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TABLE OF CONTENTS

Sumá rio
Introduçã o
Oficina de Reparos 1 | Verificaçã o da Realidade
Oficina de Reparos 2 | Revisã o
Oficina de Reparos 3 | Descanso
Oficina de Reparos 4 | Recriaçã o
Oficina de Reparos 5 | Relaxar
Oficina de Reparos 6 | Repensar
Oficina de reparos 7 | Reduzir
Oficina de Reparos 8 | Reabastecer
Oficina de Reparos 9 | Relacionamentos
Oficina de Reparos 10 | Ressurreiçã o
Agradecimentos
Leia também
Leia também
“A verdade simples é esta: eu precisava deste livro exatamente
agora! Existem verdades neste volume — entendimentos pastorais e
conselhos que curam — que falam de maneira muito pessoal e terna.
Ocasionalmente, o ponto de Murray é tã o claro — claro demais — a
ponto de parecer que recebi um tapa na cara. Mas sempre, sempre, o
ponto é me conduzir a Cristo e ao abraço do evangelho. No melhor
sentido possível, isto é remédio para a alma, e sou grato ao autor por
escrevê-lo. Realmente parece que ele o escreveu para mim.”
Derek W. H. Thomas, Pastor titular da First Presbyterian Church ,
Columbia, South Carolina; Professor de teologia sistemá tica e
pastoral, Reformed Theological Seminary – Atlanta
“Este livro é muito atual. Para começar, depois que você o tiver lido,
dormirá melhor. Entã o, você ser á levado ao encontro da teologia
essencial e os detalhes de todas as coisas ligadas à nossa vida
estressada, em que David oferece sabedoria em cada pá gina. Este
livro é perfeito para grupos de homens.”
Ed Welch, conselheiro; membro do corpo docente da Christian
Counseling and Educational Foundation
“Por tempo demais, quer consciente quer subconscientemente, nó s
cristã os temos comprado a mentira plat ô nica de que o esp í rito é
importante, mas nã o o corpo. O resultado é que temos
negligenciado, talvez at é mesmo usado mal o nosso corpo. Nã o é de
admirar que lutemos com problemas de alimento, de sono e de sa
ú de — tanto física quanto mentalmente. Em Reset , David Murray
nos faz retornar a uma antropologia bíblica, dando-nos bases
bíblicas e teoló gicas com as quais podemos reorganizar nossa vida
como pessoas inteiras — de corpo e esp í rito — para a gló ria de
Deus, para o nosso bem-estar, e para o serviço ao pró ximo.”
Juan R. Sanchez, Pastor titular da High Pointe Baptist Church ,
Austin, Texas;
“De um vasto reservató rio de experiências pessoais, pesquisas
sociais autenticadoras e sabedoria teoló gica para todo o tempo,
David Murray faz brilhar uma luz esclarecedora sobre os obscuros
perigos do esgotamento pastoral. Ele oferece também direçã o
prá tica, sobre como o jugo suave de aprendizado com Jesus torna
possível a vida marcada pela graça, a qual conduz à integridade
pessoal e vocacional. Recomendo muito esta abordagem necessá ria.”
Tom Nelson, autor de Work Matters ; Pastor titular da Christ
Community Church , Overland Park, Kansas; Presidente do Made to
Flourish
“Homens, este livro cheio de sabedoria é como um treinador pessoal
para a sua vida diá ria. Aquele que o escreve entende o que significa
ser homem, com os cuidados e sonhos de um homem. Ele se
preocupa profundamente com o corpo e a alma masculina que Deus
deu a você. Você foi criado com grande propó sito. David Murray
quer ajudá -lo a aprender como avaliar de maneira prá tica a sua vida,
a recuperar o seu propó sito, e a viver com propó sito!”
Zack Eswine, Pastor titular da Riverside Church , Webster Groves,
Missouri; autor de O Pastor Imperfeito (Editora Fiel)
“ Reset é um livro cheio de surpresas. Enquanto as estatísticas e os
soció logos brigam por espaço ao lado de Charlie e a fantá stica
fá brica de chocolate e um haggis de kilt , tudo é colocado dentro de
robusta antropologia bíblic a e da psicologia pastoral bem
fundamentada. Tudo isso é permeado com fino toque de humor
escocês autodepreciativo. Dr. Murray é como Jeremias no rigor e
amor com o qual procura ‘arrancar e derrubar… construir e plantar’.
Mas é também como Jesus ao empregar a graça desconstrutora e
reconstrutora do evangelho. Eis um livro repleto de sabedoria
espiritual pr á tica – e uma leitura essencial.”
Sinclair B. Ferguson, Professor de Teologia Sistemá tica, Redeemer
Seminary, Dallas, Texas
“Em Reset , David Murray tira nossos dedos do aperto mortal que
sofremos pela idolatria ao ativismo. Confesso ser viciado em
trabalho, assim este livro chegou na hora certa para mim.
Implementei rapidamente as estratégias delineadas no livro, e
experimentei resultados imediatos em termos de al í vio, descanso e
paz. Este livro é implacavelmente honesto, refrescantemente
conciso e eminentemente pr á tico, e pode literalmente salvar o seu
casamento, o seu ministério e a sua saú de. Eu me vejo visitando
novamente o Reset toda vez que preciso me lembrar da graça de
ambos: trabalho e descanso.”
Jemar Tisby, cofundador e presidente da Reformed African
American Network
“Você tem em mã os o que possivelmente será o livro mais
culturalmente relevante para pastores que eu tenha lido. Contida
neste livro está a resposta à epidemia entre pastores e homens
cristã os que se esforçam muito, que estã o em colapso f í sico,
emocional e espiritual, devido ao ritmo veloz exigido pela cultura
moderna. Murray expõ e um plano totalmente bíblico, imensamente
prá tico, para qualquer homem cristã o que queira de volta a sua vida
que foi capturada pela escravidã o de sua agenda. O belo testemunho
pessoal de Murray da pró pria necessidade de descanso vale pelo
livro todo. Este livro ser á leitura obrigató ria para todo pastor que
conheço.”
Brian Croft, Pastor titular da Auburndale Baptist Church , Louisville,
Kentucky; fundador do Practical Shepherding; docente senior no
Church Revitalization Center, The Southern Baptist Theological
Seminary
SUMÁ RIO
Introduçã o
Oficina de Reparos 1 | Verificaçã o da Realidade
Oficina de Reparos 2 | Revisã o
Oficina de Reparos 3 | Descanso
Oficina de Reparos 4 | Recriaçã o
Oficina de Reparos 5 | Relaxar
Oficina de Reparos 6 | Repensar
Oficina de reparos 7 | Reduzir
Oficina de Reparos 8 | Reabastecer
Oficina de Reparos 9 | Relacionamentos
Oficina de Reparos 10 | Ressurreiçã o
Agradecimentos
Leia também
Leia também
Sobre o Ministério Fiel
Aos pastores, presbíteros e diá conos da
Grand Rapids Free Reformed Church.
Vocês me ensinaram, por palavra e exemplo,
o que significa ser um homem de Deus.
INTRODUÇÃ O
Foi um dos momentos mais humilhantes de minha vida. Eu
acabara de passar por uma bem-sucedida temporada de inverno nas
corridas do colégio e estava começando o treino para as corridas da
primavera. O treinador começou com uma série de corridas de
oitocentos metros, com o objetivo de dividir os corredores de meia e
de longa distâ ncia em primeiro e segundo times. Eu nã o treinara
antes porque estava acostumado a corridas muito mais longas em
condiçõ es muito piores.
Sabia que teria de correr um pouco mais depressa na distâ ncia
mais curta; assim, zarpei ao som do tiro. Quando estava no meio da
primeira volta, me achava uns bons cinquenta metros adiante de
todos os demais. “Isso é muito fá cil”, pensei. Nã o tinha os sinais
usuais de corrida em campo para me ajudar a cronometrar minha
velocidade, mas numa corrida tã o curta em uma temperatura tã o
agradá vel da primavera, o que poderia dar errado?
No final da primeira volta, meus pulmõ es começavam a arrebentar
e minha liderança por cinquenta metros passou a ser de vinte e
cinco. Logo, um corredor me ultrapassou e, em seguida, outro e mais
outro, até que um dos corredores piores da minha turma passou por
mim com um sorriso de deboche. No marco de seiscentos metros,
resolvi ficar “machucado” e caí desmontado ao lado da pista.
Do modo mais difícil, aprendi que manter o passo certo na corrida
é uma das habilidades mais importantes para os atletas de corrida.
Se formos devagar demais, fracassamos, sem jamais vencer ou
cumprir todo o nosso potencial. Se formos depressa demais,
fracassamos ao nos ferir ou perdendo a força antes de chegar à linha
de chegada. Encontrar o ritmo perfeito, o doce ponto entre devagar
demais e depressa demais, é essencial para o sucesso e a
longevidade como atleta — e como cristã o.
ACELERAR E DESACELERAR
Em anos recentes, numerosos líderes cristã os têm conclamado
cristã os letá rgicos e de coraçã o dobre a acelerar o seu ritmo, a
dedicar mais de seu tempo, talentos, dinheiro e esforços para servir
o Senhor na igreja local e no trabalho evangelístico, em casa e no
exterior. Dou boas-vindas a essa mensagem “radical” de “nã o
desperdice a sua vida”, de acelere o passo, e me alegro por seu
impacto positivo sobre milhares de cristã os, especialmente entre as
geraçõ es mais jovens.
Há outros, porém, muitos deles cristã os fiéis e zelosos,
especialmente aqueles com mais de trinta e cinco anos de idade, que
precisam ouvir uma mensagem diferente: “Desacelere o passo ou
você nunca vai terminar a corrida”. Como advertiu Brady Boyd em
seu livro Addicted to Busy: “Afinal, todo problema que vejo em cada
pessoa que conheço é um mexer-se rá pido demais por tempo
demais em demasiados aspectos da vida”. 1
Nã o estou propondo que ponhamos os pés para cima e saiamos da
vida e do serviço cristã o. Nã o. Estou falando de ajustar com cuidado
as mudanças na vida ao envelhecermos, quando as
responsabilidades aumentam, as famílias crescem, os problemas se
multiplicam, os níveis de energia diminuem, e surgem complicaçõ es
na saú de. É o que os corredores de sucesso fazem ao manter o ritmo
certo. Sã o sensíveis a mudanças significativas em si e à s condiçõ es
da corrida, configurando novamente o ritmo para evitar se
machucar ou cansar demais, garantindo um final feliz e bem-
sucedido.
Descobri que essa habilidade de manter o ritmo está em falta entre
homens cristã os, sendo que o resultado é que muitos —
especialmente aqueles mais dedicados a servir a Cristo em suas
famílias, no seu lugar de trabalho e na sua igreja local — estã o
desmoronando ou murchando antes da corrida terminar. Mas isso
nã o é um problema apenas de cristã os; é também um problema
cultural. Nos Estados Unidos, perdem-se uns duzentos e vinte e
cinco milhõ es de dias de trabalho a cada ano devido ao estresse; sã o
quase um milhã o de pessoas que faltam ao trabalho a cada dia. 2 E,
os dados a respeito de pastores sã o especialmente preocupantes,
com altos índices de estresse, depressã o e esgotamento, os quais
levam a corpos quebrados, mentes detonadas, coraçõ es
despedaçados, casamentos falidos, igrejas quebradas. (O
esgotamento é responsá vel por vinte por cento de todas as
demissõ es de pastores. 3 ) Isto nã o nos surpreende, visto que as
pesquisas revelam que os pastores relegam exercício físico, nutriçã o
e sono a uma prioridade muito inferior à de outros trabalhadores. 4
Já estive nessa condiçã o e fiz isso — sofrendo as consequências.
Através de experiências pessoais dolorosas, e também por
aconselhar muitas outras pessoas desde entã o, aprendi que Deus
graciosamente tem provido vá rias maneiras para reajustar vidas
quebradas e esgotadas, e para nos ajudar a viver orientados pela
graça dentro de uma cultura de esgotamento.
Embora dois esgotamentos nã o sejam idênticos, ao aconselhar
inú meros cristã os que passam por isso, tenho notado que a maioria
tem em comum uma coisa — existe “deficit da graça”. Nã o é que
estes cristã os nã o creiam na graça. De modo nenhum. Todos eles
estã o bem fundamentados nas “doutrinas da graça”, e muitos deles
sã o pastores que pregam a graça poderosamente cada semana. Os
“cinco solas” e os “cinco pontos” sã o para eles alimento e bebida
teoló gica, mas possuem uma desconexã o entre a graça teoló gica e
sua vida diá ria, resultando em cinco deficit da graça.
CINCO DEFICIT DA GRAÇA
Primeiro, o poder motivador da graça está em falta. Como ilustraçã o,
tomemos cinco pessoas que imprimem Bíblias na mesma linha de
montagem. O Sr. Dó lar pergunta: “Como consigo ganhar mais
dinheiro?” O Sr. Ambicioso pergunta: “Como vou conseguir uma
promoçã o?” O Sr. Agradador pergunta: “Como posso deixar meu
chefe mais feliz?” E, o Sr. Egoísta pergunta: “Como posso obter
satisfaçã o pessoal em meu trabalho?” Todos eles parecem se sentir
chateados. Entã o, encontramos com o Sr. Graça, que pergunta: “Em
vista da graça maravilhosa de Deus em Cristo para mim, como
poderei servir melhor a Deus e ao pró ximo aqui, no meu trabalho?”
Do lado de fora, parece que todos os cinco estã o fazendo o mesmo
trabalho, mas por dentro, sã o completamente diferentes. Os
primeiros quatro estã o lutando, estressados, ansiosos, temerosos e
exaustos. O Sr. Graça, porém, está tã o energizado por gratidã o, pela
graça, que o seu trabalho o satisfaz e estimula em vez de esgotá -lo.
Onde a graça nã o estiver abastecendo uma pessoa de dentro para
fora, essa pessoa se queima de dentro para fora.
Também está ausente o poder moderador da graça. Ao lado do Sr.
Graça, o Sr. Perfeccionista se orgulha de seu desempenho sem
defeitos. Caso ele cometa um erro no trabalho, ele repreende e
castiga a si mesmo. Leva esse perfeccionismo legalista ao
relacionamento com Deus e com o pró ximo, resultando em
constantemente decepcionar-se consigo mesmo, com os outros, e
até mesmo com Deus.
O trabalho do Sr. Graça tem a mesma alta qualidade que o trabalho
do Sr. Perfeccionista, mas a graça modera suas expectativas. Aos pés
da cruz, ele aprendeu que nã o é perfeito e jamais o será . Aceita que
tanto seu trabalho quanto os seus relacionamentos sã o falhos. Em
vez de se atormentar com essas imperfeiçõ es, calmamente as leva ao
Deus perfeito, sabendo que, por sua graça, Deus perdoa suas falhas
e, em amor, aceita-o como perfeito em Cristo. Para obter aprovaçã o
humana ou divina, ele nã o precisa servir, sacrificar-se, ou sofrer,
porque Cristo já serviu, sacrificou-se, e sofreu em favor dele.
Sem a graça motivadora, apenas descansamos em Cristo, e nã o
agimos. Sem a graça moderadora, corremos sem parar — até nos
esgotarmos em tudo. Precisamos da primeira graça para nos
aquecer ao fogo quando estivermos perigosamente frios;
precisamos da segunda para nos refrescar quando estivermos
perigosamente quentes. A primeira nos tira da cama; a segunda nos
põ e para dormir na hora certa. A primeira reconhece as exigências
justas de Cristo sobre nó s; a segunda recebe a plena provisã o de
Cristo para nó s. A primeira diz: “Apresentem o corpo em sacrifício
vivo”; a segunda diz: “O seu corpo é o templo do Espírito Santo”. A
primeira vence a resistência de nossa “carne”; a segunda respeita as
limitaçõ es da nossa humanidade. A primeira nos faz aumentar a
velocidade; a segunda nos força a ir mais devagar. A primeira diz:
“Filho meu, dá -me as tuas mã os”; a segunda diz: “Filho meu, dá -me o
teu coraçã o”.
O poder multiplicador da graça também é raro em vidas esgotadas.
Na linha de montagem, alguns obreiros cristã os sã o impulsionados
por alvos de produçã o. Se estiverem aquém de sua quota diá ria de
Bíblias, vã o para casa deprimidos, porque “cada Bíblia que deixamos
de imprimir e empacotar é uma alma nã o alcançada”. Como tudo
depende do seu suor e mú sculos, eles trabalham horas extras e
quase nã o têm tempo para oraçã o pessoal.
Porém, o Sr. Graça, trabalha no horá rio normal, e ainda tem tempo
e paz para orar pedindo a bênçã o de Deus sobre cada Bíblia que
passa por suas mã os. Trabalha muito, mas depende da graça de
Deus para multiplicar o seu trabalho. Reconhece que, enquanto uma
pessoa planta a outra rega, e Deus dá o crescimento. Vai para casa
feliz, sabendo ter feito o que pô de, e ao deixar a fá brica à s cinco da
tarde, ele ora, pedindo que Deus multiplique sua obra muito além do
que os mú sculos ou as horas poderiam fazer.
O poder da graça que alivia tem faltado frequentemente quando
uma pessoa se esgota. O Sr. Controlador, por exemplo, pensa que
tudo depende dele. Ele se envolve em cada passo do processo
produtivo, constantemente irritando os outros trabalhadores com o
seu microgerenciamento. Fica furioso com qualquer quebra na
produçã o, gritando com as pessoas e até mesmo com as má quinas
quando emperram. Ele diz crer na “graça soberana”, mas ele é o
soberano e a graça fica limitada à salvaçã o pessoal.
Em contraste, o Sr. Graça reconhece que Deus é soberano mesmo
nos pequenos detalhes da vida, e abre mã o do controle, entregando
tudo nas mã os de Deus. Trabalha com esmero, mas humildemente
se submete aos empecilhos e problemas, aceitando-os como testes
de sua confiança no controle de Deus. Em meio aos desafios e
atrasos, muitas vezes pode ser ouvido sussurrando a si mesmo:
“Solte. Abra mã o, abra mã o”.
Algo que também falta em muitos esgotamentos é o poder receptor
da graça. Diferente do Sr. Graça, a maioria de seus chefes e colegas
de trabalho recusa aceitar alguns dos melhores dons de Deus. Nã o
recebem a graça de um descanso (Sabbath ) semanal do domingo, a
graça do sono suficiente, a graça do exercício físico, a graça de estar
com a família e amigos, ou a graça da comunhã o cristã . Todos estes
sã o dons que o nosso amado Pai celestial proveu para nos dar
refrigério e renovar as suas criaturas. Em vez de recebê-los
humildemente, a maioria recusa-os e rejeita-os, pensando que essas
graças sã o para os fracos. Sim, é mais bem-aventurado dar do que
receber. Mas se nó s nã o estivermos também recebendo, o nosso
doar acaba ressecando.
Enquanto existirem esses cinco deficit de graça na vida dos
cristã os, o quintal de desmanche vai continuar enchendo-se de
crentes quebrados e esgotados. Mas ao conectar a graça de Deus
cada vez mais à nossa vida diá ria — desenvolvendo essas cinco
graças — aprendemos a viver a vida no ritmo da graça dentro de
uma cultura de esgotamento. É isto que este livro o treinará a
desenvolver.
SÓ NA MEIA IDADE?
Este nã o é um livro só para homens de meia idade. Toda vítima de
esgotamento lhe dirá que os padrõ es insalubres de vida e trabalho
aprendidos na juventude causaram a sua derrocada mais tarde na
vida. Se existe algum grupo em perigo hoje em dia, é a geraçã o
millennial (dos 18 a 33 anos de idade), cujos níveis de estresse estã o
acima da média nacional, conforme relato da Associaçã o Americana
de Psicologia. Trinta e nove por cento dos millennials dizem que seu
estresse tem aumentado no ano que passou, e cinquenta e dois por
cento disseram que as pressõ es quanto ao trabalho, dinheiro e
relacionamentos os têm mantido acordados à noite no mês passado,
sendo clinicamente deprimido um em cada cinco, com necessidade
de medicaçã o. 5 Como a prevençã o é sempre melhor do que a cura,
espero que este livro ajude também a homens mais jovens a
aprenderem a renovar o corpo e a alma a fim de viverem vidas
pautadas pela graça em vez de fazerem parte das estatísticas.
SOMENTE HOMENS?
Por que escrever só para homens? As mulheres também nã o correm
demais, se deprimem e se esgotam? É claro que sim; mas
frequentemente, elas o fazem de modo diferente dos homens, e por
razõ es diferentes; algumas das soluçõ es também sã o diferentes. Por
este motivo é que minha esposa, Shona, está juntando-se a mim para
escrever comigo uma sequência deste livro, um Reset para
mulheres , se você quiser chamar assim. Como minha esposa há vinte
e cinco anos, mã e de cinco filhos (entre dois e vinte anos de idade),
médica de família há quinze anos, que sofreu de depressã o no
passado, e tem aconselhado a muitas mulheres através de muitos
anos, Shona trará uma perspectiva feminina especial aos problemas
que as mulheres enfrentam nesta á rea e à s soluçõ es que podem
ajudar as mulheres cristã s a viverem no ritmo da graça dentro de
uma cultura de estressada.
Entã o, as mulheres deverã o deixar este livro de lado para esperar
sair a versã o feminina? Nã o! Se você quer entender melhor o seu
marido e ajudá -lo a viver uma vida pautada pela graça, continue
lendo e corra junto com ele, enquanto se exercitam juntos na pista, a
qual Deus o chamou para correr e na velocidade que o fará chegar à
linha de chegada.
SOMENTE PASTORES?
Quando Justin Taylor, da Crossway, originalmente me procurou
pedindo que eu escrevesse este livro, tinha em mente um livro
especialmente para pastores e outros líderes no ministério cristã o.
Porém, entre os e-mails, telefonemas e as visitas ao escritó rio que
recebi de pastores estressados e esgotados no decorrer dos anos,
tive também a presença de muitos homens cristã os com chamados
nã o ministeriais que lutavam com desafios semelhantes e
responderam bem a conselhos semelhantes. Por esta razã o,
resolvemos que o livro seria dirigido a homens cristã os em geral,
mas com foco especial nos líderes de ministério cristã o. Acreditamos
ser este o melhor modo de ajudar o maior nú mero de homens,
pastores e nã o pastores, a descobrirem como reajustar suas vidas e
gozar o equilíbrio saudá vel de motivaçã o e moderaçã o da graça
exemplificado pelo apó stolo:
Portanto, também nó s, visto que temos a rodear-nos tã o grande nuvem de
testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que
tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos
está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé,
Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz,
nã o fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de
Deus. (Hb 12.1-2)

Brady Boyd, Addicted to Busy: Recovery for the Rushed Soul (Colorado Springs: Cook, 2014),
44.

Richard Swenson, Margin: Restoring Emotional, Physical, Financial, and Time Reserves to
Overloaded Lives (Colorado Springs: NavPress, 2004), 43-44.

Lisa Cannon-Green, “Why 734 Pastors Quit (and How Their Churches Could Have Kept
Them)”, Christianity Today , January 12, 2016,
http://www.christianitytoday.com/gleanings/2016/january/why-734-pastors-quit-how-
churches-could-have-kept-them.html.

Gary Harbaugh, Pastor as Person: Maintaining Personal Integrity in the Choices and
Challenges of Ministry (Minneapolis: Augsburg Fortress, 1984), 47.
Sharon Jayson, “The State of Stress in America”, USA Today , February 7, 2013,
http://www.usatoday.com/story/news/nation/2013/02/06/stress-psychology-
millennials-depression/1878295/.
OFICINA DE REPAROS 1 | VERIFICAÇÃ O DA
REALIDADE
“Você está com múltiplos coágulos de sangue nos dois
pulmões.”
Poucas horas antes, eu estava lendo e descansando numa poltrona
em casa quando senti um aperto repentino no pescoço, uma pressã o
crescente que se espalhava pelo peito e braços. Era doído, mas nã o
insuportá vel. Eu estava quente, sem fô lego, desorientado.
Embora os sintomas durassem apenas uns dez minutos, a minha
esposa, Shona (a experiente médica da família), insistiu que
precisava de mais investigaçã o. Mas quando chegamos ao pronto
socorro, eu me sentia quase normal de novo, e gastei uns dez
minutos tentando persuadi-la que deveríamos simplesmente ir para
casa e nã o perder algumas horas e centenas de dó lares com uma
visita sem sentido ao pronto socorro. Felizmente Shona insistiu e eu
concordei em entrar, sendo meu comentá rio final: “Estou fazendo
isso por você, nã o por mim!” (Pobre mulher!)
Ainda que os resultados do exame de coraçã o fossem normais e o
médico tivesse noventa e cinco por cento de certeza de que tudo
estava em ordem, ele disse que era melhor verificar as enzimas do
sangue, no hospital do centro da cidade, só para ter certeza que nã o
houve ataque cardíaco… Enquanto eu protelava, Shona decidiu:
“Sim, nó s vamos lá ”.
No hospital, por acaso mencionei ao médico ter sentido dor no
mú sculo da panturrilha desde domingo pela manhã , e que eu
descartara como “um provavelmente repuxã o do mú sculo ao fazer
tae kwon do”. O médico fez uma pausa, voltou-se para mim,
estreitou os olhos e perguntou: “Você tem viajado recentemente?”
Eu disse ter dirigido o carro ao Canadá , na sexta-feira passada,
voltando para Grand Rapids na segunda-feira pela manhã .
O médico pareceu preocupado e resolveu testar meu sangue, só
para descartar uma trombose venosa profunda (TVP) na minha
perna. Uma hora mais tarde (logo depois da meia-noite), os
resultados voltaram, positivos. Pela primeira vez, os alarmes
começaram a soar na minha mente.
Em seguida, mandaram-me fazer uma tomografia
computadorizada. Trinta minutos depois, ouvi as palavras que
mudariam minha vida (e eventualmente acabariam com ela):
“Parece que você tem mú ltiplos coá gulos sanguíneos nos dois
pulmõ es [embolia pulmonar], provavelmente resultado de um
coá gulo na perna”. Disseram que eu deitasse na cama e ficasse o
mais quieto possível para que outros coá gulos nã o se soltassem da
perna e bloqueassem meu pulmã o. Deram-me uma dose alta de
heparina, via oral e intravenosa, para estabilizar os trombos e
começar a afinar meu sangue.
Nas pró ximas trinta e seis horas fiquei profundamente abalado.
Todas as piadinhas sobre coá gulos sanguíneos que eu ouvira no
passado resolveram inundar a minha mente, provavelmente em
parte provocadas pelas palavras com que o médico encerrou a
consulta: “Nã o se mexa na cama; você tem uma condiçã o que
ameaça sua vida”. Sem que eu pudesse dormir, seguiu-se uma
confusã o de exames, exames e mais exames que se seguiram
durante todo o dia seguinte, com resultados flutuantes: aumentando
minhas esperanças, para em seguida me desapontar e causar mais
preocupaçã o.
É BOM SER AFLIGIDO?
Em um dos raros momentos de privacidade, que consegui agarrar na
tempestade que foi a primeira noite no hospital, peguei um livro
devocional diá rio ao lado da minha cama e abri na data do dia, para
ali encontrar meditaçõ es sobre os seguintes versos:
Em meio à tribulaçã o, invoquei o SENHOR, e o SENHOR me ouviu e me deu
folga. (Sl 118.5)
Foi-me bom ter eu passado pela afliçã o, para que aprendesse os teus
decretos. (Sl 119.71)
Estes dois temas — gratidã o a Deus por graciosamente me libertar
e um desejo de aprender com esse trauma— ficaram comigo nos
pró ximos dias. A principal liçã o foi dolorosamente clara: “Deus tem
me caçado”.
Esse foi o meu entendimento imediato e instintivo do motivo pelo
qual o Senhor havia mandado esses coá gulos de sangue na minha
perna e meus pulmõ es. Três semanas e duas complicaçõ es mais
tarde, eu estava cada vez mais convencido que Deus estivera atrá s
de mim por muitos meses, com flecha amorosa atrá s de mais flechas
amorosas, até me colocar no pó .
Até um ano antes disso, eu vivera uma vida mais ou menos
saudá vel e vigorosa. Com quase dois metros de altura e pesando
oitenta e cinco quilos, eu estava no lado leve da média. Mas o
trabalho e o ministério haviam eliminado qualquer exercício regular
diá rio, e isso por alguns anos. Nos ú ltimos nove meses, minha ficha
médica aumentou consideravelmente com mais dois problemas de
saú de, um dos quais culminou em grande (e muito dolorosa)
cirurgia três meses antes. Tive também um quase acidente
assustador quando voltava de viagem e meu carro derrapou no gelo
negro, saiu da estrada e acabou em um aterro. Essas providências
me fizeram parar?
Nã o por muito tempo. Por isso é que foram necessá rios os
coá gulos. E a mensagem de Deus, através do meu sangue, foi: “Pare!”
Minha vida e meu ministério tinham acelerado cada vez mais por
vá rios anos. Eram todas coisas boas: ministrava palestras, pregava
sermõ es, aconselhava, falava em conferências, escrevia livros, estava
criando quatro filhos (agora cinco), e assim por diante. Mas foi à s
custas de tranquilidade e descanso — descanso físico, emocional,
mental, social e espiritual. Eu nã o negligenciara os meios da graça —
devocionais pessoais, culto doméstico, frequência à igreja eram
continuados e rotineiros — mas eram rotineiros demais, com pouca
ou nenhuma alegria. A vida se tornara uma confusã o inquieta e
ocupada de obrigaçõ es e oportunidades ministeriais. As graças do
sono, exercícios, paz, relaxamento, boa dieta, amizades, meditaçã o e
comunhã o com Deus foram todas sacrificadas em favor de
atividades mais “produtivas”. Houvera pouco ou nenhum tempo
para “aquietai-vos e sabei que eu sou Deus” (Sl 46.10).
Mas agora, na quietude forçada, eu ouvia um Deus amoroso e
cuidadoso, dizer: “Dá -me, filho meu, o teu coraçã o” (Pv 23.26). Nã o
os seus sermõ es, nã o as suas palestras, nã o seus blogs, nã o seus
livros, nã o as suas reuniõ es, mas o seu coraçã o. Dá -me você! Você
mesmo!
Eu nã o estive totalmente surdo aos apelos e intervençõ es
anteriores de Deus. Eu tinha ouvido, e tinha intençã o de responder
completamente. Meu plano havia sido passar os meses de março e
abril totalmente abarrotados de compromissos, para entã o usar
umas quatro semanas no meu calendá rio para melhorar minhas
condiçõ es físicas, voltar a padrõ es mais saudá veis de dormir,
conseguir mais tempo para descansar, me aproximar mais de Deus,
e renovar algumas amizades que estavam se apagando. Era o meu
plano. Estava prestes a dar certo. Eu acabara uma longa série de
palestras e havia me acomodado à poltrona para dar início ao
planejado avivamento de minha alma. Trinta minutos mais tarde, eu
estava no hospital. O Planejador havia tirado da mesa o meu plano.
ESGOTAMENTOS E COLAPSOS
Por que eu deveria escrever isso tudo? Por que nã o aprender as
liçõ es em particular? Creio que Deus me deu estas experiências nã o
somente para me ensinar, mas também para ajudar outras pessoas
que se esgotaram ou estã o prestes a se esgotar. Visto que comecei a
falar a este respeito a tantos homens cristã os em diversas
conferências, encontrei incontá veis outros que haviam sofrido
esgotamentos ou colapsos de uma ou outra espécie — alguns eram
físicos como o meu, mas outros eram esgotamentos mentais ou
relacionais, enquanto ainda outros eram distú rbios emocionais ou
lapsos morais. Alguns daqueles homens ainda nã o estavam em
colapso, mas estavam preocupados com os enormes sinais de
advertência em suas vidas, querendo fazer alguma coisa para
prevenir o desastre prestes a acontecer. Um pastor confidenciou:
“Meu ministério havia se tornado uma casca sem coraçã o, uma
questã o de deveres infindos, sem a mínima alegria. Todo domingo
eu falava coisas verdadeiras ao povo de Deus, boas coisas. Mas nã o
eram mais coisas que eu vivia pessoalmente. Só faziam parte de meu
trabalho”.
Quaisquer que fossem as diferenças, qualquer que fosse a pessoa,
quaisquer que fossem os problemas, qualquer que fosse o está gio de
estresse ou esgotamento, todos notavam que viviam num ritmo
veloz demais e precisavam reconfigurar a pró pria vida. Eles queriam
que fosse mais bem refletida a graça do evangelho em seu ritmo de
vida. Desejavam maior alegria no serviço do evangelho.
Isso me estimulou a começar a desenvolver um programa informal
que agora chamo de Processo de Resetar . Eu o tenho usado com
inú meros homens, e agora, através deste livro, desejo ajudá -lo a
redefinir a sua vida para que você possa evitar colisõ es ou
recuperar-se delas, estabelecendo padrõ es e ritmos que o auxiliem a
viver uma vida no ritmo da graça e levá -lo até a linha de chegada
com sucesso e alegria.
Isto nã o é fá cil para a maioria de nó s. Somos homens
independentes, autossuficientes, que acham difícil admitir
fraquezas, procurar ajuda, e mudar o vício tã o fortemente arraigado
em nó s de trabalhar demais, de nos ocuparmos demais,
produzirmos em demasia. Para pastores e líderes de ministério é
especialmente difícil; visto que muito de nosso trabalho é invisível e
intangível, podemos ser tentados a nos esforçar acima do que
podemos nas tarefas visíveis, a fim de provar que estamos ativos e
somos fortes. Mas é difícil também porque nosso trabalho é mais
obviamente um trabalho evangelístico. Como nos afastarmos disso?
Como diminuir a velocidade? Como descansar quando há almas para
serem salvas, sendo este um trabalho inerentemente tã o bom e tã o
(perigosamente) prazeroso?
Já estive lá e, de certa forma, ainda estou lá . Ainda é uma luta diá ria
continuar em um passo seguro. Mudar padrõ es de pensamento,
crenças e açõ es da vida inteira pode ser extremamente difícil. Mas
vale a pena lutar por uma vida cadenciada pela graça, nã o só porque
viveremos mais tempo (assim, serviremos por mais tempo), como
também com mais alegria, frutos e “repletos de graça”.
Portanto, quero persuadi-lo a viver uma vida melhor e mais ú til;
quero também persuadir você quanto a seriedade da sua situaçã o. O
resto deste capítulo deverá desafiá -lo a avaliar a sua vida, a ter uma
visã o só bria, nã o somente do que é externo, mas do que acontece
internamente — em seu coraçã o e mente. Isso nã o será apenas o
egocentrismo de olhar o pró prio umbigo. “Cuidar de si mesmo é o
primeiro passo para cuidar dos outros, por amar o pró ximo como a
si mesmo”, 6 diz J. R. Briggs. Nã o é egoísmo repor a energia e renovar
a vitalidade para melhor servir a Deus e ao pró ximo. Como disse um
de meus amigos: “Primeiro coloque a má scara de oxigênio em você
para entã o poder ajudar os outros”.
Entã o, vamos entrar na Oficina de Reparos 1, completar a lista de
verificaçã o abaixo, e recomendo que a utilize para uma verificaçã o
da realidade antes que a realidade o derrube, tal como fez comigo.
AVERIGUAÇÃ O DA REALIDADE
O que devemos verificar? Nossos carros têm luzes de advertência
que podemos averiguar no manual do proprietá rio. O que sã o essas
“luzes de advertência” para os homens? Quais sã o os sinais de perigo
de que nosso ritmo atual pode terminar prematuramente a corrida?
Temos aqui uma lista de verificaçã o, separada por categorias. A
categoria física teve mais marcas para mim; para você pode ser na
parte emocional, mental ou outra categoria. Deus projetou cada um
de nó s de maneira diferente, e sabe quais “luzes de advertência” vã o
chamar mais a nossa atençã o. Alguns de nó s nã o conseguem (ou nã o
querem) ver os sinais de advertência, mesmo quando ficam
piscando vermelho e azul bem na frente dos nossos olhos, por isso
sugiro que peça a sua esposa ou a um amigo para fazer a verificaçã o
com você para lhe dar uma visã o mais objetiva.

Sinais Físicos de Alerta


• Você sofre com problemas de saú de, um apó s outro. Setenta e
sete por cento dos norte-americanos experimenta regularmente
sintomas físicos causados por estresse, incluindo dor de cabeça,
dores no estô mago, dor nas juntas, dor nas costas, ú lceras, falta de
fô lego, problemas de pele, intestino irritá vel, tremores, dor no
peito, ou palpitaçõ es. 7
• Você se sente exausto e letá rgico o tempo todo. Falta energia ou
força para praticar esportes ou brincar com os filhos.
• Você encontra dificuldade para dormir, acorda frequentemente,
ou acorda cedo e nã o consegue voltar a dormir. Talvez você se
identifique com o pesadelo de meu amigo Paul: “Veio entã o a
insô nia. Insô nia de matar. Acontece cada noite. Entã o, mais uma
noite. Comecei a ficar em pâ nico. O que estava acontecendo
comigo? Procurei meu médico. Ele me deu a receita de um
remédio para dormir de alta dosagem. Funcionou como uma
metralhadora dentro de um tanque de guerra”.
• Você segue o exemplo do empresá rio que admitiu: “Utilizei a
minha falta de sono para justificar dormir até mais tarde, e isso só
aumentava o ciclo de noites mal dormidas”.
• Você é como o pastor que confessou: “Meu sono exagerado era
simplesmente uma fuga”.
• Você está engordando por falta de exercícios ou por comer
alimentos nã o nutritivos, ou ingere á lcool ou café demais.
Sinais Mentais de Alerta
• É difícil a concentraçã o; é fá cil a distraçã o.
• Você pensa obsessivamente em certas dificuldades na sua vida.
Jim descreveu deste jeito: “Até as mínimas coisas me pesavam
como um fardo muito grande. Eu tentava tirar os problemas da
mente, mas era como se o cérebro estivesse emperrado. Os
pensamentos ficavam se repetindo constantemente. Nada de novo
foi acrescentado ao processo, nenhuma nova soluçã o, nada de
informaçõ es novas. Era o mesmo ciclo se repetindo”. Outro
homem descreve como: “Eu tentava matar moscas mentais”.
• Você esquece de coisas que antes costumava lembrar com
facilidade: encontros marcados, aniversá rios, aniversá rio de
casamento, compromissos, nú meros de telefone, nomes, prazos de
entregas, etc.
• Você vê sua atençã o atraída por assuntos negativos, e está
desenvolvendo um espírito hipercrítico e cínico.
• Seu cérebro parece frito.
Sinais Emocionais de Alerta
• Você sente tristeza, quem sabe, está tã o triste que tem crises de
choro ou acha que está prestes a cair em prantos.
• Faz muito tempo que nã o dá uma boa risada nem faz outro rir.
Em vez disso, sente dormência emocional.
• Você se sente pessimista e sem esperanças quanto ao casamento,
filhos, igreja, emprego, país, etc.
• As preocupaçõ es invadem as horas em que está acordado e a
ansiedade vai para a cama com você a cada noite.
• Tã o logo você acorda e pensa no dia à frente, o coraçã o começa a
palpitar forte, e o estô mago fica revirado pelas decisõ es que terá
de fazer e pelas expectativas de pessoas que pensa ter de suprir.
• Você acha difícil se alegrar com a alegria de outros, e muitas
vezes força-se a fingir.
• À s vezes, você sente tanta falta de esperança e valor que pensa
que seria melhor nã o existir.
Sinais Relacionais de Alerta
• Seu casamento nã o é o que era. Você nã o tem prazer com sua
esposa como antigamente.
• Seu impulso sexual é irregular, e muitas vezes você se sente
cansado demais para fazer sexo além do tipo superficial e,
principalmente, egoísta.
• Você fica irritado e responde mal à esposa e filhos. Eles o
enxergam como irado, impaciente, frustrado e crítico (pergunte a
eles!).
• Você passa pouco tempo com os filhos, e qualquer tempo que
passa é constantemente interrompido pelo uso do celular ou
envenenado por pensar em todas as outras coisas que você
poderia estar fazendo. Um amigo crente admitiu que certa vez,
começou a chorar incontrolavelmente: “Minha esposa assustada
perguntou o que estava errado. Eu estava olhando meu sogro
brincar com os meus filhos e disse a ela: ‘Queria ter prazer neles
como ele tem’. Os meus pró prios filhos tinham se tornado fonte de
irritaçã o. Eu invejava meu sogro. Eu nã o conseguia ter prazer nos
meus pró prios filhos. Eu nã o tinha prazer em nada”.
• Você evita as ocasiõ es sociais, negligencia relacionamentos
importantes, e se afasta das amizades, mesmo com pessoas que
estima profundamente.
• Frequentemente você perde a paciência e entra em conflito com
diversas pessoas. Um empresá rio me disse que embora fosse raro
ele sofrer por trabalhar demais, “ao olhar para trá s em minha vida,
as vezes em que lutei com longos períodos de depressã o mais
frequentemente tiveram em comum, na verdade, eu estar lutando
com um relacionamento. Uma vez foi com meu irmã o, duas vezes
foram relacionamentos româ nticos, duas vezes foram brigas com
minha esposa”.
Sinais Vocacionais de Alerta
• Você trabalha mais de cinquenta horas por semana, embora nã o
com muita eficiência, produtividade ou satisfaçã o. Como diz Greg
McKeown: “Temos a experiência nada realizadora de conseguir
um milímetro de progresso em um milhã o de direçõ es”. 8
• O seu trabalho recai regularmente para as noites e os finais de
semana, ou qualquer dia que você chama de seu “fim de semana”.
• Tem pouco prazer no seu trabalho; na verdade você tem pavor
dele e está tã o chateado que pensaria em fazer qualquer coisa em
vez de continuar no seu emprego atual. “Eu estava confuso”,
escreveu um pastor, “e logo a minha confusã o virou amargura
contra Deus. ‘O que o Senhor quer de mim? Eu trabalho o tempo
todo. Nã o tenho hobbies ou passatempos, nada de tempo de
descanso, nada de alegria, nada de vida’. Comecei a odiar o meu
ministério”.
• Você está ficando para trá s, sentindo-se vencido pelos problemas,
e começa a se esquivar, cortar caminho e rebaixar os seus padrõ es.
• A procrastinaçã o e indecisã o dominam, enquanto você passa de
uma coisa para outra sem realizaçã o em nada. Quando toma
decisõ es, frequentemente elas estã o erradas.
• A motivaçã o e o ímpeto foram substituídos por fuga, passividade
e apatia enquanto você se arrasta pelo dia.
• Você encontra dificuldade de dizer nã o e se sente como a á rvore
predileta de todo o pica-pau, ou seja, você fica irritado quando
todos procuram sua ajuda para cada mínima necessidade. Um
pastor admitiu para mim que chegou a ponto de detestar que
tantas pessoas precisassem dele. Só queria um emprego comum,
cujas responsabilidades pudesse deixar na empresa depois das
oito horas de trabalho.
• Você se sente culpado e ansioso quando nã o está trabalhando e
se considera preguiçoso ou fraco quando tem uma folga.
Sinais Morais de Alerta
• Você vê conteú dos sedutores pela Internet ou pornografia.
• Você assiste filme de linguagem e imagens que jamais teria
tolerado.
• As suas despesas e seu imposto de renda tem algumas meias
verdades neles.
• Você cultiva relacionamentos pró ximos com mulheres que nã o
sã o a sua esposa (ou pensa nisso).
• Você encobre ou dá tonalidades diferentes à verdade nas
conversas, exagerando ou editando conforme acha conveniente.
• Você se automedica (e a sua consciência) gastando demais,
bebendo demais, ou comendo demais.
Sinais Espirituais de Alerta
• As devocionais pessoais diminuíram de tamanho e aumentaram
em distraçõ es, com pouco tempo ou incapacidade de meditar ou
refletir.
• Você verifica seus e-mails e as mídias sociais antes de seu
encontro com Deus a cada dia.
• Você nã o tem mais aquela conversa com Deus que costumava ter.
• Você falta ao culto com sua igreja.
• Escutar sermõ es lhe dá sono. Um empresá rio esgotado me
escreveu: “Uma de minhas grandes preocupaçõ es é que nã o tenho
sido ‘comovido’ por um sermã o há anos, apesar de escutar alguns
excelentes sermõ es.”
• Você nã o tem prazer na comunhã o com outros cristã os nem em
servir a igreja de Deus.
• Você acredita em todas as verdades da Bíblia, mas nã o para si
mesmo.
Sinais Pastorais de Alerta
• Você está entediado pelos pequenos detalhes do ministério, e se
acha superior para servir os idosos, os enfermos, e os que
desperdiçam o seu tempo.
• Depois do culto, nã o fica por perto para ter comunhã o com as
pessoas ou para ministrar a elas.
• Você está mais interessado na popularidade do seu pró prio nome
do que em tornar conhecido o nome de Deus.
• Você encontra dificuldades para confessar o pecado ou para
admitir sua fraqueza a Deus e aos outros a quem você deveria
prestar contas.
• Você se baseia somente em conhecimentos e experiências do
passado, mas nã o do presente. Como disse Aaron Armstrong:
“Podemos depender de informaçõ es acumuladas em nossa mente
por anos de leituras, e nã o notar que algo está errado — que
nossos tanques metafó ricos estã o ficando baixos — até pararmos
no meio do trâ nsito”. 9
• Você baseia a sua aceitaçã o por Deus em seu trabalho esforçado,
seu sucesso ou sua fidelidade. Esta histó ria dolorida é a
experiência de muitos pastores: “Quando me senti fracassado
como marido, pai, pastor, cristã o, até mesmo como ser humano,
tudo que conseguia fazer era trabalhar mais, me esforçar mais.
Afinal de contas, nã o há tempo para perder quando existe tanto
chã o para recuperar. Eu tornava impossível descansar. Isso me
fazia um marido, pai, pastor, cristã o e ser humano pior. E isso me
deixava com maior sentimento de culpa”.
O que você deve fazer com estas perguntas é uma averiguaçã o da
realidade, descobrir onde você realmente se encontra, como você
está realmente, e quem você é realmente. O pró ximo passo será
analisar essa lista para avaliar a seriedade desses sinais de alerta.
Você faz isso usando três medidas:
Quantos?
Provavelmente todo mundo pode marcar “sim” para alguns desses
itens. É a vida para as criaturas caídas em um mundo caído. Mas se
tiver cinco ou mais desses sinais de alerta em seu painel, isso deve
chamar a sua atençã o.
Quã o fundo?
Quanto essas questõ es sã o sérias? Avalie a intensidade de cada um
dos itens marcados com um “sim” com a nota de um a cinco, sendo
que cinco é a nota mais grave.
Quanto tempo?
Por quanto tempo isso tem acontecido? Quanto mais um sintoma
tem continuado — especialmente se este tempo foi por um mês ou
mais — maior perigo representa.
Entã o, agora você tem a sua lista de verificaçã o e a analisou. Tem
um nú mero preocupante de “sim” em problemas bastante sérios e
que têm acontecido por tempo suficiente para causar alarme.
E AGORA, O QUE FAZER?
Primeiro, você tem de reconhecer o perigo em que está e as
potenciais consequências de nã o desacelerar. Como disse um dos
homens a quem aconselhei: “Uma das liçõ es mais importantes que
aprendi é que, se eu nã o desacelerar, Deus vai me fazer andar mais
devagar. Geralmente é mais dolorido quando Deus faz isso!”
Segundo, seja grato por Deus ter alertado você quanto ao perigo
antes que fosse tarde demais. O pastor de alma cansada, Josh Harris,
se demitiu da igreja para voltar ao seminá rio depois de numerosas
crises pessoais e eclesiá sticas. Ele escreveu: “Eu conseguia fazer o
ministério forçado, mas sabia que isso nã o seria o melhor para
minha alma, minha família, ou para a igreja. Eu precisava mais do
que um ano sabá tico — precisava de ferramentas novas e de
redefinir a minha vida significativamente. Tempo para parar de falar
e começar a escutar. Tempo de reaprender como permanecer em
Jesus. Tempo de desaprender uma ocupaçã o por profissionalismo”.
Ele se demitiu com gratidã o, conforme explica: “Se o jeito que você
está vivendo nã o for saudá vel — se nã o estiver expandindo a sua
alma e aprofundando o seu amor a Deus e ao pró ximo, seres
humanos como você — entã o uma crise que o desperte à
necessidade de mudança é uma coisa boa. É algo que vem de Deus.
Esta foi a minha experiência”. 10
A boa nova é que existe um caminho de volta, um modo de resetar
sua vida, de colocar todas essas dimensõ es de volta à pista, e
começar a desfrutar a vida no ritmo da graça. É sobre isso que este
livro trata. Deixe que eu dê um breve resumo do que você pode
esperar nos capítulos seguintes, para encorajá -lo a prosseguir.
Você já passou pela Oficina de Reparos 1 — “Verificaçã o da
Realidade”. No pró ximo capítulo, você será apresentado à Oficina de
Reparos 2, “Revisã o”, a fim de ver como você chegou até aqui e o que
causou essas diversas questõ es. É importante compreender as
causas, para que você evite repetir os mesmos erros no futuro, em
sua corrida pessoal.
Entã o, passaremos por mais oito oficinas de reparos, para fazer
uma reconfiguraçã o passo a passo de sua vida. Algumas dessas
oficinas serã o mais relevantes e aplicá veis a sua vida que outras.
Mas vale a pena ler sobre cada uma, para evitar perder algo
essencial. Isso o ajudará também a ajudar outros. Estes capítulos sã o
caracterizados por:
Praticidade
A maioria dos homens é focada em soluçõ es; é o que quero dar
neste livro. Vou manter a teoria ao mínimo, oferecendo apenas o
suficiente para ajudá -lo a entender os passos prá ticos que terá de
dar.
Simpatia
Contei a minha pró pria histó ria (e vou contar mais) em parte para
mostrar que nã o escrevo de um salã o de exibiçõ es de carros novos.
Escrevo como alguém que se acidentou, bateu, se queimou, e acabou
na oficina de desmanche. Eu entendo e me identifico com você, tal
como têm a mesma empatia os outros homens cujas histó rias
aparecem nestas pá ginas. 11 Eu entendo como é difícil restaurar
nossa vida depois de anos de prá ticas e ritmos insalubres. Nã o
escrevo como uma histó ria de sucesso, mas como um relato de um
colega nas lutas.
Esperança
Qualquer que seja o lugar em que você se encontra, a sua vida pode
ser reestruturada e você encontrará um ritmo de vida mais
sustentá vel, cheio de alegria, para que aprecie e termine bem sua
corrida.
Alegria
Embora você tenha passado ou esteja passando por diversos tipos
de sofrimento, e apesar de certas partes do processo de reparos
serem inicialmente dolorosas, o alvo final é a restauraçã o da alegria.
Por esta razã o, a ú ltima oficina de reparos é chamada de
“Ressurreiçã o”. Isso nã o é somente uma doutrina para o final da
vida; pela graça de Deus, ela pode também se tornar experiência da
vida cotidiana. Podemos conhecer o poder diá rio da ressurreiçã o de
Cristo que nos faz subir das profundezas do pecado, do estresse, da
ansiedade, do esgotamento, da depressã o, de brigas e de deslizes na
fé, renovando nossa vida.
DUAS PERGUNTAS
Depois de meu acidente quase fatal, duas perguntas me
incomodavam: “Onde está Deus em tudo isso?” e “O que Deus está
fazendo?” Eu fazia a obra de Deus, estava me sacrificando pelo
Reino, eu me gastava e deixava que me desgastassem por amor a
Cristo, e isso me levou à emergência do hospital e quase a um caixã o.
Onde está Deus e o que ele está fazendo? Inicialmente, as melhores
respostas que eu tinha a estas duas perguntas eram: “Eu nã o sei” e
“Eu nã o entendo”.
Entã o, no meio de minhas indagaçõ es, lembrei que houve um
sofredor ainda maior (e muito mais piedoso que eu) que perguntou
as mesmas coisas ao olhar a estrada cheia de pedras da sua vida (Jó
23.1-9). “Onde está Deus? O que ele está fazendo?” Felizmente, Jó
obteve melhores respostas do que eu pude obter.
Deus Sabe Onde Estou
“Ele sabe o meu caminho” (Jó 23.10a). Embora nã o saibamos onde
Deus está e talvez nem onde nós estamos, Deus sabe exatamente
onde estamos, a nossa direçã o e o nosso destino. Como uma criança
em longa viagem de carro, nã o precisamos saber onde estamos,
desde que o nosso Pai saiba.
Deus Sabe o que Faz
“Prove-me, e sairei como o ouro” (23.10b - ARC). Ele nã o está
apenas nos provando, mas nos tornando melhores. Com a sua mã o
no termostato e os seus olhos na temperatura, ele sabe exatamente
qual o calor necessá rio para a fornalha e quanto tempo temos de
permanecer nela para tornar nosso ouro mais puro e brilhante.
Deus sabe onde nos encontramos e ele sabe o que faz! O produto
final é ouro, especialmente o ouro de um relacionamento mais
pró ximo a Deus e de maior utilidade ao pró ximo. Agarre-se a essas
respostas sem preço, enquanto dirigimos o carro para a segunda
oficina de reparos!

J. R. Briggs, Fail: Finding Hope and Grace in the Midst of Ministry Failure (Downers Grove, IL:
InterVarsity Press, 2014), edition Kindle, locs. 2082–2090.

“Stress Statistics”, Statistic Brain website, October 19, 2015, http://


www.statisticbrain.com /stress -statistics/.

Greg McKeown, Essentialism: The Disciplined Pursuit of Less (New York: The Crown
Publishing Group, 2014), 7.

Aaron Armstrong, “I’ve been running on empty — and what I’m doing to change that,”
Blogging Theologically , December 30, 2015,
http//www.bloggingtheologically.com/2015/12/30/running-on-empty/.

Josh Harris, “The 40-Year-Old Seminarian”, Christianity Today , December 4, 2015,


http//www.christianitytoday.com/le/2015/fall/40-year-old-seminarian.html.

Nomes foram mudados para proteger a privacidade.


OFICINA DE REPAROS 2 | REVISÃ O
Somos homens. Somos prá ticos. Gostamos de fazer as coisas.
Acabamos de gastar um capítulo enfrentando os danos que temos
sofrido, e agora queremos corrigi-los. Queremos fazer alguma coisa:
“Vamos começar a consertar!”
Deevaagaaaar ! Precisamos gastar mais um capítulo sobre
conhecer e compreender antes de começar a consertar. Fizemos
uma avaliaçã o dos estragos; agora temos de dar a marcha a ré e
olhar para trá s para ver o que causou esse estrago todo. Se nã o
fizermos isso, podemos consertar alguma coisa para mais tarde
voltar a fazer exatamente as mesmas coisas que nos levaram à
oficina anteriormente.
Foi o que fiz. Três anos depois do meu drama de coá gulos
sanguíneos, acabei voltando para o pronto socorro para ouvir o
médico dizer: “Voltaram!” Coá gulos haviam se espalhado de novo
nos meus pulmõ es, desta vez sem aviso prévio de dor nas pernas
para me advertir. Imediatamente, meus olhos se encheram de
lá grimas, nã o tanto pela dor física quanto pela dor mental e
espiritual de saber que tomei bomba no aprendizado das liçõ es que
o Pai Celeste havia colocado com tanta paciência na minha cabeça
dura. Em vez disso, eu havia voltado sem pensar, presunçosamente,
ao ritmo perigoso de vida que tinha me levado antes para o hospital.
Chorei também de alegria e alívio porque Deus me dera mais uma
chance de aprender. Estava um tanto consolado por um crente que
me disse que ele também teve de passar por mú ltiplos empecilhos
antes de, finalmente, fazer as mudanças que o levaram a uma
transformaçã o duradoura. Agora eu sabia que tinha de encarar com
maior seriedade esse resetar , ir mais fundo nas causas do meu estilo
suicida de vida. Tive de fazer as mesmas perguntas com as quais Bill
Hybels lutou para entender em seu “momento de emergência”, no
estacionamento de um supermercado: “Como isso aconteceu
comigo? Como me tornei tã o derrotado, ocupado demais, uma
pessoa exausta, desprovida de compaixã o e zangada com todo
mundo? Como foi que isso aconteceu?” 12
Antes de erguer o capô e apertar os parafusos e encaixes soltos,
precisamos olhar o quadro maior da nossa humanidade para
compreender a interaçã o entre nosso corpo, mente e alma.
Pense em como as diferentes partes dos carros interagem. Nã o
trabalham independentemente, mas cada parte depende de e é
afetada pelas outras partes. Se pusermos um combustível ruim, nã o
importa quantos cilindros têm nem como sã o bons os pneus. De
maneira semelhante, temos de entender como uma parte de nosso
ser afeta as outras. Vamos olhar mais fundo para que espécie de
criaturas Deus nos criou para ser.
SOMOS CRIATURAS DE DEUS
Muitos dos nossos problemas acontecem nã o somente por fazermos
as coisas erradas, mas também por crermos erradamente nas coisas.
Por trá s de muitas questõ es aparentemente prá ticas e stã o os
problemas teoló gicos. Na raiz de muitos problemas que
identificamos no primeiro capítulo está uma visã o errada de Deus.
Nã o é apenas um pouco equivocada; é erro fundamental e
fundacional, porque concerne à verdade fundamental e fundacional
que Deus é o nosso Criador. Essa é a primeira verdade revelada a
nó s na Escritura. Vem em primeiro lugar por uma razã o: se
errarmos ali, corremos o risco de errar em qualquer outro lugar.
Esquecer que somos cristã os tem sérias consequências, mas
também esquecemos que somos humanos.
Ora, alguns estarã o dizendo: “Nã o me insulte. Creio em Deus como
Criador. Defendo que Deus é o Criador. Luto contra aqueles que
negam a Deus como Criador. Posso até provar que Deus é o Criador.
Como você pode dizer que os meus problemas surgem por eu negar
que Deus é o Criador?”
Talvez nã o estejamos negando com os lá bios que Deus é o Criador,
mas alguns o fazem com sua vida.
Criacionistas que Vivem Como Evolucionistas
Muita gente chama Deus de Criador, mas vive como evolucionista.
Vive como se a vida tratasse da sobrevivência do mais apto em vez
de viver como criatura dependente — o dependente confia no
Criador e nã o em si mesmo , vive de acordo com as instruçõ es do
Criador.
Como você sentiria se construísse um carro, com controle remoto,
para os seus filhos e chegasse em casa, uns dias mais tarde, para
saber que eles tinham quebrado o carrinho tentando usá -lo como se
fosse um aviã o? Você lhes diria: “Eu dei um carro para vocês, e dei
instruçõ es sobre como usar esse carro. Por que vocês ignoraram as
minhas instruçõ es e t rataram o carro como um aviã o?” De modo
semelhante, Deus nos deu instruçõ es de como v iver como suas
criaturas, como os seres finitos, com corpo e alma, tal como ele nos
criou. Mas alguns de nó s estamos tentando viver como se fô ssemos
infinitos. Nã o é surpresa quando desmoronamos.
O pastor aposentado Al Martin disse-me que era frequentemente
contatado por pastores jovens a quem treinara, e que estavam ainda
no iní cio do ministério. Eles diziam: “Socorro, pastor Martin! Nã o
consigo orar, nã o consigo estudar, nã o consigo dormir, nã o consigo
continuar. Acho que vou ter de me demitir, sair do ministério”.
“Eis o seu problema”, o pastor Martin respondia com calma, “você
está tentando viver como um anjo sem corpo em vez de um ser
humano de carne e sangue. Eis a soluçã o : primeiro, faça exercícios
vigorosos trê s vezes por semana. Segundo, tire um dia inteiro de
folga por semana. Terceiro, gaste pelo menos uma noite por semana
com a sua esposa”.
“Mas, pastor Martin, nã o posso fazer isso. Tenho de pregar para
que almas sejam salvas, as pessoas precisam dos meus conselhos,
mal tenho tempo para o que já faço...”
O pastor Martin esperava com paciência, até as desculpas e defesas
conhecidas se esgotarem, e, entã o, terminava a conversa com
firmeza, dizendo: “Você me chamou para pedir o meu conselho, nã o
foi? Faça essas três coisas e ligue de novo para mim no pró ximo
mês , se nã o der certo”. Diz ele que ninguém telefonou de volta.
Sua Palavra e seu Mundo
Deus publica as suas instruçõ es sobre como viver como criaturas
dependentes e finitas em dois lugares: em sua Palavra e no seu
mundo. Por sua Palavra, eu me refiro à Bí blia, que contém princípio
s gerais, instruçõ es especí ficas e exemplos relevantes — todos os
quais serã o de enorme ajuda neste processo de reparos e de resetar .
Por “seu mundo” eu me refiro ao mundo físico em que vivemos,
refiro-me aos estudos de leis, mediante as quais Deus capacitou os
cientistas a descobrirem como o corpo e a mente funcionam melhor.
Por exemplo, recentemente vi uma pesquisa com a manchete:
“Quanto mais você fica sentado, mais depressa vai morrer!” Isso me
fez aprumar e levantar.
Na verdade, isso me fez ficar de pé! É a instruçã o de meu Criador
amá vel que vem por meio de pesquisas confiá veis, que eu leio po r
meio dos ó culos da Escritura, para me certificar que devo assumir
somente aquilo que concorda com a Palavra de Deus.
Faremos bastante disso nesta fase de revisã o. Para se viver uma
vida pautada pela graça, precisaremos de toda verdade que a graça
nos provê. Ajuntaremos as graciosas instruçõ es do nosso Criador ,
de onde quer que ele as tenha colocado, mas utilizaremos a Palavra
de Deus para ler o mundo de Deus.
Somos Criaturas Complexas
Nã o somos apenas corpo nem apenas alma; somos corpo e alma
unidos em uma só pessoa. Nosso corpo é composto de milhõ es de
á tomos, sendo que noventa por cento deles sã o substituídos a cada
ano. Somos uma complexa mistura de materiais e forças físicas —
por analogia: eletricidade, substâ ncias químicas, encanamento,
bombas, sifõ es, lubrificaçã o, tomadas, botõ es, receptores, e assim
por diante.
Nossa alma é ainda mais complexa que o corpo, e totalmente
inacessível a pesquisas empír icas. Embora a Bíblia nos dê alguns
dados bá sicos sobre a alma, muito permanece em mistério. E
quando unimos em uma só pessoa um corpo complexo a uma alma
complexa, obtemos mú ltiplas complexidades!
A interconectividade do físico e do espiritual significa que a saú de
do corpo afeta a saú de da alma e vice-versa. Nem sempre é fá cil
entender a contribuiçã o de cada uma destas partes para nossos
problemas! Porém, nã o podemos negligenciar um aspecto e esperar
que o outro nã o sofra consequências (Pv 17.22; Sl 32.3-4).
Por exemplo, um de meus amigos passou por um período de trevas
de dú vidas sobre a sua salvaçã o, e procurou em vã o uma causa
espiritual. Ele se arrependia e se arrependia; arrependia de ter se
arrependido, e se arrependeu daquilo pelo que nã o tinha se
arrependido. A escuridã o ainda invadia sua alma. Devagar, com
relutâ ncia, ele aceitou o conselho que estivera trabalhando demais
por tempo demais, levando sobre si o peso esmagador dos muitos
problemas de muitas pessoas. Começou a construir calma e paz em
sua vida, e começou a delegar alguns dos problemas a outros. Logo,
a luz começou a clarear e aos poucos a segurança voltou a sua alma.
Nã o é só o físico que afeta o espiritual; o inverso também acontece .
Um pastor que conheço passou por um período desanimador de
pouca saú de. Seu médico nã o descobria o que estava errado. Numa
de nossas conversas, percebemos que, durante muitos anos, ele
alimentara inveja de outro pastor. Ele ficara ressentido do sucesso
daquele homem, desejando que fosse seu. Quando confessou este
pecado e, pouco a pouco, reconstruiu seu senso de identidade,
independente daquele outro pastor, baseado somente em Cristo, as
suas diversas enfermidades se dissiparam. Somos criaturas
complexas.
SOMOS CRIATURAS LIMITADAS
Criaturas, por definiçã o, sã o menores que o Criador. Ele é infinito,
nó s somos finitos; ele é ilimitado, nó s somos limitados. Embora
nenhum de nó s dissesse que somos sem limitaçõ es, a maioria de nó s
pensa que somos menos limitados do que na verdade somos.
O entendimento errado de nossas limitaçõ es e a superestimaçã o de
nossa capacidade, inevitavelmente, vai resultar em tensã o, desgaste
e, eventualmente, quebra. Tente isso com qualquer coisa — um
motor, uma corda de rebocar, um computador, uma ponte.
Subestimar as limitaçõ es ou superestimar as capacidades, acabam
por fundir o motor, arrebentar a corda, detonar o computador, e
fazer a ponte cair. Por que achamos que seria diferente conosco?
Certo, conseguimos funcionar em níveis excepcionais por um
tempo curto, mas, mais cedo ou mais tarde, temos de enfrentar os
nossos limites. Versículos como Filipenses 4.13 — “Tudo posso
naquele que me fortalece” — nã o sobrepuja m nossa necessidade bá
sica de comer, beber, descansar e dormir.
Como descobrimos os nossos limites pessoais? Eu vou
regularmente à Oficina de Reparos 1 para fazer uma inspeçã o. Se
duas ou três das luzinhas de advertência se acenderem, nã o fico
muito preocupado. Sã o apenas coisas da vida. Mas, se cinco ou mais
estiverem acesas, ou mesmo uma delas for da categoria moral ou
espiritual, sei que estou excedendo os limites de segurança e devo
agir com medidas urgentes.
SOMOS CRIATURAS CAÍDAS
Como todo pescador, sou fatalmente atraído ao molinete mais
recente, “garantido” para pegar peixes. Como todo mundo sabe,
quanto mais complicado (e caro) o molinete de pescaria, é mais
prová vel que pegará mais e melhores peixes. Certo? Ora, os
apetrechos de pescaria complicados sã o ó timos quando funcionam
bem, mas quando quebram, sofrem estragos maiores do que os
molinetes padronizados.
É por razã o semelhante que a humanidade está em pior estado do
que qualquer outra criaçã o; quanto mais complexa a criatura, mais
estragos sofre quando quebra. E que estragos foram causados pelo
pecado e pela morte! Nosso corpo, mente, química, física, ó rgã os,
nervos, tendõ es , tudo está numa confusã o total — ou seja, cada
parte de nossa humanidade em si mesma defeituosa interage com
cada outra parte defeituosa.
A melhor notícia é que o gracioso e poderoso Criador é perito em
recriar — um processo que requer nossa cooperaçã o, e que
impedimos , quando nã o vivemos dentro dos limites de nossa
condiçã o de criaturas c aída s.
COMO CHEGUEI ATÉ AQUI?
Gastamos algum tempo na interconexã o e interaçã o de diversas
partes da nossa humanidade, a fim de evitar abordagens simplistas
que enxergam “somente o que é espiritual” ou “somente aquilo que é
físico”, na aná lise de nossos problemas. Neste ponto de nosso
estudo, queremos ver as causas específicas dos problemas. Quando
voltamos para trá s na estrada da vida, o que vemos que nos
prejudicou ao longo da jornada?
A maioria das causas pode ser colocada em uma de duas categorias
principais – nossa situaçã o de vida e nosso estilo de vida. Embora o
prejuízo geralmente resulte de uma mistura de fatores nas duas
categorias; ou seja, problemas de situaçã o de vida frequentemente
produzem problemas de estilo de vida (e vice-versa), à s vezes, é
apenas uma situaçã o na vida ou somente um fator no estilo de vida.
Como saber com certeza?
É aí que minha esposa, Shona, me ajuda tanto. Quando estou pra
baixo, tenho tendência de culpar a todos, exceto eu mesmo, ou entã o
me ver como culpado de tudo e me responsabilizar por coisas que
estã o fora do meu controle. Shona traz uma visã o de alguém que
está fora da situaçã o, com maior objetividade e acerto. De vez em
quando, tenho procurado uma avaliaçã o objetiva da minha situaçã o
e estilo de vida, feita por um amigo em quem confio, um colega de
trabalho ou um presbítero sá bio. Devemos nos certificar de que
escolhemos alguém totalmente sincero conosco. Devemos ter o
cuidado de nã o buscar conselho de alguém que vá perder algo, se
precisarmos andar mais devagar.
SITUAÇÃ O DE VIDA
Nossa “situaçã o de vida” trata-se de lidar com coisas sobre as quais
temos pouca ou nenhuma escolha ou controle. A vida acontece. As
coisas acontecem. Na minha experiência, e do que tenho visto ao
aconselhar outras pessoas, os fatores situacionais mais comuns sã o:
Enfermidade
Conforme vimos na Oficina de Reparos 1, a enfermidade pode ser
resultado de esgotamento. Mas também pode ser uma causa. O grau
em que as doenças nos impactam depende da natureza, quantidade,
severidade e duraçã o dessas enfermidades .
Genes
Pesquisas demonstram que nossos genes explicam cerca de
cinquenta por cento de nossa felicidade ou falta dela. 13 Embora
provavelmente isso seja uma afirmativa exagerada, talvez isto ajude
a explicar a minha experiência no aconselhamento de cristã os
deprimidos, em que a maioria deles teve pai ou mã e que sofreu de
depressã o.
Cuidar de Outros
Alguém pró ximo a mim sofria de dor no corpo inteiro por muitos
anos. Mú ltiplos testes nã o conseguiram descobrir nada errado.
Remédios para dor tinham sucesso limitado. Ele pensava que teria
de conviver com isso para o resto de seus dias. Alguns anos mais
tarde, faleceu o parente idoso que ele cuidava em sua casa por
vá rios anos. Dentro de poucas semanas, a sua dor desapareceu! Com
o cuidar existe um preço a ser pago.
Luto
Novamente aqui, existe uma gama variada de sofrimento,
dependendo da natureza do relacionamento, a maneira como a
pessoa morreu, e a proximidade de outras perdas por morte.
Perdas
Pode ser a perda de emprego, de uma amizade, da casa, de
dinheiro, da sua reputaçã o ou do ministério. Quem sabe você tenha
perdido possessõ es por roubo ou foi vítima de outro tipo de crime.
Outra perda dolorida que um homem cristã o ainda jovem pediu que
eu ressaltasse foi a perda de relacionamento sexual. Em diversos
pontos do casamento, a sua esposa perdeu todo interesse por sexo,
falta que, disse ele, teve impacto direto sobre seu nível de estresse e
de sono.
Lucros
Os lucros podem nos estressar tanto quanto as perdas. Uma
promoçã o muitas vezes resulta em horas mais longas de trabalho,
maiores responsabilidades, aumento de ansiedade quanto a
aprender novas tarefas, trabalhar com nova equipe, e assim por
diante.
Mudanças de Local de Moradia
O estresse de mudar de local de moradia resulta em maiores
dificuldades do que de início percebemos, especialmente quando a
mudança foi involuntá ria. Ela pode ser acompanhada de perda de
convivência com outros membros da família. Um amigo, Joe, que tem
mudado muito no decorrer dos anos, disse-me que ele e sua esposa
chamam essa pressã o de “sí ndrome pó s-traumá tica a mudanças” .
Conflitos
Poucas coisas me esgotam mais do que os conflitos; nã o somente
aqueles em que estou envolvido, como também aqueles nos quais
sou solicitado a atuar como mediador. Existem também conflitos e
divisõ es na igreja. Eu preferiria entrar no ringue com Mike Tyson;
pelo menos neste conflito eu desmaiaria logo.
Deslizes (dos Outros)
Cedo em minha vida c ristã , fui baqueado quando o meu heró i
espiritual, que foi usado para minha conversã o e chamado ao
ministério, foi revelado como sendo um homem imoral. Perdi sete
quilos em dois anos devido ao estresse com isso tudo.
Injustiça
Como Asafe descobriu, a prosperidade dos ímpios e o sofrimento
dos justos pode fazer resvalar nossos pés (Sl 73).
Maldade
A mídia derrama sobre nossos olhos e ouvidos as notícias mais
tenebrosas de todas as partes da naçã o e do mundo. É desgastante e
fatigante . O empresá rio Charlie Hoehn, autor de Play It Away ,
descobriu que, quando eliminou completamente o noticiá rio da sua
vida, a sua ansiedade desceu vertiginosamente nas duas semanas
seguintes. 14
Sobrecarga de tristezas
Pastores sofrem especialmente com isso ao tratar diariamente de
alguns dos problemas mais excruciantes da vida. À s vezes, estes nos
derrubam, especialmente quando o Facebook traz a nossa vida as
tristezas de inú meras outras pessoas que mal conhecemos,
exaurindo as nossas reservas de compaixã o. “Desenvolvo uma
espécie de hipocondria emocional”, disse-me um pastor, “ao assumir
estresse pessoal com os problemas dos outros”.
Responsabilidade
Casamo-nos, temos filhos, somos promovidos, servimos uma
igreja, a congregaçã o cresce, e assim por diante . Cada uma dessas
mudanças acrescenta mais responsabilidades a nossa vida,
aumentando nossa RPM (rotaçã o por minuto), gastando e
detonando nossa má quina, drenando o combustível precioso .
Envelhecimento
Até os vinte ou trinta anos, podemos lidar com as crescentes
responsabilidades da vida, mas frequentemente, aos quarenta e
poucos anos, começamos a ranger e a rachar, sentindo o
enfraquecimento de nosso corpo e mente. Talvez nã o estejamos
superados, mas estamos andando mais devagar e perdendo um
pouco de força para chegar ao cume da montanha.
Maus Exemplos
Somos profundamente afetados, muitas vezes inconscientemente,
pelos exemplos de nossos pais. Ambientes de lares excessivamente
críticos, negativos, muito competitivos, cheios de conflitos, lançam
sombras escuras sobre toda a nossa vida.
Diferenças
Todos temos capacidades e limitaçõ es diferentes, determinadas
em grande parte pelos genes. Nã o podemos permitir que os limites
dos outros se tornem nossos, pois há limiares diferentes em á reas
diferentes da vida.
Mudanças
Mudanças globais e locais acontecem em í ndices exponenciais e
sem precedentes, criando um clima de tremendas incertezas. Um
especialista em margens, Richard Swenson adverte: “Ninguém na
histó ria da humanidade teve de viver com o nú mero e a intensi dade
de fatores estressantes que temos hoje agindo sobre nó s. Nã o há
precedentes para esses fatores. O espírito humano é conclamado a
suportar rá pidas mudanças e pressõ es nunca antes encontradas”. 15
Bênçã os
Derramamentos de bênçã o na vida de uma igreja frequentemente
resultam em pastores, presbíteros e outros líderes terem aumentada
a carga de trabalho no aconselhamento e discipulado, como também
enorme quantidade de novos problemas de vida entre os novos
convertidos, com quem eles precisam lidar.
Soberania
Deus pode permitir que caiamos em depressã o ou ansiedade sem
nenhuma razã o aparente. Nã o há explicaçã o humana, apenas a
soberania divina. Isso produz suas pró prias lutas, conforme este
homem cristã o descobriu:
Eu nã o podia ficar esgotado! Fazia tanta coisa certa! Tinha um casamento
muito saudá vel, ó tima vida amorosa. Jamais olhava para a pornografia. Lia
a Bíblia e orava diariamente. Nã o negligenciava minha família — brincava
com meus filhos por uma hora na maioria das noites. Fazia um “checkup”
espiritual anual com um pastor experiente a quem eu respeitava. Mas, lá
estava eu: sofrendo um esgotamento autêntico, certificado, de dezoito
quilates. Parada total.
Embora todos esses sejam eventos da vida sobre os quais temos
pouco ou nenhum controle, nó s somos responsá veis pelas nossas
reaçõ es a eles. Nossa resposta pode tornar melhor ou pior algumas
situaçõ es, ou seu impacto sobre nó s.
ESTILO DE VIDA
Queremos agora prosseguir olhando para fatores quanto a nosso
estilo de vida pelos quais temos alguma escolha, coisas que
podemos, em grande parte, controlar. As causas mais comuns de
problemas nesta á rea sã o:
Idolatria
Em homens, isso muitas vezes se manifesta ao adorar o trabalho —
colocar nossa vocaçã o e carreira como nossos deuses, como fontes
de nossa alegria e satisfaçã o má ximas. Deus pô s uma maldiçã o
específica sobre o trabalho do homem (Gn 3.17-19), para garantir
que idolatrar o trabalho jamais nos satisfaça completamente.
Avareza
Relacionada à idolatria do trabalho, muitas vezes está a busca
gananciosa por dinheiro e outras recompensas materiais, fazendo
com que muitos trabalhem demais e durmam pouco.
Dívidas
Por mais que trabalhemos, por mais que ganhemos, continuamos
vivendo alé m de nossas posses, acumulando aos poucos mais
dívidas e ansiedade muito maior.
Agradar aos Outros
Fazemos o possível para ganhar o louvor dos pais, esposas, chefes,
amigos ou, se somos pastores, da nossa congregaçã o . Pedindo maior
honestidade e transparência entre pastores, Matt escreveu: “Eu vivia
em constante vergonha por estar escravizado ao que as pessoas
pensavam de mim. Detestava isso, mas nã o conseguia deixar de agir
assim. Para piorar, ninguém a o meu redor falava sobre isso. Nã o
parecia problema para mais ninguém. Eu me sentia só e patético”.
Perfeccionismo
À s vezes, impomos padrõ es altos demais sobre nó s mesmos, que
nos paralisam ou nos levam a um frenesi de atividades. Um colega,
no seminá rio, nã o gastava menos que trinta horas em um sermã o,
burilando e aperfeiçoando até que estivesse “perfeito”. Nã o foi
surpresa ele ter se esgotado e deixado o ministério dentro de um
ano.
Orgulho
Mesmo no ministério, é fá cil demais construir nosso pró prio reino,
em lugar de priorizar a busca pelo Reino de Deus, e promover nosso
nome em vez do nome de Deus. Como escreveu um pastor: “Por que
fico nervoso ao admitir que nã o consigo fazer tudo que tem de ser
feito? Penso que é simples. Tenho medo de confessar que tenho
limites. Tenho medo de admitir que tenho períodos e limitaçõ es
dados por Deus quanto ao meu lugar de habitaçã o (At 17.26). Temo
que isso me torne sem importâ ncia”. 16
Comparaçã o
Um amigo pastor descreveu o quanto lutou ao se comparar com
outros pastores e ao comparar sua igreja com outras igrejas: “Eu
ouvia falar de outro pastor amigo com a igreja cheia de gente, tendo
muitos novos convertidos. Posso contar na mã o os novos
convertidos que já batizei. Eles tiveram muitas conversõ es . Eu tive
apenas uma — e nem foi na minha pró pria congregaçã o. O que eu
estava fazendo errado? Por que outro homem que trabalha menos
no evangelismo tem mais resultados, enquanto eu tenho de fazer
das tripas coraçã o para conseguir quase nada?
Prazer
Alguns de nó s — especialmente pastores — gostamos tanto de
nosso trabalho que temos de exercer a autonegaçã o para que o bom
nã o se torne nocivo para nó s.
Indisciplina
A desorganizaçã o, procrastinaçã o, vício em tecnologias, a recusa de
fazer tarefas desagradá veis, tendem a nos estressar mais do que a
diligê ncia, organizaçã o , decisã o ou autonegaçã o.
Identidade
Definir quem somos pelo nosso trabalho, pelo nosso perfil nas
mídias sociais ou pelo nú mero de curtidas ou seguidores que
conseguimos atrair, pode firmar o nosso valor pró prio em nosso
sucesso profissional; porém, nenhum deles é um critério está vel ou
saudá vel. No “The ‘Busy’ Trap” (A armadilha de estar ocupado), Tim
Kreider escreveu: “Estar muito ocupado serve como afirmaçã o
existencial, uma proteçã o contra o vazio; obviamente, a sua vida nã o
pode ser tola ou trivial ou sem sentido se você estiver tã o ocupado
assim, completamente agendado, suprindo as demandas durante
todas as horas do dia”. 17
Descrença
V iver como se Deus nã o existisse ou como se ele nã o cuidasse de
nó s muito mais do que cuida das andorinhas despreocupadas (Mt
6.26), só produz angú stia e tumulto interno.
Dieta
Somos o que comemos. Muitos estudos demonstram o impacto do
alimento sobre nossa disposiçã o. Se você nã o acredita nisso, coma
apenas comida sem qualquer valor nutritivo pelos pró ximos sete
dias . Melhor ainda, pergunte a um diabético como o nível de açú car
no sangue afeta as suas emoçõ es e a sua capacidade cognitiva.
Dieta da mídia
Assim como vimos acima, somos aquilo que consumimos. Muitos
de nó s vivemos como se Filipenses 4.8 dissesse: “Tudo que é falso,
tudo que é só rdido, tudo que for errado, tudo que for sujo, feio,
terrível, se há algum vício e algo digno de críticas — medite nessas
coisas”.
Preguiça
Nã o exercitamos o corpo que Deus nos deu para cuidar,
permitindo que ele fique endurecido, fraco, molenga, de peso
exagerado, com consequências nã o planejadas para o pensamento,
sentimento e vontade.
Fracasso
Fazemos má s escolhas, falhamos no trabalho, nã o atingimos nossas
expectativas nem as dos outros; nossas congregaçõ es diminuem em
vez de crescer .
Consciência
Viver com a consciência culpada por pecados nã o confessados e
nã o abandonados nã o é uma vida muito boa. O que encobre seus
pecados nã o pode prosperar (Pv 28.13). Davi ficou fisicamente
doente em razã o disso (Sl 32.3-5). Também viver com falso senso de
culpa pode nos enfraquecer.
Retrocessos
De algumas formas, tudo o que falamos até aqui é um retrocesso na
vida, mas aqui estou pensando especialmente na perda gradativa de
contato com Deus, por meio de devocionais diá rias faltosas ou
ausentes, ou por causa de uma vida sem a dependência de Deus,
tendo como resultado uma crescente distâ ncia entre nó s e Deus, e
maior proximidade à tentaçã o e ao pecado.
PALHAS E MARTELOS.
Existem outros acontecimentos na vida e no estilo de vida que
poderíamos acrescentar a essa lista; use estes, porém, como
amostras para rever a sua vida. Nã o descarte nem minimize
quaisquer deles, porque, embora possa nã o haver uma grande causa
que seja identificada, para muitas pessoas é um acú mulo de muitas
pequenas coisas que acaba esgotando uma vida. Para outros, pode
ser algo pequeno que chega ao final de muitas grandes coisas. Ou
entã o, alguns enormes baques seguidos, como no caso de meu amigo
Dan: “Ao passar por um câ ncer em quarto está gio de minha esposa,
uma divisã o d a igreja, um grave pecado de um mentor por quem
tinha muita consideraçã o, e um trauma pessoal sofrido por um de
meus filhos, acumulei grandes doses de estresse sem nenhum
alívio”.
Todos nó s somos diferentes: temos limites diferentes e
vulnerabilidades diferentes. Como me disse certo homem: “A palha
que quebrou as costas do camelo veio ao final de muitos baques de
martelo sobre as mesmas costas”.
Assim, avaliamos os danos e entendemos as suas causas.
Começamos a admitir o mal que causamos a nó s mesmos quando
vivemos uma vida ditada pela era eletrô nica ao invés de uma vida
pautada pela graça. Agora, vamos passar para as partes mais
prá ticas e positivas deste livro, manobrando para entrar na terceira
oficina de reparos — “Descanso”.

Bill Hybels, Simplify: Ten Practices to Unclutter Your Soul (Carol Stream, IL: Tyndale
Momentum, 2014), 10.

S. Lyubomirsky, K. M. Sheldon, and D. Schkade, “Pursuing Happiness: The Architecture of


Sustainable Change”, Review of General Psychology 9 (2005): 111-31.

Charlie Hoehn, Play It Away: A Workaholic’s Cure for Anxiety (Charlie Hoehn.com, 2014),
Kindle edition, loc. 559.

Richard Swenson , Margin: Restoring Emotional, Physical, Financial, and Time Reserves to
Overloaded Lives (Colorado Springs: NavPress, 2004), 46 .

Brad Andrews, “Limitless Grace for Limited Leaders”, For the Church , February 29, 2016,
http://ftc.co/resource-library/1/1933.

Tim Kreider, “The ‘Busy’ Trap”, The New York Times , June 30, 2012,
http://opinionator.blogs.nytimes.com/2012/06/30/the-busy-trap/.
OFICINA DE REPAROS 3 | DESCANSO
Se um dia você acordasse em uma poça de sangue,
provavelmente você mudaria o seu estilo de vida.
Foi o que aconteceu com Arianna Huffington, do Huffington Post ,
depois de colapsar de exaustã o e esmagar o osso de seu rosto em
sua escrivaninha, e, logo apó s, cair no chã o. Ela estava no á pice do
sucesso, com abundante dinheiro e poder, mas algo nã o estava certo.
Ela disse em seu livro bestseller ,
Thrive : “Eu nã o vivia uma vida bem-sucedida que se encaixasse em
qualquer definiçã o saudá vel de sucesso. Sabia que algo tinha de
mudar de modo radical. Nã o podia continuar daquele jeito”. 18 Ela
realmente mudou, especialmente na á rea de dormir mais, tanto que
ela à s vezes se descreve como evangelista do sono. Com certeza ela
me converteu e, como novo prosélito do sono, espero conseguir
convertê-lo a um estilo de vida com um sono mais saudá vel e
humilde.
Em um artigo para a BBC, intitulado “A ‘arrogâ ncia’ de se ignorar a
necessidade de dormir”, 19 importantes cientistas advertiram sobre
a suprema arrogâ ncia de tentar viver sem dormir o suficiente.
Descobriram que estamos dormindo entre uma e duas horas menos
por noite do que o faziam as pessoas sessenta anos atrá s, e duas
horas e meia menos do que cem anos atrá s. Isso está tendo um
impacto devastador em todas as á reas de nossa vida.
Porém, quando foi a ú ltima vez que você ouviu um sermã o sobre
dormir? Gastamos cerca de trinta por cento de nossa vida dormindo,
e nada nos impacta mais que isso. Será que os cristã os dominaram
tanto o sono que nã o precisam mais instruçõ es a esse respeito?
Talvez você esteja pensando: “Instruçõ es sobre sono? Está falando
sério? Isso é tã o complicado assim? Fecha os olhos. Escuridã o. Abre
os olhos. Luz. Aprender o quê?” Muito mais do que provavelmente
você tenha pensado!
Em oficinas anteriores neste livro, avaliamos os danos e revisamos
as causas. Agora estamos entrando no está gio de reparos, e isso
começa com ir para a cama. Sim, uma vida pautada pela graça
começa com parar e aceitar a graça de dormir bem. Muitos homens
acham que podem omitir esta oficina, mas os que o fazem acabam
gastando muito mais tempo na garagem, e alguns nunca saem dela.
O SERMÃ O QUE PREGAMOS QUANDO DORMIMOS
Poucas coisas sã o tã o teoló gicas quanto o sono. Mostre-me como
você dorme e eu lhe mostrarei a sua teologia, porque todos
pregamos um sermã o em e por meio do nosso sono. Por exemplo, se
nó s nos orgulhamos por dormir apenas cinco horas por noite,
estamos pregando as seguintes verdades:
Não confio em Deus em relação ao meu trabalho, minha igreja ou
minha família. Claro, creio que Deus é soberano, mas ele precisa de
toda a ajuda que eu possa dar a ele. Se eu nã o fizer o trabalho, quem
o fará ? Embora Cristo tenha prometido edificar a sua igreja, quem
está no turno da noite?
Não respeito o jeito que meu Criador me fez. Sou forte o bastante
para lidar com as coisas, sem desfrutar do dom de Deus de um
tempo suficiente de sono diá rio (Sl 3.5; 4.8). Eu me recuso a aceitar
as minhas limitaçõ es como criatura e as necessidades de meu corpo
(Sl 127.1-2). Eu me vejo mais como má quina do que como ser
humano.
Não acredito que a alma e o corpo estejam ligados. Posso
negligenciar o meu corpo e a minha alma nã o vai sofrer. Posso
enfraquecer meu corpo e nã o enfraquecer minha mente, consciência
e vontade.
Não preciso demonstrar descanso em Cristo. Apesar da Bíblia
repetidamente mostrar a salvaçã o como sendo um descanso, vou
deixar outros descansarem. Quero que as pessoas saibam o quanto
eu sou ocupado, importante e zeloso. Isso é muito mais importante
do que a demonstraçã o diá ria da salvaçã o de Cristo no modo quando
e como eu descanso.
Adoro ídolos. O que faço em vez de dormir lança o holofote sobre os
meus ídolos, sejam eles: assistir futebol até tarde da noite, navegar
na Internet, conquistar sucesso no ministério, ou obter uma
promoçã o. Por que dormir quando isso nã o faz nada para polir
minha reputaçã o ou demonstrar a minha gló ria?
Qual o sermã o que você prega enquanto está dormindo?
MUITAS BOAS RAZÕ ES PARA DORMIR MAIS
Antes de falar sobre como dormir melhor e mais tempo, considere
algumas das consequências devastadoras do sono reduzido. Ou, em
termos mais positivos, aqui temos mú ltiplas boas razõ es para
dormir mais.
Consequências Físicas
Numerosos estudos nos advertem sobre resultados a longo prazo
da privaçã o crô nica do sono (com média de menos de seis horas por
noite). Apenas uma semana dormindo menos do que seis horas por
noite resulta em mudanças danosas a mais de setecentos genes,
estreitamento coroná rio, e sinais de perda do tecido cerebral. 20 Este
ú ltimo é em parte porque o sono ativa o sistema de jogar fora o lixo
do cérebro, limpando as toxinas e produtos nocivos. 21 A falta
crô nica de dormir aumenta o risco de infecçõ es, derrames, câ ncer,
pressã o alta, doenças cardíacas e a infertilidade. A perda do sono
aumenta a fome e o desejo por porçõ es maiores de comida, e
preferência por alimentos de altas calorias e altos carboidratos,
resultando em maior risco de obesidade. 22 Em suma, dormir nã o é
uma perda inú til de tempo, mas uma necessidade bioló gica essencial
que previne a infecçã o e nos ajuda a manter o peso de corpos
saudá veis.
Consequências nos Esportes
As consequências físicas de pouco sono podem ser mais bem
entendidas e apreciadas quando examinamos a ciência esportiva e
aprendemos por que cada vez mais atletas de elite aumentam seu
sono e até mesmo contratam treinadores para o sono, a fim de
melhorar seu desempenho. Dois dias de reduçã o do sono levam a
uma reduçã o de mais de vinte por cento no nível de atençã o, nas
horas de reaçã o, força, capacidade de suportar esforços, precisã o e
velocidade.
Nã o é de admirar que o tempo médio de sono dos melhores atletas
está bem acima da média. 23 O campeã o de tênis Roger Federer
dorme onze a doze horas por noite; o corredor Usain Bolt, oito a dez
horas; a estrela do basquete Lebron James, doze horas; e o campeã o
de tênis Rafael Nadal, oito a nove horas. O jogador de golfe Tiger
Woods dorme apenas cinco horas, o que pode explicar muita coisa!
A antiga estrela do time nacional de basquete, Grant Hill, afirmou:
“Acho que dormir é tã o importante quanto dieta e o exercício”.
Federer explicou: “Se eu nã o dormir onze a doze horas por dia, nã o
estarei bem”.
Consequências Intelectuais
“É , mas eu nã o sou Roger Federer”, você diz, “eu fico sentado ao
computador o dia inteiro, e nã o preciso de desempenho em nível
físico tã o alto”. Verdade, mas o sono é igualmente importante para
os trabalhadores do conhecimento. Em “Sleep Is More Important
than Food” (O sono é mais importante que a comida), Tony Schwartz
diz que é unâ nime o resultado das pesquisas — quanto melhor você
dorme, mais você aprende:
Mesmo pequenas quantidades de privaçã o de sono minam
significativamente a saú de, a disposiçã o, a capacidade cognitiva e a nossa
produtividade... Muitos dos efeitos que sofremos sã o invisíveis. O sono
insuficiente, por exemplo, prejudica profundamente nossa capacidade de
consolidar e estabilizar o aprendizado que ocorre durante as horas do dia
em que estamos acordados. Noutras palavras, falta de dormir faz grandes
estragos à memó ria. 24
Um estudo da Universidade Luebeck na Alemanha descobriu que
aqueles que dormiam mais de oito horas resolviam um problema
duas vezes mais rapidamente, em comparaçã o com aqueles cujo
sono era interrompido. 25
Os pesquisadores concluíram que nã o era só por eles estarem mais
descansados, mas porque o cérebro deles tinha sido fisicamente
renovado durante a noite, fazendo novas conexõ es neurais para que
pudessem alcançar mais em menos tempo.
Consequências Emocionais
Ao dormir menos e trabalhar mais, a quantidade de nosso trabalho
pode aumentar a curto prazo, mas a qualidade diminui
definitivamente, como também diminui nosso prazer naquilo que
fazemos. Isso é porque a perda de sono interrompe o fluxo de
epinefrina, dopamina e serotonina do cérebro, substâ ncias químicas
associadas de perto ao humor e ao comportamento. Assim, pessoas
com insô nia sã o dez vezes mais propensas a desenvolver depressã o
e dezessete vezes mais propensas a ter ansiedade significativa.
Estudos conduzidos por Torbjö rn Å kerstedt da Universidade de
Estocolmo descobriram que menos sono reduz os níveis de empatia,
mas aumenta os níveis de medo. 26 Em Play It Away , Charlie Hoehn
escreve:
Toda pessoa ansiosa que conheço ou está em estado de negaçã o quanto a
pouca quantidade de sono, ou despreza o fato de que vai dormir em horas
aleató rias a cada noite. Um de meus leitores escreveu esta mensagem
depois de rever uma versã o anterior deste capítulo: “Quando comecei a
me forçar a dormir oito horas por noite, meus problemas de saú de física
acabaram, minhas emoçõ es se equilibraram e minha ansiedade
desapareceu. A minha mente pode funcionar melhor e desapareceu a
sensaçã o de aperto em volta dos olhos. Dormir oito horas é um
comprimido milagroso”. 27

Consequências na Sociedade
Pergunta: Qual dos Dez Mandamentos você consegue guardar
quando dorme? Resposta: O sexto: Nã o matará s (Ê x 20.13), porque
dormir o suficiente é um ato de amor ao pró ximo, conforme
demonstram as estatísticas a seguir.
O prejuízo no trâ nsito que resulta de estar acordado por vinte e
quatro horas é maior do que dirigir embriagado em todos os estados
dos Estados Unidos. De acordo com a Administraçã o Nacional de
Segurança no Trâ nsito, dormir enquanto dirige é responsá vel por
pelo menos cem mil batidas, setenta e um mil feridos, um mil
quinhentos e cinquenta mortes a cada ano nos Estados Unidos. 28
Desastres como o derrame de petró leo da Exxon Valdez e a explosã o
da nave espacial Challenger , bem como o acidente do Metro North,
da cidade de New York, estavam todos ligados à privaçã o de sono.
Em nível mais corriqueiro, noto (como também minha família) que
fico muito mais irritado, de mau humor e propenso a entrar em
conflito quando durmo pouco. Nã o existe produtividade que valha
tais danos aos relacionamentos preciosos.
Consequências Financeiras
Por colocar em jogo a segurança, criatividade, capacidade de
resolver problemas e a produtividade, estima-se que o tempo de
sono insuficiente custa à s empresas norte-americanas sessenta e
três bilhõ es de dó lares por ano. Estudos mostram que consumidores
e clientes tendem a considerar como pouco saudá vel e sem â nimo
um vendedor a quem faltou horas de sono, reduzindo assim as
vendas.
Também, apesar das piadas contrá rias, muitos empresá rios
construíram seu sucesso sobre o sono. Jeff Bezos, da Amazon,
afirmou: “Estou mais alerta e penso com maior clareza. Eu me sinto
muito melhor o dia todo apó s ter dormido durante oito horas”.
Embora um dos fundadores da Netscape, Mark Andressen,
costumasse dormir pouco, ele aprendeu a liçã o: “Sete [horas] e
começo a degradar. Seis é insuficiente. Cinco é um grande problema.
Quatro horas significa que sou um zumbi”. 29
Consequências Morais
Estudos mostram que a falta de dormir esgota e enfraquece o
centro de autocontrole do cérebro, levando a níveis mais altos de
comportamentos antiéticos. Em um estudo em grupo sobre as
pessoas trapacearem ou nã o, dadas tentaçõ es idênticas, as pessoas
que nã o trapacearam dormiram uma média de vinte e dois minutos
mais do que aquelas que cometeram trapaças. A diferença entre atos
morais e imorais foi de apenas vinte e dois minutos de sono! O ex-
presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, disse certa vez que todo
erro maior que ele cometeu coincidiu com ter perdido o sono. Se
isso nã o o fizer dormir mais, nada mais vai fazê-lo.
Um homem me procurou para aconselhamento, depois de ter sido
provado que dirigia sob influência de á lcool, e admitiu que dormia
somente três a quatro horas por noite, e que bebia cada vez mais a
cada semana. Uma vez que aumentou seu tempo de dormir, o seu
desejo pelo á lcool diminuiu.
Consequências Espirituais
Existe mais que moralidade em jogo; nossa espiritualidade
também está em jogo. Pense neste pará grafo de Don Carson:
Se você for um dos que se tornam desagradá veis, cínicos ou mesmo cheio
de dú vidas quando perdem o sono, você está moralmente obrigado a
procurar conseguir o sono que necessita. Somos seres inteiros e
complicados; a existência física está ligada ao bem-estar espiritual, à
percepçã o mental, aos nossos relacionamentos com os outros, inclusive o
relacionamento com Deus. À s vezes, a coisa mais piedosa que se pode
fazer no universo é conseguir uma noite de sono reparador — nã o orar a
noite toda, mas apenas dormir. Com certeza, nã o nego que haja ocasiã o
para orar a noite inteira; estou apenas insistindo que no decurso normal
das coisas, a disciplina espiritual nos obriga a obter o sono de que o corpo
necessita. 30

Consequências no Ministério
Nã o é surpresa que todos os danos delineados acima
inevitavelmente levam também a problemas no ministério. Um
pastor compartilhou que tinha sido criado e treinado a pensar que
“se punirmos ou negligenciarmos nosso corpo no serviço do reino,
Deus magicamente anulará quaisquer consequências negativas”. Ele
advertiu: “Pode ser que nã o percebamos que acreditamos nisso até
que as consequências se materializam e ficamos confusos e
amargurados contra Deus”.
Quando dava uma palestra sobre Charles Spurgeon ter sofrido com
depressã o, John Piper disse:
Emocionalmente, sou menos resistente quando perco o sono. No passado,
quando eu trabalhava sem me importar em dormir, ainda assim me sentia
animado e motivado. Mas nos ú ltimos sete ou oito anos, o meu limiar para
desâ nimo está bem mais baixo. Para mim, o sono adequado nã o é apenas
questã o de manter-me saudá vel. É questã o de permanecer no ministério.
É irracional que meu futuro pareça mais triste quando eu durmo apenas
quatro ou cinco horas de sono por vá rias noites seguidas. Mas, isso é
irrelevante. Sã o estes os fatos. Tenho de viver dentro dos limites dos fatos.
Eu recomendo a você dormir o suficiente, por amor de sua comunhã o com
Deus e das suas promessas. 31
Você notou como Piper ligou o tempo no travesseiro com confiança
nas promessas de Deus?
ALGUNS “COMPRIMIDOS” PARA DORMIR
A essa altura, espero que você esteja implorando ajuda para dormir
melhor. Quem sabe, está até pensando em manter ao lado da cama
uma marreta para derrubá -lo e fazê-lo dormir. Felizmente, existem
meios mais fá ceis para dormir melhor — e pregar um sermã o
melhor enquanto dorme. Eis algumas maneiras de melhorar os seus
há bitos de sono.
Conhecimento
Se nossas escolas estudassem sobre o sono em vez de á lgebra, a
sociedade seria mais saudá vel, segura e alerta. Apesar do sono
tomar de um quarto a um terço de nossa vida e ter tanta influência
no restante dela, a maioria de nó s sai da escola em total ignorâ ncia
do porquê e do como dormir. Visto que o conhecimento nã o
somente nos guia como também nos motiva, por que nã o buscar
mais informaçõ es em algumas das notas de rodapé deste capítulo ou
ler The Power of Rest (O poder do descanso) pelo médico do sono
Matthew Edlund (deixe de lado a parte que cheira a Nova Era) ou
And So to Bed...: A Biblical View of Sleep por Adrian Reynolds. 32
Conheça melhor a você mesmo e descubra o quanto você
realmente precisa dormir para viver bem. A maioria das pessoas
precisa entre sete a nove horas de sono todo dia. Eu consigo passar
bem com sete e melhor ainda com sete e meia, mas oito horas ou
mais nã o parece fazer diferença apreciá vel. Se eu durmo menos que
sete por alguns dias, as consequências começam a se multiplicar.
Encontre seu ponto ideal e fique com ele.
Disciplina
Só conhecimento nã o basta; precisamos de planejamento, força de
vontade e disciplina para fazer os ajustes necessá rios à s nossas
expectativas, agendas e estilos de vida. Precisamos pedir a Deus que
nos ajude a ver isso como uma prioridade na vida, uma questã o de
obediência e uma maneira de agradar a nosso Pai e Criador.
Imploremos que ele nos dê a força necessá ria para fazer o que
sabemos que temos de fazer.
Rotina
Se buscamos ser coerentes em nossa hora de dormir, na hora de
levantar e na rotina antes de ir para a cama, nosso corpo aprenderá
essa rotina, construirá um ritmo e injetará as substâ ncias químicas
corretas que nos preparam para dormir. Conforme escreve Edlund:
Preparar para dormir pode ser tã o importante quanto o tempo em que
você vai dormir. O seu corpo nã o foi feito para pular de repente da
extrema atividade mental e física para um sono imediato. Descanso e
atividade exigem transiçõ es... tudo funciona melhor se o seu período antes
do sono for rotineiro, rítmico e ritualizado. Você realiza um ritual de
dormir noite apó s noite, e com isso seu cérebro e corpo se acostumam à
ideia que esse pequeno grupo de comportamentos vai ajudá -lo a dormir e
proverá descanso completo. 33

Jejum da Mídia
Um amigo nã o conseguia descobrir por que achava difícil dormir e
acordava frequentemente com pesadelos. Eventualmente, admitiu
que estava assistindo filmes logo antes de tentar dormir! Se
estimularmos nosso cérebro (e a química do corpo) com e-mail,
Facebook, filmes, noticiá rios na TV, jogos de computador, noticiá rios
esportivos, cafeína ou outros energizantes, estaremos pedindo sono
em atraso e perturbado — e vamos obter exatamente isso.
Cooperaçã o da Família
Adolescentes barulhentos até tarde da noite ou uma esposa que
prefere ficar acordada até tarde pode tornar difícil estabelecer uma
hora de dormir mais cedo e mais tempo para dormir. Talvez seja
preciso uma conversa entre os membros da família, para examinar
maneiras de um ajudar o outro a fazer as concessõ es necessá rias, a
fim de se obter sono suficiente para todos. Nó s estabelecemos um
toque de recolher à s dez da noite para as noites de domingo até
quinta-feira. Nas sextas e sá bados, até à s onze da noite.
Exercício
Se ficamos sentados à escrivaninha ou no carro o dia inteiro e
esperamos estar cansados a ponto de dormir, podemos esperar uns
protestos do corpo: “Ei, você ainda nã o fez nada comigo!” Em um
experimento na Universidade Loughborough, foi verificado que
fazer exercícios entre três e seis horas antes de dormir melhorava o
sono. 34
Contentamento
Talvez o materialismo e a ambiçã o sejam as maiores causas de
privaçã o de sono em nossa cultura. As pessoas olham a ideia de
passar um terço da vida dormindo como “perder” mais de vinte anos
de suas vidas, e pensam: “Eu conseguiria ganhar muito mais
dinheiro e me tornar muito mais bem-sucedido (ou construir uma
igreja maior) se eu cortasse um pouco do tempo de sono”. A maioria
das pessoas que procura isto a curto prazo consegue resultados, mas
perde a longo prazo, quando aos poucos a saú de é impactada e a
vida é abreviada. O contentamento é uma maravilhosa cura para a
insô nia.

Embora a curto prazo os medicamentos para dormir, à s vezes,
possam ser necessá rios em situaçõ es extremas, no mundo todo a fé
é um dos melhores remédios para dormir (ainda que menos usado)
— e só tem bons efeitos colaterais.
Se eu estiver com dificuldade de dormir, uso minha fé na Palavra
de Deus para dissipar minha ansiedade. Oro: “Pai Celeste, creio em
Mateus 6.25-27, que diz que tu cuidas de mim mais do que das aves,
e confio em ti para prover-me em tudo. Lanço meus cuidados sobre
ti, sabendo que tu cuidas de mim”.
A fé me ajuda a obedecer a ordem de Deus para dormir: “Pai,
mesmo quando acho que dormir menos e trabalhar mais
beneficiarã o a mim e até a tua igreja, creio no Salmo 127.2, que diz
ser vã o, totalmente sem razã o, levantar cedo demais ou ficar
acordado até tarde demais”.
A fé me capacita a receber com alegria o sono como dom de Deus:
“Pai, embora as vezes eu veja o sono como uma intrusã o, um mal
necessá rio, creio no Salmo 3.5, que o sono é o teu presente amá vel
para mim, e o recebo com gratidã o”.
A fé dissipa meus temores: “Pai, tem hora que tenho medo por meu
emprego, minha igreja, ou meu país, mas creio no Salmo 4.8, que diz:
“Em paz me deito e logo pego no sono, porque, SENHOR, só tu me
fazes repousar seguro”.
Aconselhamento
Certa vez, um homem perguntou: “O que fazer quando os
sofrimentos, temores, tristezas e as pressõ es sã o tantas que mesmo
quando procuro dormir, o sono me foge? Se estes se acumulam,
começo a sentir mais estresse pelo fato de nã o estar conseguindo
dormir o suficiente”.
Quando estou caindo nesse redemoinho, é ú til escrever tudo o que
me perturba, junto com o pró ximo passo que terei de dar para tratar
de cada problema. Assim, quando a ansiedade levanta a cabeça na
hora em que a minha cabeça vai ao travesseiro, aponto para essa
lista e digo: “Sei sobre isso e tenho um plano para tratá -lo”.
Nos casos mais sérios de insô nia, o aconselhamento pode ter papel
importante para a cura. Meu amigo Paul estava aconselhando a si
mesmo ao escrever um diá rio e através da leitura do livro The
Anxiety Cure (A cura da ansiedade), por Archibald Hart, 35 livro esse
que ele descreveu como “um salva-vidas”. Mas admitiu: “Eu nã o
havia levado a sério a necessidade de trabalhar os meus há bitos de
pensamentos e há bitos nã o bíblicos, pecaminosos e
contraproducentes, que contribuíram para minhas depressõ es”. Foi
ali que Paul começou a fazer aconselhamento bíblico
comportamental-cognitivo com um pastor cristã o de sua regiã o. Ele
prosseguiu, dizendo:
Eu estava resolvido a colocar rédeas sobre meu mundo mental, a despeito
do que a química do corpo estivesse fazendo ou nã o fazendo. Foi a peça
que faltava. Levou tempo, mas tenho crescido cada vez mais no domínio
dessas toxinas espirituais, mentais e emocionais: tentando ler a mente de
outros, pensando demais em segundas opçõ es, sensibilidade exagerada,
dando importâ ncia demasiada à s opiniõ es das pessoas a meu respeito,
exagerando os problemas dos outros, e ao presumir o pior das pessoas e
situaçõ es. Comecei a ter prazer na vitó ria sobre minha mente no momento
de pegar no sono. Estava encontrando o interruptor mental — depois de
muitos anos de achar que nã o tinha como encontrá -lo — para desligar os
pensamentos que surgiam no travesseiro. “Sinto muito, sr. pensamento.
Agora é hora de dormir. Volte amanhã para me visitar. Boa noite!”

Humildade
Quando dormimos, estamos entregando o controle, e — pelo
menos por algumas horas — nos lembrando que, na verdade, Deus
nã o precisa de nó s. Ao fechar os olhos a cada noite, dizemos: “Nã o
sou eu quem manda no mundo, ou na igreja, e nem ao menos em
minha pequena vida”. Até mesmo o presidente tem de vestir seu
pijama toda noite, confessando efetivamente (mesmo contra a
vontade) que Deus nã o precisa dele, que existe um Superpoderoso
muito maior. Mas o sono do cristã o deve ser diferente do sono
daquele que nã o é cristã o. Quando e quanto nó s dormimos é uma
enorme declaraçã o de quem somos e no que cremos sobre nó s
mesmos e sobre Deus.
Os homens em especial encontram dificuldades em admitir a
necessidade de dormir mais, especialmente quando sobreviveram
muitos anos com menos. Ali é que uma voz objetiva, de fora, pode
ajudar a nos humilharmos e a aceitarmos as nossas limitaçõ es. Um
homem cristã o esgotado admitiu: “O sono tem sido essencial para o
meu ‘resetar’. É quase como se eu precisasse permissã o do meu
conselheiro para me convencer que nã o estava dormindo o bastante
e que necessitava tirar duas semanas para me restaurar”.
Um pastor confessou que estava se privando de dormir durante
muitos anos porque “era isso que os puritanos faziam”. Se eles
podiam, por que nã o ele? Depois que acabou de entender que sua
frá gil humanidade precisava de descanso, ele disse:
O horá rio de todo mundo é diferente, e as necessidades de sono variam.
Enquanto estivermos trabalhando bem e dormindo o suficiente para a
necessidade de nosso corpo, estaremos honrando ao Senhor. Na verdade,
eu estava desonrando a Deus quando dizia, “eu entendo que me dizes no
Salmo 127 que dormir é um presente. Mas realmente, por que o Senhor
nã o dá isso a outra pessoa? Dê para alguém mais necessitado? Para um
mero mortal, de quem o mundo nã o dependa tanto?” Eu exagerava no
consumo de café, tentando compensar. No papel eu era calvinista, mas no
armá rio, um pelagiano, trabalhando mais pela lei do que pelo amor.
Trabalhar é bom. Mas só é bom se for ancorado e totalmente condicionado
pela graça. Agora estou recebendo graça e recebendo também a graça de
dormir, porque meu Pai é bom e eu sou necessitado.

Aceitaçã o de Períodos Especiais


Há horas em que as coisas nã o dã o certo, quando o sono demora
ou é encurtado por uma ou outra razã o. Por exemplo: podemos ter
de dormir menos, quando temos períodos especiais de trabalho ou
ministério extra. Nã o devemos nos preocupar demais com períodos
breves de intensidade. Deus pode nos sustentar nesses tempos
excepcionais. Mas se isso se transformar em norma e há bito, nã o
estaremos trabalhando ou ministrando bem ou por muito tempo.
Muitas vezes as pessoas apontam para cristã os famosos “que só
dormiam uma hora por semana” (estou exagerando um pouco). O
que nã o foi dito é que muitos deles sofriam terríveis problemas de
saú de, e nã o poucos morreram bem jovens. Temos em nossos
tanques apenas uma quantia limitada de combustível, que no fim vai
acabar. Se corrermos a cento e vinte quilô metros por hora sem
pausa para descanso, o combustível vai acabar muito mais depressa
do que para aqueles que levam a sério a sua mortalidade, examinam
os seus motores, e dirigem com economia.
Fazer a Sesta
Tomo café demais para fazer isso dar certo comigo, mas muita
gente descobriu que uma soneca de quinze a vinte minutos durante
o dia melhora tanto a sua produtividade, disposiçã o e seus
relacionamentos interpessoais que algumas companhias de alta
tecnologia estabeleceram “cantinhos de soneca” ou “á reas para a
sesta” para membros de suas equipes. Um estudo da NASA
descobriu que sestas de vinte e seis minutos melhoraram o
desempenho de algumas tarefas no trabalho em trinta e oito por
cento. 36 Outro estudo a respeito dos melhores violinistas descobriu
o fato que, além de dormir oito horas e meia por noite, uma hora a
mais que a média norte-americana, eles também dormiam quase
três horas por semana tirando a sesta. 37
Mesmo que nã o chegue sempre a dormir, o relaxar de um tempo de
“soneca” pode ser incrivelmente repousante. Conforme explicou um
homem: “Minha ‘soneca poderosa’ depois do lanche da tarde sobre o
sofá me dá um estímulo de energia. Na verdade, eu nã o durmo, mas
me relaxo conscientemente por quinze a vinte minutos. Outros
podem fazer o barulho que quiserem; nã o me incomodo. Lembro de
meu pai fazer o mesmo quando éramos crianças”.
Médico do Sono
Se você tiver tentado de tudo e ainda estiver exausto por dormir
pouco, nã o é porque esteja negligenciando o sono. Nã o, você deseja
desesperadamente dormir e nã o consegue. Talvez o problema tenha
um componente físico, algo como apneia do sono. Neste caso, parte
da soluçã o será procurar um especialista em sono. De acordo com o
Centro Americano de Controle e Prevençã o de Doenças (Center for
Disease Control and Prevention), “cerca de cinquenta a setenta
milhõ es de adultos nos Estados Unidos têm dificuldades para
dormir ou mesmo um distú rbio de vigília”. 38
Teologia do Sono
Em ú ltima aná lise, o sono, como tudo mais, deve nos levar ao
evangelho e ao Salvador. Primeiro, isso nos leva a pensar sobre a
morte ; todos nó s devemos fechar nossos olhos como no sono e
acordar em outro mundo (1Ts 4.14).
O sono também nos ensina sobre o nosso Salvador . O fato de Jesus
ter dormido (Mc 4.38) é tã o profundo quanto “Jesus chorou” (Jo
11.35). Estes fatos nos lembram da plena humanidade de Cristo, que
o Filho de Deus se tornou tã o frá gil, tã o fraco, tã o humano que
também precisava dormir. Que humildade! Que amor! Que exemplo!
Que conforto! Que comprimido para dormir!
O ato de dormir ilustra a salvação . Quanto estamos fazendo
quando dormimos? Nada! É por isso que Jesus usou o descanso para
ilustrar a salvaçã o. “Vinde a mim, todos os que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28).
O sono também nos aponta para o céu . Permanece um repouso
para o povo de Deus (Hb 4.9). Isso nã o quer dizer que o céu vai ser
um lugar onde estaremos apenas deitados, sem fazer nada –
significa, sim, que o céu será um lugar de renovaçã o e refrigério, de
conforto e paz perfeita.
Espero que esta oficina o ajude a dormir melhor — com uma
teologia mais saudá vel! Mas agora, quero que você acorde, vá
entrando na quarta oficina de reparos, e arrume seus apetrechos de
giná stica para nos exercitarmos na oficina de reparos de
“Recriaçã o”.

Arianna Huffington, Thrive: The Third Metric to Redefining Success and Creating a Life of
Well-Being , Wisdom, and Wonder (New York: Harmony, 2015), 2.

James Gallagher, “‘Arrogance’ of Ignoring Need for Sleep”, BBC, May 12, 2014,
http://www.bbc.com /news/health-27286872.

Muitas das estatísticas e citaçõ es desta seçã o foram tiradas do livro Sleep Disorders and
Sleep Deprivation: An Unmet Public Health Problem (Washington DC: National Academies
Press, 2006).

L. Xie et al., “Sleep drives metabolite clearance from the adult brain”, National Center for
Biotechnology Information, October 18, 2013,
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24136970.

Christine Gorman, “Why We Sleep”, Scientific American , October 1, 2015,


http://www.scientificamerican.com/article/sleep-why-we-sleep-video/.

As seguintes estatísticas e citaçõ es vêm de “You Are What You Sleep”, Athlete Kinetics ,
February 9, 2016, https://blog.athletekinetics.com/2016/02/09/you-are-what-you-
sleep/and Jordan Schultz, “These Famous Athletes Rely on Sleep for Peak Performance”,
The Huffington Post , August 13, 2014,
http://www.huffingtonpost.com/2014/08/13/these-famous-athletes-rely-on-
sleep_n_5659345.html.

Tony Schwartz, “Sleep Is More Important than Food”, Harvard Business Review , March 3,
2011, https:// hbr.org/2011/03/sleep-is-more-important-than-f.html.

Ullrich Wagner et al., “Sleep Inspires Insight,” Nature 427 (Jan. 22, 2004): 352-55,
www.nature.com/nature/journal/v427/n6972/full/nature 02223.html. An additional
study supports the idea: Michael Hopkin, “Sleep Boosts Lateral Thinking”, Nature , January
22, 2004, www.nature.com /news /2004 /040122/full/news 040119-10.html

Veja um resumo de Å kerstedt’s research at Karolinska Institutet, Department of Clinical


Neuroscience, http://ki.se/en/cns/torbjorn-akerstedts-research-group.
Charlie Hoehn, Play It Away: A Workaholic’s Cure for Anxiety (CharlieHoehn.com, 2014),
Kindle edition, locs. 1081–89.

“Drowsy Driving and Automobile Crashes”, NCSDR/NHTSA Expert Panel on Driver Fatigue
and Sleepiness, http://www.nhtsa.gov/people/injury/drowsy_driving1/Drowsy.html.

Nancy Jeffrey, “Sleep Is the New Status Symbol for Successful Entrepreneurs”, The Wall
Street Journal , April 2, 1999, http://online.wsj.com/article/SB923008887262090895.html.

Don Carson, Scandalous: The Cross and Resurrection of Jesus (Wheaton, IL: Crossway, 2010),
147.

John Piper, “Charles Spurgeon: Preaching through Adversity,” Desiring God , January 31,
1995, http://www.desiringgod.org/biographies/charles-spurgeon-preaching-through-
adversity.

Adrian Reynolds, And So to Bed ...: A Biblical View of Sleep (Fearn, Tain, Rossshire: Christian
Focus, 2014); Matthew Edlund, The Power of Rest : Why Sleep Alone Is Not Enough (New
York: Harper Collins, 2010).

Edlund, The Power of Rest, Kindle edition, locs. 959, 972.

Ibid., loc. 1174.

Archibald Hart, The Anxiety Cure (Nashville: Thomas Nelson, 2001).

Citado em Edlund, The Power of Rest , loc. 1666.

20
K. Anders Ericcson et al., “The Role of Deliberate Practice in the Acquisition of Expert
Performance”, Psychological Review 1993 , Vol. 100. No. 3, 363–406.

“Insufficient Sleep Is a Public Health Problem”, Centers for Disease Control and Prevention,
September 3, 2015, http://www.cdc.gov/features/dssleep/.
OFICINA DE REPAROS 4 | RECRIAÇÃ O
Era outono de 2006, e a “Missã o Cumprida” do Presidente Bush
estava virando uma “Missã o Impossível”, enquanto aos poucos, mas
com certeza, os Estados Unidos estavam perdendo a guerra no
Iraque. O general George Casey persistia na estratégia sanguiná ria
“drawdown to handover”, 39 a despeito do desastre que pairava
sobre tudo. O general dos fuzileiros navais, Peter Pace, diretor dos
Chefes de Apoio Adjuntos, estava desesperado. Em busca de nova
estratégia, ele convidou o general do Exército, já aposentado, Jack
Keane, para um encontro durante a crise e pediu que este desse um
parecer honesto. 40
Keane foi extremamente franco e direto: “Eu lhe daria uma nota
baixa”.
Visivelmente aflito, Pace perguntou: “O que o senhor acha que eu
deveria fazer?”
O conselho de Keane foi surpreendente: Pace deveria dizer ao
general Casey para reduzir sua carga de trabalho e tirar um tempo
livre todos os dias. Keane continuou: “George Casey está nisso vinte
e quatro horas por dia, os sete dias da semana. Nã o tem nada para
alimentar a sua vida. Está completamente imerso e isolado por uma
só e ú nica coisa. É esta guerra. Ela capturou completamente tudo o
que ele faz. Sua capacidade de ver claramente estará sempre
limitada e definida p ela sua experiência do dia apó s dia, e pela
fadiga que sofre com isso”.
Keane, entã o, passou a falar sobre o que ele via como a ética de
trabalho obsessivo dos mais altos oficiais comandantes militares dos
Estados Unidos. “Os nossos generais lutam guerras hoje em dia em
compasso quase frenético e totalmente contraproducente”, disse ele.
O jornalista Bob Woodward escreve:
[Keane sugeriu que Pace comparasse os generais americanos atuais] ao
general Douglas MacArthur, da Segunda Guerra Mundial, que assistia um
filme todas as noites, ou ao chefe do exército George Marshall, que ia para
casa todas as noites em hora razoá vel e “andava a cavalo, se fosse o caso,
à s vezes tirando uma soneca por uma hora e meia durante o dia. Esses
homens estavam fazendo coisas grandes e importantes. Sabe como sã o os
nossos oficiais hoje? Eles estã o em suas mesas à s seis e meia da manhã , e
ficam acordados até a meia noite”.
Era uma questã o de hombridade, Keane pensou. Porque os
soldados estavam ali vinte e quatro horas por dia, sete dias por
semana, os generais achavam que tinham de fazer o mesmo. Mas a
questã o central era o pensamento renovado e claro sobre as
responsabilidades da guerra.
O ponto de Keane foi que “o pensamento renovado e claro” seria
possível somente se os generais tivessem tempo longe de suas
escrivaninhas, tempo para alimentar suas vidas, tempo para
recreaçã o.
Muitos de nó s homens precisamos de um general Keane na vida. É
muito fá cil para nó s simplesmente fazer, fazer, fazer, produzir,
produzir, produzir; mais, mais, mais, cada vez por mais tempo,
tempo mais longo, mais longo, mais longo. Contudo, estamos
perdendo batalhas apó s batalhas – quem sabe até mesmo a guerra?
Será que nossa ética de trabalho obsessivo acaba por nos fazer
perder tudo? Na tentativa de impressionar outros homens com
nossa capacidade má scula de trabalhar (e os pastores sã o
especialmente suscetíveis a isso), estaremos destruindo nossa
capacidade de pensar sobre nosso chamado, nossos problemas e os
desafios de modo claro e renovado?
Ainda que seja possível encontrar recreaçã o melhor do que assistir
filmes todas as noites, e ter atividades mais seguras do que andar a
cavalo pela cidade, o princípio é o mesmo: temos de nutrir nossa
vida com recreaçã o regular, especialmente exercício físico. Talvez,
apenas talvez, um pouco menos de trabalho e um pouco mais de
diversã o possa transformar nossa “Missã o Impossível” atual em uma
“Missã o Cumprida!”
Na Oficina de Reparos 2, passamos algum tempo explorando o
significado de ser criatura e como podemos nos “descriar”, se
ignorarmos nossa condiçã o de sermos criaturas, e isto leva a
estragos e desintegraçã o em diversas á reas da vida. Na Oficina de
Reparos 3, examinamos o que é descansar como uma das formas
que Deus provê para renovar e resetar nossa vida. A Oficina de
Reparos 4 introduz um segundo caminho, recriar por recreação ,
especialmente pela graça do exercício físico.
Mas antes de chegarmos à seçã o mais prá tica, vamos estabelecer
as bases de uma teologia do corpo centrada no evangelho.
Precisamos deste pano de fundo porque a maneira de começar e
manter o exercício físico regular nã o é tanto por autodisciplina
moná stica ou pelo entusiasmo insano de alguns instrutores de
educaçã o física, mas por apreender as verdades inspiradoras e
motivacionais do evangelho. Vejamos algumas dessas poderosas
verdades.
TEOLOGIA DO CORPO
Conforme evidenciado pela enorme quantia de dinheiro gasto em
cuidados com saú de, cosméticos e cirurgias plá sticas, a maioria das
pessoas está obcecada pelo corpo. Em contraste, a igreja de Cristo
tem corretamente enfatizado a alma. O que adianta ter um corpo
mais belo e saudá vel se a alma estiver doente e feia (Mc 8.36)? O
corpo eventualmente vai deteriorar, enfraquecer e morrer. Mas a
alma pode se fortalecer e ficar mais saudá vel com o passar dos anos
(Sl 92.12-15; 2 Co 4.16).
Contudo, a igreja frequentemente tem enfatizado a alma até
excluir, ou pelo menos diminuir muito, o valor do corpo. O resultado
é que à s vezes enxergam a negligência do corpo quase como uma
virtude ou marca de superespiritualidade. Um pastor explicou assim
a sua luta com isso:
Em algum lugar na caminhada, passei a considerar a recreaçã o como
mundanismo. Se nã o fosse diretamente para avançar o Reino, eu nã o
precisava executar determinada atividade. Secretamente, eu achava que
Deus me olharia e veria que eu levava muito a sério o ministério, a ponto
de me abençoar por isso. Mas nã o estava vivendo como um ser humano.
Eu nã o percebia o quanto eu precisava das atividades humanas. Precisava
experimentar a beleza e a criatividade. Necessitava ter prazer nos
presentes de Deus sem me sentir culpado por isso. Era uma questã o de
sobrevivência.
Ele estava certo. Erros desse tipo só poderã o ser vencidos com a
verdade, com a teologia bíblica sobre o corpo. Sim, a Bíblia tem uma
teologia do corpo, muito dela está contida em 1 Coríntios 6.9-20:
Nosso corpo foi danificado pelo pecado (vv. 9-10). Ainda que o
pecado tenha início em nossa alma, acabamos pecando em e com o
nosso corpo. Por esta razã o Paulo inicia a sua Teologia do Corpo
confessando o pecado que fere e até destró i nosso corpo.
O seu corpo foi salvo por Deus (v. 11). “Tais fostes alguns de vó s”
(tempo passado). Você era assim — mas agora isso é passado. Você
era corrompido, danificado, destruído, mas agora foi lavado,
santificado, justificado. O nosso corpo e alma sujos, prejudicados,
moribundos, podemos levar a Deus, e ele coloca seu Filho e seu
Espírito para trabalhar neles. Ele opera a salvaçã o de todo o corpo e
de toda a alma.
O seu corpo continua vulnerável (v. 12). Embora ele saiba que
experimentou uma salvaçã o de corpo e alma, o apó stolo é cô nscio da
continuidade de sua fraqueza e vulnerabilidade espiritual e física.
Muitas coisas sã o permissíveis, mas ele nã o quer impedir a sua nova
criaçã o fazendo o que nã o for benéfico ou de ajuda. Ele nã o está livre
da necessidade de disciplina diá ria sobre os apetites de seu corpo.
O seu corpo é para o Senhor (vv. 13–14). O apó stolo substitui um
ditame falso que os coríntios estavam usando para abusar do corpo
— “os alimentos sã o para o estô mago, e o estô mago, para os
alimentos” — por um dizer verdadeiro que abençoa o corpo: O
corpo é... “para o Senhor, e o Senhor para o corpo”.
“O corpo é para o Senhor.” Deus deu a cada um de nó s um corpo
para o darmos de volta a ele. Ele nã o nos deu um corpo para que o
entregá ssemos a qualquer um e a todos em relaçõ es sexuais imorais.
Ele nã o nos deu um corpo para que o entreguemos ao excesso de
trabalho ou à preguiça. Deus nos deu o corpo para que o
entreguemos de volta a ele. O corpo é para o Senhor.
“O Senhor é para o corpo.” Ele o fez, cuida dele e mantém interesse
eterno nele. Até mesmo assumiu um corpo, sofreu no corpo, e
ressuscitou em corpo. Ele possui um corpo até hoje. O Senhor é para
o corpo. Isto nã o é sem importâ ncia. A nossa ressurreiçã o futura
mostra quanta honra Deus coloca sobre o corpo e o quanto devemos
honrar o corpo no tempo em que estamos nele, e o Senhor o honrará
por todos os tempos.
O seu corpo é membro de Cristo (vv. 15-17). Sim, a nossa alma é
membro do corpo de Cristo. Também o é o nosso corpo! Isso tem
imensas implicaçõ es no modo como vemos e tratamos o nosso
corpo. Quando meu pai era dentista, ele me disse que, ao olhar os
dentes da pessoa, ele sabia quanto dinheiro essa pessoa tinha, e se
gozava de uma saú de geral boa ou nã o! Uma pequena parte do corpo
revela tanto sobre a pessoa inteira.
Paulo usa esta realidade para motivar todos os membros do corpo
de Cristo a ver e tratar seu pró prio corpo como o que revela algo
positivo ou negativo sobre Cristo.
O seu corpo é templo do Espírito Santo (vv. 18-19). As lojas de
materiais de construçã o estã o sempre cheias de gente querendo
consertar, melhorar, reformar e embelezar suas casas. Ninguém
compra ferramentas e equipamentos para estragar ou destruir a
casa. No entanto, estamos estragando ou mesmo destruindo a casa
do Espírito Santo com nossa atividade exagerada ou nossa
inatividade!
O seu corpo foi comprado por um preço (v. 20). Como você
responderia se eu lhe dissesse: “Pode cuidar um pouco mais das
minhas costas, por favor. Você nã o está sentado direito na cadeira e
nã o quero que minhas costas sofram uma hérnia ou um disco em
prolapso!” Ou, se eu interrompesse o sorvete que você está comendo
com o comentá rio: “Você nã o acha que deveria comer menos açú car
e um pouco mais de trigo integral? Isso realmente seria melhor para
o meu estô mago”.
Talvez você respondesse: “Quem você pensa que é?” “Que direito
você tem de me dizer o que fazer com o meu corpo?” ou “O que você
quer dizer com suas costas ou o seu estô mago? Sã o meus, nã o seus”.
Eu respondo, entã o: “Na verdade, você nã o pertence a você mesmo.
Nã o é dono do seu corpo. Eu sou o dono do seu corpo. Comprei o seu
corpo algumas semanas atrá s, e estou apenas cuidando do que é
meu”.
É o que Deus está dizendo aqui por meio de Paulo: “...nã o sois de
vó s mesmos... Porque fostes comprados por preço; Agora, pois,
glorificai a Deus no vosso corpo”, e no vosso espírito, os quais
pertencem a Deus. Quanto mais pensamos no preço pago por nosso
corpo, mediante o precioso sangue de Cristo, mais sentimos uma
obrigaçã o para com o novo proprietá rio. Fomos comprados por alto
preço. Nã o pertencemos a nó s mesmos.
Portanto, glorifique a Deus no corpo e no espírito, que são de Deus
(v. 20). O argumento de Paulo é: Deus nos criou com corpo e alma, e
redimiu nosso corpo e nossa alma, de modo que o servimos de corpo
e alma. Nossa alma e nosso corpo pertencem a Deus para a sua
gló ria. Isso deve fazer diferença em como os vemos e tratamos.
Se esta é uma teologia do corpo, o que significa em termos
prá ticos? Como glorificamos a Deus com o corpo? Para aqueles de
nó s que necessitam um resetar de vida, colocamos em prá tica essa
teologia do corpo com três açõ es físicas que nos ajudam a recriar
nosso corpo, enquanto vivemos no compasso da graça: Ficar em pé,
exercício e trabalho com as mã os.
FICAR EM PÉ
“Homens que gastam mais que vinte e três horas por semana
sentados têm chance sessenta e quatro por cento maior de morrer
de doenças cardíacas do que os que ficam sentados apenas onze
horas ou menos por semana”. 41 Essa nã o é uma boa notícia para a
maioria de nó s que cada vez mais passa o tempo atrá s de mesas ou
volantes de carros. Numerosos estudos mostram que estamos
assentados muito mais do que em qualquer outra época da histó ria
(em média, mais de nove horas por dia), e tanto tempo contínuo
permanecendo sentado faz coisas realmente má s para o corpo,
inclusive aumentar o risco de doenças cardíacas, obesidade,
diabetes e certos câ nceres. 42 Ficar sentado mais de seis horas por
dia nos torna até quarenta por cento mais propensos a morrer
dentro de quinze anos do que alguém que fica sentado menos de
três horas. Graças a Bill Gates e Steve Jobs, enquanto isso aumenta
nossa produtividade também aumenta a nossa mortalidade. Que
contraste com o passado, quando a maioria da populaçã o trabalhava
com as mã os. Agora, a parte mais exercitada do nosso corpo sã o as
pontas dos dedos.
Se você habita sua escrivaninha, uma parte da soluçã o poderia ser
uma escrivaninha onde você possa ficar em pé, que o deixe
permanecer pelo menos parte do tempo de pé durante seu dia.
Ainda que a maioria delas seja cara, existe um nú mero de
possibilidades abaixo de duzentos dó lares. Comecei com uma versã o
faça você mesmo por cinquenta dó lares, feito com materiais da loja
Lowe, e, recentemente, passei para uma que posso fazer subir ou
descer apenas apertando um botã o. Agora, em vez de ficar sentado
oito horas por dia, eu alterno entre ficar uma hora sentado e uma
hora de pé. Isso fez enorme diferença em meus níveis de energia e
concentraçã o, e, assim espero, na minha longevidade.
EXERCÍCIO
O exercício físico moderado pode ajudar a expelir as substâ ncias
químicas nocivas de nosso sistema e estimular a produçã o de
substâ ncias que nos ajudam. O exercício fortalece nã o apenas o
corpo, como também o cérebro. Pesquisas mostram que caminhar
três quilô metros por dia reduz o risco de declínio cognitivo e
demência em sessenta por cento. Além dos benefícios a longo prazo,
o exercício estimula o crescimento de novas células cerebrais no
hipocampo e aumenta os fatores neurotró ficos de crescimento —
uma espécie de fertilizante mental que ajuda o cérebro a crescer e a
manter novas conexõ es, conservando-se saudá vel. 43
Exercícios e padrõ es corretos de descanso geram um aumento de
cerca de vinte por cento de energia em um dia médio, 44 enquanto
que praticar exercícios três a cinco vezes por semana é quase tã o
efetivo quanto tomar antidepressivos para depressã o leve até a
moderada. 45
Ken sublinhou isso em uma carta que escreveu para mim: “Nã o
posso exagerar a ênfase do efeito do exercício sobre meu bem-estar.
É claramente uma das atividades que demonstram a conexã o entre
mente e corpo. Quando estive mais deprimido, o exercício me
guardou de passar a linha do desespero. Quando me recuperei, me
impediu de entrar novamente nela”.
Em setembro de 2014, com a idade de quarenta e oito anos,
finalmente admiti que eu necessitava acrescentar o exercício a
minha vida. Conversei com um de meus alunos que era treinador em
tempo parcial na ACM. Queria começar a me exercitar (e aumentar
meus bíceps), mas ele me convenceu a começar com seu grupo de
fitness , o que condicionaria o meu corpo inteiro. Alguns dias mais
tarde, quando abri a porta da academia para a classe de “bombar o
corpo”, fui confrontado com vinte a trinta mulheres em diversos
formatos e cores de Lycra. Estava prestes a dizer: “Desculpe, sala
errada”, e correr para me salvar, quando meu aluno me viu e me
chamou para entrar. Dei um sorriso fraco, enquanto ele me
espremeu em um espaço pequeno na frente da turma com uma
esteira, um banquinho e alguns pesos. Dentro de cinco minutos, eu
era um pedaço de geleia, com meus braços doendo e minhas pernas
colapsando. Enquanto isso, todas as mulheres conseguiam levantar
mais e dar mais passos que eu em todos os exercícios. Foi
totalmente humilhante, e anotei mentalmente dar nota baixa ao meu
aluno na pró xima prova. Mais tarde, ele me assegurou que
geralmente havia uns dois homens na classe e que eu deveria voltar.
Voltei, mas levei Shona comigo para deixar claro que eu nã o era um
triste homem de meia idade desesperado a procura de uma mulher
mais jovem. A vantagem foi que minha esposa também começou a
fazer academia.
Antes de ter passado muito tempo, eu já deixara as senhoras de
Lycra para trá s. Agora, faço exercícios quatro dias por semana,
seguindo um programa personalizado de treinamento. À s vezes, eu
gostaria de voltar à quelas aulas somente para mostrar à s mulheres
o homem de aço em que eu me transformei. Mas resisto. Aprendi
bastante sobre iniciar um regime de saú de física, sendo estas as
principais liçõ es:
Procure Conselhos
Se você realmente estiver fora de forma, deve consultar seu
médico antes de iniciar qualquer programa de exercício. Se ele lhe
der aprovaçã o, por que nã o se filiar a uma academia local onde pode
ter algumas sessõ es com um personal trainer ou participar de aulas
em grupo? De qualquer modo, você terá confiança de estar fazendo
o que é certo, da maneira correta.
Tenha um Alvo Claro
A motivaçã o é a chave para o exercício. Qual é o seu “motivo?”
Perder peso? Aumentar a força ou resistência? Qual o seu objetivo e
como saberá se o está conseguindo? Se tiver clareza nessas
questõ es, já terá vencido metade da luta. Meu alvo inicial era perder
uns sete quilos de peso e começar a ganhar mú sculos delgados. A
primeira parte foi fá cil de ver na balança e no espelho; tristemente, a
segunda nã o é tã o fá cil de ver no espelho (ainda), mas com certeza
sinto-me mais forte e nã o estou sofrendo tanta dor nas costas como
antes. Também marco meus alvos diá rios num aplicativo em meu
telefone para me encorajar com o progresso alcançado.
Construa Devagar
É tentador, especialmente para os grandes empreendedores como
eu, começar um esforço de condicionamento físico com uma
maratona ou levantando cento e cinquenta quilos de peso. Se você
mirar alto demais, vai se arrebentar. Você pode se machucar,
desanimar ou passar vergonha.
Se realmente estiver fora de forma, comece com uma caminhada
de vinte minutos por dia, depois aumente, depois vá aumentando a
velocidade em direçã o a correr em vez de fazer uma caminhada. Isso
aumenta o fluxo do sangue, melhora seu desempenho de eliminaçã o
de toxinas, renova as células e diminui a pressã o sanguínea, bem
como o estresse.
Ou comece com pesos leves, veja como o corpo reage, e aumente
aos poucos. Mesmo agora, que já estou fazendo isso há meses, estou
aprendendo a importâ ncia de estressar os mú sculos o suficiente
para aumentar a força e a resistência, mas nã o a ponto de rasgá -los
ou feri-los. Isso me deixaria fora dos exercícios por dias ou até
mesmo semanas, esperando sarar.
Tenha uma Rotina Semanal
Devido ao poder do há bito, é mais fá cil fazer algo regular e
rotineiramente do que somente quando der vontade de fazer ou
quando conseguimos encaixar na agenda. Minha rotina de giná stica
semanal é das quatro e meia à s cinco e meia da tarde, na segunda,
terça, quinta e sexta-feira. Agora isso é parte tã o comum da minha
vida que quase nã o tenho necessidade de pensar nisso. Nã o tenho
mais uma discussã o interna diá ria: “Vou fazer ou nã o?” É como
respirar: nã o preciso tomar uma decisã o quanto a isso;
simplesmente acontece. O meu corpo agora espera esta atividade e
até sente falta quando nã o me exercito um dia.
Misture Tudo
Exercitar-se à mesma hora cada dia nã o quer dizer fazer o mesmo
exercício todos os dias. Precisamos exercitar todas as diferentes
partes do corpo, variando o exercício para que nã o ficarmos
entediados e para que nosso corpo nã o se acostume sempre aos
mesmos exercícios e acabe estacionando. Eu alterno pesos com
cardiorrespirató rios, trabalho partes diferentes a cada dia, e misturo
neles um pouco de alongamento.
Brinque
É importante ter prazer no exercício físico. Se estivermos apenas
nos esforçando para acabar o percurso, repetiçõ es e séries de
exercícios, ele será apenas mais uma rodada de alvos de
desempenho e passará de uma graça a ser recebida para uma lei a
ser obedecida. Todo o prazer e benefício se esvaem. E acabaremos
desistindo. Se isso for uma tentaçã o para você, procure uma
atividade, exercício, jogo ou esporte em que tenha prazer, para que
nã o seja uma fonte adicional de estresse. Como disse certa vez Roald
Dahl: “Um pouco de tolice de vez em quando é valorizado pelos
homens mais sá bios”. 46 Se pudermos nos exercitar ao ar livre,
melhor ainda, devido ao impacto terapêutico do sol e do ar puro.
Seja responsá vel por prestar contas. Marcar os seus exercícios
diá rios pode também formar a base para a responsabilidade com o
seu treinador ou com um amigo ou com sua esposa. Sei que se eu
chegar do trabalho e ainda estiver de camisa social e gravata, minha
mulher comenta: “Ah, você nã o conseguiu ir à academia hoje?” No
dia seguinte ela vai dizer: “Você nã o conseguiu ir à academia de
novo!” O dia nú mero três nunca acontece.
Trabalho Manual
À s vezes invejo pintores, bombeiros, paisagistas, carpinteiros, e
outros que conseguem trabalhar com as mã os e têm algo a mostrar
no final de cada dia, ou pelo menos toda semana. O que é que eu e
outros “trabalhadores do conhecimento” temos a mostrar por nosso
trabalho a cada sete dias?
Virtualmente nada.
Isso porque em sua maior parte é realmente “virtual”— palavras
escondidas dentro do computador e servidores em arquivos,
documentos, relató rios, planilhas e assim por diante. No meu caso,
algumas palavras se tornam sermõ es ou palestras, que parecem logo
evaporar no ar quando sã o ditas. Para trabalhadores de
conhecimento em geral, e especialmente para pastores,
frequentemente nã o há muito a exibir por semanas e mais semanas,
meses e mais meses, ano apó s ano de suor, sangue e lá grimas
mentais. O pastor Jim explica a dor desse desâ nimo:
Em dez anos de ministério, tenho trabalhado muito, com pouco para
mostrar isso. Gastava vá rias horas toda semana fazendo divulgaçã o.
Achava que conseguia me convencer que Deus é soberano, e os resultados
estã o nas suas mã os. Ele dará chuva conforme quiser. William Carey
trabalhou todos aqueles anos com pouquíssimos preciosos frutos. Mas lá
no fundo, estava começando a me abalar.
Conforme disse Jim, uma resposta a esse frustrante sentimento de
futilidade é mais fé; fé para crer que Deus abençoará a sua Palavra
escrita e falada. Semeamos, outro põ e á gua, mas Deus é quem dá os
resultados. Sim, acreditamos em tudo isso — a maior parte do
tempo. Mas somos humanos; ainda temos a necessidade humana
bá sica de ver alguns frutos, algum resultado, algo para mostrar pelas
muitas horas no escritó rio pastoral e de joelhos.
Outra resposta seria desenvolver um hobby ou passatempo que
supra a necessidade bá sica humana de ter algo físico ou visível no
final, algo a que apontar, algo belo para ver e admirar. Para mim,
pode ser uma coisa simples como ver o gramado do quintal bem
podado, um cô modo pintado, ou até mesmo ter pescado um salmã o
rei. Para você, pode ser uma pintura, um trabalho em madeira, uma
horta no quintal, ou melhores resultados em um jogo de golfe. Pode
ser qualquer coisa física, produzida por uma atividade física
agradá vel, feita, se possível, toda semana. 47
Um de meus amigos dá risada de homens que vã o à academia e
depois sobem num cortador de grama elétrico ou pagam alguém
para capinar o terreno do quintal. Como ele diz: “Suar é bom para
um homem, mas suar enquanto corta a grama ou capina o terreno é
muito melhor do que malhar na academia. Você faz algo produtivo,
enquanto está colocando o corpo em melhor forma”. Um pastor me
disse: “Sou tã o grato que Deus tenha me dado o trabalho com
madeira como atividade criativa. Chamo isso de minha terapia.
Gosto especialmente de fazer presentes para membros da família,
porque em geral eu os verei mais tarde. Quando vejo o que criei,
tenho grande satisfaçã o. Pode parecer bobagem, mas os pastores
necessitam algo que possam ver”.
Em cima dessa infusã o semanal de satisfaçã o, procuro também
realizar um grande projeto físico a cada ano. Um ano, consertei
coisas no pá tio. Ano passado, fiz um deck no nosso quintal. Neste
ano, comprei uma serra elétrica para podar a floresta de trá s da
minha casa e cortar algumas á rvores que estã o caídas. Isto é algo
tangível que eu posso apontar e dizer: “Fui eu que fiz isso!” (claro,
com a ajuda de Deus). Quem sabe, pelo menos de vez em quando, o
apó stolo Paulo teve maior senso de realizaçã o ao colar e costurar
tendas do que ao colar e cerzir igrejas rasgadas.
Sim, eu também oro pedindo mais fé e para que Deus abençoe o
meu ministério. Mas, como acontece com muitos trabalhadores do
conhecimento, existe ainda uma parte de mim — quem sabe uma
parte ainda fraca e carnal — que precisa do encorajamento de algo
que eu possa ver e tocar. Gramado, pedras de calçamento e madeira
deram certo para mim. Quanto mais sujo e difícil o trabalho, melhor.
Nã o sã o apenas pastores que possuem este desejo. Um amigo,
consultor empresarial, reclamou: “Toda a criatividade que emprego
no meu trabalho diá rio é intangível... O que nã o gosto sobre o meu
trabalho é que ele é realizado todo em reuniõ es, por telefone e
computador. Meus filhos nã o me enxergam ‘trabalhando’ em
qualquer coisa que na mente deles pareça trabalho”. Eu voltei ao
trabalho manual porque “isso me dá grande senso de realizaçã o.
Consigo ENXERGAR o que fiz nessas horas. Posso tocar e sentir e até
mostrar aos outros o que fiz com minhas mã os. É tangível”. Ele
procura envolver os filhos e até mesmo os amigos nos projetos, pois
diz: “O trabalho com as mã os é onde consigo trabalhar, exercitar,
respirar ar puro, criar algo tangível e fazê-lo na companhia da
família e amigos. A medida que os meus filhos crescem, o meu
compromisso com o trabalho manual e com os projetos faça você
mesmo têm aumentado”.
Estranhamente, em vez de tornar-se substituto para meu trabalho
de conhecimento no escritó rio, o trabalho físico no quintal tem
motivado, inspirado e me dado energia para fazer mais o trabalho
espiritual. Da mesma forma, um pastor que teve de usar um
antidepressivo por curto tempo, disse-me: “Fazer exercícios tem,
com certeza, sido mais poderoso e efetivo do que o antidepressivo;
ele me realiza, esclarece os meus pensamentos, e me ajuda a manter
a saú de física e a sustentar a felicidade”. Ele chama o exercício “de
desligamento estratégico a fim de nutrir a alma e o corpo”. Ainda
que isso pareça contra-intuitivo, a ciência dos exercícios confirma
que o exercício diá rio, com padrõ es adequados de descanso, pode
aumentar a energia em cerca de vinte por cento ao dia. É assim que
a sua “Missã o Impossível” pode se tornar “Missã o Cumprida”.
Agora, depois de todo esse exercício e trabalho manual, você ficará
contente por saber que vamos descansar. Sim, necessitamos mexer
de novo nosso corpo, mas precisamos também aprender como e
quando desacelerar, tanto física quanto mentalmente. Viver uma
vida ao compasso da graça recebe a graça de transpirar, como
também a graça de se refrescar.

Nota da revisã o: “drawdown to handover”, (“rebaixamento para entregar”), estratégia


militar para a retirada das tropas americanas do Iraque).

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Veja Tim Challies, “Hobbies to the Glory of Deus”, Challies.com , March 9, 2016,
http://www.challies.com/articles/hobbies-to-the-glory-of-god.
OFICINA DE REPAROS 5 | RELAXAR
Que tal este título para um livro: 10% Mais Feliz: Como Domei a
voz em Minha Cabeça e Reduzi o Estresse sem Perder meu Limite, e
Encontrei Autoajuda que Realmente Funciona — uma História
Verídica. Nele, o apresentador de Good Morning America . Dan
Harris, descreve a sua busca sincera, mas muitas vezes bizarra, pela
felicidade, busca essa que o levou a muitos lugares, pessoas e
prá ticas maravilhosas e estranhas, até se acomodar a uma forma um
tanto extrema de meditaçã o relacionada à ioga que o fez, oh, uns dez
por cento mais feliz.
No fim de tudo, você pensa: “Poxa, todo aquele esforço para
conseguir apenas mais dez por cento de felicidade!” No entanto,
Harris ainda pensa que valeu a pena, especialmente por ele ter
aprendido como viver somente no presente, uma prá tica muitas
vezes denominada de “mindfulness” – a capacidade de atençã o
plena. A ideia é entrar em um estado mental que nã o pensa para trá s
nem para frente, que nã o relembra o passado nem antecipa o futuro.
Com a ajuda de uma técnica de respiraçã o, a mente se esvazia de
tudo, exceto do momento presente. Perfeitamente focado somente
no aqui e agora, o praticante dessa técnica goza de um estado de
bem-estar mental. Se você acha que isso é fá cil de conseguir, leia o
livro, ou melhor, tente você mesmo. Conforme Harris o define, é
como uma gaiola que luta com um peixe:
Era um rigoroso exercício do cérebro: repetiçã o apó s repetiçã o,
procurando domar o trem fugidio da mente. A tentativa repetida de levar
o aparelho do pensamento compulsivo ao domínio perfeito era como
segurar nas mã os um peixe vivo. Lutando para subjugar a mente até o
chã o, repetidamente, procurando levar a atençã o de volta à respiraçã o, em
face ao ataque interior que exigia extrema determinaçã o. 48
Embora seja triste e engraçado ler sobre a angustiante e muitas
vezes divertida viagem de Harris, existe algo no título deste livro
que contém uma centelha de verdade: uma das chaves para uma
vida mais feliz e com menos estresse é abaixar o volume da mente e
desfrutar da calma e quietude interna. A graça da paz é parte
essencial de uma vida no ritmo da graça. Precisamos de descanso
para corpo e mente. Conforme disse o salmista: “Aquietai-vos, e
sabei que eu sou Deus” (Sl 46.10).
NOSSA ORQUESTRA INTERIOR
Todo cristã o deseja conhecer mais a Deus; poucos cristã os separam
o tempo de silêncio que isso requer. Em vez disso, passamos o dia
produzindo sons que destroem a quietude e o conhecimento que
deveriam ocupar nossos ouvidos e nossa alma.
Com tantos gongos e confrontos fortes em nossa vida, à s vezes fica
difícil isolá -los e identificá -los. Portanto, permita que eu o ajude a
fazê-lo, para depois prover alguns abafadores. 49
Primeiro, existe a barulheira da culpa, a vergonha e o embaraço de
nossos segredos morais, mas obscuros: pensamentos de “eu deveria
ter... eu nã o deveria ter.... eu deveria fazer... eu nã o poderia fazer...”
tinindo ruidosamente nos recessos profundos de nosso ser,
destroçando nossa paz e perturbando nossa tranquilidade.
Entã o, vem a ganâ ncia batendo forte em nosso coraçã o com
baquetas implacá veis: “Mas eu quero, eu preciso, tenho de ter isso...
preciso muito... vou conseguir... consegui... eu precisava…”, e assim
por diante.
E o que é esta batida metá lica e raivosa? É o ó dio incitando malícia,
má vontade, ressentimento e vingança. “Como é que ela pode...? Eu
vou pegá -lo... Ela vai me pagar por essa”. Claro que a ira muitas
vezes se insere no címbalo da controvérsia, provocando discó rdia,
debates, brigas e divisõ es.
A vaidade também acrescenta sua batida orgulhosa e altiva,
abafando todos os que competem com a nossa beleza, os nossos
talentos e o nosso status : “Eu para cima, ele para baixo. Eu para
cima, ela para baixo. Eu para cima, todo mundo para baixo”.
A ansiedade também tilinta ao fundo para nos distrair, olhando
rapidamente para o passado, o presente e o futuro, procurando
coisas sobre as quais preocupar-se: “E se... ? O que seria se... ? O que
será se ...?” Será que estou escutando aquele pequeno triâ ngulo
prateado da pena de si mesmo: “Por que eu? Por que eu?”
A repetitiva e incessá vel barulheira da expectativa vem de todas as
direçõ es — membros da família, amigos, empregadores, igreja, e,
especialmente, de nó s mesmos. Ah, se eu tivesse alguns segundos de
alívio da tirania das exigências de outras pessoas, e, especialmente,
de minhas pró prias exigências e de minha consciência
supersensível.
E esmagando nossa vida, para onde quer que nos voltemos, estã o
os címbalos gigantes da mídia e da tecnologia: local e internacional,
no papel e em pixels , som e imagem, á udio e vídeo, bip e tweet ,
notificaçõ es e lembretes, e assim por diante.
É de surpreender se algumas vezes sintamos como se estivéssemos
ficando loucos? Vivemos em meio a constantes rangidos e barulhos,
balanços e quebras, batidas ensurdecedoras e abafadoras — uma
grande orquestra de instrumentos barulhentos que perturbam a paz
e desmontam a alma.
Entã o lemos: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus”. Mas como?
SILENCIANDO OS CÍMBALOS
Podemos silenciar o címbalo da culpa assumindo fé no sangue de
Cristo, e dizendo: “Creia!” Você tem de crer que seus pecados foram
todos pagos e perdoados. Nã o há razã o alguma para um sussurro
sequer de culpa. Olhe para o sangue até que entenda o quanto ele é
precioso e efetivo, e torna você mais alvo do que a neve, e a sua
consciência mais silenciosa do que o orvalho da manhã .
A avareza nã o é fá cil de silenciar. Talvez abafada seja o melhor que
conseguimos esperar. Pratique viver com menos do que está
acostumado, nã o compre mesmo que tenha dinheiro para isso; por
um tempo, limite-se a comprar somente o que for necessá rio, e gaste
tempo à sombra do Calvá rio. Você verá a sua necessidade muito
menor, à medida que vir o quanto Cristo deu! Faça o seu orçamento
diante da cruz (2 Co 8.9).
Nossa ira nada santa pode ser reduzida pela ira santa de Deus.
Quando sentimos a ardente ira de Deus contra todo o pecado e toda
injustiça, começamos a nos acalmar e relaxar. A vingança pertence a
Deus; ele retribuirá (Rm 12.19).
A doutrina da depravaçã o total do homem é o abafador essencial
da vaidade pessoal. Quando eu me vejo como Deus me vê, o meu
coraçã o, a minha mente, e até mesmo a minha postura, mudam. Paro
de competir pelo lugar mais alto e começo a aceitar a posiçã o
inferior. “Convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30).
Ei! Agora começo a escutar um pouco de silêncio. Mas ainda tem
uma ansiedade inquietante tinindo por aí. Ah, como quero ser livre
disso!
Paternidade.
O quê? Sim, a paternidade de Deus pode mudar o volume da
ansiedade para zero. Deus conhece, Deus se importa, e Deus proverá
para as suas necessidades. Silencie os seus “e... se…”, diante daquele
que alimenta até os passarinhos” (Mt 6.25-34).
Ah, chame de novo o fato da depravação total quando você estiver
ficando com pena de si mesmo. O “por que eu?” nã o consegue
subsistir diante do “por que nã o eu?”
“Ela fez o que pô de” (Mc 14.8). Você ama essas palavras de Cristo
sobre Maria, quando ela ungiu a cabeça dele? Que matador de
expectativas! Toda vez que o diabo despó tico, as outras pessoas, ou
sua tirâ nica consciência exigirem mais do que você pode dar, lembre
a eles as palavras calmas de Jesus: “Ela fez o que pô de”.
Esse silêncio crescente nã o é de prata? Pode até mesmo tornar-se
de ouro, se você andar a segunda milha e tratar dos intrusos
barulhentos da mídia e da tecnologia. É aí que desejo enfocar nas
pró ximas pá ginas. Quero ajudá -lo a colocar algumas lombadas em
sua vida, para andar mais devagar e aquietar seu coraçã o e sua
mente.
LOMBADAS DIÁ RIAS
Primeiro, vamos construir algumas pequenas lombadas diárias ,
para entã o erguer uma lombada semanal um pouco maior, e,
finalmente, concluir colocando lombadas trimestrais, anuais e
sazonais.
A Inundaçã o Digital
As pesquisas indicam que os americanos consomem em média
quinze horas e meia de mídia tradicional e digital a cada dia. Isso
significa setenta e quatro gigabytes por dia de dados transferidos a
nossa mente! 50 O artigo continua: “Enquanto no passado o consumo
pela mídia era mais passivo — sentá vamos e assistíamos a TV ou
escutá vamos rá dio — o novo consumo de mídia é cada vez mais
interativo, com visualizaçõ es posteriores ou interrompidas,
conforme nossa conveniência, tornando-se rapidamente o
comportamento típico de consumo”. 51
Assim, o problema nã o é apenas uma sobrecarga de informaçõ es; é
também um bombardeio de informaçõ es. Os homens falam comigo
sobre sua exaustã o mental e emocional, e, durante as conversas,
seus celulares estã o acendendo com uma inundaçã o distrativa de
sons e imagens. Eles se surpreendem por que sentem o cérebro
detonado! Mas, dã o em si mesmos açoites mentais contínuos,
enquanto derramam estímulos e dados no cérebro, vindos de todas
as direçõ es.
Imagine que você fosse para a academia e visse alguém
trabalhando furiosamente o bíceps direito, gastando uns três
segundos em uma má quina, para entã o correr para outro aparelho, e
entã o fazer mais três segundos, pulando de um exercício para outro,
puxando e empurrando o mú sculo, usando pequenos pesos com
muitas repetiçõ es, e, entã o, usando pesos grandes com poucas
repetiçõ es — o dia inteiro. Esse pobre bíceps nã o sabe o que vem em
seguida e pode dizer: “Chega. Nã o aguento mais”.
É assim, porém, que muitos de nó s estamos tratando o nosso
cérebro. Acordamos, verificamos os e-mails, ligamos a TV,
escutamos o rá dio, sentamo-nos diante do computador, atendemos
o telefone, respondemos um texto, abrimos o Facebook,
comentamos um blog, enviamos uma mensagem, nos envolvemos
em uma conversa, escrevemos uma matéria, aconselhamos alguém,
planejamos uma reuniã o — tudo isso antes do café da manhã . Cada
uma dessas atividades requer de nó s algum esforço e esgota os
mú sculos da mente; e a situaçã o é especialmente prejudicial por
estarmos saltando rapidamente de um exercício mental a outro, nã o
dando ao mú sculo chance de se recuperar ou construir algum ritmo.
((E você pensou que o rato de academia fosse louco!)
Quer restaurar alguma sanidade? Tenho aqui cinco lombadas que
fiz (e continuo tendo de refazer) para proteger e fortalecer meu
cérebro.
Emudeço minhas notificações de celular e computador . Durante
minhas principais horas de trabalho mental, quando penso,
pesquiso e escrevo (em geral das sete e meia da manhã até uma hora
da tarde), deixo meu telefone no modo silencioso e desligo as
notificaçõ es de e-mails, mensagens e mídias sociais. Quanto mais
tempo passo sem ser interrompido, mais calma fica a minha mente,
melhor fica o meu foco, mais profundos os meus pensamentos e
mais eficiente será meu gerenciamento do tempo. Nã o é somente
que nã o serei interrompido; é o fato de saber que nã o serei
interrompido. Isto produz uma disposiçã o e profundidade mental
totalmente diferente daquela que espera soar o pró ximo bip ou som
de notificaçã o. Dizem ser de Pablo Picasso estas palavras: “Sem
grande solitude nenhum trabalho sério é possível”.
Trabalhar sem distraçõ es ou interrupçõ es, me capacita a realizar o
dobro de trabalho na metade do tempo, permitindo que eu tenha
mais tempo para relaxar com a família. Quebra também o elemento
de vício em tecnologia. Os cientistas descobriram que toda vez que
chega um e-mail ou uma notificaçã o de mensagem ou uma “curtida”
no Facebook, nosso cérebro ejeta minú sculos esguichos de uma
substâ ncia química que produz prazer (como se fosse uma pequena
dose de cocaína). Assim, cada som de notificaçã o cria no corpo um
desejo por aquela substâ ncia química, tornando-nos viciados em bips
e notificações .
Eu verifico meu e-mail, celular, mensagens de textos e mídias sociais
de quatro a seis vezes ao dia. A média para “trabalhadores do
conhecimento” é de seis vezes por hora! Quando me conecto,
procuro primeiro por “emergências” ou “urgentes” que necessitam
açã o imediata, mas estes sã o raros. A maior parte do tempo, demoro
para responder até o final da tarde, quando procuro processar todas
as comunicaçõ es numa janela de trinta a quarenta e cinco minutos.
Limitar a janela me força a limitar o tempo gasto em cada
comunicaçã o. Dou prioridade à s respostas mais importantes, e,
entã o me certifico de que qualquer e-mail nã o respondido pode
esperar por uma resposta até o dia seguinte.
Coloco meu telefone na escrivaninha da minha esposa quando chego
em casa . Nã o carrego o celular pela casa nem para o quintal quando
vou brincar com meus filhos. Colocar o celular em lugar onde tenho
de fazer um esforço para atender, reduz a probabilidade de eu
entrar na rede, e também melhora a qualidade das minhas
conversas. A professora do MIT (Massachusetts Institute of
Technology), Sherry Turkle, diz que “estudos sobre conversas, tanto
no laborató rio quanto em ambientes naturais mostram que quando
duas pessoas estã o falando, a mera presença de um telefone sobre a
mesa, entre elas ou na sua periferia visual, muda aquilo sobre o que
falam e também o grau de conexã o sentida... mesmo um telefone
silencioso nos desconecta”. 52
Carrego a bateria do celular na cozinha durante a noite . Parei de
usar o celular como despertador, porque tê-lo ao lado da cama fazia
com que eu verificasse os e-mails e mensagens antes de dormir,
todas as noites — à s vezes tornando difícil dormir — e, à s vezes, era
a primeira coisa que eu fazia também pela manhã ; isto levava minha
mente a muitas direçõ es antes que eu tivesse a oportunidade de ler
a Bíblia e orar.
Eu jejuo da mídia . Faço isso de dois modos. Nas férias, nã o vejo e-
mail, blog ou mídia social, e, geralmente, evito ver noticiá rios, blogs
e a mídia social aos domingos.
O professor Douglas Groothuis, do Seminá rio de Denver, exige que
seus alunos se abstenham de um meio eletrô nico por uma semana.
Diz ele:
Os resultados sã o nada menos que profundos para a maioria dos alunos.
Tendo se afastado do mundo da TV, rá dio e computadores, eles encontram
mais silêncio, tempo de reflexã o e oraçã o, e mais oportunidades de serem
atenciosos e envolvidos com a família e os amigos. Tornam-se mais
pacíficos e contemplativos — e começam a notar como a maior parte da
nossa cultura se tornou saturada pela mídia. 53
Tenho certeza que você encontrará outras maneiras de acalmar o
trâ nsito da sua mente — nã o checar o celular toda vez que está
numa fila ou num semá foro fechado, fazer caminhadas sem levar o
celular, e assim por diante — estas sã o as á reas em que estou
trabalhando, e quando tenho sucesso nisso, nã o somente me sinto
melhor, mas também sou mais criativo e produtivo. Passei a
perceber que a tecnologia digital é um dos maiores impedimentos a
uma vida dedicada à comunhã o com Deus. Parafraseando Blaise
Pascal: “Toda a nossa miséria deriva de nã o conseguirmos ficar em
um quarto silencioso, sozinhos [com Deus]”. 54 Gostaríamos que
fosse diferente. Mas, como o Salmo 46 confirma, Deus tem ajuntado,
de maneira insepará vel e irrevogá vel, a quietude com o
conhecimento dele. O que Deus ajuntou, nã o o separe o homem.
Mas a busca de mais silêncio nã o trata apenas de evitar males; é
bom para o cérebro. Dois minutos de silêncio sã o mais relaxantes
que ouvir mú sica relaxante, 55 porque alivia a tensã o do cérebro e do
corpo. Experimentos em ratos verificaram que duas horas diá rias de
silêncio produziram novas células no hipocampo, a á rea do cérebro
associada ao aprendizado, à memó ria e à emoçã o. 56
Se isso
aconteceu com os ratos, o que poderia fazer por você!
INSPIRE, EXPIRE
Para muitos de nó s, estas lombadas digitais para desacelerar
poderã o ser tudo o que se requer para inserir mais descanso em
nossa mente e em nossa vida. Permita que eu ainda acrescente umas
lombadas diá rias que talvez você queira examinar. Quando fico
realmente estressado, à s vezes uso técnicas de relaxamento. Você
pode encontrar vídeos no YouTube e artigos em websites com dicas
bá sicas sobre como relaxar o corpo conscientemente, do topo da
cabeça até a ponta dos dedos dos pés. Quando fiz isso pela primeira
vez, fiquei surpreso ao descobrir quanto o meu corpo tinha estado
tenso, e — mais surpreso ainda — o quanto essa tensã o me deixava
exausto. Imagine passar o dia todo com um bíceps totalmente
flexionado, e, entã o, traduza isso para o impacto de um corpo
totalmente tenso durante o dia todo. Nã o é de admirar que
geralmente nos sentimos fadigados e doloridos pelo corpo todo.
E também, sem entrar no territó rio de Dan Harris, podemos
encontrar muitos artigos e websites ú teis sobre como respirar
corretamente. “Aprender a respirar?” Você protesta: “Estou vivo,
nã o estou?” De novo, você se surpreenderia se soubesse como a
maioria de nó s respira errado, deixando nosso corpo e nosso
cérebro morrer por falta de oxigênio, levando-os à inevitá vel
fraqueza. Respirar profundamente de tempos em tempos ajuda a
diminuir o estresse, reduz a pressã o do coraçã o e do sangue, e nos
acalma. Procure “exercícios respirató rios” no Google e experimente-
os — e evite ficar de pernas cruzadas e murmurando.
Leitura
A ú ltima lombada diá ria que quero recomendar é a leitura, que
pode soar estranho visto que estamos tentando descansar e relaxar
a mente. Mas existe algo singular em ler, principalmente ao ler livros
de verdade, em papel, que pode ser especialmente saudá vel. Em
“How Changing Your Reading Habits Can Transform Your Health”
(Como a mudança nos há bitos de leitura pode transformar a sua
saú de), Michael Grothaus diz: “A leitura nã o melhora apenas o seu
conhecimento; ela ajuda a combater a depressã o, torna você mais
confiante, empá tico e ajuda-o a tomar melhores decisõ es”. 57
A vida de Grothaus estava numa vala — até que leu Guerra e Paz .
Este livro tem mais de mil pá ginas; ele levou dois meses para
terminar de ler, mas imediatamente ele se tornou o seu livro
favorito por causa de como o mudou. “É quase impossível explicar
por que”, diz ele, “mas depois de ler eu me senti mais confiante,
menos incerto sobre meu futuro... Por mais estranho que pareça, ler
Guerra e Paz me colocou de novo no controle da minha vida — e por
isso é o meu livro predileto”. 58
Pesquisas posteriores de Grothaus revelaram que essa
transformaçã o por meio da leitura nã o era estranha, e sim “a norma
para as pessoas que leem muito — e um dos principais benefícios da
leitura que a maioria das pessoas desconhece”. 59
As liçõ es de Grothaus foram confirmadas por outros estudos. Os
pesquisadores afirmam:
• Ler por prazer pode ajudar a prevenir condiçõ es de estresse,
depressã o e demência.
• As pessoas que regularmente leem livros sã o mais satisfeitas com
a vida, mais felizes, mais propensas a sentir que o que fazem em
sua vida tem valor.
• Em enquetes com um mil e quinhentos leitores adultos, setenta e
seis por cento disse que a leitura melhora a vida deles e os ajuda a
sentirem-se bem. 60
Eu procuro separar trinta minutos toda noite para ler livros nã o
relacionados ao meu trabalho — geralmente biografias, trabalhos
sobre histó ria ou saú de, bestsellers da lista de nã o ficçã o do New
York Times , e assim por diante. É maravilhoso ver quantos livros
fantá sticos conseguimos ler — quem sabe dois ou três por mês —
apenas com este curto tempo todos os dias. Para meus colegas de
Tipo Alfa, lembrem-se que o ponto nã o é marcar os “livros lidos” ou
usar o tempo para preparar um sermã o, se você for um pastor, mas
relaxar e desfrutar da leitura.
LOMBADA SEMANAL
Os pastores costumavam estar entre as pessoas mais felizes e
saudá veis na vida, e com maior expectativa de vida do que a
populaçã o em geral. Mas em “Taking a Break from the Lord’s Work”,
o jornalista Paul Vitello, diz: “Membros do clero hoje sofrem de
obesidade, hipertensã o e depressã o em índices mais altos do que a
maioria dos americanos. Na ú ltima década, seu uso de remédios
antidepressivos aumentou, enquanto seu índice de expectativa de
vida caiu. Muitos dentre eles mudariam de emprego, se pudessem”. 61
Um estudo do clero, em 2005, feito pelo Board of Pensions of the
Presbyterian Church notou em especial que o nú mero de pessoas
que deixa a profissã o quadriplicou, durante os primeiros cinco anos
de ministério, comparado com a década de setenta. 62
Vitello identificou algumas possíveis causas para essa mudança,
incluindo as dimensõ es adicionais de estresse causadas por
telefones celulares e as mídias sociais, a reduçã o na disponibilidade
de voluntá rios numa época em que as famílias necessitam de duas
fontes de renda, e as percepçõ es errô neas de que cuidar de si
mesmo seja egoísmo, e que servir a Deus significa jamais dizer nã o.
Porém, grande parte dessa pesquisa demonstra que a maior razã o é
simplesmente que os pastores nã o estã o tirando um dia de folga por
semana.
A reportagem de Vitello confirma o que eu tenho observado tanto
no Reino Unido quanto nos Estados Unidos. Parece que os pastores
pensam que “seis dias trabalhará s, e fará s toda a tua obra. Mas o
sétimo dia é o sá bado do SENHOR teu Deus; nã o fará s nenhum
trabalho” (Ê x 20.9-10) tem um asterisco (*a nã o ser que sejas
pastor, caso em que terá s de trabalhar sete dias por semana). Nã o.
Este é um mandamento divino para todos, nã o uma sugestã o
opcional para alguns. Deus projetou este padrã o de seis dias de
trabalho e um dia de descanso para pessoas perfeitas em um mundo
perfeito. Quanto mais hoje necessitamos deste descanso, com nosso
corpo caído vivendo em um mundo caído? O descanso é um
presente divino, dado para o nosso bem, conforme Jesus disse: “O
sá bado foi estabelecido por causa do homem, e nã o o homem por
causa do sá bado” (Mc 2.27). Esse dia de folga é mais necessá rio
agora do que antes, considerando que, nos ú ltimos vinte anos, as
horas de trabalho nos Estados Unidos aumentaram quinze por cento
e o lazer diminuiu trinta por cento. 63
Confesso que nã o acho fá cil fazer isso. Gosto tanto do meu trabalho
que, à s vezes, tirar um dia de folga cada semana envolve negar a
mim mesmo e me disciplinar conscientemente. Vejo tantas
necessidades espirituais em toda volta que, à s vezes, tirar um dia de
folga me faz sentir culpado. Mas, tenho de obedecer a Palavra de
Deus, confiar na soberania de Deus, e rejeitar meu sentimento de
indispensabilidade. Atendo ao que diz o Pastor J. R. Briggs: “Jamais
encontrei um pastor esgotado que praticasse a guarda do Sabbath
(um dia de descanso) religiosamente”. 64 Um homem pediu que eu
enfatizasse que o dia de descanso significa cessar todo o labor.
Escreveu-me: “Eu achava que estivesse tirando um dia de descanso
a cada semana, mas o que realmente eu fazia era cessar um tipo de
trabalho para me apressar em fazer outro. Eu enchia o meu ‘dia de
folga’ com tantos projetos pela casa que isso acabou me causando
mais estresse do que o meu emprego”.
Minha esposa tem sido de imensa ajuda, porque ainda no início de
nosso casamento, ela insistiu que eu tirasse um dia inteiro de folga a
cada semana. Uma ou duas vezes, eu a persuadi que realmente
precisava trabalhar no meu dia de folga, mas chegando ao final da
semana, eu estava tã o cansado mentalmente que acabei realizando
menos do que costumava. As consequências podem ser ainda mais
sérias, a longo prazo, conforme nota Wayne Muller: “Se nã o dermos
espaço para um ritmo de descanso em nossa vida excessivamente
ocupada, a doença se torna nosso tempo de descanso — nossa
pneumonia, nosso câ ncer, nosso ataque cardíaco, nossos acidentes
criam um tempo de descanso para nó s”. 65 Um pastor que aprendeu
isso a duras penas, olhava envergonhado para seu “estilo de morte”,
ao trabalhar vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, e
disse:
“Agora eu tiro um dia de folga por semana. Que ideia maravilhosa! Lá
estava eu, um sabatariano em escala total, vivendo pela letra e
assassinando o espírito o tempo inteiro. Eu podia dizer a mim mesmo que,
na verdade, o Dia do Senhor era um dia de trabalho para mim, e estava
totalmente justificado por tirar à s segundas-feiras de folga”.
Conforme disse alguém: “Nã o é ‘descanse quando nã o tiver nada
para fazer’, mas, sim: ‘Descanse porque nunca vamos acabar de fazer
tudo’”.
Necessitamos ver o descanso semanal nã o como algo que somos
obrigados a fazer, mas como algo que temos o privilégio de fazer.
Peter Scazzero diz que devemos ver como se Deus desse ao seu povo
um dia de neve 66 , uma vez por semana. 67 É um presente, nã o uma
ameaça. É um tempo para curar o corpo e a mente.
LOMBADA TRIMESTRAL
Se esticarmos uma tira de borracha entre dois pontos, por um tempo
prolongado, ela começa a desgastar até que, eventualmente,
arrebenta. Uma vida vivida sem um tempo para relaxar é como
aquela pobre borrachinha que nunca tem alívio da tensã o até que se
rompe.
Uma forma de aliviar a tensã o que vai crescendo devagar em nosso
corpo, nervos, mente e alma é agendar um “tempo sozinho” a cada
três meses ou mais, um retiro de dia inteiro, ou de metade de um
dia. Verificando estudos sobre solitude, Leon Neyfakh do The Boston
Globe , explicou que, embora muitos de nó s nã o nos sintamos felizes
quando sozinhos, a solidã o resulta em pensamentos melhores,
lembranças mais fortes, humores mais felizes, criatividade
estimulada, personalidades mais equilibradas e melhores amizades.
68

Um dia de retiro deve ser livre de toda distraçã o como telefone ou


computador. Deve ser focado em oraçã o, leitura da Escritura e
meditaçã o, tendo como alvo renovar a alma e a conexã o com Deus.
Se Jesus tinha necessidade disso (Lc 5.16), quanto mais nó s
precisamos!
LOMBADA ANUAL
A maioria dos homens a quem tenho aconselhado no processo de
reconfiguraçã o da vida tem negligenciado o tirar férias anuais, ou
sucumbiram ao há bito de misturar o trabalho com as férias.
Realmente, nã o relaxamos se ainda estivermos enviando e-mails
todos os dias, telefonando para o escritó rio ou pregando nos finais
de semana.
Um tempo depois de ter persuadido um pastor deprimido sobre o
fato que ele precisava desesperadamente tirar umas longas férias,
ele me escreveu:
Eu me lembro de ler, certa vez, o Dr. Lloyd-Jones dizendo que todo pastor
precisava de quatro semanas de férias por ano. Eu dei risada. Nã o faria
isso de jeito nenhum! Eu respeitava o bom doutor, mas no fundo, devo ter
achado que ele era um fracote . Que arrogâ ncia! Agora ali estava eu,
sorvendo as ú ltimas gotas daquelas quatro semanas de calma e renovaçã o.
Eu lia um livro pelo simples prazer de ler. A dissertaçã o podia esperar. Eu
desfrutava da natureza e de simplesmente desacelerar, junto com minha
família.
As férias produzem uma melhor perspectiva quanto à vida e ao
trabalho, refrescam nossos padrõ es de pensamentos, e renovam os
relacionamentos com a esposa e os filhos. Acima de tudo, elas
permitem que nã o façamos nada. Em “The ‘Busy’ Trap”, Tim Kreider
diz: “A ociosidade nã o é apenas tirar umas férias, uma indulgência,
ou um vício; é tã o indispensá vel ao cérebro quanto a vitamina D é
necessá ria ao corpo. Quando nã o temos tempo de ociosidade,
sofremos uma afliçã o mental desfiguradora como se fosse
raquitismo”. 69 “Para se fazer um grande trabalho, um homem tem
de ter muito tempo de ociosidade, além de grande diligência”, 70
observou Samuel Butler. Conforme muitas pessoas descobriram, se
nã o tirarmos tempo de folga, seremos forçados a fazê-lo pelos
problemas de saú de, perdendo com isso mais tempo do que
podíamos imaginar.
LOMBADA SAZONAL
Além desses ritmos diá rios, semanais, trimestrais e anuais, devemos
reconhecer também épocas mais longas na vida que nos conclamam
a ajustar o nosso ritmo. Como disse Salomã o: “Tudo tem o seu
tempo determinado, e há tempo para todo propó sito debaixo do
céu” (Ec 3.1). Salomã o identificou vinte e oito épocas (vv. 2–8)! A
maioria de nó s terá menos, mas identificar a fase atual de nossa vida
— casar, ter filhos, envelhecer, luto por morte, perdas, mudar de
local, e assim por diante — e ajustar-se a cada época da vida, ajuda a
nos movermos com sabedoria e confiança em cada fase, em um
ritmo pautado pela graça, com disposiçã o calma e pacífica.
Acabamos de passar por uma estrada cheia de lombadas, nã o é
mesmo? Mas, diferente da maioria das estradas cheias de lombadas,
esta vai aumentar o nosso conforto, enquanto gozamos os benefícios
de uma vida mais calma por dentro e por fora, construindo ritmos
de graça, dados por Deus a nossa vida. As lombadas nos fazem andar
mais devagar, mas também nos edificam, dando-nos tempo de pausa
para nos acalmar, a fim de que pensemos em quem somos e por que
estamos aqui — questõ es que serã o respondidas nas pró ximas duas
oficinas de reparos.

Dan Harris, 10% Happier: How I Tamed the Voice in My Head, Reduced Stress without Losing
My Edge, and Found Self-Help That Actually Works— A True Story (New York: HarperCollins,
2014), Kindle edition, loc. 101.

Parte dessa seçã o foi publicada anteriormente em “Silencing the Cymbals”, Tabletalk
Magazine , June 2012. Usado com permissã o.
James E. Short, “How Much Media? 2015: Report on American Consumers,” USC Marshall
Escola of Business, https://www.marshall.usc.edu/faculty/centers/ctm/research/how-
much-media.

Ibid.

Sherry Turkle, “Stop Googling. Let’s Talk,” The New York Times , September 26, 2015,
http://www.nytimes.com/2015/09/27/opinion/sunday/stop-googling-lets-talk.html.

Douglas Groothuis, “Habits of the High Tech Heart: Living Virtuously in the Information
Age”, Denver Seminary, January 1, 2003,
http://www.denverseminary.edu/resources/news-and-articles/habits-of-the-high-tech-
heart-living-virtuously-in-the-information-age/.

Para a citaçã o original, veja Blaise Pascal, Thoughts, Letters, and Minor Works , ed. Charles
W. Eliot, trans. W. F. Trotter, M. L. Booth, and O. W. Wight (New York: P. F. Collier & Son,
1910), 52.

L. Bernardi et al., “Cardiovascular, Cerebrovascular, and Respiratory Changes Induced by


Different Types of Music in Musicians and Non-musicians: The Importance of Silence”,
Heart 92, no. 4 (April 2006): 445-52; published online at National Institutes of Health,
September 30, 2015, http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1860846/.

Imke Kirste et al., “Is Silence Golden? Effects of Auditory Stimuli and Their Absence on
Adult Hippocampal Neurogenesis”, Research Gate , December 1, 2013,
https://www.researchgate.net/publication/259110014_Is_silence_golden?
_Effects_of_auditory_stimuli_and_their_absence_on_adult_hippocampal_neurogenesis.

Michael Grothaus, “How Changing Your Reading Habits Can Transform Your Health,”
Fastcompany , July 27, 2015, http://www.fastcompany com/3048913/how-to-be-a-
success-at-everything/how-changing-your-reading-habits-can-transform-your-health.

Ibid.

Ibid.

Alasdair Gleed, Booktrust Reading Habits Survey 2013, Booktrust,


http://www.booktrust.org.uk/usr/library/documents/main/1576-booktrust-reading-
habits-report-final.pdf.
Paul Vitello, “Taking a Break from the Lord’s Work”, The New York Times , August 1, 2010,
http://www.nytimes.com/2010/08/02/nyregion/02burnout.html.

Cited in Ibid.

Matthew Sleeth, 24/6: A Prescription for a Healthier, Happier Life (Carol Stream, IL: Tyndale
House, 2012), Kindle edition, locs. 6-7.

J. R. Briggs, Fail: Finding Hope and Grace in the Midst of Ministry Failure (Downers Grove, IL:
InterVarsity Press, 2014), Kindle edition, locs. 2177–2179.

Wayne Muller, Sabbath: Finding Rest, Renewal, and Delight in Our Busy Lives (New York:
Bantam, 1999), 20.

Nota da tradutora: Em países em que neva muito, quando o município declara um “dia de
neve”, num dia com neve em demasia que impede o trâ nsito nas estradas e a ida à s escolas,
as atividades fora de casa sã o canceladas. Em geral, as crianças aproveitam muito dessas
folgas com a temperatura fria para brincar na neve.

Peter Scazzero, Emotionally Healthy Spirituality (Nashville: Thomas Nelson, 2011), 171.

Leon Neyfakh, “The Power of Lonely,” The Boston Globe , March 6, 2011,
http://www.boston.com/bostonglobe/ideas/articles/2011/03/06/the_power_of_lonely/ .

Tim Kreider, “The ‘Busy’ Trap”, The New York Times , June 30, 2012,
http://opinionator.blogs.nytimes.com/2012/06/30/the-busy-trap/.

Samuel Butler, Further Extracts from the Notebooks of Samuel Butler , ed. A. T. Bartholomew
(London: Jonathan Cape, 1950), 262.
OFICINA DE REPAROS 6 | REPENSAR
LifeLock, Identity Guard, ProtectMyID, ID Watchdog, Trust ID —
todos estes sã o nomes que nos Estados Unidos conhecemos bem,
por meio de infindas propagandas comerciais no rá dio e na
televisã o. Seus anú ncios nos seguem pela Internet, aparecendo de
repente aqui e ali, lembrando-nos constantemente que corremos o
risco de ter roubada a nossa identidade, de alguém furtar
informaçõ es pessoais suficientes para prejudicar nossas finanças e
arruinar nossa reputaçã o.
A verdade é até pior do que a indú stria de proteçã o ao furto de
identidade quer mostrar. Fraudes russas pela internet, impostores
que se apresentam como ricas viú vas nigerianas e hackers chineses
sã o o menor de nossos problemas. Estou falando dos ladrõ es de
identidade muito mais difíceis de detectar: orgulho, propagandas,
Hollywood , mídias sociais, pressõ es de familiares, sucesso,
decepçõ es, o diabo, envelhecimento, luto, a igreja, e assim por diante
– tudo isso tem tido maior sucesso em furtar nossa identidade do
que qualquer rede de ladrõ es da internet.
Por que esses roubadores de identidade sã o tã o perigosos? Porque
roubam a resposta à segunda pergunta mais importante do mundo.
A SEGUNDA PERGUNTA MAIS IMPORTANTE
DO MUNDO
Se a pergunta mais importante do mundo é “quem é Deus?”, a
segunda pergunta mais importante é “quem sou eu?” Nossa resposta
a essa questã o de nossa identidade bá sica, o jeito que pensamos a
nosso pró prio respeito, impacta tudo em nossa vida: nossa
autoimagem, nossa saú de, nossa espiritualidade, nossa ética, nossos
papéis e relacionamentos, nossa carreira e nossa visã o do passado,
presente e futuro. Respondendo certo, vicejamos. Respondendo
errado, nó s murchamos.
Que tal pegar papel e caneta e responder: “Quem sou eu?” Nã o é
tã o difícil quanto você pode pensar, porque na verdade estamos
respondendo a isso constantemente. Cada dia, cada um de nó s
projeta e constró i uma identidade — um jeito que intencional ou
acidentalmente pensamos a nosso respeito (e como queremos que
os outros pensem de nó s). Para começar, vamos manter bem
simples: escreva uma frase que o defina. Deixe que eu dê alguns
exemplos de pessoas que encontrei no passar dos anos, cuja
identidade roubada tem afetado a vida inteira delas.
André, o adú ltero
Depois de muitos anos de fidelidade no casamento, André cometeu
adultério quando participava de uma conferência longe de casa.
Agora, vá rios anos mais tarde, o aumento constante de seu senso de
culpa e sua minimizaçã o da graça significam que a primeira coisa
que surge em sua mente quando ele pensa em si é: “Sou um
adú ltero”. Essa é a autoimagem que o domina, afetando o seu
relacionamento com Deus e com sua esposa, esvaziando sua
motivaçã o e energia para assumir as oportunidades mais bá sicas de
serviço na sua igreja local.
Fred, o fracassado
Fred passou cinco anos estressantes tentando plantar uma igreja
em uma grande cidade. Seguiu todas as estratégias que os
plantadores de igreja bem-sucedidos usaram. Comprou todos os
livros e participou de todas as conferências, mas só obteve uma
ú lcera, trinta ou quarenta frequentadores constantes na igreja —
nã o exatamente a Igreja Central nem a Igreja Redentor de New York
— e um emprego de tempo parcial no Walmart para sustentar a sua
família. Finalmente, ele aceitou um chamado para pastorear uma
igreja rural, de tamanho médio, que ninguém tinha ouvido falar. Ali
ele é apreciado, tem bastante apoio, a vida da família se estabilizou,
e ele tem visto algumas pessoas se converterem à fé. No entanto, ele
só consegue pensar: “Como plantador de igreja eu sou um
fracassado”. Afastou-se da rede de contatos anteriores, evita
conferências de pastores, e nã o consegue se alegrar na obra de Deus
em seu novo campo de trabalho. Outro pastor com histó ria
semelhante me disse: “Quando me demiti do ministério, eu nã o
queria estar perto de outros pastores (ou de ninguém, na verdade).
Eu nã o sabia o que dizer a eles. Foi como se toda a minha identidade
tivesse sido apagada. Eu me sentia nu”.
Simã o, o fortã o
O pai de Simã o era um homem determinado e de sucesso, com
altos padrõ es para seus filhos. Doença era para gente fraca. Mesmo
quando Simã o ficava doente quando criança, o pai nã o dava valor a
remédios e o empurrava para fora da porta de casa para ir à escola.
Ele tinha de “ser durã o… deixar pra lá … aprender a ser forte”.
Inconscientemente, mas compreensivelmente, Simã o adotou essa
identidade de machã o — forte, impetuoso, de trabalhador braçal – e
isso o acompanhou por toda sua vida de adulto. Agora, entretanto,
por volta dos quarenta anos, ele luta para manter o mesmo nível de
energia e produtividade. Sua mente nã o está tã o aguçada ou
eficiente como antes, e de vez em quando sofre palpitaçõ es e dores
no peito. Mas, como ele é “Simã o, o Fortã o”, ele força a si mesmo,
obtendo como resultado o estar constantemente fatigado e
frustrado com suas limitaçõ es.
Pedro, o perfeccionista
Para o Pedro, tudo tem de ser perfeito. Seus pais também eram
assim. Se ele tirasse nota nove vírgula cinco numa prova, a primeira
pergunta era: “Por que nã o conseguiu dez?” Agora, trinta anos mais
tarde, o seu perfeccionismo inerente o transformou em um marido e
pai supercrítico. Isso também o tem paralisado no trabalho, pois nã o
consegue entregar um relató rio, fazer uma apresentaçã o ou dar uma
palestra, se ela nã o estiver quase perfeita. Mesmo quando o seu
chefe ou colegas o elogiam, ele se diminui e descobre um ou dois
defeitos sobre os quais nã o consegue parar de pensar. Um homem
me disse, sofrendo: “Por mais que eu fizesse, eu nã o conseguia focar
em nada, senã o em minhas deficiências. Eu me via como um
fracassado. Consegui de alguma forma transformar isso em um dom
espiritual. Eu imaginava que Deus estaria mais feliz comigo por eu
sofrer com as minhas falhas. Isso era um tipo doentio de penitência”.
Sete, o pecador
Sete frequenta uma igreja que enfoca principalmente o pecado.
Justificaçã o, adoçã o, perdã o e outras doutrinas importantes
raramente sã o mencionados. Quando estas doutrinas sã o expostas,
tratam-se apenas de um acréscimo à s longas listas sobre o que está
errado com as pessoas, a igreja e o mundo. Ele tem pouco ou
nenhum senso do amor de Deus ou de ser filho de Deus. Só pensa em
si como sendo “um pecador”. Sente-se deprimido quanto a si mesmo
e quanto ao futuro. Os seus filhos têm pavor dos cultos domésticos e
os chamam de “depressã o em família”.
Justino, apenas um...
Conheci muitos Justinos na igreja. Eles geralmente respondem a
minha pergunta “o que você faz?” com um “eu sou apenas um
encanador”, “sou apenas um vendedor”, ou “sou apenas um
professor”. Na raiz de tais respostas há uma visã o nada bíblica da
vocaçã o; neste tipo de resposta está a ideia errada de que somente
os chamados ao ministério pastoral seriam chamados divinos; que o
trabalho declaradamente cristã o seja o ú nico trabalho de valor.
Justino nunca foi ensinado que “o ato de cuidar de ovelhas, realizado
por um pastor de ovelhas… é um trabalho digno diante de Deus,
tanto quanto a açã o de um juiz ao proferir uma sentença, ou do
magistrado ao governar, ou do ministro do evangelho ao pregar”. 71
Se tivesse a ideia correta, Justino seria um empregado ou um patrã o
muito mais produtivo e feliz.
IMAGEM NO ESPELHO?
Estes sã o apenas exemplos de pessoas que tiveram suas verdadeiras
identidades roubadas por diversos eventos, circunstâ ncias, reaçõ es
e decisõ es em suas vidas. Por causa disso, desenvolveram
identidades desequilibradas e incompletas. Em alguns casos, o modo
de pensar a respeito de si mesmo é completamente falso. Quem sabe
ao ler sobre isso, lhe pareceu estar se olhando no espelho. Se nã o foi
esse o caso, espero que você tenha lido o bastante para começar a
reconhecer e articular a sua pró pria identidade. Talvez você se sinta
o Harry Hollywood , modelando-se na mais recente estrela de
Hollywood . Talvez você seja Franco, o Facebooker , igualando a sua
identidade com o nú mero de amigos, seguidores e “curtidas” nas
mídias sociais, enquanto forma e molda ali a sua pessoa. Ou,
possivelmente, você tem mú ltiplas identidades, dependendo de
onde e com quem está ! Qualquer que seja o seu caso, tire tempo
para se perguntar: “Quem sou eu?”, e note a primeira ou segunda
palavra que vem a sua mente.
Como você pode ver a partir desses exemplos e em sua pró pria
vida, se você tiver a resposta errada à pergunta “quem sou eu?”, terá
consequências profundas, prolongadas e abrangentes. É por isso que
recuperar a nossa identidade verdadeira, pensar corretamente a
nosso pró prio respeito, é um dos principais componentes de
reconfigurar nossa vida, voltar à pista certa e viver uma vida
pautada pela graça. Isso começa quando reconhecemos as falsas
identidades e reconstruímos nossa verdadeira identidade.
RECUPERAR NOSSA VERDADEIRA IDENTIDADE
Até aqui, assumimos uma abordagem relativamente bá sica à
identidade, pensando apenas nas primeiras palavras que surgem em
nossa mente, quando perguntamos: “Quem sou eu?” Neste enfoque,
quero simplesmente que reconheçamos que temos um senso de
identidade e que esse conceito de nó s mesmos influi grandemente
em como pensamos, falamos e agimos.
Temos de cavar mais fundo, porque ninguém pode ser definido
apenas por uma ou duas palavras; somos muito mais complexos e
com dimensõ es mú ltiplas para nos definirmos de maneira tã o
simples. Por que, entã o, nã o escrever todas as palavras que vêm à
mente quando se pensa na resposta à pergunta “quem sou eu?”
Para começar, eis as palavras que surgem quando eu respondo essa
pergunta. Coloquei-as na ordem em que me ocorreram: pregador,
pastor, professor, pecador , produtivo, pai, marido, filho, irmão,
cristão, magrelo, bom jogador de futebol, íntegro, impaciente, escocês,
introvertido, confiável, Reformado, doentio, tecnófilo, viciado em
política, amoroso, preocupado, cansado, independente, centrado na
família, um fracasso.
Faça sua pró pria lista — as primeiras dez palavras virã o
relativamente rá pidas, enquanto as outras demorarã o mais. Agora
que você tem a sua lista, fique comigo e aprenda enquanto eu
recupero e reconstruo a minha verdadeira identidade seguindo
estes oito passos: reordenar as prioridades, expandir o que está
incompleto, preencher as lacunas, processar as falsidades,
acrescentar equilíbrio, reformular as falhas, aceitar as mudanças, e
antecipar o futuro. Este processo nos treina a pensar em nó s
mesmos de maneira mais precisa e benéfica.
Reordenar as Prioridades
O primeiro problema que noto é a ordem das minhas respostas.
Como muitos homens, tenho a tendência de me definir por meu
trabalho— os papéis e responsabilidades do meu trabalho vêm à
mente primeiro. Este é um problema por numerosas razõ es, e nã o
apenas porque Deus define as pessoas primeiramente por seu
estado espiritual e, em seguida, por seu cará ter espiritual. “O pior
que me aconteceu no ministério”, disse Scott, “foi que esqueci de
quem eu era em Cristo. A segunda pior coisa foi tentar fazer com que
as minhas atividades como pastor preenchessem aquele vazio”.
Se os meus papéis e responsabilidades com o trabalho vêm
primeiro, isto é um problema porque o que acontece se eu perder o
emprego, me aposentar ou se meu trabalho nã o for bem? Eu perco a
minha identidade. Sendo assim, tenho de relegar o componente de
trabalho da minha identidade a uma posiçã o mais baixa e promover
o componente espiritual ao topo da lista, para que a parte mais
importante e permanente da minha identidade venha primeiro. Se
seguirmos a ordem bíblica, devemos pensar primeiro em nosso
estado espiritual (salvo/nã o salvo?), em seguida, devemos avaliar
nosso cará ter espiritual (quais as marcas da graça estã o em minha
vida?), nossos relacionamentos, e só depois, nosso trabalho.
Qualquer que tenha sido a verdade sobre a vida do apó stolo Paulo, o
mais importante é que ele sabia que primeiro e principalmente que
“pela graça de Deus eu sou o que sou” (1Co 15.10).
Existe mais reorganizaçã o a ser feita dentro dessas categorias (por
exemplo, o fato de ser esposo deve vir antes do fato de ser pai), mas
espero que seja ó bvio que as prioridades da nossa identidade têm
impacto sobre nossos pensamentos, palavras e açõ es (ou sobre a
ausência deles).
Expandir o que Está Incompleto
O segundo passo é identificar onde algumas dessas descriçõ es
estã o incompletas e preenchê-las para que elas sejam mais
influentes na vida. Por exemplo, eu me identifico como “cristã o”,
mas existe muito mais para dizer sobre isso. Seguindo o exemplo do
apó stolo Paulo, que encontrou tantos modos diferentes de descrever
a identidade do crente em Cristo nos primeiros versículos de Efésios
1, posso expandir “sou cristã o” para “sou abençoado em Cristo,
escolhido em Cristo, santo em Cristo, adotado em Cristo, aceito em
Cristo, redimido em Cristo, herdeiro de Deus em Cristo, selado em
Cristo” (Ef 1.1-14). Você vê a diferença que essas verdades
adicionais fazem a nossa autoimagem? Quanto mais palavras
usarmos para descrever nossa salvaçã o pela graça de Deus, mais
influente essa graciosa salvaçã o será para o nosso senso de
identidade, e mais nossa vida será marcada pelas bênçã os da graça.
Um amigo cristã o, cuja identidade funcional tinha se tornado “sou
pecador” e “sou um fracasso”, encontrou grande auxílio a cada
manhã ao agradecer ao Senhor usando palavras adaptadas de
Renewal as a Way of Life (Renovaçã o como um modo de vida), de
Richard Lovelace: 72
Sou aceito, porque a culpa do meu pecado foi coberta pela justiça de
Cristo.
Sou liberto da escravidã o ao pecado pelo poder de Jesus em minha vida.
Nã o estou só , mas acompanhado pelo Conselheiro, o Espírito do Messias.
Estou no comando por meio de Cristo, com a liberdade e a autoridade
para resistir ao poder das trevas.
Ele também recita o seguinte credo do Bispo Handley Moule:
Creio no nome do Filho de Deus.
Portanto, estou nele, tendo redençã o por seu sangue e vida, pelo seu
Espírito.
Ele está em mim, e toda plenitude nele está .
Pertenço a ele por compra, conquista e autoentrega;
A mim ele pertence para todas as minhas necessidades a cada hora.
Nã o existe nuvem entre meu Senhor e eu.
Nã o há dificuldade externa ou interna que ele nã o esteja pronto a suprir
em mim hoje.
O Senhor é quem me guarda. Amém! 73

Preencher as Lacunas
Quando voltei para escrever este capítulo depois de um intervalo,
percebi que havia algumas lacunas significativas, partes da minha
identidade que eu nã o incluíra na lista, talvez porque nã o quisesse
admiti-las, pois envolviam alguns dos meus pecados mais
contumazes. Mas para ser correto, tenho de incluir essas fraquezas
significativas. Por exemplo, com frequência eu sou pessimista,
negativo e exageradamente crítico (isso provavelmente tem algo a
ver com meus genes escoceses).
Por outro lado, também deixei de fora alguns de meus pontos
fortes. Isso é porque recebi uma criaçã o tradicional das Scottish
Highland (Terras Altas Escocesas) — simplesmente nã o se fala
sobre você mesmo nem sobre sua família, especialmente se for algo
louvá vel. Até o dia de hoje, ainda encontro um kilted haggis, 74
mandando-me “calar a boca”, quando tento colocar alguma coisa a
meu respeito ou a respeito da minha família no Facebook ou no meu
blog. Mas, embora haja mérito em nã o se gabar perante as outras
pessoas, nã o existe mérito em ignorar a verdade diante de Deus.
Mesmo que o apó stolo Paulo reconhecia a graça como fonte de todo
bem em sua vida, ele ainda insistia que era o que mais trabalhava
entre todos os apó stolos (1Co 15.10). Se Deus nos deu uma força ou
capacidade, essa dá diva faz parte de nossa identidade dada por
Deus; devemos reconhecê-la e agradecer a Deus por isso — embora
provavelmente nã o no Facebook.
Processar as Falsidades
Nã o surpreendentemente, existem também coisas falsas em minha
identidade. Estas nã o sã o fá ceis de se descobrir, porque se tornaram
parte tã o integrante de meu ser por tanto tempo. Pode ser que eu
precise ajuda de alguém que veja com objetividade, e que esteja fora
do meu círculo familiar, que me ajude a identificar essas mentiras, a
fim de que eu possa processá -las, provar sua culpa, sentenciá -las ao
exílio, para, entã o, utilizando evidências confiá veis e persuasivas,
substituí-las com a verdade.
Sou magricelo. Isto pode parecer uma grande tolice, mas faz
enorme parte da minha identidade. Quando eu era adolescente, era
horrivelmente magro, fato que nã o me ajudou quando espichei
como um bambu para quase dois metros de altura, estendendo
minha estrutura já magra para uma magreza ainda maior. Os
meninos (e as meninas) na escola me chamavam de “cambojano”
(naquele tempo, havia no Camboja uma grande fome e as imagens
de crianças esqueléticas estavam constantemente na TV). A despeito
de ganhar as notas má ximas, foi-me negado lugar nos times
regionais de futebol, porque achavam que eu era leve demais e seria
empurrado para longe da bola. Tinha pavor da aula de nataçã o por
causa das piadas sobre meu peito ossudo e meus bíceps do tamanho
de ervilhas. Minha magreza me impedia até de convidar as meninas
para sair (provavelmente isso foi bom, quando olho para trá s).
Recentemente, ao olhar fotos de nossa lua de mel, os meus filhos
morreram de tanto rir, ao constatar como eu era magricela ao lado
da piscina, e ameaçaram colocar as minhas fotos antigas no
Facebook. Isso trouxe de volta algumas lembranças dolorosas,
lembranças que ainda hoje me fazem hesitar antes de usar
camisetas e calçõ es.
Porém, por mais verdadeiro que isso fosse no passado, nã o é mais
verdade que eu seja exageradamente magro, pelo menos nã o a
ponto de darem risadas de mim. Posso processar essa mentira ao
notar que agora sou de peso médio para a minha altura. Segundo,
minha esposa me diz que estou com os mú sculos maiores do que já
tive (o que nã o seria tã o difícil). Terceiro, posso me comparar
favoravelmente com outros homens de cinquenta anos (e até
mesmo com os de trinta anos). E posso ir à piscina sem ouvir
gargalhadas.
Sou enfermo. Alguns anos atrá s, tive uma horrível série de
enfermidades que fundamentalmente mudaram meu modo de olhar
para mim: disco arrebentado nas costas, quatro cirurgias, uma
hérnia dupla, trombose venosa profunda e embolia pulmonar (duas
vezes no espaço de três anos), diverticulite, pedra no rim, e uma
artrite que entortou meu dedo do pé e fraturou irreversivelmente
meu quarto metatarso em diversos lugares. Nã o é de admirar que
comecei a pensar em mim e falar sobre mim como um velho. Percebi
que nã o era mais jovem, vigoroso e saudá vel. Eu estava
desmoronando, descendo depressa morro abaixo, e provavelmente
precisava preparar o meu caixã o. Quando essas percepçõ es a meu
respeito encheram a minha mente, tornei-me mais letá rgico em
casa, parei de fazer exercícios, parei de brincar com os filhos, e
simplesmente me tornei mais rabugento e pessimista.
De novo, Shona teve de me ajudar a conseguir melhor equilíbrio
neste conceito. Sem negar a realidade de meu relató rio médico, ela
me ajudou a ver que, na verdade, sou bem saudá vel e sou capaz de
fazer muito mais do que a maioria dos homens de cinquenta anos de
idade. Estou usando bons medicamentos para o problema dos
coá gulos sanguíneos, a artrite está confinada a uma pequena á rea no
meu pé esquerdo, e vou a academia quatro a cinco vezes por
semana. Estou mais forte do que tenho estado por provavelmente
vinte anos. Posso estar até um pouquinho doente, mas nã o estou
totalmente enfermo, e tenho muito mais partes do meu corpo que
estã o mais fortes do que fracas. Portanto, “sou enfermo” nã o deveria
ser parte definida da minha identidade.
Em toda a Segunda Carta aos Coríntios, o apó stolo Paulo processa a
falsidade que tinha sido espalhada a respeito dele. Estava claro que
tinha gente tentando atribuir uma identidade falsa e negativa a ele, e
ele nã o aceitava isso. Ele identifica as mentiras, prova a falsidade, e
vigorosamente expulsa esses maledicentes da igreja de Corinto. É o
que temos de fazer com respeito a nossa pró pria identidade.
Acrescentar Equilíbrio
Sou pecador. Isto é uma verdade, mas nã o é toda a verdade. Para
ser fiel à Escritura, tenho de acrescentar a afirmaçã o que equilibra
tudo: “Estou morto para o pecado” (veja Rm 6.11). Paulo me ordena
a pensar assim porque quanto mais eu me considero morto para o
pecado, mais eu estou morto para o pecado. Da pró xima vez que for
tentado a pecar, nã o vou ceder simplesmente porque, afinal de
contas, “eu sou pecador”. Em vez disso, direi: “Nã o! Nã o posso,
porque morri para o pecado e estou vivo para Cristo!” Sendo assim,
morrerei para o pecado e viverei para Cristo.
Um homem cristã o confessou certa vez que estava bebendo tanto
que se tornara alcoó latra e estava frequentando as reuniõ es de um
grupo de Alcó olicos Anô nimos. Tinha uma aparência de derrotado,
porque estava constantemente dizendo para si mesmo: “Sou
alcoó latra”. Nã o é de admirar que, quando enfrentava a tentaçã o do
á lcool, geralmente sucumbia. Afinal de contas, ele se identificava
como sendo alcoó latra. Porém, por mais verdadeiro que isso tivesse
sido, era apenas metade da verdade. Imagine quanto mais resistente
ele seria ao á lcool se estivesse dizendo a si mesmo: “Nã o, estou
morto para o pecado. Estou morto para o á lcool”.
Reformular as Falhas
Sou um fracasso . Embora nos ú ltimos cinquenta anos tenhamos
visto “normalizadas”, a maioria das palavras que antes eram tabus,
uma palavra horrível permanece como tabu na América: fracasso .
Eu já disse essa palavra. Já fui isso. Talvez você tenha notado que
coloquei “fracasso” na minha lista de identidade. É porque tenho
experimentado o fracasso nos negó cios e no ministério, e ambos os
fracassos marcaram erradamente meu senso de identidade.
Contudo, eu o coloquei por ú ltimo em minha lista porque aprendi a
enxergá -lo por uma lente diferente, como parte de “todas as coisas”
que cooperam para meu bem (Rm 8.28). Portanto, nã o sofro mais de
cacorrafiofobia (medo do fracasso). Nã o enfoco o fracasso e nã o o
nego. Como muitas pessoas que já o tenham experimentado, eu o
vejo de maneira diferente, e, também como outras, aprendi muito
com isso.
Por exemplo, o fundador da Apple, Steve Jobs, atribui o seu sucesso
a ter reavaliado a sua vida depois de três reveses: abandonou a
faculdade, foi mandado embora da companhia que ele fundou, e foi
diagnosticado com câ ncer. J. K. Rowling perdeu o seu casamento, a
aprovaçã o dos pais, e a maior parte do seu dinheiro. Mas entã o, nada
tendo a perder, ela voltou a seu primeiro amor — escrever. “O
fracasso tirou tudo que nã o era essencial”, disse ela. “Me ensinou
coisas a meu respeito que nã o eu poderia ter aprendido de nenhuma
outra maneira”. 75 Conforme diz J. R. Briggs: “O fracasso pode ser um
composto enriquecedor”. 76 Na verdade, “o ministério é chã o muito
fértil para o fracasso, e o fracasso é terra fértil para o ministério”. 77
Aprender a fracassar bem é parte essencial da vida cristã . Um pastor
me disse recentemente:
“Os primeiros dez anos de ministério tratam de ser quebrantado e
despojado!” Devo ter feito curso intensivo, porque levou apenas cinco
anos para eu estar quebrado, despojado e marcado com ferro como um
fracassado no ministério! Foram dias negros e tenebrosos. No entanto, sei
que meus dez meses na escola do fracasso no ministério me deram uma
pó s-graduaçã o muito valiosa — um mestrado em como fracassar bem”.
Como um homem admitiu: “Tremo ao pensar onde eu estaria hoje,
se Deus nã o tivesse permitido que eu falhasse. Os meus fracassos
podem ter sido dolorosos, mas o sucesso ininterrupto teria sido
fatal. O fracasso é um dos melhores presentes que Deus me deu”.
Se aprendermos a fracassar bem, teremos expectativas realistas
quanto a nó s mesmos e nosso chamado. Nã o voamos alto demais
com o sucesso, e nã o caímos fundo demais no pecado quando temos
reveses. Levamos todos os nossos fracassos a nosso Senhor que
jamais falhará , para receber dele o perdã o pleno e gratuito, e
experimentamos o seu amor imutá vel e incondicional. Entã o,
emergiremos — mais humildes e fracos, mas mais sá bios e felizes.
Eventualmente, veremos como Deus transforma nossos feios
fracassos em coisas proveitosas e até belas. Os colapsos se tornam
avanços.
Quando um pastor que conheço abriu-se para a sua congregaçã o
para admitir sua depressã o, descobriu que o nú mero de pessoas que
o procuraram para aconselhamento foi multiplicado grandemente.
Eis algumas maneiras com as quais as minhas falhas provaram ser
uma ajuda para mim:
Minhas falhas esgotaram minha autoconfiança pecaminosa e me
encheram de empatia pelo próximo . Se eu nã o tivesse fracassado
como pai, na pregaçã o, no ensino, em decisõ es financeiras, e em
outras coisas, eu nã o teria paciência, compaixã o, e nã o saberia como
ajudar os outros que falharam. Conforme disse um amigo pastor:
Percebi que tenho de prender a minha identidade a Cristo, com toda força,
como Ulisses se prendeu ao mastro. O meu valor nã o está nos nú meros ou
no sucesso externo. Meu sucesso está naquele que morreu e ressuscitou,
vencendo o pecado e a morte. Se Jesus quer abençoar alguém de um jeito e
a mim de outro, quem sou eu para reclamar? “O que é isso para você? Vem
e segue-me.” Existem muitos outros encorajamentos dados por Deus a
mim? Sim. Alguns têm igrejas maiores — e mais dores de cabeça. Tenho
um rebanho pequeno, mas dedicado. Alguns têm filhos rebeldes. Embora
os meus filhos ainda nã o estejam fora de casa, tenho sinais esperançosos
de que Deus esteja trabalhando neles. Provavelmente, na verdade muito
provavelmente, Deus está me mantendo humilde. Se eu visse toneladas de
sucesso, isso poderia subir direto para uma mente orgulhosa e que se
achasse dona da verdade.
Minhas falhas ajudam a redirecionar a minha vida . Tenho
percebido que nã o sou dotado para certas coisas que amaria fazer, e
devo enfocar as á reas para as quais Deus tem me equipado. Embora
isso tenha sido doloroso na época, agora posso olhar com gratidã o
para as falhas que mudaram o meu rumo.
Minhas falhas me deram tempo para pensar. A ocupaçã o do sucesso
é uma grande ameaça à paz e ao sossego da alma, mas o fracasso nos
impede de agir e nos força a fazer uma avaliaçã o dos fatos.
Minhas falhas trouxeram mais glória a Deu s. Quando as coisas vã o
bem, reconheço agora que foi somente Deus que me capacitou,
ajudou e abençoou.
Acima de tudo, as minhas falhas me levaram a adorar mais o Senhor
Jesus Cristo. Quando considero quantos pequenos fracassos tenho
em uma semana e quantos grandes fracassos tenho em uma década,
fico assombrado ao pensar que Jesus passou trinta e três anos na
terra e jamais fracassou! Ele teve sucesso onde eu falhei, e imputou
o seu sucesso a mim, de modo que eu nã o vejo mais toda a minha
identidade através das lentes de minhas falhas. Eu falhei, mas a falha
nã o me define. Ainda cometo falhas, mas ele me ama e me aceita.
Aceitar as Mudanças
Podemos nos causar enormes problemas se nã o aceitarmos as
mudanças que nos acontecem por causa da idade, habilidades,
capacidades, status e relacionamentos. Por exemplo, na minha
adolescência e começo da juventude, eu teria colocado “jogador de
futebol” como nú mero um em minha longa lista, pois a minha
ambiçã o era ser jogador profissional. Mas, se hoje em dia eu
colocasse isso na lista de principais aspectos da minha identidade,
estaria mentindo ou morrendo. Alguns homens lutam para aceitar
as mudanças em suas identidades quando envelhecem, mudam de
emprego, experimentam problemas de saú de ou se aposentam.
Talvez tentem trabalhar o mesmo nú mero de horas com a mesma
capacidade e intensidade aos cinquenta anos quanto trabalhavam
quando tinham vinte e cinco anos; neste caso, geralmente acabam
detonando e se esgotando. Mas quando Deus nos dá a graça de
aceitarmos e nos adaptarmos à s mudanças na vida, isso se reflete
em nosso senso de identidade pessoal. Podemos parar de olhar para
trá s com pesar, parar de invejar os outros, e parar de tentar viver
como se nada tivesse mudado.
Antecipar o Futuro
É triste observar as celebridades (e aqueles que nã o sã o tã o
célebres assim) tentando em vã o se prender a sua aparência e vida
antigas. Veem que seus melhores dias já passaram, e tentam,
desesperadamente, manter a aparência e recuperar a vida jovem
que um dia tiveram. Modelos, cantores e atletas percebem que
perdem devagar a sua identidade, aquilo que os definia, e fazem
quase qualquer coisa para voltar ao passado. Mas para os cristã os,
nossos melhores dias estã o adiante de nó s. Por mais que consigamos
recuperar e reconstruir nossa identidade no mundo, existe uma
identidade melhor que nos aguarda no mundo por vir.
Considere as palavras do apó stolo Joã o: “Vede que grande amor
nos tem concedido o Pai, a ponto de ser chamados filhos de Deus!”
(1 Jo 3.1). Ali está nossa gloriosa identidade atual: “Amados, agora
somos filhos de Deus” (v. 2a). Mas por melhor que isso seja, existe
adiante de nó s algo ainda melhor: “Ainda nã o se manifestou o que
haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos
semelhantes a ele; porque haveremos de vê-lo como ele é” (v. 2b).
Imagine isso! Nossa identidade essencial nã o é apenas estar em
Cristo, mas ser como Cristo! Nã o existe melhor identidade em todo o
mundo.
Assim, vamos tentar recuperar a identidade que nos foi roubada,
construindo-a sobre fundamentos bíblicos: reordenando as
prioridades, expandindo aquilo que está incompleto, preenchendo
as lacunas, processando as falsidades, acrescentando equilíbrio,
reformulando as falhas e aceitando as mudanças. Ao fazer desse
modo, mudamos para melhor nã o somente os nossos pensamentos
como também os nossos sentimentos, nossas palavras e nossos atos.
Pensemos na perspectiva indescritível de ser como Jesus. Se
acrescentarmos a nossa identidade: “Quero ser como Jesus!”, isto
terá um tremendo impacto sobre nó s no presente, porque “a si
mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como
ele é puro” (v. 3).
Um dos grandes benefícios de um claro senso de identidade é que
podemos identificar e esclarecer mais facilmente nossos propó sitos
de vida e fazer planos para realizá -los; este é o exercício que nos
aguarda na pró xima oficina de reparos.

William Perkins, citado em Os Guinness, The Call: Finding and Fulfilling the Central Purpose
of Your Life (Nashville: Word Publishing, 1998), 35 - ( O Chamado , Sã o Paulo: Cultura
Cristã ).

Richard Lovelace, Renewal as a Way of Life (Eugene, OR: Wipf & Stock, 2002), 137.

Handley C. G. Moule, The Second Epistle to the Corinthians (Eugene, OR: Wipf & Stock,
2015), 93.

Nota da tradutora: Haggis é um cozido escocês preparado com miú dos de carneiro ou
bezerro; kilt é a roupa xadrez usada pelos homens, conforme o clã escocês ao qual o
homem pertence.

Cited in Bruce Grierson, “Weathering the Storm”, Psychology Today , May 1, 2009,
https://www.psychologytoday.com/articles/200905/weathering-the-storm.

J. R. Briggs, Fail: Finding Hope and Grace in the Midst of Ministry Failure (Down- ers Grove,
IL: InterVarsity Press, 2014), Kindle edition, locs. 76-77.
Ibid., 230-31.
OFICINA DE REPAROS 7 | REDUZIR
Eu nunca tinha me sentido tão invejoso — e olhava para meu
filho de dois anos de idade. Ele brincava na sala da família, pulando
de um sofá para o outro, subindo na mesa, rindo e dando
gargalhadas com seus irmã os e irmã s. Eu queria tanto aquilo que ele
tinha — ou melhor, o que ele nã o tinha. Nã o tinha um cuidado
sequer no mundo. Nã o tinha compromissos, prazos de entrega,
preocupaçõ es, nada de estresse. Queria tanto ter isso novamente.
A vida vai nos pegando e dominando, nã o é mesmo? Enquanto
estamos na escola, só temos de pensar na escola. Claro, existe algum
estresse quanto a meninas e exames aqui e acolá , mas nada em
comparaçã o ao que vem depois. Adiante o filme vinte anos e o que
você encontra? Dívidas da faculdade, uma esposa, filhos
adolescentes, amigos dos filhos adolescentes, esportes estudantis,
sogros, dois carros, uma hipoteca, pagamentos de seguros, consertos
na casa, consertos do carro, pais que envelhecem, sobrinhos e
sobrinhas, alguns amigos, muitos inimigos, um chefe (ou cinco),
colegas de trabalho, conflitos de trabalho, reuniõ es de trabalho,
prazos má ximos de trabalho, trabalhos bíblicos, desapontamentos
no trabalho, conflitos na igreja, reuniõ es de igreja, prazos de
trabalhos na igreja, desapontamentos na igreja, estudos bíblicos,
preocupaçõ es com dinheiro, e assim por diante. O peso aumenta e
suas questõ es de saú de também aumentam. Você nã o está mais
tomando decisõ es que afetam somente a si mesmo, mas que
potencialmente afetarã o centenas de pessoas. Agora sim, estamos
falando de pressõ es!
Tudo isso nã o aconteceu um dia depois da nossa formatura. Foi
acumulando-se imperceptivelmente, multiplicando-se um pouco a
cada ano, até que a vida nos esmaga, devagar, mas inexoravelmente.
Assumimos mais um compromisso aqui, uma nova responsabilidade
ali, um novo rumo à promoçã o aqui, uma nova oportunidade
educativa, uma nova necessidade de aconselhamento, uma nova
oportunidade de serviço. Agora nossa mente está em frangalhos, o
coraçã o pulsa, o corpo está desmoronando, os relacionamentos
estã o forçados, o sono diminuindo, a qualidade do trabalho sofre, e a
felicidade é uma lembrança distante. O que aconteceu ao garoto de
dois anos? Existe algum jeito de voltar à vida sem estresse (menos
à s fraldas)?
Aqui, na Oficina de Reparos 7, quero começar a responder essas
perguntas olhando duas maneiras muito diferentes de viver. Isto nos
dará uma base para esclarecer nosso propó sito de vida, planejar
nossos dias, e podar aquilo que nã o é essencial, reduzindo assim
algumas coisas que nos têm atrapalhado a vida.
DUAS MANEIRAS DE VIVER
Conforme David Brooks, colunista do The New York Times , existem
dois modos de pensar sobre a vida: “A vida bem planejada” e a “Vida
convocada”. 78 Em sua coluna sobre este assunto, ele voltou a um
ensaio derivado de uma palestra de formatura do professor de
Administraçã o, em Harvard, Clayton Christensen, para um modelo
de Vida Bem Planejada (VBP). Brooks descreve Christensen como
um “cristã o sério” que “junta um espírito cristã o à metodologia de
empreendedor”. O conselho mais importante de Christensen aos
estudantes foi de investir bastante tempo, quando jovens, em
descobrir um propó sito claro para a vida. Em retrospectiva, olhando
seus dias como jovem acadêmico, com uma bolsa de estudos
Rhodes , na Universidade de Oxford, ele lembrou:
Eu estava em um programa acadêmico muito exigente, tentando inserir o
trabalho de um ano a mais no meu tempo em Oxford. Resolvi gastar uma
hora cada noite lendo, pensando e orando sobre por que Deus me colocou
sobre a terra. Isso foi um compromisso muito desafiador, pois cada hora
que eu gastava com isso eu nã o estava estudando economia aplicada.
Tinha um conflito sobre se realmente eu podia tirar esse tempo dos meus
estudos, mas fiquei firme nisso — e, no final, consegui compreender o
propó sito da minha vida.
Tendo encontrado esse propó sito, disse Christensen, podemos
tomar as decisõ es certas quanto ao gerenciamento do tempo e a
multiplicaçã o dos talentos.
Brooks contrasta entã o a Vida Bem Planejada (VBP) com a Vida
Convocada (VC), que é vivida a partir de uma perspectiva
completamente diferente. Em vez de traçar um curso de vida, como
faria um planejador estratégico, esperamos que as circunstâ ncias da
vida se desenrolem e respondemos de acordo com o que acontece:
A pessoa que vive uma Vida Convocada começa com uma situaçã o muito
concreta: Estou vivendo em um ano específico em um lugar específico,
enfrentando problemas e necessidades específicos. Neste momento da
minha vida, sou confrontado com oportunidades e opçõ es específicas de
trabalho. As perguntas importantes sã o: O que essas circunstâ ncias estã o
me convocando a fazer? O que é necessá rio neste lugar? Qual o papel
social mais ú til que está diante de mim? Sã o questõ es respondidas
principalmente por observaçã o sensível e consciência situacional, nã o
cá lculos e planejamento em longo prazo.
Entã o, qual o melhor jeito de viver?
Uma Vida Bem Planejada, em que tiramos tempo para descobrir
um propó sito claro de vida, e entã o tomamos decisõ es apropriadas
quanto a como usar nosso tempo e talentos? Ou a Vida Convocada,
em que rejeitamos a possibilidade de planejamento de longo prazo,
mas quando surgem situaçõ es e circunstâ ncias, perguntamos: “O
que essas circunstâ ncias estã o me convocando a fazer? Como devo
reagir?”
Como é seu costume, Brooks se decide firmemente, concluindo:
“Os dois provavelmente sejam ú teis para uma pessoa que procura
ver uma vida bem considerada”. Ele está certo, mas nã o oferece
ajuda sobre como descobrir quando se aplica um tipo de vida ou
outro, proposto por ele, ou quanto peso devemos dar a cada
princípio ao tomar decisõ es sobre o que priorizar ou o que podar . É
aqui que quero me inserir e propor uma ajuda.
Baseado na verdade que somos criados à imagem de Deus e,
portanto, chamados a refletir, em certo grau, a sua soberania
proposital, creio que todo crente deve construir sobre a base firme de
uma vida bem planejada.
Nenhum crente deve ser apenas vítima de eventos, uma rolha de
cortiça flutuante, jogada para lá e para cá num oceano de
circunstâ ncias em constante mudanças, ou nas expectativas de
outras pessoas. Deus coloca cada um de nó s aqui com uma razã o
específica, e nã o devemos vagar dia a dia, semana a semana, ano a
ano, desperdiçando a vida sem um senso de direçã o, ou pulando
cada vez que alguém mostra um arco de circo diante de nó s. Temos
de levar nosso tempo e talentos a Deus, e perguntar: “O que o
Senhor deseja que eu faça?” Essa oraçã o simples poderia ter salvo
muitos de nó s de viver muitos anos como pingue-pongue, sem rumo,
de emprego em emprego, de paixã o em paixã o, de pessoa a pessoa,
de igreja em igreja, de ministério a ministério, de lugar em lugar.
Isso nos salvaria de gastar nossos dias futuros respondendo
chamados infindos de acontecimentos, telefonemas, e-mails e
agendas e problemas dos outros, criando enormes pressõ es e
frustraçõ es para nó s quando relegamos e negligenciamos nosso
chamado e dever principal.
Há , contudo, perigos. Se estivermos vivendo a VBP, podemos nos
tornar insensíveis à s circunstâ ncias, eventos e pessoas ao redor de
nó s: “Nã o me importo se meu vizinho está doente. Tenho um plano e
vou me ater a ele”. Podemos nos frustrar com qualquer pessoa ou
coisa que interrompa nosso plano ou torne “ineficiente” o nosso dia.
Podemos nos tornar surdos à voz de Deus que fala por sua Palavra e
providência, no desenrolar de nossa vida. Todo mundo tem de
permitir um elemento de VC em sua vida. Como disse um pastor
amigo: “Quando a minha esposa me vê frustrado com numerosas
interrupçõ es, ela me lembra que eu tenho de ajustar a minha agenda
à agenda de Deus”.
CONSIDERE A VIDA DE CRISTO.
Ele nã o acordava cada dia indagando: “O que é que estou fazendo
aqui?” ou “Onde eu vou parar?” Nã o, ele tinha um plano de vida
muito definido (ou podemos dizer: plano de morte ), que recebeu do
Pai. Tinha também o equilíbrio certo entre a VBP e a VC. Embora
tivesse horas em que ele nã o era desviado pelas exigências das
pessoas e a pressã o de acontecimentos nã o planejados, havia outras
ocasiõ es em que ele parava para responder à s necessidades
prementes e circunstâ ncias urgentes.
Mas esse foi Jesus, perfeito, equilibrado, sá bio e sem pecado. O que
dizer de mim, falho, extremista, tolo e pecador? Como equilibrar a
Vida Bem Planejada à Vida Convocada? Tenho três palavras que,
tomadas juntas, podem nos ajudar a desenvolver esse progresso:
Propósito, Plano e Poda.
PROPÓ SITO
Quando estamos crescendo, a vida simplesmente acontece.
Alimento, escola, esportes, férias — tudo acontece automaticamente.
Mas quando amadurecemos e obtemos mais independência, temos
de assumir responsabilidades por certas coisas e ser mais
intencionais quanto a elas, ou nã o vã o acontecer. Temos de ter
propó sito na vida.
Alguns coaches estimulam seus clientes a se moverem em direçã o a
VBP, criando uma ú nica “declaraçã o de propó sito de vida”
permanente e que englobe todos os aspectos da vida. Isto, entã o, é
usado como princípio governante ao tomar decisõ es, estabelecer
prioridades, e assim por diante. A ideia bá sica é boa. O problema é
que tal declaraçã o de propó sito geralmente é genérica e vaga demais
porque tem intençã o de cobrir todas as á reas da vida. Ou, quando
tornada mais específica, acaba sendo longa demais ou deixa de
cobrir á reas importantes da vida. Pode também ser inflexível e nã o-
responsiva, incapaz de levar em conta as mudanças que possam
ocorrer na vida. Frequentemente, o resultado será um propó sito de
vida irrelevante e esquecido.
Por esta razã o, sugiro desenvolver quatro propó sitos de “vida” nas
seguintes á reas: vida espiritual, vida em família, vida vocacional e
serviço cristã o. Pode ser que você pense em outras á reas, mas tem
de manter isto fá cil de gerenciar e possível de ser feito. Creio
também que estas sã o as á reas mais importantes para Deus, e que
esta ordem específica reflete as prioridades bíblicas.
Vida Espiritual
Quem você quer ser? O que deseja ser? Que á rea da sua
personalidade ou seu cará ter você deseja desenvolver? Ou vencer? O
que você quer parar de ser ou fazer? Que graça você deseja cultivar?
Qual o pecado você deseja derrotar? Tais perguntas estã o focadas
em nosso desenvolvimento espiritual, nosso relacionamento com
Deus e o ser semelhante a Cristo.
A maioria de nó s, mesmo pastores, nã o possui alvos específicos ou
propó sitos para nosso crescimento espiritual. Simplesmente
vagueamos, de coraçã o dobre, tentando nos esforçar mais,
vagamente esperando fazer algumas mudanças positivas, mas sem
foco ou plano específico. Isso significa que raramente progredimos,
e mesmo quando por acaso avançamos em algumas á reas, nã o o
notamos nem nos encorajamos com isso.
Uma amostra de declaraçã o de propó sito de vida espiritual pode
ser algo como: “Pela graça de Deus, vou vencer a ira e desenvolver a
paciência para que eu me torne mais como Cristo”. Outros exemplos
poderã o ser: “Pela graça de Deus, vencerei a lascívia e cultivarei a
pureza”, “pela graça de Deus, aprenderei a orar melhor”, e assim por
diante. Uma vida no ritmo da graça é uma vida que produz graça.
Por que nã o perguntar a outras pessoas que o conhecem bem o
que elas acham que é a sua maior necessidade espiritual? O ponto é
ter um alvo, um claro propó sito e objetivo espiritual.
Vida Familiar
Podemos seguir o mesmo tipo de processo para fazer uma
declaraçã o de propó sito quanto aos nossos relacionamentos em
família — nosso casamento e relacionamento com os filhos, pais,
irmã os etc. Isso pode resultar em uma declaraçã o do tipo: “Pela
graça de Deus, quero conduzir a minha família para a estabilidade
financeira” ou “pela graça de Deus, vou aumentar o tempo que gasto
com minha esposa e filhos”, etc.
Vida Vocacional
Para a maioria dos homens, o principal modo de servir a Deus fora
de casa é no emprego. Uma declaraçã o de propó sito para nossa vida
profissional pode ser algo assim: “Pela graça de Deus, aprenderei a
gerenciar e a resolver os conflitos no trabalho”, “pela graça de Deus,
eu desenvolverei minhas habilidades de liderança”, “pela graça de
Deus, vou ser mentor de novos funcioná rios”, etc.
Serviço Cristã o
Lembre-se, você já serve a Deus em sua vida espiritual, na vida
familiar e na vida profissional. Isto é uma grande coisa. Se assim
permitir a sua fase de vida, contudo, você poderá também
acrescentar uma declaraçã o de propó sitos de serviço cristã o, tais
como estes: “Pela graça de Deus, vou servir aos idosos de minha
igreja”, “pela graça de Deus, vou aprender a ensinar na escola
dominical”, “pela graça de Deus, evangelizarei uma pessoa a cada
semana”, e outros propó sitos.
Sim, temos de nos preparar para fazer uma pausa, editar, ou até
mesmo apagar as declaraçõ es de propó sito de vida e recomeçar
quando “as coisas acontecem” em nossas vidas. Mas viver a vida
conforme somos chamados por tudo e todos nã o será viver a vida
conforme a imagem de Deus. Um pastor que acabou saindo do
ministério por algum tempo explicou como ele chegou a tanta
confusã o: “Eu achava que era responsá vel por fazer tudo o que me
vinha à frente. Nã o planejava; apenas reagia. Nã o sabia dizer nã o ou
decidir ao que eu deveria dizer nã o. A descriçã o funcional do meu
trabalho era ‘tudo’”. Mas se tivermos propó sitos declarados,
podemos utilizá -los para avaliar toda oportunidade e todo pedido
que surgirem.
Ter alvos nos livra de centenas de dilemas e decisõ es quanto ao
uso de nosso tempo. Os alvos evitam que gastemos a maior parte do
tempo consertando os problemas, e auxiliam as outras pessoas ao
nosso redor a florescerem.
Em uma pesquisa com mais de mil equipes, Greg McKeown
descobriu que “quando existe uma séria falta de clareza quanto ao
que o time representa e quais os seus alvos e papéis, as pessoas
experimentam confusã o, estresse e frustraçã o. Por outro lado,
quando existe alto nível de clareza, as pessoas vicejam”. 79 Trabalhar
para alcançar nossos alvos também nos energiza, dando-nos um
senso de progresso e impulso. Acima de tudo, isso nos ajuda a
morrer. De acordo com a enfermeira de cuidados paliativos, Bronnie
Ware, o pesar mais comum dos pacientes moribundos era: “Eu
queria ter tido a coragem de viver a vida fiel para comigo mesmo,
nã o a vida que outros esperavam de mim”. 80 Nã o quero morrer
desse jeito.
PLANO
Nã o basta ter um propó sito. Precisamos também de planos; temos
de entender os passos que precisamos dar para alcançar nossos
objetivos. Se quisermos fortalecer nosso casamento, quais os passos
que levam a isso? Se quisermos visitar todos os idosos da nossa
congregaçã o, quantos visitaremos a cada semana, em que hora da
semana vamos fazê-lo, e como registraremos nosso progresso? Se
quisermos ter mais tempo com os filhos adolescentes, quando e
como o faremos? Nã o acontece sem planejamento. Por esta razã o eu
me certifico que minha agenda tenha tempo separado, a cada
semana, para avançar nos meus propó sitos de vida. Se nã o estiver
na minha agenda, nã o vai acontecer. Se nã o estiver nela, está claro
que nã o sou sério quanto a fazê-lo.
O agendamento também nos ajuda a nã o comprometermos a nó s
mesmos ou aos outros acima do possível. Ter compromissos acima
do possível será resultado fatal de uma visã o exageradamente
otimista de nossa capacidade, bem como uma estimativa irreal do
tempo que dispomos, além do desejo bem-intencionado de agradar
a outras pessoas, porém sem tempo para isso. O resultado será um
megaestresse na pessoa que fez as promessas e uma enorme
decepçã o para aqueles que receberam essas promessas nã o
cumpridas.
Eis alguns passos que tomo para aliviar o estresse e transformar os
meus propó sitos em planos.
Agenda
Shona e eu gastamos algum tempo cada semana para coordenar
nossas agendas, enfocando principalmente a semana seguinte, mas
olhando também essa semana no contexto do que aconteceu antes e
virá depois. Isso evita conflitos, possibilita compartilhar
responsabilidades na família, e aumenta a prestaçã o de contas
mú tua. Somos especialmente cuidadosos para nos certificar de que
nã o estaremos fora de casa muitas noites na semana e que eu nã o
aceite convites demais para falar em finais de semana.
Nunca assumo uma tarefa sem fazer uma estimativa de quanto
tempo vai exigir e colocar esse tempo na agenda. Por exemplo, se
pedem para eu escrever um artigo, eu calculo quanto tempo vai me
levar e procuro um espaço na agenda em que possa fazer isso. Se
nã o tiver esse espaço, terei de dizer nã o. Isso só dá certo se
colocarmos consistentemente as exigências do nosso tempo em
nossas agendas — incluindo tempo com a família, exercícios físicos,
oraçã o, e outras coisas. Em vez de dizer sim a todo pedido por nosso
tempo, consultamos a agenda e perguntamos: “Onde? Quando?
Quem? Como?” De início, isso pode nã o ser fá cil, mas é mais fá cil do
que a alternativa, conforme Bill ilustrou ao explicar a sua
“conversã o”:
O conceito de gerenciar nosso tempo me deprimia. Eu achava que fosse
um modo dos extrovertidos fortemente energizados encherem as suas
vidas de mais trabalho. Agora percebo que é uma ferramenta que me
ajuda a focar naquilo em que tenho talentos e gosto de fazer. Isso me
protege de mim mesmo e de outros que exigem meu tempo.

Rotina
“Conte-me sobre sua rotina diá ria.”
“Oh, nã o tenho uma rotina. Todos os dias sã o diferentes.” Nã o
posso dizer quantas vezes tive essa conversa com pastores
esgotados e cristã os deprimidos. O que veio primeiro — a depressã o
ou o caos — pode ser difícil de definir, mas parece que andam juntos
e um alimenta o outro.
Por isso é que uma das primeiras coisas que faço é insistir que
tracem uma rotina bá sica e se comprometam a isso: dormir, cultuar
a Deus, comer, trabalhar, estudar, e fazer algumas outras coisas.
Deus é Deus de ordem, nã o de confusã o (1Co 14.33), e como
portadores de sua imagem, criados por ele, nó s o glorificamos — e
nos sentimos muito mais felizes — quando vivemos vidas regulares
e ordeiras. Ele criou o nosso mundo e a nó s de maneira a
florescermos quando a nossa vida é basicamente caracterizada por
ritmo e regularidade. É por esta razã o que os que progridem mais
em seus alvos de vida sã o aqueles que trabalham neles a cada dia ou
semana, em geral à mesma hora. Por isso também é que os que têm
mais rotinas em suas vidas têm mais saú de e sã o mais felizes.
A professora Gail Kinman, psicó loga ocupacional de saú de na
Universidade de Bedfordshire, disse ao jornal The Guardian que, ao
contrá rio das expectativas, os empregados com horas mais flexíveis
sã o também os mais estressados, porque o seu há bito de estar
“sempre ligado” dificulta que eles se “desliguem”, e isso mantém os
hormô nios de estresse persistentemente altos. 81
Priorizar
“Se você nã o priorizar a sua vida, outra pessoa vai fazê-lo”. 82 Se
quisermos fazer nossa pró pria priorizaçã o, começamos ao fazer uma
lista de todos os nossos deveres, atividades e objetivos. Usando
entã o nossos propó sitos de vida, os colocamos em quatro
categorias:
1. Fazer definitivamente . Sã o estas as mais importantes
responsabilidades e compromissos dados por Deus.
2. Desejo fazer. Sã o atividades que esperamos fazer, e faremos
algumas delas depois de ter feito os “Fazer definitivamente”.
3. Demore para fazer . Sã o atividades dignas que amaríamos fazer
algum dia, mas teremos de adiar até termos espaço e tempo em
nossas agendas.
4. Não fazer . Estas sã o coisas que nos comprometemos a parar de
fazer ou a dizer “nã o” a elas no futuro.
Nossos propó sitos e prioridades de vida devem ser refletidos em
nossa agenda, um exercício que usualmente revela se estamos sendo
realistas ou idealistas. As atividades “fazer definitivamente ” e
“desejo fazer ” deverã o ocupar as horas mais produtivas de cada dia.
Para mim, isto significa das sete e meia da manhã até uma hora da
tarde, e, se eu olhar minha agenda, vejo bloqueado, quatro dias por
semana: “Escrever” (o que inclui sermõ es, palestras e livros). Tudo
mais ligado ao meu trabalho — administraçã o, aconselhamento, e-
mail, blogs, e outras tarefas – se encaixam ao redor disso.
Usando a ú til distinçã o de Steve McClatchy no seu livro Decide, 83
resolvi que escrever é minha principal “tarefa de ganhos”, aquela
que produz resultados permanentes, bem como um senso de
realizaçã o e progresso; a tarefa que definirá a minha vida. Em
contraste, as “tarefas para evitar a dor” sã o aquelas nã o tã o
agradá veis, mas que evitam que a dor ocorra em minha vida (pagar
as contas, responder os e-mails, ir a reuniõ es, ...). Temos de priorizar
as tarefas de lucro para nos realizarmos porque as tarefas de evitar
a dor simplesmente continuam acontecendo. Resumindo McClatchy,
temos de anular o modo de sobrevivência do cérebro, que nos
padroniza para evitar as tarefas que causam dor e que esgotam
nossa energia, em favor de tarefas de ganho que nos energizam.
Fazer Auditoria
De vez em quando, eu anoto cada tarefa que faço, marcando quanto
tempo leva para completá -la. Quase sempre me surpreendo ao ver
como certas tarefas rotineiras, como telefonemas, e-mails, e coisas
semelhantes, demoram a ser feitas. Quando faço essa auditoria
pessoal, consigo alocar um tempo mais realista para essas atividades
no futuro, aliviando assim a pressã o.
Margem
Se penso que uma tarefa vai levar trinta minutos, marco quarenta e
cinco minutos para ela; se acho que vai levar três dias para realizá -
la, eu agendo quatro dias, e assim por diante. Se levar menos tempo,
preencho o tempo de sobra com outra coisa ú til – ou vou pescar! Se
levar todo o tempo agendado, termino a tarefa com menos estresse
e nã o terei de cancelar ou adiar outra coisa. Isso quer dizer que
opero em capacidade de oitenta por cento, para que tenha espaço
para atender a pessoas, problemas, e oportunidades nã o esperadas.
Outra á rea em que procuro deixar uma margem de segurança é nas
finanças. Trabalhar para viver com oitenta por cento do total da
receita é um enorme alívio para o estresse e melhora muito a minha
saú de geral.
Revisã o
Tomo dez a quinze minutos no final de cada dia para revisar o que
foi planejado e verificar se consegui realizá -lo. Gasto também uma
hora ou mais no final de cada semana para obter uma visã o maior do
quadro e fazer quaisquer ajustes necessá rios. Inicialmente, a
comparaçã o entre o plano e a realidade é um tanto chocante, mas
aos poucos alinhamos nossas expectativas à realidade, para reduzir
a frustraçã o, o desapontamento e o estresse.
Prestaçã o de Contas
É tã o bom ter alguém que conheça a nossa vida e pergunte: “Por
que você se comprometeu a fazer isso? Como isso está de acordo
com seus propó sitos?” Embora eu leve também aos presbíteros os
convites de pregaçã o e palestras, a minha esposa é a principal
parceira na minha prestaçã o de contas. Ela me ajuda a examinar os
meus motivos de dizer “sim” com demasiada frequência. Eu me
identifico com este pastor, que aprendeu a duras penas: “Tive de
enfrentar a dolorosa realidade de que eu nã o conseguia dizer nã o
porque queria agradar as pessoas. Precisava que elas precisassem
de mim. Queria aumentar o nú mero de pessoas que me admiravam
por ser alguém tã o amá vel. Eu era o meu pior inimigo. Sou grato a
Deus por ter me quebrantado para que eu pudesse quebrar esse
há bito”.
PODA
Alguns propó sitos de vida nã o somente nos ajudam a examinar com
cuidado nossas prioridades e a fazer planos para realizá -las; mas,
ajudam também a ver que temos de remover totalmente algumas
atividades, a fim de fazer bem as que sã o mais importantes. Jim
Collins descobriu que “a busca indisciplinada de mais” era a
principal razã o para a maioria das falhas corporativas. 84 Em minha
experiência, ela está também por trá s de muitas falhas pessoais,
especialmente falhas no ministério.
No nosso mundo interligado, existem muito mais atividades e
oportunidades do que temos tempo e recursos para investirmos
nelas. Muitas delas sã o boas, até mesmo muito boas, mas poucas sã o
essenciais à vida. Em vez de conseguir um milímetro de progresso
em um milhã o de direçõ es, quando investimos em menos coisas,
poderemos ter progresso mais significativo naquilo que é mais
importante. Isso significa usar a negligenciada faca do “nã o” em
alguns galhos da nossa vida. Se você precisa afiar esse faca, talvez
possa tornar o lema “aprenderei como dizer nã o!” como um
propó sito de vida espiritual para o pró ximo ano. O não é uma
palavra bíblica, e, muitas vezes, um dever bíblico (Mt 5.37; Tg 5.12).
Vamos enfrentar isto: quantas vezes nó s dissemos sim a um pedido
quando cada fibra de nosso ser gritava: “Nã o, diga nã o!” De algum
jeito, o sim entrou de soslaio. McKeown, especialista em
minimalismo, insiste: “É necessá rio dizer nã o ao que nã o é essencial
para que possamos dizer sim à s coisas que realmente sã o
importantes. É dizer nã o — frequentemente, graciosamente — a
tudo exceto ao que é realmente vital”. 85 Paradoxalmente, “um
essencialista produz mais — trazendo mais à tona — ao remover
mais em vez de fazer mais”. 86 Lembre-se que raramente é uma ú nica
coisa extra, mas a soma de muitas coisinhas, que acabam nos
assoberbando, porque é muito mais difícil dizer nã o para coisas
pequenas.
McKeown nos dá uma lista de formas com as quais podemos dizer
nã o; elas se resumem nisto: Peça tempo e tome seu tempo.
Conforme ele diz: “Precisamos aprender o ‘sim’ devagar e o ‘nã o’
rá pido’”. 87 Eu faço isso pedindo que minha assistente envie uma
resposta inicial à maioria dos pedidos de palestras, pregaçõ es e
artigos escritos. Ela diz à s pessoas que os pedidos serã o revistos por
meus presbíteros, que se reú nem uma vez por mês. Tal processo nã o
dá somente o tempo para considerar em oraçã o, como também
ajuda a pessoa ou organizaçã o que fez o pedido a entender que, caso
a resposta final seja nã o, ela nã o será apenas minha decisã o pessoal.
Outra á rea em que sã o necessá rios alguns limites é em responder
e-mails que procuram aconselhamento, direçã o, recomendaçõ es de
livros, etc. O e-mail tem nos tornado muito mais acessíveis, com
resultado de completos estranhos iniciarem correspondência
conosco, frequentemente consumindo muito tempo. Embora eu
procure responder alguns deles, muitas vezes enviando em meu
blog listas de recursos para pessoas que perguntam, na maioria das
vezes, peço a minha assistente que mande uma resposta padrã o,
como algo assim:
Devido ao volume de e-mails que o Dr. Murray recebe a cada semana,
muitos deles semelhantes ao seu, fui contratada para verificar os e-mails
dele e respondê-los, a fim de deixá -lo livre para o trabalho a que foi
chamado e está empregado para fazer, no Seminá rio Teoló gico Puritano
Reformado, bem como na igreja local que ele pastoreia.
Dr. Murray desejaria que fosse possível responder a sua pergunta e dar-
lhe conselho, mas aqueles que possuem responsabilidade pastoral sobre a
vida dele resolveram que ele nã o poderá continuar a responder todos os
e-mails que recebe, a fim de preservar uma boa saú de e uma boa
consciência.
Nã o é apenas um item ú nico a que temos de dizer nã o. À s vezes,
temos de olhar aquilo que se tornou constante e habitual em nossa
vida, e perguntar: “Devo continuar fazendo isso?” Algumas pessoas
acham ú til ter uma “lista de atividades que precisam parar de fazer”,
frequentemente escrita no início do ano. Talvez tenhamos até de
cortar alguns relacionamentos, despesas, reuniõ es, hobbies , ou
meios de comunicaçã o da mídia. Menos, mas melhor; este é o
objetivo — uns poucos essenciais em vez de muitos triviais. O ú nico
jeito de conseguir isso é aprendendo a dizer nã o. Richard Swenson
põ e seu desafio sobre a mesa:
Dizer “nã o” nã o é apenas uma boa ideia — agora isso se tornou uma
necessidade matemá tica. Sem essa pequena palavra, duvido que se
consiga recuperar certa margem. Se existirem quinze boas coisas para se
fazer hoje e você só consegue fazer dez delas, terá de dizer “nã o” cinco
vezes. Isto nã o é ciência avançada, mas é ló gica do jardim de infâ ncia. 88
Assim como decidimos quem vamos deixar entrar em nossa casa,
temos de decidir o que vamos deixar entrar em nossa vida de
trabalho. Fechar a porta para algumas coisas nã o é egoísmo, mas é
questã o de cuidar de si mesmo para, no fim, servir melhor a Deus e
ao pró ximo. Conforme disse Peter Drucker: “As pessoas sã o mais
eficientes porque dizem ‘nã o’, ao reconhecerem que ‘isto nã o é para
mim’”. 89 Na verdade, menos é mais.
Fó rmula Má gica?
Eu disse antes que, por sermos todos diferentes e vivermos
circunstâ ncias tã o diferentes, nã o existe uma fó rmula má gica que
sirva para todos. O que posso fazer é compartilhar com vocês o
equilíbrio de VBP/VC que funcionou para meu cará ter e minhas
responsabilidades, uma equaçã o que me ajudou a realizar o que
creio ser o plano de Deus para mim, enquanto me ajuda a
permanecer aberto à s interrupçõ es e acontecimentos nã o
esperados:
70% VBP + 30% VC + 100% VO (Vida de Oraçã o).
Isso nã o faz sentido na matemá tica, mas faz muito sentido
espiritual!
Temos agora um senso renovado de propó sito e um plano sobre
como chegar lá . Eliminamos alguma bagagem desnecessá ria que
levá vamos. Agora vamos entrar na pró xima oficina de reparos e
reabastecer para o pró ximo está gio da jornada da vida.

David Brooks, “The Summoned Self,” The New York Times , August 2, 2010,
http://www.nytimes.com/2010/08/03/opinion/03brooks.html.

Greg McKeown, Essentialism: The Disciplined Pursuit of Less (New York: The Crown
Publishing Group, 2014), Kindle edition, loc. 121.

Bronnie Ware, “Regrets of the Dying”, bronnieware.com , November 19, 2009,


http://bronnieware.com/regrets-of-the-dying/.

Juliette Jowit, “Work-Life Balance: Flexible Working Can Make You Ill, Experts Say,” The
Guardian , January 2, 2016, http://www.theguardian.com/money/2016/jan/02/work-life-
balance-flexible-working-can-make-you-ill-experts-say.

McKeown, Essentialism, 10.

Steve McClatchy, Decide: Work Smarter, Reduce Your Stress, and Lead by Example (Hoboken,
NJ: Wiley, 2014).

Jim Collins, “How the Mighty Fall,” JimCollins.com , March 2009,


http://www.jimcollins.com/books/how-the-mighty-fall.html.

McKeown, Essentialism, Kindle edition, loc. 1499.

Ibid., loc. 189.

Ibid., loc. 1603.

Richard Swenson, Margin: Restoring Emotional, Physical, Financial, and Time Reserves to
Overloaded Lives (Colorado Springs: NavPress, 2004), Kindle edition, loc. 122.
Citado em McKeown, Essentialism, Kindle edition, loc. 24.
OFICINA DE REPAROS 8 | REABASTECER
Certa vez, perguntei a um psicólogo cristão como ele tratava as
pessoas com depressã o ou ansiedade. “Ah, isso é fá cil”, respondeu:
“Eu lhes dou três pílulas”.
Dei um gemido interno ao pensar que as mú ltiplas caricaturas de
doutores carregando enormes quantidades de pílulas parecia estar
tristemente confirmada. Depois de fazer uma pausa para maior
efeito, no entanto, ele acrescentou: “Bons exercícios, bom sono e boa
dieta”.
Nossa conversa subsequente deixou claro que ele nã o estava
sugerindo que esses três “comprimidos” fossem resposta completa a
todo caso de depressã o ou ansiedade, mas estava destacando que
eles sã o blocos fundamentais para a construçã o de qualquer cura da
má saú de mental e emocional em longo prazo. Como já temos
coberto dois desses “comprimidos”, dormir bem e fazer bons
exercícios, em oficinas de reparos anteriores, vamos iniciar este
capítulo considerando como o terceiro item, uma boa dieta, ajuda a
reabastecer a mente e os â nimos enfraquecidos. Em seguida,
olharemos as pílulas de verdade, as medicaçõ es, e o seu papel
potencial para reabastecer a saú de mental e emocional. Por ú ltimo,
colocaremos alguns suplementos adicionais para a restauraçã o da
saú de, ao identificar as atividades que nos esgotam e aquelas que
aumentam nossa energia.
Alguns homens podem ser tentados a nã o ler este capítulo por
achar que “a dieta é para mulheres” (“quer dizer, eu sei como comer
bem”), ou porque “remédios sã o para os fracos”. Como, porém, uma
Ferrari nã o anda sem gasolina, e detona se colocarmos ó leo diesel,
todos nó s precisamos nos reabastecer regularmente e com o
combustível certo para correr bem. Já andamos muito desde que
entramos na garagem de Resetar , e fizemos muitos consertos
reparadores. Mas grande parte disso seria em vã o se nã o
enchêssemos o tanque com gasolina de primeira qualidade. Nossos
corpos e mentes sofrem desgaste, e precisam de energia extra para
que nã o sucumbam à desintegraçã o.
ALIMENTOS
Sou teó logo, nã o nutricionista. Por esta razã o, a “Dieta Murray”
começa com teologia: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais
outra coisa qualquer, fazei tudo para a gló ria de Deus” (1Co 10.31).
Este profundo versículo da Escritura nos diz que existe uma maneira
de glorificar a Deus, nã o somente pelo que sai de nossa boca em
louvor e oraçã o, mas também pelo que entra em nossa boca ao
comer e beber. Noutras palavras, toda escolha que fazemos sobre o
que comer ou beber magnifica ou diminui a Deus em nossa vida.
Nossa era moderna tem tornado este versículo mais fá cil e mais
difícil de obedecer. Mais fá cil, porque hoje em dia conhecemos tanto
mais sobre a ciência dos alimentos e seu impacto sobre o corpo, a
mente e os sentimentos. Mais difícil, porque existem mais alimentos
nã o saudá veis a nos tentar. Por esta razã o, começamos a
implementar este versículo juntando conhecimento científico para
educar nossa consciência e fortalecer nossa vontade. Considere os
seguintes fatos sobre alimentos em relaçã o a nossa mente e nossa
disposiçã o.
Alimento e Mente
As pesquisas demonstram de modo conclusivo o impacto da dieta
sobre nossa capacidade e habilidade intelectual. Por exemplo, você
sabia que o cérebro tem mais exigências de dieta que qualquer outro
ó rgã o de nosso corpo? Ele utiliza vinte por cento de nosso oxigênio,
vinte por cento dos carboidratos, e cinquenta por cento da glicose
disponível para fazer o seu trabalho, e grande parte desse trabalho
envolve reconstruir, refazer as conexõ es e renovar. Eis uma amostra
de outras descobertas recentes para estimular mais estudos sobre
esta enorme matéria, que também nos ajudarã o a colocar
combustível melhor em nosso tanque: 90
• Deixar de tomar o café da manhã reduz o desempenho cognitivo,
porque priva o cérebro de nutrientes, vitaminas e glicose supridos
por um café da manhã normal.
• As crianças que consomem muito açú car e bebidas gasosas na
dieta do café da manhã tinham desempenho no mesmo nível
cognitivo da pessoa de setenta anos de idade em provas de
atençã o e memó ria. Por outro lado, as torradas estimulavam os
resultados cognitivos das crianças.
• As saladas estã o repletas de antioxidantes que eliminam os
materiais nocivos do cérebro.
• Ó leo de peixe contém a boa gordura que ajuda a desenvolver o
cérebro e debelar a demência por até três ou quatro anos.
• Mirtilos e morangos estimulam em curto prazo a memó ria, o foco
e a coordenaçã o.
• Abacates aumentam o suprimento de oxigênio e sangue ao
cérebro (e diminuem a pressã o sanguínea).
• Ovos sã o ricos em colina, que produz substâ ncias químicas para
estimular a memó ria no cérebro.
Quando oramos “o pã o nosso de cada dia nos dá hoje”, Deus
responde graciosamente, nã o somente nos dando alimentos
suficientes e adequados para nossa vida física e intelectual, como
também nos chamando a nos responsabilizarmos pela quantidade e
qualidade do alimento e bebida que consumimos. Nã o podemos
esperar que nossa mente funcione bem, se estivermos nos
empanturrando de comidas nocivas. Lembre-se, Deus trabalha
através de nossa mente. Ele nos faz um bem espiritual ao implantar
em nó s a verdade por meio de nosso cérebro. Assim, se nã o estamos
cuidando do cérebro, dando-lhe combustível suficiente e está vel,
isso acabará prejudicando também a nossa vida espiritual.
Comida e Disposiçã o
Nã o somente existem muitas ligaçõ es entre os alimentos e a nossa
mente, existem também mú ltiplas conexõ es entre os alimentos e a
nossa disposiçã o. O que comemos afeta como nos sentimos. De certa
forma isso deveria ser ó bvio. Se nossa comida afeta nosso
pensamento, ela também afeta os nossos sentimentos, porque o que
pensamos tem enorme impacto sobre o que sentimos. Indiretamente
, os alimentos afetam nossa disposiçã o por meio dos processos do
pensamento.
O alimento tem também impacto direto sobre nossa disposiçã o.
Por exemplo, os níveis de açú car no sangue em nosso corpo têm
grande impacto sobre nossas emoçõ es. Vejo todo dia isso
demonstrado claramente na vida de minha filha, que é diabética.
Ainda que os níveis comuns de açú car no sangue nã o variem tanto
em extremos de altos e baixos como acontece com os diabéticos,
todos nó s ficamos irritados, temerosos e nervosos quando passamos
tempo demais sem comer. Ou, se nos empanturramos demais de
açú car, cafeína ou carboidratos, nã o seremos o Sr. Felizardo
(pergunte a sua esposa).
Nã o precisamos depender das evidências dos sentimentos ou de
ilustraçõ es. Deus capacita os pesquisadores a observar, por meio da
ressonâ ncia magnética, o impacto de determinados alimentos sobre
certas partes do cérebro e as emoçõ es subsequentes geradas por
eles. Aqui estã o algumas das descobertas:
• Alimentos de fibra solú vel, como aveia, morangos, ervilhas,
tornam mais lenta a absorçã o do açú car no sangue, amenizando as
mudanças em nossa disposiçã o.
• Comidas como nozes, salmã o, e alimentos ricos em vitamina D
aumentam o nú mero e a eficiência dos neurotransmissores.
• O consumo mais alto de peixes, especialmente de atum, está
ligado a níveis mais baixos de depressã o e uma disposiçã o
estabilizada (a depressã o é quase totalmente desconhecida entre
os esquimó s!).
• Lentilhas e bró colis sã o excelentes fontes de folatos, uma
vitamina B que parece ser essencial para disposiçõ es equilibradas
e funcionamento correto dos nervos no cérebro. Um estudo da
universidade de Harvard demonstrou que trinta e oito por cento
das mulheres deprimidas tem deficiência de folatos.
• Alimentos de baixo valor nutritivo contém uma gordura que nã o
ajuda na disposiçã o e aumenta os níveis de estresse.
Ora, claro que essa ciência pode ser exagerada. Nã o vamos
começar a colocar a culpa de toda a indisposiçã o no Dunkin’ Donuts .
A comida é apenas um dos muitos fatores em nossos sentimentos.
Nã o podemos esperar saú de emocional forte e está vel se
quebrarmos regras nutritivas bá sicas que Deus incluiu em nosso
mundo. Assim, quando estivermos para baixo ou ansiosos vamos
nã o somente abrir nossas Bíblias como também a nossa boca. Ao
fazê-lo, vamos para a mesa de saladas em vez do McDonald’s , e
tomemos um suco de laranja em vez de uma bebida superenergética.
MEDICAMENTOS
À s vezes os medicamentos podem ajudar a repor substâ ncias
químicas que estejam faltando no cérebro, ou estimular a produçã o
dessas substâ ncias e as conexõ es que precisamos para pensar ou
sentir de maneira normal. Quando aconselho qualquer pessoa que
esteja com sintomas de depressã o ou ansiedade, e surge o assunto
de remédios, sempre destaco os seguintes pontos:
Não corra para começar . A nã o ser que a situaçã o já esteja
desesperadora, geralmente as medicaçõ es nã o devem ser a primeira
opçã o a se considerar. Existem muitas outras coisas que devemos
fazer antes de procurar os remédios (veja a oficina de reparos
anterior).
Não descarte a ideia. Sim, todos nó s preferimos nã o estar usando
medicamentos. E sim, primeiro devemos tentar outros meios para
ajudar na cura e recuperaçã o. Mas os remédios nã o podem ser
totalmente descartados, especialmente quando as nossas razõ es
para excluí-los possam ser o orgulho pecaminoso, as falsas
pressuposiçõ es ou a antropologia simplista demais e nã o bíblica.
Neste ponto é importante enfatizar que negar a existência de
enfermidades mentais é essencialmente negar uma antropologia
bíblica, na medida em que nega os efeitos danosos e extensos da
queda sobre toda a humanidade. Nossa crença nesses efeitos
nocivos está arraigada na Escritura e vai conforme o seguinte:
Primeiro passo: Como resultado da queda, a parte física, química e elétrica
de meu corpo foi danificada.
Segundo passo: Meu cérebro usa estrutura, química e eletricidade físicas
para processar meus pensamentos e emoçõ es.
Terceiro passo: A capacidade de meu cérebro de processar meus
pensamentos e emoçõ es foi prejudicada na medida em que meu cérebro
foi afetado pela queda.
O primeiro passo é um fato bíblico. O segundo passo é fato
científico. O terceiro passo é resultado ló gico dos passos 1 e 2.
Outros fatores, como abuso infantil, danos cerebrais,
envelhecimento e pecado, podem aumentar os danos herdados
originalmente.
Não espere tempo demais . Assim como devemos evitar correr para
nos medicar, também nã o devemos esperar tempo demais para
procurar medicaçã o. Você pode ficar tã o para baixo que vai se tornar
mais difícil sair do fundo do poço. Quanto mais fundo for o poço da
depressã o, mais dura e longa será a recuperaçã o.
Não espere resultados rápidos demais . A maioria dos
antidepressivos leva de dez a quatorze dias para começar a fazer
diferença observá vel, e cerca de um mês antes de haver melhora
significativa. Pode haver tentativas e erros envolvidos quando o
médico procura lhe receitar as medicaçõ es que dã o mais certo e na
dosagem correta para você.
Não dependa apenas das medicações . Nunca vi ninguém se
recuperar de uma crise nervosa ou esgotamento emocional apenas
usando medicamentos. Vi a recuperaçã o de pessoas que usaram
remédios como parte deste pacote holístico de cuidados para o
corpo, a mente e a alma, conforme os princípios mostrados neste
livro.
Não fique focado nos efeitos colaterais . Algumas pessoas (uma
minoria) experimentam efeitos colaterais dos antidepressivos. Esses
efeitos devem ser avaliados, mas também deve ser considerada a
atitude de nã o se tomar os remédios, especialmente se isto afeta
outras pessoas da família. À s vezes, tomar remédios pode ser um ato
de autonegaçã o em benefício de outros ao seu redor. Tome em seu
coraçã o a advertência deste irmã o:
No meu círculo de amizades havia muitas histó rias de horror sobre
antidepressivos. Ouvi dizer que os efeitos colaterais eram piores do que a
depressã o. Ouvi dizer que nã o davam certo ou que pioravam a depressã o
ou que as pessoas se tornavam tã o dependentes que nunca conseguiam
sair delas. O que eu nã o estava escutando (em grande parte porque acho
que as pessoas ao meu redor nã o sabiam) é que pode haver sérias
consequências por nã o tratar de alguns tipos de depressã o com
medicamentos. Eu me prejudiquei ao passar tanto tempo sem ter ajuda
médica. Esses danos continuam comigo hoje.
Não deixe nada sem tratar. Quando conversar com o seu médico,
diga-lhe tudo. Deixe que o médico decida qual informaçã o é
relevante ou nã o. Nã o minimize nem descarte aquilo que você está
experimentando; apenas diga exatamente o que está acontecendo
em sua vida e como você se sente. Você deve pedir um exame físico
completo, em parte porque viver em crise por tempo demais pode
também prejudicar diversas partes do corpo.
Não fique obcecado por deixar os medicamentos. Uma das perguntas
mais comuns das pessoas que começam a tomar medicamentos
antidepressivos é “quando posso parar de usá -los?” ou “quando
deixo de tomar?” Mas essa angú stia por querer deixar as medicaçõ es
tã o logo seja possível pode criar mais agravantes mentais.
Geralmente o meu conselho é: “Nã o pense nessa pergunta por pelo
menos seis meses. Se as coisas melhorarem rapidamente, ó timo,
podemos falar sobre isso, mas para o momento, vamos remover o
estresse desnecessá rio”.
Não os deixe depressa demais . Embora os antidepressivos
modernos nã o viciem, nã o é sá bio nem benéfico tirá -los de repente
ou de uma só vez. Confie na sabedoria e no cronograma de seu
médico, enquanto ele o guia por uma reduçã o gradativa dos
remédios durante certo período de tempo. Porém, se chegar a um
ponto em que maiores reduçõ es resultem em recorrência de
sintomas, você deverá voltar à dosagem mínima exigida para
minorar os sintomas. Algumas pessoas estã o tã o debilitadas e
esgotadas que a produçã o natural de substâ ncias químicas vitais ao
cérebro nunca volta a funcionar completamente. (Isso é semelhante
a fazer um carro velho andar de tanque quase vazio por tempo
demais – um pouco da sujeira do fundo do tanque entra no motor,
causando danos permanentes.) Nestes casos, uma pequena dosagem
de antidepressivos talvez seja necessá ria para melhorar essas
substâ ncias pelo resto da vida.
Não se envergonhe dos medicamentos . Só porque existe quem usa
mal ou em exagero as medicaçõ es, nã o significa que você nã o deva
usá -las. Se os remédios sã o um bom presente de Deus, nã o os
devemos desprezar. A vida no ritmo da graça nã o rejeita nenhuma
das graças de Deus quando elas sã o necessá rias. Um pastor
confessou sentir-se envergonhado por deixar de tomar remédios
antidepressivos, passando a falar também aos outros. Ele escreveu:
Foi-me prescrita a medicaçã o para depressã o em duas ocasiõ es diferentes,
mas nunca conseguia tomá -la. Em minha mente havia um enorme
descrédito quanto a antidepressivos. Eu havia aconselhado pessoas a nã o
fazerem uso deles, mandando até livros argumentando contra tal
medicaçã o. Foi depois de muito sofrimento que consegui me abrir para
esses remédios como um meio que Deus podia usar para me ajudar. Eles
nã o consertavam tudo, mas evitavam que eu descesse em espiral,
enquanto trabalhava com as outras peças do quebra-cabeça.
Tente ver os medicamentos como um presente de Deus e peça a
sua bênçã o sobre eles. Ore por seu médico, para que ele (ou ela)
escute bem a sua histó ria, faça um diagnó stico correto e, caso
necessá rio, prescreva o medicamento certo para você, como parte
do pacote de medidas espirituais, físicas, mentais e sociais
equilibradas.
Não conte para todo mundo. Com quase todas as outras
medicaçõ es, você receberá apoio, simpatia e oraçã o em seu favor.
Mas na igreja, existe muita ignorâ ncia, preconceito e mal-entendidos
sobre os antidepressivos, e talvez você nã o receba tanta simpatia ou
oraçã o em seu favor. Provavelmente você saberá quais pessoas
serã o simpá ticas e apoiadoras — geralmente pessoas que já
passaram por muitas provas em sua pró pria vida — assim, deve
avaliar e escolher com cuidado uma ou duas pessoas em quem você
possa confiar. Um homem, que admitiu ter sido simplista e
insensível quanto à depressã o, aprendeu sobre isso do jeito mais
difícil: “Eu nã o tinha ideia do que as pessoas deprimidas passavam
até que eu mesmo passasse pela depressã o”.
Não acredite nas caricaturas. A maioria dos cristã os deprimidos a
quem aconselhei nã o eram perdedores nem gente de mau cará ter
que estivessem procurando apenas uma desculpa para se omitir na
vida. Pelo contrá rio, era gente de alta funcionalidade, de primeira
qualidade, que se esgotara por ter feito demais e estava desesperada
por retornar para uma vida ativa e ú til.
ENERGIZANTES
O bom alimento reabastece nosso corpo e nossa mente. Em
situaçõ es mais sérias, os medicamentos suprem ou estimulam
combustível adicional para o cérebro. Agora, vamos identificar quais
as atividades que esgotam nossa energia e quais as que reabastecem
nosso tanque.
Quando éramos jovens, sentíamos como se tivéssemos energia
ilimitada; continuá vamos avançando sem parar, e nada nos parava
nem nos fazia andar mais devagar. Mas, ao envelhecermos, quando a
corrida se torna mais longa, começamos a notar que as reservas de
energia sã o limitadas. Há tempos em que voamos; outras vezes
estamos entregando os pontos. À s vezes achamos que poderíamos
correr sem cansar; outras vezes, nã o conseguimos dar mais um
passo sequer. Frequentemente pensamos: “Estranho! Ontem eu
estava navegando por cima; hoje estou arrasado”. Mas nã o há nada
estranho ou misterioso nisso. Estudos cuidadosos sobre nossa vida
revelam que há uma causa por trá s de cada efeito, uma razã o por
trá s de cada reverso.
Ao envelhecer, é mais fá cil fazer as conexõ es, ligar certas
atividades aos sentimentos como se fô ssemos novamente um
adolescente, e em outras atividades nos sentimos como quem tem
noventa anos de idade. Descobri que começo o dia com quantia
limitada de energia e que tudo que faço me preenche ou me esgota;
portanto, tenho de manter equilíbrio entre as coisas que enchem e
as coisas que esgotam minha vida, se eu quiser vivê-la pautado na
graça. Se eu fizer somente o que me esgota, logo estarei de tanque
vazio e vou parando, muitas vezes longe do posto de gasolina,
precisando ser rebocado, e pagando demais para reabastecer. Por
meio de dolorosas experiências, aprendi que gerir a energia é tã o
importante quanto gerenciar o tempo; portanto, preciso cuidar do
meu consumo de combustível com muito mais eficiência do que nos
meus anos mais jovens. Ao aprender o que me esgota mais
rapidamente e o que me preenche com maior velocidade, estarei
aprendendo a planejar para que possa parar para reabastecer o
tanque nas melhores horas, lugares e preços. Eis uma amostra das
coisas que enchem e esgotam minha pró pria vida, para ajudá -lo a
identificar o que ocorre em sua pró pria vida:
Preenchedores : Leitura da Bíblia e oraçã o, pescar, ler (principalmente
biografias e nã o ficçã o das listas dos mais vendidos), tempo com minha
esposa e família, boa comida, escrever, academia, rios, lagoas e oceanos,
pregar, jornalismo político, palestras em que me saio bem, amigos íntimos,
ver alguém ser convertido, crescimento entre o povo de Deus, gratidã o,
risadas, etc.
Esgotadores : reuniõ es, visitas pastorais, conflitos, críticas,
medo/ansiedade, aconselhar, ocupaçã o demasiada em negó cios,
compromissos demais, ficar em hotéis, conferências, compromissos
sociais, atividades que acontecem tarde da noite, conversas em mídias,
palestras que desanimam, e-mail, ficar pensando nas falhas de outros
crentes, negatividade, administraçã o, etc.
Permita que eu lhe dê um nú mero de qualificaçõ es e explicaçõ es
destas listas. Primeiro, diferente dos carros, nenhum de nó s é igual
ao outro; o que me dá energia pode nã o fazer o mesmo para você, e
vice-versa. Isso é especialmente verdade quando comparamos
pessoas introvertidas (como eu) à s extrovertidas (como a minha
esposa) — o que abastece um esvazia o outro. Embora a vista de um
piano me coloque em modo de “lutar ou fugir” (devido a duas
professoras de piano torturadoras, na minha infâ ncia), para um de
meus amigos, o ato de tocar piano o enternece e o dispõ e a um
imenso bem-estar. Ele escreveu:
Um bom hobby é também importante — algo que o satisfaça e que você o
faça por simples prazer. Eu tive aulas de piano desde a segunda série do
ensino fundamental até a faculdade, e sempre gostei de tocar este
instrumento. Um resultado de meu “resetar” é que voltei a ter aulas de
piano com um professor de uma faculdade pró xima — isso me revigora e
me relaxa muito!
Isso me lembra da necessidade de saber como funcionamos e
responder de acordo com isso. Um amigo compartilhou: “Sou um
extrovertido que é energizado por relacionamentos e por estar com
as pessoas”; enquanto outro disse: “Gosto de pessoas, mas elas me
esgotam. Por muitos anos eu achava que eu tinha de me transformar
em um extrovertido, mas isso foi um desastre! Precisei aprender a
trabalhar do jeito que Deus me fez”.
Segundo, ainda nã o apresentei os grandes eventos esgotantes da
vida, apenas os comuns do dia a dia. Por exemplo, as grandes
mudanças da vida tais como o luto por perda de entes queridos,
doenças sérias, casamento, divó rcio, perda de emprego, infelicidade
no trabalho, e outros, tiram nosso combustível como se fosse um
turbo esgotador. Deve haver um cuidado muito especial durante tais
fases da vida, especialmente se muitos acontecimentos surgem um
em seguida ao outro.
Terceiro, algumas atividades poderiam estar nas duas listas! Isso é
porque as coisas que nos preenchem em certo sentido, podem
também nos esgotar em outro sentido. Por exemplo, embora a
pregaçã o me preencha, ela também me esgota. Depois de alguns dias
preparando os sermõ es e pregando duas vezes no domingo, apó s o
culto de domingo à noite estou mental e emocionalmente um trapo.
Embora eu esteja energizado pela bondade de Deus comigo quando
preparo e prego os sermõ es, e frequentemente estou animadíssimo
pelas interaçõ es encorajadoras com as pessoas depois deles, na
segunda-feira preciso de muitos galõ es de combustível e tenho de
compensar fazendo coisas que me reabastecem. Se nã o for assim,
passo a semana andando a passo lento em fraqueza mental e
fragilidade emocional.
Outro exemplo desta listagem dupla é o exercício físico —
obviamente isso me esgota na hora e por uma hora ou mais apó s o
exercício, mas o efeito total sobre minha vida é um imenso bem-
estar físico e mental.
Quarto, embora eu tenha enfocado nossos maiores preenchedores e
esgotadores diá rios, reconheço que toda atividade, por menor ou
mais curta que seja, tem algum impacto sobre mim. Conforme
advertiu Brady Boyd:
Nã o sã o as grandes coisas, mas mil pequenas coisas: Esta pequena
conversa, este ú nico telefonema extra, essa rá pida reuniã o inesperada, o
que isso pode custar? Mas isso custa muito; esgota mais uma gota de
nossa vida. Entã o, no fim dos dias, meses, anos, entramos em colapso e
nã o enxergamos onde isso aconteceu. Aconteceu em mil eventos, tarefas e
responsabilidades inconscientes, que na superfície pareciam inofensivos e
fá ceis, mas cada um, um depois do outro, gastou um pedaço da nossa vida
preciosa. 91
Nossa energia é finita. Se gastarmos demais em uma coisa, nã o a
poderemos gastar em outra. A reposiçã o tem de ser, portanto, uma
atividade diá ria, nã o algo que façamos uma ou duas vezes por ano
nas férias e tentamos viver com isso o resto do ano.
Quinto, se possível, tenho de lutar para manter alguns esgotadores
ao mínimo possível. Como disse outro administrafóbico como eu: “A
administraçã o esgota a minha vida, mas tenho de fazê-la. É
simplesmente inevitá vel. Contudo, tenho também a
responsabilidade, como mordomo de Deus, de lutar o má ximo
possível contra isso, para que eu faça o que Deus me dotou a fazer”.
Sexto, embora existam algumas coisas na minha lista de
esgotadores que eu consigo evitar ou minimizar, existem outras que
nã o posso nem quero evitar ou diminuir — sã o partes importantes
do meu trabalho e do meu chamado. Eu os coloco na lista, nã o
dizendo: “Eu nã o queria ter de fazer isto”, mas para me lembrar que
preciso compensar esse esgotamento.
Sete, ninguém precisa sentir-se culpado por estar envolvido em
atividades que “enchem seu tanque”. Se os tanques estiverem vazios,
nã o seremos ú teis a ninguém. Nã o devemos ter vergonha nem pedir
desculpas quando fazemos aquilo que nos preenche. O estudioso de
lazer e espiritualidade, Paul Heintzman, admite que
a palavra lazer quase nunca aparece na Bíblia em inglês. Porém, existem
muitos temas na Escritura que informam a prá tica cristã do lazer, que
inclui descansar no domingo (Sabbath ), festivais, festas, danças,
hospitalidade e companheirismo. Tais temas sugerem a maneira como
vivemos no tempo em que nã o estamos trabalhando, as atividades de
lazer em que nos envolvemos, e ainda uma atitude de receptividade,
celebraçã o, senso de maravilha e empolgaçã o como sendo importantes
para o florescimento da vida cristã . 92
Quem sã o os bons exemplos para este componente de vida no
ritmo da graça? Nada menos que os simples mortais, conhecidos
como os puritanos. Heintzman explica:
Os puritanos valorizavam o lazer por ele mesmo, como também por sua
utilidade na renovaçã o das forças; [eles] pensavam criticamente sobre o
lazer como evidenciado em sua oposiçã o a esportes sangrentos, que eram
formas de crueldade com os animais; o lazer era praticado em dias
designados para o recreio: eles viam a vida como um todo unificado
debaixo da soberania de Deus. 93
Oitavo, Richard Swenson adverte quanto a outros três fatores que
impedem qualquer ganho: “O mau condicionamento, a privaçã o do
sono e a obesidade constituem um deserto de energia física, onde
nã o pode haver qualquer possibilidade de crescimento”. 94
Finalmente, a nã o ser que você esteja feliz em seu trabalho,
nenhuma quantidade de preenchedores vai compensar o
esgotamento. O oposto também é verdade, conforme descobriu
Steven Kramer; depois de examinar horá rios de entrada e saída de
trabalho de centenas de pessoas e de verificar milhares de jornadas
de trabalho, ele disse: “Entre todas as coisas que podem estimular as
emoçõ es, motivaçõ es e percepçõ es das pessoas durante a jornada de
trabalho, a mais importante de todas é progredir em um trabalho
que tenha valor”. 95
Deixamos agora a Oficina de Reparos 8, apó s encher os tanques de
boa nutriçã o e atividades energizantes. Tapamos alguns buracos que
estavam nos drenando e, se as quebras foram sérias, alguns de nó s
já tomamos os suprimentos emergenciais de medicamentos. Mas
como a viagem nã o é divertida quando estamos sozinhos, vamos
entrar na Oficina de Reparos 9, abrir o portã o, e acolher para junto
de nó s alguns companheiros de viagem.

A maioria das estatísticas deste capítulo foi extraída de Alan Logan, The Brain Diet: The
Connection between Nutrition, Mental Health, and Intelligence (Nashville: Cumberland
House, 2006). Veja também “Food and Mood,” Mind.org,
http://www.mind.org.uk/information-support/tips-for-everyday-living/food-and-mood/#
.VvQQIZMrJTY; Sarah-Marie Hopf, “You Are What You Eat: How Food Affects Your Mood”,
Dartmouth Undergraduate Journal of Science , February 3, 2011,
http://dujs.dartmouth.edu/2011/02/you-are-what-you-eat-how-food-affects-your-
mood/# .VvQQ0JMrJTY; Joy Bauer, “Improve Your Mood with These Foods”, Today ,
October 31, 2006,
http://www.today.com/id/15490485/ns/today-today_health/t/improve-your-mood-
these-foods/# .VvQPeJMrJTY.

Brady Boyd, Addicted to Busy: Recovery for the Rushed Soul (Colorado Springs: David C.
Cook, 2014), Kindle edition, loc. 57.
Citado por Tony Reinke, “Rethinking Our Relaxing”, Desiring God, January 24, 2016,
http://www.desiringgod.org/articles/rethinking-our-relaxing.

Ibid.

Richard Swenson, Margin: Restoring Emotional, Physical, Financial, and Time Reserves to
Overloaded Lives (Colorado Springs: NavPress, 2004), Kindle edition, loc. 95.

Citado em Greg McKeown , Essentialism: The Disciplined Pursuit of Less (New York: The
Crown Publishing Group, 2014), Kindle edition, loc. 196-97.
OFICINA DE REPAROS 9 |
RELACIONAMENTOS
Meu ministério tem me levado a muitos lugares por todo o
mundo, mas por mais exó tico ou belo que seja o lugar, sempre me
parece vazio quando minha mulher e filhos nã o estã o junto comigo
para desfrutar deles. Em contraste, minha família e eu recentemente
viajamos ao Reino Unido para surpreender meus pais em suas bodas
de ouro. Foi uma das viagens mais memorá veis de minha vida, nã o
somente por dar alegria a meus pais, como também pela alegria de
juntos fazermos uma viagem dessas, compartilhando a vida uns dos
outros. O prazer de uma jornada depende muito de quem viaja
conosco.
Como disse Deus: “ Nã o é bom que o homem esteja só ” (Gn 2.18).
Se um homem perfeito em um mundo perfeito, tendo
relacionamento perfeito com Deus, precisava ouvir isso, quanto
mais os homens pecadores, em um mundo pecaminoso, longe de
estarem isentos de pecado no seu relacionamento com Deus? Nã o é
bom que o homem esteja só . O homem. Isso sou eu. É você. Mas
muitos de nó s continuamos tentando viver de maneira
independente, solitá ria, desconectada e autossuficiente. Conforme
previsto, o resultado “nã o é bom”.
O foco da resposta de Deus a isso, que “nã o é bom”, está na sua
provisã o de uma esposa, que move o estado dos homens de “nã o é
bom” para “muito bom”. Existem outros relacionamentos-chaves em
nossa vida que precisamos cultivar conscientemente, especialmente
em um mundo caído, se quisermos evitar o “nã o é bom” e ir em
direçã o ao “muito bom”. Junte-se a mim para um trabalho de
consertos relacionais em cinco á reas essenciais: nosso
relacionamento com Deus, com a esposa, com os filhos, com nossos
pastores/presbíteros, e com os amigos. Mesmo quando conseguimos
apenas manter correta a ordem dessas prioridades, isto fará
gigantesca diferença.
RELACIONAMENTO COM DEUS
Como todos os relacionamentos saudá veis e que satisfazem, nosso
relacionamento com Deus necessita tempo e energia. A boa nova é
que, se até aqui você estiver implementando as sugestõ es deste
livro, tem mais tempo e aumentou os seus níveis de energia. Dar
tempo e esforço ao nosso relacionamento com Deus na verdade
aumenta nosso tempo livre e nossa energia, porque nos ajuda a
obter melhor perspectiva de vida e ordenar melhor as nossas
prioridades, reduzindo o tempo que gastamos no gerenciamento de
nossa imagem, e, remove o medo e a ansiedade.
Eis algumas coisas que me ajudam a manter um relacionamento
pessoal com o Deus pessoal e evitar cair na armadilha de me
relacionar com ele apenas através de meu ministério para com os
outros:
Tempo mantido . Procuro manter o tempo pessoal de leitura da
Bíblia e oraçã o com tanto ciú me quanto guardo e vigio meus filhos.
Mantenho meu encontro com Deus, à s seis e vinte, a cada manhã ,
com tanto zelo quanto se eu tivesse compromisso de fazer
hemodiá lise.
Mente não distraída . Em uma pesquisa com oito mil leitores, o
ministério DesiringGod.org descobriu que cinquenta e quatro por
cento dos pesquisados verificava seus telefones celulares minutos
depois de acordar. Mais de setenta por cento admitia verificar os e-
mails e os meios de comunicaçã o social antes de fazer suas
disciplinas espirituais. 96 Concordo com Tony Reinke, que comentou:
“Aquilo em que focamos os coraçõ es primeiro de manhã dará forma
ao nosso dia inteiro”. Sendo assim, resolvi nã o verificar os e-mails,
as mídias sociais ou o noticiá rio antes do meu tempo devocional,
pois quero trazer à mente com maior clareza e foco possível a
Palavra de Deus.
Orações em voz audível . Sempre oro melhor quando o faço em voz
audível, e assim, procuro um lugar onde possa fazê-lo sem passar
vergonha. Ouvir as minhas pró prias oraçõ es me ajuda a obter mais
clareza e intensidade na minha oraçã o. Também, quando oro em voz
alta, nã o consigo encobrir tã o facilmente um coraçã o ou uma mente
que vagueiam.
Devocionais variadas . À s vezes eu leio um salmo, um capítulo do
Antigo Testamento, e um capítulo do Novo Testamento. Outras
vezes simplesmente leio um capítulo ou parte de um capítulo e gasto
mais tempo meditando nele. Ou posso ler um livro da Bíblia
acompanhado de um bom comentá rio. Embora varie a velocidade,
tento me certificar de ler sistematicamente através dos dois
testamentos e nã o apenas saltar de um lado para outro.
Dormir bem . Se eu conseguir boas sete ou oito horas de sono por
noite, vou à Palavra de Deus com mais energia e concentraçã o.
Sermões centrados em Cristo . Usando sites como sermonaudio.com ,
ouço muitos pregadores fora da minha pró pria tradiçã o, porque
frequentemente vejo sua abordagem dos textos como renovadora e
estimulante.
Os livros centrados em Cristo, que me induzem a maior comunhã o
com Cristo, incluem The Glory of Christ e Spiritual Mindedness de
John Owen; Christ the Fountain of Life , de John Flavel, e mais
recentemente, Knowing Christ (O Conhecimento de Cristo), 97 de
Mark Jones.
Leitura egoísta . À s vezes leio um livro exclusivamente para minha
pró pria alma. Resolvo que nã o vou usá -lo para um sermã o, artigo ou
palestra, e nã o vou compartilhar na mídia social. Isso faz uma
diferença significativa na maneira como leio e o aproveitamento que
obtenho disso.
Lembretes diários . A fim de manter ou recuperar a comunhã o com
Deus através do dia, ligo os há bitos regulares diá rios à oraçã o ou
meditaçã o. Por exemplo, posso usar um intervalo para tomar café
para me lembrar de orar, ou posso usar o tempo que espero em uma
fila para memorizar um versículo bíblico escrito em um cartã o.
Este relacionamento pessoal com Deus é de suma importâ ncia
porque edifica o cará ter, e isto é importante. Dave Kraft, autor de
Leaders Who Last (Líderes que permanecem), cita estatísticas que
mostram que apenas trinta por cento dos líderes acabam bem; e, em
sua experiência, as falhas geralmente têm acontecido porque a
popularidade e o profissionalismo tomaram o lugar do cará ter na
vida de líderes cristã os. Ele escreve que “em muitos lugares tem
havido uma tendência de descartar um bom cará ter na vida pessoal
e privada em troca de maior grau de sucesso na vida profissional... A
maioria dos líderes enfoca mais na competência e menos no
cará ter”. 98 O general Norman Schwarzkopf concorda: “Noventa e
nove por cento dos fracassos na liderança é devido a falhas de
cará ter”. 99 O cará ter é formado principalmente em comunhã o com
Deus. Colocamos em primeiro lugar o relacionamento com Deus
porque é o mais influente dentre todos os outros relacionamentos;
incluindo o nosso relacionamento no casamento.
RELACIONAMENTO COM A ESPOSA
No mesmo mês que Sandra Bullock ganhou um prêmio da Academia
de Cinema como melhor atriz, veio a notícia que seu marido era
adú ltero em série. Ao refletir sobre isso, David Brooks, colunista do
New York Times , pergunta: “Você aceitaria isso como uma boa troca.
Trocaria um tremendo triunfo profissional por um severo baque
pessoal?” 100 Nã o gostamos de perguntas assim porque, embora
jamais verbalizemos um sim, nossas agendas e estilos de vida à s
vezes dirã o isso por nó s. Com base em extensos estudos e rigorosas
pesquisas, Brooks argumenta:
A felicidade no casamento é muito mais importante do que qualquer outra
coisa para determinar o bem-estar pessoal. Se você tiver um casamento
bem-sucedido, sem importar quantos dissabores profissionais tenha de
suportar, você será razoavelmente feliz. Se tiver um casamento de
malsucedido, nã o importa quantos triunfos tiver em sua carreira, você
permanecerá significativamente insatisfeito. 101
Brooks tem também uns pará grafos fascinantes sobre a relaçã o
entre dinheiro e felicidade. Por exemplo, você sabia que “as pessoas
nã o sã o mais felizes durante os anos em que ganham maiores
promoçõ es; em vez disso, sã o mais felizes por volta dos vinte aos
trinta anos, passam pela meia idade, e, depois, em média, atingem a
felicidade má xima logo apó s a aposentadoria, aos sessenta e cinco
anos de idade”. Entã o, Brooks volta à conexã o entre os
relacionamentos pessoais e a felicidade, e conclui:
Se o relacionamento entre dinheiro e bem-estar é complicado, a conexã o
entre os relacionamentos pessoais e a felicidade nã o é... De acordo com
um estudo, encontrar-se com um grupo que se reú ne mesmo apenas uma
vez por mês produz o mesmo ganho de felicidade que dobrar a sua renda.
Conforme outro, ser casado produz ganho psicoló gico equivalente a renda
de mais de cem mil dó lares por ano. A impressã o geral dessa pesquisa é
que o sucesso econô mico e profissional existe na superfície da vida, e
estes surgem dos relacionamentos interpessoais, que sã o muito mais
profundos e mais importantes. 102
De volta ao que falamos: Você aceitaria um trabalho (ou
ministério) “bem-sucedido” se lhe custasse o preço de um
casamento feliz? Se alguém olhasse a sua agenda, será que saberiam
a sua resposta a essa pergunta?
Como existem muitos excelentes livros cristã os sobre o casamento,
e a brevidade deste livro limita o espaço que posso dedicar ao
assunto, em vez de duplicar o que você pode ler em outro lugar,
quero simplesmente compartilhar o que tem ajudado em meu
pró prio casamento com Shona, esperando que algumas dessas
ideias o apontem à direçã o certa:
Melhores amigos . Diante de possibilidade de escolher qualquer
pessoa com quem estar, eu escolho a Shona. Nã o existe ninguém,
homem ou mulher, que chegue perto de ser o “melhor amigo para
sempre” do que ela. De tempos em tempos, saímos juntos para
“namorar”, mas estamos felizes na companhia um do outro, quer
seja na sala de estar, no quintal ou no carro.
Comunhão espiritual . Sempre conversamos sobre o que Deus está
fazendo em nossa vida e o que ele nos ensina por sua Palavra e
obras. Essa intimidade espiritual foi base do nosso relacionamento
desde o começo, e continua sendo a mesma base.
Estudos regulares . Embora estejamos casados há mais de vinte e
cinco anos, regularmente continuamos lendo livros sobre o
casamento. À s vezes, aprendemos alguma coisa nova, mas sempre
precisamos voltar a reaprender as coisas antigas.
Concordância nos papéis . Seguimos o ensino da Bíblia sobre os
tipos de papéis e responsabilidades que o marido e a esposa devem
ter. Porém, como ainda pode haver confusã o ou desentendimento
sobre como isso se aplica à vida diá ria, conversamos regularmente
sobre quem tem responsabilidade por isto ou aquilo, a fim de evitar
conflitos ou frustraçõ es ao longo do caminho.
Quantidade e qualidade de tempo . Procuro estar em casa toda noite
para as horas de refeiçõ es em família, em que estã o banidas todas as
mídias e tecnologias. Procuro nã o estar fora de casa mais que duas
ou três noites por semana em trabalhos da igreja. Tiro um dia
inteiro por semana para estar com Shona e nossa família
(geralmente no sá bado), e limito minhas viagens ministeriais a nã o
mais do que seis breves (má ximo de dois ou três dias) viagens por
ano. Fazemos uma viagem de férias, garantindo que arranjos estã o
acertados na congregaçã o para quaisquer emergências, para que eu
nã o precise ser contatado durante as férias.
Comunicação frequente . Na maioria das noites, passamos cerca de
uma hora falando sobre nosso dia, nossos filhos, nossos desafios,
nossas falhas e nossos sucessos.
Responsabilidade de plena comunicação . Compartilhamos um com
o outro as histó rias de nossas buscas pela Internet, usamos um
programa que filtra o conteú do acessado (Covenant Eyes) e
compartilhamos todas as nossas senhas para que qualquer de nó s
possa acessar qualquer conta que tivermos na rede. Verificamos
também nossas contas bancá rias para nos certificarmos que
estamos nos mantendo dentro do orçamento traçado. Se eu tiver
alguma preocupaçã o com Shona, nã o tenho medo de mencionar a
ela, e ela sabe que eu quero que faça o mesmo comigo. Nada está
fora dos limites.
Mesma hora de dormir . Vamos para a cama na mesma hora juntos,
e a ú ltima coisa que fazemos cada noite é orar juntos.
Muitas risadas . Tentamos fazer o outro rir e se passamos tempo
demais sem rir, um de nó s observa e diz: “Ei, precisamos ficar um
pouco mais leves”.
Vocabulário essencial . As palavras mais importantes em qualquer
casamento sã o: por favor, muito obrigado, sinto muito, eu o/a perdoo,
e eu o/a amo . Procuramos dizê-las tanto quanto pudermos.
Lembro-me de um velho pastor que comentou que quando um
homem diz que está com dificuldades em sua vida de oraçã o, a
primeira pergunta que ele faz é: “Como vai o seu casamento?” Quase
sempre o homem retruca: “O que tem uma coisa a ver com a outra?”
O pastor cita entã o 1 Pedro 3.7, demonstrando a conexã o entre a
vida de casado de um homem e sua vida de oraçã o:
Maridos, vó s, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento;
e, tendo consideraçã o para com a vossa mulher como parte mais frá gil,
tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma
graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações.
Com frequência, o homem admite que as coisas nã o estã o bem com
sua esposa. Nã o podemos esperar vicejar ou florescer se o nosso
casamento estiver murchando. “A melhor decisã o que fiz foi me
afastar um pouco do ministério para me reconectar a minha família”,
disse um pastor. “Talvez seja uma das poucas coisas que fiz pelas
quais nã o tenho nenhum pesar”.
RELACIONAMENTO COM NOSSOS FILHOS
Coloquei este capítulo sobre relacionamentos perto do final do livro
porque, até que coloquemos os passos anteriores em açã o, nã o
teremos o tempo, a energia ou o desejo para o esforço que pode
transformar nossos relacionamentos de um peso para uma bênçã o,
de uma fonte de culpa para uma fonte de alegria, de um esgotador
para um preenchedor . Isso é especialmente verdade nos
relacionamentos com os filhos que Deus nos deu, para sermos seus
pais e pastores. Se vivermos depressa demais e ocupados demais,
rebaixando a esposa em nossa lista de prioridades, em geral isso
deixa os filhos caírem completamente para o final de nossa lista de
prioridades.
Como existem livros sobre o casamento, existem também
numerosos e excelentes livros sobre pais e filhos, de modo geral; e
sobre a paternidade, de modo particular, os quais eu o encorajo a
ler. (Eu procuro ler um livro sobre pais e filhos todos os anos,
apenas para me lembrar daquilo que aprendi antes.) Em vez de
duplicar o que está disponível em outros lugares, eis uma rá pida
lista de liçõ es que geram alegria, que tenho aprendido (depois de
muitas tentativas e erros) em meus relacionamentos com os meus
filhos:
Paternidade de Deus. Lembro-me continuamente que fui chamado
a representar a paternidade de Deus para meus filhos; eu sou a
representaçã o visível de Deus Pai para eles.
Equilíbrio entre trabalho e vida. Estou cada vez mais cô nscio de que
o equilíbrio entre meu trabalho e minha vida é um exemplo para
eles. Se eles me enxergam vivendo uma vida pautada pela graça,
mesmo em meio à cultura de esgotamento, tenho esperança muito
maior que eles façam o mesmo.
Evangelho. Eu nã o somente ensino o evangelho para eles,
certificando-me que eles o ouçam toda semana em uma igreja local
que seja fiel, mas também procuro viver isso mediante a prá tica da
graça nos meus relacionamentos com eles, continuamente
apontando-lhes a Cristo para o perdã o quando eles falham, e o
Espírito Santo para obter força quando estã o fracos.
Humildade. Quando peco contra eles em minhas atitudes, palavras
e atos como pai, peço-lhes perdã o tã o logo seja possível. Nunca
lastimei ter dito “sinto muito” ou “perdoe-me” a meus filhos; e eu o
tenho dito vezes sem conta.
Paciência. Se tenho aprendido alguma coisa como pai há mais de
vinte anos, tendo cinco filhos, é ter paciência, perseverança, ser
tardio em me irar, perseverar em meio aos desapontamentos, e
esperar com fé pelas liçõ es aprendidas e vidas transformadas.
Tempo. Tal como acontece no casamento, simplesmente nã o existe
substituto para o tempo gasto com nossos filhos. Além de comer
com eles e dirigir o culto em família quantas noites da semana eu
puder, dedico meus dias de folga a minha esposa e filhos. É raro eu
sair para fazer algo sozinho ou com amigos. Dedicamos muito
esforço em tirar férias juntos. Comprei um pequeno barco para que
possamos pescar e explorar juntos os lagos e rios de Michigan.
Esquiamos e brincamos de prancha na neve a cada inverno.
Limitamos as saídas dos filhos adolescentes a três noites por
semana, e mais uma no domingo, quando eles vã o à reuniã o da
mocidade.
Encorajamento. Procuro e aproveito toda oportunidade para
encorajá -los na fé, em seu trabalho na escola, nos esportes, em sua
aparência e nas suas amizades. Procuro certificar-me que o índice de
encorajamento-versus-críticas seja algo como cinco a um.
Clareza . Tenho visto que os filhos vicejam quando Shona e eu
estabelecemos para eles regras e limites consistentes. Pode ser que
no começo nã o gostem, e à s vezes requer muita fé seguir o que
estabelecemos, mas sempre funcionou para melhor.
Adoração. Damos prioridade ao culto em família e continuamente
estamos ajustando nossos horá rios no começo da noite para
garantir que o nú mero má ximo de nossos filhos esteja presente para
o culto doméstico a cada dia.
Quando estamos cansados e estressados, gastar tempo para fazer
atividades com nossos filhos pode parecer mais uma obrigaçã o a ser
feita, um esgotador que nos deixa exaustos. Porém, descobri que
quando eu estou descansado e tenho mais tempo em minha vida, as
mesmas atividades que antes eram esgotadoras podem se tornar
preenchedoras e energizantes.
RELACIONAMENTOS COM NOSSOS
PASTORES E PRESBÍTEROS
Precisamos de supervisã o espiritual em nossa vida. Isto é
especialmente verdadeiro para pastores, nã o só porque eles sã o
alvos especiais de Sataná s, mas também porque existe uma trá gica
epidemia de quedas na liderança cristã . Em cada caso que conheço
— e existem mais do que quero contar — a característica comum é a
relutâ ncia em prestar contas, afastando-se da supervisã o de outros
pastores e presbíteros. Enquanto estou escrevendo isto, tive notícias
de que nos ú ltimos dois dias, um jovem pastor/missioná rio, um
pastor de celebridades de meia idade, e outro pastor mais velho, que
se aproxima do final de seu ministério, todos caíram em pecado de
adultério. Todos estes deixaram as instituiçõ es e denominaçõ es nos
ú ltimos dois ou três anos para “realizar o pró prio ministério”,
operando mais ou menos independentes de qualquer supervisã o ou
responsabilizaçã o para com outros líderes. Todos acabaram em
relacionamentos ilícitos com mulheres, em parte porque rejeitaram
um relacionamento bíblico com a igreja local e por conta pró pria se
tornaram “cavaleiros solitá rios” espirituais.
Embora pesquisas recentes da LifeWay tenham descartado o mito
dos mil e duzentos pastores que abandonam o ministério a cada
mês, 103 outra pesquisa diz que devido ao fardo do ministério muitos
pastores enfrentam lutas com desordens mentais. Vinte e três por
cento dizem ter experimentado alguma forma de crise emocional,
enquanto doze por cento recebeu diagnó stico de algum problema de
saú de mental. 104 Contudo, o estudo também viu que eles
frequentemente relutam em falar de suas dificuldades. Ed Stetzer
afirma: “É importante que pastores sejam abertos com seus colegas
sobre suas lutas, sempre que possível e de modo apropriado. Sem a
permissã o ou capacidade de permanecer acessíveis com respeito à s
lutas que surgem na vida ministerial, os pastores estã o mais
propensos ao esgotamento ou à desistência total. A igreja tem de
compreender essa luta e apoiar os seus pastores no que puderem”.
105

Todos nó s precisamos de homens em nossa vida que tratem


conosco com amor e fidelidade, que cuidem de nossa alma e falem a
nossa vida quando necessitamos disso. Embora isso requeira que
sejamos vulnerá veis, exigindo para isso tremenda coragem, fazer
isso é algo sá bio e seguro, especialmente à medida que
amadurecemos e talvez nos tornemos mais autoconfiantes e
autossuficientes.
RELACIONAMENTOS COM NOSSOS AMIGOS
Os ú ltimos passageiros que precisamos para a nossa viagem sã o os
amigos, relacionamento em que poucos homens se destacam. Por
que falhamos tanto neste aspecto?
Somos ocupados demais. As amizades profundas levam tempo para
se formar, muito tempo em que nã o se faz nada produtivo, mas se
está simplesmente junto, conversando e escutando o outro. Quem
tem tempo para isso neste mundo cheio de ocupaçõ es?
Somos egoístas demais. As amizades masculinas muitas vezes sã o
baseadas naquilo que conseguem vender ou o que podem obter de
alguém. “O que eu vou lucrar com isso?” Este é frequentemente o
ú nico critério para se construir um relacionamento com alguém.
Somos funcionais demais. As amizades masculinas geralmente
crescem provenientes de organizaçõ es — trabalho, esportes, clubes,
e assim por diante. O problema está em que se nossa participaçã o
acabar, a amizade também acaba. As amizades sã o mais funcionais
do que emocionais. Mas a verdadeira amizade envolve estar junto à s
pessoas por amor a elas mesmas.
Somos orgulhosos demais. “Amigos sã o para os fracos!” OK, talvez
nã o digamos isso, mas muitas vezes pensamos: “Sou forte,
independente, autossuficiente. Consigo gerenciar a vida por conta
pró pria. Nã o preciso de amigos”.
Somos seguros demais. Nã o estamos preparados para arriscar a
rejeiçã o. Parece melhor permanecer na zona de conforto de
conhecidos a um braço de distâ ncia do que nos aproximarmos e
arriscar ver alguém se esquivar ou se afastar. Por esta razã o,
noventa por cento dos homens norte-americanos nunca conheceram
um relacionamento em que realmente pudessem ser vulnerá veis e
acessíveis.
Somos superficiais demais. Amizades só podem se desenvolver
quando houver verdadeira autenticidade, em que ambas as partes
estã o preparadas para abaixar as defesas e mostrar suas
verdadeiras emoçõ es e sentimentos. Isso requer ir muito além das
autoimagens superficiais que construímos.
Fizeram em nós lavagem cerebral em demasia. A maioria de nó s
obtém sua visã o de masculinidade da TV e de Hollywood. Mark
Greene escreveu:
Um homem de verdade é forte e estoico. Nã o demonstra emoçõ es, exceto
ira e exaltaçã o. É um ganhador de pã o. É um heterossexual. Tem um corpo
forte. Joga ou assiste esportes. É participante dominador em toda troca.
Luta contra incêndios, é advogado, é um chefe ou executivo de uma
empresa. É um homem para os homens… Esse “homem de verdade”…
representa o que supostamente é normativo e aceitá vel dentro do
desempenho altamente equilibrado da masculinidade do homem
americano. 106
Qual é, portanto, a soluçã o a essa falha nas amizades? Como
geralmente acontece, a soluçã o começa com a teologia,
especialmente quanto à natureza de Deus. Deus existe como
comunidade em uma unidade de três pessoas em íntimo
relacionamento, e nos conclama, como portadores da sua imagem, a
procurar relacionar-nos e a praticar a vida em comunidade com
outros. Podemos transformar essa teologia bíblica em teologia
prá tica ao estudarmos Jesus Cristo, amigo de pecadores em geral,
como também homem que construiu fortes amizades masculinas em
poucos anos de vida na terra, amizades motivadas pelo desejo de
fazer o bem eterno e espiritual para uma variedade de homens
falhos. Ele resolveu os problemas, nã o por jogar dinheiro fora ou
estabelecer classes, mas por amar as pessoas.
Fazendo Amizades Bíblicas
Baseado na obra de Jonathan Holmes em The Company We Keep: In
Search of Biblical Friendship (A companhia que mantemos: a busca
por amizades bíblicas ), 107 temos algumas dicas para cultivar as
amizades bíblicas:
Dê prioridade às amizades. Se nã o fizermos um alvo de ter
amizades saudá veis, elas nã o vã o acontecer. Motive-se com as
vantagens, incluindo menos depressã o e melhores sistemas
imunoló gicos. 108 Alan McGinnis escreve:
Em meu trabalho como terapeuta, estou cada vez mais convicto de que há
um poder restaurador e renovador na amizade. Se as pessoas se
beneficiassem do amor que está disponível a elas, muitos terapeutas como
eu poderiam fechar as portas dos seus consultó rios. 109
Motive-se também com as desvantagens do isolamento. Por
exemplo, pessoas solitá rias vivem vidas mais curtas e sofrem mais
problemas de saú de. 110 Cientistas da Universidade da Carolina do
Norte examinaram a relaçã o entre amizade e saú de em diferentes
está gios da vida, e descobriram que a solidã o pode “elevar
grandemente” o risco de a pessoa ter doenças cardíacas, derrames e
câ ncer. 111 Um estudo de Harvard sobre estudantes que nunca
alcançaram sucesso financeiro nem mesmo atingiram nível de
gerência mediana descobriu que o fator comum era que nenhum
deles havia alcançado intimidade, como a que se reflete em
casamentos está veis e amizades duradouras. Em geral, havia
correlaçã o direta entre a quantidade de amor em suas vidas
pessoais e a quantidade de sucesso que obtinham no mundo
exterior. 112
Cultive a maior amizade. Sem compreendermos a amizade de
Cristo por nó s, nunca faremos verdadeiros amigos. Faremos
amizades por razõ es erradas, ou acabaremos muito depressa com
essas amizades. A amizade de Cristo conosco é tã o paciente, cheia de
graça, cheia de perdã o, e deve ser o modelo para as nossas amizades
com as outras pessoas.
Construa amizades altruístas. Certifique-se que possui uma ou duas
amizades que nã o sejam apenas para ajudar a progredir em sua
carreira ou aumentar a sua rede de contatos.
Cuidado com substitutos. A mídia social pode até iniciar uma
amizade, mas raramente constitui uma amizade. O professor do
Instituto Britâ nico, Aric Sigman, constatou que “comunicaçõ es face a
face envolvem circuitos cerebrais muito diferentes das
comunicaçõ es virtuais”. Ele citou a pesquisa da Universidade Duke,
de 2005, que disse que nos vinte anos anteriores, com o surgimento
das comunicaçõ es virtuais, o nú mero de pessoas que disse nã o ter
ninguém com quem conversar sobre sérias questõ es pessoais
aumentou de sete para vinte e cinco por cento. 113
Prepare-se para ficar desapontado. Se você estiver procurando
amizades bíblicas vai ter rejeiçõ es nã o bíblicas! Obterá mal-
entendidos, rejeiçõ es e traiçõ es. Mas também, obterá um ou dois
amigos realmente verdadeiros, e isso fará valer a pena todo o
sofrimento do percurso. Vale a pena perseverar.
Cultive a transparência . Uma das melhores definiçõ es de amizade
que ouvi é “conhecer e ser conhecido”. O fingimento, o show e todas
as outras má scaras sã o removidas por ambas as partes; é como
dizer uns aos outros: “Este é o meu verdadeiro eu”. Veja os
benefícios de tal abertura neste testemunho: “Deus me abençoou
com alguns amigos maravilhosos. Eles foram fundamentais para
minha renovaçã o de força e alegria ao longo do ú ltimo meio ano. Eu
realmente encorajaria todos os pastores que estã o lutando contra a
depressã o a se abrirem para alguns amigos de confiança o mais
rá pido possível”. Isso significa honestidade sobre nossas lutas, como
ilustra a histó ria deste amigo: “Fiquei impressionado com quantos
homens se expuseram verbalmente, quando eles constataram que é
seguro. A maneira como eles sabem que é seguro é quando me
ouvem falar sobre minhas pró prias lutas. Muitos de nó s estamos
famintos por transparência. Estamos cansados de sustentar uma
fachada. Nã o é saudá vel.”
Torne central o crescimento espiritual. A amizade de homens pode
envolver esportes, jogos, hobbies , ajudar um ao outro com
problemas prá ticos, dar risadas, contar histó rias, e muitos outros
belos dons de Deus. Mas no cerne de uma amizade, tem de haver um
desejo de fazer bem espiritual ao pró ximo. Perguntem um ao outro
com certa regularidade coisas como: “Como posso orar por você?
Onde você está tendo lutas? Onde você tem experimentado a graça
de Deus em meio a sua luta? O que traz alegria ao seu coraçã o? Onde
você me vê crescendo espiritualmente? Como posso ser melhor
amigo para você?” 114
Reconheça suas limitações. Nã o se pode ser amigo de todo mundo.
Jesus teve doze amigos, três amigos especiais, e um amigo singular.
Se nó s conseguirmos isso, estaremos indo muito bem. À s vezes,
teremos de podar as amizades, e, em outras, teremos de estabelecer
limites mais claros.
ACELERANDO E PREPARANDO PARA A PARTIDA
Fizemos muito trabalho de consertos. Nosso tanque de gasolina está
cheio e nosso veículo repleto de passageiros. O relacionamento com
nossos passageiros — Deus, nossa esposa, nossos filhos, nossos
pastores e presbíteros, e nossos amigos — estã o muito mais
saudá veis. Agora, vamos em frente para a ú ltima oficina de reparos
para dar partida no motor e entrar novamente na corrida. Mas desta
vez, será no ritmo da graça, nã o impelido por um foguete.

Tony Reinke, “Six Wrong Reasons to Check Your Phone in the Morning: And a Better Way
Forward”, Desiring God, June 6, 2015, http://www.desiringgod.org/articles/six-wrong-
reasons-to-check-your-phone-in-the-morning.

Nota da tradutora: Este ú ltimo foi publicado pela Editora Monergismo, Brasília, 2018.

Dave Kraft, Leaders Who Last (Wheaton: Crossway, 2010), 95-96.


Citado por James C. Hunter, The World’s Most Powerful Leadership Principle (New York:
Crown Business, 2004), 141.

David Brooks, “The Sandra Bullock Trade”, The New York Times , March 29, 2010,
http://www.nytimes.com/2010/03/30/opinion/30brooks.html.

Ibid.

Ibid.

Ed Stetzer, “Despite Wrong Doomsday Stats, Pastors Holding Up Just Fine,” Christianity
Toda y, November 6, 2015,
http://www.christianitytoday.com/edstetzer/2015/november/despite-wrong-doomsday-
stats-pastors-holding-up-just-fine.html.

Ibid., citing Bob Smietana, “Mental Illness Remains Taboo Topic for Many Pastors”, LifeWay
Research, September 22, 2014, http://lifewayresearch.com/2014/09/22/mental-illness-
remains-taboo-topic-for-many-pastors/.

Ibid.

Mark Greene, “Why Men Have So Much Trouble Making Friends”, Salon , April 12, 2014,
http://www.salon.com/2014/04/12/why_do_mens_friendships_feel_so_hollow_partner/.

Jonathan Holmes, The Company We Keep: In Search of Biblical Friendship (Minneapolis:


Cruciform Press, 2014).

Matthew Edlund, The Power of Rest: Why Sleep Alone Is Not Enough (New York:
HarperCollins, 2010), Kindle edition, loc. 2275.

Alan Loy McGinnis, The Friendship Factor (Minneapolis: Fortress Press, 2003), Kindle
edition, loc. 95.

Ibid., loc. 8–9.

Yang Claire Yang et al., “Social Relationships and Physiological Determinants of Longevity
across the Human Life Span”, Proceedings of the National Academy of Sciences of the United
States of America , July 20, 2015, http://www.pnas.org/content/113/3/578.abstract.
McGinnis, The Friendship Factor , Kindle edition, loc. 18-19.

Citado em Edlund, The Power of Rest, Kindle edition, loc. 2305.

Holmes, The Company We Keep, Kindle edition, loc. 69.


OFICINA DE REPAROS 10 | RESSURREIÇÃ O
Cada um dos homens que eu tenho treinado por meio do
Processo de Resetar tem saído dele com profunda gratidã o a Deus
por tê-lo levado a tanto. Sem importar o quanto estavam relutantes
em entrar nesse processo – todos agradecem a Deus pela
experiência, nã o apenas pelos diversos consertos realizados, como
também pela perspectiva de uma vida nova e melhor do que aquela
vivida anteriormente. Alguns o compararam a uma
minirressurreiçã o, um sabor ou amostra de como será a
ressurreiçã o final, quando deixaremos para trá s tudo o que se refere
à morte e experimentaremos a renovaçã o de todas as coisas.
Sim, temos má s lembranças dos velhos caminhos que nos
prejudicaram — o estresse debilitante, as expectativas nada
realistas, a negra depressã o, a moral detonada, e almas esgotadas —
todas causando hesitaçã o e medo de retornar à corrida. Mas a
abundâ ncia de novidade e graça nos encoraja a prosseguir.
Os novos caminhos que foram construídos em sua vida no processo
de Resetar podem incluir alguns ou todos os itens seguintes:
NOVO RITMO
O versículo fixado à saída da garagem do Processo de Resetar , diz:
“Nã o sabeis vó s que os que correm no está dio, todos, na verdade,
correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o
alcanceis” (1Co 9.24). Quando lemos esse versículo antes de entrar
na garagem, só podíamos pensar em uma corrida de cem metros e
correr o tempo todo com a maior velocidade que conseguíssemos.
Mas aprendemos que a vida é vista melhor como corrida de longa
distâ ncia, em ritmo diferente, com habilidades e tá ticas diferentes,
para correr, desfrutar, terminar a corrida e ganhar a competiçã o.
Sim, haverá tempos de crise em que teremos de acelerar e gastar
mais energia, quando teremos de trabalhar mais tempo e com maior
esforço do que neste novo conceito de vida, mas essa velocidade
aumentada ocasionalmente nã o será mais o nosso estilo de vida.
Essas emergências também nã o nos prejudicarã o tanto quanto antes
porque construímos margens em nosso tempo e energia de vida
para ocasiõ es de ocupaçã o, estresse e problemas inesperados.
NOVA CONSCIÊ NCIA
Inicialmente, podemos esperar dificuldades quando tornamos nosso
passo mais lento. Pode ser difícil para nó s porque, em comparaçã o
com a vida anterior à reconfiguraçã o, o Reset , podemos achar que
somos preguiçosos quando vamos mais devagar, ou culpados
quanto a reduzir nossos compromissos e tirar folgas para renovar
nossa energia. Quando esse falso senso de culpa entrar atrá s de nó s,
bater nos nossos ombros ou cochichar em nossos ouvidos “vá mais
depressa”, temos de educar nossa consciência com o conhecimento
bíblico e entendimento obtido na garagem onde se realiza o Processo
de Resetar . Este processo de reeducaçã o da consciência foi bem
ilustrado no bilhete que Stephen me mandou:
Cheguei ao ponto de perceber que eu tinha de enfrentar a luta da falsa
culpa com a verdadeira culpa. Eu me achava culpado por nã o conseguir
ser tudo para todo mundo, o tempo todo. Em vez disso, eu precisava sentir
a culpa de tentar ser Deus. Precisava sentir culpa por nã o me submeter
aos limites sob os quais ele me colocou. O meu problema basicamente era
o mesmo de alguém que tenta viver além de seus recursos financeiros. Eu
estava gastando em exagero. Eu havia me convencido que Deus requeria
isso de mim. Tornei agressivo o seu jugo; e pesado, o seu fardo.

NOVA HONESTIDADE
Nosso novo ritmo de vida pode parecer difícil para as pessoas que
nos cercam, acostumadas com nossa corrida mais veloz e com maior
capacidade. Precisamos de conversas honestas com nossa esposa,
nossos filhos, nossos pastores e presbíteros, nossos amigos, e
outros, a fim de explicar os ajustes que tivemos de fazer em nossa
vida devido ao envelhecimento e outros fatores. Nã o podemos
esperar que todos compreendam imediatamente ou concordem
completamente, mas temos de agir em fé, sabendo que é a coisa
certa para fazer para nó s e para eles. Eu me surpreendo quando vejo
tantos homens assustados com minha pró pria admissã o de fraqueza
e vulnerabilidade, e, entã o, uso isto para que eles se deem a
permissã o de serem fracos e cansados e fazerem os pró prios ajustes
para enriquecer a vida e expandir seu ministério.
NOVO CONTENTAMENTO
Em uma postagem de blog intitulada “Uma mentalidade de
maratona para o ministério”, o pastor Nick Batzig aponta para o
apó stolo Paulo sofrendo em uma prisã o romana, no entanto,
escrevendo Filipenses 4.11-13, e nota: “O contentamento no
ministério é um segredo de perseverança no ministério. Os pastores
precisam aprender a viver contentes com o que a mã o de Deus lhes
deu”. 115 Parte desse contentamento é derivado das medidas bíblicas
de fidelidade e frutificaçã o, em vez de padrõ es culturais. O mesmo
acontece também com os chamados nã o ministeriais.
NOVA SELETIVIDADE
Nã o estamos apenas correndo em ritmo mais lento, como também
participando de menos corridas – mas, corridas bem melhores.
Analisamos a nossa vida e decidimos quais as corridas que Deus
quer que participemos, quais os propó sitos de vida que Deus deseja
que cumpramos. Em vez de sermos empurrados e puxados em cem
direçõ es diferentes, correndo impensadamente por competiçõ es
desnecessá rias, temos feito o propó sito, o planejamento e a poda
para dizer nã o a muitas outras corridas possíveis — algumas delas
boas e nobres, mas nã o as corridas em que nó s devemos participar.
NOVA ENERGIA
Nossa velocidade mais lenta usa menos combustível, combustível
melhor, e também esvazia o tanque mais devagar. Nã o estamos mais
nos balançando entre a hiperatividade e a hiperexaustã o; nã o
tentamos mais correr apenas com a força de vontade e de tanque
vazio. Aprendemos o que nos esvazia e o que nos abastece.
Comemos e bebemos melhor, sabemos quando relaxar o ritmo,
quando descansar, e quando procurar ajuda dos outros membros do
time. Assim, estamos correndo com mais força e prazer, com
combustível mais limpo e saudá vel.
NOVA ALEGRIA
O que mais me empolga quanto a resetar a vida dos homens é ver a
nova alegria com a qual agora correm as suas corridas. No meu
primeiro contato com eles, noto que estã o deprimidos, desanimados,
vazios e, muitas vezes, desesperados. Olham a pista adiante deles e
dizem: “Nã o consigo correr mais nenhum metro”, ou, em alguns
casos, “Nã o consigo dar mais um só passo”. Nã o têm esperança de
um futuro melhor nem expectativa de mudança benéfica. Alguns
deles querem dar um fim total em suas corridas; alguns poucos
pensam até em terminar com a vida.
Mas, ao se moverem pela garagem, vejo vislumbres de esperança,
ouço risos e sinto renovada alegria em seu trabalho e em seu
casamento. Eles acabam olhando para cima e vendo coisas boas
adiante deles, podendo até mesmo enfrentar coisas ruins com fé em
vez de temor. A vontade é fortalecida de modo que os deveres que
odiavam e evitavam tornam-se prazerosos e possíveis. Os seus
novos há bitos alimentares e de exercícios fortalecem sua saú de
física e emocional. Dias de folga, tempo livre e férias, nã o induzem
ao sentimento de culpa, vergonha ou atitudes defensivas, mas sã o
recebidos como dons de um Deus gracioso, o novo centro da sua
alegria. Possuem nova intimidade com ele, nova dependência dele,
nova visã o dele, e novo prazer nele.
NOVA TEOLOGIA
Muito de nossa impulsividade vem de uma crença falsa em um Deus
que age por impulsos, uma visã o de um Deus escravizador, um
severo capataz que jamais se satisfaz com nada, a menos que o povo
permaneça em um estado perpétuo de exaustã o miserá vel. Mas
agora, tendo o foco em Deus como o amoroso Pai Celestial,
libertador de escravos, gracioso, que se deleita com seu povo, feliz
doador de toda boa dá diva a seus filhos, restaurador e reanimador
de seu povo, alimentador e provedor de á gua para suas ovelhas,
Deus parece diferente, e o mundo inteiro também parece diferente
— incluindo a pessoa no espelho. Sim, ainda desejamos servir
plenamente a Deus, mas estamos nos deleitando e descansando
mais em Deus. Há um profundo abraço e prazer no evangelho do
descanso, compreendido nã o somente pela mente e falado pelos
lá bios, mas demonstrado também por uma vida pacífica, calma, de
confiança total no Deus da paz.
NOVA EQUIPE
Tenho aprendido por dolorosas experiências que preciso correr
como parte de uma equipe. Preciso que outros corram junto a mim,
para me encorajar, manter-me responsá vel por prestar contas a
alguém, me direcionar, e, à s vezes, me carregar no colo.
Novamente eu falo, tem sido um prazer ver o processo de Resetar
ressuscitando relacionamentos essenciais em minha vida e na vida
de outros homens a quem tenho treinado. Casamentos foram
vivificados, a paternidade foi rejuvenescida, a responsabilidade
espiritual para com pastores e presbíteros foi ressuscitada, e foram
iniciadas e revitalizadas profundas amizades entre homens, sendo
compartilhada e vivida a vida em comunidade vibrante,
especialmente na igreja local. O pastor Doug me disse
animadamente: “Tenho me esforçado muito para criar uma equipe
multifuncional no meu ministério. Tenho sido sincero ao admitir
que nã o sou capaz de fazer tudo — e descobri que, ao delegar poder
para outras pessoas, a alegria delas aumenta enquanto aumentam
também a minha felicidade e paz”.
NOVA SENSIBILIDADE
O Processo de Resetar produz entendimento muito melhor e mais
humildade ao reconhecer nossa humanidade. Agora estamos de
olhos no painel e sabemos em quais luzes de advertência
precisamos prestar atençã o, e o que elas significam — sinais de
alerta que anteriormente nó s teríamos ignorado, minimizado ou
menosprezado. Somos sensíveis à s mudanças físicas, mentais,
emocionais, espirituais e relacionais, e colaboramos com maior
conhecimento dos ritmos bioló gicos de nosso corpo. Sentimos a
mudança dos meses, o ritmo semanal de seis dias de trabalho e um
dia para descanso, a cadência diá ria de trabalho e repouso, o tempo
regular de fome e sede, e mesmo o pulso da energia dinâ mica que
está em alta algumas vezes por dia, nos capacitando a descobrir o
estado de nosso fluxo e a realizar nosso melhor trabalho. Indo
adiante, estamos mais sintonizados a este ritmo dado por Deus, e em
vez de lutar contra este ritmo, entramos na onda e no pulsar da
ordem de Deus em nossa vida.
Nossas experiências também nos têm dado sensibilidade ao perigo
que outras pessoas correm, conforme evidenciado por este apelo de
um homem que passou pelo Processo de Resetar :
Escrevo isto depois de quase dois dos anos mais inesperados da minha
vida. Grande parte desses dois anos foi bom, e algumas partes foram uma
prova do inferno. Mas Cristo me fez sair dessa. Ainda estou aprendendo.
Sou um aprendiz muito lento, mas estou de volta à corrida, indo mais
devagar, mas com maior confiança de eventualmente cruzar a linha de
chegada. Aguardo uma coroa, ganha nã o por meus merecimentos, mas por
meu bendito Salvador. Corro, porém, com maior cautela. Espero que
minha histó ria sirva como chamada para acordar outros corredores que
no momento podem estar me ultrapassando, mas que correm sem
combustível. Nã o me deixe ver você esparramado na lateral, com
socorristas correndo para seu lado. Acredite, esse é um lugar assustador
para se encontrar.

NOVAS FERRAMENTAS
De vez em quando ainda estragamos nossa corrida. Tropeçamos,
saímos da pista, corremos à frente de nosso time, e ainda acabamos
de novo em um monte exausto de desâ nimo. A diferença agora é que
temos as ferramentas para diagnosticar o que deu errado, consertá -
lo, e ir em frente no caminho que nos foi traçado. Em vez de entrar
em pâ nico, voltamos ao Processo de Resetar para reparos e ajustes.
Já tendo passado por isso antes, desta vez podemos passar com
maior rapidez, e voltar novamente à pista na velocidade certa.
NOVO PLANO DE SERVIÇO
Quando faço exercícios físicos, posso nã o sentir sede, mas tomo á gua
com regularidade porque sei que, se nã o o fizer, terei dor de cabeça
severa devido à desidrataçã o mais tarde à noite. É por isso que,
mesmo sem esperar por uma crise, eu retorno regular e
voluntariamente ao Processo de Resetar para uma revisã o, pequenos
consertos e reabastecimento. Eu encorajo você a fazer o mesmo. No
início de cada mês, depois de cada trimestre, gaste algum tempo em
cada oficina de reparos, verificando que tudo esteja correndo bem,
fazendo quaisquer ajustes necessá rios, refinando seu ritmo para que
possa correr melhor, com mais sabedoria e segurança. Como diz
Roland Barnes: “É difícil fazer um trem que anda devagar sair dos
trilhos”. 116
NOVOS Ó CULOS
O futuro parece mais claro e brilhante porque temos novos ó culos,
com novo foco e novo filtro . Em vez de simplesmente correr com
fú ria em todas as direçõ es, ao focar agora em nossos propó sitos
específicos de vida, temos claro senso do por que, e para onde,
estamos correndo. Voltamos frequentemente a esses propó sitos, a
fim de assegurar que ainda estamos na pista certa, e para nos
encorajar com nosso progresso.
Mas nossos novos ó culos vêm com um filtro singular que nos
capacita a ler, compreender e utilizar a pesquisa que Deus permite a
cientistas e outros descobrirem. Através deste livro, temos tirado
muita verdade diretamente da Palavra de Deus, mas também temos
usado sabedoria extraída de livros nã o cristã os.
Isso diminui ou deixa de lado a Palavra de Deus?
Nã o, porque a suficiência da Escritura significa que nã o precisamos
mais da revelaçã o especial, nã o que devamos desprezar toda fonte
nã o bíblica de conhecimento. Utilizamos, porém, nosso
conhecimento bíblico para filtrar o conhecimento nã o bíblico. Joã o
Calvino usou a ilustraçã o dos ó culos para explicar isso. 117 Disse ele
que a Bíblia nã o é apenas aquilo que lemos nela, mas também aquilo
que usamos para ler. Lemos todo o conhecimento através da lente
da Bíblia, porque ela é suficiente para nos guardar de cair em erro
quando lemos a verdade que Deus colocou neste mundo.
NOVA VIGILÂ NCIA
Por meio de um encontro com nossa fragilidade, somos lembrados
de nossa pró pria mortalidade, de como é curta a vida. Somos muito
mais conscientes da passagem do tempo e da necessidade de redimi-
lo da maneira mais sá bia possível. Relegamos tudo que nã o é
essencial, e enfocamos apenas no que é imprescindível, sabendo que
no final do nosso tempo ou no fim de todos os tempos, teremos de
prestar contas a Deus por nosso tempo gasto nesta terra.
NOVA PACIÊ NCIA
O segredo para o sucesso da noite para o dia é que nã o existe tal
segredo. Conforme ressaltou a Fastcompany , 118 sucesso da noite
para o dia é algo extremamente raro. Por exemplo, Angry Birds
(Aves Iradas), o aplicativo de jogos de maiores vendas, foi a
quinquagésima segunda tentativa do criador de software Rovio em
fazer um programa bem-sucedido em oito anos de quase falência.
James Dyson fracassou com cinco mil cento e vinte e seis protó tipos
antes de aperfeiçoar seu aspirador de pó revolucioná rio. O
lubrificante de Norman Larsen conseguiu seu nome, WD-40, porque
as suas primeiras trinta e nove experiências falharam. WD-40
significa literalmente ““Water Displacement–40th Attempt”
(Deslocamento de Á gua – quadragésima tentativa). Esses
inovadores tiveram sucesso porque humildemente assumiram os
seus erros, utilizaram-nos como oportunidades de aprendizado, e
continuaram perseverando a medida que cada tiro os levava para
mais perto do centro do alvo.
Muitos entre nó s se esgotaram, detonaram ou acabaram
deprimidos porque está vamos dirigindo depressa demais; ou
desistimos, desanimados por nossas falhas e desapontamentos. Mas
o Processo de Resetar nos ensinou a correr com mais paciência e
perseverança, mesmo através de muitas dificuldades.
NOVO EQUILÍBRIO 119

Tente imaginar a sua vida em um grá fico com certo nú mero de


colunas: família, trabalho, igreja, decisõ es, finanças, mídia, pessoas,
tecnologia, trâ nsito, informaçõ es, escolhas, e assim por diante. A sua
capacidade de energia fica dividida entre cada coluna no começo de
cada dia, e cada momento do dia drena a energia de uma coluna,
dependendo do que você estiver fazendo.
Antes do Processo de Resetar , algumas dessas colunas, quem sabe
a maioria delas, estavam negativas e abaixo da linha base. Quase
todos os dias, você gastava a energia que lhe fora designada e mais
que isso, especialmente em determinadas colunas. Depois do
Processo de Resetar , existe equilíbrio muito maior, a energia é
alocada mais apropriadamente, e, no final da maioria dos dias, cada
coluna continua ainda positiva, acima da linha.
NOVOS HÁ BITOS
Apesar de muitas dessas novas atitudes parecerem difíceis e
desajeitadas de início, por repetiçã o elas se tornam há bitos quase
automá ticos. A ciência descobriu que a repetiçã o de atos e palavras,
eventualmente, cria novos caminhos e novas conexõ es neurais que
se tornam cada vez mais fá ceis de serem seguidos pelo cérebro.
Embora algumas dessas novas conexõ es possam ser feitas dentro de
umas duas semanas, até mesmo as mudanças mais difíceis poder ser
feitas dentro de dois meses. Se isso é possível sem a ajuda do
Espírito Santo, quanto mais pode ser feito com ele?
NOVOS OBSERVADORES
Antes de Resetar , está vamos envolvidos demais no agrado a
homens, sintoma comum de uma vida esgotada. Corríamos para
sermos notados e elogiados pelos outros. É ramos motivados demais
por nú meros: amigos e curtidas do Facebook, sons e notificaçõ es do
Twitter, comentá rios dos blogs, etc. Para pastores, os nú meros
envolviam quantidade de membros da igreja, de batismos, de pontos
de pregaçã o, livros, convites para falar em conferências, pessoas
evangelizadas, etc. Perdemos de vista o ú nico espectador que é
realmente importante — o Senhor. Agora, corremos para agradá -lo,
olhando para Jesus, autor e consumador da nossa fé (Hb 12.2).
NOVA HUMILDADE
Um diretor de escola me disse que, quando voltou à escola pela
primeira vez depois de estar ausente por duas semanas, devido ao
esgotamento, “ao passar pelo corredor, uma criança que chorava,
acompanhada de outras pessoas, entrou e passou diretamente na
minha frente para encontrar o diretor substituto. Isso foi um duro
baque. Na verdade, ninguém é indispensá vel. Talvez o zelador, mas
nã o o diretor. Eu sabia disso, mas ainda nã o tinha plena consciência
do fato”.
Elizabeth Moyer descreve o alívio humilhante de aprender a
substituir a dependência pela independência:
As fases mais estressantes da minha vida culminam em um momento
quando percebo que nã o posso fazer tudo. Lembro minha finitude e
falibilidade humana. Em vez de perder o fô lego de ansiedade, devo
respirar fundo em alívio. Eu nã o consigo fazer tudo, mas também nã o
preciso fazer tudo. Eu nã o sou suficiente, mas Cristo é. Se o Criador do
universo me amou bastante a ponto de morrer por mim e tirar todo meu
feio pecado, entã o ele se importa com as pressõ es da vida que pesam
diariamente sobre mim. 120
Quando olhamos para o chã o da garagem de Resetar , vemos um
monte de pecinhas e pedaços enferrujados e quebrados que
felizmente deixamos para trá s: independência, autossuficiência,
autoconfiança, indispensabilidade e invencibilidade.
NOVA GRAÇA
O Processo de Resetar detona nossa performance suada de
desempenho e abre o coraçã o para recebermos mais da refrescante
graça de Deus. Em postagem de seu blog intitulada “Liberdade
decorrente da esteira de desempenho”, o pastor Paul Tautges
testemunhou como o livro de Jerry Bridges, Graça Transformadora,
o libertou da frustraçã o e depressã o de pensar em si mesmo “apenas
como fracasso constante que jamais chegava à altura das minhas
expectativas perfeccionistas, e, assim, nã o me sentia completamente
aceito por Deus... eu havia mudado a base de minha aceitaçã o por
parte de Deus somente por sua graça para a sua graça mais o meu
desempenho diá rio por ele”.
A parte específica do livro de Bridges que encerrou essa esteira
rolante foi o seguinte pará grafo:
Viver pela graça em vez de viver pelas obras significa que você está livre
da esteira do desempenho. Quer dizer que Deus já lhe deu dez quando
você merecia um zero. Já lhe deu o pagamento de um dia inteiro mesmo
que você tenha trabalhado apenas por uma hora. Significa que você nã o
tem de desempenhar certas disciplinas espirituais para ganhar a
aprovaçã o divina. Jesus Cristo já fez isso por você. Você é amado e aceito
por Deus pelos merecimentos de Jesus, é abençoado por Deus pelos
méritos de Jesus. Nada do que você possa fazer poderá fazer com que ele o
ame mais ou ame menos. Ele o ama unicamente por sua graça dada a você
por meio de Jesus. 121
Quando vivemos uma vida baseada na graça, nã o apenas
recebemos mais graça, como também doamos mais graça. Cô nscios
de nossas fraquezas e fragilidades, estendemos mais graça aos
outros que fraquejam e caem. Um pai me explicou como “o passar
por um esgotamento, mudou meu modo de agir como pai. De
repente, percebi que eu pedia que meus filhos fizessem coisas que
eu mesmo nã o estava fazendo. Passei a me simpatizar mais com as
lutas que eles enfrentavam. Em casa havia muito mais conversas
sobre graça. Sou muito grato por isso”.
NOVOS FRUTOS
Em maio de 1985, a montanha de inventá rio nã o vendido da Apple
crescia junto com as suas dívidas. As vendas diminuíam e as perdas
cresciam vertiginosamente. O cofundador da Apple, Steve Jobs, foi
“aliviado das responsabilidades operacionais”, e poucos meses
depois, pediu demissã o do cargo de diretor para começar uma nova
companhia de computaçã o denominada NeXT.
O que veio a seguir para Jobs foi inesperado — doze anos de
deserto corporativo. Doze anos de fracasso doloroso, desanimador,
humilhante, cheio de estresse. A sua visã o era construir um
computador com estrutura de alta potência para estudantes. Foi
recomendado que mantivesse o preço abaixo de dois mil dó lares,
mas acabou indo ao mercado com um computador mais fraco com o
preço de seis mil e quinhentos dó lares — para estudantes! Só a
impressora custava mais dois mil dó lares. Quando os estudantes nã o
aderiram, Jobs tentou vender para as empresas, mas nã o conseguiu
um desempenho muito melhor.
Jobs foi convidado a voltar para a Apple em 1997, e que volta foi
essa! O modelo empresarial da Apple estava podre e fermentando.
Nã o era frutífero. Mas o retorno de Jobs deu a volta na Apple, e o
resto, como dizem, é a histó ria (e bilhõ es de dó lares).
O que mudou? Todos que conhecem Steve Jobs concordam que
seus anos de deserto o transformaram. Randall Stross, professor de
administraçã o na Universidade Estadual de San Jose, comentou: “O
Steve Jobs que retornou à Apple era um líder muito mais capaz —
precisamente por ter sido fortemente detonado. Ele passou doze
anos tumultuosos, dolorosos, falhando em encontrar um modo de
tornar lucrativa a nova companhia”. 122 Tim Bajarin, presidente de
Creative Strategies (Estratégias Criativas), disse: “Estou convicto
que ele nã o teria se tornado bem-sucedido depois da sua volta para
a Apple se nã o tivesse passado por sua experiência de deserto em
NeXT”. 123
Claro que a ideia de uma experiência no deserto em que a vida é
transformada nã o é novidade para o cristã o. Moisés, Davi, e mesmo
o nosso Senhor, frequentaram a Universidade do Deserto. Ninguém
deseja estudar ali, mas, à s vezes, Deus vê como propício nos enviar
para lá . Eu estive matriculado um bom par de vezes, aprendendo
repetidamente que Deus frequentemente nos fere e quebra para nos
preparar para sermos ú teis e frutíferos no futuro.
Se você pegou este livro para ler, há boa chance que Deus o tenha
matriculado na Universidade do Deserto, embora talvez você relute
em assistir as aulas. À s vezes, encontro homens que têm medo de
admitir que necessitam resetar a vida. Temem o que possam
descobrir a respeito de si mesmos e ficam apreensivos quanto à s
mudanças que serã o requeridas em sua pró pria vida. Quando lhes
falo dos ajustes que precisam ser feitos, muitas vezes eles resistem.
Quando lhes digo que têm de diminuir a velocidade em vinte por
cento, dormir mais vinte por cento, ou reduzir o serviço no
ministério em vinte por cento, o que eles interpretam destas
palavras é: “A vida acabou, eu já era, sou apenas um servo
preguiçoso e infrutífero”. Para a maioria deles, fazer vinte por cento
menos os leva simplesmente para uns cento e vinte por cento
daquilo que a maioria das pessoas normais faz com sua vida! Menos
nã o significa nada. Algumas mudanças nã o querem dizer mudanças
totais .
Estranhamente, a maioria deles me conta que a vida deste lado do
Processo de Resetar eventualmente acabou sendo mais abundante e
proveitosa. Eles estã o fazendo menos, mas realizando mais.
Reduziram um pouco o seu trabalho, mas tem visto Deus
trabalhando muito mais. Frequentaram a Universidade do Deserto,
mas formaram-se com cestas cheias de frutos.
NOVO CRISTO
Muitos homens que experimentaram um esgotamento ou
quebrantamento têm me falado sobre o quanto aprenderam sobre
Cristo, especialmente sobre a humanidade dele. Este ganho foi
perfeitamente ilustrado no artigo de Brad Andrews: “Graça Ilimitada
para Líderes Limitados”, onde escreveu:
Somente podemos descansar em nossas limitaçõ es quando vemos que o
pró prio Jesus se limitou, deixando a cultura da Trindade e entrando na
cultura humana por amor de nó s. O seu ato de encarnaçã o e redençã o
resolve a nossa necessidade de significado deste lado da eternidade.
Líderes saudá veis aceitam as suas limitaçõ es porque, quando olhamos
para Jesus, vemos a limitaçã o má xima — Deus se tornou carne e sangue
para nos outorgar resgate espiritual. Ao repousarmos nesta verdade,
deixamos que Aquele que nã o é limitado, que tem graça ilimitada, nos dê
coragem para sermos os líderes limitados que somos, e, no final, florescer
pelo bem de nossas igrejas e do evangelho. 124

NOVA ESPERANÇA
Temos experimentado o poder de ressurreiçã o de Deus em nossa
vida, que nos dá tremenda confiança para enfrentar o futuro e até
mesmo os velhos problemas e desafios que antes nos esmagavam.
Nã o dependemos mais de nossos recursos limitados da razã o e da
persuasã o, mas confiamos no poder de ressurreiçã o de Deus em
mudar as pessoas e os lugares.
Isso nos leva à esperança má xima da ressurreiçã o final.
NOVO HORIZONTE
Antes do Processo de Resetar , muitos de nó s mal olhá vamos para
cima. Só víamos o pró ximo item a ser feito, abaixá vamos a cabeça e
íamos em frente. Víamos a pró xima reuniã o, o pró ximo relató rio, a
pró xima viagem a negó cios, o pró ximo sermã o, o pró ximo livro, a
pró xima sessã o de aconselhamento, etc. Mas nunca vimos a vida
futura .
O Processo de Resetar fez ressurgir a esperança da ressurreiçã o. A
ressurreiçã o que experimentamos aqui nos deu um sabor da
ressurreiçã o final que está adiante de nó s, onde toda dor e
sofrimento, todo pranto e depressã o, toda perda e fraqueza nã o
mais existirã o. Também diminuiu nossos ritmos o suficiente para
nos permitir tempo e espaço para olhar à frente e ter prazer no que
vemos, antecipando o destino final, em que experimentaremos que
“os sofrimentos do tempo presente nã o podem ser comparados com
a gló ria a ser revelada em nó s” (Rm 8.18). Uma vida pautada pela
graça nos transporta a uma eternidade cheia de graça e gló ria.
Corramos de modo que possamos dizer:
Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a
coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará
naquele Dia; e nã o somente a mim, mas também a todos quantos amam a
sua vinda (2 Tm 4.7–8).
Vamos correr para obter o prêmio, o prêmio de todas as coisas
novas.

Nick Batzig, “A Marathon Mentality for Ministry”, Christward Collective , March 17, 2016,
http://www.alliancenet.org/christward/a-marathon-mentality-for-
ministry#.VvAUn5MrJcA.

Citado em ibid.

Joã o Calvino, Institutes of the Christian Religion , ed. John T. McNeill, trans. Ford Lewis
Battles, Library of Christian Classics, vols. 20-21 (Philadelphia: Westminster, 1960), 1.6.1.
Josh Linkner, “The Dirty Little Secret of Overnight Successes”, Fastcompany , April 3, 2012,
http://www.fastcompany.com/1826976/dirty-little-secret-overnight-successes.

Veja Richard Swenson , Margin: Restoring Emotional, Physical, Financial, and Time Reserves
to Overloaded Lives ( Colorado Springs: NavPress, 2004), Kindle edition, loc. 186

Elizabeth Moyer, “What Is a Biblical Response to Stress?” Institute for Faith, Work &
Economics, March 16, 2016, https://tifwe.org/a-biblical-response-to-stress/.

Jerry Bridges, Transforming Grace: Living Confidently in God’s Unfailing Love (Colorado
Springs: NavPress, 1991), 73. Cited in Paul Tautges, “Freedom from the Performance
Treadmill,” Counseling One Another , March 19, 2016,
http://counselingoneanother.com/2016/03/19/freedom-from-the-performance-
treadmill-2/.

Randall Stross, “What Steve Jobs Learned in the Wilderness”, The New York Times , October
2, 2010, http://www.nytimes.com/2010/10/03/business/03digi.html.

Citado em ibid.

Brad Andrews, “Limitless Grace for Limited Leaders”, For the Church , February 29, 2016,
http://ftc.co/resource-library/1/1933.
AGRADECIMENTOS
Este livro não seria possível sem que homens cristãos
confiassem a si mesmos e as suas histó rias a mim no decorrer dos
anos, especialmente aqueles que o fizeram para os propó sitos deste
livro. Muitos homens piedosos têm derramado seu coraçã o a mim,
vindo de quebrantamentos, fraquezas e vulnerabilidade,
trabalhando junto comigo para aprender aos poucos a viverem
pautados pela graça em meio a uma cultura de esgotamento.
Aprendi muito deles e com eles, e aproveito esta oportunidade para
saudar sua fé, coragem e transparência. Irmã os, neste livro eu mudei
os seus nomes para proteger a sua privacidade, mas espero que
vocês sejam encorajados, porque Deus está usando as suas
experiências doloridas para curar e ajudar outros que tenham
colidido e queimado.
Sou profundamente grato a Justin Taylor, vice-presidente
executivo de publicaçõ es de livros, na Crossway, por ter dado início
a este livro e me convidado a escrevê -lo, e pelas ideias que sugeriu
para serem a base desta obra. Eu tinha o compromisso de um
grande projeto de pesquisa a longo prazo, e nã o procurava ou tra
tarefa de escrita na época. Mas o entusiasmo de Justin me animou e
energizou com a perspectiva de que este livro poderia abençoar a
muitos homens cristã os, talvez, em especial, os líderes no
ministério. Como alguém que aprendeu muito do blog e dos livros
de Justin, e de observá -lo empregando humildemente a sua
influência e liderança pela causa de Cristo, considero um privilégio
trabalhar com ele no evangelho desta forma. Agradecimentos
especiais também à equipe de apoio de Justin, da Crossway; e nã o
menos à s habilidades de primeira grandeza de Greg Bailey, na
editoraçã o.
Sou grato ao conselho e aos membros do corpo docente do
Seminá rio Teoló gico Puritano Reformado, que constantemente me
incentivam a escrever mais amplamente para a igreja e me oferecem
toda a oportunidade para isso.
A minha amada Shona, agradeço por correr junto comigo a corrida
da vida por vinte e cinco anos. Obrigado por me ajudar a passar pelo
Processo de Resetar mais de uma vez, e por pacientemente me
ensinar a viver uma vida no ritmo da graça em meio a uma cultura
de esgotamento.
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