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XVII e XVIII
É assim que, à tão cobiçada rota do Cabo, se junta uma próspera rota atlântica que une a
Europa, a África e a América. Eixo deste comercio triangular, o tráfico negreiro não
parou de crescer. Entre 1710 e 1810 terão desembarcado na América cerca de 6 milhões
de escravos, o que corresponde a mais de 60% dos negros transacionados nos três seculos
e meio desta desumana atividade.
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Na logica mercantilista, competia ao Estado tomar as medidas necessárias para atingir
este objetivo. Tais medidas traduziam-se num apertado protecionismo económico que
fomentava a produção e salvaguardava os produtos e as áreas de comércio nacionais da
concorrência estrangeira.
Muito resumidamente, podemos dizer que a atuação dos governos se deveria pautar por
três linhas fundamentais:
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concedidos, o Estado arrogava-se o direito de regulamentar minuciosamente a atividade
industrial: matéria-prima, qualidade, horas de trabalho, preços, tudo era controlado
atraves de um corpo de inspetores criados para o efeito.
Entre 1651 e 1663, foi promulgada uma serie de leis – os Atos de Navegação -,
destinadas a banir os Holandeses das áreas do comercio britânico. Por determinação dos
Atos de Navegação, todas as mercadorias estrangeiras que entrassem em Inglaterra seriam
obrigatoriamente transportadas em embarcações inglesas ou do país de origem. De igual
forma, reservou-se à marinha britânica, em exclusivo, a navegação de cabotagem e o
transporte para Inglaterra das mercadorias coloniais.
O setor comercial foi ainda reforçado com a criação de grandes companhias de comércio,
às quais se concederam numerosos monopólios. A mais celebre e bem-sucedida foi, sem
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dúvida, a Companhia das Índias Orientais, que recebeu, em 1651, poderes soberanos de
justiça civil, organização militar e direção de guerra no Oriente.
Durante o Antigo Regime, as nações europeias aceitavam a ideia de que constituíam uma
comunidade regulada por um certo equilíbrio de poder, em termos simples, tal queria
dizer que se procurava, dentro do possível, evitar que as relaçoes internacionais fossem
dominadas por uma potencia hegemónica. Era, em grande parte, esta preocupação que
ditava o jogo das alianças e a intervenção dos diversos países nas guerras que então se
travaram.
No decurso dos dois séculos que agora estudamos, o equilíbrio europeu foi
particularmente frágil e mantido à custa de numerosos conflitos. Fosse por questões
dinásticas, pretensões territoriais ou interesses económicos, o certo é que a Europa viveu
uma sucessão continua de guerras.
Ora, dado que a generalização das medidas protecionistas tinha levantado grandes
entraves à circulação de mercadorias no circuito europeu, os olhares voltaram-se para as
áreas coloniais, que se tornaram o centro de acesas rivalidades.
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Face à evidente decadência dos Estados ibéricos, a disputa da supremacia no grande
comercio marítimo travou-se essencialmente entre a Holanda, a Inglaterra e a França.
Muito resumidamente, podemos distinguir, nesta luta, duas fases:
A primeira, entre 1651 e 1689, opôs a Holanda e a Inglaterra. Os dois países travaram
entre si três encarniçadas guerras, no termo das quais a Holanda perdeu para a Inglaterra
as suas colonias americanas e parte das suas possessões no Oriente. Estas guerras marcam
o fim da hegemonia comercial holandesa, que durava há mais de meio século;
A segunda, que decorreu entre 1689 e 1763, foi marcada pela rivalidade anglo-francesa,
que se materializou numa longa série de conflitos por questões de território, mercados e
abastecimentos de produtos coloniais.
Este período de tensão culminou na Guerra dos Sete Anos (1756-1763) que, iniciada na
Europa, rapidamente se estendeu aos territórios de além-mar.
A guerra consagrou a vitória inglesa, reconhecida no Tratado de Paris. Por este tratado, a
França abandonou as suas possessões nas Índias, comprometendo-se a retirar os efetivos
militares das cinco feitorias que aí conservou. Na América, cedeu à Inglaterra o Canadá, o
vale do Oaio, a margem esquerda do rio Mississípi; em África, as feitorias do Senegal.
Entregou, ainda, a Luisiana à Espanha, para a compensar da perda da Florida, anexada
pelos ingleses.
Foi assim que, após mais de um século de conflitos, a Inglaterra se tornou a maior
potência colonial e marítima da Europa. A sua hegemonia económica perdurará por todo
o século XIX.
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Para evitar o pousio e renovar a terra, a “nova agricultura” aperfeiçoou um sistema de
rotação de culturas que alternava as colheitas de cereais com as leguminosas, como o
nabo (que melhora os solos), e as plantas forrageiras como o trevo.
Tal prática não só proporcionava o aproveitamento integral da terra como permitia uma
articulação perfeita entre a agricultura e a criação de gado, aspeto deveras relevante, uma
vez, que à falta de adubos químicos, o estrume era, messe tempo, o único fertilizante de
uso corrente.
Este novo sistema era incompatível com os tradicionais direitos de pasto comunitário que
obrigavam a deixar abertos todos os campos onde, após as colheitas, os gados da região
pastavam livremente. O campo aberto (open field) revelava-se, pelo contrário, altamente
prejudicial à rentabilização da terra, pelo que os grandes proprietários desencadearam um
processo de vedações (enclousures) das suas propriedades às quais anexaram, muitas
vezes, baldios e outras terras comunitárias.
Assim renovado, o setor agrícola viu crescer a sua produtividade, aumentando
substancialmente os recursos alimentares do pais. Esta abundância não só permitiu a
canalização de mão de obra para outros setores produtivos, como impulsionou um intenso
crescimento demográfico, fator de vitalidade e riqueza económica.
A segunda metade do século XVIII foi marcada por um intenso crescimento demográfico.
Este crescimento, que se fez sentir por toda a Europa, atingiu especialmente a Inglaterra.
Estreitamente relacionado com a prosperidade do país, o aumento da população inglesa
foi, simultaneamente, um resultado e um fator do desenvolvimento económico: a
abundância e a criação de postos de trabalho fazem aumentar a taxa de nupcialidade e o
número de nascimentos, enquanto a morte regride; por sua vez, o crescimento
populacional estimula o consumo e fornece mão de obra jovem aos diversos setores de
atividade.
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Mostrar o impacto do alargamento dos mercados na economia
inglesa
A criação de um mercado nacional
Era, porém, dos longínquos mercados transoceânicos que os Ingleses retiravam os seus
maiores dividendos.
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O triângulo comercial que ligava os três continentes fazia-se, no caso inglês, a partir dos
portos de Liverpool, Londres, Bristol, Glasgow ou Hull, de onde os quilharias, em
direção à costa de África. Aí, abasteciam-se de escravos, destinados às plantações e minas
americanas. Na América, adquiriam as produções tropicais (açúcar, café, algodão, tabaco,
etc.), que revendiam depois na Europa.
Em Londres funcionava, desde o fim do século XVI, uma das primeiras bolsas de
comércio da Europa, onde se centralizavam os grandes negócios da cidade. A Bolsa de
Londres, como uma instituição privada, depressa foi reconhecida pelo Estado que lhe
conferiu a condição de Royal Exchange.
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Além destas operações, o banco tinha ainda a capacidade de emitir notas, que circulavam
como uma verdadeira moeda. Embora este primeiro papel-moeda pudesse ser, em
qualquer momento, convertido em ouro, o valor das notas em circulação ultrapassou
largamente as reservas metálicas do banco, fornecendo assim os meios de pagamento
necessários ao incremento dos pequenos negócios.
Um exemplo claro desta espiral tecnológica é-nos fornecido pela indústria têxtil que
liderou o arranque industrial inglês.
A indústria têxtil
Uma nova máquina de fiar, a Jenny, veio solucionar o problema. Inventada por James
Hargreaves, em 1765, permitia a uma só fiandeira trabalhar sete ou oito fios ao mesmo
tempo. Mais tarde, este número elevou-se para 80 fios, o que provocou um novo
desequilíbrio entre as duas fases produtivas, desta vez de sentido inverso.
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A metalurgia
A maior capacidade calorifica do coque, a aplicação de foles para ventilação dos altos-
fornos e outros melhoramentos introduzidos nas fundições permitiram melhorar a
quantidade e aumentar a produção.
A força do vapor
Havia muito tempo que se procurava aproveitar a força expansiva do vapor como força
motriz. No entanto, permaneciam por resolver diversos problemas técnicos, pelo que as
poucas máquinas existentes poucas aplicações tinham.
Em 1763, James Watt, que se estabelecera em Glasgow com uma oficina de instrumentos
de precisão, foi chamado a reparar uma máquina de Newcomen, engenho a vapor
correntemente utilizado para bombear a água das minas. Foi então que impôs a si próprio
o desafio de conhecer uma “bomba de fogo” mais eficiente e versátil. Pouco depois,
registava a primeira patente, dedicando os anos seguintes a aperfeiçoar o seu
maquinismo.
A máquina a vapor de James Watt constituiu o primeiro motor artificial da História. Com
ela foi possível mover teares, martelos, locomotivas, enfim, todo o tipo de maquinismos
que, anteriormente, dependiam do trabalho humano ou das forças da Natureza.
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Um século depois da invenção de Watt, as máquinas a vapor efetuavam, na Grã-Bretanha,
um volume de trabalho que teria exigido, anteriormente, cerca de 40 milhões de homens!
Como resultado desta revolução, grandes vagas de camponeses migraram para as cidades,
que cresceram negras do dumo das fábricas e se espraiaram em bairros pobres, de
habitação operária; uma nova classe, a burguesia industrial, elevou-se ao topo da
sociedade e do poder político, impondo os seus valores, a sua cultura e a sua forma de
viver; os transportes aceleraram-se e encurtaram distâncias, fazendo circular mercadorias,
homens, noticias, ideias e hábitos novos.
Pioneira de todas estas transformações, único país a “arrancar” no século XVIII, a Grã-
Bretanha tomou a dianteira da Europa, guiando-a em direção a uma época nova: a do
capitalismo industrial.
No século XVII, Portugal vivia sobretudo da reexportação dos produtos coloniais, tais
como o açúcar, o tabaco e as especiarias.
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Estas novas zonas produtoras, a política protecionista de Colbert e a concorrência sofrida
no comércio asiático desencadearam uma crise comercial grave que, se não foi
exclusivamente portuguesa, assumiu aqui maiores proporções que nos restantes países da
Europa.
Entre 1670 e 1692, época em que a crise atingiu o seu auge, os armazéns da nossa capital
abarrotavam de mercadorias sem compradores. O excesso de oferta refletiu-se, de forma
dramática, nos preços, que baixaram sem cessar. Para cúmulo, decaíram também as
vendas de sal aos mercadores holandeses que aqui deixavam, em troca, a boa prata
espanhola adquirida em Sevilha.
Esta grave crise privou Portugal dos meios necessário ao pagamento dos produtos
industriais que importava. Produzir internamente o que até aí se adquiria ao estrangeiro
pareceu aos nossos governantes a solução mais viável. Os esforços foram, pois, no
sentido do desenvolvimento das manufaturas.
Desde que assumiu o cargo, em 1675, este ministro, a quem chamaram o Colbert
português, procurou equilibrar a balança comercial do reino substituindo as importações
por antigos de fabrico nacional. Neste sentido:
Quis o acaso que a esta retoma do setor comercial se viesse juntar a concretização de um
velho sonho: a descoberta de importantes jazidas de ouro no interior do Brasil.
Suporte do esplendor que dourou o reinado de D. João V, o ouro brasileiro não se revelou
um incentivo ao desenvolvimento económico. Pelo contrário, cumpriram-se os temores
do governador-geral D. João de Lencastre que, em 1701, num “papel sobre a recadaçam
dos quintos do ouro das minas”, manifestava a sua apreensão face à possibilidade de vir a
“sair o ouro pelo mesmo Tejo por onde entrasse”.
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fraca qualidade dos produtos fabricados, concorreu também para a decadência das nossas
unidades industriais.
O Tratado de Methuen estimulou o crescimento das exportações dos nossos vinhos que,
desde então, ficaram para sempre no gosto dos Ingleses, mas originou uma dependencia
alarmante neste setor: em 1777, o mercado britânico representava 94% das nossas
exportações vinícolas! Simultaneamente, o défice comercial com a Inglaterra atingia
cifras alarmantes, não parando de crescer até 1761, ano em que se contabilizou em 1 061
049£.
Este défice, pago em numerário, foi o maior caudal por onde se esvaiu a riqueza vinda do
Brasil. Calcula-se que, por esta via, cerca de três quartos de todo o ouro recebido tenha
ido parar às mãos dos Ingleses!
Em 1755, cria a Junta do Comercio, órgão com amplos poderes, ao qual passou a
competir a regulação de boa parte da atividade económica do reino;
Reorganiza o comercio externo através da criação de companhias monopolistas.
Concentrando capitais privados e do Estado, as companhias procuravam constituir-se
como entidades à altura de se baterem, comercialmente, com os Ingleses. Entre estas
companhias destacam-se as que operavam no Brasil e também a Companhia das Vinhas
do Alto Douro encarregada da reorganização da produção e comercio dos vinhos
generosos do Douro que, como muitos outros setores, se encontrava submetido aos
interesses públicos;
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Revaloriza o setor manufatureiro, procedendo à revitalização das indústrias existentes e à
criação de novas unidades.
Os resultados da política pombalina não tardaram a fazer-se sentir. As áreas sob controlo
das companhias prosperaram, desenvolveram-se produtos coloniais como o algodão, o
café e o cacau, em muitos ramos da indústria as produções internas substituíram,
cabalmente, as importações e aumentaram também as exportações, para o Brasil, de
produtos manufaturados da metrópole.
Nos decénios que se seguiram, foi graças às medidas pombalinas que Portugal viveu a sua
melhor época comercial de sempre: entre 1796 e 1807, a balança comercial obteve saldo
positivo, revelando-se superavitária em relação à maioria dos nossos parceiros
comerciais. Estes resultados foram também possíveis graças a uma conjuntura externa
favorável. Guerras e revoluções afetaram o comercio francês e inglês, contribuindo para
devolver Lisboa um pouco da sua antiga grandeza como entreposto atlântico.
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