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Triunfo dos Estados e dinâmicas económicas nos séculos

XVII e XVIII

 Caracterizar o capitalismo comercial

 Nos séculos XVII e XVIII, um punhado de nações reservava para si as ligações


oceânicas: Portugal, Espanha, Holanda, França e Inglaterra detinham a maior fatia do
comercio intercontinental, que gerava lucros extraordinários.

 Estimulados pelas oportunidades que se lhes abriam, os mercadores europeus criaram


grandes companhias de comercio, desenvolveram novos mecanismos financeiros e
orientaram todo o seu saber para a expansão dos negócios. Gerar capital, investi-lo e
aumentá-lo, privilegiando o grande comércio, tornou-se o motor da economia europeia
que entrou, de forma clara, na era do capitalismo comercial.

 Esta dinâmica económica impulsionou a colonização da América, continente vasto e, até


aí, subaproveitado, que adquire, então, um lugar de destaque nos circuitos comerciais
europeus. Os seus colonos cultivam açúcar, café, tabaco e algodão, criam gado, extraem
ouro. Estes produtos são enviados para a metrópole que, em troca, lhes fornece produtos
agrícolas, industriais e a necessária mão de obra escrava, trazida de África, em grandes
navios de carga.

 É assim que, à tão cobiçada rota do Cabo, se junta uma próspera rota atlântica que une a
Europa, a África e a América. Eixo deste comercio triangular, o tráfico negreiro não
parou de crescer. Entre 1710 e 1810 terão desembarcado na América cerca de 6 milhões
de escravos, o que corresponde a mais de 60% dos negros transacionados nos três seculos
e meio desta desumana atividade.

 Explicar os princípios mercantilistas

 Os pensadores mercantilistas estavam convencidos de que a riqueza de um Estado se


media pela quantidade de metais preciosos que este possuísse, pelo que se tornava
necessário canalizar, para o país, uma parte significativa do dinheiro que circulava no
comercio europeu. Tal só seria possível se a balança comercial fosse favorável, isto é, se
o valor das exportações excedesse o das importações. Havia, pois, que reduzir o volume
de mercadorias importadas e, inversamente, incrementar as vendas ao estrangeiro.

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 Na logica mercantilista, competia ao Estado tomar as medidas necessárias para atingir
este objetivo. Tais medidas traduziam-se num apertado protecionismo económico que
fomentava a produção e salvaguardava os produtos e as áreas de comércio nacionais da
concorrência estrangeira.

 Muito resumidamente, podemos dizer que a atuação dos governos se deveria pautar por
três linhas fundamentais:

 O fomento da produção industrial, com vista a promover a autossuficiência do país bem


como a exportação de produtos manufaturados;
 A revisão das tarifas alfandegarias, sobrecarregado os produtos estrangeiros e aliviando
as taxas que pesavam sobre as exportações nacionais, de modo a torna-la mais
competitivas;
 O incremento e reorganização do comercio externo, de forma a proporcionar mercados de
abastecimento de matérias-primas e de colocação dos produtos manufaturados.

 Distinguir entre o Mercantilismo francês, centrado nas


manufaturas, e o Mercantilismo inglês, centrado no comércio
 O mercantilismo em França

 Em França, o Mercantilismo impôs-se pela mão firme do Colbert (1619-1683), ministro


de Luís XIV. Preocupado com a grande quantidade de mercadorias que entravam no reino
pela mão dos Holandeses, Colbert pôs todo o seu empenho no desenvolvimento das
manufaturas.

 É precisamente a importância conferida ao setor manufatureiro, bem como a sua feição


altamente dirigista, que caracterizam o Mercantilismo francês, também conhecido por
colbertismo.

 Com o fim de evitar as importações, Colbert introduziu novas indústrias (cristais de


Murano, tecidos holandeses, bordados de Veneza, recorrendo à importação de técnicas e
mão de obra estrangeira. Impulsionou, também, a criação de grandes manufaturas, quer
incitando os produtores a associar-se, quer concedendo privilégios vários, como
monopólios de fabrico, incentivos fiscais e subsídios.

 Assim nasceram as celebres manufaturas reais, que funcionavam como unidades-modelo


de produção. Estas manufaturas, que tanto pertenciam ao Estado como a particulares,
podiam aplicar um selo com as armas do rei e dedicavam-se sobretudo ao fabrico de
artigos de luxo destinados a fornecer a corte. Em troca dos privilégios e subsídios

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concedidos, o Estado arrogava-se o direito de regulamentar minuciosamente a atividade
industrial: matéria-prima, qualidade, horas de trabalho, preços, tudo era controlado
atraves de um corpo de inspetores criados para o efeito.

 No que se refere ao comercio, Colbert investiu fortemente no desenvolvimento da frota


mercante e da marinha de guerra. Seguindo o modelo já experimentado pela Holanda e
pela Inglaterra, procedeu à criação de grandes companhias monopolistas, às quais
reservou, em exclusivo, os direitos de comercio sobre determinada zona. Todos os
particulares que aí pretendessem negociar deveriam entrar para a respetiva companhia,
unindo os seus esforços aos do Estado, na esperança de vencer a concorrência das outras
nações. A estas companhias foi dado o poder de agir em representação do país,
administrando e defendendo os territórios coloniais, pelo que, para além dos direitos de
comercio, detinham um grande poderio militar.

 O sistema mercantil em Inglaterra

 Em Inglaterra, as medidas de tipo mercantilista assumiram um caráter mais flexível,


adaptando-se aos tempos e às circunstâncias, o que lhes proporcionou um elevado grau de
eficácia.

 Para além desta flexibilidade, o mercantilismo inglês distingue-se pela valorização da


marinha e do setor comercial. Tal como aconteceu em França, foi o poderio económico
dos Holandeses que motivou as medidas protecionistas mais fortes, Só que, em Inglaterra,
a concorrência holandesa fazia-se sentir sobretudo nas áreas dos transportes marítimos e
do comercio externo.

 Entre 1651 e 1663, foi promulgada uma serie de leis – os Atos de Navegação -,
destinadas a banir os Holandeses das áreas do comercio britânico. Por determinação dos
Atos de Navegação, todas as mercadorias estrangeiras que entrassem em Inglaterra seriam
obrigatoriamente transportadas em embarcações inglesas ou do país de origem. De igual
forma, reservou-se à marinha britânica, em exclusivo, a navegação de cabotagem e o
transporte para Inglaterra das mercadorias coloniais.

 Assim destruída a concorrência da Holanda, a frota mercante inglesa não encontrou


entraves ao seu crescimento, tanto mais que os Atos de Navegação foram
complementados por uma política de expansão territorial, sobretudo na América do Norte
e nas Antilhas.

 O setor comercial foi ainda reforçado com a criação de grandes companhias de comércio,
às quais se concederam numerosos monopólios. A mais celebre e bem-sucedida foi, sem
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dúvida, a Companhia das Índias Orientais, que recebeu, em 1651, poderes soberanos de
justiça civil, organização militar e direção de guerra no Oriente.

 Esta política protecionista surtiu os efeitos desejados: o poderio comercial e marítimo da


Inglaterra consolidou-se, permitindo-lhe disputar, com êxito, o primeiro lugar na cena
económica internacional.

 Reconhecer, nas práticas mercantilistas, modos de afirmação


das economias nacionais.

 Durante o Antigo Regime, as nações europeias aceitavam a ideia de que constituíam uma
comunidade regulada por um certo equilíbrio de poder, em termos simples, tal queria
dizer que se procurava, dentro do possível, evitar que as relaçoes internacionais fossem
dominadas por uma potencia hegemónica. Era, em grande parte, esta preocupação que
ditava o jogo das alianças e a intervenção dos diversos países nas guerras que então se
travaram.

 No decurso dos dois séculos que agora estudamos, o equilíbrio europeu foi
particularmente frágil e mantido à custa de numerosos conflitos. Fosse por questões
dinásticas, pretensões territoriais ou interesses económicos, o certo é que a Europa viveu
uma sucessão continua de guerras.

 A partir da segunda metade do século XVII, as motivações económicas estiveram na


origem da maior parte destes conflitos. Sendo o comércio o setor da economia que
movimentava mais capitais e produzia maiores lucros, os soberanos aperceberam-se de
que o domínio comercial facilmente se transformava no poderio militar indispensável ao
engrandecimento do Estado.

 Relacionar o equilíbrio político internacional com o domínio de


espaços coloniais

 Ora, dado que a generalização das medidas protecionistas tinha levantado grandes
entraves à circulação de mercadorias no circuito europeu, os olhares voltaram-se para as
áreas coloniais, que se tornaram o centro de acesas rivalidades.

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 Face à evidente decadência dos Estados ibéricos, a disputa da supremacia no grande
comercio marítimo travou-se essencialmente entre a Holanda, a Inglaterra e a França.
Muito resumidamente, podemos distinguir, nesta luta, duas fases:

 A primeira, entre 1651 e 1689, opôs a Holanda e a Inglaterra. Os dois países travaram
entre si três encarniçadas guerras, no termo das quais a Holanda perdeu para a Inglaterra
as suas colonias americanas e parte das suas possessões no Oriente. Estas guerras marcam
o fim da hegemonia comercial holandesa, que durava há mais de meio século;
 A segunda, que decorreu entre 1689 e 1763, foi marcada pela rivalidade anglo-francesa,
que se materializou numa longa série de conflitos por questões de território, mercados e
abastecimentos de produtos coloniais.

 Este período de tensão culminou na Guerra dos Sete Anos (1756-1763) que, iniciada na
Europa, rapidamente se estendeu aos territórios de além-mar.

 A guerra consagrou a vitória inglesa, reconhecida no Tratado de Paris. Por este tratado, a
França abandonou as suas possessões nas Índias, comprometendo-se a retirar os efetivos
militares das cinco feitorias que aí conservou. Na América, cedeu à Inglaterra o Canadá, o
vale do Oaio, a margem esquerda do rio Mississípi; em África, as feitorias do Senegal.
Entregou, ainda, a Luisiana à Espanha, para a compensar da perda da Florida, anexada
pelos ingleses.

 Foi assim que, após mais de um século de conflitos, a Inglaterra se tornou a maior
potência colonial e marítima da Europa. A sua hegemonia económica perdurará por todo
o século XIX.

 Evidenciar a importância das inovações agrícolas para o


sucesso económico inglês
 Os processos agrícolas

 Foi no Norfolk, condado do Leste de Inglaterra, que um grupo de grandes proprietários


(landlords) se empenhou em rentabilizar as suas terras, pondo em prática novos métodos
de cultivo. O seu sucesso gerou uma onda se entusiasmo que, rapidamente, mudou a face
da agricultura inglesa.

 O principal problema a resolver era o do esgotamento dos solos. O cultivo intenso de


cereais, base da alimentação, cansa a terra e as colheitas decrescem progressivamente.
Daí a necessidade do pousio que deixava em descanso, cada ano, cerca de um terço do
solo arável.

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 Para evitar o pousio e renovar a terra, a “nova agricultura” aperfeiçoou um sistema de
rotação de culturas que alternava as colheitas de cereais com as leguminosas, como o
nabo (que melhora os solos), e as plantas forrageiras como o trevo.

 Tal prática não só proporcionava o aproveitamento integral da terra como permitia uma
articulação perfeita entre a agricultura e a criação de gado, aspeto deveras relevante, uma
vez, que à falta de adubos químicos, o estrume era, messe tempo, o único fertilizante de
uso corrente.

 Este novo sistema era incompatível com os tradicionais direitos de pasto comunitário que
obrigavam a deixar abertos todos os campos onde, após as colheitas, os gados da região
pastavam livremente. O campo aberto (open field) revelava-se, pelo contrário, altamente
prejudicial à rentabilização da terra, pelo que os grandes proprietários desencadearam um
processo de vedações (enclousures) das suas propriedades às quais anexaram, muitas
vezes, baldios e outras terras comunitárias.
 Assim renovado, o setor agrícola viu crescer a sua produtividade, aumentando
substancialmente os recursos alimentares do pais. Esta abundância não só permitiu a
canalização de mão de obra para outros setores produtivos, como impulsionou um intenso
crescimento demográfico, fator de vitalidade e riqueza económica.

 O crescimento demográfico e a urbanização

 A segunda metade do século XVIII foi marcada por um intenso crescimento demográfico.
Este crescimento, que se fez sentir por toda a Europa, atingiu especialmente a Inglaterra.
Estreitamente relacionado com a prosperidade do país, o aumento da população inglesa
foi, simultaneamente, um resultado e um fator do desenvolvimento económico: a
abundância e a criação de postos de trabalho fazem aumentar a taxa de nupcialidade e o
número de nascimentos, enquanto a morte regride; por sua vez, o crescimento
populacional estimula o consumo e fornece mão de obra jovem aos diversos setores de
atividade.

 Na Grã-Bretanha, a economia e a população partilham, pois, o mesmo dinamismo e


influenciam-se mutuamente.

 Para além do crescimento demográfico, registou-se uma acentuada migração para os


centros urbanos que absorveram a mão de obra excedentária dos campos. Entre 1750 e
1850, o número de habitantes das cidades triplicou. Assim, enquanto no resto na Europa a
urbanização progride lentamente na Inglaterra configura-se já a nova geografia humana
que marca a era industrial.

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 Mostrar o impacto do alargamento dos mercados na economia
inglesa
 A criação de um mercado nacional

 No século XVIII, pelo efeito conjugado do aumento demográfico e da urbanização, o


mercado interno britânico não cessou de se expandir. Ao crescente número de
consumidores juntava-se, em Inglaterra, a inexistência de alfândegas internas que
encarecessem as mercadorias e dificultassem o seu transporte, como era vulgar em França
ou na Alemanha. Criou-se, assim, um verdadeiro mercado nacional, unificado, onde os
produtos e a mão de obra podiam circular livremente.

 Foi exatamente com o objetivo de diminuir os custos de circulação que a Inglaterra se


empenhou, ainda no século XVIII, no melhoramento dos transportes. Tirando partido da
boa rede hidrográfica que possuíam, os Ingleses construíram um complexo sistema de
canais por onde se expediam, com vantagem, as mercadorias pesadas. Ampliaram,
igualmente, a rede de estradas, introduzindo melhoramentos no piso que se tornou
convexo e com valetas, sendo, posteriormente, macadamizado.

 O desenvolvimento das vias de circulação não só favoreceu a criação de um mercado


nacional, como proporcionou a necessária ligação entre as regiões do interior e as cidades
portuárias, articulando consumos e produções internas com o extenso mercado colonial
inglês.

 O alargamento do mercado externo

 Mau grado as medidas protecionistas dos Estados europeus, os produtos ingleses


impunham-se no continente, quer pela sua excelente qualidade quer pelo seu baixo preço.
Mesmo a França não conseguia resistir-lhes: quando, em 1786, os dois países acordam a
redução mútua de tarifas alfandegárias (Tratado de Euden), uma avalancha de têxteis e
ferragens inglesas invadiu os mercados franceses, provocando protestos veementes por
parte dos fabricantes deste país.

 Era, porém, dos longínquos mercados transoceânicos que os Ingleses retiravam os seus
maiores dividendos.

 Mais de metade da frota britânica singrava em direção às Américas, quer diretamente


quer passando pela periferia africana, inscrevendo-se nas rotas do comércio triangular.

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 O triângulo comercial que ligava os três continentes fazia-se, no caso inglês, a partir dos
portos de Liverpool, Londres, Bristol, Glasgow ou Hull, de onde os quilharias, em
direção à costa de África. Aí, abasteciam-se de escravos, destinados às plantações e minas
americanas. Na América, adquiriam as produções tropicais (açúcar, café, algodão, tabaco,
etc.), que revendiam depois na Europa.

 No Oriente, quer as responsabilidades da conquista quer os direitos de comércio foram


transferidos para a Companhia das Índias Orientais, que se mostrou à altura da sua
missão.

 Sublinhar os progressos no sistema financeiro da Inglaterra


 O sistema financeiro

 A superioridade inglesa assentava, também, num sistema financeiro avançado, facilitador


do desenvolvimento económico.

 Em Londres funcionava, desde o fim do século XVI, uma das primeiras bolsas de
comércio da Europa, onde se centralizavam os grandes negócios da cidade. A Bolsa de
Londres, como uma instituição privada, depressa foi reconhecida pelo Estado que lhe
conferiu a condição de Royal Exchange.

 Nela se contratava a divida pública e se cotaram as primeiras ações da Companhia das


Índias Orientais. Assim nasceu a bolsa de valores londrina, ainda hoje uma das mais
importantes do mundo. A prosperidade da Companhia das Índias desenvolveu de tal
forma o mercado acionista que, em 1691, apareceram os primeiros títulos de empresas
industriais aos quais se juntaram, pouco depois, as ações do Banco de Inglaterra.

 A atividade bolsista foi um importante fator de prosperidade económica, já que permitiu


canalizar as poupanças particulares para o financiamento se empresas, alargando assim o
mercado de capitais. Adquirir títulos do Estado ou ações de uma companhia passou a ser
uma forma de aplicação do dinheiro que, gerando perspetivas de bons lucros, atrai, até
hoje, numerosos investidores.

 A operacionalidade do sistema financeiro foi reforçada em 1694, com a criação do Banco


de Inglaterra. Este banco, que em grande parte seguia os moldes do célebre Banco de
Amesterdão, estava especialmente vocacionado para realizar todas as operações
necessárias ao grande comércio: aceitação de depósitos, transferências de conta a conta,
desconto de letras e também financiamentos, sempre que era necessário, por exemplo,
equipar os navios de comercio colonial.

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 Além destas operações, o banco tinha ainda a capacidade de emitir notas, que circulavam
como uma verdadeira moeda. Embora este primeiro papel-moeda pudesse ser, em
qualquer momento, convertido em ouro, o valor das notas em circulação ultrapassou
largamente as reservas metálicas do banco, fornecendo assim os meios de pagamento
necessários ao incremento dos pequenos negócios.

 Enquadrar o arranque industrial ocorrido em Inglaterra na


formação de novas estruturas económicas

 O processo de industrialização iniciou-se em Inglaterra, na segunda metade do século


XVIII, sob o impulso de um conjunto vasto de fatores: os avanços agrícolas, a dinâmica
demográfica, o alargamento dos mercados, a capacidade empreendedora dos britânicos e,
é claro, o avanço tecnológico.

 Nesta época, uma cadeia de inovações revolucionou a indústria. A aplicação de um


melhoramento técnico numa das fases de fabrico gerava quase de imediato desequilíbrios
na produção, que só podiam ser corrigidos através de novos inventos e adaptações. O
mundo em que hoje vivemos mostra-nos bem que, uma vez desencadeada, “a inovação
tecnológica é um processo que tende a acelerar-se”.

 Um exemplo claro desta espiral tecnológica é-nos fornecido pela indústria têxtil que
liderou o arranque industrial inglês.

 A indústria têxtil

 Foi o aumento da procura, interna e externa, bem como a abundância de matéria-prima,


proporcionada pelas colonias, que impulsionaram os progressos no setor algodoeiro. O
ciclo terá começado com a invenção da lançadeira volante por John Kay. Era um
mecanismo simples que permitia aumentar a largura dos tecidos e multiplicava por 10 a
produtividade do tecelão. Uma vez difundida, não tardou que escasseasse o fio, já que os
processos de fiação se mantinham os mesmos, deixando os teares amiúde parados.

 Uma nova máquina de fiar, a Jenny, veio solucionar o problema. Inventada por James
Hargreaves, em 1765, permitia a uma só fiandeira trabalhar sete ou oito fios ao mesmo
tempo. Mais tarde, este número elevou-se para 80 fios, o que provocou um novo
desequilíbrio entre as duas fases produtivas, desta vez de sentido inverso.

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 A metalurgia

 O desenvolvimento do setor têxtil foi acompanhado, de perto, pela metalurgia que,


fornecedora de máquinas e outros equipamentos, se tornava indispensável aos progressos
da industrialização.

 No início do século XVIII, Abraham Darby, ferreiro de Birmingham, deu o primeiro


passo para resolver o problema do combustível necessário a este setor, utilizando, na
fusão do ferro, o coque em vez de carvão vegetal. Obtido a partir da hulha, muito
abundante no subsolo inglês, o uso do coque não exigia, como o carvão de madeira, o
abate maciço de árvores, que colocava grandes entraves à expansão da indústria.

 A maior capacidade calorifica do coque, a aplicação de foles para ventilação dos altos-
fornos e outros melhoramentos introduzidos nas fundições permitiram melhorar a
quantidade e aumentar a produção.

 No século XIX, o crescimento deste setor intensificou-se. A partir da década de 1830, a


metalurgia, ultrapassando o têxtil, tornou-se no principal setor industrial.

 A força do vapor

 Em todo este processo de modernização coube ao engenheiro escocês James Watt um


papel central.

 Havia muito tempo que se procurava aproveitar a força expansiva do vapor como força
motriz. No entanto, permaneciam por resolver diversos problemas técnicos, pelo que as
poucas máquinas existentes poucas aplicações tinham.

 Em 1763, James Watt, que se estabelecera em Glasgow com uma oficina de instrumentos
de precisão, foi chamado a reparar uma máquina de Newcomen, engenho a vapor
correntemente utilizado para bombear a água das minas. Foi então que impôs a si próprio
o desafio de conhecer uma “bomba de fogo” mais eficiente e versátil. Pouco depois,
registava a primeira patente, dedicando os anos seguintes a aperfeiçoar o seu
maquinismo.

 A máquina a vapor de James Watt constituiu o primeiro motor artificial da História. Com
ela foi possível mover teares, martelos, locomotivas, enfim, todo o tipo de maquinismos
que, anteriormente, dependiam do trabalho humano ou das forças da Natureza.

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 Um século depois da invenção de Watt, as máquinas a vapor efetuavam, na Grã-Bretanha,
um volume de trabalho que teria exigido, anteriormente, cerca de 40 milhões de homens!

 A manufatura cedera lugar à maquinofatura, cerne da Revolução Industrial.

 Sintetizar as condições da hegemonia britânica


 Um tempo de mudança

 Conhecidas por Revolução Industrial, as transformações tecnológicas a que acabámos de


nos referir ultrapassaram muito o setor económico. Elas criaram um mundo novo,
profundamente diferente das sociedades tradicionais que estudámos neste módulo.

 Como resultado desta revolução, grandes vagas de camponeses migraram para as cidades,
que cresceram negras do dumo das fábricas e se espraiaram em bairros pobres, de
habitação operária; uma nova classe, a burguesia industrial, elevou-se ao topo da
sociedade e do poder político, impondo os seus valores, a sua cultura e a sua forma de
viver; os transportes aceleraram-se e encurtaram distâncias, fazendo circular mercadorias,
homens, noticias, ideias e hábitos novos.

 Pioneira de todas estas transformações, único país a “arrancar” no século XVIII, a Grã-
Bretanha tomou a dianteira da Europa, guiando-a em direção a uma época nova: a do
capitalismo industrial.

 Relacionar a adoção de medidas mercantilistas em Portugal


com a crise comercial de 1670-92

 No século XVII, Portugal vivia sobretudo da reexportação dos produtos coloniais, tais
como o açúcar, o tabaco e as especiarias.

 Ora, em meados do século XVII, os Holandeses, expulsos do Brasil, transportam para as


Pequenas Antilhas as técnicas de produção de açúcar e tabaco que, no litoral brasileiro,
tinham aprendido. Estes cultivos rapidamente se generalizavam também aos territórios
franceses e ingleses.

 Deste modo, Holanda, França e Inglaterra, que constituíam os nossos principais


mercados, passam a consumir as suas próprias produções, reduzindo acentuadamente as
compras feitas em Lisboa.

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 Estas novas zonas produtoras, a política protecionista de Colbert e a concorrência sofrida
no comércio asiático desencadearam uma crise comercial grave que, se não foi
exclusivamente portuguesa, assumiu aqui maiores proporções que nos restantes países da
Europa.

 Entre 1670 e 1692, época em que a crise atingiu o seu auge, os armazéns da nossa capital
abarrotavam de mercadorias sem compradores. O excesso de oferta refletiu-se, de forma
dramática, nos preços, que baixaram sem cessar. Para cúmulo, decaíram também as
vendas de sal aos mercadores holandeses que aqui deixavam, em troca, a boa prata
espanhola adquirida em Sevilha.

 Esta grave crise privou Portugal dos meios necessário ao pagamento dos produtos
industriais que importava. Produzir internamente o que até aí se adquiria ao estrangeiro
pareceu aos nossos governantes a solução mais viável. Os esforços foram, pois, no
sentido do desenvolvimento das manufaturas.

 Integra estas medidas no modelo francês


 O surto manufatureiro

 Embora a ideia de industrializar o país estivesse já na forja, foi o impacto da obra


Discurso sobre a Introdução das Artes no Reyno, de Duarte Ribeiro de Macedo,
embaixador em Paris, e por isso muito em contacto com o colbertismo, que deu o impulso
necessário ao arranque das manufaturas portuguesas. Nesta política distinguiram-se os
vedores da Fazenda de Pedro II, D. João de Mascarenhas, 1.º marques de Fronteira, e,
sobretudo, D. Luís de Meneses, 3.º conde da Ericeira.

 Desde que assumiu o cargo, em 1675, este ministro, a quem chamaram o Colbert
português, procurou equilibrar a balança comercial do reino substituindo as importações
por antigos de fabrico nacional. Neste sentido:

 Procedeu à contratação de artífices estrangeiros, sobretudo ingleses, holandeses e


venezianos;
 Criou indústrias, às quais concedeu privilégios e subsídios, como as de vidros, de
fundição de ferro e de tecidos. Foi este último setor que maior atenção mereceu,
estabelecendo-se o fabrico das sedas e, sobretudo, o dos lanifícios, que persistiu até aos
nossos dias, nas Covilhã e no Fundão;
 Praticou uma política protecionista da indústria nacional, atraves da promulgação de leis
pragmáticas, que proibiam o uso de diversos produtos de luxo importados, tais como
chapéus, rendas, brocados, tecidos e outros produtos similares;
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 Recorreu à desvalorização monetária com o fim de tornar os produtos portugueses
competitivos no mercado externo e, simultaneamente, encarecer os antigos que, de fora,
nos chegavam.

 Explicar o retrocesso da política industrializadora portuguesa


 A inversão da conjuntura e a descoberta do ouro brasileiro

 Cerca de 1690, a crise comercial dá sinais de se extinguir e as exportações portuguesas


saem, então, do marasmo em que se encontravam: escoam-se os stocks dos armazéns, os
preços das mercadorias coloniais elevam-se e, em simultâneo, reativam-se as vendas dos
tradicionais produtos do reino: o sal, o azeite e, sobretudo, o vinho impõem-se nos
mercados internacionais.

 Quis o acaso que a esta retoma do setor comercial se viesse juntar a concretização de um
velho sonho: a descoberta de importantes jazidas de ouro no interior do Brasil.

 A esperança de que o subsolo brasileiro albergasse riquezas semelhantes às da América


espanhola nasceu logo no início da colonização. Porém, durante muito tempo, nenhuma
quantidade significativa de ouro foi encontrada, apesar das muitas expedições ou entradas
que, partindo do litoral, se embrenhavam no sertão.

 Suporte do esplendor que dourou o reinado de D. João V, o ouro brasileiro não se revelou
um incentivo ao desenvolvimento económico. Pelo contrário, cumpriram-se os temores
do governador-geral D. João de Lencastre que, em 1701, num “papel sobre a recadaçam
dos quintos do ouro das minas”, manifestava a sua apreensão face à possibilidade de vir a
“sair o ouro pelo mesmo Tejo por onde entrasse”.

 A apropriação do ouro brasileiro pelo mercado britânico

 À medida que a crise comercial se desvanecia, Portugal via-se novamente em situação de


poder adquirir, no estrangeiro, os produtos industriais necessários ao consumo interno.
Para mais, a liquidez proporcionada pelo ouro brasileiro permitia redobradas facilidades
de pagamento.

 Neste contexto, o país encontra, de novo, a sua vocação mercantil e o esforço


industrializador esmorece. A incapacidade de fazer cumprir as Pragmáticas, bem como a

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fraca qualidade dos produtos fabricados, concorreu também para a decadência das nossas
unidades industriais.

 Em 1703, o projeto industrializador recebe mais um rude golpe: a assinatura, entre


Portugal e Inglaterra, do Tratado de Methuen.

 O Tratado de Methuen estimulou o crescimento das exportações dos nossos vinhos que,
desde então, ficaram para sempre no gosto dos Ingleses, mas originou uma dependencia
alarmante neste setor: em 1777, o mercado britânico representava 94% das nossas
exportações vinícolas! Simultaneamente, o défice comercial com a Inglaterra atingia
cifras alarmantes, não parando de crescer até 1761, ano em que se contabilizou em 1 061
049£.

 Este défice, pago em numerário, foi o maior caudal por onde se esvaiu a riqueza vinda do
Brasil. Calcula-se que, por esta via, cerca de três quartos de todo o ouro recebido tenha
ido parar às mãos dos Ingleses!

 Enquadrar a política económica e socia pombalina na


prosperidade comercial de finais do século XVIII

 A crise e a consciência da nossa excessiva dependencia face à Inglaterra coincidiram com


o governo do Marquês de Pombal, ministro todo-poderoso do rei D. José I. Homem de
ferro, político impiedoso, mas estadista de vulto, o Marquês pôs em prática um conjunto
de medidas tendentes ao reforço da economia nacional, suporte imprescindível à grandeza
do rei e do Estado que servia.

 Os grandes objetivos da política pombalina foram a redução do défice e a nacionalização


do sistema comercial português, passando o seu controlo e os seus benefícios para as
mãos dos nacionais. Seguindo máximas mercantilistas, Pombal impos ao Estado e a si
próprio essa gigantesca tarefa. Assim:

 Em 1755, cria a Junta do Comercio, órgão com amplos poderes, ao qual passou a
competir a regulação de boa parte da atividade económica do reino;
 Reorganiza o comercio externo através da criação de companhias monopolistas.
Concentrando capitais privados e do Estado, as companhias procuravam constituir-se
como entidades à altura de se baterem, comercialmente, com os Ingleses. Entre estas
companhias destacam-se as que operavam no Brasil e também a Companhia das Vinhas
do Alto Douro encarregada da reorganização da produção e comercio dos vinhos
generosos do Douro que, como muitos outros setores, se encontrava submetido aos
interesses públicos;
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 Revaloriza o setor manufatureiro, procedendo à revitalização das indústrias existentes e à
criação de novas unidades.

 Interpretar as políticas económicas portuguesas no contexto


do espaço euro-atlântico

 Os resultados da política pombalina não tardaram a fazer-se sentir. As áreas sob controlo
das companhias prosperaram, desenvolveram-se produtos coloniais como o algodão, o
café e o cacau, em muitos ramos da indústria as produções internas substituíram,
cabalmente, as importações e aumentaram também as exportações, para o Brasil, de
produtos manufaturados da metrópole.

 Nos decénios que se seguiram, foi graças às medidas pombalinas que Portugal viveu a sua
melhor época comercial de sempre: entre 1796 e 1807, a balança comercial obteve saldo
positivo, revelando-se superavitária em relação à maioria dos nossos parceiros
comerciais. Estes resultados foram também possíveis graças a uma conjuntura externa
favorável. Guerras e revoluções afetaram o comercio francês e inglês, contribuindo para
devolver Lisboa um pouco da sua antiga grandeza como entreposto atlântico.

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