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FACULDADE ÚNICA

DE IPATINGA

1
Thiago Henrique Sampaio
Doutorando em História (2020-) e Mestre (2015-2018) e graduado em História (2011-2014)
pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP/Assis). Mestre (2018-
2021) e graduando em Letras (2015-2018) pela mesma instituição. Especialista em
Formação Didático-Pedagógica para Cursos na Modalidade a Distância (2019-2021) do
convênio existente entre a Universidade Virtual de São Paulo (UNIVESP) com a UNESP.
Membro do Núcleo de História Econômica da Faculdade de Ciências e Letras
(UNESP/Assis), do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Africanos e Afro-brasileiros
(UNESP/Assis), do grupo Religiões e Trajetórias das Experiências Missionárias em África:
Arquivos, Acervos e Pesquisas sediado na Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
(UNIFESP), do Núcleo de História da África Contemporânea (UNIFESP) e do grupo
Economia e Política dos Impérios Ibéricos (sécs. XV-XX) da Cátedra Jaime Cortesão
(FFLCH/USP). Foi editor-chefe da Revista Faces da História - Revista Discente do Programa
de Pós-Graduação de História UNESP-Assis (ISSN: 2358-3878) no ano de 2017 e atualmente
faz parte do Conselho Editorial deste periódico. Faz parte da equipe gestora do GT
Estadual de História da África (ANPUH/SP), nos anos de 2016-2018 exerceu a função de
Segundo Secretário e no biênio 2018-2020 exerço a função de Primeiro Secretário, função
que manteve no biênio de 2020-2022. Possui experiência nas áreas de História da África,
História Contemporânea e Teoria Política. Trabalho com os temas de colonialismo,
imperialismo, neocolonialismo, imprensa em África, assimilação, discurso político e
colônia.

HISTÓRIA MODERNA

1ª edição
Ipatinga – MG
ANO

2
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL

Diretor Geral: Valdir Henrique Valério


Diretor Executivo: William José Ferreira
Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira
Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa
Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva
Bruna Luiza Mendes Leite
Carla Jordânia G. de Souza
Guilherme Prado Salles
Rubens Henrique L. de Oliveira
Design: Brayan Lazarino Santos
Élen Cristina Teixeira Oliveira
Maria Luiza Filgueiras
Taisser Gustavo de Soares Duarte

© 2021, Faculdade Única.

Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem
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NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA


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cos (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou
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abordado.
Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações
importantes nas quais você deve ter um maior grau de
atenção!

São exercícios de fixação do conteúdo abordado em


cada unidade do livro.

São para o esclarecimento do significado de


determinados termos/palavras mostradas ao longo do
livro.
Este espaço é destinado para a reflexão sobre questões
citadas em cada unidade, associando-o a suas ações,
seja no ambiente profissional ou em seu cotidiano.

4
SUMÁRIO

UNIDADE HUMANISMO E RENASCIMENTO ............................................................. 7

01
1.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 7
1.2 O HUMANISMO ............................................................................................................ 8
1.3 RENASCIMENTO E SUAS FASES .................................................................................. 11
1.4 A ARTE RENASCENTISTA ............................................................................................. 13
1.5 O RENASCIMENTO NO RESTO DA EUROPA............................................................... 16
FIXANDO CONTEÚDO ................................................................................................ 17

UNIDADE REFORMA PROTESTANTE E CONTRARREFORMA .................................... 22

02
2.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 22
2.2 O INÍCIO DA REFORMA PROTESTANTE: MARTINHO LUTERO .................................... 23
2.3 A REFORMA CALVINISTA ........................................................................................... 28
2.4 A REFORMA NA INGLATERRA: O ANGLICANISMO .................................................. 29
2.5 A REFORMA CATÓLICA: A CONTRARREFORMA....................................................... 31
2.6 AS GUERRAS RELIGIOSAS NA EUROPA ..................................................................... 33
FIXANDO CONTEÚDO ................................................................................................ 36

UNIDADE ABSOLUTISMO E MERCANTILISMO......................................................... 39

03
3.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 39
3.2 TEÓRICOS DO ABSOLUTISMO .................................................................................... 40
3.3 O ABSOLUTISMO NA FRANÇA ................................................................................... 43
3.4 O ABSOLUTISMO NA INGLATERRA ............................................................................ 46
3.5 O MERCANTILISMO .................................................................................................... 48
FIXANDO CONTEÚDO ............................................................................................... 51

AS GRANDES NAVEGAÇÕES .................................................................. 55


UNIDADE

04
4.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 55
4.2 INSTRUMENTOS E CONDIÇÕES DA EXPANSÃO MARÍTIMA ..................................... 56
4.3 O INÍCIO DAS GRANDES NAVEGAÇÕES: SÉCULO XIV AO XVI .............................. 58
4.4 INGLATERRA, FRANÇA E HOLANDA NAS GRANDES NAVEGAÇÕES ...................... 64
FIXANDO CONTEÚDO ............................................................................................... 66

UNIDADE O ILUMINISMO ....................................................................................... 71

05
5.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 71
5.2 OS FILÓSOFOS DO ILUMINISMO ................................................................................ 72
5.3 O ILUMINISMO E A ECONOMIA ................................................................................ 78
5.4 DESPOTISMO ESCLARECIDO ...................................................................................... 79
5.5 AS CONSEQUÊNCIAS DO ILUMINISMO..................................................................... 81
FIXANDO CONTEÚDO ................................................................................................ 84

UNIDADE A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ................................................................... 89

06
6.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 89
6.2 O PIONEIRISMO INGLÊS ............................................................................................. 90
6.3 AS MUDANÇAS SOCIAIS ........................................................................................... 92
6.4 O IMPACTO DA INDUSTRIALIZAÇÃO NAS CIDADES ................................................ 95
6.5 A LUTA DOS TRABALHADORES ................................................................................... 97
FIXANDO CONTEÚDO .............................................................................................. 100

RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ............................................. 104

REFERÊNCIAS ......................................................................................... 105

5
CONFIRA NO LIVRO

Na primeira unidade, abordaremos um importante movimento


cultural e intelectual que aconteceu no início da Idade Moderna:
o Renascimento. Além disso, pontuaremos suas principais fases, a
expansão dos seus ideais para o continente Europeu, além do o
Humanismo e sua oposição aos valores da Idade Média.

Na segunda unidade, abordaremos o cisma religioso que


aconteceu em 1517: a Reforma Protestante e seus impactos no
continente Europeu. Apontaremos o início da Reforma e suas
principais lideranças. Além disso, falaremos da reação da Igreja
Católica com o movimento de Contrarreforma.

Nessa unidade, falaremos do início da centralização do poder real


na figura do rei e as políticas econômicas dos Estados Europeus do
século XVI ao XVIII. Essa centralização ficou conhecida como
monarquias absolutistas e duraram até o século XIX. Já, as políticas
econômicas receberam o nome de mercantilismo e foram as
bases para o aparecimento posterior do capitalismo.

Na quarta unidade, falaremos do início das Grandes Navegações


e como elas foram um importante momento que marcou a Idade
Moderna devido o contato dos Europeus com os povos de outros
continentes. Analisaremos o pioneirismo português e as
navegações dos países ibéricos. Além disso, não podemos
esquecer que as Grandes Navegações não ficaram restritas a
Portugal e a Espanha, por isso Inglaterra, França e Holanda serão
analisadas também.
Na quinta unidade, assinalaremos o movimento intelectual e
cultural conhecido como Iluminismo e seus impactos para a
formação do mundo contemporâneo. O século XVIII ficou
conhecido como “O século das Luzes” devido a defesa da
racionalidade e dos conhecimentos científicos em prol do
desenvolvimento da sociedade. O Iluminismo não ficou restrito aos
planos das ideias e tiveram grande impacto na sociedade
naquele momento, uma de suas principais influências foram
advindas da Revolução Francesa de 1789.
Nessa última unidade, falaremos de um importante momento que
pode ser considerado um dos marcos da Idade Contemporânea:
a Revolução Industrial. Analisaremos o início da industrialização na
Inglaterra e sua proliferação no continente europeu. Além disso,
falaremos dos movimentos de resistência dos trabalhadores
industriais que começaram a aparecer desde o século XVIII. Além
dos impactos da Revolução Industrial que são sentidos até os dias
atuais.

6
HUMANISMO E RENASCIMENTO UNIDADE

1.1 INTRODUÇÃO

01
O Renascimento foi um momento histórico que aconteceu no final da Idade
Média e começo da Idade Moderna na Europa. Ele foi um movimento cultural,
artístico e científico que queria romper com os valores estabelecidos pela
sociedade medieval.
A Europa, nos séculos XI ao XIII, devido o aumento da produção agrícola e a
expansão comercial e urbana passou por um grande processo de
desenvolvimento. No início do século XIV, esses avanços econômicos passaram
por um desaceleramento que entre alguns motivos podemos listar a peste negra e
a guerra entre França e Inglaterra conhecida como Guerra dos Cem Anos. De
acordo com Sevcenko (1996, p. 07-08) a:

[...] crise do século XIV tem sido denominada também crise do


feudalismo, pois acarretou transformações tão drásticas na
sociedade, econômica e vida política da Europa, que praticamente
diluiu as últimas estruturas feudais ainda predominante e reforçou, de
forma irreversível, o desenvolvimento do comércio e da burguesia.
[...] A grande mortalidade decorrente da peste e da guerra
procedeu à desorganização da produção e disseminou a fome
pelos campos e cidades – razão das grandes revoltas populares que
abalaram tanto a Inglaterra e a França, quanto a Itália e a Flandres
nesse mesmo período.
Havia, porém, outras razões para as revoltas populares. Com o
declínio demográfico causado pela guerra e pela peste, os senhores
feudais passaram a aumentar a carga de trabalho e impostos aos
camponeses remanescentes, a fim de não diminuir seus rendimentos.
Era contra essa superexploração que os trabalhadores se
revoltavam. A solução foi adotar uma forma de trabalho mais
rentável, através da qual poucos homens pudessem produzir mais.
Adotou-se então, preferencialmente, o trabalho assalariado, o
arrendamento, ou seja, os servos foram liberados para vender seus
excedentes no mercado das cidades. Assim, estimulados pela
perspectiva de rendimento próprio, os trabalhadores e arrendatários
incrementaram técnicas e aumentaram a produção. Passaram a
predominar, portanto, as atividades agrocomerciais, como a
produção de cereais e de lã, e os novos empresários passaram a
exigir a propriedade exclusiva e privada das terras em que investiam.
Tudo isso concorreu para a dissolução do sistema feudal de
produção .

7
Diferente do restante do continente europeu, as partes norte e central da
Itália estavam com um processo desenvolvimento econômico por serem áreas
extremamente urbanizadas do continente. Essas cidades eram extremamente
mercantis e geravam um grande fluxo de riquezas.
O enriquecimento dessas localidades como Veneza, Gênova e Florença
permitiu que vários comerciantes e banqueiros prosperassem e a atividade
manufatureira aumentasse nessas localidades.
Importantes famílias dessas localidades tornaram-se financiadores de obras
de artes. Era uma maneira de mostrar seu poder e riqueza, essa prática ficou
conhecida como mecenato. Os artistas financiados por esses indivíduos
começavam a expressar em suas obras novos valores diferentes do final da Idade
Média.
Os valores teológicos, que marcaram o período medieval, começaram a ser
substituídos por valores individualistas e colocaram o homem como centro de todas
as medidas. A região da Itália tornou-se o principal centro dessa renovação que a
Europa passaria entre os séculos XIV ao XVI.

1.2 O HUMANISMO

Na época medieval, as universidades voltavam seus estudos para as


áreas de Direito, Medicina e Teologia. Durante o contexto do Renascimento, alguns
intelectuais apresentaram novas propostas para o ensino de outras áreas das
Ciências da Natureza, Matemática, Filosofia e outras. Esses pensadores ficaram
conhecidos como humanistas e mudaram profundamente o campo intelectual
nesse momento.
Inspirados pelos valores greco-romanos, buscaram exaltar as
capacidades dos indivíduos e valorizar a liberdade. O estudo das línguas clássicas,
grego e latim, foram retomados pelos humanistas para conseguir interpretar

8
importantes pensadores da antiguidade como Platão, Pitágoras, Plotino e
Aristóteles. Assim, diversos valores da Antiguidade Clássica foram retomados. De
acordo com Perry (1991, p. 271):

Os humanistas esperavam aprender o muito que não lhes ensinavam


os escritos medievais – especialmente, por exemplo, aprender a viver
bem neste mundo e a desempenhar os deveres cívicos. Para os
humanistas, eram os clássicos um guia para a felicidade e para a
vida ativa. Para se tornarem cultos, para aprenderem a arte do
escrever, do falar e do viver, era necessário conhecer os clássicos. Ao
contrário dos filósofos escolásticos que usavam a filosofia grega para
provar a verdade das doutrinas cristãs, os humanistas italianos
usavam o conhecimento clássico para alimentar o seu novo interesse
pela vida terrena.

Diferente do que acontecia durante a Idade Média com o pensamento


religioso que colocava Deus como centro do Universo (teocentrismo), os humanistas
buscaram valorizar as capacidades do homem e o fortalecimento do ideal
antropocentrismo (o homem como centro do Universo). Essa época foi marcada
por bastantes transformações no campo científico e de inovações. De acordo com
Herbert (2002, p. 20-21):

Durante o Renascimento, ocorreram grandes progressos em


anatomia, medicina, astronomia e matemática. A prensa foi
inventada e, pela primeira vez, os livros tornaram-se disponíveis para
pessoas. Foi também uma época de exploração do mundo e o início
da ciência moderna. Nicolau Copérnico afirmou que a Terra girava
em torno do sol. Muitos exploradores navegaram pelos mares em
busca de rotas comerciais para o Extremo Oriente. Cristovão
Colombo cruzou o Atlântico e aportou na América. As caravelas
portuguesas comandadas por Pedro Álvares Cabral chegaram às
terras do Brasil. Vasco da Gama contornou a África e alcançou a
Índia. Os navegantes de Magalhães deram a volta do globo.

Muitos cientistas durante o Renascimento buscaram fazer experimentos,


propor ideias e tentar aplicá-las.
Foi um período em que foram criadas muitas invenções e de grandes
avanços científicos. Durante os séculos XV e XVI, muitos intelectuais começaram a
se interessar pelos estudos do corpo humano, que ficou conhecido como anatomia.
Cientistas e artistas faziam dissecações de cadáveres para conhecer melhor as
estruturas dos seres humanos. Prática que era combatida pelos teólogos cristãos.
Outra importante questão nesse momento foi a teoria heliocêntrica proposta
por Nicolau Copérnico que afirmava que a Terra e outros planetas giravam em
torno do sol. Essa teoria causou muita polêmica na época pois contrariava as

9
interpretações cristã que afirmava que o sol girava em torno do planeta Terra
(teoria geocêntrica). Outros cientistas como Johannes Kepler e Galileu Galileu
defenderam posteriormente a teoria de Copérnico.

Figura 1: O homem vitruviano de Leonardo da Vinci

Fonte: GQ Globo. Disponível em: https://glo.bo/2Yww2Mr.


Acessado em 22 de maio de 2021 às 18h45.

Uma importante marca do humanismo foi que a produção intelectual dos


autores deixou de ser produzida apenas em latim e começou a ser escrita nas
línguas nacionais. Isso possibilitou o acesso das produções para um maior número
de leitores. Além disso, de acordo com Acker (1992, p. 13-14):
Muitos filósofos foram procurados para ensinar e aconselhar governantes,
como, por exemplo, Giordano Bruno, que frequentou as cortes de França e
Inglaterra; outros escreviam suas obras e as dedicavam a homens poderosos, como
Maquiavel, que dedicou um de seus livros mais famosos – O príncipe – a Lourenço
Médici, homem público de Florença.

10
1.3 RENASCIMENTO E SUAS FASES

O termo Renascimento tem origem na palavra italiana rinascita que possui o


significado de nascer novamente. Foi um importante contexto que buscava rever
as concepções do mundo que estavam presentes na época medieval. Tendo
seu início nas cidades italianas como Gênova, Florença e Veneza e posteriormente
espalhou-se para outras partes do continente europeu.
De acordo com Acker (1992), o termo buscava uma renovação em relação
ao medievo:

(os pensadores) do século XVI percebiam que viviam em uma nova


época, consideravam a época anterior – o período que passou a ser
chamado de Idade Média como um tempo de trevas e
obscurantismo e, para marcarem sua diferença com esse tempo
passado, voltaram-se para o passado mais distante – a Antiguidade
(Clássica) [...] Os próprios intelectuais daquele tempo chamaram
a época em que viviam de Renascimento, como se na Idade Média
não tivesse havido qualquer produção cultural importante (ACKER,
1992, p. 06-07)

O Renascimento é dividido em três principais períodos e com eles algumas


características principais:

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 Trecento (século XIV) – marcado pela transição entre os valores da época
medieval para o renascimento Renascentistas. O Renascimento nesse
momento teve início nas regiões italianas e tendo como principais centro
Veneza, Florença e Gênova. Na literatura temos como importante escritor
Dante Alighieri, que escreveu A divina comédia, e, na pintura, Giotto di
Bondone.
 Quattrocento (século XV) – época de prosperidade em diversas partes do
continente europeu e os valores renascentistas espalham-se pelo continente
chegando a outros países como Espanha, Portugal, França e Inglaterra.
Florença, administrada pela família Médici, tornou-se a principal região
renascentista da Europa. Para Johan Huizinga, o Quattrocento “dá-nos a
impressão de uma cultura renovada que tivesse quebrado as algemas do
pensamento medieval”. (HUIZINGA, 1985, p. 327). Os Médici patrocinaram
importantes artistas nesse momento como Sandro Botticelli e Donatello.
 Cinquecento (século XVI) – conhecido como Idade de Ouro do
Renascimento é marcado pelo maior esplendor das obras renascentistas e
tem como principais artistas de destaque Leonardo da Vinci (1452-1519),
Michelangelo (1475-1564) e Rafael Sanzio (1483-1520). Nesse momento, a
região da Itália passou por uma forte crise econômica devido à luta política
de suas cidades-Estados. Roma substituiu Florença como principal centro do
Renascimento e a influência dos principais artistas desse momento marcaram
profundamente a produção artística do mundo ocidental nos séculos
posteriores.

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Figura 2: Leonardo da Vinci

Fonte: Terra. Disponível em: https://bit.ly/3mmRxqU.


Acessado em 22 de maio de 2021 às 18h45.

Figura 3: Michelangelo

Fonte: Toda Matéria. Disponível em: https://bit.ly/3aeQaEW.


Acessado em 22 de maio de 2021 às 18h45.

1.4 A ARTE RENASCENTISTA

A arte durante a Idade Medieval tinha como uma de suas principais marcas
a religiosidade. Os artistas queriam demonstrar em suas obras valores da moral cristã
e por isso suas imagens tinham um caráter didático em suas representações.
Elas tinham aspectos bidimensionais e são estáticas, as personagens são
representadas em posições frontais e sem expressões definidas. Não havia
preocupação com a perspectiva ou com detalhes e nem rebuscamentos.
Com o Renascimento, as obras passaram por importantes transformações. A
estética da reprodução das figuras começou a ser uma das preocupações dos

13
intelectuais. Desta forma, pintores, arquitetos e escultores renascentistas buscaram
conhecer novas técnicas que eram provenientes de cálculos matemáticos e
buscavam conhecer melhor a anatomia humana. Para Sevcenko (1994, p. 27), “a
arte renascentista é uma arte de pesquisa, de invenções, inovações e
aperfeiçoamentos técnicos. Ela acompanha paralelamente as conquistas da física,
da matemática, da geometria, da anatomia, da engenharia e da filosofia”.
Uma das principais marcas das pinturas renascentistas foi a técnica da
perspectiva. Ela era baseada em cálculos e possibilitava que os objetos fossem
retratados como se tivessem profundidade. Os pintores buscavam criar um ponto
de fuga para criar esse efeito. Como podemos observar na imagem abaixo:

Figura 4: Exemplo da técnica de perspectiva

Fonte: Arte e Culturas. Disponível em: https://bit.ly/3BhBZLn.


Acessado em 22 de maio de 2021 às 18h45.

Outra importante marca de diferenciação entre a pintura medieval e a


renascentista foi que os pintores buscaram construir pinturas mais naturais e realistas
se aproveitando das noções espaciais como citadas anteriormente.
Nos aspectos literários, gêneros clássicos como a lírica e a epopeia
retomaram no cenário europeu e ganharam uma renovação. Diversos escritores
tiveram importante destaque nesse momento como Dante Alighieri, Camões,
William Shakespeare e Miguel de Cervantes.
Outra importante manifestação artística daquele momento foram as
esculturas que buscaram criar traços harmônicos com inspirações dos modelos
clássicos da antiguidade greco-romana. Elas foram feitas de mármore e buscavam
uma valorização das formas e físico humano. Entre os principais escultores da
época estão Michelangelo e Donatello.

14
Figura 5: Davi de Michelangelo

Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://bit.ly/3uNiAPT.


Acessado em 22 de maio de 2021 às 18h45.

A música também passou por uma renovação durante o Renascimento e


buscou criar novas formas e métricas. Vários instrumentos foram aperfeiçoados e
criados para produzir novos sons.
O alaúde e o saltério começaram a ser incorporados nas composições e
temáticas anteriormente rejeitadas devido a mentalidade medieval passaram a
estar presente em suas letras e ritmos.

15
1.5 O RENASCIMENTO NO RESTO DA EUROPA

O Renascimento se espalhou por diversas partes do continente europeu e em


cada localidade apresentou suas próprias especificações. Na França, por exemplo,
os intelectuais franceses se destacaram em diversas manifestações artísticas e os
mecenas tiveram um importante papel para o florescimento do Renascimento
nesse país.
Um dos principais intelectuais que se destacou nesse momento foi François
Rabelais com seu livro Gargântua e Pantagruel.
Em Flandres, região atual da Bélgica, a pintura foi uma das principais marcas
desse momento histórico. As pinturas retratavam o cotidiano da população e
mostrava as riquezas dos palácios da burguesia.
Nessa região, teve início a pintura a óleo na Europa, técnica que permitiu
que as cores fossem mais vivas nas pinturas e se alastrou para outros artistas
europeus.
Na virada do século XV para o XVI, a região da Alemanha estava passando
por outro processo histórico que veremos a seguir, a Reforma Protesta, e isso
influenciou as manifestações artísticas da localidade. Muitas pinturas retratavam
temas religiosos de maneira sombria e entre seus principais pintores se destacam as
obras de Hans Holbein.
Na península ibérica, o Renascimento chegou no início do século XVI. Na
Espanha, o Renascimento teve como principal característica a forte abordagem de
temas religiosos em suas diversas manifestações culturais. Já na literatura, uma das
principais obras produzidas nesse momento foi de Miguel de Cervantes, o livro Dom
Quixote.
Em Portugal, as manifestações renascentistas ocorreram fortemente na
literatura tendo como principais obras Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões e os
textos Auto da Barca do Inferno, Auto das almas e A farsa de Inês Pereira escritos
por Gil Vicente.

16
FIXANDO CONTEÚDO

1. (PUC-RIO 2007) À EXCEÇÃO DE UMA, as alternativas abaixo apresentam de


modo correto características do Renascimento. Assinale-a.

a) O retorno aos valores do mundo clássico, na literatura, nas artes, nas ciências e
na filosofia.
b) A valorização da experimentação como um dos caminhos para a investigação
dos fenômenos da natureza.
c) A possibilidade de uma estreita relação entre os diferentes campos do
conhecimento.
d) O fato de ter ocorrido com exclusividade nas cidades italianas.
e) O uso da linguagem matemática e da experimentação nos estudos dos
fenômenos da natureza.

2. (UDESC 2008) A história da cultura renascentista nos ilustra com clareza todo o
processo de construção cultural do homem moderno e da sociedade
contemporânea. Nele se manifestam, já muito dinâmicos e predominantes, os
germes do individualismo, do racionalismo e da ambição ilimitada, típicos de
comportamentos mais imperativos e representativos do nosso tempo.
(SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. São Paulo: Atual, 1987.)

Sobre a cultura renascentista, a que se refere Sevcenko, assinale V (Verdadeiro)


para as afirmações verdadeiras e F (Falso) para as afirmações falsas.

( ) O Renascimento marcou a transição da mentalidade medieval para a


mentalidade moderna, ao traduzir novas concepções que tinham como
referência o humanismo, enquanto base intelectual que procurava definir e
afirmar o novo papel do homem no universo.
( ) Em meio à desorganização administrativa, econômica e social, principais
características da cultura renascentista, praticamente apenas a Igreja Católica
conseguiu manter-se como instituição, conquistando assim grandes poderes e
ampliando sua influência sobre a sociedade.

17
( ) Ao formular princípios como o humanismo, o racionalismo e o individualismo, o
movimento renascentista estabeleceu as bases intelectuais do mundo moderno.
( ) A cultura renascentista consagrou a vitória da razão abstrata, instância
suprema de toda a cultura moderna, pautada no rigor das matemáticas que
passaram a reger os sistemas de controle do tempo, do espaço, do trabalho e
do domínio da natureza.
( ) Em meio a esse processo, transformações socioeconômicas culminaram na
substituição de pequenas oficinas de artesãos por fábricas, assim como as
ferramentas simples foram trocadas pelas novas máquinas que então haviam
surgido.

Assinale a alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo.


a) V - F - V - V - F
b) V - V - F - V - V
c) F - F - V - V - F
d) F - V - F - V - V
e) V - V - F - F - V

3. (UFF 2010) O mundo moderno está associado, na sua origem, à cultura


renascentista. Invenções e descobertas só puderam ser realizadas porque os
intelectuais renascentistas reuniram tradições clássicas ocidentais e orientais, a
fim de dar novo sentido à ideia de HOMEM e NATUREZA. Assinale a afirmativa que
pode ser corretamente associada ao Renascimento.

a) O livro da natureza foi escrito em caracteres matemáticos. (Galileu)


b) O homem é imagem e semelhança de Deus. (Jean Bodin)
c) O mundo é perfeito porque é uma obra divina e, assim, só pode ser esférico.
(Marsílio Ficino)
d) A perspectiva é o fundamento da relação entre espaço humano e natureza
divina. (Alberti)
e) A proporção é a qualidade matemática inadequada à representação do
mundo natural. (Leonardo da Vinci)

4. (Enem 2011) Acompanhando a intenção da burguesia renascentista de ampliar

18
seu domínio sobre a natureza e sobre o espaço geográfico, através da pesquisa
científica e da invenção tecnológica, os cientistas também iriam se atirar nessa
aventura, tentando conquistar a forma, o movimento, o espaço, a luz, a cor e
mesmo a expressão e o sentimento. (SEVCENKO, N. O Renascimento. Campinas:
Unicamp, 1984.)

O texto apresenta um espírito de época que afetou também a produção artística,


marcada pela constante relação entre:
a) fé e misticismo
b) ciência e arte.
c) cultura e comércio.
d) política e economia.
e) astronomia e religião

5. (URCA 2018/1) As obras literárias produzidas durante o Renascimento privilegiam


as seguintes características, exceto:
a) Recuperação de temas da Antiguidade Clássica e racionalismo.
b) Perspectiva humanista e Universalidade.
c) Universalidade e recuperação de tema da Antiguidade Clássica.
d) Racionalismo e perspectiva humanistica.
e) Metafísica e religiosidade.

6. (URCA 2017/1) Pouco depois de 1300 havia começado a decair a maioria das
instituições e dos ideais característicos da época feudal. A cavalaria, o próprio
feudalismo, o Santo Império Romano, a autoridade universal do papado e o
sistema corporativo iam aos poucos enfraquecendo. O nome tradicionalmente
aplicado a essa civilização, que se estende de 1300 a cerca de 1600, é o de
Renascença. Sobre este período, podemos apontar corretamente como fatores
formadores:
a) O isolamento completo da Europa que evitou as influências das civilizações
sarracena e bizantina.
b) A decadência do comércio interno e externo da Europa.
c) A redução do tamanho das cidades e de suas áreas de influências.
d) A renovação do interesse pelos estudos clássicos nas escolas dos mosteiros e das

19
catedrais.
e) O desenvolvimento de uma atitude crítica, inspirada na filosofia acomodada da
escolástica.

7. (URCA 2015/1) Renascimento é o nome que se dá ao movimento de mudanças


culturais, que atingiu as camadas urbanas da Europa Ocidental entre os séculos
XIV e XVI, caracterizado pela retomada dos valores da cultura greco-romana, ou
seja, da cultura clássica. Esse momento é considerado como um importante
período de transição envolvendo as estruturas feudo capitalistas. Sobre este
movimento assinale a alternativa CORRETA:
a) Suas bases eram proporcionadas pela corrente filosófica do humanismo, que
descartava a escolástica medieval, até então predominante, e propunha o
retorno às virtudes da antiguidade;
b) O movimento envolvia uma nova sociedade. A vida rural passou a implicar uma
nova mentalidade, pois o trabalho, a diversão, o tipo de moradia, implicavam
um novo comportamento dos homens.
c) O Renascimento foi um movimento de alguns artistas que destoava da nova
concepção de vida adotada na época por uma parcela da sociedade, e que
era combatida nas obras de arte.
d) O Renascimento foi uma cópia da Antiguidade, pois se utilizava dos mesmos
conceitos aplicados da mesma maneira à uma nova realidade;
e) Com forte base racionalista rompeu completamente com os princípios cristãos
da época, o que levou às perseguições realizadas à época pelo Santo Tribunal
da Inquisição da Igreja Católica e a queima de várias obras filosóficas e literárias
em praça pública.

8. (Unespar 2017) O Renascimento italiano pode ser caracterizado:


a) Por uma sociedade teocêntrica, baseada na produção agrícola,
predominantemente alfabetizada e rural;
b) Por uma visão predominantemente antropocêntrica, com intensas trocas
comerciais e cujas obras de arte foram, em boa medida, inspiradas nos modelos
da antiguidade clássica;
c) Por uma contraposição direta à “Idade das Trevas”, sobretudo porque os artistas
renascentistas tinham, majoritariamente, aversão ao cristianismo;

20
d) Pela inexistência de estudos da anatomia humana, já que essa era uma
proibição expressa da Igreja Católica;
e) Pela invenção da imprensa, ainda no século XV, o que gerou uma sociedade
alfabetizada, em sua maioria.

21
REFORMA PROTESTANTE E UNIDADE
CONTRARREFORMA

2.1 INTRODUÇÃO 02
A principal instituição durante o período medieval foi a Igreja Católica que
conseguiu manter sua unidade. Entre os princípios dessa unidade estavam a
infalibilidade papal e o papel que o clero teria entre intermediários do plano terreno
e Deus. Os dogmas religiosos eram impostos para a sociedade e as opiniões
contrárias aos ensinamentos religiosos da instituição eram conhecidas como
heresias. De acordo com a Igreja, as heresias eram ideias ofensivas à religião
cristã e se opunham às vontades de Deus.
Com o fim da Idade Média, a Igreja Católica Romana começou a ser
condenada pelo seu comportamento devido aos desvios de conduta do clero.
O clero desfrutava de muitos privilégios e uma vida extremamente confortável
comparada ao restante da população. Além da intromissão na vida política da
sociedade como, por exemplo, papas que tomavam lado em conflitos entre países
europeus.
Nesse momento final da Idade Média, a Igreja passou por uma profunda
crise espiritual que se intensificou ao longo do século XVI. Os críticos da instituição
afirmavam que ela se transformou em um balcão de negócios devido às vendas
de cargos, relíquias de santos e das chamadas indulgências. Além disso,
moralmente, o clero não praticava muito dos ensinamentos religiosos como, por
exemplo, o celibato, muitos tinham famílias e os filhos tinham privilégios sociais.
Segundo Skinner (1996, p. 339)

Finalmente, os mesmos sentimentos de hostilidade aos poderes da


Igreja cresciam, nos anos que antecederam a Reforma, na voz das
próprias autoridades seculares. O primeiro ponto que contestaram
foram os privilégios e jurisdições a que o estamento clerical aspirava
tradicionalmente. Essa objeção muitas vezes se acompanhava de
uma tentação, cada vez maior, a deitar olhos de cobiça sobre as
vastas extensões de terra que, por aquele tempo, eram propriedade
de bom número de comunidades religiosas.

Outro motivo que causou descontentamento político dos países europeus


nesse momento foi o posicionamento da Igreja diante da expansão marítima. A

22
Igreja posicionou-se favoravelmente a Espanha e “partilhou” o mundo entre os
países ibéricos, fato que deixou os outros reinos europeus irritados com os
posicionamentos políticos da instituição.
As críticas à Igreja se acentuaram com o desenvolvimento da prensa no
século XV devido às interpretações das Escrituras Sagradas (a Bíblia). O texto
bíblico era escrito em latim e os exemplares eram confeccionados nos mosteiros,
feitos pelos monges copistas. As interpretações do livro sagrado eram exclusivas dos
membros do clero. Com a prensa, o acesso a Bíblia tornou-se mais fácil a
população e começou a ser produzida em línguas vulgares, como francês, italiano,
castelhano, alemão e russo. O exemplar impresso dispensava a presença do clero e
permitia uma reflexão pessoal do cristão sobre o que estava escrito, assim os fiéis
poderiam ter um contato direto com a Bíblia sem precisar de intermediários sobre os
ensinamentos divinos.
Nesse caldeirão de motivações somou-se a insatisfação da burguesia que
estava surgindo e os nobres contrários ao poder do clero diante da sociedade. Os
burgueses não conseguiam expandir seus negócios e acumular riquezas devido a
condenação da prática da usura e a nobreza esbarrava na Igreja sobre as
limitações dos poderes temporais e arrecadação de tributações exercida pelo
clero.

2.2 O INÍCIO DA REFORMA PROTESTANTE: MARTINHO LUTERO

Lutero foi o iniciador da Reforma, era um monge alemão que se indignou


com a problemática da venda das indulgências. Ele acreditava que os pecados
não poderiam ser perdoados pelas ações humanas, assim as peregrinações,
relíquias de santo e compra das indulgências não poderiam garantir a salvação.
Apenas, para Lutero, a bondade de Deus seria capaz de perdoar os pecados
humanos.

23
Figura 6: Martinho Lutero

Fonte: História do Mundo. Disponível em: https://bit.ly/2Yy8jvb.


Acessado em 23 de maio de 2021 às 10h37

Ele foi professor de Teologia na Universidade de Wittenberg, região da


Saxônia (Alemanha). Em 1517, Lutero afixou na Igreja de Wittenberg suas 95 teses,
esse documento fez duras críticas a Igreja e seus desvios de comportamento
(principalmente a venda das indulgências). A autoridade papal e o acúmulo de
riquezas feito por séculos em nome da fé foi duramente criticado. Algumas das
teses foram:

1. Ao dizer: “Fazer penitência”, etc [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre


Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência.
2. Esta penitência não pode ser entendida no sentido da penitência
sacramental (isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo
ministério dos sacerdotes).
3. No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior:
sim, a penitência interior seria nula se, extremamente, não produzisse
toda sorte de mortificação da carne.
4. Por consequência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si
mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a
entrada dos reinos dos céus.
5. O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão
daquelas que impôs por decisão própria ou dos cânones.
6. O papa não pode remitir culpa alguma senão declarando e
confirmando que ela foi perdoada por Deus, ou, sem dúvida,
remitindo-a nos casos reservados para si; se estes forem desprezados,
a culpa permanecerá por inteiro.
[...]
10 Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes
que reservam aos moribundos penitências canônicas para o
purgatório.
11. Essa erva daninha de transformar a pena canônica em pena do
purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente
dormiam.
[...]

24
21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que
a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgência do
papa.
22. Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma
única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta
vida.
23. Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a
alguém, ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é,
pouquíssimos.
24. Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente
ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da
pena.
[...]
27. Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a
moeda lançada na caixa, a alma sairá voando.
28 Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, podem aumentar o
lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas
da vontade de Deus. [...]
33. Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem as
indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da
qual a pessoa é reconciliada com Deus.
[...]
36. Qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito a
remissão de pena e culpa, mesmo sem carta de indulgência.
[...]
43. Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou
emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se
comprassem indulgências.
44. Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa
se torna melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna
melhor, mais apenas livre da pena.
[...]
75. A opinião de que as indulgência papais são tão eficazes a ponto
de poderem absolver um homem [...] é loucura.
86. Por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos ricos
Crasso, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos a Basílica de
São Pedro, em vez de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?
[...] (LUTERO, 2005, p. 119-120.)

Seu escrito teve severas reações e foi estabelecido um processo de


julgamento. Com o processo instaurado, outros clérigos da região começaram a
defender suas ideias e reproduzi-las nos sermões e outros manuscritos. As
repercussões das suas ideias foram amplamente debatidas nas universidades
europeias. Devido ao impacto que causou, foi convocado a comparecer em
Roma, mas um príncipe alemão o defendeu (Frederico, o Sábio).
Em um discurso, proferido em 1519, fez várias críticas ao poder papel e diante
de um representante romano, sustentou que os papa s como todos os seres
humanos eram cabíveis aos erros. Afirmou que seus ideais deveriam ser debatidos
em um concílio cristão e, posteriormente, defendeu o sacerdócio universal (poder

25
que todo o cristão teria para levar os ensinamentos das Sagradas Escrituras).
O papa, em 1520, declarou que 41 teses de Lutero eram consideradas
heresias e pediu que o monge se retratasse. Entretanto, ao receber o documento
papal, o queimou em vias públicas e como consequência disso foi excomungado
pela Igreja.
Devido a grande repercussão que causou sua atitude e a impossibilidade de
se fazer um Concílio para o debate de suas ideias, Lutero começou a escrever
obras que seriam a base de uma nova religião, que ficou conhecida como Igreja
Luterana.
Entre os princípios dessa nova religião estavam que os poderes terrenos eram
separados do poder religioso, que as instituições eclesiásticas eram passíveis de
erros por serem feita por humanos, que o batismo não retirava o pecado original
das crianças, defendia que as missas fossem feitas em línguas vulgares para a
compreensão das pessoas e que o sacramento da eucaristia não se transformava
no corpo de Cristo.
Lutero foi fortemente perseguido pelos católicos e passou o resto da sua vida
protegido pelos nobres da região de Wittenberg, Alemanha. Lutero só saiu da
região em 1546 quando veio a falecer em sua cidade natal, Eisleben.
A difusão do luteranismo ganhou espaço em muitos religiosos, burgueses e
nobres que começaram a seguir suas doutrinas e a se denominar cristãos luteranos.
Devido a forma de protesto aos ideais adotados pelo Lutero, esses cristãos ficaram
conhecidos como protestantes. Entre os principais pontos de defesa dos
protestantes estava a tradução da Bíblia para outras línguas para possibilitar o
acesso a todas as pessoas. De acordo com Hill (1987, p. 104):

A erudição protestante desmascarou muitas superstições católicas e


popularizou a bíblia nas línguas vernáculas. Da mesma forma, o
estudo pelos protestantes dos livros proféticos da Bíblia visava a dar
base racional à ciência da profecia. [...] A invenção da imprensa,
proporcionando um registro permanente das profecias talvez tenha
contribuído para a denúncia de suas ambiguidades e falácias. A
sensação de liberdade que podia vir da confiança em tais predições
era ilusória. Pois a Bíblia, se fosse compreendida de maneira
adequada, realmente libertaria os homens do destino e da
predestinação. Entendendo-se os propósitos de Deus e cooperando
com eles, acreditava-se que seria possível escapar das forças cegas
que pareciam reger o mundo, e até mesmo do próprio tempo; os
homens assim alcançariam a liberdade.

Os protestantes acreditavam que os fiéis poderiam manter uma relação mais

26
direta com Deus e o culto aos santos e a Maria foram desvalorizados. As missas
luteranas eram mais participativas e o celibato não era obrigatório. Os únicos
sacramentos considerados válidos pelos pastores luteranos eram a eucaristia e o
batismo.
A expansão do luteranismo atingiu outros países como a Dinamarca,
Noruega, Suécia, Suíça e atingiu países com forte tradição católica como a
Espanha, Portugal e França.

Figura 7: Mapa da Europa entre católicos e protestantes (século XVI)

Fonte: História Bate-Cabeça. Disponível em https://bit.ly/3oDdXa7. Acessado em 23 de maio


às 11h30.

27
2.3 A REFORMA CALVINISTA

João Calvino foi membro de uma família burguesa suíça e era francês.
Estudou Direito e tornou-se conhecedor das línguas e culturas clássicas. Foi
fortemente influenciado pelas obras de Lutero e tornou-se crítico das ações
cometidas pela Igreja Católica.

Figura 8: João Calvino

Fonte: Wikipédia. Disponível em: Acessado em 23 de maio às 11h32

Com apoio de autoridades de Genebra, na Suíça, começou suas pregações


e contou com defesa pessoal contra as perseguições feitas pelos católicos. Calvino
criou ensinamentos sobre uma disciplina eclesiástica mais dura e um culto com mais
ordenamento que a Igreja Católica.
Sua Igreja propunha uma organização obrigatória entre seus fiéis e os
pastores deveriam observar os comportamentos dos fiéis. A hierarquia da Igreja
Calvinista era dividida entre pastores, anciãos, diáconos e doutores. Eles criaram um
rígido controle para sua comunidade e as atitudes consideradas imorais (como
danças, bebidas alcóolicas e interpretações profanas) eram duramente criticadas.
Entre os sacramentos mantidos por essa nova religião estava a eucaristia e o
batismo.
De acordo com a Igreja Calvinista, os seres humanos são marcados pela
predestinação, ou seja, decisões divinas onde Deus teria traçado o caminho de
cada pessoa antes do seu nascimento. Dessa forma, algumas já estariam salvas e

28
outras condenadas. De acordo com Calvino (2006, p. 86-89):

Então, na verdade, ainda mais solidamente nosso coração se


solidifica, quando refletimos que somos arrebatados de admiração,
mais pela dignidade do conteúdo do que pela graça da linguagem.
Ora, isso não se deu sem a [...] providência de Deus, ou seja, que os
sublimes mistérios do reino celeste fossem [...] transmitidos em termos
de linguagem singela e sem realce [...]. Ora, quando essa
simplicidade não burilada e quase rústica provoca maior reverência
de si que qualquer eloquência de oradores retóricos, como há de
julgar-se, senão que a pujança da verdade da Sagrada Escritura se
manifesta de forma tão sobranceira, que necessidade nenhuma há
do artifício das palavras? [...] porque a verdade se dirime de toda
dúvida quando, não se apoiando em suportes alheios, por si só ela
própria é suficiente para suster-se.

Para Luizetto (1991, 44-46):

A doutrina da predestinação é a marca distintiva do pensamento


religioso de Calvino. Também é o ponto em que as suas ideias mais
se distanciam tanto da doutrina católica das boas obras como da
doutrina da justificação pela fé do luteranismo.
Nas páginas da Instituição da Religião Cristã define nestes termos a
noção de predestinação: ‘trata-se do eterno decreto de Deus com o
qual sua Majestade determinou o que deseja fazer com cada um
dos homens’.
Na sequência do texto, esclarece que todos os homens são criados
‘em uma mesma condição e estado’; no entanto, ‘o eterno decreto
de Deus’ estabelece que alguns homens conhecerão a bem-
aventurança eterna, enquanto que outros sofrerão a condenação
eterna. Portanto, ‘de acordo com a finalidade com que cada um é
criado, dizemos que é predestinado ou à vida ou à morte’.

O sinal da predestinação seria a prosperidade obtida através do trabalho.


Essa religião começou a contar com forte presença de burgueses em ascensão que
abraçaram o princípio da predestinação. Diferente de Lutero, que criou uma
religião e contou com forte apoio da nobreza, João Calvino teve forte apoio da
burguesia devido à sua doutrina de predestinação. Assim, o lucro, o trabalho e o
esforço de cada indivíduo se tornaram parte da religião Calvinista. Essa religião se
espalhou rapidamente por outras partes da Europa como, por exemplo, Holanda,
França e Escócia.

2.4 A REFORMA NA INGLATERRA: O ANGLICANISMO

A Reforma na Inglaterra foi liderada pelo rei Henrique VIII que, em 1527,
solicitou a anulação do seu casamento ao papa para casar-se novamente com
uma aristocrata chamada Ana Bolena. Roma recusou a anulação do casamento

29
devido a primeira esposa de Henrique VIII ser parente da família real católica
espanhola. Devido a recusa do papado de anular seu casamento, foi estabelecida
uma igreja independente de Roma na Inglaterra: a Igreja Anglicana.
A Igreja Anglicana foi aprovada em 1534 pelo Ato de Supremacia e era uma
Igreja vinculada ao poder do monarca inglês, no qual era seu chefe supremo e
retirou os poderes papais do clero existente em territórios ingleses. O anglicanismo
foi constituído por uma série de combinações entre elementos do catolicismo e do
luteranismo que variou ao longo dos séculos. O celibato era voluntário do clero,
foram mantidos a eucaristia e o batismo como sacramentos, condenou-se a venda
das indulgências, as missas deveriam ser celebradas em inglês e crítica a venda de
relíquias de santos.

Figura 9: Henrique VIII

Fonte: Aventuras na História. Disponível em https://bit.ly/3FmIXRH.


Acessado em 23 de maio às 12h04.

30
2.5 A REFORMA CATÓLICA: A CONTRARREFORMA

As críticas à Igreja Católica não se restringiram apenas aos protestantes,


muitos clérigos católicos queriam uma profunda reforma da Igreja. Um desses
críticos conhecidos foi Erasmo de Roterdã, em seu livro Elogio da loucura criticou
profundamente o clero e pedia uma mudança de postura nas estruturas clericais.
Devido a pressão de setores dentro da Igreja Católica, a igreja realizou uma
série de alterações em suas instituições e procurou restabelecer alguns princípios.
Essa atitude ficou conhecida como Contrarreforma e foi uma contra ofensiva a
expansão das religiões protestantes no continente europeu.
Entre as medidas tomadas foi realizado o Concílio de Trento, entre 1545 e
1563, que reuniu diversos representantes do clérigo católico europeu na cidade
italiana de Trento. Teve como principal motivação renovar a afirmação da fé
católica, esclarecer os católicos das críticas desenvolvidas pelos protestantes e
reafirmar o poder papal. De Acordo com Siqueira (1998, p. 15):

O Concílio de Trento desencadeou um processo de reordenação da


própria Igreja Católica, conhecida como Reforma Católica. O papel
da Igreja, do clero e dos leigos foi reavaliado, e tomaram-se medidas
para assegurar a união de todos os cristãos e para tornar outros
povos cristãos. A Reforma Católica assentou-se sobre três pilares: o
Concílio de Trento (bases da fé), a Companhia de Jesus
(missionarismo) e a Inquisição (vigilância contra a heresia). As três
instituições são frutos do mesmo clima e das mesmas intenções,
embora tenham sido instituídas em datas diferentes e não
sequenciais. A formação do clero, a renovação dos costumes
eclesiásticos, as praticas religiosas ganharam novo incentivo.

O latim foi mantido como língua das liturgias, manteve-se a proibição do


casamento pelo clero, manteve os sacramentos (batismo, crisma, eucaristia,
matrimônio, confissão, ordem e extrema-unção), manteve-se o culto aos santos, a
prática das indulgências, presença de imagens nas igrejas e reafirmou o dogma da
infalibilidade papal.
Diferente do que propunha as religiões protestantes, a salvação, de acordo
com o Concílio, se daria devido aos esforços humanos e à graça de Deus. As boas
ações e as práticas de moralidade estariam ligadas para os indivíduos alcançarem
a salvação.
Foi estabelecido o Tribunal do Santo Ofício, órgão que deveria julgar atos dos
católicos considerados impróprios para a fé romana. Esse sistema ficou conhecido
como Inquisição. Além disso, houve a elaboração de uma lista de livros proibidos

31
que deveriam ser retirados de circulação e proibida sua leitura entre os católicos,
conhecida como index.
Os reinos católicos auxiliavam o Tribunal do Santo Ofício na execução das
penas dos condenados que poderiam ser degredados, prisões ou até mesmo
execuções públicas.
A disciplina eclesiástica sofreu alteração com o Concílio de Trento e com isso
a venda de cargos eclesiásticos tornou-se proibida. Além disso, o papa teve seus
poderes fortalecidos e com isso mantinha-se o sistema de hierarquia presente na
Igreja.
Em 1534, foi fundada a Companhia de Jesus, por Inácio de Loyola, que foi
um importante instrumento da Contrarreforma. Seus integrantes ficaram conhecidos
como jesuítas e sua organização interna assemelhava-se a órgãos militares. Eles
tiveram um importante papel na catequização de povos da Ásia, África e América
e na ação educativa dessas populações. De acordo com Vainfas (2013, p. 99):

Em 1540, o papa Paulo III aprovou o instituto inaciano, e os jesuítas se


lançaram ao Oriente português, sob a batuta de Francisco Xavier
(1506-1552). No mesmo século, alcançaram a China, onde o padre
Matteo Ricci (1552-1610) iniciou a adaptação do cristianismo à língua
chinesa falada em Macau. Em 1549, chegaram ao Japão, onde Luís
Fróes traduziu o cristianismo para a cultura local, experiência que
terminou em tragédia, pois os jesuítas acabaram martirizados em
1638, após uma revolta de camponeses cristãos.

No mundo atlântico, alcançaram o Congo ainda em 1548, favorecidos pela


conversão do manicongo, o governante do Reino do Confo, ao cristianismo. Logo
se instalaram em Angola e fundaram o colégio de Luanda. Como no Oriente,
traduzira o cristianismo para a cultura dos povos bantos. Essa missionação na África
centro-ocidental põe em xeque a tese de que os escravos enviados ao Brasil
desconheciam o cristianismo.
Os jesuítas tiveram um importante papel na colonização da América até sua
expulsão no final do século XVIII.
Outro importante instrumento utilizado pela Contrarreforma foi a arte
barroca. O Barroco aconteceu ao longo do século XVII e início do XVIII e foi
caracterizado pelos exageros, profundidade, jogo de luz e sombras. Essas marcas
devem-se a dualidade vivida pelo continente europeu entre a fé e a razão. Esse
movimento de dualidade permitia que as pessoas refletissem. De acordo com
Savelle (1968, p. 32)

32
Se a atenção do homem medieval se focalizava no céu, e a do
homem da Renascença neste mundo, a atenção dos homens do
século XVII estava voltada para dentro, residindo na natureza e nas
emoções do próprio ser humano. A expressão cultural desse período
introspectivo, centralizado no homem, é geralmente chamada
Barroco.

Em diversas vertentes artísticas o barroco se manifestou como a literatura, a


escultura, as pinturas e teve como um dos seus principais artistas o italiano
Caravaggio.

Acesso
em: dia mês ano. Além disso, indicamos que assistam o filme Lutero que retrata a vida do
monge durante a Reforma Protestante disponível no seguinte link https://bit.ly/3DiXZpA.
Acesso em: dia mês ano.

2.6 AS GUERRAS RELIGIOSAS NA EUROPA

Devido ao conflito existente entre católicos e protestante, a Europa se tornou


no século XVI e XVII cenário de diversas guerras religiosas. A religião tornou-se fator
para acirramento político e de disputa no interior de cada país.
Na França, a monarquia ficou do lado do catolicismo e encarregou-se de
reprimir os protestantes. Entretanto, alguns nobres e setores da burguesia aderiram
ao calvinismo e ficaram conhecidos como huguenotes. Em 1572, aconteceu um
dos piores conflitos envolvendo católicos e protestantes em território francês: a Noite
de São Bartolomeu. Por ordem da Rainha Catarina de Médici, 30 mil huguenotes
foram mortos em Paris e seus arredores e aumentou o ódio entre católicos e
protestantes.
Alguns anos depois, em 1589, assumiu o trono francês o rei Henrique IV que
era protestante, mas devido a pressão de setores católicos teve que renunciar ao
protestantismo. Em 1598, foi assinado o Edito de Nantes onde garantiu a liberdade
religiosa entre protestante nos territórios franceses. Posteriormente, Henrique IV foi
assassinado por um católico e aumentou os conflitos entre católicos e protestantes
nas décadas posteriores.

33
Na Inglaterra, com a morte de Henrique VIII ocorreram diversas mudanças
religiosas bruscas. Eduardo VI, que o sucedeu, estimulou os cultos anglicanos. Maria I
restabeleceu o catolicismo como religião oficial na Inglaterra, causando sérios
conflitos religiosos no país. Posteriormente, Elizabeth I declarou o anglicanismo como
religião oficial da monarquia.
Elizabeth I fortaleceu o anglicanismo como religião oficial, entretanto outros
grupos religiosos presentes no território inglês fizeram várias críticas à política da
rainha. Esse grupo era de calvinistas que ficaram conhecidos como puritanos
porque acreditavam que tinham a missão de purificar a religião anglicana das
tradições que mantinha do catolicismo. Outro grupo religioso que se opunha à fé
anglicana foram os presbiterianos que reivindicavam uma remodelação da
estrutura da Igreja anglicana com maior liberdade nas paróquias.
Tanto puritanos quanto presbiterianos foram perseguidos pelo poder
monárquico. Além deles, católicos mantinham uma oposição do controle da
monarquia na Igreja, eles ficaram conhecidos como recusantes e com a ajuda de
militares espanhóis conseguiram se rebelar na Irlanda entre os anos de 1579 a 1581.
Após esse conflito, ocorreu uma intensificação da perseguição de católicos
nos territórios ingleses e o culto católico passou a ser considerado uma afronta à
monarquia inglesa e crime de alta traição. Como demonstração de poder da
monarquia inglesa, em 1587, a rainha escocesa Maria Stuart, que tinha apoio da
Espanha, foi condenada e executada com outros católicos. Mesmo após esse
episódio, o conflito entre católicos e a casa monárquica não cessaram na
Inglaterra e se intensificaram ao longo das décadas seguintes.
Diferente do que acontecia no restante do continente europeu, nos países
ibéricos (Espanha e Portugal) a presença protestante quase não foi sentida.
Entretanto, a perseguição a judeus e a muçulmanos se intensificou nessa localidade
durante o século XVI. A fé católica foi imposta a esses grupos que existiram nesses
países e diversas punições e execuções foram feitas para condenar religiões que
não fossem cristãs.

Figura 10: Massacre de São Bartolomeu de François Dubois

34
Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://bit.ly/3DdN2FS.
Acessado em 23 de maio às 14h58.

35
FIXANDO CONTEÚDO

1. (PUC - MG) Diante do avanço do protestantismo, o papa Paulo III convoca o XVIII
Concílio Ecumênico da Igreja Católica, reunido em Trento, na Itália, a partir de
1545, apresentando como resultados, exceto:
a) o reconhecimento do batismo e do casamento como únicos sacramentos
válidos.
b) a instituição dos seminários destinados à formação dos clérigos.
c) o fortalecimento da autoridade pontifical através da infalibilidade do Papa.
d) a adoção do latim como língua litúrgica oficial da Igreja Católica.
e) a determinação do celibato clerical e o combate aos movimentos heréticos.

2. (Unifesp) Se um homem não trabalhar, também não comerá. Estas palavras de


São Paulo, o Apóstolo, são mais condizentes com a ética do:
a) catolicismo medieval.
b) protestantismo luterano.
c) protestantismo calvinista.
d) catolicismo da Contrarreforma.
e) anglicanismo elisabetano

3. (FCC-SP) O Ato de Supremacia, promulgado por Henrique VIII, na Inglaterra,


contribuiu para:
a) divulgar intensamente a doutrina calvinista no país, sobretudo na região da
Escócia.
b) iniciar a expansão externa, formando, assim, as bases do império colonial inglês.
c) promover a reforma anglicana, ao mesmo tempo em que contribuiu para a
centralização do governo.
d) implantar o catolicismo no reino, o que foi acompanhado de repressão aos
reformistas.
e) restaurar os antigos direitos feudais, que foram limitados pela Magna Carta de
1215.

4. (PUC-Rio) - A Europa do século XVI assistiu ao surgimento de novas religiões


cristãs, dentre as quais destacam-se a Luterana, a Calvinista e a Anglicana. A

36
despeito das características que conferem especificidade a cada uma delas,
observam-se elementos que as aproximam entre si. Um desses elementos é a:
a) celebração dos cultos nas línguas faladas pelos fiéis.
b) ausência de hierarquia eclesiástica.
c) tolerância em relação às demais religiões cristãs.
d) afirmação da primazia da igreja sobre o Estado.
e) crítica às estruturas sociais vigentes.

5. (Mackenzie) As transformações religiosas do século XVI, comumente conhecidas


pelo nome de Reforma Protestante, representaram no campo espiritual o que foi
o Renascimento no plano cultural; um ajustamento de ideias e valores às
transformações socioeconômicas da Europa. Dentre seus principais reflexos,
destacam-se:
a) a expansão da educação escolástica e do poder político do papado devido à
extrema importância atribuída à Bíblia.
b) o rompimento da unidade cristã, expansão das práticas capitalistas e
fortalecimento do poder das monarquias.
c) a diminuição da intolerância religiosa e fim das guerras provocadas por pretextos
religiosos.
d) a proibição da venda de indulgências, término do índex e o fim do princípio da
salvação pela fé e boas obras na Europa.
e) a criação pela igreja protestante da Companhia de Jesus em moldes militares
para monopolizar o ensino na América do Norte.

6. (CESGRANRIO) A Europa Ocidental, nos séculos XV e XVI, sofreu diversas


transformações políticas, econômicas e sociais. Sobre essas transformações
podemos afirmar que:
1) O Humanismo e o Renascimento foram movimentos intelectuais e artísticos que
privilegiaram a observação da natureza.
2) A Reforma Luterana, identificando-se com os segmentos camponeses alemães,
difundiu-se em virtude da centralização do Estado alemão.
3) A Reforma Calvinista aproximava-se da moral burguesa, pois encorajava o
trabalho e o lucro.
4) A reação da Igreja Católica, denominada Contra-Reforma, através do Concílio

37
de Trento (1545), tentou barrar o avanço protestante, alterando os dogmas da fé
católica.

As afirmativas corretas são:


a) apenas l e 2.
b) apenas l e 3.
c) apenas l e 4.
d) apenas 2 e 3.
e) apenas 2 e 4.

7. (Esan-SP) Na Alemanha do século XVI, havia grande contradição entre o que a


Igreja católica pregava e o que se praticava. Nos principados as dificuldades
eram enormes. Os camponeses sentiam-se sobrecarregados de impostos. As
cidades ansiavam por liberdade. O clero desprezava a missão espiritual. Muitos
bispos levavam uma existência de prazer, o que ofendia os crentes sinceros e
simples. Os abusos apontados no enunciado geraram o ambiente favorável à
aceitação do novo credo sustentado por:
a) Henrique VIII.
b) João Knox.
c) João Huss.
d) João Calvino.
e) Martinho Lutero.

8. (Unesp 2016) As reformas protestantes do princípio do século XVI, entre outros


fatores, reagiam contra:
a) a venda de indulgências e a autoridade do Papa, líder supremo da Igreja
Católica.
b) a valorização, pela Igreja Católica, das atividades mercantis, do lucro e da
ascensão da burguesia.
c) o pensamento humanista e permitiram uma ampla revisão administrativa e
doutrinária da Igreja Católica.
d) as missões evangelizadoras, desenvolvidas pela Igreja Católica na América e na
Ásia.
e) o princípio do livre-arbítrio, defendido pelo Santo Ofício, órgão diretor da Igreja
Católica

38
ABSOLUTISMO E MERCANTILISMO UNIDADE

3.1 INTRODUÇÃO

03
Desde a Idade Média, os reis começaram a buscar conquistar mais poder
em relação as nobrezas locais. Na época da Baixa Idade Média, os reis
aumentaram o número de seus funcionários e começaram a contar com um
exército profissional.
Os reis começaram a ser assessorados por conselheiros que ajudavam a
estabelecer políticas econômicas e sociais para todo o reino.
Esse aumento de poder real buscou intensificar a tributação e buscaram ter
maior controle também sobre a Igreja. As finanças pessoais reais e do Estado
começaram a se confundir. Essa forma de governo se intensificou entre os séculos
XV ao XVIII e era a forma dominante dos reinos europeus, ela ficou conhecida
como Absolutismo.
A base de apoio do poder real absolutista durante a Idade Moderna era
derivado das longas transformações decorrentes do feudalismo. Nobreza e
burguesia começaram a apoiar a centralização política e o aumento do poder
real, cada grupo com seus próprios interesses. A burguesia dependia das medidas
reais para aumentar seus lucros e negócios, já a nobreza pedia ajuda do real para
conter as revoltas camponesas que estavam se intensificando no período de
transição entre a Idade Média e a Moderna.
O rei para aumentar as riquezas do Estado procurou adotar diversas medidas
econômicas que ficaram conhecidas como mercantilismo. Além disso, as práticas
de colonização para o continente americano foram intensificadas nesse período. A
exploração da América foi vista como uma forma dos reinos aumentarem suas
economias.

39
Figura 11: O terceiro estado sustentando a nobreza e o clero

Fonte: Guia e estudo. Disponível em: https://bit.ly/3uJUk0Y.


Acessado em 24 de maio de 2021 às 11h32.

3.2 TEÓRICOS DO ABSOLUTISMO

Os regimes absolutistas foram sustentados com apoio do clero, da nobreza,


da burguesia e a exploração do restante da população. Para justificar o aumento
dos seus poderes, os reis precisavam de teorias que justificassem esse aumento de
poder e que defendessem a ideia que um rei forte conseguiria suprir os problemas
da população. Esses intelectuais que pensaram nessas teorias ficaram conhecidos
como teóricos absolutistas.
Um dos primeiros teóricos foi Nicolau Maquiavel, que escreveu a obra O
príncipe e defendeu a ideia que o poder do Estado era mais importante que os

40
indivíduos que o compunham. Para Maquiavel, apenas um rei dotado de inúmeros
poderes conseguiria resolver os problemas políticos e econômicos da sociedade
(MAQUIAVEL, 2006).
Maquiavel defendia ainda que não política não importava do indivíduo ser
ético ou não. Para ele, questionar a ética na esfera política era algo dos valores
cristãos que buscavam suprimir o poder de decisão do soberano (MAQUIAVEL,
2006).
Thomas Hobbes, na Inglaterra, escreveu o livro Leviatã que acreditava que a
tendência natural da sociedade era viver em conflito de todos contra todos,
apenas por um “contrato” social entre a realeza e a população poderia haver um
Estado forte que equilibraria os problemas sociais. De acordo com o autor:

A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de os


defender das invasões dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros,
garantindo-lhe assim uma segurança suficiente para que, mediante
o seu próprio labor e graças aos frutos da terra, possam alimentar-se
e viver satisfeitos, é conferir toda a sua força e poder a um homem,
ou a uma assembleia de homens, que possa reduzir suas diversas
vontades, por pluralidade de votos, a uma só vontade. O que
equivale dizer: designar um homem ou uma assembleia de homens
como representante das suas pessoas, considerando-se e
reconhecendo-se cada um como autor de todos os atos que aquele
que representa a sua pessoa praticar ou levar a praticar, em tudo o
que disser a respeito à paz e à segurança comuns; todos
submetendo assim as suas vontades à vontade do representante, e
as suas decisões à sua decisão. Isto é mais do que consentimento, ou
concórdia, é uma verdadeira de unidade de todos eles, numa só e
mesma pessoa, realizada por um pacto de cada homem com todos
os homens [...]. Feito isto, a multidão assim unida numa só pessoa
chama-se Estado, em latim, civitas. É esta a geração daquele
grande Leviatã, ou antes daquele Deus Mortal, ao qual devemos,
abaixo do Deus Imortal, a nossa paz e defesa.[...] É nele que consiste
a essência do Estado, a qual pode ser assim definida: uma pessoa
que, mediante pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída por
cada um como autora, de modo a ela poder usar a força e os
recursos de todos, da maneira que considerar conveniente, para
assegurar a paz e a defesa comum. (HOBBES, Acessado em 24 de
maio de 2021 às 11h25)

Já na França, o principal teórico do absolutismo foi Jacques Bossuet que


defendia a origem divina do poder do rei. Tal pensamento esteve presente na sua
obra Política segundo a Sagrada Escrita que acreditava que Deus tinha dado poder
político aos reis e lhe davam uma autoridade incontestável e ilimitada de decisões
em diferentes planos da sociedade. Desta forma, o poder real era divino e derivado
de Deus, sendo um poder superior a qualquer pessoa e considerado sagrado. De

41
acordo com Bossuet (1994, p. 67), “como não há poder público sem a vontade de
Deus, todo governo, seja qual for sua origem, justo ou injusto, pacífico ou violento, é
legítimo, todo depositário de autoridade, seja qual for, é sagrado; revoltar-se contra
ele é cometer sacrilégio”. Bossuet (1994, p. 62) ainda completa que

Três razões fazem ver que este governo é o melhor. A primeira é que
é o mais natural e se perpetua por si próprio... A segunda razão... é
que esse governo é o que interessa mais na conservação do Estado
e dos poderes que o constituem: o príncipe, que trabalha para o
Estado, trabalha para os seus filhos, e o amor que tem pelo seu reino,
confundindo com o que tem pela sua família, torna-se-lhe natural... A
terceira razão tira-se da dignidade das casas reais... A inveja, que se
tem naturalmente daqueles que estão acima de nós, torna-se aqui
em amor e respeito; os próprios grandes obedecem em repugnância
a uma família que sempre viram como superior e à qual se não
conhece outra que se possa igualar... O trono real não é o trono de
um homem, mas o trono do próprio Deus... Os reis... são deus e
participam de alguma maneira da independência divina. O rei vê de
mais longe e de mais alto; deve acreditar-se que ele vê melhor, e
deve obedecer-se-lhe em murmurar, pois o murmúrio é uma
disposição para a sedição.

Além dos teóricos do absolutismo, diversas normas de comportamento foram


criadas para distinguir a nobreza e o clero dos demais grupos da sociedade. Essas
normas de comportamento buscavam mostrar que a nobreza era ‘civilizada’
comparada com o restante do povo que era considerado com um estilo de vida
‘rústico’. Forma de falar, de se vestir, horários para cada coisa, gesticular foram
criados como conduta distintiva para grupos sociais do primeiro e segundo estado.
Para Burke (1994, p. 101-102):

Os observadores registravam que todos os atos do rei eram


planejados ‘até o mínimo gesto’. Os mesmos eventos se produziam
todos os dias nas mesmas horas, a tal ponto que uma pessoa poderia
acertar seu relógio pelo rei.
Havia normas formais para a participação nesse espetáculo – quem
tinha direito a ver o rei, a que horas e em que partes da corte, se tal
pessoa podia se sentar numa cadeira ou num tamborete (....) ou
tinha que permanecer de pé. [...] Luís esteve no palco durante quase
toda a sua vida [...]. Os objetos matérias mais intimamente
associados ao rei também se tornavam sagrados. [...] Assim, era uma
ofensa dar as costas ao retrato do rei [...], entrar em seu quarto de
dormir vazio sem fazer uma genuflexão ou conservar o chapéu na
sala em que a mesa está posta para o seu jantar.

Essas condutas de comportamento foram apoiadas pelos intelectuais,


filósofos e cientistas da época como uma forma de ‘civilizar’ as pessoas que eles
consideravam ‘incultas’. Desta forma, além dos poderes políticos que a autoridade

42
real carregava, o rei tinha a missão de ‘civilizar’ seu reino.

3.3 O ABSOLUTISMO NA FRANÇA

A centralização política na França teve início a partir do século X com a


dinastia carolíngia. Após a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), esse processo de
centralização de poder foi acelerado com a dinastia de Valois e posteriormente
com a dinastia dos Bourbon. Essa última dinastia foi a que teve o maior apogeu do
regime absolutista sua decadência após a Revolução Francesa (1789).
No reinado do Luís XIII (1610-1643) o absolutismo foi reforçado graças a
política do seu primeiro-ministro Richelieu, onde aconteceu a diminuição do poder
da nobreza. Após esse reinado, a França ajudou em processos políticos europeus
importantes como a Restauração Portuguesa (1640), a independência da Holanda
e na Guerra dos Trinta Anos.
Portugal ficou sobre domínio espanhol de 1580 a 1640 e só conseguiu
recuperar sua independência em 1640. A Holanda conseguiu obter a
independência da Espanha apenas em 1581, a casa de Habsburgo (casa reinante
da Espanha) não reconheceu o processo de independência e entrou em um
conflito que só terminou em 1648.
A Casa de Habsburgo sofreu diversos conflitos em território europeu e todos
eles a França estava envolvida. Em 1618, nobres da Áustria e da Boêmia se
rebelaram contra o imperador Fernando de Habsburgo, do Sacro Império Romano-
Germânico. Esse processo deu início a Guerra dos Trinta Anos que envolveu diversos
países europeus. Em 1648, o conflito terminou com a assinatura do Tratado de
Westfália que teve como resultados a perda da hegemonia espanhola na Europa,
a consolidação da Suécia enquanto potência na região báltica, maior autonomia
aos Estados Alemães e a França se tornou uma potência em ascensão no cenário
europeu.
Em 1643, assumiu o trono francês Luís XIV (1643-1715), período que o
absolutismo teve seu maior apogeu. Ele assumiu o trono com apenas cinco e o
poder foi exercido pelo seu ministro, o cardeal Mazarino. Esse político conseguiu
sufocar as revoltas dos nobres que não aceitavam a centralização política no país.
Com a morte do cardeal em 1661, Luís XIV assume a política externa e interna da
França.

43
Como ministro da economia francês foi escolhido Jean-Baptiste Colbert que
ficaria responsável pelo aumento da produção francesa na manufatura. Foi criado
um exército real permanente e com rígida disciplina. Ele reforçou a ideologia de
Bossuet sobre a figura sagrada dos reis e revogou o Édito de Nantes, onde voltou a
prática de perseguição aos protestantes. Com a volta dos conflitos entre católicos e
protestantes, diversos nobres e burgueses huguenotes deixaram o país e isso abalou
a economia francesa. Além disso, no plano de política externa, a França se
envolveu em diversos conflitos com a Inglaterra que abalaram mais sua economia
que estava entrando em ruínas.
De acordo com Elias (2001, p. 88-89):

Em sua juventude, Luís XIV havia sentido na própria pele o quanto


pode ser perigoso para a posição do rei quando as elites [...]
superam seus antagonismos mútuos e se juntam para agir contra o
rei. Talvez ele também tenha aprendido a partir da experiência dos
reis ingleses, que deviam as ameaças e o enfraquecimento de suas
posições à oposição de grupos nobres e burgueses reunidos. Em todo
caso, faziam parte das máximas mais rigorosas de sua estratégia de
dominação o fortalecimento e a estabilização das diferenças
existentes, das contraposições e rivalidades entre as ordens,
especialmente entre as elites de cada ordem, e dentro delas, entre
os diversos níveis e patamares de sua hierarquia de prestígio e de
status. Era algo evidente [...] que as contraposições e os ciúmes entre
os grupos de elite mais poderosos de seu reino constituíam algumas
das condições fundamentais da abundância de poder do rei, a qual
se expressa em conceitos como ‘irrestrito’ ou ‘absolutista’.
O longo reinado de Luís XIV contribui muito para que a rigidez e o
rigor específicos, suscitados pelo uso constante da diferenciação de
ordens e de níveis sociais como instrumentos de dominação do rei,
tornem-se perceptíveis também nos pensamentos e na sensibilidade
dos próprios grupos, como um traço de caráter essencial de suas
convicções. Graças a tal enraizamento nas convicções, nas
valorações e nos ideais dos súditos – da competição acirrada em
termos de nível, status e prestígio – as tensões e os ciúmes surgidos e
exacerbados entre as diferentes ordens e níveis sociais, e
especialmente entre as elites rivais dessa sociedade articulada
hierarquicamente, reproduziam-se como uma máquina em
movimento no vazio, renovando-se sempre.

Luís XIV ficou conhecido como Rei Sol e lhe é atribuída a frase “o Estado sou
Eu”, que expressaria o controle de todas as diretrizes de forma absoluta por uma
única pessoa. O culto à imagem ganhou muita força durante o seu reinado. De
acordo com Ribeiro (1994, p. 06-08):

Se a propaganda é meio de assegurar submissão ou o assentimento


a um poder, há, porém, vários modos de efetuá-la. Pode ser, como
Luís 14, pela glória, ingressando os súditos com a vitória, o prestigio, a

44
grandeza do rei. Pode ser alardeando a proteção, num modelo
paternalista, que tutela o povo. [...] Nossa sociedade talvez ainda
esteja na mesma galáxia cultural inaugurada por Luís 14. [...] Não
deixa de ser interessante, acostumados que estamos a considerar o
Antigo Regime como um tempo remoto, objeto só de nossa
curiosidade, perceber que em algum ponto a fábula fala de nós. E
que nossa sociedade continua marcada pela retórica e a
teatralidade que Luís 14, 300 anos atrás, inventou.

Uma outra forma de ostentação de poder exercida por Luís XIV foi a
construção do palácio de Versalhes, onde foram dadas grandes festas para a
nobreza e o clero. Além da criação de academias e patrocínio de diversos artistas
e intelectuais em várias áreas artísticas como, por exemplo, pintura, ciências,
literatura e arquitetura. Vale assinalar, que muitas obras produzidas nesse momento
acabaram exercendo uma forma de crítica a coroa francesa pela sua vida de
soberba e luxuosidade devido aos gastos para a manutenção das festas e do
próprio palácio de Versalhes.

Figura 12: Luís XIV da França

Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://bit.ly/3Dj2YGO.


Acessado em 24 de maio de 2021 às 14h49.

Após a morte de Luís XIV, quem o sucedeu foi seu neto Luís XV (1715-1774)
que em sua administração intensificou os gastos com conflitos internacionais como,
por exemplo, a Guerra dos Seis Anos (1756). Esse conflito trouxe uma humilhação

45
para a França que ao perder parte de suas colônias na América. Em 1754, subiu ao
poder Luís XVI (1754-1793) onde a crise social se intensificou no país e levou à
eclosão da Revolução Francesa (1789) que acabou com a sociedade do Antigo
Regime.

3.4 O ABSOLUTISMO NA INGLATERRA

Os reinados de Henrique VIII, como vimos anteriormente, e de sua sucessora,


sua filha, Elizabeth I, o parlamento inglês tornou-se um instrumento de intensificação
de poder nas mãos dos soberanos.
O parlamento não tinha uma regularidade de convocação e eram
adotadas medidas com pouco impacto popular (aumento de tributos e
expropriação de terras).
Com a morte da rainha Elizabeth I, em 1603, acabou a dinastia Tudor e subiu
ao trono seu primo, Jaime I da Escócia. Em seu reinado, aconteceu a intensificação
da perseguição religiosa de puritanos e calvinistas que migraram para as colônias
na América.
O seu sucessor, Carlos I (1625-164) entrou em diversos conflitos com o
Parlamento e, em 1628, foi aprovado pelo Parlamento uma Petição de Direito que
começou a limitar os poderes do rei. Diante disso, o rei mandou fechar o
Parlamento, em 1629, que só foi novamente convocado em 1640.
Com o aumento de tributos, expropriação de terras e imposição da religião
anglicana. A sociedade se dividiu em dois grupos: os cavaleiros que eram
proprietários de terras, católicos e anglicanos favoráveis as autoridades do rei; e os
cabeças redondas que eram pequenos proprietários, calvinistas e presbiterianos
que eram partidários das decisões do Parlamento. Esse conflito levou a uma guerra
civil que começou em 1640 e terminou apenas em 1649 com a vitória do grupo
ligado ao parlamento com a liderança de Oliver Cromwell.
O rei foi executado, a monarquia abolida e a república instituída com a
liderança de Oliver Cromwell. Foi montado um conselho de Estado com 41
membros sobre que tinha a supervisão da Câmara dos Comuns e a Câmara dos
Lordes foi extinta.
Com o apoio do Exército, Cromwell impôs uma ditadura pessoal na Inglaterra
e subordinou o Conselho e a Câmara dos Comuns aos seus mandos e desmandos.

46
A indústria naval inglesa foi desenvolvida nesse momento após a aprovação do Ato
de Navegação. Isso levou a Inglaterra a aumentar sua frota naval que começou a
rivalizar com a da Holanda, desencadeando um conflito entre os dois países na
qual os ingleses saíram vitoriosos.
Em 1658, Cromwell veio a falecer e o país entrou em uma crise política até
1660. O novo Parlamento restaurou a monarquia e coroaram o filho de Carlos I
como novo rei inglês, cujo nome foi Carlos II (1640-1685).
Carlos II buscou aumentar o poder absoluto do rei inspirado no modelo
francês. O parlamento dividiu-se em um grupo de maioria burguesa que defendia o
parlamento e eram contrários ao rei (Whigs) e outro formado por anglicanos que
defendiam os poderes absolutos do rei (Tories).
O rei veio a falecer em 1685 e não deixou herdeiros ao trono, quem assumiu
foi seu irmão Jaime II. Ele era católico e defensor do absolutismo, causando uma
revolta nas duas alas existentes no Parlamento inglês. Em 1688, teve início a
Revolução Gloriosa no qual os dois partidos se uniram contra o rei e se aliaram a
Guilherme de Orange, que era marido da filha de Jaime, governante da Holanda e
protestante.
Com apoio dos parlamentares, Guilherme de Orange, invadiu a Inglaterra
em 1688 e fez com que o rei Jaime II fugisse para a França. Guilherme assumiu o
trono inglês com o título de Guilherme III e jurou a Declaração de Direitos (Bill of
rights), que obrigava o rei a respeitar as leis, liberdades individuais, o parlamento e
reduzia a autoridade real. Na Declaração de Direitos foram assinalados que:

1, Que é ilegal o pretendido poder de suspender leis, ou a execução


de leis, pela autoridade real, sem o consentimento do Parlamento.
2. Que é ilegal o pretendido poder revogar leis, ou a execução de
leis, por autoridade real, como foi assumido e praticado em tempos
passados.
3. Que a comissão para criar o recente Tribunal de comissários para
as causas eclesiásticas, e todas as outras comissões e tribunais de
igual natureza, são ilegal e perniciosos.
4. Que é ilegal a arrecadação de dinheiro para uso da Coroa, sob
pretexto de prerrogativa, sem autorização do Parlamento, por um
período de tempo maior, ou de maneira diferente daquele como é
feito ou outorgada.
5. Que constitui um direito dos súditos apresentarem petições ao Rei,
sendo ilegais todas as prisões ou acusações por motivo de tais
petições.
6. Que levantar e manter um exército permanente dentro do reino
em tempo de paz é contra lei, salvo com permissão do Parlamento.
7. Que os súditos que são protestantes possam ter armas para sua
defesa adequada a suas condições, e permitidas por lei.

47
8. Que devem ser livres as eleições dos membros do Parlamento.
9. Que a liberdade de expressão, e debates ou procedimentos no
Parlamento, não devem ser impedidos ou questionados por qualquer
tribunal ou local fora do Parlamento.
10. Que não deve ser exigida fiança excessiva, nem impostas multas
excessivas; tampouco infligidas punições cruéis e incomuns.
11. que os jurados devem ser devidamente convocados e
nomeados, e devem ser donos de propriedade livre e alodial os
jurados que decidem sobre as pessoas em julgamentos de alta
traição.
12. Que são ilegais e nulas todas as concessões e promessas de
multas e confiscos de pessoas particulares antes da condenação.
13. E que os parlamentos devem reunir-se com frequência para
recuperar todos os agravos, e para corrigir, reforçar e preservar as leis
(ISHAY, 2006 p. 171-173).

Além disso, foi aprovado o Ato de Tolerância dando liberdade religiosa ao


país. Dessa forma, o Parlamento saiu vitorioso na disputa contra o absolutismo real
existente na Inglaterra nesse momento. Esse processo intensificou o
desenvolvimento da burguesia manufatureira em ascensão no país.

3.5 O MERCANTILISMO

As atividades econômicas desenvolvidas pelas monarquias absolutistas


europeias durante os séculos XV ao XVIII receberam o nome de mercantilismo. Elas
não foram um conjunto homogêneo em todos os países, cada qual teve suas
especificidades, mas a principal característica é o controle do Estado para o
desenvolvimento das atividades mercantis e comerciais. Podemos citar como
outras características:
 Metalismo – acúmulo de metais preciosos, porque a riqueza dos Estados era
medida conforme a quantidade de metais que tinham;
 Balança comercial favorável – era necessário que um Estado exportasse mais

48
do que importava, desta forma sua balança comercial mantinha-se
favorável;
 Protecionismo – os Estados adotavam medidas para a proteção dos seus
mercados coloniais e internos. Produtos manufaturados eram incentivados
sua produção para concorrer com produtos estrangeiros;
 Intervenção estatal – o Estado atuava em vários setores da economia e
estimulava a fabricação de produtos manufaturados, a quantidade de
produtos que circulavam e comercializavam, além dos preços e taxação dos
produtores.

Além dessas características, Sandroni (2007, p. 534) assinala que o


mercantilismo:

Defende o acúmulo de divisas em metais preciosos pelo Estado por


meio de um comércio exterior de caráter protecionista. Alguns
princípios básicos [...] são: 1. O Estado deve incrementar o bem-estar
nacional, ainda que em detrimento de seus vizinhos e colônias; 2. A
riqueza da economia nacional depende do aumento da população
e do incremento do volume de metais preciosos no país; 3. O
comércio exterior deve ter estimulado, pois é por meio de uma
balança comercial favorável que se aumenta o estoque de metais
preciosos; 4. O comércio e a indústria são amsi importantes para a
economia nacional que a agricultura.

De acordo com Prodamov:

Com o mercantilismo, os Estados intervêm diretamente na economia,


procurando assegurar o crescimento político e econômico e
fortalecer as classes ou grupos ligados ao Estado. [...] Começa um
fenômeno de aproximação entre o rei e a burguesia comercial. Essa
burguesia das cidade pode financiar a organização de Estados
centralizados, através do surgimento de funcionários reais
remunerados – que exercem funções burocráticas – e da formação
de exércitos nacionais permanentes. O rei, gradativamente, passa a
ser detentor do poder do Estado. Financiado essa sua posição, a
burguesia acaba tirando proveito da centralização política.
(PRODAMOV, s.d., p. 14-16).

Como dito anteriormente, cada país aplicou as políticas mercantilistas de


uma forma. Na França, ocorreu o fortalecimento das manufaturas e o aumento da
oferta de produtos, tanto para o comércio externo quanto interno. Sua política
econômica ficou conhecida como Colbertismo devido ao seu ministro da
economia Jean-Baptiste Colbert.
Na Inglaterra, aconteceu o desenvolvimento de uma marinha mercante e

49
um forte protecionismo. Seu protecionismo estava na alta tributação de produtos
estrangeiros e chegou a proibir certos produtos de circularem em territórios ingleses.
O mercantilismo também foi empregado fortemente na colonização da
América. Com a expansão marítima, os Estados Absolutistas buscaram aumentar
suas atividades mercantis para os espaços da América, estabelecendo colônias na
localidade.
As colônias tinham obrigação de fornecer matéria-prima para a produção
de mercadorias manufaturadas e a exploração de metais preciosos. Além disso,
elas eram um importante mercado para o consumo dos produtos manufaturados
fabricados em países europeus.
Essa política de exploração da Europa para as colônias na América fazia
parte do pacto colonial e faziam parte das políticas colonialistas europeias. A
colonização da América acelerou o processo de aumento comercial dos países
europeus, muitas riquezas foram retiradas nesse processo do território americano e
mandado para os países colonizadores para se concentrar nas mãos de ricos
comerciantes mercantis, fortalecendo e enriquecendo a classe burgueses que
estava em acelerada ascensão econômica na Europa.

50
FIXANDO CONTEÚDO

1. (UFRN) O pensamento político e econômico europeu, em fins do século XVII e no


século XVIII, apresentou uma vertente de crítica ao Absolutismo e ao
Mercantilismo, predominantes na Europa, na Idade Moderna. Qual das ideias
abaixo caracteriza essa nova corrente de pensamento?

a) É necessária a regulamentação minuciosa de todos os aspectos da vida


econômica para garantir a prosperidade nacional e o acúmulo metalista.
b) O Estado, com função de polícia e justiça, deve ser governado por um rei, cuja
autoridade é sagrada e absoluta porque emana de Deus.
c) A fim de proteger a economia nacional, cada governo deve intervir no
mercado, estimulando as exportações e restringindo as importações.
d) O poder do soberano era ilimitado, porque fora fruto do consentimento
espontâneo dos indivíduos para evitar a anarquia e a violência do estado
natural.
e) O Estado, simples guardião da lei, deve interferir pouco, apenas para garantir as
liberdades públicas e as propriedades dos cidadãos.

2. (Mundo Educação) O filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), autor de “O


Leviatã”, acreditava que a violência generalizada de todos contra todos era a
regra geral da política e que, para conter tal violência intestina, era necessária a
força de um poder político centralizador e autoritário. Podemos dizer que Hobbes
pensava dessa forma sobretudo porque:
a) não concordava com as ideias liberais de Adam Smith.
b) não concordava com as ideias contratualistas de Jean-Jacques Rousseau.
c) vivia na época das Guerras Civis Religiosas.
d) vivia na época do Terror Revolucionário francês.
e) não concordava com o neocontratualismo de John Rawls.

3. (Fuvest) “É praticamente impossível treinar todos os súditos de um [Estado] nas


artes da guerra e ao mesmo tempo mantê-los obedientes às leis e aos
magistrados.” (Jean Bodin, teórico do absolutismo, em 1578).
Essa afirmação revela que a razão principal de as monarquias europeias recorrerem

51
ao recrutamento de mercenários estrangeiros, em grande escala, devia-se à
necessidade de:
a) conseguir mais soldados provenientes da burguesia, a classe que apoiava o rei.
b) completar as fileiras dos exércitos com soldados profissionais mais eficientes.
c) desarmar a nobreza e impedir que esta liderasse as demais classes contra o rei.
d) manter desarmados camponeses e trabalhadores urbanos e evitar revoltas.
e) desarmar a burguesia e controlar a luta de classes entre esta e a nobreza.

4. (Mundo Educação) Quando se estuda o absolutismo monárquico, é frequente


vermos a frase “O Estado sou Eu', proferida pelo Rei Sol, Luís XIV. É correto dizer
que essa frase:
a) torna patente o uso do simbolismo solar, característico da maçonaria francesa.
b) explicita o conteúdo do absolutismo, no qual o rei é a fonte da soberania e do
poder.
c) explica o Estado francês da época erroneamente, já que o rei não governava
de fato.
d) foi proferida após Luís XIV ter vencido a Revolução Puritana e o exército de
Cromwell.
e) foi proferida após Luís XIV ter vencido a Guerra das Duas Rosas.

5. (UFV-MG) A formação dos Estados Nacionais da Europa ocidental, durante a


Época Moderna (século XV ao XVIII), embora tenha seguido uma dinâmica
própria em cada país, apresentou semelhanças em seu processo de
constituição. Sobre essas semelhanças é incorreto afirmar:
a) politicamente, o regime instituído é a monarquia absoluta, da qual a França é o
modelo clássico.
b) o clero e a nobreza tinham posição e prestígio assegurados pela posse de terras
e estavam sempre juntos na defesa de seus interesses.
c) em termos sociais, esse período se caracterizou pela lenta afirmação da
burguesia, que estava à frente de quase todos os empreendimentos da época.
d) para fortalecer o Estado, os reis adotaram um conjunto de medidas para
acumular riquezas e desenvolver a economia nacional, denominado de
mercantilismo.
e) a centralização do poder político na Itália ocorreu devido à grande influência da

52
burguesia mercantil de Gênova e Veneza.

6. (FATEC-SP) “A França é uma monarquia. O rei representa a nação inteira, e


cada pessoa não representa outra coisa senão um só indivíduo ante o rei. Em
consequência, todo poder, toda autoridade, reside nas mãos do rei, e só deve
haver no reino a autoridade que ele estabelece. Deve ser o dono, pode escutar
os conselhos, consultá-los, mas deve decidir. Deus que fez o rei dar-lhe-á as luzes
necessárias, contanto que mostre boas intenções.” (Luís XIV – Memórias sobre a
arte de governar).
Podemos caracterizar o absolutismo monárquico posto em prática nos países
europeus durante a Idade Moderna como:
a) uma aliança entre um monarca absolutista e a burguesia mercantil, a fim de
dominar e excluir o poder da nobreza.
b) uma aliança bem-sucedida entre a burguesia e o proletariado.
c) uma forma de governo autoritária, cujo poder estava centralizado nas mãos de
uma pessoa que exercia todas as funções do Estado.
d) um sinônimo de tirania exercida pelo monarca sobre seus súditos.
e) um poder total concentrado nas mãos da nobreza, no qual cabia aos juízes e
deputados a tarefa de julgar e legislar.

7. (PUCCAMP) Como características gerais dos Estados Modernos, que se


organizavam na Europa Ocidental no período que vai do século XV ao XVIII,
pode-se mencionar entre outros, a
a) consolidação da burguesia industrial no poder e a descentralização
administrativa.
b) centralização e unificação administrativa, bem como o desenvolvimento do
mercantilismo.
c) confirmação das obrigações feudais e o estímulo à produção urbano-industrial.
d) superação das relações feudais e a não intervenção na economia.
e) consolidação do localismo político e a montagem de um exército nacional.

8. (PUCMG) Oriundo da crise do feudalismo, o Estado Absolutista representou a


organização política dominante na sociedade europeia entre os séculos XV e
XVIII, podendo ser caracterizado pela:

53
a) supressão dos monopólios comerciais, possibilitando o desenvolvimento das
manufaturas nacionais.
b) quebra das barreiras regionalistas do feudo e da comuna, agilizando e
integrando a economia nacional.
c) abolição das formas de exploração das terras típicas do feudalismo, tornando a
sociedade mais dinâmica.
d) ascensão política do grupo burguês, que passa a gerir o Estado segundo seus
interesses particulares.
e) ausência efetiva de instrumento de controle, quer no plano moral ou temporal,
sobre o poder do rei.

54
AS GRANDES NAVEGAÇÕES UNIDADE

4.1 INTRODUÇÃO
04
Desde a Baixa Idade Média, a Europa passava por uma profunda crise
econômica e que sofreu pioras com as revoltas camponesas, com a peste negra e
a Guerra dos Cem Anos que afetaram drasticamente as atividades comerciais e
demográficas da população no continente.
Na segunda metade do século XV, os comerciantes europeus tiveram novas
limitações em suas atividades comerciais com o Oriente. Com a queda de
Constantinopla, em 1453, com os otomanos foi bloqueado o comércio oriental no
Mar Mediterrâneo. Outro fator que influenciou a queda do crescimento econômico
nesse momento foi a queda de metais preciosos devido às minas existentes no
continente não aguentarem a demanda existente.
Nesse contexto problemático no continente europeu, houve a necessidade
de busca de novas rotas comerciais para o Oriente devido às chamadas
especiarias como a noz-moscada, açafrão, canela e de metais preciosos que eram
extremamente valorizados na Europa.
A criação de novas rotas comerciais não era apenas um interesse comercial
da burguesia mercantil. Mas se tornou um interesse da Igreja, da nobreza e das
monarquias. A garantia de mercados consumidores, fornecimento de matérias-
primas, difusão do cristianismo eram as bases de sustentação da expansão marítima
no século XV.
A Igreja Católica, que vinha passando por uma crise interna desde a Baixa
Idade Média, acreditava em novas formas de ampliação do cristianismo e sua
influência para outros povos através da catequização. Já os nobres, enfraquecidos
devido aos conflitos com os camponeses, buscavam aumentar suas terras e
enriquecer socialmente.
Com o Absolutismo, os monarcas conseguiram construir condições para
poderem organizar viagens de exploração para a realização das Grandes
Navegações. A centralização política e a arrecadação de novos impostos
ajudaram no fomento dessas enormes expedições. Além disso, o apoio dos reis aos
navegantes evidencia-se pela expansão e possibilidade de novos caminhos e terras

55
que poderiam ser agregados aos seus Estados.

4.2 INSTRUMENTOS E CONDIÇÕES DA EXPANSÃO MARÍTIMA

O mercantilismo abriu caminho para as rivalidades comerciais entre os


Estados Europeus. Dessa forma, aconteceu o interesse de aumentar o
descobrimento de novos territórios e exploração das riquezas conquistadas. Os
países europeus financiaram grandes expedições marítimas em busca de
enriquecimento e para aperfeiçoar as condições náuticas que existiam até então.
De acordo com Almeida (2000, p. 13):

Causas econômicas muito fortes guiaram o movimento de expansão


do capitalismo comercial e da influência de países europeus na
África, América e Ásia, mas esse movimento foi possibilitado também
pelo desenvolvimento científico, pelo aprofundamento da arte da
navegação, pelo crescimento populacional e muito incentivado
ainda por utopias originadas na Antiguidade e que foram difundidas
no decorrer dos séculos. Essas utopias se justificavam na necessidade
de se estabelecer contato entre europeus e cristãos que viviam no
Oriente e na Etiópia, a fim de que se contivesse a expansão
muçulmana, e na crença da existência de um paraíso terrestre em
algum ponto distante da superfície da Terra, ou de regiões riquíssimas
pela fertilidade do solo e pela presença de minas de ouro, de prata
ou de pedras preciosas, diamantes e esmeraldas, sobretudo; além
disso, havia também o desejo de se intensificar o comércio com as
Índias e controlar o tráfico de especiarias.

A astronomia, a matemática e a cartografia foram conhecimentos científicos


que se ampliaram com as Grandes Navegações e permitiram o aperfeiçoamento
de vários instrumentos como o astrolábio, a bússola e o quadrante. Além disso,
aconteceram melhorias nas construções dos navios, sua estrutura e os tipos de
madeiras que usavam em sua confecção:

Seja pela madeira de que dependia para sua construção, seja pelos
caminhos do mar em que navegava – orientado pelo mapa do céu-
sujeito aos ventos, correntes e marés, o navio também tirava da
natureza suas formas estruturais. E foi quem sabe na esperança de
vê-los flutuar, como as gaivotas, embalados sobre as ondas de mares
revoltos, que os construtores navais acabaram assemelhando a proa
dos navios aos peitos das aves oceânicas.

56
O navio – como os pássaros – devia valer-se dos ventos para
enfrentar – como os peixes – a resistência das águas, precisando
assumir essa dupla natureza para poder viajar espremido entre o céu
e o mar, seu motor e suporte. [...] E é assim, exatamente por essa sua
natureza tão particular, que o navio deixa os estaleiros para se pôr
nos caminhos que abriu para a história (MICELI, 2008, p. 82-83).

Os mapas também passaram por transformações com o final da Idade


Média para a Idade Moderna. A produção deles era realizada por monges e
supervisionados pela Igreja Católica, a construção imagética deles trazia
simbolismos religiosos e personagens bíblicos. Dessa forma, percebemos uma visão
religiosa nos mapas.
Com o desenvolvimento da cartografia e os mapas foram aperfeiçoados. Os
navegantes traziam relatos de rotas marítimas para os reis que informavam os
cartógrafos, matemáticos e astrônomos para as elaborações mais precisas dos
mapas marítimos. Os mapas ajudavam a informar áreas que poderiam ter
especiarias, madeiras e metais preciosos.
A confecção de mapas também gerava disputas entre os países, não era
favorável que outros países conhecessem rotas mais lucrativas. Entretanto, muitos
mapas serviram para auxiliar nas disputas por territórios e legitimar as conquistas
marítimas. De acordo com Junqueira (2012, p. 48):

As nações concorriam entre si, particularmente na disputa pelo


Pacífico; ao mesmo tempo, compartilhavam dúvidas e discutiam
soluções por meio de memorandos e ofícios diplomáticos, mas
sobretudo através de informações e ponderações colocadas nos
relatos de viagem. Uns conferiam as cartas dos outros, no esforço de
unificar conhecimentos sobre o Globo, não sem as devidas
concorrências e disputas pelo poder.
Os resultados dessas viagens de circum-navegação, como de outras
explorações científico-estratégicas, eram rigorosamente
selecionados antes de vir a público. Alguns mapas e cartas
desenhados durante ou após o trajeto eram mantidos sob sigilo,
outros eram publicados e comercializados [...] A divulgação, além de
demonstrar a capacidade técnica da nação que empreendia a
façanha, valorizava seu papel no esforço internacional de um
acurado mapeamento de partes do Globo.

Vale assinalar que com a evolução cartográfica, os imaginários sobre os


mares não se alteraram profundamente. O Oceano Atlântico era conhecido como
Mar Tenebroso e havia uma mentalidade que se acreditava na existência de
abismos colossais e monstros marinhos. Acreditava-se, naquele contexto, que a
Terra era plana e em seus extremos haveria abismos.

57
4.3 O INÍCIO DAS GRANDES NAVEGAÇÕES: SÉCULO XIV AO XVI

A Coroa Portuguesa, no início do século XV, começou a financiar


navegadores e passaram a explorar rotas para o sul da África em busca das rotas
marítimas para a região das Índias. Os reis espanhóis também começaram a
financiar rotas marítimas para o Oriente.
No caso português, desde o século XIV, já havia um governo centralizado
para começar a organizar as expansões marítimas e uma burguesia comercial que
auxiliava em seu financiamento. A Igreja Católica também apoiou a expansão
marítima devido a cristianização de povos locais nos novos lugares explorados.
O pioneirismo português permitiu a criação de novas rotas comerciais ao
Oceano Atlântico e possibilitou o descobrimento de produtos luxuosos. Os fatores
que ajudaram seu pioneirismo foi a situação geográfica privilegiada dentro do
continente europeu que sua costa marítima era voltada para o Oceano Atlântico e
suas experiências mercantis existentes no Atlântico Norte. Para Faria (2004, p. 18):

Portugal foi responsável pela criação de um vasto império, possuindo


terras e domínios em todos os continentes. Mais do que isso, a
expansão ultramarina foi resultado de determinações da Coroa,
embora grande parte da população tenha se beneficiado dela.
Para o povo, a expansão representava a possibilidade mudança
devida e de libertação de esquemas opressores, ao ter a opção de
saída para terras d’além-mar. Para o clero e a nobreza, representava
cristianização e conquista, formas diferenciadas de servir a Deus e ao
rei, ao mesmo tempo que aspiravam a recompensas materiais, como
rendas, terras, ofícios, etc. Já para os mercadores, significava
aumento dos lucros, a partir da ampliação do comércio. Por fim,
para a Coroa, era a sobrevivência por meio dos impostos colhidos
em todos os setores. A expansão ultramarina pode ser considerada
um grande projeto, em que todos esperavam ganhar alguma coisa.

O primeiro ponto de conquista dos portugueses foi a cidade de Ceuta, em


1415, no norte da África. Essa conquista permitiu aos portugueses aumentaram seu
comércio de ouro trazido das regiões africanas do Sahel. Além disso, ao conquistar
uma cidade predominantemente islâmica acreditava-se nas noções de
cristianização que deveriam estar presentes nessas conquistas.

58
Figura 13: Viagens marítimas portuguesas e espanholas nos séculos XV e XVI

Fontes: Slide Player. Disponível em: https://bit.ly/3lbQI4N.


Acessado em 27 de maio de 2021 às 18h25.

Posteriormente, as ilhas de Madeira e Açores foram atingidas pelos


portugueses e conquistadas. Em 1498, Vasco da Gama chegou à cidade de
Calicute na Índia e foi estabelecida a rota entre os portugueses com o Oriente.
Vasco da Gama retornou a Portugal com os navios lotados de produtos de luxo. A
respeito da viagem dos portugueses a Calicute, Page (2008, p. 152) assinala que:

Os portugueses transferiram suas mercadorias para o centro de


Calicute, onde os árabes conseguiram, em boa parte, impedi-los de
comercia. Um residente local, um tunisino que os portugueses
conheciam pelo nome de Moçaíde, foi a bordo avisar Vasco da
Gama de que os mercadores árabes tinham praticamente
convencido o Senhor dos Oceanos (o samorim, governante de
Calicute), de que os portugueses eram piratas e ladrões, que
estavam apenas a aguardar uma oportunidade para saquear e
pilhar Calicute. Os mercadores ofereceram ao Senhor dos Oceanos
uma enorme quantia de dinheiro se ele mandasse capturar e
decapitar Vasco da Gama e o seu séquito. Os portugueses já se
encontravam em terra, foram impedidos de regressar aos navios e
de removerem seus bens. Vasco da Gama aguardou a altura
propícia, até que notou [...] seis homens que se vestiam e
comportavam como senhores da alta nobreza. Fê-los prisioneiros e
transacionou-os com o agente do Senhor dos Oceanos, em troca da
libertação dos portugueses que haviam sido feitos cativos.

Pedro Álvares Cabral, em 1500, seguiu em direção às Índias, mas chegou nas

59
terras que viriam a se chamar Brasil. Além disso, nos séculos XV e XVI, os portugueses
alcançaram terras no continente asiático como no Japão, China e Indonésia. Nas
localidades que chegavam, os portugueses criavam postos comerciais e iniciavam
a formação de redes comerciais. A Igreja apoiou a criação desses
estabelecimentos e buscou com seus missionários converter os povos nativos ao
catolicismo. Dessa forma, deu-se início a formação de um vasto Império Marítimo
na região do Atlântico.
Figura 14: Impérios Coloniais no século XVII

Fonte: Wikishistória. Disponível em: https://bit.ly/3mvT0va.


Acessado em 27 de maio de 2021 às 18h35

No caso espanhol, em 1492, terminaram as Guerras de Reconquista na


Península Ibérica e os reis espanhóis apoiaram a navegação de Cristóvão Colombo,
genovês, que buscava apoio para empreender uma viagem para as Índias. Vale
assinalar, que durante essa época, a Igreja Católica defendia que a Terra não era
redonda, apenas os cientistas daquele contexto defendiam a esfericidade do
planeta. Já Colombo era um navegador que acreditava que a Terra era redonda e
conseguiu apoio em seus empreendimentos comerciais marítimos. Ainda em 1492,
partiu do porto espanhol de Palos para o Oriente, Colombo contou com três
caravelas .
No mesmo ano, Colombo chegou na Ilha de Guannani, que ele deu o nome
de San Salvador e posteriormente chegou nas ilhas de São Domingos e Cuba. Ele
acreditava que havia chegado nas Índias e nomeou os habitantes daquela

60
localidade de índios. Em 1493, retornou a Espanha e realizou outras viagens para
localidade, mas acreditava que havia chegado no Oriente e não descoberto um
novo continente. De acordo com Ferro (1996, p. 23), as viagens de Colombo tinham
um forte interesse na busca de riquezas:

Por certo, ele revela que o ouro, ou melhor, a busca deste, está
onipresente em toda sua primeira viagem. A 15 de outubro de 1492,
escreve em seu diário ‘Não quero parar, a fim de ir mais longe visitar
muitas ilhas e descobrir ouro’.
Cristóvão Colombo não só espera enriquecer pessoalmente, junto
com seus marinheiros, como quer também que seus financiadores, os
reis da Espanha, enriqueçam ‘a fim de que possam compreender a
importância da empresa’. Portanto, a riqueza o interessa, acima de
tudo, por significar o reconhecimento de seu papel de descobridor.
Porém, essa sede de dinheiro justifica-se mais ainda por uma
vocação religiosa que é nada menos do que a expansão do
cristianismo. No seu diário, em data de 26 de dezembro de 1492, ele
explica que ‘espera encontrar ouro, em tal quantidade que os reis
possam antes de três anos preparar e empreender ir conquistar a
Santa Casa’.
A reconquista de Jerusalém, foi esse um dos objetivos de Cristóvão
Colombo, obcecado pela ideia de Cruzada.

Após Vasco da Gama e Colombo, outros navegadores europeus entraram


no périplo das Grandes Navegações. Entre 1499 e 1503, Américo Vespúcio realizou
três viagens para a América e a partir dos seus relatos se chegaram à conclusão
que aquele era um novo continente. Nas descrições de Américo Vespúcio, ele
afirmava que:

A fim de que numa palavra toda as coisas brevemente, narre, saiba


que [...] navegamos continuamente [...] com chuvas, trovões e
relâmpagos, em tal modo escuros que nem o Sol no dia, nem serena
na noite jamais vimos. Por essa coisa toda em nós entrou um tão
grande pavor que quase já toda a esperança de vida tínhamos
pedido. O dia exatamente VII de agosto de MDI (1501) nas costas
daqueles países surgimos, agradecendo ao nosso senhor Deus com
solenes súplicas e celebrando uma missa cantada. Lá Aquela terra
soubemos não ser uma ilha mas continente, porque em longuíssimas
praias estende não circundantes a ela e de infinitos habitantes era
repleta. E descobrimos nela muita gente e povos e todo gênero de
animais silvestres que nos nossos países não se encontram, e muitos
outros por nós nunca vistos, dos quais seria longo um a um referir
(VESPÚCIO, 1984, p. 92).

Outro caso da navegação espanhola foi, em 1513, o navegador Vasco


Nuñez de Balboa que chegou ao Oceano Pacífico passando pelo território do atual
Panamá.Em 1519, Fernão de Magalhães, iniciou a primeira viagem de circum-

61
navegação e atravessou a América do Sul e chegou às Filipinas no Oceano
Pacífico, em 1521. Ele não conseguiu completar a viagem e foi substituído pelo
navegador Sebastião Elcano que retornou ao continente europeu no ano seguinte.
Essa viagem foi a primeira que comprovou a esfericidade do planeta Terra.

Figura 15: Viagem de circum-navegação de Fernando Magalhães

Fonte: Wikipedia. Disponível emhttps://bit.ly/2WMSyzH.


Acessado em 27 de maio de 2021 às 20h39.

Portugueses e espanhóis entraram em disputa pelos territórios que eram do


continente americano. Ambos países ibéricos pediram a intermediação da Igreja
Católica para a divisão dos territórios e tomar posse da exploração e riquezas de
cada localidade. Em 1494, foi assinado o Tratado de Tordesilhas que dividiu os
territórios descobertos por uma linha imaginária que passaria a 370 léguas das Ilhas
de Cabo Verde. As terras no leste ficariam com Portugal e a oeste a Espanha,
resolvendo a disputa política entre os dois reinos.

62
Figura 16: Tratado de Tordesilhas (1494)

Fontes: Ensinar História. Disponível em: https://bit.ly/3lhF8VQ.


Acessado em 27 de maio de 2021 às 20h45.

Com a descoberta de ouro na América pelos espanhóis, outros países


europeus entraram na disputa pela divisão dos territórios do continente americano:
Holanda, Inglaterra e França iniciaram os seus processos marítimos no século XVI.
Embarcações francesas, inglesas e holandesas começaram a fazer
atividades de piratarias contra os domínios dos países ibéricos e ocuparam territórios
nas regiões da Ásia e América do Norte.
Diversas feitorias comerciais foram instaladas em várias partes do mundo e o
monopólio de comércio da Europa com o Oriente, que era uma exclusividade de
venezianos, islâmicos e genoveses, foram perdidos. Houve um fortalecimento da
burguesia mercantil com o enriquecimento dos produtos comercializados na
Europa e com isso um maior desenvolvimento comercial no período.
As relações dos países europeus com o restante do planeta se alteraram
profundamente com o início das Grandes Navegações. Novos territórios, povos e
culturas desconhecidas tiveram contato com os europeus. Além disso, produtos
novos e desconhecidos até então, começaram a circular entre a população do
continente europeu. Para Pestana (2006, p. 115):

63
Independente das características inerentes a cada povo encontrado
ao longo da aventura marítima, ao chegaram ao Índico os
portugueses precisaram conviver com o choque cultural e, mais
tarde, enfrentando problemas de ordem interna, decorrentes da
flutuação econômica internacional, tiveram que enfrentar
dificuldades advindas dos desentendimentos culturais acumulados
desde a viagem inaugural de Vasco da Gama. A despeito da
tolerância cultural esperada por parte de um povo eclético, devido
à própria formação do Estado português, quando os lusos chegaram
à Índia só conseguiram distinguir entre fiéis e cristãos em potencial,
recusando-se a admitir as peculiaridades apresentadas pelos povos
do local.

A mesma posição é compartilhada por Amado e Garcia (1989, p. 45):

Os europeus encontraram infinitas maneiras de viver entre os povos


da África, Ásia e América. Os relatos que fizeram desse contato são
hoje fonte preciosa para os historiadores. Por um lado, os relatos
informam sobre os costumes dos povos descobertos. Por outro lado,
esclarecem as formas de pensar dos europeus e sua maneira de ver
o mundo. A seguir, um desses relatos, escrito por um viajante italiano,
a respeito do Senegal, do século XV: [...] ‘Este povos andam quase
sempre sem qualquer espécie de roupa a cobri-los, exceto uma pela
de cabra cortada em forma de calções que usam para esconder as
partes secretar. Mas os senhores e as autoridades usam camisas de
algodão; este país produz quantidade desta matéria, que as
mulheres fiam’.

Percebemos que as grandes navegações deram início ao processo


conhecido como Choque de Culturas.

4.4 INGLATERRA, FRANÇA E HOLANDA NAS GRANDES NAVEGAÇÕES

França e Inglaterra tiveram interesse em lucrar com a exploração comercial


dos novos locais descobertos com as expedições marítimas. Entretanto, não
contavam com uma frota marítima comparada com os países ibéricos nos séculos
XV e XVI. Além disso, no século XV, tanto piratas ingleses quanto franceses,
empreenderam saques as embarcações dos países ibéricos.
A Inglaterra realizou em 1497, com o navegador Giovanni Caboto uma
viagem com destino às Índias. Da mesma forma que Colombo, ele procurou uma
nova rota para o oeste, na região norte do Atlântico. Ele chegou no litoral do
território do atual Canadá. Após isso, os ingleses começaram a financiar outras
expedições na localidade, mas apenas começaram a colonização no século XVI.
Já a França, ingressou na América em 1534. Em 1541, sua expedição foi
liderada por Jacques Cartier que chegou no rio São Lourenço e fundou uma

64
colônia na atual região de Québec, Canadá. Essa primeira tentativa de
colonização na localidade não teve êxito. No século seguinte, a França deu início à
colonização de algumas áreas do atual Estados Unidos e Canadá.
O período de expansão marítima holandesa teve início já na época de sua
tentativa de independência da Espanha. Comerciantes holandeses tinham uma
presença massiva no norte da Europa. Isso possibilitou que os holandeses
conseguissem concorrer nas disputas marítimas com os reinos ibéricos.
No século XVII, os holandeses conseguiram chegar na região da atual
Indonésia e iniciaram seus projetos de colonização. Diversos territórios portugueses
na Ásia foram conquistados pelos holandeses na Índia, China e Ceilão. Desta forma,
os holandeses tornaram-se os principais comerciantes no continente asiático. Além
disso, fundaram nessa época, a Companhia das Índias Ocidentais em busca de
conquistar partes da América Portuguesa e algumas possessões lusitanas na África.
Apenas em 1654, os holandeses foram expulsos da América Portuguesa, mas
conseguiram manter algumas possessões na região do Caribe. Nesse momento,
realizaram importantes empreendimentos de tráfico de africanos escravizados na
localidade. A área do Caribe, também foi colonizada por ingleses e franceses no
século XVII e seus lucros eram atingidos com as plantações de algodão, tabaco e
principalmente cana-de-açúcar.

65
FIXANDO CONTEÚDO

1. (CESGRANRIO) Acerca da expansão marítima comercial implementada pelo


Reino Português, podemos afirmar que:
a) a conquista de Ceuta marcou o início da expansão, ao possibilitar a
acumulação de riquezas para a manutenção do empreendimento.
b) a conquista da Baía de Argüim permitiu a Portugal montar uma feitoria e manter
o controle sobre importantíssima rota comercial intra-africana.
c) a instalação da feitoria de São Paulo de Luanda possibilitou a montagem de
grande rede de abastecimento de escravos para o mercado europeu.
d) o domínio português de Piro e Sidon e o conseqüente monopólio de especiarias
do Oriente Próximo tornaram desinteressante a conquista da Índia.
e) a expansão da lavoura açucareira escravista na Ilha da Madeira, após 1510,
aumentou o preço dos escravos, tanto nos portos africanos, quanto nas praças
brasileiras.

2. (UFPE) Portugal e Espanha foram, no século XV, as nações modernas da Europa,


portanto pioneiras nos grandes descobrimentos marítimos. Identifique as
realizações portuguesas e espanholas, no que diz respeito a esses
descobrimentos.
1) Os espanhóis, navegando para o Ocidente, descobriram, em 1492, as terras do
Canadá.
2) Os portugueses chegaram ao Cabo das Tormentas, na África, em 1488.
3) Os portugueses completaram o caminho para as Índias, navegando para o
Oriente, em 1498.
4) A coroa espanhola foi responsável pela primeira circunavegação da Terra
iniciada em 1519, por Fernão de Magalhães. Sebastião El Cano chegou de volta
à Espanha em 1522.
5) Os portugueses chegaram às Antilhas em 1492, confundindo o Continente
Americano com as Índias.

Estão corretos apenas os itens:


a) 2, 3 e 4;

66
b) 1, 2 e 3;
c) 3, 4 e 5;
d) 1, 3 e 4;
e) 2, 4 e 5.

3. (CESGRANRIO) Com a expansão marítima dos séculos XV/XVI, os países ibéricos


desenvolveram a ideia de “império ultramarino” significando:
a) a ocupação de pontos estratégicos e o domínio das rotas marítimas, a fim de
assegurar a acumulação do capital mercantil;
b) o estabelecimento das regras que definem o Sistema Colonial nas relações entre
as metrópoles e as demais áreas do “império” para estabelecer as idéias de
liberdade comercial;
c) a integração econômica entre várias partes de cada “império” através do
comércio intercolonial e da livre circulação dos indivíduos;
d) a projeção da autoridade soberana e centralizadora das respectivas coroas e
sobre tudo e todos situados no interior desse “império”;
e) a junção da autoridade temporal com a espiritual através da criação do Império
da Cristandade.

4. (CESGRANRIO) Foram inúmeras as consequências da expansão ultramarina dos


europeus, gerando uma radical transformação no panorama da história da
humanidade.

Sobressai como UMA importante consequência:


a) a constituição de impérios coloniais embasados pelo espírito mercantil.
b) a manutenção do eixo econômico do Mar Mediterrâneo com acesso fácil ao
Oceano Atlântico.
c) a dependência do comércio com o Oriente, fornecedor de produtos de luxo
como sândalo, porcelanas e pedras preciosas.
d) o pioneirismo de Portugal, explicado pela posição geográfica favorável.
e) a manutenção dos níveis de afluxo de metais preciosos para a Europa.

5. (Fuvest) “Para o conjunto da economia europeia, no século XVI, caracterizada


pela produção em crescimento e pelo aumento das transações mercantis, ao

67
lado de um novo crescimento de sua população, o efeito mais importante dos
grandes descobrimentos foi a alta geral dos preços...”

O efeito a que o texto se refere foi provocado:


a) pelo grande afluxo de metais preciosos.
b) pela ampliação da área de produção agrícola.
c) pela redução do consumo de produtos manufaturados.
d) pela descoberta de novas rotas comerciais no Oriente.
e) pelo deslocamento do eixo comercial para o mediterrâneo.

6. (Brasil Escola) Sobre as características das Grandes Navegações do século XV,


indique a alternativa incorreta:
a) Em 1434, o navegador Gil Eanes ultrapassou o Cabo do Bojador, abrindo portas
para a conquista lusitana sobre o litoral africano.
b) Desde o século XII, a entrada dos produtos orientais se dava pelo monopólio
exercido pelos comerciantes italianos e árabes no Mar Mediterrâneo. Com o
objetivo de superar a dependência para com esses atravessadores, Portugal
promoveu esforços para criar uma rota que ligasse diretamente os comerciantes
portugueses aos povos do Oriente.
c) Como consequência das várias expedições realizadas pelos portugueses na
costa ocidental do continente africano, o navegador Vasco da Gama
conseguiu chegar à cidade indiana de Calicute em 1498, e voltou a Portugal
com uma embarcação cheia de especiarias.
d) Ao mesmo tempo em que Portugal despontou em sua expansão marítima, a
Espanha, mesmo envolvida no processo de expulsão dos mouros da Península
Ibérica, acompanhou os portugueses nas expedições marítimas. O fim da
chamada Guerra de Reconquista foi apenas mais um passo para o
fortalecimento dos espanhóis na corrida de expansão marítima.
e) A rivalidade entre Portugal e Espanha pela exploração das novas terras
descobertas levou ambos os reinos a assinarem tratados definidores das regiões a
serem dominadas por cada um deles. Em 1493, a Bula Intercoetera estabeleceu
as terras a 100 léguas de Cabo Verde como região de posse portuguesa. No ano
seguinte, Portugal solicitou o alargamento das fronteiras para 370 léguas de
Cabo Verde, instituindo o Tratado de Tordesilhas.

68
7. (Enem 2014) “Todo homem de bom juízo, depois que tiver realizado sua viagem,
reconhecerá que é um milagre manifesto ter podido escapar de todos os perigos
que se apresentam em sua peregrinação; tanto mais que há tantos outros
acidentes que diariamente podem aí ocorrer que seria coisa pavorosa àqueles
que aí navegam querer pô-los todos diante dos olhos quando querem
empreender suas viagens.”
J. P. T. Histoire de plusieurs voyages aventureux. 1600. In: DELUMEAU, J. História do
medo no Ocidente: 1300-1800. São Paulo: Cia. das Letras, 2009 (adaptado).

Esse relato, associado ao imaginário das viagens marítimas da época moderna,


expressa um sentimento de:

a) gosto pela aventura


b) fascínio pelo fantástico
c) temor do desconhecido
d) interesse pela natureza.
e) purgação dos pecados.

8. (URCA 2017/1) A descoberta europeia da América, ou o achamento como


pensam outros, não foi um acontecimento isolado da história europeia, tendo
em vista que:
a) A viagem de Colombo representou o fechamento súbito do sistema
transoceânico de comércio e navegação, uma vez que a África ficou isolada
das transações comercias com os europeus.
b) A grande inovação dos marinheiros e mercadores do século XV, dentre eles os
portugueses, foi saber como os ventos e as correntes do oceano Atlântico
podiam ser utilizados para permitir as viagens entre os continentes.
c) Foi a partir das viagens de Colombo que o astrolábio e o quadrante, instrumentos
que facilitavam as leituras das posições dos corpos celestes, foram inventados, no
século XVI.
d) Durante séculos, os marinheiros europeus tinham visto apenas o contorno do
mundo oceânico, com a viagem de Colombo, os franceses partiram na frente e
foram únicos no contato intercontinentais.

69
e) A viagem de Colombo permitiu a superação das rotas comerciais com as Índias
Orientais contornando a África, pois o comércio passou a ser
predominantemente no Atlântico Norte.

70
O ILUMINISMO UNIDADE

5.1 INTRODUÇÃO
05
No século XVII, nos Países Baixos ocorreu as primeiras manifestações do que
posteriormente seria chamado de Iluminismo, era publicado tratados contra a Igreja
Católica e as monarquias absolutistas. Nesse local existia uma forte liberdade de
pensamento e expressão, um dos motivos disso era que o país era uma república
diferente do restante da Europa que eram regimes absolutistas.
Dois dos mais importantes precursores do pensamento do Iluminismo foram
John Locke e René Descartes, que viveram por algum tempo nos Países Baixo.
Locke defendia a liberdade de consciência e a tolerância às práticas religiosas,
propunha a separação de poderes entre Estado e Igreja. Já René Descartes ficou
conhecido pela sua famosa frase “Penso, Logo Existo” (Cogito ergo sum) que seria a
base do pensamento filosófico do século XVIII. Descartes defendia que o método
racional e as reflexões possibilitariam a busca pela verdade e a razão era o ponto
de início de toda a construção de conhecimento. Todo conhecimento deveria ser
investigado e testado, apenas aqueles que comprovassem eficiência deveriam ser
tidos como verdadeiros.
Outros intelectuais foram precursores do pensamento iluminista como, por
exemplo, Isaac Newton que acreditava na existência de leis universais para a
ciência e a razão era a forma eficaz de demonstrá-las.
Posteriormente, conhecido como ‘Século das Luzes’, no século XVIII diversos
intelectuais, filósofos e cientistas queriam mudar o mundo através da razão, ou seja,
o pensamento racional. Esse movimento ficou conhecido como Iluminismo.
Os filósofos do Iluminismo acreditavam que seus ideais iriam ‘iluminar’ a
sociedade. Essa nossa de luz, foi inspirada nos aspectos da Antiguidade, pois Platão
acreditava que a luz simbolizava o verdadeiro conhecimento. A razão e o pensar
foram fortemente defendidos por esses intelectuais. De acordo com Falcon (1991, p.
37):

Pensar racionalmente, filosoficamente, isto é, pensar diferente. Que


significa esse novo pensar? Basicamente, trata-se de criticar, duvidar
e, se necessário, demolir. A razão define-se, portanto, como crítica

71
de um pensamento ‘tradicional’ – de suas formas e conteúdos.
Afinal, é através da crítica do existente que se poderá produzir o
novo e o verdadeiro. Os preconceitos, as superstições, os ídolos [...]
constituem barreiras ou véus que ocultam/encobrem a verdade,
impedindo o caminho até ela.

Para Grespan (2011, p. 15-16), o Iluminismo é

Mais do que uma atitude mental, o Iluminismo foi movimento de


ideias, no sentido forte de um processo de constituição e
acumulação de saber sempre renovado e sempre capaz de ser
modificado até nos fundamentos. Este é o significado da máxima
latina com a qual Kant definiu o Iluminismo na sua resposta à
polêmica de 1784 [...] ‘sapere aude’ – ‘ousa saber’, isto é ‘ousa servir-
te do teu próprio entendimento’, sem imitar ou aceitar passivamente
as ideias das autoridades reconhecidas e temidas. Mais do que um
convite ao estudo, o lema é uma convocação a independência
intelectual diante dos demais, incluindo aí os grandes filósofos;
independência diante dos consagrados modos de ver o mundo,
diante de todo o conhecimento que se apresente como definitivo,
diante dos pressupostos em que se assenta o saber, inclusive o saber
próprio.

Nesse contexto, foram duramente criticadas as práticas do Antigo Regime e


suas ideias repercutiram em diversas partes do mundo, tendo influências que são
sentidas até os dias atuais nas áreas econômica, científica e política.
Os elementos dos governos absolutistas e a influência da religião na
sociedade foram duramente criticados pelo Iluminismo. Os ideais iluministas
repercutiram em diversos movimentos revolucionários no século XVIII como, por
exemplo, a independência dos EUA e a Revolução Francesa. No caso do Brasil, os
ideais iluministas estavam presentes na Conjuração Mineira e Baiana.

5.2 OS FILÓSOFOS DO ILUMINISMO

No século XVIII, os filósofos foram profundamente influenciados pelos avanços


científicos e aplicaram suas metodologias para análise e compreensão das
estruturas sociais e instituições políticas dominantes na área econômica e política.
Em 1735, foi publicada a obra Cartas Inglesas, por François-Marie Arouet,
mais conhecido como Voltaire, que criticava a influência da religião sobre as vidas
das pessoas e defendia a liberdade de expressão dos indivíduos na sociedade. De
acordo com Amaral (2011, p. 201-202):

Voltaire [...] não era liberal como Montesquieu, nem republicano e


democrata como Rousseau: passou a vida a criticá-los. Era adepto

72
da Monarquia Absoluta. Mas com uma condição: que o rei ilustrado
derramasse os benefícios das ‘luzes’ sobre o povo ainda inculto e
fizesse progredir as ciências, as artes e a economia para se alcançar
a felicidade na Terra [...]. Por cada crise política e social, no meio da
anarquia geral, ‘é preciso que um homem apareça e seja capaz de
restabelecer a autoridade do Estado e impor a disciplina sobre a
barbárie’. Foi o caso de Henrique IV, Luís o Grande e Luís XIV. ‘A
governação não pode ser boa senão através de um poder único’.

O pensamento religioso do século XVIII foi fortemente criticado pelos filósofos


do Iluminismo, entre eles Voltaire. As críticas para a Igreja Católica se devem ao
fanatismo, à intolerância religiosa e às superstições que impossibilitavam a
sociedade se desenvolver de forma racional. Dessa forma, Voltaire acreditava que
a religião tinha um papel importante nos problemas sociais e a razão deveria
substituir os dogmas religiosos.
A intolerância religiosa era vista como a principal motivadora das guerras
que aconteciam no continente europeu e suas consequências eram extremamente
destrutivas para seus países.
Entretanto, mesmo criticando a Igreja, Voltaire e alguns filósofos iluministas
acreditavam na existência de algo divino e devido a isso ficaram conhecidos como
filósofos deístas. Mas, para esses intelectuais, a força divina era onisciente e
manifestava-se em toda a natureza.

Figura 17: Voltaire

Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://bit.ly/3lfLDbK.


Acessado em 30 de maio de 2021às 16h44.

Em 1748, foi publicada a obra O Espírito das Leis, por Charles-Louis de


Secondat, mais conhecido como barão de Montesquieu, que acreditava que a

73
religião e a política não podem ser tratadas como algo único. Montesquieu
defendia ainda a divisão dos poderes de um Estado em três (legislativo, judiciário e
executivo).
Montesquieu acreditava que o Regime Absolutista era violento e corrupto,
fazendo com que a sociedade não tivesse transformação e mantinha a pobreza
para grande parte da comunidade. Ao defender a divisão em três poderes,
acreditava que o exercício desses poderes não poderia ser de uma única pessoa,
pois isso evitaria o abuso de poder. Dessa forma, percebe-se que Montesquieu
defendia uma forma mais equilibrada de Estado, no qual um poder poderia
controlar o outro e manteria a sociedade equilibrada. De acordo com Montesquieu
(1962, p. 168):

A liberdade política, em um cidadão, é esta tranquilidade de espírito


que provém da opinião que cada um tem sobre a sua segurança; e
para que se tenha essa liberdade é preciso que o governo seja tal
que um cidadão não possa temer outro cidadão. [...] Tudo estaria
perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais ou dos
nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer as leis, o
de executar as resoluções públicas, e o de julgar os crimes ou as
divergências dos indivíduos. (MONTESQUIEU, 1962, p. 168)

Figura 18: Montesquieu

Fonte: InfoEscola. Disponível em https://bit.ly/3oROABJ.


Acessado em 30 de maio de 2021 às 16h46.

74
Já em 1751, Denis Diderot e D’Alembert organizaram a obra conhecida
como Enciclopédia que era composta por 28 volumes e abordava diversos assuntos
do campo da filosofia, das artes, da política, da economia, da geografia e das
ciências. Diversos intelectuais do século XVIII escreveram verbetes para a obra
como, os já citados aqui, Voltaire, Montesquieu e Rousseau.

Figura 19: Diderot e D’Alembert

Fonte: Blogspot. Disponível em: https://bit.ly/3Dl2v6W.


Acessado em 30 de maio de 2021 às 16h47.

A origem da palavra ‘enciclopédia’ é grega e significava ‘conhecimento em


cadeira’. Os verbetes escritos para essa organização eram baseados nos princípios
da racionalidade e expunham os principais ideais da burguesia em ascensão
política. De acordo com Fortes (1985, p. 50):

Difícil é dar uma ideia de conteúdo do variado conjunto de textos


que compõem a Enciclopédia. O que podemos dizer é que ai
encontramos, sem duvidas [...] as ideias principais da burguesia do
século XVIII. [...] Nela podemos contemplar as principais ideias e teses
políticas e filosóficas pelas quais a maioria dos livres-pensadores e
homens de letras do século se batem.

A Enciclopédia circulou entre a população francesa nas décadas de 1750 a


1770. Seus ideais estavam amplamente difundidos nas classes sociais e serviram
como sustentação das críticas que levariam à Revolução Francesa. De acordo com

75
Darnton (1996, p. 17-18):

[...] é importante salientar um fato fundamental que se tornou


evidente para as autoridades francesas tão logo o primeiro volume
da primeira edição chegou às mãos dos assinantes: a obra era
perigosa. Não se tratava meramente de uma coleção, em ordem
alfabética, de informações a respeito de tudo; a obra registrava o
conhecimento segundo os princípios filosóficos expostos por
D’Alembert no Discurso Preliminar. Embora reconhecesse
formalmente a autoridade da Igreja, D’Alembert deixava claro que o
conhecimento provinha dos sentidos, e não de Roma ou da
Revelação. O grande agente ordenador era a razão, que
combinava as informações dos sentidos, trabalhando com as
faculdades irmãs, memória e imaginação. Assim, tudo o que o
homem conhecia derivava do mundo que o cercava e do
funcionamento de sua própria mente.

Em 1762, foi publicada a obra Do Contrato Social por Jean-Jacques


Rousseau, que defendia que para os cidadãos terem liberdade deveriam abrir
mãos dos seus direitos individuais em prol da sociedade, onde teríamos os
chamados direitos coletivos. Ele acreditava que dessa forma as pessoas poderiam
manter suas liberdades e proteger a sociedade dos maus governantes. Rousseau
afirmava que o poder emanava do povo e somente alguém habilitado pela sua
comunidade poderia exercer o poder.

Figura 20: Rousseau

Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://bit.ly/2WLpcle.


Acessado em 30 de maio de 2021 às 16h49.

Rousseau acreditava que a sociedade corrompia o ser humano, pois

76
todos nasciam bons. A sociedade primitiva, de acordo com Rousseau, era uma
sociedade perfeita, pois viviam pelas leis da natureza e era igualitária, não havendo
desigualdade social e todos tinham o necessário para a sobrevivência. Para
Rousseau (1979, p. 259):

O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo


cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu [...] Quantos
crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao
gênero humano aquele que arrancando as estacas ou enchendo o
fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: ‘Defendei-vos de ouvir esse
impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos
e que a terra não pertence a ninguém!’.

Segundo Rousseau, a desigualdade foi derivada dos avanços econômicos e


da propriedade privada. Com esses dois itens, a sociedade humana começou a
estragar devido as ambições pessoais que se sobressaiam ao coletivo e permitia a
corrupção do ser humano. De acordo com Rousseau (1979, p. 260):

Em relação às moléstias, não repetirei as vãs e falsas declamações


feitas contra a medicina pela maior parte das pessoas de saúde;
perguntarei, porém, se há alguma observação sólida da qual se
possa concluir que, nos países em que essa arte é mais descurada, a
vida média do homem é mais curta do que naqueles em que é
cultivada com mais cuidado. E como poderia ser assim, se os
remédios que a medicina nos fornece são insuficientes para os males
que temos? A extrema desigualdade na maneira de viver, o excesso
de ociosidade de uns, o excesso de trabalho de outros, a facilidade
de irritar e satisfazer nossos apetites e nossa sensualidade, os
alimentos muito requintados dos ricos, que os nutrem com sucos
excitantes e os afligem com indigestões, a má nutrição dos pobres,
que chega muitas vezes a faltar-lhes, obrigando-os a sobrecarregar
avidamente o estômago quando podem [...] eis os funestos fiadores
de que a maior parte de nossos males é nossa própria obra e de que
poderíamos evita-los a todos conservando a maneira de viver simples
[...].

Diferente de Montesquieu e Voltaire, Rousseau era extremamente crítico à


monarquia e defensor da República, para ele, a única forma de Estado em que
cada pessoa teria seu direito de cidadania respeitado. O voto deveria ser a forma
ideal para o povo escolher sua forma de governo e seu representante. De acordo
com Rousseau (1973, p. 94-95):

Os melhores reis querem ser maus, caso lhes agrade, sem deixar de
ser senhores. Será grato a um pregador político dizer-lhes que, sendo
sua força a do povo, seu maior interesse estará em ver o povo
florescente, numeroso, temível: eles sabem muito bem que isso não é
verdade. O seu interesse pessoal estará principalmente em ser o

77
povo fraco, miserável, e nunca possa oferecer-lhes resistência.
(ROUSSEAU, 1973, p. 94-95.)

Comparado com outros filósofos do iluminismo, Rousseau foi uma voz solitária
ao defender a República, pois muitos intelectuais acreditavam que a monarquia
deveria ser apenas reformada assim como o restante da sociedade.

Caso queira conhecer o livro O Contrato Social ele encontra-se disponível


em. https://bit.ly/3oIXAch. Acesso em: dia mês ano.

5.3 O ILUMINISMO E A ECONOMIA

Diversos intelectuais do Iluminismo criticavam as práticas mercantilistas que


eram amplamente utilizadas pelos regimes absolutistas, um desses grupos de
pensadores eram os fisiocratas.
Os fisiocratas acreditavam que a riqueza dos países não deveria ser
calculada pelo acúmulo de metais preciosos que era possuído pelo Estado, mas
pela quantidade e qualidade dos bens e serviços à disposição da população de
cada país. Eles acreditavam que a verdadeira riqueza para a sociedade era
derivada da natureza, sendo a agricultura a principal fonte de uma economia.
O Estado não poderia interferir no mercado, de acordo com os fisiocratas,
mas defendiam a auto regulação da economia, ou seja, suas próprias leis. Eles
acreditavam que o Estado deveria apenas zelar pelo bem estar da nação, a ordem
e a defesa pública para garantir seu desenvolvimento.

78
Essa forma de pensar a economia recebeu o nome de liberalismo
econômico e teve como um dos seus principais representantes o pensador Adam
Smith. De acordo com seus ideais,

Quando a quantidade de qualquer mercadoria que é trazida ao


mercado está aquém da demanda efetiva, todos os que estão
dispostos a pagar todo o valor da renda, salário e lucro, que devem
ser pagos para que elas sejam trazidas, não poderão ser supridos
com a quantidade que desejam. Além de apenas deseja-la, alguns
estarão dispostos a dar mais por elas. [...]
Quando a quantidade trazida ao mercado excede a demanda
efetiva, ela não pode ser toda vendida àqueles que estão dispostos
a pagar todo o valor da renda, salários e lucro, que devem ser pagos
para trazê-las. Uma parte deve ser vendida àqueles que desejam
pagar menos, e o baixo preço que eles dão por ela deve reduzir o
preço do todo (SMITH, 2017, p. 56).

Dessa forma, percebemos que para Adam Smith as relações comerciais


devam ser regularizadas pelo mercado e por meio da oferta e da procura: quando
há muitas pessoas desejando o mesmo produto, seu preço deveria subir; quando
um produto tem menos pessoas buscando comprá-la, seu preço deveria cair. O
preço fixo, de acordo com Smith, impediria o trabalho individual e atrapalharia o
desenvolvimento econômico.

5.4 DESPOTISMO ESCLARECIDO

No século XVIII, alguns monarcas europeus adotaram uma forma de governo


que misturava as práticas do regime absolutistas com alguns ideais defendidos pelo
Iluminismo, essa forma de governo ficou conhecido como despotismo esclarecido.
De acordo com Silva (2007, p. 304):

A expressão déspota esclarecido é empregada [...] com o


significado de governante que exerce o poder de forma absolutista,
discricionária, arbitrária, que concentra, em sua órbita decisória,
além das atribuições executivas, também, as legislativas, exercendo
forte influência no âmbito judiciário, de vez que governa com o
autoatribuído poder divino de governar, e, como tal, teoricamente,
sancionado pelas elites e pelo povo; por este motivo suas decisões,
em todos os âmbitos, são a verdade final e indiscutível; ele não pode
errar, já que atua por um dom divino; não admite oposição e estar
contra ele, nesta concepção autoritária de governo, significa estar
contra a nação, de vez que o déspota personifica o Estado, a
nação, o povo. Os esclarecidos foram aqueles governantes
despóticos tidos (autoatribuídos) como detentores de saberes e que
agiam, supostamente – e apenas segundo sua vontade e seu

79
julgamento – voltados para o bem do Estado e do povo, conforme
sua concepção de bem.

Entre algumas medidas adotadas por esses monarcas estavam reformas no


campo religioso, político, social e econômico como, por exemplo, melhorar as
formas de tributação, combater a corrupção e os privilégios da nobreza e do clero,
incentivo ao desenvolvimento industrial, comercial e agrícola e a abolição da
servidão entre a população.
Na Espanha, o rei Carlos III, ocorreu um incentivo ao mercado interno e vários
monopólios mercantis foram abolidos, mas o monarca ficou extremamente
conhecido por criar uma rede de educação pública.
Em Portugal, com Dom José I, atividades semelhantes com a da Espanha
aconteceram devido a atuação de seu ministro Marquês de Pombal. Além disso,
ocorreu a perda de privilégios da nobreza e, também como na Espanha, os jesuítas
foram expulsos dos territórios sobre sua administração, e a própria Inquisição,
principal instituição católica desde a Contrarreforma, teve seus poderes limitados.
Em relação ao Brasil, Marquês de Pombal tomou importantes medidas
buscando melhorias nas economias de Portugal como, por exemplo, aumentou o
monopólio comercial entre a metrópole e a colônia; transferência a capital do
Brasil de Salvador para o Rio de Janeiro (1763); e criou companhias para o
transporte e comercialização de escravizados para as diversas províncias do Brasil.

Figura 21:Marquês de Pombal

Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://bit.ly/3Aj5zyP.


Acessado em 30 de maio de 2021 às 17h12.

80
Na Rússia, Catarina II buscou modernizar a administração pública,
reformou a cidade de São Petersburgo, na época capital do Império, tomou terras
da Igreja Ortodoxa e buscou construir hospitais e escolas para a população do
reino. Apesar dessas medidas, a nobreza continuou tendo privilégio sobre as terras
na Rússia. Catarina II teve forte contato com os pensadores iluministas Voltaire,
D’Alembert e Diderot.
Entre 1740 a 1786, a Prússia, região da Alemanha, foi administrada por
Francisco II que buscou a modernização da economia e chegou a escrever alguns
textos inspirados nos ideais Iluministas.

Figura 22: Frederico II da Prússia

Fonte: Wikipedia. Disponível em https://bit.ly/3abGJpZ.


Acessado em 30 de maio de 2021 às 17h14

5.5 AS CONSEQUÊNCIAS DO ILUMINISMO

O mundo atual foi moldado com vários princípios dos ideais do Iluminismo do
século XVIII. De acordo com Falcon (1991, p. 06-07):

Para o mundo de hoje o Iluminismo é algo bastante presente, tanto


que é capaz de produzir debates e tomadas de posição de mais
variados tipos.
Enquanto para os historiadores a palavra Iluminismo remete à noção
de um movimento intelectual ocorrido na Europa do século XVIII – o

81
‘século das Luzes’ [...] – para nós, hoje, o Iluminismo reveste-se de
muitas outras significações.
Podemos, por exemplo tentar compreender, o Iluminismo como
culminação de um processo, ou como um começo. Enquanto ponto
de chegada, o Iluminismo aparece como o clímax de uma trajetória
cujos começos se identificam com o Renascimento, mas que só alça
voo realmente com a Revolução Científica do século XVII.
Considerado como um ponto de partida, o Iluminismo passa a
constituir o primeiro momento de uma aventura intelectual que
também é nossa. [...]
Somente hoje, de fato, de uma forma ou de outra herdeiros do
Iluminismo. E o somos em escala bem mais significativa do que muitos
parece dispostos a reconhecer ou assumir; pois, quer como estilo de
pensamento, quer como realidade política, o fato é que o Iluminismo
ainda vive.

Já para Rouanet (1987, p. 26-27), a Ilustração (o Iluminismo) está em crise no


mundo contemporâneo

Teria ainda a Ilustração forças para influenciar o nosso presente? Seu


legado ainda existe, mas está em crise. Sua bandeira mais alta, a da
razão, está sendo contestada. Sua fé na ciência é denunciada
como uma ingenuidade perigosa, que estimulou a destrutividade
humana e criou novas formas de dominação, em vez de promover a
felicidade universal. [...] Essas críticas não são de todo falsas, mas são
unilaterais. A Ilustração foi, apesar de tudo, a proposta mais generosa
de emancipação jamais oferecida ao gênero humano. Ela acenou
livre de tirania e da superstição. Propôs ideais de paz e tolerância
[...]. Seu ideal de ciência era o de um saber posto a serviço do
homem, e não o de um saber cego [...] Sua moral era livre [...]
pregando uma ordem em que o cidadão não fosse oprimido pelo
Estado, o fiel não fosse oprimido pela religião, e a mulher não fosse
oprimida pelo homem. [...] Esses temas são importantes e
correspondem de perto às exigências contemporâneas.

O Iluminismo, como já falado, foi responsável por importantes movimentos


históricos posteriores como a independência dos EUA, a independência das
colônias Espanholas e do Brasil e a Revolução Francesa que impactou fortemente a
Europa no final do século XVIII.
No campo político, as formas representativas de governo baseadas nos
ideais de Montesquieu, da divisão de três poderes, são exercidas na maioria dos
países do mundo. Os representantes são escolhidos por meio do voto, assim como
defendia Rousseau.
No campo econômico, os ideais dos fisiocratas ajudaram a desenvolver o
pensamento liberal que tem como base o livre mercado, a livre concorrência e a
defesa da não intervenção do Estado na Economia.
No campo religioso, na maioria dos países do mundo ocidental existe a

82
separação de poderes da Igreja e do Estado, ou seja, existe uma sociedade laica.
No campo científico, o pensamento iluminista permitiu avanços tecnológicos
e científicos que perduram até os dias de hoje. Após o século XVIII, a ciência
deveria ajudar a promover o desenvolvimento da sociedade por meio do progresso
e melhorar a vida da população. Pensamento que esteve presente fortemente no
século XIX, como veremos em História Contemporânea.

83
FIXANDO CONTEÚDO

1. (UFF 2010) O escritor e filósofo francês Voltaire, que viveu no século XVIII, é
considerado um dos grandes pensadores do Iluminismo ou Século das Luzes. Ele
afirma o seguinte sobre a importância de manter acesa a chama da razão:

“Vejo que hoje, neste século que é a aurora da razão, ainda renascem algumas
cabeças da hidra do fanatismo. Parece que seu veneno é menos mortífero e que
suas goelas são menos devoradoras. Mas o monstro ainda subsiste e todo aquele
que buscar a verdade arriscar-se-á a ser perseguido. Deve-se permanecer ocioso
nas trevas? Ou deve-se acender um archote onde a inveja e a calúnia
reacenderão suas tochas? No que me tange, acredito que a verdade não deve
mais se esconder diante dos monstros e que não devemos abster-nos do
alimento com medo de sermos envenenados”.

Identifique a opção que melhor expressa esse pensamento de Voltaire:


a) Aquele que se pauta pela razão e pela verdade não é um sábio, pois corre um
risco desnecessário.
b) A razão é impotente diante do fanatismo, pois esse sempre se impõe sobre os
seres humanos.
c) Aquele que se orienta pela razão e pela verdade deve munir-se da coragem
para enfrentar o obscurantismo e o fanatismo.
d) O fanatismo e o obscurantismo são coisas do passado e por isso a razão não
precisa mais estar alerta.
e) A razão envenena o espírito humano com o fanatismo.

2. (UFPR 2010) A respeito do iluminismo, movimento filosófico que se difundiu pela


Europa ao longo do século XVIII, considere as seguintes afirmativas:
1) Muitos filósofos franceses, entre eles Montesquieu, Voltaire e Diderot, foram
leitores, admiradores e divulgadores da filosofia política produzida pelos ingleses,
como John Locke com sua crítica ao absolutismo.
2) Quanto à organização do Estado, os filósofos iluministas não eram contra a
monarquia, mas contra as ideias de que o poder monárquico fora constituído
pelo direito divino e de que ele não poderia ser submetido a nenhum freio.

84
3) A descoberta da perspectiva e a valorização de temas religiosos marcaram as
expressões artísticas durante o iluminismo.
4) Em Portugal, o pensamento iluminista recebeu grande impulso das descobertas
marítimas.

Assinale a alternativa correta.


a) Somente a afirmativa 1 é verdadeira.
b) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.

3. (Enem 2013) “Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada do


empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeira vez no início
da Modernidade, como expectativa de que o homem poderia dominar a
natureza. No entanto, essa expectativa, convertida em programa anunciado por
pensadores como Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu
“de um prazer de poder”, “de um mero imperialismo humano”, mas da aspiração
de libertar o homem e de enriquecer sua vida, física e culturalmente.” (CUPANI,
A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques. Scientiae Studia, São
Paulo, v. 2, n. 4, 2004 (adaptado)).

Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e Bacon, e o projeto


iluminista concebem a ciência como uma forma de saber que almeja libertar o
homem das intempéries da natureza. Nesse contexto, a investigação científica
consiste em:
a) expor a essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas
ainda existentes.
b) oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o lugar que
outrora foi da filosofia.
c) ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do saber que
almejam o progresso.
d) explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e eliminar os discursos
éticos e religiosos.

85
e) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e impor limites aos
debates acadêmicos.

4. (Enem 2017) Fala-se muito nos dias de hoje em direitos do homem. Pois bem: foi
no século XVIII — em 1789, precisamente — que uma Assembleia Constituinte
produziu e proclamou em Paris a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão. Essa Declaração se impôs como necessária para um grupo de
revolucionários, por ter sido preparada por uma mudança no plano das ideias e
das mentalidades: o Iluminismo. (FORTES, L. R. S. O Iluminismo e os reis filósofos. São
Paulo: Brasiliense, 1981 (adaptado)).
Correlacionando temporalidades históricas, o texto apresenta uma concepção
de pensamento que tem como uma de suas bases a:
a) modernização da educação escolar.
b) atualização da disciplina moral cristã.
c) divulgação de costumes aristocráticos.
d) socialização do conhecimento científico.
e) universalização do princípio da igualdade civil.

5. (CESGRANRIO) O movimento conhecido como Ilustração ou Iluminismo marcou


uma revolução intelectual, ocorrida na sociedade europeia ao longo do século
XVIII. O Iluminismo, em seu âmbito intelectual, expressou a:
a) negação do humanismo renascentista baseado no experimentalismo, na física e
na matemática.
b) aceitação do dogmatismo católico e da escolástica medieval.
c) defesa dos pressupostos políticos e das práticas econômicas do Estado do Antigo
Regime.
d) consolidação do racionalismo como fundamento do conhecimento humano.
e) supremacia da ideia de providência divina para a explicação dos fenômenos
naturais.

6. (FUVEST) Sobre o chamado despotismo esclarecido é correto afirmar que


a) foi um fenômeno comum a todas as monarquias europeias, tendo por
característica a utilização dos princípios do Iluminismo.
b) foram os déspotas esclarecidos os responsáveis pela sustentação e difusão das

86
ideias iluministas elaboradas pelos filósofos da época.
c) foi uma tentativa bem intencionada, embora fracassada, das monarquias
europeias reformarem estruturalmente seus Estados.
d) foram os burgueses europeus que convenceram os reis a adotarem o programa
de modernização proposto pelos filósofos iluministas.
e) foi uma tentativa, mais ou menos bem sucedida, de algumas monarquias
reformarem, sem alterá-las, as estruturas vigentes.

7. (UFV) O Marquês de Pombal, ministro do rei D. José I (1750-1777), foi o responsável


por uma série de reformas na economia, educação e administração do Estado e
do império português, inspiradas na filosofia iluminista e na política econômica do
mercantilismo, cabendo a ele a expulsão dos padres jesuítas da Companhia de
Jesus dos domínios de Portugal.

O Marquês de Pombal foi um dos representantes do chamado:


a) Despotismo Esclarecido.
b) Socialismo Utópico.
c) Socialismo Científico.
d) Liberalismo.
e) Parlamentarismo Monárquico.

8. (ENEM) “Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada do


empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeira vez no início
da Modernidade, como expectativa de que o homem poderia dominar a
natureza. No entanto, essa expectativa, convertida em programa anunciado por
pensadores como Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu
“de um prazer de poder”, “de um mero imperialismo humano”, mas da aspiração
de libertar o homem e de enriquecer sua vida, física e culturalmente”. (CUPANI,
A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques, Scientiae Studia. São
Paulo, v. 2 n. 4, 2004 (adaptado)).Autores da filosofia moderna, notadamente
Descartes e Bacon, e o projeto iluminista concebem a ciência como uma forma
de saber que almeja libertar o homem das intempéries da natureza. Nesse
contexto, a investigação científica consiste em:

87
a) expor a essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas
ainda existentes.
b) oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o lugar que
outrora foi da filosofia.
c) ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do saber que
almejam o progresso.
d) explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e eliminar os discursos
éticos e religiosos.
e) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e impor limites aos
debates acadêmicos.

88
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL UNIDADE

6.1 INTRODUÇÃO

06
Durante a Idade Média e a Idade Moderna, os produtos manufaturados
eram feitos por artesãos em suas corporações. Entre os séculos XVI e XVII, houve
uma forte expansão das atividades econômicas e comerciais na Europa e boa
parte da produção de manufaturados começou a ser realizada em âmbito
doméstico.
Ao longo do tempo, a organização do trabalho passou por várias mudanças.
No século XV, o modo de produção era artesanal. O trabalhador dominava todas
as etapas da produção. Com o aumento da demanda, mais pessoas começaram
a participar na produção e com o seu crescimento, as oficinas ajudaram no
desenvolvimento das manufaturas no qual ampliaram o controle dos empresários
sobre o trabalhador.
Ao longo do século XVIII, grandes inovações tecnológicas foram realizadas
na Inglaterra como, por exemplo, a criação da máquina de fiar, a máquina a vapor
e outros. Essas mudanças causaram severas transformações na rotina de trabalho e
deram origens ao processo conhecido como Revolução Industrial. E por que
consideramos ela um processo de Revolução? De acordo com Fernandes (1981, p.
01):

A palavra ‘revolução’ encontra empregos correntes para designar


alterações contínuas ou súbitas que ocorrem na natureza ou na
cultura (coisas que devemos deixar de lado e que os dicionários
registram satisfatoriamente). No essencial, porém, há pouca
confusão quanto ao seu significado central: mesmo na linguagem de
senso comum, sabe-se que a palavra se aplica para designar
mudanças drásticas e violentas da estrutura da sociedade. Daí o
contraste frequente de ‘mudança gradual’ e ‘mudança
revolucionária’ que sublinha o teor da revolução como uma
mudança que ‘mexe nas estruturas’, que subverte a ordem social
imperante na sociedade.

Além de alterar as formas e organização do trabalho, ela mudou


completamente a vida das pessoas em sociedade. De acordo com Perry (2002, p.
352):

89
No final do século XVIII, enquanto a revolução pela liberdade e
igualdade acontecia na França e se propagava por toda a Europa,
um tipo diferente de revolução, a revolução na indústria,
transformava a vida. No século XIX, a Revolução Industrial difundiu-se
pelos Estados Unidos e pelo continente europeu. [...]
Novas formas de energia, particularmente o vapor, substituíram a
força animal e os músculos humanos. Descobriram-se maneiras
melhores de obtenção e utilização de matérias-primas, e implantou-
se uma nova forma de organizar a produção e os trabalhadores – a
fábrica. No século XIX, a tecnologia avançou [...] com um ímpeto
sem precedente na história humana. A explosão resultante na
produção e produtividade econômicas transformou a sociedade
com uma velocidade surpreendente.

No sistema industrial, a produção é dividida em etapas e cada trabalhador


especializa-se em uma dessas etapas. A divisão em fases na produção possibilitou o
aumento da produção.

6.2 O PIONEIRISMO INGLÊS

Entre um dos principais motivos para que ocorresse o pioneirismo da


Inglaterra no processo de industrialização estava o acúmulo de capitais. No século
XVI, as colônias da América e da África permitiram a acumulação de capitais pela
burguesia inglesa, fora a conseguida pelas relações mercantis com outros países
europeus.
No século XVIII, com o desenvolvimento de sua marinha, a Inglaterra
transformou-se numa importante potência militar. Entre algumas medidas adotadas
pelo governo inglês para favorecer a burguesia estava a diminuição das taxas de
juros para os empréstimos com bancos e o estímulo de investimentos em vários
setores comerciais. Desta forma, a burguesia conseguiu uma grande quantidade de
capital que pode ser utilizado para a implantação das primeiras fábricas e com elas
criando o processo de industrialização.
Além disso, o processo conhecido como cercamentos de terras comunais,
que ocorreu entre os séculos XVI e XVIII, permitiu que a burguesia inglesa se tornasse
uma grande proprietária de terras. Esses territórios passaram a ser utilizados para
atividades comerciais como, por exemplo, criação de animais, principalmente
pastagens de carneiros. As lãs retiradas desses animais foram a matéria-prima
principal da industrial têxtil que começava a se desenvolver. Romero (1991, p. 12)
assinala que:

90
Braudel [...] nos explica que não foram as populações estritamente
agrícolas que forneceram a mão de obra barata para a Revolução
Industrial, mas si aquelas populações de regiões pobres de
agricultura decadente. Segundo ele, as novas culturas forrageiras,
que caracterizam o novo sistema de cultura, exigem solos leves
(arenosos), o que transforma as regiões que os contém em terras
ricas da Inglaterra. Por outro lado, as regiões de solos pesados
(argilosos), até então consideradas as melhores para o cultivo de
cereais, pouco adaptáveis às culturas de forrageiras, são
condenadas pela baixa do preço do trigo provocada pelos altos
rendimentos obtidos com o novo sistema nas regiões de solos leves.
Estas regiões que se tornam desfavorecidas vão procurar se
reequilibrar sobretudo através da indústria artesanal rural [...] A partir
do momento que a manufatura capitalista urbana se afirma (final do
século XVIII) este artesanato será destruído, liberando a mão de obra,
composta de pequenos artesão e de um proletariado mais ou menos
habituado às atividades artesanais, que irá se constituir no ‘exército
industrial de reserva’, à disposição do capital.

Devido ao cercamento, famílias camponesas começaram a mudar para as


cidades em busca de trabalho e, devido a não existência de trabalhos para todos,
aumentou-se consideravelmente o desemprego.O alto desemprego gerou uma
situação em que as pessoas aceitavam qualquer trabalho por baixos salários.
Aproveitando-se disso, a burguesia começou a contratar essas pessoas com salários
miseráveis e condições degradantes para trabalhar. Essas pessoas aceitavam essas
condições para sobreviver e mantinham-se em longas jornadas de trabalho. De
acordo com Hobsbawm (2006, p. 54):

As condições adequadas estavam visivelmente presentes na Grã-


Bretanha, onde mais de um século se passara desde que o primeiro
rei tinha sido formalmente julgado e executado pelo povo e desde
que o lucro privado e o desenvolvimento econômico tinham sido
aceitos como os supremos objetivos da política governamental. A
solução britânica do problema agrário, singularmente revolucionária,
já tinha sido encontrada na prática. Uma relativa quantidade de
proprietários com espírito comercial já quase monopolizava a terra,
que era cultivada por arrendatários empregando camponeses sem
terra ou pequenos agricultores. Um bocado de resquícios,
verdadeiras relíquias da antiga economia coletiva do interior, ainda
estava para ser removido pelos Decretos de Cerca (Enclosure
Acts).[...] As atividades agrícolas já estavam predominantemente
dirigidas para o mercado; as manufaturas há muito tinham
disseminado por um interior não feudal.

Vale ressaltar que outro fator importante para o desenvolvimento industrial


inglês foi os recursos naturais disponíveis nas ilhas britânicas: ferro e carvão. O
carvão foi a principal fonte de energia nessa primeira etapa da industrialização e o
ferro era fortemente utilizado na indústria locomotiva, ferrovias e máquinas em

91
geral.

6.3 AS MUDANÇAS SOCIAIS

A sociedade inglesa passou por diversas transformações devido aos


processos de industrialização e urbanização que caminharam juntos desde o início
da mecanização das fábricas.
As relações de trabalho passaram por profundas transformações. Por
exemplo, houve a mudança de condições das pessoas, os artesãos que antes
possuíam os instrumentos e matérias-primas para a confecção dos produtos
precisaram vender sua força de trabalho para os donos de fábricas e tornaram-se
trabalhadores assalariados.
Dessa forma, a produção doméstica foi diminuindo e o artesão perdeu sua
autonomia. Essa mudança não aconteceu de forma acelerada, até meados do
século XIX havia muitas produções domésticas artesanais ainda, mas sua
importância econômica diminuiu drasticamente comparada a produção industrial.
Para acelerar a produção das mercadorias nas fábricas, começou o
trabalhador a ser submetido a uma disciplina, criando uma rotina única e
monótona no ritmo de produção. Ocorreu uma divisão de trabalho e a
industrialização aumentou os rendimentos de capitais para a burguesia, mas o
trabalhador continuava sem valorização e com atividades cada vez mais
simplificadas nas fábricas. Isso resultava em baixos salários e condições de trabalhos
péssimas para a sobrevivência.
Os trabalhadores tinham condições de vida péssimas e os salários não
possibilitaram melhorias de vida, muitos moravam em residências precárias ou
cedidas pelas fábricas que trabalhavam. O custo da locomoção era alto e poucos
conseguiram morar em bairros afastados das fábricas. Convivendo diariamente
com as fábricas e sua poluição, muitos trabalhadores começaram a adquirir
algumas doenças como, por exemplo, as respiratórias e cardiovasculares. Na obra
Fábricas e homens, Decca e Meneguello (1999, p. 59) trazem relatos da rotina de
um trabalhador fabril

92
Íamos para o trabalho às seis da manhã sem nada para comer e
sem fogo para nos aquecer. Por cerca de um ano nós nunca
paramos para café da manhã. O café da manhã era trazido para a
fábrica em canecas de lata em grandes bandejas. Era leite, mingau
e bolo de aveia. Eles traziam isso, e cada um pegava uma lata e
tomava seu café como podia, sem parar de trabalhar. Fazíamos
uma parada ao meio dia, e tínhamos uma hora para o almoço, mas
tínhamos que fazer a faxina durante aquela hora. Levávamos cerca
de meia hora para limpar e colocar óleo nas máquinas. Então íamos
comer o almoço, que cinco dias por semana era torta de batata.

A vida dos trabalhadores das fábricas era extremamente desgastante e


cansativa. Não havia naquela época férias e trabalhavam por volta de 16h por dia.
As fábricas eram lugares úmidos, escuros e com pouquíssima ventilação. O
proletariado tinha sempre um vigia para ver se estavam realmente trabalhando e
era comum acidentes de trabalho. Quando acontecia algum acidente, o
trabalhador não tinha nenhum direito.
No século XIX, metade dos trabalhadores fabris eram mulheres. Elas não
possuíam nenhum direito à licença-maternidade e recebiam salários mais baixos
que os dos homens. Muitas mulheres começaram a levar as crianças desde cedo
ao trabalho de fábrica, devido muitos não terem acesso à educação e não
possuírem com quem deixar os filhos. Por volta dos nove anos, as crianças
começavam a trabalhar em jornadas de 10 a 12 horas diárias e recebiam pouco.
Era mais comum acidentes de trabalhos envolvendo crianças do que os adultos.
Thompson (1987, p. 209-210) assinala que:

O trabalho infantil não era uma novidade. A criança era parte


intrínseca da economia industrial e agrícola [...] conforme declarou
uma das testemunhas do Comitê de Sadler. [...] ‘Vi algumas crianças
correndo para a fábrica, com lágrimas nos olhos, levando um
pedaço de pão nas mãos, seu único alimento até o meio-dia;
chorando por meio de estarem muito atrasadas’ [...] o dia realmente
começava desta forma para muitas crianças, e o trabalho não
terminava antes das setes ou oito horas da noite. No final da jornada,
elas já estavam chorando ou adormecidas em pé [...] Seus pais
davam-lhe palmadas para mantê-las acordadas, enquanto os
contramestres rondavam com correias. Nas fábricas rurais,
dependente de energia hidráulica, eram comuns os turnos à noite ou
as jornadas de quatorze a dezesseis horas diárias, em épocas de
muito trabalho.

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (2001, p. 29):

Entre 1780 e 1840, período em que as transformações na produção estavam

93
em curso, com a introdução do sistema de fábrica, crianças trabalhavam nas minas
de carvão e nas fábricas, “quase todas doentias, franzinas, frágeis, além de
andarem descalças e malvestidas. Muitas não aparentavam ter mais de 7 anos’,
escreveu um médico, sobre as que trabalhavam em uma fábrica de Manchester.
As jornadas eram longas, tanto quando as dos adultos, variando de 12 a 18
horas diárias. Os salários eram muito baixo, apenas um complemente para a
pequena renda familiar; e as fábricas, sujas, escuras, malventiladas.
Embora o trabalho infantil não fosse novidade já nessa época, segundo
Thompson [...] a diferença entre o que era antes realizado, no âmbito familiar e o
sistema fabril, é que este último herdou as piores feições do sistema doméstico,
numa situação em que não existiam as compensações do lar, utilizando o trabalho
de crianças pobres, explorando-as com brutalidade tenaz.

Em busca de maiores lucratividade na fábrica, a burguesia buscou organizar


o sistema de produção fabril para acelerar o ritmo de produção e diminuir os
custos. A rotina era rígida para os trabalhadores fabris e em sua organização ocorria
a especialização do trabalho. Antes um artesão conhecia todas as etapas da
produção, nas fábricas o operário se especializava em apenas uma etapa no
processo de fabricação das mercadorias. A respeito do trabalho fabril, Smith (1996,
p. 60-61) assinalava que:

Um homem estica o arame, outro o endireita, um terceiro corta-o,


um quarto o aponta, um quinto o achata na extremidade e que
ficará a cabeça, para fazer a cabeça são necessárias duas ou três
operações diferentes; fabricá-lo é uma tarefa peculiar; branqueá-lo
é outra; é uma verdadeira arte, também espetá-los no papel.... Vi
pequenas fábricas dessas onde trabalhavam apenas dez homens,
alguns deles realizando duas ou três operações diferentes. Esses
homens podiam, quando se esforçavam, fabricar cerca de cinco
quilos de alfinetes em um dia. Em um quilo de alfinetes há uns oito mil
alfinetes de tamanho médio. Essas dez pessoas, portanto, poderia ao
todo produzir cerca de oito mil alfinetes em um dia... Mas se
trabalhassem separadas e independentemente, com certeza cada
qual não produziria vinte, talvez nenhum alfinete por dia.

Em oposição ao estilo de vida do trabalho, do outro lado estava a burguesia


em constante ascensão social. Os donos das fábricas desfrutavam de luxos e
moravam em bairros afastados de suas fábricas. E o cotidiano dessas pessoas não
estavam ligadas ao trabalho, mas a divertimento como os serões (reuniões
privadas). De acordo com Perrot (1991, p. 210-211):

94
Os serões em família são frequentemente ocupados por jogos de
cartas e dados. [...] os serões são um momento privilegiado para a
música e o teatro de amadores. Entre amigos, não raro formam-se
grupos de instrumentistas ou cantores que se encontram com
regularidade, na casa de um ou de outro, principalmente na
província, onde as diversões culturais são mais restritivas.

É interessante assinalarmos que uma das mudanças sociais mais significativas


na sociedade foi a relação do homem com o tempo após a Revolução Industrial.
Anteriormente ao processo de industrialização, a vida humana era regida pelo
tempo da natureza, estações e épocas de colheita e plantio. Não havia um ritmo
cotidiano de trabalho e a vida do trabalhador era baseada em ritmos naturais e em
suas tarefas domésticas. Pra e Meneguello (1999, p. 34-35):

Antes do aparecimento das fábricas, [...] o relógio não era


necessário. Porém, quando as relações de trabalho se
transformaram, mudou também a orientação que as pessoas tinham
com relação ao tempo. O assalariamento gerou a necessidade de
controlar a produtividade, ou seja, de criar uma jornada de trabalho.
Simultaneamente, começaram a se difundir os relógios.

A mesma perspectiva a respeito do tempo é compartilhada por Thompson


(2008, p. 272) que assinala que:

Essa medição incorpora uma relação simples. Aqueles que são


contratados experienciam uma distinção entre o tempo do
empregador e o seu ‘próprio’ tempo. E o empregador deve usar o
tempo de sua mão de obra e cuidar para que não seja
desperdiçado: o que predomina não é a tarefa, mas o valor do
tempo quando reduzido a dinheiro. O tempo agora é moeda:
ninguém passa o tempo, e sim o gasta.

Dessa forma, percebemos que o ritmo do tempo teve que se adaptar ao


ritmo do relógio e da fabricação dos produtos. O tempo teve que ser ritmado pelo
trabalho fabril e sofreu uma uniformização.

6.4 O IMPACTO DA INDUSTRIALIZAÇÃO NAS CIDADES

Como dito anteriormente, muitos trabalhadores do campo mudaram-se para


as cidades. Houve um aumento considerável no número de fábricas existentes na
Europa, não apenas de tecidos, mas sapatos, alimentos e outros. Além dos
trabalhadores fabris, houve um aumento dos trabalhadores domésticos nas casas
da burguesia.

95
As cidades cresciam em ritmo acelerado como as indústrias e vários
problemas começaram a acontecer devido à habitação e saúde pública serem
precárias (?). Em lugares mais pobres, não havia escoamento de esgoto, sem
calçadas e lixos acumulados. Muitas pessoas moravam em uma mesma residência
e isso facilitava a propagação de doenças respiratórias oriundas das fábricas. De
acordo com Thompson (1987, p. 187):

Apesar dos esforços sistemáticos, em larga escala, para alargar as


ruas... aumentar e aperfeiçoar a drenagem e a rede de esgotos...
nas regiões em que residem as classes mais ricas, nada foi feito para
melhorar as condições dos distritos habitados pelos pobres.

A locomoção passou por transformações após a industrialização. No século


XVIII, devido aos motores a vapor, as formas de locomoção passaram por
transformações e criaram novos mecanismos: as ferrovias.
Inicialmente, os trilhos das ferrovias eram feitos de madeiras e as ferrovias
foram fortemente utilizadas para escoamento de carvão. Posteriormente, os trilhos e
as rodas das máquinas a vapor passaram a ser de ferro.
As locomotivas mudaram totalmente o transporte pelo mundo, possibilitando
maior escoamento de produtos e encurtando as distâncias entre os trajetos. Essas
transformações no transporte possibilitaram um aumento considerável no ritmo de
chegada das mercadorias e a quantidade total que era escoada. De acordo com
Schafer (1997, p. 119-120):

Da Inglaterra o sistema ferroviário desdobrou-se rapidamente pela


Europa e pelo mundo. A França teve sua primeira ferrovia em 1828,
enquanto os Estados Unidos e a Irlanda as tiveram em 1834, a
Alemanha em 1835, o Canadá em 1836, a Rússia em 1837, a Itália em
1839, a Espanha em 1848, a Noruega e a Austrália em 1854, a Suécia
em 1856 e o Japão em 1872. [...]
De todos os sons da Revolução Industrial, os dos trens com o passar
do tempo, parecem ter assumido as mais aprazíveis associações
sentimentais. A famosa pintura Rain, Steam and Speed (Chuva,
Vapor e Velocidade) do pintor J. M. W. Turner (1844), com suas
locomotivas avançando diagonalmente em direção ao espectador,
foi o primeiro lírico inspirado pela máquina a vapor. Foi também um
pintor que captou a mudança que sobreviria na epopeia das
estradas de ferro. Em 1920, as principais linhas da Europa (embora
não da Inglaterra e da América do Norte) foram sendo eletrificadas,
e a mudança é registrada na melancolia das paisagens [...] onde
silenciosos trens soprando fumaça desaparecem da vista na
distância extrema.

96
Figura 23: Rain, steam and speed de J. M. W Turner (1844)

Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://bit.ly/3Dg341T.


Acessado em 31 de maio de 2021 às 22h46.

Além disso, vários problemas ambientais aconteceram na Inglaterra e em


outros países industrializados. Em diversos países que passaram pelo processo de
industrialização, tiveram um forte desmatamento decorrente da busca de matérias-
primas, isso desencadeou uma enorme perda de fauna e flora. Vale assinalar que a
poluição causada pelas indústrias trouxeram diversos problemas ao meio ambiente
e doenças respiratórias para a população em seu entorno.

6.5 A LUTA DOS TRABALHADORES

Devido às condições de trabalho extremamente precárias a que eram


submetidos, os trabalhadores começaram a ter contato com os ideais socialistas e
anarquistas através de jornais e panfletos. Na obra, A formação da classe operária
inglesa, Thompson relata a história de Susannah Wright que foi flagrada vendendo
jornais de caráter subversivo, foi presa e mandada a julgamento. Sem condições de

97
pagar um advogado, ela realizou a própria defesa. De acordo com o autor ela,

Solicitou permissão para se retirar e amamentar o nenê que estava


chorando. Foi-lhe concedida, e ficou ausente do Tribunal por vinte
minutos. Ao retornar, foi aplaudida e aclamada em altas vozes por
milhares de pessoas reunidas, todas a encorajá-la a ter ânimo e
perseverar. (THOMPSON, 1987, p. 325-326)

Mesmo com apoio da população, Sussanah foi condenada e foi presa,


acompanhada do seu nenê durante seis meses (THOMPSON, 1987, p. 326).
Jornais e panfletos de caráter socialista e anarquistas criticavam a
exploração dos trabalhadores das fábricas e denunciavam as condições de vida
do proletariado. Muitos operários, inconformados com o tratamento que recebiam,
começaram a organizar greves e motins.
No século XIX, surgiu o movimento ludista, que começaram a invadir as
fábricas e quebrar os maquinários existentes. Eles encaravam que as máquinas
eram os problemas de suas explorações e misérias. Muitas revoltas de trabalhadores
estavam relacionadas aos baixos salários que não permitiam a eles terem uma vida
digna e manter coisas básicas como alimentos para sua alimentação.
O nome do movimento é derivado de Ned Ludd. Os proprietários de fábricas
recebiam cartas assinadas por Ludd, mandando que os donos tirassem as
máquinas. O governo inglês condenou duramente os ataques e muitos
participantes foram mandados para a forca. Mas, o ludismo não ficou restrito à
Inglaterra, para Coggiola (2010, p. 16):

O ludismo não foi um movimento exclusivamente inglês, tendo-se


registrado movimentos semelhantes na Bélgica, na Renânia, na Suíça
e na Silésia. O ludismo inglês teve o seu momento culminante no
assalto noturno à manufatura de William Cartwright, no condado de
York, em abril de 1812. No ano seguinte, na mesma cidade, teve
lugar o maior processo contra os ludistas: dos 64 acusados de terem
atentado contra a manufatura de Cartwright, treze foram
condenados à morte e dois à deportação para as colônias. Apesar
da dureza das penas o movimento não amainou, refletindo as
péssimas condições de vida dos operários. Finalmente, a
generalização da indústria (factory system) e a criação das primeiras
trade unions (futuros sindicatos) limitaram as revoltas ludistas, fazendo
com que entrassem em declínio em meados do século XIX.

Em 1830, um novo movimento de trabalhadores foi criado pela Associação


dos Trabalhadores de Londres, que ficou conhecido como cartismo. O novo
movimento (?) derivou-se devido uma Carta do Povo, enviado para o Parlamento.
Os trabalhadores pediam uma reforma para poderem ter uma maior participação

98
política, mas as reivindicações não foram acatadas.
Posteriormente, novas cartas foram enviadas ao Parlamento solicitando a
criação de leis trabalhistas. Entretanto, mais uma vez o Parlamento se recusou e isso
gerou greves e motins por toda a Inglaterra. Só a partir de 1842, foram conquistados
alguns direitos aos trabalhadores como a redução da jornada de trabalho.
Aos poucos, os trabalhadores começaram a organizar associações.
Inicialmente elas receberam os nomes de trade unions que eram formadas por
diferentes profissionais de várias áreas. As trade unions foram as bases das
organizações sindicais que surgiram ao longo do século XIX.
Sobre a organização dos trabalhadores, Thompson (2008, p. 294) assinala
que:

A primeira geração de trabalhadores nas fábricas aprendeu com


seus mestres a importância do tempo; a segunda, formou seus
comitês em prol de menos tempo de trabalho no movimento pela
jorna de dez horas; a terceira geração fez greves pelas horas extras
ou pelo pagamento de um percentual adicional (1,5%) pelas horas
trabalhadas fora do expediente. Eles tinham aceito as categorias de
seus empregadores e aprendido a revidar os golpes dentro desses
preceitos. Haviam aprendido muito bem a sua lição, a de que tempo
é dinheiro.

As associações de trabalhadores começaram a reivindicar melhores


condições de trabalho. Por volta da década de 1830, as primeiras conquistas dos
trabalhadores foram alcançadas. Foi o momento que alcançamos a aprovação e
regulamentação do trabalho das crianças, crianças entre 9 e 13 anos poderiam
trabalhar 6 horas diárias. Posteriormente, as mulheres conseguiram a redução das
jornadas de trabalho e, por volta de 1850, os homens conseguiram sua redução.

99
FIXANDO CONTEÚDO

1. (UFG-2013) Leia as informações a seguir:


“Em meados do século XVIII, James Watt patenteou na Inglaterra seu invento,
sobre o qual escreveu a seu pai: “O negócio a que me dedico agora se tornou
um grande sucesso. A máquina de fogo que eu inventei está funcionando e
obtendo uma resposta muito melhor do que qualquer outra que tenha sido
inventada até agora”. (Disponível em: https://bit.ly/3FmqmoM. Acesso em: 29
out. 2012.(Adaptado).

A revolução histórica relacionada ao texto, a fonte primária de energia utilizada


em tal máquina e a consequência ambiental de seu uso são, respectivamente:
a) puritana, gás natural e aumento na ocorrência de inversão térmica.
b) gloriosa, petróleo e destruição da camada de ozônio.
c) gloriosa, carvão mineral e aumento do processo de desgelo das calotas polares.
d) industrial, gás natural e redução da umidade atmosférica.
e) industrial, carvão mineral e aumento da poluição atmosférica.

2. (Aman-2015) O acúmulo de capitais, a modernização da agricultura, a


disponibilidade de mão de obra e de recursos naturais e a força do puritanismo
ajudam a explicar o pioneirismo da __________ na Revolução Industrial. (BOULOS
Jr, p.421)

Das opções abaixo listadas, o país que melhor preenche o espaço acima é:
a) Alemanha
b) Holanda
c) Itália
d) Inglaterra
e) Espanha

3. (Fuvest) Sobre a inovação tecnológica no sistema fabril na Inglaterra do século


XVIII, é correto afirmar que ela:
a) foi adotada não somente para promover maior eficácia da produção, como
também para realizar a dominação capitalista, à medida que as máquinas

100
submeteram os trabalhadores a formas autoritárias de disciplina e a uma
determinada hierarquia.
b) ocorreu graças ao investimento em pesquisa tecnológica de ponta, feito pelos
industriais que participaram da Revolução Industrial.
c) nasceu do apoio dado pelo Estado à pesquisa nas universidades.
d) deu-se dentro das fábricas, cujos proprietários estimulavam os operários a
desenvolver novas tecnologias.
e) foi única e exclusivamente o produto da genialidade de algumas gerações de
inventores, tendo sido adotada pelos industriais que estavam interessados em
aumentar a produção e, por conseguinte, os lucros.

4. (PUC-Campinas) Dentre as consequências sociais forjadas pela Revolução


Industrial pode-se mencionar:
a) o desenvolvimento de uma camada social de trabalhadores, que destituídos dos
meios de produção, passaram a sobreviver apenas da venda de sua força de
trabalho.
b) a melhoria das condições de habitação e sobrevivência para o operariado,
proporcionada pelo surto de desenvolvimento econômico.
c) a ascensão social dos artesãos que reuniram seus capitais e suas ferramentas em
oficinas ou domicílios rurais dispersos, aumentando os núcleos domésticos de
produção.
d) a criação do Banco da Inglaterra, com o objetivo de financiar a monarquia e ser
também, uma instituição geradora de empregos.
e) o desenvolvimento de indústrias petroquímicas favorecendo a organização do
mercado de trabalho, de maneira a assegurar emprego a todos os assalariados.

5. (PUC-Campinas) O novo processo de produção introduzido com a Revolução


Industrial, no século XVIII, caracterizou-se pela:
a) implantação da indústria doméstica rural em substituição às oficinas.
b) realização da produção em grandes unidades fabris e intensa divisão do
trabalho.
c) mecanização da produção agrícola e consequente fixação do homem à terra.
d) facilidade na compra de máquinas pelos artesãos que conseguiam
financiamento para isso.

101
e) preocupação em aumentar a produção, respeitando-se o limite da força física
do trabalhador.

6. (PUC-Campinas) "O duque de Bridgewater censurava os seus homens por terem


voltado tarde depois do almoço; estes se desculparam dizendo que não tinham
ouvido a badalada da 1 hora, então o duque modificou o relógio, fazendo-o
bater 13 badaladas."

Este texto revela um dos aspectos das mudanças oriundas do processo industrial
inglês no final do século XVIII e início do século XIX. A partir do conhecimento
histórico, pode-se afirmar que:
a) os trabalhadores foram beneficiados com a diminuição da jornada de trabalho
em relação à época anterior à revolução industrial.
b) a racionalização do tempo foi um dos aspectos psicológicos significativos que
marcou o desenvolvimento da maquinofatura.
c) os empresários de Londres controlavam com mais rigor os horários dos
trabalhadores, mas como compensação forneciam remuneração por
produtividade para os pontuais.
d) as fábricas, de modo em geral, tinham pouco controle sobre o horário de
trabalho dos operários, haja vista as dificuldades de registro e a imprecisão dos
relógios naquele contexto.
e) os industriais criaram leis que protegiam os trabalhadores que cumpriam
corretamente o horário de trabalho.

7. (PUC-SP) Para o processo de industrialização na Inglaterra do século XVIII, foi


decisivo (a):
a) a relação colonial, mantida com a Índia e a América do Norte, que possibilitou
um grande acúmulo de recursos financeiros.
b) o estímulo ao desenvolvimento inglês, promovido pela concorrência tecnológica
com os americanos.
c) a união dos interesses nacionais em torno de um esforço de desenvolvimento,
logo após a expulsão das tropas napoleônicas do território inglês.
d) o incentivo à inovação tecnológica como resultado da ação dos ludistas que
destruíram as máquinas consideradas obsoletas.

102
e) o acordo comercial conhecido por Tratado de Methuen, que estabeleceu a
abertura de mercados alemães.

8. (Enem) A Segunda Revolução Industrial, no final do século XIX e início do século


XX, nos EUA, período em que a eletricidade passou gradativamente a fazer parte
do cotidiano das cidades e a alimentar os motores das fábricas, caracterizou-se
pela administração científica do trabalho e pela produção em série. (MERLO, A.
R. C.; LAPIS, N. L. A saúde e os processos de trabalho no capitalismo: reflexões na
interface da psicodinâmica do trabalho e a sociologia do trabalho. Psicologia e
Sociedade, n. 1, abr. 2007.)

De acordo com o texto, na primeira metade do século XX, o capitalismo produziu


um novo espaço geoeconômico e uma revolução que está relacionada com a:
a) proliferação de pequenas e médias empresas, que se equiparam com as novas
tecnologias e aumentaram a produção, com aporte do grande capital.
b) técnica de produção fordista, que instituiu a divisão e a hierarquização do
trabalho, em que cada trabalhador realizava apenas uma etapa do processo
produtivo.
c) passagem do sistema de produção artesanal para o sistema de produção fabril,
concentrando-se, principalmente, na produção têxtil destinada ao mercado
interno.
d) independência política das nações colonizadas, que permitiu igualdade nas
relações econômicas entre os países produtores de matérias-primas e os países
industrializados.
e) constituição de uma classe de assalariados, que possuíam como fonte de
subsistência a venda de sua força de trabalho e que lutavam pela melhoria das
condições de trabalho nas fábricas.

103
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO

UNIDADE 01 UNIDADE 02

QUESTÃO 1 D QUESTÃO 1 A
QUESTÃO 2 A QUESTÃO 2 B
QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 C
QUESTÃO 4 B QUESTÃO 4 A
QUESTÃO 5 E QUESTÃO 5 B
QUESTÃO 6 D QUESTÃO 6 B
QUESTÃO 7 A QUESTÃO 7 E
QUESTÃO 8 B QUESTÃO 8 A

UNIDADE 03 UNIDADE 04

QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 A
QUESTÃO 2 C QUESTÃO 2 A
QUESTÃO 3 D QUESTÃO 3 D
QUESTÃO 4 B QUESTÃO 4 A
QUESTÃO 5 E QUESTÃO 5 A
QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 D
QUESTÃO 7 B QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 B QUESTÃO 8 B

UNIDADE 05 UNIDADE 06

QUESTÃO 1 C QUESTÃO 1 E
QUESTÃO 2 B QUESTÃO 2 D
QUESTÃO 3 C QUESTÃO 3 A
QUESTÃO 4 E QUESTÃO 4 A
QUESTÃO 5 D QUESTÃO 5 B
QUESTÃO 6 A QUESTÃO 6 B
QUESTÃO 7 A QUESTÃO 7 A
QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 B

104
REFERÊNCIAS

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