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O COMPLEXO CAFEEIRO

Sérgio Silva (1995)


Prof. Edivaldo Constantino
ESTRUTURA DA AULA
Introdução
Trabalho assalariado
Mecanização
Estradas de Ferro
Capital cafeeiro
Economia cafeeira no início do século XX
INTRODUÇÃO
São Paulo passa a ser o maior produtor nacional na década de 1870
 Transferência da cafeicultura do Rio para SP (planaltos de São Paulo praticamente substituem o Vale
do Paraíba)

Expansão marcada pela substituição da mão de obra escrava pela assalariada e


pela construção de uma rede de ferrovias.

Café torna-se o centro motor do desenvolvimento capitalista no Brasil

3
INTRODUÇÃO
No contexto do desenvolvimento nacional, o café durante o período de 1821 a
1900 se tornou o principal produto de exportação do Brasil. Segundo Fausto (2012,
p.163):

“Do ponto de vista econômico, o complexo cafeeiro abrangia um leque de atividades


que deslocou definitivamente o polo dinâmico do país para o Centro-Sul. Em função do
Café, aparelharam-se portos, criaram-se empregos e novos mecanismos de crédito,
revolucionaram-se portos, criaram-se empregos e novos mecanismos de créditos,
revolucionaram-se os transportes. Isso não ocorreu da noite para o dia. Houve um
processo relativamente longo de decadência do Nordeste e de fortalecimento do
Centro-Sul, que se tornou irreversível por volta de 1870.”
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População - imigrantes - Pessoa

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1913
TRABALHO ASSALARIADO
Colonato de assalariamento
Salário base + Parte variável em função da produção + Cultura de subsistência

As plantações de subsistência poderiam ser intercaladas na produção de café.


 Preferido pelos colonos porque pode manter ambas as culturas com menos trabalho.
 Foi se tornando raro.
 Motivo: envelhecimento das plantações

Elevada mobilidade da mão-de-obra imigrante


TRABALHO ASSALARIADO
“O final da colheita resultava em um deslocamento geral dos trabalhadores agrícolas. Os
colonos (isto é, os trabalhadores imigrantes) são deveras nômades. Todos os fazendeiros
vivem com a inquietude perpétua de ver seu pessoal abandoná-los no mês de setembro. Não
exageramos ao dizer que um terço das famílias empregadas na cultura do café desloca-se de
ano em ano... Imagine-se o obstáculo que representa para a indústria do café essa
instabilidade da mão-de-obra.“

Pierre Dennis, apud Sérgio Silva. Expansão cafeeira e origens da indústria no Brasil – Cap.III
MECANIZAÇÃO
Operações de beneficiamento
 Fundamental para o estabelecimento de plantações muito distantes do porto.

"A aparelhagem da usina de café atingiu um grau de perfeição muito notável em São Paulo. É
hoje a indústria melhor organizada do Brasil. As grandes fazendas de São Paulo são instalações
modelo, que surpreendem o viajante estrangeiro e são dignas de figurar ao lado das indústrias
mais bem aparelhadas da Europa.“

Delgado de Carvalho, apud Sérgio Silva. Expansão cafeeira e origens da indústria no Brasil – Cap.III
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Exportações - café em grão - qde - Sacas de 60 kg (mil)


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Exportações - café em grão - Libra esterlina (mil)

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Produção - café - qde. - Sacas de 60 kg (mil) Preço médio - café - Sacas de 60 kg - Reis
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1927
1929
1931
1933
1935
1937
1939
Produção mundial Produção brasileira Produção colombiana

MARTINS, M & JOHNSTON, E. 150 anos de café. São Paulo: Salamandra Consultoria Editorial, 1992, pp. 365-367
52.440.210

22.098.861

10.374.350

3.534.256
590.066

1836 1854 1886 1920 1935

PRODUÇÃO CAFEEIRA DA PROVÍNCIA/ESTADO DE SÃO PAULO 1836 -1935 (EM ARROBAS)


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1836 1854 1886 1920 1935
Norte Central Mogiana Paulista Araraquarense Noroeste Alta Sorocabana

SÃO PAULO: PRODUÇÃO CAFEEIRA POR REGIÕES (EM ARROBAS)


UMA CULTURA EM EXPANSÃO
Inovações na estrutura produtiva
 A introdução do trabalho assalariado
 A construção de estradas de ferro
 Certo grau de mecanização

Aspectos dominantes do capital cafeeiro


Economia cafeeira no início do século XX: superprodução e valorização
A resolução do problema da mão de obra

18
ESTRADAS DE FERRO
Deficiência dos meios de transporte e das vias de comunicação (traçados; importação de
máquinas)

“Até então [ anos de 1860 ], eram excepcionais na Província de São Paulo as estradas
carroçáveis. As que existiam, em geral, possibilitavam apenas a passagem de tropas de burro.
Algumas não mereciam sequer o nome de estradas: eram veredas por onde mal passavam as
tropas, em alguns pontos tão estreitas que tinham apenas largura necessária para uma mula
carregada. Nesses lugares, ao cruzarem-se duas tropas, era necessário que uma delas recuasse,
o que dava margem a brigas e ocasionava transtornos desagradáveis.”

Emília Viotti da Costa. Da senzala à colônia 3.ed. São Paulo: Brasiliense, 1989, p. 182
ESTRADAS DE FERRO
Problemas: fretes e mão de obra
•Stanley Stein (sobre Vassouras, RJ): 20% da força de trabalho, “entre os melhores escravos”,
eram tirados da lavoura “e desviados para as funções de tropeiro”
•Abertura e melhoria de estradas demandava mão de obra (aluguel de escravos; africanos
livres etc.)
•1863, de Campinas a Santos, custo de transporte do café = 1/3 do preço

•Anos de 1870:
 Década na qual os preços dos escravos em São Paulo atingem seus níveis mais elevados.
 Expansão cafeeira traduz-se em interiorização, tornando mais agudos os problemas com o escoamento do café
para exportação (onda verde em direção ao Oeste paulista)
ESTRADAS DE FERRO
Até a década de 50 do século XIX restrições financeiras dificultaram o investimento no
empreendimento ferroviário no Brasil.

-Com as mudanças no cenário político e o retorno da estabilidade política após o fim


do período regencial;
-Com a liberação de capitais devido à proibição do tráfico negreiro e com o aumento
da arrecadação de impostos,
Foi possível ao governo brasileiro adotar uma política de juros para garantir o
investimento em ferrovias.
ESTRADAS DE FERRO
Segundo Bóris Fausto (2012, p.169)

“A liberação de capitais resultantes do fim da importação de escravos deu origem a uma


intensa atividade de negócios e especulações. Surgiram bancos, indústrias, empresas de
navegação a vapor etc. Graças a um aumento nas tarifas dos produtos importados,
decretado em meados da década anterior (1840), as rendas governamentais cresceram. Em
1852-1853, elas representavam o dobro do que tinham sido em 1842-1843”
ESTRADAS DE FERRO
Muitos trechos ferroviários surgiram como empreendimento para escoamento da produção
cafeeira, facilitando a ocupação de áreas cada vez mais distantes dos portos de
exportação. Conforme afirma Emília Viotti:

“Uma verdadeira revolução se operava na economia cafeeira: capitais liberados, braços até
então desviados da lavoura porque aplicados ao transporte e que podiam agora voltar-se
para culturas: maior rapidez de comunicações; maior capacidade de transporte; mais baixos
fretes; melhor conservação do produto que apresentava superior qualidade e obtinha mais
altos preços no mercado internacional: portanto possibilidades de maiores lucros para os
proprietários: novas perspectivas para o trabalho livre.”
(COSTA, 1998, p. 219)
ESTRADAS DE FERRO
Economia cafeeira não teria sido possível sem as estradas de ferro.

Primeira estrada de ferro


 Sociedade de Estradas de Ferro Pedro II, organizada pelo Governo Imperial (1859)
 Buscar café no Vale do Paraíba.
 Estendeu-se até o Norte de São Paulo e o Sudeste de Minas Gerais.

São Paulo Railway Co. (1867)


 Organizada na Grã-Bretanha
 Ligar o planalto de São Paulo ao Porto de Santos
ESTRADAS DE FERRO
San Paulo Railway (1856)
Paulista (1864)
Ituana (1870)
Sorocabana (1870)
Mogiana (1872)
Araraquarense (1895)
Noroeste (1904)
ESTRADAS DE FERRO

“O desenvolvimento das estradas de ferro era comandado 'pelos interesses dos


administradores, produtores e comerciantes de café .. ‘ seu traçado, por vezes caprichoso e
que será necessário corrigir ou suportar penosamente, depende da posição das maiores
fazendas e da localização das cidades do café"

P. Monbeig. apud Sérgio Silva. Expansão cafeeira e origens da indústria no Brasil – Cap.III
CAFÉ E FERROVIAS: O NEGÓCIO
Café e ferrovias não podem ser vistos como um único negócio
Financiamento da expansão: combinação de recursos vindos da cafeicultura com capital
ligado às atividades urbanas
Forte vínculo entre as duas atividades
 O café dependia da ferrovia para chegar até o mercado externo
 A ferrovia dependia do café pois esse era a principal fonte de renda das companhias
CAPITAL CAFEEIRO
Processo de transformação das plantações de café é também o processo de formação
da burguesia brasileira.

“Desde o começo, os principais líderes da marcha pioneira não se limitaram a organizar e


dirigir plantações de café. Eles também eram compradores da produção do conjunto de
proprietários de terra. Eles exerciam a função de um banco, financiando o estabelecimento
de novas plantações ou a modernização de seu equipamento, emprestando aos fazendeiros
em dificuldade”

Sérgio Silva. Expansão cafeeira e origens da indústria no Brasil – Cap.III


CAPITAL CAFEEIRO
Estabelecem-se em São Paulo.
Economia cafeeira cresce  Papel das casas de exportação cresce  Nascimento dos
primeiros bancos brasileiros
Capital cafeeiro assume diversos papéis: comércio de importação e exportação; indústria.
Antonio da Silva Prado
 Personagem da marcha para o oeste.
 Sócio de Elias F. Pacheco Jordão na Vidraria Santa Marina
 Sócio do Banco União de São Paulo (na época, o presidente do banco era Antonio Lacerda Franco, diretor
da Cia. Paulista de Estradas de Ferro
 Sócio da Fábrica de Calçados União
CAPITAL CAFEEIRO
“O capital cafeeiro tinha portanto diversos aspectos; ele apresenta ao mesmo tempo as
características do capital agrário, do capital industrial, do capital bancário e do capital
comercial. [...] Na economia cafeeira, caracterizada por um grau ainda fraco de
desenvolvimento capitalista, essas diferentes funções são reunidas pelo capital cafeeiro e não
definem (pelo menos diretamente) frações de classe relativamente autônomas: não havia uma
burguesia agrária cafeeira, uma burguesia comercial, etc., mas uma burguesia cafeeira
exercendo múltiplas funções.”

Sérgio Silva. Expansão cafeeira e origens da indústria no Brasil – Cap.III


CAPITAL CAFEEIRO
A importância do capital cafeeiro está em ligação direta com a importância de suas funções
comerciais.
 Apesar disso, no Brasil, o capital comercial não se apresenta de uma maneira autônoma.
 Ele domina diretamente a produção e submete às suas exigências.

Transição do capital comercial para o capital bancário


 Expansão bancária dos anos 1870: estabelecimento de bancos em São Paulo (capital), em Santos e Campinas
 Expansão dos anos 1880: ampliação e consolidação do sistema bancário paulista
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Fonte: Série Base monetária - papel moeda emitido - fim período disponível em www.ipeadata.gov.br
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M0 - base monetária - papel moeda emitido - fim período - Conto de réis (mil) - Outras fontes, inclusive compilação de vários
autores - HIST_PME
Taxa de câmbio - libra esterlina / mil réis - RJ - Pence - Outras fontes, inclusive compilação de vários autores - HIST_ERVL
ECONOMIA CAFEEIRA NO INÍCIO DO SÉCULO XX
“O problema da superprodução de café apareceu desde o final do século XIX. Em 1882, a
produção mundial havia ultrapassado o consumo mundial. Com a crise de 1893 nos Estados
Unidos, principal consumidor do café brasileiro, os preços desse produto no mercado mundial
caem rapidamente. A cotação média anual do saco de 60 kg passa de 4,09 libras, em 1893,
a 2,91 libras em 1896, e a 1,48 libras em 1899.”

“A política inflacionária seguida pelos primeiros governos republicanos e a rápida


desvalorização da moeda brasileira que acompanha a inflação, permitem à burguesia cafeeira
amortecer os efeitos da baixa dos preços.”

Sérgio Silva. Expansão cafeeira e origens da indústria no Brasil – Cap.III


ECONOMIA CAFEEIRA NO INÍCIO DO SÉCULO XX
“Contudo, essa política inflacionária tinha limites muito estreitos. De um lado ela
acarretava o aumento dos preços dos produtos importados e portanto, nas condições da
economia brasileira da época, uma alta geral do custo de vida. Em consequência, a
burguesia cafeeira encontrava a oposição de todas as outras classes. (...) De outro lado,
se o aumento do volume das exportações não era tão forte que pudesse compensar a
baixa de preços (...) o governo federal encontrava-se em má situação para controlar o
serviço das dívidas, que devia ser pago em libras.”

Sérgio Silva. Expansão cafeeira e origens da indústria no Brasil – Cap.III


ECONOMIA CAFEEIRA NO INÍCIO DO SÉCULO XX
A inflação e a desvalorização cambial originaram uma defasagem nos custos dos
produtores de café, gerando uma rentabilidade anormal, que deveria ser combatida
através da deflação e revalorização cambial.
 Esse é um dos elementos que permeiam a relação entre moeda, câmbio e café (Fritsch, 1980;
Neuhaus, 1975; Fritsch e Franco, 2000).

Assim, em 1896 e 1897, como consequência da expansão do plantio, safras cada


vez maiores de café chegaram ao mercado, provocando pressão para a redução do
preço do produto.
ECONOMIA CAFEEIRA NO INÍCIO DO SÉCULO XX
O governo, percebendo a existência de um problema profundo no setor cafeeiro, e
a impossibilidade de restaurar o equilíbrio no balanço de pagamentos realiza um
acordo de 10 milhões de libras com agentes financeiros em Londres, conhecido com
funding loan de 1898.
 De fato, a situação era crítica: queda nos superávits comerciais, fuga de capital, reservas insuficientes
para pagamentos externos, redução do preço do café, taxa de câmbio cotada em 5 d.

O acordo previa a adoção de políticas fiscais e monetárias restritivas tais como o


aumento das receitas do governo através do aumento de produtos passíveis de
serem tributados, e a contração da base monetária.
O COMPLEXO CAFEEIRO
Sérgio Silva (1995)
Prof. Edivaldo Constantino

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