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Formação Econômica do Brasil

Economia
cafeeira
O problema do café no Brasil:
tendência ao desequilíbrio
externo
A libertação trouxe consigo novos problemas de
financiamento […] significou não somente a perda do
braço escravo, mas também a necessidade de realização
de enormes investimentos […] também uma grande
necessidade de capital de movimento para pagamento de
salários.

Defim Netto
Com mão de obra escravizada: não havia tendência ao desequilíbrio externo

Com mão de obra assalariada: havia tendência ao desequilíbrio externo

O fato de maior relevância ocorrido na economia brasileira do último quartel do séc.


XIX foi, sem lugar a dúvida, o aumento da importância relativa do setor assalariado.

Celso Furtado

 Transformações estruturais que levam à formação no Brasil de uma economia de


mercado interno
Trabalho assalariado = núcleo de um mercado interno

renda de exportações

cafeicultores assalariados

Importação, consumo interno, reinvestimento consumo interno

renda de pequenos produtores e comerciantes

consumo

renda de pequenos produtores e comerciantes

...
Fatores do setor de subsistência passam para o mercado → aumento da produtividade
econômica → aumento da produtividade do conjunto da economia

Impulso externo → maiores lucros → ampliação das plantações


(elasticidade da oferta de mão de obra e terras)

Obs.: expansão só é possível porque não há pressão por aumento de salário real
nem pelo preço real da terra

Lucros: retidos pelo empresários e de natureza monetária (maiores lucros decorrentes das
flutuações dos preços do café e não do aumento da produtividade)

Não aumento de produtividade + oferta de mão de obra = concentração da renda

Transferências do setor subsistência para o setor de exportação: desvalorização cambial

A renda se concentra também devido às dificuldades de financiamento do setor público


25
Preço do café nos
Estados Unidos
(cents/libra-peso) 20

Fonte: Delfim Netto (2009)

15

10

Ciclos
Aumento de demanda, 5
escassez de oferta =
aumento de preços
0
1851
1853
1855
1857
1859
1861
1863
1865
1867
1869
1871
1873
1875
1877
1879
1881
1883
1885
1887
1889
1891
1893
1895
1897
1899
1901
1903
1905
Aumento na oferta,
quebra na demanda =
queda nos preços
defasagem entre o impulso de exportações e Taxa de câmbio
importações (pence/mil-réis)
30,000

25,000

20,000
Problema: tendência ao desequilíbrio externo
15,000

10,000

• Intercâmbio per capita maior que renda per 5,000


capita torna a economia mais fraca diante
das oscilações 0,000

1870.01
1871.08
1873.03
1874.10
1876.05
1877.12
1879.07
1881.02
1882.09
1884.04
1885.11
1887.06
1889.01
1890.08
1892.03
1893.10
1895.05
1896.12
1898.07
1900.02
1901.09
1903.04
1904.11
1906.06
1908.01
1909.08
Fonte: ipeadata
Anexo – síntese das contas do balanço de pagamentos

1. Balança comercial: Exportações e importações de bens


2. Balança de serviços: Viagens internacionais, Transportes, Seguros, Lucros e
dividendos, Juros, Outros (inclui royalties, assistência técnica, reinvestimentos,
etc.)
3. Transferências unilaterais
4. Transações correntes (1+2+3)
5. Movimento de capitais: Investimentos diretos, Empréstimos e financiamentos,
Amortizações, Capitais de curto prazo, Outros capitais
6. Erros e omissões
7. Superávit ou déficit (4+5+6)
Aumento do volume das exportações (crescimento): multiplicação da renda

Redução do volume de exportações (crise): efeitos de aumentos anteriores ainda se propagam



manutenção da importações

depreciação da moeda

dificuldades de condução das políticas econômicas internas

Café tem variações constantes de seu preço e


estas oscilações determinam flutuações no câmbio
problemas (crise de preço) do café → queda receita de exportações
→ desvalorização cambial → inflação de importados → inflação da
base de consumo

“Socialização da perdas”

Prejuízo decorrente da queda do preço do café é redistribuído entre


todos aqueles que consomem importados
Desvalorização cambial:

• mantinha, em moeda nacional, a renda dos cafeicultores


• sustentava o nível de emprego da economia

Índice de preço Índice de preço


Câmbio médio
Ano externo interno
(dinheiros/mil-réis)
Índice de preço Índice de preço (1889=100) (1889 = 100)
Câmbio médio
Ano externo interno 1889 26,4 100 100
(dinheiros/mil-réis)
(1874=100) (1874 = 100)
1890 22,6 113 120
1874 24,7 100 100
1891 14,9 90 171
1875 27,2 86 77
1892 12,0 87 201
1876 25,3 82 73 1893 11,6 103 276
1877 24,6 83 87 1894 10,1 92 290
1878 22,9 69 72 1895 9,9 91 262
1879 21,4 65 74 1896 9,1 69 252
1880 22,1 68 70 1897 7,7 47 180
1881 21,6 55 57 1898 7,2 41 163
1882 21,2 39 46 1899 7,4 42 156
1900 9,5 46 171
Fonte: Delfim Netto (2009)
Correção do desequilíbrio externo através da taxa cambial:

Vantagem = manutenção da rentabilidade da cafeicultura e do nível


de emprego e renda da economia

Desvantagem = socialização da perdas e manutenção/expansão da


produção (superprodução)
O problema do café no Brasil:
Crises de superprodução e
mecanismos de defesa
Últimos lustros do século XIX:
Valor das exportações
Ano
situação favorável ao avanço da cafeicultura (1000 libras)
1885 11.406
1886 12.107
• Aumento da demanda mundial
1887 14.230
• Problemas na oferta asiática 1888 10.857
• Aumento do crédito 1889 18.963
1890 17.850
Fonte: Bacha e Greenhill (1992)

Entre 1885-1890: elevação do preço internacional do café

 Aumento do valor das exportações + empréstimos externos = valorização da moeda =


manutenção dos preços internos
Década de 1890, inversão de tendência: tendência a queda dos preços externos
(primeiros sintomas da crise)
1893: 4,09 libras por saca
1896: 2,91 libras por saca
1899: 1,48 libras por saca

 saldos comerciais reduzidos + aumento do volume de moeda circulante + limitado acesso a


recursos externos = grande desvalorização da moeda

Estímulo ao setor cafeeiro que o


mercado externo não comportava mais

 Mercado enfraquecido + crescentes safras = queda do preço interno


25000

20000

Produção brasileira
de café 15000

(1000 sacas de 60kg)


10000
Fonte: Bacha e Greenhill (1992)

5000

0
“clima de crise”, mas diagnóstico de superprodução só aparece em 1906

Expectativa de exportações: 10 milhões de sacas


Safra prevista: 16 milhões de sacas
Safra efetiva: 20 milhões de sacas
Estoque anterior: 9 milhões de sacas


Grande queda dos preços externos

Política de valorização do café


=
contrair artificialmente a oferta
Convênio de Taubaté (1906)

Compra do excedente pelo(s) governo(s)

Recursos externos para financiar compras

Cobrança de imposto em ouro por saca exportada

Proibição de novas plantações

Caixa de Conversão (câmbio fixo)

Pressupostos:
• “monopólio” do Brasil no mercado mundial de café
• possibilidade que o café estocado pudesse ser colocado no mercado em um momento futuro
O Convênio dava realmente a impressão de um passe de
mágica, pois permitia resolver o problema sem custo
aparente para o País: realizava-se um empréstimo externo,
comprava-se café, os preços subiriam e, com uma taxa de
exportação e com a venda posterior dos cafés retirados do
mercado, o empréstimo seria resgatado.

Defim Netto
crise estrutural;
resultante de uma superprodução;
agravada pela não existência de alternativas de investimentos.

“esquema” inconsistente:

mecanismos eram eficientes no curto prazo para proteger a cafeicultura, mas tinham efeitos negativos
a longo prazo (queda de preço)

crise de superprodução tendia a se tornar estrutural, pois estímulos artificias levavam ao aumento da
produção:
com a manutenção do preços o café tinha vantagem relativa com relação a outros produtos +
disponibilidade de recursos produtivos (terra, mão de obra) → ampliação da plantação

mecanismo de defesa da economia cafeeira era, em última instância, um processo de transferência


para o futuro da solução de um problema que se tornaria cada vez mais grave
25000

20000

Produção e exportação
15000
anual de café
(1000 sacas de 60kg)
10000
Fonte: Bacha e Greenhill (1992)

5000

0
1900
1901
1902
1903
1904
1905
1906
1907
1908
1909
1910
1911
1912
1913
1914
1915
1916
1917
1918
1919
1920
1921
1922
1923
1924
1925
PRODUÇÃO EXPORTAÇÃO
Continuação dos programas de valorização do café:
Bons lucros + “problema nacional”

O café representa a principal parcela no valor global de


nossa exportação e é portanto, o produto que mais ouro
fornece à solução dos nossos compromissos no estrangeiro.
A defesa do valor do café constitui, portanto, um problema
nacional, cuja solução se impõe à boa política econômica e
financeira do Brasil

Epitácio Pessoa
Mercado Cafeeiro
Sem Defesa Defesa
intervenção esporádica permanente
governamental
Intervenções: Instituto de
1906 Defesa do Café
Até 1906 1917 de São Paulo a
1921 partir de 1924

Grande ampliação da produção e aumento da concorrência


internacional
 A política de valorização
alcança seus objetivos até Produção e exportação anual de café
1929 (1000 sacas de 60kg)
35000

 Década de 1920: grande 30000


crescimento da capacidade
produtiva dos cafezais 25000
brasileiros
20000

15000
 Segunda metade da década
de 1920: produção duplicada 10000
e exportações estabilizadas =
grande crise de 5000
superprodução
0
1920 1921 1922 1923 1924 1925 1926 1927 1928 1929

 1827: safra de 28 milhões de PRODUÇÃO EXPORTAÇÃO

sacas, exportação de café Fonte: Bacha e Greenhill (1992)


de 15 milhões
Portanto,
segunda metade da década de 1920
=
maior necessidade de recursos (endividamento) para estocagem do café

1927 – 1929: maiores inversões em estoques (entrada de capitais privados estrangeiros no país)

desequilíbrio estrutural entre oferta e demanda (economia cafeeira vulnerável)


+
crise de 1929
=
dificuldade de obtenção de recursos, redução da demanda e queda de preços

suspensão do programa de valorização do café

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