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Formação Econômica do Brasil

Pedro Cezar Johnson Rodrigues de Britto

Estrutura e Formação do Brasil Colonial (1500 – 1822):

Com as Cruzadas (guerras promovidas pela Igreja Católica com o objetivo de retomar a
Terra Santa), houve uma expansão das distâncias comerciais e uma maior importância do Mar
Mediterrâneo. Nesse contexto, cidades como Gênova, Veneza e Barcelona assumem um papel
comercial importante. Comércio de longa distância permitiu uma emergência burguesa e
posterior degradação do sistema feudal, já que era necessária a unificação do Estado Nacional
e, consequente formação de um corpo militar que estivesse em defesa de seus interesses. O
primeiro Estado Nacional foi o português, cujo império era constituído por colônias na África,
Ásia, que ansiou o absolutismo como forma de governo. A acumulação de metais preciosos
(forma líquida de riquezas) no século XVI gerou um processo inflacionário no país.

Segundo o autor Fernando Novais, “a colonização se insere no processo de superação


de barreiras que se antepuseram, no fim da Idade Média, ao desenvolvimento da economia
mercantil, e ao fortalecimento das camadas urbanas e burguesas”. Houve, após a
desagregação do feudalismo, um fenômeno de caráter hedonista e contrário às limitações do
comércio impostas pelo sistema feudal sustentado pela palavra divina, agora contestada.
Deste modo, o renascimento favoreceu o crescimento do comércio baseado em uma moeda
de troca, estabelecida pelas fronteiras dos novos estados nacionais. Tal fato favoreceu a nova
classe social, a Burguesia, que se aliou aos monarcas para explorar (mais valia) os
trabalhadores da época. Com o grande desenvolvimento do comércio, a atividade comercial
urbana surgiu em grande velocidade. Devido ao rápido desenvolvimento e tensões externas e
internas, novos tipos de investimento foram necessários para mudanças na organização
política europeia. Tal fato desencadeou o processo de missões de colonização, possibilitando a
conquista de novos mercados, novas fontes de matéria-prima e demais aspectos.

A queda de Constantinopla e o fechamento do seu estreito impossibilitaram, em parte,


o comércio pelo Mediterrâneo, tal que fez com que territórios africanos fossem conquistados
e rotas novas passaram a ser feitas com a finalidade de chegar as Índias. O grande feito
português, eliminando os intermediários árabes, antecipando-se à ameaça turca, quebrando o
monopólio dos venezianos e baixando os preços dos produtos, foi de fundamental importância
para o subsequente desenvolvimento comercial da Europa.

Como não haveria transportes eficientes terrestres, a mobilidade se dava por meio
marítimo, tanto que as cidades europeias quando coloniais se desenvolveram principalmente
ao redor de rotas fluviais vascularizadas (São Francisco, Rio da Prata, Amazonas, etc.).

Até 1530 houve uma negligencia por parte de Portugal em relação ao Brasil já que não
haviam encontrado riquezas, como foi o caso espanhol, porém, com as tentativas de tomada
do território (como o caso da França Antártica), houve uma preocupação maior com a colônia
e, como forma de estabelecimento de Portugal de forma gerar lucratividade para os
burgueses, houve o estabelecimento de atividade comercial organizada através da cana de
açúcar. A empresa colonial agrícola portuguesa obteve muito sucesso do século XVI até XVIII.
Feitorias: portos e jurisdições da metrópole destinada ao extrativismo e formações de
estoques (ações pagas pela metrópole e executado por nativos).

Conceitos Importantes:

Produção para o mercado: inserção da produção em função dos preços estabelecidos


pelas condições de mercado, podendo o consumo corresponder ou não às expectativas.

Produção para autossuficiência (subsistência): sem preocupação com os preços.

Sentido de Colonização:

Como não havia grande excedente populacional em Portugal, usa-se como alternativa
a doação de terras como forma de incentivo.

Produzir produtos coloniais de forma lucrativa para o comércio europeu sem competir
com as culturas agrícolas europeias. Lucratividade da empresa colonial agrícola assentada em
três elementos principais:

- Latifúndio: atividade produtiva estava baseada no uso extensivo da unidade produtiva (terra)
não no aumento de produtividade. Engenho demanda grande força de trabalho;

- Monocultura; para a produção de atividade açucareira – cana-de-açúcar: açúcar, aguardente.

- Trabalho escravo: pode-se aumentar extensivamente a produção, por exemplo, via


ampliações do uso da terra ou mão-de-obra.

Significado do “Pacto Colonial”: transferência de Renda.

Portugal, diferentemente do que aconteceu na América espanhola, não achou metais


preciosos à primeira vista nas terras Brasileiras. Deste modo, após o período pré-colonial, a
ideia de desenvolver uma produção de cana-de-açúcar (anteriormente testada nos Açores) era
visivelmente lucrativa, com condições favoráveis e colonizadoras por si só. Deste modo,
Portugal implantou o sistema e ganhou bastante com as visíveis vantagens impostas sob a
colônia. De acordo com o “pacto” colonial, a colônia só podia realizar transações mercantis
com a metrópole e com Países autorizados pela mesma. Deste modo, o preço de compra e de
venda era instintivamente regulado pela metrópole (Monopsônio), visto que a Colônia
funcionava sobre a mesma regra de exclusividade no que tange às “importações”. Além disso,
a colônia não podia produzir bens potencialmente concorrentes aos produzidos pela
metrópole e nem atividades manufatureiras.

Em relação à colonização portuguesa e espanhola: apesar de terem ocorrido em


épocas relativamente convergentes, as iniciativas foram visivelmente divergentes. Em primeira
instância, vale dizer que durante 1500 e 1540, a colonização Portuguesa foi ineficiente, visando
apenas uma pequena integração linguística e obtenção de certos produtos, como o pau brasil.
Enquanto isso, a colonização espanhola se deu rapidamente, devido aos metais preciosos
encontrados logo no primeiro contato. Esses fatores contribuíram para maior incentivo
colonizador da população espanhola e uma falta de atrativo para a população lusitana, que
sofreu com políticas de povoamento da coroa. Depois do Período Pré-Colonial, os Portugueses
basearam sua colonização no incentivo a empresa colonial agrícola, enquanto os espanhóis se
dedicavam à mineração. Além dessa diferença, vale lembrar que o Sistema Política Brasileiro
encontrava-se descentralizado, divido em Seis Marias, enquanto os espanhóis tentaram
centralizar ao máximo todo o movimento colonizador.

Ciclo Econômico gerado com a colonização:

Empresa Açucareira:

Cana-de-açúcar: capitalização e fluxos / níveis de renda na colônia açucareira. Houve


sucesso da empresa mesmo com dificuldades (meio físico, transporte). A maior dificuldade
inicial foi à mão-de-obra. A mão-de-obra africana expande a empresa. Desenvolve-se
rapidamente (autofinanciamento). Renda: fortemente concentrada (pelo menos 90%).

Engenhos realizavam alguns gastos monetários, com gado, lenha, etc.

Destino da renda: reinvestimento + consumo de bens de luxo; alto grau de


capitalização que leva aumento da produção. Indústria suficientemente rentável: capaz de
autofinanciar aumentando em cerca de 2x a produção a cada dois anos (extensão da terra e da
mão-de-obra escrava).

Fluxo de Renda e Crescimento:

Grande escala desde o início, diferentemente das ilhas do Atlântico. Importação de


Mão-de-Obra escrava e Capital (equipamentos e mão-de-obra europeia especializada).
Construção e instalação sem praticamente fluxo de renda. Produção voltada para fora: parte
dos pagamentos vai para o exterior. Da mesma forma que as instalações, os escravos podem
ser mensurados como custo fixo.

Quase totalidade da renda monetária vem das exportações; e dos gastos / dispêndios
das importações. O sistema cresce através da demanda externa, abundância de terras.
Aumento da produção sem que existam modificações sensíveis na estrutura econômica:
ocupação de novas terras. Economia do NE resiste mais de três séculos, com prolongadas
depressões.
Êxito da empresa colonial agrícola: alto valor comercial; monopólio pela metrópole
através do pacto colonial.

Instrumentos econômicos de expansão da ocupação colonial para o interior:

- Criação de gado (retaguarda econômica das zonas de engenho e, depois, da mineração).

- Caça ao índio como suprimento de mão-de-obra;

- Busca de metais preciosos;

- Busca de especiarias e drogas do sertão.

Primeiras funções da exploração de Pecuária:

- Força motriz dos engenhos;

- Instrumento de tração de carretas que transportavam lenha e açúcar.

- Para alimentação;

- Para a produção de couro (insumo na fabricação de selas, casacos, calçados, correias


e cantis).

Circulação da renda na economia canavieira:

- Engenho produzia maior parte das necessidades de consumo dentro da própria


economia canavieira;

- Importava equipamentos e escravos (investimento inicial); custo operacional baixo.

- Lenha necessária como material de construção e combustível; cada vez fica mais
distante conseguir; necessários animais de tração: boi.

- Somente 3% para economia interna.

Expulsão dos holandeses:

- Holandeses eram parceiros dos portugueses: financiavam a instalação dos engenhos


e distribuíam o produto no mercado externo. Holanda era parte da Espanha, e declara
independência; e não queriam abrir mão dos negócios do açúcar. São expulsos por Portugal,
mas utilizam técnicas aprendidas para abrir concorrência nas ilhas e quebrar o monopólio.

Empresa Mineira:

Podemos analisar a economia mineira bem como a circulação da renda nesta traçando
paralelos com a economia canavieira. Enquanto as empresas canavieiras necessitavam de um
investimento inicial maior de capital fixo (incluso para compra de escravos), na economia
mineira este investimento inicial era substancialmente menor, inclusive com relação à compra
de escravos. Diferente da economia canavieira, na mineira os escravos nunca superaram
demograficamente em relação à população livre; e muitas vezes, os escravos trabalhavam por
conta própria comprometendo-se a pagar a seus ‘donos’ certas quantias fixas periodicamente,
criando assim condições de muitas vezes poder após certo tempo comprar sua própria
liberdade. Em relação à renda da economia mineira, era baseada na incerteza, e até podemos
dizer na sorte. Muitas empresas atingiram seu ápice de prosperidade muito rapidamente, tão
rápida quanto à depressão posterior (esgotamento das minas). As empresas não
necessitavam ficar fixas em uma região, mas devemos levar em questão o deslocamento delas
para quando em determinada área esgotava os recursos. Após a depressão, muitos
empresários eram reduzidos a simples faiscadores e com o tempo revertiam à simples
economia de subsistência.

No momento mais próspero da economia mineira, o volume de exportação do ouro


atingiu cerca de 2,5 milhões de libras, em torno de 1760, considerando-se que 4/5 da
exportação correspondesse à renda gerada na economia mineira. A renda era particionada
entre os empresários mineiros, ou seja, bem menos concentrada do que em relação a
economia canavieira, considerando-se maior parte do contingente de população livre; e
também às regiões vizinhas às quais elevavam os preços dos produtos alimentares, e
principalmente em relação ao transporte, elevando o preço do gado, mulas, atividade de
criação.

Economia Mineira cresce no Centro-Sul, atrai modo de produção especializada,


aumenta o preço do escravo e baixa à rentabilidade.

A mineração não era localizada em áreas litorâneas, mas sim em áreas interiores,
basicamente situadas na vasta região compreendida entre a Serra da Mantiqueira, no atual
estado de Minas, e a região de Cuiabá, no Mato Grosso, passando por Goiás. Devido à alta
lucratividade resultante do achado do ouro nestas regiões, era natural que as regiões vizinhas
de tais polos de exploração elevem os preços de seus bens que produzem, como por exemplo,
alimentos. Devemos tomar em consideração também que o ouro extraído, necessitava de
transporte para áreas do litoral onde existiam os portos para serem exportados. Assim a
atividade criatória, até então de baixa rentabilidade e que atendia basicamente as
necessidades da empresa canavieira, passa a atender também as necessidades da empresa
mineira. E isso causa uma revolução nessa atividade, pois os preços elevam-se e passa a ter
uma rentabilidade substancialmente maior. Tanto para uso de transporte quanto para
alimentos, vestimentas, a criação passa ser essencial para a economia mineira, atraindo a
criação inclusive do Nordeste para os polos de mineração, onde encontravam rentabilidade
muito maior. Isso neste momento prejudicou de certa forma os engenhos do Nordeste, pois
também necessitavam dessa atividade, e para manter próximo, tiveram também de aumentar
o preço, e até criar leis proibindo o deslocamento do gado. Assim pela primeira vez na história
colonial observamos uma articulação entre as atividades em questões de regionais, onde há
migração interna da atividade de criação.
Em relação à economia Brasileira frente a economia Norte-Americana:

Celso Furtado põe em questão em um capítulo o “Confronto com o Desenvolvimento


dos EUA”. Nele o autor descarta opiniões supersticiosas de inferioridades de “clima” e “raça”,
de que atribuem avanço americano devido ao clima ser parecido com o Europeu. A questão
que leva o atraso da economia brasileira está baseada sim na estrutura da afirmação da
vocação primária na mentalidade dos detentores de maior posição política no Brasil, e no
desconhecimento de técnicas manufatureiras / industriais (em grande parte por barreiras da
Inglaterra com relação a exportação de máquinas). Devemos também levar em consideração,
após a independência do Brasil, com quebra do entreposto português, os acordos com a
Inglaterra em que as taxas de importações seriam substancialmente reduzidas. Sendo assim
para o Brasil, fica mais viável importar produtos industrializados da Inglaterra, do que tentar
criar meios de produção de tais mercadorias.

Já nos EUA após independência, começa-se diferenciar do Brasil a sua classe


dominante, formada por pequenos agricultores, grupo de grandes comerciantes urbanos;
enquanto no Brasil a classe dominante era de grandes agricultores escravistas. As colônias de
povoamento inglesas em território norte-americano já possuíam uma base industrial. Apesar
dos entraves ingleses para estas colônias não gerarem competição, o governo inglês
fomentava as colônias do norte aquelas indústrias que não competissem com a metrópole,
permitindo a esta reduzir suas importações de outros países. Assim com esta experiência
técnica acumulada desde a época colonial, os EUA pôde se desenvolver economicamente de
forma diferente do Brasil a que chamamos de atraso.

Crise da Economia Colonial:

- Expansão do mercado interno (conflito entre Coroa e colonos).

- Emergência ao capitalismo industrial na Europa;

- Mudança do Status político do Brasil (vinda da família real, abertura dos portos,
fundação do Banco do Brasil, tratos comerciais com a Inglaterra).

Economia Cafeeira:

- Introdução da cultura do café na Província Fluminense.

- Importância do acúmulo de capitais no tráfico escravo para financiar a introdução da


cultura do café.

No vale do Paraíba Fluminense café cultivado com trabalho escravo.

Características da Economia Cafeeira:

- Longo período de rotação do capital;

- Expansão extensiva devido à perda de fertilidade do solo;

- Forte demanda de mão-de-obra e terra;


- Diferente da economia canavieira, não há intervenção da Coroa Portuguesa.

Agentes do Complexo Agro Exportador Cafeeiro:

- plantador (fazendeiro);

- beneficiamento;

- comerciante / atacadista;

- comissário (financiador da “abertura” de novos cafezais);

- escravo / imigrante;

- malha ferroviária.

Aumento da Produção Brasileira de café: elevação de oferta internacional; redução do


preço internacional do café; queda na receita de exportações de café; redução de oferta de
divisas no Brasil; desvalorização cambial; aumento dos preços internos e de receita em moeda
nacional.

Brasil representa certa de ¾ da produção mundial do café: produto de baixa


elasticidade-preço da procura.

Governo Central: imposto de importação. Governos Estaduais: imposto de exportação.

Crises de superprodução de café: desvalorizações cambiais; compra dos estoques


excedentes (convenio de Taubaté, 1906). Oferta elástica de terras e mão-de-obra pelo peso de
produção brasileira na oferta mundial do café.

1889 – 1930: 1,4 milhões de imigrantes.

Por que os imigrantes não se tornaram pequenos produtores agrícolas? Trabalhadores


assalariados e / ou parceiros nas fazendas de café. 1850: lei de terras (toda terra deve ser
registrada, assim ex-escravos e estrangeiros teriam que enfrentar enormes restrições para
possivelmente galgarem a condição de pequeno e médio proprietário), lei Eusébio de Queirós
(proibição da importação de escravos Africanos no Brasil).

Grande Depressão de 1929: diminuição dos fluxos de comércio internacional (políticas


protecionistas); diminuição dos preços internacionais dos produtos comercializados;
paralização dos fluxos financeiros internacionais utilizados na compra dos estoques
excedentes do café.

Governo Vargas: 1930/45


Governo Dutra: 1946/50
Governo Vargas: 1951/54
Governo Juscelino Kubistchek: 1956/61 – Plano de Metas.
Origens de Indústria no Brasil:

Principais enfoques teóricos:

- Teoria dos Choques adversos, como por exemplo, 1ª guerra mundial, grande
depressão, 2ª guerra mundial. Economia brasileira experimentava um aumento da produção
industrial que substitui as importações.

- A ótica de industrialização liderada pela expansão das exportações: incremento de


circulação da moeda na economia.

- Ótica do capitalismo tardio.

Industrialização por Substituições de Importações (ISI).

Formulação clássica: Celso Furtado (a relação entre economia cafeeira e a


industrialização: a fase espontânea).

Principais formuladores: os “herdeiros” do modelo ISI. Conceição Tavares, Paul Singer


e Bresser Pereira.

Observação: no modelo de ISI, não é correto afirmar que houve um interrompimento


ou diminuição das importações; mas somente uma mudança na pauta de produtos
importados.

1ª Fase: ‘espontânea’. Estrangulamento externo; queda nas exportações; diminuição


do financiamento das importações (inelásticas no curto prazo); estímulo ao investimento
interno.

2ª Fase: a fase “difícil”. Maior desafio econômico, financeiro e tecnológico.


Necessidade de aumento das exportações, capitais de empréstimo, capitais de risco. Estado
com papel orientador (estimula) do capital privado; Estado Empresário (CSN, Companhia do
Vale do Rio Doce, Petrobrás). Podemos definir o Estado como Agente do Processo nessa fase.

1880 / 1930: fase “fácil” da ISI.


1930 / 1954: fase de industrialização restringida.
1955 / 1980: processo de industrialização.

- Importância do Nacional-Desenvolvimentismo;

Pós Segunda Guerra: o desenvolvimento entra na agenda econômica: Estado de Bem-


Estar Social, Estado Desenvolvimentista (CSN, VALE, PETROBRÁS, BNDE).

Ao fim da Segunda Guerra Mundial, foi instituída uma nova ordem econômica
internacional com o objetivo de evitar novos conflitos armados, direcionando-os para a esfera
diplomática nos novos órgãos multilaterais.

Preocupados em evitar as consequências econômicas e políticas ao fim da Primeira


Guerra, os líderes da Segunda Guerra promoveram a Conferência de Bretton Woods
(localidade situada no Nordeste dos Estados Unidos), em junho de 1944, com o objetivo de
planejar a estabilização da economia internacional. Com a presença de representantes de 44
países (os socialistas não participaram), foram estabelecidos acordos válidos em todos os
países capitalistas que resultaram na criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do
Banco Mundial (BIRD). Além desses órgãos multilaterais, iniciou-se o processo de construção
da Organização Mundial do Comércio (OMC), inicialmente como Acordo Geral de Tarifas de
Comércio (cuja sigla em inglês é GATT – General Agreement on Tarifs of Trade, e que constitui
a origem da OMC) e da Organização das Nações Unidas (ONU).

Num mundo dividido entre países capitalistas e socialistas, houve uma reformulação
do sistema capitalista, com a introdução de um sistema de proteção trabalhista e
previdenciária – o Estado de Bem-Estar Social - nos países desenvolvidos. Naqueles não
desenvolvidos, a dependência econômica em relação à agro exportação foi identificada com
atraso econômico, enquanto a industrialização significaria o desenvolvimento, e poderia ser
alcançada mediante a intervenção estatal, do Estado Desenvolvimentista.

Estado de Bem-Estar Social: designa um sistema econômico baseado na livre-empresa,


mas com participação do Estado na promoção de direitos sociais, como educação, saúde,
direitos trabalhistas e previdenciários.

Estado Desenvolvimentista: designa um sistema econômico de livre-empresa, mas


com significativa participação do Estado: a) indiretamente, mediante a promoção de
infraestrutura econômica visando estimular os investimentos privados; e b) diretamente, como
empresário, ocupando lacunas criadas pela incapacidade ou desinteresse da iniciativa privada
em setores considerados necessários para o desenvolvimento econômico. Entre esses setores,
destacamos os da siderurgia e do petróleo, produtos intermediários imprescindíveis para a
industrialização, o que levou à criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da
Petrobrás.

- A Comissão Econômica para América Latina (CEPAL), criada em 1948 e a idéia do


Desenvolvimento.

Conceito central: relação centro-periferia (o progresso técnico se desenvolve de forma


desigual nos dois pólis-centro e Periferia).

- Teoria do comércio internacional está na origem da teoria cepalina (lei das vantagens
comparativas).

Raúl Prebisch: tendência à deterioração dos termos de troca entre produtos primários e
industrializados bloquearia o desenvolvimento das econômicas primário-exportadores.

Em relação aos termos de troca (termos de intercâmbio): relação entre os preços de


exportação e os preços de importação de um país. Se os preços das exportações aumentam
em relação aos preços das importações, diz-se que esse país melhorou seus termos de
intercâmbio, o que equivale dizer que ele poderá importar mais produtos com o valor apurado
das suas exportações.

A maior importância da Cepal reside no fato de ter elaborado uma teoria do


subdesenvolvimento, esclarecendo as características particulares dos países situados na
periferia do sistema capitalista. Com isso, o órgão ajudou a fornecer a ideologia da afirmação
nacional e a traduzi-la em estratégias ou planos de desenvolvimento que foram
implementados em diversos países.

- Proposição Política: Estado como agente direto e indireto do processo de


industrialização.

O Plano de Metas (1956-1961), plano econômico do presidente Juscelino Kubitschek


(JK), é considerado um referencial importante na economia brasileira por ter completado o
processo de industrialização, ao passar a fabricar no Brasil bens de produção e bens duráveis
de consumo.

Trata-se de uma ruptura importante por envolver também um novo papel para o
Estado, que se transforma num ativo agente promotor do desenvolvimento econômico. Esse
Estado interventor, chamado Estado Desenvolvimentista, atuava de forma direta e indireta. A
intervenção direta ocorria por meio dos investimentos das empresas públicas, enquanto a
intervenção indireta era resultado do auxílio ao investidor privado, mediante políticas cambiais
e de crédito que o favoreciam.

Com base no slogan “cinquenta anos em cinco”, o presidente JK foi responsável pela
aceleração da industrialização brasileira, completando seu parque industrial com a criação de
indústrias produtoras de máquinas e equipamentos, de infraestrutura de transporte e energia,
além da produção de bens de consumo duráveis. A partir desses investimentos, a economia
brasileira desenvolveria uma dinâmica típica de economias industrializadas.

O Plano de Metas era constituído de 30 metas (mais a fundação de Brasília),


organizadas nos seguintes grupos: energia; transportes; alimentação; indústrias de base (aço,
alumínio, metais não ferrosos, cimento, álcalis, papel e celulose, borracha, exportação de
ferro, veículos motorizados, construção naval, maquinaria pesada e equipamento elétrico);
educação.

Os instrumentos de política econômica utilizados na realização dos vultosos


investimentos do Plano de Metas foram os cambiais, a criação de fundos setoriais e a
inflação. Durante os anos 1950, a política cambial constituiu o principal instrumento de
política econômica com que contava o governo.

Câmbio múltiplo: O uso do câmbio múltiplo como instrumento de política econômica


foi muito comum durante o período da industrialização substitutiva de importações (ISI),
anterior à entrada em vigor das reformas Campos-Bulhões, que criaram novos instrumentos
de política. Consistia em estabelecer diferentes taxas de câmbio para exportações e
importações, além de taxas diferentes também entre as importações, segundo o grau de
essencialidade do produto importado. Diferente da situação atual, em que existe apenas uma
taxa de câmbio para todas as operações envolvendo moeda estrangeira, naquele período o
governo federal pagava uma taxa de câmbio mais baixa pelas divisas que o exportador de café
recebia por suas vendas no exterior; para os importadores de bens de capital, necessários para
desenvolver internamente a indústria, eram vendidas divisas por uma taxa de câmbio mais
baixa.
A diferença entre o valor da taxa cambial que o governo pagava aos exportadores e o
que recebia dos importadores consistia no subsídio à indústria, financiado pelos exportadores.

Quando o governo instituiu taxas múltiplas de câmbio para as importações, passou a


vender as divisas aos importadores através do sistema de leilão, onde quem dava maior lance
comprava as escassas divisas. Esse sistema favorecia os importadores dos bens considerados
prioritários ao processo de industrialização ao lhes garantir taxas de câmbio num piso inferior
ao valor das divisas conseguidas em leilões.

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