros para o capital comercial metropolitano.” (p. 97)

“Outra característica do sistema colonial – a proibição às manufaturas nas


colônias – fechava esse círculo de restrições conhecido como Pacto Colonial:
expressa um momento em que alguma produção manufatureira já se desenvolveu
nas metrópoles, mas também o interesse comercial de que as colônias não
subtraíssem às metrópoles os ganhos decorrentes da venda de mercadorias nas
colônias.” (p. 97)
“Quanto à mão de obra, a presença da escravidão, de início dos próprios nativos
e depois dos africanos, reafirma o caráter compulsório do trabalho na colonização
americana.” (p. 95)

“Se analisarmos as características do regime colonial num plano mais geral, sua
aderência aos objetivos do Mercantilismo se torna mais clara. O monopólio de
comércio garantia, ao capital comercial metropolitano, ganhos extraordinários por
meio do próprio efeito do monopólio: ao comprar as mercadorias coloniais podia
exercer uma pressão para reduzir seus preços (em relação ao preço que vigoraria
se comerciantes de vários países competissem por esse produto); ao mesmo
tempo, ao vender produtos metropolitanos na colônia podia pressionar seus
preços para cima. Assim, os comerciantes metropolitanos podiam praticar preços
de monopólio tanto na compra como na venda dos produtos na colônia, o que
estimulava o lucro comercial e, portanto, a acumulação de capital na metrópole.
De certo modo, a metrópole “explorava” a colônia pelo exercício do poder de
monopólio.” (p. 96)

“Ainda no plano geral, há mais razões para explicar o caráter compulsório da


força de trabalho colonial. A abundância de terras não apropriadas na América
permitiria que um trabalhador livre se apossasse de uma área de terra e ali
produzisse para a sua subsistência; desse modo, o objetivo da colonização – de
produzir mercadorias para o comércio europeu – seria inviabilizado.” (p. 97)

“Além disso, o trabalho colonial também deveria ser um trabalho barato que, ao
favorecer baixos custos de produção, viabilizava o pagamento de preços
reduzidos pelos produtos coloniais e, logo, lucros elevados para o comércio
metropolitano. Quando se generaliza a utilização do escravo africano, outra fonte
de lucro se afirma: o próprio tráfico de escravos da África para a América também
gerou grandes lucros para o capital comercial metropolitano.” (p. 97)

“Outra característica do sistema colonial – a proibição às manufaturas nas


colônias – fechava esse círculo de restrições conhecido como Pacto Colonial:
expressa um momento em que alguma produção manufatureira já se desenvolveu
nas metrópoles, mas também o interesse comercial de que as colônias não
subtraíssem às metrópoles os ganhos decorrentes da venda de mercadorias nas
colônias.” (p. 97)
“Metalismo, balança comercial favorável, protecionismo, regulamentação e
monopólios, colonialismo – práticas típicas do Mercantilismo enquanto política
econômica do Estado absolutista – formam um conjunto bastante consistente.” (p.
97)

“Metalismo, balança comercial favorável, protecionismo, regulamentação e


monopólios, colonialismo – práticas típicas do Mercantilismo enquanto política
econômica do Estado absolutista – formam um conjunto bastante consistente.” (p.
98)

“(...) de um lado, a formação de Estados absolutos centralizados só se tornou


efetiva em algumas regiões da Europa Ocidental, em especial França, Inglaterra e
Espanha (e com menor expressão, Portugal). Itália e Alemanha continuaram
fragmentadas, constituindo um Estado unificado apenas no século XIX. A
Holanda, submetida até o fim do século XVI ao domínio espanhol, ao se tornar
independente, não adotou um regime monárquico. O exemplo mais acabado de
Absolutismo é o reinado de Luís XIV (1661-1715), na França. Conhecido como o
Rei Sol, ele próprio dizia “O Estado sou eu”. Numa época em que o Estado já se
encontrava centralizado, acumulou no poder central a instância política e a
administrativa. Foi essa a época mais característica do Mercantilismo francês,
com uma política de apoio às manufaturas, dirigida pelo ministro Colbert. Na
Inglaterra, o período Tudor (1485-1603), especialmente com Henrique VIII e
Isabel, também é considerado como o auge do Absolutismo” (p. 98)

“Se é possível situar momentos históricos importantes na consolidação do Estado


absolutista, mais difícil é identificar a natureza desse Estado, questão, de resto,
bastante polêmica. Essa dificuldade está associada ao fato de o Estado
absolutista fazer parte do processo de transição do feudalismo ao capitalismo,
não sendo possível identificá-lo de imediato como feudal ou capitalista. De nossa
parte, mais do que defini-lo como feudal ou capitalista, pretendemos expor
algumas visões sobre o Estado absolutista e indicar de que modo o Estado se
insere no processo de transição.” (p. 98; 99)
“Uma das proposições mais frequentes, embora superficial, sobre o tema é de
que a burguesia comercial aliou-se aos monarcas para promover a constituição
dos Estados Nacionais. Tal aliança se justificava pela oposição que existiria entre
burguesia comercial e nobreza feudal.” (p. 99)

“Uma das proposições mais frequentes, embora superficial, sobre o tema é de


que a burguesia comercial aliou-se aos monarcas para promover a constituição
dos Estados Nacionais. Tal aliança se justificava pela oposição que existiria entre
burguesia comercial e nobreza feudal. A fragmentação política típica da época
feudal havia criado unidades autônomas em grande número, o que dificultava a
circulação mercantil (em suma, o particularismo apontado por Hecksher). Por
exemplo, o transporte de mercadorias entre dois pontos da Europa exigia a
passagem por várias unidades políticas autônomas (principados, ducados,
condados etc.), com a cobrança, em cada uma delas, de pedágios e outros
tributos. Além disso, a diversidade de moedas também tornava mais difícil o
comércio entre as várias regiões. A unificação de uma área mais ou menos vasta
num Estado centralizado, reduziria os problemas decorrentes da excessiva
fragmentação política. Nesse sentido, é plausível afirmar que havia alguma
oposição de interesses entre nobreza feudal e burguesia comercial em certas
esferas da atividade econômica, justificando a ligação entre monarcas absolutos
emergentes e burguesia comercial. Ou seja, a burguesia daria seu apoio a um
nobre pertencente a uma velha dinastia monárquica (ou a qualquer nobre com a
pretensão de se tornar rei) na luta contra a nobreza feudal. Por seu turno, o rei
(ou aquele que pretendia se tornar rei) dependia de recursos, em grande parte
fornecidos pela burguesia comercial.” (p. 99)

“(...) o Estado absolutista envolvia uma aliança entre o rei e os comerciantes (ou
os homens de dinheiro) contra os senhores feudais. No entanto, o argumento
parece insuficiente para justificar plenamente a formação do Estado absolutista.
Por um lado, não se deve levar ao extremo a oposição entre nobreza feudal e
burguesia comercial, pois, em certa medida, os lucros da burguesia provinham
das vendas que realizavam para a nobreza, não havendo interesse em destruir os
fundamentos sobre os quais se assentava a riqueza aristocrática.” (p. 100)
“Uma das proposições mais frequentes, embora superficial, sobre o tema é de
que a burguesia comercial aliou-se aos monarcas para promover a constituição
dos Estados Nacionais. Tal aliança se justificava pela oposição que existiria entre
burguesia comercial e nobreza feudal.” (p. 99)

“A fragmentação política típica da época feudal havia criado unidades autônomas


em grande número, o que dificultava a circulação mercantil (em suma, o
particularismo apontado por Hecksher). Por exemplo, o transporte de mercadorias
entre dois pontos da Europa exigia a passagem por várias unidades políticas
autônomas (principados, ducados, condados etc.), com a cobrança, em cada uma
delas, de pedágios e outros tributos. Além disso, a diversidade de moedas
também tornava mais difícil o comércio entre as várias regiões. A unificação de
uma área mais ou menos vasta num Estado centralizado, reduziria os problemas
decorrentes da excessiva fragmentação política. Nesse sentido, é plausível
afirmar que havia alguma oposição de interesses entre nobreza feudal e
burguesia comercial em certas esferas da atividade econômica, justificando a
ligação entre monarcas absolutos emergentes e burguesia comercial. Ou seja, a
burguesia daria seu apoio a um nobre pertencente a uma velha dinastia
monárquica (ou a qualquer nobre com a pretensão de se tornar rei) na luta contra
a nobreza feudal. Por seu turno, o rei (ou aquele que pretendia se tornar rei)
dependia de recursos, em grande parte fornecidos pela burguesia comercial.” (p.
99)

“(...) o Estado absolutista envolvia uma aliança entre o rei e os comerciantes (ou
os homens de dinheiro) contra os senhores feudais. No entanto, o argumento
parece insuficiente para justificar plenamente a formação do Estado absolutista.
Por um lado, não se deve levar ao extremo a oposição entre nobreza feudal e
burguesia comercial, pois, em certa medida, os lucros da burguesia provinham
das vendas que realizavam para a nobreza, não havendo interesse em destruir os
fundamentos sobre os quais se assentava a riqueza aristocrática.” (p. 99; 100)

“Ou seja, a hipótese de aliança entre o monarca absoluto e a burguesia


mercantil, com base apenas nas vantagens comerciais de um território unificado,
se funda num aspecto específico, embora importante, da época. Desse modo,
essa forma simplificada de ver o Estado absolutista deixou de ser considerada em
estudos mais recentes e aprofundados do tema.” (p. 100)
“(...) o equilíbrio de forças entre nobreza feudal e burguesia mercantil daria
relativa autonomia aos monarcas e era, de certo modo, a fonte de seu
absolutismo. Assim, as monarquias absolutas poderiam se situar acima dos
interesses de classes, podendo desenvolver uma política de fortalecimento do
Estado (ou seja, em função dos interesses do próprio Estado – o monarca, sua
corte, a burocracia, o aparato militar – diante da necessidade de sua afirmação
perante a sociedade).” (p. 100)

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