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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO,


ATUÁRIA, CONTABILIDADE E SECRETARIADO
DEPARTAMENTO DE TEORIA ECONÔMICA
FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL

Prof: Cândido Átila Matias Souza


Conteúdo programático

- Contexto da colonização (Mercantilismo e expansão comercial


marítima)

- Considerações gerais sobre a colonização do Brasil


- Capítulo 1 - Da expansão comercial à empresa agrícola

- Capítulo 2 - Fatores do êxito da empresa agrícola

- Capítulo 3 – Razões do monopólio

- Capítulo 4 – Desarticulação do sistema


- Capítulo 5 – As colônias de povoamento do hemisfério norte

- Capítulo 6 – Consequências da penetração do açúcar nas Antilhas

- Capítulo 7 – Encerramento da etapa colonial


Considerações iniciais
Idade média

A idade média se origina a partir da decadência do Império Romano,


que provocou uma desfragmentação entre as regiões da Europa, e
levou a uma sociedade com descentralização política.

No período do império romano, as populações subjugadas na força


militar ficavam subordinada ao poder central do imperador romano.
Mapa do império romano (27 a.C – 476 d.C)
Mapa da Europa na idade média
Idade Média
Presença de baixa ou nenhuma mobilidade social
Descentralização do poder com autonomia político – militar para cada
um dos feudos
Nobreza (Senhor feudal) e clero (igreja católica) Benefícios e
privilégios advindos de obrigações impostas aos servos
Servos (baixa classe camponeses) Classe subalterna, explorada via
obrigações para com o senhor de terras e o clero
Vilões trabalhadores temporários que transitavam entre os feudos
Escravos e executavam trabalhos domésticos.
Obrigações dos servos
Corveia: Se originalmente, um camponês livre podia ter trocado sua independência pela
proteção do senhor diante do perigo da guerra (daí as obrigações que ele assume em relação
ao senhor, em suma, a servidão), essas obrigações, ao longo do tempo, passaram a ser
impostas aos camponeses pelo costume, por normas legais ou simplesmente pela força dos
senhores (independentemente da necessidade de proteção ao camponês).

Banalidades: para moer o trigo, para assar o pão ou para fazer cerveja ou vinho, o camponês
era obrigado a usar as instalações do centro do domínio. Por seu uso, deixava ao senhor, em
geral, metade do produto daquilo que havia levado para ser processado (por exemplo,
entregavam metade da farinha produzida com o trigo).

Talha: tributo imposto pelos senhores com base na obrigação de um vassalo sustentar seu
chefe (e que se estendia aos servos).
Capitação: pagamento anual justificado como doação aos senhores em troca de
sua proteção (e cobrado por pessoa ou per capita).

Mão morta: quando da morte do servo, seus herdeiros deviam entregar ao senhor
o melhor animal que tivessem.

Outras obrigações também foram frequentes como o dízimo para a Igreja,


pagamentos em troca da permissão para casar uma filha ou para um filho
ingressar em ordens religiosas.
Feudo produção autossuficiente Economia natural de subsistência comércio
ínfimo (apenas de forma muito pontual isolada)

Cabe ressaltar que mesmo com o início do período mercantilista na Europa


ainda persistirão algumas relações de servidão em estados nacionais europeus
e, isto terá alguma ligação com o processo de vinda de colonos europeus para
as várias regiões das Américas, pois, eles viam no novo continente uma
possibilidade de buscar uma vida melhor do que a que tinham no continente
europeu.
Transição para o mercantilismo

Crescimento do comércio na Europa gênese do comércio na forma de guildas


(feiras) no norte da Europa (Holanda e Bélgica)

A burguesia se formou nos chamados burgos, que eram construções com alguns
muros no entorno dos castelos medievais

Ascenção de uma classe burguesa (artesãos, médicos, comerciantes,


empresários, dentre outros) com o advento da expansão comercial e de grandes
navegações na Europa
A burguesia patrocinava as grandes navegações e comercializava vários tipos de
produtos na Europa. Classe responsável por gerir um processo de acumulação de
capitais e garantir maior lucratividade nas atividades comerciais.

A classe burguesa também realizava empréstimos para financiamentos dos


empreendimentos coloniais, seja para produção de gêneros agrícolas ou para
financiar a defesa militar das colônias.
Com a expansão do comércio, tem-se também a gênese das cidades e,
posteriormente, a formação dos estados nacionais com a centralização da
nobreza no poder, soma-se a isso as revoltas camponesas do século XIV, que
eclodiram pela Europa como consequência da crise socioeconômica na Europa
decorrentes principalmente da epidemia de peste negra e da guerra dos cem anos
entre França e Inglaterra, ocorre uma série de revolvas dos servos contra os
senhores feudais devido aos pesados encargos tributos e devido um inconformismo
e ficarem com uma parte muito pequena de sua produção agrícola.
Nesse contexto, criou-se um cenário para a transição da idade média para o
mercantilismo.
O final de idade média do ponto de vista historiográfico foi a partir de 1453 com a
tomada de Constantinopla pelos turcos, que passaram a controlar o comércio
naquela região.
Mercantilismo
- Superação da descentralização feudal a partir da formação das monarquias
absolutistas na Europa e difusão das grandes navegações favorecem a consolidação
do mercantilismo
Metalismo
Busca das potencias de navegação europeias por metais preciosos (ouro e prata),
quanto mais ouro e prata possui a nação, mais rica e poderosa ela é considerada. Ou
seja, um desinteresse, num momento inicial, dos portugueses nas terras brasileiras.
Um dos princípios básicos do mercantilismo era a acumulação de metais preciosos
com o objetivo de tornar superavitária a balança comercial dos estados nacionais na
Europa.
- Protecionismo comercial (balança comercial favorável)
Busca por especiarias (pimenta, seda, etc.) nas índias orientais (apenas os
venezianos da Itália tinham o monopólio originalmente do comércio das
especiarias com a intermediação dos árabes).

O empreendimento de navegação para a descoberta das índias orientais


conferiam lucros extraordinários para os navegantes, dado que as especiarias
eram valorizadas em toda a Europa.
Mapa das grandes navegações
Mapa Tratado de Tordesilhas
Motivos do pioneirismo português na expansão marítima comercial:

- Primeiro estado nacional a ser formado na Europa

- Construção da caravela e a escola de navegação de Sagres.

Necessidade de terras férteis na Europa de clima temperado, para a produção de


gêneros agrícolas tropicais
O Mercantilismo não se limitaria a fortalecer o poder do Estado; ele seria um
instrumento para promover a acumulação de capital – em especial, porém não
exclusivamente, de uma burguesia mercantil e financeira – por meio da
intervenção do Estado na esfera econômica.
No contexto do colonialismo, nota-se que as relações entre metrópoles e colônias
não estavam pré-concebidas; elas foram construídas à medida que a ocupação
das terras conquistadas colocava o problema de ajustar a exploração das áreas
coloniais às necessidades e aos interesses metropolitanos.
Apesar das diferenças entre essas áreas, há alguns elementos comuns à
colonização dos séculos XVI, XVII e XVIII: o monopólio de comércio (ou o exclusivo
metropolitano) e o trabalho compulsório.
Mapa dos domínios da União Ibérica
Antilhas
CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A COLONIZAÇÃO DO BRASIL

Estrutura básica da empresa colonial agrícola: latifúndio – Monocultura


(plantation) – trabalho escravo

A colônia ocupava um papel secundário de fornecimento de gêneros tropicais


para a Metrópole portuguesa.
Pacto colonial

O domínio econômico da metrópole portuguesa ficou estabelecido pelo chamado


pacto colonial, que consistiu de dois objetivos. O primeiro, de natureza militar e
administrativa, que seria o de ocupação das terras brasileiras e a guarda militar
para defesa deste território.

Já o segundo aspecto contemplado no pacto colonial seria o de conferir para a


metrópole portuguesa o monopólio da produção e comércio de gêneros tropicais
nas terras brasileiras.
Colônia de povoamento x colônia de exploração
Colônia de povoamento
Ocupação por motivos geopolíticos, devido a problemas econômicos ou por algum
problema social como perseguição religiosa no caso da saída dos ingleses para os
Estados Unidos
Pequenas propriedades nos núcleos de povoamento
Produção para subsistência
Os colonos não interagiam com os povos originários
Colônia de exploração

Ocupação da colônia por motivos econômicos

Produção de gêneros agrícolas em grandes propriedades

Ocorria integração entre colonos portugueses e os nativos brasileiros, o que


resultou na miscigenação da população brasileira.
Ciclos de mercadorias no período colonial
População e exportações da colônia
Feitoria

Estabelecimento promovido pela Coroa portuguesa no Brasil colonial, constituído


de dez a vinte portugueses comandados por um feitor e localizado no litoral para
viabilizar o carregamento de produtos, como o pau-brasil, em navios que tinham
como destino os portos europeus. Dentre as feitorias mais importantes, destacou-
se a de Pernambuco e a do Rio de Janeiro (SANDRONI, 1999).
Empresa (colonial) agrícola

Modelo econômico de colonização adotado por países europeus nos séculos XV e


XVI. Consistia em transformar a colônia em produtora de especiarias, que não
podiam ser obtidas na Europa, principalmente devido ao clima: açúcar, cacau,
canela, por exemplo. Segundo este modelo, toda a produção colonial estava
destinada à metrópole, que a comprava a baixos preços e a revendia na Europa,
acumulando os lucros desta transação.
Economia de subsistência e economia mercantil

Economia de subsistência, como o próprio nome sugere, é aquela produzida para


autoconsumo, em que o produtor não se distingue do consumidor, sendo
desnecessário o uso de dinheiro.
Economia mercantil, ao contrário, é aquela em que o produto é direcionado ao
mercado; a consequente separação entre produtores e consumidores torna
necessária a intermediação monetária.
A economia colonial caracterizou-se pela baixa circulação interna de dinheiro, já
que a empresa que produzia a monocultura para exportação era autossuficiente,
produzia quase todos os bens necessários para sua operação, demandando apenas
madeira e animais no mercado interno. Portanto, os colonos que não fossem
latifundiários agroexportadores, mas simples criadores de gado, por exemplo,
recebiam uma parte muito pequena da renda que circulava na Colônia, resultante
das compras internas animais e madeira.
ECONOMIA DO PERÍODO PRÉ-COLONIAL (1500 – 1530)

Atividade de extração do pau-brasil

Regiões de extração do pau-brasil: Mata atlântica na faixa litorânea do


Rio grande do Norte até o Rio de Janeiro

Fatores que favoreceram a atividade extrativista


- Abundância das árvores de pau-brasil
- Acesso facilitado para o litoral
- Existência de um mercado consumidor (Europa, principalmente para
a região de Flandres)
Extraia-se da madeira uma tintura utilizada em papel e tecidos

Monopólio de exploração pela coroa portuguesa, que fazia concessões para


exploração da madeira (Ex: concessão feita em 1502 a comerciantes
portugueses e italianos sob o comando de Fernão de Noronha)

Utilização da mão-de-obra indígena na derrubada das árvores e transporte do


pau-brasil e prática do escambo
Atividade predatória, itinerante e temporária feita com o auxílio das feitoras
instaladas em diversos pontos da faixa litorânea brasileira

Apesar de ter sido intensamente explorada no período pré-colonial, esta


madeira até o século XIX ainda figurava na pauta de exportações brasileira.

A partir de 1530, a atividade da exploração do pau-brasil é substituída pela


implementação da produção de açúcar no Brasil, devido seu maior valor
comercial para o mercado europeu.
EMPRESA AGRÍCOLA AÇUCAREIRA

A atividade açucareira possibilitou o início da ocupação efetiva do


território brasileiro

Primeiras expedições exploratórias para povoamento da colônia feitas


por Martim Afonso de Souza em 1530

A cana-de-açúcar foi explorada na Bahia, Pernambuco, Maranhão e foz


do rio amazonas. Destaque para Bahia e Pernambuco.
Fatores que favoreceram a empresa agrícola e povoamento da colônia
- Decadência do comércio na Ásia
- Necessidade de proteção militar das terras brasileiras contra
invasões rivais europeias.

Fatores que facilitaram a implementação do plantio da cana-de-açúcar


em larga escala no Brasil
- Solo massapê fértil
- Clima tropical
Fatores que favoreceram a empresa agrícola e povoamento da colônia
- Decadência do comércio na Ásia
- Necessidade de proteção militar das terras brasileiras contra
invasões rivais europeias.

Fatores que facilitaram a implementação do plantio da cana-de-açúcar


em larga escala no Brasil
- Solo massapê fértil
- Clima tropical
Os portugueses tinham uma experiência anterior do plantio da
cana-de-açúcar em ilhas do atlântico Açores, Cabo Verde e São
Tomé.

Produto caro e raro com elevada aceitação no mercado


europeu, reduzindo os riscos e garantindo lucratividade para os
produtores

Parceria comercial com os holandeses para comercialização,


refino e distribuição deste produto no continente europeu
Regime fundiário garantido por mecanismos como as cartas de doação
pela coroa portuguesa, com os beneficiário das terras concedidas
tendo a função de povoar e produzir nestes locais para garantir o
comércio do açúcar com o mercado europeu.

Fazendeiros (senhor de engenho), trabalhadores livres (capataz e


capitão-do-mato) e escravos

Decadência lenta da empresa agrícola açucareira inicia-se com a


produção açucareira na região das Antilhas.
Capítulo 1 – Da expansão comercial à empresa agrícola

A ocupação dos europeus nas terras das américas não se deu por motivos de
pressão demográfica ou por questões de movimentos imigratórios, mas pela
busca de metais preciosos ou de especiarias que fossem do interesse das
metrópoles europeias.

No início do período de descobrimento do Brasil, não havia uma preocupação


na exploração econômica no território, pois não havia aqui num primeiro
momento, a presença de metais preciosos. Apenas buscava-se material
humano e a necessidade de investir recursos para a proteção do território
contra a invasão de outros povos europeus (espanhóis, holandeses, franceses,
dentre outros).
Capítulo 1 – Da expansão comercial à empresa agrícola

Num primeiro momento, na fase pré-colonial, ocupar as terras brasileiras


representavam um custo de oportunidade elevado para os portugueses
no início da colonização, dado que não estava garantido para os
portugueses encontrar metais preciosos nas terras brasileiras e,
portanto, não teria inicialmente um atrativo econômico que justificasse
os custos de transporte para o Brasil e mesmo os custos de defesa militar
das terras brasileiras.
Capítulo 1 – Da expansão comercial à empresa agrícola

“A ocupação econômica das terras americanas constitui um episódio da expansão


comercial da Europa. Não se trata de deslocamentos de população provocados
por pressão demográfica - como fora o caso da Grécia - ou de grandes
movimentos de povos determinados pela ruptura de um sistema cujo equilíbrio se
mantivesse pela força - caso das migrações germânicas em direção ao ocidente e
sul da Europa. (O comércio interno europeu, em intenso crescimento a partir do
século XI, havia alcançado um elevado grau de desenvolvimento no século XV,
quando as invasões turcas começaram a criar dificuldades crescentes às linhas
orientais de abastecimento de produtos de alta qualidade, inclusive
manufaturas. O restabelecimento dessas linhas, contornando o obstáculo
otomano, constitui sem dúvida alguma a maior realização dos europeus na
segunda metade desse século.”
Capítulo 1 – Da expansão comercial à empresa agrícola

“O grande feito português, eliminando os intermediários árabes e antecipando-se


à ameaça turca e quebrando o monopólio dos venezianos e baixando o preço dos
produtos, foi de fundamental importância para o subsequente desenvolvimento
comercial da Europa.”
Capítulo 1 – Da expansão comercial à empresa agrícola

Para atrair a vinda de pessoas para explorar a cana-de-açúcar no Brasil, o


Governo concedeu isenção de tributos e oferecia terras para os colonos para
incentivar a entrada de pessoas para atividades de cana-de-açúcar,

O trabalho dos indígenas de segunda classe permite a subsistência dos núcleos de


população que não se transformaram em unidades produtoras de açúcar. A
necessidade de expansão da atividade açucareira criou um mercado para captura
de escravos africanos.
Capítulo 1 – Da expansão comercial à empresa agrícola

“Coube a Portugal a tarefa de encontrar uma forma de utilização econômica das


terras americanas que não fosse a fácil extração de metais preciosos. Somente
assim seria possível cobrir os gastos de defesa dessas terras. Este problema foi
discutido amplamente e em alto nível, com a interferência de gente - como
Damião de Góis - que via o desenvolvimento da Europa contemporânea com uma
ampla perspectiva. Das medidas políticas que então foram tomadas resultou o
início da exploração agrícola das terras brasileiras acontecimento de enorme
importância na história americana. De simples empresa espoliativa e extrativa –
idêntica à que na mesma época estava sendo empreendida na costa da África e
nas índias Orientais - a América passa a constituir parte integrante da economia
reprodutiva europeia, cuja técnica e capitais nela se aplicam para criar de forma
permanente um fluxo de bens destinados ao mercado europeu.”
Capítulo 1 – Da expansão comercial à empresa agrícola

A utilização da mão-de-obra africana em vez de europeus por parte dos


portugueses, se deu não por uma justificativa técnica, mas devido ao fato de que
seria mais dispendioso raptar os europeus para trabalhar aqui do que em relação
aos africanos que eram capturados e vendidos por povos dos próprios países
africanos.
Os europeus não tinham incentivos para os europeus virem pro Brasil para o
difícil trabalho das lavouras de cana-de-açúcar, dado que os produtores, para
atrair mão – de – obra europeia deveria pagar salários mais altos do que eles
recebiam na Europa, o que encareceria sua produção de açúcar e, desse modo
não se trata de vocação dos africanos para este tipo de trabalho árduo na
produção de cana-de-açúcar.
Capítulo 1 – Da expansão comercial à empresa agrícola

Financiamento da ocupação

Exploração agrícola

A colônia exporta produtos agrícolas para consumo dos europeus e importa


maquinário e ferramentas e toma capitais na forma de financiamento para as
unidades produtivas do açúcar.
Capítulo 2 - Fatores do êxito da empresa agrícola

Experiência anterior com a cana-de-açúcar em ilhas do atlântico (Açores, Ilha da


Madeira e Cabo Verde) com produção açucareira e técnicas de produção simples,
porém que requer um maquinário sofisticado para aquele período.

Domínio da técnica e desenvolvimento da indústria de equipamentos para os


engenhos. Esse domínio anterior da técnica de produção açucareira decorre da
experiência da produção da cana-de-açúcar portuguesa nas ilhas do atlântico.
Capítulo 2 - Fatores do êxito da empresa agrícola

“Se se têm em conta as dificuldades que se enfrentavam na época para conhecer


qualquer técnica de produção e as proibições que havia para exportação de
equipamentos, compreende-se facilmente que, sem o relativo avanço técnico de
Portugal nesse setor, o êxito da empresa brasileira teria sido mais difícil ou mais
remoto. A significação maior da experiência das ilhas do Atlântico foi
possivelmente no campo comercial. Tudo indica que o açúcar português
inicialmente entrou nos canais tradicionais controlados pelos comerciantes das
cidades italianas. A baixa de preços que tem lugar no último quartel do século XV
leva a crer, sem embargo, que esses canais não se ampliaram na medida
requerida pela expansão da produção.”
Capítulo 2 - Fatores do êxito da empresa agrícola

Acesso aos canais de financiamento e comercialização com os flamengos e


holandeses

Entrada do açúcar brasileiro reduziu preços no mercado europeu.

Financiamento da produção foi feito pelos flamengos e holandeses, maior centro


financeiro da época. Os holandeses concediam empréstimos para a aquisição de
ferramentas e maquinário em geral para os engenhos pelos fazendeiros que
exploravam a produção açucareira no Brasil colônia. Posteriormente, após o
Tratado de Methuen e o desenvolvimento do setor manufatureiro a Inglaterra
passará a ser o maior centro bancário e financeiro da Europa.
Capítulo 2 - Fatores do êxito da empresa agrícola

“A partir da metade do século XVI a produção portuguesa de açúcar passa a ser mais
e mais uma empresa em comum com os flamengos, inicialmente representados pelos
interesses de Antuérpia e em seguida pelos de Amsterdã. Os flamengos recolhiam o
produto em Lisboa, refinavam-no e faziam a distribuição por toda a Europa,
particularmente o Báltico, a França e a Inglaterra.”

A contribuição dos flamengos - particularmente dos holandeses - para a grande


expansão do mercado do açúcar, na segunda metade do século xvi, constitui um
fator fundamental do êxito da colonização do Brasil. Especializados no comércio
intra-europeu, grande parte do qual financiavam, os holandeses eram nessa época o
único povo que dispunha de suficiente organização comercial para criar um mercado
de grandes dimensões para um produto praticamente novo, como era o açúcar.
Capítulo 2 - Fatores do êxito da empresa agrícola

“Se se têm em conta, por um lado, as grandes dificuldades encontradas


inicialmente para colocar a pequena produção da Madeira, e por outro a
estupenda expansão subsequente do mercado, que absorveu com preços firmes a
grande produção brasileira, torna-se evidente a importância da - etapa comercial
para o êxito de toda a empresa açucareira.”
Capítulo 2 - Fatores do êxito da empresa agrícola

Os portugueses apresentavam um know how sobre o mercado de escravos, antes


da colonização do Brasil, pois já explorava o trabalho escravo nas suas colônias
africanas de ilhas do atlântico e adquiria escravos de Moçambique e Angola. Isso
facilita o acesso à mão-de-obra escrava.

O escravo é um custo fixo no sentido de que o senhor de engenho faz um único


pagamento ao traficante de escravo.
Capítulo 2 - Fatores do êxito da empresa agrícola

Como os holandeses dominavam a maior parte da cadeia produtiva do açúcar


(financiamento, refino e distribuição), então, eles tinham razões para se
sentirem mais donos do negócio do que os portugueses, que produziam e
vendiam para os holandeses o açúcar em estado bruto para o seu posterior
refino.
Produção no engenho – Pequena moenda
portátil (J. B. Debret)
Capítulo 2 - Fatores do êxito da empresa agrícola

Existem indícios abundantes de que os capitalistas holandeses não se limitaram a


financiar a refinação e comercialização do produto. Tudo indica que capitais
flamengos participaram no financiamento das instalações produtivas no Brasil
bem como no da importação da mão-de-obra escrava. O menos que se pode
admitir é que, uma vez demonstrada a viabilidade da empresa e comprovada sua
alta rentabilidade, a tarefa de financiar – lhe a expansão não haja apresentado
maiores dificuldades. Poderosos grupos financeiros holandeses, interessados
como estavam na expansão das vendas do produto brasileiro, seguramente terão
facilitado os recursos requeridos para a expansão da capacidade produtiva.
Capítulo 2 - Fatores do êxito da empresa agrícola

Os holandeses não comercializaram diretamente a cana-de-açúcar para evitar


rivalidades com os portugueses, ou seja, não haveria coordenação da parte dos
holandeses num primeiro momento para eles assumirem a função feita pelos
portugueses na cadeia produtiva do açúcar, pois era de certa forma rentável para
os agentes privados holandeses refinar e distribuir o açúcar para outros países da
Europa.
Capítulo 3 – Razões do monopólio

“A decadência econômica da Espanha prejudicou enormemente suas colônias


americanas. Fora da exploração mineira, nenhuma outra empresa econômica de
envergadura chegou a ser encetada. As exportações agrícolas de toda a imensa
região em nenhum momento alcançaram importância significativa em três
séculos de vida do grande império colonial. O abastecimento de manufaturas das
grandes massas de população indígena continuou a basear-se no artesanato local,
o que retardou a transformação das economias de subsistência preexistentes na
região.”
Capítulo 3 – Razões do monopólio

Espanha
- Terras de melhor qualidade para produzir açúcar;
- Mão de obra indígena mais evoluída do ponto de vista agrícola;
- Maior proximidade da Europa.
- Produção prévia de açúcar em Andaluzia.

Por que não se instalou uma empresa agrícola (açúcar) nas colônias espanholas
nos séculos XVI e XVII?
Capítulo 3 – Razões do monopólio

Açúcar – empreendimento agrícola comercial com elevados retornos financeiros


Espanha
Terras densamente povoadas nas Américas;
Desestímulo ao intercâmbio entre colônias;
O comércio se dava entre Américas e porto de Sevilha (mesmo durante a União
Ibérica)
A Espanha buscava “transformar as colônias em sistemas econômicos quanto
possível autossuficientes e produtores de um excedente líquido – na forma de
metais preciosos”
Capítulo 3 – Razões do monopólio
Impactos da extração de minerais preciosos sobre a economia espanhola:

i) Crescimento do poder econômico do Estado – crescimento do número de


pessoas economicamente inativas;

ii) Aumento dos gastos públicos;

iii) Inflação crônica;

iv) Persistente déficit da balança comercial.


Capítulo 3 – Razões do monopólio
Impactos da extração de ouro sobre as colônias espanholas:

“O abastecimento de manufaturas das grandes massas de população indígena


continuou a basear-se no artesanato local, o que retardou a transformação das
economias preexistentes na região”.
Capítulo 3 – Razões do monopólio

“Cabe portanto admitir que um dos fatores de êxito da empresa colonizadora


agrícola portuguesa foi a decadência mesma da economia espanhola, a qual se
deveu principalmente à descoberta precoce dos metais preciosos”.
Capítulo 3 – Razões do monopólio

Espanha:

Problemas econômicos enfrentados

Afluxo de metais preciosos (elevou muito a renda dos exportadores dos


minerais e a coroa espanhola)

Elevação no fluxo de renda gerado pelos gastos públicos (compra de bens de


luxo) geração de um processo inflacionário e persistente déficit na balança
comercial
Capítulo 3 – Razões do monopólio

Por um lado, outras economias europeias tinham incentivo em vender


produtos para a Espanha, do outro lado, as classes dirigentes espanholas
davam pouca importância para empreender atividades produtivas na Espanha,
o que fez com que as importações elevassem e ocorre um reduzido montante
de exportações levando aos sucessivos déficits da balança comercial na
Espanha.
Capítulo 3 – Razões do monopólio

A disponibilidade elevada de ouro e prata circulando na economia contribuiu


para o processo inflacionário

Como a Espanha explorava ouro e prata em grande escala nas Américas


(México e Peru, principalmente) eles não se viram encorajados a concorrer
com Portugal no mercado do açúcar com Portugal que detinha o monopólio da
produção.
Capítulo 4 – Desarticulação do sistema

União Ibérica – alterou significativamente a empresa agrícola portuguesa.

1578 – Desaparece Dom Sebastião (Portugal)

1578-1580 – Assume o tio avô – Dom Henrique – morre sem deixar herdeiros

1580 – Felipe II, rei da Espanha, neto do soberano português: Dom Manuel I
Capítulo 4 – Desarticulação do sistema

Tratado de Tomar (1581), Filipe II assegurou que:

i) os navios portugueses controlassem o comércio com a colônia;

ii) a manutenção das autoridades lusitanas no espaço colonial brasileiro.

Vice-Rei em Portugal

Conselho de Portugal em Madri

Problemas no setor externo: Inglaterra, Holanda e França


Capítulo 4 – Desarticulação do sistema

O que acontece com Portugal com a União Ibérica?


Setor externo
Portugal perde:
Ormuz (para a Inglaterra – 1622)
Portugal sofre com a Holanda:
Ceilão ( era um território português onde hoje é o Sri Lanka)
São Jorge da Mina ( Fortaleza onde hoje fica a cidade de Elmina – Gana (1637)
Salvador (1624)
Recife (1630 -1654)
Adeus ao Tratado de Tordesilhas – Agora Uti possidetis jure
Capítulo 4 – Desarticulação do sistema

A formação da União Ibérica leva a uma ruptura no comércio do açúcar entre


Portugal e Holanda, pois a Espanha passou a interferir nessa relação
comercial, de modo que tal conjuntura incitou a invasão holandesa no Brasil
em 1624 com a ocupação do nordeste brasileiro, principalmente Pernambuco
pelos Holandeses.
Capítulo 4 – Desarticulação do sistema

Mapa invasões holandesas no Brasil


Capítulo 4 – Desarticulação do sistema

Com a União Ibérica, posteriormente, os holandeses rivais dos espanhóis invadem


o nordeste brasileiro e assimilam a técnica de produção do açúcar.

O monopólio português do açúcar entra em decadência com a concorrência do


produto pelos holandeses nas Antilhas.

Encerramento do monopólio de Portugal no açúcar Redução de preço do


açúcar

Diminui a lucratividade Dependência (crise) da empresa agrícola colonial


portuguesa. Queda do ciclo do açúcar.
Capítulo 4 – Desarticulação do sistema

A partir de 1650, as exportações de açúcar (50% da metade inicial do século)


a preço não superiores a 50% do registrado neste período anterior.

Fim do monopólio português de açúcar nas Américas.


Capítulo 4 – Desarticulação do sistema

“Durante sua permanência no Brasil, os holandeses adquiriram o conhecimento


de todos os aspectos técnicos e organizacionais da indústria açucareira. Esses
conhecimentos vão constituir a base para a implantação e desenvolvimento de
uma indústria concorrente, de grande escala, na região do Caribe. A partir desse
momento, estaria perdido o monopólio, que nos três quartos de século anteriores
se assentara na identidade de interesse entre os produtores portugueses e os
grupos financeiros holandeses que controlavam o comércio europeu. No terceiro
quartel do século XVII os preços do açúcar estarão reduzidos à metade e
persistirão nesse nível relativamente baixo durante todo o século seguinte.”
Capítulo 5 – As colônias de povoamento do
hemisfério norte

Século XVII - Enfraquecimento da potência militar espanhola.


Inglaterra e França tentam se apoderar de ilhas do Caribe
- Objetivo central: povoamento com propósitos militares;
- Colonização em regime de pequena propriedade (pago com trabalho – cinco
a sete anos em regime de servidão);
- Colonos atraídos por propaganda (que muitas vezes não retratava a
realidade) ou eram recrutados entre criminosos;
“Prisioneiros políticos (caso dos irlandeses), prisioneiros de guerra,
vagabundos, filhos de vagabundos foram levados em massa para Barbados,
chegando a população nesta localidade a 37.200 habitantes em 1634.
Capítulo 5 – As colônias de povoamento do
hemisfério norte

A questão da mão-de-obra na Inglaterra x Espanha e Portugal.


Por que a Inglaterra dispunha de excedente de mão-de-obra?
Profundas modificações na agricultura do século XVI – cercamentos
(enclosure) e salários próximos ao nível de subsistência
Migração espanhola de 1509 a 1790 – 150 mil, Inglesa no século XVII – meio
milhão;
Deslocamento da atividade agrícola para a atividade de criação de gado
produtor de lã;
Capítulo 5 – As colônias de povoamento do
hemisfério norte

Região norte da América setentrional “sérias dificuldades para criar uma base
econômica estável” dificuldade para exportar lento desenvolvimento inicial.
A América do Norte, por ter clima parecido com o temperado europeu não tinha
condições ideais para produzir gêneros agrícolas do interesse dos europeus.

Importante: o que se produzia na América Setentrional era exatamente o que se


podia produzir na Europa.
Problemas:
Custo de transporte elevado.
Consequência: Lento desenvolvimento inicial das colônias do norte do
continente que apresentavam baixa rentabilidade e/ou prejuízo nos primeiros
tempos.
Capítulo 5 – As colônias de povoamento do
hemisfério norte

Nas Antilhas, no século XVII, é possível a produção de algodão, anil, café e fumo.

Culturas compatíveis com o regime da pequena propriedade agrícola.


Capítulo 5 – As colônias de povoamento do
hemisfério norte

No decorrer do tempo, ilhas do Caribe, como Cuba, República Dominicana,


Barbados, Jamaica, dentre outras, passaram a produzir gêneros agrícolas como
algodão, anil, café, e principalmente o fumo. Essas atividades produtivas levam
a um aumento populacional de europeus. Porém, este povoamento veio em
parte devido ao rapto de crianças e adultos a Inglaterra, por exemplo, o que se
tornou um problema de calamidade pública.

O aumento da produção de gêneros agrícolas voltados para a exportação criou a


necessidade de maior recrutamento de pessoas como para compor a mão-de-
obra nessas economias do caribe. Porém, essa mão-de-obra era de colonos
europeus, dado que apenas Portugal tinha a primazia de explorar o mercado de
escravos africanos.
Capítulo 5 – As colônias de povoamento do hemisfério
norte

“A colonização de povoamento que se inicia na América no século XVII constitui, portanto,


seja uma operação com objetivos políticos, seja uma forma de exploração de mão-de-obra
europeia que um conjunto de circunstâncias tornara relativamente barata nas ilhas
britânicas. Ao contrário do que ocorrera com a Espanha e Portugal, que se haviam visto
afligidos por uma permanente escassez de mão-de-obra quando iniciaram a ocupação da
América, a Inglaterra do século XVII apresentava um considerável excedente da população,
graças às profundas modificações de sua agricultura iniciadas no século anterior. Essa
população sobrante, que abandonava os campos à medida que o velho sistema de agricultura
coletiva ia sendo eliminado, e que as terras agrícolas eram desviadas para a criação de gado
lanígero, vivia em condições suficientemente precárias para submeter-se a um regime de
servidão por tempo limitado, com o fim de acumular um pequeno patrimônio. A pessoa
interessada assinava um contrato na Inglaterra, pelo qual se comprometia a trabalhar para
outra por um prazo de cinco a sete anos, recebendo em compensação o pagamento da
passagem, manutenção e, ao final do contrato, um pedaço de terra ou uma indenização em
dinheiro. Tudo indica que essa gente recebia um tratamento igual ou pior ao dado aos
escravos africanos.”
Capítulo 5 – As colônias de povoamento do hemisfério
norte

“Particularmente grandes são os prejuízos dados pelas colônias que se instalam


na América do Norte. O êxito da colonização agrícola portuguesa tivera como
base a produção de um artigo cujo mercado se expandira extraordinariamente. A
busca de artigos capazes de criar mercados em expansão constitui a preocupação
dos novos núcleos coloniais. Demais, era necessário encontrar artigos que
pudessem ser produzidos em pequenas propriedades, condição sem a qual não
perduraria o recrutamento de mão-de-obra europeia. Em tais condições, os
núcleos situados na região norte da América Setentrional encontraram sérias
dificuldades para criar uma base econômica estável.”
Capítulo 5 – As colônias de povoamento do
hemisfério norte

“As condições climáticas das Antilhas permitiam a produção de um certo número


de artigos - como o algodão, o anil, o café e principalmente o fumo - com
promissoras perspectivas nos mercados' da Europa. A produção desses artigos era
compatível com o regime da pequena propriedade agrícola e permitia que as
companhias colonizadoras realizassem lucros substanciais ao mesmo tempo que
os governos das potências expansionistas - França e Inglaterra – viam crescer as
suas milícias.”
Capítulo 5 – As colônias de povoamento do
hemisfério norte

“Os esforços realizados, principalmente na Inglaterra, para recrutar mão-de-obra


no regime prevalecente de servidão temporária se intensificaram com a
prosperidade de negócios. Por todos os meios procurava-se induzir as pessoas que
haviam cometido qualquer crime ou mesmo contravenção a vender-se para
trabalhar na América em vez de ir para o cárcere. Contudo, o suprimento de
mão-de-obra deveria ser insuficiente, pois a prática do rapto de adultos e
crianças tendeu a transformar-se em calamidade pública nesse país. Por esse e
outros métodos a população europeia das Antilhas cresceu intensamente, e só a
ilha de Barbados chegou a ter, em 1634, 37.200 habitantes dessa origem.”
Capítulo 6 – Consequências da penetração do
açúcar nas Antilhas

Sucesso na exportação de gêneros tropicais escassez de mão-de-obra europeia


Adoção do uso da mão-de-obra escrava africana estabelecimento de grandes
unidades produtivas como no caso da Virgínia nos Estados Unidos
Aumento da concorrência redução de preços dificuldades às populações
antilhanas
Evidência da fragilidade do sistema de colônias de povoamento nas regiões
tropicais no caribe.
Alteração nos rumos da colonização das Antilhas.
Capítulo 6 – Consequências da penetração do
açúcar nas Antilhas

Colono europeu não era atraído pela pequena propriedade e, desse modo não
consegue competir com os engenhos que utilizam trabalho escravo.

A facilidade dos portugueses no mercado de escravo africano explica-se por seu


vínculo com os vendedores de escravos.

O que explica a redução no preço do açúcar das Antilhas é a competição com o


produto produzido no sul dos Estados Unidos com a utilização de trabalho
escravo.
Capítulo 6 – Consequências da penetração do
açúcar nas Antilhas

No engenho, o que levou ao emprego de mão-de-obra escrava foi a facilidade do


tráfico do negro africano para o trabalho braçal na lavoura, os portugueses não
queriam este tipo de trabalho. Quando os colonos portugueses vinham para o
Brasil era para ocupar funções intermediárias ou mesmo para empreender nas
atividades da produção do açúcar.

A igreja católica num primeiro momento validava a exploração do escravo


africano, tratando-os como seres inferiores, de segunda classe, e com este tipo
de narrativa tentou-se justificar moralmente a escravidão e tal justificativa
moral, não se aplica caso se raptasse algum inglês ou qualquer outro europeu.
Capítulo 6 – Consequências da penetração do
açúcar nas Antilhas

O que incentivou a invasão holandesa no Brasil foi a rivalidade deles com os


espanhóis, pois, apesar de Portugal está sob o domínio espanhol na formação da
União Ibérica, continuava produzindo açúcar no Brasil, estavam sob alguma
forma de controle dos espanhóis.

Com a crise da colonização de povoamento antilhana e a sua expulsão do Brasil,


os holandeses colaboraram com os colonos das Antilhas para a produção e
comercialização do açúcar, não houve ali uma colonização por parte dos
holandeses inicialmente, mas apenas uma cooperação econômica para a
produção do açúcar.
Capítulo 6 – Consequências da penetração do
açúcar nas Antilhas

Nos engenhos utilizava-se grande quantidade de escravos elevando


demasiadamente a população negra e se notando uma redução da população
negra e se notou uma redução da população branca. Inverte-se o sentido da
colônia de povoamento.
Capítulo 6 – Consequências da penetração do
açúcar nas Antilhas

“Senhores da técnica de produção e muito provavelmente aparelhados para a


fabricação de equipamentos para a indústria açucareira, os holandeses se
empenharam firmemente em criar fora do Brasil um importante núcleo produtor
de açúcar.”
Capítulo 6 – Consequências da penetração do
açúcar nas Antilhas

“Em pouco tempo se constituíram nas ilhas poderosos grupos financeiros que
controlavam grandes quantidades de terras e possuíam engenhos açucareiros de
grandes proporções. Dessa forma, menos de um decênio depois da expulsão dos
holandeses do Brasil, operava nas Antilhas uma economia n açucareira de
consideráveis proporções, cujos equipamentos eram totalmente novos, e que se
beneficiava de mais favorável posição geográfica. As consequências dessa
autêntica eclosão de um sistema econômico dentro de outro foram profundas. A
população de origem europeia decresceu rapidamente, tanto nas Antilhas
francesas como nas inglesas, enquanto crescia verticalmente o número de
escravos africanos.”
Capítulo 6 – Consequências da penetração do
açúcar nas Antilhas

Com o desmantelamento da economia de subsistência, os antilhanos passa a


demandar mercadorias da América do Norte, dado que o caribe se concentra
na exportação do açúcar para a Europa vindo a importar produtos como
madeira, animais, alimentos, etc.

Essas exportações fomentam nos Estados Unidos, por exemplo, a indústria de


construção naval, elevando o padrão de desenvolvimento sustentado.

Canadá e Estados Unidos deixam de ser uma economia extrativista e de


atividade de pesca e de peles e passa a se desenvolver estimulando o fluxo da
renda interna.
Capítulo 6 – Consequências da penetração do
açúcar nas Antilhas

“As colônias do norte dos EUA se desenvolveram, assim, na segunda metade do século
XVII e primeira do século XVIII, como parte integrante de um sistema maior no qual o
elemento dinâmico são as regiões antilhanas produtoras de artigos tropicais. O fato de
que as duas partes principais do sistema - a região produtora do artigo básico de
exportação, e a região que abastecia a primeira - hajam estado separadas é de
fundamental importância para explicar o desenvolvimento subsequente de ambas. A
essa separação se deve que os capitais gerados no conjunto do sistema não haja sido
canalizados exclusivamente para a atividade açucareira, que na realidade era á mais
lucrativa. Essa separação, ao tornar possível o desenvolvimento de uma economia
agrícola não-especializada na exportação de produtos tropicais, marca o início de uma
nova etapa na ocupação econômica das terras americanas. A primeira etapa consistira
basicamente na exploração da mão-de-obra preexistente com vistas a criar um
excedente líquido de produção de metais preciosos; a segunda se concretizara na
produção de artigos agrícolas tropicais por meio de grandes empresas que usavam
intensamente mão-de-obra escrava importada.”
Capítulo 6 – Consequências da penetração do
açúcar nas Antilhas

“Nesta terceira etapa surgia uma economia similar à da Europa contemporânea, isto é,
dirigida de dentro para fora, produzindo principalmente para o mercado interno, sem
uma separação fundamental entre as atividades produtivas destinadas à exportação e
aquelas ligadas ao mercado interno. Uma economia desse tipo estava em flagrante
contradição com os princípios da política colonial e somente graças a um conjunto de
circunstâncias favoráveis pôde desenvolver-se. Com efeito, sem o prolongado período
de guerra civil por que passou a Inglaterra no século XVII, teria sido muito mais difícil
aos colonos da Nova Inglaterra firmar-se tão amplamente nos mercados das prósperas
ilhas antilhanas. Demais, a famosa legislação protecionista naval que no último quartel
desse século excluiu os holandeses do comércio das colônias constitui outro forte
aliciante não só para as exportações da Nova Inglaterra como também para sua indústria
de construção de barcos. Por último, o prolongado período de guerras que a Inglaterra
manteve com a França tornou precário o abastecimento das Antilhas com gêneros
europeus, criando para os colonos do norte a situação favorável de abastecedores
regulares das ilhas inglesas e ocasionais das francesas.”
Capítulo 6 – Consequências da penetração do
açúcar nas Antilhas

O lucro gerado pelas exportações de produtos dos EUA e Canadá para as Antilhas
contribuíram para financiar outras atividades econômicas e o desenvolvimento
se dava de dentro pra fora, ou seja, priorizava-se atividades orientadas para
atender a demanda interna, isso faz com que a América do Norte
experimentasse um patamar de desenvolvimento similar ao da Europa.

No caso da colônia portuguesa, os estímulos para a atividade econômica de fora


para dentro a partir da demanda externa europeia pelo açúcar. A renda do
açúcar retornava para a Europa na forma de importação de bens de luxo de
maquinário para o engenho.

Na América do Norte, havia um efeito multiplicador e a renda gerada das


exportações era investida no próprio país.
Capítulo 6 – Consequências da penetração do
açúcar nas Antilhas

A economia açucareira das Antilhas também se desenvolvia suas atividades de


fora para dentro, assim como no caso da América portuguesa para atender a
demanda de açúcar dos europeus.

Desenvolvimento endógeno a renda era consumida internamente


preocupação com os interesses da população sentimento de nação, unidade
nacional.
Capítulo 7 – Encerramento da etapa colonial

No Brasil não se entendiam como nação e a renda se concentravam nas mãos da


classe dirigente, senhores de engenho e drenava para Europa para suprir a
demanda por bens de luxo pelos senhores de engenho.
Capítulo 7 – Encerramento da etapa colonial

“O tratado de Methuen, que criava uma situação de privilégio para os vinhos


portugueses no mercado inglês, é fortemente criticado do ponto de vista dos
novos ideais liberais. O problema fundamental da Inglaterra passa a ser a
abertura dos grandes mercados europeus para as suas manufaturas, e com esse
fim tornava-se indispensável eliminar as ataduras da era mercantilista. Com
efeito, no tratado de 1786, firmado com a França, a Inglaterra pôs praticamente
fim ao privilégio aduaneiro que desde o começo do século haviam gozado os
vinhos portugueses em seu mercado, única contrapartida econômica, que
recebera Portugal nos cento e cinquenta anos anteriores de vassalagem
econômica.”
Capítulo 7 – Encerramento da etapa colonial

“A forma peculiar como se processou a independência da América portuguesa


teve consequências fundamentais no seu subsequente desenvolvimento.
Transferindo-se o governo português para o Brasil sob a proteção inglesa e
operando-se a independência da colônia sem descontinuidade na chefia do
governo, os privilégios econômicos de que se beneficiava a Inglaterra em Portugal
passaram automaticamente para o Brasil independente. Com efeito, se bem haja
conseguido separar-se de Portugal em 1822, o Brasil necessitou vários decênios
mais para eliminar a tutela que, graças a sólidos acordos internacionais,
mantinha sobre ele a Inglaterra.”
Capítulo 7 – Encerramento da etapa colonial

Crise do império português aliança com ingleses (século XVII) com uma
semidependência

Portugal
Entre 1580 e 1640 – União Ibérica.
Consequências da União Ibérica:
i) Portugal perde seus principais entrepostos comerciais no Oriente;
ii) A melhor parte da colônia americana foi ocupada por Holandeses
Bahia 1624-1625; Recife e Olinda 1630-1654.
Capítulo 7 – Encerramento da etapa colonial

Portugal pós União Ibérica.


Acordos com a Inglaterra entre 1642-54-61.
Privilégios concedidos a comerciantes ingleses: liberdade de comércio com as
colônias, controle sobre as tarifas das mercadorias importadas da Inglaterra.
Portugal cedeu Bombaim permanentemente.
Acordo 1661 – incluía cláusula secreta que afirmava que a Inglaterra defenderia
as colônias portuguesas contra quaisquer inimigos.
1661 – A Espanha ainda não reconhecera a separação de Portugal.
Capítulo 7 – Encerramento da etapa colonial

Privilégios aos comerciantes ingleses como “garantia de sobrevivência”


Ex: Tratado de Methuen (1703)

Com o fim do monopólio do açúcar de Portugal fica frágil para manter


militarmente suas colônias e, daí, faz aliança com os ingleses dando a eles
privilégios como soberania e extraterritorialidade para que os ingleses pudessem
julgar alguém de acordo com sua legislação mesmo que estivessem em território
de domínio português, para conceder segurança jurídica para os ingleses.

No tratado de Methuen, o ouro do Brasil ia para Portugal e era transferido para a


Inglaterra, de forma que Portugal era apenas um entreposto. Havia uma relação
de semidepêndencia de forma que Portugal estava sob a tutela da Inglaterra.
Capítulo 7 – Encerramento da etapa colonial

Problemas na Colônia
Desorganização do mercado de açúcar.

Acordo 1703 entre Portugal e Inglaterra


Portugal renunciou a todo o desenvolvimento manufatureiro e transferiu para a
Inglaterra o impulso dinâmico criado pela produção de ouro no Brasil.
Renúncia da França às reivindicações sobre a foz do Amazonas, reconhecimento
pela Espanha dos direitos de Portugal sobre a Colônia de Sacramento (John
Methuen)
Capítulo 7 – Encerramento da etapa colonial

O ouro se torna riqueza fictícia para Portugal e impulsiona o desenvolvimento manufatureiro


inglês.

Ciclo de ouro
- Permite a concentração de reservas que fizeram do sistema bancário inglês o principal centro
financeiro da Europa.
1775 a 1800 – decadência do ouro no Brasil
Forma de independência – 1808, 1822 – transferência dos encargos dos privilégios econômicos
que beneficiava a Inglaterra para o Brasil.

Tratado de Comércio e Navegação


Tarifas de importação produtos ingleses no Brasil: 15% Inglaterra; 16% Portugal; 24% demais
países.
MUITO OBRIGADO!

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