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Table of Contents

APRESENTAÇÃ O DA SÉ RIE
Introduçã o
Estratégias prá ticas para a mudança
Simples, Prá tico, Bíblico
Recuperando-se do Abuso Infantil:
cura e esperança para as vítimas.
Traduzido do original em inglês
Recovering from Child Abuse: healing and hope for victims
por David Powlison
Copyright ©2008 Christian Counseling and Educational Foundation.

Publicado porNew Growth Press,


Greensboro,
NC 27404

Copyright © 2016 Editora Fiel


Primeira Ediçã o em Português: 2018

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missã o Evangélica
Literá ria

PROIBIDA A REPRODUÇÃ O DESTE LIVRO POR QUAISQUER


MEIOS , SEM A PERMISSÃ O ESCRITA DOS EDITORES ,
SALVO EM BREVES CITAÇÕ ES , COM INDICAÇÃ O DA FONTE .

Diretor: James Richard Denham III


Editor: Tiago J. Santos Filho
Coordenaçã o Editorial: Renata do Espírito Santo
Traduçã o: D&D Traduçõ es
Revisã o: D&D Traduçõ es
Diagramaçã o: Wirley Correa - Layout
Capa: Wirley Correa - Layout
Ebook: Joã o Fernandes
ISBN: 978-85-8132-520-0
P888r
 
APRESENTAÇÃ O DA SÉ RIE

Gilson Santos

Jay Adams, teó logo e conselheiro norte-americano, nascido em


1929, foi professor de Poimênica no Seminá rio Teoló gico de
Westminster, em Filadélfia, no estado de Pensilvâ nia, Estados
Unidos. Adams é um respeitado escritor e pregador, genuinamente
evangélico e conservador. Enquanto lecionava sobre a teoria e a
prá tica do pastoreio do rebanho de Cristo, ele viu-se na necessidade
de construir uma teoria bá sica do aconselhamento pastoral.
Rememorando a sua trajetó ria, Adams nos informa que, tal como
muitos pastores, nã o foi muito o que aprendeu no seminá rio sobre a
arte de aconselhar. Desiludido com suas iniciativas de encaminhar
ovelhas para especialistas, ele buscou assumir um papel pastoral
mais assertivo e biblicamente orientado no contexto de
aconselhamento.
Em seus esforços, crendo na veracidade e eficá cia da Bíblia, Adams
estabeleceu como objetivo salvaguardar a responsabilidade moral
dos aconselhandos, entendendo que muitas abordagens
terapêuticas e poimênicas a comprometiam. Em seu elevado senso
de respeito e reverência à s Escrituras, Adams reconheceu que a
Bíblia é fonte legítima, relevante e rica para o aconselhamento. Ele
propô s que, em vez de ceder e transferir a tarefa a especialistas
embebidos em seus dogmas humanistas, os ministros do evangelho,
assim outros obreiros cristã os vocacionados por Deus para socorrer
pessoas em afliçã o, devem ser estimulados a reassumir seus
privilégios e responsabilidades. Inserido em uma tradiçã o que
tendia a valorizar fortemente as dimensõ es pú blicas do ministério
pastoral, Adams fincou posiçã o por retomar o prestígio das
dimensõ es pessoais e privativas do ministério cristã o, sobretudo o
aconselhamento. Nisto seu esforço se revelou de importâ ncia
capital. De fato, basta examinar a matriz primá ria do ministério
cristã o, que é a pró pria pessoa de Jesus Cristo, para concluir que,
diminuir a importâ ncia e lugar do ministério pessoal trata-se de
uma distorçã o grave na histó ria da igreja. Adams defende, assim,
que conselheiros cristã os qualificados, adequadamente treinados
nas Escrituras, sã o competentes para aconselhar.
Adams também assumiu com seriedade as implicaçõ es do conceito
cristã o de pecado para o aconselhamento. Em resumo, ele propõ e
que o cristianismo nã o pode contemplar uma psicopatologia que
prescinda de um entendimento bíblico dos efeitos da Queda, e da
pervasiva influência que o pecado exerce no psiquismo dos seres
humanos. Por esta razã o, a abordagem que ele propô s chamou-se
inicialmente de “Aconselhamento Noutético”. O termo noutético é
derivado de uma palavra grega, amplamente utilizada no texto
neotestamentá rio, que significa “por em mente” – formado de nous
[mente] e tithemi [por]. O uso de nouthetéo nos escritos paulinos
sempre aparece estritamente associado a uma intençã o pedagó gica.
O aconselhamento noutético seria entã o aquele que direciona,
ensina, exorta e confronta o aconselhando com os princípios
bíblicos. De acordo com a noutética, o aconselhamento se dá em
confrontaçã o com a Palavra de Deus. Visando nã o apenas uma
mudança comportamental, ele objetiva a inteira transformaçã o da
cosmovisã o, oferecendo as “lentes da Escritura” ao aconselhando.
Num momento posterior, esta abordagem passou a denominar-se
exclusivamente “Aconselhamento Bíblico”.
Sobre estas bases, em 1968 Jay Adams deu início, no Seminá rio
Teoló gico de Westminster, em Filadélfia, ao CCEF - Christian
Counseling and Education Foundation (Fundaçã o para Educaçã o e
Aconselhamento Cristã o), inaugurando um novo momento na
histó ria do aconselhamento cristã o. Adams lançou os principais
conceitos de sua teoria de aconselhamento na obra “O Conselheiro
Capaz” (Competent to Counsel ), publicado em 1970; a metodologia
foi condensada no “Manual do Conselheiro Capaz”, publicado em
1973. No Brasil, a Editora Fiel foi pioneira na publicaçã o dessas duas
obras; a primeira ediçã o de “Conselheiro Capaz” em português foi
publicada em 1977 e o volume com a metodologia publicado
posteriormente. Adams também foi preletor em uma das primeiras
conferências da Editora Fiel no Brasil direcionada a pastores e
líderes.
O legado de Adams no CCEF foi recebido e levado adiante por novas
geraçõ es. Estas procuraram manter-se alinhadas com o nú cleo
central de sua proposta, ao mesmo tempo em que revisaram
aspectos vulnerá veis, e defrontaram-se com algumas de suas
tensõ es ou limites. Alguns destes novos líderes e conselheiros
notabilizaram-se. Estes empenharam-se por um foco mais
direcionado ao ser do que no fazer , colocando grande ênfase nas
dinâ micas do coraçã o, particularmente no problema da idolatria.
Também procuraram combinar o enfoque no pecado com uma
teologia do sofrimento. Procuram oferecer consideraçõ es ao social e
ao bioló gico, com novos enfoques para as enfermidades, inclusive
para o uso de medicamentos. É igualmente notá vel a ênfase no
aspecto relacional do aconselhamento na abordagem desses novos
líderes. Alguns estudiosos do movimento ainda apontam uma maior
abertura e espírito irênico dessas geraçõ es sucedâ neas,
particularmente em sua confrontaçã o com outras abordagens
poimênicas ou terapêuticas.
A Editora Fiel vem novamente oferecer a sua contribuiçã o ao
aconselhamento bíblico, desta vez colocando em português esta
série que enfoca vá rios temas desafiantes à presente geraçã o. A
série original em inglês já se aproxima de três dezenas de livretos.
Este que o leitor tem em suas mã os é um deles. Tais temas inserem-
se no cená rio com o qual o pastor e conselheiro cristã o defronta-se
cotidianamente. Os autores da série pretendem oferecer um
material ú til, biblicamente respaldado, simples e prá tico, que
responda à s demandas comuns nos settings , relaçõ es e sessõ es de
aconselhamento cristã o. Se este material, que representa esforços
das geraçõ es mais recentes do aconselhamento bíblico, puder ajudá -
lo em seus desafios pessoais em tais á reas, ou ainda em seu
ministério pessoal, entã o os editores podem dizer que atingiram o
seu objetivo.
Boa leitura!

Gilson Carlos de Souza Santos é pastor da Igreja Batista da Graça,


em Sã o José dos Campos, possui bacharelado em Teologia e
graduaçã o em Psicologia, e dirige o Instituto Poimênica cujo alvo é
oferecer apoio e promoçã o à poimênica cristã .
Introduçã o
Você foi vítima de um erro terrível. Durante a sua infâ ncia, época
em que você era mais vulnerá vel, ao invés de ser protegido, ajudado
e consolado, você foi abusado. Muito provavelmente, você foi
abusado por uma pessoa que deveria ser digna de confiança – um
membro da família, um professor, um vizinho, um treinador, um
pastor, um amigo. Ao invés de ser protegido, você foi violentado. Foi
tratado com malícia. Determinada pessoa o usou, maltratou e tirou
vantagem de você. Neste momento, você está se perguntando se a
recuperaçã o é possível.
A resposta simples para essa pergunta é sim, a recuperaçã o é
possível. No entanto, você já sabe que nã o pode simplesmente
estalar os dedos e fazer com que tudo melhore. E você sabe que uma
simples resposta nã o o ajudará . Porém, aqui estã o duas verdades
importantes para se ter em mente: 1. Você nã o está sozinho; e 2.
Existe esperança.
A sua recuperaçã o será um processo de aprendizagem e
rememoraçã o dessas duas verdades nã o apenas uma, mas repetidas
vezes. Pense em como o pã o é feito. Ele deve ser amassado; assim, o
fermento se espalhará por todo o pã o. Essas duas verdades devem
se misturar em quem você é até atuarem em cada parte sua. A
atuaçã o dessas verdades na parte mais profunda do seu ser leva
tempo. O dano que você sofreu pode ter sido causado em um ou
mais momentos terríveis, sendo que a cura e a restauraçã o se
desenvolvem num ritmo humano. Elas se desenvolvem no seu ritmo,
como parte da sua histó ria e no decorrer do tempo.
Existem três principais categorias relacionadas ao abuso infantil: o
abuso verbal, o abuso físico e o abuso sexual. Se você tiver sido
abusado verbalmente, determinada pessoa cujas palavras deveriam
ter sido ú teis e gentis, ao contrá rio, humilharam-no e atacaram-no.
Se tiver sido abusado fisicamente, determinada pessoa (talvez, um
dos pais ou outra pessoa com autoridade) o atacou e o machucou. Se
tiver sido abusado sexualmente, determinada pessoa o usou e
violentou uma parte íntima de quem você é.
Seja como for, você foi abusado, e o que lhe aconteceu foi mau –
pecaram contra você. E, agora, você está sofrendo. Deus está atento
ao seu sofrimento e ouve os seus gemidos. Ele ouviu o choro de uma
criança que morria de sede no deserto (Gn 21.17-18); ele ouviu os
gemidos dos israelitas que sofriam como escravos (Ex 2.23-24); e
ele ouve você. Deus tem muito a dizer à queles que experimentaram
o mal nas mã os de outras pessoas. Portanto, ele tem muito a lhe
dizer.

A sua identidade é maior do que o seu abuso


O abuso é uma experiência que o marcou profundamente e que
parece ter a palavra final sobre a sua identidade. No entanto, a
verdade é esta: Deus lhe dá uma identidade diferente.
Independentemente de quais atrocidades lhe aconteceram, elas nã o
sã o a sua identidade. A sua identidade como filho de Deus é muito
mais profunda do que o abuso sofrido.
Quando você chega a Deus por meio da confiança em Jesus, ele lhe
dá uma nova identidade. Você se torna parte da família de Deus.
Você é o seu filho amado. Ouça o que o apó stolo Joã o diz a respeito
de sua identidade: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai,
a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos
de Deus” (1Jo 3.1). Você tem um Pai perfeito no céu que o ama e
deseja encher a sua vida com suas pró prias boas dá divas (Lc 11.13).
Por ser filho de Deus, você nã o está sozinho em um pesadelo de
sofrimento sem propó sito. É verdade que o “coraçã o conhece a sua
pró pria amargura” (Pv 14.10), e nem mesmo o seu melhor amigo é
capaz de entender plenamente o terror, a solidã o, a dor e o horror
pelo qual passou. Contudo, Jesus entende, e ele está com você.
Jesus passou por toda a forma de sofrimento quando esteve neste
mundo. “Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens;
homem de dores e que sabe o que é padecer” (Is 53.3). Ele foi traído
e torturado. Ele conhece bem o seu sofrimento e jamais o deixará (Jo
14.18).

A sua história é maior do que o abuso que sofreu


Sentir a presença e o amor de Jesus lhe dará coragem para
entender que a histó ria da sua vida é maior do que o seu sofrimento.
O que lhe aconteceu nã o é a ú ltima palavra sobre quem você é e para
onde a sua vida está indo. É uma parte significativa da sua histó ria;
porém, nã o é a mais significativa. É somente uma parte da nova
histó ria de sua vida que Jesus está escrevendo.
Pense em José, personagem bíblico (Gn 37.39-45). O abuso e a
traiçã o também se fizeram presentes em grande parte da histó ria
dele. Quando era um adolescente, ele foi vendido para escravidã o
pelos seus irmã os e se tornou escravo no Egito. Depois, foi acusado
falsamente de estupro pela esposa de seu senhor e foi jogado na
prisã o. Apó s anos encarcerado, ele foi libertado e encarregado de
todo o Egito. No fim da histó ria, José reencontra os seus irmã os e, ao
invés de se vingar, ele diz: “Vó s, na verdade, intentastes o mal contra
mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora,
que se conserve muita gente em vida” (Gn 50.20). Deus usou a
terrível traiçã o sofrida por José para colocá -lo em uma posiçã o na
qual conseguisse salvar a sua pró pria família da fome.
José nã o subestimou o que aconteceu com ele. Reconhecia que seus
irmã os intentaram o “mal” contra ele. No entanto, José tinha uma
perspectiva mais ampla. O sentido de sua histó ria era muito maior
do que o mal que havia sofrido. Deus estava em açã o, transformando
em bem o resultado de uma traiçã o extrema. Deus também está
atuando em sua vida. O abuso nã o é a ú ltima palavra sobre a sua
histó ria de vida. Deus tem um propó sito para você.
Redimindo a sua história
O abuso que você sofreu faz parte do cená rio em que suas escolhas
de vida acontecerã o agora. Grandes coisas podem lhe acontecer
como resultado das escolhas que você está tendo de fazer neste
exato momento. Isso nã o quer dizer que você se esquecerá de todo o
mal que lhe foi feito. Martin Luther King nunca se esqueceu das
maldades relacionadas ao racismo. Essa foi a razã o pela qual ele deu
início a um movimento que mudou os Estados Unidos. Candy
Lightner nã o se esqueceu de que sua filha de 13 anos de idade foi
assassinada por um motorista alcoolizado. A morte de sua filha foi o
estímulo para a formaçã o do MADD (Mothers Against Drunk
Driving ), uma organizaçã o que atua com o objetivo de impedir a
conduçã o de veículos por condutores alcoolizados.
Você também pode escolher a forma como irá responder ao mal
que lhe foi feito. Pode se tornar mais grato, alegre, ter mais
propó sito, desenvolver a habilidade de ajudar outras pessoas e viver
sua vida com coragem e intençã o consciente. Há alguns anos, eu
aconselhei uma mulher de 35 anos de idade chamada Joann. Dos
três aos catorze anos de idade, ela sofreu terríveis abusos físicos e
sexuais nas mã os de muitos parentes do sexo masculino. Por fim, ela
foi salva por uma assistente social e levada a um orfanato. Quando
me encontrei com ela, Joann estava casada, tinha dois filhos e havia
se tornado assistente social que aconselhava crianças que haviam
sido abusadas .
Ela nã o havia se esquecido de seu sofrimento e ainda lidava com as
consequências dele; porém, a sua histó ria de vida ia além de seu
abuso. Ela estava criando um lar amoroso para o seu marido e os
seus filhos, bem como alcançando outras pessoas que estavam
sofrendo como ela havia sofrido. O sofrimento dela nã o foi
esquecido; foi redimido.
O Evangelho de Joã o se encerra com este versículo: “Há , porém,
ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se todas elas fossem
relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro
caberiam os livros que seriam escritos” (Jo 21.25). A sua vida é um
daqueles livros sobre os quais Joã o estava falando. Você está dando
prosseguimento à histó ria daquilo que “Jesus fez”. É a histó ria em
que males terríveis lhe aconteceram, mas Jesus apareceu e fez algo –
ele o redimiu e ainda o está redimindo, de forma que você seja capaz
de amar, perdoar e fazer o bem à queles ao seu redor. A sua histó ria
nã o é apenas sobre a dor da traiçã o; é sobre Jesus redimir para um
bom propó sito aquilo que os outros intentaram para o mal.
Estratégias prá ticas para a mudança
Talvez, ao pensar a respeito de sua nova identidade como filho de
Deus e ler sobre Joann, você deseje seguir adiante também. No
entanto, você parece estar preso. Aqui estã o alguns aspectos contra
os quais as pessoas que foram abusadas quando crianças, à s vezes,
lutam:
• Confiar em outras pessoas. Pode parecer impossível confiar em
qualquer pessoa depois de sua confiança ter sido destruída pelas
suas experiências na infâ ncia.
• Ter relações sexuais saudáveis com seu cônjuge. Se tiver sido
abusado sexualmente, o sexo para você foi deturpado e pervertido
pelas trevas.
• Sentir-se cheio de amargura. De que maneira você evita se encher
de amargura quando males terríveis lhe acontecem? Como você
pode aprender a perdoar tamanho erro?
• Disciplinar os seus próprios filhos. Como você aprende a disciplinar
os seus filhos em amor quando foi atacado por seus pró prios pais?
• Lidar com qualquer conflito ou confrontação. De que maneira você
confronta um problema com familiares, amigos ou colegas de
trabalho, quando a ira e a confrontaçã o foram distorcidas de modo
brutal em sua vida?
Talvez você tenha ainda mais coisas para acrescentar a essa lista.
Deus é capaz de trabalhar nessas á reas de sua vida e mudar suas
reaçõ es automá ticas em relaçã o à s pessoas e situaçõ es? Sim, ele é.
Deus pode e mudará você, nã o de uma vez só , mas pouco a pouco no
decorrer de sua vida. Tenho visto Deus agir dessa forma muitas
vezes na vida daqueles que eu aconselho. A mudança começa
quando você enfrenta o que lhe aconteceu tendo Deus em vista.

Enfrentando o seu abuso


Enfrentar o seu abuso talvez seja a ú ltima coisa que você queira
fazer. Muitas pessoas que passaram pelo abuso infantil sã o
aterrorizadas por suas lembranças. Elas têm somente duas maneiras
de lidar com o seu passado: ou o encobrem com a negaçã o e
afazeres, ou ficam presas à s lembranças que sã o um buraco negro de
terror e medo.
Talvez, você esteja trabalhando duro para permanecer na negaçã o e
manter suas lembranças trancafiadas. Fazer isso é semelhante a ter
um leã o no guarda-roupa do seu quarto. Você pode tentar manter
enjaulado o leã o do seu passado de abuso de vá rias formas
diferentes, algumas positivas (trabalhando duro, se exercitando,
alcançando o sucesso, se mantendo ocupado, etc) e outras nem tã o
positivas (você pode usar o sexo, a comida, o á lcool ou as drogas
para atenuar a sua dor). No entanto, no fim, o leã o é extremamente
forte para quaisquer muros que você tenha levantado, e sua mente
está inundada de lembranças. Você revive o seu abuso e, mais um
vez, se enche do medo, da ira e da angú stia que experimentou
quando criança.
Contudo, existe uma terceira forma. Você pode aprender a ouvir as
promessas de Deus e a derramar o seu coraçã o diante dele,
contando-lhe os seus problemas de maneira proposital. Os Salmos, o
livro de oraçã o do povo de Deus por milhares de anos, o ajudarã o a
fazer isso. Nã o há nenhum salmo que retrate a experiência clara de
ser ofendido por meio do abuso infantil, porém, existem muitos que
captam a experiência de ser abusado, maltratado, usado e traído por
outras pessoas. Comece com os Salmos 55, 56 e 57 e os coloque em
sua liturgia pessoal. Você pode reescrevê-los e transformá -los em
oraçõ es que expressarã o o seu coraçã o a Deus, e o coraçã o de Deus a
você.

Utilize os Salmos 55, 56 e 57 para expressar a sua


experiência
Leia esses três salmos e observe como eles expressam a experiência
de como é o abuso. O Salmo 55 foi escrito a partir do fogo e das
trevas de ser traído por alguém pró ximo que deveria ser digno de
confiança. No meio do salmo, Davi diz que nã o foi atacado por um
inimigo evidente; ele era “meu companheiro e meu íntimo amigo”
(Sl 55.13). Essa proximidade tornou a traiçã o ainda pior. Talvez,
você também se sinta dessa forma.
O Salmo 56 fala sobre alguém que se sente aprisionado por pessoas
que o odeiam. Ele está preso. Está amarrado. Ele se sente como se
estivesse trancado em um guarda-roupa. As pessoas querem matá -
lo, feri-lo e torturá -lo. E elas têm todo o poder; ele nã o tem nenhum.
Essa situaçã o descreve alguma experiência sua?
O Salmo 57 fala sobre ter um predador correndo atrá s de você. Davi
o escreveu quando estava em uma caverna se escondendo de seu
inimigo. Aqueles que queriam matá -lo estavam esperando do lado
de fora com um exército. Talvez você se lembre de se sentir da
mesma forma.
Enquanto estiver lendo, observe que esses salmos sã o mais do que
a experiência de traiçã o, impotência e medo. Em meio à s trevas do
abuso, à s trevas da violência e à s trevas da dor, está o clamor da fé.
Davi está se voltando para o seu Deus vivo, todo-poderoso, e
aguardando por socorro e libertaçã o. Ele tem esperança. Tem
alguém bom e poderoso com quem conversar. O mesmo é
verdadeiro para você. A realidade de que o seu Deus o ouve, o
socorre e o defende lhe permitirá abrir a porta do guarda-roupa de
seu abuso, sair do silêncio, da solidã o e do aprisionamento, e
começar a conversar sobre isso com Deus.
Você nã o está sozinho. Davi escreveu esses salmos, e ele passou por
uma experiência semelhante à sua. Você nã o está sozinho. Jesus fez
dos Salmos a voz da sua pró pria experiência. Jesus proferiu essas
palavras. Jesus teve esses sentimentos. Ele estava lá com você. Você
nã o está sozinho.
Para transformar esses salmos em sua pró pria oraçã o, comece
pegando quatro cores diferentes de canetas marca-textos. Você irá
seguir quatro linhas em cada salmo, que o ajudarã o a se expressar e
a redefinir a sua experiência.
O que lhe aconteceu? Pegue a primeira caneta e sublinhe todas as frases,
em cada salmo, que expressem o tipo de coisa que lhe aconteceu quando
criança. Você encontrará frases como “opressã o do ímpio”, “sobre mim
lançam calamidade”, “ao homem estendeu as mã os contra os que tinham
paz com ele” (Sl 55.3,20); “o homem procura ferir-me; e me oprime
pelejando todo o dia”, “sã o muitos os que atrevidamente me combatem”,
“Ajuntam-se, escondem-se, espionam os meus passos” (Sl 56.1-2,6);
“Armaram rede aos meus passos... abriram cova diante de mim” (Sl 57.6).
1. Qual é a sensação? Agora, pegue o segundo marcador e sublinhe
todas as frases que expressam a maneira como você se sentiu – sua
angú stia, seu medo, seu terror. Observe frases como estas: “ando
perturbado... Estremece-me no peito o coraçã o; terrores de morte
me salteiam, temor e tremor me sobrevêm, e o horror se apodera de
mim. Entã o, disse eu: quem me dera asas como de pomba! Voaria e
acharia pouso” (Sl 55.2,4-6); “Em me vindo o temor”, “quando sofri
perseguiçõ es”, “minhas lá grimas” (Sl 56.3,8); “Acha-se a minha alma
entre leõ es”, “a minha alma está abatida” (Sl 57.4,6).
2. O que se diz a respeito de Deus? Utilize o terceiro marcador para
sublinhar o que os salmos dizem a respeito de Deus e do que ele está
fazendo. Comece com algumas dessas frases: “o SENHOR me
salvará ”, “ele ouvirá a minha voz”, “Livra-me a alma, em paz, dos que
me perseguem”, “ele te susterá ” (Sl 55.16-18,22); “Pois da morte me
livraste a alma, sim, livraste da queda os meus pés” (Sl 56.13); “Ele
dos céus me envia o seu auxílio e me livra; cobre de vergonha os que
me ferem... Pois a tua misericó rdia se eleva até aos céus, e a tua
fidelidade, até à s nuvens” (Sl 57.3,10).
3. O que diz a fé? Utilize o quarto marcador para sublinhar todas as
frases que sã o gemidos de fé: “Dá ouvidos, ó Deus, à minha oraçã o;
nã o te escondas da minha sú plica. Atende-me e responde-me”, “Eu,
porém, invocarei a Deus, e o SENHOR me salvará ”, “Eu, todavia,
confiarei em ti” (Sl 55.1-2,16,23); “Tem misericó rdia de mim, ó
Deus”, “Em me vindo o temor, hei de confiar em ti”, “Neste Deus
ponho a minha confiança e nada temerei. Que me pode fazer um
mortal?”, “Contaste os meus passos quando sofri perseguiçõ es;
recolheste as minhas lá grimas no teu odre”, “Deus é por mim” (Sl
56.1,3-4,8-9); “Tem misericó rdia de mim, ó Deus, tem misericó rdia,
pois em ti a minha alma se refugia. À sombra das tuas asas me
abrigo, até que passem as calamidades. Clamarei ao Deus Altíssimo”,
“Firme está o meu coraçã o, ó Deus, o meu coraçã o está firme” (Sl
57.1-2,7).

Ore em voz alta


Pegue as sentenças que sublinhou e reescreva-as com as suas
pró prias palavras, como uma oraçã o. Agora, encontre um lugar – o
quintal, o seu carro, o seu quarto – onde você se sentir à vontade
para fazer clamores a Deus e faça essas oraçõ es em voz alta a ele.
Lembre-se: você está conversando com o Senhor que o ama, que o
escuta e que agirá para salvá -lo e irá redimir a sua alma em paz.
Orar em voz alta o ajuda a perceber que Deus está bem ali,
escutando-o.
A sua oraçã o leva os seus problemas reais a uma pessoa, o Senhor,
que é a sua ú nica esperança. Observe como o salmista é repetitivo.
Ele conta a Deus sobre os seus problemas de muitas maneiras
diferentes. Ele nã o se importa em ser repetitivo. Ele está tendo uma
conversa vivificante e honesta com Deus. Nã o é um diá logo pomposo
e mecâ nico, como se estivesse fazendo suas oraçõ es
automaticamente. Quando se está saindo das trevas do abuso
infantil, é importante continuar falando sobre o assunto – fale duas
vezes, fale 10 vezes, fale todos os dias. Continue clamando ao Deus a
quem ama; o Deus de quem precisa; o Deus que é a sua ú nica
esperança.
A sua resposta ao abuso
Derramar o seu coraçã o a Deus em oraçã o o preparará para lidar
com suas respostas improdutivas em relaçã o ao abuso passado.
Se nã o fizer isso, você continuará preso. Uma das razõ es de isso ser
tã o difícil de se fazer é porque a sua reaçã o ao abuso, de modo geral,
parece muito menos errada do que aquilo que lhe fizeram. A sua
vida foi arruinada – por isso, você é amargo e rancoroso. Você sofreu
a traiçã o da confiança em idade precoce – por isso, tem medo das
outras pessoas e nã o consegue confiar em ninguém. Suas
lembranças sã o horríveis – entã o, você afoga a suas má goas na
bebida, nas drogas ou no ato sexual. Suas reaçõ es parecem pequenas
em comparaçã o ao mal que lhe aconteceu.
No entanto, só porque a balança nã o está em equilíbrio segundo o
nível humano, nã o significa que as suas reaçõ es estejam corretas.
Deus o chamou para amar o seu pró ximo. A amargura, o
afastamento, o medo e o escapismo nã o sã o formas de amor. O seu
amor pelas outras pessoas deve estar enraizado em seu amor por
Deus (Mt 22.37-39). Quando você está vivendo para a sua pró pria
proteçã o, consolo ou desejo de fuga, você nã o está amando a Deus
nem as pessoas ao seu redor.
O apó stolo Paulo nos disse para o que devemos viver: “Pois o amor
de Cristo nos constrange, julgando nó s isto: um morreu por todos;
logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que
vivem nã o vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles
morreu e ressuscitou” (2Co 5.14-15).
A razã o de cometermos “pequenos” erros em resposta aos enormes
erros cometidos contra nó s é porque estamos vivendo para nó s
mesmos, nã o para Jesus. Contudo, o amor de Deus em Cristo nos
transforma. Uma marca dessa transformaçã o é o fato de os nossos
olhos estarem abertos à nossa necessidade de um Salvador.
Entendemos que Jesus morreu por causa de nosso egocentrismo e
nossa incredulidade. Percebemos como é grande a nossa
necessidade da misericó rdia de Deus. Quando compreender e
conhecer a misericó rdia de Deus, você será capaz de conceder
misericó rdia e perdã o. Isso nã o acontece do dia para a noite. No
entanto, conforme você continuar a derramar o seu coraçã o a Deus e
a lhe pedir misericó rdia, ele o transformará . A sua confiança em
Deus aumentará . A sua capacidade de amar os outros aumentará . A
sua vida nã o será mais definida pelo abuso, mas pelo amor e
misericó rdia de Deus por você.
Quando aprender a depender, dia a dia, de Deus para obter
misericó rdia, você será capaz de confiar nele para consertar os erros
que foram cometidos contra você. Leia o que Deus diz a respeito de
como lidar com o mal:
Nã o torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante
todos os homens; se possível, quanto depender de vó s, tende paz com
todos os homens; nã o vos vingueis a vó s mesmos, amados, mas dai lugar à
ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que
retribuirei, diz o Senhor. Pelo contrá rio, se o teu inimigo tiver fome, dá -lhe
de comer; se tiver sede, dá -lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoará s
brasas vivas sobre a sua cabeça. Nã o te deixes vencer do mal, mas vence o
mal com o bem (Rm 12.17-21).
Por que você nã o deve tornar mal por mal? Porque algo muito
maior está acontecendo . Deus corrigirá as coisas. Você está vivendo
no reino dele – nã o no seu ou no dos seus agressores – e a justiça
dele será feita.

A sua resposta ao seu agressor


Que tipo de relacionamento você pode ou deve ter com a pessoa
que abusou de você? A sua esperança quanto ao seu relacionamento
deve ser a de reconciliaçã o verdadeira com base no arrependimento
honesto por parte da pessoa que errou com você. À s vezes, isso
acontece, mas nem sempre é possível ou prudente. À s vezes, o
agressor se foi – ou está até morto. Logo, a reconciliaçã o nã o é
possível, porém, o perdã o ainda é possível. Nos textos de Mateus
6.12 e Marcos 11.25, Jesus enfatiza a oraçã o junto com o perdã o. O
perdã o começa com o seu relacionamento com Deus, pois todas as
alternativas para o perdã o – amargura, medo, o guardar rancor, a
falta de confiança em qualquer pessoa – sã o coisas pelas quais Deus
precisa perdoá -lo. Ao experimentar o seu perdã o, você será capaz de
oferecer perdã o.
No entanto, a Bíblia também orienta que se vá até a pessoa que o
ofendeu. O ideal é ir até essa pessoa, tentar levantar a questã o e
achar uma soluçã o. Contudo, em casos que envolvem o abuso
infantil, talvez nã o seja prudente fazer isso. Por exemplo, caso a
outra pessoa ainda seja abusiva, você nã o deve ir. O caso extremo se
dá quando você está lidando com um criminoso, e você se colocaria
em perigo se tentasse ter um relacionamento. No entanto, você
ainda é chamado a tratar dessa questã o presente em seu coraçã o
perante Deus. Você ainda é chamado a orar pelo seu inimigo.
À s vezes, você tem a oportunidade de voltar, mesmo quando nã o
acredita que seu agressor tenha mudado. Eu aconselhei uma mulher
cristã de 30 anos de idade, chamada Lisa, que havia sido molestada
sexualmente por seu pai quando era pré-adolescente e adolescente.
Ela se convenceu de que precisava voltar e tentar construir um
relacionamento com o seu pai, apesar de nã o confiar nele.
Entã o, ela ligou para ele e lhe disse: “Eu nã o confio em você. Você
nunca admitiu o que fez ou reconheceu que sua atitude foi errada.
No entanto, em meu coraçã o, eu o perdoei e gostaria de reconstruir
um relacionamento. Por isso, nos encontraremos em um lugar
pú blico”. Eles se encontraram em uma cafeteria, e ela estabeleceu as
regras. Lisa disse: “Se houver quaisquer palavras ou açõ es
inadequadas, eu vou embora. Porém, eu quero amar você”.
Ela deu início a uma iniciativa bem discreta de amor. Uma vez por
mês, ela fazia alguma coisa para se achegar a ele, fosse enviando um
cartã o ou telefonando-lhe. E, entã o, a cada três ou quatro meses, eles
se encontravam, mas sempre em um lugar pú blico. E ele obedecia à s
regras. Ele nã o reconhecia o abuso; ele ainda tentava negá -lo e
encobri-lo. No entanto, ela continuou sendo muito clara a respeito
do passado e compartilhando a sua fé em Cristo com ele.
Ela me escreveu quase cinco anos apó s nó s termos interagido e
disse que seu pai havia tido câ ncer e morrido. Contudo, segundo a
maravilhosa providência de Deus, em torno de um mês antes de
morrer, ele confessou tudo, pediu perdã o a ela e entregou a sua vida
a Cristo. Portanto, no fim dessa histó ria, houve redençã o.
Ela nã o fez o que era fá cil (excluir o seu pai de sua vida), mas nã o
foi ingênua para acreditar que fosse possível voltar e fingir que tudo
ficaria bem. Ela estabeleceu estruturas cautelosas repletas de graça
que preservaram o pai de fazer o mal e a filha de sofrer o mal. Além
do mais, nessa situaçã o em particular, Deus utilizou o amor de Lisa
como um instrumento humano que trouxe salvaçã o a um homem
muito mau.

A recuperação é um projeto comunitário


Observe que Lisa nã o tentou tomar a decisã o a respeito de como
chegar até o seu pai sozinha. Ela pediu conselho e oraçã o de pessoas
em quem confiava. Você está trilhando um caminho difícil. No
entanto, você nã o está sozinho enquanto caminha. O seu fiel
Salvador está com você, e ele também enviará pessoas para
caminhar com você. Você descobrirá que nem todas as pessoas com
as quais compartilha a sua histó ria lhe serã o ú teis. Algumas podem
culpá -lo, outras só sentirã o pena de você, outras lhe oferecerã o
respostas banais (“apenas confie em Jesus”, ou “consiga um grupo de
apoio”, ou “tome este medicamento”) e outras tratarã o você como
uma pessoa machucada cuja recuperaçã o nã o é possível.
Busque pessoas para compartilhar a sua histó ria que
compreendam que coisas terríveis acontecem, embora nó s
tenhamos um Deus maravilhoso que excede essas coisas com amor e
fé inabalá veis. Você precisa falar nã o somente sobre o que lhe
aconteceu, mas também sobre a maneira como você reagiu a ela, e
como o Senhor o ajudará a retribuir o mal com bem.
Busque uma pessoa que levará a sério o que lhe aconteceu, que será
compassiva e terá uma visã o de como Deus pode redimir você e o
seu passado.

Dê um passo de cada vez


À s vezes, os cristã os o fazem acreditar que, se você simplesmente
conseguir achar a resposta correta para o seu problema, poderá
aplicá -la e o seu problema será resolvido de maneira instantâ nea!
Porém, essa nã o é a forma de Deus. Deus é um viticultor que apara
de forma cuidadosa e lenta as suas videiras no decorrer dos anos. O
Pai trabalha em nó s por anos no decorrer de nossas vidas.
Sendo assim, busque por uma mudança lenta e inabalá vel. O que
você pode esperar? Você pode esperar que, se estiver com muito
medo, inclusive de encarar o seu agressor, romper a porta e trazer
luz para o turbilhã o escuro é um passo significativo. Quando a sua
dor estiver intensa e esmagadora, você pode esperar que ela
diminua à medida que começar a levá -la a Deus utilizando os Salmos
55, 56 e 57.
A cura e a paz nã o surgirã o instantaneamente, mas com o passar do
tempo. Talvez existam partes daquilo que lhe aconteceu que nã o o
deixarã o até a volta de Cristo. Somente no retorno de Cristo, quando
ele fizer novas todas as coisas, toda lá grima será enxugada (Ap
21.4). Você está marcado pelo sofrimento, mas esse sofrimento se
tornou o seu contexto para conhecer a Deus. Você está marcado pelo
sofrimento, porém aprendeu a dar pequenos passos de obediência,
amor sá bio e esperança. De forma ainda mais surpreendente, você
será capaz de socorrer outros sofredores.
Uma mulher que havia passado pelo pior cená rio de abuso infantil
veio até mim em busca de aconselhamento pastoral. Ela tinha trinta
e poucos anos e era cristã há quinze. Ela já havia dado muitos passos
na direçã o correta. Ela teve de chegar à fé em Deus. Ela havia
percebido o seu pró prio orgulho, temor do homem e covardia, e
pediu pela misericó rdia de Deus. Essa mulher era professora e se
achegava, em especial, à s crianças que estavam sofrendo. O seu
sofrimento foi, aos poucos, sendo transformado. Nã o foi por acaso
que ela se envolveu em seu trabalho com crianças, em especial, com
aquelas que haviam sido abusadas, negligenciadas e abandonadas.
Sua vida demonstrava que ela nã o havia superado a situaçã o. No
entanto, encarar o seu abuso e ir até Deus com o seu sofrimento a
levou a um profundo relacionamento com o Pai. Ela vivia como
serva de Deus, trabalhando para redimir males neste mundo
sofredor.
Você também pode começar com pequenos passos de obediência.
Talvez, o seu padrã o seja este: quando começa a pensar a respeito
do que aconteceu, você se afunda em desespero por duas horas e sai
devorando um pacote inteiro de batatas fritas e bebendo um
refrigerante de dois litros. Um pequeno passo de obediência pode
estar em você perceber, em meia hora, que Deus não quer isso. Existe
um Deus que me chama a me despir de mim mesmo, me chama para
fora do poço, e para quem eu posso chorar. Entã o, você começa a orar
o Salmo 55 e diz a Deus que você parece estar fugindo - fugindo da
autocomiseraçã o, do farisaísmo... e das batatas fritas.
Talvez você decida dizer “oi” para uma pessoa ao invés de evitá -la,
ou se esforce para deixar de lado a preocupaçã o consigo mesmo, ou
dê um abraço em seu filho e pergunte como foi o dia dele. Essas
pequenas coisas sã o passos enormes e radicais de obediência, e os
anjos no céu se alegram porque a gló ria de Deus está sendo
manifestada em sua vida por meio dessas escolhas pequenas e sutis.
Almeje além da recuperação
A recuperaçã o o traz de volta da destruiçã o para o estar bem. No
entanto, Deus está em busca de coisas maiores. Ele está em busca de
sua redençã o. O Senhor tem um propó sito para você que procede da
sua experiência de vida, um chamado grande e santo. Paulo diz que
Deus “nos conforta em toda a nossa tribulaçã o, para podermos
consolar os que estiverem em qualquer angú stia, com a consolaçã o
com que nó s mesmos somos contemplados por Deus” (2Co 1.4).
À medida que for aprendendo a forma como Jesus Cristo conhece,
entra e transforma a sua afliçã o específica nesta vida, você
conseguirá ajudar outras pessoas que estã o enfrentando todos os
tipos de afliçã o. A sua compaixã o, sabedoria e esperança da
redençã o trarã o a luz de Deus para um mundo que está morrendo
em trevas e sofrimento. Entã o, você será capaz de dizer junto com
José: “Vó s, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o
tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve
muita gente em vida” (Gn 50.20).
Simples, Prá tico, Bíblico

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