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AULA 08 – ECONOMIA

AÇUCAREIRA I
Celso Furtado – Caps. 1 a 4
Prof. Edivaldo Constantino
ESTRUTURA DA AULA
Da expansão comercial à empresa agrícola.
Fatores do êxito da empresa agrícola.
Razões do monopólio.
Desarticulação do sistema
DA EXPANSÃO COMERCIAL À EMPRESA AGRÍCOLA
A ocupação econômica das terras americanas constitui um episódio da expansão comercial
da Europa. Mas também envolve questões políticas.

“A descoberta das terras americanas é, basicamente, um episódio dessa obra ingente. [...] A
legenda de riquezas inapreciáveis por descobrir corre a Europa e suscita um enorme interesse
pelas novas terras. Esse interesse contrapõe Espanha e Portugal, “donos” dessas terras, às
demais nações europeias. A partir desse momento a ocupação da América deixa de ser um
problema exclusivamente comercial: intervêm nele importantes fatores políticos.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. 34 edição. p. 26.


DA EXPANSÃO COMERCIAL À EMPRESA AGRÍCOLA
Ouro espanhol  Pressão política  Ocupação econômica do território  Para
Portugal, isso significava desviar recursos de empresas muito mais produtivas no
Oriente.  Mas existia a expectativa de encontrar ouro no interior do Brasil.

Portugal tinha a tarefa de encontrar uma forma de utilização econômica das terras
americanas que não fosse a fácil extração de metais preciosos.
 Disso resultou a exploração agrícola.
DA EXPANSÃO COMERCIAL À EMPRESA AGRÍCOLA

“De simples empresa espoliativa e extrativa (...), a América passa a constituir parte
integrante da economia reprodutiva europeia, cuja técnica e capitais nela se aplicam
para criar de forma permanente um fluxo de bens destinados ao mercado europeu.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. 34 edição. p. 26.


FATORES DO ÊXITO DA EMPRESA AGRÍCOLA
1) Portugueses haviam já possuíam experiência em produção, do açúcar, em escala
relativamente grande, nas ilhas do Atlântico.
 Conhecimento técnico.
 Desenvolvimento de equipamentos para os engenhos açucareiros.

2) Contribuição dos holandeses no campo comercial.


 Desde cedo a produção portuguesa passa a ser encaminhada para Flandres. Interesses da Antuérpia
e Amsterdam. Os flamengos recolhiam o produto em Lisboa, refinavam e distribuíam por toda a
Europa (Báltico, França e Inglaterra).
FATORES DO ÊXITO DA EMPRESA AGRÍCOLA

“Especializados no comércio intra-europeu, grande parte do qual financiavam, os


holandeses eram nessa época o único povo que dispunha de suficiente organização
comercial para criar um mercado de grandes dimensões para um produto praticamente
novo, como era o açúcar.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. 34 edição. p. 33.


FATORES DO ÊXITO DA EMPRESA AGRÍCOLA
3) O holandeses foram importantes não apenas experiência comercial. Parte
substancial dos capitais requeridos pela empresa açucareira viera dos Países Baixos.
 Os holandeses não se limitaram a financiar a refinação e comercializar o produto. Também
participaram do financiamento das instalações produtivas, bem como na importação de mão-de-obra
escrava.

4) Uso de mão-de-obra escrava da África.


 Os portugueses já eram senhores de um completo conhecimento do mercado africano de escravos.
Mediante recursos suficientes, seria possível ampliar esse negócio e organizar a transferência para a
nova colônia da mão-de-obra barata, sem a qual ela seria economicamente inviável.
FATORES DO ÊXITO DA EMPRESA AGRÍCOLA
“Cada um dos problemas referidos (técnica de produção, criação de mercado,
financiamento e mão-de-obra) pôde ser resolvido no tempo oportuno, independente da
existência de um plano geral preestabelecido.(...) Não há dúvida de que por trás de tudo
estavam o desejo e o empenho do governo português de conservar a parte que lhe cabia
das terras da América, das quais sempre se esperava que um dia sairia o ouro em larga
escala.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. 34 edição. p. 35-36.


FATORES DO ÊXITO DA EMPRESA AGRÍCOLA
“Quaisquer que pudessem ter sido os números reais, não há dúvida de que a rápida
expansão da indústria açucareira no Brasil, de 1575 a 1600, era um dos maiores
acontecimentos do mundo atlântico da época. [...] No fim do século, um produtor
podia vangloriar-se junto ao governo de Lisboa de que o açúcar do Brasil era mais
lucrativo para a monarquia ibérica do que toda a pimenta, especiarias, joias e
mercadorias de luxo que os navios mercantes importavam da ‘Goa dourada’.”

BOXER, Charles R. O Império Marítimo Português. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, pp.
118-119.
RAZÕES DO MONOPÓLIO
“Sem embargo, os espanhóis continuaram concentrados em sua tarefa de extrair metais
preciosos. Ao aumentar a pressão de seus adversários, limitaram-se a reforçar o cordão
de isolamento em torno de seu rico quinhão.”

“A Espanha não chegou a interessar-se em fomentar um intercâmbio com as colônias ou


entre estas. A política espanhola estava orientada no sentido de transformar as colônias
em sistemas econômicos o quanto possível autossuficientes e produtores de um excedente
líquido que se transferia periodicamente para a Metrópole.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. 34 edição. p. 37-38.


RAZÕES DO MONOPÓLIO
Grande afluxo de metais fortalece o Estado e desestimula o desenvolvimento de
atividades produtivas
Aumentam os repasses de renda da Coroa para a nobreza
Espanha torna-se centro de uma inflação crônica que se propaga pela Europa
Implicações
 Persistente déficit na balança comercial
 Estímulo às demais economias europeias
 Relações metrópole-colônia baseadas na transferência de metais e não nas trocas mercantis
RAZÕES DO MONOPÓLIO
Espanha tinha interesse em explorar metais preciosos.  Sem dinamismo para suas
colônias  Grande fluxo de metais preciosos que provocou profundas
transformações estruturais na economia espanhola.

Aumento do poder econômico do Estado  Elevação de gasto público  Inflação 


Déficit na balança comercial (aumento das importações e diminuição das
exportações).
RAZÕES DO MONOPÓLIO
Suponha aumento repentino das riquezas (novas reservas de gás natural ou aumento no preço
das commodities).

E= US$ 1 / R$ 5  Câmbio nominal baseline E* = E .(P*/P)  Câmbio real


P*=preços internacionais / P=preços domésticos

Aumento das receitas de exportação de produto primário  Aumento de moeda estrangeira


 Sua moeda ganha valor  Câmbio nominal aprecia  E o câmbio real também.

E = US$ 1 / R$ 3  Câmbio nominal apreciou

*Note: Se o aumento das receitas de exportações for via preço das commodities, o efeito sobre
o câmbio real é direto.
RAZÕES DO MONOPÓLIO
Em consequência, os metais preciosos que a Espanha recebia da América sob a
forma de transferências unilaterais provocavam um afluxo de importações de efeitos
negativos sobre a produção interna de altamente estimulante para as demais
economias europeias.

A possibilidade de viver direta ou indiretamente de subsídios do Estado fez crescer o


número de pessoas economicamente inativas.

Fora da exploração mineira, nenhuma outra empresa econômica de envergadura


chegou a ser encetada.
RAZÕES DO MONOPÓLIO
“Não fora o retrocesso da economia espanhola, e a exploração de manufaturas de produção
metropolitana para as colônias teria necessariamente evoluído, dando lugar a vínculos
econômicos de natureza bem mais complexa que a simples transferência periódica de um
excedente de produção sob a forma de metais preciosos. O consumo de manufaturas europeias
pelas densas populações da meseta mexicana e do altiplano andino teria criado a necessidade
de uma contrapartida de exportações de produtos locais. Uma transformação desse tipo
provocaria necessariamente transformações nas estruturas arcaicas das economias indígenas e
possibilitaria maior penetração de capitais e técnicas europeus.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. 34 edição. p. 39-40.


RAZÕES DO MONOPÓLIO
Se a colonização espanhola tivesse evoluído nesse sentido, as dificuldades
enfrentadas pela empresa portuguesa seriam bem maiores.
 Motivos?
 Terras de melhor qualidade para produzir açúcar e mais próximas da Europa.
 Mão-de-obra mais barata.
 Poder financeiro.

Os espanhóis poderiam ter dominado o mercado de açúcar! Não ocorreu devido a


própria decadência econômica da Espanha.
RAZÕES DO MONOPÓLIO

“Cabe portanto admitir que um dos fatores do êxito da empresa colonizadora agrícola
portuguesa foi a decadência mesma da economia espanhola, a qual se deveu
principalmente à descoberta precoce dos metais preciosos.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. 34 edição. p. 39-40.


DESARTICULAÇÃO DO SISTEMA
União Ibérica  Repercutiu profundamente na colônia portuguesa na América 
Distribuir o açúcar pela Europa sem a cooperação dos comerciantes holandeses era
impraticável.  Ocupação do Nordeste brasileiro (Recife).

Consequências mais duradouras do que a ocupação militar.  Holandeses


adquiriram conhecimento técnico e organizacionais da indústria açucareira. 
Indústria concorrente no Caribe.  Perda do monopólio do açúcar.
DESARTICULAÇÃO DO SISTEMA
“O sistema brasileiro foi considerado o melhor no século XVI, como se evidencia pelo
desejo de outras potências coloniais em copiá-lo. Mestres de açúcar e outros especialistas
portugueses foram empregados no México no período de 1580 a 1640 e, em Barbados,
os ingleses aprenderam a fazer açúcar barreado enviando pessoas a Pernambuco para
adquirir o conhecimento necessário.”

SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São


Paulo: Companhia das Letras, 1988, p. 116.
DESARTICULAÇÃO DO SISTEMA
“Nos terceiro quartel do século XVII os preços do açúcar estarão reduzidos à metade e
persistirão nesse nível relativamente baixo durante todo o século seguinte.”

“Tudo indica que a renda real gerada pela produção açucareira estava reduzida a um
quarto do que havia sido em sua melhor época.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. 34 edição. p. 44.


AULA 08 – ECONOMIA
AÇUCAREIRA I
Celso Furtado – Caps. 1 a 4
Prof. Edivaldo Constantino

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