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Misticismo, culto à personalidade, costumes estranhos e pregação espúria

infectam grande parte de nossas igrejas hoje. Neste livro, de modo acessível
e contextualizado, e com lágrimas nos olhos, o Pr. Renato Vargens dá um
basta nesses enganos e nos apresenta o antídoto: as doutrinas da graça,
sistematizadas nos cinco solas que foram (e ainda são) a base da Reforma. O
Antídoto é claro: somente o retorno às Escrituras pode estabelecer igrejas
saudáveis e tementes a Deus. Imperdível!
Norma Braga, escritora

Reforma Agora do Pastor Renato Vargens é para ser ministrado contra os


modismos e distorções de ensino e prática do cenário evangélico e do
neopentecostalismo moderno. Com habilidade e respaldo bíblico ele nos
indica que o remédio não mudou. A mesma volta às Escrituras, observada na
Reforma do Século 16, continua válida e necessária aos nossos dias. Os
mesmo pilares doutrinários levantados na Reforma, estão fraquejando e
necessitam ser reforçados e reafirmados! A igreja de Cristo deve ouvir o que
é dito neste livro.
Solano Portela. Escritor. Diretor Financeiro da
Universidade Presbiteriana Mackenzie

Pouca gente conhece o movimento neopentecostal como o Pr. Renato


Vargens. E pouca gente está capacitada, como ele, a analisar este movimento
e oferecer uma alternativa bíblica aos que estão cansados dos abusos e erros
deste movimento. Reforma Agora deve ser lido por todos os evangélicos que
anseiam referenciais sólidos para sua vida cristã.
Rev. Dr. Augustus Nicodemus Lopes, professor de Novo Testamento do
Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper e pastor
auxiliar da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro
Reforma Agora
O Antídoto para a Confusão Evangélica no Brasil
por Renato Vargens
Copyright © 2013 Renato Vargens

Copyright © 2013 Editora Fiel


Primeira Edição em Português: 2013

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária

Proibida a reprodução deste livro por quaisquer meios, sem a permissão escrita dos editores, salvo em
breves citações, com indicação da fonte.

Diretor: James Richard Denham III


Editor: Tiago J. Santos Filho
Revisão: Franklin Ferreira,
Marliene Paschoal
Diagramação: Rubner Durais
Capa: Rubner Durais
Ebook: Yuri Freire

ISBN: 978-85-8132-319-0

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Vargens, Renato
Reforma Agora: O Antídoto para a Confusão Evangélica no
Brasil / Renato Vargens. -- São José dos Campos, SP : Editora
Fiel, 2015.
2Mb ; ePUB
ISBN 978-85-8132-319-0
11. Cristianismo 2. Graça (Teologia) 3. Igreja Reformada -
Doutrinas 4. Reforma 5. Teologia I. Título.
13-08104 CDD-230.42
Caixa Postal, 1601
CEP 12230-971
São José dos Campos-SP
PABX.: (12) 3919-9999
www.editorafiel.com.br
1nd1ce

Apresentação

Prefácio

1 – A Reforma Protestante e a introdução aos cinco solas

2 – Sola Scriputura

3 – Sola Gratia

4 – Sola Fide

5 – Solus Christus

6 – Soli Deo Gloria

7 – Um Antídoto: O Retorno ao Estudo Bíblico

8 – Perguntas e Respostas do Blog Renato Vargens

Conclusão
por uma reforma na 1greja
bras1le1ra

Este livro de Renato Vargens não é apenas uma denúncia do estado em


que segmentos da igreja evangélica brasileira se encontra. A história desta
lembra a descrição oferecida pelo mártir cristão Dietrich Bonhoeffer, ao falar
do estado da religião que ele encontrou nos Estados Unidos em meados de
1930: Protestantismus ohne Reformation, “protestantismo sem reforma”.
Tristemente, vocábulos importantes da fé cristã, como pecado,
arrependimento, juízo, justiça, cruz, e até mesmo Cristo e ressurreição vão
desaparecendo do discurso de parte dos evangélicos brasileiros.
Em algumas faculdades teológicas e mesmo denominações há aqueles,
associados ao liberalismo teológico, que substituíram a confiança na
revelação pela suposição de que se pode encontrar a verdade por meio da
racionalidade, como se, do começo ao fim, Deus não viesse a nós, em
revelação. Entre os novos movimentos religiosos neopentecostais há aqueles
que supõem poder controlar pelo uso de palavras mágicas o Deus vivo, o
Senhor dos exércitos, o todo-poderoso Pai, Filho, Espírito Santo.
Melancolicamente, estas palavras, definidoras do cristianismo, foram
esvaziadas e substituídas por todos aqueles associados a estes grupos.
Todos estes abandonaram o Evangelho, correndo atrás de outro tipo de
anúncio (Gl 1.6-9), mera perversão ou caricatura, mas não a boa nova da
salvação de que, por meio da morte e ressurreição de Cristo, pecadores
podem ser justificados pela fé somente.
O que essa obra oferece é um chamado ao fundamento da fé cristã, como
encontrado nos famosos lemas que resumem o cerne da mensagem bíblica e
evangélica: Deus fala a todos somente na Escritura (sola Scriptura); somos
salvos somente pela graça imerecida (sola gratia), que vem aos pecadores
somente por meio da morte de Cristo (solus Christus); e este é recebido pela
fé somente (sola fide); para que em tudo somente Deus receba o louvor e a
glória (soli Deo gloria).
Precisamos receber e nos agarrar esta mensagem bíblica e evangélica com
toda a seriedade. E sobre isso faríamos bem em ouvir com temor o
reformador Martinho Lutero. Em 1522, ele preparou uma série de sermões
de Natal para sua congregação, e num deles afirmou:

O guarda de um bordel público é menos pecador que o pregador que não entrega o
verdadeiro Evangelho, e o bordel não é tão ruim assim como a igreja do falso
pregador. (...) Isto os surpreende? Lembrem-se de que a doutrina do falso
pregador não causa nada mais que dia-a-dia desviar e violar almas recém-nascidas
no batismo — cristãos jovens, almas tenras, noivas virgens, puras e consagradas a
Cristo. Considerando que o mal é feito espiritualmente e não fisicamente como
num bordel, ninguém o observa: mas Deus está incomensuravelmente
descontente.

Que Deus use esta nova obra de meu querido irmão Renato Vargens para
quebrantamento, renovação e retorno a Deus, que é rico em misericórdia,
não apenas para renovar nossa alegria nele, mas também para nos conceder
novo alento e renovada paixão para pregar a Escritura Sagrada, “o berço pelo
qual o Cristo vem a nós” (Lutero).

Franklin Ferreira
Diretor do Seminário Martin Bucer
prefac1o

A explosão evangélica no Brasil e o seu crescimento numérico parecem ser


caracterizados, em boa parte, pela satisfação dos interesses de seus
“consumidores”.
Ouso afirmar que o ambiente de “livre concorrência” entre algumas
comunidades cristãs no Brasil tem levado seus líderes a adotarem estratégias
semelhantes às utilizadas por empresas de marketing, buscando oferecer
seus “produtos” no mercado, à semelhança do que se vê na mentalidade
comercial. Nessas comunidades cristãs, a preferência dos fiéis determina a
dinâmica dos discursos religiosos e das práticas a eles relacionadas. Junta-se
a isso o fato de que, nos últimos anos, o evangelicalismo brasileiro tem
experimentado uma grave crise teológica.
Ao pensar na realidade da igreja, sinto-me profundamente preocupado
com os rumos da fé cristã em nosso país. Pois, o que se vê, de forma quase
generalizada, é uma espiritualidade ensimesmada, oca e egoísta, além de
centenas de “pastores” movidos por ganância e poder, os quais têm vivido
obstinadamente a procura de títulos cada vez mais impressionantes.
Infelizmente a “apostolização” moderna tem feito muitos destes pequenos
reis, os quais em cerimônias nababescas são coroados como tais. Tem havido
casos tais como o de um “apóstolo” que, num cerimonial cheio de pompa, foi
coroado, recebendo como símbolo de sua autoridade apostólica um lindo e
precioso anel de brilhantes.
Sem sombra de dúvidas parte da igreja evangélica brasileira encontra-se
gravemente enferma. Entendo que, se uma mudança de direção não for feita
nos próximos anos, corremos o sério risco de experimentarmos uma
bancarrota espiritual. Sinto que não podemos mais suportar o maniqueismo
e dualismo promovidos pelos gurus da “batalha espiritual”; não é possível
que consideremos normais as loucuras proferidas pelos profetas da
“confissão positiva”, os quais, mediante revelações pessoais, têm escravizado
o rebanho de Cristo com doutrinas que jamais foram ensinadas pela Bíblia.
Não podemos mais suportar as invenções humanas – e haja criatividade para
elas – que assolam o povo de Deus, impondo-lhe pesados fardos.
Infelizmente estamos vivendo um tempo de miscigenação doutrinária,
onde os cultos evangélicos em vez de se fundamentarem exclusivamente nas
Escrituras o fazem em experiências místicas e sincréticas. Na verdade, o que
tem determinado o sucesso do culto não é mais pregação da Palavra, mas o
gosto do “consumidor”. Lamentavelmente a igreja prega o que dá ibope,
oferecendo ao povo o que ele quer ouvir.
Pois é, diante disto talvez você esteja perguntando a si mesmo: o que
fazer? Será que ainda existe esperança para a tão combalida igreja brasileira?
Será que existe um antídoto que possa ser aplicado de forma efetiva em
nossas comunidades cristãs?
Acredito que sim. Na verdade, creio piamente que existe um remédio para
isso tudo. Acredito de toda minha alma que se voltarmos às Escrituras,
fazendo delas nossa única e exclusiva regra de fé e redescobrirmos as antigas
doutrinas ensinadas pelos reformadores, poderemos experimentar uma
mudança radical na vida e na história da igreja evangélica brasileira.
O famoso pregador Charles Haddon Spurgeon afirmou o seu anseio por
um avivamento das antigas doutrinas da seguinte maneira: 1

Queremos um avivamento das antigas doutrinas. Não conhecemos uma doutrina


bíblica que, no presente, não tenha sido cuidadosamente prejudicada por aqueles
que deveriam defendê-la. Há muitas doutrinas preciosas às nossas almas que têm
sido negadas por aqueles cujo ofício é proclamá-las. Para mim é evidente que
necessitamos de um avivamento da antiga pregação do evangelho, tal como a de
Whitefield e de Wesley. As Escrituras têm de se tornar o infalível alicerce de todo
o ensino da igreja; a queda, a redenção e a regeneração dos homens precisam ser
apresentadas em termos inconfundíveis.

Prezado leitor, apesar das incongruências tupiniquins eu ainda acredito


na igreja evangélica brasileira. Sim! Eu acredito que a redescoberta das
antigas doutrinas poderá produzir em nosso país um avivamento nunca
antes experimentado.
Creio profundamente que se a igreja brasileira regressar às doutrinas da
graça, valorizando as Escrituras em detrimento da tradição e da experiência,
vivenciaremos aquilo que povos e nações do passado experimentaram em
sua história.
Ao escrever esse livro, eu o fiz com o coração pesado e os olhos
encharcados de lágrimas. Amo a igreja do meu Senhor e desejo de todo
coração vê-la glorificando aquele que me salvou.
Minha oração é que através da leitura dessa pequena obra você possa se
sentir desafiado a amar a Deus acima de todas as coisas e a zelar pela
Palavra, fazendo dela instrumento de graça, vida e saúde em sua vida
espiritual. Rogo, portanto, ao Senhor que por sua misericórdia liberte sua
Igreja de todo idiotismo, de toda estultice, de toda opressão e desvio, a fim
de que ela exista para o fim para o qual foi criada: servir e amar a Deus de
todo o coração, de todo entendimento e com todas as forças.

Boa leitura,
Renato Vargens

1. O Avivamento que precisamos por Charles H. Spurgeon. (fonte)


reforma protestante e a
1ntroducao aos c1nco solas

Um número incontável de evangélicos brasileiros parece não saber da


importância e relevância da Reforma Protestante. Tenho ouvido
comentários dos mais descabidos possíveis sobre a história e vida dos
reformadores. Por incrível que pareça, tem gente que considera homens
como Martinho Lutero, João Calvino e Ulrich Zwinglio como meros
coadjuvantes na história da Igreja. Há pouco ouvi de um “apóstolo” a
afirmação de que o movimento apostólico do século XXI, além, é claro, de
suas “obras apostólicas”, são muito mais importantes e relevantes do que
aquilo que os reformadores fizeram no século XVI.

REFORMA PROTESTANTE, O QUE FOI ISSO?


A Reforma Protestante tem sido tema de recentes estudos no Brasil, mas
parece que são poucos os que podem explicar o seu significado histórico e
espiritual. Por isso, penso que será importante apresentarmos um breve
panorama sobre esse importante evento na história da Igreja.
No começo do século XVI, a Europa e, por conseguinte, o mundo foram
impactados por uma série de eventos religiosos que contestavam
abertamente os dogmas da Igreja Católica Romana e a autoridade papal. É
preciso destacar que esse era um período em que o continente europeu
experimentava mudanças significativas na economia, o que era percebido
com a ascensão da burguesia. Mas a Reforma foi muito mais do que uma luta
de classes e ainda mais do que uma manifestação de repulsa ao estado de
corrupção que se encontrava a sociedade. Na verdade a Reforma foi um grito
proferido por homens de Deus que pela graça do Senhor tinham discernido
que a igreja havia se afastado de suas origens e de seus ensinamentos. No
século XVI, o catolicismo era uma religião de pompa, luxo e ociosidade. Para
piorar a situação, moralmente a igreja estava corrompida e mergulhada em
pecados e transgressões dos mais grosseiros. Além disso, a Igreja de Roma
preocupava-se mais com as questões políticas e econômicas do que com as
questões religiosas. E, para aumentar o seu patrimônio e suas riquezas,
recorria a práticas inescrupulosas, como a “simonia”, que é a venda de cargos
eclesiásticos, a contemplação de relíquias e a comercialização das famosas
indulgências, que foram a causa imediata da crítica de Martinho Lutero.
Naquele tempo o Papa garantia que cada pecador poderia comprar o perdão
da igreja, desde que estivesse disposto a contribuir financeiramente com a
causa de Roma.
A Reforma Protestante surgiu num tempo em que a autoridade papal já
experimentava algum declínio e já não possuía a mesma força política de
tempos atrás – especialmente em razão da formação das chamadas
monarquias nacionais, as quais proporcionaram um duro golpe na estrutura
romana, de modo que tanto o rei como o Estado passaram a ser mais
importantes do que a autoridade do líder romano.

QUEM FOI MARTINHO LUTERO?


Martinho Lutero nasceu no dia 10 de novembro de 1483, na cidade de
Eisleben, Turíngia, na Alemanha. Ele foi o segundo filho dentre muitos
irmãos. Aos cinco anos de idade, começou a frequentar a escola em
Mansfeld. Ali, aprendeu latim e os fundamentos da fé cristã. Em 1496, foi
para a escola em Magdeburgo e, a partir de 1497, estudou em Eisenach, onde
moravam muitos parentes da família de sua mãe. Em abril de 1501, Lutero
ingressou na Universidade de Erfurt, tornando-se mestre nas Artes. Quando
concluiu sua formação, cumprindo a determinação de seu pai, Lutero deu
início ao curso de Direito.
No dia 02 de julho de 1505, ao retornar de uma visita a seus pais, em
Mansfeld, uma tempestade o surpreendeu. Um raio atirou-o ao chão
deixando-o em estado de pânico. Diante disto e do pavor vivenciado naquela
oportunidade, Lutero prometeu tornar-se monge. Mesmo contra a vontade
de seu pai, ele ingressou na Ordem Agostiniana, passando a dedicar-se ao
estudo das Escrituras.
Lutero foi ordenado sacerdote e recebeu o grau de Doutor em Teologia. A
partir de 1508, atuou como professor na Universidade de Wittenberg. Como
professor responsável pela leitura e exposição das Sagradas Escrituras,
percebeu que certas práticas e crenças da igreja estavam em desacordo com a
mensagem ensinada pelo Senhor e pelos apóstolos, passando assim a
denunciá-las publicamente, sem, contudo, ser ouvido pelas autoridades
responsáveis.

AS 95 TESES DE LUTERO E A REFORMA


No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero afixou 95 teses na porta
da Igreja do Castelo de Wittenberg, ocasionando assim o início da Reforma
Protestante. Ao fazê-lo, o monge alemão não tinha interesse de promover
uma divisão na igreja romana, mas sim debater o grave e pernicioso ensino
das indulgências, que eram a comercialização do perdão dos pecados.
Em suas teses, Lutero questionou o poder e autoridade do Papa em
perdoar pecados de quem quer que fosse. Também negou que esse perdão
pudesse se estender aos mortos ou àqueles que porventura estivessem no
purgatório. Também destacavam o valor da Palavra de Deus, a qual não
deveria ser silenciada em benefício das indulgências.
Com essas e outras afirmações, Lutero chegou onde jamais poderia
imaginar. Na verdade, sem que se desse conta, o monge alemão atingiu o “X”
da questão: a situação de distanciamento do evangelho em que se
encontrava a Igreja. Os males da Igreja não eram apenas os seus desvios
morais, econômicos e políticos, que a colocavam em descrédito diante do
povo. Seu problema principal, responsável também por estes, era o
afastamento das doutrinas fundamentais da Palavra de Deus.
Em 1520, em razão de sua postura e teologia, Martinho Lutero foi
ameaçado de excomunhão pela igreja, o que o levou a queimar em praça
pública a bula de excomunhão emitida pelo pontífice romano. Em 1525,
casou-se com Katharina von Bora e em 1529, publicou seu Catecismo
Menor, onde explica, em linguagem simples, a teologia da Reforma. Em 18
de fevereiro de 1546, aos 62 anos de idade, após ter traduzido a Bíblia para o
alemão e ter escrito inúmeras obras e tratados teológicos Lutero veio a
falecer, deixando para a história um grande e significativo legado.

A REFORMA PROTESTANTE, OS CINCO SOLAS E A IGREJA BRASILEIRA


Sem a menor sombra de dúvidas a Reforma Protestante trouxe a Igreja de
volta às Escrituras e ao evangelho pregado pelos apóstolos. Isso mesmo! O
protestantismo restituiu à Igreja a crença em doutrinas fundamentais e
indispensáveis à saúde cristã. Essas doutrinas são conhecidas por sua
designação latina como Sola Scriptura (somente a Escritura), Sola Fide
(somente a fé), Sola Gratia (só a graça), Solus Christus (somente Cristo) e Soli
Deo Gloria (glória somente a Deus).
Hoje, quase quinhentos anos depois da Reforma, os cinco solas são
desconhecidos pela maior parte da Igreja. Infelizmente um número
incontável de comunidades cristãs regressou à práticas da Idade Média,
comercializando o evangelho e negociando a fé. Esse quadro caótico impele-
nos a confessarmos os nossos pecados e a regressarmos às Escrituras, a fim
de que a Igreja de Cristo neste país redescubra as doutrinas da graça e
retome o rumo da verdade, da saúde e da ortodoxia.
sola scr1putura

Reafirmamos a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita,


única para constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é
necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo
comportamento cristão deve ser avaliado.
Negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a
consciência de um crente, que o Espírito Santo fale independentemente de, ou
contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser
veículo de revelação.2

O tempo em que vivemos tem sido marcado por numerosos avanços


sociais, científicos e tecnológicos. É inegável o progresso da sociedade em
inúmeros aspectos e dimensões. No entanto, ainda que se possam perceber
evoluções nas mais variadas áreas, a igreja evangélica brasileira do século
XXI encontra-se mergulhada em comportamentos e crenças que em muito
nos fazem lembrar o século XVI.
Lamentavelmente, alguns dos pastores e mestres tupiniquins não
possuem mais nenhuma ligação com aqueles que os precederam. Os púlpitos
das igrejas e as salas de aula dos seminários teológicos têm sido ocupados
por homens desconhecedores das mais profundas e básicas verdades
sustentadas na Reforma. Se não bastasse isso, boa parte destes relativizaram
as Escrituras afirmando não serem elas a Palavra revelada de Deus.
A igreja do nosso tempo em muito se assemelha à igreja da pré-reforma,
mesmo porque, tanto o catolicismo romano quanto o movimento
neopentecostal fundamentam suas doutrinas e comportamentos em três
pilares, as Escrituras Sagradas, a tradição da igreja e a autoridade apostólica
papal. Na verdade, ambos os grupos não consideram na prática (ainda que os
neopentecostais afirmem o contrário) a Bíblia como única e exclusiva regra
de fé. Para os dois movimentos, a tradição bem como a experiência adquirida
com o sagrado possuem um enorme peso na consolidação de suas doutrinas.
Ademais, as duas correntes possuem em suas estruturas eclesiásticas líderes
papais, cuja autoridade “apostólica” não pode ser questionada pelos fiéis.
Além disso, ambos mercantilizam a fé, comercializando as benesses divinas,
oferecendo aos fiéis objetos sagrados que possuem em si poder suficiente
para operar milagres.
Quanto à práxis litúrgica, o neopentecostalismo nos faz pensar que
regressamos aos tenebrosos dias da Idade Média, pois, à semelhança daquele
período mais sombrio, vemos hoje uma verdadeira manipulação religiosa,
especialmente através de líderes que, em nome de Deus, estabelecem
doutrinas que se contrapõem a Palavra Revelada do Senhor.
Tanto o catolicismo romano como o neopentecostalismo Brasileiro
entendem que as bênçãos de Deus não são frutos de sua maravilhosa graça,
mais sim, consequências diretas de uma relação baseada na troca ou no
toma-lá-dá-cá. Neste contexto, tudo é feito em nome de Deus e para se
conseguir a bênção é absolutamente necessário pagar – e pagar caro!
Isso leva-nos a algumas perguntas: Qual a diferença da oferta extorquida
do povo sofrido nos dias atuais para a venda das indulgências praticadas na
Idade Média? Qual a diferença dos utensílios vendidos no século XVI, para
os que são comercializados nos templos neopentecostais nos dias de hoje?
O que chama atenção é que parte da igreja evangélica brasileira, diante de
tanta sandice, ainda advoga a causa de que estamos vivendo momentos de
um genuíno avivamento. É preciso que reflitamos e respondamos: Que
avivamento é esse cujos ensinamentos principais não estão fundamentados
nas Escrituras Sagradas? Que avivamento é esse que em favor de interesses
do homem tem relativizado a Palavra de Deus? Que avivamento é esse que
tem colocado no mesmo patamar de autoridade Freud, Marx, Paulo e Jesus?
Vejo nisso que boa parte dos problemas da igreja se devem ao fato de
termos abandonado as Escrituras. Infelizmente, a Igreja Brasileira, em nome
de uma espiritualidade positivista onde o que importa é a satisfação do
freguês, trocou todo “Conselho de Deus” por ensinamentos simplórios,
humanistas e antropocêntricos.
Diante do imbróglio que se encontra a igreja tupiniquim, estou convicto
de que os princípios ensinados pelos reformadores precisam ser resgatados e
proclamados a quantos pudermos. Além disso, torna-se indispensável o
aparecimento de homens que assim como os nossos irmãos do passado,
amavam fervorosamente as Escrituras, defendendo-as como única fonte de
verdade e fé. Acredito, portanto, que mais do que nunca a Igreja evangélica
brasileira deva refletir sobre a relevância da Palavra de Deus, além de fazer
do seu púlpito um lugar de fundamentação da sã doutrina. Se o principio da
Sola Scriptura for bem compreendido, a igreja terá condições de resgatar as
preciosas doutrinas ensinadas por Jesus, propagadas pelos apóstolos,
defendidas pelos pais da Igreja e resgatadas pelos reformadores.

A SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS


Até pouco tempo os evangélicos eram pejorativamente denominados de
“bíblias”. Isso se deveu ao fato de que era extremamente comum ver pelas
ruas de nossas cidades uma multidão de pessoas indo em direção às igrejas
com um “livro preto” debaixo do braço. Além disso, tinham os crentes em
Jesus o salutar hábito de não somente meditar no conteúdo das Escrituras,
como também obedecer a seus preceitos e orientações, crendo de forma
irrefutável que este livro verdadeiramente é a Palavra de Deus.
Hoje, a situação é bem diferente. Lamentavelmente, os cristãos não têm
se relacionado como deveriam com o Texto Sagrado, mesmo porque, boa
parte destes optou por fundamentar sua fé em revelações místicas e pessoais
ao invés de dar crédito àquilo que a Palavra de Deus tem a dizer sobre os
dramas e dilemas da vida.
Infelizmente uma das características mais marcantes de alguns dos
evangélicos deste tempo é a sua avidez por novidades. De fato, é
impressionante a quantidade de cristãos que abandonaram o estudo
sistemático das Escrituras Sagradas em favor de “experiências e novas
revelações”. Segundo essas pessoas, o crente não deve se preocupar em
conhecer ou estudar a Bíblia, mesmo porque para estes a “letra mata”. Para
os que defendem este tipo de pensamento, o estudo ordenado das Escrituras
e de suas doutrinas contribui para a extinção do fogo do Espírito Santo na
vida da igreja.
Mas essa percepção é falha e contraria o ensino das Escrituras sobre o
Espírito Santo e a revelação de Deus na Palavra. A Bíblia é efetivamente a
Palavra de Deus, viva, infalível, eterna e totalmente fidedigna. É somente
por ela que devemos nortear as nossas mais variadas e complexas decisões. É
ela que sacia a fome do coração e preenche as lacunas da existência. É ela que
revela o Criador, bem como o seu imensurável amor pelos homens.
As Escrituras são, por definição, a única Palavra de Deus escrita como
também a única expressão verbal das verdades de Deus publicamente
acessível, visível e infalível no mundo. A Bíblia possui suprema autoridade
em matéria de vida e doutrina e somente ela é o árbitro de todas as
controvérsias doutrinais e teológicas. Ela é a norma normanda (norma
determinante) e não a norma normata (norma determinada) para todas as
decisões de fé e vida. A autoridade das Escrituras é superior à da igreja e
da tradição, bem como de qualquer estrutura hierárquica religiosa.
Os reformadores consideravam que somente as Escrituras possuíam a
palavra final em matéria de fé e prática. João Calvino costumava dizer que o
verdadeiro conhecimento de Deus está na Bíblia. Para o reformador francês,
a Bíblia era a Palavra de Deus. Calvino também afirmou que a Bíblia era o
único escudo capaz de nos proteger do erro.

De fato, se refletirmos quão acentuada é a tendência da mente humana para


esquecer Deus, quão grande é a inclinação dos homens para com toda espécie de
erro e quão pronunciado é o gosto deles para forjar, a cada instante, novas
fantasiosas religiões, poderemos perceber como foi necessário a autenticação
escrita da doutrina celeste, para que ela não desaparecesse pelo esquecimento,
nem se desfizesse pelo erro, nem fosse corrompida pela petulância dos homens.
Deste modo, como está sobejamente demonstrado, Deus providenciou o auxilio
de sua Palavra para todos aqueles a quem quis instruir de maneira eficaz, pois
sabia ser insuficiente a impressão de sua imagem na estrutura do universo.
Portanto, se desejamos, com seriedade, contemplar a Deus de forma genuína,
precisamos trilhar a reta vereda indicada na sua Palavra.3

Caro leitor, é através da leitura da Bíblia que somos consolados,


confortados e reanimados diante das batalhas que travamos. É mediante a
leitura da Bíblia que a esperança brota no peito, que o coração se enche de fé
e que a vida é encharcada do maravilhoso e imensurável amor de Deus.
Para o protestantismo, a Bíblia é a revelação verbal de Deus. É Deus
falando aos homens, é a voz do próprio Deus. O apóstolo Paulo afirmou em
2Timóteo 3.16-17:

Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a
correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente habilitado para toda boa obra.

Pedro explicou em sua segunda carta que os homens que escreveram as


Escrituras foram “inspirados pelo Espírito Santo”, para que nenhuma parte
dela fosse “produzida por vontade de homem algum” ou pela “interpretação
particular do profeta” (2Pe 1.20-21).
Outro aspecto resgatado na reforma é a infalibilidade da Bíblia. A Bíblia
não contém erros. Ela é correta em tudo o que declara, visto que Deus não
mente ou erra (Nm 23.19). Tudo aquilo que nela está escrito é a mais pura
verdade. Jesus disse que “a Escritura não pode ser anulada” (Jo 10.35), e que
é “mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da lei” (Lc 16.17).
A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do
pecado, ela é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser
avaliado. Nenhum credo, concílio ou indivíduo tem o poder de constranger a
consciência do crente em Jesus contrariando aquilo que está exposto na
Bíblia.4
Diante destas maravilhosas afirmativas podemos ter a certeza de que
todo o conteúdo das Escrituras foi inspirado pelo Senhor, o que nos dá plena
convicção de que não existe nenhum equívoco em denominar a Bíblia como
“a Palavra de Deus”. Esta é a razão de afirmarmos que não existe nenhum
outro modo de se conhecer a Deus além do estudo das Escrituras, como
também não existe nenhuma outra fonte de informação sobre Deus mais
precisa, acurada e compreensiva que a própria Palavra dele, nas Escrituras.

QUANDO A CENTRALIDADE DO CULTO NÃO É A PALAVRA DE DEUS.


A leitura e o conhecimento das Sagradas Escrituras são fundamentais a
uma vida cristã bem-sucedida. A Bíblia produz efeito por si mesma de
maneira sobrenatural na vida de todos aqueles que fazem dela fonte
exclusiva de fé. No entanto, o evangelicalismo brasileiro tem sido marcado
pela superficialidade e o analfabetismo bíblico. Segundo estudo promovido
pela Abba Press e a Sociedade Bíblica Íbero-americana,5 cerca de 50,68% dos
pastores e líderes evangélicos nunca leram a Bíblia por inteiro pelo menos
uma vez - o que explica a enorme variedade de aberrações teológicas deste
tempo.
Diferentemente dos evangélicos do século XXI, os reformadores
acreditavam que a Palavra de Deus deveria ocupar o lugar central na vida do
crente, visto que é através dela que Deus fala ao homem. O reformador João
Calvino via a pregação do evangelho como o centro da vida e obra da igreja.
Calvino acreditava que a pregação da Palavra era um meio de graça para o
povo de Deus. “Quando nos reunimos em nome de Deus”, ele dizia, “não é
para ouvir meros cânticos, e ser alimentados com vento, isto é, com
curiosidade vã e inútil, mas para receber alimento espiritual”.6 Por esta
razão ele cria que a pregação deveria ser “sem exibição”, para que o povo de
Deus pudesse reconhecer nela a Palavra de Deus e para que o próprio Deus, e
não o pregador pudesse ser honrado e obedecido.
O abandono das Escrituras por parte da igreja evangélica brasileira tem
contribuído substancialmente para o surgimento de anomalias e
discrepâncias teológicas. A relativização dos textos bíblicos tem permitido
com que doutrinas distorcidas e anticristãs conduzam os rumos da Igreja de
Cristo. A substituição da Palavra de Deus por entretenimento, arte e música
tem produzido danos e prejuízos quase irreparáveis.
Diante disto, enumero pelo menos quatro problemas originados pela
ausência da centralidade das Escrituras nos cultos evangélicos brasileiros:

1º O Liberalismo Teológico
Algumas de nossas igrejas estão repletas desta funesta teologia
denominada liberal. Infelizmente tornou-se comum encontrarmos pastores
e mestres defendendo conceitos teológicos antibíblicos, questionando a
autoridade das Escrituras e relativizando a Palavra de Deus. O liberalismo
teológico é um câncer que vagarosamente destrói a saúde da Igreja. Como
bem afirmou Augustus Nicodemus os “Liberais são parasitas e, assim como
um vírus, se instala num organismo, debilitando o corpo do indivíduo, assim
também eles se instalam na igreja sugando-a até ficar só a carcaça, para
depois buscar outro hospedeiro”.7
Lamentavelmente, existem inúmeros seminários teológicos neste país
que têm ensinado aos seus alunos conceitos absolutamente anticristãos.
Tais seminários, contrapondo-se a ortodoxia protestante, têm admitido em
seu corpo docente pessoas que afirmam que a Bíblia está repleta de mitos e
lendas. Para estes, Adão e Eva jamais existiram. Na verdade, os liberais
ensinam que ambos não passam de um símbolo para ensinar a humanidade,
que teria sido criada através da evolução. Se não bastasse isso, tais teólogos
creem que Cristo não fez milagres literais. Para eles, Jesus nunca teria
andado sobre a água, nem tampouco multiplicado pães e alimentado uma
grande multidão. Quando ensinam a respeito do Espírito Santo, o fazem de
forma equivocada afirmando que o Espírito do Senhor não é um ser pessoal,
mas sim a força e o agir de Deus. Além disso, paganizaram a Trindade Santa
atribuindo-lhes gênero e sexualidade, afirmando através de seus ensinos que
o Espírito Santo é a parte feminina de Deus. Ao ensinarem sobre a
ressurreição de Cristo, afirmaram que tal fato não ocorreu, até porque, para
estes, a mensagem central da Bíblia é a ressurreição de Jesus em nossos
corações.
Infelizmente o número de pastores que relativizaram as Sagradas
Escrituras em favor de uma teologia espúria se multiplica a olhos vistos. Sem
sombra de dúvidas os conceitos liberais têm adoecido e sufocado o Corpo de
Cristo, injetando no coração dos cristãos valores que contrariam as
Escrituras.

2º O Sincretismo Religioso
Uma igreja que não faz da Bíblia sua única e exclusiva regra de fé, permite
a interferência de doutrinas não cristãs no seu corpo doutrinário. O
sincretismo religioso é um dos mais sérios problemas vivenciados por uma
igreja que trocou as Escrituras por experiências místicas e relacionais.
O neopentecostalismo tupiniquim tem sido caracterizado por práticas e
comportamentos absolutamente antagônicos aos pressupostos bíblicos.
Acredito que isso se deva a relativização das Escrituras como também a
mistura de influências herdadas pela sociedade brasileira, tanto do
catolicismo medieval português quanto das culturas indígena e africana.
O catolicismo implantado pelos portugueses no Brasil foi o da contra-
reforma, que conservou o velho culto aos santos, como também as
superstições do período medieval. Quanto aos índios que aqui estavam,
viviam num mundo cheio de lendas, cerimônias e crenças espirituais, onde
os mortos e os vivos interferiam e comungavam entre si. Já os africanos, ao
chegarem ao Brasil, encontraram uma sociedade semifeudal que podia
utilizar o trabalho braçal dos escravos sem questionar as suas
representações mágico-religiosas. Aliás, diga-se de passagem, a religião
africana sempre foi muito mais mágica e mística do que religiosa. Nela, o
individual prevalece sobre o espiritual dominando as forças sobrenaturais de
acordo com as suas vontades pessoais.
Hoje, em virtude do abandono das Escrituras e do sincretismo religioso, é
comum encontrarmos igrejas cujo comportamento se aproxima dos rituais
pagãos.
Lamentavelmente algumas das liturgias evangélicas estão tão
miscigenadas, que um desavisado qualquer, ao entrar em um de seus cultos,
poderá pensar que entrou no templo de uma religião completamente
estranha ao cristianismo.

3º A falência do púlpito.
Em virtude do relativismo do nosso tempo, onde o que mais se enfatiza é
a satisfação pessoal, inúmeros líderes cristãos das mais diversas
denominações abandonaram o estudo sistemático da Palavra de Deus para
dedicar-se ao estudo do comportamento humano, resultando na
“adequação” do evangelho de Cristo aos padrões humanistas deste tempo
pós-moderno. Temos visto muitos líderes que, em nome de uma
espiritualidade mística, têm fundamentado seus sermões em doutrinas cuja
base “teológica” é a experiência e não a Bíblia. Para piorar a situação, muitos
pregadores têm considerado o ensino das Escrituras como algo indesejável e
sem utilidade prática, preferindo um sermão repleto de histórias
engraçadas, onde o objetivo final é o entretenimento do público.
Diante disto é impossível não nos lembrarmos de homens como o Dr.
Martin Lloyd-Jones.8 Nos cultos que pregava, centenas de pessoas eram
atraídas pela pregação da Palavra de Deus. O doutor, como era chamado,
levava muitos meses, até mesmo anos, a expor um capítulo da Bíblia,
versículo por versículo. Os seus sermões muitas vezes duravam entre
cinquenta minutos e uma hora, atraindo muitos estudantes das
universidades e escolas em Londres, que ficavam encantados com a pregação
do evangelho.
O Reformador francês João Calvino disse que a Escritura é a fonte de
toda a sabedoria, e que os pastores devem extrair dela tudo aquilo que
expõem diante do rebanho.9 Calvino afirmava que através da exposição da
Palavra de Deus, as pessoas são conduzidas à liberdade e à segurança da fé
salvadora.10 Dizia também que a verdadeira pregação tem por objetivo abrir
a porta do reino ao ouvinte. Em outras palavras, o que ele está a nos dizer é
que as Escrituras Sagradas devem ser o principal instrumento na condução,
consolidação e pastoreio do povo de Deus.

4º Uma Liturgia Antropocêntrica.


O esquecimento por parte de alguns evangélicos das principais doutrinas
bíblicas tem contribuído em muito para o surgimento de uma liturgia
antropocêntrica.
Charles Spurgeon, um dos maiores pregadores de todos os tempos,
afirmou11 que o adversário das nossas almas tem agido como fermento,
levedando toda a massa. Segundo Spurgeon, o diabo criou algo mais
perspicaz ao sugerir à Igreja que parte de sua missão é prover
entretenimento para as pessoas, com vistas a ganhá-las. Ele também
afirmou que a igreja de Cristo não tinha por obrigação promover
entretenimento aos visitantes. Antes, pelo contrário, o evangelho com todas
as suas implicações precisava ser pregado de forma simples e objetiva:

Existe um mal entre os que professam pertencer aos arraiais de Cristo, um mal
tão grosseiro em sua imprudência, que a maioria dos que possuem pouca visão
espiritual dificilmente deixará de perceber. Durante as últimas décadas, esse mal
tem se desenvolvido em proporções anormais. Tem agido como o fermento, até
que toda a massa fique levedada. O diabo raramente criou algo mais perspicaz do
que sugerir à igreja que sua missão consiste em prover entretenimento para as
pessoas, tendo em vista ganhá-las para Cristo. A igreja abandonou a pregação
ousada, como a dos puritanos; em seguida, ela gradualmente amenizou seu
testemunho; depois, passou a aceitar e justificar as frivolidades que estavam em
voga no mundo e, no passo seguinte, começou a tolerá-las em suas fronteiras;
agora, a igreja as adotou sob o pretexto de ganhar as multidões. Minha primeira
contenção é esta: as Escrituras não afirmam, em nenhuma de suas passagens, que
prover entretenimento para as pessoas é uma função da igreja. Se esta é uma obra
cristã, por que o Senhor Jesus não falou sobre ela? “Ide por todo o mundo e pregai
o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15) — isso é bastante claro. Se Ele tivesse
acrescentado: “E oferecei entretenimento para aqueles que não gostam do
evangelho”, assim teria acontecido. No entanto, tais palavras não se encontram
na Bíblia. Sequer ocorreram à mente do Senhor Jesus. E mais: “Ele mesmo
concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e
outros para pastores e mestres” (Ef 4.11). Onde aparecem nesse versículo os que
providenciariam entretenimento? O Espírito Santo silenciou a respeito deles. Os
profetas foram perseguidos porque divertiam as pessoas ou porque recusavam-se
a fazê-lo? Os concertos de música não têm um rol de mártires.

Hoje, 120 anos após a morte de Spurgeon, boa parte da igreja brasileira
promove em suas liturgias estruturas lúdicas e leves onde, de forma
simplista e descontraída, o “evangelho politicamente correto” é anunciado.
Na verdade, ouso afirmar que a banalização das Escrituras juntamente com
o pluralismo eclesiástico de nosso tempo encontrou uma variedade enorme
de igrejas que proclamam o evangelho de Cristo segundo o gosto do
freguês.12 Além disso, se fizermos uma análise sincera de nossas liturgias,
chegaremos a conclusão que boa parte das canções entoadas nos cultos
evangélicos são feitas na primeira pessoa do singular, cujas letras
prioritariamente reivindicam as bênçãos de Deus.

A RELEVÂNCIA DAS ESCRITURAS PARA A IGREJA BRASILEIRA NOS DIAS DE


HOJE.
A Bíblia é de inspiração divina. Assim, a fé cristã baseada nas Escrituras
não é uma fé cega, calcada no subjetivismo. Trata-se de uma fé objetiva que
pode ser analisada e explicada. E os que entendem a relevância das
Escrituras, bem como a sua importância na vida da igreja, experimentam em
seu cotidiano verdades maravilhosas, das quais destaco algumas:

1º - A exaltação do nome de Cristo.


Uma igreja que valoriza as Escrituras e prega a Palavra de Deus
expositivamente exalta o nome de Jesus. A Bíblia em todos os seus 66 livros
aponta exclusivamente para Cristo e o exalta. Do Gênesis ao Apocalipse a
mensagem central é Cristo. As Escrituras nos ensinam que ele é o verdadeiro
Deus (Jo 3.16; 1Jo 5.20) e que através dele o universo foi criado e é mantido
em existência (Jo 1.3; Cl 1.16-17), e que por amor dos eleitos de Deus, Cristo
esvaziou a si mesmo, tomando a forma de homem, sendo obediente até a
morte, e morte de cruz. Ele é o alfa e ômega (Ap 1.8,17; 22.13; Is 44.6), o
herdeiro de todas as coisas (Hb 1.1-2), o cordeiro de Deus que tira o pecado
do mundo (Jo 1.29), o Messias esperado (Jo 1.41), o único Soberano, Rei
dos reis, Senhor dos Senhores (1Tm 6.15), Rei das nações (Ap 15.03).
A Palavra de Deus quando é pregada enaltece o nome de Jesus. As
Escrituras quando anunciadas promovem transformação nos corações dos
pecadores. A Bíblia quando ensinada revela ao homem sua miserabilidade,
seus pecados, seu estado de depravação total, como também o amor
imensurável de Deus que enviou o seu único Filho para morrer na cruz do
calvário em favor dos eleitos de Deus.

2º - O reconhecimento da miserabilidade humana.


Quando a Bíblia é pregada a miserabilidade humana é revelada. As
Escrituras quando ensinadas revelam o estado de pecaminosidade e
depravação da humanidade. A Palavra do Senhor quando proclamada
confronta o homem em seus delitos e pecados humilhando-o diante do
Criador, revelando assim o seu real estado de putrefação espiritual.
O ensino cristão é de que não existe um homem neste planeta que possa
considerar-se justo pelos seus próprios méritos. Na verdade, a Bíblia afirma
que “todos pecaram, e que todos estão destituídos da graça de Deus” (Rm
3.23), diz também “que o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23) e que quem
peca “transgride a lei” (1Jo 3.04), e que “o pecado faz separação entre os
homens e Deus” (Is 59.02).
A Bíblia diagnostica o pecado como uma deformidade universal da
natureza humana, deformidade que se manifesta em detalhes na vida de
cada indivíduo. As Escrituras ensinam que o homem é totalmente depravado
e que necessita desesperadamente de salvação. A natureza humana é
essencialmente pecadora. Todo nosso ser é pecador, nossa mente, emoções,
desejos, e até mesmo nossa constituição física está corrompida, controlada e
desfigurada pelo pecado e seus efeitos. Ninguém escapa desse veredicto. Nós
somos totalmente depravados. Efésios 2.1 resume a doutrina da depravação
total ao afirmar que os homens estão mortos em delitos e pecados.
Entretanto, Deus sendo rico em misericórdia por causa do grande amor com
que nos amou nos deu vida em Cristo Jesus, salvando-nos da ira vindoura
(Ef 2.4-5). Louvado seja o Senhor que nos elegeu incondicionalmente
salvando-nos do pecado, dando-nos vida, libertando-nos do diabo e
livrando-nos do juízo eterno!

3º - A salvação dos eleitos e a condenação dos réprobos.


A pregação das Escrituras desconstrói todo conceito humano de religião e
salvação. Quando a Bíblia é pregada expositivamente e suas doutrinas
proclamadas com autoridade e poder, é possível entender o eterno e
maravilhoso amor de Cristo em morrer na cruz do calvário pelos eleitos de
Deus. A Bíblia de forma categórica nos ensina que na eternidade,
soberanamente Deus escolheu alguns pecadores para a salvação (2Ts 2.13,
Rm 9.11). Segundo as Escrituras, antes da criação de todas as coisas, Deus
selecionou dentre os homens os que deveriam ser redimidos, justificados,
santificados e glorificados em Jesus Cristo (Rm 8.28-29; Ef 1.3-14; 2Ts 2.13-
14; 2Tm 1.9-10). Essa escolha divina é a expressão de amor mais
arrebatadora que pode existir no universo. Ela não é merecida por homem
algum e absolutamente nada que o ser humano faça ou possa fazer pode lhe
conceder o direito de usufruir desta maravilhosa graça.
Em contrapartida a reprovação é o nome dado à eterna e imutável decisão
de Deus em não redimir àqueles que não foram escolhidos para a vida.
Mediante a prerrogativa de um Deus soberano que governa sobre tudo, o
Senhor determinou que tais homens não fossem transformados e
regenerados.

4º - O governo de um Deus que reina soberanamente sobre tudo e todos.


Uma igreja que prega todo “conselho de Deus” inevitavelmente acredita,
vive e propaga a todos quanto puder a existência de um Deus soberano.
As Escrituras ensinam que o nosso Deus reina soberanamente e tem
controle sobre todas as coisas, e que absolutamente nada foge aos seus
desígnios. A Bíblia afirma que o governo está em suas mãos e que Ele possui
domínio sobre tudo aquilo que acontece no céu e na terra.
O Deus Todo-Poderoso governa o mundo, ele é o Rei dos reis, o Senhor
dos senhores, o Altíssimo Deus. A ele pertence todo poder e toda autoridade
para fazer o que lhe agrada. O mundo e tudo que nele há é o seu mundo e
toda criatura que nele vive é controlada por sua soberana vontade e poder.
A visão de Deus reinando no seu trono é repetida nas Escrituras inúmeras
vezes (1Rs 22.19; Is 6.1; Ez 1.26; Dn 7.9; Ap 4.2). Na verdade, os muitos
textos bíblicos possuem a função de nos lembrar em termos explícitos, que o
SENHOR reina como rei, exercendo o seu domínio sobre grandes e
pequenos. O senhorio de Deus é total e nem mesmo o diabo pode deter seu
propósito ou frustrar os seus planos.

CONCLUSÃO
Caro leitor, os reformadores ao fazerem das Escrituras sua única e
exclusiva regra de fé romperam com as anomalias teológicas do
supersticioso catolicismo romano, levando assim a Igreja de Cristo ao
redescobrimento das maravilhosas doutrinas da graça. Hoje, apesar das
idiossincrasias e incongruências de parte da Igreja Evangélica Brasileira
acredito que se pregarmos novamente as doutrinas ensinadas pelos
reformadores, experimentaremos mudanças substanciais na vida da Igreja.
Isto posto, afirmo sem a menor sombra de dúvidas que a Bíblia continua
sendo a Palavra infalível de Deus e que as Escrituras jamais poderão ser
consideradas velhas e ultrapassadas. As nações e suas culturas podem
mudar, no entanto, ainda assim a Palavra de Deus continuará sendo
relevante para o homem.

2. Declaração de Cambridge. Acessado em Junho de 2013 em:


http://www.monergismo.com/textos/credos/declaracao_cambridge.htm
3. João Calvino, As Institutas da Religião Cristã (São Paulo: Cultura Cristã, 2003), I.6.3.
4. James Montgomery Boice e Benjamin E. Sasse (org.), Reforma hoje (São Paulo: Cultura Cristã,
1999), p. 11-17.
5. Vinícius Cintra, “51% nunca leram a Bíblia toda”, Portal Creio,
http://www.creio.com.br/2008/noticias01.asp?noticia=8321, acessado em 28 de maio de 2010. A
pesquisa foi conduzida com 1255 entrevistados de diversas denominações, sendo que 835
participaram de um painel de aprofundamento. O motivo é a falta de tempo, segundo os
entrevistados.
6. John Calvin, The Mystery of Godliness and Other Selected Sermons (Grand Rapids: Eerdmans, 1950),
p. 56.
7. “A Bíblia no divã”, Revista Veja (Edição 1667 – 20 de setembro de 2000),
http://veja.abril.com.br/200900/p_108.html, acessado em 28 de maio de 2010.
8. “David Martyn Lloyd-Jones, um gladiador contra a mundanização da igreja”, em
http://discernimentocristao.wordpress.com/category/irmaos-sinceros/, acessado em 28 de maio de
2010.
9. João Calvino, As Pastorais (São José dos Campos, SP: Fiel, 2009), p. 120-121.
10. Ronald Wallace, Calvino, Genebra e a Reforma (São Paulo: Cultura Cristã. 2004), p. 145.
11. C. H. Spurgeon, “Alimentando as Ovelhas ou Divertindo os Bodes?”, em
http://www.monergismo.com/textos/chspurgeon/bodes_spurgeon.htm, acessado em 30 de setembro
de 2010.
12. Para um desenvolvimento deste tema, cf., de minha autoria, Cristianismo ao gosto do freguês
(Niterói, RJ: Scrittura, 2010).
sola grat1a

Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela


sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-
nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida
espiritual.
Negamos que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos,
técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa transformação.
A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada.13

Os adeptos do neopentecostalismo defendam que a salvação é pela graça,


mas na prática se comportam de modo completamente diferente. Basta
olharmos os cultos repletos de correntes, mandingas, barganhas e
promessas, que chegaremos à conclusão que eles acreditam que a salvação se
deva exclusivamente ao que fazem e não pela graça de Deus.
Nessa perspectiva é comum encontrarmos em suas reuniões momentos
onde o “fiel” oferece suas ofertas a Deus na expectativa de que milagres
aconteçam. Se não bastasse isso, é comum ouvirmos os “apóstolos” da
modernidade ensinando que sem sacrifício pessoal não é possível
experimentar da bondade de Deus. Soube que um destes pastores
apostólicos estava a ensinar que o crente quando deixa de obedecer as
ordens do Senhor (isso não significa necessariamente as Escrituras), deixa
de ser abençoado pelo Criador, impedindo assim que a salvação chegue à sua
casa. Para estes, a salvação está relacionada àquilo que fazemos e não na
graça de Deus. É comum encontrarmos neopentecostais incentivando os
fiéis a fazerem correntes de fé e de oração porque acreditam que o fato de
cumprirem seus votos a Deus obrigará o Todo-Poderoso a salvar sua família.
Caro amigo, a confiança na capacidade do homem em agradar a Deus é
um produto da natureza humana decaída. Lamentavelmente essa falsa
confiança tem enchido a Igreja Evangélica de percepções doutrinárias
absolutamente equivocadas.
Se você parar para pensar descobrirá que tanto as religiões quanto muitos
filósofos, excluindo o cristianismo bíblico, têm sustentado que o homem é
basicamente bom e aperfeiçoável através de seus próprios esforços. A partir
do deísmo europeu do século XVII, comecou-se a afirmar que o homem
nascia como uma lousa em branco, em estado de inocência. Jean Jacques
Rousseau entendia que “o homem nasce bom e a sociedade o corrompe”.14 O
islamismo ensina que todos os homens são nascidos puros e que são
naturalmente bons até que sejam desviados pelo ambiente. Para o islã, o
homem é visto como aperfeiçoável através do ser corretamente guiado e
lembrado da unidade de Alá.
Por outro lado, apenas através da revelação de Deus, como encontrada
nas Escrituras, é que podemos entender a total depravação do homem, que
mostra ser ele totalmente incapaz de salvar a si próprio ou de fazer qualquer
obra meritoriamente boa com respeito à sua salvação. Essa é uma verdade
redescoberta na Bíblia durante a Reforma, que transformou a Europa no
século XVI e tem impactado o mundo desde então.
As Escrituras ensinam que o homem é totalmente incapaz de fazer
qualquer coisa para a sua salvação. A Palavra de Deus é clara em afirmar que
o ser humano independente da etnia, do gênero, da nacionalidade e da classe
social, está morto em seus delitos e pecados (Rm 3.23, Ef 2.1-5). Ora, nós
somos totalmente incapazes de buscar a Deus. Como bem afirmou o
apóstolo Paulo: “Não há quem busque a Deus” (Rm 3.11,12,18). Sem a
menor sombra de dúvidas o homem odeia a Deus e por natureza é inimigo
dele. C. H. Spurgeon afirmou que acreditava que, se Cristo não o houvesse
escolhido, ele jamais escolheria a Cristo.

Se Deus não me tivesse eleito, eu jamais o teria escolhido; e estou seguro de que
ele me elegeu antes que eu tivesse nascido, caso contrário ele nunca teria me
escolhido depois. E ele deve ter me escolhido por razões desconhecidas para mim,
pois eu nunca fui capaz de encontrar qualquer razão em mim mesmo para que ele
dedicasse um amor especial a mim. Assim sendo, sou obrigado a aceitar essa
grande doutrina bíblica.15

Prezado amigo, a salvação é uma obra exclusivamente da graça divina.


Nós não temos parte nisso. Somos salvos pela graça. Que verdade
maravilhosa é essa! Como Jesus disse, “ninguém pode ir a Deus se não for
por ele” (Jo 6.44). Foi por intermédio dele e através dele que fomos salvos.
Que doce e maravilhosa graça!

Preciosa a graça de Jesus,


que um dia me salvou.
Perdido andei, sem ver a luz,
mas Cristo me encontrou.

A graça, então, meu coração


do medo me libertou.
Oh, quão preciosa salvação
a graça me outorgou!

Promessas deu-me o Salvador,


e nele eu posso crer.
É meu refúgio e protetor
em todo o meu viver.

Perigos mil atravessei


e a graça me valeu.
Eu são e salvo agora irei
ao santo lar do céu.16

O autor desse lindo hino se chamava John Newton. Ele foi um severo e
brutal capitão de um navio negreiro inglês que costumava viajar da
Inglaterra ao continente africano, onde enchia o seu navio de escravos,
traficando-os para os Estados Unidos. Homens, mulheres e crianças
comumente eram trazidos acorrentados abaixo das plataformas, visando
impedir possíveis suicídios. Os nativos africanos eram colocados lado a lado,
a fim de conservar o espaço, em fileira após fileira, uma após outra, até que a
embarcação estivesse “carregada”.
Os capitães dos navios negreiros procuravam fazer uma viagem rápida,
esperando preservar ao máximo a sua carga, contudo, a taxa de mortalidade
era alta, normalmente de 20% ou mais. Quando um surto de disenteria ou
qualquer outra doença ocorria, os doentes eram jogados ao mar. Uma vez
que chegavam a América, os negros eram negociados por açúcar e melaço,
cujo objetivo final era manufaturar o rum, que os navios levariam à
Inglaterra.
John Newton transportou muitas “cargas” de escravos africanos trazidos
ao novo mundo no século XVIII. No mar, em uma de suas viagens, o navio
enfrentou uma enorme tempestade e quase afundou. Na ocasião, Newton
achando que iria morrer ofereceu sua vida a Cristo. Após ter sobrevivido, ele
se converteu e começou a estudar para se tornar ministro do evangelho. No
final de sua vida Newton disse: “Minha memória já quase se foi, mas eu
recordo duas coisas: que eu sou um grande pecador, e que Cristo é meu
grande salvador”.17
Em seu túmulo é possível encontrar a seguinte frase:

Aqui jaz John Newton. Pastor, outrora um infiel e um libertino, mercador de


escravos na África, foi, pela rica misericórdia de nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo, preservado, restaurado, perdoado e chamado a pregar a mesma fé que ele
tinha se esforçado muito por destruir. Serviu cerca de 16 anos como pastor de
Olney, em Bucks, e 28 destas igrejas unidas.18

Que graça maravilhosa! Somente a graça de Cristo pode transformar a


vida de um homem. Eu mesmo fui salvo por essa graça! Lembro-me que no
início de 1986, minha mãe tremendamente desesperada por me ver
chafurdando no álcool e nas drogas, pediu que um pastor viesse me visitar.
Na ocasião, eu destilava ódio por Deus e por tudo que lembrasse o seu nome.
Recordo-me que o pastor entrou em meu quarto e começou a falar de Jesus,
sendo interrompido por mim, visto que não queria sequer ouvir falar o
nome desse tal Salvador. Cheio de ira, quase o agredi e expulsei o pastor da
minha casa. Alguns meses depois, encontrava-me drogado, quando um
amigo me convidou para ir à igreja. Na hora marcada ele passou em minha
casa, levando-me com muita dificuldade para a igreja de Nova Vida de Icaraí,
na cidade de Niterói. Jamais esquecerei o momento eu que ouvi o pastor
Reginaldo Melo pronunciando o nome de Jesus. Naquele instante algo
aconteceu. O Espírito Santo me convenceu das minhas iniquidades,
trazendo sobre mim uma forte convicção de pecado. No mesmo instante
chorei copiosamente diante da irresistível graça de Deus, prostrando-me
diante do Eterno e confessando Jesus Cristo como meu único e suficiente
Salvador!
Lembro-me que ao ter sido invadido por um amor incomparável
perguntei ao meu Redentor: “Oh Deus, por que o Senhor me salvou? Por que
me escolheu dentre os meus amigos? Eles são tão melhores do que eu!” E o
Espírito do Senhor, em resposta à minha pergunta, iluminou o texto de
Paulo em Efésios 2.1-10, fazendo-me entender que foi por graça,
superabundante graça.
Que maravilhosa graça! Sem sombra de dúvidas, a graça de Deus é melhor
do que a vida (Sl 63.3).
Veja o que o Príncipe dos Pregadores, Charles Spurgeon, disse sobre a sua
salvação e a manifestação da graça de Deus em sua existência:

Às vezes, quando vejo nas ruas certas pessoas com as piores inclinações, sinto
como se o meu coração fosse explodir em lágrimas de gratidão a Deus por ele não
ter me permitido agir como uma daquelas pessoas! Eu tenho imaginado que se
Deus me tivesse deixado nos meus próprios caminhos, e não me tivesse tocado
com a sua graça, que grande pecador eu teria sido! Eu teria percorrido toda a
extensão do pecado, teria mergulhado em toda a sua profundidade e tampouco
teria deixado de me envolver em qualquer vício ou perversidade, se Deus não me
tivesse impedido. Eu sinto que teria sido, de fato, o rei dos pecadores, se Deus
tivesse me deixado sozinho. Eu não consigo entender a razão pela qual fui salvo,
exceto pelo motivo de que Deus o desejou.
Não posso, mesmo que desejasse ardentemente, encontrar qualquer razão em
mim mesmo, pela qual eu deveria participar da graça divina. Se, neste momento,
eu não estou sem Cristo, isso é devido somente ao fato de que Cristo Jesus faz
cumprir sua vontade em mim, e tal vontade tem em mente que eu esteja com ele
onde ele estiver e que eu venha a participar da sua glória. A coroa tem que ser
colocada na cabeça daquele cuja graça poderosa livrou-me de mergulhar no
abismo.
Olhando para minha vida passada, posso perceber que a origem de tudo isso era
Deus e somente dele efetivamente. Eu não possuía uma tocha para acender o sol,
foi o sol que me iluminou. Eu não comecei a minha vida espiritual – pelo
contrário, eu rejeitava e lutava contra as coisas do Espírito: quando ele me atraiu,
por um certo período, eu não o segui; havia em minha alma um ódio natural
contra qualquer coisa santa e boa. Advertências de nada valiam para mim – os
avisos eram lançados ao vento – os trovões eram desprezados e, em relação aos
sussurros de seu amor, eu os rejeitava como se não tivessem qualquer valor.
Todavia, seguramente, posso dizer agora, em relação a mim mesmo, que “somente
ele é minha salvação”. Foi ele quem mudou o meu coração e me colocou de joelhos
diante dele.19

Prezado amigo, lamentavelmente o conceito ensinado pelos


neopentecostais sobre graça é bem diferente daquilo que Spurgeon e os
reformadores criam e pregavam, daí a necessidade de redescobrirmos os
ensinos dos nossos pais.

A BÍBLIA E O SIGNIFICADO DE GRAÇA


Se quisermos entender o significado daquilo que a Bíblia chama de graça,
é necessário que primeiramente entendamos o que ela diz sobre salvação.
R.C. Sproul ao falar sobre o que significa ser salvo afirmou:
O significado bíblico de salvação é amplo e variado. Em sua forma mais simples, o
verbo salvar significa “ser resgatado de uma situação perigosa ou ameaçadora”.
Quando Israel escapava das derrotas nas mãos de seus inimigos em batalhas,
dizia-se que fora salvo. Quando as pessoas se recuperam de uma enfermidade
grave, experimentam salvação. Quando a colheita é poupada das pragas e das
secas, o resultado se chama salvação. Usamos a palavra salvação de maneira
semelhante. Dizemos que um boxeador foi “salvo pelo gongo” se o assalto termina
antes que o juiz possa fazer a contagem que determina o nocaute. Salvação
significa ser resgatado de alguma calamidade. Entretanto, a Bíblia também usa o
termo salvação num sentido específico para referir-se à nossa redenção suprema
do pecado e à nossa reconciliação com Deus. Neste sentido, somos salvos da pior
de todas as calamidades – o juízo de Deus. A salvação suprema é concretizada por
Cristo, o qual “nos livra da ira vindoura” (1Ts. 1.10).20

Caro leitor, as Escrituras afirmam claramente que haverá um dia de


julgamento quando todos os seres humanos prestarão contas diante do
tribunal de Deus. Para muitos, este “dia do Senhor” será um dia de trevas,
sem luz alguma. Será a hora mais triste, a pior calamidade da história da
humanidade quando, independente de quem sejam, os homens prestarão
contas ao Criador.
A salvação significa ser poupado da ira divina que certamente virá sobre o
mundo. As Escrituras ensinam e afirmam que somente por Cristo o homem
pode ser salvo e isso em nada depende dele. Por mais religioso, íntegro,
honesto e correto que seja o ser humano, ele não pode aplacar a ira de um
Deus soberano que justamente pode lançar o homem no inferno (Sl 9.4-
6,17). A Bíblia nos ensina que a salvação vem por Jesus (Rm 10.9-13),
através de Jesus e mediante Jesus e que não é possível ser salvo fora dele,
portanto, nenhuma religião no mundo possui poder para redimir o homem
de seus delitos e pecados.

O CONCEITO DE GRAÇA:
Uma das principais ênfases dadas pelo reformador alemão Martinho
Lutero foi o combate ao comércio das indulgências. Lutero tinha entendido
que o homem não possui a menor condição de comprar o favor de Deus e
que, em virtude disso, ainda que oferecesse todo o dinheiro existente no
mundo, seria incapaz de adquirir para si o perdão dos seus pecados.
A Reforma Protestante resgatou o conceito que o perdão de Deus nos foi
ofertado por Cristo na cruz do Calvário, e que não existe absolutamente
nada a ser feito por nós, simplesmente pelo fato de que o preço já havia sido
pago. Para os reformadores, toda a experiência cristã é fruto da graça divina,
que experimentamos por meio da fé naquilo que Cristo fez por nós.
Lamentavelmente, nos dias de hoje algumas das denominadas igrejas
evangélicas jogaram no lixo a doutrina da salvação pela graça. Infelizmente
muitas destas comunidades, além, é claro, dos seus pastores, estão
oferecendo ao povo as mais variadas “bênçãos”, o que nitidamente se
percebe na ênfase dada ao entretenimento religioso, na prosperidade
financeira, na frouxidão moral, na saúde integral e muito mais. Para piorar a
situação, tudo isso pode ser adquirido em troca de significativas ofertas
financeiras.
Nessa perspectiva o conceito bíblico sobre graça se perdeu, o que de certa
forma tem contribuído para uma visão doentia, esquizofrênica e
imbecilizada sobre aquela que talvez seja uma das mais belas doutrinas das
Escrituras.
Prezado amigo, a graça de Deus é a manifestação do seu amor por nós,
pecadores. A Bíblia nos ensina que ele nos amou de tal maneira que enviou
seu Filho Jesus, para morrer em nosso lugar (Jo 3.16). Deus nos amou
incondicionalmente, isto é, ele não nos não impôs exigências ou regras nem
tampouco viu em nós qualificações ou virtudes que despertassem nele o
desejo de nos salvar. O apóstolo João nos ensina que Deus nos amou
primeiro (1Jo 4.19). Nós não somos merecedores do seu amor, muito pelo
contrário, em virtude do nosso estado de metástase espiritual, estávamos
merecidamente condenados ao inferno, contudo, por sua graça e bondade,
Cristo resolveu nos salvar, dando-nos vida eterna.
Aleluia! É o amor de Deus que nos redime das nossas transgressões. É
esse amor gracioso que nos abre o coração para receber gratuitamente tanto
o perdão como a misericórdia. É a graça de Deus em Cristo que nos liberta do
pecado ou da autoindulgência e nos conduz a uma vida de plenitude. É essa
graça que nos liberta da religiosidade e nos transforma em pessoas
quebrantadas e ávidas pelo Senhor.

13. Declaração de Cambridge. Acessado em Junho de 2013 em:


http://www.monergismo.com/textos/credos/declaracao_cambridge.htm
14. Essa é a tese de Rosseau em sua famosa obra Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da
Desigualdade Entre os Homens, de 1754.
15. Charles Haddon Spurgeon. Verdades Chamadas Calvinistas: uma Defesa (São Paulo, SP: Editora
PES), passim
16. Hino de John Newton “Amazing Grace”, composto em 1773. HCC 314
17. Brian Edwards. De Traficante de Escravos a Pregador (São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2001)
p. 201
18. Ibidem
19. C. H. Spurgeon. Verdades Chamadas Calvinistas: uma Defesa (São Paulo, SP: Editora PES), passim
20. R. C. Sproul. Verdades Essenciais da Fé Cristã – 1 º Caderno (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã,
2010) passim
sola f1de

Reafirmamos que a justificação é somente pela graça somente por intermédio da


fé somente por causa de Cristo. Na justificação a retidão de Cristo nos é imputada
como o único meio possível de satisfazer a perfeita justiça de Deus.
Negamos que a justificação se baseie em qualquer mérito que em nós possa ser
achado, ou com base numa infusão da justiça de Cristo em nós; ou que uma
instituição que reivindique ser igreja mas negue ou condene sola fide possa ser
reconhecida como igreja legítima.21

Os adeptos do neopentecostalismo depositam fé na fé. Parece


redundância, mas é exatamente isso que pregam. Na verdade, boa parte dos
apóstolos da modernidade enfatiza muito mais a fé na fé do que a fé em
Jesus.
Isto posto, é importante que façamos uma pequena diferenciação. Para os
neopentecostais (ainda que de forma inconsciente) existem dois tipos de fé.
A primeira é aquilo que denomino de fé milagreira. Isto é, a fé que acredita
que Deus vai fazer milagres mediante algum objeto consagrado. Para tanto,
basta um ponto de contato. É comum vermos os neopentecostais colocando
sobre a televisão um copo d’água ou algum outro elemento, na expectativa
de um milagre qualquer. Além disso, é possível encontrarmos muitos destes
orando em cima de lenços, roupas ou objetos pessoais daquele que se
encontra sofrendo. Certa feita, uma senhora que visitava a minha igreja
apresentou aos pastores a foto de seu filho que se encontrava enfermo.
Sensibilizada pela dor do rapaz, ela me solicitou que ungisse com óleo o seu
retrato, o que obviamente não fiz. Noutra ocasião, um colega de ministério
me contou que havia conseguido um frasco de óleo ungido e que, em virtude
disso, ungiria os cômodos de uma casa oprimida por Satanás.
Caro leitor, em nenhum lugar do Novo Testamento nós vemos Jesus
orientando os discípulos a ungirem objetos. Ou em que parte das Escrituras
encontramos os apóstolos distribuindo óleo ungido para os fiéis? Ou em que
momento vemos Paulo ungindo presbíteros numa cerimônia de ordenação
ao santo ministério? Ora, concordo plenamente com Augustus Nicodemus
quando afirma22 que o método usado para consagrar pessoas a Deus, no
Novo Testamento, para a realização de uma tarefa é a imposição de mãos.
Os apóstolos não ungiram os diáconos quando estes foram nomeados e
instalados, mas lhes impuseram as mãos (At 6.6). Pastores também eram
consagrados pela imposição de mãos e não pela unção com óleo (1Tm 4.14).
Não há um único exemplo de pessoas sendo consagradas ou ordenadas para
os ofícios da Igreja cristã mediante unção com óleo. A imposição de mãos
para os ofícios cristãos substituiu a unção com óleo para consagrar
sacerdotes e reis.
O problema é que o neopentecostalismo confunde fé com magia. Na
verdade, a magia é estranha ao cristianismo. No cristianismo, o homem se
submete ao seu Salvador; na magia, Deus se submete ao homem. A fé dos
neopentecostais é antropocêntrica, ensimesmada e mágica, o que contribui
de modo substancial para o uso de amuletos “poderosos”. Em certa ocasião,
uma conhecida de minha mãe chegou em casa com uma fronha de
travesseiro que fora ungida por um apóstolo. Segundo ela, se minha mãe
tivesse fé, aquela fronha seria poderosa para lhe dar boas e tranquilas noites
de sono.
Sinceramente, me espanta a capacidade de alguns evangélicos de fabricar
distorções teológicas desse tipo. Para piorar a situação, a fabricação do óleo
ungido se transformou num grande negócio, e, em nome de Deus, milhares
de litros são produzidos com o intuito único de “ungir” o necessitado de
bênçãos espirituais.
O segundo tipo de fé é a fé salvífica. Para os neopentecostais não basta
crer em Jesus, é preciso fazer mais do que isso. Assim, é necessário amarrar
demônios, quebrar maldições, dar dízimos e ofertas extravagantes (alguns
neopentecostais acreditam que aqueles que deixam de dar o seu dízimo
poderão perder a sua salvação). Na verdade, para estes, o conceito paulino de
que a salvação é pela graça e não por obras não passa de retórica religiosa.
Prezado leitor, a graça exclui totalmente as obras. O homem nada pode
fazer e nada tem para oferecer a Deus por sua salvação. A única coisa que lhe
cabe é aceitar o dom da salvação, pela fé, quando esta lhe é concedida. Fé na
pessoa e obra suficiente de Cristo, que lhe é concedida gratuitamente e faz-
nos justos diante de Deus.
Esta foi a doutrina central da Reforma Protestante. O monge alemão.
Martinho Lutero não conseguia entender como a justiça de um Deus Santo e
Justo poderia se revelar no evangelho (Rm 1.17). Para ele, a justiça de Deus
só poderia condenar o homem, não salvá-lo. No entanto, quando
compreendeu que a justiça de que Paulo falava não era o atributo pelo qual
Deus retribui a cada um conforme os seus méritos, mas o modo como ele
justifica o homem em Cristo, é que entendeu as Escrituras aflorando a
verdade em sua mente. Lutero então tornou-se um homem livre, confiante e
certo do perdão dos seus pecados. Ele finalmente havia compreendido a
mensagem do evangelho. Neste ponto, essa expressão da reforma ganhou
novas cores e vitalidade para Lutero: Sola Fide Justificate.
É pela fé que o justo vive. Quando Paulo cita Habacuque 2.4, ele usa este
versículo para ensinar que é através da fé, e não das obras, que alguém é
declarado justo em Cristo. Quão longe estava a Igreja Romana dessa verdade
simples do evangelho quando ensinava que o perdão podia ser comprado
com dinheiro e a salvação adquirida com o mérito dos santos. Tetzel, o
vendedor das indulgências do Papa Leão X, na Alemanha, dizia que “ao som
de cada moeda que caía no caixinha, uma alma se desprendia do purgatório e
voava até o paraíso”. Entretanto, pela graça de Deus, os reformadores
redescobriram nas Escrituras que os pecadores são justificados somente pela
graça por meio da fé. Redescobriram também que a fé é muito mais do que a
obediência de pressupostos religiosos. Eles entenderam que ter fé em Cristo,
está bem além de confiar numa igreja, de aceitar seus dogmas, ou até mesmo
de seguir o Papa.
A salvação pela fé em Cristo é uma doutrina fundamental da Bíblia.
Enquanto as religiões ensinam aos homens o que fazer para que sejam
salvos, a Bíblia nos adverte que não somos salvos por obras, mas pela graça
de Deus em Cristo Jesus (Ef 2.8,9). O cristianismo bíblico é diferente de
qualquer outra religião, pois se fundamenta naquilo que Deus realizou
através da obra de Cristo na cruz, enquanto as religiões fundamentam seus
pressupostos em meras realizações humanas.
Os pecadores são perdoados por Cristo pela fé somente. Paul Settle
afirma23 que a fé é perfeitamente adequada para salvar, pois ela liga
pecadores com um Salvador perfeitamente adequado. Nós desfrutamos uma
salvação perfeita porque, à vista de Deus, estamos unidos com um Salvador
perfeito. Quando o carcereiro perguntou: “O que devo fazer para ser salvo?”,
a resposta de Paulo disse tudo: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo” (At
16.30,31).
A ênfase na doutrina da justificação pela graça somente pela fé, pregada
pelos reformadores no século XVI, precisa ser redescoberta pela igreja do
século XXI. Afirmo que em virtude das incongruências e idiossincrasias
comuns ao nosso tempo, é urgente e necessária a pregação da velha verdade
de que o homem é salvo pela fé em Cristo Jesus. Todavia, por fatores
diversos, são poucos os evangélicos que ainda têm dado ênfase ao aspecto
objetivo da justificação pela fé. Lamentavelmente experiências catárticas,
avivamentos emocionais, respostas a apelos e outras práticas estão tomando
o lugar da pregação dos temas chaves da Reforma. As doutrinas do pecado
original, da expiação vicária de Cristo, da eleição e da justificação pela fé
estão sendo negadas hoje por muitos evangélicos que buscam uma
acomodação à cultura da modernidade.
Mas a mensagem do evangelho é simples, os homens é que a complicam.
Basta pregarmos que a justificação é somente pela graça, somente por
intermédio da fé, e somente por causa de Cristo. Não é tão complicado, não
é mesmo?
O reformador francês, João Calvino, referiu-se a essa doutrina como “o
principal ponto de apoio sobre o qual se articula a religião”.24 Ele tratou
desse conceito em uma das seções mais longas das Institutas, onde lhe deu a
seguinte definição: “Interpretamos a justificação simplesmente como a
aceitação pela qual Deus nos recebe em seu favor como homens justos, e
dizemos que ela consiste na remissão dos pecados e na imputação da justiça
de Cristo”. Martin Lloyd-Jones disse que a justificação pela fé “é a grande
doutrina central de todo protestanttismo”; e Lutero disse que a justificação
pela fé é “o tema principal do qual fluem todas as outras doutrinas”.
A justificação é a resposta de Deus sobre como uma pessoa pode se tornar
aceitável diante do Criador. Paulo, em sua epístola aos Romanos demonstra
que a justificação é um conceito jurídico ou forense (Rm 3.21-25), e tem o
significado de “declarar justo”. É o ato de Deus mediante o qual ele, em sua
graça, declara justo o pecador, isentando-o de qualquer condenação. Em
outras palavras, isso significa que os pecados de todos os eleitos foram
imputados a Cristo, por isto ele sofreu e morreu na cruz (1Pe 2.24; 2Co
5.21). Cristo foi feito legalmente responsável pelos pecados daqueles que
Deus de antemão elegeu. Nosso redentor sofreu o justo castigo merecido
pelos pecadores (Rm 6.23). Ao morrer no lugar do pecador, Cristo satisfez as
demandas da justiça de Deus libertando os eleitos para sempre de toda
possibilidade de condenação ou castigo.
Louis Berkhof explica em sua Teologia Sistemática que a justificação é
uma sentença divina na qual Deus declara perdoado todo pecador que crer
em Jesus. Segundo ele, “a justificação é um ato judicial de Deus no qual ele
declara, baseado na justiça de Jesus Cristo, que todas as exigências da lei
estão satisfeitas com respeito ao pecador”.25 A justificação é o contrário de
condenação. Ela é um ato único e legal que remove a culpa do pecado e
restaura o pecador à sua condição de filho de Deus, com todos os seus
direitos, privilégios e deveres. A justificação não ocorre na vida do pecador,
não produz mudanças no seu caráter, mas no Tribunal de Deus. Justificação
é uma declaração. Santificação é transformação. Mas, é a partir da
justificação que o Espírito Santo inicia no pecador todo o processo de
santificação, até a sua glorificação.
Vale a pena ressaltar que a justiça que nos justifica não está relacionada a
nós mesmos ou àquilo que fazemos ou deixamos de fazer. É exclusiva obra
de Cristo. Somente ele pôde satisfazer as demandas da lei. Portanto, quando
alguns dos fariseus modernos ensinam que além da cruz torna-se necessário
a observação de obras, estão ferindo a doutrina da justificação pela fé que
ensina que Cristo é nossa justiça e que pelo seu sangue somos justificados.
Martin Lloyd-Jones disse que o erro da justificação pelas obras está em
confiar na disciplina de sua própria alma para salvar a si mesmo.
Caro amigo, a justiça de Deus, revelada no Novo Testamento, está muito
além das obras. A justiça que justifica o homem é a justiça perfeita de Cristo,
a qual cumpre completamente todos os requisitos da lei a que os homens
incondicionalmente estão obrigados a cumprir.
As Escrituras são claras em afirmar que salvação, a despeito de gratuita
para o pecador, teve um alto custo para Deus. Para nós a salvação não custou
absolutamente nada, no entanto, para Deus Pai custou à vida de seu Filho. O
apóstolo Pedro em sua primeira epístola nos ensina que nossa justificação se
deveu ao precioso sangue do cordeiro que, sem defeito e mácula, foi vertido
em favor de cada um de nós (1Pe 1.18,19). Somos salvos por meio do
sacrifício de Cristo, mediante o qual Deus tomou a culpa do pecador
atribuindo-a a Jesus. É por causa da morte do Filho de Deus que a justiça
divina foi imputada ao pecador. Jesus pagou a pena em nosso lugar, e por
isso nenhuma condenação há para aquele que nele confia (Rm 8.33-35).

21. Declaração de Cambridge. Acessado em Junho de 2013 em:


http://www.monergismo.com/textos/credos/declaracao_cambridge.htm
22. Carta ao Reverendo Van Diesel, O tempora O mores, http://tempora-
mores.blogspot.com.br/2012/06/carta-ao-reverendo-van-diesel.html acessado em junho de 2013.
23. Sola Fide http://www.monergismo.com/textos/cinco_solas/sola_fide_settle.htm . Acessado em
Junho de 2013.
24. João Calvino. As Institutas da Religião Cristã (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2003) 3.11.1
25. Louis Berkhof. Teologia Sistemática (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2013)p. 510
solus chr1stus

Reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do


Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para
nossa justificação e reconciliação com o Pai.
Negamos que o evangelho esteja sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo
não estiver sendo declarada e a fé em Cristo e sua obra não estiver sendo
invocada.26

O messianismo tem sido uma das principais marcas do


neopentecostalismo. Lamentavelmente, não são poucos os que tomaram
para si o papel de “ungido do Senhor”. Infelizmente, em cada canto dessa
nação, tornou-se comum encontrar pastores advogando que foram
escolhidos e chamados por Deus e que, por conta disso, são especiais. Se isso
não bastasse, as igrejas adeptas a este tipo de fé trazem a reboque uma forte
ênfase ao personalismo. Com raríssimas exceções, as denominações
neopentecostais usam e abusam da figura pública do pastor. Na verdade,
elas dependem exclusivamente do aparecimento de personalidades
carismáticas, cuja postura e comportamento impõem um estilo populista
sobre a comunidade da fé.
Infelizmente, inúmeros líderes evangélicos têm contribuído para esse
trágico culto à personalidade, alegando possuir virtudes e dons especiais,
atribuindo a si mesmos títulos como o de apóstolos, patriarcas, bispos e
outros tantos mais.
Os reformadores do século XVI, ao contrário dos simonistas pós-
modernos, contestaram este pérfido sistema no qual líderes eram tidos
como detentores de um poder espiritual especial. Para os apóstolos do
primeiro século, o que valia era o princípio bíblico de que todos os crentes
são sacerdotes de Deus e, portanto, são todos iguais diante dele (1Pe 2.5,9;
Ap 1.6). Há pouco tempo, soube que um dos “apóstolos” tupiniquins, ao
pregar na televisão sobre a Carta de Pedro, ousou afirmar que, se ele pudesse
conversar com Cefas, o corrigiria quanto a algumas doutrinas por ele
ensinada em sua epístola. Outro dia, um pastor amigo meu, me contou que
um colega de ministério, que se considera “apóstolo”, liberou, mediante sua
autoridade “apostólica”, outro pastor da prática da oração e do jejum. Por
esses dias fiquei sabendo que um jovem pastor de uma igreja
neopentecostal, ministerialmente inexperiente e despreparado
teologicamente, tomou para si o título de bispo. Isso mesmo: ele agora é
bispo!
A valorização de títulos eclesiásticos por parte dos evangélicos tornou-se
marca indelével de uma igreja desprovida de conhecimento teológico. Além
disso, a veneração dos neopentecostais direcionada a alguns dos seus líderes
é um tipo de idolatria falseada. Na verdade, para os adeptos deste tipo de
evangelho, os apóstolos, bispos e pastores são seres mágicos, dignos de
honra, capazes de operar milagres estupendos satisfazendo suas
necessidades pessoais. Outro dia, um irmão em Cristo foi, em amor, exortar
a sua mãe, frequentadora de uma conhecida igreja neopentecostal. Na
ocasião ele a repreendeu por estar fazendo do seu bispo um tipo de deus.
Para surpresa dele, sua querida mãe respondeu, dizendo: “Não fale mal do
bispo Fulano de Tal, pois para mim ele é a mesma coisa que Deus”.
Infelizmente, em comunidades deste naipe, Cristo tornou-se
desnecessário ou, no máximo, um tipo de amuleto sagrado que, quando
manuseado pelos profetas de Jeová, cumpre sua obrigação de curar, salvar e
libertar os oprimidos, transferindo para o milagreiro a honra, a majestade e
a glória de ser um “representante” divino.
Caro leitor, como escrevi anteriormente, o catolicismo romano do século
XVI em muito se parece com o neopentecostalismo do século XXI. Como
sabemos, Roma afastou-se do evangelho extirpando a centralidade da cruz e
do Messias, transferindo o seu poder a Maria e aos santos. Se não bastasse
isso, Roma instituiu a figura do sacerdote como vigário de Cristo, a quem
devem ser confessados os pecados e a quem supostamente foi conferido
poder para perdoá-los, mediante a prescrição de penitências. Ora, salvo
algumas dessemelhanças, o neopentecostalismo percorre o mesmo caminho.
Para o movimento neopentecostal, Cristo não é o personagem principal do
drama da salvação, e sim seus apóstolos e profetas. Na verdade, os fiéis deste
tipo de prática religiosa acreditam que os seus líderes possuem poder para
fazer o que quiserem em nome Deus. Nessa perspectiva, as Escrituras são
relegadas a segundo plano em favor de atos proféticos revelados pelo
Criador ao “supremo sacerdote”.
Há alguns anos, soube da história de uma moça que ao migrar de uma
igreja para outra foi amaldiçoada pelo pastor, que lhe disse que, caso não se
arrependesse e voltasse para a sua igreja, morreria de câncer. Ora, isso não é
cristianismo nem aqui nem na China. Sinceramente, eu não consigo
entender este tipo de evangelho que concede ao pastor um poder quase que
divino. Infelizmente, em nome de Deus, tais pessoas têm rogado “pragas e
desgraças” para aqueles que em algum momento da vida se contraponham a
seus sonhos, visões e vontade. Em certas igrejas, a palavra “rebeldia” tem
sido usada para todo aquele que foge dos caprichos fúteis de uma liderança
enfatuada. Em comunidades deste tipo, discordar do pastor quase que
implica com que o nome do discordante seja “riscado” do Livro da Vida.
Pois é, tais líderes, afetados por uma percepção equivocada das
Escrituras, acreditam que possuem poder para interligar Deus aos homens,
representando o Criador diante da criatura. O problema é que os pastores
em questão esqueceram a inequívoca e inexorável verdade de que Cristo é o
único mediador entre Deus e os homens: “Há um só Deus e um só Mediador
entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm 2.5), e “não há
salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro
nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At
4.12).
Vale a pena ressaltar que, por intermédio de Cristo, Deus nos concedeu o
sacerdócio universal. Por causa dele, não necessitamos de outro sacerdote ou
mediador entre nós e Deus. Por causa do sacrifício de Jesus Cristo na cruz,
cada um dos eleitos pode chegar-se a ele diretamente, sem intermediários
humanos. Em outras palavras, isso significa dizer que não necessitamos de
apóstolos, bispos ou qualquer outra “autoridade eclesiástica” para nos
relacionarmos com Deus. O sacrifício de Cristo na cruz do Calvário nos dá
livre acesso ao trono do Pai. Além disso, afirmo também que a nossa
salvação foi realizada exclusivamente pela obra medianeira de Cristo Jesus e
que a sua vida de obediência e sem pecado e sua expiação por si só são
suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai.
A Reforma trouxe à Igreja o evangelho simples dos apóstolos, centrado na
suficiência e exclusividade da obra de Cristo para a salvação. A velha
confissão de Paulo foi a confissão da Reforma Protestante: “Porque decidi
nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co 2.2).
Cristo é tudo em todos. Cristo é o centro da Escritura. Ele é o centro da
Profecia. Ele é o centro da Liturgia. Ele é a mensagem do evangelho. Ele é o
centro da nossa devoção. Ele é o centro da nossa fé.
Isto posto, jamais esqueçamos que a mensagem pregada pelos apóstolos,
pelos Pais da Igreja e pelos reformadores era exclusivamente cristocêntrica.
Foi nosso Senhor que declarou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida,
ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6).

OS BENEFÍCIOS DE UM EVANGELHO CRISTOCÊNTRICO.


Infelizmente, um número incontável de líderes neopentecostais possui
uma visão completamente distorcida de quem seja Jesus. Há pouco tempo,
um famoso “apóstolo” afirmou que Jesus não é eterno e que foi criado por
Deus. Para o religioso em questão, Jesus não pode ser colocado no mesmo
patamar que o Pai, visto que num tempo estabelecido na eternidade, fora
criado. Ao afirmar isso, ele incorreu na velha heresia ariana, que afeta
também os testemunhas de Jeová.
O arianismo vem de Árius, ou Ário, um mestre da Igreja do início do
século IV que questionou a coeternidade e divindade de Cristo, fazendo
questionamentos tais como: “Era Jesus verdadeiramente Deus em carne ou
era Jesus um ser criado? Era Jesus Deus ou apenas como Deus?” Ário
defendia a ideia de que Jesus foi criado por Deus como o primeiro e mais
importante ato da Criação. O arianismo, então, é a crença de que Jesus era
um ser criado com atributos divinos, mas não era divindade em si mesmo.
A história relata que a Igreja oficialmente denunciou o arianismo como
uma doutrina falsa. O Concílio de Nicéia, em 325, pôs fim à heresia ariana.
Desde então, o arianismo nunca mais foi aceito como uma doutrina viável da
fé cristã. No entanto, o Arianismo nunca morreu, mas tem continuado pelos
séculos, de várias formas diferentes, o que nitidamente se percebe na visão
distorcida por parte de alguns líderes neopentecostais.
Ouso afirmar que a visão diminuída e apequenada de quem seja o Filho de
Deus, aliada a uma percepção superdimensionada e personalista de um líder
religioso, tem contribuído em muito para o adoecimento da igreja evangélica
brasileira. Na verdade, em alguns dos arraiais neopentecostais, Cristo não
tem sido anunciado como Soberano Deus e sim como aquele que obedece às
ordens, determinações e decretos espirituais emitidas pelos “ungidos do
Senhor”. Outro dia, um famoso “apóstolo” compartilhou publicamente uma
visão que teve. Ele afirmou que fora arrebatado ao terceiro céu, e que num
determinado momento enquanto conversava com o Pai, Jesus se aproximou
falando alguma coisa. O Pai, ao ver que Cristo estava atrapalhando a sua
conversa com o dito apóstolo, interrompeu-o dizendo: Filho, agora não! Não
vê que eu estou conversando com Fulano?
Pois é, salvo exceções, (mesmo porque, acredito que nem todos os
pastores neopentecostais pensem desta forma) creio que boa parte dos
chamados “apóstolos” acreditam que são especiais. Na verdade, os
ensinamentos de muitos destes apontam para uma visão distorcida de quem
é o Cristo das Escrituras.
Vivemos um tempo em que é urgentemente necessário resgatarmos os
valores bíblicos e teológicos quanto àquilo que a Bíblia ensina sobre quem é
o Filho de Deus. Além disso, acredito que mais do que nunca necessitamos
retornar ao evangelho da salvação eterna, cujo foco principal é Cristo,
pregando sobre suas virtudes, atributos e deidade. Pois uma igreja centrada
em Cristo, desfruta de crescimento espiritual significativo:

1 - Uma igreja que prega Cristo, sua divindade, eternidade e soberania,


vivencia uma visão saudável de quem é o Filho de Deus.
Uma igreja cujo foco do púlpito seja Cristo, experimenta em todas as suas
dimensões saúde espiritual. Pois quando Cristo é pregado, torna-se impossível
que qualquer coisa ou pessoa tome o lugar que é dele de direito. Quando Cristo é
anunciado, as vozes da vanglória se calam, os gemidos da arrogância desaparecem
e a prepotência dos pregadores silencia diante de tão majestosa presença.

2 - Uma igreja que prega Cristo, entende que a salvação não se dá por
ações místicas proferidas por profetas “especiais”.
Quando Cristo é pregado e anunciado como único e suficiente Salvador, o foco é
tirado do homem e transferido exclusivamente para Deus. Ora, por mais piedoso
que seja o pregador, por mais carismático que seja o pastor, estes não possuem
poder suficiente para salvar o homem da condenação eterna.

3 - Uma igreja que prega a Cristo, deixa de ser personalista.


O neopentecostalismo traz em seu bojo uma forte ênfase ao individualismo. Com
raríssimas exceções, as denominações neopentecostais usam e abusam da figura
pública do pastor, fazendo dele uma espécie de sacerdote, de pontífice entre o céu
e a terra, entre Deus e os homens. Esses homens são considerados diferentes dos
demais e a sua palavra é cheia de autoridade e poder. Mas quando Cristo é
pregado, os homens saem de cena. Quando Cristo é anunciado, o senso de João
Batista assume lugar: “Importa que ele cresça e eu, diminua” (Jo 3.30).

4 - Uma igreja que prega Cristo, abandona o sincretismo.


O neopentecostalismo brasileiro tem por características o misticismo e a
superstição. Basta olharmos para algumas destas igrejas que perceberemos com
facilidade a miscigenação de fé. Na verdade, o comportamento de algumas dessas
comunidades cada vez mais se aproxima dos rituais pagãos. Lamentavelmente,
em alguns dos denominados templos evangélicos é comum encontrar verdadeiras
aberrações teológicas. Outro dia fiquei sabendo de uma igreja que estava
distribuindo, mediante “módica” contribuição, o óleo da prosperidade, ou seja, os
que adquirissem o óleo abençoado pelo “apóstolo” alcançariam prosperidade e
bênçãos da parte do Senhor. Mas quando Cristo é pregado e anunciado como o
único capaz de salvar o homem de seus delitos e pecados, todo tipo de misticismo
e sincretismo é abandonado. Ouso afirmar que existe uma enorme
incompatibilidade entre o evangelho da salvação eterna, cujo foco é Jesus, e esse
evangelho estranho, anunciado pelos apóstolos da modernidade, cujo foco é a
prosperidade e a satisfação humana.

5 - Uma Igreja que prega Cristo, rejeita o ecumenismo


Não possuo a menor dúvida em afirmar que ecumenismo não é bíblico. Na
verdade ele afronta a Deus, sua Palavra, seu único Filho, sua Igreja e ao Espírito
Santo. Uma igreja que prega que a salvação se dá somente por Cristo, não correrá
o risco de cair nessa esparrela do diabo. As Escrituras afirmam que somente Cristo
salva. Ele é o único e verdadeiro Deus, Rei dos reis, Senhor do universo, o Todo-
Poderoso. O ecumenismo afronta as verdades bíblicas simplesmente porque
ensina que todas as pessoas, independente do credo ou religião que professam,
serão salvas em nome do amor. Ora, as Escrituras ensinam que Jesus é o caminho,
a verdade e a vida e quem ninguém pode ir ao Pai senão por ele (Jo 14.6).

6 - Uma Igreja que prega Cristo, jamais pregará a salvação pelas obras
É impressionante a quantidade de igrejas que acreditam que Deus salva os
homens não por graça, mas por mérito. Há pouco tempo soube de um pastor que
estava ensinando que se alguém deseja ver um membro da sua família salvo, teria
de pagar um preço por isso. Para o pastor, o valor da salvação do ente querido está
relacionado a horas de jejum e oração. Segundo ele, Deus se vê obrigado a salvar
alguém quando agimos desta forma. Lamentavelmente, existe um número cada
vez maior de pessoas em nossas igrejas que acreditam que, por meio de seus
méritos, vidas serão salvas. Caro amigo, nada que façamos pode agradar a Deus.
Obras de caridade, amor ou filantropia não podem salvar ninguém. É um terrível
equívoco achar que através das nossas ações Cristo salvará o homem da morte
eterna. As Escrituras afirmam que a salvação que nos libertou do império das
trevas, que nos arrancou da condenação à morte, que nos deu a liberdade não foi
adquirida por mérito humano, mas totalmente pela graça de Deus em Cristo
Jesus. Trata-se de um presente de Deus para os eleitos.

Por isso, afirmamos um dos lemas dos reformadores: “Solus Christus”.


Somente Cristo. A salvação está em Cristo somente. A vida de plenitude está
em Cristo somente. O reino porvir, em Cristo somente. Que Cristo seja
glorificado. Importa que ele cresça e todos nós diminuamos.

26. Declaração de Cambridge. Acessado em Junho de 2013 em:


http://www.monergismo.com/textos/credos/declaracao_cambridge.htm
sol1 deo glor1a

Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a
glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira
perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente.
Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for
confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em
nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a
auto-realização se tornem opções alternativas ao evangelho.27

É comum encontrarmos em algumas estruturas neopentecostais a


supervalorização do pastor. Na verdade, para muitos o líder religioso merece
ser honrado e tratado de forma especial, com aplausos, oferendas e atos
venerativos. Em certa ocasião, numa capital do nordeste do país, em meio a
uma cruzada evangelística de um famoso pastor, via-se na cabeça de
centenas de pessoas bandanas coloridas e purpurinadas com o nome do tal
pregador.
Lamentavelmente, para alguns dos adeptos do neopentecostalismo o
pastor “milagreiro” é merecedor de especiais elogios, visto que “através” dele
as bênçãos de Deus veem sobre suas vidas. Nesse contexto é possível
encontrarmos milhares de pessoas venerando bispos, pastores e apóstolos.
Um exemplo claro é quando a imprensa noticiou a história de alguns
neopentecostais que por amor e devoção aos seus líderes tatuaram os seus
nomes em seus corpos.
Caro leitor, os reformadores acreditavam que toda a glória e louvor
pertencem exclusivamente a Deus. Isso significa que ninguém, nem homens
nem anjos, devem ocupar o lugar que pertence ao Criador. É exatamente isso
que determina o primeiro mandamento: “Eu sou o SENHOR, teu Deus, que
te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante
de mim” (Êx 20.1-2).
Estou debaixo da impressão que parte do movimento evangélico
brasileiro, especialmente entre os neopentecostais, trata seus líderes como
se fossem semideuses. Para alguns, os apóstolos da modernidade são
praticamente infalíveis. Certa feita, num programa de televisão, assisti um
“testemunho” de uma senhora que exaltava o líder da sua igreja por causa do
“milagre” recebido. Para ela, ainda que inconscientemente, a “bênção” só lhe
foi outorgada porque o tal apóstolo assim desejou.
Prezado amigo, ninguém, absolutamente ninguém, tem o direito de
tomar para si a glória de Deus. Ele deve ser o único foco da nossa adoração!
Ele é o motivo do nosso louvor. Aliás, a adoração e a música entoada por
alguns dos evangélicos têm sido motivo de muita preocupação. Tenho visto
em nossos “arraiais” uma enorme quantidade de “artistas” ministrando
canções cujo foco não é o Senhor. Tem gente cantando para afrontar o diabo,
para homenagear pastores, para entretenimento próprio e muito mais.
Pois bem, ao contrário do que alguns praticam, o verdadeiro
protestantismo defende que a glória de Deus é o fim para o qual ele criou
todas as coisas. Não é só o fim principal do homem, mas o fim de todas as
coisas. É o fim do próprio Deus, como bem afirma John Piper28. Do ponto de
vista bíblico, Deus é glorificado em tudo e em todas as coisas. Somos salvos
para a glória de Deus, pregamos o evangelho para a glória de Deus, vivemos
em comunidade para a glória de Deus, casamos e temos filhos para a glória
de Deus, estudamos e trabalhamos para a glória de Deus. Tudo aquilo que
somos e temos nos foi dado para que vivêssemos para a glória de Deus. Além
disso, a missão prioritária da Igreja é glorificar seu Senhor. Nosso Deus tem
por objetivo e desejo que o seu santo e excelso nome seja glorificado em
nossos púlpitos, vidas e ministérios.
João Calvino disse que29 o desejo de Deus é que a “sua glória seja
manifesta ao seu povo”. Aliás, a glória de Deus era um dos assuntos que mais
mexia com o reformador francês. Verdadeiramente Calvino tinha zelo pela
glória de Deus.
Na Inglaterra do século XIX existiram grandes pregadores, dentre estes
Joseph Packer e Charles Haddon Spurgeon. Conta-se que num domingo um
grupo de irmãos em Cristo resolveu visitar as igrejas pastoreadas por esses
líderes. Pela manhã foram à igreja liderada por Packer e quando de lá saíram
falavam uns com os outros: “Que pregador maravilhoso”. À noite, o grupo se
dirigiu ao Tabernáculo Batista Metropolitano para ouvir Spurgeon. Ao final
do sermão, extasiados disseram: “Que Deus maravilhoso foi esse anunciado
pelo pregador”.
Ao contrário de Spurgeon, não são poucos os pastores que chamam para
si a atenção dos ouvintes. Falam espalhafatosamente, contam vantagens,
anunciam seus feitos, enaltecem seus próprios nomes advogando para si
algo que não lhes pertence. Diferentemente destes, os puritanos temiam
pecar contra Deus, e, em virtude disso, jamais falavam de si mesmos no
púlpito. O próprio Spurgeon, com o passar dos anos e com a chegada do
amadurecimento, mudou o seu modo de pregar evitando exagerar nos gestos
bem como nas frases mais jocosas.
Spurgeon também afirmava que “nada deveria ser o alvo do pregador a
não ser a glória de Deus através da pregação do evangelho da salvação”. Em
outras palavras, o Príncipe dos Pregadores acreditava que a pregação deveria
ser absolutamente teocêntrica.
John Piper, ao escrever30 sobre a glória de Deus, afirmou que a doutrina
da depravação total é absolutamente bíblica. Ele disse que tudo aquilo o que
um incrédulo faz é pecaminoso e, que em virtude disso, ele se torna
inaceitável diante de Deus. Para tanto, Piper se baseia no texto de
1Coríntios 10.31 que diz “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra
coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. À luz desse texto, Piper
defende que aquele que come ou bebe ou faz qualquer coisa que não seja
para a glória de Deus, peca contra o Senhor. Em outras palavras, ele está
afirmando que o pecado não é apenas uma lista de coisas nocivas como
adultério, assassinato e roubo. Pecado é mais do que isso. Pecado é deixar
Deus de lado nos assuntos corriqueiros da vida.
Prezado amigo, as Escrituras declaram enfaticamente que “por causa dele,
e por meio dele, e para ele são todas as coisas” (Rm 11.36). Ao concluir sua
epístola aos Romanos, Paulo, louva ao Senhor com estas palavras: “Ao Deus
único e sábio seja dada glória, por meio de Jesus Cristo, pelos séculos dos
séculos. Amém!” (Rm 16.27).
A glória de Deus é um assunto tão importante nas Escrituras que ela foi o
tema do cântico dos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos
anciãos, e de todas as criaturas que João ouviu em suas visões:

Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e


força, e honra, e glória, e louvor; e: Àquele que está sentado no trono e ao
Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos;
e, ainda: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a
salvação...O louvor, e a glória, e a sabedoria, e as ações de graças, e a honra, e o
poder, e a força sejam ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém! (Ap 5.12-
13; 7.10-12).

A Bíblia é clara em ensinar que o objetivo final de Deus é glorificar a si


mesmo por meio de tudo que criou. Deus é glorificado na sustentação do
cosmos, na manutenção da vida, na salvação dos eleitos, na condenação dos
réprobos e no juízo final.
O Catecismo Maior de Westminster afirma que “o fim supremo e
principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”. Ora, viver
para a glória de Deus deve ser o desejo de todo aquele que nasceu de novo e
que, pela graça, entendeu que fora de Cristo encontrava-se morto em seus
delitos e pecados e que devido às suas transgressões estava condenado ao
inferno (Rm 3.23; 6.23). Contudo, o Senhor, pela sua bondade, compaixão e
misericórdia abriu os seus olhos, fazendo-o entender que a salvação deve-se
exclusivamente a Cristo (Ef 2.1-8).
Caro leitor, fomos criados por Deus para sua glória e louvor. Que doutrina
maravilhosa é essa, não é verdade? Quando entendemos isso,
imediatamente rechaçamos as doutrinas neopentecostais que colocam o
homem no centro de todas as coisas, em vez de Deus. O eterno, soberano, o
Rei dos reis, e não os nossos interesses deve ser o centro da nossa vida.
Vivemos para ele e não para nós mesmos. Fomos criados para o seu louvor,
somos sustentados para a glória do seu nome, portanto, qualquer outro
propósito na vida que não seja a glória de Deus afronta os desígnios do
Criador.

O NEOPENTECOSTALISMO E A GLÓRIA DE DEUS.


Boa parte dos ensinos neopentecostais se fundamentam na premissa de
que Deus deseja fazer o homem feliz, e que, para tanto, ele oferece a todos
aqueles que dele se aproximam uma série de bênçãos. Para o
neopentecostalismo, de forma geral, Deus não está no centro da vida e de
todas as coisas e sim o homem. O foco do culto, da existência, do cotidiano
não é a gloria de Deus e sim a satisfação humana. Essa afirmação pode ser
claramente atestada pelos ensinos, cultos e práticas neopentecostais, senão
vejamos:

1 - A música entoada nos cultos neopentecostais não visa a glória


de Deus e sim a satisfação das necessidades humanas.
A esmagadora maioria dos denominados cultos neopentecostais dedicam
muito mais tempo à música do que qualquer outra coisa. Infelizmente, os
louvores cantados em suas reuniões são extremamente antropocêntricos, o
que nitidamente se percebe em seus encontros congregacionais. Se fizermos
uma análise das liturgias dessas comunidades, chegaremos à conclusão que
boa parte das canções entoadas são feitas na primeira pessoa do singular ou
na primeira pessoa do plural e letras prioritariamente reivindicam as
bênçãos de Deus.
Sem sombra de dúvidas, vivemos dias complicadíssimos onde o Todo-
poderoso foi transformado em gênio da lâmpada mágica, cuja missão
prioritária é promover satisfação aos crentes. Diante disto, precisamos rogar
ao Senhor pedindo a ele que nos livre definitivamente desse louvor, filho
bastardo da indústria mercantilista gospel, o qual nos tem empurrado goela
abaixo conceitos e valores anticristãos cujo objetivo final não é a glória de
Deus, mas a satisfação dos homens.

2 - A palavra pregada em muitos púlpitos neopentecostais tem por


objetivo o entretenimento, a satisfação pessoal e a prosperidade do
fiel.
O que mais se ouve na grande maioria dos púlpitos neopentecostais são
afirmações triunfalistas do tipo: “você vai obter vitória”, “você é um
vencedor”, “tome posse da bênção”, “use a palavra para trazer à existência as
coisas que não existem”, “Deus quer lhe fazer feliz”, “você é cabeça e não
cauda” e muito mais.
Repare que o foco das mensagens pregadas pelos pastores, bispos e
apóstolos neopentecostais concentra-se na satisfação do homem e não na
glória de Deus. Na verdade, esses pregadores fazem dos seus púlpitos
instrumentos únicos e exclusivos de uma doutrina cujo foco não é exaltação
do Senhor e sim a alegria do homem.

3 - A liturgia neopentecostal é centrada no homem e em momento


algum visa a gloria de Deus.
A liturgia neopentecostal é eminentemente ensimesmada e
antropocêntrica. Da oração de abertura do culto à bênção apostólica, o foco
está efetivamente no homem. No culto neopentecostal, orações são feitas
visando bênçãos, louvores são entoados na expectativa que milagres
aconteçam, ofertas são alçadas no desejo de enriquecimento e a palavra é
pregada para satisfação do freguês. Infelizmente os pastores
neopentecostais acreditam que Deus os colocou na terra para que pudessem
ser felizes e ter realização pessoal. Todavia, não é isso o que as Escrituras
ensinam. Na verdade, a Bíblia nos adverte ao dizer que fomos criados para a
glória de Deus.
O profeta Isaías afirmou com propriedade a respeito da vocação final do
homem: “Todo o que é chamado pelo meu nome, a quem criei para a minha
glória, a quem formei e fiz” (Is 43.7).
Cristo nos salvou graciosamente e o fato dele ter feito isso sem nenhum
mérito nosso deveria causar em cada um de nós o desejo de viver para a sua
glória. Estávamos perdidos e fomos achados, éramos cegos e ele abriu os
nossos olhos, estávamos mortos e ele nos deu vida, estávamos condenados e
fomos salvos.

COMO VIVER PARA A GLÓRIA DE DEUS?

1 - Não “departamentalizando” a vida, instituindo o dualismo


como regra de fé.
Um dos equívocos do neopentecostalismo é a prática do dualismo. Para os
neopentecostais, tudo aquilo que está relacionado a Deus ou ao culto pode
ser considerado santo. Assim, ir ao templo, entoar louvores ou frequentar a
igreja glorifica ao Senhor. Por outro lado, tudo aquilo que não tenha a
aparência de “piedade” deve ser tratado como profano. Nesse contexto, ir ao
cinema, ouvir música “do mundo” ou assistir a um jogo de futebol entristece
a Deus e agrada o diabo.
Infelizmente os que pensam desse jeito atribuem o bem a Deus e o mal a
Satanás. Para eles o mundo se divide em duas partes, cujos governantes são
Deus e Satã. Os que creem nisso, ensinam que tanto Deus como o Diabo,
possuem poderes independentes, e como titãs que são, lutam pelo domínio
do universo. Para estes, o mundo também foi dividido entre o bem e o mal,
cujos ambientes apontam para o domínio e senhorio de Deus ou do Diabo.
Nesta perspectiva, o templo é santo, o teatro é pagão, a casa de show, lugar
de promiscuidade, e o estádio de futebol é a morada do capeta.
Caro leitor, ouvir boa música secular, assistir a um jogo no estádio, ou
torcer por um clube de futebol não é pecado, e nem tampouco ofende ao
Criador. Essas coisas são fruto da graça comum de Deus e fazem parte de seu
mandato cultural. As Escrituras nos ensinam que somos seres inteiros e
livres, e, como tais, somos chamados a viver uma vida devocional equilibrada
e saudável. Lamentavelmente o dualismo dos evangélicos “budificou” a
existência, transformando qualquer atividade que se faça fora da igreja em
pérfida e sem “graça”. Sem que percebamos, parte da Igreja de Cristo
demonizou todo tipo de lazer, excluindo da agenda da fé qualquer atividade
que possa implicar em risos, festas e celebração.
Mas Cristo não nos escraviza nem tampouco nos aprisiona em um mundo
burrificado onde a vida é “departamentalizada”. Antes, por sua graça somos
feitos livres e não precisamos mais viver manietados a dogmas e conceitos
do farisaísmo moderno. O ensino bíblico contrapõe-se em muito ao
dualismo neopentecostal. Paulo nos adverte a fazermos tudo para a glória de
Deus. Em outras palavras, isto significa que glorificar a Deus vai além de
entoar cânticos espirituais, ou conjugar com propriedade o “evangeliquês”.
Para Paulo, Deus deve ser glorificado em tudo que fazemos (1Co 10.31), isto
é, no relacionamento entre marido e mulher, na relação entre pais e filhos,
no ambiente de trabalho, na faculdade, no campo de futebol, na igreja, nas
conversas com amigos, nas relações interpessoais, nas amizades, naquilo que
assistimos na televisão ou internet, nos momentos de lazer e muito mais.

2. Deus deve ser honrado em tudo aquilo que fizermos.


Deus deve ser honrado, reverenciado e respeitado em tudo que fazemos.
Isso significa que nossas ações e pensamentos devem honrar a Deus (Sl
19.14). Essa afirmação me faz lembrar um famoso episódio ocorrido com
Charles Spurgeon: Em 1874, a revista Christian World relatou uma curiosa
disputa de ideias entre Dwight Moody e Spurgeon, ocorrida quando ambos
estavam em um culto. Pentecost incluiu em seu sermão um relato
apaixonado sobre como obedeceu ao chamado de Deus para deixar de fumar,
algo que parecia atrapalhar sua busca por santidade. Muitos viram neste
testemunho uma pacífica provocação a Spurgeon, conhecido por gostar de
fumar charutos. Logo depois da fala de Moody, o pastor do Tabernáculo
Batista Metropolitano subiu ao púlpito e disse: “Bem, caros amigos, vocês
sabem que alguns homens podem fazer para a glória de Deus o que para
outros homens seria pecado. Apesar do que nos relatou o irmão Moody, eu
pretendo fumar um bom charuto para a glória de Deus antes de ir para a
cama hoje à noite. Se alguém puder me mostrar na Bíblia o mandamento:
“Não fumarás”, estou pronto a obedecê-lo, mas ainda não o encontrei.
Conheço apenas dez mandamentos, e faço o possível para guardá-los. Não
tenho vontade alguma de transformá-los em onze ou doze”.
Antes de qualquer coisa, vale a pensa ressaltar que não estou
incentivando ninguém a desenvolver o vício do fumo, mesmo porque
considero o cigarro ou qualquer similar como extremamente prejudicial à
saúde. Quanto a Spurgeon, o que se sabe é que ele acreditava que essa
prática era benéfica para o seu já então debilitado organismo. O médico de
Robert Hall, o famoso pregador da igreja Batista da Rua de St. Andrew, em
Cambridge, lhe havia ordenado que se tornasse fumante, isso sem falar, é
claro, que na época a prática do fumo não era vista de forma negativa pela
sociedade e os estudos quanto aos melefícios do fumo sequer existiam. O
ponto aqui é o legalismo moralista versus uma atitude sincera de busca por
santidade e purificação de pecados. Qual deles glorifica a Deus?
Spurgeon através do seu discurso nos adverte que tudo aquilo que
fazemos ou fizermos em nossa vida deve ter por motivação a glória de Deus;
e a ética dos dez mandamentos glorifica a Deus. Portanto, o cristão não tem
o direito de dualizar nem tampouco “satanizar” a existência. Muito pelo
contrário, é obrigação do cristão sempre perguntar, à luz das Escrituras, se
aquilo que pretende fazer glorifica e exalta o nome de Deus.
Esse era o espírito dos reformadores com o lema “Soli Deo Gloria”. Eles
viviam perante a face de Deus e em todas as coisas atribuíam glória somente
a ele. A glória somente a Deus é um verdadeiro antídoto contra essa conduta
egocêntrica que tem sido uma característica marcante de nossos dias.

27. Declaração de Cambridge. Acessado em Junho de 2013 em:


http://www.monergismo.com/textos/credos/declaracao_cambridge.htm
28. John Piper. Desiring God (Leicester: Inter-varsity Press, 1990) p. 13
29. João Calvino. Calvin Commentaries on the Isaiah (Grand Rapids, MI: Baker Books, 1998) p. 326
30. John Piper. Penetrado pela Palavra (São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2005) p. 27
um ant1doto
O Retorno ao Estudo Bíblico.

Acredito que um dos motivos que contribuiu para que parte da igreja
evangélica brasileira se perdesse nas últimas quatro décadas se deve ao fato
de ter negligenciado o ensino da Palavra de Deus. Na verdade, diversas
igrejas com intuito de multiplicarem o número de discípulos, abandonaram
as doutrinas da graça em favor de métodos pragmáticos de se encher os
templos.
Lembro que alguns anos atrás, os chamados cultos de doutrina ficavam
abarrotados de pessoas desejosas em aprender as verdades das Escrituras. E
a Escola Bíblica Dominical? Classes e mais classes lotadas de irmãos ávidos
por crescerem no conhecimento do Senhor. Aliás, existe um número
incontável de pessoas nas igrejas neopentecostais que não sabem o que é
uma Escola Bíblica Dominical.
O que chamamos de Escola Bíblica Dominical31 teve como fundador o
jornalista Robert Raikes (1735-1811). Raikes era natural da cidade de
Gloucester, Inglaterra, e em 1757, aos vinte e dois anos, sucedeu o pai como
editor do Gloucester Journal, um periódico voltado para a reforma das
prisões. Nesta pequena cidade inglesa, onde vivia, a delinquência infantil era
um problema que parecia insolúvel. Menores trabalhavam em minas de
carvão de segunda a sábado, tinham pouca ou nenhuma escolaridade,
comportavam-se mal e envolviam-se em todo tipo de delitos e confusões.
Raikes, preocupado com o que via, começou a convidar os pequenos
transgressores para que se reunissem todos os domingos para aprender a
Palavra de Deus.
A idéia de Raikes rapidamente se alastrou pelo país. Apenas cinco anos
mais tarde, em 1785, foi organizada em Londres uma sociedade voltada para
a criação de escolas dominicais. Um ano depois, cerca de 200.000 crianças
estavam sendo ensinadas em toda a Inglaterra. No princípio os professores
eram pagos, mas depois passaram a ser voluntários. Da Inglaterra a
instituição foi para o País de Gales, Escócia, Irlanda e Estados Unidos.
No Brasil, a Escola Bíblica Dominical foi fundada pelos Congregacionais
Robert e Sarah Kalley, em Petrópolis, no dia 19 de agosto de 1855. Sarah
Kalley havia sido grande entusiasta desse movimento na sua pátria, a
Inglaterra. A primeira escola dominical presbiteriana foi iniciada pelo Rev.
Ashbel Green Simonton, em maio de 1861, no Rio de Janeiro. Reunia-se nos
domingos à tarde, na Rua Nova do Ouvidor.
Mais de 150 anos se passaram desde que os Kalley organizaram a EBD no
Brasil, e de lá para cá muita água passou debaixo da ponte. Sem titubeios
afirmo que inúmeras gerações foram impactadas pelo ensino das doutrinas
da graça nas salas de aula das escolas dominicais, esparramadas pelo nosso
imenso território nacional. Hoje, todavia, os que outrora pregavam sobre a
importância da EBD não o fazem mais. Para piorar a situação, os crentes
optaram por fazer do domingo um dia exclusivo para lazer, deixando em
segundo plano o estudo da Palavra de Deus.
Ouso afirmar que a igreja do século XXI é menos preparada e qualificada a
explicar a razão da sua fé aos incrédulos do que as gerações passadas. Como
já escrevi anteriormente em meu livro “Cristianismo ao gosto do Freguês”,
parte da igreja brasileira prefere shows e entretenimento gospel a dedicar
tempo estudando a Bíblia numa escola dominical.
A consequência direta disso é a multiplicação de doutrinas espúrias, cujo
conteúdo anula as doutrinas da graça. Nessa perspectiva, a salvação foi
relativizada, e a graça de Deus comercializada.
Tenho percebido que em vários lugares deste país, as igrejas
abandonaram o hábito de se reunirem aos domingos em Escola Bíblica
Dominical. Segundo os pastores que mudaram as rotinas eclesiásticas de
suas comunidades, as razões para tal se devem ao novo mundo em que
vivemos, que por motivos óbvios exige mais dos seus cidadãos, o que
impossibilita a ida do crente à igreja para estudar as Escrituras.
Bom, até entendo que o mundo é outro, e que a vida se tornou corrida
demais, todavia, será que o fato de negligenciarmos o ensino bíblico não
aponta para uma inversão na escala de valores do cristão? Será que a pós-
modernidade e os conceitos do hedonismo não têm contribuído diretamente
para a existência de um cristianismo mais light onde o que importa é o
desenvolvimento de uma relação com um Cristo bonachão? Com o
movimento gospel? Não tem ele contribuído para a banalização da fé em
Cristo?
Caro leitor, tenho plena convicção de que a Igreja de Cristo precisa
regressar à Palavra. Para tanto, torna-se indispensável que reconheçamos
que não nos será possível construirmos um cristianismo relevante em nosso
país sem que conheçamos as principais doutrinas cristãs.
Outro dia estava a conversar com um pastor que me contou sobre uma
entrevista que fez com uma jovem, membro de sua igreja. Num determinado
momento ele perguntou a moça: “Fulana, para você quem é Jesus”? E ela
respondeu dizendo: “Ah! Jesus é um cara maneiro, Jesus é 10! Ele é meu
amigão”. Não satisfeito com a resposta da garota, ele indagou novamente:
“Fulana, acho que você não entendeu o que perguntei, quem é Jesus para
você? Por exemplo, ele é Deus, disse o pastor. Num ato de surpresa a menina
respondeu: “O que? O senhor está brincando? Jesus é Deus? Eu morreria e
não saberia disso”. Pois é, essa menina era filha de um dos diáconos mais
antigos da igreja, e não sabia quem era Jesus.
Uma igreja que negligencia o estudo sistemático da Bíblia está negociando
o que não se pode negociar. Em virtude do fraco ensino bíblico, as nossas
comunidades evangélicas têm colhido frutos estragados. Hoje, em virtude do
abandono das Escrituras tornou-se comum encontrarmos cristãos
defendendo o unitarismo, o modalismo, arianismo, o dualismo e tantas
outras heresias mais.
Oro na expectativa de que os pastores da Igreja Evangélica Brasileira não
negligenciem a Escola Bíblica Dominical, ao contrário, que eles incentivem
os membros de suas comunidades locais a dedicarem suas vidas ao estudo da
Palavra de Deus, até porque, agindo assim evitaremos alguns desvios
doutrinários e comportamentais.

31. Alderi de Souza Matos. Pequena História da Escola Dominical em


http://www.mackenzie.br/6980.html acessado em Junho de 2013.
perguntas e respostas do blog
renato vargens

Nesta seção, selecionei 15 temas, na forma de perguntas e respostas, que


evidenciam o estado de enfermidade espiritual e cegueira teológica de
grande parte do movimento neopentecostal brasileiro. É apenas uma
amostragem. Nosso ambiente evangélico neopentecostal se encheu tanto de
esquisitices e práticas estranhas ao ensino bíblico que é praticamente
impossível acompanhar todas as novidades e invenções que surgem aos
borbotões quase que diariamente.
Os problemas que aponto aqui causam-me grande aflição e é com tristeza
que eu os denuncio. Procuro demonstrar que essas práticas fazem mal à
causa do reino, ao cristão e à igreja evangélica brasileira. Procuro também
oferecer algumas direções e respostas bíblicas como antídoto dessas
práticas.
Preciso também registrar que o tom de minhas denúncias é conciliador.
Meu sincero desejo é que aqueles que estão envolvidos em algumas dessas
práticas percebam pela persuasão do Espírito de Deus nas Escrituras que
estão errados, que desagradam a Deus e que precisam se arrepender e se
voltar para a Palavra.

1. Existem apóstolos nos dias de hoje?


Nunca se viu tantos apóstolos como neste início de século. Em cada
canto, esquina e cidade encontramos alguém reivindicando o direito de ser
chamado de apóstolo.
Entendendo o movimento de restauração e o movimento apostólico:
O chamado movimento de restauração defende a tese de que Deus está
restaurando a igreja. Para estes, após a morte dos primeiros apóstolos, a
igreja de Cristo paulatinamente experimentou um processo de declínio
espiritual culminando com a apostasia vivenciada pelos seus adeptos no
período da idade média.
Com o advento da Reforma Protestante, os defensores desta teologia
afirmam que Deus começou a restaurar a saúde da igreja. Segundo estes,
Lutero foi responsável pela redescoberta da salvação pela graça, e agora no
século XXI, estamos vivendo a restauração do ministério apostólico. Os
teólogos desta linha de pensamento afirmam que a restauração dos
apóstolos é uma das últimas coisas a serem feitas pelo Senhor, antes de sua
vinda. Para os adeptos desta linha de pensamento, os apóstolos de hoje
possuem, em alguns casos, maior autoridade do que os apóstolos do
primeiro século, até porque, para os defensores desta corrente teológica a
glória da segunda casa será maior do que a primeira.
Para estes o ministério apostólico não acabou. Na verdade, tais teólogos
advogam que o ministério apostólico é perpétuo e que o livro de Atos ainda
continua a ser escrito por santos homens de Deus, os quais, mediante a sua
autoridade apostólica, agem em nome do Senhor.
Este movimento tem suas semelhanças com o surgimento dos mórmons e
a Igreja dos Santos dos Últimos Dias, que ensina que o corpo de escritos
inspirados por Deus não se fechou e que Deus tem muita coisa nova para
dizer e para revelar aos seus santos através de seus apóstolos.
Infelizmente, assim como os mórmons, os adeptos do movimento
apostólico consideram a Bíblia uma fonte importante, mas não única para a
fé. Para os apóstolos deste tempo, Deus, através de seus profetas, pode
revelar coisas novas, ainda que isso se contraponha a sua Palavra. Basta
olharmos para as doutrinas hodiernas que chegaremos à conclusão que os
apóstolos do século XXI, acreditam que suas revelações são absolutamente
diretivas, normativas e inquestionáveis.
Segundo a bíblia quais deveriam ser as credenciais de um apóstolo?
1. O apóstolo teria de ser testemunha do Senhor ressurreto.
Em Atos vemos os apóstolos reunidos no cenáculo, conversando sobre
quem substituiria Judas. Em Atos 1.21-22 lemos: “É necessário pois, que,
dos homens que nos acompanham todo o tempo que o Senhor Jesus andou
entre nós, começando no batismo de João, até ao dia em que dentre vós foi
levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua
ressurreição”. Paulo diz que viu Jesus ressurreto: “Não sou, porventura
livre? Não sou apóstolo? Não vi a Jesus, Nosso Senhor?” (1Co 9.1)
2. O apóstolo tinha de ter um chamado especial da parte de Cristo para
exercer este ministério.
As Escrituras são absolutamente claras em nos mostrar que os apóstolos,
incluindo Paulo, foram chamados por Cristo (Mt 10.2-4; Gl 1.11-24).
3. O apóstolo era alguém a quem foi dada autoridade para operar
milagres.
Isso fica bem claro em 2Coríntios 12.12: “Pois as credenciais do meu
apostolado foram manifestadas no meio de vós com toda a persistência, por
sinais prodígios e poderes miraculosos”. Era como se ele dissesse: “Como
vocês podem questionar meu ofício de apóstolo, se as minhas credenciais
foram apresentadas claramente entre vós”. Sinais, milagres e prodígios
maravilhosos.
4. O apóstolo tinha autoridade para ensinar e definir a doutrina firmando
as pessoas na verdade.
5. Os apóstolos tiveram autoridade para estabelecer a ordem nas igrejas.
Nomeavam os presbíteros, decidiam questões disciplinares e questões
doutrinárias, e falavam com autoridade do próprio Jesus.
Será que diante destas questões os “apóstolos” da modernidade podem de
fato reivindicar o título de apóstolo de Cristo? Por acaso, algum deles viu o
Senhor ressurreto? Foram eles comissionados por Cristo a exercerem o
ministério apostólico? Quantos dos apóstolos brasileiros ressuscitaram
mortos? E suas doutrinas? Possuem elas autoridade para se contraporem
aos ensinamentos bíblicos?
Pois é, infelizmente os “apóstolos” do nosso tempo não possuem
respostas a estas perguntas.
O posicionamento da ortodoxia evangélica entende que o ministério
apostólico cessou com a morte dos apóstolos no primeiro século. Sem a
menor sombra de dúvidas, considero a utilização do título “apóstolo” por
parte dos pastores como uma apropriação indevida de um ministério, o qual
não existe mais nos moldes que vemos no Novo Testamento.

2. O que é unção apostólica?


Vimos um pouco sobre o movimento apostólico de nossos dias. Um dos
desdobramentos desse novo movimento é a chamada “unção apostólica”.
O que é isso? Ou, o que representa possuir essa “unção”; ou, o que ela tem
de especial?
Segundo os adeptos do neopentecostalismo, ser apostólico “é valorizar a
presença de Deus, é ser fiel, é crer que Deus pode transformar, é ter uma
unção especial para conquistar o melhor da terra e, por fim, é crer que Deus
age hoje em nossas vidas”.
Certa ocasião, ouvi o relato de um apóstolo que afirmava que o crente que
não possui unção apostólica deve ser considerado crente de “segunda
categoria”. Além disso, alguns dos defensores do movimento apostólico
defendem a tese de que não basta o crente em Jesus ter o Espírito Santo, é
necessário possuir a unção apostólica, pois somente assim poderá
conquistar o melhor de Deus.
Prezado amigo, a forma com que “apóstolos” do século XXI estabelecem
suas novas doutrinas demonstram que não possuem quase nenhum
conhecimento bíblico-teológico. Nas Escrituras não encontramos uma
menção sequer sobre essa tal unção. Em nenhum lugar do Novo Testamento
encontramos Pedro, Paulo, João ou Tiago, orientando os crentes a se
tornarem crentes apostólicos.
Diante do exposto, tome cuidado com aqueles que dizem ser
conhecedores de novas revelações, bem como com aqueles cujos sermões
sejam antropocêntricos, afinal de contas a Bíblia nos alerta, dizendo: “Mas
houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá falsos
mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras,
negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina
destruição” (2Pe 2.1)

3. Existe base bíblica para a doutrina apostólica da cobertura


espiritual?
Existe um tipo de discipulado muito comum nas igrejas dos apóstolos
tupiniquins. Nele, o discipulador ultrapassa os limites da racionalidade
tomando decisões unilaterais quanto à vida do seu discípulo.
Para as igrejas que adotam este tipo de discipulado, o discípulo não pode
fazer absolutamente nada sem a autorização da sua “cobertura espiritual”.
Nesta perspectiva, o pastor tem poder para determinar aquilo que o seu
seguidor deve fazer. Sei de casos de pessoas que não podem mudar de casa
sem que o pastor concorde, ou de outros que não podem vender
absolutamente nada, sem que a autoridade espiritual aceite o fato. Além
disso, é comum observarmos que os pastores em questão usam do nome de
Deus para decidir se o discípulo deve ou não namorar, se pode ou não ir para
a praia, se deve ou não ter filhos, ou como deve se portar dentro de suas
próprias casas. Tais líderes interferem na vida comum do lar, intervindo na
educação dos filhos ou até mesmo na vida sexual do casal.
Infelizmente, estes ditadores da fé têm feito do rebanho de Cristo
propriedade particular. Além disso, os pastores em questão, sem o menor
constrangimento “coronelizaram” a comunidade dos santos, obrigando seus
liderados a se submeterem sem questionamento às suas ordens, doutrinas e
determinações.
Em estruturas como estas, é comum exigir-se dos crentes submissão
total. Em tais comunidades, a vida cristã é regida exclusivamente por um
sistema onde a ditadura e a arbitrariedade se misturam. Infelizmente,
aqueles que porventura ousam opor-se a este estilo de liderança, sofrem
sanções das mais humilhantes possíveis, sendo chamados de rebeldes e
tornando-se passíveis de punição, cuja consequência final é a exclusão e
exposição pública.
Além disso, os membros dessas comunidades despóticas – que mais se
parecem com a seita de Jim Jones do quem com comunidades cristãs -
vivem em constante estado de pavor por temerem sofrer sanções espirituais,
por isso acabam vivendo um comportamento que beira a loucura.
Isto posto, sou obrigado a afirmar que a igreja evangélica mergulha em
alta velocidade no buraco da sincretização, deixando para trás valores,
virtudes e princípios como afetividade, amor e respeito.
Amados, não nos esqueçamos de que somos o povo Deus, nação santa,
sacerdotes do Deus vivo (1Pe 2.9). Na perspectiva do reino, todos,
absolutamente todos, possuímos acesso ao trono da graça, não necessitando
assim criar estruturas monárquicas fundamentadas em experiências
místicas e adoecedoras. Quero ressaltar que, para nós cristãos, a essência da
igreja se resume na maravilhosa verdade que nos ensina que fomos
chamados para fora deste sistema perverso, ambíguo e separatista, e que
agora, independente de classe, etnia, posição social, reunimo-nos todos
indistintamente em torno do Cristo nosso Senhor como a comunidade dos
santos.32

4. Mulheres podem ser ordenadas pastoras ou apóstolas?


Lamentavelmente tenho visto nos últimos anos inúmeras igrejas
consagrando mulheres ao ministério pastoral. O fundamento usado pelos
que defendem esta prática, é que, diante de Deus não existem homens e
mulheres, servos e senhores, escravos e libertos, todos são iguais aos olhos
do Senhor. Além disso, a posição dos igualitaristas33 é que o texto de Paulo
aos Romanos, no capítulo sete, aponta de forma efetiva para o apostolado
feminino.
Visando esclarecer de forma clara e prática o sentido verdadeiro do texto
em questão, reproduzo abaixo o entendimento do Dr. Augustus Nicodemus
sobre o tema34:

Júnias é masculino ou feminino?


A variante melhor atestada, segundo o texto grego da UBS, 4a. edição (e de
Nestle-Aland, 27ª edição), é Iounia=n, acusativo de Júnia, masculino (atestada
pelos manuscritos) A B* C D* F G P, embora sem acentos). A variante (Júlia) é
fracamente atestada, aparecendo apenas no p46 e em algumas versões antigas.
Numa pesquisa feita por computador nos escritos gregos existentes desde a época
de Homero (século 9 A.C.) até o século 5 D.C. foram achadas apenas três
ocorrências do nome Júnias, além de Romanos 16.7. Plutarco cita uma irmã de
Brutus, chamada Júnias; Epifânio, o bispo de Salamina em Chipre, menciona
Júnias de Romanos 16.7 como sendo um homem que veio a ocupar o bispado de
Apaméia da Síria; e João Crisóstomo se refere a Júnias de Romanos 16.7 como
sendo uma irmã notável até mesmo aos olhos dos apóstolos.
Os resultados são inconclusivos. Parece evidente que Júnias era nome tanto de
homem quanto de mulher no período neotestamentário. O problema é que não
sabemos em que gênero Paulo o usou em Romanos 16.7. Isto explica o
surgimento de variantes divergindo na acentuação, e o surgimento da variante é
claramente uma tentativa de resolver a ambiguidade.
Se tivermos de tomar uma decisão, devemos dar mais peso à palavra de Epifânio,
pois ele sabe mais sobre Júnias do que Crisóstomo, já que informa que Júnias se
tornou bispo de Apaméia. Concorda com isto o testemunho de Orígenes (morto
em 252 d.C.), que num comentário em latim à carta aos Romanos se refere a
Júnias no masculino.
Nomes gregos masculinos terminando em -aj não são incomuns, mesmo no Novo
Testamento: André (Andre/aj, Mt 10.2), Elias (Eli/aj, Mt 11.14) e Zacarias
(Zaxari/aj, Lc 1.5). Para alguns comentaristas, Júnias é a abreviação de Junianius,
um nome masculino — mas não há evidências claras disto. A conclusão é que não
podemos saber com certeza se Júnias era uma mulher — mais provavelmente era
um homem. É por isto que a maioria das traduções modernas, onde possível,
traduzem Júnias como masculino (e não Júnia, feminino).

Era Júnias um(a) apóstolo(a)?


Mais uma vez perguntamos, é possível termos uma resposta definida para a
pergunta “era Júnias um(a) apóstolo(a)?” Gramaticalmente, a expressão “os quais
são notáveis entre os apóstolos” (oi(/tine/j ei)sin e)pi/shmoi e)n toi=j
a)posto/loij) tanto pode indicar que Andrônico e Júnias eram apóstolos, quanto
que eram tidos em alta conta pelos apóstolos existentes. E mesmo que aceitemos
que eram apóstolos, ainda resta o fato de que a palavra apóstolo no Novo
Testamento é usada, não somente para os Doze, para Paulo, e para algumas
pessoas associadas a ele, como Barnabé, Silas e Timóteo (cf. At 14.14; 1Ts 2.6),
mas para mensageiros e enviados (este é o sentido primário de a)po/stoloj) de
igrejas locais, como Epafrodito (Fp 2.25) e uns irmãos mencionados em 2
Coríntios 8.23. Estes não parecem exercer governo ou autoridade sobre as igrejas
locais, eram simplesmente enviados por elas. Portanto, se Andrônico e Júnias
eram apóstolos, deveriam pertencer a este tipo de mensageiros das igrejas locais,
com um ministério itinerante. Estes “apóstolos” não tinham autoridade de
governo em igrejas locais; antes, eram enviados por elas para desempenhar
diferentes funções como representantes ou emissários.
Em última análise, só podemos afirmar com certeza, a partir de Romanos 16.7,
que, quem quer que tenha sido, Júnias era uma pessoa tida em alta conta por
Paulo, e que ajudou o apóstolo em seu ministério. Não se pode afirmar com
segurança que era uma mulher, nem que era uma “apóstola”, e muito menos uma
como os Doze ou Paulo.
A passagem, portanto, não serve como evidência bíblica para a ordenação
feminina no período apostólico. E essa conclusão está em harmonia com o fato de
que Jesus não escolheu mulheres para serem apóstolos. Não há nenhuma
referência indisputável a uma “apóstola” no Novo Testamento.

Além disso, gostaria também de destacar outros motivos porque não é


correto ordenar mulheres ao ministério pastoral:

1. As Escrituras não referendam a ordenação de mulheres ao ministério


pastoral. Não vejo na Bíblia nenhum texto que apoie a ordenação
feminina ao presbitério.
2. Jesus não chamou apóstolas entre os doze. Todos os apóstolos
escolhidos por Jesus eram homens.
3. Paulo não fala de presbíteras, episcopisas, muito menos pastoras. As
referências a essas vocações nas Escrituras sempre estão relacionadas
aos homens. Não existiam pastoras nas igrejas do Novo Testamento.
4. Os reformadores e os pais da Igreja nunca defenderam o ministério
pastoral feminino.
5. Os apóstolos determinaram que os pastores deveriam ser marido de
uma só mulher e que deveriam governar bem a casa deles – obviamente
eles tinham em mente homens cristãos (1Tm 3.2,12; Tt 1.6).
6. A mulher não possui autoridade sobre o marido. Ora, se ela é pastora e
o seu marido não, ela fere o princípio de autoridade bíblica, tornando-
se líder do marido (1Tm 2.12).

5. O que significa tocar no ungido do Senhor?


“Eu sou louco de discordar? Deus me livre tocar no ungido do Senhor! Por
acaso você nunca ouviu o adágio popular que diz: ‘manda quem pode e
obedece quem tem juízo?’”.
Pois bem, os adeptos do neopentecostalismo têm feito uma verdadeira
lavagem cerebral no povo de Deus. Numa certa ocasião, fiquei sabendo de
um amigo que, por se manifestar contra os propagadores da confissão
positiva, foi amaldiçoado por um profeta neopentecostal, que lhe disse:“Por
teres falado mal do servo do Senhor, ficarás mudo até que se arrependa de
ter tocado no ungido de Deus”.
Ora, é claro que ele não ficou mudo, coisa nenhuma, até porque o
evangelho de Cristo não possui nenhuma similaridade com a feitiçaria.
Contudo, é impressionante o número de cristãos que se deixam levar por
ensinos tão terrivelmente equivocados.
Há alguns meses, um eminente líder apostólico afirmou publicamente
que o liderado jamais deveria questionar a identidade do seu líder, pois, ao
fazê-lo, ele cometeria o grave pecado de tocar no ungido do Senhor. Este
famoso pastor fundamenta sua premissa afirmando que no dia em que João
Batista fez isso, quando pediu que seus discípulos perguntassem se Jesus era
aquele que haveria de vir, perdeu a cabeça. Ou seja, na sua perspectiva,
aquele que tem por hábito questionar o seu líder, desrespeita o ungido de
Deus, podendo trazer sobre si consequências funestas.
Caro leitor, vamos combinar uma coisa? Onde está na Bíblia que João
Batista perdeu a cabeça por ter questionado a identidade de Jesus? E quem
disse que João Batista duvidou da divindade de Cristo? Sinceramente isso
me cheira a manipulação religiosa das brabas! E a impressão que tenho, é
que profetas deste naipe estão a procura de pretextos para não ser
questionados por ninguém, daí a argumentação de que João Batista morreu
por ter duvidado do seu líder.
O simples fato de tratar abertamente do tema, “ungidos do Senhor”, é,
para muitos dos cristãos, um despropósito, um desrespeito para com seus
líderes, bem como falta de temor a Deus. Lamentavelmente, muitos dos
pastores se autoproclamaram representantes do Altíssimo, e, em virtude
disto, exigem total obediência dos membros da igreja, pois acreditam que
são agentes especiais do Deus eterno, profetas do Senhor, e como tais, não
podem jamais ser questionados por seus ditames, afirmações e decretos.
Não são poucos aqueles que se decepcionaram com o evangelho. Lembro-
me de um caso em que uma irmã em Cristo manifestou sua decepção ao ter
sido proibida pelo pastor de decorar a sua casa com enfeites natalinos, além
de receber no seu lar membros de sua família que não faziam parte da igreja.
Por muitos anos, mesmo a contragosto, essa irmã cegamente obedeceu ao
seu pastor, trazendo sobre si e sua família momentos de extremo
constrangimento. Hoje, muito tempo depois do ocorrido, essa mulher de
Deus colhe amargamente os frutos de uma obediência cega e irracional,
cujos pressupostos não se encontram nas Escrituras Sagradas.
O escritor Paulo Romeiro, em seu Livro “Evangélicos em Crise”35, afirma
que a expressão “não toqueis nos meus ungidos” aparece somente duas
vezes na Bíblia: em 1 Crônicas 16.22 e em Salmos 105.15. Ambas as
referências são a respeito dos patriarcas, Abraão, Isaque e Jacó. Segundo
Romeiro, as duas passagens não se referem a um questionamento ético ou
doutrinário do líder, mas a algum perigo para a integridade física de um
ungido de Deus.
Observe o que aconteceu com Abraão em Gênesis 20.1-13. Estando em
Gerar, mentiu ao rei Abimeleque, dizendo que Sara não era sua esposa, a fim
de se proteger. Impressionado com a beleza de Sara, Abimeleque mandou
buscá-la para fazê-la sua esposa. Deus, porém, avisou ao rei em sonho
durante a noite, dizendo-lhe que seria punido, se tomasse Sara como esposa,
o que o levou a desistir do seu plano. Embora Abimeleque tivesse sido
proibido por Deus de tocar no profeta (Gn 20.7) e ungido do Senhor, isto é,
de causar-lhe algum dano físico, Abimeleque não hesitou em repreender
Abraão por ter-lhe mentido.
Davi também, quando perseguido por Saul e com oportunidade para
matá-lo, limitou-se apenas em cortar-lhe a orla do manto, explicando com
estas palavras o motivo de seu comportamento: “O Senhor me guarde de que
eu faça tal cousa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois
é o ungido do Senhor” (1Sm 24.6). Vemos novamente que o que estava em
questão era a vida de Saul e não sua posição doutrinária. No entanto, por
desconhecerem as verdades bíblicas, muitas pessoas ao longo dos anos
foram enganadas e manipuladas por pastores despreparados teologicamente
ou, em alguns casos, desonestos.
E quanto a julgar a alguém? Por acaso a Bíblia nos ensina que não
podemos julgar ninguém? Será que ao julgarmos alguém, não estamos
tocando no ungido do senhor? Não foi o Senhor quem disse que não
devemos julgar para que não sejamos julgados?
Ora, quando o Senhor Jesus advertiu contra o juízo temerário (Mt 7.1-6),
ele não estava declarando pecaminoso e proibido toda e qualquer forma de
juízo. Dentro do contexto de Mateus, nosso Senhor nos induz a discernir
quem é cão e porco para que não se desperdice a graça de Deus. Julgar não é
pecado! Afinal o próprio Deus exerce juízo. Ele mesmo nos ordena exercer o
discernimento, o qual, diga-se de passagem, é o dom mais ignorado, e talvez
o mais odiado hoje em dia.
Cristo julgou os escribas e fariseus pelo seu comportamento hipócrita e
doutrinariamente distorcido (Mt 23.1-36). Se o julgar não é o papel de um
homem de Deus, então creio que tanto os profetas do Antigo Testamento
como os apóstolos devem ser despidos deste título! O que falar então dos
crentes de Beréia? Ora, diz a Bíblia que eles não “engoliam” qualquer
ensinamento, antes, pelo contrário, verificavam se o ensino estava de acordo
com a sã doutrina.

6. Mapeamento espiritual, isso é bíblico?


Boa parte das mensagens pregadas nos púlpitos das igrejas evangélicas no
Brasil nos evidenciam o quão adoecidas se encontram nossas comunidades.
As pregações de muitos dos pastores tem sido rasas, sem substância,
empobrecidas teologicamente, cheias de modismos, unções, decretos e
comportamentos judaizantes. Junta-se a isto o fato de que vivemos numa
época em que o destaque sobre a batalha espiritual se faz presente nos mais
diversos rincões evangélicos.
Infelizmente, as ênfases distorcidas sobre batalhas espirituais têm levado
crentes sinceros a viverem uma vida de pânico e medo. Um método muito
comum usado pelos adeptos da batalha espiritual é o mapeamento espiritual
da cidade. Segundo os pregadores desse movimento, a igreja precisa
conhecer a região onde está plantada. Para tanto, devem estudar a história
do lugar onde se deseja evangelizar e discernir a entidade espiritual que atua
na região. Em outras palavras, isso significa aprender a história da cidade,
bem como as características econômicas, políticas, sociais e morais que lhe
são próprias. Feito isso, faz-se uma identificação com o demônio que poderia
lhe atribuir estas qualidades, amarrando-o em nome de Jesus.
Diante disto, lhe pergunto: Que cristianismo é esse? Que evangelho é
esse? Que doutrinas são estas? Ora, esse não é e nunca foi o evangelho
anunciado pelos apóstolos. Antes, pelo contrário, este é o evangelho que
alguns dos evangélicos modernos fabricaram! Infelizmente, a Igreja cristã
tem deixado de ser a comunidade da Palavra de Deus, cuja fé se fundamenta
nas Escrituras Sagradas, para ser a comunidade da pseudo experiência, do
dualismo, do misticismo e do maniqueísmo! Será que a Bíblia nos relata o
apostolo sobre o apóstolo escrevendo aos crentes da igreja primitiva, a fim
de exortá-los a fazer um mapeamento espiritual das cidades onde moravam?
Por acaso o Senhor Jesus nos ensina no Sermão do Monte a descobrirmos os
nomes dos demônios que oprimem uma nação, a fim de que os amarremos?
E Pedro? Você o vê em suas epístolas exortando os cristãos a descobrirem os
pontos nevrálgicos de uma cidade, a fim de que vençamos Satanás?
Caro leitor, as Sagradas Escrituras em momento algum nos ensinam
estratégias mirabolantes de batalha espiritual.36 Em nenhum lugar do Novo
Testamento encontramos respaldo teológico para o ensino do mapeamento
espiritual. Além disso, o Senhor Jesus Cristo, em nenhum episódio, nos
orienta a mapear regiões ou descobrir nomes de demônios e amarrá-los. O
que nos cabe fazer é obedecer integralmente suas ordens, pregando o
evangelho integral do reino a toda criatura, crendo que Deus é poderoso
para a salvação de todo aquele que nele crê, como também para expulsar da
vida dos homens toda sorte de espíritos malignos.
“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome
do Pai, e do filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas
que vos tenho ordenado” (Mt 29. 18,19).
“Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” ( Mc 16.15).
7. Precisamos redescobrir o judaísmo?
Uma das mais novas crenças de parte do movimento neopentecostal é o
cristianismo judaizante. Na verdade, este movimento religioso é um
modismo de nossos dias. Parece que alguns desses evangélicos têm
introduzido práticas veterotestamentárias nos cultos e liturgias de suas
igrejas. Eles têm declarado que o resgate dos valores judaicos é uma
revelação de Deus para a igreja contemporânea, cujo slogan é: “Sair de Roma
e voltar para Jerusalém”
Os que creem desta maneira têm disseminado práticas como:

Tocar de costas para a congregação, por considerar os ministros de


música “levitas de Deus”.
Usar o Shofar para “liberar” unção ou invocar a presença divina.
Guardar o sábado, fazendo dele o dia do Senhor.
Observar todas as festas judaicas.
Usar o Kipá e o Talit, que são as vestimentas que os judeus praticantes
usam para ir à sinagoga.
Usar símbolos judaicos tais como a bandeira de Israel, o Menorah ou a
Estrela de Davi, dentre tantos outros mais.
Construir protótipos da Arca da Aliança, a fim de simbolizar entre os
cristãos a presença de Deus.
Mudar os nomes e as nomenclaturas bíblicas, judaizando tudo, a ponto
de chamar Paulo de rabino.

Caro leitor, não existem pressupostos bíblicos para que a igreja de Cristo
queira “recosturar” o véu do templo. Entretanto, alguns dos crentes atuais
teimam em transformar em realidade aquilo que deveria ser uma simples
sombra. Foi o apóstolo Paulo quem afirmou: “Portanto, ninguém vos julgue
pelo comer, ou pelo beber ou por causa de dias de festa, ou de lua nova, ou
de sábados. Estas são sombras das coisas futuras; a realidade, porém,
encontra-se em Cristo” (Cl 2.16).
As leis cerimoniais judaicas, os ritos sacrificiais, as festas anuais, foram
abolidas definitivamente por Cristo na cruz do Calvário (o significado de
cada uma delas se cumpriu em nosso Senhor). Por esse motivo, mesmo os
judeus que se convertem hoje ao cristianismo estão dispensados das leis
cerimoniais judaicas. É por esta razão que crentes em Jesus não fazem
sacrifícios de animais, não guardam o sábado, não celebram as festas
judaicas, não se prostram diante a Arca da Aliança e tampouco fazem uso do
shofar.
Nossa mensagem, vida e testemunho deve ser Cristo. O evangelho
pregado deve ser o evangelho de Cristo, nossa mensagem central deve ser
para a glória e o engrandecimento do nome de Cristo.

8. O diabo tem poder para amaldiçoar igrejas?


Tem muita gente dizendo que o diabo possui poder para amaldiçoar a
Igreja do Senhor e que, em razão disso, muitas igrejas estão debaixo de
maldição.
Lamentavelmente, existe um número incontável de cristãos “obcecados”
pelo diabo. Para estes, Satanás é culpado de todas as desventuras da vida.
Basta um tropeção na rua que a culpa é do “cão”; ou quebrar um objeto de
estimação que o “coisa ruim” é acusado. Se porventura o cidadão levar uma
bronca do chefe, é sinal de que o “encardido” está furioso.
Diante de afirmativas como essas, fico a pensar como começou essa
obsessão que se transformou em paranoia para uma boa parcela dos
evangélicos brasileiros. Da Bíblia é que não foi, pois comportamentos como
estes não possuem o menor embasamento bíblico. Isso me faz lembrar do
texto que conta quando o apóstolo Paulo embarcou num navio que foi
sacudido por uma terrível tempestade. Na oportunidade, a nau perdeu o
rumo, sofreu naufrágio e os tripulantes e passageiros que estavam a bordo
quase morreram. Contudo, em nenhum momento se viu uma só palavra de
Paulo culpando Satanás. Pelo contrário, antes do navio zarpar ele havia
percebido condições climáticas que desaconselhavam a viagem, e com bom
senso deduziu que seria melhor permanecer onde estavam.
Ora, infelizmente virou moda culpar o diabo pelos erros cometidos. Em
outras palavras, isso significa que quando alguém peca a culpa é sempre do
diabo. Assim, o adultério, a prostituição, a ira, a inveja e outras coisas mais,
deixaram de ser obras da carne, para se transformarem em investidas
satânicas.
Caro leitor, o Senhor ensinou que a prostituição, o adultério, a malícia e
todo tipo de pecado procede do coração do homem e que a prática de tais
pecados se deve exclusivamente à natureza humana que é depravada e
pervertida. A grande questão é que é muito mais simples culpar o diabo do
que assumir erros. Na verdade, este é o problema de muitos: transferir
responsabilidades. Adão fez isso no Éden também, não é?
Um claro exemplo é a história contada por uma famosa pastora
americana, que afirmou a existência de duas igrejas que compraram dois
prédios que pertenciam a uma sociedade secreta. Para a líder religiosa,
Satanás amaldiçoou a igreja impedindo o seu crescimento bem como a
multiplicação do número de discípulos.
Caro leitor, vamos combinar uma coisa? Em que lugar das Escrituras
encontramos base para afirmarmos que Satanás tem poder para amaldiçoar
a Igreja do Senhor? Onde, nos evangelhos, Jesus exortando a Igreja a tomar
cuidado com as maldições do diabo? Ora, pelo contrário, nosso Senhor
afirmou que as portas do inferno não resistiriam à Igreja (Mt 16.18).
Lamentavelmente, o denominado Movimento de Batalha Espiritual tem
contribuído efetivamente com a propagação do conceito de que Deus e o
diabo possuem poder e autoridade idênticos. Para estes, a vida é uma grande
trincheira, onde Satanás e o nosso Deus lutam de igual para igual pelas
almas da humanidade. Esta afirmação aproxima-se em muito da antiga
heresia conhecida como maniqueísmo, que ensinava que o universo é
dominado por dois princípios antagônicos e irredutíveis: Deus ou o bem
absoluto, o Diabo ou o mal absoluto. Infelizmente por considerar o bem e
mal como forças idênticas em peso e poder, os pregadores desta doutrina
rejeitam a soberania de Deus sobre o inimigo de nossas almas.
Prezado amigo, as Escrituras Sagradas em momento algum nos mostram
um mundo dualista onde bem e mal protagonizam batalhas pirotécnicas
cujo final é imprevisível. Antes, pelo contrário, ainda que a Bíblia nos mostre
as ações ardilosas de nosso inimigo, as quais não devem ser desprezadas, ela
jamais trata do diabo como alguém que tem poder para se opor a vontade
soberana de Deus.
Por favor, pare, pense e responda: Quem está regendo os acontecimentos
na terra, Deus ou o diabo? Quem reina majestosamente no céu, Deus ou o
diabo? Quem a Bíblia diz que estabelece e destitui reis, conforme a sua
soberana vontade?
Ora, a visão de Deus reinando de seu trono é repetida nas Escrituras
inúmeras vezes (1Rs 22.19; Is 6.1; Ez 1.26; Dn 7.9; Ap 4.2). Na verdade, os
muitos textos bíblicos possuem a função de nos lembrar em termos
explícitos que o SENHOR reina como rei, exercendo o seu domínio sobre
grandes e pequenos. O senhorio de Deus é total e nem mesmo o diabo pode
deter seu propósito ou frustrar os seus planos.
Os maniqueístas do século XXI, sem que percebam, rejeitam o governo de
Deus na história, fundamentando sua fé em achismos e impressões
estranhas ao ensino bíblico. Nas doutrinas maniqueístas, batalhas hercúleas
são travadas a cada dia no mundo espiritual por Deus e o diabo,
demonstrando assim o “quão forte e poderoso é o inimigo de nossas almas”.
Caro leitor, Jesus Cristo é o libertador e rei triunfante, é o autor e
consumador de nossa fé, o Senhor da glória. Sobre ele Satanás não teve
controle, nem tampouco poder. Através da morte na cruz, Cristo quebrou as
forças opressoras do diabo, transportando-nos graciosamente para o Reino
de Deus Pai. A guerra já foi vencida! Louvado seja o seu santo nome por isso!
Satanás não tem poder sobre a Igreja de Deus! Somos de Cristo, e com Cristo
viveremos por toda eternidade!

9. Existe oração forte?


Vez ou outra eu ouço algumas pessoas dizendo que precisam procurar o
apóstolo X simplesmente pelo fato de que este realiza uma “oração forte”.
Há pouco tempo, uma irmã me abordou ao final de um culto pedindo que
clamasse a Deus intercedendo por seu marido, visto que na sua perspectiva a
oração do pastor é mais forte do que a de outros irmãos.
A afirmação de que existe orações fortes pronunciadas por homens
especiais não encontra subsídio e fundamento nas Sagradas Escrituras. O
ensino neotestamentário, por outro lado, aponta categoricamente para o
fato de que todos aqueles que foram regenerados pelo Espírito Santo e
salvos por Cristo tornaram-se sacerdotes, e como tais, mediante o sangue do
Cordeiro, possuem livre acesso ao Trono da Graça de Deus Pai,
relacionando-se amorosamente com ele, em todas as coisas de forma filial.
O problema é que, por desconhecerem as doutrinas fundamentais das
Escrituras, os apóstolos do século XXI têm logrado para si um poder super
especial o qual, faz o crente acreditar que as orações do “profeta” são mais
poderosas do que a de qualquer outro cristão.
Lamentavelmente, boa parte das igrejas neopentecostais defensoras da
nefasta teologia da prosperidade estão retomando as figuras do profeta e do
sacerdote, das páginas do Antigo Testamento. Para estes, o “apóstolo” é o
“escolhido” de Deus e, quando imbuído de poder espiritual e ergue a voz em
oração, o Senhor é obrigado a responder. Mas, no Novo Testamento, não
encontramos a menor referência que justifique este ensinamento. Jesus
Cristo é o nosso único e suficiente mediador. Ele, por meio de sua morte na
cruz, nos fez sacerdotes. E por causa dele podemos orar com ousadia na
certeza de que, se nossas orações estiverem de acordo com a sua soberana
vontade, seremos atendidos (Jo 5.14).
10. Quem não contribui financeiramente com a igreja poderá
perder sua salvação ?
“O meu pastor disse que se eu não der o dízimo e não for fiel nas minhas
ofertas eu perderei a salvação”.
Foi exatamente isso que uma irmã extremamente angustiada
compartilhou comigo, em certa ocasião. Ela, membro de uma igreja
apostólica, me escreveu assustadíssima, preocupada com o fato de que o seu
apóstolo poderia lhe tirar a salvação, caso ela não contribuísse
financeiramente com a obra de Deus. Noutra ocasião, fiz uma pesquisa em
meu blog onde indaguei aos meus leitores se eles acreditavam na afirmação
de que o verdadeiro crente poderia perder a salvação. Na ocasião inúmeras
pessoas participaram da pesquisa, e 41% manifestaram sua crença de que o
crente em Jesus poderia perder a salvação eterna.
Confesso que fiquei surpreso com o resultado da enquete, pois jamais
poderia imaginar que uma parcela tão grande de pessoas era tão convicta de
que o crente poderia cair da graça. Mas a Bíblia é enfática em afirmar a
segurança dos crentes. Para as Sagradas Escrituras, não é possível que o
verdadeiro crente afaste-se definitivamente da graça de Deus. Veja o que diz
a Palavra de Deus: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as,
e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e
ninguém as arrebatará das minhas mãos. Meu Pai, que mas deu, é maior do
que todos; e ninguém pode arrebatá-las das mãos de meu Pai” (Jo 10.27-29).
Caro leitor, o texto em questão é claro. O crente que nasceu de novo
nunca há de perecer. Ademais, ninguém é poderoso suficientemente para
arrancar os salvos das mãos do Senhor. O fato de alguém acreditar que o
cristão pode jogar fora a salvação que o Pai lhe deu, indica ignorância das
doutrinas bíblicas. Foi o próprio Senhor Jesus quem disse: “Todo o que o Pai
me dá, virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”
(Jo 6.37). O Senhor Jesus, ao ascender aos céus, deixou-nos o Espírito Santo
como garantia da nossa salvação. A presença do Espírito em nós é a
esperança e convicção da vida eterna. O Espírito Santo é o penhor que nos
assegura a eternidade com Deus:

Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o


evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o
Espírito Santo da promessa o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da
possessão adquirida, para louvor da sua glória” (Ef 1.13,14).
E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da
redenção (Ef 4.30).
O qual também nos selou e deu o penhor do Espírito em nossos corações (2Co
1.22).

Na cruz, Jesus pagou por todos os nossos pecados, isto é, aqueles que
foram praticados até a nossa conversão e aqueles que infelizmente
haveremos de praticar até o fim de nossa vida na terra. Todavia, isso em
momento algum deve servir para acharmos que podemos e devemos pecar
livremente, mesmo porque aquele que conheceu a Cristo não consegue agir
assim (1Jo 3.9).
Do ponto de vista bíblico, o crente não está livre do pecado. Na verdade,
ele continua suscetível ao pecado. E, ao pecar, ele é convencido pelo Espírito
Santo que lhe mostra a gravidade do erro que cometeu, levando-o por
conseguinte a rogar o perdão do Senhor.
Isto posto, afirmo que o convertido não se sente à vontade vivendo no
pecado, porque as trevas não podem subsistir juntamente com a luz do
Espírito Santo que nele faz morada.

11. E a teologia da prosperidade? O que há de errado nela?


Uma das principais ênfases doutrinárias do movimento neopentecostal é
a teologia da prosperidade. A teologia da prosperidade pode ser entendida
como um conjunto de princípios que afirmam que o cristão verdadeiro tem o
direito de obter a felicidade integral e de exigi-la a Deus. Nessa perspectiva,
os que defendem esta causa interpretam as Escrituras segundo a ótica da
confissão positiva, determinando através da oração que o Senhor lhes
conceda saúde, bênçãos materiais e dinheiro.
A prática do decreto e da oração determinista infelizmente se tornou
muito comum no meio evangélico. Em boa parte dos templos chamados
neopentecostais é normal vermos ou ouvirmos pessoas determinando a
bênção em nome de Jesus. Os defensores deste tipo de oração fundamentam
seu comportamento no evangelho de João, capítulo 14, verso 13, afirmando
que o termo usado como pedir foi mal traduzido, pois segundo afirmam, a
palavra no original jamais teve a ideia de pedir alguma coisa e sim de
determinar. Entretanto, ao contrário do que tais profetas afirmam, o texto
grego aponta efetivamente para alguém que pede, sem, contudo, exigir o
cumprimento daquilo que deseja. Ora, onde já se viu um filho determinar o
que quer que o pai faça? Ou, de modo semelhante, um servo pode ordenar o
que deve ser feito ao seu senhor? O filho é submisso ao pai e o servo é
submisso ao seu senhor. Se Deus é nosso Pai, então devemos honrá-lo como
tal. Se ele é nosso Senhor, então a nossa postura deve ser de servos.
Infelizmente, boa parte das mensagens pregadas pelos pastores da
prosperidade nos aponta o quão despreparados são esses ministros. Suas
mensagens são rasas, sem substância, empobrecidas teologicamente, cheia
de modismos, unções, decretos e determinismos, os quais têm reverberado
vergonhosamente em todo território nacional.
Diante do exposto pergunto: que cristianismo é esse? Que evangelho é
esse? Ora, sem nenhum receio afirmo que esse não é o cristianismo
idealizado por Jesus e tampouco o evangelho da Bíblia, antes, é o evangelho
que alguns dos evangélicos fabricaram! Infelizmente parte da igreja deixou
de ser a comunidade da Palavra para ser a comunidade dos decretos,
determinismo e da confissão positiva.
Talvez um dos motivos pelos quais os evangélicos têm dificuldade em
perceber o que está errado com a teologia da prosperidade é que ela é
diferente das heresias clássicas, aquelas defendidas pelos mórmons e
testemunhas de Jeová.
Concordo com Augustus Nicodemus37 quando ele afirma que a teologia
da prosperidade é um tipo diferente de erro teológico. Segundo Nicodemus,
ela não nega diretamente nenhuma das verdades fundamentais do
cristianismo. A questão é de ênfase. O problema não é tanto o que a teologia
da prosperidade diz, e sim o que ela não diz.

Brasil: Um país propício à teologia da prosperidade:


O catolicismo vivenciado por Portugal foi o pior tipo de catolicismo
existente. Os portugueses do século XIX eram extremamente religiosos,
místicos, e absolutamente avessos ao desenvolvimento da ciência. Um
exemplo claro disso se deu quando Dom José, herdeiro do trono português
contraiu varíola. Sua mãe, D. Maria I, por motivos religiosos proibiu que o
rapaz recebesse a vacina que poderia livrá-lo da morte. A crença popular era
de que não cabia à ciência interferir no processo de vida e morte de quem
quer que fosse. Para piorar a situação, Portugal foi o ultimo país europeu a
abolir a inquisição. Dentre as nações europeias, Portugal foi um dos mais
avessos à modernização dos costumes e das ideias.
A riqueza portuguesa era, em grande medida, resultado do dinheiro
extirpado das colônias. Além disso, numa época em que a revolução
industrial começava a redefinir as relações e o futuro das nações, os
portugueses ainda estavam presos ao sistema extrativista. Além disso, o
conceito reinante de prosperidade estava relacionado a ausência do trabalho,
pois, para os portugueses radicados no Brasil, trabalhar era função exclusiva
dos escravos, cujo comportamento deveria ser absolutamente diferente dos
fidalgos. Assim, a ideia que se dava é que a prosperidade não era
consequência direta do trabalho do indivíduo – como vemos na teologia
puritana de trabalho - e sim da exploração do sacrifício alheio, o que
indiretamente ocasionava à população a noção de que, sem ter bons
padrinhos ou nascimento em berço de ouro, dificilmente se experimentaria
prosperidade financeira. Além disso, a crença mística de que os santos
católicos intervinham nos dramas humanos corroborava com a concepção de
que os cidadãos brasileiros deveriam esperar dos céus as suas riquezas.
Ouso afirmar que a Teologia da Prosperidade encontrou na cultura
brasileira o campo ideal para o desenvolvimento de suas doutrinas, pois,
para os adeptos de tal filosofia, a prosperidade não se dá exclusivamente
pelo trabalho mas sim pela intervenção milagrosa de Deus mediante
decretos e determinismos humanos.
Tenho a impressão que o inconsciente coletivo nacional está pautado na
ideia de que é possível ser rico sem trabalhar. Talvez seja esta uma das
razões para termos tantas loterias e raspadinhas espalhadas por este país.
Sem sombra de dúvidas, afirmo que os muitos cidadãos tupiniquins almejam
prosperar, no entanto, para estes, esta prosperidade não está relacionada ao
trabalho, até porque é muito mais fácil e rápido usar de subterfúgios
mágicos com vistas ao enriquecimento, do que passar anos a fio dedicando-
se ao batente.
Calvino acreditava que o homem possuía a responsabilidade de cumprir a
sua vocação através do trabalho. Na visão de Calvino, não deveria existir
lugar para ociosidade em nossas agendas. E ao afirmar isto, o reformador
francês não estava a nos dizer que o homem deve ser um ativista, ou até
mesmo um tipo de worhaholic. Na verdade, Calvino acreditava que a
prosperidade era possível desde que fosse consequência direta do trabalho.
Acredito profundamente que, se quisermos construir um país decente e
sério, necessitamos romper com alguns paradigmas que nos cercam. Nações
bem sucedidas são aquelas que se empenham na construção de valores e
conceitos como honestidade, equidade, ética e retidão. Infelizmente no país
do “jeitinho”, o trabalho nem sempre é visto com bons olhos. Na perspectiva
tupiniquim, trabalho foi feito para gente miserável e desqualificada que
precisa sobreviver. O tempo de mudarmos nossos conceitos e valores é esse,
semeando no coração brasileiro a ideia de que o trabalho é reflexo de uma
grande bênção divina, o que deve ser valorizado e dignificado (Êx 31.15; 2Ts
3.10).

O IBGE e a prosperidade:
No ano de 2007 o IBGE38 publicou uma informação que desconstrói o
pressuposto neopentecostal de prosperidade. Segundo o departamento de
Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, as famílias chefiadas por uma pessoa que segue a religião espírita
têm maior rendimento médio mensal (R$ 3.796) do que as mantidas por um
evangélico pentecostal (R$ 1.271).
O analista socioeconômico do IBGE, José Mauro de Freitas Júnior, disse
que a escolaridade entre as religiões influenciou nos resultados. “Os maiores
rendimentos são dos espíritas muito provavelmente porque eles têm um
grau de escolaridade maior do que os evangélicos pentecostais, que ficaram
com a menor renda. Também temos de levar em consideração que as
famílias espíritas têm menor concentração de integrantes, 2%, enquanto
que as evangélicas de origem pentecostal representam cerca de 11%”,
afirmou Freitas. Em relação às despesas, a pesquisa apontou que as famílias
com maiores gastos também foram aquelas chefiadas por espírita (R$
3.617), enquanto as com menores gastos foram as evangélicas pentecostais
(R$ 1.301). A maior proporção de famílias (74%) é da religião católica
apostólica romana, e seu rendimento médio é de R$ 1.790. Os evangélicos,
em geral, atingiram um rendimento médio familiar de R$ 1.500 e
representou 17% do grupo familiar entrevistado.
O estudo também se referiu ao item de gastos com pensões, mesadas e
doações para as respectivas religiões. As famílias de origem evangélica
pentecostal atingiram 21,4 % de despesas com doações (R$ 23), as
pertencentes à evangélica de missão atingiram 21,9% (R$ 58) e as outras
evangélicas 34% (R$ 59). Outro destaque da pesquisa foi com o item
impostos. Neste quesito, os espíritas recolheram 44,2% (R$ 236), cerca de
três vezes a média do Brasil (R$ 79), brasileiros de outras religiões gastaram
42,9% e os que se declaram sem-religião e não-determinada 42,7%.
A pesquisa em questão serviu para confirmar que a prosperidade não é
conquistada mediante a obediência de rituais mágicos, onde as bênçãos de
Deus são trocadas ou vendidas por generosas contribuições financeiras.
Caro leitor, é possível que ao ler esta afirmação você esteja dizendo com
seus botões: “Ué, por que então os pastores da teologia da prosperidade são
tão prósperos?” Ora, a prosperidade destes apóstolos se deve
exclusivamente à venda de milagres, bênçãos e indulgências.
Prezado amigo, do ponto de vista bíblico a prosperidade não se dá
mediante o toma-lá-dá-cá propagado e defendido por parte dos evangélicos
adeptos à teologia da prosperidade. Acredito profundamente que, se
quisermos que nossas famílias experimentem prosperidade, é urgente que
invistamos em pelo menos duas áreas:

A- Aumento de escolaridade.39
Uma das principais marcas de um povo desenvolvido é educação.
Infelizmente, por fatores diversos, milhões de pessoas em nosso país vivem
à margem da sociedade simplesmente pelo fato de terem abandonado a
escola. Tenho plena convicção que, ao voltar à sala de aula, o crente será
abençoado por Deus e disporá de novas ferramentas que o ajudarão a
experimentar a tão sonhada prosperidade. Eu conheci uma irmã em Cristo
que tinha parado de estudar muito cedo. Lembro-me do dia em que ela me
procurou no gabinete pastoral dizendo que estava pensando em voltar a
estudar. Na ocasião eu a incentivei a fazê-lo o mais rápido possível. Naquele
ano mesmo, Maria voltou à escola. Lembro que a cada semestre ela, à
semelhança de um adolescente que comumente presta conta das suas notas
ao pai, me apresentava o seu boletim. Em poucos anos Maria concluiu o
ensino fundamental e médio e, para minha surpresa, Maria se matriculou na
universidade, formando-se anos mais tarde em psicologia. Sem sombra de
dúvidas, a vida dessa irmã mudou.

B - Melhor qualificação profissional.


Prosperidade se dá mediante o trabalho. Invista na sua profissão. Faça
cursos, participe de simpósios, leia muito e aprenda com quem sabe. Nesta
perspectiva, seja o melhor sapateiro, eletricista, pedreiro, médico, dentista,
advogado, professor e experimente das bênçãos do Senhor.
Caro leitor, se desejamos construir um país decente e sério, necessitamos
romper com alguns paradigmas que nos cercam. Nações bem sucedidas são
aquelas que se empenham na construção de valores e conceitos como
honestidade, equidade, ética e retidão. Infelizmente no país do gospel e do
decreto espiritual apostólico, o trabalho nem sempre é visto com bons olhos.
Isto posto, afirmo que o tempo de mudarmos nossos conceitos e valores é
esse, além é claro de semear no coração do crente em Jesus a noção de que o
trabalho é reflexo de uma grande bênção divina, fazendo parte do mandato
da criação – no mundo sem pecado – e por isso deve ser valorizado e
dignificado.

12. E os atos proféticos ensinados pelos apóstolos da


modernidade? São Bíblicos?
Apesar de alguns evangélicos afirmarem que o Brasil experimenta um
grande avivamento, vivemos dias extremamente complicados. Infelizmente
a cada dia que passa, eis que surgem nesta terra tupiniquim, inúmeros
desvios teológicos.
Em Curitiba, um grupo de irmãos, liderado pelo pastor da igreja,
entendeu que deveria demarcar seu território com urina, como fazem os
cães, leões e lobos. Após beberem muita água, seguiram em direção a pontos
estratégicos da cidade e passaram a urinar, decretando a vitória do Senhor.
Numa cidade do norte do Estado do Rio de Janeiro, um pastor resolveu
confrontar o “padroeiro” do município. Para tal, vestiu-se de branco, colocou
uma coroa na cabeça, montou em um cavalo também branco, escreveu na
sua coxa “rei dos reis”, e adentrou as portas da cidade dizendo que a partir
daquele instante o padroeiro daquele lugar não era mais o santo fulano de
tal e sim Jesus Cristo. Noutra ocasião uma “apóstola” enterrou quatro
bíblias nas quatro extremidades do país decretando com isso que o Brasil
experimentaria um grandioso avivamento.
Prezado leitor, à luz dessas esquisitices talvez você esteja se perguntando:
O que é, afinal, um ato profético? Segundo os apóstolos da modernidade, ato
profético pode ser considerado uma ação que tem como finalidade trazer a
“liberação” do poder de Deus, por meio da fé, sobre determinada
circunstância ou situação. Por exemplo: fincar estacas na cidade,
simbolizando o domínio de Deus sobre o território; ungir bandeiras e mapas;
tocar o shofar; celebrar festas; lançar ou espalhar sal em pontos estratégicos
e outras coisas mais.
Para os neopentecostais, um ato profético “libera” o sobrenatural de Deus
sobre a igreja, cidade, estado ou nação. Assim, ao derramar óleo ungido
sobre a favela, emite-se um ato espiritual que, pela autoridade de Jesus,
extermina a violência nos morros da cidade. Para os que creem neste tipo de
doutrina, tudo aquilo que se faz no plano físico (atos ou palavras) resulta no
plano espiritual, isto é, o crente que emite um ato profético, emite sinais que
apontam para o reino espiritual que resulta no reino físico.
Sinceramente, eu não consigo imaginar Paulo e Pedro agindo desta
maneira. Gostaria de saber em que parte das Escrituras podemos encontrar
recomendações por parte dos apóstolos a emitirmos atos proféticos!
Sinceramente, isso está mais para macumba do que para cristianismo.
Prezado amigo, o evangelho de Cristo é simples (2Co 11.3,4). Nossa missão é
viver para a glória de Deus (1Co 10.31). É também orar, amar, viver em
comunhão com os nossos irmãos, além é claro de anunciar com intrepidez a
mensagem da cruz ao mundo perdido (1Co 1.8,22,23; 2.1-5). Nada além
disso!

13. E o G12?
Não são poucos os pastores que conduzem suas igrejas pela doutrina da
moda. Conheço alguns que no intuito de encherem os bancos de suas
comunidades com pessoas tementes a Deus, comportam-se como pequenos
animais que, no desejo de saciar a fome, saltam de galho em galho em busca
de alimento. Tais líderes vivem de “revelação em revelação” desejosos por
saciar sua sede com novidades cada vez mais escabrosas. Foi assim quando
parte do evangelicalismo brasileiro redescobriu a música como expressão de
louvor, ou enfatizou a batalha espiritual, ou defendeu a necessidade de cura
interior por parte do crente, lutando contra espíritos territoriais num
contexto de maldição hereditária.
Pois é, a bola da vez é o movimento de células. Milhares de pastores
influenciados pela “doutrina celular” envolveram-se de corpo e alma no
movimento de Igreja em células, conhecido como G12.
Antes de qualquer coisa, quero afirmar que acredito que exista base
bíblica para os pequenos grupos. O livro de Atos dos Apóstolos nos ensina
claramente que a Igreja de Jerusalém reunia-se tanto em casas como no
templo. (At 2.42-45). Todavia, o que o G12 prega e ensina é muito diferente
do ensino das Escrituras.
As doutrinas “gedozistas”, além de relativizarem o sacrifício vicário de
Cristo na cruz do calvário, têm inundado a Igreja Evangélica Brasileira com
ensinamentos falsos, tais como maldições hereditárias, cura interior e
regressão ao ventre materno, além é claro da necessidade do cristão em
determinados momentos da vida perdoar a Deus. Segundo os adeptos deste
tipo de fé, os que participam do encontro, precisam estar dispostos a
perdoar aqueles lhes ofenderam, como também quando necessário “liberar”
perdão a Deus.
Prezado amigo, as Escrituras em nenhum momento fazem qualquer
alusão sobre a necessidade de perdoarmos a Deus. Além disso, a Bíblia é
muita clara em afirmar que a morte de Cristo na cruz do calvário foi
suficiente para cancelar o escrito de dívida que constava contra nós (Cl 2.14).
Em outras palavras, isso significa que o sacrifício de Cristo na cruz é mais do
que suficiente para apagar o passado pecaminoso de cada um de nós.
O pastor anglicano, John Stott certa vez afirmou que um dos mais graves
equívocos da igreja evangélica é querer um cristianismo sem cruz.
A cruz de Cristo deve ser a nossa mensagem central. A morte do Cordeiro
que tira o pecado do mundo deve ser a nossa proclamação. O sangue justo
derramado na cruz em favor dos eleitos deve ser a nossa ênfase principal. A
cruz é o centro da história do mundo. A encarnação de Cristo e a crucificação
de nosso Senhor são o centro ao redor do qual circulam todos os eventos de
todos os tempos.
Como bem afirmou John Stott, qualquer pessoa que investigue o
cristianismo pela primeira vez ficará impressionada pelo destaque
extraordinário que os seguidores de Cristo dão à sua morte. No caso de
todos os outros grandes líderes espirituais, a morte deles é lamentada como
fator determinante do fim de suas carreiras. Não tem importância em si
mesma; o que importa é a vida, o ensino e a inspiração do exemplo deles.
Com Jesus, no entanto, é o contrário. Seu ensino e exemplo foram, na
verdade, incomparáveis; mas, desde o princípio, seus seguidores enfatizaram
sua morte. Além disso, quando os evangelhos foram escritos, os quatro
autores dedicaram uma quantidade de espaço desproporcional à última
semana de vida de Jesus na terra – no caso de Lucas, um quarto; de Mateus e
Marcos, cerca de um terço; e de João, quase a metade.
Oh! Quão maravilhosa é a mensagem da cruz! Como diz a clássica canção:
“Sim eu amo a mensagem da cruz, até morrer eu a vou proclamar, Levarei eu
também minha cruz, até por uma coroa trocar”.
14. Existem maldições hereditárias?
Certa feita uma irmã em Cristo, que estava prestes a se casar, me
procurou no gabinete pastoral extremamente angustiada. Segundo ela, o seu
pastor anterior havia ensinado que o crente precisa quebrar as maldições
hereditárias, pois, do contrário, ela teria os mesmos problemas, pecados ou
doenças dos seus antepassados. Outro irmão me confessou que tinha medo
de morrer de câncer, pois o seu avô e pai haviam morrido tragicamente
dessa doença.
Pois é, uma das distorções doutrinárias mais difundidas nos púlpitos
brasileiros é o ensino das “maldições hereditárias”. Os defensores desta
doutrina afirmam que, se alguém tem algum problema relacionado com
alcoolismo, pornografia, depressão, adultério, nervosismo, divórcio, diabete,
câncer e outros tantos mais, esses tais se devem ao fato de que os seus
antepassados deram legalidade ao diabo no passado, permitindo que este
lhes afligisse com o mal.
Segundo os defensores dessa doutrina, a morte de Cristo não foi
suficiente para cancelar todo e qualquer tipo de maldição, daí a necessidade
do fiel orar a Deus pedindo a este que lhe revele em que lugar do passado os
seus familiares pecaram contra o Senhor. Ao descobrir o pecado, bem como
o seu nível de profundidade, os neopentecostais ensinam que o crente
precisa então pedir a Deus que perdoe os pecados dos seus antepassados.
Caro leitor, vamos combinar uma coisa? Não existe o menor fundamento
bíblico para que acreditemos na doutrina das maldições hereditárias. A
morte do Jesus foi suficiente para quebrar todo tipo de maldição. Paulo
afirma que o Senhor nos libertou do império das trevas e nos transportou
para o Reino do Filho do seu amor (Cl 1.13). Se não bastasse isso, as
Escrituras são claras em afirmar que se o Filho nos libertasse,
verdadeiramente seríamos livres (Jo 8.32). Portanto, assegurar que
precisamos quebrar maldições hereditárias e repreender de nossas vidas
espíritos familiares, aponta para um profundo desconhecimento do
significado da cruz.
Vale a pena ressaltar que a Bíblia também nos ensina que somos de Deus
e que, em virtude disto, o maligno não nos toca (1Jo 5.18). Em outras
palavras, isto significa dizer que não existe esta história de retaliação
maligna, até porque o diabo está limitado em suas ações por Aquele que tudo
pode!
Isto posto, afirmo que Satanás não tem a menor condição de surpreender
nosso Deus, pois o Senhor continua soberanamente governando os céus e a
terra. Como bem disse o reformador Martinho Lutero, “o diabo é o diabo de
Deus” e nada que faça pode impedir a concretização da vontade do Senhor.
Louvado seja o Senhor que nos libertou verdadeiramente e que, por
intermédio de sua cruz, nos tornou livres.

15. Pode o crente em Jesus dar ordens aos anjos?


Fico impressionado como alguns dos evangélicos “veem” anjos. É anjo
subindo, é anjo descendo, é anjo com a bandeja na mão, anjo alto, anjo
baixo, anjo de todo tipo e jeito. Em alguns cultos basta alguém afirmar que
viu um destes que o som de aleluias é quase ensurdecedor. Na minha
caminhada cristã já ouvi inúmeras vezes pessoas relatando que viram anjos
portando espadas de fogo, trazendo bênçãos e arrepiando fiéis.
Ultimamente a ênfase dada por parte da igreja evangélica aos seres
angelicais chega ao extremo da sandice. Um conhecido pastor afirmou que
anjos tocam bateria, além de cutucar os pregadores, fazendo-os gargalhar
impedindo-os de conduzir o culto com racionalidade. Uma igreja
neopentecostal promoveu a campanha da troca do anjo da guarda. Outro
líder ensinou que o Consolador do crente é um anjo exclusivo vindo da parte
de Deus. Um apóstolo declarou que possui poder para demitir ou trocar os
anjos. Se não bastasse isso, já ouvi relatos de pessoas que viram anjos
trazendo em suas mãos pudins, doces e guloseimas, contudo, o que me
chama atenção é que o contato com estes seres angelicais não contribuiu em
nada para a mudança de comportamento daqueles que tiveram tais
experiências.
Caro leitor, os anjos são criados por Deus e não devem ser reverenciados e
muito menos cultuados. Somente a Deus devemos adoração. Satanás tentou
a Cristo pedindo-lhe adoração e Jesus lhe respondeu: “Arreda-te, Satanás,
porque está escrito: Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a ele servirás” (Lc
4.18). Paulo alertou aos crentes de Colossos que não aceitassem esta heresia
dos falsos mestres. “Ninguém vos domine a seu bel-prazer, com pretexto de
humildade e culto dos anjos, metendo-se em coisas que não viu; estando
debalde inchado na sua carnal compreensão” (Cl 2.18), João, o discípulo
amado, foi admoestado por um anjo a não reverenciá-lo. “E eu, João, sou
aquele que vi e ouvi estas coisas. E, havendo-as ouvido e visto, prostrei-me
aos pés do anjo que me mostrava essas coisas, para adorá-lo. E disse-me:
Olha, não faças tal; porque eu sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas,
e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus” (Ap 22.8,9).
Quanto a dar ordens aos anjos é importante que entendamos que do
ponto de vista bíblico somente o Senhor tem poder e autoridade para
ordená-los a fazer alguma coisa. Ouso afirmar que quando um crente se
contrapõe a este princípio teológico, tentando comandar anjos, dando-lhes
ordens, ele está tentando tomar o lugar do único e verdadeiro Senhor dos
Exércitos. Vale a pena ressaltar que, em nenhum lugar das Escrituras, os
homens são exortados pelo Senhor a pedir ajuda aos anjos ou ordená-los a
fazer alguma coisa. Segundo a Palavra de Deus, anjos só executam as ordens
do Senhor e de mais ninguém (Sl 23.19-21).

32. Recomendo a leitura do livro “9 Marcas de uma Igreja Saudável”, de Mark Dever. Nele temos uma
imagem muito bíblica e sã de como deve ser uma igreja genuinamente bíblica e saudável. (São José dos
Campos, SP: Editora Fiel, 2007).
33. Igualitaristas: Esta corrente, afirma que Deus originalmente criou o homem e a mulher iguais; e
que o domínio masculino sobre as mulheres foi parte do castigo divino por causa da queda, com
consequentes reflexos socioculturais. Segundo os igualitaristas, mediante o advento de Cristo, essa
punição e reflexos foram removidos, proporcionando consequentemente a restauração ao plano
original de Deus quanto à posição da mulher na igreja. Portanto, agora, as mulheres têm direitos
iguais aos dos homens de ocupar cargos de oficialato da Igreja. Em contraposição ao movimento
igualitarista, há o movimento dos complementaristas o qual defende que desde a criação – e portanto,
antes da queda – Deus estabeleceu papéis distintos para o homem e para a mulher, visto que ambos
são peculiarmente diferentes. No que diz respeito à dignidade e valor diante de Deus, homem e
mulher são essencialmente iguais, mas, no que concerne ao seu papel, são diferentes e
complementares, ou seja, o homem e a mulher, com suas características e funções distintas se
completam. A diferença de funções não implica em diferença de valor ou em inferioridade de um em
relação ao outro, e as consequentes diferenças socioculturais nem sempre refletem a visão bíblica da
funcionalidade distinta de cada um. O homem foi feito cabeça da mulher – esse princípio implica em
diferente papel funcional do homem, que é o de liderar.
34. Augustus Nicodemus Lopes. Ordenação feminina: O que o Novo Testamento tem a dizer. Revista
Fides Reformata Vol. II, ed. 1 (São Paulo, SP: Editora Mackenzie, 1997)
35. Paulo Romeiro. Evangélicos em Crise (São Paulo, SP: Editora Mundo Cristão, 1995).
36. Recomendo a leitura do excelente livro de Dr. Augustus Nicodemus Lopes sobre o tema: “Batalha
Espiritual” (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2012).
37. O que há de errado com a teologia da prosperidade? O tempora o mores, http://tempora-
mores.blogspot.com.br/2012/06/afinal-o-que-esta-errado-com-teologia.html. Acessado em Julho de
2013.
38. Folha de São Paulo http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u324070.shtml. Acessado
em Junho de 2013.
39. Recomendo a leitura do livro “O que estão ensinando aos nossos filhos?” de Francisco Solano Portela
Neto (São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2012).
conv1te ao arrepend1mento a
1greja evangél1ca bras1le1ra

Com lágrimas nos olhos sou obrigado a confessar que boa parte da Igreja
evangélica se perdeu no caminho, não conseguindo disseminar de forma
efetiva a Palavra de Deus. Sem a menor sombra de dúvidas, afirmo que em
algumas das denominações cristãs existe um enorme desconhecimento das
doutrinas básicas do cristianismo, o que tem acelerado e intensificado o
adoecimento do evangelicalismo brasileiro.
Em tempos difíceis como os nossos quero convocar pastores, líderes, bem
como a Igreja de Cristo a arrepender-se dos seus pecados e a regressarem à
Palavra de Deus. Sim! Precisamos nos arrepender das nossas transgressões,
dos nossos crassos erros teológicos, das doutrinas que afrontam o Criador e
de comportamentos que ofendem a santidade do Eterno. Sim! Precisamos
regressar às Escrituras e fazer dela nossa única regra de fé, prática e
comportamento. Sim! Precisamos voltar à Escola Bíblica Dominical,
abandonando definitivamente as coisas de menino e optando assim por
servir ao Senhor com maturidade, conhecimento bíblico e conteúdo
teológico.
Prezado leitor, ser protestante não é somente se identificar com o
protesto feito pelos reformadores contra a corrupção eclesiástica e o falso
ensinamento do século XVI – é muito mais do que isso. Ser protestante é
viver debaixo de um avivamento integral, é resgatar os valores
indispensáveis à fé bíblica através da Palavra, é proclamar
incondicionalmente a mensagem da graça de Deus em Cristo Jesus.
O lema “Eclésia reformata, semper reformanda” deveria estar sempre
ressoando em nossos ouvidos e corações, desafiando-nos à responsabilidade
de continuamente caminharmos segundo a Palavra, sem nos deixarmos
levar por ventos de doutrinas e movimentos que tentam transformar a
Igreja de Cristo num circo eclesiástico, nas mãos de líderes despreparados ou
inescrupulosos – ou os dois!, que manipulam o povo ao seu bel-prazer, tudo
isso em nome de Deus!
Que o Senhor tenha misericórdia de nós e que por sua graça e bondade
nos reconduza ao caminho da Verdade.

Soli Deo Gloria!


Renato Vargens
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