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FACULDADE ÚNICA

DE IPATINGA

1
Sidelmar Alves da Silva Kunz

Doutor em Educação pela Universidade de Brasília (UnB) (2019). Mestre em Geografia pela
mesma instituição (2014). Especialista em Ontologia e Epistemologia pela Faculdade Unyleya
(2016). Especialista em Supervisão Escolar pela Faculdade do Noroeste de Minas Gerais
(2009). Graduado em Geografia (licenciatura) e Pedagogia pela Universidade Estadual de
Goiás (UEG). Professor da UAB/UnB, na modalidade a distância. Possui mais de uma centena
de publicações científicas (artigos em revistas, Anais, livros, capítulos, dentre outros) e de
materiais didáticos. Pesquisador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (INEP).

ORGANIZAÇÃO, EPISTEMOLOGIA, TEORIA E


REGIONALIDADE DO ESPAÇO

1ª edição
Ipatinga – MG
2021

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FACULDADE ÚNICA EDITORIAL

Diretor Geral: Valdir Henrique Valério


Diretor Executivo: William José Ferreira
Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira
Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa
Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva
Bruna Luiza Mendes Leite
Carla Jordânia G. de Souza
Guilherme Prado Salles
Rubens Henrique L. de Oliveira
Design: Brayan Lazarino Santos
Élen Cristina Teixeira Oliveira
Maria Luiza Filgueiras
Taisser Gustavo de Soares Duarte

© 2021, Faculdade Única.

Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização
escrita do Editor.

Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2921

NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA


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Menu de Ícones
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo
aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles
são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um
com uma função específica, mostradas a seguir:

São sugestões de links para vídeos, documentos


científico (artigos, monografias, dissertações e teses),
sites ou links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e
Biblioteca Pearson) relacionados com o conteúdo
abordado.
Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações
importantes nas quais você deve ter um maior grau de
atenção!

São exercícios de fixação do conteúdo abordado em


cada unidade do livro.

São para o esclarecimento do significado de


determinados termos/palavras mostradas ao longo do
livro.
Este espaço é destinado para a reflexão sobre
questões citadas em cada unidade, associando-o a
suas ações, seja no ambiente profissional ou em seu
cotidiano.

4
SUMÁRIO

UNIDADE PROJETO COLONIAL DE OCUPAÇÃO TERRITORIAL ................................ 7

01
1.1 FEITORIAS ................................................................................................................ 7
1.2 CAPITANIAS HEREDITÁRIAS ................................................................................. 17
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 29

UNIDADE SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO TERRITORIAL .............................................. 33

02
2.1 PLANTATION.......................................................................................................... 33
2.2 ENTRADAS E BANDEIRAS...................................................................................... 40
2.2.1 As bandeiras de apresamento...................................................................43
2.2.2 As bandeiras de prospecção .....................................................................44
2.2.3 Sertanismo de contrato ...............................................................................45
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 50

UNIDADE ESTRATÉGIAS DE OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO .................. 54

03
3.1 A PECUÁRIA .......................................................................................................... 54
3.2 A MINERAÇÃO ..................................................................................................... 62
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 70

UNIDADE CONFIGURAÇÕES TERRITORIAIS DO IMPÉRIO E DA PRIMEIRA REPÚBLICA

04
................................................................................................................. 74

4.1 AS ILHAS ECONÔMICAS E O COMÉRCIO EXTERIOR ......................................... 74


4.2 CONSOLIDAÇÃO DAS FRONTEIRAS.................................................................... 79
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 82

UNIDADE POLÍTICAS TERRITORIAIS NO SÉCULO XX ............................................... 87

05
5.1 INTEGRAÇÃO NACIONAL ................................................................................... 87
5.2 UNIDADE TERRITORIAL .......................................................................................... 94
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 101

UNIDADE TERRITÓRIO BRASILEIRO NO SÉCULO XXI............................................. 105

06
6.1 DIVERSIDADE SOCIOESPACIAL ......................................................................... 105
6.2 DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL ..................................................................... 114
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 126

RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ............................................. 130

REFERÊNCIAS ......................................................................................... 131

5
CONFIRA NO LIVRO

Tem como enfoque uma breve discussão sobre o contexto sócio-


histórico das feitorias que a compreende sua importância para o
desenvolvimento da vida política local tanto da colônia quanto da
metrópole. E as capitanias hereditárias como a primeira divisão
territorial do Brasil na qual os donatários ficam responsáveis pela
ocupação, colonização e desenvolvimento.

Discorre sobre a plantation como um fundamento econômico-


social da colonização portuguesa que determinava o foco na
produção agrícola e proibia qualquer atividades manufatureiras na
colônia. Enquanto a discussão sobre entradas e bandeiras ressaltam
que as expedições interioranas contribuíram para o poder de
Portugal no continente americano e para a sertanização do Brasil.

O enfoque é a pecuária em vista de lugar secundário na economia


colonial e com o passar do tempo obtém destaque na agenda
econômica do país. E a mineração que se destacou no cenário
internacional e intensificou as iniciativas de adentramento no
interior do Brasil.

É abordado sobre as ilhas econômicas e o comércio exterior que


propiciaram sobretudo o desenvolvimento econômico e a
ocupação territorial do Brasil. E a consolidação das fronteiras a partir
do conceito de identidade e diferença que contribuíram para a
formação de fronteiras geopolíticas.

Destaca-se a questão da integração nacional pelo viés do processo


de urbanização que foram desigualmente alterando de natureza e
composição. Ao passo que é refletido sobre a unidade territorial no
Brasil que nos remete aos aspectos socioculturais, políticos e
econômicos que demarcam esse lugar, assim como seu lugar no
contexto global.

Ressalta a temática diversidade socioespacial a partir do contexto


da globalização que marca a atual expansão do capitalismo. Assim
sendo, é preciso refletir sobre os deslocamentos das populações
através das fronteiras internacionais e seus enfrentamentos diante
das desigualdades sociais ora em busca dos mercados tradicionais
de emprego, ora na inserção ao tecido social dos países que os
recebem.

6
PROJETO COLONIAL DE UNIDADE

01
OCUPAÇÃO TERRITORIAL

1.1 FEITORIAS

A partir da visão de Cruz (2015), manifestamos que as feitorias eram


entrepostos comerciais de origem europeia instalados em territórios estrangeiros.
Além disso, pontuamos que a sua origem remonta às instalações ocorridas na Europa
Ocidental durante a Idade Medieval e que o seu uso foi amplo em terras dominadas,
as quais eram consequências de conquistas coloniais.

Ao pensarmos na estrutura e no funcionamento desse modelo de


organização, assinalamos que o seu formato se alterava em função dos objetivos e
das realidades políticas, econômicas e culturais que estavam inseridos. Nesse
tocante, podia ser de uma casa com instalações módicas até propostas
arquitetônicas que comportassem distintos meios de suporte para o atendimento de
demandas militares ou de oficinas para o trabalho com os navios.
Aliás, havia situações em que tais feitorias funcionavam como suporte para a
atividade comercial local, bem como para o desenvolvimento de encontros
espirituais, a atuação judiciária ou a promoção de acordos diplomáticos. Essas
organizações tinham, fundamentalmente, o papel de armazéns para os produtos
(CRUZ, 2015).
À vista disso, notamos que essas feitorias desempenhavam múltiplos papéis na
economia colonial. Podemos destacar a sua atuação como ponto estratégico para
o desenvolvimento da vida política local que via na presença da feitoria o único sinal
claro da existência de uma estrutura administrativa e de representação da figura do
rei.

7
A burocracia corporativa instalada tinha como foco central a proteção e
garantia do cumprimento dos objetivos do rei materializados por intermédio das
intenções dos mercadores e suas propostas de ampliação de lucros a qualquer
preço, independentemente do esfacelamento do tecido social.
Esclarece-se que os feitores supostamente defendiam os interesses da nação,
ou seja, do rei. Portanto, a compreensão de nação na perspectiva portuguesa
consistia na realização da vontade do rei que, em si, bastava como o único desejo
válido na Coroa.
O movimento de conquista e colonização do Brasil exigiu de Portugal projetos,
investimentos coletivos e articulações para dar conta dessa empreitada. O fato é
que a circulação de pessoas de diversas origens pelo Atlântico gerava incertezas
para os planos de Portugal.

Muitas nações estiveram presentes na América em virtude do processo de


colonização, dentre elas, preocupava os Portugueses a circulação de expedições
realizadas na costa brasileira por parte de espanhóis, franceses, ingleses e
holandeses. Como exemplo, podemos citar que o espanhol Vicente Yanez Pinzon
esteve presente na região do atual Amazonas antes da chegada da esquadra de
Pedro Alvarez Cabral no território de Porto Seguro (SANTOS, 2015). Cabe ressaltar que:

[...] a conquista e colonização da América é uma janela do


deslocamento do eixo comercial que ligava o Mediterrâneo ao Mar
do Norte e, ao final do século XV a partir do desenvolvimento da
navegação, se amplia para o Atlântico, circunavegando o Estreito de
Gibraltar, a Península Ibérica e constituindo um novo equilíbrio
comercial na Europa (SANTOS, 2015, p. 35).

Embora se cultue a ideia de que Portugal não deu o devido valor para as terras
conquistadas na América, a realidade apresenta uma outra nuance porque nos
primeiros trinta anos da colonização foram realizadas expedições com navios e
armadas portuguesas que tinham o propósito claro de aprofundar os seus

8
conhecimentos geográficos e assegurar o domínio do território conquistado no litoral
brasileiro (América portuguesa). Essas movimentações representaram importantes
feitos náuticos e cartográficos para o contexto histórico daquela época
(DOMINGUES, 2012).

Figura 1: Perspectiva portuguesa

Fonte: Disponível em https://bit.ly/2RU22qE.


Acesso em: 26 mar. 2021

Entendemos que essa atuação foi crucial para o projeto português de


conquista do território, haja vista que deu a conformação necessária para o seu
posicionamento estratégico na América.

Figura 2: Expedições para exploração (período pré-colonial)

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3fZsS8K.


Acesso em: 26 mar. 2021

As habilidades de negociação comercial e de aprendizagem de outras

9
línguas foram nevrálgicas para a manutenção dos negócios portugueses no território
brasileiro, por mais que essa dinâmica não deve ser romantizada de modo que venha
a sufocar ou silenciar a luta dos indígenas em face da incursão portuguesa em seus
territórios. Assinala-se que essas habilidades foram de grande relevância ao longo de
todo o período colonial, entretanto, quando a diplomacia (negociação) e a cruz
(igreja) não funcionavam o recurso mais utilizado foi a espada (guerra).

Devemos lembrar, em primeiro lugar, que o regime do Padroado da


Ordem de Cristo foi passado para a Coroa portuguesa em 1515. Como
as terras brasileiras estavam sob a jurisdição da Ordem de Cristo e
sendo o Rei de Portugal o seu representante, a cobrança de dízimos
ficou sob a administração da Coroa, que ao mesmo tempo era
responsável pela manutenção da Igreja e do clero secular na colônia
(VASCONCELOS, 2016, p. 51).

O pau-brasil foi o primeiro produto de grande valor a ser comercializado pelos


europeus na costa brasileira. A Europa já conhecia esse produto: uma madeira
corante de gênero distinto da asiática. A expedição de Duarte Coelho, em 1501,
reconheceu a madeira e enviou algumas amostras para Portugal.

Figura 3: Pau-brasil

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3cbSP3P.


Acesso em: 04 mar. 2021

Essa madeira se concentrava em porções no litoral do Rio de Janeiro, no sul


da Bahia, no Recife, no Rio Grande do Norte, na Baía de Todos os Santos (Recôncavo
Baiano) e no litoral norte da Bahia. Veja o relato de um religioso francês da época
acerca do significado do pau-brasil:

10
[...] tal árvore, tendo sido descoberta em nosso tempo, serviu de
grande alívio aos mercadores, e meio de novas buscas para os que
tinham o costume de navegar, os quais, chegando a este país, e
vendo os selvagens adornados com tão belas plumagens de cores
diversas, e também que esse povo tinha o corpo pintado
diversificadamente, indagaram qual o meio dessa tintura, e alguns lhe
mostraram a árvore que chamamos brasil, e os selvagens,
Orabutan/Araboutã. Essa árvore é muito bela de se olhar e grande,
com uma casca superficialmente de cor acinzentada, e a madeira
vermelha por dentro, principalmente o cerne, que é a parte mais
importante, e que é a carga maior dos mercadores. E direi de
passagem que, de uma árvore tão grossa que só pode ser abraçada
por três homens, tira-se somente do cerne e da medula vermelha uma
porção que corresponde à largura da coxa de um homem (THEVET,
2009, p. 173).

A identificação de selvagens se aproxima da noção cultivada de um


imaginário de “bárbaros” que se edificou na Europa. Nesse sentido, remonta à
perspectiva de costumes e valores que demandam alterações para que se possa
converter essas pessoas ao estágio que se inclui na noção de civilização, a julgar pela
ideia de que os indígenas estavam em uma etapa anterior de desenvolvimento
cultural.
No período pré-colonial, os portugueses não tinham o conhecimento da
geografia local, nem sabiam como retirar o pau-brasil das matas: uma árvore que
chegava a ter 15 metros de altura e seus galhos possuíam espinhos. Diante dessa
situação de dependência da mão de obra e dos conhecimentos dos indígenas no
que se refere à execução do corte, preparação e carregamento. Os portugueses se
viam impulsionados a realizar negociações com os indígenas para viabilizar o
comércio do pau-brasil, também conhecido pelos tupis como ibirapitanga.

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Em sintonia com o debate que nos propomos a pensar a formação territorial
brasileira e assim lançar luz nas feitorias, ponderamos que, no Brasil, foram construídas
estrategicamente em pontos comerciais ao longo do litoral sobretudo como
estocagem da madeira pau-brasil para que os navios levassem tais produtos à
Europa.
O principal responsável pela feitoria era o feitor: um funcionário designado
como representante do rei. Dentre as suas responsabilidades estavam a de
representar o rei nas relações comerciais, comprar mercadorias, fazer negociações
com os nativos, proteger as mercadorias, cuidar da preservação da qualidade dos
materiais obtidos, garantir o embarque dos produtos para Portugal, dentre outras. Tais
movimentações que ocorriam na feitoria eram registradas pelo escrivão e isso tornou
possível parte considerável do conhecimento que temos na atualidade sobre esses
mecanismos do período inicial da colonização no Brasil (FERNANDES, 2008).

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No litoral brasileiro as feitorias eram construídas, em geral, em ilhas para
garantir a segurança e tais empreendimentos eram resultantes do conhecimento
acumulado por Portugal em suas empreitadas na construção de feitorias na África.

Figura 4: Feitorias portuguesas na África

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3fXIny0.


Acesso em: 26 mar. 2021

Ainda em 1448, foi edificado a primeira feitoria no território africano, no atual


Senegal. E, em 1482, construído o Castelo de São Jorge da Mina, atual Sudão.

A “descoberta” do Brasil em 1500 levou ao debate da


intencionalidade ou não da viagem de Cabral e sua frota, que se
dirigia para as Índias. No ano seguinte, uma expedição exploratória foi
enviada ao litoral brasileiro e o comércio do pau-brasil foi contratado
com Fernão de Loronha, com a obrigação de implantar feitorias no
litoral, ou seja, uma sessão de território a ser administrado por particular
(VASCONCELOS, 2016, p. 40).

As feitorias não eram apenas armazéns de produtos, mas também tinham a


função militar como forte de resistência e de marcação de posição em local
estratégico. Além disso, era a sede da representatividade do rei em uma perspectiva
diplomática e as feitorias apresentavam a conotação de cidade.

O mapeamento levado a cabo por Jacques de Vau de Claye,


durante a expedição francesa capitaneada por Felipe de Strozzi, no
reconhecimento do litoral brasileiro, traçou um interessante esboço do
que chamou le vrai pourtraict de Genèvre et du Cap Frie. Datado por

13
referência a 1576, tem a descritiva enquadrada pela ótica militar de
sua finalidade (FERNANDES, 2008, p. 174).

A primeira feitoria construída pelos portugueses foi a de Cabo Frio. Tal


empreendimento foi fundado por Américo Vespúcio no ano de 1504 e teve como
primeiro feitor o colono João de Braga. Quando Américo Vespúcio retornou a
Portugal manteve na localidade o contingente de 24 homens que guarneciam a
casa construída em barro e telhado de palha.
Muitos embates aconteceram ao longo da história na área de Cabo Frio,
inclusive a invasão francesa e a sua consequente criação do Forte de São Mateus. A
expulsão francesa somente foi efetivada no ano de 1615 por intermédio da ajuda de
Mém de Sá e do indígena Araribóia. Essa ação vitoriosa foi muito significativa
historicamente porque reafirmou a presença e os interesses portugueses na região
(ASSOCIAÇÃO ESTADUAL DE MUNICÍPIOS DO RIO DE JANEIRO , 2017).

Figura 5: Forte de São Mateus, em Cabo Frio-RJ

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3ySnooM.


Acesso em: 09 fev. 2021

Também ganharam relevância as feitorias de Santa Cruz, no Rio de Janeiro,


bem como as das ilhas de Igaraçu e de Itamaracá em Pernambuco. As feitorias
brasileiras eram rudes e modestas em função dos valores comerciais dos produtos,
apesar do valor do pau-brasil não se comparar com o valor das especiarias asiáticas.
Dito isso, assinalamos que entre 1502 e 1504 são construídas as primeiras
feitorias no Brasil: no litoral de Pernambuco, em Cabo Frio e no atual Rio de Janeiro.
A feitoria de Cabo Frio foi longeva e ainda em 1526 se noticiava a presença dos
portugueses. É salutar registrar que a feitoria do Rio de Janeiro foi destruída pelos
indígenas. Essa afirmação desmistifica a ideia de passividade dos povos indígenas
em relação ao processo de colonização portuguesa.
Tais feitorias eram bases de sustentação do império português que se expandia

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e em cada porção anexada ao seu domínio demandava delimitação por meio
dessas fortalezas. Tal organização garantia a presença do feitor como representante
do rei, cuja representação exerceu papel relevante nesses anos iniciais da
colonização do Brasil.
Portugal foi o pioneiro da expansão marítima europeia dos séculos XV e XVI e
o que possibilitou isso foi a precoce unificação política, ainda no século XIV, por meio
da Revolução de Avis. A orientação econômica da época era o mercantilismo. O
mercantilismo pregava a acumulação de metais diferente do feudalismo que a
riqueza estava preponderantemente associada à terra (SANTOS; MOURA, 2017).
Cabe ressaltar que a Revolução de Avis se constituiu como fundamental para
a formação do Estado nacional português. Trata-se de uma revolução crucial porque
edificou Portugal como o primeiro Estado nacional da história ocidental. Teve como
antecedente o fato que no século VIII houve a invasão dos muçulmanos na Península
Ibérica que vieram do norte da África e a ocupação forçou os cristãos para o norte
da península ibérica. E os reinos cristãos lutaram pela reconquista até o século XV,
quando os cristãos expulsaram definitivamente os muçulmanos.
O reino de Portugal nasce no âmago das Guerras de Reconquista da Península
Ibérica e aí surge uma burguesia crescente. O Mestre de Avis comandou a Revolução
de Avis que aliado ao povo e a burguesia lutou contra a nobreza do reino de Portugal
e do reino de Castela. A vitória dos burgueses baseada em estratégias defensivas e
usos de emboscadas levaram Dom João, Mestre de Avis, ao posto de rei do reino de
Portugal (SANTOS; MOURA, 2017).
Tal formação do Estado nacional português marcou uma aliança entre o rei e
a burguesia, a qual tinha grande valor para as relações comerciais e econômicas
resultando no financiamento da indústria náutica importante passo para as
empreitadas de navegações portuguesas e, por conseguinte, repercutiu na
colonização do Brasil, de Calicute nas Índias e no domínio da costa africana. Sendo
assim, essa Revolução de Avis foi nevrálgica para o desenho do projeto de
colonização portuguesa na América.
Virgulamos que o capitalismo comercial incorporado por Portugal defendia a
acumulação de metais como forma de expressão da riqueza. Dessa forma, os
portugueses estavam ligados ao comércio de especiarias (pimenta, gengibre,
cardamomo, ervas aromáticas, açafrão, canela, cravo, noz moscada, etc.), cujo
foco era a promoção de rotas comerciais para chegar às Índias a fim de obter as

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famosas especiarias que encontravam dificuldade para serem cultivadas na Europa
em razão da não adaptação ao clima. Também alimentavam o ideário de conseguir
acumular o máximo de metais preciosos que tivessem acesso como meio de
expressão de riqueza e posicionamento privilegiado no cenário internacional perante
as demais potências europeias.
Na costa brasileira no início da colonização não se obteve as especiarias nem
os metais, então, o pau-brasil dava menos lucro que as especiarias indianas. O pau-
brasil era utilizado para extrair corante vermelho que se utilizava em manufaturas
têxteis na Inglaterra, além de servir como madeira para a produção de móveis.
A mão de obra para a extração do pau-brasil era indígena e o escambo era
a relação principal nos 30 primeiros anos da colonização (1500 a 1530). Os indígenas
retiravam o pau Brasil e levava para as feitorias e depois os portugueses embarcavam
essa madeira em direção à Europa. Em troca, os indígenas recebiam dos portugueses
produtos como machado, espelho, vestimentas, dentre outros objetos.

Figura 6: Costa do pau-brasil

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3fV2YTu.


Acesso em: 09 fev. 2021

Nessa época o Brasil tinha entre dois e quatro milhões de indígenas distribuídos

16
em mais de mil nações e que falavam mais de 150 idiomas, os quais podem ser
divididos em dois troncos linguísticos (Tupi no litoral e Macro-Jê no Planalto Central).
Muitas tribos conheciam a agricultura, no entanto, muitas dessas organizações sociais
se baseavam na caça e na pesca.
Essas sociedades não tinham classes, nem se estruturavam na ideia de
propriedade privada. Pondera-se que na atualidade a população indígena é de
aproximadamente 0,5% (aproximadamente 900 mil pessoas) da população brasileira.
Desse modo, as feitorias exerceram um papel fundamental até o ano de 1532, data
da instauração das capitanias hereditárias (CRUZ, 2015).

1.2 CAPITANIAS HEREDITÁRIAS

Em 1530 se inicia efetivamente a colonização portuguesa no Brasil. É o


processo de consolidação da conquista territorial. Além disso, a mudança de visão
acerca do Brasil e, diante das possibilidades de ganhos, Portugal resolve avançar em
relação a sua presença na colônia.
As expedições exploradoras e as expedições guarda-costas nos trinta primeiros
anos, assim como a exploração do pau-brasil e o estabelecimento do regime das
feitorias que faziam frente à presença de piratas e corsários, motivaram a
colonização efetiva por meio do envio do nobre e militar português: Martim Afonso
de Sousa.

Só entre 1530 e 1533 a expedição comandada por Martim de Souza


foi enviada ao litoral brasileiro e a primeira vila, São Vicente, foi
fundada em 1532, quando foram implantados os primeiros engenhos
de açúcar. Em 1534 foram criadas as capitanias hereditárias no Brasil,
seguindo o modelo das ilhas do Atlântico, porém em uma escala
territorial bem mais ampla. A elevação de vice-reinado na Índia e a
implantação no período dos bispados de Funchal, de Goa, de Cabo
Verde e de São Tomé, mostram a pouca importância inicial dada ao
território brasileiro pelos portugueses (VASCONCELOS, 2016, p. 42).

Martim Afonso de Sousa começou a produção de cana-de-açúcar porque


era um produto com grande aceitação no mercado europeu com geração de
grandes oportunidades de ganhos. Esse produto contava com o apoio dos
holandeses, banqueiros e comerciantes. Além disso, fez se relevante as possibilidades
resultantes de condições climáticas (clima tropical) e edáficas (solo de massapê).
O comércio das especiarias das índias (tapetes, perfumes, pimenta do reino,

17
cravo, canela, gengibre, cânfora, noz-moscada...) geraram muitas riquezas para
Portugal, no entanto, a entrada de concorrentes reduziram os lucros. Ademais, os
franceses ameaçavam as ações de Portugal no Brasil. Para fazer frente a isso, o rei
enviou a expedição de Martim Afonso de Sousa e em seguida instituiu o sistema de
Capitanias Hereditárias em que o governo entrava com as terras e a iniciativa
precisava injetar dinheiro no projeto.

A primeira divisão territorial do Brasil foi experimentada pelas


capitanias hereditárias, a partir de uma divisão do litoral em faixas de
cerca de 50 léguas de comprimento que ficaram a cargo dos
donatários, que foram responsáveis pela sua ocupação, colonização
e desenvolvimento (VASCONCELOS, 2016, p. 48).

As capitanias hereditárias eram divisões do território em grandes faixas de terra


em que se nomeavam representantes da nobreza de Portugal. Dom João III
promoveu essa organização político-administrativa do território brasileiro, tomando
como referência o Tratado de Tordesilhas. Em suas posses atlânticas os portugueses
já haviam implantado o sistema de capitanias e lá o projeto se apresentou como
bem sucedido. Contudo essa realidade não se repetiu no caso brasileiro.

Figura 7: Projeto Capitanias Hereditárias

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3i8bSzG.


Acesso em: 27 mar. 2021

18
Os donatários enfrentaram dificuldades nesse processo porque tinham que dar
conta de sobreviver diante de ataques dos indígenas e de estrangeiros e com
recursos escassos. Haviam também grandes distâncias entre uma capitania e outra,
faltava uma relação ou intercâmbio de experiências entre as capitanias, não havia
órgãos que coordenasse o trabalho dos donatários, escassez de recursos financeiros
por parte da Coroa (na maioria dos casos), muitos donatários não vieram ao Brasil
(como é o caso do donatário da Capitania de Ilhéus), dentre outros aspectos que se
apresentaram como desafio.

Assim, o conceito-chave para entender a construção do espaço


geográfico das capitanias não foi o de um território, uma região
fechada definida pelas cartas de doação. Foram os acima
apresentados e, mais do que eles, o conceito de termo das vilas. A
capitania se define territorialmente não pela geometria de um
polígono, mas por uma linha na costa onde se criavam vilas, às quais
se associavam os seus fundos e sertões, áreas agregadas que vão ser
definidas e ampliadas pelos termos das novas vilas criadas na
dependência jurisdicional das anteriores, em sucessivas levas (CINTRA,
2017, p. 218-219).

As capitanias hereditárias resultaram de interesses políticos e econômicos que


envolvem estratégias para administrar o território brasileiro colonial para não sair do
controle de Portugal. A falta de recursos suficientes fez com que Portugal se valesse
de investimentos de particulares para dar continuidade em sua empreitada no
território brasileiro. Então, Dom João III, em 1534, realizou a divisão da colônia em 15
lotes que foram passados aos capitães ou donatários. No entanto, eram 14 capitanias
hereditárias repassadas para 12 capitães. Pondera-se que, conforme Mello (1999),
ocorreram muitos embates entre a Coroa e os capitães donatários.
O mapa disponibilizado, a seguir, das capitanias hereditárias é resultado dos
estudos recentes que materializam na representação cartográfica as possibilidades
mais plausíveis em função das fontes históricas disponíveis e trabalhadas na pesquisa
de Cintra (2013) que refaz as principais propostas disseminadas nos livros acerca
desse tema.

19
Figura 8: Capitanias hereditárias

Fonte: Cintra (2013, p. 39)

O desejo do rei D. João III ao financiar expedições como a de Martin Afonso


de Sousa era de encontrar pedras preciosas na colônia Brasil. Além dessa realidade,
cabe ressaltar que

O fato de que os portugueses seguiam encontrando diversos navios


franceses com pau brasil, e até ocupando áreas que de acordo com
o Tratado de Tordesilhas pertenciam a Portugal, ajudou a pressionar D.
João na sua decisão por dividir o Brasil em CH’s [Capitanias
Hereditárias] e começar a povoá-lo para acabar com o risco de
perder as terras para a França. Este se tornou, assim, outro objetivo da
expedição (INNOCENTINI, 2009, p. 14).

Cabe ressaltar, de acordo com Moreira (1994) que o Tratado de Tordesilhas foi

20
assinado por Dom João II de Portugal e o seu significado ultrapassa a demarcação
de limites territoriais entre a Espanha e Portugal.

Figura 9: Tratado de Tordesilhas assinado por Portugal e Espanha (1494)

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3vIMXqv.


Acesso em: 23 fev. 2021
O debate alcançava questões comerciais que envolviam os mercadores
andaluzes e as suas relações comerciais clandestinas na Guiné. Em 1479, momento
do Tratado de Alcáçovas que teve sua ratificação com o Tratado de Toledo se nota
o reconhecimento das conquistas portuguesas na costa africana e nas ilhas
atlânticas, no entanto, não incluía as ilhas canárias resultantes de embates históricos.
Com a viagem de Colombo o Atlântico Ocidental começa a ganhar a cena
dos debates e exige melhores definições geopolíticas. E, em 1494, o Tratado de
Tordesilhas é assinado com definições das esferas de influência. Dessa forma, o
Tratado de Tordesilhas se tornou um “[...] marco fundamental no desenvolvimento de
várias linhas políticas” (MOREIRA, 1994, p. 12).

21
Figura 10: Delimitação resultante do Tratado de Tordesilhas

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3vGisS5.


Acesso em: 23 fev. 2021

Entre 1500 e 1530, no período pré-colonial, Portugal não se preocupava em


defender as terras porque havia acordo com a outra nação que se embrenhava nas
grandes navegações: a Espanha. Com o lançamento da França, Inglaterra e
Holanda ao mar a preocupação dos portugueses se ampliou e Portugal se vê
obrigado a defender para não perder a posse das terras. O custo da colonização de
Portugal foi transferido para a iniciativa privada e se realiza a doação de lotes para
donatários que deveriam empreender a colonização no Brasil. O território brasileiro
foi dividido em 15 lotes denominados capitanias hereditárias que custeariam a
colonização.
Com base nos documentos da Carta de Doação e dos Forais sedimentava-se
que o donatário detinha a posse e não a propriedade, portanto, não se podia vender
uma parte da capitania. Os capitães donatários eram as autoridades máximas na
sua capitania e após a sua morte a capitania era transferida para seus herdeiros. Em
função disso, recebeu o nome de capitanias hereditárias. Nada obstante, poderia
distribuir sesmarias (partes da capitania) para outros colonos. Todos os bens das
matas, do subsolo e dos mares eram de propriedade da Coroa portuguesa. Caberia
ao donatário plantar e colher.

22
Figura 11: Carta de doação à Fernão de Noronha concedendo a capitania e o governo
das Ilhas de São João

Fonte: Disponível em https://bit.ly/34DsBTu.


Acesso em: 26 fev. 2021
Figura 12: Carta de foral doando a Capitania de Pernambuco a Duarte Coelho
1.

Um dos requisitos para obter as capitanias era ser uma pessoa abastada na
sociedade portuguesa. Dois eram os documentos: a carta de doação e o foral que
consistia na declaração dos direitos e dos deveres dos capitães donatários. Além
disso, tinha direito de fazer uso da escravidão indígena. O capitão poderia doar
sesmarias para explorar e povoar as terras. A base econômica era pautada em
latifúndios. As sesmarias eram latifúndios e se davam por meio de

23
[...] doações de sesmarias aos colonos importantes, sobretudo
membros da nobreza com algumas exigências para a implantação
de engenhos de açúcar. Na produção de açúcar, portanto, os
maiores investimentos eram voltados para a construção de engenhos
e a compra de escravos, pois as terras eram recebidas em sesmarias.
Em seguida as sesmarias começaram a ser subdivididas sendo
arrendadas aos pequenos colonos (VASCONCELOS, 2016, p. 49).

Era dever do capitão donatário passar parte do lucro para Portugal, explorar
as terras, combater invasões estrangeiras, povoar as capitanias hereditárias. Os
capitães donatários e os sesmeiros perceberam que a vida no Brasil deveria ser
duradoura porque não vislumbravam nitidamente a volta para Portugal.
Os que vieram solteiros precisavam formar famílias. Entretanto, a relação
formalizada com as nativas não era bem vista. Então, começam a trazer mulheres
solteiras de Portugal para o Brasil: no geral, crianças e adolescentes órfãs de Portugal
que vinham para casar de maneira forçada com os homens que estavam fazendo
as primeiras construções brasileiras.
Portugal também enviava homens pobres e existem relatos de envio de
criminosos como alternativa de vida. Portugal queria diminuir a sua população
carcerária e garantir a mão de obra no Brasil. O fidalgo que nasceu com poder e
dinheiro e o plebeu não tinha nada. Os fidalgos vinham como administradores e os
plebeus como trabalhadores, conquanto essa distância foi reduzindo em função da
noção de que os demais estavam abaixo das suas posições. Uma concepção
cultural de inferiorização que colaborou para tal configuração.

As capitanias não deram conta de defender os territórios em razão das


dificuldades de sua efetivação para obtenção de lucros. A Capitania de São Vicente
foi doada a Martim Afonso de Souza e pode contar com o suporte da Coroa
portuguesa.
Uma expressão do sucesso desse empreendimento foi o surgimento do
povoado de Santos, fundado por Brás Cubas. O desenvolvimento significativo da

24
produção de cana-de-açúcar nessa capitania foi fundamental para seu sucesso. Ao
tempo que a Capitania de Pernambuco doada para Duarte Coelho se tornou o
maior centro de produção de cana-de-açúcar durante o período colonial.
A Capitania hereditária de Pernambuco, também conhecida como Nova
Lusitânia, sob o governo descentralizado da iniciativa privada com o objetivo de
implementar a colonização, ou seja, fazer o Brasil gerar lucro esteve inicialmente sob
a direção de Duarte Coelho. A sua prosperidade se estabeleceu em função do
cultivo da cana-de-açúcar que combinou financiamento e propensão geográfica
para tal empreendimento.
Havia demanda crescente para o consumo de açúcar e as capitanias de
Pernambuco, São Vicente e Bahia foram os principais locais de produção na América
Portuguesa. A produção econômica se sustentou inicialmente na mão de obra
indígena e, posteriormente, foi substituída pela mão de obra escrava africana.
Duarte Coelho recebeu degredados em sua capitania que lhe rendeu muitos
conflitos, também cabe ressaltar os conflitos encampados contra os indígenas. A
cana-de-açúcar se estabeleceu como empresa agrícola açucareira e contou com
a crucial participação holandesa.
Portugal desde o empreendimento náutico contou com capitais de uma
burguesia comercial financeira holandesa. A maioria do capital do empreendimento
náutico português contou com esse capital. A Capitania de Pernambuco ou Nova
Lusitânia teve a sua prosperidade impulsionada em função de recursos holandeses
na produção açucareira que participava do financiamento, transporte, refino e
distribuição do açúcar na Europa.
No caso da empresa agrícola açucareira tornou-se expressivo o
financiamento da implantação da produção, o transporte e o refino que era feito na
Holanda. Além disso, os holandeses distribuíram o açúcar e o lucro ficava de forma
massiva sob o seu poder. Portugal recebia impostos dos navios e da comercialização
em uma estrutura de monopolização dessa atividade. A esperança de Portugal era
conseguir instituir uma empresa mineradora das terras brasileiras, sonho esse que foi
perseguido desde o início da colonização.
Também a Capitania de São Vicente, sob os auspícios de Martim Afonso de
Sousa, conseguiu prosperidade em seu segundo lote em razão da produção de
açúcar. Ressaltamos que no total eram 14 capitanias distribuídas em 15 lotes de terra,
os quais foram doados para 12 donatários portugueses.

25
Conforme dito anteriormente, os capitães donatários eram representantes da
burocracia ou da nobreza de Portugal e eram chamados de fidalgos. Recebiam a
carta de doação que atribuía a concessão para a exploração da capitania. A terra
continuava a pertencer ao Estado português. Em caso de descumprimento de regras
o donatário poderia perder o seu direito à concessão. A concessão era passada de
pai para filho, ou seja, vitalícia. No foral estabeleciam os direitos e os deveres dos
capitães donatários. As sesmarias eram lotes grandes de terras que eram doados a
colonos para a exploração.

Portugal teve que agir em defesa do território e optou em trazer para o Brasil o
Governo Geral com a finalidade de controlar as áreas das capitanias. Os objetivos
eram defender o território, dinamizar a economia e fiscalizar as capitanias. Com as
capitanias pode-se assinalar que trouxeram muitas vantagens para Portugal como a
instalação de uma base territorial que sustentou a colonização portuguesa.
Os povoamentos de destaque podemos citar Santos, Olinda, Ilhéus e São
Vicente. A posse das terras em face dos riscos de invasões estrangeiras também é de
grande significado para a empreitada portuguesa. Outro aspecto notável foi a

26
viabilidade da exploração da cana-de-açúcar.
O sistema de capitanias não funcionou na prática como se previa
inicialmente. Em caso de guerra as capitanias não se ajudavam. Existiam muitos
contrabandos dos franceses e outras nações que dificultavam o crescimento das
capitanias. Os capitães donatários, em muitos casos, abandonaram as suas
capitanias e não foi construída a estrutura necessária para o seu funcionamento.
Muitos capitães não acreditaram que o projeto das capitanias hereditárias
daria certo. A figura do capitão donatário assumiu outra noção a partir de 1549 até
1572, período a partir do qual Portugal adota outro esquema: o Governo Geral. O
Brasil passa a ter um governador geral que o administra. Portanto, se trata da
centralização administrativa do território. A falta de condições de administração fez
com que o Governador Geral nomeasse o Ouvidor Mor (justiça), o Provedor Mor
(finanças) e Capitão Mor (defesa territorial).

Figura 13: Projeto Governador Geral

Fonte: Disponível em https://bit.ly/2S0qKFH.


Acesso em: 27 mar. 2021

Veio para o Brasil o Governador Geral, Tomé de Souza, com sede em Salvador,
que estava no centro da produção açucareira. Salvador era a capital do Brasil e teve
o início de sua construção em 1º de maio de 1549 em uma área elevada de frente
para o mar e com arquitetura que viabilizava a defesa militar.
Portugal teve gastos e se sentia obrigado a transformar a colônia em um
empreendimento lucrativo. A lógica do Governo Geral era promover a centralização
da administração da colônia. Esse sistema não significou o fim das capitanias

27
hereditárias, dessa forma, coexistiram até o ano de 1759.

O que podemos destacar depois da complexidade de eventos em


diferentes contextos históricos e geográficos, é a transformação de um
império mercantil implantado por uma série de feitorias, fortes e
cidades portuárias, em um império cuja base principal é o imenso
território brasileiro, que só foi possível consolidá-lo com a implantação
da produção de açúcar voltada para a exportação, em grandes
propriedades, baseada no trabalho escravo, cujas repercussões sobre
a sociedade e economia brasileiras foram fundamentais até o
momento presente (VASCONCELOS, 2016, p. 47).

O regimento do Governo Geral tinha como propósito fazer a defesa das terras
contra os ataques estrangeiros, promover ações em busca de metais preciosos,
apoiar a disseminação da igreja católica e fazer frente à resistência indígena. O
regime teve que enfrentar problemas como a dificuldade de comunicação e a
oposição com os interesses locais.
Os jesuítas surgiram no Concílio de Trento, o concílio da contrarreforma. A
Companhia de Jesus tinha a missão de catequizar povos recém descobertos - a
cristianização dos povos. São os responsáveis pela educação dos índios e dos
colonos em uma forma mais ampla. Esse grupo de religiosos chegaram juntamente
com o Governador Geral representados por seis jesuítas sob a chefia do padre
português Manuel da Nóbrega e tinham a incumbência de catequizar os indígenas.

28
FIXANDO O CONTEÚDO

1. (Cesgranrio) O início da colonização portuguesa no Brasil, no chamado período


“pré-colonial” (1500-1530), foi marcado pelo(a)

a) envio de expedições exploratórias do litoral e pelo escambo do pau-brasil.


b) plantio e exploração do pau-brasil, associado ao tráfico africano.
c) deslocamento, para a américa, da estrutura administrativa e militar já
experimentada no oriente.
d) fixação de grupos missionários de várias ordens religiosas para catequizar os
indígenas.
e) implantação da lavoura canavieira, apoiada em capitais holandeses.

2. (USS) Assinale a alternativa correta a respeito do período pré-colonial brasileiro.

a) Os franceses não reconheciam o domínio português, tanto que chegaram a se


estabelecer no Rio de Janeiro e no Maranhão.
b) O trabalho intenso de Anchieta e Nóbrega na catequese dos índios tinha o
objetivo de impedir a escravização do gentio.
c) A ocupação temporária europeia, por meio de feitorias, deveu-se à inexistência
de organização social produtora de excedentes negociáveis.
d) A cordialidade dos indígenas contrastava com a hostilidade europeia dos
portugueses, cujo objetivo metalista conduzia sempre à prática da violência.
e) A cordialidade inicial entre europeus e índios deveu-se ao fato de que o objetivo
catequético superava os fins materiais da expansão marítima.

3. (Fuvest) No Brasil colonial, a escravidão caracterizou-se essencialmente

a) por sua vinculação exclusiva ao sistema agrário exportador.


b) pelo incentivo da igreja e da coroa à escravidão de índios e negros.
c) por estar amplamente distribuída entre a população livre, constituindo a base
econômica da sociedade.
d) por destinar os trabalhos mais penosos aos negros e mais leves aos índios.
e) por impedir a emigração em massa de trabalhadores livres para o brasil.

29
4. (UEL) No Brasil colônia, a pecuária teve um papel decisivo na

a) ocupação das áreas litorâneas.


b) expulsão do assalariado do campo.
c) formação e exploração dos minifúndios.
d) fixação do escravo na agricultura.
e) expansão para o interior.

5. (Unesp-2015) A constatação de que “Essa aliança refletiu-se numa política de


terras que incorporou concepções rurais tanto feudais como mercantis” justifica-
se, pois a política de terras desenvolvida por Portugal durante a colonização
brasileira

a) permitiu tanto o surgimento de uma ampla camada de pequenos proprietários,


cuja produção se voltava para o mercado interno, quanto a implementação de
sólidas parcerias comerciais com o restante da América.
b) determinou tanto uma rigorosa hierarquia nobiliárquica nas terras coloniais, quanto
o confisco total e imediato das terras comunais cultivadas por grupos indígenas ao
longo do litoral brasileiro.
c) envolveu tanto a cessão vitalícia do usufruto de terras que continuavam a ser
propriedades da Coroa, quanto a orientação principal do uso da terra para a
monocultura exportadora.
d) garantiu tanto a prevalência da agricultura de subsistência, quanto a difusão, na
região amazônica e nas áreas centrais da colônia, das práticas da pecuária e da
agricultura de exportação.
e) assegurou tanto o predomínio do minifúndio no Nordeste brasileiro, quanto uma
regular distribuição de terras entre camponeses no Centro-Sul, com o objetivo de
estimular a agricultura de exportação.

6. (UNIP) Após a restauração Portuguesa, ocorrida em 1640

a) as relações entre Portugal e o Brasil tornaram-se mais liberais.


b) a autonomia administrativa do Brasil foi ampliada.

30
c) o Pacto Colonial luso enrijeceu-se.
d) os capitães-donatários forma substituídos pelos vice-reis.
e) a justiça colonial passou a ser exercida pelos “homens novos”.

7. (PUC-RIO) "Isto é claro - diziam os mareantes - que depois deste Cabo não há aí
gente nem povoação alguma (...) e as correntes são tamanhas, que navio que lá
passe, jamais nunca poderá tornar."
Gomes Eanes de Zurara, ca. 1430

A despeito de todos os temores e incertezas que marcaram a aventura da


expansão marítima portuguesa, os aventureiros que nela se lançaram
conseguiram desbravar a costa oeste africana, até o seu extremo sul, durante o
século XV. Com relação a esses acontecimentos, podemos afirmar que:

I. A ultrapassagem do Cabo Bojador, em 1434, pela expedição comandada por Gil


Eanes, concretizou uma das primeiras das intenções do infante D. Henrique: a de
firmar controle sobre o litoral da África subsaariana.
II. A expansão portuguesa no litoral ocidental africano levou ao estabelecimento de
feitorias e ao início, em pequena escala, do tráfico de escravos africanos.
III. A crença na existência do reino cristão de Preste João, situado em algum lugar
para além dos domínios muçulmanos, foi um dos elementos do imaginário coletivo
da época que estimulou a participação de muitos nas expedições direcionadas
para o litoral africano.

Assinale a alternativa correta

a) se somente a afirmativa II estiver correta.


b) se somente as afirmativa I e II estiverem corretas.
c) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
d) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas.
e) se todas as afirmativas estiverem corretas.

8. (FGV) Sobre a conquista holandesa do Nordeste brasileiro, no período colonial, é


correto afirmar:

31
a) Os conflitos entre portugueses e holandeses devem ser compreendidos no
contexto da União Ibérica (1580-1640) e da separação das Províncias Unidas do
Império Habsburgo.
b) A ocupação das áreas de plantio de cana obrigou os holandeses a intensificarem
a escravização dos indígenas, uma vez que não possuíam bases no continente
africano.
c) Estabelecidos em Pernambuco, os holandeses empreenderam uma forte
perseguição aos judeus e católicos ali residentes e fortaleceram a difusão do
protestantismo no Brasil colonial.
d) A administração de Maurício de Nassau foi caracterizada pelo pragmatismo e
pela desmontagem do grande centro de artistas e letrados organizado pelas
autoridades portuguesas em Olinda.
e) Os holandeses implementaram uma nova e eficiente estrutura produtiva baseada
em pequenas e médias propriedades familiares, que se diferenciava das antigas
plantations escravistas.

32
SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO UNIDADE

02
TERRITORIAL

2.1 PLANTATION

O Brasil tendia a ser uma colônia britânica “oculta”, pois, em consonância com
Velho (2009), uma grande parte do que era extraído enviava-se para a Grã-Bretanha,
com quem Portugal, sobretudo após 1703, possuía uma relação de dependência
semicolonial. Ressalta-se que “[...] no Brasil, com um imenso território, com fronteiras
imprecisas, e com o estabelecimento do sistema escravista, além da gestão das
outras partes do Império, era necessário controlar e colonizar a colônia”
(VASCONCELOS, 2016, p. 48). Ainda, Velho (2009, p. 103) destaca que

Exatamente por ser uma colônia “oculta”, os cientistas sociais


britânicos em geral não dão muita atenção ao papel do Brasil para a
acumulação primitiva através da economia de plantation e o
comércio de escravos. No caso das exportações de ouro, no entanto,
as coisas foram mais maciças e óbvias (VELHO, 2009, p. 103).

Tinha-se o exclusivismo colonial ou o pacto colonial. Na verdade, não houve


pacto e sim a imposição das regras para a colônia, uma imposição colonial. Nessa
perspectiva o Brasil tinha o papel de fornecedor de matérias primas e gêneros
tropicais para a metrópole, então havia a transformação na metrópole que revendia
para a colônia. Lembrando que o Brasil só poderia estabelecer relação econômica
com Portugal. A compra exclusiva de produtos manufaturados gerava uma
desvantagem comercial avassaladora para o território brasileiro.
Para pensarmos a economia do Brasil colonial faz-se relevante que algumas
características gerais sejam compreendidas porque se alteram os produtos gerados,
mas as bases econômicas são as mesmas. A economia açucareira entra nos
aspectos do sistema colonial que tem início com a lógica das monarquias europeias
sustentadas na exploração mercantilista que visava acumular riquezas nas colônias.
O sistema administrativo de controle do Estado português permitia vinculações
locais, mas a dependência externa era extrema. A cana de açúcar era uma
especiaria de grande valor na Europa e os portugueses já tinham experiência nesse
comércio em suas ilhas no Atlântico. Então, tendo como alvo o comércio exterior, a

33
cana-de-açúcar foi escolhida para levantar lucros na colônia e a economia
açucareira teve seu apogeu nos séculos XVI e XVII.

O seu cultivo predominou na zona da mata nordestina que tinha como


vantagem a qualidade do solo e condições favoráveis para o cultivo. Os maiores
produtores de cana-de-açúcar eram a Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e São
Vicente e se tinha um projeto de colonização alicerçada na plantation. Segundo
Tanezini (1994, p. 117-118):

A faixa litorânea de Pernambuco e capitanias anexas e o recôncavo


da Bahia tornaram-se regiões por excelência para o desenvolvimento
da "plantation" canavieira, colocando o Brasil-Colônia na posição de
maior produtor mundial de açúcar nos séculos XVI e XVII.

Havia financiamento holandês para a produção e essa colaboração gerava


lucros exorbitantes porque faziam empréstimos a juros e com o refino tornando-o mais
valioso, e se distribuía na Europa.
A produção do açúcar ganhou tanto destaque que os portugueses tiveram
que criar uma nova organização social e territorial, como mostra Vasconcelos (2016,
p. 47):

Os portugueses deram origem a uma nova forma de organização


social e territorial: uma colônia voltada para produzir e exportar
mercadorias de interesse dos mercados europeus, como o açúcar.
Essa orientação foi agravada pela concentração da propriedade
fundiária e, sobretudo, pela utilização sistemática, em todo o território,
do trabalho escravo (VASCONCELOS, 2016, p. 47).

O Brasil era uma grande fazenda para Portugal. Predominava-se o modelo


monocultor da grande produção agrícola nos latifúndios, as plantations. Tinham
como objetivo explorar a colônia, haja vista que a “instalação de grandes unidades
produtivas na maioria das vezes já era prevista no momento de doação das

34
sesmarias, e mais que isso, justificavam a própria requisição da concessão de terras”
(TANEZINI 1994, p. 50).
Onde as plantations eram implementadas se proibia o fomento de atividades
manufatureiras, a colônia era proibida de competir com a metrópole. Além disso, o
Brasil era obrigado a consumir os produtos manufaturados da Europa e isso teve
como implicação a industrialização tardia, bem como reforçou as mentalidades
colonizadas, monopolizadoras e conservadoras que pouco se preocupavam com a
necessidade de industrialização do Brasil.
Para pensar o sistema da plantation, também chamado de plantação ou
plantagem, é necessário ter a clareza de que se trata de um termo datado e que
reporta a concepções polissêmicas. Ele pode ser pensado na dimensão física do
espaço, assim como é razoável expor que uma fazenda se distingue de uma
plantation. A dimensão cultural deve ser considerada, bem como a compreensão
de que há um recorte da burocracia que está envolvida nessas dinâmicas.
Precisamos olhar para a plantation e entender as relações culturais envolvidas,
as quais não podem ser desconectadas da territorialidade. A terra, o capital e o
trabalho devem ser vistos em suas interações. A respeito do seu conceito:

O conceito de "plantation" foi sendo construído a partir da


abordagem dos clássicos das diversas ciências sociais. Na Economia
Política essa forma econômica foi mencionada por mercantilistas,
fisiocratas e economistas clássicos, como Adam Smith no século XVlll,
por seus críticos, Karl Marx e Friedrich Engels no século XIX e Vladimir I.
Lênin e Karl Kautsky no início do século XX. Na Geografia Humana e
Agrária foi analisada por Ritz e Edward Hahn (que a definiu conceitual
mente como "plantation" em ISSO) e em especial por Leo Waibel em
I932. Dentre as escolas sociológicas, foi objeto de estudo de Max
Weber, além do próprio Marx . Na Ciência Histórica esse tema foi
abordado particularmente pela História Económica da qual
destacamos a análise de Maurice Dobb na década de quarenta.
Finalmente constituiu-se numa problemática para a Antropologia nos
anos cinquenta e sessenta, quando os estudiosos procuraram
distinguir, nem sempre claramente, "haciendas" e "plantations" no
Novo Mundo, estabelecendo situações-tipo que as exemplificasse
(TANEZINI, 1994, p. 46)

Na realidade a plantation é todo um processo em interligação que remonta a


um sistema de sistemas espaciais que demanda a decomposição do território e das
paisagens, de modo a considerar as formas, as estruturas, as funções e os processos.
Como pontua Tanezini (1994, p.112),

35
A "plantation" se constituiu como o fundamento econômico-social da
colonização portuguesa, depois adotada por outras nações
europeias nas Antilhas. Como processo produtivo agroindustrial
instalado nas colônias, representava uma contra tendência à divisão
internacional do trabalho (TANEZINI, 1994, p. 112) .

A ideia de espaço e território é um elemento central para o entendimento da


plantation, haja vista que o espaço se apresenta como essencial para o
aprofundamento da dinâmica das relações sociais. Tais relações se desenrolam no
plano espacial, ou seja, no corpo territorial. Isso é nítido em razão de que as relações
humanas não acontecem sem uma base territorial. Cada lugar ou configuração
espacial reporta a uma multiplicidade de tempos que consolidam mosaicos de uma
realidade concreta.

[...] existência da "plantation" açucareira como um empreendimento


agroindustrial capitalista no século XVI, como parte da nova
tendência de apropriação da esfera produtiva pelo capital,
permitindo a reprodução e acumulação do capital industrial
propriamente dito, no bojo da chamada acumulação primitiva, como
duas "faces da mesma moeda", como duas fases do mesmo
movimento contraditório da evolução histórica (TANEZINI, 1994, p. 83).

Não se pode desconsiderar o papel da plantation para a formação do


território e da sociedade brasileira. Território é tradução de tempos diversos que
fazem alusão às dimensões que atribuem a densidade das funções assumidas pelas
formas espaciais que ocorrem em consonância a uma estrutura específica, a qual
determina articulações que podem ou não se perenizar ao longo da história.

O monopólio comercial e as plantations atuavam de modo articulado para a


promoção de altos lucros para as coroas europeias. De acordo com Tanezini (1994,
p.112):

36
Não faltou a mão-de-obra, porque desde o século XV portugueses e
espanhóis e depois ingleses, franceses, holandeses, dinamarqueses
organizaram o lucrativo tráfico de escravos. Com a "Plantation"
americana generalizou-se a escravidão sistemática moderna em
função do suprimento da força de trabalho para a atividade
produtiva, como instituição para garantir a compulsão ao trabalho (e
não por guerras etc), para uma indústria que demandava enorme
dispêndio de energia física e que operava em regiões tórridas e
úmidas, em clima exaustivo (TANEZINI, 1994, p. 112).

Tais características de produção se inserem em uma sociedade peculiar


colonial com características marcadas pela economia do açúcar, tipicamente
patriarcal (centrada no homem e a mulher sufocada em sua condição de sujeito e
tinham o papel engessado que se baseava em se casar e ter filhos), escravista
(adotou a mão de obra escravizada como elemento de lucro), estamental (a
posição social do indivíduo está de acordo com o seu nascimento, sem mobilidade
social), rural (desenvolvida no campo) e da relação entre senhores e escravos
(conflitos como a gênese dessa sociedade). Muitos dos desafios contemporâneos
estão assentados nesse quadro cultural.
A unidade econômica que se produzia a cana de açúcar era denominada
engenho que no plano local era vista como autossuficiente, entretanto, havia uma
profunda dependência das tecnologias oriundas da Europa. No engenho se tinha a
senzala, a casa grande, a utilização da força motriz da água ou de animais.
Conforme Tanezini (1994, p. 212)

O engenho colonial era compreendido de modo geral em dois


sentidos: a propriedade rural canavieira, sede da unidade de
transformação da cana em açúcar e a fábrica propriamente dita. O
engenho no seu sentido restrito constituía o coração da propriedade
rural à qual dava o nome e esta, por sua vez o coração da "plantation"
canavieira (TANEZINI, 1994, p. 212).

Nesse contexto, a produção ocorria no engenho constituído por casa grande,


senzala, capela e casa de engenho. Tal estrutura básica em que a casa grande era
a moradia do senhor de engenho e lugar de administração do engenho; a senzala
era o local de alojamento, uma espécie de prisão extremamente insalubre e precária
destinada aos escravos; a capela católica refletia a riqueza do engenho; a casa de
engenho onde se produzia o açúcar e era formada pela moenda (existiam as
movidas por força d´água e os que usavam força humana ou animal), caldeira (o
caldo de cana sob o processo de fervura), casa de purgar (retirar as impurezas) e
galpões (armazenagem em formato de pães/formas de açúcar).

37
A arquitetura materializava a lógica de discriminação social. Nas capelas, no
geral, se tinham os alpendres na frente onde muitos assistiam à missa fora da igreja
porque não eram batizados (catecúmenos, às vezes escravos). Assistir à missa dentro
da igreja era um privilégio de poucos.

Os senhores de engenho eram os pais absolutos, um administrador dos seus


bens, de sua mulher, dos seus filhos e dos escravos. A lógica dessas leis instituídas sob
seus auspícios se estruturava, basicamente, o primeiro filho ficava no engenho, o
segundo iria se formar em direito, o terceiro padre, o quarto médico e assim
sucessivamente.
O envio dos filhos para a Europa gerava incontáveis desconfortos porque
desconectava as nossas elites da realidade do país. As meninas eram preparadas
para casar por isso não aprendiam a ler e nem a escrever para não escrever carta
para namorado, além disso, viviam submissas aos maridos e aos filhos. Os casamentos
eram, no geral, com os parentes como uma forma de proteção do patrimônio das
terras e dos engenhos.
A aristocracia do açúcar tinha um horror ao trabalho braçal e, em muitos
casos, se emitia cédulas com valores variados que tinham caracterizava como uma
economia fechada e que gerava dependência à mercearia do senhor de engenho
que recebia tais cédulas.
Nos engenhos além dos escravos, indígenas no começo e africanos depois, os
escravos viviam nas senzalas sob o controle dos feitores. Além dos escravos haviam
os técnicos formados por mestre de açúcar, fazedor de aguardente, geralmente
portugueses e mestiços contratados na fazenda.
O trabalho nas regiões dos engenhos foi marcado pela herança da
escravidão que se manifesta na reprodução material e nunca no valor do ser
humano que trabalha. E o trabalhador descendente dos escravos se transformou em
morador dos engenhos em função da dependência do proprietário das terras que

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era dono de tudo e a sua dominação do tempo de trabalho do morador fez com
que a lógica escravocrata se ampliasse ou se renovasse em novos formatos.
A mulher não tinha direito de ter a fazenda em seu nome e em boa parte dos
casos as escravas eram abusadas pelos senhores e as esposas socialmente não
podiam se levantar contra a dominação masculina na época.
Acentua-se que a rede comercial relacionada à colônia compusera camadas
sociais que não se reduziam a senhores e escravos, mas também uma rede média
que integravam roceiros, caixeiros, produtores de alimentos, dentre outros, que
abasteciam as plantations.

Até hoje esse modelo de plantation nos permeia e nos fazem ter um legado
que colabora para sermos considerados grandes produtores de laranja, café, soja,
frango, linguiça, carne, dentre outros. E, conforme pontua Tanezini (1994, p.179):

A "plantation" causou a destruição da Mata Atlântica original, não por


causa do atraso do seu processo de produção agrícola, ao contrário,
pelo seu caráter moderno de possuir uma fábrica instalada no meio
rural. O período manufatureiro na Europa caracterizou-se justamente
pela instalação das indústrias no campo, junto às fontes de matéria
prima e de energia, tendo como consequência a destruição florestal.

Acrescenta-se que a produção de pecuária extensiva em que o gado é


criado solto no pasto, um gado leiteiro de mistura de raças, com localização principal
no sertão nordestino era utilizada no mercado interno para auxiliar na produção
canavieira. O gado brasileiro inicial servia para transporte, abastecimento de carne,
couro e leite nas fazendas de cana-de- açúcar. É uma pequena economia em face
da grande economia açucareira e não se estruturou com mão de obra escrava e o
pasto era socializado por criadores de gado e aqui está a origem do sertanejo ou
vaqueiro nordestino.
No que tange a mão de obra escrava utilizada nas plantations, registramos
que a escravidão africana, a partir de 1550 começam a chegar os primeiros navios

39
negreiros que eram vistos como tumbas navegantes, eram priorizadas porque
espécies parecidas com a cana que era produzida no Brasil já eram conhecidas por
eles. Os africanos por terem um maior conhecimento eram mais lucrativos e geravam
dinheiro para a Coroa com o tráfico negreiro.
Colocamos em relevo o fato de que não houve a passividade, nem pactos de
conciliação de classes, o que tivemos foi uma atuação abominável por parte dos
portugueses que trouxeram africanos de línguas e dialetos distintos com formações
mais plural possível nas fazendas.
A busca dos fazendeiros também passava pela tentativa de colocarem numa
mesma fazenda negros oriundos de etnias rivais. Essas estratégias buscavam evitar
revoltas, fugas resultantes de diálogos e uniões entre os negros.

2.2 ENTRADAS E BANDEIRAS

Como se percebe, no Brasil colonial a atuação de Portugal se deu inicialmente


de modo periférico e litorâneo, haja vista que a colonização visava levantar riquezas
para Portugal em uma política claramente voltada para o mercantilismo (COSTA;
FARIAS, 2009).

Assim, o litoral apresentava certas vantagens, estava mais próximo da


Europa, era, portanto, o acesso mais fácil à metrópole e ao comércio
europeu. O fator geográfico da proximidade era de extrema
importância em um período no qual a navegação era o único meio
usado para deslocar, a longa distância, pessoas e mercadorias entre
os espaços na escala do mundo. A proximidade relativa entre o litoral
da colônia com a metrópole portuguesa e com a Europa em geral,
evitava grandes dispêndios financeiros com os transportes das
mercadorias. É importante também lembrar para você que, além da
localização, o litoral apresentava outras vantagens geográficas, nele
se encontravam as condições edafoclimáticas (solos aluviais férteis e
clima quente e úmido) essenciais para a opção econômica que
Portugal escolheu para ocupar produtivamente o seu espaço colonial
no Novo Mundo – a cana-de-açúcar (COSTA; FARIAS, 2009, p. 01).

As expedições interioranas contribuíram para a expansão portuguesa na


América e para a sertanização do Brasil. É salutar ressaltar as contribuições da União
Ibérica que colaborou para a noção de litoraneidade e interiorização. Avançar para
o interior do Brasil era algo muito complicado em função do desconhecimento da
geografia brasileira e a presença de serras ao longo do litoral contribuiu para ampliar
os desafios dos portugueses nos séculos XVI e XVII.

40
Contudo, esse caráter litorâneo e periférico da territorialidade
portuguesa no Brasil colonial não deve ser considerado em absoluto.
Mesmo no século XVI e, fundamentalmente, nos séculos subseqüentes,
a ocupação colonial portuguesa, embora de forma rarefeita e
dispersa, estendeu-se para o interior, movida pelos deslocamentos das
entradas, das bandeiras e das missões. Esses deslocamentos para o
interior do espaço colonial tinham como objetivos: aprisionar os
indígenas para vendê-los como escravos, procurar os metais preciosos
e as drogas do sertão, estabelecer currais, para a prática da pecuária,
e roçados, para a agricultura acessória, fundar aldeias para
evangelizar os índios etc. (COSTA; FARIAS, 2009, p. 01).

O ponto mais ao interior durante o século XVI foi a Vila de São Paulo que se
localizava 65 quilômetros de São Vicente. No caso dos espanhóis, conseguiram
explorar o interior bem antes dos portugueses e isso viabilizou a exploração mais
precoce de metais preciosos.
Ressalta-se que por decreto do rei Dom João III a pecuária extensiva foi levada
para o interior e a sua execução era realizada por mão de obra livre. No sul do país,
as missões jesuíticas encamparam produções relevantes no que se refere a dimensão
agropastoril e o gado da região passou a ser chamado de missioneiro.
O Brasil na virada do século XVI para o XVII estava com suas atividades
econômicas concentradas na região nordeste em razão da pujança da produção
açucareira. A busca por outras atividades lucrativas foi materializada por meio da
atuação de expedições denominadas de entradas e bandeiras.

Nessa epopéia, entradistas, bandeirantes e missionários transpuseram


os limites territoriais portugueses na América e foram muito além dos
marcos definidos para eles pelo Tratado de Tordesilhas. Essa expansão
para além desse tratado obrigou a Portugal e a Espanha
renegociarem os limites das suas possessões coloniais na América do
Sul. Isso foi concretizado através da assinatura de novos tratados, a
exemplo do Tratado de Madri (1750) e do Tratado de Santo Ildefonso
(1777), que expandiram os domínios portugueses em detrimento dos
espanhóis no subcontinente sul-americano (COSTA; FARIAS, 2009, p.
01).

A palavra sertão tinha a conotação de região selvagem, distante das cidades


e também do litoral. Nesse sentido, o termo sertão é “[...] utilizado para designar as
regiões distantes da costa, é o Brasil interiorano. Não tem o mesmo significado que se
emprega no Nordeste do Brasil onde o termo Sertão refere-se a uma região natural
específica, o semi-árido nordestino” (COSTA; FARIAS, 2009, p. 4). Em linhas gerais,
compreendida como interior do país.
Com o propósito de explorar o interior do país foram promovidas expedições
pela administração portuguesa ou por iniciativas particulares. Oliveira (1998, p. 8) nos

41
esclarece que “Um dos desdobramentos do mito do sertão é o do bandeirante,
responsável pelo aumento do espaço territorial da colônia portuguesa nos séculos
XVII e XVIII”. Tendo em vista as entradas:

[...] Hélio Viana considera como entradas as que partiram das várias
capitanias do Brasil [colônia], com exceção de São Vicente, e, como
bandeiras, as que partiram desta capitania. Assim, poderíamos dizer
que as bandeiras foram paulistas, enquanto as entradas foram
maranhenses, pernambucanas, baianas, espírito-santenses e
fluminenses. Outros autores distinguem os dois movimentos,
considerando como entradas as expedições organizadas e dirigidas
pelo poder público, enquanto as bandeiras seriam as expedições
particulares (ANDRADE, 2003, p. 61).

Nesse sentido, é possível entender que as entradas eram originadas de


qualquer localidade no território pertencente ao rei de Portugal, enquanto as
bandeiras são designadas como as originárias da região da Vila de São Paulo de
Piratininga: exclusivamente paulistas.

Algumas expedições pernambucanas também devassaram o interior


do atual Nordeste visando aprisionar índios para escravizar. Entre essas
expedições consta a organizada no governo Duarte Coelho de
Albuquerque. Esse donatário, com o auxílio do padre do Ouro, reduziu
muitos indígenas à escravidão. Contudo, essas expedições
pernambucanas não obtiveram muito sucesso. As mais famosas
entradas tiveram como ponto de partida a Bahia, entre elas podemos
destacar: a de Antônio Dias Adorno, que explorou o norte de Minas; a
de Gabriel de Sousa, que explorou a Chapada Diamantina; e a de
Belchior Dias, que percorreu o sertão do São Francisco. Todas elas
buscavam encontrar os metais e as pedras preciosos. Outras entradas
partiram de Porto Seguro, promovidas pelos donatários do Espírito
Santos e do Rio de Janeiro. Essas não foram bem-sucedidas, ou seja,
não encontraram os metais e as pedras preciosos, limitando-se a trazer
alguns escravos índios para os entornos das suas capitanias (COSTA;
FARIAS, 2009, p. 04).

De acordo com Costa e Farias (2009), a atuação das entradas teve a sua
relevância garantida na consolidação do território brasileiro, haja vista que instituiu
propostas de ocupação territorial e fixação cada vez maior para o interior do Brasil.
Além disso, foi fundamental para a sustentação econômica do modelo de
exploração adotado por Portugal para sua colônia Brasil. As atividades ligadas à
atuação da plantation foram cruciais e as entradas tornaram viáveis essas atuações
de suporte produtivo. Também é pertinente assinalar que as entradas tiveram uma
importância geopolítica ímpar porque colaboraram para o domínio português em
face das constantes ameaças estrangeiras. No entanto, resultou ainda no quadro de
avanço para além dos limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas.

42
Os corpos de ordenanças, existentes em Portugal já no século XVI,
representaram um desdobramento da organização militar portuguesa
mais antiga, na qual existiam as bandeiras. Essas bandeiras medievais
constituíam-se como organizações militares espontâneas e
tumultuárias a que o Regimento das Ordenanças procurou disciplinar
ainda naquele século. No Brasil, foi através desse regimento que se
vulgarizou a definição de bandeira. As adaptações do instituto das
bandeiras por aqui não se fizeram esperar. Primeiramente, de
emprego defensivo e estático na metrópole, a bandeira passou a
exercer diversas outras funções. Seus comandantes eram, em geral,
também comandantes das milícias e ordenanças nomeados pelas
autoridades coloniais ou reinóis (FONSECA, 2017, p. 41).

As bandeiras ficaram conhecidas também como aquelas feitas pelos


bandeirantes paulistas. São expedições organizadas e financiadas por particulares
que adentravam o interior da colônia e buscavam lucros eram compostos por
brancos, mestiços e índios. Sendo que o líder da expedição era denominado
armador. Cabe ressaltar que o:

[...] caráter expansionista atribuído às bandeiras foi mais praticado nas


áreas periféricas aos centros políticos e econômicos coloniais. São
Paulo e Belém do Pará foram os núcleos irradiadores das ações que
vieram a romper com os limites de Tordesilhas. É por essa via de
entendimento que podemos considerar que a ação de indivíduos
como Raposo Tavares e Francisco de Melo Palheta,
assim como de Ricardo Franco de Almeida Serra, revestiam-
se do caráter militar, embora os dois primeiros não integrassem
o exército regular da época, como foi o caso do último
(FONSECA, 2017, p. 41)

Não respeitar o Tratado de Tordesilhas foi uma marca forte e importante para
a configuração do território brasileiro, pois “Sem a constituição de núcleos de
colonização portuguesa a oeste de Tordesilhas, não haveria consolidação da
expansão da fronteira que seria legitimada pelos tratados de limites” (FONSECA, 2017,
p. 47). Podemos fazer o registro de tipos distintos de bandeirismo. A seguir é
apresentado um breve panorama de cada um dos três tipos.

2.2.1 As bandeiras de apresamento

Captura de índios para vendê-los como escravos, com destaque para as


atuações de Manuel Preto e Raposo Tavares. Os indígenas eram comprados por um
valor inferior ao escravo africano. A rigor, a escravidão indígena não era legalizada
pela Coroa portuguesa, pois não se tratava da configuração de guerra justa que a
lei prescrevia, ou seja, quando o índio ataca primeiro.

43
Figura 14: Bandeiras de preação

Fonte: Disponível em https://bit.ly/2RcCXqt.


Acesso em: 26 mar. 2021
2.2.2 As bandeiras de prospecção

Atividade importante devido à procura de metais preciosos, com destaque


para Fernão Dias e Antônio Rodrigo de Arzão.

44
Figura 15: Bandeiras de prospecção

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3pcf2nB.


Acesso em: 26 mar. 2021

A busca de ouro e diamante deu origem a atividade lucrativa em Minas


Gerais.

2.2.3 Sertanismo de contrato

A serviço dos grandes latifundiários para combater índios e para capturar


escravos fugitivos, assim como para a destruição de quilombos, nesse sentido,
Domingos Jorge Velho (que não falava português, apenas tupi guarani) foi o mais
significativo com a destruição de Palmares. Os quilombos eram lugares de refúgio dos
fugitivos e a destruição desses espaços eram financiados pelos fazendeiros para
desestimular as fugas dos escravos. Em muitos casos contavam com o apoio do
governo. Eram, de fato, um bando armado que cometiam crimes no território
brasileiro.

45
Figura 16: A Guerra dos Palmares, Óleo de Manuel Vítor de 1955

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3i5Y7BH.


Acesso em: 26 mar. 2021

As monções são expedições fluviais paulistas sobretudo no rio Tietê que se


encontra no interior com o Rio Paraná. Era uma viagem que ligava São Paulo a
Cuiabá. Em razão das dificuldades de abastecimento na exploração de ouro, as
monções realizavam o transporte do comércio nas áreas de São Paulo, Mato Grosso
e Goiás. São expedições de comércio que estabeleciam a comunicação na região.

Figura 17: Principais bandeiras - séculos XVII e XVIII

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3yXQDqu.


Acesso em: 26 mar. 2021
O bandeirantismo trouxe consequências para a nossa história como o

46
alargamento da fronteira colonial, a descoberta do ouro, o desenvolvimento da
pecuária do sul, dentre outros aspectos. O propósito dessas expedições era
proporcionar a exploração das terras do interior do Brasil e assumiu a importância de
expandir o território e dominar novas áreas, inclusive serviram de pressão em face da
pressão que Portugal vinha sofrendo em razão da presença de espanhóis. Assevera-
se que:

[...] as fronteiras portuguesas na América do Sul foram expandidas a


partir de duas frentes de colonização: pioneiramente, a frente
amazônica e, após o início do Ciclo do Ouro, a frente paulista. Essas
frentes se encontraram no rio Madeira, fechando o périplo da
ocupação da fronteira oeste e ligaram uma região à outra com o
estabelecimento da rota das monções do Norte. Essas monções eram
expedições comerciais que, a partir da metade do século XVIII,
abasteciam exclusivamente o norte do Mato Grosso através de Belém.
O atribuir ao elemento paulista mérito de ter expandido nossa fronteira
oeste é fruto de verdade apenas parcial (FONSECA, 2017, p. 44).

Nesse sentido, as expedições sertanistas naturalistas consolidavam


informações sobre as terras do interior do país que em sua maioria, os relatos dessas
experiências vividas são marcados por visões eurocêntricas que buscavam civilizar
todos e tudo que viam pela ‘frente’
A Capitania de São Vicente era uma das mais pobres da colônia. No início da
colonização conseguiu prosperar, mas, de fato, as capitanias da Bahia e de
Pernambuco conseguiram prosperar. Com a União Ibérica se diminuiu a mão de obra
escrava e, dessa forma, se impulsiona ainda mais a captura de indígenas para viver
como escravos. Na época o poder e a população estavam concentrados no
Nordeste e a população do contexto colonial eram vistos como rebeldes e se
camuflavam em um pragmatismo e sonho exacerbado em que se buscava a mão
de obra, mas ao mesmo tempo tinham a perspectiva de encontrar a fonte de
minérios que funcionaria como a atividade redentora ou salvadora da condição de
capitania de segunda categoria na colônia.

As grandes bandeiras traziam os índios para São Paulo e ali ficavam, então, é

47
um mito a ideia de que os bandeirantes capturavam índios para abastecer
atividades no nordeste brasileiro como forma de compensar as dificuldades
momentâneas da escravidão negra. O universo cultural dos portugueses se
intercalou com os conhecimentos indígenas porque sem eles a dificuldade de
movimentação seria enorme. É um grande engano achar que a conquista no Brasil
se deu em função da superioridade europeia, haja vista que a dominação
portuguesa aconteceu sobretudo em razão de uma ocupação constituída por meio
de alianças que viabilizavam o entendimento das trilhas, das técnicas, dos animais e
dos locais de defesa mais estratégicos. Sendo assim, os indígenas e, de modo mais
expressivo, os protagonistas foram os mestiços ou mamelucos que foram os líderes
das expedições ou integraram como capitães juntamente com os índios.
Praticamente não haviam capitães portugueses.

A procura de riquezas pelos bandeirantes era o objetivo de fato, tanto é que


esses homens rudes não construíram livros de memórias que sinalizassem um sinal de
grandeza ou de curiosidade intelectual. A ideia era somente garantir a subsistência
e a grandiosidade estava distante da perspectiva daquele tempo. O tratamento
com os índios era de modo violento, escravizar o máximo possível, amarrar em fila
indiana, dizimar os que resistissem.
A destruição dos indígenas foi uma marca do período colonial que se
reconhece o papel devastador do bandeirismo, no entanto, em todo o país essa
dinâmica de domínio e dizimação dos indígenas se materializou em todo o território
brasileiro, independente da presença dos bandeirantes.
Reconhece-se que as caminhadas dos bandeirantes levaram a descoberta
de ouro e sustentaram o avanço territorial do Brasil para além da linha do Tratado de
Tordesilhas.

É bom lembrar que relatos contemporâneos ao movimento de


ocupação do território são muito poucos. Os séculos XVI e XVII são

48
marcados pelo tráfico de escravos, conquista de terras e apropriação
de seus produtos, havendo questionamento acerca da humanidade
ou não dos índios. Este período é marcado pela disputa entre paulistas
e jesuítas e a questão não era a "legitimidade do uso de mão-de-obra
indígena mas sim de quem deveria ter direitos sobre ela" (Abud, 1985,
p. 24). O século XVIII recoloca a questão das bandeiras, na medida
em que se discute e se fixa a posição das terras ocupadas por Portugal
desde o Tratado de Tordesilhas. A descrição de caminhos, de pontos
de referência e a localização de minas tinham como função preservar
caminhos e roteiros que pudessem assegurar a glória dos paulistas e
garantir aos portugueses o domínio da terra. Assim, as primeiras
descrições e narrativas acontecem simultaneamente ao
descobrimento e à exploração das minas disputadas por diferentes
populações. Os Tratados de Madri (1750), El Pardo (1761) e Santo
Ildefonso (1777) acabaram por consagrar os contornos territoriais do
Brasil, garantindo através do princípio do uti possidetis as terras que os
colonos portugueses ocuparam da Espanha em sua busca de índios
(OLIVEIRA, 1998, p. 09).

No começo do século XX ocorreu, em São Paulo, a mitificação dos


bandeirantes como heróis. Uma exaltação e monumentalização desses grupos por
meio de escritores, pintores, escultores e historiadores. Assim, se tornaram um símbolo
regional e isso pode ser verificado no cotidiano da capital e as bandeiras são
revividas em distintas produções como é o caso de esculturas que reconfiguraram o
bandeirante em uma figura imaginária que associou a imagem desses personagens
como a de mosqueteiros franceses usando capas, botas e chapéus.

As bandeiras e os bandeirantes estiveram também no centro da


polêmica de duas imagens conflitantes na construção da memória
histórica do país. De um lado, foram acusados de serem assassinos
cruéis, instrumentos selvagens da classe dominante. De outro, seriam
os verdadeiros construtores da nacionalidade pela bravura e
integridade de sua conduta. Esta versão que tem no movimento
bandeirante seu tema central por vezes se confunde com a história de
São Paulo no período colonial (OLIVEIRA, 1998, p. 08).

Ao entrar em São Paulo se pode ingressar pela rodovia Anhanguera, pela


Bandeirantes, pela Raposo Tavares ou pela Fernão Dias. Notem que o tempo todo se
reforça a ideia de reviver as bandeiras que se monumentalizaram na realidade diária
das pessoas.

49
FIXANDO O CONTEÚDO

1. (CEFET-PR) Alguns historiadores afirmam que as consequências do modelo de


colonização adotado pelos portugueses para a exploração do Brasil são ainda
muito perceptíveis (devastação do meio ambiente, exploração do trabalhador
rural, conflitos rurais etc.). Esse modelo é conhecido como plantation ou
plantagem, e suas principais características são:

a) Minifúndio, monocultura, mão de obra escrava.


b) Latifúndio, mão de obra assalariada, policultura.
c) Latifúndio, policultura, mão de obra escrava.
d) Latifúndio, mão de obra escrava, monocultura.
e) Latifúndio, trabalho assalariado, monocultura.

2. (UFPI) Acerca do processo histórico de apropriação do território brasileiro, a partir


das grandes monoculturas como cana-de-açúcar, café e soja, é correto afirmar
que elas:

a) Garantiram a preservação da biodiversidade.


b) Coibiram a exploração do trabalho pelo capital.
c) Favoreceram a predominância dos minifúndios.
d) Contribuíram para preservar o patrimônio natural.
e) Exigiram infraestrutura de transporte voltada à exportação.

3. (Unesp/2016) Os diários, as memórias e as crônicas de viagens escritas por


marinheiros, comerciantes, militares, missionários e exploradores, ao lado das
cartas náuticas, seriam as principais fontes de conhecimento e representação da
África dos séculos XV ao XVIII.
A barbárie dos costumes, o paganismo e a violência cotidiana foram atribuídos
aos africanos ao mesmo tempo em que se justificava a sua escravização no Novo
Mundo. A desumanização de suas práticas serviria como justificativa
compensatória para a coisificação dos negros e para o uso de sua força de
trabalho nas plantations da América.
Regina Claro. Olhar a África, 2012. Adaptado.

50
As “plantations da América”, citadas no texto, correspondem a

a) um esforço de coordenação da colonização ao redor do Atlântico, com a


aplicação de modelos econômicos idênticos nas colônias ibéricas da América e
da costa africana.
b) uma estratégia de valorização, na colonização da América e na África, das
atividades agrícolas baseadas em mão de obra escrava, com a consequente
eliminação de toda forma de artesanato e de comércio local.
c) um modelo de organização da produção agrícola caracterizado pelo predomínio
de grandes propriedades monocultoras, que utilizavam trabalho escravo e
destinavam a maior parte de sua produção ao mercado externo.
d) uma forma de organização da produção agrícola, implantada nas colônias
africanas a partir do sucesso da experiência de povoamento das colônias inglesas
na América do Norte.
e) uma política de utilização sistemática de mão de obra de origem africana na
pecuária, substituindo o trabalho dos indígenas, que não se adaptavam ao
sedentarismo e à escravidão.

4. (FGV-2003) Durante a época Moderna, o sistema de plantation:

a) Propagou-se pela Europa Ocidental e caracterizou-se pela pequena exploração


agrícola, pelo trabalho assalariado e pela produção em pequena escala de
gêneros alimentícios.
b) Disseminou-se pelo continente africano e caracterizava-se pela prática do
escambo entre os conquistadores europeus e as tribos nativas.
c) Instalou-se no continente americano e tinha como características o latifúndio, a
escravidão e a produção em larga escala de matérias-primas e gêneros tropicais.
d) Foi uma particularidade da América de colonização ibérica e caracterizava-se
pela grande propriedade agrícola, escravidão e produção de manufaturados.
e) Foi uma especificidade da América anglo-saxã e tinha como características a
pequena propriedade, o trabalho familiar e o desenvolvimento do mercado
interno colonial.
5. (CECIERJ) À época da colonização europeia na América, um sistema agrícola
amplamente utilizado era baseado na grande propriedade monocultora, com

51
produção de gêneros tropicais, voltada para a exportação. Esse sistema, na
atualidade, persiste em países como Brasil, Colômbia, Costa do Marfim, Índia e
Malásia, dentre outros. O sistema agrícola descrito acima refere-se à

a) Agricultura de subsistência.
b) Agricultura de jardinagem.
c) Plantation.
d) Agroecologia.
e) Agricultura de orgânicos

6. (Univali-SC) As expedições chamadas de Entradas e Bandeiras tinham como


objetivo a procura de riquezas minerais e/ou a caça ao índio para escravizá-lo e
vendê-lo no litoral. O papel histórico das Entradas e Bandeiras pode ser assim
resumido:

a) Determinaram a ocupação efetiva do interior do Brasil e deram ao nosso país sua


atual configuração geográfica.
b) Contribuíram para a implantação de uma nova política colonizadora,
aproximando índios e colonos.
c) Iniciaram aproveitamento verdadeiro das terras agrícolas do oeste mudando a
situação econômica da Colônia.
d) Por razões políticas e econômicas, contribuíram para a mudança da capital do
Vice-Reino do Rio de Janeiro para a Bahia.
e) Respeitaram o Meridiano de Tordesilhas, evitando, assim, conflitos armados entre
portugueses e espanhóis.

7. (UFU) A atividade bandeirante marcou a atuação dos habitantes da Capitania de


São Vicente entre os séculos XVI e XVIII. A esse respeito, assinale a alternativa
correta.

a) Buscando capturar o índio para utilizá-lo como mão de obra, ou para descobrir
minas de metais e pedras preciosas, o chamado bandeirismo apresador e o
prospector foram importantes para a ampliação dos limites geográficos do Brasil
colonial.

52
b) As bandeiras eram empresas organizadas e mantidas pela Metrópole, com o
objetivo de conquistar e povoar o interior da colônia, assim como garantir,
efetivamente, a posse e o domínio do território.
c) As chamadas bandeiras apresadoras tinham uma organização interna militarizada
e eram compostas exclusivamente por homens brancos, chefiados por uma
autoridade militar da Coroa.
d) O que explicou o impulso do bandeirismo do século XVII foi a assinatura do tratado
de fronteiras com a Espanha, que redefiniu a linha de Tordesilhas e abriu as regiões
de Mato Grosso até o Rio Grande do Sul, possibilitando a conquista e a exploração
portuguesa.
e) Derivado da bandeira de apresamento, o sertanismo de contrato era uma
empresa particular, organizada com o objetivo de pesquisar indícios de riquezas
minerais, especialmente nas regiões de Mato Grosso e Minas Gerais.

8. (UNESP) "Nossa milícia, Senhor, é diferente da regular que se observa em todo o


mundo. Primeiramente nossas tropas com que vamos à conquista do gentio bravo
desse vastíssimo sertão não é de gente matriculada no livro de Vossa Majestade,
nem obrigada por soldo, nem por pagamento de munição."
Carta de Domingos Jorge Velho ao rei de Portugal, em 1694.

De acordo com o autor da Carta, pode-se afirmar que:

a) Os bandeirantes possuíam tropas de mercenários, pagas pela metrópole, com o


objetivo de exterminar indígenas.
b) Havia proibição oficial de capturar índios para a escravização e os bandeirantes
pretendiam evitar ser punidos pelos colonos e pelos espanhóis.
c) Os exércitos portugueses, organizados na colônia, tinham a particularidade de
serem compostos por indígenas especializados em destruir quilombos.
d) Algumas tribos indígenas ameaçavam a segurança dos colonos e as bandeiras
eram tropas encarregadas de transportar os nativos para as reduções religiosas.
e) Muitas das bandeiras paulistas eram constituídas por exércitos particulares,
especializados em exterminar e capturar indígenas para serem escravizados.

53
ESTRATÉGIAS DE OCUPAÇÃO DO UNIDADE

03
TERRITÓRIO BRASILEIRO

3.1 A PECUÁRIA

É bom situar que no período colonial a produção de cana-de-açúcar era a


prioridade e o cultivo mais lucrativo do Brasil. Sendo assim, as terras mais produtivas
que se localizavam no litoral brasileiro se destinavam ao plantio da cana-de-açúcar.
Nesse cenário, a pecuária ocupava lugar secundário na economia colonial
servindo de recurso para o fornecimento de força motriz e carne para os engenhos
de açúcar. Com a presença de holandeses a atividade pastoril se expandiu para o
interior e o gado oferecia diversos recursos, inclusive o couro que era exportado.

Figura 18: Criação de gado

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3cbLCk9.


Acesso em: 29 mar. 2021

A rigor a pecuária é importante até os dias de hoje e possui lugar de destaque


na nossa agenda econômica. Na sua origem, o sertão nordestino criava o gado solto
em pastagens naturais no modelo de produção extensiva.

[...] dentre os fatores que levaram a introdução e expansão do gado


bovino no Nordeste, destacaram-se: a) relevo sem barreiras,
facilitando os deslocamentos do gado; b) abundância de pastagens
naturais; c) depósitos de sal-gema, importantes para a alimentação

54
do gado; d) disponibilidade de água do rio São Francisco; e)
exigência de reduzidos investimentos para a composição e custeio
dos rebanhos e; f) mercado consumidor garantido tanto para o couro
como para a carne, representado pelos engenhos (TEIXEIRA;
HESPANHOL, 2014, p. 28).

No litoral do Rio Grande do Norte, os franceses em suas atividades de escambo


associadas ao pau-brasil inseriram o gado na base econômica e na alimentação
local e, com a adaptação favorecida, esse gado se espalhou pela faixa litorânea.

De modo geral a pecuária no Brasil originou-se na primeira metade do


Século XVI e daí em diante desenvolveram-se de forma lenta,
inicialmente servindo apenas à economia da cana-de-açúcar. Sobre
a qualidade do rebanho brasileiro, o gado do período colonial teve
sua base de origem nas raças da península ibérica, principalmente as
trazidas de Cabo Verde, também colônia de Portugal, pelos capitães
donatários; nos animais existentes no vice-reinado do Peru que
chegavam até a colônia através do Paraguai; nos exemplares
deixados por franceses e holandeses durante suas incursões e domínio
do território brasileiro; e por fim houve a contribuição do gado da
Região platina que introduziu-se aqui por meio da colônia do
Sacramento (BEZERRA, 2005, p. 11).

O gado se desenvolveu conforme os cruzamentos e as características das


pastagens. No interior da colônia, cabe destaque a criação do gado mocho,
caracu, curraleiro, bruxo, pantaneiro e franqueiro (BEZERRA, 2005). Então, a pecuária
como relevante atividade secundária se desenvolveu em apoio à produção dos
engenhos, dado que fornecia alimentação à base de carne, transporte de lenha e
açúcar. Explicitamos o seu papel como força motriz tanto nos engenhos trapiches
como nos engenhos reais.

Figura 19: Engenho trapiche

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3wJy5YM.


Acesso em: 29 mar. 2021

55
Figura 20: Engenho real

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3i7Rb75.


Acesso em: 29 mar. 2021

A região conhecida como sertão possui o clima mais hostil à presença


humana do nordeste, o semiárido. As primeiras tentativas de
colonização da região partiram de Salvador e Olinda com a premissa
de buscar minas de metais preciosos e riquezas naturais no interior
baiano e pernambucano . Entretanto foi a atividade criadora de
insumos para o abastecimento da cultura canavieira que veio a
predominar no sertão, essa atividade foi a criação de animais de força
motriz, principalmente bois e cavalos, que eram vendidos para os
engenhos do litoral e da zona da mata (BARROS; SOUZA, 2008, p. 04).

Desse modo, a produção de açúcar era dependente da criação de gado.


Trata-se de uma economia de segundo plano em relação à grande lavoura de
açúcar, porém desempenhou importante papel na colonização e ocupação de
novos territórios (PRADO JÚNIOR, 1976).
Em razão do crescimento da procura pelos produtos associados ao gado, a

56
interiorização da pecuária se apresentou como fundamental. O desenvolvimento
dos rebanhos bovinos impulsionou conflitos com os produtores açucareiros, haja vista
que os animais invadiam as plantações de cana-de-açúcar e provocavam prejuízos
enormes que se agravavam pelo fato que as lavouras não possuíam cercas capazes
de conter os animais.

Figura 21: Diáspora bovina

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3fGhjUP.


Acesso em: 29 mar. 2021

Tais conflitos entre criadores e lavradores resultaram em medidas que visavam


retirar os currais de criação de gado de áreas próximas aos engenhos, aos canaviais
e outras plantações. Em 1701, por meio de carta régia, foi instituída a proibição da
criação de gado em distância inferior a 10 léguas da costa.

A criação de animais foi pressionada, deste modo e principalmente


pelo cultivo da cana-de-açúcar, grande produto de exportação da
colônia, para o interior e será nas regiões inóspitas dos sertões, sujeitas
a vários fatores desfavoráveis como a baixa pluviosidade e
irregularidade das chuvas, além da pobreza da cobertura vegetal,
que a pecuária irá se desenvolver a ponto de tornar-se fonte
fundamental de abastecimento para os pequenos povoamentos de
todo o sertão nordestino (BEZERRA, 2005, p. 13).

Sendo assim, a criação de gado foi responsável pela ocupação de parte


considerável dos sertões nordestinos nos séculos XVI e XVII.

57
Figura 22: Territorialização do capital em meados do século XVIII

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3ca67xv.


Acesso em: 21 mar. 2021

E saluta ressaltar que:

Ao analisar a expansão do território colonizado é importante denotar


o impacto que tal processo teve sobre aquele que já habitavam os
espaços englobados, no caso do sertão nordestino as áreas mais
férteis eram ocupadas por diversas tribos que foram massacradas,
escravizadas ou assimiladas aos povoamentos coloniais nascentes. Os
índios que habitavam as terras no sertão do Maranhão, Piauí, Ceará e
do oriente do Tocantins tiveram de adentrar cada vez mais no sertão,
sendo forçados a ficar com as terras menos férteis e mais vulneráveis
à seca quase permanente. À medida que os posseiros foram tomando
as terras, implantando o cultivo do gado, ampliaram-se as tensões
com os povos nativos, tensões essas que culminaram na Guerra dos
Bárbaros (1688 - 1713), eliminando vários povos. O confronto tomou tal
tamanho que atrairia a atenção dos bandeirantes, os quais foram de
significativa influência na derrota das tribos e na escravização dos
índios remanescentes (BARROS; SOUZA, 2008, p. 04).

Com essas iniciativas pecuárias o território passa a ser visto para além da ideia
da cana-de-açúcar e busca por metais preciosos lançando um novo olhar acerca

58
das possibilidades de uso das terras ressignificando a atuação do homem colonial na
produção de carne, leite e couro. Assinala-se que no século XVIII:

De fato, o vaqueiro, o peão, enfim o pecuarista, com o tropeiro,


substituíram o bandeirante como fator de expansão e unidade
nacional, abrindo caminhos, ligando centros produtores aos
consumidores, aproximando o sertão do litoral, transportando
mercadorias, levando notícias e correspondências, numa obra
gloriosa de fixação do colono ao solo e de progresso rural iniludível
(MEDEIROS NETO, 1970, p. 52).

A pecuária exerceu papel desbravador e povoador em distintas áreas do Brasil


colonial, com destaque para o Nordeste que se valeu das caatingas nas margens
dos principais rios e que serviu de sustentação para a consolidação da indústria da
carne seca e dos couros (GUERRA, 1984).

Figura 23: Disseminação de rebanhos bovinos para o interior do Brasil

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3wSe9D5.


Acesso em: 29 mar. 2021

Essa realidade se consolidou com o fato de que a “pecuária desenvolveu-se


significativamente, chegando a ocupar posição de destaque, inclusive com a
exportação de couro nos séculos XVIII e XIX” (TEIXEIRA; HESPANHOL, 2014, p. 29).

59
O gado ao se deslocar para outras áreas do território colonial provocou um
processo de expansão colonial por meio da geração de pequenos núcleos de
povoamento.

Na maioria dos casos, os proprietários das terras viviam nas cidades do


sertão, envolvidos em atividades comerciais, enquanto as fazendas
eram administradas por seus vaqueiros. Os fazendeiros proprietários
das terras tinham a função de, durante os períodos de chuva, fiscalizar
o trabalho dos vaqueiros e corrigir quaisquer irregularidades (BARROS;
SOUZA, 2008, p. 05)

Os tropeiros ao percorrerem muitos caminhos criados por eles faziam com que
marcassem seus locais de passagens, construção de taperas, caminhos de pedras,
além de se estabelecer relações amorosas com populações indígenas criando
núcleos familiares. A pecuária é mais que uma dimensão econômica, pois abarcou
a perspectiva cultural com o artesanato oriundo do couro como matéria prima para
a produção de artefatos e utensílios dos sertanejos, a culinária, dentre outros
aspectos.

Mesmo nessa sociedade afastada de vaqueiros e posseiros a


influência dos poderes governamentais tinha grande força para a
formação e estabelecimento das relações sociais de produção, não
é à toa que as principais atividades desenvolvidas na época era
subproduto da pecuária, tendo em vista que essa tinha uma função
complementar para com as regiões primário-exportadoras. Assim
criou-se um modelo de crescimento dependente, cujas atividades do
interior do nordeste seguiam as tendências dos proprietários das terras
(BARROS; SOUZA, 2008, p. 08).

A interiorização da ocupação de novas faixas do território colonial influenciou


de sobremaneira outros processos econômicos e sociais. Até metade do século XVII,
a pecuária juntamente com as entradas e bandeiras se destacaram como os
principais agentes da colonização da América portuguesa. Cabe registrar também
a catequese dos índios, as tropas de resgate, as atividades de prospecção mineral e
o apresamento indígena atuaram de modo a constituir a base da formação do
espaço territorial brasileiro no período colonial.
O crescimento para os sertões se afastando da região açucareira foi
fundamental para a criação dos personagens denominados tropeiros que se
vincularam posteriormente à atividade mineradora.

60
Figura 24: Tropeiros

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3cbxaIR.


Acesso em: 29 mar. 2021

Em razão da natureza da atividade pecuária se vigorou a utilização da mão


de obra de vaqueiro que inicialmente foi exercida por indígenas, negros libertos e
depois por mestiços. A região litorânea ficou restrita para agricultura de cana-de-
açúcar, algodão, tabaco (moeda de troca no comércio africano) ou agricultura de
subsistência.
As primeiras áreas de ocupação no Nordeste e na região amazônica têm as
suas histórias ligadas à criação de gado, haja vista que o gado seguiu o curso dos
rios e ao longo desses leitos se surgiram feiras, vilas, povoados, etc. A presença de
tropeiros trazendo produtos do litoral e viabilizando as trocas comerciais. As cidades
de Caruaru, Juazeiro, Teresina, Sobral são exemplos dessa atuação na região
Nordeste.

61
Os núcleos ocupacionais que surgem comportavam pequenos empórios,
tavernas, capelas, vilas, casas ou instalações de moradias de temporada,
conglomerados de feirantes, pessoas ligadas à salga e ao aproveitamento dos
subprodutos da pecuária, núcleos familiares, base de repouso e de descanso.

Figura 25: Rotas de tropeiros

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3vHJMzg.


Acesso em: 21 mar. 2021

As feiras são criadas estrategicamente ao longo das rotas para otimizar a


comercialização e assim se estabelece o deslocamento e assim empurrando a
fronteira da colonização portuguesa, bem como a linha do Tratado de Tordesilhas.
Os tropeiros passaram a ser um grupo importante com poder econômico porque
eram fundamentais para o abastecimento das cidades e operavam altos preços de
negociação se configurando como uma classe social com capacidade de
reposicionar o que se entendia como território português.

3.2 A MINERAÇÃO

A metrópole Portugal estava passando por graves problemas financeiros que


lhe colocavam em situação de desvantagem no cenário europeu em face das
demais potências daquele continente, com destaque para a Inglaterra e a Espanha.
A competição com o açúcar das Antilhas resultou em um descompasso enorme nas
finanças. Essa situação somada aos prejuízos acumulados com possessões na África
e no Oriente resultaram em uma intensa crise econômica que se arrastou por longos
anos.
Em virtude disso, a Coroa não poupou esforços para dinamizar as

62
possibilidades de encontrar ouro na colônia brasileira. Movimentos como as entradas
e as bandeiras compuseram essas iniciativas que ampliavam o território por meio do
adentramento no interior.
Na política econômica mercantilista de Portugal o metalismo ocupava lugar
de destaque em sua lógica econômica, haja vista que quanto mais metais preciosos
uma nação possuísse mais poderosa ela seria.
É pertinente ressaltar que a mineração também foi um importante processo
para a expansão territorial brasileira. Portugal desde o início da colonização tinha o
desejo de encontrar os metais preciosos, no entanto, somente no final do século XVII
foi possível encontrar esses metais.

A importância histórica do ouro, sintetizada no século XVIII por seu


papel destacado nas relações entre Colônia e Metrópole, vem desde
a última década do século XVII, quando centenas de jazidas
aluvionares do metal precioso foram descobertas nos córregos e
ribeirões das cercanias de Ouro Preto, Mariana, Sabará e Caeté,
provocando o primeiro grande rush minerador da história do Brasil
(SOUZA; REIS, 2006, p. 01).

Os bandeirantes pertencentes às bandeiras de prospecção foram os principais


responsáveis pela descoberta de jazidas de ouro. Encontraram ouro em Minas Gerais,
Mato Grosso e Goiás.

O sucesso em Minas Gerais novamente animou as buscas de minerais


em direção a outras regiões interioranas, e as conseqüentes
descobertas: em 1718, na Bahia (Jacobina e Rio de Contas); no
mesmo ano, em Mato Grosso (Rio Coxipó-Mirim); em 1719, em Goiás;
a partir de 1730, na região do Alto Amazonas (rios Madeira, Jamari,
Corumbiara e Parecis); o encontro dessas novas jazidas acabou por
expandir o território da América portuguesa até o sopé da cordilheira
andina. O clímax da mineração aurífera em terras brasileiras ocorreu
entre 1739 e 1779, com Minas Gerais liderando a produção, sempre.
As casas de fundição recebiam o ouro em pó, pesavam-no,
separavam o quinto para a Coroa e fundiam as porções
remanescentes em fornos, tentando eliminar as impurezas, moldando-
o em barras, as quais eram pesadas e registradas (FIGUEIRÔA, 2006, p.
14).

Com os prejuízos oriundos da União Ibérica que legaram dificuldades para os


portugueses. Além disso, a mineração que começou a se desenvolver no final do
século XVII coincidiu com o momento em que o preço do açúcar é reduzido em
função da expulsão dos holandeses que deram prioridade para a produção nas
Antilhas que proporcionava a redução dos custos em função da menor distância da
Europa e da melhor qualidade do refino e, consequentemente, ampliou a disputa

63
com as atividades açucareiras de Portugal.
Com a descoberta de ouro o Brasil se destacou na produção desse metal no
cenário internacional e a repercussão da descoberta gerou consequências como a
explosão demográfica ao longo das décadas que se seguiram.

Figura 26: As regiões mineradoras (1711-1798)

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3i9Bb4h.


Acesso em: 29 mar. 2021

As regiões mineradoras receberam contingentes volumosos de pessoas que


queriam mudar de condição financeira possibilitando grande obterem melhoria na
qualidade de vida. E, em algumas circunstâncias, esporádicas, ascensão social.

64
Figura 27: Economia colonial (século XVIII )

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3paYL25.


Acesso em: 26 mar. 2021

A mão-de-obra escrava que era destinada para o trabalho nas minas, em boa
parte, já possuíam conhecimentos e técnicas de mineração porque já as praticavam
na África e assim se alargava a exploração das jazidas auríferas.

Figura 28: Mão-de-obra africana na mineração

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3pcv5Sn.


Acesso em: 29 mar. 2021

Seguiram-se anos de escavações, ainda no Setecentos, e a corrida do


ouro teve profundo impacto na vida da colônia e da própria
metrópole, expandindo a região mineradora em todas as direções,
atraindo milhares de pessoas de todas as condições e cantos do país

65
e estimulando, inclusive, a emigração européia (SOUZA; REIS, 2006, p.
01).

Como não haviam estruturas para receber essas pessoas de vários lugares do
Brasil e portugueses que vieram de Portugal ampliando os problemas relacionados à
segurança, falta de alimentos, inflação, mudança da paisagem das regiões,
ampliação de queimadas, surgimento de vilas e cidades, conflitos nativistas, dentre
outros.

As jazidas exploradas no período colonial pertenciam a duas grandes


categorias: os depósitos de aluvião (leitos dos rios), onde o ouro é
encontrado em partículas soltas, junto com cascalho de quartzo, areia
e terra; e os filões, onde o metal precioso aparece em veios
disseminados em quartzo ou em outras rochas auríferas. Em ambos os
casos – depósitos de aluvião e filões – as explorações eram a céu
aberto, usando-se métodos semelhantes – serviços de rio, serviços de
tabuleiro e sistema de catas – e a mineração subterrânea era
raramente utilizada, por exigir tecnologia mais complexa. Somente
quando um filão não podia ser explorado a céu aberto, recorria-se a
perfuração de galerias no seio das montanhas (SOUZA; REIS, 2006, p.
02).

Destacamos que a Guerra dos Emboabas (1708-1709) foi marcante como o


conflito mais importante no início do século XVIII. Foi a disputa entre os bandeirantes
paulistas e os forasteiros pela exploração das minas de ouro. Conflito armado violento
em que os bandeirantes não concordavam com a ideia de que outros explorassem
as minas que haviam descoberto.

66
Figura 29: Áreas auríferas

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3uBWez3.


Acesso em: 26 mar. 2021

A atuação na mineração alterou fortemente o perfil estrutural, geográfico e


cultural do Brasil, confeccionando uma sociedade do ouro que foi irreversível para a
história do Brasil. No início do século XVIII, o preço de um boi nas regiões das minas
estava sendo operado em valores exorbitantes em relação aos demais locais do
país.
Havia a necessidade de integração de modo a promover o abastecimento
com base nas relações do mercado interno como forma de tornar possível o
desenvolvimento da autossuficiência que deu origem a ideias de construção de
independência em relação a Portugal.
Ressalta-se que o país não possuía uma infraestrutura mínima que desse conta
das demandas da mineração, então, esse contexto constituiu-se em ambiente
propício para a consolidação dos tropeiros que tinham a função de promover a
comercialização dos produtos que eram produzidos em outras áreas fora da
mineração.

67
A urbanização da economia do ouro era nômade, no entanto, as relações de
trabalho geravam uma diversificação social distinta da lógica da cana-de-açúcar.
Essa diversificação expressava as distintas possibilidades de atuação profissional e
formação de camadas sociais múltiplas que constituem o plano da garimpagem, da
faiscação, da retirada do ouro nas encostas, dentre outros aspectos.

Quanto à mão-de-obra, a maior parte empregada na mineração


parece ter sido composta por escravos. Segundo os autores citados,
apenas 3% dos mineradores eram livres. De fato, os escravos, símbolo
de status social, eram utilizados em qualquer atividade econômica
desenvolvida nos períodos colonial e imperial, desde aquelas tarefas
que exigiam exclusivamente força física até aquelas que
pressupunham conhecimentos e saberes trazidos da África ou
aprendidos no Brasil. Ao que parece, muitas técnicas, senão a maior
parte delas, usadas e indispensáveis nas várias etapas do processo
mineratório – extração, remoção e beneficiamento – foram trazidas
pelos escravos africanos, como bateia, canoas e carumbé. Cumpre
lembrar que o processo de fundição do minério aurífero e de ferro,
com utilização de fornalhas e foles, já era conhecido e usual no
continente africano, como na África Central, hoje Zimbábwe, antes
de 1501 Nas palavras de Davidson Basil este fato “revela a
capacidade inventiva dos Africanos, pois o princípio básico destas
fornalhas não diferia do dos fornos modernos” (SOUZA; REIS, 2006, p.
04).

A administração portuguesa na região mineradora foi intensificada com o


propósito de evitar guerras como a dos Emboabas. Foi criada a Intendência das
Minas (1702) que tinha como função realizar a distribuição de datas (parte das minas)
conforme critérios específicos, além disso cabia a fiscalização da região,
policiamento e a responsabilidade sobre as questões jurídicas das minas. Também a
Intendência tinha o objetivo de combater o contrabando e garantir a cobrança
adequada dos tributos e dos impostos.
No que se refere aos impostos, a carga tributária era imensa devido à pressão
exercida pela coroa de Portugal e o rei se valia da criatividade e da fiscalização para
reduzir a sonegação. O quinto era o repasse de 20% de tudo que fosse extraído de
ouro. A finta era uma cobrança por cidade mineradora que conforme a época

68
variava de 30 a 100 arrobas de ouro por ano (1751). A capitação (17 gramas por
escravo) era calculada conforme a quantidade de escravos que os mineradores
possuíam em idade superior a 12 anos. Uma forma de fiscalização era a derrama
(1763) se constituía na cobrança de impostos atrasados, cuja lógica era o
recolhimento de tudo que as pessoas tinham de valor como forma de receber os
impostos atrasados.
A mão de obra era escrava que foi manchada com forte violência sobretudo
em função das condições péssimas de trabalho no universo da região mineradora.
A exploração era até a exaustão, tanto que a expectativa de vida era a mais baixa
de toda a colônia (7 a 12 anos de trabalho).
Em 1720 foram criadas as casas de fundição que transformavam o ouro em
barras e recebiam o registro real, assim como era quintado. Fez parte das estratégias
da Coroa. em função da exploração do ouro, a mudança da capital brasileira para
o Rio de Janeiro (1763), haja vista que se posicionaria no fluxo Sul-Minas e era um
porto estratégico para a ida a Portugal. Assim a capital do Brasil foi transferida no
século XVIII também como meio de controle metropolitano em relação ao
contrabando do ouro e a sua movimentação no país.
No que se refere à produção de diamantes, em 1729, foram encontradas as
primeiras minas no Arraial do Tejugo (atual Diamantina-MG) e, em 1734, se instituiu o
Distrito Diamantino. A produção de diamantes foi extraordinária ao ponto que a
Coroa proibiu a extração de 1734 a 1737 para que assim não se esgotasse as reservas,
assim como para diminuir a oferta expressiva e conseguir regular o preço no mercado
internacional. Assinala-se que em 1771 a extração de diamantes ficou sob a
responsabilidade direta da Coroa em virtude da importância desse comércio para a
vida econômica portuguesa.

69
FIXANDO O CONTEÚDO

1. (UEL-PR) No Brasil colônia, a pecuária teve um papel decisivo na

a) ocupação das áreas litorâneas.


b) expulsão do assalariado do campo.
c) formação e exploração dos minifúndios.
d) fixação do escravo na agricultura.
e) expansão para o interior.

2. (Fuvest-SP) "Os que trazem [o gado] são brancos, mulatos e pretos, e também
índios, que com este trabalho procuram ter algum lucro. Guiam-se indo uns
adiante cantando, para serem seguidos pelo gado, e outros vêm atrás das reses,
tangendo-as, tendo o cuidado para que não saiam do caminho ou se
amontoem".
(ANTONIL, Cultura e opulência do Brasil, 1711)

O texto expressa uma atividade econômica característica

a) do sertão nordestino, dando origem a trabalhadores diferenciados do resto da


colônia.
b) das regiões canavieiras onde se utilizava mão de obra disponível da entressafra do
açúcar.
c) de todo o território da américa portuguesa, onde era fácil obter mão de obra
indígena e negra.
d) das regiões do nordeste, produtoras de charque, que empregavam mão de obra
assalariada.
e) do sul da colônia, visando abastecer de carne a região açucareira do nordeste.

3. (Fuvest) No Brasil colonial, a escravidão caracterizou-se essencialmente

a) por sua vinculação exclusiva ao sistema agrário exportador.


b) pelo incentivo da igreja e da coroa à escravidão de índios e negros.
c) por estar amplamente distribuída entre a população livre, constituindo a base
econômica da sociedade.

70
d) por destinar os trabalhos mais penosos aos negros e mais leves aos índios.
e) por impedir a emigração em massa de trabalhadores livres para o Brasil.

4. (Unisa-SP) O movimento das Bandeiras e a criação extensiva do gado, no período


colonial, contribuíram para o(a)

a) declínio da exploração de metais preciosos.


b) desenvolvimento da cana-de-açúcar.
c) ampliação territorial do Brasil.
d) manutenção do tratado de tordesilhas.
e) fixação do homem no litoral brasileiro.

5. (Fuvest-SP) Podemos afirmar sobre o período da mineração no Brasil que

a) atraídos pelo ouro, vieram para o Brasil aventureiros de toda espécie, que
inviabilizaram a mineração.
b) a exploração das minas de ouro só trouxe benefícios para Portugal.
c) a mineração deu origem a uma classe média urbana que teve papel decisivo na
independência do Brasil.
d) o ouro beneficiou apenas a Inglaterra, que financiou sua exploração.
e) a mineração contribuiu para interligar as várias regiões do Brasil e foi fator de
diferenciação da sociedade.

6. (PUC – SP) “Assim confabulam, os profetas, numa reunião fantástica, batida pelos
ares de Minas. Onde mais poderíamos conceber reunião igual, senão em terra
mineira, que é o paradoxo mesmo, tão mística que transforma em alfaias e púlpitos
e genuflexórios a febre grosseira do diamante, do ouro e das pedras de cor?”
ANDRADE, Carlos Drummond de. Colóquio das Estátuas. In: MELLO, S. Barroco mineiro. São Paulo: Brasiliense, 1985.

A origem desse traço contraditório que o poeta afirma caracterizar a sociedade


mineira remete a um contexto no qual houve

a) a reafirmação bilateral do Tratado de Tordesilhas entra Portugal e Espanha e o


crescimento da miscigenação racial no ambiente colonial.

71
b) o rebaixamento na política de distribuição de terras na colônia e a vigência de
uma concepção racionalista de planejamento das cidades.
c) a diversificação das atividades produtivas na colônia e a construção de um
conjunto artístico e arquitetônico que singularizou a principal região da mineração.
d) o deslocamento do eixo produtivo do nordeste para as regiões centrais da colônia
e o desenvolvimento de uma estética que procurava reproduzir as construções
românicas europeias.
e) a expansão do território colonial brasileiro e a introdução, em Minas, da arte
conhecida como gótica, especialmente na decoração dos interiores das igrejas.

7. (Fuvest) No século XVIII a produção do ouro provocou muitas transformações na


colônia. Entre elas podemos destacar

a) a urbanização da Amazônia, o início da produção do tabaco, a introdução do


trabalho livre com os imigrantes.
b) a introdução do tráfico africano, a integração do índio, a desarticulação das
relações com a Inglaterra.
c) a industrialização de São Paulo, a produção de café no Vale do Paraíba, a
expansão da criação de ovinos em Minas Gerais.
d) a preservação da população indígena, a decadência da produção algodoeira,
a introdução de operários europeus.
e) o aumento da produção de alimentos, a integração de novas áreas por meio da
pecuária e do comércio, a mudança do eixo econômico para o Sul.

8. (FUVEST) A exploração dos metais preciosos encontrados na América Portuguesa,


no final do século XVII, trouxe importantes consequências tanto para a colônia
quanto para a metrópole. Entre elas:

a) O intervencionismo regulador metropolitano na região das Minas, o


desaparecimento da produção açucareira do Nordeste e a instalação do Tribunal
da Inquisição na capitania.
b) A solução temporária de problemas financeiros em Portugal, alguma articulação
entre áreas distantes da colônia e o deslocamento de seu eixo administrativo para
o centro-sul.

72
c) A separação e autonomia da capitania das Minas Gerais, a concessão do
monopólio da extração dos metais aos paulistas e a proliferação da profissão de
ourives.
d) A proibição do ingresso de ordens religiosas em Minas Gerais, o enriquecimento
generalizado da população e o êxito no controle do contrabando.
e) O incentivo da Coroa à produção das artes, o afrouxamento do sistema de
arrecadação de impostos e a importação dos produtos para a subsistência
diretamente da metrópole.

73
CONFIGURAÇÕES TERRITORIAIS DO UNIDADE

04
IMPÉRIO E DA PRIMEIRA REPÚBLICA

4.1 AS ILHAS ECONÔMICAS E O COMÉRCIO EXTERIOR

A expansão territorial do Brasil decorre de sua importância para o mercado


mundial, na qual o extrativismo do pau-brasil era o único produto de valor na parte
litorânea, posteriormente, próxima à costa a plantation açucareira se destacou.
Assim como, o extrativismo amazônico, a pecuária e a mineração ampliaram o
espaço brasileiro no processo de interiorização.
Nesse sentido, para compreender as configurações territoriais no Brasil é
necessário apreender que o Estado era quem definia os lugares, ou seja, os
moldavam, tornando-os como espaços para todos que aqui abrigavam. O território
era concebido como um dos fundamentos e símbolo de sua identidade nacional.
Por isso, o povoamento, a ocupação econômica do território brasileiro e a ação do
Estado são marcados por estarem interligados aos processos e circunstâncias
socioculturais, econômicas e políticas.
Deve-se destacar que esses processos e circunstâncias foram marcadas por
inúmeros conflitos em vista da extensão geográfica, assim como das diversidades
socioculturais sobretudo enaltecidas pelas matrizes indígenas, portuguesas e
africanas. Em que ao chegar nas terras habitadas por povos indígenas,
posteriormente por africanos, os europeus impunham inclusive seus hábitos, crenças,
modos e comportamentos como forma de dominação das pessoas e apropriação
desse espaço.

74
Portanto, as potencialidades dos recursos naturais contidas no Brasil
impulsionaram o processo de ocupação e também o desenvolvimento de atividades
econômicas. Na qual, várias matérias-primas interessavam os estrangeiros, assim
como mobilizaram os investimentos das elites brasileiras, dentre elas se
destacam: madeira, ouro, diamantes, algodão, borracha, café, etc.
“Assim, é importante compreender que a existência de uma extensa base
territorial e de uma fronteira econômica a ser desbravada fez com que a destruição
ambiental constitui se um elemento central da própria lógica de ocupação [...]”
(FIGUEIREDO, 2016, p. 12). Por isso, o século XVIII é marcado por profundas
transformações socioespaciais, sobretudo em relação à política de interiorização, a
diversificação econômica e as várias alterações de fronteiras e tratados.

Figura 30: Economia Colonial no Brasil no século XVIII|

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3pd7JvH.


Acesso em: 04 mar. 2021

Nessa perspectiva, é importante ressaltar que a ocupação colonial do Brasil se


intensificou em vista da extensa base territorial e de fronteiras econômicas a serem
constituídas, ao passo que a destruição ambiental tornou-se elemento central.
Deixando suas marcas até a contemporaneidade, com degradação em várias
regiões do país e de maneiras descontínuas, na qual dependiam do poder de
negociação sobre nosso território tropical.
Além disso, a divisão político-administrativa do território brasileiro mesmo após

75
a independência se constituiu sobre o arcabouço econômico e social gerado no
período colonial (FIGUEIREDO, 2016). Em virtude disso, as províncias imperiais, bem
como os estados federados, herdaram uma divisão territorial extremamente
desigual.

Figura 31: Mapa das Províncias Imperiais no Brasil no século XIX (1840-1882)

Fonte: Disponível em https://bit.ly/2SLveQv.


Acesso em: 08 mar. 2021

Para tanto, ao direcionarmos nossa atenção para o processo de


independência no Brasil e sobretudo compreender como as configurações territoriais
foram demarcadas no espaço-tempo é preciso primeiramente relembrar que o
sistema colonial passava por um período muito conturbado tanto externamente
(sobretudo no continente europeu), quanto internamente (inclusive pelas lutas
separatistas ocorridas em Pernambuco e Rio Grande do Sul).
A tentativa constante em nomear heróis, é uma das características da história
oficial, o herdeiro da casa de Bragança no Brasil, na qual apresenta Dom Pedro I,
sendo filho do rei português Dom João VI, tornando-se uma grande referência para
o processo de independência no Brasil. Assinala-se que

Em 1822 as elites optaram por um regime monárquico, mas, uma vez


conquistada a Independência, competiram com o Imperador pelo

76
controle da nação, cuja liderança assumiram em 1831, quando
levaram D. Pedro I a abdicar. Nos anos que se seguiram, os grupos no
poder sofreram a oposição de liberais radicais que se insurgiram em
vários pontos do país (COSTA, 1977, p. 12).

E, em 1822, foi marcado pelo início do período imperial, que durou até o ano
de 1889. Para Costa (1977, p. 11):

[...] as elites brasileiras que tomaram o poder em 1822 compunham-se


de fazendeiros, comerciantes, e membros de sua clientela, ligados à
economia de importação e exportação e interessados na
manutenção das estruturas tradicionais de produção cuja base era o
sistema de trabalho escravo e a grande propriedade (COSTA, 1977, p.
11).

Período, considerado por muitos pesquisadores, marcado pela centralização


do poder administrativo, bem como político, embora, em 1824, foi outorgada a
primeira Constituição brasileira.

[...] Após a Independência, reafirmaram a tradição agrária da


economia brasileira; opuseram-se às débeis tentativas de alguns
grupos interessados em promover o desenvolvimento da indústria
nacional, e resistiram às pressões inglesas visando abolir o tráfico de
escravos (COSTA, 1977, p. 11).

No decorrer do primeiro e do segundo Império, o liberalismo ganharia


novas determinações, passando do liberalismo “heróico” da primeira
fase para um liberalismo “realista”. Assim como ocorreu na Europa,
liberalismo e democracia, inicialmente confundidos nas
reivindicações abstratas, dissociam-se na prática. Esse processo se dá
após a Independência, quando não mais se trata de destruir o pacto
colonial nem de se obter a emancipação política, objetivos já
conquistados, mas de organizar o país segundo os interesses dos
grupos que em nome do liberalismo disputam o poder ao Imperador
[...] (COSTA, 1977, p. 109-110).

O Brasil, conforme destacado anteriormente, após a independência


continuou sendo uma monarquia, isso demonstra o quanto as questões sociopolíticas

77
e econômicas são emblemáticas no país e principalmente como vivenciou contextos
diferentes dos demais países vizinhos que conquistaram o período republicano.

Quando ressaltamos sobre as questões emblemáticas estamos no referindo


sobretudo no aspecto da configuração territorial sem alteração em suas dimensões
durante o processo de aproveitamento das províncias imperiais em estados
federados, na qual em termos geopolíticos, no quesito federalismo não houve
transformações significativas em relação a passagem do centralismo imperial para o
republicano (FIGUEIREDO, 2016).

Figura 32: Estados brasileiros

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3uQ7SGZ.


Acesso em: 09 abr. 2021

Por esse viés, tanto a divisão política do território, quanto a manutenção da

78
exploração da mão de obra dos afrodescendentes foram mantidas no processo de
independência do Brasil possibilitando a integridade territorial e a formação do
Estado Nacional. Ao passo que as negociações/explorações econômicas dos países
estrangeiros propiciaram a consolidação de variadas identidades regionais no
interior da colônia, do Império, assim como da República brasileira.
Em síntese:

[...] nesse contexto, fatos marcantes de transferência do poder político


no período colonial, como a mudança da capital de Salvador para o
Rio de Janeiro e da sede do Império português, em 1808, para essa
cidade e, até mesmo, a independência ocorrida 14 anos depois, não
foram sufi cientes para criar, no domínio da economia, fluxos capazes
de articular o Território Nacional. A administração pública servia, assim,
para preservar e ampliar as fronteiras, manter o regime e a ordem,
assegurar a coleta de impostos e, com a ajuda da Igreja, unificar a
língua (FIGUEIREDO, 2016, p. 15).

A ocupação concentrava-se na faixa litorânea, nos anos do século XIX, cuja


base econômica se firmava na agrária de maneira espacialmente descontínua e
comandada pelo mercado externo, na qual exportava bens primários diferenciados
e necessários aos países. Essa característica obteve notoriedade até meados do
século XX, em virtude de ilhas de adensamento econômico isoladas e direcionadas
aos interesses externos.

4.2 CONSOLIDAÇÃO DAS FRONTEIRAS

As fronteiras territoriais foram se consolidando gradativamente, assim como as


fronteiras simbólicas ganharam ênfases, na qual as identidades e as diferenças
fizeram e fazem [re]pensarmos quem somos e onde estamos constantemente, ou
pelo menos gostaríamos que fosse problematizado. Segundo Silva (2014, p. 14) “[...]
A identidade é marcada pela diferença, mas parece que algumas diferenças - neste
caso entre grupos étnicos - são vistas como mais importantes que outras,
especialmente em lugares particulares e momentos particulares”. Além disso, “[...] o
corpo é um dos locais envolvidos no estabelecimento das fronteiras que definem
quem nós somos, servindo de fundamento para a identidade” (SILVA, 2015, p. 15).
Nessa perspectiva, o conceito de fronteira, por um lado, é entendida como
uma linha que divide, separa grupos, sociedades e domínios político-administrativos
permitindo a posse de um território que em muitas vezes se dá por disputas e lutas
armadas. Por outro lado,a fronteira pode ser compreendida como elemento de

79
aproximação, de integração entre sociedades propiciando contatos espontâneos e
naturais, responsáveis pelo surgimento de interesses sócio-econômicos e culturais
comuns (REICHEL; GUTFREIND, 1995).
Em complemento, é importante destacar a questão da formação de fronteiras
geopolíticas no espaço brasileiro, considerando a primeira abordagem de fronteira
como linha divisória entre territórios, tomamos como fio condutor as ocupações
territoriais. E em uma segunda abordagem, fronteira sendo compreendida como
uma “[...] zona promotora de aproximações e intercâmbios econômicos e sociais,
bem como de integração cultural entre as populações de diferentes territórios”
(REICHEL; GUTFREIND, 1995)(REICHEL; GUTFREIND, 1995, p. 4)
No Brasil:

Durante o século XIX, o crescimento da população, as migrações


internas e/ou internacionais, os melhoramentos nos meios de
transporte, a concentração populacional nos centros urbanos, o
desenvolvimento da indústria e a acumulação de capital - tudo
estimulou a incorporação da terra e do trabalho à economia
comercial e industrial. Consequentemente, houve uma expansão das
áreas cultivadas para fins comerciais e uma redução da agricultura
de subsistência. Nos lugares onde a tinha sido explorada apenas
parcialmente, a expansão do mercado provocou a intensificação do
uso da terra e do trabalho, resultando frequentemente na expulsão de
arrendatários e meeiros ou na expropriação das pequenas
propriedades e das terras comunitárias. Parte da população que
antigamente se dedicava à economia tradicional foi absorvida como
trabalhador assalariado nas fazendas comerciais. Outra parte migrou
para as cidades. Onde a terra virgem era disponível, houve uma
expansão das fronteiras e novas áreas passaram a ser utilizadas,
aumentando a demanda de trabalho agrícola. Esta necessidade foi
sentida mais intensamente em áreas onde a oferta de trabalho era
inelástica. Como resultado deste processo, os significados atribuídos à
propriedade da terra mudaram (COSTA, 1977, p. 127).

Além disso, a noção de economia de fronteiras pautada em uma ideia de que


a natureza ofereceria infinitos recursos, foi dominante desde as formas coloniais de
ocupação, na qual projetaram espaços geográficos diversificados a partir da
demanda do mercado mundial. Explorações, sempre no plural, fez parte do processo
de consolidação do território nacional.
O início da segunda metade do século XIX, mas especificamente em 1850, é
marcado no Brasil sobretudo pela assinatura e o cumprimento da lei Eusébio de
Queirós, proibindo o tráfico de escravos, em virtude das pressões inglesas e dos
diversos comerciantes e produtores de açúcar e cafe que começaram a ter seus
negócios prejudicados com a Inglaterra.

80
Outrossim, para regularizar as propriedades e conceito de terra, a Lei de Terras
também foi decretada no Brasil no ano de 1850, na qual proibia a aquisição de terras
públicas através de qualquer outro meio que não fosse a compra, colocando um fim
à aquisição por meio de ocupação ou doação da Coroa, que de acordo com Costa
(1977, p. 129) “No começo da colonização, a terra era vista como parte do
patrimônio pessoal do rei. A fim de adquirir um lote de terra, tinha-se que solicitar uma
doação pessoal [...]”. Aqui, é importante destacar que as terras a partir do século XIX,
tornou-se um patrimônio público, patrimônio da Nação, em que para adquiri-las
implicaria poder econômico e prestígio social.

A adoção dessa uma nova política de terras, resultou na expansão econômica


do país “[...] por ser a exportação de produtos tropicais para o mercado internacional
mais lucrativo da época da Independência, o sistema colonial de produção foi
mantido” (COSTA, 1977, p. 143). Embora, nem todos apoiavam essa proposta de
reforma da legislação da terra, ao mesmo tempo desses debates surgiram os partidos
políticos, na qual os conservadores em sua maioria apoiaram a Lei de Terras de 1850,
enquanto os liberais se opunham.
Numa economia cuja expansão estava ligada diretamente na disponibilidade
de terras, em que em áreas de baixa capacidade produtiva, influenciou o avanço
das fronteiras para o interior do país, assim, por exemplo, os rebanhos se tornaram
estratégias para ampliar gradativamente sua extensão setentrional na medida em
que avançavam, criavam novas vilas e fronteiras administrativas pelo país.
Portanto, para se compreender todo o contexto de consolidação das
fronteiras no Brasil é importante ter clareza que os rios foram promissores para o
processo de penetração do interior brasileiro pois se tornaram caminhos naturais para
a ocupação do território brasileiro em que muitas de suas margens permitiram a
formação tanto dos núcleos urbanos quanto das áreas agrícolas.

81
FIXANDO O CONTEÚDO

1. (Enem) Viam-se de cima as casas acavaladas umas pelas outras, formando ruas,
contornando praças. As chaminés principiavam a fumar, deslizavam as
carrocinhas multicores dos padeiros; as vacas de leite caminhavam como seu
passo vagaroso, parando à porta dos fregueses, tilintando o chocalho; os
quiosques vendiam café a homens de jaqueta e chapéu desabado; cruzavam-se
na rua os libertinos retardios com os operários que se levantavam para a
obrigação; ouvia-se o ruído estalado dos carros de água, o rodar monótono dos
bondes.
AZEVEDO, Aluísio de. "Casa de Pensão". São Paulo: Martins, 1973.

O trecho, retirado de romance escrito em 1884, descreve o cotidiano de uma


cidade, no seguinte contexto:

a) A convivência entre elementos de uma economia agrária e os de uma economia


industrial indicam o início da industrialização no Brasil, no século XIX.
b) Desde o século XVIII, a principal atividade da economia brasileira era industrial,
como se observa no cotidiano descrito.
c) Apesar de a industrialização ter-se iniciado no século XIX, ela continuou a ser uma
atividade pouco desenvolvida no Brasil.
d) Apesar da industrialização, muitos operários levantavam cedo, porque iam
diariamente para o campo desenvolver atividades rurais.
e) A vida urbana, caracterizada pelo cotidiano apresentado no texto, ignora a
industrialização existente na época.

2. (Cesgranrio) A figura de Irineu Evangelista de Souza, Barão e Visconde de Mauá,


simboliza as transformações da economia no século XIX, em razão da sua
atividade de

a) empresário envolvido em atividades capitalistas como bancos, indústrias e


estradas de ferro.
b) comerciante de escravos, representando, no rio de janeiro, os principais traficantes
internacionais.
c) representante dos principais importadores de produtos ingleses no Brasil.

82
d) parlamentar defensor das políticas protecionistas adotadas pelo império.
e) produtor de café no vale do paraíba fluminense.

3. (Fuvest-SP) “[...] a carne, o couro, o sebo, a graxa, além de pagaram nas


alfândegas do país o duplo dízimo de que nos propuseram aliviar-nos, exigia mais
15% em qualquer dos portos do Império. Imprudentes legisladores nos puseram
desde esse momento na linha dos povos estrangeiros, desnacionalizaram a nossa
Província e de fato a separaram da Comunidade Brasileira.”

Esse texto se refere

a) ao problema dos altos impostos que recaiam sobre produtos do Maranhão e que
ocasionaram a Balaiada.
b) aos fatores econômicos que motivaram a Revolução Farroupilha, iniciada durante
o Período Regencial.
c) às implicações econômicas do movimento de independência da Província
Cisplatina.
d) às dificuldades econômicas do Nordeste, que justificaram a eclosão da
Confederação do Equador.
e) aos problemas econômicos do Pará, que deram origem à Cabanagem.

4. (Fuvest-SP) A economia brasileira, durante o período monárquico, caracterizou-se


fundamentalmente

a) pelo princípio da diversificação da produção agrária e pelo incentivo ao setor de


serviços.
b) pelo estímulo à emigração italiana e espanhola e pelo fomento à incipiente
indústria.
c) pela regionalização econômica e pela revolução no sistema bancário nacional.
d) pela produção destinada ao mercado externo e pela busca de investimentos
internacionais.
e) pela convivência das mãos de obra escrava e imigrante e pelo controle do
“deficit” público.
5. (Simulado Tales dos Santos Pinto) A crise econômica vivenciada durante o Período

83
Regencial teve muito de sua origem em ações que ocorreram nas décadas de
1810 e de 1820, que foram:

a) A Confederação do Equador e a chegada da Família Real ao Brasil.


b) A urbanização do Rio de Janeiro e a Guerra da Cisplatina.
c) A utilização do cofre público para a volta de D. João VI a Portugal e os gastos de
D. Pedro I com o pagamento de empréstimos e das campanhas militares contra
as revoltas durante seu reinado.
d) O financiamento das primeiras lavouras de café e os investimentos no aumente da
produtividade do algodão, para competir no mercado externo.
e) A importação de maquinário para a incipiente indústria nacional e o pagamento
das dívidas decorrentes do processo de independência.

6. (Simulado Tales dos Santos Pinto) O Período Regencial foi marcado por uma
grande instabilidade política, decorrente, principalmente, da eclosão de rebeliões
contra o Governo Central em diversas províncias. No aspecto econômico, a
situação também não era estável. Os principais produtos de exportação nacional
sofreram forte concorrência no mercado externo, criando dificuldades para a
economia do Brasil.

Em relação aos problemas econômicos do período regencial, qual das afirmativas


abaixo apresenta uma relação incorreta entre um produto agrícola produzido no
Brasil e seus concorrentes no mercado externo.

a) O café, que concorria com o que era produzido na Colômbia.


b) O açúcar, que concorria com o açúcar de beterraba produzido na Europa.
c) O algodão, que concorria com o produzido no sul dos Estados Unidos.
d) O açúcar, que concorria com o produzido nas Antilhas.
e) A mandioca, que alterou a lógica produtiva na América Latina.

7. (Selecon - adaptado) O texto a seguir é um trecho da carta deixada por D. Pedro


I a seu filho, Pedro de Alcântara, quando da sua partida para a Europa em 1831:

84
“Meu querido filho e imperador… Deixar filhos, pátria e amigos, não pode haver
maior sacrifício; mas levar a honra ilibada, não pode haver maior glória. Lembre-
se sempre de seu pai, ame a sua e a minha pátria, siga os conselhos que lhe derem
aqueles que cuidarem de sua educação, e conte que o mundo o há de admirar…
Eu me retiro para a Europa… Adeus, meu amado filho, receba a bênção de seu
pai que se retira saudoso e sem mais esperanças de o ver. D. Pedro de Alcântara,
12 de abril de 1831”

Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil, coroado em 1822, D. Pedro I foi levado à


abdicação nove anos depois. Diversos fatores contribuíram para essa decisão do
imperador, dentre os quais se pode destacar:

a) A grave crise econômica causada pela superprodução do açúcar, que fez baixar
drasticamente seu preço no mercado externo, afetando diretamente a balança
comercial brasileira.
b) A pressão exercida pelo governo britânico, insatisfeito com as medidas absolutistas
do imperador, em nome da manutenção de uma monarquia constitucional que
se espelhasse no modelo liberal inglês.
c) A perda do apoio político de grande parte da elite política, formada por grandes
fazendeiros e comerciantes, insatisfeita com o autoritarismo de d. Pedro i,
evidenciado pela criação e utilização do poder moderador.
d) A grande pressão popular, através de manifestações violentas na corte, exigindo
do imperador a adoção do voto universal, o fim da escravidão e uma reforma
agrária radical.
e) Nenhuma das alternativas acima.

8. (UFPE) Na segunda metade do século XIX, o governo brasileiro realizou uma série
de iniciativas, no que diz respeito ao desenvolvimento urbano. Sobre esta questão,
assinale a alternativa correta.

a) Grandes empreendimentos fluviais surgiram, fundamentados na vasta rede


hidrográfica que o país possui - o Rio São Francisco e o Rio Araguaia, são exemplos
de navegabilidade sem dificuldades.
b) A navegação marítima, o transporte terrestre, incluindo as ferrovias, a iluminação

85
a gás e o abastecimento d'água foram algumas iniciativas que mudaram a face
das grandes cidades do país.
c) O desenvolvimento de uma malha ferroviária, não apenas para escoar a
produção agrícola, mas para ligar regiões, possibilitou o crescimento industrial em
regiões interioranas.
d) Construções de represas, aproveitando o potencial hidrográfico dos rios São
Francisco, Amazonas e Paraná para a produção de energia, facilitaram a
industrialização.
e) A política econômica protecionista, traduzida na Tarifa Alves Branco (1844),
possibilitou o aparecimento de indústrias, as quais determinaram a vinda de
imigrantes europeus, mudando a face das cidades.

86
POLÍTICAS TERRITORIAIS NO UNIDADE

05
SÉCULO XX

5.1 INTEGRAÇÃO NACIONAL

Iniciamos o século XX com muitas questões emblemáticas que intensificaram


as desigualdades socioeconômicas sobretudo entre o povo brasileiro. Dentre as
inúmeras inquietações temos o fato de em 1888, a assinatura da Lei Áurea, marcando
oficialmente a abolição da escravatura. Em 1889, o início do período republicano. E,
o contexto da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945) firmando acordos e desacordos entre as grandes potências econômicas
mundiais e deixando muitas marcas problemáticas nos países subdesenvolvidos e em
desenvolvimento.

Ao refletir sobre a questão da integração nacional é interessante pensar sobre


as porções do território ocupadas pelo homem que foram desigualmente alterando
de natureza e de composição, exigindo uma nova definição. Assim sendo, as noções
de espaço habitado como de terra habitada foram brutalmente reorganizando-se
depois da Revolução Industrial e especialmente após os anos de 1950 do século XX,

87
ou seja, após a Segunda Guerra Mundial.

Figura 33: Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3yUap67


Acesso em: 25 mar. 2021

Por que integrar é uma necessidade nacional, sobretudo no território


brasileiro? Essa indagação precisa ser amplamente discutida e aqui buscamos trazer
algumas possibilidades para reflexão, entre elas se destaca a questão das dualidades
construídas tanto no imaginário quanto geograficamente em relação entre
nação/região e campo/cidade. No que se refere à dualidade nação/região, à
distribuição desigual de bens entre as regiões e os componentes da população
brasileira foram e ainda são grandes desafios e necessitam de políticas públicas para
serem amenizadas no quesito acesso à educação, à saúde, à moradia, à transporte,
aos bens culturais, aos direitos de cidadania e à representação política.

88
Integrar um país marcado por culturas tão singularidades não foi e não é ainda
uma proposta real, apenas um ideal extremamente necessário, mas emblemático
quando o assunto perpassa a identidade e a diferença. A ideia de litoral e sertão se
fez muito presente para se pensar esse processo de integração nacional, em que no
Brasil aspirava principalmente nos discursos a teoria de modernização do país. Nísia
Lima (2013, p. 21-22) ressalta que foi (re)construído um imaginário social e político
sobre o conceito de sertão, segundo a socióloga:

[...] De acordo com uma das vertentes, indicaria terras despovoadas


do interior e seria, uma corruptela de desertão, tal como enuncia
Antenor Nascentes no Dicionário etimológico da língua portuguesa
(1955). Janaína Amado corroborando a origem lusitana do termo
acrescenta mais duas possibilidades, a do latim sertanum indicativo
de trançado, emaranhado que metonimicamente viria a indicar
mata, vegetação densa, e desertanum, lugar desconhecido para
onde teria ido o desertor (desertum) (Ama do, 1995a) [...]. No Brasil
Colônia era palavra de uso corrente, encontrando-se nos alvarás, nas
doações, nas câmaras e nas praças públicas constantes referências a
“homens do sertão” e a “ drogas do sertão”.

Nesse sentido, esse sertão pode ser interpretado como os indígenas, o ouro, a
sesmaria e a aventura (LIMA, 2013). Esse imaginário foi elaborado pelos viajantes,
missionários e cronistas que passaram pelo território brasileiro desde o período do
Brasil colônia em que “[...] a região colonial representaria o espaço preenchido pelo
colonizador, como sua antítese encontra-se o sertão” (LIMA, 2013, p. 22).

E foi nas primeiras três décadas do século XX, que os temas sertão,
povoamento, civilização, nacionalidade e ciência ganharam notoriedade nas
discussões políticas, culturais e socioeconômicas da classe dominante no Brasil. Ao
passo que em muitas perspectivas opunha à civilização do litoral, a ‘barbárie’ do
sertão em que enaltece a ideia de que “[...] civilizar, então, significava, antes de mais
nada, estender o raio de ação da autoridade, significava generalizar o princípio da

89
ordem” (LIMA, 2013, p. 23). Contexto esse que foi marcado por várias revoltas durante
o período regencial.
Mas foi no pós-1930 que esse processo de construção material e territorial da
nação que encontrou momentos importantes, pois, foi nesse período que a Comissão
Rondon sobretudo nas viagens científicas do instituto Oswaldo Cruz, que novas
‘imagens’ dos sertões foram atualizados, ou seja, associaram à doença e ao
abandono pelo Estado.

Além disso, essas novas evidências para defender o argumento sobre o


movimento sanitarista contribuíram para a revisão de afirmações sobre a
inferioridade racial dos brasileiros. Entretanto, mesmo essa campanha pelo
saneamento rural ter auxiliado para “[...] a superação de determinismos raciais, não
implicou maior empatia frente aos setores populares, a esses habitantes do grande
sertão chamado Brasil, e mesmo a superação da ambivalência quanto à questão
racial” (LIMA, 2013, p. 27) .

E foi nesse contexto que o processo de urbanização acentuou-se neste século

90
XX, principalmente nos países subdesenvolvidos, pautados numa perspectiva que os
Estados-nação deviam ser culturalmente homogêneos. Promovendo uma

[...] ideia de uma nação monoétnica, culturalmente homogênea, é


invocada, a maior parte das vezes, para encobrir o fatos desses
Estados merecerem, em rigor, ser tidos como etnocráticos, na medida
em que apenas um grupo étnico majoritário ou dominante impõe a
sua própria visão da nacionalidade aos outros componentes da
sociedade (DELORS, 1996, p. 247)

É importante destacar que os grupos étnicos que não se “conformem” com


essa proposta do modelo dominante são tratados como minorias inclusive no plano
sociológico e político do país. Além disso, deu origem à marginalização e em muitos
conceitos ao desaparecimento, “[...] de muitos grupos étnicos diferentes cuja cultura,
religião, língua, crenças ou modo de vida não estavam em conformidade com o
pretenso ideal nacional” (DELORS, 1996, p. 248).

Eis a indagação: como integrar a diversidade no Brasil? A resposta não é


simples, mas é preciso ir além da tolerância em relação ao outro, a vivência do outro.
Para isso, é necessário a consciência de respeito e sobretudo superarmos a dicotomia

91
entre litoral e interior que valoriza negativamente os sertões, “[...] visto como espaço
da barbárie ou do atraso cultural, as que os idealizaram como lugar em que se
desenvolveria a autêntica nacionalidade, e as ambivalências em torno dessa
representação geográfico/social” (LIMA, 2013, p. 50).

Segundo Lima (2013, p. 62):

O caráter conservador, de resistência à mudança, historicamente


atribuído ao termo sertão, pode adquirir conotação negativa ou
positiva, aproximando-se de antinomias clássicas das sociedades
ocidentais: civilização e barbárie; culturas de folk e civilização
ocidental; tradição e modernidade; cultural e civilização.

Em complemento, é preciso evidenciar a cidade de Brasília que foi fundada


em 21 de abril de 1960, localizada na região central do Brasil, no sertão, sendo
considerada o marco da concretização de um objetivo desde o período colonial de
levar a capital do país para um lugar que pudesse integrar as diversas culturas
brasileiras. Longe do mar, possibilitaria ser melhor protegida.
Essa região central, representa bem a ideia de sertão avesso ao moderno, por
isso a necessidade de ocupar, logo integrar aqueles e aquelas que estavam distantes
do litoral. E em muitos casos, desintegrar aqueles e aquelas que não aceitassem, aqui
nos referimos às populações indígenas que poucos ainda resistem a sobreviver no
meio dessas contradições.

92
Figura 34: Marco Zero e Esplanada dos Ministérios em 30/09/1958

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3vNHNt6.


Acesso em: 25 mar. 2021

Nesse contexto, também é importante refletir sobre a Caravana de Integração


Nacional promovida por Juscelino Kubitschek que buscou movimentar a fabricação
de automóveis brasileira, em que à capital Brasília, recebeu várias pessoas vindas de
diferentes partes do país com o intuito de apresentar a nova malha rodoviária.
Projetada pelo urbanista Lúcio Costa e o arquiteto Oscar Niemeyer, é
construída por diversas mãos trabalhadoras advindas em especial do Nordeste e de
Minas Gerais que chegaram na região central em busca da sonhada vida digna. Eles
ficaram conhecidos como candangos.

93
Figura 35: Caravana da Integração Nacional saindo do Rio de Janeiro rumo a Brasília em
janeiro de 1960

Fonte: Disponível em https://bit.ly/34DdsSn.


Acesso em: 25 mar. 2021

Esse encontro de perspectivas e culturas nos faz pensar sobre esse Brasil real
que é marcado por um intenso (des)encontros de hábitos, saberes, comportamentos,
ações inclusive crenças. Em virtude de sua construção fez surgir pequenos
acampamentos ao redor do Plano Piloto para abrigar os trabalhadores que vieram
para construir a nova capital. Portanto, a construção de Brasília, a capital modernista,
foi construída no sertão brasileiro.

5.2 UNIDADE TERRITORIAL

Refletir sobre a unidade territorial no Brasil remete destacar as questões


socioculturais, políticas e econômicas que demarcam esse lugar no contexto global.
Os debates brasileiros acerca do território tem como princípio a unidade territorial
herdada do imaginário constituído no Brasil império. A seguir apresentamos o
enquadramento do Brasil no que se refere a sua localização e distâncias no
continente americano.

94
Figura 36: Enquadramento do Brasil

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3igh0BR.


Acesso em: 25 mar. 2021

O desenho atual do território brasileiro é resultante da expansão territorial


proporcionada pelo movimento bandeirante, construções de fortificações (Forte do
Presépio no Pará, Forte de São José de Macapá no Amapá, Forte de São Gabriel da
Cachoeira no Amazonas, Forte Príncipe Real da Beira em Rondônia, dentre outros),
acordos e tratados que envolveram a disputa entre Portugal e Espanha pela posse
de territórios (com destaque para o Tratado de Tordesilhas de 1494 e Tratado de
Madri de 1750 que se baseou no uti possidetis ancorando-se na domínio pela posse),
arbitramento internacional (Barão do Rio Branco negociou disputas territoriais,
deixando na história o legado da compra do território do Acre junto à Bolívia),
conflitos com o Paraguai e a questão Cisplatina, atuação do IHGB na construção da
identidade nacional, formação de fronteiras no período imperial, dentre outros
processos que envolvem a constituição do que denominamos de Brasil.

95
Figura 37: A ocupação do território brasileiro

Fonte: Disponível em https://bit.ly/34GozKc.


Acesso em: 20 mar. 2021

É importante ressaltar que as histórias geopolítica e geoeconômica se


entrelaçam em sua formação territorial em vista da própria continentalidade e
diversidade regional. As identidades locais e regionais foram e são reafirmadas
cotidianamente dentro do território brasileiro.

96
Figura 38: Evolução da divisão regional do Brasil

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3wRjo6d.


Acesso em: 20 mar. 2021

A classificação do Brasil em cinco regiões oficiais pelo IBGE (norte, nordeste,


centro-oeste, sudeste e sul) é utilizada para fins político-administrativos e de
planejamento das políticas culturais, econômicas e sociais do país. Essa realidade
não suplanta o movimento interno que busca acomodar os interesses das atuais
unidades federativas e dar vazão, dentro dos marcos constitucionais, aos interesses
e propostas que circulam na sociedade e no Congresso Nacional (CIGOLINI;
NOGUEIRA, 2012).

97
Figura 39: Propostas de novas unidades federativas

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3g7996U.


Acesso em: 20 mar. 2021

Sustentado na ideia de unidade territorial, o Brasil no século XX se estabelece


como uma república e assume a estrutura de estado federativo. Nesse processo os
estados assumem autonomia política podendo realizar eleições e dotados de
constituições estaduais. Em função dos movimentos políticos e alterações de poder,
o modelo federativo ao longo do século XX passou por adequações e restrições de
autonomia em função das oscilações do modelo federativo.

Territórios federais como são os casos do Acre, procedente da Bolívia, e outras


áreas adquiridas durante a II Guerra Mundial foram elevados a condição de estados
federados. Assinala-se também que Pernambuco incorporou a ilha de Fernando de
Noronha ao seu território. Essa ilha possui grande importância estratégica para a
defesa do país, como são os casos de Penedos de São Pedro e São Paulo, Atol das

98
Rocas e Ilhas de Trindade e Martin Vaz localizadas no mar territorial brasileiro.

Figura 40: Mar territorial brasileiro

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3fFeu6y.


Acesso em: 20 mar. 2021

Cabe destacar a mudança da capital brasileira que era no Rio de Janeiro


para Brasília no ano de 1960, com localização no território do estado de Goiás. A
antiga capital que ficou denominada de estado da Guanabara foi incorporada ao
estado do Rio de Janeiro, no ano de 1974. Outro processo relevante nesse tocante
da unidade territorial foi a bipartição do estado do Mato Grosso dando origem ao
Mato Grosso do Sul, assim como a bipartição do estado de Goiás surgindo o estado
de Tocantins pertencente a região norte.

99
Figura 41: Divisão dos estados brasileiros

Fonte: Disponível em https://bit.ly/2SQ8jDE.


Acesso em: 20 mar. 2021

Acerca da ocupação do território brasileiro é salutar assinalar que tal


ocupação acontece em função de migrações, bem como em função de alterações
na área tecnológica, no campo da cultura e nas relações de poder. A apropriação
do espaço acontece em meio a conflitos territoriais do grupo que pretende ocupar
e o grupo que está exercendo o seu poder em uma determinada localidade. Como
prova dessa realidade, podemos apontar que todo o território brasileiro na época do
início da colonização já era ocupado por povos indígenas.

100
FIXANDO O CONTEÚDO

1. (Simulado Rodolfo Pena) A partir da década de 1990, a economia do Brasil


conheceu a intensificação ou consolidação do Neoliberalismo, de forma que um
de seus principais efeitos, no que diz respeito à oferta de empregos, foi

a) o aumento da força sindical.


b) a terceirização dos serviços.
c) a diminuição do “exército de reserva”.
d) a elevação da oferta de trabalho.
e) o decréscimo do número de horas médias trabalhadas.

2. (Simulado Rodolfo Pena) “É comum dividir os produtos agrícolas brasileiros em duas


categorias: as ‘culturas de pobre’, nas quais se incluem o feijão, o milho, a
mandioca e boa parte da produção do arroz; e as ‘culturas de rico’, como são
conhecidas as plantações de cana-de-açúcar, café, soja, algodão, trigo, etc.”
VESENTINI, J. W. Geografia: o mundo em transição. São Paulo: Editora Ática, 2012. p.595.

Sobre as duas categorias apresentadas no texto, assinale a alternativa correta.

a) A “cultura do pobre” pode ser considerada como a principal atividade agrícola


na economia do Brasil, em virtude de esse ser um país emergente.
b) A “cultura do rico” é um fenômeno recente na economia agrícola brasileira.
c) A relação entre as culturas do rico e do pobre no espaço agrário brasileiro sempre
estiveram em equilíbrio em termos de apropriação do espaço geográfico.
d) A “cultura do rico” envolve, geralmente, gêneros para a exportação e
abastecimento industrial, enquanto a “cultura do pobre” envolve, em maior parte,
produtos para consumo interno.
e) A “cultura do rico” recebe esse nome por ser conduzida por grandes cooperativas,
enquanto a “cultura do pobre” é conduzida, geralmente, por empresários
individuais.

3. (UFPA) As regiões brasileiras exercem diferentes papéis no que diz respeito à


“divisão inter-regional do trabalho”, ressaltando-se que

101
a) a Região Sudeste, coordenando o mercado nacional, caracteriza-se por ser
exportadora unicamente de produtos provenientes do setor primário.
b) a Região Sul desempenha um papel eminentemente industrial como fornecedora
de produtos do setor secundário.
c) a Região Norte caracteriza-se pela exportação de matérias-primas de origem
diversa, com destaque para os minérios.
d) A Região Nordeste, mesmo com seus problemas endêmicos, consegue ser
fornecedora de alimentos para a força de trabalho de outras regiões.
e) A Região Centro-Oeste caracteriza-se principalmente pela exportação de
produtos agrícolas com destaque para o cacau e o fumo.

4. (Simulado Rodolfo Pena) O processo de Globalização consolidou-se no Brasil a


partir da década de 1990, tendo como principais características as questões a
seguir, exceto:

a) Expansão do sistema econômico neoliberal.


b) Frente de ampla abertura comercial para o mercado externo.
c) Flexibilização das frentes de trabalho.
d) Transferência de patrimônio privado para o poder público.
e) Imigração de empresas multinacionais.

5. (Cesgranrio) A década de 90 do século XX será lembrada na história da economia


brasileira como o período em que o Brasil entrou para a era da globalização, ao
mesmo tempo em que se desmontaram as bases do modelo de substituição das
importações, adotado desde a última década do século XIX.

Sobre o processo mencionado, pode-se afirmar que:

I. A estruturação de um novo modelo desenvolvimentista no Brasil permitiu o


aparecimento de um ritmo de crescimento econômico classificado como um dos
mais elevados do mundo.
II. Para atingir as suas metas, o governo brasileiro implementou a estabilidade
econômica, com a redução dos altos juros inflacionários que prevaleciam antes
da adoção do Plano Real.

102
III. A redução dos gastos públicos e a diminuição do papel do Estado na economia
levaram a cortes nos investimentos em infraestrutura, piorando a oferta de serviços
públicos.
IV. A paridade cambial que marcou esse período resultou em uma aceleração do
consumo e, em consequência, no aumento da oferta de emprego e na elevação
da qualidade de vida da população.

Estão corretas as afirmativas

a) I e II, apenas.
b) I e III, apenas.
c) II e III, apenas.
d) II e IV, apenas.
e) III e IV, apenas.

6. (Simulado Juliana Bezerra) Trata-se da segunda região com o menor número de


estados, onde predomina o cultivo da soja, milho, arroz e cana-de-açúcar.
Igualmente sua diversidade cultural é imensa com festas típicas, como as
"Cavalhadas" que mobilizam a população.

Assinale a alternativa que corresponda à região do Brasil descrita no texto.

a) Região Norte.
b) Região Nordeste.
c) Região Centro-Oeste.
d) Região Sudeste.
e) Região Sul.

7. (Enem) Os maiores consumidores da infraestrutura logística para exportação no


Brasil são os produtos a granel, dentre os quais se destacam o minério de ferro,
petróleo e seus derivados e a soja, que, por possuírem baixo valor agregado, e por
serem movimentados em grande volume, necessitam de uma estrutura de grande
porte e baixos custos. No caso da soja, a infraestrutura deixa muito a desejar,
resultando em enormes filas de navios, caminhões e trens, que, por ficarem grande

103
parte do tempo ocioso nas filas, têm seu custo majorado, onerando fortemente o
exportador, afetando sua margem de lucro e ameaçando nossa competitividade
internacional.
FLEURY, P. F. A infraestrutura e os desafios logísticos das exportações brasileiras. Rio de Janeiro: CEL; Coppead; UFRJ, 2005
(adaptado).

No contexto do início do século XXI, uma ação para solucionar os problemas


logísticos da soja apresentados no texto seria a

a) isenção de impostos de transportes.


b) construção de terminais atracadouros.
c) diversificação dos parceiros comerciais.
d) contratação de trabalhadores portuários.
e) intensificação do policiamento nas rodovias.

8. (Enem) O processo de concentração urbana no Brasil em determinados locais


teve momentos de maior intensidade e, ao que tudo indica, atualmente passa por
uma desaceleração no ritmo de crescimento populacional nos grandes centros
urbanos.
BAENINGER, R. Cidades e metrópoles: a desaceleração no crescimento populacional e novos arranjos regionais. Disponível em:
https://bit.ly/3pphes9. Acesso em: 12 dez. 2012 (adaptado).

Uma causa para o processo socioespacial mencionado no texto é o(a)

a) carência de matérias-primas.
b) degradação da rede rodoviária.
c) aumento do crescimento vegetativo.
d) centralização do poder político.
e) realocação da atividade industrial.

104
TERRITÓRIO BRASILEIRO NO UNIDADE

06
SÉCULO XXI

6.1 DIVERSIDADE SOCIOESPACIAL

Enfim, século XXI, abordar um período que vive requer ainda mais atenção nas
reflexões críticas e reflexivas pois constantemente se configura a maneira de olhar,
escutar, analisar e sintetizar os fatos ocorridos. Mas, já é possível se desenvolver
percepções, principalmente pelos avanços do neoliberalismo articulado ao
movimento da globalização constituindo uma fase da expansão atual do
capitalismo. O neoliberalismo está intimamente relacionado à produção e à
reorganização espacial em função do conjunto de forças que envolve a diversidade
socioespacial em prol da prevalência do mercado por intermédio do Estado
(MAGALHÃES, 2015).

Figura 42: Neoliberalismo

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3fO8eJX.


Acesso em: 10 abr. 2021

Na visão de Santos (1994, p. 12) “O processo de globalização uma sociedade

105
mundial complexa em redes sobre territórios, porém sem uma função política, sem
atingir o status de uma sociedade política [...]”. Na qual, no espaço nacional
observamos um enfraquecimento do papel do Estado, tanto no âmbito de
estratégias, quanto nas decisões soberanas.

Figura 43: Intervenção do Estado

Fonte: Disponível em https://bit.ly/2SSkgZn.


Acesso em: 10 abr. 2021

Por sua vez, Delors (1996, p. 248) afirma que “As políticas sociais, culturais e
educativas adotadas pelos Estados em relação aos diversos povos, nações e grupos
étnicos que vivem nos territórios refletem, diretamente, tensões". Em virtude sobretudo
da diversidade étnica no interior de suas fronteiras que marcam as “minorias”
religiosas, linguísticas e nacionais, sendo essas as populações tradicionais (indígenas
e afrodescendentes) as principais referências que em suma foram subordinadas por
vezes à força e contra vontade aos anseios do Estado e da sociedade dominante.
Identidades sendo reconstruídas, ao mesmo tempo que uma nova ideia de
consciência nacional em que muitos foram obrigados a abandonar a sua cultura,
língua, religião, tradições e se adaptarem às normas e costumes estrangeiros.
Embora, ressaltamos que esse processo de (des)encontros não foram pacíficos e
isentos de hibridismo cultural.

106
Figura 44: Diversidade étnica e cultural brasileira

Fonte: Disponível em https://bit.ly/2S6zjyP.


Acesso em: 10 abr. 2021

E para compreender essa diversidade no território brasileiro consideramos


necessário que tenhamos “[...] uma educação realmente pluralista baseia-se numa
filosofia humanista, isto é, numa ética que encara numa perspectiva positiva as
consequências sociais do pluralismo cultural” (DELORS, 1996, p. 249). Em
complemento:

[...] Com certeza que não faltam, nos nossos dias, exemplos de
nacionalismo étnicos excessivos que conduzem ao separatismo
político e à decomposição social, para não falar de massacres que
chegam a ser verdadeiros genocídios e de campanhas de
purificação étnica alimentadas pelo ódio. Contudo, a diversidade
étnica não desaparecerá por encanto e não é realista censurar as
políticas multiculturalistas em relação a muitos conflitos que, muitas
vezes, têm exatamente por origem o não-reconhecimento da
diversidade étnica ou o seu aniquilamento (DELORS, 1996, p. 250)

Cabe entender que o Estado brasileiro precisa ser entendido no sentido de


suas concepções para que se possa compreender de modo mais profícuo a
organização socioespacial que oferece as bases para a estruturação econômica,
política e cultural. O Estado atual no Brasil é herdeiro da organização dos poderes
políticos que tem suas origens ratificadas nas bases da sociedade moderna erguida
nos princípios da burguesia nascente.

107
Figura 45: Estado brasileiro e cidadania

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3ceZb2a.


Acesso em: 10 abr. 2021

A divisão dos poderes em executivo, legislativo e judiciário demarca uma


perspectiva salutar para coibir as posições absolutistas que ainda insistem em se
manter na nossa sociedade. O território é fundamental para definir no plano
concreto a localização e o posicionamento para o alcance dos direitos do povo,
bem como proporciona os limites para o exercício da soberania.

108
Figura 46: Território brasileiro

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3icFBr6.


Acesso em: 10 abr. 2021

As nossas fronteiras atuais são resultado das dinâmicas do período colonial até
o século XXI de modo a refletir as ações do Estado no transcurso da história. As
transformações políticas proporcionam as mudanças no desenho das fronteiras.
Lembrando que com o processo de globalização as relações geopolíticas têm
alterado significativamente a maneira de lidar com as fronteiras, mantendo-as nos
seus pontos geométricos, no entanto, podem reconfigurar as relações de modo a
implicar nas funções exercidas pelos países.

Reunindo e integrando o pensamento geopolítico de nossos autores


manifestado nestes últimos 70 anos, encontramos os seguintes rumos,
muitos deles coincidentes entre as proposições de vários pensadores:
- a idéia de Império, inspirada na grandeza territorial e na missão de
desbravá-la, dominou o espírito de vário pensadores;

109
- a necessidade de uma política de interiorização, visando a
incorporar a imensa massa continental inexplorada ao processo de
enriquecimento e de fortalecimento do Poder Nacional;
- nesta política, acentuada prioridade vem adquirindo a consciência
da importância do desenvolvimento e da defesa da região
amazônica;
- a vantagem de nossa maritimidade estará sempre assentada numa
respeitada presença estratégica no Atlântico Sul;
- o desenvolvimento aeronáutico, (transporte, vigilância e defesa)
face à extensão geográfica do país, constitui-se em fator
indispensável à integração territorial;
- em termos gerais, impõe-se uma política de desenvolvimento
econômico, social, científico e tecnológico em benefício de todo o
território;
- prevalece o reconhecimento de que o Brasil possui condições para
vir a ser uma das grandes potências de nível mundial para chegar a
isto precisará melhorar o seu desempenho administrativo e acelerar o
seu desenvolvimento econômico e social;
- em face das ambições internacionais suscitadas pelo seu imenso
patrimônio geográfico e suas riquezas inexploradas, o Brasil precisa
manter uma força militar de dissuasão estratégica, capaz de
desencorajar possíveis tentativas de aventura sobre o seu território
(MATTOS, 2000, p. 16).

110
Figura 47: Trabalho escravo no Brasil do século XXI

Fonte: Disponível em https://bit.ly/2RURyHv.


Acesso em: 10 abr. 2021

Inquestionavelmente o nosso país é uma potência regional e pode exercer o


seu protagonismo como oportunidade de conquista de novos ares, haja vista que já
somos uma referência no que tange às commodities, ao território, à demografia e à
ciência. Agora, temos que construir um protagonismo realista para podermos
estruturar novos caminhos econômicos e políticos que dêem uma valorização digna
da nossa geografia e espaço estratégico que nos deixam na borda das grandes
linhas de tensão internacional.
A diversidade socioespacial brasileira nos agregou percepções de que o
conflito é algo distante da nossa realidade. A miopia do Brasil figura uma ideia de
autonomia na qual vemos o mundo como descolado do nosso cotidiano. Temos a
sensação de que estamos distantes do mundo. Todavia essa visão pacifista reflete a
incorporação de passividade diante das grandes decisões que ocorrem no mundo.
É um país continental que não conversa muito entre cada um de suas peças
do seu tabuleiro geopolítico. Muitos dos nossos acertos não são reconhecidos ou
conhecidos no próprio país que tem priorizado determinados exemplos ultrapassados
como manifestação de uma forma lenta de entender as mudanças.

111
Figura 48: Posição geoestratégica do Brasil

Fonte: Disponível em https://bit.ly/34GAMhS.


Acesso em: 10 abr. 2021

Do ponto de vista do discurso estamos abertos para a inovação, porém, na


política e na economia estamos o tempo todo reféns de uma engenharia política
que retoma todos os erros cometidos com a Ditadura Empresarial Militar que durou
21 anos (1964-1985).
Debater os direitos humanos e o meio ambiente são assuntos candentes e que
precisamos nos dedicar com urgência, porque estamos forçados a nos atualizarmos
e alinharmos com uma agenda real e fundamental para a construção de um futuro
promissor ancorado nas nossas diversidades socioespaciais.
Em face do atual momento de velocidade tecnológica e reconstrução de
modelos de socialização, é nevrálgico fazermos uma análise dialética das crises
econômicas, políticas, culturais e sanitárias, dado que refletem problemas estruturais
que estão associados à nossa permanente dependência em relação às grandes
potências. A esse respeito, cabe assinalar que “As formas de dependência e a
natureza das relações de poder impostas pelas economias dominantes, através de
incursões imperialistas, são a chave para a compreensão dos processos político-
econômicos do Brasil e da América Latina” (STRAUSS, 2019, p. 145).
Pondera-se que o desenvolvimento econômico de um país não se dá por uma
mera relação natural que se movimenta em função do tempo e de encontrar a
vocação produtiva original. Por outro lado, também não depende exclusivamente
da vontade política do Estado em promover a industrialização. É preciso ter a clareza

112
que discutir o desenvolvimento implica discutir o papel das classes sociais no Brasil e
os seus interesses inconciliáveis em meio as distintas racionalidades. Dessa forma, é
algo mais complexo que passa pelo amadurecimento e compreensão do atual
estágio imperialista do capitalismo e suas relações dialéticas que sedimentam a
perspectiva de atraso que viabiliza a superexploração nas economias periféricas
(STRAUSS, 2019).

A proposta era redução máxima do Estado para um intervencionismo


mínimo que permitisse a atuação das leis de livre mercado sobre as
economias nacionais. O programa neoliberal vai aprofundar essas
relações de dependência na medida em que afeta a vulnerabilidade
econômica desses países, com sua manutenção ideológica de
redução do Estado. Nos países latino-americanos, e no Brasil em
específico, esse movimento chega com uma tentativa de controle
inflacionário pela redução das atuações do Estado sobre as políticas
fiscais, monetárias e liberalização das taxas de câmbio. A elevação
da taxa de juros com tentativas sucessivas de criação de superávit
primário coloca o país em situação de financiar a especulação do
capital financeiro estrangeiro, que começa a explorar o país com o
desmonte do Estado e as privatizações (STRAUSS, 2019, p. 147).

Como se trata de um país da América Latina e recentemente vivemos uma


ruptura política promovida pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff (que se
configurou como um Golpe reconhecido pelo ex-presidente Michel Temer), o capital
se colocou como um sistema sem margens para a reforma e que se apresenta como
comprometedor das possibilidades humanas para as populações vulneráveis.
A ideologia política que majora no país traz como ponto chave a
impossibilidade de promover melhorias sociais para a maioria da população, então,
se assume um projeto antipopular com forte viés doutrinário com sustentação nos
discursos religiosos, mas se coloca como guardião do moralismo e se assume a noção
de que o agronegócio e a mineração são as principais atividades do Brasil.
Dessa forma, se tem a continuidade da política de desindustrialização com
agravamento do quadro econômico e consequente avanço em reformas que
atacam os direitos dos trabalhadores. É um conjunto de ideologias que sugestionam
a ideia de soberania para escamotear a desmoralização e a subordinação ao
grande capital internacional.

113
Figura 49: Patriotismo

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3icxjQm.


Acesso em: 10 abr. 2021

O tratamento do Estado em relação às populações das periferias das cidades,


quilombolas, camponeses, populações de rua, ciganos, ribeirinhas, dentre outros,
vem sendo maculado com estratégias diferentes de opressão e de discriminação,
conquanto, são uma continuidade de processos que envolvem o desemprego e a
violência.
A recomposição de condições mínimas na nossa sociedade tem se
apresentado como algo distante e complexo porque se percebe uma desilusão com
o sistema e com as táticas dos partidos de esquerda que foram desmontados nas
últimas décadas em função de escândalos relacionados à corrupção e a direita
apresentou um quadro de incapacidade plena para governar o Brasil.
O conhecimento das nossas potencialidades e pode ser um caminho viável ,
por exemplo, para a luta indígena no Brasil e de outros grupos sociais. Chamamos a
atenção para a ideia de Milton Santos acerca das diferentes densidades no espaço
geográfico, portanto, o espaço se diferencia e a captação dessas diferenças é
crucial para os gestores públicos e para a sociedade porque as ações humanas
acontecem nos territórios (SANTOS, 2002).
São as diferentes densidades socioespaciais que exercem poder de influência
no espaço geográfico. As relações de diferentes densidades proporcionam
influências territoriais e comandam o território. Por meio das políticas públicas se pode
reverter densidades abomináveis que geram inércia e precarização das condições
de vida.

6.2 DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL

Na fase atual de crise sanitária, em função da pandemia do coronavírus, o

114
desenvolvimento do Brasil coloca a questão da desigualdade como fulcral devido
aos problemas geoeconômicos que estão associados à realidade brasileira. Para
Pires (2020) essa situação de fragilidade que estamos vivendo é resultado de longos
períodos de aprofundamento das experiências de vulnerabilidade que se
interconectam nos polos renda, moradia, território, gênero e desigualdade racial.
Estamos diante de uma desigualdade socioespacial que se manifesta no
território e encontra-se materializada por meio das dinâmicas e condições que fazem
com que o nosso país seja um dos mais desiguais do mundo. Pires (2020) esclarece
que:

Em suma, as condições de habitação de parcelas consideráveis da


população brasileira impõem claras limitações ao distanciamento
social e à adoção das medidas de higiene apontadas pelas
organizações sanitárias como essenciais para evitar a contaminação
pelo vírus. Portanto, o confinamento domiciliar a partir dessas
condições requer medidas complementares por parte dos governos
(discutidas na próxima seção) visando garantir padrões mínimos de
higiene, salubridade e bem-estar (PIRES, 2020, p. 08).

Josué de Castro foi um grande nome da geografia que desafiou o


pensamento brasileiro e construiu um edifício intelectual significativo acerca das
nossas desigualdades (CASTRO, 1965). Outro pernambucano que também
sedimentou uma grande contribuição sobre o tema foi o professor Manuel Correa de
Andrade que pensou as dificuldade e lançou luz nos processos socioespaciais que
levam a desigualdade no Brasil (ANDRADE, 2003). Na perspectiva de Andrade (2003,
p. 26), é crescente a preocupação “[...] com as implantações do processo de
organização do espaço no desenvolvimento econômico e social do país”.

115
Figura 50: Desigualdade socioespacial

Fonte: Disponível em https://bit.ly/2Rj2a2y.


Acesso em: 10 abr. 2021

De acordo com a leitura desses autores, conhecer o território permite ter uma
visão diferenciada da sociedade e possibilita identificar o que produz as
desigualdades e as condições subumanas. Nesse sentido, a proatividade e o
engajamento são uma marca importante para fundar novas realidades mais
promissoras para a população brasileira.
A crise sanitária que vivemos se retroalimenta com as desigualdades que
temos alimentado ao longo da nossa história socioespacial do Brasil. O raciocínio
espacial se apresenta nessa discussão como fundamental porque ultrapassa a ideia
de representação e alcança a inovação e a interpretação da realidade em face
das possibilidades de transição em distintas escalas.
Vale a pena sinalizar que o poder se articula e manifesta em lógicas espaciais
expondo forças que impulsionam certas dinâmicas em detrimento de outras. E o
plano local, na atual fase do capitalismo, dialoga com o global, ganhando
relevância a geoeconomia que combina redes de territórios e seus fluxos em múltiplas
escalas. Em tal horizonte, o Estado nacional tem se ressignificado e o seu
entendimento é crucial para se projetar ações no cenário do século XXI.

116
Figura 51: Lógicas espaciais e as redes geográficas

Fonte: Disponível em https://bit.ly/34BVIqq.


Acesso em: 10 abr. 2021

Precisamos ter em perspectiva que as desigualdades são resultados também


de uma inteligência territorial produzida em escala global. Na atualidade podemos
citar a atuação dos Estados Unidos como promotor dos desenhos de desigualdades
no mundo. Com a pandemia se percebe os bloqueios e as separações que
proporcionam obstáculos, sobretudo aos pobres, como é o caso dos latino-
americanos e africanos.
A concentração de produção é uma alternativa utilizada como proposta de
monopolização de um determinado ramo do mercado. Nitidamente, há uma disputa
comercial, nos nossos tempos, entre Estados Unidos e China. Tal guerra passa pelo
controle da inovação tecnológica capaz de alterar a indústria levando ao patamar
de 4.0 e assim gerar maior autonomia do transporte, da automação e da gestão do
trabalho. A China tem conseguido destaque em suas iniciativas, como é o caso das
redes 5G de internet.

117
Figura 52: Disputa entre Estados Unidos e China

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3wOZBEq.


Acesso em: 20 mar. 2021

O panorama do mundo nesse campo tem mudado com a ideia da nova rota
da seda e o novo cinturão econômico envolvendo a Europa, a África e Ásia como
forma de expandir a capacidade de polarização chinesa.

Figura 53: Nova rota da seda do século XXI

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3wRK5aR.


Acesso em: 10 abr. 2021

Cabe lembrar que os Estados Unidos ainda possui a primazia das invenções e
dos avanços em ciência e tecnologia, bem como grandes avanços no campo
militar. Essa situação está vem sendo ameaçada com o crescimento do papel chinês
no que se refere ao avanço técnico no século XXI.

118
Figura 54: Países líderes em inovação

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3c8Jf1l.


Acesso em: 10 abr. 2021

A expansão da COVID-19 se espelha na desigualdade de renda e nas


condições de saneamento básico. Pontuamos que a Amazônia foi uma das áreas
mais afetadas por diversos aspectos que se conectam com o déficit de condições
sociais. O índice de gini (mede a concentração de renda) tem crescido
significativamente nos últimos anos expressando grande concentração da renda
sobretudo a partir de 2015. Tal fato tem ampliado a desigualdade social no país.

119
Figura 55: Desigualdade de renda no Brasil

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3pebroT.


Acesso em: 10 abr. 2021

Damos relevo ao fato de que há uma grande concentração do vínculo de


emprego formal na região sudeste, demonstrando o desequilíbrio das relações ao
verificarmos que há um predomínio na região nordeste o trabalho informal ou
precarizado. Pondera-se que esse trabalho informal está crescendo em todo o
território nacional. O desemprego, por sua vez, é muito mais alto no nordeste.
Quando observamos o saneamento percebemos que no sudeste as
condições de saneamento são mais efetivas do que na amazônia e isso ajuda a
entender a expansão da COVID-19. As condições de equidade são mais aceitáveis
no sudeste e no sul do que no nordeste e na amazônia. Verificamos que o quadro é
resultante da nossa herança histórica de desigualdade socioespacial.
A desigualdade aparece na renda e se concretiza nos anéis periféricos das
nossas cidades conduzindo os contingentes populacionais para uma situação de
extrema vulnerabilidade com impactos sociais expressivos e a situação da COVID-19
traduziu isso com ampliação do número de mortos refletindo a economia da
desigualdade.
No caso brasileiro, temos um aumento da desigualdade e a concentração dos

120
pontos de maior expressão. É salutar esclarecer que a desigualdade impacta
diretamente nas oportunidades e resultados educacionais. Os resultados do Exame
Nacional do Ensino Médio manifestam que os jovens de famílias vulneráveis possuem
menos oportunidades de acesso à educação. Sendo assim, a desigualdade de
renda afeta a educação e vice-versa.

Figura 56: Enem e a desigualdade socioeconômica

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3g4eTOT.


Acesso em: 10 abr. 2021

A crise econômica, o desemprego e a redução crescente das políticas sociais


de proteção se materializam espacialmente na percepção da pobreza. Essa
realidade é resultante da instabilidade econômica combinada com a crise política,
haja vista que as condições de vida no espaço passam pela urgência em enfrentar
a questão social e econômica, considerando o racismo e o papel do Estado na
garantia dos direitos de cidadania.
A educação é o que possibilita a mobilidade social, então, discutir o acesso a
esse direito e as suas desigualdades colaborar para romper com o atual panorama
brasileiro de empobrecimento em detrimento da consolidação de bilionários em
razão dos altíssimos lucros com as crises econômicas que têm condenado os mais
pobres para pagar o preço das crises.

121
Figura 57: A educação como materialização da desigualdade

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3yXaR3p.


Acesso em: 10 abr. 2021

A prioridade deve ser os mais pobres porque essa perspectiva colabora para
a qualidade da economia. Um caminho necessário é o investimento na educação
de qualidade e ações específicas com qualidade, transparência e controle social.
Além disso, é preciso impulsionar a construção de um sistema tributário que torne
possível a justiça, mudando o atual quadro em que, proporcionalmente, quem
ganha menos paga mais imposto.
O social não pode ser apartado do econômico, pois são polos indissociáveis
fazendo-se necessário retomar o congresso brasileiro para o jogo político em busca
da equidade e das formas de dar espaço para os diferentes interesses no futuro do
país.
A desigualdade socioespacial no Brasil possui relações com a tradição
escravocrata que condena os pobres como classe social excluída, mesmo fazendo
uso de um discurso de inclusão. Nesse sentido, o racismo assume uma face
democrática em meio a nossa cultura deixando-o vivo, sedimentando por meio do
moralismo uma ideologia que favorece a elite que pretende se apropriar de modo
exclusivo dos benefícios promovidos pelo Estado.
O discurso político vigente encobertado pelo moralismo político proporciona
o escamoteamento da verdadeira pretensão de modernização da escravidão que
pretende sustentar o racismo de raça e de classe. A criminalização da política social
como estratégia das nossas elites é uma saída para atacar os avanços sociais e para

122
isso o interesse de garantir o orçamento público para o mercado sustenta até mesmo
a orquestração de golpes políticos que pertencem ao processo de expropriação da
riqueza.
Por sua vez, a classe média branca luta para manter os privilégios
educacionais e culturais como forma de arcar com a competição e justificação de
sua condição de não cidadania em função da busca permanente por privilégios,
condição que descaracteriza a noção de cidadania.
A herança colonial desigual nas regiões brasileiras é um fator significativo para
a compreensão das nossas configurações territoriais. E o congelamento dos gastos
públicos, promovido pelo governo federal com apoio do congresso, atingiram
principalmente aos mais pobres que demandam políticas de saúde e educação
com ampla cobertura, sobretudo com o agravamento dos problemas sociais.
As desigualdades socioespaciais estão cristalizadas e institucionalizadas nas
nossas estruturas sociais devido a carência de um pensamento do espaço
geográfico brasileiro como um todo com políticas de longo prazo. Para ir além das
políticas assistencialistas é preciso tocar em temas necessários com vistas a constituir
mecanismos para superar o nosso padrão socioespacial ancorado em uma
sociedade racista, escravocrata e patrimonialista.

Figura 58: Heranças brasileiras

Fonte: Disponível em https://bit.ly/3g9rGzM.


Acesso em: 10 abr. 2021

Nesse tocante, esclarece-se que no Brasil ainda não foi feita a reforma agrária.
A situação da propriedade não foi discutida de fato e a abolição da escravatura foi

123
conduzida sob o manto da perpetuação da desigualdade. Em tal cenário, faz-se
necessário reforma agrária, reforma urbana, política de redistribuição de renda,
taxação de fortuna, dentre outras políticas que possam tocar radicalmente na
estrutura social com rebatimento no espaço. Apenas ações de assistencialismo não
são suficientes para romper as iniciativas que se constituem alicerçadas na
desigualdade socioespacial brasileira.
Ao abordarmos o comportamento e expansão das indústrias no território
brasileiro percebemos que há uma concentração de renda no Brasil. A estrutura
industrial reflete uma desconcentração para além das regiões sul e sudeste, no
entanto, essa trajetória ainda não foi suficiente para romper com o fato que
aproximadamente 70% das indústrias se concentram nessas regiões. Por outro lado,
as regiões norte, nordeste e centro-oeste aumentaram suas participações na
produção industrial nesses primeiros anos do século XXI.
É salutar pensar que para reduzir as desigualdades no Brasil é preciso entender
que para combater a desigualdade é necessário reduzir a diferença entre as rendas
dos mais pobres e os mais ricos por meio da tributação dos mais ricos. A pobreza
pode ser reduzida mesmo que nada aconteça com os mais ricos. A desigualdade
em nosso país é uma das mais elevadas do mundo (CAMPELLO, 2017).

A leitura do Brasil demanda uma compreensão distinta da interpretação das


realidades dos países europeus e dos Estados Unidos. A forma de se combater a
desigualdade em nosso país deve ser diferente em razão das nossas peculiaridades
socioespaciais. Como muitos profissionais estão a margem da estrutura formal, até
mesmo um aumento do salário mínimo pode resultar no agravamento da
desigualdade. O que deve ser pautado é a distribuição de renda em articulação
com a expectativa de reduzir a pobreza.
A nossa sociedade é muito estratificada e a geração de oportunidades no
Brasil é uma possibilidade a constituição de políticas que priorizem a primeira infância

124
como forma de ampliar a igualdade de oportunidade, considerando as condições
e o acesso aos bens em função da localização geográfica. O desenvolvimento de
habilidades cognitivas e de competências socioemocionais são cruciais para a vida
escolar e colaboram para o rompimento do ciclo de pobreza.
Para a realização dessas iniciativas, faz-se necessário investir significativamente
em ações em prol da taxação dos mais ricos por meio da elevação dos impostos dos
mais ricos como, por exemplo, sobre a herança, a propriedade e a alíquota do
imposto de renda daqueles que compõem o grupo mais abastado da população.
Investimentos educacionais e em saúde são fundamentais para a alteração
da realidade em longo prazo, no entanto, a população de alta vulnerabilidade
socioeconômica depende de uma assistência social que proteja os mais pobres dos
choques econômicos provocados pela lógica econômica em curso no Brasil.

125
FIXANDO O CONTEÚDO

1. (Simulado Amarolina Ribeiro) O Brasil é um país subdesenvolvido e que ainda possui


uma significativa quantidade de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza.
Sobre os fatores que contribuem para a construção e permanência da pobreza
no Brasil, assinale a alternativa incorreta.

a) A pobreza no Brasil não é causada por um episódio único, sendo resultado de uma
série de fatores históricos, sociais, conjunturais e políticos.
b) O tipo de colonização ao qual o Brasil foi submetido no passado exerce influência
até os dias atuais na distribuição da riqueza no país.
c) Fatores históricos possuem influência insignificante na expressiva quantidade de
pessoas que vivem na pobreza no Brasil. O principal fator reside em uma tradição
cultural de desvalorização do trabalho. A maior parte dessas pessoas opta por não
trabalhar, por comodismo ou escolha.
d) O desenvolvimento tardio do país configura-se como uma das causas do quadro
de pobreza brasileiro.
e) A histórica dependência econômica que nosso país tem em relação às nações
desenvolvidas e organismos financeiros internacionais agrava ainda mais a
desigualdade social e a pobreza existentes no Brasil.

2. (Simulado Amarolina Ribeiro) As pessoas consideradas em situação de extrema


pobreza são assim classificadas de acordo com critérios estabelecidos por
organismos internacionais. Sobre esse dado, avalie as proposições a seguir:

I. O cálculo adotado pelo Brasil em 2011 define extrema pobreza como aquela em
que o indivíduo recebe menos de 70 reais mensais, cerca de 2,3 reais por dia.
II. Segundo a ONU e o Banco Mundial, as pessoas em situação de extrema pobreza
são aquelas que vivem com menos de 1,25 dólar por dia.
III. Os critérios adotados pelo Governo brasileiro, ONU e Banco Mundial são muito
distintos. Se adotada a medida internacional, teríamos no Brasil um número muito
maior de pessoas classificadas em situação de extrema pobreza.

Estão corretas as alternativas

126
a) I e III.
b) I e II.
c) II e III.
d) Todas as alternativas.
e) Apenas a alternativa I.

3. (Simulado Amarolina Ribeiro) A respeito da distribuição das pessoas em situação


de pobreza no país, assinale a alternativa correta.

a) A pobreza está concentrada exclusivamente em estados da região norte e


nordeste do país.
b) Nas regiões sul, sudeste e litoral brasileiros, a questão da pobreza já foi superada,
pois não há mais números significativos de pessoas em situação de pobreza.
c) Praticamente todos os municípios brasileiros, principalmente as periferias dos
grandes centros metropolitanos, contam com pessoas abaixo da linha da
pobreza.
d) A pobreza está concentrada em poucas cidades do país. Na maior parte dos
municípios brasileiros, essa situação é inexistente.
e) A maior parte das pessoas em situação de pobreza é encontrada em pequenas
cidades e propriedades rurais isoladas.

4. (Simulado Amarolina Ribeiro) Nos últimos anos, o país tem adotado políticas
públicas para o combate à fome e à miséria no país. Entretanto, o foco principal
dessas políticas tem sido um programa em que o Governo oferece subsídio para
famílias em condições de pobreza ou miséria acentuada. Que programa é esse?

a) PETI.
b) Bolsa Família.
c) Prouni.
d) Minha casa, minha vida.
e) Garantia safra.

5. (Simulado Rodolfo Pena) “O Brasil dispõe de uma extensa rede fluvial, que pode

127
servir à navegação em condições naturais. São 28 mil quilômetros de rios
naturalmente navegáveis, ou seja, não há necessidade de nenhuma obra de
dragagem ou transposição para sua utilização como meio de transporte. No
entanto, apenas 10 mil quilômetros são utilizados para o transporte de passageiros
e de carga”.
SILVA, A. C. et. al. Geografia contextos e redes. 1º ed, vol. 2. São Paulo: Moderna, 2013. p.51

Um fator geográfico do território brasileiro que dificulta um maior aproveitamento


do potencial hidroviário é

a) o distanciamento entre os centros econômicos e os rios de planície.


b) a baixa velocidade de vazão dos principais cursos d'água do país.
c) o assoreamento constante dos rios por processos aluviais.
d) a ausência de matérias-primas para a construção das embarcações.
e) a baixa conectividade entre as diferentes bacias hidrográficas.

6. (ENEM) Uma característica do território brasileiro bastante relevante é a sua grande


extensão longitudinal. Do extremo leste, a Ponta do Seixas, em Paraíba, até o
extremo oeste, a Nascente do Rio Moa, no Acre, há uma distância de 4.319
quilômetros.

Uma característica socioespacial do Brasil resultante do fator acima apresentado


é:

a) Elevada variação climática.


b) Presença de domínios naturais diversificados.
c) Existência de vários fusos horários.
d) Acentuada unidade topográfica.
e) Facilidade para o deslocamento rodoviário.

7. (FGV) “Ao se avaliarem as características da urbanização brasileira em seu


período mais recente, é importante considerar os efeitos do processo de
internacionalização da economia. [...] Uma das tendências desse processo é
reforçar a localização de atividades nas cidades ‘da região mais desenvolvida do

128
país, onde está localizada a maior parcela da base produtiva, que se moderniza
mais rapidamente, e onde estão as melhores condições locacionais’”
Maria Luisa Catello Branco in As metrópoles e a questão social brasileira. Rio de Janeiro: Revan, 2007. p. 101 Adaptado.

A tendência mostrada no texto

a) dinamiza as redes urbanas em escala nacional.


b) dá origem à formação de inúmeras metrópoles no interior do país.
c) reforça as desigualdades espaciais no Brasil.
d) minimiza a histórica concentração de riqueza em espaços reduzidos.
e) destaca o papel das metrópoles no contexto da globalização.

8. (UNEAL) O Brasil está dividido em três regiões geoeconômicas que refletem as


diferentes formas de ocupação humana ao longo do tempo histórico: Nordeste,
Centro-Sul e Amazônica. Analise os aspectos que caracterizam essas regiões.

I. O Nordeste é a principal área de refluxo (saída) de pessoas nas migrações internas


do país.
II. A região Centro-Sul é a mais industrializada, povoada e urbanizada do país.
III. A Amazônia é a região menos povoada do Brasil e sofre grandes impactos
ambientais.
IV. A região nordestina apresenta muitas marcas da colonização e, por praticamente
três séculos, foi a região mais rica do Brasil.

Está correto o contido em

a) I e II, apenas.
b) I, II e III, apenas.
c) I, II e IV, apenas.
d) I, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.

129
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO

UNIDADE 01 UNIDADE 02

QUESTÃO 1 A QUESTÃO 1 D
QUESTÃO 2 A QUESTÃO 2 E
QUESTÃO 3 C QUESTÃO 3 C
QUESTÃO 4 E QUESTÃO 4 C
QUESTÃO 5 C QUESTÃO 5 C
QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 A
QUESTÃO 7 E QUESTÃO 7 A
QUESTÃO 8 A QUESTÃO 8 E

UNIDADE 03 UNIDADE 04

QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 A
QUESTÃO 2 A QUESTÃO 2 A
QUESTÃO 3 C QUESTÃO 3 B
QUESTÃO 4 C QUESTÃO 4 D
QUESTÃO 5 E QUESTÃO 5 C
QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 A
QUESTÃO 7 E QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 B QUESTÃO 8 B

UNIDADE 05 UNIDADE 06

QUESTÃO 1 B QUESTÃO 1 C
QUESTÃO 2 D QUESTÃO 2 D
QUESTÃO 3 C QUESTÃO 3 C
QUESTÃO 4 B QUESTÃO 4 B
QUESTÃO 5 C QUESTÃO 5 A
QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 C
QUESTÃO 7 B QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 E QUESTÃO 8 E

130
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