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POSFÁCIO
EDIÇÃO DE IMAGENS
. José Mindlin
Cristina Antunes
COSACNAIFY
APRESENTAÇÃO DA POESIA BRASILEIRA
9 Gongorizantes e árcades
43 Românticos
97 Parnasianos
125 Simbolistas
147 Modernistas
ANTOLOGIA
Cordeirinha linda,
como folga o povo
porque vossa vinda
lhe dá lume novo!
Cordeirinha santa,
de Jesus querida,
vossa santa vida
o diabo espanta.
Por isso vos canta,
com prazer, o povo,
porque vossa vinda
lhe dá lume novo.
Não mais, esprito meu, que estou cansado/ Deste difuso, largo e triste Can
to ... ) . Todo o interesse do poema residia na circunstância de ser tido
o autor como o primeiro poeta nascido no Brasil. Chamava-se BEN
TO TEIXEIRA [ 1561-1600] e é assim que assina o prólogo oferecendo
a obra a Jorge de Albuquerque. Todavia a naturalidade brasileira de
Bento Teixeira é atualmente discutida, pois Gilberto Freyre e depois
Rodolfo Garcia assinalaram no livro da Primeira visitação do Santo
Ofício às partes do Brasil (Denunciações de Pernambuco) um cristão-novo
do mesmo nome, que prestou depoimento perante a mesa do San
to Ofício em janeiro de 1594 na cidade de Olinda, depoimento no
qual se dá por natural do Porto. Esse Bento Teixeira era homem ins-
10 *li
truído e lecionava a meninos em Pernambuco. Ora, Bento Teixeira
instruído e capaz de escrever o poema não havia outro no Pernam
buco daquele tempo, argumentava Rodolfo Garcia.1
O que não sofre dúvida é que a primeira grande figura da poesia
brasileira só aparece na segunda metade do século xvn, na pessoa
do baiano GREGÓRIO DE MATOS [1636-95] . Nascido em Salvador, pas
sou a infância na Bahia e estudou leis em Coimbra, doutorando-se.
Advogou em Lisboa, onde também foi juiz do crime, e depois serviu
numa comarca próxima como juiz de órfãos e ausentes. Mas a sua
veia satírica, que lhe valeria mais tarde a alcunha de "Boca do Infer
no", tornou-o malquisto na Corte. Parece que baldado na pretensão
de ser promovido à Casa da Suplicação resolveu retirar-se para o Bra
sil. Na Bahia d. Gaspar Barata, primeiro arcebispo, que havia sido seu
companheiro de viagem, fê-lo tesoureiro da Sé e vigário-geral. Não
tardou o Poeta a incompatibilizar-se com o substituto de d. Gaspar
por não querer vestir o hábito sacerdotal, a que o obrigavam as fun
ções. Acabou demitido. Inimizado com os religiosos, inimizado com
o governo, malvisto pela sociedade, levava uma vida solta, vingando
se a poder de versos satíricos da desconsideração a que decaíra, ele
que fora citado com elogios pelo padre Manuel Bernardes. Sátiras
contra tudo e contra todos. Contra portugueses e brasileiros:
No Brasil a fidalguia
no bom sangue nunca está,
nem no bom procedimento,
[ ... ] é mulato:
ter sangue de carrapato
cheirar-lhe a roupa a mondongo
é cifra de perfeição:
milagres do Brasil são.
Não lhe dava, porém, a sua vida, autoridade para verberar os vícios
da colônia: esse inimigo dos mulatos escandalizava a toda a gente
pelos seus amores com mulatas da mais baixa classe; censurava os
bajuladores, mas bajulava também; não tinha escrúpulos em plagiar
Góngora e Quevedo; casando-se com uma viúva, procedia de tal
forma, que a esposa teve de fugir do lar e acolher-se à casa de um
parente ... Afinal foi deportado para Angola, onde não se demorou,
porque, tendo auxiliado o governador no processo de uma revolta
da tropa, obteve do rei, como recompensa, a permissão de regressar
12 * 13
. ..J
• 1,
,
...
ao Brasil. Embarcou para Pernambuco. Ali se entregou à mesma vida,
zombando de tudo, na companhia de violeiros e folgazões. O Recife
deve ter-lhe parecido ainda pior que a Bahia, e descreve-o assim:
14 * 15
era uma personalidade forte, a primeira que assim se afirmava no
Brasil, onde a sua posição corresponde proximamente à de Juan
de Caviedes, no Peru. Ao lado dele mal se pode lembrar o nome de
MANUEL B OTELHO DE OLIVEIRA [1636-17n] , autor de um medíocre
poema descritivo intitulado A Ilha da Maré, cujo único mérito está
em inaugurar o louvor do país em nossa poesia.
O sentimento nativista amadurece no decorrer do século
xvn, gerando conflitos sangrentos entre os filhos da terra e os
16 * 17
MUSICA DO
PARNASSO
DIVIDlDA EM QUATRO COROS
DE RIMAS
P O ll T U G U E S A S, C A S TE LHA
nas, Italianas, & Latinas.
rt o M s /!, V 1) E se A N TE e o M 1 e o ([(E V u s 1: ·
do em duas Comedias,
OFFERECIDA
A O E.X CE L L EN TIS S 1 MO SENHOR DOM NU r\O
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Tão mesquinha foi a nossa poesia na primeira metade do sé
culo XVI I I , que um fraco poeta como frei Manuel de Santa Maria
ITAPARICA [1704-68?] , por se destacar dos demais, mereceu entrada
18 * 19
C. V. C.
MIREO ROFEATICO Ct.TSTODE GENERALE D'ARCADIA.
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! IVI_,?.Í-!f't77!0 ,..,_fc,,,:J'ÍÍ.m• )j!" };,,,, ,;',,,�!!·"'"•' )e /,,,,.u .!:·�(
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riguardo dei/e jingolari �irtU, e d gli ottimi coffomi, chc Ítl Voi rifp!e11do110, e dt!fo r
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r<rndorvi Paflor�, Àtcade col nome di 9 r/a S iô cflratto�i a farte, eco' foliti pefr,
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e co ll'o11ore di potel"t ruitare 1ul Bofco Parrefto. Vi dcfli111: poi, e add]ô per ai/ora -vi ttf
[egiza la C mpa gn , rhr dopo 11n'aiwo dai/a data dei prcfmtc Diploma, potrcte chicdcrc ai
faggio Co!le�io d' Arcitdh, a!far6itri� dt! quale, rcgol,110 dai merito dique/li, cbe a�
miii 'Vac:t11zc concor;r.rdnno, el lm o .s appartcngono, ptr godere al/on ancbe glr a ltr t ano
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de observar alguma coisa que representa, na emoção mais sincera
ou no aproveitamento do elemento brasileiro, uma força renova
dora ainda sem consciência de si mesma.
Seis são os poetas principais desse grupo: CLÁUDIO MANUEL DA
COSTA, TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA, BASÍLIO DA GAMA, SANTA RITA
DURÃO, ALVARENGA PE IXOTO e SILVA ALVARENGA. Cláudio Manuel
da Costa, Gonzaga e Alvarenga Peixoto foram grandes amigos, e
todos três se viram envolvidos no movimento libertário da Incon
fidência [1789] . "O número considerável de poetas que figuram
entre os chefes da conspiração", escreveu João Ribeiro, "dá-lhe
um certo caráter de elevação intelectual e teórica que em outras
revoluções práticas fica apenas subentendido; mas mostra que não
podiam aspirar a outro papel que o de precursores." A tentativa
malogrou-se ainda no período das conversações: presos os conspi
radores, Cláudio Manuel da Costa suicidou-se e os outros dois
foram desterrados para a Á frica.
CLÁUD I O MANUE L DA COSTA [1729-89] nasceu nos arredores
de Mariana. Fez o curso de letras no Colégio dos Jesuítas do Rio de
Janeiro e depois partiu para Portugal, onde se formou em cânones na
Universidade de Coimbra. Datam de então as suas primeiras obras
poéticas O munúsculo métrico [1751], o Epicédio [1753] e o Labirinto do
-
20 . 21
e na linguagem. A parte melhor de sua produção está nos sonetos,
em alguns dos quais, renunciando aos artifícios da escola e apro
ximando-se da tradição camoniana, se exprimiu com sobriedade e
vigor. Assim, no soneto que começa pelo verso "Destes penhascos
fez a natureza... ". No Vila Rica não conseguiu o Poeta pôr a emoção
que porventura lhe despertava a terra natal. O poema arrasta-se
através de narrativas e descrições insípidas, onde é raro um ou
outro movimento de verdadeira inspiração.
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA [r744-r8rn] nasceu na cidade do Por
to. O pai era brasileiro; a mãe, portuguesa, filha de inglês. Aos oito
anos de idade veio para o Brasil com o pai, que havia sido nomea
do ouvidor-geral em Pernambuco e foi depois intendente-geral do
ouro na Bahia. Só aos dezesseis anos voltou a Portugal, para estu
dar na Universidade de Coimbra. Esses nove anos da infância pas
sados no Brasil tiveram influência na formação do Poeta e de certo
modo o naturalizaram brasileiro. Bacharel em 68, exerceu Gonzaga
o cargo de juiz de fora em Beja e no ano de 82 foi despachado
para o Brasil como ouvidor e procurador de defuntos e ausentes na
comarca de Vila Rica. Esse homem já maduro apaixonou-se então
por uma brasileirinha de dezesseis anos, de quem ficou noivo. Era
Maria Doroteia Joaquina de Seixas, pertencente a uma das melho
res famílias da cidade, a qual ficaria imortalizada nas liras do Poeta
sob o nome de Marília. Em 86 foi Gonzaga nomeado desembarga
dor da Relação da Bahia. No mês de abril de 89 requereu licença
para o seu casamento, que estava marcado para o fim de maio. Mas
denunciado o poeta como conspirador, foi preso e transportado
para a fortaleza da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, donde só
saiu em 92 para cumprir a sentença de desterro por dez anos em
Moçambique. "Minha bela Marília, tudo passa", cantara o Poeta à
MARILIA
DE
D IRC E O.
POR T. A. G.
LISBOA:
NA TYPOGRAFIA NUNESIANA
ANNO M. DCC. XCU.
------------
D 1 R C E O.
POR T. A. G.
f' R I M E J R A P A R T E.
Nova edição.
@
RI O DE JANEIRO.
NA I MP R E S S ÃO REGI A.
1810.
sua amada nos tempos felizes do noivado. Não terá morrido o sen
timento no coração de Marília, pois morreu solteira em avançada
idade. Mas Gonzaga, logo afeito à sociedade de Moçambique, onde
se tornou a principal figura - era ali o único advogado habilitado e
procurador da Coroa e da Fazenda -, casou-se um ano depois com
uma senhora "de muita fortuna e poucas letras". Mesmo depois
de esgotado o prazo do desterro, deixou-se ficar na África e um
ano antes do seu falecimento era nomeado juiz da Alfândega. Não
passa pois de pura lenda a velha informação biográfica que dava o
Poeta como tendo terminado os seus dias em situação de miséria e
loucura, torturado pelas saudades do Brasil e da sua Marília.
Os poetas do grupo mineiro, embora não pertencessem a
nenhuma arcádia regularmente organizada, usavam, como os
árcades portugueses, pseudônimos poéticos: Cláudio Manuel da
Costa era Glauceste Satúrnio; Alvarenga Peixoto, Eureste Fenício; Sil
va Alvarenga, A/cindo Palmireno; Basílio da Gama, Termindo Serpt1io.
Gonzaga adotou nas suas líricas o nome de Dirceu.
O livro Man1ia de Dirceu [1792] é a história dos amores do Poeta,
cujos sonhos de felicidade foram tão cruelmente cortados pelo pro
cesso em que se viu colhido. O crítico português Rodrigues Lapa
assinalou com agudeza o ideal burguesmente familiar desses amo
res, tão bem ilustrados pela lira 3 da parte I I I , na qual o Poeta se vê
no futuro sentado à mesa de estudo, cercado de altos volumes
de enredados feitos:
24 * 25
Lerás, em alta voz, a imagem bela;
Eu, vendo que lhe dás o justo apreço,
Gostoso tornarei a ler de novo
O cansado processo.
26 * 27
declaração assinada por Francisco das Chagas Ribeiro, fornecedor
do manuscrito: "Tenho motivos para certificar que o dr. Tomás
Antônio Gonzaga é autor das Cartas chilenas" . Uma segunda edi
ção, mais completa, pois compreendia treze cartas, foi publicada
pelo editor Laemmert em 1863; o texto da nova edição se baseava
num manuscrito encontrado por Luís Francisco da Veiga entre
os papéis de seu avô, Francisco Luís Saturnino da Veiga, que foi
contemporâneo do autor das cartas, as quais atribuía a Gonzaga.
Ao ler as Cartas chilenas nessa edição, o historiador e crítico bra
sileiro Varnhagen fortaleceu-se na opinião, já expendida em seu
Florilégio da poesia brasileira [1850-53] , de que a obra não podia ser
imputada senão a Cláudio Manuel da Costa. Posteriormente, foi
a questão muito discutida e favoráveis a Gonzaga se manifesta
ram, entre outros, José Veríssimo e Alberto Faria. Em 1940 Afonso
Arinos de Melo Franco publicou uma edição das famosas cartas
baseada nos três manuscritos que pertenceram a Francisco Satur
nino da Veiga e que hoje pertencem ao arquivo do Instituto His
tórico e Geográfico Brasileiro. Traz essa edição um longo prefácio
que expõe os antecedentes do problema e discute-o, concluindo
pela autoria de Gonzaga para as treze cartas e de Cláudio Manuel
da Costa para a epístola que as precede.
Veríssimo, em sua História da literatura brasileira, assinalara que
dos versos 19-30 da Carta IX se pode inferir ser o autor português
de nascimento. Esses versos são os seguintes:
[ . . ] um bruto Chefe,
.
28 . 29
MINEl\VA Bl\ASILIENSE.
N. 8.
BIBLIOTHECA BRASILICA,
ou
TOMO 1.
mo DE JANEJRO,
TYPOGilAPlllA AUSTRAL, BECO DE Ill\AGMiÇA, 15.
13fi5 •
. . -
pois, quase por uma assinatura de Gonzaga. Varnhagen apresen
tara como argumento estilístico em favor de Cláudio Manuel da
Costa as repetições de palavras no mesmo verso, construção fre
quente em Critilo e em Cláudio. Mas a estatística das palavras
repetidas mostra que a percentagem é de 2,7 nas Cartas; de o,6 na
obra de Cláudio e de 2 na de Gonzaga. A esse aspecto Gonzaga é
dos dois poetas o que mais se aproxima de Critilo.
Ao contrário de Varnhagen, a generalidade dos críticos tem re
conhecido o valor literário dessas cartas, inestimáveis aliás como
documento de crítica de costumes. Aquela sociedade improvisada
em pleno sertão pela cobiça do ouro, com os seus desmandos de
prepotência e sensualidade, nos é pintada por Critilo com implacá
vel realismo, de vivo sabor às vezes, como por exemplo na descrição
do lundu dançado em palácio tão desenvoltamente quanto
30 * 31
mineração, que o tornou abastado. Comprometido na Inconfi
dência (teria sido ele quem propôs para legenda da bandeira revo
lucionária a frase Libertas quce sera tamen ), foi condenado ao dester
ro em Ambaca (Angola), onde faleceu. Deixou Alvarenga Peixoto
fama de homem eloquente e imaginoso. Incerto é o juízo que se
possa formar de sua obra poética, pois dela só nos restam vinte
sonetos, umas sextilhas, três odes incompletas, duas liras, uma
cantata e um Canto genetlíaco [1794] em oitava rima, na sua maioria
versos de circunstância em louvor de poderosos.
SILVA ALVARENGA [1749-1814] nasceu em Vila Rica. Era mestiço,
3 2 * 33
Colégio do Rio de Janeiro em maio de 59, deve ter feito os votos
perpétuos, e continuou os estudos. Mas nesse mesmo ano é a Or
dem expulsa do Brasil. Passou-se então o Poeta a Portugal. Não
se demorou ali; seguiu para Roma, onde foi admitido à Arcádia
Romana. Em fins de 66, começos de 67, veio ao Brasil, aqui ficando
pouco tempo, e tornou a Portugal para estudar em Coimbra. De
vido à sua condição de ex-jesuíta, foi então preso e condenado ao
desterro em Angola. Livrou-se de cumprir a sentença escrevendo
um epitalâmio para a filha de Pombal. E em 69 publicava o poema
épico Uraguai, no qual procurou reabilitar-se mais completamente
junto aos seus protetores por meio de comentários ferinos contra
os jesuítas, aos quais devia a sua educação. Mais tarde foi nomeado
oficial da Secretaria do Reino. Faleceu em Lisboa.
O assunto do Uraguai é a guerra que Portugal, ajudado pela
Espanha, moveu aos índios das Missões do Rio Grande do Sul,
rebelados contra a execução do tratado de 1750, que os transferia
do domínio dos padres jesuítas para o dos portugueses. O poema
tem cinco cantos e o seu herói é Gomes Freire de Andrada. O pri
meiro canto arrasta-se prosaicamente na descrição de uma revista
de tropas prestes a iniciar a campanha e na narrativa das causas
do conflito, feita por Gomes Freire ao núncio do rei da Espanha.
Quase todo o segundo canto é tomado pela entrevista entre o che
fe português e Cacambo, o cacique dos tapes. Não se rende o índio
às razões do branco, trava-se a luta e Cacambo, vencido, retira-se.
Para amenizar a crônica histórica e também polêmica do poe
ma, que no fundo é um verdadeiro panfleto contra os jesuítas,
acrescentou-lhe o autor o elemento sentimental sob a forma dos
amores de Cacambo. E o canto terceiro nos mostra Lindoia, a es
posa do índio, vendo pelas artes mágicas de uma velha feiticeira
o terremoto de Lisboa, a reconstrução da cidade por iniciativa de
Pombal, e finalmente as naus que a outros climas,
34 * 35
também a evidente originalidade: cinquenta anos antes de Garrett
compôs Basílio da Gama um poema nos moldes que deram ao
Camões [1825] do poeta português o título de iniciador do movi
mento romântico - pôs de lado a mitologia e a oitava real; fugiu
aos recursos gongóricos e arcádicos. Todavia o espírito que anima
o poema não nos autoriza a colocá-lo, como querem alguns, entre
as obras precursoras do romantismo.
SANTA RITA D URÃO nasceu em Cata Preta, distrito de Maria
na, em 1722. Era filho de um militar português. Fez os estudos de
humanidades no Colégio dos Jesuítas do Rio e doutorou-se em
Teologia na Universidade de Coimbra [1756], da qual foi mais tarde
reitor. Pertenceu à ordem de Santo Agostinho. Por motivo ainda
não apurado teve de deixar Portugal, passando-se à Espanha e de
pois à Itália. Em Roma foi patrocinado pelo papa Clemente XIV,
que em 1764 o nomeou bibliotecário da Lancisiana. Nesse cargo
esteve Durão nove anos, cercado do respeito dos literatos romanos.
Voltou a Portugal para concorrer a uma cadeira na Universidade de
Coimbra, sendo satisfeito em sua pretensão. Faleceu em 84.
Durão ficou em nossa literatura como autor da epopeia
Caramuru [1781] . O poema é mais nosso do que o Uraguai, pelo
assunto e pela intenção patriótica; mais extenso (dez cantos). Não
tem, no entanto, a originalidade do outro. Durão apegou-se em
tudo ao modelo camoniano. A obra é escrita em oitava rima e abre
com a exposição do argumento na primeira estrofe, a invocação na
segunda, o oferecimento a d. José nas seis seguintes. A invocação
é toda cristã:
3 6 * 37
O nariz natural, boca mui breve,
Olhos de bela luz, testa espaçosa;
3 8 * 39
de Salomão e do Livro de ]ó. J O S É B O N I FÁ C I O , o Patriarca da In
dependência, F RANCISCO D E MELO FRANCO [1757-1823] , autor do
poema O Reino da Estupidez [1785] , sátira aos mestres de Coimbra, e
outros são, como os que acabamos de citar, figuras cuja atividade
se prolongou ao século XIX (as Poesias avulsas de José Bonifácio
foram publicadas em 1825 sob o pseudônimo de Américo Elísio).
A produção de todos atesta fortemente a influência arcádica.
Domingos CALDAS BARBOSA, ao contrário, tendo falecido no ano
de 1800 em Lisboa, onde foi membro da Nova Arcádia, mostra-se
quase isento dos artificios da escola. A sua poesia é toda inspirada
nas formas populares, modinhas e lundus, gênero em que adqui
riu grande popularidade tanto no Brasil como em Portugal. Cal
das Barbosa era filho de português e de africana. Nasceu no Rio de
Janeiro em 1740. A sua veia repentista e satírica, exercida contra os
portugueses, foi causa de ser recrutado e mandado servir na Colônia
do Sacramento. Ao regressar de lá, obteve baixa do exército e passou
a Portugal, onde o protegeram os irmãos conde de Pombeiro e mar
quês de Castelo Melhor. Caldas recebeu ordens sacras e foi capelão
da Casa da Suplicação. Continuou, porém, a cultivar a viola e as mo
dinhas. É o primeiro brasileiro onde encontramos uma poesia de
sabor inteiramente nosso. Algumas peças de seu livro Viola de Lereno
-
40 * 41
Em mim tome um triste exemplo
Quem amando quer viver;
Saiba que é viver morrendo
Sem acabar de morrer.
("Sem acabar de morrer")
44 * 45
REVISTA BRASILIENSE.
lã omo J)Jrimrirn.
'i". I".
'1831).
forma - vocabulário, sintaxe, métrica - a que se manteve sensi
velmente fiel, mas nos temas, no sentimento e no tom. Pondo de
parte as pequenas diferenciações individuais, pode-se distribuir a
evolução romântica em três momentos capitais: o inicial, em que
à inspiração religiosa, base da poesia de Magalhães e Porto-Alegre,
reflexo da de Lamartine, acrescentou Gonçalves Dias a que buscava
assunto na vida dos selvagens americanos; o segundo, representa
do pela escola paulista de Álvares de Azevedo e seus companheiros,
onde predominou o sentimento pessimista, o tom desesperado ou
cínico de Byron e Musset; finalmente o terceiro, o da chamada esco
la condoreira, de inspiração social, a exemplo de Hugo e Quinet.
DOMINGOS JOSÉ GONÇALVES DE MAGALHÃES, visconde de Ara
guaia [l8n-82] , nasceu no Rio de Janeiro, onde fez os estudos secun
dários e se formou em Medicina. Aos 21 anos publicou uma coleção
de poesias, ainda de gosto arcádico, e no ano seguinte partiu para
a Europa. A viagem abriu-lhe os olhos para a poesia nova, cuja re
volução se processava nos vários países que visitou. Adotou-a com
entusiasmo. De volta ao Brasil, serviu como secretário do governo
nas províncias do Maranhão e do Rio Grande do Sul, foi eleito para
a Câmara dos Deputados e finalmente abraçou a carreira diplomáti
ca, falecendo em Roma, onde era nosso ministro. Além dos Suspiros
poéticos, escreveu Os mistérios, canto fúnebre, o poema indianista
A confederação dos Tamoios [1856] e a tragédia Antônio josé [1839] .
Magalhães estava longe de ser o gênio que julgaram ver alguns
dos seus contemporâneos, entre os quais Torres Homem. A religião,
a pátria, o amor, os aspectos da velha civilização europeia, temas
inspiradores da poesia dos Suspiros, nunca lhe arrancaram acentos
verdadeiramente profundos. Se disse "adeus às ficções de Homero",
não se despediu completamente da velha retórica, e a maioria de
4 6 . 47
seus versos rastejam quase sempre em lugares-comuns, aos quais a
ênfase tenta embalde comunicar alguma emoção. Aqueles em que
celebrou Roma merecem a expressão de "prosaico escandaloso"
com que os definiu José Veríssimo:
48 * 4 9
colóquios de Fernando e Isabel com Boabdil e Daraxa, cerimô
nia de coroação de Fernando e Isabel como reis de Granada, fes
tim de regozijo e finalmente a descrição de um torneio, no qual o
marquês de Cádiz, triunfador várias vezes, já ia receber a palma de
invicto, quando entra na liça inesperado adversário, o Cavaleiro Negro,
que pretende bater-se por uma dama cujo nome não quer declinar.
Cruzam-se as lanças, o marquês é vencido: o Cavaleiro Negro era
Colombo; a dama de sua invocação, a própria rainha, à qual Colombo
dedica a vitória e pede um navio para a sua sonhada empresa:
50 . 5 1
Em suspensos racimos cocleados
Pendem os pomos da nutriz pacova,
A banana fluente, grato cibo
Do ancião, e da infância desleitada.
52 * 53
ços de dinheiro, podia enviar-lhe regularmente a mesada. Houve
momento em que o Poeta pensou tornar de vez à pátria, e tê-lo-ia
feito, se não acudissem companheiros de estudos, alguns seus
conterrâneos, os quais se cotizaram para garantir-lhe o sustento,
nessa e em outras ocasiões de aperto. Em 45 terminou o curso e
voltou ao Brasil.
Os anos de permanência em Portugal tinham-lhe sido de
grande proveito. Afora o curso universitário, estudou a língua
e literatura da França, Inglaterra, Alemanha, Espanha e Itália;
escreveu grande parte das poesias dos Primeiros [1846] , Segundos
[1848] , Últimos cantos [1851] , só mais tarde publicadas, o romance
autobiográfico Memórias de Agapito Goiaba, que ficou inédito e foi
queimado pelo Poeta, e os dramas Patkull e Beatriz Cenci. Era queri
do e admirado no grupo dos românticos medievistas portugueses
cuja influência sofreu, como atestam várias de suas produções.
Pequena foi a sua demora na província natal. Em 1846 veio para
o Rio de Janeiro e nesse mesmo ano publicou os Primeiros cantos.
Nada definirá melhor o seu conceito da poesia do que as próprias
palavras no prólogo: "Gosto de afastar os olhos de sobre a nossa
arena política para ler em minha alma, reduzindo à linguagem
harmoniosa e cadente o pensamento que me vem de improviso, e
as ideias que em mim desperta a vista de uma paisagem ou do
oceano - o aspecto enfim da natureza. Casar assim o pensamento
com o sentimento, a ideia com a paixão, colorir tudo isto com a
imaginação, fundir tudo isto com o sentimento da religião e da
divindade, eis a Poesia - a Poesia grande e santa - a Poesia como
eu a compreendo sem a poder definir, como eu a sinto sem a poder
traduzir". E é isto o que efetivamente se encontra em toda a líri
ca de Gonçalves Dias: uma funda nostalgia, a mágoa dos amores
POESIAS
DE
A. G O N Ç A L V ES D I A S
Q U IN T A E D I Ç Ã O
E QUJDADOS4MENTE REV1ST4
P E L O S• D • J . M.
P R ECED I DA DA B I O G R A P H I A D O A U T O R
PELO
TOMO 1
RIO DE JANEIRO
B . L . GARNIBR , LIVREIRO-EDITOR D O INSTITUTO DO BRAZIL
a o , R U A DO O U V I D O R , 09
1 870
Ficão reservados todos os direitos de propriedade.
contrariados pelo destino, o consolo que tirava do espetáculo da
natureza, do afeto dos amigos e da crença religiosa. Em tudo aque
le sentimento de insatisfação, onde logo se identifica o famoso mal
du siecle, por ele bem expresso mais tarde nestas quadras da poesia
"Lira quebrada" dos Últimos cantos:
56 * 57
Poderia tê-lo dito sem o quase. Sublime significa alto, elevado: na
"Canção do exílio" o sentimento da nostalgia da pátria está expres
so com uma serenidade que faz pensar na paz e silêncio dos altos
cimos, a mesma que se respira em "Wanderers Nachtlied Ein Glei
ches" de Goethe. Já notou um jovem crítico, Aurélio Buarque de
Holanda, a ausência de qualquer adjetivo qualificativo nessas qua
tro estâncias, cuja força emotiva repousa na deliciosa musicalidade,
em parte resultante do paralelismo, do encadeamento e das rimas
de fonemas iniciais (primores, palmeiras) e na segura escolha das
palavras-temas (os substantivos "terra", "sabiá", "palmeiras", e os
advérbios "cá" e "lá"). Os outros quatro poemas são indianistas, e
em dois deles - "Canto do Piaga" e "O morro do Alecrim" - vibra
a nota indigenista em defesa dos índios contra a usurpação dos
brancos invasores. No "Canto do Piaga":
58 * 59
americanos, compondo o poema "Tabira", incluído nos Segundos
cantos, os sete poemas dos Últimos cantos, entre os quais se destaca
a pequenina epopeia de "1-Juca-Pirama" como a mais importante
realização da musa indianista no Brasil, e finalmente o grande
poema dos Timbiras, conhecido só nos quatro primeiros cantos,
editados em 1857.
Em 1875 escreveu Capistrano de Abreu que o indianismo é "um
dos primeiros pródromos visíveis do movimento que enfim cul
minou na independência: o sentimento de superioridade a Por
tugal. Efetivamente era necessária grave mudança nas condições
da sociedade, para que a inspiração se voltasse para as florestas e
íncolas primitivos, que até então evitara, mudança tanto mais gra
ve quanto o indianismo foi muito geral para surgir de causas pu
ramente individuais". E descobre-lhe a verdadeira significação nos
contos populares cujos heróis são o "marinheiro" (alcunha dada
no Brasil ao português) e o caboclo. Distingue nos contos satíricos
três camadas: na primeira o "marinheiro" surge em luta contra
a natureza brasileira; na segunda aparece o caboclo em luta
contra a civilização; na terceira o herói é ainda o caboclo, mas
"o ridículo como que está esfumado, e através sente-se não só a
fraternidade como o desvanecimento. É a estes últimos contos que
se prende o indianismo, cujo espírito se assemelha ao que levou
Gueux e Sans-culotte a adotarem, vangloriando-se, o nome com que
os tentaram estigmatizar".
Como se vê, para Capistrano de Abreu o indianismo, longe de
ser a planta exótica mal transplantada pelos românticos, tinha
fundas raízes em nossa literatura popular. A idealização do índio
correspondia perfeitamente ao sentimento nacional: ela é anterior
ao romantismo e não desapareceu com ele. Será, se quiserem, um
erro nacional. O que nos parece inadmissível é querer filiar o nosso
indianismo romântico unicamente à mera influência de Chateau
briand e Fenimore Cooper.
Certo, Chateaubriand terá influído no Poeta; a epígrafe das
"Poesias americanas" nos Primeiros cantos é significativa: "Les infor
tunes d'un obscur habitant des bois auraient-elles moins de droits à nos
pleurs que celles des autres hommes?" .1 Mas o indianismo de Gonçalves
Dias vinha de fontes mais imediatas, o Poeta trazia-o no sangue,
alimentava-o das reminiscências de sua infância em Caxias, dos
seus estudos mais tarde concretizados no trabalho O Brasil e a
Oceania [1910] , fortalecera-se do mito nacionalista criado na exal
tação diferenciadora da Independência, quando um baiano ilustre
mudava o seu nome para Gê Acaiaba de Montezuma e o próprio
Pedro I adotava na Loja Maçônica o de Guatemozim.
Não foi Gonçalves Dias o introdutor do índio na poesia brasi
leira; soube todavia, como ninguém antes ou depois dele, insuflar
vida no tema tão caro ao sentimento nacional da época. Ideali
zou-o, é verdade, não por desconhecimento da psicologia própria
do índio, mas em parte por simpatia, em parte obedecendo aos
cânones estéticos do tempo; sem prejuízo da emoção que palpita,
bela e convincente, em poemas como "I-Juca-Pirama", "Marabá",
"Leito de folhas verdes'', "Canto do Piaga'', "Canto do Tamoio" e
na epopeia dos Timbiras.
Esta última obra, que seria, na intenção do autor, uma espécie
de "Ilíada americana'', só ficou conhecida nos quatro primeiros
cantos publicados em 1857. Sabe-se, porém, que o Poeta continuou
a trabalhar nela e a tinha pronta ou quase pronta quando voltava
60 * 61
em 64 da Europa; no naufrágio em que pereceu perderam-se os
manuscritos.
A epopeia comportaria ao todo dezesseis cantos. Abre com uma
introdução onde anuncia o argumento:
Como cantará?
66 * 67
onde toda a vida intelectual se concentrava no ambiente liberal
da academia, a saudade de família, sobretudo da mãe e de uma
irmã ainda criança, que foram os afetos mais profundos de sua
existência, a estranha ausência de qualquer sentimento amoro
so bem definido e a impressão deixada no Poeta pela leitura dos
românticos europeus minados pelo "mal do século" explicam o
caráter da sua obra, onde as notas desabusadas, irônicas, a miúdo
intencionalmente prosaicas, alternam com outras que lhe eram
mais sinceramente pessoais - o seu erotismo entravado pela
timidez, as suas afeições familiares, os pressentimentos melancó
licos derivados de uma saúde precária, a obsessão da morte. Foi
a primeira face que lhe trouxe, a princípio, maior renome, susci
tando discípulos, criando em torno de sua figura uma auréola
duvidosa de herói romântico. Á lvares de Azevedo era em verdade
um rapaz estudioso e morigerado a ponto de em São Paulo deixar
de frequentar certa casa de família - "pois não é das melhores
nem muito louváveis, pelo contrário, é bem nodoada a reputação
dessas senhoras, que contudo vão a todos os bailes, etc. ! ! ". Mas o
que ainda hoje nos encanta em sua obra, o que lhe garantiu um
lugar de destaque entre os primeiros líricos inspirados da nossa
poesia é a frescura das suas confissões de adolescente naqueles
"cantos espontâneos do coração", consolo que foram de uma alma
"que depunha fé na poesia e no amor", amor que tardava e nunca
chegou a se concretizar numa dessas figuras de virgem tão fre
quentemente acariciadas em sonho:
Essa a corda pessoal na Lira dos vinte anos [r853] , título escolhido pelo
Poeta para a sua coleção de líricas, onde, como no Poema dofrade, em
cinco cantos, no Conde Lopo [r886] , deixado incompleto em seis can
tos, no drama Macário [r855] e nas novelas da Noite na taberna [r855] ,
soam outras de empréstimo, que imitam o tom cínico e sarcástico
de Byron e seus epígonos europeus. O terceiro canto do Conde Lopo
abre mesmo com a invocação do nome do autor de Chi/de Harold:
70 * 71
Alma de fogo, coração de lavas,
Misterioso Bretão de ardentes sonhos
Minha musa serás - poeta altivo
Das brumas de Albion, fronte acendida
Em túrbido ferver! - a ti portanto,
Errante trovador d'alma sombria,
Do meu poema os delirantes versos !
72 . 73
Quando eu te fujo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, oh ! bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
"- Meu Deus, que gelo, que frieza aquela!"
Sy111pathia - é ll sentimento
Que na .. cc n ' u 1 1 1 sô momento,
S111 c ero, no cornção i
São dou-. o l h :i res acce:.o�
Rem j u n to.;. unidos. preiios
N ' u 111 a mag1ci'\ attrncção.
s\:ll;p�tlii� :_ ;l;CI; �11Ji;1ho,
N: � d���0 (!�1R��l�'fl�1: �·
São u u ven,; d ' u m céu d'11.goc;to
...
C A S l l\llUO DR A I HOHJ.
Ninguém tampouco exprimiu melhor as saudades da infância do
que o fez o poeta fluminense nas oitavas dos "Meus oito anos".
Formou-se a respeito de Casimiro de Abreu um juízo de todo
injusto, a que infelizmente deu força a opinião de nomes pres
tigiosos como Carlos de Laet, o qual na sua Antologia nacional
escreveu: "Não é escritor correto, mas poeta cujos maviosos
acordes sabem o caminho do coração". O filólogo Souza da
Silveira, em sua excelente edição das obras do Poeta, demonstra
minuciosamente que, ao contrário, Casimiro de Abreu é escri
tor e poeta correto - pelo menos tão correto quanto os outros
românticos tidos por corretos; e justifica um por um os preten
didos deslizes de linguagem e métrica apontados pelos críticos
nas Primaveras.
Na Bahia nasceu e viveu JUNQUEIRA F REIRE [1832-55] , o poeta
das Inspirações do claustro [1855] e das Contradições poéticas [1855] , li
vros onde palpita um sentimento fundo e sincero, nascido não da
imaginação ou de leituras, mas de sofrimentos reais. Junqueira
Freire era de constituição doentia e muito peculiar. Contou ele
próprio numas páginas autobiográficas como em certa ocasião de
desvario se entregou ao vício da cânfora: "O primeiro dos meus
prazeres era fumar um bom charuto depois de ter enchido a boca
de cânfora. Esta resina transparente costuma, como se sabe, dei
xar um suave frescor no órgão do paladar. Eu então sentia um
gozo esquisito no tomar da fumaça, que parecia lutar, de quente
que é, com essa substância ainda na maior parte desconhecida
em seus efeitos. Eu gastava muitas horas em desvanecer-me
poeticamente nesse sainete agradável, que sempre nos produz
o gosto contrastado de fresco e ardente, de uma vez". Igual sen
sação contrastada de fresco e ardente vamos encontrar na poesia
74 . 75
desse espírito atormentado e contraditório que procurou abrigo
no refúgio do claustro. Fez-se frade não por vocação, mas para
fortalecer-se contra aquele "pensamento gentil de paz eterna'',
o pensamento da morte: "Um mosteiro pareceu-me um ermo
verdadeiro. Ali eu podia retrair-me tanto, que ninguém soubesse
de minha existência. Eu acreditava que uma cela ocultava me
lhor que o interior da campa''. O seu desengano foi cruel, desde
os p rimeiros dias de noviço, e assim no-lo descreve nos versos
"À profissão de frei João das Mercês Ramos":
76 . 77
extraordinário e ministro plenipotenciário no Prata, do tratado
da Tríplice Aliança do Brasil, Uruguai e Argentina contra o dita
dor paraguaio Solano López. Escassa foi a produção poética de
Otaviano, mas distinta pela fluência e singeleza do verso, tanto
nos poemas originais como nas belas traduções de Ossian. De um
fato que não despertou atenção de ninguém se diz no Brasil que
"passou em branca nuvem". É metáfora tomada de uma graciosa
sextilha do Poeta - "Ilusões da vida".
78 . 79
E de um trono de fulgores
Fiz dos grandes - servidores,
Fiz dos pequenos - senhores,
-E sempre fui Napoleão.
80 * 81
los presentes eram doze ainda, apesar de se ter retirado Judas
Iscariote .. O duodécimo era Sócrates, que então fala:
.
86 * 87
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ESPU:UAS FLUCTUA.NTES.
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POESIAS
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DE CASTRO ALVES.
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tra a escravidão. Mas este último tema não figurava nas Espumas
flutuantes. As composições em que o tratava deveriam formar o
poema Os escravos [1883] , o qual teria como remate A cachoeira de
Paulo Afonso [1876] , que foi publicada postumamente. E o Poeta
deixou ainda outras poesias avulsas que era sua intenção reunir
em outro livro intitulado Hinos do Equador [1921].
A cachoeira de Paulo Afonso conta a história da escrava Maria,
violentada pelo filho do senhor, o qual escapa à vingança do
escravo Lucas, noivo da moça, graças à revelação, que faz a mãe
deste, de ser ele seu irmão; o desfecho é o suicídio do casal negro,
que se precipita num barco à voragem da cachoeira. Serve de
fundo ao drama a paisagem sertaneja evocada em várias partes
do poema ("A tarde", "A queimada", "Crepúsculo sertanejo",
"O rio São Francisco") com raro vigor de sugestão poética, em
que não faltam as notas de vivo realismo pitoresco. Segundo
Afrânio Peixoto, autor da edição mais completa do Poeta, ao
livro dos Escravos pertenceriam "Vozes d'Á frica" e "O navio ne
greiro", os dois poemas em que o Poeta atingiu a maior altura
do seu estro.
As "Vozes d'Á frica" são uma soberba apóstrofe do continente
escravizado a implorar justiça de Deus:
8 8 * 89
O que indignava o Poeta era ver que o Novo Mundo, "talhado para
as grandezas, p'ra crescer, criar, subir", a América que conquistara
a liberdade com formidável heroísmo, se manchava no mesmo
crime da Europa:
90 * 91
dindo-se em violentas antíteses, em retumbantes onomatopeias.
A este último aspecto, há que levar em conta a intenção pragmática
dos seus cantos, feitos para ser declamados na praça pública, em
teatros ou grandes salas, verdadeiros discursos de poeta-tribuno.
E há que reconhecer nele, mau grado os excessos e o mau gos
to, a maior força verbal e a inspiração mais generosa de toda a
poesia brasileira.
Castro Alves foi a última grande voz da poesia romântica. So
brevivem-lhe Machado de Assis e Luiz Delfino, nascidos antes dele
e influenciados posteriormente pelos parnasianos o primeiro, por
parnasianos e simbolistas o segundo.
A posição cronológica de Joaquim Maria MACHADO DE ASSIS
[1839-1908] , contemporâneo ainda da segunda geração românti
ca, ao influxo da qual se formou, mas desenvolvendo-se segun
do uma linha muito pessoal através das gerações seguintes, torna-o
uma personalidade singular em nossas letras. O pai era um mestiço
de negro, pintor de paredes; a mãe, ilhoa portuguesa. Cedo ficou
órfào e teve de lutar pela vida. Foi um autodidata. De natureza
tímida e reservada, mas dotado de tenacidade excepcional, subiu
de simples aprendiz de tipógrafo a jornalista e alto funcionário de
secretaria. Sua vida não teve maiores incidentes que os ataques alar
mantes da terrível doença a que era sujeito, a epilepsia. Casado com
uma senhora portuguesa, irmã do poeta Faustino Xavier de Novais,
a Carolina, cuja morte chorou num dos mais puros sonetos de
nossa língua, viveu a partir de 83 no seu retiro das Águas Férreas.
A sua obra pode ser dividida em duas fases - antes e depois de
79. A primeira é toda de inspiração romântica, e na parte poética
compreende os livros Crisálidas [1864] , Falenas [1870] e Americanas
[1875] . Os versos de Crisálidas e Falenas não têm a ingenuidade nem
o calor dos românticos já estudados. Neles não nos fala o Poeta do
que constitui o seu drama íntimo, a condição humilde e a ambição
de fugir a ela, drama que estudará nos romances Helena [1876] , A
mão e a luva [1874] e Iaiá Garcia [1878], disfarçando o seu caso pes
soal pela transferência a personagens femininas. Na poesia encon
tramos apenas as confidências de seus primeiros amores, algumas
notas de liberalismo político, os germes do pessimismo que só
adquirirão verdadeira força na produção da segunda fase. Citemos
das Crisálidas, que são de 63, o "Epitáfio do México", como mais
um testemunho, entre outros muitos que houve, da repercussão e
simpatia suscitadas no Brasil pelas vicissitudes da independência
mexicana:
92 * 93
e/'� h; � · i_,� �
v. e//{/ . � �w
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va � r. �
PHALENAS
A mágoa, a dor, o ódio,
Na face envilecida
Cuspiu-lhe. E a eterna mácula
Seus louros murchará.
94 * 95
o mistério de uma visão de pompa e felicidade que lhe pareceu ver
entre as asas do inseto. Examinou-a miudamente, "como um ho
mem que quisesse dissecar a sua ilusão":
100 * 101
T ::H: . D IAS
Editor
DO LI VAES NUNES
18, I.:iu a d o I rn p erador, 18
S. P.rl UL O
1882
infiel à sinalefa (nunca disseram "a água'', "o ar", contando o artigo
como sílaba métrica a exemplo de Camões, que desse hiato tirou
muitas vezes grandes efeitos) e praticando quase sistematicamente
a sinérese, ganhou em firmeza, perdendo em fluidez. Foi esse pro
cesso que deu à poesia parnasiana aquele caráter escultural. Nesse
ponto pode-se dizer que Raimundo Correia e Vicente de Carvalho
foram mais artistas do que Alberto de Oliveira e Bilac. A métrica da
queles, com ser igualmente precisa, é muito mais rica e sutil, muito
mais musical do que a destes. Usaram ambos do hiato interior com
fino gosto. Não se deve, porém, fazer carga aos mestres parnasianos
de certos defeitos que apareceram mais tarde nos discípulos e acar
retaram o descrédito da escola, em especial a rima rara. Os nossos
subparnasianos quiseram imitar a riqueza de rimas dos mestres
franceses. Mas não havendo entre nós a tradição da rima com
consoante de apoio (Goulart de Andrade tentou introduzi-la já no
crepúsculo do parnasianismo), lançaram mão da rima rara. A rima
rica francesa não implica o sacrifício da simplicidade vocabular:
ela se pode obter com as palavras de uso comum. A rima rara por
tuguesa é quase sempre um desastre: não há uma poesia sequer de
Emílio de Meneses que não esteja irremediavelmente prejudicada
por esse rico ornato de péssimo gosto.
Da primeira geração parnasiana cumpre destacar os quatro
grandes nomes de Alberto de Oliveira, Raimundo Correia, Olavo
Bilac e Vicente de Carvalho.
Antônio Mariano ALBERTO DE OLIVEIRA [1857-1937], fluminense,
formou-se em Farmácia e cursou Medicina até o terceiro ano. Exerceu
vários cargos públicos, sobretudo de professor de Português, Litera
tura e História. A sua obra poética compreende: Canções românticas
[1878] , Meridionais [1884] , Sonetos e poemas [1885], Versos e rimas [1895] ;
102 . 1 03
Poesias, primeira série [1900] , que abrange os livros citados, expur
gado o primeiro de muitos poemas, e mais Por amor de uma lágrima;
Poesias, segunda série [1905] , compostas de Livro de Ema, Alma livre,
Terra natal, Alma em flor, Flores da serra e Versos de saudade; Poesias, ter
ceira série [1913] , que encerram Sol de verão, Céu noturno, Alma das coisas,
Sala de baile, Rimas várias, No seio do cosmos e Natália; Poesias, quarta
série [1927] , que contêm Ode cívica, Alma e céu, Cheiro deflor, Ruínas
que falam, Câmara ardente e Ramo de árvore. Depois de sua morte foi
editado pela Academia Brasileira o volume Póstuma [1944] .
Alberto de Oliveira foi dos mestres parnasianos o que mais se
deixou prender aos rigores da escola, o que mais se distingue pelo
conceito escultural da forma, muitas vezes prejudicado pelo abuso
da inversão e do enjambement. É que o parnasianismo do Poeta se
complicou do amaneiramento dos gongóricos e árcades portu
gueses dos séculos xvn e xvm, em que era muito versado. Leia-se,
como exemplo, o soneto "Taça de coral", aliás admirável:
Com o passar dos anos, e talvez por efeito das críticas dos seus me
lhores admiradores e amigos, como José Veríssimo, se foi o Poeta
despojando desses artifícios até atingir à beleza simples de Alma
emflor, onde o brilho descritivo se une à emoção do amor estudado
num coração de adolescente.
A natureza brasileira foi a fonte mais frequente de sua ins
piração. As suas descrições são sempre brilhantes, e às vezes
numa linha, num som, num perfume sabe evocar a totalidade
do ambiente:
1 04 * 1 05
AL.88RTO DE. OLIVEIRA
J1dl'iXXJI
natal, os seus acidentes, a sua natureza, mas a alma mesma das
coisas escapa-lhe ainda e o seu sentimento da natureza brasilei
ra, manifestamente intencional, se não intensificou e generalizou
perfeitamente até o panteísmo".
De fato parecem errados os que falaram no panteísmo de Al
berto de Oliveira. Não era Deus que ele sentia na natureza, mas a
ressonância de seus desejos de homem:
1 0 6 * 1 07
RAI M U N D O da Mota Azevedo CO RREIA [1859-19n] nasceu a bor
do de um navio em águas do Maranhão. Formou-se em D irei
to pela Faculdade de São Paulo, onde com Augusto de Lima e
outros dirigiu a Revista de Ciências e Letras, que se destacou pela
sua ação contra a degeneração romântica. Magistrado, interrom
peu a carreira para servir como secretário de legação em Lisboa.
Abandonando a diplomacia, exerceu o magistério e finalmente
tornou à magistratura. Faleceu na Europa, aonde fora em busca
de melhoras para a saúde. Exclusivamente poeta, a sua produção
foi parca e compreende os livros Primeiros sonhos [1879] , Sinfonias
[1883] , Versos e versões [1887] e Aleluias [1891] . Em 98 publicou em
Lisboa Poesias, seleção dos livros anteriores, com o repúdio do
primeiro e alguns poemas novos.
Dos Primeiros sonhos disse Machado de Assis, prefaciando as
Sinfonias, que havia neles "o cheiro romântico da decadência, e
um certo aspecto flácido". As Sinfonias são ainda um livro impuro:
a impureza reside nos vestígios daquela flacidez de que nos fala
Machado de Assis e na sua parte militante, republicana e revo
lucionária. Sim, porque esse poeta que com o tempo se alhearia
de todo da luta social numa atitude de introvertido, analista das
misérias do coração, falava em moço no "estrondo da Comuna",
na aclamação "do Império Universal", atacava o Rei e a Igreja. Das
oitenta poesias que formam o volume, dezesseis são traduções de
Victor Hugo, Théophile Gautier, François Coppée, Zorilla e outros
menores. Os dois sonetos "As pombas" e "Mal secreto", que lhe de
ram imediata fama, só lhe pertencem na forma, com que de certo
modo recriou em beleza imperecível os originais. A ideia do pri
meiro tomou-a de umas linhas de Gautier em Mademoiselle Maupin:
"Mon âme est comme un colombier tout plein de colombes. À toute heure
du jour il s'envole quelque désir. Les colombes reviennent au colombier,
mais les désirs ne reviennent point au cceur''.' O segundo desenvolve a
estrofe de Metastásio:
Mas já havia no livro os toques magistrais com que ele soube tra
duzir melhor que ninguém no Brasil a suave melancolia da paisa
gem a certas horas:
108 * 109
O tom reflexivo, concentrado e grave, que o vai distinguir entre
os seus companheiros de Parnaso, derivava do seu feitio de nas
cença, melancólico e tímido. Machado de Assis, que o conheceu
em 82, pinta-o assim: "Figura pensativa, que sorri às vezes, ou faz
crer que sorri, e não sei se ri nunca". A saúde precária tornou-o
num quase valetudinário, de pessimista experiência, todo volta
do para dentro de si, para aquele "pélago invisível" da alma, a
cuja borda se debruçava aflito, e onde a única doce voz era a da
saudade - "sereia misteriosa, que em suas praias infinitas canta".
As acusações de plágio que lhe fizeram a propósito dos sonetos
apontados atrás foram talvez o principal motivo do seu afasta
mento das rodas literárias: fechou-se em si mesmo, numa misan
tropia que o levava a ver nas palavras da turba que rodeia o ]ó a
mentira de uma falsa piedade. São as estâncias mais amargas e
comovidas que compôs, essas em que depois de descrever com
um realismo digno do Baudelaire de "La Charogne" , a podridão
do leproso, exclama:
]ó agoniza!
Embora: isso não é o que horroriza mais.
- O que mais horroriza
São a falsa piedade, os fementidos ais;
1 1 0 <· I l i
te às letras, colaborando assiduamente na imprensa. Consagrou os
últimos anos de vida à propaganda do serviço militar obrigatório,
realizando uma série de conferências em várias capitais do país.
Ao contrário dos seus gloriosos companheiros, que tatearam com
indecisões a cidadela da Forma, Bilac, ao estrear com o seu volume
de Poesias [1888] , aos 23 anos, se apresentava no maior rigor da nova
escola, e no entanto com uma fluência na linguagem e na métrica,
uma sensualidade à flor da pele que o tornavam muito mais aces
sível ao grande público. O livro dividia-se em três partes Panóplias,
-
Mas acrescentava
3 Tradução: "a obra sai mais bela/ De uma forma ao trabalho/ Rebelde,/
Versos, mármore, ônix, esmalte."; "Luta com o carrara,/ Com o paros duro/
E raro,/ Guardiães do contorno puro". [N.E.]
A Bilac, mais que o trabalho do estatuário o seduzia o do ourives:
1 1 2 . 1 13
O Principe dos Poetas
As sensibilidades mais vulgares encontravam melhor satisfação
na maioria dos poemas da terceira parte, eloquentemente sensuais,
em especial no "triunfo imortal da Carne e da Beleza", do "Julga
mento de Frineia" ou no delírio erótico do "Beijo eterno". Mas
ainda em meio dessas sarças de fogo aparecia uma ou outra flor de
mais fina poesia, como o soneto "Nel mezzo del camin ... ", digno
de figurar entre os mais perfeitos da nossa língua.
O sucesso do livro foi imediato. Mas só em 1902 dá o Poeta
uma segunda edição da obra, aumentada de novas partes: Alma
inquieta, As viagens e O caçador de esmeraldas. Não se ultrapassou
nelas. O esforço mais considerável estava no último poema, epi
sódio da epopeia sertanista do século xvn, que tem como herói a
figura de Fernão Dias Pais Leme. Distribui-se em quatro cantos,
num total de 46 sextilhas em alexandrinos. Descreve Bilac o sertão
pátrio "no virginal pudor das primitivas eras", a chegada dos con
quistadores portugueses, o heroico afã dos bandeirantes lançados
ao descobrimento do ouro, o sonho das gemas verdes que consu
miu em sete anos de marcha pelas selvas a vida de Fernão Dias.
Sabe-se que o paulista morreu nas margens do Guaicuí: trazia
consigo um saco de pedras que julgava esmeraldas e não passavam
de turmalinas. O trecho mais inspirado do poema é o do delírio do
sertanista: a febre fá-lo ver a tudo em torno da cor da esmeralda:
1 14 * 1 15
Mas uma voz lhe fala no delírio, consolando-o do desastre com a
evocação das futuras cidades que nasceriam no rastro das picadas
abertas pela sua bandeira:
1 1 6 * 1 17
VICENTE DE CARVALHO
- E se acaso voltar? Que hei de dizer-lhe, quando
Me perguntar por ti?
- Dize-lhe que me viste, uma tarde, chorando ...
Nesta tarde parti.
118 . 119
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certa vez, ferindo-se na mão esquerda, contraiu uma infecção
que quase o matou e só pôde ser debelada graças à amputação do
b raço à altura do ombro. Nem por isso renunciou ao seu des
porte favo rito e para o praticar nas férias dos seus trabalhos ad
quiriu um trecho de litoral na enseada da Bertioga. "Palavras ao
mar", "Cantigas praianas", "No mar largo'', "A ternura do mar",
"Sugestões do crepúsculo" são as confidências desse amor de toda
a sua vida, dessa atração que sobre ele exercia o mar: como que
se revia nas alternativas de mansidão e cólera desse
120 * 121
1980] , RAUL DE LEONI [1895-1926] , AMÉRICO FACÓ [1885-1953] , etc., os
quais, se são diversos já, no espírito, da geração anterior, guardam
o mesmo amor da linguagem eloquente, da forma nítida. Todos já
falecidos, com exceção de Gilka Machado, nascida em 1893, forte
temperamento afirmado numa série de livros Cristais partidos [1915],
-
Estados de alma [1917], Mulher nua [1922], Meu glorioso pecado, Carne e
alma [s.d.], Sublimação [1938] . Dos mortos o que apresenta maiores
probabilidades de sobreviver, a julgar pelas reedições de sua obra,
é RAUL DE LEONI, fluminense, bacharel em Direito, autor de um
único livro, a Luz mediterrânea [1922], título que lhe define bem o es
pírito amigo das "ideologias claras". A emoção filosófica situa-o em
posição quase solitária na poesia brasileira. Mas o curioso, como
assinalou Rodrigo M. F. de Andrade, é que esse poeta, cuja suges
tão poética derivava das ideias tomadas como entidades absolutas,
como seres dotados de vida própria e autônoma, glorificasse o ins
tinto como o verdadeiro meio de encontrar a felicidade:
122 * 123
Quanta e quamanha dor me surge e nasce
De nunca ouvir aquele antigo estilo,
Mas eu fiz que ele aqui se renovasse [ ... ]
1 24 * 125
S I M B O L I STA S
126 * 127
seus diversos tons - branco puro, lunar, de neve, de nuvens, de
marfim, de espuma, de pérola. A "Antífona", o primeiro poema
dos Broquéis, começa com os versos:
Ü lt f m o s
S o rie t o s
1 90 5
sentia nitidamente que a arte era um meio de abolir a fronteira
que a sociedade colocava entre os filhos de escravos africanos e os
filhos dos brancos livres; é por isso que foi logo ao tipo que lhe
pareceu "o mais ariano de todos".
Quis, pelo menos, provar à "ditadora ciência de hipóteses" a
capacidade do negro para "o Entendimento artístico da palavra
escrita", para o Sonho branco, e daí uma série de admiráveis sone
tos cujos fechos de ouro o mostram na "imortal atitude":
13 0 * 13 1
Quem florestas e mares foi rasgando
E entre raios, pedradas e metralhas,
Ficou gemendo, mas ficou sonhando !
132 * 133
dos seus poemas, todos impregnados de unção cristã. Entre os
autógrafos encontrados no arquivo do Poeta havia o início de
um poema inacabado que nos faz entrar na intimidade de sua
resignada melancolia:
uma carícia,
Mas cheia de tristeza: uma dolência
Que sempre aspire à celestial delícia...
1 38 * 1 39
Esse adjetivo "celestial" aparece mais frequentemente. E há "céu"
em quase todos os sonetos. Na véspera de expirar escreveu os seus
últimos versos, em louvor de Santa Teresa: versos muito serenos,
num ritmo esvoaçante, em que a alma parece já se balançar meio
desprendida da matéria.
A primeira geração simbolista desapareceu quase sem deixar livros;
os que se publicaram estão esquecidos, salvando-se apenas alguns
nomes SILVEIRA NETO [1872-1945], EMILIANO PERNETTA [1866-1924],
-
Fechadas e desertas,
Sem a doce visão dos Astros e das Velas,
Fechadas vejo agora estas largas janelas
Que andavam sempre, então, de par em par,
Abertas
Às vezes para o Céu, às vezes para o Mar.
1 44 ' 145
dos animais - do corrupião, preso em sua gaiola como a alma do
homem na podridão da carne, do cão "latindo a esquisitíssima
prosódia da angústia hereditária dos seus pais ! '', do carneiro aba
tido para satisfazer a fome necrófila dos homens (a fome, "o baru
lho de mandíbulas e abdômenes" enchia-o de desprezo por tudo
isso, dava-lhe "uma vontade absurda de ser Cristo, para sacrificar
se pelos homens ! "); o amor das árvores da serra, do tamarindo do
engenho, a que se refere em vários poemas; o amor até das coisas
materiais, detidas "no rudimentarismo do desejo", gemendo "no
soluço da fo rma ainda imprecisa . . . da transcendência que se
não realiza... da luz que não chegou a ser lampejo ... "; e acima de
tudo o amor das "claridades absolutas", da Verdade, da Soberana
Ideia imanente, da Arte, única cidadela contra a Morte, contra "as
forças más da Natureza".
Acreditava em Deus? Acreditava e rezava as preces católicas.
Mas na sua poesia a concepção do universo não é ortodoxa, tem
algo de maniqueísta, opondo ao mundo do espírito, ao mundo de
Deus, o mundo da matéria, evoluído segundo a teoria darwinista,
o mundo da "força cósmica furiosa". A consciência poética desse
duelo terrível é que alimentava a angústia metafísica de Augusto
dos Anjos e o fazia delirar em "cismas patológicas insanas". A sua
aspiração suprema seria dominar todos os contrastes, resolvê-los
na unidade do Grande Todo, que sonhou culminar com a onipo
tência da divindade.
Tudo isso está dito numa forma duríssima, onde as sinéreses
parecem acumuladas propositadamente para pintar o esforço
das palavras esbarrando no "mo lambo da língua paralítica". É uma
expressão por estampidos. De ordinário só há calma nos primeiros
versos do poema. Assim em "As cismas do Destino":
Recife. Ponte Buarque de Macedo.
Eu, indo em direção à casa do Agra,
Assombrado com a minha sombra magra,
Pensava no Destino, e tinha medo !
Augusto dos Anjos morreu aos trinta anos. Não creio, porém, que,
se vivesse mais, atenuasse as arestas de sua expressão formal. Esta
lhe era congênita e persistiria sem dúvida, como persistiu na ma
turidade de Euclides da Cunha, em cuja prosa deparamos com o
mesmo ímpeto explosivo e indomável.
M O D E R N I STA S
150 * 151
Come ! Come-te a ti mesmo, oh ! gelatina pasma!
Oh ! purée de batatas morais !
Oh! cabelos nas ventas ! oh ! carecas !
Ó dio aos temperamentos regulares
Ó dio aos relógios musculares ! Morte e infâmia!
Ó dio à soma! Ó dio aos secos e molhados !
Ó dio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
Sempiternamente as mesmices convencionais !
De mãos nas costas ! Marco eu o compasso ! Eia!
Dois a dois ! Primeira posição ! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante
152 ., 153
Enchera-se à cunha o Theatro Municipal, os poetas foram rui
dosamente vaiados, mas a sua ação continuou, depois da Semana,
nas páginas da revista Klaxon [1922-23] e outras que se foram suce
dendo. Culminou a ousadia, degenerando em tumulto, quando,
no próprio seio da Academia Brasileira e com grande escândalo
de seus confrades acadêmicos, Graça Aranha proferiu em 1924 um
discurso inflamado, proclamando que a fundação da Academia
fora um equívoco e um erro. Mas já que existia, acrescentava, "que
viva e se transforme", admitisse nela "as coisas desta terra informe,
paradoxal, violenta, todas as forças ocultas do nosso caos. São elas
que não permitem à língua estratificar-se e que nos afastam do falar
português e dão à linguagem brasileira este maravilhoso encanto da
aluvião, do esplendor solar, que a tornam a única expressão verdadei
ramente viva e feliz da nossa espiritualidade coletiva. Em vez de
tendermos para a unidade literária com Portugal, alarguemos a
nossa separação. Não é para perpetuar a vassalagem a Herculano,
a Garrett e a Camilo, como foi proclamado no nascer a Academia,
que nos reunimos. Não somos a câmara mortuária de Portugal ! ".
A repercussão extraordinária alcançada por esse discurso e o
desconhecimento das verdadeiras origens do modernismo leva
ram a um erro de fato, que ainda hoje persiste, de apresentar os
iniciadores do movimento como discípulos do autor da Estética da
vida. A verdade é que não houve influência de Graça Aranha sobre
os moços, mas, ao contrário, estes é que influenciaram o confrade
mais velho, como está patente no romance A viagem maravilhosa
[1929] , em que o escritor abandona muitas vezes o seu processo de
frase ampla e numerosa para adotar as formas breves e elípticas tão
do gosto dos inovadores. Graça Aranha não teve discípulos. Não foi
um mestre, no sentido estrito da palavra, senão um companheiro
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mais velho, cuja adesão deu ao movimento o prestígio de sua gló
ria pessoal e o calor do seu generoso entusiasmo.
Difícil é dizer qual das correntes europeias mais influiu nos
modernistas brasileiros. É certo, porém, que o futurismo terá sido
a que menos pesou. Os modernistas introduziram em nossa poesia
o verso livre, procuraram exprimir-se numa linguagem despojada
da eloquência parnasiana e do vago simbolista, menos adstrita ao
vocabulário e à sintaxe clássica portuguesa. O usaram alargar o
campo poético, estendendo-o aos aspectos mais prosaicos da vida,
como já o tinha feito ao tempo do romantismo Álvares de Azevedo.
Movimento a princípio mais destrutivo e bem caracterizado pe
las novidades de forma, assumiu mais tarde cor acentuadamente
nacional, buscando interpretar artisticamente o presente e o pas
sado brasileiro, sem esquecer o elemento negro entrado em nossa
formação. Foram seus pioneiros e principais porta-vozes Mário de
Andrade e Oswald de Andrade, em São Paulo, Ronald de Carvalho
e Ribeiro Couto, no Rio de Janeiro.
MÁRIO D E Morais ANDRA D E , nascido em São Paulo em 1893 e ali
falecido em 1945, não se destinava à literatura: destinava-se à mú
sica e nessa intenção cursou o Conservatório Dramático e Musical
daquela cidade, passando depois a lecionar piano, história da mú
sica e estética musical. Mas em 1917 a comoção da guerra, o horror
de ver os homens separados por ódios terríveis inspirou-lhe uma
série de poemas de fundo pacifista publicados sob o título Há uma
gota de sangue em cada poema. Já havia nesse livrinho, de música e
sensibilidade simbolistas, uma evidente procura de formas novas e
novos elementos de expressão. Não porém tão pronunciada como
em Pauliceia desvairada [1922] , onde o sofrimento de vinte meses de
dúvidas e cóleras o fez rebentar em excessos de liberdade estrepitosa.
Não tinha o propósito de mandá-lo imprimir, e isso porque não
lhe parecia um livro no sentido social da palavra. Mas a celeuma
provocada pela publicação de alguns desses poemas no artigo já
citado de Oswald de Andrade, a saraivada de remoques com que fo
ram recebidos nas rodas literárias e pelo público em geral, levaram
o Poeta a considerar na importância que o livro teria, se publicado,
como fermento de renovação e ainda como pedra de escândalo,
que iria tornar imediatamente mais aceitáveis os versos de outros
poetas igualmente empenhados na prática de novos processos de
expressão. Embora desabafo pessoal, uma diretriz bem marcada
se afirmava no livro - o interesse brasileiro, ainda que circunscri
to àquele orgulho "de ser paulistamente". Começa então, com a
publicação de Pauliceia desvairada, a sua obra toda em função do
momento atual brasileiro. "Só sendo brasileiro, isto é, adquirindo
uma personalidade racial e patriótica (sentido físico) brasileira",
escrevia-me, "é que nos universalizaremos, pois que assim concor
reremos com um contingente novo, novo assemblage de caracteres
psíquicos para o enriquecimento do universal humano." Não lhe
satisfazia a solução regionalista, criando uma espécie de exotismo
dentro do Brasil e excluindo ao mesmo tempo a parte progressista
com que o Brasil concorre para a civilização do mundo. Uma hábil
mistura das duas realidades parecia-lhe a solução capaz de concre
tizar uma realidade brasileira em marcha. Brasilizar o brasileiro
num sentido total, patrializar a pátria ainda tão despatriada, quer
dizer, influir para a unificação psicológica do Brasil - tal lhe pare
ceu que devia ser sempre a finalidade de sua obra, mais exemplo
do que criação.
De fato Mário de Andrade viveu e produziu sempre em função
desse destino que se impôs como um apostolado, onde quer que
156 * 157
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tenha exercido a sua atividade intelectual - na poesia, na prosa
de ficção, na crítica literária, musical e plástica, no domínio do
folclore. Em nenhum desses setores fez ele maiores sacrifícios à
verdade e beleza de suas criações do que na questão da língua, e
aí se tornou mais irritante e contundente, muito mais inacessível,
em suas nobres intenções, aos julgamentos superficiais. E no en
tanto o problema do abrasileiramento da linguagem literária não
passa em sua obra de um detalhe mais visível, é certo, mas sempre
detalhe, do problema mais vasto e mais complexo de aprofundar
harmoniosamente o tipo brasileiro.
Numa linguagem brasileira artificial, porque é uma síntese e
sistematização literária pessoal de modismos dos quatro cantos
do Brasil, passou Mário de Andrade a escrever os seus livros, na
poesia desde O losango cáqui, publicado em 1924. São impressões de
um mês de exercícios militares. São, na veste arlequinal, o losango
da cor do uniforme. Não se trata de verdadeiros poemas, senão de
anotações líricas desses dias em que o Poeta, "defensor interino do
Brasil", se inebriou "de manhã e de imprevistos". O livro tem por
isso mesmo uma frescura de sensações e de imagens sem igual na
obra restante do autor.
Em 27 e 30 aparecem Clã do jabuti e Remate de males. Já no pri
meiro se apresenta o Poeta em sua feição mais ou menos definitiva,
com alguns dos seus poemas mais trabalhados e mais caracterís
ticos: "O poeta come amendoim", "Carnaval carioca", "Noturno
de Belo Horizonte" e outros inspirados nas tradições e no folclore
brasileiro - "Toada do Pai do mato", "Lenda do céu", "Coco do
major", "Moda da cadeia de Porto-Alegre", "Moda da cama de
Gonçalo Pires", etc. No primeiro poema expõe e fundamenta o
seu modo de entender e amar o Brasil:
158 * 159
Brasil amado não porque seja minha pátria,
Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der ...
Brasil que eu amo porque é o ritmo do meu braço aventuroso,
O gosto dos meus descansos,
O balanço das minhas cantigas amores e danças.
Brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada,
Porque é o meu sentimento pachorrento,
Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir.
É a escureza suave
Que vem de você,
Que se dissolve em mim.
Eu imaginava
Duros vossos lábios,
Mas você me ensina
A volta ao bem.
160 * 1 6 1
tema mais geral, desenvolvendo-se com uma majestade de adágio,
"grave e natural feito o rolar das águas".*
OSWALD D E ANDRA D E , nascido em São Paulo [1890-1954], deu
OS SELVAGENS
CHOROGRAFIA
VÍCIO NA FALA
Compreensão que depois se alarga aos temas mais vastos das terras
americanas que sonhava solidarizadas na mesma
R I O � E cJ A t1E I R O
MXM X X V I
Nesse momento esquecia-se Ronald de Carvalho de que essa alegria,
essa liberdade, essa substância "lírica e numerosa" já estava expressa e
como que esgotada na voz verdadeiramente continental de Walt Whit
man. Eis por que as imagens fulgurantes e os ritmos amplos dos seus
poemas americanos ressoam aos nossos ouvidos como ecos, talvez
mais concertados, porém menos ingênuos, menos "inocentes" do que
os acentos mais potentes, os acentos geniais de Leaves of Grass. Nem
podia ser de outro modo, já que por fatalidade de temperamento, pela
severa educação e pela sua própria concepção da arte era Ronald de
Carvalho aquele "dançarino acorrentado" da imagem de Nietzsche.
DANTE MILANO [1899-1991 ], carioca, estreou tarde em livro (Poemas,
dos con/ldeacias.
E agora, saudades !
Campos e montanhas,
Praias e cidades
De aqui e de além ...
E a recordação
De não sei que amores,
De não sei que vida
Em não sei que chão ...
1 72 * 173
[1890-1969] , paulista, já era ao tem
G U I L H E RM E D E A LM E I D A
po de se iniciar o movimento modernista um nome consagrado
por cinco livros de poemas Nós [1917] , A dança das horas [1919] ,
-
Messidor [ 1919] , Livro de horas de Sóror Dolorosa e Era uma vez [ 1921] .
Todos cinco pertencentes ao clima parnasiano-simbolista, todos
cinco revelando um habilíssimo artista do verso, que, com mais
fundamento ainda do que Bilac, poderia dizer que imita o ourives
quando escreve. Foi na ação renovadora um elemento moderado,
jamais se entregando à facilidade do verso livre sem peias, jamais
renunciando à nobreza dos temas e da linguagem, aos requintes
da técnica, chegando nos seus livros da fase modernista - A frauta
que eu perdi [1924] , Meu [1925] e Raça [1925] - a uma espécie de
compromisso entre os dois processos de versificação, o regular
e o livre. A esse aspecto, Raça, onde canta o Brasil discrimina
do nos três elementos caldeados em sua formação, o branco, o
índio e o negro, atesta a extraordinária virtuosidade do Poeta.
A célula rítmica do poema é o pentassílabo: "Gentias tatuadas
- coroadas de penas - curvadas como arcos". Esse o primeiro
verso em que surge e se estabelece com valor de cadência; depois
aparecem outros metros, mas o ritmo persiste o mesmo, porque
o pentassílabo, que a intervalos intervém, rege toda a estrutura
do poema; e no fim o ritmo se esquematiza em estrofes com um
primeiro verso longo e ondulante, seguido de três versos curtos,
enumerativos:
1 74 ·> 175
de d. João [1925] , Amores de Dulcineia e jesus (1928, tragédia sacra). To
mou parte ativa na Semana de Arte Moderna, publicando em 1925 o
livro Chuva de pedra. À época verde-amarela pertencem os versos de
República dos Estados Unidos do Brasil. Mas nenhum dos seus livros
modernistas superou o êxito de ]uca Mulato, onde o Poeta se apre
senta em sua feição mais genuína.
CASSIANO RICARD O [1895-1974] , natural de São José dos Cam
178 ·• 179
11 r u ·
C lll ft
rau l li
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de pastiches de escritores suíços. Voltando ao Brasil em 1920,
tomou parte na Semana de Arte Moderna, deu em 1923 mais um
volume de versos franceses, <Eil de boeuf, em 1927 Poemas análogos,
em 1937, Poemas. Em 1943 editou Oh valsa latejante, abrangendo
poemas que vão de 1922 a 1943· Em 1946 editou num só volume
-Poesias toda a sua obra poética em língua portuguesa. Sérgio
-
Mas nunca existiu verdadeiro poeta que não violasse a sua arte
poética. Mais tarde Milliet dirá:
180 * 181
É um homem
Tem coração, tem olhos, tem ouvidos
tem todos os sentidos
Ele olha o mundo
Ele ouve o mundo
Ele sente as pulsações do mundo
Ele pensa longamente
volve o olhar para dentro da alma inquieta e pesquisa. ..
E concita:
dos poemas [1923] , Criança, meu amor. . . e Balada para El-Rei [1925] . Mas
data do volume Viagem, seguido de Vaga música, a plenitude de
sua força poética, e um crítico português, João Gaspar Simões,
classificou-a "talvez a maior poetisa de língua portuguesa". O que
logo chama a atenção nos poemas de Cecília Meireles é a extraor
dinária arte com que estão realizados. Nos seus versos se verifica
mais uma vez que nunca o esmero da técnica, entendida como
informadora e não simples decoradora da substância, prejudicou
a mensagem de um poeta. Sente-se que Cecília Meireles estava
sempre empenhada em atingir a perfeição, valendo-se para isso de
todos os recursos tradicionais ou novos. Há em Viagem [1939] , em
Vaga música [1942] , em Mar absoluto [1945] , em Retrato natural [1949] ,
em 12 noturnos da Holanda [1952] , em Romanceiro da Inconfidência
[1953] , em Canções [1956], em Poemas escritos na Índia [1961] , em Metal
Rosicler [1960] e em Solombra [1963] , seu último livro, as claridades
clássicas, as melhores sutilezas do gongorismo, a nitidez dos me
tros e dos consoantes parnasianos, os esfumados de sintaxe e as
toantes dos simbolistas, as aproximações inesperadas dos super
realistas. Tudo bem assimilado e fundido numa técnica pessoal,
segura de si e do que quer dizer. A sua poesia guarda um tom de
reserva mesmo nos momentos de extrema amargura:
188 * 1 89
!«<L-1C..W, -..-..: C/I
-<..-lt
- '-( M /-v-,_ l-. 4..Lc..c.. ')
Á--ry' � /""<.-,
C<-v.._, ·d-v>.
1 90 * 1 9 1
místico", disse de si próprio. Ao que Drummond de Andrade acres
centou: "Sua mística não é a de Deus, mas a do mistério".
Mineira é também HENRI QUETA LISBOA [1904-85] , de cuja poesia
se pode dizer o que ela diz do morto no poema "O mistério": é pode
rosa de indiferença e equilfbrio, completa em si mesma, torre de seduções e
amarras. E é na morte que encontra o seu maior tema, a morte "cruel
mas limpa", depois da qual "tudo volta a ser como antes da carne
e sua desordem".
No Rio Grande do Sul, AUGUSTO MEYER, RUI CIRN E LIMA, VAR
GAS NETO, P E D RO V E RGARA e TE O D O M I RO TOSTES formaram o
ração verde [1926] , Giraluz, Duas orações [1928] e Poemas de Bilu [1929] .
Desde então silenciou, como se no último livro tivesse chegado
a um beco sem saída ou houvesse exaurido a sua mensagem de
poeta. Mas em 1957 a Livraria S. José Editora publicou Poesias [1958] ,
onde aos livros já mencionados se acrescentaram Literatura &poesia,
Folhas arrancadas e Últimos poemas. Só um elemento mantém nos
volumes de versos publicados por Augusto Meyer a unidade da
sua obra: a profunda conexão com a terra, cuja paisagem, alma e
vocabulário palpitam em cada poema desse rio-grandense-do-sul
para quem o minuano que passa gelando as coxilhas é "um batismo
de orgulho". O que diferencia violentamente os Poemas de Bilu de
Coração verde e Giraluz, é que nestes livros a expressão é calma e
ingênua, ao passo que naquele, Augusto Meyer vira Bilu, "o filóis
(filósofo) Bilu, malabarista metafísico, grão-tapeador parabólico",
reduzindo tudo a si mesmo, dissolvendo os pensamentos e as emo
ções em "caretas de sagui". O poema "Chewinggum " representa ca
balmente o Poeta em sua definitiva atitude diante da vida e na sua
expressão irônica e displicente:
A c a v J.. &lc. �
tJo. t o. v ,.,l.,
l..J J�
<l e a..v J.i th. �
!... ·
A c o. v .....f.. h rf �
C( e o. • ....},. li. 8 OvfA0
,4 ravJ.. J,t. {� µ
C( C tl-v � � �/'-'
Masco e remasco a minha raiva, chewing gum.
Cotidianissimamente enfastiado,
engulo a pílula ridícula,
janto universo e como mosca.
cai.o em mim.
O poeta Bilu sabe que "os caminhos foram feitos para andar'', ouve
o mundo que manda: "Entra no coro". Mas recusa-se ao convite da
vida, e o seu desgosto amarguemo só se tranquiliza "na grande luz
de renunciar". O resíduo último dessa filosofia niilista é "que nós so-
1 94 * 195
mos a sombra de um sonho numa sombra", inversão do pensamento
de Píndaro, que definiu o homem como "o sonho de uma sombra".
A melhor poesia do nordeste do Brasil está nas trovas dos can
tadores populares, nos poemas dialetais de CATULO DA PAIXÃ O
CEARENSE, nos versos dos pernambucanos Ascenso Ferreira e Joa
[1927] , Cana caiana [1939] e Xenhenhém [1927] . Tem uma estatura gi
gantesca, que a princípio assusta como a catadura de um campeão
de boxe da categoria dos pesados. No entanto, basta ele abrir a boca
para dissipar todos os terrores: é um sentimentalão, e sentimental
mente compreendeu e cantou o drama doloroso do matuto, a quem
ama ainda quando é o cangaceiro marcado pela fatalidade mesológi
ca com os estigmas do crime. Os seus poemas são verdadeiras rapsó
dias nordestinas, onde se espelha fielmente a alma ora brincalhona,
ora pungentemente nostálgica das populações dos engenhos.
De JOAQUIM CARDOZO [1897-1978] , escreveu Carlos Drummond
de Andrade que "foi modernista mais ausente do que participante.
Um aparelho severo de pudor, timidez e autocrítica salvou-o das
demasias próprias de todo período de renovação literária". Esse
retraimento fez que só em 1947 publicasse o Poeta o seu único livro,
Poemas,· onde há versos que datam de 1925. Em Cardozo, artista
tão à vontade na poesia metrificada e rimada quanto no verso livre,
vemos a mesma província de Ascenso Ferreira, mas sentida por
um temperamento extremamente apurado. Mas não é só a sua
E os sabugos de milho
mugem como bois de verdade ...
196 * 197
e os tacos que deveriam ser
soldadinhos de chumbo são
cangaceiros de chapéus de couro ...
"Eu poderia dizer", escreveu José Lins do Rego, "que com esse ca
derno dos Poemas o Nordeste teve o seu primeiro livro de poesia.
O Nordeste dos cangaceiros, do rio de São Francisco, de Lampião,
do padre Cícero, da Great Western Brazil Railway, dos engenhos
banguês, das procissões, das bonecas de pano que se vendem nas
feiras, de toda a sentimentalidade tão característica de nossa gente."
Alguns dos poemas desse livro e do que se lhe seguiu, Novos poemas,
garantem ao seu autor um nome duradouro em nossa poesia, por
que figuram entre as melhores e mais saborosas interpretações da
paisagem e da alma brasileiras. Não se confina o Poeta num estreito
nacionalismo. Mas se Ronald de Carvalho cantou toda a Améri
ca, Jorge de Lima, ainda um tanto rodoísta, celebra o que chama
"a minha América", isto é, a América do Sul, sentimentalmente al-
terada em sua geografia para conter também o México. O ciclo da
terra parece definitivamente encerrado na poesia de Jorge de Lima.
Em Tempo e eternidade [1935], livro seu e de Murilo Mendes, o Poeta
passa a haurir toda a sua inspiração no fundo religioso, a expressão
assume tom e ritmos graves, largos, paralelísticos, de sabor bíblico.
"A vida está malograda", mas o Poeta crê "nas mágicas de Deus".
O manifesto de Jorge de Lima e Murilo Mendes está dito em cinco
palavras: "Restauremos a Poesia em Cristo". A túnica inconsútil [1938]
e Anunciação e encontro de Mira-Celi [1938] persistem, com mais abun
dância e plenitude, nos temas e na técnica do livro anterior.
Em 49 publicou o Poeta o Livro de sonetos, onde já nos aparece
diferente, justificando a observação de Otto Maria Carpeaux, que o
definiu como um poeta "em caminho". São 78 sonetos, alguns dos
quais só têm da genuína forma fixa tradicional a estruturação em
dois quartetos e dois tercetos. Neles se compraz o autor em concei
tos, metáforas e expressões de surpreendente barroquismo, barro
quismo que o Poeta levará à mais desabusada, e às vezes abstrusa,
eclosão no seu livro último, Invenção de Orfeu [r952] , longo poema
em dez cantos, de técnicas e faturas extremamente variadas e cujo
sentido profundo ainda não foi devidamente esclarecido pela crí
tica e talvez não o seja nunca, pois é evidente haver nele grande
carga de subconsciente a par de certas vivências puramente verbais.
Como quer que seja, é obra poderosa, onde deparamos fragmentos
de alta beleza, que são em si pequenos poemas completos.
M U RI L O M E N D E S [r9or-75] é talvez o mais complexo, o mais
200 * 20I
Sem prejuízo da ingênita originalidade (Murilo Mendes é um
dos quatro ou cinco bichos-da-seda da nossa poesia, isto é, os
que tiram tudo de si mesmos), as ideias de Ismael Nery exerceram
grande influência no amigo, cuja obra se nos apresenta fortemente
marcada por essa abstração do tempo e do espaço. Ouçamo-lo no
seu ensaio sobre "O eterno nas letras brasileiras modernas": "Os
elementos místicos da alma humana não estão sujeitos ao tempo.
Colocado no tempo, o homem tende continuamente a abstraí-lo. A
grande ideia da abstração do tempo ainda não chegou a ser orga
nizada ou sistematizada pelo homem, mas é fora de dúvida que ele
sofre inconscientemente a pressão da ideia. Na vida diária colhem
se a todo momento exemplos disto, a começar pela pitoresca e
fortíssima expressão popular matar o tempo. Todo o mundo quer se
libertar do tempo. Nós estamos sujeitos ao tempo e contra o tem
po. A própria música, uma arte que se desenvolve no tempo, é ou
vida por quase toda a gente com a finalidade expressa de arrancar o
homem do tempo. Joseph de Maistre diz que a própria ideia da feli
cidade eterna, junta à do tempo, fatiga e espanta o homem. Eis por
que o Apocalipse nos revela que, no fim de tudo, um anjo gritará:
'Não haverá mais tempo ! '. Muitos homens julgam que a ideia de
eternidade reside num plano de mito, de ficção, ou que a eternida
de é a vida de além-túmulo. Entretanto a vida eterna começa neste
mundo mesmo: o homem que distingue o espírito da matéria, a
necessidade da liberdade, o bem do mal, e que aceita a revelação
de Cristo como solução para o enigma da vida, este homem já in
corpora elementos eternos ao patrimônio que lhe foi trazido pelo
tempo". De fato, em toda a poesia de Murilo Mendes assistimos a
essa constante incorporação do eterno ao contingente. E por ou
tro lado a abstração do espaço acaba por abolir a perspectiva dos
planos, confundidos todos numa superrealidade, com a tangência
do invisível pelo visível. Não se trata porém do super-realismo no
sentido da escola francesa: sente-se sempre na poesia de Murilo Men
des a força da inteligência e do coração dominando o tumulto das
fontes do subconsciente. Poesia bem de católico, terrivelmente cônscio
do pecado original e ao mesmo tempo como que feliz de todas as
suas fraquezas pelo que elas implicam de amor - um fulgurante
amor não só pelos seus semelhantes como por todas as criaturas
e coisas da Criação. Um catolicismo à São Filipe Néri, em que a
verdade é concebida em suma e em essência como caridade. O seu
culto afronta o ridículo; incorpora-o. E coisa curiosa - poesia e
-
202 ,. 203
como o mar". A amada assume nos versos de amor do seu poeta
um desdobramento cósmico, a despeito da "sua elegância, da sua
mentira, da sua vida teatral". Porque ela é "o laço misterioso", diz
ainda o Poeta, "que me prende à ideia essencial de Deus". Temos
aqui o conceito petrarquiano do amor levado ao extremo limite
quase sem um sorriso, antes assiduamente formidável.
Não obstante as intenções construtivistas de Graça Aranha, dos
rapazes de Festa e do grupo verde-amarelo, não obstante a presença
no movimento de um ou outro poeta de sensibilidade e expressão
grave como Emílio Moura, pode-se dizer que, encarado no seu con
junto, o modernismo brasileiro caracterizou-se por uma atitude
destruidora. Assim o confessa o próprio Mário de Andrade numa
espécie de balanço daqueles anos de agitação: "[ ... ] embora lançando
inúmeros processos e ideias novas, o movimento modernista foi
essencialmente destruidor. Até destruidor de nós mesmos, porque
o pragmatismo das pesquisas sempre enfraqueceu a liberdade de
criação". E acrescenta que ele e os seus companheiros viviam então
"arrebatados pelos ventos da destruição. E a fazíamos ou preparáva-
mos especialmente pela festa, de que a Semana de Arte Moderna fora
a primeira. Todo esse tempo destruidor do movimento modernista
foi pra nós tempo de festa, de cultivo imoderado do prazer". Não
era movimento destruidor das tradições veneráveis, e nisso afastava
se nitidamente do futurismo e demais movimentos europeus, dos
quais tomava os processos de expressão - o verso livre, as palavras
em liberdade, etc. - e o tom irônico, blagueur, voluntariamente prosai
co. Não faltava a nenhum desses nossos poetas, e foi uma acusação
injusta que se lhes fez, o sentido grave da vida e do momento social
que viviam, mas é certo que havia neles uma desconfiança evidente
do sublime, como o viam nas formas cursis da literatura consagra-
da, do satisfeito patriotismo burguês. Que o sequestravam de caso
pensado é manifesto num ou noutro momento de abandono à
expressão ingenuamente comovida, raro em Oswald de Andrade
("Procissão do enterro'', 1925) e em Mário de Andrade ("Improviso
do rapaz morto", 1925), mais frequente em Murilo Mendes ("Sertão",
"O homem, a luta e a eternidade", etc., anteriores a 1929), em Manuel
Bandeira ("Os sinos", "Madrigal melancólico'', "Noite morta", etc.,
anteriores a 1924) e outros. Sem embargo, o clima geral era efeti
vamente de amargo cotidiano e o patriotismo se revelava sob as
formas do pitoresco geográfico e social.
Contra o espírito dessa primeira geração modernista reagiu
a poesia de AUGUSTO F RE D E RI C O S C H M I DT [1906-65] , a partir do
Canto brasileiro [1928] e do Canto do liberto [1928] seguidos de uma
série de livros admiráveis Pássaro cego [1930] , Desaparição da amada
-
e Navio perdido [1931] , Canto da noite [1934] , Estrela solitária [ 1940 ], Mar
desconhecido [1942], Afonte invisível [1949] , todos reunidos em Poesias
completas [1956] , acrescidos de 49 sonetos, da Mensagem aos poetas no
vos [1950] , Ladainha do mar [1951] , Morelli [1953] , O, Reis [1953], Novos
poemas [1956] e Meditações sobre o mistério da Ressurreição. Publicou
ainda Aurora lívida [1958], Babilônia [1959] e Caminho do frio [1964] .
Nascido no Rio, Schmidt passara pela experiência modernista, assi
milara-a e, embora sabendo aproveitar-lhe as lições, afastara-se dela,
exprimindo-se num tom constantemente sério e grave, quase catas
trófico, acometendo-nos a consciência como um eco dos versículos
severos dos profetas judeus. As apóstrofes dessa poesia suscitavam
ambientes de apreensão, como se estivéssemos, e de fato estávamos,
na véspera de calamidades tremendas. É precisamente essa volta
ao sublime a qualidade nova trazida à nossa poesia pela voz de
Schmidt, logo secundada pela de Vinicius de Moraes em O caminho
20 4 * 205
para a distância [1933], Forma e exegese [1935] e Ariana, a mulher [1936] .
"Não quero mais o Brasil, não quero mais geografia, nem pitoresco",
diziam os versos iniciais do Canto do brasileiro. Talvez para marcar a
sua oposição ao engraçado, ao anedótico, ao que Otávio de Faria
chamou "o espírito de café", buscou a princípio Schmidt retomar o
fio partido da tradição romântica, e certos poemas de Navio perdido
e Pássaro cego lembram muitas vezes no sentimento, nos ritmos e
até no vocabulário os versos de um Álvares de Azevedo ou de um
Casimiro de Abreu. Mais tarde o Poeta abandonou essas muletas
românticas e firmou-se em sua feição definitiva, onde é de notar
uma certa afinidade com a de Péguy. Os ritmos largos, o paralelis
mo, o gosto de falar nas formas do futuro, certo ar de iniciar o po
ema como se já estivesse no meio dele, a indeterminação no tempo
e no espaço, a frequente aparição de personagens cuja identidade
não se pode de pronto precisar, a insistência nos grandes temas
universais, sobretudo a obsessão do mistério, seja o da morte, ou
o do mar, ou o da noite, ou o das amadas, enchem a sua poesia
de estranhas ressonâncias. Schmidt é dos poucos poetas que já
souberam falar a Deus com tranquila dignidade. Talvez proceda
isso do seu fundo judaico. O cristão em tal colóquio toma quase
sempre uma postura muito sentimental e um tanto pedinchona.
Os antigos hebreus não eram assim. Schmidt a esse respeito não
tem quem se lhe compare: encontra sempre o tom justo, as pala
vras mais acertadas de respeito, de fé e de confiança. Confessa-se
católico, mas o seu sentimento religioso não é repousado nem
repousante: ele mesmo se pergunta num soneto por que não crê
em Deus sem se martirizar. Martiriza-se mais assiduamente com a
ideia da morte, cujo sentimento nele escapole, como notou Mário
de Andrade, da lição cristã: "Não se percebe na sua obsessão da
morte nenhum anseio da vida futura, nenhum grito de Esperança
ou de Caridade em transe. A morte que Augusto Frederico Schmidt
canta é um fim, um ponto final, um como que terror paralisante
de acabar. E principalmente a visão seca do acabado. É mesmo
estranho que um poeta religioso se permita essa profecia do "Nas
cimento do sono":
206 * 207
grandeza solitária como a daquela sua estrela "imagem de um de
sespero sem forma".
O mesmo tom grave, os mesmos ritmos largos de Schmidt va
mos encontrar na poesia dos primeiros livros de VINICIUS DE MO
RAES [1913-80] , nascido no Rio. Mas o seu drama era outro: o Poeta
Mais tarde ele dirá em "Elegia quase uma ode": "Meu sonho eu
te perdi; tornei-me em homem". A partir de Novos poemas [1938] e
sobretudo em Cinco eleyj,as [1943] e Poemas, sonetos e baladas [1946] , •
208 . 209
Alphonsus de Guimaraens Filho nasceu em 1918 e publicou o seu
livro em 1940; eram versos dos vinte anos e se de fato pecavam
pelo conformismo a que se referiu Mário de Andrade, por outro
lado revelavam em grau invulgar fina sensibilidade, forte imagi
nação verbal e técnica segura. Os seus poemas posteriores (Sonetos
da ausência, Nostalgia dos anjos, 1946, A cidade do sul, 1948, O irmão,
1950, O mito e o criador, 1954, Sonetos com dedicatória, 1957, O unigênito,
Elegia de Guarapari, Uma rosa sobre o mármore, Cemitério de pescadores
e Aqui, 1960) confirmam as promessas do primeiro livro.
Os poetas que, depois desses, vieram surgindo até os anos da
Segunda Guerra Mundial, não parecem ter sentido necessidade
de inovação, e dentro do espírito e da forma de seus predeces
sores souberam afirmar a própria individualidade: entre outros
nomes MÁRI O QUINTANA [1906-94] , como AUGUSTO MEYER muito
de sua terra e muito pessoal, O DYLO COSTA FILHO, E D GARD B RAGA,
O D O RICO TAVARES, F E RNAN DO MENDES DE ALME I DA, MARCELO DE
SENA, ADALGISA N E RY, MAURO MOTA, A . R. RANGEL M O RE I RA, PAU
LO A RMAND O , SYLVI O DA CUNHA, MARIA ISABEL, PAULO G O M I D E ,
O NEYDA ALVARENGA, MÁRIO PEIXOTO, estes dois últimos emudeci
dos após promissora estreia. Emudecido para sempre pela morte
prematura, em 1960, CARLOS PENNA FILHO, poeta que podia ser em
tantos momentos raro e requintado, mas que soube nos temas da
terra natal (Pernambuco) apoiar-se firmemente nos metros e no
estilo do povo, escrevendo os deliciosos poemas de Nordesterro e o
Guia prático da cidade do Recife.
Não parece possível caracterizar em conjunto os poetas apa
recidos a partir de 1942, alguns dos quais mais tarde a si próprios
se chamaram a geração de 45, embora os mais empenhados em se
afirmar como nova geração LÊDO IVO [1924], P É RICLES EUGÊNIO
-
DA SILVA RAMOS [1919-92] , e outros, de sensibilidade e técnica bas
tante diferenciadas das dos mestres de 22 JOÃO CABRAL DE MELO
-
210 * 2 1 1
O número de bons poetas entre os novos é considerável: não esgo
taremos a lista citando os nomes de PAULO MENDES CAMPOS, MAR
COS KONDER REIS, ANTÔNIO RANGEL BANDEIRA, DARCY DAMASCENO,
STELLA LEONARDOS, NILO APARECIDA PINTO, CIRO PIMENTEL, PAULO
HECKER FILHO, PAULO BONFIM, JOSÉ ESCOBAR FARIA, ANTÔNIO
OLINTO, DOMINGOS PAOLIELO, RUI GUILHE RME BARATA, EDSON RÉ
GIS, HÉLIO PELLEGRINO, EDMIR DOMINGUES DA SILVA, FRED PINHEI
RO, RUTH MARIA CHAVES, MYRTES RIB E RTE, ANTÔNIO PINTO DE
MEDEIROS, MONIZ BANDEIRA, REINALDO JARDIM, HENRIQUE SIMAS
etc. Entre os nomes femininos alguns aparecem com força às vezes
superior à da maioria dos poetas do outro sexo: uma LUCY TEIXEIRA,
uma MARLY DE OLIVEIRA, uma ZILA MAMEDE.
Os mais recentes movimentos em nossa poesia foram o con
cretismo, o néo-concretismo e a poesia-práxis. Os dois primeiros se
inspiram nos princípios do concretismo plástico, ou seja, uma arte
que se exprime, como pregou van Doesburg, por signos concretos
e não simbólicos. "O poema concreto aspira a ser: composição de
elementos básicos da linguagem, organizados óptico-acusticamente
no espaço gráfico por fatores de proximidade e semelhança como
uma espécie de ideograma para uma dada emoção, visando à apre
sentação direta - presentificação - do objeto": assim explicou HA
ROLDO DE CAMPOS [1929-2003], um dos jovens poetas dessa corrente,
entre os quais figuram DÉCIO PIGNATARI [1927] , AUGUSTO DE CAM
POS (1931] , WLADIMIR DIAS PINO (1927] , RONALDO AZEREDO (1937]
e FERREIRA GULLAR [1930] . Este último, por motivo ideológico po
lítico, deu resolutamente as costas aos concretismos, passando a
praticar a poesia social com apoio nas formas populares, como o
estão mostrando as suas produções mais recentes joão Boa Morte,
-
tom sem
bem som
"Práxis" significa em grego "ação, empreendimento, execução,
negócio, situação dos negócios". Linha de pesquisa literária lan
çada pelo paulista MÁRIO CHAMIE [1933] , nada explica melhor o
que é um poema-práxis do que a seguinte análise do seu poema
"Migradores", por ele mesmo feita: o tema é a situação do cam-
pesino que se vê forçado a emigrar do campo para a cidade. "Seu
estímulo é a vida sem programa, o esfalfar-se improdutivo do
seu trabalho rural. A questão que se propõe é a de saber se, com
a emigração, não transferiria simplesmente o seu improdutivo
esfalfar-se. E toda essa questão, antes de ser debatida e soluciona
da no nível de sua consciência, é debatida e solucionada no nível
de sua fala. O poeta práxis dá testemunho disso. De que maneira?
A partir de um desdobramento fenomenológico do verbo esfalfar.
Então o poeta defronta-se com o fato prosódico de que a letra l, na
fala rural brasileira, tem o som de r, com o fato morfológico de que
o esfalfar na cidade é um esfalfar no asfalto, com o fato léxico de
que esfalfar é cansar, terfalta de ar, com o fato silábico-estadístico
de que a desinência de esfalfar é ar e de que o sufixo de asfalto é
falto, com o fato prosódico e pragmático de que, tendo a letra a
pronúncia de r, o elemento radical do verbo esfalfar seria outro
verbo, ou seja, arfar (composição de ar(f)ar), e, finalmente, se depa
ra o poeta com o fato estadístico e próprio de uma teoria do texto
de que esfalfar é uma palavra que tem o seu próprio vocabulário,
como uma área de levantamento tem a sua própria fala. Com a
certez.a crítica, portanto, de que uma palavra tem o seu próprio
vocabulário, obtive, no poema "Migradores", uma solução e uma
estrutura fono-estilística que é a realidade estética do migrador:
214 * 215
216 * 217
GONGORI ZANTES E ÁRCADES
BUSCANDO A CRISTO
218 * 21 9
Que agora, que me devas
dar-te adeus, como quem cai,
sendo que estás tão caída,
que nem Deus te quererá.
Adeus Povo, adeus Bahia,
digo, Canalha infernal,
e não falo na nobreza
tábula, em que se não dá,
Porque o nobre enfim é nobre,
quem honra tem, honra dá,
pícaros dão picardias,
e inda lhes fica, que dar.
E tu, Cidade, és tão vil,
que o que em ti quiser campar,
não tem mais do que meter-se
a magano, e campará.
Seja ladrão descoberto
qual águia imperial,
tenha na unha o rapante,
e na vista o perspicaz.
A uns compre, a outros venda,
que eu lhe seguro o medrar,
seja velhaco notório,
e tramoeiro fatal.
Compre tudo, e pague nada,
deva aqui, deva acolá
perca o pejo, e a vergonha,
e se casar, case mal.
Com branca não, que é pobreza,
trate de se mascavar;
vendo-se já mascavado,
arrime-se a um bom solar.
Porfiar em ser fidalgo,
que com tanto se achará;
se tiver mulher formosa,
gabe-a por esses poiais.
De virtuosa talvez,
e de entendida outro tal,
introduza-se ao burlesco
nas casas, onde se achar.
Que há Donzela de belisco,
que aos punhos se gastará;
trate-lhes um galanteio,
e um frete, que é principal.
Arrime-se a um poderoso,
que lhe alimente o gargaz,
que há pagadores na terra,
tão duros como no mar.
A estes faça alguns mandados
a título de agradar,
e conserve-se o afetuoso,
confessando o desigual.
Intime-lhe a fidalguia,
que eu creio, que crerá,
porque fique ela por ela,
quando lhe ouvir outro tal.
Vá visitar os amigos
no engenho de cada qual,
e comendo-os por um pé,
nunca tire o pé de lá.
Que os Brasileiros são bestas,
e estarão a trabalhar
220 * 221
toda a vida por manter
maganos de Portugal.
Como se vir homem rico,
tenha cuidado em guardar,
que aqui honram os mofinos,
e mofam dos liberais.
No Brasil a fidalguia
no bom sangue nunca está,
nem no bom procedimento,
pois logo em que pode estar?
Consiste em muito dinheiro,
e consiste em o guardar,
cada um o guarde bem,
para ter que gastar mal.
Consiste em dá-lo a maganos,
que o saibam lisonjear,
dizendo, que é descendente
da casa do Vila Real.
Se guardar o seu dinheiro,
onde quiser, casará:
os sogros não querem homens,
querem caixas de guardar.
Não coma o Genro, nem vista
que esse é genro universal;
todos o querem por genro,
genro de todos será.
Oh assolada veja eu
Cidade tão suja, e tal,
avesso de todo o mundo,
só direita em se entortar.
Terra que não se parece
neste mapa universal
com outra, ou são ruins todas,
ou ela somente é má.
Notável desaventura
de um povo néscio, e sandeu,
que não sabe, que o perdeu
Negócio, Ambição, Usura.
2 2 2 * 223
Dou ao demo os insensatos,
dou ao demo a gente asnal,
que estima por cabedal
Pretos, Mestiços, Mulatos.
Sazonada caramunha!
enfim que na Santa Sé
o que se pratica, é
Simonia, Inveja, Unha.
E nos Frades há manqueiras? ............................................ Freiras
Em que ocupam os serões? ................................................ Sermões
Não se ocupam em disputas? ............................................ Putas.
À Bahia aconteceu
o que a um doente acontece,
cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, Subiu, e Morreu.
* *
224 * 225
Basíl io da Gama
S O N ETO XCVI I I
TU N Ã O VE RÁ S, MA RÍ LIA, C E M CATIVOS . . .
228 * 229
Lendo os fastos da sábia, mestra História,
Os cantos da Poesia.
Gonçalves D i as
CANÇÃO DO EXÍLIO
Goethe
NÃO ME DEIXES !
232 * 233
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
"Ai, não me deixes, não ! "
I -JUCA- P I RAMA
234 * 235
Convidam-se as tribos dos seus arredores,
Cuidosos se incumbem do vaso das cores,
Dos vários aprestos da honrosa função.
II
236 * 237
Que foi? Tupã mandou que ele caísse,
Como viveu;
E o caçador que o avistou prostrado
Esmoreceu!
III
IV
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci:
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
Já vi cruas brigas,
De tribos imigas,
E as duras fadigas
Da guerra provei;
Nas ondas mendaces
Senti pelas faces
Os silvos fugaces
Dos ventos que amei.
E os campos talados,
E os arcos quebrados,
E os piagas coitados
Já sem maracás;
E os meigos cantores,
Servindo a senhores,
Que vinham traidores,
Com mostras de paz.
O velho no entanto
Sofrendo já tanto
De fome e quebranto
Só qu'ria morrer!
Não mais me contenho,
Nas matas me embrenho,
Das frechas que tenho
Me quero valer.
Então, forasteiro,
Caí prisioneiro
De um troço guerreiro
Com que me encontrei:
O cru dessossego
24 0 * 24 1
Do pai fraco e cego,
Enquanto não chego,
Qual seja, - dizei !
Ao velho coitado
De penas ralado,
Já cego e quebrado,
Que resta? - Morrer.
Enquanto descreve
O giro tão breve
Da vida que teve,
Deixai-me viver!
242 * 243
- Mentiste, que um Tupi não chora nunca,
E tu choraste ! ... parte; não queremos
Com carne vil enfraquecer os fortes.
VI
244 * 245
Como que teme ainda o triste velho
De ver, não mais cruel, porém mais clara,
Daquele exício grande a imagem viva
Ante os olhos do corpo afigurada.
Não era que a verdade conhecesse
Inteira e tão cruel qual tinha sido;
Mas que funesto azar correra o filho,
Ele o via; ele o tinha ali presente;
E era de repetir-se a cada instante.
A dor passada, a previsão futura
E o presente tão negro, ali os tinha;
Ali no coração se concentrava,
Era num ponto só, mas era a morte !
- Tu prisioneiro, tu?
- Vós o dissestes.
- Dos índios?
- Sim.
- De que nação?
- Timbiras.
- E a muçurana funeral rompeste,
Dos falsos manitôs quebraste a maça...
- Nada fiz... aqui estou.
- Nada! -
Emudecem;
VII
VIII
24 8 * 249
Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.
250 * 251
Era ele, o Tupi; nem fora justo
Que a fama dos Tupis - o nome, a glória,
Aturado labor de tantos anos,
Derradeiro brasão da raça extinta,
De um jato e por um só se aniquilasse.
- Basta! clama o chefe dos Timbiras,
- Basta, guerreiro ilustre ! assaz lutaste,
E para o sacri fício é mister forças. -
Á lvares d e Azevedo
SE EU MORRESSE AMANHÃ
2 5 2 * 253
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
LEMBRANÇA DE MORRER
Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores ...
Se viveu, foi por ti ! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.
254 , . 255
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo !
256 * 257
J u n q ueira Freire
258 * 259
Mas uma voz, um som ... - some-se o sonho,
Como se nunca fosse.
24 de outubro de r852
NEM SEMPRE
(HORA DE DELÍRIO)
260 * 261
De um rubro afoguear, - como um incêndio,
Às vezes gosto.
LOUCO
(HORA DE DELÍRIO)
NÉVOAS
Santos, 1861
JUVENÍLIA
VII
CÂNTICO DO CALVÁRIO
266 * 267
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, - a inspiração, - a pátria,
O porvir de teu pai ! - Ah ! no entanto,
Pomba, - varou-te a flecha do destino !
Astro, - engoliu-te o temporal do norte !
Teto, - caíste ! - Crença, já não vives !
270 * 271
Em desejos alados se mudaram.
Noites fugiam, madrugadas vinham,
Mas sepultado num prazer profundo
Não te deixava o berço descuidoso,
Nem de teu rosto meu olhar tirava,
Nem de outros sonhos, que dos teus vivia!
Casimiro de Abreu
274 * 275
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
Lisboa 1857
-
AMOR E M E D O
Outubro r858
-
Castro Alves
CREPÚSCULO SERTANEJO
280 . 281
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças !
V O Z E S D ' ÁFRICA
282 * 283
Sempre a láurea lhe cabe no litígio ...
Ora uma c'roa, ora o barrete frígio
Enflora-lhe a cerviz.
O Universo após ela - doudo amante -
Segue cativo o passo delirante
Da grande meretriz.
O NAVIO NEGREIRO
(TRAGÉDIA NO MAR)
II
Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor.
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente
- Terra de amor e traição -
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso
Junto às lavas do Vulcão !
Os marinheiros Helenos,
Que a vaga iônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu ...
... Nautas de todas as plagas !
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu ...
III
IV
290 * 291
E chora e dança ali !
292 * 293
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma - lágrimas e fel
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite do pranto
Têm que dar para Ismael...
294 * 295
VI
Lu iz Delfina
I N H E R B OOK
Machado de Assis
CÍRCULO VICIOSO
298 * 299
"Pudesse eu copiar o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!"
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:
A MOSCA AZUL
300 * 3 01
Vinha a glória depois; - quatorze reis vencidos,
E enfim as páreas triunfais
De trezentas nações, e os parabéns unidos
Das coroas ocidentais.
UMA CRIATURA
302 * 303
Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo
Vem a folha, que lento e lento se desdobra,
Depois a flor, depois o suspirado pomo.
Lu iz Guimarães
O ESQUIFE
3 04 * 3 05
Eu que perdi contigo a fortaleza,
As ilusões, o gozo, a crença e a vida,
Ah ! eu bem sei quanto esse esquife pesa!
Londres
* * *
Alberto de Ol ivei ra
VASO GREGO
3 06 * 3 07
Que bom dizer então bem alto ao firmamento
O que outrora jamais - homem - dizer não pude,
Da menor sensação ao máximo tormento
Quanto passa através minha existência rude !
TAÇA DE CORAL
j oão Ribei ro
SIMPLES BALADA
***
3 08 * 3 09
Cresce, recresce, as linhas devastando,
Nódoa voraz pela figura entorna.
***
S E R MOÇA E B E LA S E R . . .
Ser moça e bela ser, por que é que lhe não basta?
Por que tudo o que tem de fresco e virgem gasta
E destrói? Por que atrás de uma vaga esperança
Fátua, aérea e fugaz, frenética se lança
A voar, a voar? ...
Também a borboleta,
Mal rompe a ninfa, o estojo abrindo, ávida e inquieta,
As antenas agita, ensaia o voo, adeja;
O finíssimo pó das asas espaneja;
Pouco habituada à luz, a luz logo a embriaga;
Boia do sol na morna e rutilante vaga;
Em grandes doses bebe o azul; tonta, espairece
No éter; voa em redor, vai e vem; sobe e desce ;
Torna a subir e torna a descer; e ora gira
Contra as correntes do ar; ora, incauta, se atira
Contra o tojo e os sarçais; nas puas lancinantes
Em pedaços faz logo as asas cintilantes ;
Da tênue escama de ouro os resquícios mesquinhos
Presos lhe vão ficando à ponta dos espinhos;
Uma porção de si deixa por onde passa,
E, enquanto há vida ainda, esvoaça, esvoaça,
Como um leve papel solto à mercê do vento ;
Pousa aqui, voa além, até vir o momento
Em que de todo, enfim, se rasga e dilacera...
BANZO
31 0 * 31 1
Uivam chacais ... Ressoa a fera tuba
Dos cafres, pelas grotas retumbando,
E a estralada das árvores, que um bando
De paquidermes colossais derruba...
PLENILÚNIO
312 * 313
Lunárias flores, ao fera! lume,
- Caçoilas de ópio, de embriaguez -
Evaporavam letal perfume ...
E os lençóis d'água, do fera! lume
Se amortalhavam na lividez ...
Olavo Bilac
VIA-LÁCTEA
VI
L Í NGUA P O RTUGUESA
314 . 315
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo !
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
M Ú SICA B RASILEIRA
Vicente de Carval ho
V E L H O TEMA
IV
3 1 8 * 31 9
Vossas palavras, com que sou punido,
São penas e verdades de sobejo.
PEQUENINO M O RTO
32 0 * 32 1
Vai chegando a hora, vai chegando a hora
Em que a mãe ao seio chama o filho ... A espaços,
Badalando, o sino diz adeus, e chora
Na melancolia do cair da noute ;
Por aqui só cruzes com seus magros braços
Que jamais se fecham, hirtos sempre ... É a hora
Do cair da noute ...
322 * 323
SUGEST Õ ES DO CREP Ú SCULO
III
IV
SONETO
328 * 3 29
S I M B O L I STA S
Cruz e Sousa
M O NJA NEGRA
33 0 • 33 1
Deram-te as amplidões e o sentimento vivo
Do mistério com todos os seus calafrios ...
332 * 333
Voz de todo o meu Sonho, ó noiva da minh'alma,
Fantasma inspirador das Religiões de Buda.
ÓDIO SAGRADO
TRIUNFO SUPREMO
334 * 335
SUPREMO VERBO
CAMINHO DA GL Ó RIA
Al phonsus d e G u i m araens
CISNES BRANCOS
33 6 * 337
Venham as aves agoureiras,
De risada que esfria os ossos ...
Minh'alma, cheia de caveiras,
Está branca de padre-nossos.
ISMÁLIA
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
33 8 * 339
Acordei do áureo sonho em sobressalto:
Do céu tombei ao caos dos meus martírios,
Sem saber para que subi tão alto...
VILA DO CARMO
34 0 * 34 1
A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.
A CATE D RAL
AS CISMAS DO D E STINO
342 * 343
Na austera abóbada alta o fósforo alvo
Das estrelas luzia . O calçamento
. .
344 . 345
Ah ! Com certeza, Deus me castigava!
Por toda a parte, como um réu confesso,
Havia um juiz que lia o meu processo
E uma forca especial que me esperava!
346 . 347
Cuspo, cujas caudais meus beiços regam,
Sob a forma de mínimas camândulas,
Benditas sejam todas essas glândulas,
Que, cotidianamente, te segregam !
Ú LTIM O C RE D O
É o transcendentalíssimo mistério !
É o nous, é o pneuma, é o ego sum qui sum,
É a morte, é esse danado número Um
Que matou Cristo e que matou Tibério !
Creio, como o filósofo mais crente,
Na generalidade decrescente
Com que a substância cósmica evolui ...
348 . 349
O ÚLTIMO NÚMERO
G u i l herme de Al meida
MO RMAÇO
RAÇA
( fragmento)
352 * 353
alinhados nas cabeças parnasianas das colinas penteadas com
pentes-finos ...
354 . 355
A noite era pra descansar. As gargalhadas brancas dos mulatos ...
Silêncio ! O Imperador medita os seus versinhos.
Os Caramurus conspiram na sombra das mangueiras ovais.
Só o murmurejo dos cre'm-deus-padre irmanava os homens de
[meu país ...
Duma feita os canhamboras perceberam que não tinha mais
[escravos,
Por causa disso muita virgem-do-rosário se perdeu...
Brasil...
Mastigado na gostosura quente de amendoim ...
Falado numa língua curumim
De palavras incertas num remelexo melado melancólico ...
Saem lentas frescas trituradas pelos meus dentes bons ...
Molham meus beiços que dão beijos alastrados
E depois remurmuram sem malícia as rezas bem nascidas ...
Brasil amado não porque seja minha pátria,
Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der ...
Brasil que eu amo porque é o ritmo do meu braço aventuroso,
O gosto dos meus descansos,
O balanço das minhas cantigas amores e danças.
Brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada,
Porque é o meu sentimento pachorrento,
Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir.
PO EMAS DA NEGRA
356 * 357
III
Sol-posto.
É a escureza suave
Que vem de você,
Que se dissolve em mim.
Eu imaginava
Duros VOSSOS lábios,
Mas você me ensina
A volta ao bem.
TOADA DO PAI-DO-MATO
(ÍNDIOS PARECIS)
A moça Camalalô
Foi no mato colher fruta.
A manhã fresca de orvalho
Era quase noturna.
- Ah ...
Era quase noturna...
Num galho de tarumã
Estava um homem cantando.
A moça sai do caminho
Pra escutar o canto.
- Ah ...
Ela escuta o canto.
Era o Pai-do-Mato !
A serra do Rola-Moça
Não tinha esse nome não ...
Eles eram de outro lado,
Vieram na vila casar.
E atravessaram a serra,
358 . 359
O noivo com a noiva dele
Cada qual no seu cavalo.
A serra do Rola-Moça
Não tinha esse nome não.
E a serra do Rola-Moça
Rola-Moça se chamou.
* * *
Ronald de Carvalho
BRASIL
A Fernando Haroldo
é o canto dos teus berços, Brasil, de todos esses teus berços, onde
dorme, com a boca escorrendo leite, moreno, confiante,
o homem de amanhã!
E P I G RAMA
Ascenso Ferreira
A MULA- D E - PA D RE
Um dia no engenho,
já tarde da noite
que estava tão preta
como carvão ...
a gente falava de assombração:
- O avô de Zé Pinga-Fogo
amanheceu morto na mata
com o peito varado
pela canela do Pé-de-Espeto !
- O cachorro de Brabo-Manso
levou, sexta-feira passada,
uma surra das caiporas !
- Eh, Andorinha!
- Eh, Moça Branca!
- Eh, Beija-Flor...
Pela bagaceira
os bois ruminavam
e as éguas pastavam,
esperando a vez
de entrar no rojão ...
E a besta agarrada
entrou na almanjarra,
tocou-se-lhe a peia
até de manhã...
De tardinha,
gente vinda
da cidade
trouxe a nova
de que a ama
de Seu Padre
Serrador
amanhecera tão surrada
que causava compaixão !
Rau l Bopp
C O BRA NORATO
(fragmento)
Um dia
eu hei de morar nas terras do Sem-fim
Depois
faço puçanga de flor de tajá de lagoa
e mando chamar a Cobra Norato
Agora sim
me enfio nessa pele de seda elástica
e saio a correr mundo
II
[ ... ]
Agora são os rios afogados
bebendo o caminho
A água resvala pelos atoleiros
afundando afundando
Lá adiante
a areia guardou os rastos da filha da rainha Luzia
- Agora sim
vou ver a filha da rainha Luzia
Mas antes tem que passar por sete portas
Ver sete mulheres brancas de ventres despovoados
guardadas por um jacaré
NEGRO
Um dia
atiraram-te no bojo de um navio negreiro.
E durante longas noites e noites
vieste escutando o rugido do mar
como um soluço no porão soturno.
O resto,
a que ficou pra trás,
o Congo, as florestas e o mar
continuam a doer na corda do urucungo.
Ribei ro Couto
O BANHO
370 * 371
O chapéu na mão, a cabeça baixa.
As botas rústicas, no completo silêncio,
Fazem na areia do chão o áspero rumor de vidro moído.
VIAGEM
ELEGIA
Andam de ronda
Nesse violento,
Longo queixume,
As invisíveis
Bocas dos mortos.
372 * 373
Também um dia,
Estando eu morto,
Virei queixar-me
Na tua porta.
Virei no vento
Mas não de inverno,
Nas horas frias
Das noites feias.
Virei no vento
Da primavera.
Em tua boca
Serei carícia,
Cheiro de flores
Que estão lá fora
Na noite quente.
Virei no vento .. .
Direi: acorda.. .
* * *
Jorge de Li ma
Ó Fulô ! Ó Fulô !
(Era a fala da Sinhá)
- Vai forrar a minha cama,
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô !
Ó Fulô ! Ó Fulô !
(Era a fala da Sinhá)
vem me ajudar, ó Fulô,
vem abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô !
vem coçar minha coceira,
vem me catar cafuné,
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono, Fulô !
374 * 375
Essa negra Fulô !
Ó Fulô? Ó Fulô?
Vai botar para dormir
esses meninos, Fulô !
"Minha mãe me penteou
minha madrasta me enterrou
pelos figos da figueira
que o Sabiá beliscou."
Fulô? Ó Fulô?
(Era a fala da Sinhá
Chamando a Negra Fulô.)
Cadê meu frasco de cheiro
que teu Sinhô me mandou?
- Ah ! foi você que roubou !
Ah ! foi você que roubou!
Ó Fulô? Ó Fulô?
Cadê meu lenço de rendas
cadê meu cinto, meu broche,
cadê meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou?
Ah ! foi você que roubou.
Ah ! foi você que roubou.
376 • 377
Essa negra Fulô !
Essa negra Fulô !
Ó Fulô? Ó Fulô?
Cadê, cadê teu Sinhô
que nosso Senhor me mandou?
Ah ! foi você que roubou,
foi você, negra Fulô?
INVE RN O
378 * 379
noites de frio,
lá fora o escuro,
lá fora a chuva,
trovão, corisco,
terras caídas,
corgos gemendo,
os caborés gemendo,
os caborés piando, Zefa!
Os cururus cantando, Zefa!
Dentro da nossa
casa de palha:
carne de sol
chia nas brasas,
farinha-d'água,
café, cigarro,
cachaça, Zefa...
... rede gemendo ...
Tempo gostoso !
Vai nascer tudo !
Lá fora chuva,
chuva e mais chuva,
trovão, corisco,
terras caídas
e vento e chuva,
chuva e mais chuva!
Mas tudo isso, Zefa,
vamos dizer,
só com os poderes
de Jesus Cristo !
INVENÇÃ O DE O RFEU
CANTO IV
* * *
Joaq u i m Cardozo
CHUVA DE CAJU
IMAGENS DO N O RD E STE
É s a lâmina ligeira
Cortando a lã dos cordeiros,
Ferindo os ramos dourados;
- Chama intrépida e minguante
Nos ares maravilhados.
Camarupim, Mamanguape,
Persinunga, Pirapama,
Serinhaém, Jaboatão;
Cruzando barras de rios
Me perdi na solidão.
OS D O I S LAD O S
MAPA
A jorge Burlamaqui
Andarei no ar.
Estarei em todos os nascimentos e em todas as agonias,
me aninharei nos recantos do corpo da noiva,
na cabeça dos artistas doentes, dos revolucionários.
Tudo transparecerá:
vulcões de ódio, explosões de amor, outras caras aparecerão
[na terra,
o vento que vem da eternidade suspenderá os passos,
dançarei na luz dos relâmpagos, beijarei sete mulheres,
vibrarei nos canjerês do mar, abraçarei as almas no ar,
me insinuarei nos quatro cantos do mundo.
Hóstias puras,
Inutilmente vos ergueis sobre mim.
* *
E D I F Í CIO E S PLEND O R
Na areia da praia
Oscar risca o projeto.
Salta o edificio
da areia da praia.
Entretanto há muito
se acabaram os homens.
Ficaram apenas
tristes moradores.
II
39 0 * 39 1
o mundo murchava e brotava
a cada espiral de abraço.
III
IV
392 * 393
tão desamparado
entre nuvens, ventos
neste aéreo living!
Os tapetes envelheciam
pisados por outros pés.
O retrato descoloria-se,
era superfície neutra.
As dívidas amontoavam-se.
A chuva caiu vinte anos.
RESTAURADORA
A morte é limpa.
Cruel mas limpa.
394 * 3 95
Emílio Moura
POEMA PATÉTICO
Mas, e hoje? Hoje a tua voz ressoa dentro de mim, como um cân
tico de órgão,
Cecíl ia Meireles
39 6 * 397
(Eu ando sozinha
por dentro de bosques.
Mas a fonte é minha.)
ELEGIA
O REI D O MAR
398 * 39 9
Andamos entre água e vento
procurando o Rei do Mar.
NOITE
IMAGEM
E afundar o rosto.
Talvez um seio,
400 * 401
Talvez um ventre
Talvez um braço,
Onde repousar.
Eis o meu desejo,
Para me sumir,
Para me esquecer,
SAUDADES D O TEMPO
Saudade do tempo
Do tempo passado,
O tempo feliz
Que não volta mais.
E quando eu morrer
Então outra vez
Pode ser que eu seja
Feliz sem saber.
H O M ENAG E M A CAM Õ ES
402 * 403
Ped ro Dantas
A CACHO RRA
404 * 405
Ped ro N ava
O D EFUNTO
E quero ir de casimira:
De jaquetão com debrum,
calça listrada, plastrom ...
E os mais altos colarinhos.
408 * 409
Augusto Meyer
Negrinho do Pastoreio,
venho acender a velinha
que palpita em teu louvor.
Negrinho do Pastoreio,
diz que você acha tudo
se a gente acender um lume
de velinha em seu louvor.
Ah os caminhos da vida
ninguém sabe onde é que estão !
410 * 411
Negrinho, você que foi
amarrado num palanque,
rebenqueado a sangue pelo
rebenque do seu patrão,
e depois foi enterrado
na cova de um formigueiro
pra ser comido inteirinho
sem a luz da extrema-unção,
se levantou saradinho,
se levantou inteirinho:
seu riso ficou mais branco
de enxergar Nossa Senhora
com seu Filho pela mão !
Ao Liberato
412 * 413
Comedor de horizontes,
meu compadre andarengo, entra!
Ó mano
Minuano
upa upa
na garupa!
O POEMA. I
O POEMA. 2
414 * 415
Augusto Frederico Sch midt
A PARTIDA
D E STINO
POEMA DE NATAL
41 8 * 419
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos ...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
ROSÁRIO
420 * 421
Entre o pelo que a guardava
Beijando-lhe a coxa fria
Com gosto de cana brava.
Senti à pressão do dedo
Desfazer-se desmanchada
Como um dedal de segredo
A pequenina castanha
Gulosa de ser tocada.
Era uma dança morena
Era uma dança mulata
Era o cheiro de amarugem
Era a lua cor de prata
Mas foi só naquela noite !
Passava dando risada
Carregando os peitos loucos
Quem sabe para quem, quem sabe?
Mas como me seduzia
A negra visão escrava
Daquele feixe de águas
Que sabia ela guardava
No fundo das coxas frias !
Mas como me desbragava
Na areia mole e macia!
A areia me recebia
E eu baixinho me entregava
Com medo que Deus ouvisse
Os gemidos que não dava!
Os gemidos que não dava...
Por amor do que ela dava
Aos outros de mais idade
Que a carregaram da ilha
Para as ruas da cidade
Meu grande sonho da infância
Angústia da mocidade.
422 * 423
À borda de abismos irreais em que me lançaste e que depois eram
[abismos verdadeiros
Onde vivia a infância corrompida de vermes, a loucura prenhe do
[Espírito Santo, e ideias e ideias em lágrimas, e
[castigos e redenções mumificados em sêmen cru
Tu !
Iluminaste, jovem dançarina, a lâmpada mais triste da memória...
424 . 425
Sabendo que não há nenhum remédio
E se tendo que ver a cada instante
Que é assim mesmo, que mais tarde passa
Que sorrir é questão de paciência
E que a aventura é que governa a vida
Oh ideal misérrimo, te quero:
Sentir-me apenas homem e não poeta!
Choro.
Choro arrozmente, como os homens choram.
As lágrimas correm milhões de léguas no meu rosto que o pranto faz
[gigantesco.
Ó lágrimas, sois como borboletas dolorosas
Volitais dos meus olhos para os caminhos esquecidos ...
Meu pai, minha mãe, socorrei-me !
Poetas, socorrei-me !
Penso que daqui a um minuto estarei sofrendo
Estarei puro, renovado, criança, fazendo desenhos perdidos no ar...
Venham me aconselhar, filósofos, pensadores
Venham me dizer o que é a vida, o que é o conhecimento, o que
[quer dizer a memória
Escritores russos, alemães, franceses, ingleses, noruegueses
Venham me dar ideias como antigamente, sentimentos como
[antigamente
Venham me fazer sentir sábio como antigamente !
Hoje me sinto despojado de tudo que não seja música
Poderia assoviar a ideia da morte, fazer uma sonata de toda a
[tristeza humana
Poderia apanhar todo o pensamento da vida e enforcá-lo na ponta
[de uma clave de Fá!
*
42 6 * 427
Para que um peito tão grande
Para que uns braços tão fortes
Para que um ventre tão esguio
Se todo o meu ser sofre da solidão que tenho
Na necessidade que tenho de mil carícias constantes da amiga?
Por que eu caminhando
Eu pensando, eu me multiplicando, eu vivendo
Por que eu nos sentimentos alheios
E eu nos meus próprios sentimentos
Por que eu animal livre pastando nos campos
E príncipe tocando o meu alaúde entre as damas do senhor rei
[meu pai
Por que eu truão nas minhas tragédias
E Amadis de Gaula nas tragédias alheias?
Basta!
Basta, ou dai-me paciência!
Tenho tido muita delicadeza inútil
Tenho me sacrificado muito demais, um mundo de mulheres em
[excesso tem me vendido
Quero um pouso
Me sinto repelente, impeço os inocentes de me tocarem
Vivo entre as águas torvas da minha imaginação
Anjos, tangei sinos
O anacoreta quer a sua amada
Quer a sua amada vestida de noiva
Quer levá-la para a neblina do seu amor...
* * *
CANTIGA DE PRAIA
428 * 429
ROSA DA MONTANHA
A Benone Guimarães
1
430 * 431
plantou cruzes no céu e fez da vida
um grito, um choro, a sombra de um ferido,
cansaço apenas e irreal cansaço.
432 * 433
4
Bueno de Rivera
O FANTASMA
Pressinto-o em mim
como um lírio enorme
crescendo no lodo.
434 * 435
mas viveu no meu sonho.
Não é sombra, é a febre,
a ideia mais pura,
presença do eterno;
talvez o intangível,
talvez o mistério.
Passeia tranquilo
no fundo mais fundo
do eu infinito.
Sinto-lhe os passos
nos porões sombrios.
Amigo impossível
que procuro, olhando
os meus olhos no espelho.
* * *
Péricles Eugênio da Si lva Ramos
Taciturno, ó dolorosa,
quando o instante for chegando
lançarei um vinho em chamas
sobre o mármore sagrado.
436 * 437
Derruba... As chamas se elevam,
rola branca dos caminhos !
Regozija-te, que a morte
já soluça nos meus lábios ...
438 * 439
Teu cabelo era ainda musgo.
Teus olhos o corpo frio
de uma ostra semiviva.
E tua alma sempre-viva
sobrenadava o oceano
qual uma estrela perdida.
Teu coração era concha
fechada e sem pulsação.
E teu gesto - que é teu riso -
era um mineral estático
ainda não escavado
pelo mar duro e fleumático.
PSICOLOGIA DA COMPOSIÇÃ O
II
A Lêdo lvo
Eu me refugio
nesta praia pura
onde nada existe
em que a noite pouse.
II
(Paisagem do Capibaribe)
§ Entre a paisagem
o rio fluía
como uma espada de líquido espesso.
Como um cão
humilde e espesso.
§ Entre a paisagem
(fluía)
de homens plantados na lama;
de casa de lama
plantadas em ilhas
coaguladas na lama;
paisagem de anfíbios
de lama e lama.
§ Como o rio,
aqueles homens
são como cães sem plumas.
(um cão sem plumas
é mais
que um cão saqueado;
é mais
que um cão assassinado.
§ O rio sabia
daqueles homens sem plumas.
Sabia
de suas barbas expostas,
442 * 443
de seu doloroso cabelo
de camarão e estopa.
§ E sabia
da magra cidade de rolha,
onde homens ossudos,
onde pontes, sobrados ossudos
(vão todos
vestidos de brim)
secam
até sua mais funda caliça.
§ Ali se perdem
como um espelho não se quebra.
Ali se perdem
como se perde a água derramada:
sem o dente seco
com que de repente
num homem se rompe
o fio de homem.
§ Na água do rio,
lentamente,
se vão perdendo
em lama; numa lama
que pouco a pouco
também não pode falar:
444 * 445
que pouco a pouco
ganha os gestos defuntos
da lama;
o sangue de goma,
o olho paralítico
da lama.
§ Na paisagem do rio
difícil é saber
onde começa o rio;
onde a lama
começa do rio;
onde a terra
começa da lama;
onde o homem,
onde a pele
começa da lama;
onde começa o homem
naquele homem.
§ Difícil é saber
se aquele homem
já não está
mais aquém do homem;
mais aquém do homem
ao menos capaz de roer
os ossos do ofício;
capaz de sangrar
na praça;
capaz de gritar
se a moenda lhe mastiga o braço;
capaz
de ter a vida mastigada
e não apenas
dissolvida
(naquela água macia
que amolece seus ossos
como amoleceu as pedras).
* * *
Lêdo Ivo
44 6 * 447
ó lisa Elisa, ó lisa Elisabete.
Dama, valete e rei - minhas sequências
triunfam junto ao mar que me reflete
no quadro repulsivo das ausências.
Sou eterno um momento, para ter
a besta viva que és entre os meus braços.
E assim me extingo, extinto por não ser
o que na areia fica entre dois passos ...
A VÃ FEITIÇARIA
NATUREZA M O RTA
SONETO D E N . S . D O B O M PARTO
44 8 * 44 9
Era a presença de sutil desvelo?
Era a graça, era o corpo, era a poesia?
Era a saudade do materno zelo?
CÂNTICO A DEUS
Th iago de Mello
O S O N H O D A ARGILA
.
450 451
- permaneço calado, e todavia
algo em mim lhes inveja esse dormir.
Ferreira G u l lar
mar azul
mar azul marco azul
mar azul marco azul barco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul ar azul
* * *
Augusto de Cam pos
com ca n
som te m
co n te n ta m
te m sao bem
-
to m se m
bem som
452 * 453
Cassiano Ricardo
TRANSLAÇÃ O
ª espera a esfera
a espera
a esfera
a espera
a esfera
a espera
a esfera
a espera
a esfera
a esfera a espera a espera
a espera a esfera a esfera
a esfera a espera a espera
a espera a esfera a esfera
a esfera a espera a espera
a espera a esfera a esfera
a esfera a espera a espera
a espera a esfera a esfera
a esfera a espera a espera
a espera a esfer a esfera
a esfera a esp a espera
a espera a esfera
a esfera a espera
a espera a esfera
a esfera a espera
a espera a esfera
a esfera a espera
a esfera
a espera
a esfera
a espera
a esfera
a espera
a esfera
454 . 455
Í N D I C E DA A N TO LO G I A
Basíl io da Gama
Cláu d i o M an u e l da Costa
Soneto X C V I I I . •. 227
To m ás Antô n i o Gonzaga
G o n çalves D i as
Álvares de Azevedo
À profissão de frei João das Mercês Ramos 257 * Nem sempre (Hora de
delírio) 259 * Louco (Hora de delírio) 261
Cas i m i ro de Abreu
Castro Alves
Luiz Delfino
M ac h ado de Assis
Luiz G u i m arães
Alberto de Ol ive i ra
J oão Ri beiro
456 * 457
Rai m u nd o Correia
O l avo B i l ac
Vicente de Carval h o
j osé Albano
Soneto 328
Cruz e Sousa
Monja negra 329 * Ódio sagrado 333 * Triunfo supremo 334 * Supremo
verbo 335 * Caminho da glória 335
A l p h o n s u s de G u i m araen s
G u i l herm e de Almeida
O poeta come amendoim 354 .,. Poemas da negra 356 * Toada do Pai
do-Mato (Índios pareeis) 357 ·• A Serra do Rola-Moça 358
Ronald de Carval h o
A mula-de-padre 364
Rau l Bopp
Ri beiro Couto
J o rge de Li m a
J o aq u i m Card ozo
M u ri l o M e n des
Poema de sete faces 387 ·• Mãos dadas 389 * Edifício Esplendor 389
458 * 459
H e n ri q u eta Li sboa
Restauradora 394
E m íl i o M o u ra
Cecíl i a M e i reles
Canção da tarde no campo 396 * Elegia 397 •- O rei do mar 398 * Noite
399
Dante M i l ano
A cachorra 403
Ped ro N ava
O defunto 405
Augusto M eye r
M ário Q u i ntana
Poema de Natal 418 * Rosário 419 * Elegia quase uma ode 422
A l p h o n s u s de G u i m arae n s Fi l h o
Bueno de Rivera
O fantasma 434
Lêd o Ivo
Odylo Costa, fi l h o
Ferre i ra G u l l ar
tensão 452
Cassiano Ricardo
Translação 453
Notícia sobre Manuel Bandeira
Fiel a tal decisão, o autor não permitiu ao seu nome entrar neste
livro que trata da evolução da poesia brasileira, opondo-se à opi
nião literária no Brasil, que situa o nome de Manuel Bandeira num
momento decisivo da evolução daquela poesia.
Após a rebelião malograda dos simbolistas contra o parnasia
nismo reinante, a poesia brasileira se libertou por um ato revo
lucionário: o modernismo rompeu com a métrica tradicional e
com a solenidade acadêmica; voltou-se para os aspectos trágicos
e humorísticos da vida cotidiana, para as realidades sociais e a
geografia humana do Brasil; pregou a expressão livre dos senti
mentos do homem brasileiro em face da natureza americana e
da crise do mundo contemporâneo. Esse movimento modernista
abriu o caminho a uma plêiade de poetas, entre os quais Manuel
Bandeira se situa.
Bandeira nasceu em 1886; pertence a uma geração de simbo
listas e pós-parnasianos. São simbolistas os seus primeiros versos.
A cinz.a das horas [1917] revela o sentimentalismo inato, romântico,
do poeta; no entanto, a adoção das convenções de expressão sim
bolistas é sintoma duma inibição do sentimento pessoal. Já em
Carnaval [1919] , os ritmos dançam com certa irregularidade, e a
melancolia do "meu Carnaval sem nenhuma alegria" acompanha
se de gritos algo forçados de humorismo destruidor - modernismo
avant la lettre. Tem importância histórica o volume seguinte O ritmo
dissoluto [1924] , cujo título confessa a intenção demolidora do
Intacto, suspenso no ar !
No esplendor da adolescência
Não me envergonhei de ti !
A conceição de Maria,
De lá de cima do altar,
De noite se agasalhar.
De paredes conventuais,
É s como a vida, que é santa,
PNEUMOTÓRAX
470 * 471
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
P ROFUNDAME NTE
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Dançavam
Cantavam
E riam
Dormindo
Profundamente.
* * *
Porque adormeci
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Dormindo
Profundamente.
472 * 473
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo ...
Alfonso Reyes partindo,
E tanta gente ficando ...
474 * 475
Índ ice remissivo
476 * 477
Festa 182 H e n ri q u e , i n fan te d . 51
Fo n seca, josé Pau l o M o re i ra d a 210, 44 8 H e rc u l a n o , Alexa n d re 56, 58 , 153
Fo n tes, H e rmes 120, 149 H e red i a , jose M a ría de 112
Fo n to u ra Xavi e r, Antô n i o Vi cente da 98 H o m e ro 46 , 150
Freyre, G i l berto 1 0 H ugo, Victo r 46, 78, 107, 273
Fusco, Rosário 1 8 7
Isabel de Caste l a 49-51
Gama, Basíl i o d a 20, 24, 32, 35 , 225 I sabel, M ari a 209
Gama, M arcel o 139 l taparica, M a n u e l de Santa M aria 1 8 , 26
G a n d avo ( Pe ro de M agal h ães) 1 6 1 l t i b e rê , B rasíl i o 182
Garcia, Rod o l fo 10-1 1 Ivo, Lêd o 209-1 0 , 440 , 44 6
Garrett, A l m e i d a 35 , 153, 304
Gautier, Th éo p h i l e 107, 1 1 1 , 1 1 6 Jam mes, Francis 139 , 1 69
G i d e , A n d ré 174 j a rd i m , Re i n al d o 2 1 1
Goeth e , j o h a n n Wo lfgang von 57, 231 j osé 1 , d . ( rei d e Portuga l ) 31 , 35
Gomes Fre i re de A n d rada 33 J u n q u e i ra Fre i re , Lu ís josé 74, 76, 257
G o m i d e , Pau l o 209
Gon çalves Cres po, Antô n i o Cân d i d o 98 Klaxon , 153
Gon çalves de M agal h ães, D o m i ngos
josé 43-44, 46-48 , 52, 78 Laet, Carlos de 74
Gon çalves D i as, Antô n i o 46-47, 52- Lam arti n e , A l p h o n se de 46
53, 60, 64-66, 79, 85 , 112, 231 Lamego , Alberto 1 6
G ó ngora y Argote, Lu i s de 12 Lam p i ão (Vi rgu l i n o Ferre i ra d a S i lva) 197
Go nzaga, To m ás Antô n i o ( D i rce u ) Lavrad i o , marq u ês d e 30
20-21 , 24 , 26-28, 30 , 8 6 , 228 Lea l , Antô n i o H e n ri q ues 66
G o u l a rt d e A n d rade, josé Leão, M ú cio 147
M ari a 102, 120, 149 Le ite, Se rafi m 9
G raça Aran h a , j osé Pere i ra d a Leo n ardos, Ste l l a 211
124, 152-53, 174, 203 Leo n i , Rau l d e 121
G rac i á n , Bal tasar 26 Lereno Selinuntino ver Cal d as
G u i m arae ns, A l p h o n s u s d e 132-33, 136, 336 Barbosa, D o m i ngos
G u i m arae n s Fi l h o , A l p h o n s u s Lessa, A u re l i a n o 71
d e 1 3 8 , 208-09, 428 Li m a Barreto, Afo nso H e n ri q u es de 184
G u i m araen s Passos, Sebastião Lima, Augu sto d e 1 07
Cícero dos 120 Li m a , j o rge de 195-97, 373
G u i m arães, Bernard o 71 Li m a , R u i C i rn e 191
G u i m arães, Edu ardo 147 Li n s d o Rego , josé 197
G u i m arães, Luiz 120, 303 Lisboa, Antô n i o Francisco ver Al eijad i n h o
G u l l ar, Ferrei ra 2 1 1 , 451 Lisboa, H en ri q u eta 1 9 1 , 394
Lis l e , Leconte de 112, 1 1 6
Hecker Fi l h o , Pau l o 211 Lo pes, B . 1 0 0 , 120
Heine, H e i n ri c h 137 Ló pez, Francisco Solano 77
H e n ri q u e 11 37 Luís, Pedro 78
Machado de Ass i s , J o aq u i m M aria Moraes, Vi n i c i u s de 200, 205, 207, 418
9 1 , 99, 1 07, 109, 184, 298 M o rais, n eto, Pru d e n te de,
M achado, An íbal 214 ver Dantas, Ped ro
M achado, G i l ka 120-21, 149 M o rais, E m a n u e l de 210
M aeterl i n ck, M a u ri ce 1 1 8 , 137 M o reyra, Álvaro 141 , 147, 1 83
M affe i , Sci p i o n e 30 M ota, M a u ro 209
M agal h ães, Adel i n o 182 M o u ra, E m íl i o 187, 190, 203 , 395
M agal h ães, Val e n t i m 98 M ü l l e r, Fritz 125
M a i stre, J oseph d e 201 M u sset, Alfred de 46, 78, 280
M a l fatti , A n i ta 149
M a l l armé, Sté p h a n e 100 N ava, Ped ro 214, 405
Mamede, Zi l a 211 Néri, São Fi l i p e 202
M ari ano, O l egári o 147 N e ry, Adalgisa 209
M a ríl i a ( M aria Dorote i a J o aq u i n a N e ry, I s m ael 200-01
d e Seixas) 2 1 , 24, 228-29 N i etzsc h e , Fri e d ri c h 165, 168
M a ri n etti , Fi l i ppo To m m aso 149 N ij i nsky, Vas l av 200
M aritai n , J ac q u e s 174 Niter6i 43, 48
M arq ues Reb e l o 184 N o b re, Antô n i o 139
M art i n s Fo n tes, J osé 120, 149 N ovai s, Caro l i n a Augu sta Xavi e r d e 91
M arti n s J ú n i o r, José I s i d o ro 98 N ovais, Fausti n o Xavi e r d e 9 1
M ascare n h as, José 15
M atos, G regó rio de 1 1 , 14, 217 Oj eda, Alonso de 51
M axi m i l i a n o , Fern ando J osé 82 O l i n to , Antô n i o 211
M e d e i ros, Antô n i o P i n to d e 211 O l ive i ra N eto , Luís Cam i l o de 28
M e i reles, Cecíl i a 182-85, 187, 396 O l ive i ra, Al berto d e 98-00,
Mello, Th i ago d e 210, 450 1 02-04, 1 0 6 , 116, 305
M e l o Franco, Afonso Ari nos de 27 O l ivei ra, Artu r de 98
M e l o Franco, Francisco de 40 O l ive i ra, Fe l i p e d' 141 , 147
M e n d es, M u ri l o 197, 199, 200-02, O l ive i ra, M a n u e l Bote l h o de 15, 1 8 , 26
204, 384 O l ive i ra, M arly de 211
M e n eses, E m í l i o de 102, 120 Orfeu 1 64
M e n eses, Luís d a C u n h a 26, 28 Ossian 77
M e n eses, Vasco Fern andes César d e 15 Otavi ano, Franci sco 76-77
M e n otti d e i Picc h i a , Paulo 151 , 174, 177, 182 Otávio Fi l h o , Rod rigo 141
M etastásio ( Pi etro Trap ass i ) 108 Oth ó n , M a n u e l José 1 1 0
M eyer, Augu sto 191, 209, 409 O to n i , E l ó i 38
M i l a n o , Dante 168, 400
M i l l iet, Sérgio 178, 180 Paixão Cearense, Catu l o da 149 , 195
Minerva Brasiliense 26 Patriota, O 32
M o n iz B a n d e i ra, Luiz Al b e rto Vian n a 211 Papel e Tinta 149
M o n t e i ro Lobato, J osé Bento 149 Pao l i e l o , D o m i ngos 211
M o n tezu m a 50 Ped e rn e i ras, M ário 139, 1 84
M o n tezu ma, Gê Acaiaba de 60 Ped ro 1, d. 60
478 * 479
Péguy, C h arles 205 Ri b e i ro , Bernard i m 147
Peixoto, Afrâ n i o 86, 88, 98 Ri b e i ro , Francisco das C h agas 27
Peixoto, M ário 209 R i b e i ro , João 20, 308
Pe l l egri n o , H é l i o 211 R i b e i ro , Santiago N u nes 26
Pen n a Fi l h o , Carlos 209 Riberte , Myrtes 211
Pen n afort, O n estal d o d e 136 , 147 Ricard o , Cassi a n o 174-75, 177, 453
Pere i ra da S i lva, Antô n i o J o aq u i m 139 Rodrigues de Abre u , Benedito Luís 181
Pern etta, E m i l i a n o 139 Ro d rigues Lapa, Manuel 24-25
Pessoa, Fern ando 1 65 Ro m e ro , S ílvio 44, 47-48, 78, 85, 98
Petrarca, Fran cesco 34
Pign atari , Décio 211 Sá-Carn e i ro, M ário de 1 65
P i m e n te l , C i ro 211 S a i n t- P i erre, J acques- H e n ri
Pínd aro 195 Bernard i n de 56
Pi n h e i ro , Fred 2 1 1 Salgad o , P l ín i o 174
P i n o , Wlad i m i r D i as 211 Salvado r, fre i Vice n te do 161
Pinto, Nilo Apareci d a 211 Samai n , A l be rt 139, 169
Pinzo n , M a rt i m 50 Santa Rita D u rão, J osé de 20, 35-38
Po m b a l , marq u ês de (Sebastião José Santo Ânge l o , barão de 47
d e Carva l h o e Melo) 31 , 33-34 São Carlos, fre i Franci sco de 38
Po m b e i ro, conde de 40 Sch i l l e r, Fri e d ri c h vo n 44, 65
Porto-Alegre , M a n u e l de Araújo S c h m i d t, Augu sto Frederico
44, 46-48, 51-52, 158 1 8 1 , 204-08, 415
Prad o, Paulo 151 Seixas, M aria Dorote i a J o aq u i n a
d e ver M a ríl i a
Q uental , An tero de 76, 97 S e n a , M arce l o d e 209
Q u eved o , Vasco Mouzi n h o de 12 S h akespeare , Wi l l iam 147, 150
Q u i net, Edgar 46 S h e l l ey, Percy Bysshe 253
Q u i ntana, M ário 209, 414 S i lva Alvarenga, M a n u e l I n ácio
d a 16, 20, 24, 31-32
Rabe l o , Lau r i n d o 71 S i lva, Antô n i o J osé da 47
Ramos, Péricles Eugê n i o da S i lva, D o m i ngos Carval h o da 437
S i lva 209-10, 436 S i lva, Ed m i r D o m i ngues da 211
Rangel M o re i ra, A. R. 209 S i lva, Francisca J ú l i a d a 120
Régis, Edson 211 S i lve i ra Neto, Manuel Azevedo
Re i s , M a rcos Ko n d e r 210-11 d a 125 , 139, 183
Re n a u lt, Abgar 187 S i lve i ra, Tasso Azevedo da 147, 1 82-84
Rese n d e , conde d e 32 S i m as, H e n ri q u e 2 1 1
Revista, A 1 87 S i mões, J o ão G a s p a r 1 84
Revista Brasileira 94 Soares, O rris 143
Revista de Antropofagia 161 Sociedad e Literári a 16, 31
Revista de Ciências e Letras 1 07 Sousa Cal d as, Antô n i o Pere i ra de 38
R i b e i ro Couto, Ru i 147, 151 , 155, S o u sa, Afonso Fe l ix de 210
1 65 , 1 68-69 , 171, 183, 370 Sousa, To mé d e 38
Sousân d rade, j o aq u i m de 77 Vasco ncelos, Luís d e 31
So uza da Si lve i ra, Álvaro Ferd i n an d o 74 Veiga, Francisco Luís Satu rn i n o d a 27
Ve iga, Luís Francisco d a 27
Tai n e , H i ppo lyte 150 Verde 187
Tavares, Ad e l m ar 149 Vergara, Ped ro 191
Tavares, Odorico 209 Veríss i m o , j osé 15 - 1 6 , 27, 37, 41 , 47,
Te ixe i ra, Bento 10-11 56, 1 04
Teixe i ra, Lucy 211 Verl a i n e , Paul 133, 137, 139 , 147
Teresa, Santa 139 Vi l l o n , François 174
Torres Homem, Franci sco d e Sales 46
Tostes, Teo d o m i ro 1 9 1 Whitman, Walt 168
amor e da morte, 1923 ] ; p. 341 "A catedral" [Idem] Fonte de cotejo: Poesia
completa. Org. Alphonsus de Guimaraens Filho, com a colaboração de
Alexei Bueno e Afonso Henriques Neto. RJ: Nova Aguilar, 2001. pp. 183;
A N Ô N I M O p. 16 "Oh mil anos viva amém ... " Fonte de cotejo: LAM E G O ,
Alberto. A Academia Brasz1ica dos Renascidos - Sua fondação e trabalhos inédi
tos. Paris/Bruxelas: L'Édition d'Art Gaudio, 1923. p. 26.
ASCENSO FERRE I RA pp. 364-67 "A mula-de-padre" [Cana caiana, 1939] Fonte
de cotejo: Catimbó e outrospoemas. RJ: José Olympio, 1963. pp. 81-83. © Ma
ria Luiza Gonçalves Ferreira
AUGUSTO DE CAM POS p. 452 "tensão" [Ovonovelo, 1954-60] Fonte de cotejo:
Viva Vaia. SP: Ateliê, 2007.
AUGUSTO DOS ANJOS p. 141 "Psicologia de um vencido" [Eu, 1912] ; p. 141
"Soneto" [Idem] ; p. 141 "A noite" [Eu e outraspoesias, 1919 ]; p. 141 "Viagem de
um vencido" [Idem]; p. 141 "0 monólogo de uma sombra" [Eu, 1912] ; pp. 141
e 348 "O lamento das coisas" [Eu e outras poesias, 1919] ; p. 144 "Versos
de amor" [Eu, 19u] ; p. 144 "Queixas noturnas" [Idem]; pp. 146 e 342-47
"As cismas do destino" (trecho) [Idem]; p. 347 "Último credo" [Idem]; e
p. 349 "O último número" [Eu e outraspoesias, 1919] Fonte de cotejo: Obra
completa. Org., fixação do texto e notas de Alexei Bueno. RJ: Nova Aguilar,
2004. pp. 203; 207; 362; 309; 358-61; 195; 267-68; 291; 211-223; 230; 365.
BUENO DE RIVE RA pp. 434-35 "O fantasma" [Mundo submerso, 1944] Fonte
de cotejo: Mundo submerso. RJ: José Olympio, 1944. pp. 14-15.
Valverde, 1944. pp. 163-65. pp. 259-6r "Nem sempre (hora de delírio)"
[Contradições poéticas, 1855] ; pp. 261-63 "Louco (hora de delírio)" [Idem]
Fonte de cotejo: Poesias completas deJunqueira Freire 11 Contradições poéti
-
cas e Poesias esparsas e inéditas. RJ: Zelio Valverde, 1944. pp. 64-66; 57-58.
LÊDO IVO pp. 446-47 "Naipe de Elisabete" [Ode ao crepúsculo, 1948] ; p. 445
"A vã feitiçaria" [Panorama da nova poesia brasileira, 1951] Fonte de cotejo:
Poesia completa (1 940-2004). Org. Ivan Junqueira. RJ: Topbooks, 2004.
pp. 170-71; 318. © dos textos de Lêdo Ivo, de Lêdo Ivo. Direitos cedidos
por Solombra - Agência Literária
LÚCIO CARDO S O p. 208 "Mazepa" [Poesias, 1941] Fonte de cotejo: Poesia
completa. Ed. crítica de Ésio Macedo Ribeiro. Prefácio de João Adolfo
Hansen. S P : Edusp, no prelo.
LUIZ DELFINO p. 297 "ln Her Book" [Íntimas e aspásias, 1935] ; p. 298 "A pri
meira lágrima" [Imortalidades III, 1942] Fonte de cotejo: Poesia completa I.
Org., estudo e bibliografia de Lauro Junkes. Florianópolis: ACL, 2001.
pp. 191; 666.
LUIZ GUIMARÃES pp. 303-04 "Visita à casa paterna" [Lyrica: sonetos e rimas,
1880] ; pp. 304-05 "O esquife" [idem] Fonte de cotejo: Sonetos e rimas. 4
ed. Lisboa: Livraria Clássica Editora de A. M. Teixeira & C. ª (Filhos),
1925. pp. 13; 9.
MACHADO DE ASSIS pp. 92-94 "Epitáfio do México" [Crisálidas, 1864]; pp. 95
e 299-302 "A mosca azul" [Ocidentais, 1900]; pp. 298-99 "Círculo vicioso"
[Idem]; pp. 302-03 "Uma criatura" [Idem] Fonte de cotejo: Obra completa III.
Org. Afrânio Coutinho. RJ: Nova Aguilar, 1992. pp. 22; 161-62; 151; 151-52.
MANU E L B AN D E I RA PP· 465 e 474 "A morte absoluta" [Lira dos
cinquent'anos in Poesias completas, 1940] ; pp. 467-68 "Última canção
490 * 49 1
do beco" [Idem] ; p. 469 "Desencanto" [A cinza das horas, 1917] ; p. 469
"Noite morta" [O ritmo dissoluto in Poesias, 1924] ; p. 470 "Pneumotórax"
[Libertinagem, 1930] ; pp. 471-72 "Profundamente" [Idem] ; p. 473
"Rondó dos cavalinhos" [Estrela da manhã, 1936] ; p. 473 "Momento
num café" [Idem] ; p. 474 "Canção do vento e da minha vida" [Lira
dos cinquent'anos, in Poesias completas, 1940]
MANUEL DE ARAÚJO PORTO-ALEGRE pp. 49; 50 e 51 Colombo [Colombo, 1866]
Fonte de cotejo: Colombo. R]: Livraria B. L. Garnier, 1866. pp. 69; 164; 251.
M Á RIO CHAMIE p. 213 "Migradores" [Os rodízios, 1958] . pp. 142-43.
MÁRIO DE ANDRADE p. 151 "Ode ao burguês" [Pauliceia desvairada, 1922] ; pp.
159 e 354-56 "O poeta come amendoim" [Clã dojabuti, 1927] ; pp. 159- 60
e 357-58 "Poemas da negra" ( I e m) [Remate de males, 1930] ; p. 160
"Lundu do escritor dificil" [A costela do grã-cão, 1941] ; p. 357 "Toada do
Pai-do-Mato (Índios Pareeis)" [Clã do jabuti, 1927]; pp. 358-60 "A serra
do Rola-Moça" (trecho de "No turno de Belo Horizonte") [Clã do jabuti,
1927] Fonte de cotejo: Poesias completas. Ed. crítica de Diléa Zanotto
Manfio. B H : SP, Itatiaia: Edusp, 1987. pp. 88-89; 161-62; 247; 248; 306-07;
191; 184-86. A obra de Mário de Andrade é publicada pela editora Agir
MÁRIO P E D ERNEIRAS pp. 139-40 "Velha morada" [Histórias do meu casal,
1906] Fonte de cotejo: Poesia reunida. Estudo introdutório, org. e est.
de texto de Antonio Carlos Secchin. RJ: Academia Brasileira de Letras,
2004. PP· III-115.
MÁRIO QUINTANA p. 414 "Poema. 1" [O aprendiz de feiticeiro, 1950] ; p. 414
"Poema. 2" [O aprendiz de feiticeiro, 1950] Fonte de cotejo: Poesias. 9 ed.
São Paulo: Globo, 1994· pp. 151-52; 160.
MURILO MENDES p. 384 "Os dois lados" [Poemas, 1930] ; pp. 384-86 "Mapa"
[Poemas, 1930] ; p. 387 "O impenitente" [A Poesia em pânico, 1938] Fonte
de cotejo: Poesia completa & prosa. RJ: Nova Aguilar, 1994. pp. 98; 116-17;
286. © by Maria da Saudade Cortesão Mendes
ODYLO COSTA, FILHO pp. 448-49 "Soneto de N. S. do Bom Parto". © Her
deiros de Odylo Costa, Filho
OLAVO BILAC pp. III-12 "Profissão de fé" [Poesias, 1888] ; pp. n4, n5 e 316-18
"O caçador de esmeraldas" [Poesias, 1902] ; p. n5 "Ciclo" [Tarde, 1919] ;
p. n6 "O vale" [idem] ; pp. 314-15 "Língua portuguesa" [Tarde, 1919] ;
p. 315 "Música brasileira" [Tarde, 1919] Fonte de cotejo: Obra reunida.
Org. e introdução de Alexei Bueno. RJ: Nova Aguilar, 1997. pp. 89-92;
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OSWALD DE ANDRA D E pp. 161-63 "Os selvagens" (Pero Vaz Caminha) [Pau
Brasil, 1925] ; p. 163 "Chorographia" [Idem]; p. 163 "Vício na fala" [Idem];
pp. 163-64 "Noturno" [Idem] ; p. 164 "Procissão de enterro" [Idem]; p.
164 "Ressurreição" [Idem] Fonte de cotejo: Pau Brasil. Fixação de textos,
notas e posfácio de Haroldo de Campos. S P : Globo, 2003. pp. rn7; rn9;
80; 131; 179; 181. © Espólio de Oswald de Andrade
PAULO M E N D E S CAM P O S PP· 449-50 "Cântico a Deus" [A palavra escrita,
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1946. pp. 167-68. © Espólio de Maria Sampaio Prudente de Moraes.
P E D RO NAVA pp. 405-08 "O defunto" [Antologia de poetas bissextos, 1946]
Fonte de cotejo: Antologia de poetas bissextos, 1946. © Paulo Menezes
Nogueira Penido
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Péricles Eugênio da Silva Ramos
RAIMUNDO CORREIA P· I08 "Anoitecer" [Sinfonias, 1883] ; p. I09 ''Jó" [Versos
e versões, 1887] ; pp. no; 3rn-n "Banzo" [Poesias, 1898] ; pp. 309-m "Ser
moça e bela ser ... " [Idem] ; p. 311-13 "Plenilúnio" [Idem] Fonte de co
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Renascença Portuguesa, 1922, pp. m8; 195-98; 190-91; 8-9; 155-57. p. no
"Fascinação" [Versos e versões, 1887] Fonte de cotejo: Poesia completa e
492 * 493
prosa. Texto, cronologia, notas e estudo biográfico de Waldir Ribeiro
do Val. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1961. p. 207.
RAUL BOPP pp. 367-69 "Cobra Norato" (fragmento) [Cobra Norato, 1931];
pp. 369-70 "Negro" [Urucungo, 1932] Fonte de cotejo: Poesia completa. Org.,
preparação e comentários de Augusto Massi. RJ: SP: José Olympio/Edusp,
1998. pp. 148-50; 209. ©Jorge Luiz Bopp e Sérgio Alfredo Bopp. Represen
tados por AMS Agenciamento Artístico, Cultural e Literário Ltda
RAU L D E L E O N I pp. 121-22 "Instinto" [Luz mediterrânea, 1922] Fonte de
cotejo: Luz mediterrânea e outros poemas. Introd., org. e fixação de texto
de Sérgio Alcides. S P : Martins Fontes, 2001. p. 43.
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jardim das confidências, 1921]; p. 169 "Surdina" [Poemetos de ternura e melan
colia, 1924]; p. 169 "L'École des Femmes" [Um homem na multidão, 1926]; p.
171 "Noroeste" [Noroeste e outros poemas do Brasil, 1933]; pp. 172 "Por mares
andei ... " [Cancioneiro do ausente, 1943] ; pp. 370-71 "O banho" [Dia longo,
1945]; pp. 371-72 "Viagem" [Cancioneiro do ausente, 1943]; pp. 372-73 "Elegia"
[Idem] Fonte de cotejo: Poesias reunidas. RJ: José Olympio, 1960. pp. 6; 55;
129; 235-37; 372; 230; 331; 346. © dos textos de Ribeiro Couto, de João Maria
Pereira Rennó. Direitos cedidos por Solombra - Agência Literária
RO DRIGUES D E ABREU pp. 181-82 "Mar desconhecido" [Casa destelhada, 1927]
Fonte de cotejo: Casa destelhada. S P : Editorial Helios, 1927. pp. 87-89.
RONALD DE CARVALHO p. 166 "Epigrama" [Epigramas irônicos e sentimen
tais, 1922]; p. 166 "Advertência" [Idem] ; p. 166 "Toda a América" [Idem] ;
pp. 360-63 "Brasil" [Idem] ; pp. 363-64 "O mercado de prata, de ouro e de
esmeralda" [fogos pueris, 1926] ; p. 364 "Epigrama" [Toda a América, 1926]
Fonte de cotejo: Toda a América. Original brasileiro seguido da versão
espanhola. SP / RJ: Editora Hispano-Brasileiia, 1935. pp. 9-n; 55; 12-15.
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Introd., org. e fixação de texto de Ronald Polito. S P : Martins Fontes,
2001. PP· II-12; 75; 221; 320.
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mem ... " [Poemas, 1943] ; p. 181 "Oh poeta de minha terra ... " [Idem] Fon
te de cotejo: Poesias. RJ/P O RTO ALEGRE/SP: Globo, 1946. pp. 43; 93; 92.
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Moura Albuquerque de Guimarães
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tora da Unicamp, 2003. p. 127.
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"
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27-28 e 30 Cartas chilenas [Cartas chilenas, 1863] Fonte de cotejo: Cartas
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Furtado. S P : Companhia das Letras, 1996. pp. 127-28; 139; 157.
VICENTE DE CARVALHO PP· 118 "Última confidência" [Poemas e canções, 1908] ;
p. 118 "Carta a v. s . " [Idem] ; pp. 120 e 323-27 "Sugestões do crepúsculo"
[Rosa, rosa de amor, 1902]; pp. 318-19 "Velho tema" (1 v) [Poemas e canções,
1908] ; pp. 319-22 "Pequenino morto" [Idem] Fonte de cotejo: de Poemas
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VINICIUS DE MORAES p. 207 "O incriado" [Forma e exegese, 1935] ; PP· 416-
17 "Poema de Natal" [Poemas, sonetos e baladas, 1946] ; pp. 419-22 "Ro
sário" [Poemas, sonetos e baladas, 1946] ; pp. 422-28 "Elegia quase uma
ode" [Cinco elegias, 1943] Fonte de cotejo: Obra poética. Org. de Afrânio
Coutinho, com assistência do autor. RJ: José Aguilar, 1968. pp. 131-36;
295-96; 279-81; 219-24. A editora agradece o auxílio de Eucanaã Ferraz
no cotejo dos poemas de Vinicius de Moraes.
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Créd ito das imagens
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sou mais limpo a chuva pingo a [ilegível]/ Cai sobre mim e tira um som
mais longo !// Que me importa que me chamem louco,/ Louco
mais louco que os outros,/ Louco varrido?/ Si sou mais varrido que os
outros/ Sou mais limpo e sou mais oco.// Si sou mais limpo os badalos
dos martírios/ Batem em mim tirando um som mais/ longo !//
Si sou mais oco as filhas do destino/ Riem por mim tirando um som
mais longo !// Quem é louco não canta versos roucos,/ Suas ideias têm o
gemido/ Mais simples e mais natural !/ Eu sou o mais louco dos loucos,/
Louco entre loucos, sou Parsifae ! Mario de Andrade. S. Paulo". [p. 162]
Caricatura de Oswald de Andrade por Alvarus, com autógrafo de Oswald.
Publicado em Hoje tem espetáculo! Bonecos de Alvarus. RJ: Zelio Valverde,
1941. Transcrição do autógrafo: "Esse Alvarus - aliás, Alvar - merece três
forcas e um pouco de graça. Oswald 1949". [p. 167] Capa de jogos pueris,
de Ronald de Carvalho. Ilustrações de Nicola De Garo. RJ: s.c.p., 1926. [p.
170] Frontispício de O jardim das confidências, de Ribeiro Couto. S P : Mon
teiro Lobato & Cia. Editores, 1921. [p. 176] Página de Martim Cererê - O
Brasil dos meninos, dos poetas, dos heróis. sP: S. Paulo Editora, 1928. [p. 179]
Capa de Urucungo (Poemas negros), de Raul Bopp. RJ: Ariel, s.d. [p. 186]
Frontispício de Nunca mais... e Poema dos poemas, Cecília Meireles. RJ: Leite
Ribeiro, 1923. [p. 189] Caricatura de Carlos Drummond de Andrade por
Alvarus, com autógrafo de Drummond. Publicado em Hoje tem espetáculo!
Bonecos de Alvarus. RJ: Zelio Valverde, 1941. Transcrição do autógrafo: "Meu
caro Mindlin: esta caricatura foi motivo de um desentendimento sério
com Alvarus. Passaram-se os tempos, e eu e ele nos tomamos excelentes
amigos. Carlos Drummond de Andrade. Rio 4.x. 86". [pp. 192-93] Manus
crito do poema "A morte a cavalo", de Carlos Drummond de Andrade. [p.
198] Capa de Poemas escolhidos, de Jorge de Lima, com desenho de Manuel
Bandeira, homônimo do poeta. RJ : Adersen, 1932. [p. 212] Poema "ten
são", de Augusto de Campos, publicado em Poesias 1949-1979. sP: Livraria
Duas Cidades, 1979.
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Sobre o autor
500 * 501
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© da iconografia de Manuel Bandeira, dos proprietários dos direitos de imagem
de Manuel Bandeira
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CRÔNICAS INÉDITAS I
1920-1931
Organização, posfácio e notas de
CRÔNICAS INÉDITAS 2
1930-1944
Organização, posfácio e notas de
POESIA
TI RAG E M 7 000