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AULA 04 – A TEORIA

ECONÔMICA DE CELSO
FURTADO: FORMAÇÃO
ECONÔMICA DO BRASIL
MAURÍCIO COUTINHO
Prof. Edivaldo Constantino
CELSO FURTADO Pombal, Paraíba, 1920-
2004
ESTRUTURA DA AULA
Introdução
Objetivo
A visão da teoria econômica de Furtado
Os ciclos históricos da economia brasileira
Algumas características da análise econômica de Furtado
INTRODUÇÃO
Mais influente e renomado economista brasileiro de sua geração
­ Parceria com Raul Prebisch na CEPAL
­ Governo
­ Carreira acadêmica na Europa e EUA

Importância do livro “Formação Econômica do Brasil”para a difusão do


pensamento econômico no país.
­ Estimlou pesquisas na área
­ Estimulou interesse dos leitores pela teoria econômica
OBJETIVO
Reconstruir a teoria econômica subjacente à esquematização histórica do autor

Como?
­ Revisão da formação de Furtado como economista, assim como uma atenção ao modo que ele
concebia a análise econômica;
­ Breve revisão dos principais ciclos econômicos;
­ Interpretação canônica de Furtado
­ Identificação dos mecanismos e instrumentos de análise econômica mais atuantes na obra;
­ Estabelecer conexões entre pontos históricos e teóricos da ciência econômica.
A VISÃO DA TEORIA ECONÔMICA DE
FURTADO
Cursou Direito
­ Economista autodidata

“Sociólogos e historiadores conduziram Furtado à Economia. Não


levaram diretamente à teoria econômica, porém mostraram-lhe a
importância da economia para melhor compreender a história”
A VISÃO DA TEORIA ECONÔMICA DE
FURTADO
Doutorado em Paris (1948)
­ Ampla revisão da teoria econômica
­ Smith, Ricardo e Marx, Wicksell, Cassel e Myrdal

Furtado à Economia à Problemas do desenvolvimento


­ Todos os grandes sistemas teóricos (clássico, neoclássico e marxista) fracassaram em deixar uma
contribuição decisiva para o densenvolvimento econômico
­ Combinação entre o raciocínio abstrato e o embasamento na realidade histórica.
A VISÃO DA TEORIA ECONÔMICA DE
FURTADO
Modelos abstratos foram considerados deficientes
­ Irreversibilidade dos processos históricos
­ Diferenças estruturais entre as economias

Visão da teoria econômica de Furtado


­ Duplo caráter
­ Abstrato
­ Histórico

“Aplicação de princípios gerais à realidade econômica dotada de


historicidade.”
CELSO FURTADO
Historiador econômico sem ser economista e nem historiador
Bacharel em direito pela UFRJ (1944)
Serviu na FEB, na Itália (1944)
Doutorado na Sorbonne: curso “Estudos Superiores em Economia”
(1946-1948)
­ Tese: Economia Colonial no Brasil nos séculos XVI e XVII (1948)
CELSO FURTADO
CEPAL (1949)
Grupo Misto CEPAL-BNDE, base do Plano de Metas
Cambridge (1957): estudos de pós-graduação – FEC
BNDE (1958)
SUDENE (1960)
Ministério do Planejamento (1962) e Plano Trienal
Cassado pelo golpe (1964)
PUBLICAÇÕES
Tese defendida na Sorbonne, 1948
Artigo: “Características gerais da economia brasileira”, Revista
Brasileira de Economia, 1950
Livro “A Economia Brasileira”, 1954
Livro “Formação Econômica do Brasil”, 1959
OS CICLOS HISTÓRICOS DA ECONOMIA BRASILEIRA
FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL
FEB
­ Tentativa de reconstrução racional da história econômica brasileira

“Esboço do processo histórico da economia brasileira”


CIRSCUNTÂNCIAS EM TORNO DA
REDAÇÃO DE FEB
Visão da história econômica brasileira como uma sucessão de ciclos não foi
inovadora

Pergunta: Qual foi a inovação?


­ Descrição dos mecanismos econômicos de cada ciclo
­ Interpretação original da transição da agricultura para a indústria
CIRSCUNTÂNCIAS EM TORNO DA
REDAÇÃO DE FEB
[...] se Caio Prado nos dá o painel de uma economia comercial-
exportadora, Furtado desenha com mais nitidez as transformações
internas da economia brasileira desde o período colonial. [...] E
sobretudo, põe ênfase naquilo que passou a ser seu tema preferido: a
formação do mercado interno pós Abolição e a dinâmica que poderia levar
à industrialização e ao desenvolvimento.

CARDOSO, Fernando Henrique. Prefácio. In COELHO, Francisco da Silva & GRANZIERA, Rui
Guilherme. Celso Furtado e a Formação Econômica do Brasil. Edição Comemorativa dos 50
anos de Publicação (1959-2009), p. 13.
FORMAÇÃO
ECONÔMICA
DO BRASIL,
1959.
Primeira edição. Fundo de
Cultura.
FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL: A
ESTRUTURA DO LIVRO
Simples, composto por 5 partes:
­ Fundamentos econômicos da ocupação territorial
­ Economia escravista de agricultura tropical
­ Economia escravista mineira
­ Economia de transição para o trabalho assalariado
­ Economia de transição para um sistema industrial

Poucas referências bibliográficas


Não há diálogo com os pensadores dos anos 1930
Não há menção a Caio Prado Júnior – ainda que a influência
seja clara
O INSTRUMENTAL TEÓRICO DO LIVRO
Reconstrução racional feita a partir da análise dos “ciclos” alicerçada
na análise dos fluxos de renda
Ideia clara de economia voltada para fora, pelo menos no início
Poucas variáveis; poucos instrumentos de análise
Interesse especial em entender:
­ As origens da indústria no Brasil
­ A formação do mercado de trabalho
­ A criação do mercado interno
­ O deslocamento do centro dinâmico
CIRSCUNTÂNCIAS EM TORNO DA
REDAÇÃO DE FEB
FEB representa uma sequência de dois trabalhos
­ Economia Colonial Brasileira
­ A Economia Brasileira

Incorporou experiências da CEPAL no tratamento das restrições


externas e da taxa de câmbio
OS GRANDES CICLOS DA ECONOMIA
O ponto de referência de FEB é o desenho básico dos fluxos de
renda, adaptado a cada um dos ciclos econômicos.

Descoberta do Brasil
­ Episódio da expansão mercantilista portuguesa
OS GRANDES CICLOS DA ECONOMIA
Açúcar
­ Plantation canavieira
­ Escravidão

Mecânica do ciclo açuareiro


­ Inclui fluxo de renda, contraste entre recursos abundantes e escassos, análise dos
mecanismos de ajustamento entre oferta e demanda.
OS GRANDES CICLOS DA ECONOMIA
Proprietários de Terra à Empréstimo de comerciantes à Importam
equipamentos e escravos à Exportam (receita) à Paga
comerciantes.

Outra parte da receita é o lucro à Proprietários consomem


mercadorias europeias ou na expansão do negócio à Lucro se
transforma em gasto no exterior.
OS GRANDES CICLOS DA ECONOMIA
Como não existe trabalho assalariado, os lucros representam a única
renda monetária
­ Circula pouco dinheiro no território colonial
­ Dificuldade na geração de atividades internas
­ Letargia

Sistema dual
­ Açúcar: setor dinâmico e de alta produtividade
­ Subsistência: letárgico e de baixa produtividade
OS GRANDES CICLOS DA ECONOMIA
Pergunta: O que vem a ser o setor de “subsistência”?
­ Atividades fora do núcleo exportador
­ Sinônimo de baixa produtividade.

Furtado não admite fluxos de moeda entre esses setores


­ Transações residuais

A distinção entre setores líderes e atrados está associada à capacidade de


gerar crescimento econômico.
OS GRANDES CICLOS DA ECONOMIA
A expansão da economia depende do dinamismo da demanda por
açúcar e do surgimento de competidores coloniais.

Terra é abundante. Capital é escasso.

Progesso técnico é desconsiderado


OS GRANDES CICLOS DA ECONOMIA
O sistema se expande “horizontalmente”.
Limites
­ Elevação dos custos (terra livre é distante)
­ Exaustão de terras em boas localização
­ Redução no preço do açúcar

Crise da plantation canavieira não leva à diversificação da economia.


­ Produtores não conseguem custear novos escravos ou ocupar novas terras
­ O sistema não desaparece, mas entra em um estágio letárgico com consequências profundas
OS GRANDES CICLOS DA ECONOMIA
Ouro
Novo ciclo expansivo
­ Movido pela demanda externa
­ Mas o fluxo de renda diferiu um pouco

Ciclo do ouro foi de curta duração


Confinado a uma região restrita
­ Facilitou o controle da Coroa.
OS GRANDES CICLOS DA ECONOMIA
Escravos trabalhavam apenas nas minas
­ Mas tinham outros setores (alimentos)
­ Existiam atividades relevantes fora do núcleo minarador
­ Efeito multiplicador
­ Estimulou a urbanização

Lucros não muito elevados, devido aos tributos


OS GRANDES CICLOS DA ECONOMIA
Pergunta: Por que não se desenvolveu um mercado interno, já que haviam
outros setores na economia mineradora?
­ Baixa capacitação técnica da população livre

Condições circunstanciais bloquearam a transição para uma economia auto-


expansiva.

Fim do ciclo
­ População se dispersa na “economia de subsitência”
OS GRANDES CICLOS DA ECONOMIA
Café

Ponto de inflexão na economia brasileira


Primeira atividade econômica dependente de um uso massivo de
trabalho livre no Brasil
Novas características no fluxo de renda
OS GRANDES CICLOS DA ECONOMIA
Exportação de café garantes divisas internacionais à Pagamento de
bens de consumo à Pagamento de salários ou aquisação de outros
insumos para a economia cafeeira.

Salários e outras despesas ativam o mercado interno e o mecanismo


multiplicador à Atividades urbanas.
OS GRANDES CICLOS DA ECONOMIA

Expansão do café
­ Dependia da demanda externa
­ Furtado: Modelo de crescimento com oferta ilimitada de trabalhador
­ L e T são abundantes
­ K era escasso

Resultado de cirscunstâncias particulares


­ Influência da burguesia cafeeira sobre a política econômica do país
­ Brasil era quase que um monopolista no setor
OS GRANDES CICLOS DA ECONOMIA
Grande Depressão de 1930 pôs fim a esse ciclo

Governo socorre
­ Garantia de preços
­ Queima de estoques

Evitou um declínio mais drástico da renda


OS GRANDES CICLOS DA ECONOMIA
Industrialização

Consequência direta do desenvolvimento do mercado interno


produzido pelo café das políticas de proteção adotadas
Resposta às restrições às importações
­ Processo de substituição de importações
OS GRANDES CICLOS DA ECONOMIA
Café e industrialização
­ Baseados em um fluxo de renda inteiramente monetário
­ Envolve o mecanismo multiplicador

Industrialização
­ Demanda interna
­ Capacidade da economia adpatar sua estrutura de oferta
­ Descontinuidades na estrutura industrial interna
­ Infraestrutura
­ Pequeno mercado interno à Economias de Escala na indústria
OS GRANDES CICLOS DA ECONOMIA

Industrialização à Mudança nos preços relativos à Que são


subprodutos dos movimentos de câmbio à Colapso das exportações.
ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA ANÁLISE
ECONÔMICA DE FURTADO

Economias coloniais são depósitos de fatores de produção ociosos

O comércio internacional cumpre o papel de mobilizar os recursos


ociosos e de despertar uma economia adormecida
­ Ao terminar o surto de exportação, a economia retorna a condição de sub-utilização
ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA ANÁLISE
ECONÔMICA DE FURTADO
“Papel do comércio internacional e os mecanismos que determinam
uma elevação/queda na produtividade”.

Pergunta: Como aumentar a produtividade?

­ Absorção de recursos sub-utilizados


­ Elevação de preços internacionais
­ Crescimento da produtividade “smithiano”
ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA ANÁLISE
ECONÔMICA DE FURTADO

“A chave dos aumentos de produtividade nas economias coloniais


residia nos preços dos produtos de exportação”.

A constituição de um mercado de trabalho assalariado é um ponto


central no esquema de Furtado.
CONCLUSÃO
Principais instrumentos presentes na reconstrução da história
econômica brasileira
­ Ajustamento entre oferta e demanda
­ Fluxo de renda
­ Mecanismo multiplicador

“O ajustamento da oferta e demanda em trajetórias instáveis e


afastadas do equilíbrio é a pedra de toque da dinâmica de Furtado”
CONCLUSÃO
Esquema analítico de FEB

Decomposição da OA e DA + Estrutura de classes + Distribuição de


renda, produção, exportação e importação + Distinção entre bens
de consumo e investimento
CONCLUSÃO
Fluxo de renda
­ Distinção entre renda monetária e não-monetária
­ Ênfase no comércio internacional

Mecanismo multiplicador
­ Renda não-monetária não ativa

Transação monetária X Economia de subsistência


AULA 04 – A TEORIA
ECONÔMICA DE CELSO
FURTADO: FORMAÇÃO
ECONÔMICA DO BRASIL
MAURÍCIO COUTINHO
Prof. Edivaldo Constantino

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