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De Moscou/Rússia
Para Via Fanzine
1º/01/2013
Nessa época, segundo relata Wilkins, ele “não achou nenhum grande entusiasmo pelos
mistérios do passado remoto dessa grande terra”. Ao perguntar sobre as antigas ruínas do
Brasil a um professor de economia e geografia, o qual tinha cadeira em uma famosa
universidade brasileira, obteve a seguinte resposta.
Testemunho de um professor de economia e geografia de uma universidade do Rio
de Janeiro (citado por Harold T. Wilkins, 1938-1939):
“Não há ruínas antigas nas serras e sertão do Brasil, senhor. Nenhum vestígio da cultura
antiga, nenhuma ruína, como as que o senhor tem no Iucatã maia ou nas selvas de Honduras
e Guatemala. Tudo o que havia aqui, quando Dom Pedro Cabral avistou aquilo que agora é o
Rio de Janeiro, em 1500 d.C., tudo o que temos aqui agora, são índios primitivos, na etapa de
caça e pesca. Eles vivem em cabanas e clareiras na selva e nas matas, pelas barras dos rios,
no Amazonas e Mato Grosso. No nosso sertão há mato, brejo, deserto, mas nenhum
monumento como aqueles do Peru” (“Mysteries of Ancient South America”).
Aldeia dos Coroados, em gravura do livro Reise in Brasilien (Viagem pelo Brasil), de Spix e Martius.
“Conheci outro encantador cavalheiro, cujo pai tinha sido um dos fazendeiros, ou senhores
patriarcais de terras, do tipo mais antigo do Sul, dos coloridos dias do Império Brasileiro.
Estava sentado em uma cadeira de cana, na sua varanda, banhada pela luz da lua brilhante,
enquanto os pirilampos flamejavam através da escuridão aveludada, lançada por altas
árvores, sob um céu brilhantemente estrelado.
Agitando suas brancas mãos de anéis em direção às águas da Baía do Rio, que marulhavam
suavemente, censurou o tolo desperdício da energia por pessoas inquietas e curiosas, que não
aceitam os dons dos deuses quando os encontram. Sorriu aos loucos de estrangeiros, ingleses
ou americanos, que necessariamente devem empurrar seus narizes na mata e no sertão do
Brasil interior, com seus insetos de dentes de sabre, carrapatos horríveis, febres malignas,
mandíbulas estalantes de tarântulas hediondas, os barbeiros (besouros barbeiro-cirurgião de
barracas de madeira em Goiás), com suas trombas de germes patogênicos. Ferozes onças,
cobras e índios bravos, antropófagos às vezes, caçadores de cabeças em muitas ocasiões, que
ressentem e castigam com uma morte súbita, se o intruso persistir, qualquer penetração nos
seus matos” (“Mysteries of Ancient South America”).
No entanto, houve também outra visão da pré-história do país entre os intelectuais brasileiros.
Se Wilkins tivesse consultado ao seu tempo a Tanus Jorge Bastani, historiador, advogado,
jornalista e poeta brasileiro de origem libanesa, obteria uma resposta totalmente contrária.
“Antes da descoberta oficial do Brasil, muitos séculos antes da própria civilização europeia, os
nautas fenícios, antepassados dos atuais libaneses, estiveram em nossas plagas americanas.
Também os escandinavos, tais como: dinamarqueses e outros Vickings, exploraram as regiões
de Basiléia e deixaram preciosos documentos escritos.
Nas margens dos Rios Tocantins, Amazonas, São Francisco e outros mais, os indícios,
inscrições, caracteres e letreiros cuneiformes, são veementes atestados e desmentem aos
pseudos doutos da nossa pré-história.
Foram regiões que não foram somente percorridas e exploradas em suas riquezas: no interior
da Bahia se encontram vestígios de antigas e poderosas cidades de outrora. Nos Estados do
Amazonas, Pará, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Paraná, São Paulo e Santa Catarina, jazem
os restos de uma milenar civilização, que estacam e maravilham os olhos do investigador
histórico. Não é preciso ser um sábio para conhecer a sua origem, pois os próprios leigos
contam fatos que já se transmudaram em lendas a respeito desses lugares que passam
despercebidos aos olhos de nossos governantes, porque tais coisas não incidem em
impostos...
Nas margens do Rio Tocantins, no seu lado direito, não só nas imediações da antiga Vila de
Alcobaça, como no sertão baiano, divisor com o Estado de Goiás, as ruínas das cidades se
espalham constantemente, encontrando-se comumente paredões de pedras superpostas,
assim como poços, a que hoje chamamos cacimbas, como muralhas não apenas de pedra,
mas de calcários que a engenharia antiga, parecendo mesmo ser anterior à de Arquimedes,
buscou perpetuar os faustos dessa civilização que morreu no esquecimento de uma nova raça
que surgiu nas terras das Américas, a qual, sem procurar as consequências do futuro, procura
a vida bacanal do presente, esquecendo os exemplos dignificantes de um passado glorioso,
que talvez muito sobrelevasse ainda mais a grandeza da jovem Nação, que surgiu sob os
alicerces daquela que jáz na poeira dos séculos!
As civilizações maia, inca, e azteca, não apenas proliferaram na zona do Oceano Pacífico,
como também buscaram o litoral atlântico. Temos, no Museu Nacional, autênticas provas,
inclusive, fotografias de inúmeros lugares, buscadas pelos nossos cientistas e ainda as que se
encontram no Departamento Cinematográfico do Ministério da Agricultura, sob a chefia do
eminente e patriota brasileiro, Dr. Pedro Mallet Lima, e trazidas dos altos sertões do Guaporé
e outras regiões do Brasil. No Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no Arquivo Nacional,
na Biblioteca Nacional e outros templos do saber e do civismo, vamos encontrar documentos,
informes e outros relatórios, cuja descrição é farta em mananciais que bem indicam não só
roteiros, mas locais, da existência de uma pré-civilização que existiu no País.
Pelo interior da Amazônia, principalmente, na região Norte, jamais puderam os nossos doutos
desvendar os segredos guardados no interior da imensidão florestal. Cidades perdidas, restos
de uma civilização milenar, jazem em ruínas, enfrentando os séculos e a falta de civismo dos
nossos responsáveis, numa espera infindável de que a nossa gente vá conhecê-las e explorá-
las.
O atual território da Rondônia encerra, em suas virgens regiões, inúmeras ruínas de antigas
povoações e cidades.
É bastante conhecida a riqueza que se encontra na Serra do Caparaó. Muito ouro e minerais
de valor, assim como vultosas quantidades de pedras preciosas foram encontradas naquela
região. Contam que, em épocas remotas, manadas de gado vacum e cavalar se dispersaram
nos vales e planaltos situados no Caparaó. Ali, durante séculos aberraram-se e hoje, de vez
em quando, são encontrados esses animais em diminutos tamanhos. Um fazendeiro
encontrou, certa vez, uma vaca que tinha, apenas, meio metro de altura, mais se parecendo
com um bezerro.
No Nordeste Brasileiro, principalmente nos Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará,
são positivos os indícios de antigas civilizações que ali existiram. Em João Pessoa, Capital da
Paraíba; em Natal, Capital do Rio Grande do Norte; e nas regiões circunvizinhas à Fortaleza,
Capital do Ceará, encontram-se túneis, grutas subterrâneas e não se conhecem suas origens.
Tais são as assombrosas revelações do Dr. Bastani, expostas no seu livro “Minas e minérios no
Brasil: tesouros, cidades pré-históricas e minas abandonadas”, publicado em 1957, após 20
anos da visita de Wilkins ao Brasil.
É um dos maiores países do mundo, com uma área de aproximadamente 8,5 milhões de
quilômetros quadrados, espaço mais que suficiente para albergar inúmeras culturas e impérios
antigos, contudo, lhe foi negado o direito de se saber sobre um passado glorioso.
Clio, essa mentora estrita, foi injusta com o gigante sul-americano, obrigando-o a permanecer
por muito tempo na sombra do Peru, México e as pequenas repúblicas centroamericanas,
países orgulhosos dos restos de grandes civilizações pré-colombianas, respectivamente, dos
incas, astecas e maias.
No entanto, a verdade, como muitas vezes acontece, no final, não estava do lado dos céticos.
“Nous verrons ce que nous verrons (nós veremos o que nós veremos) — possivelmente, antes
que finalize esse inconstante século vinte, na revolução da história mundial que virá a partir de
descobertas nas agora enterradas cidades das selvas da perigosa América do Sul”.
Essa profecia de Harold Wilkins, feita no ano da vitória na Segunda Guerra Mundial e do
vigésimo aniversário do desaparecimento da expedição Fawcett, se cumpriu. Tanto nas últimas
décadas do passado século XX, como na primeira década do século presente, vimos não só
uma, mas várias descobertas revolucionárias que mudaram radicalmente as ideias
convencionais da história antiga do Brasil e o restante das Américas.
Hoje temos provas convincentes de que o homem poderia ter vivido no território do Brasil no
período de 60 mil ou 100 mil anos (com base em datação de artefatos na Toca do Boqueirão
da Pedra Furada, no Estado de Piauí, encontrados pela arqueóloga Niède Guidon) a 300 mil
anos AP (datação do chopper, encontrado pela arqueóloga Maria Beltrão na cidade de Central,
no interior do Estado da Bahia), sendo esta última datação uma das mais antigas para a
presença humana nas Américas, senão a mais antiga.
Oficialmente, a arte rupestre mais antiga do continente americano (12 mil anos AP) se encontra no sítio de Lapa do
Santo, no Estado de Minas Gerais (2012). Mas há indícios que apontam a uma idade muito mais remota dos rupestres
brasileiros. Os cientistas Shigeo Watanabe (2003) e Medura Sastry (2004), datando a calcita sobre pinturas rupestres em
Serra da Capivara (Piauí) e a calcita sobre esculturas encontradas em Montalvânia (Minas Gerais), obtiveram idades tão
antigas como cerca de 50 mil anos AP.
Em 2010, com a vazante do Rio Negro, foram descobertas as gravuras rupestres da Ponta das
lajes, em Manaus, cuja idade oscila entre dois mil e sete mil anos.
Desenhos rupestres da Ponta das lajes, Manaus/AM (Foto: Valter Calheiros).
Não restam dúvidas de que o Brasil foi o berço da cerâmica no Novo Mundo: a cerâmica mais antiga das Américas (8.960
anos AP) foi encontrada na mesma zona da Serra de Capivara, e a segunda e terceira mais antigas (de Taperinha, até 7
mil anos AP, e a de Pedra Pintada, 7,6 mil anos AP, ambas em sítios no Estado de Pará) foram descobertas na Amazônia
Brasileira pela famosa arqueóloga e antropóloga norte-americana Ana Roosevelt.
Também está ganhando cada vez maior terreno a hipótese de que ao momento da chegada
dos conquistadores europeus à Amazônia, essa região seria habitada por milhões de indígenas,
que viviam em sociedades complexas e produziam sofisticadas peças de cerâmica.
Não menor admiração foi gerada pelos extraordinários geoglifos da Amazônia ocidental,
descobertos nos últimos anos pelos pesquisadores Alceu Ranzi, Denise Shaan e outros, —
trata-se de outro grande monumento das civilizações desconhecidas, cujos autores ainda não
podem ser identificados.
confirmando a existência de grandes civilizações megalíticas no Brasil Antigo (Foto: Yuri Leveratto).
A construção megalítica brasileira mais conhecida nos últimos anos, que chegou a ser chamada
de “Stonehenge amazônico”, um observatório astronômico pré-histórico, foi descoberto em
2006 no Estado de Amapá por um casal de pesquisadores, Mariana Petry Cabral e João
Saldanha.
Os vestígios megalíticos não são as únicas construções líticas antigas encontradas no território
do Brasil. Assim, na região de Itaúna, no Estado de Minas Gerais, Pepe Chaves e J. A. Fonseca,
pesquisadores independentes, estão investigando os misteriosos “muros de escravos”, que
ainda não podem ser datados com seguridade, mas muito provavelmente remontam a um
passado muito remoto.
Mas apesar de todas essas incríveis conquistas ainda não se deu aquela grande descoberta das lendárias cidades perdidas
do Brasil, daquela civilização, cujos contornos foram apenas vislumbrados pelos pesquisadores alternativos como Percy
Fawcett, Harold Wilkins ou Tanus Bastani, hoje apelidados de “arqueólogos do irreal” pelos cientistas céticos.
Não é possível que esse seja o fim das grandes descobertas arqueológicas no Brasil.
Evidentemente, trata-se apenas do seu começo, e com razão, temos que esperar novas e
muito mais assombrosas “revoluções” nesse campo.
* Oleg I. Dyakonov é licenciado em Diplomacia e Relações Internacionais, pesquisador em história alternativa, membro
efetivo da Sociedade Russa para os Estudo dos Problemas da Atlântida (ROIPA). É correspondente e consultor para Via
Fanzine em Moscou e editor do blog 'Desconhecida Pré-História Brasileira".
- Tradução do original em russo: Oleg Dyakonov, com revisão e adaptação de Pepe Chaves.
BIBLIOGRAFIA
A gravura rupestre mais antiga do continente americano. A figura descoberta no Brasil poderá ter mais de
12 mil anos. CiênciaHoje. 2012-02-22.
Aos 75 anos de idade, Niède Guidon colocou o Brasil no mapa da arqueologia internacional. Na trilha de
Guidon. Gazeta de Alagoas, Edição do dia 13 de julho de 2008.
Bastani, Tanus Jorge. Minas e minerios no Brasil. Tesouros, cidades pre-historicas e minas abandonadas.
Rio de Janeiro ; São Paulo : Livr. Freitas Bastos, 1957. P. 16-17, 23-25.
Fawcett, Percy Harrison. Lost Trails, Lost Cities. New York : Funk & Wagnalls, 1953.
Fonseca, J.A. Minas Gerais: Itaúna no Circuito Arqueológico do Brasil. Estudando alguns vestígios deixados
pelos ‘itaunenses’ de passado remoto e os misteriosos e indecifráveis 'muros de escravos' de nossa
região.
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Watanabe, S., et alii.Peopling Brazil took place much earlier than in North America?
Wilkins, Harold T. Mysteries of Ancient South America. London : New York : Melbourne : Sidney : Rider &
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OLEG DYAKONOV
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