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Consoante dispõe a Carta da República (art. 20, IX), os recursos minerais,
inclusive os do subsolo, são bens da União, constituindo-se “propriedade
distinta da do solo para fins de exploração ou aproveitamento,” sendo
garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra (art. 176, § 1º
da CF).
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Com a finalidade de promover o planejamento, o fomento e a
regulamentação da exploração de tais recursos, o legislador instituiu por
meio da Lei nº 8.876, de 02 de maio de 1994, como Autarquia, o Departamento
Nacional de Produção Mineral (DNPM), incumbindo-o, dentre outras
atribuições, de cumprir as disposições constantes no Código de Mineração,
Código de Águas Minerais e os respectivos regulamentos e a legislação que
os complementam.
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Contudo, apesar do vasto arcabouço jurídico e das respectivas sanções
administrativas existentes, entendeu o legislador pela “criminalização da
atividade” quando desenvolvida “sem o título autorizativo ou em desacordo
com as obrigações impostas pelo mesmo”.
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Esse fato teve como consequência a imediata manifestação de importantes
segmentos da sociedade, ocasião em que o Poder Legislativo, por intermédio
do Senador Jarbas Gonçalves Passarinho, protocolou em 17 de janeiro de
1991 - em caráter de urgência - o anteprojeto referenciado de ¹Exposição de
Motivos n° 03/91 almejando, com isso, restabelecer a numeração do Código
Penal, então alterado, o que resultou na promulgação da Lei 8.176, de 08 de
Fevereiro de 1991, que definiu em seu ²artigo 2º o “crime de usurpação”, tal
como o conhecemos, incorporando-o integralmente no anteprojeto sob a
forma de lei autônoma, vejamos:
¹(...),
1 in General Juarez Távora, Rev. Eng. Min. E Metalurgia, Vol. XXII, pg. 239.
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do mencionado Código, dispositivo ampliando os crimes contra o
patrimônio.
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adquirir, transportar, industrializar, tiver consigo, consumir
ou comercializar produtos ou matéria-prima, obtidos na forma
prevista no caput deste artigo.
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Diante do contexto real, sempre que o poder público administrante
(DNPM/Órgãos Ambientais) constatar a existência ou indícios de atividade
atentatória à citada lei, deverá adotar as seguintes providências:
• DNPM:
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desde a abertura da mina, descrevendo o método utilizado
acompanhado da memória de cálculo e ART do técnico responsável
pelo mesmo;
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II – Pelo Ministério Público Federal: determinar a abertura de
Inquérito junto a Delegacia de Polícia Federal competente para a
apuração dos fatos e, se for o caso, o ajuizamento da respectiva
ação penal pela prática dos delitos capitulados nos artigos 2º
da Lei nº 8.176, de 08 de Fevereiro de 1991, e 55 da Lei nº 9.605,
de 12 de Fevereiro de 1998, sem prejuízo da competente ação
Civil Pública visando a recuperação/reparação ou compensação
do dano ambiental, bem como o ressarcimento ao erário pelo
mineral ilegalmente comercializado;
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exigências formuladas pelo DNPM no “item c” desta, acrescidos
de correção monetária, contados da efetivação da Notificação
Judicial proposta pela AGU objetivando a cobrança (caso tenha
sido realizada), ou da constatação dos fatos ou;
• Órgãos Ambientais:
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c) Adoção de medidas objetivando a recuperação/reparação
ou compensação do dano ambiental, sem prejuízo das demais
sanções previstas na legislação ambiental regulamentar;
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no art. 2º da Lei 8.176, de 08 de Fevereiro de 1991, sem prejuízo
da competente ação Civil Pública objetivando a recuperação/
reparação ou compensação pelo dano ambiental e ressarcimento
ao erário pelo mineral ilegalmente comercializado.
Tais hipóteses são muito comuns quando das vistorias para aprovação
do Relatório Final de Pesquisa (RFP), emissão de Guia de Utilização (GU),
Licença Ambiental (LP, LI e LO), fiscalizações rotineiras do Poder Público
Administrante, incluindo-se neste o Ministério Público do Trabalho (MPT) ou
por denúncias de terceiros.
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vivenciada pelo País, sobretudo por aqueles que serão alcançados por elas.
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Nesse sentido, é de se reconhecer que a atividade mineral caracteriza-se
por vultosos investimentos, longo prazo de maturação e alto risco. Desde
um requerimento de pesquisa até a portaria de lavra em qualquer projeto
médio, pode-se levar até dez anos com fluxo de caixa negativo. Para projetos
maiores, o prazo de fluxo de caixa negativo até a Portaria de Lavra pode
chegar a quinze anos.
2 in De Plácido e Silva, Vocabulário Jurídico, Ed. Forense, 15ª Ed., ano 1998, pg. 452
16 3 Idem, pg. 171
Exemplificativamente, citamos o setor minerário de rochas ornamentais,
vejamos:
• Possui vida útil restrita, uma vez que depende de fatores externos para
prosperar, como por exemplo, o “modismo” do mercado consumidor;
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consumidor para aquele bem mineral específico, sendo que este - a
qualquer momento - pode retornar ao estado de “RECURSO GEOLÓGICO”
em decorrência da alternância do “modismo”, conforme explica Jorge
Kazuo Yamoto4:
4 in Avaliação e Classificação de Reservas Minerais, Ed. Universidade de São Paulo, ano 2001, pg. 9.
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do poder público uma atenção totalmente diversa daquela constatada pelo
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO em Sessão Ordinária que se realizou em
23.11.20116, veja-se:
6 TC 011.720/2011-5
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Além disso, não há critérios precisos para a seleção dos processos
que serão analisados, restando privilegiados os requerentes que
pressionam a autarquia que acabam por definir as prioridades do
órgão. Os demais aguardam até 20 anos para ver a análise do seu
processo concluída e seu eventual empreendimento muitas vezes
inviabilizado, em alguns casos pelas mudanças nas condições
de mineração em outros pela impossibilidade de espera por tão
longo período (...). (Destacamos)
Logo, a atividade minerária não pode ser tratada com desprezo, como se ela
tivesse surgido há pouco, trazendo consigo os males do mundo e, sobretudo,
os da degradação ambiental.
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Extrai-se do contexto, que desde a sanção da Lei nº 8.176, de 08 de
Fevereiro de 1991, vários anos já se passaram sem que houvesse qualquer
adequação legislativa que distinguisse “atividade minerária irregular”
de “atividade minerária clandestina” com definições, tratamentos e
sanções diferenciadas e não igualitárias como atualmente soe de ocorrer,
contrariando, dessa forma, a noção de justiça brilhantemente definida pelo
ilustre Desembargador Federal SOUZA PRUDENTE7: