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infectam grande parte de nossas igrejas hoje. Neste livro, de modo acessível
e contextualizado, e com lágrimas nos olhos, o Pr. Renato Vargens dá um
basta nesses enganos e nos apresenta o antídoto: as doutrinas da graça,
sistematizadas nos cinco solas que foram (e ainda são) a base da Reforma. O
Antídoto é claro: somente o retorno às Escrituras pode estabelecer igrejas
saudáveis e tementes a Deus. Imperdível!
Norma Braga, escritora
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária
Proibida a reprodução deste livro por quaisquer meios, sem a permissão escrita dos editores, salvo em
breves citações, com indicação da fonte.
ISBN: 978-85-8132-319-0
Vargens, Renato
Reforma Agora: O Antídoto para a Confusão Evangélica no
Brasil / Renato Vargens. -- São José dos Campos, SP : Editora
Fiel, 2015.
2Mb ; ePUB
ISBN 978-85-8132-319-0
11. Cristianismo 2. Graça (Teologia) 3. Igreja Reformada -
Doutrinas 4. Reforma 5. Teologia I. Título.
13-08104 CDD-230.42
Caixa Postal, 1601
CEP 12230-971
São José dos Campos-SP
PABX.: (12) 3919-9999
www.editorafiel.com.br
1nd1ce
Apresentação
Prefácio
2 – Sola Scriputura
3 – Sola Gratia
4 – Sola Fide
5 – Solus Christus
Conclusão
por uma reforma na 1greja
bras1le1ra
O guarda de um bordel público é menos pecador que o pregador que não entrega o
verdadeiro Evangelho, e o bordel não é tão ruim assim como a igreja do falso
pregador. (...) Isto os surpreende? Lembrem-se de que a doutrina do falso
pregador não causa nada mais que dia-a-dia desviar e violar almas recém-nascidas
no batismo — cristãos jovens, almas tenras, noivas virgens, puras e consagradas a
Cristo. Considerando que o mal é feito espiritualmente e não fisicamente como
num bordel, ninguém o observa: mas Deus está incomensuravelmente
descontente.
Que Deus use esta nova obra de meu querido irmão Renato Vargens para
quebrantamento, renovação e retorno a Deus, que é rico em misericórdia,
não apenas para renovar nossa alegria nele, mas também para nos conceder
novo alento e renovada paixão para pregar a Escritura Sagrada, “o berço pelo
qual o Cristo vem a nós” (Lutero).
Franklin Ferreira
Diretor do Seminário Martin Bucer
prefac1o
Boa leitura,
Renato Vargens
Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a
correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente habilitado para toda boa obra.
1º O Liberalismo Teológico
Algumas de nossas igrejas estão repletas desta funesta teologia
denominada liberal. Infelizmente tornou-se comum encontrarmos pastores
e mestres defendendo conceitos teológicos antibíblicos, questionando a
autoridade das Escrituras e relativizando a Palavra de Deus. O liberalismo
teológico é um câncer que vagarosamente destrói a saúde da Igreja. Como
bem afirmou Augustus Nicodemus os “Liberais são parasitas e, assim como
um vírus, se instala num organismo, debilitando o corpo do indivíduo, assim
também eles se instalam na igreja sugando-a até ficar só a carcaça, para
depois buscar outro hospedeiro”.7
Lamentavelmente, existem inúmeros seminários teológicos neste país
que têm ensinado aos seus alunos conceitos absolutamente anticristãos.
Tais seminários, contrapondo-se a ortodoxia protestante, têm admitido em
seu corpo docente pessoas que afirmam que a Bíblia está repleta de mitos e
lendas. Para estes, Adão e Eva jamais existiram. Na verdade, os liberais
ensinam que ambos não passam de um símbolo para ensinar a humanidade,
que teria sido criada através da evolução. Se não bastasse isso, tais teólogos
creem que Cristo não fez milagres literais. Para eles, Jesus nunca teria
andado sobre a água, nem tampouco multiplicado pães e alimentado uma
grande multidão. Quando ensinam a respeito do Espírito Santo, o fazem de
forma equivocada afirmando que o Espírito do Senhor não é um ser pessoal,
mas sim a força e o agir de Deus. Além disso, paganizaram a Trindade Santa
atribuindo-lhes gênero e sexualidade, afirmando através de seus ensinos que
o Espírito Santo é a parte feminina de Deus. Ao ensinarem sobre a
ressurreição de Cristo, afirmaram que tal fato não ocorreu, até porque, para
estes, a mensagem central da Bíblia é a ressurreição de Jesus em nossos
corações.
Infelizmente o número de pastores que relativizaram as Sagradas
Escrituras em favor de uma teologia espúria se multiplica a olhos vistos. Sem
sombra de dúvidas os conceitos liberais têm adoecido e sufocado o Corpo de
Cristo, injetando no coração dos cristãos valores que contrariam as
Escrituras.
2º O Sincretismo Religioso
Uma igreja que não faz da Bíblia sua única e exclusiva regra de fé, permite
a interferência de doutrinas não cristãs no seu corpo doutrinário. O
sincretismo religioso é um dos mais sérios problemas vivenciados por uma
igreja que trocou as Escrituras por experiências místicas e relacionais.
O neopentecostalismo tupiniquim tem sido caracterizado por práticas e
comportamentos absolutamente antagônicos aos pressupostos bíblicos.
Acredito que isso se deva a relativização das Escrituras como também a
mistura de influências herdadas pela sociedade brasileira, tanto do
catolicismo medieval português quanto das culturas indígena e africana.
O catolicismo implantado pelos portugueses no Brasil foi o da contra-
reforma, que conservou o velho culto aos santos, como também as
superstições do período medieval. Quanto aos índios que aqui estavam,
viviam num mundo cheio de lendas, cerimônias e crenças espirituais, onde
os mortos e os vivos interferiam e comungavam entre si. Já os africanos, ao
chegarem ao Brasil, encontraram uma sociedade semifeudal que podia
utilizar o trabalho braçal dos escravos sem questionar as suas
representações mágico-religiosas. Aliás, diga-se de passagem, a religião
africana sempre foi muito mais mágica e mística do que religiosa. Nela, o
individual prevalece sobre o espiritual dominando as forças sobrenaturais de
acordo com as suas vontades pessoais.
Hoje, em virtude do abandono das Escrituras e do sincretismo religioso, é
comum encontrarmos igrejas cujo comportamento se aproxima dos rituais
pagãos.
Lamentavelmente algumas das liturgias evangélicas estão tão
miscigenadas, que um desavisado qualquer, ao entrar em um de seus cultos,
poderá pensar que entrou no templo de uma religião completamente
estranha ao cristianismo.
3º A falência do púlpito.
Em virtude do relativismo do nosso tempo, onde o que mais se enfatiza é
a satisfação pessoal, inúmeros líderes cristãos das mais diversas
denominações abandonaram o estudo sistemático da Palavra de Deus para
dedicar-se ao estudo do comportamento humano, resultando na
“adequação” do evangelho de Cristo aos padrões humanistas deste tempo
pós-moderno. Temos visto muitos líderes que, em nome de uma
espiritualidade mística, têm fundamentado seus sermões em doutrinas cuja
base “teológica” é a experiência e não a Bíblia. Para piorar a situação, muitos
pregadores têm considerado o ensino das Escrituras como algo indesejável e
sem utilidade prática, preferindo um sermão repleto de histórias
engraçadas, onde o objetivo final é o entretenimento do público.
Diante disto é impossível não nos lembrarmos de homens como o Dr.
Martin Lloyd-Jones.8 Nos cultos que pregava, centenas de pessoas eram
atraídas pela pregação da Palavra de Deus. O doutor, como era chamado,
levava muitos meses, até mesmo anos, a expor um capítulo da Bíblia,
versículo por versículo. Os seus sermões muitas vezes duravam entre
cinquenta minutos e uma hora, atraindo muitos estudantes das
universidades e escolas em Londres, que ficavam encantados com a pregação
do evangelho.
O Reformador francês João Calvino disse que a Escritura é a fonte de
toda a sabedoria, e que os pastores devem extrair dela tudo aquilo que
expõem diante do rebanho.9 Calvino afirmava que através da exposição da
Palavra de Deus, as pessoas são conduzidas à liberdade e à segurança da fé
salvadora.10 Dizia também que a verdadeira pregação tem por objetivo abrir
a porta do reino ao ouvinte. Em outras palavras, o que ele está a nos dizer é
que as Escrituras Sagradas devem ser o principal instrumento na condução,
consolidação e pastoreio do povo de Deus.
Existe um mal entre os que professam pertencer aos arraiais de Cristo, um mal
tão grosseiro em sua imprudência, que a maioria dos que possuem pouca visão
espiritual dificilmente deixará de perceber. Durante as últimas décadas, esse mal
tem se desenvolvido em proporções anormais. Tem agido como o fermento, até
que toda a massa fique levedada. O diabo raramente criou algo mais perspicaz do
que sugerir à igreja que sua missão consiste em prover entretenimento para as
pessoas, tendo em vista ganhá-las para Cristo. A igreja abandonou a pregação
ousada, como a dos puritanos; em seguida, ela gradualmente amenizou seu
testemunho; depois, passou a aceitar e justificar as frivolidades que estavam em
voga no mundo e, no passo seguinte, começou a tolerá-las em suas fronteiras;
agora, a igreja as adotou sob o pretexto de ganhar as multidões. Minha primeira
contenção é esta: as Escrituras não afirmam, em nenhuma de suas passagens, que
prover entretenimento para as pessoas é uma função da igreja. Se esta é uma obra
cristã, por que o Senhor Jesus não falou sobre ela? “Ide por todo o mundo e pregai
o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15) — isso é bastante claro. Se Ele tivesse
acrescentado: “E oferecei entretenimento para aqueles que não gostam do
evangelho”, assim teria acontecido. No entanto, tais palavras não se encontram
na Bíblia. Sequer ocorreram à mente do Senhor Jesus. E mais: “Ele mesmo
concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e
outros para pastores e mestres” (Ef 4.11). Onde aparecem nesse versículo os que
providenciariam entretenimento? O Espírito Santo silenciou a respeito deles. Os
profetas foram perseguidos porque divertiam as pessoas ou porque recusavam-se
a fazê-lo? Os concertos de música não têm um rol de mártires.
Hoje, 120 anos após a morte de Spurgeon, boa parte da igreja brasileira
promove em suas liturgias estruturas lúdicas e leves onde, de forma
simplista e descontraída, o “evangelho politicamente correto” é anunciado.
Na verdade, ouso afirmar que a banalização das Escrituras juntamente com
o pluralismo eclesiástico de nosso tempo encontrou uma variedade enorme
de igrejas que proclamam o evangelho de Cristo segundo o gosto do
freguês.12 Além disso, se fizermos uma análise sincera de nossas liturgias,
chegaremos a conclusão que boa parte das canções entoadas nos cultos
evangélicos são feitas na primeira pessoa do singular, cujas letras
prioritariamente reivindicam as bênçãos de Deus.
CONCLUSÃO
Caro leitor, os reformadores ao fazerem das Escrituras sua única e
exclusiva regra de fé romperam com as anomalias teológicas do
supersticioso catolicismo romano, levando assim a Igreja de Cristo ao
redescobrimento das maravilhosas doutrinas da graça. Hoje, apesar das
idiossincrasias e incongruências de parte da Igreja Evangélica Brasileira
acredito que se pregarmos novamente as doutrinas ensinadas pelos
reformadores, experimentaremos mudanças substanciais na vida da Igreja.
Isto posto, afirmo sem a menor sombra de dúvidas que a Bíblia continua
sendo a Palavra infalível de Deus e que as Escrituras jamais poderão ser
consideradas velhas e ultrapassadas. As nações e suas culturas podem
mudar, no entanto, ainda assim a Palavra de Deus continuará sendo
relevante para o homem.
Se Deus não me tivesse eleito, eu jamais o teria escolhido; e estou seguro de que
ele me elegeu antes que eu tivesse nascido, caso contrário ele nunca teria me
escolhido depois. E ele deve ter me escolhido por razões desconhecidas para mim,
pois eu nunca fui capaz de encontrar qualquer razão em mim mesmo para que ele
dedicasse um amor especial a mim. Assim sendo, sou obrigado a aceitar essa
grande doutrina bíblica.15
O autor desse lindo hino se chamava John Newton. Ele foi um severo e
brutal capitão de um navio negreiro inglês que costumava viajar da
Inglaterra ao continente africano, onde enchia o seu navio de escravos,
traficando-os para os Estados Unidos. Homens, mulheres e crianças
comumente eram trazidos acorrentados abaixo das plataformas, visando
impedir possíveis suicídios. Os nativos africanos eram colocados lado a lado,
a fim de conservar o espaço, em fileira após fileira, uma após outra, até que a
embarcação estivesse “carregada”.
Os capitães dos navios negreiros procuravam fazer uma viagem rápida,
esperando preservar ao máximo a sua carga, contudo, a taxa de mortalidade
era alta, normalmente de 20% ou mais. Quando um surto de disenteria ou
qualquer outra doença ocorria, os doentes eram jogados ao mar. Uma vez
que chegavam a América, os negros eram negociados por açúcar e melaço,
cujo objetivo final era manufaturar o rum, que os navios levariam à
Inglaterra.
John Newton transportou muitas “cargas” de escravos africanos trazidos
ao novo mundo no século XVIII. No mar, em uma de suas viagens, o navio
enfrentou uma enorme tempestade e quase afundou. Na ocasião, Newton
achando que iria morrer ofereceu sua vida a Cristo. Após ter sobrevivido, ele
se converteu e começou a estudar para se tornar ministro do evangelho. No
final de sua vida Newton disse: “Minha memória já quase se foi, mas eu
recordo duas coisas: que eu sou um grande pecador, e que Cristo é meu
grande salvador”.17
Em seu túmulo é possível encontrar a seguinte frase:
Às vezes, quando vejo nas ruas certas pessoas com as piores inclinações, sinto
como se o meu coração fosse explodir em lágrimas de gratidão a Deus por ele não
ter me permitido agir como uma daquelas pessoas! Eu tenho imaginado que se
Deus me tivesse deixado nos meus próprios caminhos, e não me tivesse tocado
com a sua graça, que grande pecador eu teria sido! Eu teria percorrido toda a
extensão do pecado, teria mergulhado em toda a sua profundidade e tampouco
teria deixado de me envolver em qualquer vício ou perversidade, se Deus não me
tivesse impedido. Eu sinto que teria sido, de fato, o rei dos pecadores, se Deus
tivesse me deixado sozinho. Eu não consigo entender a razão pela qual fui salvo,
exceto pelo motivo de que Deus o desejou.
Não posso, mesmo que desejasse ardentemente, encontrar qualquer razão em
mim mesmo, pela qual eu deveria participar da graça divina. Se, neste momento,
eu não estou sem Cristo, isso é devido somente ao fato de que Cristo Jesus faz
cumprir sua vontade em mim, e tal vontade tem em mente que eu esteja com ele
onde ele estiver e que eu venha a participar da sua glória. A coroa tem que ser
colocada na cabeça daquele cuja graça poderosa livrou-me de mergulhar no
abismo.
Olhando para minha vida passada, posso perceber que a origem de tudo isso era
Deus e somente dele efetivamente. Eu não possuía uma tocha para acender o sol,
foi o sol que me iluminou. Eu não comecei a minha vida espiritual – pelo
contrário, eu rejeitava e lutava contra as coisas do Espírito: quando ele me atraiu,
por um certo período, eu não o segui; havia em minha alma um ódio natural
contra qualquer coisa santa e boa. Advertências de nada valiam para mim – os
avisos eram lançados ao vento – os trovões eram desprezados e, em relação aos
sussurros de seu amor, eu os rejeitava como se não tivessem qualquer valor.
Todavia, seguramente, posso dizer agora, em relação a mim mesmo, que “somente
ele é minha salvação”. Foi ele quem mudou o meu coração e me colocou de joelhos
diante dele.19
O CONCEITO DE GRAÇA:
Uma das principais ênfases dadas pelo reformador alemão Martinho
Lutero foi o combate ao comércio das indulgências. Lutero tinha entendido
que o homem não possui a menor condição de comprar o favor de Deus e
que, em virtude disso, ainda que oferecesse todo o dinheiro existente no
mundo, seria incapaz de adquirir para si o perdão dos seus pecados.
A Reforma Protestante resgatou o conceito que o perdão de Deus nos foi
ofertado por Cristo na cruz do Calvário, e que não existe absolutamente
nada a ser feito por nós, simplesmente pelo fato de que o preço já havia sido
pago. Para os reformadores, toda a experiência cristã é fruto da graça divina,
que experimentamos por meio da fé naquilo que Cristo fez por nós.
Lamentavelmente, nos dias de hoje algumas das denominadas igrejas
evangélicas jogaram no lixo a doutrina da salvação pela graça. Infelizmente
muitas destas comunidades, além, é claro, dos seus pastores, estão
oferecendo ao povo as mais variadas “bênçãos”, o que nitidamente se
percebe na ênfase dada ao entretenimento religioso, na prosperidade
financeira, na frouxidão moral, na saúde integral e muito mais. Para piorar a
situação, tudo isso pode ser adquirido em troca de significativas ofertas
financeiras.
Nessa perspectiva o conceito bíblico sobre graça se perdeu, o que de certa
forma tem contribuído para uma visão doentia, esquizofrênica e
imbecilizada sobre aquela que talvez seja uma das mais belas doutrinas das
Escrituras.
Prezado amigo, a graça de Deus é a manifestação do seu amor por nós,
pecadores. A Bíblia nos ensina que ele nos amou de tal maneira que enviou
seu Filho Jesus, para morrer em nosso lugar (Jo 3.16). Deus nos amou
incondicionalmente, isto é, ele não nos não impôs exigências ou regras nem
tampouco viu em nós qualificações ou virtudes que despertassem nele o
desejo de nos salvar. O apóstolo João nos ensina que Deus nos amou
primeiro (1Jo 4.19). Nós não somos merecedores do seu amor, muito pelo
contrário, em virtude do nosso estado de metástase espiritual, estávamos
merecidamente condenados ao inferno, contudo, por sua graça e bondade,
Cristo resolveu nos salvar, dando-nos vida eterna.
Aleluia! É o amor de Deus que nos redime das nossas transgressões. É
esse amor gracioso que nos abre o coração para receber gratuitamente tanto
o perdão como a misericórdia. É a graça de Deus em Cristo que nos liberta do
pecado ou da autoindulgência e nos conduz a uma vida de plenitude. É essa
graça que nos liberta da religiosidade e nos transforma em pessoas
quebrantadas e ávidas pelo Senhor.
2 - Uma igreja que prega Cristo, entende que a salvação não se dá por
ações místicas proferidas por profetas “especiais”.
Quando Cristo é pregado e anunciado como único e suficiente Salvador, o foco é
tirado do homem e transferido exclusivamente para Deus. Ora, por mais piedoso
que seja o pregador, por mais carismático que seja o pastor, estes não possuem
poder suficiente para salvar o homem da condenação eterna.
6 - Uma Igreja que prega Cristo, jamais pregará a salvação pelas obras
É impressionante a quantidade de igrejas que acreditam que Deus salva os
homens não por graça, mas por mérito. Há pouco tempo soube de um pastor que
estava ensinando que se alguém deseja ver um membro da sua família salvo, teria
de pagar um preço por isso. Para o pastor, o valor da salvação do ente querido está
relacionado a horas de jejum e oração. Segundo ele, Deus se vê obrigado a salvar
alguém quando agimos desta forma. Lamentavelmente, existe um número cada
vez maior de pessoas em nossas igrejas que acreditam que, por meio de seus
méritos, vidas serão salvas. Caro amigo, nada que façamos pode agradar a Deus.
Obras de caridade, amor ou filantropia não podem salvar ninguém. É um terrível
equívoco achar que através das nossas ações Cristo salvará o homem da morte
eterna. As Escrituras afirmam que a salvação que nos libertou do império das
trevas, que nos arrancou da condenação à morte, que nos deu a liberdade não foi
adquirida por mérito humano, mas totalmente pela graça de Deus em Cristo
Jesus. Trata-se de um presente de Deus para os eleitos.
Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a
glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira
perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente.
Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for
confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em
nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a
auto-realização se tornem opções alternativas ao evangelho.27
Acredito que um dos motivos que contribuiu para que parte da igreja
evangélica brasileira se perdesse nas últimas quatro décadas se deve ao fato
de ter negligenciado o ensino da Palavra de Deus. Na verdade, diversas
igrejas com intuito de multiplicarem o número de discípulos, abandonaram
as doutrinas da graça em favor de métodos pragmáticos de se encher os
templos.
Lembro que alguns anos atrás, os chamados cultos de doutrina ficavam
abarrotados de pessoas desejosas em aprender as verdades das Escrituras. E
a Escola Bíblica Dominical? Classes e mais classes lotadas de irmãos ávidos
por crescerem no conhecimento do Senhor. Aliás, existe um número
incontável de pessoas nas igrejas neopentecostais que não sabem o que é
uma Escola Bíblica Dominical.
O que chamamos de Escola Bíblica Dominical31 teve como fundador o
jornalista Robert Raikes (1735-1811). Raikes era natural da cidade de
Gloucester, Inglaterra, e em 1757, aos vinte e dois anos, sucedeu o pai como
editor do Gloucester Journal, um periódico voltado para a reforma das
prisões. Nesta pequena cidade inglesa, onde vivia, a delinquência infantil era
um problema que parecia insolúvel. Menores trabalhavam em minas de
carvão de segunda a sábado, tinham pouca ou nenhuma escolaridade,
comportavam-se mal e envolviam-se em todo tipo de delitos e confusões.
Raikes, preocupado com o que via, começou a convidar os pequenos
transgressores para que se reunissem todos os domingos para aprender a
Palavra de Deus.
A idéia de Raikes rapidamente se alastrou pelo país. Apenas cinco anos
mais tarde, em 1785, foi organizada em Londres uma sociedade voltada para
a criação de escolas dominicais. Um ano depois, cerca de 200.000 crianças
estavam sendo ensinadas em toda a Inglaterra. No princípio os professores
eram pagos, mas depois passaram a ser voluntários. Da Inglaterra a
instituição foi para o País de Gales, Escócia, Irlanda e Estados Unidos.
No Brasil, a Escola Bíblica Dominical foi fundada pelos Congregacionais
Robert e Sarah Kalley, em Petrópolis, no dia 19 de agosto de 1855. Sarah
Kalley havia sido grande entusiasta desse movimento na sua pátria, a
Inglaterra. A primeira escola dominical presbiteriana foi iniciada pelo Rev.
Ashbel Green Simonton, em maio de 1861, no Rio de Janeiro. Reunia-se nos
domingos à tarde, na Rua Nova do Ouvidor.
Mais de 150 anos se passaram desde que os Kalley organizaram a EBD no
Brasil, e de lá para cá muita água passou debaixo da ponte. Sem titubeios
afirmo que inúmeras gerações foram impactadas pelo ensino das doutrinas
da graça nas salas de aula das escolas dominicais, esparramadas pelo nosso
imenso território nacional. Hoje, todavia, os que outrora pregavam sobre a
importância da EBD não o fazem mais. Para piorar a situação, os crentes
optaram por fazer do domingo um dia exclusivo para lazer, deixando em
segundo plano o estudo da Palavra de Deus.
Ouso afirmar que a igreja do século XXI é menos preparada e qualificada a
explicar a razão da sua fé aos incrédulos do que as gerações passadas. Como
já escrevi anteriormente em meu livro “Cristianismo ao gosto do Freguês”,
parte da igreja brasileira prefere shows e entretenimento gospel a dedicar
tempo estudando a Bíblia numa escola dominical.
A consequência direta disso é a multiplicação de doutrinas espúrias, cujo
conteúdo anula as doutrinas da graça. Nessa perspectiva, a salvação foi
relativizada, e a graça de Deus comercializada.
Tenho percebido que em vários lugares deste país, as igrejas
abandonaram o hábito de se reunirem aos domingos em Escola Bíblica
Dominical. Segundo os pastores que mudaram as rotinas eclesiásticas de
suas comunidades, as razões para tal se devem ao novo mundo em que
vivemos, que por motivos óbvios exige mais dos seus cidadãos, o que
impossibilita a ida do crente à igreja para estudar as Escrituras.
Bom, até entendo que o mundo é outro, e que a vida se tornou corrida
demais, todavia, será que o fato de negligenciarmos o ensino bíblico não
aponta para uma inversão na escala de valores do cristão? Será que a pós-
modernidade e os conceitos do hedonismo não têm contribuído diretamente
para a existência de um cristianismo mais light onde o que importa é o
desenvolvimento de uma relação com um Cristo bonachão? Com o
movimento gospel? Não tem ele contribuído para a banalização da fé em
Cristo?
Caro leitor, tenho plena convicção de que a Igreja de Cristo precisa
regressar à Palavra. Para tanto, torna-se indispensável que reconheçamos
que não nos será possível construirmos um cristianismo relevante em nosso
país sem que conheçamos as principais doutrinas cristãs.
Outro dia estava a conversar com um pastor que me contou sobre uma
entrevista que fez com uma jovem, membro de sua igreja. Num determinado
momento ele perguntou a moça: “Fulana, para você quem é Jesus”? E ela
respondeu dizendo: “Ah! Jesus é um cara maneiro, Jesus é 10! Ele é meu
amigão”. Não satisfeito com a resposta da garota, ele indagou novamente:
“Fulana, acho que você não entendeu o que perguntei, quem é Jesus para
você? Por exemplo, ele é Deus, disse o pastor. Num ato de surpresa a menina
respondeu: “O que? O senhor está brincando? Jesus é Deus? Eu morreria e
não saberia disso”. Pois é, essa menina era filha de um dos diáconos mais
antigos da igreja, e não sabia quem era Jesus.
Uma igreja que negligencia o estudo sistemático da Bíblia está negociando
o que não se pode negociar. Em virtude do fraco ensino bíblico, as nossas
comunidades evangélicas têm colhido frutos estragados. Hoje, em virtude do
abandono das Escrituras tornou-se comum encontrarmos cristãos
defendendo o unitarismo, o modalismo, arianismo, o dualismo e tantas
outras heresias mais.
Oro na expectativa de que os pastores da Igreja Evangélica Brasileira não
negligenciem a Escola Bíblica Dominical, ao contrário, que eles incentivem
os membros de suas comunidades locais a dedicarem suas vidas ao estudo da
Palavra de Deus, até porque, agindo assim evitaremos alguns desvios
doutrinários e comportamentais.
Caro leitor, não existem pressupostos bíblicos para que a igreja de Cristo
queira “recosturar” o véu do templo. Entretanto, alguns dos crentes atuais
teimam em transformar em realidade aquilo que deveria ser uma simples
sombra. Foi o apóstolo Paulo quem afirmou: “Portanto, ninguém vos julgue
pelo comer, ou pelo beber ou por causa de dias de festa, ou de lua nova, ou
de sábados. Estas são sombras das coisas futuras; a realidade, porém,
encontra-se em Cristo” (Cl 2.16).
As leis cerimoniais judaicas, os ritos sacrificiais, as festas anuais, foram
abolidas definitivamente por Cristo na cruz do Calvário (o significado de
cada uma delas se cumpriu em nosso Senhor). Por esse motivo, mesmo os
judeus que se convertem hoje ao cristianismo estão dispensados das leis
cerimoniais judaicas. É por esta razão que crentes em Jesus não fazem
sacrifícios de animais, não guardam o sábado, não celebram as festas
judaicas, não se prostram diante a Arca da Aliança e tampouco fazem uso do
shofar.
Nossa mensagem, vida e testemunho deve ser Cristo. O evangelho
pregado deve ser o evangelho de Cristo, nossa mensagem central deve ser
para a glória e o engrandecimento do nome de Cristo.
Na cruz, Jesus pagou por todos os nossos pecados, isto é, aqueles que
foram praticados até a nossa conversão e aqueles que infelizmente
haveremos de praticar até o fim de nossa vida na terra. Todavia, isso em
momento algum deve servir para acharmos que podemos e devemos pecar
livremente, mesmo porque aquele que conheceu a Cristo não consegue agir
assim (1Jo 3.9).
Do ponto de vista bíblico, o crente não está livre do pecado. Na verdade,
ele continua suscetível ao pecado. E, ao pecar, ele é convencido pelo Espírito
Santo que lhe mostra a gravidade do erro que cometeu, levando-o por
conseguinte a rogar o perdão do Senhor.
Isto posto, afirmo que o convertido não se sente à vontade vivendo no
pecado, porque as trevas não podem subsistir juntamente com a luz do
Espírito Santo que nele faz morada.
O IBGE e a prosperidade:
No ano de 2007 o IBGE38 publicou uma informação que desconstrói o
pressuposto neopentecostal de prosperidade. Segundo o departamento de
Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, as famílias chefiadas por uma pessoa que segue a religião espírita
têm maior rendimento médio mensal (R$ 3.796) do que as mantidas por um
evangélico pentecostal (R$ 1.271).
O analista socioeconômico do IBGE, José Mauro de Freitas Júnior, disse
que a escolaridade entre as religiões influenciou nos resultados. “Os maiores
rendimentos são dos espíritas muito provavelmente porque eles têm um
grau de escolaridade maior do que os evangélicos pentecostais, que ficaram
com a menor renda. Também temos de levar em consideração que as
famílias espíritas têm menor concentração de integrantes, 2%, enquanto
que as evangélicas de origem pentecostal representam cerca de 11%”,
afirmou Freitas. Em relação às despesas, a pesquisa apontou que as famílias
com maiores gastos também foram aquelas chefiadas por espírita (R$
3.617), enquanto as com menores gastos foram as evangélicas pentecostais
(R$ 1.301). A maior proporção de famílias (74%) é da religião católica
apostólica romana, e seu rendimento médio é de R$ 1.790. Os evangélicos,
em geral, atingiram um rendimento médio familiar de R$ 1.500 e
representou 17% do grupo familiar entrevistado.
O estudo também se referiu ao item de gastos com pensões, mesadas e
doações para as respectivas religiões. As famílias de origem evangélica
pentecostal atingiram 21,4 % de despesas com doações (R$ 23), as
pertencentes à evangélica de missão atingiram 21,9% (R$ 58) e as outras
evangélicas 34% (R$ 59). Outro destaque da pesquisa foi com o item
impostos. Neste quesito, os espíritas recolheram 44,2% (R$ 236), cerca de
três vezes a média do Brasil (R$ 79), brasileiros de outras religiões gastaram
42,9% e os que se declaram sem-religião e não-determinada 42,7%.
A pesquisa em questão serviu para confirmar que a prosperidade não é
conquistada mediante a obediência de rituais mágicos, onde as bênçãos de
Deus são trocadas ou vendidas por generosas contribuições financeiras.
Caro leitor, é possível que ao ler esta afirmação você esteja dizendo com
seus botões: “Ué, por que então os pastores da teologia da prosperidade são
tão prósperos?” Ora, a prosperidade destes apóstolos se deve
exclusivamente à venda de milagres, bênçãos e indulgências.
Prezado amigo, do ponto de vista bíblico a prosperidade não se dá
mediante o toma-lá-dá-cá propagado e defendido por parte dos evangélicos
adeptos à teologia da prosperidade. Acredito profundamente que, se
quisermos que nossas famílias experimentem prosperidade, é urgente que
invistamos em pelo menos duas áreas:
A- Aumento de escolaridade.39
Uma das principais marcas de um povo desenvolvido é educação.
Infelizmente, por fatores diversos, milhões de pessoas em nosso país vivem
à margem da sociedade simplesmente pelo fato de terem abandonado a
escola. Tenho plena convicção que, ao voltar à sala de aula, o crente será
abençoado por Deus e disporá de novas ferramentas que o ajudarão a
experimentar a tão sonhada prosperidade. Eu conheci uma irmã em Cristo
que tinha parado de estudar muito cedo. Lembro-me do dia em que ela me
procurou no gabinete pastoral dizendo que estava pensando em voltar a
estudar. Na ocasião eu a incentivei a fazê-lo o mais rápido possível. Naquele
ano mesmo, Maria voltou à escola. Lembro que a cada semestre ela, à
semelhança de um adolescente que comumente presta conta das suas notas
ao pai, me apresentava o seu boletim. Em poucos anos Maria concluiu o
ensino fundamental e médio e, para minha surpresa, Maria se matriculou na
universidade, formando-se anos mais tarde em psicologia. Sem sombra de
dúvidas, a vida dessa irmã mudou.
13. E o G12?
Não são poucos os pastores que conduzem suas igrejas pela doutrina da
moda. Conheço alguns que no intuito de encherem os bancos de suas
comunidades com pessoas tementes a Deus, comportam-se como pequenos
animais que, no desejo de saciar a fome, saltam de galho em galho em busca
de alimento. Tais líderes vivem de “revelação em revelação” desejosos por
saciar sua sede com novidades cada vez mais escabrosas. Foi assim quando
parte do evangelicalismo brasileiro redescobriu a música como expressão de
louvor, ou enfatizou a batalha espiritual, ou defendeu a necessidade de cura
interior por parte do crente, lutando contra espíritos territoriais num
contexto de maldição hereditária.
Pois é, a bola da vez é o movimento de células. Milhares de pastores
influenciados pela “doutrina celular” envolveram-se de corpo e alma no
movimento de Igreja em células, conhecido como G12.
Antes de qualquer coisa, quero afirmar que acredito que exista base
bíblica para os pequenos grupos. O livro de Atos dos Apóstolos nos ensina
claramente que a Igreja de Jerusalém reunia-se tanto em casas como no
templo. (At 2.42-45). Todavia, o que o G12 prega e ensina é muito diferente
do ensino das Escrituras.
As doutrinas “gedozistas”, além de relativizarem o sacrifício vicário de
Cristo na cruz do calvário, têm inundado a Igreja Evangélica Brasileira com
ensinamentos falsos, tais como maldições hereditárias, cura interior e
regressão ao ventre materno, além é claro da necessidade do cristão em
determinados momentos da vida perdoar a Deus. Segundo os adeptos deste
tipo de fé, os que participam do encontro, precisam estar dispostos a
perdoar aqueles lhes ofenderam, como também quando necessário “liberar”
perdão a Deus.
Prezado amigo, as Escrituras em nenhum momento fazem qualquer
alusão sobre a necessidade de perdoarmos a Deus. Além disso, a Bíblia é
muita clara em afirmar que a morte de Cristo na cruz do calvário foi
suficiente para cancelar o escrito de dívida que constava contra nós (Cl 2.14).
Em outras palavras, isso significa que o sacrifício de Cristo na cruz é mais do
que suficiente para apagar o passado pecaminoso de cada um de nós.
O pastor anglicano, John Stott certa vez afirmou que um dos mais graves
equívocos da igreja evangélica é querer um cristianismo sem cruz.
A cruz de Cristo deve ser a nossa mensagem central. A morte do Cordeiro
que tira o pecado do mundo deve ser a nossa proclamação. O sangue justo
derramado na cruz em favor dos eleitos deve ser a nossa ênfase principal. A
cruz é o centro da história do mundo. A encarnação de Cristo e a crucificação
de nosso Senhor são o centro ao redor do qual circulam todos os eventos de
todos os tempos.
Como bem afirmou John Stott, qualquer pessoa que investigue o
cristianismo pela primeira vez ficará impressionada pelo destaque
extraordinário que os seguidores de Cristo dão à sua morte. No caso de
todos os outros grandes líderes espirituais, a morte deles é lamentada como
fator determinante do fim de suas carreiras. Não tem importância em si
mesma; o que importa é a vida, o ensino e a inspiração do exemplo deles.
Com Jesus, no entanto, é o contrário. Seu ensino e exemplo foram, na
verdade, incomparáveis; mas, desde o princípio, seus seguidores enfatizaram
sua morte. Além disso, quando os evangelhos foram escritos, os quatro
autores dedicaram uma quantidade de espaço desproporcional à última
semana de vida de Jesus na terra – no caso de Lucas, um quarto; de Mateus e
Marcos, cerca de um terço; e de João, quase a metade.
Oh! Quão maravilhosa é a mensagem da cruz! Como diz a clássica canção:
“Sim eu amo a mensagem da cruz, até morrer eu a vou proclamar, Levarei eu
também minha cruz, até por uma coroa trocar”.
14. Existem maldições hereditárias?
Certa feita uma irmã em Cristo, que estava prestes a se casar, me
procurou no gabinete pastoral extremamente angustiada. Segundo ela, o seu
pastor anterior havia ensinado que o crente precisa quebrar as maldições
hereditárias, pois, do contrário, ela teria os mesmos problemas, pecados ou
doenças dos seus antepassados. Outro irmão me confessou que tinha medo
de morrer de câncer, pois o seu avô e pai haviam morrido tragicamente
dessa doença.
Pois é, uma das distorções doutrinárias mais difundidas nos púlpitos
brasileiros é o ensino das “maldições hereditárias”. Os defensores desta
doutrina afirmam que, se alguém tem algum problema relacionado com
alcoolismo, pornografia, depressão, adultério, nervosismo, divórcio, diabete,
câncer e outros tantos mais, esses tais se devem ao fato de que os seus
antepassados deram legalidade ao diabo no passado, permitindo que este
lhes afligisse com o mal.
Segundo os defensores dessa doutrina, a morte de Cristo não foi
suficiente para cancelar todo e qualquer tipo de maldição, daí a necessidade
do fiel orar a Deus pedindo a este que lhe revele em que lugar do passado os
seus familiares pecaram contra o Senhor. Ao descobrir o pecado, bem como
o seu nível de profundidade, os neopentecostais ensinam que o crente
precisa então pedir a Deus que perdoe os pecados dos seus antepassados.
Caro leitor, vamos combinar uma coisa? Não existe o menor fundamento
bíblico para que acreditemos na doutrina das maldições hereditárias. A
morte do Jesus foi suficiente para quebrar todo tipo de maldição. Paulo
afirma que o Senhor nos libertou do império das trevas e nos transportou
para o Reino do Filho do seu amor (Cl 1.13). Se não bastasse isso, as
Escrituras são claras em afirmar que se o Filho nos libertasse,
verdadeiramente seríamos livres (Jo 8.32). Portanto, assegurar que
precisamos quebrar maldições hereditárias e repreender de nossas vidas
espíritos familiares, aponta para um profundo desconhecimento do
significado da cruz.
Vale a pena ressaltar que a Bíblia também nos ensina que somos de Deus
e que, em virtude disto, o maligno não nos toca (1Jo 5.18). Em outras
palavras, isto significa dizer que não existe esta história de retaliação
maligna, até porque o diabo está limitado em suas ações por Aquele que tudo
pode!
Isto posto, afirmo que Satanás não tem a menor condição de surpreender
nosso Deus, pois o Senhor continua soberanamente governando os céus e a
terra. Como bem disse o reformador Martinho Lutero, “o diabo é o diabo de
Deus” e nada que faça pode impedir a concretização da vontade do Senhor.
Louvado seja o Senhor que nos libertou verdadeiramente e que, por
intermédio de sua cruz, nos tornou livres.
32. Recomendo a leitura do livro “9 Marcas de uma Igreja Saudável”, de Mark Dever. Nele temos uma
imagem muito bíblica e sã de como deve ser uma igreja genuinamente bíblica e saudável. (São José dos
Campos, SP: Editora Fiel, 2007).
33. Igualitaristas: Esta corrente, afirma que Deus originalmente criou o homem e a mulher iguais; e
que o domínio masculino sobre as mulheres foi parte do castigo divino por causa da queda, com
consequentes reflexos socioculturais. Segundo os igualitaristas, mediante o advento de Cristo, essa
punição e reflexos foram removidos, proporcionando consequentemente a restauração ao plano
original de Deus quanto à posição da mulher na igreja. Portanto, agora, as mulheres têm direitos
iguais aos dos homens de ocupar cargos de oficialato da Igreja. Em contraposição ao movimento
igualitarista, há o movimento dos complementaristas o qual defende que desde a criação – e portanto,
antes da queda – Deus estabeleceu papéis distintos para o homem e para a mulher, visto que ambos
são peculiarmente diferentes. No que diz respeito à dignidade e valor diante de Deus, homem e
mulher são essencialmente iguais, mas, no que concerne ao seu papel, são diferentes e
complementares, ou seja, o homem e a mulher, com suas características e funções distintas se
completam. A diferença de funções não implica em diferença de valor ou em inferioridade de um em
relação ao outro, e as consequentes diferenças socioculturais nem sempre refletem a visão bíblica da
funcionalidade distinta de cada um. O homem foi feito cabeça da mulher – esse princípio implica em
diferente papel funcional do homem, que é o de liderar.
34. Augustus Nicodemus Lopes. Ordenação feminina: O que o Novo Testamento tem a dizer. Revista
Fides Reformata Vol. II, ed. 1 (São Paulo, SP: Editora Mackenzie, 1997)
35. Paulo Romeiro. Evangélicos em Crise (São Paulo, SP: Editora Mundo Cristão, 1995).
36. Recomendo a leitura do excelente livro de Dr. Augustus Nicodemus Lopes sobre o tema: “Batalha
Espiritual” (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2012).
37. O que há de errado com a teologia da prosperidade? O tempora o mores, http://tempora-
mores.blogspot.com.br/2012/06/afinal-o-que-esta-errado-com-teologia.html. Acessado em Julho de
2013.
38. Folha de São Paulo http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u324070.shtml. Acessado
em Junho de 2013.
39. Recomendo a leitura do livro “O que estão ensinando aos nossos filhos?” de Francisco Solano Portela
Neto (São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2012).
conv1te ao arrepend1mento a
1greja evangél1ca bras1le1ra
Com lágrimas nos olhos sou obrigado a confessar que boa parte da Igreja
evangélica se perdeu no caminho, não conseguindo disseminar de forma
efetiva a Palavra de Deus. Sem a menor sombra de dúvidas, afirmo que em
algumas das denominações cristãs existe um enorme desconhecimento das
doutrinas básicas do cristianismo, o que tem acelerado e intensificado o
adoecimento do evangelicalismo brasileiro.
Em tempos difíceis como os nossos quero convocar pastores, líderes, bem
como a Igreja de Cristo a arrepender-se dos seus pecados e a regressarem à
Palavra de Deus. Sim! Precisamos nos arrepender das nossas transgressões,
dos nossos crassos erros teológicos, das doutrinas que afrontam o Criador e
de comportamentos que ofendem a santidade do Eterno. Sim! Precisamos
regressar às Escrituras e fazer dela nossa única regra de fé, prática e
comportamento. Sim! Precisamos voltar à Escola Bíblica Dominical,
abandonando definitivamente as coisas de menino e optando assim por
servir ao Senhor com maturidade, conhecimento bíblico e conteúdo
teológico.
Prezado leitor, ser protestante não é somente se identificar com o
protesto feito pelos reformadores contra a corrupção eclesiástica e o falso
ensinamento do século XVI – é muito mais do que isso. Ser protestante é
viver debaixo de um avivamento integral, é resgatar os valores
indispensáveis à fé bíblica através da Palavra, é proclamar
incondicionalmente a mensagem da graça de Deus em Cristo Jesus.
O lema “Eclésia reformata, semper reformanda” deveria estar sempre
ressoando em nossos ouvidos e corações, desafiando-nos à responsabilidade
de continuamente caminharmos segundo a Palavra, sem nos deixarmos
levar por ventos de doutrinas e movimentos que tentam transformar a
Igreja de Cristo num circo eclesiástico, nas mãos de líderes despreparados ou
inescrupulosos – ou os dois!, que manipulam o povo ao seu bel-prazer, tudo
isso em nome de Deus!
Que o Senhor tenha misericórdia de nós e que por sua graça e bondade
nos reconduza ao caminho da Verdade.
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