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DO BRASIL
COLÔNIA
Introdução
A mineração promoveu uma série de transformações no Brasil Colônia,
como o desenvolvimento de várias cidades, a formação de uma classe
média urbana e o fomento de atividades voltadas ao mercado interno,
como a pecuária sulina e a integração entre áreas até então isoladas. O
centro econômico da colônia foi transferido do Nordeste para o Centro-
-Sul, com a consequente mudança da capital para o Rio de Janeiro, em
1763. Ao mesmo tempo, a exploração de ouro e pedras preciosas levou
o governo português a aumentar o controle sobre a colônia, principal-
mente na região mineradora, gerando ainda mais descontentamento
para os colonos, que em 1789 promoveram o primeiro movimento de
rompimento com Portugal.
Neste capítulo, você verá de que forma a administração portuguesa
para a região das Minas Gerais desencadeou a Inconfidência Mineira e de
que forma o Iluminismo e a Independência dos Estados Unidos influen-
ciaram esse movimento. Além disso, conhecerá as fases da Inconfidência
e seus principais líderes.
2 Inconfidência Mineira
1700–1705 1.470
1706–1710 4.410
1711–1715 6.500
1716–1720 6.500
1721–1725 7.000
1726–1729 7.500
1730–1734 7.500
1735–1739 10.637
1740–1744 10.047
1745–1749 9.712
1750–1754 8.780
1755–1759 8.016
1760–1764 7.399
1765-1769 6.659
1770-1774 6.179
1775–1779 5.518
1780–1784 4.884
1785–1789 3.511
1790–1794 3.360
1795–1799 3.249
Aos espíritos mais judiciosos, não escapava essa decadência da produção au-
rífera, e administradores de visão como o Governador D. Rodrigo de Meneses
propunham à coroa portuguesa uma série de reformas com a criação de um
fundo de crédito aos mineiros e o estabelecimento de uma fábrica de ferro, a
fim de baratear um artigo indispensável à mineração. D. Rodrigo animava-se a
apresentar tal recomendação, mesmo sabendo que ela contrariava frontalmente
o sistema colonial vigente. Defendia, porém, os interesses da Régia Fazenda
(HOLANDA, 2008, p. 439–440).
Nesse contexto, a capitania de Minas Gerais devia para Portugal mais de cinco
toneladas de ouro. Os colonos afirmavam que não podiam pagar, porque o ouro
estava se esgotando. As autoridades portuguesas reafirmavam que o problema
era que o ouro estava sendo desviado. Holanda (2008, p. 340) afirma que “Não é
por acaso que o Visconde de Barbacena, em sua circular de 3 de março de 1789,
apresenta como principal causa para a diminuição das quotas pertencentes ao
régio erário a crescente atividade de contrabandistas e extraviadores”. Esse fato
que fez com as elites de Minas Gerais começassem a conspirar contra a Coroa.
Não bastava lutar apenas contra algumas medidas tomadas pela metrópole, era
preciso mais do que isso. A solução definitiva, pensavam as elites, seria separar
a capitania de Minas Gerais do domínio português.
6 Inconfidência Mineira
Não é talvez por acaso que a diminuição mais sensível nas matrículas mineiras
no decênio que se inicia em 1750 — a de 1758 — corresponde exatamente ao
primeiro déficit no rendimento dos reais quintos: o produto da arrecadação que
se mantivera sempre bem acima de cem por cento do exigido baixara, com efeito,
a menos de 89 por centro do período 1757–58. A própria queda verificada em
1759–1760, por ligeira que fosse, também coincide com uma baixa contribuição de
Minas para os estudos superiores: apenas cinco estudantes em 1760, contra onze
no ano antecedente e outros onze no subsequente (HOLANDA, 2008, p. 338).
[O] livro era uma denúncia dos crimes do colonialismo europeu; denunciava
o Tratado de Methuen e a dependência de Portugal à Inglaterra, o tráfico ne-
greiro, a política fiscal abusiva e os excessos do clero. Dedicava 136 páginas
ao Brasil, para o qual defendia a liberdade de comércio. Fora praticamente
o único livro com grandes informações de ordem econômica, demográfica
e político-administrativa do Brasil do século XVIII a que tiveram acesso os
estudantes brasileiros (JARDIM, 1989, p. 43–44).
Durante a década de 1780, circulava por Vila Rica (atual Ouro Preto) as Cartas Chilenas,
versos anônimos que hoje são atribuídos a Tomás Antônio Gonzaga, Ouvidor Geral de
Vila Rica. Os versos narram de forma satírica os desmandos do governador de Santiago
do Chile, Fanfarrão Minésio. Os versos são narrados por Critilo ao seu amigo Doroteu. A
cidade de Santiago seria na verdade Vila Rica, governada por Luís da Cunha Meneses
(Fanfarrão Minésio), sendo criticada pelo ouvidor-mor Tomás Antônio Gonzaga (Critilo).
Ao todo foram escritas 13 cartas, contendo versos com dez sílabas, sem rimas. Hoje as
cartas estão em domínio público e podem ser acessadas gratuitamente na internet.
Para saber mais, procure pelo artigo “Cartas Chilenas: transformações e tensões
em versos satíricos às vésperas da Inconfidência Mineira”, da historiadora Ana Maria
Bertolino, publicado na revista Horizonte Científico, citado em detalhes na seção Leituras
Recomendadas, ao final deste capítulo.
3 A Inconfidência Mineira
Quando foi anunciado que a cobrança dos impostos atrasados seria feita
em 1789, acompanhada de uma ampla investigação sobre o contrabando na
região, destacados membros da elite econômica e intelectual de Minas Ge-
rais passaram a se reunir em Vila Rica e a planejar um movimento contra o
domínio colonial, que ficou conhecido como Inconfidência Mineira. Muitos
dos conspiradores aderiram à Inconfidência pois estavam endividados com
Portugal, ou porque eram acusados de contrabando, ou ainda porque haviam
perdido cargos importantes no governo colonial.
Antes de analisarmos o que pretendiam os inconfidentes, é necessário
verificarmos quem eram esses intelectuais mineiros e qual o envolvimento
e interesses deles na Inconfidência Mineira. Vejamos a seguir os principais
envolvidos no movimento.
Os inconfidentes
Ao final da sedição que não se realizou, conforme veremos a seguir, foram
condenados 24 inconfidentes. Desses, os mais estudados pela historiografia
são Joaquim José da Silva Xavier (o Tiradentes), Tomás Antônio Gonzaga,
Cláudio Manoel da Costa, Inácio José de Alvarenga Peixoto e os padres que
se envolveram na Inconfidência.
No livro A inconfidência Mineira: uma síntese factual, o historiador Márcio
Jardim destaca que haveria muitos outros inconfidentes além dos 24 conde-
nados ao final do processo e que se fosse feita uma análise minuciosa de toda
10 Inconfidência Mineira
Sabendo que uma revolta não se concretiza com palavras, espalhou a ideia
entre os seus camaradas, conseguindo o apoio de seu comandante, o Tenente-
-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, de ilustre linhagem, em cuja
casa reuniam-se os conjurados. Sem dúvida, José Alvares Maciel exerceu muita
influência, pois era cunhado de Freire de Andrade (FROTA, 2000, p. 215–216).
de Oliveira Maciel, cujo dote rendera a Francisco de Paula uma boa quantia
em dinheiro. Juntando a riqueza pessoal de Francisco de Paula com o dote de
sua esposa, eles eram um dos casais mais ricos da capitania (JARDIM, 1989).
A casa de Francisco de Paula era ponto de encontro onde eram realizadas as
reuniões com os principais inconfidentes.
Ao assumir o ministério português, Melo e Castro propôs mudanças com
relação à colônia, a começar pela substituição do governador Luís da Cunha
Meneses pelo Visconde de Barbacena.
O papel de Tomás Antônio Gonzaga na revolução mineira de 1789 foi dos mais
importantes e decisivos. Embora a historiografia específica sobre seu caso
pessoal seja polêmica e contraditória, tenho certeza de que a leitura moderna
dos Autos não deixa dúvida quanto a três fatos fundamentais: a) Gonzaga
participara efetivamente da conspiração; b) era um de seus principais líderes
[...]; c) tinha responsabilidade capital na revolta, com a tarefa de redigir a
Constituição e os documentos legais mais importantes de institucionalização
da nova situação política a ser criada (JARDIM, 1989, p. 103).
Cláudio Manuel da Costa era um dos mais ricos e influentes inconfidentes. Ao ser preso,
contando com 60 anos e doente, ficou detido em Minas Gerais, enquanto os demais
inconfidentes foram enviados para o Rio de Janeiro. Após prestar seu primeiro, e único,
depoimento no dia 2 de julho de 1789, foi encontrado morto em sua cela no dia 4 do
mesmo mês. O laudo legista atestou suicídio, mas há historiadores que defendem a
tese de que ele foi mesmo assassinado para evitar que o suposto envolvimento do
Visconde de Barbacena com a Inconfidência viesse a ser revelado.
Para se aprofundar no assunto, sugerimos a leitura do livro Cláudio Manuel da Costa:
o letrado dividido, publicado pela historiadora Laura de Mello e Souza em 2011, pela
Companhia das Letras.
do domínio português não se estendia a toda a colônia, uma vez que nesse
período não havia um sentimento de unidade nacional. Logo, os inconfidentes
pretendiam tornar a capitania de Minas Gerais independente de Portugal,
contando que posteriormente outras capitanias, sobretudo de São Paulo e do
Rio de Janeiro, viessem a aderir ao movimento.
Os demais objetivos almejados pelos inconfidentes podem ser resumidos
da seguinte forma, segundo Maxwell (2005):
Leituras recomendadas
BALLAROTTI, C. R. A Construção do mito de Tiradentes: de mártir republicano a herói
cívico na atualidade. Antíteses, v. 2, nº. 3, p. 1–25, jan./jun. 2009. Disponível em: http://
www.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/download/1946/2194. Acesso
em: 21 mar. 2020.
BERTOLINO, A. M. Cartas chilenas: transformações e tensões em versos satíricos as vés-
peras da Inconfidência Mineira. Horizonte Científico, v. 8, nº. 1, p. 1–22, jul. 2014. Disponível
em: http://www.seer.ufu.br/index.php/horizontecientifico/article/view/17906/14903.
Acesso em: 21 mar. 2020.
FAORO, R. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. São Paulo:
Globo, 2001.
GIL, L. F. P. O processo de Tiradentes. Rio de Janeiro: Otto Pierre, 1978.
LINHARES, M. Y. L. (org.). História geral do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
NOVAIS, F. A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial (1777–1808). 9. ed. São
Paulo: Hucitec, 2010.
SOUZA, L. de M. e. Cláudio Manuel da Costa: o letrado dividido. São Paulo: Companhia
das Letras, 2011.
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