Você está na página 1de 161

Aviso

Essa é uma tradução amadora feita de fãs para fãs realizada pelo grupo Kardia Mou Traduções sem fins
lucrativos e sem nenhuma forma de compensação apenas com o intuito de fornecer acesso gratuito a obras
estrangeiras com temática M/M e F/F.

Como trata-se de uma prática criminosa para não nos expor a denúncias ou processos judiciais e para manter
o funcionamento do grupo, pedimos que:

Não publique vídeos no Tiktok sobre qualquer livro traduzido pelo grupo, bem como não exponha em
comentários que existe a tradução do livro.

É proibido quaisquer postagens em redes sociais com trecho e imagens dos livros.
Não comente que você leu esse livro traduzido em qualquer rede social, essa é uma prática que nos expõe a
possíveis processos judiciais.
Todo download dos respectivos livros destina-se exclusivamente ao uso pessoal, sendo PROIBIDO seu
compartilhamento abertamente em drives ou plataformas similares para disponibilização em redes sociais.
por Gianni Holmes

por April Jade

por Skyler Snow

por Ashlynn Mills

por Brea Alepoù


O que começou como nada mais do que um produto para eles
rapidamente se tornou tudo para mim.
Todas as sextas-feiras são iguais. Dirijo um caminhão emprestado até um
armazém para pegar uma entrega. A traseira do caminhão fica trancada o
tempo todo e nunca olho para dentro, não importa o que aconteça. Estas são
as regras que devo seguir sem nenhum contratempo.
Nada pode dar errado. Até que tudo dá errado.
A curiosidade contra a qual costumo lutar acaba vencendo quando estou
encalhado no meio do nada. Algo me chama a atenção para a traseira do
caminhão e assim que destranco a fechadura não tem como voltar atrás. Não
posso mais mentir para mim mesmo quando finalmente vejo o que estou
entregando.
Um olhar para o homem bonito e assustado rastejando para fora da
escuridão, e todas as regras vão para o inferno, assim como a promessa de
segurança da minha família. Não posso ir embora, não importa o quanto eu
tente. O homem sem coração que me tornei para manter meus entes queridos
seguros agora parece demais e não posso mais terminar o que comecei.
Paxton realmente vale o risco? Posso mantê-lo a salvo dos homens que
estão atrás de nós. Mais importante, posso protegê-lo de mim mesmo? Isso
não vai me impedir de tentar. Eles o querem e continuarão buscando até
conseguirem o que querem.
Ele e todos os outros continuam esquecendo um detalhe muito
importante, a única pessoa a quem ele pertence sou eu.
Be Mine, Heartless Valentine faz parte de uma colaboração de vários autores.
Livre-se dos corações, flores e entre no mundo sombrio do Corrupt Cupid. Cada livro
pode ser lido separadamente, mas por que não pegar cada um dos contos românticos
enlouquecidos enquanto você entra em um lugar onde à escuridão reina?

Este livro é sobre dois homens com menos probabilidade de se apaixonar, que são
forçados a precisar e se querer depois de serem atingidos pela flecha do Cupido.
Sequestro, consentimento duvidoso, sexo durante o sono, bondage, jogo
de faca leve, menções de tráfico sexual, agressão sexual por personagens
secundários, menção de drogas, muitas mortes e menções de abuso passado.
Outros conteúdos:
Aquecimento do pênis1, controle de orgasmo e negação do orgasmo.
Observação:
Nesta história, o Cupido atua como uma manifestação, sussurrando e
colocando pensamentos na cabeça de ambos os personagens principais.
Ambos os homens são vítimas da flecha do cupido e rapidamente começam
a querer coisas que não deveriam.

1Sujeito do sexo masculino que opta por manter seu pênis dentro ou na boca após a relação sexual, apenas
para manter seu membro em uma temperatura agradável.
1

Paxton
— Não se esqueça do seu jantar de aniversário esta noite.
— Não vou. — Acenando para meu doador de esperma, saio pela porta
da frente da casa. Sem abraços de despedida ou “eu te amo”. Não é o que
fazemos. Não é o que ele já fez. Nem mesmo quando eu era mais jovem e
acordava no meio da noite com pesadelos. Principalmente porque ele estava
muito ocupado em algum bar se drogando enquanto minha mãe trabalhava
em dobro. O cara é muito estranho para ele se safar agora e passei muito
tempo sem me importar.
Ele cumpriu pena por dirigir embriagado muitas vezes e queria ser o herói
que me salvou depois que eu não tinha mais para onde ir. Ele havia parado
e estava organizando sua vida, então, aos olhos dele, isso significava que
finalmente poderíamos ser a família perfeita. Não importava se dois de nós
estavam faltando na equação.
Onde ele estava todos aqueles dias em que meu irmão e eu mais
precisávamos dele? Depois que perdemos minha mãe em um acidente de
carro fatal, fomos colocados em acolhimento familiar até que eles pudessem
encontrar alguém da nossa família que estivesse disposto a nos acolher. Ele
está muito atrasado. Nada do que ele fará ou diga poderá compensar o que
sofremos graças às suas más escolhas de vida.
Entrando no meu carro, jogo minha bolsa na parte de trás e tiro meu
telefone vibrando do bolso. A mensagem me faz sorrir largamente.
Eddie: Mal posso esperar até você chegar aqui! O acampamento já está
montado.
Meu pai não era o único que tinha planos para mim hoje. Meu namorado,
Eddie, também. Eu disse a ele que nunca tinha acampado antes, então ele
queria me levar no meu aniversário neste fim de semana. Eu não queria ir,
mas não estava fazendo isso por mim. Não sou o único que faz aniversário
hoje, mas sou o único que está vivo para celebrá-lo.
Retiro uma foto do meu irmão da carteira, colocando-a no visor. — Feliz
aniversário, pirralho — eu digo, passando meu polegar sobre nossos
sorrisos. O dele pode ter sido real, mas o meu foi forçado para seu benefício.
Ele precisava de mim para ser feliz. Foi o que preservou sua luz e o manteve
em movimento. Fingi por tanto tempo que não reconheceria o verdadeiro
sentimento se ele inundasse todo o meu ser. Hoje vou fingir por ele e dar-lhe
a festa que ele merece.
Eu li a mensagem de texto mais algumas vezes antes de responder.
Eu: Também mal posso. Quem diria que nossa primeira noite juntos seria
do lado de fora em uma pequena barraca.
Eddie: Não vai. Esta noite vamos dormir sob as estrelas.
Meu coração aperta no meu peito e largo o telefone no meu colo. Velhas
lembranças nunca param de me atormentar, inundando minha mente
sempre que me lembro de conversas com... Ainda não consigo pensar no
nome dele depois de todo esse tempo, mas não tenho problemas em dizê-lo
em voz alta ou ouvi-lo. É quase como se ele ainda estivesse aqui.
Mas sempre que está na minha cabeça, é usado apenas no passado e ainda
não estou pronto para isso. É tão foda pra caralho. Um momento
compartilhado com ele na cozinha de um dos muitos lugares que moramos
me mantém como refém e sua voz é tão alta em minha cabeça, junto com seu
rosto radiante.
Por mais que eu tente afastar seu sorriso esperançoso, não consigo. Quase
como se estivesse zombando de mim. Como posso sair em alguma viagem e
ter o melhor momento da minha vida sem ele? Não é justo. Nunca será.
— Não seria legal se pudéssemos fazer tudo sob o céu estrelado? — Ele pergunta.
Inclinando a cabeça, varro o prato quebrado para a pá de lixo. — Como assim?
Não vai mudar nada. — Não importa em que cenário estejamos, eu ainda estaria
preso nessa situação de merda. Não será a última vez que vamos fazer isso depois da
bagunça que meu pai adotivo fez por não estar satisfeito com o jantar. O único
conforto é saber que teremos um ao outro em tudo isso.
Eles tentaram nos separar quando entramos no sistema de adoção, mas lutei
contra eles a cada passo do caminho e faria isso todas as malditas vezes. Eles não vão
tirar a única parte de mim que já fez sentido e ofereceu algum tipo de esperança.
Ele se inclina contra o balcão, olhando pela janela. — Porque então teríamos algo
bonito para focar e isso ajudaria a nos distrair de todo o mal por um tempo.
— Então você olha para baixo e percebe que não pode durar muito porque isso
sempre vence.
Ele torce os lábios. — Então continue olhando para cima.
Apoiando-me demais no volante, toco a buzina sem querer, despertando-
me do estupor. Apertando meus olhos fechados para reprimir as lágrimas
que eu tenho lutado por muito tempo, respiro fundo e expiro lentamente.
Quanto mais fico aqui, mais tempo dou a Josh para sair e me ver.
Muitas vezes ele esquece que gosto da minha privacidade e não ganhou o
direito de se preocupar se estou bem ou não. Só estou aqui porque ainda não
tenho dinheiro suficiente para pagar minha própria casa e porque ele acha
que minha estadia nos ajudará a recuperar o tempo perdido. Ele está
tentando e todos os meus amigos acham que eu também deveria. Para meu
próprio benefício ou dele?
Tirei o dia de folga do trabalho e contei a todos, menos a Josh, onde estarei.
Foda-se ele. Ele descobrirá em algumas horas quando estiver sentado
sozinho à mesa de jantar. Ele me decepcionou a vida toda, ele merece saber
como é ser decepcionado por alguém de quem você espera mais.
Ligando o carro, saio da garagem e entro na estrada, indo para o endereço
que Eddie me enviou ontem à noite. Posso respirar melhor quanto mais
longe estou da minha casa e das intermináveis perguntas de Josh.
Está com fome? Posso pegar alguma coisa? Como foi o seu dia? Você dormiu bem?
Então, é claro, aquela que ele não diz em voz alta. — Você ainda me culpa?
A resposta sempre será não para todas, exceto para a última. O que
aconteceu com minha mãe e meu irmão foi e sempre será culpa dele. Ele
deveria estar presente e não esteve. Tantos desgostos e mágoas poderiam ter
sido evitados. Meu irmão poderia estar sentado ao meu lado, lembrando-me
de seu medo de ursos e da água contaminada do lago. Isso teria me dado um
motivo para rir e sorrir como eu costumava fazer.
Nada disso parece mais genuíno. Nem mesmo meus sentimentos por
Eddie. Tudo nele se encaixa nos atributos do namorado perfeito que outra
pessoa sonhou. Ele é engraçado, sexy, veste-se como um skatista, é franco e
dirige um carro de luxo. Ele gosta de atividades ao ar livre que eu tinha
dificuldade em apreciar. Eu odiava quando ele me surpreendia escalando
montanhas, andando de barco ou praticando waterboarding2 e agora tenho
de fingir que estou animado para fazer tudo em uma barraca que eu
preferiria fazer no meu quarto sozinho.
Depois de passar por vários bairros e estradas secundárias, finalmente
chego a um dos muitos locais para acampar no lago.
Eddie está atrás de uma barraca laranja de tamanho médio em uma área
isolada. Apenas fogueiras velhas e borradas e mesas de piquenique vazias o
cercam. Estaciono ao lado de sua caminhonete e pulo para fora, agarrando
minha mochila antes de fechar a porta do carro atrás de mim. Meu banco de
trás parece mais convidativo do que os sacos de dormir que Eddie está
colocando ao lado da barraca.
Galhos estalam sob meus sapatos, revelando minha presença. Ele espia ao
redor da barraca e acena na minha direção.
Levantando minha mão no ar, eu me aproximo de onde ele está. — Ei,
pensei que você disse que estava tudo pronto?

2 Um esporte aquático em que o praticante, em pé sobre uma prancha de wakeboard (prancha com
amarração para os pés), é rebocado por uma lancha ao longo da água e principalmente acima da crista para
realizar manobras aéreas.
Ele ri, coçando a cabeça. — Pensei que teria mais tempo. Conhecendo
você, você está sempre atrasado.
— Eu te disse que estava a caminho. — Jogo minha mochila no chão, me
familiarizando mais com o que está ao meu redor. Grandes carvalhos pairam
sobre mim, os galhos nus e tristes sem folhas.
— Sim, e isso geralmente significa que você estará aqui em algumas horas
— ele responde. A brincadeira é óbvia em seu tom otimista e olhos
brilhantes.
Revirando os olhos, aceno com a mão para ele. — Por que há seis cadeiras
encostadas na sua caminhonete?
Ele suspira, abaixando-se para arrumar nossa área de dormir durante a
noite. — Ainda não as abri. Você se importa de colocá-las ao redor da
fogueira para mim? Vai escurecer na próxima hora.
Fico olhando para as cadeiras e depois de volta para ele. — Não deveria
haver apenas duas? Você prometeu que seríamos apenas nós.
Ele dá de ombros. — Era, mas então conheci alguns caras enquanto
montava. O acampamento deles é apenas uma curta caminhada daqui por
entre aquelas árvores. — Ele aponta para trás da barraca. — Meus olhos
seguem o caminho aberto e posso identificar vagamente algumas figuras em
movimento.
— E eles vão o quê, vão passar por aqui mais tarde e cantar parabéns com
a gente enquanto comem metade do meu bolo? —Pergunto, não esperando
uma resposta exata para a minha pergunta.
Ele ri, se aproximando de mim. — Oh bebê. Você é sempre tão dramático.
Eu disse a eles que deveriam aparecer mais tarde para tomar algumas
cervejas. Achei que quanto mais, melhor. Amanhã pode ser tudo sobre mim
e você, prometo.
Encolho-me, cerrando os punhos ao lado do corpo. — Você sabe que odeio
quando me chama assim e nós nem conhecemos essas pessoas. E se forem
assassinos?
Ele revira os olhos, sorrindo. — Então, vou deixar que eles peguem você
primeiro, para que eu tenha bastante tempo para fugir.
Bufando, chuto terra em sua direção. — Ha ha, tão hilário pra caralho. Ok,
cara engraçado, mas se eles se mostrarem estranhos, você será o único a
inventar uma desculpa para se livrar deles.
Soltando uma lufada de ar, ele estende a mão para o meu braço e me
arrasta contra ele. — Combinado. Afinal, é seu aniversário de 19 anos e não
quero ser o único a estragá-lo.
Ele está fazendo um péssimo trabalho até agora. Ele deposita um beijo na
lateral da minha cabeça e eu me afasto lentamente de seu abraço, sem querer
aproveitar o conforto que ele oferece. É difícil perder algo que você nunca se
permitiu ter.
Ele levanta as mãos no ar. — Sim, eu sei. Você odeia todas as besteiras
sensíveis, mas como seu namorado eu deveria poder beijar e abraçar você
pelo menos às vezes.
— Bem, espero que você tenha se satisfeito por hoje — digo, inclinando
minha cabeça, oferecendo um meio sorriso.
Ele puxa meu rosto e me sufoca com beijos e eu rio, tentando afastá-lo.
Acabamos lutando no chão e faço tudo o que posso para me separar de cada
parte da minha pele que ele toca. Suas mãos e lábios são agradáveis e não
quero me acostumar com eles. Seus olhos azuis escuros se fixam nos meus e
quando nossos lábios se roçam levemente, não me mexo. Eu deveria querer
isso. Qualquer outra pessoa iria querer. Ele iria.
O que acontecerá se eu me permitir tê-lo por um dia? Estarei totalmente
livre da solidão por um tempo? Talvez eu não tenha que perdê-lo desta vez.
Eddie não precisa ser um trampolim ou algo temporário. Ele poderia ser
mais. Sua boca bate na minha e fico mole embaixo dele, forçando minha
língua a imitar a dele. Quando nós dois nos separamos sem fôlego, percebo
que não, não quero isso.
Eu me sinto atraído por ele? Na maior parte do tempo.
Ele me faz rir? Às vezes.
Aproveito o tempo que passamos juntos? É melhor do que ficar sozinho
ou preso em uma casa com Josh.
Essas razões são suficientes para estar com ele? Provavelmente não, mas
se não posso querer isso com ele, com quem posso querer? Então vou
continuar a ficar. Porque é melhor ter algum prazer do que não ter nenhum.
Pelo menos é o que meu irmão sempre dizia.
— Mmm, acho que precisamos fazer isso mais tarde e talvez até sem
nossas roupas — diz Eddie acima de mim, com um sorriso largo.
Com a tensão sob ele, forço um aceno de cabeça. — Acho que agora vai ter
que esperar ainda mais, pois seus novos amigos já estão vindo para cá. —
Faço um gesto atrás dele e ele se vira, soltando um suspiro prolongado. Ele
olha entre as quatro pessoas que se aproximam e eu. — Ok, então você estava
certo. Eu não deveria ter convidado mais gente.
— Bem, é tarde demais para se arrepender disso agora. Levante-se e vá
terminar de preparar tudo para seus convidados. — Eu ri, empurrando-o,
com o alívio me inundando. Não é que o sexo em si me assustasse, era a
proximidade e a vulnerabilidade que vem com ele. Se eu ia me permitir ser
aberto e ficar nu com outra pessoa, não queria que fosse a uma barraca a
poucos metros de um bando de estranhos.
Não é como se eu fosse romântico ou quisesse que minha primeira vez
fosse perfeita. Eu só preciso estar em meu próprio elemento, onde é seguro
e posso sair a qualquer momento que precisar. Eu me sinto muito fora de
controle aqui.
— Sim, sim. — Ele acena para mim, ficando de pé. Puxando para baixo a
camisa, ele se vira para cumprimentar nossos convidados indesejados.
Risos e vozes altas preenchem o espaço ao nosso redor. Eu me levanto, me
limpando antes de me juntar aos outros perto da fogueira.
— Pessoal este é meu namorado Paxton. Bebê, estes são Jerry, Carson,
Jesse e…
— Felicity. — A ruiva alta estende a mão. — E você deve ser o
aniversariante.
Movendo de onde estou hesitantemente aperto sua mão. — Sim. Esse sou
eu. Que bom que puderam se juntar a nós esta noite — eu minto.
O cara apresentado como Jerry passa o braço em volta da cintura de
Felicity. — Prazer em conhecê-lo, Paxton.
Eu cerro os dentes, odiando a maneira como sua voz envolve cada letra.
— Por favor, me chame de Pax.
— Malditamente Feliz aniversário Pax — diz um dos outros caras. Já
esqueci o nome dele. Algo sobre seus olhos escuros e frios mexe com meu
âmago. Eles são familiares e juro que já vi aquele sorriso torto antes, mas não
consigo identificá-lo.
— Obrigado — digo, olhando-o atentamente. — Já nos conhecemos antes?
Ele balança a cabeça. — Nah, eu só tenho um daqueles rostos familiares.
— Ah. Deve ser isso então.
O outro cara, que ainda não havia falado, dá um passo à frente. — Esse é
o meu Jesse. Em todo lugar que vamos, alguém sempre jura que já o viu
antes.
— E acredite em mim, não sou tão popular — diz Jesse.
— Posso atestar isso — retruca Felicity, sorrindo para ele.
Ele aponta os dois dedos do meio na direção dela.
— Vamos lá, pessoal — diz Jerry. — Vamos pelo menos tentar ser maduros
quando encontrarmos pessoas pela primeira vez.
Todos riem, menos eu. Não sei o que é, mas algo sobre a presença aleatória
deles não combina comigo. Então, novamente, sou cauteloso com tudo,
incluindo rochas de aparência estranha e plantas coloridas.
Eddie me puxa para ele. — Que tal eu pegar uma bebida para todos nós e
Pax pode acender o fogo antes que escureça demais.
— Parece bom para mim. Nunca vou recusar uma cerveja — Jesse diz,
torcendo os lábios.
Nossos novos amigos estão todos sentados nas cadeiras que coloquei
enquanto Eddie pega as bebidas do refrigerador. Acendo a fogueira e jogo
alguns gravetos assim que as chamas começam a subir. Depois de alguns
drinques, estou mais relaxado do que antes, quase normal. Contribuo para
as histórias e piadas do acampamento. Jesse vai buscar seu violão e finjo
saber a letra da música que ele toca enquanto cantamos juntos.
Descanso minha cabeça no ombro de Eddie. Meus olhos ficam pesados,
lutando para permanecer abertos e o olhar duro e inquietante de Jesse me dá
um nó no estômago. Luto contra à escuridão, tentando me concentrar na luz
ondulante saindo do fogo, mas apesar dos meus esforços, ela finalmente
vence e juro que ouço a voz do meu irmão ao fundo.
“Feche os olhos comigo para que possamos comer bolo e ver todos os lindos cavalos
juntos.”
***

Meus olhos se abrem rapidamente, minha cabeça parece que uma


tonelada de pedras está girando dentro dela. Atordoado e incapaz de separar
minhas mãos, meu coração bate forte no peito. Olho ao redor freneticamente
e estou deitado no fundo de um espaço pequeno e lotado. Apenas uma
pitada de luz do sol brilha através das rachaduras e onde quer que eu esteja
está se movendo. Uma música alta está vindo das proximidades, junto com
o barulho de um motor. Meu corpo se choca contra a lateral de algo duro e
sólido.
Estou no porta-malas de um carro.
O ar frio apunhala minha pele, me fazendo perceber que estou quase nu.
Mexo meu corpo e trago minhas mãos para cima, batendo com força contra
o tronco. Um pedaço de pano em minha boca me impede de gritar, mas tento
de qualquer maneira, meus sons são silenciados no momento em que
escapam da minha garganta.
O que está acontecendo? Como cheguei aqui?
A última coisa que me lembro, era estar acampando com meu namorado,
tomando algumas cervejas e rindo perto de uma fogueira. Fecho meus olhos,
revirando meu cérebro para qualquer outra coisa que eu possa estar
esquecendo e um par de olhos azuis escuros me encaram me lembrando que
Eddie e eu não estávamos sozinhos. Meus pelos se arrepiam.
Não. Havia outros quatro. Pessoas que nunca havíamos conhecido antes.
O sorriso perverso de Jesse permanece comigo. Era uma promessa do que
estava por vir. Ele queria que eu soubesse que algo estava para acontecer,
não é?
Gemo contra o tecido, levantando e batendo as pernas o mais forte que
posso. Não adianta. Ninguém que se importe vai me ouvir. Provavelmente
só vou irritar a pessoa que está dirigindo o carro. Meu peito fica apertado e
respiro mais forte pelo nariz. O que vai acontecer comigo? Onde está Eddie?
Eles o levaram também? Esse idiota é a razão de eu estar nessa confusão.
Tive um mau pressentimento sobre essas pessoas no momento em que ele
mencionou que elas se juntariam a nós. Eu me inclino para o lado e meu
estômago se aperta quando o carro diminui a velocidade.
Não, não, não.
Meu coração bate forte e o medo sobe pela nuca, meu corpo inteiro se
arrepia quando paramos de andar. Sinto um aperto no estômago quando o
porta-malas se abre.
Não, não, não.
— Olha quem finalmente acordou. Que olhos lindos você tem. Não
encontro muitos morenos com olhos verdes. Que verdadeiro achado você foi
— o homem parado acima de mim diz. Nunca o vi antes. Eu saberia se
tivesse. Ele tem um rosto que você não consegue esquecer. Ele tem um olho
verde e outro azul. Suas bochechas estão marcadas com cicatrizes de
queimaduras e um grande corte atravessa sua sobrancelha esquerda.
Ele acaricia minha bochecha com as costas da mão e meu estômago revira.
Engulo a bile para evitar que suba depois que ele passa a mão na frente do
meu corpo.
— Ah, sim, conheço um comprador que pagará um bom dinheiro por
você.
Estremeço e meu estômago se revira. Um comprador. Ele está me
vendendo, porra. Isso não pode ser real, mas quando fecho os olhos e os abro
novamente, o homem ainda está aqui e, como antes, estou amarrado, deitado
em um porta-malas, só de cueca. Eles devem ter colocado algo na minha
cerveja em algum momento e tirado minhas roupas enquanto eu dormia.
Inundado de pavor, luto com mais força contra minhas amarras.
Ele ri e é perverso. — Você pode lutar o quanto quiser, mas não vai
adiantar nada. Eu odiaria que o produto fosse muito danificado antes de
chegar ao seu destino.
— Vá se foder — quero dizer, mas a mordaça me impede de falar. Mal
consigo me mover, não consigo falar e tudo está se fechando sobre mim. Foi
assim que meu irmão se sentiu durante o incêndio?
O homem me agarra e consigo ver a fumaça novamente. As chamas
aumentam e estou de volta à casa dos meus avôs, sem conseguir respirar.
Minha cabeça gira e meus músculos doem quando o homem me joga sobre
seu ombro como se eu fosse uma boneca de pano. Eu me movo de um lado
para o outro, balançando-me em seus braços.
Suas mãos aquecem minha pele, ameaçando me queimar como o fogo fez.
— Pare de se mover, porra.
Não o faço e continuo me balançando e chutando, dificultando sua
caminhada. Ele me joga no chão e se inclina, agarrando-me pela garganta. O
aperto forte e sufocante me faz esquecer a dor aguda nas costas causada pela
batida contra o concreto.
— Eu gostava mais de você quando estava dormindo. É hora de tirar outra
soneca. — Ele me solta e caio no chão novamente. Ele ri, pegando uma
seringa no bolso de trás, e estico meus braços, bloqueando-o o melhor que
posso. Ele dá um tapa em minhas mãos e enfia uma agulha no meu pescoço.
— Boa noite, beleza. Eu diria que tudo ficará melhor quando acordar, mas
estaria mentindo.
Minha visão fica embaçada e sei que vou adormecer, não importa o quanto
eu lute contra as substâncias, então me deixo levar, permitindo que a
escuridão me domine novamente. Já faz muito tempo que não espero
ansiosamente por meus sonhos. Hoje, eu os recebo de braços abertos. Mesmo
os piores pesadelos serão melhores do que minha realidade.
Meu irmão olha para mim do colchão no chão. — Não quero mais ficar aqui —
soluça, enxugando os olhos com as costas das mãos. Caindo na frente dele, eu o pego
em meus braços e passo minha mão por suas costas. — Então não fique. Feche os
olhos e logo você estará em um lugar melhor. — Canto para ele a música que minha
mãe sempre cantava quando nos colocava para dormir à noite, prometendo a ele todo
o bolo e lindos cavalinhos quando ele acordasse. Como ele ainda está contra mim,
fecho os olhos, imaginando que terei todas essas coisas também.
2

Ezra
— Bom dia, Mijo3. — Minha mãe dá um beijo na minha bochecha. — Você
está saindo para o trabalho?
— Si. Estou fazendo minhas entregas de novo.
Ela levanta uma sobrancelha, e posso dizer pela forma como seus olhos
castanhos estudam os meus, que ela não está satisfeita com a minha resposta.
— Exatamente o que você entrega todo fim de semana?
Mudo de posição e sinto um incômodo revirar em meu estômago. Nunca
perguntei por que me disseram para não perguntar. Eu tinha uma boa ideia
do que estava transportando na traseira daquele caminhão emprestado, mas
me convencia de que estava errado toda vez que deslizava para dentro do
banco do motorista. Era a única maneira de sobreviver a cada fim de semana.
— Produtos.
— Oh. De que tipo? — Ela inclina a cabeça e algumas mechas de seu cabelo
preto ondulado caem de seu coque solto.
Suspiro, colocando minhas mãos em seus ombros pequenos, elevando-se
sobre ela. Tenho a altura do meu pai, junto com seu cabelo castanho escuro
e olhos castanhos, enquanto herdei apenas as covinhas da minha mãe. —
Tenho que ir agora, mãe. Sei que você não pode deixar de se preocupar, mas
todas as suas perguntas vão me atrasar.

3 Querido
Seus lábios pressionam firmemente juntos e ela balança a cabeça. — Você
é meu filho. É meu dever me preocupar. Talvez se eu tivesse feito mais
perguntas antes, sua irmã teria... — Ela se engasga com o resto das palavras,
com os olhos marejados. A dor em sua expressão parte meu coração. O que
aconteceu com Maria não foi culpa dela, mas ela se culpou mesmo assim.
Todos nós nos culpamos. É difícil não se culpar.
O que deveríamos fazer? Impedi-la de viver sua vida? Todos nós tivemos
que aprender com nossos erros. Se ao menos não estivéssemos tendo que
pagar por eles bem ao lado dela.
Puxo minha mãe em meus braços. — Maria se meteu nessa enrascada
fugindo com aquele garoto inútil, não você, e ela está em casa agora. Ela e o
bebê estão seguros. — Eles estarão, desde que eu cumpra minha parte do
acordo com o homem que ainda a quer morta. Danny Rodrigo é alguém com
quem você nunca quer se envolver. Ele é um dos homens mais perigosos da
cidade e a pessoa errada para quem pedir ajuda.
Maria ficou desesperada e concordou quando o namorado propôs a ideia
de pedir um empréstimo ao patrão. Ela não sabia quem ele era. Ela nunca o
conheceu antes e não viu isso como importante na época. Quem ela
presumiu ser o gerente da fábrica de tubos em que Andy disse que
trabalhava, acabou sendo um conhecido senhor do crime. Como minha irmã
não pode pagar a dívida que Andy deixou para trás quando fugiu da cidade,
concordei em pagar de qualquer maneira pelo preço da segurança de minha
família.
Um movimento errado e estamos todos mortos. Ele prometeu fazer de
todos nós um exemplo se eu não pagasse o que ela devia. Faltam apenas
mais dois produtos e estarei livre desse maldito monstro e minha família
também. Minha mãe não pode saber o que está acontecendo. Certifiquei-me
de que ela nunca descobriria e Maria concordou em não contar a ela.
—Yo sé4. Só me prometa que vai dirigir com segurança e parar quando
ficar muito cansado. Sei que essas viagens longas às vezes podem...

4 Eu sei
— Eu vou. — Dando um passo para trás, acaricio sua bochecha. — Te lo
prometo. Vejo você na segunda-feira.
Assentindo, ela força seus lábios em um sorriso. — Não se esqueça de
levar alguns tacos com você. Você não pode continuar pulando o café da
manhã.
Pego alguns tacos do prato no balcão e os enfio em um recipiente.
Levantando-o no ar, eu o balanço. — Feliz?
Ela ri e me dá um tapa com a toalha que tinha enfiada no avental. — Ay5,
saia daqui já. Você está atrasado, lembra?
— Yo recuerdo. Vejo você em breve. — Curvando-me, deslizo meu braço
sob a alça da minha mochila e coloco-a sobre meu ombro.
— Adeus, Mijo. Não acelere.
Aceno para ela, saindo da cozinha. Estou pronto para voltar para casa e
ainda nem saí. Odeio ser separado da minha mãe e irmã. Isso me consome
enquanto estou fora. Os pesadelos às vezes assumem o controle e tenho que
me impedir de virar o caminhão apenas para que eu possa convencer meu
cérebro de que elas estão seguras. Um telefonema nem sempre é bom o
suficiente.
— Você não vai embora sem se despedir da sua querida irmã, vai,
Hermano?
Com um sorriso largo, eu me viro, colocando minha mão na maçaneta
para me lembrar do que devo fazer. Sair. Você tem um trabalho a cumprir.
Caso contrário, não haverá mais “até logo” e apenas despedidas. Talvez nem
isso.
— Claro que no. Eu nunca sonharia com isso. Adiós, Maria.
— Hasta luego6. Volte para casa assim que puder.

5 Sim, um murmúrio de concordância


6 Até logo
— Sempre volto. — Colocando a mão em sua barriga crescente, dou um
beijo rápido em sua cabeça e saio pela porta. O bebê estará aqui em apenas
algumas semanas e espero ter superado tudo isso até então.
Posso sentir o olhar pesado de Maria nas minhas costas enquanto entro no
carro. Ela acena para mim quando saio da garagem. Cada vez que eu saio, a
culpa sempre fica clara em seus olhos castanhos escuros e fundos. Hoje não
foi diferente. Cicatrizes cobrem metade de seu rosto, lembrando-me do que
ela passou porque se apaixonou pela pessoa errada. Minha garganta aperta,
e puxar o colarinho da minha camisa não afrouxa a pressão.
O amor tem um jeito de te consumir, te impedindo de ver tudo com olhos
claros. É uma das razões pelas quais continuarei a evitá-lo como uma praga.
Só causou sofrimento à minha família. Primeiro minha mãe, quando meu pai
se revelou um bêbado abusivo, e depois minha irmã. Duvido que esteja
perdendo alguma coisa. Quem precisa de outro motivo para ficar com o
coração partido?
O mundo já é suficientemente ameaçador. Não há necessidade de
adicionar confiança acidentalmente na pessoa errada. Minhas mãos tremem
quanto mais perto estou do armazém. Mais carros estão estacionados na
frente do que o normal e meu coração acelera no meu peito. Eles decidiram
que não precisam mais de mim? É hoje quando finalmente encontrarei
minha morte? Terei tempo de avisar minha família?
Antes que eu possa virar o carro, um homem que eu nunca vi antes me vê
e gesticula para que eu dirija. Agarrando o volante, estaciono onde ele
manda. Deslizando minha arma na parte de trás da minha calça, pego minha
mochila, respiro fundo e saio do carro.
— Você deve ser o entregador.
Concordo. — Si. Sou eu.
— Bueno. — Ele sorri, tirando um maço de cigarros do bolso. Balanço a
cabeça quando ele me oferece um. — Você dirigirá um caminhão diferente
hoje. — Ele aponta para a garagem. — Está estacionado lá dentro. As
mesmas regras se aplicam.
— OK. — Os nervos em meu estômago não param e forço um sorriso em
meu rosto para impedi-lo de ver como sou um desastre por dentro. Eles
gostam de te ver assustado e com o rabo entre as pernas. Prefiro não lhes dar
essa satisfação.
Ele desliza o cigarro entre os lábios e dá um tapinha no meu ombro. —
Faça uma viagem segura então. Você vai tomar uma rota diferente desta vez.
As instruções estão dentro.
Concordo com a cabeça, caminhando firmemente em direção ao armazém.
— Esperar. Você pode querer as chaves primeiro.
Eu me viro e uma nuvem de fumaça sai de sua boca enquanto ele joga as
chaves na minha direção. Ajo rápido, mal conseguindo pegá-las entre os
dedos.
Ele sorri ao redor do cigarro, sugando o tabaco para os pulmões antes de
exalar longa e lentamente. — Boa sorte. Estou sempre curioso para saber
quanto tempo homens como você vão durar nesta vida.
Aperto as chaves na palma da minha mão até que suas bordas afiadas
estejam cavando em minha pele. — Não estou nesta vida. Estou apenas de
passagem.
Girando rapidamente, corro para longe dele, nem mesmo parando com
suas próximas palavras.
— Todo mundo está no começo. É assim que geralmente começa.
É assim que vai acabar também. Meus sapatos caminham pela terra
enquanto me aproximo da porta da garagem. Curvando-me levemente, pego
a maçaneta e abro. O caminhão é de uma cor diferente do anterior, mas todos
carregam a mesma carga, vão para lugares semelhantes e cheiram a morte.
Pulo para o lado do motorista depois de abrir a porta e deslizo a chave na
ignição. Uma folha de papel branca com instruções repousa sobre o banco
do passageiro. Há uma pequena nota abaixo dela.
Ezra,
Lembre-se, as únicas paradas que você fará serão para abastecer e talvez mijar. É
isso. Vamos ter esperança de que você não estrague as coisas tão perto do fim.
Homens como você sempre estragam. Apenas mantenha seu bom coração fora disso
e você sobreviverá. Usá-lo aqui só vai te matar.
Rodrigo
Se eu não precisasse do papel para encontrar o caminho para o local de
entrega, eu o rasgaria em pedaços e colocaria fogo. Foda-se ele e suas
anotações. Ele está me provocando esse tempo todo. Ele está errado. Não
tenho a opção de estragar. É mais do que a minha vida em jogo e deixo cada
parte real de mim para trás cada vez que tenho que dar um beijo de
despedida na minha família. Nas últimas semanas, aprendi a me tornar
outra pessoa sempre que escorrego para o lado do motorista de qualquer
caminhão que sou obrigado a dirigir. Um homem que não sente, alguém
completamente sem coração.
Ligando o caminhão, tiro uma flor amarela do bolso e a coloco no painel.
É algo que minha irmã sempre coloca em meus bolsos sem que eu veja. Isso
não me impede de saber que está lá.
Fecho os olhos e por um breve minuto estou no jardim de nossa antiga
casa. Ela colhe uma flor amarela e a coloca na palma da minha mão, olhando
para o céu. — O amarelo representa a esperança e a luz do sol. Ajudará você a
encontrar a luz sempre que a escuridão o cercar.
A escuridão era meu pai. Tornei-me seu saco de pancadas designado para
impedi-lo de machucar minha irmã e minha mãe. Ele chegava em casa
bêbado e com raiva, descontando em mim de qualquer maneira que podia.
Pressionando cigarros na minha pele, colocando minha mão no fogão quente
ou coisa pior. Isso foi até eu ficar maior e mais forte do que ele. Afasto meus
próximos pensamentos. Fiz o que tinha que fazer na época e o mesmo se
aplica à situação em que estou agora.
O homem que me cumprimentou está encostado em seu carro,
observando-me atentamente enquanto saio da garagem. Pego de surpresa,
pulo em meu assento quando a pesada porta de metal se abre atrás de mim.
Seus lábios se arregalam e ele joga o cigarro na minha direção, seus olhos
brilham como se ele tivesse informações que eu não tenho. Há algo de
estranho nele. Mais do que os outros homens com quem eu normalmente me
encontrava. Todos eles me incomodavam, mas ele fazia com que minhas
entranhas ficassem em carne viva. Quanto mais me aproximo da estrada,
mais rápido eu acelero, os pneus rangendo contra o concreto.
Um ruído de clique vem da parte de trás e eu ligo o rádio, abafando-o.
Como faço com cada som estranho que ouço durante os transportes.
Provavelmente está tudo na minha cabeça. Continuo dizendo isso a mim
mesmo durante todo o caminho até a próxima cidade. Estaciono o caminhão
no posto de gasolina, desligo a ignição e pulo do banco da frente.
Está escuro e apenas três outros caminhões ocupam a área. Entro,
ignorando o vento frio. A culpa é minha por não ter pegado uma jaqueta
mais grossa. Estamos em fevereiro e todo ano o clima é sempre muito
imprevisível. Às vezes neva até abril e outras vezes para em janeiro. O bom
e velho Kansas para você. Deve esquentar quanto mais perto eu chegar do
meu destino no Texas, e então provavelmente estarei tirando as roupas do
meu corpo suado.
A porta toca quando entro na loja e pago a gasolina ao homem,
acrescentando alguns lanches e bebidas energéticas para o caminho.
— Você vem ou vai? — O homem conta as notas que lhe entrego.
— Indo — respondo, sem encontrar seus olhos.
— O que está carregando? — Ele faz uma pausa como se esperasse minha
resposta antes de continuar.
— Produtos. — Deslizo o troco no bolso de trás quando ele finalmente o
entrega e pego tudo do balcão em meus braços.
— Bem, faça uma boa viagem — diz ele, olhando para o caminhão baú
azul com uma pitada de desconfiança.
— Obrigado, tenha uma boa noite.
— Uh-huh, — ele responde enquanto volto para o ar gelado.
Coloco tudo no lado do passageiro e abro o tanque de gasolina antes de
deslizar o bocal para dentro. Descansando meu corpo contra o caminhão
com a mão na bomba, começo a adormecer. Um barulho alto de batida me
faz acordar de repente.
Não tenho dormido muito nos últimos dias devido aos turnos
consecutivos na prisão em que trabalho. Algumas horas não eram muito e
eu ainda tinha um longo caminho a percorrer. A exaustão deve estar me
afetando, me fazendo ouvir coisas.
Uma rajada aleatória de ar quente varre meu caminho e, quando estou
voltando para o caminhão, uma estranha sensação de pavor toma conta de
mim. É forte e tão pesado que não consigo respirar tão facilmente quanto
antes. Que porra?
Sussurros suaves e ininteligíveis entram na parte de trás da minha cabeça
e esfrego os olhos, sacudindo-os. Ótimo, agora estou ouvindo coisas. Isto é
como nas últimas sextas-feiras. Nunca foi um problema antes e não será
agora.
— Acalme-se — digo a mim mesmo no espelho.
Olhando para as bebidas e lanches no banco, pego um Red Bull e o abro.
Eu ligo o caminhão enquanto trago a bebida fresca e doce aos meus lábios.
Isso desliza pela minha garganta, oferecendo uma sensação de
formigamento e borbulhante. Meu estômago se revira, me lembrando que
estou bebendo essa merda com o estômago vazio. Estou velho demais para
me safar como antes. Posso não parecer ter quase quarenta, mas com certeza
sinto.
Pego os tacos da minha mãe enquanto volto para a estrada. Eles não são
tão bons frios, mas meu estômago já está melhor depois do primeiro.
Aumentando o volume do rádio, recosto-me no banco ao entrar na rodovia.
Perco a recepção depois de passar pelas primeiras saídas e não importa o
que eu faça, não consigo fazer com que o Bluetooth se registre novamente.
Um som de tilintar vem da parte de trás, seguido por um zumbido baixo.
Respirando fundo, mudo para o rádio e nenhuma das estações está
captando, preenchendo o pequeno espaço com alta estática. Ainda é melhor
do que o que quer que esteja acontecendo atrás de mim.
Algo lá atrás desliza quando os pneus passam por algumas lombadas um
pouco rápido demais. Não parece caixas. Engulo o gosto ruim na boca e tento
me concentrar nas luzes dos carros que passam por mim.
— Abra — alguém diz baixo em meu ouvido.
— O quê? — Nem tenho certeza para quem estou fazendo a pergunta,
porque ninguém está aqui além de mim.
Tomo um gole da minha bebida novamente, batendo minha mão contra
minha bochecha direita. O que quer que esteja acontecendo comigo, espero
dar o fora logo.
— Faça isso. Você está querendo há um tempo agora — a voz de antes diz
novamente.
Olho ao meu redor, diminuindo a velocidade do caminhão. — Quem está
aí? — Olho para trás como se alguém fosse aparecer magicamente do
pequeno espaço atrás do meu assento.
Ninguém responde e desligo o rádio, ouvindo atentamente se há mais
vozes. Nada surge por horas. Quando estou indo para o lado da estrada para
mijar, o pavor de antes está de volta, puxando minhas entranhas. É uma
sensação pior do que fome ou dor de estômago. Estou mais familiarizado
com o primeiro do que com o segundo devido a uma infância difícil.
Teríamos problemas financeiros, quer meu pai estivesse vivo ou morto.
Portanto, livrar-se dele não piorou nossa situação financeira, mas melhorou
nossa vida em geral.
Abrindo a porta com um chute, planto meus pés na grama macia e respiro
o ar fresco da noite.
Assim que termino de me aliviar, fecho a calça e, enquanto caminho de
volta para o caminhão, uma força forte me puxa em uma direção diferente.
Antes que eu perceba para onde estou sendo levado, meus olhos estão
piscando sobre o cadeado brilhante na parte de trás do caminhão. O metal
está parcialmente enferrujado e não consigo desviar o olhar dele, não
importa o quanto eu tente. É quase como se minha cabeça estivesse sendo
mantida no lugar.
— Abra — diz alguém. A voz soa como se estivesse vindo do meu lado
desta vez, mas não há ninguém lá.
Enfiando as mãos nos bolsos, dou um passo para trás e, enquanto me
afasto, um som torturado vem de trás de mim. Meus olhos se arregalam e
congelo no lugar.
É isso. Vire-se.
Bato meu punho contra o lado da minha cabeça, desesperado para
silenciar a voz invasora. Estou sonhando? Se assim for, estou pronto para
acordar.
Meu peito sobe e desce pesadamente, meus pés lutando para se mover
contra o chão. Eu lentamente coloco um pé na frente do outro, mantendo
meus olhos na porta do lado do motorista. É apenas a alguns metros de
distância. Posso fazer isso. Cinco passos e um som estridente agonizante soa
em meus ouvidos. Isso me prende demais para eu ignorar. Fecho os olhos e
os abro novamente. O que estou prestes a fazer a seguir pode me custar tudo.
No entanto, estou fazendo isso, de qualquer maneira. Correndo para a parte
de trás do caminhão, puxo a fechadura.
— Olá? — Eu digo. — Tem alguém aí atrás?
Algo se assemelha ao som de pés batendo forte contra o metal, seguido
por um som abafado... não, isso não pode estar certo. Os sons estrangulados
voltam e não há como confundir os gemidos suaves do outro lado da grande
porta de metal.
Cravando minhas unhas em meu cabelo, cerro meus dentes juntos. Minha
família precisa que eu continue. Não posso parar agora. Não com apenas
oito horas restantes.
E se fosse sua irmã lá atrás?
Um pensamento aleatório golpeia meus ouvidos como uma lâmina quente
e retorcida.
Não é. Mas pode ser outra pessoa. Cuspindo no chão, dou um passo para
trás o suficiente para ver o caminhão à distância. Não é problema meu.
Tenho um trabalho a fazer. É quem está lá atrás ou eu. Qual é o sentido de
fazer a coisa certa se isso apenas colocará a vida de mais pessoas em risco?
Enterro meu rosto em minhas mãos, imaginando o rosto sorridente de minha
mãe e minha irmã sentada feliz em sua nova cadeira de balanço enquanto
esfrega sua barriga grande e redonda.
Não. Tenho que continuar. Não tenho tempo para permitir que minha
consciência assuma o controle. Pelo que sei, os sons podem vir do caminhão
ou de um animal. Este caminhão veio até mim trancado e vai ficar assim.
As palavras de Rodrigo no primeiro dia em que fechamos o negócio
ressoam violentamente em meus ouvidos. — Segunda regra, nunca, em
hipótese alguma, remova a fechadura.
Abro a porta da frente do carro e entro. Enquanto estou ligando o
caminhão, não consigo mais me convencer a continuar. Minhas mãos não se
movem para o volante e uma delas congela acima do câmbio. O suor escorre
entre minhas sobrancelhas enquanto penso nos barulhos que ouvi antes.
Meu olhar vai da estrada para o pé de cabra no assoalho do lado do
passageiro.
Desligo a ignição, pego o pé de cabra e saio do caminhão. Bato a fechadura
até ela se abrir. No momento em que o metal pesado entra em contato com
o solo, sei que assinei minha própria sentença de morte. Não há como voltar
agora.
Minha mão está instável na maçaneta enquanto deslizo a porta com força.
Um cheiro horrível e nauseante atinge meu nariz. Meu estômago revira e
seguro meu nariz com a mão livre, empurrando a porta com a outra.
— Olá? — Digo, inclinando-me o suficiente para espiar dentro. Está tão
escuro que só consigo ver a parte da frente da cabine. As luzes das lâmpadas
da estrada projetam sombras na sujeira e no metal coberto de lixo. Um
barulho vem de trás e eu tiro a pequena lanterna do meu bolso. Está preso
ao meu chaveiro e foi útil mais de uma vez.
Com medo do que posso ver, levanto lentamente a pequena luz,
iluminando-a em todas as direções, exceto de onde vem o farfalhar.
Engolindo o nó na garganta, guio minha mão para a direita e meu peito
cede ao ver a pequena figura amassada no canto.
— Jesus. — Dedos trêmulos passam pelo meu cabelo e nenhuma parte do
meu corpo parece mais minha.
— Foi você quem falou antes? — Descanso meu joelho no interior do
caminhão, enfiando a cabeça mais para dentro. O cheiro faz meu nariz torcer.
O pobrezinho teve que ficar sentado nisso o tempo todo.
— Está tudo bem. Não vou te machucar.
Fico para trás quando um homem esguio engatinha para frente de joelhos.
Seu cabelo escuro e encaracolado está bagunçado e caindo sobre os olhos.
Suspiro quanto mais perto ele chega, revelando a mordaça em sua boca e sua
forma quase nua.
— O que fizeram com você?
Lágrimas se acumulam nos cantos de seus olhos e ele faz alguns sons
contra a mordaça. Olhando ao redor dele, meu estômago revira ao ver sua
pele machucada e arranhada. Corda grossa envolve seus pulsos e eles estão
presos atrás das costas. Ele tenta lutar contra isso, balançando a cabeça em
frustração. Levantando a parte inferior das pernas, ele as bate contra o metal
duro e sujo.
— Calma. Você vai se machucar mais. Vou entrar e tirar sua mordaça, mas
você tem que tentar não gritar. Só quero te ajudar. Entendeu?
Ele balança a cabeça, arrastando o corpo para a frente. Ele balança para
frente e para trás, quase perdendo o equilíbrio.
— Não se preocupe. Vou até você. — Subo no caminhão e lentamente
alcanço sua boca. Ele se afasta o medo pesando em seus olhos redondos. Meu
coração bate contra meu peito, a dor se espalhando mais profundamente
dentro de mim quanto mais ele me cativa.
“Proteja-o” algo diz dentro de mim. “Mantenha-o seguro.”
Balançando a cabeça, eu me liberto do transe. — Não posso — sussurro.
O homem inclina a cabeça. Limpando a garganta, estico meu braço
novamente e desta vez ele não se move, permitindo-me deslizar a mordaça
até seu pescoço. Meus dedos roçam levemente sua pele macia e seu pulso
bate contra mim. O ritmo está errático e tenho uma forte necessidade de
substituir a energia negativa que irradia de seu corpo.
— Quem é você? — Ele pergunta sua voz rouca.
— Eu-eu sou apenas a pessoa que dirige o caminhão. — Lentamente puxo
minha mão para trás, meus dedos se contorcendo para estar perto
novamente. Que porra?
Ele olha em volta, seus olhos ficando mais frenéticos. — Onde estou? Para
onde você está me levando?
Suspirando profundamente, enfio as mãos nos bolsos e salto de volta para
o chão. — Para o endereço que me deram. Eles não me disseram muito mais
do que isso. — Sua mandíbula se contrai e seus olhos estão distantes. Ele não
acredita em mim. Como ele pode quando sou capaz de andar livremente fora
do caminhão e ele está sentado na minha frente, contido?
— Você nem sabe para onde está indo? — Seus olhos se estreitam e ele me
avalia.
— Eu não disse isso. — Puxo o fiapo solto no meu bolso, balançando para
trás em meus calcanhares. As saliências internas dos meus sapatos afundam
na minha pele quanto mais forte eu pressiono.
Seu rosto se contorce e seus olhos estão fumegando de raiva. — Que tipo
de trabalho é esse? Por que alguém iria querer isso?
— Sou um transportador. Eles nunca me dizem o que estou carregando. É
mais seguro não fazer perguntas.
— Mais seguro para quem? — Ele cospe, inclinando-se para a frente.
— Eu e mi familia. Olha, tenho que fazer uma ligação rápida. — Eu me
mexo no lugar, deslizando meus dedos sobre a pele manchada da parte
externa da minha mão para me lembrar de que todas as ações têm
consequências. — Sinto muito, mas tenho que deixá-lo aqui enquanto faço
isso.
Ele se joga para frente, rolando de um lado para o outro. — Não. Por favor.
Não me deixe aqui. Não posso mais ficar no escuro e mal consigo respirar.
— Suas palavras rasgam meu coração em dois e é difícil afastar aqueles
olhos. Continuo me perdendo neles. Isso não faz sentido. Ninguém nunca
me dominou dessa maneira, muito menos outro homem.
— Sinto muito. É só por um tempo. — Ofereço a ele um sorriso
tranquilizador e ele não acredita em nada disso. Não posso culpá-lo.
— Não...
Fechei a porta rápido o suficiente para interromper o resto de suas
palavras. Minha mão congela na maçaneta e uma sensação inquietante toma
conta de mim. Não só quero libertá-lo, como também... não. Isso não é
possível. Nem o conheço. Como posso querer proteger um estranho sobre
minha própria família?
Volto para o caminhão e pego meu telefone no compartimento do meio.
Ligando para meu amigo Tommy, coloco a ligação no viva-voz. Ele trabalha
para Rodrigo há anos e foi quem ajudou a fazer o arranjo para mim. Minha
família e eu estaríamos mortos se ele não me fizesse esse favor.
— Olá? — Ele atende no terceiro toque.
— Tommy, que porra é essa, cara? — Minha voz sai descontrolada.
— O que está acontecendo, vato7. Que pasa?
— No que você me envolveu? — Minhas palavras saem muito
rapidamente para fora da minha boca, como se estivessem tentando
competir contra o meu ritmo cardíaco acelerado.
Ele suspira. — Por favor, me diga que você não abriu a traseira daquele
caminhão?
— E se eu abri? — Minha respiração gagueja.

7 Cara
Ele xinga baixinho. — Essa era uma das regras, cara. Existe por uma razão.
Quanto menos você ver, melhor.
A fúria cresce em mim. — Você sabe o que tem lá atrás?
— Sim, sei e faça o que fizer, não cometa mais erros estúpidos. Tranque-o
e não abra mais. Invente alguma desculpa para a falta da fechadura.
Balanço minha cabeça e meus dedos caem em meu cabelo, puxando os fios
grossos. — Acho que não consigo mais fazer isso, cara.
— Bem, você não tem a porra de uma escolha. Se você estragar tudo, isso
recairá sobre mim. Dei a Rodrigo minha palavra de que você faria isso sem
causar nenhum problema. Faça a entrega.
— Isso não está certo, Tommy. É a porra de um ser humano lá atrás. — Ele
é filho, neto ou irmão de alguém, e talvez até namorado.
Ele respira alto ao telefone. — Olha, cara, não é nem o que você pensa.
— O que quer dizer? — Aperto o telefone com tanta força que sinto que
ele pode estourar em minhas mãos a qualquer momento.
— O cara é um maldito assassino de sangue frio e não é uma boa pessoa.
Você não vai salvar ninguém, só vai libertar um monstro. Realmente quer
essa merda na sua consciência?
Penso no homem assustado e abalado que era muito menor do que eu. —
Você está fodendo comigo, certo? Você realmente quer que eu acredite que
aquele cara lá atrás é perigoso?
— Si. Porque ele é. Ele é um assassino conhecido que os policiais estão
atrás há algum tempo. Ele era um assassino de aluguel de um traficante
chamado Nelson Mendoza. Ele está fugindo depois de matar o irmão de
Nelson e toda a sua família. Ele matou duas crianças dormindo porque ele
não gostou dos trabalhos que recebeu. Ele merece receber o que merece.
Meu estômago embrulha. — Você tem certeza?
— Eu não inventaria essa merda. Olha, se você o desamarrar, você estará
cavando sua própria cova e não será com Rodrigo que você terá que se
preocupar. Você vai morrer antes mesmo de chegar ao seu destino.
Tommy nunca mentiu para mim antes e praticamente crescemos juntos.
Ele era uma das poucas pessoas que eu considerava um amigo. Eu sabia que
ele trabalhava para um homem mau, mas ele estava apenas fazendo o que
tinha que fazer para se manter vivo. Ele não escolheu esta vida. Sua família
o obrigou a isso e a única saída geralmente é a morte.
— Ok. Vou continuar. — Belisco entre minhas sobrancelhas, franzindo a
testa para o meu próprio reflexo.
— Bueno. Vejo-o quando voltar para casa. Não deixe aquele homem lá te
enganar. Ele dirá qualquer coisa se achar que é o que você quer ouvir. Ele
não é uma vítima, Ezra, mas você vai rapidamente tornar-se a dele se chegar
muito perto.
Desligo o telefone e o jogo no assento. Saindo do caminhão, torço a trava
na parte de trás e prendo com uma corda que encontrei no assoalho do
passageiro. O homem do outro lado deve ter me ouvido fechar porque
começou a gritar de novo. — Espere. Você disse que não iria me deixar aqui.
Volte seu idiota.
Assobiando alto o suficiente para abafar seus apelos e ameaças, subo de
volta no caminhão e dirijo de volta para a estrada, indo em direção ao
endereço fornecido. As batidas e os gritos ficam tão altos que ligo o rádio
com estática novamente. Felizmente sou o único atualmente na estrada, mas
em breve terei que encostar novamente para colocar a mordaça de volta em
sua boca. Não posso correr o risco de alguém em outro veículo ouvi-lo.
Minha mente volta às palavras de Tommy. “Ele não é uma vítima, Ezra, mas
você vai rapidamente tornar-se a dele se chegar muito perto.”
“Ele está mentindo.” Sussurros suaves acariciam meu ouvido. “Tem que
salvá-lo. Você não vai se sentir bem até que o faça.”
Olho para o meu telefone e depois para o rádio, procurando por qualquer
lugar de onde a voz possa estar vindo. Se são meus próprios pensamentos,
por que sinto que os estou ouvindo ao meu redor e não apenas de dentro?
Quanto mais rápido eu chegar aonde preciso estar, mais cedo posso tirar
uma soneca muito necessária para me livrar dessas alucinações aleatórias.
Pelo menos espero que isso seja tudo.
3

Paxton
Corro de volta para o canto, arfando. O fedor insuportável ao meu redor
só faz minhas entranhas se contorcerem ainda mais. A bile sobe pela minha
garganta e os músculos do meu peito se expandem enquanto meu estômago
revira. Fico tenso e minha boca se abre, liberando nada além de sons
estrangulados. Não como há dias, então provavelmente não tenho mais nada
para vomitar, mas meu corpo tenta devolver o ar estragado que continuo a
engolir de qualquer maneira que puder.
Inspiro e expiro profundamente tentando acalmar meus nervos. Cada
respiração corta minha garganta como pequenos cacos de vidro. Eu sabia
que não podia confiar naquele idiota. Na verdade, agarrei-me à esperança
de que ele voltasse. As emoções entrelaçadas em sua voz soavam genuínas
e seus olhos eram a coisa mais próxima de conforto que eu já havia visto em
algum tempo.
Estúpido. Estúpido. Estúpido.
Ele trabalha com os outros. Ele é tão desprezível quanto eles. Apenas o
mal e a malícia que vi neles não estavam em lugar nenhum quando olhei
para ele. Balanço a cabeça, fechando os olhos. Minha busca por qualquer tipo
de esperança está nublando meu julgamento.
Ninguém vai me libertar ou me resgatar. Tenho que fazer isso sozinho,
assim como quase tudo na minha vida. Onde quer que este caminhão esteja
indo, tenho que descobrir uma maneira de me libertar antes que ele chegue
lá. Nenhum barulho que fiz me favoreceu. Tudo o que ganhei com isso foi
uma garganta seca e crua e ossos latejantes.
Descanso minha cabeça contra o caminhão balançando. Fechando os
olhos, lembro como era bom a brisa fresca da noite na minha pele. Minha
liberdade estava bem na minha cara e eu não conseguia chegar perto o
suficiente para tocá-la.
Cochilo um pouco ao som do zumbido suave do motor e quando eu fecho
meus olhos, deslizando para a escuridão, eu imagino o rosto sorridente do
meu irmão. Ele tinha a mim para me agarrar nos dias ruins e tudo o que
tenho é a memória dele, junto com a doce canção de ninar que minha mãe
sempre cantava para dormirmos.
Os gritos altos me fazem sair correndo do meu quarto. Procurando por meu irmão,
meu peito aperta e o pânico aumenta em mim. Eu chamo o nome dele várias vezes e
ele nunca responde.
Um som de crepitação vem do andar de baixo e a sala de estar é engolfada pelas
chamas. Desço correndo os degraus, colocando-me entre o calor insuportável e a
fumaça. Meu avô muitas vezes dormia com um cigarro na boca. Hoje à noite ele
acrescentou um copo de tequila. Passo por cima dos cacos de vidro e o fogo ruge mais
alto.
— P, onde você está? Me responda. Precisamos sair daqui.
O rosto carbonizado de meu irmão aparece na minha frente, sua pele rachada e
enegrecida pelo fogo. — Você não pode me salvar agora, irmão.
Acordei sobressaltado, minha respiração saindo apressada. Os pesadelos
me seguem aonde quer que eu vá, até no inferno. Meu coração bate forte no
meu peito. Estou tendo mais dificuldade em me separar da casa em chamas
do que o normal. O aumento da fraqueza e o esforço extra necessário para
abrir os olhos não estão ajudando. Preciso de comida e algo para beber. Não
vou durar muito tempo.
Eles não querem que eu chegue lá vivo?
Olhando ao meu redor, me equilibro sobre meus joelhos doloridos. Eu não
achava que poderia doer mais do que antes, mas horas sendo jogado na parte
de trás do caminhão e minhas tentativas fracassadas de tentar me libertar
apenas aprofundaram minhas feridas. Engasgo com os soluços, deixando
cair a cabeça.
O caminhão dá uma guinada e estou sendo jogado como uma boneca de
pano, ricocheteando em todos os lados da minha prisão em movimento. Sou
jogado para trás enquanto o caminhão desce o que parece ser uma colina.
Fico de lado quando o caminhão finalmente para de se mover, meu corpo
inteiro tremendo. Sinto que meu coração e estômago estão na minha
garganta. As altas batidas do meu pulso enchem minha cabeça. O zumbido
em meus ouvidos não diminui o latejar e a tontura.
Encolhendo-me em mim mesmo, enterro meu rosto no lixo embaixo de
mim, sentindo-me tão vazio quanto os copos descartados sobre os quais
estou deitado. É assim que se sente morrer? Eles dizem que sua vida passa
diante de você enquanto está acontecendo. Não vejo nada. Apenas
escuridão.
A porta do caminhão se abre e meus olhos se fecham quando um raio de
sol me atinge no rosto. — Você está machucado? —Alguém pergunta de
perto. Presumo que seja o homem de antes.
Não respondo ou olho para cima. Tudo dói muito.
— Abra os olhos — exige o homem. — Preciso saber que você está bem.
Não digo nada e permaneço imóvel no chão com minhas pálpebras bem
juntas.
Ele pula para dentro do caminhão, seu corpo fazendo com que a traseira
abaixe. Dedos quentes pressionam meu pescoço e um grande suspiro de
alívio sai de cima de mim antes que eu seja levantado por braços grandes. —
Precisamos conseguir comida e água para você ou não terei mais produto
para entregar.
Quero lembrá-lo de que sou uma porra de pessoa, não um maldito
produto, mas não posso por causa da maneira como minha horrível boca de
algodão torna difícil para mim mover minha língua.
Ele me coloca no que parece ser um assento, pressiono minhas mãos nas
costas e minhas unhas cravam no tecido áspero. Uma porta bate ao meu lado
e novamente do outro lado alguns minutos depois.
— Você ficará sentado aqui comigo por um tempo. Se você tentar alguma
coisa, vou te jogar lá atrás de novo. Você entendeu? — Sua voz profunda e
suave vibra em meus ouvidos.
O motor do caminhão liga com um rugido alto e abro os olhos, olhando
para ele. Não notei a prata salpicada em seu cabelo ou barba por fazer na
primeira vez. Seus olhos estão vermelhos e olheiras sob eles. Isso não o torna
menos atraente, no entanto. O homem é um sonho erótico e definitivamente
alguém com quem vale a pena fantasiar.
É como se eu estivesse esquecendo que fui sequestrado e esse cara é um
maldito cúmplice. Não preciso ficar babando pela boca por alguém que pode
me matar a qualquer momento.
Sua mão esfrega seu rosto pálido e os cantos de sua boca caem. Ele deve
ter adormecido enquanto dirigia. Não tenho certeza se estou melhor aqui.
Ele envolve a mão ao redor do volante e se inclina na minha direção. —
Acene se entender. — Ele descansa uma arma em seu joelho esquerdo, seus
dedos apertando firmemente em torno do cabo.
Lambendo meus lábios rachados, aceno mais devagar do que da última
vez. Minha cabeça parece muito pesada para o meu pescoço aguentar e a
pequena ação aumenta o enjoo no meu estômago.
Meus olhos caem para a garrafa de água em um dos porta-copos.
Suspirando, ele a pega e a levanta, trazendo-a para mais perto de mim. —
Com sede?
— Sim... — é tudo o que consigo dizer da minha garganta em chamas.
Pressionando os lábios em uma linha fina, ele abre a tampa e traz a
abertura para os meus lábios entreabertos. As primeiras gotas são frescas e
molhadas na minha língua. Persigo a garrafa com a boca, envolvendo os
lábios em toda a volta da tampa com nervuras.
— Devagar. — Ele levanta a garrafa mais alto, e os respingos são maiores
na minha garganta, aliviando cada lugar que eles entram em contato. Não
paro de beber até que a garrafa esteja vazia.
— Mais — digo. Não é um apelo ou uma pergunta. É uma demanda.
— Sim, claro, mas primeiro quero que você me diga seu nome.
Balanço a cabeça, não querendo dar a eles mais do que já deram. Eu não
era nada mais do que um corpo para essas pessoas. Um recipiente para
usarem como bem entenderem. Eles não precisavam do meu nome antes de
me venderem e não precisam agora. — O que isso importa?
“Porque ele não é eles e você quer saber como soa quando ele dizer isso” uma voz
diz de dentro.
Huh?
— Dê-me seu nome e te darei mais água — sua voz alta temporariamente
me distrai dos meus pensamentos. Era isso que eles eram? Não parecia que
estavam vindo de mim. A desidratação afetou gravemente meu cérebro.
— Perry — digo, mentindo ligeiramente. Não é algo que eu tenha usado
por um longo tempo. Eu não queria me apegar a isso nunca mais, mas não
conseguia pensar rápido o suficiente para pensar em outra coisa.
— Como sei que você está dizendo a verdade?
— Você não sabe, mas não é como se você fosse honesto comigo. — Por
que ele estaria quando está ajudando na porra de um sequestro? Fui um
idiota por esperar mais desse idiota em primeiro lugar. O que piora as coisas
é que estou um pouco intrigado com ele. Ele é uma mistura de luz e
escuridão ao mesmo tempo. Ser espremido no meio soa estranhamente
promissor.
Não é a primeira vez que me sinto atraído pelo perigo. A única diferença
entre agora e antes é que geralmente é uma euforia provocada por uma
situação envolvendo eu estar muito perto da beira de um penhasco, pular de
um avião ou dirigir rápido demais em uma estrada de terra. Não é a porra
de um sequestro e certamente não é uma pessoa que está com a mão em volta
de uma arma, apontando na minha direção.
Só que ele não se sente tão ameaçador quanto deveria. Suas mãos eram
muito gentis e a preocupação em sua voz era genuína. Nada disso
combinava com seu exterior de bad boy. Quase como se ele não estivesse
apenas tentando me convencer de que era outra pessoa, mas também ele
mesmo.
Seus olhos se estreitam e ele esfrega a barba por fazer no queixo com a
mão livre. — O que quer dizer?
— Você disse que voltaria depois do telefonema e não voltou.
Ele engole com tanta força seu pomo de Adão. — Isso foi antes de eu saber
a verdade.
— A verdade de quê? — Pergunto, empurrando um pouco para fora do
assento.
— De você ser um criminoso perigoso. O que você fez para irritar esses
homens não tem nada a ver comigo. São suas consequências. — Quem quer
que estivesse do outro lado da ligação que ele fez claramente o fez mudar de
ideia ao inventar uma história de merda sobre mim.
— Do que diabos está falando? Pareço perigoso para você? — Minha voz
ecoa ao nosso redor.
— As aparências enganam.
Eu o olho de cima a baixo. — Você não está errado nisso.
— Então, deixe-me perguntar de novo, qual é o seu nome? — Sua voz fica
mais alta.
— Você pode continuar perguntando, mas vai obter a mesma resposta
todas as vezes e você não está em algum prazo? Não deveríamos voltar para
a estrada novamente em breve?
Ele solta um suspiro trêmulo, jogando a mão no volante. — Temos um
pouco de tempo de sobra. Devemos parar em algum lugar e te limpar. Você
cheira mal.
Zombo. — Você age como se fosse por escolha.
— Escolha ou não, não muda as circunstâncias.
Tremo contra o assento e meus dentes batem. — Você não teria um
cobertor, não é? Não só vai me aquecer, mas também pode cobrir meu fedor.
Ou ele sempre poderia usar seu corpo.
Afastando meus pensamentos, tento não entreter a ideia. Seus lábios se
inclinam ligeiramente. Pelo menos um de nós está entretido. — Não. Eu não
ia dormir até entregar você. Não havia necessidade de cobertores.
— Isso não te impediu de descansar um pouco não faz muito tempo. Tem
certeza de que está acordado o suficiente para dirigir? —Pressiono meus
lábios firmemente juntos.
— Acordado o suficiente. Além disso, quem diabos faria isso, você? — Ele
ajusta o calor, aumentando-o. — Isso deve ajudar. Aqui está isso também. —
Ele tira o moletom preto e o desliza sobre minha cabeça, puxando-o pelos
meus ombros. — Também ajudará a evitar que as pessoas que possam passar
de carro façam perguntas.
Reviro os olhos. — É claro que é mais sobre ajudar a si mesmo do que
sobre mim.
Ele não diz nada em resposta e puxa outra garrafa de água de uma mochila
que está a meus pés. Depois de me ajudar a beber, ele muda a marcha e volta
para a estrada. Estamos no meio do nada e o único veículo em quilômetros
dirigindo por uma cidade idiota.
— Não parece haver um posto de gasolina por quilômetros. Onde devo
limpar? — Concentro-me nele.
— Não vamos entrar juntos em um posto de gasolina. Para as pessoas não
desconfiarem eu teria que te desamarrar e não vou fazer isso.
— Ah porque sou um criminoso violento, certo? — No começo, pensei que
ele ter medo de mim poderia funcionar a meu favor, mas agora estou
duvidando de tudo. Se ele presumir que sou desequilibrado, nunca vai me
desamarrar e isso vai diminuir minhas chances de fugir. Vou ter que
convencê-lo do contrário.
Ele me olha de soslaio e seu olhar se volta para a estrada.
— Então vai me dizer o seu nome? — Pergunto, piscando meus olhos com
força para ele.
— Por que eu faria isso? — Ele estica o pescoço.
— Porque eu te disse o meu e é justo que eu tenha o seu em troca.
— Ora, para que você possa me procurar e me caçar mais tarde, se de
alguma forma conseguir se libertar? — Seu tom plano sugere que ele está
falando sério. Ele realmente acha que sou como Bryan Mills do filme Busca
Implacável.
— É engraçado você pensar que sou tão habilidoso. Tudo o que estou
pedindo é um primeiro nome.
— Você pode me chamar de Ez — diz ele bruscamente.
Isso é melhor do que o transportador. — Estou supondo que Ez é a
abreviação de alguma coisa? Ou é assim que seus amigos te chamam?
— Não, é como você vai me chamar e não somos amigos. Com certeza
você fala muito. Não é à toa que colocaram uma mordaça na sua boca.
Solto uma risada. — Falar mantém minha mente ocupada.
— Encontre uma alternativa. — Ele olha pela janela enquanto sai da
rodovia.
— O que você está fazendo? — Inclino-me para frente, a corda arranhando
meus pulsos.
— Há uma parada para descanso aqui. A área do banheiro ainda estará
aberta. — Ele aponta para um prédio de tijolos bege com uma grande placa
de pedra ao lado. A frente diz Texas e o centro prateado brilha sob uma
grande lâmpada.
— Parece vazio. Não haverá ninguém dentro além de nós. — Ele estaciona
no grande estacionamento vazio e desliga o caminhão assim que ele para. O
vento assobia por entre as árvores do lado de fora da minha janela e os
galhos balançam sob o céu escuro da noite.
—Órale8. Vamos fazer isso. — Ele sai do caminhão e caminha pela frente.
Pressiono minhas costas no assento enquanto ele abre a porta. Pensei em me
inclinar e dar uma cabeçada nele, mas imagino que não seja tão fácil quanto
parece nos filmes. Sem falar que mal consigo me sentar do jeito que está,
nossas cabeças colidindo vai ser pior para mim do que para ele.
— Fique quieto enquanto libero seus tornozelos. Preciso que você seja
capaz de andar. Não tente nada engraçado. — Ele tira uma faca do bolso e a
enfia por baixo da corda grossa. Ele esfrega a lâmina sobre os fios ásperos
até que se desfaçam totalmente.
— Vamos. — Ele segura a lâmina no meu pescoço. — Gire seu corpo.
Faço como ele diz. Mantendo a ponta de metal afiada no meu pescoço, ele
envolve o outro braço em volta de mim e me abaixa no chão.
— Você aguenta? — Assim que ele me solta, meus joelhos se dobram e
caio no chão, gemendo entre os dentes cerrados. — Obviamente não.
Curvando-se, ele passa o braço em volta do meu e me levanta. Segurando
minha cintura, a respiração suave de seus lábios faz cócegas em minha
orelha e me dá um arrepio na espinha. — Apoie-se em mim e vou segurá-lo
o melhor que puder.
Concordo com a cabeça, movendo lentamente um pé na frente do outro.
— Como está?
— Minhas pernas estão funcionando por enquanto. Só tenho que ir
devagar.
— Estamos quase lá. — Ele olha em volta antes de me guiar para dentro
das portas duplas. Andamos por um corredor de tijolos amarelos e entramos
no banheiro masculino. É limpo e cheira a ambientador floral. As portas

8 Vamos lá
marrons do box do banheiro se alinham na parede dos fundos e, em um
canto distante, há dois chuveiros.
— Vamos te lavar. — Ele arranca o moletom de cima de mim e o coloca no
balcão.
— Não tenho nada limpo para vestir. — Eu com certeza não quero usar
essa cueca novamente. Odeio usá-la agora, mas não me sentarei totalmente
nu ao lado de um estranho.
— Tenho um conjunto de roupas sobressalentes em uma mochila no
caminhão. Você pode pegar o que servir. — Seus olhos castanhos são tão
quentes quanto a areia em que adoro afundar sempre que estou na praia com
os amigos.
— Você sempre tem roupas enquanto ajuda nos sequestros?
Ele sibila entre os dentes. — Tire sua cueca e entre no chuveiro.
— Como você espera que eu faça isso? — Envio uma expressão irritada
para ele. — Você continua esquecendo que tenho minhas mãos amarradas
nas costas, idiota.
— Continue me xingando e vou fazê-lo sentar-se no caminhão molhado e
sem roupa na frente do ar-condicionado.
— Parece uma noite normal de sábado para mim. — Sorrio, inclinando a
cabeça.
Sua mandíbula se contrai e suas mãos caem em meus quadris. Elas
permanecem no lugar enquanto seus olhos escuros olham nos meus.
Limpando a garganta, ele empurra minha cueca pelos meus quadris estreitos
e pressiona a palma da mão na parte inferior das minhas costas. — Para o
chuveiro, agora.
Respirando fundo, mudo meus pés para a frente e os arrasto lentamente
pelo chão. Meus membros ainda estão muito pesados para levantar-se. Sua
mão nunca se separa da minha pele, calor irradiando dele enquanto ele me
guia para frente. O calor se espalha por mim como uma fogueira, as
pequenas chamas se espalhando por dentro.
Ele entra no chuveiro comigo e quando sua mão se move de mim para a
maçaneta, meu corpo afunda em si mesmo já sentindo falta do peso de sua
mão.
A água quente espirra acima de nós e ele me arrasta para baixo dela. A
forte pressão arde em minha pele excessivamente sensível, mas também
alivia um pouco da dor em meus músculos tensos.
— Tenho alguma privacidade?
Ele se inclina contra o azulejo do chuveiro, me avaliando com seu olhar
duro. — Não vou a lugar nenhum. Quando estivermos fora daquele
caminhão, você não só não vai tomar banho ou andar sem mim, como
também não vai mijar ou cagar a menos que eu esteja presente também.
— Parece grandes oportunidades de união. Por que você não tira a roupa
e se junta a mim aqui embaixo? Você será capaz de me impedir de cair
estando mais perto. — Balanço minhas sobrancelhas e ele parece tudo menos
divertido.
Ele bate a mão contra o dispensador de sabonete. — Vou usar o sabão para
ajudar você a se limpar. A água não será suficiente. Ainda sinto o cheiro do
lixo e mijo em você.
— Mmm, tudo o que preciso para conquistar todos os homens.
— Homens? — Sua testa enruga.
— Sim. Homens e apenas homens.
Algo muda em seus olhos e não consigo entender totalmente o que é. Olho
mais de perto e ele tem a mesma aparência de alguém que está de olho em
um novo sabor de sorvete que está tentado a experimentar. Tenho que estar
vendo coisas.
“Peça a ele para provar você” sussurros suaves vibram em meu ouvido. De
onde eles estão vindo? Não é dele. Sua boca está fechada e a voz quase soa
como a minha.
Seu olhar cai para o meu pau antes de chegar ao meu mamilo perfurado.
A sugestão de excitação é difícil de perder. Eu poderia usar isso a meu favor.
Talvez até barganhe para sair dessa situação. Tenho que convencê-lo a parar
de se questionar primeiro. Ele não é o primeiro homem hétero que fica
confuso perto de mim.
Abrindo minhas pernas, eu me inclino contra a parede e pressiono minha
bochecha no azulejo frio. — Vá em frente. Deixe-me tão limpo o quanto você
precisar.
Seu lábio inferior desliza entre os dentes e seus dedos tremem sobre o
dispensador fazendo com que mais sabonete caia no chão. Ele se atrapalha
com a alavanca, seus olhos incapazes de se afastar de mim.
Não, ainda não o tenho totalmente onde quero, mas ele está lentamente
chegando perto. Quando ele chegar a isso, poderei segurá-lo no lugar por
tempo suficiente para ganhar vantagem.
4

Ezra
Meu olhar recai para seus pequenos mamilos rosados e a tatuagem de
chama descansando abaixo de seu umbigo. Meu rosto cora enquanto a
vergonha se insinua em minha mente.
Isso não está certo. Deve ser a falta de sono. Não sou eu mesmo.
Por mais que não haja nada de errado em se interessar por pessoas do
mesmo sexo, não sou gay. Gosto da companhia das mulheres. Normalmente
não por muito tempo, mas se eu tivesse que escolher alguém para me
acompanhar na minha cama, seria alguém do sexo oposto.
A vontade de bater na minha própria cabeça só aumenta quanto mais sou
inundado por esses pensamentos indesejados.
A possibilidade de cobiçar outro homem não é o que há de errado nessa
situação.
Eu nem deveria estar pensando em nada disso. O que estou
experimentando agora não pode ser atração. Tem que haver alguma outra
explicação.
Toque ele.
Os pensamentos surgem em minha cabeça tão alto que me abalam por
dentro. A voz que ouço não soa como a minha. É mais baixa e suave, mas
vem de dentro, como se alguém estivesse surgindo dentro de mim.
É ridículo e impossível.
Mordo o interior da minha bochecha quando a voz interior fala
novamente.
Reivindique cada parte dele com os dedos.
Não, não, não.
Meus dentes cravam com mais força até eu tirar sangue. O gosto metálico
enche minha boca e o homem parado ao meu lado olha para trás novamente,
seus olhos implorando.
— Por que está demorando tanto? Você esqueceu como usar sabonete? É
a primeira vez que faz isso?
Meus olhos se voltam para ele e encho minha palma com o líquido rosa.
— Fique parado e fique quieto. Não vou tocar em nada que você não queira.
— Você é um cavalheiro. Como pode me limpar adequadamente se não
alcançar todos os lugares? Está tudo bem. Não estou preocupado com um
cara hétero me lavando. Não é como se você fosse gostar disso ou algo assim,
certo?
Nunca gostei antes, então por que agora deveria ser diferente?
Porque ele é diferente.
Ignorando a noção ridícula, esfrego as mãos e faço espuma entre as
palmas. — Não. Só estou ajudando a limpar toda a sujeira. Isso é tudo.
— Então comece antes que a água esfrie, garotão. Minha bunda já está
começando a sentir uma corrente de ar. — Ele mexe os quadris novamente
quase como se estivesse tentando manter minha atenção na parte inferior de
seu corpo. Se ele soubesse o que estava acontecendo na minha cabeça e calça,
ele perceberia que não precisava fazer nada.
Giro minha língua dentro da minha boca e de repente ela parece muito
grossa atrás dos meus dentes. Gotas de água cobrem sua pele e um pouco
do chuveiro escorre pela parte inferior das costas, descendo entre as
nádegas.
Minha calça fica mais apertada e nenhuma respiração pode evitar a
umidade que minha fenda vazando cria em minha cueca.
O homem está amarrado e em péssimo estado, pelo amor de Deus.
Excitação deveria ser a última coisa que sinto agora. Uma sensação retorcida
toma conta do meu estômago e levanto meus olhos para suas costas, em vez
de permitir que eles se desviem para sua bunda redonda e rechonchuda
novamente.
Seu doente fodido. Você não deveria ser como eles e, no entanto, está
agindo como se pertencesse ao lado errado de qualquer maneira. Não
importa o que ele tenha feito, ele não merece que você cobice seu corpo.
Passo minhas mãos sobre seus ombros, espalhando o sabonete em cada
sulco e curva de suas costas. Sua respiração fica irregular quanto mais
deslizo meus dedos para baixo no centro de suas costas e ele balança para
frente quando chego à fenda de sua bunda. — Continue. Você tem que me
lavar em todos os lugares que eu possa estar sujo, lembra? Você está
pensando demais nisso, homem hétero. — Seu tom é zombeteiro.
Meus dedos se contorcem para fazer exatamente o que ele está instruindo.
Deixá-lo limpo. Em todos os lugares. O calor de suas nádegas envolve minha
mão enquanto eu o acaricio por dentro, meus dedos pairando muito perto
de sua pele enrugada. Ele empurra sua bunda para trás, sua cabeça caindo
para frente.
Esfrego em toda a sua entrada, preocupado em ficar muito tempo se entrar
em contato com a parte mais quente dele. Suas pernas tremem e ele solta um
suspiro gaguejado. — Essa é provavelmente a parte mais suja do meu corpo.
Melhor prevenir do que remediar.
O calor se espalha pelo centro da parte inferior do meu estômago e minha
boca fica seca quando finalmente toco sua abertura apertada. Meu polegar
desenha círculos sobre ele e ele se engasga, seu pescoço esticando.
— É melhor eu entrar também, se for esse o caso.
Suas nádegas se apertam e ele murmura algo ininteligível enquanto
pressiono um dedo dentro dele. Seu aperto luta contra a minha intrusão e
estou muito encantado com a reação de seu corpo para parar.
— O que... — Longos gemidos substituem suas palavras enquanto me
empurro mais fundo, apreciando a maneira como suas paredes lentamente
se abrem para mim.
Ele estremece, sua respiração saindo estrangulada. — Porra.
— Um pouco mais fundo só para ter certeza de que você está
completamente limpo. — Torço meu dedo, seu buraco apertando ao meu
redor. Girando-o para dentro e para fora, eu o enrolo levemente quando
estou totalmente dentro.
Ele faz alguns sons de engasgo enquanto se contorce entre mim e a parede.
— Eu deveria cuidar da frente agora. Dessa forma, os dois lados ficam
iguais. — Digo em voz baixa contra seu ouvido.
Seu nariz bate contra a parede quando minha mão envolve seu pênis. Meu
corpo está comandando esse show agora e todo o meu pensamento lógico
está longe de ser encontrado. Minhas mãos continuam tendo o que querem,
esfregando e acariciando seu longo e duro comprimento. Curioso para saber
se ele está pingando da ponta para mim, do jeito que estou para ele, esfrego
meu polegar no topo de sua cabeça. A substância frisada é muito espessa
para ser água. Não mais no controle de meus próprios membros, levo meu
polegar à minha língua. Muito salgado também.
Sorrindo amplamente, volto minha mão para sua frente enquanto a outra
acaricia seus mamilos. Ele se levanta, olhando para mim com olhos
vermelhos. — Você sabe muito bem o que está fazendo para ser
heterossexual.
— A última vez que verifiquei, tenho mamilos e um pau também — digo
inexpressivo. E não tenho certeza se alguém me consideraria hétero se me
visse agora. Eu sou? Acabei de provar o pré-sêmen de um homem como se
fosse um resto de massa de bolo em uma colher. Também quero fazer de
novo. Pare com isso.
Trata-se apenas de estabelecer domínio. Mostrar a ele quem tem a
vantagem e vencendo-o em seu próprio jogo. Ele continua tentando me
pegar desprevenido e se eu continuar fazendo isso, ele vai acabar se
cansando de todas as suas travessuras irritantes.
É mais do que isso.
Dou igual atenção ao resto de seu corpo depois de ensaboar minhas mãos
novamente e sem ter que tocar em nenhum de seus lugares mais sensíveis,
ele goza enquanto meus dedos estão em seu cabelo, coçando seu couro
cabeludo.
Um pensamento que nunca imaginei ter diante de uma visão como essa
mantém minha mente refém.
Lindo.
Recuando, me ajeito na calça sem me importar se deixo uma mancha
molhada. — Tudo pronto. Precisamos sair antes que alguém chegue.
— Quer dizer alguém além de mim9? — Erguendo uma sobrancelha, ele
se move contra a parede e seus dedos se enroscam nas costas.
Atiro a ele um olhar de advertência e seus lábios inclinados me dizem que
não tem efeito sobre ele. Por que sinto que ainda não sou o vencedor aqui?
— Eu gostava mais quando você não estava falando.
— Sempre podemos consertar isso com outro banho. — Ele balança as
sobrancelhas.
Grunhindo, bato minha mão com força na parede atrás dele. Ele pula para
trás com olhos frenéticos, e eu finalmente consigo a reação correta dele.
Ele pigarreia e dá um passo para trás para se apoiar contra o azulejo. —
Sim. Ok. Vou esperar aqui enquanto pega as roupas.
— Sem chance. — Fecho a água e o empurro em direção à pia. Gotas de
água rolam por seu corpo, fazendo ruídos de respingos contra o chão.
Enquanto o seco com uma pilha de toalhas de papel, sou tomado pela culpa
e pelo arrependimento. É tão desgastante que me sufoca.
Engulo o nó na garganta, jogando as toalhas de papel úmidas no lixo.
Incapaz de olhar para seu rosto corado, viro a cabeça enquanto enfio o

9 Trocadilho com come que significa chegar, mas é uma gíria para gozar também
moletom de volta nele, deixando as mangas penduradas nas laterais.
Levanto sua cueca e ele balança a cabeça. — De jeito nenhum vou vesti-la de
novo. Isso anularia todo o propósito. Jogue-a no lixo. Melhor ainda, coloque
fogo nela.
Levando-a para longe dele, eu a descarto na cesta de lixo mais próxima e
lavo minhas mãos. Esfrego minha pele com tanta força, querendo sentir
qualquer coisa além do aperto firme de seu corpo em volta do meu dedo.
Seus sons de paixão e prazer ainda estão tão frescos na minha cabeça. Eles
também nos seguem até o caminhão. Um carro para no mesmo
estacionamento e, quanto mais perto fica de nós, mais errático fica meu
batimento cardíaco.
Rapidamente o levanto para dentro e bato a porta assim que suas pernas
estão totalmente dentro. Oferecendo um sorriso para a senhora saindo do
carro, subo para o lado do motorista e imediatamente viro o caminhão.
— Alguém está com o rosto um pouco verde. Você acha que se eu gritar,
ela vai me ouvir pela janela do caminhão? Devemos testar a espessura do
vidro e descobrir.
Envolvo minha mão em torno de sua boca, silenciando o som miserável
rastejando do fundo de sua garganta. Ele se mexe em seu assento,
balançando a cabeça de um lado para o outro. A mulher desaparece no
prédio e meus ombros relaxam. Antes que eu possa remover minha mão de
sua boca, seus dentes apertam com força contra a palma da minha mão.
Eu a arranco, apertando-a no meu peito. — Que diabos? Continue agindo
como um maldito animal e vou enjaular você como um.
— Não é como se o tratamento fosse pior do que ser amarrado e jogado
no meio do sangue, bile e resíduos de outras pessoas — ele murmura.
Meu estômago se revolta. — Você acha que houve outros lá atrás?
— Você não pode ser tão burro assim. Claro que houve. O que acha que
andou carregando esse tempo todo? Laranjas? — Sua expressão se contorce,
lembrando como me sinto por dentro.
— Eu... drogas talvez ou talvez pessoas que queriam estar aqui e foram
trazidas por coiotes. Inferno, não sei. Se transportei outros antes, quem pode
dizer que não eram pessoas más como você. — Quero acreditar que eram.
Tenho que acreditar.
— Sim, ok, amigo. O que quer que ajude você a dormir com a consciência
limpa à noite. Só espero que o dinheiro valha a pena.
— Não há dinheiro. — Mal sabe ele que não durmo com a consciência
limpa desde os quinze anos.
Ele solta uma risada trêmula. — Sim, certo. Realmente quer que eu
acredite que você corre um grande risco como esse de graça?
— Eu não disse que era de graça. Só disse que não havia dinheiro.
Pego a mochila sob seus pés e ele me empurra. — Estou bem do jeito que
estou por enquanto.
Descansando minha mão no assento, envio a ele um olhar estupefato. —
Tudo o que você tem é um moletom com capuz.
— Estou bem ciente do que estou vestindo. Esta coisa é grande o suficiente
para cobrir tudo o que preciso e, além disso, agora estou com muito calor em
vez de frio.
Meu moletom engole um pouco dele. É pelo menos três tamanhos maior,
cobrindo sua forma pequena. — Fique à vontade. Está com fome? Tenho
alguns lanches em uma sacola em algum lugar.
Sua garganta faz um som. — Meu estômago continua interrompendo
nossas conversas. O que você acha?
Alcanço suas pernas, olhando para ele. Minha mão continua se debatendo
no assoalho até tocar o saco plástico. Agarrando-o com meus dedos, eu me
sento de volta para o meu assento.
Ignorando minha própria fome, alcanço dentro e pego palitos de carne
seca para ele. Meus dedos rasgam o plástico e o retiro antes de colocar a
comida na frente de sua boca.
Ele vira a cabeça, franzindo o nariz. — Seria uma má hora para dizer que
sou vegetariano?
Minha boca se abre e, enquanto retraio lentamente minha mão, ele começa
a rir. Inclinando-se para mim, ele estala os dentes para a carne seca, e um
grande pedaço da parte superior desaparece em sua boca.
— Você é muito fácil, você sabe disso? O que mais você tem nessa sacola?
Mais comida de viagem?
— Basicamente. Batatas fritas, sementes de girassol e amendoim. — Todas
as minhas coisas favoritas. Elas não são comidas de verdade, mas são
suficientes para me manter satisfeito até chegar ao meu destino. Elas não
serão desta vez.
— Gosto de algumas nozes salgadas na boca logo depois de comer um
longo pedaço de carne — ele diz e dá outra mordida na carne seca.
— Se você acabou com as piadas, eu gostaria de dirigir o resto do caminho
em silêncio. — É mais difícil vê-lo como um criminoso horrível quando ele
parece nada mais do que alguém que está perdido. Não quero continuar
vendo outros lados dele. Eles apenas desviarão minha mente do curso e não
conseguirei encontrar o caminho de volta.
— Então realmente vai me entregar para alguns caras aleatórios? — Sua
voz vacila, e mantenho meus olhos na estrada para me impedir de ver a
expressão quebrada que isso sugere.
— Eles não são aleatórios. Eles trabalham com o cara para quem estou
fazendo o trabalho — digo incisivamente.
— E quem é esse cara exatamente? — Ele quer saber demais. Ele não ouviu
falar sobre o que a curiosidade fez com o gato?
É por isso que não tenho todas as respostas que ele procura. Prefiro ficar
vivo o máximo que puder. Ninguém mais manterá minha família segura se
eu estiver enterrado a sete palmos de profundidade em algum lugar.
— Você sabe que nunca é bom fazer muitas perguntas, certo? —Aviso.
— Melhor do que pedir muito pouco. — Sua língua rosa desliza sobre seus
lábios e seu olhar cai sobre o outro palito de carne seca.
— Que tal fazermos um acordo? Vou continuar te alimentando enquanto
você parar de falar. — Espero que isso não exija que eu consiga mais comida
porque teria que colocá-lo na traseira novamente antes de sair em mais lojas.
Não temos tempo para parar em mais banhos. Deslizo minha camisa sobre
meu pau duro, odiando a forma como meu pau se interessa pela última
ideia.
— Tudo bem, mas quero todos os salgadinhos que você tem nessa sacola
e aquelas bebidas energéticas também. — Seus olhos se iluminam quando
pousam na lata fechada no porta-copos.
— Água será melhor para você. — Tento afastá-lo das minhas bebidas. Já
sacrifiquei minha comida e não preciso dele mais desidratado do que já pode
estar.
— Abrirei minha boca mais um pouco, se é assim que você quer. — Ele
abre um sorriso ameaçador e meu coração dá um salto estranho.
— Tudo bem, mas se acabar desidratado e com dor de estômago...
— Então não importa porque estarei morto em breve de qualquer maneira.
— Ele joga a cabeça para trás no assento, olhando para o teto.
A desesperança em seus olhos parte meu coração. — Você não sabe disso.
— O que acha que vai acontecer então Sr. Sabe Tudo? — A raiva em seus
olhos está de volta.
— Não sei, mas o que quer que eles façam não depende de mim. — Mudo
de faixa, observando cada placa de saída passar. Estamos chegando mais
perto.
— Exceto pelo fato que depende — Suas palavras são como pregos sendo
martelados em meu peito. Ele está parcialmente certo e odeio isso.
— Devo cumprir minha parte no acordo, então é isso que vou fazer para
proteger minha família. — Por mais confiante que pareça, tenho menos
certeza quanto mais tempo ele está ao meu lado.
— Mesmo se houver sangue em suas mãos? — As palavras dele se soltam
como arestas afiadas picando sua pele quando você está muito perto para
contorná-las.
— Haverá sangue em minhas mãos, não importa o quê.
Ele chuta o chão, os joelhos batendo contra o assento. — E eu pensei que
você fosse realmente um ser humano decente, mas claramente eu estava
errado.
— Você estava. — Já fui um bom homem e agora sou quem preciso ser
para manter minha família segura. Puxo a gola da minha camisa. — Não
pense que isso é fácil para mim porque não é, mas saber de todas as coisas
ruins que você fez tornou isso mais factível.
— E se não fiz nenhuma das coisas que acha que fiz? Ainda seria capaz de
seguir em frente?
Mesmo se eu quisesse virar este caminhão, não importaria. Eles viriam
atrás de nós e nos matariam antes que fôssemos longe demais. Meus dedos
vão da minha camisa para o colar de prata em volta do meu pescoço, um São
Cristóvão que minha mãe me deu depois que meu pai morreu. Torcendo
meus dedos ao redor da corrente, abro meus lábios para falar novamente. —
Eu nunca seria capaz de voltar para casa no Kansas se o fizesse.
— É onde estávamos? — A instabilidade em sua voz me deu um nó no
estômago. Se ele era tão perigoso quanto dizem, por que permitiria que todas
as suas emoções aflorassem? Homens maus nunca tiveram nenhuma para
mostrar. As dele eram tão reais que me irritaram.
— Você não é de lá? — Pergunto, feliz por estar dando uma pausa no
assunto anterior.
— Não. Eu estava na estrada por um tempo antes de você aparecer. Moro
na Flórida. Por que importa de onde sou quando nunca vou voltar de
qualquer maneira?
— Desculpe. — Minha voz vacila. — Realmente sinto muito. — Mais do
que ele jamais pode saber. Não quero fazer isso e nunca em um milhão de
anos eu me imaginei trabalhando para um senhor do crime local.
— Eu também. — Ele funga, lágrimas brotando em seus olhos. A raiva e a
tristeza puxam meu olhar da estrada por tempo suficiente para eu ver a
mensagem que eles enviam.
Volte. Não deixe que eles me tenham. Não quando eu posso ser todo seu.
Um carro buzinando força meus olhos de volta para a estrada. Desvio de
volta para a minha pista e olho para frente, a estrada estreita ameaçando nos
engolir inteiros.
5

Paxton
Meus olhos se abrem quando minha cabeça bate contra a janela de vidro.
Eu me levanto e o assento ao meu lado está vazio. Não estamos mais nos
movendo e estamos estacionados na frente de algum motel desgastado em
um bairro sombrio. Meu peito aperta e procuro freneticamente por Ez. Não
podemos ter chegado já. Lutando contra as restrições, meu coração bate
contra o peito quando meu olhar pousa em Ez conversando com um homem
em um blazer preto. Ele entrega a Ez um envelope amarelo, virando-se em
minha direção. Ambos apertam as mãos e caminham em minha direção.
Ez abre a porta do caminhão e pulo para longe dele.
— Não faça isso, por favor. Farei o que quiser.
— É hora de ir agora — o homem assustador olha ao redor de Ez, me
olhando de cima a baixo com uma expressão predatória.
— Não. — Chuto minhas pernas, esmagando meu pé em seu ombro. Ele
geme, envolvendo os dedos em volta do meu tornozelo. Meu corpo desliza
sobre o assento enquanto ele me puxa para frente. Ele me joga por cima do
ombro e grito, esperando que alguém me ouça. Apenas algumas pessoas
passam e nenhuma olha em nossa direção, continuando suas conversas e
caminhadas.
Olho para Ez com olhos suplicantes, e ele sorri para mim enquanto entra
no caminhão. — Não se preocupe, você vai acordar logo.
— O quê? — Ele fica cada vez mais longe de mim, mas sua voz soa tão
perto.
Dedos acariciam meu cabelo e o homem que me carrega para longe do
caminhão cantarola uma música suave. — Vai ficar tudo bem agora.
Braços grandes me seguram com mais força. — Shh, estou com você. Abra
os olhos.
Meus olhos se arregalam e balanço a cabeça, sem entender o que ele quer
dizer. As ruas e o céu à minha frente se afastam e estendo minha mão
enquanto toda a luz desaparece com eles.
— Abra os olhos — ele diz novamente.
Sacudindo contra o aperto, meus olhos se abrem e estou de volta no
caminhão. Olhando para a pessoa acariciando minhas costas, pisco confuso.
O polegar de Ez está esfregando as lágrimas que caem da minha bochecha
e ele está me oferecendo um sorriso gentil. — Você estava tendo um
pesadelo. Parei para acalmá-lo.
Inclinando-me para longe de seu aperto, observo nosso entorno. Minha
cabeça lateja e meus olhos doem quando olho pela janela. Ainda está escuro
lá fora e estamos estacionados em outro ponto de descanso, só que não há
prédios pequenos por perto.
— Eu... quanto tempo mais nós temos?
Ele olha para o telefone e depois para mim. — Mais cinco horas.
— Há quanto tempo estou dormindo?
— Apenas duas horas. Você estava em paz a maior parte do tempo e então
começou a gritar enquanto se jogava no banco. — Ele descansa uma grande
mão no meu joelho exposto. — Eu não queria que você machucasse a cabeça
no vidro da janela, então parei para te acalmar.
— Por que simplesmente não me acordou? — Meu olhar permanece em
sua mão apertada. É tão grande que envolve totalmente meu joelho.
— Você não estava acordando, não importa o quanto eu sacudisse seu
ombro ou chamasse seu nome. Tentei por um tempo. — Sua testa enruga. —
Com o que você estava sonhando?
— Nada. — Minha bexiga grita comigo e me mexo no lugar, ficando tenso.
— Tenho que mijar.
Sua mão se levanta e ele passa por seu cabelo escuro e despenteado. Estava
cuidadosamente escovado para trás antes. Ele está começando a parecer pior
do que eu.
— Vai me ajudar ou não? Duvido que você queira que eu faça isso aqui.
Eu irei, se for preciso.
Ele alcança a porta e a abre. — Tudo bem, mas você terá que fazer isso de
onde está sentado.
Arqueio uma sobrancelha e antes que eu possa perguntar o que ele quer
dizer, ele já está vindo para o meu lado do caminhão. A porta se abre e o ar
fresco da noite roça meu rosto e minhas pernas. Eu tremo quando ele encara
meu corpo em direção a ele. Saindo do caminho, ele abre as mãos. — Ok, vá.
Fico boquiaberto com ele. — Você vai ter que me ajudar. Não posso usar
minhas malditas mãos, lembra? Não sei por que continua esquecendo esse
detalhe importante.
Grunhindo, ele se aproxima e levanta o moletom o suficiente para expor
meu pau macio. Se ele continuar olhando para mim com olhos lascivos, não
vai ficar assim por muito tempo. — O que está esperando? Sabe como
funciona. Você tem um, não é?
Revirando os olhos, ele envolve seus dedos instáveis em torno da base e
abro minhas pernas, deslizando meu traseiro para mais perto da borda.
— Estou fazendo o que você pediu. Por que está demorando tanto? — Seus
dedos apertam levemente ao meu redor e não acho que ele percebe que está
fazendo isso.
— Não costumo mijar com pessoas olhando ou segurando meu pau.
Ele desvia o olhar. — Feche os olhos e finja que é a sua mão então.
Por que eu faria isso quando ele se sente muito melhor? Meu estômago
revira e não entendo o que está acontecendo com meu corpo. Ele continua a
me trair e me odeio por querer levantar meus quadris.
Fechando os olhos, empurro os músculos do estômago e, apesar de minha
bexiga estar à beira de estourar, nada sai. — Não está funcionando. Estou
com frio e posso ouvir sua respiração alta.
Não é apenas o constrangimento que me impede de relaxar, é também a
inquietação em minha mente por saber o que vai acontecer quando eu
terminar. Ele vai voltar para o caminhão e começar a dirigir novamente.
Atrasar o inevitável me dá mais tempo fora e quero respirar cada pedacinho
de vida ao meu redor antes de ser deixado sozinho no escuro novamente.
Ele faz um som com a parte de trás da garganta e desliza a mão pelo
moletom, massageando minha barriga. — Inspire e expire lentamente
enquanto pensa em sua memória favorita.
Inspirando e expirando, afundo contra seu toque e o primeiro visual que
minha cabeça pensa é eu sentado na grama em um lago. Às vezes, meu irmão
e eu corríamos para lá para nos esconder de meu avô.
Meus pés estão mergulhando na água morna e o sol está tão forte que
protejo meu rosto com uma das mãos enquanto a outra segura uma vara de
pescar improvisada. Estranhamente, meu irmão não está aqui comigo e não
entendo por que a memória está vindo para mim de forma tão diferente do
que eu me lembro. Ele sempre se sentava ao meu lado, tentando pegar peixes
com as mãos. Mas agora não. Estou sozinho e a sensação é tão perturbadora
que meus olhos se abrem.
— É isso. Você conseguiu. — Uma mão quente se move para longe do meu
estômago e a outra no meu pau permanece parada enquanto os olhos
quentes de Ez encaram os meus. — Vou ajudá-lo a voltar para o caminhão
antes que morra congelado.
— Você vai me arrastar pelo meu pau? — Levanto minha sobrancelha e os
cantos da minha boca se contorcem.
Seus dedos se abrem rapidamente e ele dá um passo para trás. —
Desculpe. Eu, uh... não sabia que minha mão ainda estava lá.
— Sim, claro. — Torcendo meu corpo, uso meus pés para me empurrar
para trás no assento. — Você vai entrar também ou vai ficar aí parado e
continuar olhando para mim?
Ele enfia a mão no bolso e fecha a porta. Ele desliza para trás ao meu lado
e liga o caminhão de volta. — Tudo bem agora?
Olho para o meu pau ainda exposto. — Eu poderia estar melhor se você
puxasse o moletom de volta para baixo.
Ele ri desconfortavelmente e empurra o tecido grosso pelas minhas coxas.
— Melhor?
Concordo. — Pode colocar o cinto em mim para que eu não caia em todos
os lugares sempre que eu dormir? Você provavelmente também não quer
dar a nenhum patrulheiro rodoviário um motivo para parar você.
Ele se inclina sobre mim e puxa o cinto. Incapaz de soltá-lo, ele envolve
mais seu corpo em mim e nossos rostos estão tão próximos que posso sentir
o ar quente de sua respiração. Seus lábios entreabertos são tão convidativos
e não diminui a tentação quando sua língua aparece no canto.
— Quase aconteceu. — Ele o puxa algumas vezes. — Não sei por que não
pensei em colocar o cinto de segurança antes.
— Você costuma dirigir sozinho?
Deslocando seu olhar entre nós, ele envolve o cinto em volta de mim e
desliza de volta para o lado o suficiente para colocar a fivela. — Sim. Eu
realmente não vou a lugar nenhum além do trabalho e da loja. Nunca há
necessidade de trazer ninguém comigo. Minha irmã leva minha mãe onde
quer que ela precise ir. — Ele faz uma pausa como se tivesse falado demais.
A preocupação enche seus olhos e ele pega seu próprio cinto.
— Você realmente se importa com elas, hein?
Ele olha para a estrada, lentamente saindo do estacionamento. — Mais do
que tudo. Sou tudo o que elas têm.
— E você? — Viro meu rosto, descansando minha bochecha na parte de
trás do assento.
— Quanto a mim? — Ele pergunta, sua testa se contraindo.
— Você tem mais alguém além delas? — Estico minhas pernas, desejando
que meus braços também estivessem livres. Tê-los na mesma posição por
dias está me matando.
Sua expressão endurece. — Não preciso de mais ninguém. Descanse um
pouco mais. Vamos parar para comer em uma hora ou mais.
— Acho que não consigo mais dormir. — Meu desconforto supera minha
exaustão, mas não sei se contar a ele fará diferença.
Ele grunhe e o som faz algo dentro de mim. — Então descanse seus olhos.
Se eu fosse você, estaria desmaiado e roncando o tempo todo.
— Vamos trocar de lugar então — brinco.
— Sim, isso não vai acontecer. Vou acordar na delegacia mais próxima ou
pior. Talvez em pedaços no fundo de um lago.
Eu rio. É algo que não faço genuinamente há muito tempo. — Parece
muito trabalho.
Nós dirigimos em silêncio pelo que parece uma eternidade. Leio todos os
sinais pelos quais passamos enquanto conto todos os carros que passam. O
caminhão está indo muito mais devagar do que antes. Olho atrás do volante
e ele está dirigindo abaixo do limite de velocidade. Para um cara que quer se
apressar e terminar o trabalho para poder chegar em casa, ele com certeza
está demorando.
Convencê-lo claramente de que não sou um assassino de sangue frio não
está funcionando. O homem tem problemas de confiança maiores do que eu.
Não pensei que isso fosse possível. Talvez se ele sentir que pode se relacionar
comigo e for capaz de imaginar a si mesmo ou sua família na minha situação,
será mais difícil para ele me entregar.
— Também tenho uma família. — Minha voz sai mais baixa do que o
planejado.
— Huh? — Seu olhar não se move e suas mãos permanecem soltas ao
redor do volante.
— Minha família se preocupa comigo tanto quanto a sua se preocupa com
você. Sou tudo o que resta para meu pai. Minha mãe e meu irmão se foram.
Ele não seria capaz de lidar com a minha perda acima de tudo. Ele
provavelmente está arquivando o relatório de uma pessoa desaparecida
agora também.
— Você está falando demais de novo e estou ficando realmente cansado
de todas as suas mentiras. Não estou caindo nessa.
— Não, mas você vai acreditar nas deles. — Minha garganta se fecha de
emoção.
Ele liga o rádio e aumenta a velocidade. Porra. De alguma forma, nossa
conversa só piorou as coisas, em vez de nos ajudar a nos conectar mais. Eu o
tinha onde queria no início e então de alguma forma consegui estragar tudo
saindo do curso. Minha raiva e medo não param de tomar conta.
Suspiro contra a janela, embaçando o vidro com a minha respiração. Um
flashback de meu irmão e eu escrevendo mensagens um para o outro no
banco de trás da caminhonete do meu avô me faz sorrir por mais tempo do
que em dias.
Sons frenéticos soam ao meu lado e ele remove uma garrafa de água da
sacola. Chegamos em frente a um semáforo e ele abre a tampa e desliza um
canudo para dentro, levando-o aos meus lábios. Envolvo meus lábios em
torno do plástico e tomo alguns goles antes de me afastar. — A luz está
verde.
Ele pula no assento e enfia a garrafa no porta-copo. — Você deve ser capaz
de esticar o cinto de segurança o suficiente para alcançá-la.
— Sim, obrigado. Ainda estamos parando para comer?
Ele esfrega o polegar na testa, virando em outra estrada. — Não tenho
certeza se isso é seguro. Eles poderão ver suas mãos amarradas da janela do
drive-thru.
— Então me desamarre — sugiro.
— Não posso fazer isso. Vou virar as costas por um segundo e você vai me
atacar por trás.
— Com o quê? Provavelmente esqueci como usar minhas mãos neste
ponto e a corda está realmente esfregando minha pele em carne viva. —
Tento torcer meus pulsos e a corda é tão apertada que corta minha pele.
— Só temos mais duas horas até chegarmos lá. Então pode tentar usar seus
grandes olhos inocentes em outra pessoa.
Se não funcionarem nele, certamente não funcionarão em quem quer que
ele esteja me levando. O cara antes mencionou algo sobre eu ter sido
vendido. Já vi notícias e filmes suficientes para saber o que isso significa. —
Posso pelo menos ter algumas malditas batatas fritas?
Sua mão enfia a mão na sacola novamente e joga um pacote de Cheetos
para mim. A frustração cresce dentro de mim e eu gostaria de poder jogá-los
de volta para ele. Sorrindo presunçosamente, eu viro meu corpo em um
ângulo. Encontrando a trava com meus dedos, eu desfaço meu cinto de
segurança e rapidamente giro meu corpo para colocar um dos meus pés em
seu colo.
Ele desvia um pouco, olhando para mim. — O que está fazendo? Está
tentando nos destruir?
Isso não seria a pior coisa que aconteceria hoje. Talvez eu seja esmagado
sob o veículo e morra instantaneamente. Qualquer coisa é melhor do que o
que vou suportar no meu futuro próximo.
— Você deveria ter amarrado meus tornozelos de volta.
— Ah, estou pensando nisso. — Ele empurra meu pé para longe de sua
virilha e deslizo para trás, curvando meus dedos contra seu pau endurecido.
— Pare com isso. — Ele envolve seus dedos em volta do meu tornozelo e
aperta. — Não me faça quebrá-lo. Eles não disseram nada sobre levá-lo até
lá ileso.
Mexo meu tornozelo, falhando em puxá-lo livre de seu aperto forte. — Eu
poderia me comportar melhor se você me alimentar. Estou morrendo de
fome.
Soltando meu tornozelo, sua mão cai de volta para o volante. — Tudo
bem. Se eu te alimentar com as malditas batatas fritas, você vai manter seus
pés ali?
— Só há uma maneira de descobrir. — Cavo meu calcanhar em sua
protuberância, deslizando para frente e para trás. Ele geme e seus lábios se
separam.
Seu olhar aquecido pousa em mim antes de voltar para a estrada. Sua mão
agarra as batatas no meu colo e ele usa a boca para abrir a tampa. Continuo
movendo meu pé, enquanto minha outra perna permanece dobrada contra
o assento. Minhas pernas estão abertas o suficiente para ele ver tudo
escondido sob o moletom. Ele mantém o rosto para a frente em vez de dar
uma olhada do jeito que quero.
Olhe para cá. Você sabe que quer.
Colocando o saco no assento, ele engancha os dedos em torno de um
Cheetos e o segura na frente da minha boca. Chupo dentro da minha boca e
a bondade brega explode na minha boca. Meu estômago ronca e duvido que
o saco inteiro seja suficiente para saciá-lo.
Meu calcanhar mergulha em suas bolas e ele rapidamente enfia a mão no
saco novamente. Sua mão está balançando quando se levanta para a minha
boca. — Estou alimentando você. Pode parar agora.
— Preciso ter certeza de que você não vai parar e não vou mover meu pé
até que esteja cheio. Então é melhor você se certificar de que eu vou parar
mais cedo ou mais tarde. — Mastigo os Cheetos entre meus dentes,
empurrando um pedaço levemente para fora com minha língua enquanto
sorrio em torno dele.
Ele vai de me alimentar dois de cada vez para enfiar três na minha boca,
quase me fazendo engasgar. Idiota. Massageio seu pênis e bolas com mais
força, fazendo com que suas pernas se fechem ao meu redor. Ele abre outro
saco de batatas fritas e continuamos assim até que três sacos estejam vazios.
Meu estômago se acalma e eu me curvo para beber minha água novamente,
lentamente movendo minhas pernas para minha frente.
— Vou me concentrar em nos levar até lá com segurança, se estiver tudo
bem para você? A menos que três sacos de batatas fritas não sejam
suficientes? — Ele joga os sacos vazios em minha direção, a raiva aparecendo
em seus olhos.
— Eles vão me segurar por enquanto. Estou entediado, no entanto.
Ele suga o ar por entre os dentes. — O que espera que eu faça sobre isso?
Aproximo-me dele. — Vamos jogar um jogo.
— Vou passar. — Sua resposta sai muito rapidamente. — E você precisa
colocar o cinto de segurança de volta.
— Oh, qual é. Jogos de estrada são divertidos. Que tal “Eu espio”? —
Minha mãe adorava brincar comigo e com meu irmão. Não fiz uma viagem
com mais ninguém desde então. Não que seja isso que estou fazendo agora.
Longe disso. É bom fingir às vezes. Isso fez eu e meu irmão passarmos por
tantos dias ruins.
Finja ser eu e serei você, dizia a ele sempre que tudo se tornava insuportável
demais para ele lidar.
Ez balança a cabeça, me mandando um olhar de foda-se e foi muito mais
gostoso do que deveria ser. — Que tal não.
Isso só me faz querer atormentá-lo mais. Ninguém mais foi capaz de lidar
com meu sarcasmo e falar besteira do jeito que ele fez. A brincadeira não
parece unilateral com ele. — Que desmancha-prazeres. Duas rodadas e
ficarei quieto o resto do caminho.
— Uma — diz ele, encontrando-me no meio. — As coisas importantes
primeiro. — Ele encosta no acostamento por tempo suficiente para me
afivelar o cinto de segurança. — Mantenha isso.
Murmuro suas mesmas palavras zombeteiramente enquanto reviro os
olhos. Isso me rende um grunhido e ele dirige de volta para a rodovia assim
que a estrada está livre.
— Agora que resolvemos isso, irei primeiro. — Eu me animei, procurando
na estrada. Olho ao redor dele. — Espio com meu olhinho algo laranja.
Ele bate no volante algumas vezes. — Os cones de trânsito na traseira
daquele caminhão. — Ele aponta para frente.
— Sim. Você vai agora.
Ele se inclina para trás, olhando por cima do volante. — Espio algo branco.
Procurando em todos os lugares que meus olhos podem alcançar, vejo
vários itens brancos ao nosso redor. — A caminhonete atrás de nós.
Ele balança a cabeça e tento mais duas vezes, finalmente acertando na
terceira vez. Jogamos mais uma rodada e, como prometido, estou quieto,
mas não disse nada sobre ficar parado.
Preciso ter seus olhos de volta em mim de alguma forma. Talvez o distrair
o suficiente faça com que ele diminua a velocidade ou pare na beira da
estrada em algum lugar. Tenho que fazer o que puder para sobreviver. Não
importa o que isso implique. Obviamente, convencê-lo de que não sou
perigoso não está funcionando. Hora da opção B.
Assim que estivermos fora do caminhão novamente, não hesitarei em
correr desta vez. Mal capaz de ficar de pé antes me deu uma desvantagem.
Nada vai me segurar agora. Vou chutá-lo nas bolas e dar uma cotovelada na
cara do filho da puta se for preciso. Cansei de tentar conquistá-lo e estou com
pouco tempo de qualquer maneira.
Jogo minhas pernas na minha frente, colocando meus pés no painel.
Abrindo minhas coxas, eu uso o assento e meus braços para levantar meu
moletom. Não paro de esfregar minhas costas para cima e para baixo até que
o tecido esteja descansando acima do meu umbigo. Sentando-me mais alto
no assento, esfrego meu pau contra a parte de baixo do meu cinto. A fricção
parece melhor do que o esperado e balanço meus quadris, aumentando
lentamente minha velocidade.
Meus gemidos suaves finalmente trazem seus olhos de volta para mim e
sua mão escorrega do volante, o caminhão se afastando um pouco demais
para a esquerda até que está deslizando na grama. — Foda-se — ele grita,
agarrando o volante e pulando de volta na estrada, recuperando o controle
do caminhão.
Posso fazer melhor que isso.
6

Ezra
Não percebi o quão ruim seria tê-lo na frente comigo até agora. Ele tem
sido um pé no saco durante metade da viagem com suas perguntas,
exigências, jogos de carros e agora isso. A princípio, presumi que ele estava
apenas tentando coçar as costas ou ficar confortável, com o objetivo de me
irritar no processo.
Não é até que eu finalmente olho para longe da estrada que eu o vejo se
livrando do cinto de segurança. Não apenas seu pau duro está exposto, mas
também a parte inferior de seu estômago. Sua tatuagem se move com o resto
dele, o coração no centro das chamas aparecendo como se estivesse batendo
e ganhando vida.
Ele está brincando comigo. O que ele espera ganhar agindo como uma
vadia carente? Sua cabeça se inclina para trás e ele geme, seus quadris
rolando mais rápido. Sua ponta brilha e eu estremeço, lembrando o gosto de
seu pré-sêmen. Não demora muito para minha boca ficar seca e nunca senti
tanta sede.
Uma buzina alta faz meu olhar voltar para a minha frente e estou apenas
parcialmente na estrada. Porra. Ele está tentando nos causar um maldito
desastre.
— Pare com isso — ordeno, sem querer. Agarrar minhas mãos com força
no volante não impede que o resto de mim trema. O desejo dentro de mim
só fica mais forte. Não importa se eu entendo ou não, não vai embora se eu
entendo ou não. Na verdade, minha fome por ele só se espalha e não tenho
mais poder sobre meus desejos. Eles me possuem.
Olhando para mim com os olhos vidrados, seus dedos esfregam o topo de
sua fenda, empurrando entre suas nádegas até onde elas vão. — Parar o quê?
— ele provoca.
— Não se faça de bobo comigo.
— Eu disse que estava entediado e você não está mais me mantendo
entretido. Tenho que improvisar de alguma forma — diz ele com palavras
acaloradas.
— Encontre outra coisa para fazer.
Ele balança a cabeça contra o assento, seus cabelos escuros e ondulados se
espalhando ao seu redor. — Não há mais nada.
Eu me mexo no meu assento, esticando meus dedos. — Não me faça parar
o caminhão e colocá-lo de volta onde você estava antes.
Não perco o brilho em seus olhos. Isso é exatamente o que ele espera. Esse
merdinha sorrateiro. Ele quer me atrasar. Quem pode dizer que no minuto
em que sairmos para movê-lo para os fundos, ele não tentará fugir? Depois
de beber, comer e dormir, ele tem mais energia do que antes. A prova está
em suas estocadas rápidas e no entusiasmo do corpo.
— Faça isso — ele fala.
Ah, ele não está me enganando. Ele quer jogar um jogo, vamos jogar um,
mas apenas para colocá-lo em seu maldito lugar. Mudo para a outra pista e
desfaço seu cinto de segurança. Ele para de se mover, fazendo um pequeno
barulho na garganta.
— Você não deveria parar antes de me arrastar para fora do caminhão? —
Seu rosto está vermelho e seu pênis está saltando entre as coxas.
— Não vamos parar, Fuego. — Deslizo minha mão para mais perto dele e
traço a pequena cicatriz de queimadura em seu quadril com meu dedo
mindinho.
Ele estremece. — O que está fazendo então?
Sorrindo, eu o agarro pela coxa e o arrasto para mais perto de mim. Pego
desprevenido, ele se engasga.
O calor de seu corpo me envolve enquanto acaricio sua coxa. — Que tal
um novo jogo? Chama-se você não pode gozar até que eu diga que pode. Se
o fizer, você irá o resto do caminho aquecendo meu pau com sua boca. Você
quer isso?
Balançando a cabeça, seus olhos se arregalam. Os sons que ele emite são
estrangulados quando envolvo meus dedos em torno de seu pênis duro.
— Então é melhor você seguir as regras. Você tem até os minutos no
relógio chegarem a trinta. São quinze minutos.
Ele abre a boca e depois a fecha novamente, balançando a cabeça
hesitantemente. Traço as veias salientes de seu pau com a ponta do meu
polegar e ele arqueia os quadris. O rubor de seu rosto se espalha pelo
pescoço e estou curioso para saber até onde vai.
Apenas alguns dias atrás eu estava dividindo a cama com uma mulher
que passei horas fodendo e aqui estou agora tocando um homem pela
segunda vez em vinte e quatro horas. Vou mantê-lo entretido como ele
pediu, só porque acho que ele esperava uma resposta diferente de mim. Ele
me queria tão desconfortável que eu estaria ansioso para nos separar pelo
resto da viagem. Ele não consegue vencer esta rodada.
Suas pernas se abrem mais quanto mais rápido eu o acaricio.
— Espere. — Ele tenta se empurrar para a frente com as mãos.
Continuo tocando, o levando à loucura sob meus dedos entusiasmados.
Eu o puxo, acaricio e esfrego da mesma forma que gostaria que alguém
estivesse me tocando agora.
Não qualquer um.
Ele.
— Não acho que posso fazer isso. É muito bom — ele diz asperamente.
— Você queria que eu contribuísse e agora estou. Não seja ingrato.
Ele sibila entre os dentes, as lágrimas se acumulando no canto dos olhos
enquanto seu pau está sendo acariciado entre a palma da minha mão e os
dedos. Não tão presunçoso agora. Ele trouxe isso para si mesmo me tentando
e me fazendo desejar coisas que eu normalmente não desejo. Eu estava
perdendo o controle e pelo menos agora sinto que recuperei um pouco.
Manter meus olhos na estrada é uma tarefa complicada quando eles
imploram para vê-lo partir pelas costuras. Seus sorrisos espertinhos se foram
e foram substituídos por uma expressão de dor. Nunca vi alguém tão
miserável e encantado ao mesmo tempo. É tão inebriante que minha cabeça
gira e um calor toma conta de mim.
A única maneira de quebrá-lo é ter mais dele. Ele treme e o suor se
acumula entre suas sobrancelhas. Perdendo toda teimosia e resistência ele se
fode contra mim. Meus dedos afrouxam seu aperto, movendo-se
ligeiramente para frente e ele os segue. Cada vez que começo a me afastar,
seu corpo me persegue como se estivesse tão desesperado que morreria se
nunca mais nos tocássemos.
Ele precisa disso.
Ele precisa de mim.
Os carros passam por mim e não paro. Um policial poderia me sinalizar
para encostar agora e eu o faria esperar até terminarmos antes de obedecer.
Perry grita ao meu lado e jatos quentes de esperma cobrem minha mão.
— Não — diz ele. — Eu não queria.
Olho brevemente para o relógio e sorrio enquanto puxo meu olhar de
volta para a estrada. Ele tinha dois minutos ainda.
Sua respiração pesada enche o caminhão e abro o zíper da minha calça
para liberar meu pau dolorido. Acariciando-o algumas vezes, espio com o
canto do olho e ele está olhando entre as minhas pernas. Seus olhos estão
ficando tão redondos que acho que vão cair das órbitas.
— Você estava falando sério? — Seu lábio inferior treme.
Espero até que o outro veículo na estrada passe antes de colocar minha
mão em volta do pescoço dele. — Absolutamente. Agora abra esses lindos
lábios para mim.
Empurro seu rosto para o meu colo, guiando sua boca para o meu pau.
Sua boca envolve minha ponta. Antes que ele possa deslizar mais para baixo,
eu o seguro no lugar pelos cabelos. — Você trouxe isso para si mesmo. Você
me viu como um cara legal e tentou usar minha bondade contra mim. Precisa
pagar por suas más escolhas. Vai manter sua boca quieta e não se mover até
chegarmos à nossa saída. Você será nada mais do que um buraco quente
para eu descansar meu pau. Entendeu?
Ele acena com a cabeça, sua boca muito cheia de mim para ele responder
com palavras.
— Bueno. Se me morder, não hesitarei em cortar sua garganta. Sem chupar,
sacudir ou lamber. Você só terá tanto de mim quanto eu permitir que tenha.
— Meus dedos se soltam e acaricio sua nuca. Ele mantém a boca exatamente
onde a deixei, fazendo o possível para manter a parte superior do corpo
erguida. Ele treme quanto mais o tempo passa.
— Você está indo bem. Estamos quase lá.
Seus gemidos suaves enchem o caminhão e minha mão cai de volta em
seu cabelo, tocando os fios macios. Imprimem-se na minha pele para que as
minhas mãos saibam sempre como voltar.
Os nervos reviram meu estômago ao ver o primeiro carro passando por
nós e, quando o terceiro carro aparece, tudo o que sinto é a emoção que
sobrou de não ter sido pego. A saliva se acumula ao meu redor enquanto eu
abaixo sua boca no meu pau, segurando apenas metade dos meus 20
centímetros dentro dele. Seus lábios se contraem e ele soluça, sua cabeça
pressionando meu estômago para ajudá-lo a se segurar melhor.
Ele é um calor que eu nunca soube que existia. Um que posso me ver
saindo, apenas para voltar de novo e de novo.
A placa para a saída que preciso pegar aparece mais cedo do que eu
gostaria. Sei para onde e por que preciso ir, mas não é mais suficiente para
me manter nesse caminho.
Vou me arrepender da decisão que tomar, não importa o quê. Eu só não
pensei que deixá-lo com eles seria mais doloroso do que aquele que envolve
eu arriscar tudo que eu já cuidei. Forço minhas mãos a virar o caminhão para
a faixa de saída, meu coração afundando e meu estômago dando um nó.
Sua respiração quente cai em cascata ao longo da minha virilha e quando
eu o deslizo mais para baixo, ele enterra o nariz em meus pelos púbicos
enquanto me cheira. Quando é hora de sair da estrada, meu coração bate
forte no meu peito. Ele descansa a bochecha na minha coxa e seus olhos
brilhantes me encaram.
Girando o volante rapidamente, desvio de volta para a outra pista e
permaneço na rodovia. Temos mais duas horas antes de termos que estar lá.
O horário de entrega deveria ser agora, mas eles me deram algumas horas
de folga caso eu tivesse algum problema. O que tive, mas esse não é o tipo
de problema ao qual eles estavam se referindo.
Isso é loucura. Não sei para onde estou indo ou o que faremos quando
chegarmos lá. Tenho que ligar para minha família para dizer-lhes para irem
para algum lugar seguro. Tínhamos planos reservas no caso de eu não
chegar em casa. Uma casa segura que um amigo de um amigo contou à
minha irmã. Elas podem ir lá, mas não posso e prometi a elas que sempre
ficaríamos juntos.
Não importa agora, desde que estejam seguras. Por mais que eu prefira
esses babacas vindo atrás de mim, sei que não é assim que funciona. Eles vão
levar tudo que eu sempre amei antes de reivindicar minha vida.
Levanto minha mão e a coloco de volta no volante. — Você pode parar
agora.
Sua boca desliza para fora do meu pau e ele suga uma forte ingestão de
ar. Uma língua rosa desliza sobre seus lábios vermelhos e inchados. — Já
chegamos?
— Não.
Seu rosto franze. — Por que me disse para parar, então?
— Porque nós passamos. — Acaricio sua bochecha manchada de lágrimas
e ele pisca para mim.
— Vamos por outro caminho? — A esperança brilha em seus olhos.
— Não, Fuego. Você não vai com eles. Não se eu puder evitar.
Seu rosto se ilumina e ele usa todas as suas forças para se sentar,
equilibrando-se contra o assento. — Você está me levando para casa?
Meus olhos permanecem na estrada e coloco a mão em seu joelho. — Eu
não disse isso.
Ele fica tenso e suas unhas arranham o assento. — Então para onde está
me levando?
— Vai ficar onde você pertence. — Mantendo o volante reto enquanto
continuo dirigindo na pista vazia, meus olhos o encaram fixamente. —
Comigo.
7

Paxton
Meu batimento cardíaco é tão errático que sacode todo o meu corpo como
um terremoto. Repito suas palavras em minha cabeça em um círculo
constante, cravando minhas unhas no assento. Ele não vai me levar até eles,
mas também não vai me deixar ir. Espero o terror atacar ou uma sensação
de afundamento tomar conta como da primeira vez em que fui levado, mas
nenhum dos dois surge.
Sem medo ou pavor. Não experimentei nenhum dos dois desde que estive
aqui com ele. Senti-me menos sufocado e mais como eu com Ez do que em
casa. O único pânico que tenho é por todos esses sentimentos irracionais que
não entendo.
Anteriormente, quando ele me ordenou a aceitar o que ele estava disposto
a dar, eu estava ansioso para ouvir depois de ser sufocado pela culpa.
Quebrei a confiança dele tentando enganá-lo. Ele ficou desapontado comigo
e foi uma das piores sensações que já experimentei.
Eu não sabia por que, mas queria provar a mim mesmo sendo bom para
ele. Então estraguei tudo de novo. Ele disse que segurar seu pau na minha
boca por quase meia hora era um castigo quando parecia mais uma
recompensa. Gostei muito mais do que deveria. A plenitude entre minhas
bochechas, suas mãos em meu cabelo e seu cheiro forte saciaram algo dentro
de mim. Assim como ter outra chance de agradá-lo.
Ainda posso sentir o sabor salgado dele em minha boca e seu maravilhoso
aroma almiscarado ainda está enterrado em meu nariz. À medida que
inspiro mais ar, ele começa a desaparecer. Não quero. Por anos eu me privei
do toque e Ez não me deu outra escolha a não ser tomá-lo.
“É tão bom, e é só para você” algo sugere dentro de mim.
Nunca pensei que realmente o desejaria, mas está se tornando tão
essencial quanto o ar que respiro.
Exausto demais para mover mais do que meus olhos, concentro-me em
tudo o que passamos com minha bochecha pressionada contra o assento. Os
postos de gasolina, lanchonetes, árvores e outros carros. Minha liberdade
está apenas do outro lado da janela. Qualquer outra pessoa deslizaria até a
porta e pularia para fora quando parasse em uma placa. Eu não. O caminhão
para bruscamente e fico onde estou, perdendo a oportunidade de correr.
Não sei para onde ele vai me levar ou o que vai fazer comigo quando
chegarmos lá, mas uma coisa é certa, quero descobrir.
Por quê? Porque este homem provavelmente me salvou de um destino
pior e ele colocou sua própria vida em risco ao não me entregar a homens
que provavelmente irão me matar com o tempo.
Se ele me quisesse morto, já o teria feito ou permitido que o fizessem por
ele. Fiz muito para irritá-lo e machucá-lo, mas isso não o afastou. As pessoas
me deixaram por muito menos. Tantos prometeram estar sempre presente e
nunca cumpriram, então parei de acreditar que alguém o faria.
Ez nunca fez tais promessas. Em vez disso, ele me mostra que quer estar
aqui, mantendo-me com ele, quer eu concorde com isso ou não. Ele olha na
minha direção, forçando um sorriso e estendendo a mão para tirar meu
cabelo do rosto. Gosto de como me vejo em seus olhos. Como se eu fosse
importante e indispensável.
— O que é, Fuego? Tentando descobrir seu próximo plano de fuga? — Ele
ri, pressionando o pé com mais força no acelerador.
Balanço a cabeça, desejando poder entrelaçar meus dedos nos dele. De
certa forma, estou feliz por meus pulsos estarem amarrados. Já é ruim o
suficiente eu gostar dele me tocando. Não quero gostar de fazer isso de volta.
— Por que continua me chamando assim? — Pergunto, ignorando sua
pergunta. — O que isso significa?
— É fogo em espanhol. Eu vi as chamas em seu estômago e é muito
apropriado.
— Ah é? Como assim? — Meu rosto subconscientemente se inclina em sua
mão. Não percebo que estou me esfregando contra ele como a porra de um
gato até que ele fala novamente.
— Você é imprevisível, destrutivo, difícil de desviar o olhar, e não sei se
devo me aproximar de você ou me distanciar.
Meu coração palpita, a parede que construí na frente dele quebrando no
centro. — Preciso de um apelido para você agora.
Ele ri e seus dedos se movem até minha coxa, deslizando por baixo do
moletom. O calor é melhor do que qualquer cobertor ou suéter pode
oferecer. — Nah, acho que Ez é bom. — Seus dedos traçam ao longo da
minha pele criando faíscas de admiração.
Pare de me tocar ou não saberei como ficar sem seu toque quando você for embora.
— Vou pensar em algo em breve — digo incisivamente. — Então, para
onde estamos indo? Você pelo menos sabe?
— Não. — Ele morde o lábio inferior.
— Você tem algum tipo de plano? — Minhas coxas se abrem quando seus
dedos deslizam até a parte interna da minha coxa. Meu corpo está seguro há
muito tempo e ele de alguma forma descobriu a senha que eu nunca soube
que existia.
— Tudo o que sei é que temos que continuar e assim que eu sentir que
estamos longe o suficiente, vamos abandonar o caminhão. — Ele tira a mão
de mim e pega o telefone. — Tenho que dar um telefonema e depois vamos
parar para comer mais.
— OK. — Afasto-me quando ele se mexe desconfortavelmente enquanto
olha entre mim e o telefone, deixando claro que ele quer um pouco de
privacidade.
Ele leva o telefone ao ouvido e sorri antes de cumprimentar a outra pessoa
na linha.
— Si. Estou bem. Olha, preciso que faça aquilo de que falamos. Você se
lembra onde escondi o dinheiro, certo?
— Bueno. Preciso que você pegue a mala e arrume outra só com as coisas
que você precisa. É o único jeito. — Ele balança a cabeça, fechando
brevemente os olhos. — Você não precisa se preocupar comigo. Posso cuidar
de mim mesmo. Vou ligar para Rick e pedir férias. Economizei muito ao
longo dos anos e isso vai me dar mais tempo. Sim. Ok, tudo bem, eu vou.
Ele estica o braço, pressionando as costas no assento. — Sim, é a única
opção que temos agora. Vocês duas precisam sair assim que desligarmos.
Ligo de novo quando puder, prometo. Cuide da mamãe. Eu também te amo.
Ele encerra a ligação e guarda o telefone de volta no bolso, a preocupação
clara em sua expressão perturbada. Desvio o olhar quando ele olha para
mim, não querendo que ele saiba que eu estava assistindo e ouvindo.
— Preciso que você entre na parte de trás novamente.
Meu coração parece que está na minha boca. — Não. Não vou.
Absolutamente não.
Ele pousa a mão no meu ombro e eu a afasto. — Não tente me convencer
porque não vai funcionar. Você não vai me colocar de volta naquela caixa de
suor.
— Só um pouco, Fuego. Te lo prometo.
— Por favor. Não me obrigue — digo em um sussurro baixo. Um rápido
flashback vem a mim quando meu avô estava bravo por eu não terminar
toda a minha comida e me trancou no armário por dias. Segurei-me na porta,
enterrando meus soluços na madeira enquanto as lascas rasgavam as pontas
dos meus dedos.
— Prometo que voltarei assim que sair da loja. — As palavras de Ez me
atingem da mesma forma que os pedaços de madeira soltos.
— E se não fizer isso? — Muitas vezes eu tinha certeza de que nunca seria
liberado daquele armário depois de ficar lá dentro por dias. Depois, revivi o
horror novamente, não apenas no porta-malas, mas também no reboque
traseiro do caminhão. Quantas vezes posso suportar voltar a espaços escuros
antes de me tornar um deles?
O caminhão puxa para o lado e ele arranca o cinto de segurança e me pega
em seus braços. — Está bem, está bem. Está tudo bem agora. — Ele segura
meu corpo trêmulo com mais força. — Se eu o desamarrar, você terá de
prometer que não tentará fazer nada e, se olhar para alguém, eu o arrastarei
para fora dali e o jogarei na traseira sem hesitar.
Abrindo meus olhos, aceno contra ele. — Prometo. Vou ser bonzinho. Só
não me deixe lá de novo.
Ele pressiona um beijo no meu cabelo e quero que ele continue até que
cada parte de mim tenha sido tocada com sua boca.
— Não vou, Fuego. Não quero fazer isso a menos que seja necessário.
Sua mão esfrega para cima e para baixo nas minhas costas algumas vezes
antes de se afastar. Ele sai do caminhão e começo a balançar a cabeça
novamente.
— Shh. — Ele levanta as mãos na frente dele. — Tudo bem. — Ele tira o
telefone do bolso de trás e digita uma mensagem antes de bater com força
contra uma pedra. Ele não para até que seja quebrado em vários pedaços.
— Eles sabem meu número. Podem rastrear meu telefone. Mandei uma
mensagem para meu chefe para que ele saiba que não voltarei até o final do
mês. Disse a ele que tive uma emergência familiar. De certa forma, não estou
mentindo. — Ele ri, mas a suavidade não atinge seus olhos.
Ele volta para o caminhão e nenhum de nós fala novamente até pararmos
em um posto de gasolina. — Vou colocar gasolina suficiente para nos levar
para onde precisamos ir. Tenho alguns amigos perto de El Paso que podem
ajudar.
Concordo com a cabeça, olhando para os meus pulsos.
Ele ri, tirando a faca do bolso. — Sim, sim, eu sei. Vou dar uma olhada em
seus pulsos também. Vou pegar um kit de primeiros socorros caso
precisemos.
A faca puxa a corda até que ela caia no assento e meus braços possam se
partir.
Eu os estico na minha frente torcendo minhas mãos, e os músculos
subutilizados gritam comigo. Linhas vermelhas e queimaduras substituem
onde a corda costumava estar.
Ez franze a testa, pegando um. — Isso não é bom. Teremos que limpá-lo e
enfaixá-lo para que não pegue uma infecção. — Ele pressiona alguns beijos
acima das escoriações. — Dói muito?
Balanço minha cabeça. — Sim, mas acho que estou acostumado com isso
agora. Meus braços e mãos estão felizes por estarem livres.
— Tenho certeza de que estão. — Sua voz falha. — Se eu sentisse que havia
outro...
Suspirando, pego sua mão e ele fica tenso. — Você é tão cativo quanto eu.
Não pediu por isso, assim como não pedi. Tudo o que podemos fazer é tentar
sobreviver da melhor forma possível e você não estava fazendo isso apenas
por si mesmo. Foi por elas também.
— Como você sabe que não fui eu que causei isso? — Seus dedos se
entrelaçam com os meus.
— Porque você não me parece do tipo egoísta.
— Certamente não me sinto assim agora — diz ele e sua boca se aproxima
do meu pescoço, seu nariz cutucando minha orelha. — Temos que nos
apressar.
Prendo a respiração e meu rosto se volta para o dele. Seus lábios levemente
roçam os meus fazendo meu coração gaguejar. Antes que eu possa me
inclinar para mais perto, ele sai do caminhão. Alcançando lentamente a
mochila que carrega as roupas extras, eu coloco um moletom largo. Não saio
até ele abrir a porta e entrarmos na loja de mãos dadas. É estranho o quanto
quero diminuir o espaço entre nossos dedos entrelaçados.
Não demoramos muito para andar pelos corredores e ele compra tudo o
que precisamos antes de me puxar em direção ao banheiro.
Depois de mijar, lavo-me na pia e Ez fica atrás de mim, envolvendo os
braços em volta da minha cintura. — Você está bem?
Inclino-me para trás em seu peito, olhando para ele. — Sim. — Bom
demais. Sinos de alarme estão soando em meus ouvidos me dizendo para
fugir. Uma coisa é ser mantido em cativeiro, outra é entregar
voluntariamente meu corpo para o homem que se recusa a me deixar ir.
— Vamos pegar a estrada então. Vamos parar em um motel em algumas
horas. — Ele dá um passo para trás e não me sinto mais estável em meus pés
sem seu corpo atuando como uma âncora.
— Perto de onde seu amigo mora?
Ele acena com a cabeça, entrelaçando seus dedos nos meus. — Sim.
Vamos, Fuego. — Ele me arrasta para fora do banheiro e devolvemos a chave
antes de sairmos para o caminhão.
Minha mão entra em contato com a corda no assento e eu seguro. Se ao
menos eu pudesse queimá-la com os olhos.
A mão de Ez congela no volante e ele joga a corda pela janela. — Pronto.
Acabou tudo. No mas.
Recostando-me no assento, procuro no saco um pouco de comida para
ajudar a acalmar meu estômago.
— Devemos cuidar dos seus pulsos? — Ele pergunta, acariciando
levemente abaixo da queimadura da corda.
— Posso fazer enquanto você dirige — digo.
Um carro da polícia passa ao nosso lado e Ez se afasta de mim, colocando
as duas mãos de volta no volante, e não relaxa até que estejamos de volta na
estrada.
Ocasionalmente adormeço, não querendo dormir muito para os pesadelos
que virão. Eles não aparecem. Em vez disso, tenho sonhos com Ez me
espalhando no banco enquanto me força a pegar seu pau e antes que ele
possa gozar dentro de mim, acordo babando contra o assento. Ele não me
tocou desde a loja e estou começando a me perguntar se essa é a razão de eu
ter enlouquecido.
Ele já está cansado de mim ou finalmente percebeu que cometeu um
grande erro.
Encolhendo-me na janela, adormeço novamente e, na próxima vez que
abro os olhos, estamos estacionados em um pequeno shopping center.
— O que está fazendo aqui? — Pisco com mais força para me assegurar de
que não estou vendo nada.
— Estamos abandonando o caminhão. Um carro já está esperando por nós
algumas vagas adiante. Uma pequena cortesia de um velho amigo. Fiz uma
ligação enquanto você estava cochilando.
Gemendo, estico as pernas.
— Devo carregá-lo para fora do caminhão, dormilón10?
Bocejo e abro a porta. — Posso administrar. Não há necessidade de
reencenar ‘A Força do Destino'.
— Você é muito jovem para saber que filme é esse. — Ele sai do caminhão,
ajeitando as roupas. Ele está sempre usando muito, enquanto usei muito
pouco durante a maior parte do caminho.
Eu ri. — Gosto de filmes. Mesmo aqueles tão antigos quanto você.
Ele geme. Nós dois entramos no carro e ele pega todos os seus pertences
do caminhão e os joga na parte de trás. É minha chance de fugir, mas, em
vez disso, fico onde estou, afivelando meu cinto de segurança como um
idiota.
Uma vez que ele está no carro, não demora muito para ele nos levar para
fora do estacionamento. Em algum lugar fora da estrada principal, ele

10 Dorminhoco
encontra um motel decadente para nós passarmos a noite. A tinta amarela
está descascando e a placa está torta no telhado. Eu o sigo em direção à
entrada da frente, e somos o único carro no estacionamento. O edifício
interior não é melhor do que o exterior. O teto está manchado de vazamentos
anteriores e o cheiro de mofo atinge meu nariz quanto mais ficamos na frente
do balcão de check-in.
Uma mulher de cabelo escuro e uniforme marrom sai de uma sala nos
fundos para nos cumprimentar e nos ajudar. Depois de obter uma chave,
encontramos o nosso quarto. Assim que ele abre a porta com o cartão, eu
passo por ele me jogando na cama queen, olhando para o edredom pegajoso.
— Quanto tempo vamos ficar aqui?
— Só até eu poder me encontrar com meu amigo que nos emprestou o
carro. Ele não poderá me ver até amanhã.
Esticando meu corpo sobre o colchão, pego o controle remoto enquanto
observo as cortinas florais desatualizadas e o papel de parede listrado. — Só
tem uma cama aqui. Vamos dividir?
Balançando a cabeça, ele passa a mão pelo cabelo. — Não estou dormindo.
Rolando para o meu estômago, eu descanso meu rosto na minha mão. —
Por que não?
— Caso contrário, não poderei ficar de olho em você.
Estendo minhas pernas e a calça fica mais baixa em meus quadris. —
Ainda não confia em mim, hein?
Seu olhar encara minhas costas. Ninguém nunca me observou tão de perto
como ele. Quase como se ele pensasse que perderia alguma coisa se
desviasse o olhar por apenas um segundo.
— Ou será que isso tem mais a ver com o fato de você gostar de me ver
dormindo como um esquisito?
Bufando, ele se senta no sofá. — Descanse um pouco. Não sabemos o que
o amanhã trará.
Ele está muito longe. A única vez em que não quero receber espaço de
outra pessoa é quando estou querendo mais.
Eu gostava mais quando queria fugir dele. Era uma reação normal ao estar
perto de um homem perigoso. Não querendo ser envolvido por ele. Caras
que encontrei antes eram geralmente muito moles ou fáceis de entender. Ez
não, entretanto. Suas peças de quebra-cabeça tinham bordas afiadas e curvas
profundas. Era difícil não querer rastejar entre os espaços.
Seus toques foram o que me impediram de sair antes. Nada está me
segurando aqui sem eles.
Entro embaixo das cobertas e procuro na TV até cair nos desenhos
animados. Finjo estar dormindo pelo que parecem horas, ocasionalmente
espreitando minha cabeça por cima das cobertas para ver seu reflexo no
espelho na porta do banheiro na minha frente.
Seu corpo balança e ele se segura antes de fechar totalmente os olhos
algumas vezes até que não seja mais capaz de lutar contra isso. Não me movo
da cama até que seus membros estejam completamente flácidos e ele esteja
roncando. Olhando para a porta e de volta para ele, lentamente saio da cama.
Meus pés deslizam lentamente contra o tapete e meu coração dispara quanto
mais perto chego da coisa que mais quero.
8

Ezra
O calor se espalha entre minhas pernas enquanto o prazer sobe pelo centro
do meu corpo. Gemendo, olho para baixo e meus dedos estão acariciando
meu pau. Não estou mais no hotel e Perry não está em lugar nenhum. Estou
de volta ao meu quarto, sentado em uma cadeira para a qual não me lembro
de ter ido. As janelas estão abertas e as cortinas sopram a brisa noturna em
minha direção.
Longos gemidos sobem pela minha garganta e meu pau lateja. Não sei
como vim parar aqui e porque estou me tocando, mas quando me afasto o
prazer não acaba. Ele continua a cascatear pelo meu corpo e tocar ao longo
das bordas.
— Porra — expiro, jogando minha cabeça para trás. O quarto treme e meus
olhos piscam em direção ao teto. Muda do estuque branco do meu quarto
para o teto plano e comprido que me lembro do hotel. Quando acordo,
percebo que estava dormindo e que o que estava vivenciando antes era um
sonho. O pânico cresce em mim. Eu não deveria adormecer.
Procurando ao redor do quarto escuro, não totalmente alerta, meus olhos
se arregalam. Perry. Ele ainda está aqui e por que a fricção ao redor do meu
pau aumentou? Estou acordado, mas alguém ainda está me tocando e um
grande peso repousa sobre minhas pernas. Tento mover minhas mãos e elas
estão presas por algum tipo de cordão nas minhas costas.
— Você finalmente acordou — uma voz vem de cima de mim, seguida por
uma respiração pesada. Minha visão clareia e a silhueta de Perry salta na
minha frente enquanto ele desliza mais para baixo no meu pau. Estou
envolto em um calor viciante e suas paredes apertadas se rompem
lentamente ao meu redor enquanto sou recebido dentro dele.
— O que... o que está fazendo?
Sua testa pressiona a minha e sua língua desliza dentro da minha boca,
mas ele se afasta antes que eu possa segurá-la.
— Nós vamos jogar um jogo. — O balanço de seus quadris diminui e ele
se levanta quase todo o caminho antes de cair de volta. Meu corpo fica tenso
e sensações maravilhosas espiralam dentro de mim me fazendo sentir vivo.
Estar dentro de sua boca era o paraíso, mas isso é puro paraíso.
— Sem jogos agora. Desamarre-me.—Digo antes de minhas palavras
mudarem para sons mais animalescos.
Ele está indo fundo e devagar agora, seu corpo tremendo ao meu redor.
— Aqui estão as regras. Você não tem permissão para gozar e, se gozar, terá
que me comer.
— O que...
— Você entende?
— Não. Isso não é engraçado. Pare com isso agora. — Empino meus
quadris, empurrando-me mais fundo, minhas ações não combinando com
minhas palavras. Isso não é normal. Nada sobre o que está acontecendo entre
nós é. Quando chegamos ao hotel, tive que resistir à vontade de subir na
cama ao lado dele. Seu corpo me chamou como um farol. Sentei-me no sofá
e fechei os olhos para me impedir de ver os sinais.
Ele foi sequestrado e ao invés de levá-lo para casa, eu o trouxe aqui comigo
e decidi mantê-lo como meu. Não parecia errado até que ele estivesse
dormindo tão calmamente ao meu lado no caminhão como se fosse um dia
normal e ele estivesse no lugar mais seguro do mundo.
A culpa sobe pela minha espinha e quando um leve zumbido sai dele, sei
que estraguei tudo. Eu nunca quis tanto outra pessoa, mas estava fazendo
isso da maneira errada. Planejei me livrar do caminhão e levá-lo para casa
na Flórida assim que soubesse que era seguro. Isso é até agora. Se ele
continuar, vou esquecer o que significa fazer a coisa certa e talvez nunca
mais me lembre. Seus lábios molhados roçam os meus e engulo seu hálito
quente.
Meu. Meu. Meu.
O ar nunca foi tão doce. — Só mais um pouco. Você pode esperar por
mim? — Sua língua empurra dentro da minha boca enquanto nossos corpos
se chocam como dois pedaços de metal se moldando um ao outro e nenhum
de nós sairá ileso disso.
O beijo longo e prolongado domina meus sentidos. Nossas bocas não
param de se agarrar e estou preocupado se me afastar vou perder o
equilíbrio. Meu corpo não está apenas se movendo com ele, ele se move para
ele.
Somos uma corrente movida pela luxúria, paixão, desespero e obsessão.
Mergulho nele mais algumas vezes e nossos corpos se chocam quentes e
desesperados. Ele me acende por dentro, batendo contra mim como um
fósforo e as chamas se espalham no centro do meu corpo implorando para
romper.
Ele se sente muito bem. Muito certo. Por mais que eu tente, não aguento
mais. Meu corpo está muito ansioso para desmoronar por ele. Solto, dando-
lhe tudo de mim, perdendo o jogo enquanto meu corpo convulsiona e gozo
dentro dele.
Meu rosto cai em seu pescoço e mordo sua pele macia, lambendo entre o
cerrar gentil dos meus dentes.
— Você causou isso para si mesmo — diz ele em meu ouvido, sua voz
soando tão destruída quanto imagino que ele pareça. — Hora de colocar sua
boca contra o meu buraco e mover essa linda língua para mim.
Antes que eu possa responder, ele envolve a mão em volta do meu
pescoço. Engasgo com minhas palavras e ele me empurra de costas. Meus
braços estão sendo espremidos entre meu corpo e as almofadas rígidas do
sofá. Ele se levanta do meu pau e desliza para cima do meu corpo, não
parando até que sua bunda esteja posicionada sobre o meu rosto. Minha
cabeça se move de um lado para o outro, ainda atordoado enquanto acalmo
do meu orgasmo.
— Fique quieto para mim. — Pressionando uma faca no meu pescoço, ele
balança os quadris e abre as nádegas enquanto seu buraco procura minha
boca. Mostro minha língua para ajudar a guiá-lo para onde ele precisa ir e
ele treme quando coloco dentro dele.
— Sim. Simples assim. Você não só vai me deixar limpo, mas também vai
continuar até eu gozar. Não vou ser tão legal quanto você. Não haverá
pausas. Não vou parar até que me dê o que me deve.
Não quero que ele faça isso de qualquer maneira. Eu o quero tremendo e
uma bagunça extasiada do jeito que ele estava ontem. Continuo comendo
meu esperma dele enquanto também entro e saio de seu buraco aberto. O
gosto salgado cobre minha língua, explodindo por toda a minha boca e estou
com fome de tudo isso. Nunca fiz isso com mais ninguém e nunca farei. Não
consigo imaginar querer me provar em outra pessoa.
Ele geme e choraminga. Eu me perco em seus sons e perfume
hipnotizante, ficando lânguido com tudo. Ele continua pegando o que
precisa, fodendo-se na minha língua.
Feixes de luz do sol brilham na janela entre as cortinas fechadas e ele é
uma linda bagunça corada. — Ohh... estamos quase lá. — Sua mão cai no
meu cabelo, puxando minhas mechas enquanto ele me monta com mais
força. Seu pau bate contra seu estômago, e ele deixa cair a faca no meu
ombro, a lâmina beliscando minha pele. Depois de espalhar a umidade do
meu corte na minha pele, ele envolve os dedos ao redor da base de seu pênis.
Não leva mais do que alguns golpes para ele gozar forte e tremendo.
Ele pressiona mais forte contra o meu rosto antes de ficar tenso em cima
de mim. Equilibrando-se nas costas do sofá, ele desliza para baixo de mim o
suficiente até que sua cabeça esteja descansando no meu peito.
Ficamos deitados por um tempo em silêncio. Seus dedos acariciam meu
mamilo enquanto nós dois recuperamos o fôlego.
— Nunca mais faça isso comigo de novo — ele murmura.
— Fazer o quê? — Pergunto, lutando para manter minhas pálpebras
pesadas separadas.
— Ficar tanto tempo sem me tocar.
Um sorriso se espalha pelo meu rosto e eu balanço minha cabeça. —
Nunca mais, prometo.
Posso ter perdido o jogo, mas ganhei o prêmio máximo, e com certeza
estou, sem dúvida, guardando tudo para mim.
— Vai me desamarrar agora?
Ele sorri contra o meu peito. — Não até que você fique amarrado tanto
quanto eu.
Ele se levanta de cima de mim e caminha até o banheiro, olhando para
mim com um sorriso perverso. — Vou tomar banho. Vai se juntar a mim?
Não me importo de ajudá-lo a se limpar desta vez.
Ele balança a bunda enquanto caminha para o banheiro. Separando-me
rapidamente do sofá, corro em direção ao banheiro, não me importando se
ir aonde ele vai, vai me levar à morte.
9

Paxton
— Não estávamos seguros antes — diz Ez ao meu lado.
— Huh? — Minha cabeça se inclina enquanto tento entender sua
pergunta, flexionando meus dedos sobre o selo da janela do carro
emprestado.
— Não usamos proteção e isso foi estúpido. Nunca faço sexo sem
camisinha. — Ele enfia a chave com força na ignição, do jeito que enfiou seu
pau delicioso no meu buraco ontem à noite.
— Era algo que deveríamos ter discutido antes.
Ele não estava preocupado em ter um homem amarrado na traseira do
caminhão que ele dirigia, me sequestrando para si mesmo ou eu enrolando
uma corda em seus pulsos enquanto eu o fodia até acordar, mas com certeza
sexo inseguro é onde ele delimita o limite. Ele está certo, porém, foi estúpido,
e deixei meu desespero obscurecer minha lógica, mas também foi difícil não
me sentir seguro com ele. — Você acha que tem alguma coisa?
Ele balança a cabeça, entrando em uma estrada de terra. — Não, mas você
não sabia disso e eu também não sei se você tem.
Ele gira o volante novamente e as marcas do fio do telefone ficam mais
visíveis em seu pulso. Gosto de ver marcas na pele dele feitas por mim. Mal
posso esperar para fazer mais em outros lugares.
Enrolo a alça do cinto de segurança no dedo e o observo com o canto do
olho. — Não tenho. Eu nunca... uh... estive com mais ninguém. — Ao
contrário de antes com Eddie, eu não estava muito preso em minha cabeça.
Fazer tudo nos meus termos enquanto controlava a situação tirou todas as
inseguranças e preocupações que eu tinha antes. Eu também precisava senti-
lo em todos os lugares e esfregar cada parte de nós para compensar as vezes
que ele me manteve à distância.
Seus olhos se arregalam e sua mão aperta o volante com mais força. —
Você está dizendo que foi sua primeira vez?
Balançando a cabeça, bato meus joelhos juntos. — Sim. Podemos falar
sobre outra coisa agora?
— Tudo bem. — diz ele, oferecendo um meio sorriso. — Sobre o que você
quer falar?
Digo a primeira coisa que me vem à cabeça, não gostando de como me
sinto exposto. E se eu der muito de mim por nada? — O que significa Ez?
Ele hesita por um minuto. — Ezra.
— Gosto disso muito mais do que Ez.
Ele arqueia uma sobrancelha para mim. — Seu nome é mesmo Perry?
Meu rosto fica tenso. — Mais ou menos?
— Significado?
— É realmente bobo. — Meus joelhos saltam contra o assento. Está ficando
mais difícil mentir para ele. — Meu pai acha que é e você provavelmente
também.
— Estou aqui para ouvir de qualquer maneira. — Suas palavras oferecem
um conforto que eu não sabia que existia.
— Eu tinha um irmão gêmeo que morreu em um incêndio em casa e seu
nome era Paxton. Eu era Perry. Depois que ele se foi, tive dificuldade em
continuar enquanto ele não podia, então... peguei o nome dele para que ele
pudesse continuar viver através de mim.
— Acho isso fofo. Tenho certeza de que ele iria gostar.
— Espero que sim.
Ele para em frente a uma grande casa verde e nós dois saímos do carro ao
mesmo tempo.
— Onde estamos? — Eu me inclino para a frente, observando todas as
grandes árvores nuas e campos de grama morta. Além do balanço da
varanda, não encontro nenhuma outra evidência de que alguém viva aqui.
Sem jardins, sinos de vento pendurados, tapetes de boas-vindas ou
decoração de gramado.
— Visitando o amigo de quem falei. Ele sabe de um lugar seguro onde
posso levá-lo. — Ele pega minha mão e meus dedos nunca couberam tão
bem dentro da mão de outra pessoa. Eu normalmente não era fã de afeto
público, ou de fazê-lo a portas fechadas, mas sempre que estamos perto um
do outro, a gravidade toma conta. A força é forte demais para ser ignorada
e combatida.
— Você também estará junto?
— Não tenho certeza se atendo aos requisitos, mas prometo que estarei
por perto. — Envolvendo seu braço em volta de mim, ele me puxa para mais
perto de seu corpo.
— Estou supondo que você finalmente acredita que não sou um assassino
da Máfia.
Ele me guia pelo caminho de pedra que leva à casa, seu aperto forte
ameaçando me manter contra ele para sempre.
— Não tenho certeza se alguma vez acreditei. Eu sabia que se não
continuasse convencido de que você era, nunca seria capaz de completar o
trabalho.
Um homem alto de camisa preta e jeans entra na varanda da frente,
acenando para nós. — Hola. Estou supondo que este é Perry?
— Paxton — eu o corrijo.
Ele torce os lábios, enfiando uma mão no bolso. — Prazer em conhecê-lo,
Paxton. — Ele estende a outra mão. — Sou um velho amigo de E. Meu nome
é Isaiah. Ele me contou sobre sua situação e acho que posso ajudar.
Nós o seguimos para dentro e ele nos leva a uma grande mesa redonda.
— Por favor, sentem-se. Joey, meu marido, deve descer logo para se juntar a
nós. Algum de vocês gostaria de algo para beber?
Nós dois dizemos a ele que estamos bem e quando nos sentamos, um
homem pequeno com cabelos mais claros caminha em nossa direção. —
Nossos convidados já estão aqui? Por que não me chamou? — Seus olhos
castanhos pairam entre nós e seu marido, mas não é difícil identificar onde
eles preferem ficar.
— Achei que você viria assim que terminasse seu chat de vídeo matinal
com Carlos. Parece que você chegou bem na hora, fofo. — Isaiah responde
antes de voltar sua atenção para nós. — Este é Paxton, amigo de E. Aquele
que está com problemas.
— Nós dois estamos com problemas, na verdade — eu o corrijo, colocando
minhas mãos na minha frente.
— Foi o que ouvi. Queremos tentar o nosso melhor para ajudar vocês dois.
A situação de E é um pouco mais complicada do que a sua. Ele
provavelmente irritou um bando de homens poderosos e perigosos e eles
não vão parar até que ele pague pelo inconveniente que causou. — Joey
apoia a mão em uma das cadeiras, permanecendo de pé. — Todos sabem
quem ele é e onde mora, mas provavelmente não sabem nada sobre você.
— Ezra diz que você tem algum lugar onde eu possa ir até termos certeza
de que eles não estão mais procurando por mim. — É uma afirmação, não
uma pergunta.
Joey acena com a cabeça. — Dois anos atrás, abri dois santuários para
homens e mulheres não apenas para ajudá-los a se curar, mas também para
oferecer um lugar seguro para ir depois de serem traficados para sexo. Era
mais um projeto de paixão do que qualquer coisa e não esperava que
crescesse tanto quanto cresceu. Já temos um quarto esperando por você, mas
infelizmente Ezra não poderá ficar com você.
Meu coração para e minha mão automaticamente alcança a dele. A ideia
de estar em um lugar estranho cercado por pessoas que nunca conheci me
faz agarrá-lo com mais força. Como se pudesse sentir minha aflição, ele faz
círculos na palma da minha mão com a ponta do polegar. Não entendo por
que meu corpo está reagindo dessa maneira quando ele é praticamente um
estranho.
“Mantenha-o por perto e nunca o solte” algo lá no fundo exige.
O que está acontecendo entre nós não é forçado ou esperado.
Surpreendeu-me a maneira, como uma brisa fresca que eu não sabia que
precisava refrescar minha pele quente, como uma bela vista abre seus olhos.
Quando o sol nasce depois de uma tempestade, iluminando uma parte da
sua alma.
— Onde ele ficará?
Joey suspira, colocando um braço em cima do outro enquanto se inclina
para a frente. — Isaiah tem algumas cabanas isoladas a uma hora de
distância onde ele pode se esconder. Sinceramente, não sei de que outra
forma podemos ajudá-lo sem comprometer tudo o que trabalhamos duro
para construir.
— No entanto, faremos o possível para ajudar da maneira que pudermos
— diz Isaiah, sentando-se na cadeira do meu outro lado. — Fizemos mais
algumas pesquisas e Rodrigo comanda uma rede de tráfico sexual fora do
Texas e do México. Ele também tem uma clientela muito poderosa que faz
pedidos e faz o que pode para encontrar o que eles querem.
— Eles disseram que estavam me vendendo para alguém. — Meu coração
se contorce no peito e fecho os olhos por um segundo antes de abri-los
novamente.
Joey franze a testa. — E eles provavelmente já o fizeram e o trabalho de
Ezra era garantir que você fosse entregue. Ele não apenas lhes custou uma
transação, como o cliente ficará muito chateado por não ter recebido seu
produto. A bagunça em que ele se meteu será um grande problema para
limpar. Esconder-se e fugir pode lhe dar tempo, mas se esses homens o
desejarem o suficiente, eles acabarão por encontrá-lo.
Engolindo em seco, olho para Ezra. — Vou com você então. Vamos
enfrentar isso juntos.
Ele balança a cabeça, virando todo o corpo para o meu. — Não, Fuego. —
Seus dedos se enroscam em meu queixo. — Você irá para o santuário. É a
única maneira de garantir sua segurança. Quando eles me encontrarem,
prefiro que não esteja junto.
A fúria inunda minhas veias e meus olhos estão quentes de lágrimas. —
Você não estaria nessa confusão se não fosse por mim. Talvez você ainda
possa me entregar...
Seus olhos ardem de raiva. — Absolutamente não. Eles nunca terão você
enquanto eu estiver vivo. Vamos seguir o plano. Eles estão esperando nos
encontrar juntos. Eles estão contando com isso. Você irá para onde eu disser
para ir e ponto final. — Ele me fixa no lugar com seu olhar.
Toda a minha vida me perguntei como seria preencher o vazio que carrego
dentro de mim há anos. Agora que finalmente sei, preciso aprender de
alguma forma como voltar a ser oco novamente. — Tudo bem. Mas se você
não voltar para mim antes do fim do mês, Rodrigo e seus amigos não serão
os únicos a caçar você. — Balanço meu dedo em seu rosto.
Ele ri e afasta um cacho da minha testa. — Combinado.
— Vocês dois precisam começar a ir para lá o mais rápido possível. É uma
longa viagem. Joey vai lhe dar instruções e se você tiver algum problema,
não hesite em ligar.
— Obrigado. Sério. Não tem que fazer nada disso por nós e ainda assim
você faz.
Joey anda em volta da mesa e sua mão descansa no ombro de Ezra. É
apenas um gesto amigável, mas meus olhos não conseguem parar de se
contrair de qualquer maneira.
— Você também não precisava fazer tudo o que fez por Isaiah na
faculdade. Mas fez mesmo assim. É o que os amigos fazem.
Sorrindo para o marido, Isaiah acena com a cabeça. — Eu só gostaria que
pudéssemos fazer mais.
— É muito mais do que qualquer outra pessoa faria — diz Ezra.
— O que aconteceu com o caminhão? — Dirijo a pergunta a ninguém em
particular.
Isaiah move-se na cadeira. — Ele tinha um dispositivo de rastreamento,
mas contratamos alguém para conduzi-lo na direção oposta à que você está
indo, na esperança de desviá-los. — Isaiah se levanta e as pernas da cadeira
raspam no piso de madeira.
Ele pega uma sacola preta no balcão e a coloca na mesa à nossa frente. —
Aqui você encontrará dois telefones descartáveis, armas, facas e outros itens
que achei que poderia usar. — Ele se vira para Ezra, abaixando a cabeça. —
Fique longe das estradas principais o máximo que puder e não pare a menos
que seja absolutamente necessário. Uma vez que chegar ao santuário, você
não deveria ter que se preocupar com seu menino aqui. — Ele gesticula para
mim. — Ele estará em boas mãos, prometo.
Agradecemos novamente antes de vestir roupas emprestadas e pegar a
estrada. Ezra não fala por horas e nem eu. Incapaz de lidar com o silêncio
por mais tempo, abro minha boca para falar. — Odeio isso. — Minhas unhas
cravam em meu braço, esperando que a dor me distraia da inquietação que
está explodindo dentro de mim. — Podemos encontrar outra maneira.
— Já passamos por isso, Fuego. Não há outro jeito. — Ele fica tenso depois
de olhar no espelho retrovisor. — Alguém está nos seguindo.
— O quê? — Pergunto, com muito medo do que vou ver se eu me virar.
— Como sabe?
Ele acelera e muda de faixa. — Porque estão nos perseguindo há algum
tempo. Temos que despistá-los de alguma forma.
Ele desvia entre dois carros e continua até nos aproximarmos da primeira
saída. Ele sai da rodovia e provando suas suspeitas, o carro fica atrás de nós.
— Porra. — Ele faz outra curva fechada e o outro carro faz o possível para
alcançá-lo. Um homem põe a cabeça para fora da janela e uma arma é
levantada no ar. Ezra muda de faixa para desviar da primeira bala e nós dois
nos abaixamos pela segunda vez quando a próxima bala atravessa o vidro.
O pânico aumenta em mim e meu coração pula na minha garganta. Todo
o meu corpo treme enquanto faço tudo o que Ezra me diz para fazer. Pego o
volante. Deixando o pé no pedal, ele abaixa a janela e atira no carro atrás de
nós. — Fique abaixado e mantenha o volante reto — ele ordena.
Outra bala é disparada de sua arma e o carro atrás de nós reduz a
velocidade devido ao estouro de um dos pneus. A arma dispara novamente
e atinge o motorista, após o carro sair da estrada, batendo em uma árvore.
— Eles nos encontraram — minha voz falha.
— Eu deveria ter me livrado daquela porra de caminhão antes — diz ele,
batendo as mãos no volante. — Tudo aconteceu tão rápido.
— Precisamos sair dessa estrada. — Olho para trás, um sentimento ruim
se contorcendo em meu estômago.
Concordando com a cabeça, ele vira para outra estrada secundária.
Ninguém dirige atrás ou ao nosso redor por um tempo. Relaxando no
assento, presumo que esteja tudo bem.
Eu não poderia estar mais errado.
Dois sedãs pretos aparecem do nada e Ezra pega minha mão. Olhando
para mim com os olhos pesados, ele gira o carro. Roda rangendo contra o
pavimento, inclinamos levemente para o lado devido à ação rápida. Ele pega
os outros veículos desprevenidos e Ezra passa por eles antes que eles possam
reagir. Tirar um tempo extra para virar seus veículos nos deu tempo
suficiente para mudar de rota neles.
Ezra não para de procurar ao nosso redor o tempo todo enquanto tenta
nos levar o mais longe possível dos veículos suspeitos o mais rápido que
pode.
— Eles estão vindo de todos os lugares. — Minha voz treme e quando ele
tenta soltar minha mão, não deixo.
— Tenho que dirigir, Fuego, e possivelmente usar minha arma novamente.
— E se você soltar e nunca mais nos tocarmos? — Meus ouvidos doem
com minhas próprias palavras e eu gostaria de poder nos colar para que ele
não pudesse se afastar, não importa o quanto ele tentasse.
Soltando algumas respirações pesadas, ele levanta minha mão até sua
boca e pressiona um beijo em meus dedos. — Quando sairmos disso, vou te
segurar pelo tempo que quiser. Prometo.
Ele quer dizer se. Meus lábios se contraem e eu aceno, erguendo meus
dedos dos dele. Dói e a dor da separação apunhala minhas entranhas. Seus
suaves olhos dourados caem sobre mim mais uma vez antes de voltar para
a estrada. — Não os vejo mais. Você vê?
Agarrado ao cinto de segurança, olho pela janela. — Não. — Não significa
que eles não estejam lá. Em um minuto eles se foram e no próximo eles
podem vir até nós de uma vez. Primeiro foi um carro e depois dois. O que
acontecerá quando for mais?
— Se virarmos aqui, poderemos voltar na direção certa. Quanto mais cedo
chegarmos lá, melhor. É mais fácil se preocupar com uma pessoa do que com
duas. Eu teria menos motivos para ter medo se não tivesse você no carro
comigo. — Sua garganta se move e sua mandíbula aperta. — Não me
importo com o que aconteça comigo, mas não serei capaz de lidar com a sua
perda.
— É uma loucura, não é? — Eu rio da situação improvável. — Nós mal
nos conhecemos, mas você se sente como qualquer coisa, menos um estranho
para mim.
— Nem tudo na vida faz sentido.
Meu coração bate forte e descanso minha mão em sua perna. — Algumas
coisas não, e nem sempre temos que entender isso.
Seu sorriso acalma minha frequência cardíaca e quando quatro carros nos
cercam, eu me preocupo que seja a última vez que o verei.
10

Ezra
Procurando desesperadamente por qualquer lugar para correr, meu peito
desaba quando não temos mais para onde ir. Cinco homens saem dos carros,
deixando-me ciente de como estamos em menor número. Falhei com ele e
menti para minha irmã sobre voltar para casa. Uma sensação aguda torce em
meu peito e posso sentir cada ponta afiada de pavor me inundando.
Alcançando a mochila, entrego uma arma a Paxton. — Você sabe como
usar uma arma, Fuego?
Seus lábios se abrem e ele suga uma respiração afiada entre os dentes. —
Não.
Enquanto os homens armados se aproximam lentamente de nós, dou-lhe
uma rápida demonstração e enfio uma faca no bolso do meio de sua calça.
Ele pega a arma e a enfia na parte de trás da calça. Seus olhos estão fundos e
a luz que ele tinha esta manhã no chuveiro está desaparecendo rapidamente.
— Eles vão me levar, não vão?
Limpando a espessura na minha garganta, eu tiro uma lágrima de seu
olho. — Se o fizerem, é melhor esperarem que me matem primeiro. Porque
se não o fizerem, vou me certificar de que cada um deles morra engasgado
com o próprio sangue.
— Saia do carro — um homem com rabo de cavalo e barba espessa grita
do lado de fora. Ele aponta a arma para a minha cabeça e bate a mão no capô
do carro. — Agora, idiota.
Abrindo a porta, saio e pressiono minha mão com força na minha arma.
Seu olhar segue minhas ações. — Deixe sua arma no chão ou isso vai ser
muito pior do que tem que ser.
Meu coração está sendo partido em dois com os gritos vindos de trás de
mim. Meu olhar vira no ar espesso até pousar em Paxton lutando contra dois
homens que o agarram para fora do carro.
Tirando minha arma, eu a jogo para frente em vez de colocá-la lentamente
no chão. — Se vai me matar, deveria fazer isso agora.
Os lábios do homem se contorcem e ele abaixa a arma, pegando a minha
do chão. — É o que foi originalmente planejado, mas Rodrigo pensou que
deixá-lo viver seria melhor. Em vez disso, vamos deixar você assistir
Nathaniel aqui foder seu bebê contra o seu carro antes de sairmos com ele, e
vou garantir que ele vá para a pior pessoa possível depois. Alguém que vai
usá-lo tão mal que ele vai murchar até não sobrar nada.
A bile sobe pela minha garganta e meu coração parece que está
desmoronando no meu estômago. — Não. Leve-me ao invés. Machuque-me.
Não vou lutar, prometo.
O homem ri. — Ah, mas a luta é a melhor parte. Certo, Nathaniel?
Nathaniel me lança um sorriso malicioso enquanto joga o corpo de Paxton
contra o carro. Ele pega sua arma e a entrega a outro homem atrás dele.
Paxton tenta alcançá-lo e a palma da mão de Nathaniel estala em seu rosto.
Cerro os dentes com tanta força que acho que vão quebrar.
— Isso é tudo sua culpa. Não se esqueça disso. Você vai viver com esse
momento todos os dias pelo resto de sua vida patética — diz rabo de cavalo
em tom amargo.
— Você não tem que fazer isso. — Puxo as mangas da camisa sem tirar os
olhos de Paxton. Seu rosto está pressionado contra o capô do carro e ele fecha
os olhos com força, mas não há lágrimas. Ele não está deixando que eles as
tenham e não posso deixar que eles o tenham.
— Vamos começar o show? — O rabo de cavalo abre os braços, olhando
para trás. — Pegue-o, Nat. Mas não o machuque muito. Prometemos levá-lo
de volta ao armazém praticamente intacto. — Um sorriso aparece em seu
rosto e quero arrancá-lo e fazê-lo engasgar-se com ele.
Nathaniel apoia um braço nas costas de Paxton, enquanto puxa a calça
para baixo com a mão livre. Paxton ainda não abre os olhos e toda a sua
pequena forma treme diante do homem vil tirando o pau de sua calça social.
— Você vai gostar disso menino — diz Nathaniel, passando a língua pelos
lábios. Os outros homens ficam de pé e assistem com sorrisos em seus rostos.
Alguém até começa a se tocar quando Nathaniel abre as nádegas de Paxton.
Todo o meu interior grita.
Esses filhos da puta nojentos.
Cuspindo entre os dedos, Nathaniel molha o pau e espalha a saliva entre
as nádegas de Paxton. — Você está bom e pronto para mim agora.
Quero rastejar para fora da porra da minha pele. Agarro minha manga
novamente e quando o cara na minha frente está se virando para torcer por
seu amigo, eu rapidamente levanto meu braço. Empurrando a faca balística
na palma da minha mão, miro em seu pescoço enquanto ele continua a
desviar o olhar, totalmente distraído. Ele treme enquanto ri, apontando para
a visão horrível que se desenrola diante de nós. Aperto o botão enquanto
Nathaniel se alinha com o buraco de Paxton.
A lâmina voa no ar e pousa no pescoço do rabo de cavalo. Ele engasga,
agarrando-o.
Corro para frente e empurro mais fundo para cortar seus gritos enquanto
pego sua arma para atirar no homem mais próximo a ele enquanto ele se
atrapalha com sua arma. Em vez disso, não deveria estar brincando com seu
pênis.
O sangue espirra da ferida quando puxo minha faca do rabo de cavalo e
ele se engasga, com as mãos cobertas de sangue quando tenta estancar o
sangramento. Apontando a arma para Nathaniel em seguida, ele se esconde
atrás de Paxton como um covarde.
Outro atira em mim e acerta o corpo do rabo de cavalo. Eu o uso como
escudo e coloco uma bala entre os olhos do atirador depois que ele erra de
novo. Alcançando o chão, pego sua arma antes de jogar o corpo do rabo de
cavalo para frente.
Uma bala roça levemente meu ombro, mal cortando minha pele, e corro
atrás do carro mais próximo, me agachando quando o último homem, além
de Nathaniel, vem atrás de mim. Atiro no peito dele duas vezes quando ele
se aproxima de mim pelo caminho errado, pensando que vai se esgueirar
por trás de mim.
Os olhos de Paxton estão abertos e grandes. Nathaniel o segura pelo
pescoço com uma arma apontada para sua cabeça. — Pare com isso agora ou
vou puxar o gatilho e acabar com o cadáver dele.
Aceitando seu blefe, permaneço no chão, rastejando ao redor do carro. O
sangue cobre o cascalho ao meu redor, infiltrando-se nas rachaduras.
Nathaniel se abaixa, atirando sob o carro aos meus pés. Cerro os dentes e
pressiono minha mão em uma pequena ferida na minha panturrilha. Não
posso permitir que algo tão insignificante me detenha. Não quando cheguei
tão longe.
Quando Nathaniel continua me procurando pelo carro, sem prestar
atenção em Paxton, ele pega sua faca e enfia no pau do homem. Ele grita e
agarra Paxton pelo pescoço. Ignorando a dor do meu ferimento, lanço-me
para Nathaniel enquanto ele enfia a pistola na boca de Paxton. Meu pulso é
errático em meus ouvidos quando seu dedo segura o gatilho. Paxton fecha
os olhos e estou prestes a me desfazer no meio da rua, mas nada mais do que
um clique sai da arma.
Nathaniel encara a arma, o rosto empalidecendo e as mãos tremendo de
nervoso. — Parece que alguém está sem balas. — Meus lábios se alargam e
me aproximo, mantendo o cano apontado para sua cabeça.
O pomo de adão de Nathaniel balança em sua garganta e o medo toma
conta de seus olhos. Ele joga a arma para trás e antes que ele possa pegar sua
faca, eu atiro em seus dedos.
Gritos torturantes saem dele. — Você...
— Entre no carro, Fuego — grito para Paxton quando Nathaniel se afasta
dele, seu pau ainda pendurado para fora e sangrando.
Congelado no lugar, os dedos de Paxton tremem em volta do cós da cueca.
Nathaniel estende a mão para ele novamente e aponto a arma para seu peito.
A bala rasga sua carne e gritos saem de sua garganta enquanto ele tropeça,
felizmente mais longe de Paxton. — Por favor — ele implora. Ele tem uma
porra de coragem.
— Acho que nós dois sabemos que isso não vai te salvar. — Outra bala
atravessa seu ombro e ele cai de joelhos, gritando, e quero saber quantos
outros sons miseráveis ele pode fazer. Estou ansioso para ouvir todos eles
enquanto vejo a vida desaparecer de seus olhos arregalados.
Seus olhos se fecham e ele toma algumas respirações irregulares. Seus
lábios se abrem e ele suga mais ar em sua boca. Apontando a arma para sua
língua, uso a última bala para calá-lo para sempre. O sangue escorre de sua
boca e seu corpo balança antes de cair para o lado. Seus olhos redondos e
injetados me encaram e cuspo em seu corpo em convulsão. Ele cometeu um
grande erro ao tocar no que é meu.
Procurando ao meu redor, dou um passo para trás e observo todas as
árvores e pastos vazios ao nosso redor. A estrada de terra à frente está vazia
e nenhum carro se aproxima atrás de nós também. Estamos completamente
sozinhos aqui, cercados por cadáveres e pela natureza. Estes são homens
maus e ninguém deve sentir falta deles. Tudo o que fiz foi tirar o lixo e
continuarei fazendo isso enquanto eles continuarem vindo atrás de nós.
Limpo a arma com o lado de fora da minha camisa e a jogo ao lado da
forma flácida de Nathaniel. Agarrando minha arma do corpo do rabo de
cavalo, vou até onde Paxton ainda está congelado, tremendo e olhando para
frente. Seu rosto está pálido e ele não olha para mim quando eu o chamo.
Levantando sua calça, eu o levanto em meus braços e o carrego para o
carro. Beijo sua cabeça, colocando-o no banco do passageiro. — Peguei você
agora, Fuego. — Ele se agarra à porta quando a fecho e fecha os olhos,
permitindo que as lágrimas finalmente encharquem seu rosto. Franzo a testa
e meu peito se divide no centro. Tirando minha camisa, coloco sobre ele. Se
eu pudesse ter tudo de volta. Eu faria qualquer coisa para ter essa chance. —
Vou tirar você daqui. Aonde quer que vá, não estarei longe. Prometo.
Ligando o carro, me viro e sigo em direção ao santuário. Os olhos de
Paxton olham pela janela durante todo o caminho até lá, suas mãos
abraçando seu corpo. Descanso minha mão em seu ombro enquanto paro em
frente a um portão alto de metal. — Estamos aqui.
O portão se abre e um homem que parece ter a idade de Paxton se
aproxima de nós, prendendo o cabelo loiro atrás da orelha. Abro a janela e
ele se aproxima o suficiente para eu ouvi-lo falar. — Você é Ezra?
— Sim e este é Paxton.
Ele concorda. — Sou Trenton. Você pode continuar. Pode levá-lo para
dentro e ajudá-lo a se instalar. Então, quando você terminar, tenho uma
chave e algumas roupas para você. — Ele me olha mais de perto, inclinando
a cabeça. — Parece que teve dificuldades para chegar aqui.
— Sim. Tivemos alguns problemas no caminho, mas não se preocupe, não
fomos seguidos.
Seus lábios se juntam. — Eles estão todos mortos?
Olho dele para minha faca ensanguentada e depois de volta para ele. —
Sim, com certeza.
— Ótimo. Um problema a menos para se preocupar então. Vejo-o lá
dentro.
Mudando de marcha, atravesso o portão e estaciono em frente ao prédio.
Outro homem sai e se oferece para estacionar meu carro enquanto ajudo
Paxton a ir para o quarto. Aceito sua oferta, lembrando-lhe de quem é o
carro, caso ele tenha alguma ideia brilhante.
Levando Paxton em meus braços, eu o carrego pelas portas automáticas
onde uma mulher está esperando por nós. — Ele está ferido em algum lugar?
— Acho que não. Acho que ele está apenas em choque, mas não saberei
até que possa examiná-lo.
Seu olhar pousa no meu ombro sangrando e depois cai na minha perna.
— E você?
— Vou sobreviver — respondo.
Ela se aproxima e eu me afasto. — Você realmente deveria verificar isso.
Temos uma enfermaria bem no final do corredor. — Ela aponta para trás de
mim.
— Quero levá-lo para seu quarto primeiro. — Ela não entende? Não dou
a mínima para mim agora. Só para ele.
Assentindo em compreensão, ela se vira e segue em direção a um longo
corredor cinza. — Siga-me por aqui e vou te mostrar onde é. Algumas
pessoas voltaram para suas famílias recentemente, então ele não deve ter que
dividir um quarto tão cedo. Quanto tempo ele vai ficar aqui?
— O tempo que for necessário. — Até caçar e matar Rodrigo e qualquer
outra pessoa que se atreva a ficar em meu caminho. Como estamos de volta
ao Kansas, estamos novamente em seu território. No entanto, ele não detém
tanto poder aqui quanto Isaiah e Joey. Em breve, ele não terá poder algum.
Ele é um peixe pequeno em um grande lago no que diz respeito aos chefes
do crime.
Somos conduzidos a um pequeno quarto branco. As camas de solteiro
ficam de cada lado de uma janela, sob a qual há uma pequena escrivaninha
com uma cadeira de madeira. Um par de roupas limpas está em cima, junto
com alguns produtos de higiene pessoal.
— Meu nome é Linda. Se precisar de mais alguma coisa, estarei na
recepção. Não hesite em perguntar e não se esqueça de dar uma olhada nesse
braço antes de sair.
— Obrigado. — Coloquei Paxton em uma das camas e ele olhou ao redor,
esfregando os olhos.
Linda nos oferece um pequeno sorriso antes de fechar a porta atrás dela.
— Já estamos aqui? — Ele pergunta quase em um sussurro.
— Si. — Ajoelho-me na frente dele, segurando seu rosto em minhas mãos.
— Eles te machucaram em algum lugar?
Fungando, seus olhos claros seguram os meus. — Não. Você não deixou.
Meu coração acelera no meu peito e os cantos da minha boca tremem. —
Sinto muito que tenha chegado tão longe. Aquele idiota nunca deveria ter
tido a chance de tocar em você. — A raiva sobe em minha garganta, meu tom
parecendo um trovão moderado. Levantando a mão, ele traça meu lábio
inferior trêmulo com o polegar.
— Você fez exatamente o que prometeu. Eles tentaram me levar e você se
certificou de que todos morressem engasgados com o próprio sangue.
Poderia ter sido muito pior, mas não foi.
— Poderia ter sido muito melhor também se eu não tivesse cometido
muitos erros estúpidos.
Pressionando um dedo sobre meus lábios, ele balança a cabeça. — Às
vezes, seguimos o caminho errado para encontrar o caminho certo. Nós dois
pegamos caminhos errados e ainda assim acabamos aqui um com o outro.
Levantando-me, nossas testas pressionadas juntas e seu hálito quente
provoca meus lábios. Minha boca roça a dele enquanto respiramos um ao
outro. Meu coração erra algumas batidas quando seus lábios se abrem como
ondas no mar, convidando-me a mergulhar por minha conta e risco.
Balançando minha língua para frente, mergulho meus pés e a promessa de
algo maravilhoso me faz submergir em águas profundas.
Com a respiração entrecortada, nossas línguas se entrelaçam
desesperadamente. Nossos beijos são lentos e fáceis antes de se tornarem
caóticos. Dentes se chocam e suas mãos se enfiam no meu cabelo, as unhas
cravando no meu couro cabeludo. Meus dedos encontram seu pescoço e
aprofundo o beijo segurando-o mais perto de mim. Imagino que é assim que
o céu se sente quando as cores do arco-íris brilham através dele.
Não preciso mais procurar flores amarelas quando tenho Paxton. Ele é
toda a esperança e sol de que preciso.
Nós dois estamos com falta de ar quando nos separamos e odeio o que
tem que acontecer a seguir.
— Você tem que sair agora, não é? — Seus olhos nublados puxam meu
coração.
— Sim. — Beijo sua testa antes de pressionar meus lábios em seu nariz. —
Só por um tempo. Voltarei assim que puder.
Mordendo o lábio inferior, seu olhar cai para o espaço crescente entre nós.
— É só uma questão de tempo até você desistir.
Meu peito aperta e me sento na cama ao lado dele, agarrando sua mão. —
O que quer dizer?
— Eventualmente, todos vão embora e continuam indo. Nunca sou
suficiente para mantê-los aqui. — Seu olhar permanece no chão e seus dedos
lentamente se soltam dos meus.
Minha mão os envolve, impedindo-os de ir a qualquer lugar. — Não sou
todo mundo e quando eu voltar, ficarei o tempo que você me deixar. Você é
mais do que suficiente, Fuego. Você é meu e sempre será.

Meus olhos se abrem rapidamente quando um peso repousa sobre minha


barriga. O quarto da cabana está escuro e tudo o que consigo ver é uma
figura borrada em cima de mim, parecendo uma sombra em movimento.
Meus pulsos estão amarrados à coluna da cama, impedindo-me de mover as
mãos e os braços.
— Fuego? — Minha voz está trêmula e sinto como se alguém tivesse
enfiado algodão em minha garganta.
A lâmpada ao nosso lado acende e Paxton está olhando para mim. Ele está
vestindo nada mais do que uma expressão sonolenta e uma grande camiseta
branca. — Eu não conseguia dormir. O quarto cheirava a produtos de
limpeza e estava congelando.
Solto um suspiro. — Você não deveria estar aqui. É muito perigoso. Como
chegou aqui? — Não posso ter uma repetição da última vez. Eles tentaram
tirá-lo de mim enquanto colocavam as mãos sujas em lugares que não
pertenciam. Se eu pudesse trazer Nathaniel de volta, eu o faria, apenas para
poder matá-lo novamente.
— Eu não me sentia seguro lá e estou muito mais quente agora. Ameacei
Trenton que ficava do lado de fora de seu quarto cantando até que ele me
trouxesse para você.
Suspirando, olho ao redor antes que meus olhos voltem para ele. — Tenho
que te levar de volta.
Ele boceja, esfregando os olhos. — Já passou do toque de recolher e não
vou a lugar nenhum. — Ele traça seus dedos sobre a fita que une minhas
mãos. — E nem você.
Levantando os quadris, ele abre a tampa de uma garrafa de lubrificante e
desliza um dedo dentro de si. Suas coxas tremem quando ele acrescenta
outro e gemidos quebrados enchem o quarto enquanto ele gira os quadris.
Ele se fode com os dedos algumas vezes antes de deslizá-los para fora e levá-
los à minha boca. Meus lábios se abrem no momento em que as pontas de
seus dedos me tocam e eu os chupo entre os dentes, o gosto dele estourando
em minha língua.
Sorrindo, ele se afasta, e resisto ao impulso de perseguir sua mão com
minha boca.
— Nós não deveríamos estar fazendo isso — resmungo.
Ignorando minhas palavras, ele se alinha com meu pau e esfrega contra
minha cabeça vazando. Choramingando baixinho, ele lentamente se empala
no meu pau, torcendo a barra em seu mamilo. Os fios que me mantinham
juntos quase se separaram.
— Paxton — digo, odiando como suas mãos estão livres para tocar seu
corpo e as minhas não. — Você precisa descansar. Nós dois precisamos.
Balançando a cabeça, ele me leva para dentro dele e seu corpo fica tenso.
Seu buraco aperta em torno de mim e resisto ao impulso de empurrar meus
quadris.
— Preciso mais disso. Eu... — Seu lábio inferior treme. — Não posso deixar
que os dedos desse homem sejam a última coisa que tive dentro de mim. —
Respirando fundo, ele balança os quadris e os cantos de seus olhos se
contraem enquanto eles se agarram a mim. — Agora eles não serão porque
tudo que sinto é você.
Meu coração não sabe se quebra ou se expande. A ideia de ele precisar de
mim é a melhor sensação do mundo, mas saber por que ele precisa é o pior.
— Fuego... me desamarre, bebê. Deixe-me tocar em você.
Lágrimas escorrem pelo seu rosto e ele balança a cabeça. — Não.
— Por quê?
— Não posso, você não vai entender. — O desespero em sua voz me dá
um nó no estômago.
Engolindo em seco, puxo a fita. — Deixe-me tentar.
— Desfrutar de suas mãos em mim me pegou de surpresa e eu sabia que
tocar em você me quebraria, mas ter as duas coisas acontecendo ao mesmo
tempo poderia me destruir para sempre.
Sem saber o que dizer ou fazer, fico ali deitado e sou o que ele precisa,
deixando-o tomar o quanto estiver pronto.
Sua mão levanta e aperta meu peito. Levantando os quadris, ele respira
fundo e desliza de volta para baixo, me levando de uma só vez. Seu rosto
está corado e seus olhos permanecem em mim enquanto ele me monta
lentamente. Cravando as unhas na minha pele, sua respiração acelera e ele
balança mais fundo.
Uma mistura de sensações inexplicáveis se mistura na boca do meu
estômago e toda vez que ele me aperta, quero me desfazer.
A dor em meus braços se espalha mais abaixo, misturando-se com o prazer
que vem de baixo. Ambos me deixam em uma euforia que só posso obter de
Paxton. Pensei que ele me amarrando antes era apenas para se vingar de
mim. Agora percebo que foi muito mais do que isso.
Algo quebrou dentro dele há muito tempo e as rachaduras são tão
profundas que vão demorar um pouco para finalmente se fundirem
novamente.
Quero ser a cola para torná-lo inteiro novamente. Vai levar muita
confiança e tempo. Mesmo que eu possa oferecer a ele o primeiro, como
posso prometer a ele o segundo? O relógio está correndo para nós dois e,
eventualmente, ele vai querer voltar para casa. Onde exatamente essa
fantasia que criamos se encaixa? É o que é, não é? É muito caótico e insensato
para ser real.
A realidade é que não sirvo para ele. Não consigo me lembrar de um caso
em que minha vida fosse estável. Nunca tive muito a oferecer a ninguém e
não me importei em dar o que fiz até agora. Eu me afastei facilmente de todas
as mulheres com quem estive, sem nunca me importar em olhar para trás.
Esfregando o corpo com mais força contra o meu, Paxton joga a cabeça
para trás e os músculos do pescoço se contraem. O suor pinga de sua pele
fazendo-o brilhar e não apenas ele é uma visão que vale a pena lutar para
ver, quero doer por ele também.
Paxton me obriga a fazer mais do que virar a cabeça quando tento sair, ele
também é uma força que me puxa de volta. Tenho que lutar muito contra
isso e fico exausto quando me afasto.
Sua velocidade aumenta e quanto mais forte ele desce contra mim, mais
eu me afasto da Terra. Perseguindo o prazer em erupção dentro de mim, eu
arqueio meus quadris e empurro nele. Ele grita e suas mãos agarram-me
carente. Seu pênis vaza sobre meu estômago quando ele se deita sobre mim
e seus dentes se cravam na pele do meu pescoço. Pressionando as mãos na
cabeceira da cama, ele se empurra de volta para mim e meu impulso o
encontra no meio do caminho. Nossos corpos em choque criam faíscas e algo
lindo cresce entre nós.
Ele abre caminho até minha boca e empurra sua língua contra a minha.
Capturo seus gritos e felicidade enquanto ele se debate em cima de mim.
Enterrando-me mais profundamente em seu calor, gozo com tanta força que
meus músculos se contraem e meu cérebro falha.
O quarto gira e, por um momento, esqueço onde estou. Seus lábios
quentes pressionam meu ombro e pescoço, lembrando-me de que estou no
lugar onde mais quero estar.
11

Paxton
Uma mão quente acaricia meu peito e estômago. Sorrindo, eu me empurro
de volta para o grande corpo que me envolve.
— Temos que nos levantar, Fuego. O dia vai ficar mais difícil se não o
fizermos.
Suspirando, meus olhos se abrem e me viro para encará-lo. — Você está
tentando me deixar de novo?
— Às vezes você tem que sair para poder voltar. Tenho que chegar até
Rodrigo antes que ele me alcance. É apenas uma questão de tempo até que
ele descubra onde estamos.
— Posso ir com você e ajudar — ofereço.
Balançando a cabeça, ele pressiona o nariz no meu. — Preciso de toda a
atenção dele em mim quando eu o enfrentar. Não estará se você estiver
comigo.
— Podemos desaparecer tão longe que ele não nos encontrará.
— Não vou deixar que ele tire mais nada da minha vida e prefiro não ter
que ficar olhando constantemente por cima do meu ombro. — Ele rola de
costas, colocando as mãos atrás da cabeça. Eu o soltei das amarras enquanto
ele estava dormindo. As marcas da fita permanecem em seus pulsos
implorando para serem em outros lugares de seu corpo.
— Não acha que isso vai acontecer se você matar Rodrigo?
O cobertor escorrega pelos quadris dele e ele se mexe na cama. Meus olhos
seguem os sulcos de seus músculos. Será que algum dia vou parar de querer
pular em seus ossos? Não me lembro de ter ficado tão excitado antes. Ele me
faz querer demais.
— Não, se ninguém souber que fui eu.
Sentando-me, encosto-me à cabeceira da cama. — Como você vai
encontrá-lo?
Jogando as cobertas para o lado, ele rola lentamente para fora da cama e
pega suas roupas na cadeira próxima. — Eu já fiz isso. Tive alguma ajuda de
um dos sócios de Isaiah. Carlos encontra pessoas para viver e ele é muito
bom nisso. Ele também conseguiu encontrar o namorado de merda da minha
irmã e os homens que originalmente levaram você.
Meus olhos piscam e me mexo na cama, posicionando-me de joelhos. —
Eles levaram Eddie também? — A culpa me atinge no estômago quando
percebo que mal pensei nele. Mas tudo isso foi culpa dele. Ele foi tão
descuidado.
Ele faz uma pausa. — O que quer dizer?
— Eddie é... era meu namorado e estávamos acampando antes... — Solto
um suspiro trêmulo. — Ele estava junto quando fui levado. A última coisa
que me lembro é de beber perto do fogo com quatro estranhos que ele
convidou.
Ele puxa a camisa sobre a cabeça e pega um envelope amarelo da mesa,
tirando um punhado de fotos. Sentando-se na cama, ele as espalha entre nós.
— Você reconhece algum desses homens?
Meus dedos percorrem cada imagem e param quando alcançam aquela
que mais se destaca para mim. Levando a mão à boca, meus músculos
travam. — Este é Eddie. Onde ele está? Ele está seguro?
Ezra desliza seus dedos sobre os meus e a julgar por seus olhos, a notícia
que ele está prestes a me dar não vai ser o que quero ouvir. Suas sobrancelhas
franzem. — Eddie é... ele não é quem você pensa. Aparentemente, ele faz
muito isso. — A mandíbula de Ezra se contrai. — Ele ganha a confiança de
caras e moças, leva-os para algum lugar com ele antes de fazê-los
desaparecer para sempre. Ele trabalha com uma quadrilha de tráfico sexual.
Meu estômago dá uma guinada e a raiva borbulha dentro do meu peito.
— Ele brincou comigo. — Claro que sim. Não importava o que eu fizesse
para impedi-lo de me machucar. Ele ainda encontrou uma maneira.
— Esses homens são bons no que fazem e podem enganar qualquer um.
— Ele se inclina para mim, alcançando meu rosto. — Não se preocupe. Ele
nunca mais enganará ninguém depois que eu o pegar.
— Os outros homens e a garota... ele os conhecia, não é? — Uma memória
aleatória volta para mim do dia em que surpreendi Eddie em seu
apartamento. Um homem estava lá com ele. Ele disse que era primo dele e
só estava lá para comprar alguns videogames. Seus olhos cinzentos
assombraram os meus naquele dia da mesma forma que fizeram através da
fogueira. Porra.
— Sim. Aparentemente, trabalham em grupos quando coletam alguém.
Especialmente se acham que a vítima pode causar problemas.
Meus olhos queimam na foto do meu namorado falso e rasgo a foto entre
meus dedos. — Quero fazer isso.
Os olhos de Ezra se estreitam. — Fazer o quê?
— Ser o único a matá-lo. Quero ser o último rosto que ele vê antes de dar
seu último suspiro.
Sua mandíbula se contrai. — Não sei...
— Preciso que você me dê isso, Ezra. Por favor. Vou ficar para trás quando
você derrubar todos os outros, mas ele é meu. Prometa-me.
Os lábios de Ezra se franzem e, a julgar pelo olhar em seus olhos, ele sabe
que isso é algo que não vou desistir. Ele enfia uma mecha de cabelo atrás da
minha orelha e um canto de seus lábios se inclina. — Tudo bem, Fuego.
Amanhã você virá comigo para fazer uma visita a Eddie em sua casa no
campo, mas hoje vou deixá-lo de volta no santuário e você ficará lá.
Os pedaços rasgados da imagem se esmagam entre meus dedos. — Ok.
Ezra recolhe todas as fotos e qualquer outra coisa que tenha espalhada
pela sala. Visto as roupas com que vim para cá e tomamos café da manhã no
caminho de volta para o lugar de onde escapei ontem à noite.
Dirigindo até o portão, Ezra agarra minha mão e beija o interior da minha
palma antes de mover seus lábios para meus dedos. — É apenas um dia.
— Eu sei. — Minha voz sai tão irreconhecível quanto os sentimentos
girando dentro de mim. — Quero imagens.
Os cantos de seus olhos se enrugam, fazendo-o parecer mais velho.
— Quando você os matar, quero fotos deles na mesma pose em que
estavam nas fotos que você tinha na cama esta manhã, exceto que eles não
estarão mais respirando. — É a única maneira de ter certeza de que eles
realmente se foram. Quando fecho os olhos à noite, em vez de vê-los rindo e
sorrindo, quero vê-los sem vida. Uma vez que eu tenha seus rostos mortos
enterrados em minha memória, eles também não serão capazes de me
machucar em meus sonhos.
Ele fica quieto por muito tempo e olha para nossas mãos antes de
encontrar meus olhos novamente. — Se é isso que você quer, então é isso que
vai ter.
O portão se abre e Trenton caminha em nossa direção, balançando a
cabeça. — Você está de volta. Realmente estará aqui para ficar desta vez?
Soltando uma respiração gaguejante, aceno. — Sim.
Ezra sorri para mim e entra na propriedade. Ele me acompanha até meu
quarto novamente e desta vez não precisamos de ninguém para nos mostrar
para onde ir. Antes de ele sair, nos beijamos e é breve, como um marido faz
com a esposa antes de sair para o trabalho. Mais um pouco e parecerá um
adeus em vez de um até logo.
Observá-lo caminhar pelo longo e estreito corredor deixa um vazio dentro
de mim que não consigo explicar. É estúpido. Patético.
Estou sozinho há tanto tempo. Não importava quantas pessoas me
cercavam antes. Elas não me viram, então eu também não as vi.
Depois de andar pelo meu quarto pelo que pareceram horas, Trenton se
oferece para me levar a algum lugar para que eu possa fazer uma ligação. Eu
não me importava muito com o cara, mas Josh ainda tinha o direito de saber
que seu filho estava vivo e não morto em algum lugar.
Chegamos a um posto de gasolina e eu saio, caminhando até a calçada.
Encostado na parede, respiro o ar fresco do dia e disco o número do meu pai
no telefone descartável que ganhei de Isaiah.
— Olá? — Meu pai responde parecendo perdido e esperançoso ao mesmo
tempo.
— Pai? — Nunca me dirigi a ele assim antes, mas por algum motivo parece
importante fazê-lo agora.
Sua respiração treme. — Paxton?
— Sim, sou eu. Estou ligando para avisar que estou vivo.
Ele suspira de alívio e posso ouvi-lo se arrastando. — Ah, graças a Deus.
Estou morrendo de preocupação. Você está bem? Precisa que eu vá buscá-
lo? Qualquer que seja o problema em que você esteja...
— Estou bem. Atualmente estou ficando em um lugar seguro. Devo estar
em casa logo. Não precisa se preocupar comigo.
— Não entendo, Pax. O que aconteceu? Quando você não voltou para casa
para jantar, pensei o pior. Tentei ligar para Eddie para ver se ele tinha
notícias suas e o número dele estava desativado.
Meus dentes rangem juntos. Não preciso de mais lembretes do idiota que
fui. — Se você vir Eddie, fique longe dele. Ele não é uma boa pessoa.
Ele engole. — Ele te machucou?
— Vou te contar tudo o que quer saber quando eu chegar em casa,
prometo. Cuide-se, ok?
— Pax, o que... — Suas palavras são interrompidas quando desligo o
telefone. Ando em direção ao carro e Trenton me faz largar o telefone na
grande lata de lixo antes de eu entrar. — Melhor prevenir do que remediar.
— Ele joga a cinza do cigarro do lado de fora da janela enquanto fala.
Trenton e eu ficamos quietos durante a curta viagem e eu abaixo a janela
para dar um tempo da fumaça. Quando ele puxa o portão, minha
curiosidade leva o melhor de mim. — Você foi resgatado também? — Nem
todos aqui foram e alguns são voluntários ou profissionais que já
trabalharam com vítimas de trauma antes. Trenton não é tão fácil de
entender quanto os outros.
Seus dedos apertam o volante e seu olhar não muda para mim. — Sim.
Ouvi dizer que você nunca chegou ao seu destino. — Ele pisca algumas
vezes antes de finalmente encontrar meus olhos. — Você é um dos sortudos.
Minhas unhas cavam em minha coxa e fico quieto, olho para a frente da
casa. Eu com certeza não me sinto assim.
12

Ezra
As duas primeiras pessoas envolvidas no sequestro de Paxton estavam
juntas na cama, meio desmaiadas por causa das drogas e do álcool. Eles já
estão se matando lentamente e quero ajudar a acelerar o processo. A porta
do trailer estava meio aberta quando entrei, depois de esvaziar o carro deles
da maior parte da gasolina. A garota, vestindo apenas um roupão branco de
seda, estava com os olhos parcialmente abertos. Ela continua chamando pelo
nome de outra pessoa e quem presumo que seja seu namorado ou parceiro
de transa está deitado ao seu lado, longe, na terra dos sonhos.
Nunca me considerei um assassino. Nem mesmo depois da primeira vez
que tirei a vida de alguém. É difícil me ver como um agora, quando todas
essas pessoas merecem morrer. Eles são carrapatos se alimentando da vida
dos outros e merecem ser esmagados debaixo do meu sapato.
Deslizando minhas luvas, levanto a primeira em meus braços e a carrego
para o banco de trás do carro. Ela geme e estende a mão para mim quando
me afasto. Batendo a porta, volto para buscar o namorado dela e ele é muito
mais difícil de chegar ao carro do que ela. Ele é mais pesado e peso morto.
Verifico seu pulso para garantir que ele ainda está vivo com o quão sem vida
ele parece estar. Infelizmente ele ainda está vivo. Não por muito tempo.
Abrindo a porta traseira, eu o deito no banco antes de entrar no lado do
motorista. Estacionei o carro em algum lugar entre aqui e os trilhos do trem,
andando 16 quilômetros. Era uma noite agradável para uma caminhada,
seria uma pena desperdiçá-la.
A garota se mexe algumas vezes sob o cinto de segurança e me encara com
olhos brilhantes. — Você é meu novo amigo — diz ela.
Assentindo, meus dedos se movendo rapidamente dirigindo para fora do
estacionamento e dirijo para a estrada. — Sim, eu sou, e estou levando você
em uma pequena viagem.
Ela sorri, seus olhos lutando para permanecer abertos. — Amo viagens.
— Viagens de acampamento especialmente, hein?
Ela não responde, sua cabeça rolando para frente e para trás contra o
assento. Chegamos aos trilhos e estaciono bem em cima deles, de frente para
o carro em direção à estrada de terra. O céu está mais escuro do que antes e
as estrelas estão aparecendo lentamente como uma pitada de sal. O vento
aumentou e sopra a porta contra mim enquanto tento abri-la com um chute.
O frio do ar belisca minhas bochechas enquanto pego minha bolsa no porta-
malas. Não preciso sugar o resto de sua gasolina ou drogá-los depois de
tudo. Um guincho alto vem de longe, e me apresso e coloco o cara no lado
do motorista antes de fechar a porta.
Um apito soa e saio correndo, correndo em direção a um grupo de árvores.
De pé contra a casca, não saio até garantir que o trabalho esteja concluído. O
trem se aproxima devagar, buzinando e as rodas raspando nos trilhos.
Nenhum movimento ou grito vem do vagão quando o trem passa por isso.
Os únicos sons que preenchem o ar são o barulho alto do metal sendo
esmagado. As rodas do trem guincham sobre os trilhos, deixando para trás
faíscas enquanto ele segue sem conseguir frear.
Esperando o trem sumir de vista, corro em direção ao acidente e enfio as
luvas em um saco plástico antes de tirar a câmera do bolso da minha jaqueta.
Debaixo do metal amassado e dobrado estão os dois corpos que coloquei lá
dentro, esmagados entre os escombros. O sangue está por toda parte e o que
foi abandonado não se parece em nada com pessoas. Tiro as fotos mesmo
assim. O rosto do cara mal está no lugar, sua cabeça está rachada entre o
assento e o painel. A garota não está em melhor estado, os ossos de seu rosto
estão completamente quebrados, deixando sua pele solta.
Tirando mais uma foto, meu estômago se revira de desgosto e não acredito
que estou fazendo isso, mas, pensando bem, provavelmente queimaria todos
os amigos deles também se ele me pedisse.
Sentindo náuseas, volto para o meu carro com o plano de enterrar minhas
luvas bem longe daqui. Não deveria ser tão bom tirar uma vida, mas por
dentro estou me sentindo novo e renascido. Não por matar duas pessoas,
mas por impedi-las de causar danos a outras e puni-las por todas as vidas
que roubaram. Eles deixaram famílias para trás se perguntando quando seu
irmão, filha, namorado ou namorada voltariam para casa. Eles fizeram isso
tão facilmente, sem pensar duas vezes. Se eles tivessem algum tipo de
arrependimento, eles não teriam continuado fazendo isso.
Quando chego ao meu carro, o ar está mais gelado. Jogando minha bolsa
no banco de trás, subo na frente e sigo para o meu próximo destino. Os
próximos dois caras também moram juntos em uma casa no campo, não
muito longe de Eddie. Espero que ambos estejam lá quando eu aparecer.
O carro zumbe quando ligo o motor e estou dirigindo por uma estrada
vicinal passando por plantações e cercas com gado. Pego meu telefone
descartável, ligo para o que deixei com Paxton e vai direto para o correio de
voz. Odeio não saber se ele está bem ou não, mas desligar o telefone é
provavelmente uma escolha mais inteligente.
Chegando ao meu destino, dirijo por um longo caminho de terra enquanto
olho ao redor. Apenas algumas casas estão espalhadas ao longo da estrada,
tão distantes que é difícil chamá-las de vizinhas. O silêncio ainda me faz
parar quando saio do carro. Não há barulho de grilos e o vento se acalmou
em relação à antes.
Continue. Eles o machucaram.
Uma voz familiar no fundo da minha cabeça é tão alta que é quase como
se as palavras estivessem martelando em meu crânio. Fazia tempo que não
ouvia e esperava que tivesse sumido de vez. Só é perceptível sempre que a
hesitação toma conta.
Deslizando meus sapatos contra a terra, ando para frente e percebo que
uma luz está acesa na casa. Alguém definitivamente está em casa, mas
nenhum carro está visível do lado de fora. Pego uma das seringas que
encontrei na bolsa que Isaiah me deu, fechando meus dedos em torno dela
quando a porta da frente se abre.
— Sim, sim, eu sei, idiota — o ruivo grita de volta para a casa. Eu me
escondo na lateral da casa, espiando enquanto ele desce correndo os degraus
da varanda da frente carregando um grande saco de lixo. Assobiando, o
homem se aproxima da frente da garagem, onde estão duas latas de lixo.
Afastando-me para fora do painel lateral, corro em direção a ele e enfio a
agulha em seu pescoço enquanto ele se vira para me encarar com os olhos
arregalados.
— Que porra é essa? — Ele pergunta, ficando mole contra mim. Seus olhos
rolam na parte de trás de sua cabeça e eu o coloco no chão. Recolho a agulha,
enfio-a em um saco plástico do bolso e entro.
— Drae, é você? É melhor voltar para lavar todos os pratos que deixou na
pia. Eu já disse...
O homem saindo de uma sala congela no lugar quando seus olhos
encontram os meus. — Quem diabos é você?
— Um amigo de Drae — digo, brincando enquanto ando.
Suas sobrancelhas se erguem. — Ele não disse que estávamos tendo
companhia e você definitivamente valeria a pena mencionar. — Ele me
avalia. Arrepios percorrem pela minha espinha e é difícil não me encolher.
— Ele queria fazer uma surpresa para você. Nós nos conhecemos alguns
dias atrás online e ele me disse para vir hoje à noite. Encontrei com ele lá fora
e ele disse para entrar.
— Então, você tem um nome ou devo chamá-lo de cara online sexy? — Ele
inclina a cabeça, sorrindo.
Oh, isso é fácil demais. Eu estava preocupado em ter que brigar com o cara
por um tempo ou pelo menos persegui-lo pela casa. Ele está muito ocupado
pensando com seu pau para me imaginar aqui para outra coisa que não seja
transar com ele e seu namorado.
— Reggie.
Com um sorriso largo, ele se aproxima e brinca com a barra da minha
camisa. — Veja, agora sei que nome gritar mais tarde.
— Sim. — Agarrando-o pela cintura, eu o arrasto para o meu corpo e meus
lábios traçam o ponto de pulsação em seu pescoço. Cada parte de mim está
tensa por dentro e engulo a inquietação subindo pela minha garganta.
Ele estremece. — Você não perde tempo, não é, Reg? — Ele lambe a parte
externa da minha orelha e, em vez de responder com palavras, enfio a outra
agulha em seu pescoço. Ele treme contra mim, olhando para mim com olhos
assustados. — Que porra você fez?
— Você vai dormir agora. Assim como seu namorado e seus amigos.
Suas mãos me empurram algumas vezes antes de cair contra mim.
Jogando seu corpo ágil sobre meu ombro, eu o carrego até a garagem, me
animando ao ver um Toyota preto estacionado lá dentro. Eu o coloco no lado
do motorista antes de abrir a garagem e receber o ar fresco que circula.
Drae ainda está deitado de costas no concreto e arrasto seu corpo em
direção ao carro. Abrindo a porta do passageiro, eu o levanto até a metade
do chão, deslizando seu traseiro para o assento. As chaves já estão na
ignição. Rindo, sacudo a cabeça e as uso para ligar o carro. O motor ganha
vida e fecho a porta antes de ir para a parte de trás da garagem.
A porta da garagem treme ao descer e pego alguns panos que encontro,
usando até uma camiseta suja. Agachado, eu os enfio no escapamento para
que a fumaça do carro não tenha por onde sair.
Respirando com mais facilidade do que antes, tiro uma foto rápida e me
despeço dos meus amigos que estavam dormindo antes de sair pela porta da
frente da casa. O ar é leve e refrescante enquanto caminho até meu carro.
Entro no carro, cantarolando a mesma música que ouvi um dos caras
assobiar. É muito mais cativante do que eu gostaria de admitir. Ao ligar o
carro, rolo meu aplicativo de música. Toco "Pocket Full of Sunshine" bem
alto, cantando a letra ao sair da garagem.
A poeira se levanta por trás do meu carro enquanto acelero pela estrada,
indo para uma das boates de Rodrigo. O estacionamento está cheio e procuro
por aquele que deixou Rodrigo na frente no início da tarde. Meu coração
acelera no peito à medida que mais pessoas entram na boate. Não posso
matá-lo aqui, como planejado. Tem de ser em outro lugar.
Com meu estômago revirando em antecipação, procuro a área por um
carro esportivo vermelho e estacionou atrás dele. É o mesmo que vi Rodrigo
dirigir mais de uma vez. Assim que o estacionamento está livre de pessoas,
coloco um par de luvas e arrombo a fechadura. Um som estridente vem do
carro e eu rapidamente deslizo para desligar o alarme antes que alguém
dentro ouça. Pegando o que eu preciso da minha bolsa, escorrego no banco
de trás e me escondo o melhor que posso atrás do banco do motorista. Meu
capuz se enrola sobre minha cabeça com um puxão da minha mão e isso me
ajuda a me misturar melhor com a escuridão.
Rodrigo conversa com algumas pessoas antes de finalmente entrar no
carro. Pressionando um botão em seu chaveiro, ele abre as portas e desliza
para trás do volante. Olhando pelo espelho retrovisor, ele liga o carro e antes
que ele possa se afastar, pego a corda no meu colo e coloco em seu pescoço.
Ele luta contra mim, agarrando minhas mãos e olhando para frente com
os olhos esbugalhados. As pessoas saem de seus carros e riem ao nosso
redor, sem olhar uma única vez em nossa direção. A ruína de ter vidros
escurecidos. Rindo, aperto mais forte e seus braços caem ao lado dele. Seu
rosto empalidece e ele solta algumas respirações estranguladas antes de
finalmente cair contra o assento. Sua boca está aberta e seus olhos estão mais
vazios do que antes.
Largando a corda no assento ao lado dele, tiro uma foto e espero até que
o estacionamento esteja praticamente livre de corpos em movimento antes
de sair e caminhar de volta para o meu carro. Tirando minhas luvas, eu as
enfio em um saco plástico para enterrar no meu caminho de volta para a
cabana. Não me importo mais com as repercussões. Eu poderia acabar na
prisão por isso se apenas uma pessoa me visse. Ainda será melhor do que
permitir que alguém tão vil como Rodrigo respire o mesmo ar que todo
mundo.
Ele nunca mais machucará ou ameaçará outra família. Em breve, Eddie
também não. Ou devo dizer Ricky Mendoza, ex-namorado da minha irmã.
Não contei a Paxton quem ele era porque não é da minha conta discutir e
prefiro nunca mais misturar o nome da minha irmã com aquele idiota.
Olhando para a foto dele depois de retirá-la do envelope que Carlos me
deixou nos degraus da frente da cabana, meu sangue gelou e eu nunca quis
mais do que arrancar os olhos do crânio de alguém. Não, não sou uma boa
pessoa. Só porque pessoas como meu pai, Rodrigo e Ricky continuam a
trazer à tona o monstro sem coração que existe em mim.
Originalmente eu tinha planejado acabar com a vida de Ricky, mas depois
de ver a dor que ele deixou nos olhos de Paxton, eu sabia que ele só ficaria
tranquilo se fosse ele quem o fizesse. Então, vou ficar atrás dele e observar à
distância enquanto ele mata o homem que não apenas ameaçou destruir
minha vida, mas também tentou tirar a dele e vou aproveitar cada minuto
disso.
13

Paxton
Uma mão forte me sacode para acordar. Eu me viro e olho para cima para
encontrar os olhos cor de mel de Ezra olhando para mim. — Bom dia, Fuego.
— Ele está sentado na beira da cama, acariciando as linhas de sono na minha
bochecha.
— Você voltou — digo, sorrindo para ele enquanto luto contra um bocejo.
Meu coração dá um pulo estúpido ao saber que ele cumpriu sua promessa.
O que virá a seguir, desenhar corações dentro de um caderno com nossas
iniciais dentro? Controle-se, P.
Ele ri e beija minha testa. — Voltei e posso dizer que alguém ficou
acordado a maior parte da noite se preocupando em vez de dormir.
Ele não tem ideia de como meu cérebro fica ruim quando não consigo
desligá-lo. Como um coelho com esteroides. Esfregando os olhos, sento-me
e uso a parede para me firmar. — Não foi fácil acalmar minha cabeça.
Eventualmente, a exaustão venceu os pensamentos girando.
— Bem, você pode tirar uma soneca depois de cuidarmos de Eddie. Tenho
certeza de que ele está em casa agora e provavelmente desmaiou por causa
da festa na noite anterior. — Ele tem um brilho nos olhos quando termina de
falar.
— Você o viu ontem à noite?
Assentindo, ele se levanta da cama. — Ele estava em algum bar decadente
não muito longe de onde ele mora. Eu o segui depois que ele deixou o
emprego em uma loja de conveniência, e ele passou horas lá antes de voltar
para o carro.
— Ele nunca foi bom em lidar com a bebida e era praticamente inútil
depois de uma noite de bebedeira — digo, cuspindo minhas últimas
palavras. E se tudo isso também fosse uma encenação? Mais de suas
mentiras continuam a se revelar e me pergunto se esta também irá.
— Bom. — Ele se levanta mais ereto, a confiança deixando um sorriso
maior em seu rosto. — Vamos dar uma passada por lá e dizer olá, então?
— Podemos passar em uma loja primeiro?
Ele inclina a cabeça. — Com fome? Tenho alguns tacos de café da manhã
esperando por você no carro, se for o caso.
Balançando a cabeça, tiro as cobertas de cima de mim e me arrasto para a
beirada da cama. — Preciso pegar um saco de dormir, uma barraca e um
pouco de fluido de isqueiro.
— Para quê? — Suas sobrancelhas franzem e ele balança na ponta dos pés.
— Nós vamos acampar hoje — digo, radiante. A melhor maneira de
remover uma memória ruim da sua cabeça é substituí-la por uma melhor.
Foi o que meu irmão me ensinou e está comigo desde então.
— Quem? — Ele cruza os braços, olhando para mim como se eu fosse
louco e neste momento eu só poderia ser. Raiva e ódio farão isso com uma
pessoa. Isso substituirá todos os lugares macios por bordas afiadas e
onduladas, deixando um pouco para trás mesmo depois de passar o tempo.
— Você, eu e Eddie. — Com um sorriso largo, levanto-me e pego sua mão
na minha. — Não estou mais com medo de ir e desta vez o único que estará
fora de seu elemento é Eddie. — Respirando fundo, passo minha língua
sobre meus lábios secos. — Não importa para onde vamos. Enquanto você
estiver junto, estarei em casa.
Esfregando o nariz no meu, ele pressiona um beijo casto em meus lábios e
sem me questionar mais ele diz: — Bem, vamos acampar então. Forneço os
fósforos.
Trenton nos olha com curiosidade enquanto caminhamos pelo corredor
de mãos dadas. — Obrigado novamente por tudo — digo a ele quando
saímos do prédio. Tenho a estranha sensação de que o verei novamente
algum dia.
— Ainda bem? — Ezra aperta meu ombro, saindo da calçada.
— Sim. Vamos acabar com isso para que você possa me levar para sair no
Dia dos Namorados. — Achei que poderíamos fazer uma coisa normal hoje.
Jogando a cabeça para trás, ele solta uma gargalhada e entra no carro. Sigo
atrás dele e encho a cara com a comida que ele comprou para mim enquanto
ele dirige até a loja mais próxima.
Engulo a última mordida do meu taco enquanto saímos do carro e
entramos no Wally World. Não demora muito para cruzar os corredores e
jogar tudo o que precisamos na cesta. Eu, claro, adiciono alguns lanches e
bebidas para a viagem. Ezra balança a cabeça, revirando os olhos para mim
quando jogo uma garrafa gigante de lubrificante.
— Não acho que isso estava na sua lista muito curta que me deu antes.
Bufando, meus lábios torcem. — Está sempre na lista.
Rindo, ele me empurra em direção ao caixa. — Vamos, Fuego. Quanto mais
cedo acabarmos com isso, mais cedo poderei beber e jantar com você.
— Essa não é a palavra que eu esperava que você dissesse. — Bato meus
cílios para ele e ele dá um tapa na minha bunda, forte. Por sorte, a caixa está
ocupada demais limpando o scanner para prestar atenção em nós.
Ezra paga enquanto pego as sacolas e voltamos correndo para o carro.
Batendo os dedos nos joelhos, fico inquieto nos primeiros cinco minutos de
volta à estrada.
— O que há de errado? Você tem formigas em sua calça ou algo assim?
Por que não consegue ficar parado?
Dando de ombros, minhas palmas pressionam com força em minhas
pernas. — Não sei. Às vezes fico assim e não consigo me acalmar.
Ele olha para mim e depois de volta para a estrada. — Posso fazer alguma
coisa para ajudar? Tocar uma música calmante? Amarrá-lo novamente? —
Ele sorri.
— Você pode continuar dirigindo e se preocupar para onde estamos indo.
— Um de nós pelo menos precisa ter a cabeça no lugar e não serei eu no
momento.
“Segure minha mão” meu irmão costumava dizer. “Podemos resolver as
loucuras juntos.” Ele me puxava da cadeira e me forçava a fazer alguns
movimentos de dança malucos que ele criou para ajudar minha inquietação.
Eles funcionavam quase todas as vezes.
— É difícil de fazer quando você está fazendo tanto barulho e
chacoalhando o carro inteiro — diz Ezra incisivamente.
— Bem, não posso andar enquanto você dirige. — Caminhar é como lido
com isso agora, sempre que não estou com vontade de dançar sozinho. É
difícil na maioria dos dias fazer coisas que meu irmão e eu só fizemos juntos.
Elas não pertenciam a ele ou a mim. Elas nos pertenciam. Também não estou
pronto para compartilhar nada com Ezra.
O carro para e seus dedos envolvem minha mão, ajustando minha
frequência cardíaca o suficiente para que eu respire fundo algumas vezes. —
Que tal você esticar um pouco as pernas comigo agora? — Ele aponta para a
pequena casa bege em frente à qual está estacionado.
Lambendo meus lábios, aceno enquanto saímos do carro e subimos o curto
caminho gramado para a casa de Eddie. Uma caminhonete preta está
estacionada em frente à garagem e a varanda da frente está coberta de vasos
de plantas. Eddie nunca me trouxe aqui antes. Duvido que o endereço que
ele me deu seja dele.
— Você vê aquilo? Sem olho mágico. As pessoas são muito confiantes no
campo. — Ezra chuta algumas plantas para fora do nosso caminho, fazendo
com que um dos vasos caia no chão.
Nenhuma das respirações profundas que tomo vai me preparar para como
tudo vai acontecer nas próximas horas, então é melhor salvá-las. Envolvendo
seus dedos nos meus, Ezra beija as costas da minha mão enquanto usa a
outra para bater na porta vermelha. Antes que os nós dos dedos possam
entrar em contato com a madeira novamente, a maçaneta gira e Eddie fica
do outro lado com as pálpebras pesadas. — Sim? — Ele pergunta, antes de
erguer os olhos da lata de cerveja em sua mão. Seu olhar se move entre nós,
a compreensão surgindo em seus olhos azuis claros, e enquanto ele tenta
fechar a porta, Ezra enfia o sapato na pequena abertura e a abre.
— Olá, novamente, Ricky — diz Ezra. Ele me entrega um par de luvas
antes de agarrar Eddie ou Ricky, qualquer que seja o nome desse merda, pelo
pescoço. — Hora de fazer uma pequena viagem com a gente, certo?
A lata faz um som de trituração entre os dedos de Ricky e atinge o chão
com um baque alto, espalhando cerveja por toda parte. Ele chuta e engasga
quando Ezra o levanta mais alto. — Não se preocupe, nós mesmos levaremos
você até o carro.
Ezra puxa o corpo de Ricky para o porta-malas do carro. Seus chutes e
gritos não importam porque não há outro veículo ou pessoa por
quilômetros. Amarrar os membros e amordaçar a boca o ajuda a se acalmar
um pouco. Não queremos que ele bata e grite lá atrás enquanto estamos na
estrada. O acampamento mais próximo fica a quarenta minutos. Talvez Ezra
e eu também possamos passar uma noite juntos sob as estrelas. Por mais que
meu irmão aprecie o lado romântico disso, posso finalmente dizer que, nos
últimos dias, tenho vivido por mim. O cinto de segurança esfrega meu
pescoço em carne viva quando me movo contra a porta.
— Você está impaciente de novo. Ainda temos mais quinze minutos até
chegarmos lá.
— Você sempre pode me ajudar a relaxar. — Bato meus cílios, abrindo o
zíper da frente do meu jeans.
Ele se aproxima de mim, lambendo os lábios. — Você está tentando me
distrair da estrada?
— Já estou fazendo isso com todo o meu comportamento, não estou?
Ele encolhe os ombros, ajustando-se em seu jeans. — E esta é a sua
solução? Fazer um show para mim. — Ele aponta para o meu pau duro
saindo da minha cueca.
— Não. Quero que brinque comigo. — Abro minhas coxas, levantando o
cinto de segurança mais alto no meu estômago. — Ajude-me a me acalmar
antes de chegarmos lá. Você quer que eu faça isso com a cabeça limpa, não
é?
Seus olhos escurecem e sua mão se move lentamente para o meu colo. —
Tudo o que precisar, você terá, Fuego. Sempre.
Envolvendo seus dedos em torno do meu eixo, ele puxa e puxa meu pau
algumas vezes antes de mudar para golpes suaves. Minhas pernas se
separam mais e fecho meus olhos enquanto resisto meus quadris. A aspereza
de sua palma roça o centro do meu eixo e a sensação envia ondas de prazer
em meu estômago. O calor sobe pelo meu corpo e ele esfrega meu pré-sêmen
na cabeça com o polegar, fazendo com que minha respiração gagueje.
É muito e pouco ao mesmo tempo. Mal posso esperar para tê-lo dentro de
mim novamente. Se ao menos eu pudesse permitir que ele me tocasse
quando estivesse dentro de mim. Por mais que eu queira, o pensamento
ainda me apavora. Ele também. Eu não achava que tinha que me preocupar
em perder alguém de novo até que ele me mostrou o contrário.
Minhas coxas tremem quando ele aumenta a velocidade de sua mão.
Dedos longos e quentes rolam sobre meus nervos sensíveis e eu me inclino
para a frente para perseguir tudo o que eles têm a oferecer.
— Porra, ahhh. — Meus dedos se agarram à maçaneta da porta e gozo no
momento em que chegamos ao acampamento, na área gratuita, primeiro a
chegar, primeiro a ser servido.
— Melhor? — Ele pergunta, antes de lamber minha liberação de seus
dedos.
Juntando o resto do meu sêmen do meu estômago, eu o enfio entre seus
lábios fechados e ele sufoca uma risada de surpresa.
Rindo, coloco-me de volta na minha cueca e fecho minha calça. — Estou
agora.
Inclinando-se sobre mim, ele esfrega sua boca contra a minha e eu o afasto.
Ele se afasta com um sorriso espertinho. — Eu também.
Minha mão bate em seu ombro antes de eu sair do carro. Enquanto ele
pega Ricky no porta-malas, monto a barraca. Galhos se quebram entre o
corpo de Ricky quando Ezra o joga no chão e ele murmura contra a mordaça.
— Oh, você acha que está fazendo barulho agora. É só esperar. Isso deve
ensinar outras pessoas a não dormirem muito perto de uma fogueira
enquanto bebem.
Os olhos de Ricky ficam grandes como pires e o estômago de Ezra se agita
de tanto rir. Termino de fixar os postes e as estacas no chão enquanto Ezra
derrama um pouco de fluido de isqueiro sobre a madeira para que o fogo
comece mais rápido. As chamas tremulam sob suas mãos, aumentando à
medida que ele acrescenta mais madeira.
Voltando ao porta-malas, pego o saco de dormir e o fecho em volta do
corpo agitado de Ricky. — Não se preocupe, você irá gritar e queimar sob as
estrelas esta noite.
Ricky balança a cabeça e enfio o pé com força em seu estômago. — É
melhor do que você merece se me perguntar. Pessoas como você nunca
deveriam ter nascido para começar. — A frente do meu tênis o atinge na
lateral. — Era apenas uma questão de tempo até que suas próprias más
decisões voltassem para morder seu traseiro. Pode me chamar de carma do
dia, e eu realmente posso ser uma grande vadia.
Ezra balança a cabeça, colocando as mãos nos quadris. — Você já terminou
de ter longas conversas com o homem que deveríamos estar matando? Fiz
reservas para o jantar para as sete da noite, você sabe.
Acenando com a mão para ele, meus dedos agarram o topo do saco de
dormir e eu o arrasto para dentro da barraca. Saindo, eu fecho a frente depois
que Ezra joga algumas pequenas garrafas de bebida abertas dentro. Ele usa
outra para borrifar vodca na grama morta entre a barraca e a fogueira.
— Preparado? — Ele caminha em direção ao carro, olhando para mim.
— Quase. — Puxo um pedaço de papel do bolso de trás e acendo usando
o fogo já aceso antes de jogá-lo entre a fogueira e a barraca. — Uau. —
Pressiono minha mão na minha boca. Entramos no carro e partimos assim
que o fogo atinge a barraca.
— Se ao menos pudéssemos ficar e assistir. — Franzo a testa em direção à
janela, pressionando minha mão no vidro.
— Nem sempre se pode ter tudo.
Puxando-o pela gola da camisa, quase o faço bater em uma árvore quando
arrasto seus lábios nos meus, reivindicando sua boca com minha língua. Os
pneus cantam quando ele pisa no freio e enfia os dedos no meu cabelo,
aprofundando o beijo. Afastando-me lentamente, escovo meus lábios
entreabertos nos dele, respirando pesadamente enquanto observo a barraca
pegar fogo pelo espelho lateral. — Peço desculpa, mas não concordo.
Seus olhos iluminam meu caminho e ele começa a dirigir novamente,
enfiando a mão entre minhas pernas possessivamente. Apesar de ter gozado
recentemente, meu pau percebe e minha calça fica apertada.
— Você estava falando sério sobre fazer reservas para o jantar esta noite?
O lado esquerdo de seus lábios se inclina. — Sim. Vamos voltar para a
cabana e vou espalhar sua bunda na cama e festejar com você até que esteja
gritando e tremendo embaixo de mim.
14

Paxton
A língua de Ezra mergulha dentro e fora do meu buraco enquanto ele
espalha minhas nádegas mais afastadas, erguendo-as o máximo que pode
com os dedos enquanto ele lambe dentro de mim. Apertando os lençóis entre
as palmas das mãos, empurro contra ele. Ele gira e gira, indo o mais fundo
que pode enquanto adiciona um dedo. Meus gritos são mudos contra o
travesseiro e eu me mexo debaixo dele enquanto ele aumenta seus impulsos.
— Mmm. — Viro minha cabeça para nos observar no espelho do armário.
Meus olhos estão selvagens e sou uma bagunça tremendo. O rosto de Ezra
descansando entre minhas nádegas faz meu pau estremecer e minha ponta
pingar nos lençóis embaixo de mim. Meus olhos se fecham enquanto sua
língua esfrega mais forte sobre minha carne maltratada. Fiquei dolorido a
manhã toda depois de montar em seu pau ontem à noite na varanda da
frente. Prendi seus pulsos no corrimão de madeira e o usei até meu corpo
tremer com vida.
Puxando o dedo, ele brinca ao redor da minha borda um pouco mais com
a língua, traçando minha entrada externa com a ponta. Arqueio minhas
costas quando ele mergulha de volta para dentro, me dando algumas
lambidas, entrando e saindo de mim rapidamente. Engolindo um grito, eu
me debato contra o lençol enquanto ele enfia dois dedos em mim. Ele os torce
e enrola contra o meu ponto ideal. Juro que estou vendo estrelas. A pressão
aumenta na boca do estômago e o calor surge dentro de mim enquanto
encharco o lençol com meu esperma.
Ezra não para de foder dentro e fora de mim até que eu esteja tão excitado
que perco todas as sensações em meus membros.
— Olhe para você, Fuego. Você é tão lindo quando está fodido embaixo de
mim.
Sorrindo preguiçosamente, estico meus braços e pernas. Minha cabeça
está girando e tudo parece tão pesado. Meu cérebro está muito esgotado para
eu formar palavras, então não faço nada além de sons ininteligíveis.
Sua risada é leve e ele soa tão livre. Sua mão quente esfrega minhas costas
para cima e para baixo. — Preciso fazer uma ligação telefônica e ver se
consigo encontrar uma maneira de entrar em contato com minha família. É
quase impossível entrar em contato com elas se ainda estiverem no
esconderijo. Eu disse a elas que não usassem nenhum telefone enquanto
estivessem lá e que deixassem os delas em casa.
Levantando-me em meu cotovelo, olho para trás para ele. — Você sabe o
endereço delas? Podemos parar e ver se estão lá.
Balançando a cabeça, ele olha ao redor do quarto, seus olhos cheios de
incerteza. — Eu provavelmente deveria ir sozinho. Você fica aqui e descansa
enquanto dirijo até a casa. É uma hora de distância de onde estamos. A
viagem pode ser demais para você agora.
Arrastando-me para a frente, uso a cabeceira da cama para me erguer até
a posição sentada. A julgar pela maneira como ele não consegue me olhar
nos olhos, sei que ele não está dizendo toda a verdade. — Você não quer que
eu vá com você. Apenas diga.
Mordendo o lábio inferior, ele avança e agarra minha mão. — Não é isso,
bebê. Não tem nada a ver com você, juro. Isso é algo que preciso fazer
sozinho. Preciso de você aqui me esperando caso as coisas deem errado. Me
entiendes? Entendeu?
— Sim. — Sorrindo suavemente, aperto sua mão, pressionando meus
outros dedos contra os lençóis frios. — Estarei aqui. Prometo.
— Ótimo. Tome um banho e se vista para mim quando eu voltar. — Ele
pressiona um beijo no meu nariz antes de se levantar da cama. O piso de
madeira range sob seus pés enquanto ele caminha para o banheiro. O
chuveiro é ligado, a água espirra com força contra a banheira. Em vez de
esperar que ele saia, saio da cama e me junto a ele. Mergulhando a cabeça na
água morna, ele descansa as palmas das mãos no azulejo e envolvo meus
braços em torno dele, colocando meu rosto em suas costas.
Quero absorver o máximo dele que eu puder, então vou permanecer de
castigo enquanto ele estiver fora. Ficamos assim até a água esfriar. Ele
desliga a água quando meus dentes batem e rapidamente pega uma toalha
do armário próximo. Envolvendo-a em volta de mim, ele me segura por
alguns minutos, balançando nossos corpos para frente e para trás. — Quero
levá-lo para um encontro de verdade quando eu voltar. Vai me deixar fazer
isso? — Seu nariz esfrega no meu cabelo molhado.
— Sim e depois podemos voltar e comer a sobremesa. — Virando meu
rosto, capturo seus lábios com os meus. Eles são sempre tão quentes e
perfeitos. Tudo sobre ele é. Especialmente suas imperfeições.
Afastando-se um pouco, ele pressiona sua testa na minha. — Toda a
sobremesa que você poderia pedir. Não pararei até que sua barriga esteja
completamente cheia e dolorida de mim.
Minha respiração falha. — Mal posso esperar.
Fico onde estou enquanto ele pisa no azulejo e pega outra toalha. Eu ainda
não me mexo quando ele está totalmente vestido e arrumando o cabelo no
espelho.
Ele franze a testa na minha direção. — Você já esqueceu como se mover
sem mim?
Agarrando-me à minha toalha com mais força, piso no azulejo frio. As
saliências afiadas cavam em meus pés quando enrolo meus dedos contra ela.
— Demoro um pouco para acordar às vezes.
Inclinando a cabeça, ele acaricia minha bochecha com as costas do dedo
curvado. — Tem certeza de que é só às vezes?
— Tem certeza de que você está indo?
Ele abre um sorriso. — Sim. E acho que mudei de ideia. — Seus outros
dedos torcem minha barra em meu mamilo. — Acho que prefiro você nu na
cama quando eu voltar.
Um bipe alto vem de seu relógio e ele o desliga com um toque rápido de
seu dedo. — É hora de eu ir, Fuego.
Meu rosto franze. — Você definiu um cronômetro para nós?
Sorrindo descaradamente, ele puxa minha toalha. — Perco a noção do
tempo sempre que estou com você. — Ele pressiona um beijo casto em meus
lábios. — Hasta luego, Fuego.
— Estou vendo que você está se dedicando à poesia.
Ele joga a cabeça para trás e ri ao sair do banheiro. Meu coração para
quando a porta da frente abre e fecha. Querendo pegar mais alguns lanches,
coloco um moletom e uma camiseta preta que Ezra me deu enquanto eu
estava dormindo.
Agarrando o novo telefone que ele também me deu, saio da cabana e meu
pai atende no terceiro toque.
— Olá? — Ele diz, parecendo sem fôlego. Provavelmente interrompi sua
corrida matinal.
— Josh?
Respiração alta vem do outro lado. — Onde você está?
— Estou em algum lugar seguro.
— Então você continua dizendo isso, mas está me ligando de números de
telefone aleatórios e mantendo segredo.
— Voltarei para casa em breve, prometo. Eu tinha que ter certeza de que
era seguro primeiro.
— Por que não seria?
— Vou te contar tudo quando eu chegar em casa. Eu só queria checar uma
última vez. Até logo, pai.
Desligo o telefone antes que ele possa responder e me sento nos degraus
da frente da varanda por um tempo, inalando o ar fresco enquanto pressiono
os calcanhares na terra. Campos de grama morta se estendem ao meu redor
e no centro há uma pequena flor amarela brotando. Levantando-me, ando
para frente e me agacho, acariciando suas pequenas pétalas.
A primavera está chegando e logo o chão estará coberto de cores. Ezra é
exatamente como uma flor brilhante brotando no centro da escuridão e,
quando ele está por perto, não consigo desviar o olhar de sua beleza. Quero
estar cercado por isso.
Envolvendo meus dedos ao redor do caule, arranco a flor do chão e volto
para dentro. Coloco a flor dentro de uma pequena xícara que encontrei na
cabana e a coloco no centro da mesa. Ao procurar na geladeira, fico surpreso
ao encontrar todos os meus ingredientes favoritos para fazer um sanduíche.
Alguém abasteceu a geladeira desde ontem e estou muito feliz por não ter
de voltar a comer manteiga e palitos de queijo.
Removendo duas fatias de pão, espalho maionese em um lado,
acrescentando queijo, peru, alface e fatias finas de tomate no outro. Meu
telefone toca e, quando vejo o número do meu pai na tela, eu o ignoro. Não
estou pronto para falar com ele novamente. Ele não entenderá por que ainda
estou aqui. Ninguém entenderia. Só eu e Ezra.
Já passamos por tanta coisa juntos e, ao mesmo tempo, não foi o suficiente.
Quero preencher mais dos meus dias com ele. Ele me faz sentir tudo o que
eu tinha medo de experimentar antes, fazendo-me perceber que só lutei
antes porque não estava pronto.
Eu nunca soube que a dor e a tristeza poderiam ser uma coisa boa até que
Ezra chegou e levou tudo embora. Vou me machucar o tempo todo se isso
significar fazer com que o prazer que ele traz depois seja mais brilhante e
mais forte.
Nada é forçado com ele. Nem meus sorrisos, meus toques, minhas
gargalhadas ou os surtos de felicidade que sinto. Isso acontece de forma
injustificada e não apenas me deixa surpreso. Isso me tira o fôlego.
Uma batida forte me faz pular na cadeira. Deixando meu sanduíche meio
comido na mesa, a cadeira raspa contra o chão quando a empurro para trás.
A batida vem de novo e meu coração acelera em meu peito devido a uma
onda de pânico. Ezra tem uma chave para não ter motivos para bater.
Correndo para o quarto, pego a arma que Ezra deixou na primeira gaveta
do criado-mudo e lentamente me aproximo da porta. Meus dedos tremem
ao redor da maçaneta e toda a tensão deixa meu corpo quando uma voz
reconhecível vem do outro lado.
— Sou eu, P. Abra a porta. Você vai me dizer o que diabos está
acontecendo agora.
Deslizando a arma na parte de trás da minha calça, abro a fechadura e meu
pai está na varanda com uma expressão de raiva quando abro a porta.
— O que está fazendo? — Pergunto, irritação evidente em minha voz.
Como ele sabia onde me encontrar?
— Um amigo rastreou seu primeiro telefonema e vim até aqui na manhã
seguinte. Fiquei em um hotel perto do posto de gasolina esperando que me
ligasse novamente. Desta vez, a ligação me trouxe até aqui. — Ele olha ao
meu redor como se esperasse que alguém aparecesse a qualquer momento.
— Você estava rastreando minha ligação? — Meu pai de repente é uma
porra de um superespião internacional?
— Tive que fazer. Eu precisava ver se você estava bem com meus próprios
olhos.
A raiva aumenta em mim e meu rosto cora. — Oh, de repente você quer
ter certeza de que estou bem? Quando antes você não se importava. Houve
dias em que eu me escondia no galpão de ferramentas para que o vovô não
pudesse me encontrar. Você sabia disso? — Minha voz falha. Não falei muito
sobre meu velho pai adotivo ou avô. Doía respirar toda vez que seus nomes
apareciam na minha cabeça.
Seus lábios tremem e ele pressiona as mãos nas coxas, arrependimento e
culpa pesando em seus olhos fundos. — Desculpe-me. Eu sinto. Sei que te
decepcionei. Você e sua mãe. Se eu pudesse voltar atrás, eu o faria. Não se
passou um dia sem que eu pensasse em vocês dois enquanto estava trancado
atrás das grades.
— No entanto, você ainda não foi atrás de nós quando saiu. Mamãe
morreu sem você perto, você sabe.
Ele estende a mão para mim e eu me afasto.
— P, tentei, mas achei que você estava melhor sem mim.
— Você estava errado — digo entre os dentes cerrados. — Esperamos por
você. Todos esses anos. Nunca paramos de olhar pela janela.
— Nós? — Seus olhos se arregalam. — Quem somos nós?
Minha mão limpa sob meu nariz. — Eu e Paxton.
Fechando os olhos, ele respira fundo. — Já falamos sobre isso. Muitas
vezes. Toda vez que penso que já passamos por isso, estou errado. Deixei-o
manter o nome porque parecia inofensivo. Mas isso... você precisa vir
comigo. Doutor Abade...
— Não — eu grito. — Chega de médicos. Não vou com você.
Ele agarra meu braço e seu toque não é tão reconfortante quanto deveria
ser. Eu não deveria querer me afastar do meu próprio pai, mas é o que ele
me ensinou a fazer. Ele nunca estava presente quando eu mais precisava
dele. Segurando a maçaneta, minha mente volta ao dia do incêndio.
Meu avô está chamando meu nome, suas palavras arrastadas do jeito que fazem
sempre que ele está bêbado e fora de si. Comecei a correr pela porta dos fundos,
parando quando meus olhos caíram sobre o isqueiro Zippo no balcão.
— Perry! Onde está meu neto favorito? Venha para a cama comigo. Está frio e
podemos aquecer um ao outro.
Meu estômago embrulha e eu seguro o isqueiro entre os dedos. — Não —
sussurro. — Não.
Lágrimas ameaçam cair, então fecho meus olhos para evitar que elas caiam. Não
quero continuar correndo. Esconder-se está ficando cada vez mais difícil. Ele está
descobrindo todos os lugares que frequento e só há uma maneira de não os encontrar
novamente.
— Perry — sua voz soa novamente como as garras de um grande pássaro cortando
minhas orelhas. — Preciso de você esta noite.
— Estou aqui — grito. Alcançando rapidamente o armário de bebidas, derramo a
vodca no chão à minha frente. A porta dos fundos se abre atrás de mim quando giro
a maçaneta. Ele entra na cozinha, sorrindo suavemente em uma camiseta e calça de
pijama xadrez. Eu preferia seus rosnados a seus sorrisos. Eu odiava especialmente
quando ele tocava meus lábios com eles.
— Aí está você, meu amorzinho.
Eu me encolho, aperto meu punho em torno do isqueiro com tanta força que o
metal duro crava em minha pele.
— Aqui estou — digo, movendo minha mão atrás das costas e passando o polegar
sobre a roda de faísca até que o calor acaricie meu pulso.
Ele se aproxima, seus pés com meias deslizando sobre o ladrilho branco. Ele olha
para baixo e olha de volta para mim. — Você derramou alguma coisa?
— Sim. — Minha respiração acelera e sinto como se houvesse um balão no meu
peito prestes a estourar.
Franzindo a testa, ele pisa mais na poça. — Não se preocupe com isso agora.
Podemos limpá-lo mais tarde. Vamos dormir e você cuidará disso pela manhã.
— Não — digo com firmeza, o calor nas minhas costas me fazendo suar.
Ele inclina a cabeça, as sobrancelhas se aproximando da linha do cabelo. — Não?
Vou te dar dois segundos para repensar essa resposta.
— Não vou mais ouvir você — grito. Trazendo minha mão na minha frente, deixo
cair o isqueiro entre nós e saio correndo pela porta, fechando-a atrás de mim.
Quando estou sozinho na varanda, percebo que Paxton não me seguiu. Ele ficou
lá dentro. Meu coração bate forte e, quando corro pela frente da casa, é tarde demais.
Ele já se foi.
— Ele não pode mais nos machucar — digo para a figura sem vida no chão que
usa meu mesmo rosto e roupas.
A mão do meu pai no meu ombro me traz de volta à minha realidade. —
Volte para mim, P. Você não foi embora por tanto tempo. Precisa voltar para
casa para que eu possa ajudá-lo a melhorar.
Meus ossos pesam o resto de mim e tudo que consigo dizer é: — Ok. — Se
eu ficar aqui por mais tempo, é apenas uma questão de tempo até que Ezra
olhe para mim com olhos assustados.
Não posso deixar isso acontecer.
15

Ezra
Deixando minha mãe e minha irmã na varanda da frente de nossa casa,
mando mais alguns beijos para elas antes de voltar para o carro. Eu as recolhi
na casa segura esta manhã e as trouxe de volta para a nossa depois de me
certificar de que nada foi adulterado. Eu gostaria de poder ficar mais tempo,
mas pretendo voltar amanhã com Paxton no carro. Não parece mais certo
estar em qualquer lugar sem ele. É ridículo, mas durante todo o tempo em
que almocei com minha família, meus olhos se fixaram na cadeira vazia ao
meu lado.
“Ele deveria estar aqui. Ele precisa estar aqui” dizia a voz interior. Não pararia
até que eu finalmente estivesse voltando para a cabana. Quanto mais meu
carro se aproxima da longa estrada de terra onde fica a cabana, mais leve
meu peito fica.
Quase lá. Quase de volta para ele.
Acelerando, os pneus giram na terra e uma sensação inquietante agita meu
estômago no momento em que estaciono na cabana. Algo não está certo. Está
muito quieto quando saio do carro e o céu parece mais sombrio do que antes.
Subindo correndo os degraus, não preciso virar a chave na porta porque ela
já está destrancada.
Minha frequência cardíaca acelera tão rápido que me sacode e eu procuro
a cabana inteira, a dor ficando mais profunda quando todos os cômodos
estão vazios.
Ele se foi.
Arrastando meus pés para a cozinha, meu olhar congela em um pedaço
de papel branco descansando sob um pequeno copo com uma flor amarela
dentro. Minhas mãos tremem o tempo todo em que o alcançam, dificultando
a leitura das palavras no papel.
Ez,
Me desculpe, mas tive que sair. Se eu ficasse mais tempo, você acabaria
descobrindo por que não deveria me ter aqui, e acho que não quero que você saiba.
Obrigado por me dar o que pensei ter perdido para sempre. Eu nunca vou esquecer
tudo o que me mostrou. Não vou te esquecer.
Paxton
O papel se amassa entre meus dedos, as palavras borradas sob minhas
lágrimas derramadas. Ele me deixou. Por conta própria. Ele me fez prometer
voltar para ele uma e outra vez apenas para não estar aqui esperando
quando eu voltasse.
Caio na cadeira, incapaz de largar a carta ou ele.
Vá atrás dele. Encontre-o.
Não posso. Não vou.
Você tem que ir. Você prometeu que sempre estaria presente.
Eu prometi. Eu vou. Ficando de pé, procuro a cabana novamente por
qualquer pista de onde ele poderia ter ido. O telefone que deixei para ele está
no centro da cama e apenas um número aparece quando o percorro. Sem
saber aonde isso vai me levar, ligo esperando que me leve de volta a ele.
— Olá? — Um homem responde e meu coração está errático novamente.
— Paxton está com você?
— Quem é?
— Este foi o último número que ele ligou. Preciso saber se ele está bem.
O homem suspira. — Não sei quem é, mas se eu descobrir que você
machucou meu filho de alguma forma, eu juro...
Desligo rapidamente o telefone e o bato com força contra o chão. O
número ainda está gravado em minha mente, rodando em um ciclo. Carlos
atende no segundo toque quando ligo para ele.
— Já conseguiu irritar alguém?
Rindo, balanço minha cabeça, tentando o meu melhor para engolir minha
angústia. — Eu queria saber se você poderia rastrear este número para mim.
Quero um nome e endereço.
Suspirando profundamente, sua voz soa mais distante do que antes. —
Acho que isso tem a ver com o menino, não é? Trenton tinha certeza de que
o viu em um posto de gasolina em frente ao santuário com um homem mais
velho.
— Acho que pode ser o pai dele, mas quero ter certeza.
— Ele não disse a você que estava indo embora?
— Não.
— Você já pensou que há uma razão para isso?
— Por favor. Pode me ajudar ou não?
— Ok, mas se o menino está seguro e de volta para casa, provavelmente é
melhor deixar por isso mesmo.
Ignorando seu último conselho, dou-lhe o número e apenas alguns
minutos se passam antes que ele me ligue de volta com as informações que
pedi.
Você tem agora. Nada o impede de cumprir sua promessa.
Minha mão bate ao lado da minha cabeça e os pensamentos internos só
ficam mais altos e convincentes. A flor amarela no meio da mesa faz meu
coração pular quando olho para ela sem olhos enevoados. Deslizando-a no
bolso, corro para fora da porta. Paxton encontrou a sua flor amarela num
estado de solidão e não quero apenas devolvê-la, quero ter de volta a minha.
Entrando no carro, verifico se preciso de mais gasolina antes de dirigir por
mais de uma hora até o aeroporto mais próximo. Estou ficando sem dinheiro
e terei que sacar mais depois de usar o resto do que tenho em uma passagem
de avião. Principalmente se conseguir convencer Paxton a voltar comigo.
Deixando tudo no carro, estaciono no estacionamento do aeroporto e pego
o ônibus até a frente do prédio. Olhando para o meu relógio, minha
impaciência toma conta de mim e não consigo parar de me mexer. Penso em
comer alguma coisa enquanto espero meu voo. Devido à compra de uma
passagem no último minuto, tenho que esperar um pouco até o próximo
avião chegar. O que sai antes está cheio, mas felizmente o que vem depois
ainda tem um lugar sobrando.
Andando pela frente de uma cafeteria, nada parece apetitoso para o meu
estômago. Não consigo comer, sentar ou mesmo pensar direito até tocá-lo
novamente. Quanto mais o tempo passa, mais começo a me perguntar se ele
e eu já fomos reais.
Meus pés quase tropeçam quando o avião está embarcando. Examino
minha passagem, sento-me e olho pela janela observando as nuvens até que
estejamos baixos o suficiente para ver os prédios e o aeroporto. Pego meu
telefone, digito o endereço novamente e não paro de recitá-lo na minha
cabeça até memorizá-lo.
O avião finalmente pousa e saio atrás dos que estavam à minha frente,
enquanto agendava um carro para me buscar. Abrindo caminho no meio da
multidão, procuro a saída, o tempo todo observando a localização do
motorista no meu telefone. A excitação espalha-se pela minha pele,
cobrindo-me os braços de arrepios à medida que ele se aproxima. É difícil
ficar parado sabendo que estarei em frente à casa de Paxton em breve.
Quando estou do lado de fora sob o sol quente, o motorista está a apenas
alguns minutos de distância e enfio a mão no bolso, acariciando suavemente
a flor. — Quase de volta para você, Fuego.
Preciso saber o que ele quis dizer com a carta. Por que ele se preocupou
comigo descobrindo mais sobre quem ele é? Não consigo imaginar nada
mudando o que já sinto por ele. Eu estava certo antes. O amor muda tudo,
mas nem sempre tem que ser uma coisa ruim.
Paxton pode ter me trazido problemas, mas eu também carregava meus
próprios problemas. Juntos, estávamos prestes a superar tudo e não quero
saber como é ter que fazer tudo sozinho de novo. Eu preferiria sofrer com
todos os perigos e balas do mundo se isso significasse que eu teria que me
deitar com ele em meus braços no final do dia.
Abro a porta traseira antes que o carro pare totalmente.
— Porra, você está louco, cara?
Ele não tem ideia. Descanso no assento e fico olhando para a imagem da
casa no meu telefone até chegarmos ao nosso destino. Salto do carro,
agradeço ao motorista e corro para a frente da casa. Minha mão bate contra
a porta no momento em que chego à varanda, minhas pernas incapazes de
ficar paradas por muito tempo.
Meu coração parece querer se libertar do meu peito quando a porta
lentamente se abre. Franzo a testa, desapontado quando um homem mais
velho com cabelos grisalhos está do outro lado, semicerrando os olhos para
mim. — Posso ajudar?
— Sim, estou procurando por Paxton.
Ele me avalia. — Quem é você?
— Sou amigo dele. Já faz um tempo desde que ouvi falar dele e quero ter
certeza de que ele está bem. — Minha mão encontra a flor em meu bolso
novamente e as pétalas se desfazem entre meus dedos que se esfregam.
Ele fecha um pouco mais a abertura na porta. — Conheci todos os amigos
dele antes e nunca vi você na minha vida.
— Por favor. Só tenho que falar com ele por apenas alguns minutos. Você
pode até manter a porta de tela fechada e ficar aqui o tempo todo. — O
desespero é pesado em minha voz e a porta se abre mais.
— Você é Ezra por acaso?
Concordo com a cabeça, tentando aliviar o aperto na minha garganta. Ele
contou a ele sobre mim. — Sim.
Suspirando, ele abre a porta de tela e eu dou um passo para trás, abrindo
espaço para que ele se aproxime.
— Ele me contou o que você fez por ele, Ezra. Tudo, e sou muito grato. Eu
sou. Salvou a vida do meu filho, e ele não estaria aqui comigo agora se não
fosse por você. Mas não pode dar a ele o que ele precisa. — Ele se apoia no
batente da porta, ajeitando os óculos no nariz. — Acho que ninguém
consegue.
— O que quer dizer?
— Ele não te contou, não é? — Ele olha para baixo e depois de volta para
mim. — Claro que não. Como ele pode, quando nem mesmo está consciente
na metade do tempo.
— É sobre o irmão que ele perdeu?
Seu rosto fica tenso e ele procura atrás de si antes de sair da casa. — Não
há irmão.
— O que quer dizer? E quanto a Paxton? Ele disse que adotou seu nome
depois que faleceu no incêndio e...
Ele descansa a mão no meu braço, balançando a cabeça. — Paxton era uma
invenção de sua própria imaginação. Seu médico diz que o criou como um
mecanismo de enfrentamento. Tudo o que ele passou em cada casa em que
esteve foi demais para ele lidar sozinho e esse irmão falso que ele criou o
ajudou a superar isso melhor.
Congelado no lugar, meus lábios se abrem e estou sem palavras. Ele não
falava muito sobre ele, mas quando falava não havia nada em seus olhos que
sugerisse que ele estava mentindo para mim. Porque ele não estava. Ele
realmente acreditava que era real. Talvez ele precisasse dele naquele
momento.
— Eu...
— Veja bem, ele não o mencionou novamente até recentemente. Acho que
o novo trauma que ele experimentou desencadeou algo novamente e sinto
que ele só vai piorar se estiver perto de você. Vai lembrá-lo muito da
experiência horrível que ele suportou.
Eu me afasto de seu aperto, meu coração pesado. — Só porque ele não
mencionou seu irmão não significa que, no fundo de sua mente, ele ainda
não acredita em sua existência. Acho que calá-lo quando ele tenta falar com
você apenas enterra esses pensamentos mais profundamente. Você não está
ajudando do jeito que pensa.
— Acho que é melhor você ir agora. Você tem cinco minutos para sair da
minha varanda antes que eu chame a polícia.
Levantando minhas mãos no ar, eu me afasto. — Tudo bem, estou indo,
mas me faça um favor. Da próxima vez que ele quiser falar com você sobre
Paxton, ouça-o. Porque, quer você acredite ou não, ele é real. Ele vive dentro
do seu filho.
Desço os degraus antes que ele possa responder. Não tenho certeza se ele
saberia se eu lhe desse tempo. Caminhando em direção à estrada, paro
quando vejo uma figura curvada sentada em um balanço em um quintal
aberto atrás da casa. Ele balança para frente e para trás antes de olhar para
mim.
Meu coração canta quando aqueles olhos verdes se fixam nos meus. Ele
pula do balanço e fica parado na frente dele por um longo tempo, me
observando enquanto eu me aproximo.
Puxando o que sobrou da flor do meu bolso, eu a seguro na minha frente
e meus lábios se abrem em um sorriso.
Sua expressão combina com tudo o que sinto e ele corre em minha direção,
jogando seu corpo no meu. Seus braços envolvem meu pescoço e ele enterra
o rosto em meu ombro. — Você não deveria ter vindo para mim.
Respirando a luz do sol em seu cabelo, eu o seguro mais apertado e cubro
o lado de seu rosto com beijos. — Nada jamais poderia me manter longe. —
Dando um passo para trás, seguro seu rosto na minha mão. — Nem mesmo
você.
— Você pode pensar que me quer, mas está errado. — Sua voz treme e ele
se afasta de mim.
— Eu estou? — Diminuo a distância entre nós novamente.
— Há coisas sobre mim que você não sabe. Coisas que podem te assustar.
— Seus olhos caem para seus pés arrastados.
Afasto um cílio caído de sua bochecha e abaixo meus olhos para ele. —
Então me conte tudo sobre elas e deixe-me te amar de qualquer maneira.

***

Fotos das pessoas que matei por Paxton estão espalhadas ao nosso redor
na cama. Ele está de joelhos na minha frente jogando a cabeça para trás no
meu ombro. Ele revira os quadris, gemendo baixinho. Deslizando minha
mão pela frente de seu corpo, acaricio seus mamilos com uma mão enquanto
uso a outra para acariciar seu pênis vazando. Nenhuma corda prende meus
pulsos desta vez e minhas mãos vagam livremente por ele, aprendendo
todas as suas maneiras favoritas de ser tocado enquanto faço amor com ele.
Meu coração se expande cada vez que ele confia um pouco mais em mim.
Mordo suavemente em seu pescoço e ele treme, estendendo o braço atrás de
mim para deslizar a mão no meu cabelo. Puxando minhas mechas, ele move
seu corpo contra o meu e nós nos unimos em um movimento perfeito,
perdendo-nos um no outro como costumamos fazer.
— Você é tão lindo, Fuego — sussurro em seu ouvido, puxando seu
mamilo novamente enquanto meu pau mergulha em seu buraco apertado.
— E você fala demais durante o sexo.
Rindo, cutuco meu nariz contra sua orelha. — Você e seus doces
sentimentos. E eles dizem que o romance está morto.
— Melhor romance do que meu novo namorado — ele suspira, esfregando
seu corpo suado no meu, seu buraco apertando em torno de mim quanto
mais fundo eu vou.
— Então sou seu namorado agora?
— Sim. Agora cale a boca e me foda.
Mordo sua orelha e lambo a parte externa. — Tudo o que meu Fuego
precisa, ele recebe.
Epílogo

Perry
Um ano depois

— Pronto, Fuego? — Ezra pega algo da bolsa no chão e abre a porta do


passageiro.
— Sim. Quanto mais rápido acabarmos com isso, mais cedo poderei
encher minha cara com aqueles chocolates que você deixou no meu
travesseiro esta manhã. — Ezra e eu fomos morar juntos dois meses depois
que ele apareceu na casa do meu pai. Meu pai ainda não aprova totalmente
nosso relacionamento, mas não depende dele com quem escolho ficar.
Ninguém pode tomar decisões sobre a minha vida além de mim. Felizmente,
pelo menos temos o apoio da família de Ezra. A mãe e a irmã dele não param
de perguntar quando vamos nos casar. Talvez um dia em breve eu seja capaz
de responder à pergunta delas. Por enquanto, estou contente sendo
exatamente como somos.
Quanto a Paxton, já não preciso dele. Não tenho certeza se alguma vez
precisei. Ele foi um conforto ao qual me agarrei por tanto tempo. Tantas
pessoas me machucaram e quebraram suas promessas. Depois de tantas
vezes queimado e tomado pela solidão, criei alguém que não poderia me
decepcionar, e o mantive comigo até me sentir forte o suficiente para
enfrentar meu avô sozinho. Paxton voltou em minhas memórias sempre que
fui forçado a viver em outro lugar novo com outro estranho e não me sentia
seguro para ser meu verdadeiro eu. Eu nem sabia quem era. Passei tanto
tempo preso entre duas pessoas para saber qual versão realmente me
pertencia. Paxton era a pessoa normal que eu achava que tinha que ser para
ser feliz.
Eu estava com muito medo de deixar meu pai ou qualquer outra pessoa
chegar muito perto. Com Paxton por perto, não precisava. Eu tinha nossas
memórias para preencher os buracos de todos os dias bons que nunca me
lembrava de ter tido com mais ninguém. Eventualmente, Paxton e eu nos
misturamos, afastando-me não apenas dos outros, mas também de mim.
Eu o deixo no passado agora e Ezra não é apenas meu presente, ele é real.
Seus toques, abraços, palavras de encorajamento e amor. Tê-lo em minha
vida é melhor do que qualquer fantasia que eu possa criar em minha cabeça,
e tê-lo comigo enquanto me encontro tem sido a melhor aventura que eu
poderia desejar.
O baque alto da minha porta fechando me tira do meu estupor e Ezra enfia
a cabeça na janela. — Talvez eu até coma um pouco do seu corpo. — Ele
pisca.
— Não me faça promessas que não pode cumprir — grito para ele
enquanto ele desaparece atrás de algumas árvores.
Trenton me enviou as coordenadas de um transportador fingindo
transportar produtos do Arkansas para o Kansas. Carlos encontra os locais
de coleta desses idiotas e nós interceptamos antes que eles cheguem.
Ligando o pisca-alerta, estaciono no meio da estrada sabendo que o
caminhão está vindo na minha direção. Saindo do veículo para a noite fria,
coloco um colete laranja e prendo uma lanterna no teto do meu carro.
Assobiando uma música aleatória para mim mesmo, abro o porta-malas e
pego alguns cones de trânsito para bloquear o resto da rua.
O homem que dirigia o veículo parou, colocando a cabeça para fora da
janela. — O que diabos é isso?
— Há um problema elétrico mais abaixo. As estradas não serão abertas
novamente até que seja seguro passar por elas. — Puxando meu colete,
ofereço a ele meu melhor sorriso.
Batendo a mão do lado de fora da porta, ele joga a cabeça para trás contra
o assento. — Como diabos eu deveria me virar?
Olhando ao redor dele, eu me aproximo. — Sempre posso tentar servir de
alguma ajuda. — Continuo falando com o cara, prendendo sua atenção o
melhor que posso enquanto Ezra caminha lentamente ao longo da lateral do
caminhão, ficando fora da vista do retrovisor. Aproximando-se da janela, ele
enfia uma agulha no pescoço do homem. O homem pega a mão de Ezra
tentando afastá-lo, mas já é tarde demais. As drogas já estão fazendo efeito
e ele rapidamente perde a consciência, caindo sobre o volante.
Nós dois corremos para a traseira do caminhão e Ezra tem um pé de cabra
na mão. Ele a usa para quebrar a fechadura e assim que ela cai no chão, ele
abre a parte de trás. Duas mulheres rastejam para a frente com as mãos
amarradas e mordaças na boca.
— Estamos aqui para ajudar. Vamos deixá-las no hospital mais próximo
para que possa obter a ajuda de que precisa — digo, estendendo minha mão.
A primeira dá um passo à frente e envolvo meus dedos levemente em torno
de seu braço para ajudá-la a descer enquanto Ezra ajuda a outra.
Tirando uma faca do bolso, Ezra corta as cordas de seus pulsos. — Vocês
têm um lugar para onde voltar? Uma casa?
Uma garota de cabelo castanho curto balança a cabeça e a loira tira a
mordaça. — Recentemente, fomos expulsas de um orfanato depois de
envelhecer e ficamos com amigos aleatórios. O último cara que conhecemos
em um bar. Ele parecia legal. Acontece que ele não era quem dizia ser.
— Temos um lugar onde podemos levá-la até que tenha tudo resolvido.
Um lugar que a ajudará a se curar e possivelmente a encontrar empregos.
Olhando para mim hesitante, a outra dá um passo para trás, puxando o
pano da boca. — Como sabemos que você não vai nos jogar na traseira de
outro caminhão?
— Não iremos — Ezra responde. — A escolha é sua, mas você precisa se
apressar. Temos que sair da estrada.
— Nós só queremos ajudar. — Espio em seus olhos assustados. — Estive
onde você está e se não fosse pelo homem ao meu lado, eu nunca teria me
libertado. Quem sabe onde eu estaria agora se não fosse por ele me encontrar
quando ele fez isso?
A loira assente, agarrando a mão da amiga. — Iremos para este lugar que
mencionou. Não temos mais nada a perder neste momento.
Ezra rapidamente recolhe todos os cones enquanto coloco as meninas no
banco de trás. Elas fedem a qualquer coisa em que estavam sentadas e seus
rostos estão cobertos de sujeira.
— Vocês serão capazes de se limpar no local para onde estão indo também.
Estão seguras agora. — Ofereço um sorriso reconfortante antes de deslizar
no banco do passageiro. Elas se agarram uma à outra na parte de trás e ligo
o aquecedor para mantê-las aquecidas enquanto Ezra dirige em direção ao
santuário de Joey.
Agarrando meu telefone, alerto Trenton que estamos a caminho com duas
pessoas precisando de quartos. Ele me responde com um polegar para cima.
Eu sabia que o veria novamente algum dia, mas nunca imaginei que o
destino nos faria trabalhar juntos resgatando homens e mulheres do tráfico
sexual. Sinto que sempre deveria estar aqui. Ajudar as pessoas preenche
outro buraco dentro de mim, aquele que sobrou depois de ser decepcionado
tantas vezes.
— Estamos aqui. — Ezra olha para o banco de trás enquanto estaciona em
direção ao grande portão. Ele se abre e nós dirigimos enquanto Ezra agarra
minha mão para apoiá-la em sua perna. Minhas entranhas esquentam com a
forma como ele nunca pode ficar muito tempo sem me tocar. Nunca antes
ou um ano depois. Trenton e Joey estão esperando por nós na frente, lado a
lado em roupas escuras.
— Hola. Eu estava preocupado que vocês dois tivessem problemas.
Normalmente não leva tanto tempo. — Trenton sorri para nós e a mão de
Joey bate em seu cotovelo de brincadeira. — Quieto!
Soltando uma risada, Trenton revira os olhos e se aproxima. — Então,
quem temos aqui?
Saindo do carro, abro a porta traseira. — Saia, está tudo bem. Estes são
nossos amigos. São eles que administram este lugar. Vocês encontrarão
muitos outros como vocês lá dentro.
— Como se chamam? — Joey pergunta, apoiando as mãos nos joelhos
dobrados, olhando para dentro do carro.
— Sasha e Jessica — diz uma.
— Ok, Sasha e Jessica, sou Joey. Abri este lugar depois de ser resgatado
com muitos outros e perceber que eles não tinham para onde ir. — Ele sorri
suavemente. — Aqui somos todos uma família. Com o tempo, espero que
aprendam a se sentir à vontade para serem vocês mesmas aqui. Vocês são
livres para ir e vir quando quiser. Não são prisioneiras aqui.
Christina, uma das mulheres que mora no santuário, sai pelas portas
duplas. — Olá, senhoritas. Ouvi dizer que vocês duas ficarão conosco por
um tempo. Cuido disso a partir daqui pessoal — diz ela, aproximando-se. —
Sou Christina. Que tal eu mostrar a vocês seus quartos?
A loira sai do carro, arrastando a outra garota atrás dela. — Somos
realmente livres para ir e vir quando quisermos?
Christina acena com a cabeça, descansando a mão no ombro da loira. —
Claro. Existem algumas diretrizes que devemos seguir para garantir que
mantemos este lugar seguro. Venha comigo e ajudarei vocês duas a se
instalarem. Vocês também podem conhecer alguns dos outros.
Quando as duas seguem Christina para dentro, a loira se vira e diz um
agradecimento silencioso em minha direção. Entendo por que elas têm
dificuldade em confiar em alguém. Não posso culpá-las. Todos nós já
passamos por isso. — Elas vão ficar bem aqui, prometo — Joey diz
tranquilizador. — Tudo por causa de você e Ezra.
Não, não sou uma pessoa perfeita. Já fiz coisas ruins na minha vida e elas
vão ficar comigo para sempre, mas se eu puder fazer alguma coisa para
evitar que alguém acabe nas mesmas situações ruins que já passei, farei.
Ninguém deveria ter que tirar vidas para salvar a sua. Sei como é em
primeira mão. Tanto que não posso voltar agora, mas essas meninas também
não precisam viver com o fardo.
— Eu e Ezra estamos aqui por causa de vocês. Nunca vou esquecer isso.
— Estou feliz que tudo deu certo. — Joey coloca as mãos na frente do
corpo, dobrando uma sobre a outra. — Vocês dois saiam daqui e vão
aproveitar seu Dia dos Namorados. Sei que é isso que farei em breve com
meu homem. — Ele pisca e Trenton faz uma cara de nojo.
Todos nós caímos na gargalhada. — Nós iremos. Vejo-os mais tarde.
— Até mais — Trenton grita atrás dele enquanto caminha de volta para
dentro. Volto para o carro e Joey fica do lado de fora, nos observando até
sairmos do portão.
— Pronto para ir para casa ou devemos ir para um jantar romântico em
algum lugar como pessoas normais?
Descanso minha mão na palma aberta de Ezra. — Quem disse que temos
que estar perto de outras pessoas para sermos normais?
Seus ombros tremem quando ele solta uma pequena risada. — Nós
sempre podemos ir acampar pelos velhos tempos.
Observando a maneira como seus olhos se iluminam no escuro, sorrio
para ele. Ainda tenho dificuldade em acalmar meu coração toda vez que ele
olha para mim. — Acho que isso soa perfeito.
Acelerando pela estrada, ele leva minha mão à boca e beija as costas.
Abrindo minhas pernas, coloco sua mão no meu pau. — Brinca comigo no
caminho?
Lambendo os lábios, ele abre o zíper da minha calça. — Tudo o que
precisar, terá.
— E o que você quer? — Estico meu braço sobre o encosto de seu assento,
jogando minha cabeça para trás quando ele acaricia meu pau.
— Estou olhando bem para ele.
Meu coração dança em meu peito e passo meus dedos em seu cabelo
grosso e macio. — Eu te amo.
— Eu te amo mais, Fuego.
Não, nem sei aonde a vida vai me levar quando estiver com Ezra. Nem
um único dia é o mesmo ou nem um pouco previsível e não quero que sejam.
Eles podem ser o que quiserem desde que sejam nossos.

Você também pode gostar