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SUMÁRIO

Sumário
Prefácio da série Entendendo a igreja
Livros da série Entendendo a igreja
Apresentação à edição em português
Introdução
Capítulo 1 | O que é o batismo?
Capítulo 2 | Quem deve ser batizado?
Capítulo 3 | E o batismo infantil?
Capítulo 4 | Por que o batismo é necessário para a membresia da igreja?
Capítulo 5 | Quando o “batismo” não é o batismo?
Capítulo 6 | Como as igrejas devem praticar o batismo?
E-book Gratuito
PREFÁCIO DA SÉRIE ENTENDENDO A
IGREJA
A vida cristã é vivida no contexto da igreja. Essa convicção
bíblica fundamental caracteriza todos os livros da série
Princípios da Igreja.
Essa convicção, por sua vez, afeta a forma como cada
autor trata o seu tópico. Por exemplo, Entendendo a ceia do
Senhor afirma que a Santa Ceia não é um ato privado e
místico entre você e Jesus. É uma refeição familiar em
torno da mesa na qual você tem comunhão com Cristo e
com o povo de Cristo. Entendendo a Grande Comissão
afirma que a Grande Comissão não é uma licença para que
alguém, de forma totalmente autônoma, se dirija às nações
com o testemunho de Jesus. Trata-se de uma
responsabilidade dada a toda a igreja para ser cumprida
por toda a igreja. Entendendo a autoridade da congregação
observa que a autoridade da igreja não repousa apenas
sobre os líderes, mas sobre toda a congregação. Cada
membro tem um trabalho a fazer, incluindo você.
Cada livro foi escrito para o membro comum da igreja, e
esse é um ponto crucial. Se a vida cristã é vivida no
contexto da igreja, então você, crente batizado e membro
de igreja, tem a responsabilidade de entender esses tópicos
fundamentais. Assim como Jesus o responsabiliza pela
promoção e proteção da mensagem do evangelho, ele
também o responsabiliza pela promoção e proteção do povo
do evangelho, a igreja. Estes livros explicarão como.
Você é semelhante a um acionista na corporação do
ministério do evangelho de Cristo. E o que os bons
acionistas fazem? Estudam a sua empresa, o mercado e a
concorrência. Eles querem tirar o máximo proveito de seu
investimento. Você, cristão, investiu sua vida inteira no
evangelho. O propósito desta série, então, é ajudá-lo a
maximizar a saúde e a rentabilidade do Reino de sua
congregação local para os fins gloriosos do evangelho de
Deus.
Você está pronto para começar a trabalhar?
Jonathan Leeman
Editor de Série
LIVROS DA SÉRIE ENTENDENDO A IGREJA
Entendendo a Grande Comissão,
Mark Dever
Entendendo o batismo,
Bobby Jamieson
Entendendo a ceia do Senhor,
Bobby Jamieson
Entendendo a autoridade da congregação,
Jonathan Leeman
Entendendo a disciplina na igreja,
Jonathan Leeman
Entendendo a liderança da igreja,
Mark Dever
APRESENTAÇÃO À EDIÇÃO EM PORTUGUÊS
Por que dedicar um livro inteiro à questão do batismo? A
resposta se encontra no Senhor Jesus. Ele exemplificou o
batismo logo no início de seu ministério e ordenou o
batismo como um de seus mandamentos finais. Além disso,
as igrejas do Novo Testamento obedeceram a esta ordem
batizando aqueles que eram recebidos em seu meio como
discípulos de Jesus.
Assim, esta ordenança é um tema crucial para todos
aqueles que reivindicam ser discípulos de Cristo e para
cada igreja que objetiva seguir fielmente seu Senhor!
Nossos antepassados protestantes entenderam
corretamente que as igrejas verdadeiras podem ser
distinguidas por duas marcas bíblicas: a genuína pregação
da Palavra de Deus e a correta administração das
ordenanças, ou seja, do batismo e da ceia do Senhor.
Outras marcas que possamos vir a adicionar à lista sempre
dependerão destas duas principais. Portanto, podemos
dizer que as igrejas fiéis serão conhecidas pelo que
ensinam a respeito do batismo e a maneira que o praticam.
Ainda que o Novo Testamento revele ordens claras a
respeito do batismo e dê vários exemplos para nos guiarem,
podemos observar na história da igreja diversos desvios
sobre este mandamento. Tais irregularidades infelizmente
continuam nos dias de hoje em grande parte do mundo
cristão.
Aquilo que uma geração crê e pratica normalmente
determinará a trajetória das gerações vindouras. Partindo
deste princípio geral, estou preocupado com a maneira de
como se trata ou deixa de tratar o batismo entre muitas
igrejas evangélicas brasileiras. Destaco algumas tendências
que justificam a minha ansiedade.
Há aquelas igrejas em cada época que ensinam que o
batismo oferece efeitos regenerativos ou dá algum tipo de
eficácia animista. Estas crenças distorcem o próprio
evangelho, e, portanto, devem ser condenadas.
Entretanto, certas igrejas batistas que eram criteriosas no
século XX agora aceitam membros que foram batizados
quando criança. Outras batizam os convertidos, mas
escolhem separar este ato de recebê-los em sua
membresia. Algumas ainda aceitam o batismo dos
“evangélicos” professos, mas sem muita apreciação da
igreja que ministrou o batismo, para discernir se ela prega
as boas novas ou apresenta outro evangelho (Gl 1.6-7).
Neste livro, Bobby Jamieson explora de forma cativante e
fiel o que Novo Testamento ensina sobre o batismo e nos
oferece muitas aplicações sobre esta ordenança. Ainda que
seja um pastor no contexto norte-americano, seu conteúdo
é extremamente relevante para igrejas brasileiras.
O autor aponta que sempre há duas partes envolvidas no
batismo – a pessoa que está publicamente se
comprometendo com Cristo e sua igreja, bem como a
congregação que é autorizada por Cristo a afirmar a
profissão de fé e receber a pessoa em seu meio. Ele explica
o que constitui o batismo e aquilo que não pode ser
considerado batismo.
É com prazer, portanto, que recomendo esta obra aos
leitores brasileiros. A meu ver, vale a pena investir neste
livro somente pela definição dado sobre o batismo, mas
muito mais servirá de aprendizado nas páginas a seguir.
Peço a Deus que seja de bom proveito para que cada
cristão se certifique de que foi batizado da maneira que o
próprio Cristo ordenou. Oro também para que este livro
sirva aos líderes da igreja para que consigam ensinar
melhor e tomar decisões mais prudentes a respeito desta
ordenança.
Fraternalmente em Cristo Jesus,
David Allen Bledsoe
Missionário da equipe teológica no Brasil International
Mission Board da Convenção Batista do Sul (EUA)
INTRODUÇÃO
Olá, seja bem-vindo a este breve livro sobre o batismo. Eu
poderia até chamá-lo de “livreto”. Você pode chamá-lo do
que quiser. Gostaria de entrar e sentar-se? Posso mostrar-
lhe o local antes de começarmos.
Mas primeiro, deixe-me falar um pouco sobre você ou,
pelo menos, quem eu espero que você seja. Se estivéssemos
fazendo isso pessoalmente, eu perguntaria sobre você em
vez de falar sobre você. Mas estamos fazendo isso por
escrito, então o melhor que posso fazer é presumir. O meu
melhor palpite é que existem basicamente três tipos de
pessoas que lerão este livro, todas elas cristãs.
Se você não é cristão, fico feliz que este livro tenha
chegado até você, mas há muitos outros livros sobre o
Cristianismo que eu o encorajaria a ler primeiro! Comece
com os quatro Evangelhos e com o livro de Greg Gilbert,
Quem é Jesus Cristo? (Editora Fiel, 2015). E eu o
incentivaria a juntar-se a um amigo cristão para conversar
sobre a Bíblia e o que significa seguir Jesus.
Em qualquer caso, o primeiro tipo de pessoa que eu
espero que leia este livro é alguém que crê em Jesus, mas
ainda não foi batizado. Talvez você realmente não saiba o
que é o batismo. Talvez você saiba o que é o batismo, mas
não tem certeza do motivo pelo qual precisa ser batizado.
Talvez você se pergunte se o seu “batismo” foi realmente
um batismo. Você era um bebê ou era tão jovem que não
sabia se sua profissão de fé era real. Este livreto abordará
todas essas questões. Meu objetivo para sua vida, se você é
um cristão que ainda não foi batizado, é que este livro
venha convencê-lo a mergulhar fundo. (Uma vez que é
impossível escrever um livro sobre o batismo sem fazer
pelo menos um trocadilho relacionado à água, é melhor já
fazê-lo de uma vez).
Um segundo grupo que espero que leia este livro é o de
cristãos que simplesmente estão interessados em aprender
mais sobre o batismo. Certamente há, pelo menos, alguns
de vocês por aqui. Você já foi batizado, mas quer pensar
mais sobre essa ordenança que Jesus deu à sua igreja.
Talvez você queira saber como explicar melhor o batismo a
novos crentes ou a incrédulos. Espero que este livro
forneça respostas bíblicas para as perguntas que você está
se fazendo — e mesmo àquelas perguntas que você não
está se fazendo, mas deveria.
Um terceiro tipo de pessoa que espero que leia este livro
é um líder de igreja, especialmente um pastor. Pela graça
de Deus, pastores frequentemente estão em uma situação
em que devem batizar novos crentes, e eles também
influenciam fortemente o modo como a sua igreja pratica o
batismo e o que ela reconhece como batismo. Os pastores
também determinam a dinâmica em relação a igreja exigir
ou não o batismo como forma de entrada para a membresia
da igreja, uma questão cada vez mais debatida.
Não espero que você concorde com todo “i e til” deste
livro. Há muitos pontos aqui a respeito dos quais os
cristãos discordam. No entanto, espero que encontre nele
um recurso útil para os seus membros mesmo nos pontos
em que você e eu possamos discordar. E, quem sabe, talvez
até mesmo eu o persuada! Tenho observado ser útil
divulgar livros aos membros da igreja, mesmo quando não
concordo com tudo o que está escrito neles — e eu direi
isso — apenas para que eles pensem sobre o assunto em
questão.
Ao longo do livro, tenho todos os três públicos em mente.
Começamos com a pergunta “O que é o batismo?” no
capítulo 1. O capítulo 2 pergunta: “Quem deve ser
batizado?”. O capítulo 3 avalia biblicamente a prática do
batismo infantil. No capítulo 4, demonstro por que a Bíblia
requer o batismo — ou seja, o batismo do crente — como
pré-requisito para a membresia da igreja. O capítulo 5
examina alguns cenários nos quais algo que os cristãos
estão chamando de “batismo” na verdade não o é. E o
capítulo 6 oferece algumas diretrizes práticas sobre como
as igrejas deveriam batizar crentes.
Antes de escrever este pequeno livro, eu escrevi um livro
mais robusto chamado Going Public: Why Baptism Is
Required for Church Membership.1 Esse livro tem em vista
mais diretamente os líderes da igreja e enfatiza a questão
implícita em seu subtítulo. Utilizo muito desse livro no
capítulo 3, moderadamente no capítulo 5 e ocasionalmente
em outros capítulos. Agradeço à editora por permitir tal
uso.
Agradeço-lhe por dedicar tempo para ler este livro. Oro
para que ele ajude você e outros a seguirem Jesus.
Bobby Jamieson, Going Public: Why Baptism Is Required for Church Membership
(Nashville, TN: B&H, 2015).
CAPÍTULO 1 | O QUE É O BATISMO?
O que você faria se estivesse em uma piscina e um amigo
viesse por trás de você e o mergulhasse na água? Você
poderia simplesmente perdoar o seu amigo — uma atitude
cristã consistente. Você poderia reagir mergulhando-o
também. Você poderia até intensificar o conflito aquático,
esperando que seu amigo saísse e estivesse seco antes de
empurrá-lo de volta para a piscina. Então, o que faria?
Outro caso: o que você faria se o seu amigo se
aproximasse por trás de você, mergulhasse-o na piscina e
depois dissesse: “Agora você foi batizado!”. Mesmo que
você conheça pouco sobre o batismo, acho que suspeitará
fortemente que além de agir de modo um pouco estranho,
seu amigo está errado. Você não foi batizado; tudo o que
aconteceu é que você foi mergulhado.
Porém, o que seria necessário para transformar esse
mergulho em um batismo? Parece óbvio que você teria que
perder o elemento da surpresa e participar disso
consciente e voluntariamente. Mas algumas igrejas não
batizam bebês? Os bebês não aceitam ser batizados. E
quanto àquele que está realizando a imersão? O seu amigo
deveria ser pastor? Esse ato teria que acontecer na igreja
em vez de em uma piscina?

O BATISMO É...
Este capítulo responde à pergunta: “O que é o batismo?”.
Primeiro, explicarei e defenderei uma compreensão
bíblica do batismo e, em seguida, oferecerei alguns breves
comentários sobre o que o batismo não é. Se você está
adiando o batismo porque não tem certeza do que ele é,
espero que este capítulo remova essa confusão e o ajude a
obedecer à ordenança de Jesus para que seja batizado.
Prossigamos, então:
O batismo é o ato de uma igreja afirmar e representar a união de um
crente com Cristo, imergindo-o em água; e o ato de um crente se
comprometer publicamente com Cristo e com o seu povo, unindo assim
um crente à igreja e o distinguindo do mundo.

Vamos meditar em cada parte dessa frase de definição e


observar como cada afirmação se deriva da Escritura.
O ato de uma igreja
O batismo é o ato de uma igreja.2 Considere
primeiramente que o batismo é algo que alguém faz com
outra pessoa. Você não batiza a si mesmo; sempre há duas
partes envolvidas, e ambas as partes afirmam algo um ao
outro e ao mundo.
Hoje em dia, as pessoas tendem a pensar que o batismo é
um símbolo que podem realizar por si sós, como decidir
comprar uma blusa na loja e depois usá-la em público. Não
importa muito quem está realizando o batismo, como não
importa quem é o funcionário no caixa da loja. Qualquer
cristão pode batizar, em qualquer lugar, porque o foco não
está em quem batiza, está em quem é batizado. Você deve
decidir ser batizado, porque deseja fazer uma declaração
pública: “Estou unido a Jesus”. Pense em Filipe e no etíope
eunuco em Atos 8. O eunuco deseja ser batizado. Ele
solicita a Filipe que o batize, o que ele de fato faz. É tudo
bem simples, certo?
Na verdade, o Novo Testamento apresenta um panorama
mais completo, e o que encontramos em uma passagem
como Atos 8 é realmente a exceção à regra, e não a regra.
Você não deve começar em Atos, mas em Mateus 16 e 18,
onde Jesus dá as chaves do reino primeiro aos apóstolos e
depois às igrejas locais.

As chaves do reino servem para ligar na terra o que está


ligado no céu, e desligar na terra o que está desligado no
céu. Isso significa que os apóstolos e as igrejas reunidas
têm a autoridade para tornar pública uma declaração ou
veredicto em nome de Jesus. Pense no que faz um juiz
quando bate o seu martelo. Ele não escreve a lei. Ele não
torna o réu inocente ou culpado. Em vez disso, ele examina
a lei, examina a evidência e depois declara um veredicto
público e vinculante.
Essa autoridade, semelhante à de um juiz, para fazer
declarações oficiais em nome do céu é algo que Jesus dá às
igrejas reunidas, e não aos cristãos individuais. Ouça
Mateus 18.20: “Porque, onde estiverem dois ou três
reunidos em meu nome, ali estou no meio deles”. Jesus não
está falando com pequenos grupos aqui, e a sua presença
entre eles não é uma experiência mística ou condição
circunstancial. Leia atentamente o contexto e verá que
Jesus está dizendo que a sua autoridade celestial pertence
às igrejas reunidas (veja especialmente os versículos 18 e
19). Uma igreja é uma reunião regular de, pelo menos,
duas ou três pessoas que, juntas, testemunham o nome de
Cristo. E Cristo está presente em tais encontros para
autorizá-los a falar em seu nome.
Precisamos de tudo isso para entender o que está
acontecendo na Grande Comissão de Mateus 28. Primeiro,
Jesus nos lembra de que ele é o único com toda autoridade
no céu e na terra (v. 18). Em seguida, ele autoriza os seus
discípulos a batizarem e a fazerem discípulos em nome do
Pai, em seu próprio nome e em nome do Espírito (v. 19).
Então, diz a eles para ensinarem tudo o que ele ordenou, o
que é cumprido no ministério de ensino contínuo da igreja
local (v. 20a). Finalmente, Jesus reafirma que a sua
presença autoritativa está naquela igreja: “E eis que estou
convosco todos os dias até à consumação do século” (v.
20b). Mateus 28 contém muito das estipulações e
autorizações de Mateus 16 e 18 em seu plano de fundo.
Jesus não se esqueceu do que ele disse antes, e nós
também não devemos esquecer.
Logo, a questão é: quem tem autoridade para batizar?
Qualquer cristão? Bem, se você estiver em um campo
missionário, onde não existem outros cristãos, então você
não tem escolha. Sim, você batiza. Uma vez que ainda não
há nenhuma igreja local ali, você é a igreja nesse lugar. E
Atos 8 fornece um precedente para caso, em algum
momento, você se encontrar nessa situação. Ao mesmo
tempo, lembre-se de que Jesus vincula explicitamente a sua
presença autoritativa às igrejas — a duas ou três pessoas
(ou duas ou três mil) reunidas em seu nome. Portanto,
normalmente são as igrejas locais que têm a autoridade
para batizar. Como o batismo é realizado por um indivíduo,
a igreja age por meio de um representante. Mas o batismo
ainda é um ato da igreja. Isso não significa que uma igreja
tenha autoridade para negar o batismo a alguém que dê
provas de ter sido convertido (veja At 11.17-18). Mas isso
significa que, normalmente, o consentimento de uma igreja
deveria estar envolvido, porque não é apenas a pessoa
batizada que faz uma declaração pública. Aquele que batiza
também faz uma declaração ou dá um veredicto público.
Eles “registram” na terra pelo reino dos céus – o que nos
leva ao próximo ponto.
Afirmar e representar a união de um crente com Cristo
O que exatamente a igreja declara no batismo? No
batismo, uma igreja afirma a profissão de fé do crente em
Cristo. Ela afirma que alguém que diz estar unido a Cristo
em sua morte e ressurreição, tanto quanto podem
discernir, de fato está. A igreja estabelece um selo público
e visível a uma realidade espiritual invisível.
A fé nos une a Cristo para que possamos experimentar
todos os benefícios de sua morte e ressurreição, e o
batismo simboliza essa união. Considere as seguintes
passagens:
Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo
Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na
morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os
mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de
vida (Rm 6.3-4).

Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao aio. Pois


todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque
todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes (Gl
3.25-27).

O batismo é um sinal da aplicação do evangelho. É um


sinal de que essa pessoa renunciou ao pecado e foi unida a
Cristo pela fé. Mas o batismo não apenas afirma essas
realidades; ele também as representa. Pense em Cristo
morrendo, sendo sepultado e ascendendo novamente. O
batismo representa publicamente a união de alguém com
essa morte, sepultamento e ressurreição. Uma pessoa é
fisicamente imersa em água e levantada da água.
E porque o batismo representa a nossa união com Cristo,
ele também retrata os benefícios dessa união. Através de
Cristo, nossos pecados são perdoados e purificados; o
batismo simboliza ambos. Pedro disse à multidão no
Pentecostes: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja
batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos
pecados” (At 2.38). Ananias disse ao recém-convertido
apóstolo Paulo: “E agora, por que te demoras? Levanta-te,
recebe o batismo e lava os teus pecados, invocando o nome
dele” (At 22.16). Além disso, por meio de Cristo,
experimentamos uma vida nova e fortalecida pelo Espírito,
e a ressurreição simbólica do batismo significa essa vida
(Rm 6.4;

Cl 2.11-12). No batismo, uma igreja afirma que alguém que


professa fé em Cristo, de fato, está unido a Cristo, e o
batismo representa dramaticamente essa união e todos os
seus benefícios.
Imergindo-o em água
Como uma igreja afirma e representa a união de um
crente com Cristo? Ao imergi-lo em água. A palavra grega
baptizõ, da qual nossa palavra “batizar” se deriva, significa
mergulhar ou imergir algo em água, comumente resultando
em submersão completa. O Novo Testamento retrata
consistentemente o batismo como imersão. João Batista
batizou “em Enom, perto de Salim, porque havia ali muitas
águas” (Jo 3.23), e não há indícios de que os batismos
realizados pelos discípulos de Jesus exigiram menos água.
Além disso, quando o eunuco etíope chegou à fé em
Cristo, enquanto conduzia o seu carro e na companhia de
Filipe, disse: “Eis aqui água; que impede que seja eu
batizado?” (At 8.36). E lemos: “Então, mandou parar o
carro, ambos desceram à água, e Filipe batizou o eunuco.
Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou a
Filipe, não o vendo mais o eunuco; e este foi seguindo o seu
caminho, cheio de júbilo” (At 8.38-39). O batismo
aparentemente exigia mais água do que eles tinham
disponível no carro, então eles desceram à água a fim de
realizá-lo.
Finalmente, a descrição do batismo feita pelo apóstolo
Paulo como significando a morte, sepultamento e
ressurreição de um crente com Cristo parece presumir a
imersão (Rm 6.1-4). A imersão imita fisicamente os atos de
sepultamento e ressurreição, dramatizando a nossa união
com Cristo no seu sepultamento e ressurreição. Assim, uma
igreja afirma e retrata a união de um crente com Cristo ao
imergi-lo em água.
E o ato de um crente
Mas é claro que o batismo não é apenas o ato de uma
igreja — também é o ato de um crente. Uma igreja batiza;
um cristão é batizado. Considere como aqueles que
ouviram Pedro pregar no Pentecostes responderam à sua
mensagem:
Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram
a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos? Respondeu-lhes
Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de
Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do
Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e
para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor,
nosso Deus, chamar. [...] Então, os que lhe aceitaram a palavra foram
batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas
(At 2.37-39, 41).

Aqueles que se arrependeram do pecado e confiaram em


Jesus foram batizados. O batismo é o primeiro ato público
da fé que recebe Cristo como Salvador e Senhor. Se você é
cristão, Jesus ordena que você seja batizado. É algo que
você deve fazer; ninguém mais pode fazer isso por você.
E fica evidente que o batismo não é algo que os não-
cristãos devem fazer. O batismo afirma e retrata a união do
crente com Cristo, então somente aqueles unidos a Cristo
pela fé devem ser batizados.
Comprometendo-se publicamente com Cristo
O que um crente faz no batismo? Comprometendo-se
publicamente com Cristo. O batismo é como você se
apresenta como cristão. É como você professa
publicamente a sua fé e submissão ao Senhor Jesus Cristo.
Para respondermos ao evangelho, somos ordenados a nos
convertermos a Jesus interior e exteriormente, e o exterior
expressa o que ocorre no interior. O batismo é realizado em
público, diante de testemunhas. Pense naquelas pessoas
que se arrependeram e foram batizadas no Pentecostes.
Todos aqueles que saíram dentre a multidão para serem
batizados estavam anunciando a si mesmos como
seguidores de Jesus.
E é exatamente isso que Jesus requer: seguidores que
todos possam ver. “Portanto, qualquer que me confessar
diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que
está nos céus. Mas qualquer que me negar diante dos
homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está
nos céus” (Mt 10.32-33). Jesus não possui discípulos
secretos. A única forma de seguir Jesus é fazê-lo
abertamente, em público, onde todos possam vê-lo. E o
batismo é como nos declaramos, diante da igreja e do
mundo, pertencer a Jesus. Ele requer um grande holofote
sobre os seus discípulos para que o mundo o veja refletido
neles. O batismo é como nos posicionamos nessa luz.
Se você está apreensivo sobre ir a público em relação à
sua fé, veja o batismo como um auxílio e não como um
obstáculo. Jesus não deixou que a sua coragem ou
criatividade resolvessem o modo como você se declararia
um cristão. Ele lhe mostrou como fazê-lo. Jesus tornou isso
simples. Tudo o que você precisa fazer é professar a sua fé
em Cristo e, depois, inclinar-se para trás e prender a
respiração.
Mas o batismo não é apenas a profissão de um
compromisso anterior; o batismo em si é a realização de um
compromisso. Pedro escreve sobre como Noé e sua família
foram salvos pelas águas do juízo, e então faz uma
comparação: “também agora, por uma verdadeira figura – o
batismo, vos salva, o qual não é o despojamento da
imundícia da carne, mas a indagação de uma boa
consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus
Cristo” (1Pe 3.21). Quando Pedro diz que o batismo “vos
salva”, ele esclarece que aquilo que salva não é a lavagem
física com água, mas a fé que o batismo expressa. E a
ressurreição de Cristo é o que dá poder à fé. Não é que
haja qualquer poder ou virtude em nossa própria fé. Em vez
disso, por meio da fé, nos apossamos do Cristo ressurreto.
O termo “indagação de uma boa consciência” pode ser
considerado como uma petição, uma promessa ou ambas.
Acho que ambas estão presentes no batismo, ainda que
esse versículo destaque uma ou outra. O batismo é uma
petição, uma oração que dá voz ao apelo da fé: “Salva-me,
Senhor Jesus!”. Ao identificar-se com a morte e a
ressurreição de Cristo no batismo, um crente reivindica
publicamente Cristo como o seu Salvador, suplicando a
Deus que cumpra a sua promessa de o salvar.
O batismo é uma promessa em que publicamente afirma-
se submissão a Cristo como Senhor. Ser batizado em nome
de Cristo (Mt 28.19) é submeter-se à sua autoridade. O
batismo é um juramento de fidelidade ao Rei Jesus. É como
você jurou publicamente fidelidade a ele. Nesse sentido, o
batismo é uma promessa de obedecer a todos os
mandamentos de Cristo. Ser batizado é assinar a linha
pontilhada abaixo de: “Ensinando-os a guardar todas as
coisas que vos tenho ordenado” (Mt 28.20). Você não pode
receber Jesus como Salvador sem reverenciá-lo como
Senhor. No batismo, tomamos o jugo suave que também é
uma cruz: andar em todos os caminhos de Jesus.
O batismo é onde a fé vai a público. É onde “vestimos a
camisa” do time de Jesus. O batismo é como um crente se
compromete com Cristo — confessando-o como Salvador e
submetendo-se a ele como Senhor — diante dos olhos de
todos.
E com o seu povo
No batismo, um crente compromete-se não apenas com
Cristo, mas também com o povo de Cristo. Relembre o que
aconteceu no Pentecostes: “Então, os que lhe aceitaram a
palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele
dia de quase três mil pessoas” (At 2.41). A quem essas três
mil pessoas foram acrescentadas? À igreja em Jerusalém,
que anteriormente contava apenas com cento e vinte
pessoas (At 1.15). Aqueles que foram batizados no
Pentecostes saíram do mundo e entraram para a igreja. E
assim é — ou assim deveria ser — com todos os que são
batizados hoje.
Confiar em Jesus é unir-se à companhia de todos os que
confiam em Jesus. Receber Jesus é receber o seu povo. O
evangelho não somente nos reconcilia com Deus (Ef 2.1-
10), ele também nos reconcilia uns com os outros (Ef 2.11-
22). Invocar a Deus como Pai é receber todos os outros que
fazem o mesmo como irmãos e irmãs. Ser unido a Cristo é
tornar-se membro do seu corpo (1Co 12.12-26; Ef 1.23; Cl
1.18; 1Pe 2.10).
Assim, no batismo, um crente se compromete com Cristo
e com o seu povo. Ao vestir a “camisa do time”, você se
compromete a “jogar no time”. No batismo, você sai do
mundo para entrar na igreja. Não há uma zona
intermediária na qual você está com Jesus, mas ainda não
está com o povo dele. Unir-se a Jesus é unir-se ao seu povo.
O batismo, então, é um compromisso de seguir Cristo na
companhia de sua igreja. No batismo, um cristão se
compromete a amar, servir e a se submeter ao povo de
Cristo.
Unindo assim um crente à igreja e o distinguindo do mundo
Ao efetuar esse compromisso, a igreja faz um
compromisso próprio. O ato do batismo comunica o
compromisso do crente: “Eu, por meio do batismo, me
comprometo com Cristo e com vocês, o povo dele”; e
comunica o compromisso da igreja: “Afirmamos a sua
profissão de fé e nos comprometemos com você, um
membro do corpo de Cristo”. No batismo, o crente fala com
Deus e com a igreja, e a igreja fala por Deus ao indivíduo.
Então, quando uma igreja afirma e representa a união de
um crente com Cristo, e um crente se compromete com
Cristo e com o seu povo, esse crente é unido à igreja e
distinguido do mundo. O crente é acrescentado à lista do
“time” e a sua “camisa” lhe é dada para que ele a vista. O
batismo identifica publicamente alguém como um cristão.
No batismo, a igreja diz ao mundo: “Observe! Esta pessoa
pertence a Jesus!”. E porque o batismo identifica alguém
como um cristão, ele introduz essa pessoa na companhia da
igreja, o povo da nova aliança de Cristo sobre a terra.
Meditaremos mais sobre a função do batismo de unir o
crente à igreja e distingui-lo do mundo no capítulo 4. Por
enquanto, é suficiente que percebamos que no batismo um
crente compromete-se não somente com Cristo, mas
também com o seu povo.

O BATISMO NÃO É...


Consideremos dois breves comentários sobre o que o
batismo não é. Em primeiro lugar, o batismo em si mesmo
não salva. Lembre-se de que em 1 Pedro 3.21, quando
Pedro diz que o batismo salva, isso não significa que a
lavagem física tenha poder intrínseco, mas esse batismo
expressa a fé na poderosa ressurreição de Cristo. Somos
salvos pela confiança na morte e ressurreição de Jesus, e o
batismo é onde essa confiança se torna pública.
A Escritura é clara que por meio da fé os nossos pecados
são perdoados, somos considerados justos por Deus e
somos reconciliados com Deus (Rm 3.21-31, 4.1-8, 5.1-11).
O batismo representa todas essas realidades, mas não as
produz. Todos os crentes são ordenados a serem batizados,
e é obedecendo aos mandamentos de Cristo que
demonstramos ser verdadeira a nossa fé (Jo 14.21-24; Tg
2.14-26; 1Jo 2.3-6). Portanto, nenhum cristão deve
negligenciar o batismo alegando que ele não é “necessário
para a salvação”. Se você afirma ser salvo, o batismo é uma
prova necessária. Contudo, o batismo em si mesmo não
garante a salvação. O ladrão na cruz foi para o céu sem ele
(Lc 23.39-43), e Simão, o mágico, estava indo para o
inferno com ele (At 8.13-24).
Em segundo lugar, é importante reconhecer que o
batismo não é uma mera tradição humana. Não é algo que
a igreja inventou. Não é algo que nós, cristãos,
simplesmente fazemos e também podemos não fazer. Em
vez disso, o batismo é uma ordenança de Cristo, obrigatória
para todos os crentes de todos os lugares em todos os
tempos.

A SEGUIR...
Voltemos ao seu amigo que o mergulhou. Se ele conseguir
imergir você em água clorada e fria, ele o batizou?
Não. Mas se você tinha apenas um palpite sobre isso no
início do capítulo, espero que agora tenha uma noção
bíblica clara do que é o batismo. No batismo, Jesus deu aos
seus discípulos um modo de confessar abertamente que
eles são de Cristo e que Cristo é deles. E ele deu à igreja
um modo poderoso e público para afirmar e representar a
união de um crente com Cristo. E nesse ato duplo, o crente
se compromete com a igreja, e a igreja se compromete com
o crente. O batismo é um sinal de que tanto retrata a união
do crente com Cristo como efetua uma nova união
horizontal, unindo o crente e a igreja.
O que é o batismo? Repita comigo: o batismo é o ato de
uma igreja afirmar e representar a união de um crente com
Cristo, imergindo-o em água; e o ato de um crente se
comprometer publicamente com Cristo e com o seu povo,
unindo assim um crente à igreja e o distinguindo do mundo.
O que leva à nossa próxima pergunta e capítulo: Quem
deve ser batizado?
Esta seção se baseia fortemente em “Don’t Fire Your Church Members: The Case
for Congregationalism”, por Jonathan Leeman (Nashville: B&H, 2016),
capítulos 3 e 4.
CAPÍTULO 2 | QUEM DEVE SER BATIZADO?
Você se considera um cristão? Se não, fico feliz por você
estar lendo este livro, mas o batismo não é a sua principal
prioridade. O que você precisa fazer primeiramente é
abandonar o seu pecado e confiar em Cristo para que seja
salvo.
Mas suponho que se está lendo este livro, você
provavelmente professa fé em Cristo. Se é assim, você já foi
batizado? Por que sim ou por que não?
Este capítulo pergunta “quem deve ser batizado?”; e a
resposta é “todo cristão”. Sem exceções, sem casos
especiais, sem “se”, “e” ou “mas”. Neste capítulo, vou
estabelecer a ordenança bíblica para o batismo, examinar
alguns benefícios do batismo e responder a objeções
quanto a ser batizado. Uma dessas objeções — de que
alguém já foi “batizado” quando era um bebê — merece
tratamento especial, então terá o seu próprio capítulo.

A ORDENANÇA DO BATISMO
Como vimos no último capítulo, Jesus ordena aos seus
discípulos que façam discípulos: “Toda a autoridade me foi
dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e
do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas
que vos tenho ordenado” (Mt 28.18-20). Como os discípulos
de Jesus fazem discípulos? Em primeiro lugar, pregando o
evangelho do reino para eles, assim como Jesus o fez (Mt
4.17, 23) e como havia previamente enviado os seus
discípulos para fazerem (Mt 10.5-7). Portanto, é correto
dizer que a ordem “fazer discípulos” implica pregar o
evangelho. Você se tornou um discípulo de Jesus ao aceitar
a mensagem sobre Jesus.
Mas Jesus especifica mais dois passos nesse processo,
dois meios pelos quais o mandamento para fazer discípulos
deve ser realizado: os discípulos de Jesus devem batizar
esses novos discípulos e ensinar-lhes a obedecerem a todos
os mandamentos de Jesus.
Passo 1: Preguem o evangelho.
Passo 2: Quando as pessoas respondem em fé, batizem-
nas.
Passo 3: Ensinem as pessoas a fazerem tudo o que Jesus
ordenou.
Todos aqueles que se tornam discípulos são batizados.
Não há uma categoria de discípulo não batizado.
O batismo é algo que um discípulo deve fazer, oferecendo
a si mesmo à sua morte e ressurreição simbólicas.
Portanto, parece claro a partir da ordem contida na
declaração de Jesus que o batismo é, na verdade, o
primeiro item da lista identificada como “todas as coisas
que vos tenho ordenado”. Após se arrepender e crer, o
batismo é a primeira ordenança que os seguidores de Jesus
são chamados a obedecer. Como um novo seguidor de
Jesus, o batismo é a primeira coisa que você faz.
Logo, não é surpreendente que, no mesmo contexto,
Pedro tenha dito aos ouvintes no Pentecostes que deveriam
se arrepender e ser batizados: “Arrependei-vos, e cada um
de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para
remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do
Espírito Santo” (At 2.38). E vimos que muitos deles o
fizeram: “Então, os que lhe aceitaram a palavra foram
batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três
mil pessoas” (At 2.41). Novamente, receber o evangelho e
ser batizado andam de mãos dadas. Se você vier a confiar
em Jesus, a primeira coisa que precisa fazer é dizê-lo
publicamente no batismo.
Isso também explica por que, ao longo das epístolas do
Novo Testamento, os escritores assumem que todos os seus
leitores cristãos são batizados. Paulo argumenta que nós
que morremos para o pecado não podemos mais viver nele,
então pergunta: “Ou, porventura, ignorais que todos nós
que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na
sua morte?” (Rm 6.3). E Paulo assegura aos gálatas que
todos eles são filhos de Deus mediante a fé em Cristo, e
depois explica: “porque todos quantos fostes batizados em
Cristo de Cristo vos revestistes” (Gl 3.27; 1Co 1.13; Cl
2.12). Os argumentos só fazem sentido se todos os leitores
já houvessem sido batizados.
Se você é um cristão e ainda não foi batizado, você
precisa ser. Não é algo meramente opcional ou
recomendado ou sábio ou a melhor coisa a ser feita. É
exigido! E ainda que ser um discípulo de Jesus signifique
mais do que meramente obedecer aos mandamentos de
Jesus, nunca significa menos do que isso. Nossa obediência
a Jesus é a prova decisiva do nosso amor por ele. Aqueles
que confiam em Jesus fazem o que ele diz, e ele diz aos que
confiam nele que eles devem ser batizados.

DOIS BENEFÍCIOS DO BATISMO


Se você afirma crer em Jesus, mas não foi batizado, isso
deve ser suficiente. Jesus ordena o batismo, então você irá
fazê-lo. Mas se você ainda hesita, quero estimulá-lo a
obedecer ao mandamento de Jesus para ser batizado ao
destacar dois benefícios do batismo.
O primeiro é que confessar a fé fortalece a fé. O batismo é
uma declaração pública de que você pertence a Jesus. E se
você está relutante em se declarar abertamente como um
seguidor de Jesus, então o batismo é o que você mais
precisa fazer! A fé em Jesus deve redefinir sua vida: o que é
verdade sobre o seu passado, presente e futuro, quem é a
sua família e quem tem a sua maior fidelidade. O batismo é
uma forma de retratar e proclamar todas essas realidades.
Se você tentar manter a sua fé privada, ela murchará e
morrerá. Como nossos corpos, a fé é fortalecida pelo
exercício, e o batismo é um exercício de fé. O batismo é
uma ação alimentada pela fé, e é uma ação que define a
trajetória para toda a nossa vida de fé. Ser cristão é ser
claro sobre isso. A vida cristã é vivida no palco, em meio à
companhia da igreja, diante do mundo observador. E o
batismo é como nos dirigimos para o holofote.
O segundo benefício inerente é que o batismo apresenta
uma possível oportunidade para a evangelização. Muitas
famílias e amigos, que de outra forma não iriam à igreja,
participariam de bom grado de um batismo. Se os seus
convidados não sabem o que o batismo significa, use o
evangelho para explicá-lo; se eles não entendem o
evangelho, use o batismo para ilustrá-lo. Assim como você é
imerso em água e erguido novamente, Jesus foi imerso na
morte, mas ressurgiu dela vitorioso. E todos os que são
unidos a Cristo compartilham da sua vitória, porque
mediante a sua morte e ressurreição os nossos pecados são
perdoados e somos reconciliados com Deus.

OBJEÇÕES QUANTO A SER BATIZADO


Se você é um cristão professo, mas ainda não foi batizado,
por que não? Vamos considerar algumas prováveis objeções
quanto a ser batizado.
Por que preciso fazer um anúncio tão grande e
público sobre ser um cristão? A fé não é algo pessoal
e privado? Não é suficiente confiar em Jesus? Deus
conhece o meu coração. Já vimos que Jesus não deseja
ter seguidores privados, nem discípulos secretos:
“Portanto, todo aquele que me confessar diante dos
homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que
está nos céus; mas aquele que me negar diante dos
homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está
nos céus” (Mt 10.32-33). E, novamente: “Porque qualquer
que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se
envergonhará o Filho do Homem, quando vier na sua glória
e na do Pai e dos santos anjos” (Lc 9.26). Os cristãos são
aqueles que confessam fé em Cristo. Por definição, a
confissão é um ato público, falada diante de uma audiência.
Se você está apreensivo sobre ir a público como um cristão,
veja o batismo como um auxílio e não como um obstáculo.
Ser batizado o ajuda a fazer aquilo que precisar ser feito
com a sua fé: compartilhá-la abertamente.
Uma palavra aos líderes da igreja: penso que geralmente
é uma prática saudável pedir aos que são batizados não
apenas que confessem verbalmente a fé em Cristo e
prometam obediência a ele, mas que também compartilhem
como eles pessoalmente vieram a confiar em Jesus como
seu Salvador. Isso dá glória a Deus por sua obra em suas
vidas e aumenta o poder evangelístico do batismo. Mas se
alguém tem um medo paralisante de falar em público ou
não é capaz de narrar o seu testemunho, eu gostaria de
encorajá-los a simplesmente fazerem a pessoa concordar
com uma confissão de fé e compromisso de obedecer a
Jesus. Algo semelhante a isto:
– Você confessa a fé em Jesus Cristo como o seu Salvador
e se submete a ele como Senhor?
– Sim.
– Você promete, na dependência da graça dele, obedecer
a Jesus em comunhão com a sua igreja enquanto viver?
– Sim.
Já faz décadas que eu cri. Não fui batizado antes,
então por que preciso ser batizado agora depois de
todo esse tempo? Uma vez que já faz muito tempo
desde a minha conversão, isso não seria algo sem
sentido? Bem, certamente teria sido melhor ser batizado
assim que você veio a exercer fé em Cristo. Mas quando se
trata de obedecer aos mandamentos de Cristo, tarde é
definitivamente melhor do que nunca (Mt 21.28-32). E o
tempo que passou não torna o mandamento menos
vinculativo. É claro que ser batizado agora significará
admitir que você estava errado por não ser batizado por
todos esses anos. Mas isso é simplesmente o que significa
seguir Jesus. Quando descobrimos o pecado em nossas
vidas, nos arrependemos e obedecemos. “Não vim chamar
justos, e sim pecadores, ao arrependimento” (Lc 5.32).
Não sei aonde ir para ser batizado. Bem, esse é um
problema! Aqui está o meu conselho: encontre uma igreja
que pregue o evangelho e ensine a Bíblia. Encontre uma
igreja na qual as pessoas falem seriamente sobre seguir
Jesus e ajudar os outros a seguirem Jesus. Apresente-se aos
líderes dessa igreja. Faça-os saber que você é um crente
em Jesus e que deseja ser batizado. E faça um compromisso
de se unir a essa igreja, servindo-a e permitindo que ela o
ajude a crescer na semelhança com Cristo. Se você
necessita de ajuda para encontrar igrejas como essa, o
Mapa de Igreja disponibilizado pela Ministério Fiel é um
bom lugar para começar a procurar.3
Já fui batizado quando eu era um bebê. O batismo é
um evento único. Uma vez que você foi batizado, não
precisa e não deve ser batizado novamente. Mas os bebês
devem ser batizados? O batismo infantil é realmente o
batismo? Esse é o assunto do nosso próximo capítulo.

CONCLUSÃO
Se você tem adiado o batismo por ansiedade ou medo, tome
coragem. Jesus promete que quando formos levados ao
tribunal por causa dele, seu próprio Espírito falará através
de nós, concedendo as palavras que precisamos dizer (Mt
10.19-20). Quão mais o Espírito, que concede a fé, o
capacitará a confessar publicamente essa fé (1Co 12.3)!
A conclusão é: todo cristão é ordenado a ser batizado.
Então, o que você está esperando?
Acesse: http://ministeriofiel.com/mapa_igrejas.
CAPÍTULO 3 | E O BATISMO INFANTIL?
E o batismo infantil? Tenho certeza de que alguns leitores
foram batizados quando crianças e agora têm sérias
dúvidas se aquele ato realmente foi um batismo. Ou talvez
você saiba que algumas igrejas praticam o batismo infantil,
mas nunca considerou o motivo ou avaliou a prática à luz
da Escritura.
Neste capítulo, descrevemos o raciocínio teológico mais
convincente para o batismo infantil, iremos avaliá-lo
biblicamente e, em seguida, responderemos às objeções do
pedobatismo à posição do batismo de crente.4

O ARGUMENTO A FAVOR DO BATISMO INFANTIL


Durante a maior parte da história da igreja, ao menos uma
parte das igrejas tem “batizado” crianças, uma posição
conhecida como pedobatismo. As igrejas têm feito isso por
diferentes motivos. Os católicos romanos e alguns outros
creem que o batismo realmente transmite graça salvífica
àquele que é batizado e o une ao corpo espiritual de Cristo.
O ato é eficaz por si mesmo, então a criança que o recebe
não precisa exercer fé ou consentimento expresso para que
o batismo cumpra a sua função. Mas essa compreensão do
batismo é incompatível com o próprio evangelho. Ser unido
a Cristo pela fé é o que nos salva. As ordenanças do
batismo e da ceia do Senhor representam e ratificam essa
união; elas não a efetuam.
Alguns luteranos, seguindo o próprio Lutero, afirmam que
as crianças que são batizadas realmente têm fé. Mas,
então, por que um número tão grande daqueles que são
batizados quando bebês nunca mostram evidências de fé?
O que aconteceu com a fé deles?
Entre os evangélicos, cristãos na tradição reformada
oferecem o argumento mais forte para o batismo de
infantes, que se concentra na relação entre as alianças de
Deus e seus sinais da aliança.5 Uma aliança é um
relacionamento que Deus inicia livremente com pessoas, a
qual ele confirma através de juramento. As alianças
frequentemente vêm com sinais que representam
vividamente algo dos termos e benefícios da aliança. A
aliança de Deus com Abraão veio com o sinal da aliança da
circuncisão, que continuou sob a aliança mosaica (Gn 17.1-
14; Lv 12.3). Deus fez uma aliança com Abraão e o instruiu
a circuncidar toda a sua descendência masculina. A aliança
de Deus incluía a descendência de Abraão, assim como o
sinal da aliança.
Cristãos reformados ressaltam continuidades ao longo do
desdobramento histórico do plano de salvação de Deus.
Afirmam, corretamente, que Deus tem um plano de
salvação que ele promove no tempo, e que todos aqueles
que experimentam essa salvação pertencem ao seu único e
verdadeiro povo. Eles também argumentam que existe uma
“aliança da graça” da qual todos os crentes ao longo da
história participam. Esta aliança encontra a sua primeira
expressão na promessa de Deus para Adão e Eva no jardim
do Éden (Gn 3.15) e tem o seu cumprimento em Cristo. E
eles geralmente argumentam que cada uma das alianças de
Deus com o seu povo é uma expressão, ou administração,
dessa única aliança da graça.
Assim, os pedobatistas reformados veem um texto como
Atos 2.38-39 como expressando um princípio comum tanto
para a aliança abraâmica como para a nova aliança. Depois
de exortar os seus ouvintes a se arrependerem e serem
batizados, Pedro diz: “Pois para vós outros é a promessa,
para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe,
isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar”. Os
pedobatistas reformados argumentam que assim como
Deus estendeu a sua promessa da aliança com Abraão (e,
portanto, o sinal da aliança) para o seu povo e seus filhos
infantes, assim também ele estende a sua nova promessa
da aliança (e, portanto, o novo sinal da aliança do batismo)
para os crentes e seus filhos. B.B. Warfield resumiu o
argumento a favor do batismo infantil deste modo: “Deus
estabeleceu a sua igreja nos dias de Abraão e inseriu as
crianças nela. Elas devem permanecer na igreja até que ele
as remova. Em nenhum momento ele as removeu. Elas
ainda são membros da Igreja e, como tais, têm direito às
suas ordenanças”.6

O ARGUMENTO CONTRA O BATISMO INFANTIL


Tenho um grande respeito e afeição pelos cristãos
pedobatistas que argumentam nesse sentido. Alguns deles
são meus amigos íntimos ou heróis históricos. E os
argumentos que esbocei acima mostram uma atenção
cuidadosa e reverência à Escritura. Contudo, não os acho
persuasivos. Aqui estão seis motivos:
1. O pedobatismo aplica o sinal da união com

Cristo aos que não estão unidos a Cristo. Isso separa o sinal da realidade.
O batismo é um sinal da união do crente com Cristo na
sua morte, sepultamento e ressurreição (Rm 6.1-4; Cl 2.11-
12). Mas os infantes não estão unidos a Cristo. Todas as
pessoas, mesmo aquelas nascidas de pais cristãos, devem
receber Cristo pela fé para se unirem a ele mediante o
Espírito.
Algumas crianças que crescem em lares cristãos não se
lembram de um momento em que não criam em Jesus, mas
isso não significa que elas nasceram crendo em Jesus. O
Espírito teve que lhes conceder a fé e conduzir ao
arrependimento. Elas precisaram ser transportadas do
reino de Satanás para o reino do Filho (Cl 1.13). Elas
tiveram que ser ressuscitadas da morte para a vida,
resgatadas do príncipe deste mundo e salvas da ira de Deus
(Ef 2.1-3).
Mas o pedobatismo aplica o sinal da união com Cristo
àqueles que não estão unidos a Cristo. Isso separa o sinal
da realidade que ele expressa. Ao fazê-lo, o pedobatismo
transforma o batismo em uma contradição. O batismo é um
sinal de que o evangelho teve efeito na vida de alguém,
operando perdão, purificação, reconciliação, novo
nascimento e nova vida. Mas o pedobatismo estende o sinal
onde nenhuma dessas realidades está presente. Os filhos
infantes dos crentes não estão unidos a Cristo pela fé,
então as igrejas não devem batizá-los.
2. O pedobatismo confunde o ser nascido de pais cristãos com o novo
nascimento mediante o Espírito.
Outra maneira de dizer isso é que o pedobatismo
confunde o ser nascido de pais cristãos com o novo
nascimento mediante o Espírito. Não estou dizendo que
todos os cristãos pedobatistas confundem essas duas coisas
em suas mentes; estou afirmando que a sua prática as
confunde. Um cristão pedobatista pode muito bem saber
que o seu filho precisa vir a exercer fé em Cristo para
nascer de novo pelo Espírito, mas ao tê-lo batizado, o ato
em si atesta que ele já o é.
A Confissão de Westminster diz que a eficácia do batismo
não está vinculada ao tempo de sua administração. Em
outras palavras, um batismo infantil ainda é válido, mesmo
que o destinatário chegue à fé em Cristo anos depois. Mas
o problema é que o sinal fala por si mesmo. O próprio sinal
diz: “Esta pessoa está unida a Cristo. Ela foi sepultada e
ressuscitada com Cristo. Ela passou da morte para a nova
vida em Cristo.” Se os pedobatistas desejam um sinal que
signifique a futura possibilidade de união com Cristo, eles
terão que encontrar algo que não seja o batismo. O batismo
fala no tempo presente.
Como resultado, o pedobatismo efetivamente comunica
que o novo nascimento é algo que você herda por
nascimento natural. Significa que os filhos infantes dos
crentes estão em uma condição espiritual
fundamentalmente diferente das outras crianças.
Certamente, os filhos dos crentes estão em um ambiente
espiritual diferente do ambiente dos incrédulos — veja mais
abaixo. Porém, o batismo infantil diz que não há apenas
uma diferença em seu ambiente, mas neles. Sejam quais
forem as convenientes distinções teológicas que os
pedobatistas façam, a sua prática confunde o ser nascido
de pais cristãos com o novo nascimento mediante o
Espírito.
3. O pedobatismo assume erroneamente que Deus está formando o seu povo
da nova aliança do mesmo modo que ele formou o seu povo da antiga aliança.
Além disso, o pedobatismo assume erroneamente, ao
menos de uma maneira crucial, que Deus está formando o
povo da nova aliança do mesmo modo que ele formou o seu
povo da antiga aliança. Sob a antiga aliança, Deus formou o
seu povo pela descendência familiar a partir de um grupo
étnico distinto. Sob a nova aliança, Deus forma o seu povo
através da sua Palavra e Espírito a partir de um povo que
invoca o seu nome, reunido dentre todas as nações.
Lembre-se de que o argumento pedobatista se baseia
numa forte analogia entre o batismo e a circuncisão. Deus
ordenou a Abraão que circuncidasse sua descendência, em
parte, para que os descendentes de Abraão fossem um povo
étnico identificável e distinto do mundo que os rodeava.
Esse propósito de formar uma nação se concretizou com o
Êxodo e a entrega da aliança mosaica no Sinai — o que a
Escritura em outra passagem chama de “a antiga aliança”
(2Co 3.14). Quando Deus chamou Israel do Egito, ele o
tomou para si e lhe deu uma função especial. Eles deveriam
obedecer à sua lei para que fossem a sua possessão
preciosa dentre todos os povos, e servissem como um reino
de sacerdotes e uma nação santa (Êx 19.4-6).
Deus estabeleceu Israel no cenário mundial para mostrar
às nações como ele é. Ele quis que Israel andasse em seus
caminhos para que todas as nações ao redor pudessem
observar (Dt 4.1-8). E ele distinguiu Israel dessas nações,
em primeiro lugar, pela circuncisão. Todos os filhos do sexo
masculino em Israel precisaram ser circuncidados (Gn
17.12), e todos os estrangeiros que queriam se unir ao povo
de Israel tiveram que ser circuncidados (Êx 12.48). Desde o
chamado de Abraão até a vinda de Cristo, o povo de Deus
foi distinguido do mundo pela circuncisão.
Ao longo desse tempo, um homem israelita circuncidado
era um membro do povo de Deus, quer seu estado
espiritual correspondesse ou não ao seu status de
circuncidado. A circuncisão significava a consagração a
Deus e exigia que aqueles separados para Deus vivessem
vidas separadas para Deus. É por isso que Deus ordenou ao
seu povo: “Circuncidai, pois, o vosso coração e não mais
endureçais a vossa cerviz” (Dt 10.16; cf. Jr 4.4). Mas é claro
que nem todos os que foram circuncidados na carne foram
circuncidados no coração. Na verdade, como toda a história
de Israel mostra, a maioria do povo de Deus sob a antiga
aliança desobedeceu. Eles adoraram ídolos e cometeram
injustiça e imoralidade. Seus reis, príncipes, profetas,
sacerdotes e o povo como um todo se apartaram do Senhor
e o provocaram à ira (Jr 32.30-33). A impiedade do povo
cresceu de tal modo que Deus eventualmente expulsou o
seu povo da sua terra, invocando as maldições da aliança
sobre eles: primeiro sobre Israel, ao norte, depois sobre
Judá, ao sul (Dt 28.15-68; 2Rs 17.6-23; 25.1-21).
Assim, Deus tinha um plano para Israel, um plano para
manifestar a sua glória a todas as nações através desse
povo. Ele lhes deu a antiga aliança para que obedecessem,
florescessem e fossem distintos das nações, testemunhando
a incomparável sabedoria de Deus. Mas o coração do povo
era corrupto. Seu pecado era mais profundo do que
qualquer solução que a lei poderia trazer. Eles tinham
todas as vantagens — a lei, a adoração no templo, a glória
de Deus habitando no meio deles (Rm 9.4) — e, no entanto,
todas essas vantagens não se mostraram ser vantagem
alguma por fim. Muitos dos que estavam sob essa aliança
não conseguiram guardar a aliança. Eles desobedeceram e
foram julgados.
O povo de Deus precisava de um “transplante cardíaco”. E
isso é exatamente o que Deus prometeu lhes dar na nova
aliança.
Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a
casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com
seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do
Egito; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os
haver desposado, diz o SENHOR. Porque esta é a aliança que firmarei
com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente,
lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu
serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Não ensinará jamais cada um
ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao
SENHOR, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior
deles, diz o SENHOR. Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus
pecados jamais me lembrarei (Jr 31.31-34).

O Senhor declara enfaticamente que essa aliança não será


como a aliança que ele fez com Israel no monte Sinai
depois de tirá-los do Egito. De que forma ela será
diferente? Eles não a anularão (v. 32).
Por que eles não anularão essa aliança? Porque Deus
colocará as suas leis, a sua torá, em suas mentes e também
irá inscrevê-las em seus corações (v. 33). A lei de Deus não
será algo externo ao povo, permanecendo contra eles como
uma mera exigência. Em vez disso, ela habitará neles,
brotará de dentro, conduzindo-os a andar nos caminhos de
Deus.
Um capítulo depois, o Senhor faz a mesma promessa em
outras palavras, quando diz: “Dar-lhes-ei um só coração e
um só caminho, para que me temam todos os dias, para seu
bem e bem de seus filhos. Farei com eles aliança eterna,
segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o
meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de
mim” (Jr 32.39-40).
Essa nova aliança será eterna, porque o próprio Deus
capacitará o seu povo a temê-lo para que lhe obedeçam,
apeguem-se a ele e nunca mais se afastem dele. Esse é
outro modo de dizer que ele circuncidará o coração do
povo, fazendo por eles o que eles nunca poderiam fazer por
si mesmos (Dt 30.6).
Deus faz a mesma promessa de outro modo quando
declara em Ezequiel: “Dar-vos-ei coração novo e porei
dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de
pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o
meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos,
guardeis os meus juízos e os observeis” (Ez 36.26-27). Deus
dará ao seu povo novos corações e até fará com que o seu
Espírito habite dentro deles, o resultado disso é que eles
obedecerão à sua vontade de uma maneira que nunca
fizeram antes. A lei no coração deles, um coração e um
caminho, corações circuncidados, um coração de carne e
não de pedra, o Espírito de Deus no interior, tudo isso são
formas de dizer que na nova aliança o povo de Deus
conhecerá e obedecerá a Deus, porque o próprio Deus os
transformará de dentro para fora.
Observe também que, na promessa da nova da aliança de
Jeremias 31, vizinhos não precisarão dizer: “Conhece ao
SENHOR” uns para os outros, “porque todos me
conhecerão, desde o menor até ao maior deles” (v. 34).
Todo o povo de Deus conhecerá a Deus. Deus aqui torna
explícito o que está implícito em todas as promessas que
acabamos de considerar: todo o seu povo será
transformado. Todos os que estão na aliança cumprirão a
aliança. Todos aqueles distinguidos como povo de Deus
viverão verdadeiramente como o povo de Deus. Essa nova
aliança finalmente fechará a lacuna entre pertencer à
aliança e guardar a aliança. Essa é a própria razão para a
sua existência.
O povo desprezou a aliança que Deus fez com eles no
Sinai, e sofreram a devastação do exílio como a justa
recompensa por seu pecado. Porém, na nova aliança, todo o
povo de Deus — e não apenas alguns — conhecerão e
servirão a Deus. Todo o povo de Deus terá os seus pecados
perdoados (v. 34). Todo o povo de Deus será
verdadeiramente o povo de Deus, não apenas
externamente, mas interiormente. Isso é precisamente o
que torna nova a nova aliança, o que a faz decisivamente
diferente de como Deus se relacionou com o seu povo por
meio da aliança mosaica (v. 31).
Na morte e ressurreição de Cristo, Deus inaugurou essa
nova aliança (Lc 22.20; Hb 9.15). E no Pentecostes, Deus
derramou o seu Espírito sobre o seu povo como prometeu
nos profetas (At 2.1-41). Desde então, ele está chamando o
seu povo da nova aliança para si mesmo por meio de sua
Palavra e de seu Espírito.
Na antiga aliança, Deus formou o seu povo ao distinguir
os descendentes de Abraão como uma etnia diferente. Ele
lhes deu a circuncisão e toda a sua lei para que eles fossem
distintos do mundo. Mas nem todos os que foram
circuncidados na carne foram circuncidados no coração.
Nem todos os que estavam na aliança guardaram-na. O
povo de Deus foi identificado pela circuncisão
independentemente do seu estado espiritual. Mas na nova
aliança, Deus está formando o seu povo de um modo
radicalmente diferente.

Deus não está mais propagando uma comunidade étnica


por meio da descendência familiar. Em vez disso, pelo seu
Espírito aplicando a palavra do evangelho aos corações das
pessoas, Deus está chamando o povo da nova aliança a
partir de cada nação. Deus está formando o seu povo da
nova aliança dando-lhes o novo nascimento. O caminho
para o povo da nova aliança de Deus — o único caminho —
é nascer de novo mediante o Espírito.
O pedobatismo assume, erroneamente, que, de uma forma
crucial, Deus está formando o seu povo da nova aliança da
mesma maneira que ele formou o da antiga aliança: por
meio da descendência familiar. Os pedobatistas estendem o
sinal da aliança do batismo aos filhos infantes dos crentes
porque creem que esses bebês estão incluídos na nova
aliança. Porém, uma pessoa não entra na nova aliança por
meio do nascimento natural, mas mediante o novo
nascimento espiritual. Todos aqueles que estão na nova
aliança têm os seus pecados perdoados e conhecem ao
Senhor. Todos os que estão na nova aliança têm a lei de
Deus escrita em seus corações. Todos aqueles que
pertencem à nova aliança têm o Espírito de Deus habitando
neles, renovando-os, capacitando-os para que andem nos
caminhos de Deus. Nascer de pais cristãos não garante que
essas realidades da nova aliança sejam verdadeiras.
A nova aliança não opera pelo nascimento, mas pelo novo
nascimento. Portanto, o sinal da nova aliança só deve ser
dado aos que dão evidência desse novo nascimento por
meio da profissão de fé em Cristo.
4. O pedobatismo mina a salinidade e luminosidade da igreja (Mt 5.13-16).
O povo da antiga aliança de Deus era, por definição,
espiritualmente misto. O sinal físico da circuncisão vinha
antes e sem garantia da realidade espiritual de um coração
circuncidado. Mas isso é precisamente o que Deus muda na
nova aliança. Por definição, todo o povo da nova aliança é
renovado, todos são perdoados, e todos são habitados pelo
Espírito.
Sim, alguns não-cristãos inevitavelmente se unem à
igreja. Mas isso não é algo segundo a definição da nova
aliança! Isso é como dizer que algumas pessoas casadas
desejam e cometem adultério. Sim, elas o fazem, mas não
deveriam! É precisamente por isso que Jesus instituiu a
disciplina eclesiástica (Mt 18.15-20). Aqueles cujas vidas
impenitentes demonstram que não são membros da nova
aliança devem ser excluídos da comunidade da nova
aliança. O próprio fato de que Jesus ordena isso indica que
a igreja, ao contrário de Israel sob a antiga aliança, tem o
propósito de ser uma comunidade formada por todos
aqueles que conhecem o Senhor.
O pedobatismo traz para a comunidade da nova aliança na
terra aqueles que não participam das realidades da nova
aliança. Coloca pessoas na igreja antes de elas estarem em
Cristo. Isso torna membros da igreja aqueles que não são
cristãos. Inevitavelmente, isso enfraquecerá o testemunho
da igreja sobre Cristo. É muito mais traumático
excomungar um rapaz de dezenove anos que foi batizado
quando era um bebê e agora está pecando sem se
arrepender do que simplesmente esperar para batizar um
jovem até que professe a fé em Cristo de modo credível.
Portanto, apesar das nobres intenções dos cristãos que
praticam o pedobatismo, o batismo de infantes tornará o sal
da igreja menos salgado e a sua luz menos brilhante (Mt
5.13-16). O pedobatismo, ao longo do tempo, tornará a
igreja mais parecida com o mundo, porque traz o mundo
para a igreja.
5. O pedobatismo desfaz duas diferenças cruciais entre o batismo e a
circuncisão.
O pedobatismo também desfaz duas diferenças cruciais
entre o batismo e a circuncisão. Em primeiro lugar, parte
da função da circuncisão era distinguir o povo de Deus
como uma entidade étnica distinta. A circuncisão cumpria
essa finalidade independentemente se a pessoa
circuncidada era ou não circuncidada no coração. A
circuncisão era parte dos meios pelos quais Deus formou o
seu povo da antiga aliança ao longo de linhagens étnicas,
familiares e políticas. Às vezes, os defensores do
pedobatismo tendem a destacar o aspecto espiritual da
circuncisão até o ponto em que negligenciam
completamente a sua função étnica e política. O batismo,
ao contrário, representa completamente outra linhagem de
descendência: nascer de novo mediante o Espírito.
Em segundo lugar, a circuncisão distinguia um israelita
como pertencente a Deus. Ela consagrava uma pessoa a
Deus, sinalizando-a como pertencente à nação “santa” de
Deus — ou seja, separada. Como tal, a circuncisão apontava
para a necessidade do povo de Deus consagrar os seus
corações e vidas a Deus para se alinharem ao seu status
pactual. O povo de Deus, Israel, já era circuncidado, mas o
Senhor lhes ordenou que se circuncidassem interiormente,
que circuncidassem os seus corações (Dt 10.16; Jr 4.4). E o
próprio ato de cortar uma parte do corpo de um homem
ameaçava o destino que o próprio homem sofreria — ser
cortado da presença e do povo de Deus — se ele
desobedecesse à aliança (Gn 17.11-14). Em outras
palavras, a circuncisão exigia santidade e apontava para a
necessidade que os israelitas tinham de uma nova natureza.
O batismo, por outro lado, testifica que uma pessoa
nasceu de novo, recebeu um novo eu, foi interiormente
renovada pelo Espírito. O batismo testifica que uma pessoa
está unida a Cristo e tem nova vida nele. O Novo
Testamento não diz aos crentes: Batizai, pois, o vosso
coração e não mais endureçais a vossa cerviz (cf. Dt 10.16).
Em vez disso, diz aos crentes: Lembrem-se de que vocês
foram batizados. Não permaneçam vivendo no pecado;
vocês já morreram para o pecado! Vivam agora a vida nova
e ressurreta que vocês têm em Cristo (cf. Rm 6.1-4). O
batismo aponta para a promessa da vida nova cumprida em
Cristo na vida de um crente. A circuncisão consagrava uma
pessoa quanto ao seu status e exigia a consagração do
coração; o batismo afirma que a consagração do coração já
ocorreu em Cristo.
Os pedobatistas traçam uma linha bem reta da
circuncisão até o batismo. A circuncisão física encontra o
seu novo cumprimento pactual no batismo. Mas essa não é
a linha que o apóstolo Paulo traça. Considere Colossenses
2.11-12:
Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no
despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo
sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente
fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou
dentre os mortos.

Paulo diz que os cristãos foram circuncidados. Como?


Bem, foi uma circuncisão feita “não por intermédio de
mãos”, ou seja, não por qualquer ser humano. Quem nos
circuncidou? Isso aconteceu no “despojamento do corpo da
carne”, quando nos despimos de nossa velha natureza
pecaminosa. Quem tem o poder de fazer isso? Somente
Deus, é evidente. Logo, nós cristãos fomos “circuncidados”
quando o próprio Deus “cortou” o nosso velho eu, matou a
nossa natureza pecaminosa e nos deu um novo coração, um
novo espírito, um novo eu em Jesus. Em outras palavras,
Paulo está dizendo que todos os cristãos experimentaram a
circuncisão do coração que Deus exigia de Israel e que
prometeu por meio dos profetas.
Qual é a relação disso com o batismo? Paulo diz aqui que
no batismo nós fomos sepultados e ressuscitados com
Cristo mediante a fé. Porque o batismo é onde a fé vai a
público, Paulo usa o batismo como a breve referência para
toda a nossa experiência de conversão. Quando nos
despojamos do nosso velho eu? Quando fomos sepultados e
ressuscitados com Cristo mediante a fé. E o batismo
representa essa morte e ressurreição que experimentamos
pela fé.
Então, como a circuncisão se relaciona com o batismo? O
batismo é um sinal da nova aliança referente à circuncisão
do coração, não da carne. O batismo indica que as
realidades que a circuncisão exigia, mas não garantia,
aconteceram na vida de um crente. O batismo afirma que
aquilo para o que a circuncisão apontava, mas não possuía,
agora já se tornou realidade. Como a circuncisão é
cumprida na nova aliança? Não ao batizar bebês, que ainda
não experimentaram — e talvez nunca experimentem — as
realidades da nova aliança. Antes, a circuncisão é cumprida
na nova aliança pelo modo como o batismo retrata a
circuncisão do coração. A circuncisão dizia a Israel:
“Nasçam de novo!”. O batismo diz para os cristãos: “Esta
pessoa já nasceu de novo!”.
6. O pedobatismo torna a promessa de Deus na nova aliança em menos do
que uma promessa.
Finalmente, o pedobatismo torna a promessa de Deus na
nova aliança em menos do que uma promessa. Os
pedobatistas gostam de citar Atos 2.38-39: “Pois para vós
outros é a promessa, para vossos filhos”. Mas de que
promessa estamos falando aqui? Os pedobatistas dizem que
Deus faz a promessa da nova aliança aos crentes e aos seus
filhos. E, contudo, eles também admitem que muitos que
são batizados enquanto infantes não vão a Cristo. Muitos
dos que recebem o sinal da nova aliança na infância nunca
experimentam as realidades da nova aliança. Em que
sentido, então, a promessa de Deus na nova aliança é
realmente uma promessa?
Eu argumento que, de acordo com a prática pedobatista,
não é. Para amenizar essa tensão, a maioria dos
pedobatistas, de um modo ou de outro, argumenta que
existem duas maneiras de pertencer à nova aliança — uma
externa e uma interna. Em outras palavras, você pode ser
um membro da nova aliança, mas não ter os seus pecados
perdoados, não ter a lei de Deus escrita em seu coração e
não conhecer o Senhor. Mas, como já vimos, essa divisão
entre pertencer à aliança e guardar a aliança é exatamente
o que a promessa de Deus na nova aliança elimina. Na nova
aliança, Deus promete que todos os que pertencem à
aliança cumprirão a aliança e experimentarão as suas
bênçãos, exatamente porque ele garantirá que eles o
façam. O próprio Deus escreverá a sua lei em seus
corações, lhes concederá o verdadeiro conhecimento dele e
perdoará os seus pecados (Jr 31.31-34). O aspecto central
da nova aliança é que estar na aliança é cumprir a aliança;
pertencer ao povo da nova aliança é ter um novo coração,
um novo eu.
Ao incluir os filhos infantes dos crentes na nova aliança, o
pedobatismo torna a promessa de Deus na nova aliança em
menos do que uma promessa. O pedobatismo inverte o
progresso da história da redenção e insere na nova aliança
a própria divisão que Deus destruiu: o abismo entre
pertencer à aliança e cumprir a aliança; ser parte do povo
de Deus e realmente conhecer a Deus.
O pedobatismo inventa a categoria “na nova aliança, mas
não da nova aliança”. O pedobatismo torna a promessa de
Deus em menos do que uma promessa. O batismo infantil
não garante que uma criança crescerá para conhecer o
Senhor, como os pedobatistas admitem amplamente. Mas,
então, qual é a “promessa” que Deus está fazendo aos
filhos dos crentes? Não é a promessa da nova aliança. Não
é uma promessa de Deus se ela não se tornar realidade.

RESPONDENDO A OBJEÇÕES DE PEDOBATISTAS


É claro que os pedobatistas oferecem contra-argumentos
aos apontamentos que fiz. Por uma questão de prudência e
justiça, consideremos cinco deles.7
1. Os batismos de casas em Atos mostram que na nova aliança Deus ainda
está lidando com famílias como famílias.
Os pedobatistas muitas vezes apontam para os chamados
“batismos de casas” de Atos (por exemplo, At 16.15, 31-34;
cf. 1Co 1.16) para demonstrar que na nova aliança, Deus
ainda está lidando com famílias como famílias. Se toda a
família poderia ser batizada quando o chefe da casa viesse
a ter fé, certamente isso incluiria infantes. E mesmo que
isso não acontecesse, mostra que a salvação de Deus opera
através de famílias, não separada delas, então o batismo
deve ser concedido aos filhos de crentes.
Assim é argumentado. Mas o que o texto realmente diz?
Aqui está o relato sobre Paulo e Silas com o carcereiro de
Filipos:
E lhe pregaram a palavra de Deus e a todos os de sua casa. Naquela
mesma hora da noite, cuidando deles, lavou-lhes os vergões dos açoites.
A seguir, foi ele batizado, e todos os seus. Então, levando-os para a sua
própria casa, lhes pôs a mesa; e, com todos os seus, manifestava grande
alegria, por terem crido em Deus. (At 16.32-4)

Em primeiro lugar, observe que Paulo e Silas “pregaram a


palavra de Deus” a todos na casa. Quem estava na casa
possuía idade o suficiente para ser abordado por meio da
pregação do evangelho. Isso já milita contra a suposição de
que infantes ou crianças muito novas estivessem presentes.
Em segundo lugar, o carcereiro se alegrou porque creu em
Deus “com todos os seus”. O advérbio grego que aqui
indica “com todos os seus” poderia descrever a alegria ou a
crença, mas o sentido da sentença provavelmente requer
ambas. Toda a família do carcereiro se alegrou com ele
porque todos os de sua casa, como ele, ouviram o
evangelho, creram e foram batizados.
Esses versículos, de modo algum, separam o batismo da
crença no evangelho. Eles não oferecem garantia alguma
para estender o sinal do evangelho àqueles que ainda não
creram no evangelho. E o relato mais breve de Atos 16.15
deve ser lido à luz da narrativa mais detalhada aqui. Além
disso, se essas passagens nos ensinam a batizar os
membros de uma família que não confiaram em Cristo, por
que a maioria dos pedobatistas não batizam os cônjuges
dos novos crentes, tenham esses cônjuges crido ou não? E
quanto aos filhos adolescentes ou adultos?
2. Paulo diz aos filhos que devem obedecer aos seus pais “no Senhor” (Ef 6.1)
e chama os filhos de um pai ou mãe crente de “santo” (1Co 7.14). Isso
pressupõe que eles são membros da aliança.
Em Efésios 6.1, Paulo diz aos filhos que obedeçam aos
seus pais “no Senhor” e, em 1 Coríntios 7.14, ele diz que os
filhos de um pai crente são “santos”, mesmo que um dos
pais não seja cristão. Isso não indica que Paulo via as
crianças como membros da nova aliança?
Comecemos com Efésios 6.1. O que significa Paulo
abordar esses filhos como estando “no Senhor”? Penso que
o presbiteriano e estudioso do Novo Testamento, Frank
Thielman, oferece uma boa resposta. Ao longo de Efésios,
esse termo se refere aos crentes unidos a Cristo. Os crentes
são edificados como um edifício “no Senhor” (2.21), os
cristãos de Efésios antigamente estavam em trevas, mas se
tornaram luz “no Senhor” (5.8), e assim por diante (4.1;
4.17). Por que, então, Paulo fala com os filhos dessa
maneira aqui? “Por eles terem sido unidos a Cristo pela fé
(1.13), devem obedecer aos pais”.8
Em outras palavras, Paulo não se dirige aos filhos como
membros da nova aliança que podem ou não estar unidos a
Cristo mediante a fé. Em vez disso, ele se dirige aos filhos
como crentes, e lhes diz que devem obedecer aos seus pais
como crentes. Ele simplesmente não aborda a questão de
saber se os filhos ainda incrédulos de pais crentes têm um
status pactual especial.
Em 1 Coríntios 7.14, Paulo está contrariando a ideia
errada de que alguém que já é casado e depois se torna
cristão deve se separar de seu cônjuge incrédulo. Sua
justificativa é: “Porque o marido incrédulo é santificado no
convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no
convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos
seriam impuros; porém, agora, são santos”. Os
pedobatistas, muitas vezes, inferem desse argumento que
Paulo considera os filhos de um pai ou mãe crente como
“santo” porque são membros da nova aliança, mesmo que
não experimentem necessariamente o cumprimento das
promessas da nova aliança.
A primeira coisa a ser observada aqui é que o texto não
diz nada explícito sobre o batismo. Em segundo lugar,
Paulo descreve o cônjuge incrédulo como “santo” do
mesmo modo que os filhos. Então, novamente, qualquer
argumento para o batismo infantil a partir daqui também
deve ser um argumento para o batismo de um adulto não
crente! Pouquíssimos pedobatistas avançam até esse ponto,
logo o argumento desse versículo é bastante inconsistente.
3. Em Romanos 4.11, Paulo diz que Abraão recebeu o sinal da circuncisão
como um selo da justiça da fé.
Em Romanos 4.11, Paulo diz que Abraão “recebeu o sinal
da circuncisão como selo da justiça da fé que teve quando
ainda incircunciso; para vir a ser o pai de todos os que
creem, embora não circuncidados, a fim de que lhes fosse
imputada a justiça”.
Assim, Paulo ensina que o sinal da circuncisão foi, para
Abraão, um selo da justiça que ele tinha pela fé antes de
ser circuncidado. Os pedobatistas apontam que os
descendentes de Abraão, que eram circuncidados ao oitavo
dia, recebiam esse “selo” da justiça da fé antes de
chegarem a compartilhar a fé de Abraão e a justiça que
vem por meio da fé. Em outras palavras, Deus ordenou a
Abraão que estendesse o sinal “objetivo” da circuncisão,
independentemente de a realidade subjetiva da justiça da
fé estar presente. Além disso, os pedobatistas argumentam
que o batismo e a circuncisão significam essencialmente a
mesma realidade: a circuncisão significava a justiça da fé, e
o batismo significa a união com Cristo, em quem somos
justos por meio da fé. Portanto, assim como a circuncisão, o
batismo deve ser aplicado aos filhos dos membros da
aliança como um sinal “objetivo” de união com Cristo,
independentemente se a realidade subjetiva da fé está ou
não presente ou mesmo se um dia no futuro estará
presente.
Mas esse simplesmente não é o argumento que Paulo está
fazendo nessa passagem. A ideia principal de Paulo é a
ordem da justiça e da circuncisão: Abraão era justo por
meio da fé antes de ser circuncidado. Gênesis 15 vem antes
de Gênesis 17. Paulo argumenta desse modo para ressaltar
a realidade de que Abraão é “o pai de todos os que creem,
embora não circuncidados” (Rm 4.11). Em outras palavras,
os gentios não circuncidados que chegam à fé em Cristo
são declarados justos por meio da fé, assim como Abraão.
Eles não precisam ser circuncidados para receber as
bênçãos da aliança de Deus, porque o próprio Abraão era
incircunciso quando recebeu a justiça da fé.
Em outras palavras, Paulo está falando sobre a
circuncisão de Abraão, não da circuncisão de todos os
outros. Ele está falando sobre o que significou Deus ter
declarado Abraão justo antes de lhe dar a aliança da
circuncisão. Paulo não está ensinando que a circuncisão
inerentemente significa justiça pela fé; antes, está
ensinando que o sinal da circuncisão era um selo da justiça
da fé de Abraão. Deus deu a circuncisão a Abraão como
uma confirmação da justificação diante de Deus que ele já
possuía. O argumento de Paulo não é o que a circuncisão
significa para todos os que a recebem, mas o que Deus
estava dizendo a Abraão ao lhe dar a circuncisão.
Finalmente, a passagem em nenhum lugar menciona o
batismo ou vincula o batismo à circuncisão. Não afirma
nem pressupõe que o batismo e a circuncisão significam as
mesmas realidades e que devem ser administrados do
mesmo modo.
4. Rejeitar o pedobatismo é expulsar os filhos da igreja.
Os pedobatistas dizem que Deus incluiu os filhos dos
crentes entre o seu povo sob a antiga aliança, de modo que
recusar-se a batizar infantes é expulsar os filhos da igreja.
Mas isso implica na questão do que a igreja é e de como
Deus a forma. Se Deus forma a sua igreja efetuando as suas
promessas da nova aliança na vida das pessoas, os filhos
incrédulos não estão “dentro” da igreja — o corpo universal
de Cristo, aqueles unidos a Cristo pela fé — quer nós os
batizemos ou não. Os pedobatistas dizem que aqueles que
não batizam infantes tomam as crianças que deveriam estar
“dentro” e as “lançam fora”, mas eles tomam aquelas que
ainda estão “fora” e as colocam “dentro”.
É claro que as crianças devem ser incluídas na vida da
igreja no sentido de adorarem com a igreja, serem
ensinadas pela igreja e crescerem em experiências cada
vez mais profundas de comunhão na igreja. Os batistas,
tanto quanto os pedobatistas, creem que somos chamados a
criar nossos filhos na “disciplina e na admoestação do
Senhor” (Ef 6.4). Ser disciplinado e admoestado no Senhor
envolve participar profundamente da vida da igreja, de
formas apropriadas para a idade, maturidade e condição
espiritual de uma criança.
5. Rejeitar o pedobatismo é romper a unidade da Escritura e do plano divino
de salvação.
Os pedobatistas gostam de acentuar a unidade e a
continuidade do plano divino de salvação. Eles gostam de
ressaltar as linhas de raciocínio que conduzem toda a Bíblia
para isso. E a isso todo cristão deve dizer: “Amém!”. Há um
Deus. Ele tem um plano de salvação. Ele está reunindo um
povo dentre todas as nações, que é salvo através da oferta
única de Jesus Cristo e que herda todas as promessas de
Deus nele.
Mas todo cristão também precisa lidar com as
descontinuidades no plano divino de salvação. Não
oferecemos mais sacrifícios em um templo em Jerusalém.
Não somos mais obrigados pela lei de Deus a manter a
purificação cerimonial, a nos abster de alimentos prescritos
pela lei mosaica, e assim por diante. Todo cristão deve
equilibrar as continuidades e as descontinuidades entre a
antiga aliança e a nova aliança. Se alguns cristãos
insistissem que os crentes devem circuncidar os seus filhos
em obediência à lei mosaica, como os cristãos pedobatistas
responderiam? Junto com o apóstolo Paulo, eles afirmariam
que tais crentes estão voltando o relógio da história da
redenção e removendo as descontinuidades entre como
Deus agiu na antiga aliança e como age na nova.
Todos veem continuidade e descontinuidade entre a
antiga e a nova alianças. A necessidade é conseguir o
equilíbrio certo. E eu gostaria de argumentar, e tenho
argumentado neste capítulo, que batizar infantes é
reivindicar a continuidade onde a nova aliança insiste na
descontinuidade. Batizar infantes é trazer da antiga para a
nova aliança a própria estrutura que a nova abole.

SIMPLESMENTE NÃO SE ENCAIXA


Qual é a conclusão de tudo isso? Simplesmente que o
batismo infantil não é o que a Bíblia quer dizer por batismo.
A Bíblia nem comanda nem autoriza implicitamente as
igrejas a batizarem infantes. Por mais plausível que seja o
argumento pactual dos pedobatistas, ele absolutamente não
se adequa ao que as Escrituras ensinam sobre o batismo e
sobre a nova aliança. O batismo infantil não é o batismo.
Então, se você foi “batizado” quando bebê, espero que
você tenha entendido a partir da Bíblia por que esse
“batismo” não foi realmente um batismo. Não é que o
batismo infantil seja um pouco defeituoso, como um carro
com um alternador ruim que ainda excuta alguma função.
Em vez disso, o batismo infantil simplesmente não é o
batismo. Aqueles que foram “batizados” quando infantes
não foram realmente batizados, então eles ainda precisam
ser.
Contudo, alguns que chegam a essa compreensão ainda
hesitam em ser batizados, porque consideram ser batizados
como uma crítica aos seus pais — ou, pelo menos, eles
temem que seus pais possam vê-lo dessa forma.
Certamente, devemos honrar os nossos pais e expressar
qualquer desacordo teológico com eles de modo bondoso e
humilde. Porém, somente Jesus demanda a nossa
obediência final. Se Jesus entende o batismo de maneira
diferente do que os nossos próprios pais, então é a Jesus
que precisamos obedecer (Lc 14.26).
N.E.: Pedobatismo é a posição em prol do batismo infantil enquanto
credobatismo é a posição em prol do batismo de crentes professos.
Para uma defesa exemplar dessa posição, veja Sinclair B. Ferguson, Infant
Baptism View, In: David F. Wright (ed.), Baptism: Three Views (Downers
Grove, IL: InterVarsity, 2009), 77–111.
N.E.: Para uma publicação em português sobre pedobatismo, confira: Paulo R.
B. Anglada, Para Vós e Para Vossos Filhos: O Batismo Cristão (Ananindeua, PA:
Knox Publicações, 2014) 64 p. Para uma publicação em português sobre
pedobatismo, confira: Jeffrey D. Johnson , A Falha Fatal da Teologia por Trás do
Batismo Infantil e o Dicotomismo Pactual: Continuidade e Descontinuidade dos
Pactos de Deus (São Paulo: O Estandarte de Cristo, 2018), 372 p.
B.B. Warfield, Studies in Theology (Nova Iorque: Oxford University Press,
1932), 408.
Em vários pontos desta seção estou fazendo uso de Bruce A. Ware, “Believers’
Baptism View”, em David F. Wright (ed.), Baptism: Three Views (Downers
Grove, IL: InterVarsity Press, 2009), 19–50.
Frank Thielman, Ephesians, BECNT (Grand Rapids: Baker, 2010), 397.
CAPÍTULO 4 | POR QUE O BATISMO É
NECESSÁRIO PARA A MEMBRESIA DA
IGREJA?
Alguns de vocês podem estar lendo este livro porque
desejam se unir a uma igreja e, para isso, devem ser
batizados. Mas por que, em primeiro lugar, as igrejas
requerem o batismo para a membresia? Essa é realmente
uma prática bíblica? Isso não exclui alguns verdadeiros
cristãos da membresia, pois nem todos os cristãos
concordam sobre o que é considerado como batismo?
Este capítulo aborda todas essas questões, apresentando
um caso bíblico para o porquê de o batismo ser necessário
para a membresia à igreja. Para ser claro, por “batismo”,
quero dizer o batismo de um crente e não de um bebê.
Como vimos no capítulo anterior, o “batismo” infantil
simplesmente não é batismo.
Este capítulo também é dirigido aos líderes da igreja,
aqueles que têm a influência mais imediata sobre se a sua
igreja requererá o batismo para a membresia. Meu objetivo
é persuadi-lo que você deveria requerê-lo. Argumentarei
em sete etapas, depois tratarei da objeção mais
consistente.9

SETE MOTIVOS PELOS QUAIS O BATISMO É EXIGIDO PARA A


MEMBRESIA DA IGREJA
Não há texto-prova que fale direta e definitivamente sobre
essa questão. Então, para discernir por que o batismo é
necessário para a membresia da igreja, precisamos avaliar
e reunir muitos materiais bíblicos. Este capítulo, às vezes,
ficará um pouco técnico, mas o argumento aqui
simplesmente aprofunda e esclarece a definição de batismo
que exploramos no capítulo 1. Aqui estão sete fatores que,
juntos, demonstram que a Bíblia faz do batismo um
requisito para a membresia da igreja.
1. O batismo é onde a fé se torna pública.
Lembre-se da definição de batismo que demos no capítulo
1: o batismo é o ato de uma igreja afirmar e representar a
união de um crente com Cristo, imergindo-o em água; e o
ato de um crente se comprometer publicamente com Cristo
e com o seu povo, unindo assim um crente à igreja e o
distinguindo do mundo.
Em outras palavras, o batismo é onde a fé se torna
pública. A vida cristã é uma vida de testemunho público de
Cristo (Mt 10.32-33), e esse testemunho começa no
batismo. No Pentecostes, os que foram convertidos pela
pregação de Pedro saíram dentre a multidão, declarando
lealdade a Cristo como Senhor e Salvador e submetendo-se
ao batismo (At 2.38-41). No batismo, “distinguimos” a nós
mesmos como cristãos. Nós nos identificamos publicamente
com o Cristo crucificado e ressurreto, bem como com o seu
povo.
Como vimos, Jesus ordenou aos discípulos que fizessem
discípulos, pregando-lhes o evangelho, batizando-os e
ensinando-os a obedecer a tudo o que ele havia ordenado
(Mt 28.19). Portanto, não é surpresa alguma que, no
Pentecostes, Pedro tenha ordenado aos seus ouvintes:
“Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome
de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados” (At
2.38). Se você pretende seguir a Cristo, esse é o primeiro
dos seus mandamentos que você deve obedecer. Após
confiar em Cristo, o batismo é a primeira coisa que a fé faz.
Se você não foi batizado, ainda não passou do primeiro item
na lista de deveres do discipulado de Jesus.
Por que o batismo é necessário para a membresia da
igreja? Porque o batismo é onde a fé se torna pública. É
onde a fé invisível se torna visível. É como um novo cristão
se torna visível no “radar” da igreja e do mundo. Essa é a
semente a partir da qual crescem as razões seguintes.
2. O batismo é o sinal de juramento inicial da nova aliança.
Já que o batismo é como um crente se compromete com
Cristo e com o seu povo, o batismo também é o sinal de
juramento inicial da nova aliança. É o ato que promulga
publicamente a sua promessa de confiar em Cristo e viver a
nova aliança.
Por meio de sua morte, Jesus inaugurou a nova aliança
prometida, como discutimos no último capítulo (Jr 31.31-
34; Lc 22.19-20; Hb 8.1-13). Todas as alianças são
confirmadas por um juramento: uma promessa solene e
auto-obrigatória. Contudo, um juramento não é apenas algo
falado; também — ou como alternativa — pode ser expresso
em uma ação. Quando Deus fez uma aliança com Abraão,
ele passou entre as metades dos animais sacrificados (Gn
15.1-21). Esse sinal de juramento confirmou a promessa de
Deus a Abraão e indicou que se Deus se mostrasse infiel à
sua aliança, ele próprio traria juízo sobre si. Na morte de
Jesus, Deus o Filho suportou o juízo sobre si — não por
causa de sua infidelidade, mas por causa da nossa. A nova
aliança foi ratificada quando o próprio Jesus pagou todo o
preço pelos nossos pecados (Hb 9.15).
A antiga aliança tinha a circuncisão, um sinal de
juramento que confirmava a entrada de um indivíduo na
aliança. Assim também, a nova aliança vem com um sinal
de juramento — na verdade, dois. O primeiro, o batismo, é
o sinal de juramento inicial. É um voto solene e simbólico
que confirma a entrada na nova aliança. No batismo,
rogamos a Deus que nos aceite nos termos de sua nova
aliança (1Pe 3.21) e nos comprometemos a cumprir, pela
graça, tudo o que a sua nova aliança exige de nós (Mt
28.19). No batismo, confessamos a Deus como nosso Deus,
e ele nos confessa como o seu povo. No batismo, fazemos o
voto: “Você tem a Jesus como o seu Senhor e Salvador?”
“Sim”.
Logo, quando a igreja pergunta “quem pertence à nova
aliança?”, uma parte da resposta é a resposta à pergunta
“quem fez o juramento?”, ou seja, “quem já foi batizado?”.
Assim como um soldado não pode usar as armas até que
tenha jurado fidelidade ao seu país, você não pode entrar
na comunhão da nova aliança até que tenha feito o
juramento da aliança. A igreja é onde a nova aliança se
mostra visível na terra, e o batismo é como um indivíduo se
mostra como um membro da nova aliança. O batismo é
necessário para a membresia da igreja porque ele é o sinal
de juramento inicial da nova aliança.
3. O batismo é o passaporte do reino e a cerimônia de juramento do cidadão
do reino.
Em terceiro lugar, o batismo é o passaporte do reino e a
cerimônia de juramento do cidadão do reino. Como vimos
no capítulo 1, quando Jesus inaugurou o reino dos céus na
terra, estabeleceu a igreja como uma embaixada desse
reino. Ele deu à igreja as “chaves do reino” para identificar
os seus cidadãos diante do mundo ao afirmar as profissões
de fé daqueles que, de modo credível, confessam fé nele
(Mt 16.19, 18.18-19). E o meio inicial e de iniciação pelo
qual a igreja identifica indivíduos como cidadãos do reino é
o batismo (Mt 28.19). O batismo é como uma igreja
declara: “Esta pessoa pertence a Jesus”.
O batismo é o passaporte do reino. Nós nos tornamos
cidadãos do reino mediante a fé no rei, mas, no batismo, a
igreja reconhece e afirma a nossa cidadania. E o batismo
permite que outras embaixadas do reino — outras igrejas
locais — nos reconheçam como cidadãos do reino. Sob
outra perspectiva, o batismo é uma cerimônia de juramento
do cidadão do reino. É como assumimos formalmente o
nosso novo ofício de representar Cristo e o seu reino na
terra.
Portanto, para que uma igreja reconheça alguém como
um cidadão do reino, esse cidadão precisa ter o seu
passaporte. O batismo é necessário para a membresia da
igreja porque é o passaporte do reino e a cerimônia de
juramento do cidadão do reino.
4. O batismo é um critério necessário pelo qual uma igreja reconhece quem é
um cristão.
Um quarto motivo pelo qual o batismo é necessário para a
membresia da igreja é uma implicação de nossos três
primeiros pontos. Porque o batismo é a forma como uma
igreja identifica publicamente alguém como cristão, é
também um critério necessário pelo qual uma igreja
reconhece quem é um cristão. A identificação é para
reconhecimento. Em uma partida de futebol, os dois times
usam uniformes diferentes para que os jogadores de cada
time sejam claramente reconhecidos. E o batismo é a
“camisa do time” do cristianismo.
Portanto, o batismo é um critério necessário, embora não
suficiente, pelo qual a igreja deve reconhecer os cristãos. O
batismo não é suficiente para alguém reivindicar ser
cristão, ou para que todos na igreja considerarem que
alguém é cristão; Jesus uniu o julgamento da igreja ao
batismo. Jesus nos deu o batismo, em parte, para que
possamos nos distinguir do mundo. Ao identificar
publicamente as pessoas como cristãs, o batismo traça uma
linha entre a igreja e o mundo. O batismo distingue os
cristãos como cristãos; o que significa que o batismo é
necessário para a membresia da igreja. Uma igreja
simplesmente não está autorizada a reconhecer alguém
como membro do “time” de Jesus até que essa pessoa vista
a camisa.
5. O batismo é um sinal efetivo de membresia da igreja.
Em quinto lugar, o batismo é um sinal efetivo de
membresia da igreja. Essa também é uma inferência dos
nossos três primeiros pontos. Se o batismo é a forma pela
qual a fé se torna pública, o sinal de juramento inicial da
nova aliança, o passaporte do reino e a cerimônia de
juramento de um cidadão do reino, então o batismo é um
sinal efetivo de membresia da igreja. Ele cria a realidade
eclesiástica para a qual aponta: um cristão pertencendo a
uma igreja local, e essa igreja local afirmando a profissão
de fé de um cristão e unindo tal pessoa a si mesma.
Se a membresia fosse uma casa, o batismo seria a porta
da frente. Ao atravessar a porta da frente, você entra na
casa. Assim, normalmente o batismo não é apenas um
precursor da membresia da igreja; ele concede membresia
à igreja. O batismo inicia a membresia à igreja. Para um
novo convertido, o batismo é o modo do Novo Testamento
de se unir a uma igreja. Porque o batismo é um sinal efetivo
da membresia da igreja, o batismo é necessário para a
membresia da igreja.
6. A ceia do Senhor é o outro sinal efetivo da membresia da igreja.
No segundo ponto, vimos que a nova aliança vem com
dois sinais. O primeiro é o batismo, o seu sinal de
juramento inicial. O segundo é a ceia do Senhor, que é o
seu sinal de juramento sendo renovado. Quando
participamos do pão e do cálice, nos comprometemos
novamente com Cristo e com a sua nova aliança.
Porém, isso não é algo que fazemos como indivíduos, mas
como igreja (1Co 11.17-18, 20, 33-34). E a participação na
ceia do Senhor implica responsabilidade para com a igreja.
Comer e beber de modo a desprezar o corpo é negar a ceia
do Senhor e incorrer no juízo de Deus (1Co 11.27, 29).
Portanto, assim como nos comprometemos com Cristo na
ceia do Senhor, também nos comprometemos uns com os
outros. No mesmo ato em que novamente confessamos a
Jesus como nosso Salvador, confessamos uns aos outros
que somos irmãos e irmãs.
Isso significa que a ceia do Senhor é o outro sinal efetivo
da membresia da igreja. Como Paulo diz: “Porque nós,
embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo;
porque todos participamos do único pão” (1Co 10.17). A
ceia do Senhor não representa apenas a nossa unidade, ela
a confirma e sela. Porque a ceia estabelece a nossa
comunhão uns com os outros, faz de muitos um só. É por
isso que a membresia da igreja é, antes de mais nada,
inclusão à mesa, e a disciplina eclesiástica é, antes de mais
nada, exclusão da mesa.
O batismo é necessário para a membresia da igreja,
porque você não pode participar da renovação do sinal de
juramento da aliança até que tenha realizado o seu sinal de
juramento inicial. Você não pode participar da refeição
familiar da ceia do Senhor até que entre na casa pela porta
da frente do batismo.
7. Sem o batismo, a membresia não existe.
Qual é a conclusão de tudo isso? Simplesmente que não
podemos remover o batismo daquilo que é necessário para
a membresia da igreja, porque sem o batismo a membresia
não existe. “Membresia” é um termo teológico para a
relação entre um cristão e uma igreja que as ordenanças
implicam e normalmente criam. Essa relação de membresia
da igreja é evidente no Novo Testamento, na medida em
que algumas pessoas estão “dentro” da igreja e outras
estão “fora” (1Co 5.12).
O batismo e a ceia do Senhor confirmam a relação de
aliança que é a membresia da igreja. Portanto, não existe
tal coisa como membresia sem batismo. Falar de
membresia sem batismo é como falar de casamento sem
votos. O casamento é uma relação de aliança constituída
por votos; a membresia é uma relação de aliança
constituída pelos sinais de juramento do batismo e da ceia
do Senhor. Você não pode ter a relação sem o juramento
que a constitui. Portanto, você não pode ter membresia sem
batismo.
O fato de que as ordenanças são sinais efetivos de
membresia da igreja nos lembra de manter bem unidas a
nossa compreensão sobre a membresia da igreja e sobre as
ordenanças. Quando nosso conceito de membresia da igreja
não está firmemente integrado às ordenanças, nossas
ideias sobre a membresia da igreja se tornam não bíblicas.
Na Escritura, a membresia da igreja descreve a relação que
as ordenanças criam.

MAS ISSO NÃO EXCLUI CRISTÃOS VERDADEIROS DA


MEMBRESIA?
Isso significa que as igrejas devem requerer que todos
aqueles que desejam se unir à sua membresia sejam
batizados — ou seja, batizados como crentes. Mas isso não
significa que alguns cristãos genuínos serão excluídos da
membresia, particularmente aqueles que consideram o
“batismo” infantil como o batismo bíblico?
Muitos cristãos presumem que uma igreja nunca deveria
excluir uma pessoa da membresia que confiam ser cristã. E
acho que isso é quase precisamente correto. Mas o
problema é que o batismo se enquadra em “como uma
igreja sabe que alguém é cristão”. O batismo não é um
requisito separado para a membresia da igreja, em adição a
uma profissão de fé credível; é como alguém professa
publicamente a fé.
Portanto, o batismo é um fator necessário, mas não
suficiente, de como uma igreja deve conhecer quem é
cristão em primeiro lugar. Todos os membros de uma igreja
podem estar convencidos de que uma certa pessoa não
batizada é cristã, mas Jesus uniu o julgamento da igreja —
e a afirmação formal e pública da membresia — ao batismo.
Jesus não deu à igreja nenhuma autoridade para afirmar a
fé de alguém até que essa fé seja professada publicamente
no batismo.
Por causa de tudo o que o batismo é e faz, uma igreja
simplesmente não está autorizada a ampliar a relação de
membresia com aqueles que não realizaram o seu sinal
efetivo. Uma igreja não pode admitir o sinal de juramento
de renovação da nova aliança a qualquer pessoa que não
tenha realizado o seu sinal de juramento inicial. Fazer isso
seria se afastar dos próprios meios que Jesus designou para
distinguir o seu povo do mundo e para uni-los uns aos
outros. O batismo traça a linha entre a igreja e o mundo.
Não temos a liberdade de traçá-la em outro lugar.
Imagine que você chega para embarcar em um avião, mas
em vez de levar o seu cartão de embarque ao portão, você o
deixa na área de controle de segurança. Quando o agente
do portão solicitar o seu cartão de embarque, o que
acontecerá? Se você disser a ele que estava com o cartão
de embarque, mas que já o entregou, isso não será de
proveito algum para você. O agente do portão precisa ver o
cartão para deixá-lo entrar no avião. Ele simplesmente não
está autorizado a admitir você de outra forma. Uma
passagem de embarque é o que o identifica como
passageiro do voo.

O batismo é o que o identifica como um cristão e, portanto,


qualificado para se unir a uma igreja.
Como o teólogo batista do século dezenove, John Dagg,
afirmou: “Como a profissão de fé é necessária para a
membresia da igreja, assim o batismo também é a
designada cerimônia de profissão de fé. A profissão de fé é
a substância, e o batismo é a forma; mas o mandamento de
Cristo requer a forma, bem como a substância”.10 A
membresia é negada aos pedobatistas não porque eles
carecem da substância de uma profissão credível, mas de
sua forma. Pensar que você já foi batizado, mesmo com
base em uma interpretação sofisticada e ampla das
Escrituras, não significa que você tenha sido batizado de
fato. E uma igreja não é mais livre para admitir uma pessoa
não batizada como membro do que um agente de portão de
embarque para admitir alguém em um avião sem que tal
pessoa tenha um cartão de embarque.
É incômodo excluir da membresia um cristão fiel, piedoso
e pedobatista. Porém, seria mais incômodo rever a função
que Cristo atribuiu ao batismo, tornar um de seus
mandamentos algo opcional e minar a sua autoridade na
igreja. Seria mais incômodo permitir que um cristão — por
mais sincero que seja em seu erro — continue em
desobediência a Cristo e acrescentar a aprovação da igreja
a essa desobediência. Seria mais incômodo permitir que a
profissão pública de fé no evangelho se torne privada. Seria
mais incômodo tentar unir alguém à igreja deixando de
lado a própria ordenança que Jesus designou para esse
propósito.

TRAÇANDO LINHAS DIVISÓRIAS


Jesus designou o batismo, em parte, para distinguir o seu
povo do mundo. O batismo e a ceia do Senhor representam,
promovem e preservam o evangelho ao identificarem
publicamente o povo de Cristo.
O batismo expressa a nossa ressurreição para uma nova
vida em Cristo. Ele estabelece o nosso compromisso com
Cristo e com o seu povo. Ele traça uma linha entre a igreja
e o mundo, estendendo o convite: “Veja, mundo: observe
como o povo do evangelho é!”.
E porque o batismo marca uma delimitação entre a igreja
e o mundo, também marca uma delimitação em torno da
igreja. O batismo une um a muitos. Acrescenta um crente à
companhia pública do povo de Deus na terra. Portanto, o
batismo é um sinal efetivo de membresia da igreja. O
batismo não apenas sinaliza o caminho para a igreja; antes,
o batismo é em si mesmo a porta de entrada. Normalmente,
o batismo confere a entrada na membresia da igreja.
Por todos esses motivos, o batismo é necessário para a
membresia da igreja. Talvez você esteja interessado em se
unir a uma igreja, mas tem sido impedido pelo requisito de
ser batizado primeiro. Se assim for, espero que você tenha
percebido que Jesus não apenas exige que você seja
batizado, mas ele também exige que a sua igreja exija que
você seja batizado. E se você é um líder da igreja, espero
que tenha entendido que a sua igreja precisa exigir que
aqueles que reivindicam Cristo como seu Salvador sejam
batizados — assim como Jesus o faz.
Para a versão completa do argumento deste capítulo, veja o meu livro Going
Public: Why Baptism Is Required for Church Membership (Nashville, TN: B&H,
2015). Este capítulo faz uma adaptação do capítulo 8 e de trechos do capítulo
9, ainda que se baseie em todo o livro.
John L. Dagg, Manual of Church (Harrisonburg, VA: Gano Books, 1990), 95.
CAPÍTULO 5 | QUANDO O “BATISMO” NÃO
É O BATISMO?
Minha filha mais nova é completa e encantadoramente
obcecada por dinossauros. Muitas vezes, a primeira coisa
que ela diz pela manhã é: “Você quer brincar de dinos
comigo?”. À noite, às vezes, ela traz um grande Tricerátops
de plástico consigo para a cama, acima da qual há um
cartaz cheio de fotos e nomes de dinossauros. Ela tem
apenas dois anos e meio, mas consegue reconhecer
dezenas de espécies, distinguindo-as pelas cristas, dentes
ou caudas. Se você perguntar “este é um Braquiossauro?”,
ela consegue responder: “Não, esse é um Apatossauro! O
Braquiossauro tem um pescoço mais longo.”
Para dizer o que algo é, você deve dizer o que ele não é.
Os três capítulos anteriores se concentraram
principalmente no que o batismo é; agora nos voltamos
para o que ele não é. Há duas razões para isso. Em
primeiro lugar, de acordo com a forma como definimos o
batismo, alguns leitores que pensam ter sido batizados
podem estar se perguntando agora se realmente o foram.
Em segundo lugar, os líderes das igrejas, em particular,
muitas vezes precisam julgar se o “batismo” de um
provável membro realmente foi o batismo. Então, vamos
avaliar quatro das situações mais comuns em que o
“batismo” não é realmente o batismo.

SE FOI “BATIZADO” QUANDO ERA UM BEBÊ


Vimos no capítulo anterior que o “batismo” infantil não é
realmente o batismo. Por mais bem-intencionados que
sejam os cristãos que praticam o batismo infantil e por mais
sofisticados que sejam os seus raciocínios bíblicos, a Bíblia
simplesmente não nos autoriza a batizar os filhos de
crentes. O batismo é um sinal de que o evangelho teve
efeito na vida de alguém, de que uma pessoa está unida a
Cristo. O batismo aponta para uma promessa cumprida.
Portanto, se você foi “batizado” quando era um bebê,
ainda precisa ser batizado — pela primeira vez. Apesar das
nobres intenções da igreja que o “batizou”, você permanece
na mesma posição que qualquer outra pessoa que veio a
Cristo e ainda não foi batizada.

SE FOI BATIZADO ENQUANTO “CRENTE”, MAS NÃO ERA UM


CRENTE
Algumas pessoas são batizadas de modo voluntário,
considerando o ato como uma profissão de fé em Cristo,
mas depois percebem que não eram cristãos no momento
do seu batismo. Considere a seguinte situação:
Fui batizado aos 13 anos, antes de estar realmente andando com o
Senhor. Isso ocorreu como resultado da conclusão de um tópico em uma
classe bíblica para jovens, após a qual nos perguntaram se gostaríamos
de ser batizados, e, considerando que a maioria da classe quis se
batizar, eu também decidi fazê-lo. Lembro-me, no momento, de sentir
vergonha demais para contar aos amigos da minha escola sobre isso,
por isso não os convidei para assistirem ao batismo.

O Senhor realmente operou em minha vida aos 20 anos, e eu diria que


naquele momento ele verdadeiramente abriu os meus olhos para o que
realmente significava seguir a Jesus. Idealmente, eu deveria ter sido
batizado nessa época, mas obviamente já havia sido batizado. Gostaria
de ouvir o que você pensa sobre ser batizado pela segunda vez e se você
acha que isso seria necessário.11

Então, essa pessoa — por conveniência, vamos assumir


que seja um homem — acha que não era um cristão quando
foi batizado. O batismo aconteceu “antes de eu estar
realmente andando com o Senhor”. O seu motivo para ser
batizado foi acompanhar a multidão: “a maioria da classe
quis se batizar”. Longe de tratar o batismo como uma
oportunidade para se comprometer com Cristo diante de
tudo e de todos aqueles que poderiam ter interesse em
saber disso, ele tentou manter isso o mais silencioso
possível, sem contar a nenhum dos amigos da escola. E, a
partir do que a narrativa nos diz, parece que ele chegou a
uma verdadeira compreensão do que é ser discípulo de
Jesus e realmente confiou em Jesus após muitos anos.
Logo, ele deve ser batizado novamente, uma segunda vez?
Não, claro que não. Ele deve ser batizado pela primeira
vez. Uma vez que você tenha sido batizado, você foi
batizado. Mas se você não era um cristão no momento do
seu “batismo” — se, de acordo com o melhor de seu
entendimento, o seu “batismo” não foi uma genuína
profissão de confiança em Cristo e uma sincera promessa
de submissão a Cristo — então o seu “batismo” não foi o
batismo. Se isso o descreve, você precisa ser batizado.
Mas há outra situação que precisamos discutir. Considere
a história dessa jovem (imaginária, porém muito comum):
Cresci em um lar cristão. Meus pais me ensinaram o evangelho, e,
quando eu tinha seis anos, orei com meu pai para receber a Cristo.
Lembro-me de que me senti condenada pelo meu pecado e entendi que
Jesus morreu na cruz para me salvar. Fui batizada alguns meses depois.
A partir desse momento, sempre me considerei cristã, e sabia que isso
significava confiar em Jesus e viver segundo a sua Palavra.

Porém, na minha adolescência, passei por um período de dúvida.


Comecei a questionar se Bíblia era verdadeira, e eu nem sempre
gostava do que a Bíblia dizia. Quando orava, nem sempre sentia que
Deus estava presente. Não me lancei em uma grande rebelião, mas, às
vezes, minha vida parecia mais com a de meus amigos não cristãos do
que com a vida que um cristão deveria ter. Por vezes, trapaceava nas
provas da escola, e, algumas vezes, menti para os meus pais sobre onde
eu estava indo à noite para que não soubessem que estava saindo com
meus amigos.

Agora, eu tenho vinte anos e não tenho muita certeza de quando me


tornei cristã. Nos últimos dois anos, sinto que minha fé realmente foi
vivificada e cresci espiritualmente mais do que nos dez anos anteriores.
Como realmente não sei se eu era cristã quando fui batizada, não
deveria ser batizada agora, apenas para ter certeza?

Essa situação é muito mais complicada. Por um lado, essa


moça foi batizada como uma resposta a ouvir e,
aparentemente, crer no evangelho. E parecia haver algum
fruto espiritual em sua vida no início. Mas o que fazemos
com aqueles anos da adolescência? Ela não deixou de se
denominar cristã, mas ela realmente estava vivendo como
cristã? E agora que ela está mais madura, ela passa por um
momento difícil pensando se quando mais jovem ela
realmente confiou em Cristo, dado o seu histórico
inconstante. Então, o que ela deveria fazer?
Eu diria que uma pessoa que já foi batizada sob uma
profissão de fé em Cristo só deveria ser “rebatizada” se
estiver fortemente convencida de que ela não era cristã
naquele momento. Em última análise, esse é um julgamento
que alguém deve fazer por si mesmo, com a ajuda de
líderes piedosos da igreja. O batismo deve ser feito uma vez
e não deve ser repetido por causa de simples dúvidas.
Nesse caso, parece que a jovem realmente entendeu e
recebeu o evangelho em uma tenra idade. Mesmo naqueles
anos de adolescência inconstante, ela nunca se entregou a
um estilo de vida caracterizado pelo pecado impenitente e
nunca renunciou à sua fé em Cristo. É muito fácil, em
retrospecto, confundir a fé infantil com ausência de fé e
impor um padrão adulto de fruto espiritual a uma criança
ou mesmo a um jovem.

Essa seria uma conversa diferente se, em algum momento,


ela tivesse negado a fé ou se tivesse se entregado a pecado
sério, público e não-arrependido. Como a situação foi
colocada, acho que ela provavelmente deveria tratar a sua
profissão de fé anterior como sincera; mas, novamente,
esse é um julgamento que a jovem precisa fazer por si
mesma. Acho que ela deveria buscar se batizar — e a igreja
deveria batizá-la — se, e somente se, ela estiver realmente
convencida de que não era cristã quando foi batizada.

SE A IGREJA QUE O BATIZOU NEGA O EVANGELHO


O batismo é um emblema do evangelho. Ele descreve
dramaticamente a boa nova de Jesus Cristo, encontrando e
libertando um pecador. Ser batizado é ser identificado com
Jesus e com sua obra salvífica. O batismo, portanto,
depende do evangelho: sem evangelho, sem batismo.
Se todo cristão fosse autorizado a batizar simplesmente
por ser cristão, a igreja não teria lugar nessa equação. Mas
desde que Jesus autorizou a igreja a fazer declarações
oficiais na terra em nome do céu, assim, em circunstâncias
normais, apenas a igreja está autorizada a batizar. E
apenas um corpo de crentes que afirma e proclama o
evangelho tem o direito de chamar a si mesmo de igreja.
Às vezes, reuniões de cristãos professos se
autodenominam “igrejas”, mas eles têm se afastado de tal
forma da verdade do evangelho, que efetivamente negam
isso. Por exemplo, se uma igreja ensina que a morte de
Jesus foi uma mera demonstração do amor desejoso de
Deus pela humanidade, e a sua ressurreição não foi um
evento corporal, mas uma impressão espiritual nos
corações de seus discípulos, essa igreja substituiu o
evangelho por um falso evangelho. E, como Paulo diz,
qualquer coisa que não seja o verdadeiro evangelho
apostólico não é evangelho algum (Gl 1.6-7).
Algumas igrejas efetivamente negam o evangelho por suas
crenças sobre o batismo em si. Por exemplo, se uma igreja
trata o batismo como salvífico, como concedendo perdão e
novo nascimento, então essa igreja realmente colocou o
batismo no lugar do evangelho. O batismo e o evangelho
devem ser inseparáveis: todo aquele que crê é ordenado a
ser batizado, e o batismo confirma e comunica o evangelho.
Mas o batismo não deve ser identificado ou confundido com
o evangelho.
Uma igreja que efetivamente nega o evangelho não é uma
igreja, o que significa que não têm autorização de Jesus
para batizar as pessoas em seu nome. Portanto, um
“batismo” realizado por uma igreja que nega o evangelho
não é de fato o batismo.
Se essa situação estiver diante de você, como pode
determinar se a igreja que o batizou realmente nega o
evangelho? É complicado. Se você tiver qualquer suspeita
de que esse seja o seu caso, eu o incentivaria a pedir aos
líderes da igreja na qual você atualmente congrega para
ajudá-lo a avaliar o caso.
Esclarecendo: nenhuma igreja tem doutrina perfeita e
nenhum pregador é infalível. Não estou dizendo que o
batismo só é válido se uma igreja for 100 por cento
doutrinariamente sadia. E não estou dizendo que se um
pastor se revelar infiel ao evangelho que prega, os batismos
que ele realizou são inválidos. Antes, estou afirmando que o
mesmo evangelho que dá origem à igreja, em primeiro
lugar, é o que dá autoridade para batizar e ser batizado.
Estou menos interessado no homem que realiza o batismo
do que na igreja que o autoriza. Para que uma igreja batize,
ela deve afirmar e proclamar o evangelho bíblico.

SE O BATISMO NÃO TEM LIGAÇÃO ALGUMA COM UMA IGREJA


A última situação que consideraremos é a mais difícil de
todas: um batismo realizado sem conexão alguma com uma
igreja. Vamos considerar dois extremos. Em uma
extremidade, você tem um batismo realizado por um pastor
em uma reunião de uma igreja que prega o evangelho. Não
há problema algum aqui. Do outro lado, vamos lembrar da
situação do seu amigo o mergulhando, que descrevemos no
capítulo 1.

Você está na piscina da casa de um amigo em um encontro


casual durante o verão. Vocês dois são crentes — na
verdade, o seu amigo conduziu você a Cristo há apenas
algumas semanas.
Ele diz: “Você ainda não foi batizado, não é?”
– Não. Acho que eu deveria ser.
– Por que você não se batiza agora? Posso batizar você.
– Ah, tudo bem.
Se, nesse momento, seu amigo o imerge em água e diz:
“Eu batizo você em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo”, você foi batizado? Ao contrário da situação que
descrevemos no capítulo 1, você está agindo de modo
voluntário. Você, de fato, chegou recentemente à fé em
Cristo. E seu amigo sabe que você confiou em Cristo, já que
foi ele quem pregou o evangelho a você. Mas esses fatores
devem levar necessariamente ao batismo?
Gostaria de sugerir que, na maioria das circunstâncias, a
resposta é: não. Lembre-se de que, no batismo, uma pessoa
se compromete com Cristo e com o seu povo, e uma igreja
afirma a profissão de fé de um crente. Mas, em nenhum
sentido, o seu amigo está agindo em nome de uma igreja.
Em nenhum sentido, a igreja está falando com você em
nome de Jesus quando o seu amigo o imerge em água. Esse
é o problema decisivo aqui, a peça ausente que não permite
que esse cenário seja caracterizado como batismo.
Contudo, eu disse na “maioria das circunstâncias”. Se
você estiver em um lugar onde não há igreja porque não há
cristãos, eu argumentaria que quem tem o evangelho tem
autoridade para batizar. Se ainda não existe uma igreja
local, todo cristão, por assim dizer, leva a semente da igreja
consigo — sendo o evangelho essa semente que é semeada
através da proclamação. Falaremos mais sobre isso no
próximo capítulo. Por enquanto, discuto simplesmente o
fato de que se nenhuma igreja existe ainda, quem prega o
evangelho pode e deve batizar aqueles que respondem ao
evangelho.
Mas na história sobre ser mergulhado na piscina, esse não
é o caso. Há muitas igrejas na região. Seu amigo, na
realidade, é membro de uma. Então, em vez de ele mesmo
conduzir a supervisão do seu discipulado, ele deve
encaminhá-lo aos cuidados da igreja. Quando você crê em
Cristo, ele deve dizer: “Muito bem, agora vou apresentá-lo
ao povo de Cristo. Há algumas outras igrejas fiéis em nossa
cidade, mas este é o corpo ao qual eu pertenço. Vamos
conversar com os pastores da igreja sobre o que é
necessário para você ser batizado e se unir à igreja.”
Novamente, em uma região onde existe uma igreja local,
um batismo sem conexão com uma igreja não é o batismo.
Lembre-se, o batismo é uma declaração de duas partes, não
de uma — aquele que batiza e aquele que é batizado. E uma
vez que existe uma igreja, mas a igreja não falou de modo
algum em nome de Jesus, essa imersão simplesmente não
se qualifica como batismo. Somente a igreja está autorizada
a aceitar o juramento dos cidadãos do reino. Somente a
igreja está autorizada a administrar o sinal de juramento
inicial da nova aliança. Somente a igreja tem autoridade
para dizer: “Vejam todos: esta pessoa pertence a Jesus”.
O que significa que um batismo deve ser conectado a uma
igreja local? Falaremos mais sobre isso no próximo
capítulo, mas para antecipar, acho que aqui existe uma
flexibilidade real. Não creio que as Escrituras ordenem que
um pastor seja o único a batizar, embora eu pense que isso
é comumente sábio. Não creio que as Escrituras ordenem
que o batismo deva ser realizado em reuniões de toda a
igreja. Ainda assim, acho que isso é sábio e melhor se
encaixa na função do batismo como um compromisso com o
corpo e uma afirmação por meio do corpo. Então, se o
batismo não precisa ser realizado por um pastor, em uma
reunião da igreja, isso confere um pouco de flexibilidade
sobre como o batismo pode ser legitimamente
administrado.
Ainda assim, afirmo que onde existe uma igreja, há uma
distinção entre um batismo que, de alguma forma, é
vinculado a uma igreja e, portanto, é válido, e um batismo
que não é, de modo algum, vinculado a uma igreja e,
portanto, é inválido. Alguns casos são bastante claros, mas
nem todos o são. Por exemplo, um amigo meu foi, de fato,
batizado por seu amigo, em uma piscina. Eles estavam em
um acampamento cristão juntos, e muitas pessoas estavam
sendo batizadas. Esse é um batismo válido? Não tenho
certeza. Se eu me lembro bem, o acampamento tinha algum
tipo de supervisão de uma igreja local, mas não sei o quão
envolvida a igreja estava ou não nos batismos realizados
naquele acampamento. Esse caso parece correto. Uma vez
que o contexto era público, e não privado, e uma vez que
havia alguma ligação, embora distante, com uma igreja, eu
ficaria inclinado a dar-lhe o benefício da dúvida. Mas esse
caso está longe de ser claro, e posso facilmente ver como
uma igreja chegaria à conclusão oposta.
Em última análise, esses são os tipos de julgamentos que
as igrejas locais precisam fazer quando avaliam os
candidatos ao batismo. Por um lado, não queremos
estabelecer padrões mais estritos do que as Escrituras. Por
outro lado, não queremos permitir que o batismo seja
realizado de modo privado e separado da igreja, roubando a
ordenança de sua função de distinguir os discípulos, de
traçar uma delimitação e formar a igreja. Isso requer
sabedoria e uma perspectiva bíblica.
Isso também demanda discernimento entre os cristãos
individuais. Se você recentemente veio a Cristo, ou
recentemente levou alguém a Cristo, certifique-se de que a
sua primeira parada no discipulado seja a igreja.

A igreja é o corpo que Jesus designou para agir e falar em


seu nome, representando o seu reino celestial na terra. E a
igreja é o lugar onde os discípulos crescem juntos na
plenitude de Cristo (Ef 4.11-16). Onde um novo cristão vai
em seu primeiro dia de trabalho? À igreja local.

PRÓXIMO E ÚLTIMO
Este capítulo enfatizou o que não é o batismo a fim de
oferecer uma descrição mais clara do que ele é. Se a sua
própria experiência se encaixa em qualquer uma das
situações que discutimos neste capítulo, espero que você
tenho concluído ou com um senso mais claro de que já
cumpriu a ordem de Jesus de ser batizado ou que ainda não
o cumpriu e que precisa fazê-lo. E se você é um líder de
igreja, espero que tenha desenvolvido algumas categorias
mais claras para o que a sua igreja reconhecerá ou não
como batismo.
Porém, é claro que as igrejas não apenas reconhecem os
batismos, mas também batizam pessoas. Então, em nosso
próximo e último capítulo, nós nos focaremos na pergunta:
“Como as igrejas devem praticar o batismo?”.
Veja o meu artigo: Bobby Jamieson, Preciso ser batizado de novo? (Visão
Credobatista), Voltemos ao Evangelho, 4 fev 2019,
www.voltemosaoevangelho.com/blog/2019/02/preciso-ser-batizado-de-novo-
visao-credobatista/.
CAPÍTULO 6 | COMO AS IGREJAS DEVEM
PRATICAR O BATISMO?
Para a maioria dos cristãos, a principal relação deles com o
batismo é que devem ser batizados. Certamente, devemos
refletir sobre o nosso batismo para nos lembrar de que nos
unimos a Cristo e de que agora somos capacitados e
ordenados a viver uma nova vida (Rm 6.1-4). E, conforme
temos oportunidade, devemos encorajar e exortar outros
cristãos que ainda não foram batizados a se batizarem.
Mas, no que diz respeito à sua própria obediência a Jesus,
uma vez que você foi batizado, isso é tudo o que deveria
fazer quanto ao batismo.
Para os líderes da igreja é diferente. A maioria das igrejas
que pregam o evangelho tem, regularmente, a
oportunidade de batizar novos crentes, e geralmente são os
líderes da igreja que realizam os batismos. Mas a prática
real do batismo suscita uma série de perguntas: qual é a
quantidade de água que precisa ser usada? A efusão ou
aspersão são tão boas quanto a imersão? Quem deve
realizar o batismo? Como o batismo se relaciona com a
membresia da igreja? Quando e onde as igrejas devem
batizar? Quanto tempo depois de vir a Cristo, alguém deve
ser batizado?
Este capítulo aborda todas essas questões na ordem em
que eu as listei. Em resumo, consideraremos o modo, o
administrador, o resultado, o contexto e o momento da
realização do batismo.
Espero que mesmo aqueles que não são líderes de igreja
percebam a importância dessas questões. Se você ainda
não foi batizado, este capítulo pode ajudá-lo a resolver
como e onde buscar o batismo. Se você já foi batizado, este
capítulo pode ajudá-lo a ajudar outros a serem batizados
em conformidade às Escrituras.
Finalmente, uma palavra para aqueles que já são ou
algum dia podem ser missionários, pregando o evangelho
em um contexto onde não existe nenhuma igreja ainda.
Como o meu conselho neste capítulo pressupõe a existência
de uma igreja, ele não se aplica aos primeiros batismos
realizados em um local que acaba de ser alcançado pelo
evangelho. Mas se você está obedecendo à Grande
Comissão e ensinando os discípulos de Jesus a obedecerem
tudo o que ele ordenou, então você ensinará a todos os
convertidos, incluindo o primeiro, que seguir a Jesus
significa formar uma igreja. Jesus diz: “Porque, onde
estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no
meio deles” (Mt 18.20). Isso significa que assim que você
tiver mais de um novo crente em Jesus, já tem os
componentes de uma igreja, e você deve levar esses
crentes a formar uma igreja. Quase tão logo esses novos
crentes venham a Cristo, eles devem estar envolvidos,
como igreja, em supervisionar o batismo de novos crentes.
Portanto, este capítulo é tão relevante para os missionários
quanto para os líderes de igrejas já estabelecidas.

O MODO
Qual é a quantidade de água que as igrejas precisam para
batizar alguém? Elas devem construir ou locar espaços
grandes o suficiente para imergir pessoas? Ou uma fonte
batismal é suficiente? Ou basta um jarro?
No capítulo 1, vimos que a palavra grega para “batizar”
significa mergulhar ou imergir em água. João batizou
pessoas em Enom porque ali havia muitas águas (Jo 3.23), e
o eunuco etíope pediu para ser batizado quando viu “certo
lugar onde havia água” no caminho (At 8.36). E para esse
batismo, o eunuco etíope e Filipe “desceram à água” e
depois “saíram da água” (At 8.38-39). Teoricamente, é
possível que eles tenham entrado na água, e, em seguida,
Filipe tenha tomado água nas mãos e derramado sobre o
eunuco, mas isso é altamente improvável. Isso não explica
por que o eunuco solicitou o batismo precisamente quando
viu um lugar onde havia água. E por que os dois homens
passariam pela dificuldade de retirar ou molhar as suas
roupas se uma imersão completa fosse desnecessária?
Além disso, a imersão captura melhor o simbolismo de ser
sepultado e ressuscitado com Cristo. Em Romanos 6.1-4 e
em Colossenses 2.11-12, Paulo assegura que o batismo
significa essa união com a morte, sepultamento e
ressurreição de Cristo. A inferência mais razoável é que os
seus leitores se lembrariam do momento em que foram
imersos em água e depois foram erguidos da água, e não de
quando foram aspergidos com água ou tiveram água
derramada sobre si.
Então, argumento que a Bíblia apresenta a imersão como
o modo normativo do batismo. Isso não é apenas algo que
os primeiros cristãos fizeram com o qual podemos nos
sentir à vontade para abandonar. Antes, o modo de batismo
está vinculado ao simbolismo e ao significado do rito;
então, as igrejas devem tomar todas as medidas
necessárias para poder batizar os crentes por imersão.

O ADMINISTRADOR
Em seguida, quem deve realizar o batismo? Se o batismo é
o ato de uma igreja, seu administrador deve ser autorizado
pela igreja. Aquele que realiza o batismo deve agir em
nome da igreja e não por iniciativa ou autoridade próprias.
A igreja como um todo exerce as chaves do reino (Mt
16.19, 18.19), mas apenas uma pessoa batiza. Ainda assim,
o batismo é um exercício das chaves do reino. É a
afirmação oficial de uma igreja sobre a declaração de
alguém de seguir a Cristo. No batismo, a igreja fala por
Jesus, então aquele que batiza precisa falar pela igreja.
Os pastores, também chamados de “presbíteros” ou
“bispos” na Escritura (por exemplo, 1Tm 3.1, 5.17), são
nomeados pela igreja para que a ensinem e liderem. Eles
são reconhecidos pela igreja para que exerçam a
supervisão sobre ela. Eles ensinam a Palavra, exortam a
obediência à Palavra, exemplificam a fidelidade à Palavra e
conduzem a vida da igreja segundo a Palavra. Portanto,
embora a Escritura não exija que o batismo seja realizado
por um pastor, sugiro que normalmente deveria ser.
Pastores ou presbíteros são aqueles que já agem em nome
da igreja quando ensinam a Palavra, e o batismo é um rito
público de resposta à Palavra e que proclama visivelmente
a Palavra. Não creio que isso signifique que apenas o
“pastor titular” deva batizar; antes, acho que todo pastor
ou presbítero está autorizado a fazê-lo.
Como eu disse, não acho que ter um pastor batizando seja
um requisito absoluto. Contudo, se uma igreja se inclina a
autorizar outros a batizarem, acho que devem considerar
cuidadosamente quem, o porquê e como. Por exemplo, se
uma igreja regularmente permite que os pais batizem os
seus próprios filhos, isso pode enviar sutilmente a
mensagem enganosa de que o batismo é uma ordenança
familiar e não da igreja.
Mas o ponto mais importante aqui é que o batismo é um
ato da igreja, não de um cristão individual. O que significa
que seu administrador deve ser autorizado pela igreja. Os
cristãos individuais não têm autoridade para batizar
simplesmente por serem cristãos.
Como escrevi no capítulo anterior, onde ainda não existe
nenhuma igreja, a situação é diferente. Se você é o único
cristão em uma cidade, você é a igreja naquela cidade.
Assim, não é exatamente como se você estivesse agindo por
sua própria iniciativa, à parte da autorização de uma igreja.
Em vez disso, você está carregando, e espero que semeie, a
semente da igreja — o evangelho. Onde a semente do
evangelho frutifica em fé e em arrependimento, você deve
confirmar essa resposta no batismo. E, assim que tiver dois
ou três que podem se reunir em nome de Jesus, você deve
instruir a nova igreja de que o batismo é um ato que eles
são responsáveis por executar e supervisionar. E você deve
realizar os futuros batismos sob a supervisão e em nome
deles.

O RESULTADO
O batismo é o ato de uma igreja afirmar e representar a
união de um crente com Cristo, imergindo-o em água; e o
ato de um crente se comprometer publicamente com Cristo
e com o seu povo, unindo assim um crente à igreja e o
distinguindo do mundo. No batismo, um crente
compromete-se com o povo de Deus, e o povo de Deus com
esse crente. Portanto, onde existe uma igreja, o batismo
deve conferir a membresia à igreja. A igreja que realiza o
batismo deve, por meio desse mesmo ato, integrar esse
novo crente ao seu número. O batismo não é apenas um
pré-requisito para a membresia da igreja; normalmente, o
batismo inicia a membresia à igreja. A membresia da igreja
é a casa, e o batismo é a porta de entrada.
A única exceção legítima que consigo ver é quando um
novo crente está se deslocando imediatamente para uma
região onde, tanto quanto se sabe, não existe nenhuma
igreja. Por exemplo, um novo cristão que serve na Marinha
indo passar um ano morando em um navio. Ou alguém que
trabalha em uma empresa internacional se mudando para o
Oriente Médio e não tem ideia se existe uma igreja em sua
futura cidade. Tais situações não são ideais, mas, às vezes,
são inevitáveis. Esses novos crentes se encontram em um
território semelhante ao do eunuco etíope. Então, nessas
circunstâncias verdadeiramente excepcionais, uma igreja
deveria batizá-los, orar por eles, enviá-los e encorajá-los a
encontrar qualquer comunhão cristã que puderem durante
o seu período de residência no exterior. E já falamos de
uma situação missionária de fronteira. O primeiro novo
convertido em uma região não é batizado em uma igreja,
mas, assim que um ou dois outros forem batizados, eles
devem formar uma igreja juntos.
Em qualquer outro caso, o batismo e a membresia da
igreja devem ser inseparáveis. Ninguém deve ser batizado
se não pretende seguir a autoridade de Jesus submetendo-
se à sua igreja. A afirmação dada por um passaporte está
de mãos dadas com a responsabilidade e prestação de
contas da cidadania. Para um novo crente, o batismo deve
ser o meio pelo qual e o momento em que alguém se une à
sua igreja. Se você tem um processo de membresia
composto por aulas, uma entrevista e um voto
congregacional, a pessoa deve passar por essas etapas
antes de ser batizada. E a igreja deve entender que a
membresia está sendo conferida no batismo.
Além disso, as igrejas não devem inserir um período de
espera entre o batismo e a membresia. Alguns podem fazer
isso pelo anseio de dar ênfase ao batismo. Eles separam o
batismo da membresia na tentativa de dar mais atenção ao
batismo. Porém, o modo bíblico de dar atenção ao batismo
é fazer dele a porta de entrada para a igreja e, portanto, a
entrada na vida cristã. Por outro lado, alguns podem inserir
um período de espera entre o batismo e a membresia
porque esta última traz em si responsabilidades sérias, e
talvez um novo crente não esteja apto para tais
responsabilidades. O problema com isso é que todo cristão
é ordenado e capacitado por Deus para ocupar o seu lugar
no corpo. Então, se você está disposto a afirmar que
alguém é cristão, não há motivo para mantê-lo fora do
corpo. Esse é o único lugar no qual ele irá progredir, ter
responsabilidades e tudo o mais. E se você tem dúvidas
sobre a disposição ou a capacidade de uma pessoa adentrar
na vida do corpo, talvez essa hesitação deva ajudá-lo a
reconsiderar se está pronto para afirmar a profissão de fé
dessa pessoa por meio do batismo.
Em circunstâncias normais, o batismo e a entrada na
membresia da igreja devem ser inseparáveis.
Teologicamente, o batismo confere a membresia à igreja.
Então, você não deve batizar as pessoas sem trazê-las para
a igreja, e você deve conferir a membresia a todos aqueles
que você batiza. A membresia de um novo crente deve
estar condicionada ao batismo e ser efetivada no batismo.

O CONTEXTO
Onde as igrejas devem batizar as pessoas? Será que o
batismo deve acontecer no prédio da igreja, ou, pelo
menos, em um culto da igreja? Não necessariamente. A
Escritura parece permitir batismos dentro e fora dos
“cultos da igreja” habituais — e os únicos exemplos do
Novo Testamento são os últimos. Porém, podemos dizer
algo a mais do que isso?
O batismo é uma profissão pública de fé, e a igreja é o
primeiro e mais importante público a quem essa profissão é
dirigida. Além disso, uma vez que o batismo é o ato de toda
a igreja de afirmar a profissão de um crente e acolhê-lo em
seu rol de membros, digo que as igrejas normalmente
devem batizar as pessoas no contexto de uma reunião de
toda a igreja. Se essa reunião é em um prédio da igreja ou
em um rio, não importa muito. O aspecto principal é que,
ao realizar o batismo, a igreja não deve obscurecer, mas
sim destacar o fato de que no batismo toda a igreja fala por
Deus ao indivíduo, e o indivíduo fala tanto a Deus quanto a
toda a igreja. Batizar em uma reunião de toda a igreja
comunica esse fato; batizar diante de um pequeno grupo
omite esse fato.
Novamente pensando em contextos de missões de
fronteira, sugeriria que um “público” além do batizador não
seja absolutamente necessário para o rito, já que o
batizador é em si uma testemunha pública da profissão de
fé. No entanto, tais batismos com a “audiência de um só”
são apropriados somente quando outras testemunhas não
estão disponíveis. Normalmente, o batismo deve ser
celebrado por toda a igreja, uma vez que é um ato de toda a
igreja.

O MOMENTO
Por fim, quão rapidamente as igrejas devem batizar os
novos crentes? Os novos crentes devem ser batizados
imediatamente ou deve haver um período de espera?
Certamente, todos os exemplos de batismo que temos no
Novo Testamento aconteceram assim que alguém chegou à
fé (veja, por exemplo, At 2.38-41; 10.47-48; 16.14-15,30-34;
19.1-5). E uma vez que o batismo é onde a fé se torna
pública, ele deve estar vinculado o mais próximo possível à
conversão de uma pessoa. Então, por um lado, não acho
que as igrejas devam incluir um período de espera antes do
batismo para testar o fruto da fé de alguém ou para
ensinar-lhe os conceitos básicos de fé e prática cristãs
antes de batizá-lo.
Mas se o batismo confere a membresia à igreja, devemos
ficar incomodados pelo fato de o processo de membresia à
igreja poder adiar o batismo por algumas semanas ou
mesmo por meses? Esse período de adiamento do batismo
não é contrário ao padrão bíblico? Não exatamente. O
processo de membresia à igreja não equivale a um período
probatório. Antes, simplesmente garante que o candidato
ao batismo sabe no que ele está se envolvendo e que a
igreja conhece o candidato.
No Pentecostes, era bastante claro no que você estava se
envolvendo: oposição dos líderes judeus e uma nova vida
entre aquele grupo perseguido dos seguidores do Messias.
Atualmente, as coisas nem sempre são tão claras. Existem
cristãos professos que pensam que ser cristão não tem
relação alguma com a submissão ao senhorio de Jesus e
nem qualquer relação com a igreja local. Uma igreja
precisa garantir que aqueles que ela batiza sabem que
viver como um cristão tem total relação com a submissão
ao senhorio de Jesus e total relação com a igreja. As
instruções e análises envolvidas no processo de membresia
de uma igreja simplesmente esclarecem o que está em
questão no batismo. E elas garantem que aqueles que
fazem promessas no batismo — tanto a igreja, quanto os
crentes — sabem o que e para quem eles estão
prometendo. Exigir que os candidatos ao batismo passem
pelo processo de membresia da igreja ajuda a garantir que
o batismo realmente faça uma delimitação entre a igreja e
o mundo, realmente represente o compromisso de um
crente com Cristo e com o seu povo e realmente cumpra a
intenção de Jesus de distinguir o seu povo através de
identifica-los consigo mesmo.
Então, sendo claro, não penso que as igrejas no Ocidente
cristianizado, especialmente em áreas muito religiosas,
devem manter cultos em que qualquer pessoa possa chegar
e ser batizada imediatamente e sem nenhum compromisso
com a membresia da igreja. Tais profissões de fé são mais
anônimas do que públicas, pois permitem que a pessoa
batizada simplesmente siga o seu caminho, desaparecendo
novamente em meio à multidão.
Se você mora em um país muçulmano onde ser batizado
significa ser repudiado por sua família, a situação é muito
mais clara. Porém, especialmente para aqueles de nós que
vivem em contextos cristianizados, o processo mais sábio é
garantir com antecedência que um crente saiba no que ele
está se envolvendo. E as igrejas precisam garantir que
aqueles que são batizados estão se envolvendo na
membresia da igreja e em uma vida vivida sob o senhorio
de Cristo.

A GRANDE IMPORTÂNCIA
Neste livreto, começamos com uma perspectiva bíblica do
batismo e concluímos com aspectos práticos. Ao longo de
todo esse percurso, vimos algo sobre quem, o quê, quando,
onde e, especialmente, o porquê do batismo. Se você é um
crente em Jesus e as suas dúvidas sobre o batismo têm feito
você hesitar quanto a ser batizado, espero que este livro
tenha esclarecido essas questões e o estimulado a obedecer
a Jesus, comprometendo-se publicamente com ele e com o
seu povo no batismo. Se você é um líder da igreja, espero
que tenha encontrado algum auxílio aqui para entender o
batismo, ensinar sobre o batismo e liderar a sua igreja na
prática do batismo.
Qual é a grande importância do batismo? O batismo
marca o povo de Deus com um sinal do evangelho. Ele
suscita o compromisso público de um crente com Cristo,
estabelecendo-o sobre um caminho de testemunho público
por toda a vida a respeito da graça de Deus no evangelho.
O batismo sela o compromisso de um crente com o povo de
Cristo, estabelecendo-o dentro da comunhão do corpo de
Cristo. O batismo pronuncia uma palavra de afirmação e
aceitação da igreja ao crente em nome de Cristo. Por isso,
Jesus ordena aos discípulos que batizem e sejam batizados.
O batismo representa e promove o evangelho, além de
designar e demarcar uma linha em torno do povo do
evangelho — aqueles que têm se arrependido do pecado e
crido em Cristo. O batismo é importante por causa do
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