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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ – PARANAVAÍ (UNESPAR)

Discente: Andrei Rocha dos Santos


Docente: Roberto Leme Batista
Disciplina: História Contemporânea I

No capítulo dois da obra A Era das Revoluções, o autor Eric Hobsbawm trata de
analisar as causa da emergência da Revolução Industrial. É explicado que assim
como qualquer outro processo histórico a grande revolução da indústria ao final do
século XVIII não se deu do nada, como um evento surpresa, mas sim é fruto de
diversos fatores. Neste sentido é difícil se apontar um ponto exato no tempo para
demarcar onde começou a revolução industrial, ou ainda um ponto onde ela terminou,
supostamente. No entanto, explica o autor, é possível se observar o momento de
“explosão” da indústria a partir de 1780, por tanto se fosse possível marcar onde
ocorre o “início” desse processo histórico seria a partir desta década. O uso do termo
“explosão” não é utilizado de forma literal, claro, mas sim serve para ilustrar o
momento em que se percebe um gigantesco aumento de produção, uma
produtividade com rapidez e constância jamais visto antes nas sociedades humanas
até aquele momento. Alguns historiadores preferem apontar o “início” da revolução
presente na década de 1760 devido ao processo de acumulação já estar estabelecido
naquele momento, porém como aponta Hobsbawm, ao se fazer uma análise mais
cuidadosa é somente em 1780 que ocorre um aumento massivo e vertical nos
principais índices econômicos e produtivos, desse modo é mais precisamente nesta
década que podemos observar com mais precisão a “largada” do que seria a
Revolução Industrial.
O autor segue escrevendo que o fato da explosão industrial ter se dado
primeiramente na Grã-Bretanha, não faz dela a única pioneira no processo de
industrialização. Afinal, já existia naquele momento um grande avanço no comércio e
na indústria Portuguesa, encabeçadas por ministros e servidores das monarquias. No
entanto, mesmo alguns estados já tendo se industrializado, seus complexos
industriais não exerciam gigantescas influências em território europeu, somente
influências locais. Mas como discorre Hobsbawm, nas ilhas britânicas até mesmo
antes da revolução, a Grã-Bretanha já se dedicava ao comércio e a produção per
capita, o que demonstra um grande avanço mesmo em comparação a seu maior
competidor em potencial. Porém, o desenvolvimento da revolução nas indústrias do
território britânico não se deu devido a um gigantesco avanço científico ou tecnológico.
Segundo o autor, neste sentido podemos apontar a França como uma potência no
quesito de avanço intelectual, fomentado pelas revoluções científicas dos iluministas
de 1789. As duas únicas Universidades inglesas, Cambridge e Oxford eram
praticamente nulas em influência intelectual em âmbito europeu. As criações
tecnológicas eram tampouco inovadoras, nada que fosse muito além das funções e
habilidades dos artesãos, carpinteiros, moleiros, etc. A própria máquina de vapor
rotativo criada por James Watt em 1784 fazia necessário maior conhecimento para
um melhor desenvolvimento – vale ressaltar que a teoria que melhor se adequou a
utilização e desenvolvimento do maquinário à vapor só foi desenvolvida propriamente
na década de 1820 por Carnot.
Contudo o que promoveu as grandes inovações e avanços da Grã-Bretanha foi
o processo de julgamento e execução do rei pelo próprio povo há aproximadamente
um século antes, que então o lucro privado passa a ser uma prioridade da política
inglesa. É importante considerarmos também as questões agrárias, muitos
proprietários detinham para si quase o monopólio de terras, essas que nas quais eram
cultivadas por arrendatários onde empregavam pequenos produtores ou ainda
trabalhadores sem posse de terras. Nesse curso histórico o campesinato inglês e as
atividades agrícolas estavam dirigidas ao mercado e a produção de manufaturas
direcionadas ao interior e posteriormente ao exterior. Por tanto, segundo Hobsbawm,
a agricultura inglesa cumpria três importantes funções dentro do processo de
industrialização: produtividade em larga escala e tempo bastante reduzido a fins de
alimentar as necessidades de uma população não agrícola que estava em larga
expansão; o fornecimento de um grande excedente de recrutas em potencial para as
cidades e as atividades urbanas e industriais; e fomentação mecanismos que
possibilitassem o acúmulo de capital para o investimento em setores modernos da
economia.
Um destes setores foi a indústria algodoeira, que como todas as outras indústrias
do mesmo setor se desenvolveu inicialmente como um subproduto do comércio
ultramarino, tendo com um de seus produtos como matéria prima a chita, uma espécie
de algodão indiano. Por tanto no começo o algodão europeu é uma espécie de
imitação do tecido produzido na Índia. A produção têxtil britânica, apesar de ser um
produto mais grosseiro em relação aos orientais, conquistou rapidamente o mercado
doméstico, no entanto é em territórios ultramarinos que irá encontrar sua rápida
expansão comercial. É no comércio colonial que temos a emergência da indústria
algodoeira, e é durante o processo de industrialização iniciado no século XVIII que ela
vai se expandir, principalmente devido a sua comercialização nos principais portos
britânicos da época: Glasgow, Bristol e o porto de Liverpool, este último sendo um
movimentado ponto de comercio de povos escravizados. Nesse sentido, a expansão
da instruía do algodão tem uma relação bastante próxima com as crueldades do
trabalho escravo. Como aponta Hobsbawm, em todo momento em que o comércio de
escravizados caminhava, a indústria do algodão caminhava junto, em uma crescente
cada vez maior. Os escravos africanos eram comercializados em troca de produtos
de algodão oriental, principalmente da Índia. A matéria prima para a produção do
algodão britânico vinha de plantações nas Índias Ocidentais (Sul dos Estados Unidos,
América Central e Nordeste Brasileiro) sob o trabalho de mão de obra escravizada,
Como forma de manutenção dos laços econômicos entre os proprietários de
plantações e empresários da indústria têxtil, os plantadores da matéria prima
compravam imensas quantidades de algodão produzidos pela classe industrial
britânica. Isso traz uma vantagem para esse tipo de indústria algodoeira, pois sua
produção vinha de territórios exteriores e a sua expansão é lançada ao comércio
ultramarino sendo puxada pela comercialização de escravos, um comércio já bastante
estabelecido desde a exploração marítima iniciada alguns séculos antes.
Eric Hobsbawm segue seu livro explanando que toda indústria necessita de bens
de capital para se desenvolver e se estabelecer. Desse modo a produção de ferro é
sempre um potencial industrial a se avaliar e observar nos diversos países. No
entanto, em uma economia majoritariamente privada é raro um investimento de capital
dispendioso para uma produção na qual já tem um mercado de massa, mesmo que
em potencial, afinal, como aponta o autor até o mais primitivo dos homens se utiliza
de equipamentos para trabalhar e sobreviver, e já há milhares de anos tendo o ferro
ou aço como respectiva matéria-prima. Porém, era uma indústria de produção
bastante modesta se comparada ao setor têxtil, aqui o principal desafio era lançar um
mercado amplamente largo ao nível dos “homens de negócios” daquele período,
assim pode-se dizer que os poucos investimentos privados nesse setor eram meros
especuladores e entusiastas em tecnologia, como os saint-simonianos por exemplo.
Por tanto, essa respectiva produção não era o suficiente para que a Inglaterra
alcançasse um alto posto de produtor mundial de ferro.
Mas essas desvantagens não açoitavam o setor da mineração, sobretudo a do
carvão, afinal este minério era a principal fonte de energia das indústrias do século
XIX e também do setor doméstico. No início do processo de desenvolvimento
industrial do século XVIII, a mineração já era um setor da economia moderna mesmo
a expansão industrial ainda primitiva naquele momento. O autor explica que mesmo o
carvão não sendo uma indústria de larga e rápida expansão rumando uma
industrialização de massa, ela foi o suficiente para que se desenvolvesse uma
invenção que alavancou ainda mais os bens de capital industrial: a ferrovia. Nesse
ponto, o grande alavanco quase completamente vertical na indústria – principalmente
na mineração de ferro e carvão – que a implantação das ferrovias trouxe, se deu por
alguns motivos: o uso do carvão como combustível para as locomotivas, proporcionou
um aumento exponencial da produção deste minério (mesmo sendo utilizado para
manter as próprias máquinas que o transportavam); e a construção e manutenção das
vias férreas nas quais corriam as locomotivas traz consigo uma superprodução do
setor metalúrgico, sobre tudo do ferro, claro. Mas, não foi só a demanda de ferro e
carvão para a construção de ferrovias e locomotivas o fator decisivo para a rapidez da
expansão industrial, mas também a rapidez com que os carros transportavam as
matérias primas ás indústrias, e os produtos aos portos, como escreveu Hobsbawm
sobre as ferrovias, “seu grande custo, foi sua grande vantagem”. Neste texto que
compõe uma das mais brilhantes obras historiográficas do nosso tempo, Eric
Hobsbawm esclarece com brio os processos revolucionários do final do século XVIII
e seus impactos na sociedade em todos os setores, fica claro que a partir da
Revolução Industrial o calor, o barulho, as máquinas, o vapor e principalmente a
capacidade produtiva nunca esteve tão próxima e avançada na história humana até
aquele momento.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

HOBSBAWM, Eric J. A Revolução Francesa. In: A Era das Revoluções: 1789 – 1848.
45ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2020, pg: 57-97, cap 2.

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