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Registro nº 7845/2013
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Cf. MENDES, Gilmar Ferreira, et al. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 193.
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10. Por sua vez, o Decreto nº 6.759, de 2009, reproduzindo o referido dispositivo
legal, prevê em seu art. 70:
Art. 70. Considera-se estrangeira, para fins de incidência do imposto, a mercadoria
nacional ou nacionalizada exportada, que retorne ao País, salvo se (Decreto-Lei nº
37, de 1966, art. 1º, § 1º, com a redação dada pelo Decreto-Lei nº 2.472, de 1988,
art. 1º):
I - enviada em consignação e não vendida no prazo autorizado;
II - devolvida por motivo de defeito técnico, para reparo ou para substituição;
III - por motivo de modificações na sistemática de importação por parte do país
importador;
IV - por motivo de guerra ou de calamidade pública; ou
V - por outros fatores alheios à vontade do exportador.
(...)
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lhe sucedeu. Não obstante, referida locução não se limita a produto cuja fabricação tenha
ocorrido no exterior, mas compreende, igualmente, produtos substancialmente
transformados em território alienígena, bem como produtos nacionais ou nacionalizados
exportados a título definitivo e que tenham retornado ao País.
12. Note-se que o inciso I do art. 153 da CR/88 refere-se a produtos estrangeiros,
ou seja, produtos vindos do exterior. A norma constitucional de competência tributária não
restringe a incidência do citado imposto ao critério de origem – onde o bem foi produzido ou
substancialmente transformado3 –, alcançando, de igual modo, bens nacionais e
nacionalizados exportados definitivamente, dado que, nesse último caso, a mercadoria
passa a receber o status jurídico de estrangeira.
13. A interpretação da norma incursa no art. 153, I, da CR/88, não pode ser
autista, fechada em concepção que ignora a realidade do comércio internacional subjacente
às formas jurídicas hoje existentes. No mundo globalizado, com “a intensificação de
relações sociais mundiais que unem localidades distantes de tal modo que os
acontecimentos locais são condicionados por eventos que acontecem a muitas milhas de
distância e vice-versa”4, a efetividade da referida norma encontra-se intimamente conectada
com a dinamicidade e complexidade dos fenômenos negociais na seara internacional.
Recusar a validade de aporte normativo idôneo a esclarecer o conteúdo da aludida norma
implicaria reduzir, de forma indevida, o seu campo de abrangência.
14. Como bem ressaltou a Nota Cosit nº 252/2004, “em face da grande
multiplicidade de operações de comércio internacional, hoje em dia, uma mercadoria pode
ser produzida em vários estágios e com a participação de vários países. A mercadoria pode
ir e vir, como objeto de comércio. Pode ser beneficiada, transformada, vendida, e essas
etapas podem se realizar em países distintos. Assim, o que prepondera, nas operações
de comércio exterior, atualmente, não é apenas a origem da mercadoria, mas também
sua procedência. Portanto, o Imposto de Importação incide sobre operação de importação
de mercadoria de origem ou procedência estrangeira. Assim, um produto de origem
nacional ou nacionalizado pode adquirir o status de estrangeiro em função da sua nova
procedência”.
3
Cf. MEIRA, Liziane Angelotti. Tributos sobre o comércio exterior. São Paulo, Saraiva, 2012, p. 331.
4
GIDDENS apud SANTOS, Boaventura de Sousa. Os processos da globalização. In: SANTOS, Boaventura de
Sousa (Org.). A globalização e as ciências sociais. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002, p. 26.
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MEIRA, Liziane Angelotti. Tributos sobre o comércio exterior. São Paulo, Saraiva, 2012, p. 338.
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20. O citado art. 93, em sua redação original, estava inserido em Título dedicado
aos Regimes Aduaneiros Especiais, em Capítulo que disciplina a Exportação Temporária, e
determinava a cobrança de Imposto de Importação na hipótese de descumprimento das
condições do regime de mercadoria exportada temporariamente, considerada estrangeira
pelo teor do referido dispositivo legal, da forma que segue:
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RE 104.306, grifos que não constam do original.
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24. Em que pese o inciso I do art. 153 do Texto Constitucional vigente não ter
feito referência a mercadorias de procedência estrangeira, tal como constava do texto da
Constituição brasileira de 1946, a redação mais sintética não afasta, per se, a possibilidade
de equiparação nos moldes do § 1º do art. 1º do Decreto-lei nº 37, de 1966. Ainda que
concisa e abreviada, a norma de competência tributária do imposto sobre a importação de
produtos estrangeiros alcança, igualmente, a mercadoria desnacionalizada que volte a
ingressar no País, na medida em que, por ocasião de sua saída definitiva do território
nacional, passou a se revestir da qualificação de estrangeira.
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Acórdão CSRF nº 03-05.347. Disponível em
http://carf.fazenda.gov.br/sincon/public/pages/ConsultarJurisprudencia/listaJurisprudenciaCarf.jsf. Acesso em 11
novembro de 2013.
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28. Por fim, há de se afastar eventual alegação de vício formal, pois a norma
anterior compatível materialmente com o novo Texto Constitucional é recebida com a
natureza normativa prevista na Constituição. Isto é, a filtragem constitucional centra-se
apenas no conteúdo da norma, ganhando a lei anterior o status de lei ordinária ou de lei
complementar, a depender da exigência feita pela nova ordem jurídica constitucional,
inexistindo qualquer antinomia entre o § 1º do art. 1º do DL nº 37, de 1966, e o art. 19 do
CTN, e consequentemente com o art. 146, III, a, da Constituição.
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Disponível em
http://carf.fazenda.gov.br/sincon/public/pages/ConsultarJurisprudencia/listaJurisprudenciaCarf.jsf. Acesso em 11
novembro de 2013.
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À apreciação superior.
FABRÍCIO DA SOLLER
Procurador-Geral Adjunto de Consultoria e Contencioso Tributário
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