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VIEIRA, Alberto (1996),

A civilização do açúcar no Atlantico

COMO REFERENCIAR ESTE TEXTO:

VIEIRA, Alberto (1996), A civilização do açúcar no Atlantico, Funchal, CEHA-Biblioteca Digital,


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A CIVILIZAÇÃO DO
AÇÚCAR NO ATLÂNTICO

ALBERTO VIEIRA

FUNCHAL-MADEIRA http://www.madeira-edu.pt/ceha/
EMAIL:CEHA@MADEIRA-EDU.PT

A rota do açúcar, na transmigração do Mediterrâneo para o Atlântico, tem na Madeira a principal


escala. Foi na ilha que a planta se adaptou ao novo ecosistema e deu mostras da elevada qualidade e
rendibilidade. Deste modo a quem quer que seja que se abalance a uma descoberta dos canaviais e
do açúcar, na mais vetusta origem no século XV, tem obrigatoriamente que passar pela ilha . A
Madeira manteve uma posição relevante, por ter sido a primeira área do espaço atlântico a receber a
nova cultura. E por isso mesmo foi aqui que se definiram os primeiros contornos desta realidade,
que teve plena afirmação nas Antilhas e Brasil. Foi na Madeira que a cana-de-açúcar iniciou a
diáspora atlântica. Aqui surgiram os primeiros contornos sociais (a escravatura), técnicos (engenho
de água) e político-económicos (trilogia rural) que materializaram a civilização do açúcar. Por tudo
isto torna-se imprescindível uma análise da situação madeirense, caso estejamos interessados em
definir, exaustivamente, a civilização do açúcar no mundo atlântico.

A história do açúcar na Madeira confunde-se com a conjuntura de expansão europeia e dos


momentos de fulgor do arquipélago. A sua presença é multissecular e deixou rastros evidentes na
sociedade madeirense. Dos séculos XV e XVI ficaram os imponentes monumentos, pintura e a
ourivesaria que os embelezou e que hoje jaz quase toda no Museu de Arte Sacra. Do século XIX e
do primeiro quartel da nossa centúria perduram ainda a maioria dos engenhos desta nova vaga de
cultura dos canaviais. Aqui, a cana diversificou-se no uso industrial, sendo geradora do álcool,
aguardente e, raras vezes, o açúcar. Foi certamente neste momento que surgiu a tão afamada
poncha, irmã do ponche de Cabo Verde e da caipirinha no Brasil.

Recuperar os momentos de fulgor da cultura dos canaviais e das industrias subsequentes do açúcar,
destilação, ou fabrico de conservas e casquinha, eis o objectivo que presidiu a esta breve incursão na
História do Açúcar no mundo atlântico, que tem na Madeira a primeira expressão. Para tornar mais
acessível a compilação reunimos um conjunto de gravuras e fotografias que permitem uma
adequada ilustração da realidade.

A Europa sempre se prontificou a apelidar as ilhas de acordo com a oferta de produtos ao seu
mercado. Deste modo, sucedem-se as designações de ilhas do pastel, do açúcar e do vinho. O açúcar
ficou como epíteto da Madeira e de algumas das Canárias, onde a cultura foi a varinha de condão
que transformou a economia e vivência das populações. Também do outro lado do oceano elas se
identificam com o açúcar, uma vez que serviram de ponte à passagem do Mediterrâneo para o
Atlântico. Daqui resulta a relevância que assume o estudo do caso particular, quando se pretende
fazer a reconstituição da rota do açúcar. A Madeira é o ponto de partida, por dois tipos de razões.
Primeiro, porque foi pioneira na exploração da cultura e, depois, na expansão ao espaço exterior
próximo ou longínquo, incluído as Canárias.

O açúcar é de todos os produtos que acompanharam a diáspora europeia aquele que moldou, com
maior relevo, a mundividência quotidiana das novas sociedades e economias que, em muitos casos,
se afirmaram como resultado dele. A cana sacarina, pelas especificidades do seu cultivo,
especialização e morosidade do processo de transformação em açúcar, implicou uma vivência
particular, assente num específico complexo sócio-cultural da vida e convivência humana. Gilberto
Freyre foi o primeiro em 1971 a chamar a atenção dos estudiosos para esta realidade, quando
definiu as bases daquilo que a que designou de Sociologia do Açúcar: A publicação em 1933 de
"Casa-Grande & Senzala" foi o prelúdio de nova preocupação e domínio temático para a Sociologia
e a História.

A cana sacarina, ao contrário do que sucedeu com os demais produtos e culturas (vinha, cereais),
não se resumiu apenas à intervenção no processo económico. Ela foi marcada por evidentes
especificidades capazes de moldarem a sociedade, que dela se serviu para firmar a sua dimensão
económica. A importância a que o sector comercial lhe atribuía conduziu a que fosse uma cultura
dominadora de todo (ou quase todo) o espaço agrícola disponível, capaz também de estabelecer os
contornos de uma nova realidade social.

Foi precisamente esta tendência envolvente que levou a Historiografia a definir o período da
afirmação como o Ciclo do Açúcar. Aqui não estávamos perante uma aplicação da teoria dos ciclos
económicos, mas pretendia-se subordinar esta tendência para a afirmação da cultura na vida
económica e social com este conceito. A omnipresença da cultura, as múltiplas implicações que
gerou nos espaços em que foi cultivada levou alguns investigadores a estabelecer um novo modelo
de análise: os ciclos de produção assentes na monocultura

O grande erro da Historiografia europeia foi ter encarado a economia açucareira da Madeira ou das
Canárias como um retrato em miniatura. O confronto das duas realidades, coisa que ainda ninguém
se atreveu a fazer, comprova que a situação não existe, não passando de mera ficção as análises que
são colocadas ao nosso dispor. O facto de ambos os arquipélagos terem sido meios de ligação da
nova cultura económica do atlântico ocidental, não quer dizer que houve uma transplantação total e
igual para os novos espaços. As condições ambientais, os obreiros da transformação eram outros
como diversa foi a realidade que o produto gerou. Tudo isto deverá resultar das ciladas do método
de análise do processo histórico de forma retrospectiva, onde, por vezes, o facto surge-nos como a
imagem e consequência. Tal como o provaram os estudos recentes sobre a situação da economia
açucareira do Mediterrâneo Atlântico, a conjuntura deste espaço é diversa da americana, seja ela
insular ou continental. Também não se poderá colocar ao mesmo nível o caso de São Tomé que,
embora situado no sector ocidental do oceano, aproxima-se mais da realidade antilhana do que dos
arquipélagos da Madeira e das Canárias.

De acordo com esta ideia, de que a civilização do açúcar teve apenas uma única forma de expressão
no Atlântico Ocidental e Oriental, partiu-se para a afirmações precipitadas na análise da economia e
sociedade que lhe serviu de base. Ao açúcar associou a Historiografia, desde muito cedo, a
escravatura, fazendo jus à afirmação de Antonil em 1711, de que "os escravos são as mãos e os pés
do senhor de engenho". Aqui também a relação não nos surge tão transparente como à primeira vista
pode parecer.

As cruzadas, de acordo com a Historiografia europeia, foram o princípio da expansão da cultura


açucareira e da vinculação aos escravos. Deste modo nas colónias italianas do Mediterrâneo
Oriental surgem os primeiros resquícios da nova dinâmica social que passaria à Sicília e, depois à
Madeira, donde se expandiram no Atlântico. Diz-se, ainda, que a ligação do escravo, negro ou não,
à cultura dos canaviais foi uma invenção do ocidente cristão, não havendo lugar no mundo
muçulmano. Neste contexto surgiu o conceito Plantation,ou plantagem para os brasileiros, a
definir a organização social, económica e política da agricultura que tinha por base este produto.
Sidney Greenfield em 1979, partindo desta ideia, estabeleceu para o arquipélago madeirense uma
função primordial na afirmação da escravatura e relações económico-sociais envolventes: A
Madeira foi o elo de ligação entre "Mediterranean Sugar Production" e a "Plantation Slavery",
questão que voltaremos no final.

Sucede que a escravatura da Madeira, tal como teremos oportunidade de o afirmar, não assumiu
uma posição similar à de Cabo Verde, São Tomé, Brasil ou Antilhas, não obstante o surto evidente
de produção açucareira. Aqui, ao invés daquilo que tem lugar, o escravo não dominou as relações
sociais de produção: ele existiu, sob a condição de operário especializado ou não, mas a posição não
era dominante, tal como sucedia nas áreas supracitadas. Por fim acresce que esta hipervalorização
do
açúcar na História da Madeira levou alguns aventureiros e progenitores de teorias de vanguarda a
estabelecer também uma forma peculiar de urbanização do Funchal, de acordo com a presença do
açúcar. Deste modo ao Funchal do século XVI chamam-lhe, sem saberem e explicarem porquê,
"cidade do açúcar", quando na realidade, a expressão urbanística da cana-de-açúcar é manifestada
pela ruralidade. A esta e às demais questões atrás enunciadas propomo-nos ver qual o fundamento e
a possibilidade de vinculação às manifestações conhecidas da civilização do açúcar na Madeira.

O açúcar, acima de tudo, era um complemento fundamental na vida económica da ilha. Sucedeu
assim até meados do século XVI e, depois, a partir de finais do século XIX, tudo mudou. A riqueza
cumulou os proprietários mas também a arraia-miúda, sendo um factor de progresso social. Com ele
ergueram-se igrejas - a Sé do Funchal é um exemplo disso -, amplos palácios que se rechearam de
obras de arte de importação, testemunhos evidentes estão no actual Museu de Arte Sacra. A arte
flamenga na ilha é um dom do açúcar. O Progresso sócio-económico da ilha, o seu protagonismo na
expansão atlântica -- nos descobrimentos e defesa das praças africanas -- só foi conseguida à custa
da elevada riqueza acumulada pelos madeirenses. Todos, sem diferença de condição social, fruíram
desta riqueza. Até a opulência e luxúria da própria coroa, lá longe no reino, foi conseguida, por
algum tempo, com o açúcar que a coroa arrecadava na ilha.

Mas a implantaçäo dos canaviais näo deriva apenas da disponibilidade de uma reserva florestal e de
água para a laboraçäo dos engenhos. A isso deverá juntar-se, necessariamente, as condiçöes
oferecidas pelo clima e orografia. Neste contexto as ilhas da América Central e do Golfo da Guiné
estaräo em melhores condiçöes que a Madeira ou as Canárias. Deste modo em ambos os
arquipélagos a orografia estabeleceu um traväo à afirmaçäo da cultura extensiva dos canaviais. De
acordo com estas condiçöes a produçäo madeirense dos séculos XV e XVI nunca ultrapassou as
1584,7 toneladas, atingidas em 1510. apenas no presente século, com a expansão dos canaviais, de
novo a toda a ilha, se conseguiu suplantar este valor, tendo-se atingido em 1916 as 4943,6
toneladas. Este incremento da produçäo açucareira foi travado nos anos imediatos por meio dos
decretos de 1934-1935 e 1937 regulamentadores da área de produçäo. Em S. Tomé os canaviais
tiveram melhores condiçöes para se afirmarem e suplantarem a produçäo madeirense: na primeira
metade do século dezasseis a ilha, com uma extensäo de 857 m2, ( mais que a Madeira - 728)
produzia o dobro, cifrando-se este valor, na primeira metade do século XVI, em 4950 toneladas o
clima, o solo fazem com que a produçäo de açúcar em S. Tomé cedo suplantasse a madeirense: aí as
canas cresciam três vezes mais que na Madeira e colhem-se duas culturas.

O conjunto das 21 ilhas produtoras de açúcar no espaço atlântico oferece um total de 271.993 m2,
dos quais oferece apenas uma ínfima parcela foi dedicada à agricultura. Note-se que, para além da
disponibilidade do espaço agrícola adequado a esta cultura, tornava-se necessário a disponibilidade
de uma reserva silvícola, sem a qual os engenhos não podiam laborar. O caso da Madeira é
paradigmático: aqui a superfície cultivada pouco ultrapassa um terço da área da ilha, sendo o
restante espaço constituído pela reserva silvícola.

A situaçäo das ilhas do outro lado do oceano é também diferente da madeirense, condiçöes
semelhantes às encontradas e, S. Tomé fizeram com que os canaviais se afirmassem aí, a partir do
século dezassete. Deste conjunto de ilhas apenas um reduzido número (S. Cristóväo, Nevis,
Antigua, Montserrat) se assemelha à Madeira, em termos orográficos. Aí deparámo-nos com ilhas
de superfície menor que a Madeira (Antigua, Barbados, Nevis, St. Vicent, Trinidad) mas com uma
produçäo açucareira superior. Facto evidente sucede com as ilhas de Trinidad, Antigua e Barbados,
que dispondo de uma reduzida superfície conseguem produzir mais açúcar que a Madeira: a ilha de
Trinidad com apenas 301 m2 produziu entre 1850 e 1940 uma média anual de 57862 toneladas de
açúcar, enquanto a Madeira se ficou pelas 1659 toneladas. Note-se ainda que as ilhas de Montserrat
e Nevis, com uma superfície total quase igual à da área ocupada pelos canaviais na madeira,
conseguem atingir valores de produçäo semelhantes.

Diversa é também a estrutura fundiária que serviu de base a esta cultura. enquanto na Madeira a o-
rografia e o sistema de posse da terra definiram a plena afirmação da pequena e média propriedade,
em S. Tomé ou nas Antilhas estávamos perante a grande propriedade, activada pela grande força de
trabalho escrava: em Barbados, entre 1650 e 1834, 84% dos proprietários de canaviais era detentor
de mais de cinquenta escravos, enquanto na Madeira apenas 2% era possuidor de mais de 10
escravos.

Por outro lado a área dos canaviais assumida por cada proprietário era também elevada, pois 64%
destes possuíam cana viais cuja extensäo ia de 40 a 121 hectares, situaçäo que estava muito aquém
da assumida pelos produtores madeirenses. Na Madeira apenas um produtor se aproxima desse
valor (Pedro Gonçalves com uma área de 36,9 hectares)), sendo os demais com valores infe-riores:
os lavradores com mais de 22 toneladas de produçäo e com mais de 14 hectares de terreno
representam em 1494 apenas 1,3% e 5% para o período de 1509 a 1537.

PROJECÇÃO DOS CANAVIAIS E AÇÚCAR MADEIRENSE NO MUNDO. A Madeira,


arquipélago e Ilha, afirmou-se no processo da expansão europeia pela singularidade do seu
protagonismo. Vários são os factores que o propiciaram, no momento de abertura do mundo
atlântico, e que fizeram com que ela fosse, no século XV, uma das peças-chave para a afirmação da
hegemonia portuguesa no Novo Mundo. O Funchal foi uma encruzilhada de opções e meios que
iam ao encontro da Europa em expansão. Além disso ela é considerada a primeira pedra do projecto,
que lançou Portugal para os anais da História do oceano que abraça o seu litoral abrupto.

À função de porta-estandarte do Atlântico, a Madeira associou outras, como "farol" Atlântico, o guia
orientador e apoio para as delongas incursões oceânicas. Por isso nos séculos que nos antecederam,
ela foi um espaço privilegiado de comunicações, tendo a seu favor as vias traçadas no oceano que a
circunda e as condições económicas internas, propiciadas pelas culturas da cana sacarina e vinha.
Uma e outra contribuíram para que o isolamento definido pelo oceano fosse quebrado e se
mantivesse um permanente contacto com o velho continente europeu e o Novo Mundo.

Como corolário desta ambiência a Madeira firmou uma posição de relevo nas navegações e
descobrimentos no Atlântico. O rápido desenvolvimento da economia de mercado, em uníssono
com o empenhamento dos principais povoadores em dar continuidade à gesta de reconhecimento do
Atlântico, reforçaram a posição da Ilha e fizeram avolumar os serviços prestados pelos madeirenses.
Aqui, surgiu uma nova aristocracia dos descobrimentos, cumulada de títulos e benesses pelos
serviços prestados no reconhecimento da costa africana, defesa das praças marroquinas, ou nas
campanhas brasileiras e índicas. A par disso a ilha surge, nos alvores do século XV, como a primeira
experiência de ocupação em que se ensaiaram produtos, técnicas e estruturas institucionais. Tudo
isto foi, depois, utilizado, em larga escala, noutras ilhas e no litoral africano e americano. O
arquipélago foi, assim, o centro de divergência dos sustentáculos da nova sociedade e economia do
mundo atlântico: primeiro os Açores, depois os demais arquipélagos e regiões costeiras onde os
portugueses aportaram.

O sistema institucional madeirense apresentava uma estrutura peculiar, definida pelas capitanias.
Foi a 8 de Maio de 1440 que o Infante D. Henrique lançou a base da nova estrutura ao conceder a
Tristão Vaz a carta de capitão de Machico. A partir daqui ficou estabelecido o sistema institucional
que deu corpo ao governo português no Atlântico insular e brasileiro. Sem dúvida que o facto mais
significativo desta estrutura institucional deriva de a Madeira ter servido de modelo referencial para
o seu delineamento no espaço atlântico. O monarca insiste, nas cartas de doação de capitanias
posteriores, na fidelidade ao sistema traçado para a Madeira. Assim o comprovam idênticas cartas
concedidas aos novos capitães das ilhas dos Açores e Cabo Verde. O mesmo sucede com a demais
estrutura institucional que chegou também a S.Tomé e Brasil.

João de Melo da Camara, irmão do capitão da ilha de S. Miguel, resumia em 1532 de uma forma
perspicaz o protagonismo madeirense no espaço atlântico. Segundo ele a sua família era portadora
de uma longa e vasta experiência "porque a ilha da Madeira meu bisavô a povoou, e meu avô a de
São Miguel, e meu tio a de São Tomé, e com muito trabalho, e todas do feito que vê...". Isso dava-
lhe o alento necessário e abri-lhe perspectivas para uma sua iniciativa no Brasil. Ele reclamava o
protagonismo do seu ancestral Rui Gonçalves da Câmara que em 1474 comprara a ilha de S.
Miguel, dando início ao seu verdadeiro povoamento. A mesma percepção surge em Gilberto Freire
que em 1952 não hesita em afirmar: A irmã mais velha do Brasil é o que foi verdadeiramente a
Madeira. E irmã que se estremou em termos de mãe para com a terra bárbara que as artes dos seus
homens,... concorreram para transformar rápida e solidamente em nova lusitania".

Outra componente importante da afirmação da ilha como modelo de referência tem a ver com a
organização da sociedade no espaço atlântico e da importância aí assumida pelo escravo. Mais uma
vez a Madeira é o ponto de partida para esta transformação social. De acordo com S. Greenfield ela
serviu de trampolim entre o "Mediterranean Sugar Production" e a "Plantation Slavery" americana.
O autor não faz mais do que retomar os argumentos aduzidos por Charles Verlinden desde a década
de sessenta. Note-se que esta argumentação mereceu alguns reparos na sua formulação, mercê de
novos estudos.

Na verdade, tudo o que foi concretizado em termos do mundo atlântico português teve por matriz o
sucedido na Madeira. A Madeira foi ao nível social, politico e económico, o ponto de partida para o
"mundo que o português criou..." nos trópicos. Neste contexto é sumamente importante o
conhecimento do sucedido na Madeira quando pretendemos estudar e compreender as outras situa-
ções. Colombo abriu as portas ao Novo Mundo e traçou o rumo da expansão da cana de açúcar.
Note-se que esta cultura não lhe era alheia, pois o navegador tem no seu curriculum algumas
actividades ligadas ao comércio do açúcar na Madeira. Note-se que o navegador, antes da sua
relação afectiva ao arquipélago, foi, a exemplo de muitos genoveses mercador do açúcar
madeirense. Em 1478 ele encontrava-se no Funchal ao serviço de Paolo di Negro para conduzir a
Génova 2400 arrobas a Ludovico Centurione. Com esta viagem e, depois da larga estância do
navegador na ilha, Colombo ficou conhecedor da dinâmica e importância do açúcar da Madeira. Em
Janeiro de 1494, aquando da preparação da Segunda Viagem, o navegador sugere aos reis católicos
o embarque de 50 pipas de mel e 10 caixas de açúcar da Madeira para uso das tripulações,
apontando o período que decorre até a Abril como o melhor momento para o adquirir. A isto
podemos somar a passagem do navegador pelo Funchal no decurso da terceira viagem em Junho de
1498 podemos apontar como muito provável a presença de socas de canas da Madeira na bagagem
dos agricultores que o acompanhavam. Note-se que neste momento a cultura dos canaviais havia
adquirido o apogeu na ilha, mantendo-se uma importante franja de canaviais ao longo da vertente
sul.

A tradição anota que as primeiras socas de cana saíram de La Gomera. Todavia a cultura
encontrava-se aí nesse momento em expansão, enquanto na Madeira estava já consolidada. Note-se
que ainda estão por descobrir as razões que conduziram Colombo, no decurso da Terceira viagem, a
fazer um desvio na sua rota para escalar o Funchal. Na verdade, a Madeira foi a primeira área do
Atlântico onde se cultivou a cana-de-açúcar que, depois, partiu à conquista das ilhas (Açores,
Canárias, Cabo Verde, S. Tomé e Antilhas) e continente americano. Por isso mesmo o conhecimento
do caso madeirense assume primordial importância no contexto da História e geografia açucareira
dos séculos XV a XVII.

O açúcar da Madeira ganhou fama ao nível do mercado europeu. A sua qualidade diferenciava-o dos
demais e fê-lo manter-se como o preferido de muitos consumidores europeus. Deste modo o
aparecimento de açúcar de outras ilhas ou do Novo Mundo veio a gerar uma concorrência
desenfreada ganha por aquele que estivesse em condições de ser oferecido ao melhor preço. Um
testemunho disso surge-nos com Francisco Pyrard de Laval: "Não se fale em França senão no açúcar
da Madeira e da ilha de S. Tomé, mas este é uma bagatela em comparação do Brasil, porque na ilha
da Madeira não há mais de sete ou oito engenhos a fazer açúcar e quatro ou cinco na de S. Tomé". E
refere que no Brasil laboravam 400 engenhos que rendiam mais de cem mil arrobas que, segundo o
mesmo, são vendidas como da Madeira.

O mais significativo desta situação do novo mercado produtor de açúcar é que o madeirense
encontra-se indissociavelmente ligado. Na verdade, a Madeira foi o ponto de partida do açúcar para
o Novo Mundo. O solo madeirense confirmou as possibilidades de rentabilização e de abertura de
novo mercado para o açúcar. Também o íncola foi capaz de agarrar esta opção, tornando-se no
obreiro da sua difusão no mundo Atlântico. A tradição anota que foi a partir da Madeira que o
açúcar chegou aos mais diversos recantos do espaço atlântico e que os técnicos madeirenses foram
responsáveis pela sua implantação. O primeiro exemplo encontramos em Rui Gonçalves da Câmara,
quando em 1472 comprou a capitania da ilha de S. Miguel. Na sua expedição de posse da sua
capitania fez-sem acompanhar de canas da sua Lombada, que entretanto vendera a João Esmeraldo,
e dos operários para a tornar produtiva. A estes seguiram-se outros que corporizaram diversas
tentativas frustradas para fazer vingar a cana de açúcar nas ilhas de S. Miguel, Santa Maria e
Terceira.

Em sentido contrário avançou o açúcar em 1483, quando o governador D. Pedro de Vera quis tornar
produtiva a terra conquistada nas Canárias. De novo a Madeira surge disponibilizar as socas de cana
para que aí surgissem os canaviais. Todavia, o mais significativo é a forte presença portuguesa no
processo de conquista e adequação do novo espaço a economia de mercado. Os portugueses em
especial o Madeirense surge com frequência nestas ilhas ligando-se ao processo de arroteamento das
terras, como colonos que recebem datas de terras na condição de trabalhadores especializados a
soldada, ou de operários especializados que construíram os engenhos e os colocam em movimento.

O avanço do açúcar para sul ao encontro do habitat que veio gerar o boom da sua produção, deu-se
nos anos imediatos ao descobrimento das ilhas de Cabo Verde e S. Tomé. Todavia, só nesta última,
pela disponibilidade de água e madeiras, os canaviais encontraram condições para a sua expansão.
Deste modo em 1485 a coroa recomendava a João de Paiva que procedesse à plantação de cana do
açúcar. Para o fabrico do açúcar refere-se a presença de "muitos mestres da ilha da Madeira".

A partir do século XVI a concorrência do açúcar das Canárias e S. Tomé aperta o cerco do açúcar
madeirense o que provocou a natural reacção dos agricultores madeirenses. Deste modo sucedem-se
as queixas junto da coroa, que ficou testemunho em 1527. Em vereação reuniram-se os lavradores
de cana para reclamar junto da coroa contra o prejuízo que lhes causava o progressivo
desenvolvimento desta cultura em S. Tomé. A resposta do rei, no ano imediato, remete para uma
análise dos interesses em jogo e só depois, no prazo de um ano, seria tomada uma decisão, que
parece nunca ter vindo. Note-se que a exploração fazia-se directamente pela coroa e só a partir de
1529 surgem os particulares interessados nisso.

Enquanto isto se passava, do outro lado do Atlântico davam-se os primeiros passos no arroteamento
das terras brasileiras. E, mais uma vez, é notada a presença dos canaviais e dos madeirenses como
os seus obreiros. A coroa insistiu junto dos madeirenses no sentido de criarem as infra estruturas
necessárias ao incremento da cultura. Aliás, o primeiro engenho aí erguido por iniciativa da coroa,
contou com a participação dos madeirenses. Em 1515 a coroa solicitava os bons ofícios de alguém
que pudesse erguer no Brasil o primeiro engenho, enquanto em 1555 foi construído pelo madeirense
João Velosa um engenho a expensas da fazenda real. Esta aposta da coroa na rentabilização do solo
brasileiro através dos canaviais levou-a condicionar a forja de mão-de-obra especializada, que então
se fazia na Madeira. Assim, em 1537 os carpinteiros de engenho da ilha estavam o proibidos de ir à
terra dos mouros.

Com tais condicionantes e colocados perante o paulatino decréscimo da produção açucareira na ilha,
muitos madeirenses são forçados a seguir ao encontro dos canaviais brasileiros. Deste modo em
Pernambuco e na Baia, entre os oficiais e proprietários de engenho, pressente-se a presença
madeirense. É de salientar que alguns destes madeirenses se tornaram em importantes proprietários
de engenho como foi o caso de Mem de Sá, João Fernandes Vieira, o libertador de Pernambuco. É a
partir daqui que se estabelece um vínculo com a Madeira, continuado através do trafico ilegal de
açúcar para o Funchal ou então ao mercado europeu com a designação da Madeira. Este movimento
seguia as ancestrais ligações entre os que do outro lado do Atlântico via florescer a cultura e aqueles
que na ilha ficavam sem os seus benefícios. Contra isso intervêm os madeirenses e a coroa
proibindo a importação deste açúcar para revenda na ilha. Depois sucederam-se outras medidas do
município, proibindo a qualquer dos seus membros a compra de açúcar do Brasil. Todavia, o
aparecimento do bicho da cana em 1610 os madeirenses tiveram de se conformar com a entrada do
açúcar brasileiro, por isso a edilidade estabeleceu em 1611 um contrato com os mercadores em que
estes se comprometem expedir do Funchal uma caixa de açúcar de ilha com outro do Brasil.
Situação que nunca foi cumprida, uma vez que em 1620 nas 1178 caixas saídas da alfândega do
Funchal temos 23560 arrobas de açúcar do Brasil e 1992 da Madeira.

Perante esta situação a capacidade concorrencial do açúcar insular estava irremediavelmente


perdida. Os canaviais foram desaparecendo paulatinamente das terras, dando lugar aos vinhedos.
Apenas a conjuntura da segunda metade do século dezanove permitiu o seu retorno. Mas foram
efémeras as tentativas para a produção de açúcar, só possível mediante uma política protecionista.
Os canaviais perderam a sua função de produtores do açúcar, o ouro branco dos insulares, mas em
contrapartida favoreceram uma produção alternativa de mel e aguardente. Daqui resulta as actuais
sobrevivências da cultura na Madeira e Canárias.

A TRADIÇÃO CULTURAL e O AÇÚCAR. Tal como o enunciámos ao princípio à expansão da


cultura da cana-de-açúcar ligam-se tradições culturais europeio-africanas. Na verdade a cana-de-
açúcar propiciou o confronto da cultura europeia com a africana, sendo exemplo cabal disso as
sociedades geradas em seu torno nas Antilhas e Brasil. Neste último espaço são evidentes os
aspectos sincréticos da cultura que veio a dar origem à designação de Afro-brasileira: os estudos de
Gilberto Freire e Roger Bastide(1969) são bastante expressivos a esse nível. Mas aqui insiste-se nas
aportações culturais resultantes do confronto com a população africana, aí conduzida como escrava
para a safra do açúcar. Por outro lado insiste-se que a expansão da cultura da cana-de-açúcar
propiciou a divulgação de determinadas tradições lúdicas: representações teatrais e festivas. Está
neste caso o "tchiloli" nome dado a peça "A Tragédia do Marquês de Mântua e do Imperador Carlos
Magno", atribuída ao madeirense Baltazar Dias. Esta é uma peça teatral o ciclo carolíngio, muito
representada no século XVI, que teria sido levada para S. Tomé pelos plantadores e mestres de
engenhos da Madeira. A tradição perpetuou-se e ainda hoje se apresenta o "Tchiloli" para celebrar
um acontecimento importante ou um dia santo. Na ilha Terceira persiste na actualidade as afamadas
danças do entrudo, que segundo opinião de alguns estudiosos se filia na tradição do Bumba-meu-boi
brasileiro. À volta disso estabeleceu Luís Fagundes Duarte(1984) uma teoria que aponta para a
existência de uma tradição lúdica canavieira, que acompanhou o percurso de expansão do açúcar no
Atlântico, marcada por representações e danças de carácter dramático com "sabor" vicentino.

A par disso no Brasil algumas das folias que animavam os terreiros do engenho são um misto de
tradições europeias e africanas. Destas destaca-se o Bumba-meu-boi e o fadango; a primeira
aproxima-se da tradicional tourada, surgindo como forma de exaltação do negro e do boi, elementos
fundamentais da safra açucareira; o segundo é um auto popular do ciclo natalício que descreve a
luta entre o cristão e o mouro, numa clara alusão ao processo de conquista peninsular. Do lado
oposto a estas duas tradições está a Congada, uma dança de senzala, definida pela coroação do rei
do Congo. Ela tinha lugar em Maio (dia de São Benedicto) e Outubro (dia de Nossa Senhora do
Rosário). Ainda no Brasil a economia açucareira gerou uma dinâmica sócio-cultural diversa, que
deixou rastros evidentes na literatura: o caso mais evidente é o de José Lins do Rego(1901-1957),
que escreveu um conjunto de romances a retratar o ciclo da cana de açúcar: Menino de
Engenho(1932), Doidinho(1933), Banguê(1934), o Moleque Ricardo(1935), Usina(1936), Fogo
Morto(1943) e Meus Verdes anos 1956). Na Madeira esta vivência não entusiasmou a veia
literário dos seus protagonistas e apenas na actualidade o tema despertou o interesse de Horácio
Bento de Gouveia, em Águas Mansas(1963), e João França em A ilha e o Tempo(1972).

Por outro lado, é de salientar que A safra açucareira teve também implicações na política de
urbanização do espaço rural, condicionando uma forma peculiar de ligação do espaço agrícola -
industrial com as estruturas de mando e controle social. A célebre trilogia rural, tão bem definida
por Gilberto Freire, teve o seu primeiro aparecimento aqui na Madeira, sendo testemunho actual
disso a célebre lombada de João Esmeraldo (Ponta do Sol). Mas outros mais exemplos poderíamos
referenciar na ilha que, lamentavelmente, se estão perdendo. Talvez por estas implicações do açúcar
se define ao espaço rural, ou por outras razões que desconhecemos, se definiu para o Funchal
epitetos pouco expressivos da realidade. Assim a partir da publicação do livro de António
Aragão(1988) sobre a cidade do Funchal ficou estabelecido que ela era a "primeira cidade
construída por Europeus fora a Europa" e dentro da sua malha urbana de uma "cidade do açúcar" e
outra do "vinho". Esta aventureira definição não colhe argumentos a seu favor.

O pioneirismo aventureiro desta ideia com a segurança e afirmações resultantes das pesquisas
promovidas nos Açores, Canárias, Brasil e Antilhas, onde ninguém, até hoje, teve a ousadia de
avançar com semelhante perspectiva reducionista da realidade arquitectónica e urbana. Todos são
unânimes em afirmar a adaptação do modelo europeu às condições geo-humanas dos novos espaços
e a forte vinculação às directivas régias e à mão-de-obra especializada da península. O
desenvolvimento económico, assente na produção ou comércio de certos produtos surge em todas as
áreas, não como factor definidor da traça urbana e arquitectónica, mas sim como meio.

O açúcar, o vinho surgem na Madeira como produtos catalizadores da actividade sócio-económica


madeirense e não como princípios geradores das cidades ou do espaço urbanizado. Eles foram
apenas os suportes financeiros necessários a este desenvolvimento e embelezamento do espaço
urbano. A maioria dos mestres que orientaram a construção do espaço urbanizado são recrutados no
reino e enquadram-se nos padrões peninsulares de humanização do espaço. Por outro lado os
monarcas intervêm com assiduidade nessa política arquitectónica, enviando regimentos e planos
sobre o modo porque se deverá proceder á construção. Tenha-se em atenção as recomendações
dadas por D. Manuel para a construção da cerca e muros conforme o sistema delineado em Setúbal.
Por outro lado o mesmo monarca ao ordenar em 1485 a construção dos paços do concelho, da
igreja, alfândega e praça, pretendia dar ao Funchal uma dimensão peninsular. Terá sido esse espaço
urbanizado à custa dos proventos do açúcar que conduziu à errada formulação dos princípios
geradores do urbanismo funchalense.

Se tivermos em conta que a economia açucareira madeirense não assumiu a mesma proporção da
brasileira ou mexicana e que nestas últimas áreas não se fala de uma urbanização do açúcar mas sim
das implicações sociológicas e arquitectónicas deste produto teremos por anacrónica a definição no
Funchal de uma cidade do açúcar. Confrontados os estudos sobre a história das cidades das demais
ilhas atlânticas e do Novo Mundo, onde a cana-de-açúcar foi dominante, não encontrámos qualquer
definição deste tipo para a malha arquitectónica urbana. Tenha-se como exemplo o caso de Canárias
onde é evidente também um extremo seguidismo aos cânones peninsulares. Por isso não
entendemos a forma despropositada com que se tem defendido a existência no Funchal de uma
cidade do açúcar. Mas do açúcar é a única coisa que se poderá dizer é que a imagem do açúcar
ficou apenas o registo nas armas da cidade a partir do século XVI, a que se juntou a videira no
século dezanove. Não obstante o facto de aquele espaço, que é hoje o centro da cidade, ter sido no
século XV uma área de canaviais (o Campo do Duque), as alterações que se produziram a partir da
década de oitenta do século XV conduziram à sua adequação aos modelos arquitectónicos pe-
ninsulares. É a imposição lançada em 1485 sobre o vinho, surgiu única e exclusivamente com o
intuito de criar um fundo municipal para o "nobrecimento" da vila. Com isto não queremos excluir a
função relevante dos proventos arrecadados pela economia açucareira na valorização do património
urbano, mas apenas referenciar que não houve uma ligação directa entre as duas situações.

Em boa verdade se diga, que o recinto urbano, que emerge a partir da década de sessenta entre as
ribeiras de João Gomes e Santa Luzia e, depois, para além desta última, foi o princípio da futura
cidade, dominada pelos mercadores do açúcar. As residências de João Esmeraldo, de D. Mécia, do
capitão do donatário, bem como os conventos (Encarnação, S. Francisco e Santa Clara) e igrejas
(Sé, Capela dos Reis Magos, Madre de Deus e matrizes de Machico, Ponta do Sol, Calheta e Ribeira
Brava) foram erguidas e embelezadas artisticamente a partir dos proventos acumulados com a safra
do açúcar. Mas uma coisa é o açúcar ser fonte de receita, participadora deste processo e outra é o
resultar daí implicações urbanísticas e plásticas. Na verdade a vila que é elevada em 1508 à
categoria de cidade deve apenas ser considerada como a cidade dos mercadores de açúcar e nunca a
cidade do açúcar.

PROPRIETÁRIOS DE CANAVIAIS E ENGENHOS

A cultura da cana coloca inúmeras questões em termos da propriedade da terra e da água. Dois
dados indissociáveis da sua afirmação. O conhecimento do regime de propriedade requer um estudo
aturado, assente nas fontes documentais que atestem o sistema de relações estabelecido na posse e
produção da parca superfície arável.

A historiografia preocupa-se, única e exclusivamente, com as condições jurídicas que regularam a


distribuição das terras e depois a degradação do sistema com o alheamento do proprietário da
parcela arroteável e a sua fixação no meio urbano. Esta última situação contribuiu na Madeira para a
definição do conhecido contrato de colonia. Não interessava conhecer quem e como se recebiam as
terras de sesmaria, que tipo de propriedade condicionou esta política de doação e distribuição de
terras, qual a evolução desta estrutura e as suas cambiantes, de acordo com as condições
mesológicas do solo arável.

O equacionar da problemática em estudo não poderá desligar-se, como é óbvio, da evolução do


sistema de propriedade. O povoamento insular mereceu, desde muito cedo a atenção da
historiografia nacional que aponta o carácter peculiar deste processo evidenciado pela sua
concretização num solo inexplorado com carácter experimental. A ilha da Madeira, porque virgem ,
apresentava as condições necessárias para o primeiro ensaio de colonização europeia fora do
continente. E daí partiram os processos, as técnicas e os produtos para as restantes ilhas do Atlântico
e Brasil.
DAR E DOMINAR. O sistema de propriedade ficou definido pela distribuição de terras aos
povoadores e, depois, pela venda, troca ou nova doação. Num e noutro caso as situações são
idênticas, variando apenas a forma da sua expressão consoante o processo de povoamento e as
peculiaridade de cada ilha. Todas estas doações eram feitas de acordo com normas estabelecidas
pela coroa e seguiam o modelo já definido para o repovoamento da Península. Para além da
condição social do contemplado, das indicações, por vezes imprecisas, da área de cultivo e para
erguer benfeitorias, estabelecia-se também o prazo para as arrotear. Assim, dos dez anos iniciais
passa-se para cinco a partir de 1433, o que se manteve não obstante as reclamações dos moradores,
que anotavam a dificuldade no arroteamento. Assim, na Madeira dos dez anos iniciais passou-se
para cinco, a partir de 1433, o que se manteve não obstante as reclamações dos moradores, que
apontavam a dificuldade no seu arroteamento. Nas Canárias, também os alargados prazos iniciais
foram sendo reduzidos. Em Gran Canaria os primeiros colonos tiveram um intervalo de seis anos,
enquanto em Tenerife as datas do século XVI referem apenas 2 a 3 anos. Outra condição
imprescindível para quem quer que seja adquirisse o estatuto de povoador com posse de terras
estava na obrigatoriedade de residência até cinco anos, o estabelecer casa e, para os solteiros, o
necessário casamento. Estas condições revelam que o principal intuito desta distribuição de terras
era fomentar o povoamento das ilhas.

O processo das Canárias não é idêntico ao da Madeira. Enquanto o arquipélago madeirense, que se
resume a duas ilhas, foi entre 1439 e 1497 senhorio da ordem de Cristo, que estabeleceu como seus
representantes três capitães: João Gonçalves Zarco no Funchal (1450), Tristão Vaz em Machico
(1440) e Bartolomeu Perestrelo no Porto Santo (1446). Nas Canárias encontramo-nos perante ilhas
realengas (Gran Canaria, La Palma e Tenerife) e de senhorio (Fuerteventura, Lanzarote, La Gomera
e El Hierro). Acresce, ainda, neste arquipélago a presença de uma população autóctone que fez
atrasar o processo de ocupação e colocou os povoadores perante um novo pretendente à distribuição
de terras, isto é os indígenas que aceitaram a soberania castelhana.

Nas ilhas portuguesas a distribuição de terras foi regulamentada, desde o início, pela coroa e, mais
tarde, pelo senhorio da ilha, o infante D. Henrique. No primeiro o monarca D. João I ordenara aos
capitães que as terras seriam “dadas forras e sem penção alguma aquelles de maior qualidade e a
outros que posanças tiverem para as aproveitar. E aos de menor que vivão de seu trabalho de cortar
e pilhar madeiras e das criações de gado...”. Depois, João Gonçalves Zarco, fazendo uso das
prerrogativas atribuídas reservou para si e descendentes um importante pecúlio de terras no Funchal
e Ribeira Brava. Outras foram concedidas, de acordo com o regimento afonsino, aos que estavam
em condições de as aproveitar pois caso contrário perdiam o seu direito de posse. Isto foi o princípio
de diferenciação social dos primeiros colonos e a abertura à afirmação da grande propriedade.
Também, nas Canárias é patente esta diferenciação social dos agraciados com dadas de terras que,
de acordo com cédula real de 1480,Pedro de Vera deveria concede-las aos conquistadores “segun
sus merecimientos”.

A concessão de terras de sesmaria e a legitimação da posse geraram alguns conflitos que implicaram
a intervenção do senhorio ou o arbítrio do seu ouvidor. Em 1461 os madeirenses reclamaram contra
a redução do prazo para aproveitamento das terras de sesmaria, dizendo que eram “bravas e fragosas
e de muytos arvoredos”. Contudo, o infante D. Fernando não abdicou do foral henriquino e apenas
concedeu a possibilidade de alargamento do prazo mediante análise circunstanciada de cada caso
pelo almoxarife. Passados cinco anos os mesmos contestaram de novo o regime de concessão de
terras de arvoredos e o modo de as esmontar, pelos efeitos nefastos que causava à safra açucareira.
Perante isto o senhorio ordenou aos capitães e almoxarifes que cumprissem os prazos estabelecidos
e que fosse interdito o uso do fogo. No entanto, em 1483, o capitão de Machico continuava a
distribuir de sesmarias os montes próximos do Funchal, com excessivo prejuízo para os lavradores
do açúcar e, por isso mesmo, D. Manuel repreende-o, solicitando que tais concessões deveriam ser
feitas na presença do provedor. Finalmente, em 1485, o mesmo proibiu a distribuição de terras de
sesmaria nos montes e arvoredos do norte da Ilha, para em princípios do século XVI (1501 e 1508)
acabar definitivamente com a concessão de terras em regime de sesmaria. A única ressalva estava
nas terras que pudessem ser aproveitadas em canaviais e vinhedos.

Em qualquer dos arquipélagos a prepotência dos capitães e governadores no processo de


distribuição das terras gerou inúmeras desavenças que mereceram a intervenção da coroa. Na
Madeira o senhorio enviou em 1466 Dinis de Grãa, seu procurador, com plenos poderes para
resolver as causas pendentes das reclamações chegadas ao reino, entre as quais as referentes às
terras e águas. Também em Canárias sucederam-se queixas sobre a forma como se procedeu à
distribuição de terras e a coroa viu-se na necessidade de enviar representantes seus para repor a
legalidade em todo o processo, com poderes para reformar as partidas de terras. Em 1506 surge o
licenciado Juan Ortiz de Zarate nas três ilhas realengas que foi substituído por Lope de Sousa em
1509.
Na Madeira são poucas as doações de terra que resistiram ao correr dos tempos e que ficaram a
testemunhar e legitimar a posse do solo arável ilha. Destas temos notícia de uma de 1457 a
Henrique Alemão. Aqui especifica-se a obrigação do sesmeiro de construir casa e de as terras
concedidas serem ocupadas com vinhas, canaviais e horta. Noutra de 1470 determina-se que as
terras dadas deviam ser plantadas de canaviais. Por felicidade, no caso das Canárias são muitas as
dadas de terras que persistiram no tempo, existindo em Tenerife o livro de datas, já publicado e
estudado. Note-se que também aqui se repetem as mesmas recomendações da Madeira, quanto aos
produtos e bemfeitorias a lançar sobre a terra.
A tudo isto há que referir, ainda, que as ilhas Canárias onde se implantou a cultura dos canaviais
apresentavam um ecosistema distinto do madeirense. Assim, na Madeira os cronistas, excepção feita
ao Porto Santo, não se cansam de enunciar duas riquezas fundamentais para medrar os canaviais e a
industria subsequente. A ilha é abundante em água e lenhas pelo que a cana de açúcar tem condições
para se afirmar. Em face disto as doações de terra não fazem expressa referencia à repartição da
água. Esta, no primeiro momento, dá e sobra . Os problemas com a sua falta e a necessidade de
regulamentar o seu uso e posse surgem depois. Diferente é, todavia, a situação das Canárias.
Tendo em conta a importância que a água assume para a cultura a safra do açúcar é necessário não
esquecer a forma da sua distribuição e posse. Se no caso da Madeira este não foi um problema, no
início, devido à abundância da mesma, nas Canárias, ao contrario a sua escassez levou a que se
estabelecesse logo a sua posse. Deste modo temos dadas de terras com e sem água. Na Madeira a
água corria nas ribeiras, em abundância na vertente norte. No sul os caudais eram, na época estival,
quase todos desviados para as levadas. É, na verdade, no seu leito e margens que se joga a História
da ilha. Facto significativo é o de também as principais freguesias terem à cabeceira uma ou mais
ribeiras. O Funchal, principal assentamento da ilha, é cortado por três ribeiras.
Aguas e nascentes foram consideradas, nos primeiros documentos emanados para a ilha, como
domínio público. Assim, o entendia D. João I no capítulo de um regimento dado a João Gonçalves
Zarco onde considerava nesta situação as “fontes, tornos e olhos daugua... prayas e costas do mar,
rios e ribeyras”. Todavia, a água foi um problema ao longo da História da ilha, pois desde o começo
surgiram açambarcadores a reivindicar para si a posse exclusiva deste bem comum. Em 1461
coloca-se a primeira dificuldade na sua repartição no que o Duque responde que, o almoxarife mais
dois homens ajuramentados, repartam “as auguas a cada hum pera seus açuquares e logares
segumdo cada hum mereçeer”. Mesmo assim, continuaram as demandas pelo que em 1466 o duque
decidiu mandar à ilha, Dinis Anes de Sá, seu ouvidor, com intuito de resolver esta e outras questões.
Nas áreas de maior concentração populacional e de intensivo aproveitamento do solo, como foi o
caso do Funchal, a água das ribeiras não foi suficiente para suprir as solicitações dos vizinhos. Deste
modo, em 1485 o Duque D. Manuel recomendava que as águas da Ribeira de Santa Luzia fossem
usadas apenas nos engenhos, moinhos e benfeitorias que dela se serviam não podendo ser desviadas
para outro fim. Idêntica recomendação repete-se em 1496. Note-se que esta ribeira servia vários
engenhos e os moinhos do capitão do Funchal.
Foi com D. João II que ficaram definidos os direitos sobre a água, que perduraram até ao século
XIX. Por cartas de 7 e 8 de Maio estabeleceu-se, de uma vez por todas, que as águas eram
património comum sendo distribuídas pelo capitão e oficiais da câmara, entre todos os proprietários
pois que “sem as agoas as terras se não podiam aproveitar”. A partir daqui a água é propriedade
pública sendo o usufruto para os que possuíssem terras e dela necessitassem. Todavia, desde finais
do século quinze, a água passou a ser negociada a exemplo do que sucedia com a terra. É com o
regimento de D. Sebastião em 1562 que se procede a uma alteração no sistema primitivo. As águas
podem ser vendidas ou arrendadas, o que permitiu aumentar o fosso entre a propriedade da terra e
da água.
O documento de 1493 determina de forma evidente a importância assumida pelas levadas no
sistema de distribuição de águas. Destas há a considerar as públicas e as privadas. As últimas eram
de iniciativa particular precisando de uma autorização. Neste caso temos em 1495 a licença a Pero
Fernando para tirar água da Ribeira de Água d’Alto (Ponta Sol). Uma das tarefas dos primeiros
colonos foi a tiragem das levadas. Por isso elas são os imemoriais testemunhos do labor do homem
insular que se perpetuaram na ilha, a exemplo dos imponentes aquedutos peninsulares. Em 1496
parece que, ao menos no Funchal, estava delineado o sistema de regadio pelo que na Ribeira de
Santa Luzia não se permitiu mais a abertura de novas levadas ou a tiragem da água, acima das já
existentes. Isto foi resultado da pretensão de alguns heréus quererem tirar outras mais acima das já
existentes no sentido de aproveitar as terras acabadas de arrotear. Mas, a coroa insiste na proibição
em nova levada em cota superior, punindo os infractores com pesadas penas. Na verdade, segundo
nos conta Gaspar Frutuoso, a Ribeira de Santa Luzia servia várias levadas, sendo uma delas para os
cinco moinhos do capitão e um engenho. O Funchal ficou servido, ainda, por outras como a dos
Piornais, do Pico do Cardo e Castelejo. Fora do Funchal, Gaspar Frutuoso, refere a levada mandada
construir por Rafael Catanho que servia Machico e Caniçal, em que gastou cem mil cruzados.
Também na Ribeira dos Socorridos temos outras levadas de iniciativa particular: a do engenho de
Luís de Noronha que lhe custou 20.000 cruzados; a de António Correia para as terras da Torrinha.
Outro problema, não menos importante, foi o da partição da água. Desde o início que a coroa
recomendara todo o cuidado nisso, ficando com tal encargo o almoxarife, auxiliado por dois homens
eleitos para este fim. A sua distribuição era feita para toda a semana, excepto o domingo que ficava
comum a todos, pois tal como refere a coroa em 1493 era “comtra comçiencia”. A sua manutenção
foi outra preocupação a que o capitão deveria tomar conta, conforme ordem de D. Catarina de 1562.
Mais se recomendava que aqueles que não tivessem necessidade das águas que dispunham não as
podiam arrendar a ninguém a não ser para se regar os canaviais. Apenas, os que haviam tirado
levadas próprias podiam dar ou vender as águas. Neste momento a coroa apoiou a reparação das
levadas da Ribeira dos Socorridos, dos Piornais e Castelejo com o intuito de incrementar de novo a
cultura dos canaviais, que tinham preferência nesta nova redistribuição das águas.
A tradição de traçar levadas fez com que os madeirenses se tivessem transformado nos seus exímios
construtores, levando a tecnologia para todo o lado onde se fixaram. Primeiro, foi as Canárias e,
depois, na América. Esta perícia e engenho dos madeirenses está evidenciada na reclamação de
Afonso de Albuquerque para que o rei lhe mandasse madeirenses “que cortavam as serras pera
fazerem levadas, com que se regam as cannas de açúcar”, para desviar o curso do rio Nilo.
Tal como já o referimos, nas Canárias, à excepção das ilhas de La Gomera e La Palma, a água era
escassa. Elas foram património da coroa ou do senhorio que, depois a distribuíram pelos
povoadores. As “dulas” eram estabelecidas “conforme a la medida de las dichas tierras e
repartimiento en ellas fecho” e, acima de tudo, de acordo com a cultura a que estava destinada,
merecendo aqui a cana de açúcar um lugar preferencial. Deste modo as “datas” de terras para além
de seguirem a área concedida dão conta das culturas a lançar à terra e destas dependia a
disponibilidade de água e floresta. Assim temos “datas de regadio” e “secano”. Aqueles que
pretendessem investir em infra-estruturas, construindo um engenho, tinham asseguradas trinta
fanegas de regadio. Em Tenerife, para a primeira década do século XVI, temos vinte e quatro casos
em que se ordena a construção de um engenho de água ou de besta num prazo de dois a três anos.
Aqui, nas Canárias o mais importante era a posse da água, pois ela define a importância a assumir
pela terra, mercê das possibilidades do seu aproveitamento. Sendo de salientar as dadas de terras
para canaviais com a obrigação de construção de um engenho de água. Neste contexto as terras
próximas dos “barrancos” tinham maior solicitação e foram reservadas aos principais povoadores.
O valor da água na economia das ilhas está bastante patente na importância que lhe é atribuída pelas
autoridades municipais, através das posturas. Aí, para além dos necessários cuidados na preservação
das nascentes, ficaram definidas a forma de distribuição e uso da água, através do alcalde, repartidor
e “acequiero”. O alcalde das águas era eleito em Janeiro, para um período de seis meses, pelos
herederos da água, tendo o poder de sentenciar as causas que a sua distribuição ou abuso gerassem.
Depois, para que a água dos barrancos chegasse aos engenhos e canaviais havia de lançar grandes
obras de engenharia, só possível com a associação dos vizinhos no chamado “heredamiento o
heredad de aguas”. Conhece-se o “heredamiento de las haciendas de Argual y Tazacorte” em La
Palma, enquanto em Gran Canaria sabemos da existência em 1501 de outro dos vizinhos de La
Palma, para canalizar a água de Tejeda, conhecido como o “heredamiento de La Mina de Tejeda”.
Os elevados custos desta obra levaram o cabildo a participar na iniciativa, ficando com metade das
águas que depois dava em censos perpétuos, sendo esta uma forma de receita. A sua administração
fazia-se pelo “alcalde de aguas”, sendo dois em Gran Canaria e um en Tenerife.
Na ilha de La Palma é de salientar o manancial aquífero da Caldera de Taburiente, que serviu as
principais áreas de canaviais: Los Sauces, Argual, Tazacorte. O primeiro foi distribuído a meias
entre o mercador catalão Pedro Benavente e o Adelantado. Mais importante foi o “repartimiento” de
Juan Fernández de Lugo Señorino, com as “haciendas” de Argual e Tazacorte, onde se inclue o
“heredamiento” da agua da Caldeira. Todavia, as grandes obras de condução desta água foram
levadas a cabo por Jacome de Monteverde, em 1518, gastando mais de quinze mil cruzados na
construção de “acequias”. Novos investimentos seguiram-se em 1555-57 avaliados em duzentos mil
ducados.
Nas ilhas de senhorio as águas mantiveram-se como domínio senhorial. Todavia estes facilitaram a
sua distribuição aos beneficiários por um alcalde. Deste modo nos diversos sensos garantia-se o uso
da água necessária, não havendo a transferência da sua propriedade. No caso da ilha de La Gomera
os mananciais eram adequados às necessidades do regadio e da laboração dos engenhos, de modo
que o uso não estava sujeito a situações especulativas.
A evolução do movimento demográfico acompanhado da valorização das zonas aráveis com as
culturas de exportação conduziram a profundas alterações na distribuição e posse das terras. Os
mercados interno e externo condicionaram um maior aproveitamento do solo arroteável, tornando-
se urgente um adequado reajustamento da estrutura fundiária à nova situação. O aparecimento de
capitais estrangeiros e nacionais conduziu à intensificação do arroteamento das terras e provocou
alterações na sua posse por meio de transacções por compra, aforamento e arrendamento. Note-se
que na Madeira em 1494 generalizou-se o aforamento dos canaviais na capitania do Funchal, com
especial incidência nas partes do fundo e em Câmara de Lobos. Para o século dezasseis os livros
referentes ao quinto dão-nos apenas nove rendeiros na Calheta (1509, 1513-14), Ponta de Sol (1517)
e Ribeira Brava (1536). É de salientar o caso da Calheta com sete rendeiros.
A lei de 9 de Outubro de 1501 põs termo à concessão de terras de sesmarias, como forma de impedir
a diminuição do parque florestal, tão necessário à laboração do açúcar. A partir deste momento, toda
a aquisição de terras só poderia fazer-se por compra, aforamento ou transmissão por via familiar,
por meio da herança, sucessão e dote. Enquanto a compra e venda surgem como mecanismos de
concentração da propriedade nas mãos da aristocracia e burguesia enriquecidas com os proventos da
primeira fase de colonização, ou dos estrangeiros recém-chegados, a herança e dote actuam no
sentido inverso conduzindo à desintegração da grande propriedade. A primeira situação documenta-
se com a maior acuidade no século XVI e mesmo em finais do século anterior, sendo disso prova a
escritura de 28 de Janeiro de 1498 em que João Esmeraldo, fidalgo flamengo, compra a Rui
Gonçalves da Câmara, filho de João Gonçalves Zarco, as suas terras na Lombada da Ponta de Sol.
Em consonância com estas mutações surge a afirmação do sistema de vinculação da terra, no
reinado de D. Manuel, que veio dar origem ao contrato de colonia.
Na Madeira desde a segunda metade do século XV que se generalizaram os contratos de aforamento
e meias que evoluem no século XVI para o contrato de colonia. Este último é uma situação
específica na Madeira, que tem a característica de se orientar pelo direito consuetudinário. Note-se
que os diversos contratos de arrendamento que chegaram até nós não são uniformes no
compromisso entre ambas as partes, pois o senhorio tanto poderia contribuir com as bemfeitorias,
ou deixar esse serviço para o colono, reservando, no entanto, a sua posse sem qualquer encargo no
fim. A norma era um contrato de duração limitada, obrigando-se o colono ao pagamento de uma
renda anual ou a metade da sua produção. No Convento de Santa Clara conhecem-se vários
contratos de arrendamento de meias, alguns referem-se a serrados de canaviais, estabelecendo a
forma de intervenção das partes e de torna-los rentáveis. Este convento, mercê das doações
recebidas ao longo do século XVI, transformou-se no maior proprietário da ilha. Assim, em 1644 o
seu poderio alargou-se a toda a ilha com 408 propriedades declaradas, transformando-se, por isso
mesmo, numa importante empresa agro-pecuária.
Nas Canárias temos também diversas formas de contratos de exploração de terra semelhantes aos da
Madeira. Assim, surgem o arrendamento, “apareceria” e censos, com a mesma definição dos da
Madeira. É de referir ainda o chamado contrato de complantación em que o proprietário da terra
por arrotear cede-a por um prazo limitado para que a tornar agricultada e só depois disso passará a
pagar a renda.
Na Madeira o primeiro grupo de colonos é eminentemente nacional, pois só num segundo momento
surgem os estrangeiros. Esta situação contraste com as Canárias, onde o estrangeiro está
comprometido com a conquista e início da ocupação das ilhas. João Esmeraldo é um exemplo entre
muitos os estrangeiros que, entre finais do século XV e meados do século XVI, fixaram morada nas
principais áreas de canaviais da vertente meridional. Todos eles, atraídos pelo comércio do açúcar,
acabaram investindo os seus proventos em canaviais, engenhos e levadas. Estes, bem relacionados
com a alta finança europeia e com os principais centros do comércio europeu, cativaram
rapidamente a tenção da aristocracia e burguesia insulares com quem se relacionaram por meio de
laços de parentesco. O casamento, com o apetecido dote, foi muitas vezes a forma de alargarem os
seus domínios e de firmarem a sua posição na sociedade insular. Assim sucedeu com Benoco
Amador que casou com Petronilha Gonçalves Ferreira, viúva de Esteves Eanes Quintal detentor de
uma grande quinta em Santo António e terras na Ponta de Sol, e que, por isso mesmo, em poucos
anos transformou-se num grande proprietário cuja fazenda foi resultado de compra, casamento e
arrendamento, por um lado, e o comércio, arrematação das rendas e empréstimos, por outro.
Idêntica situação surge com João Esmeraldo, Simão Acciaioly, Pedro Berenguer, João Drumond,
Urbano Lomelino, João Salviati e Micer Batista. Este último era casado com a filha de Tristão Vaz,
capitão do donatário na capitania de Machico.
De acordo com o estimo de 1494 é patente um sistema de cultura dos canaviais organizado em
regime de média e pequena propriedade pois que a média de produção oscila entre 117,23 arrobas
do Funchal e as 632,73 das Partes do Fundo, perfazendo no geral 345,28. No período subsequente
(1509-1537) atinge-se uma média de 470,27 arrobas nas duas capitanias, sendo de 171,08 na de
Machico e de 537,98 na do Funchal. A área definida pela capitania de Machico surge com o valor
mais baixo enquanto na do Funchal e, nomeadamente, nas comarcas da Ribeira Brava e Calheta este
valor é 9 vezes superior. Todavia o seu aumento não ficou a dever-se à colheita da comarca do
Funchal, onde este se mantém em 307,96 ou 197,56, mas sim das comarcas das Partes do Fundo.
Aí, especialmente na Calheta e Ribeira Brava, chega a atingir, respectivamente 1867,32 e 1376,17
em 1509.
A conjuntura deprecionária da economia açucareira madeirense conduziu a profundas alterações na
estrutura fundiária, contribuindo para a concentração dos canaviais nos grandes proprietários. Os de
poucos recursos financeiros vêm-se obrigados a abandonar os canaviais, a substituí-los pelos
vinhedos ou então a penhorá-los e vendê-los aos grandes proprietários e mercadores. Esta situação
contribuiu para o reforço do grande proprietário das Partes do Fundo, nomeadamente nas comarcas
da Calheta e Ribeira Brava. Note-se que esta tendência acentuara-se já na transição do século XV
para o XVI. A mutação da posse dos canaviais no período de 1494 a 1537, poderá ser aferida pela
variância do nome dos proprietários. Entre finais do século XV e a primeira metade do século XVI
verifica-se a manutenção de trinta e dois nomes (11%), enquanto no período de 1509 e 1537 apenas
se mantiveram dezanove (6%). Estes números poderão significar que a mutação é mais evidente no
período de crise que na fase ascendente, por outro lado indicam a maior incidência nas Partes do
Fundo, pois que no Funchal permanecem 17 nomes, isto é, 53% do total de nomes em causa.
Se é certo que o estimo de 1494 confirma a tendência para a afirmação da pequena e média
propriedade no Funchal, Câmara de Lobos e, em parte, da grande propriedade nas Partes do
Fundo, também é certo que os dados em estudo para os anos de 1509 a 1537 confirmam a grande
propriedade nas Partes do Fundo e da média no Funchal e Câmara de Lobos (comarca do Funchal).
Em 1494 no Funchal e Câmara de Lobos os vinte proprietários (15%) representavam metade da
produção global da área. Destes apenas dois excediam as 700 arrobas. Nas Partes do Fundo o
mesmo número de proprietários (20%) produziu metade do total da capitania. Em 1509, no Funchal,
apenas quinze (21%) surgem com metade da produção desta comarca, enquanto nas Partes do
Fundo apenas os cinco principais (18%) apresentam-se com 65% da produção global. No cômputo
geral da capitania estes contribuem com 55%.
A grande propriedade quase inexistente em 1494 com grande destaque na primeira metade do século
XVI, nomeadamente nos primeiros decénios. Em 1494 apenas surgem proprietários com mais de
1000 arrobas nas Partes do Fundo e em número reduzido (22%) na zona e 10% no global da
capitania). No século XVI estes surgem na capitania do Funchal em número superior com 18% na
capitania e 14% no global. Na capitania de Machico esta é quase inexistente uma vez que apenas há
notícia de um proprietário com mais de 1000 arrobas. A posição da capitania do Funchal deve-se
fundamentalmente aos proprietários sediados nas comarcas da Calheta (35%) e Ribeira Brava
(42%). Em 1494, na capitania do Funchal surgem apenas 12 proprietários (5%) com uma produção
superior a 1500 arrobas e, no período subsequente (1509-1537) 24 (8%). Os últimos são na sua
maioria, oriundos da Ribeira Brava e Calheta. Para 1494 os valores mais elevados são de James
Timor (2270 arrobas) e João de França (2500). No período imediato, do século XVI, duplicam,
como sucede com Pedro Gonçalves de Bairros da Ribeira Brava que, em 1509, produziu 5 376
arrobas de açúcar, isto é, 28% da comarca e 8% da capitania. Com uma produção superior a 2000
arrobas temos, no período de 1509 a 1537 quinze proprietários maioritariamente oriundos da
Calheta e Ribeira Brava, com um valor global de 37% da capitania, enquanto em 1494 eram apenas
três, produzindo 9%. Perante esta evidência será legítimo afirmar que na Madeira dominou o
sistema de pequena e média propriedade com a cultura do açúcar? Se a conclusão se torna legítima
para finais do século XV o mesmo já não poderá dizer-se para a primeira metade do seguinte.
Estamos perante a principal modificação na estrutura açucareira neste lapso de tempo de 43 anos.
Segundo Virgínia Rau e Jorge de Macedo, “a produção do açúcar beneficiava camadas amplas da
população, encontrando-se entre os produtores, além do pequeno e médio lavrador, sapateiros,
carpinteiros, barbeiros, mercadores, cirurgiões, moleiros, ao lado de fidalgos funcionários,
concelhios e outros, participando por migalhas nos benefícios desta rica produção, [...]. Toda esta
miuçalha de pequenos produtores se aproveitava de um organismo montado na ilha, para tornar
rentável a sua pequeníssima produção”. Vitorino Magalhães Godinho, por seu turno, reforça esta
caracterização da realidade social madeirense apontando a tendência para a concentração dos
canaviais num número reduzido de insulares. A situação da primeira metade do século XVI
apresenta-se diferente pois que o número limitado de proprietários reforça a ideia da concentração
dos canaviais nos grupos sociais privilegiados da sociedade insular: aristocracia, mercadores,
artesãos e funcionários locais e régios. Em ambos os momentos este grupo de proprietários
representava apenas 1% da população da ilha. Esta tendência concentracionista acentua-se na
passagem do século XV para o XVI, uma vez que houve a redução do número de proprietários nas
comarcas circunscritas às Partes do Fundo. Aliás, aqui é notória a manutenção dos proprietários,
sendo reduzido a mutação por compra e venda, dote ou aforamento. A imutabilidade da propriedade
deve-se fundamentalmente à sua vinculação. Assim, entre 1509-1537, 18% dos canaviais das
comarcas das Partes do Fundo estavam vinculados, enquanto no Funchal são só 17%. Estas terras
representam 38% da produção da capitania do Funchal.
A caracterização da realidade social da estrutura fundiária açucareira é igualmente diversa, sendo
definida pela forte participação dos estrangeiros, mercadores e funcionários. O grupo de
estrangeiros que surgia já em 1494 com uma forte participação no sector produtivo açucareiro com
17%, reforçará a sua posição, na primeira metade do século XVI, atingindo 20%. Esta situação é
reforçada pelo testemunho de Gaspar Frutuoso. A sua relativa participação em 1494 explica-se pela
xenofobia dos mercadores do reino e ilhas e pela ambiguidade da acção da coroa e do senhorio. Até
1498 altura em que o monarca autoriza a permanência dos estrangeiros na ilha, a situação mantinha-
se muito precária e os seus interesses molestados pela oposição da burguesia insular e nacional.
Deste modo, a estabilidade e privilégios concedidos aos mesmos contribuíram para a sua rápida
fixação na ilha, justificando-se de modo preciso a sua forte participação no sector produtivo na
primeira metade do século XVI.
Sendo o Funchal o principal centro do comércio madeirense, lógico será de supor a fixação do
estrangeiro no burgo e arredores. Assim temos 43% deste grupo na comarca do Funchal e arredores.
Na sua maioria são grandes proprietários, uma vez que mais de 50% detém canaviais com produção
superior a 1000 arrobas. A sua acção alargou-se depois, a algumas comarcas periféricas com forte
incidência na economia açucareira, como Ribeira Brava, Ponta de Sol e Calheta, onde assumem
uma posição importante na produção e destacando-se como os principais proprietários, dispondo de
extensos canaviais, engenho e numerosos escravos. Destes salientam-se João de Bettencourt na
Ribeira Brava com 2450 arrobas de açúcar, João de França, na Calheta com 3632 arrobas e João
Esmeraldo na Ponta de Sol com 3277,5 arrobas. No Funchal, é certo, temos grandes proprietários,
como Simão Acciaioly, Benoco Amador e João de Bettencourt mas, em contraste, a sua posição no
quadro geral não atinge o nível dos supracitados. Aliás, é na Ribeira Brava e Ponta de Sol que estes
apresentam a percentagem mais elevada da produção. Em síntese, podemos afirmar que o
estrangeiro avizinhado não se preocupou apenas com o sector produtivo, pois o comércio e
transporte dos produtos, que os atraíram, mantiveram-se como a actividade principal. Este
raramente surge na condição de proprietário mas com o triplo estatuto de proprietário-mercador-
prestamista.
A classe mercantil atraída pela opulência do açúcar fixou-se nas principais comarcas de produção e
comércio do ouro branco. O Funchal, como principal centro de tráfego açucareiro, apresentará
condições propícias à sua residência. Note-se que cerca de 60% tinham os seus canaviais nesta
comarca. De igual modo sendo a capitania do Funchal definida pela melhor área de canaviais, eles
preferem-na às terras de Machico, onde apenas atingem 13% do total. Não obstante, a sua fraca
representação numérica na última capitania surgem com 35% do açúcar enquanto no Funchal ficam-
se pelos 20%.
O mercador nacional ou estrangeiro não se dedicava em exclusivo ao comércio, pois repartia a sua
actividade por uma multiplicidade de produtos de importação e exportação e alargava-a outros
sectores, como o administrativo e produtivo. Assim, estes são em simultâneo proprietários e
funcionários concelhios ou régios, com uma forte presença na exploração dos canaviais onde
representavam, na primeira metade do século XVI, 24% do total dos proprietários, comparticipando
com 30% da produção. A estrutura administrativa das duas capitanias subordinava-se à febre
açucareira, sendo definida pelo almoxarifado e provedoria da fazenda. A própria administração local
ajustou-se a esta ambiência, sendo a vereação a tribuna de debate das principais questões ligadas ao
produto. Ao mercador ou proprietário interessava deter uma posição nesta complexa estrutura
administrativa de forma a fazer valer os seus reais interesses nas ordenanças ou posturas municipais,
que regulamentavam a safra e comércio do açúcar. Não será por acaso que muitos dos principais
proprietários são nas duas capitanias como oficiais régios ou concelhios. Destes registam-se pelo
menos trinta e três, na sua maioria da capitania do Funchal, com uma produção de 21%. Sendo a
vereação o local de debate e deliberação das principais questões ligadas à safra e comércio
açucareiro lógico será admitir a sua participação com assiduidade nas mesmas, como oficiais eleitos
ou homens-bons. Note-se que neste grupo 61% são homens-bons. Os elementos mais influentes da
classe possidente madeirense incluíam-se em qualquer destes grupos. O usufruto da dupla situação
social conduziu à sua afirmação no grupo de proprietários de canaviais. Assim 30% dos
funcionários e 19% dos mercadores situam-se no grupo com uma produção superior a 1000 arrobas.
Para as ilhas das Canárias não dispomos de documentação apropriada que permita idêntico
tratamento e assim poder fazer-se uma ideia da dimensão assumida pela propriedade e da ligação
entre os proprietários de canaviais e engenho. Sabemos que estes últimos estavam, à partida,
favorecidos em relação aos demais, uma vez que tinham garantido no mínimo 30 fanegas de terra.
Nesta situação são conhecidas onze dadas em Tenerife. Destas podemos destacar as “Haciendas” do
adelantado em Daute, Icod e El Realejo, de Tomás, Justiniano, Bartolomé Benítez e o Duque de
Medina Sidónia em La Orotava, Cristóbal Ponte e Mateo Vina em Daute, Blasyno Inglesco de
Florentino e Juan Felipe em Güimar e Lope Fernandez em Taganana. Uma das mais importantes
propriedades foi constituída por Juan Fernández de Lugo Señorino com as “haciendas” de Argual e
Tazacorte. Em 1508 a sua posse passou para Jácome Dinarte que, depois a vendeu, no ano imediato
aos Welzers, que as tornaram a vender em 1513 a Jácome de Monteverde. A dimensão da sua
propriedade pode ser avaliada pela informação de Gaspar Frutuoso, que refere moerem os engenhos
de Janeiro a Julho a cana suficiente para produzir entre sete a oito mil arrobas de açúcar.
Os dados relativos à produção são avulsos e não permitem tirar qualquer conclusão. Assim, em La
Orotava o engenho que agora é de Pedro de Lugo e que fora de Tomás Justiniano surge com 556
arrobas em 1535 e 1122 arrobas em 1536. Em Daute os dois engenhos de Mateo Viña, que possuía
mais de 200 fanegas de canaviais produziam entre 5 a 6 arrobas. E, por fim, a hacienda El Realejo,
do Adelantado surge para os anos de 1537-38 com a produção de 9000 arrobas de açúcar. Em Gran
Canaria, um engenho de Telde produziu 1190 arrobas de açúcar em 1504.
No século XVII a estrutura fundiária é distinta. Assim, na Madeira dominam os pequenos
proprietários de canaviais, o que demonstra ser esta uma cultura subsidiária, que medrava ao lado
das outras, talvez pela sua necessidade familiar ou interna. O quadro que a seguir se apresenta é
testemunho da diminuta importância dos canaviais na estrutura fundiária madeirense de então. Para
1600 são cento e nove proprietários com 3656 arrobas, o que equivale a uma média de 33,54
arrobas. Esta situação demonstra que a segunda metade do século XVI foi pautada pelo paulatino
abandono dos canaviais e a sua substituição pela vinha.
A conjugação dos vínculos ou legados pios, do duplo estatuto social com as alianças matrimoniais
ou extramatrimoniais poderá ser apontada como o principal mecanismo de reforço da grande
propriedade na economia açucareira. Esta é uma conjuntura premente no momento de crise da
primeira metade do século XVI. Note-se que a intervenção da infanta D. Catarina foi no sentido da
manutenção dos canaviais através da regulamentação das heranças. Assim, em 1559 foi eleito um
procurador para tratar da herança dos canaviais que levou à decisão em 1562 de apostar no regime
de morgadio para os canaviais.

No século XVII a estrutura fundiária é distinta. Assim, dominam os pequenos proprietários de


canaviais, o que demonstra ser esta uma cultura subsidiária, que medrava ao lado das outras pela sua
necessidade familiar ou interna. O quadro que a seguir se apresenta é testemunho da diminuta
importância dos canaviais na estrutura fundiária madeirense de então. Para 1600 temos 109
proprietários com 3656 arrobas, o que equivale a uma média de 33,54 arrobas. Esta Situação
demonstra que a segunda metade do século XVI foi pautada pelo paulatino abandono dos canaviais
e a sua substituição pela vinha.

O PODER DA ÁGUA. A tudo isto há que referir, ainda, que as ilhas Canárias onde se implantou a
cultura dos canaviais apresentavam um ecossistema distinto do madeirense. Assim na Madeira os
cronistas, excepção feita ao Porto Santo, não se cansam de enunciar duas riquezas fundamentais
para fazer medrar os canaviais e a industria subsequente. A ilha é abundante em água e lenhas pelo
que a cana de açúcar tem condições para ser promissora. Em face disto as doações de terra não
fazem expressa referencia à repartição da água. Esta, no primeiro momento dá e sobra os problemas
com a sua falta, e a necessidade de regulamentar o seu uso e posse, surgem num segundo momento.
Tendo em conta a importância que a água assume para a cultura a safra do açúcar é necessário não
esquecer a forma da sua distribuição e posse.

Ao homem estava atribuída a dura tarefa de desviar o curso das ribeiras fazendo com que as suas
movessem engenhos, moinhos e irrigar os canaviais e demais culturas. Para isso, traçaram
kilómetros de canais para a sua condução, que ficaram conhecidos, na ilha, como levadas. O sistema
permitiu um maior aproveitamento dos socalcos e o alívio do homem em algumas tarefas, como
sejam, o moer do grão e da cana e o serrar das madeiras. Moinhos, engenhos e serras convivem
pacificamente usufruindo da água que corre na mesma levada. A orografia da ilha ao mesmo tempo
que dificultava a condução da água favorecia este aproveitamento, pela força motriz atribuída pelos
declives acentuados.

Águas e nascentes foram consideradas, nos primeiros documentos emanados para a ilha, como
domínio público. Assim, o entendia D. João I no capítulo de um regimento dado a João Gonçalves
Zarco onde considerava nesta situação as "fontes, tornos e olhos daugua... prayas e costas do mar,
rios e ribeyras". Todavia, a água foi um problema ao longo da História da ilha, pois desde o começo
surgiram açambarcadores a reivindicar para si a posse exclusiva deste bem comum. Em 1461
coloca-se a primeira dificuldade nesta repartição das águas, no que o Duque responde que, o
almoxarife mais dois homens ajuramentados, repartam "as auguas a cada hum pera seus açuquares e
logares segumdo cada hum mereçeer". Mesmo assim, continuaram as demandas sobre as águas pelo
que em 1466 o duque decidiu mandar à ilha, Dinis Anes de Sá, seu ouvidor, com intuito de resolver
esta e outras questões.

Com D. João II que ficaram definidos os direitos sobre a água que perduraram até ao século XIX.
Por cartas de 7 e 8 de Maio ficou estabelecido, de uma vez por todas que as águas eram património
comum, sendo distribuídas pelo capitão e oficiais da câmara, entre todos os proprietários, pois que
"sem as agoas as terras se não podiam aproveitar". A partir daqui ficou estabelecido a água como
propriedade pública, sendo o seu usufruto para aqueles que possuíssem terras e delas necessitassem.
Todavia, desde finais do século quinze, a água passou a ser negociada, a exemplo do que sucedia
com a terra. É com o regimento de D. Sebastião, em 1562, que se procede a uma alteração no
sistema primitivo. As águas podem ser vendidas ou arrendadas, o que permitiu que aumentasse o
fosso entre a propriedade da terra e da água.

Nos diversos contratos de meias, arrendamento e de colonia, em que os canaviais jogam um papel
fundamental, a água esta sempre presente. Naquelas referentes ao Convento de Santa Clara esta
instituição assume o compromisso de atribuir água necessária.

A tradição de traçar levadas fez com que os madeirenses se tivessem transformado nos seus exímios
construtores, levando a tecnologia para todo o lado onde se fixaram. Primeiro, foi as Canárias e,
depois, na América. Esta perícia e engenho dos madeirenses está evidenciada na reclamação de
Afonso de Albuquerque para que o rei lhe mandasse madeirenses "que cortavam as serras pera
fazerem levadas, com que se regam as cannas de açúcar", para desviar o curso do rio Nilo.

O plano de levadas da ilha não ficou concluído no século XVII foi apenas adiado pela afirmação da
vinha, uma cultura de sequeiro, e, por isso mesmo, quando a cana retornou à ilha, no século XIX, de
novo se pôs a questão das levadas para irrigar os canaviais e mover os engenhos. A água adquire de
novo uma dimensão económica importante, levando as autoridades a nova intervenção no sentido da
sua regulamentação e do traçar de novas levadas para alargar a área de regadio e, por consequência,
dos canaviais. É de salientar que o regime jurídico das águas, estabelecido em 1493 por D. João II,
perdurou até 1867, altura em que foi aprovado um novo Código Civil. A partir de então água e terra
são duas realidades distintas, vindo a agravar a situação, por ser favorável à especulação, situação
que foi atacada por leis de 1914 e 1931. Seis anos após o governo avançou com uma política
específica da água que chegou à Madeira em 1939. A criação da Comissão Administrativa dos
Aproveitamentos Hidráulicos da Madeira(1943)foi o ponto de partida para esta mudança na política
da água e das áreas de regadio na ilha.
DOS CANAVIAIS AO ENGENHO. A cana-de-açúcar na sua primeira experiência além Europa
demonstrou as possibilidades de rápido desenvolvimento fora do habitat mediterrânico. Gaspar
Frutuoso testemunha isso mesmo ao referir que “esta planta multiplicou de maneira na terra, que he
o assucar della o melhor que agora se sabe no mundo, o qual com o beneficio que se lhe faz tem
enriquecido muitos mercadores forasteiros e boa parte dos moradores da terra”. Tal evidência
catalisou as atenções do capital estrangeiro e nacional que apostou no seu crescimento e promoção,
pois só assim se poderá compreender o rápido arranque da mesma. Esta que, nos primórdios da
ocupação do solo insular, se apresentava como uma cultura subsidiária, passou de imediato a cultura
e produto dominante, situação que manteve por pouco tempo.
Na Madeira a cana sacarina, usufruindo do apoio e protecção do senhorio e coroa, conquista o
espaço ocupado pelas searas, atingindo todo o solo arável da ilha em duas áreas: a vertente
meridional (de Machico à Calheta), com um clima quente e abrigada dos alísios, onde os canaviais
atingem 400 m de altitude, dominado pelas plantações da capitania de Machico (Porto da Cruz e
Faial até Santana), solo em que as condições mesológicas não permitem a sua cultura além dos 200
metros numa produção idêntica à primeira área. Deste modo a capitania do Funchal agregava no seu
perímetro as melhores terras para a cultura da cana-de-açúcar, ocupando a quase totalidade do
espaço da vertente meridional. À de Machico restava apenas uma ínfima parcela área e todo um
vasto espaço acidentado impróprio para a cultura.
Esta diferenciação das duas capitanias torna-se mais visível quando analisamos os dados da
produção. Assim, em 1494, do açúcar produzido na ilha apenas 20% é proveniente da capitania de
Machico e o sobrante da capitania do Funchal. Em 1520 a primeira atinge 25% e a segunda os 75%.
Fernando Jasmins Pereira, numa análise comparada da produção das duas capitanias entre 1498 e
1537, discorda da relação até então estabelecida (3:1) pois, de acordo com a sua análise, a razão
situa-se em 4:1 para os primeiros decénios do século XVI, descendo entre 1521-1524 para 3:1 e
recuperando na segunda metade do decénio para 4:1.
Na capitania do Funchal os canaviais distribuíam-se de modo irregular, de acordo com as condições
mesológicas da área. Assim, em 1494 a maior safra situava-se nas partes de fundo, englobando as
comarcas da Ribeira Brava, Ponta de Sol e Calheta com 64%, enquanto o Funchal e Câmara de
Lobos tinham apenas 16%. Em 1520, não obstante uma ligeira alteração, a diferença mantém-se,
pois a primeira surge com 50%, e a segunda apresenta 25%, valor idêntico ao total da capitania de
Machico, com 25%. Uma análise em separado das diversas comarcas da capitania do Funchal, na
mesma data, evidencia a importância do Funchal em 33%, seguindo-se a Calheta com 27%. As da
Ribeira Brava e Ponta de Sol surgem numa posição secundária com 20% cada.
Criadas as condições a nível interno por meio do incentivo ao investimento de capitais na cultura da
cana-de-açúcar e comércio de seus derivados, do apoio do senhorio, da coroa e da administração
local e central, a cana estava em condições de prosperar e de se tornar, por algum tempo, no produto
dominante da economia madeirense. O incentivo externo do mercado mediterrânico e nórdico
aceleraram este processo expansionista. Assim em meados do século XV os canaviais são motivo de
deslumbramento para Cadamosto e Zurara. O primeiro refere que os açúcares “deram muita prova”,
enquanto o segundo dá conta dos “vales todos cheios de açúcar de que aspergiam muito pelo
mundo”.
A fase ascendente, que poderá situar-se entre 1450 e 1506, não obstante a situação deprecionária de
1497-1499, é marcada por um crescimento acelerado que, entre 1454-1472, se situava na ordem dos
240% e no período subsequente até 1493 em 1430%, isto é uma média anual de 13% no primeiro
caso e de 68% no segundo. No período seguinte após o colapso de 1497-1499 a recuperação é
rápida de tal modo que em 1500-1501 o aumento é de 110% e entre 1502-1503 de 205%. Esta forte
aceleração do ritmo de crescimento nos primeiros anos do século XVI irá marcar o máximo,
atingindo em 1506, bem como o rápido declínio nos anos imediatos. Note-se que apenas em quatro
anos atinge-se valor inferior ao do início do século. A situação agrava-se nas duas centúrias
seguintes, baixando a produção na capitania de Funchal, entre 1516-1537, em 60%. Na capitania de
Machico a quebra é lenta, sendo sinónimo do depauperamento do solo e da crescente desafeição do
mesmo à cultura. Mas, a partir de 1521 a tendência descendente é global e marcante, de modo que a
produção do fim do primeiro quartel do século situava-se a um nível pouco superior ao registado em
1470. Na década de trinta consumava-se em pleno a crise da economia açucareira e o ilhéu viu-se
aos poucos na necessidade de abandonar os canaviais e de os substituir pelos vinhedos. Mesmo
assim Giulio Landi, que na década de trinta visitou a ilha, refere que os madeirenses, levados pela
ambição da riqueza dedicam-se “apenas ao fabrico do açúcar, pois deste tiram maiores proventos”.
A historiografia tem apresentado múltiplas explicações para esta crise assentes fundamentalmente
na actuação de factores externos. No entanto, Fernando Jasmins Pereira com o seu estudo sobre
Açúcar Madeirense contraria esta opinião definindo a crise açucareira madeirense como resultado
das condições ecológicas e sócio-económicas da ilha:”...a decadência da produção madeirense é,
primordialmente, motivada por um empobrecimento dos solos que, dada a limitação da superfície
aproveitável na cultura, vai reduzindo inexoravelmente a capacidade produtiva”. Deste modo a crise
da economia açucareira madeirense não é apenas resultado da concorrência do açúcar das Canárias,
Brasil, Antilhas e S. Tomé mas deriva, acima de tudo, da conjugação de vários factores de ordem
interna: a carência de adubagem, a desafeição do solo à cultura e as alterações climáticas. A
concorrência do açúcar das restantes áreas produtoras do Atlântico, bem como a peste (em 1526) e a
falta de mão-de-obra apenas vieram agravar a situação de queda. A tudo isto acresce em finais do
século os efeitos do bicho sobre os canaviais, como é testemunhado para os anos de 1593 e 1602.
Deste modo o último quartel do século foi o momento de viragem para culturas de maior
rendibilidade, como a vinha. A documentação testemunha esta mudança. Assim, em 1571 Jorge Vaz,
de Câmara de Lobos, declara em testamento um chão que “sempre andou de canas e agora mando
que se ponha de mallvazia para dar mais proveito...”. Depois, em 1583 Álvaro Vieira vende a Diogo
Pires no Caniço um serrado que fora de canas “e agora anda de pão”.
As Canárias são apontadas como uma das áreas concorrentes da Madeira, mas aqui o mais
significativo é o facto de terem sido os próprios madeirenses a promovê-la, estando a sua afirmação
inegavelmente ligada à sua presença. Acresce, ainda, que foi no momento de crise do açúcar
madeirense que mais se notou aí a sua presença, o que prova a emigração orientada dos técnicos
ligados à cultura. As socas de cana chegaram às ilhas de Gran Canaria, Tenerife, La Palma e La
Gomera, não chegando às ilhas de Lanzarote, Fuerteventura e Hierro, devido à sua esterilidade,
como nos conta Gaspar Frutuoso. A documentação pouco nos diz sobre a sua evolução. Para os
séculos XV e XVI as informações são escassas e não permitem equacionar o seu volume. Todavia, é
ainda possível avaliar a importância da cultura na economia destas ilhas.De acordo com os dados de
1507 podemos concluir que a produção de açúcar foi de 34 545 arrobas em Tenerife e 2727 em La
Palma. Para La Gomera temos referência que rendia ao senhorio 1100 arrobas no ano de 1506. Em
Gran Canaria refere-se para o ano de 1534 as 80 000 arrobas. Depois só no último quartel do século
XVI temos o valor do diezmo para os anos de 1575 e 1584, que representa, respectivamente, 8 e
10% do total das ilhas, tendo no entanto grande importância nos totais das ilhas de Gran
Canaria(48%) e La Palma(34%).

A Historiografia nota que, a partir de meados do século XVI, a concorrência de outros mercados e o
avanço descontrolado dos vinhedos levaram à crise da cultura dos canaviais. Nisto não está de
acordo Manuel Lobo Cabrera que dá conta de um certo fulgor do seu comércio durante o reinado de
Filipe II. Tal como refere a crise surge como resultado da concorrência do antilhano e acima de tudo
do encerramento do mercado nórdico, nomeadamente Amberes ao açúcar canario, provocado pela
política belicista do monarca.
No decurso do século XVII os canaviais das ilhas perderam paulatinamente importância. Apenas na
Madeira é notada uma curta época de reafirmação quando se apaga a concorrência do brasileiro. A
conjuntura do século foi favorável ao retorno da cultura. Mas esta pouco ultrapassou, num primeiro
momento, a área agrícola circunvizinha do Funchal. Assim o comprova o livro do quinto do ano de
1600, que nos 108 proprietários de canaviais apresenta um grupo maioritariamente desta área. Este é
quase o único elemento comprovativo da produção de açúcar na ilha no século dezassete, pois só
voltamos a ter novas informações a partir de 1689, com a arrecadação do oitavo.
No ano de 1600 é bastante evidente a retracção da área ocupada pelos canaviais. A média
propriedade cede lugar à pequena e, mesmo, de muito pequenas dimensões. A maioria (isto é 89%)
produz entre 5 e 50 arrobas, o que demonstra estarmos perante uma cultura vocacionada para suprir
as carências caseiras, no fabrico de conservas, doçaria e compotas. Até 1640 o movimento
descendente agravou-se com a presença, cada vez mais assídua de açúcar brasileiro no porto do
Funchal. Em 1616 para garantir o escoamento da produção local e que à saída se fizesse uma
distribuição equitativa de ambos os açúcares. A ocupação holandesa das terras a cultura fez renascer
na ilha os canaviais para responder à solicitação na Europa e necessidade das indústrias de conserva
e casquinha. Em 1643 o número de engenhos existentes era insuficiente para dar vazão à produção
dos canaviais.
A coroa, de acordo com a provisão régia de 1 de Julho de 1642, pretendia promover de novo o
cultivo da cana-de-açúcar por meio de incentivos à reparação dos engenhos, com a isenção do
quinto por cinco anos ou a metade por dez anos. Usufruíram deste apoio o capitão Diogo Guerreiro,
Inácio de Vasconcelos, António Correa Betencourt e Pedro Betancor Henriques. A situação
favoreceu a cultura, afirmando Diogo Fernandes Branco em 10 de Fevereiro de 1649 que as canas
estavam “fermozas”, prevendo-se uma grande colheita. Em Outubro goraram-se as expectativas,
pois o açúcar lavrado era de má qualidade.
O progresso continuou no ano imediato, sendo testemunhado ela construção de dois novos
engenhos. Esta foi no entanto uma recuperação passageira uma vez que na década seguinte o
reaparecimento do açúcar brasileiro no porto do Funchal trouxe de volta a anterior situação. O
açúcar madeirense estava, mais uma vez, irremediavelmente perdido, mercê da concorrência. Ainda,
em 1658 procurou-se apoiar os canaviais ao reduzir-se os direitos sobre a produção para um oitavo,
mas a crise era inevitável. A estes incentivos acresce-se o facto de os direitos do quinto do açúcar
entre 1643 e 1675 não serem devidamente cobrados, pelo que neste último ano se recomendou
maior atenção nisso. Depois, por alvará de 15 de Outubro de 1688, a coroa determinou que os
direitos que oneravam a produção passassem para um oitavo da colheita sendo a medida mais uma
vez definida como uma forma de promover a cultura.
A produção de açúcar torna-se conhecida através dos tributos que recaem directamente sobre o
produto. No caso da Madeira tivemos o quarto e, depois, o quinto que oneravam todos os lavradores
de cana de acordo com os valores de produção estabelecidos à saída do estendal para os canaviais.
Nas Canárias o mais importante é o diezmo pago à Igreja. Todavia estes livros desapareceram na sua
totalidade, restando apenas a informação recolhida por A. Millares Torres, que contempla o período
de 1634 a 1813. Neste período são referenciados sete engenhos nas ilhas de Tenerife, Gran Canaria
e La Palma. Os de Gran Canaria - Arucas e Telde - deixaram de apresentar resultados a partir de
1642, sucedendo em Tenerife com o de Daute em 1658.

Por todo o século XVIII a aposta preferencial foi apenas na vinha, que retirou espaço aos canaviais.
Mesmo assim estes tiveram continuidade, uma vez que existem dados que documentam a existência
de canaviais e sabe-se que o engenho dos Socorridos manteve-se em funcionamento por todo o
século XVIII.

A conjuntura económica de finais do século dezanove trouxe a cultura de regresso à Madeira, como
solução para reabilitar a economia que se encontrava profundamente debilitada com a crise do
comércio e produção do vinho. Todavia a situação, que se manteve até à actualidade, não veio
atribuir ao produto a mesma pujança económica de outrora. Outro facto evidente da centúria
oitocentista foi a presença de inúmeros madeirenses em Demerara como mão-de-obra substitutiva
dos escravos, cuja situação, entretanto, havia mudado. A última década do século dezanove e as
duas primeiras da presente centúria podem ser consideradas de horas amargas para todos os madei-
renses. Parte disso é resultado do processo porque passou o açúcar. A generalização do seu consumo
provocou um redobrado empenho na sua reimplantação entre nós.

No início, as dificuldades do tradicional mercado americano, envolto em guerras pró-independência,


e ainda não refeito do impacto do abolicionismo, propiciaram a afirmação da cultura nos primeiros
espaços, ou a aposta nas alternativas, como a beterraba, que na ilha nunca resultou. Todavia, num
segundo momento a concorrência tornou-se feroz. Entre nós a do açúcar de beterraba açoriano ou de
cana de Angola e Moçambique foi bastante evidente e levou ao estabelecimento de medidas
restritivas da circulação do melaço e do açúcar, ou de favorecimento da indústria local. Elas
enquadram-se na política europeia definida pelo convénio de alguns países produtores assinado a 5
de Março de 1903. Esta última situação conduz, por vezes, ao monopólio. Como, na realidade,
sucedeu entre nós.

A toda esta complexa conjuntura junta-se a dificuldade extrema no recrutamento de mão-de-obra


barata - o escravo era então coisa do passado - o que levava a um investimento desusado na
tecnologia. A intenção era clara: substituir-se ao homem, baratear e facilitar a rapidez do processo
de laboração. Umas das grandes questões em debate neste segundo momento do açúcar prende-se
com as dificuldades em concorrer com outras áreas produtoras, onde os custos eram reduzidos a
metade e a qualidade da sacarose da cana também superior.

Esta conquista de inovação tecnológica era custosa e só foi conseguida à custa de medidas pro-
tecionistas. Sucedeu assim em todo o lado. Entre nós foi a questão Hinton. Este foi sem dúvida o
problema que mais apaixonou a opinião pública, nas vésperas e durante a República; publicaram-se
inúmeros folhetos, os jornais encheram-se de opiniões contra e a favor. Cesário Nunes(1940) do-
cumenta esta situação de forma lapidar: "Em Portugal nenhuma questão económica atingiu tão alta
preponderância e trouxe e tão grandes embaraços legislativos às entidades governativas como o
problema sacarino da Madeira. "Tudo começou em 23 de Março de 1879 com a inauguração da
Companhia Fabril do Açúcar Madeirense. Era uma fábrica de destilação de aguardente e de fabrico
de açúcar sita à Ribeira de S. João. Demarcou-se das demais com o recurso a tecnologia francesa,
usufruindo dos inventos patenteados em 1875 pelo Visconde de Canavial. O cónego Feliciano João
Teixeira(1873), sócio deste empreendimento no discurso de inauguração afirma ser este um
"grandioso monumento, que abre uma época verdadeiramente nova e grande na História da industria
fabril madeirense". Mas isto era apenas o princípio de um conflito industrial, onde emperou a lei do
mais forte. Tal como o afirmava em 1879, no momento encerramento, José Marciliano da Silveira "
a fábrica de São João foi cimentada com o veneno da maldade; era o seu fim dar cabo de todas as
que existiam..." acabou por cavar o fosso da sua ruína.

Tudo começou com o plágio por parte da família Hinton, da invenção do Visconde Canavial. Este
havia patenteado em 1875 um invento que consistia em lançar água sobre o bagaço, o que
propiciava um maior aproveitamento do suco da cana. Constava da patente o uso exclusivo pela
fábrica de S. João, mas o engenho do Hinton cedo se apressou a copiar o sistema. Com isso o lesado
moveu em 1884 uma acção civil contra o contrafactor. Mas a família Hinton estava fadada para sin-
grar na industria açucareira e conseguir uma posição de monopólio. Segurada na influência das
autoridades diplomáticas britânicas,da intervenção pessoal junto da coroa e, depois, das hostes re-
publicanas, conseguiu atingir os seus objectivos. A visita de El Rei D. Carlos à ilha em 1901, poderá
ser entendida como um momento crucial dessa actuação.

As medidas que favoreciam a entrada de melaço estabelecidas pela lei de 1895, associado ao
decreto de 1903, um regulamento anexo a este decreto determinava a forma de matricula das
fábricas. As condições eram de tal modo lesivas que só duas - Hinton e José Júlio Lemos - o
conseguiram fazer. As cerca de meia centena de fábricas que existiam na ilha ficaram numa situação
periclitante. Entretanto a lei de 24 de Novembro de 1904 dava a machadada final ao estabelecer a
referida matrícula por 15 anos. Entretanto, caía a monarquia e sucedeu a República, que parecia
querer fazer ouvidos moucos às regalias conquistadas no anterior regime. Mas de novo as
influências moveram-se a família Hinton conseguiu pelo decreto de 11 de Março de 1911 assegurar
o monopólio do fabrico do açúcar e regalias na importação de açúcar das colónias.

Os anos seguintes foram de plena afirmação deste monopólio e de luta sem tréguas às fábricas de a-
guardente. Note-se que o consumo excessivo da aguardente era o inimigo número um da saúde
pública, sendo a Madeira, por essa situação, definida como a ilha da aguardente. As leis de 1927,
1928, 1934, 1937 actuam no sentido do controlo da produção e comércio de aguardente, conduzindo
inexoravelmente a um paulativo abandono da cultura. Dos 1800 ha de 1915, que produziam 55.000
toneladas, passou-se aos 1420 do ano de 1952. Depois foi o que se viu até que em 1985 agonizou
em definitivo o império do açúcar do Hinton, construído com pés de barro, sustentado pelos favores
políticos, vegetando à custa da exploração dos lavradores de cana.

A área de cultura de cana sacarina foi-se reduzindo inexoravelmente a pequenos nichos de socalcos
na vertente sul. Todavia a partir de meados do século XIX a mesma foi paulatinamente
conquistando terreno a norte e a sul. Assim J. Mason(1850) refere que a mesma se fazia de modo
extensivo, ocupando metade da terra arável. Opinião distinta tem R. White(1851) que diz ser ainda
pouco cultivada e apenas usada para o fabrico de mel. Na verdade, a cultura era ainda uma
auspiciosa esperança para os madeirenses. Nicolau Ornelas e Vasconcellos(1855), que fora
trabalhador de cana em Demerara, diz-nos: "... olha-se para a cultura da cana de assucar como um
grande produto agrícola que offerece grandes vantagens, que podem em certo modo adoçar o mal
geral, o aspecto aterrador de nossas finanças..." Passados dez anos a cana continua a ser uma aposta
forte, mas tardava o momento da sua plena pujança de acordo com Eduardo Grande(1865) a cana
ocupava apenas 357 ha (2%), isto é uma magra fatia do solo arável. A aposta nas décadas de
cinquenta e sessenta estava a afirmação desta nova cultura, capaz de reabilitar a economia da ilha.

Neste segundo momento de afirmação dos canaviais podemos estabelecer dois momentos distintos:
O primeiro decorre de 1852 a 1884, culminando com o ataque do bicho da cana, em 1885 e 1890,
que levou à sua quase total destruição. Para atalhar esta dificuldade importaram-se novos tipos de
cana: a cana bourbon introduzida de Caiena(1847) e Cabo Verde, também atacada pelo bicho, foi
substituída por outras castas da Mauricia, yuba do Natal(1897) e POJ de Angola(1938). Para isso
foi criada uma estação experimental(em 1888) e estabeleceu-se um conjunto de medidas
proteccionistas em 1895. Esta aposta definiu o segundo momento. A alteração significativa deste
panorama só sucedeu na viragem do século, quando a cana atingiu cerca de 1000 ha, valor que
continua a subir para as 6500ha em 1939. A partir daqui foi a quebra resultante das medidas
restritivas ao fabrico e consumo de aguardente. Na década de quarenta do nosso século a cana
ocupava ainda 34% da área cultivada, mas este era já um momento de quebra acentuada da sua área
de cultivo, que na vertente sul foi paulatinamente substituída pela bananeira. Deste modo em 1952
fala-se apenas 1420ha, enquanto mais próximo de nós, em 1986, só existem 119,9ha.

Esta evolução dados canaviais, com maior incidência na vertente meridional, área tradicional do seu
cultivo, significa um maior volume de produção que empurra a evolução do número de engenhos.
Foi no período de 1910 a 1930 que se atingiu os valores mais elevados, que aproximaram a ilha dos
tempos aúreos do século XV, apenas em termos de produção e nunca de riqueza. Todavia, a partir
desta data sucedem-se medidas limitativas da expansão da área dos canaviais, que conduzem
inevitavelmente à sua desvalorização na economia rural e que em certa medida favorecem a
expansão da banana, cultura, predominantemente da vertente sul, deixando a agricultura do norte
num estado de total abandono, o que abriu as portas a uma desenfreada emigração. Tenha-se em
atenção que “a agricultura, toda a economia da Madeira, a própria administração publica, ficariam
mais do que nunca na dependência das fabricas de açúcar e álcool”.

Facto inédito foi a tentativa de implantação da cultura no Porto Santo. Primeiro foi a frustrada
introdução do sorgo, depois a cana, documentada a partir de 1883. A sua produção era diminuta,
sendo as canas exportadas para o Funchal ou espremidas num engenho movido por bois, ou moinho
de vento. Também na Madeira se cultivou o sorgo com a mesma finalidade desde 1856. Ainda,
deverá atender-se ao facto de se ter experimentado outras formas de produção de açúcar na Madeira,
nomeadamente a beterraba, que não teve êxito.

A par disso é de realçar também a insistência das gentes do norte, representadas através dos
municípios de S. Vicente e Santana, em pretenderem furar as limitações impostas pelas autoridades
para a área de produção de cana, que não acautelavam esta vertente devido o baixo teor de sacarose,
levando a Junta Geral em 1955 a contrariar as ordens do Ministério do Interior, ao implantar dois
campos experimentais em S. Vicente e Santana. Esta situação é resultado do facto de a cana ser um
complemento importante da pecuária e um dos poucos meios de assegurar a subsistência dos
lavradores, tendo em conta a total desvalorização da vinha.

A TECNOLOGIA DO AÇÚCAR. A moenda e o consequente processo de transformação da guarapa


em açúcar, mel, alcool ou aguardente projectaram as áreas produtoras de canaviais para a linha da
frente das inovações técnicas, no sentido de corresponderem às cada vez maiores exigências. A
madeira e o metal são a matéria-prima que dá forma a capacidade inventiva dos senhores de
canaviais e engenhos.
Na moenda da cana utilizaram-se vários meios técnicos comuns ao mundo mediterrânico. A
disponibilidade de recursos hídricos conduziu à generalização do engenho de água. Na Madeira, o
primeiro que temos conhecimento foi patenteado em 1452 por Diogo de Teive. Este processo
resultou apenas nas áreas onde foi possível dispor da força motriz da água, enquanto noutros fez-se
uso da força animal ou humana. Os últimos eram conhecidos como trapiches ou almanjaras. Não
conhecemos qualquer dado que permita esclarecer os aspectos técnicos deste engenho. Apenas se
sabe, segundo Giulio Landi, que na década de trinta do século XVI funcionava um com o sistema
semelhante ao usado no fabrico de azeite: “Os lugares onde com enorme actividade e habilidade se
fabrica o açúcar estão em grandes herdades, e o processo é o seguinte: primeiramente, depois que as
canas cortadas foram levadas para os lugares acima referidos, põem-nos debaixo de uma mó movida
a água, a qual triturando e esmagando a cana, extrai-lhes todo o suco”.
Uma das questões que mais tem gerado polémica prende-se com a evolução da tecnologia do
fabrico do açúcar, concretamente a passagem do trapiche ao engenho de cilindros. O primitivo
Trapettum era usado na Roma antiga para triturar azeitonas e sumagre, sendo, segundo Plínio,
inventado por Aristreu, Deus dos Pastores. Mas este tornou-se um meio pouco eficaz nas grandes
plantações, tendo-lhe sucedido o engenho de eixo e cilindros.
É aqui que as opiniões divergem. Existe uma versão que aponta esta evolução como uma descoberta
mediterrânica: Noel Derr e F. O. Von Lippmann atribuíram a descoberta a Pietro Speciale, prefeito
da Sicília; a Historiografia castelhana encara isso como um invento de Gonzalo de Veloza, vizinho
da ilha de La Palma, que teria apresentado o seu invento em 1515 na ilha de S. Domingos. David
Ferreira Gouveia refere esta como resultado do invento do madeirense Diogo de Teive, patenteado
em 1452. Outros apontam para a sua origem chinesa. O engenho de três eixos surge mais tarde no
Brasil, considerado também uma invenção portuguesa, inegavelmente ligada aos madeirenses aí
radicados.
Na Madeira a primeira referência aos eixos para o engenho data já do último quartel do século XV.
Em 1477 Álvaro Lopes tem autorização do capitão do Funchal para que “faça hum engenho de fazer
açúcar que seja de moo ou d’alçapremas, ou doutra arte...o qual enjenho será d’augoa com sua casa
e casa de caldeiras...”. Depois, em 1485, D. Manuel isentava da dizima “quaesquer teyxos que
forem necesarios para eyxos esteos cassas latadas dos enjenhos e tapumes...”. Em 1505 Valentim
Fernandes refere que o pau branco era usado no fabrico de “eixos e prafusos pera os enjenhos de
açúcar”. A isto associa-se o inventário do engenho de António Teixeira, no Porto da Cruz em que
são referidos como aprestos: rodas eixos, prensas, fornalhas espeques (...).

Os estudos sobre o açúcar nas Canárias não dão grande atenção à tecnologia do engenho. Assim
Guillermo Camacho y Perez Galdós descreve este engenho como sendo de três cilindros. O autor
baseia-se no documento de 1511 que dá conta de um contrato entre Andrés Baéz e os portugueses
Fernando Alonso e Juan González para lhe cortarem 3 eixos sendo um grande e dois pequenos, para
uma roda com seus aparelhos. Vinte anos depois temos o inventário do engenho de Cristóbal de
Garcia em Telde, onde são referidos a roda e eixos. Todavia J. Perez Vidal é da opinião que o
primeiro sistema usado nas Canárias era semelhante ao de fabrico do azeite, pois o moinho de
“rodilos” é para ele uma invenção renascentista.
A palavra trapiche entrou depois no vocabulário do açúcar a designar todos os tipos de engenhos de
cilindros usados para moer cana. Nos arredores do Funchal, como em Arucas, existe uma localidade
com este nome, o que prova ter existido aí um engenho deste tipo. Nas Canárias as “datas de terras”
diferenciavam os engenhos de água dos de besta. Na Madeira as condições geo-hidrográficas foram
propícias à generalização dos engenhos de água, de que os madeirenses foram exímios criadores.
Aliás, aqui estavam criadas as condições para a afirmação da cultura. Enquanto a primeira
desfrutava de inúmeros cursos de água e de uma vasta área de floresta, disponibilizando lenha para
as fornalhas e madeira de pau branco para a construção dos eixos do engenho.
Toda a animação sócio-económica gerada pelo açúcar foi dominada pelo engenho, mas isto não
significou que a existência de canaviais fosse sempre sinónimo da presença próxima de um
engenho. Aqui, mais do que no Brasil, são inúmeros os proprietários incapazes de dispor de meios
financeiros para montar semelhante estrutura industrial e por isso socorriam-se dos serviços de
outrem. No estimo da produção da capitania do Funchal para o ano de 1494 são referenciados
apenas 14 engenhos para um total de 209 usufrutuários, dispondo de 431 canaviais.
Não é fácil estabelecer o número exacto de engenhos que laboraram nas ilhas. As informações
disponíveis são, em muitos dos casos, díspares. Assim, para a Madeira em 1494 são referenciados
apenas 14 engenhos, quando noutro documento de 1493 se dava conta da existência de 80 mestres
de açúcar. Note-se ainda que Edmund von Lippermann refere para o Funchal 150 engenhos no
início do século XVI, número que não se coaduna com os valores razoáveis para a extensão arável
da ilha e a produção dos canaviais. Depois, em finais do século XVI, Gaspar Frutuoso refere-nos 34
engenhos, sendo nove na capitania de Machico e os restantes na do Funchal. A sua localização
geográfica permite aferir das áreas de maior incidência da cultura no século XVI.
No século dezassete o número de engenhos era reduzido. Assim, em 1602, Pyrard de Laval refere a
existência de 7 a 8 engenhos em laboração. Esta aposta na cultura levou ao necessário o
estabelecimento de alguns incentivos à sua reparação, como sucedeu em 1649. Nesta década fala-se
apenas de quatro engenhos, destes dois foram construídos em 1650. Daí derivaram, enormes
dificuldades em conseguir moer a cana por falta de engenhos suficientes. No Funchal o de André de
Betancor há três anos que não funcionava e seria difícil que o fizesse pelo estado em que se
encontrava. Ademais, do abandono dos engenhos registava-se o das levadas como sucedia com a do
Pico do Cardo e Castelejo em S. Martinho que há trinta anos não era tirada. Para repor a cultura a
coroa preparou um plano de recuperação dos engenhos, com empréstimos e a isenção do pagamento
do quinto por cinco anos. Estes concentravam-se no Funchal e Câmara de Lobos, o que implicava
redobradas dificuldades para a maioria dos lavradores das partes da Calheta, Ponta de Sol e Ribeira
Brava.
A mesma dificuldade surge quando pretendemos reconstituir os engenhos das Canárias, pois não
existem dados precisos sobre o seu número exacto, sendo as informações avulsas. Talvez, a mais
precisa seja a de Thomas Nichols em 1526 e Gaspar Frutuoso na última década do século XVI.
Todavia, enquanto os dados fornecidos pelo primeiro podem ser considerados fiáveis, os de Gaspar
Frutuoso não parecem corresponder à verdade. Note-se que ele refere para Gran Canaria vinte e
quatro engenhos, enquanto Tenerife surge apenas com três.
É de salientar que em La Gomera e La Palma, ilhas de Senhorio, os engenhos são maioritariamente
propriedade do senhorio que os arrendava, nomeadamente aos mercadores genoveses e catalães. No
caso de La Gomera temos notícia de quatro destes engenhos, cujo rendimento atesta a dimensão dos
canaviais e da estrutura industrial:
O preço de montagem de semelhante estrutura industrial não estava ao nível da bolsa de todos os
proprietários. De acordo com a avaliação, para inventário, do engenho de António Teixeira no Porto
La Cruz em 1535 esta benfeitoria estava avaliada em duzentos mil reais. Noutro documento de 1547
refere-se que os canaviais, engenho e água de servidão dos mesmos orçavam os 461.000 reais. Mas
em 1600 João Berte de Almeida vendeu a Pedro Gonçalves da Câmara, no Funchal, um engenho
pelo valor de 700.000 reais. Em 1644 o engenho de Gaspar Betencourt na Ribeira dos Socorridos
foi avaliado em 500.000 rs e no ano imediato o engenho de Baltazar Varela de Lira foi vendido por
422.000 rs.
Para as Canárias temos também notícia de alguns valores referentes ao investimento necessário para
a construção de um engenho. Em 1519 o de Miguel Fonte em Daute foi avaliado em 4.641.320 mrs.
Nos anos imediatos o seu valor parece descer para depois tornar a subir. Assim em 1556 o engenho
de Valle de Gran Rey valia 1.237.417 mrs, enquanto em 1567 um de La Orotava foi vendido por
6.000.000 mrs. Para Gran Canaria temos os engenhos de Francisco Riberol, em Agaete y Galdar,
avaliados em 300.000 mrs, o de Francisco Palomar em Agaete, por 750.000 e o de Constantino
Carrasco em Las Palmas por 450.000. Ainda, em La Orotava temos dados precisos sobre os custos
da construção das diversas infra-estruturas do engenho, conforme o inventário do engenho de
Alonso Hernandez de Lugo feito em 1584.
Os valores de produção dos engenhos insulares são muito distintos dos americanos. Para a Madeira
em finais do século XV são referenciados apenas 12 engenhos para um total de 233 proprietários de
canaviais. Estes situam-se todos nas partes do fundo, não havendo qualquer referência para os que
funcionavam na área do Caniço a Câmara de Lobos.
Tomando em conta, apenas as Partes do Fundo, nota-se que a cada engenho estariam atribuídas mais
de cinco mil arrobas, valor elevado se tivermos em conta o estado da tecnologia usada. Também é
de referir que estes proprietários de engenho não se situam entre os mais importantes detentores de
canaviais. Apenas Fernão Lopes surge com 1600 arrobas, havendo caso de lavradores com valores
superiores que não são proprietários de engenho. Note-se, ainda, que Fernão Lopes apresentava
mais 2000 arrobas em conjunto com João Esmeraldo. Na primeira metade do século XVI estes
valores desceram a mais de um terço, pois a média é de 1478 arrobas.
Por outro lado é de salientar que os grandes proprietários de canaviais não são sinónimo de
engenho. No século dezasseis alguns situam-se entre os principais produtores, mas a maioria surge
com valores de produção muito inferiores, como é o caso de João de Ornelas que em 1530 declarou
apenas 70 arrobas de açúcar no Funchal. Deste modo podemos afirmar que estamos perante duas
realidades distintas que geram uma dinâmica particular na estrutura produtiva da cana de açúca: os
proprietários de canaviais e os de engenho.
Nas Canárias, nomeadamente nas Ilhas de Gran Canaria e Tenerife, parece-nos que a situação é
diferente. Aqui, a grande propriedade é sinónimo da presença de um engenho surgindo como
resultado da forma como se procedeu às dadas de terras, por outro lado os valores médios para a
produção por engenho parecem ser mais elevados. Gaspar Frutuoso refere que os dois engenhos da
família Ponte em Adeje (Tenerife) laboravam de 8 a 9 mil arrobas de açúcar enquanto o de João de
Ponteverde em La Palma ficava-se pelas 7 a 8 mil arrobas. Para Gran Canaria o mesmo indica que
os vinte e quatro engenhos cuja safra podia situar-se entre as seis e sete mil arrobas. A partir dos
contratos de arrendamento dos engenhos sabe-se que o de D. Pedro Lugo em El Realejo laborava
em 1537-38 uma média de 4500 arrobas e que com outro em La Orotava ficava-se por 1122 arrobas.
No século XVII temos os valores do diezmo pagos pelos sete engenhos em actividade nas ilhas de
Gran Canaria, Tenerife e La Palma, o que nos permite para este período desde 1634 estabelecer a
média de produção anual.

O ENGENHO NA ÉPOCA DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL. Os séculos XIX e XX marcam o


momento da grande inovação tecnológica dos engenhos e da forma de fabrico do açúcar. A
revolução industrial foi provocada pela abolição da escravatura e pela crise que atingiu o mercado
internacional do açúcar a partir de 1880.

O uso de máquina a vapor teve lugar em Jamaica em 1768 mas foi só a partir de meados do século
XIX que a mesma se generalizou. Esta inovação técnica é favorecida pela concentração destas
estruturas industriais, resultado de uma política governamental que tem na década de vinte da
presente centúria a sua máxima expressão. No Brasil deu origem aos chamados engenhos centrais,
enquanto na Madeira foi o princípio da total afirmação do engenho Hinton.

Durante o século XVIII e até princípios da centúria seguinte existiu apenas um engenho em
funcionamento à Ribeira dos Socorridos. A partir da década de cinquenta o panorama é distinto e a
cana volta de novo a ocupar um lugar de destaque, ocupando 1/2 da superfície cultivada em 1850.
Deste modo aumenta o número de engenhos, sendo referenciado em 1851 quatro fábricas de
refinação de açúcar, quatro engenhos de moer cana e três fábricas de aguardente. Em Câmara de
Lobos a cultura teve grande incremento uma vez que são referenciados três novos engenhos em
1854. Esta situação alastrou a toda a ilha e levou a promoção de novos engenhos ou à reactivação de
antigos, uma vez que em 1856 temos já 80 e 10 fábricas de destilar aguardente. Aqui há que
distinguir as fábricas de moer cana e os engenhos para fabrico de açúcar e destilação de aguardente.
Os engenhos de moer apresentavam duas rodas na disposição horizontal, enquanto os movidos por
bois tinham estas na posição vertical.

De acordo com D. João da Câmara Leme o avanço da cultura na ilha só será possível com "a
fundação de fábricas com os apparelhos modernos e aperfeiçoados". Enquadrava-se neste espírito a
Companhia Fabril de Açúcar Madeirense criada em 1866 e inaugurada em 1873, que se saldou num
verdadeiro fracasso e motivo de acessa polémica. Por outro lado é de salientar as iniciativas
tecnológicas do próprio D. João da Câmara Leme que em 1875 apresentou o seu novo invento de
aproveitamento do açúcar que fica no bagaço nomeadamente usado por W. Hinton. As inovações
introduzidas por este último ocorreram após a licença de 1872 para a construção de uma fábrica de
extração e cristalização de açúcar.

A política de proteccionismo e favorecimento do engenho do Torreão afastou todos os demais desta


industria, levando a sua maioria ao encerramento. Em 1934 um decreto estabelece claramente essa
situação: proibi-se a construção de mais engenhos até 1953 e os demais existentes não podiam
laborar açúcar, actividade exclusiva do engenho do Torreão, apenas são autorizados os
melhoramentos. Pior foi o que sucedeu em 1954 com o decreto que determina a concentração de
todos os fabricantes de aguardente em apenas três fábricas. Os engenhos do norte ficaram reunidos
na companhia dos engenhos do norte com sede no Porto da Cruz.

O PREÇO DO ENGENHO. O preço de montagem de semelhante estrutura industrial não estava ao


nível da bolsa de todos os proprietários. Em 1535, de acordo com a avaliação, para inventário, o
engenho de António Teixeira no Porto da Cruz estava avaliado em duzentos mil reais. Noutro
documento de 1547 refere-se que os canaviais, engenho e água de servidão dos mesmos orçavam os
461.000 reais. Mas em 1600 João Berte de Almeida vendeu a Pedro Gonçalves da Câmara, no
Funchal, um engenho pelo valor de 700.000 reais. Em 1644 o engenho de Gaspar Betencourt na
Ribeira dos Socorridos foi avaliado em 500.000 rs e no ano imediato o engenho de Baltasar Varela
de Lira foi vendido por 422.000 rs. O primeiro deverá ser o mesmo que em 1780 pertencia a D.
Madalena Guiomar de Sá Vilhena, que o arrendou ao capitão Francisco Esmeraldo Betencourt por
10.000 réis ano.

Para os séculos XIX e XX a construção de um engenho para fabrico de açúcar, de acordo com as
inovações tecnológicas, era uma aposta impossível para qualquer industrial caso não fossem
garantidos os financiamentos e apoios governamentais. Esta neste caso o favorecimento dado ao
engenho do Torreão, que levou ao quase monopólio da sua laboração. Daqui resultou que a maioria
apostou em manter a tecnologia tradicional, servindo-se da tracção animal e da força motriz da
água.

A situação arcaica das fabricas de moer cana era intolerável perante o incessante aumento da
produção, por isso foi necessário a aposta num estabelecimento moderno, capaz de minorar os
custos de laboração e de corresponder à oferta de cana. Enquadra-se neste objectivo a novel
Companhia de Açúcar Madeirense, criada em 1868.

Por outro lado, tendo em conta a grande dificuldade do fabrico do açúcar e os elevados custos do
investimento, denota-se nesta época dois tipos de complexos: para produção de açúcar e destilação
de aguardente. Em meados do século a distinção entre a moenda da cana, o fabrico de açúcar e
aguardente é claro. A partir de então a tendencia foi para a aposta nas fábricas de destilação de
aguardente, tendo em conta o atràs referido e o facto da sua procura para o consumo corrente e no
processo de vinificação. Destas temos indicações dos custos da sua instalação. Em 1857 Diogo de
Ornelas Frazão gastou 14.3000.000 réis na construção de uma fábrica de aguardente no estreito da
Calheta e no ano imediato o Conde Carvalhal montou engenho semelhante no Paúl do Mar por
8.800.000 réis. De acordo com inventário industrial feito em 1863 é possível fazer uma ideia das
infraestruturas existentes e do seu valor.

O ENGENHO E A PRODUÇÃO. Os valores de produção dos engenhos insulares são muito


distintos dos americanos. Para a Madeira em finais do século XV são referenciados apenas 12
engenhos para um total de 233 proprietários de canaviais. Estes situam-se todos nas partes do
Fundo, não havendo qualquer referência para os que funcionavam na área do Caniço a Camara de
Lobos.
Tomando em conta, apenas as Partes do Fundo, nota-se que a cada engenho estariam atribuídas mais
de cinco mil arrobas, valor elevado se tivermos em conta o estado da tecnologia usada. Também é
de notar que estes proprietários de engenho não se situam entre os mais importantes detentores de
canaviais. Apenas Fernão Lopes surge com 1600 arrobas, havendo caso de lavradores com valores
superiores que não são proprietários de engenho. Note-se, ainda, que Fernão Lopes apresentava
mais 2000 arrobas em conjunto com João Esmeraldo. Na primeira metade do século XVI estes
valores desceram a mais de um terço, pois a média é de 1478 arrobas. Outro aspecto de relevo é a
relação entre os proprietários de engenho e canaviais. Nesta fase, marcada por profundas alterações
na estrutura produtiva, o desfasamento entre ambos os grupos. Deste modo a distinção entre
lavradores de cana e proprietários de engenho é muito clara. Note-se que neste grupo surgem seis
com valores superiores a 1000 arrobas.

Por outro lado é de salientar que, não obstante os engenhos estarem associados aos grandes
proprietários de canaviais não os poderemos considerar sinónimo de engenho. No caso do século
dezasseis alguns situam-se entre os principais produtores, mas a maioria surge com valores de
produção muito inferiores, como é o caso de João de Ornelas que em 1530 declara apenas 70
arrobas de açúcar no Funchal. Deste modo podemos afirmar que estamos perante duas realidades
distintas que geram uma dinâmica particular na estrutura produtiva em torno da cana de açúcar.

No decurso do século dezanove é cada vez mais evidente esta dissociação do engenho dos
canaviais. em 1863 temos indicação dos preços de pagamento da moenda da cana e destilação da
guarapa: por 30 Kg de cana pagava-se entre 70 a 90 réis e na destilação de 17 litros de guarapa de
100 a 110 réis. Aqui a média de laboração dos engenhos nos quatro meses da safra era em média de
7917241 Kg de cana, produzindo-se 117.600 Kg.

O ESCRAVO E O AÇÚCAR. As ilhas tal qual se apresentavam aos primeiros europeus


conduziram a um relacionamento particular do Homem na exploração e aproveitamento do solo.
Desse casamento entre a força de vontade dos primeiros europeus e a agressividade dos declives foi
possível construir a Europa no Atlântico.
A Madeira, mercê da configuração geográfica, foi definida por uma paisagem agrária específica,
diferente dos grandes espaços continentais. O excessivo parcelamento das áreas agrícolas (poios),
única forma possível de aproveitamento do solo arável e a ampla disseminação na vertente sul e
norte condicionaram o sistema de arroteamento e de posse de terras. As grandes e iniciais
concessões de terreno foram-se dividindo de acordo com o aumento da população e as experiências
agrícolas. A primeira exploração extensiva deu lugar ao intensivo aproveitamento do solo assente
nos inúmeros poios construídos pelos proprietários, arrendatários ou meeiros.
Em face de tudo isto é difícil, senão impossível, definir a grande propriedade de canaviais, se nos
situarmos ao mesmo nível do mundo americano. No caso americano os canaviais avançaram a partir
do engenho e estão, quase sempre, ligados indissociavelmente. Isto não sucede na Madeira. Aqui,
são muitos os proprietários de canaviais mas poucos os de engenho. Outra peculiaridade da Madeira
é a concentração dos engenhos em áreas de maior facilidade de contactos com o exterior,
nomeadamente no Funchal, o que nem sempre correspondia às de maior importância no cultivo dos
canaviais. Esta diferente estrutura da faina açucareira condicionou outro posicionamento do
escravo. Ainda, na exploração agrícola insular torna-se necessário distinguir dois grupos de
proprietários: aqueles que haviam entregue as terras a foreiros ou arrendatários e os proprietários
plenos. Esta forma de dupla posse da terra marcou de modo evidente a actividade agrícola e
favoreceu na Madeira o aparecimento e afirmação do contrato de colonia, a partir do século XVI.
Por outro lado, a extensão reduzida dos canaviais não obrigava à existência de um engenho para a
transformação da cana, tão pouco de um grupo numeroso de escravos. Por tudo isto, a posição dos
escravos na estrutura agrária madeirense deverá ser equacionada de acordo com esta dinâmica do
sistema de propriedade na ilha. Se é certo que na exploração directa ou no arrendamento se
estabeleceu uma posição clara para o escravo, o mesmo não se poderá dizer com o contrato de
colonia.
Também nas Canárias, nas ilhas de Gran Canaria, Tenerife, La Palma e La Gomera, a ligação do
escravo à economia açucareira e a dimensão dos canaviais têm de ter em conta algumas
especificidades do meio. A conquista propiciou os primeiros escravos de entre os indígenas
conhecidos como guanches, como presa de guerra, e a proximidade do continente africano
favoreceu o acesso ao mercado de escravos negros fazendo com que estes assumissem alguma
importância na sociedade. Acresce, ainda, que a evolução de estrutura fundiária esteve dependente
do processo inicial de conquista, que conduziu ao domínio da grande propriedade, depois partilhada
por arrendamento, compra e venda ou sucessão. Os dados disponibilizados pelo valioso acervo de
protocolos notariais são reveladores da perpetuação de algumas importantes fazendas associadas a
engenhos. Coisa que não encontramos na Madeira . Vemos isso em Tenerife e La Palma .
A presença do escravo na constituição das sociedades insulares, desde o século XV, não é um
fenómeno isolado, enquadrando-se no contexto sócio-económico em que emergiram: a falta de mão-
de-obra braçal para as novas arroteias e a maior necessidade dela por parte de culturas como a cana
sacarina geraram a procura; a iniciativa descobridora do Atlântico, em que os madeirenses foram
activos protagonistas, e a proximidade do mercado gerador propiciaram o seu encontro. Foi de
acordo com esta conjuntura que a escravatura ganhou importância e é aqui que deveremos encontrar
a explicação para tal posição.
A Madeira, porque próxima do continente africano e envolvida no seu processo de reconhecimento,
ocupação e defesa do controlo lusíada, tinha as portas abertas a este vantajoso comércio. Deste
modo a ilha e os madeirenses demarcaram-se nas iniciais centúrias pelo empenho na aquisição e
comércio de tão pujante e promissora mercadoria do espaço atlântico. À Madeira chegaram os
primeiros escravos guanches, marroquinos e africanos, que contribuíram para o arranque económico
do arquipélago.
Por um lado a safra açucareira implicava uma maior disponibilidade de mão-de-obra, que à falta de
livre deveria socorrer-se da escrava, por outro, a proximidade do mercado de origem desta mão-de-
obra e o propositado envolvimento dos insulares neste trafico levaram a que as ilhas fossem um dos
primeiros destinos até que outros mais florescentes o destronassem. Note-se, por exemplo, a perfeita
sintonia entre a curva evolutiva da produção de açúcar e da libertação dos escravos. O número de
libertos evoluiu de acordo com a conjuntura açucareira.
Na Madeira , a crise da produção e comércio de açúcar, a partir do final do último quartel do século
XVI, vai ao encontro do aumento do número de alforrias, cuja curva ascendente se verifica a partir
da década de vinte, culminando no final da centúria. O movimento inverso, na primeira metade do
século XVII, poderá associar-se também a novo incremento da cultura da cana-de-açúcar. Tudo isto
foi provocado pela ocupação holandesa do estado de Pernambuco. Este momento de afirmação dos
canaviais foi curto e repercutiu-se na curva das alforrias da segunda metade da centúria. Ao invés a
expressão geográfica das alforrias é dissonante com a mancha principal dos canaviais. Por isso é
mais evidente no Funchal, Câmara de Lobos e Caniço, áreas que estão muito longe de ser as de
maior afirmação dos canaviais.
Também nas Canárias é evidente esta relação. Tal como nos informa Manuel Lobo Cabrera, na ilha
a partir de meados do século XVI é bastante evidente uma quebra no número de escravos que
poderá ser resultado da concorrência do açúcar americano.
É o proprietário quem estabelece a forma de intervenção do escravo na sociedade e economia e,
como tal, adquire uma posição chave na definição e expressão da escravatura. Nos registos
paroquiais ao nome do escravo e origem étnica associa-se sempre o nome do proprietário. A sua
distribuição geográfica adequa-se à mancha da expressão da escravatura no arquipélago madeirense.
Assim, a capitania do Funchal tem a supremacia com 86% dos proprietários e 87% dos escravos,
adquirindo maior expressão no século XVI. No global da circunscrição definida pela capitania do
Funchal, temos, mais uma vez, o recinto do Funchal numa posição cimeira com 74% dos
proprietários. A par disso a cidade, com as duas freguesias principais de que existe documentação -
Sé e São Pedro - apresentam 64% do número de proprietários, distribuindo-se os restantes pelas
outras da capitania do Funchal (23%), Machico (11%) e Porto Santo (2%).
Quando estabelecemos uma comparação entre o número de proprietários de escravos e o de
canaviais verificamos que em todas as áreas o primeiro grupo é superior ao segundo. Este facto
poderá ser considerado um indicativo seguro de que nem todos os proprietários de escravos se
dedicavam à safra açucareira e que nem todos os escravos existiam para isso. A diferença entre os
dois grupos é mais acentuada no Funchal, onde o número de proprietários de escravos é três vezes
superior ao de canaviais. Nas “Partes do Fundo” ela não ultrapassa o dobro, no século XVI, e nas
comarcas da Calheta, Ponta do Sol e capitania de Machico apresentava valor inferior. O mesmo
sucede quando comparamos o número de escravos com o dos proprietários de canaviais e engenhos
de açúcar. No século XV esta proporção é diminuta, mas na centúria seguinte, excepto em Ponta do
Sol e Machico, atinge valores elevados, sendo a média no Funchal de dez escravos por proprietário,
quatro na Ribeira Brava e três na Calheta.
Quando comparamos os escravos existentes na ilha com o número de engenhos verificámos
diferenças com aquilo que acontece no mundo americano. Nas Antilhas e América do Sul o valor
por engenho oscila entre os 800 e 100, aqui, no global, não ultrapassaria os 30, sendo a média mais
elevada no Funchal (com 77 escravos) e Ribeira Brava (com 24 escravos). É de salientar, ainda, que,
no total de 46 proprietários de engenhos, dezasseis são do Funchal. Os dados disponibilizados pela
investigação levam-nos a concluir o seguinte: num total 502 produtores de açúcar apenas setenta e
oito(16%) são possuidores de escravos. Para o século dezassete é maior o número (39%) de
proprietários de canaviais com escravos, sem existir qualquer relação de causa e efeito entre ambas
as realidades. Assim, por exemplo, Maria Gonçalves, viúva de António de Almeida, é quem surge
com o maior número de escravos, sendo diminuta a produção de açúcar.
Tenha-se agora em conta a situação nas Canárias . Em Gran Canaria os documentos elucidam-nos
da existência de engenhos com 30 a 35. Já em Tenerife e La Palma eles baixam para metade.
Mesmo assim na primeira é possível a existência de raros proprietários com número elevado destes
que poderá chegar à centena. Note-se que para a Madeira o número mais elevado não ultrapassava
os 14 apresentados por João Esmeraldo na fazenda da Lombada da Ponta do Sol. A maioria dos
proprietários (63%) fica-se por cinco escravos, por isso, tendo em conta o mínimo de mão-de-obra
imprescindível para a laboração de um engenho, seremos obrigados a afirmar que a grande força de
trabalho que animava os engenhos não era escrava, mas sim livre. A par disso, o máximo que
conseguimos reunir foi de vinte escravos de Ayres de Ornelas e Vasconcelos (1556-1587), mas para
pai e filho.
Na Madeira a tendência era para a existência de um reduzido número de escravos por proprietário.
Com um ou dois escravos temos 58% e com mais de cinco a percentagem não ultrapassa os 11%. O
grupo daqueles que possuem mais de dez escravos não suplanta os 2%. Estes destacados
proprietários surgem, mais uma vez, no Funchal, entendido como o conjunto das duas freguesias e
comarca. O perfil do proprietário de escravos define-se pelo reduzido número, pois 89% possuem
entre um e cinco escravos. A par disso, se enquadrarmos os escravos na estrutura fundiária dos
proprietários, concluiremos pela fraca vinculação à cultura do açúcar: em 104 detentores em
simultâneo de escravos e bens fundiários, apenas nove são possuidores de terras com canaviais. Os
restantes, na sua maioria, detêm searas e vinhedos. Depois nos signatários de canaviais merece
apenas referência Bartolomeu Machado, no Funchal, com dez escravos.
Para as Canárias a análise deve ser diferente, tendo em conta os dados disponíveis. É de salientar
que em Gran Canaria na cidade de Telde a maioria dos escravos está em relação directa com a cana
de açúcar, pertencendo aos lavradores e proprietários de engenho. Aqui merece a nossa atenção a
família de Cristóbal Garcia de Moguer. O próprio, proprietário de engenho tinha ao seu serviço
sessenta escravos, sendo trinta e sete no engenho. Nestes incluem-se um canavieiro e um
caldeireiro. A situação repercute-se em Gáldar, Guia, Arucas. Agüimes e Agaete, tudo regiões de
forte incidência de canaviais. No caso de Tenerife apenas temos conhecimento que Alonso
Fernandez Lugo era detentor em 1525 de vinte e oito escravos. Para Daute surgem dois importantes
proprietários - Cristóbal de Ponte e Gonzalo Yanes. Em 1506 o engenho de Icod possuía vinte e
cinco escravos. Para o século XVII a posição muda, pelo menos em Las Palmas, onde os
proprietários de escravos se situam no sector dos serviços, o que prova estarmos perante uma
escravatura de cariz patriarcal. Na ilha de La Palma, uma de fortes tradições açúcareiras é onde se
encontram uma percentagem mais elevada da população escrava, chegando a atingir em Santa Cruz
de La Palma os 29,9% A presença do escravo também está documentada na ilha de La Gomera, sem
ser possível estabelecer qual a sua relação.
O escravo nas ilhas está indissociavelmente ligado à cultura dos canaviais nestas ilhas, embora sem
atingir a proporção de S. Tomé ou do Brasil. Os dados avulsos compilados na documentação, quer
da Madeira quer das Canárias testemunham essa relação. Em 1496 a coroa dava conta desta
simbiose para a Madeira ao estabelecer a proibição de venda, por dívidas, de bens de raiz “nem
escravos nem espravas”, animais e aparelhos de engenho, permitindo apenas a troca nas
“novidades” arrecadadas. Noutro documento de 1502, acerca das águas de regadio, o monarca refere
que era hábito os proprietários mandarem “os espravos e homes de soldada que tem de reger seus
canaveaes”.
A ligação do escravo à fase de cultivo e amanho dos canaviais também pode ser atestada pela
presença nas diversas tarefas ligadas à laboração do engenho. O regimento dos alealdadores de 1501
refere que os mestres e lealdadores que fizessem açúcar quebrado sujeitavam-se a severas penas e
ordena-se que, caso eles fossem cativos, a coima correria por conta do proprietário. Aqui o serviço
dos escravos poderia assumir duas situações distintas: ajudante dos oficiais da safra, ou os mesmos
operários especializados. Em 1482, numa demanda sobre a qualidade do açúcar “temperado”,
depõem perante a vereação do Funchal os mestres de açúcar, Vaz e André Afonso: o primeiro referia
que, por ter estado ausente nas Canárias, um homem, seu cativo, havia temperado o açúcar,
enquanto o segundo, também fora da ilha, havia entregue o mesmo trabalho a um moço que o servia
de soldada.
A estes testemunhos, denunciadores da participação do escravo, como serventes, na cultura e fabrico
do açúcar também poderão juntar-se outros que demonstram terem eles actuado na qualidade de
oficiais de engenho: primeiro tivemos os escravos canários que se apresentaram na ilha como
exímios mestres de açúcar, como se poderá verificar pela cautela posta em 1490 e 1505, quanto à
sua expulsão. Desta época apenas temos notícia de dois escravos que foram mestres de engenho, e
não sabemos se eram ou não guanches: em 1486 Rodrigo Anes, o Coxo, da Ponta do Sol,
estabeleceu em testamento a alforria de Fernando, mestre de engenho, e em 1500 no testamento de
João Vaz, escudeiro, refere-se um escravo seu, Gomes Jesus, como mestre de açúcar. Mais tarde, em
1605, é Jorge Rodrigues, homem baço, forro, quem reclama de Pedro Agrela de Ornelas três mil réis
de serviço que fizera no seu engenho em 1604.
Em 1601 Jean Moquet dá conta de que os escravos tinham uma activa intervenção na faina dos
engenhos, uma vez que o mesmo terá visto um “grand nombre d’esclaves noirs qui travaillent aux
sucres dehors la ville”. Certamente que a única particularidade do serviço dos escravos nos
engenhos madeirenses residia no facto de eles trabalharem de parceria com homens livres ou
libertos, destacando-se aqui os trabalhadores de soldada: em 1578 António Rodrigues, trabalhador,
declara em testamento que havia trabalhado sob as ordens de Manuel Rodrigues, feitor do engenho
de D. Maria.
No caso das Canárias os estudos mais recentes, nomeadamente de Manuel Lobo Cabrera, têm
demonstrado semelhante evidência para os séculos XVI e XVII . No decurso do século XVI é
inegável a ligação do escravo ao trabalho nos canaviais e engenho. Ele tem lugar cativo no trabalho
dos canaviais e engenho. Neste último caso refere-se a “casa dos negros”, como uma infra-estrutura
integrada no complexo do engenho. Por aqui se testemunha e presume da vinculação dos escravos
ao engenho, onde executavam as mais variadas tarefas: moedor, prenseiro, bagaceiro e caldeireiro.
Eles tanto podiam ser propriedade do senhor de engenho como de outrem que os havia arrendado.
Estes contratos de arrendamento de escravos para o serviço do engenho são usuais nas Canárias.
É de salientar, ainda, a forte presença de libertos ligados a esta actividade, na condição de operários
especializados ou de trabalhadores. Acresce, ainda que neste arquipélago a actividade do campo era
distribuída por esburgadores de cana e arrendatários, o que permitia a um proprietário ser detentor
de grandes extensões de canaviais, sem precisar de ter ao seu serviço muita mão-de-obra escrava.
Note-se a generalização deste sistema na ilha de Tenerife, o que certamente deverá ter pesado na
dimensão assumida pelo escravo na sociedade. Todavia muitos destes eram possuidores de escravos
que os serviam em tais trabalhos. Quase sempre um homem livre que fazia um arrendamento nos
diversos domínios da safra açucareira tinha por detràs alguns seus escravos que actuavam como
ajudantes. Deste modo estava justificada a ausência dos escravos nos proprietários directos de
canaviais e engenhos, o que não é sinónimo da sua ausência no processo. Acresce ainda que o
escravo estava por vezes vinculado à terra. Assim sucede em 1522 em La Orotava (Tenerife) em
que o regidor arrendou por cinco anos uma propriedade de canas, dando-lhe também três escravos
para esse serviço, os quais deve alimentar e vestir.Esta era uma situação muito frequente em La
Palma e Gran Canaria.
Em síntese, poderemos afirmar que, na Madeira, a exemplo do que sucedeu nas Canárias, a mão-de-
obra utilizada nos engenhos era mista, sendo composta por escravos, libertos e livres, os quais
executavam tarefas diferenciadas, sendo os serviços pagos em dinheiro ou açúcar. Neste grupo de
escravos incluíam-se os que pertenciam ao proprietário do engenho mas também outros que aí
serviam como gente de soldada. Também no Brasil a mão-de-obra era mista, mas acontece que os
escravos dominavam estes serviços. Eles tanto podiam ser pertença do proprietário do engenho de
canaviais, ou de outrem, que os alugava. É aqui que se radica a principal diferença entre a ligação
do escravo ao açúcar nestas ilhas e do outro lado do Atlântico.

O panorama da geografia açucareira na segunda metade do século XIX é distinto. A abolição da


escravatura provocou uma transformação da estrutura social e conduziu inevitavelmente a inovações
técnicas. O fim da escravatura conduziu a uma desenfreada busca de mão de obra livre através de
contratos, sendo os novos colonos recrutados entre os chineses, indianos e madeirenses. O sistema e
forma decorrente não estão longe da escravatura, razão porque ficou conhecido na imprensa
madeirense da época com?escravatura branca?. Este sistema vigorou até 1927. Neste momento o
grande suporte da estrutura produtiva madeirense que deu suporte à nova vaga dos canaviais é o
contrato de colonia, responsável nos séculos anteriores pelo total parcelamento do solo em
minúsculos poios.

OS PREÇOS DO AÇÚCAR . Não é fácil estabelecer com clareza a evolução dos preços do
açúcar no mercado insular porque não existem núcleos documentais que permitam a reconstituição
de séries. Os dados disponíveis são avulsos e desconexos. Se no caso da Madeira foi possível reunir
o maior número de informações para a década de trinta do século XVI, nas Canárias a situação é
igual na Ilha de Tenerife. Além disso dever-se-ão juntar outras condicionantes que influem de forma
decisiva nos preços. Em primeiro lugar está a falta crónica de moeda nas ilhas e o recurso ao açúcar
como meio de troca, a que se associa nos séculos XV e XVI a sua insistente desvalorização. O
açúcar, como moeda de troca, é uma realidade quer na Madeira, quer nas Canárias, mas foi neste
último arquipélago que adquiriu melhor expressão.
É necessário ter ainda em conta que a lei da oferta e da procura condicionava de forma evidente a
evolução do preço do açúcar ao longo do ano. Deste modo, é de notar uma variação mensal de
acordo com o período da safra do açúcar e da presença de embarcações interessadas no seu trato.
Daqui resulta que os preços mais elevados surjam nos meses de Junho e Julho, precisamente no
momento em que se disponibilizava o primeiro açúcar do ano e, por isso, a afluência de mercadores
era maior. É de notar, ainda, outras variações sazonais no próprio mês de acordo, como é óbvio, com
a lei da oferta e da procura.

O açúcar branco apresentava dois preços, consoante fosse de uma ou duas cozeduras. Na Madeira o
último preço correspondia em 1496 a quase o dobro do primeiro. Se tivermos em conta, que em 15
000 arrobas da primeira cozedura ficava apenas 10 000 na segunda, nota-se uma forte valorização
do produto final. Esta insistência no açúcar de segunda cozedura é considerada condição necessária
para a valorização do produto, impedindo que chegasse ao mercado europeu em más condições, mas
acima de tudo era uma medida benéfica que reduzia para metade a oferta do açúcar, o que favorecia
a competitividade do produto numa altura que o mercado se pautava por excedentes.
A partir da década de setenta o preço do açúcar entrou em quebra acentuada. Esta ideia está
testemunhada nas intervenções do senhorio a partir de 1469 que insiste na solução do monopólio
para o comércio. A negação dos madeirenses a semelhante solução levou o Duque D. Manuel a
avançar com novas medidas. Assim em 1496 fixa os preços em 350 réis para o açúcar da primeira
cozedura e 600 ao da segunda, e passados dois anos opta por estabelecer uma cota máxima de
exportação que se cifrava em 120.000 arrobas. Os dados disponíveis revelam este movimento de
quebra do açúcar. O primeiro açúcar feito em Machico vendeu-se a 2000 réis arroba. Já em 1469 o
seu preço estava em 500 arrobas para o de uma cozedura e 750 para o de duas, Em 1472 temos a
notícia que subiu para 1000 réis a arroba, mas esta deverá ser uma situação particular resultante da
quebra acentuada da moeda, pois que em 1478 regressou à normalidade. O movimento de queda foi
uma constante até princípios do século XVI e só a revolução dos preços inverteu a situação,
evidente na década de vinte em ambos os arquipélagos. Esta última conjuntura é comum à Madeira
e Canárias. Em ambos os casos é evidente uma inversão de marcha a partir da década de trinta que
pode ser entendida com a presença concorrencial de açúcar de outras áreas, nomeadamente do
continente americano. Todavia a tendência nas Canárias inverte-se na década de quarenta,
certamente como resultado da galopante inflação.
A oferta não se resumia apenas ao açúcar branco, pois a ele devem juntar-se os subprodutos, como
as escumas, rescumas, mel, remel, mascavado e mel mascavado e depois alguns derivados, como as
conservas e casquinha, que em qualquer dos arquipélagos tiveram grande importância. Em Tenerife
as escumas e rescumas eram cotadas a metade do preço do branco, enquanto na Madeira e Gran
Canaria essa relação só é possível com as rescumas, uma vez que as escumas são muito mais
valorizadas. É, ainda, possível estabelecer uma relação entre estes subprodutos e o açúcar branco,
expressa nos níveis de produção e preço. Em Gran Canaria no século XVI essa relação fazia-se da
seguinte forma: em 2500 arrobas de açúcar correspondem 60% ao branco, 12% às escumas, 8% de
rescumas e 20% de açúcar refinado. O mesmo sucede na Madeira no período de 1520 a 1537.

O COMÉRCIO ATLÂNTICO E O AÇÚCAR. O desenvolvimento sócio-económico do


mundo insular articula-se de modo directo, com as solicitações de economia euro-atlântica: primeiro
região periférica do centro de negócios europeus, ajustaram o seu desenvolvimento económico às
necessidades do mercado europeu e às carências alimentares europeias, depois, mercado
consumidor das manufacturas de produção continental em condições vantajosas de troca para o
velho continente e, finalmente, intervém como intermediário nas ligações entre o Novo e Velho
Mundo. Note-se que, a partir de princípios do século XVI, 0 Mediterrâneo Atlântico define-se como
centro de contacto e apoio ao comércio africano, Índico e americano.
A tudo isto acresce que os interesses da burguesia e aristocracia dirigente peninsular entrecruzam-se
no processo de ocupação e valorização económica das novas sociedades e economias insulares. Esta
componente peninsular é reforçada com a participação da burguesia mediterrânica, atraída por
novos mercados e pela fácil e rápida expansão dos seus negócios. Por isso, um grupo de italianos,
mais ou menos ligados às grandes sociedades comerciais mediterrânicas, participa activamente no
processo de reconhecimento, conquista e ocupação do novo espaço atlântico. Com efeito, eles
interessaram-se pela conquista do arquipélago canário, expedições portuguesas de exploração
geográfica e o comércio ao longo da costa ocidental africana. A sua penetração no mundo insular
ficou assim facilitada o que os levou a alcançar uma posição muito importante na sociedade e
economia insulares. O investimento de capital de origem mercantil, nacional ou estrangeiro surgiu
apenas numa óptica da nova economia, afirmando-se como gerador de novas riquezas adequadas a
um aproveitamento comercial. Assim, o comércio foi o denominador comum para os produtos a
introduzir, sendo valorizados aqueles activadores da nova economia de mercado. Aqui, a cana de
açúcar e o cobiçado produto final, o açúcar, detém uma posição cimeira.
A Madeira foi no começo o mais importante entreposto. Os descobrimentos aliam-se ao comércio e,
por isso, desde meados do século XV, manteve-se um trato assíduo com o reino, activado com as
madeiras, urzela, trigo e, depois, com o açúcar e o vinho. Este movimento alargou-se às cidades
nórdicas e mediterrânicas, com o aparecimento de estrangeiros interessados no comércio do açúcar.
O arquipélago canário, tardiamente associado ao domínio europeu, manteve desde o século XVI um
activo comércio com a Península. Neste tráfico intervêm os peninsulares e italianos. Após a
conquista, castelhanos, portugueses e italianos repartem entre si o comércio das ilhas. Os flamengos
e ingleses, que delinearão as rotas de ligação ao mercado nórdico, surgem num segundo momento.
Múltiplas descrições, de finais do século XVI, evidenciam a posição dominante das Ilhas de
Tenerife e Gran Canaria na economia do arquipélago.
O comércio do açúcar do mercado insular, que ficou circunscrito às ilhas de Gran Canaria, Tenerife,
La Palma, La Gomera e Madeira, foi o principal activador das trocas com o mercado europeu. Na
Madeira ele assumiu uma posição dominante na produção e comércio entre 1450 e 1550, enquanto
que nas restantes praças surge apenas em princípios do século XVI, tendo assumido idêntica posição
na década de trinta.
O regime do comércio do açúcar madeirense nos séculos XV e XVI, segundo opinião de Vitorino
Magalhães Godinho, “vai oscilar entre a liberdade fortemente restringida pela intervenção quer da
coroa quer dos poderosos grupos capitalistas, de um lado, e o monopólio global, primeiro,
posteriormente um conjunto de monopólio cada qual em relação com uma escápula de outra banda”.
Deste modo o comércio apenas se manteve em regime livre até 1469, altura em que a baixa do preço
veio condicionar a intervenção do senhorio, que estipulou o seu exclusivo aos mercadores de
Lisboa. Ao madeirense, habituado a negociar com os estrangeiros, isto não agradou. Mesmo assim o
Infante D. Fernando decidiu em 1471 estabelecer o monopólio a uma companhia formada por
Vicente Gil, Álvaro Esteves, Baptista Lomelim, Francisco Calvo e Martim Anes Boa Viagem. Desta
decisão resultou um aceso conflito entre a vereação e os referidos contratadores. Passados vinte e
um anos a ilha debatia-se ainda com uma conjuntura difícil no comércio açucareiro, pelo que a
coroa retomou em 1488 e 1495 a pretensão do monopólio, mas apenas conseguiu impor um
conjunto de medidas regulamentadoras da cultura, safra e comércio, que ocorrem em 1490 e 1496.
Esta política, definida no sentido da defesa do rendimento do açúcar, irá saldar-se mais uma vez
num fracasso, pelo que em 1498 foi tentada uma nova solução, com o estabelecimento de um
contingente de cento e vinte mil arrobas para exportação, distribuídas por diversas escápulas
europeias.
Estabilizada a produção e definidos os mercados do açúcar, a economia madeirense não necessitava
de tão rigorosa regulamentação, pelo que em 1499 o monarca acabou com algumas das
prerrogativas estipuladas no ano anterior, mantendo-se, no entanto, até 1508 o regime de contrato
para a sua venda, pois só nesta data foi revogada toda a legislação anterior, ficando o seu trato em
regime de total liberdade. Assim o definiu o foral da capitania do Funchal, em 1515, ao enunciar
que “Os ditos açúcares se poderão carregar para o Lavante e Poente e pera todas outras partes que os
mercadores e pessoas que os carregarem aprouver sem lhe isso ser posto embargo algum”.
Nas Canárias depara-se-nos uma situação diferente, pois o comércio do açúcar fundamenta-se numa
política de abertura a todos os mercados e agentes. Apenas é de notar as restrições impostas pela
conjuntura de afrontamento político e religioso, que tem incidência particular no movimento com a
Flandres e a Inglaterra, no último quartel do século XVI. As condições especiais em que sucedeu o
processo de conquista favoreceu a abertura a todos os intervenientes interessados e, por
consequência, facilitou o relacionamento das ilhas com as cidades italianas e flamengas. A
intervenção dos cabildos e da coroa vai apenas no sentido da preservação da qualidade do produto.

As mudanças operadas no mercado mundial, resultantes primeiro de concorrência da beterraba e,


depois, da conturbada conjuntura política, levaram ao estabelecimento de uma política
proteccionista que atingiu também o mercado. Em 1931 criou-se "international sugar agreement"
em Bruxelas. A II Guerra mundial provocou uma inversão da tendência, levando à liberalização do
mercado livre evidente a partir de 1953. Na Madeira também se sentiu os reflexos dessa política que
ficou conhecida como o proteccionismo sacarino. Assim apostou-se na promoção da cultura através
de medidas limitativas à concorrência dos produtos sacarinos importados que em 1855 foram
onerados nos direitos de importação. Por outro lado facilitou-se a exportação dos nossos produtos
para o continente e Açores por meio de uma redução das taxas alfandegárias (1870) e depois da sua
abolição (1876) por períodos de cinco anos até 1886 culminando em 1895 com o decreto de 30 de
Dezembro que pretende assegurar um mercado para o açúcar madeirense, dando à sua indústria
condições para laborar em condições concorrenciais com as indústrias doutros países. Neste sentido
facilita-se a importação de melaço com taxa de 30 reis ao quilo, a isenção de impostos, tendo apenas
a obrigatoriedade de adquirir a cana a preço mínimo de 400 e 450 reis por cada trinta quilos. Note-
se que estas medidas são simultâneas das medidas de protecção do açúcar das colónias.

O único senão que escondia esta medida era o facto de só se aplicarem às fábricas matriculadas, isto
é, a de W. Hinton & Sons e do seu comparsa José Júlio de Lemos, deixando de fora as restantes que
serão forçadas a encerrar portas, levando a industria do açúcar para um regime de monopólio do
engenho do Torreão, situação que se manteve até 1985, ano em que deixou de laborar e de fabricar-
se o produto.

MERCADORES, BOTICAS E CONSUMIDORES


A Madeira atraiu a primeira vaga de mercadores forasteiros, mercê da prioridade atribuída à cultura
dos canaviais no processo de ocupação. Só o impediram as ordenanças limitativas da sua residência
na ilha. Todavia, em meados do século XV a coroa facultou a entrada e fixação de italianos,
flamengos, franceses e bretões, por meio de privilégios especiais, como forma de assegurar um
mercado europeu para o açúcar. Mas, o impacto e a influência destes foi lesivo para os mercadores
nacionais e coroa, pelo que se foi necessário impedir que os mesmos pudessem “asy soltamente
trautar todos”, pelo que o senhorio proibiu a sua permanência na ilha como vizinhos. A questão foi
levada às cortes de Coimbra de 1472-1473 e de Évora em 1481, reclamando a burguesia do reino
contra o monopólio de facto, dos mercadores genoveses e judeus no comércio do açúcar, propondo
a sua exploração nesse regime a partir de Lisboa. O monarca comprometido com esta posição
vantajosa dos estrangeiros, mercê dos privilégios que lhes concedera actuou de modo ambíguo
procurando salvaguardar os compromissos anteriormente assumidos e as solicitações dos moradores
do reino ao estabelecer limitações à sua residência no reino e fazendo-a depender de licenças
especiais. Quanto à Madeira foi a impossibilidade da sua vizinhança sem licença expressa da coroa
e a interditação da revenda no mercado local. A Câmara, por seu turno, baseada nestas ordenações e
no desejo expresso dos seus moradores ordenara a sua saída até Setembro de 1480, no que foi
impedida pelo senhorio. Somente em 1489 foi reconhecida a utilidade da presença dos mercadores
estrangeiros na ilha, ordenando D. João II ao duque D. Manuel, então Duque de Beja, que os
estrangeiros fossem considerados como “naturaes e vizinhos de nossos regnos”.
Na década de noventa, de novo, os problemas do mercado açucareiro conduziram ao ressurgimento
desta política xenófoba. Os estrangeiros passaram a dispor de três ou quatro meses, entre Abril e
meados de Setembro, para comerciar os seus produtos, não podendo ter loja e feitor na cidade.
Somente em 1493 D. Manuel reconheceu o prejuízo que as referidas medidas causavam à economia
madeirense, afugentando os mercadores, pelo que revogou todas interdições anteriormente
impostas. As facilidades concedidas à estadia destes forasteiros conduziram à sua assiduidade bem
como à fixação e intervenção na estrutura fundiária e administrativa.
A comunidade de mercadores estrangeiros na Madeira foi dominada pela presença de italianos,
flamengos e franceses, que surgem no Funchal atraídos pelo tão solicitado “ouro branco”. Os
primeiros e de entre eles os florentinos e genoveses foram, desde meados do século XV, os
principais agentes do comércio do açúcar alargando depois a sua actuação ao domínio fundiário,
possível por meio da compra e laços matrimoniais. Na década de setenta, mediante o contrato
estabelecido com o senhorio da ilha, detinham já uma posição maioritária na sociedade criada para o
comércio do açúcar, sendo representados por Baptista Lomellini, Francisco Calvo e Micer Leão. No
último quartel do século juntaram-se Cristóvão Colombo, João António Cesare, Bartolomeu
Marchioni, Jerónimo Sernigi e Luis Doria. A este grupo seguiu-se, em princípios do século XVI,
outro mais numeroso que alicerçou a comunidade italiana residente, destacando-se, aqui, Lourenço
Cattaneo, João Rodrigues Castigliano, Chirio Cattano, Sebastião Centurione, Luca Salvago,
Giovanni e Lucano Spinola.
O estrangeiro para manter a amplitude de operações comerciais nas ilhas contava com um grupo de
feitores ou procuradores: Gabriel Affaitati, Luca Antonio, Cristovão Bocollo, Matia Minardi,
Capella e Capellani, João Dias, João Gonçalves e Mafei Rogell. Note-se que o grupo inicial é, na
sua maioria, constituído por italianos, ligados ao comércio do açúcar, e que os segundos pertencem
a algumas famílias mais influentes da ilha.
Os mercadores-banqueiros de Florença destacaram-se nas transacções comerciais e financeiras do
açúcar madeirense no mercado europeu. A partir de Lisboa, onde usufruíam uma posição
privilegiada junto da coroa, controlaram uma extensa rede de negócios que abrange a Madeira e as
principais praças europeias: primeiro conseguiram da Fazenda Real o quase exclusivo do comércio
do açúcar resultantes dos direitos reais por contrato directo a que se seguiu o exclusivo dos
contingentes estabelecidos pela coroa em 1498. Assim, tivemos Bartolomeu Marchioni, Lucas
Giraldi e Benedito Morelli com uma intervenção marcante no trato do açúcar, na primeira metade
do século XVI. A manutenção desta rede de negócios foi assegurada pela acção directa dos
mercadores, dos seus procuradores ou agentes subestabelecidos. Benedito Morelli em 1509-1510
tinha na ilha, como agentes para o recebimento do açúcar dos quartos, Simão Acciaiuolli, João de
Augusta, Benoco Amador Cristóvão Bocollo e António Leonardo. Marchioni em 1507-1509 fazia-se
representar em operações idênticas por Feducho Lamoroto. João Francisco Affaitati, cremonês,
agente em Lisboa de uma das mais importantes companhias comerciais da época, participou
activamente neste comércio entre 1502 e 1526, por meio de contratos de compra e venda dos
açúcares dos direitos reais (1516-1518, 1520-1521 e 1529) e pagamentos em açúcar a troco de
pimenta. O mesmo actuou, ainda, em sociedade com Jerónimo Sernigi, João Jaconde, Francisco
Corvinelli e Janim Bicudo, quer isoladamente, tendo para o efeito como feitores e procuradores na
ilha, Gabriel Affaitati, Luca António, Cristóvão Bocollo, Capela de Capellani, João Dias, João
Gonçalves, Matia Manardi e Maffei Rogell.
A penetração deste grupo de mercadores na sociedade madeirense foi muito acentuada. O usufruto
de privilégios reais, o relacionamento familiar favoreceram a sua mistura com a aristocracia
terratenente e administrativa. A sua intervenção é notada na estrutura administrativa, abrangendo os
domínios mais elementares do governo, como a vereação e as repartições da fazenda, todas com
intervenção directa na economia açucareira. São maioritariamente proprietários e mercadores de
açúcar. Instalaram-se nas terras de melhor e maior produção e tornaram-se nos mais importantes
proprietários de canaviais. Assim, sucedeu com Rafael Cattano, Luis Doria, João e Jorge Lomelino,
João Rodrigues Castelhano, Lucas Salvago, Giovanni Spinola, João Antão, João Florença e Simão
Acciaiuolli e Benoco Amatori.
Também, os franceses e flamengos, a exemplo dos italianos, surgem na ilha, desde finais do século
XV, atraídos pelo rendoso comércio do açúcar. No entanto, não se enraizaram na sociedade insular,
mantendo uma condição errante. O seu interesse é única e exclusivamente a aquisição do açúcar a
troco dos seus artefactos, alheando-se da realidade produtiva e administrativa. O caso de João
Esmeraldo é a excepção. Os franceses afirmaram-se pelas operações de troca em torno do açúcar,
enquanto os flamengos mantiveram uma posição subalterna e mesmo como grupo interveniente no
mercado madeirense. Os franceses tiveram uma presença muito activa no comércio do açúcar, na
primeira metade do século XVI. Eles surgem com frequência nas comarcas do Funchal, Ponta do
Sol, Ribeira Brava e Calheta, onde adquiram grandes quantidades de açúcar que transportavam aos
portos franceses nas suas embarcações. Neste trato evidenciaram-se mestre António, Archelem,
António Coyros, António Caradas e Francisco Lido. Os últimos aliavam à Madeira a rede de
negócios das Canárias, que surge como ramificação das praças nórdicas e andaluzas.
As escápulas, até 1504, e o produto dos direitos reais eram canalizados ao mercado europeu, quer
por carregação directa, quer ainda, por negócio livre ou a troco de pimenta. Este açúcar era
arrendado por mercadores ou sociedades comerciais, sediados em Lisboa, sendo de destacar a
actuação dos italianos, como João Francisco Affaitati e Lucas Salvago.
As operações comerciais em torno do açúcar, no período de 1501 e 1504, estiveram centralizadas
em mercadores ou sociedades comerciais que, a partir de Lisboa, controlaram esse trato por meio de
uma complicada rede de feitores ou procuradores. A sua intervenção, que se apresentava dominante
nos três primeiros decénios do século, decresceu de forma acentuada na última década. Isto atesta
que os mercadores estrangeiros, em face da conjuntura de instabilidade do mercado açucareiro
madeirense nos primeiros trinta anos abandonaram o seu comércio fazendo-o substituir pelo de
outras origens.
A comunidade italiana controlava a quase totalidade do comércio do açúcar com as principais
praças europeias sendo seguida da portuguesa e da castelhana. Os mercadores nórdicos não
apresentam uma posição de relevo nestas operações. Isto demonstra, mais uma vez, que a rota e
mercado flamengo mantiveram-se sob o controlo da nossa feitoria. No período que decorre de 1490
a 1550, verifica-se que os italianos detiveram o exclusivo do comércio na primeira década e uma
posição dominante nas duas seguintes, sendo substituídos pelos portugueses na década de trinta, e
também por castelhanos e franceses. Ainda, no grupo dos mercadores estrangeiros nota-se uma
tendência concentracionista, pois apenas os cinco principais detêm 71% do açúcar transaccionado.
Todos eles apresentam valores superiores a dez mil arrobas, enquanto nos nacionais apenas um tem
mais de 1080 arrobas. João Francisco Affaitati, mercador cremonês de família nobre, chefe da
sucursal em Lisboa da companhia Affaitati, uma das principais dessa praça, surge no período de
1502 a 1529 como o principal activador do comércio do açúcar madeirense, tendo transaccionado
sete vezes mais açúcar que todos os portugueses. Durante este período, arrematou em 1502, as
escápulas de Águas Mortas, Liorne, Roma e Veneza. Conjuntamente com Jerónimo Sernigi, João
Jaconde e Francisco Cornivelli conseguiu a venda do açúcar dos direitos (1512-1518, 1520-1521,
1529) e actuou em operações diversas de compra directa de açúcar e da sua troca por pimenta ou
dívidas. Para manter esta amplitude de actividades comerciais contava na ilha com um grupo
numeroso de feitores ou procuradores: Gabriel Affaitati, Luca Antonio, Cristóvão Bocollo, Matia
Manardi, Capella de Capellani, João Dias, João Gonçalves e Mafei Rogell. Por outro lado aceitou
procuração de Garcia Pimentel, Pedro Afonso de Aguiar e João Rodrigues de Noronha.
A rede de negócios funchalense, em torno do trato do açúcar, foi criada e incentivada pelo mercador
estrangeiro, alemão ou italiano, que aí aportou depois da reconfortante e vantajosa escala em
Lisboa. Ele controlou as principais sociedades intervenientes no comércio açucareiro, não obstante
ter morada fixa em Lisboa, Flandres ou Génova. O seu domínio atinge, não só, as sociedades
criadas no exterior com intervenção na ilha, mas também, o grupo de agentes ou feitores e
procuradores subestabelecidos no Funchal. A sua escolha é criteriosa: primeiro os familiares, depois
os compatrícios enraizados na sociedade e só, depois, os madeirenses ou nacionais. As principais
casas intervenientes no trato açucareiro madeirense podem ser definidos de acordo com o número
de representantes, destacando-se então, Baptista Morelli, B. Marchioni, Welser, Claaes, Charles
Correa, Pero de Ayala e Pero de Mimença. Os Welsers e Claaes actuaram na praça do Funchal por
intermédio de agente estabelecido em Lisboa, respectivamente, Lucas Rem e Erasmo Esquet, que
depois subestabelecem feitores. O primeiro tinha como interlocutores no Funchal, em princípios do
século XVI, João de Augusta, Bono Bronoxe, Jorge Emdorfor, Jácome Holzbuck, Leo Ravenspurger
e Hans Schonid.
Os procuradores e feitores, na sua condição de interlocutores dos mercadores europeus não se ligam
apenas a uma sociedade, pois distribuíram a sua acção por um grupo numeroso de societários. E
estes por sua vez não se prendem apenas a um representante, concedendo-os a um grupo variado de
feitores e procuradores. Na primeira situação tivemos Benoco Amatori que representava B.
Marchionni, B. Morelli, Álvaro Pimentel e Jerónimo Sernigi. E, na segunda, João Francisco
Affaitati que, entre 1500-1529, estava representado por Gabriel Affaitati, Luca Antonio, Cristóvão
Bocollo, Capella de Capellani, João Dias, João Gonçalves, Matia Manardi, Mafei Rogell e Lucas
Giraldi.
Na segunda metade do século XVII o açúcar madeirense foi paulatinamente substituído pelo
brasileiro. Neste circuito de escoamento e comércio é evidente a intervenção de madeirenses e
açorianos. A oferta de vinho ou vinagre era compensada com o acesso ao rendoso comércio do
açúcar, tabaco e pau-brasil. Mas o trajecto destas rotas comerciais ampliava-se até ao trafico
negreiro, cobrindo um circuito de triangulação. Para isso os madeirense criaram a sua própria rede
de negócios, com compatrícios fixos em Angola e Brasil.
Diogo Fernandes Branco é o exemplo perfeito da nova situação. A sua actividade incidia,
preferencialmente, na exportação de vinho para Angola, onde trocava por escravos que, depois, ia
vender ao Brasil por açúcar. O circuito de triangulação fechava-se com a chegada à ilha das naus,
vergadas sob o peso das caixas de açúcar ou rolos de tabaco. Depois seguia-se outro processo de
transformação do produto em casca ou conservas. Esta era uma tarefa caseira que ocupava muitas
mulheres na cidade e arredores. Os mercadores, como Diogo Fernandes Branco, coordenavam todo
o processo, de acordo com as encomendas que recebiam, uma vez que o produto depois de laborado
deveria ter rápido escoamento. Os principais portos de destino situavam-se no norte da Europa:
Londres, St Malo, Amburgo, Rochela, Bordéus. Ele foi o interlocutor directo dos mercadores das
praças de Lisboa (no caso Manuel Martins Medina), Londres, Rochela ou Bordéus, satisfazendo a
sua solicitação de vinho e derivados do açúcar a troco de manufacturas, uma vez que o dinheiro e as
letras de cambio, raramente encontravam destinatário na ilha. A par disso manteve a sua rede de
negócios, apoiado em alguns mercadores de Lisboa, e das principais cidades brasileiras. São
múltiplas as operações comerciais registadas na sua documentação epistolar. À primeira vista
parece-nos que o mesmo se especializou em duas actividades paralelas: o comércio de vinho para
Angola e Brasil e o de açúcar e derivados para adocicar os manjares dos repastos da mesa europeia.
Estas actividades comerciais de Diogo Fernandes Branco não são de modo algum episódicas, no
contexto da estrutura comercial madeirense da segunda metade do século dezassete, pois
comprovam uma das dominantes estruturais: a ilha com intermediária entre os interesses da
burguesia comercial do Novo e Velho Mundo. Um dos componentes deste puzzle era o porto do
Funchal, onde uma chusma de pequenos burgueses que aguardam a oportunidade de singrar em tais
negócios. Angola, Brasil são os outros dois vértices deste triângulo. Episodicamente surge-nos
Barbados, que só singrou a partir da afirmação hegemónica da burguesia comercial britânica no
mundo atlântico.
As Canárias estiveram também ao longo do século XV-XVI, sujeitas à investida de mercadores
forasteiros, que participaram activamente na conquista e ocupação, relançamento das bases da
estrutura sócio-económica, e também na activação e manutenção dos circuitos comerciais: primeiro
os portugueses e genoveses, depois, os flamengos e franceses.
Os genoveses, fortemente implantados na Andaluzia, participaram activamente, desde o século XIV,
no comércio da urzela e escravos do arquipélago. Este interesse comercial fê-los comprometerem-se
com o processo de conquista e conduziu ao reforço das suas actividades comerciais e da sua posição
na sociedade nascente. Desalojados das suas feitorias e cidades no Mediterrâneo, impedidos de aí
comerciar pelos árabes e pelas rivalidades políticas dos seus irmãos, procuraram no Mediterrâneo
Atlântico o lugar ideal para assentar a sua morada. A Madeira, Gran Canaria e Tenerife foram,
assim, nos séculos XV e XVI, a sua pátria atlântica, onde se fixaram como vizinhos, tornando-se em
poderosos proprietários, mercadores e prestamistas. De entre estes e outros estrangeiros de diversas
proveniências podemos identificar três tipos, de acordo com o modo de fixação: 1. Conquistadores
que se tomam parte activa nas conquistas das Canárias, como guerreiros e financiadores das
expedições; 2. Povoadores, que surgem após a conquista, usufruindo dos incentivos inerentes ao
processo de ocupação; 3. Mercadores, solicitados pelo desenvolvimento das relações de troca
locais, que surgem temporariamente, dedicando-se ao comércio de manufacturas e açúcar, apoiados
na intervenção dos seus compatrícios aí residentes.
Conquistadores e povoadores adquiriram importância na sociedade nascente, em Tenerife e Gran
Canaria, tornando-se nos mais importantes hacendados, como Cristóbal Ponte e Tomás Justiniano,
que em Tenerife como são os mais ricos a seguir aos Lugo. F. Clavijo Hernandez considera que a
ilha de Tenerife foi o centro mercantil dos genoveses. Estes financiaram a conquista e a plantação e
safra dos canaviais. Inclui-se aqui, para Gran Canaria, Francisco Riberol, Antonio Manuel
Mayuello, Bautista Riberol e Jacome Sopranis. A sua importância fica revelada pela posse do
patronato de capela maior do convento de S. Francisco e pela designação de uma rua - calle de los
genoveses. Tal como na Madeira, alargaram o seu poder à vida administrativa local, como
funcionários ou rendeiros dos direitos reais. É o caso de Juan Leandro e Luis de Couto, que em
1524 era o arrendatário das terças reais.
A este grupo de vizinhos juntou-se outro mais numeroso de estantes. O número de mercadores
genoveses referenciados em Gran Canaria sob este título, de acordo com a enumeração de
Guilherme Camacho y Pérez Galdos, é quatro vezes superior ao dos vizinhos. Ao invés, em Tenerife
os vizinhos representam 57%. A primeira situação explica-se pelo facto de a maioria se dedicar ao
comércio de exportação de açúcar e à importação de manufacturas, o que implicava um movimento
assíduo nas ilhas e entre esta e a Europa. Estes, na sua maioria, tinham as lojas instaladas na costa
andaluza, mantendo uma rede de negócios em todo o mundo atlântico, servindo-se para isso dos
familiares, feitores ou procuradores. Francisco Riberol, por exemplo, um dos mais importantes
mercadores genoveses, residia ora em Sevilha, ora em Gran Canaria, tendo, aliás, nesta ilha grandes
interesses na economia açucareira. Os genoveses são na sociedade canária como os mais
representativos da comunidade italiana, não obstante a presença activa dos lombardos e dos
florentinos nas operações financeiras. Entre estes últimos sobressaem Juanoto Berudo, florentino e
conquistador de La Palma e Jacome de Carminátis, lombardo, que aliava o comércio à agricultura e
à actividade artesanal.
A comunidade flamenga assume igual importância na economia e sociedade canária. Não obstante a
intervenção isolada de um ou outro como mercador ou conquistador no século XV, eles só chegam
em força ao arquipélago nos começos do século XVI, adquirindo notoriedade a partir da década de
vinte. Atraídos pelo comércio do açúcar e das plantas tintureiras (pastel, urzela), estabeleceram uma
rota importante para a exportação. A sua actividade alargou-se a todos os sectores do mercado,
desde a venda em tenda à concessão de empréstimos em dinheiro e mercadoria, ao comércio externo
das ilhas. Deste modo, criaram uma importante rede de negócios no arquipélago, a partir das ilhas
de Gran Canaria, La Palma e Tenerife. Esta última atraiu maior número de mercadores dos países
baixos, tendo-se afirmado como principal pólo de fixação e manobra. Eles são maioritariamente
visitantes, sendo reduzido o número com morada fixa. O mercador flamengo, com a mesma
facilidade que o genovês, penetrou na sociedade insular adquirindo o estatuto de vizinho,
relacionando-se com as principais famílias e comandando os activos circuitos comerciais com as
cidades de origem - Bruges e Anvers. Apenas em La Palma surge uma pequena comunidade fixa
com forte implantação no meio sócio-económico da ilha. Em primeiro lugar tivemos a intervenção
dos Welsers na economia canária por intermédio de Juan Bisen e Jácome de Monteverde, investindo
capitais no sector produtivo com a compra de importantes terrenos em Tazacorte e los Llanos.
Jácome de Monteverde, ao adquirir a titularidade deste património fundiário tornou-se um dos
principais proprietários do arquipélago. A ele juntaram-se em 1562 os Van de Walle que aí fixaram
morada e adquiriram terrenos. Esta família conduziu à valorização das rotas comerciais das
Canárias com a Flandres. O mercador flamengo, com a mesma facilidade que o genovês, penetrou
na sociedade insular adquirindo o estatuto de vizinho, relacionando-se com as principais famílias e
comandando os activos circuitos comerciais com as cidades de origem - Bruges e Anvers.
Nas Canárias as companhias não surgem apenas no sector comercial, pois esta forma de associação
alarga-se também ao sector produtivo e aos transportes. É de referir em especial, no sector
produtivo, a aquisição em 1513, pelos Welsers, de importantes canaviais em Tazacorte (La Palma),
que depois trespassaram aos seus agentes, Juan Bissan e Jácome de Monteverde. Em Gran Canaria
são frequentes os contratos de companhia entre os lavradores de açúcar e os mercadores ou mesmo
entre os primeiros e os canavieiros. Estas actuaram também de modo diverso em três partes distintas
- mercado europeu nórdico e mediterrânico, no litoral africano e no litoral americano. Nas praças de
Las Palmas, Santa Cruz e Garachico formam-se sociedades, compostas por mercadores locais e
forasteiros, com o objectivo de comerciar nas três partes. Geralmente chegavam aí a partir de
Sevilha e Cadiz, subestabelecendo-se por feitores ou procuradores. Com os mesmos objectivos
surgiu em 1536 outra companhia, fundada por três mercadores de Barcelona, que pretendia
comerciar o açúcar das Canárias e escravos, tendo Cádiz como centro de redistribuição. A estes
seguiu-se, em 1574, nova iniciativa de mercadores de Barcelona com idêntico objectivo.
Nesta trama de relações comerciais entre a Andaluzia e as Ilhas Canárias dominam acima de tudo,
as companhias de familiares, em que se conjugavam os laços de parentesco com os comerciais. As
principais casas italianas, flamengas e andaluzas, organizadas ou não em sociedade,
subestabeleciam familiares seus nas principais praças destas ilhas, nomeadamente em Las Palmas,
Garachico e Santa Cruz. Aí encontramos os Sopranis, Coronas, Veintinigla, etc.
Em Gran Canaria, no primeiro quartel do século XVII, o panorama da comunidade mercantil
envolvida no comércio de açúcar muda de figurino, assim, à menor persistência dos genoveses
junta-se a ausência inglesa e reduzida presença dos flamengos, isto determinado pela conjuntura
política.

O CONSUMO DO AÇÚCAR. O princípio fundamental que regeu o movimento de circulação do


açúcar foi a necessidade de suprir as carências de alguns mercados europeus, em substituição do
oriental, cada vez mais de difícil acesso. Esta conjuntura impôs a nova cultura no espaço atlântico e
ditou as regras do seu mercado. Deste modo o consumo interno de açúcar é uma exigência tardia,
gerada por novos hábitos alimentares ou das contingências do mercado do produto. Neste último
caso assume importância o dispêndio de açúcar na industria de conservas e casca como resultado da
solicitação dos veleiros que demandavam o Funchal.

O DISPENDIO DO AÇÚCAR DOS DIREITOS. O açúcar e derivados dele que se produziam na


Madeira tinham um consumo variado. Assim a maior e melhor qualidade era canalizada para a
exportação aos principais mercados estrangeiros. Do açúcar laborado há que distinguir aquele que
pertence aos proprietários de canaviais e engenho e o que é da coroa, por arrecadação do
almoxarifado dos quartos ou da Alfândega, resultante dos direitos que oneravam a produção
(quarto/quinto/oitavo) e saída na Alfândega (dízima). Enquanto a cobrança deste último era feita
directamente nas alfândegas do Funchal e Santa Cruz, o primeiro poderia ser recolhido pela
estrutura institucional criada para o efeito  o almoxarifado dos quartos (1485-1522)  ou o cargo
da anterior. Ainda, nesta situação poderia suceder a sua arrecadação por contratadores,
maioritariamente estrangeiros, que oscilava entre as 18.507 e 31.876 arrobas entre 1497 e 1506.

Este açúcar arrecadado pela coroa, tal como nos elucida F. J. Pereira, era gasto em despesas
ordinárias, na carregação directa e nas vendas feitas aos mercadores e/ou sociedades comerciais. Na
primeira despesa estavam incluídos, a redízima dos capitães, os gastos pessoais do monarca, da
Casa Real, as esmolas, para além das despesas com os soldos dos funcionários, do transporte e
embalagem do açúcar. Esta despesa variou entre as 1.070 e 2.114 arrobas, sendo a média anual no
período de 1501 a 1537 de 1622 arrobas. No caso das esmolas é de realçar as que se faziam às
Misericórdias  Funchal (1512), Ponta Delgada em S. Miguel (1515), Todos os Santos em Lisboa
(1506 -, Conventos - Santa Maria de Guadalupe (1485), Jesus de Aveiro (1502), Conceição de
Évora. A par disso também se regista a utilização temporária destes lucros arrecadados pela Coroa
no custeamento das despesas com os socorros às praças africanas ou no provimento das armadas. A
contrapartida estará na política de ofertas estabelecida por D. Manuel I, que em muito contribuiu
para o enriquecimento do património artístico da Madeira.

AS CONSERVAS E DOÇARIA. Parte significativa do açúcar produzido na ilha, e mais tarde


importado do Brasil, era usado no fabrico de conservas e de doçaria. São vários os testamentos
denunciadores da mestria dos madeirenses no fabrico destes produtos. Em meados do século quinze
Cadamosto refere a feitura de "muitos doces brancos perfeitíssimos", enquanto em 1567 Pompeo
Arditi dá conta da "conserva de açúcar" que se fazia no Funchal "de óptima qualidade e muita
abundancia". E, esta tradição perpetuou-se na ilha para além do fulgor da produção açucareira local
pois, segundo Hans Sloane em 1687, o madeirense produzia "açúcar indispensável aos gastos
caseiros e ao fabrico de doces, indo ainda comprá-lo ao Brasil". Dois anos após John Ovington
refere a indústria da conserva de citrinos que se exportava para França. Tal como se deduz de um
documento de 1469 o fabrico de conservas era indústria importante para a sobrevivência de muitas
famílias, uma vez que ocupava "molheres de boas pesoas e muytos pobres que lavraram os
açuquares bayxos em tamtas maneyras de conservas e alfeni e confeitos de que am grandes
proveytos que dam remedio a suas vidas e dam grande nome a terra nas partes onde vam...". Os
livros do quarto e quinto do açúcar informam-nos sobre o dispêndio que dele se fazia no fabrico de
conservas, frutas seca e marmelada. Nisso gastaram-se cerca de quatrocentas arrobas de açúcar de
vários tipos, sendo na sua maioria para consumo dos proprietários do referido açúcar.

A fama da arte da confeitaria madeirense espalhou-se por toda a Europa e teve o seu expoente
máximo na embaixada enviada por Simão Gonçalves da Câmara ao Papa. Segundo Gaspar Frutuoso
compunha-se de "muitos mimos e brincos da ilha de conservas, e o sacro palácio todo feito de
assucar, e os cardiais todos feitos de alfenim, dornados a partes, o que lhes dava muita graça, e
feitos de estatura de hum homem". São vários os testemunhos denunciadores da mestria dos
madeirenses no fabrico destes produtos. Segundo Hans Sloane em 1687 o madeirense produzia
"açúcar indispensável aos gastos caseiros e ao fabrico de doces, indo ainda comprá-lo ao Brasil".
Dois anos depois John Ovington refere a indústria da conserva de citrinos ou cidra que se
exportavam para a França e Holanda. A cidra existia em abundância na Ponta de Sol, Ribeira Brava,
Machico e Câmara de Lobos (Ribeira dos Socorridos), quase desaparecendo em finais do século
XVIII e arrastando inevitavelmente esta industria para o seu fim.

Um dos factores de promoção desta indústria ao nível das conservas foi a importância assumida
pelo Funchal como porto de escala de abastecimento para a navegação atlântica. Muitas
embarcações aportavam aí com o intuito de se fornecerem de conservas de citrinos para a sua dieta
de bordo. Mas, sem dúvida, o consumidor preferencial das conservas e doçaria madeirense era a
Casa Real portuguesa. D. Manuel foi o seu consumidor preferencial e aquele que divulgou as suas
qualidades na Europa. Assim ficaram como o seu principal presente, dentro e fora do reino, sendo o
seu exemplo seguido por Vasco da Gama, que também ofertou o xeque de Moçambique com
conservas da ilha. No período de 1501 a 1561 a Casa Real consumiu 1129 arrobas e 58 barris de
açúcar em conservas e frutas secas. A par disso o rei havia estabelecido a partir de 1520 o envio
anual de 10 arrobas de conserva para o feitor de Flandres.

Esta indústria manteve-se por todo o século XVII, suportada com o pouco açúcar da produção local
ou com as importações dele do Brasil. Neste último caso sabe-se que em 1680 foram importadas
2.575 arrobas para o fabrico de casca. Aliás, de acordo com uma informação dada ao governador da
ilha, D. António Jorge de Melo referia-se que "é a casquinha negócio muito grande porque há anno
que se carregão com aquella terra mais de 20 embarcações de hum so doce para o qual he necesareo
comprar assucar da terra ou mandalo vir do Brasil". A correspondência de William Bolton refere-nos
que a conserva de citrinos estava em grande prosperidade na década de noventa do século XVII,
sendo usada para o abastecimento das embarcações que demandavam a ilha, ou exportadas para
Lisboa, Holanda e França.

Parte significativa desse movimento comercial pode ser reconstituída através da correspondência
comercial de dois mercadores: Diogo Fernandes Branco (1649-1652), William Bolton (1696-1715)
e Duarte Sodré Pereira (1710-1712).

Diogo Fernandes Branco parece ter sido o principal interveniente do comércio com os portos
nórdicos, quase só baseado na exportação de casca e conservas. Para o curto período que dura a
correspondência é evidente a importância assumida pelo dito comércio. Assim em 1649, não
obstante o açúcar da produção local ser de mau qualidade, a falta de cidra e tardar a vinda dos
navios do Brasil, a procura manteve-se activa, gerando dificuldades aos fornecedores, como Diogo
Fernandes Branco, que tiveram que socorrer-se de todos os meios para poder satisfazer a
encomenda. A conjuntura conduziu inevitavelmente ao aumento do preço do produto. Esta situação
continuou de modo que em Novembro de 1651 carregaram na ilha 9 navios franceses. No ano
imediato inverteu-se a situação: a casca abundou e em Outubro ainda tardavam em chegar os navios
para a levar ao seu destino, o que era motivo para preocupação.

A correspondência de William Bolton refere-nos, também, que a conserva de citrinos estava em


grande prosperidade na década de noventa do século XVII, sendo usada para o abastecimento das
embarcações que demandavam a ilha, ou exportadas para Lisboa, Holanda e França.

Duarte Sodré Pereira surge, nos anos imediatos, como o continuador do comércio deste produto. A
sua actividade mercantil, neste lapso de tempo, esteve dedicada, também ao comércio do açúcar do
Brasil e à exportação de casca para o norte da Europa, nomeadamente, Amesterdão.

No fabrico das conservas e doces variados merecem a nossa atenção as freiras do Convento de
Santa Clara, da Encarnação e Mercês. Aliás, em 1687 Hans Sloane referia-se de forma elogiosa aos
doces e compotas que comeu no Convento de Santa Clara, e ao referir que "nunca vi coisas tão
boas". Num breve relance pelos livros de receita e despesa do Convento da Encarnação,
Misericórdia do Funchal, e Recolhimento do Bom Jesus, constata-se as assíduas despesas com a
compra de açúcar da ilha ou do Brasil para o consumo interno. A Misericórdia do Funchal para além
das esmolas que recebia em açúcar ou marmelada, consumia açúcar que comprava. Do primeiro
tanto se poderia dar aos doentes ou vender para fora. Em 1636 gastaram-se 6.180 réis na compra de
3 arrobas de açúcar para os doces da procissão das Endoenças. Ademais são conhecidas outras
despesas na compra de abóbora, ginjas, peras, marmelos para o fabrico de doce. Em 4 de Junho de
1700 a Misericórdia do Funchal gastou 101.500 réis na compra de 34 arrobas para o fabrico de
doces a serem consumidos ao longo do ano. Para o período de 1694 a 1700 a mesma instituição
gastou 634.400 réis na compra de 227 arrobas de açúcar e 14 canadas de mel.

Maior e mais assíduo foi o consumo de açúcar no Convento da Encarnação no período de 1671 a
1693. Aí, de acordo com o registo mensal dos gastos com as compras de produtos para a dispensa
do convento pode-se ficar com uma ideia da sazonalidade do consumo da doçaria, que consistia em
coscorões, batatada, talhadas, queijadas, arroz-doce e bolos. No caso deste convento destacam-se a
Quinta-Feira de Endoenças, Páscoa, Espírito Santo, Nossa Sra. Encarnação e do Carmo, Natal.
Nesta última festividade distribuía-se a cada freira, para a Consoada, 8 libras de açúcar. Além disso
parte significativa do açúcar de várias qualidades, era usado para o "tempero do comer" e fazer
conserva. No total dispenderam-se 190 arrobas de açúcar por estes vinte e dois anos para um total
aproximado de seis dezenas de recolhidas.

Extintos os conventos quase que também desapareceu a tradição da doçaria. Hoje, o único
testemunho que resta dessa importante industria do doce madeirense é o bolo de mel. O alfenim
manteve-o a tradição dos ex-votos das festas do espírito Santo na ilha Terceira, único local onde
ainda persiste esta tradição.

O açúcar é de todos os produtos resultantes da guarapa aquele que requer um mais demorado
período de laboração e uma requintada e custosa tecnologia. Mais fácil se torna a extracção do mel e
aguardente. Neste sentido, o regresso da cana no século XIX fez-se mais por esta aposta na
necessária produção de aguardente, tão necessária para a industria viti-vinicola, não obstante as
medidas impostas no sentido de uma produção equilibrada de aguardente, álcool e açúcar. O
tratamento do vinho para exportação fazia-se no início com aguardentes de fora, depois queimaram-
se os vinhos de inferior qualidade, a que se seguiu o recurso a aguardente de cana. Note-se que em
1865 os quatro engenhos em laboração são usados apenas para o fabrico de aguardente.

Esta abundância de aguardente levou ao consumo desusado, provocando graves problemas


sanitários na ilha pelo que as autoridades foram obrigadas a intervir para o seu controle, procurando
retirar-lhe o epíteto de ilha da aguardente. Foi essa a função do decreto de 11 de Março de 1911 que
procurou estabelecer um travão, com a expropriação das fábricas de aguardente não matriculadas.
Todavia, a quebra dos compromissos deste decreto levou a que as fábricas de aguardente se
mantivessem. A machadada final nas fábricas de aguardente foi dada em 1928 com a criação da
Companhia da Aguardente da Madeira, que detêm o contrato exclusivo de produção de aguardente
por vinte e cinco anos. Esta medida, saudada por muitos, que tinha como objectivo reduzir o
consumo da aguardente, conduziu inevitavelmente ao encerramento das fábricas de aguardente.

O COMÉRCIO DO OURO BRANCO . O comércio do açúcar destaca-se no mercado madeirense


dos séculos XV e XVI como o principal animador das trocas com o mercado europeu. Durante mais
de um século a riqueza das gentes da ilha e o fornecimento de bens alimentares e artefactos
dependeu do comércio do produto. O mesmo sucedeu nas Canárias, a partir do século XVI. Todavia,
neste período a sua venda e valor sofreram diversas oscilações, mercê da conjuntura do mercado
consumidor e da concorrência dos mercados insulares e americanos.
O dispêndio do açúcar do lavrador fazia-se de forma diversificada. As vendas directas aos
mercadores, muitas vezes de antemão, associam-se os pagamentos de dívidas ou por trocas de
produtos e serviços. Na Madeira, os livros do quarto e do quinto, como forma de controlo dos
direitos em jogo, contabilizam o modo como os lavradores dispendiam o seu açúcar. Nas Canárias
são os diversos contratos existentes nos protocolos notariais. A partir daqui poderá saber-se quem
eram os principais compradores, como testemunhar do seu uso no pagamento de serviços. Apenas
para a Madeira, na primeira metade do século dezassete é possível estabelecer com clareza essa
forma de dispêndio do açúcar conseguido por proprietários de canaviais e engenhos. No global
tivemos cerca de 81.280 arrobas distribuídas por 2.492 compradores. A tendência é para a
disseminação pelos pequenos compradores, acabando com os interesses monopolistas de algumas
casas comerciais, que haviam dominado o comércio na época de apogeu.
Note-se que o lavrador de canas e o proprietário do engenho serviam-se usualmente do produto da
sua safra para o pagamento da mão de obra assalariada que necessitavam. Entre 1509 e 1537 há
referência a diversos pagamentos em açúcar por serviços prestados na lavoura e laboração do
engenho e, mesmo na compra de qualquer manufactura ou prestação de serviço artesanal. O
pagamento dos serviços da safra do açúcar atingem 31,41%, sendo 16,62% no cultivo e apanha da
cana e 14,59%, sendo dominados pelos sapateiros (27,62%) e ferreiros (24,48%). Por fim, registe-se
que esta distribuição diversificada dos lucros acumulados por proprietários de canaviais e
mercadores de açúcar contribuiu para um manifesto progresso da sociedade madeirense no século
dezasseis, com evidentes reflexos no quotidiano e panorama artístico e arquitectónico.
É de salientar nas Canárias a antecipação do dinheiro ou produtos pelos mercadores aos lavradores a
troco da entrega do açúcar na altura da safra, o que permitia uma perfeita vinculação ou
subordinação do sector produtivo. Também aqui, não obstante algumas posturas limitativas, os
pagamentos dos trabalhadores da safra fazia-se em açúcar o que permitia uma redistribuição do
produto entre os seus diversos intervenientes. E no caso de Tenerife, aos poucos e poucos, passou a
servir de meio de pagamento e de troca.
O açúcar foi, durante mais de um século, o principal activador das trocas da Madeira com o exterior.
As dificuldades sentidas com a penetração no mercado europeu levaram a coroa a intervir no
sentido de manter um comércio controlado, que a partir de 1469 passou a ser feito sob o permanente
olhar do senhorio e coroa. A situação manteve-se até 1508, altura em que a coroa aboliu o regime de
contrato. A partir de uma das medidas tomadas pela coroa (o contingentamento de 1498) para defesa
do mercado do açúcar madeirense poder-se-á fazer uma ideia dos principais mercados
consumidores. As praças do mar do norte dominavam o comércio, recebendo mais de metade das
escápulas estabelecidas: aqui a Flandres adquire uma posição dominante, o mesmo sucedendo com
os portos italianos para o espaço mediterrânico. Se compararmos estas escápulas com o açúcar
consignado às diversas praças europeias no período de 1490 e 1550, verifica-se que o roteiro não
estava muito aquém da realidade. As únicas diferenças relevantes surgem nas Praças da Turquia,
França e Itália, sendo de salientar na última um reforço acentuado de posição, que poderá resultar da
actuação das cidades italianas como centros de redistribuição no mercado levantino e francês.
Os dados disponíveis para o comércio do açúcar na Madeira evidenciam a constância dos mercados
flamengo e italiano. O reino, circunscrito aos portos de Lisboa e Viana do Castelo surge em terceiro
lugar com apenas 10%. Observe-se que o porto de Viana do Castelo adquiriu, desde 1511, grande
importância neste circuito e daí com Espanha e Europa nórdica. Aliás, no período de 1581 a 1587
Viana é o único porto do reino mencionado nas exportações de açúcar, mantendo, todavia, uma
posição inferior à 1490-1550. Esta função redistribuidora dos portos a norte do Douro ficara, já
evidenciada entre 1535 e 1550, pois das cinquenta e seis embarcações entradas no porto de
Antuérpia com açúcar da Madeira, dezasseis são do norte e apenas uma de Lisboa. Na primeira 50%
são provenientes de Vila do Conde, 31% do Porto e 19% de Viana do Castelo. Aliás, em 1505 o
monarca considerava que os naturais desta região tinham muito proveito no comércio do açúcar da
ilha. Em 1538 este trato era assegurado por um numeroso grupo de grupos de mercadores daí
oriundos. Entre eles estavam Aires Dias, Baltazar Roiz, Diogo Alvares Moutinho e Joham de
Azevedo. O mesmo sucede nas trocas com o mundo mediterrânico onde se contava com os
entrepostos de Cádiz e Barcelona, que surgem no período de 1493 a 1537 com os portos de apoio ao
comércio com Génova, Constantinopla, Chios e Águas Mortas.
Os dados da exportação para o período de 1490 a 1550, testemunham esta realidade: a Flandres
surge com 39% e a Itália com 52%. Todavia, é de salientar a posição dominante dos mercadores
italianos na condução deste açúcar, uma vez que eles foram responsáveis pela saída de 78% do
açúcar. Note-se que no início foram inúmeras as dificuldades para a presença de estrangeiros.
Somente a partir da década de oitenta do século XV surgiram os primeiros como vizinhos, que se
comprometeram com a cultura e comércio do açúcar. Para a segunda metade do século dezasseis
escasseiam os dados sobre o comércio do açúcar madeirense. Somente entre 1581 e 1587 temos
nova informação. Neste período a ilha exportou 199.300 arrobas de açúcar para o estrangeiro e 4830
para o porto de Viana do Castelo.
A partir de princípios do século XVI o comércio do açúcar diversifica-se. A Madeira que na centúria
de quatrocentos surgira como o único mercado de produção, debater-se-á, a partir de finais desse
século, com a concorrência do açúcar das Canárias, de Berberia, de S. Tomé e, mais tarde, do Brasil
e das Antilhas. Esta múltipla possibilidades de escolha, por parte dos mercadores e compradores,
condicionou a evolução do comércio açucareiro. Todavia, o açúcar madeirense manteve uma
situação preferencial no mercado europeu (Florença, Anvers, Ruão), sendo o mais caro. Talvez,
devido a este favoritismo encontramos com frequência referências à escala na Madeira de
embarcações que faziam o seu comércio com as Canárias, Berberia e S. Tomé. Esta situação
deveria, de igual modo, explicar a venda de açúcar madeirense em Tenerife, no ano de 1505.
O comércio açucareiro na primeira metade do século XVI era dominado na Europa do Norte pelas
ilhas e litoral do Atlântico, nomeadamente, entre as primeiras, a Madeira, Tenerife, Gran Canaria e
La Palma. Assim, na década de trinta os navios normandos ocupados neste comércio dirigiam-se
preferencialmente a esta área. Convém anotar que a maioria das embarcações que rumavam a
Marrocos, com escala na Madeira à ida e no regresso, o que valorizou a Madeira no comércio com a
Normandia. A situação dominante do mercado madeirense perdurou nas décadas seguintes, não
obstante a forte concorrência da ilha de S. Tomé que se firmou, entre 1536 e 1550, como o principal
fornecedor de açúcar à Flandres. Todavia, esta posição cimeira da ilha de São Tomé só é patente a
partir de 1539.
A Madeira, que até à primeira metade do século dezasseis havia sido um dos principais mercados do
açúcar do Atlântico, cede lugar a outros (Canárias, S.Tomé, Brasil e Antilhas). Deste modo as rotas
desviam-se para novos mercados, colocando a ilha numa posição difícil. Os canaviais foram
abandonados na quase totalidade, fazendo perigar a manutenção da importante industria de
conservas e doces. O porto funchalense perdeu a animação que o caracterizara noutras épocas. É
aqui que surge o arquipélago vizinho. O comércio canário, baseado nos mesmos produtos que o
madeirense, será um forte concorrente na disputa dos mercados nórdico e mediterrânico. Os
produtos dos dois arquipélagos surgem, lado a lado, nas praças de Londres, Anvers, Ruão e Génova.
A única vantagem do madeirense resultava de ter sido o primeiro a penetrar com o açúcar e o vinho
no mercado europeu, ganhando a preferência de muitos vendedores e consumidores.
O comércio com as principais praças europeias fazia-se com assiduidade a partir das ilhas de Gran
Canaria e Tenerife. Este movimento comercial adquiriu uma importância primordial nas trocas
externas do arquipélago uma vez que no período de 1549 a 1555 há notícia de cinquenta e oito
partidas ou chegadas de navios no percurso de Anvers às Canárias. Segundo A. Cioranescu o
comércio da ilha de Tenerife fazia-se com maior assiduidade com os Países baixos, sendo apenas
limitado pelas guerras e conflitos religiosos. Contudo o tráfico mais importante do porto de Santa
Cruz orientava-se no sentido da Inglaterra, baseando-se na oferta de vinho e urzela, resultado,
certamente da abertura do porto de Bristol ao tráfico com as Canárias, proposta em 1538 por Carlos
V. Em Gran Canaria o comércio nórdico, nomeadamente com a Flandres, estava em função do
açúcar, no entanto os flamengos só surgem aí a partir de 1532 e, com toda a pujança, na década de
cinquenta. A ilha recebia uma variedade de produtos manufacturados de que sobressaem os tecidos
de diversas qualidades, oriundos dos mercados de Anvers, Ruão, Holanda e Gante. Estes produtos
eram trocados com dinheiro e açúcar por mercadores genoveses e flamengos, distinguindo-se neste
grupo Bernardino Anehesi, Jerónimo Lerca, Lamberto Broque, Sébastian Búron e Jerónimo
Fránquez.
O açúcar canário oriundo de Tenerife, Gran Canária, La Palma e La Gomera, surge no mercado
europeu a partir de princípios do século XVI. A comunidade italiana, residente em Cádiz e Sevilha e
com intervenção activa no arquipélago, traçou as rotas deste comércio com o mar do Norte e o
Mediterrâneo. A sua activação nas primeiras décadas do século XVI condicionou a presença de
mercadores peninsulares e estrangeiros, que se instalaram em Tenerife, Gran Canaria e La Palma.
O porto de Cádiz, importante praça comercial peninsular, funcionou como centro de redistribuição e
comércio no Mediterrâneo. A conquista do mercado nórdico é mui posterior, mercê do forte
enraizamento deste mercado no comércio e consumo do açúcar madeirense. A primeira carga de
melaço canário enviada a Antuérpia, em 1512, não foi do agrado dos eventuais clientes. Somente a
partir da década de trinta o açúcar canário agradou em pleno ao gosto flamengo, beneficiando para
isso da quebra do açúcar madeirense e da presença da comunidade flamenga no arquipélago. O trato
com as praças nórdicas era assegurado, em parte, pelos portugueses de Vila do Conde, Lisboa e
Algarve, que faziam valer a maestria e experiência, adquiridas no trato do açúcar da Madeira. Em
síntese, a colónia italico-flamenga, residente ou estante nas ilhas de Gran Canaria e Tenerife, foi o
principal elo de ligação aos mercados de comércio e consumo do açúcar. Aqui, como na Madeira,
ambas as comunidades esqueceram os antagonismos religiosos para se unirem em prol duma causa
comum, o comércio do açúcar, repartindo entre si o domínio do mercado açucareiro.
Não é fácil estabelecer uma ideia sobre este comércio de açúcar das Canárias, mais uma vez faltam
dados credíveis para o testemunhar. Mesmo assim é possível compilar alguns que podem ilustrar
essa realidade para as ilhas de Gran Canaria e Tenerife.
Os contratos de fretamento de navios para o transporte de açúcar evidencia que o mercado
peninsular - dominado por Sevilha e Cádiz - e o principal destino das embarcações e não o terminus
do seu percurso, uma vez que estes pontos, a exemplo do que sucedeu em Portugal com Viana do
Castelo e Lisboa serviram de entreposto para a colocação do produto nos mercados nórdicos e
mediterrânico. Certamente que o reduzido número de embarcações e destino à península itálica
deve-se a isso mesmo. Note-se que, quer genoveses, quer florentinos fizeram das cidades
peninsulares bases para a afirmação no mercado atlântico. No caso da Flandres é significativa a
presença de contactos directos o que prova uma estratégia distinta.
A valorização dos portos peninsulares torna-se mais evidente quando somos confrontados com o
volume do açúcar transportado. Cádiz é indiscutivelmente o grande mercado do açúcar de Canárias.
Numa posição modesta surgem os postos de Flandres, França e Itália. Em Gran Canaria, os
mercados franceses e da Flandres, dominados por Ruão e Amberes, não consomem só açúcar
branco, pois registam-se outras variedades como o de panela, remel e a conserva.
A solução possível para debelar a crise da industria açucareira madeirense, desde a segunda metade
do século dezasseis, foi o recurso ao açúcar brasileiro, usado no consumo interno ou como animador
das relações com o mercado europeu. Por isso os contactos com os portos brasileiros adquiriram
uma importância fundamental nas rotas comerciais madeirenses do Atlântico Sul. Tal como o refere
José Gonçalves Salvador as ilhas funcionaram, no período de 1609 a 1621, como o “trampolim para
o Brasil e Rio da Prata”. É o mesmo quem esclarece que este relacionamento poderia ter lugar de
modo directo, ou indirecto, sendo este último rumo através de Angola, S. Tomé, Cabo Verde ou
Costa da Guiné. Aqui definia-se um circuito de triangulação, de que são exemplo as actividades
comerciais de Diogo Fernandes Branco, no período de 1649 a 1652. Note-se que desde finais do
século dezasseis estava documentado o comércio do açúcar, servindo os portos do Funchal e Angra
como entrepostos para a sua saída legal ou de contrabando para a Europa.
Este comercio do açúcar do Brasil, por imperativos da própria coroa ou por solicitação dos
madeirenses, foi alvo de frequentes limitações. Assim em 1591 ficou proibida a descarga do açúcar
brasileiro no porto do Funchal, medida que não produziu qualquer efeito, pois em vereação de 17 de
Outubro de 1596 foi decidido reclamar junto da coroa a aplicação plena de tal proibição. Desde
1596 é evidente uma activa intervenção das autoridades locais na defesa do açúcar de produção
local, prova evidente de que se promovia esta cultura. Em Janeiro deste ano os vereadores proibiram
António Mendes de descarregar o açúcar de Baltazar Dias. Passados três anos o mesmo surge com
outra carga de açúcar da Baía, sendo obrigado a seguir o seu porto de destino, sem proceder a
qualquer descarga. O não acatamento das ordens do município implicava a pena de 200 cruzados e
um ano de degredo. Esta situação repete-se com outros navios nos anos subsequentes até 1611: Brás
Fernandes Silveira em 1597, António Lopes, Pedro Fernandes o grande e Manuel Pires em 1603,
Pero Fernandes e Manuel Fernandes em 1606 e Manuel Rodrigues em 1611.
A constante pressão dos homens de negócio do Funchal envolvidos neste comercio veio a permitir
uma solução de consenso para ambas as partes. Em 1612 ficou estabelecido um contrato entre os
mercadores e o município em que os primeiros se comprometiam a vender um terço do açúcar de
terra. Note-se que desde 1603 estava proibida a compra e venda deste açúcar, sendo os infractores
punidos com a perda do produto e a coima de 200 cruzados. Mas a partir de Dezembro de 1611
ficou estipulado que a venda de açúcar brasileiro só seria possível após o esgotamento do da terra.
Para assegurar este controlo, os escravos e barqueiros foram avisados que, sob pena de 50 cruzados
ou dois anos de degredo para África, não poderiam proceder ao embarque de açúcar sem
autorização da câmara. Em 1657 a proporção de cada açúcar era de metade.
Após a Restauração da independência de Portugal o comércio com o Brasil foi alvo de múltiplas
regulamentações. Primeiro foi a criação do monopólio do comércio com o Brasil, através da
Companhia para o efeito criada, depois o estabelecimento do sistema de comboios para maior
segurança da navegação. A esta situação, estabelecida em 1649, ressalva-se o caso particular da
Madeira e Açores, que a partir de 1650 passaram a poder enviar, isoladamente dois navios com
capacidade para 300 pipas com os produtos da terra, que seriam depois trocados por tabaco, açúcar
e madeiras. Mais tarde, ficou estabelecido que os mesmos não podiam suplantar as 500 caixas de
açúcar. O movimento das duas embarcações da Madeira fazia-se com toda a descrição, conforme
recomendava o Conselho da Fazenda, mediante as licenças e a sua entrega deveria ser feita no
sentido de favorecer todos os mercadores da ilha. Alguns destes navios, fora do número estabelecido
para a ilha, declaram sempre serem vitimas de um naufrágio ou de ameaças de corsários, o que não
os impedem de descarregarem sempre algumas caixas de açúcar. Será esta uma forma de iludir as
proibições estatuídas ? Todavia os infractores sujeitavam-se a prisão.
Nas Canárias para o século XVII, só temos dados sobre o movimento de exportação de açúcar da
Ilha de Gran Canaria no primeiro quartel da Centúria dominado pela França e Flandres e portos Cádiz e
Sevilha.Neste momento é bastante evidente uma inversão nos mercados de destino aqui
comandados por Sevilha e os portos franceses.

Após a Restauração da independência de Portugal o comércio com o Brasil foi alvo de múltiplas
regulamentações. Primeiro foi a criação do monopólio do comércio com o Brasil, através da
Companhia para o efeito criada, depois o estabelecimento do sistema de comboios para maior
segurança da navegação. A esta situação, estabelecida em 1649, ressalva-se o caso particular da
Madeira e Açores, que a partir de 1650 passaram a poder enviar, isoladamente dois navios com
capacidade para 300 pipas com os produtos da terra, que seriam depois trocados por tabaco, açúcar
e madeiras. Mais tarde, ficou estabelecido que os mesmos não podiam suplantar as 500 caixas de
açúcar.

Desde meados do século XIX que o açúcar voltou a entrar paulatinamente nas exportações
madeirenses. Assim, em 1854 temos referência à saída de 238 Kg que passam para 527.883 em
1871.Não existem dados concludentes sobre o comércio do açúcar da ilha neste período, mas pelas
medidas que favoreciam a sua saída (em 1870-1887) sabemos da necessidade de garantir uma quota
de mercado nos Açores e Continente. No primeiro quartel da presente centúria o açúcar de produção
local era excedentário, sendo exportado para Lisboa. Após a segunda guerra mundial a produção do
açúcar não foi suficiente para cobrir as carências da ilha, tornando-se necessária a sua importação.
INVESTIMENTO E OSTENTAÇÃO

O Funchal foi, no decurso dos séculos XV e XVI, o principal centro do arquipélago. Desde os
primórdios da ocupação da ilha que o lugar como vila e desde 1508 como cidade foi o centro de
divergência e convergência dos interesses dos madeirenses. À sua volta anichou-se um vasto
hinterland agrícola, ligado por terra e mar.
O povoado, traçado por João Gonçalves Zarco, começou por ser a sede da capitania do mesmo
nome mas, a riqueza do vasto hinterland projectou-o para ser a primeira e única cidade e porto de
ligação ao mundo. Machico perdeu a batalha, porque os seus capitães não foram capazes de
acompanhar o ritmo dos funchalenses.

O progresso e importância do Funchal foi rápido. De vila passou a cidade e sede do primeiro
bispado e, depois arcebispado, das terras atlânticas portuguesas.
Tudo isto levou a que no terreno evoluí-se o traçado urbanístico e a construção de imponentes
edifícios. As palhotas, dispostas de modo anárquico, vão dando lugar a casas assoalhadas, alinhadas
ao longo de arruamentos paralelos à costa e em torno da praça que domina o templo religioso. O
capitão, de Santa Catarina, avançou encosta acima até se fixar no alto das Cruzes, no espaço
dominado pelo actual Museu da Quinta das Cruzes. Do outro lado, no Cabo do Calhau, surgiu o
burgo popular, dominado pelo mar e pela rua que o ligava a ermida de Nossa Senhora da Conceição
de Baixo. Foi a partir daí que avançou aquilo a que mais tarde veio a ser a cidade. Do nicho do cabo
do Calhau, passou-se a Ribeira Santa Maria (hoje de João Gomes) e aos poucos conquistou-se
espaço aos canaviais para traçar ruas e erguer casas de sobrado. O próprio duque, D. Manuel, deu o
exemplo, doando em 1485 o seu chão de canaviais, conhecido como campo do Duque, para nele ser
traçada uma praça, construir-se a igreja, Paços do Concelho, de tabeliães e Alfândega. Ligando tudo
isto estava a Rua dos Mercadores, hoje da Alfândega, donde partiram novos arruamentos que deram
espaço e vida ao quotidiano dos mercadores. São exemplo disso a Rua do Sabão, João Esmeraldo.

Perante nós estão dois percursos convergentes. Dum lado o capitão que avança pelo extremo
ocidental do vale até ao alto das Cruzes e depois desce até à cidade manuelina. Do outro os
companheiros do navegador, a gente obreira, que mantêm o convívio com o mar, avançando ao
longo da linha da água ao encontro da cidade dos mercadores e artesãos.

A visita poderá iniciar-se no cabo do Calhau, hoje considerado a zona Velha da Cidade. Do largo,
que domina a Capela do Corpo Santo, uma construção do século XV, alvo de inúmeras alterações,
onde se assentou a confraria de S. Pedro Gonçalves Telmo - santo padroeiro dos homens do mar -, é
possível visualizar algumas habitações térreas, próximas daquelas palhaças do século XV. Ao fundo
a fortaleza de São Tiago, construída no período da dominação filipina para remate da cortina da
muralha que defendia a cidade. Hoje aberga um Museu de Arte Contemporânea.

A viagem avança ao longo da Rua de Santa Maria que desemboca no Largo da Feira. Aqui ficou, por
algum tempo, o centro de atenções do primitivo povoado: o poço de abastecimento de água, a
primeira igreja paroquial de Nossa Senhora do Calhau, destruída pela aluvião de 1803, e o hospital
da Misericórdia. Hoje, restam apenas vestígios do poço.

Ultrapassada a ribeira através da ponte, outrora de madeira mas agora de alvenaria, encontramo-nos
no Largo do Pelourinho. Aqui começou a cidade dos mercadores com a primeira alfândega,
mandada erguer em 1477 pela Infanta Dona Beatriz. Daqui partiu a Rua Direita(coincidindo com
actual traçado das ruas Direita e Ferreiros) e, depois, a dos mercadores que ligou o largo ao novo
centro da cidade: a Praça do Campo do Duque. A primitiva Alfândega desapareceu, o pelourinho foi
apeado em 1835 e o que lá existe agora é uma cópia recente de 1992.

Passada outra ponte e avançando pela Rua da Alfândega chega-se ao Largo dos varadouros,
fronteiro ao mar e à Praça Cristóvão Colombo. Esta praça foi construída em 1992 no espaço onde
outrora existiu a Casa de João Esmeraldo que, segundo a tradição, foi morada de Cristóvão
Colombo nos anos(1478-1481) que por cá passou. Hoje, todavia é sabido que a casa em 1495 ainda
estava em construção, sendo portanto posterior à primeira permanência do navegador na ilha.

Adiante, na mesma rua, está a Alfândega do Funchal, a nova construída a partir de 1508. O edifício
actual resulta do restauro feito para adaptação à Assembleia Legislativa Regional. Salvou-se o que
ainda restava da época manuelina: as Salas dos Contos e do Despacho com tecto hispano-árabe e
arcarias góticas. A capela anexa da invocação de Santo António é construção de 1714, feita por
ordem do Dr. João de Aguiar, Juiz desembargador.

Continuando o percurso chegamos ao final da Rua e depara-se perante nós o portão principal do
Palácio de S. Lourenço, actual residência do Ministro da República para a Madeira. É a expressão
do poder dos capitães e, depois, dos representantes do poder central. A construção do primitivo
baluarte é da primeira metade do século XVI, mas em 1566, em face do assalto dos corsários
huguenotes, reconheceu-se a inoperância do mesmo, tendo-se avançado com a sua total
transformação a cargo dos fortificadores Mateus Fernandes e Jerónimo Jorge, dando-lhe a forma do
desenho traçado em 1654 (?) por Bartolomeu João. No conjunto existente merece a nossa atenção,
no torreão leste, as armas manuelinas em cantaria da ilha e, no primeiro piso deste, a sala gótica
com abóbada de nervuras assentes, com cinco tramos e fechada por uma Cruz de Cristo. Ainda, à
entrada são de registar os retratos das autoridades da ilha: os capitães do Funchal, os capitães e
governadores gerais e os governadores civis.

Subindo a Avenida Zarco, deparamo-nos com a estátua de João Gonçalves Zarco da autoria do
escultor madeirense, Francisco Franco. O monumento foi pensado para a comemoração do quinto
centenário do descobrimento da ilha, que teve lugar em 1922, mas só foi inaugurado em 28 de Maio
de 1934.

Em frente no fim da Avenida Arriaga, ergue-se a Sé Catedral, mandada construir por D. Manuel para
servir de sede a paróquia e, depois, ao bispado do Funchal. O novo templo foi sagrado em 12 de
Junho de 1514, todavia, os trabalhos só ficaram concluídos em 1518. No interior merecem a nossa
atenção os retábulos do altar mor, o cadeirado, onde estão esculpidas cenas bíblicas e da vida
madeirense, e o tecto em cedro da terra.

Subindo a rua de João Tavira chega-se à do Bispo onde, no antigo Paço Episcopal, se encontra
instalado desde 1955 o Museu de Arte Sacra. O edifício primitivo é do século XVI e aí funcionou
até 1910 o Paço Episcopal, passando no período de 1913 a 1941 a liceu. Do recheio deste museu de
arte sacra, proveniente das igrejas de toda a ilha, chama a atenção do visitante a importante colecção
de pintura, escultura flamenga, ourivesaria oriunda das diversas igrejas da ilha.

Pintura: S. Tiago Menor, Descida da Cruz, S. Joaquim e Santa Ana, S. Nicolau, Adoração dos Reis
Magos, Anunciação.
Escultura: Deposição do Túmulo, A Virgem e o Menino, Sta Isabel, Nossa Senhora de Luz.
Ourivesaria: A Cruz processional do Funchal oferecida pelo rei D. Manuel a Sé.

Continuando a visita pela rua das Pretas chegámos ao princípio da Calçada de Santa Clara, onde se
situa um importante núcleo museológico da cidade. Primeiro o Museu Municipal, onde é possível
tomar contacto com o meio natural madeirense. No rés-do-chão deste antigo palácio da família
Ornelas, funciona o Arquivo Regional da Madeira, o principal repositório da documentação
histórica do arquipélago.

Próximo está a Casa Museu Frederico de Freitas, constituída á base do espólio legado á região por
este benemérito advogado. A Casa da Calçada, como é conhecida, apresenta ao público uma variada
colecção de mobiliário, artes decorativas, uma rara colecção de azulejos e gravuras madeirenses.

No cimo da calçada fica o Convento de Santa Clara(1495), no sítio onde Zarco havia construído a
capela de Nossa Senhora da Conceição de Cima. Na igreja, alvo de inúmeras transformações ao
longo dos séculos, são de realçar o túmulo de Martim Mendes de Vasconcelos com arcaria
gótica(impropriamente atribuído a João Gonçalves Zarco), os azulejos hispano-mouriscos do coro.
Sob o pavimento da capela mor estão as sepulturas de João Gonçalves Zarco e seus descendentes.

Próximo do Convento está o Museu da Quinta das Cruzes, instalado em 1953 na casa que terá sido
a residência dos capitães do Funchal. Do conjunto merecem a nossa atenção o museu, propriamente
dito e o parque arqueológico, constituído de pedras de armas, lápides comemorativas e elementos
arquitectónicos de edifícios que foram destruídos. Do seu recheio destacamos o mobiliário
(armários e arcas feitos na ilha com a madeira das caixas de açúcar do Brasil) e os presépios.

Seguindo pela Rua das Cruzes deparamo-nos no seu termino, na Rua da Carreira, com a Capela de
S. Paulo. Um singelo templo religioso construído por Gonçalves Zarco em 1425. Da primitiva
construção resta o tecto de alfarje da capela-mor, o arco gótico e a pia em mármore. Foi junto desta
capela que Zarco ergueu em 1469 o seu hospital.

Descendo a Ribeira de S. João eis-nos na Rotunda do Infante, dominada pela esfera armilar e o
monumento ao Infante D. Henrique. O conjunto evoca os descobrimentos portugueses. A estátua de
Leopoldo de Almeida foi inaugurada a 28 de Maio de 1947.

No morro sobranceiro, conhecido como o parque de Santa Catarina, é visível a capela que deu nome
ao parque, construída em 1425 por Constança Rodrigues, mulher de João Gonçalves Zarco.
Próximo, está a estátua de Cristóvão Colombo, inaugurada em 12 de Outubro de 1968.

Para muitos a Sé é o emblema da cidade do Funchal.O templo foi mandado construir por ordem de
D. Manuel, iniciando-se as obras em 1493. Construída para ser a principal paroquia da vila, acabou
por ser a sede do novo bispado, criado em 1514 por Leão X a pedido de D. Manuel. A sua sagração
ocorreu em 18 de Outubro de1517.

Note-se que este monarca demonstrou uma predilecção especial por este templo cumulando-o de
ofertas: a pia baptismal, o púlpito, a cruz processional.

Aqui misturam-se vários estilos. São evidentes os traços do manuelino, na fachada, abside, no
púlpito e pia baptismal. O barroco está patente nas capelas laterais, como sucede com a do
Santíssimo Sacramento.

A entrada abre-se por uma imponente fachada, onde o branco da cal contrasta com a cantaria
vermelha da ilha, dominada por um portal de ogiva , encimado por uma coroa real e rosácea
lavrada.

O interior distribui-se por três naves, sendo as laterais servidas de diversas capelas com rica
decoração barroca.

Majestoso é o altar-mor onde se destaca o políptico com 12 painéis flamengos e o cadeirado. Este
último é uma obra-prima da escultura quinhentista. O conjunto é coroado por uma abobada, tendo
ao centro as armas de D. Manuel, ladeadas de duas esferas armilares.

O cadeiral apresenta-se com duas ordens de cadeiras, ricamente trabalhadas. Em madeira dourada
sobressaem esculturas com cenas bíblicas e do quotidiano madeirense do século XVI. Borracheiros
e escravos convivem com santos e outros populares em poses consideradas pouco dignas para o
local onde se encontram.

Uma das maiores preciosidades do templo é o tecto que cobre todo o espaço. A madeira de cedro é
estilizada num precioso trabalho de alfarge hispano-árabe, único em Portugal e de bonito efeito
visual.

O actual relógio da torre sineira foi montado em 1989 em lugar de outro que em 1921 havia
substituído o primitívo que desde 1775 ritmava o quotidiano da cidade.

A primitiva Alfândega do Funchal foi criada em 1477 no Largo do Pelourinho por ordem da Infanta
D. Beatriz, como forma de controlar a arrecadação dos direitos que recaíam sobre a entrada e saída
de mercadorias.

Não sabemos onde esta funcionou no principio, pois só teve edifício próprio a partir do século XVI,
por plano de D. Manuel. Aí esteve a alfândega até 1962, altura em que mudou para modernas
instalações.

O edifício antigo ressuscitou das ruínas com o processo autonónico, ao ser adaptado para sede da
actual Assembleia legislativa Regional da Madeira, inaugurada em 4 de Dezembro de 1987. O
projecto de adaptação é da autoria do arquitecto Chorão Ramalho.

Nesta adaptação salvou-se o que ainda restava da época manuelina. As Salas dos Contos e do
Despacho são os melhores testemunhos da época. Aí são visíveis o tecto de alfarge, arcarias góticas
com capiteis das colunas e misulas com decoração de elementos vegetais e figuras humanas, o
portal armoriado da fachada norte e restos de arcarias góticas no interior.

No rés-do-chão, dando saída para a actual rua da alfândega, encontra-se um portal manuelino da
primitiva construção.

O imóvel ao longo dos séculos sofreu várias adaptações. Assim, em 1644 defendeu-se a frente mar
com um reduto, servido de portão. Com o decorrer do tempo foi manifesta a sua degradação,
atingindo o ponto crítico com o terramoto de 1748, que levou quase à construção de um novo
edifício, nos destroços do primitivo.

A capela anexa, da invocação de Santo António, é de 1714 e foi feita por ordem do Dr. João de
Aguiar, Juiz desembargador. Serviu muitos anos de arrecadação, mas actualmente, depois de
recuperada, voltou ao culto privado da Assembleia.

No Pátio da assembleia encontra-se uma peça de estatuária do esc. Amândio de Sousa, designada
como a "trilogia dos poderes". O Museu é, desde 1955, um verdadeiro tesouro da arte sacra
madeirense. Abriu as portas a 11 de Junho. Pode ser considerado a caixa-forte porque guarda
algumas das maiores preciosidades artísticas, recolhidas em todas as igrejas da ilha.

Parte substancial desta riqueza em pintura flamenga, maioritariamente do século XVI, pode ser
considerada uma dádiva do açúcar. Com este produto os madeirenses conseguiram elevada riqueza
que ostentaram nas suas capelas privadas, ou em ofertas aos oragos da sua devoção. Há a salientar
ainda algumas transacções directas de açúcar por estes imponentes quadros nos grandes centros
artísticos da Flandres.

Idêntico comportamento teve a coroa para com os madeirenses. D. Manuel foi um deles que
cumulou alguns templos da ilha de tesouros. Está nesse caso a famosa cruz processional, oferecida à
Sé do Funchal.

O Museu está instalado no edifício construído por ordem de D. Luís de Figueiredo de Lemos (1586-
1608).São coevos a arcaria que dá para a Praça do Município e a capela.
A Capela anexa é dedicada a S. Luís de Tolosa, onde ficou sepultado este bispo, depois trasladado
para a Sé. A Capela apresenta um belo pórtico da cantaria negra.

O Bispo D. José de Sousa de Castelo Branco (1698-1721) anexou-lhe o Seminário.

Com o terramoto de 1748 tornou-se necessária uma nova construção que chegou à actualidade. A
República em 1910 atribuiu-lhe novas funções, pois aí funcionou o liceu até 1942. A construção do
novo liceu em 1950 levou a sua recuperação pela diocese que aí fez instalar o Museu Diocesano de
Arte Sacra.

Do recheio do museu de arte sacra, proveniente das igrejas de toda a ilha, chama a atenção do
visitante as colecções de pintura, escultura flamenga , ourivesaria e paramentos

PINTURA
1.Pintura flamenga: S. Tiago Menor, Descida da Cruz(tríptico), Santa Maria Madalena S. Joaquim
e Santa Ana, S. Nicolau, Adoração dos Reis Magos,
Anunciação, S. Pedro S.Paulo e Santo André(tríptico), Nossa Senhora da Encarnação, Nossa
Senhora do Amparo.
2.Pintura Luso-flamenga: S. Tiago e S. Filipe(tríptico),
3.Portuguesa: Cabeça de Cristo, O nascimento de S. João Baptista, os dominicanos e a Ascensão
de Cristo

ESCULTURA:
1.Do século XVI: Deposição do Túmulo, Virgem da Piedade, Virgem da Conceição,
2.Do século XVII: Santa Isabel, Nossa Senhora da Luz, S. Francisco de Paula,
3.Do século XVIII: S. Rafael, S. Miguel Arcanjo, Anjos Candelabros

OURIVESARIA:
1.Do século XVI A Cruz processional do Funchal, atribuída a Gil Vicente, oferecida pelo rei D.
Manuel a Sé, uma bandeja de prata dourada com punção de
Antuérpia, o porta-paz de prata dourada com os Reis Magos em relevo da Sé do Funchal, naveta
em prata(1589), cálice de prata(1580), cálice de prata
dourada com ametistas, cristais e esmaltes.
2.Do século XVII: Salva com pé de prata, salva com braço de prata, turíbulo de prata, cruz
processional de prata, ânfora de prata
3.Do século XVIII: lanterna processionais, jarras, caldeirinha, maças , sacra e urna, todos de prata.
PARAMENTOS: dos séculos XVII e XVIII, maioritariamente da Sé do Funchal.
No alto das Cruzes, ao cimo da calçada, fica o Convento de Santa Clara. Aqui terá erguido Zargo a
sua morada e construído a capela de Nossa Senhora da Conceição de Cima.

No espaço da primitiva capela o seu filho, João Gonçalves da Câmara, levantou a igreja e convento
de Santa Clara. Em 1476, João Gonçalves da Câmara, segundo capitão do Funchal, recebeu do papa
Sixto IV o direito de padroado do novel convento, que só começou a ser construído em 1492. O
edifício só foi dado por terminando em 1497, altura em que entraram as primeiras noviças.

Os traços mais evidentes da arquitectura da época de construção são evidentes no portal gótico da
igreja, que dá acesso ao exterior e nas arcarias góticas do claustro.

Na igreja merecem a atenção do visitante, o coro, os azulejos hispano-mouriscos do coro de cima e


o túmulo de Martim Mendes de Vasconcelos (impropriamente atribuído a João Gonçalves Zarco),
genro de Zargo, falecido em 1493, coroado com uma imponente arcaria gótica.

Sob o pavimento da capela mor estão as sepulturas dos três primeiros capitães do Funchal e seus
descendentes.

Ainda, no coro de baixo podem ser presenciados um cadeirado e um órgão, que teria sido oferecido
pelo rei D. Manuel.

O altar-mor apresenta um sacrário em prata do séc. XVII, tendo como fundo um retábulo de Nossa
Senhora da Conceição, pintado neste século por Alfredo Miguéis.

Das capelas do convento merece a nossa atenção a de S. Domingos que ostenta um conjunto de
azulejos flamengos do séc. XVI, ao que consta únicos em todo o país.

O conjunto destaca-se na paisagem através da sua torre com cúpula oitavada recoberta de azulejos
dos séculos XVI e XVII.

O convento foi extinto em 1821, todavia em 1896 foi entregue à congregação das Franciscanas
Missionárias de Maria. Estas, expulsas em 1910 com a República retornam em 1927

Próximo do Convento de Santa Clara está o Museu da Quinta das Cruzes, aberto ao publico na
década de cinquenta com base nas Colecções de César Gomes, a que se juntou em 1964 a de João
Wetzler. O espaço engloba a casa de morada, a capela de Nossa Senhora da Piedade(1692) e um
amplo parque ajardinado.

O local tem grande significado na História da ilha, pois terá sido aqui que João Gonçalves Zarco fez
erguer a sua casa. A História do imóvel liga-se assim à família dos capitães do Funchal.
O edifício insere-se numa típica quinta madeirense servida de um majestoso jardim, onde a flora de
diversa origem convive com algumas pedras lavradas oriundas de igrejas e outros edifícios que
foram demolidos, constituído por pedras de armas, lápides comemorativas e outros elementos
arquitectónicos. Aqui estão reunidos vestígios do antigo Convento de Nossa Senhora da Piedade de
Santa Cruz, uma janela manuelina em basalto do Hospital velho(1507).

O recheio do museu é diversificado podendo destacar-se o mobiliário inglês e português, composto


por mesas, canapés, cadeiras , armários e arcas.

Os armários e arcas feitos na ilha, conhecidos de "caixa de açúcar" são uma referência obrigatória.
Parte significativa provem do recheio dos conventos da cidade (Santa Clara e Mercês). A designação
resulta do aproveitamento das madeiras das caixas que transportavam o açúcar do Brasil até ao
Funchal. Depois generalizou-se a todo o mobiliário em madeira de vinhático e til.

Na colecção de escultura merecem referência: a Virgem com o menino, uma escultura flamenga do
século XVI e o retábulo da Natividade, também de origem flamenga, do século XV.

A colecção de ourivesaria é variada, abarcando os períodos do séc. XVI a XIX. No conjunto


destacam-se algumas salvas e o porta paz em prata dourada da igreja de Santa Cruz.

O mesmo poderá ser dito da colecção de porcelana, com especial relevo para a Chamada porcelana
da "companhia das Índias".

Na ampla e abrigada Baía de Machico desembarcou Robert Machim e companheiros no fim da


malograda viagem, tida como lenda, mas também João Gonçalves Zarco e seus companheiros,
quando ultrapassaram o "espesso negrume". Para alguns este vale sobrepôs-se na retina dos
marinheiros à Serra de Monchique e, por isso, o nome de Monchique que depois evoluiu para
Machico. Hoje é ponto assente a sua associação a um marinheiro do século XV com mesmo nome,
certamente o primeiro a abordar a baía. Foi sede da capitania do mesmo nome, criada em 1440 para
usufruto de Tristão Vaz.

Hoje quem entra na cidade por mar ou por terra o espectáculo é distinto daquele que cativou os
navegadores quatrocentistas. O vale traçado pela ribeira, engalanou-se de garridas cores. A frondosa
floresta cedeu lugar às habitações, anarquicamente dispostas. Junto ao mar esta anarquia cede lugar
a uns riscos traçados no terreno para dar vez à freguesia e vila. Da primitiva estrutura urbana pouco
restará e das construções apenas aquelas que o uso e a tradição perpetuaram na memória e
quotidiano machiquense. Os elementos mais antigos resumem-se a alguns portais em ogiva e arcos
contra-curvados.

A visita pode partir do largo frontal aos Paços do Concelho, que domina o recinto da vila. Ao centro
a estátua de Tristão Vaz da autoria do escultor Anjos Teixeira, inaugurada a 8 de Dezembro de 1972.
Em frente os paços do Concelho onde na cumeeira são visíveis as armas do município, uma esfera
armilar em relevo.
Do outro lado da praça está a Igreja matriz, onde na porta lateral de dupla arcaria gótica, virada para
a praça, estão salientes duas colunas de mármore branco oferecidas por D. Manuel. A fachada
apresenta um portal em ogiva e uma rosácea manuelina. A primeira igreja data do século XV e foi
construída por iniciativa do capitão, Tristão Vaz. Da primitiva igreja pouco resta e o que se
apresenta hoje ao visitante é fruto de diversas transformações mantendo-se no entanto, o traçado
primitivo. O campanário desgastou-se com o tempo e em 1844 foi necessário demoli-lo para em seu
lugar se implantar um novo, só acabado em 1853.

No interior, chama a atenção do visitante as capelas dos Reis Magos(hoje do Santíssimo


Sacramento) e de S. João Baptista com arco e abóbada ogival. A primeira capela foi fundada por D.
Branca Teixeira, filha do primeiro capitão, Tristão Vaz, e por o segundo capitão, Vasco Vaz Teixeira,
ficando destinada a jazida dos familiares. O arco ogival é encimado com as armas dos Teixeiras:
"um escudo de azul, partido, tendo na 10 partição uma ave fénix, de ouro e na 20 partição a cruz, de
ouro, potentea dos Teixeiras e, em diferença nesta 20 partição uma flor-de-lis, solta". Finalmente
temos a Capela do Espírito Santo, fundada por Sebastião de Morais, cujas armas são ostentadas no
topo do arco. A capela-mor apresenta-se com um arco em ogiva perfeita, sendo coroada pela capela-
mor com uma estrutura de retábulo de cariz maneirista, com nichos para esculturas.

As cheias da ribeira, nomeadamente a aluvião de 1803, destruíram o edifício da Misericórdia, a


capela de Cristo e a alfândega. A capela, considerada por alguns o primeiro templo erguido na ilha
sob o túmulo de Roberto Machim, foi reconstruída, ficando a chamar-se do Senhor dos Milagres.

Foi em Machico que se produziu o primeiro açúcar da ilha, mas hoje pouco resta na vila desses
momentos áureos, assim de vestígios de velhos engenhos, apenas um de 1858. Para isso há
necessidade de se deslocar ao Porto da Cruz ou ao Faial onde jazem alguns restos dos mais antigos
engenhos da ilha.

O lugar mereceu o nome de Santa Cruz porque João Gonçalves Zarco, aquando do reconhecimento
da ilha, mandou erguer uma cruz de cepos velhos. Foi o único lugar da capitania de Machico, além
da localidade que lhe deu nome, a assumir alguma importância, tendo sido elevado à categoria de
vila em 26 de Junho de 1515 é hoje cidade, e foi detentor por muito tempo de uma alfândega.

A primitiva igreja foi construída no local onde se ergueu a dita cruz. O templo que hoje se apresenta
ao visitante, sob a invocação de S. Salvador, é de princípios do século XVI, da responsabilidade de
João de Freitas, fidalgo da casa de D. Manuel. Ele obteve por provisão de 1502, a mercê da capela-
mor onde ainda se encontra a sua sepultura e de sua mulher, Guiomar de Lordelo. O templo abre-se
em 3 naves, sendo visível no tecto, nomeadamente na abóbada do altar-mor, ornamentos
manuelinos: a Cruz de Cristo, a esfera armilar e o escudo. Os mesmos elementos surgem nas
capelas laterais de São Tiago e Almas, fundadas respectivamente por João de Morais e Gaspar
Pereira de Vasconcelos do Porto Santo. Próximo da matriz está o edifício da Misericórdia, instituída
por testamento de Diogo Vaz em 1505, que a mandou construir em 1530. Ainda no Altar-mor o
portal geminado que dá acesso à sacristia e as paredes laterais ostentam seis pinturas: Anunciação,
Nascimento de Cristo, Adoração dos Reis Magos, A Crucificação, Descida da Cruz e Ressurreição.

No largo, onde outrora dominava o pelourinho, demolido em 1835, encontram-se os paços do


concelho, construção do século XVI em que são visíveis a porta ogival e as janelas geminadas.
Peças de destaque: Porta-Paz, disponível no Museu da Quinta das Cruzes

Integrado nesta freguesia está a capela da Madre de Deus no Caniço. A capela foi fundada por Isabel
Álvares em 1536 mas as obras de construção do templo terão terminado dez anos depois. A fachada
é dominada por um portal em volta perfeita e uma rosácea simples. Um quadro retabular de tábuas
pintadas do século XVI domina o interior do templo. Encravada entre o vale traçado pela Ribeira,
encontra-se a localidade da Ribeira Brava. O nome do local foi conquistado à ribeira pela bravura na
época invernal. Ontem, como hoje, é um importante nó de comunicação entre a parte Norte e
Ocidental da ilha. Foi terra de gente ilustre, com participação activa na defesa do Norte de África,
donde se relevam Henrique Betencourt, sobrinho do senhorio de Lanzarote que se fixou na Banda
de Além, Diogo de Teive, fidalgo da casa real e descobridor das ilhas portuguesas e Pe. Manuel
Álvares, autor da mais importante e divulgada gramática latina.

A Igreja matriz, onde Manuel Álvares foi baptizado e deu os primeiros passos no estudo do latim, é
de três naves, embora bastante alterada com as remodelações do presente século, são ainda visíveis
alguns elementos quinhentistas: dois arcos góticos, o púlpito com um anjo na base e a pia baptismal.
Esta última foi ofertada pelo rei D. Manuel.

Peças mais significativas:


1.Pintura: Adoração dos Reis Magos e Adoração dos Pastores ou Natividade, no Museu de
Arte de Sacra; A virgem com o Menino com S. Bento e S.Bernardo
2.Escultura: A virgem com o menino, escultura flamenga do século XVI; S. Pedro
3.Ourivesaria: conjunto variado de alfaias religiosas, que constitui o tesouro da igreja,
estando reunido numa sala de acesso ao público.

O lugar foi buscar o nome a um acaso do astro-rei. Foi seu fundador Rodrigo Anes, o coxo que, na
pequena enseada banhada pelo sol, fez construir a capela da Virgem Santa Maria da Luz. Em 1486
surgiu a novas igreja para sede da paróquia com a invocação de Nossa Senhora da Luz.

Da primitiva igreja temos apenas, devido às duas reconstruções, a capela do lado da epístola, onde
se pode ver a sepultura do seu fundador, falecido em 1486. Os elementos de maior destaque são: o
tecto de alfarge da capela mor, a pia baptismal. Esta última é peça única de cerâmica existente na
ilha, tendo sido ofertada por D. Manuel.

Subindo a encosta, no sentido do Funchal, depara-se diante de nós o sítio da Lombada, uma
extensão de terreno que João Gonçalves Zarco escolheu para o filho-segundo Rui Gonçalves da
Câmara e que aforou em 1493 ao flamengo João Esmeraldo. Aí levantou a sua casa solarenga, o
engenho para moer a cana e uma capela da invocação do Espírito Santo, sagrada em 1508. Deste
conjunto definido por Gilberto Freire como a trilogia rural, restam apenas a casa e a capela. A
primeira foi restaurada e serve de escola preparatória.
O lugar da Calheta dominou uma importante área de canaviais, afirmando-se desde o século XV
como o embarcadouro para o escoamento do açúcar. Daqui resultou a sua valorização em
detrimento do alto - a Estrela - onde João Gonçalves Zarco havia feito doações de terras importantes
aos filhos João Gonçalves da Câmara e D. Beatriz. Por isso, foi em 1502 elevado à categoria de
Vila, integrando no seu perímetro os mais importantes canaviais, detidos por ilustres calhetenses
que singraram na revelação do mar ocidental, como foi o caso de João Afonso do Estreito e Fernão
Domingues do Arco.

São de visita obrigatória a igreja matriz, construída no século XV. Entra-se por um portal em ogiva e
perante nós depara-se a única nave coberta de um tecto de alfarge, que atinge inegável beleza na
capela mor, que é dominada pelo sacrário em ébano com incrustações de prata. A cruz processional
do século XVI foi oferta do rei D. Manuel.

A pintura está representada através de dois painéis laterais de um tríptico, invocativos da Virgem da
Anunciação e do Anjo, hoje disponíveis no Museu de Arte Sacra.

Duas Capelas completam o roteiro. No Estreito da Calheta, na primitiva povoação surgiram algumas
capelas vinculadas, sendo de destacar a dos Reis Magos, construída cerca de 1529 por Francisco
Homem de Sousa. Aqui todo o deslumbramento está no retábulo da escola flamenga, em madeira de
carvalho policromada e dourada, representando a Adoração dos Reis Magos. No Loreto é a célebre
capela de Nossa Senhora do Loreto, local de romaria e grande devoção. A capela que esteve
integrada num solar apresenta um alpendre sustentado por colunas de mármore branco de origem
sevilhana. No interior o tecto é de alfarge.
O AÇÚCAR HOJE
INSTRUMENTOS DE TRABALHO

1. FONTES DOCUMENTAIS

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BETTENCOURT, João de S. e V. Moniz de, Companhia fabril de assucar madeirense sociedade


anónima.Responsabilidade limitada. Capital RS: 100.000$00.Parecer do concelho fiscal
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BRANCO, João Soares, A nova questão Hinton, Lisboa, 1915

CANAVIAL, Conde do, A Companhia fabril do assucar madeirense...; Funchal, 1879


--- Uma acção contra o Sr. W. Hinton, fabricante de assucar e aguardente na cidade do Funchal (Ilha
da Madeira)...,Funchal, 1884
--- Breves considerações sobre os direitos de importação do assucar estrangeiro, Funchal, 1885.
--- Relatório da Direcção da Companhia Fabril de Assucar madeirense, Funchal, 1872
--- A cultura da cana do assucar e os direitos sobre o assucar, Funchal, 1885

CASTRO, Henrique Vieira, Bases para a solução da questão sacharina e meios de combater o
alcoolismo da Madeira,Funchal, 1911

Diplomas principais que interessam ao regimen sacharino da Madeira, Sl, Sd

Os danos das fábricas não matriculadas no sul, primeiros outorgantes: W. Hinton & Sons e José
Júlio de Lemos, dono das fábricas matriculadas, 2?s outorgantes; os donos das fábricas não
matriculadas do norte, 3?s outorgantes, Funchal, 1908

FABRÍCIO, João Augusto de Ornellas e a nova fábrica do assucar, Funchal, 1871

FREITAS, Luiz Alberto de, A lei hornung em defesa da Madeira e de Hinton, Lisboa, 1915

INÊS, Artur, um bodo indecoroso (a burla do açúcar), Lisboa, 1933

JESUS, Quirino Avelino de, A questão sacharina da Madeira,Lisboa, 1920


--- A nova questão Hinton, Lisboa, 1915

João Augusto d'Ornelas e a Nova Fábrica do Assucar, Funchal, 1871


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