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Módulo 16 1ª Série
©zentilia /iStock
nária. Por funcionar como uma reserva de valor, é considerado por
muitos como um porto seguro nessas situações.
Impossível negar que o ouro tem sido, há milhares de anos, uma
fonte de valor incalculável. Sua busca foi responsável em grande
parte pela exploração do Novo Mundo. Os corsários e piratas arris-
caram a vida em busca de baús de ouro perdidos no fundo do mar.
Expectativas de aprendizagem:
O fato é que esse metal exerce grande fascínio na nossa sociedade.
– Identificar as transformações geradas na sociedade colonial pela
No Brasil, desde que os bandeirantes paulistas cortaram a Serra descoberta do ouro em Minas Gerais;
do Mar no final do século XVII e se embrenharam pelo Centro- C3 – examinar as formas de tributação que a Coroa utilizou para
controlar a região das Minas;
-Sul, imensas jazidas foram descobertas. Esse fato transformou a
– saber interpretar que a sociedade formada em torno da atividade
Colônia em um verdadeiro Eldorado, atraindo a cobiça de milhares mineradora é bastante plural, e que seu povoamento rápido
de pessoas, como veremos neste módulo. influenciou esse fato.
1. Antecedentes
No final do século XVII, os bandeirantes descobriram veios Por causa da mineração, o interior do continente recebeu
de ouro no sertão, ou seja, juntamente com outros colonos, encon- núcleos populacionais estáveis. Por outro lado, o ouro estimulou
traram pequenas amostras de ouro de aluvião – ouro que brota a decadente economia luso-brasileira, permitindo que o reino
na superfície. A nova descoberta revelava aos colonizadores uma resgatasse suas dívidas com a Inglaterra, principal aliada e parceira
riqueza jamais vista no território colonial: o ouro de Minas Gerais econômica de Portugal na Europa.
trouxe muitas mudanças para a Colônia.
3. O sistema tributário das minas Inglaterra era imensamente maior que a produção vinícola portu-
guesa, o que acarretou uma balança comercial desfavorável, a qual
Com algum sacrifício por parte do Estado português e muita Portugal supria com o ouro brasileiro.
resistência dos mineradores, foi colocada ordem na região das A criação das casas de fundição marcou também uma grande
minas. As novas jazidas eram repartidas, cabendo a primeira ao crise nas relações entre o Estado metropolitano e a Colônia, expressa
descobridor e a segunda, à Coroa, que a vendia em leilões. As demais no movimento conhecido como Revolta de Vila Rica ou de Filipe
eram sorteadas entre os pretendentes, de acordo com a quantidade dos Santos.
de escravos que cada um possuía.
Mesmo com as casas de fundição, a Coroa ainda não havia
Sobre todo o ouro extraído, a Coroa ficava com 20%, ou seja, “saciado sua sede pelo ouro”, por isso, achando insuficiente a
1/5, sendo que essa lei vinha desde o início da colonização, tendo quantidade de metal arrecadada e sabendo que a atividade mine-
sido mantida pelo Estado metropolitano, muito embora sofresse radora era temporária, aumentou novamente a tributação com a
alterações no transcurso da mineração. Em 1702 foi criada a implementação da capitação, imposto pago sobre a quantidade de
Intendência das Minas, cujo papel era controlar e fiscalizar a distri- escravos que cada minerador possuía. Esse imposto, no entanto, foi
buição e a produção das jazidas, além, é claro, de cobrar o quinto. suspenso quando o governo percebeu que diminuía sensivelmente
Entretanto, nem sempre o quinto chegava ao seu destino, que era o número de escravos, o que comprometia a extração aurífera.
a Coroa portuguesa, seja por causa da corrupção dos funcionários
Outro tributo cobrado pelo Estado era o de direito de entrada,
reais, seja pelo violento contrabando existente.
pelo qual todos os produtos que entrassem em Minas Gerais seriam
Tais razões levaram o Estado a criar, em 1720, as casas de taxados, sofrendo, pois, um aumento de preços que tornava a vida
fundição, além de proibir a circulação do ouro em pó. A partir na região extremamente cara.
desse momento, o ouro era transformado em barras, que recebiam
Finalmente, em 1750, ocorreu o “tiro de misericórdia” da
o selo real, e quem fosse pego com ouro em pó seria condenado
Metrópole sobre a região mineira. Com a aprovação da Câmara
à degredação por dez anos. Essa atitude do Estado metropolitano
do Dízimo, uma cota anual de 100 arrobas, o equivalente a uma
se justifica porque o governo português vivia endividado e com
tonelada e meia de ouro, deveria ser entregue ao Estado.
sua balança comercial deficitária, como resultado do Tratado de
Methuen, assinado em 1703 com o Reino inglês. Por esse tratado, Conforme visto, a mineração foi uma atividade extrativa e,
Portugal se comprometia a comprar todo o excedente de tecidos portanto, temporária. Na segunda metade do século XVIII, iniciou-
britânicos em troca de a Inglaterra adquirir toda a produção de -se o seu processo de decadência. Tornara-se muito difícil a arre-
vinhos e azeite português. Se aparentemente esse acordo era bom cadação do tributo, o que levou Portugal a estabelecer a derrama,
para ambas as partes, porque eliminaria o excedente de produção, cobrança dos impostos atrasados. Esta, executada por milícias e
o que poderia significar um aumento dos preços desses produtos no confiscando bens e propriedades indiscriminadamente, acarretou
mercado internacional, na prática o tratado mostrou-se amplamente um movimento de rebelião contra a opressão da Metrópole,
desfavorável ao Reino lusitano, uma vez que a produção têxtil da conhecido como Conjuração Mineira.
A Inconfidência Mineira
Como costumava acontecer Domínio Público/Wikimedia
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da mineração, sejam controversas, pode-se concluir que o deslo-
camento populacional atingiu proporções consideráveis. Sabe-se
também, que a importação de escravos no Brasil aumentou durante
o período minerador, proporcionalmente ao seu preço, devido à
necessidade de mão de obra. Para os homens livres, a mineração
representava uma possibilidade de enriquecimento e, naturalmente,
de elevação social. Não se tratava de uma atividade econômica que
envolvesse grandes propriedades, nem grandes instalações, e que
requeresse grande quantidade de escravos ou de capitais.
Após a repressão, para melhor controle da região aurífera, foi
criada a Capitania de São Paulo e de Minas do Ouro, cujo território
foi destacado da Capitania do Rio de Janeiro. A área geográfica Largo do Pelourinho em Salvador, primeira capital do Brasil
ocupada pela mineração correspondia globalmente aos atuais
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estados de Minas Gerais, Goiás e parte de Mato Grosso. Coube
ao primeiro o maior destaque e, ali, surgiram os centros mais
importantes da mineração: Sabará, São João Del Rei, Mariana,
Tiradentes, Ouro Preto e outros.
Acervo César Menezes
Rio de Janeiro foi o foco das decisões políticas do Brasil até 1960
Casario de Ouro Preto, antiga Vila Rica, uma das mais importantes cidades de Minas Gerais ©markvanovermeire /iStock
Domínio Público/Wikimedia
No ano de 1763, a capital foi transferida de Salvador para
a cidade do Rio de Janeiro. Vivíamos a época do governo do
Marquês de Pombal, que, inspirado por ideias iluministas,
realizou uma série de reformas políticas no Brasil.
O objetivo da mudança era deixar a administração colonial
portuguesa o mais perto possível da principal fonte de riquezas
da época, a região mineradora de Minas Gerais. O Rio de
Janeiro era o porto por onde se escoava a quase totalidade do
ouro legal do Brasil.
Do Rio de Janeiro, a capital foi transferida, por fim, para a
cidade de Brasília. Nascida da genialidade do arquiteto Oscar
Niemeyer e do caráter empreendedor do presidente Juscelino
Kubitschek, Brasília foi inaugurada em 21 de abril de 1960, Recife, capital de Pernambuco, meados da década de 1820. Gravura de Johann Moritz Rugendas.
Retrata o crescimento exponencial da quantidade de escravos adquiridos no Brasil colonial.
transformando-se na terceira capital brasileira.
Foram cinco anos de obras ininterruptas, em pleno O abastecimento das minas também evoluiu bastante ao longo da
Planalto Central, para construir a nova sede de governo, que primeira metade do século XVIII, uma vez que, no início, tudo – das
buscava transferir a capital para um local distante dos grandes ferramentas à comida – chegava à região nas costas de escravos índios
centros de pressão popular e, ao mesmo tempo, transformar o e africanos. Com a ampliação do movimento, foi preciso buscar uma
Centro-Oeste em um palco de decisões políticas, promovendo alternativa: as tropas de mulas. Para tanto, os paulistas abriram novos
o desenvolvimento dessa região. caminhos a partir do Sul, que facilitaram a chegada de produtos à região.
Assim, integrou-se ao núcleo mais dinâmico da economia brasileira
a região dos pampas, onde os espanhóis criavam gado, cavalos e mulas.
Um problema sério pelo qual passava a região das Minas As manadas trazidas pela estrada eram vendidas em feiras. Nessa época,
era o abastecimento. A avidez pelo ouro bloqueava a percepção surgiu a figura do tropeiro, essencial na história posterior do país.
de que não só de riqueza vive o homem. Poucos, porém, eram
aqueles que demandavam tempo para a agricultura de subsis-
tência, pois o foco era o ouro. Assim, essa demanda foi suprida 5. O ouro do Brasil e
por comerciantes, sobretudo os nordestinos. As tropas de mulas a Revolução Industrial
foram um exemplo disso: os tropeiros, responsáveis por levar os
animais do Nordeste para Minas Gerais, conseguiram diminuir Na segunda metade do século XVII, a formação social portuguesa
a necessidade de suma importância para o escoamento do ouro sofreu os efeitos de uma crise econômica e financeira, cujos princi-
para os portos do Rio. Havia, ainda, aqueles que rumaram pais elementos promotores foram o declínio dos preços do açúcar
para o núcleo aurífero para abastecer a região de alimentos, brasileiro e a decadência do comércio oriental português – resultado
vestimentas, ferramentas e outros utensílios do dia a dia. da perda da maioria dos entrepostos asiáticos ou mesmo africanos,
A falta de concorrência provocou um grave aumento no preço dos cedidos à Inglaterra ou aos holandeses pelo Tratado de Haia, de 1661.
produtos, gerando revoltas por parte dos exploradores. Esses e outros fatores tiveram como efeito a adoção, pelo Estado
As elites das minas começaram a comprar cada vez mais português, de uma orientação colbertista, cujo principal incenti-
escravos – multiplicando os braços, multiplicavam os lucros – e os vador foi o Conde da Ericeira, “o Colbert português”, secretário de
tratavam com a mesma voracidade com que buscavam o precioso Estado de D. Pedro II de Portugal.
metal, obrigando-os a trabalhar exaustivamente em rios ou em Com o descobrimento das minas de ouro no Brasil (1695) e
buracos na terra. Essa brutalidade aumentava o nível de mortalidade com a subsequente exploração do diamante (1729), a abundância
e também a demanda por novos escravos. Os mineiros pagavam de numerário determinou o abandono da orientação colbertista
caro por um escravo africano, bem mais que no Nordeste ou no de retenção de capitais. Em 1703, durante a Guerra de Sucessão da
Rio de Janeiro, diferença que justificou uma enorme ampliação do Espanha, Portugal e Inglaterra assinaram o Tratado de Methuen, pelo
tráfico, praticado pelos próprios colonos. qual eram concedidos privilégios recíprocos ao vinho português na
Inglaterra e aos tecidos ingleses em Portugal. Esse acordo, que garantia
os interesses dos setores mercantil e feudal, arruinou as manufaturas,
o artesanato e o pequeno proprietário rural português.
Brasil Colônia: a economia mineradora HISTÓRIA I 13
Módulo 16 1ª Série
A crise que se seguiu foi, em parte, controlada pela emigração O Tratado de Methuen legalizou a saída constante de capitais de
para as regiões mineradoras do Brasil, onde se agravaram os conflitos Portugal para a Inglaterra, que pode ser observada no mapa a seguir:
que, mais tarde, resultaram na Guerra dos Emboabas.
A partir de 1750 e 1760, a produção mineradora começou a O Tratado de Methuen
declinar. Tal mudança, articulada a outros elementos, determinou a
retomada da política colbertista durante a administração do Marquês
de Pombal, secretário de Estado de D. José. Com o objetivo de
libertar a economia portuguesa da dominação britânica, Pombal tecidos
tomou medidas muito severas para impedir a evasão de capitais:
protecionismo alfandegário, estímulo às manufaturas, companhias de
comércio, instalação de refinarias de açúcar, abolição da escravidão Brasil
em Portugal – para aumentar o mercado de consumo – etc. Todas
ouro
essas iniciativas foram impostas e sujeitas ao fortalecimento das
práticas repressivas do Estado, que atingiram os setores sociais oposi-
Portugal
cionistas. No entanto, a partir de 1777, quando passou a governar
vinho
Dona Maria I, a pressão inglesa articulada ao grupo mercantil e à
classe feudal portuguesa determinou um novo abandono do colber-
tismo e a restauração dos dispositivos do Tratado de Methuen. Essa O ouro saiu do Brasil.
Em Portugal, uma parte construiu palácios Inglaterra
mudança teve o nome popular de “Viradeira”. e outra foi gasta importando produtos ingleses.
INGLATERRA Londres
ÁSIA
PORTUGAL EUROPA
Lisboa
ÁFRICA
OCEANO
PACÍFICO
BRASIL OCEANO
OCEANO ÍNDICO
ATLÂNTICO
ouro brasileiro
vinho português
manufaturas inglesas
14 HISTÓRIA I
1ª Série Módulo 16
©SamiaAbbas/Flickr
D. João V, rei de Portugal, da Intendência dos Diamantes. O aperto
fiscal chegava também àquela região, quando a Coroa estabeleceu
a capitação e o quinto também dos diamantes, o que não impediu
seu contrabando que, como no caso do ouro, era muitas vezes feito
pelos próprios funcionários do Estado. Não tendo conhecimento
específico sobre a extração de diamantes, o Estado metropolitano
decidiu fazer contratos de exploração, sendo João Fernandes de
Oliveira o primeiro contratador a chegar à região.
Esse sistema só acabou quando Marquês de Pombal trans-
formou o distrito diamantino em área de monopólio real. Isso se Chica da Silva, ex-escrava
deu por conta do temor do prestígio e o poder que o contratador e mulher do contratador
João Fernandes de
angariava sobre a região. Ademais, fez parte da política despótica Oliveira, foi uma das mais
que o marquês, a mando de José I, vinha realizando em Lisboa. poderosas mulheres da
região do Tijuco, atual
A extração diamantífera desfrutou de posição secundária em Diamantina
relação à mineração do ouro, apesar de o Brasil ter sido, durante o
século XVIII, o maior produtor de diamantes do mundo. “Chica da Silva teria entre 18 e 22 anos quando João
A exploração dos diamantes atravessou três fases bem distintas: Fernandes, então com 26, a conheceu. Jovem, tinha a beleza
das mulheres mestiças descendentes das africanas oriundas da
• Fase inicial: marcada pela livre exploração; Costa da Mina. Ele a comprou de Manuel Pires Sardinha por
• fase média: marcada pelo regime dos contratos; 800 réis, e, no Natal do mesmo ano, a alforriou. Meses
• real exploração: marcada pela participação direta do Estado
depois, em 1754, ficou grávida de João Fernandes. Em abril
na exploração dos diamantes. Essa fase foi decretada pelo
Marquês de Pombal por meio da Lei do Livro de Capa Verde. do ano seguinte, era batizada a primeira filha do casal, a
Essa participação do Estado na exploração já corresponde ao mulata Francisca de Paula. Embora registrada como de pai
período da decadência dos diamantes. desconhecido, no documento Chica ostentou pela primeira
vez o sobrenome Oliveira, em vez do habitual “Francisca,
parda, escrava de ...”.
Brasil Colônia: a economia mineradora HISTÓRIA I 15
Módulo 16 1ª Série
(A) a exploração aurífera seria feita com base nos investimentos da 01 (UFSM)
Coroa nas expedições.
Disponível em:<www.tuia.com.br>.
(A) os Códigos Mineiros de 1603 e 1618 já impediam a livre explo-
ração das minas, impondo uma série de condições e restrições.
(B) as Intendências das Minas criadas pelo Regimento de 1702
impuseram um controle absoluto sobre toda a produção
mineradora, embora ainda estivessem subordinadas a outras
autoridades coloniais.
(C) a cobrança do quinto foi facilitada com a criação das casas de
fundição, no final do século XVII, onde o ouro era fundido em
barras timbradas com o selo real, embora a circulação do ouro
em pó ainda fosse permitida.
(D) foram instalados postos fiscais em pontos estratégicos das
estradas, com o objetivo de fiscalizar se o pagamento do quinto
havia sido realizado; cobrar impostos sobre a passagem de
animais e pessoas e sobre a entrada de todas as mercadorias
transportadas para as Minas.
(E) a capitação foi um imposto que exigia do minerador o Paisagem industrial inglesa
pagamento de uma taxa sobre cada um de seus escravos, do
qual ficavam isentos os faiscadores que não possuíam escravos. As duas figuras simbolizam dois processos econômicos que se
consolidaram e se expandiram no século XVIII, provocando amplas
05 (UNICAMP) O francês Saint-Hilaire, ao visitar no século XIX e irreversíveis modificações nos respectivos ecossistemas.
a região do Distrito dos Diamantes (Minas Gerais), explicou da
seguinte maneira como ela fora criada no século XVIII: As relações históricas entre os dois processos podem ser
consideradas:
Tendo o governo reconhecido que a extração de diamantes
(A) meramente cronológicas, pois ambos se desenvolveram no
por arrendadores era frequentemente acompanhada por fraudes e
início do século XVIII, época em que se expandia, tanto na
abusos, resolveu explorar por sua própria conta as terras diaman-
Europa quanto nas Américas colonizadas pelos europeus, a
tinas (...). O Distrito dos Diamantes ficou como que isolado do resto utilização do trabalho escravo dos negros africanos devida-
do Universo; situado em um país governado por um poder absoluto, mente controlados e administrados pelos seus proprietários,
esse distrito foi submetido a um despotismo ainda mais absoluto. os membros da elite branca.
(B) muito tênues, na medida em que apenas representam dois
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelo Distrito dos Diamantes e litoral do Brasil, Belo Horizonte: Ed.
Itatiaia/São Paulo. Editora Universidade São Paulo, 1974, v. 5, p. 14. exemplos isolados de destruição predatória dos ambientes
naturais, seja para extrair riquezas minerais em zonas rurais
a. Descreva as razões pelas quais era importante para a Coroa despovoadas, seja para promover a urbanização das cidades
portuguesa que o Distrito Diamantino ficasse “como que isolado industriais afetadas pela poluição, prevenindo os efeitos danosos
do resto do Universo”. dessa poluição na vida e na saúde da crescente população.
b. Explique como se dava a exploração das minas por parte da (C) significativas, pois, desde a assinatura do Tratado de Methuen
Coroa portuguesa. (1703), o Estado português ficou subordinado aos interesses da
Inglaterra: como as importações dos panos pelas manufaturas
inglesas custavam mais caro para Portugal do que as receitas com
Brasil Colônia: a economia mineradora HISTÓRIA I 17
Módulo 16 1ª Série
as exportações de vinhos para o mercado inglês, o ouro extraído 03 (UFPE) O trabalho cria riquezas sociais que nem sempre são
das regiões mineiras da América colonial lusitana foi amplamente divididas e servem para efetivar sociedades equilibradas. O uso da
transferido para o mercado inglês, contribuindo para sedimentar escravidão no período minerador mostra a existência da exploração,
as precondições para o desenvolvimento da Revolução Industrial. mesmo nos tempos modernos. A escravidão:
(D) de reciprocidade, pois o processo de urbanização das cidades
industriais inglesas inspirou o planejamento urbano das povoações (A) foi utilizada nas colônias europeias até o século XVIII, na
coloniais americanas que se expandiram para o interior, permi- agricultura, apresentando grande lucratividade nos negócios
tindo antecipar e corrigir problemas como ocupação intensa e agrícolas.
acelerada, traçado das ruas e das praças, integração do setor rural (B) tinha lugar no trabalho doméstico, apenas nas colônias portu-
com o urbano, articulação com as demais vilas e cidades e com os guesas e inglesas, sendo ineficaz no comércio.
portos de escoamento da produção mineira. (C) conseguiu se firmar nas colônias espanholas; sem êxitos expres-
(E) de modernização, pois os novos produtos da moderna sivos nas colônias inglesas, devido aos preconceitos raciais.
tecnologia industrial inglesa puderam ser importados pelos (D) deu condições para favorecer o crescimento da burguesia, que
proprietários das minas e dos escravos, permitindo incrementar lucrava com o comércio da época e firmava seus interesses.
a produção colonial, diminuir os custos e obter maiores (E) inexistiu no trabalho, nas minas de ouro da América, sendo
lucros, dinamizando a economia e a sociedade da mineração utilizada na agricultura latifundiária e nos serviços urbanos.
e encaminhando o Estado português para a emancipação da
hegemonia da Inglaterra. 04 (UFPE) Leia atentamente o trecho selecionado a seguir:
02 (FGV) Analise os dados relativos ao século XVIII apresentados (...) decadência em que se [achava] o povo das Minas, vexação em
no quadro a seguir:
que se [via] causada da multidão de negros fugidos e aquilombados
que [havia] em todas elas, de que [resultavam] os extraordinários
Os altos preços cobrados nas Minas casos que continuamente [estavam] sucedendo nos cruéis assassínios
e roubos violentos que a cada instante [estavam] fazendo (...)
Mercadorias Valor em São Paulo Valor nas Minas
“Representação da Câmara de Vila Rica ao rei de Portugal de 31 de agosto de 1743.” Arquivo Público
Mineiro. Seção Colonial. Códice CMOP 49 fl.81. Citada no livro Vassalos Rebeldes, de Carla M.
1 cavalo 10 mil réis 120 mil réis J.Anastasia, Belo Horizonte: C/Arte, 1998. p. 130.
1 libra de açúcar 120 réis 1.200 réis O aumento da violência nos sertões mineiros, durante o século
XVIII, a que se refere o fragmento acima, é considerado resultado
1 boi de corte 2 mil réis 120 mil réis histórico:
FREIRE, Américo; MOTTA, Marly; ROCHA, Dora. História em curso – O Brasil e suas relações com o (A) da substituição do trabalho escravo em Minas Gerais pelo
mundo ocidental. Rio de Janeiro: FGV, 2008, p. 91. trabalho imigrante italiano, após a proibição do tráfico negreiro.
(B) do declínio da comercialização da cana-de-açúcar no território
A justificativa das cifras apresentadas é que: mineiro, em virtude da concorrência do produto oriundo das
Antilhas Holandesas.
(A) os preços das mercadorias em São Paulo tornaram-se os (C) das crises de fome e abastecimento provocadas pela corrida
menores do Brasil com a urbanização e o povoamento das do ouro ao território mineiro, constantes fugas de escravos e o
regiões mineradoras, já que os trabalhadores e, consequente- aumento da cobrança de impostos sobre os alimentos.
mente, os consumidores migraram para o interior da Colônia. (D) dos abusos cometidos pelos jagunços contratados pelos
(B) os preços tornaram-se elevados na região das Minas, devido à senhores de engenhos, para matar os negros reconhecidos como
necessidade de abastecimento da população em crescimento, assassinos profissionais.
à dificuldade de acesso à região e à pequena disponibilidade (E) do rápido processo de urbanização que favoreceu o surgimento
de mão de obra, empregada preferencialmente na mineração. de uma gigantesca elite de homens poderosos, que se digla-
(C) os preços tornaram-se exorbitantes na área da mineração diavam pelo uso da terra.
porque não havia disponibilidade de mão de obra na região
mineira, já que a escravidão era proibida e todo e qualquer 05 (PUC)
trabalho deveria ser assalariado ou contratado.
Coube a Portugal a tarefa de encontrar uma forma de utilização
(D) os preços elevados dos alimentos e do transporte na região
das Minas serviram como atrativo para a manutenção da econômica das terras americanas que não fosse a fácil extração de
população que retornava para a área açucareira de Pernambuco metais preciosos. Somente assim seria possível cobrir os gastos de
e constituiu uma tentativa de manter Minas Gerais como polo defesa dessas terras. (...) De simples empresa espoliativa e extrativa
econômico da Colônia. – idêntica à que na mesma época estava sendo empreendida na costa
(E) o alto valor das mercadorias, com a decadência da mineração, da África e nas Índias Orientais – a América passa a constituir parte
foi mantido pela Corte portuguesa, atendendo aos comerciantes
mineiros, como forma de garantir seu poder político e frear o integrante da economia reprodutiva europeia cuja técnica e capitais
deslocamento da população para São Paulo, onde já corriam a ela se aplicam para criar de forma permanente um fluxo de bens
boatos sobre a emancipação. destinados ao mercado europeu.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1971, p. 8
(adaptado).
18 HISTÓRIA I
1ª Série Módulo 16
Segundo o texto, a colonização sistemática do território brasileiro Com base na leitura do mapa, identifique uma região do Império
por Portugal favoreceu: Português cujo desenvolvimento esteve relacionado à mineração
nas Gerais daquela época, justificando a sua resposta.
(A) a integração da América a uma economia internacionalizada,
que tinha a Europa como centro. 02 (UERJ)
(B) o estabelecimento das feitorias na costa atlântica do Brasil, No final do século, por volta de 1695, os rumores sobre a existência
responsáveis pela extração e pelo comércio de pau-brasil. de ouro no interior do país, nas chamadas Minas Gerais, confirmaram-
(C) a constituição de forte hegemonia portuguesa sobre o Oceano
-se com achados de ótima qualidade, feitos por Borba Gato, no sertão
Atlântico, que persistiu até o século XVIII.
(D) o início de trocas comerciais regulares e intensas do Brasil com do Rio das Velhas, onde surgiria Vila Rica, hoje Ouro Preto.
as colônias portuguesas das Índias Orientais. SILVA, F.C.T. “Conquista e colonização da América portuguesa”. In: LINHARES, M. Y. (Org.) História
(E) a construção de fortalezas no litoral brasileiro, para rechaçar, Geral do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1990, p. 61.
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f e ______________________________________________________________________
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9 d ______________________________________________________________________
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a 4 5
c ______________________________________________________________________
a a Oceano ______________________________________________________________________
Atlântico
a a
b ______________________________________________________________________
a ______________________________________________________________________
1 2
núcleo da zona mineradora
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Legenda:
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1 – Buenos Aires a – gado
2 – Montevidéu b – da Região Platina: gado ______________________________________________________________________
3 – São Paulo c – da África: escravos
4 – Santos d – da Europa: manufaturas, azeite ______________________________________________________________________
5 – São João Del Rei e – da Europa: manufaturas, sal, ferro
6 – Mariana f – do Nordeste: escravos ______________________________________________________________________
7 – Vila Rica e Sabará g – da África: escravos
8 – Diamantina h – escravos, gado ______________________________________________________________________
9 – Rio de Janeiro i – escravos
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10 – Salvador
11 – Recife
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12 – Olinda
13 – Natal ______________________________________________________________________
14 – Fortaleza
15 – São Luís
HISTÓRIA I 19
Módulo 17 1ª Série
©Licia Rubinstein/iStock
século XVIII, a Revolta de Felipe dos Santos e a Conjuração Mineira,
a cidade hoje é um dos pontos turísticos mais visitados do Brasil e
sede de uma universidade federal, o que dá ao local uma jovialidade
que se contrapõe ao casario colonial.
A cidade mantém preservadas suas características: o casario, as
ruas e vielas estreitas, as igrejas ricamente ornadas em ouro, as festas
populares e, principalmente, a imponente arte barroca, joia da fase
colonial. Todo esse conjunto arquitetônico foi, em 1938, considerado
“Monumento Nacional”, e em 1980, tombado como “Patrimônio
Cultural da Humanidade” pela Organização das Nações Unidas
Expectativas de aprendizagem:
para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
– Observar que a descoberta de ouro no Brasil reorientou as
Quem, hoje, visita Ouro Preto se encanta com sua beleza e seu atenções da Metrópole para Minas Gerais;
patrimônio arquitetônico, que tem, entre seu acervo, obras dos C5 – identificar que a Coroa criara diversos órgãos de fiscalização,
entre eles as casas de fundição, que buscavam coibir o
mestres escultores Aleijadinho e Ataíde, que transformaram as
contrabando e a sonegação;
igrejas em verdadeiras obras de arte do Barroco mineiro, um dos – identificar que a intensa fiscalização sobre o ouro acarretou
temas que estudaremos neste módulo. descontentamentos e levantes por parte dos colonos.
1. Características gerais da
Domínio Público/Wikimedia
área mineradora
A exploração do ouro trouxe à Colônia efeitos importantes
que, no decorrer da primeira metade do século XVIII, estavam
perfeitamente caracterizados:
Como resultado, houve uma interferência cada vez maior da 3. Sociedade e cultura
administração metropolitana, que se utilizava, em escala crescente, de
seus próprios funcionários, afastando os setores coloniais dos centros A sociedade produzida pela mineração foi, antes de tudo,
de decisão. distinta da açucareira, que, até então, era o padrão do Período
Abriu-se, portanto, um vácuo entre os dirigentes metropolitanos Colonial. Abrindo possibilidades de trabalho e enriquecimento
e parte da classe dominante colonial, que se desenvolveu a partir da para uma faixa larga da população, ela determinou também, com
descoberta das minas e da concessão de datas (lotes de uma mina). o desenvolvimento do comércio, do artesanato e das atividades
públicas e com a ampliação dos efetivos militares, o surgimento
de um setor social intermediário mais extenso, mais rico e muito
2. Administração mais ilustrado do que o existente na sociedade do açúcar. Quanto
A política fiscal fundamentou-se no “Regime das Minas” de aos escravos que não constituíram a maior parte da população,
1702, que estabelecia os princípios da ação da Coroa e que tinha abriu-se, em pequena escala, a possibilidade de alforria. A própria
na Intendência das Minas a sua executora. natureza do trabalho, muitas vezes em caráter isolado, permitia a
acumulação das somas necessárias para a compra da liberdade.
Além da cobrança do quinto, tentou-se estabelecer a capitação,
Vale lembrar que o trabalho nas minas continuava a ser majori-
imposto que incidia sobre o número de escravos que cada minerador
tariamente escravo, mas as amplas possibilidades comerciais e de
possuia. Foi abandonado posteriormente, pois o Estado temia que a
serviços desdobravam a sociedade em outras camadas e outras
diminuição do número de escravos levasse à diminuição da produção.
relações sociais que não eram escravistas.
Com o objetivo evidente de aprimorar a fiscalização e reprimir
o contrabando, instalaram-se, em 1720, as casas de fundição, que Pirâmide social do ciclo minerador (século XVIII)
tinham a finalidade de recolher o ouro extraído e fundi-lo, deduzindo
o quinto e devolvendo-o ao proprietário sob a forma de barra. grandes mineradores
Quando a quantia não era suficiente para a feitura de uma barra, o autoridades reais
proprietário recebia um certificado que permitia a sua circulação, até
tropeiros
completar a quantidade requerida para a formação da barra. oficiais
A criação das casas de fundição provocou séria reação por parte burocratas
soldados
dos mineradores, inconformados com a crescente ação fiscal da clérigos
Coroa. O Levante de Vila Rica iniciou-se com reivindicações contra profissionais liberais
as casas de fundição e depois se voltou contra as autoridades locais, pequenos mineradores
buscando a sua substituição. A repressão foi violenta e executou-se
um dos líderes do movimento, Felipe dos Santos, em 1720. escravos
Após o esmagamento da rebelião, com vistas à melhor adminis-
Abriu-se, ainda, um setor da produção para o trabalho livre,
tração das minas, criaram-se duas capitanias separadas: a de São Paulo
desempenhado por mestiços e escravos libertos, com o desenvolvi-
e a de Minas Gerais. Mais tarde, o Estado estabeleceu para a região
mento do artesanato. Tantas modificações, também, foram seguidas
mineradora uma quantia fixa a ser paga anualmente, equivalente
pela mudança na importância do papel da Igreja, mais do que nunca
a 100 arrobas, cerca de 1.500 quilos de ouro, e, quando o volume
um braço da Metrópole.
arrecadado não atingia o estabelecido, cabia à população completá-la
com o imposto chamado derrama. O que se pode concluir da análise A súbita riqueza do ouro tornou o Brasil atraente para um tipo
da ação fiscal sobre a mineração é que o Estado procurava, com de português que raramente vinha para cá no início da colonização:
máximo de recursos, alcançar um máximo de ganhos. os nobres. Porém, no século XVIII, esses nobres começaram a
ocupar cargos administrativos muito importantes na estrutura
É possível ver no gráfico a seguir o desenvolvimento da
administrativa colonial.
produção aurífera do Brasil no século XVIII e início do XIX:
A progressiva interligação de regiões mineiras e abastecedoras
Produção de ouro no Brasil (séc. XVIII-XIX) provocou outra mudança significativa. Até o século XVIII, os
núcleos de povoamento eram esparsos e isolados. Já em meados
Anos Toneladas Média por ano desse mesmo século, entretanto, havia contatos econômicos
1701-1720 56 2,8 toneladas permanentes em uma vasta região que ia do Rio Grande do Sul
1721-1741 180 9,0 toneladas ao Amazonas.
1741-1761 290 14,5 toneladas Os limites legais da Colônia estabelecidos por Tordesilhas
1761-1781 210 10,5 toneladas tinham sido ultrapassados havia muito por uma ocupação de fato.
1781-1801 110 5,5 toneladas
Por toda parte multiplicavam-se as atividades econômicas. Ao
1801-1821 55 2,7 toneladas
longo dos caminhos, surgiram vilas e roças permanentes. Tropeiros,
traficantes e mineradores acumulavam fortunas maiores que as dos
Brasil Colônia: transformações sociais da mineração HISTÓRIA I 21
Módulo 17 1ª Série
senhores de engenho, mesmo com a exploração do açúcar sendo A mineração do ouro foi responsável pelo desenvolvimento
ainda uma atividade predominante no Nordeste e no Rio de Janeiro. do interesse pelas “coisas da inteligência ou do saber” entre alguns
O ouro integrou o território e lançou as bases para um novo homens da elite urbana abastada, principalmente de Minas Gerais,
padrão de vida. As cidades ganharam importância. Nas regiões Bahia e Rio de Janeiro.
mineradoras, as vilas – das quais a principal era Vila Rica, atual Como se sabe, a educação formal no Brasil esteve a cargo dos
Ouro Preto – funcionavam como local de moradia e também como jesuítas, mas os estudos superiores eram proibidos aqui. Muitos
centro comercial, abrigando aqueles que desempenhavam serviços senhores da elite enviavam seus filhos para estudar em universidades
necessários à atividade: carpinteiros, ourives, tecelões, vendeiros, europeias, principalmente em Coimbra, orgulho da cultura lusa.
militares e administradores. Mesmo no litoral, ganharam impor-
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tantes centros, como Rio de Janeiro, transformado-se em capital em
1763, o que facilitou a fiscalização sobre a exportação do ouro, já
que o Rio era o porto de escoamento da região mineira.
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Ouro Preto
A mineração, conforme já foi visto, atraiu muita gente. Os Inácio de Loyola, o maior nome da Companhia de Jesus
Já na segunda metade do século XVIII, Vila Rica se trans- Na cultura produzida na Colônia, houve uma releitura, uma
formou no centro do Arcadismo brasileiro, destacando-se nomes adaptação aos sonhos e aos desejos que aqui existiam. Essa produção
como Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, Silva cultural mostra bem que a Colônia não era um agente passivo das
Alvarenga, Alvarenga Peixoto e outros líderes da Inconfidência ordens e ideias vindas da Metrópole, tendo, portanto, vida cultural.
Mineira, o primeiro movimento pela libertação colonial.
Ouro Preto, a cidade que respira história É uma cidade que respira cultura e história. Possui, hoje, uma
importante universidade federal (UFOP), cuja origem remonta a
No século XVIII, ocorreu a plena maturação do Barroco brasi- importância, fazendo-se um largo uso do azulejo. Já nas Minas
leiro, especialmente no Nordeste (Bahia e Pernambuco) e na zona Gerais, ocorria o contrário, o exterior era mais decorado, o interior
decadente da cana (Rio de Janeiro). Havia uma diferença marcante tinha uma ornamentação mais leve, havia menor importância da
entre o Barroco do litoral e o Barroco de Minas Gerais. No estilo sacristia e o azulejo não era muito usado; em seu lugar, adotava-se a
adotado no litoral, havia um forte contraste entre a simplicidade técnica conhecida como “fingimento”, ou seja, fazia-se uma pintura
do exterior e a opulência interna, e as sacristias tinham muita imitando azulejos.
Brasil Colônia: transformações sociais da mineração HISTÓRIA I 23
Módulo 17 1ª Série
Nas pistas do Barroco: Aleijadinho “Um risco na madeira pode passar despercebido para muitos
desavisados. Mas quando ele inscreve as letras ‘AFL’ na peça de
Acervo: César Menezes
O desenvolvimento artístico do escultor pode ser classificado observações de suas obras que resultaram em diversos livros. Hoje,
em fases diferentes de sua vida. Jardim divide suas etapas produ- as grandes livrarias têm em média 15 títulos sobre Aleijadinho.
tivas em cinco: mocidade (1755 a 1760), maturidade inicial (1761 (...)
a 1770), maturidade média (1771 a 1780), maturidade plena (1781
O reconhecimento do artífice como gênio nacional ganhou
a 1790) e máxima ou fase de Congonhas (1791 a 1812).
força com o Modernismo, que buscava as raízes da cultura
A vida de Aleijadinho é um universo de interrogações. A brasileira. O fato de Aleijadinho ter sido mulato – filho de pai
começar pela data de nascimento: seu batismo, realizado na português e mãe escrava – foi, para Mário de Andrade, um dos
Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Ouro Preto, apresenta motivos apontados para o seu esquecimento. ‘A minha convicção
o ano de 1730, mas a certidão de óbito diz que foi em 1738. A é que o grande arquiteto mineiro foi o maior gênio artístico que
paternidade também destoa: é o nome de Manoel Francisco o Brasil produziu até hoje. Mas por muitas fatalidades e muita
da Costa que aparece no batismo, e não o do arquiteto Manuel incúria, o nome dele permanece vago na consciência nacional
Francisco Lisboa, que é popularmente reconhecido como o pai. dos brasileiros’, dizia o modernista em artigo publicado em 1928.
Quanto à doença, em 1964, a Associação Médica de Minas As polêmicas em torno da vida e da obra de Aleijadinho não
Gerais chegou a discutir a enfermidade do artífice. Hanseníase, param nestas páginas. Cada olhar para uma escultura pode gerar
escorbuto, acidente vascular cerebral e sífilis foram alguns dos novas perguntas. Por que será que aquele anjo do frontispício
diagnósticos apontados. E se ele era mesmo tão doente, como da Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto é careca?
conseguiu se locomover por diversas cidades mineiras? Para isso, Turistas, moradores e esta repórter perguntam, mas os livros não
contava com escravos – “artigos” de luxo – que o carregavam. respondem. Ainda.”
Então, por que será que ele morreu pobre? Para responder a
LIMA, Viviane Fernandes de. Revista de História da Biblioteca Nacional. 51. ed., dez. 2011.
essas perguntas, pesquisadores se embrenharam em leituras e
A partir do fragmento anterior, leia e avalie as seguintes afirmações: (A) a urbanização da Amazônia, o início da produção do tabaco, a
introdução do trabalho livre com os imigrantes.
I. O autor identifica três contribuições das Minas à formação do (B) a introdução do tráfico africano, a integração do índio, a
Brasil, ainda no Período Colonial: o Trovadorismo, o Nativismo desarticulação das relações com a Inglaterra.
dos inconfidentes e o Barroco. (C) a industrialização de São Paulo, a produção de café no Vale do
II. Os fenômenos culturais e políticos vividos pela sociedade Paraíba, a expansão da criação de ovinos em Minas Gerais.
mineira, ao longo do século XVIII, expressam com certa (D) a preservação da população indígena, a decadência da produção
fidelidade, segundo o autor, as atitudes mantidas pela Colônia algodoeira, a introdução de operários europeus.
em relação às influências metropolitanas, ou seja, assimilação (E) o aumento da produção de alimentos, a integração de novas
e transformação. áreas por meio da pecuária e do comércio, a mudança do eixo
III. O autor demonstra, no texto, como a capacidade da arte mineira econômico para o Sul.
de reproduzir os padrões estéticos europeus somente pode ser
reconhecida após a instalação da corte portuguesa no Brasil,
no início do século XIX.
26 HISTÓRIA I
1ª Série Módulo 17
(A) devido à abundância de escravos no período do apogeu da (A) o estabelecimento de condições adequadas ao controle
mineração, os homens livres conseguiam viver exclusivamente democrático.
do comércio de ouro. (B) a realização de programas intensivos de prevenção dos súditos
(B) em razão da riqueza geral proporcionada pelo ouro, os homens contra os abusos das autoridades.
livres dedicavam-se à agricultura comercial, vivendo com (C) o indulto por dívida fiscal e o estímulo à traição e à delação
relativo conforto nas fazendas. entre os súditos.
(C) perseguidos pela Igreja e pela Coroa, os homens livres procu- (D) o arquivamento do inquérito e a queima dos autos contra os
ravam sobreviver às custas da mendicância e da caridade pública. inconfidentes.
(D) sem condições de competir com as grandes empresas mine- (E) a promulgação de um novo regime fiscal que acabava com a
radoras, os homens livres dedicavam-se à “faiscagem” e à prática da sonegação.
agricultura de subsistência.
(E) em razão de sua educação, os homens livres conseguiam 04 (UNICAMP)
trabalho especializado nas grandes empresas mineradoras, A arte colonial mineira seguia as proposições do Concílio de
obtendo confortáveis condições de vida. Trento (1545-1553), dando visibilidade ao catolicismo reformado.
O artífice deveria representar passagens sacras.
Brasil Colônia: transformações sociais da mineração HISTÓRIA I 27
Módulo 17 1ª Série
Não era, portanto, plenamente livre na definição dos traços e (C) a cidade de Ouro Preto, centro político e econômico da região
temas das obras. Sua função era criar, segundo os padrões da Igreja, aurífera, não foi beneficiada arquitetonicamente pelo estilo barroco.
as peças encomendadas pelas confrarias, grandes mecenas das artes (D) a grande riqueza propiciada pelo ouro permitiu que artistas se
dedicassem à construção e criação de obras que expressavam
em Minas Gerais.
os sentimentos nacionais.
SANTIAGO, Camila F. G. “Traços europeus, cores mineiras: três pinturas coloniais inspiradas (E) a capitania de São Paulo, apesar de não ter participado do
em uma gravura de Joaquim Carneiro da Silva”. In: FURTADO, Junia (Org.). Sons, formas, cores e
movimentos na modernidade atlântica. Europa, Américas e África.
processo de exploração aurífera, foi o principal centro de
São Paulo: Annablume, 2008. p. 385 (adaptado). expressão do Barroco no país.
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HISTÓRIA I 28
Módulo 18 1ª Série
©Tursimo Bahia/Flickr
da Fundação Cultural Palmares, do Ministério da Cultura, realizado
em 2012, foram mapeadas 3.524 dessas comunidades.
Ao longo das últimas décadas, com um empenho do
Comunidade Quilombola
Movimento Negro e das lideranças das comunidades remanescentes Kaonge, em Cachoeira/BA
dos quilombos, observamos uma intensificação pela busca dos
direitos de cidadania, de preservação da cultura, da identidade, bem Expectativas de aprendizagem:
como dos de posse de terras ocupadas como forma de resistência – Observar como a chegada do Marquês de Pombal alteraria a
autonomia política da Colônia e instauraria maior fiscalização e
histórica contra o cenário escravocrata do passado.
controle por parte da Metrópole;
Muitos obstáculos, como a oposição de grupos econômicos ou C5 – analisar que os alicerces que baseavam o sistema colonial
a falta de visibilidade, dificultaram a permanência dos quilombos, começavam a se enfraquecer, e o maior controle por parte da
Coroa começava a causar questionamentos;
porém sua importância social, cultural e histórica é algo que
– identificar que as revoltas desse período, chamadas nativistas, não
devemos sempre relembrar, conforme será feito neste módulo. tinham caráter emancipatório.
1.2 Características do governo tinham condições de obter lucros exorbitantes. Eram as companhias
privilegiadas de comércio, que, além de tudo, contavam com a
O despotismo esclarecido foi um regime de governo adotado ação do governo para esmagar a concorrência interna e externa.
em alguns países europeus, em especial na Europa Oriental e na
A política do Marquês de Pombal, apesar de toda a violência,
Península Ibérica, no século XVIII. Alguns monarcas e ministros
não obteve êxito, pois as grandes companhias, embora adquirissem
europeus resolveram adotar os princípios do Iluminismo para
muito capital, não se desenvolveram como o esperado.
estabelecer reformas em seus países com o objetivo de modernizá-
-los, sem, contudo, perder o poder absolutista. Enquanto isso, a decadência da extração do ouro diminuía as
rendas da Metrópole. Irredutível, o ministro persistiu no caminho
Em outras palavras, a natureza do poder do rei era redefinida:
que traçara para o Brasil. Lançou um novo imposto como dízimo e,
ele não era mais a representação do Estado. O soberano tornava-
insatisfeito com o resultado, reforçou o exclusivo colonial de modo
-se um servidor do Estado, que existia para atender necessidades,
a aumentar os lucros privados na Colônia. Então, editou uma série
interesses e aspirações de todos os seus súditos.
de proibições sobre a atividade econômica no Brasil, destinadas a
As reformas realizadas pelos déspotas visavam conciliar a favorecer a economia portuguesa e a enfraquecer a colonial.
autoridade absoluta do rei com as propostas de liberdade dos
Administrativamente, Pombal limitou os poderes do
filósofos iluministas, para combater a ociosidade aristocrática e os
Conselho Ultramarino, que controlava as ações políticas
seus privilégios. Ao contrário do que esses déspotas pretendiam,
destinadas às colônias, decretou a extinção definitiva das capi-
suas nações não se tornaram potências modernas e dinâmicas
tanias hereditárias, impôs o fim da distinção existente entre os
como a Inglaterra.
“cristãos” e os “cristãos-novos” e determinou a transferência da
O despotismo esclarecido em Portugal foi exercido pelo capital da Colônia – de Salvador para o Rio de Janeiro –, além de
Marquês de Pombal, primeiro-ministro de D. José I, na segunda transformá-la em vice-reinado. Com isso, ele visava aprimorar os
metade do século XVIII. mecanismos de controle na arrecadação de impostos na Colônia.
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Conselho Ultramarino
O Conselho Ultramarino foi um órgão fundado em 1642
na cidade de Lisboa, e começou a funcionar somente em 1643.
Sua criação visava, entre outras razões, restaurar o Conselho
da Índia, criado em 1604 por Filipe II, que teve uma vigência
de apenas dez anos.
Naquele período, o conselho foi presidido pelo então
vice-rei do Brasil, D. Jorge de Mascarenhas, Marquês de
Montalvão, e sua criação evidenciava a atenção política da corte
de Portugal, naquele momento, em relação ao Brasil e à África,
na medida em que as regiões descobertas pelos portugueses
estavam sob ameaça constante de outros povos da Europa,
como ingleses e holandeses.
Marquês de Pombal Podendo intervir em todos os negócios e assuntos que
dissessem respeito à Índia, ao Brasil e à África, o Conselho
Nesse período, o Estado português buscava recuperar suas tinha uma atuação mais incisiva no tocante à fazenda, à admi-
finanças, abaladas pela decadência da mineração e pelas perdas nistração, ao comércio, à justiça e à guerra, sendo consultado
econômicas devido ao Tratado de Methuen, assinado com a Ingla- em assuntos que necessitassem obter uma resolução a partir
terra, que acabava ficando com a maior parte do ouro brasileiro. do monarca.
Tornava-se fundamental para a sobrevivência lusitana reforçar Sensível ao que acontecia nas colônias, o Conselho Ultra-
sua ligação com a Colônia para garantir o cumprimento do marino dava atenção especial ao Brasil, e com frequência os
Pacto Colonial. vice-reis e capitães-generais que serviram na América portu-
guesa tornavam-se conselheiros do órgão. A conjuntura crítica
Em meio às perseguições movidas por Pombal em Portugal,
do início do século XVIII não poderia passar despercebida ao
aos poucos foram se delineando seus verdadeiros objetivos. O
Conselho: ao contrário, ele a captou com sensibilidade extrema,
ministro queria solucionar os problemas econômicos do Estado luso
procurando oferecer alternativas para sua superação.
promovendo uma grande concentração de riquezas para o empre-
sariado português, que lhe dava sustentação política. Portanto,
criou empresas que, beneficiadas pelo Estado com amplos poderes,
30 HISTÓRIA I
1ª Série Módulo 18
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e Espanha, Pombal determinou ao governador-geral que tomasse
conta das regiões até então controladas pelos jesuítas. Estes resistiram,
sobretudo, na Região Amazônica, onde estava a maior parte de suas
missões.
Uma das primeiras providências de Pombal para minar a
resistência jesuíta foi criar, em 1755, a Companhia do Grão-Pará e
Maranhão, que era uma empresa monopolista, na medida em que
todas as importações só poderiam ser feitas por seu intermédio e
todos os produtos exportáveis deveriam ser vendidos a ela.
Com isso, os jesuítas ficaram impossibilitados de vender os
produtos das missões, e toda a população local tornou-se depen-
O Conselho Ultramarino tentava centralizar a administração das atividades marítimas do Império
dente dos preços impostos pela empresa. Já nos dois primeiros
anos de seu funcionamento, as exportações caíram para menos da
Ao longo da sua vigência, o Conselho Ultramarino reuniu metade do período anterior.
documentações referentes às instituições da administração Para abafar os protestos ocasionados pela medida, Pombal
central de Portugal desde o século XVI até sua extinção, em envidou todos os esforços. Os padres que protestavam em público
1833. Esse organismo acompanhou toda a expansão portuguesa eram julgados pelos tribunais portugueses muitas vezes à revelia,
no mundo, no planejamento de centralizar a administração de o que facilitava sua condenação.
todas as atividades ultramarinas do Império Português. Entre
Em 1758, Pombal pediu licença ao papa para reformar a Ordem
as atribuições do Conselho, destacavam-se as seguintes:
dos Jesuítas e logo depois, por meio de um alvará, retirou dos jesuítas
• Administração da Fazenda; qualquer autoridade sobre os índios brasileiros.
• decisões referentes ao movimento ultramar para as Índias; No mesmo ano, um atentado contra a vida do rei D. José I,
• definições de equipamento, embarcações e armas; atribuído por Pombal a uma conspiração liderada por nobres e
• provimento de ofícios de Justiça e Fazenda;
jesuítas, forneceu o pretexto que faltava para o déspota lançar sua
• orientação dos negócios referentes à guerra;
ofensiva final sobre a Companhia de Jesus e sobre a nobreza lusa,
• requerimentos de benefícios por trabalhos prestados em
ultramar. fortalecendo ainda mais seu poder.
Em janeiro do ano seguinte, começaram as prisões dos padres
O Conselho Ultramarino funcionou na cidade de Lisboa. e em setembro a Ordem foi proibida de funcionar em todos os
Depois, fixou-se no Rio de Janeiro, onde continuou atuando domínios de Portugal, tendo seus bens confiscados e seus membros
até 1821. Nesse mesmo ano, voltou para seu país de origem expulsos do território lusitano e de suas colônias. Isso gerou um
e foi extinto em 1833; suas atribuições foram passadas para enorme problema para o Brasil, pois, em dois séculos de presença,
juízes, Tesouro Público e Secretaria de Estado dos Negócios os jesuítas consolidaram tanto uma posição importante na política
da Marinha e Ultramar. de tratamento dos índios como, principalmente, contribuíram para o
precário sistema de educação colonial. Com a expulsão deles, a Região
Apesar de todas as medidas administrativas de Pombal, não Amazônica, principal centro de suas atividades, entrou em estagnação
houve meio de sanear a economia do reino. Em seu governo, e no resto da Colônia foram fechados os melhores colégios existentes.
reformou a pesada estrutura do tesouro, mudou a estrutura do
Domínio Público/Wikimedia
2. As primeiras revoltas coloniais Dentre as inúmeras ideias falsas sobre a história do Brasil, tem-se a
da “passividade” do negro, isto é, a afirmação preconceituosa e racista
de que o negro aceitou a escravidão passivamente. Se a historiografia
2.1 Contexto histórico tradicional pretende ressaltar a “benevolência branca” e a “passividade
A partir de determinado momento, os alicerces do antigo negra”, sua atitude não passa de uma tentativa de “mascarar” a realidade.
sistema colonial sofreram prejuízos. É fundamental lembrar que O negro sempre lutou contra a escravidão. A rigor, sua luta pela
não se pode compreender essa crise analisando apenas um lado liberdade no Brasil é um fato histórico que extrapola os limites do
do problema, ou seja, há uma inter-relação entre o que estava tempo e chega aos dias atuais.
ocorrendo na Europa e o que ocorria na América; ambos se As fugas de escravos e a formação dos quilombos foram
articulavam, uma vez que a área central e a periferia tornaram-se comuns no Brasil desde o século XVI, entretanto, somente no
um único conjunto. final do Período Colonial e no início do império, as insurreições
As primeiras revoltas não tiveram caráter emancipatório, ocorreram de forma mais sistemática.
ou seja, não visavam à independência da Colônia, por isso alguns É importante que se lembre, todavia, que esses movimentos
historiadores as denominam de rebeliões nativistas. Eram reações coletivos de resistência dos escravos negros não conseguiram
às arbitrariedades das autoridades portuguesas, ao excesso de fisca- questionar o sistema escravista ou derrubá-lo.
lismo e às reivindicações dos colonos não atendidas pela Metrópole.
Além disso, as condições de exploração da Colônia ainda eram
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limitadas, o que possibilitava aos revoltosos a busca de alternativas.
Tinham um caráter local e um baixo grau de definição
ideológica, pois não revelavam uma consciência mais ampla da
dominação colonial nem apresentavam propostas alternativas, como
aconteceria com os movimentos emancipatórios.
Essas primeiras manifestações de rebeldia visavam, na verdade,
reformar alguns aspectos mais odiosos da exploração colonial
sobre uma determinada região. Ora eram movimentos contra o
monopólio que uma companhia privilegiada de comércio tinha
sobre determinada região; ora eram contra leis da Metrópole que
protegiam os índios contra a escravidão. Às vezes eram conflitos
locais que opunham senhores de engenho aos comerciantes
portugueses ou os bandeirantes paulistas aos moradores de outras
capitanias que disputavam com eles o domínio das minas.
Esses movimentos de rebelião pouco questionavam a autoridade Capoeira ou a Dança da Guerra, de Johann Moritz Rugendas, 1835
da Coroa portuguesa, jamais propunham a construção de uma nova
nação. Suas razões eram meramente regionais. Aliás, nem se podia Também havia as diferenças étnicas entre os africanos que
pensar em uma ideia de nação. O Brasil era uma extensa Colônia chegavam ao Brasil. Nos navios negreiros e nos engenhos, era
despovoada, sem comunicação, com regiões isoladas e um interior costume misturarem-se negros de várias etnias, muitas vezes rivais,
quase vazio. para evitar rebeliões. Cada grupo étnico falava uma língua diferente,
e poucos conheciam alguns rudimentos da língua portuguesa.
2.2 A Revolta de Palmares Portanto, a comunicação entre eles era muito difícil. Muitas vezes
essas etnias já eram inimigas na África, onde uns haviam sido
Rebeliões e revoltas contra o domínio português se verificaram
presos e mesmo massacrados pelos outros. As rivalidades levavam
desde o século XVII, como demonstra a Rebelião de Palmares.
até mesmo à delação. Era comum o escravo de uma etnia delatar
A exploração que a Metrópole exercia sobre a Colônia brasileira
outro rival ao saber que preparava qualquer movimento.
provocava reação dos colonos. Essas reações se acentuaram à
medida que a economia colonial se diversificava e se desenvolvia. Além disso, havia as diferenças entre a própria escravaria, que
estava dividida em dois principais grupos:
A historiografia tradicional brasileira, elitista e heroica, foi usada
quase sempre como instrumento para desfigurar a verdade histórica. • os negros boçais – responsáveis pelo trabalho braçal mais
Deliberadamente ou não, foi comum aos historiadores do pesado, eram africanos que não falavam o português, usavam
seus dialetos, sendo o mais comum o yorubá;
passado escrever a História do Brasil segundo a ótica do coloni-
• os negros ladinos – negros africanos que passavam por um
zador, ou seja, da elite dominante, aquilo que se chama de “história processo de “branqueamento”, ou seja, aprendiam a falar o
dos vencedores”. Daí decorrem as incorreções metodológicas, bem português, se convertiam ao catolicismo e eram usados nos
como os falseamentos ideológicos e históricos. serviços domésticos ou na agricultura de subsistência.
32 HISTÓRIA I
1ª Série Módulo 18
Havia ainda um terceiro grupo, menor em quantidade, o grupo Quilombo é, por definição, uma comunidade negra formada e
dos crioulos, formado por negros e mulatos nascidos no Brasil, organizada para realizar a luta pela liberdade e contra a escravidão.
e que também eram usados nas roças de subsistência, como capitães Esses redutos foram a base da resistência negra e existiam em
do mato ou como negros de ganho. qualquer lugar do Brasil onde prevalecessem relações escravistas,
colocando em risco a aristocracia rural.
Cultura e resistência nos quilombos alguns folcloristas. Entre elas, jongos, sambas de roda, tambores
A escravidão durou cerca de 300 anos no Brasil e foi um de crioula e festas do boi receberam o reconhecimento oficial
dos pilares da economia, além de ter largamente modificado as do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. A Lei
esferas social, étnica e cultural do país. Quando falamos de uma 10.639/2003, por sua vez, torna obrigatório o ensino de história
instituição de tal tamanho, é necessário compreender não só e cultura afro-brasileira nas escolas.
alguns aspectos importantes como a desumanização do escravo, A emergência ou a revitalização recente dessas festas
a condição precária a que foram submetidos e as consequências negras articula-se com os novos rumos dos movimentos negros
desta para a vida de milhões de pessoas, mas também uma contemporâneos, embora também tenham de enfrentar diferentes
esfera que às vezes é muito esquecida, que é a resistência dessas conflitos, muitas vezes impostos pelo crescimento de determi-
populações contra a escravidão. Sobre a cultura e a resistência nados movimentos religiosos evangélicos. Conflitos e mudanças
nos quilombos, Martha Abreu escreve: fazem parte da história de todas as festas, em qualquer tempo.
“Festas de jongo, congados, folias de reis, festas de boi, A partir dessa discussão mais ampla, uma boa estratégia é
maracatus, cocos, tambores de crioula e sambas de roda – contar a história da festa de uma pequena localidade, distante
criadas e recriadas pelos africanos e seus descendentes ao longo do Rio de Janeiro cerca de três horas, no município de Valença:
do século XIX, a presença dessas festas no século XXI desafia o Quilombo São José da Serra. Apesar de o local ser distante e
todos os prognósticos de folcloristas e intelectuais. A previsão de difícil acesso, a repercussão recente dos seus tambores, versos
era de desaparecimento, em função das irresistíveis pressões e danças tem sido impressionante por todo o Sudeste do Brasil.
da miscigenação e da modernidade. Como entender hoje a A festa se realiza todos os anos, em torno de 13 de maio, e
continuidade dessas festas, quando estamos muito longe dos seus festeiros são descendentes da última geração de africanos
africanos e da escravidão? e escravizados do velho Vale do Paraíba cafeeiro. Reivindicam
No passado, certamente, as festas negras ocuparam espaço hoje o título e os direitos de “remanescentes das comunidades
fundamental na luta de escravos e libertos. Foi algo pelo qual dos quilombos”, a partir do artigo 68 dos Atos das Disposições
valia a pena lutar. Ao lado da defesa da família, do acesso à Constitucionais Transitórias da Constituição Brasileira de 1988.
terra e da própria liberdade, as reuniões festivas, religiosas ou Depois de mais de 15 anos de luta, a vitória e o reconhecimento
não, estiveram na pauta das reivindicações de escravos e seus de suas terras parecem estar próximos.”
descendentes em todos os locais onde houve escravidão.
Mesmo depois da abolição e ao longo do século XX, apesar ©Vilma Neres/Flickr
Se os tamanhos dos quilombos eram distintos, também eram A população de Palmares apresentava uma composição
diferentes as formas de defesa. bastante heterogênea. Ali conviviam negros das mais diferentes
De maneira geral, os quilombolas queriam a paz com os etnias, mestiços e índios organizados em mocambos (aldeias),
brancos e usavam o ataque apenas para se defender ou para em que domesticavam animais, desenvolviam a arte da cerâmica e
conquistar alimentos. Usavam como escudo do território artifícios praticavam rudimentos de metalurgia.
muito engenhosos, tais como cercas de madeira, fossos e espinheiras. Os negros que chegavam a Palmares de livre e espontânea
O historiador Décio de Freitas escreveu em seu livro Palmares – vontade passavam a viver em liberdade; os que fossem raptados
A guerra dos escravos, que existiam sete tipos de quilombos quanto dos engenhos ou aprisionados nos combates com portugueses e
à subsistência: holandeses eram escravizados até que conseguissem trazer outro
negro ao quilombo.
“... os agrícolas, que existiram em todas as regiões do Brasil; os
mineradores, que viviam do garimpo e do contrabando de metais A fertilidade da região da Serra da Barriga e o trabalho geraram
e pedras preciosas em Minas Gerais, Mato Grosso e parte da Bahia; grandes plantações e colheitas. Ali se cultivavam cana-de-açúcar,
os extrativistas, que exploravam as drogas do sertão na Amazônia; arroz, feijão, milho, fumo, mandioca e batata-doce.
os mercantis, também na Amazônia, que trocavam com os índios as A terra era propriedade coletiva de toda a comunidade. Com
drogas do sertão, que depois eram comercializadas com os merca- exceção dos objetos de uso pessoal, tudo era de todos.
dores que desciam os rios; os de serviços, que forneciam mão de No plano econômico e comercial, embora a estrutura de
obra aos subúrbios das cidades, onde os quilombolas trabalhariam produção se voltasse basicamente para o consumo comunitário,
fazendo-se passar por libertos; os pastoris, no Rio Grande do Sul, sabe-se que os quilombolas chegaram a comerciar com holandeses,
que criavam gado; e os predatórios, que existiram em quase todo o portugueses e até com vaqueiros do sertão, aos quais vendiam
Brasil e viviam do saque às propriedades dos brancos”. alimentos. Assim, muitos brancos protegiam as comunidades de
Das dezenas de quilombos existentes no Brasil, vale destacar Palmares, devido a interesses comerciais.
o Quilombo de Palmares, que, pela extensão territorial, nível Na hierarquia social, o topo da pirâmide era ocupado pelos
de organização e tempo de duração, cerca de 65 anos – sendo os sacerdotes dos cultos religiosos, os militares, os chefes de aldeia
últimos 10 anos só de cerco –, transformou-se no mais importante e o rei. O chefe de aldeia liderava as comunidades, pagando
movimento negro da história nacional. tributos à capital.
Palmares localizava-se estrategicamente no atual estado de
Domínio Público/Wikimedia
Alagoas, em uma região acidentada e de difícil acesso, porém
dotada de abundantes terras férteis, caças, frutas, rios e madeira, a
chamada Serra da Barriga.
Palmares
AL
AG
OA Maceió
S
Amaro
Arotirene Tabocas
Dambrabanga
Reunidos em uma assembleia, os chefes comunitários elegiam
Subupira Aqualtene
o rei, cujo cargo era vitalício, com base em critérios como coragem,
OCEANO força física e capacidade de comando. O rei, no entanto, era
Osenga
Porto ATLÂNTICO auxiliado por um conselho de anciãos, escolhido entre os chefes das
Macaco Calvo cidades, tendo esses chefes e o rei privilégios e direitos negados a
qualquer outro morador, por exemplo, o de usar guardas pessoais
e possuir várias mulheres.
Andalaquituche
Além do mais, eram os únicos que se vestiam bem, para
MACEIÓ
simbolizar a importância e a liturgia do cargo. As armas de fogo
eram proibidas e, seguindo costumes africanos, o homicídio, o
adultério e o roubo eram severamente reprimidos.
34 HISTÓRIA I
1ª Série Módulo 18
Palmares, com sua organização política, econômica e social, era Todavia, a figura do herói negro Zumbi continua até hoje
um verdadeiro Estado Negro autônomo dentro do Brasil senhorial. sendo o símbolo da luta negra contra o preconceito e o racismo no
Por isso, sua existência era uma afronta à ordem branca instituída, Brasil. Tem-se, inclusive, a eleição do 20 de novembro como o Dia
devendo ser completamente destruído e seus líderes, aniquilados, da Consciência Negra.
até para servirem de exemplo para outros negros.
Entretanto, a destruição completa de Palmares foi mais difícil 2.3 A Revolta de Beckman
que se supunha. Foram necessárias ao todo 18 expedições contra
O Maranhão antigo, que compreendia uma vasta área do atual
a comunidade, a última com tropas comandadas pelo bandeirante
Rio Grande do Norte até o Pará, era uma das regiões econômicas
Domingos Jorge Velho, sertanista que realizou muitos serviços
mais importantes do Brasil colonial. Grande produtor de algodão,
prestados às elites coloniais e ao Estado metropolitano, destruindo,
lá também se cultivava cana-de-açúcar e se organizava a coleta de
matando e expropriando grupos de índios e negros por toda a
drogas do sertão, na Floresta Amazônica. O problema essencial
Região Nordeste, onde, inclusive, transformou-se em grande senhor
para o colono do Norte era a necessidade de utilizar a mão de obra
de terras.
indígena na lavoura e na coleta das drogas do sertão, uma vez que
Depois de várias incursões ao quilombo, e quase dez anos de a oferta de escravos negros era insuficiente.
cerco total, Palmares foi finalmente destruído, em 1694.
Os jesuítas, radicalmente contrários à escravização indígena, e o
Zumbi resistiu heroicamente, mas impossibilitado de resistir Estado metropolitano, que interferia de forma arbitrária, restringiam
por mais tempo, tentou uma retirada com centenas de quilombolas a possibilidade de os colonos acumularem riquezas, o que provocou
a fim de organizar a resistência negra em outro ponto. A estratégia, uma insatisfação generalizada no Norte, ao longo do século XVII.
entretanto, não deu resultado e, apanhados de surpresa pelas forças
Nessa questão, os jesuítas eram os maiores inimigos dos
inimigas, os fugitivos morreram lutando. Zumbi conseguiu fugir,
colonos, na medida em que não admitiam a escravidão dos índios
porém, em 20 de novembro de 1695, foi aprisionado e decapitado.
e os organizavam em missões, nas quais exploravam o trabalho
Sua cabeça, espetada em um poste, foi colocada em praça pública,
indígena. Além disso, por meio do Alvará Régio de 1655, os índios
como prova de sua mortalidade aos negros que o julgavam imortal.
foram colocados sob autoridade exclusiva dos padres da Companhia
de Jesus. Um dos mais ferrenhos defensores da liberdade do índio
©Halley Pacheco de Oliveira/Wikimedia
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latifundiária sediada em Olinda, que, devido à centralização
político-administrativa imposta pela Metrópole, viu escapar de
seu domínio os poderes administrativos sobre a capitania de
Pernambuco.
Olinda, o aristocrático centro da elite agrária pernambucana até
a dominação holandesa, era a área mais importante da capitania,
sobressaindo-se em relação a Recife. Entretanto, durante a admi-
nistração de Nassau, Recife foi urbanizado e recebeu obras vultosas,
tornando-se a sede administrativa da capitania e superando Olinda
em importância política.
Com a expulsão dos holandeses e o acirramento da crise econômica,
tornou-se ainda mais evidente o contraste entre Recife e Olinda.
Enquanto a velha e aristocrática Olinda empobrecia com a crise
açucareira, a jovem e dinâmica Recife enriquecia com o comércio
Os jesuítas impediam a escravização dos indígenas, e os colonos se revoltavam contra isso
eventualmente. Na pintura de Johann Moritz Rugendas, vemos a ação jesuítica com os índios manipulado por uma rica burguesia portuguesa. Com o crescimento
dos negócios em Recife, os comerciantes enriquecidos que ali faziam
Os rebeldes vitoriosos constituíram um novo governo, aboliram seus negócios e suas transações mercantis insistiam que o local
o monopólio da Companhia e revogaram o Alvará que os impedia continuasse a ser a sede administrativa da capitania.
de escravizar os índios.
Domínio Público/Wikimedia
Tomás Beckman rumou para Lisboa, onde expôs ao governo
português as razões da rebelião, o que é uma prova incontestável
de que a Revolta de Beckman não foi um movimento que visava
à emancipação da Colônia, mas sim um movimento que buscava
soluções imediatas para o problema da mão de obra na região.
Portugal nomeou Gomes Freire de Andrade como o novo
governador para o Estado do Maranhão. O novo governador,
Na gravura de Gillis Peeters observa-se uma vista parcial da cidade de Recife
político extremamente hábil, procurou inicialmente contemporizar
rompendo o monopólio da Companhia de Comércio. Esse fato Não se pode esquecer que o empobrecimento da aristocracia
desmobilizou os revoltosos e Gomes Freire debelou facilmente olindense a endividava e a submetia aos ricos comerciantes de Recife
o movimento rebelde e prendeu seus principais líderes, tendo que lhe emprestavam dinheiro. Isso se dava uma vez que Olinda, a
Manuel Beckman e Serrão de Castro, os mais comprometidos com velha capital incendiada pelos holandeses, fora reconstruída apenas
a rebelião, sido condenados à morte e enforcados. As outras penas em parte e, embora continuasse sede do governo e do bispado, não
variaram do degredo à prisão. Muitos rebeldes foram perdoados. conseguia crescer tanto quanto Recife. Esta se tornava cada vez mais
Os jesuítas voltaram ao Maranhão, recuperando o controle rica, porém era politicamente inferior, na medida em que estava
sobre os indígenas, o que significou a permanência dos atritos com submetida às determinações da Câmara Municipal de Olinda.
os colonos, pois não abriram mão de sua posição de defensores da Os comerciantes de Recife, chamados pejorativamente
liberdade do índio. pelos olindenses de mascates, exigiam sua elevação à categoria
de vila, o que lhes daria autonomia político-administrativa. Em
2.4 Guerra dos Mascates verdade, os mascates passaram a reivindicar o poder político,
A Guerra dos Mascates pode ser vista sob vários prismas: o até então exclusivo dos senhores de terras e de escravos. Estes,
econômico (produtores contra comerciantes de açúcar), o das por sua vez, se opuseram com violência, invocando os sacrifícios
nacionalidades (brasileiros, os “mazombos”, contra reinos de realizados na luta contra os holandeses e apoiando-se na tradição
origem portuguesa, os “mascates”), ou ainda, como é mais comum, (só tinham acesso a certos cargos os que não desempenhavam
o municipal (Olinda × Recife). trabalhos “mecânicos”).
Quando os holandeses renderam-se no Recife, em janeiro de Outro fator explicativo do conflito estava além da luta
1654, pondo fim a 25 anos de ocupação, teve início na capitania de municipal. Havia um conflito de ordem econômica, no qual o
Pernambuco um período de turbulência política e crises econô- domínio holandês havia sido comercial e urbano, deixando o
micas, em especial da empresa açucareira nordestina. Conforme já interior da capitania sob o controle dos brasileiros. Com isso, a
afirmado, a crise foi motivada pelo crescimento da produção açuca- venda do açúcar deixou de pertencer aos produtores – da mesma
reira antilhana financiada pelo capital holandês e pela consequente forma como aconteceu na Bahia – e passou para os comerciantes
queda de preço do açúcar brasileiro nos mercados internacionais. relacionados aos mercados europeus.
36 HISTÓRIA I
1ª Série Módulo 18
O modelo foi mantido após a expulsão dos comerciantes flamengos, O confronto entre Olinda e Recife prosseguiu até a chegada de
sendo o comércio realizado por mercadores – os “mascates” – agentes um novo governador, nomeado pelo rei, em outubro de 1711. Este
ou associados de comerciantes portugueses. Em consequência, os mostrou simpatia pelos mascates, o que não poderia ser diferente,
produtores de açúcar logo estavam cheios de dívidas e os comerciantes afinal Recife significava dinheiro e comércio. Ademais, com os
ficavam cada vez mais ricos. Estava estruturada a crise. franceses a rondar a costa, a disseminada simpatia dos olindenses
A guerra propriamente dita pode ser explicada rapidamente. pela França não agradava ao reino. O novo governador prendeu
Em 1709, por determinação do rei D. Pedro II, Recife transformou- e enviou para Lisboa os principais implicados na revolta, além de
-se em município, sendo incumbidos o governador Castro e Caldas confiscar-lhes os bens.
e o ouvidor de fixarem os seus limites. A luta chegou ao fim. Recife foi confirmado como vila e capital
No ano seguinte, foi erguido em Recife um pelourinho, desse da capitania. A rica burguesia portuguesa saía finalmente vitoriosa.
modo investindo Recife na categoria de vila, uma vez que o pelou-
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rinho era o símbolo da emancipação municipal e local público em
que, no Brasil, os negros eram amarrados e açoitados.
Os olindenses não se conformaram e o governador foi alvo de
um atentado a tiros, provocando uma atitude repressiva do governo.
Prisões foram feitas, aumentando ainda mais a insatisfação das elites
de Olinda. O governador, por sua vez, refugiou-se na Bahia, sob
a proteção do governador-geral. Os olindenses marcharam sobre
Recife, invadiram e dominaram a cidade, destruindo o pelourinho.
Vista da cidade de Recife e do porto
I. Todos os movimentos de contestação visavam à separação 04 (UFRN) A Revolta de Beckman e a Guerra dos Mascates,
definitiva do Brasil de Portugal. verificadas no final do século XVII e no início do século XVIII,
II. Até a primeira metade do século XVIII, os movimentos podem ser caracterizadas como:
contestatórios exigiam mudanças, mas não o rompimento do
estatuto colonial. (A) movimentos isolados em defesa de ideias liberais, nas diversas
III. Desde o final do século XVIII, os movimentos de libertação capitanias, com a intenção de se criarem governos republicanos.
sofreram a influência do Iluminismo e defendiam o fim do (B) movimentos de defesa das terras brasileiras, que resultaram em
Pacto Colonial. um sentimento nacionalista, visando à independência política.
IV. A luta pela abolição da escravatura era uma das propostas (C) manifestações de rebeldia localizadas, que contestavam aspectos
presentes em basicamente todas as rebeliões. da política econômica de dominação do governo português.
V. Uma das razões de vários movimentos contestatórios era o (D) manifestações das camadas populares das regiões envolvidas, contra
abuso tributário da Coroa portuguesa em relação aos colonos. as elites locais, negando a autoridade do governo metropolitano.
Brasil Colônia: revoltas coloniais HISTÓRIA I 37
Módulo 18 1ª Série
05 (UFMG) Sobre a Guerra dos Mascates, pode-se afirmar corre- com os comerciantes da Vila de Recife. Essa situação gerou um
tamente que: forte antagonismo entre essas partes, que se acirrou quando D.
João V emancipou politicamente Recife, deixando esta de ser
(A) significou a retomada de Recife pelos portugueses, após um vinculada a Olinda. Tal fato desobrigou os comerciantes de Recife
período de dominação holandesa. do recolhimento de impostos a favor de Olinda.
(B) os produtores de cana-de-açúcar de Recife, endividados,
revoltaram-se contra os comerciantes de Olinda. O conflito que eclodiu em função do relatado no texto foi a:
(C) resultou de conflitos entre comerciantes de Recife e senhores
de engenho de Olinda a respeito do controle político-adminis- (A) Revolta de Beckman.
trativo da região. (B) Guerra dos Mascates.
(D) foi uma típica revolta anticolonialista, pois os “mascates” eram (C) Guerra dos Emboabas.
os comerciantes portugueses que dominavam a economia local, (D) Insurreição Pernambucana.
com o apoio dos senhores de engenho. (E) Conjuração dos Alfaiates.
05 (UFPE)
A confrontação entre a loja e o engenho tendeu principal-
mente a assumir a forma de uma contenda municipal, de escopo
jurídico-institucional, entre um Recife florescente que aspirava à 01 (UFJF) Esta é a imagem atribuída a Zumbi dos Palmares:
emancipação e uma Olinda decadente que procurava mantê-lo
O dia 20 de novembro, dia da
numa sujeição irrealista. Essa ingênua fachada municipalista não morte de Zumbi dos Palmares, é
podia, contudo, resistir ao embate dos interesses em choque. Logo considerado, em muitas cidades
revelou-se o que realmente era, o jogo de cena a esconder uma luta brasileiras, o Dia da Consciência
pelo poder entre o credor urbano e o devedor rural. Negra. Sua figura é especialmente
reivindicada pelos movimentos
MELLO, Evaldo Cabral de. A fronda dos mazombos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 123.
sociais como símbolo de resis-
tência e de luta contra a opressão
O autor refere-se:
sofrida pelos negros. Acerca dessa
questão, responda ao que se pede:
(A) ao episódio conhecido como a Aclamação de Amador Bueno.
(B) à chamada Guerra dos Mascates.
a. O que foi o Quilombo dos Palmares?
(C) aos acontecimentos que precederam a invasão holandesa de
b. Cite e analise duas outras formas de resistência à escravidão.
Pernambuco.
(D) às consequências da criação, por Pombal, da Companhia Geral
02 (UNICAMP) Em 1694, tropas comandadas pelo paulista
de Comércio de Pernambuco.
Domingos Jorge Velho destruíram o Quilombo de Palmares, que
(E) às guerras de independência em Pernambuco.
havia se formado desde o início do século XVII. Poucos sobrevi-
veram ao ataque final, refugiando-se nas matas da Serra da Barriga
sob a liderança de Zumbi, morto em 20 de novembro de 1695, depois
de resistir por quase dois anos.
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HISTÓRIA I 39
Módulo 19 1ª Série
Movimentos de independência:
Conjuração Mineira
©rudall30/iStock
o imposto devido. Em 2014, essa prática superou R$415 bilhões
no Brasil. Esses dados foram levantados pelo Sindicato Nacional
dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz) por meio do
“sonegômetro”, um painel que mostra diariamente o quanto se
sonega de impostos no país. Para efeito comparativo, basta dizer
que o valor corresponde a aproximadamente 10% de toda a riqueza
gerada no país durante o período.
Especialistas do setor calculam que esse valor é maior que os
orçamentos da União, em 2014, para os Ministérios da Saúde e da
Educação somados. Além disso, os programas sociais do Governo
Federal, como o Bolsa Família, têm R$24 bilhões ao ano para
Expectativas de aprendizagem:
atender 14 milhões de famílias. Portanto, o que foi sonegado em
– Identificar o contexto histórico que relaciona influências
2014 equivale a 17 anos do programa. da ideologia iluminista ao prenúncio do declínio colonial,
Infelizmente, esse processo de sonegação fiscal não é novo no culminando nos movimentos de independência;
C5 – analisar criticamente as diferenças e as continuidades entre as
Brasil. Ele está, inclusive, na origem de um dos mais importantes
revoltas;
movimentos da nossa história, a chamada Conjuração Mineira, que – examinar como tendências liberais e republicanas inspiraram algumas
vamos analisar neste módulo. das críticas feitas ao regime, em especial na Conjuração Mineira.
1. Introdução
©onairda/iStock
1.1 Influências
O Iluminismo foi uma revolução intelectual que, na Europa
do século XVIII, representou o apogeu de um processo cultural
iniciado com o Humanismo, quando o uso da razão foi pela primeira
vez valorizado como instrumento do progresso. Esse movimento
colocava-se contra tudo o que era considerado desprovido de
base racional.
Historicamente, o Iluminismo liga-se à ascensão da burguesia
e de sua ideologia. No plano econômico, corresponde à passagem
do mercantilismo, à Revolução Industrial e à prática do livre- “Liberdade, igualdade e fraternidade” era o lema da Revolução Francesa, que fora
-comércio. Parece claro, portanto, que a questão fundamental para grandemente influenciada pelo Iluminismo, assim como a Revolução Americana
se entender a crise do antigo regime está diretamente relacionada Em um mundo convulsionado, o governo português adotara
com a introdução do modo de produção capitalista, cujas exigências a política de barrar as ideias iluministas. O Estado proíbe livros
não poderiam ser atendidas pelos mecanismos básicos do antigo franceses, proíbe reuniões, persegue tudo o que lembre as ideias
sistema colonial, já que este fora o instrumento do capital comercial. revolucionárias. O que valia para Portugal, valia em dobro para o
Os princípios da filosofia iluminista tiveram influência decisiva Brasil, como a proibição de montar tipografias e importar livros.
sobre processos históricos importantes, como a Independência A ordem era intensificar a vigilância sobre os possíveis pregadores
Americana (1776) e, sobretudo, a Revolução Francesa (1789), que da revolução.
representou a vitória do Iluminismo, realizando suas reivindicações.
40 HISTÓRIA I
1ª Série Módulo 19
Domínio Público/Wikimedia
Minas Gerais
É óbvio que o contraste entre os rudes e incivilizados, paulistas Pintura anônima que retrata os incidentes da Guerra dos Emboabas entre os paulistas
descobridores das minas e os “emboabas”
e os colonos da Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro, acostumados
ao contato com o europeu, era brutal.
Movimentos de independência: Conjuração Mineira HISTÓRIA I 41
Módulo 19 1ª Série
Os emboabas, em número muito superior aos bandeirantes O Centro-Oeste se incorporava às terras portuguesas da
paulistas, organizaram um governo livre e independente, com América com a descoberta do ouro em Mato Grosso e Goiás, o que
poderes plenos sobre as Minas Gerais. provocou a saída, a partir de São Paulo, de expedições comerciais
Nitidamente em inferioridade e derrotados em alguns chamadas monções, que, utilizando principalmente as vias fluviais,
confrontos, os paulistas foram obrigados a se retirar para a região de abasteciam as zonas mineradoras.
Rio das Mortes, onde preparariam a contraofensiva. Enquanto isso,
Nunes Viana foi aclamado o novo governador e enviou tropas no As novas expedições comerciais
encalço dos paulistas, porém foi derrotado no primeiro confronto.
Os emboabas realizaram um novo ataque que forçou os paulistas a
se dividirem em vários grupos e a se refugiarem nos matos. GOIÁS
Vila Real do Bom
Um desses refúgios ficou conhecido como Capão da Traição, Jesus de Cuiabá Vila Boa
porque ali foram massacrados dezenas de paulistas por um chefe
emboaba que lhes prometera respeitar suas vidas caso depusessem
á
iab
MATO GROSSO
Cu
as armas. Esse episódio foi marcante na guerra, na medida em aíba MINAS
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que criou, no interior da comunidade bandeirante, um desejo quari
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Sabará
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de vingança, levando os paulistas, em um esforço gigantesco, a Rio Grande
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prepararem uma expedição com aproximadamente dois mil homens Rio
Casa Branca Vila Rica
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tê (hoje Ouro Preto)
com o objetivo de represália. Os paulistas seguiram para as Minas
Rio P SÃO PAULO Cataguazes
Gerais, onde novos combates com os emboabas lhes aguardavam. ran
á aran
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Rio
em a Feliz Taubaté
Rio Campinas
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2.3 Fim do conflito agu
ai
Sorocaba São Paulo
São Vicente
Os conflitos duraram vários dias, até o abandono da luta pelos
paulistas, mais uma vez derrotados pela superioridade numérica OCEANO ATLÂNTICO
dos adversários. Chegava ao fim a Guerra dos Emboabas.
Alguns paulistas derrotados no conflito, seguindo a vocação monções
Domínio Público/Wikimedia
Domínio Público/Wikimedia
Pintura célebre da Revolução Francesa de Eugène Delacroix
A intelectualidade congregava-se na Arcádia Mineira, cujos prin- lucionária da Metrópole. Prendeu e espancou todos os tecelões
cipais membros foram os poetas Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio que encontrou para fazer cumprir o Alvará de 1785, que proibia a
Manuel da Costa, Silva Alvarenga, Alvarenga Peixoto e outros. produção de tecidos no Brasil.
Foi, no entanto, um estudante carioca, José Joaquim da Maia, Demitiu um grande número de funcionários para entregar os
que, influenciado pela Independência dos Estados Unidos, procurou cargos aos amigos portugueses, enquanto multiplicava extorsões
Thomas Jefferson, representante desse país, em Paris e pediu ajuda a pretexto de cobrar taxas e impostos. Qualquer oposição era
norte-americana para a possível luta brasileira contra o domínio esmagada por espancamentos, prisões e torturas. Visando
metropolitano. ridicularizar o tirano, Tomás Antônio Gonzaga identificou-o ao
Maia não chegou a voltar ao Brasil, morreu algum tempo “Fanfarrão Minésio”, grotesco personagem de suas Cartas Chilenas
depois em Lisboa. Ficou, no entanto, a documentação do encontro, que circularam pela capitania, sem o nome do autor.
seguramente não o único entre brasileiros e líderes do movimento
libertário que então varria a Europa e a América. Impedidos de
estudar no Brasil pelas leis portuguesas que aqui vedavam a instalação As Cartas Chilenas têm um conteúdo
de universidades, os muitos estudantes que viajavam à Europa eram político revolucionário?
os portadores naturais das novas ideias.
As Cartas Chilenas são 13
©Pollini/Wikimedia
Chegavam também livros proibidos que a Alfândega, por
cartas escritas por um autor
ignorância ou corrupção, deixava passar. Em um registro de carga de
com pseudônimo Critrilo – e
1791, destinado à Vila do Príncipe, perto do Arraial do Tijuco, em
atribuídas a Tomás Gonzaga
plena Chapada Diamantina, leem-se os nomes de Voltaire, Rousseau e
–, de tom satírico, que relatava
Montesquieu. Por menos que se divulgassem, as ideias desses escritores
os desmandos, as desordens,
– e o exemplo do que estava acontecendo pelo mundo – encontravam
os atos corruptos e “causos”
condições excelentes de penetração na região mineira, sob forte pressão
do tipo que circularam por
tributária e em plena decadência das jazidas de ouro.
Vila Rica poucos anos antes
4.3 O contexto econômico: da Inconfidência Mineira.
Sobre essas cartas, escreve
o controle da Coroa Joaci Furtado:
Tomás Antônio Gonzaga, o Dirceu de
Marília, um dos mais importantes nomes
A queda da produção do ouro ocorreu a partir da década de 1760. do Arcadismo brasileiro. Sua poesia
“No sentido da mudança extrapola os clichês e o programa árcade,
No início, ainda se mantiveram altos os índices de produção, mas a radical, da quebra da ordem aproximando-se mais do Romantismo no
cada ano evidenciava-se o declínio produtivo e a pobreza da população. estabelecida, da ruptura com seu exuberante tom confessional.
Entretanto, o fisco luso mantinha sua habitual voracidade, determinada situação política e social propondo algo inteira-
ignorando o esgotamento das minas e preferindo atribuir a diminuição mente novo, as Cartas Chilenas nada têm de revolucionário.
da cobrança dos quintos à fraude dos mineradores. Ameaçavam a Atribuído a Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), esse
população com a decretação da derrama, a cobrança dos impostos em longo poema satírico, do qual restaram poucas cópias incom-
atraso, caso não fossem atingidas as cem arroubas prefixadas. pletas, é contemporâneo da Inconfidência Mineira – o que
Na área mineradora, o controle da Coroa sobre a produção e muitos consideram suficiente para interpretá-lo como uma
a vida dos habitantes era total. O custo de vida em toda a região espécie de manifesto dos conjurados.
continuava muito alto, agravado pelos impostos e pelo Alvará de Ocorre, porém, que suas críticas a D. Luís da Cunha Meneses,
1785, que fechou as manufaturas locais, obrigando a população então governador de Minas Gerais (1783-1788), nas cartas
a consumir apenas produtos importados, via de regra, produtos como “Fanfarrão Minésio”, não significam uma defesa da
britânicos, e de preços absurdamente altos. revolução ou de qualquer alteração do status quo. No poema,
Por toda parte, aumentava o medo da pobreza e a inquietação. encontramos passagens reconhecendo que não se deve resistir
Muitos começavam a dedicar-se à agricultura de subsistência ou nem mesmo à tirania – que, segundo o poeta, pode ser um
então abandonavam a região das minas. castigo divino.
Se Deus enviou o corrupto e violento Minésio, somente Ele
4.4 O estopim pode levá-lo. Bastaria isso para verificar a incompatibilidade
Diante do clima de revolta instalado, a administração portu- das Cartas Chilenas com a Inconfidência. Mas nelas há também
guesa crescia em opressão e práticas arbitrárias. O governador outras posturas bastante estranhas ao suposto ou verdadeiro
D. Luís da Cunha Meneses, que chegou em 1783, foi um bom espírito libertário dos conspiradores mineiros.”
exemplo da opressiva política metropolitana. O novo governador
enviado a Minas Gerais foi um fiel executor da política antirrevo- FURTADO, Joaci Pereira. Revista de História da Biblioteca Nacional. Abr. 2007.
44 HISTÓRIA I
1ª Série Módulo 19
Gonzaga, que era ouvidor da capitania, escreveu a D. Maria I Tiradentes encantou-se com as ideias dos iluministas que
denunciando as violências do governador, sem que qualquer vinham revolucionando a Europa e vislumbrou nelas a possibilidade
providência fosse tomada pelo poder real. Contribuiu, assim, para de uma revolta armada em prol da independência, iniciando,
alimentar o clima de opressão e revolta na capitania. Nem mesmo então, o trabalho de propagação das ideias libertárias em Vila
a elite local suportava o governante. Em 1789, seu arbítrio chegou Rica e adjacências. Tais ideias foram absorvidas pela rica elite de
ao auge quando anunciou uma derrama para completar a cota de mineradores e proprietários rurais de Minas Gerais, e dessa rica elite
impostos que as minas já não produziam. plutocrática saíram os principais líderes da Inconfidência. Na sua
A atitude do governo teve consequências imediatas. A combi- Pequena História da Formação Social Brasileira, o mestre Manoel
nação da economia estrangulada com o aumento de impostos Maurício nos explica:
era explosiva e incentivava ideias ousadas, sobretudo quando se
©Ytaillan/Wikimedia
meditava sobre o que haviam conseguido os norte-americanos.
Era recente para a memória da burguesia colonial brasileira a
Independência dos EUA.
Muitos membros da elite local procuravam interpretar
o momento segundo as novas ideias de liberdade. E, em vez
de protestar contra Portugal, passaram a pensar na inde
pendência do Brasil. Como afirma Kenneth Maxwell na sua obra
A Devassa da Devassa: “A coalizão de magnatas comprometidos
com a revolução mineira não era monolítica, tendo na multiplicidade
de motivações e de elementos envolvidos uma debilidade potencial.
Os magnatas esperavam alcançar seus objetivos sob cobertura de um
levante popular”.
Quase todos os inconfidentes eram versados nas teorias
revolucionárias da época, e foi para conhecê-las que Tiradentes
aprendeu francês. E Tiradentes? Qual seu papel no movimento?
Quem ele era afinal? Tiradentes nasceu no Sítio do Pombal, à
margem direita do Rio das Mortes, freguesia de Santa Rita do
Rio Abaixo, a 14 quilômetros de São João del Rey. Seus pais,
Domingos da Silva Santos e Antônia da Encarnação, ali tiveram O jovem Tiradentes, que viraria um ícone da
história brasileira
terras e sete filhos, e morreram quando o futuro alferes era ainda
muito menino. “No plano econômico, os conjurados mineiros defendiam os
Adolescente e órfão, Tiradentes aprendeu o ofício de dentista princípios liberais divulgados por Adam Smith e outros ideólogos
com o padrinho, Sebastião Ferreira Leitão, e as primeiras letras burgueses: livre produção e livre comércio. Em particular, preco-
provavelmente com o mais velho dos irmãos, Domingos, que se nizavam o desenvolvimento de manufaturas têxteis e da siderurgia,
preparava para ser padre. como efeito da Revolução Industrial inglesa e o estímulo à produção
Em 1767, com 20 anos, obteve a emancipação que lhe permitiu agrícola, pela doação de terras a famílias pobres. No entanto, a
usar os bens a ele destinados na partilha da herança dos pais escravidão, que era a base da estrutura econômica, era apenas
falecidos, pondo-se, então, pelos caminhos de Minas como tropeiro, condenada moralmente. Sobre ela não se elaborou nenhum plano
negociante. Em 1775, Tiradentes entrou para a Companhia dos para extingui-la futuramente.
Dragões de Vila Rica, já como alferes. No ano seguinte, serviu na Quanto à forma de governo, também não houve unanimidade
Sexta Companhia do Regimento de Cavalaria Regular de Minas dos conspiradores. Alguns se inclinavam por uma república
Gerais, comandado pelo capitão Baltazar João Mayrink, pai de federativa semelhante aos Estados Unidos, outros defenderam
Maria Doroteia, a Marília de Tomás Antônio Gonzaga. a adoção de uma monarquia constitucional tendo à frente um
Em 1781, foi nomeado comandante do Destacamento do príncipe português. Assim, a crise atingia a estrutura política do
Caminho do Rio, com a incumbência de proteger os viajantes e Estado, por meio do aparelho administrativo do Exército e da Igreja,
reprimir o contrabando. Nos anos seguintes, recebeu incumbências mobilizando intelectuais. Estes detinham o conhecimento suficiente
de responsabilidade, como a guarda do armamento depositado no para produzir uma ideologia que contestava a legitimidade da
quartel de Vila Rica; por considerá-lo com “inteligência mineraló- dominação colonial.”
gica”, o governador Luís da Cunha Meneses o designou, em 21 de Nas reuniões que se seguiram para a preparação do movimento,
abril de 1784, para procurar novas áreas auríferas no sertão. Mesmo nas quais Tiradentes se destacava como um dos líderes, capaz de
assim, jamais foi promovido. arrebanhar o apoio do povo, a elite rebelde apresentou um projeto
de reformas revolucionárias:
Movimentos de independência: Conjuração Mineira HISTÓRIA I 45
Módulo 19 1ª Série
• Proclamação de uma república com capital em São João Foi um triste fim para uma revolta que tinha no seu interior os
del Rey; grandes pensadores do Brasil Colônia.
• criação de indústrias têxteis e siderúrgicas, livres da interfe-
Todos os conjurados foram presos, torturados e enviados para
rência do governo;
• doação de terras às famílias pobres como estímulo ao cresci- um forte, no Rio de Janeiro. A devassa foi completa. Os envolvidos
mento da produção agrícola; perderam bens e cargos, e os chefes foram exilados e condenados à
• convocação militar obrigatória de todo cidadão em caso prisão e à morte.
de necessidade;
Domínio Público/Wikimedia
• eliminação dos monopólios;
• concessão de pensões às famílias numerosas e pobres;
• criação da primeira universidade brasileira em Vila Rica;
• adoção de uma bandeira com os dizeres do poeta Virgílio:
Libertas quae sera tamen, cuja tradução é “Liberdade ainda
que tardia”.
Domínio Público/Wikimedia
Quadro de Antonio Parreiras – Jornada dos Mártires que retrata a viagem dos inconfidentes
de Vila Rica para o Rio de Janeiro, onde seriam julgados como traidores da Coroa
03 (UFPE)
O fato de ser alferes influiu para transformar-me em conspi-
01 (ENEM) A primeira imagem, a seguir (publicada no século XVI), rador, levado a tanto que fui pelas injustiças que sofri, preterido
mostra um ritual antropofágico dos índios do Brasil. A segunda sempre nas promoções a que tinha direito. Uni minhas amarguras
mostra Tiradentes esquartejado por ordem dos representantes da às do povo, que eram maiores, e foi assim que a ideia de libertação
Coroa portuguesa. tomou conta de mim.
Tiradentes
05 (UERJ) 02 (UFTM)
Martírio de Tiradentes Era óbvia a sedução que o enforcamento do alferes representava
para o governo português: pouca gente levaria a sério um movimento
carregar com os pecadores de Israel, o que chorou de alegria quando (C) ao fato de a Proclamação da República ter sido um movimento
viu comutada a pena de morte dos seus companheiros, pena que de poucas raízes populares, que precisava de legitimação.
só ia ser executada nele, o enforcado, o esquartejado, o decapitado, (D) à semelhança física entre Tiradentes e Jesus, que propor-
esse tem de receber o prêmio na proporção do martírio, e ganhar cionaria, a um povo católico como o brasileiro, uma fácil
identificação.
por todos, visto que pagou por todos.
ASSIS, M. Gazeta de Notícias, n. 114, 24 abr. 1892. (E) ao fato de Frei Caneca e Bento Gonçalves terem liderado
movimentos separatistas no Nordeste e no Sul do país.
No processo de transição para a República, a narrativa machadiana
sobre a Inconfidência Mineira associa:
Acervo/César Menezes
O nome “Revolta dos Búzios” deve-se ao fato de alguns líderes
revoltosos usarem conchas de molusco em forma de espiral, denominadas
búzios, presas a uma pulseira, o que facilitava a identificação entre eles.
Outro termo muito usado para se referir a essa revolta é “Revolta dos
Alfaiates”, em razão de existir um grande número de pessoas envolvidas
Expectativas de aprendizagem:
no movimento que exerciam essa profissão, inclusive dois dos quatro
– Identificar que, a partir da segunda metade do século
executados como líderes da conspiração. XVIII, a colonização começou a entrar em decadência;
Independentemente do nome, o movimento baiano, assim como o C5 – observar o papel dos escravos, que buscavam sua liberdade
lutando contra a dominação da Metrópole;
seu contemporâneo carioca, é, ainda, pouco conhecido na historiografia
– comparar as diferenças entre as conjurações baiana e
brasileira. Neste módulo, vamos explicar em que conjuntura ocorreram carioca, especialmente no que tange ao seu caráter popular e
as duas conjurações. elitista.
1. A Conjuração Carioca
Domínio público/Wikimedia
criticar a realidade colonial, confrontando os ideais de liberdade,
assim como debatiam o direito dinástico e o poder absoluto dos reis.
Domínio público/Wikimedia
Gravura do Passeio Público no século XIX, de Pieter Godfred Bertichen
Domínio público/Wikimedia
insurreição de Minas. Não se pode desprezar a ideia de que, pouco
tempo depois, em 1794, a cidade seria palco da Conjuração Carioca.
É importante, desde logo, perceber que, para a monarquia
lusitana, o pensamento iluminista era bastante perigoso, na medida
em que dava margem à reflexão da sociedade colonial no que tange
à dominação metropolitana. Além disso, o caráter republicano da
maior parte das obras iluministas se tornou um constante chama-
mento à luta contra a opressão dos Estados absolutistas. Foi por
essa razão que obras de filósofos como Montesquieu, Rousseau
ou Voltaire eram proibidas de circular na Colônia, uma vez que
contrariavam os interesses monarquistas.
Lagoa do Boqueirão com o Aqueduto da Carioca ao fundo.
Óleo sobre madeira de Leandro Joaquim
1.2 A Sociedade Literária do
Rio de Janeiro
Em 1771, componentes de uma parcela da elite carioca – filhos A Química no Brasil colonial
das famílias mais abastadas, que passaram parte de sua juventude A Sociedade Literária do Rio de Janeiro, fundada em 1786,
estudando na Europa, onde tomaram gosto pelos debates políticos, além de ter sido um ponto de ebulição política e um centro
tão em moda naquele continente no século XVIII – fundaram de debates literários, teve também um papel importante na
a Academia Científica do Rio de Janeiro, na qual se destacava o introdução da Química no Brasil. Sua antecessora, a Academia
professor de retórica Manuel Inácio da Silva Alvarenga, graduado Científica, criada em 1772, tinha, entre os seus membros,
pela Universidade de Coimbra. muitos dos que, depois, ao lado de Manuel Inácio da Silva
Nessa Academia, discutiam-se assuntos variados, que iam desde Alvarenga, formariam a Sociedade Literária e acabariam
a composição química da água até os malefícios do álcool, passando envolvidos na Conjuração Carioca de 1794.
pela observação do eclipse lunar. Tais encontros da “fina flor” dos A Academia Científica surge no Rio de Janeiro, na mesma
jovens membros da elite carioca acabaram se tornando, em pouco época em que o químico francês Antoine Laurent de Lavoisier
tempo, centros de debates políticos. lançava o seu Tratado elementar de Química, no qual apresen-
Sob a liderança de Manuel Inácio, do médico cirurgião tava uma nomenclatura moderna para os elementos químicos,
Ildefonso José da Costa Abreu e do professor de grego João Marques além de explicar dúvidas seculares, como a natureza da
Pinto, em 1786, esse grupo de intelectuais fundou a Sociedade combustão a partir da incorporação de um componente do ar, o
Literária do Rio de Janeiro, na qual poetas, escritores, estudantes, oxigênio. Além disso, Lavoisier também enunciou a conhecida
médicos e advogados autorizados pelo governo reuniam-se, todas as Lei de Conservação da Matéria, ou Lei de Conservação das
quintas-feiras, das oito às dez da noite, e debatiam não só assuntos Massas, e demonstrou a composição da água e do ar.
culturais e científicos, mas também política. Utilizando as ciências
Movimentos de independência: Conjuração Carioca HISTÓRIA I 51
e Conjuração Baiana Módulo 20 1ª Série
Acervo do autor
por João Manso Pereira, também membro da Sociedade
Literária, com seu estudo sobre a obtenção do salitre, substância
na época usada para a fabricação da pólvora.
Vicente Seabra/Domínio Público
A Fortaleza da Conceição, próxima à Praça Mauá, no Centro do Rio de Janeiro, é uma área
que está sendo revitalizada
Para o governo, esses encontros animados, que um grupo de Nem Inconfidência, tampouco Conjuração. O movimento que
senhores da elite carioca realizava, não tinham qualquer finalidade receberia a designação de “Conjuração Carioca” ou “Conjuração do
política maior. No entanto, os debates foram, aos poucos, incorpo- Rio de Janeiro” se restringiu única e exclusivamente ao campo das
rando os princípios filosóficos e políticos da Revolução Francesa, ideias. Sem nenhum planejamento prático para tomada do poder, os
em especial depois que o doutor Mariano José Pereira da Fonseca, letrados do Rio de Janeiro foram vítimas das “rebarbas da Conjuração
recém-chegado de Coimbra e acusado de possuir em sua casa uma Mineira”, quando o Estado metropolitano, ainda traumatizado pelo
obra do filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau, passou a ser um dos levante mineiro, viu naquelas reuniões literárias uma ameaça que nem
mais proeminentes debatedores. de longe se configurava como um processo revolucionário.
52 HISTÓRIA I
1ª Série Módulo 20
2. A Conjuração Baiana Nesse período, Salvador, que havia perdido o status de sede
do governo, tinha cerca de 60 mil habitantes e era ainda a maior
cidade da colônia. Em Minas Gerais, a queda brusca na produção de
2.1 Antecedentes ouro e diamantes tornou a Bahia a capitania mais rica da América
No final do século XVIII, a cidade de Salvador foi o palco de portuguesa outra vez, em razão de sua produção de tabaco, algodão
uma revolução social, que buscava a proclamação de uma república, e, principalmente, de açúcar.
com igualdade de direitos para todos: a Conjuração Baiana. Seguia A alta sociedade soteropolitana era constituída por brasileiros
os ideais de liberdade que, no século XVIII, saíram dos livros e brancos que tinham, via de regra, limites em suas aspirações
atingiram grande parte da Europa Ocidental e da América colonial, profissionais, se comparados com os portugueses. Negros e pardos
envolvendo intelectuais, donos de engenho, escravos, artesãos, sofriam com uma sociedade racista, membros da elite reclamavam
militares, padres, brancos, negros, pobres e ricos. dos impostos e da falta de liberdade comercial e soldados recla-
Embora tão ou mais importante do que a Mineira, a Conjuração mavam dos baixos soldos. A indústria de manufaturas era proibida,
Baiana não tem, na historiografia oficial, o mesmo destaque. o que explica o grande número de artesãos na cidade. Salvador era o
principal porto do Brasil, mas só navios portugueses podiam atracar.
Diferentemente da Mineira, a Conjuração Baiana teve, entre os
seus líderes, mulatos, negros livres, escravos, ou seja, representantes
Acervo do autor
das camadas populares do Brasil colonial. O levante baiano era,
também, mais abrangente no que concerne aos ideais dos revoltosos
que a sua antecessora, na medida em que defendia a igualdade racial,
o fim da escravidão e a abolição de todos os privilégios, sendo, por
isso, considerado a primeira tentativa de revolução social no Brasil.
Domínio Público/Wikimedia
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A Revolução Francesa (1789-1799), que derrubou o Antigo
Regime, teve uma influência decisiva na eclosão da Conjuração
Baiana, principalmente na fase popular da revolução, conhecida por
Terror Jacobino, que havia terminado com as obrigações feudais e
influenciou vários movimentos na América.
Esses princípios apareciam nos folhetos de circulação popular
que eram afixados na porta das casas de Salvador, convocando o
povo para a revolução contra o jugo colonial. Falava-se, ali, em
liberdade, igualdade e comércio livre. Um deles dizia:
“O Poderoso e Magnífico Povo Bahiense Republicano (...)
A Conjuração Baiana, de nível popular, pleiteava o fim da escravidão e a igualdade
considerando os muitos e repetidos latrocínios feitos com os títulos racial. Pintura de Jean-Baptiste Debret
de imposturas, tributos e direitos que são cobrados por ordem da
Rainha de Lisboa.” Fundada em julho de 1797, a Sociedade dos Cavaleiros da Luz
Os panfletos alarmavam o poder constituído, na medida em que (maçônica) agrupava elementos de grande projeção: João Ladislau de
denunciavam, em si mesmos, a existência de um movimento bem Figueiredo, farmacêutico; o padre Francisco Gomes; Cipriano Barata,
estruturado e que não esgotava o seu conteúdo na simples agitação o “médico dos pobres”; o professor Francisco Barreto e o tenente
de rua ou nas tramas dos gabinetes fechados. Hermógenes de Aguilar Pantoja. Além da participação nos debates,
Os subversivos já tinham materiais de composição e impressão, alguns elementos da sociedade realizavam agitações populares, como
bem como voluntários audaciosos que saíam às ruas, durante a foi o caso de Cipriano Barata, que chegou a propagar suas ideias para
madrugada, para disseminar a sua pregação política. os escravos.
Possuíam, além disso, outros apoios que fugiam ao controle Os conjurados reuniam-se na casa de Barata e de Pantoja para
convencional das autoridades. Entre eles, destacava-se o da debater esses documentos, aos quais se somava a Declaração dos
maçonaria, que, no século XVIII, impulsionada pelas tensões e Direitos, dos Estados Unidos já independentes.
questionamentos então vigentes, definiu-se como uma sociedade de Houve também outra influência decisiva no transcurso do
caráter político. Os maçons, em fins do século XVIII, tinham, assim, movimento: a Independência do Haiti. Sob a liderança de Toussaint
uma posição clara, identificavam-se com os princípios liberais L’Ouverture, a guerra de independência desse país foi um conflito
da burguesia em ascensão e ampliavam a sua ação. Na América sangrento que opôs a grande massa de escravos negros à elite branca
colonial, a maçonaria tomou um rumo próprio, tornando-se de origem francesa.
eminentemente libertadora, com a finalidade de atingir os redutos
©Bettmann/GettyImages
do absolutismo europeu.
Entre os movimentos que buscavam tais objetivos, destacou-se
a Conjuração Baiana ou República Bahiense (ou, ainda, Revolta
dos Alfaiates), enquadrada no grupo dos movimentos políticos
que destruíram os alicerces do sistema colonial no Brasil e, prin-
cipalmente, considerada o primeiro movimento em que a opinião
pública brasileira se engajou, quase que a nível de massa.
Contemporânea da Inconfidência Mineira, a sedição teve um
caráter social, na medida em que defendia, no repertório de suas
reivindicações, a igualdade racial, o consequente fim da escravidão
e a liquidação dos privilégios concedidos, de forma abusiva, às
classes dominantes e aos seus protegidos de vários níveis: político,
econômico e social.
Toussaint L’Ouverture liderando disputa contra o exército francês, durante a Revolução do Haiti
Nas últimas décadas do século XVIII, chegaram livros e
documentos trazidos por franceses e norte-americanos, que teriam
marcante influência sobre os liberais baianos.
54 HISTÓRIA I
1ª Série Módulo 20
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andavam em voga na França. Em 12 de agosto de 1798, começaram
a aparecer nos lugares públicos, como o Pelourinho e igrejas de
Salvador, pasquins manuscritos anunciando uma rebelião.
Tais pasquins anunciavam estar próxima a proclamação da
República Bahiense, cujo governo estabeleceria liberdade para os
escravos, igualdade de todos os cidadãos, aumento de soldos para
oficiais e praças e comércio livre com todas as nações, especialmente
com a República Francesa. Todos os padres que pregassem contra
a revolução eram ameaçados com a pena de morte.
A ação do governo foi rápida. Por meio de denúncias, foi preso
Palácio do Governo em Porto Príncipe, após o violento terremoto que matou mais de um dos líderes da conjura, o soldado Luís Gonzaga das Virgens. O
200 mil pessoas alfaiate João de Deus, outro líder do movimento, temeroso de que,
O Haiti era uma colônia francesa do Caribe e o maior torturado, Luís Gonzaga acabasse por delatar todos os implicados,
produtor mundial de açúcar. Também exportava rum e algodão, organizou um plano bastante ousado para libertá-lo e que se
sendo uma das mais ricas colônias americanas – tudo com base constituiu na senha para a deflagração do levante.
no trabalho escravista. No dia 25 de agosto, os conspiradores tentaram reunir-se no
As péssimas condições de trabalho dos escravos africanos, Campo do Dique, visando a invadir a prisão, libertar o soldado
submetidos ao trabalho exaustivo e a castigos corporais muito preso e desencadear a revolta. Avisados por delatores, as tropas
violentos, acabaram por promover, em 1791, a maior revolta governistas cercaram o local e obrigaram os insurretos a se dispersar.
de escravos da história. Liderado por um negro, Toussaint A partir daí, não foi difícil para o governo da capitania identificar
L’Ouverture, o Haiti tornou-se o primeiro país latino-americano os conjurados e desarticular a conjuração. Sete acusados foram
a declarar-se independente. degradados por toda a vida para a África. Cipriano Barata foi
É importante lembrar que, durante a fase jacobinista da absolvido, mas, apesar do perigo enfrentado, não renunciou às suas
Revolução Francesa, realizou-se a abolição da escravatura em ideias e foi um dos mais ativos jornalistas políticos.
suas colônias. Os escravos do Haiti, cujo número superava Outros réus, que eram escravos ou o tinham sido, foram
em dez vezes o de franceses e mestiços, rebelaram-se e massa- açoitados de forma brutal em praça pública e, em seguida, vendidos
craram seus senhores. para fora da capitania, ignorando a alforria de alguns deles. Durante
Em 1802, as tropas napoleônicas desembarcaram na ilha todo o longo período da devassa e do julgamento, Salvador viveu
e provocaram um banho de sangue. L’Ouverture foi preso e momentos de terror. Sucediam-se as violações de domicílios,
levado para a França, onde morreu. as denúncias anônimas para prejudicar inimigos pessoais e a
desconfiança generalizou-se, atingindo quase todos os lares e até o
Toda a repressão não foi suficiente. Os generais Jacques
interior das repartições governamentais.
Dessalines e Alexandre Ption finalmente expulsaram os
franceses em 1803 e, em 1804, o Haiti conquistava a indepen- Na elitista sociedade baiana, a liquidação dos planos subver-
dência e a abolição da escravatura. Entretanto, o preço pago sivos foi recebida com efusão. Os senhores de escravos e senhores
foi muito alto. A economia estava arrasada e até hoje o país é de engenho, cujos filhos estudavam na Europa, de onde vinham
um dos mais pobres do mundo. também suas roupas, louças e mobiliário rococó, exultaram.
Para piorar a sua situação, em 12 de janeiro de 2010, Os pardos, “elementos do trabalho vil” – como os alfaiates, asso-
um forte terremoto de magnitude 7 na escala Richter, e cujo ciados à “soldadesca irresponsável” –, já estavam com seus despojos
epicentro foi a poucos quilômetros da capital Porto Príncipe, mortais apodrecendo pelas esquinas de Salvador, aumentando o mau
devastou o Haiti, matando cerca de 200 mil pessoas. Entre elas, cheiro da cidade nos fins daquele século. As damas já podiam voltar
cerca de duas dezenas de militares brasileiros, que vinham há às ruas em suas liteiras conduzidas por braços escravos, no espetáculo
alguns anos participando de uma “força de paz” da ONU, com picaresco dos fins de tarde. A Coroa vencera, mais uma vez, a ferro
o objetivo de prestar ajuda humanitária a um dos países mais e fogo, um movimento libertário conduzido por “maus brasileiros”.
miseráveis do mundo.
Movimentos de independência: Conjuração Carioca HISTÓRIA I 55
e Conjuração Baiana Módulo 20 1ª Série
Nem pareciam lembrados do sacrifício de Joaquim José da Silva O elenco é composto por 20 pessoas, entre atores e músicos,
Xavier no quadro de outra conjuração, a mineira, e defenderam, às atuando numa espécie de “teatro épico”. A música é presente
vezes de peito aberto, seus ideais, que se cumpriram em parte, quase durante todo o tempo do espetáculo, que contou ainda com a
cem anos depois, quando da implantação do regime republicano. participação do Grupo Olodum, que já produziu mais de cem
composições inspiradas na Conspiração dos Alfaiates.
Hoje, no entanto, busca-se resgatar a memória dessa revolta,
que sequer tem um nome definido na historiografia oficial. Conju-
Domínio Público/Wikimedia
ração Baiana, Revolta dos Alfaiates ou, como mostram recentes
estudos, a Revolta dos Búzios passa à história como um movimento
emblemático por meio do qual seus líderes negros e pobres não
tiveram grande afirmação no quadro histórico do país.
As revoltas ocorridas em São Domingos no final do século XVIII a. Caracterize a Conjuração Baiana de 1798 e identifique um de
levaram a colônia antilhana a um movimento de emancipação seus objetivos, além daqueles relacionados diretamente ao texto.
política bastante peculiar (1804). Essas revoltas influenciaram b. Estabeleça a relação existente entre a Conjuração Baiana e as
movimentos populares ocorridos em outras sociedades latino- ideias do iluminismo e da Revolução Francesa.
-americanas, inclusive no Brasil.
O texto faz referência à Conjuração Baiana. No contexto da crise Sobre a Conjuração Baiana, descrita no texto acima, podemos
do sistema colonial, esse movimento se diferenciou dos demais afirmar que:
movimentos libertários ocorridos no Brasil por:
(A) se inspirava nas ideias revolucionárias francesas e propunha
(A) defender a igualdade econômica, extinguindo a propriedade, mudanças na ordem social da colônia.
conforme proposto nos movimentos liberais da França napo- (B) liderada pela elite, preocupava-se com a preservação dos
leônica. direitos dos grandes proprietários e da estabilidade social.
(B) introduzir no Brasil o pensamento e o ideário liberais que (C) tinha como único suporte ideológico as ideias da Independência
moveram os revolucionários ingleses na luta contra o absolu- dos EUA.
tismo monárquico. (D) com sólido apoio militar e popular, ofereceu sério risco ao
(C) propor a instalação de um regime nos moldes da república dos domínio colonial português.
Estados Unidos, sem alterar a ordem socioeconômica escravista (E) como a Revolução Pernambucana de 1817, foi derrotada por
e latifundiária. ser elitista e sem propostas sociais.
(D) apresentar um caráter elitista burguês, uma vez que sofrera
influência direta da Revolução Francesa, propondo o sistema 05 (FUVEST) O ideário da Revolução Francesa, que, entre outras
censitário de votação. coisas, defendia o governo representativo, a liberdade de expressão,
(E) defender um governo democrático que garantisse a participação a liberdade de produção e de comércio, influenciou no Brasil a
política das camadas populares, influenciado pelo ideário da Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana, pois:
Revolução Francesa. (A) cedia às pressões de intelectuais estrangeiros que queriam
divulgar suas obras no Brasil.
03 (ENEM) No tempo da independência do Brasil, circulavam nas (B) servia aos interesses de comerciantes holandeses aqui estabe-
classes populares do Recife trovas que faziam alusão à revolta escrava lecidos que desejavam influir no governo colonial.
do Haiti: (C) satisfazia aos brasileiros e aos portugueses, que dessa forma
conseguiram conciliar suas diferenças econômicas e políticas.
Marinheiros e caiados (D) apesar de expressar as aspirações de uma minoria da sociedade
francesa, aqui foi adaptado pelos positivistas aos objetivos dos
Todos devem se acabar, militares.
Porque só pardos e pretos (E) foi adotado por proprietários, comerciantes, profissionais
liberais, padres, pequenos lavradores, libertos e escravos,
O país hão de habitar.
como justificativa para sua oposição ao absolutismo e ao
AMARAL, F. P. do. Apud CARVALHO, A. Estudos pernambucanos. sistema colonial.
Recife: Cultura Acadêmica, 1907.
Art. 2o Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Aviso ao Povo Bahiense
Brasília, 4 de março de 2011; 190o da Independência e 123o da Ó vós Homens Cidadãos; ó vós Povos curvados, e abandonados
República. pelo Rei, pelos seus despotismos, pelos seus Ministros.
Ó vós Povos que nascestes para serdes livres [...], ó vós Povos
DILMA ROUSSEFF
que viveis flagelados com o pleno poder do indigno coroado,
Anna Maria Buarque de Hollanda [...]. Homens, o tempo é chegado para vossa ressurreição, sim para
ressuscitardes do abismo da escravidão, para levantardes a sagrada
Com base nessa lei e nos conhecimentos sobre a Conjuração Baiana bandeira da Liberdade.
de 1798, explique o significado histórico e político do reconheci-
DEL PRIORE, Mary et al. Documentos de História do Brasil: de Cabral aos anos 90.
mento dos heróis do passado para a Bahia de hoje. São Paulo: Scipione, 1997. p. 38 (adaptado).
02 (PUC-Rio) A Conjuração Baiana foi um dos movimentos a. Escolha e transcreva uma passagem do documento que
político-sociais ocorridos na América portuguesa que assinalaram evidencie a insatisfação dos conjurados baianos com a situação
o contexto de crise do sistema colonial. Leia a seguir um trecho política da época. Justifique sua escolha.
de um dos panfletos sediciosos afixados em locais importantes da b. Apresente uma diferença entre a Conjuração Baiana (1798) e
cidade de Salvador no ano de 1798. a Inconfidência Mineira (1789).
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HISTÓRIA II 59
Módulo 16 1ª Série
©traveler1116/iStock
Você sabia que mulheres consideradas “bruxas”
foram perseguidas pela Inquisição na vida real?
Atualmente, é comum nos depararmos com esse universo
de magia na ficção, como nos livros e filmes do personagem
Harry Potter. Durante a Idade Média, porém, e principalmente na
Idade Moderna, acreditava-se realmente na existência das bruxas,
que foram, inclusive, muito perseguidas, acusadas de manter
pactos com “forças ocultas” e de dominar o que era chamado de
magia negra.
A perseguição a essas mulheres foi tão intensa na Europa que
se estima terem ocorrido quase 100 mil execuções durante os 300
anos da Idade Moderna, em um movimento que ficou conhecido
como caça às bruxas. Elas eram acusadas de compactuar com
espíritos sobrenaturais e participar de rituais de adoração ao diabo.
Sua imagem, construída ao longo dos séculos pelos europeus, ficou Expectativas de aprendizagem:
associada a vassouras, caldeirões e gatos pretos. – Entender o contexto político e religioso que incentivou o
Contudo, houve uma época em que não era necessário ter todos movimento reformista em oposição à Igreja Católica;
esses apetrechos para ser considerada uma bruxa pelo Tribunal C3 – identificar os principais nomes das religiões reformistas;
– interpretar o motivo pelo qual a Igreja iniciou uma
da Inquisição. Esse período foi a Contrarreforma, assunto que contrarreforma, que ao mesmo tempo atacou os reformistas e
estudaremos neste módulo. buscou aperfeiçoar e expandir a fé católica.
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se expandiu rapidamente por algumas regiões da Suíça, e, não por
acaso, justamente por aquelas que se destacaram pelo crescimento
comercial. Ao associar o trabalho, a poupança e a disciplina à
religião, o calvinismo, consequentemente, ofereceu à burguesia
justificativas religiosas para suas atividades mercantis e manufa-
tureiras. Assim, a expansão do calvinismo pela Europa Ocidental
esteve bastante associada ao crescimento das práticas comerciais,
já que, ao aderirem a essa vertente religiosa, os grupos mercantis
de diversas regiões do continente tornaram-se pontos de difusão
da doutrina. Na Inglaterra, os calvinistas eram denominados
puritanos, na França, huguenotes e, na Escócia, presbiterianos.
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Assim como o precursor Zwingli, Calvino reafirmava as defesas perspectiva, os hábitos e
luteranas, entre elas a livre interpretação da Bíblia, a negação do pensamentos comparti-
culto aos santos, a existência de somente dois sacramentos – batismo lhados pelos calvinistas,
e eucaristia – e a salvação pela predestinação. Esta, aliás, tornou-se como a condenação do
um dos princípios fundamentais do calvinismo, que defende ser ócio e das festividades e o
um desígnio de Deus oferecer a salvação a alguns e o castigo a incentivo ao trabalho e à
outros, de modo que a obtenção da vida eterna não dependeria das poupança extrema, foram
ações humanas. Nesse sentido, sendo a salvação uma manifestação elementos que influenciaram
absoluta da vontade de Deus, não há espaço para o livre-arbítrio. o acúmulo de riqueza entre
Assim, de acordo com a perspectiva calvinista, as atitudes do fiel, esses grupos. A formulação
no decorrer da vida, não influenciam para que ele obtenha a vida dessa defesa está no livro A
eterna. Mesmo assim, uma vez que acredita ser um predestinado, ética protestante e o espírito Max Weber é considerado um dos
um calvinista deve adotar conduta condizente com a graça a qual do capitalismo (1905). fundadores da Sociologia
crê ter recebido. Ou seja, todo calvinista tem confiança de que é um É importante destacar dois pontos fundamentais. Primei-
predestinado, devendo, então, comportar-se de maneira adequada. ramente, essa é a teoria defendida pelo sociólogo, não sendo a
Dessa forma, elaborou-se a rígida ética calvinista, constituída única forma de explicar as origens da mentalidade capitalista.
por um conjunto de hábitos, valores e comportamentos que Além disso, não se pode afirmar que os líderes protestantes,
deveriam ser seguidos pelos fiéis como demonstração de serem como João Calvino, defenderam a busca do lucro.
merecedores da graça que receberam. Entre as crenças e hábitos,
estavam a valorização do trabalho e da poupança, a rígida disci-
plina e a condenação do ócio.
Reforma Religiosa: calvinismo e Contrarreforma HISTÓRIA II 61
Módulo 16 1ª Série
O fortalecimento do calvinismo deve ser entendido como um América. Representando uma verdadeira contraofensiva ao avanço
componente de um processo ainda mais amplo, ou seja, simulta- do protestantismo, seus integrantes eram denominados “soldados de
neamente expandiam-se também o luteranismo e o anglicanismo. Cristo” e, sendo dotados de sólida disciplina e formação religiosa,
Conforme visto, os conflitos religiosos marcaram esse período do atuavam no ensino, na catequese e na política.
século XVI, ocorrendo não somente entre católicos e protestantes,
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mas também entre os próprios grupos reformadores. As perse-
guições foram intensas, e, na Inglaterra, incentivaram a saída dos
puritanos em busca de novas áreas a serem povoadas, como a região
norte das Treze Colônias, no continente americano.
O crescimento do calvinismo na Inglaterra, associado à
Reforma Anglicana e ao contexto político interno, criou um
ambiente de grande tensão política, econômica e social. Esse foi
um dos importantes fatores que deram início à Revolução Inglesa.
2. A Reforma Católica
ou Contrarreforma
Diante de tudo que se analisou até agora, percebe-se que a
Brasão da Companhia de Jesus
Reforma Protestante atacava cada vez mais as bases da Igreja
Católica, reduzindo não só sua força religiosa, mas também Por meio da ação desses educadores na América, a instituição
política. Contudo, as críticas feitas por leigos e membros do católica tentava diminuir a perda do número de fiéis, ou seja, ao
clero à doutrina e à estrutura eclesiástica da Igreja Católica catequizarem os povos nativos do Novo Mundo, convertiam-nos
são anteriores à Reforma Protestante. Ainda no século XV, ao catolicismo, em uma tentativa de compensar a perda de poder
já se identificam iniciativas para restabelecer a disciplina clerical que sofriam entre os europeus. Sendo os portugueses e espanhóis
e reformular a espiritualidade da instituição. Todavia, foi somente muito católicos, as missões jesuíticas atuaram com grande força nas
após o avanço do movimento reformista, no século XVI, que o áreas coloniais desses dois Estados Nacionais.
alto clero dedicou-se a tomar medidas concretas para recuperar a Uma das principais medidas da Contrarreforma foi a convo-
influência da instituição. Esse movimento foi denominado Reforma cação do Concílio de Trento (1545-1563), uma reunião entre os
Católica ou Contrarreforma. membros do alto clero na região italiana de Trento, cujo objetivo
foi discutir e definir quais seriam as ações da instituição para evitar
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Concílio de Trento
Inácio de Loyola, conhecido pela fundação da Companhia de Jesus
Nem tudo, entretanto, permaneceu como antes. Algumas
O movimento levou à reformulação e à criação de ordens reformulações foram propostas referentes aos tópicos que eram alvo
religiosas que atuassem no combate ao avanço do reformismo. Em das principais críticas dos protestantes. Foram proibidas as vendas
1534, foi fundada a Companhia de Jesus, originando a ordem dos de cargos eclesiásticos e de indulgências e, além disso, foram criados
jesuítas. Liderada por Inácio de Loyola, ela foi responsável pelo seminários que viabilizassem maior rigidez na formação do clero.
fortalecimento do catolicismo em diversas regiões da Europa e da
62 HISTÓRIA II
1ª Série Módulo 16
Também foi criado o Index Librorum Proibitorum, que O avanço do protestantismo foi muito expressivo nos Estados
consistia em uma relação de livros e autores que os católicos inglês e francês. Em contrapartida, a Contrarreforma esteve muito
passaram a ser proibidos de ler. Essa relação não se restringiu aos presente nos Estados ibéricos, Portugal e Espanha, sendo a atuação
textos religiosos dos líderes protestantes: diversos renascentistas da Inquisição muito intensa nessas regiões, e estendendo-se,
foram ali inseridos, como Montaigne, Nicolau Copérnico e inclusive, às áreas coloniais na América.
Galileu Galilei, e a listagem foi por muito tempo atualizada,
contando posteriormente com autores dos séculos XIX e XX, como
Victor Hugo e Jean-Paul Sartre.
Sabe-se que o domínio ideológico da Igreja Católica na
01 (UNIFESP) No século XVI, nas palavras de um estudioso,
Idade Média era muito expressivo, mas de forma alguma
“reformar a Igreja significava reformar o mundo, porque a Igreja
absoluto. Assim, aqueles que se opunham às regras e às crenças era o mundo”. Tendo em vista essa afirmação, é correto afirmar que:
da instituição eram chamados hereges e perseguidos por um
tribunal eclesiástico denominado Inquisição. Com o avanço (A) os principais reformadores, como Lutero, não se envolveram nos
do movimento protestante, o número de hereges multiplicava- desdobramentos políticos e socioeconômicos de suas doutrinas.
(B) o papado, por estar consciente dos desdobramentos da Reforma,
-se rapidamente, o que levou à reativação da Inquisição e à reor-
recusou-se a iniciá-la, até ser obrigado por Calvino.
ganização do Tribunal do Santo Ofício, que tinha como função (C) a burguesia, ao contrário da nobreza e dos príncipes, aderiu à
identificar, perseguir e punir os hereges. Reforma, para se apoderar das riquezas da Igreja.
(D) os cristãos que aderiram à Reforma estavam preocupados
somente com os benefícios materiais que dela adviriam.
O queijo e os vermes: a história de como um (E) o aparecimento dos anabatistas e outros grupos radicais são a
moleiro chegou à Inquisição prova de que a Reforma extrapolou o campo da religião.
O queijo e os vermes é um livro escrito pelo historiador 02 (UFU-MG) A chamada “cisma protestante” foi um dos fenômenos
italiano Carlo Ginzburg, no final do século XX. O texto narra a que tiveram importantes consequências na Europa Moderna, entre
história de Domenico Scandella, conhecido como Menocchio, os séculos XVI e XVII. Desse fenômeno surgiram várias Igrejas
um moleiro (operário responsável pela moagem de cereais ou separadas do catolicismo romano, destacando-se aquelas de base
operador de moinho) que vivia na região de Friuli e foi preso teológica luterana e outras de base teológica calvinista.
pela Santa Inquisição, acusado de cometer heresia. Sobre esse assunto, responda:
O personagem Menocchio possuía certas distinções em a. Quais são as principais características comuns entre as Igrejas
relação ao grupo social a que pertencia. Ele sabia ler e escrever Luterana e Calvinista, que surgiram da chamada “cisma
e, assim, procurava livros que o incentivassem a elaborar novas protestante”?
ideias. Nesse sentido, podemos dizer que era “um homem à b. Quais são as principais diferenças entre as Igrejas Luterana e
frente de seu tempo”, ou seja, seus pensamentos, ligados à Calvinista?
liberdade de expressão e à crítica, condiziam muito mais com
03 (UEFS-BA)
os séculos posteriores.
Calvino [...] introduziu a noção de progresso e sucesso. Para
Ele foi processado duas vezes pela Inquisição, acusado de
o reformador genebrês, o indivíduo era responsável perante Deus.
espalhar ideias heréticas sobre Jesus Cristo, pois discutia com
De acordo com suas possibilidades, devia tentar utilizar os meios
amigos e conhecidos sua opinião religiosa após as diversas
que Deus lhe dera para se aperfeiçoar, dar a seus filhos chances
leituras que fazia. Diante do avanço do protestantismo e da
de sucesso (principalmente por meio da educação) e trabalhar de
rigidez da Inquisição, o moleiro foi considerado um herege, e o
maneira a se tornar um exemplo para seus próximos, seus vizinhos
registro de seu processo tornou-se fonte histórica desse período.
e sua congregação.
Janine Garrisson.
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01 (UNIFOR-CE) Considere o quadro: O texto acima apresenta os votos da Companhia de Jesus, que foi
uma reação da Igreja Católica contra a Reforma Protestante. Sobre
Escritura Sagrada como único dogma da nova religião. a Contrarreforma, é correto afirmar que promoveu:
Fé como única fonte de salvação.
Supressão do clero regular, do celibato e das imagens. (A) o Concílio de Trento, no qual foram modificados diversos
Livre interpretação da Bíblia. dogmas da Igreja Católica.
Substituição do latim, nos cultos religiosos, pelo idioma nacional. (B) o restabelecimento do Tribunal do Santo Ofício, que servia
Manutenção de apenas dois sacramentos: o batismo e a eucaristia. para julgar aqueles que defendiam a manutenção dos dogmas
católicos, contra a nova orientação da Igreja.
VICENTINO, Cláudio. História geral. São Paulo: Scipione, 1991, p. 137.
(C) a reorganização do Tribunal do Santo Ofício, que servia para
julgar os hereges, tendo uma atuação mais presente na Península
O quadro apresenta fundamentos religiosos desenvolvidos na
Ibérica.
Europa, no século XVI. Nesse contexto histórico, eles estavam
(D) a organização da Companhia de Jesus, que tinha como objetivo
relacionados:
julgar os hereges que eram contra os dogmas do catolicismo.
(A) às mudanças propostas pelos membros do alto clero no Concílio (E) o restabelecimento do Tribunal do Santo Ofício, que deter-
de Trento. minou quem iria para as colônias da América para catequizar
(B) à adoção de medidas dos cristãos para combater os adeptos dos os índios.
protestantes.
(C) ao pensamento oficial da Igreja Católica, reiterado no 04 (UNIMONTES-MG)
movimento da Contrarreforma. Lembra-se de que tempo é dinheiro. Aquele que pode ganhar dez
(D) aos ideais dos calvinistas, surgidos nos encontros realizados no xelins por seu dia de trabalho e vai passear, ou fica vadiando metade
Concílio de Trento. do dia, embora não despenda mais do que seis pence durante o seu
(E) às ideias dos luteranos de combaterem os dogmas impostos divertimento ou vadiação, não deve computar apenas essa despesa;
pela Igreja Católica.
gastou, na realidade, ou melhor, jogou fora cinco xelins a mais.
64 HISTÓRIA II
1ª Série Módulo 16
05 (UPE) ininteligíveis.
Ante os ataques dos protestantes e na linha das posições Festa na cidade, medo em mim:
doutrinais e das decisões do concílio, a Igreja pós-tridentina tende Entenderão os meus pecados?
a revalorizar determinadas formas de devoção coletiva. De fato, Trazem um inferno mais terrível
estas aparecem como a expressão da realidade da Igreja universal,
da Itália, da Espanha, da Alemanha?
desde que estreitamente enquadradas pelo clero.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Boitempo II. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 1990, p. 34.
LEBRUN, F. “As Reformas: devoções comunitárias e piedade pessoal”. In: História da vida privada.
3. ed. São Paulo: Cia. das Letras, p. 73.
Drummond expressou, nos versos anteriores, o sentimento perante
A convocação do Concílio de Trento foi uma reação contra a um fenômeno que se estende da Antiguidade até os nossos dias: as
Reforma, tomando medidas como: divergências no interior de determinada religião.
Com base no texto e no processo histórico, identifique e justifique:
(A) a proibição da venda de indulgências nas regiões do norte da
Europa, mantendo a venda em Portugal e na Espanha. a. o grande cisma católico do século XVI.
(B) a reativação da Inquisição e a criação de uma lista de livros b. as consequências de tal processo para a Igreja e a política
proibidos, contribuindo para a censura das ideias. europeia no período citado.
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HISTÓRIA II 65
Módulo 17 1ª Série
Revoluções Inglesas:
a Revolução Puritana
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Os ingleses do século XVII acreditavam que os nobres tinham
sangue azul e que, por isso, diferenciavam-se dos demais grupos
sociais. Outra crença da época era a de que o poder dos monarcas
era concedido por Deus, de acordo com a teoria do direito divino
dos reis.
Apesar dessas ideias, o século XVII foi palco do primeiro
levante contra a hegemonia monárquica na Inglaterra. A teoria do
sangue azul foi desacreditada quando Carlos I, monarca europeu, Expectativas de aprendizagem:
foi decapitado em uma execução pública. A população constatou, – Identificar as especificidades do contexto político e social inglês
que levaram à eclosão de um movimento revolucionário;
portanto, que o sangue real era tão vermelho quanto o do camponês.
– compreender de que forma as políticas dos monarcas da
Neste módulo, estudaremos a revolução que fez com que um C5 dinastia Tudor alteraram e impulsionaram o crescimento
econômico da Inglaterra;
dos maiores Estados Nacionais da Europa, a Inglaterra, ficasse sem
– observar que, com a entrada dos Stuarts, muitos conflitos com
rei. E, ainda, como os ingleses naquele momento solucionaram o parlamento se iniciaram, devido ao caráter absolutista e
esse problema. despótico da dinastia.
1. O absolutismo na Inglaterra
A pirataria e as novas políticas
Conforme já estudado, foi durante o governo da dinastia
Tudor que ocorreu a consolidação da monarquia absolutista na
econômicas inglesas
Inglaterra. Por meio, principalmente, das medidas tomadas por A prática da pirataria era muito comum durante os
Henrique VIII e sua filha Elizabeth I, a política mercantilista séculos XVI, XVII e XVIII, quando capitães de alguns navios
inglesa se fortaleceu, o que propiciou o enriquecimento do Estado se dedicavam a saquear embarcações comerciais que trans-
e dos burgueses. portavam riquezas, principalmente no caminho entre as áreas
coloniais e as metrópoles europeias.
O rei, ao liderar a Reforma Anglicana e tornar-se o chefe da
nova Igreja, confiscou os bens eclesiásticos, transformando-os em Nesse período, houve, ainda, a proliferação dos corsários,
propriedades do Estado e, consequentemente, da nova instituição donos de navios que, por meio de associações com determi-
religiosa protestante. Assim, a maior disponibilidade de terras nada nação, atacavam portos, áreas coloniais e embarcações
incentivou o processo de cercamento dos campos, visto que os inimigas. Em troca essa atividade de pilhagem, os corsários
nobres passaram a receber, como doação, as áreas anteriormente recebiam parte da riqueza saqueada. Diferenciavam-se, assim,
dominadas pelos eclesiásticos, ampliando as áreas destinadas à dos piratas, uma vez que eram subordinados a um rei ou a um
criação de ovelhas e fortalecendo ainda mais, em consequência, governador.
a produção manufatureira. Podemos afirmar que as medidas tomadas pelos gover-
Entre as decisões intervencionistas adotadas pela chamada nantes da dinastia Tudor, Henrique VIII e Elizabeth I, levaram
Rainha Virgem, Elizabeth I, o incentivo à colonização da América não só ao enriquecimento e ao fortalecimento do Estado
do Norte e à atividade corsária foram fundamentais, posto que Nacional, mas também atuaram em profundas transforma-
o enriquecimento proporcionado pelo grande fluxo de riquezas ções socioeconômicas. Alterou-se bruscamente a estrutura
auxiliou na consolidação do controle sobre as colônias na América. da sociedade estamental inglesa, vindo à tona valores que
Além disso, a vitória inglesa contra a Invencível Armada do rei incentivaram a acumulação de riqueza, tanto pelos burgueses
espanhol Filipe II ampliou o sentimento de nacionalismo. quanto por alguns representantes da nobreza.
66 HISTÓRIA II
1ª Série Módulo 17
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o trono inglês seu primo Jaime I, da dinastia Stuart, que nesse
momento era também o rei da Escócia. Este, mais interessado em
manter o tradicionalismo feudal, uniu os governos inglês e escocês,
ao mesmo tempo que se aproximou da nobreza aristocrática inglesa,
com o intuito de assegurar seus privilégios ameaçados pelos grupos
emergentes – os burgueses e a baixa nobreza.
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Sir Francis Drake, um dos mais conhecidos corsários da Europa
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Atualmente, o Parlamento inglês mantém a existência das
duas câmaras, sendo o rei considerado o terceiro elemento do
Parlamento, que é classificado como o corpo legislativo do
Reino Unido e Irlanda do Norte. Observa-se, ainda, que os
escoceses possuem o seu próprio Parlamento, embora suas leis
possam ser anuladas pelo Parlamento britânico.
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O presbiterianismo
A política adotada por Jaime I resultou em diversas mudanças
Os presbiterianos seguem uma das vertentes do refor-
políticas e religiosas. Entre elas, a grande distribuição de títulos de
mismo calvinista, defendendo a ideia da predestinação. Para
nobreza, na tentativa de fortalecer sua base de apoio, a imposição
eles, Deus já traçou o destino de todos os indivíduos: os
rigorosa do anglicanismo e a adoção de medidas mercantilistas.
abençoados recebem a salvação e os condenados, a danação.
Esse panorama criou cada vez mais um ambiente de tensão entre
O termo surgiu nas Ilhas Britânicas e fazia referência àqueles
o monarca, o Parlamento, os puritanos e os anglicanos. Assim, as
que não concordavam com o sistema de organização da Igreja.
oposições e as perseguições políticas se misturavam com as diver-
Os reis preferiam e adotavam o sistema episcopal, ou seja, uma
gências religiosas, e vice-versa.
organização religiosa governada por bispos e arcebispos. Porém
O referido ambiente de instabilidade política e religiosa incen-
esse método foi criticado por algumas igrejas em que se acredi-
tivou muitos puritanos a abandonarem o Estado inglês em busca
tava que o poder religioso devia ser guiado pelos mais velhos.
de melhores condições de vida no Novo Mundo. Esse movimento
Assim, a palavra grega presbyteros significa, literalmente, ancião,
migratório fez parte do início da colonização da Nova Inglaterra,
tendo dado origem à alcunha que as igrejas não estabelecidas
que foi marcado pela chegada dos chamados “pais peregrinos” à
receberam: presbiterianos.
região norte das Treze Colônias.
68 HISTÓRIA II
1ª Série Módulo 17
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Oliver Cromwell, líder político e militar da Revolução Puritana Carlos I, monarca inglês
Revoluções Inglesas: a Revolução Puritana HISTÓRIA II 69
Módulo 17 1ª Série
05 (UFRJ)
Quando o amor-próprio [egoísmo] começou a crescer na terra,
01 (UFG-GO) A república implantada por Oliver Cromwell, na então começou o homem a decair. Quando a humanidade começou
segunda metade do século XVII, na Inglaterra, provocou grandes a brigar sobre a terra, e alguns quiseram ter tudo e excluir os demais,
transformações na história inglesa. Em termos políticos e econô- forçando-os a serem seus servos: foi essa a queda de Adão.
micos, analise essas transformações.
HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabeça.
02 (UERJ) São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 169 (adaptado).
Assim, ninguém pode negar que a Revolução Puritana era uma Explique por que podemos associar o texto acima às correntes mais
luta tão religiosa quanto política; mas era mais que isso. Aquilo por que radicais que atuaram na Revolução Inglesa de 1640.
os homens lutavam era toda a natureza e o desenvolvimento futuro da
sociedade inglesa.
HILL, Christopher. A Revolução Inglesa de 1640. Lisboa: Presença, 1981.
(A) A Revolução representou o fim do absolutismo e encerrou, assim, A determinação inglesa pode ser considerada:
o domínio exclusivo da realeza sobre a administração do Estado. (A) liberal, uma vez que a interferência do Estado se resumira a
(B) A Revolução manteve os direitos senhoriais sobre a terra e cerceou estabilizar a entrada e a saída de mercadorias da nação.
o direito à propriedade privada para as pessoas de origem plebeia. (B) fisiocrata, porque reforçou a tendência inglesa de buscar as
(C) A nobreza rural foi a grande vencedora da Revolução, pois rendas do Estado na produção agrícola.
assegurou para si a isenção de impostos e o direito de votar e (C) iluminista, já que atendeu às demandas das camadas mais
ser votada. modernas da nobreza de terras e da burguesia industrial.
(D) A Declaração de Direitos do Cidadão (Bill of Rights) assegurou (D) monopolista, visto que permitiu a livre circulação de merca-
alguns direitos individuais, mas impediu a liberdade religiosa dorias pela maior parte do continente europeu e da Ásia.
e de pensamento. (E) mercantilista, pois permitiu a proteção e a consequente pros-
(E) A decapitação do rei Carlos I provocou uma reviravolta na peridade da Marinha e do comércio britânicos.
Revolução, com a reação da realeza absolutista, e, em decor-
rência, o Parlamento foi abolido. 02 (UNESP)
04 (PUC-SP) O Ato de Navegação de 1651 foi editado por Oliver A Revolução Inglesa de 1640 [...] destruiu o antigo aparelho
Cromwell, no contexto das chamadas revoluções inglesas do século de Estado, impondo limites ao poder real, submetendo-o ao poder
XVII. Era uma forma de: do Parlamento [...]. Eliminou a autonomia financeira do poder
real, confiscando-lhe as propriedades e transformando o próprio
(A) assegurar o mercado consumidor para produtos ingleses e
conceito de propriedade individual e absoluta [...].
impedir a concorrência de novas potências industriais, como
a França e a Alemanha. O poder mudou de mãos... agora passava aos domínios da
(B) obter maior controle sobre a circulação marítima comercial e, pequena nobreza rural, a gentry, identificada com a burguesia
dessa forma, ampliar a presença britânica sobre os mares. mercantil.
(C) beneficiar os interesses da nobreza britânica, que finalmente A Revolução Inglesa, José Jobson de Andrade Arruda.
conseguia se impor à burguesia nas lutas religiosas, sociais e
políticas internas. Segundo o texto, a Revolução Inglesa:
(D) impedir as exportações francesas para a América do Norte (A) reforçou o antigo aparelho de Estado e manteve intacta a
e, dessa forma, impedir a autonomia econômica das colônias propriedade real identificada com os privilégios da nobreza.
inglesas na região. (B) submeteu o rei ao poder do Parlamento, composto pela gentry e
(E) facilitar o acesso às colônias do norte da África, para assegurar o pela burguesia, cujos interesses privilegiavam a propriedade real.
fornecimento de carvão e de minérios para as fábricas inglesas.
70 HISTÓRIA II
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HISTÓRIA II 72
Módulo 18 1ª Série
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que a realidade se revela.
Um considerável grupo de republicanos da Inglaterra pede o
fim dos privilégios e o respeito à igualdade de direitos de todos
os britânicos. De acordo com recentes pesquisas, os republicanos
compõem, nos últimos dez anos, aproximadamente 15% da
população, e esse número não para de crescer. Expectativas de aprendizagem:
– Identificar de que forma a Revolução Puritana conduziu ao
É importante lembrar que a Inglaterra, modelo clássico de governo de Oliver Cromwell;
monarquia constitucional, já foi uma república por um curto – compreender como ocorreu um processo de restauração
espaço de tempo. Esse período no século XVII, localizado entre C5 monárquica;
as revoluções Puritana e Gloriosa, foi marcado pela forte atuação – analisar criticamente os motivos que levaram à eclosão da
Revolução Gloriosa;
de Oliver Cromwell, assunto que vamos estudar neste módulo.
– observar que a Revolução Gloriosa se relaciona com as bases do
liberalismo político.
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decapitação do rei Carlos I em 1649. A ausência do monarca gerou
um novo ambiente político na Inglaterra, uma vez que foi criado um
Conselho de Estado que, liderado por Cromwell, tornou-se o órgão
responsável pelas questões administrativas e militares.
Esse conselho teria seu poder submetido ao Parlamento, que,
mesmo diante da extinção da Câmara dos Lordes, após a Revolução
Puritana, manteve suas funções políticas por meio da Câmara dos
Comuns. A liderança administrativa do líder puritano fez com que
esse período (1649-1658) fosse denominado República de Cromwell.
O fim da guerra civil e o estabelecimento do governo de
Cromwell não significaram a completa pacificação da Inglaterra; ao
contrário, as forças opositoras à República continuaram mantendo
atitudes de resistência. Houve, por exemplo, a rebelião de católicos e
realistas na Irlanda, entre 1649 e 1650, na qual se defendia o retorno
do modelo monárquico anterior. Cromwell conseguiu reprimir
o movimento, o que, consequentemente, resultou no gradativo
fortalecimento de seu governo.
A progressiva centralização política na figura do governante
Estátua de Oliver Cromwell, representação de sua grande influência política
pode ser notada pelo acúmulo de títulos que lhe eram atribuídos, na história da Inglaterra
conferindo-lhe poderes que reduziam a influência do Parlamento.
Revoluções Inglesas: a República de Cromwell HISTÓRIA II 73
e a Revolução Gloriosa Módulo 18 1ª Série
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Mapa explicativo dos Atos de Navegação
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conjunto de ideias que, entre os séculos XVII e XVIII, incen-
tivaram o enfraquecimento das bases feudais e a consequente
transição para o sistema capitalista. Nesse sentido, essa teoria
política combate o modelo absolutista, as distinções sociais
baseadas na estrutura estamental, e defende que a função
do Estado é assegurar que todos os indivíduos gozem de
seus direitos fundamentais – o direito à vida, à liberdade e à
propriedade privada.
Entre os princípios fundamentais do liberalismo político,
está a ideia de igualdade de direitos, sejam ele civis ou indivi-
duais. Assim, o Estado liberal deveria atuar de maneira a não
interferir nos direitos individuais, e sim a regular as normas
estabelecidas, sempre subordinadas às leis.
Diversos filósofos participaram da formulação e da expansão
dessa perspectiva política. Um dos de maior destaque foi
Guilherme de Orange no Parlamento britânico
John Locke, que, sendo contemporâneo à Revolução Inglesa,
O grande destaque desse episódio político foi o estabelecimento presenciou os acontecimentos políticos desse marco histórico,
da Declaração de Direitos, ou Bill of Rights, pela qual o novo rei, auxiliando significativamente na argumentação em defesa do
Guilherme III, jurava submeter o seu poder ao Parlamento inglês. liberalismo nos séculos seguintes.
Entre as determinações negociadas, estavam a necessidade de
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aprovação do Parlamento para a criação de novos impostos, a defesa
da propriedade privada e da liberdade de expressão. Além disso,
foi estabelecido o Ato de Tolerância, que determinava a liberdade
religiosa para os protestantes.
A seguir, observam-se alguns dos pontos expostos na Declaração:
a. Identifique o contexto em que esse documento foi escrito. Trecho da entrevista feita com o historiador
b. A Declaração dos Direitos estabelece qual relação de poder Christopher Hill. Folha de S. Paulo. 10 ago. 1988.
Sobre as Revoluções Inglesas, ocorridas no século XVIII, é correto 03 (UNIFOR–CE) Observe a gravura que registra o momento
afirmar que: histórico em que Maria e Guilherme de Orange, tornados reis da
Inglaterra pela vontade do Parlamento, recebem deste a Declaração
(A) o processo dessas revoluções foi inspirado nos ideais ilumi- de Direitos de 1689.
nistas do século XVIII culminando, assim como na França, na
decapitação do rei.
(B) Oliver Cromwell, apesar de ter comandado os yeomen, acabou
derrotado pelas tropas leais ao rei.
(C) foram um movimento que retardou a chegada da Revolução
Industrial por terem levado a nação a afundar-se em uma guerra
civil sem fim.
(D) serviram para fortalecer a figura do rei e da monarquia abso-
lutista em detrimento do Parlamento e da gentry.
(E) estabeleceram uma nova realidade política e religiosa, pois
o Parlamento consolidou seus direitos, e os não anglicanos
tiveram garantia de tolerância religiosa.
02 (ESPM)
(...) Os lordes espirituais e temporais e os comuns, hoje (22 de
janeiro de 1689) reunidos (...) constituindo em conjunto a repre-
sentação plena e livre da nação (...), declaram (...), para assegurar
ARRUDA, J. Jobson de; PILETTI, Nelson. Toda a História. São Paulo: Ática, 1999, p. 229.
os seus antigos direitos e liberdades:
No contexto da Revolução Inglesa do século XVII, o fato registrado
• que o pretenso direito da autoridade real de suspender as leis na gravura significou:
ou a sua execução (...) é ilegal;
• que o pretenso direito da autoridade real de dispensar das leis (A) a decadência da hegemonia inglesa no continente europeu.
ou da sua execução (...) é ilegal; (B) o enfraquecimento definitivo do absolutismo monárquico na
• que qualquer levantamento de dinheiro para a Coroa ou para Inglaterra.
seu uso (...), sem o consentimento do Parlamento (...) é ilegal; (C) o fim da república provocado pela restauração monárquica.
(D) a supremacia do Poder Executivo sobre o Poder Legislativo.
• que o recrutamento e a manutenção de um exército no reino,
(E) a vitória da aristocracia católica sobre os anglicanos.
em tempo de paz, sem o consentimento do Parlamento, é ilegal;
• que eleições dos membros do Parlamento devem ser livres;
04 (FUVEST) No século XVII, a Inglaterra conheceu convulsões
• que a liberdade de palavra ou a das discussões ou processos
revolucionárias que culminaram com a execução de um rei (1649)
no Parlamento não podem ser impedidas ou discutidas em e a deposição de outro (1688). Apesar de as transformações signi-
qualquer tribunal ou lugar que não seja o próprio Parlamento; ficativas terem se verificado na primeira fase, sob Oliver Cromwell,
• que, para remediar todos os agravos, e para a alteração, foi o período final que ficou conhecido como Revolução Gloriosa.
ratificação e a observação das leis, o Parlamento deve ser Isso se explica porque:
frequentemente reunido.
(A) em 1688, a Inglaterra passara a controlar totalmente o comércio
História Moderna e Contemporânea, Leonel Itaussu A. Mello e Luís César Costa. mundial tornando-se a potência mais rica da Europa.
(B) auxiliada pela Holanda, a Inglaterra conseguiu conter em 1688
O texto apresenta alguns itens que devem ser relacionados: forças contrarrevolucionárias que, no continente, ameaçavam
as conquistas de Cromwell.
(A) ao Ato de Supremacia, estabelecido pelo rei da Inglaterra, (C) mais que a violência da década de 1640, com suas execuções,
Henrique VIII. a tradição liberal inglesa desejou celebrar a nova monarquia
(B) à Lei dos Pobres, estabelecida pela rainha da Inglaterra, parlamentar consolidada em 1688.
Elizabeth I. (D) as forças radicais do movimento, como cavadores e niveladores,
(C) à Declaração de Direitos, que derivou da Revolução Gloriosa. que assumiram o controle do governo, foram destruídas em
(D) ao Ato de Navegação, que foi uma medida adotada sob a 1688 por Guilherme de Orange.
República Puritana dirigida por Oliver Cromwell. (E) só então se estabeleceu um pacto entre a aristocracia e a
(E) ao Ato de Dissolução do Parlamento, medida jurídica respon- burguesia, anulando-se as aspirações políticas da gentry.
sável pela Restauração Stuart.
Revoluções Inglesas: a República de Cromwell HISTÓRIA II 77
e a Revolução Gloriosa Módulo 18 1ª Série
05 (ESCS-DF) As primeiras revoluções burguesas tiveram lugar na a. Explique a importância política desse documento medieval.
Inglaterra, no século XVII, com a Revolução Puritana (1649-1658) b. Relacione esse documento, que “criou as bases do atual modelo
e a Revolução Gloriosa (1688), expressando um confronto entre o de Estado inglês”, às Revoluções do século XVII.
Parlamento, sob a liderança da burguesia e da gentry, e os monarcas
da dinastia Stuart com práticas absolutistas. Uma das consequências 02 Leia o excerto da Declaração de Direitos (Bill of Rights), assinada
geradas por esses dois movimentos revolucionários burgueses é: pelo rei Guilherme de Orange, em 1689, após a chamada Revolução
Gloriosa na Inglaterra em 1688:
(A) o fortalecimento da nobreza inglesa por meio da criação do
sistema parlamentarista com a Revolução Gloriosa de 1688. “Os Lordes (...) e os membros da Câmara dos Comuns, declaram,
(B) a total falência do sistema econômico inglês em função do desde logo, o seguinte:
favorecimento do Estado inglês ao sistema manufatureiro da
burguesia local. 1. Que é ilegal a faculdade que se atribui à autoridade real para
(C) o retorno da Igreja Católica como religião oficial dos ingleses suspender as leis ou seu cumprimento (...).
em função da aliança entre a burguesia e os Estados pontificiais 5. Que os súditos têm direitos de apresentar petições ao rei, sendo
na Revolução Puritana. ilegais as prisões, vexações de qualquer espécie que sofram por
(D) o controle da política inglesa pela Câmara dos Lordes, represen- esta causa. (...).
tando a vitória da nobreza local durante a Revolução Gloriosa. 13. Que é indispensável convocar com frequência os Parlamentos
(E) a consolidação da Inglaterra como potência econômica após o para satisfazer os agravos, assim como para corrigir, afirmar e
fortalecimento da burguesia no poder inglês com a Revolução conservar as leis.”
Gloriosa.
A partir do documento acima e de seus conhecimentos sobre a
Revolução Gloriosa e seus desdobramentos, explique por que ela é
interpretada como uma revolução liberal, parlamentar e burguesa.
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HISTÓRIA II 78
Módulo 19 1ª Série
1. Contexto histórico
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Em módulos anteriores, estudou-se a organização política,
social, econômica e cultural da Europa entre os séculos XV
e XVIII. Convencionalmente, chama-se essa organização de
Sociedade do Antigo Regime, na qual os Estados Nacionais
eram governados por monarcas absolutistas que, interessados em
manter a acumulação de riqueza, interferiam na economia por
meio da implantação de medidas mercantilistas, ao mesmo tempo
que legitimavam a divisão social hierarquizada, privilegiando
aqueles que possuíam terras e títulos.
Contudo, deve-se compreender esse período histórico
como momento de transição, visto que diversos valores feudais
dividiram espaço com novas perspectivas ideológicas. Em relação
à organização cultural, desde o início da Renascença, os valores
racionalistas foram sendo gradativamente exaltados nas diversas
produções culturais, reduzindo a influência ideológica da Igreja
Católica e incentivando a consolidação do pensamento científico
moderno no século XVII. Assim, alterou-se pouco a pouco a
mentalidade europeia e disseminaram-se novas explicações sobre
o homem e a natureza.
O frontispício da Encyclopedia de 1772, desenhado por Charles Chochin, carrega em
si o símbolo máximo do iluminismo: a figura do centro representa a Verdade, estando
acompanhada pela Razão e a Filosofia à direita
Iluminismo: conceitos e características HISTÓRIA II 79
Módulo 19 1ª Série
Em relação aos aspectos econômicos, o crescimento e o forta- Para os iluministas, o uso da racionalidade e, consequente-
lecimento da burguesia demonstravam cada vez mais o desejo de mente, do método científico lançaria “luz” às questões que, até
acumulação de riquezas e a consequente pressão dessa classe para aquele momento, não eram compreendidas ou eram explicadas de
conquistar maior espaço político. Nesse sentido, o movimento forma insatisfatória. Assim, acreditavam que, com o uso da razão,
revolucionário na Inglaterra foi um exemplo importante dessa os homens atingiriam o progresso.
transição de valores, uma vez que, diante da insatisfação com o
modelo absolutista, os revolucionários passaram a defender uma
nova perspectiva política. Era a ascensão da proposta liberal. O racionalismo
Deve-se, então, compreender que, ao estudar as mudanças Segundo os iluministas, o conhecimento racional deveria
históricas, é necessária uma análise que considere seu aspecto ser valorizado e entendido como única fonte de compreensão
gradativo. Dessa forma, pode-se identificar o enfraquecimento das do homem em relação ao mundo que o cerca. Contudo, essa
estruturas do Antigo Regime no decorrer de todo o período, prin- perspectiva mostra-se um tanto preconceituosa, uma vez que
cipalmente a partir do século XVII e durante todo o século XVIII. coloca as demais formas de explicação e entendimento do
mundo em posição de inferioridade.
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O que significa o termo “ideologia”?
Segundo o dicionário Aurélio, o termo “ideologia” significa:
“ciência da origem das ideias; estudo das ideias de modo
abstrato; doutrina das ideias. Filosofia. Atribuição da origem
das ideias às noções sensoriais do indivíduo a partir de sua
compreensão do mundo externo”.
Portanto, conclui-se que o Iluminismo representou um
movimento ideológico que buscava combater os valores e
as ideologias anteriores, trazendo à tona uma nova forma de
entender e explicar o mundo.
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A razão era altamente valorizada pelos iluministas, que nela viam a forma de
chegar à Verdades
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experiência.
a. A partir desses fragmentos textuais, identifique uma caracte-
rística do Antigo Regime e explique-a.
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03 (UPE)
O Iluminismo foi um movimento intelectual, portador de
uma visão unitária do mundo e do homem. Apesar da diversidade
de leituras que lhe são contemporâneas, conservou uma grande
certeza quanto à racionalidade do mundo e do homem, a qual seria
imanente em sua essência.
04 (UFV) Leia o texto a seguir: (A) a luta em defesa da manutenção do controle da Igreja Católica
sobre os sistemas religiosos da Europa Ocidental.
As nossas esperanças quanto à condição humana podem redu- (B) a crítica ao exclusivo comercial, que atrelava as áreas coloniais
zir-se a estes três pontos importantes: a destruição da desigualdade às suas metrópoles, e a crítica ao Antigo Regime.
entre as nações; os progressos da igualdade num mesmo povo; e, (C) a manutenção da concentração do poder na figura do rei, em
benefício da nobreza e do clero, classes sociais que lhe davam
finalmente, o aperfeiçoamento real do homem. Irão todas as nações
apoio irrestrito.
aproximar-se um dia do estado de civilização a que chegaram os (D) o combate à propriedade privada, em benefício de uma reforma
povos mais esclarecidos [...] tal como os franceses e os anglo-a- agrária que atendesse às necessidades da numerosa população
mericanos? Irá desaparecer [...] a distância que separa estes povos camponesa europeia.
[...] da barbárie das tribos africanas, da ignorância dos selvagens? (E) a liberdade estendida a analfabetos, mendigos e vadios, para
[...] Respondendo a estas três perguntas encontraremos [...] os participarem das eleições censitárias promovidas pelos governos
motivos mais fortes para acreditar que a natureza não pôs nenhum antiabsolutistas.
limite às nossas esperanças.
02 (UNESP – adaptada)
CONDORCET. “Esboço para um quadro histórico do progresso do espírito humano.” Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a
In: GARDINER, P. Teorias da história. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1995, p. 69-70.
pessoa e os bens de cada associado com toda a força comum, e pela
Com base no texto de Condorcet (1743-1794), um escritor do Século qual cada um, unindo-se a todos, só obedece, contudo a si mesmo,
das Luzes, é correto afirmar que os iluministas: permanecendo assim tão livre quanto antes. Esse, o problema
fundamental cuja solução o contrato social oferece. [...]
(A) acreditavam que todas as nações desfrutavam do mesmo nível
Cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo o seu poder
de desenvolvimento intelectual e tecnológico.
(B) defenderam o ideal de liberdade e de igualdade entre os homens, sob a direção suprema da vontade geral, e recebemos, enquanto
assim como acreditavam que todas as nações se encontravam corpo, cada membro como parte indivisível do todo.
no mesmo nível de civilização. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social, 1983.
ao poder. Os liberais estavam fortes e resolutos. [...] D. Cláudia (C) dirigir os seres humanos em suas escolhas, evitando disputas
levantou-se da cadeira, rápida, e disparou esta pergunta ao marido: por questões sociais ou econômicas.
— Mas, Batista, você o que é que espera mais dos conservadores? (D) manter a estabilidade da organização social, definindo as
Batista parou com um ar digno e respondeu com simplicidade: obrigações e privilégios de cada camada.
(E) proteger os direitos naturais do indivíduo, garantindo o respeito
— Espero que subam.
a eles por toda a sociedade.
ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. Rio de Janeiro: Nova Aguillar (adaptado).
VAINFAS, Ronaldo R. D. et al
História. Volume 2. São Paulo: Saraiva, 2011.
A Revolução Industrial, Francisco Iglesias.
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Com o passar dos anos e a adesão ao mundo digital, o formato das enciclopédias mudou
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considerado um dos funda- De acordo com essa concepção, o filósofo defendia que a melhor
dores do liberalismo político, forma de governo ocorreria com o estabelecimento de um contrato
segundo o qual a função do entre os governados e o governante.
governo é defender os direitos Nessa perspectiva, a sociedade aceitaria obedecer a um conjunto
individuais e civis. Tendo sido de leis, reduzindo sua liberdade civil e individual. Em contrapartida,
contemporâneo da Revolução o governo se responsabilizaria por manter a ordem e a paz por meio
Gloriosa, foi um dos agentes da obediência aos parâmetros expostos na carta constitucional. Para
fundamentais para a queda do Locke, o foco da organização política deve ser sempre a sociedade
sistema absolutista inglês e civil. Assim, se em algum momento o governante não cumprir com
contribuiu com uma das mais as obrigações que lhe são impostas, ou tentar colocar sua vontade
importantes obras da filosofia acima dos interesses coletivos, é direito da sociedade se rebelar ou
política, o Segundo tratado até mesmo retirá-lo do cargo de governo, o que é definido como o
John Locke (1632-1704)
sobre o governo civil. direito de rebelião dos povos.
Segundo o pensamento de Locke, o homem possui direitos Segundo Locke, o contrato é um pacto de consentimento
considerados inalienáveis, isto é, que não podem ser retirados, segundo o qual os homens concordam livremente em formar
cedidos ou vendidos: o direito à vida, à liberdade e à propriedade a sociedade civil para preservar e consolidar seus direitos, que
privada. Assim, no estado de natureza, os homens poderiam adotar possuíam originalmente no estado de natureza.
qualquer medida que lhes assegurasse a manutenção desses direitos.
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Contudo, esse seria também um estágio de caos, visto que qualquer
um poderia estabelecer suas leis sob o pretexto de se proteger.
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Voltaire (1694-1778)
pertencente à baixa nobreza evitar que a concentração do poder prejudicasse a sociedade civil,
francesa, assim como Voltaire, esse deveria ser dividido entre três segmentos, cada um responsável
inspirou-se no pensamento por atuar em determinado setor.
político de John Locke. Sua “É uma experiência eterna a de que todo homem que tem poder
teoria política baseava-se na é levado a abusar dele; ele vai até o ponto em que encontra limites
ideia de que não existe uma (...). Para que seja impossível abusar do poder, é preciso que pela
forma de governo ideal que se disposição das coisas o poder freie o poder.”
aplique a qualquer povo. Assim,
MONTESQUIEU. Do espírito das leis. São Paulo: Abril, 1979.
segundo ele, de acordo com o
Barão de Montesquieu
desenvolvimento socioeconô- A proposta de Montesquieu de divisão do poder resultou na
mico, cada Estado deveria aplicar um modelo específico. Segundo configuração política atual, denominada teoria dos três poderes.
sua proposta teórica, os grandes países deveriam adotar o modelo De acordo com ela, o Executivo é responsável pelas questões
despótico; os Estados médios, a monarquia constitucional; e os administrativas do Estado, o Legislativo, pela produção e votação
pequenos, a república. das leis, e o Judiciário fica encarregado do julgamento.
88 HISTÓRIA II
1ª Série Módulo 20
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mente, nenhum movimento
intelec tual e f ilos óf ico é econômicos
composto por integrantes que O pensamento iluminista se baseava na utilização do racio-
compartilhem interiormente nalismo para criticar a sociedade do Antigo Regime, inclusive,
das mesmas ideias. Sempre no campo econômico. Com o intuito de contestar as medidas
existem discordâncias e pers- de intervenção do Estado na economia e defender a liberdade
pectivas diversas. O pensador econômica, surgiram alguns dos fundadores do pensamento
suíço Jean Jacques-Rousseau é econômico liberal.
exemplo dessas divergências no Como estudado anteriormente, as políticas mercantilistas
meio dos demais iluministas. interferiam nas questões econômicas, visto que visavam ao acúmulo
Rousseau, ao contrário de de riquezas para o Estado. Sendo os liberais contrários a quaisquer
Locke, acreditava que, quando medidas intervencionistas, eles se concentraram em tentar
os homens estavam em “estado comprovar que maior acumulação ocorreria sem a regulamentação
de natureza”, não havia conflitos, Do Contrato Social, a Magnum Opus do Estado.
sendo este um estágio de paz, de Rousseau Foi na França que esse grupo mais se destacou inicialmente.
uma vez que não existia proprie- Representados por François Quesnay e Robert Turgot, seus inte-
dade privada que incentivasse a disputa entre os homens. Segundo grantes compunham a denominada Escola Fisiocrata. Acreditavam
ele, a partir do momento em que houve a delimitação da proprie- que a maior fonte de riqueza de um Estado era a terra e, consequente-
dade, esta se tornou a origem da discórdia entre os indivíduos, mente, o produto nela cultivado pela prática da agricultura. Para eles,
estabelecendo-se assim o caos. o comércio e as atividades manufatureiras não originavam riqueza,
Diferentemente dos demais mas transformavam-na e faziam-na circular.
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a propriedade privada de maneira
negativa, como a origem da desi-
gualdade e, consequentemente,
fonte dos conflitos sociais. Para
resolver tal questão, o filósofo
acreditava na criação do governo
como um “mal necessário”, capaz
de estabelecer a paz. Assim, o
Estado seria, para ele, a organi-
zação da sociedade civil, que, Jean Jacques Rousseau (1712-1778)
baseada em um contrato social, asseguraria os interesses da maioria
por meio do voto.
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suas principais obras – A riqueza
das nações – defendeu que a
01 (FMJ)
divisão do trabalho em todas as
atividades econômicas, princi- É necessário termos presente não só o progresso técnico como
palmente entre as nações, faci- também o clima geral da economia, no qual surgem os primeiros
litaria a produção e a acumu- sinais da “revolução industrial”: longo período de expansão que
lação de bens. tem o seu início por volta de 1730, primeiro no domínio agrícola
Segundo Smith, a liberdade (progresso econômico e acréscimo da produção que permitem
econômica deveria ser a base de alimentar uma população mais numerosa), conjuntura favorável
todo o sistema comercial. Assim, ao lucro e às atividades manufatureiras, crescimento das cidades
o que regularia o preço dos e dos portos, poderio dos armadores e dos negociantes, dos quais
produtos seria a relação entre Voltaire faz o panegírico nas suas Cartas Inglesas: “O comércio, que
Adam Smith (1723-1790) enriqueceu os cidadãos na Inglaterra, contribuiu para os tornar
a sua oferta e a sua demanda.
Ou seja, não haveria a necessidade de intervenções do Estado na livres, e essa liberdade deu por sua vez maior expansão ao comércio;
economia, uma vez que o mercado seria o maior responsável pelo daí se formou o poderio do Estado”.
estabelecimento desse valor.
TOUCHARD, Jean (Org.). História das ideias políticas, 1970 (adaptado).
Dessa forma, para o filósofo, a economia seria regida por leis
naturais, as quais poderiam ser estudadas e previstas, assim como as
No contexto apresentado, Voltaire:
leis da física. Foi utilizando essa argumentação que Smith tornou-se
o “pai” da economia como ciência. (A) sustenta a necessidade fundamental de a sociedade organizar-se
Posteriormente, David Ricardo, um dos principais seguidores de forma estamental.
de Adam Smith, tornou-se um dos grandes representantes do libe- (B) argumenta que a excessiva liberdade econômica pode gerar
ralismo no século XIX. Autor da obra Princípios da economia política tirania política nas nações.
e tributação, ele defendeu que o valor das mercadorias depende da (C) denuncia a insustentabilidade das práticas econômicas essen-
quantidade de trabalho necessária para produzi-la, não estando ciais sem a tutela estatal.
(D) entende o desenvolvimento do comércio como causa e conse-
associado à remuneração do trabalhador.
quência da liberdade dos cidadãos.
(E) apoia as monarquias absolutistas europeias fundadas no direito
4. O despotismo esclarecido divino dos reis.
As ideias iluministas não foram recebidas da mesma maneira
em todas as regiões. Enquanto franceses e ingleses aplicaram essas 02 (UPE) O pensamento de Jean-Jacques Rousseau, fruto do
Iluminismo do século XVIII, serve de base, até hoje, para a estrutura
ideias de forma bastante intensa, países com características mais
política de vários países democráticos ocidentais.
conservadoras as utilizaram de acordo com suas estruturas vigentes. Sobre essa realidade, assinale a alternativa correta:
Os monarcas da Rússia, da Prússia, da Espanha, de Portugal
e da Áustria, por exemplo, tentaram reformar alguns aspectos de (A) No pensamento de Rousseau, gesta-se a teoria do Estado
suas estruturas econômicas com o intuito de satisfazer à classe contratualista.
burguesa em ascensão, sem, contudo, perder o poder centralizador (B) Os atuais regimes socialistas do Ocidente condenam a proprie-
do Estado. A essa conjugação dá-se o nome de despotismo escla- dade privada com base nos textos de Rousseau.
(C) A teoria da tripartição do poder é herança do pensamento de
recido, marcado pela manutenção da política absolutista associada
Rousseau.
a algumas medidas iluministas. (D) A teoria contratualista foi desenvolvida por Rousseau na obra
Esses líderes, como o Marquês de Pombal em Portugal, Origem da desigualdade social entre os homens.
Frederico II na Prússia, e Carlos III na Espanha, adotaram essa (E) Na obra Do contrato social, Rousseau defende a propriedade privada.
postura porque, em meados do século XVIII e início do século
XIX, a economia desses Estados mostrava-se cada vez mais 03 (UEFS)
estagnada, tendendo a certo declínio, uma vez que a manutenção É uma verdade eterna: qualquer pessoa que tenha o poder tende
das políticas mercantilistas, a diminuição da exploração colonial e a abusar dele. Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas
a burocratização administrativa limitavam o desenvolvimento de de maneira que o poder seja contido pelo poder.
suas respectivas burguesias.
O chamado depotismo esclarecido foi bem-sucedido em alguns MONTESQUIEU. In: AQUINO, R. et al. História das sociedades: das sociedades modernas às sociedades
atuais. 28. ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1993.
dos Estados: na Áustria e na Rússia, os governantes absolutistas se
mantiveram no poder até o início do século XX.
90 HISTÓRIA II
1ª Série Módulo 20
A afirmativa do filósofo Montesquieu a respeito da ação e da (D) formas de governo inconciliáveis, pois o absolutismo era
contenção do poder originou: autoritário e ultrapassado. Já os enciclopedistas, como Diderot e
D’Alembert, desejavam a derrubada do rei pelos revolucionários
(A) a proposta para a condenação à morte, pela vontade popular, comunistas, formadores de ideias socialistas vinculadas ao
de todo o chefe de poder que se torne absoluto. marxismo contemporâneo.
(B) o movimento renascentista, responsável pela ideia de que “os (E) maneiras de governar muito distintas, pois os enciclopedistas
fins justificam os meios”. eram homens de letras que iniciavam carreira política nas
(C) as ideias anarcossindicalistas, defensoras da intervenção fileiras dos liberais exaltados, e o monarca absolutista era do
militarista no Estado e da completa ausência de leis. partido conservador francês.
(D) a teoria da divisão da soberania em três poderes independentes
e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
(E) o movimento operário, no Brasil Império, destinado a conter
o poder da monarquia absolutista que governava o país.
04 (UFG–GO) Em 1751, os filósofos Diderot e D’Alembert organi- 01 (UNCISAL) Leia atentamente as frases de Voltaire:
zaram a Enciclopédia, ou Dicionário racional das ciências, das artes
e dos ofícios, com a contribuição de um conjunto de autores que – “É difícil libertar os tolos das amarras que eles veneram.”
eles denominaram como “homens de letras”. Dois séculos e meio
– “A leitura engrandece a alma.”
depois, foi disponibilizada na internet a Wikipédia, que se anuncia
como a “Enciclopédia livre”. Ante o exposto, explique: – “Todo aquele que desconfia convida os outros a traí-lo.”
a. a relação entre a proposta de produção da Enciclopédia e – “O abuso da graça é afetação; o abuso do sublime, absurdo.
a concepção de conhecimento defendida pelo movimento Toda perfeição é um defeito.”
iluminista.
b. a diferença entre a enciclopédia iluminista e a Wikipédia, no – “O valor dos grandes homens mede-se pela importância dos
serviços prestados à humanidade.”
que se refere à relação entre os autores dos verbetes e o domínio
dos conhecimentos. – “A guerra é o maior dos crimes, mas não existe agressor que
não disfarce seu crime com pretexto de justiça.”
05 (UFPA)
– “O meu ofício é dizer o que penso.”
Na Enciclopédia não havia área do engenho humano que não
tivesse sido coberta. Ali se observava a confiança de que os homens – “A primeira lei da natureza é a tolerância; já que temos todos
eram, ou poderiam ser em breve, senhores de seu próprio destino, uma porção de erros e fraquezas.”
que poderiam moldar o mundo e a sociedade de acordo com as suas – “Devemos julgar um homem mais pelas suas perguntas que
conveniências e vantagens. Era o poder da razão. Por isso mesmo pelas respostas.”
a Enciclopédia não foi universalmente aceita. Poderes absolutistas
civis e religiosos foram seus combatentes. – “O acaso é uma palavra sem sentido. Nada pode existir sem causa.”
DENT, N. J. H. Dicionário de Rousseau. Rio de Janeiro: Zahar, 1996, p. 125 (adaptado). Disponível em: <www.suapesquisa.com>.
Em relação a essas novas normas de conduta relativas ao compor- Contra a fatalidade do primeiro branco aportado e dominando
tamento de homens e mulheres, assinale a resposta correta: diplomaticamente as selvas selvagens. Citando Virgílio para os
tupiniquins. O bacharel.
(A) o mundo das mulheres deveria estar restrito ao lar, podendo
se dedicar à música e ao bordado, enquanto os homens teriam Século XX. Um estouro nos aprendimentos. Os homens que
que entender de política e finanças. sabiam tudo se deformaram como babéis de borracha. Rebentaram
(B) as mulheres burguesas deveriam se comportar de forma eman- de enciclopedismo.
cipada, esforçando-se para se inserir no mercado de trabalho
competitivo com os homens. ANDRADE, Oswald de. Obras completas – Poesia Reunida. São Paulo:
MEC/Civilização Brasileira, 1972, p. 14.
(C) os homens e mulheres detinham os mesmos papéis sociais,
devendo se comportar de forma similar em todas as atividades
sociais. Uma das principais experiências históricas relacionadas ao enci-
(D) as regras de comportamento entre mulheres e homens na clopedismo foi a edição e a divulgação da enciclopédia editada
sociedade burguesa europeia foram aderidas somente entre por pensadores iluministas, no século XVIII. Ao escreverem essa
os camponeses e pobres, sendo considerados os detentores de enciclopédia, eram objetivos desses pensadores:
civilidade.
(E) a hierarquia entre homens e mulheres não faziam parte dos (A) afirmar a existência de Deus e questionar a validade dos prin-
rituais e regras de civilidade burguesa do século XIX. cípios essencialmente racionalistas de concepção do mundo.
(B) questionar os princípios do absolutismo e expor as leis naturais
sobre as quais se estruturaria a dinâmica do Universo.
03 (UNIFOR) (C) disseminar o pensamento anticlerical e democratizar o acesso à
Apesar de Rousseau trazer à tona a democracia direta ateniense, ilustração a fim de impulsionar um movimento revolucionário
ele próprio convenceu-se da impossibilidade de tal modelo, em autenticamente popular.
(D) estimular o livre pensamento e questionar o conhecimento
face das grandes extensões territoriais dos Estados, das grandes
desenvolvido pelos protagonistas da Revolução Científica do
concentrações populacionais (devemos levar em conta que as século anterior.
metrópoles estavam em pleno crescimento na época de Rousseau), (E) criticar o liberalismo econômico e expor uma concepção de
da complexidade da sociedade, e da falta de consenso social cultural. progresso baseada, exclusivamente, no domínio de modernas
técnicas agrícolas.
Disponível em: <www.buscalegis.ufsc.br>. Acesso em: 13 mai. 2010 (adaptado).
01 (UNICAMP) 02 (UFU)
Na segunda metade do século XVIII, pensadores importantes, Mas, logo em seguida, adverti que, enquanto eu queria assim
como Denis Diderot, atacaram os próprios fundamentos do pensar que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que
imperialismo. Para esse filósofo, os seres humanos eram fundamen- pensava, fosse alguma coisa. E, notando que esta verdade – eu penso,
talmente formados pelas suas culturas e marcados pelas diferenças logo existo – era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes
culturais, não existindo o homem no estado de natureza. Isso levava suposições dos céticos não seriam capazes de a abalar, julguei que
à ideia de relatividade cultural, segundo a qual os povos não podiam podia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro princípio da
ser considerados superiores ou inferiores a partir de uma escala filosofia que procurava.
universal de valores.
DESCARTES. Discurso do Método. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 41. (Coleção Os Pensadores).
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