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ECONOMIA AÇUCAREIRA II

Celso Furtado (caps. 6 e 7)


Prof. Edivaldo Constantino
ESTRUTURA DA AULA
Consequências da penetração do açúcar nas Antilhas
Encerramento da etapa colonial
CONSEQUÊNCIAS DA PENETRAÇÃO DO AÇÚCAR
NAS ANTILHAS
Agricultura tropical cresce  abastecimento de mão-de-obra
Nas Antilhas a ideia inicial era colonização com base em pequenas propriedades e não se
pensava no açúcar.

“(...) dava-se por assentado que ao Brasil cabia o monopólio da produção açucareira. Às colônias
antilhanas ficavam reservados os demais produtos tropicais”.
Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. p.53.

Pergunta: Por que essa divisão de “tarefas”?


 Objetivos políticos da colonização antilhana
 Reunir fortes núcleos de população europeia.
Fonte: CANABRAVA, Alice P. O açúcar nas Antilhas. São Paulo: IPE/USP,
1981, p. 17. (Ensaios Econômicos, 15)
Fonte: CANABRAVA, Alice P. O açúcar nas Antilhas. São Paulo:
IPE/USP, 1981, p. 17. (Ensaios Econômicos, 15)
CONSEQUÊNCIAS DA PENETRAÇÃO DO AÇÚCAR
NAS ANTILHAS
Mudança nas Antilhas.

 Expulsão dos holandeses do Nordeste do Brasil.

 Técnica de produção + crédito  Criar um núcleo produtor de açúcar.

 Além disso, os próprios colonos decidem colaborar com os holandeses.


 Motivos: 1) dificuldades causadas pela baixa dos preços do fumo.
2) Guerra civil nas ilhas britânicas que repercutiam nas Antilhas inglesas.
CONSEQUÊNCIAS DA PENETRAÇÃO DO AÇÚCAR
NAS ANTILHAS
“Dessa forma, menos de um decênio depois da expulsão dos holandeses do Brasil,
operava nas Antilhas uma economia açucareira de consideráveis proporções, cujos
investimentos eram totalmente novos e que se beneficiava de mais favorável posição
geográfica.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. p.54.


CONSEQUÊNCIAS DA PENETRAÇÃO DO AÇÚCAR
NAS ANTILHAS
Antilhas  Crescimento do número de escravos africanos.
Na França, o governo estava menos suscetível as influências das companhias de
comércio.  Evitar o abandono da população branca  Chegou a tentar atividades
manufatureiras  Inútil!

A economia açucareira fez desaparecer as colônias de povoamento que haviam se


tentado instalar nas Antilhas.  Tornou viável economicamente.
CONSEQUÊNCIAS DA PENETRAÇÃO DO AÇÚCAR
NAS ANTILHAS
“A penetração do açúcar nas ilhas caribenhas expeliu uma parte substancial da população
branca nela estabelecida, boa parte da qual instala-se nas colônias do Norte. Tratava-se, em
grande parte, de pequenos proprietários que se viram na contingência de alienar suas terras e
que se transferiram com algum capital.”

“As ilhas se transformaram, em pouco tempo, em grandes importadoras de alimentos, e as


colônias setentrionais, que havia pouco não sabiam o que fazer com seu excedente de produção
de trigo, se constituíram em principal fonte de abastecimento das prósperas colônias
açucareiras.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. pags.55 e 56.


CONSEQUÊNCIAS DA PENETRAÇÃO DO AÇÚCAR
NAS ANTILHAS
Relação comercial entre as colônias inglesas (Norte e Antilhas) não se limitou aos
bens de consumo.
 Animais de tiro para energia nos engenhos.
 Madeira para fabricar as caixas em que se exportava o açúcar.

Eram utilizados navios dos colonos da Nova Inglaterra.


 Indústria naval.

Indústria derivada da cana: destilação de bebidas alcoólicas.


 As Antilhas francesas (impedidas de usar a matéria prima que tinham – para evitar concorrência com
a indústria de bebidas da Metrópole) vendiam para as colônias com preço baixo.
CONSEQUÊNCIAS DA PENETRAÇÃO DO AÇÚCAR
NAS ANTILHAS
“Brotaram os engenhos de açúcar para moer as canas, mas
Barbados não tinha força hidráulica para acioná-los. A
alternativa era usar moendas movidas a cavalos, por isso
foram adquiridos cavalos na Nova Inglaterra. Também eram
necessários tonéis e barris onde acondicionar o açúcar. Estes
foram fornecidos pelas abundantes florestas de
Massachusetts e Connecticut.”

HARLOW, V. T. A history of Barbados. In FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 24ª. ed. São Paulo: São
Paulo: Editora Nacional, 1991. (Biblioteca Universitária. Série 2. Ciências Sociais, v. 23), p. 28, nota 33.
CONSEQUÊNCIAS DA PENETRAÇÃO DO AÇÚCAR
NAS ANTILHAS
As colônias do Norte dos EUA se desenvolveram como parte de um sistema maior,
onde o motor do crescimento eram as regiões antilhanas.

Furtado chama atenção para a separação geográfica entre a região produtora do


artigo de exportação e a região que a abastecia.
 Argumento: Os capitais gerados no conjunto do sistema não foram canalizados exclusivamente para a
atividade açucareira, que era a mais lucrativa.
CONSEQUÊNCIAS DA PENETRAÇÃO DO AÇÚCAR
NAS ANTILHAS
Etapas na ocupação econômica das terras americanas:
 1) Exploração de mão-de-obra preexistente para obter metais preciosos;
 2) Produção de artigos agrícolas tropicais por meio de grandes empresas que usavam mão-de-obra
importada.
 3) Economia similar á Europa. Economia que produz de dentro para fora, produzindo principalmente
para o mercado interno.

Essa última etapa estava em flagrante contradição com os princípios da política


colonial.
CONSEQUÊNCIAS DA PENETRAÇÃO DO AÇÚCAR
NAS ANTILHAS
Somente graças a um conjunto de circunstâncias favoráveis que pôde se desenvolver:
 Guerra civil na Inglaterra no século XVII.
 Legislação protecionista naval inglesa  Excluiu os holandeses do comércio das colônias.
 Guerra entre Inglaterra e França (Guerra dos 100 anos)

Tornou precário o abastecimento das Antilhas com produtos europeus.


CONSEQUÊNCIAS DA PENETRAÇÃO DO AÇÚCAR
NAS ANTILHAS
Posteriormente, a Inglaterra tenta eliminar a concorrência que as colônias do Norte
estavam fazendo á economia metropolitana. Sem sucesso!  Aumento da tensão.

Furtado: Em termos macro, as colônias do norte ainda possuíam baixa produtividade.


 Contudo, o tipo de atividade econômica era compatível com pequenas propriedades, de base
familiar, sem o compromisso de remunerar vultuosos capitais.
 Por outro lado, a abundância de terras tornavam atrativa a imigração europeia no regime de
servidão temporária.
CONSEQUÊNCIAS DA PENETRAÇÃO DO AÇÚCAR
NAS ANTILHAS
Pequeno proprietário  Possibilidade de vender regularmente sua produção 
Viável financiar um imigrante europeu cujo trabalho seria explorado por 4 anos 
Imobilização menor de capital.

Note: o escravo africano era um negócio muito mais rentável para o grande
capitalista, mas de maneira geral não estava ao alcance do pequeno produtor!
 A transição para o escravo africano só se realizou onde foi possível especializar a agricultura num
artigo exportável em grande escala.
CONSEQUÊNCIAS DA PENETRAÇÃO DO AÇÚCAR
NAS ANTILHAS
“Essas colônias de pequenos proprietários, em grande parte auto-suficientes, constituem
comunidades com características totalmente distintas das que predominavam nas
prósperas colônias agrícolas de exportação. Nelas era muito menor a concentração de
renda, e as mesmas estavam muito menos sujeitas a bruscas contrações econômicas.
Demais, a parte dessa renda que revertia em benefício de capitais forâneos era
insignificante. (...) nas colônias do norte dos EUA os gastos de consumo de distribuíam
pelo conjunto da população.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. pag. 61.


CONSEQUÊNCIAS DA PENETRAÇÃO DO AÇÚCAR
NAS ANTILHAS
Diferenças na estrutura econômica  Diferenças de comportamento dos grupos
sociais dominantes.

 Antilhas inglesas  Grupos dominantes ligados á Metrópole


 Colônias do norte  Grupos dominantes ligados aos interesses de Boston e Nova York.

Instituições que refletem interesses distintos.


ENCERRAMENTO DA ETAPA COLONIAL
Portugal como potência colonial.
União Ibérica
 Portugal perdeu entrepostos comerciais orientais. Ao mesmo tempo, a melhor parte da colônia
americana era ocupada por holandeses.

Ao recuperar sua independência, Portugal estava débil


 Ameaça da Espanha.

Sem recursos, neutralidade em relação as demais potências era impraticável.


 Custo: alienar parte de sua soberania.
UNIÃO IBÉRICA (1580 – 1640)
•1578: Morre D. Sebastião (Dinastia de Avis)
•1580: Morre Cardeal D. Henrique

Ascenção de Felipe II: Espanha + Portugal

Habsburgo (Casa da Áustria): Espanha, Sacro Império, Portugal, Colônias Ibéricas


Guerras: Habsburgo X Inglaterra / França / Holanda

FIM DA ASSOCIAÇÃO LUSO-FLAMENGA


UNIÃO IBÉRICA (1580 – 1640)
Fim da União Ibérica
1. Crise dos Metais
2. Perda da Invencível Armada
3. Ascenção de Inglaterra e Holanda
Restauração Portuguesa (1640)  D. João VI: Bragança

Consequências: Flexibilização do Tratado de Tordesilhas e Expansão Territorial


No Brasil: Invasão Francesa (MA) e Holandesas (BA e PE).
 Insurreição Pernambucana (1645 – 1654)
O IMPÉRIO COLONIAL IBÉRICO, QUE DUROU DE 1580 A 1640, E QUE SE ESTENDIA DE MACAU, NA CHINA, A
POTOSI, NO PERU, FOI O PRIMEIRO IMPÉRIO MUNDIAL ONDE O SOL NUNCA SE PU NHA.
BOXER, CHARLES R. O IMPÉRIO MARÍTIMO PORTUGUÊS: 1415 -1825. SÃO PAULO: COMPANHIA DAS LETRAS,
2002, P. 122.
ENCERRAMENTO DA ETAPA COLONIAL

“Não me parece duvidoso que, sem a restauração portuguesa de 1640, não teria
havido a restauração pernambucana de 1654; que a Espanha teria cedido de fato
o Nordeste aos Países Baixos, como, aliás, o fez no papel no tratado de Münster
de 1648; e que, por conseguinte, a unidade territorial da América portuguesa e do
seu estado-sucessor, o Brasil, teria ficado definitivamente comprometida.”

MELLO, Evaldo Cabral de. O negócio do Brasil: Portugal, os Países Baixos e o Nordeste, 1641-1669.
Rio de Janeiro: Topbooks, 1998, p. 15.
ENCERRAMENTO DA ETAPA COLONIAL
“Foi aí [no Nordeste] que nossa integridade territorial correu maior perigo. Por
lamentável que tivesse sido, a perda do Rio Grande do Sul não teria
comprometido a unidade nacional, como não o fez a independência do Uruguai,
mas a consolidação do Brasil holandês teria estilhaçado a América portuguesa.”

“[...] os Países Baixos reconheceram a soberania portuguesa no Nordeste em troca


de substanciais concessões financeiras e comerciais. Ao longo desses anos [1654-
1669], a possibilidade de novo ataque ao Brasil constituiu preocupação
constante da Coroa.”

MELLO, Evaldo Cabral de. O negócio do Brasil: Portugal, os Países Baixos e o Nordeste, 1641-1669.
Rio de Janeiro: Topbooks, 1998, pags. 13 e 14.
ENCERRAMENTO DA ETAPA COLONIAL
Aliança Portugal e Inglaterra (acordos de 1642-54-61).
Semidependência
 Os privilégios conseguidos pelos comerciantes ingleses em Portugal foram de tal ordem que os mesmos
passaram a constituir um poderoso e influente grupo com ascendência crescente sobre o governo
português.

Portugal fazia concessões econômicas, e a Inglaterra pagava com promessas ou


garantias políticas.
ENCERRAMENTO DA ETAPA COLONIAL
Acordo de 1661  Ingleses prometiam defender as colônias portuguesas de
qualquer inimigo. Faz sentido?

Contudo, Portugal não resolvia a essência do problema: decadência de colônia


devido a desorganização do mercado do açúcar.

O ouro no Brasil mudou radicalmente tal panorama.


ENCERRAMENTO DA ETAPA COLONIAL
Tratado de Methuen (1703) (Tratado dos Panos e Vinhos).
 Portugueses consomem têxteis britânicos. Britânicos consomem os vinhos de Portugal.

Furtado: Esse acordo significou para Portugal renunciar a todo desenvolvimento


manufatureiro e implicou em transferir para a Inglaterra o impulso dinâmico criado
pela produção aurífera no Brasil.

A economia luso-brasileira se configurava como uma articulação do sistema


econômico em mais rápida expansão na época, a economia inglesa.
ENCERRAMENTO DA ETAPA COLONIAL
O ciclo do ouro constitui um sistema mais ou menos integrado, dentro do qual coube a
Portugal a posição secundária de simples entreposto.
 Ao Brasil, o ouro permitiu financiar uma grande expansão demográfica.
 Para a Inglaterra, o ouro trouxe forte estímulo ao setor manufatureiro, grande flexibilidade da
capacidade de importar, concentração de reservas que fizeram o sistema bancário inglês o principal
centro financeiro da Europa.
 Para Portugal, o ouro permitiu apenas uma aparência de riqueza, repetindo a experiência da
Espanha.
ENCERRAMENTO DA ETAPA COLONIAL

“O último quartel do século XVIII veria a decadência da mineração do ouro no Brasil. A


Inglaterra já havia, sem embargo, entrado em plena Revolução Industrial. As
necessidades de mercado cada vez mais amplos para as manufaturas em processo de
rápida mecanização impõem nesse país o abandono progressivo dos princípios
protecionistas.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. pag. 61.


ENCERRAMENTO DA ETAPA COLONIAL
A independência da América portuguesa foi peculiar: O Brasil conseguiu a
independência de Portugal em 1822, mas foram necessários vários decênios para
eliminar a tutela que mantinha com a Inglaterra.

Acordos de 1810 (Tratado de Aliança e Amizade e Tratado de Comércio e


Navegação)
 Nenhum governo imposto por Napoleão em Portugal seria reconhecido, em troca de tarifas
preferenciais.
ENCERRAMENTO DA ETAPA COLONIAL
Inglaterra visava garantir junto ao novo governo brasileiro a continuidade dos
privilégios. Negociação do reconhecimento da independência.

Aumento das relações do Brasil com os EUA.  Sentido de independência da


Inglaterra.  Brasil não renova o acordo de 1827 (habilidade protelatória!!)
ECONOMIA AÇUCAREIRA II
Celso Furtado (caps. 6 e 7)
Prof. Edivaldo Constantino

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