Você está na página 1de 19

Linhas gerais da colonização no Brasil

Mercantilismo
Política econômica vigente na época para assegurar ganhos do
empreendimento colonial. O mercantilismo, na prática, era um receituário de normas
de política econômica, o qual pressupõe a necessidade de atrair para si o maior
estoque possível de metais preciosos (metalismo) dado que não há ganho de um
Estado sem o prejuízo de outro. A existência desse jogo de soma zero demandaria uma
ampla intervenção do Estado para proteger produtos do país (protecionismo) e
estimular a exportação de manufaturas.

Papel das Colônias


Contribuir para autossuficiência das metrópoles enquanto área reservada de
exploração da potência colonizadora. O conjunto de normas e práticas em acordo com
as concepções mercantilistas constituía o sistema colonial. Seu eixo principal era
justamente o pacto ou exclusivo colonial.

● O comércio externo da colônia seria exclusividade da metrópole

● Impedir a presença de mercadorias não produzidas pela metrópole na colônia

● Deprimir até quanto fosse possível os preços dos produtos pagos na colônia
para vender pelo maior lucro possível na metrópole
● Obter o maior lucro possível pelos produtos vendidos na colônia, sem
concorrência
Obs: o exclusivo colonial português oscilou de acordo com as circunstâncias. Tanto
pela dificuldade concreta de implementá-lo em razão dos limites de sua
capacidade de impô-lo e impedir o contrabando de forma efetiva quanto a própria
dificuldade de monopolizar o comércio colonial. As grandes praças comerciais se
situavam na Holanda e não em Portugal e foram grandes parceiros comerciais dos
lusitanos, transportando sal e vinho portugueses e açúcar brasileiro em troca de
produtos manufaturados, queijos, cobre e tecidos. Posteriormente, Portugal
estabeleceu relações desiguais com uma das novas potências emergentes, a
Inglaterra. O exclusivo colonial Português variou de acordo com circunstâncias,
entre a relativa liberdade e um sistema centralizado e dirigido combinado com
concessões especiais.

Sentido da colonização (linhas básicas até a mineração)

● Grande propriedade (latifúndio)

● Cultivos de produtos primários destinados à exportação


● Trabalho compulsório (escravo)

● Projeto plantacionista enquanto projeto mais perseguido pela classe


dominante colonial do que pela Coroa portuguesa (Franscisco Carlos Teixeira)
● Crítica ao reducionismo de focar somente na plantation sem mencionar a
realidade social mais complexa da colônia. Havia uma realidade civil complexa para
além do esquema da plantation (Ciro Flamarion Cardoso)
● O Brasil não foi só açúcar, ouro, grande propriedade agrícola, ainda assim
parece excessivo dizer que o projeto plantacionista era um empreendimento da classe
dominante colonial – senhores de engenho, plantadores de cana, grandes
comerciantes ligados à exportação. Havia choques entre interesses privados e os da
coroa. De toda forma, o valor da concepção definidora da colonização pela grande
empresa monocultura escravista está em oferecer as linhas básicas de um
entendimento que caracterizou o Brasil no período colonial e deixou suas marcas no
pós-independência: vinculação com exterior, escravidão e a grande propriedade. (Boris
Fausto)

Período Pré-Colonial
Dura mais ou menos 1500 a 1530 (data da expedição de Martim Afonso de
Souza) ou 1549 (inicio da instalação do Governo Geral). Sua principal marca é o
sistema de feitorias o qual representa a primeira tentativa de exploração do território
brasileiro e o predomínio dos interesses da burguesia lusitana – cujo escopo se
limitava a circulação de mercadorias. A manutenção do lucro era assegurada pela
exclusividade do fornecimento dos produtos orientais e africanos. A extração do pau-
brasil, obtida mediante troca com a população nativa, também é outra marca do
período. Representou, até certo ponto, uma forma de integração aos padrões de vida
tradicionais indígenas.

 Tratado de Tordesilhas (1494): primeiro de uma séria de tratados entre


as nações portuguesas e espanholas no qual o mundo foi dividido em
dois hemisférios separados por uma linha imaginária que passava a 370
léguas a oeste das ilhas Cabo Verde. As terras à Oeste dessa linha
pertenciam à Espanha: aquelas à leste, à Portugal.
 A implantação da política de mare clausum representa o fechamento
dos mares aos navios das nações concorrentes enquanto uma maneira
de garantir que os esforços dos altos custos e riscos do
empreendimento marítimo obtivessem retorno. (início da imposição do
exclusivo colonial)
 Espanhóis passam a se concentrar na exploração de minérios nas terras
americanas sob seu domínio dado a dificuldade da jornada de se chegar
as índias via costa brasileira e o estreito para se chegar ao oceano
pacífico.
 Ameaça francesa às posses portuguesas por meio da pirataria do pau-
brasil e tentativas de se estabelecer em determinadas regiões como o
Rio de Janeiro. Não reconheciam os tratados firmados entre Portugal e
Espanha a política de que a área era de quem a ocupasse de fato.

A colonização efetiva do Brasil


É equivocado falar em ciclos dado que supõe a ideia de surgimento, ascensão e
fim da atividade econômica. Mais adequado é falar em conjunturas ou fases de
ascensão/expansão e depressão.
Meados do século XVI (entre 1550 e 1570) até 1620: fase de ascensão do
açúcar

● Período de incremento da agromanufatura açucareira, com grandes


investimentos italianos e flamengos. As operações de instalação e
atividade de um engenho poderiam ser bem custosas e dependiam da
obtenção de crédito. Comerciantes tinham com os senhores de engenho
uma relação especial, aonde financiavam instalações, adiantavam
recursos e forneciam bens de consumo importados. A história final
comércio açucareiro escapava a mãos portuguesas na medida em que
grandes centros importadores se localizavam em Amsterdã, Londres,
Hamburgo, Gênova e possuíam grande poder de fixação de preços. A
empresa açucareira representa o núcleo central da ativação
socioeconômica. Impulsionado pelos capitais italianos e flamengos e
pela crescente demanda europeia sem concorrência. Preponderância
para o nordeste. Esta região representa o primeiro centro de
colonização e de urbanização da nova terra. Tal, designada na época
como o Norte, concentra as atividades econômicas e a vida social mais
significativa da Colônia. Regiões prósperas de São Vicente, Pernambuco
e Sergipe d’El-Rei. Bahia e Pernambuco como grandes centros
açucareiros.
● Outras atividades econômicas. Do ponto de vista econômico e social, a
realidade colonial não se reduziu ao açúcar dado que o próprio também
foi pivô de uma diversificação de atividades dentro de determinados
limites.
○ A contínua escassez de alimentos devido à tendência à
especialização no cultivo da cana incentivou a produção de
gêneros alimentícios, especialmente a mandioca.
○ A pecuária foi outra atividade que cresceu vinculada às
necessidades da economia açucareira nas proximidades dos
engenhos. A tendência à ocupação das terras mais férteis para o
cultivo da cana terminou por empurrar essas atividades para o
interior, sendo a criação de gados a grande responsável pelo
desbravamento do grande sertão (Piauí, Maranhão, Paraíba, Rio
Grande do Norte, Ceará, e as áreas do Rios São Francisco,
Tocantins e Araguaia.
○ O fumo (tabaco) foi outra atividade destinada à exportação a se
desenvolver, tanto aqueles exportados para a Europa quanto
aqueles comercializados como moeda de troca na costa da
África. Sua grande região produtora se localizava no Recôncavo
Baiano e, por sua produção ser viável apenas em pequena
escala, era caracterizada por um setor de pequenos
proprietários, antigos produtores de mandioca ou imigrantes
portugueses com poucos recursos.
● Escravização indígena e negra e intensificação do tráfico negreiro. Um
conjunto de fatores inviabilizou a escravização indígena. O primeiro
dele, uma cultura incompatível com o trabalho intensivo e regular,
sobretudo compulsório. Em segundo lugar, a existência de outra
tentativa de sujeição da população nativa por parte das ordens
religiosas a qual tentava “proteger” os indígenas da escravidão. O
propósito de ordens como a dos jesuítas, seria de convertê-los a partir
do seu aldeamento, impondo a aquisição de hábitos de trabalho
europeus. O terceiro elemento seria a recusa ao trabalho compulsório
por meio de inúmeras formas de resistência como a guerra e a fuga.
Não obstante, as populações indígenas tinham melhores condições de
resistência dado o conhecimento do território. Por fim, a catástrofe
demográfica paulatinamente foi colocando em segundo plano a
escravização indígena em razão das epidemias produzidas pelo contato
com a população branca. Não possuíam defesas biológicas para doenças
como sarampo, varíola e gripe, as quais vitimaram milhares.
Escravização de africanos foi se impondo como solução alternativa por
uma série de outros motivos, entre eles o contato já existente entre as
sociedades, o prévio conhecimento do valor mercantil dos escravos, o
fato de comércio de escravizados já estar razoavelmente montado e ser
lucrativo, a capacidade produtiva maior por já virem de culturas
acostumadas ao trabalho com ferro e criação de gado. A despeito das
inúmeras formas de resistência, o desenraizamento territorial contribui
para a dificuldade em desarticular o trabalho compulsório. Tanto a
Igreja quanto a Coroa não se opuseram à escravização africana, tendo a
primeira até ajudado a justificá-la. A despeito da destruição física, os
senhores de escravos sempre puderam renovar o suprimento via
importação. O contraste para o status jurídico em relação à população
indígena também é um fator a ser mencionado. Negros escravizados
eram considerados juridicamente uma “coisa”.
● Papel da Igreja. Estado e Igreja caminhavam juntos no sentido de
organizar a colonização. Ao Estado coube garantir a soberania
portuguesa, dotar a colônia de uma administração, povoá-la e resolver
questões como a mão-de-obra e o relacionamento existente entre
metrópole e colônia. Para tanto, o reconhecimento e aceitação dessa
autoridade se fazia fundamental. À igreja, então, coube papel
fundamental de suporte cultural e ideológico enquanto instrumento
ideal para veicular a ideia geral de obediência por meio da educação e
controle das almas na vida diária. Ingresso na comunidade,
enquadramento em padrões de uma vida decente, sua presença na vida
social a partir de ritos como o casamento, confissão, extrema-unção,
morte e nascimento era notória. As relações entre Igreja e Estado
variaram ao longo do tempo na realidade de cada país. No caso
Português, ocorreu uma subordinação da igreja ao Estado por meio de
um mecanismo conhecido como padroado real. Houve uma ampla
concessão da Igreja de Roma ao Estado português, em troca da garantia
de que a coroa asseguraria os direitos e organização da igreja em todas
as novas terras descobertas. A coroa portuguesa possuía prerrogativa
de recolher o dízimo (correspondente a um décimo dos ganhos obtidos
em qualquer atividade), criar dioceses, nomear bispos remunerar o
clero e construir e zelar pela conservação dos edifícios destinados ao
culto. De forma supervisionar todas essas tarefas, o governo português
criou uma espécie de departamento religioso do Estado: a Mesa da
Consciência e as Ordens Religiosas. A forte influência na corte da
Companhia de Jesus limitou o controle da coroa sobre a igreja. Na
colônia destaque para atuação das ordens religiosas – franciscanos,
mercedários, beneditinos, carmelitas e, sobretudo, os Jesuítas.
Adquiriram maior grau de autonomia e obedeciam a regras próprias de
cada instituição. Tornaram-se proprietárias de grandes extensões de
terra e empreendimentos agrícolas, não dependendo assim da Coroa
para sua sobrevivência; além de terem uma política definida em
questões vitais da colonização, como a indígena. A igreja, num âmbito
geral, na atividade cotidiana cumpriu a missão de converter as novas
populações e inculcar preceitos de obediência ao Estado
○ Missões Jesuíticas. Junto com o estabelecimento do Governo
Geral e com Tomé de Souza, chegam os Jesuítas. Estes foram
responsáveis pela implantação de colégios, as primeiras
instituições de ensino do Brasil em regiões como na Bahia e São
Paulo. O propósito era catequizar, aldear e impor a cultura
ocidental.
● União Ibérica (1580-1640): diante da morte de Dom Sebastião e do
cardeal Dom Henrique (crise sucessória da dinastia de avis), Felipe II da
Espanha, da casa Habsburgo, é aclamado monarca Português,
consagrando o domínio espanhol sobre a região. A união permitiu na
prática o desaparecimento do meridiano de Tordesilhas e ampla
penetração dos “desbravadores” em território espanhol
(bandeirantismo). Expande-se o comércio com Buenos Aires e o Peru, o
que permitiu acesso português à prata. Como decorrência direta foi
criado o estado do Maranhão e do Grão-Pará. Altera-se o
relacionamento com os países baixos em razão do conflito aberto
existente entre a Espanha dos Habsburgos e a República das Províncias
Unidas. Os holandeses deixam de exercer o papel preponderante que
possuíam na comercialização do açúcar a partir dos capitais flamengos
que eram investidos nos engenhos.

1620/22 até 1680: fase de depressão do açúcar


Um período marcado pelo fechamento dos mercados norte-europeus e fuga de
capitais flamengos e judeus, o impacto do desastre da invencível armada (1588), perda
de praças da África (por conseguinte do próprio tráfico), queda dos preços do tabaco e
do açúcar, ascensão da concorrência antilhana, as ações de Colbert na França para o
controle do comércio e os atos de navegação de Cromwell, o qual se configuraria num
dos elementos cruciais para preponderância naval nos próximos anos.

● Invasões Holandesas: a reação holandesa começa com as pilhagens da


costa africana (1595) e da cidade de Salvador (1624). A trégua dos Doze
Anos (1609-1621) deixa Portugal numa situação mais calma. A criação
da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais muda este cenário.
Formada com capitais dos Estado e de financistas particulares, seu alvo
principal é a ocupação das zonas de produção açucareira na América
portuguesa e o controle do suprimento de escravos. A ocupação de
Salvador em 1624 dá início às invasões, porém dura apenas um ano em
razão tanto da resistência e forma de guerra de guerrilha que impede a
expansão holandesa, mas também de uma esquadra luso-espanhola
que retoma o controle da região. Posteriormente, há o ataque a
Pernambuco iniciado em 1630 com a conquista de Olinda. O poder
holandês se afirma sobre toda a região compreendida entre o Ceará e o
Rio São Francisco. A África portuguesa também é ocupada com a
captura de Angola dado o propósito de fomentar ainda mais a
agromanufatura açucareira. O império luso sofreu outros revezes por
parte dos holandeses com o ataque a Ceilão, as Molucas e a conquista
de São Jorge da Mina. As conquistas do Nordeste junto às incursões na
África – junto a outras conquistas como as francesas e inglesas na
América – desestruturam a burguesia lusa com a desarticulação das
atividades econômicas ligadas ao fornecimento de escravos e a
produção de tabaco, aguardente, açúcar e alimentos em toda a colônia.
● Restauração da coroa portuguesa. Os fortes reveses gerados pela
desarticulação da atividade econômica portuguesa se juntam a outros
fatores a desestabilizar o eixo Lisboa-Sevilha. Entre eles se destacam o
decaimento do fluxo de prata do Peru, o aumento de impostos de
contribuições para as necessidades de defesa da Coroa Habsburgo e a
concorrência nas ilhas antilhanas gerada pelo plantio de cana em grande
escala por parte de Inglaterra, França e Holanda. O último fator tem
como consequência a fuga da formação de preços por parte dos
comerciantes portugueses e a própria elevação do preço do trabalho de
pessoas escravizadas devido ao aumento da demanda no comércio
negreiro. A economia açucareira entra assim numa fase de depressão,
não retornando mais “aos velhos tempos”, ainda que tenha
permanecido como um produto fundamental nos séculos seguintes. É
nesse contexto de crise econômica e motins da fome em diferentes
regiões da coroa portuguesa (Porto em 1628; Biscaia, Madeira e Setúbal
em 1631; Évora e Algarve, 1637) que eclode uma revolta em Portugal
liderada pelo Duque de Bragança. Apoiado pelos franceses, é aclamado
Dom João IV (1640-1656).
● Ponto mais baixo da crise comercial portuguesa: 1640-1680. Reflexos
da desorganização da economia colonial e acentuada queda nos preços
do açúcar. O auge da crise se situa quando holandeses, ingleses e
franceses começaram a montar engenhos de açúcar nas Antilhas
durante esta fase. A queda dos preços do açúcar vivenciada no período
se relaciona a um choque de oferta. O processo de inserção da indústria
açucareira nas Antilhas quando as ilhas eram possessões plenamente
espanholas já havia começado no século XVI. Primeiramente, em São
Domingos, sendo posteriormente transferida para Jamaica, Cuba e
Porto Rico durante a década de 1520. Somente a partir da década de
1640, no entanto, é que a produção açucareira antilhana veio a se
consolidar em razão do aprimoramento das técnicas de cultivo de cana.
A colônia Britânica de Barbados é a primeira produzir açúcar em
quantidades significativas, tornando-se um centro de dispersão das
técnicas de preparo do produto para as demais ilhas. Partiu desta
região, a priori, colonos e capitais responsáveis pelo aprimoramento da
cultura no Mar do Caribe; de tal medida que 1647 o açúcar de Barbados
já alcançava os mercados europeus, ainda que não possuísse a melhor
qualidade. Convém dizer que a expulsão dos Holandeses do Nordeste,
em 1654, marca outra inflexão importante dado que – enquanto
senhores da técnica dos capitais, da distribuição e refino do açúcar –
puderam implantar em suas próprias colônias nas Antilhas a
agromanufatura açucareira. O açúcar do Brasil teve sua participação em
tradicionais mercados europeus – como o inglês – significativamente
reduzida, retirando do Brasil a quase exclusividade da produção. Antes
correspondendo a 80% do mercado inglês, já em 1670 tal parcela se
reduziu para 40%, chegando a apenas 10% em 1690 enquanto reflexo
de ações protecionistas de criação de novos impostos sobre produtos
importados. Se produtores assim obtiveram monopólio de seu mercado
interno, a redução nos outros mercados europeus sofreu também
significativo impacto ainda que tenha sido menor, resultando numa
queda de 40% entre 1650 e 1710. O açúcar, grande responsável pelo
êxito da colonização no seu primeiro século e meio sentiu os efeitos da
concorrência gerada pelos novos produtores, precisando se adaptar a
um mercado bastante competitivo.

Instrumentos econômicos da expansão territorial (Roberto Simonsen in


Francisco Carlos)

Criação de gado; caça ao índio/busca por metais preciosos (bandeirantismo);


busca por especiarias e drogas do sertão (norte do país).

○ Pecuária: possuía pontos de irradiação para o interior, tais quais


São Vicente em direção aos campos de Curitiba; da Bahia em
direção a Piauí, Maranhão, Paraíba, Rio Grande do Sul e Ceará; de
Pernambuco em direção à ocupação do agreste e do Sertão até o
Piauí; a região do atual Paraná tornou-se uma extensão de São
Paulo. Iniciativas individuais se juntaram a ações da coroa cujo
interesse era de assegurar a ocupação da área e estender o máximo
possível a fronteira com a América Espanhola. Num contexto maior,
a produção de gado para o mercado interno apresentou um forte
caráter de subordinação face a grande produção de exportação.
o Bandeirantismo: se num primeiro momento a conquista
territorial brasileira se deu via ocupação de pontos isolados do
litoral leste (especialmente no século XVI), o século XVII se
caracterizou como o período das grandes bandeiras paulistas. Um
fenômeno histórico diverso marcado por um conjunto denso de
ações de penetração territorial que com frequência ultrapassou a
linha de Tordesilhas. Foi um movimento que se desenrolou,
principalmente, a partir da cidade de São Paulo e tem sua
longevidade delimitada entre o final do século XVI e sua extinção
em meados do século XVIII - já durante o período minerador,
sobretudo com ações do Marquês de Pombal. Este movimento de
penetração territorial com características essencialmente
“brasileiras” misturou a participação do poder público e a iniciativa
privada e teve, por conseguinte, profundos impactos na formação
territorial do Brasil. Ainda que apresente aspectos diferentes em
lugares e tempos distintos, há critérios práticos pelos quais
identificar o movimento.
■ O vocábulo “entrada” para designar as campanhas
geralmente oficiais de conhecimento da terra e pesquisa
de metais preciosos.
■ Na costa Norte, expedições fluviais do século XVII as
quais foram desbravando as margens dos rios da
Amazônia
■ E palavra “bandeira” mais reservada para o mais
duradouro e importante conjunto de ações de
devassamento do sertão, o que teve por cenário a
Capitania de São Vicente.
Para Helio Vianna, as “bandeiras” são subdivididas em cinco
grandes ciclos: apresamento de indígenas; ouro de lavagem na
região de São Paulo e Paraná, característico do primeiro século;
sertanismo de contrato (assalariamento para combater em nome
do governo índios ou negros rebeldes em outras regiões do país);
o grande ciclo do ouro do qual a descoberta do ouro e a
consequente ocupação de Minas Gerais é o principal resultado; os
ciclos de povoamento constituído de levas de paulistas que foram
habitar regiões litorâneas, como Paranaguá e Laguna, ou
interiores, como o vale do Rio São Francisco, Curitiba e Palmas. Na
visão de Manuel Maurício Albuquerque, cada ciclo teria seu
predomínio. As bandeiras teriam se iniciado como apresadoras de
índios para depois assumir caráter guerreiro ao combater
indígenas rebelados e negros aquilombados e, por fim, se
tornarem mineradoras, povoadoras e ligadas a abertura de novas
vias de comunicação. No que diz respeito a ultrapassagem da
forma habitual do meridiano das 370 léguas, cujo impacto levou
os limites do território brasileiro até quase os contrafortes
andinos, os principais aspectos a se levar em conta seriam o
grande ciclo do ouro e o apresamento de indígenas a oeste da
linha de Tordesilhas.
Por bandeira, entende-se “bando armado”. Seus constituintes,
sobretudo seus líderes, eram portugueses ou colonos da terra. As
necessidades da agricultura na região em torno de São Paulo (a
mais importante área produtora de trigo da colônia entre 1630 e
1680) ditaram mais o ritmo do apresamento de indígenas, do que
o abastecimento de mão-de-obra para região os engenhos de
açúcar.
O período da União Ibérica (1580-1640), ainda que não constitua
causa direta do movimento bandeirante, é considerado por
muitos como fundamental para o seu desenvolvimento. Foi nesse
período que o movimento se iniciou e dificilmente teria tido a
mesma amplitude caso os espanhóis tivessem tomado mais
providências para defender as fronteiras orientais do Vice-Reinado
do Peru. Ademais, com uma Portugal independente os holandeses
muito provavelmente não teriam ocupado Pernambuco e as
feitorias portuguesas na África cuja consequência foi provocar
uma escassez de pessoas negras escravizadas que também acabou
por estimular o bandeirismo de apresamento de indígenas. O
bandeirismo levou a fronteira móvel para o Oeste, possuindo
caráter simultaneamente povoador e despovoador. Do ponto de
vista português, abriu frentes de penetração adversas e vácuos
populacionais com a dizimação de grandes contingentes
populacionais indígenas que atrairiam o expansionismo luso-
brasileiro posteriormente. Ao mesmo tempo, também parte
fundamental da catástrofe demográfica do genocídio indígena.
As bandeiras tiveram enormes consequências políticas. Contudo,
apesar de algumas bandeiras terem tido apoio do governo
português no Oeste em relação a conquista de novos territórios
para a Coroa (revisar o mito da Ilha Brasil), suas finalidades
primordiais (porém, não únicas) são aquelas mais reconhecidas
pela historiografia – procura por metais preciosos e caça ao índio.
Falar em uma razão geopolítica de expansionismo territorial
conduzido pela coroa para realização do “mito da Ilha-brasil”, em
contraposição ao meridiano de 370 léguas do tratado de
Tordesilhas, parece um exagero.
Tiveram um forte componente de insubmissão às ordens dos
delegados régios. E de autonomia devido aos difíceis contatos com
a civilização a qual se restringia a trilhas indígenas feitas pelos
tupiniquims anteriores à chegada dos portugueses. Convém
lembrar que a região de São Paulo era pobre em termos de
riquezas minerais e qualidade das terras. O que salvava a região
era sua posição estratégica na encruzilhada de vias de penetração
terrestre e fluvial (um grande nó de comunicações por meio da
qual se consolidou a interiorização no continente). Sendo assim,
de São Paulo todos iam para o sertão.
A miscigenação é outro elemento de destaque dado que foi
prática constante. A influência indígena persistiu durante todo o
período das bandeiras seja na alimentação, nos hábitos e no
idioma falado ao ponto de se falar mais a “língua-geral” (mistura
do português com a língua tupi) que o Português.
o Drogas do Sertão e expansão amazônica: sua ocupação efetiva
tem origem durante a União Ibérica no reinado espanhol dinastia
Filipina. Tanto a preocupação com uma incursão holandesa
quanto a luta com os franceses alimentaram os receios de perda
territorial e do risco para as minas da prata do Peru. A fundação
de Belém, em 1616, atendia as novas necessidades da Coroa
Ibérica enquanto um núcleo urbano de defesa e um marco de
posse da imensa bacia amazônica. A coroa estabeleceu uma
administração à parte do Norte do país, criando o Estado do
Maranhão e Grão-Pará, com governador e administração
separado do Estado do Brasil. Por meio da utilização de técnicas
de trabalho indígenas, aldeamento das populações nativas,
trabalho compulsório e reduções jesuíticas se pôde erguer uma
colônia europeia na Amazônia. As tentativas de se concretizar
um novo núcleo de agromanufatura açucareira foram
rapidamente abandonadas para constituir a região num imenso
empório de produtos da floresta chamada de “drogas do sertão”.
Convém destacar que não houve tão somente um aculturamento
passivo ou o massacre/escravidão. O aldeamento jesuítico
permitia também o enriquecimento de comunidades locais. O
empreendimento Habsburgo dos Filipes foi continuado no final
do século XVII por Dom Pedro II, pós domínio espanhol,
enquanto parte de um projeto de reerguimento do império.
Belém do Pará seria a base para reconstituição de um comércio
de especiarias perdido pelos Portugueses na Ásia. A ocupação
amazônica se dá majoritariamente no século XVII e XVIII. Um
período de prosperidade propiciado pela exploração das drogas
do sertão que dura até a ascensão do Marques de Pombal,
quando os jesuítas são expulsos.
1690/22 até 1750: recuperação dos preços metropolitanos, tratado de Methuen
e Mineração
O reinado de dom Pedro II (1683-1705) foi marcado pelos esforços de
revitalização que, ao final de século XVII, começam a surtir efeitos mais significativos. A
expansão do cultivo do tabaco é a primeira consequência a ser destacada, a ponto de
ter se tornado o segundo produto de exportação mais importante da colônia –
destaque para a região da Bahia, em torno da baía de todos os santos, Cairu,
Jaguaribe, Cachoeira, Boipeba, Rio de Janeiro e Maranhão. O tabaco passou a
desempenhar papel chave nas receitas coloniais portuguesas na virada do século ao
lado do açúcar – ainda o produto agrícola preeminente. Além de ser exportado para
metrópole, tinha também papel importante na troca por escravos, sobretudo na
região da Costa da Mina e Angola.
O fluxo de navios no tráfico negreiro viria a aumentar significativamente com a
retomada parcial da produção açucareira entre 1695 e 1700, devido a readaptação e
melhoria das espécies plantadas após o impacto da concorrência antilhana. Essa
readaptação se fez por meio da expansão das rendas da coroa através da reprodução
extensiva da atividade açucareira e a entrada de novas regiões no circuito produtivo
associado agromanufatura do açúcar como Campos do Goytacazes, a ampliação da
área de São Paulo e até mesmo regiões periféricas como o Estado Maranhão,
especialmente as cidades de São Luís e Belém do Pará. O aumento do volume de
produção, a busca por aprimoramentos técnicos, maior racionalidade da gestão foi o
que permitiu a recuperação parcial do comércio açucareiro em um mercado que se
tornava de massa e cada vez mais capitalístico.
A fomentação da produção de alimentos em larga escala foi outra medida
tomada. Arcar com o abastecimento da colônia seria excessivamente custoso e
colocaria em xeque o propósito de evitar o máximo possível a saída de moeda do
Reino. Rio de Janeiro – com suas freguesias de Magé, Iguaçu, Macacu e Irajá – haveria
de se tornar um imenso celeiro da colônia a abastecer outras regiões. O império
português se tornava cada vez mais sul-atlântico dentro de um projeto de
reerguimento econômico de feição Colbertista de Dom Pedro II. O controle da
economia do tabaco, o incentivo a uma economia de especiarias com as drogas do
Sertão e a autossuficiência na produção de alimentos eram parte integrante das ações
da coroa.
A partir de 1690, há uma recuperação dos preços metropolitanos do trigo,
azeite e do vinho do Porto, o que possibilita a assinatura do tratado de Methuen
(“panos e vinhos”), em 1703, com a Inglaterra. Esse tratado é a culminação de uma
ligação com a Inglaterra que foi se estreitando ao longo da segunda metade do século
XVII (1642, 1654, 1661, 1669). Este pressupunha o estabelecimento de relações
comerciais entre Inglaterra e Portugal aonde os portugueses permitiriam que o tecido
de lã inglês fosse admitido em Portugal enquanto os vinhos importados de Portugal
estariam sujeitos a um terço a menos dos que os Franceses. Uma aliança que se
concretizou não só pela recuperação do poder de compra de Portugal, mas também
como imposição militar e diplomática face às prévias pressões Holandesas e,
sobretudo, as presentes Franco-espanholas. Os acordos compraram o único poder
naval capaz de garantir a frágil independência de Portugal em um contexto marcado
pela ascensão da dinastia Bourbon na Espanha, a aliança político-militar-dinástica
entre Espanha e França e a Grande Aliança formada pela Grã-Bretanha, Províncias
Unidas e Sacro Império Romano Germânico para combater o poderio franco-espanhol.
Por um lado, os ingleses receavam as consequências de um possível desequilíbrio da
balança de poder no continente europeu; por outro, temiam os franceses a união de
Espanha e Áustria sob as mãos de um mesmo monarca Habsburgo. Ou seja, estava em
jogo o equilíbrio de poder europeu ameaçado pela tentativa de implantação de
hegemonia francesa no continente. A guerra de sucessão espanhola ( 1700-1712) foi a
grande consequência de um cenário de disputa de hegemonia europeia entre França e
Inglaterra que viria a caracterizar por todo o século XVIII com impactos significativos na
disputa de espaços ultramarinos.
O aspecto mais importante no contexto colonial, ainda assim, seria a contínua
insistência na busca por metais preciosos. O acesso à Prata via comércio através da
Colônia do Santíssimo Sacramento, fundada em 1679, foi uma das medidas
incentivadas pela coroa portuguesa. Mais feliz, no entanto, foi a descoberta de minas
de ouro e prata a partir do bandeirantismo. Por volta de 1695, rumores da existência
de ouro no interior do país, na região das Minas Gerais, se confirmaram com achados
feitos por Borba Gato. Descobrir-se-ia também jazidas na Bahia e em Goiás,
fornecendo uma produção contínua, ainda que irregular, entre 1700 e 1766. A
produção aurífera torna Portugal um dos grandes centros comerciais da Europa no
período. O século XVIII foi marcado do momento inicial da mineração no início do
século até seu apogeu na década de 1740; daí em diante até 1794 se dá seu lento
declínio.

● Impactos da mineração. Foi a grande responsável pela integração


territorial brasileira. A partir da expansão da exploração mineira se
formatou uma sociedade mais complexa que a do açúcar constituída
não só de mineradores, mas também de negociantes, advogados,
padres, fazendeiros, artesãos, burocratas e militares. A presença mais
constante da coroa se desdobraria no sentido de arrecadar impostos e
organizar a sociedade das minas. Juntas de julgamento foram criadas e
ouvidores foram nomeados não só para julgar questões, mas também
supervisionar a arrecadação de impostos. Os tributos passariam a ser
arrecadados por meio de dois sistemas básicos: o quinto e a captação. O
primeiro delimitava que a quinta parte de todos os metais extraídos
permanecesse com a coroa. Já o segundo consistia num imposto
cobrado por cabeça de escravos. Entre seus principais impactos é
possível delimitar:
○ Decadência do bandeirantismo
○ Difusão do escravismo africano. Mão-de-obra-escravizada
africana se torna hegemônica em função do aumento da
demanda gerada pela capitania das Minas Gerais, a qual se
tornaria a maior concentradora de escravos país. A despeito das
preocupações da coroa com o suprimento de escravos para o
nordeste posteriormente, gerou-se um efeito drenagem sobre as
áreas agrícolas do Nordeste e expandir significativamente o
tráfico negreiro a partir do Rio de Janeiro. Os escravizados
constituíam a base da sociedade cujo trabalho mais duro era a
mineração.
○ A intensa mestiçagem.
○ Ponto controverso de interpretação: grande número de alforrias
○ O Rio de janeiro em pouco tempo se tornou um importante
centro comercial dado a posição estratégica de porto mais
próximo e mais equipado para tanto o embarque de pedras
preciosas e ouro quanto de abastecimento dos sertões mineiros.
○ Alargamento da faixa de ocupação do território brasileiro e
integração das ilhas de povoamento da colonização portuguesa
dado a atração gerada pela pecuária sulina, através da São
Paulo, e a nordestina através do Rio São Franscisco.
○ Alteração profunda das bases políticas e administrativas da
Colônia, conferindo preponderância ao papel do Rio de Janeiro,
a capital colonial depois de 1763, e expandindo a vida urbana.
Criação da capitania de São Paulo e Minas do Ouro separada do
Rio de Janeiro e elevação da vila de São Paulo à categoria de
cidades
○ Primeira grande corrente migratória para o Brasil durante os
primeiros sessenta anos do século XVIII. A entrada na região das
minas, de toda maneira, também foi limitada com o
estabelecimento de normas para e emigração.
○ Alivio momentâneo dos problemas financeiros de Portugal. Na
virada do século, no entanto, a relação de dependência com a
Inglaterra já era um fato consolidado, delimitando a diferença
entre um Portugal agrícola e uma Inglaterra em processo de
industrialização – Tratado Methuen. O ouro brasileiro acabou
servindo ao propósito de compensar o desequilíbrio da balança
comercial existente entre os dois países, fazendo com que, de
certa maneira, o minério parasse indiretamente em mãos
britânica.

Crise do antigo regime/sistema colonial e Reinado de D. José I (1750-1777)

Segunda metade do século XVIII é profundamente marcado pela crise do


conjunto de monarquias absolutas dominante na Europa desde o início do século XVI.
O período é também de crise mais circunscrita no contexto colonial, o que prejudicou
as intenções de Pombal. O período se estenderia até a década de 1770. A crise de
depressão do açúcar e da produção do ouro estão entre os principais fatores que
levaram à crise. Paralelamente, a queda das rendas da metrópole, as despesas
extraordinárias cresceram dado a necessidade de reconstrução de uma Lisboa
destruída por um terremoto em 1755 e as guerras com a Espanha pela disputa do
controle sobre territórios que iam desde o Sul de São Paulo até o Rio da Prata.
Destaque do período é justamente as medidas implementadas por Sebastião José de
Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, secretário de Estado do Reino durante todo
reinado de D. José I

● Olhar caderno “Iluminismo e absolutismo ilustrado”.


● O quadro geral dos objetivos visava a centralização da administração e
impedir áreas de atuação autônoma.
● Criou companhias de comércio (Cia Geral de Comércio do Grão-Pará e
Maranhão e Cia Geral de Pernambuco e Paraíba) com o sentido de
reativar a região nordeste e desenvolver a região norte com a produção
de mercadorias produzidas e consumidas na Europa – tais quais o cacau,
a canela, o algodão e arroz. O transporte seria de exclusividade das Cias.
Suas políticas prejudicaram setores marginalizados pela Cias
privilegiadas.
● Tentativa de melhorar a arrecadação de tributos e de contenção do
contrabando levou a substituição do antigo imposto de capitação pelo
quinto.
● Procurou também tornar a metrópole menos dependente da
importação de produtos industrializados ao incentivar a instalação de
manufaturas em Portugal e no Brasil.
● Combate aos Jesuítas.

● A consolidação do domínio português nas fronteiras do norte e do Sul


passava necessariamente pela integração dos indígenas à civilização
portuguesa e por uma população nascida no Brasil que estivesse
identificada com os objetivos lusitanos. Além da expulsão dos jesuítas,
outras medidas começaram a ser adotadas no sentido de uma política
de aculturamento assimilacionista se comparada às práticas
paternalistas dos jesuítas. Assim, a escravidão indígena foi extinta –
efetivamente – em 1757, muitas das aldeias foram transformadas em
vilas sob administração civil, a legislação buscou incentivar a
miscigenação via casamentos mistos de brancos com nativos.
● Conflitos no Sul. Contra a entrega dos territórios de Sete Povos das
Missões aos Portugueses previstas no Tratado de Madrid (1750) e sob a
acusação de que buscaram fomentar uma rebelião indígena na região,
se abre um conflito com as tribos guaranis das missões jesuítas
espanholas e portuguesas que ficou conhecido como a Guerra dos
Guaranis (1753-1756). As extensas propriedades da Companhia de Jesus
eram cobiçadas por membros da elite colonial e a própria coroa,
convém dizer.
● Entre as consequências da expulsão da expulsão dos Jesuítas esteve a
abertura de um grande vazio no ensino já comprometido da colônia.
Contrariamente à coroa espanhola, Portugal sempre temeu a formação
de uma elite ilustrada, impedindo assim a formação de quaisquer
instituições educacionais. Algumas medidas foram postas em práticas
remediar a situação como a criação do imposto especial – subsídio
literário – para sustentar o ensino promovido pelo Estado.

Declínio do Ouro, sedições e Reinado de D. Maria I/Principe Regente João (1777-


1815)
Corte profundo com a época pombalina em muitos aspectos, porém com
algumas continuidades em muitos outros. Governa efetivamente durante 15 anos até
a década de 1790, quando entra em depressão profunda. O príncipe regente passa a
ser o governante de fato a partir de então. Alguns aspectos se destacam durante o
reinado da “viradeira”:
 Extinção das Companhias de Comércio
 Colônia proibida de manter fábricas e manufaturas de tecido (exceto os
de pano grosso de algodão para uso dos escravizados)
 Conjuntura mais favorável com a reativação das atividades agrícolas da
colônia. Valorização circunstancial do preço e expansão momentânea da
produção do açúcar favorecida pela insurreição da Revolução Haitiana;
fortalecimento da cultura do algodão desenvolvido pela Cia de Comércio
pombalina e ainda mais incentivado pela guerra de independência dos
EUA.
 Revoltas coloniais: possuíram características regionais, estando
diretamente relacionado ao agravamento dos problemas das ultimas
décadas do século XVIII. Os integrantes das sedições eram influenciados
pelas novas ideias que surgiam e os fatos que ocorriam na Europa e na
América do Norte nesse período (olhar caderno “tripla revolução
atlântica”
o Inconfidência Mineira (1789): O gatilho que deflagrou a
conjuração mineira envolveu fatores de ordem político-
administrativa, econômica e cultural. A queda contínua da
produção aurífera leva a uma fase de declínio da sociedade
mineira e a reação da coroa de adotar medidas para garantir a
arrecadação do quinto. Os inconfidentes constituíram um grupo
da elite colonial formado por mineradores, fazendeiros, padres
envolvidos em negócios, funcionários, advogados de prestígio e
uma alta patente militar. Todos ocupavam cargos na magistratura
e tinham vínculos com as autoridades coloniais, com exceção do
mais ativo propagandista da causa, José Joaquim da Silva Xavier –
o Tiradentes. Entre os motivos mais diretos e locais que levaram a
revolta é possível destacar um abalo na relação entre a elite
colonial e a administração da capitania. A chegada do novo
governador em 1782 marginalizou membros mais significativos da
elite e a sua troca, ainda por cima, veio com instruções no sentido
de garantir o recebimento do tributo anual de cem arrobas. O
governador não só poderia se apropriar de todo o ouro existente
como também decretar a derrama – um imposto a ser pago por
cada habitante da capitania. Convém destacar, entre os maiores
devedores da coroa se encontrava justamente os membros da
elite colonial. Tais dividas acumuladas eram resultado de
contratos feitos com o próprio governo português. O acordo
previa pagar uma quantia a coroa pelo direito de cobrar impostos,
ganhando a diferença entre esse pagamento e o que conseguiam
arrecadar. O projeto de autonomia, diversificação das atividades
econômicas e autossuficiência das minas baseado numa república
confederada inspirada pelo modelo constitucional estadunidense
começou a ser propagado por um grupo de homens letrados da
elite colonial, envolvendo até mesmo o planejamento de um
levante armado – sem contudo, envolver a abolição da escravidão.
O movimento jamais chegou a se concretizar, no entanto. Foi
duramente reprimido pela coroa antes dos revoltosos porem o
plano em marcha. A derrama foi decretada, os conspiradores
denunciados e silenciados. Uma grande encenação pública para
desencorajar futuras rebeldias. Com exceção de Tiradentes,
condenado à forca todas penas foram transformadas em
banimento. A inconfidência mineira envolveu uma combinação de
ressentimento e a percepção de autossuficiência econômica da
capitania. A sua relevância permanece pela sua força simbólica e a
transformação de Tiradentes e um mártir republicano,
principalmente após a proclamação da república que dá novo
sentido a memória do movimento.
o Conjuração Baiana (1798): um movimento organizado na Bahia
marcado pela cor e condição social de seus membros: pretos livres
ou libertos, ligados a profissões urbanas como artesãos alfaiates e
soldados; brancos de origem popular, com exceção do médico
Cipriano Barata. Se liga ao quadro geral de rebeliões que surgiram
em fins do século XVIII, mas também se relaciona com as
condições de vida da população de Salvador a qual encarava
carestias e escassez de gêneros alimentícios cuja foi consequência
foram os vários motins entre 1797 e 1798. Inspirado pela vertente
jacobina da revolução francesa, os rebeldes apresentavam o povo
como fonte de soberania, defendiam a proclamação da república
articulando-a com princípios democráticos, a igualdade política, o
fim da escravidão, o livre-comércio (sobretudo com a França), o
aumento dos salários dos militares e a punição de padres
contrários à escravidão. Contudo, jamais chegou a se concretizar,
tendo sido duramente reprimida com penas severas e
desproporcionais à ação e às possibilidades de êxito dos
conjurados. A dureza se explica em grande parte pela origem
social dos mesmos e o próprio temor de rebeliões de negros dado
a insurreição de escravos em pleno curso nas Antilhas francesas,
em São Domingos (1791-1801). Mais uma vez, o que fica do
movimento é justamente o seu aspecto simbólico enquanto
expressão de uma corrente de raiz popular com as aspirações de
independência e com reinvindicações sociais

Você também pode gostar