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O Arranque Industrial

O processo de industrialização iniciou-se em Inglaterra, na segunda metade do século


XVIII, sob o impulso de um conjunto vasto de fatores:

 Abundância de matérias-primas (agricultura, criação de gado e recursos


naturais)
 Disponibilidade de mão-de-obra
 Grande mercado de escoamento dos produtos (Interno e Externo)
 Excelentes vias de comunicação (canais e portos)
 Existência de estruturas financeiras e capitais de investimento
 Sociedade dinâmica (burguesia e nobreza empreendedoras)

Setor Algodoeiro

Foi o aumento da procura, interna e externa, bem como a abundância de matéria-


prima, proporcionada pelas colónias, que impulsionaram os progressos no setor
algodoeiro. O ciclo terá começado coma a invenção da lançadeira mecânica por John
Kay, logo depois foi criada a fiandeira mecânica. Com estes progressos tecnológicos
sucessivos, o setor algodoeiro foi cada vez mais crescendo e permitiu o aumento da
produção e da produtividade. Os artesãos transformaram-se assim em industriais de
sucesso.

Setor Metalúrgico

O desenvolvimento do setor têxtil foi acompanhado pelo da demetalurgia que,


fornecedora de máquinas e outros equipamentos, se tornava indispensável aos
progressos da industrialização.

No século XIX, o crescimento deste setor intensificou-se. A partir da década de 1830,


a metalurgia tornou-se no principal setor industrial.

A força do vapor

Em todo este processo de modernização coube ao engenheiro escocês James Watt


um papel central.

Em 1663, James Watt, foi chamado para reparar uma máquina de Newcomen,
engenho a vapor correntemente utilizado para bombear a água das minas. Foi aí, que
decidiu que se ia dedicar a aperfeiçoar a máquina a vapor de Newcomen.

A máquina de vapor de James Watt constituiu o primeiro motor artificial da História.


Com ela foi possível mover teares, martelos, locomotivas e todo o tipo de mecanismos
que anteriormente dependiam do trabalho humano ou das forças da Natureza. A
máquina a vapor de Watt, teve grande aplicação nos transportes e nas máquinas
industriais.

Transformações da Industrialização

 Passagem da manufatura para a maquinofactura


 Afirmação de uma nova classe – burguesia- que impõe os seus valores e
cultura
 Deslocação de camponeses para as cidades (crescimento das cidades)
 Crescimento desordenado das cidades à volta das fábricas surgindo bairros
operários
 Aceleração dos transportes – Rápida circulação de mercadorias e ideias
 Afirmação da Inglaterra como potência – Capitalismo industrial.
 Transformações na paisagem.

Portugal: Dificuldades do crescimento económico

Portugal partilha os destinos da Europa e as flutuações do seu comércio. No século


XVII, Portugal passa grandes dificuldades económicas, que procura resolver
implementando medidas protecionistas. Já no século XVIII, a descoberta do ouro do
Brasil, traz um desafogo financeiro breve, mas intenso, que marca o reinado de D.
João. Na segunda metade do século, é a ação de Marquês de Pombal que impulsiona
a vida económica, conduzindo o país a um período de acentuada prosperidade.

Da crise comercial à apropriação do ouro pelo mercado britânico

No século XVII, Portugal vivia sobretudo da reexportação dos produtos coloniais, tais
como o açúcar, o tabaco e as especiarias.

No século XVII, os Holandeses, expulsos do Brasil, transportaram para as Pequenas


Antilhas as técnicas de produção de açúcar e tabaco que, no litoral brasileiro, tinham
apreendido. Estes cultivos rapidamente se generalizaram também aos territórios
franceses e ingleses.

Deste modo, Holanda, França e Inglaterra, que constituíam os nossos principais


mercados, passam a consumir as suas próprias produções, reduzindo
acentuadamente as compras feitas em Lisboa.

Estas novas zonas produtoras, a política protecionista de Colbert e a concorrência


sofrida no comércio asiático desencadearam uma crise comercial grave que, se não
foi exclusivamente portuguesa, assumiu aqui maiores proporções que nos restantes
países da Europa.
Entre 1670 e 1692, época em que a crise atingiu o seu auge, os armazéns da nossa
capital abarrotavam de mercadorias se compradores, O excesso de oferta reflectiu-se,
de forma dramática, nos preços, que baixaram sem parar.

Esta grave crise privou Portugal dos meios necessários ao pagamento dos
produtos industriais que importava. Produzir internamente o que até aí se adquiria
ao estrangeiro pareceu a solução mais viável. Os esforços foram, pois, no sentido do
desenvolvimento das manufaturas.

O surto manufatureiro

Embora a ideia de industrializar o país, já estivesse bastante presente, foi o impacto


da obra Discurso sobre a Introdução das Artes no Reyno, de Duarte Ribeiro de
Macedo, embaixador em Paris, e por isso muito em contacto com o colbertismo, que
deu o impulso necessário ao arranque das manufaturas portuguesas. Nesta politica
distinguiram-se os vedores da Fazenda de Pedro II, D.João de Mascarenahas, 1º
marquês de Fronteira, e sobretudo, D.Luís de Meneses, 3º Conde da Ericeira.

Desde que assumiu o cargo, em 1675, este ministro, procurou equilibrar a balança
comercial do reino substituindo as importações por artigos de fabrico nacional. Neste
sentido:

 Procedeu à contratação de artífices estrangeiros, sobretudo ingleses,


holandeses e venezianos.

 Criou indústrias, às quais concedeu privilégios e subsídios, como as de


vidros, de fundição de ferro e de tecidos. Foi este o último setor que maior
atenção mereceu, estabelecendo-se o fabrico das sedas e, sobretudo, o dos
lanifícios, que persistiu até aos nossos dias, na Covilhã e no Fundão.

 Praticou uma política protecionista da indústria nacional, através da


promulgação de leis pragmáticas, que proibiam o uso de diversos produtos de
luxo importados, tais como chapéus, rendas, brocados, tecidos e outros
produtos similares.

 Recorreu à desvalorização monetária com fim de tornar os produtos


portugueses competitivos no mercado externo e, simultaneamente, encarecer
os artigos que, de fora, nos chegavam.

Ainda de acordo com os preceitos do Mercantilismo, criaram-se várias companhias


monopolistas, às quais se deram privilégios fiscais:

 Companhia do Cachéu, para o tráfico de escravos


 Companhia do Maranhão, destinada ao comércio brasileiro
 Outras, que a partir de Goa, operavam na África Oriental, na China e em Timor.

A inversão da conjuntura da crise


Cerca de 1690, a crise comercial dá sinais de se extinguir e as exportações
portuguesas saem. Então escoam-se os stocks dos armazéns, os preços das
mercadorias coloniais elevam-se e, em simultâneo reativam-se as vendas dos
tradicionais produtos do reino: o sal, o azeite, e sobretudo o vinho impõe-se nos
mercados internacionais. Os conflitos coloniais entre Holanda, Inglaterra e França,
contribuíram também para o fim da crise, pois estes favorecem as explorações
portuguesas.

Com o final o quase final da crise, veio-se juntar a descoberta do ouro no Brasil em
1695.

A esperança de que o subsolo brasileiro albergasse riquezas semelhantes às da


América espanhola. Porém, durante muito tempo, nenhuma quantidade significativa de
ouro foi encontrada, apesar das muitas expedições.

Estas expedições, na sua grande maioria tiveram como centro São Paulo. Embora
formalmente proibido pela lei, a captura de escravos era rendosa o suficiente para
motivar colonos e aventureiros, que organizados de forma paramilitar e empunhado
um estandarte – daí o nome bandeiras dado a estas exposições – afrontavam os
muitos perigos do sertão. Foi a estas bandeiras e aos seus bandeirantes que ficou a
dever-se as descobertas de jazidas de ouro, no último quartel do século XVII.

Uma súbita sensação de riqueza invadiu Portugal. Ao todo, na primeira metade do


século XVIII, terão entrado no país cerca de 500 toneladas de ouro.

A apropriação do ouro brasileiro pelo mercado britânico

À medida que a crise comercial se desvanecia, Portugal via-se novamente em


situação de poder adquirir, no estrangeiro, os produtos industriais necessários para o
consumo interno. Para mais, a liquidez proporcionada pelo ouro brasileiro permitia
redobradas facilidades de pagamento.

Neste contexto, o país encontra, de novo, a sua vocação mercantil e o esforço


industrializador esmorece. A incapacidade de fazer cumprir as Leis Pragmáticas,
bem como a fraca qualidade dos produtos fabricados, concorreu também para a
decadência das nossas unidades industriais.

Em 1703, o projecto industrializador recebe mais um golpe: a assinatura, entre


Portugal e Inglaterra, do Tratado de Methuen. Nos termos desse acordo, os tecidos de
lã ingleses e outras manufaturas seriam admitidos sem restrições em Portugal,
anulando assim, as leis pragmáticas que os proibiam. Em troca, os vinhos portugueses
entrariam em Inglaterra pagando apenas dois terços dos direitos exigidos aos vinhos
franceses.

Um dos mais polémicos e malquistos tratados da História portuguesa, o Tratado de


Methuen, foi, durante muito tempo, responsabilizado pela decadência da nossa
indústria e pela subsequente preponderância britânica.

Desde meados do século XVII que os portugueses pagavam em benefícios


económicos o apoio da Inglaterra à causa da Restauração. Os ingleses encontravam-
se por isso, numa posição privilegiada para, num contexto de abertura comercial, se
apropriarem da maior fatia do tráfico português.

O Tratado de Methuen estimulou o crescimento das exportações dos nossos vinhos


que, desde então, ficaram sempre no gosto dos ingleses, mas originou uma
dependência alarmante neste setor: em 1777, o mercado britânico representava 94%
das nossas exportações vinícolas. Simultaneamente o défice comercial com a
Inglaterra atingia cifras alarmantes.

Este défice, pago em numerário, foi o maior caudal por onde se esvaiu a riqueza vinda
do Brasil. Calcula-se que, por esta via, cerca de três quartos de todo o ouro recebido
tenha ido parar às mãos dos ingleses.

A política económica e social pombalina

Em meados do século XVIII, quando as remessas de ouro brasileiro começaram a


diminuir, Portugal viu-se confrontado com uma nova crise, de contornos muito
semelhantes aos que tinham enquadrado as medidas económicas do Conde da
Ericeira: debilidade da produção interna, dificuldades de colocação, no mercado, dos
produtos brasileiros, excessiva intromissão das outras nações no nosso comércio
colonial, défice crónico da balança comercial.

A crise e a consciência da nossa excessiva dependência face à Inglaterra coincidiram


com o governo de Marquês de Pombal, ministro todo-poderoso do rei D.José I.

O Marquês pôs em prática um conjunto de medidas tendentes ao reforço da economia


nacional, suporte imprescindível à grandeza do rei e do Estado que servia.

Os grandes objetivos da política pombalina foram a redução do défice e a


nacionalização do sistema do sistema português, passando o seu controlo e os seus
benefícios para as mãos dos nacionais. Seguindo máximas mercantilistas. Pombal
impôs ao Estado e a si próprio essa gigantesca tarefa. Assim:

 Em 1755, cria a Junta do Comércio, órgão com amplos poderes, ao qual


passou a competir a regulação de boa parte da atividade económica do reino.
 Reorganiza o comércio externo através da criação de companhias
monopolistas. Concentrando capitais privados e do Estado, as companhias
procuravam constituir-se como entidades à altura de se baterem,
comercialmente, com os Ingleses. Entre estas companhias destacam-se as
que operavam no Brasil e também a Companhia das Vinhas do Alto Douro,
encarregada da reorganização da produção e comércio dos vinhos generosos
do Douro que, como muitos outros setores, se encontrava submetido aos
interesses britânicos.
 Revaloriza o setor manufatureiro, procedendo à revitalização das indústrias
existentes e à criação de novas unidades.

Pertencentes ao Estado ou a particulares, todas as manufaturas pombalinas


receberam privilégios e foram providas das técnicas mais adequadas, tendo
Portugal acolhido, de novo, reputados artífices estrangeiros.
Consciente de que o progresso económico passava pela promoção social da
burguesia, o Marquês procurou valorizar a classe mercantil, conferindo-lhe maior
estatuto e tornando-a mais capaz. Foi assim que, em 1759, se criou em Lisboa,
sob a designação de Aula do Comércio, a primeira escola comercial da
Europa, verdadeira precursora das atuais escolas técnicas, cujo currículo
privilegiava matérias de caráter prático, como a contabilidade, por exemplo.

Alguns anos depois, em 1770, o grande comércio foi declarado “profissão nobre,
necessária e proveitosa”, conferindo à alta burguesia, acionista das companhias
monopolistas, o estauto nobre, que abria as portas a cargos e dignidades.
Igualmente se ficou a dever a Pombal o fim da distinção entre cristãos-novos e
cristãos-velhos (1768), bem como a subordinação do Tribunal do Santo Ofício à
Coroa. Terminado o poder discricionário dos inquisidores, inaugurou-se um
período de estabilidade e segurança para os homens de negócios que
conseguiram um prestígio que, até aí, nunca haviam gozado.

A prosperidade comercial dos finais do século XVIII

Os resultados da política pombalina não tardaram a fazer-se sentir. As áreas


sob controlo das companhias prosperaram, desenvolveram-se produtos coloniais
como o algodão, o café e o cacau, em muitos ramos da indústria as produções
internas substituíram, cabalmente, as importações e aumentaram também as
exportações, para o Brasil, de produtos manufaturados da metrópole.

Nos decénios que se seguiram, foi graças às medidas pombalinas que Portugal
viveu a sua melhor época comercial de sempre: entre 1796 e 1807,a balança
comercial obteve saldo positivo, revelando-se superavitária em relação à
maioria dos nossos parceiros comerciais. Estes resultados foram também
possíveis graças a uma conjuntura externa favorável. Guerras e revoluções
afetaram o comércio francês e inglês, contribuindo para devolver a Lisboa um
pouco da sua antiga grandeza como entreposto atlântico.

O método experimental e o progresso do conhecimento do Homem e


da Natureza

No século XVII, a generalidade dos europeus sentia o mundo como um lugar hostil
e imprevisível, aceitando a intervenção de Deus, do diabo, ou a simples
conjugação dos astros como a explicação dos fenómenos naturais. O próprio
saber universitário pouco tinha evoluído desde a Idade Média.

Apesar desta mentalidade dominante, o gosto pelo conhecimento que marcara a


época renascentista continuava a fazer-se sentir, dando origem ao nascimento das
primeiras academias científicas, como a Academia dos Linces, em Roma, a
Academia das Ciências, em Paris, ou a Real Sociedade, em Londres.

A revolução científica

Foi neste ambiente propício que se desenvolveu o gosto pela observação direta
dos fenómenos e se tornaram mais sistemáticas as observações iniciadas
Renascimento. Convencidos de que o conhecimento pode aumentar
constantemente e de que ele contribui para melhorar o destino da Humanidade. A
revolução científica transformou profundamente as antigas conceções sobre o
Homem e sobre a Natureza, nomes como Galileu, Aristóteles, Ptolomeu e Santo
António contribuíram para a revolução.

Impressionados com os erros grosseiros eu constantemente descobriam sobre os


tratados das “autoridades”, os “experimentalistas” procuraram desenvolver um
método que os guiasse nas suas pesquisas. Os seus esforços desembocaram na
sistematização do método experimental.

Coube ao inglês Francis Bacon o mérito de ter sido o primeiro a formulá-lo, na


sua obra Novum Organon. O experimentalismo recebeu, anos mais tarde, o
contributo de René Descartes.

Notável físico e matemático francês, Descartes procurou uma forma estruturada de


pensar, aplicável ao raciocínio em geral. Sobre este assunto publico o célebre
Discurso do Método, considerado, uma das obras basilares do pensamento
racionalista.

Igual preocupação de rigor conduziu à utilização progressiva da matemática


como linguagem de expressão das leis e de todos os fenómenos quantificáveis,
dando sentido ao conceito “ciências exatas”. Assim, a ciência entrou na sua
maioridade, permitindo ao Homem um conhecimento mais profundo de si próprio e
uma melhor compreensão da Natureza.

Apesar de aceite desde o Renascimento, a dissecação de cadáveres continuava a


não ser prática corrente. Apesar disso, William Harvey expõe, em 1628, as suas
conclusões sobre a circulação sanguínea. A descoberta de que o coração é o
ponto de partida da corrente de sangue que flui pelo corpo num circuito continuo
foi fortemente contestada por muitos médicos contemporâneos de Harvey, que
acreditavam que o sangue era absorvido pelos tecidos e vísceras. Publicou
também a obra De Motu Cardis et Sanguinis, com os seus estudos sobre a
circulação sanguínea.

O lugar ocupado pelo universo esteve, desde sempre envolto em mistério e


polémica. E foi neste campo, o da astronomia, que Galileu Galilei assumiu o papel
de protagonista. Em 1609, Galileu concluiu que as suas observações vinham a
concordar com a doutrina heliocêntrica. Galileu decide em 1632, publicar o
célebre Diálogo sobre os Dois Principais Sistemas do Mundo.

Mais tarde, Isaac Newton, formulou a hipótese de um universo infinito,


regulado pela “lei da gravitação universal”.

O mundo da ciência

Nas primeiras décadas do século XVIII, o mundo da ciência estava já solidamente


estruturado. O número de academias científicas, aumentou e estas publicavam
boletins periódicos, permitindo a divulgação rápida e barata dos estudos
desenvolvidos.
Ligados às academias e a um número crescente de universidades, organizaram-se
laboratórios modernos, bem equipados com instrumentos de observação e medida.

No fim do século XVIII, o público tinha-se apaixonado pela ciência, assistindo,


entusiasmado, a sessões experimentais e aos seus resultados espectaculares.

Deste modo, o mundo natural separou-se, com nitidez, do sobrenatural e as razões da


fé deixaram de ser aceites como explicações credíveis dos factos da Natureza.

A astronomia, física, química, biologia, botânica e medicina libertaram-se do


empirismo e tornaram-se ciências autónomas.

A filosofia das luzes

A crença no valor da Razão humana como motor de progresso rapidamente


extravasou o campo científico para se aplicar à reflexão sobre o funcionamento das
sociedades em geral. Acreditava-se que o uso livre da Razão conduziria ao
aperfeiçoamento do Homem, das relações sociais e das formas de poder político. Em
suma, a Razão seria a luz que guiaria a Humanidade. O século XVIII ficou, por isso,
conhecido por “o século das luzes”, designa-se também, o conjunto das novas ideias
que marcaram a época.

O direito natural e o valor do indivíduo

A valorização da Razão, da qual todos são dotados todos os homens


independentemente da sua condição social, vinha a estabelecer um princípio de
igualdade que punha em causa a ordem estabelecida. Crescia a convicção de que,
pelo simples facto de serem homens, todos os indivíduos possuem determinados
direitos e deveres que lhes são conferidos pela Natureza. Este pensamento, base do
direito natural, foi enfaticamente defendido pelos iluministas, que consideraram o
direito natural superior às leis impostas pelos Estados.

A ideia do direito primário e universal tinha já sido claramente enunciada, no século


anterior, por pensadores como John Locke, mas foi com o Iluminismo que esta noção
se consolidou, tendo-se definido claramente o conjunto básico dos direitos inerentes à
natureza humana: o direito à posse de bens e, elemento novo e indissociável da
filosofia das luzes, o direito à liberdade de consciência. Afirmava-se, deste modo, a
crença no valor próprio do individuo, que nenhum poder ou governo tinham o direito de
desprezar.

O contrato social e a separação de poderes

A liberdade e a igualdade defendidas pelos iluministas pareciam; à partida, em


contradição com a autoridade dos governos. Como forçar um ser que tem o direito de
dispor de si próprio à obediência?~

Tal problema já tinha sido analisado pelo filosofo inglês John Locke, que o solucionara
através da ideia de um pacto livremente assumido entre os governadores e os
governantes.
A questão foi retomada por Rosseau na obra O Contrato Social, editada em 1762.
Para além de reafirmar que o poder politico deriva de um pacto ou contrato
estabelecido entre o povo e os seus governantes – o contrato social – Rosseau reforça
a ideia de que este pacto tem por finalidade o estabelecimento de leis justas, fruto da
vontade da maioria, e que a obediência a essas leis em nada diminui a dignidade dos
homens. Eles permanecem livres, mantendo-se a fonte da qual emana toda a
autoridade. Assim, e uma vez que é do povo que provém todo o poder – soberania
popular -, torna-se lícito derrubar um governo estabelecido, caso este não cumpra o
mandato que lhe foi confiado, tornando-se tirânico e opressor.

A teoria do contrato social veio transformar radicalmente o estatuto do indivíduo no


seio da comunidade política: da posição de mero súbdito, ao qual apenas competia
obedecer, elevou-se à condição de cidadão, a quem pertencem, também, as decisões
políticas fundamentais.

Montesquieu formulou a teoria da separação dos poderes advoga o


desdobramento da autoridade do Estado em três poderes fundamentais: podes
legislativo (mais importante), que faz as leis; poder executivo, encarregado de as
fazer cumprir; e poder judicial, que julga os casos de desrespeito às leis.
Uma das áreas em que os atropelos à dignidade humana mais se faziam sentir
era a do direito penal, que mantinha vivas as práticas medievais como a tortura. Em
1764, um tratado polémico onde condena veementemente a tortura nos
interrogatórios, os métodos da Inquisição e a forma bárbara como eram cumpridas as
sentenças.
Estreitamente ligada ao respeito pelo próximo, a tolerância religiosa foi outra
etapa atingida pelas Luzes. Reforçou a defesa da liberdade de consciência como um
dos direitos inalienáveis do ser humano. Portanto, ficou decidido que a igreja e o
estado teriam as suas funções respectivamente, ou seja, à igreja apenas competia a
função religiosa e ao estado a função politica.
A crença num ser supremo, ordenador do Universo, que, após a Criação, não
mais se revelou ao Homem, fazendo sentir a sua presença unicamente na maravilhosa
perfeição da Natureza. Os deístas rejeitam as religiões organizadas nas quais vêem a
obra dos homens e não a de Deus. Todos se ergueram contra a intolerância, o
fanatismo e a superstição.
As propostas iluministas invadiram os salões aristocráticos, os clubes
privados, os cafés mais populares. Encontraram também eco nas academias, na
imprensa periódica e nas lojas maçónicas.
O maior meio de difusão foi a Enciclopédia ou Dicionário Racional das
Ciências, das Artes e dos Ofícios. Os artigos da Enciclopédia permitiram um contacto
fácil e rápido com os avanços da ciência e da técnica e com o mundo das ideias do
Iluminismo.

Projecto pombalino de inspiração iluminista

Em Portugal existia o despotismo esclarecido onde um rei culto, justo e


empenhado era iluminado pela Razão, e utilizava para o bem do povo, para a
evolução, para o progresso.
A diminuição das remessas de ouro do Brasil e a doença prolongada do rei (D. João
V) desorganizaram a máquina governativa. O descalabro financeiro, a inoperância das
instituições e a corrupção dos seus oficiais abatem-se sobre o reino e as suas
colónias, pondo em causa o modelo de governo centralizado e o próprio absolutismo
régio.
Sentiu-se a necessidade de racionalizar o aparelho de Estado e havia que pôr ordem
nas finanças do reino. Para isso Pombal:
 Reestruturou a política fiscal e financeira das colónias;
 Melhorou o sistema de cobrança de impostos do reino;
 Reprimir o contrabando que punha em causa os monopólios concedidos às
companhias de comércio.
 Criação do Erário Régio, permitiu a gestão das contas públicas.

Pombal empenha-se na reforma do sistema judicial. Uniformiza o país para efeitos


judiciais e derroga os antigos privilégios de foro da nobreza e do clero. Estes
privilégios, bem como as excepções criadas pelo direito local, constituíam um pesado
entrave à boa justiça do rei. Criou-se a Intendência-Geral da Polícia que representa a
operacionalização do sistema através de um organismo centralizado e eficiente. É
criado também o Desembargo do paço que era um tribunal que controlava a aplicação
da justiça.
No ano seguinte, houve um atentado contra D. José que deu o pretexto para
uma repressão dirigida contra as principais famílias nobres onde estas famílias foram
condenadas à pena máxima. A violência e o aparato com que foi executada a
sentença, encheu de horror o país e a Europa. A nobreza com medo do que
aconteceu às famílias nobres (como os Távora), reprimiu-se.
Com o fim de reduzir a influência do clero, o Marquês procurou controlar o
Tribunal de Santo Ofício que, progressivamente, subordinou à Coroa. Instituiu,
também, um organismo de censura estatal - a Real Mesa Censória -, que tomou para
si as funções de avaliação das obras publicadas, até aí competência dos inquisidores.
Alvo particular da animosidade do ministro foi a Companhia de Jesus, que
detinha um papel de relevo na missionação dos índios brasileiros e nas instituições de
ensino.
O sismo ocorreu no dia 1 de Novembro de 1755, e foi neste desastre que
Pombal mostrou a sua valia e a sua eficiência. Logo no próprio dia do sismo, tomou as
primeiras das mais de 200 providências que levou a efeito para ‘’sepultar os mortos e
cuidar dos vivos’’.
Foi ele o responsável pela tarefa de reerguer a cidade, o projeto foi feito pelos
engenheiros Manuel da Maia e Eugénio dos Santos, a reconstrução tinha um traçado
completamente novo. As ruas eram largas e rectilíneas, inscritas numa geometria
rigorosa. Os prédios eram iguais, as fachadas eram de quatro andares. Não eram
permitidos projectos próprios que identificassem a “classe social” dos moradores.

Adotaram-se soluções originais para a distribuição de água (às habitações) e


para a drenagem dos esgotos, concebendo, até, um engenhoso sistema de
construção anti-sísmica.
Considerando a ignorância o maior entrave ao progresso dos povos, a filosofia
iluminista colocou o ensino no centro das preocupações dos governantes. Foram
tomadas medidas no sentido de alargar a rede de instrução pública e de renovar, à luz
das novas pedagogias, as antigas instituições. Este espírito chegou a Portugal por via
dos estrangeirados.
Pombal criou um colégio destinado aos jovens nobres, com o objectivo de os
preparar para o desempenho dos altos cargos do Estado. O Real Colégio dos
Nobres foi organizado de acordo com as mais modernas concepções pedagógicas,
integrando as línguas vivas, as ciências experimentais, a música e a dança, estas
últimas imprescindíveis à frequência dos círculos sociais aristocráticos a que os alunos
pertenciam. O projecto do Real Colégio não prosperou, talvez pela renitência dos
nobres em colocarem os seus filhos numa instituição tão conotada com um ministro
que detestavam.
A expulsão dos Jesuítas obrigou ao encerramento de todos os seus colégios.
Foram criados postos para ‘’mestres de ler e escrever’’. Para os alunos que
pretendessem prosseguir estudos, instituíram-se mais de duas centenas de aulas de
retórica, filosofia, gramática grega e literatura latina, cujo conhecimento era
imprescindível a quem quisesse ingressar na universidade.
Criou-se a Junta da Previdência Literária que fica incumbida de estudar a
reforma da universidade. A Universidade recebe os seus novos estatutos, estes
configuram uma reforma radical, quer no que respeita ao planeamento dos cursos,
quer no que toca às matérias e aos métodos de ensino, que passam a ser orientados
por critérios racionalistas e experimentais. Uma vez que a reforma no ensino ia dar
muitas despesas, foi criado um novo imposto, o Subsídio Literário, sobre a carne, o
vinho e a aguardente, pagável no reino e nas colónias.
A subida ao trono de D. Maria I significou a desgraça do ministro que,
desapossado dos múltiplos cargos que exercia, se viu desterrado e perseguido.

Revoluções liberais – movimentos político-sociais influenciados pelos ideais das


Luzes. Movimentos de contestação ao Antigo Regime. Tendo como objectivos: a
eliminação do absolutismo e da sociedade de ordens; a consagração dos direitos
naturais do Homem, da soberania popular e da divisão dos poderes; a instauração da
livre iniciativa em matéria económica; a libertação de nações do jugo colonial e
estrangeiro.

A Revolução americana
Na Guerra dos Sete Anos, os colonos americanos sentiram-se agradecidos
pela protecção que a metrópole lhes concedia contra os vizinhos das colónias
francesas.
Para os colonos ingleses da América do Norte abria-se um grande campo de
expansão para oeste, desembaraços agora da concorrência francesa. Uma
proclamação real reservava aos índios o território a oeste. A Inglaterra, em
dificuldades financeiras pelo esforço de guerra suportado, decidiu pedir aos colonos da
América um contributo para refazer o tesouro público. Tal contributo saldou-se num
conjunto de taxas aduaneiras, votadas pelo Parlamento britânico. Iriam onerar as
importações coloniais de melaço, papel, vidro, chumbo e chá. Em simultâneo,
decretou-se um imposto de selo sobre os documentos legais e as publicações
periódicas.
As autoridades britânicas quiseram levar até às últimas consequências a teoria
mercantilista do exclusivo comercial: determinaram que as mercadorias da América do
Norte só poderiam ser exportadas para a Inglaterra ou para outras colónias inglesas.
Foram sentidas como um ultraje, estas medidas, pelos colonos americanos que tinham
tomado consciência da importância estratégica e económica dos seus territórios.
Os americanos lamentavam que, na sua qualidade de cidadãos britânicos, não
estivessem representados naquela assembleia. A resposta surgiu: ‘’Sem
representação não há imposição’’. Esta foi a conclusão de um congresso reunido em
Nova Iorque, em 1765, o Stamp Act Congress que contou com a presença de
delegados de nove das colónias americanas. Aos cidadãos ingleses residentes ou não
na Inglaterra, não se poderia impor nenhuma contribuição que não tivesse sido
aprovada pelos seus representantes.
Entendendo por bem recuar, o Governo de Londres revogou as taxas, em
1770, à excepção das que incidiam sobre o chá. Para piorar a situação, a concessão
do monopólio da venda do chá à Companhia das Ìndias privava os comerciantes
americanos dos lucros do transporte e da revenda daquele produto na América.
O Boston Tea Party ocorreu em 1773, em Boston, quando um grupo de jovens
disfarçados de índios, lançaram ao mar a carga de chá transportada pelos navios da
Companhia das Índias.
Após a derrota dos colonos em Boston, o rei Jorge III decretou as leis
intoleráveis em 1774.
 Fecho do porto de Boston até ser pago o prejuízo da mercadoria
lançada ao mar.
 Ocupação do estado de Massachusetts por tropas inglesas
 Obrigatoriedade dos colonos ingleses concederem alojamento aos
soldados ingleses nas suas propriedades.
 Prisão e julgamento em Inglaterra dos responsáveis pelo Boston Tea
Party
Após o decreto destas leis, foi convocado o 1º Congresso de Filadélfia onde se foi:
 Recusou as Leis Intoleráveis
 Exigida igualdade de direitos entre as colónias e a retirada dos impostos.
 Boicote aos produtos ingleses.

Em 1775, em resposta ao rei Jorge III, exigiu a submissão dos colonos o que
agravou a tensão e deu inicio aos primeiros conflitos entre colonos e tropas ingleses.
 Decidia a criação de um exército comandado por George Washington
 Thomas Jefferson foi incumbido para redigir a Declaração de
Independência.
Em 1776, Thomas Jefferson redigiu uma Declaração de Independência, que os
delegados de todas as colónias aprovaram no dia 4 de Julho, no segundo Congresso
de Filadélfia.
George Washington foi escolhido para comandante-chefe do futuro exército
americano. Só após a batalha de Saratoga, em 1777, na qual os americanos fizeram
capitular um pequeno exército britânico, a França se inclinou para uma aliança oficial.
Ao apoio da França somou-se o da sua aliada, Espanha. Em 1781, o principal exército
inglês capitulou em Yorktown.
A Inglaterra decidiu-se pelas negociações de paz. Pelo Tratado de Versalhes,
assinado em 1783, reconheceu a independência das 13 colónias, e devolveu à França
e a Espanha as suas terras.
Quanto ao modelo político: os pequenos Estados, uma federação bastante
descentralizada em que cada Estado seria praticamente autónomo. Já os Estados de
maior dimensão, desejavam um governo central forte.
Os representantes de 12 dos 13 Estados, que haviam assinado a Declaração
de Independência chegaram a um acordo em 1787. A Constituição (lei máxima do
Estado) assinada instituiu a República dos Estados Unidos da América sob a forma de
uma república federal, na qual um Estado central poderoso, ocupando-se da defesa e
das relações internacionais, coexistia com os vários Estados federados, soberanos em
matéria de justiça e administração, autoridade policial e sistema de ensino.
A Constituição adotou o princípio da divisão dos poderes e do seu equilíbrio
através de uma fiscalização mútua.
O poder legislativo foi confiado a um Congresso, formado por duas câmaras,
que votava as leis e o orçamento. A Câmara dos Representantes reunia os deputados
de cada Estado. No Senado, por sua vez, tinham assento dois representantes por
Estado.
O presidente detinha o poder executivo, comandava os exércitos e escolhia o
governo. Um Tribunal Supremo que reunia nove membros inamovíveis nomeados pelo
presidente, regulava os conflitos entre os Estados, superintendendo no poder judicial.

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