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MÓDULO 4 11º ano

2. Triunfo dos Estados e dinâmicas económicas nos séculos XVII e XVIII


2.1. O reforço das economias nacionais e tentativas de controlo do comércio
1. Enunciar os princípios mercantilistas
O mercantilismo foi a doutrina económica vigente nos séculos XVI, XVII e XVIII segundo a
qual a riqueza e o poderio de um país assentavam na quantidade de metais preciosos de que este
dispunha. Deste princípio fundamental decorrem os seguintes:
- balança comercial positiva ou superavitária;
- proteccionismo económico;
- fomento da produção industrial;
- regulamentação do comércio externo.

2. Explicar a sua coerência interna


O mercantilismo foi aplicado em diversos países europeus nos séculos XVII e XVIII como
meio de fortalecer as monarquias e de aumentar a riqueza nacional. A intervenção do Estado na
economia consistia em aumentar a quantidade de dinheiro em circulação no reino; para atingir esse
objetivo, a relação entre as importações e as exportações (balança comercial) devia ser favorável, ou
seja, devia exportar-se mais do que se importava, de maneira a impedir a saída de metal precioso do
país. Ora, para exportar mais era necessário produzir mais, razão pela qual as políticas económicas
mercantilistas tentaram implementar atividades industriais (manufaturas) que libertassem o país da
necessidade de importação. Além disso, para reforçar a restrição às importações, sobrecarregava-se de
direitos alfandegários (impostos) a entrada de produtos estrangeiros, de maneira a que os produtos
nacionais ficassem mais baratos, logo, mais competitivos (protecionismo económico). Muitas das
vezes, o protecionismo era reforçado com leis que impediam o uso de produtos de luxo, geralmente
importados (leis pragmáticas). Por último, a vontade de autossuficiência económica levou os países
que adotaram o mercantilismo a reorganizar o comércio externo (em particular, com as colónias) de
modo a dispor de matérias-primas para as manufaturas e de mercados onde pudessem vender os
excedentes do sector manufatureiro.

3. Enquadrar na teoria mercantilista:


- o conjunto de medidas encetado por Cromwell
- a política económica de Colbert

O mercantilismo francês foi implementado por Colbert (ministro do rei Luís XIV no século
XVII). A sua politica económica, muito dirigista, concedeu o principal relevo ao desenvolvimento das
manufaturas como meio de substituir as importações de produtos estrangeiros (da Holanda, da
Alemanha, da Itália, etc.) por produtos franceses. O Colbertismo salientou-se, ainda, pelo
desenvolvimento da frota mercante e da marinha de guerra e pela criação de companhias monopolistas
(associações económicas que tinham o direito exclusivo de comerciar numa dada zona).

Oliver Cromwell (chefe do governo republicano inglês entre 1649 e 1658) encarnou uma faceta
do mercantilismo mais flexível, porém, igualmente empenhada na supremacia da economia nacional.
As suas medidas económicas centraram-se na valorização da marinha e do sector comercial, através da
publicação dos Atos de Navegação.
4. Distinguir o mercantilismo inglês, centrado no comércio, e o mercantilismo francês, centrado
nas manufacturas
O mercantilismo francês caracterizou-se, no sector manufatureiro, pelas seguintes medidas:
- criação de novas industrias (às quais o Estado concedia privilégios, tais como benefícios fiscais e
subsídios);
- importação de técnicas (por exemplo, mandar curtir à maneira inglesa as peles de boi da França);
- criação das manufaturas reais (protegidas pela realeza, fabricavam, sobretudo, produtos de luxo para
a corte como, por exemplo, as famosas tapeçarias da família dos Gobelins);
- controlo da atividade industrial por inspetores do Estado (que avaliavam, nomeadamente, a qualidade
e os preços do trabalho realizado).

Em Inglaterra, o mercantilismo, de feição comercial, distinguiu-se pelas seguintes medidas:


- publicação (entre 1651 e 1663) dos Atos de Navegação: de acordo com estas leis, apenas podiam
entrar em Inglaterra as mercadorias que fossem transportadas em barcos ingleses ou do país de origem;
só a marinha britânica podia transportar as mercadorias coloniais e a tripulação dos navios devia ser
constituída, maioritariamente, por ingleses.
- política de expansão comercial (dirigida, em especial, às Antilhas e à América do Norte);
- criação de grandes companhias de comércio, entre as quais a Companhia das Índias Orientais inglesa
(a mais rica e poderosa das companhias monopolistas), que detinha o exclusivo de comércio com o
Oriente e amplos poderes a nível da administração, defesa e justiça.

5. Relacionar o protecionismo económico com o agudizar das tensões internacionais


Uma vez que todos os países seguidores do mercantilismo adotaram medidas de carácter
protecionista (proibição da entrada de produtos estrangeiros através das leis pragmáticas, imposição de
elevadas taxas alfandegárias à entrada de produtos do exterior, etc.) registou-se, naturalmente, uma
contração do comércio entre os países europeus.
Como alternativa, esses países comercializavam com as suas próprias colónias, num regime
(também protecionista) de exclusivo colonial: cada um dos países de origem (metrópole) controlava a
produção e os preços dos produtos coloniais, de maneira a garantir a obtenção de matérias-primas e de
mercados de escoamento das manufaturas sem a interferência dos países rivais.
Consequentemente, a criação de um império colonial e comercial passou a figurar como
prioridade dos estados europeus. A prática do capitalismo comercial (procura de lucros no grande
comércio) levou ao agudizar das tensões internacionais. Assim se explicam os vários episódios de
rivalidade e mesmo de guerra entre Holandeses e Ingleses, entre Holandeses e Franceses e entre
Franceses e Ingleses nos séculos XVII e XVIII. Ponto alto deste clima de tensão, o desfecho da Guerra
dos Sete Anos (1756-1763) consagrou a supremacia da Inglaterra no comércio mundial.

6. Identificar as áreas coloniais disputadas pelos estados atlânticos


No século XVIII, os estados atlânticos abarcavam regiões muito ricas, por exemplo:
- império espanhol abarcava os territórios da América espanhola e Filipinas;
- a Holanda, a província mais rica das Províncias Unidas, estendeu o seu poderio até à Ásia
(arquipélago indonésio e Ceilão), África (o Cabo) e continente americano (Guianas holandesas);
- a Inglaterra, graças à vitória na Guerra dos Sete Anos (Tratado de Paris), ocupou as
possessões francesas nas Índias, territórios na América (nomeadamente o Canadá) e feitorias em
África (Senegal);
- o império francês ocupava territórios em África, no Oceano Índico (Madagáscar) e na Índia;
- o império português retirava proventos do Brasil, das suas colónias em África (sobretudo
Angola, Moçambique) e na Índia (Goa, Damão, Diu).

2.2. A hegemonia económica britânica


7. Evidenciar a importância das inovações agrícolas para o sucesso económico inglês.
No século XVIII, na região de Norfolk (Inglaterra), iniciou-se a chamada “revolução agrícola”,
ou seja, um conjunto de alterações, rápidas no tempo e marcantes na forma de cultivar os campos.
Graças ao apoio do Parlamento, os grandes proprietários de terras (landlords) puderam introduzir na
agricultura uma série de inovações importantes:
- sistema de rotação quadrienal de culturas (afolhamento quadrienal): o cultivo, de maneira rotativa,
das quatro parcelas (ou folhas) de um campo, ao longo de quatro anos, permitia resolver, por fim, o
secular problema do esgotamento dos solos e, assim, prescindir do pousio (terra deixada em descanso);
- articulação entre a agricultura e a criação de gado: o cultivo de plantas forrageiras (que alimentavam
os animais, por exemplo, o trevo) possibilitava, por um lado, assegurar o necessário estrume e, por
outro lado, incentivar o melhoramento das raças animais;
- vedação dos campos comunitários (enclosures): os campos cercados substituíram o anterior sistema
de uso comunitário das terras (openfield), desencadeando a aplicação sistemática, pelos landlords, das
inovações agrícolas (seleção das sementes, melhoramento dos utensílios, apuramento das raças
animais);
- inovações técnicas: a introdução de máquinas nos campos, por exemplo a primeira semeadora
mecânica (1703), a charrua triangular (1731) e a primeira máquina debulhadora (cerca de1780)
retirava um maior rendimento da terra.
As inovações agrícolas resultaram num aumento da produtividade, o qual, por sua vez,
estimulou o crescimento demográfico e canalizou a mão-de-obra excedentária para as cidades.

8. Explicar o conceito “mercado nacional”


A Inglaterra foi o país que mais cedo se transformou num espaço económico unificado, onde o
consumo interno podia expandir-se. Para a criação desde mercado nacional, contribuíram os seguintes
fatores:
- o crescimento demográfico (da população) e urbano (das cidades, em especial, Londres) tornaram-se
motores do desenvolvimento económico, ao proporcionarem um maior consumo interno;
- o desenvolvimento dos transportes e vias de comunicação (construção de um sistema de canais,
ampliação da rede de estradas) permitia resolver os problemas de abastecimento;
- a inexistência de alfândegas internas retirava os entraves ao comércio;
- a união da Inglaterra com a Escócia (1707) e com a Irlanda (1808) criava um contexto politico
propício à circulação de produtos.

9. Avaliar o impacto do alargamento dos mercados externos na economia inglesa


Ao nível do mercado externo, os ingleses conseguiram abrir brechas no rigoroso protecionismo
dos estados europeus e, ainda, comerciar com os continentes americano e asiático:
- o comércio triangular partia dos portos ingleses: comprava-se, em África, os escravos negros por
baixo preço, os quais eram transportados para as plantações e minas na América, onde eram vendidos a
um preço elevado (tráfico negreiro). Da América os ingleses traziam os metais preciosos e os produtos
tropicais (por exemplo, o algodão, o tabaco e o açúcar);
- no Oriente, a vitória inglesa na Guerra dos Sete Anos (1756-1763) expulsou os franceses da Índia,
assegurando à Companhia Inglesa das Índias Orientais o comércio dos produtos indianos (por
exemplo, as especiarias, as porcelanas, os panos de algodão, o chá e os produtos agrícolas), quer para
exportação para a Europa, quer para troca local, proibindo os produtores locais de venderem a outros
estrangeiros que não os ingleses. Da Índia, os ingleses partiam para a China (porto de Cantão) de onde
traziam, nos seus barcos (China ships) o famoso chá. O alargamento dos mercados constituiu, assim,
um dos fatores da preponderância inglesa sobre o Mundo.

10. Sublinhar os progressos no sistema financeiro


O sistema financeiro favoreceu o sucesso inglês através das seguintes instituições:
- Bolsa de Londres (Royal Exchange) - a compra de ações do Estado ou de companhias industriais
permitiu reunir capitais em grande escala e fornecer elevados lucros aos particulares e ao Estado
(desenvolvimento do capitalismo);
- Banco de Inglaterra – realizava as operações de apoio ao comércio (por exemplo, depósitos e
transferências), emitia o papel-moeda (notas) e financiava a atividade comercial e industrial.

11. Contextualizar o arranque industrial


Na segunda metade do século XVIII, na Inglaterra, deu-se a Revolução Industrial, que pode ser
definida como uma alteração tecnológica na produção acompanhada de ruturas em vários aspetos da
vida humana (demográficos, económicos, sociais, mentais).
Preparada pela Revolução Agrícola, a rutura tecnológica incidiu, em primeiro lugar, nos
sectores do algodão (fornecendo vestuário a uma população em crescimento) e da metalurgia
(fornecendo máquinas e elementos para a construção civil).
Os inventos no sector algodoeiro alternaram entre a tecelagem (1733 – lançadeira volante, de
Kay), a fiação (1768 – Spinning Jenny de Hargreaves) e, novamente, a tecelagem (1787- tear mecânico
de Cartwright) pois, sempre que a tecelagem se desenvolvia, precisava de mais fio para a produção, e
sempre que havia abundância de fio, eram necessários teares mais rápidos para o aproveitar. Desta
forma, quando um dos ramos do sector têxtil se desenvolvia, o outro era obrigado a acompanhá-lo.
Na metalurgia, o grande salto tecnológico consistiu em libertar a indústria do problema da
escassez do combustível graças a Abraham Darby, que usou (em 1709) o carvão de coque (mineral)
em vez do tradicional carvão de maneira (vegetal) para alimentar as fundições. A revolução
metalúrgica também é devedora de John Smeaton, que melhorou o abastecimento de ar quente aos
altos-fornos (1761) e de Henry Cort, que converteu a gusa (ferro de primeira fundição, não purificado)
em ferro ou aço, através do processo da pudlagem (1783).
Porém, o invento que simboliza a primeira revolução industrial é, acima de qualquer outro, a
máquina a vapor (criada por Newcomen em 1708 e aperfeiçoada por James Watt em 1767), pois, pela
primeira vez na história da humanidade, criava-se uma fonte de energia artificial, eficaz e adaptável a
muitos usos (maquinismos e meios de transportes).

12. Sintetizar as condições da hegemonia britânica


Graças a um conjunto de transformações que tomaram, genericamente, o nome de Revolução
Industrial, a Inglaterra pôde exercer a sua preponderância (hegemonia) sobre o mundo praticamente até
ao final da Primeira Guerra Mundial (altura em que os EUA tomaram a dianteira). A supremacia
inglesa deveu-se a várias condições favoráveis:

1. No âmbito técnico e económico:


- o sistema de rotação de culturas;
- a articulação entre a agricultura e a criação de gado;
- as vedações (enclosures);
- as novas máquinas agrícolas;
- as inovações técnicas no sector algodoeiro e metalúrgico;
- a substituição da manufatura pela maquinofatura nos diferentes sectores da economia.

2. No âmbito social e demográfico:


- o espírito empreendedor dos landlords;
- a afirmação da burguesia industrial;
- o crescimento demográfico;
- a migração para os centros urbanos.

3. No âmbito político-militar:
- o apoio do sistema Parlamentar às enclosures;
- a promulgação dos Atos de Navegação;
- a criação das Companhias de Comércio;
- as guerras contra a França e a Holanda de que a Inglaterra saiu vitoriosa.

4. No âmbito ideológico:
- o fisiocratismo (nova doutrina económica que considerava a agricultura a base económica da nação).

5. No âmbito comercial e financeiro:


- o comércio triangular a partir dos portos de Inglaterra;
- o Tratado de Eden (realizado entre a França e a Inglaterra, em 1786, com clara vantagem da
Inglaterra devido à exportação de lanifícios e ferragens em condições vantajosas);
- a ação da Companhia Inglesa das Índias Orientais;
- o comércio com a China;
- a Bolsa de Londres;
- o Banco de Inglaterra.
2.3. Portugal – dificuldades e crescimento económico
13. Relacionar a adoção de medidas mercantilistas em Portugal com a crise comercial de 1670-92
Entre 1670 e 1692, Portugal enfrentou uma grave crise comercial provocada:
- pela concorrência de Franceses, Ingleses e Holandeses, que competiam com os Portugueses na
produção de açúcar e tabaco;
- pelos efeitos da politica protecionista de Colbert;
- pelos efeitos da crise espanhola de 1670-1680 (redução do afluxo de prata da América espanhola,
com a qual os Holandeses compravam o sal português).
Uma vez que os stocks nacionais se iam acumulando, sem comprador, apesar dos preços cada
vez mais baixos, a política do reino orientou-se, de acordo com as tendências mercantilistas da época,
para a criação de manufaturas e a implantação de medidas protecionistas.

14. Integrar estas medidas no modelo francês


As ideias mercantilistas já haviam chegado a Portugal através da obra de Duarte Ribeiro de
Macedo (embaixador em Paris) Discursos sobre a Introdução das Artes no Reyno (1675). No entanto,
foi o conde da Ericeira (vedor da Fazenda de D. Pedro II, a partir de 1675) que, atuando como um
“Colbert português”, impôs, na prática, a adoção do mercantilismo. De acordo com o modelo francês,
deu um forte impulso às manufaturas para atingir uma balança comercial positiva. As principais
medidas do conde da Ericeira foram:
1.Estabelecimento de fábricas com privilégios (por exemplo, de panos – sedas e lanifícios – de vidro e
de papel);
2. Contratação de artífices estrangeiros que introduziram em Portugal novas técnicas de produção;
3. Protecção da produção nacional através das pragmáticas (leis que proibiam o uso de produtos de
luxo estrangeiros);
4. Desvalorização monetária (para tornar os produtos nacionais mais baratos em relação aos
estrangeiros);
5. Criação de companhias monopolistas (por exemplo, a Companhia do Maranhão, para o comércio
brasileiro).

15. Explicar o retrocesso da política industrializadora portuguesa


A decadência do esforço industrializante deveu-se, acima de tudo, à descoberta de minas de
ouro (1690) e de diamantes (1729) no Brasil. A entrada de toneladas de metal precioso em Portugal, ao
longo do século XVIII, levou a que, no reinado de D. João V, se cunhasse moeda em abundância,
respirando-se um clima de prosperidade sem o esforço do investimento manufatureiro. As leis
pragmáticas já não eram respeitadas e o país voltou-se para o comércio como atividade prioritária.
A procura do ouro do Brasil era feita (já desde o século XVI) pelas bandeiras, expedições
armadas que, empunhando um estandarte – a bandeira – partiam, geralmente da pobre vila de São
Paulo, e se aventuravam no interior brasileiro para capturar índios e descobrir jazidas. O movimento
dos bandeirantes, apesar do seu carácter desumano, que lhe valeu forte oposição dos jesuítas (devido
ao apresamento e escravização dos índios), teve o mérito de proporcionar o alargamento e
desbravamento do território brasileiro, cujas fronteiras foram então definidas segundo limites mais
amplos do que aqueles inicialmente previstos no Tratado de Tordesilhas na época de D. João II.

16. Avaliar a dependência da economia portuguesa face à Inglaterra


Segundo o tratado de Methuen (1703), a Inglaterra comprava os vinhos portugueses com
vantagem competitiva em relação aos vinhos franceses, enquanto Portugal comprava os lanifícios
ingleses sem restrições.
Este tratado gerou uma situação de dependência de Portugal em relação a Inglaterra pois, não
só contribuía para o abandono das manufaturas de panos em Portugal, como conduzia ao escoamento
do ouro brasileiro para pagar as importações inglesas. Além disso, no terceiro quartel do século XVIII,
94% do vinho português exportado tinha como destino a Inglaterra, reforçando a dependência face a
este país.
Paradoxalmente, como dizia no início do século XIX o economista José Acúrsio das Neves,
“Portugal, nadando em ouro, viu-se pobre”.
17. Contextualizar a política económica pombalina
Face à nova crise de meados do século XVIII, o rei D. José I tentou uma estratégia de mudança
em relação à política de seu pai (D. João V). O ministro Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês
de Pombal) delineou a recuperação económica com base nos pressupostos mercantilistas. As principais
medidas económicas (do tipo mercantilista) que tomou foram:
- a concessão de privilégios (subsídios, isenção de impostos) às indústrias existentes;
- a criação de manufaturas da Covilhã e de Portalegre para desenvolver a indústria de lanifícios;
- a introdução dos têxteis de algodão;
- o desenvolvimento da indústria de vidro da Marinha Grande;
- o fomento de vários setores da indústria (nomeadamente, a fundição do ferro, a cerâmica, a saboaria,
a construção naval);
- a contratação de empresários estrangeiros com o objetivo de diminuir as importações;
- a reorganização da Real Fábrica da Seda (criada no reinado de D. João V e reestruturada com
operários e mestres de várias artes de origem francesa).
Além da atividade industrial, também o comércio foi reorganizado no intuito de reduzir o
défice e de colocar as trocas na mão da burguesia portuguesa. O Marquês de Pombal conseguiu atingir
estes objetivos graças às seguintes medidas:
- criação de companhias monopolistas que aliavam os capitais privados aos do Estado (por exemplo, a
Companhia da Ásia, para o comércio com o Oriente; a Companhia do Grão-Pará e Maranhão, para o
comércio com o Brasil; a Companhia Geral das Reais Pescas do Reino do Algarve; a Companhia para
a Agricultura das Vinhas do Alto Douro, criada para a reorganização e controlo do comércio dos
vinhos do Douro, então dependente dos ingleses);
- atribuição do estatuto nobre aos grandes burgueses acionistas das companhias monopolistas;
- instituição da Aula do Comércio, escola comercial para os filhos dos burgueses;
- criação da Junta do Comércio, órgão que controlava a atividade comercial do reino.
Em consequência desta política económica, o final do século XVIII foi, para Portugal, um
período de prosperidade, com uma balança comercial positiva e a resolução do problema do défice
comercial com a Inglaterra.
3. Construção da modernidade europeia
3.1.O método experimental e o progresso do conhecimento do Homem e da
Natureza
1. Comparar a atitude dos “aristotélicos” e dos “experimentalistas” perante o conhecimento
No século XVII, a atitude perante a ciência dividia-se entre a crença dogmática nos livros dos
“Antigos” (sábios greco-romanos e medievais, entre os quais se destacava o grego Aristóteles como
autoridade inquestionável) e a procura do saber através da experiência (caso de Blaise Pascal, para
quem “todas as ciências que derivam da experiência e do raciocínio devem desenvolver-se para
atingirem a perfeição”). Para a nova atitude experimentalista contribuíram:
- o espírito crítico herdado do período do Renascimento (séculos XV-XVI);
- o conhecimento da Natureza proporcionado pelas viagens da Descoberta.
No âmbito desta nova mentalidade, os eruditos (sábios) criavam associações onde podiam
realizar experiências, debatê-las e difundi-las (por exemplo, a Academia dos Linces, em Roma, de que
fez parte Galileu Galilei) e reuniam coleções privadas de livros, maquinismos, plantas e animais.

2. Avaliar o impacto do método experimental no progresso da ciência


Foi Francis Bacon, na sua obra “Novum Organon” (1620), quem expôs as etapas do método
indutivo ou experimental, valorizando a realização de experiências apoiadas num “método seguro e
fixo”. Este método compreendia várias etapas: observação, formulação de hipóteses, repetição das
experiências, determinação de leis gerais.
Este “método de experiência” de Francis Bacon foi reforçado pelo “método da dúvida”
defendido por René Descartes na obra “O Discurso do Método”, a qual estabelecia o primado do
pensamento racionalista. A aplicação do método experimental de Bacon e da dúvida metódica de
Descartes à ciência marca uma rutura fundamental, a que chamamos “revolução científica”: é a
tentativa de apartar a superstição da verdade comprovável, de substituir a credulidade pela
investigação.

3. Salientar os contributos dos principais cientistas dos séculos XVII e XVIII


Galileu Galilei, figura central da revolução do conhecimento do século XVII, ousou destronar
o pensamento geocêntrico do antigo grego Ptolomeu, confirmando a teoria heliocêntrica de Copérnico.
Entre as suas invenções salienta-se o primeiro telescópio com que constatou a existência de crateras e
montanhas na Lua, as fases de Vénus e os satélites de Júpiter. Para chegar às suas descobertas (por
exemplo, sobre as leis do pêndulo), Galileu percebeu que o Universo era como um livro “escrito na
linguagem da matemática”. A Igreja Católica julgou-o, em 1633, e obrigou-o a abjurar as suas
descobertas. Newton formulou a hipótese (então) revolucionária de um Universo infinito, sujeito à “lei
da gravitação universal”. Seguindo os passos de Galileu, aplicou metodicamente a matemática à
pesquisa científica, tendo contribuído para o avanço de áreas como a ótica, a química e a mecânica.
William Harvey descobriu a existência da circulação sanguínea, demonstrando os erros dos antigos
Galeno e Avicena, ainda em voga no século XVII. Contrariando os preconceitos religiosos que
impediam a prática de dissecações do corpo humano, abriu caminho ao desenvolvimento da medicina
como prática.

4. Fundamentar a expressão “revolução científica”


A revolução científica consistiu em banir da pesquisa sobre a Natureza toda a forma de
superstição e de pensamento dogmático. Para a ciência deixava de haver verdades inquestionáveis,
pois todas as descobertas podiam ser alvo de uma revisão. A revolução científica teve como base os
seguintes pressupostos:

1. O método experimental;
2. A matemática como linguagem universal;
3. A medicina como prática;
4. O primado do racionalismo.
No entanto, é de salientar que esta revolução do conhecimento encontrou numerosas
resistências nos países católicos, como se infere da existência de indexes (listas de livros proibidos) e
da perseguição pelo Tribunal do Santo Ofício (Inquisição).
3.2. A Filosofia das Luzes
5. Explicar a designação “Iluminismo” dada ao pensamento da segunda metade do século XVIII
O século XVIII é o século das Luzes ou do Iluminismo. Este conceito evoca, antes de mais, a
luz da Razão (inteligência, esclarecimento). O raciocínio humano seria o meio de atingir o progresso
em todos os campos (científico, social, político, moral). Por contraposição, os autores identificavam,
nesta época, a ignorância com as trevas: Galileu, nomeadamente, refere a importância da linguagem
matemática sem a qual “vagueia-se num labirinto, às escuras”.

6. Esclarecer os pontos-chave do pensamento iluminista


A corrente filosófica iluminista acreditava (na esteira do pensamento de John Locke, filósofo
do século XVII) na existência de um direito natural – um conjunto de direitos próprios da natureza
humana (e, como tal, naturais), nomeadamente:

- a igualdade entre todos os homens;


- a liberdade de todos os homens (em consequência da igualdade, “nenhum homem tem uma
autoridade natural sobre o seu semelhante”, escrevia Jean-Jacques Rousseau; porém, este direito
natural não previa a abolição das diferenças sociais);
- o direito à posse de bens (tendo em conta que o pensamento iluminista se identifica com os anseios
da burguesia em ascensão);
- o direito a um julgamento justo;
- o direito à liberdade de consciência (a moral era entendida como natural, independente da crença
religiosa).
O pensamento iluminista defendia, assim, que estes direitos eram universais, isto é, diziam
respeito a todos os seres humanos e, por isso, estavam acima das leis de cada Estado. Os Estados
deveriam, antes, usar o poder político como meio de assegurar os direitos naturais do Homem e de
garantir a sua felicidade. Paralelamente, o Iluminismo pugnava pelo individualismo: cada indivíduo
deveria ser valorizado, independentemente dos grupos em que se integrasse.

7. Avaliar o carácter revolucionário dos filósofos iluministas


Destacavam-se os seguintes pensadores iluministas pela sua perspetiva revolucionária de
encarar o homem e a sociedade:
1. Jean-Jacques Rousseau defende a soberania (poder político) do povo. É o povo que, de livre
vontade, transfere o seu poder para os governantes mediante um pacto (ou contrato social).
Consegue, desta forma, respeitar a vontade da maioria sem perder a sua liberdade. Em troca, os
governantes têm de atuar com justiça, sob pena de serem depostos (obra de referência: O
Contrato Social).
2. Montesquieu defende a doutrina da separação dos poderes (legislativo, executivo e judicial)
como garantia de liberdade dos cidadãos (obra de referência: O Espírito das Leis).
3. Voltaire entre outras contribuições importantes para o Iluminismo, advoga a tolerância
religiosa e a liberdade da consciência: a religião que criou, o deísmo, rejeita as religiões
instituídas, centrando-se na adoração a um Deus bom, justo e poderoso, criador do Universo
(obra de referencia: Tratado sobre a Tolerância).
Estas ideias foram aplicadas na prática, nas revoluções liberais, sob a forma de constituições
políticas.

8. Distinguir os meios de difusão do pensamento das Luzes


O Iluminismo, apesar da oposição que sofreu na sociedade do seu tempo, foi-se difundido
graças a alguns apoios importantes, como sejam:
- a admiração que alguns monarcas nutriam por este novos ideais (Frederico II da Prússia, por
exemplo, acolheu Voltaire na corte quando este andava exilado);
- os salões, espaços privados da aristocracia que se abriam ao debate das novas propostas filosóficas;
- os cafés, locais de aceso debate político-cultural e de apresentação de artistas;
- a Maçonaria, sociedade secreta com origem na Inglaterra do século XVIII que pugnava pela
liberdade política e pelo progresso científico;
- o uso da língua francesa - conhecida dos intelectuais europeus – nas obras filosóficas editadas;
- a Enciclopédia publicada por Diderot e D’Alembert, que reunia em vários volumes os conhecimentos
mais avançados da época sobre a ciência e a técnica e dava voz às propostas iluministas;
- os clubes privados, a imprensa e as academias, que faziam eco das novas propostas.

9. Relacionar o Iluminismo com a desagregação do Antigo Regime e a construção da


modernidade europeia
As ideias iluministas contribuíram para acabar com o Antigo Regime, pois:
1. a defesa do contrato social transforma o súbdito passivo e obediente em cidadão interventivo;
deste modo, e ao contrário do que acontecia no Antigo Regime, “um povo livre (…) tem chefes
e não senhores” (Rousseau).
2. a teoria da separação dos poderes acaba com o poder arbitrário exercido no Antigo Regime.
3. a ideia de tolerância religiosa conduz à separação entre a Igreja e o Estado, presente nos
regimes liberais.
4. a teoria do direito natural leva a que os iluministas condenem todas as formas de desrespeito
pelos direitos humanos (tortura, pena de morte, escravatura…), contribuindo para alterar a
legislação sobre a justiça em vários países.

10. Reconhecer, no despotismo iluminado, a fusão do pensamento iluminista com os princípios


do absolutismo régio
O despotismo iluminado foi a forma de poder real praticada no século XVIII em várias regiões
da Europa, nomeadamente:
- na Prússia, com Frederico II;
- na Áustria, com José II;
- na Rússia, com Catarina II;
- na Suécia, com Gustavo II;
- em Portugal, com D. José I.
Sob o despotismo iluminado ou esclarecido, o rei tinha poder absoluto (era um déspota), mas
justificava a sua autoridade através do pensamento iluminista. O rei, iluminado pela razão e apoiado
pelos filósofos iluministas, propunha-se reorganizar o reino para o bem público e o progresso.
Este regime permitiu, por um lado, o reforço do poder que os monarcas pretendiam e, por outro
lado, a aplicação prática dos princípios iluministas desejada pelos filósofos.

3.3. Iluminismo e despotismo iluminado em Portugal


11. Integrar as medidas do Marquês de Pombal nos padrões do pensamento setencentista
Na lógica do despotismo iluminado do século XVIII, o Marquês de Pombal, enquanto
Secretário de Estado do rei D. José I, levou a cabo a reforma do reino em diversas áreas, em todas
trabalhando para o reforço do poder régio e o controlo das classes privilegiadas.

1.Instituições de centralização do Poder:


- o Erário Régio, que centralizava a receção das receitas públicas e a sua redistribuição por todas as
despesas;
- a Intendência-Geral da Polícia, criada no âmbito da reforma judicial que uniformizou a justiça em
termos territoriais (submetendo o direito local ao direito nacional) e sociais (retirando à nobreza e ao
clero antigos privilégios);
- a Real Mesa Censória, o organismo do Estado que retirava a função de censura da alçada da Igreja
(subordinando o Tribunal do Santo Ofício à Coroa).

2. Principais episódios da repressão exercida sobre o clero e a nobreza:


- o suplício dos Távoras (família da alta nobreza, opositora a Pombal, que foi executada por suspeita –
infundada, pelo que se pôde apurar no reinado de D. Maria I – de tentativa de regicídio);
- a expulsão da Companhia de Jesus, de Portugal e das suas colónias (pois os jesuítas controlavam a
missionação e o ensino).
3. Acão urbanística: a reconstrução da cidade de Lisboa após o sismo de 1 de Novembro de1755,
entregue aos engenheiros Manuel da Maia e Eugénio dos Santos, foi orientada de acordo com o
racionalismo iluminista da época. Este ditou as seguintes características:
- traçado geométrico;
- ruas largas e retilíneas;
- subordinação dos projetos particulares à unidade do conjunto (subordinando toda a sociedade a um
mesmo projeto);
- sentido prático (evidenciado, por exemplo, no sistema da “gaiola”, antissísmico);
- valorização da burguesia (transformação do Terreiro do Paço em Praça do Comércio).

4. Reforma do ensino: os estrangeirados (portugueses que, vivendo no estrangeiro, traziam para


Portugal as ideias iluministas) foram acolhidos pelo Marquês de Pombal. Ribeiro Sanches, Luís
António Verney e Martinho de Mendonça foram alguns dos estrangeirados que mais influenciaram a
reforma do ensino. Esta pautou-se pelas seguintes medidas:
- criação do Real Colégio dos Nobres (para preparação dos filhos da nobreza de acordo com as novas
conceções pedagógicas);
- criação da Aula do Comércio para os filhos dos burgueses;
- fundação das Escolas Menores, entre elas as de ler, escrever e contar, que eram oficiais e gratuitas;
- instituição de várias classes de Latim, Grego, Filosofia, Retórica, para preparação para a
Universidade;
- reforma da Universidade de Coimbra (preparada pela Junta da Previdência Literária e custeada por
um imposto denominado Subsídio Literário), a qual foi dotada de novos estatutos que introduziram as
faculdades de Matemática e Filosofia, bem como do suporte de um laboratório de Física, de um jardim
botânico e de um observatório astronómico; por seu turno, a faculdade de Medicina adquiriu um
carácter mais prático.
Este novo ensino era alargado a um conjunto mais vasto da população e aberto às novas ideias
da ciência experimental, de acordo com a Filosofia das Luzes; além disso, servia o propósito de
preparar uma elite culta, de apoio à governação, colmatando a ausência dos jesuítas.

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