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O PAPALAGUI

Discurso de tuiavii chefe de tribo de tiavéa dos mares do sul

Para ele, Papalagui é um senhor branco e num discurso faz um apelo aos povos
dos mares do sul, para quebrarem os elos com os povos do continente europeu. Para ele
o pior erro cometido pelos seus antepassados fora de querer que a luz da Europa lhe
trazia felicidade.
Tuiavii vivia pacificamente isolado do resto do mundo europeu, vivia na ilhota
de Opulu pertencem-te a um grupo de Samoa na aldeia de Tiavéa, onde era o senhor e o
chefe da tribo. Primeira impressão: um homem gigante e benévolo, tinha dois metros de
altura e era um homem robusto, com uma voz cheia de ternura e meiguice, tinha os
olhos grandes e escuros e cevadas sobrancelhas que tinham algo de fascinante. Tuiavii
não se distinguia dos seus irmãos da tribo. Tuivaii era uma cultura fora do normal, foi
provavelmente pela sua natureza excecional que sentiu desejo de conhecer a Europa, ao
frequentar a escola missionária dos maristas, já expressava esse desejo ardente contudo
so se concretizou na idade adulta, juntou-se a um grupo de viajantes e percorreu países
atrás de países. Era um bom observador, era neutral e isento de preconceitos.
Encara as coisas e os acontecimentos de vida com a boa fé e o amor à verdade.

Do metal redondo e do papel forte

Diz Tuiavii para os europeus, se lhes estender a mão com uma peça de metal
redonda e um papel forte os seus olhos brilham assome aos lábios.
O dinheiro é o objeto do seu amor, o dinheiro é a sua divindade, todos os
homens brancos pensam nele e sonham com ele.
Para ele, o homem branco sem dinheiro não é ninguém, sacrifica a sua
consciência e felicidade até mesmo a mulher e os filhos. O homem branco dorme com
dinheiro para que ninguém lho roube. Até as crianças já precisam de dinheiro. É preciso
saber que nas terras do homem branco é impossível viver sem dinheiro, sem dinheiro
não se pode comer, beber, etc. na Europa a única coisa para que não é preciso dinheiro é
o ar que respiramos.
É preciso saber de onde vem o dinheiro, porque quem tem dinheiro não se
importa de quem não tem, e além disso aproveita-se dos que não têm para fazerem mais.
Assim o homem rico não sabe se as pessoas se aproximam dele porque gostam
dele ou pelo seu dinheiro. Para Tuiavii o dinheiro é mau e espalha o mal, quem só pensa
no dinheiro é obrigado a servi-lo como um deus, ele diz para não nos tornar-mos como
um homem branco que é capaz de se sentir feliz e contente mesmo quando perto dele
existe quem não tenha nada. Para Tuiavii o dinheiro não faz ninguém feliz.

As muitas coisas tornam o Papalagui mais pobre

Diz Tuiavii que o papalagui acha as tribos miseráveis, que necessitam de


piedade e ajuda. Mas ele diz que o que o grande espírito diz (Deus) dá é muito para eles
como a floresta, os animais, a lagoa, a praia e tudo o que a natureza dá é o suficiente
para o homem viver, diz ele que o papalagui por muitas coisas que invente ou
desenvolva nunca chega a ser como o grande espírito que é Deus, porque ele tem uma
mão Magnífica e possante, o papalagui pretende destruir ou modificar com as suas mãos
o que Deus criou. Mas de repente surgem as tempestades e por vezes leva tudo à frente,
só existe a destruição, o homem quer tornar-se superior a Deus, mas num segundo o
homem fica pobre arrasado e muitas vezes morto. Deus consegue em segundos destruir
o que o homem constrói em anos. O homem nunca se pode assemelhar a Deus. O
homem é pobre porque está obcecado pelas coisas materiais. Tuiavii diz que o papalagui
tem casas com tantas coisas, que muitas coisas são desnecessárias. Para ele o homem
prefere morrer do que viver sem bens materiais. Diz que nunca encontrou uma casa
onde se pudesse instalar porque estava habituado a não ter nada. Para tuaivii as coisas
de Deus é que são importantes (floresta, terra, mar, …)

O Papalagui nunca tem tempo

O papalagui preocupado todo o tempo com o metal redondo e papel forte não
tem tempo para nada, quando tem muito preocupa-se em gastá-lo, no comer, em festas,
em bebedeiras, etc. o tempo é preenchido com futilidades e ficam sem tempo para as
coisas importantes da vida. Muitas vezes o homem critica deus porque o tempo não
chega para nada.
O papalagui vive constantemente na ansiedade de possuir cada vez mais coisas,
de trabalhar mais, para ter mais, e esquece-se de viver, quando dá por ele já está na
velhice ou pronto para partir (morrer).
Ele diz que na sua tribo tem tempo para tudo, todo o tempo que deus lhe dá é o
suficiente, quem precisa de ajuda é o papalagui.

O Papalagui tornou Deus mais pobre

O papalagui é um ser egoísta, só pensa nele próprio, não se preocupa em pensar


nos problemas dos homens em geral, só com ele. Tem uma maneira muito confusa de
pensar. Tuaivii diz-nos que alguns papalaguis, até têm pessoas para lhes guardarem os
seus inúmeros bens par ninguém lhos tirar, bens que muitas vezes eles mesmos se
apoderam dizendo simplesmente são meus. Ele diz-nos ainda que uns apropriam-se de
muitos bens e outros ficam sem nenhuns porque nem toda a gente tem manhas. Aqueles
que se contentam com pouco porque não querem magoar deus são os melhores de,
todos, o que não existem muitos. Hoje em dia já pouca gente tem vergonha. Muita gente
procede mal, porque os outros também fazem e sem vergonha. Com isto de dizer meu, é
meu, deus já pouco tem ou nada, ele diz que nem o sol é distribuído igualmente por
todos, porque uns países têm mais sol que outros. Diz que deus já não sente alegria, pois
com o que lhe tentam tirar já não se sente senhor. Diz ainda que o homem é honesto,
que cumpre as leis, estas leis criadas por eles o que não são aos homens de Deus. Diz-
nos que deus deu-nos um vasto império, não só para uns mas para todos, quando isto
não é cumprido, deus manda inimigos como a velhice, a podridão, os terramotos, as
cheias, etc, que destrói o que o homem construiu, e diz ser seu. Os que são ricos
deveriam partilhar com os pobres. Mas muitos homens também não querem trabalhar,
querem ter a custa dos outros ou mesmo roubar, no ponto de vista dele também não
merecem ter bens. Para tuaivii o papalagui é um ser egoísta, só pensa nele, deixando os
outros para trás, só que tem que se convencer que Deus quando fez as coisas, fê-las para
todos em partes iguais porque todos somos filhos, para todos serem felizes. Na tribo
dele tudo pertence a todos, tudo pertence a deus.
O Grande Espírito pode mais do que a máquina

Tuaivii diz-nos que o papalagui faz coisas que eles não são capazes de fazer, e
que eles nunca vão perceber, são para a cabeça deles pedras pesadas. Diz-nos que o
papalagui consegue mandar no fogo, na água, etc. até eles lhe obedecem. Papalagui
trespassa o céu, pois domina o céu e a terra a seu belo prazer, consegue mexer com tudo
o que existe na terra (avião, barco, comboios, etc.) por isso nos diz que as obras do
papalagui são dignas de admiração.
Para ele o grande mago da Europa é a máquina, que ele não sabe explicar muito
bem o que é, por exemplo a máquina corta a floresta, a máquina que apanha os raios de
sol e os mastiga para de noite dar luz, ele admira o papalagui por ter tantas máquinas,
ele aspira tornar-se deus, com todas as suas invenções quer tirar deus do seu reino, mas
deus é maior e mais poderoso que qualquer máquina inventada pelo papalagui.
É deus quem decide qual de nós irá morrer e quando. É deus que o sol, a água e
o fogo obedecem. Para ele enquanto deus mandar todas as invenções não têm qualquer
valor porque deus num segundo, pode destruir tudo o que o papalagui construiu.
Para ele tudo o que Deus criou é que tem importância, o que o homem constrói é
que tem que estar em constante vigilância, enquanto que o que deus faz é tudo bem
feito.
Para ele, papalagui, deixou de gostar de tudo e qualquer coisa, porque quem faz
tudo são as máquinas, as coisas não são feitas com carinho porque tudo o que o homem
constrói é sem vida e sem amor.
Tuaivii gosta mais de ser calmo em vez de atravessar uma aldeia a cavalo como
faz o homem branco vai a pé e vai falando com os amigos. O papalagui corre sempre
para um determinado fim, na maior parte das vezes ajudado pelas máquinas, ele diz que
raramente se ganha em chegar mais depressa ao fim da viagem e mal atinge o fim parte
logo para outra viagem, assim o papalagui leva o tempo todo a correr, cada vez mais se
esquec do que é andar passear, caminhar alegremente para um fim que vem ao nosso
encontro sem o procurarmos.
Para ele a máquina é um brinquedo para crianças grandes (papalagui). Este com
tantas invenções ainda não construiu um maquina que vencesse a morte. Nenhuma
destas máquinas contribui para que as pessoas sejam mais felizes e alegres. Diz-nos para
nos apegarmos à maravilhosa máquina que é deus e desprezemos o papalagui porque ele
quer passar-se por deus.

Das profissões do Papalagui e da sua confusão que daí


resulta

Para tuaivii todos os papalaguis têm uma profissão que deveria ser algo que
todos fizessem com vontade, mas raramente o fazem. Ter uma profissão significa fazer
sempre as mesmas coisas e acabasse por fazê-las sem esforço e de olhos fechados.
Existem profissões para as mulheres e para os homens. Geralmente as mulheres mudam
de profissão quando se casam. Normalmente um homem casa-se quando já exerce uma
profissão e consagra-se a ela. O homem branco tem obrigação de ter uma profissão.
Assim todos os brancos na idade jovem têm de decidir a sua profissão para a vida
futura. O papalagui faz de cada ato uma profissão, quando apanha as folhas do chão,
quando lava a loiça, etc., tudo isto é uma profissão. Desde que se faça alguma coisa
exerce-se uma profissão.
O papalagui transforma tudo quanto o homem é capaz de fazer numa profissão,
ele diz-nos que o homem branco só faz o que a sua profissão exige, por exemplo um
professor só sabe dar aulas mais nada, ele diz que isto é perigoso pois um dia o branco
pode ter a necessidade de fazer outra coisa e não sabe fazê-la. Diz-nos que deus deu-nos
mãos para fazermos tudo, para ele a profissão dá cabo da vida e promete belas coisas ao
homem, ao mesmo tempo suga-lhe o sangue. Isto é por exemplo uma pessoa que
trabalhe num banco, passa o dia sentado, não corre então fica gordo, etc. para ele na sua
tribo é uma alegria todos trabalharem em conjunto, todos fazem poucos de tudo “se
apenas temos o direito de fazer uma coisa só, não podemos participar em todos os
trabalhos, não sentiremos nem metade do prazer se é que chegaremos mesmo a sentir
algum”. Para ele a verdadeira alegria é trabalhar todos em conjunto, não há nada mais
penoso do que fazer sempre a mesma coisa. O branco faz o trabalho sem esforço, por
exemplo se o trabalho lhe dá muito trabalho arranja uma máquina para lho fazer, assim
não faz mas também não tem o prazer de o fazer ele. É por isso que os homens de
diferentes profissões se odeiam uns aos outros, porque comparam as profissões de uns
com os outros para ele existem profissões nobres e outras mais baixas. O papalagui fica
desvairado por causa da profissão, fica desesperado e fá-lo adoecer. O papalagui nunca
conseguiu provar porque trabalha, mais do que é exigido por Deus, que é ter o suficiente
para comer, um tecto, prazer em participar m festas, etc. Diz-nos que o papalagui
quando fala do seu trabalho, suspira como se falasse de um fardo, enquanto que os da
sua tribo vão para o trabalho a cantar. Diz-nos que Deus não quer que o homem seja
escravo do trabalho, quer sim que o homem seja firme em tudo o que faz, sem nunca
perder a alegria de viver e a agilidade dos membros.

Do lugar onde se simula a vida e dos muitos papéis

Tuaivii diz-nos que a vida do papalagui se assemelha a um mar, não se lhe vê o


princípio nem o fim, apresenta muitas ondas e ressacas, pode ser tempestuoso,
sorridente e sonhador. Tal como o mar não pode existir sem água, a Europa não pode
existir sem o lugar onde simula a vida, e sem muitos papéis, se o papalagui vivesse sem
estas duas coisas era como um peixe deitado à areia.
Este sítio que ele nos fala que simula a vida é o cinema que é um lugar escuro
onde não se vêem uns aos outros, as pessoas entram e tentem encontrar um lugar onde
se sentarem, sentados no escuro apertam-se uns contra os outros, sem conseguirem ver
quem têm a seu lado. As pessoas estão caladas todas viradas para uma parede, ouve-se
então um som muito forte e repenicado, começa-se a ver o filme, diz-nos que esta
barulheira tem o objetivo de distrair e enfraquecer os nossos sentidos, para que
acreditemos no que estamos a ver e não duvidemos do que seja real. Diz-nos que
aparece a luz como um luar e na parede aparecem então homens semelhantes a
verdadeiros papalaguis, vestidos como eles, mexem-se, andam, correm, saltam como
fazem os homens normais. É como a lua refletida no lago, é ela mas na realidade não é.
As personagens falam mas no entanto não se ouvem as vozes e aparecem as legendas.
Aquelas pessoas parecem humanas mas não o são, estão ali para mostrar ao homem as
suas próprias dores, alegrias, loucuras e fraquezas. Aconteça o que acontecer no filme, o
homem não pode ter reação, olha para aquilo como se fosse tudo normal. Porque o
homem sabe o que é ficção, são estas imagens que não vivem, que não respiram, que
dão maior prazer ao homem, diz-nos que às escuras os homens são todos iguais. Esta
paixão pela vida fictícia é tão forte que o leva a esquecer a sua vida real. O problema é
que os homens confundem a ficção com a vida real, a partir daqui podem fazer tudo e
mais alguma coisa, tudo é normal. Fala-nos também dos jornais, que são montes de
papéis dobrados diversas vezes todos escritos, diz-nos que ainda alguns dormem e já
outros andam a distribuir os jornais, é a primeira coisa que o homem faz quando acorda
é ler o jornal. Diz tudo o que o homem faz e o que ser passa vem tudo no jornal, diz-nos
que o homem quer estar sempre ocorrente de tudo desde que o sol nasce até que se põe,
que vem lá escrito o bem e o mal, mas o mal vem escrito com mais precisão, contudo
até ao mais pequeno pormenor como que se o mal fosse mais importante que o bem.
Mas diz-nos que o jornal não passa de uma ilusão, o melhor é conversar com os amigos
que é uma sensação muito mais intensa, partilhada com alguém, as dores, as alegrias, do
que ouvi-las contar por estranhos. Para ele os jornais são maus para o nosso espírito
porque relatam o que se passa e porque nos dizem o que devemos pensar. Os que
escrevem os jornais gostavam que os homens pensassem como eles. Para eles os jornais
são uma espécie de máquina que todos os dias fabricam novos pensamentos, para ele
estes pensamentos são na maioria fracos, destituídos e força e de altivez, enchem a
cabeça com muitos alimentos, mas nenhum fortificante. O papalagui enche logo de
manha a cabeça com estes papéis e mal acaba estes quer logo começar a ler outros. Por
isso para ele o sítio onde simula a vida e os muitos papéis fizeram do papalagui o que
ele é: um ser fraco, meio perdido que preza o que não é real, perdeu a noção do real
confunde a luz com a sua imagem.

A grave doença de estar sempre a pensar

Diz-nos que o papalagui quando diz a palavra espírito os seus olhos tornam-se
grandes, redondos e fixos. Respira fundo e toma uma pose de um guerreiro que venceu
o inimigo. Não estamos a falar de deus mas sim, de um espírito mais pequeno que faz
um homem pensar. Por exemplo quando olha para uma árvore perto da igreja, está
simplesmente a olhar, a vê-la, não está a usar o espírito, mas se a árvore fosse maior que
a igreja aí já entra o espírito, não basta olhar tem que tirar qualquer saber. Papalagui é
pobre de espírito, tão estúpido como um animal selvagem. A questão que se põe é de
saber qual dos dois é mais estúpido, se aquele que não pensa muito ou aquele que não
pensa de mais. O papalagui não pára de pensar. Pensa porque é pequeno, porque é
grande, porque gostas de ir às compras, etc. não pára de pensar. Pensa tanto, que o ato
de pensar se torna um hábito, uma necessidade, até mesmo com uma coação, vê-se
obrigado a estar sempre a pensar, só a muito custo consegue não fazê-lo e deixar viver
todas as partes do seu corpo ao mesmo tempo. Na maior parte do tempo vive com a
cabeça enquanto os sentidos dormem um profundo sono, embora isso não o impeça de
andar, falar, comer, rir, etc. vive fechado nos seus pensamentos, deixa-se embriagar
pelos seus pensamentos, diz-nos que belo sol que está agora, o papalagui pensa logo que
belo dia. Diz-nos que um samoano não pensava em nada, limitava-se a aproveitar o bom
dia de sol sem pensar em nada e goza do sol com o corpo todo. Diz-nos que o papalagui
só pensa coisas alegres, não sorri, pensa em coisas tristes e não chora. O papalagui é um
ser dividido em dois nos seus sentidos e no seu espírito, o papalagui pensa tanto que não
consegue aproveitar as coisas boas da vida, o papalagui gosta do seu espírito, venera-o e
alimenta-o como pensamento da sua cabeça, ele diz-nos que faz imenso barulho com os
seus pensamentos. Diz-nos que foi atingido pela grave doença de estar sempre a pensar.
Na Europa dizem que este modo de proceder torna o espírito mais aberto e sedutor,
quando alguém pensa muito e com rapidez, tem uma grande cabeça, por isso escolhem-
nos para chefes, pessoas que têm estas grandes cabeças, as pessoas sentem-se mais
seguras, quando uma pessoa destas morre, o país fica de luto e lamentam a sua perda,
constroem a seguir estátuas para os homenagearem. Na Europa dizem quem não pensa é
considerado estúpido. Para ele a verdadeira inteligência é encontrar alguém no seu
caminho. Sem ter necessidade de pensar. Para ele o papalagui tem a mania de querer
penetrar e esquadrinhar tudo, é uma paixão desprezível e de mau gosto. Vai dividindo
todas as coisas que vê até chegar ao ponto de não poder parti-las nem subdividi-las
mais. Diz-nos que deus não consente que lhe roubem os segredos, além disso não gosta
da curiosidade dos homens. Por isso chega à conclusão que mesmo pensando muito não
consegue ser melhor que o grande espírito. Diz-nos que escrever mil vezes os seus
pensamentos a que chama livro, que mandam para todos os sítios dos países. Que quem
lê os livros é influenciado por eles, os que são razoáveis são os que pensam por eles não
pelos outros, diz-nos também que enchem as crianças com muitos pensamentos, que
nem a luz consegue entrar nas suas cabeças. Ser instruído significa: atravancar a cabeça
com saber até ela quase estoirar. O homem instruído sabe tudo. A cabeça dele está
sempre prestes a disparar, mal fazes uma pergunta está logo pronto a responder. Com
isto tudo o papalagui tem obrigação de saber e pensar.
O único remédio seria de esquecer e afugentar os pensamentos uma coisa que
será impossível, assim o papalagui não tem cura.
A maior parte do tempo carrega consigo tamanho fardo que o corpo de cansa,
perde vigor e murcha. Devemos evitar tudo quanto não nos fortifique o corpo e
intensifique os prazeres que os sentidos nos dão, acautelamo-nos contra tudo o que nos
faça perder a alegria de viver contra tudo quanto possa assombrar-nos o espírito,
roubando-lhe a luz e fazer a cabeça entrar em conflito com o corpo. Assim o papalagui
prova-nos que pensar é uma doença grave.

O Papalagui quer arrastar-nos para as suas trevas

Tuaivii diz-nos que viviam na noite escura não conheciam o evangelho, foi o
papalagui que lhes trouxe a luz, foi ele que nos veio libertar da noite negra em que
viviam. Levou-os até Deus e ensinou-os a amá-lo, venera o papalagui porque foi o
porta-voz do grande espírito, por isso não lhe negam hospitalidade e tudo o que eles
tiverem, pois sentem-se filhos do mesmo pai. Diz-nos que o papalagui com muito
esforço conseguiram ensinar o evangelho, agora rendem-se a ele devido ao esforço que
tiveram que suportar, e presta-lhe homenagem por lhes levar a luz.
Ensinou-os quem era Deus desviando os seus deuses antigos dizendo que se
tratava de ídolos. Assim deixaram de adorar as estrelas, a força do fogo, do vento, etc.
Assim as preces passam a ser para o grande espírito. Foram-lhes tiradas as armas para
viverem em paz como bons cristãos porque existe um mandamento “amarmo-nos uns
aos outros”, “não matar” , assim não voltaram às guerras e começaram a respeitar uns
aos outros, logo perceberam que Deus tinha razão porque a paz reina entre eles. Assim
todos os que acreditaram se tornaram maiores e mais fortes desde que adoram Deus,
todos ouvem com respeito o chefe da tribo. Diz que papalagui lhe trouxe a luz, diz que
ele a recebeu antes deles. Já a luz os iluminava a eles e ainda os mais velhos da tribo
ainda não tinham nascido. Diz-nos que ele continua a estender o braço para alumiar os
outros e ele vive nas trevas, embora ele proclame deus, o seu coração vive muito longe
dele. Diz que não se vai deixar levar pelo papalagui para não cair nas trevas dele. Diz
que o papalagui não compreende os mandamentos e preconceitos, a boca e o coração
compreendem mas o corpo não. Diz-nos que proclamam o evangelho mas não o
cumprem, mesmo aqueles que estudaram para o fazer.
Diz que quando adoravam as estrelas e outros deuses não eram piores que os
papalaguis, diz que viviam no meio das trevas porque não conheciam a luz, mas o
papalagui conhece a luz e vive à mesma no meio das trevas e no entanto é mau. O pior é
que se diz filho de Deus. O papalagui só pensa em deus às vezes quando algo de mal
acontece. Deus incomoda-o de se entregar aos seus curiosos prazeres e às suas estranhas
diversões. Por isso quando quer fazer o que lhe apetece, que deus não aprova, não pensa
nele. O coração do papalagui está cheio de ódio, inveja e hostilidade e diz que ele é
cristão, cristão é amar acima de tudo.
Diz-nos que o papalagui adora tudo menos Deus, possuem hoje mais ídolos do
que eles adoravam antes de conhecerem a luz.
Por isso o papalagui não age segundo a vontade de Deus, mas sim a sua vontade.
Assim ele pensa que o papalagui lhe levou a luz com segundas intenções, pelas
suas terras e no que elas existem. Acha que o papalagui tem muita sujidade e pecado e
que Deus gosta mais deles que os chamam selvagens do que dos papalaguis.
Assim Deus disse-lhes “faça-se segundo a Tua vontade, já não mando mais em ti”. E o
papalagui mostrou-se como é, tirou-lhes as armas para haver paz e eles matam-se uns
aos outros, o terror e a destruição reinam por toda a parte. Assim com o amor de Deus,
têm força interior sem se deixarem seduzir pelo o que o papalagui faz, e diz para o
papalagui se afastar porque enquanto proceder assim na terra nunca haverá amor e paz.
Assim eles vão adorar Deus, agradecem ao papalagui por lhes ter trazido a luz
mas não concorda com o viver nem com o pensar dele.

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