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APOSTILA

Módulo 1

FORMAÇÃO ECONÔMICA, SOCIAL


E POLÍTICA DO BRASIL

Professor: Francisco José Barretto da Silva, Dr.


franciscobarretto@gmail.com

FEVEREIRO 2015

Apostila de Economia I Fevereiro 2014 1


Prof. Dr. Francisco José Barretto da Silva
A Empresa mercantil, colonial e escravocrata: os ciclos econômicos

O CICLO DO PAU-BRASIL
 Espalhada por larga parte da costa brasileira, e com relativa intensidade, observou-
se uma espécie vegetal que se extraía uma matéria corante empregada na tinturaria, o
pau-brasil. A primeira concessão data de 1501 e foi outorgada a Fernando de Noronha e
um grupo de mercadores judeus. Foi rápida a decadência da exploração do pau-brasil.
Em alguns decênios esgotara-se o melhor das matas costeiras.
A EMPRESA AÇUCAREIRA
 A ocupação efetiva se deu entre 1530-1640. A exploração agrícola na colônia
portuguesa na América foi um fato inédito. As dificuldades eram enormes: o produto
deveria estender-se, ocupando territorialmente em larga escala para permitir um cordão
de defesa deste território; os fretes eram caros e para ser rentável, o produto deveria ser
comercializado em larga escala na Europa.
 Fatores de êxito: a) A experiência portuguesa na produção e na comercialização
do açúcar na Europa (concorrência com os venezianos; influência genovesa na
comercialização dos primeiros equipamentos a Portugal, dando origem a indústria
lusitana de equipamentos para engenhos açucareiros); b) financiamento para instalações
produtivas, refinação e comercialização do açúcar assumido pelos flamengos; c) A
experiência portuguesa no tráfico de escravos.
 Razões do Monopólio. O sucesso português na América foi motivado pelo
declínio da colonização espanhola (baixo intercâmbio com as colônias, alto custo para
os fretes, alto fluxo monetário, inflação, déficit na balança comercial, fim da união das
coroas portuguesa e espanhola, 1580-1640).
 O pacto colonial foi um dos elementos básicos constituintes da política econômica
mercantilista. Consistia basicamente no exclusivismo colonial da metrópole (Coroa e
Companhias de Comércio de capital misto ou estatal) em relações às suas colônias,
subordinando-as por meio de um conjunto de medidas econômicas e políticas.
 Plantation: Sistema de propriedades agrícolas de grandes proporções em que se
praticava a monocultura por meio da exploração da mão de obra escrava, durante a era
colonial. A produção oriunda dessas terras destinava-se, prioritariamente, à exportação.
Introduzido pelos portugueses nas ilhas de São Tomé, foi desenvolvido no Brasil, nas
Antilhas e no Sul dos Estados Unidos. Esse sistema era um dos elos que sustentavam a
empresa mercantil, colonial e escravocrata.
 A mão de obra nativa indígena foi importante na etapa inicial de instalação na
colônia. A mão-de-obra africana chegou para expandir a empresa que já estava
instalada. A partir de 1559 inicia-se o tráfico de escravos no Brasil.
 Desde sua implantação, no século XVI, até quase final do século XVIII, a
produção açucareira foi o eixo da economia colonial. A colônia portuguesa foi líder da
produção mundial até o século XVII. A renda per-capta na passagem do século XVI
para o século XVII entre os colonos de origem européia era bem maior da que
prevalecia na Europa. Mais que 90% da renda da economia açucareira se concentrava
nas mãos da classe dos proprietários de engenhos e de plantações de cana, contudo um
volume substancial do capital empregado fluía para os comerciantes não-residentes.
 O fluxo de renda da economia açucareira e o seu crescimento estava baseado na
abundância de terras, obtenção de mão de obra elástica, aumento das importações.
Impossibilidade de um crescimento com base no impulso externo que gerasse um
processo de desenvolvimento de auto-propulsão. Ausência de relações diretas entre os
sistemas de produção e consumo. A economia escravista dependia da procura externa.

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 Desarticulação do Sistema. Ruptura com os holandeses que inauguraram uma
exploração concorrente nas Antilhas. Queda no preço e concorrência na oferta de
escravos resultou na contração do volume produzido. No século XVII implementou-se
uma nova política econômica da metrópole portuguesa, que ao liberalismo do passado
substituía um regime de monopólios e restrições a dar a maior amplitude possível a
exploração e o aproveitamento da colônia e canalizar para o reino o resultado de suas
atividades.
 Ascensão das colônias de povoamento do Norte. Desenvolvimento da Indústria
naval do norte. Produtos complementares (madeira, animais, lenha). Regime de servidão
temporária. Alto custo do escravo. Na elite da colônia americana havia órgãos políticos
capazes de interpretar seus verdadeiros interesses e não apenas de refletir as ocorrências
do centro econômico dominante.
 Encerramento da etapa colonial. Para manter-se como metrópole colonial,
Portugal alienou parte de sua soberania à Inglaterra. Os privilégios conseguidos pelos
comerciantes ingleses incluíam extensa jurisdição extraterritorial, liberdade de comércio
com as colônias, controle sobre as tarifas das mercadorias importadas pela Inglaterra.
Portugal fazia concessões econômicas e a Inglaterra pagava com promessas ou garantias
políticas (ex. cessão de Bombaim).
ECONOMIA ESCRAVISTA MINEIRA
 A descoberta do ouro em grandes quantidades na passagem para o século XVIII
modificaria os termos do problema. A dinâmica criada pela produção aurífera teve seu
impulso apropriado pela Inglaterra. Mas, ao contrário de outras atividades, a mineração
foi submetida a um regime de minuciosa disciplina. O controle era praticado por meio
de atos, regimentos, regulamentos e vigilância local, pelo Superintendente da
Intendência de Minas. É dessa época a determinação da quinta parte - o quinto - como
taxação sobre o ouro extraído, e do derrame, cota mínima de 100 arrobas,
espontaneamente ou de forma compulsória. Revoltas culminam na Inconfidência
Mineira.
 A economia mineira abriu um ciclo migratório europeu totalmente novo para a
colônia. Meio milhão migraram da Europa no século XVIII. As possibilidades, que
tinha um homem livre com iniciativa, eram muito maiores. O capital fixo para a lavra
era reduzido, se comparado com a indústria açucareira. A Economia mineira traduziu-se
em melhor distribuição de renda, maior consumo, menor importação, maioria urbana de
origem européia, transferência da Capital. Desenvolveram-se também a agricultura e a
pecuária, principalmente do centro-sul, como atividades acessórias da produção
mineradora.
 A decadência da economia mineira teve como causas: o esgotamento das jazidas
de aluvião, técnica deficiente, baixo nível intelectual. Em vez de técnicos, mandava-se
para cá cobradores fiscais. Em 1754 - 118 arrobas, e em 1804 - 35 arrobas. O último
quartel do século XVIII constituiu uma nova etapa de dificuldades para a colônia. A
Inglaterra já tinha entrado em revolução industrial, tornava-se indispensável eliminar as
ataduras da época colonial. O sistema desagregou-se numa economia de subsistência.
A ECONOMIA CRIATÓRIA
 A criação de gado externa às faixas litorâneas formou-se diante de uma ocupação
extensiva e itinerante em virtude da disponibilidade de terras.
 Os três principais centros econômicos - a faixa açucareira, a região mineira e o
Maranhão - se interligam de maneira fluida e imprecisa, através do extenso hinterland
pecuário.

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 Com a crise dos ciclos agroexportadores coloniais, a economia criatória se
transformou numa vasta economia de subsistência.
O CICLO DO ALGODÃO
 Excluindo o núcleo maranhense, todo o resto da economia colonial atravessou
uma etapa de séria prostração nos últimos decênios do século XVIII.
 A Guerra de Independência dos EUA, a Revolução Francesa, a revolução
industrial, a desarticulação do vasto império espanhol na América, as guerras
napoleônicas, enfim uma gama de conflitos e transformações na Europa e nos EUA
oportunizaram o crescimento da produção algodoeira no Maranhão.
 O renascimento agrícola colonial marcou a superação da era da mineração. O
açúcar acompanharia o algodão neste renascimento agrícola. Outra produção que
floresceu foi do arroz. O anil foi uma esperança frustrada. Ainda no século XVIII, o
cacau apareceu no cenário baiano e na região paraense. Complementarmente, observou-
se no Pará a exportação de produtos florestais, tais como a baunilha, cravo e canela,
juntamente com as resinas aromáticas.
SÉCULO XIX
 A primeira metade do século XIX estará marcada pela abertura dos portos,
independência política e a intensificação dos acordos comerciais que concedem
privilégios para o exercício da hegemonia inglesa nos negócios nacionais. 1808:
abertura dos portos. 1810: tratados que tornam a Inglaterra nação privilegiada até 1844.
1822: independência política. Portugal representava um entreposto comercial com a
Inglaterra. Conflitos com posição antiescravagista da Inglaterra.
 Em relação às colônias do norte, as linhas gerais da política inglesa eram de
fomentar aquelas indústrias que não competissem com as da metrópole, permitindo a
estas a reduzir as importações de outros países.
 Os primeiros decênios da vida como nação politicamente independente foram de
sérias dificuldades para defender sua posição nos mercados dos produtos que
tradicionalmente exportava. A causa principal do grande atraso da economia brasileira
na primeira metade do séc. XIX foi o estancamento de suas exportações (café, açúcar,
couro, algodão, fumo). A economia escravista dependia da procura externa.
 Ao iniciar-se a produção em larga escala do algodão nos EUA, transformando na
principal matéria prima do comércio internacional, os preços se reduziram a menos da
terça parte. A este nível de preços a rentabilidade dos negócios algodoeiros era
extremamente baixa no Brasil.
 Um dos nódulos mais significativos no desenvolvimento da sociedade capitalista
é, contudo, a formação do mercado interno. A economia escravista era orientada apenas
para o mercado externo. Por diversas razões o Brasil não foi capaz de adentrar o século
XIX como uma ampla e dinâmica economia de mercado. Ao contrário, o Brasil firmou-
se definitivamente como dominação inglesa intermediada pelos portugueses, afastando-
se de uma economia capitalista dinâmica.
 Dadas às pequenas dimensões da economia monetária, seu alto coeficiente de
importação e a impossibilidade de elevar a tarifa aduaneira, os efeitos da emissão do
papel-moeda se concentravam na taxa de câmbio, duplicando o valor em mil réis da
libra esterlina entre 1822 e 1830.
 O café ampliou as relações com os EUA já nos primeiros decênios do século XIX,
em 1830 já despontava como o principal produto a exportação brasileira. Precisou-se
esperar terminar o prazo de 1844 concedido à Inglaterra como nação privilegiada para
intensificar o intercâmbio comercial com os EUA.
A ECONOMIA CAFEEIRA

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 Organizada com base no trabalho escravo, a empresa cafeeira se caracterizava por
custos monetários ainda menores que os da empresa açucareira. A economia cafeeira foi
formada por homens, que haviam acumulado alguns capitais no comércio e no
transporte de gêneros e de café, tornando-se a vanguarda da expansão cafeeira.
 Ao transformar o café em produto de exportação o desenvolvimento de sua
produção se concentrou próximo à capital do país, onde existia abundância de mão-de-
obra, em conseqüência da desagregação da economia mineira.
 A redução do abastecimento de africanos e a elevação do preço destes
intensificaram a utilização da mão-de-obra e, portanto um desgaste maior da população
escrava. O fato, é que a taxa de mortalidade de escravos no século XIX excedeu a taxa
de natalidade, enquanto isso, nos EUA a população de escravos tinha triplicado em
virtude de sua taxa de natalidade.
 A economia extensiva, para utilizar o fator disponível, terra, deve incorporar mais
mão-de-obra. Eliminado o tráfico de escravos, a questão da mão-de-obra passou a ser de
extrema solução. Em 1852, Senador Vergueiro se decidiu a contratar diretamente
trabalhadores na Europa.
 A expansão da produção do café na América e na Ásia foi sucedida por um
período de preços declinantes, entretanto a quantidade exportada quintuplicou entre
1821-30 e 1841-50.
 Entre 1918 e 1924 o número de cafeeiros paulistas de 828 milhões para 949
milhões, e daí para 1.155.000.000 em 1930. Este aumento se fizera quase todo a custa
de largos apelos ao crédito e a lavoura achava-se pesadamente endividada. O desenlace
fatal virá em 1929, com queda de 30% nos preços, que não tornou suficiente para
fazerem face aos débitos contraídos.
 O mecanismo de financiamento da produção nas lavouras de café vinculava-se
profundamente à comercialização do produto. Nesse sistema, adquiriam um papel
central os comerciantes (ou comissários) de café das praças de Santos e do Rio de
Janeiro, dos quais dependiam em grande medida, os fazendeiros de café para realizar
seus lucros, com a venda do produto; e obter os recursos financeiros necessários à
produção. Era o comerciante, pois, o banqueiro da lavoura. As relações transcendiam os
limites comerciais;era também o mentor, o parente ou o amigo mais avisado que lhe
impunha moderação nas despesas e o assistia nas principais emergências da vida e
inúmeros serviços pessoais.
 A estrutura do sistema de crédito era informal dos dois lados, tanto do banco ao
comissário como deste ao fazendeiro. O comissário continuou a exercer suas funções
até pelo menos os primeiros anos do século XX. Era na esfera da comercialização que
se realizavam os grandes negócios, acumulavam fortunas e prosperavam as empresas.
 O sistema de financiamento da economia cafeeira apresentava algumas
contradições chaves que resultaram em seu esgotamento. A primeira delas é o interesse
altista do fazendeiro e do comissário e o interesse do exportador na baixa do café, pois
ganhava na diferença entre esse preço e o de exportação. Outra informação importante
diz respeito ao controle do comércio exportador. Da mesma forma como no Rio, os
maiores exportadores da praça de Santos eram estrangeiros. Uma parcela considerável
da renda gerada na economia cafeeira era apropriada por capital estrangeiro e drenada
para o exterior.
 A mudança do eixo para São Paulo - Oeste paulista representou a decadência dos
cafezais do Rio de Janeiro e sua transformação em pastagens, associado a abolição da
escravatura de 1888 e a seca de 1877-1879 no Nordeste - resultaram no aumento do
número de pessoas que não tinham fontes de rendimento permanentes para sua

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subsistência e, muitas vezes nem sequer domicílio. Foi precisamente nesta época que
surgiram no Rio de Janeiro e em algumas outras cidades, as favelas.
 Entre 1880 e 1930, chegaram ao país 4 milhões de imigrantes, a maior parte em
São Paulo, que no final do século XIX tinha 50% de sua população adulta composta de
imigrantes. Os fazendeiros de café de São Paulo e os industriais principiantes, durante
muito tempo, preferiram admitir operários imigrantes que já haviam “cursado uma
escola de trabalho assalariado”, habituados a mais disciplina e autonomia, embora seus
salários fossem mais elevados. O governo contribuía gastando importantes somas para
financiar a imigração. Até a década de 1930, a reserva de mão de obra composta de
brasileiros nativos era utilizada relativamente pouco e de preferência nos ramos em que
prevaleciam relações de produção tradicionais. Em 1938, 50 anos depois da abolição da
escravatura, o salário de um trabalhador de muitas zonas do Norte e do Nordeste do
Brasil era inferior aos gastos com a manutenção de um escravo nos últimos anos do
império.

Origens da Indústria

 O processo de transição para o modo de produção capitalista nos países atrasados


mostra-se especialmente prolongado e doloroso, de diversas formas econômicas mistas,
as quais combinam elementos de relações de produção arcaicas e modernas.
 No final do século XIX, observou-se não só o surgimento de um mercado de mão-
de-obra assalariada, mas também a intensificação da concentração da riqueza e o
desenvolvimento de relações monetário-mercantis. O crescimento do setor de transporte
desempenhou papel fundamental na incorporação de áreas rurais de terras férteis.
 A expansão do meio circulante se deu com a emissão de papel-moeda e com maior
autonomia e responsabilidades aos bancos privados. Durante um prazo curto, o total de
recursos financeiros em circulação mais que duplicou, acarretando inflação e
especulação. O processo especulativo no Brasil na década de 1890 ficou conhecido
como encilhamento. Foram fundadas centenas de sociedades acionárias, que possuíam,
via de regra, apenas um capital fictício.
 A formação dos primeiros focos de produção industrial começou no Brasil só no
último quartel do século XIX. Em 1850, eram 74 manufaturas, qualificadas como
empresas industriais, produtoras de chapéus, círios, sabão, cerveja, cigarros, tecido de
algodão, etc., 50 das quais se encontravam no Rio de Janeiro.
 Os privilégios aduaneiros concedidos à Inglaterra impediam à produção de
manufaturados nacionais. Somente em 1844 as tarifas sofreram elevação de 15% para
30%. Contudo, o objetivo principal da elevação das taxas de importação era de ampliar
a receita do governo, não possuindo nenhum caráter protecionista.
 Somente na década de 1880, quando já se vislumbram as conseqüências do fim do
tráfico de escravos (1850) e a reversão de capitais voltados antes ao tráfico para a
inversão em atividades manufatureiras e cafeeiras, incluindo a imigração, que
paulatinamente, forma-se um regime de assalariamento na economia brasileira. A antiga
colônia segregada e vegetando na mediocridade do isolamento, se moderniza e se
esforça por sincronizar sua atividade com a do mundo capitalista contemporâneo. O
Império quando em 1889 se extingue e é substituído pela República, terá coberto uma
larga e importante etapa da evolução econômica do país.
 A força básica que apoiou o crescimento industrial verificado no final do século
XIX foi o incremento cafeeiro baseado na mão de obra imigrante livre. Investimentos

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significativos em infra-estrutura (estradas de ferro, usinas hidrelétricas, etc.) financiados
por fazendeiros e capital estrangeiro, proporcionaram um ambiente para uma produção
industrial local maior e aos poucos criaram uma demanda para peças de reposição
produzidas internamente. A grande população imigrante gerou um enorme mercado
para os bens de consumo baratos. Os primeiros produtos a serem manufaturados foram
aqueles cuja relação peso-custo era tão elevada que, mesmo com emprego das técnicas
mais rudimentares, ficava mais barato produzi-los internamente do que comprá-los na
Europa. As atividades mais importantes empregavam produtos agrícolas locais: o
algodão, o couro, o açúcar, cereais, madeira, ou minerais não metálicos, principalmente
argila, areia, cal e pedras.
 A maioria dos primeiros industriais brasileiros era importador que em algum
momento, achou que valeria a pena produzir bens no próprio Brasil. Os importadores
também tinham acesso especial a credores europeus para financiamento da importação
de maquinário.
 Um substancial aumento da capacidade produtiva no período 1905-13 deveu-se a
um aumento da capacidade de importação daqueles anos devido à valorização da moeda
em relação à Libra esterlina, o que reduziu o preço dos produtos importados e ocasionou
um grande aumento da importação de maquinário. O crescimento industrial nas três
décadas que antecederam a Primeira Guerra Mundial foi influenciado pela evolução
cambial e pelas políticas governamentais de valorização das exportações. A primeira
Guerra agiu somente como um estímulo à produção, visto que não se podiam realizar
investimentos.
 Após a Primeira Guerra, intensificou o afluxo de investimentos estrangeiros ao
Brasil. Contudo, a década de 1920, em geral representou um período de crescimento
relativamente pequeno do setor industrial. De modo geral, até a década de 1930, o
desenvolvimento capitalista tivera um caráter esporádico, dadas as condições de
domínio do latifúndio semifeudal e as formas capitalistas inferiores. O sistema de
relações econômicas externas conservava o aspecto colonial.
 A ausência de apoio por parte do Estado exerceu uma influência muito negativa
sobre o desenvolvimento da indústria. A oligarquia latifundiária e o grande capital
comercial empenhado na esfera de operações de importação e exportação exerciam o
domínio político na Primeira República (1889 - 1930).

PARTE 2: A crise de 1930 e o avanço da industrialização brasileira

 Até a década de trinta, a formação da indústria realizava-se, sobretudo


por meio da criação de empresas de transformação primária de matérias primas
destinadas à exportação (refinarias de açúcar, empresas de beneficiamento de
algodão, etc.) ou de empresas que produziam mercadorias para a população com
baixo nível de Rendimentos (empresas têxteis, de calçados, fábricas de cerveja
etc.). Já camadas mais abastadas da população satisfaziam suas necessidades,
assim como antes, à custa das importações.
 A grande depressão, que atingiu a economia na década de 1930, é
considerada marco fundamental do processo de consolidação da produção
industrial brasileira e mesmo latino-americana. O crescimento da procura por
bens de capital e o forte aumento dos preços de importação desses bens, devido a
desvalorização cambial, criaram condições propícias para a instalação de uma
indústria de bens de capital no Brasil.

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 Ocorreu na Grande Depressão uma redução de 60% no comércio
mundial e de 90% nos empréstimos internacionais. Com isso, destruiu-se a fé no
liberalismo por meio século. O mundo que emergiu da Grande Depressão e da
Segunda Guerra foi marcado pelas políticas econômicas intervencionistas de
inspiração keynesiana e pela busca de construção do Estado de bem-estar social.
 No Brasil, a Revolução de 1930 ocasionou a perda da hegemonia
política pela burguesia cafeeira em favor da classe industrial ascendente. O
avanço do processo de industrialização intensificou-se a partir de então. Foi o
momento de ruptura com o modelo primário-exportador da economia brasileira
em favor de um modelo de desenvolvimento voltado para o mercado interno.
 O conceito de substituição de importações, além de significar o
início da produção interna de um bem antes importado, denota também uma
mudança qualitativa na pauta de importações do país. Conforme aumenta a
produção interna de bens de consumo anteriormente importados, aumenta
também a importação de bens de capital e de bens intermediários necessários
para essa produção.
 No final da década de 1930, o Brasil se encontrava próximo da auto-
suficiência no que se referia a bens de consumo e fornecia mais de 80% de seus
próprios bens intermediários e mais de 50% de seus bens de capital.

O Processo de Substituição de Importações

 O processo de substituição de importações não se resume a produzir


internamente o que se importava, significa também que a liderança do
crescimento econômico repouse no setor industrial. Assim, se na República
Velha o setor industrial cresceu induzido pelo crescimento e pela diversificação
do setor exportador, a partir de meados da década de 1930 a economia retomou o
crescimento do produto a despeito da crise do setor exportador, sob liderança dos
setores voltados ao mercado interno.
 A tese segundo a qual a industrialização dos países latino-americanos
vincula-se às crises da agroexportação é atribuída aos economistas da CEPAL, e
é vulgarmente conhecida como teoria dos choques adversos. Os motivos
causadores seriam:
a. A crise incide diretamente sobre o balanço de pagamentos,
encarecendo as importações e diminuindo a demanda de exportações,
deteriorando o preço dos bens exportáveis no mercado internacional e
dificultando o acesso a capitais e empréstimos para financiar os
déficits em conta corrente. Esse contexto leva os governos
normalmente a recorrerem a desvalorizações da moeda nacional, o que
contribui para encarecer as importações, criando um mercado interno à
industria nacional.
b. A crise, ensejando a contração de impostos, incita os governos a
adotarem políticas monetárias expansivas para cobrir déficits
orçamentários. A política monetária expansiva contribui para baixar as
taxas de juros, favorecendo os setores voltados para o mercado interno.

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c. A crise, ao estreitar a arrecadação de impostos e simultaneamente
ocasionar déficits na balança comercial, cria condições para os
governos majorarem as tarifas sobre os importados, em favor da
produção nacional.
 Ao se prevalecerem desta situação semimonopolística para defenderem
os preços, estavam destruindo as bases em que se assentará o seu privilégio.
Dessa forma a crise no balanço de pagamentos tornava-se, ao mesmo tempo uma
crise das finanças públicas. A desvalorização cambial, a expansão monetária e as
tarifas alfandegárias eram respostas do governo federal à deterioração de suas
finanças.
 Se à primeira vista, pode parecer uma reprodução da divisão
internacional do trabalho tradicional, com o país periférico buscando mercado
para seus produtos agrícolas, na verdade já dá pra notar uma mudança: o país,
além disso, procurava facilitar não a importação de bens de consumo, mas de
bens de capital e de insumos necessários para promover a industrialização.
Acrescenta-se o fato de que, nos primeiros anos da Grande Depressão, não foi
necessário importar com urgência as máquinas e os equipamentos industriais,
aproveitando a capacidade ociosa existente.
 A imigração, no entanto colaborou para que pudesse se configurar
plenamente um processo de substituição de importações no Brasil, não só pelo
lado do capital, mas também do trabalho, ao trazer grande massa de homens
desprovidos de propriedade, aptos e dispostos ao trabalho assalariado.
 No período que vai da recuperação econômica da década de 30 até
1955, muitas vezes denominado de industrialização restringida, predominou a
substituição de importações de bens de consumo popular; entretanto, na própria
década de 30, o crescimento industrial atingiu setores não tradicionais, como
minerais não metálicos, metalurgia, papel e química. A construção da Usina
Siderúrgica der Volta Redonda fazia o Brasil ingressar, em grande escala, na
produção do aço.
 Do período que vai de 1956 a 1973, ou seja de JK ao fim do Milagre
(1968-1973), a produção industrial voltou-se prioritariamente aos bens de
consumo duráveis, que também impulsionavam os setores de bens de consumo
popular, os intermediários e de capital.
 Finalmente o PSI completou-se no Brasil no final da década de 1970,
com a implementação do II PND do governo Geisel, voltados a substituir
importações de bens intermediários e de capital que ainda impunham barreiras à
produção interna.
 Crise e desequilíbrios do PSI. O PSI tinha um limite reposto em cada
conjuntura, decorrente de sua própria lógica: ao voltar-se para o mercado interno
e sem difundir a produtividade na mesma intensidade e velocidade no setor
exportador, geralmente centrado em poucos produtos primários, tornava o
estrangulamento externo um problema recorrente.
 Crise e desequilíbrios do PSI. Segundo os Cepalinos Prebisch (1962),
Furtado (1968) e Tavares (1972): a) No início do PSI, a demanda não era
problema para indústria nascente, já que justamente seu crescimento se prendia
se prendia em vir a atender à demanda doméstica preexistente, uma vez que, com

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o estrangulamento externo, não poderia ser mantido o fluxo de importações. b)
Ao avançar o processo, com a exigência de maior volume de capital e tecnologias
mais sofisticadas, poupadoras de mão-de-obra, o emprego não crescia a taxas
capazes de garantir um mercado de massas. c) também cresciam as necessidades
de financiamento e poupança, já que cada vez era necessário maior volume de
capital. O fato de as novas tecnologias capital-intensivas serem importadas
gerava pressão sobre o balanço de pagamentos, aguçando o estrangulamento
externo. A compra de bens de capital do exterior geralmente era subsidiada, sem
contar que os investidores estrangeiros, ao investirem, já traziam consigo as
novas técnicas. d) Para reproduzir-se o PSI exigia cada vez mais capital e mão-
de-obra qualificada, justamente que é escasso na América Latina, e liberar
recursos naturais e mão-de-obra de baixa qualificação, exatamente o que era
abundante. e) Esses problemas aprofundavam-se ainda mais com a baixa
produtividade da agricultura, em contraste com a elevação da produtividade
média das atividades urbanas e industriais. Assim, o dualismo campo/cidade
aumentava e o êxodo rural contribuía para aumentar ainda mais o desemprego.
 A baixa produtividade rural associava-se à propriedade da terra,
concentrada nas mãos de latifundiários pré-capitalistas, com mentalidade mais
rentier e menos burguesa. O reinvestimento na produção rural, fazia pelo
aumento da quantidade ofertada, cair os preços. Não reinvestindo na produção, os
proprietários de terras se comportavam como consumidores de bens de luxo, ou
imobilizavam sua renda - e não lucro - comprando novas propriedades,
preferencialmente imóveis ou terras, a exemplo da antiga nobreza.

O Estado Novo: autoritarismo, nacionalismo e populismo.


 Entre 1937 e 1945, duração do Estado Novo, Getúlio Vargas deu
continuidade à reestruturação do estado e profissionalização do serviço público,
criando o DASP (Departamento Administrativo do Serviço Público) e o IBGE.
Aboliu os impostos nas fronteiras interestaduais e modernizou e ampliou o
imposto de renda.
 O governo do Estado Novo orientou-se cada vez mais para a
intervenção estatal na economia e para o nacionalismo econômico, provocando
um forte impulso à industrialização. Adotou a centralização administrativa como
marca para criar uma burocracia estatal ampliada e profissionalizada, até então
inexistente. Um exemplo disto, é que o número de leis, decretos e decretos-lei
baixados por Getúlio Vargas é muito maior que o número de todos os diplomas
legais baixados na república velha.
 Durante o Estado Novo foram criados o Ministério da Aeronáutica, o
CNP (Conselho Nacional do Petróleo) que depois daria origem à Petrobrás em
1953. Foram criadas ainda a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a
Companhia Vale do Rio Doce, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco e a
Fábrica Nacional de Motores (FNM), dentre outros. Nesse período, editou-se o
Código Penal, o Código de Processo Penal e a Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), todos até hoje em vigor. Getúlio criou a carteira de trabalho, a
Justiça do Trabalho, o salário mínimo, a estabilidade do emprego depois de dez

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anos de serviço (revogada em 1965) e o descanso semanal remunerado.
Regulamentou o trabalho dos menores de idade, da mulher e o trabalho noturno.
Fixou a jornada de trabalho em oito horas diárias de serviço e ampliou o direito à
aposentadoria a todos os trabalhadores urbanos.
 Durante o Estado Novo, deu-se a rápida e eficiente colonização e
povoamento do Norte do Paraná por empresas privadas de colonização, e foram
criados territórios federais nas fronteiras, para o desenvolvimento do interior do
Brasil, ainda praticamente despovoado.

O Brasil na Grande Guerra


 Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1939, Getúlio Vargas
manteve um posicionamento neutro até 1941. No início de 1942, durante a
Conferência dos países sul-americanos no Rio de Janeiro, estes países decidiram,
a contragosto de Getúlio, condenar os ataques japoneses aos Estados Unidos da
América e romper relações diplomáticas com Alemanha, Itália e Japão. Logo em
seguida, ainda em 1942, submarinos alemães atacaram navios brasileiros, em
represália ao fim da neutralidade brasileira. Após estes ataques, Getúlio declarou
a guerra à Alemanha e à Itália.
 Brasil e Estados Unidos, assinaram um acordo pelo qual o governo
norte-americano se comprometeu a financiar a construção da primeira usina
siderúrgica brasileira em Volta Redonda, em troca da permissão para a instalação
de bases militares e aeroportos no Nordeste e em Fernando de Noronha.
 Os norte-americanos precisavam muito de borracha, pois não tinham
mais a borracha da Ásia, então surgiu, no Brasil, uma grande imigração de
nordestinos para a Amazônia para extrair borracha, (o soldado da borracha), que
mudou a história da Amazônia.
 Em 28 de janeiro de 1943, Vargas e Franklin Delano Roosevelt
(Presidente dos EUA) participaram da Conferência de Natal, onde ocorreram os
primeiros acordos que resultaram na criação, em novembro, da Força
Expedicionária Brasileira (FEB). O símbolo da FEB era a "cobra fumando" pois
Getúlio havia dito: -"É mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na
Guerra." Os pracinhas da FEB, um total de 25.000 homens, foram enviados, a
partir de julho de 1944, para combaterem na Itália. 450 daqueles heróis não
voltaram. Em 08 de maio de 1945, a guerra acaba na Europa.

O declínio e o fim do Estado Novo


 Em 1943 ocorre o primeiro protesto organizado contra o Estado Novo,
em Minas Gerais, chamado "Manifesto dos Mineiros", assinado por pessoas
influentes que seriam pessoas importantes depois na UDN. Um ferrenho opositor
do Estado Novo foi Monteiro Lobato que chegou a ser preso e acusava Getúlio
de não deixar os brasileiros procurarem petróleo livremente.
 Com a aproximação do término da Segunda Guerra Mundial, em 1945,
as pressões em prol da redemocratização ficam mais fortes. Apesar de algumas
medidas tomadas, como a definição de uma data para as eleições (2 de
dezembro), a anistia, a liberdade de organização partidária, e o compromisso de
fazer eleger uma nova Assembléia Constituinte. Getúlio Vargas foi deposto em

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29 de outubro de 1945, por um movimento militar liderado por generais que
compunham seu próprio ministério, renunciando formalmente ao cargo de
presidente. O pretexto para o golpe foi a nomeação de um irmão de Getúlio para
Chefe de Polícia no Rio de Janeiro.
 Getúlio foi substituído pelo presidente do Supremo Tribunal Federal,
porque na Constituição de 1937 não existia a figura do vice-presidente. E este
presidente interino José Linhares ficou três meses no cargo até passar o poder ao
presidente eleito em 2 de dezembro de 1945, Eurico Dutra.

Autoritarismo

 O autoritarismo é um regime político em que é postulado o princípio da


autoridade. Esta é aplicada com freqüência em detrimento das liberdades
individuais. O autoritarismo pode ser definido como um comportamento em que
instituição ou pessoa se excede no exercício da autoridade de que lhe foi investida.
Pode ser caracterizado pelo uso do abuso de poder e da autoridade, confundindo-se
com o despotismo. O autoritarismo possui as seguintes características para se manter
no poder:
 Exclusividade do exercício do poder.
 Arbitrariedades.
 Enfraquecimento dos vínculos jurídicos do poder político.
 Alteração da legislação institucional criando regras para a auto manutenção do
poder.
 Restrição substancial das liberdades públicas e individuais.
 Impulsividade nas decisões.
 Agressividade à oposição.
 Controle do pensamento.
 Censura às opiniões.
 Cerceamento das liberdades individuais.
 Cerceamento das liberdades de movimentação.
 Emprego de métodos ditatoriais e compulsórios de controle político e social.
 Já na antiguidade clássica os termos oligarquia e tirania eram discutidos.
Os gregos ao tratarem das teorias e organizações do estado já demonstravam sua
preocupação quanto à definição do estado tirânico.
Realeza é o sistema onde a autoridade é real e suprema estando nas mãos de um só.
Aristocracia é o sistema onde o poder e a autoridade estão nas mãos de várias
pessoas sábias. República, é o sistema cuja autoridade emana das mãos da multidão,
e em esta é em benefício da coletividade.
 O autoritarismo é freqüentemente associado à dominação pelo
militarismo, aparecendo como uma organização social hierárquica que pode assumir
diversas formas e sendo denominado de acordo com a ideologia com que procurou
justificar-se. A tirania, o despotismo, a autocracia, o imperialismo, o cesarismo, o
totalitarismo, o fascismo, o nazismo, o corporativismo e comunismo stalinista, além
de outros, se valeram do autoritarismo para manter o poder opressor. Os regimes
autoritários sempre coincidem com a figura do estado de exceção, este é

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diametralmente oposto ao estado de direito. O autoritarismo apesar da relação com o
militarismo, nem sempre caminha junto ao estado militarista, mas para se manter no
poder precisa daqueles que são os representantes das forças armadas nacionais.
Criando por vezes muitas relações incestuosas entre os militares, os políticos e os
detentores do poder econômico. Os regimes políticos conhecidos como ditaduras
militares durante a história da humanidade foram modelos de autoritarismo estrito,
uma vez que instauraram estados de exceção, que se impuseram pela força das
armas e por elas foram mantidos.

Populismo
 Chamam-se de populismo uma série de movimentos políticos que se
propõem a colocar, no centro de toda ação política, o povo enquanto massa,
desqualificando a idéia da democracia representativa. Exemplos típicos são o populismo
russo do final do século XIX, que visava transferir o poder político às comunas
camponesas por meio de uma reforma agrária radical ("partilha negra") e o populismo
americano dos EUA da mesma época, que propunha incentivar a pequena agricultura
pela prática de uma política monetária que favorecesse a expansão da base monetária e
o crédito (bimetalismo).
 Historicamente, no entanto, o termo populismo acabou por ser identificado
com certos fenômenos políticos típicos da América Latina, principalmente a partir dos
anos 1930, estando associado à industrialização, à urbanização e à dissolução das
estruturas políticas oligárquicas em que o poder político encontra-se firmemente na mão
de aristocracias rurais.
 A característica básica do populismo é o contato direto entre as massas
urbanas e o líder carismático (caudilho), supostamente sem a intermediação de partidos
ou corporações. A idéia geral é a de que o líder populista procura estabelecer um
vínculo emocional (e não racional) com o "povo" para ser eleito e governar. Isto implica
num sistema de políticas, ou métodos utilizados para o aliciamento das classes sociais
de menor poder aquisitivo além da classe média urbana, entre outros, procurando a
simpatia daqueles desarraigados para angariar votos e prestígio - resumindo,
legitimidade - para si. Isto pode ser considerado um mecanismo mais representativo
desta forma de governo.
 O populismo, desde suas origens, foi encarado com desconfiança pelas
correntes políticas mais ideológicas da Esquerda e da Direita. A Direita (como
representada, por exemplo, pelo anti-varguismo da UDN brasileira, ou no anti-
peronismo da União Cívica Radical/UCR Argentina) sempre apontou para seus aspectos
plebeus, suas práticas vulgares e para as atitudes supostamente "demagógicas"
(concessão irresponsável de benefícios sociais e gastos públicos) que a prática populista
comportava; a Esquerda, especialmente a comunista, apontava para o caráter reacionário
e desmobilizador das benesses populistas, que se contrapunham às lutas organizadas da
classe operária e faziam tudo depender da vontade despótica de um caudilho
bonapartista. Uma maneira de enxergar a questão é que o populismo, na América
Latina, foi um poderoso mecanismo de integração das massas populares à vida política,
mas realizou tal incorporação de forma "subordinada", colocando a figura de um líder
carismático e mais ou menos autoritário como tampão entre as massas e o aparelho de
Estado, favorecendo o desenvolvimento econômico e social, mas dentro de uma
moldura estritamente burguesa.

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PARTE 3: A consolidação da sociedade industrial brasileira

Plano de metas de Juscelino Kubitscheck - planejamento estatal e


consolidação do processo de substituição de importações.

 O Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitscheck (1956-1960)


continha um conjunto de 31 metas, incluída a construção de Brasília, e se
constituiu num bem sucedido processo de formulação e implantação de
planejamento estatal. Conferia prioridade absoluta à construção de estágios
superiores da pirâmide industrial e do capital social básico de apoio a esta infra-
estrutura. Daria continuidade ao processo de substituição de importações que se
vinha desenrolando a dois decênios.
 Os setores de energia, transporte, siderurgia e refino de petróleo
receberiam a maior parte dos investimentos do governo. Subsídios e estímulos
seriam concedidos para expansão e diversificação do setor secundário
 Contrariamente ao projeto nacionalista de Vargas, havia uma clara
aceitação da predominância do capital externo, limitando-se o capital nacional a
sócio menor deste processo. O acirramento da concorrência entre os grandes
oligopólios internacionais americanos, europeus e japoneses estendeu essa disputa
até os países subdesenvolvidos.
 O desenvolvimento industrial durante o Plano de Metas foi liderado pelo
crescimento do departamento produtor de bens de capital e do departamento
produtor de bens de consumo duráveis, suas taxas anuais de crescimento médio no
período 1955-1962 atingiram 26,4% e 23,9% respectivamente. Os investimentos
nos subsetores de material elétrico, mecânico e de material de transporte
(representativos das atividades produtoras de bens finais duráveis) cresceram,
respectivamente, a 38, 43 e 80% ao ano.
 Se a produção de bens de capital e de bens intermediários cresceu de
modo significativo, não se chegou, porém a completar a criação de um
departamento que possibilitasse a autonomia do processo de acumulação. O
mercado brasileiro ainda era pequeno para sustentar as escalas de produção
exigidas para a fabricação de bens de alta tecnologia. As indústrias dedicavam-se a
produção de produtos mais leves, deixando os mais pesados e especializados por
conta das importações.
 Assim, o desenvolvimento industrial de países subdesenvolvidos,
superando parcialmente o papel histórico de fornecedores de alimentos e matérias-
primas, implicaria a instauração de uma nova dependência financeira e tecnológica
com relação aos países desenvolvidos.
 Essa situação se refletia em desequilíbrios no balanço de pagamentos do
país. Os saldos comerciais tornaram-se negativos a partir de 1958, com um novo
ciclo de deterioração das relações de troca e o crescimento das despesas com o
serviço do capital estrangeiro, conseqüências dos investimentos e empréstimos
externos acumulados nessa década.
 A situação agravou-se devido aos prazos curtos dos vencimentos dos
empréstimos externos, em um contexto de conflitos entre o governo JK, o FMI e o
Banco Mundial que culminaram no rompimento de 1959. Apesar da política

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extremamente liberal seguida por Juscelino Kubitscheck relativamente ao capital
estrangeiro, esses organismos internacionais não aprovavam os pilares do PSI:
protecionismo e controle das importações. Além disso, a ortodoxia monetarista
predominante no FMI e no Banco Mundial também não aprovava a condução da
política macroeconômica - com grandes déficits fiscais - e a política monetária
expansionista, que não se preocupava com as crescentes taxas de inflação do
período.
 Esse conjunto de contradições se manifestou no ritmo do crescimento
industrial a partir de 1962, configurando a primeira crise econômica brasileira
motivada, principalmente, por causas internas, Até então, todas as crises haviam
tido origens basicamente externas com repercussões internas. Entre 1962 - 1967, a
taxa média de crescimento do PIB caiu à metade daquela alcançada no período
anterior

O regime militar, o PAEG e as bases do milagre econômico

 A partir de 1964, o regime militar e as políticas de estabilização e de


transformações institucionais da economia brasileira teriam êxito com o Programa
de Ação Econômica do Governo (PAEG). O regime militar aprofundou as
características do modelo econômico dependente e associado ao capital estrangeiro
e manteve a matriz industrial instaurada com o Plano de Metas. Essas seriam as
bases do chamado milagre econômico brasileiro, de 1968-1973.
 O PAEG mantinha os objetivos básicos dos discursos
desenvolvimentistas: retomada do desenvolvimento, via aumento dos
investimentos; estabilidade dos preços; atenuação dos desequilíbrios regionais; e
correção dos déficits do balanço de pagamentos. As prioridades imediatas eram,
internamente, o controle da inflação e, externamente, a normalização das relações
com os organismos financeiros internacionais.
 Foram implementadas ações que buscavam controlar as contas públicas
aumentando as receitas e reduzindo as despesas; foi executada uma política
monetária restritiva, com controle de emissão monetária e de crédito; e
especialmente, foi implementada uma dura política de contenção salarial.
 A reforma bancária de 1965 criou a estrutura básica do sistema financeiro
nacional, instituindo o Banco Central e o Conselho Monetário Nacional, e permitiu
a especialização desse sistema com a divisão em financeiras (voltadas ao
financiamento de bens de consumo duráveis), bancos comerciais e bancos de
investimento. Com a criação das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional
(ORTN) foi instituída a correção monetária, o que possibilitou a convivência com
taxas relativamente altas de inflação durante muitos anos. Outras realizações:
BNH, FGTS, PIS, PASEP, LTN.
 O que se convencionou chamar de milagre econômico brasileiro foi um
período de intenso crescimento do PIB e da produção industrial entre 1968 e 1973
a economia brasileira beneficiou-se do grande crescimento do comércio mundial e
dos fluxos financeiros internacionais para aumentar sua abertura comercial e
financeira em relação ao exterior. Novamente, nesse ciclo expansivo, observou-se
a predominância dos setores produtores de bens duráveis e de bens de capital, a

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partir da estrutura industrial ainda implantada no Plano de Metas. Uma das
características marcantes desse processo, como já enfatizado, foi a presença do
capital estrangeiro, na forma de investimentos diretos e, especialmente, por meio
de empréstimos. A conseqüência do endividamento seria a crise dos anos 80.
 As políticas monetárias e creditícias, durante o milagre econômico, foram
fortemente expansionistas.
 Mesmo sem uma necessidade estrita de empréstimos externos que
financiassem grandes déficits em transações correntes, o aumento do
endividamento externo ocorreu por causa da captação de recursos do exterior e seu
repasse para empresas de dentro do país. Por outras palavras, a economia brasileira
foi capturada juntamente com várias outras economias, num movimento geral do
capital financeiro internacional em busca de oportunidades de valorização. A
dívida externa bruta passou de US$ 3,1 bilhões em 1967 para 12,6 bilhões em
1973.
 Ao mesmo tempo em que ocorreu um intenso crescimento econômico,
agravaram-se as questões sociais, com aumento da concentração de renda e
deterioração de importantes indicadores de bem estar social.
 Em 1973, o milagre atingiu seu auge, com um crescimento de 14% do
PIB. No ápice do ciclo expansivo, um conjunto de contradições decorrentes de um
desenvolvimento dependente se manifestaria: aumento das importações de bens de
produção; surgimento de focos de tensão inflacionária; crescimento da agricultura
de exportação e redução do mercado interno; choque do petróleo; aumento do peso
dos serviços na conta de transações correntes; endividamento.

O II PND - fim de um ciclo

 O governo do general Geisel, empossado em 1974, tinha pela frente o


desafio de dar continuidade ao crescimento econômico, grande fator de legitimação
do regime militar que dirigia o país desde 1964. Isso diferenciava o caso brasileiro
dos outros regimes militares latino-americanos, que administravam economias
estagnadas, como a argentina e uruguaia.
 O II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), embora fosse a resposta
do governo militar à crise estrutural da economia brasileira, também tinha o
objetivo de superar o próprio subdesenvolvimento do país, eliminando os
estrangulamentos estruturais da nossa economia. A maioria dos investimentos para
crescimento industrial estava direcionada para o departamento I da economia,
produtor de bens de capital e bens intermediários.
 A tentativa de implantar o II PND, articulando o estado e a burguesia
industrial do setor de bens de capital, constituiu-se mais uma tentativa prussiana
rejeitada de afirmação de um projeto nacional.

PARTE 4: A modernização conservadora. Anos 1980: Crise e Inflação. Anos


1990: novo modelo de inserção da economia brasileira.

 A economia brasileira atravessou, durante os anos 1980, uma profunda


crise, caracterizada por estagnação econômica e altas taxas de inflação. A renda

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per capta, em 1994, encontrava-se no mesmo nível de 1980. A inflação alcançou
níveis elevadíssimos nesses 15 anos. Na verdade, foi a pior crise porque passou a
economia brasileira desde que o país se tornou independente, sendo muito mais
grave que a crise dos anos 1930.
 A política econômica adotada no final de 1980 e ao longo de 1981 seguiu
os manuais da ortodoxia: controle das despesas públicas e dos gastos das empresas
estatais: aumento da arrecadação tributária; e uma violenta contração da liquidez
real e do crédito. Em razão dessas medidas, registrou-se uma queda de 3,1% no
PIB em 1981 - a primeira do pós-guerra.
 A moratória mexicana de 1982 tornou ainda mais dramática as pressões
sobre o balanço de pagamentos. A deterioração das contas externas brasileiras e a
dificuldade de financiamento do déficit de conta corrente foram os motivos que
levaram o país a recorrer formalmente ao FMI em dezembro de 1982.
 O considerável declínio da produção de bens de capital fortaleceu os
críticos do PSI, que não associavam as dificuldades econômicas do país a uma
brutal sangria de recursos causada pelos choques do petróleo e dos juros externos.
Para esses críticos, as dificuldades enfrentadas pela indústria decorriam de seu
artificialismo e de sua pouca competitividade, situação provocada pelo próprio
PSI.
 A crise da dívida externa brasileira dos anos 1980 foi decorrência direta
do processo de inserção internacional do país. O crescente aumento das despesas
com o serviço da dívida estava na origem da deterioração das contas internas do
país - a chamada crise fiscal do Estado -, no estancamento do seu crescimento, na
queda do nível de investimentos e na disparada da inflação. A crise da dívida
externa desestruturou profundamente a economia brasileira e conduziu o país a
hiperinflação.
 A abertura da economia brasileira intensificou-se a partir de 1990. O
esgotamento do modelo de substituição de importações e a crescente
desregulamentação dos mercados internacionais contribuíram para uma
reestruturação da economia brasileira, influenciada pela redução das tarifas de
importação e eliminação de várias barreiras não tarifárias.

BIBLIOGRAFIA

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Ed. Nacional, 21ª. ed. 1986
REGO, José Márcio e MARQUES, Rosa Maria. Economia Brasileira. Ed. Saraiva, 2ª.ed
2006.
REGO, José Márcio e MARQUES, Rosa Maria. Formação econômica do Brasil Ed.
Saraiva, 2003.

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