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ARQUEOLOGIA MÍSTICA:

O que teria acontecido em Montalvânia?


Os desenhos rupestres de Montalvânia sugerem mensagens
de importantes acontecimentos num passado longínquo
e não registrado pela história humana.
Por J. A. FONSECA*

A cidade de Montalvânia na região Norte de Minas


Gerais foi fundada pelo insigne brasileiro Antonio
Lopo Montalvão, idealista nato, autodidata
intemerato, historiador e profundo conhecedor da
região. Montalvânia tornou-se um verdadeiro
acervo histórico e transcendente do passado mais
remoto do Brasil.

O grande pesquisador escreveu Montalvânia e seus


mistérios milenares, como se ela fosse um grande
registro histórico de um tempo longínquo, uma
“Bíblia de Pedra”, conforme suas próprias palavras,
envolvendo homens e deuses, anjos e demônios, e
a complexa mitologia grega e latino-americana.

DIAMANTE BÍBLICO - Segundo Montalvão “tais


inscrições são como pedras de diamante
Montalvão catalogou 8 grutas na região, as quais
engastadas no EGO do Brasil, simbolizadas pelo contém inúmeras inscrições rupestres, sendo
alto significado altruísta que irradia dos sóis constatada
a ausência de símbolos e uma abundância de
pintados nos seus montes como o Rá egípcio que desenhos.
vivera milênios na flor de lotos, para afinal
ressurgir por sobre o WEI-TEPU (Monte do Sol), a
nevar cumes sagrados”.

Continua, o ilustre pesquisador:

“Cabe ao espírito brasílico nascido de si mesmo como a idéia que nasce do próprio idealismo,
lapidar esse diamante bíblico, deixando expandir-se dele o fulgor de sua sapiência, a
expressão dos cérebros de um passado longínquo sobre o qual estão pisando os pés hodiernos
do entredevoramento humano”.

A cidade de Montalvânia está localizada no norte de Minas, a 18 km do estado da Bahia, e a


cerca de 900 km de Belo Horizonte. Em pleno sertão mineiro, ela veio situar-se às margens do
Rio Cochá, tendo como uma de suas maiores atividades a agropecuária. Para se chegar até lá
tem que se estar disposto, pois a partir de Jaíba deve-se percorrer estradas de terra com
muita poeira, além da travessia do rio São Francisco em uma balsa, que não oferece muita
segurança.

Em suas proximidades podem ser avistados diversos maciços rochosos, nos quais podem ser
encontradas algumas grutas e cavernas com estranhas e variadas inscrições rupestres, que
fazem desconcertar os conceitos do mais aguçado pesquisador. Diante disto e de seu
misterioso e milenar acervo mnemônico, nossa pergunta continua ansiando por uma resposta,
que suspeitamos, não possa ser respondida, pelo menos, por enquanto: o que afinal teria
acontecido em Montalvania?

'Pareceu-me que seus autores quiseram deixar gravado para


a eternidade um relato de relevante importância,
que em face da exigüidade de meios disponíveis naquele momento'
Quando lá cheguei nos idos de 1.992 e me deparei com aquelas grutas e cavernas em suas
elevações calcarias, senti-me imediatamente pasmo e meio que garroteado intelectualmente,
diante de seus inúmeros símbolos gravados na rocha viva, em grande profusão. Encontram-se
ali reunidas uma grande quantidade de imagens, em uma aparente “confusão”, algumas
apresentando caracteres humanos, outras zoomorfas, símbolos e formas desconhecidas, como
que se quisessem guardar um grande mistério, uma história de dor ou de grande apreensão,
ou mesmo um manancial de conhecimentos que havia sido perdido, para que os homens de
uma época futura os pudessem resgatar, mesmo que em parte.

RELATOS PARA A ETERNIDADE - Pareceu-me que seus autores quiseram deixar gravado
para a eternidade um relato de relevante importância, que em face da exigüidade de meios
disponíveis naquele momento, decidiram gravá-los perenemente na pedra para que
perdurassem através dos tempos. Entretanto, no atual momento da vida na Terra, ao nível da
compreensão simbólica que toda esta grande profusão de figuras pretendem expressar,
tememos que ainda não possamos dar-lhes a interpretação que merecem e encerram.

Por mais que as queiramos explicar por intermédio de nossa vã perspicácia acadêmica, os
acontecimentos de Montalvânia, registrados em pedra bruta, qual grandioso livro iniciático,
simbólico e velado, não têm como serem integralmente compreendidos e prontamente
desvelados. E a pergunta permanece: o que teria acontecido ali?

Existe algo bem mais profundo em relação ao que ficou gravado nas pedras de suas grutas e
cavernas, do que apenas rabiscos inconseqüentes de homens primitivos, amendrontados e
incultos. Pode-se perceber a existência de uma idéia central, que tem caráter dramático e
demasiadamenbte forte, alguma coisa que se perdeu por ação de uma força muito grande ou
que teria sido presenciada por este grupo de homens inquietos e que os fez agir como
verdadeiros escribas do tempo.

Percebe-se então que a cidade fundada por Antonio Lopo Montalvão, não foi somente uma
idéia-sonho na cabeça de seu idealizador. Ele quis que ela tivesse contato com a capital da
República e construiu ele mesmo a estrada que passou a ligar o município a Brasília,
convidando, para sua inauguração, na época, o próprio presidente da república. Quanto à sua
estrutura, podemos dizer que foi cuidadosamente planejada, com ruas calçadas e largas
avenidas enfeitadas com palmeiras, que convergem para sua área central, e cujos nomes
homenageiam santos, filósofos e pensadores como, por exemplo: Avenida Confúcio, Avenida
Sócrates, Avenida Madame Curie, Rua Voltaire, Rua Galileu, Rua Plutarco, Rua Zoroastro, Rua
Copérnico, Praça Cristo Rei, Praça Platão, etc.

Sua fundação data de 1.952 e já em 1.962 havia-se tornado cidade, através do idealismo de
Antonio Montalvão, um pesquisador de dotes pouco comuns, que adotou a região exatamente
por causa de seus inumeráveis segredos. Montalvão foi também, além de seu descobridor, um
grande pesquisador, filósofo e cientista, apesar de não concordar com estes títulos,
desenvolvendo um projeto arrojado para aquela região semi-árida do norte de Minas. Através
de seus estudos ficaram conhecidas 8 destas grutas e cavernas com inscrições rupestres,
circundando a cidade. Elas se caracterizam por seu aspecto de origem desconhecida e apesar
do esforço despendido para tentar compreendê-las, deixam sempre um rastro profundo e
desafiador impresso nas mentes especulativas de quem quer que delas se aproxime.
'Quando decidi-me ir a Montalvânia, esperava encontrar-me

com seu fundador, mas lá chegando fui informado

de seu falecimento ocorrido a cerca de 20 dias'

VIDA DESENHADA - O que se poderia hoje refletir a respeito das incríveis inscrições de
Montalvânia é que, inexplicavelmente, seu milenar acervo arqueológico se mostra como um
imenso registro de figuras zoomorfas, humanóides e uma complexa simbologia, elementos
perdidos em um meio severamente hostil, apresentando mínimas possibilidades de
compreensão, em face dos métodos e conhecimentos atualmente existentes. Talvez esta farta
“narrativa” gravada em baixo relevo e em pinturas multiformes, tenham sido produzidas para,
em futuro próximo, fazer provas junto a uma humanidade menos premida pelo intelecto, de
que este nosso Brasil tem algo mais a mostrar a respeito de seu passado, encoberto pela
bruma do tempo. Mas esta seria uma outra história a contar, que deixaria, certamente,
atônitos leigos e pesquisadores.

Quando decidi-me ir a Montalvânia, esperava encontrar-me com seu fundador, mas lá


chegando fui informado de seu falecimento ocorrido a cerca de 20 dias. Em conversa com
pessoas da cidade fui informado de que quem sabia alguma coisa a respeito das grutas e
pinturas, era um tal João das Grutas, que residia numa fazenda próxima. Com a ajuda de um
comerciante, ao qual aluguei uma camionete, conseguimos chegar até o local onde morava
este misterioso personagem, distante cerca de 10 km da cidade. Combinamos sair no outro dia
pela manhã daquele mesmo lugar e a pessoa que havia me levado, me deixaria lá pela manhã
e me pegaria à tarde, por volta das 18h.

No dia seguinte pela manhã, lá estavam o Sr.


João Elmiro Vieira, o João das Grutas e seu filho
de 11 anos aguardando minha chegada.
Entramos mato adentro, em pleno sertão
mineiro, percorremos trilhas mal formadas,
com arbustos secos e rochas proeminentes,
durando esta caminhada por todo aquele dia.
Após duas horas, chegamos à primeira gruta
que se localizava no sopé de uma montanha
pétrea, como uma esfinge guardiã e com seus
penhascos negros e ameaçadores. [ao lado].

Logo abaixo de seu maciço calcário, descendo-


se por uma entrada íngreme chegamos à gruta Sugestivas formações pétreas de Montalvânia.
de Poseidon, nome dado a ela por causa da
figura do deus gravado na pedra, com garras
nas mãos e rabo de peixe.

'Era um espetáculo de enigmas isolados em pleno sertão brasileiro,


silencioso, como se quisesse mostrar para os buscadores
que algo de grande importância ocorrera por tais paragens'

Logo de início nos maravilhamos com seu conteúdo inusitado, envolvidos que ficamos de uma
emoção muito forte. A gruta estava repleta de “caracteres” em baixo relevo, no teto e nas
paredes, espalhados em uma aparente desorganização, e cujo conteúdo se compunha de
formas variadas, pés, mãos, gravados em baixo relevo, humanóides e símbolos diversificados.
Era um espetáculo de enigmas isolados em pleno sertão brasileiro, silencioso, como se
quisesse mostrar para os buscadores que algo de grande importância ocorrera por tais
paragens.

COMPLEXO MISTÉRIO - Sua beleza, estranheza e transcendentalidade deixam qualquer um


que conseguir chegar até ali estupefato, mesmo se não se tratar de um grande observador.
Pude perceber a natureza inexplicável e desconhecida de seus registros, que foge a toda e
qualquer tentativa de explicação regularmente feitas no campo da pesquisa arqueológica, uma
vez que em nada se parecem aos que são encontrados em outras partes do mundo. De fato,
eles fazem-nos quedar, perplexos diante de sua complexidade e de seu mistério, impedindo
que possa penetrar em nossa mente qualquer réstia de luz que venha permitir esboçar, ao
menos, uma ínfima partícula de entendimento lógico ou explicação plausível do que ali está
exposto com tanta ênfase.
A imagem de Posseidon, o deus grego
governante dos mares, filho de Cronos e Réia, o
mesmo Netuno dos povos latinos, está gravada
em pelo menos duas representações. Nas
inscrições, ele pode ser interpretado na forma
de um ser humanóide com garras como se
fossem mãos e no lugar dos pés algo como um
rabo de peixe, nitidamente visto nesta obra de
arte de Montalvânia. [ao lado, ampliado em
detalhe e na pedra original ao fundo].

Em seguida partirmos para a gruta do Abrigo do


Urubu Rei, com seus desenhos milenares num
local de grande beleza, oculto em pleno agreste
mineiro. Depois de andarmos por lugares quase
secos e formações rochosas colossais,
penetramos por uma floresta, contornamos um
maciço rochoso e nos embrenhamos numa zona
árida, com o sol a pino, até que enfim chegamos
à caverna das pinturas.

Era uma belíssima formação rochosa em forma de círculo,


pela qual adentramos em meio a blocos monolíticos,
descendo por uma via pedregosa e íngreme. Após descer-se
até o centro daquela fortaleza cavada na rocha viva, sobe-se
entre as pedras e se encontra uma gruta pouco profunda
onde se podem ver as inúmeras inscrições pintadas na
pedra, de animais, de homens e outras formas, em cores
vermelha e amarela. [ao lado].

Ambas deixaram em mim suas marcas indeléveis e uma


dúvida a respeito daqueles homens primitivos que deixaram
tantas marcas espetaculares em pedra bruta, como um
registro quase indestrutível para a posteridade. Chegamos a
duvidar que tenham sido homens bárbaros que produziram
aqueles registros pétreos, pois muitos deles representam
símbolos complexos e não parecem ter sido gravados a
esmo.

A VOZ DE PEDRO AOS PEDROS - Montalvão sempre


acreditou que naquelas grutas ao redor da cidade estavam
Algumas das inúmeras formas zoomorfas
gravados registros de um passado não somente misterioso, e humanóides encontradas
mas também intrigante, de uma época desconhecida da na Gruta de Posseidon.
história de nosso planeta, em face de seus enigmáticos
caracteres e formas variadas insculpidas em pedra bruta.

'A displicência acasalada com a negligência, como um par de omissos analfabetos


que vêem nos livros apenas uma caderneta da poupança,
vê este acervo histórico como meros rabiscos selvagens ou como fúteis figuras decorativas'

A princípio, suspeita-se que o que ali se apresenta é um conjunto aparentemente caótico de


símbolos e figuras diversas, em sua maioria gravados em baixo relevo, preenchendo o teto e
as paredes, como se seus autores tivessem uma necessidade premente de deixar tais registros
marcados perenemente, sintetizando fatos ocorridos e registrando aspectos, talvez perdidos,
de um conhecimento que se teria desaparecido em decorrência de acontecimentos
cataclísmicos poderosos.

O próprio Antonio Montalvão em seus escritos desabafa sobre as avaliações apressadas de


determinados pesquisadores:

“A displicência acasalada com a negligência, como um par de omissos analfabetos que vêem
nos livros apenas uma caderneta da poupança, vê este acervo histórico como meros rabiscos
selvagens ou como fúteis figuras decorativas, quando constitui ele a verdadeira Bíblia de Pedra
com voz de Pedro que aos Pedros estimulava: Pedro Vaz Bisagudo (1343), Pedro Álvares
Cabral (1500), Pedro I, Pedro II…”.

Detalhe de um aglomerado inscrições mostrando desenhos diversos e nunca símbolos.

É estranho que se tenha aglomerado ali tanta diversidade de formas, de animais, de cruzes e
círculos, além de uma extensa representação de elementos estranhos, figuras desconhecidas
que fazem-nos imaginar aquilo que de tão expressivo teria sido presenciado por aqueles
homens de Montalvânia.

E mais estranho ainda que tenham preferido


gravar de forma definitiva, em algumas grutas
da região, em baixo relevo, na forma de
insculturas, e com instrumental não conhecido,
os inúmeros caracteres que ali podem ser
encontrados, pois há que considerar-se que
teria sido um trabalho de alta envergadura e
demasiado longo, visto tratar-se de rocha de
grande resistência. causa-nos especial espanto
quando penetramos numa destas grutas e ali
nos deparamos com aquelas inúmeras ranhuras
“lavradas” em suas paredes pétreas, algo que
se configura para nós como sendo um relato
extenso de um acontecimento muito remoto.
Nos parece registro de algo que se perdeu para
sempre, ou de impressões não conhecidas.

É neste sentido que passou a despertar em nós um grande questionamento, como seja o de
compreender o que tais seres humanos quiseram transmitir além de crendices e vivências de
seu quotidiano. Por que teriam eles gasto tanto tempo cavando na rocha para preservar
apenas impressões comuns de suas vidas e figuras que se assemelham a seres mitológicos de
outros povos? Por que foram incluídos registros não identificados, arabescos que mais se
parecem com máquinas, sistemas solares e planetários e outras formas desconhecidas e de
complexos formatos? (Figura 6)

Havemos, entretanto, de separar destes os outros


grupos de desenhos em pigmentos avermelhados,
pretos e amarelados, também encontrados nesta
região, que muito se distanciam dos motivos em
baixo relevo que caracterizam outras grutas em
suas montanhas.

Como exemplo podemos notificar a Gruta do


Abrigo da Fonte do Urubu Rei, já mencionada
acima, que fica a mais ou menos uma hora e
trinta minutos de distância da primeira.

Apesar de sua beleza e expressividade esta muito


se diferencia das inscrições que se encontram na
gruta anteriormente citada e em outras da região,
e que se apresentam, como já mencionamos, na
forma de mistérios ainda indecifráveis, ocultos em
pleno agreste, em torno da magnífica cidade
mineira de Montalvânia.

Pelo que depreendemos, nossa pergunta permanecerá ainda por um longo tempo sem uma
resposta convincente, que possa explicar as estranhas figuras que habitaram a mente dos
antigos habitantes daquela região…

* J.A. Fonseca é economista, escritor e pesquisador arqueológico. É consultor de Via Fanzine e UFOVIA. –
jaugusto@terra.com.br
- Fotos: Todas por J. A. Fonseca.
- Produção: Pepe Chaves.

Esta matéria foi composta com exclusividade para Via Fanzine©.

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