O quadro "Primeira Missa do Brasil" retrata de forma romantizada e eurocêntrica o primeiro contato entre colonizadores portugueses e povos indígenas no Brasil em 1500. Ao contrário da representação pacífica, os registros históricos mostram que os europeus trouxeram doenças e guerras que dizimaram 70% da população indígena. É importante analisar produções artísticas sobre o passado com uma perspectiva crítica e considerar também a visão dos povos originários.
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Título original
JORNALISMO- Exercício de produção de texto. Artigo.
O quadro "Primeira Missa do Brasil" retrata de forma romantizada e eurocêntrica o primeiro contato entre colonizadores portugueses e povos indígenas no Brasil em 1500. Ao contrário da representação pacífica, os registros históricos mostram que os europeus trouxeram doenças e guerras que dizimaram 70% da população indígena. É importante analisar produções artísticas sobre o passado com uma perspectiva crítica e considerar também a visão dos povos originários.
O quadro "Primeira Missa do Brasil" retrata de forma romantizada e eurocêntrica o primeiro contato entre colonizadores portugueses e povos indígenas no Brasil em 1500. Ao contrário da representação pacífica, os registros históricos mostram que os europeus trouxeram doenças e guerras que dizimaram 70% da população indígena. É importante analisar produções artísticas sobre o passado com uma perspectiva crítica e considerar também a visão dos povos originários.
O Brasil é um país visualizado mundialmente como uma nação com beleza
esplêndida, de várias culturas e etnias – como a dos povos indígenas e quilombolas - e um povo que não tem uma ‘cara’ específica, como os europeus são vistos, que são geralmente de traços finos. Tais características são retratadas como qualidades, como belos enfeites que decoram uma sala ampla repleta de riquezas, onde o ouro reluz e os tecidos macios e costurados contam uma história linda e sem manchas. O que se esquece de olhar nesse espaço, são os cantos e os tapetes que escondem por trás de tudo, uma realidade muito oposta do que se é contada nos quadros, contos, canções, hinos e qualquer outro acervo que conta sobre o que é o Brasil, principalmente o colonial.
A maioria da dos patrimônios que foram usados para entender o processo de
formação do país, foram produzidos em grande maioria com uma visão idealizada e eurocêntrica, com visões de mundo que não buscavam entender que se existia uma cultura já em solo, querendo apenas expandir sua colonização e levar a novos povos a civilização que tanto acreditavam. Foi justamente o que aconteceu na Carta de Pero Vaz de Caminha, principal inspiração para o quadro ”A Primeira missa do Brasil”, em que ao chegar no território do “Novo Mundo” – como as terras brasileiras foram chamadas a princípio – se admirou por toda a beleza do lugar, assim como demonstrou fascínio com a interação que teve com os nativos.
“Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também
os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma."
"Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo;
tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali. (Trechos retirados da Carta de Pero Vaz de Caminha”)
Além disso, o quadro de Vitor Meireles, chamado de a ” Primeira Missa do
Brasil”, historicamente ocorrida no dia 26 de abril de 1500, confirma, visualmente essa representação equivocada das tribos, que foram apresentadas com características romantizadas, que lhes excluíram toda a identidade verídica do que eles realmente eram: povos guerreiros, com costumes e tradições fortes, que lutavam pela sobrevivência com instinto e uma cultura muito própria. O quadro, que é uma arte de óleo sobre tela, possui um jogo de luz e uma centralidade de elementos muito marcada, sendo facilmente percebida ao passar os olhos pela cruz apoiada em um baú e também, pelo padre erguendo um cálice em direção a uma cruz maior. Essa simples questão, nos faz entender de forma clara, quais personagens são os valorizados e quais são as vítimas dessa história de guerra, de genocídio e de exploração ferrenha.
É tudo apresentado como uma cerimônia religiosa que abria e abençoava as
novas terras para a colonização que chegava, como uma bênção e um novo caminho de salvação. Ademais, para contribuir com essa ideia, colocou-se os indígenas amontoados e em posições que expressavam a curiosidade e o fascínio com o que ocorria, demonstrando uma conversão passiva e interessada. Entretanto, basta analisar um pouco mais a história para se concluir que essa não é a história real. E ao contrário do que se conta, não foi um encontro de cultura, e sim um encontro de extermínio, tanto dos costumes que haviam sido enraizados pelos séculos de convívio daquelas populações, quanto das próprias vidas de homens, mulheres, crianças e idosos, que perderam seus livre arbítrios e também foram acometidos de diversas doenças que os europeus trouxeram para essa “Terra Santa”, como eles mesmo chamaram.
Segundo pesquisa feita pela Fundação Nacional do Índio (Funai) mais de
70% da população nativa ao entrar em contato com os estrangeiros morreram de doenças e também de resistências contra a colonização ferrenha que começava ali, além de uma forte imigração aqueles que tentavam ao máximo evitar contato com os diferentes. Há registros históricos de batalhas nas matas do Brasil, que de um lado se tinha todo o conhecimento da região por parte dos nativos e do outro a expertise em conflitos por parte dos europeus. Quem olhar para essa história e não enxergar todo o sangue que foi usado para construir a nação, é concordar com todos os séculos de dominância que exterminaram culturas e populações com violências físicas e simbólicas.
Em suma, é necessário se colocar uma lente sobre como consumimos as
produções artísticas que tentam contar a história dos povos antigos. Apesar de toda a importância para o acervo, mundial e nacional, é imprescindível olhar para uma pintura como essa e entender que tudo se trata de uma visão eurocêntrica. É necessário se virar para o outro lado da moeda e conhecer a visão índigena, necessário levantar o tapete e abrir a janela para lembrar sempre de todo o sangue que marca a nossa história, seja ela passada ou não.