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ESCOLA SECUNDÁRIA 16 DE JUNHO

Trabalho de História

Tema:
Penetração Árabe Persa
Penetração mercantil Europeia

Turma: CCS

12ª Classe C/N

Discentes:
 Isaac Manuel Tomás
 Delfina Domingos
 Minora Horácio
 Osvaldo Genito

Docente: Creva

Chimoio, Março de 2023


Índice
Introdução .......................................................................................................................................3
Penetração mercantil estrangeira: penetração árabe-persa (séc. IX-XVI).......................................4
Contexto Geral da Penetração Mercantil Árabe-Persa em África...................................................4
Locais de Fixação............................................................................................................................5
Comércio..........................................................................................................................................5
Fatores da penetração mercantil árabe-persa...................................................................................7
Fatores geográficos ou naturais.......................................................................................................7
Fatores Técnicos (Razões da Expansão)..........................................................................................7
Fatores Económicos.........................................................................................................................7
Factores Ideológicos........................................................................................................................7
Os contactos ao longo da costa e suas repercussões........................................................................8
Consequências da Presença Árabe-Persa em Moçambique.............................................................8
Interrupção na penetração árabe-persa em Moçambique................................................................9
A Penetração Mercantil Europeia....................................................................................................9
A Penetração Mercantil Portuguesa...............................................................................................10
O Processo de Mineração..............................................................................................................12
Impacto da Penetração Mercantil Portuguesa................................................................................12
A Rebelião de Changamire Dombo em 1693................................................................................13
Conclusão......................................................................................................................................14
Referências bibliográficas.............................................................................................................15
Introdução 
No presente trabalho iremos abordar a penetração árabe e Europeia ao longo da costa e suas
repercussões como já é sabido a fixação de estrangeiros em África iniciou por volta do século VI
quando chegaram os primeiros mercadores árabes que se fixaram na faixa oriental do continente. A
partir desta altura, os mercadores árabes foram-se fixando ao longo da costa, onde fundaram
feitorias e entrepostos comerciais, de onde se faziam o seu comércio com africanos trocando
tecidos, missangas artigos de loiça por ouro, marfim, peles, e outros. 

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Penetração mercantil estrangeira: penetração árabe-persa (séc. IX-XVI)
Desde sempre, Moçambique foi um país rico em diversidade cultural e recursos naturais, por
essa razão, foi palco de intercâmbio entre povos oriundos de várias partes do mundo.  Assim,
penetração mercantil estrangeira é o período em que as relações entre as comunidades
moçambicanas e outros povos se traduziram em trocas comerciais a partir das quais se verificou
uma penetração estrangeira gradual em todas as esferas da vida daqueles, no período que se
estendeu desde os anos 800 até 1886 (séc. IX-XIX). Estas relações conheceram duas etapas: a de
Penetração mercantil afro-asiática e a de Penetração mercantil Europeia e a Indiana.

É preciso destacar 3 fases ou ciclos de penetração mercantil, de acordo com os produtos mais
traficados, a saber:

– Ciclo de ouro (1505-1693);

– Ciclo de marfim (1693-1762); e

-Ciclo de escravos (1762-1836) em termos de tráfico legal; e

– A partir de então, entrou em vigor o Comércio de Oleaginosas, que se iniciou em 1860, onde
amendoim e o gergelim eram vendidos a partir de casas comerciais e feitorias da Ilha de
Moçambique, Quelimane, Inhambane, Lourenço Marques e Ibo.

Fora destes produtos, também foram comercializados os seguintes produtos: pele de animais,


penas de alguns animais, carapaças de tartaruga, cerra de abelha. As três fases de penetração
são caracterizadas pelo forte impacto qua a procura de cada uma destas mercadorias teve sobre
as comunidades locais.

É importante referir que a penetração mercantil estrangeira corresponde a grande etapa de


integração da costa oriental africana no comércio internacional.

Contexto Geral da Penetração Mercantil Árabe-Persa em África


Antes do século XVI, o comércio no Oceano Indicoera controlado pelos muçulmanos. No sub-
continente asiático as suas actividades eram dominantes ao longo da costa de Malabar até baixo
Calicute. A indicação mais antiga acerca de Sofala encontra-se em Al-Masud, viajante árabe do
século X que refere, que “os marinheiros de Oman, da tribo de Alazd, viajavam nos mares de

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Zanga até Kambala (Congo) e Sufalh”.  A principal mercadoria era o ouro e o marfim. No século
X (ano de 930), instalaram-se na costa africana, refugiados árabes criando as cidades mercantis
de Bravo e Mogaxo (Somália).

Locais de Fixação
Os árabes foram os primeiros povos estrangeiros que chegaram a Moçambique no séc. IX,
provenientes da Pérsia (península arábica), ou seja, do Golfo Pérsico e fixaram se
primeiramente na região costeira, concretamente na Ilha de Moçambique e Quelimane, e mais
tarde, a partir do século XIII maior número de asiáticos fixaram-se em entrepostos comerciais na
costa oriental africana no vale do Zambeze e no planalto do Zimbabwe.

Inicialmente essas populações estabeleceram-se nas Ilhas de Zanzibar e Pemba. No século XIII
os árabes fixaram-se em entrepostos comerciais por eles fundados ao longo da costa, tais como
Quíloa, Mombaça, Sofala e Mogadíscio. Estabeleceram-se na costa para poder controlar o
comércio com o hinterland e se defenderem das tribos continentais.

Numa segunda fase os árabes penetraram no interior de Moçambique, após terem sofrido um
bloqueio económico em Sofala levado à cabo por mercadores portugueses. Angoche passou a
servir de feitoria para trocas comerciais com o rio Zambeze como rota mercantil pela qual se
escoavam os produtos do hinterland para a costa donde partiam para Arábia Saudita. Assim,
surgiu o comércio à longa distância.

Comércio
Geógrafos referem que no séc. X (943 n.e) desenvolveu-se um comércio activo nas terras de
Sofala (Zanj).Al–Massudi por exemplo viajante e geógrafo que descreveu sobre o comércio de
Sofala.

Portanto, a actividade mercantil asiática na conta norte de Moçambique teve início por volta o
séc.IX.

O comércio entre os árabe-persas e os povos africanos, envolvia sobretudo o ouro adquirido em


terras africanas em troca de bens de prestígios (panos de seda, objectos de vidro, missangas,
cobres, bebidas alcoólicas e outras bugigangas) e especiarias.

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O ouro era usado para o pagamento das especiarias na Índia com as quais a burguesia local
conseguia entrar no mercado europeu de produtos exóticos. Moçambique passou a constituir a
principal reserva de meios de pagamento de especiarias (pimenta, canela, etc.).

Os mercadores de origem asiática envolveram-se também, no tráfico de escravos, em grande


parte dirigidos para a Arábia e Índia, chegando alguns até à China.

Com o decorrer dos tempos os Árabes chegaram a um estado de prosperidade económica


considerável, erguendo ao longo das regiões costeiras grandes cidades que mais tarde
transformaram-se em grandes centros comerciais tais como: Mogadíscio, Quíloa, Mombaça,
Quelimane e Sofala.

O OURO produzido no interior e o MARFIM inicialmente fornecido pelos caçadores Macuas


foram os primeiros produtos de troca em Moçambique. Em troca, os chefes moçambicanos
recebiam tecidos de seda, louça de vidro e porcelanas.

O contacto permanente entre as populações moçambicanas da costa norte e os mercadores


asiáticos contribuíram para o desenvolvimento de formações sociopolíticas, económicas,
religiosas e culturais.

NB: No séc. XII, indonésios juntaram-se aos árabes comerciando com os povos do litoral,
trocando produtos orientais por ouro, marfim, pele de leopardo, carcaça de tartaruga, âmbar
cinzento e alguns escravos. Indianos e chineses também frequentaram a costa oriental
africana. Portanto, a actividade mercantil asiática na costa norte de Moçambique teve início por
volta do século IX. Relatos de viajantes e comerciantes árabes apontam Sofala como tendo sido o
limite extremo ao sul, visitado por mercadores proveniente do Golfo Pérsico e da Península
Arábica, muito antes da chegada dos portugueses nos finais do século XV.

Exportavam: o ouro produzido no interior e o marfim, inicialmente fornecido pelos caçadores


macuas da costa de Nampula, foram os primeiros produtos asiáticos em Moçambique.

Importavam: tecidos de seda, louça de vidro e de porcelana, artigos que as populações africanas


ainda não produziam apareceram nas formações sociais moçambicanas como resultado directo
dos contactos comerciais com os mercadores asiáticos.

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Os árabes usufruíram-se de vários factores de ordem técnica, geográfica, económica e
ideológica, uma das suas grandes motivações para proclamar e espalhar a sua fé, a fé no islão.

Fatores da penetração mercantil árabe-persa

Fatores geográficos ou naturais


A Península arábica apresenta-se como um território maioritariamente árido e infértil.Maior
parte da paisagem na península arábica é desértica, o que levou a seus habitantes a procurarem
novos territórios habitáveis e propícios para a prática de actividades económicas.

O outro factor geográfico é a proximidade geográfica entre Moçambique e a Península


Arábica, era relativamente
alcançável por mar e por terra.

Fatores Técnicos (Razões da Expansão)


A expansão árabe-persa e do islão foi possível porque os árabes tinham um grande conhecimento
da arte de navegar, da cartografia, e consequentemente conheciam bem a costa leste do
continente africano. Para realizar uma boa navegação, os árabes tinham conhecimentos
consolidados e astronomia.

a) A desertificação das terras no país de origem e o superpovoamento - tornaram a vida das
populações difícil, obrigando-as à migração e exercício de comércio internacional.

Fatores Económicos
Os árabes tanto em ouros tempos, como na actualidade, foram sempre bons comerciantes.
Moçambique no século VIII, apresentou-se como um bom mercado tanto para a venda de
produtos asiáticos como para a compra de produtos africanos.

Factores Ideológicos
Um dos pressupostos da expansão árabe para alguns consiste na expansão do islamismo a fim
de cativar e converter mais fiéis. Este fenómeno expansionista conheceu a sua fase forte de
expansão logo após a ascensão de Maomé. Neste sentido, os árabes expandiram-se para
Moçambique também com a motivação de difundirem o Islão.
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Os contactos ao longo da costa e suas repercussões
Desde o século IX, marcas da presença árabe na costa oriental moçambicana são evidentes. Esta
presença foi movida essencialmente pela vontade de fazer comércio. Populações oriundas do
Golfo Pérsico estabeleceram-se principalmente na Ilha de Moçambique e em Quelimane.

A presença árabe em Moçambique trouxe melhorias na arte de navegação, na criação de


entrepostos comerciais, na definição dos produtos a produzir/comercializar, no aparecimento de
outros povos prontos para o comércio. Contudo, esta ligação árabe-persa e habitantes do
actual território de Moçambique teve as suas interrupções devido à presença portuguesa em
Moçambique a partir do século XV.

Consequências da Presença Árabe-Persa em Moçambique


Os contactos com carácter permanente entre as populações moçambicanas na costa norte e os
mercadores asiáticos contribuíram para o desenvolvimento de transformações sócio-políticas,
económicas, religiosas e culturais.

A nível político
Emergiram e desenvolveram-se unidades políticas nas costas de Cabo Delgado e de Nampula
com sistemas políticos árabes. Tais unidades políticas foram os Sultanatos de Angoxe e
os Xeicados de Sangage, Quitangonha e Sancul.

A nível económico: foram introduzidas plantas alimentícias como o arroz de regadio, o


coqueiro, a bananeira, o inhame, os citrinos, etc. detêm ainda hoje certa influencia no comércio e
na indústria hoteleira: Hiper Maputo (Maputo), Hotel Milénio (Nampula), Pemba Beach Hotel
(Pemba), Hotel Executivo (Nampula), etc.

No plano cultural: os casamentos, os contactos comerciais e o surgimento de novos hábitos e


línguas resultantes da fusão de hábitos e línguas africanas e árabe, resultaram, por exemplo,
nacultura Swahili na Tanzania e no Quénia e Cabo Delgado.

Em Moçambique resultaram os seguintes núcleos linguísticos: Mwani – na costa de Cabo


Delgado; o Nahara – na Ilha de Moçambique e na costa de Nampula, e os Koti em Angoxe. O
uso de brincos no nariz, o modo de vestir, nas construções, nos casamentos, no enterramento dos
mortos, etc.

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Importa realçar também a Dança Tufo, praticada e executada com mestria na província de
Nampula, sobretudo nas regiões costeiras como Morna, Angoxe, Ilha de Moçambique, Mossuril,
Nacala Porto entre outros locais. Outras evidências de penetração árabe encontram-se nos nomes
das pessoas, particularmente na zona costeira moçambicana onde existem nomes como Atumane,
Mussa, Saide, Ornar, Gulamo, Cassamo, Patel, entre outros.

A nível Ideológico: a islamização da população (a construção de islamismo no actual território


de Moçambique que até aos nossos dias tem se verificado a expansão desta religião.

Interrupção na penetração árabe-persa em Moçambique


No século XII Mogadíscio (capital da actual Somália) assume-se também como centro de
absorção dos rendimentos do comércio do ouro vindo de Sofala. A hegeminia comercial de
Mogadíscio termina com o surgimento de novos centros comerciais no Índico: Quiloa,
Komores, Wamizi, Querimba, Ilha de Moçambique eSofala.

Este período da presença árabe (Primeiro) em Moçambique foi interrompido pela chegada dos
portugueses, nos finais do século XV. Dois séculos mais tarde viu-se um renascimento da
presença árabe, precisamente em fins do século XVII e princípios do século XVIII. Neste
período, foram tomadas as cidades que se encontravam sob o domínio português, como por
exemplo, Mombaça.

A Penetração Mercantil Europeia

Nos finais do século XV, após cerca de cinco séculos de presença árabe em Moçambique, iniciou
uma nova vaga de mercadores estrangeiros – os mercadores europeus, em particular,
portugueses. Ao longo de quase quatro séculos os portugueses estiveram envolvidos no comércio
de ouro com os shona do estado dos Mwenemutapa, de marfim com os Marave e de escravos
com as formações políticas do Vale do Zambeze e os reinos afro-islâmicos da Costa. Será, pois,
em torno deste processo que iremos nos debruçar ao longo desta lição.

A Penetração Mercantil Portuguesa


O primeiro contacto entre os portugueses e as gentes de Moçambique data de 1498 com a
chegada de Vasco da Gama, no âmbito da expansão europeia. Portanto não se tratou de uma

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acção premeditada que levou os portugueses a Moçambique, pois foi na busca do caminho
marítimo para Índia que pararam casualmente no nosso país.

Nessa sua passagem por Moçambique, os portugueses testemunharam o intenso comércio de


ouro que os árabes faziam com as populações de Moçambique, o que criou o interesse daqueles
pelo referido comércio.

No início do século XVI, o interesse dos portugueses pelo comércio levou-os a iniciar o processo
da sua fixação no território. Pelo que em 1505 fixam -se em Sofala e em 1507 na Ilha de
Moçambique.

A fixação dos portugueses em Sofala e Ilha de Moçambique tinha por finalidade assegurar o
controlo das rotas comerciais.

Esta fixação provocou tensão entre os árabes e os próprios portugueses pelo controlo do
comércio, mas até finais do século XVI os árabes detêm a supremacia no comércio com os
shona.

A reacção dos árabes à fixação portuguesa em Sofala e Ilha de Moçambique foi a abertura de
uma nova rota comercial dos Mwenemutapa para Angoche, o que levou, em 1511, a um ataque
português, mal sucedido, que não foi capaz de pôr termo às actividades árabes no sultanato,
continuando a fazer comércio com os Mwenemutapa.

Até 1530 os mercadores portugueses tentaram, sem êxito, lutar, não só contra o bloqueio que
lhes foi movido pelos árabes que transformaram Angoche num novo centro de escoamento de
ouro, mas também contra o bloqueio de certas dinastias shona à passagem das mercadorias da
costa para o interior. Só a partir desta data é que os portugueses decidiram penetrar no vale do
Zambeze a fim de ir ao encontro das fontes de produção, construindo feitorias em Tete e Sena
(1530) e Quelimane em 1544. Tratava-se, agora, não da tentativa de controlo das vias de
escoamento de ouro, mas do acesso as zonas produtoras.

Neste período, inicial, a penetração portuguesa no interior tinha em vista montar um sistema de
alianças com as classes dominantes locais, de forma a criar condições favoráveis da actuação do
capital mercantil.

Numa primeira fase a aliança visava eliminar a concorrência dos mercadores árabes e conseguir
o reconhecimento do capital mercantil português como único parceiro no comércio.

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Mesmo após a resistência árabe ter sido neutralizada, a aliança com a aristocracia shona, se bem
que tenha sido num contexto diferente, permaneceu uma necessidade estratégica.

Para atingir os seus objectivos, os portugueses adoptaram um sistema de alianças com a


aristocracia shona, mas em finais do século XVI a aliança não era ainda suficiente para pôr em
causa a autoridade do Mwenemutapa. Pelo contrário a aristocracia possuía uma margem de
manobra e de iniciativa bastante lata daí que os agentes portugueses subordinam-se aos
imperativos sociais e ideológicos dos Shona.

Os elementos fundamentais da supremacia shona sobre os mercadores estrangeiros


manifestavam-se no pagamento da curva e da empata e na observância do ritual “descalçar, tirar
o chapéu, estar desarmado e bater palmas para entrar na corte” em sinal de respeito ao rei.

Neste processo a ajuda militar concedida pelos portugueses ao Mwenemutapa parece ter
desempenhado um papel de relevo face à insurreição interna liderada por Matuzianhe, que se fez
cabeça de todos os levantamentos, intitulando-se rei de Makaranga.

O Mwenemutapa vendo que os seus inimigos se multiplicavam e não cessavam de o perseguir


pediu apoio aos portugueses de Sena. Em 1607, e em troca de apoio militar para fazer face as
revoltas internas, o mambo reinante, Gatsi Lucere, começa a ceder terras aos portugueses.

A cedência de Gatsi Lucere iniciou uma fase de aliança entre os shona e os portugueses.
Entretanto nem todos os integrantes da corte eram favoráveis às concessões feitas aos
portugueses. Assim quando Caprazine, da facção que se opunha aos interesses portugueses,
subiu ao trono em 1627, tentou retirar os privilégios destes.

A posição do novo rei em relação aos portugueses levou a que este fosse, por estes, deposto e
substituído por uma pessoa mais disposta a preservar os interesses dos portugueses – Mavura.

Em 1629 Mavura foi baptizado com o nome de Dom Filipe e declarou-se vassalo de Portugal.
Assinou um tratado que garantia aos portugueses a livre circulação de homens e mercadorias,
que se achavam isentas de qualquer tributo; a obrigatoriedade de Mwenemutapa consultar o
capitão português de Massapa antes de tomar qualquer decisão; a permissão para os mercadores
entrarem na corte de Mwenemutapa sem respeitar o protocolo e a autorização para a construção
de igrejas.

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Mais ainda nos finais do século XVII uma guarnição de 50 soldados portugueses passou a residir
no Zimbabwe do Mwenemutapa. Estavam deste modo estabelecidas formalmente as relações de
dependência do Mwunemutapa para com os portugueses.

O Processo de Mineração
O trabalho de mineração era geralmente organizado no quadro das relações de parentesco e da
divisão das tarefas no decorrer do processo produtivo fazia-se de acordo com esse quadro. Eram
sobretudo mulheres e crianças que trabalhavam nas minas ou, pelo menos, cabiam-lhes as tarefas
mais duras e perigosas, nomeadamente a de penetrar nas escuras galerias à procura de ouro. O
trabalho nas minas provocou a fuga de comunidades inteiras, particularmente nas áreas mineiras.

Entretanto, o capital mercantil, apesar dos aluimentos e das fugas de comunidades, submetia
cada vez mais a produção ao valor de troca, numa sociedade em que antes predominara a
produção de valores de uso.

Portanto as pessoas passaram a ser obrigadas a dedicar mais tempo a mineração em prejuízo das
actividades viradas para a subsistência.

Impacto da Penetração Mercantil Portuguesa


Como viu, caro aluno, com a penetração mercantil portuguesa a mineração passou a ser feita em
prejuízo da agricultura e outras actividades de subsistência contribuindo para a erosão da
economia natural das mushas;

Outra consequência do comércio do ouro é que ele despoletou lutas clânicas pelo controle do
comércio com os portugueses, visto tratar-se de uma fonte de obtenção de bens de prestígio. As
distensões internas que culminaram com a aliança dos Mwenemutapa aos portugueses, iniciando
a desintegração do estado tinham como principal motivação o controle do comércio do ouro.

A penetração mercantil portuguesa levou também ao surgimento de novas unidades políticas cuja
classe dominante era formada por mercadores portugueses estabelecidos como proprietários de
terras, que haviam sido doadas, compradas ou conquistadas (PRAZOS).

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A Rebelião de Changamire Dombo em 1693
Em 1693, como resultado do descontentamento que se instalou no estado perante o novo quadro
criado pelo acordo de 1629, Changamire Dombo, a convite do mwenemutapa Nhacunimbite
encabeçou um levante armado que levou a derrota dos portugueses e sua expulsão do estado.
Com estes acontecimentos terminava a fase do ou territorialmente ro e iniciava a do marfim.

Paralelamente, a dinastia dos Changamire impôs o seu poder alargando, o estado e substituindo a
velha dinastia dos Mwenemutapa. O novo Mambo colocado no poder ficou proibido de reatar as
relações comerciais com os portugueses. Marcando-se desta forma o fim do ciclo do ouro.

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Conclusão

Com este trabalho conclui-se que a penetração mercantil árabe e portuguesa em Moçambique
colocou em contacto as comunidades de Moçambique e os árabes. Como é natural, desse
contacto resultaram influências mútuas nas formas de vida económica política e sócio-cultural. O
comércio entre os árabe-persas e os povos africanos, envolvia sobretudo o ouro adquirido em
terras africanas em troca de bens de prestígios (panos de seda, objectos de vidro, missangas,
cobres, bebidas alcoólicas e outras bugigangas) e especiarias.

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Referências bibliográficas
MINEDH. Módulo 6 de História: Os estados em Moçambique e a Penetração Mercantil
Estrangeira. Instituto De Educação Aberta e à Distância (IEDA), Moçambique, s/d.
DHUEM. História de Moçambique: Parte I- Primeiras Sociedades Sedentárias e Impacto dos
mercadores, 200/300-1885; Parte II- Agressão Imperialista, 1886-1830. 1ª Edição, Vol. I,
Maputo, 2000.

KI- ZERBO, Joseph. História de África Negra. Mira Sintra, Publicações Europa – América; Vol.
I, 3ª ed. 1999.
NEWITTI, Malyn. História de Moçambique. Edição, Publicações Europa – América, 1997
SOUTO, Amélia de Neves. Guia Bibliográfico para Estudante de História de
Moçambique. (200/300-1930), Maputo, 1996.

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