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O MERCADO CAFEEIRO SEM

INTERVENÇÃO
GOVERNAMENTAL
Delfim Netto (2009)
Prof. Edivaldo Constantino
ESTRUTURA DA AULA
O problema do café no Brasil
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Exportações - café em grão - qde - Sacas de 60 kg (mil) 1864
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Produção - café - qde. - Sacas de 60 kg (mil)

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Exportações - café em grão - qde - Sacas de 60 kg (mil)


1863
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Exportações - café em grão - Libra esterlina (mil)

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Produção - café - qde. - Sacas de 60 kg (mil) Preço médio - café - Sacas de 60 kg - Reis
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Preço médio - café - Sacas de 60 kg - Reis

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Preço médio - café - Sacas de 60 kg - Reis

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Produção - café - qde. - Sacas de 60 kg (mil)

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Produção - café - qde. - Sacas de 60 kg (mil)

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1877
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1885
1887
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1893
1895
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1901
1903
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1919
1921
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1925
1927
1929
1931
1933
1935
1937
1939
Produção mundial Produção brasileira

MARTINS, M & JOHNSTON, E. 150 anos de café. São Paulo: Salamandra Consultoria Editorial, 1992, pp. 365-367
900,0 30,000

800,0 26,438
25,250 25,000
700,0
22,438 22,563

600,0 20,000
18,688
18,594
500,0
14,906 15,000
400,0
12,031
11,594 9,938 9,500
300,0 10,000
10,094 9,063
7,719
7,438
200,0
7,188
5,000
100,0

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1885 1886 1887 1888 1889 1890 1891 1892 1893 1894 1895 1896 1897 1898 1899 1900

M0 - base monetária - papel moeda emitido - fim período - Conto de réis (mil) - Outras fontes, inclusive compilação de vários
autores - HIST_PME
Taxa de câmbio - libra esterlina / mil réis - RJ - Pence - Outras fontes, inclusive compilação de vários autores - HIST_ERVL
MV = PY (dicotomia clássica)

E = US$ / R$

M  i  Investimento externo  E = US$ / R$  E desvaloriza  X


O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
Objetivo: Mostrar o comportamento cíclico dos preços no mercado cafeeiro e as
implicações desse movimento sobre a economia nacional.

Série de preços de café: Preço de importação nos Estados Unidos


 (Pagamento total em dólares dividido pelo volume de café importado).

Reflete o comportamento dos preços de todos os cafés (concorrentes)


Importância dos vários tipos de café
O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
Intervenção governamental no mercado cafeeiro  1906.
Não é nosso foco. Queremos entender os movimentos oscilatórios sem a
intervenção.

Mercado cafeeiro livre, com preços apresentando as seguintes características:


a) Flutuaram sem apresentar qualquer tendência secular
b) As flutuações indicam que existe um movimento oscilatório
O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
Porque o mercado cafeeiro, em condições normais, deve apresentar um comportamento
oscilatório?

O café começa a produzir a partir do quarto ou quinto ano de vida. Depois disso, continua
produzindo economicamente durante um número variável de anos (15 a 20 em áreas menos
férteis; 50 a 60 em áreas excepcionais)

“Para compreendermos a existência dos ciclos, basta considerarmos o caso mais simples, em que
o café produzisse somente uma vez depois de quatro anos. Nessas circunstâncias, a oferta de
café no ano t dependeria, não do preço do café no ano t, mas do seu preço no ano t-4 (quando
a plantação foi realizada).”

Delfim Netto. O problema do café no Brasil. Cap.1


O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
O primeiro ciclo do café (1857-1868)

Elevação de preços a partir de 1857:


Recuperação da economia europeia + Infestação no café (Elachista coffeela) + Lei Euzébio de
Queiroz de 1850 (atingiu a oferta de mão-de-obra)

Melhoria da receita de divisas.


O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
Plantações de café sofreram estímulos, o que provocou grande mobilidade de mão-
de-obra.
 Expansão do café em São Paulo

Guerra do Paraguai (1864)


 Preços do café no mercado internacional em queda
 Redução da demanda norte-americana (Guerra de Secessão) + Expansão brasileira + Produção da
América Central
8000 50000

45000
7000

40000
6000
35000

5000
30000

4000 25000

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3000

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10000

1000
5000

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Produção - café - qde. - Sacas de 60 kg (mil) Preço médio - café - Sacas de 60 kg - Reis
O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
A partir de 1865 começou a se processar uma revolução tecnológica no que diz respeito ao
consumo do café.
Antes o café era vendido verde e era torrado pelos próprios consumidores. Agora, surgiu o
café torrado em pacotes
Efeitos:
1) Era mais trabalhoso para o consumidor preparar o café.
 O café torrado perde logo seu aroma e sabor, de tal forma que a operação devia ser realizada com
pequenas quantidades.

2) Com o novo formato, nasceu a especialização e se generalizou a “prova de xícara”.


 Tornou-se possível padronizar certas misturas, que produziam bebidas com paladar específico.
 Diferenciação do café pela marca.
O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL

“No início, o melhor aproveitamento do produto poderia indicar uma diminuição do


consumo total de café, mas a facilidade de uso e a comodidade introduzida pelo café
em pacotes superaram largamente aquela diminuição e o consumo total de café
cresceu.”

Delfim Netto. O problema do café no Brasil. Cap.1

 Depois o café solúvel veio a introduzir novas alterações.


O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
“Quando, a partir de 1863, os preços do café começaram a cair, a ampliação do volume
exportado permitiu a manutenção do mesmo nível de receita de divisas obtidas com o
produto.”
Delfim Netto. O problema do café no Brasil. Cap.1

Crise econômica na França e Inglaterra em 1866.


 Redução na renda dos consumidores.
 Redução dos preços do café
O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
Movimentos da curva de demanda e não ao longo da curva de demanda influenciaram
os preços do café.

Durante o período, o sistema de preços funcionou corretamente, pois os preços internos


do café baixaram juntamente com os preços internacionais.

Mas, ainda assim, a baixa dos preços internos era insuficiente para desestimular as
novas plantações que começaram a desenvolver no interior paulista, graças às
facilidades proporcionadas pela construção das estradas de ferro.
O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
O segundo ciclo do café (1869-1885)
Produção de café vinha crescendo. Mas sofreu uma redução.
Quebra da safra brasileira e da América Central

Aliado a uma expansão do consumo

Resulta em novo ciclo de elevação dos preços no mercado internacional que iria durar até
1874
8000 50000

45000
7000

40000
6000
35000

5000
30000

4000 25000

20000
3000

15000
2000
10000

1000
5000

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Produção - café - qde. - Sacas de 60 kg (mil) Preço médio - café - Sacas de 60 kg - Reis
O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
Crise mundial em 1873.
 Redução da renda na Europa.
 Redução do consumo.
 Os preços caem.
 A produção de Java quebra, favorecendo nossa receita de divisas.

Mas, com a seca no NE os déficits orçamentários cresceram.


 Pressão que reduziu o câmbio, apesar do aumento da receita com o café.
O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
Mas note:
1) ocorre uma redução dos preços do café (devido a redução no consumo),
2) mas por outro lado a pressão para importar (devido, entre outros motivos, a seca
no NE), a taxa cambial começou a desvalorizar.
3) Durante algum tempo, os movimentos de baixa do preço do café no mercado
internacional foram compensados.
4) A remuneração do café, em moeda nacional, diminuiu de forma mais lenta.
5) Por isso, que apesar do mercado se manter em baixa durante quase 10 anos, a
produção de café não deixou de aumentar.
O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
E = US$ 1/R$ 5
O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL Se a moeda nacional perde
valor temos:

E = US$ 1/R$ 20
Câmbio deprecia.

Aqui:
E* = E. (P*/P)
E* significa apreciação.
-Cafeicultor recebe menos
Com exceção de 1875 e 1876, os movimentos da taxa cambial tenderam a amortecer a em moeda nacional.
queda dos preços do produto em moeda nacional. Conserva a receita com as dividas. -Receita é menor.
Em 1882, os preços baixaram ainda mais devido a crises na Europa e nos EUA.
O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
O terceiro ciclo do café (1886-1906)

Expansão do consumo e outra nova e violenta fase expansão dos preços do café.
Último ciclo sem intervenção governamental

Quebra da safra de 1887/1888. (50%).


Flutuação da oferta, associada ao próprio ciclo cafeeiro, que explicam o preço
internacional do produto.
Crise na Europa e nos EUA superada. Mercados exibem forte crescimento.
8000 50000

45000
7000

40000
6000
35000

5000
30000

4000 25000

20000
3000

15000
2000
10000

1000
5000

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Produção - café - qde. - Sacas de 60 kg (mil) Preço médio - café - Sacas de 60 kg - Reis
Aqui:
E* = E. (P*/P)
O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
Nem mesmo os altos preços
do café poderiam sustentar
Abolição da escravidão a taxa cambial. Origem de
 Capital de movimento exigido era maior todo o problema cafeeiro!
Operações financeiras do Governo Imperial
 Aumento de oferta de moeda que desvalorizava o câmbio. (desorganização do sistema bancário,
déficits orçamentários, inflação sem precedentes, encilhamento)
 Mas a elevação dos preços do café, corrigiam os efeitos do câmbio e os estímulos para novas
plantações.
O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
Entre 1890 e 1894 tivemos crise na economia americana + aumento da produção 
Preços do café começam a cair.

Ora, aumento de produção e retração da renda dos consumidores exigiria uma


redução dos preços. (ajuste via quantidade vendida). Era assim que funcionou até
então!

Mas acontece algo diferente: as exportações não conseguem crescer o suficiente


para compensar a baixa de preços.
O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
Aqui:
E* = E. (P*/P)
O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
Agora, preços do café
caem! O câmbio também!
O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
A coincidência de uma queda mais rápida do câmbio do que dos preços do café
criou condições para a expansão da cultura cafeeira quando o mercado já não
poderia absorver a quantidade produzida a não ser a níveis ínfimos de preços.
O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
Era preciso sanear o descontrole orçamentário.
Saneamento monetário de Joaquim Murtinho (Ministro da Fazenda).

Com o funding loan, conduziu a um aumento da taxa cambial e redução da


remuneração do café em moeda nacional (reduz estímulos para novas plantações).
O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
Verificamos que até a República, as cotações em moeda nacional e os preços
internacionais do café estavam estreitamente ligados (apesar do atraso da oferta).
A receita de divisas mantém-se relativamente estável, apesar das flutuações dos
preços. Isso se deve a ampliação das exportações.
O PROBLEMA DO CAFÉ NO BRASIL
O MERCADO CAFEEIRO SEM
INTERVENÇÃO
GOVERNAMENTAL
Delfim Netto (2009)
Prof. Edivaldo Constantino

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