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O que diz a Mensagem (1934)?

O Infante/ O Mostrengo / Prece

1.
Os poemas apresentados pertencem à segunda parte da “Mensagem” - “Mar
Português”, com referência aos descobrimentos portugueses, no qual, foi
alcançado um conjunto de conquistas realizadas pelos portugueses em viagens
de explorações marítimas numa luta contra o desconhecido.

2.

A minha explicação da sequência formada pelos 3 poemas apresentados é a


seguinte: o primeiro representa o acontecido (particípio passado), o segundo
poema leva o leitor ao acontecimento passado, no entanto, de forma presente,
divagando mais profundamente as tribulações que Portugal teve de enfrentar,
sendo que, o último poema complementa de certa forma o final do primeiro,
retrata o sentimento (presente) do povo português, descrito como a saudade do
que se perdeu e a suplica do renascimento de um/a novo/a sonho/conquista.

O primeiro poema “O Infante”, expressa a vontade divina, o sonho do homem e


a concretização da obra. Isto é, sem a vontade do primeiro, o segundo não
sonharia e a obra não poderia nascer. Fernando Pessoa afirma assim, que Deus
não desejara que o mar separasse, que antes este se unisse e que as rotas
marítimas operassem essa união. Ou seja, que a terra fosse toda conhecida.
Note-se o valor simbólico do verbo “sagrou-te”, sugerindo o Infante de Sagres e
a escolha do Infante para a chamada de Deus, para este que excutisse na terra
a sua obra desejada. Deste modo, o homem sonha e põe em prática a vontade
divina, desde as descobertas das ilhas da Madeira e dos Açores até à costa
africana, assim como a passagem do Cabo das Tormentas “até ao fim do mundo”
para chegar à Índia.

A conclusão é nítida, o povo português foi o povo eleito por Deus para a
realização deste feito. Sangrou então o Ifante e o criou português, sendo assim
símbolo de toda a nação portuguesa, e revelou por meio dele a sua vontade de

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os portugueses partirem à descoberta pelo mar. Ora, o sonho cumpriu-se, o
desconhecido foi desvendado e conquistado, mas logo “o império se desfez”
constata-se que as terras que haviam conquistado foram perdidas com a
independência dos territórios do Brasil e da Índia, isto é, o império material se
desfez. É invocado então, o nascimento de um novo sonho, mas tal só se pode
verificar se “o Senhor” corresponder ao apelo que lhe é dirigido na frase
exclamativa “Senhor, falta cumprir-se Portugal!”. Teríamos assim uma nova
vontade divina, um novo sonho e uma nova ação.

Em seguida, o texto “O Mostrengo” inspira-se na passagem do Cabo das


Tormentas, e simboliza a ultrapassagem dos medos. Este poema é todo
conduzido a uma estrutura narrativa com um diálogo repetido entre o Mostrengo
e o Homem do Leme. O marinheiro revela certa dúvida, insegurança, hesitação
e receio. De facto, este está divido entre o terror e a coragem.

Já com uma consciência de que ali não representara a si mesmo, mas todo um
povo e a vontade de seu rei, a sua coragem acaba por vencer. É com uma atitude
de bravura, convicção e determinação que enfrenta o “mostrengo” e prosseguira
a sua missão.

Por fim, temos o poema “Prece”. É um poema totalmente escurecido, com um


sabor amargo. Prece é uma espécie de oração onde o sujeito poético roga ao
Senhor em nome do povo perante um Portugal abatido e desalento após a perda
de um império material. O passado foi glorioso, porém o presente é obscuro
embora com potencialidades para reerguer um novo império português.

Há uma esperança para o futuro, com empenho e dedicação a identidade


nacional que foi perdida pode reencontrar-se. Posto isto, tal como um sopro pode
reavivar um fogo extinto, também a Alma Portuguesa pode levantar-se para que
seja de novo grande entre as Nações!

3.

As ilustrações de Almada Negreiros retratam o que cada poema fala. No poema


“O Infante”, a ilustração está associada ao Infante D. Henrique que foi
considerado o homem que contribuiu para o impulso que levou aos
Descobrimentos. No poema “O Mostrengo”, a ilustração refere-se ao Mostrengo

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que se encontra no fim do mar, este é a personificação do medo e do receio.
Neste poema, o homem do leme, ao serviço de D.João II, representa a ambição
de um povo que quer o mar que o “mostro” afirma ser seu. No poema “A Prece”,
a ilustração tem como tema central a invocação da pessoa a Deus pedindo-lhe
ajuda para reacender a Alma Lusitana. A Prece retrata um ato de fé pelo qual o
homem dirige-se a Deus, o qual é omnipotente, omnipresente e omnisciente, em
forma de suplica, para que Este o socorra.

4.

Os poemas em análise de Fernando Pessoa e Os Lusíadas de Luís de Camões


tem ligação de intertextualidade, uma vez que, ambos são poemas sobre um
marco da história portuguesa. Contam assim, histórias sobre as perigosas
viagens marítimas e o sacrifício voluntário dos navegadores em nome da pátria,
no qual os heróis (os portugueses) concretizam uma vontade divina em
descoberta de novas terras. O homem é exaltado pela sua coragem e heroísmo,
eleito o bom aventureiro, contudo, são descritos os sentimentos do mesmo,
como medo, a esperança, e a dependência e confiança em Deus para que este
possa cumprir o seu chamado. O Mostrengo, presente na Mensagem de
Fernando Pessoa, corresponde à figura do Adamastor de Os Lusíadas, de
Camões. Como este, é o guardião do Mar Tenebroso, no Cabo das Tormentas,
mais tarde denominado da Boa Esperança.

5.

No poema “O Infante”, como um exemplo de discurso épico temos: “Quem te


sangrou creou-te portuguez. Do mar e nós em ti nos deu sinal. Cumpriu-se o
Mar…”. Esta parte do texto representa um acontecimento grandioso, um marco
histórico.

Como exemplo de discurso lírico temos: “Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e vontade!” no poema Prece. Este verso exprime a emoção,
o estado de alma do “Eu” sobre o que narra.

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