Você está na página 1de 103

Table of Contents

Folha de rosto
Copyright
Índice
Apresentação
Prefácio
1. A Reforma Protestante e a introdução aos Cinco Solas
2. Sola Scriputura
3. Sola Gratia
4. Sola Fide
5. Solus Christus
6. Soli Deo Gloria
7. Um Antídoto: O Retorno ao Estudo Bíblico
8. Perguntas e Respostas do Blog Renato Vargens
Conclusão
Editora Fiel
Misticismo, culto à personalidade, costumes estranhos e pregação
espúria infectam grande parte de nossas igrejas hoje. Neste livro, de
modo acessível e contextualizado, e com lágrimas nos olhos, o Pr.
Renato Vargens dá um basta nesses enganos e nos apresenta o antídoto:
as doutrinas da graça, sistematizadas nos cinco solas que foram (e ainda
são) a base da Reforma. O Antídoto é claro: somente o retorno às
Escrituras pode estabelecer igrejas saudáveis e tementes a Deus.
Imperdível!
Norma Braga, escritora
Reforma Agora do Pastor Renato Vargens é para ser ministrado contra
os modismos e distorções de ensino e prática do cenário evangélico e do
neopentecostalismo moderno. Com habilidade e respaldo bíblico ele nos
indica que o remédio não mudou. A mesma volta às Escrituras,
observada na Reforma do Século 16, continua válida e necessária aos
nossos dias. Os mesmo pilares doutrinários levantados na Reforma,
estão fraquejando e necessitam ser reforçados e reafirmados! A igreja de
Cristo deve ouvir o que é dito neste livro.
Solano Portela. Escritor. Diretor Financeiro da
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Pouca gente conhece o movimento neopentecostal como o Pr. Renato
Vargens. E pouca gente está capacitada, como ele, a analisar este
movimento e oferecer uma alternativa bíblica aos que estão cansados
dos abusos e erros deste movimento. Reforma Agora deve ser lido por
todos os evangélicos que anseiam referenciais sólidos para sua vida
cristã.
Rev. Dr. Augustus Nicodemus Lopes, professor de Novo Testamento
do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper e pastor
auxiliar da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro
Reforma Agora
O Antídoto para a Confusão Evangélica no Brasil
por Renato Vargens
Copyright © 2013 Renato Vargens

Copyright © 2013 Editora Fiel
Primeira Edição em Português: 2013

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica
Literária

Proibida a reprodução deste livro por quaisquer meios, sem a permissão escrita dos editores,
salvo em breves citações, com indicação da fonte.

Diretor: James Richard Denham III
Editor: Tiago J. Santos Filho
Revisão: Franklin Ferreira,
Marliene Paschoal
Diagramação: Rubner Durais
Capa: Rubner Durais
Ebook: Yuri Freire

ISBN: 978-85-8132-319-0

Vargens, Renato
Reforma Agora: O Antídoto para a Confusão Evangélica no
Brasil / Renato Vargens. -- São José dos Campos, SP : Editora
Fiel, 2015.
2Mb ; ePUB
ISBN 978-85-8132-319-0
11. Cristianismo 2. Graça (Teologia) 3. Igreja Reformada -
Doutrinas 4. Reforma 5. Teologia I. Título.
13-08104
1nd1ce

Apresentação
Prefácio
1 – A Reforma Protestante e a introdução aos cinco solas
2 – Sola Scriputura
3 – Sola Gratia
4 – Sola Fide
5 – Solus Christus
6 – Soli Deo Gloria
7 – Um Antídoto: O Retorno ao Estudo Bíblico
8 – Perguntas e Respostas do Blog Renato Vargens
Conclusão
por uma reforma na 1greja bras1le1ra

Este livro de Renato Vargens não é apenas uma denúncia do estado em


que segmentos da igreja evangélica brasileira se encontra. A história
desta lembra a descrição oferecida pelo mártir cristão Dietrich
Bonhoeffer, ao falar do estado da religião que ele encontrou nos Estados
Unidos em meados de 1930: Protestantismus ohne Reformation ,
“protestantismo sem reforma”.
Tristemente, vocábulos importantes da fé cristã, como pecado,
arrependimento, juízo, justiça, cruz, e até mesmo Cristo e ressurreição
vão desaparecendo do discurso de parte dos evangélicos brasileiros.
Em algumas faculdades teológicas e mesmo denominações há aqueles,
associados ao liberalismo teológico, que substituíram a confiança na
revelação pela suposição de que se pode encontrar a verdade por meio
da racionalidade, como se, do começo ao fim, Deus não viesse a nós, em
revelação. Entre os novos movimentos religiosos neopentecostais há
aqueles que supõem poder controlar pelo uso de palavras mágicas o
Deus vivo, o Senhor dos exércitos, o todo-poderoso Pai, Filho, Espírito
Santo. Melancolicamente, estas palavras, definidoras do cristianismo,
foram esvaziadas e substituídas por todos aqueles associados a estes
grupos.
Todos estes abandonaram o Evangelho, correndo atrás de outro tipo de
anúncio (Gl 1.6-9), mera perversão ou caricatura, mas não a boa nova da
salvação de que, por meio da morte e ressurreição de Cristo, pecadores
podem ser justificados pela fé somente.
O que essa obra oferece é um chamado ao fundamento da fé cristã,
como encontrado nos famosos lemas que resumem o cerne da mensagem
bíblica e evangélica: Deus fala a todos somente na Escritura (sola
Scriptura ); somos salvos somente pela graça imerecida (sola gratia ),
que vem aos pecadores somente por meio da morte de Cristo (solus
Christus ); e este é recebido pela fé somente (sola fide ); para que em
tudo somente Deus receba o louvor e a glória (soli Deo gloria ).
Precisamos receber e nos agarrar esta mensagem bíblica e evangélica
com toda a seriedade. E sobre isso faríamos bem em ouvir com temor o
reformador Martinho Lutero. Em 1522, ele preparou uma série de
sermões de Natal para sua congregação, e num deles afirmou:

O guarda de um bordel público é menos pecador que o pregador que não


entrega o verdadeiro Evangelho, e o bordel não é tão ruim assim como a igreja
do falso pregador. (...) Isto os surpreende? Lembrem-se de que a doutrina do
falso pregador não causa nada mais que dia-a-dia desviar e violar almas recém-
nascidas no batismo — cristãos jovens, almas tenras, noivas virgens, puras e
consagradas a Cristo. Considerando que o mal é feito espiritualmente e não
fisicamente como num bordel, ninguém o observa: mas Deus está
incomensuravelmente descontente.

Que Deus use esta nova obra de meu querido irmão Renato Vargens
para quebrantamento, renovação e retorno a Deus, que é rico em
misericórdia, não apenas para renovar nossa alegria nele, mas também
para nos conceder novo alento e renovada paixão para pregar a Escritura
Sagrada, “o berço pelo qual o Cristo vem a nós” (Lutero).
Franklin Ferreira
Diretor do Seminário Martin Bucer
prefac1o

A explosão evangélica no Brasil e o seu crescimento numérico


parecem ser caracterizados, em boa parte, pela satisfação dos interesses
de seus “consumidores”.
Ouso afirmar que o ambiente de “livre concorrência” entre algumas
comunidades cristãs no Brasil tem levado seus líderes a adotarem
estratégias semelhantes às utilizadas por empresas de marketing ,
buscando oferecer seus “produtos” no mercado, à semelhança do que se
vê na mentalidade comercial. Nessas comunidades cristãs, a preferência
dos fiéis determina a dinâmica dos discursos religiosos e das práticas a
eles relacionadas. Junta-se a isso o fato de que, nos últimos anos, o
evangelicalismo brasileiro tem experimentado uma grave crise teológica.
Ao pensar na realidade da igreja, sinto-me profundamente preocupado
com os rumos da fé cristã em nosso país. Pois, o que se vê, de forma
quase generalizada, é uma espiritualidade ensimesmada, oca e egoísta,
além de centenas de “pastores” movidos por ganância e poder, os quais
têm vivido obstinadamente a procura de títulos cada vez mais
impressionantes. Infelizmente a “apostolização” moderna tem feito
muitos destes pequenos reis, os quais em cerimônias nababescas são
coroados como tais. Tem havido casos tais como o de um “apóstolo”
que, num cerimonial cheio de pompa, foi coroado, recebendo como
símbolo de sua autoridade apostólica um lindo e precioso anel de
brilhantes.
Sem sombra de dúvidas parte da igreja evangélica brasileira encontra-
se gravemente enferma. Entendo que, se uma mudança de direção não
for feita nos próximos anos, corremos o sério risco de experimentarmos
uma bancarrota espiritual. Sinto que não podemos mais suportar o
maniqueismo e dualismo promovidos pelos gurus da “batalha
espiritual”; não é possível que consideremos normais as loucuras
proferidas pelos profetas da “confissão positiva”, os quais, mediante
revelações pessoais, têm escravizado o rebanho de Cristo com doutrinas
que jamais foram ensinadas pela Bíblia. Não podemos mais suportar as
invenções humanas – e haja criatividade para elas – que assolam o povo
de Deus, impondo-lhe pesados fardos.
Infelizmente estamos vivendo um tempo de miscigenação doutrinária,
onde os cultos evangélicos em vez de se fundamentarem exclusivamente
nas Escrituras o fazem em experiências místicas e sincréticas. Na
verdade, o que tem determinado o sucesso do culto não é mais pregação
da Palavra, mas o gosto do “consumidor”. Lamentavelmente a igreja
prega o que dá ibope, oferecendo ao povo o que ele quer ouvir.
Pois é, diante disto talvez você esteja perguntando a si mesmo: o que
fazer? Será que ainda existe esperança para a tão combalida igreja
brasileira? Será que existe um antídoto que possa ser aplicado de forma
efetiva em nossas comunidades cristãs?
Acredito que sim. Na verdade, creio piamente que existe um remédio
para isso tudo. Acredito de toda minha alma que se voltarmos às
Escrituras, fazendo delas nossa única e exclusiva regra de fé e
redescobrirmos as antigas doutrinas ensinadas pelos reformadores,
poderemos experimentar uma mudança radical na vida e na história da
igreja evangélica brasileira.
O famoso pregador Charles Haddon Spurgeon afirmou o seu anseio
por um avivamento das antigas doutrinas da seguinte maneira: 1

Queremos um avivamento das antigas doutrinas. Não conhecemos uma


doutrina bíblica que, no presente, não tenha sido cuidadosamente prejudicada
por aqueles que deveriam defendê-la. Há muitas doutrinas preciosas às nossas
almas que têm sido negadas por aqueles cujo ofício é proclamá-las. Para mim é
evidente que necessitamos de um avivamento da antiga pregação do
evangelho, tal como a de Whitefield e de Wesley. As Escrituras têm de se
tornar o infalível alicerce de todo o ensino da igreja; a queda, a redenção e a
regeneração dos homens precisam ser apresentadas em termos inconfundíveis.
Prezado leitor, apesar das incongruências tupiniquins eu ainda acredito
na igreja evangélica brasileira. Sim! Eu acredito que a redescoberta das
antigas doutrinas poderá produzir em nosso país um avivamento nunca
antes experimentado.
Creio profundamente que se a igreja brasileira regressar às doutrinas da
graça, valorizando as Escrituras em detrimento da tradição e da
experiência, vivenciaremos aquilo que povos e nações do passado
experimentaram em sua história.
Ao escrever esse livro, eu o fiz com o coração pesado e os olhos
encharcados de lágrimas. Amo a igreja do meu Senhor e desejo de todo
coração vê-la glorificando aquele que me salvou.
Minha oração é que através da leitura dessa pequena obra você possa
se sentir desafiado a amar a Deus acima de todas as coisas e a zelar pela
Palavra, fazendo dela instrumento de graça, vida e saúde em sua vida
espiritual. Rogo, portanto, ao Senhor que por sua misericórdia liberte sua
Igreja de todo idiotismo, de toda estultice, de toda opressão e desvio, a
fim de que ela exista para o fim para o qual foi criada: servir e amar a
Deus de todo o coração, de todo entendimento e com todas as forças.
Boa leitura,
Renato Vargens
1. O Avivamento que precisamos por Charles H. Spurgeon. (fonte)
reforma protestante e a 1ntroducao aos c1nco
solas

Um número incontável de evangélicos brasileiros parece não saber da


importância e relevância da Reforma Protestante. Tenho ouvido
comentários dos mais descabidos possíveis sobre a história e vida dos
reformadores. Por incrível que pareça, tem gente que considera homens
como Martinho Lutero, João Calvino e Ulrich Zwinglio como meros
coadjuvantes na história da Igreja. Há pouco ouvi de um “apóstolo” a
afirmação de que o movimento apostólico do século XXI, além, é claro,
de suas “obras apostólicas”, são muito mais importantes e relevantes do
que aquilo que os reformadores fizeram no século XVI.
REFORMA PROTESTANTE, O QUE FOI ISSO?
A Reforma Protestante tem sido tema de recentes estudos no Brasil,
mas parece que são poucos os que podem explicar o seu significado
histórico e espiritual. Por isso, penso que será importante apresentarmos
um breve panorama sobre esse importante evento na história da Igreja.
No começo do século XVI, a Europa e, por conseguinte, o mundo
foram impactados por uma série de eventos religiosos que contestavam
abertamente os dogmas da Igreja Católica Romana e a autoridade papal.
É preciso destacar que esse era um período em que o continente europeu
experimentava mudanças significativas na economia, o que era
percebido com a ascensão da burguesia. Mas a Reforma foi muito mais
do que uma luta de classes e ainda mais do que uma manifestação de
repulsa ao estado de corrupção que se encontrava a sociedade. Na
verdade a Reforma foi um grito proferido por homens de Deus que pela
graça do Senhor tinham discernido que a igreja havia se afastado de suas
origens e de seus ensinamentos. No século XVI, o catolicismo era uma
religião de pompa, luxo e ociosidade. Para piorar a situação, moralmente
a igreja estava corrompida e mergulhada em pecados e transgressões dos
mais grosseiros. Além disso, a Igreja de Roma preocupava-se mais com
as questões políticas e econômicas do que com as questões religiosas. E,
para aumentar o seu patrimônio e suas riquezas, recorria a práticas
inescrupulosas, como a “simonia”, que é a venda de cargos eclesiásticos,
a contemplação de relíquias e a comercialização das famosas
indulgências, que foram a causa imediata da crítica de Martinho Lutero.
Naquele tempo o Papa garantia que cada pecador poderia comprar o
perdão da igreja, desde que estivesse disposto a contribuir
financeiramente com a causa de Roma.
A Reforma Protestante surgiu num tempo em que a autoridade papal já
experimentava algum declínio e já não possuía a mesma força política de
tempos atrás – especialmente em razão da formação das chamadas
monarquias nacionais, as quais proporcionaram um duro golpe na
estrutura romana, de modo que tanto o rei como o Estado passaram a ser
mais importantes do que a autoridade do líder romano.
QUEM FOI MARTINHO LUTERO?
Martinho Lutero nasceu no dia 10 de novembro de 1483, na cidade de
Eisleben, Turíngia, na Alemanha. Ele foi o segundo filho dentre muitos
irmãos. Aos cinco anos de idade, começou a frequentar a escola em
Mansfeld. Ali, aprendeu latim e os fundamentos da fé cristã. Em 1496,
foi para a escola em Magdeburgo e, a partir de 1497, estudou em
Eisenach, onde moravam muitos parentes da família de sua mãe. Em
abril de 1501, Lutero ingressou na Universidade de Erfurt, tornando-se
mestre nas Artes. Quando concluiu sua formação, cumprindo a
determinação de seu pai, Lutero deu início ao curso de Direito.
No dia 02 de julho de 1505, ao retornar de uma visita a seus pais, em
Mansfeld, uma tempestade o surpreendeu. Um raio atirou-o ao chão
deixando-o em estado de pânico. Diante disto e do pavor vivenciado
naquela oportunidade, Lutero prometeu tornar-se monge. Mesmo contra
a vontade de seu pai, ele ingressou na Ordem Agostiniana, passando a
dedicar-se ao estudo das Escrituras.
Lutero foi ordenado sacerdote e recebeu o grau de Doutor em
Teologia. A partir de 1508, atuou como professor na Universidade de
Wittenberg. Como professor responsável pela leitura e exposição das
Sagradas Escrituras, percebeu que certas práticas e crenças da igreja
estavam em desacordo com a mensagem ensinada pelo Senhor e pelos
apóstolos, passando assim a denunciá-las publicamente, sem, contudo,
ser ouvido pelas autoridades responsáveis.
AS 95 TESES DE LUTERO E A REFORMA
No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero afixou 95 teses na
porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, ocasionando assim o início da
Reforma Protestante. Ao fazê-lo, o monge alemão não tinha interesse de
promover uma divisão na igreja romana, mas sim debater o grave e
pernicioso ensino das indulgências, que eram a comercialização do
perdão dos pecados.
Em suas teses, Lutero questionou o poder e autoridade do Papa em
perdoar pecados de quem quer que fosse. Também negou que esse
perdão pudesse se estender aos mortos ou àqueles que porventura
estivessem no purgatório. Também destacavam o valor da Palavra de
Deus, a qual não deveria ser silenciada em benefício das indulgências.
Com essas e outras afirmações, Lutero chegou onde jamais poderia
imaginar. Na verdade, sem que se desse conta, o monge alemão atingiu o
“X” da questão: a situação de distanciamento do evangelho em que se
encontrava a Igreja. Os males da Igreja não eram apenas os seus desvios
morais, econômicos e políticos, que a colocavam em descrédito diante
do povo. Seu problema principal, responsável também por estes, era o
afastamento das doutrinas fundamentais da Palavra de Deus.
Em 1520, em razão de sua postura e teologia, Martinho Lutero foi
ameaçado de excomunhão pela igreja, o que o levou a queimar em praça
pública a bula de excomunhão emitida pelo pontífice romano. Em 1525,
casou-se com Katharina von Bora e em 1529, publicou seu Catecismo
Menor, onde explica, em linguagem simples, a teologia da Reforma. Em
18 de fevereiro de 1546, aos 62 anos de idade, após ter traduzido a
Bíblia para o alemão e ter escrito inúmeras obras e tratados teológicos
Lutero veio a falecer, deixando para a história um grande e significativo
legado.
A REFORMA PROTESTANTE, OS CINCO SOLAS E A IGREJA
BRASILEIRA
Sem a menor sombra de dúvidas a Reforma Protestante trouxe a Igreja
de volta às Escrituras e ao evangelho pregado pelos apóstolos. Isso
mesmo! O protestantismo restituiu à Igreja a crença em doutrinas
fundamentais e indispensáveis à saúde cristã. Essas doutrinas são
conhecidas por sua designação latina como Sola Scriptura (somente a
Escritura), Sola Fide (somente a fé), Sola Gratia (só a graça), Solus
Christus (somente Cristo) e Soli Deo Gloria (glória somente a Deus).
Hoje, quase quinhentos anos depois da Reforma, os cinco solas são
desconhecidos pela maior parte da Igreja. Infelizmente um número
incontável de comunidades cristãs regressou à práticas da Idade Média,
comercializando o evangelho e negociando a fé. Esse quadro caótico
impele-nos a confessarmos os nossos pecados e a regressarmos às
Escrituras, a fim de que a Igreja de Cristo neste país redescubra as
doutrinas da graça e retome o rumo da verdade, da saúde e da ortodoxia.
sola scr1putura

Reafirmamos a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina


escrita, única para constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o
que é necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo
comportamento cristão deve ser avaliado.
Negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a
consciência de um crente, que o Espírito Santo fale independentemente de, ou
contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa
ser veículo de revelação. 2

O tempo em que vivemos tem sido marcado por numerosos avanços


sociais, científicos e tecnológicos. É inegável o progresso da sociedade
em inúmeros aspectos e dimensões. No entanto, ainda que se possam
perceber evoluções nas mais variadas áreas, a igreja evangélica
brasileira do século XXI encontra-se mergulhada em comportamentos e
crenças que em muito nos fazem lembrar o século XVI.
Lamentavelmente, alguns dos pastores e mestres tupiniquins não
possuem mais nenhuma ligação com aqueles que os precederam. Os
púlpitos das igrejas e as salas de aula dos seminários teológicos têm sido
ocupados por homens desconhecedores das mais profundas e básicas
verdades sustentadas na Reforma. Se não bastasse isso, boa parte destes
relativizaram as Escrituras afirmando não serem elas a Palavra revelada
de Deus.
A igreja do nosso tempo em muito se assemelha à igreja da pré-
reforma, mesmo porque, tanto o catolicismo romano quanto o
movimento neopentecostal fundamentam suas doutrinas e
comportamentos em três pilares, as Escrituras Sagradas, a tradição da
igreja e a autoridade apostólica papal. Na verdade, ambos os grupos não
consideram na prática (ainda que os neopentecostais afirmem o
contrário) a Bíblia como única e exclusiva regra de fé. Para os dois
movimentos, a tradição bem como a experiência adquirida com o
sagrado possuem um enorme peso na consolidação de suas doutrinas.
Ademais, as duas correntes possuem em suas estruturas eclesiásticas
líderes papais, cuja autoridade “apostólica” não pode ser questionada
pelos fiéis. Além disso, ambos mercantilizam a fé, comercializando as
benesses divinas, oferecendo aos fiéis objetos sagrados que possuem em
si poder suficiente para operar milagres.
Quanto à práxis litúrgica, o neopentecostalismo nos faz pensar que
regressamos aos tenebrosos dias da Idade Média, pois, à semelhança
daquele período mais sombrio, vemos hoje uma verdadeira manipulação
religiosa, especialmente através de líderes que, em nome de Deus,
estabelecem doutrinas que se contrapõem a Palavra Revelada do Senhor.
Tanto o catolicismo romano como o neopentecostalismo Brasileiro
entendem que as bênçãos de Deus não são frutos de sua maravilhosa
graça, mais sim, consequências diretas de uma relação baseada na troca
ou no toma-lá-dá-cá. Neste contexto, tudo é feito em nome de Deus e
para se conseguir a bênção é absolutamente necessário pagar – e pagar
caro!
Isso leva-nos a algumas perguntas: Qual a diferença da oferta
extorquida do povo sofrido nos dias atuais para a venda das indulgências
praticadas na Idade Média? Qual a diferença dos utensílios vendidos no
século XVI, para os que são comercializados nos templos
neopentecostais nos dias de hoje?
O que chama atenção é que parte da igreja evangélica brasileira, diante
de tanta sandice, ainda advoga a causa de que estamos vivendo
momentos de um genuíno avivamento. É preciso que reflitamos e
respondamos: Que avivamento é esse cujos ensinamentos principais não
estão fundamentados nas Escrituras Sagradas? Que avivamento é esse
que em favor de interesses do homem tem relativizado a Palavra de
Deus? Que avivamento é esse que tem colocado no mesmo patamar de
autoridade Freud, Marx, Paulo e Jesus?
Vejo nisso que boa parte dos problemas da igreja se devem ao fato de
termos abandonado as Escrituras. Infelizmente, a Igreja Brasileira, em
nome de uma espiritualidade positivista onde o que importa é a
satisfação do freguês, trocou todo “Conselho de Deus” por ensinamentos
simplórios, humanistas e antropocêntricos.
Diante do imbróglio que se encontra a igreja tupiniquim, estou
convicto de que os princípios ensinados pelos reformadores precisam ser
resgatados e proclamados a quantos pudermos. Além disso, torna-se
indispensável o aparecimento de homens que assim como os nossos
irmãos do passado, amavam fervorosamente as Escrituras, defendendo-
as como única fonte de verdade e fé. Acredito, portanto, que mais do que
nunca a Igreja evangélica brasileira deva refletir sobre a relevância da
Palavra de Deus, além de fazer do seu púlpito um lugar de
fundamentação da sã doutrina. Se o principio da Sola Scriptura for bem
compreendido, a igreja terá condições de resgatar as preciosas doutrinas
ensinadas por Jesus, propagadas pelos apóstolos, defendidas pelos pais
da Igreja e resgatadas pelos reformadores.
A SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS
Até pouco tempo os evangélicos eram pejorativamente denominados
de “bíblias”. Isso se deveu ao fato de que era extremamente comum ver
pelas ruas de nossas cidades uma multidão de pessoas indo em direção
às igrejas com um “livro preto” debaixo do braço. Além disso, tinham os
crentes em Jesus o salutar hábito de não somente meditar no conteúdo
das Escrituras, como também obedecer a seus preceitos e orientações,
crendo de forma irrefutável que este livro verdadeiramente é a Palavra
de Deus.
Hoje, a situação é bem diferente. Lamentavelmente, os cristãos não
têm se relacionado como deveriam com o Texto Sagrado, mesmo
porque, boa parte destes optou por fundamentar sua fé em revelações
místicas e pessoais ao invés de dar crédito àquilo que a Palavra de Deus
tem a dizer sobre os dramas e dilemas da vida.
Infelizmente uma das características mais marcantes de alguns dos
evangélicos deste tempo é a sua avidez por novidades. De fato, é
impressionante a quantidade de cristãos que abandonaram o estudo
sistemático das Escrituras Sagradas em favor de “experiências e novas
revelações”. Segundo essas pessoas, o crente não deve se preocupar em
conhecer ou estudar a Bíblia, mesmo porque para estes a “letra mata”.
Para os que defendem este tipo de pensamento, o estudo ordenado das
Escrituras e de suas doutrinas contribui para a extinção do fogo do
Espírito Santo na vida da igreja.
Mas essa percepção é falha e contraria o ensino das Escrituras sobre o
Espírito Santo e a revelação de Deus na Palavra. A Bíblia é efetivamente
a Palavra de Deus, viva, infalível, eterna e totalmente fidedigna. É
somente por ela que devemos nortear as nossas mais variadas e
complexas decisões. É ela que sacia a fome do coração e preenche as
lacunas da existência. É ela que revela o Criador, bem como o seu
imensurável amor pelos homens.
As Escrituras são, por definição, a única Palavra de Deus escrita como
também a única expressão verbal das verdades de Deus publicamente
acessível, visível e infalível no mundo. A Bíblia possui suprema
autoridade em matéria de vida e doutrina e somente ela é o árbitro de
todas as controvérsias doutrinais e teológicas. Ela é a norma normanda
(norma determinante) e não a norma normata (norma determinada) para
todas as decisões de fé e vida. A autoridade das Escrituras é superior à
da igreja e da tradição, bem como de qualquer estrutura hierárquica
religiosa.
Os reformadores consideravam que somente as Escrituras possuíam a
palavra final em matéria de fé e prática. João Calvino costumava dizer
que o verdadeiro conhecimento de Deus está na Bíblia. Para o
reformador francês, a Bíblia era a Palavra de Deus. Calvino também
afirmou que a Bíblia era o único escudo capaz de nos proteger do erro.

De fato, se refletirmos quão acentuada é a tendência da mente humana para


esquecer Deus, quão grande é a inclinação dos homens para com toda espécie
de erro e quão pronunciado é o gosto deles para forjar, a cada instante, novas
fantasiosas religiões, poderemos perceber como foi necessário a autenticação
escrita da doutrina celeste, para que ela não desaparecesse pelo esquecimento,
nem se desfizesse pelo erro, nem fosse corrompida pela petulância dos
homens. Deste modo, como está sobejamente demonstrado, Deus providenciou
o auxilio de sua Palavra para todos aqueles a quem quis instruir de maneira
eficaz, pois sabia ser insuficiente a impressão de sua imagem na estrutura do
universo. Portanto, se desejamos, com seriedade, contemplar a Deus de forma
genuína, precisamos trilhar a reta vereda indicada na sua Palavra. 3

Caro leitor, é através da leitura da Bíblia que somos consolados,


confortados e reanimados diante das batalhas que travamos. É mediante
a leitura da Bíblia que a esperança brota no peito, que o coração se enche
de fé e que a vida é encharcada do maravilhoso e imensurável amor de
Deus.
Para o protestantismo, a Bíblia é a revelação verbal de Deus. É Deus
falando aos homens, é a voz do próprio Deus. O apóstolo Paulo afirmou
em 2Timóteo 3.16-17:

Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a


repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o
homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.

Pedro explicou em sua segunda carta que os homens que escreveram as


Escrituras foram “inspirados pelo Espírito Santo”, para que nenhuma
parte dela fosse “produzida por vontade de homem algum” ou pela
“interpretação particular do profeta” (2Pe 1.20-21).
Outro aspecto resgatado na reforma é a infalibilidade da Bíblia. A
Bíblia não contém erros. Ela é correta em tudo o que declara, visto que
Deus não mente ou erra (Nm 23.19). Tudo aquilo que nela está escrito é
a mais pura verdade. Jesus disse que “a Escritura não pode ser anulada”
(Jo 10.35), e que é “mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da
lei” (Lc 16.17).
A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do
pecado, ela é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser
avaliado. Nenhum credo, concílio ou indivíduo tem o poder de
constranger a consciência do crente em Jesus contrariando aquilo que
está exposto na Bíblia. 4
Diante destas maravilhosas afirmativas podemos ter a certeza de que
todo o conteúdo das Escrituras foi inspirado p elo Senhor, o que nos dá
plena convicção de que não existe nenhum equívoco em denominar a
Bíblia como “a Palavra de Deus”. Esta é a razão de afirmarmos que não
existe nenhum outro modo de se conhecer a Deus além do estudo das
Escrituras, como também não existe nenhuma outra fonte de informação
sobre Deus mais precisa, acurada e compreensiva que a própria Palavra
dele, nas Escrituras.
QUANDO A CENTRALIDADE DO CULTO NÃO É A PALAVRA DE
DEUS.
A leitura e o conhecimento das Sagradas Escrituras são fundamentais a
uma vida cristã bem-sucedida. A Bíblia produz efeito por si mesma de
maneira sobrenatural na vida de todos aqueles que fazem dela fonte
exclusiva de fé. No entanto, o evangelicalismo brasileiro tem sido
marcado pela superficialidade e o analfabetismo bíblico. Segundo estudo
promovido pela Abba Press e a Sociedade Bíblica Íbero-americana, 5
cerca de 50,68% dos pastores e líderes evangélicos nunca leram a Bíblia
por inteiro pelo menos uma vez - o que explica a enorme variedade de
aberrações teológicas deste tempo.
Diferentemente dos evangélicos do século XXI, os reformadores
acreditavam que a Palavra de Deus deveria ocupar o lugar central na
vida do crente, visto que é através dela que Deus fala ao homem. O
reformador João Calvino via a pregação do evangelho como o centro da
vida e obra da igreja. Calvino acreditava que a pregação da Palavra era
um meio de graça para o povo de Deus. “Quando nos reunimos em
nome de Deus”, ele dizia, “não é para ouvir meros cânticos, e ser
alimentados com vento, isto é, com curiosidade vã e inútil, mas para
receber alimento espiritual”. 6 Por esta razão ele cria que a pregação
deveria ser “sem exibição”, para que o povo de Deus pudesse reconhecer
nela a Palavra de Deus e para que o próprio Deus, e não o pregador
pudesse ser honrado e obedecido.
O abandono das Escrituras por parte da igreja evangélica brasileira tem
contribuído substancialmente para o surgimento de anomalias e
discrepâncias teológicas. A relativização dos textos bíblicos tem
permitido com que doutrinas distorcidas e anticristãs conduzam os
rumos da Igreja de Cristo. A substituição da Palavra de Deus por
entretenimento, arte e música tem produzido danos e prejuízos quase
irreparáveis.
Diante disto, enumero pelo menos quatro problemas originados pela
ausência da centralidade das Escrituras nos cultos evangélicos
brasileiros:
1º O Liberalismo Teológico
Algumas de nossas igrejas estão repletas desta funesta teologia
denominada liberal. Infelizmente tornou-se comum encontrarmos
pastores e mestres defendendo conceitos teológicos antibíblicos,
questionando a autoridade das Escrituras e relativizando a Palavra de
Deus. O liberalismo teológico é um câncer que vagarosamente destrói a
saúde da Igreja. Como bem afirmou Augustus Nicodemus os “Liberais
são parasitas e, assim como um vírus, se instala num organismo,
debilitando o corpo do indivíduo, assim também eles se instalam na
igreja sugando-a até ficar só a carcaça, para depois buscar outro
hospedeiro”. 7
Lamentavelmente, existem inúmeros seminários teológicos neste país
que têm ensinado aos seus alunos conceitos absolutamente anticristãos.
Tais seminários, contrapondo-se a ortodoxia protestante, têm admitido
em seu corpo docente pessoas que afirmam que a Bíblia está repleta de
mitos e lendas. Para estes, Adão e Eva jamais existiram. Na verdade, os
liberais ensinam que ambos não passam de um símbolo para ensinar a
humanidade, que teria sido criada através da evolução. Se não bastasse
isso, tais teólogos creem que Cristo não fez milagres literais. Para eles,
Jesus nunca teria andado sobre a água, nem tampouco multiplicado pães
e alimentado uma grande multidão. Quando ensinam a respeito do
Espírito Santo, o fazem de forma equivocada afirmando que o Espírito
do Senhor não é um ser pessoal, mas sim a força e o agir de Deus. Além
disso, paganizaram a Trindade Santa atribuindo-lhes gênero e
sexualidade, afirmando através de seus ensinos que o Espírito Santo é a
parte feminina de Deus. Ao ensinarem sobre a ressurreição de Cristo,
afirmaram que tal fato não ocorreu, até porque, para estes, a mensagem
central da Bíblia é a ressurreição de Jesus em nossos corações.
Infelizmente o número de pastores que relativizaram as Sagradas
Escrituras em favor de uma teologia espúria se multiplica a olhos vistos.
Sem sombra de dúvidas os conceitos liberais têm adoecido e sufocado o
Corpo de Cristo, injetando no coração dos cristãos valores que
contrariam as Escrituras.
2º O Sincretismo Religioso
Uma igreja que não faz da Bíblia sua única e exclusiva regra de fé,
permite a interferência de doutrinas não cristãs no seu corpo doutrinário.
O sincretismo religioso é um dos mais sérios problemas vivenciados por
uma igreja que trocou as Escrituras por experiências místicas e
relacionais.
O neopentecostalismo tupiniquim tem sido caracterizado por práticas e
comportamentos absolutamente antagônicos aos pressupostos bíblicos.
Acredito que isso se deva a relativização das Escrituras como também a
mistura de influências herdadas pela sociedade brasileira, tanto do
catolicismo medieval português quanto das culturas indígena e africana.
O catolicismo implantado pelos portugueses no Brasil foi o da contra-
reforma, que conservou o velho culto aos santos, como também as
superstições do período medieval. Quanto aos índios que aqui estavam,
viviam num mundo cheio de lendas, cerimônias e crenças espirituais,
onde os mortos e os vivos interferiam e comungavam entre si. Já os
africanos, ao chegarem ao Brasil, encontraram uma sociedade
semifeudal que podia utilizar o trabalho braçal dos escravos sem
questionar as suas representações mágico-religiosas. Aliás, diga-se de
passagem, a religião africana sempre foi muito mais mágica e mística do
que religiosa. Nela, o individual prevalece sobre o espiritual dominando
as forças sobrenaturais de acordo com as suas vontades pessoais.
Hoje, em virtude do abandono das Escrituras e do sincretismo
religioso, é comum encontrarmos igrejas cujo comportamento se
aproxima dos rituais pagãos.
Lamentavelmente algumas das liturgias evangélicas estão tão
miscigenadas, que um desavisado qualquer, ao entrar em um de seus
cultos, poderá pensar que entrou no templo de uma religião
completamente estranha ao cristianismo.
3º A falência do púlpito.
Em virtude do relativismo do nosso tempo, onde o que mais se enfatiza
é a satisfação pessoal, inúmeros líderes cristãos das mais diversas
denominações abandonaram o estudo sistemático da Palavra de Deus
para dedicar-se ao estudo do comportamento humano, resultando na
“adequação” do evangelho de Cristo aos padrões humanistas deste
tempo pós-moderno. Temos visto muitos líderes que, em nome de uma
espiritualidade mística, têm fundamentado seus sermões em doutrinas
cuja base “teológica” é a experiência e não a Bíblia. Para piorar a
situação, muitos pregadores têm considerado o ensino das Escrituras
como algo indesejável e sem utilidade prática, preferindo um sermão
repleto de histórias engraçadas, onde o objetivo final é o entretenimento
do público.
Diante disto é impossível não nos lembrarmos de homens como o Dr.
Martin Lloyd-Jones. 8 Nos cultos que pregava, centenas de pessoas eram
atraídas pela pregação da Palavra de Deus. O doutor, como era chamado,
levava muitos meses, até mesmo anos, a expor um capítulo da Bíblia,
versículo por versículo. Os seus sermões muitas vezes duravam entre
cinquenta minutos e uma hora, atraindo muitos estudantes das
universidades e escolas em Londres, que ficavam encantados com a
pregação do evangelho.
O Reformador francês João Calvino disse que a Escritura é a fonte de
toda a sabedoria, e que os pastores devem extrair dela tudo aquilo que
expõem diante do rebanho. 9 Calvino afirmava que através da exposição
da Palavra de Deus, as pessoas são conduzidas à liberdade e à segurança
da fé salvadora. 10 Dizia também que a verdadeira pregação tem por
objetivo abrir a porta do reino ao ouvinte. Em outras palavras, o que ele
está a nos dizer é que as Escrituras Sagradas devem ser o principal
instrumento na condução, consolidação e pastoreio do povo de Deus.
4º Uma Liturgia Antropocêntrica.
O esquecimento por parte de alguns evangélicos das principais
doutrinas bíblicas tem contribuído em muito para o surgimento de uma
liturgia antropocêntrica.
Charles Spurgeon, um dos maiores pregadores de todos os tempos,
afirmou 11 que o adversário das nossas almas tem agido como fermento,
levedando toda a massa. Segundo Spurgeon, o diabo criou algo mais
perspicaz ao sugerir à Igreja que parte de sua missão é prover
entretenimento para as pessoas, com vistas a ganhá-las. Ele também
afirmou que a igreja de Cristo não tinha por obrigação promover
entretenimento aos visitantes. Antes, pelo contrário, o evangelho com
todas as suas implicações precisava ser pregado de forma simples e
objetiva:

Existe um mal entre os que professam pertencer aos arraiais de Cristo, um mal
tão grosseiro em sua imprudência, que a maioria dos que possuem pouca visão
espiritual dificilmente deixará de perceber. Durante as últimas décadas, esse
mal tem se desenvolvido em proporções anormais. Tem agido como o
fermento, até que toda a massa fique levedada. O diabo raramente criou algo
mais perspicaz do que sugerir à igreja que sua missão consiste em prover
entretenimento para as pessoas, tendo em vista ganhá-las para Cristo. A igreja
abandonou a pregação ousada, como a dos puritanos; em seguida, ela
gradualmente amenizou seu testemunho; depois, passou a aceitar e justificar as
frivolidades que estavam em voga no mundo e, no passo seguinte, começou a
tolerá-las em suas fronteiras; agora, a igreja as adotou sob o pretexto de ganhar
as multidões. Minha primeira contenção é esta: as Escrituras não afirmam, em
nenhuma de suas passagens, que prover entretenimento para as pessoas é uma
função da igreja. Se esta é uma obra cristã, por que o Senhor Jesus não falou
sobre ela? “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc
16.15) — isso é bastante claro. Se Ele tivesse acrescentado: “E oferecei
entretenimento para aqueles que não gostam do evangelho”, assim teria
acontecido. No entanto, tais palavras não se encontram na Bíblia. Sequer
ocorreram à mente do Senhor Jesus. E mais: “Ele mesmo concedeu uns para
apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores
e mestres” (Ef 4.11). Onde aparecem nesse versículo os que providenciariam
entretenimento? O Espírito Santo silenciou a respeito deles. Os profetas foram
perseguidos porque divertiam as pessoas ou porque recusavam-se a fazê-lo?
Os concertos de música não têm um rol de mártires.

Hoje, 120 anos após a morte de Spurgeon, boa parte da igreja brasileira
promove em suas liturgias estruturas lúdicas e leves onde, de forma
simplista e descontraída, o “evangelho politicamente correto” é
anunciado. Na verdade, ouso afirmar que a banalização das Escrituras
juntamente com o pluralismo eclesiástico de nosso tempo encontrou uma
variedade enorme de igrejas que proclamam o evangelho de Cristo
segundo o gosto do freguês. 12 Além disso, se fizermos uma análise
sincera de nossas liturgias, chegaremos a conclusão que boa parte das
canções entoadas nos cultos evangélicos são feitas na primeira pessoa do
singular, cujas letras prioritariamente reivindicam as bênçãos de Deus.
A RELEVÂNCIA DAS ESCRITURAS PARA A IGREJA BRASILEIRA
NOS DIAS DE HOJE.
A Bíblia é de inspiração divina. Assim, a fé cristã baseada nas
Escrituras não é uma fé cega, calcada no subjetivismo. Trata-se de uma
fé objetiva que pode ser analisada e explicada. E os que entendem a
relevância das Escrituras, bem como a sua importância na vida da igreja,
experimentam em seu cotidiano verdades maravilhosas, das quais
destaco algumas:
1º - A exaltação do nome de Cristo.
Uma igreja que valoriza as Escrituras e prega a Palavra de Deus
expositivamente exalta o nome de Jesus. A Bíblia em todos os seus 66
livros aponta exclusivamente para Cristo e o exalta. Do Gênesis ao
Apocalipse a mensagem central é Cristo. As Escrituras nos ensinam que
ele é o verdadeiro Deus (Jo 3.16; 1Jo 5.20) e que através dele o universo
foi criado e é mantido em existência (Jo 1.3; Cl 1.16-17), e que por amor
dos eleitos de Deus, Cristo esvaziou a si mesmo, tomando a forma de
homem, sendo obediente até a morte, e morte de cruz. Ele é o alfa e
ômega (Ap 1.8,17; 22.13; Is 44.6), o herdeiro de todas as coisas (Hb 1.1-
2), o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29), o Messias
esperado (Jo 1.41), o único Soberano, Rei dos reis, Senhor dos Senhores
(1Tm 6.15), Rei das nações (Ap 15.03).
A Palavra de Deus quando é pregada enaltece o nome de Jesus. As
Escrituras quando anunciadas promovem transformação nos corações
dos pecadores. A Bíblia quando ensinada revela ao homem sua
miserabilidade, seus pecados, seu estado de depravação total, como
também o amor imensurável de Deus que enviou o seu único Filho para
morrer na cruz do calvário em favor dos eleitos de Deus.
2º - O reconhecimento da miserabilidade humana.
Quando a Bíblia é pregada a miserabilidade humana é revelada. As
Escrituras quando ensinadas revelam o estado de pecaminosidade e
depravação da humanidade. A Palavra do Senhor quando proclamada
confronta o homem em seus delitos e pecados humilhando-o diante do
Criador, revelando assim o seu real estado de putrefação espiritual.
O ensino cristão é de que não existe um homem neste planeta que
possa considerar-se justo pelos seus próprios méritos. Na verdade, a
Bíblia afirma que “todos pecaram, e que todos estão destituídos da graça
de Deus” (Rm 3.23), diz também “que o salário do pecado é a morte”
(Rm 6.23) e que quem peca “transgride a lei” (1Jo 3.04), e que “o
pecado faz separação entre os homens e Deus” (Is 59.02).
A Bíblia diagnostica o pecado como uma deformidade universal da
natureza humana, deformidade que se manifesta em detalhes na vida de
cada indivíduo. As Escrituras ensinam que o homem é totalmente
depravado e que necessita desesperadamente de salvação. A natureza
humana é essencialmente pecadora. Todo nosso ser é pecador, nossa
mente, emoções, desejos, e até mesmo nossa constituição física está
corrompida, controlada e desfigurada pelo pecado e seus efeitos.
Ninguém escapa desse veredicto. Nós somos totalmente depravados.
Efésios 2.1 resume a doutrina da depravação total ao afirmar que os
homens estão mortos em delitos e pecados. Entretanto, Deus sendo rico
em misericórdia por causa do grande amor com que nos amou nos deu
vida em Cristo Jesus, salvando-nos da ira vindoura (Ef 2.4-5). Louvado
seja o Senhor que nos elegeu incondicionalmente salvando-nos do
pecado, dando-nos vida, libertando-nos do diabo e livrando-nos do juízo
eterno!
3º - A salvação dos eleitos e a condenação dos réprobos.
A pregação das Escrituras desconstrói todo conceito humano de
religião e salvação. Quando a Bíblia é pregada expositivamente e suas
doutrinas proclamadas com autoridade e poder, é possível entender o
eterno e maravilhoso amor de Cristo em morrer na cruz do calvário
pelos eleitos de Deus. A Bíblia de forma categórica nos ensina que na
eternidade, soberanamente Deus escolheu alguns pecadores para a
salvação (2Ts 2.13, Rm 9.11). Segundo as Escrituras, antes da criação de
todas as coisas, Deus selecionou dentre os homens os que deveriam ser
redimidos, justificados, santificados e glorificados em Jesus Cristo (Rm
8.28-29; Ef 1.3-14; 2Ts 2.13-14; 2Tm 1.9-10). Essa escolha divina é a
expressão de amor mais arrebatadora que pode existir no universo. Ela
não é merecida por homem algum e absolutamente nada que o ser
humano faça ou possa fazer pode lhe conceder o direito de usufruir desta
maravilhosa graça.
Em contrapartida a reprovação é o nome dado à eterna e imutável
decisão de Deus em não redimir àqueles que não foram escolhidos para
a vida. Mediante a prerrogativa de um Deus soberano que governa sobre
tudo, o Senhor determinou que tais homens não fossem transformados e
regenerados.
4º - O governo de um Deus que reina soberanamente sobre tudo e
todos.
Uma igreja que prega todo “conselho de Deus” inevitavelmente
acredita, vive e propaga a todos quanto puder a existência de um Deus
soberano.
As Escrituras ensinam que o nosso Deus reina soberanamente e tem
controle sobre todas as coisas, e que absolutamente nada foge aos seus
desígnios. A Bíblia afirma que o governo está em suas mãos e que Ele
possui domínio sobre tudo aquilo que acontece no céu e na terra.
O Deus Todo-Poderoso governa o mundo, ele é o Rei dos reis, o
Senhor dos senhores, o Altíssimo Deus. A ele pertence todo poder e toda
autoridade para fazer o que lhe agrada. O mundo e tudo que nele há é o
seu mundo e toda criatura que nele vive é controlada por sua soberana
vontade e poder.
A visão de Deus reinando no seu trono é repetida nas Escrituras
inúmeras vezes (1Rs 22.19; Is 6.1; Ez 1.26; Dn 7.9; Ap 4.2). Na
verdade, os muitos textos bíblicos possuem a função de nos lembrar em
termos explícitos, que o SENHOR reina como rei, exercendo o seu
domínio sobre grandes e pequenos. O senhorio de Deus é total e nem
mesmo o diabo pode deter seu propósito ou frustrar os seus planos.
CONCLUSÃO
Caro leitor, os reformadores ao fazerem das Escrituras sua única e
exclusiva regra de fé romperam com as anomalias teológicas do
supersticioso catolicismo romano, levando assim a Igreja de Cristo ao
redescobrimento das maravilhosas doutrinas da graça. Hoje, apesar das
idiossincrasias e incongruências de parte da Igreja Evangélica Brasileira
acredito que se pregarmos novamente as doutrinas ensinadas pelos
reformadores, experimentaremos mudanças substanciais na vida da
Igreja.
Isto posto, afirmo sem a menor sombra de dúvidas que a Bíblia
continua sendo a Palavra infalível de Deus e que as Escrituras jamais
poderão ser consideradas velhas e ultrapassadas. As nações e suas
culturas podem mudar, no entanto, ainda assim a Palavra de Deus
continuará sendo relevante para o homem.
2. Declaração de Cambridge. Acessado em Junho de 2013 em:
http://www.monergismo.com/textos/credos/declaracao_cambridge.htm
3. João Calvino, As Institutas da Religião Cristã (São Paulo: Cultura Cristã, 2003), I.6.3.
4. James Montgomery Boice e Benjamin E. Sasse (org.), Reforma hoje (São Paulo: Cultura
Cristã, 1999), p. 11-17.
5. Vinícius Cintra, “51% nunca leram a Bíblia toda”, Portal Creio ,
http://www.creio.com.br/2008/noticias01.asp?noticia=8321 , acessado em 28 de maio de 2010. A
pesquisa foi conduzida com 1255 entrevistados de diversas denominações, sendo que 835
participaram de um painel de aprofundamento. O motivo é a falta de tempo, segundo os
entrevistados.
6. John Calvin, The Mystery of Godliness and Other Selected Sermons (Grand Rapids:
Eerdmans, 1950), p. 56.
7. “A Bíblia no divã”, Revista Veja (Edição 1667 – 20 de setembro de 2000),
http://veja.abril.com.br/200900/p_108.html , acessado em 28 de maio de 2010.
8. “David Martyn Lloyd-Jones, um gladiador contra a mundanização da igreja”, em
http://discernimentocristao.wordpress.com/category/irmaos-sinceros/ , acessado em 28 de maio
de 2010.
9. João Calvino, As Pastorais (São José dos Campos, SP: Fiel, 2009), p. 120-121.
10. Ronald Wallace, Calvino, Genebra e a Reforma (São Paulo: Cultura Cristã. 2004), p. 145.
11. C. H. Spurgeon, “Alimentando as Ovelhas ou Divertindo os Bodes?”, em
http://www.monergismo.com/textos/chspurgeon/bodes_spurgeon.htm , acessado em 30 de
setembro de 2010.
12. Para um desenvolvimento deste tema, cf., de minha autoria, Cristianismo ao gosto do freguês
(Niterói, RJ: Scrittura, 2010).
sola grat1a

Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente


pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo,
soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à
vida espiritual.
Negamos que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos,
técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa
transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada. 13

Os adeptos do neopentecostalismo defendam que a salvação é pela


graça, mas na prática se comportam de modo completamente diferente.
Basta olharmos os cultos repletos de correntes, mandingas, barganhas e
promessas, que chegaremos à conclusão que eles acreditam que a
salvação se deva exclusivamente ao que fazem e não pela graça de Deus.
Nessa perspectiva é comum encontrarmos em suas reuniões momentos
onde o “fiel” oferece suas ofertas a Deus na expectativa de que milagres
aconteçam. Se não bastasse isso, é comum ouvirmos os “apóstolos” da
modernidade ensinando que sem sacrifício pessoal não é possível
experimentar da bondade de Deus. Soube que um destes pastores
apostólicos estava a ensinar que o crente quando deixa de obedecer as
ordens do Senhor (isso não significa necessariamente as Escrituras),
deixa de ser abençoado pelo Criador, impedindo assim que a salvação
chegue à sua casa. Para estes, a salvação está relacionada àquilo que
fazemos e não na graça de Deus. É comum encontrarmos
neopentecostais incentivando os fiéis a fazerem correntes de fé e de
oração porque acreditam que o fato de cumprirem seus votos a Deus
obrigará o Todo-Poderoso a salvar sua família.
Caro amigo, a confiança na capacidade do homem em agradar a Deus é
um produto da natureza humana decaída. Lamentavelmente essa falsa
confiança tem enchido a Igreja Evangélica de percepções doutrinárias
absolutamente equivocadas.
Se você parar para pensar descobrirá que tanto as religiões quanto
muitos filósofos, excluindo o cristianismo bíblico, têm sustentado que o
homem é basicamente bom e aperfeiçoável através de seus próprios
esforços. A partir do deísmo europeu do século XVII, comecou-se a
afirmar que o homem nascia como uma lousa em branco, em estado de
inocência. Jean Jacques Rousseau entendia que “o homem nasce bom e a
sociedade o corrompe”. 14 O islamismo ensina que todos os homens são
nascidos puros e que são naturalmente bons até que sejam desviados
pelo ambiente. Para o islã, o homem é visto como aperfeiçoável através
do ser corretamente guiado e lembrado da unidade de Alá.
Por outro lado, apenas através da revelação de Deus, como encontrada
nas Escrituras, é que podemos entender a total depravação do homem,
que mostra ser ele totalmente incapaz de salvar a si próprio ou de fazer
qualquer obra meritoriamente boa com respeito à sua salvação. Essa é
uma verdade redescoberta na Bíblia durante a Reforma, que transformou
a Europa no século XVI e tem impactado o mundo desde então.
As Escrituras ensinam que o homem é totalmente incapaz de fazer
qualquer coisa para a sua salvação. A Palavra de Deus é clara em
afirmar que o ser humano independente da etnia, do gênero, da
nacionalidade e da classe social, está morto em seus delitos e pecados
(Rm 3.23, Ef 2.1-5). Ora, nós somos totalmente incapazes de buscar a
Deus. Como bem afirmou o apóstolo Paulo: “Não há quem busque a
Deus” (Rm 3.11,12,18). Sem a menor sombra de dúvidas o homem
odeia a Deus e por natureza é inimigo dele. C. H. Spurgeon afirmou que
acreditava que, se Cristo não o houvesse escolhido, ele jamais escolheria
a Cristo.

Se Deus não me tivesse eleito, eu jamais o teria escolhido; e estou seguro de


que ele me elegeu antes que eu tivesse nascido, caso contrário ele nunca teria
me escolhido depois. E ele deve ter me escolhido por razões desconhecidas
para mim, pois eu nunca fui capaz de encontrar qualquer razão em mim
mesmo para que ele dedicasse um amor especial a mim. Assim sendo, sou
obrigado a aceitar essa grande doutrina bíblica. 15

Prezado amigo, a salvação é uma obra exclusivamente da graça divina.


Nós não temos parte nisso. Somos salvos pela graça. Que verdade
maravilhosa é essa! Como Jesus disse, “ninguém pode ir a Deus se não
for por ele” (Jo 6.44). Foi por intermédio dele e através dele que fomos
salvos. Que doce e maravilhosa graça!

Preciosa a graça de Jesus,


que um dia me salvou.
Perdido andei, sem ver a luz,
mas Cristo me encontrou.

A graça, então, meu coração


do medo me libertou.
Oh, quão preciosa salvação
a graça me outorgou!

Promessas deu-me o Salvador,


e nele eu posso crer.
É meu refúgio e protetor
em todo o meu viver.

Perigos mil atravessei


e a graça me valeu.
Eu são e salvo agora irei
ao santo lar do céu. 16

O autor desse lindo hino se chamava John Newton. Ele foi um severo e
brutal capitão de um navio negreiro inglês que costumava viajar da
Inglaterra ao continente africano, onde enchia o seu navio de escravos,
traficando-os para os Estados Unidos. Homens, mulheres e crianças
comumente eram trazidos acorrentados abaixo das plataformas, visando
impedir possíveis suicídios. Os nativos africanos eram colocados lado a
lado, a fim de conservar o espaço, em fileira após fileira, uma após
outra, até que a embarcação estivesse “carregada”.
Os capitães dos navios negreiros procuravam fazer uma viagem rápida,
esperando preservar ao máximo a sua carga, contudo, a taxa de
mortalidade era alta, normalmente de 20% ou mais. Quando um surto de
disenteria ou qualquer outra doença ocorria, os doentes eram jogados ao
mar. Uma vez que chegavam a América, os negros eram negociados por
açúcar e melaço, cujo objetivo final era manufaturar o rum, que os
navios levariam à Inglaterra.
John Newton transportou muitas “cargas” de escravos africanos
trazidos ao novo mundo no século XVIII. No mar, em uma de suas
viagens, o navio enfrentou uma enorme tempestade e quase afundou. Na
ocasião, Newton achando que iria morrer ofereceu sua vida a Cristo.
Após ter sobrevivido, ele se converteu e começou a estudar para se
tornar ministro do evangelho. No final de sua vida Newton disse:
“Minha memória já quase se foi, mas eu recordo duas coisas: que eu sou
um grande pecador, e que Cristo é meu grande salvador”. 17
Em seu túmulo é possível encontrar a seguinte frase:

Aqui jaz John Newton. Pastor, outrora um infiel e um libertino, mercador de


escravos na África, foi, pela rica misericórdia de nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo, preservado, restaurado, perdoado e chamado a pregar a mesma fé
que ele tinha se esforçado muito por destruir. Serviu cerca de 16 anos como
pastor de Olney, em Bucks, e 28 destas igrejas unidas. 18

Que graça maravilhosa! Somente a graça de Cristo pode transformar a


vida de um homem. Eu mesmo fui salvo por essa graça! Lembro-me que
no início de 1986, minha mãe tremendamente desesperada por me ver
chafurdando no álcool e nas drogas, pediu que um pastor viesse me
visitar. Na ocasião, eu destilava ódio por Deus e por tudo que lembrasse
o seu nome. Recordo-me que o pastor entrou em meu quarto e começou
a falar de Jesus, sendo interrompido por mim, visto que não queria
sequer ouvir falar o nome desse tal Salvador. Cheio de ira, quase o
agredi e expulsei o pastor da minha casa. Alguns meses depois,
encontrava-me drogado, quando um amigo me convidou para ir à igreja.
Na hora marcada ele passou em minha casa, levando-me com muita
dificuldade para a igreja de Nova Vida de Icaraí, na cidade de Niterói.
Jamais esquecerei o momento eu que ouvi o pastor Reginaldo Melo
pronunciando o nome de Jesus. Naquele instante algo aconteceu. O
Espírito Santo me convenceu das minhas iniquidades, trazendo sobre
mim uma forte convicção de pecado. No mesmo instante chorei
copiosamente diante da irresistível graça de Deus, prostrando-me diante
do Eterno e confessando Jesus Cristo como meu único e suficiente
Salvador!
Lembro-me que ao ter sido invadido por um amor incomparável
perguntei ao meu Redentor: “Oh Deus, por que o Senhor me salvou? Por
que me escolheu dentre os meus amigos? Eles são tão melhores do que
eu!” E o Espírito do Senhor, em resposta à minha pergunta, iluminou o
texto de Paulo em Efésios 2.1-10, fazendo-me entender que foi por
graça, superabundante graça.
Que maravilhosa graça! Sem sombra de dúvidas, a graça de Deus é
melhor do que a vida (Sl 63.3).
Veja o que o Príncipe dos Pregadores, Charles Spurgeon, disse sobre a
sua salvação e a manifestação da graça de Deus em sua existência:

Às vezes, quando vejo nas ruas certas pessoas com as piores inclinações, sinto
como se o meu coração fosse explodir em lágrimas de gratidão a Deus por ele
não ter me permitido agir como uma daquelas pessoas! Eu tenho imaginado
que se Deus me tivesse deixado nos meus próprios caminhos, e não me tivesse
tocado com a sua graça, que grande pecador eu teria sido! Eu teria percorrido
toda a extensão do pecado, teria mergulhado em toda a sua profundidade e
tampouco teria deixado de me envolver em qualquer vício ou perversidade, se
Deus não me tivesse impedido. Eu sinto que teria sido, de fato, o rei dos
pecadores, se Deus tivesse me deixado sozinho. Eu não consigo entender a
razão pela qual fui salvo, exceto pelo motivo de que Deus o desejou.
Não posso, mesmo que desejasse ardentemente, encontrar qualquer razão em
mim mesmo, pela qual eu deveria participar da graça divina. Se, neste
momento, eu não estou sem Cristo, isso é devido somente ao fato de que
Cristo Jesus faz cumprir sua vontade em mim, e tal vontade tem em mente que
eu esteja com ele onde ele estiver e que eu venha a participar da sua glória. A
coroa tem que ser colocada na cabeça daquele cuja graça poderosa livrou-me
de mergulhar no abismo.
Olhando para minha vida passada, posso perceber que a origem de tudo isso
era Deus e somente dele efetivamente. Eu não possuía uma tocha para acender
o sol, foi o sol que me iluminou. Eu não comecei a minha vida espiritual – pelo
contrário, eu rejeitava e lutava contra as coisas do Espírito: quando ele me
atraiu, por um certo período, eu não o segui; havia em minha alma um ódio
natural contra qualquer coisa santa e boa. Advertências de nada valiam para
mim – os avisos eram lançados ao vento – os trovões eram desprezados e, em
relação aos sussurros de seu amor, eu os rejeitava como se não tivessem
qualquer valor.
Todavia, seguramente, posso dizer agora, em relação a mim mesmo, que
“somente ele é minha salvação”. Foi ele quem mudou o meu coração e me
colocou de joelhos diante dele. 19

Prezado amigo, lamentavelmente o conceito ensinado pelos


neopentecostais sobre graça é bem diferente daquilo que Spurgeon e os
reformadores criam e pregavam, daí a necessidade de redescobrirmos os
ensinos dos nossos pais.
A BÍBLIA E O SIGNIFICADO DE GRAÇA
Se quisermos entender o significado daquilo que a Bíblia chama de
graça, é necessário que primeiramente entendamos o que ela diz sobre
salvação.
R.C. Sproul ao falar sobre o que significa ser salvo afirmou:

O significado bíblico de salvação é amplo e variado. Em sua forma mais


simples, o verbo salvar significa “ser resgatado de uma situação perigosa ou
ameaçadora”. Quando Israel escapava das derrotas nas mãos de seus inimigos
em batalhas, dizia-se que fora salvo. Quando as pessoas se recuperam de uma
enfermidade grave, experimentam salvação. Quando a colheita é poupada das
pragas e das secas, o resultado se chama salvação. Usamos a palavra salvação
de maneira semelhante. Dizemos que um boxeador foi “salvo pelo gongo” se o
assalto termina antes que o juiz possa fazer a contagem que determina o
nocaute. Salvação significa ser resgatado de alguma calamidade. Entretanto, a
Bíblia também usa o termo salvação num sentido específico para referir-se à
nossa redenção suprema do pecado e à nossa reconciliação com Deus. Neste
sentido, somos salvos da pior de todas as calamidades – o juízo de Deus. A
salvação suprema é concretizada por Cristo, o qual “nos livra da ira vindoura”
(1Ts. 1.10). 20

Caro leitor, as Escrituras afirmam claramente que haverá um dia de


julgamento quando todos os seres humanos prestarão contas diante do
tribunal de Deus. Para muitos, este “dia do Senhor” será um dia de
trevas, sem luz alguma. Será a hora mais triste, a pior calamidade da
história da humanidade quando, independente de quem sejam, os
homens prestarão contas ao Criador.
A salvação significa ser poupado da ira divina que certamente virá
sobre o mundo. As Escrituras ensinam e afirmam que somente por
Cristo o homem pode ser salvo e isso em nada depende dele. Por mais
religioso, íntegro, honesto e correto que seja o ser humano, ele não pode
aplacar a ira de um Deus soberano que justamente pode lançar o homem
no inferno (Sl 9.4-6,17). A Bíblia nos ensina que a salvação vem por
Jesus (Rm 10.9-13), através de Jesus e mediante Jesus e que não é
possível ser salvo fora dele, portanto, nenhuma religião no mundo possui
poder para redimir o homem de seus delitos e pecados.
O CONCEITO DE GRAÇA:
Uma das principais ênfases dadas pelo reformador alemão Martinho
Lutero foi o combate ao comércio das indulgências. Lutero tinha
entendido que o homem não possui a menor condição de comprar o
favor de Deus e que, em virtude disso, ainda que oferecesse todo o
dinheiro existente no mundo, seria incapaz de adquirir para si o perdão
dos seus pecados.
A Reforma Protestante resgatou o conceito que o perdão de Deus nos
foi ofertado por Cristo na cruz do Calvário, e que não existe
absolutamente nada a ser feito por nós, simplesmente pelo fato de que o
preço já havia sido pago. Para os reformadores, toda a experiência cristã
é fruto da graça divina, que experimentamos por meio da fé naquilo que
Cristo fez por nós.
Lamentavelmente, nos dias de hoje algumas das denominadas igrejas
evangélicas jogaram no lixo a doutrina da salvação pela graça.
Infelizmente muitas destas comunidades, além, é claro, dos seus
pastores, estão oferecendo ao povo as mais variadas “bênçãos”, o que
nitidamente se percebe na ênfase dada ao entretenimento religioso, na
prosperidade financeira, na frouxidão moral, na saúde integral e muito
mais. Para piorar a situação, tudo isso pode ser adquirido em troca de
significativas ofertas financeiras.
Nessa perspectiva o conceito bíblico sobre graça se perdeu, o que de
certa forma tem contribuído para uma visão doentia, esquizofrênica e
imbecilizada sobre aquela que talvez seja uma das mais belas doutrinas
das Escrituras.
Prezado amigo, a graça de Deus é a manifestação do seu amor por nós,
pecadores. A Bíblia nos ensina que ele nos amou de tal maneira que
enviou seu Filho Jesus, para morrer em nosso lugar (Jo 3.16). Deus nos
amou incondicionalmente, isto é, ele não nos não impôs exigências ou
regras nem tampouco viu em nós qualificações ou virtudes que
despertassem nele o desejo de nos salvar. O apóstolo João nos ensina
que Deus nos amou primeiro (1Jo 4.19). Nós não somos merecedores do
seu amor, muito pelo contrário, em virtude do nosso estado de metástase
espiritual, estávamos merecidamente condenados ao inferno, contudo,
por sua graça e bondade, Cristo resolveu nos salvar, dando-nos vida
eterna.
Aleluia! É o amor de Deus que nos redime das nossas transgressões. É
esse amor gracioso que nos abre o coração para receber gratuitamente
tanto o perdão como a misericórdia. É a graça de Deus em Cristo que
nos liberta do pecado ou da autoindulgência e nos conduz a uma vida de
plenitude. É essa graça que nos liberta da religiosidade e nos transforma
em pessoas quebrantadas e ávidas pelo Senhor.
13. Declaração de Cambridge. Acessado em Junho de 2013 em:
http://www.monergismo.com/textos/credos/declaracao_cambridge.htm
14. Essa é a tese de Rosseau em sua famosa obra Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos
da Desigualdade Entre os Homens , de 1754.
15. Charles Haddon Spurgeon. Verdades Chamadas Calvinistas: uma Defesa (São Paulo, SP:
Editora PES), passim
16. Hino de John Newton “Amazing Grace”, composto em 1773. HCC 314
17. Brian Edwards. De Traficante de Escravos a Pregador (São José dos Campos, SP: Editora
Fiel, 2001) p. 201
18. Ibidem
19. C. H. Spurgeon. Verdades Chamadas Calvinistas: uma Defesa (São Paulo, SP: Editora PES),
passim
20. R. C. Sproul. Verdades Essenciais da Fé Cristã – 1 º Caderno (São Paulo, SP: Editora
Cultura Cristã, 2010) passim
sola f1de

Reafirmamos que a justificação é somente pela graça somente por intermédio


da fé somente por causa de Cristo. Na justificação a retidão de Cristo nos é
imputada como o único meio possível de satisfazer a perfeita justiça de Deus.
Negamos que a justificação se baseie em qualquer mérito que em nós possa ser
achado, ou com base numa infusão da justiça de Cristo em nós; ou que uma
instituição que reivindique ser igreja mas negue ou condene sola fide possa ser
reconhecida como igreja legítima. 21

Os adeptos do neopentecostalismo depositam fé na fé. Parece


redundância, mas é exatamente isso que pregam. Na verdade, boa parte
dos apóstolos da modernidade enfatiza muito mais a fé na fé do que a fé
em Jesus.
Isto posto, é importante que façamos uma pequena diferenciação. Para
os neopentecostais (ainda que de forma inconsciente) existem dois tipos
de fé. A primeira é aquilo que denomino de fé milagreira . Isto é, a fé
que acredita que Deus vai fazer milagres mediante algum objeto
consagrado. Para tanto, basta um ponto de contato. É comum vermos os
neopentecostais colocando sobre a televisão um copo d’água ou algum
outro elemento, na expectativa de um milagre qualquer. Além disso, é
possível encontrarmos muitos destes orando em cima de lenços, roupas
ou objetos pessoais daquele que se encontra sofrendo. Certa feita, uma
senhora que visitava a minha igreja apresentou aos pastores a foto de seu
filho que se encontrava enfermo. Sensibilizada pela dor do rapaz, ela me
solicitou que ungisse com óleo o seu retrato, o que obviamente não fiz.
Noutra ocasião, um colega de ministério me contou que havia
conseguido um frasco de óleo ungido e que, em virtude disso, ungiria os
cômodos de uma casa oprimida por Satanás.
Caro leitor, em nenhum lugar do Novo Testamento nós vemos Jesus
orientando os discípulos a ungirem objetos. Ou em que parte das
Escrituras encontramos os apóstolos distribuindo óleo ungido para os
fiéis? Ou em que momento vemos Paulo ungindo presbíteros numa
cerimônia de ordenação ao santo ministério? Ora, concordo plenamente
com Augustus Nicodemus quando afirma 22 que o método usado para
consagrar pessoas a Deus, no Novo Testamento, para a realização de
uma tarefa é a imposição de mãos. Os apóstolos não ungiram os
diáconos quando estes foram nomeados e instalados, mas lhes
impuseram as mãos (At 6.6). Pastores também eram consagrados pela
imposição de mãos e não pela unção com óleo (1Tm 4.14). Não há um
único exemplo de pessoas sendo consagradas ou ordenadas para os
ofícios da Igreja cristã mediante unção com óleo. A imposição de mãos
para os ofícios cristãos substituiu a unção com óleo para consagrar
sacerdotes e reis.
O problema é que o neopentecostalismo confunde fé com magia. Na
verdade, a magia é estranha ao cristianismo. No cristianismo, o homem
se submete ao seu Salvador; na magia, Deus se submete ao homem. A fé
dos neopentecostais é antropocêntrica, ensimesmada e mágica, o que
contribui de modo substancial para o uso de amuletos “poderosos”. Em
certa ocasião, uma conhecida de minha mãe chegou em casa com uma
fronha de travesseiro que fora ungida por um apóstolo. Segundo ela, se
minha mãe tivesse fé, aquela fronha seria poderosa para lhe dar boas e
tranquilas noites de sono.
Sinceramente, me espanta a capacidade de alguns evangélicos de
fabricar distorções teológicas desse tipo. Para piorar a situação, a
fabricação do óleo ungido se transformou num grande negócio, e, em
nome de Deus, milhares de litros são produzidos com o intuito único de
“ungir” o necessitado de bênçãos espirituais.
O segundo tipo de fé é a fé salvífica. Para os neopentecostais não basta
crer em Jesus, é preciso fazer mais do que isso. Assim, é necessário
amarrar demônios, quebrar maldições, dar dízimos e ofertas
extravagantes (alguns neopentecostais acreditam que aqueles que
deixam de dar o seu dízimo poderão perder a sua salvação). Na verdade,
para estes, o conceito paulino de que a salvação é pela graça e não por
obras não passa de retórica religiosa.
Prezado leitor, a graça exclui totalmente as obras. O homem nada pode
fazer e nada tem para oferecer a Deus por sua salvação. A única coisa
que lhe cabe é aceitar o dom da salvação, pela fé , quando esta lhe é
concedida. Fé na pessoa e obra suficiente de Cristo, que lhe é concedida
gratuitamente e faz-nos justos diante de Deus.
Esta foi a doutrina central da Reforma Protestante. O monge alemão.
Martinho Lutero não conseguia entender como a justiça de um Deus
Santo e Justo poderia se revelar no evangelho (Rm 1.17). Para ele, a
justiça de Deus só poderia condenar o homem, não salvá-lo. No entanto,
quando compreendeu que a justiça de que Paulo falava não era o atributo
pelo qual Deus retribui a cada um conforme os seus méritos, mas o
modo como ele justifica o homem em Cristo, é que entendeu as
Escrituras aflorando a verdade em sua mente. Lutero então tornou-se um
homem livre, confiante e certo do perdão dos seus pecados. Ele
finalmente havia compreendido a mensagem do evangelho. Neste ponto,
essa expressão da reforma ganhou novas cores e vitalidade para Lutero:
Sola Fide Justificate .
É pela fé que o justo vive. Quando Paulo cita Habacuque 2.4, ele usa
este versículo para ensinar que é através da fé, e não das obras, que
alguém é declarado justo em Cristo. Quão longe estava a Igreja Romana
dessa verdade simples do evangelho quando ensinava que o perdão
podia ser comprado com dinheiro e a salvação adquirida com o mérito
dos santos. Tetzel, o vendedor das indulgências do Papa Leão X, na
Alemanha, dizia que “ao som de cada moeda que caía no caixinha, uma
alma se desprendia do purgatório e voava até o paraíso”. Entretanto, pela
graça de Deus, os reformadores redescobriram nas Escrituras que os
pecadores são justificados somente pela graça por meio da fé.
Redescobriram também que a fé é muito mais do que a obediência de
pressupostos religiosos. Eles entenderam que ter fé em Cristo, está bem
além de confiar numa igreja, de aceitar seus dogmas, ou até mesmo de
seguir o Papa.
A salvação pela fé em Cristo é uma doutrina fundamental da Bíblia.
Enquanto as religiões ensinam aos homens o que fazer para que sejam
salvos, a Bíblia nos adverte que não somos salvos por obras, mas pela
graça de Deus em Cristo Jesus (Ef 2.8,9). O cristianismo bíblico é
diferente de qualquer outra religião, pois se fundamenta naquilo que
Deus realizou através da obra de Cristo na cruz, enquanto as religiões
fundamentam seus pressupostos em meras realizações humanas.
Os pecadores são perdoados por Cristo pela fé somente. Paul Settle
afirma 23 que a fé é perfeitamente adequada para salvar, pois ela liga
pecadores com um Salvador perfeitamente adequado. Nós desfrutamos
uma salvação perfeita porque, à vista de Deus, estamos unidos com um
Salvador perfeito. Quando o carcereiro perguntou: “O que devo fazer
para ser salvo?”, a resposta de Paulo disse tudo: “Crê no Senhor Jesus
Cristo e serás salvo” (At 16.30,31).
A ênfase na doutrina da justificação pela graça somente pela fé,
pregada pelos reformadores no século XVI, precisa ser redescoberta pela
igreja do século XXI. Afirmo que em virtude das incongruências e
idiossincrasias comuns ao nosso tempo, é urgente e necessária a
pregação da velha verdade de que o homem é salvo pela fé em Cristo
Jesus. Todavia, por fatores diversos, são poucos os evangélicos que
ainda têm dado ênfase ao aspecto objetivo da justificação pela fé.
Lamentavelmente experiências catárticas, avivamentos emocionais,
respostas a apelos e outras práticas estão tomando o lugar da pregação
dos temas chaves da Reforma. As doutrinas do pecado original, da
expiação vicária de Cristo, da eleição e da justificação pela fé estão
sendo negadas hoje por muitos evangélicos que buscam uma
acomodação à cultura da modernidade.
Mas a mensagem do evangelho é simples, os homens é que a
complicam. Basta pregarmos que a justificação é somente pela graça,
somente por intermédio da fé, e somente por causa de Cristo. Não é tão
complicado, não é mesmo?
O reformador francês, João Calvino, referiu-se a essa doutrina como “o
principal ponto de apoio sobre o qual se articula a religião”. 24 Ele tratou
desse conceito em uma das seções mais longas das Institutas, onde lhe
deu a seguinte definição: “Interpretamos a justificação simplesmente
como a aceitação pela qual Deus nos recebe em seu favor como homens
justos, e dizemos que ela consiste na remissão dos pecados e na
imputação da justiça de Cristo”. Martin Lloyd-Jones disse que a
justificação pela fé “é a grande doutrina central de todo
protestanttismo”; e Lutero disse que a justificação pela fé é “o tema
principal do qual fluem todas as outras doutrinas”.
A justificação é a resposta de Deus sobre como uma pessoa pode se
tornar aceitável diante do Criador. Paulo, em sua epístola aos Romanos
demonstra que a justificação é um conceito jurídico ou forense (Rm
3.21-25), e tem o significado de “declarar justo”. É o ato de Deus
mediante o qual ele, em sua graça, declara justo o pecador, isentando-o
de qualquer condenação. Em outras palavras, isso significa que os
pecados de todos os eleitos foram imputados a Cristo, por isto ele sofreu
e morreu na cruz (1Pe 2.24; 2Co 5.21). Cristo foi feito legalmente
responsável pelos pecados daqueles que Deus de antemão elegeu. Nosso
redentor sofreu o justo castigo merecido pelos pecadores (Rm 6.23). Ao
morrer no lugar do pecador, Cristo satisfez as demandas da justiça de
Deus libertando os eleitos para sempre de toda possibilidade de
condenação ou castigo.
Louis Berkhof explica em sua Teologia Sistemática que a justificação é
uma sentença divina na qual Deus declara perdoado todo pecador que
crer em Jesus. Segundo ele, “a justificação é um ato judicial de Deus no
qual ele declara, baseado na justiça de Jesus Cristo, que todas as
exigências da lei estão satisfeitas com respeito ao pecador”. 25 A
justificação é o contrário de condenação. Ela é um ato único e legal que
remove a culpa do pecado e restaura o pecador à sua condição de filho
de Deus, com todos os seus direitos, privilégios e deveres. A justificação
não ocorre na vida do pecador, não produz mudanças no seu caráter, mas
no Tribunal de Deus. Justificação é uma declaração. Santificação é
transformação. Mas, é a partir da justificação que o Espírito Santo inicia
no pecador todo o processo de santificação, até a sua glorificação.
Vale a pena ressaltar que a justiça que nos justifica não está
relacionada a nós mesmos ou àquilo que fazemos ou deixamos de fazer.
É exclusiva obra de Cristo. Somente ele pôde satisfazer as demandas da
lei. Portanto, quando alguns dos fariseus modernos ensinam que além da
cruz torna-se necessário a observação de obras, estão ferindo a doutrina
da justificação pela fé que ensina que Cristo é nossa justiça e que pelo
seu sangue somos justificados. Martin Lloyd-Jones disse que o erro da
justificação pelas obras está em confiar na disciplina de sua própria alma
para salvar a si mesmo.
Caro amigo, a justiça de Deus, revelada no Novo Testamento, está
muito além das obras. A justiça que justifica o homem é a justiça
perfeita de Cristo, a qual cumpre completamente todos os requisitos da
lei a que os homens incondicionalmente estão obrigados a cumprir.
As Escrituras são claras em afirmar que salvação, a despeito de gratuita
para o pecador, teve um alto custo para Deus. Para nós a salvação não
custou absolutamente nada, no entanto, para Deus Pai custou à vida de
seu Filho. O apóstolo Pedro em sua primeira epístola nos ensina que
nossa justificação se deveu ao precioso sangue do cordeiro que, sem
defeito e mácula, foi vertido em favor de cada um de nós (1Pe 1.18,19).
Somos salvos por meio do sacrifício de Cristo, mediante o qual Deus
tomou a culpa do pecador atribuindo-a a Jesus. É por causa da morte do
Filho de Deus que a justiça divina foi imputada ao pecador. Jesus pagou
a pena em nosso lugar, e por isso nenhuma condenação há para aquele
que nele confia (Rm 8.33-35).
21. Declaração de Cambridge. Acessado em Junho de 2013 em:
http://www.monergismo.com/textos/credos/declaracao_cambridge.htm
22. Carta ao Reverendo Van Diesel, O tempora O mores , http://tempora-
mores.blogspot.com.br/2012/06/carta-ao-reverendo-van-diesel.html acessado em junho de 2013.
23. Sola Fide http://www.monergismo.com/textos/cinco_solas/sola_fide_settle.htm . Acessado
em Junho de 2013.
24. João Calvino. As Institutas da Religião Cristã (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2003)
3.11.1
25. Louis Berkhof. Teologia Sistemática (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2013)p. 510
solus chr1stus

Reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória


do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são
suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai.
Negamos que o evangelho esteja sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo
não estiver sendo declarada e a fé em Cristo e sua obra não estiver sendo
invocada. 26

O messianismo tem sido uma das principais marcas do


neopentecostalismo. Lamentavelmente, não são poucos os que tomaram
para si o papel de “ungido do Senhor”. Infelizmente, em cada canto
dessa nação, tornou-se comum encontrar pastores advogando que foram
escolhidos e chamados por Deus e que, por conta disso, são especiais. Se
isso não bastasse, as igrejas adeptas a este tipo de fé trazem a reboque
uma forte ênfase ao personalismo. Com raríssimas exceções, as
denominações neopentecostais usam e abusam da figura pública do
pastor. Na verdade, elas dependem exclusivamente do aparecimento de
personalidades carismáticas, cuja postura e comportamento impõem um
estilo populista sobre a comunidade da fé.
Infelizmente, inúmeros líderes evangélicos têm contribuído para esse
trágico culto à personalidade, alegando possuir virtudes e dons especiais,
atribuindo a si mesmos títulos como o de apóstolos , patriarcas , bispos
e outros tantos mais.
Os reformadores do século XVI, ao contrário dos simonistas pós-
modernos, contestaram este pérfido sistema no qual líderes eram tidos
como detentores de um poder espiritual especial. Para os apóstolos do
primeiro século, o que valia era o princípio bíblico de que todos os
crentes são sacerdotes de Deus e, portanto, são todos iguais diante dele
(1Pe 2.5,9; Ap 1.6). Há pouco tempo, soube que um dos “apóstolos”
tupiniquins, ao pregar na televisão sobre a Carta de Pedro, ousou afirmar
que, se ele pudesse conversar com Cefas, o corrigiria quanto a algumas
doutrinas por ele ensinada em sua epístola. Outro dia, um pastor amigo
meu, me contou que um colega de ministério, que se considera
“apóstolo”, liberou, mediante sua autoridade “apostólica”, outro pastor
da prática da oração e do jejum. Por esses dias fiquei sabendo que um
jovem pastor de uma igreja neopentecostal, ministerialmente
inexperiente e despreparado teologicamente, tomou para si o título de
bispo. Isso mesmo: ele agora é bispo!
A valorização de títulos eclesiásticos por parte dos evangélicos tornou-
se marca indelével de uma igreja desprovida de conhecimento teológico.
Além disso, a veneração dos neopentecostais direcionada a alguns dos
seus líderes é um tipo de idolatria falseada. Na verdade, para os adeptos
deste tipo de evangelho, os apóstolos, bispos e pastores são seres
mágicos, dignos de honra, capazes de operar milagres estupendos
satisfazendo suas necessidades pessoais. Outro dia, um irmão em Cristo
foi, em amor, exortar a sua mãe, frequentadora de uma conhecida igreja
neopentecostal. Na ocasião ele a repreendeu por estar fazendo do seu
bispo um tipo de deus. Para surpresa dele, sua querida mãe respondeu,
dizendo: “Não fale mal do bispo Fulano de Tal , pois para mim ele é a
mesma coisa que Deus”.
Infelizmente, em comunidades deste naipe, Cristo tornou-se
desnecessário ou, no máximo, um tipo de amuleto sagrado que, quando
manuseado pelos profetas de Jeová, cumpre sua obrigação de curar,
salvar e libertar os oprimidos, transferindo para o milagreiro a honra, a
majestade e a glória de ser um “representante” divino.
Caro leitor, como escrevi anteriormente, o catolicismo romano do
século XVI em muito se parece com o neopentecostalismo do século
XXI. Como sabemos, Roma afastou-se do evangelho extirpando a
centralidade da cruz e do Messias, transferindo o seu poder a Maria e
aos santos. Se não bastasse isso, Roma instituiu a figura do sacerdote
como vigário de Cristo, a quem devem ser confessados os pecados e a
quem supostamente foi conferido poder para perdoá-los, mediante a
prescrição de penitências. Ora, salvo algumas dessemelhanças, o
neopentecostalismo percorre o mesmo caminho. Para o movimento
neopentecostal, Cristo não é o personagem principal do drama da
salvação, e sim seus apóstolos e profetas. Na verdade, os fiéis deste tipo
de prática religiosa acreditam que os seus líderes possuem poder para
fazer o que quiserem em nome Deus. Nessa perspectiva, as Escrituras
são relegadas a segundo plano em favor de atos proféticos revelados
pelo Criador ao “supremo sacerdote”.
Há alguns anos, soube da história de uma moça que ao migrar de uma
igreja para outra foi amaldiçoada pelo pastor, que lhe disse que, caso não
se arrependesse e voltasse para a sua igreja, morreria de câncer. Ora, isso
não é cristianismo nem aqui nem na China. Sinceramente, eu não
consigo entender este tipo de evangelho que concede ao pastor um poder
quase que divino. Infelizmente, em nome de Deus, tais pessoas têm
rogado “pragas e desgraças” para aqueles que em algum momento da
vida se contraponham a seus sonhos, visões e vontade. Em certas igrejas,
a palavra “rebeldia” tem sido usada para todo aquele que foge dos
caprichos fúteis de uma liderança enfatuada. Em comunidades deste
tipo, discordar do pastor quase que implica com que o nome do
discordante seja “riscado” do Livro da Vida.
Pois é, tais líderes, afetados por uma percepção equivocada das
Escrituras, acreditam que possuem poder para interligar Deus aos
homens, representando o Criador diante da criatura. O problema é que os
pastores em questão esqueceram a inequívoca e inexorável verdade de
que Cristo é o único mediador entre Deus e os homens: “Há um só Deus
e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm
2.5), e “não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não
existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que
sejamos salvos” (At 4.12).
Vale a pena ressaltar que, por intermédio de Cristo, Deus nos concedeu
o sacerdócio universal. Por causa dele, não necessitamos de outro
sacerdote ou mediador entre nós e Deus. Por causa do sacrifício de Jesus
Cristo na cruz, cada um dos eleitos pode chegar-se a ele diretamente,
sem intermediários humanos. Em outras palavras, isso significa dizer
que não necessitamos de apóstolos, bispos ou qualquer outra “autoridade
eclesiástica” para nos relacionarmos com Deus. O sacrifício de Cristo na
cruz do Calvário nos dá livre acesso ao trono do Pai. Além disso, afirmo
também que a nossa salvação foi realizada exclusivamente pela obra
medianeira de Cristo Jesus e que a sua vida de obediência e sem pecado
e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e
reconciliação com o Pai.
A Reforma trouxe à Igreja o evangelho simples dos apóstolos, centrado
na suficiência e exclusividade da obra de Cristo para a salvação. A velha
confissão de Paulo foi a confissão da Reforma Protestante: “Porque
decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado”
(1Co 2.2).
Cristo é tudo em todos. Cristo é o centro da Escritura. Ele é o centro da
Profecia. Ele é o centro da Liturgia. Ele é a mensagem do evangelho. Ele
é o centro da nossa devoção. Ele é o centro da nossa fé.
Isto posto, jamais esqueçamos que a mensagem pregada pelos
apóstolos, pelos Pais da Igreja e pelos reformadores era exclusivamente
cristocêntrica. Foi nosso Senhor que declarou: “Eu sou o caminho, a
verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6).
OS BENEFÍCIOS DE UM EVANGELHO CRISTOCÊNTRICO.
Infelizmente, um número incontável de líderes neopentecostais possui
uma visão completamente distorcida de quem seja Jesus. Há pouco
tempo, um famoso “apóstolo” afirmou que Jesus não é eterno e que foi
criado por Deus. Para o religioso em questão, Jesus não pode ser
colocado no mesmo patamar que o Pai, visto que num tempo
estabelecido na eternidade, fora criado. Ao afirmar isso, ele incorreu na
velha heresia ariana, que afeta também os testemunhas de Jeová.
O arianismo vem de Árius, ou Ário, um mestre da Igreja do início do
século IV que questionou a coeternidade e divindade de Cristo, fazendo
questionamentos tais como: “Era Jesus verdadeiramente Deus em carne
ou era Jesus um ser criado? Era Jesus Deus ou apenas como Deus?” Ário
defendia a ideia de que Jesus foi criado por Deus como o primeiro e
mais importante ato da Criação. O arianismo, então, é a crença de que
Jesus era um ser criado com atributos divinos, mas não era divindade em
si mesmo.
A história relata que a Igreja oficialmente denunciou o arianismo como
uma doutrina falsa. O Concílio de Nicéia, em 325, pôs fim à heresia
ariana. Desde então, o arianismo nunca mais foi aceito como uma
doutrina viável da fé cristã. No entanto, o Arianismo nunca morreu, mas
tem continuado pelos séculos, de várias formas diferentes, o que
nitidamente se percebe na visão distorcida por parte de alguns líderes
neopentecostais.
Ouso afirmar que a visão diminuída e apequenada de quem seja o Filho
de Deus, aliada a uma percepção superdimensionada e personalista de
um líder religioso, tem contribuído em muito para o adoecimento da
igreja evangélica brasileira. Na verdade, em alguns dos arraiais
neopentecostais, Cristo não tem sido anunciado como Soberano Deus e
sim como aquele que obedece às ordens, determinações e decretos
espirituais emitidas pelos “ungidos do Senhor”. Outro dia, um famoso
“apóstolo” compartilhou publicamente uma visão que teve. Ele afirmou
que fora arrebatado ao terceiro céu, e que num determinado momento
enquanto conversava com o Pai, Jesus se aproximou falando alguma
coisa. O Pai, ao ver que Cristo estava atrapalhando a sua conversa com o
dito apóstolo, interrompeu-o dizendo: Filho, agora não! Não vê que eu
estou conversando com Fulano?
Pois é, salvo exceções, (mesmo porque, acredito que nem todos os
pastores neopentecostais pensem desta forma) creio que boa parte dos
chamados “apóstolos” acreditam que são especiais. Na verdade, os
ensinamentos de muitos destes apontam para uma visão distorcida de
quem é o Cristo das Escrituras.
Vivemos um tempo em que é urgentemente necessário resgatarmos os
valores bíblicos e teológicos quanto àquilo que a Bíblia ensina sobre
quem é o Filho de Deus. Além disso, acredito que mais do que nunca
necessitamos retornar ao evangelho da salvação eterna, cujo foco
principal é Cristo, pregando sobre suas virtudes, atributos e deidade.
Pois uma igreja centrada em Cristo, desfruta de crescimento espiritual
significativo:

1 - Uma igreja que prega Cristo, sua divindade, eternidade e soberania,


vivencia uma visão saudável de quem é o Filho de Deus.
Uma igreja cujo foco do púlpito seja Cristo, experimenta em todas as suas
dimensões saúde espiritual. Pois quando Cristo é pregado, torna-se impossível
que qualquer coisa ou pessoa tome o lugar que é dele de direito. Quando Cristo
é anunciado, as vozes da vanglória se calam, os gemidos da arrogância
desaparecem e a prepotência dos pregadores silencia diante de tão majestosa
presença.

2 - Uma igreja que prega Cristo, entende que a salvação não se dá por
ações místicas proferidas por profetas “especiais”.
Quando Cristo é pregado e anunciado como único e suficiente Salvador, o foco
é tirado do homem e transferido exclusivamente para Deus. Ora, por mais
piedoso que seja o pregador, por mais carismático que seja o pastor, estes não
possuem poder suficiente para salvar o homem da condenação eterna.

3 - Uma igreja que prega a Cristo, deixa de ser personalista.


O neopentecostalismo traz em seu bojo uma forte ênfase ao individualismo.
Com raríssimas exceções, as denominações neopentecostais usam e abusam da
figura pública do pastor, fazendo dele uma espécie de sacerdote, de pontífice
entre o céu e a terra, entre Deus e os homens. Esses homens são considerados
diferentes dos demais e a sua palavra é cheia de autoridade e poder. Mas
quando Cristo é pregado, os homens saem de cena. Quando Cristo é
anunciado, o senso de João Batista assume lugar: “Importa que ele cresça e eu,
diminua” (Jo 3.30).

4 - Uma igreja que prega Cristo, abandona o sincretismo.


O neopentecostalismo brasileiro tem por características o misticismo e a
superstição. Basta olharmos para algumas destas igrejas que perceberemos
com facilidade a miscigenação de fé. Na verdade, o comportamento de
algumas dessas comunidades cada vez mais se aproxima dos rituais pagãos.
Lamentavelmente, em alguns dos denominados templos evangélicos é comum
encontrar verdadeiras aberrações teológicas. Outro dia fiquei sabendo de uma
igreja que estava distribuindo, mediante “módica” contribuição, o óleo da
prosperidade, ou seja, os que adquirissem o óleo abençoado pelo “apóstolo”
alcançariam prosperidade e bênçãos da parte do Senhor. Mas quando Cristo é
pregado e anunciado como o único capaz de salvar o homem de seus delitos e
pecados, todo tipo de misticismo e sincretismo é abandonado. Ouso afirmar
que existe uma enorme incompatibilidade entre o evangelho da salvação
eterna, cujo foco é Jesus, e esse evangelho estranho, anunciado pelos apóstolos
da modernidade, cujo foco é a prosperidade e a satisfação humana.

5 - Uma Igreja que prega Cristo, rejeita o ecumenismo


Não possuo a menor dúvida em afirmar que ecumenismo não é bíblico. Na
verdade ele afronta a Deus, sua Palavra, seu único Filho, sua Igreja e ao
Espírito Santo. Uma igreja que prega que a salvação se dá somente por Cristo,
não correrá o risco de cair nessa esparrela do diabo. As Escrituras afirmam que
somente Cristo salva. Ele é o único e verdadeiro Deus, Rei dos reis, Senhor do
universo, o Todo-Poderoso. O ecumenismo afronta as verdades bíblicas
simplesmente porque ensina que todas as pessoas, independente do credo ou
religião que professam, serão salvas em nome do amor. Ora, as Escrituras
ensinam que Jesus é o caminho, a verdade e a vida e quem ninguém pode ir ao
Pai senão por ele (Jo 14.6).

6 - Uma Igreja que prega Cristo, jamais pregará a salvação pelas obras
É impressionante a quantidade de igrejas que acreditam que Deus salva os
homens não por graça, mas por mérito. Há pouco tempo soube de um pastor
que estava ensinando que se alguém deseja ver um membro da sua família
salvo, teria de pagar um preço por isso. Para o pastor, o valor da salvação do
ente querido está relacionado a horas de jejum e oração. Segundo ele, Deus se
vê obrigado a salvar alguém quando agimos desta forma. Lamentavelmente,
existe um número cada vez maior de pessoas em nossas igrejas que acreditam
que, por meio de seus méritos, vidas serão salvas. Caro amigo, nada que
façamos pode agradar a Deus. Obras de caridade, amor ou filantropia não
podem salvar ninguém. É um terrível equívoco achar que através das nossas
ações Cristo salvará o homem da morte eterna. As Escrituras afirmam que a
salvação que nos libertou do império das trevas, que nos arrancou da
condenação à morte, que nos deu a liberdade não foi adquirida por mérito
humano, mas totalmente pela graça de Deus em Cristo Jesus. Trata-se de um
presente de Deus para os eleitos.

Por isso, afirmamos um dos lemas dos reformadores: “Solus Christus


”. Somente Cristo. A salvação está em Cristo somente. A vida de
plenitude está em Cristo somente. O reino porvir, em Cristo somente.
Que Cristo seja glorificado. Importa que ele cresça e todos nós
diminuamos.
26. Declaração de Cambridge. Acessado em Junho de 2013 em:
http://www.monergismo.com/textos/credos/declaracao_cambridge.htm
sol1 deo glor1a

Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para
a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida
inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória
somente.
Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for
confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho
em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-
estima e a auto-realização se tornem opções alternativas ao evangelho. 27

É comum encontrarmos em algumas estruturas neopentecostais a


supervalorização do pastor. Na verdade, para muitos o líder religioso
merece ser honrado e tratado de forma especial, com aplausos, oferendas
e atos venerativos. Em certa ocasião, numa capital do nordeste do país,
em meio a uma cruzada evangelística de um famoso pastor, via-se na
cabeça de centenas de pessoas bandanas coloridas e purpurinadas com o
nome do tal pregador.
Lamentavelmente, para alguns dos adeptos do neopentecostalismo o
pastor “milagreiro” é merecedor de especiais elogios, visto que “através”
dele as bênçãos de Deus veem sobre suas vidas. Nesse contexto é
possível encontrarmos milhares de pessoas venerando bispos, pastores e
apóstolos. Um exemplo claro é quando a imprensa noticiou a história de
alguns neopentecostais que por amor e devoção aos seus líderes
tatuaram os seus nomes em seus corpos.
Caro leitor, os reformadores acreditavam que toda a glória e louvor
pertencem exclusivamente a Deus. Isso significa que ninguém, nem
homens nem anjos, devem ocupar o lugar que pertence ao Criador. É
exatamente isso que determina o primeiro mandamento: “Eu sou o
SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.
Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.1-2).
Estou debaixo da impressão que parte do movimento evangélico
brasileiro, especialmente entre os neopentecostais, trata seus líderes
como se fossem semideuses. Para alguns, os apóstolos da modernidade
são praticamente infalíveis. Certa feita, num programa de televisão,
assisti um “testemunho” de uma senhora que exaltava o líder da sua
igreja por causa do “milagre” recebido. Para ela, ainda que
inconscientemente, a “bênção” só lhe foi outorgada porque o tal apóstolo
assim desejou.
Prezado amigo, ninguém, absolutamente ninguém, tem o direito de
tomar para si a glória de Deus. Ele deve ser o único foco da nossa
adoração! Ele é o motivo do nosso louvor. Aliás, a adoração e a música
entoada por alguns dos evangélicos têm sido motivo de muita
preocupação. Tenho visto em nossos “arraiais” uma enorme quantidade
de “artistas” ministrando canções cujo foco não é o Senhor. Tem gente
cantando para afrontar o diabo, para homenagear pastores, para
entretenimento próprio e muito mais.
Pois bem, ao contrário do que alguns praticam, o verdadeiro
protestantismo defende que a glória de Deus é o fim para o qual ele
criou todas as coisas. Não é só o fim principal do homem, mas o fim de
todas as coisas. É o fim do próprio Deus, como bem afirma John Piper 28
. Do ponto de vista bíblico, Deus é glorificado em tudo e em todas as
coisas. Somos salvos para a glória de Deus, pregamos o evangelho para
a glória de Deus, vivemos em comunidade para a glória de Deus,
casamos e temos filhos para a glória de Deus, estudamos e trabalhamos
para a glória de Deus. Tudo aquilo que somos e temos nos foi dado para
que vivêssemos para a glória de Deus. Além disso, a missão prioritária
da Igreja é glorificar seu Senhor. Nosso Deus tem por objetivo e desejo
que o seu santo e excelso nome seja glorificado em nossos púlpitos,
vidas e ministérios.
João Calvino disse que 29 o desejo de Deus é que a “sua glória seja
manifesta ao seu povo”. Aliás, a glória de Deus era um dos assuntos que
mais mexia com o reformador francês. Verdadeiramente Calvino tinha
zelo pela glória de Deus.
Na Inglaterra do século XIX existiram grandes pregadores, dentre estes
Joseph Packer e Charles Haddon Spurgeon. Conta-se que num domingo
um grupo de irmãos em Cristo resolveu visitar as igrejas pastoreadas por
esses líderes. Pela manhã foram à igreja liderada por Packer e quando de
lá saíram falavam uns com os outros: “Que pregador maravilhoso”. À
noite, o grupo se dirigiu ao Tabernáculo Batista Metropolitano para
ouvir Spurgeon. Ao final do sermão, extasiados disseram: “Que Deus
maravilhoso foi esse anunciado pelo pregador”.
Ao contrário de Spurgeon, não são poucos os pastores que chamam
para si a atenção dos ouvintes. Falam espalhafatosamente, contam
vantagens, anunciam seus feitos, enaltecem seus próprios nomes
advogando para si algo que não lhes pertence. Diferentemente destes, os
puritanos temiam pecar contra Deus, e, em virtude disso, jamais falavam
de si mesmos no púlpito. O próprio Spurgeon, com o passar dos anos e
com a chegada do amadurecimento, mudou o seu modo de pregar
evitando exagerar nos gestos bem como nas frases mais jocosas.
Spurgeon também afirmava que “nada deveria ser o alvo do pregador a
não ser a glória de Deus através da pregação do evangelho da salvação”.
Em outras palavras, o Príncipe dos Pregadores acreditava que a pregação
deveria ser absolutamente teocêntrica.
John Piper, ao escrever 30 sobre a glória de Deus, afirmou que a
doutrina da depravação total é absolutamente bíblica. Ele disse que tudo
aquilo o que um incrédulo faz é pecaminoso e, que em virtude disso, ele
se torna inaceitável diante de Deus. Para tanto, Piper se baseia no texto
de 1Coríntios 10.31 que diz “Portanto, quer comais, quer bebais ou
façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. À luz
desse texto, Piper defende que aquele que come ou bebe ou faz qualquer
coisa que não seja para a glória de Deus, peca contra o Senhor. Em
outras palavras, ele está afirmando que o pecado não é apenas uma lista
de coisas nocivas como adultério, assassinato e roubo. Pecado é mais do
que isso. Pecado é deixar Deus de lado nos assuntos corriqueiros da
vida.
Prezado amigo, as Escrituras declaram enfaticamente que “por causa
dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas” (Rm 11.36). Ao
concluir sua epístola aos Romanos, Paulo, louva ao Senhor com estas
palavras: “Ao Deus único e sábio seja dada glória, por meio de Jesus
Cristo, pelos séculos dos séculos. Amém!” (Rm 16.27).
A glória de Deus é um assunto tão importante nas Escrituras que ela foi
o tema do cântico dos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos
anciãos, e de todas as criaturas que João ouviu em suas visões:

Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e


força, e honra, e glória, e louvor; e: Àquele que está sentado no trono e ao
Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos
séculos; e, ainda: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro,
pertence a salvação...O louvor, e a glória, e a sabedoria, e as ações de graças, e
a honra, e o poder, e a força sejam ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos.
Amém! (Ap 5.12-13; 7.10-12).

A Bíblia é clara em ensinar que o objetivo final de Deus é glorificar a


si mesmo por meio de tudo que criou. Deus é glorificado na sustentação
do cosmos, na manutenção da vida, na salvação dos eleitos, na
condenação dos réprobos e no juízo final.
O Catecismo Maior de Westminster afirma que “o fim supremo e
principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”. Ora,
viver para a glória de Deus deve ser o desejo de todo aquele que nasceu
de novo e que, pela graça, entendeu que fora de Cristo encontrava-se
morto em seus delitos e pecados e que devido às suas transgressões
estava condenado ao inferno (Rm 3.23; 6.23). Contudo, o Senhor, pela
sua bondade, compaixão e misericórdia abriu os seus olhos, fazendo-o
entender que a salvação deve-se exclusivamente a Cristo (Ef 2.1-8).
Caro leitor, fomos criados por Deus para sua glória e louvor. Que
doutrina maravilhosa é essa, não é verdade? Quando entendemos isso,
imediatamente rechaçamos as doutrinas neopentecostais que colocam o
homem no centro de todas as coisas, em vez de Deus. O eterno,
soberano, o Rei dos reis, e não os nossos interesses deve ser o centro da
nossa vida. Vivemos para ele e não para nós mesmos. Fomos criados
para o seu louvor, somos sustentados para a glória do seu nome,
portanto, qualquer outro propósito na vida que não seja a glória de Deus
afronta os desígnios do Criador.
O NEOPENTECOSTALISMO E A GLÓRIA DE DEUS.
Boa parte dos ensinos neopentecostais se fundamentam na premissa de
que Deus deseja fazer o homem feliz, e que, para tanto, ele oferece a
todos aqueles que dele se aproximam uma série de bênçãos. Para o
neopentecostalismo, de forma geral, Deus não está no centro da vida e
de todas as coisas e sim o homem. O foco do culto, da existência, do
cotidiano não é a gloria de Deus e sim a satisfação humana. Essa
afirmação pode ser claramente atestada pelos ensinos, cultos e práticas
neopentecostais, senão vejamos:

1 - A música entoada nos cultos neopentecostais não visa a glória


de Deus e sim a satisfação das necessidades humanas.
A esmagadora maioria dos denominados cultos neopentecostais
dedicam muito mais tempo à música do que qualquer outra coisa.
Infelizmente, os louvores cantados em suas reuniões são extremamente
antropocêntricos, o que nitidamente se percebe em seus encontros
congregacionais. Se fizermos uma análise das liturgias dessas
comunidades, chegaremos à conclusão que boa parte das canções
entoadas são feitas na primeira pessoa do singular ou na primeira pessoa
do plural e letras prioritariamente reivindicam as bênçãos de Deus.
Sem sombra de dúvidas, vivemos dias complicadíssimos onde o Todo-
poderoso foi transformado em gênio da lâmpada mágica, cuja missão
prioritária é promover satisfação aos crentes. Diante disto, precisamos
rogar ao Senhor pedindo a ele que nos livre definitivamente desse
louvor, filho bastardo da indústria mercantilista gospel, o qual nos tem
empurrado goela abaixo conceitos e valores anticristãos cujo objetivo
final não é a glória de Deus, mas a satisfação dos homens.
2 - A palavra pregada em muitos púlpitos neopentecostais tem por
objetivo o entretenimento, a satisfação pessoal e a prosperidade do
fiel.
O que mais se ouve na grande maioria dos púlpitos neopentecostais são
afirmações triunfalistas do tipo: “você vai obter vitória”, “você é um
vencedor”, “tome posse da bênção”, “use a palavra para trazer à
existência as coisas que não existem”, “Deus quer lhe fazer feliz”, “você
é cabeça e não cauda” e muito mais.
Repare que o foco das mensagens pregadas pelos pastores, bispos e
apóstolos neopentecostais concentra-se na satisfação do homem e não na
glória de Deus. Na verdade, esses pregadores fazem dos seus púlpitos
instrumentos únicos e exclusivos de uma doutrina cujo foco não é
exaltação do Senhor e sim a alegria do homem.

3 - A liturgia neopentecostal é centrada no homem e em momento


algum visa a gloria de Deus.
A liturgia neopentecostal é eminentemente ensimesmada e
antropocêntrica. Da oração de abertura do culto à bênção apostólica, o
foco está efetivamente no homem. No culto neopentecostal, orações são
feitas visando bênçãos, louvores são entoados na expectativa que
milagres aconteçam, ofertas são alçadas no desejo de enriquecimento e a
palavra é pregada para satisfação do freguês. Infelizmente os pastores
neopentecostais acreditam que Deus os colocou na terra para que
pudessem ser felizes e ter realização pessoal. Todavia, não é isso o que
as Escrituras ensinam. Na verdade, a Bíblia nos adverte ao dizer que
fomos criados para a glória de Deus.
O profeta Isaías afirmou com propriedade a respeito da vocação final
do homem: “Todo o que é chamado pelo meu nome, a quem criei para a
minha glória, a quem formei e fiz” (Is 43.7).
Cristo nos salvou graciosamente e o fato dele ter feito isso sem
nenhum mérito nosso deveria causar em cada um de nós o desejo de
viver para a sua glória. Estávamos perdidos e fomos achados, éramos
cegos e ele abriu os nossos olhos, estávamos mortos e ele nos deu vida,
estávamos condenados e fomos salvos.
COMO VIVER PARA A GLÓRIA DE DEUS?

1 - Não “departamentalizando” a vida, instituindo o dualismo


como regra de fé.
Um dos equívocos do neopentecostalismo é a prática do dualismo. Para
os neopentecostais, tudo aquilo que está relacionado a Deus ou ao culto
pode ser considerado santo. Assim, ir ao templo, entoar louvores ou
frequentar a igreja glorifica ao Senhor. Por outro lado, tudo aquilo que
não tenha a aparência de “piedade” deve ser tratado como profano.
Nesse contexto, ir ao cinema, ouvir música “do mundo” ou assistir a um
jogo de futebol entristece a Deus e agrada o diabo.
Infelizmente os que pensam desse jeito atribuem o bem a Deus e o mal
a Satanás. Para eles o mundo se divide em duas partes, cujos
governantes são Deus e Satã. Os que creem nisso, ensinam que tanto
Deus como o Diabo, possuem poderes independentes, e como titãs que
são, lutam pelo domínio do universo. Para estes, o mundo também foi
dividido entre o bem e o mal, cujos ambientes apontam para o domínio e
senhorio de Deus ou do Diabo. Nesta perspectiva, o templo é santo, o
teatro é pagão, a casa de show, lugar de promiscuidade, e o estádio de
futebol é a morada do capeta.
Caro leitor, ouvir boa música secular, assistir a um jogo no estádio, ou
torcer por um clube de futebol não é pecado, e nem tampouco ofende ao
Criador. Essas coisas são fruto da graça comum de Deus e fazem parte
de seu mandato cultural. As Escrituras nos ensinam que somos seres
inteiros e livres, e, como tais, somos chamados a viver uma vida
devocional equilibrada e saudável. Lamentavelmente o dualismo dos
evangélicos “budificou” a existência, transformando qualquer atividade
que se faça fora da igreja em pérfida e sem “graça”. Sem que
percebamos, parte da Igreja de Cristo demonizou todo tipo de lazer,
excluindo da agenda da fé qualquer atividade que possa implicar em
risos, festas e celebração.
Mas Cristo não nos escraviza nem tampouco nos aprisiona em um
mundo burrificado onde a vida é “departamentalizada”. Antes, por sua
graça somos feitos livres e não precisamos mais viver manietados a
dogmas e conceitos do farisaísmo moderno. O ensino bíblico contrapõe-
se em muito ao dualismo neopentecostal. Paulo nos adverte a fazermos
tudo para a glória de Deus. Em outras palavras, isto significa que
glorificar a Deus vai além de entoar cânticos espirituais, ou conjugar
com propriedade o “evangeliquês”. Para Paulo, Deus deve ser
glorificado em tudo que fazemos (1Co 10.31), isto é, no relacionamento
entre marido e mulher, na relação entre pais e filhos, no ambiente de
trabalho, na faculdade, no campo de futebol, na igreja, nas conversas
com amigos, nas relações interpessoais, nas amizades, naquilo que
assistimos na televisão ou internet, nos momentos de lazer e muito mais.

2. Deus deve ser honrado em tudo aquilo que fizermos.


Deus deve ser honrado, reverenciado e respeitado em tudo que
fazemos. Isso significa que nossas ações e pensamentos devem honrar a
Deus (Sl 19.14). Essa afirmação me faz lembrar um famoso episódio
ocorrido com Charles Spurgeon: Em 1874, a revista Christian World
relatou uma curiosa disputa de ideias entre Dwight Moody e Spurgeon,
ocorrida quando ambos estavam em um culto. Pentecost incluiu em seu
sermão um relato apaixonado sobre como obedeceu ao chamado de
Deus para deixar de fumar, algo que parecia atrapalhar sua busca por
santidade. Muitos viram neste testemunho uma pacífica provocação a
Spurgeon, conhecido por gostar de fumar charutos. Logo depois da fala
de Moody, o pastor do Tabernáculo Batista Metropolitano subiu ao
púlpito e disse: “Bem, caros amigos, vocês sabem que alguns homens
podem fazer para a glória de Deus o que para outros homens seria
pecado. Apesar do que nos relatou o irmão Moody, eu pretendo fumar
um bom charuto para a glória de Deus antes de ir para a cama hoje à
noite. Se alguém puder me mostrar na Bíblia o mandamento: “Não
fumarás”, estou pronto a obedecê-lo, mas ainda não o encontrei.
Conheço apenas dez mandamentos, e faço o possível para guardá-los.
Não tenho vontade alguma de transformá-los em onze ou doze”.
Antes de qualquer coisa, vale a pensa ressaltar que não estou
incentivando ninguém a desenvolver o vício do fumo, mesmo porque
considero o cigarro ou qualquer similar como extremamente prejudicial
à saúde. Quanto a Spurgeon, o que se sabe é que ele acreditava que essa
prática era benéfica para o seu já então debilitado organismo. O médico
de Robert Hall, o famoso pregador da igreja Batista da Rua de St.
Andrew, em Cambridge, lhe havia ordenado que se tornasse fumante,
isso sem falar, é claro, que na época a prática do fumo não era vista de
forma negativa pela sociedade e os estudos quanto aos melefícios do
fumo sequer existiam. O ponto aqui é o legalismo moralista versus uma
atitude sincera de busca por santidade e purificação de pecados. Qual
deles glorifica a Deus?
Spurgeon através do seu discurso nos adverte que tudo aquilo que
fazemos ou fizermos em nossa vida deve ter por motivação a glória de
Deus; e a ética dos dez mandamentos glorifica a Deus. Portanto, o
cristão não tem o direito de dualizar nem tampouco “satanizar” a
existência. Muito pelo contrário, é obrigação do cristão sempre
perguntar, à luz das Escrituras, se aquilo que pretende fazer glorifica e
exalta o nome de Deus.
Esse era o espírito dos reformadores com o lema “Soli Deo Gloria”.
Eles viviam perante a face de Deus e em todas as coisas atribuíam glória
somente a ele. A glória somente a Deus é um verdadeiro antídoto contra
essa conduta egocêntrica que tem sido uma característica marcante de
nossos dias.
27. Declaração de Cambridge. Acessado em Junho de 2013 em:
http://www.monergismo.com/textos/credos/declaracao_cambridge.htm
28. John Piper. Desiring God (Leicester: Inter-varsity Press, 1990) p. 13
29. João Calvino. Calvin Commentaries on the Isaiah (Grand Rapids, MI: Baker Books, 1998) p.
326
30. John Piper. Penetrado pela Palavra (São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2005) p. 27
um ant1doto

O Retorno ao Estudo Bíblico.

Acredito que um dos motivos que contribuiu para que parte da igreja
evangélica brasileira se perdesse nas últimas quatro décadas se deve ao
fato de ter negligenciado o ensino da Palavra de Deus. Na verdade,
diversas igrejas com intuito de multiplicarem o número de discípulos,
abandonaram as doutrinas da graça em favor de métodos pragmáticos de
se encher os templos.
Lembro que alguns anos atrás, os chamados cultos de doutrina ficavam
abarrotados de pessoas desejosas em aprender as verdades das
Escrituras. E a Escola Bíblica Dominical? Classes e mais classes lotadas
de irmãos ávidos por crescerem no conhecimento do Senhor. Aliás,
existe um número incontável de pessoas nas igrejas neopentecostais que
não sabem o que é uma Escola Bíblica Dominical.
O que chamamos de Escola Bíblica Dominical 31 teve como fundador o
jornalista Robert Raikes (1735-1811). Raikes era natural da cidade de
Gloucester, Inglaterra, e em 1757, aos vinte e dois anos, sucedeu o pai
como editor do Gloucester Journal, um periódico voltado para a reforma
das prisões. Nesta pequena cidade inglesa, onde vivia, a delinquência
infantil era um problema que parecia insolúvel. Menores trabalhavam
em minas de carvão de segunda a sábado, tinham pouca ou nenhuma
escolaridade, comportavam-se mal e envolviam-se em todo tipo de
delitos e confusões. Raikes, preocupado com o que via, começou a
convidar os pequenos transgressores para que se reunissem todos os
domingos para aprender a Palavra de Deus.
A idéia de Raikes rapidamente se alastrou pelo país. Apenas cinco anos
mais tarde, em 1785, foi organizada em Londres uma sociedade voltada
para a criação de escolas dominicais. Um ano depois, cerca de 200.000
crianças estavam sendo ensinadas em toda a Inglaterra. No princípio os
professores eram pagos, mas depois passaram a ser voluntários. Da
Inglaterra a instituição foi para o País de Gales, Escócia, Irlanda e
Estados Unidos.
No Brasil, a Escola Bíblica Dominical foi fundada pelos
Congregacionais Robert e Sarah Kalley, em Petrópolis, no dia 19 de
agosto de 1855. Sarah Kalley havia sido grande entusiasta desse
movimento na sua pátria, a Inglaterra. A primeira escola dominical
presbiteriana foi iniciada pelo Rev. Ashbel Green Simonton, em maio de
1861, no Rio de Janeiro. Reunia-se nos domingos à tarde, na Rua Nova
do Ouvidor.
Mais de 150 anos se passaram desde que os Kalley organizaram a EBD
no Brasil, e de lá para cá muita água passou debaixo da ponte. Sem
titubeios afirmo que inúmeras gerações foram impactadas pelo ensino
das doutrinas da graça nas salas de aula das escolas dominicais,
esparramadas pelo nosso imenso território nacional. Hoje, todavia, os
que outrora pregavam sobre a importância da EBD não o fazem mais.
Para piorar a situação, os crentes optaram por fazer do domingo um dia
exclusivo para lazer, deixando em segundo plano o estudo da Palavra de
Deus.
Ouso afirmar que a igreja do século XXI é menos preparada e
qualificada a explicar a razão da sua fé aos incrédulos do que as
gerações passadas. Como já escrevi anteriormente em meu livro
“Cristianismo ao gosto do Freguês”, parte da igreja brasileira prefere
shows e entretenimento gospel a dedicar tempo estudando a Bíblia numa
escola dominical.
A consequência direta disso é a multiplicação de doutrinas espúrias,
cujo conteúdo anula as doutrinas da graça. Nessa perspectiva, a salvação
foi relativizada, e a graça de Deus comercializada.
Tenho percebido que em vários lugares deste país, as igrejas
abandonaram o hábito de se reunirem aos domingos em Escola Bíblica
Dominical. Segundo os pastores que mudaram as rotinas eclesiásticas de
suas comunidades, as razões para tal se devem ao novo mundo em que
vivemos, que por motivos óbvios exige mais dos seus cidadãos, o que
impossibilita a ida do crente à igreja para estudar as Escrituras.
Bom, até entendo que o mundo é outro, e que a vida se tornou corrida
demais, todavia, será que o fato de negligenciarmos o ensino bíblico não
aponta para uma inversão na escala de valores do cristão? Será que a
pós-modernidade e os conceitos do hedonismo não têm contribuído
diretamente para a existência de um cristianismo mais light onde o que
importa é o desenvolvimento de uma relação com um Cristo bonachão?
Com o movimento gospel? Não tem ele contribuído para a banalização
da fé em Cristo?
Caro leitor, tenho plena convicção de que a Igreja de Cristo precisa
regressar à Palavra. Para tanto, torna-se indispensável que reconheçamos
que não nos será possível construirmos um cristianismo relevante em
nosso país sem que conheçamos as principais doutrinas cristãs.
Outro dia estava a conversar com um pastor que me contou sobre uma
entrevista que fez com uma jovem, membro de sua igreja. Num
determinado momento ele perguntou a moça: “Fulana, para você quem é
Jesus”? E ela respondeu dizendo: “Ah! Jesus é um cara maneiro, Jesus é
10! Ele é meu amigão”. Não satisfeito com a resposta da garota, ele
indagou novamente: “Fulana, acho que você não entendeu o que
perguntei, quem é Jesus para você? Por exemplo, ele é Deus, disse o
pastor. Num ato de surpresa a menina respondeu: “O que? O senhor está
brincando? Jesus é Deus? Eu morreria e não saberia disso”. Pois é, essa
menina era filha de um dos diáconos mais antigos da igreja, e não sabia
quem era Jesus.
Uma igreja que negligencia o estudo sistemático da Bíblia está
negociando o que não se pode negociar. Em virtude do fraco ensino
bíblico, as nossas comunidades evangélicas têm colhido frutos
estragados. Hoje, em virtude do abandono das Escrituras tornou-se
comum encontrarmos cristãos defendendo o unitarismo, o modalismo,
arianismo, o dualismo e tantas outras heresias mais.
Oro na expectativa de que os pastores da Igreja Evangélica Brasileira
não negligenciem a Escola Bíblica Dominical, ao contrário, que eles
incentivem os membros de suas comunidades locais a dedicarem suas
vidas ao estudo da Palavra de Deus, até porque, agindo assim evitaremos
alguns desvios doutrinários e comportamentais.
31. Alderi de Souza Matos. Pequena História da Escola Dominical em
http://www.mackenzie.br/6980.html acessado em Junho de 2013.
perguntas e respostas do blog renato vargens

Nesta seção, selecionei 15 temas, na forma de perguntas e respostas,


que evidenciam o estado de enfermidade espiritual e cegueira teológica
de grande parte do movimento neopentecostal brasileiro. É apenas uma
amostragem. Nosso ambiente evangélico neopentecostal se encheu tanto
de esquisitices e práticas estranhas ao ensino bíblico que é praticamente
impossível acompanhar todas as novidades e invenções que surgem aos
borbotões quase que diariamente.
Os problemas que aponto aqui causam-me grande aflição e é com
tristeza que eu os denuncio. Procuro demonstrar que essas práticas
fazem mal à causa do reino, ao cristão e à igreja evangélica brasileira.
Procuro também oferecer algumas direções e respostas bíblicas como
antídoto dessas práticas.
Preciso também registrar que o tom de minhas denúncias é conciliador.
Meu sincero desejo é que aqueles que estão envolvidos em algumas
dessas práticas percebam pela persuasão do Espírito de Deus nas
Escrituras que estão errados, que desagradam a Deus e que precisam se
arrepender e se voltar para a Palavra.

1. Existem apóstolos nos dias de hoje?


Nunca se viu tantos apóstolos como neste início de século. Em cada
canto, esquina e cidade encontramos alguém reivindicando o direito de
ser chamado de apóstolo.
Entendendo o movimento de restauração e o movimento apostólico:
O chamado movimento de restauração defende a tese de que Deus está
restaurando a igreja. Para estes, após a morte dos primeiros apóstolos, a
igreja de Cristo paulatinamente experimentou um processo de declínio
espiritual culminando com a apostasia vivenciada pelos seus adeptos no
período da idade média.
Com o advento da Reforma Protestante, os defensores desta teologia
afirmam que Deus começou a restaurar a saúde da igreja. Segundo estes,
Lutero foi responsável pela redescoberta da salvação pela graça, e agora
no século XXI, estamos vivendo a restauração do ministério apostólico.
Os teólogos desta linha de pensamento afirmam que a restauração dos
apóstolos é uma das últimas coisas a serem feitas pelo Senhor, antes de
sua vinda. Para os adeptos desta linha de pensamento, os apóstolos de
hoje possuem, em alguns casos, maior autoridade do que os apóstolos do
primeiro século, até porque, para os defensores desta corrente teológica
a glória da segunda casa será maior do que a primeira.
Para estes o ministério apostólico não acabou. Na verdade, tais
teólogos advogam que o ministério apostólico é perpétuo e que o livro
de Atos ainda continua a ser escrito por santos homens de Deus, os
quais, mediante a sua autoridade apostólica, agem em nome do Senhor.
Este movimento tem suas semelhanças com o surgimento dos
mórmons e a Igreja dos Santos dos Últimos Dias, que ensina que o corpo
de escritos inspirados por Deus não se fechou e que Deus tem muita
coisa nova para dizer e para revelar aos seus santos através de seus
apóstolos.
Infelizmente, assim como os mórmons, os adeptos do movimento
apostólico consideram a Bíblia uma fonte importante, mas não única
para a fé. Para os apóstolos deste tempo, Deus, através de seus profetas,
pode revelar coisas novas, ainda que isso se contraponha a sua Palavra.
Basta olharmos para as doutrinas hodiernas que chegaremos à conclusão
que os apóstolos do século XXI, acreditam que suas revelações são
absolutamente diretivas, normativas e inquestionáveis.
Segundo a bíblia quais deveriam ser as credenciais de um apóstolo?
1. O apóstolo teria de ser testemunha do Senhor ressurreto.
Em Atos vemos os apóstolos reunidos no cenáculo, conversando sobre
quem substituiria Judas. Em Atos 1.21-22 lemos: “É necessário pois,
que, dos homens que nos acompanham todo o tempo que o Senhor Jesus
andou entre nós, começando no batismo de João, até ao dia em que
dentre vós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco
da sua ressurreição”. Paulo diz que viu Jesus ressurreto: “Não sou,
porventura livre? Não sou apóstolo? Não vi a Jesus, Nosso Senhor?”
(1Co 9.1)
2. O apóstolo tinha de ter um chamado especial da parte de Cristo para
exercer este ministério.
As Escrituras são absolutamente claras em nos mostrar que os
apóstolos, incluindo Paulo, foram chamados por Cristo (Mt 10.2-4; Gl
1.11-24).
3. O apóstolo era alguém a quem foi dada autoridade para operar
milagres.
Isso fica bem claro em 2Coríntios 12.12: “Pois as credenciais do meu
apostolado foram manifestadas no meio de vós com toda a persistência,
por sinais prodígios e poderes miraculosos”. Era como se ele dissesse:
“Como vocês podem questionar meu ofício de apóstolo, se as minhas
credenciais foram apresentadas claramente entre vós”. Sinais, milagres e
prodígios maravilhosos.
4. O apóstolo tinha autoridade para ensinar e definir a doutrina
firmando as pessoas na verdade.
5. Os apóstolos tiveram autoridade para estabelecer a ordem nas
igrejas. Nomeavam os presbíteros, decidiam questões disciplinares e
questões doutrinárias, e falavam com autoridade do próprio Jesus.
Será que diante destas questões os “apóstolos” da modernidade podem
de fato reivindicar o título de apóstolo de Cristo? Por acaso, algum deles
viu o Senhor ressurreto? Foram eles comissionados por Cristo a
exercerem o ministério apostólico? Quantos dos apóstolos brasileiros
ressuscitaram mortos? E suas doutrinas? Possuem elas autoridade para
se contraporem aos ensinamentos bíblicos?
Pois é, infelizmente os “apóstolos” do nosso tempo não possuem
respostas a estas perguntas.
O posicionamento da ortodoxia evangélica entende que o ministério
apostólico cessou com a morte dos apóstolos no primeiro século. Sem a
menor sombra de dúvidas, considero a utilização do título “apóstolo” por
parte dos pastores como uma apropriação indevida de um ministério, o
qual não existe mais nos moldes que vemos no Novo Testamento.

2. O que é unção apostólica?


Vimos um pouco sobre o movimento apostólico de nossos dias. Um
dos desdobramentos desse novo movimento é a chamada “unção
apostólica”.
O que é isso? Ou, o que representa possuir essa “unção”; ou, o que ela
tem de especial?
Segundo os adeptos do neopentecostalismo, ser apostólico “é valorizar
a presença de Deus, é ser fiel, é crer que Deus pode transformar, é ter
uma unção especial para conquistar o melhor da terra e, por fim, é crer
que Deus age hoje em nossas vidas”.
Certa ocasião, ouvi o relato de um apóstolo que afirmava que o crente
que não possui unção apostólica deve ser considerado crente de
“segunda categoria”. Além disso, alguns dos defensores do movimento
apostólico defendem a tese de que não basta o crente em Jesus ter o
Espírito Santo, é necessário possuir a unção apostólica, pois somente
assim poderá conquistar o melhor de Deus.
Prezado amigo, a forma com que “apóstolos” do século XXI
estabelecem suas novas doutrinas demonstram que não possuem quase
nenhum conhecimento bíblico-teológico. Nas Escrituras não
encontramos uma menção sequer sobre essa tal unção. Em nenhum lugar
do Novo Testamento encontramos Pedro, Paulo, João ou Tiago,
orientando os crentes a se tornarem crentes apostólicos.
Diante do exposto, tome cuidado com aqueles que dizem ser
conhecedores de novas revelações, bem como com aqueles cujos
sermões sejam antropocêntricos, afinal de contas a Bíblia nos alerta,
dizendo: “Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre
vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias
destruidoras, negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si
mesmos repentina destruição” (2Pe 2.1)
3. Existe base bíblica para a doutrina apostólica da cobertura
espiritual?
Existe um tipo de discipulado muito comum nas igrejas dos apóstolos
tupiniquins. Nele, o discipulador ultrapassa os limites da racionalidade
tomando decisões unilaterais quanto à vida do seu discípulo.
Para as igrejas que adotam este tipo de discipulado, o discípulo não
pode fazer absolutamente nada sem a autorização da sua “cobertura
espiritual”. Nesta perspectiva, o pastor tem poder para determinar aquilo
que o seu seguidor deve fazer. Sei de casos de pessoas que não podem
mudar de casa sem que o pastor concorde, ou de outros que não podem
vender absolutamente nada, sem que a autoridade espiritual aceite o fato.
Além disso, é comum observarmos que os pastores em questão usam do
nome de Deus para decidir se o discípulo deve ou não namorar, se pode
ou não ir para a praia, se deve ou não ter filhos, ou como deve se portar
dentro de suas próprias casas. Tais líderes interferem na vida comum do
lar, intervindo na educação dos filhos ou até mesmo na vida sexual do
casal.
Infelizmente, estes ditadores da fé têm feito do rebanho de Cristo
propriedade particular. Além disso, os pastores em questão, sem o menor
constrangimento “coronelizaram” a comunidade dos santos, obrigando
seus liderados a se submeterem sem questionamento às suas ordens,
doutrinas e determinações.
Em estruturas como estas, é comum exigir-se dos crentes submissão
total. Em tais comunidades, a vida cristã é regida exclusivamente por um
sistema onde a ditadura e a arbitrariedade se misturam. Infelizmente,
aqueles que porventura ousam opor-se a este estilo de liderança, sofrem
sanções das mais humilhantes possíveis, sendo chamados de rebeldes e
tornando-se passíveis de punição, cuja consequência final é a exclusão e
exposição pública.
Além disso, os membros dessas comunidades despóticas – que mais se
parecem com a seita de Jim Jones do quem com comunidades cristãs -
vivem em constante estado de pavor por temerem sofrer sanções
espirituais, por isso acabam vivendo um comportamento que beira a
loucura.
Isto posto, sou obrigado a afirmar que a igreja evangélica mergulha em
alta velocidade no buraco da sincretização, deixando para trás valores,
virtudes e princípios como afetividade, amor e respeito.
Amados, não nos esqueçamos de que somos o povo Deus, nação santa,
sacerdotes do Deus vivo (1Pe 2.9). Na perspectiva do reino, todos,
absolutamente todos, possuímos acesso ao trono da graça, não
necessitando assim criar estruturas monárquicas fundamentadas em
experiências místicas e adoecedoras. Quero ressaltar que, para nós
cristãos, a essência da igreja se resume na maravilhosa verdade que nos
ensina que fomos chamados para fora deste sistema perverso, ambíguo e
separatista, e que agora, independente de classe, etnia, posição social,
reunimo-nos todos indistintamente em torno do Cristo nosso Senhor
como a comunidade dos santos. 32

4. Mulheres podem ser ordenadas pastoras ou apóstolas?


Lamentavelmente tenho visto nos últimos anos inúmeras igrejas
consagrando mulheres ao ministério pastoral. O fundamento usado pelos
que defendem esta prática, é que, diante de Deus não existem homens e
mulheres, servos e senhores, escravos e libertos, todos são iguais aos
olhos do Senhor. Além disso, a posição dos igualitaristas 33 é que o texto
de Paulo aos Romanos, no capítulo sete, aponta de forma efetiva para o
apostolado feminino.
Visando esclarecer de forma clara e prática o sentido verdadeiro do
texto em questão, reproduzo abaixo o entendimento do Dr. Augustus
Nicodemus sobre o tema 34 :

Júnias é masculino ou feminino?


A variante melhor atestada, segundo o texto grego da UBS, 4a. edição (e de
Nestle-Aland, 27ª edição), é Iounia=n, acusativo de Júnia, masculino (atestada
pelos manuscritos) A B* C D* F G P, embora sem acentos). A variante (Júlia)
é fracamente atestada, aparecendo apenas no p46 e em algumas versões
antigas.
Numa pesquisa feita por computador nos escritos gregos existentes desde a
época de Homero (século 9 A.C.) até o século 5 D.C. foram achadas apenas
três ocorrências do nome Júnias, além de Romanos 16.7. Plutarco cita uma
irmã de Brutus, chamada Júnias; Epifânio, o bispo de Salamina em Chipre,
menciona Júnias de Romanos 16.7 como sendo um homem que veio a ocupar
o bispado de Apaméia da Síria; e João Crisóstomo se refere a Júnias de
Romanos 16.7 como sendo uma irmã notável até mesmo aos olhos dos
apóstolos.
Os resultados são inconclusivos. Parece evidente que Júnias era nome tanto de
homem quanto de mulher no período neotestamentário. O problema é que não
sabemos em que gênero Paulo o usou em Romanos 16.7. Isto explica o
surgimento de variantes divergindo na acentuação, e o surgimento da variante
é claramente uma tentativa de resolver a ambiguidade.
Se tivermos de tomar uma decisão, devemos dar mais peso à palavra de
Epifânio, pois ele sabe mais sobre Júnias do que Crisóstomo, já que informa
que Júnias se tornou bispo de Apaméia. Concorda com isto o testemunho de
Orígenes (morto em 252 d.C.), que num comentário em latim à carta aos
Romanos se refere a Júnias no masculino.
Nomes gregos masculinos terminando em -aj não são incomuns, mesmo no
Novo Testamento: André (Andre/aj, Mt 10.2), Elias (Eli/aj, Mt 11.14) e
Zacarias (Zaxari/aj, Lc 1.5). Para alguns comentaristas, Júnias é a abreviação
de Junianius, um nome masculino — mas não há evidências claras disto. A
conclusão é que não podemos saber com certeza se Júnias era uma mulher —
mais provavelmente era um homem. É por isto que a maioria das traduções
modernas, onde possível, traduzem Júnias como masculino (e não Júnia,
feminino).

Era Júnias um(a) apóstolo(a)?


Mais uma vez perguntamos, é possível termos uma resposta definida para a
pergunta “era Júnias um(a) apóstolo(a)?” Gramaticalmente, a expressão “os
quais são notáveis entre os apóstolos” (oi(/tine/j ei)sin e)pi/shmoi e)n toi=j
a)posto/loij) tanto pode indicar que Andrônico e Júnias eram apóstolos, quanto
que eram tidos em alta conta pelos apóstolos existentes. E mesmo que
aceitemos que eram apóstolos, ainda resta o fato de que a palavra apóstolo no
Novo Testamento é usada, não somente para os Doze, para Paulo, e para
algumas pessoas associadas a ele, como Barnabé, Silas e Timóteo (cf. At
14.14; 1Ts 2.6), mas para mensageiros e enviados (este é o sentido primário de
a)po/stoloj) de igrejas locais, como Epafrodito (Fp 2.25) e uns irmãos
mencionados em 2 Coríntios 8.23. Estes não parecem exercer governo ou
autoridade sobre as igrejas locais, eram simplesmente enviados por elas.
Portanto, se Andrônico e Júnias eram apóstolos, deveriam pertencer a este tipo
de mensageiros das igrejas locais, com um ministério itinerante. Estes
“apóstolos” não tinham autoridade de governo em igrejas locais; antes, eram
enviados por elas para desempenhar diferentes funções como representantes ou
emissários.
Em última análise, só podemos afirmar com certeza, a partir de Romanos 16.7,
que, quem quer que tenha sido, Júnias era uma pessoa tida em alta conta por
Paulo, e que ajudou o apóstolo em seu ministério. Não se pode afirmar com
segurança que era uma mulher, nem que era uma “apóstola”, e muito menos
uma como os Doze ou Paulo.
A passagem, portanto, não serve como evidência bíblica para a ordenação
feminina no período apostólico. E essa conclusão está em harmonia com o fato
de que Jesus não escolheu mulheres para serem apóstolos. Não há nenhuma
referência indisputável a uma “apóstola” no Novo Testamento.

Além disso, gostaria também de destacar outros motivos porque não é


correto ordenar mulheres ao ministério pastoral:
1. As Escrituras não referendam a ordenação de mulheres ao
ministério pastoral. Não vejo na Bíblia nenhum texto que apoie
a ordenação feminina ao presbitério.
2. Jesus não chamou apóstolas entre os doze. Todos os apóstolos
escolhidos por Jesus eram homens.
3. Paulo não fala de presbíteras, episcopisas, muito menos
pastoras. As referências a essas vocações nas Escrituras sempre
estão relacionadas aos homens. Não existiam pastoras nas
igrejas do Novo Testamento.
4. Os reformadores e os pais da Igreja nunca defenderam o
ministério pastoral feminino.
5. Os apóstolos determinaram que os pastores deveriam ser
marido de uma só mulher e que deveriam governar bem a casa
deles – obviamente eles tinham em mente homens cristãos
(1Tm 3.2,12; Tt 1.6).
6. A mulher não possui autoridade sobre o marido. Ora, se ela é
pastora e o seu marido não, ela fere o princípio de autoridade
bíblica, tornando-se líder do marido (1Tm 2.12).
5. O que significa tocar no ungido do Senhor?
“Eu sou louco de discordar? Deus me livre tocar no ungido do Senhor !
Por acaso você nunca ouviu o adágio popular que diz: ‘manda quem
pode e obedece quem tem juízo?’”.
Pois bem, os adeptos do neopentecostalismo têm feito uma verdadeira
lavagem cerebral no povo de Deus. Numa certa ocasião, fiquei sabendo
de um amigo que, por se manifestar contra os propagadores da confissão
positiva, foi amaldiçoado por um profeta neopentecostal, que lhe
disse:“Por teres falado mal do servo do Senhor, ficarás mudo até que se
arrependa de ter tocado no ungido de Deus ”.
Ora, é claro que ele não ficou mudo, coisa nenhuma, até porque o
evangelho de Cristo não possui nenhuma similaridade com a feitiçaria.
Contudo, é impressionante o número de cristãos que se deixam levar por
ensinos tão terrivelmente equivocados.
Há alguns meses, um eminente líder apostólico afirmou publicamente
que o liderado jamais deveria questionar a identidade do seu líder, pois,
ao fazê-lo, ele cometeria o grave pecado de tocar no ungido do Senhor.
Este famoso pastor fundamenta sua premissa afirmando que no dia em
que João Batista fez isso, quando pediu que seus discípulos
perguntassem se Jesus era aquele que haveria de vir, perdeu a cabeça.
Ou seja, na sua perspectiva, aquele que tem por hábito questionar o seu
líder, desrespeita o ungido de Deus, podendo trazer sobre si
consequências funestas.
Caro leitor, vamos combinar uma coisa? Onde está na Bíblia que João
Batista perdeu a cabeça por ter questionado a identidade de Jesus? E
quem disse que João Batista duvidou da divindade de Cristo?
Sinceramente isso me cheira a manipulação religiosa das brabas! E a
impressão que tenho, é que profetas deste naipe estão a procura de
pretextos para não ser questionados por ninguém, daí a argumentação de
que João Batista morreu por ter duvidado do seu líder.
O simples fato de tratar abertamente do tema, “ungidos do Senhor”, é,
para muitos dos cristãos, um despropósito, um desrespeito para com seus
líderes, bem como falta de temor a Deus. Lamentavelmente, muitos dos
pastores se autoproclamaram representantes do Altíssimo, e, em virtude
disto, exigem total obediência dos membros da igreja, pois acreditam
que são agentes especiais do Deus eterno, profetas do Senhor, e como
tais, não podem jamais ser questionados por seus ditames, afirmações e
decretos.
Não são poucos aqueles que se decepcionaram com o evangelho.
Lembro-me de um caso em que uma irmã em Cristo manifestou sua
decepção ao ter sido proibida pelo pastor de decorar a sua casa com
enfeites natalinos, além de receber no seu lar membros de sua família
que não faziam parte da igreja. Por muitos anos, mesmo a contragosto,
essa irmã cegamente obedeceu ao seu pastor, trazendo sobre si e sua
família momentos de extremo constrangimento. Hoje, muito tempo
depois do ocorrido, essa mulher de Deus colhe amargamente os frutos de
uma obediência cega e irracional, cujos pressupostos não se encontram
nas Escrituras Sagradas.
O escritor Paulo Romeiro, em seu Livro “Evangélicos em Crise ” 35 ,
afirma que a expressão “não toqueis nos meus ungidos” aparece somente
duas vezes na Bíblia: em 1 Crônicas 16.22 e em Salmos 105.15. Ambas
as referências são a respeito dos patriarcas, Abraão, Isaque e Jacó.
Segundo Romeiro, as duas passagens não se referem a um
questionamento ético ou doutrinário do líder, mas a algum perigo para a
integridade física de um ungido de Deus.
Observe o que aconteceu com Abraão em Gênesis 20.1-13. Estando em
Gerar, mentiu ao rei Abimeleque, dizendo que Sara não era sua esposa, a
fim de se proteger. Impressionado com a beleza de Sara, Abimeleque
mandou buscá-la para fazê-la sua esposa. Deus, porém, avisou ao rei em
sonho durante a noite, dizendo-lhe que seria punido, se tomasse Sara
como esposa, o que o levou a desistir do seu plano. Embora Abimeleque
tivesse sido proibido por Deus de tocar no profeta (Gn 20.7) e ungido do
Senhor, isto é, de causar-lhe algum dano físico, Abimeleque não hesitou
em repreender Abraão por ter-lhe mentido.
Davi também, quando perseguido por Saul e com oportunidade para
matá-lo, limitou-se apenas em cortar-lhe a orla do manto, explicando
com estas palavras o motivo de seu comportamento: “O Senhor me
guarde de que eu faça tal cousa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a
mão contra ele, pois é o ungido do Senhor” (1Sm 24.6). Vemos
novamente que o que estava em questão era a vida de Saul e não sua
posição doutrinária. No entanto, por desconhecerem as verdades
bíblicas, muitas pessoas ao longo dos anos foram enganadas e
manipuladas por pastores despreparados teologicamente ou, em alguns
casos, desonestos.
E quanto a julgar a alguém? Por acaso a Bíblia nos ensina que não
podemos julgar ninguém? Será que ao julgarmos alguém, não estamos
tocando no ungido do senhor? Não foi o Senhor quem disse que não
devemos julgar para que não sejamos julgados?
Ora, quando o Senhor Jesus advertiu contra o juízo temerário (Mt 7.1-
6), ele não estava declarando pecaminoso e proibido toda e qualquer
forma de juízo. Dentro do contexto de Mateus, nosso Senhor nos induz a
discernir quem é cão e porco para que não se desperdice a graça de
Deus. Julgar não é pecado! Afinal o próprio Deus exerce juízo. Ele
mesmo nos ordena exercer o discernimento, o qual, diga-se de
passagem, é o dom mais ignorado, e talvez o mais odiado hoje em dia.
Cristo julgou os escribas e fariseus pelo seu comportamento hipócrita e
doutrinariamente distorcido (Mt 23.1-36). Se o julgar não é o papel de
um homem de Deus, então creio que tanto os profetas do Antigo
Testamento como os apóstolos devem ser despidos deste título! O que
falar então dos crentes de Beréia? Ora, diz a Bíblia que eles não
“engoliam” qualquer ensinamento, antes, pelo contrário, verificavam se
o ensino estava de acordo com a sã doutrina.

6. Mapeamento espiritual, isso é bíblico?


Boa parte das mensagens pregadas nos púlpitos das igrejas evangélicas
no Brasil nos evidenciam o quão adoecidas se encontram nossas
comunidades. As pregações de muitos dos pastores tem sido rasas, sem
substância, empobrecidas teologicamente, cheias de modismos, unções,
decretos e comportamentos judaizantes. Junta-se a isto o fato de que
vivemos numa época em que o destaque sobre a batalha espiritual se faz
presente nos mais diversos rincões evangélicos.
Infelizmente, as ênfases distorcidas sobre batalhas espirituais têm
levado crentes sinceros a viverem uma vida de pânico e medo. Um
método muito comum usado pelos adeptos da batalha espiritual é o
mapeamento espiritual da cidade. Segundo os pregadores desse
movimento, a igreja precisa conhecer a região onde está plantada. Para
tanto, devem estudar a história do lugar onde se deseja evangelizar e
discernir a entidade espiritual que atua na região. Em outras palavras,
isso significa aprender a história da cidade, bem como as características
econômicas, políticas, sociais e morais que lhe são próprias. Feito isso,
faz-se uma identificação com o demônio que poderia lhe atribuir estas
qualidades, amarrando-o em nome de Jesus.
Diante disto, lhe pergunto: Que cristianismo é esse? Que evangelho é
esse? Que doutrinas são estas? Ora, esse não é e nunca foi o evangelho
anunciado pelos apóstolos. Antes, pelo contrário, este é o evangelho que
alguns dos evangélicos modernos fabricaram! Infelizmente, a Igreja
cristã tem deixado de ser a comunidade da Palavra de Deus, cuja fé se
fundamenta nas Escrituras Sagradas, para ser a comunidade da pseudo
experiência, do dualismo, do misticismo e do maniqueísmo! Será que a
Bíblia nos relata o apostolo sobre o apóstolo escrevendo aos crentes da
igreja primitiva, a fim de exortá-los a fazer um mapeamento espiritual
das cidades onde moravam? Por acaso o Senhor Jesus nos ensina no
Sermão do Monte a descobrirmos os nomes dos demônios que oprimem
uma nação, a fim de que os amarremos? E Pedro? Você o vê em suas
epístolas exortando os cristãos a descobrirem os pontos nevrálgicos de
uma cidade, a fim de que vençamos Satanás?
Caro leitor, as Sagradas Escrituras em momento algum nos ensinam
estratégias mirabolantes de batalha espiritual. 36 Em nenhum lugar do
Novo Testamento encontramos respaldo teológico para o ensino do
mapeamento espiritual . Além disso, o Senhor Jesus Cristo, em nenhum
episódio, nos orienta a mapear regiões ou descobrir nomes de demônios
e amarrá-los. O que nos cabe fazer é obedecer integralmente suas
ordens, pregando o evangelho integral do reino a toda criatura, crendo
que Deus é poderoso para a salvação de todo aquele que nele crê, como
também para expulsar da vida dos homens toda sorte de espíritos
malignos.
“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em
nome do Pai, e do filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar
todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 29. 18,19).
“Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” ( Mc
16.15).

7. Precisamos redescobrir o judaísmo?


Uma das mais novas crenças de parte do movimento neopentecostal é o
cristianismo judaizante. Na verdade, este movimento religioso é um
modismo de nossos dias. Parece que alguns desses evangélicos têm
introduzido práticas veterotestamentárias nos cultos e liturgias de suas
igrejas. Eles têm declarado que o resgate dos valores judaicos é uma
revelação de Deus para a igreja contemporânea, cujo slogan é: “Sair de
Roma e voltar para Jerusalém”
Os que creem desta maneira têm disseminado práticas como:
 Tocar de costas para a congregação, por considerar os ministros
de música “levitas de Deus”.
 Usar o Shofar para “liberar” unção ou invocar a presença
divina.
 Guardar o sábado, fazendo dele o dia do Senhor.
 Observar todas as festas judaicas.
 Usar o Kipá e o Talit, que são as vestimentas que os judeus
praticantes usam para ir à sinagoga.
 Usar símbolos judaicos tais como a bandeira de Israel, o
Menorah ou a Estrela de Davi, dentre tantos outros mais.
 Construir protótipos da Arca da Aliança, a fim de simbolizar
entre os cristãos a presença de Deus.
 Mudar os nomes e as nomenclaturas bíblicas, judaizando tudo,
a ponto de chamar Paulo de rabino.
Caro leitor, não existem pressupostos bíblicos para que a igreja de
Cristo queira “recosturar” o véu do templo. Entretanto, alguns dos
crentes atuais teimam em transformar em realidade aquilo que deveria
ser uma simples sombra. Foi o apóstolo Paulo quem afirmou: “Portanto,
ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa de dias de
festa, ou de lua nova, ou de sábados. Estas são sombras das coisas
futuras; a realidade, porém, encontra-se em Cristo” (Cl 2.16).
As leis cerimoniais judaicas, os ritos sacrificiais, as festas anuais,
foram abolidas definitivamente por Cristo na cruz do Calvário (o
significado de cada uma delas se cumpriu em nosso Senhor). Por esse
motivo, mesmo os judeus que se convertem hoje ao cristianismo estão
dispensados das leis cerimoniais judaicas. É por esta razão que crentes
em Jesus não fazem sacrifícios de animais, não guardam o sábado, não
celebram as festas judaicas, não se prostram diante a Arca da Aliança e
tampouco fazem uso do shofar .
Nossa mensagem, vida e testemunho deve ser Cristo. O evangelho
pregado deve ser o evangelho de Cristo, nossa mensagem central deve
ser para a glória e o engrandecimento do nome de Cristo.

8. O diabo tem poder para amaldiçoar igrejas?


Tem muita gente dizendo que o diabo possui poder para amaldiçoar a
Igreja do Senhor e que, em razão disso, muitas igrejas estão debaixo de
maldição.
Lamentavelmente, existe um número incontável de cristãos
“obcecados” pelo diabo. Para estes, Satanás é culpado de todas as
desventuras da vida. Basta um tropeção na rua que a culpa é do “cão”;
ou quebrar um objeto de estimação que o “coisa ruim” é acusado. Se
porventura o cidadão levar uma bronca do chefe, é sinal de que o
“encardido” está furioso.
Diante de afirmativas como essas, fico a pensar como começou essa
obsessão que se transformou em paranoia para uma boa parcela dos
evangélicos brasileiros. Da Bíblia é que não foi, pois comportamentos
como estes não possuem o menor embasamento bíblico. Isso me faz
lembrar do texto que conta quando o apóstolo Paulo embarcou num
navio que foi sacudido por uma terrível tempestade. Na oportunidade, a
nau perdeu o rumo, sofreu naufrágio e os tripulantes e passageiros que
estavam a bordo quase morreram. Contudo, em nenhum momento se viu
uma só palavra de Paulo culpando Satanás. Pelo contrário, antes do
navio zarpar ele havia percebido condições climáticas que
desaconselhavam a viagem, e com bom senso deduziu que seria melhor
permanecer onde estavam.
Ora, infelizmente virou moda culpar o diabo pelos erros cometidos.
Em outras palavras, isso significa que quando alguém peca a culpa é
sempre do diabo. Assim, o adultério, a prostituição, a ira, a inveja e
outras coisas mais, deixaram de ser obras da carne, para se
transformarem em investidas satânicas.
Caro leitor, o Senhor ensinou que a prostituição, o adultério, a malícia
e todo tipo de pecado procede do coração do homem e que a prática de
tais pecados se deve exclusivamente à natureza humana que é depravada
e pervertida. A grande questão é que é muito mais simples culpar o
diabo do que assumir erros. Na verdade, este é o problema de muitos:
transferir responsabilidades. Adão fez isso no Éden também, não é?
Um claro exemplo é a história contada por uma famosa pastora
americana, que afirmou a existência de duas igrejas que compraram dois
prédios que pertenciam a uma sociedade secreta. Para a líder religiosa,
Satanás amaldiçoou a igreja impedindo o seu crescimento bem como a
multiplicação do número de discípulos.
Caro leitor, vamos combinar uma coisa? Em que lugar das Escrituras
encontramos base para afirmarmos que Satanás tem poder para
amaldiçoar a Igreja do Senhor? Onde, nos evangelhos, Jesus exortando a
Igreja a tomar cuidado com as maldições do diabo? Ora, pelo contrário,
nosso Senhor afirmou que as portas do inferno não resistiriam à Igreja
(Mt 16.18).
Lamentavelmente, o denominado Movimento de Batalha Espiritual
tem contribuído efetivamente com a propagação do conceito de que
Deus e o diabo possuem poder e autoridade idênticos. Para estes, a vida
é uma grande trincheira, onde Satanás e o nosso Deus lutam de igual
para igual pelas almas da humanidade. Esta afirmação aproxima-se em
muito da antiga heresia conhecida como maniqueísmo , que ensinava
que o universo é dominado por dois princípios antagônicos e
irredutíveis: Deus ou o bem absoluto, o Diabo ou o mal absoluto.
Infelizmente por considerar o bem e mal como forças idênticas em peso
e poder, os pregadores desta doutrina rejeitam a soberania de Deus sobre
o inimigo de nossas almas.
Prezado amigo, as Escrituras Sagradas em momento algum nos
mostram um mundo dualista onde bem e mal protagonizam batalhas
pirotécnicas cujo final é imprevisível. Antes, pelo contrário, ainda que a
Bíblia nos mostre as ações ardilosas de nosso inimigo, as quais não
devem ser desprezadas, ela jamais trata do diabo como alguém que tem
poder para se opor a vontade soberana de Deus.
Por favor, pare, pense e responda: Quem está regendo os
acontecimentos na terra, Deus ou o diabo? Quem reina majestosamente
no céu, Deus ou o diabo? Quem a Bíblia diz que estabelece e destitui
reis, conforme a sua soberana vontade?
Ora, a visão de Deus reinando de seu trono é repetida nas Escrituras
inúmeras vezes (1Rs 22.19; Is 6.1; Ez 1.26; Dn 7.9; Ap 4.2). Na
verdade, os muitos textos bíblicos possuem a função de nos lembrar em
termos explícitos que o SENHOR reina como rei, exercendo o seu
domínio sobre grandes e pequenos. O senhorio de Deus é total e nem
mesmo o diabo pode deter seu propósito ou frustrar os seus planos.
Os maniqueístas do século XXI, sem que percebam, rejeitam o
governo de Deus na história, fundamentando sua fé em achismos e
impressões estranhas ao ensino bíblico. Nas doutrinas maniqueístas,
batalhas hercúleas são travadas a cada dia no mundo espiritual por Deus
e o diabo, demonstrando assim o “quão forte e poderoso é o inimigo de
nossas almas”.
Caro leitor, Jesus Cristo é o libertador e rei triunfante, é o autor e
consumador de nossa fé, o Senhor da glória. Sobre ele Satanás não teve
controle, nem tampouco poder. Através da morte na cruz, Cristo quebrou
as forças opressoras do diabo, transportando-nos graciosamente para o
Reino de Deus Pai. A guerra já foi vencida! Louvado seja o seu santo
nome por isso! Satanás não tem poder sobre a Igreja de Deus! Somos de
Cristo, e com Cristo viveremos por toda eternidade!

9. Existe oração forte?


Vez ou outra eu ouço algumas pessoas dizendo que precisam procurar
o apóstolo X simplesmente pelo fato de que este realiza uma “oração
forte”. Há pouco tempo, uma irmã me abordou ao final de um culto
pedindo que clamasse a Deus intercedendo por seu marido, visto que na
sua perspectiva a oração do pastor é mais forte do que a de outros
irmãos.
A afirmação de que existe orações fortes pronunciadas por homens
especiais não encontra subsídio e fundamento nas Sagradas Escrituras. O
ensino neotestamentário, por outro lado, aponta categoricamente para o
fato de que todos aqueles que foram regenerados pelo Espírito Santo e
salvos por Cristo tornaram-se sacerdotes, e como tais, mediante o sangue
do Cordeiro, possuem livre acesso ao Trono da Graça de Deus Pai,
relacionando-se amorosamente com ele, em todas as coisas de forma
filial.
O problema é que, por desconhecerem as doutrinas fundamentais das
Escrituras, os apóstolos do século XXI têm logrado para si um poder
super especial o qual, faz o crente acreditar que as orações do “profeta”
são mais poderosas do que a de qualquer outro cristão.
Lamentavelmente, boa parte das igrejas neopentecostais defensoras da
nefasta teologia da prosperidade estão retomando as figuras do profeta e
do sacerdote, das páginas do Antigo Testamento. Para estes, o
“apóstolo” é o “escolhido” de Deus e, quando imbuído de poder
espiritual e ergue a voz em oração, o Senhor é obrigado a responder.
Mas, no Novo Testamento, não encontramos a menor referência que
justifique este ensinamento. Jesus Cristo é o nosso único e suficiente
mediador. Ele, por meio de sua morte na cruz, nos fez sacerdotes. E por
causa dele podemos orar com ousadia na certeza de que, se nossas
orações estiverem de acordo com a sua soberana vontade, seremos
atendidos (Jo 5.14).

10. Quem não contribui financeiramente com a igreja poderá


perder sua salvação ?
“O meu pastor disse que se eu não der o dízimo e não for fiel nas
minhas ofertas eu perderei a salvação”.
Foi exatamente isso que uma irmã extremamente angustiada
compartilhou comigo, em certa ocasião. Ela, membro de uma igreja
apostólica, me escreveu assustadíssima, preocupada com o fato de que o
seu apóstolo poderia lhe tirar a salvação, caso ela não contribuísse
financeiramente com a obra de Deus. Noutra ocasião, fiz uma pesquisa
em meu blog onde indaguei aos meus leitores se eles acreditavam na
afirmação de que o verdadeiro crente poderia perder a salvação. Na
ocasião inúmeras pessoas participaram da pesquisa, e 41% manifestaram
sua crença de que o crente em Jesus poderia perder a salvação eterna.
Confesso que fiquei surpreso com o resultado da enquete, pois jamais
poderia imaginar que uma parcela tão grande de pessoas era tão convicta
de que o crente poderia cair da graça. Mas a Bíblia é enfática em afirmar
a segurança dos crentes. Para as Sagradas Escrituras, não é possível que
o verdadeiro crente afaste-se definitivamente da graça de Deus. Veja o
que diz a Palavra de Deus: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu
conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de
perecer, e ninguém as arrebatará das minhas mãos. Meu Pai, que mas
deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las das mãos de
meu Pai” (Jo 10.27-29).
Caro leitor, o texto em questão é claro. O crente que nasceu de novo
nunca há de perecer. Ademais, ninguém é poderoso suficientemente para
arrancar os salvos das mãos do Senhor. O fato de alguém acreditar que o
cristão pode jogar fora a salvação que o Pai lhe deu, indica ignorância
das doutrinas bíblicas. Foi o próprio Senhor Jesus quem disse: “Todo o
que o Pai me dá, virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o
lançarei fora” (Jo 6.37). O Senhor Jesus, ao ascender aos céus, deixou-
nos o Espírito Santo como garantia da nossa salvação. A presença do
Espírito em nós é a esperança e convicção da vida eterna. O Espírito
Santo é o penhor que nos assegura a eternidade com Deus:

Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o


evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o
Espírito Santo da promessa o qual é o penhor da nossa herança, para redenção
da possessão adquirida, para louvor da sua glória” (Ef 1.13,14).
E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia
da redenção (Ef 4.30).
O qual também nos selou e deu o penhor do Espírito em nossos corações (2Co
1.22).

Na cruz, Jesus pagou por todos os nossos pecados, isto é, aqueles que
foram praticados até a nossa conversão e aqueles que infelizmente
haveremos de praticar até o fim de nossa vida na terra. Todavia, isso em
momento algum deve servir para acharmos que podemos e devemos
pecar livremente, mesmo porque aquele que conheceu a Cristo não
consegue agir assim (1Jo 3.9).
Do ponto de vista bíblico, o crente não está livre do pecado. Na
verdade, ele continua suscetível ao pecado. E, ao pecar, ele é convencido
pelo Espírito Santo que lhe mostra a gravidade do erro que cometeu,
levando-o por conseguinte a rogar o perdão do Senhor.
Isto posto, afirmo que o convertido não se sente à vontade vivendo no
pecado, porque as trevas não podem subsistir juntamente com a luz do
Espírito Santo que nele faz morada.
11. E a teologia da prosperidade? O que há de errado nela?
Uma das principais ênfases doutrinárias do movimento neopentecostal
é a teologia da prosperidade. A teologia da prosperidade pode ser
entendida como um conjunto de princípios que afirmam que o cristão
verdadeiro tem o direito de obter a felicidade integral e de exigi-la a
Deus. Nessa perspectiva, os que defendem esta causa interpretam as
Escrituras segundo a ótica da confissão positiva , determinando através
da oração que o Senhor lhes conceda saúde, bênçãos materiais e
dinheiro.
A prática do decreto e da oração determinista infelizmente se tornou
muito comum no meio evangélico. Em boa parte dos templos chamados
neopentecostais é normal vermos ou ouvirmos pessoas determinando a
bênção em nome de Jesus. Os defensores deste tipo de oração
fundamentam seu comportamento no evangelho de João, capítulo 14,
verso 13, afirmando que o termo usado como pedir foi mal traduzido,
pois segundo afirmam, a palavra no original jamais teve a ideia de pedir
alguma coisa e sim de determinar. Entretanto, ao contrário do que tais
profetas afirmam, o texto grego aponta efetivamente para alguém que
pede, sem, contudo, exigir o cumprimento daquilo que deseja. Ora, onde
já se viu um filho determinar o que quer que o pai faça? Ou, de modo
semelhante, um servo pode ordenar o que deve ser feito ao seu senhor?
O filho é submisso ao pai e o servo é submisso ao seu senhor. Se Deus é
nosso Pai, então devemos honrá-lo como tal. Se ele é nosso Senhor,
então a nossa postura deve ser de servos.
Infelizmente, boa parte das mensagens pregadas pelos pastores da
prosperidade nos aponta o quão despreparados são esses ministros. Suas
mensagens são rasas, sem substância, empobrecidas teologicamente,
cheia de modismos, unções, decretos e determinismos, os quais têm
reverberado vergonhosamente em todo território nacional.
Diante do exposto pergunto: que cristianismo é esse? Que evangelho é
esse? Ora, sem nenhum receio afirmo que esse não é o cristianismo
idealizado por Jesus e tampouco o evangelho da Bíblia, antes, é o
evangelho que alguns dos evangélicos fabricaram! Infelizmente parte da
igreja deixou de ser a comunidade da Palavra para ser a comunidade dos
decretos, determinismo e da confissão positiva.
Talvez um dos motivos pelos quais os evangélicos têm dificuldade em
perceber o que está errado com a teologia da prosperidade é que ela é
diferente das heresias clássicas, aquelas defendidas pelos mórmons e
testemunhas de Jeová.
Concordo com Augustus Nicodemus 37 quando ele afirma que a
teologia da prosperidade é um tipo diferente de erro teológico. Segundo
Nicodemus, ela não nega diretamente nenhuma das verdades
fundamentais do cristianismo. A questão é de ênfase. O problema não é
tanto o que a teologia da prosperidade diz, e sim o que ela não diz.

Brasil: Um país propício à teologia da prosperidade:


O catolicismo vivenciado por Portugal foi o pior tipo de catolicismo
existente. Os portugueses do século XIX eram extremamente religiosos,
místicos, e absolutamente avessos ao desenvolvimento da ciência. Um
exemplo claro disso se deu quando Dom José, herdeiro do trono
português contraiu varíola. Sua mãe, D. Maria I, por motivos religiosos
proibiu que o rapaz recebesse a vacina que poderia livrá-lo da morte. A
crença popular era de que não cabia à ciência interferir no processo de
vida e morte de quem quer que fosse. Para piorar a situação, Portugal foi
o ultimo país europeu a abolir a inquisição. Dentre as nações europeias,
Portugal foi um dos mais avessos à modernização dos costumes e das
ideias.
A riqueza portuguesa era, em grande medida, resultado do dinheiro
extirpado das colônias. Além disso, numa época em que a revolução
industrial começava a redefinir as relações e o futuro das nações, os
portugueses ainda estavam presos ao sistema extrativista. Além disso, o
conceito reinante de prosperidade estava relacionado a ausência do
trabalho, pois, para os portugueses radicados no Brasil, trabalhar era
função exclusiva dos escravos, cujo comportamento deveria ser
absolutamente diferente dos fidalgos. Assim, a ideia que se dava é que a
prosperidade não era consequência direta do trabalho do indivíduo –
como vemos na teologia puritana de trabalho - e sim da exploração do
sacrifício alheio, o que indiretamente ocasionava à população a noção de
que, sem ter bons padrinhos ou nascimento em berço de ouro,
dificilmente se experimentaria prosperidade financeira. Além disso, a
crença mística de que os santos católicos intervinham nos dramas
humanos corroborava com a concepção de que os cidadãos brasileiros
deveriam esperar dos céus as suas riquezas.
Ouso afirmar que a Teologia da Prosperidade encontrou na cultura
brasileira o campo ideal para o desenvolvimento de suas doutrinas, pois,
para os adeptos de tal filosofia, a prosperidade não se dá exclusivamente
pelo trabalho mas sim pela intervenção milagrosa de Deus mediante
decretos e determinismos humanos.
Tenho a impressão que o inconsciente coletivo nacional está pautado
na ideia de que é possível ser rico sem trabalhar. Talvez seja esta uma
das razões para termos tantas loterias e raspadinhas espalhadas por este
país. Sem sombra de dúvidas, afirmo que os muitos cidadãos tupiniquins
almejam prosperar, no entanto, para estes, esta prosperidade não está
relacionada ao trabalho, até porque é muito mais fácil e rápido usar de
subterfúgios mágicos com vistas ao enriquecimento, do que passar anos
a fio dedicando-se ao batente.
Calvino acreditava que o homem possuía a responsabilidade de
cumprir a sua vocação através do trabalho. Na visão de Calvino, não
deveria existir lugar para ociosidade em nossas agendas. E ao afirmar
isto, o reformador francês não estava a nos dizer que o homem deve ser
um ativista, ou até mesmo um tipo de worhaholic . Na verdade, Calvino
acreditava que a prosperidade era possível desde que fosse consequência
direta do trabalho.
Acredito profundamente que, se quisermos construir um país decente e
sério, necessitamos romper com alguns paradigmas que nos cercam.
Nações bem sucedidas são aquelas que se empenham na construção de
valores e conceitos como honestidade, equidade, ética e retidão.
Infelizmente no país do “jeitinho”, o trabalho nem sempre é visto com
bons olhos. Na perspectiva tupiniquim, trabalho foi feito para gente
miserável e desqualificada que precisa sobreviver. O tempo de
mudarmos nossos conceitos e valores é esse, semeando no coração
brasileiro a ideia de que o trabalho é reflexo de uma grande bênção
divina, o que deve ser valorizado e dignificado (Êx 31.15; 2Ts 3.10).

O IBGE e a prosperidade:
No ano de 2007 o IBGE 38 publicou uma informação que desconstrói o
pressuposto neopentecostal de prosperidade. Segundo o departamento de
Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística, as famílias chefiadas por uma pessoa que segue a religião
espírita têm maior rendimento médio mensal (R$ 3.796) do que as
mantidas por um evangélico pentecostal (R$ 1.271).
O analista socioeconômico do IBGE, José Mauro de Freitas Júnior,
disse que a escolaridade entre as religiões influenciou nos resultados.
“Os maiores rendimentos são dos espíritas muito provavelmente porque
eles têm um grau de escolaridade maior do que os evangélicos
pentecostais, que ficaram com a menor renda. Também temos de levar
em consideração que as famílias espíritas têm menor concentração de
integrantes, 2%, enquanto que as evangélicas de origem pentecostal
representam cerca de 11%”, afirmou Freitas. Em relação às despesas, a
pesquisa apontou que as famílias com maiores gastos também foram
aquelas chefiadas por espírita (R$ 3.617), enquanto as com menores
gastos foram as evangélicas pentecostais (R$ 1.301). A maior proporção
de famílias (74%) é da religião católica apostólica romana, e seu
rendimento médio é de R$ 1.790. Os evangélicos, em geral, atingiram
um rendimento médio familiar de R$ 1.500 e representou 17% do grupo
familiar entrevistado.
O estudo também se referiu ao item de gastos com pensões, mesadas e
doações para as respectivas religiões. As famílias de origem evangélica
pentecostal atingiram 21,4 % de despesas com doações (R$ 23), as
pertencentes à evangélica de missão atingiram 21,9% (R$ 58) e as outras
evangélicas 34% (R$ 59). Outro destaque da pesquisa foi com o item
impostos. Neste quesito, os espíritas recolheram 44,2% (R$ 236), cerca
de três vezes a média do Brasil (R$ 79), brasileiros de outras religiões
gastaram 42,9% e os que se declaram sem-religião e não-determinada
42,7%.
A pesquisa em questão serviu para confirmar que a prosperidade não é
conquistada mediante a obediência de rituais mágicos, onde as bênçãos
de Deus são trocadas ou vendidas por generosas contribuições
financeiras.
Caro leitor, é possível que ao ler esta afirmação você esteja dizendo
com seus botões: “Ué, por que então os pastores da teologia da
prosperidade são tão prósperos?” Ora, a prosperidade destes apóstolos se
deve exclusivamente à venda de milagres, bênçãos e indulgências.
Prezado amigo, do ponto de vista bíblico a prosperidade não se dá
mediante o toma-lá-dá-cá propagado e defendido por parte dos
evangélicos adeptos à teologia da prosperidade. Acredito profundamente
que, se quisermos que nossas famílias experimentem prosperidade, é
urgente que invistamos em pelo menos duas áreas:

A- Aumento de escolaridade. 39
Uma das principais marcas de um povo desenvolvido é educação.
Infelizmente, por fatores diversos, milhões de pessoas em nosso país
vivem à margem da sociedade simplesmente pelo fato de terem
abandonado a escola. Tenho plena convicção que, ao voltar à sala de
aula, o crente será abençoado por Deus e disporá de novas ferramentas
que o ajudarão a experimentar a tão sonhada prosperidade. Eu conheci
uma irmã em Cristo que tinha parado de estudar muito cedo. Lembro-me
do dia em que ela me procurou no gabinete pastoral dizendo que estava
pensando em voltar a estudar. Na ocasião eu a incentivei a fazê-lo o
mais rápido possível. Naquele ano mesmo, Maria voltou à escola.
Lembro que a cada semestre ela, à semelhança de um adolescente que
comumente presta conta das suas notas ao pai, me apresentava o seu
boletim. Em poucos anos Maria concluiu o ensino fundamental e médio
e, para minha surpresa, Maria se matriculou na universidade, formando-
se anos mais tarde em psicologia. Sem sombra de dúvidas, a vida dessa
irmã mudou.

B - Melhor qualificação profissional.


Prosperidade se dá mediante o trabalho. Invista na sua profissão. Faça
cursos, participe de simpósios, leia muito e aprenda com quem sabe.
Nesta perspectiva, seja o melhor sapateiro, eletricista, pedreiro, médico,
dentista, advogado, professor e experimente das bênçãos do Senhor.
Caro leitor, se desejamos construir um país decente e sério,
necessitamos romper com alguns paradigmas que nos cercam. Nações
bem sucedidas são aquelas que se empenham na construção de valores e
conceitos como honestidade, equidade, ética e retidão. Infelizmente no
país do gospel e do decreto espiritual apostólico, o trabalho nem sempre
é visto com bons olhos.
Isto posto, afirmo que o tempo de mudarmos nossos conceitos e
valores é esse, além é claro de semear no coração do crente em Jesus a
noção de que o trabalho é reflexo de uma grande bênção divina, fazendo
parte do mandato da criação – no mundo sem pecado – e por isso deve
ser valorizado e dignificado.

12. E os atos proféticos ensinados pelos apóstolos da modernidade?


São Bíblicos?
Apesar de alguns evangélicos afirmarem que o Brasil experimenta um
grande avivamento, vivemos dias extremamente complicados.
Infelizmente a cada dia que passa, eis que surgem nesta terra tupiniquim,
inúmeros desvios teológicos.
Em Curitiba, um grupo de irmãos, liderado pelo pastor da igreja,
entendeu que deveria demarcar seu território com urina, como fazem os
cães, leões e lobos. Após beberem muita água, seguiram em direção a
pontos estratégicos da cidade e passaram a urinar, decretando a vitória
do Senhor. Numa cidade do norte do Estado do Rio de Janeiro, um
pastor resolveu confrontar o “padroeiro” do município. Para tal, vestiu-
se de branco, colocou uma coroa na cabeça, montou em um cavalo
também branco, escreveu na sua coxa “rei dos reis”, e adentrou as portas
da cidade dizendo que a partir daquele instante o padroeiro daquele lugar
não era mais o santo fulano de tal e sim Jesus Cristo. Noutra ocasião
uma “apóstola” enterrou quatro bíblias nas quatro extremidades do país
decretando com isso que o Brasil experimentaria um grandioso
avivamento.
Prezado leitor, à luz dessas esquisitices talvez você esteja se
perguntando: O que é, afinal, um ato profético? Segundo os apóstolos da
modernidade, ato profético pode ser considerado uma ação que tem
como finalidade trazer a “liberação” do poder de Deus, por meio da fé,
sobre determinada circunstância ou situação. Por exemplo: fincar estacas
na cidade, simbolizando o domínio de Deus sobre o território; ungir
bandeiras e mapas; tocar o shofar ; celebrar festas; lançar ou espalhar sal
em pontos estratégicos e outras coisas mais.
Para os neopentecostais, um ato profético “libera” o sobrenatural de
Deus sobre a igreja, cidade, estado ou nação. Assim, ao derramar óleo
ungido sobre a favela, emite-se um ato espiritual que, pela autoridade de
Jesus, extermina a violência nos morros da cidade. Para os que creem
neste tipo de doutrina, tudo aquilo que se faz no plano físico (atos ou
palavras) resulta no plano espiritual, isto é, o crente que emite um ato
profético, emite sinais que apontam para o reino espiritual que resulta no
reino físico.
Sinceramente, eu não consigo imaginar Paulo e Pedro agindo desta
maneira. Gostaria de saber em que parte das Escrituras podemos
encontrar recomendações por parte dos apóstolos a emitirmos atos
proféticos! Sinceramente, isso está mais para macumba do que para
cristianismo. Prezado amigo, o evangelho de Cristo é simples (2Co
11.3,4). Nossa missão é viver para a glória de Deus (1Co 10.31). É
também orar, amar, viver em comunhão com os nossos irmãos, além é
claro de anunciar com intrepidez a mensagem da cruz ao mundo perdido
(1Co 1.8,22,23; 2.1-5). Nada além disso!

13. E o G12?
Não são poucos os pastores que conduzem suas igrejas pela doutrina da
moda. Conheço alguns que no intuito de encherem os bancos de suas
comunidades com pessoas tementes a Deus, comportam-se como
pequenos animais que, no desejo de saciar a fome, saltam de galho em
galho em busca de alimento. Tais líderes vivem de “revelação em
revelação” desejosos por saciar sua sede com novidades cada vez mais
escabrosas. Foi assim quando parte do evangelicalismo brasileiro
redescobriu a música como expressão de louvor, ou enfatizou a batalha
espiritual, ou defendeu a necessidade de cura interior por parte do crente,
lutando contra espíritos territoriais num contexto de maldição
hereditária.
Pois é, a bola da vez é o movimento de células. Milhares de pastores
influenciados pela “doutrina celular” envolveram-se de corpo e alma no
movimento de Igreja em células, conhecido como G12.
Antes de qualquer coisa, quero afirmar que acredito que exista base
bíblica para os pequenos grupos. O livro de Atos dos Apóstolos nos
ensina claramente que a Igreja de Jerusalém reunia-se tanto em casas
como no templo. (At 2.42-45). Todavia, o que o G12 prega e ensina é
muito diferente do ensino das Escrituras.
As doutrinas “gedozistas”, além de relativizarem o sacrifício vicário de
Cristo na cruz do calvário, têm inundado a Igreja Evangélica Brasileira
com ensinamentos falsos, tais como maldições hereditárias, cura interior
e regressão ao ventre materno, além é claro da necessidade do cristão em
determinados momentos da vida perdoar a Deus. Segundo os adeptos
deste tipo de fé, os que participam do encontro, precisam estar dispostos
a perdoar aqueles lhes ofenderam, como também quando necessário
“liberar” perdão a Deus.
Prezado amigo, as Escrituras em nenhum momento fazem qualquer
alusão sobre a necessidade de perdoarmos a Deus. Além disso, a Bíblia é
muita clara em afirmar que a morte de Cristo na cruz do calvário foi
suficiente para cancelar o escrito de dívida que constava contra nós (Cl
2.14). Em outras palavras, isso significa que o sacrifício de Cristo na
cruz é mais do que suficiente para apagar o passado pecaminoso de cada
um de nós.
O pastor anglicano, John Stott certa vez afirmou que um dos mais
graves equívocos da igreja evangélica é querer um cristianismo sem
cruz.
A cruz de Cristo deve ser a nossa mensagem central. A morte do
Cordeiro que tira o pecado do mundo deve ser a nossa proclamação. O
sangue justo derramado na cruz em favor dos eleitos deve ser a nossa
ênfase principal. A cruz é o centro da história do mundo. A encarnação
de Cristo e a crucificação de nosso Senhor são o centro ao redor do qual
circulam todos os eventos de todos os tempos.
Como bem afirmou John Stott, qualquer pessoa que investigue o
cristianismo pela primeira vez ficará impressionada pelo destaque
extraordinário que os seguidores de Cristo dão à sua morte. No caso de
todos os outros grandes líderes espirituais, a morte deles é lamentada
como fator determinante do fim de suas carreiras. Não tem importância
em si mesma; o que importa é a vida, o ensino e a inspiração do exemplo
deles. Com Jesus, no entanto, é o contrário. Seu ensino e exemplo foram,
na verdade, incomparáveis; mas, desde o princípio, seus seguidores
enfatizaram sua morte. Além disso, quando os evangelhos foram
escritos, os quatro autores dedicaram uma quantidade de espaço
desproporcional à última semana de vida de Jesus na terra – no caso de
Lucas, um quarto; de Mateus e Marcos, cerca de um terço; e de João,
quase a metade.
Oh! Quão maravilhosa é a mensagem da cruz! Como diz a clássica
canção: “Sim eu amo a mensagem da cruz, até morrer eu a vou
proclamar, Levarei eu também minha cruz, até por uma coroa trocar”.

14. Existem maldições hereditárias?


Certa feita uma irmã em Cristo, que estava prestes a se casar, me
procurou no gabinete pastoral extremamente angustiada. Segundo ela, o
seu pastor anterior havia ensinado que o crente precisa quebrar as
maldições hereditárias, pois, do contrário, ela teria os mesmos
problemas, pecados ou doenças dos seus antepassados. Outro irmão me
confessou que tinha medo de morrer de câncer, pois o seu avô e pai
haviam morrido tragicamente dessa doença.
Pois é, uma das distorções doutrinárias mais difundidas nos púlpitos
brasileiros é o ensino das “maldições hereditárias”. Os defensores desta
doutrina afirmam que, se alguém tem algum problema relacionado com
alcoolismo, pornografia, depressão, adultério, nervosismo, divórcio,
diabete, câncer e outros tantos mais, esses tais se devem ao fato de que
os seus antepassados deram legalidade ao diabo no passado, permitindo
que este lhes afligisse com o mal.
Segundo os defensores dessa doutrina, a morte de Cristo não foi
suficiente para cancelar todo e qualquer tipo de maldição, daí a
necessidade do fiel orar a Deus pedindo a este que lhe revele em que
lugar do passado os seus familiares pecaram contra o Senhor. Ao
descobrir o pecado, bem como o seu nível de profundidade, os
neopentecostais ensinam que o crente precisa então pedir a Deus que
perdoe os pecados dos seus antepassados.
Caro leitor, vamos combinar uma coisa? Não existe o menor
fundamento bíblico para que acreditemos na doutrina das maldições
hereditárias. A morte do Jesus foi suficiente para quebrar todo tipo de
maldição. Paulo afirma que o Senhor nos libertou do império das trevas
e nos transportou para o Reino do Filho do seu amor (Cl 1.13). Se não
bastasse isso, as Escrituras são claras em afirmar que se o Filho nos
libertasse, verdadeiramente seríamos livres (Jo 8.32). Portanto, assegurar
que precisamos quebrar maldições hereditárias e repreender de nossas
vidas espíritos familiares, aponta para um profundo desconhecimento do
significado da cruz.
Vale a pena ressaltar que a Bíblia também nos ensina que somos de
Deus e que, em virtude disto, o maligno não nos toca (1Jo 5.18). Em
outras palavras, isto significa dizer que não existe esta história de
retaliação maligna, até porque o diabo está limitado em suas ações por
Aquele que tudo pode!
Isto posto, afirmo que Satanás não tem a menor condição de
surpreender nosso Deus, pois o Senhor continua soberanamente
governando os céus e a terra. Como bem disse o reformador Martinho
Lutero, “o diabo é o diabo de Deus” e nada que faça pode impedir a
concretização da vontade do Senhor.
Louvado seja o Senhor que nos libertou verdadeiramente e que, por
intermédio de sua cruz, nos tornou livres.

15. Pode o crente em Jesus dar ordens aos anjos?


Fico impressionado como alguns dos evangélicos “veem” anjos. É anjo
subindo, é anjo descendo, é anjo com a bandeja na mão, anjo alto, anjo
baixo, anjo de todo tipo e jeito. Em alguns cultos basta alguém afirmar
que viu um destes que o som de aleluias é quase ensurdecedor. Na
minha caminhada cristã já ouvi inúmeras vezes pessoas relatando que
viram anjos portando espadas de fogo, trazendo bênçãos e arrepiando
fiéis.
Ultimamente a ênfase dada por parte da igreja evangélica aos seres
angelicais chega ao extremo da sandice. Um conhecido pastor afirmou
que anjos tocam bateria, além de cutucar os pregadores, fazendo-os
gargalhar impedindo-os de conduzir o culto com racionalidade. Uma
igreja neopentecostal promoveu a campanha da troca do anjo da guarda.
Outro líder ensinou que o Consolador do crente é um anjo exclusivo
vindo da parte de Deus. Um apóstolo declarou que possui poder para
demitir ou trocar os anjos. Se não bastasse isso, já ouvi relatos de
pessoas que viram anjos trazendo em suas mãos pudins, doces e
guloseimas, contudo, o que me chama atenção é que o contato com estes
seres angelicais não contribuiu em nada para a mudança de
comportamento daqueles que tiveram tais experiências.
Caro leitor, os anjos são criados por Deus e não devem ser
reverenciados e muito menos cultuados. Somente a Deus devemos
adoração. Satanás tentou a Cristo pedindo-lhe adoração e Jesus lhe
respondeu: “Arreda-te, Satanás, porque está escrito: Adorarás o Senhor,
teu Deus, e só a ele servirás” (Lc 4.18). Paulo alertou aos crentes de
Colossos que não aceitassem esta heresia dos falsos mestres. “Ninguém
vos domine a seu bel-prazer, com pretexto de humildade e culto dos
anjos, metendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na
sua carnal compreensão” (Cl 2.18), João, o discípulo amado, foi
admoestado por um anjo a não reverenciá-lo. “E eu, João, sou aquele
que vi e ouvi estas coisas. E, havendo-as ouvido e visto, prostrei-me aos
pés do anjo que me mostrava essas coisas, para adorá-lo. E disse-me:
Olha, não faças tal; porque eu sou conservo teu e de teus irmãos, os
profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus” (Ap
22.8,9).
Quanto a dar ordens aos anjos é importante que entendamos que do
ponto de vista bíblico somente o Senhor tem poder e autoridade para
ordená-los a fazer alguma coisa. Ouso afirmar que quando um crente se
contrapõe a este princípio teológico, tentando comandar anjos, dando-
lhes ordens, ele está tentando tomar o lugar do único e verdadeiro
Senhor dos Exércitos. Vale a pena ressaltar que, em nenhum lugar das
Escrituras, os homens são exortados pelo Senhor a pedir ajuda aos anjos
ou ordená-los a fazer alguma coisa. Segundo a Palavra de Deus, anjos só
executam as ordens do Senhor e de mais ninguém (Sl 23.19-21).
32. Recomendo a leitura do livro “9 Marcas de uma Igreja Saudável”, de Mark Dever. Nele
temos uma imagem muito bíblica e sã de como deve ser uma igreja genuinamente bíblica e
saudável. (São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2007).
33. Igualitaristas: Esta corrente, afirma que Deus originalmente criou o homem e a mulher
iguais; e que o domínio masculino sobre as mulheres foi parte do castigo divino por causa da
queda, com consequentes reflexos socioculturais. Segundo os igualitaristas, mediante o advento
de Cristo, essa punição e reflexos foram removidos, proporcionando consequentemente a
restauração ao plano original de Deus quanto à posição da mulher na igreja. Portanto, agora, as
mulheres têm direitos iguais aos dos homens de ocupar cargos de oficialato da Igreja. Em
contraposição ao movimento igualitarista, há o movimento dos complementaristas o qual
defende que desde a criação – e portanto, antes da queda – Deus estabeleceu papéis distintos para
o homem e para a mulher, visto que ambos são peculiarmente diferentes. No que diz respeito à
dignidade e valor diante de Deus, homem e mulher são essencialmente iguais, mas, no que
concerne ao seu papel, são diferentes e complementares, ou seja, o homem e a mulher, com suas
características e funções distintas se completam. A diferença de funções não implica em
diferença de valor ou em inferioridade de um em relação ao outro, e as consequentes diferenças
socioculturais nem sempre refletem a visão bíblica da funcionalidade distinta de cada um. O
homem foi feito cabeça da mulher – esse princípio implica em diferente papel funcional do
homem, que é o de liderar.
34. Augustus Nicodemus Lopes. Ordenação feminina: O que o Novo Testamento tem a dizer .
Revista Fides Reformata Vol. II, ed. 1 (São Paulo, SP: Editora Mackenzie, 1997)
35. Paulo Romeiro. Evangélicos em Crise (São Paulo, SP: Editora Mundo Cristão, 1995).
36. Recomendo a leitura do excelente livro de Dr. Augustus Nicodemus Lopes sobre o tema:
“Batalha Espiritual” (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2012).
37. O que há de errado com a teologia da prosperidade? O tempora o mores , http://tempora-
mores.blogspot.com.br/2012/06/afinal-o-que-esta-errado-com-teologia.html . Acessado em Julho
de 2013.
38. Folha de São Paulo http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u324070.shtml .
Acessado em Junho de 2013.
39. Recomendo a leitura do livro “O que estão ensinando aos nossos filhos?” de Francisco
Solano Portela Neto (São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2012).
conv1te ao arrepend1mento a 1greja evangél1ca
bras1le1ra

Com lágrimas nos olhos sou obrigado a confessar que boa parte da
Igreja evangélica se perdeu no caminho, não conseguindo disseminar de
forma efetiva a Palavra de Deus. Sem a menor sombra de dúvidas,
afirmo que em algumas das denominações cristãs existe um enorme
desconhecimento das doutrinas básicas do cristianismo, o que tem
acelerado e intensificado o adoecimento do evangelicalismo brasileiro.
Em tempos difíceis como os nossos quero convocar pastores, líderes,
bem como a Igreja de Cristo a arrepender-se dos seus pecados e a
regressarem à Palavra de Deus. Sim! Precisamos nos arrepender das
nossas transgressões, dos nossos crassos erros teológicos, das doutrinas
que afrontam o Criador e de comportamentos que ofendem a santidade
do Eterno. Sim! Precisamos regressar às Escrituras e fazer dela nossa
única regra de fé, prática e comportamento. Sim! Precisamos voltar à
Escola Bíblica Dominical, abandonando definitivamente as coisas de
menino e optando assim por servir ao Senhor com maturidade,
conhecimento bíblico e conteúdo teológico.
Prezado leitor, ser protestante não é somente se identificar com o
protesto feito pelos reformadores contra a corrupção eclesiástica e o
falso ensinamento do século XVI – é muito mais do que isso. Ser
protestante é viver debaixo de um avivamento integral, é resgatar os
valores indispensáveis à fé bíblica através da Palavra, é proclamar
incondicionalmente a mensagem da graça de Deus em Cristo Jesus.
O lema “Eclésia reformata, semper reformanda” deveria estar sempre
ressoando em nossos ouvidos e corações, desafiando-nos à
responsabilidade de continuamente caminharmos segundo a Palavra,
sem nos deixarmos levar por ventos de doutrinas e movimentos que
tentam transformar a Igreja de Cristo num circo eclesiástico, nas mãos
de líderes despreparados ou inescrupulosos – ou os dois!, que
manipulam o povo ao seu bel-prazer, tudo isso em nome de Deus!
Que o Senhor tenha misericórdia de nós e que por sua graça e bondade
nos reconduza ao caminho da Verdade.
Soli Deo Gloria!
Renato Vargens
O Ministério Fiel visa apoiar a igreja de Deus, fornecendo conteúdo
fiel às Escrituras através de conferências, cursos teológicos, literatura,
ministério Adote um Pastor e conteúdo online gratuito.
Disponibilizamos em nosso site centenas de recursos, como vídeos de
pregações e conferências, artigos, e-books, audiolivros, blog e muito
mais. Lá também é possível assinar nosso informativo e se tornar parte
da comunidade Fiel, recebendo acesso a esses e outros materiais, além
de promoções exclusivas.
Visite nosso website
www.ministeriofiel.com.br

Você também pode gostar