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ECONOMIA MINERATÓRIA II

Furtado (Caps. 13, 14 e 15)


Prof. Edivaldo Constantino
ESTRUTURA DA AULA
Povoamento e articulação das regiões meridionais
Fluxo da renda
Regressão econômica e expansão da área de subsistência
POVOAMENTO E ARTICULAÇÃO DAS REGIÕES
MERIDIONAIS
“Os governantes portugueses cedo se deram conta do enorme capital que, para a busca
de minas, representavam os conhecimentos que do interior do país tinham os homens de
Piratininga. Com efeito, se estes já não haviam descoberto o ouro em suas entradas
pelos sertões, era por falta de conhecimentos técnico. A ajuda técnica que recebera, da
Metrópole foi decisiva.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. Pag. 117.


POVOAMENTO E ARTICULAÇÃO DAS REGIÕES
MERIDIONAIS
Pobreza e prostração de Portugal e Brasil.
Rapidez com que se desenvolveu a economia mineratória

“De Piratininga a população emigrou em massa, do Nordeste se deslocaram grandes


recursos, principalmente sob a forma de mão-de-obra escrava, e em Portugal se formou
pela primeira vez uma grande corrente migratória espontânea com destino ao Brasil. O
facies da colônia iria modificar-se fundamentalmente.”
Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. Pag. 118.
POVOAMENTO E ARTICULAÇÃO DAS REGIÕES
MERIDIONAIS
Economia mineira abriu um ciclo migratório europeu novo para a colônia.
Oferecia possibilidades a pessoas com recursos limitados, dado o perfil de
exploração do ouro: não eram grandes minas e sim aluvião.
Coroa toma medidas para evitar o fluxo migratório.
POVOAMENTO E ARTICULAÇÃO DAS REGIÕES
MERIDIONAIS
A base da economia mineira era o escravo. Mas eles não eram maioria.

A organização do trabalho permite ao escravo trabalhar por conta própria, embora


pagando uma quantia fixa ao seu dono.
 Abre a possibilidade de alforria.
 Efeitos no desenvolvimento mental do escravo.

Economia mineira oferece possibilidade de ascensão social para a classe de homens


livres.
 Diferente da sociedade do açúcar.
POVOAMENTO E ARTICULAÇÃO DAS REGIÕES
MERIDIONAIS
“A natureza mesma da empresa mineira não permitia uma ligação á terra do tipo da que
prevalecia nas regiões açucareiras. O capital fixo era reduzido, pois a vida de uma
lavra era sempre algo incerto. A empresa estava organizada de forma a poder deslocar-
se em tempo relativamente curto. Por outro lado, a elevada lucratividade do negócio
induzia a concentrar na própria mineração todos os recursos disponíveis. A combinação
desses dois fatores – incerteza e correspondente mobilidade da empresa, alta
lucratividade e correspondente especialização – marca a organização de toda atividade
mineira.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. Pag. 121.


POVOAMENTO E ARTICULAÇÃO DAS REGIÕES
MERIDIONAIS
Lucratividade maior nas etapas iniciais da mineração
Excessiva concentração de trabalhadores
Dificuldades de abastecimento
Fome e riqueza.

“A elevação nos preços dos alimentos e dos animais de transporte nas regiões vizinhas
constituiu o mecanismo de irradiação dos benefícios econômicos da mineração.”
Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. Pag. 121.
POVOAMENTO E ARTICULAÇÃO DAS REGIÕES
MERIDIONAIS
A pecuária no sul – não obstante sua baixa rentabilidade, subsistia graças às
exportações de couro – passa por uma revolução.
 O preço do gado sobe.

Inclusive o gado do Nordeste também, incentivando um deslocamento.


 Mas isso acarretaria aumento do preço nos engenhos. Reação dos senhores de engenho.
POVOAMENTO E ARTICULAÇÃO DAS REGIÕES
MERIDIONAIS
Outras consequências para regiões vizinhas: sistema de transporte.
 Longe do litoral, dispersa e em região montanhosa. População dependia do sistema de transporte
para tudo.
 Tropa de mulas representa a infra-estrutura do sistema.
 Surgimento de um mercado para animais de carga.
 Região do Rio Grande do Sul.

A economia mineira, através de seus efeitos indiretos, permitiu que se articulassem as


diferentes regiões do sul do país.
POVOAMENTO E ARTICULAÇÃO DAS REGIÕES
MERIDIONAIS

“É um equívoco supor que foi a criação que uniu essas regiões. Quem as uniu foi a procura de
gado que se irradiava do centro dinâmico constituído pela economia mineira.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. Pag. 123.


FLUXO DA RENDA
Em algumas regiões a curva de produção subiu e baixou rapidamente, provocando
grande fluxos e refluxos populacionais.

Em outras, isso foi mais regular.


 Isso permitiu a fixação definitiva de núcleos populacionais.

Regiões mais ricas se incluem as de vida produtiva mais curta.


 Era mais fácil retirar o ouro do rio.
FLUXO DA RENDA
Apogeu do ouro: 1750 e 1760  Exportação em 2.000.000 de libras.

Renda média inferior á economia açucareira na sua etapa de prosperidade, mas


mercado apresentava maiores potencialidades.
 Menor nível de importação.
 Renda menos concentrada.
 População livre maior.
 População em áreas urbanas.

Distância que encarece os produtos.


 Incentivo para o desenvolvimento do mercado interno. Mas isso foi praticamente nulo!
PRODUÇÃO DE OURO NO BRASIL
“O Brasil foi o maior
produtor mundial de ouro
durante o século XVIII, com
a soma de 60% do ouro
minerado no mundo. No
século XIX, perde a posição
pelas descobertas das
minas na Califórnia,
Austrália, África do Sul e
Alasca. De 1801 a 1850 a
produção brasileira foi de
18,6% da produção mundial
e de 1851 a 1900 caiu para
1,6%.”
PRODUÇÃO DE OURO NO BRASIL
PRODUÇÃO DE OURO NO BRASIL
FLUXO DA RENDA

“Esse conjunto de circunstâncias tornava a região mineira muito mais propícia ao


desenvolvimento de atividades ligadas ao mercado interno do que havia sido até então a
região açucareira. Contudo, o desenvolvimento endógeno - isto é, com base no seu
próprio mercado - da região mineira foi praticamente nulo.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. Pag. 126.


FLUXO DA RENDA
Pergunta: Porque não se desenvolveu atividades significativas de manufatura
internamente?

 Portugal  Política de dificultar manufaturas nas colônias.


 Incapacidade técnica para iniciar atividade de manufatura.

Tratado de Methuen (Portugal e Inglaterra)


FLUXO DA RENDA
“Em realidade, se o ouro criou condições favoráveis ao desenvolvimento endógeno da
colônia, não é menos verdade que dificultou o aproveitamento dessas condições ao
entorpecer o desenvolvimento manufatureiro da Metrópole.”

“A primeira condição para que o Brasil tivesse algum desenvolvimento manufatureiro na


segunda metade do século XVIII, teria de ser o próprio desenvolvimento manufatureiro
de Portugal.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. Pag. 127.


FLUXO DA RENDA
Com a decadência de Portugal, reduziu-se a sua capacidade de importar.

Incentivos para que se produzam internamente manufaturas.

Fomento direto e indireto a instalação de manufaturas.


 Inclusive conseguiu abolir as importações de tecidos.

Reação dentro de Portugal dos produtores de vinhos.

Assinado o Tratado de Methuen em 1703.


FLUXO DA RENDA
Prejuízo na balança comercial portuguesa.

Se não fosse o ouro, provavelmente existiriam tensões em Portugal tentando a volta


da política protecionista.

Mas tinha o ouro! Ele sustentava o acordo!

Entretanto, os efeitos sistêmicos do ouro foram direto para a Inglaterra, sem nenhum
efeito sobre a economia de Portugal.
FLUXO DA RENDA

“Numa época dominada pelo mais estrito mercantilismo e em que era particularmente difícil
desenvolver um comércio de manufaturas, a Inglaterra encontrou na economia luso-
brasileira um mercado em rápida expansão e praticamente unilateral. Suas exportações
eram saldadas em ouro, o que adjudicava à economia inglesa uma excepcional flexibilidade
para operar no mercado europeu.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. Pag. 130.


FLUXO DA RENDA

“E o pior é que a maior parte do ouro que se tira das minas passa em pó e em moedas para
os reinos estranhos e a menor é a que fica em Portugal e nas cidades do Brasil [...]”

ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1967.
(Coleção Roteiro do Brasil, vol. 2), p. 304.
AÇÚCAR VERSUS OURO
Proporção entre brancos e escravos
Meio social mais complexo
Inserção de homens brancos despossuídos
Abertura para arranjos não tradicionais entre escravos e senhores
Possibilidades reais de mobilidade social
AÇÚCAR VERSUS OURO
DESSEMELHANÇAS AÇÚCAR / OURO
Potencial diferenciado para um desenvolvimento de caráter autopropulsionado
OURO >>> AÇÚCAR

SIMILARIDADES AÇÚCAR / OURO


Decadência da produção aurífera trouxe novamente,
segundo Furtado, a involução econômica
POTENCIAL NÃO SE REALIZA
REGRESSÃO ECONÔMICA E EXPANSÃO DA ÁREA
DE SUBSISTÊNCIA
Não foram criadas formas permanentes de atividades econômicas.
Declínio do ouro com rápida e geral decadência.
Mas o regime de escravidão impediu que o colapso da produção de ouro criasse
fricções sociais de maior vulto.
O sistema se descapitalizava, mas guardava sua estrutura.
REGRESSÃO ECONÔMICA E EXPANSÃO DA ÁREA
DE SUBSISTÊNCIA
“Ao contrário da economia açucareira – que defendia até certo ponto sua rentabilidade conservando
uma produção relativamente elevada – na mineração a rentabilidade tendia a zero e a desagregação da
empresas produtivas era total.
(...) Uns poucos decênios foram o suficiente para que se desarticulasse toda a economia da mineração,
decaindo os núcleos urbanos e dispersando-se grande parte de seus elementos numa economia de
subsistência, espalhados por uma vasta região em que eram difíceis as comunicações e isolando-se os
pequenos grupos uns dos outros.”
Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. Pag. 134.
REGRESSÃO ECONÔMICA E EXPANSÃO DA ÁREA
DE SUBSISTÊNCIA
Como no caso do Nordeste, teremos crescimento populacional associado com
atrofiamento econômico.

Nunca houve, no continente americano, um caso de involução tão rápida e completa


de um sistema constituído população, principalmente, de origem europeia.
REGRESSÃO ECONÔMICA E EXPANSÃO DA ÁREA
DE SUBSISTÊNCIA
[Furtado]“(...) sublinha a capacidade da grande unidade escravista em se refugiar das
recorrentes crises através da involução para atividades voltadas para o autoconsumo,
evitando assim seu desmantelamento e, principalmente, permitindo a manutenção da
força de trabalho escrava. A nosso ver, (...) seria preferível pensá-la [a reação da
economia mineradora] como uma acomodação evolutiva, (...)”

Douglas Cole Libby. Transformação e trabalho em uma economia escravista: Minas Gerais no
século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1988, p. 32.
REGRESSÃO ECONÔMICA E EXPANSÃO DA ÁREA
DE SUBSISTÊNCIA
“(...) cuja peculiaridade reside nas dificuldades encontradas pela província em
desenvolver uma produção exportável em substituição ao metal e às pedras preciosas.
Dessa forma, a diversificação da economia mineira e a importância do setor de
agricultura de subsistência mercantilizada ou não, bem como o desenvolvimento de uma
indústria, constituem (...) uma reação secular específica da organização econômica e
social escravista de Minas à crise que lhe tirou a razão de ser original.”

Douglas Cole Libby. Transformação e trabalho em uma economia escravista: Minas Gerais no
século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1988, p. 32.
PARTINDO DE FURTADO...
Se tem um claro cenário de decadência
Involução econômica rápida e completa
Abundância de mão de obra permitiu o avanço rápido e intenso da cafeicultura
DEBATES
DEBATES
“A ideia de que Minas tenha sido um exportador de escravos na primeira metade do
século é contestada, mais que por qualquer outra evidência, pelo vigoroso crescimento
da população escrava da província. Em 1808, Minas tinha 148.772 escravos,
contingente esse que cresceu para 168.543 em 1819, constituindo-se na maior
população cativa do Brasil e representando 15,2% do total.”

Roberto Borges Martins Minas Gerais, século XIX: tráfico e apego à escravidão numa
economia não-exportadora Estudos Econômicos 13 (1): 181-209, jan./abr. 1983, p. 187
DEBATES
“Seu rápido crescimento entre 1819 e 1872 reforçou essa posição e a participação
nessa última data passou a 24,7%. Nesse período, a população escrava de Minas
cresceu a uma taxa cerca de duas vezes e meia maior que a média nacional e o seu
aumento absoluto foi igualado apenas pelo do Rio de Janeiro. Na época do censo,
Minas Gerais tinha mais escravos que as dez províncias ao norte da Bahia, Goiás, Mato
Grosso e Paraná, somados.”

Roberto Borges Martins Minas Gerais, século XIX: tráfico e apego à escravidão numa
economia não-exportadora Estudos Econômicos 13 (1): 181-209, jan./abr. 1983, p. 187
DEBATES
“É totalmente fora de cogitação que a província tenha contribuído com mão de obra
cativa para o surgimento e a expansão da indústria cafeeira do Vale do Paraíba. Na
verdade, é muito pouco provável que na primeira metade do século tenham ocorrido
quaisquer transferências significativas de escravos entre as províncias brasileiras,
sobretudo porque não havia razão para isso. Enquanto existiu o tráfico atlântico, o
grande pool de trabalho abundante e barato, para o café, o açúcar, a mineração, ou
qualquer outra atividade, foi a África, e esse pool foi suficiente para abastecer as
diversas áreas sem gerar tensões inter-regionais do mercado de trabalho cativo.”

Roberto Borges Martins Minas e o tráfico de escravos no século XIX, outra vez Texto para
Discussão nº. 70, UFMG/CEDEPLAR, maio de 1994, p. 32
ECONOMIA MINERATÓRIA II
Furtado (Caps. 13, 14 e 15)
Prof. Edivaldo Constantino

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