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O conflito no início do século XVIII trouxe mudanças para o Brasil Colônia. O sertão brasileiro
começou a ser povoado, pois o litoral não trazia mais lucro com o açúcar. A coroa portuguesa
fez-se presente, dividiu as capitanias de São Paulo e Rio de Janeiro e criou a Capitania das
Minas de Ouro. Além disso, a cobrança de impostos passou a ser uma rotina para os
exploradores da região. Era possível explorar os metais preciosos desde que se pagassem os
impostos à coroa.
Após a derrota dos emboabas, os paulistas foram para a região onde hoje é Goiás e Mato
Grosso, descobrindo novas minas de metais preciosos e expandindo o ciclo do ouro para o
oeste brasileiro.
A região de Minas Gerais, na qualidade de maior centro desse tipo de exploração econômica,
também foi o local propício para diversos episódios de indignação e revolta contra o controle
massivo das autoridades metropolitanas. A própria Guerra dos Emboabas, deflagrada no início
das atividades mineradoras, prenunciava que o interesse econômico português seria
responsável pela inconformidade de alguns integrantes da sociedade colonial.
Observando a ameaça de seus lucros com o contrabando e a livre exploração dos minérios,
Portugal resolveu implementar uma série de tributações a serem aplicadas sob a região das
Minas Gerais. Em 1719, ainda buscando garantir uma ampla margem de lucro, os portugueses
instituíram as chamadas Casas de Fundição, que funcionariam como centros de cobrança e
controle sobre as riquezas extraídas do solo.
Paralelamente à tributação dos minérios, a formação de diversos centros urbanos trouxe outra
notável fonte de renda à metrópole. Graças às amarras econômicas estabelecidas pelo pacto
colonial, os colonos ainda eram obrigados a pagar os altos valores cobrados sob os gêneros
manufaturados oferecidos por Portugal. Mediante essa lógica de exploração e controle é que
compreendemos a deflagração da Revolta de Filipe dos Santos, em 1720.
A hostilidade e a desconfiança instaladas na região das minas faziam com que qualquer
suspeita de contrabando ou sonegação acionassem a rígida ação das tropas metropolitanas.
Durante um desses episódios de averiguação das forças metropolitanas, um grupo de mineiros
resolveu atacar a casa do ouvidor-mor, principal autoridade judicial da região. Logo em
seguida, dirigiram-se para Vila do Carmo a fim de pressionar o governador da região, o Conde
de Assumar.
O grupo, liderado pelo tropeiro Filipe dos Santos, reivindicava o fechamento das casas de
fundição. Prometendo atender a demanda do grupo, o levante retornou à Vila Rica à espera
das ações do governador. No entanto, isso serviu para que as tropas portuguesas se
organizassem contra os revoltosos. No dia 14 de julho iniciou-se o conflito que prendeu vários
participantes e condenou Filipe dos Santos à morte e ao esquartejamento."
Assim como a grande parte de nossas revoltas coloniais, as revoltas, mineira e baiana, foram
alimentadas por membros da elite insatisfeitos com a ação metropolitana em cada uma dessas
regiões. No caso de Minas, os mineradores de Vila Rica e outros membros da elite mostravam-
se insatisfeitos com a política fiscal e a cobrança da derrama. Por outro lado, a cidade de
Salvador era palco de uma grave crise econômica que se arrastava desde a crise do açúcar e a
transferência da capital para o Rio de Janeiro.
Além disso, devemos notar que os participantes dessas mesmas revoltas estiveram
diretamente influenciados pela ideologia iluminista. Mais uma vez, notamos o caráter elitista
de tais movimentos, os quais eram sustentados por uma elite letrada e, em alguns casos,
instruída nas universidades europeias. Sendo assim, observamos que a origem social, análoga
a esses movimentos, viria a empreender a busca por objetivos próximos em cada um deles."
Entre tantas proximidades, vemos que a questão da escravidão acabou sendo o ponto que veio
a estabelecer uma diferença entre essas duas revoltas. No caso mineiro, a limitação do
movimento às discussões de uma elite enriquecida acabou fazendo com que a escravidão não
entrasse em sua pauta, já que o fim desta prejudicaria boa parte dos inconfidentes. No caso
baiano, a divulgação de panfletos acabou disseminando a causa emancipacionista entre
setores populares e favoráveis à abolição.
Assim que a Conjuração Baiana ganhava contornos mais radicais e populares, os líderes
intelectuais da causa acabaram se afastando do movimento. Talvez, assim como os
inconfidentes mineiros, eles temiam os efeitos de uma revolta emancipacionista conduzida
pelas camadas menos favorecidas da população. Por fim, vemos que a revolta baiana se
diferenciou da conspiração mineira assim que os agentes sociais de cada acontecimento se
diferiram em suas origens e interesses