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1 a edição 2019
ISBN eBook: 978-85-85034-32-0
“Teologia Prá tica foi escrito por pastores eruditos e trata a respeito
de outros pastores eruditos que estudavam e escreviam como
teó logos mas trabalhavam e serviam como pastores. Os autores
desta obra mostram com eficiência que Calvino nã o só estava
preocupado com a precisã o teoló gica, mas também com seu valor
prá tico, uma teologia que visa as necessidades da alma. Recomendo
com esmero este livro, cujas pá ginas estã o repletas de percepçõ es
acertivas e edificantes acerca dos grandes reformadores.”
Joel Kim
Presidente do Seminá rio de Westminster da Califó rnia.
Com sincera gratidã o aos jovens pastores que teriam feito Calvino
sorrir e que, como colegas e amigos, trabalharam comigo: Marc
Harrington, Joel Smit, Ben Thomas, David Barry e Mic Knox.
— David W. Hall
Dedico a Steve Wellum, com profunda apreciaçã o. Amigo amado,
colega de respeito, teó logo fiel.
— Michael A. G. Haykin
Sumá rio
Prefácio
Parte 1 - Uma Breve Biografia de Joã o Calvino
Capítulo 1: O Jovem Calvino: preparaçã o para uma vida de ministério
Capítulo 2: Liçõ es prá ticas da vida de Idelette Calvino
Parte 2 - A Teologia Sistemá tica de Joã o Calvino
Capítulo 3: “Proferindo louvores ao Pai, ao Filho e ao Espírito”: Joã o Calvino sobre a
triunidade divina
Capítulo 4: Calvino acerca das similaridades e diferenças entre a eleiçã o e a reprovaçã o
Capítulo 5: Calvino acerca do Espírito Santo
Capítulo 6: Apêndices explícitos e implícitos à visã o de Calvino a respeito da justificaçã o
pela fé
Parte 3 - A Teologia Pastoral e Política de Calvino
Capítulo 7: A pregaçã o experiencial de Calvino
Capítulo 8: “Um sacrifício suave a Deus”: Joã o Calvino e o empenho missioná rio da
igreja
Capítulo 9: Calvino sobre os princípios do governo
Capítulo 10: Calvino acerca da guerra: ministério diaconal em Genebra e além
Capítulo 11: O casamento cristã o no século XXI: ouvindo Calvino sobre o propó sito do
casamento
Parte 4 - O Legado de Calvino
Capítulo 12: O círculo de amizades de Calvino: impulsionando um movimento
permanente
Capítulo 13: Calvino como calvinista
Capítulo 14: Calvinismo e avivamento
Posfácio
Abreviações e Fontes Utilizadas no Original
Referências e Notas Bibliográficas
Prefá cio
Escrevendo no ano de 1777 ou 1778 em um manuscrito ainda nã o
publicado, o autor batista inglês Andrew Fuller (1754-1815) referiu-
se a Calvino (1509-1564) como “aquela estrela da manhã da
Reforma” . 1 Nem todo autor que escreveu a seu respeito desde
Fuller descreveria o reformador em termos semelhantes, mas sem
dú vida todos que escreveram sobre a Reforma desde os dias de
Andrew têm reconhecido o papel proeminente que Calvino exerceu
sobre a vida e o pensamento do século XVI. Até mesmo nos pró prios
dias do reformador sua preeminência foi reconhecida, como o
teó logo luterano Filipe Melanchton (1497-1560) testemunhou
quando apelidou Calvino de “o teó logo” . 2 Os textos neste livro,
alguns deles inicialmente escritos em comemoraçã o ao
quincentená rio aniversá rio do reformador, em 2009, sã o aqui
publicados com este reconhecimento em mente.
Ao esboçar o início da vida de Calvino antes de sua ida à cidade de
Genebra, em 1536, Michael Haykin primeiramente estabelece o
cená rio para vá rias aná lises do pensamento de Calvino que seguem.
Haykin destaca especialmente sua conversã o, porque, ao contrá rio
do pensamento de alguns historiadores e teó logos reformados
recentes, a conversã o foi um conceito crítico para os reformadores,
incluindo Calvino. A primeira etapa do ministério em Genebra,
começando em 1536, terminou dois anos mais tarde quando ele e
seu companheiro de trabalho Guilherme Farel foram expulsos e
Calvino se dirigiu à cidade de Estrasburgo. Lá , casou-se com Idelette
de Bure e nela encontrou uma ajudadora — para usar a fraseologia
bíblica de Gênesis 2 —, fundamental para sua segunda etapa do
ministério de volta à Genebra nos anos 1540. Idelette morreria em
1549 antes de presenciar o triunfo de boa parte da agenda
visioná ria de Calvino para a Reforma em Genebra no fim dos anos
1550 e no início dos anos 1560. Sua vida de casada é, no entanto,
importante para qualquer reflexã o sobre a vida e o pensamento do
reformador. No pró ximo texto, Joel R. Beeke salienta de maneira ú til
vá rias liçõ es que podemos aprender da vida e da morte desta
mulher.
Na segunda seçã o desta obra, há quatro textos que lidam com sua
teologia. Primeiramente, um capítulo de Michael Haykin sobre o
trinitarianismo de Calvino. Muitos dizem que a teologia do
reformador, da forma como apareceu em sua primeira ediçã o das
Institutas da Religião Cristã (1536), jamais mudou essencialmente.
No entanto, esta nã o é a mais exata verdade se olhamos para seu
pensamento acerca da Trindade. Inicialmente, ele abominava o uso
da terminologia do pensamento trinitá rio clá ssico oriundo da crise
ariana do século IV. Posteriormente em seu ministério, depois de
confrontar os erros a respeito das pessoas da Divindade, Calvino
entendeu a sabedoria de usar a gramá tica trinitá ria da igreja
primitiva. Os pró ximos três textos lidam com á reas críticas do seu
pensamento: dois de Joel R. Beeke que tratam respectivamente da
doutrina da eleiçã o e da reprovaçã o e sua perspectiva sobre o
Espírito Santo, além de um escrito por David Hall que considera a
doutrina da justificaçã o em Calvino. No texto sobre eleiçã o e
reprovaçã o, Beeke mostra que a “causalidade teocêntrica” em salvar
e condenar pecadores nã o mina a responsabilidade humana. Apó s
considerar o pró ximo texto, que fique claro ao leitor que o
reformador francês corretamente merece o título de “o teó logo do
Espírito Santo”, cunhado pelo teó logo presbiteriano B. B. Warfield.
Beeke aborda a extensã o dos escritos de Calvino sobre a obra do
Espírito em relaçã o à s Escrituras, à uniã o com Cristo, à fé, à salvaçã o,
santificaçã o, à segurança da salvaçã o e ao charismata . Em sua
exposiçã o sobre a teologia de Calvino, David Hall primeiramente
resume o entendimento sobre a natureza da justificaçã o — tanto ser
“reconhecido justo no julgamento de Deus” quanto “aceito por causa
de sua [isto é, de Cristo] justiça”. Para Calvino, a justificaçã o sempre
leva à santificaçã o, e assim Hall investiga como esse conceito
teoló gico impactou seu pensamento sobre vá rios assuntos
teoló gicos, tais como a liberdade cristã , a oraçã o, a Igreja e o Estado,
e as ú ltimas coisas.
A terceira parte deste volume aborda cinco á reas da teologia
pastoral e política de Calvino. Para todos os reformadores, a
pregaçã o das Escrituras era a marca-chave da verdadeira igreja. O
pró prio Calvino afirmou: “Sempre que a Palavra de Deus é pregada e
ouvida de maneira pura e os sacramentos administrados de acordo
com a instituiçã o de Cristo, sem dú vida, uma igreja de Deus ali
existe” . 3 A Reforma, que ganhou força com a invençã o da imprensa
no século XV, voltou-se para a ênfase bíblica da palavra, tanto
pregada quanto escrita, como o veículo primá rio para o cultivo da fé
e da espiritualidade. Portanto, a pregaçã o foi central em Calvino
para levantar e aperfeiçoar a fé, como Joel R. Beeke mostra no
primeiro texto desta seçã o. A centralidade do pú lpito para Calvino é
reconhecida, mas seu compromisso com o empreendimento
missioná rio dado por Cristo à Igreja nã o. O texto de Michael Haykin
procura compensar essa lacuna ao abordar o pensamento de Calvino
sobre o envolvimento com missõ es.
Argumenta-se que nã o fosse pela vida de Calvino, a estrutura
política do Ocidente teria sido bem diferente. O texto de David Hall
sobre o pensamento político de Calvino endossa essa ideia, porque,
como ele nota já no início, “raramente tã o poucas palavras [como as
de Calvino sobre a política em suas Institutas ] algum dia exerceram
tanto impacto político”. Hall mostra que o reformador nã o
considerava a política como um mal necessá rio, mas como uma á rea
na qual os seres humanos podem servir a seu Criador de maneira
nobre. A crítica da Reforma à visã o medieval de dar esmolas como
virtude meritó ria na presença de um Deus santo significou para os
reformadores abordar o problema da pobreza de uma maneira
diferente. A igreja genebrina fez isso pela Bourse Francaise , um
ministério diaconal, que David Hall analisa em seu texto. O cuidado
dos pobres era tã o importante para Calvino que ele uma vez
observou, “Queremos demonstrar que há reforma entre nó s?
Devemos começar neste ponto, isto é, precisamos de pastores que
proclamam a doutrina da salvaçã o e também de diá conos que
cuidam dos pobres” . 4 O texto final dessa seçã o, de Michael Haykin,
aborda o pensamento de Calvino sobre o casamento. Assim como
sua teologia política, suas visõ es nesta á rea ajudaram a estabelecer
as bases do casamento para o protestantismo ocidental, as quais
sobreviveram como determinante cultural principal até por volta de
1960.
A quarta parte, no conjunto final de escritos, aborda o legado de
Calvino. Obviamente, um volume inteiro poderia ser escrito a
respeito; assim, os ú ltimos três textos lidam com á reas de impacto
representativas: sobre a vida dos seus amigos, no século XVI (David
Hall); sobre aqueles que têm sido chamados calvinistas, em especial
os puritanos do século XVII (Joel R. Beeke); e sobre o avivamento
dos descendentes teoló gicos de Calvino, os batistas calvinistas,
durante o longo século XVIII (Michael Haykin).
Na posiçã o de autores, queremos agradecer respectivamente a cada
uma de nossas graciosas esposas e famílias por nos encorajarem e
nos apoiarem nos estudos de Calvino, seu pensamento e legado
durante os anos. Sua gentileza está além da nossa capacidade de
retribuir. Ademais, somos gratos à assistência especial de Annette
Gysen e Paul Smalley como editores, Gary den Hollander como
revisor, Linda den Hollander como diagramadora e Amy
Zevenbergen como capista.
Acreditamos que a leitura dos textos a seguir provará que o
pensamento de Calvino foi e ainda é uma fonte dinâ mica de
conteú do frutífero e vivo em vá rias á reas da vida cristã . Apó s mais
de 450 anos desde que Calvino foi habitar no Paraíso, seu
pensamento sobre Deus e sua Palavra ainda possui o que a nossa
cultura deseja tã o intensamente — verdadeira relevâ ncia.
Parte 1
Um Breve Biografia
de Joã o Calvino
Capítulo 1
O Jovem Calvino: preparaçã o para uma vida de ministério
Michael A. G. Haykin
Capítulo 2
Liçõ es prá ticas da vida de Idelette Calvino
Joel R. Beeke
CONCLUSÃO
Nossa cultura tem uma visã o cínica do casamento e da
promiscuidade; um relató rio recente acerca da taxa crescente de
divó rcios demonstrou que o nú mero é maior entre pessoas com a
idade de vinte e cinco e trinta e cinco anos. A visã o bíblica do
casamento é bem diferente. As Escrituras nos ensinam que o pecado
desfigurou profundamente as intençõ es de Deus para o matrimô nio,
mas Cristo amorosamente o restaurou. A verdadeira alegria no
casamento resulta de quando o marido luta para amar sua esposa
assim como Cristo amou a igreja e de quando a esposa luta para
respeitar seu marido assim como a igreja respeita a Jesus Cristo.
Joã o e Idelette Calvino conheciam essa felicidade. Uma das coisas
mais maravilhosas sobre o relacionamento deles é que ambos
respiravam alegria mesmo em meio a circunstâ ncias traumá ticas.
Eles sabiam o que significa alegrar-se em Deus em meio à
perseguiçã o. Eles sabiam o que significa temer a Deus e, ao mesmo
tempo, esforçar-se para glorificá -lo. Eles encontraram alegria na
salvaçã o, alegria na fidelidade de um para com o outro, alegria no
amor e no companheirismo mú tuos, e alegria no serviço ao pró ximo.
Em suma, Idelette era uma ajudadora genuína e jubilosa para seu
marido.
Aprenda de Idelette, e também do seu esposo, que a verdadeira
alegria nã o se encontra no viver para si mesmo; esta só pode ser
encontrada primeiramente no serviço a Deus, depois servindo ao
nosso cô njuge e depois entã o servindo a nó s mesmos. Essa é a
essência da identidade de um casamento e de uma vida
verdadeiramente felizes, os quais Paulo traça em Colossenses 3.12–
17.
Parte 2
A Teologia Sistemá tica
de Joã o Calvino
Capítulo 3
“Proferindo louvores ao Pai, ao Filho e ao Espírito”: Joã o
Calvino sobre a triunidade divina
Michael A. G. Haykin
É impossível adorar a Deus sem antes proferir os louvores do Pai, do
Filho e do Espírito.
— João Calvino, Comentário em Isaías 6.2
Capítulo 4
Calvino acerca das similaridades e diferenças entre a eleiçã o
e a reprovaçã o
Joel R. Beeke
Capítulo 6
Apêndices explícitos e implícitos à visã o de Calvino a
respeito da justificaçã o pela fé
David W. Hall
Uma busca pelo termo “justificaçã o” no registro dos principais
escritos de Calvino mostra que ele é usado mais de duzentas vezes
nas Institutas — certamente indicando que era este um conceito de
prevalente interesse para Calvino . 1 Essas e outras consideraçõ es
deram origem à alegaçã o de que a justificaçã o é a doutrina mais
importante para a Reforma Protestante de modo geral e para
Calvino em particular. Sustentando essa declaraçã o, é de boa ló gica
que também outros correlatos, como a liberdade cristã e a oraçã o,
devidamente vinculados à justificaçã o, reflitam consistentemente o
significado e a intensidade da denotaçã o que Calvino conferia à
justificaçã o . 2
Ele usa o termo “justificaçã o” com mais frequência no meio das
Institutas , no terceiro livro, nos capítulos 11–12.
Consequentemente, uma vez que essa doutrina é formulada em
princípio nessas seçõ es, outras correlaçõ es sã o criadas sobre esse
mesmo fundamento. Assim, se a fé permanece de pé ou cai tendo
por base a justificaçã o pela fé, certamente se espera que ensinos
cristã os implícitos cedam (ou se fortaleçam), dependendo de como
aquele ensino é preservado. Da mesma forma, se essas correlaçõ es
refletem a homologia de Calvino, o que se tem é um forte
entendimento de sua visã o sobre a justificaçã o. Além disso, percebe-
se sua importâ ncia visto que Calvino considera muitas dessas
doutrinas auxiliares de forma mais profunda na segunda metade das
Institutas . Na verdade, a maior parte dos tó picos prá ticos da vida
cristã sã o impactados pelo significado da justificaçã o.
Para melhor compreender Calvino aqui, discuto neste capítulo os
seguintes pontos:
1. A visã o de Calvino acerca da justificaçã o, incluindo interaçõ es com
teoristas atuais e com as Institutas . Como uma á rea vital e crítica,
ela gera superabundâ ncia e correlaçõ es.
2. O que Calvino chama explicitamente de “apêndice apropriado da
justificaçã o”; a saber, a liberdade cristã .
3. Outras á reas implícitas nas quais Calvino encaixa a justificaçã o
para fazer afirmaçõ es a respeito de outros pontos: oraçã o, eleiçã o,
eclesiologia, governo civil e escatologia.
OBSERVAÇÕES E CONCLUSÃO
Para Calvino, aqueles que compreendem a justificaçã o corretamente
“abandonam a contemplaçã o de suas [pró prias] obras e olham tã o
somente para a misericó rdia de Deus e para a perfeiçã o de Cristo” .
63
Desta forma, Calvino observou um certo tipo de “ordem da
justificaçã o”, consistente com suas definiçõ es anteriores. Esse plano
ordenado começa com a “bondade” de Deus “concedida
gratuitamente” a pecadores, esta que nã o encontra bem algum no
sujeito humano. Entã o Deus “toca” o pecador com sua bondade,
levando-o a abandonar qualquer senso de virtude moral. Por isso
pecadores buscam a salvaçã o somente na misericó rdia de Deus pela
fé e daí reconhecem que foram reconciliados com o Senhor. O
pecador é justificado por causa da açã o mediadora de Cristo, e, uma
vez regenerado, “pondera a justiça eterna dada por Ele, nã o em boas
obras, à s quais se inclina, mas unicamente na justiça de Cristo” . 64
Tal apreensã o conduz adequadamente à liberdade cristã como um
apêndice e a muitos outros aspectos da verdadeira piedade.
Sem essa justificaçã o e seus apêndices, Calvino enxergava apenas
uma “estranha monstruosidade”, ou salvaçã o pelas obras. A certeza
da salvaçã o é também atacada: “Pois quando [com obras é que] nos
levantamos diante de Deus, nossa segurança desvanece
imediatamente e morre” . 65 Em suma, para o reformador “toda essa
discussã o será tola e fraca, a menos que cada homem admita sua
culpa diante do Juiz Celestial e, preocupado com sua pró pria
absolviçã o, voluntariamente se curve e confesse insignificâ ncia” . 66
Essa é a salvaguarda proporcionada pelo entendimento correto da
justificaçã o.
A visã o de Calvino está ligada até mesmo à humildade, ou ao
pensamento de que nã o temos absolutamente nada se deixados por
nó s mesmos. Na verdade, o “acesso à salvaçã o”, de acordo com
Calvino, nã o nos permanece aberto “a menos que tenhamos
abandonado todo o orgulho e tomado sobre nó s a perfeita
humildade; e, em segundo lugar […] essa humildade é uma
submissã o nã o fingida do nosso coraçã o” . 67
Dois correlatos da livre justificaçã o sã o que (1) a gló ria de Deus
permanece intacta; e (2) nossa consciência tem descanso e
serenidade. Baseando-se no ponto III.13.3 das Institutas , Cornelis
Venema recentemente chamou atençã o ao modo como a certeza em
si é ligada à correta visã o da justificaçã o, no pensamento de Calvino .
68
O reformador supõ e que a incapacidade do crente de discernir a
diferença entre a justificaçã o e a santificaçã o reduz de forma
drá stica sua segurança da fé. Além disso, Venema ajuda ao notar
como a santificaçã o, seguindo a justificaçã o de maneira correta,
liberta o cristã o de ser tentado a se apresentar diante de Deus (de
forma mercená ria) com inadimplência. Pois quando a santificaçã o se
encontra dentro da matriz da justificaçã o gratuita, “ela representa a
vida cujo autor é o Espírito, a vida livre de um pecador perdoado na
presença de seu gracioso Pai celestial” . 69 A ló gica é que, se nã o
estiver apoiada sobre o perdã o/absolviçã o uma vez já concedidos
por Deus, invariavelmente a santificaçã o “será contaminada com as
infecçõ es da ‘ansiedade’ diante de Deus (Sou suficientemente
obediente?), do ‘orgulho’ (Certamente minhas obras contribuem de
alguma maneira para a aceitaçã o de Deus) e de um espírito
‘mercená rio’ (Sem dú vida a minha obediência provará ser valiosa,
uma vez que Deus me ‘retribuirá em bondade’)” . 70
Para Calvino, a justiça divina que concede justificaçã o nã o é
suficientemente apresentada a nã o ser que Deus “somente seja
considerado justo, e que Ele comunique a livre dá diva da justiça aos
indignos” . 71 Além do mais, “a gló ria de Deus é de alguma forma
diminuída quando o homem gloria-se em si mesmo”. Assim, a visã o
de Calvino acerca da justificaçã o é fortemente forense — nã o
ontoló gica — e resulta no fruto da piedade. A justificaçã o e seus
apêndices, se corretamente compreendidos, nã o permitem nenhuma
gló ria humana, e “o homem nã o pode, sem sacrilégio, reivindicar
para si mesmo nem sequer uma migalha de justiça” . 72 Calvino
aconselhou procurar a paz da alma “unicamente na angú stia de
Cristo, nosso Redentor” . 73 Com ainda maior clareza, ele escreveu:
“A fé é meramente passiva e nã o carrega nada nosso para recuperar
o favor de Deus, mas recebe de Cristo o que nos falta”. 74
A doutrina da justificaçã o em Calvino é clara a partir de seus
escritos. Graças a Deus, ele confirmou sua visã o forens e 75
Parte 3
A Teologia Pastoral e
Política de Calvino
Capítulo 7
A pregaçã o experiencial de Calvino
Joel R. Beeke
A PREGAÇÃO DE CALVINO
Calvino pregava em séries a partir de vá rios livros da Bíblia,
esforçando-se por demonstrar claramente o significado de uma
passagem e como esta deveria impactar a vida de seus ouvintes.
Com o estilo muito semelhante ao de uma homilia, seus sermõ es nã o
tinham divisõ es nem quebras, a nã o ser o que era ditado pelo texto.
Como Paul Fuhrman escreve, “Sã o devidamente homilias como na
igreja primitiva: exposiçã o das passagens bíblicas à luz da gramá tica
e da Histó ria, [provendo] aplicaçã o à s situaçõ es da vida dos
ouvintes” . 11
Calvino era um exegeta cuidadoso, um expositor competente e um
aplicador fiel da Palavra. Seus objetivos ao pregar eram glorificar a
Deus, levar os cristã os a crescerem na graça e no conhecimento de
Jesus Cristo, e unir pecadores com Cristo, a fim de que “homens
fossem reconciliados com Deus pela livre remissã o de pecados” . 12
Esse intuito de salvar pecadores misturava-se perfeitamente com
sua ênfase nas doutrinas bíblicas. Ele escreveu que ministros sã o
“detentores da verdade de Deus; o que significa dizer da preciosa
imagem de Deus, de tudo aquilo que diz respeito à majestade da
doutrina da nossa salvaçã o e à vida do mundo” . 13 Calvino
geralmente admoestava ministros a manterem esse tesouro a salvo
pelo cuidadoso manejo da Palavra de Deus, almejando sempre o
ensino puro e bíblico. Entretanto, isso nã o excluía trazer
acontecimentos entã o contemporâ neos à vida das pessoas. Caso
tivessem relaçã o com a passagem sendo exposta, Calvino sentia-se
livre para aplicar seu sermã o a esses eventos de maneira prá tica,
experiencial e moral . 14
A imagem do pregador como professor moveu Calvino a enfatizar a
importâ ncia da preparaçã o cuidadosa do sermã o. Como ele mesmo
realizava isso com a frequência de suas pregaçõ es e a quantidade de
trabalhos e encargos permanece um mistério, mas Calvino
obviamente estudava o texto a ser exposto com grande cuidado e lia
amplamente o que outros haviam dito a seu respeito. Ele pregava
extemporaneamente, confiando fortemente em sua notá vel
memó ria. Calvino costumava declarar que o poder de Deus poderia
ser melhor exibido em uma pregaçã o extemporâ nea.
Por isso que nã o há manuscritos sobreviventes dos seus sermõ es.
Até onde sabemos, ele nunca os registrou. Há mais de 2000 sermõ es
seus unicamente porque Denis Raguenier os escreveu de forma
abreviada de 1549 até o dia de sua morte, em 1560 . 15
CALVINO E A EXPERIÊNCIA
Calvino valorizava a experiência contanto que fosse enraizada na
Escritura e brotasse da viva realidade da fé. Ele repetidas vezes
definiu a experiência de cristã os como além da expressã o verbal.
Por exemplo: “Tal [a experiência] é a convicçã o que nã o requer
grandes raciocínios, um conhecimento com o qual a melhor das
razõ es concordaria — no qual a mente verdadeiramente repousa de
forma mais segura e constante do que por qualquer outro motivo:
finalmente, este é um sentimento que pode nascer somente da
revelaçã o celestial. Nã o falo de nada além do que qualquer crente
experimenta em si mesmo — embora minhas palavras estejam
muito abaixo de uma explicaçã o justa do assunto” . 23 Calvino
prosseguiu afirmando que o entendimento do crente sobre Deus
“consiste mais na experiência viva que na especulaçã o”.
E depressa também disse: “De fato, tendo a experiência por
professor, encontramos a Deus exatamente como Ele se declara em
sua Palavra” . 24
A falsa experiência produz um deus que nã o condiz com a Escritura,
mas a verdadeira sempre flui das verdades da Escritura e as
salienta. A Escritura Sagrada é consistente com a santa experiência,
realizada pelo Espírito, uma vez que Calvino entendia que a Bíblia
nã o é um escrito de doutrinas abstratas e escolá sticas, mas um livro
de doutrinas arraigado no viver diá rio, real e experiencial. Logo, a
experiência tem um importante papel na exegese do reformador.
Willem Balke escreveu: “A experiência pode servir de chave
hermenêutica na explicaçã o das Escrituras. A Bíblia nos coloca no
centro da peleja da fé, coram Deo , e portanto Calvino pode
recomendar a si mesmo como exegeta como o faz na introduçã o ao
comentá rio do livro de Salmos (1557), dado que já experimentou o
que a Bíblia testifica” . 25
Calvino enxergava suas multifacetadas experiências na posiçã o de
reformador como importante qualificaçã o para a exegese e a
pregaçã o da Palavra de Deus. Apesar de relacionar sua qualificaçã o
experiencial particularmente aos Salmos — uma vez que os Salmos
pertencem melhor ao povo sofredor de Deus e sã o, como ele os
chamava, “uma anatomia de todas as partes da alma ” 26 —, todos os
seus sermõ es e comentá rios revelam que ele acreditava que nenhum
livro da Escritura poderia ser reduzido à mera doutrina.
A despeito de atribuir uma grande porçã o à experiência em sua
exegese e pregaçã o, Calvino compreendia que ela sofre de limitaçõ es
significativas. Quando divorciada da Palavra, a experiência como um
todo é incerta e sempre incompleta. Calvino concluiu que a
concentraçã o nas profundezas do coraçã o humano, que sempre
permanece um ponto focal para o místico, nã o é a maneira de Deus.
Ao contrá rio, ele concordava com Lutero, sustentando que o ú nico
caminho para Deus é por meio da fé centrada na Palavra. O crente
nã o aprende a conhecer a vontade de Deus da “nuda experientia ”
[experiência pura], disse Calvino, mas somente mediante o
testemunho da Escritura . 27
Se a Bíblia nã o é o fundamento da nossa experiência de fé, disse ele,
somos deixados apenas com sentimentos vagos, sem uma â ncora. A
fé verdadeira, entretanto, ancora-se na Palavra. Nã o devemos medir
a presença de Deus em nossa vida pela experiência, pois isso logo
nos levaria ao desespero. “Se medíssemos o auxílio de Deus de
acordo com os nossos sentimentos”, palavras dele, “nossa fé logo
vacilaria e nã o teríamos coragem, nã o teríamos esperança” . 28
Assim, Calvino é cuidadoso em nã o se tornar um experiencialista —
isto é, alguém que frequentemente chama a atençã o para as suas
pró prias experiências de uma maneira mística. Ele compreendeu
bem que a experiência deve ser definida pelo testemunho da Palavra
escrita.
Calvino evitava tanto o experiencialismo quanto o escolasticismo
seco. Ele nã o enxergava a Bíblia como uma coleçã o doutriná ria, mas
considerava as doutrinas bíblicas como “embebidas na vida e na fé
da igreja e do indivíduo, no habitat natural da confirmaçã o da fé em
meio à existência cristã e eclesiá stica” . 29
A EXPERIÊNCIA E A SEGURANÇA DA FÉ
A doutrina de Calvino acerca da segurança da salvaçã o reafirmou os
princípios bá sicos de Martinho Lutero, de Ulrico Zuínglio e expô s
ênfases pró prias. Assim como Lutero e Zuínglio, Calvino disse que a
fé nunca é mero assentimento (assensus ), mas tanto envolve o
conhecimento (cognitio ) como a confiança (fiducia ). A fé repousa
firmemente sobre a Palavra de Deus; a fé sempre diz amém à s
Escrituras . 35 Assim, a segurança deve ser buscada na Palavra e flui
da Palavra . 36 A segurança é tã o insepará vel da Palavra quanto os
raios de luz sã o do sol.
A fé e a segurança também sã o insepará veis de Cristo e da promessa
de Cristo , pois a totalidade da Palavra escrita é a Palavra viva, Jesus
Cristo, em quem todas as promessas de Deus sã o “sim e amém” . 37
Calvino estimava muito as promessas de Deus como o fundamento
da segurança, pois estas sã o baseadas na natureza divina, que nã o
pode mentir. As promessas sã o cumpridas por Cristo; portanto
Calvino direcionava o pecador a Jesus e à s promessas como
sinô nimos . 38 Uma vez que extrai seu pró prio cará ter da promessa
sobre a qual repousa, a fé toma para si o selo da infalível Palavra do
pró prio Deus. Consequentemente, a fé possui a segurança em sua
pró pria natureza. Segurança, certeza, confiança: eis a essência da fé.
Mais especificamente, Calvino defendia que a fé envolve algo a mais
que crer objetivamente nas promessas de Deus; envolve segurança
pessoal, subjetiva. Ao crer nas promessas feitas aos pecadores, o
verdadeiro crente reconhece e celebra o fato de Deus ter-lhe sido,
em particular para si mesmo pecador, gracioso e benevolente. A fé é
um conhecimento seguro da “benevolência de Deus sobre nós […]
revelada à nossa mente […] selada em nosso coraçã o” . 39 Calvino
escreveu: “aqui, de fato, está a dobradiça por meio da qual a fé gira:
que nã o consideramos as promessas de misericó rdia que Deus
oferece como verdadeiras somente quando externas a nó s, mas nã o
em nó s; antes, pelo contrá rio, elas sã o feitas nossas quando
abraçadas interiormente” . 40
Portanto, como Robert Kendall nota, Calvino repetidamente
descreveu a fé como “certeza (certitudino ), firme convicçã o (solido
persuasio ), segurança (securitas ), firme segurança (solida
securitas ) e plena segurança (plena securitas )” . 41 Embora consista
em conhecimento, a fé também é marcada por uma segurança
sincera, “é confiante e seguramente toma posse daquilo que Deus
promete” . 42
Ao longo de seus comentá rios Calvino também enfatiza que a
segurança integra a fé . 43 Ao expor 2Coríntios 13.5, o reformador
chega a declarar que aqueles que duvidam de sua uniã o com Cristo
sã o réprobos: “[Paulo] declara que sã o réprobos todos aqueles que
duvidam se professam a Cristo e se fazem parte do seu corpo.
Reconheçamos, portanto, que somente a fé correta nos faz repousar
seguros diante do favor de Deus, sem opiniã o vacilante, mas com
firme e resoluta segurança” . 44
Ao longo de sua sublime doutrina da fé, entretanto, Calvino repetia
estes temas: a incredulidade é difícil de morrer; a segurança é
geralmente contestada pela dú vida; severas tentaçõ es e duros
conflitos sã o normativos; Sataná s e a carne atacam a fé; a confiança
em Deus é cercada de temor . 45 Calvino abertamente reconhecia
que a fé nã o é mantida sem uma batalha severa contra a
incredulidade; sabia também que a fé nã o é algo intocá vel pela
dú vida ou ansiedade. Ele escreveu: “A incredulidade é, em todos os
homens, sempre misturada com fé […] Pois a incredulidade está tã o
profundamente enraizada no nosso coraçã o, e somos tã o inclinados
a ela, que nã o é sem dura luta que cada um é capaz de persuadir a si
mesmo daquilo que todos confessamos com a boca, a saber, que
Deus é fiel. Especialmente quando lindando com a pró pria realidade,
a hesitaçã o descortina fraquezas outrora ocultas” . 46
Ao expor Joã o 20.3, Calvino, testemunhando que os discípulos, ainda
que inconscientes dela, tiveram fé quando foram ao sepulcro vazio,
parece contradizer sua afirmaçã o de que o verdadeiro crente tem
consciência do pró prio estado: ”Sendo aquela tã o pequena fé, ou
melhor, quase nenhuma fé tanto nos discípulos quanto nas
mulheres, surpreende que tivessem tã o grande zelo; e, de fato, nã o é
possível que sentimentos religiosos os tivessem levado a buscar a
Cristo. Portanto, alguma semente de fé permaneceu em seus corações,
extinguindo-se, porém, por determinado tempo, e estavam eles sem
consciência de ter o que tinham. Assim, o Espírito de Deus
frequentemente opera nos eleitos em secreto” . 47
Isso nos leva a perguntar como Calvino pode dizer que a fé é
caracterizada por plena segurança, mas ainda assim permite o tipo
de fé que dela carece. Ambas as declaraçõ es parecem antitéticas. A
segurança é livre de dú vidas, mesmo nã o estando livre. Ela nã o
hesita, mas pode hesitar. Ela contém segurança, mas pode ser
atormentada pela ansiedade. Aquele que é fiel goza de segurança,
mas ainda vacila e teme.
Calvino usou ao menos quatro princípios para abordar essas
complexa questã o. Cada um deles ajuda a dar sentido à s aparentes
contradiçõ es.
Em primeiro lugar, considere o quanto Calvino precisava distinguir
entre a definição de fé e a realidade da experiência do cristão . Apó s
explicar a fé nas Institutas como o abraçar de uma “grande
segurança”, o reformador escreveu:
Mesmo assim alguém dirá : “O crente experimenta algo muito
diferente: ao reconhecer a graça de Deus sobre si, ele nã o só é
tentado pela inquietaçã o, vinda com frequência, mas repetidamente
movido por terrores mais graves. Pois tã o violentas sã o as tentaçõ es
a afligir sua mente que esta parece pouco compatível com a certeza
da fé”. Consequentemente, temos de resolver essa dificuldade se
desejamos que a doutrina mencionada acima permaneça.
Certamente, à medida que se ensina que a fé deve ser garantida e
segura, nã o se pode imaginar qualquer certeza que nã o seja tingida
de dú vida ou qualquer segurança que nã o seja atacada. 48
EXPERIÊNCIA E AUTOEXAME
No entanto, Calvino tinha plena consciência de que alguém pode se
considerar confiado a Cristo pelo Pai quando esse nã o é o caso. Uma
coisa é enfatizar o ofício de Cristo como recipiente e guardiã o dos
eleitos, na economia salvífica trinitá ria; como o centro, autor e
fundamento da eleiçã o; a garantia, a promessa e o espelho da eleiçã o
e da salvaçã o do crente. Outra completamente diferente é saber
como inquirir se uma pessoa foi unida a Cristo pela fé verdadeira.
Muitos parecem pertencer a Cristo, mas na verdade estã o afastados
dele. Calvino disse: “Diariamente acontece de outra vez caírem de
Cristo aqueles que pareciam ser dele […] Tais nunca aderiram a
Cristo em confiança sincera, cuja certeza da salvaçã o, digo, tem sido
estabelecida por nó s” . 76
Calvino nunca pregou para consolar seu rebanho com uma falsa
segurança de salvaçã o . 77 Muitos estudiosos, referindo-se ao
costume do reformador de fazer mençã o aos ouvintes de sua
congregaçã o como pessoas salvas, minimizam a ênfase de Calvino
sobre a necessidade de uma percepçã o experiencial e subjetiva da fé
e da eleiçã o.
Eles se equivocam. Apesar de ter praticado o que chamava de “um
julgamento de caridade” (i.e., dirigir-se à queles membros da igreja
que mantêm um estilo de vida exteriormente louvá vel como salvos),
ele também frequentemente afirmava que apenas uma minoria
recebe a Palavra pregada com a fé salvífica. Nas suas palavras:
“Ainda que todos, sem exceçã o, que ouvem a Palavra de Deus
pregada sejam ensinados, ainda escassamente um em cada dez
tantos prova dela, sim, escassamente um em cem lucra a ponto de
lhe ser permitido, desta forma, prosseguir no caminho certo até o
fim” . 78
Para Calvino, muito do que se assemelha à fé carece de cará ter
salvífico. Entã o ele fala sobre a fé que é informe, implícita,
temporá ria, ilusó ria, falsa, um tipo de sombra transitó ria, escondida
debaixo do manto da hipocrisia . 79
O autoengano é uma
possibilidade real, disse Calvino. Porque o réprobo geralmente sente
algo parecido com a fé do eleito , 80 o autoexame é essencial.
Ele escreveu: “Aprendamos a nos examinar, e a descobrir se aquelas
marcas internas pelas quais Deus distingue seus filhos de estranhos
pertencem a nó s, a saber, a raiz viva da piedade e da fé” . 81
Felizmente, aquele que é verdadeiramente salvo é liberto do
autoengano por meio do examinar direcionado pelo Espírito Santo.
Calvino disse: “Mas o fiel é ensinado a examinar-se a si mesmo com
solicitude e humildade, a fim de que, no lugar da segurança da fé, a
segurança carnal nã o o persuada” . 82
Mesmo no autoexame, Calvino enfatizava Cristo. Ele dizia que
devemos nos examinar para ver se estamos colocando nossa
confiança somente em Jesus Cristo, pois esse é o fruto da experiência
bíblica. Anthony Lane diz que, para o reformador, o autoexame nã o é
como “Estou confiando em Cristo?”, mas, sim “Estou confiando em
Cristo ?” . 83 O autoexame sempre deve nos direcionar a Cristo e sua
promessa. Jamais deve ser feito à parte do auxílio do Espírito Santo,
o ú nico que pode trazer luz sobre a obra salvífica de Cristo na alma
do crente. Fora de Cristo, à parte da Palavra e do Espírito, Calvino
diz, “Contemple-se, e há condenaçã o certa” . 84
CONCLUSÃO
Calvino foi um teó logo experiencial e um pregador que se esforçou
para manter o equilíbrio entre como as questõ es espirituais devem
ser na vida cristã , como elas de fato sã o e qual o objetivo final delas.
Ele tomou proteçã o contra excessos confinando-se aos limites
bíblicos e atando sempre a obra experiencial do Espírito com a
Escritura. Ao mesmo tempo, o reformador usava a pregaçã o
experiencial como forma de ministrar à s necessidades dos crentes e
como ferramenta para diferenciar os incrédulos. Acima de tudo,
todas as suas ênfases experienciais buscavam conduzir o cristã o ao
propó sito ú ltimo de glorificar a Trindade por meio de Jesus Cristo.
Capítulo 8
“Um sacrifício suave a Deus”: Joã o Calvino e o empenho
missioná rio da igreja
Michael A. G. Haykin
Para Calvino, a metá fora de uma porta aberta fala muito sobre como
o avanço da igreja é completamente dependente da misericó rdia do
Deus soberano. Mas nã o que o cristã o deva ser passivo em seu
esforço de alcançar o perdido ou que possa sentar e esperar até que
Deus faça tudo. Em seu comentá rio sobre Isaías 12.5, Calvino tratou
dessa má interpretaçã o comumente aceita acerca da soberania
divina: “[Isaías] mostra que é nossa responsabilidade proclamar a
bondade de Deus a todas as naçõ es. Enquanto exortamos e
encorajamos os outros, nã o devemos, ao mesmo tempo, sentar-nos
em indolência, mas é apropriado dar o exemplo aos demais; pois
nada pode ser mais absurdo que ver homens indolentes e
preguiçosos estimulando o outro a adorar a Deus” . 14
Como David Calhoun corretamente observa: “O poder de salvar
[almas] pertence a Deus, mas Ele manifesta e descortina sua
salvaçã o por meio da pregaçã o do evangelho” . 15 Embora as
missõ es e o evangelismo sejam, de fato, obras de Deus, Ele se deleita
em usar seu povo como instrumento.
O primeiro dos principais meios pelos quais Deus usa seu povo para
a conversã o dos nã o cristã os é a oraçã o — nossas oraçõ es para a
conversã o dos incrédulos . 16 Nas palavras de Calvino, Deus “nos
ordena a orar pela salvaçã o dos descrentes” , 17 e passagens da
Escritura como 1Timó teo 2.4 encorajam a nã o “cessar de orar em
favor de todos os homens” . 18 É vista essa convicçã o operando nas
pró prias oraçõ es de Calvino, das quais um bom nú mero foi
registrado no final de seus sermõ es. Cada uma das exposiçõ es em
Deuteronô mio, por exemplo, termina com uma oraçã o que segue,
mais ou menos, o seguinte padrã o: “Que agrade a [Deus] conceder
essa graça [salvífica], nã o apenas a nó s, mas a todas as pessoas e
naçõ es da terra” . 19 Na verdade, essa oraçã o está na liturgia que
Calvino escreveu para sua igreja em Genebra:
Oramos a ti, agora, ó mais gracioso Deus e Pai misericordioso, por
todas as pessoas em todos os lugares. Como é da tua vontade ser
conhecido como Salvador de todo o mundo, por meio da redençã o
forjada por teu Filho, Jesus Cristo, concede que aqueles que ainda
sã o estranhos ao conhecimento [de Cristo], estando nas trevas e
cativos do erro e da ignorâ ncia, sejam trazidos, pela iluminaçã o do
teu Santo Espírito e pela pregaçã o do teu evangelho, ao correto
caminho da salvaçã o, que é conhecer-te, o ú nico Deus verdadeiro, e
Jesus Cristo a quem enviaste. 20
Capítulo 10
Calvino acerca da guerra: ministério diaconal em Genebra e
além
David W. Hall
O calvinismo certamente nã o estava escondido debaixo de um
alqueire ou confinado a um monastério, ao contrá rio, ele irradiava
muitos outros setores fora da igreja, inclusive o tratamento de
muitos problemas sociais. Considerar a histó ria da igreja
protestante como guia para esse tó pico é ú til para o estudo dos
métodos de combate à pobreza. Nesse breve capítulo apresentarei
alguns dos princípios e prá ticas de bem-estar de quase cinco séculos
atrá s. Percebamos que até mesmo por longos períodos de tempo a
condiçã o humana e as soluçõ es sociais sã o surpreendentemente
constantes. Portanto, é sá bio tirar benefício daquilo que teve
sucesso em outras eras. Esse estudo salienta algumas das melhores
prá ticas do calvinismo. Nesse resumo quero que nos concentremos
na parte que Joã o Calvino e outras figuras da tradiçã o reformada
tiveram no desenvolvimento do diaconato.
A Bourse Francaise [“Bolsa Francesa”], um ministério diaconal da
igreja de Genebra, foi fundada em algum momento entre 1536 e
1541, marcando assim logo cedo a contribuiçã o de Calvino para as
estruturas sociais. Seu plano inicial era aliviar um pouco do
sofrimento dos residentes franceses que, fugindo da perseguiçã o
sectá ria da França, chegavam em grandes nú meros à cidade. Estima-
se que de 1550 a 1560 cerca de sessenta mil refugiados fugiram por
meio de Genebra, nú mero este capaz de produzir um estresse social
significativo. A Bourse Francaise tornou-se um pilar do bem-estar
social ; 1 na verdade, essa foi uma das contribuiçõ es de Calvino —
frequentemente ignorada — para a civilizaçã o ocidental. Este
ministério diaconal provavelmente exerceu tanta influência sobre a
Europa de Calvino quanto sua teologia o fez em outras á reas.
O programa de bem-estar propagado por Calvino em Genebra foi
conformado à ênfase teoló gica dos reformadores, provendo uma
ilustraçã o inicial de que prá ticas assim eram e sã o (e o certo é que
assim continue) construídas sobre princípios definidos religiosos ou
ideoló gicos por natureza. Além disso, a teologia da Reforma era a
força que guiava esse bem-estar, tanto quanto a teologia do
catolicismo romano medieval havia sido o princípio a orientar os
atos de caridade. Princípios irrevogá veis moldaram a prá tica do
bem-estar há 450 anos e assim procedem ainda hoje, ou seja, em
momento algum este tipo de açã o social verdadeiramente esteve
divorciado de valores ideoló gicos subjacentes.
O modelo genebrino nã o reivindicava singularidade; ao contrá rio,
ele se enxergava como a culminaçã o de um nú mero de fatores. Este
se via construído sobre os textos iniciais do Antigo Testamento, as
narrativas do livro de Atos e, entre outros, precedentes canô nicos
(e.g., o Sínodo de Tours de 567, que atribuiu a responsabilidade de
cuidar dos pobres a cada pá roco) que descreviam o trabalho do
diaconato. Assim o Bourse se via firmado sobre os ombros servis de
cristã os do passado.
Suas atividades eram numerosas. Seus agentes diaconais estavam
envolvidos no ato de abrigar ó rfã os, idosos e aqueles que de alguma
forma estivessem incapacitados. Eles abrigavam os doentes e
tratavam dos ó rfã os e daqueles envolvidos em imoralidades. Essa
instituiçã o eclesiá stica foi a precursora de sociedades voluntá rias
dos séculos XIX e XX.
No início das Ordenanças Eclesiásticas [Ecclesiastical Ordinances ],
propostas pela primeira vez em 1541, Calvino escreveu uma carta
para os diá conos, distinguindo-os como um dos quatro ofícios
basilares da igreja. Essa ordem reformacional estipulou que, dos
quatro ofícios bíblicos, “havia sempre dois tipos na igreja primitiva,
um designado a receber, dispensar e guardar bens para os pobres,
nã o apenas esmolas, mas também posses, aluguéis e pensõ es; e o
outro a vigiar e cuidar dos doentes e administrar subsídios para os
pobres” . 2 Além do mais, a carta de 1542 prescreveu:
Será deles a responsabilidade de, com diligência, cuidar que o
hospital pú blico seja mantido em ordem, e que seja tanto para o
doente como para o idoso incapaz de trabalhar, para a mulher viú va,
para as crianças ó rfã s e outras pobres criaturas. Os doentes devem
sempre ser alojados em um conjunto de quartos separados dos
daqueles que nã o sã o capazes de trabalhar […] Ainda mais, além do
hospital para aqueles de passagem que precisam de cuidados,
atençã o deve ser dada ao caso de haver alguém digno de especial
caridade . 3
Concluindo esta seçã o, Calvino defendeu “desencorajar a
mendicâ ncia contrá ria à boa ordem, e seria bom, e isso já
ordenamos, que houvesse um de nossos oficiais na entrada das
igrejas para remover aqueles que vadiam; e se houver alguém que se
ofenda ou erga insolência, que haja alguém para levá -los a um dos
síndicos do governo” [Lords Syndic ] . 4 Mendigar sem um trabalho
honesto era uma afronta à ética bíblica protestante do trabalho. Com
seu projeto sofisticado na parte administrativa e sua distinçã o entre
a raiz do problema e as necessidades físicas, o modelo de Calvino é
mais que do interesse histó rico.
O reformador francês estava tã o interessado em ver o diaconato
florescer que deixou nã o apenas uma herança para a família em seu
testamento, mas também fez provisã o para a escola de garotos e
para estrangeiros na pobreza . 5 No entanto, essa Bolsa nã o era uma
instituiçã o inteiramente nova, embora suas raízes estivessem
decididamente ligadas à teologia e à experiência de Genebra. Os
diá conos cuidavam de um amplo leque de necessidades, semelhante
à s divisó rias por classe do bem-estar social que temos hoje em
nossa pró pria sociedade.
Nas Ordenanças Eclesiásticas de Genebra de 1541, Calvino confiava
um robusto papel ao diaconato, em especial nos atos de caridade.
Depois de duas décadas, elas foram revisadas, cuja traduçã o
moderna, de 1561, mostra a sofisticaçã o e o refinamento do
diaconato mesmo antes da morte de Calvino. A seçã o seguinte,
extraída da revisã o daquele ano, deixa claro que o ministério para os
pobres era significativo e bastante organizado na época do
reformador. Nã o era nem de baixa prioridade nem desleixado em
sua organizaçã o. As igrejas reformadas suíças e francesas estavam
de acordo na “Quarta Ordem do Governo Eclesiá stico, os Diá conos”,
escrita da seguinte forma na revisã o de 1561:
56. Sempre houve dois tipos na igreja primitiva: alguns
encarregados de receber, administrar e conservar os bens dos
pobres, as esmolas diá rias, bem como pertences, subsídios e
pensõ es; outros designados a cuidar e tratar dos doentes e
administrar as pequenas porçõ es e necessidades diá rias. (De fato, é
correto que todas as cidades cristã s tenham tal conformidade, como
tentamos fazer e pretendemos continuar [fazendo] no futuro). Pois
temos curadores e administradores hospitalares; e, para evitar
confusã o, um dos quatro curadores do hospital deve receber todos
os bens mencionados acima e ter recursos suficientes para melhor
desempenhar sua tarefa.
57. Permaneça o nú mero de quatro mordomos como tem sido: um
se encarregará dos recebimentos, como afirmado, a fim de que as
provisõ es sejam fornecidas mais depressa e também para que
aqueles que desejam dar esmolas aos pobres tenham maior garantia
de que os bens nã o serã o usados de outra forma. E se a renda nã o
for suficiente, ou mesmo exceder extraordinariamente a
necessidade, permita que o Sínodo aconselhe o ajuste de acordo com
a pobreza observada.
60. É necessá rio cuidar atentamente que o hospital comum seja
corretamente mantido e que seja tanto para os doentes quanto para
aqueles que nã o conseguem trabalhar, como viú vas, ó rfã os ainda
novos e outros carentes. No entanto, os doentes devem ser alojados
em um quarto à parte e separado dos outros.
61. Que o cuidado com os pobres espalhados por toda a cidade dê
retorno, em conformidade com a instruçã o dos superiores.
62. Além do hospital para pacientes de breve estadia, que precisa
ser mantido, deve haver alguma ala à parte destinada à queles cujas
necessidades provam ser merecedoras de especial caridade; para
tanto, haverá uma sala reservada para seu uso.
64. Que os ministros, comissá rios ou anciã os com um dos Síndicos
assumam a responsabilidade de inquirir se, na administraçã o dos
pobres acima mencionada, existe alguma falta ou indigência, a fim
de alertar o Sínodo e suplicar-lhe a resoluçã o do problema. Para
tanto, uma comitiva e alguns administradores devem visitar o
hospital trimestralmente para verificar se tudo está em boas
condiçõ es.
65. Também será necessá rio prover, pela folha de pagamento da
cidade, aos que estiverem no hospital e forem pobres, e aos da
cidade que nã o têm condiçõ es, doutores e cirurgiõ es qualificados e
que, embora atendam na cidade, sejam comprometidos com os
cuidados do hospital e empenhados em visitar os necessitados.
66. E porque nã o apenas os idosos e doentes sã o levados para o
hospital, mas também, por causa da pobreza, as crianças pequenas,
ordenamos que sempre haja um professor para instruí-las na
moralidade e nos rudimentos das letras e da doutrina cristã . Na
maior parte do tempo, ele deve catequizar, dando ensinamento aos
servos do hospital supracitado e conduzindo as crianças à escola.
67. Quanto ao hospital voltado à s doenças infecciosas, que este seja
totalmente separado, especialmente se a cidade tiver sido visitada
por algum flagelo de Deus.
68. Além do mais, para evitar a mendicâ ncia, o que é contrá rio à boa
ordem, será necessá rio (e assim ordenamos) que o Sínodo coloque
alguns de seus oficiais nas saídas das igrejas com o intuito de
remover aqueles que gostariam de mendigar; e caso resistam ou se
mostrem recalcitrantes, que sejam levados a um dos Sindicatos. Da
mesma forma, durante o resto do tempo, os líderes dos grupos de
dez cuidam para que a proibiçã o de mendigar seja devidamente
observada. 6
Capítulo 11
O casamento cristã o no século XXI: ouvindo Calvino sobre o
propó sito do casamento
Michael A. G. Haykin
Na década final do século II, um cristã o africano de nome Septimius
Florens Tertullianu s 1 — nó s o conhecemos simplesmente por
Tertuliano — escreveu uma das descriçõ es mais amá veis do
casamento cristã o no corpo literá rio da igreja antiga.
Como conseguiremos descrever adequadamente a felicidade deste
casamento que a Igreja realiza [...] sobre o qual se sela a bênçã o, no
qual os anjos estã o presentes como testemunhas, e com o qual o Pai
consente? [...] Quã o belo, entã o, é o casamento de dois cristã os,
ambos numa só esperança, no mesmo desejo, seguindo o mesmo
modo de vida, praticantes da mesma religiã o. Os dois sã o como
irmã o e irmã , ambos servos do mesmo Mestre. Nada os divide, tanto
na carne quanto no espírito. Eles sã o, a bem da verdade, dois em
uma só carne; e onde há uma carne, há também um espírito. Eles
oram juntos, eles adoram juntos, eles jejuam juntos; instruindo um
ao outro, encorajando um ao outro, fortalecendo um ao outro. Lado
a lado, eles comparecem à igreja de Deus e juntos participam do
Banquete de Deus; lado a lado enfrentam dificuldades e perseguiçã o,
juntos partilham dos consolos. Eles nã o têm segredos um com o
outro; eles jamais se subtraem à companhia um do outro, nunca
conduzem à tristeza o coraçã o um do outro. Sem qualquer
embaraço, visitam o doente e auxiliam o necessitado. Dã o esmolas
sem inquietaçã o [...] sem obstá culos, eles exercitam a piedade
diariamente [...] Eles cantam salmos e hinos um para o outro,
esforçando-se por ver quem dos dois entoará com maior beleza os
louvores do seu Senhor. Ao ouvir e ver isso, Cristo se regozija. A
estes Ele dá sua paz . 2
Construindo sobre o alicerce bíblico de que o casamento é uma
uniã o de uma só carne (Gn 2.24; Mt 19.4–6; 1Co 6.16–17),
Tertuliano detalha as implicaçõ es desta uniã o em relaçã o aos
privilégios e responsabilidades cristã os. Importante notar,
Tertuliano pressupõ e que o casamento cristã o é tal que subsiste
com a bênçã o da igreja, uma perspectiva que pode ser traçada desde
pelo menos Iná cio de Antioquia, começo do século II . 3
A visã o que Tertuliano tinha do casamento também é significativa à
luz da batalha da igreja no tempo dos gnó sticos, que desprezavam o
matrimô nio e diziam nã o ser uma escolha lícita para quem buscasse
levar uma vida espiritual. Nas palavras de um deles, Saturninus, “O
casamento e o gerar de uma vida provêm de Sataná s” . 4 A resposta
geral da igreja a essa depreciaçã o gnó stica do casamento foi
moldada por textos bíblicos tais como 1Timó teo 4.1–4, que enfatiza
a vida matrimonial como uma condiçã o desejá vel e ordenada por
Deus. Dessa verdade-chave o pensamento cristã o subsequente
nunca se apartou explicitamente. Como Joã o Crisó stomo, um dos
pregadores mais proeminentes do final do século IV, argumentou:
“Quã o tolos sã o aqueles que menosprezam o casamento! Se o
matrimô nio tivesse de ser condenado, Paulo jamais teria chamado
Cristo de noivo e a igreja de noiva” . 5
PATRÍSTICA TARDIA E ANTECEDENTES MEDIEVAIS
Ainda surgiram escritores dentro dos parâ metros da ortodoxia
cristã cujas perspectivas acerca desta instituiçã o vital soam
significativamente diferentes daquelas de Tertuliano e Crisó stomo.
O entã o contemporâ neo do século IV Jerô nimo (m. 420), por
exemplo, responsá vel pela traduçã o latina da Bíblia, conhecida como
Vulgata, defendia com vigor que o celibato seria um estado muito
superior ao casamento, mais virtuoso e mais agradá vel a Deus.
Jerô nimo convenceu-se de que todos aqueles que estavam mais
pró ximos de Deus nas Escrituras eram celibatá rios. Na verdade,
argumenta ele, a relaçã o sexual entre cô njuges seria um obstá culo
para uma vida devota à busca da genuína espiritualidade . 6
Agostinho (354-430), outro teó logo de fala latina, do mesmo
período, cujo pensamento forneceu o alicerce para muito do
pensamento da Idade Média, defendia, de maneira similar à anterior,
que sã o como os anjos aqueles que devotam a Cristo um estilo de
vida celibatá rio. Eles experimentam uma antecipaçã o do céu, porque
no céu nã o há casamento . 7 Por que, entã o, Deus ordenou o
matrimô nio? Em sua visã o, sobretudo por visar a geraçã o de filhos.
Comentando em Gênesis 2, Agostinho estava convencido de que Eva
teria sido inú til a Adã o se nã o pudesse ter filhos. O que fazer, entã o,
com a ideia bíblica encontrada neste capítulo de Gênesis de que a
mulher foi feita para ser uma companheira deleitosa, uma fonte de
conforto e força? E quanto ao homem em relaçã o à mulher? Tais
pensamentos recebem atençã o escassa na teologia de Agostinho . 8
Ele argumenta que Deus instituiu o casamento por três motivos,
basicamente: fidelidade — isto é, evitar o sexo ilícito; para o
propó sito da procriaçã o; e como um símbolo da unidade daqueles
que herdarã o a Jerusalém celestial . 9
As posiçõ es de Jerô nimo e de Agostinho foram amplamente
abraçadas pela Igreja Cató lica Romana medieval, que afirmava a
benevolência do casamento, mas argumentava que o celibato seria
uma opçã o muito melhor para aqueles que desejassem buscar uma
vida de santidade e servir a Deus por vocaçã o . 10 Sem surpresa
alguma, por volta da Alta Idade Média — para ser mais específico, no
Segundo Concílio de Latrã o (1139) —, a Igreja Cató lica Romana
legislou que só seriam ordenados aqueles que fossem celibatá rios.
Mas foi precisamente aqui que a realidade colidiu com a legislaçã o
teoló gica, porque muitos sacerdotes em teoria celibatá rios durante a
Alta e na Tardia Idade Média nã o foram capazes de, na verdade,
viver de maneira casta. Como Calvino uma vez observou: “A
virgindade [...] é um dom excelente; mas é dado apenas a alguns” . 11
Um dos grandes escâ ndalos da igreja medieval tardia aconteceu na
casa de um entã o sacerdote paroquiano celibatá rio mas nã o casto; a
mulher tida como sua cozinheira ou faxineira na verdade servia de
concubina . 12 Para Calvino, a postura adotada pela Igreja Cató lica
Romana de exigir o celibato dos seus sacerdotes era, portanto, um
“sistema diabó lico”, “uma tirania moderna — em suma, uma
doutrina de demô nios” . 13 E assim também para muitos da Europa
Ocidental, a Reforma do século XVI nã o só foi uma redescoberta do
coraçã o do evangelho e do caminho de salvaçã o, mas também uma
redescoberta da visã o completamente bíblica do casamento.
Depois que sua esposa, Idelette, faleceu, em março de 1549, Calvino
escreveu para seu amigo e confidente, o reformador Pierre Viret
(1511-1571): “Fui privado da mais excelente companheira de vida,
ela que, mesmo que viesse o infortú nio, solicitamente seria minha
companheira nã o apenas no exílio e no sofrimento, mas até mesmo
na morte” . 14 Essa simples declaraçã o de uma das figuras centrais
da Reforma, ele que costumava ser discreto com seus sentimentos
pessoais, revela uma visã o do casamento diferente daquela do
catolicismo romano medieval. Para os reformadores e aqueles que
seguiram seus passos — como os puritanos do século XVII e os
evangélicos do século XVIII e XIX —, o matrimô nio possui excelência
inata, é vital para o desenvolvimento da afeiçã o e amizade cristã , e é
um dos principais meios de Deus para desenvolver o cará ter cristã o
e a maturidade espiritual. A seguir, essa perspectiva é explorada
pela experiência conjugal de Joã o Calvino, intercalando também com
esta narrativa algumas reflexõ es teoló gicas feitas pelo reformador
francês acerca da instituiçã o do matrimô nio. Por favor, perceba que,
a despeito da instrumentalidade de Calvino, com sua instruçã o nas
leis, na projeçã o de um corpo jurídico abrangente em torno do
casamento e do divó rcio, esta á rea do pensamento do reformador
nã o receberá tratamento direto nas pá ginas a seguir . 15
OS PERÍODOS DE CORTE DE CALVINO
Nã o há evidência de que Calvino tenha seriamente cogitado casar-se
antes de sua estadia temporá ria em Estrasburgo . 16 Como escreveu
por volta desse tempo: “Nunca fui casado, e nã o sei se um dia o serei.
Se eu vier a casar, casar-me-ei a fim de ser mais livre dos muitos
problemas diá rios e, assim, ter mais tempo para o Senhor. A falta de
castidade sexual nã o seria a razã o. Nã o há quem possa acusar-me
disso” . 17 Calvino nã o se opunha ao casamento. Sua aceitaçã o da
doutrina da Reforma certamente acarretou a aprovaçã o do
matrimô nio. Como notou em seu sermã o sobre Efésios 5.31–33: “O
casamento nã o é algo ordenado por homens. Sabemos que Deus é o
seu autor, e que este é feito solene em nome do Senhor” . 18 Em seu
comentá rio sobre o profeta menor Malaquias, Calvino fala disso de
forma ainda mais sucinta: “Deus é o autor do casamento” . 19
Mas é que simplesmente nã o havia uma necessidade vital que o
arrastasse nesta direçã o. Como disse em outra ocasiã o: “Nã o
pertenço ao grupo dos que sã o acusados de atacar [a Igreja] de
Roma, assim como os gregos guerrearam contra Troia apenas para
tomar uma mulher” . 20 Se viesse a casar, ele confessou, seria para
assegurar um contexto no qual fosse liberto das preocupaçõ es da
vida cotidiana e, assim, ter mais tempo para dedicar-se mais
inteiramente à obra de Cristo. Mesmo sem avidez, já alguns de seus
amigos em Estrasburgo estavam ansiosos para vê-lo casado, entre
eles principalmente Martin Bucer (1491-1551) e Guilherme Farel
(1498-1565).
Bucer estava na linha de frente de uma ampla reforma do
casamento, tanto institucional como conceitual, em Estrasburgo e
em vá rias outras cidades da Suíça e da Alemanha. Uma vez monge
dominicano e convertido por meio da pregaçã o de Martinho Lutero
(1483-1546), Bucer casou-se com sua primeira esposa, uma ex-
freira de nome Elisabeth Silbersein, em 1522 e veio a entender o
amor como qualificaçã o indispensá vel para o matrimô nio.
Onde o amor estivesse ausente, chegou a argumentar, ali haveria
alicerce suficiente para o divó rcio . 21 Esta, contudo, nã o era a base
que Calvino posteriormente sancionaria; em harmonia com outros
reformadores, ele rejeitou a doutrina cató lica romana da
indissolubilidade do casamento como definida na Idade Média.
Bucer estava especialmente convencido de que um ministro do
evangelho raramente seria capaz, dados os estresses e as tensõ es do
ministério, de cumprir o chamado sem uma companheira fiel.
Machiel van den Berg corretamente sugere que “Bucer pode bem ser
chamado de o fundador do presbitério protestante” . 22
Apenas alguns meses depois de Calvino ter chegado a Estrasburgo,
em 1538, Bucer encontrou uma mulher para Calvino considerar. As
coisas pareciam caminhar em direçã o ao casamento, visto que, em
fevereiro de 1539, Calvino escreveu para um de seus amigos
pró ximos, Guilherme Farel, perguntando se poderia ir até
Estrasburgo “para solenizar o casamento e pedir a bênçã o sobre ele”
. 23 Calvino disse a Farel que esperava que a noiva chegasse logo
depois da Pá scoa. Ele possivelmente a conheceria pela primeira vez
na ocasiã o . 24 Mas, como se passou, nã o aconteceu, e nã o há
evidência na literatura sobrevivente indicando o porquê.
Agora era a vez de Farel ser o casamenteiro. No seguinte mês de
maio, encontrou uma mulher que poderia ser adequada ao seu
amigo. Escrevendo para verificar o nível de interesse do reformador,
Calvino respondeu com detalhes o que procurava em uma esposa:
“Nã o sou daqueles amantes cegos à razã o que, uma vez atingidos
por bela aparência, amam até mesmo as falhas da pessoa amada. A
ú nica beleza que me atrai é a da [mulher] casta, nã o dada a
melindres, modesta, equilibrada, paciente, e que, espero, seja atenta
à minha saú de” . 25 Esse texto é importante porque nele Calvino
escreve o que lhe era mais caro ao buscar uma esposa em potencial
— isto é, cará ter e demais qualidades interiores como modéstia,
autocontrole e paciência. Em outras palavras, na busca por um
cô njuge, o cristã o deve considerar a piedade genuína como a coisa
mais necessá ria . 26
Em outros textos, Calvino revela nã o subtrair o lugar da beleza física
na escolha de uma esposa. Como salientou, no ano de 1554, em seu
comentá rio de Gênesis 6.2, “Moisés nã o condena o homem por
considerar a beleza, mas somente a lascívia, na escolha de uma
esposa” . 27 E na mesma obra, quando veio a comentar a respeito do
amor de Jacó por Raquel, o reformador observou: “O homem que é
induzido a escolher uma esposa pela elegâ ncia de sua forma nã o
peca necessariamente, contanto que a razã o sempre mantenha o
domínio e controle sobre a insensatez da paixã o [...] Porque muito é
culpá vel o descontrole daquele que escolhe uma esposa apenas por
sua beleza. A excelência de cará ter deve ser estimada mais
importante” . 28
Calvino estava cô nscio de que o homem pode ficar deslumbrado por
uma bela mulher e esquecer-se de que “a excelência de cará ter” é o
que mais importa; daí a sua ênfase de que “a razã o [...] mantenha
domínio” sobre as paixõ es colocadas em movimento pelos olhos.
A mulher proposta por Farel ao amigo, apesar de tudo, logo
desapareceu, e foi entã o substituída por mais duas no ano seguinte.
Em fevereiro de 1540, Calvino escreveu para Farel, relatando que
uma mulher de considerá vel riqueza havia sido proposta ao
reformador como possível esposa. Calvino contou ao amigo que ele
teve “a audá cia de pensar em ter uma mulher”. Inquietava-o,
contudo, a dú vida de se aquela era ou nã o a mulher adequada.
Primeiro, ela era alemã e aparentemente nã o falava francês.
Questionada por Calvino se estaria disposta a aprender o idioma,
pediu tempo para pensar a respeito — o que nã o parecia ser bom
sinal. Além disso, era muito rica, e por isso o reformador parecia
preocupado com a possibilidade de ela achar difícil viver com
alguém como ele, cujo padrã o de vida era abaixo daquele com o qual
ela estava acostumada. Ao mesmo tempo, Antoine (m.1573), irmã o
de Calvino, aproximou-o de outra mulher, muito considerada para o
casamento. Novamente, Calvino pediu a Farel que se aprontasse
para conduzir o casamento deles, que, era sua esperança,
aconteceria antes do dia 10 de março daquele ano. Ele ficaria
parecendo um tolo, acrescentou, se este segundo casamento
também nã o se concretizasse . 29
De fato, ele deve ter ficado bem constrangido, uma vez que esta
segunda corte também nã o deu certo. Quando isso aconteceu, a
família daquela mulher abastada que nã o falava francês tentou
reacender o interesse do reformador por ela. Mas Calvino
abertamente disse a Farel que só consideraria casar-se com ela se
Deus já lhe tivesse tirado todo o juízo . 30 Naquele verã o, ele disse a
Farel: “Eu ainda nã o encontrei uma esposa” e admitiu penosamente
que estava pró ximo de resignar-se à vida do celibato . 31 Dois meses
depois, porém, tudo mudou. Calvino casou-se com uma viú va
conhecida dele já de alguns anos, Idelette van Buren (m. 1549) . 32
O CASAMENTO COM IDELETTE
As raízes de Idelette van Buren estavam na Holanda. Machiel van
den Berg sugere que ela pode ter vindo da província de Gelderland,
onde está a cidade de Buren . 33 Seja como for, seu primeiro marido,
Jean Stordeur, era originá rio da Valô nia, de Liège, hoje na Bélgica.
Por algum tempo, Jean e sua esposa, Idelette, foram anabatistas
convictos. E foi como eminente anabatista que Jean conheceu
Calvino pela primeira vez, em Genebra no mês de março do ano de
1537, quando chegou à cidade para uma discussã o entre os
anabatistas e os pastores reformados. Dois anos depois, agora em
Estrasburgo, Calvino conseguiu mostrar a Jean e Idelette o erro das
visõ es do anabatismo, e ambos tornaram-se membros da
congregaçã o francesa que Calvino lá pastoreava.
Nã o muito tempo depois Jean morreu de uma praga, na primavera
de 1540. Obviamente, Calvino de início havia conhecido Idelette em
discussõ es que ela e seu marido tiveram com ele acerca da fé
reformada. Depois, quando Jean estava prestes a falecer, Calvino
conheceu mais de Idelette enquanto fazia visitas pastorais à casa
deles. O que Calvino viu nela causou-lhe uma profunda impressã o,
tamanha que, por volta do dia 17 de agosto de 1540, casou-se com
ela. Idelette tinha dois filhos do primeiro casamento, um menino e
uma menina, e portanto Calvino herdou uma família já pronta, por
assim dizer. Embora o reformador tivesse acertadamente enfatizado
que nã o deve ser a beleza externa a determinar um casamento, ela
era, de acordo com Farel, muito bonita . 34
Pouco se sabe da vida conjugal dos dois, se comparada à de outros
reformadores famosos. O ilustre casamento de Martinho Lutero com
Katharina von Bora, por exemplo, acabou por se tornar exemplo
pú blico para os protestantes. Nã o foi assim com o casamento de
Calvino, que estava bastante alinhado com sua já habitual discriçã o
nas questõ es de cunho pessoal. No entanto, no ano seguinte à morte
de Idelette, em 1549, ele afirmou em seu pequeno tratado Sobre os
Escâ ndalos [Concerning Scandals ] (1550) que Idelette era “uma
mulher rara” (singularis exempli femina ; literalmente, mulher de um
tipo incompará ve l 35 ).
E esta breve declaraçã o se encaixa com o que também aprendemos
sobre Idelette em uma carta que Calvino escreveu para Pierre Viret
no dia 29 de março de 1549, passado um tempo apó s o falecimento.
Nela, Calvino afirmou:
Embora a morte de minha esposa me tenha sido extremamente
dolorosa, eu ainda subjugo minha afliçã o o melhor que posso [...]
Você sabe bem o suficiente quã o frá gil, ou sensível, minha mente
está . Nã o tivesse eu recebido poderoso autocontrole, nã o suportaria
por tanto tempo. E, verdadeiramente, minha tristeza nã o é de
comum fonte. Fui privado da melhor companhia possível de toda a
minha vida, da companhia que, se lhe fosse pedido, nã o só estaria
pronta a participar da minha pobreza, mas até mesmo da minha
morte. Enquanto viveu, ela foi minha fiel colaboradora no ministério
. 36
Aqui, no espaço de algumas linhas escritas por um coraçã o
entristecido, Calvino resumiu o entendimento reformado do
casamento: é uma uniã o de aliados íntimos. Idelette havia sido a
“melhor companhia possível” de toda a sua vida (optima socio
vitae ), uma “colaboradora fiel” em seu ministério (fida ministerii me
iadjutrix ).
Por trá s desse entendimento do casamento está Gênesis 2.18–24, no
qual lemos que o fato de Adã o estar sozinho nã o é “bom”, que é
surpreendente porque tudo o mais que Deus havia criado até aquele
momento era bom. Entã o, lemos nesta passagem que o Senhor fez
para Adã o uma “ajudadora” (‘ezer ), palavra que, de acordo com o
comentá rio de Calvino nesse texto, vai ao coraçã o do entendimento
que ele tinha acerca do casamento. Conforme seu comentá rio nessa
passagem de Gênesis:
Agora, desde que Deus designou a mulher para ajudar o homem, Ele
[...] pronuncia que o casamento verdadeiramente provará ser o
melhor auxílio para a vida de um homem [...] O provérbio de vulgar
estirpe diz que, na verdade, ela é um mal necessá rio; mas a voz de
Deus deve ser de fato ouvida, e esta declara que a mulher é dada
como companheira do homem e dele é aliada, a fim de auxiliá -lo
para viver bem . 37
Mas a queda da humanidade — que, nos dias de Calvino, era tratada
sob perspectivas antibíblicas sobre o casamento, o celibato e a
sexualidade, promovidas pelos teó logos cató licos romanos — tem
desfigurado profundamente as intençõ es de Deus para o estado
sagrado do matrimô nio. Como Calvino continuou a explicar:
Confesso, na verdade, que nesse estado corrupto da humanidade, a
bênçã o de Deus aqui descrita nã o é percebida nem floresce; mas a
causa do mal deve ser considerada, isto é, que a ordem da natureza
designada por Deus foi por nó s invertida. Porque, se a integridade
do homem tivesse permanecido até este dia tal como era desde o
início, a instituiçã o divina seria claramente discernida, e a mais doce
harmonia reinaria no matrimô nio; porque o marido olharia para
Deus com reverência e a mulher lhe seria uma companheira fiel, e
ambos, em consenso, cultivariam uma relaçã o sagrada, amigá vel e
pacífica . 38
E esta era a convicçã o acerca do casamento, desta forma enraizada
em só lida reflexã o na Escritura, que levou Calvino a fazer uma ampla
variedade de declaraçõ es sobre o casamento, como aquele que é “o
vínculo sagrado”, “santa comunhã o”, “uma parceria divina”, “uma
associaçã o amá vel”, “o melhor apoio para a vida” e “o tipo mais
sagrado de companhia em todo o mundo” . 39
GERANDO FILHOS
Para Calvino, o segundo propó sito do casamento era ter filhos. E
assim o reformador argumentou que nã o deveriam casar-se aqueles
que nã o fossem capazes de manter relaçõ es sexuais, porque tal
forma de uniã o “anularia completamente a natureza e o propó sito
do casamento” . 40 Em julho de 1542, durante o primeiro verã o de
Calvino em Genebra, Idelette deu à luz um menino prematuro, ao
qual deram o nome de Jacques . 41 Por volta da metade de agosto, no
entanto, a criança faleceu. A esposa de Pierre Viret escreveu uma
carta de consolo para Idelette, pela qual Calvino agradeceu em nome
da esposa. Ele salientou que ela estava tã o tomada de tristeza que
nã o podia nem mesmo ditar uma carta em resposta. “O Senhor”, ele
disse a Viret, “de fato trouxe uma ferida severa e amarga na morte
de nosso pequeno filho. Mas Ele pró prio é Pai, e sabe melhor o que é
bom para os seus filhos” . 42 Calvino obteve forças a partir de sua
convicçã o de que Deus sempre age em bondade para com seus
filhos. Em 1544, Idelette engravidou novamente e dessa vez deu à
luz uma menina, que também logo faleceu . 43 Um terceiro filho
nasceria, contudo também ele foi levado logo apó s o nascimento.
Alguns anos antes da morte de Calvino, um dos seus antigos
cooperadores, François Bauduin, que havia se apartado do
reformador e escrito uma amarga biografia a seu respeito, afirmou
que Deus o estava punindo por seus erros ao nã o lhe conceder
nenhum filho. Ao que Calvino respondeu sobriamente: “Tenho
inú meros filhos por todo o mundo cristã o”, como de fato era o caso .
44
Parte 4
O Legado
de Calvino
Capítulo 12
O círculo de amizades de Calvino: impulsionando um
movimento permanente
David W. Hall
Ele negou ter escrito com ó dio sobre os outros, e confirmou que os
pastores haviam eleito Beza como seu sucessor. “Tratem de ajudá -lo,
porque seu fardo é pesado e tã o á rduo que ele pode ser subjugado.
Tratem de apoiá -lo. Quanto a ele, sei que tem boa vontade e fará o
que for possível”, exortou Calvino à beira da morte. Além do mais,
ele instou que “nã o fizessem inovaçõ es, porque com frequência
pedem novidade”. Ele disse: “nã o que eu deseje por ambiçã o pessoal
que o meu modo permaneça e que nã o se busque nada melhor, mas
porque todas as mudanças sã o perigosas” . 54 O conselho deste guia
está repleto de camadas e mais camadas de sabedoria.
Quando Calvino faleceu no dia 27 de maio de 1564, quase um mês
depois destes comentá rios, a cidade lamentou a morte de seu
cidadã o mais sá bio e pai espiritual. Ele foi sepultado em um
cemitério comum, em Plein Palais, encontrando finalmente o
anonimato que tanto desejava. Essa humildade, um historiador
escreveu, era característica de Calvino tanto em vida como foi em
sua morte . 55 A ampla notoriedade que o seu falecimento teve e a
tristeza que causou deveriam servir de correçã o a qualquer visã o
que falha ao afirmar que os contemporâ neos da época ou o
desprezaram ou subestimaram sua importâ ncia. Calvino foi
lamentado, e seu grande nú mero de amigos manteriam sua memó ria
viva muito mais que as pessoas da época poderiam prever. O bom
resultado deste mentor ainda foi reconhecido e celebrado por
muitos outros.
CONCLUSÃO
Amizades assim mostram como os reformadores lutaram pela
unidade; ao mesmo tempo, sem deixar de lado a repreensã o. Calvino
poderia severamente acusar Melanchton de ser tímido, ligeiro em
abrir mã o de pontos cardeais e indisposto a traçar limites ortodoxos
em determinadas á reas. Ao mesmo tempo, Calvino escreveu,
interpretar que por meras repreensõ es, para as quais Melanchton
havia lhe dado total liberdade, ele e o tenente de Lutero estavam
“em oposiçã o muito prejudica tanto um quanto o outro, bem como
toda a Igreja de Deus” . 56 Sim, esses amigos reformadores
defenderam a reputaçã o um do outro e procuraram construir pontes
baseadas na crença comum, mas nã o, eles nem sempre
concordavam. Calvino, porém, nã o escreveria para Melanchton até o
mês de dezembro de 1558, incitando-o a permitir seu zelo queimar
com maior ardor (notando que mesmo “amigos piedosos” estavam
criticando sua timidez) enquanto o consolava: “O que quer que
aconteça, cultivemos com sinceridade uma afeiçã o fraternal um para
como o outro, a qual nenhuma artimanha de Sataná s conseguirá
destruir” . 57
Poucos (isso se algum) movimentos sociais e teoló gicos sobrevivem
se liderados por um ú nico indivíduo. Para haver impacto duradouro
um conjunto de ideias precisa ser atraente para mais do que
algumas poucas pessoas. Nã o é acidental, portanto, o fato de
universidades ou escolas serem de um modo geral mais longevas do
que até mesmo o pensador mais brilhante de uma geraçã o. Barth
teria pouca influência nã o fossem os barthianos; o mesmo é verdade
sobre Lutero e os luteranos. De maneira interessante, poucos se
identificam como protestantes genéricos; a maioria das vertentes do
protestantismo que se desenvolve e sobrevive ancora-se em um
Lutero, um Calvino, um Zuínglio. Cada uma destas tradiçõ es
protestantes que perduraram parece conter radiantes círculos de
amizade em seu â mago.
Capítulo 13
Calvino como calvinista
Joel R. Beeke
Capítulo 14
Calvinismo e avivamento
Michael A. G. Haykin
Livingstone continuou a pregar com esse tom por mais uma hora,
experimentando, em suas pró prias palavras, “liberdade tamanha e
um coraçã o de tal forma enternecido como jamais experimentei em
toda a minha vida pú blica”. O impacto de tã o rico derramar do
Espírito de Deus resultou em cerca de quinhentos convertidos
naquele dia . 6
WILLIAM WILLIAMS E O AVIVAMENTO GALÊS
No século seguinte, em 1738, um estudante de medicina de vinte e
um anos chamado William Williams (1717-1791) voltava para sua
casa, situada em Carmarthenshire, quando aconteceu de passar por
uma pequena vila chamada Talgarth, em Breconshir e. 7 Era
domingo, o sino da igreja da vila chamava os moradores da vila ao
momento de adoraçã o, e Williams os acompanhou. Mas o culto
naquela manhã foi espiritualmente frio e sem vida. Assim que saiu
da igreja, no entanto, ele ficou maravilhado ao avistar um jovem em
pé bem sobre um sepulcro, o evangelista Howell Harris (1714-
1773). Harris havia sido impedido de pregar dentro da igreja, e
assim recorreu ao cemitério. Aquele foi um sermã o, recordou
Williams tempos depois, “excepcionalmente aterrorizante”. Ao seu
redor as palavras daquele evangelista estavam sendo usadas pelo
Espírito de Deus e direcionadas a coraçõ es pecaminosos: pecadores
estavam indo a Cristo.
Diferente daquele avivamento em Shotts, no entanto, esse incidente
fez parte de um avivamento nacional. Conhecido como o Grande
Despertamento no País de Gales, Harris descreveu seus primeiros
dias para o pregador inglês George Whitefield (1714-1770) da
seguinte forma:
O derramar do bendito Espírito é agora tã o abundante e ordiná rio,
que creio ter sido por nossa deliberada atitude que ainda ninguém
foi por Ele movido a inundar a boca com palavras de esplendor. Ele
desce como o Espírito de sabedoria, para iluminar a alma, ensinar,
instruir, nutrir, separar as obras da luz das obras das trevas, ou
como o Espírito de ternura e amor, descendo como orvalho sobre a
alma do crente, com ternura e dulçor, derramando graça; ou como o
Espírito do zelo fervoroso, deixando o coraçã o do crente em chamas,
fazendo seus olhos arderem em esplendor, adoraçã o e regozijo. O
Espírito pode até mesmo descer como Espírito de poder, fazendo o
céu se abrir e o inferno tremer. 8
PALAVRAS DE CONCLUSÃO
No ano de 1814, perto de morrer, Sutcliff, entre outras coisas mais,
comentou algo em particular que ficou na mente de sua família e
amigos: “Meu desejo é que eu tivesse orado mais”. Declaraçã o
impressionante, tendo em vista que Sutcliff havia sido figura-chave
justamente num período movido à oraçã o que definitivamente foi
usado por Deus para trazer avivamento sobre as igrejas batistas
calvinistas de fala inglesa. Ao ouvir as palavras do querido amigo,
Andrew Fuller fez a seguinte reflexã o:
Que eu tivesse orado mais. Nã o suponho que as palavras do irmã o
Sutcliff fossem por ter orado com mais frequência, mas de forma
mais espiritual . Meu desejo é que eu tivesse orado mais pela
influência do Espírito Santo, pedindo para ter desfrutado mais do
poder pró prio à vida de piedade. Desejaria ter orado mais pelo
auxílio do Espírito Santo sobre meus estudos e sermõ es: que eu
tivesse presenciado mais da bênçã o de Deus atingindo meu
ministério. Meu desejo é que eu tivesse orado mais pelo derramar
do Espírito Santo sobre os esforços de nossos amigos na Índia; que
eu pudesse ter testemunhado mais dos efeitos de seus empenhos na
conversã o dos pagã os. 28
Posfá cio
A Reforma tem provado ser o evento mais significativo na histó ria
do cristianismo do milênio passado. E dentro deste “evento” que
levou quase um século para acontecer, a vida de Joã o Calvino é
indiscutivelmente a mais influente, tirando Martinho Lutero. Nas
décadas apó s a morte de Calvino e ao longo do século XVII, o
calvinismo se tornou um ethos e o corpo de pensamento distinto
que cruzou fronteiras nacionais e denominacionais, moldando a vida
da igreja na Europa Oriental em lugares como Lituâ nia e Polô nia até
as naçõ es celtas das Ilhas Britâ nicas, Escó cia e País de Gales, e até
mesmo no Novo Mundo com as colô nias britâ nicas da Nova
Inglaterra.
Denominaçõ es inteiras já desenvolvidas se identificaram com o
formato de seu pensamento, das igrejas reformadas na Alemanha,
por meio das quais o Catecismo de Heidelberg foi primeiramente
desenvolvido, até as congregaçõ es reformadas na Holanda que
defenderam sua herança calvinista no Sínodo de Dort. Mas como os
textos neste livro têm demonstrado, seu legado também abarca a
política — é difícil de imaginar a Revoluçã o Americana sem o
pensamento de Calvino sobre o direito de magistrados menores
resistirem a governos opressivo s 1 —, a legislaçã o do casamento e
questõ es sociais profundas como o combate à pobreza. Na verdade,
dificilmente há alguma á rea da vida na Histó ria Moderna e na
civilizaçã o ocidental que nã o seja permeada pela influência de
Calvino. Como o estadista inglês John Morley disse bem há mais de
cem anos atrá s, “Omitir Calvino das forças da evoluçã o ocidental é
ler a histó ria com um olho fechado” . 2
Mas se fosse perguntado a Calvino por qual motivo ele mais
desejaria ser lembrado — embora seja difícil de imaginá -lo
respondendo a tal pergunta, visto que deliberadamente procurava
nã o falar sobre si mesmo —, ele provavelmente citaria o reino da
pregaçã o e da piedade. Em sua mente, a pregaçã o e o ensino da
perfeita Palavra de Deus estã o no centro do seu chamado à cidade
de Genebra, a qual, pela publicaçã o de seus sermõ es e comentá rios,
deu a ele uma congregaçã o mundial. Sua teologia sistemá tica, As
Institutas , é acima de tudo um tratado de piedade. A explicaçã o
teoló gica de Calvino sobre conhecer a Deus como Ele mesmo se
revela em sua Palavra, conhecer a natureza da condiçã o humana e a
queda, a necessidade de justificaçã o e sua natureza profundamente
forense, a forma cristocêntrica da salvaçã o e uniã o com Cristo, a
obra do Espírito na igreja, e a conclusã o de Deus no tempo pelos
ú ltimos dias, tem este grande foco: como viver essa vida terrena
para a gló ria de Deus.
Nã o é concedido a todos que vivem neste mundo o impactar os seus
contemporâ neos e a sua posteridade a ponto de poder-se dizer que
nada permaneceu igual depois de terem deixado esta cena terrena.
Mas Calvino — em vida e pensamento — foi tamanha dá diva.
CAPÍTULO 13
[ 1 ] Para exemplo, veja Basil Hall, Calvin against the Calvinists, in: John Calvin ,
G.E. Duffield (ed.). Appleford: Sutton Courtenay Press, 1966. p. 19-37. O capítulo foi
primeiramente entregue como um discurso em uma Conferência de Reforma organizada
por Jon Payne.
[ 2 ] Carl Trueman , Calvin and Reformed Orthodoxy, in: The Calvin Handbook,
Herman J. Selderhuis (ed.) Grand Rapids: Eerdmans, 2009. p. 473.
[ 3 ] Trueman . Calvin and Reformed Orthodoxy. p. 473.
[ 4 ] G. C. Berkouwer, The Providence of God . Grand Rapids: Eerdmans, 1952. p. 7-
10.
[ 5 ] B. B. Warfield , Biblical and Theological Studies . Philadelphia: Presbyterian
and Reformed, 1952. p. 301, 323-24.
[ 6 ] Mason Pressly, citado em H. Henry Meeter , The Basic Ideas of Calvinism, 6th
ed., rev. Paul A. Marshall. Grand Rapids: Baker, 1990. p. 17.
[ 7 ] B. B. Warfield . Calvin as a Theologian and Calvinism Today . London:
Evangelical Press, 1969. p. 23-24.
[ 8 ] Ver Beeke , The Quest for Full Assurance, 111–64. Cf. Joel R. Beeke, Knowing
and Growing in Assurance of Faith . Rosshire, Scotland: Christian Focus, 2017.
[ 9 ] Trueman . Calvin and Reformed Orthodoxy. p. 476.
[ 10 ] Trueman . Calvin and Reformed Orthodoxy . p. 472.
[ 11 ] George Ella . Henry Bullinger (1504–1575): Shepherd of the Churches, in:
The Decades of Henry Bullinger , Thomas Harding (ed.), intro. George Ella and Joel R.
Beeke. Grand Rapids: Reformation Heritage Books, 2004. 1:xlix.
[ 12 ] Trueman . Calvin and Reformed Orthodoxy. p. 476.
[ 13 ] Richard A. Muller. Christ and the Decree: Christology and Predestination in
Reformed Theology from Calvin to Perkins . Durham, N.C.: Labyrinth, 1986. p. 79–83.
[ 14 ] Joã o Calvino . Comentá rio em 1 Timó teo, 2.4.
[ 15 ] Roger Nicole . Evangelical Theological Society Bulletin . Fall 1967. p. 207.
[ 16 ] William Symington . The Atonement and Intercession of Christ . Grand
Rapids: Reformation Heritage Books, 2006. p. 185-86.
[ 17 ] Symington . The Atonement and Intercession of Christ . p. 185-86.
[ 18 ] Joã o Calvino . Tracts and Letters . 2:527.
[ 19 ] R. T. Kendall . Calvin and English Calvinism to 1649 . Carlisle, England:
Paternoster, 1997.
[ 20 ] R. T. Kendall, The Puritan Modification of Calvin’s Theology, in : John Calvin
, ed. W. Stanford Reid. Grand Rapids: Zondervan, 1982. p. 214.
[ 21 ] Roger Nicole, John Calvin’s View of the Extent of the Atonement, in : Standing
Forth: Collected Writings of Roger Nicole . Fearn, Ross-shire, Scotland: Mentor, 2002. p. 283-
312.
[ 22 ] Trueman , Calvin and Reformed Orthodoxy. p. 474. Na verdade, as Institutas
demonstram a mesma sensibilidade em alguns pontos.
[ 23 ] Beeke . Quest for Full Assurance. p. 3-72, 111-64.
[ 24 ] Trueman . Calvin and Reformed Orthodoxy. p. 474.
[ 25 ] Trueman . Calvin and Reformed Orthodoxy. p. 475.
[ 26 ] Trueman . Calvin and Reformed Orthodoxy. p. 477-78.
[ 27 ] Paul Helm . Calvin and the Calvinists . Edinburgh: Banner of Truth Trust,
1982 51-70.
[ 28 ] Helm . Calvin and the Calvinists . p. 71-81.
[ 29 ] Trueman . Calvin and Reformed Orthodoxy . p. 479.
[ 30 ] Maurice Roberts . Before the Omnipotent’s Throne, Tabletalk, 16, no. 11
(November 1992): 17.
[ 31 ] The Psalter . Grand Rapids: Reformation Heritage Books, 2003. no. 236,
stanzas 1-2.
CAPÍTULO 14
[ 1 ] Para o texto completo, veja Dr. Martyn Lloyd-Jones, The Puritans: Their Origins
and Successors: Addresses Delivered at the Puritan and Westminster Conferences 1959–
1978 . Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1987. p. 1-23.
[ 2 ] Lloyd-Jones, The Puritans: Their Origins and Successors . p. 1-2.
[ 3 ] Lloyd-Jones, The Puritans: Their Origins and Successors . p. 4-5.
[ 4 ] Para boas discussõ es sobre o avivamento durante a Era Puritana, veja Iain
Murray, The Puritans and Revival Christianity , Banner of Truth 72, setembro de 1969,
p. 9-19; J. I. Packer, Puritanism as a Movement of Revival in: A Quest for Godliness: The
Puritan Vision of the Christian Life , Wheaton, Ill.: Crossway, 1994, p. 35-48; e R. E. Davies,
I Will Pour Out My Spirit: A History and Theology of Revivals and Evangelical Awakenings ,
Tunbridge Wells, Kent: Monarch, 1992, p. 63-68.
[ 5 ] Como citado em Revival Snapshots: Kirk of Shotts, Evangelical Times 31, no. 6
(June 1997): 16.
[ 6 ] Michael J. Crawford, Seasons of Grace: Colonial New England’s Revival Tradition
in Its British Context . New York: Oxford University Press, 1991. p. 24-25.
[ 7 ] Para uma biografia de Williams, veja Eifion Evans , Bread of Heaven: The Life
and Work of William Williams , Pantycelyn. Bryntirion, Bridgend: Bryntirion Press, 2010.
[ 8 ] Como citado em Eifion Evans, Daniel Rowland and the Great Evangelical
Awakening in Wales . Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1985. p. 243.
[ 9 ] Como citado em Tim Shenton, Christmas Evans: The Life and Times of the One-
Eyed Preacher of Wales . Darlington, U. K.: Evangelical Press, 2001. p. 34.
[ 10 ] Eifion Evans, A Most Gifted, Respected and Useful Man: Part 1: A Survey of
Williams’s Life, in: William Williams, Pursued by God , trans. Eifion Evans. Bryntirion,
Bridgend: Evangelical Press of Wales, 1996. p. 17.
[ 11 ] “Pantycelyn” foi o nome da antiga casa de sua mã e, onde ele morou a partir de
1748, apó s seu casamento.
[ 12 ] Evans, Daniel Rowland and the Great Evangelical Awakening in: Wales . p.
63.
[ 13 ] D. Martyn Lloyd-Jones, William Williams and Welsh Calvinistic Methodism, in:
The Puritans: Their Origins and Successors . Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1987. p. 192.
[ 14 ] Evans, Daniel Rowland and the Great Evangelical Awakening in: Wales . p.
63.
[ 15 ] W. Glanffrwd Thomas, Welsh Hymnody, in: Dictionary of Hymnology ,
John Julian. (ed.) 1907; repr., Grand Rapids: Kregel, 1985. 2:1251.
[ 16 ] Como citado em Evans, Daniel Rowland and the Great Evangelical Awakening
in: Wales . p. 63.
[ 17 ] Como citado em Evans, Daniel Rowland and the Great Evangelical Awakening
in: Wales . p. 296.
[ 18 ] The Complete Works of the Rev. Andrew Fuller , Joseph Belcher. (ed.)
Harrisonburg, Va.: Sprinkle Publications, 1988. 3:320.
[ 19 ] Complete Works of the Rev. Andrew Fuller. 3:320.
[ 20 ] Complete Works of the Rev. Andrew Fuller. 3:324.
[ 21 ] Complete Works of the Rev. Andrew Fuller. 3:324.
[ 22 ] The Prayer Call of 1784 . In: John Ryland Jr. The Nature, Evidences, and
Advantages, of Humility . Northamptonshire Association, 1784. p. 12. Para uma discussã o
detalhada desse chamado à oraçã o e seu contexto histó rico, veja Michael A. G. Haykin, One
Heart and One Soul: John Sutcliff of Olney, His Friends and His Times (Darlington, U.K.:
Evangelical Press, 1994). p. 153–71.
[ 23 ] Thomas Blundel, The River of Life Impeded . In: Sermons on Various Subjects
(London, 1806). p. 183, 184.
[ 24 ] Complete Works of the Rev. Andrew Fuller . 3:318.
[ 25 ] Como citado em Arthur Fawcett, The Cambuslang Revival (London: Banner
of Truth Trust, 1971). p. 230.
[ 26 ] Os trechos das cartas de Andrew Fuller sã o todos citados em Doyle L. Young,
The Place of Andrew Fuller in the Developing Modern Missions Movement. PhD thesis,
Southwestern Baptist Theological Seminary, 1981. p. 232.
[ 27 ] John Scott. Letters and Papers of the Rev. Thomas Scott (London: L. B. Seeley
and Son, 1824). p. 254.
[ 28 ] Como citado em John W. Morris, Memoirs of the Life and Writings of the Rev
Andrew Fuller (London, 1816). p. 443.
POSFÁCIO
[ 1 ] Ver o argumento detalhado de Gary Lee Steward, Justifying Revolution: The
American Clergy’s Argument for Political Resistance , 1763-1783. PhD diss., The Southern
Baptist Theological Seminary, 2017.
[ 2 ] Como citado em Richard Taylor Stevenson, John Calvin, the Statesman
(Cincinnati: Jennings and Graham; New York: Eaton and Mains, 1907). p. 5.
Table of Contents
Direitos & Créditos
Recomendaçõ es
Dedicató rias
Sumá rio
Prefá cio
Parte 1 - Uma Breve Biografia de Joã o Calvino
Capítulo 1 - O Jovem Calvino: preparaçã o para uma vida de
ministério
Capítulo 2 - Liçõ es prá ticas da vida de Idelette Calvino
Parte 2 - A Teologia Sistemá tica de Joã o Calvino
Capítulo 3 - “Proferindo louvores ao Pai, ao Filho e ao Espírito”: Joã o
Calvino sobre a triunidade divina
Capítulo 4 - Calvino acerca das similaridades e diferenças entre a
eleiçã o e a reprovaçã o
Capítulo 5 - Calvino acerca do Espírito Santo
Capítulo 6 - Apêndices explícitos e implícitos à visã o de Calvino a
respeito da justificaçã o pela fé
Parte 3 - A Teologia Pastoral e Política de Calvino
Capítulo 7 - A pregaçã o experiencial de Calvino
Capítulo 8 - “Um sacrifício suave a Deus”: Joã o Calvino e o empenho
missioná rio da igreja
Capítulo 9 - Calvino sobre os princípios do governo
Capítulo 10 - Calvino acerca da guerra: ministério diaconal em
Genebra e além
Capítulo 11 - O casamento cristã o no século XXI: ouvindo Calvino
sobre o propó sito do casamento
Parte 4 - O Legado de Calvino
Capítulo 12 - O círculo de amizades de Calvino: impulsionando um
movimento permanente
Capítulo 13 - Calvino como calvinista
Capítulo 14 - Calvinismo e reavivamento
Posfá cio
Abreviaçõ es e Fontes Utilizadas no Original
Referências e Notas Bibliográ ficas