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Notícias de ouro na Colônia, em São Vicente, surgiram no final do século XVI. Entretanto,
a exploração não foi levada adiante por ser de pequena monta.
O ouro encontrado era, em grande parte, de aluvião. Depositado nos cursos e margens
dos rios, riachos, e em terrenos superficiais, não exigia técnicas especiais, grandes
investimentos e nem pessoal especializado para sua extração.
Por conta disto, e também pela cobiça que a descoberta das minas de metais preciosos
despertava no espírito daqueles homens, houve uma corrida desordenada para os locais
das descobertas, que ficaria conhecido como "Minas Gerais", assim conhecido por reunir
diferentes jazidas.
Dizia-se, então, que nas Minas não havia justiça, nem governo, apenas "montanhas de
ouro".
A Coroa portuguesa tratou de agir buscando controlar, aos poucos, aquela área. Institui,
em 19 de abril de 1702, o Regimento do Superintendente Guarda Mores e Oficiais para as
Minas de Ouro, estabelecendo a autoridade real na administração da atividade
mineradora.
A propriedade anterior não foi questionada, uma vez que as descobertas ocorreram em
terras ainda não ocupadas pelos colonizadores e colonos.
No Regimento, mantido com algumas alterações até o Império, criava-se o cargo do
Intendente das Minas, cujas atribuições independiam das outras autoridades coloniais, só
prestando contas e obediência ao governo da Metrópole. Entre as múltiplas funções cabia
a este administrador, que na maioria das vezes desconhecia a mineração, a cobrança
do quinto, assim como a supervisão de todos os serviços executados nas lavras (terreno
de onde se extraía metais e pedras preciosas).
Onde houvesse extração de ouro criava-se uma Intendência cuja atribuição, com o tempo,
reduziu-se a cobrar o quinto e a fiscalizar os descaminhos do ouro, atividade para a qual
estava bem aparelhada.
O governador desta capitania real, Antônio de Albuquerque, foi designado diretamente por
Lisboa e investido de plenos poderes pelo rei, em 9 de novembro de 1709. Iniciava-se o
controle efetivo da atividade aurífera pelas autoridades reais portuguesas.
A ação fiscal tinha enorme significado para Portugal, pois o que era arrecadado sob forma
de tributos destinava-se ao sustento da corte, financiava a construção de obras
grandiosas (igrejas, conventos, palácios) e pagava as inúmeras dívidas contraídas,
especialmente com a Inglaterra.
Fiscalizar e controlar, evitando o contrabando, não era tarefa fácil. Eram inúmeras as
dificuldades. A região mineradora encontrava-se no interior da Colônia, em um território
cercado por serras e matas. Para diminuir o contrabando foram montadas barreiras nos
três caminhos: de São Paulo a Minas Gerais, passando pelo Rio de Janeiro, chamado de
Caminho Antigo; do Rio de Janeiro para Minas Gerais, denominado Caminho Novo; e o
que ligava a Bahia a Minas Gerais, conhecido como Caminho do Sertão Geral. Isto não
resultou no efeito desejado já que os contrabandistas sempre achavam uma forma de
evitar a fiscalização.
Outras medidas foram tentadas como, por exemplo, a cobrança de tributos de acordo com
o número de escravos que o minerador possuísse - a "capitação". Isto gerou inúmeros
protestos, até a revogação da medida, já que a propriedade de muitos escravos não
significava, necessariamente, a extração de grande quantidade de ouro.
As Casas de Fundição
O estabelecimento dessas Casas de Fundição não foi bem aceito pela população da
capitania onde se localizavam as minas. Falava-se que os mineradores alarmados com a
ação fiscal, sentiam-se cada vez mais insatisfeitos e inseguros.
A Coroa, por sua vez, visando assegurar o controle daquela região, criou juntas de
julgamento. Além disso enviou, em 1719, duas "Companhias de Dragões" - forças
militares profissionais provenientes do norte de Portugal - com a finalidade de controlar os
escravos, escoltar o transporte de ouro e reprimir distúrbios . Nessa época também foram
criadas milícias para enfrentar casos de emergência. Embora formadas, principalmente
por brancos contavam nas sua fileiras, com ex-escravos, negros e mulatos.
A pesada ação fiscal também atingia o Distrito Diamantino onde, a partir de 1729,
no arraial do Tijuco, iniciava -se a extração de diamantes. Naquele território ocorriam
constantes casos de arbitrariedades e violência. A Coroa estabelecia que a extração de
diamantes era negócio exclusivo dela e tentava, através de uma ação rigorosa e enérgica,
proceder à cobrança de tributos e evitar o contrabando.
Neste contexto, aumentavam os protestos entre os mineradores, e a preocupação entre
os contrabandistas , ante a avidez e ao controle do fisco.
Em 1720 a insatisfação crescente levou à revolta conhecida como o Levante de Vila Rica.
Após a vitória sobre os revoltosos, no mesmo ano, o rei ordenou a separação da capitania
de São Paulo e de Minas Gerais, consolidando-se a autoridade real sobre as "Minas
Gerais."
A Sociedade Mineradora
Desta estrutura social diferenciada faziam parte os setores mais ricos da população - chamados
"grandes" da sociedade - mineradores, fazendeiros, comerciantes e altos funcionários, encarregados d
administração das Minas e indicados diretamente pela Metrópole.
Por outro lado, crescia na capitania real o número de indivíduos sujeitos às ocupações incertas.
Vivendo na pobreza, na promiscuidade e muitas vezes no crime, não tinham posição definida na
sociedade mineradora. Esta camada causava constante inquietação aos governantes. Ela era
geralmente composta por homens livres: alguns brancos, mestiços ou escravos que haviam conseguid
alforria.
Os escravos, ali como de resto em toda a Colônia, representavam a força de trabalho sobre a qua
repousava a vida econômica da real capitania das Minas Gerais. Vivendo mal alimentados, sujeitos a
castigos e atos violentos, constituíam a parcela mais numerosa da população daquela região.
Isto gerava uma constante preocupação para as autoridades já que, apesar da repressão cruel,
não eram raras as tentativas de levantes escravos e a formação de quilombos, como o do Ambrósio e
Quilombo Grande. A destruição de ambos, em 1746 e 1759 respectivamente, não impediu que
ocorressem outras fugas e a formação de novos quilombos.
A sociedade mineradora não era constituída, apenas, por senhores e escravos. O grande
fluxo de pessoas na direção do Eldorado produzia um variado mosaico social, formado
também de padres, advogados, artesãos, burocratas e militares.
Vila Rica, por exemplo, uma das primeiras vilas da região, fundada em 1711, havia
crescido na metade do século XVIII. Sua população alcançava cerca de 20 mil pessoas,
quantidade considerada grande naquela época. Entretanto, a maioria era de negros e
mulatos pobres vivendo em uma estrutura social onde riqueza e opulência eram apenas
aparência...
O historiador Eduardo Frieiro referiu-se à Vila Rica como "Vila Pobre". Entendia nunca ter
havido tal opulência "a não ser na fantasia, amplificadora de escritores inclinados às
hipérboles românticas (...) A realidade foi bem diversa."
Inicialmente, a população das minas, com o olhar voltado para o enriquecimento rápido,
concentrava suas energias na descoberta e na exploração de jazidas auríferas.
Mineradores e escravos dedicavam-se quase que exclusivamente a estas atividades.
Como consequência, sentiu-se a necessidade do abastecimento dos mais diversos
produtos.
Segundo a historiadora Laura Vergueiro, a maioria das grandes fortunas nas Gerais
formou-se devido "mais ao comércio do que à atividade mineradora".
Inúmeras vilas, assim como a cidade de Mariana, foram surgindo, nesta época.
Para a Coroa portuguesa a ocupação da região, através de uma rede de núcleos urbanos,
representava a garantia do seu poder.
Por conta disto, na região mineradora predominou a vida urbana, ao contrário do litoral
açucareiro onde predominava a vida rural.
Os centros urbanos estavam relativamente próximos uns dos outros, ocupando áreas
montanhosas, razão da existência de tantas ladeiras nestas vilas. Subindo por elas, em
ruas calçadas e desalinhadas, os escravos malvestidos transportavam mercadorias,
enquanto mineiros e comerciantes ricos, com roupas luxuosas, caminhavam em torno da
praça.
Em meio ao burburinho das ruas e ao barulho ritmado dos cascos dos animais de carga,
as moradias urbanas eram visíveis. Pelo menos na aparência, assemelhavam-se àquelas
das províncias do norte de Portugal, embora tenham recebido algumas adaptações locais.
A arquitetura utilizada nas construções religiosas sofria a mesma influência.
As casas desse período, erguidas com simplicidade técnica pela mão-de-obra escrava,
geralmente possuíam largas fachadas e recebiam cobertura de telhas. As portas eram de
madeira, assim como as janelas - algumas de treliça, preservando a intimidade e
favorecendo a ventilação interna, pois o vidro importado, era caro e quase inexistente.
Através de uma janela entreaberta observavam-se os aposentos internos espaçosos, com
teto alto que arejava o ambiente. Certas casas aproveitavam o espaço do teto para erguer
um outro piso, gerando um novo andar(sobrado). No porão dos sobrados, geralmente
muito úmido, ficavam os escravos. Um outro tipo de habitação era a casa térrea. Com
piso de "chão batido" distinguia-se do sobrado, com piso assoalhado. E ainda havia as
chácaras, situada nos arredores dos núcleos urbanos.
As casas, construídas lado a lado e separadas por paredes finas, não possuíam água
encanada. Os escravos cuidavam deste abastecimento. Falava-se que, no constante
vaivém ao chafariz, os cativos comentavam sobre o cotidiano de seus senhores, além de,
eventualmente, planejarem fugas.
Quando havia algum mobiliário, geralmente importado, era composto por poucas
cadeiras, alguns tamboretes, uma ou outra mesa com banco, caixas baús, assim como
oratórios com imagens de santos. Nos primeiros tempos a precariedade do mobiliário era
atribuída à falta de recursos. Entretanto, muitos entendiam que, naquela época, também
faltavam carpinteiros competentes.
Nas cozinhas, geralmente localizadas fora da casa, no quintal, os utensílios diários eram
de barro, ferro ou pedra-sabão. Aqui e ali, comentava-se que em algumas casas o
proprietário possuía louças e, até alguns talheres que eram raros. Como era comum
comer com as mãos, a curiosidade crescia em relação a esses objetos.
As Ordens Terceiras
A Coroa não via com bons olhos a presença do clero regular na região. Entendia que
estes religiosos tinham representado um importante papel nos choques e desafios ao
poder real. Agora, suspeitava que eram também responsáveis pelos desvios do ouro e
dos diamantes para fora das capitanias.
Por seu turno esta rivalidade desempenhava outro importante papel nas Gerais,
patrocinando a construção de muitas igrejas e, estimulando a vida religiosa.
Sob o patrocínio das irmandades ocorreu uma transformação nos conceitos artísticos da
Colônia, que sofriam a influência do estilo barroco europeu. Em um momento em que o
estilo neoclássico começava a dominar Lisboa, o barroco era novidade para aquela
região.
Nascido filho ilegítimo do português Manuel Francisco Lisboa (autor da planta da igreja do
Carmo da Vila Rica) com uma escrava negra, seus trabalhos revelavam o extraordinário
desenvolvimento do Barroco Mineiro. Considerado gênio por muitos, sofria de uma
doença que o deformava - origem do apelido "Aleijadinho" - e, por isto trabalhava com o
martelo e o cinzel amarrados nos braços. Considerava-se um "escultor ornamental" que
utilizava, no exercício de sua arte, o padrão decorativo do entalhe (madeira esculpida).
A música, tanto para o serviço religioso quanto para o entretenimento, era utilizada, desde
o tempo da construção dos primeiros arraiais e das primeiras capelas de taipa, no
território das Minas.
Assim como na arquitetura e nas artes plásticas, os músicos, em sua maioria, eram
negros e mulatos, escravos ou libertos, conduzidos por um regente branco, geralmente
um vigário ou padre.
Para os escravos, mesmo os que não tinham qualquer instrução musical, aquela atividade
era muito atraente. Podiam através dela, desfrutar de melhores condições e prestígio e,
se juntassem algum pecúlio, em certas circunstâncias, podiam comprar a alforria.
Entre os vários músicos, como o português padre José Maurício (1752-1815), destacava-
se Antônio de Sousa Lobo, mulato, chamado de "Mestre Capela," que liderava um grupo
muito conhecido e solicitado.
Festas Barrocas: O Triunfo Eucarístico e o Áureo Trono Episcopal
Entre as manifestações que movimentaram a vida social na região das Gerais ficaram
célebres as opulentas festas do Triunfo Eucarístico e do Áureo Trono Episcopal.
Brilhantes e luxuosas, contavam com a participação de grupos vocais, instrumentais e
dançantes. Conforme registros sobre elas, ao lado de peças religiosas eram executadas
obras não religiosas como serenatas e concertos.
A outra festividade, do Áureo Trono Episcopal, ocorrida em 1748, teve como objetivo
comemorar a criação do bispado de Mariana, com um variado programa de cerimônias
públicas suntuosas. A celebração tinha como personagem principal, mais do que o metal
precioso, a sociedade mineradora, agora com sua própria sede eclesiástica.
Segundo documentos da época, entre 1733 e 1748, o ouro extraído na região das Gerais
viveu a etapa de maior produtividade. Os dois festejos barrocos serviram para periodizar o
encerramento do apogeu das minas e o lento processo de decadência que, nos anos 70
do século XVIII, já era visível e palpável.