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Curso EsPCEx
2020

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MINERAÇÃO COLONIAL E REFORMAS POMBALINAS


A descoberta do ouro em Minas Gerais
Após o fim da União Ibérica em 1640, Portugal passou por uma grave crise
econômica ocasionada pela perda de antigas colônias e pela queda dos preços do
açúcar no mercado.
O governo português, buscando novas fontes de riqueza, passou a estimular ainda
mais a busca por metais preciosos no Brasil.
Entre os anos de 1693 e 1695, bandeirantes paulistas encontraram ouro de
aluvião (ouro encontrado em depósitos de areia, argila ou cascalho nas margens ou
leitos de rios) nos vales do Rio Doce e do Rio das Mortes, regiões atualmente
localizadas no estado de Minas Gerais.
A notícia da descoberta de ouro se espalhou rapidamente, e um enorme
contingente de pessoas se dirigiu para a região das Minas Gerais em busca de
enriquecimento fácil, o que levou ao rápido povoamento e ocupação da região. As
pessoas vinham de outras partes da colônia e até mesmo de Portugal: calcula-se que,
por ano, 3-4 mil portugueses tenham saído da Europa para a região das jazidas, o
que causou um déficit populacional no país – em 1720, a Coroa Portuguesa foi
obrigada a lançar um decreto restringindo a emigração para o Brasil.
O rápido povoamento da região fez surgir, em poucos anos, diversas vilas e
cidades em lugares que antes eram sertões despovoados: Vila Rica, Ribeirão do
Carmo, São João del Rei e Sabará.
No século XVIII, a população das Minas Gerais nunca parou de crescer: em 1786,
havia na região cerca de 394 mil habitantes, constituindo aproximadamente 15% da
população do Brasil à época.
A Guerra dos Emboabas (1707-1709)
Quem descobriu as primeiras jazidas de ouro em Minas Gerais foram os
bandeirantes paulistas, e por isso eles achavam que apenas eles deveriam ter o
direito de explorar as minas.
Contudo, os colonos de outras partes do Brasil e os portugueses vindos da
Europa também queriam a posse das jazidas descobertas.
Logo surgiu um clima de tensão ocasionado pela disputa da posse das minas: de
um lado,os bandeirantes paulistas; de outro, os portugueses e colonos de outras
regiões, que eram chamados de “emboabas” (forasteiros) pelos descobridores das
minas.
Quando os portugueses passaram a tentar controlar o abastecimento de
mercadorias da região das minas, a tensão chegou ao ápice e teve início em 1707 o
conflito entre paulistas e “emboabas”.
As tropas “emboabas” lideradas pelo pecuarista e comerciante Manuel Nunes
Viana venceram os paulistas em Sabará e Cachoeira do Campo.
Em 1709, ocorreu um episódio que ficou conhecido como Capão da Traição: nesse
local, os emboabas venceram os paulistas em uma batalha e prometeram misericórdia
para aqueles que se rendessem. Os paulistas se renderam, mas foram traídos pela
promessa: os emboabas, comandados por Bento do Amaral Coutinho, os massacraram
impiedosamente.
Os paulistas até organizaram uma vingança posteriormente, mas a guerra acabou
mesmo em 1709, sem um lado vencedor, mas com muitas consequências para a colônia:
Para evitar novas guerras na região, a Coroa Portuguesa passou a exercer um firme
controle administrativo e fiscal na região das minas; em 1709, foi criada a
Capitania de São Paulo e Minas do Ouro; por determinação do rei D. João V, São
Paulo deixou de ser uma vila e foi elevada à categoria de cidade; após o fim da
guerra, os paulistas passaram a penetrar ainda mais no sertão para procurar novas
jazidas de ouro: em 1718, encontraram ouro na região do Mato Grosso, e em 1726
encontraram ouro na região de Goiás.

A administração da região mineradora


Até o século XVIII, a exploração do ouro no Brasil era regida pelos Códigos
Mineiros de 1603 e 1618, os quais estabeleciam que todos os colonos poderiam
explorar livremente o ouro, desde que pagassem ao governo português o quinto (1/5)
de suas extrações do metal.
Com a descoberta do ouro na região das Minas Gerais, a Coroa Portuguesa decidiu
criar um rígido aparato administrativo para controlar e fiscalizar essa região.
Em 1702, um regimento expedido pela metrópole alterou os códigos mineiros e
criou a Intendência das Minas, órgão administrativo subordinado diretamente à Coroa
Portuguesa e sem qualquer ligação com o Governo Geral da colônia.
A Intendência das Minas tinha por objetivos:
distribuir lotes (chamados de “datas”) aos mineradores, para que o ouro destes
lotes pudesse ser explorado pelos negros escravizados que trabalhavam para os
mineradores;
fiscalizar a atividade mineradora, coibindo o contrabando; julgar conflitos
envolvendo a atividade mineradora;
cobrar impostos pela exploração das jazidas, como o quinto (1/5 do ouro extraído
deveria ser pago à Coroa) e a capitação (imposto sobre cabeça de escravizado,
produtivo ou não, maior de 12 anos; ou sobre si mesmo, caso o minerador não
possuísse escravizados).
A Intendência das Minas logo instalou postos de fiscalização nas estradas para
fiscalizar o pagamento do quinto, para cobrar impostos sobre a passagem de animais
e pessoas e sobre as mercadorias que entravam na região mineradora. O objetivo
era claro: combater o contrabando e a evasão fiscal e obter o máximo de lucro
possível para a Coroa Portuguesa.
No início das atividades mineradoras, o ouro circulava livremente pela região
aurífera em pó ou em pepitas – isso era um grande problema para a Coroa Portuguesa,
porque dificultava a cobrança do quinto e favorecia o contrabando. O governo
português decidiu, então, proibir a circulação de ouro em pó e em pepitas e
instalar em Minas Gerais, por volta de 1720, as Casas de Fundição – locais para
onde o ouro deveria obrigatoriamente ir após ser extraído.
Nas Casas de Fundição, todo o ouro recebido era derretido e transformado em
barras: após isso, 1/5 desse ouro era separado para a Fazenda Real e o restante
recebia um selo que comprovava o pagamento do quinto, podendo ser legalmente
comercializado – era o chamado ouro quintado.
Os indivíduos que fossem encontrados carregando ouro em pó, em pepitas ou em
barras não quintadas poderiam ser condenados a penas severas, como a perca de todos
os bens ou o exílio em outras colônias portuguesas da África.
Revolta de Vila Rica (1720)
Os mineradores ficaram extremamente insatisfeitos com o anúncio da instalação
das Casas de Fundição em Minas Gerais: para eles, a medida dificultaria o comércio
do ouro dentro da capitania e facilitaria apenas a cobrança de impostos.
Essa insatisfação fez estourar, em 28 de junho de 1720, a Revolta de Vila
Rica: cerca de 2 mil revoltosos (mineradores ricos e poderosos, escravizados,
populares) comandados pelo tropeiro Felipe dos Santos conquistaram a cidade de Vila
Rica.
Os rebeldes exigiram que o governador da capitania de São Paulo e Minas do
Ouro, Pedro de Almeida Portugal – o Conde de Assumar – extinguisse as Casas de
Fundição.
O governador decidiu enganar os sediciosos: enquanto fingia que atenderia às
exigências, organizou um pequeno exército, reconquistou Vila Rica e ordenou a
prisão dos revoltosos.
Felipe dos Santos foi condenado à morte, enforcado e esquartejado em praça
pública em 16 de julho de 1720.
A revolta fez com que a Coroa Portuguesa decidisse aumentar a fiscalização sobre a
extração aurífera e separar a região das Minas da Capitania de São Paulo: assim,
foi criada em 1720 a Capitania de Minas Gerais.

A Intendência dos Diamantes


Em 1729, foram encontradas jazidas de diamantes na região do Arraial do Tijuco
(atual município de Diamantina). Assim como no caso do ouro, o contrabando de
diamantes era comum: os mineradores escondiam as pedras da fiscalização e deixavam
de pagar o quinto.
Em 1734, para tentar combater o contrabando, a Coroa Portuguesa criou o
Distrito Diamantino na região diamantífera e o isolou do restante da capitania.
Em 1739 o governo português transferiu a administração da atividade diamantífera
a particulares: a extração de diamantes seria permitida mediante um contrato
assinado entre a Coroa Portuguesa e um contratador, que seria responsável pela
exploração dos diamantes e deveria entregar parte da produção à Coroa.
Em 1771, a Coroa Portuguesa pôs fim ao sistema de contratação e assumiu
diretamente a extração diamantina: foi criada a Intendência dos Diamantes, órgão
que passou a ter amplos poderes na região do Distrito Diamantino e cujos fiscais
podiam confiscar bens e controlar a entrada e a saída de pessoas do distrito.
Mesmo com todas essas medidas ao longo do tempo, o contrabando continuou.
Ainda assim, entre 1730 e 1830, aproximadamente 160 quilos de diamante foram
extraídos em Minas Gerais.
A sociedade mineradora
Se a atividade açucareira do nordeste formou uma sociedade rural, a exploração
de ouro e de diamantes em Minas Gerais foi responsável pela formação de uma
sociedade urbana, composta por indivíduos de diversas classes sociais.
Havia mineradores, comerciantes, negros escravizados e libertos, carpinteiros,
ferreiros, pedreiros, padres, militares, advogados e funcionários da Coroa. O
súbito e intenso povoamento da região mineradora criou uma forte demanda por
alimentos, roupas, ferramentas e outros produtos – isso favoreceu o desenvolvimento
de atividades comerciais na região, comandadas por comerciantes da colônia ou mesmo
de Portugal.
Nesse sentido, foi importante a figura dos tropeiros, que levavam mercadorias
de centros produtores da colônia para a região das Minas.
Na sociedade mineradora, a ascensão social era uma realidade mais palpável do
que em outras regiões da colônia: um indivíduo poderia enriquecer caso encontrasse
grande quantia de pedras preciosas ou caso ganhasse dinheiro com o comércio ou com
o artesanato urbano.
Em comparação com a produção açucareira, a mineração exigia menor quantidade de
equipamentos, de instalações e de mão de obra para funcionar: dessa forma, era
preciso menos dinheiro para investir na atividade mineradora, o que permitiu que um
maior número de pessoas se arriscasse nela.
Ao mesmo tempo, contudo, a sociedade mineradora foi marcada pela forte
concentração de riquezas e pela desigualdade social: afinal, a maior parte das
terras mineradas pertencia a ricos senhores, que eram também donos de outros
negócios na região.
A pobreza era parte do cotidiano da sociedade mineradora: além da existência
da escravidão, a maioria da população livre era pobre e trabalhava no comércio e no
artesanato locais.
Além disso, muitas pessoas eram marginalizadas por grupos sociais mais poderosos
e vagavam pelas ruas das vilas e cidades sem uma “função social” definida: eram os
desclassificados do ouro, conceito criado pela historiadora Laura de Mello e Souza.
O declínio da produção aurífera
Com a intensa exploração do ouro, naturalmente as jazidas desse metal começaram
a se esgotar: como resultado, a produção de ouro no Brasil caiu brutalmente na
segunda metade do século XVIII.
O governo português, contudo, não acreditava que a produção estava caindo
pela escassez do ouro, e sim por conta do contrabando e da negligência dos
mineradores. Por conta disso, a Coroa decidiu aumentar a pressão sobre o fisco da
região.
Em 1750, o governo português determinou que o pagamento do quinto pelos
mineradores deveria atingir o valor mínimo de 100 arrobas de ouro por ano: como o
ouro estava acabando, muitos mineradores não conseguiam pagar essa quantia e se
endividavam.
Em 1765, o governo português decretou a derrama, que era a cobrança, feita
aos mineradores, de todos os impostos atrasados: muitos foram obrigados a pagar
suas dívidas com seus próprios bens; os mais pobres perderam tudo o que lhes
restava.
A população da região das Minas tornouse cada vez mais insatisfeita com os
tributos pesados e com a opressão colonial, fato que geraria revoltas como a
Inconfidência Mineira, em 1789.
Consequências da exploração aurífera
Dentre as principais consequências da exploração do ouro na colônia, destacam-
se:
o desenvolvimento artístico em Minas Gerais, incentivado pelos investimentos
feitos por pessoas que haviam enriquecido com a mineração: naquela região
floresceram o Arcadismo brasileiro (Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio
Gonzaga), o Barroco brasileiro (Aleijadinho, Mestre Ataíde) e representantes da
música colonial (Francisco Gomes da Rocha, Inácio Parreiras);
o aumento populacional e a ocupação de novas regiões: o ouro atraiu um enorme
contingente populacional para a região das Minas, o que levou ao aumento
populacional da colônia, ao desbravamento e ao povoamento do sertão mineiro e a uma
maior integração entre as diferentes regiões da colônia, levada a cabo pelo
comércio interno ligado à região mineradora; em 1763, o governo português decidiu
transferir a capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro, cidade próxima
da região mineradora e que possuía o porto marítimo por onde saía para Portugal o
ouro produzido em Minas Gerais: a mudança de capital refletia o deslocamento do
centro econômico da colônia, que deixava de ser o nordeste açucareiro e passava a
ser a região mineradora do sudeste.
a intensificação do controle da metrópole sobre a região mineradora (fiscalização
pesada, aumento dos impostos) fez com que alguns setores das classes dominantes da
colônia se rebelassem contra o governo português, dando origem a revoltas como a
Inconfidência Mineira.
As Reformas Pombalinas (1750-1777)
Na metade do século XVIII, Portugal era um reino extremamente dependente da
Inglaterra na política e na economia, e dominado por uma mentalidade católica
conservadora. Os lusitanos haviam perdido muitas de suas colônias, e a exploração
aurífera no Brasil estava em decadência.
Em 1750, o rei D. José convidou Sebastião José de Carvalho, o futuro Marquês
de Pombal, para ser seu principal ministro.
Pombal empreendeu, na administração portuguesa, uma série de reformas
conhecidas como Reformas Pombalinas, que tinham por objetivo modernizar o Estado e
recuperar a economia portuguesa, ampliando ao máximo os lucros provenientes da
exploração colonial.
Em suas reformas, Pombal:
instituiu a cobrança de 100 arrobas de ouro como o valor mínimo anual do quinto e a
derrama nas áreas mineradoras do Brasil, e aprimorou o combate ao contrabando;
instituiu o Erário Régio, ou o tesouro público português, para controlar os gastos
públicos;
reforçou o monopólio comercial em relação ao Brasil para explorar ao
máximo as riquezas coloniais (ouro, açúcar, tabaco, etc.);
fundou companhias de comércio para dinamizar e aumentar o fluxo comercial entre
colônia e metrópole;
transferiu a capital da colônia do Brasil de Salvador para o Rio de Janeiro em
1763, em função da localização estratégica do Rio de Janeiro, de onde saia para
Portugal o ouro produzido em Minas Gerais;
empreendeu uma reforma educacional para acabar com o controle clerical sobre o
ensino;
expulsou os jesuítas de todos os domínios portugueses em 1759, por conta dos
constantes conflitos entre estes e os colonos em razão da questão da escravização
dos indígenas e também para acabar com a influência dos jesuítas no setor
educacional;
leiloou ou doou as terras antes pertencentes aos jesuítas para os colonos as
utilizarem como zonas de exploração econômica; transferiu boa parte dos bens e
riquezas dos jesuítas para funcionários leais ao governo e para fazendeiros e
comerciantes com boas relações sociais;
estabeleceu o Diretório, uma legislação que proibia a escravização de indígenas e
incentivava a miscigenação entre indígenas e portugueses, com o objetivo de
angariar apoio dos indígenas e convertê-los em súditos do rei e em agentes da
colonização de novas áreas;

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