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Ocean Eyes - Billie Eilish

Paralyzer - Finger Eleven

Dance with The Devil - Breaking Benjamin

Panic Room - Au/Ra

Everything I Wanted - Billie Eilish

Love Is Madness (feat. Halsey) - Thirty Seconds to Mars


SINOPSE

Ele é um selvagem.

Damien Cross trata a cidade de Nova York como se fosse seu


playground pessoal.

Ele vê.

Ele toca.

Ele conquista.

Ele tem o destino da minha família em suas mãos.

E faz um acordo comigo que não posso recusar.

Ele perdoará a dívida do meu pai se puder ter algo em troca: Eu.

Prometi a mim mesma que não iria me viciar, mas nada é garantido
quando você faz um acordo com um selvagem.

Agora esta dívida é minha cruz para carregar.


Nota da Autora

Olá!

Obrigada por reservar um tempo para ler este livro.


Savage Empire é o livro um de uma série de romance sombrio de
bilionários, inimigos para amantes.

Não é recomendado para menores de idade e contém situações


duvidosas que podem conter gatilhos. Não é um livro autônomo e
termina em um gancho.

O próximo livro da série é Scarred Empire.


1

ANAIS

— Anais?

Levantei os olhos do documento que estava lendo e sorri para o


homem parado na porta, mas ele não me devolveu o olhar. Esperei para
ver se ele entraria em meu escritório, mas ficou onde estava. — Olá, pai.
E aí?

Ele limpou a garganta. — Você ainda vai voltar para casa esta
noite? Preciso falar com você.

Quase não ouvi sua pergunta porque estava mais preocupada


com as olheiras sob seus olhos verdes, os olhos que compartilhamos.
Parecia que ele tinha envelhecido da noite para o dia. Uma miríade de
emoções cruzou seu rosto quando ele pronunciou essas palavras, e um
sentimento de pavor tomou conta de mim que nada tinha a ver com sua
pergunta. A expressão que se formou em seu rosto era de preocupação.
O que está acontecendo e o que ele precisa falar comigo?

Quebrei meu cérebro por um momento, tentando lembrar se eu


disse que iria para a casa dos meus pais hoje à noite. — Minha mente
está em branco. Vou? — Peguei meu telefone e verifiquei a mensagem
de texto em grupo que recebi com minha família. Confirmei que meu pai
estava certo e suspirei. O estresse tinha que estar me afetando.

— 8h está bem para você?

Balancei a cabeça, fechei os olhos e coloquei os dedos


indicadores nas têmporas. Desejei que a tensão crescente desaparecesse
enquanto meu pai permanecia na porta. Parte de mim queria adiar o
jantar e rastejar para a cama depois do trabalho, mas estava claro que
papai precisava falar comigo sobre algo importante e eu queria estar lá
para ajudá-lo.

— Anais, você está bem? — Eu podia ouvi-lo se aproximar de


mim.

— Sim, pai. Estou bem. Só tive um longo dia. Estarei lá esta


noite. — Abri os olhos para encontrá-lo à minha esquerda. Ele se
inclinou para me dar um abraço caloroso e deu um tapinha nas minhas
costas. Meu pai era o CEO da Monroe Media Agency e eu trabalhava
como diretora de mídia social. Nossa empresa nasceu há mais de vinte e
cinco anos e cuidamos de praticamente tudo que uma empresa pode
precisar para sua imagem pública. Eu era a líder da equipe de mídia
social e isso incluía gerenciar algumas pessoas que ajudavam a
supervisionar a presença online de nossos clientes.

— Não trabalhe muito, garota.


Dei-lhe um pequeno sorriso quando ele deu um passo para trás.
— Não vou. Está tudo bem com você?

Ele acenou com a cabeça, mas não foi difícil para mim notar
sua hesitação.

Debati se deveria perguntar, mas me contive porque não sabia


como seria essa conversa. Ele pode estar mais disposto a conversar em
casa. — OK. Eu te vejo hoje à noite.

Papai finalmente devolveu meu sorriso com um pequeno e saiu,


fechando a porta do meu escritório atrás de si. O ar na sala mudou
dramaticamente quando ele saiu. Antes que eu pudesse analisar melhor a
interação, o telefone do meu escritório tocou.

— Monroe Media Agency, Anais falando.

— Anais? Oi. É Edward da CASTRA.

Segurei o telefone longe do ouvido e suspirei antes que pudesse


me conter. Como se eu não reconhecesse sua voz porque Edward e eu
conversamos várias vezes por semana sobre CASTRA e como ajudá-los
com suas contas de mídia social. Embora eu fosse a diretora sênior de
relações públicas e mídia social e gerenciasse alguns funcionários que
haviam assumido a conta da CASTRA, Edward ainda preferia me ligar,
não importa quantas vezes eu pedisse que não o fizesse. Como CASTRA
era um de nossos maiores clientes, mordi a língua para não pedir mais
uma vez.
— Em que posso ajudá-lo hoje?

Ele descreveu alguns problemas, que poderiam facilmente ter


sido enviados para mim por e-mail e desligou o telefone. Coloquei-o de
volta no gancho e gemi. Uma rápida olhada no meu laptop me disse que
eu tinha mais algumas horas antes de ir para casa e me preparar para o
jantar com meus pais.

Um longo dia de trabalho significava que quando saísse do


escritório já estaria escuro lá fora. Não ajudava o fato de ser dezembro
na cidade de Nova York. O sol se punha mais cedo, as temperaturas
eram mais frias e as pessoas se preparavam para comemorar os feriados.
Isso fez com que um longo dia no escritório parecesse ainda mais longo.
Fechei o zíper do meu casaco de inverno grosso e isolado, puxando-o
mais apertado em volta do pescoço enquanto me preparava para
enfrentar a temperatura mais baixa do lado de fora.

Saí do escritório e fui para o metrô. Felizmente, não demorou


muito para chegar lá porque a estação mais próxima não era muito
longe. Às vezes, ter um carro em Nova York ajudava. Mas ficar sentada
no banco do motorista, num engarrafamento, não era, e era por isso que
eu não tinha um. Quando precisava de um carro, eu alugava um.

Os cheiros familiares do metrô me saudaram. Se alguém me


perguntasse o que eram aqueles cheiros, eu provavelmente diria que era
uma combinação de muitas coisas e deixaria por isso mesmo. Chequei
meu telefone para ver que horas eram quando cheguei à plataforma,
esperando pacientemente pelo trem. Tinha cerca de noventa minutos
para chegar à casa dos meus pais, mas primeiro passaria no meu
apartamento. Não precisei esperar muito para que o trem chegasse à
estação, parando bruscamente. O condutor abriu as portas e entrei
rapidamente, indo em direção a um assento vago.

Mantive os olhos focados na janela assim que o trem saiu da


estação. À medida que o trem se aproximava cada vez mais do meu
destino, fiquei feliz por ter que pegar apenas um trem para ir e voltar do
trabalho, facilitando meu trajeto. A menos que houvesse algum tipo de
incidente que ferrasse o horário dos trens. Cerca de vinte minutos
depois, caminhei até um conjunto de portas no lado esquerdo da
carruagem. Assim que o trem parou, pulei, sem prestar atenção em todas
as outras pessoas que se seguiram. Quase não demorei para sair da
estação e começar a andar pela rua. Meu passeio normal se transformou
em uma marcha acelerada porque eu queria fugir do frio e chegar em
casa. Mentalmente fiz uma lista de coisas que precisava fazer, como
trocar de roupa, antes de ir para a casa dos meus pais. Eu estava presa
em meu próprio mundo quando senti algo roçar em mim, fazendo-me
pular para trás.

— Desculpe, — eu disse quando percebi que tinha esbarrado


em alguém que estava caminhando na direção oposta. Quando não ouvi
nada de volta, olhei por cima do ombro e me deparei com um homem. A
maneira como as luzes da rua refletiam em seu rosto escondia algumas
de suas características, mas exagerava outras, pintando uma imagem
sinistra.

— Tenha cuidado, — foi tudo o que ele disse. Sua voz era
áspera, como eu imaginei que soaria alguém com cordas vocais
enroladas em uma lixa.

Não lhe dei uma chance de dizer ou fazer qualquer outra coisa.
Comecei a andar de costas pela rua, tentando ao máximo mantê-lo à
vista, caso ele tentasse fazer alguma coisa. Em vez disso, ele continuou
na direção oposta, nem uma vez se preocupando em se virar para me dar
uma segunda olhada. Alarmes dispararam na minha cabeça e fiquei mais
consciente de que não havia ninguém por perto.

Eu me virei enquanto enfiava a mão na minha bolsa para pegar


minhas chaves e o telefone, esperando que as primeiras fossem uma
arma suficiente para ganhar tempo caso precisasse fugir. Andei ainda
mais rápido pela rua, não me importando com quão boba eu parecia
porque sabia que tinha que chegar em casa.

Quando pude ver meu prédio, fiz uma oração silenciosa, grata
por estar quase em casa, e tive certeza de que o homem não tinha me
seguido. Quando cruzei a soleira do meu prédio, dei um suspiro de
alívio. Eu estava segura no meu saguão, onde havia outras pessoas
vagando, e o calor do prédio aquecido me envolveu como se eu tivesse
acabado de tomar um gole de chocolate quente em um dia frio de
inverno.

Cheguei ao apartamento em tempo recorde e tirei o casaco e o


blazer. Uma ligação rápida para ver se Ellie Winters, minha colega de
quarto e melhor amiga, estava em casa confirmou que ela não estava.
Demorou mais do que o normal para desfazer o coque que eu tinha feito
no cabelo naquela manhã, mas uma vez que os grampos estavam na
mesa, eu podia sentir a tensão diminuindo em minha cabeça. Mas logo
voltou com força total quando repassei a cena que se desenrolara com
meu pai antes.

Se eu conhecia meu pai tão bem quanto pensava, sabia que algo
devia estar errado. Ao longo da minha vida, ele foi esse pilar de força,
nunca alguém que influenciasse muito em nenhuma circunstância. Se
alguém tivesse um problema e quisesse ajuda para resolvê-lo, ele estava
lá para ajudar. Não havia um só momento que eu me lembrasse que o
tivesse visto abalado até hoje. Embora ele tentasse fazer cara de bravo,
isso pouco ajudou a impedir que suas verdadeiras emoções aparecessem
pelas rachaduras.

De algum modo, eu temia jantar na casa dos meus pais esta


noite, embora já tivesse passado um tempo desde que jantamos juntos,
apenas nós três. Para ser honesta comiga mesma, isso era algo que eu
sentia falta, mas por estar tão ocupada, se tornou uma prioridade menor.
Eu ainda estava me sentindo estranha com o encontro com o homem
estranho e tudo que queria fazer era colocar meu pijama e ir para a cama.
Mas jurei que não faria isso de jeito nenhum. Eu precisava descobrir o
que estava acontecendo com papai. Antes que eu me perdesse em
pensamentos, meu telefone tocou e deixei o incidente assustador para
trás.

Ellie: Quer ir a um baile de gala comigo?

Fechei os olhos e gemi antes de meus dedos voarem pelo


teclado.

Eu: Você sabe como me sinto sobre esse tipo de coisa, El.

Ellie: Acho que você vai gostar deste. É uma arrecadação de


fundos para o Projeto Adoção 1.

O Projeto Adoção era uma organização sem fins lucrativos


criada para apoiar o resgate de gatos, cães e outros animais e ajudá-los a
encontrar seus lares definitivos. Agora eu tinha outro motivo para ir.
Além disso, Ellie teria me acenado com a minha falta de comparência
pelo resto da minha vida. O amor de Ellie pelos animais era um dos

1 Optamos por traduzir esse nome ao invés de deixar o original como habitualmente. Project Adoption.
motivos pelos quais seus pais apoiavam o Projeto Adoção, então eu
sabia que ela estava louca para ir.

Eu: Tudo bem. Irei.

Ellie: Incrível! Podemos até ir comprar vestidos.

Eu: Posso ter alguma coisa aqui, mas nunca vou recusar a
desculpa de ir às compras. Quinta-feira está bem para você?

Ellie: Sim, está. Estou tão animada!

Coloquei o telefone no bolso, determinada a terminar de me


preparar para o jantar na casa dos meus pais.

***

— O jantar foi excelente como sempre, mãe. — Recostei-me na


cadeira, debatendo se seria apropriado ou não afrouxar o cinto que eu
usava. Podia não ficar bem em público, mas inferno, eu estava em casa
de qualquer maneira.

— Obrigada, querida. Estou feliz que você gostou. — O sorriso


que ela me deu não alcançou seus olhos, reafirmando minha crença de
que algo estava errado. Minha mãe e eu éramos muito abertas uma com
a outra quando se tratava de uma infinidade de coisas, e eu sabia quando
algo estava acontecendo. Ou então assim pensava. Minha mãe e eu
compartilhamos a mesma pele pálida e longos cabelos castanhos
escuros. Eu também herdei seu tipo de corpo magro e em forma e
compartilhamos o amor pelo fitness.

— Anais tem razão. Você realmente se superou esta noite.


Obrigada, querida. — O frango assado, o brócolis e as batatas crocantes
atingem todos os pontos certos quando se trata de uma refeição
maravilhosa e reconfortante.

O olhar de mamãe se voltou para meu pai e ela sorriu.

Embora meus pais tivessem dinheiro suficiente para contratar


pessoas para ajudá-los em casa, minha mãe gostava de cozinhar.
Caramba, às vezes cozinhamos juntas, o que sempre foi divertido.

— Anais, podemos conversar um pouco?

As palavras do meu pai pararam meus pensamentos. Balancei a


cabeça e me recostei. — Obrigada pelo jantar, mãe.

— De nada. Por que não vamos antes para a sala de estar?

— Boa ideia, Ilaria. Vou colocar a louça na pia e depois me


junto a vocês lá.

— Eu posso ajudar.
— Não se preocupe com isso. Vá relaxar com sua mãe
enquanto eu faço isso. — Papai levantou-se primeiro e caminhou até
mamãe e pousou a mão em seu ombro. Ele estendeu a mão e ela colocou
a mão na dele e ambos se levantaram. Levantei-me também e minha mãe
e eu caminhamos juntas para a sala de estar enquanto papai levava a
louça suja para a cozinha.

Quase perguntei a mamãe o que estava acontecendo, mas ficou


claro que isso era algo que eles queriam me contar juntos. Depois que
nos sentamos no sofá, mamãe estendeu a mão e apertou a minha, me
dizendo telepaticamente que tudo ficaria bem. Isso me fez sentir pior.

Papai logo se juntou a nós e sentou-se ao lado de mamãe. Ele


olhou para mim, mas não disse nada.

— O que está acontecendo? Vocês dois estão bem? Alguém


está doente?

Mamãe acenou com a cabeça enquanto papai dizia: — Nós dois


estamos bem e ninguém está doente. Está relacionado com o trabalho.

Eu poderia ter caído no sofá quando o alívio me invadiu com a


notícia de que ninguém estava doente. O medo surgiu com o que ele
poderia querer falar comigo sobre o trabalho. Não havia como ele se
aposentar ainda porque conversamos sobre isso rapidamente no início
deste ano. Fiquei um tanto chocada por ele não querer falar sobre isso
em seu escritório, um lugar que eu conhecia muito bem. Lembro-me de
ter permissão para brincar no chão em frente à sua mesa enquanto ele
falava ao telefone com um cliente. Depois de terminar as ligações, ele
me puxava para o colo e me contava o que estava fazendo e como estava
ajudando a comunicar a visão da empresa para o mundo. Eu diria que,
sem dúvida, ele me inspirou a entrar em campo e esperava que um dia,
quando ele se aposentasse, eu fosse a próxima na fila para dirigir a
Monroe Media Agency.

— Pai, você está me deixando nervosa. E então?

Ele respirou fundo e eu esperei. O cansaço que eu tinha visto


em seus olhos mais cedo naquele dia voltou, fazendo meu estômago
revirar. Eu estava mesmo pronta para ouvir o que ele tinha a dizer? Se
tivesse algo a ver com o trabalho, ele iria me demitir?

— Garota, você sabe o quanto aprecio tudo o que faz na


Monroe. Não sei onde estaríamos sem você e o trabalho que fez nos
últimos cinco anos.

Estou sendo demitida. Eu não disse nada, mas sabia que ele
devia ter interpretado corretamente o olhar que eu lhe lançava: arranque
o band-aid e me diga do que se trata. Eu estava morrendo de medo.

Levei um segundo para acalmar minha ansiedade quando disse


a mim mesma que ele não tinha motivos para me demitir. Eu não tinha
feito nada que justificasse a perda do meu emprego. Outra ideia surgiu
em minha mente e me abalou ainda mais: a Monroe Media Agency
estava falindo?

Ele suspirou e mamãe disse: — A Monroe Media Agency não


está indo bem.

— O que você quer dizer com não está indo bem? — Isso era
pior do que eu ser demitida.

Desta vez, papai falou. — Estamos perdendo muito dinheiro.


Na verdade, já está acontecendo há algum tempo.

Essa era a última coisa que eu esperava que meu pai dissesse.
— Alguém mais sabe sobre isso?

Ele passou a mão pelo cabelo. — Algumas pessoas sabem.


Mantivemos isso em segredo porque pensamos que poderíamos revertê-
lo rapidamente, mas os negócios não melhoraram.

Balancei a cabeça, colocando a minha mente em torno do que


ele estava dizendo. — Existe algo que eu possa fazer para ajudar?
Recrutar mais clientes?

Meu pai estendeu a mão por cima da minha mãe e deu um


tapinha no meu joelho, antes de puxar a mão da minha mãe. — Você
tem feito um trabalho incrível. Você e a equipe de mídia social têm feito
um trabalho fenomenal e são a única componente que mantém a Monroe
Media Agency viva.

— Mas isso não é suficiente.


Ele balançou sua cabeça. — Não. Não é o suficiente,
infelizmente. Uma série de maus investimentos nos prejudicou
financeiramente, mas estou assumindo toda a responsabilidade por ter
chegado a isso. Estou fazendo o possível para salvar a empresa, mas
queríamos lhe contar pessoalmente. Não queríamos que você ouvisse
sobre isso através de um boato ou potencialmente de outra pessoa.
Avisaremos a todos com bastante antecedência se precisarem encontrar
novos empregos. Sabemos o quanto esta empresa significa para vocês.

Eu não sabia que estava chorando até que uma lágrima pousou
na minha mão descansando no colo. Mamãe pegou um lenço de papel da
mesinha de centro e me entregou. Sequei os olhos e funguei.

— Obrigada por me contar.

Minha mãe se inclinou e me puxou para seus braços,


envolvendo-me em seu calor. Como eu gostaria de poder ficar em seus
braços e deixar meus problemas desaparecerem, assim como acontecia
quando eu era criança.

— Sua mãe sabe o que está acontecendo com a empresa,


porque não quero mentir para ela, e ela sabe que estou tentando
consertar tudo. E tenho algumas coisas em andamento que podem dar
certo, mas nada é concreto.

— Existe alguma maneira que eu possa ajudar?


— Agora não, garota, mas eu deixarei você saber se as coisas
mudarem.

O desejo de contar aos meus pais sobre o encontro com o


homem que me deu vibrações terríveis foi empurrado para um canto da
minha mente. Suas palavras passaram pela minha mente mais uma vez e
uma sensação de desconforto tomou conta de mim, mas presumi que a
notícia de meu pai era um dos motivos. Afinal, tínhamos problemas
maiores para resolver.

Tentei bloquear os pensamentos que corriam pela minha mente,


porque sabia que, se não o fizesse, não conseguiria parar de chorar. Meu
pai, o homem que eu sempre soube ser indestrutível, estava por um fio.
Todos nos levantamos lentamente. Papai deu um passo ao redor de
minha mãe e me puxou para seus braços, e era algo que eu não sabia que
precisava. Apreciei o fato de ele ter vindo até mim com este problema.
Não apenas como uma de suas funcionárias, mas como sua filha. Ele
sabia o quanto a empresa significava para mim e como um dos meus
objetivos era assumi-la um dia depois que ele se aposentasse. Agora esse
sonho estava por um fio. Na tentativa de não cair em uma toca de coelho
de emoções, aproveitei aquele momento para sentir o conforto que os
braços amorosos de meu pai me traziam.
2

ANAIS

— Você parece tensa.

— E é por isso que estou aqui. Bem, além de ver você. —


Afrouxei meu casaco enquanto caminhava mais para dentro do
Devotional Spa. Ellie vinha trabalhando no spa pelos últimos dois anos.

— Estou feliz que você esclareceu esse comentário. — O


sorriso de Ellie estava sempre presente, para meu desgosto.

— Vai me fazer uma massagem ou o quê?

— Você não vai me deixar divertir, hein? — ela perguntou


enquanto se levantava. Dirigiu-se para a porta e eu a segui. — Já sabe o
que fazer. Vejo você no meu gabinete de sempre.

— Obrigada. — Eu parei. — Além disso, obrigada por me


deixar entrar no último minuto.

— Sem problema. Sabe que estou aqui sempre que precisar de


mim. Você parecia muito chateada e eu não tinha mais compromissos,
então está tudo bem.
Parei para olhar para ela. Seu longo cabelo castanho estava
preso em um rabo de cavalo baixo e a travessura brilhava em seus olhos
castanhos. Ela era alguns centímetros mais baixa do que eu, ainda mais
porque eu usava salto alto para trabalhar hoje. — Você não tem mais
compromissos porque deveria estar fechando.

— Semântica, — ela disse com um encolher de ombros. — Que


tal você se arrumar, e eu te encontro na outra sala? Então talvez
possamos sair para tomar uma bebida?

— Isso soa divino. Você é literalmente um anjo.

— Ou um demônio disfarçado, — ela me disse com um bufo.


— Te vejo em um segundo. — Com isso, ela me deixou no vestiário.
Eles projetaram a sala bem iluminada em cores neutras e tinham
algumas fileiras de armários para as pessoas colocarem suas coisas.
Havia algumas toalhas cuidadosamente dobradas colocadas em um
pequeno balcão perto de uma fileira de pias para os clientes pegarem se
precisassem. Eu andei até à fileira de armários que normalmente usava e
coloquei meus objetos de valor lá dentro. Não demorei muito para trocar
de roupa, colocar um roupão e trancar minhas coisas. Então fui para a
sala que Ellie usava na maioria das sessões que tínhamos juntas.

As luzes do gabinete eram mais suaves do que as do vestiário,


criando um ambiente mais quente e descontraído. Uma música suave
tocava ao fundo e eu tirei o roupão e me deitei na mesa de massagem.
Assim que me acomodei, Ellie bateu na porta e entrou na sala. Ela não
disse nada quando começou a massagem. Meu corpo relaxou quase
imediatamente e o estresse do dia fluiu da minha mente. Eu sabia que se
Ellie me deixasse, eu ficaria nesta mesa para sempre porque isso me
impediria de enfrentar qualquer um dos problemas com os quais eu
precisava lidar. O trabalho estava cobrando seu preço recentemente por
causa das horas de trabalho mais longas, equilibrando os clientes que
tínhamos e fazendo minha parte para recrutar novos. Isso, mais a falta de
sono e estar sempre em movimento, estava levando a um pouco da
ansiedade que eu estava sentindo.

— Relaxe, — ela disse.

Foi quando percebi que tinha ficado tensa mais uma vez. Fiz o
possível para pensar em ideias tranquilas e pacíficas em vez dos
pensamentos que vinham fervilhando em minha mente nas últimas
semanas. A massagem sueca que eu normalmente recebia, e que Ellie
estava me dando agora, ajudou a aliviar a tensão e o estresse que eu
estava sentindo. O amassamento e os movimentos circulares que ela
executava faziam maravilhas nas minhas costas e eu sentia alguns dos
problemas do trabalho desaparecerem.

Era hora de deixar o trabalho no trabalho e me concentrar em


relaxar. Talvez tenha cochilado porque, quando acordei, Ellie estava me
dando um tapinha de leve no ombro. Apertei os olhos brevemente e
percebi que ela estava de pé com os pés cruzados, encostada em um dos
balcões. Fechei os olhos mais uma vez, realmente não querendo sair da
minha posição.

— Pode ir até à sauna, se quiser, — disse ela.

Gemi enquanto movia meus músculos um pouco. — Foi


incrível, mas acho que estou pronta para aquela taça de vinho.

— Ok, bem, tenho algumas coisas para terminar aqui, mas não
devem demorar. Encontro você na frente.

— Parece bom. — Abri um olho para vê-la sair da sala.


Suspirei e demorei alguns segundos para me convencer de que precisava
me mexer para conseguir o que mais desejava naquele momento: vinho.
Tirei meu corpo mole da mesa, agarrei o roupão e me dirigi ao vestiário
para vestir as roupas de trabalho.

Revestindo meu vestido marrom e saltos pretos, prendi os


longos fios castanhos em um rabo de cavalo rápido. Sorri para o meu
reflexo no espelho, porque pela primeira vez em muito tempo, minha
pele pálida brilhava enquanto meus olhos verdes ganhavam nova vida
após a massagem. Peguei a bolsa no banco do vestiário, coloquei o
casaco e voltei para o corredor em direção à recepção.

Ellie saiu de outra sala. — Preparada?

— Sim, — eu disse enquanto arrumava a alça da minha bolsa.


— Acho que aquela massagem me fez parecer ter vinte e nove anos de
novo.
Ellie riu. — Não faz mal que você tenha apenas trinta anos. Só
preciso me despedir de Jill na recepção e podemos ir embora. Você está
bem se apenas voltarmos para o apartamento?

— Será que temos vinho no apartamento? — A ideia parecia


celestial. Eu poderia tirar esses sapatos por um curto período de tempo e
andar de carro em vez do metrô.

— Agora, que tipo de pergunta é essa? — Ellie sorriu para mim


e voltou sua atenção para a recepção. — Precisa de alguma coisa de
mim, Jill?

Jill sorriu. — Não. Tudo está ótimo aqui. Vou trancar as coisas.
Vejo você amanhã.

— Até amanhã. — Ellie caminhou até uma porta lateral e a


segurou aberta para mim. — Eu dirigi hoje, então o carro está
estacionado na garagem.

— Estou tão feliz que você tenha feito massagem terapêutica.

— Porque é benéfico para você? — O olhar malicioso no rosto


de Ellie me disse que ela estava brincando.

— Não, porque você é muito boa nisso. Bem, acho que é em


um nível egoísta, porque eu me beneficio diretamente disso.

— Vou avisar mamãe e papai. Outro ponto na coluna de


vitórias para mim, — disse Ellie. Ela estava aludindo ao fato de seus
pais desaprovarem a carreira que escolheu, mas ela não estava disposta a
mudar de profissão para atender aos desejos deles.

Balancei a cabeça quando começamos a descer o corredor bem


iluminado. O barulho dos meus saltos ecoava nas paredes e no chão, e
logo chegamos a uma enorme porta branca no final do corredor. Ellie
abriu a porta e a segurou para mim enquanto eu entrava. Abriu para um
corredor menor com dois elevadores.

Ellie apertou o botão para baixo e virou a cabeça para olhar


para mim. — Quando foi a última vez que saímos?

Eu tentei pensar. — Há um mês? — Embora moremos juntas


por anos, já faz um tempo que não nos vemos por causa do trabalho ou
outras obrigações.

— Uau, — disse ela. — Não acredito que já faz tanto tempo.

— Era por isso que você queria me convidar para a gala?

Ela balançou a cabeça. — Foi de última hora e só vou porque


meus pais não podem ir.

— Ah ok.

— Não soe tão entusiasmada com isso.

Eu ri de seu sarcasmo. Eu não estava entusiasmada em ir a um


evento porque quando se tratava das coisas a que os pais de Ellie
compareciam, as pessoas eram empertigadas, mas eu queria ajudar Ellie
se pudesse. Colocar um vestido bonito e um pouco de maquiagem era
bom, mas às vezes bater papo com outras pessoas ficava cansativo.

— Tenho o convite em casa, então mostro quando chegarmos


lá. Eu sei que essa não é exatamente a sua cena, mas sei que você tem
vários vestidos chiques ou como eu disse, poderíamos ir às compras.
Seria uma oportunidade para sairmos juntas.

— Estou chocada que você não quis levar um dos caras que
está namorando.

Ela deu de ombros. — Eu provavelmente poderia. Mas quis te


convidar. Porque é muito mais fácil do que ter que me livrar de alguém
no final da noite.

Isso chamou minha atenção. Ellie nunca teve problemas para


conseguir um encontro, mas nunca nada sério. Eu, por outro lado, não
namorava há pelo menos seis meses e preferia assim. — Você não
costuma se entender com as pessoas com quem sai?

— Sim e não. É complicado.

— Parece que sim. — Mas não insisti mais porque o elevador


havia chegado. Entramos e esperamos enquanto ele nos levava para a
garagem.

Assim que a porta se abriu, saí e olhei em volta. — Eu não


sabia que havia outra maneira de chegar aqui.

— Eu sei muitas coisas sobre este lugar e esta cidade.


Embora ela tenha terminado seu comentário com uma
piscadela, eu sabia que não estava brincando. Eu tinha visto seu
conhecimento em ação, e isso me impressionava e me aterrorizava. As
coisas aleatórias que ela retinha eram úteis e assustadoras.

Não demorou muito para que estivéssemos dirigindo pelas ruas


de Nova York a caminho de nosso apartamento. Observei enquanto o
brilho dos postes refletia nos carros que lotavam a rua. Embora fosse
noite, o trânsito ainda estava bastante intenso na ‘Cidade que Nunca
Dorme’2. A música baixa, arejada e suave que tocava no spa serviu de
trilha sonora para a conversa leve que estávamos tendo para passar o
tempo. A volta para casa foi rápida, considerando todas as coisas, e eu
suspirei e fechei os olhos quando minhas costas bateram na almofada
macia do nosso sofá.

— Aqui tem.

Abri um olho e encontrei uma taça de vinho olhando para mim.


— Obrigada. Isso é Merlot?

— Sim, é, e não se preocupe com isso. Além disso, aqui está o


convite.

Peguei o grosso cartão cor de marfim de sua mão e o li. —


Convite bonito e bar aberto.

2 Como é conhecida a cidade de Nova York.


— Feliz por estar indo agora? Além disso, o que mais você
faria em uma noite de sexta-feira?

— Me enterrar debaixo de um cobertor em nosso sofá com um


pote de sorvete e assistir Netflix?

— Por que está vindo comigo então?

Eu ri quando ela estendeu a taça para tilintar com a minha e nos


sentamos para saborear o delicioso vinho.
3

DAMIEN

— Isso é uma reunião familiar?

Olhei feio para meu irmão mais novo, Gage, quando ele entrou
na sala, quinze minutos atrasado.

— Que bom que você pôde vir, — seu irmão gêmeo, Broderick,
falou ao meu lado.

Estávamos sentados ao redor de uma mesa enorme em uma das


muitas salas de conferência em um prédio que foi apelidado de ‘Cross
Tower’ devido a muitas de nossas operações utilizarem espaço neste
local. Broderick e eu chegamos a tempo para esta reunião misteriosa,
enquanto Gage permaneceu fiel a seus hábitos e chegou depois da hora.

— Feliz em ver você também, Ric.

Eu sacudi a cabeça em seu sarcasmo e me preparei


mentalmente para Broderick responder porque Gage havia abreviado seu
nome. Isso era algo que sempre irritava Broderick quando eles eram
crianças, e não era surpresa quando às vezes voltavam a isso. Meus
olhos se voltaram para a porta para ver se nosso pai havia chegado. O
que era surpreendente era que nosso pai estava atrasado e isso era
diferente dele. Talvez ele estivesse operando sob a suposição de que
Gage iria se atrasar, como sempre, e estava terminando mais algumas
coisas antes de se juntar a nós aqui.

Todos nós compartilhamos cabelos castanhos, embora o cabelo


dos gêmeos fosse alguns tons mais claro que o meu e o do meu pai. O
cabelo de papai estava ficando mais desbotado e grisalho a cada ano. Ele
e Gage compartilhavam os mesmos olhos castanhos, enquanto Broderick
e eu herdamos os olhos azuis de nossa mãe. Alisei minha gravata preta,
que geralmente era o que eu usava para trabalhar, e me virei para olhar a
porta quando a ouvi abrir.

— Que tal vocês dois pararem com essa merda em vez de


voltarem a ser crianças de cinco anos? — Isso era uma perda de tempo.

— Boa tarde, rapazes. Obrigado por virem em tão pouco tempo.


— Papai entrou na sala de conferências, sem ouvir nenhuma parte da
conversa que acabara de acontecer.

Enquanto eu o observava fechar a porta, quaisquer outros


pensamentos que eu tivesse desapareceram. Apenas um permanecia e
estava me importunando desde que nos chamou aqui apenas algumas
horas atrás: Por que papai nos chamou aqui sem avisar?
— Gage, sente-se, — papai disse enquanto se sentava em frente
a nós três do outro lado da mesa. Gage e papai chegaram em suas
respectivas cadeiras ao mesmo tempo e sentaram-se sem alarde.

— Pai, o que foi? Qual é a urgência de nos trazer aqui? —


Fiquei feliz por Broderick ter falado primeiro do elefante na sala.

Papai não disse nada enquanto endireitava sua postura.

— A fusão da Meyers está avançando.

O alívio inundou a sala. Todos nós estávamos trabalhando para


garantir que o negócio ocorresse e, finalmente, nossos esforços valeram
a pena. Claro, tudo isso precisaria ser aprovado pelo conselho de
administração, mas levar a Meyers and Company a esse ponto levou
alguns anos de trabalho duro. O conselho estava pronto para aprovar o
acordo há um ano. Papai era o CEO da Cross Industries desde que nosso
avô se aposentou e agora Broderick, Gage e eu atuavamos como vice-
presidentes seniores fora dos empreendimentos que assumimos fora da
empresa-mãe.

— E essa é mais uma adicionada ao império.

Gage estava certo. Nossa família se deu muito bem ao longo


dos anos depois que meu bisavô abriu sua primeira empresa em 1800.
Acabou se tornando um dos maiores bancos dos Estados Unidos. Isso
ajudou a iniciar o que as pessoas chamavam de ‘Cross Empire’ 3 na
cidade de Nova York e em todo o mundo.

Papai entrou em mais detalhes sobre os próximos passos da


fusão ao longo de vinte minutos. Passamos alguns minutos conversando
sobre outros negócios antes de papai empurrar a cadeira para trás,
sinalizando que poderíamos encerrar a reunião.

Assim que terminamos, Broderick se levantou. — Obrigado por


nos chamar para isso, pai.

— Eu queria mantê-los atualizados. Afinal, vai mudar um


pouco o foco da reunião do conselho de final de ano, mas devemos ter
uma ligação com o resto da equipe sobre isso. Antes de partirem,
gostaria de lembrar a vocês três sobre a festa de fim de ano que sua mãe
está organizando em algumas semanas.

Sorri quando ouvi Gage gemer. Eu tinha certeza de que todos


nós estávamos pensando nisso, mas dois de nós tiveram o bom senso de
não revelar esses sentimentos. Mamãe organizava uma festa anual de
Ano-Novo que eu achava que nenhum de nós gostava muito, mas
comparecíamos porque ela queria que fôssemos.

— Ok, vocês três podem sair agora.

3 Império Cross.
Nós nos levantamos e fomos em direção à saída. Meus irmãos
saíram da sala primeiro e, quando eu estava prestes a ir atrás, papai me
chamou de volta. — Damien?

Eu me virei para encarar meu pai.

— Me dá um momento? E poderia fechar a porta?

Levantei uma sobrancelha antes de obedecer. Coloquei as duas


mãos nos bolsos enquanto caminhava de volta para a mesa da sala de
conferências. Papai deslizou uma pasta sobre a mesa para mim, e ela
caiu fora do meu alcance.

— O que é isso? — Eu perguntei antes de me inclinar sobre a


mesa e arrastar o arquivo para mim com as pontas dos dedos. Abri a
capa e folheei parte da primeira página. Nela havia informações sobre
James Monroe, CEO da Monroe Media Agency. Olhei para meu pai por
um segundo e peguei a pasta. Ele e meu pai compartilhavam cabelos
grisalhos semelhantes, mas o cabelo de James era mais curto. A foto
devia ser recente porque ele estava parecido com a última vez que o vi.
A próxima foto no arquivo era de uma mulher bonita da idade de James.
Levei um segundo para confirmar que ela era Ilaria Monroe, a esposa de
James. Folheei mais páginas até encontrar a foto de uma morena
estonteante com olhos verdes brilhantes, muito parecidos com os de
James. A pele dela era mais pálida que a dele e minha mente criou uma
fantasia do corpo dela embaixo de mim. Quem era esta? Eu podia ver a
semelhança de família, então ela tinha que ser filha deles. Quando
descobri o nome dela, olhei para papai novamente. Eu sabia que ele
tinha me pego olhando para a foto por muito tempo com base no olhar
em seu rosto.

— Esta é a informação que Dave disse que você pediu a ele


sobre Monroe. Eu me ofereci para trazê-la para você.

Eu quase tinha esquecido que havia pedido a Dave, nosso


investigador particular interno, para desenterrar mais alguns detalhes
sobre Monroe. — Vou ter outra reunião com James nos próximos dias.

Papai deu uma segunda olhada. — Você deixou ele ter outra
chance? Está mudando de procedimento?

— Vamos apenas dizer que estou me sentindo mais


benevolente, devido à temporada, mas isso será resolvido o mais rápido
possível. — Seus olhos verdes brilhantes ficaram gravados em minha
mente. A segunda foto mostrava o que faltava à primeira: seu corpo
esguio, porém atlético. Uma ideia de como eu poderia ter certeza de que
seria pago por minha generosidade começou a se formar porque eu sabia
que Monroe não poderia me pagar de volta a tempo. Tê-la vindo a mim
de bom grado seria o pagamento final.

— Tem certeza? Você parece... distraído. — O brilho em seus


olhos me disse que ambos sabíamos de quem ele estava falando: a filha
de Monroe.
A voz do meu pai me tirou dos pensamentos que eu estava
tendo. — Ele pegou o meu dinheiro emprestado e vai pagar de volta. Se
ele não o fizer, a Monroe Media Agency irá falir e ser estripada e trazida
para a Cross Empire.

— E aí está o Damien que eu conheço.

Balancei a cabeça para o meu pai enquanto meus pensamentos


voltavam para a mulher cuja foto estava impressa em minha mente. Isso
era novo porque as mulheres entravam e saíam da minha vida
regularmente e eu conseguia o que queria antes de saírem.

O toque do meu telefone quebrou minha concentração na


mulher na minha frente. Peguei o telefone e reconheci o número.

— Pai, eu preciso atender.

— Claro. Vejo você mais tarde.

Esperei até que ele saísse e então atendi. — Sim?

— Tate não tinha o dinheiro que deve a você.

— Acabe com ele.

— Você quer dizer…

— Você sabe o que eu quero dizer.

— Você quer que seja rápido ou lento?

— Eu confio no seu julgamento. Apenas certifique-se de que


seja tratado.
Desliguei e coloquei meu telefone no bolso antes que meus
olhos voltassem para o arquivo sobre a mesa. As mulheres da minha
vida tinham que se submeter e eu poderia dizer que ela não o faria, mas
minha atenção estava focada nela. Eu sabia que precisava descobrir mais
informações sobre Anais, a mulher cuja foto estava olhando para mim.

***

— Obrigado por vir ao meu escritório hoje. Peço desculpas por


não poder ir até ao seu escritório.

Eu podia sentir a energia nervosa saindo de James em massa.


Não podia culpá-lo. Afinal, ele não sabia o que eu poderia dizer ou fazer
que pudesse destruir a vida que ele havia construído.

Era um dia depois que meu pai jogou a pasta de informações


sobre a família Monroe em meu colo. De acordo com o que Dave
forneceu no arquivo e minhas próprias deduções, imaginei que James
Monroe não pagaria o dinheiro que devia em seis semanas.

— Não foi um problema, e nenhuma dificuldade da minha


parte, — eu disse enquanto me sentava na cadeira em frente a sua mesa e
ele fazia o mesmo em sua cadeira. Embora seu comportamento
destacasse alguém que tinha muita confiança, eu podia sentir o
nervosismo pingando dele como gotas de chuva em uma tempestade.
— Sr. Cross...

Uma batida na porta nos interrompeu. James passou a mão no


rosto e disse: — Entre.

A porta se abriu e entrou a morena estonteante, de pasta. Anais


Monroe. Seus olhos dispararam entre nós dois.

— Oh, me desculpe. Eu não sabia que estava ocupado. Sua


agenda dizia que estava livre.

— Foi algo que surgiu no último minuto, — disse James.

Concordei com ele porque a reunião tinha sido marcada, talvez


uma hora e meia atrás.

Levei meu tempo estudando a bela mulher na minha frente. Ela


usava o cabelo castanho solto, caindo em ondas suaves nas costas, e seus
olhos finalmente pousaram em seu pai, embora eu soubesse que ela
estava bem ciente da minha presença na sala. Usava uma blusa branca,
blazer azul marinho e jeans azul escuro com salto bege. Pensamentos de
sua forma de ampulheta usando apenas aqueles saltos deslizaram em
meu cérebro antes que pudesse me impedir. Eu discretamente me ajustei
e voltei a atenção para ela.

— Anais, é algo que precisa ser discutido agora? — James


perguntou. — Oh espere. Deixe-me apresentá-la a Damien. Essa é
Anais, chefe da nossa equipe de mídias sociais e a quem tenho o
privilégio de chamar de minha filha. Damien está aqui para falar comigo
sobre alguns assuntos de negócios.

Levantei-me da cadeira e me inclinei para apertar sua mão. A


palma da mão dela era quente e macia, mas o aperto de mão que ela me
deu era firme e deu um leve solavanco no meu pau. Eu poderia dizer que
ela sentiu o mesmo, porque seus olhos demoraram em nossas mãos por
um segundo antes de ela se afastar e se virar para o pai.

— Não, pai. Isso pode esperar, e me desculpe por interromper.


Prazer em conhecê-lo, Damien.

— Foi um prazer conhecê-la também, — respondi


automaticamente. E não será a última vez.
4

ANAIS

Fazia tempo que não ia a um desses eventos. O desejo de correr


na outra direção era real quando Ellie e eu entramos pelas portas do
Olympus Hotel. Nossos saltos estalaram no chão antes de pararmos,
tentando nos orientar, porque parecia que havíamos entrado em outra
dimensão. Os proprietários projetaram o hotel de maneira sofisticada e
majestosa, com tons de vermelho e dourado por toda parte. A
intimidação que senti por participar de um evento tão importante com
pessoas importantes se insinuou.

Achei que tinha respirado fundo silenciosamente, mas o olhar


que Ellie me lançou provou o contrário.

— Você está bem? — ela perguntou, inclinando-se para


sussurrar em meu ouvido.

— Sim, estou bem.

— Tem certeza?

Tudo o que fiz foi acenar com a cabeça. O desejo de lhe contar
minhas preocupações e medos estava lá, mas não era a hora nem o lugar.
— Sabe, fiquei chocada por você usar vermelho, mas estou
amando esse vestido.

O vestido vermelho escuro estava guardado no meu armário há


mais de um ano, porque eu não tinha onde usá-lo. A abertura na minha
perna direita tornava mais fácil para mim andar com os saltos pretos de
tiras que eu também tinha há um ou dois anos e mal usava. Terminei
meu look jogando o cabelo em um coque francês no topo da cabeça e
aplicando um batom vermelho escuro para combinar com o vestido.
Embora minha excursão de compras com Ellie não tivesse sido bem-
sucedida para mim, ela estava deslumbrante em seu novo vestido verde
escuro com decote em V de alças finas e costas abertas. Ela usava o
cabelo castanho escuro sobre os ombros.

— Obrigada. Honestamente, eu deveria ter vestido preto. Isso


teria se encaixado melhor no meu humor esta noite.

— Silêncio, — disse Ellie. — Isso vai acabar antes que você


perceba.

— Será?

— Posso te ajudar? — Uma mulher vestida com um terno preto


e camisa preta nos cumprimentou.

— Estamos aqui para a gala do Projeto Adoção.


Quando Ellie terminou sua frase, a mulher na nossa frente se
iluminou. — Oh, é logo abaixo deste corredor e à sua esquerda. Posso
guardar seus casacos?

— Isso seria bom. — Tiramos nossos casacos e os entregamos


à atendente, que então os levou para guardar. Ela voltou para nos dar
nossas entradas.

— Muito obrigada, — eu disse enquanto Ellie sorria para a


mulher e acenava com a cabeça antes de caminharmos pelo corredor. —
Espero que não tenhamos que ficar aqui muito tempo. Esses saltos vão
me roubar a circulação nos pés.

— Mas eles são lindos.

— É verdade, — eu disse, olhando para baixo para admirar as


sandálias enquanto continuávamos pelo corredor. Não demorou muito
para descobrirmos em que sala estávamos com base na placa em um
suporte do lado de fora da porta. Momentos depois, Ellie e eu estávamos
de pé ao lado, em frente à entrada, bebendo taças de vinho e apreciando
o ambiente à nossa frente.

— Sabe, acho que observar as pessoas é meu esporte favorito.

— Acho que é o meu também, — respondi enquanto deixei


meus olhos flutuarem ao redor da sala. Foi então que olhei para trás em
direção à entrada e um suspiro saiu de meus lábios.

— Ei, o que há de errado com...


Não ouvi o resto da pergunta de Ellie. Isso porque meus olhos
pousaram em um homem que me causou tanto entusiasmo quanto medo
ao mesmo tempo. Não consegui parar o arrepio que percorreu meu corpo
quando seus olhos azuis pousaram nos meus. A maneira como eles
examinaram meu corpo me fez pensar que ele estava me despindo em
sua mente, semelhante à vibração que senti quando nos conhecemos no
escritório do meu pai. Ofereci a Damien o mesmo tratamento de volta
enquanto olhava para ele do topo de seu cabelo castanho
impecavelmente penteado para seus sapatos que pareciam pouco usados.
O smoking preto padrão me lembrou o terno que ele usou no meu
escritório, mas em vez de usar uma gravata preta, ele a trocou por uma
gravata borboleta. Ajustava-se perfeitamente ao seu corpo, e apostaria
meu salário que foi feito sob medida. Bem, essa aposta não valeria
muito, visto que eu não sabia por quanto tempo teria um.

— Ei, Anais...

Com o canto do olho, pude ver Ellie passar de me encarando


para o homem alto, moreno e bonito parado do outro lado da sala.

— Terra para Anais. Desça das nuvens.

As palavras que ela sussurrou chamaram minha atenção. —


Espere, o quê?

— Você parece ter chamado a atenção de Damien Cross. Dizem


nas ruas que isso é uma bênção e uma maldição.
— Você pode me dar uma ideia geral?

— O Sr. Alto, Moreno e Bonito ali é tão perigoso quanto


bonito. Sem falar que ele e sua família são mais ricos que Bill Gates. Eu
ouvi histórias sobre algumas de suas façanhas e não apenas aquelas que
são mencionadas nos tablóides. Você está me ouvindo?

— Não, — eu disse. Pelo menos estava sendo honesta. — Nós


nos encontramos antes. Rapidamente.

— E não me contou? — A pergunta de Ellie saiu como um


sussurro áspero, mas eu podia ouvir o choque e sabia que ela iria me
repreender mais tarde.

— Não achei que fosse grande coisa.

— Não achei que fosse grande coisa, — ela murmurou


baixinho, zombando de mim levemente.

Eu bufei de volta, acostumada com esse comportamento dela.


Vi um movimento com o canto do olho e um olhar para Ellie me forçou
a quebrar o contato visual com Damien.

Ela respirou fundo e disse: — Precisamos conversar mais tarde.


— Os olhos de Ellie se moveram entre nós rapidamente. — Oh, sim, nós
definitivamente precisamos conversar mais tarde.

Olhei na direção de Damien e vi que ele ainda estava olhando


para mim. Antes que alguém pudesse fazer qualquer coisa, uma voz
rompeu a conversa na multidão e perguntou se todos podiam se sentar
porque o programa estava para começar. Ellie e eu nos sentamos, e
fiquei desapontada por não estarmos sentadas na mesma mesa que
Damien, mas não havia nada que pudesse ser feito sobre isso. Não era de
surpreender que ele estivesse sentado em uma mesa perto da frente e nós
estivessemos sentadas algumas fileiras atrás. A mesa e a sala foram
decoradas para se assemelhar a um evento de primeira linha, jogando
com os vermelhos e dourados que faziam parte da decoração do hotel. O
Projeto Adoção fez questão de incluir animais de estimação em seu tema
decorativo. Cada cartão de nome incluía uma foto de um animal nele. Eu
sorri para o cachorro no meu.

O apresentador chamou minha atenção quando se aproximou do


microfone e anunciou o que veríamos esta noite para apoiar o Projeto
Adoção. Ele manteve a gala interessante e animada, removendo um
pouco da hesitação que eu tinha em participar do evento em primeiro
lugar. Após cerca de uma hora de gala e durante uma pausa nos números
musicais, discursos e leilões no palco, inclinei-me para Ellie e sussurrei:
— Vou ao banheiro feminino.

Ela assentiu, peguei minha bolsa e saí do grande salão. Levei


um momento para descobrir onde ficavam os banheiros, mas uma vez
que os vi, andei o mais rápido que meus saltos permitiram. Felizmente,
certifiquei-me de que meu vestido não levaria muito tempo ou esforço
para eu usar o banheiro. Minutos depois, eu estava secando minhas
mãos, pronta para voltar para a gala. Abri a porta e saí.
— Bom te ver aqui.

Eu me virei para descobrir de onde o rico timbre tinha vindo.


Fiquei surpresa ao encontrar o Sr. Alto, Moreno e Bonito parado a
apenas alguns metros de distância. Seus olhos azuis brilhavam ainda
mais agora do que quando nos encontramos no escritório do meu pai
alguns dias atrás. Olhei para ver se havia alguém por perto antes que
meu olhar voltasse a pousar nele. Esqueci de respirar por um segundo
enquanto o examinava sem tentar deixar isso muito óbvio. Eu não podia
negar que ele tinha boa aparência.

— O que está fazendo aqui? — Perguntei.

Ele não disse nada, mas fez sinal para que eu desse um passo
mais perto. Quando o fiz, ele colocou a mão na parte inferior das minhas
costas e me conduziu até uma fileira de janelas com vista para a cidade
inteira. Seu perfume, uma fragrância amadeirada e picante com um
toque floral, penetrou em meu nariz, me envolveu e me consumiu. No
entanto, ainda havia uma sensação de perigo que eu não conseguia
identificar. Eu sabia que não seria capaz de sentir esse aroma novamente
sem pensar nele. Quando parou de andar, dei um passo para trás, embora
desejasse o calor que seu toque trazia à minha pele nua. Parecia muito
íntimo para alguém que eu mal conhecia.

— Não posso ir a um evento de apoio aos animais? Eu gosto


deles, e presumo que você também.
— Claro que pode, mas isso não requer que me impeça de
chegar onde eu quero ir. Com licença.

Tentei permanecer o mais educada possível enquanto dei um


passo para a esquerda para contornar Damien, mas ele bloqueou meu
caminho. Eu me movi para a direita e ele me bloqueou novamente.

— Mexa-se. — Minha voz era baixa e ameaçadora. Eu não


queria causar uma cena e envergonhar Ellie e seus pais, mas também não
tinha nenhum problema em fazer isso para me afastar dele. — Saia do
meu caminho.

— Não, e quanto mais rápido você perceber que ninguém pode


me dizer o que fazer, melhor.

Revirei os olhos. — O que quer? — Perguntei.

— Tenho uma proposta para você.

Seus olhos estavam presos nos meus. Eles não vacilaram


nenhuma vez. As esferas azuis ficaram frias quando lhe respondi. A
confiança escorria dele, fazendo-me sentir intimidada por sua presença,
mas me recusei a recuar.

— Bem? — Eu perguntei, esperando que ele continuasse.

— Quero falar com você sobre um acordo que tenho com seu
pai.
Meus olhos se estreitam enquanto eu tento descobrir o que ele
quer dizer. — Que tipo de acordo?

Ele colocou as duas mãos nos bolsos e disse: — Tenho certeza


de que não é nenhuma surpresa para você que a Monroe Media Agency
esteja com problemas financeiros.

Eu poderia ter vociferado para ele porque ousou pronunciar o


nome da empresa da minha família e espalhar informações que eu
odiava dizer que eram verdadeiras. Olhei ao redor mais uma vez,
certificando-me de que ninguém estava ouvindo antes de dar um passo
mais perto. — Este acordo é o motivo pelo qual você estava em nosso
escritório?

— Sim, seu pai me deve dinheiro depois que me ofereci para


ajudar a Monroe Media Agency a sobreviver cerca de dois meses atrás.
Dei-lhe a oportunidade de me reembolsar, mas ele não pôde, então
estendi o prazo. Mesmo com o impulso que a Monroe Media Agency
recebeu recentemente, seria um milagre para ele me pagar tudo o que eu
lhe emprestei. — Ele fez uma pausa. — Mas há um problema.

— E qual é?

— Seu pai tem mais seis semanas para pagar o empréstimo e,


com base na reunião que tive com ele e em minha pesquisa, isso não
acontecerá. — Ele lambeu os lábios e continuou: — Mas eu tenho uma
oferta extra que quero incluir neste negócio que, se acontecer, pagaria
sua dívida.

— Oh sério? E qual é?

— Você.

Dou um passo para trás enquanto meu olhar se torna mais


proeminente. — Desculpe? O que você quer dizer comigo?

Ficou claro quem estava comandando o show aqui. Um lado de


seus lábios se curvou para cima. — Eu quero você.

Meu sangue ficou tão frio quanto seus olhos. — Pode repetir
isso?

Ele deu um passo à frente, entrando em minha bolha pessoal


mais uma vez. — Raramente me repito, mas abrirei uma exceção só
desta vez. Quero você.

Eu não conseguia parar de sentir que ele havia se tornado meu


pior inimigo.
5

ANAIS

— Eu ouvi você, mas devo estar presa em outra dimensão porque não
estou compreendendo. O que quer de mim?

Ele deu um passo mais perto e disse: — Você será minha por trinta dias.
Fará o que eu disser. — Ele se inclinou e mais uma vez senti o cheiro de sua
colônia.

Eu não queria admitir, mas o cheiro me atraía como o de um bolo


delicioso que dá água na boca. No entanto, suas palavras e a intimidação que ele
usava como uma arma faziam com que tudo o que pudesse estar molhado secasse
como o Saara.

— Eu até serei generoso e lhe darei alguns dias para pensar sobre isso.

— Você está dizendo que quer fazer sexo comigo em troca de pagar a
dívida do meu pai? — A pergunta saiu da minha boca e eu não me importei. Não
importava que isso chamasse a atenção sobre nós e pudesse causar uma cena.

— Essas foram suas palavras, Anais. Não minhas.

Não.

Sem chance.

De jeito nenhum.
Ele não negou minha interpretação de sua proposta. Sempre foi difícil
para mim evitar que meus sentimentos transparecessem no rosto, mas consegui, e
meu rosto permaneceu neutro. Por dentro, eu estava aterrorizada com as palavras
que haviam saído de minha boca, mas também estava enfurecida para deixar que
esse sentimento me invadisse. Meu corpo ficou tenso enquanto eu
subconscientemente tentava controlar o calor que ameaçava tomar conta do meu
rosto. Quem ele achava que eu era?

O que mais me irritou foi o fato de que eu podia ver um sorriso em seus
lábios. Eu estava com vontade de lhe dar um tapa, mas pensei melhor. — Como eu
sei que está dizendo a verdade?

— Não gosto que minha honestidade seja questionada. Você e eu


sabemos que não estou mentindo, mas ficarei feliz em lhe mostrar a prova. — Ele
pegou o celular e me mostrou uma captura de tela do que parecia ser um contrato
que meu pai havia assinado. — Agora, como eu disse, isso será por trinta dias.
Você fará qualquer coisa que eu pedir. Se eu disser para você correr nua pela
Seventh Avenue 4, a única pergunta que você poderá me fazer é por quanto tempo.
Se eu disser para parar no meu escritório para uma transa rápida, então você vai
fazer isso, sem hesitar.

Seu comentário me deixou sem palavras, incapaz de compreender como


esse homem pode ser tão babaca. Meus lábios tremiam, não de lágrimas, mas de
frustração e raiva. Nem uma vez durante toda a nossa interação seu comportamento
mudou. Mesmo quando enfiou a mão no bolso do paletó, o mesmo homem calmo e
arrogante que se aproximou de mim ainda estava presente. Era como se as
exigências que ele fazia fossem apenas uma transação cotidiana. Inferno, talvez
para ele fossem.

4
Avenida na cidade de Nova York.
Por outro lado, meu estômago parecia estar prestes a se deslocar para o
meu peito, exigindo ser liberado da prisão em que se encontrava. É engraçado, com
base no que ele disse, eu me senti como se estivesse prestes a ser colocada em
uma. Ele tirou da carteira o que parecia ser um cartão de visita de cor creme e mo
entregou.

— E se eu não concordar com este… acordo? — Olhei para o cartão e


percebi que era de fato seu cartão de visita com um número rabiscado no verso.

— Seu pai terá de me pagar integralmente em seis semanas. E se ele


não… bem. Acho que você não quer descobrir o que acontece se ele não o fizer.
Estou ansioso para ouvir sua resposta.

Eu tinha certeza que ele me ouviu engolir em seco depois de sua


declaração enquanto eu tentava o meu melhor para não desviar meu olhar dele. Eu
poderia lidar com clientes como Edward o dia todo, aliviando a tensão à medida
que eu trabalhava, mas isso era diferente. Ele era diferente e estava exigindo muito
mais de mim. Ele queria meu corpo, minha alma e minha dignidade.

O sorriso que apareceu em seu rosto antes de se virar para ir embora me


fez estremecer. Isso é mesmo legal? Mas mesmo se eu protestar, vou chegar a
algum lugar com isso? Ele sabia que me tinha entre a espada e a parede, o que,
para ser franca, era exatamente onde ele me queria… em mais de uma maneira. Os
pensamentos correram pela minha cabeça enquanto eu tentava processar a conversa
que havíamos compartilhado. Vale mesmo a pena eu voltar para a festa? Minha
mente estaria em outro lugar de qualquer maneira.

Não, eu voltaria para dentro, me sentaria ao lado de Ellie e sobreviveria a


essa noite. Eu não deixaria que ele visse que tinha me afetado. Quando
voltássemos ao nosso apartamento, eu precisaria fazer minha pesquisa sobre
Damien Cross. Eu não queria trazer Ellie para isso, mas sabia que seu vasto
conhecimento sobre as pessoas nesta cidade seria útil. Agora, eu precisava de toda
a ajuda que pudesse conseguir.

Travei os joelhos por um segundo para evitar afundar no chão. Não havia
como eu desmaiar se tivesse algum controle sobre meu corpo. Respirei fundo e
marchei de volta para a festa com as costas retas e a cabeça erguida. Eu não sabia
quem poderia ter nos visto e queria mostrar que o que havia acontecido não me
afetou. Ellie lançou um olhar em minha direção quando me sentei no meu lugar,
mas não disse nada. Não que ela precisasse mesmo, porque eu sabia qual seria a
pergunta: Onde você estava?

***

— Bem, isso não foi tão ruim, afinal, — eu disse enquanto Ellie e eu
caminhávamos para fora do Olympus Hotel. Estremeci quando o ar frio atingiu
meu rosto e apertei a gola do casaco em volta do meu pescoço. Depois de ficar
sentada em uma sala quente por algumas horas, meu corpo não estava pronto para
o vento frio e forte.

— Sim, foi fantástico. Até os quinze minutos que você perdeu quando
foi ao banheiro.

A maioria das coisas nunca passava despercebida por Ellie e eu não


deveria esperar algo diferente nesse caso. Pensei em resumir meu encontro com
Damien, mas parei, porque é claro que ele estava parado a alguns metros de
distância.
— Ele chegou em uma limusine, — Ellie sussurrou enquanto
observávamos o motorista dar a volta na parte de trás do carro e abrir a porta para
Damien. Damien fez uma pausa e olhou por cima do ombro. Nossos olhos se
encontraram mais uma vez e eu engoli em seco, me perguntando o que ele poderia
fazer a seguir. Tudo isso foi em vão porque ele me deu um pequeno aceno de
cabeça e entrou na limusine. Seu motorista fechou a porta e deu a volta no carro
antes de se sentar no banco do motorista.

— O que está acontecendo? Por que ele estava te encarando? Esta foi
pelo menos a segunda vez que isso aconteceu esta noite, — Ellie sussurrou.

Eu a ouvi, mas não respondi imediatamente. Em vez disso, fiquei


encantada com a aura ameaçadora do homem que lançou esse desafio aos meus
pés. Foi então que percebi que não falava nada há algum tempo.

— Eu nem tenho certeza. — Eu sabia que havia alguma hesitação em


minha voz com base no olhar de soslaio que Ellie me deu. Eu só podia admitir para
mim mesma que estava mentindo. Eu sabia exatamente o que estava acontecendo
com Damien Cross.

— Bem, ainda bem que moramos juntas, então temos muito tempo para
conversar sobre esse assunto.

— Sim. Vamos fazer isso.

— Senhora?

Nós duas nos viramos para a voz desconhecida. Um atendente do hotel


estava a alguns metros de distância, tentando ajudar no trânsito e garantir que os
hóspedes saíssem do hotel com segurança.

— Posso chamar um táxi para vocês?


— Sim, por favor. Seria ótimo, — Ellie respondeu. Antes que
pudéssemos estalar os dedos, um táxi parou, e Ellie e eu estávamos sentadas,
voltando para nosso apartamento.

Eu estava esperando que Ellie mencionasse os eventos da noite no


caminho para casa, mas ela não o fez. Isso, por algum motivo, me deixou nervosa.
Normalmente, ela não tinha problemas em falar para mim sobre as coisas que
aconteciam em nossas vidas, então seu silêncio foi estranho. Quando chegamos,
Ellie parou para pegar a correspondência em nossa caixa de correio no saguão
enquanto eu chamava o elevador para que estivesse lá quando ela voltasse. O
elevador chegou ao saguão antes que Ellie retornasse, então entrei e segurei as
portas abertas.

— Ellie!

— Chegando! Estou chegando!

Assim que ela entrou, afastei meu braço e observei as portas se


fecharem. — Seria estranho se eu tirasse esses sapatos agora?

— Um pouco. Estamos a trinta segundos do nosso apartamento.

Ela estava certa e uma vez que meus pés bateram na porta, tirei os saltos
e suspirei. Meus pés no tapete da nossa porta da frente pareciam divinos.

Nosso apartamento não era muito grande, mas era um lar. Era um pouco
pequeno para duas pessoas, mas nós fizemos funcionar. Tinha uma sala de estar,
cozinha, um banheiro que Ellie e eu dividíamos e dois pequenos quartos.
Poderíamos nos dar ao luxo de mudar para um lugar um pouco maior, mas
gostávamos da conveniência de ter o metrô e os ônibus por perto.

— Vou me trocar e depois podemos conversar.


— Parece bom. Também irei me trocar e farei pipoca para comermos.
Nunca há comida suficiente nesses eventos.

Com isso, fui para o meu quarto e troquei o lindo vestido que tinha usado
essa noite. Então, peguei alguns lenços e fui até ao espelho para remover a
maquiagem. Enquanto limpava o rosto, me vi olhando no espelho, ainda abalada
com a exigência de Damien. Embora ele tivesse apresentado o acordo como se eu
tivesse escolha, algo no fundo do meu coração me dizia que não tinha escolha.
Seria dele por trinta dias ou a Monroe Media Agency iria à falência. O pano úmido
e frio pouco ajudou a aliviar a irritação que crescia dentro de mim enquanto eu
tentava encontrar uma saída para a situação em que me encontrava. A audácia que
ele teve para sugerir isso mostrou o quanto ele era um idiota.

— Anais? — Ellie chamou através da porta.

— Ah, sim? — Olhei para minha mão e descobri que havia parado de
esfregar o lenço na pele e o amassado no punho sem nem perceber.

— A pipoca está pronta.

— Saio em um minuto. — Essa era a segunda mentira que contava esta


noite.

Entrei em nosso banheiro comum do outro lado do corredor com outro


lenço, e fiz o possível para remover o máximo de maquiagem que podia sem
causar queimaduras na pele. Em seguida, lavei o rosto, principalmente na tentativa
de limpá-lo, mas esperava que isso esfriasse a raiva que estava percorrendo meu
corpo.

Quando terminei de me secar, fui até à cômoda e tirei os grampos que


prendiam meu cabelo. A tensão que foi liberada do meu couro cabeludo trouxe
algum alívio quando prendi o cabelo em um rabo de cavalo bagunçado. Meu
casaco com capuz e a calça de moletom marcaram o início do que deveria ter sido
uma noite tranquila, mas os pensamentos que passavam pela minha mente fariam
com que não fosse nada disso. Uma rápida olhada no espelho provou que isso era o
melhor que poderia acontecer, então saí do meu quarto e fui em direção à sala de
estar. Pouco antes de entrar, parei no vão da porta. Aprendi o quanto a Monroe
Media Agency significava para as pessoas que trabalhavam lá e os serviços que
prestávamos aos nossos clientes em todo o mundo. Agora, tudo isso poderia virar
fumaça se eu não aceitasse a proposta.

— Anais?

A voz de Ellie fez com que os pensamentos em minha mente cessassem.


Olhei para ela e disse: — Ah, desculpe. O que você disse?

— Eu perguntei se queria água ou vinho. Está tudo bem? Parecia que


você estava em outro lugar.

— Sim, estou bem. Tenho muito em que pensar, — eu disse, me virando


para a cozinha.

— Isso inclui Damien Cross?

Hesitei por um momento antes de continuar. Apenas mencionar o nome


dele foi o suficiente para aumentar o nervosismo que eu já estava sentindo. Peguei
a pipoca que Ellie fez e coloquei algumas na boca.

— Ahá! — ela exclamou. — Eu sabia.

— Sim, mas não pela razão que você está pensando, — murmurei.

— O que é que foi isso?

— Nada.
— Então, o que houve esta noite? Parecia que sempre que você estava à
vista dele, seus olhos estavam grudados em você.

Eu não sabia o quanto sobre minha breve história com Damien eu


deveria contar a Ellie. Ela de alguma forma seria arrastada para isso? Eu estava
disposta a apostar que ele era mesquinho o suficiente para fazer isso. Levei um
momento para pensar no que eu considerava seguro o suficiente para dizer a ela. —
Então, eu conheci Damien quando ele veio ao nosso escritório esta semana. Ele
teve uma reunião com meu pai.

— Oh, a Monroe Media Agency vai trabalhar para a Cross Empire?

— Algo parecido. Não tenho certeza porque eu não estava presente. Meu
pai esqueceu de marcar na agenda dele, então acabei interrompendo a reunião.

— Hmm, e agora ele não consegue tirar os olhos de você sempre que
você está por perto.

Eu zombei. — Bem, eu não diria isso. Duvido muito que ele esteja
interessado em mim. — Interessado em me humilhar? Sim. Interessado em
namorar comigo? Ha. Não.

— É claro que duvida, mas você sempre duvida. Esse é um dos motivos
de você estar solteira. — Ela se inclinou e pegou algumas pipocas da tigela
enquanto eu revirava os olhos.

— Sou solteira por opção, muito obrigada.

— Ah, acho que você só se enterra no trabalho para evitar ter de lidar
com relacionamentos. Isso lhe dá uma desculpa para não fazê-lo.

Ela estava certa, em parte. Eu estava trabalhando mais horas, mas não
era para evitar namorar com outras pessoas. Eu me dedicava ao trabalho para poder
fazer minha parte para garantir o sucesso da empresa. Eu me sentia muito feliz em
ajudar nossos clientes a promover seus negócios. A Monroe Media Agency foi
construída com muito sangue, suor e lágrimas de meu pai, e, quando me formei na
faculdade e entrei para a empresa, também investi meu quinhão de sangue e
lágrimas.

— Isso é ridículo. Eu estive em encontros recentemente. — Essa era uma


discussão ridícula, mas deixei que continuasse porque nos impedia de falar sobre
Damien.

— Oh sério? Quando foi a última vez que você foi a um encontro? —


Ela cruzou os braços e recostou-se no balcão da cozinha.

— Talvez seis meses atrás?

— Exatamente.

Eu me impedi de revirar os olhos novamente porque ela tinha provado o


seu ponto.

— Agora você chamou a atenção de Damien e precisa tomar uma


decisão sobre o que vai fazer a respeito.

Ela não estava errada. — Não tenho certeza do que vou fazer, mas já que
você sabe tudo o que há para saber sobre todos, por que não me conta mais sobre
Damien? — Eu não podia mais evitar. Era hora de saber mais sobre o homem que
passou de empresário muito atraente a meu adversário em menos de uma semana.

Ellie fez uma pausa. — Antes de começar, você pode querer pegar uma
bebida e me seguir até à sala de estar, porque o que estou prestes a contar será
muito divertido para nós. Quem precisa de um filme?
Eu balancei a cabeça e segui Ellie depois que peguei uma taça de Merlot
e a tigela de pipoca. Ela se sentou no sofá e olhou para mim.

— Admito que parte do que sei sobre Damien e sua família é boato, mas
vou começar com os fatos. Damien é o mais velho de três filhos de Martin e Selena
Cross. Seus irmãos se chamam Broderick e Gage e são gêmeos. Acredito que eles
tiveram seu início há gerações e desenvolveram seus negócios e poder desde então.
A família Cross acumulou uma fortuna por meio de seus diferentes
empreendimentos comerciais, até onde eu sei.

— Oh sim? — Eu disse e enchi minha boca de pipoca. Agarrei a taça de


vinho e disse: — Talvez eu precise de algo um pouco mais forte para lidar com
esta conversa.

— Eu não culpo você. — Ela fez uma pausa e jogou alguns grãos de
pipoca na boca.

— Obrigada pela compreensão, — eu disse, levando a taça aos lábios.


Fiquei chocada por poder tomar um gole, considerando o quanto minha mente
estava correndo e minha mão tremendo. Ellie não agiu como se tivesse notado, no
entanto.

— Damien é um playboy bastante conhecido. A maioria das mulheres


com quem ele está não dura mais de um mês ou dois no máximo, com base no que
dizem os blogs de fofoca. Há rumores de que ele vai à casa delas para fazer sexo
ou pede ao motorista que as pegue e as deixe em casa na mesma noite. Dormir na
casa dele é um grande não. Fiquei sabendo disso por meio de uma fonte que vazou
para os jornais. Também há rumores de que ele pode ser coproprietário da Elevate.

Engasguei-me com o vinho. Precisei de tudo o que havia em mim para


me conter e não espirrar o conteúdo da minha boca em tudo o que estava à minha
frente. A Elevate era uma das casas noturnas mais badaladas da cidade de Nova
York. Tinha uma danceteria e um bar no andar principal e havia rumores de que
funcionava um clube de sexo no porão.

— Você está bem? — Ellie bateu nas minhas costas enquanto eu tentava
limpar a garganta.

Peguei o restante do vinho e assenti. — Sim. Estou bem. — Uma


pequena lágrima se formou no canto de um dos meus olhos. Eu me perguntava se
era por causa do sufocamento ou do abismo no qual meus pensamentos estavam.
Eu não era virgem de forma alguma, mas estava preocupada com o que Damien
poderia fazer comigo.

Ellie olhou para mim mais uma vez antes de continuar: — Digo mais
uma vez que tudo isso são boatos, pois nunca interagi com ele pessoalmente, mas
não seria uma má ideia você se soltar um pouco, sabe? Você não transa há meses,
então o que há de errado em se divertir um pouco com ele? É bem provável que
não dure muito tempo mesmo

— Uh-huh. — Isso fazia sentido. E o prazo de trinta dias que ele colocou
em nosso acordo se encaixa na descrição de playboy que Ellie me deu.

— Foi o que ouvi dizer. Eu nem chamaria isso de namoro se tivesse que
ser honesta. Quando as mulheres que ele está transando ficam viciadas nele, ele
simplesmente termina com elas. E quando ele termina, ele termina. Ele não gosta
de relacionamentos. Se ele se cansa de você, é só isso.

Assenti com a cabeça enquanto uma ideia começava a se formar em


minha mente. Eu poderia irritá-lo a ponto de ele me esquecer e me deixar ir
embora. Com base em minhas breves interações com ele, aposto que isso não seria
muito difícil. Ele adorava estar no controle de tudo e de todos e, embora isso não
fosse acontecer de jeito nenhum aqui, talvez eu nem precisasse chegar aos trinta
dias.

Balancei a cabeça. Eu já tinha decidido que era isso que eu ia fazer?


Bem, tecnicamente, acho que Damien decidiu por mim porque, para começar, eu
não tinha muita escolha, a não ser ir até à polícia, que provavelmente me
expulsaria da delegacia. Mas com essas barreiras removidas, eu iria às autoridades?
Sentimentos conflitantes me percorreram, então usei minha conversa com Ellie
para me obrigar a pensar em outra coisa.

— Então, me conte mais sobre o Elevate.

Ellie se espreguiçou e disse: — Bem, não há muito o que contar.

— O que você quer dizer com não há muito o que contar?

— É extremamente exclusivo. Não saiu muito sobre isso. Eles obrigam


todos a assinar formulários afirmando que não vão revelar o que acontece lá
embaixo. É difícil entrar na lista de convidados para participar de uma festa no
andar principal. Acredite em mim, eu tentei.

— Isso faz sentido, — eu disse. — Quero dizer, eles provavelmente


estão tentando proteger as identidades de quem está participando.

— Certo. Se eu tivesse que adivinhar, diria que o clube provavelmente


atende à elite da cidade de Nova York com base na falta de informações sobre o
local e com quem os Cross se associam. Agora, quero dizer isso com todo o amor e
carinho do mundo, e não quero ofender, mas não tenho certeza porque Damien
estaria tão focado em você. Sim, você é deslumbrante com uma personalidade
incrível e tem um milhão e meio de coisas boas. Mas o fato de você estar na mira
dele é um grande negócio. Não sei se chamaria isso de bom ou ruim.
Lambi os lábios enquanto minha mão se ergueu para minha têmpora para
esfregá-la suavemente. — Eu não diria que ele está focado em mim. Nós nos
conhecemos recentemente e nos vimos na festa. É isso.

— Oh sério? — perguntou Ellie. — Então por que você tem o cartão de


visita dele?

— Espere, como você sabia que eu tinha o cartão dele? E não é incomum
eu ter cartões de visita.

Ellie estendeu um pequeno pedaço de papel de cor creme. — Eu não


acho que você fechou sua bolsa com força porque isso caiu. — Ela virou o cartão.
— Tem um número rabiscado no verso que eu apostaria meu dinheiro que é o
número pessoal dele.

— Dê isso para mim. — Peguei o cartão da mão dela.

— Anais, você pode tentar explicar isso, mas eu sei o que vi e como isso
se parece.

— Acabamos de nos encontrar uma vez e ele está fazendo negócios com
meu pai e…

— Anais, não estou julgando você. Sou totalmente a favor de que


consiga se divertir, mas se brincar com o diabo, vai se queimar. — Ela passou a
mão pelos longos cabelos castanhos antes de continuar. — Não se esqueça de que
vocês dois não andam nos mesmos círculos. Ele tem a capacidade de fazer mais do
que nós jamais poderíamos sonhar. Ele tem dinheiro suficiente para proteger você
de tudo e ainda destruí-la com um simples toque de seu dedo.

Eu sabia que ela estava dizendo cem por cento de verdade sobre isso.
6

ANAIS

Mais tarde, naquela noite, eu estava deitada na cama e só de pensar nas


coisas que Ellie me contou fez com que os cabelos da minha nuca se arrepiassem.
O mais importante de tudo isso é que ela estava certa sobre o que Damien queria
comigo. Claro, havia maneiras mais fáceis de ele encontrar alguém que estivesse
sempre à sua disposição, então por quê eu? Tentei não tirar conclusões precipitadas
porque sabia que gastaria meu tempo pensando demais em vez de descobrir como
sair dessa confusão.

Eu sabia que, sem sombra de dúvida, precisava falar com meu pai. Por
que ele decidiu procurar Damien, entre todas as pessoas, ao invés de ir a um banco
e pedir um empréstimo? Droga, será que ele não poderia fazer isso agora e usar o
dinheiro para pagar Damien? Se ele podia, por que ainda não fez isso?

Isso me fez sentar na cama. O que impediu meu pai de tentar obter um
empréstimo de um banco ao invés de ir a esse homem que tinha acabado de
ameaçar levar sua filha para seu próprio prazer? Essas perguntas fizeram com que
uma onda de energia percorresse meu corpo e me motivassem a me concentrar para
me preparar para o trabalho. Não demorou muito para me organizar, porque eu
tinha uma rotina diária bem definida e sabia exatamente quanto tempo poderia
perder antes de entrar no chuveiro.
Quando terminei, entrei no corredor e encontrei a porta de Ellie fechada.
Ela provavelmente acordou cedo hoje e já havia saído para o trabalho. Quando
vesti o casaco, peguei minha bolsa e as chaves e me dirigi à porta. Enquanto
esperava o elevador, vasculhei minha bolsa e encontrei meus fones de ouvido. Eles
me permitiriam ignorar o mundo por um tempo enquanto eu pegava o trem para o
trabalho.

Não demorou muito para que eu chegasse ao meu escritório. Passei


correndo pelo saguão e subi de elevador até ao meu andar. Uma rápida olhada na
hora me disse que eu não estava atrasada, mas ainda estava ansiosa. Quando
cheguei à minha mesa, soltei um grande suspiro. Minha ansiedade era por causa
da proposta de Damien e das perguntas que eu queria fazer ao meu pai, já que essa
parecia ser a única coisa em que eu conseguia pensar. Olhei pela porta de entrada,
o que me deu o ângulo perfeito para ver o escritório do meu pai. Pela falta de
iluminação, meu pai ainda não tinha chegado.

— Que estranho. — Pensei enquanto caminhava para sentar na minha


mesa. Abri o laptop para ligá-lo. Peguei meu celular e enviei uma mensagem ao
meu pai.

Eu: Pai, você vem ao escritório hoje?

Deixei o celular de lado e comecei a ler os e-mails que haviam chegado


depois que saí do escritório ontem. Eu estava tão concentrada, que não percebi que
trinta minutos haviam se passado, até que um dos meus subordinados, Jake,
apareceu na minha porta.

— Desculpa, eu me distraí lendo os e-mails. Está tudo bem?


— Apenas para informação, Edward provavelmente ligará para você em
alguns minutos. Toda vez que lhe explico o motivo de uma publicação não ter
apresentado um bom resultado, ele me ouve e depois diz que precisa falar com
você.

Suspirei e fechei os olhos. — Tudo bem. Obrigada por me avisar.

— Não diga a ele. — Jake demorou mais um segundo antes de sair. Eu


sabia que a qualquer momento Edward iria me ligar, e era inútil tentar trabalhar em
algo novo quando eu seria interrompida. Então, peguei o celular para verificar se
papai havia me respondido. Vi que sim e coloquei meu celular no modo vibrar
antes de ler sua mensagem.

Pai: Sim, daqui a pouco estarei no escritório. Tive uma reunião esta
manhã, provavelmente esqueci de colocar no meu calendário.

Uma pesquisa rápida provou que ele realmente havia esquecido. Para ser
sincera, isso não era nenhuma surpresa, considerando a grande quantidade de
coisas que ele fazia diariamente.

Eu: Pai, você realmente precisa de uma secretária ou uma assistente.

Adicionei uma carinha sorridente no final da mensagem e pressionei


enviar quando uma batida na porta me assustou. Quando olhei para cima, vi a
mulher que havia passado por mim na recepção esta manhã segurando um buquê
de orquídeas cor de rosa.
— Anais?

Acenei confirmando.

— São para você.

Hesitei antes de levantar para pegar as flores. — Muito obrigada. — Eu


disse.

— Sem problemas. Parece que alguém gostaria que você soubesse que
estava pensando em você .

— Sim, acho que sim. — Eu disse enquanto olhava para as flores. —


Obrigada novamente.

Com um sorriso, ela saiu e fechei a porta do meu escritório.

Meu celular tocou antes que eu pudesse olhar melhor as flores.

Pai: Devo chegar em alguns minutos. Estou a uma quadra do


escritório.

Eu: Ótimo. Quero conversar com você sobre a questão do dinheiro.

Eu sabia que as flores tinham de ser dele, a não ser que fosse algum
admirador secreto que estivesse se revelando. Então, coloquei meu telefone sobre a
mesa e encontrei o cartão que acompanhava o arranjo.

Anais,

Ansioso para ouvir sua decisão.

Damien
O grunhido que saiu de meus lábios me chocou. Sua arrogância era
evidente no pequeno pedaço de papel, como se ele soubesse a resposta que eu
daria. Meus pensamentos foram interrompidos novamente pelo barulho do meu
celular. Aparentemente, eu estava popular hoje. Eu o peguei. Encontrei uma
mensagem de um número que não reconheci, e as palavras fizeram com que uma
pequena quantidade de bile subisse à minha garganta.

Número Desconhecido: Você recebeu as flores?

Eu: Damien?

Damien: Alguém mais te enviaria flores?

Balancei a cabeça bruscamente quando li sua resposta. A possessividade


transbordava em suas palavras. Quem diabos ele achava que era? Eu não lhe devia
explicação, ponto final.

Eu: Como você conseguiu esse número? E não te devo explicação


sobre o que acontece na minha vida.

Ele não respondeu imediatamente, e achei que, ou ele estava fazendo


isso de propósito, ou poderia estar em uma reunião. Fiquei olhando para o celular
por mais alguns segundos antes de olhar para o telefone do meu escritório. Não era
para Edward me ligar? A batida na porta me fez esquecer o assunto.

— Entre!
Papai abriu a porta e entrou, fechando-a atrás de si. — Ei, querida, quer
conversar? Tenho alguns minutos antes da minha próxima reunião.

— Pai, irei direto ao ponto. Quanto dinheiro você deve a Damien Cross?

— Como descobriu que eu peguei o dinheiro emprestado com ele?

Que droga. Eu não tinha percebido que ele não havia me dito que estava
pedindo dinheiro emprestado a alguém. — Eu somei dois mais dois quando você
não me disse que ele era um de nossos novos clientes. — Graças a Deus, tenho a
capacidade de raciocinar rápido.

Ele não respondeu a princípio, mas pareceu acreditar na minha


explicação. Caminhou até uma das cadeiras que eu mantinha em um canto do
escritório e puxou para perto da minha mesa antes de responder.

— Cerca de US$270.000.

— Pai! — Exclamei.

Seu olhar se desviou para a porta, provavelmente, para ter certeza que
ninguém havia me ouvido através da porta fechada. — Eu sei, eu sei.

— US$270.000? — Eu perguntei. Eu sabia que parecia um papagaio,


repetindo o que ele havia dito, mas não pude evitar.

— Querida, eu sei.

— Você tem condições de pagar esse dinheiro de volta? Tipo, você


conseguiria pagar em seis semanas? — Eu sabia que a súplica em minhas palavras
e a natureza desconfortável da conversa o estavam afetando, porque ele ainda não
tinha olhado para mim.

— Provavelmente.
— O que você quer dizer com provavelmente! — Eu parecia
desesperada. Fiz uma pausa e disse: — Quero dizer, eu sei o que significa
provavelmente, mas por que não tem certeza? E o que acontece se você não tiver
certeza?

— Monroe Media Agency não existirá mais. — Ele parou e passou a


mão na nuca. — Teremos que fechar nossas portas. Não tenho certeza do que sua
mãe e eu faremos, mas vamos descobrir como fazer funcionar.

— Por que você não foi ao banco e fez um empréstimo?

— Taxas de juros, e eu não tinha certeza se eles nos emprestariam esse


valor.

— Ouvi algumas coisas sobre Damien Cross e não acho que ele seja
alguém com quem deveríamos nos envolver.

— Eu sei, mas não tive escolha. Nenhum banco iria me emprestar essa
quantidade de dinheiro tão rápido. — Seus olhos percorreram a sala antes de
encontrarem os meus. — Ele me fez uma oferta que não pude recusar. Eu fiz isso
para salvar este negócio. Para salvar o que você, eu e todos aqui trabalhamos tão
arduamente para conseguir e também para ter mais tempo para consertar tudo.
Novas empresas estão surgindo e atraindo nossos clientes, e precisávamos de mais
dinheiro para competir.

Eu podia ver as lágrimas brotando em seus olhos enquanto ele passava a


mão pelo cabelo grisalho. Olhei para a minha mesa para não começar a chorar.
Não só Damien fez a meu pai uma oferta que ele não podia recusar, como também,
fez o mesmo comigo.

No final do expediente, me vi encarando meu telefone. Damien já havia


respondido há horas, mas ainda não tinha tido coragem de ver sua resposta.
Damien: Eu tenho minhas fontes. Mais um dia.

Ler as palavras repetidas vezes fez meus lábios tremerem. Embora eu


estivesse com medo, havia algo mais ali - um pouquinho de curiosidade sobre o
desconhecido? Eu não sabia se poderia definir assim. O fato de eu estar
considerando fazer isso e não apenas dizer a todos os envolvidos que se danassem,
me dizia muito sobre mim mesma. Enquanto eu olhava fixamente na direção do
meu celular, a tela se iluminou, me avisando que eu tinha acabado de receber uma
mensagem. Era de Ellie.

Ellie: Você não vai adivinhar o que aconteceu.

Eu: Isso parece perigoso, e não vou nem tentar adivinhar o que
aconteceu.

Ellie: Tudo bem. Às vezes me pergunto por que somos amigas.


Enfim. Você não vai acreditar.

Ela não digitou por um momento, o que me deixou mais curiosa.

Ellie: Acabei de conseguir que nós duas entrássemos na Elevate.

Senti meus olhos praticamente saltarem das órbitas.

Eu: Você nos conseguiu entrada na boate com um clube de sexo?


Ellie: Consegui que entrássemos no espaço de dança. Espero que
você esteja com disposição para festejar, porque definitivamente iremos hoje à
noite.

Suspirei e murmurei: — Droga. — Eu não estava preparada para isso.


De jeito nenhum.
7

DAMIEN

— Você não parece estar se divertindo muito. Não que você se divirta
muito.

Olhei para Broderick e lutei contra a vontade de revirar os olhos. — Eu


sei me divertir.

Eu não tinha a intenção de ir à Elevate hoje à noite. Os gêmeos


insistiram, e acabei concordando. Optamos por ficar na seção VIP do bar e fiquei
feliz. O preto elegante, o cinza e dourado eram o tema do bar e do clube para
adultos no subsolo. O ambiente do bar e da pista de dança poderia mudar em um
piscar de olhos, bastava trocar a música e a iluminação, o que foi um dos motivos
pelos quais optamos por esse estilo de decoração quando o designer de interiores
nos sugeriu. Sabíamos que isso fazia com que o local parecesse mais sofisticado e
esse era o objetivo quando se tratava de recuperar nosso dinheiro de um
investimento. E recuperamos, com muito sucesso.

Em vez de ir até ao porão, fiquei por aqui e tomei o uísque que havia
sido colocado na minha frente quando cheguei. Com base em onde a atenção de
Gage estava, talvez ele encontrasse uma mulher para levar para casa esta noite. Ele
se inclinou sobre Broderick e me disse: — Tire o pau da bunda5 e se divirta um
pouco.

Broderick estava sentado entre nós, o que dificultava que pudéssemos


conversar cara a cara, não que eu estivesse reclamando. A música que tocava nos
alto-falantes também não ajudava. Embora estivesse mais tranquilo na área VIP,
ainda era difícil ouvir o que os outros estavam falando.

Broderick e eu o ignoramos, e Broderick colocou os braços no encosto


do sofá. Meus irmãos e eu sempre quisemos participar de um projeto juntos, mas
nunca conseguíamos chegar a um acordo sobre nada, até que vimos que esse
espaço estava disponível. A Elevate foi aberta e se tornou um tremendo sucesso. A
sua inauguração foi há alguns anos e nada impediu que o grande fluxo de pessoas
entrasse por suas portas. Fizemos questão de tornar o bar e a boate um tanto
exclusivos porque achamos que isso atrairia mais atenção e mais clientes, e foi o
que aconteceu. Além disso, havia rumores circulando por aí de que nós três éramos
co-proprietários, embora ninguém tivesse conseguido provar.

Gage estava certo. Eu tinha um pau enfiado na bunda porque não queria
estar aqui e por causa de uma certa morena em quem eu não conseguia parar de
pensar por mais que tentasse. Passei a maior parte de minha vida adulta focado no
trabalho e em encontrar a próxima empresa para conquistar, mas agora as coisas
pareciam estranhas porque eu não conseguia evitar de pensar nela. No entanto,
meu trabalho não tinha sido prejudicado e eu me esforçava para mantê-lo assim.

Muitas mulheres entraram e saíram da minha vida. Nós nos divertimos e,


quando chegava a hora de terminar, terminávamos. Não me lembro da última vez

5
No original “pull the stick out of your ass” seria uma pessoa de mau humor. Quererá dizer para ele
afastar esse mau humor.
em que uma mulher, especialmente uma que eu mal conhecia, tenha ocupado
minha mente por tanto tempo.

Tomei outro gole da minha bebida e me levantei. Broderick olhou para


mim e antes que pudesse perguntar, eu disse: — Vou observar a multidão hoje à
noite. Estou cansado de ficar sentado.

— Irei com você. Não quero ficar preso ao lado dele.

Olhei para Gage e balancei a cabeça. Ele estava paquerando uma


funcionária.

— Vamos. — Disse Broderick, e caminhamos em direção a um


mezanino que dava para todo o andar térreo. Estava claro como o dia que as
bebidas estavam fluindo e as pessoas estavam dançando e se divertindo.

— Excelente investimento. — Broderick levantou seu copo e eu me


juntei a ele em um elogio silencioso antes de tomarmos outro gole. — Então, o que
mais você quer controlar?

— O que quer dizer? — Eu perguntei, respondendo o seu


questionamento com outra pergunta.

— Bem, você é um mega magnata, de acordo com os jornais. —


Definitivamente, com a Elevate, tínhamos virado o cenário da vida noturna de
cabeça para baixo em mais de um sentido. Foi então que a vi, e meu olhar se
estreitou. — Você é um dos homens mais poderosos de Nova York. O que vem a
seguir?

— O mesmo poderia ser dito sobre você e Gage.

— Isso não é uma resposta.

— Talvez uma empresa de mídia.


Broderick me olhou de relance, seus olhos se arregalaram antes de se
controlar e se virar para o mezanino. Ele estava tentando descobrir o que havia me
levado a dizer aquilo. — Você a conhece?

— Quem?

— Bom trabalho em ser evasivo, Damien. — Broderick olhou


novamente em direção ao mezanino. — É a mulher de vestido dourado, não é? —
Elas estavam atravessando a pista de dança e eu quase estiquei o pescoço para ver
melhor o que ela estava vestindo.

Não respondi, em vez disso, tomei outro gole da minha bebida.

— Tem alguma coisa acontecendo? Você está transando com ela?

— Não. — Pelo menos não ainda.

— Mas você quer.

— Isso não é da sua conta.

Broderick bufou. — E isso explica por que há um pau maior enfiado na


sua bunda do que o normal. Talvez você precise transar com ela.

— Pode calar a boca? Ou voltar e ver o que Gage está fazendo? — Meu
irmão não precisava saber que transar com ela não estava fora de questão, dado o
acordo que fizemos. Nunca tive que me preocupar se conseguiria encontrar alguém
com quem dividir minha cama. Havia um entendimento mútuo entre mim e as
mulheres com quem eu saia. Às vezes as coisas ficavam complicadas, mas nada
que eu não pudesse lidar. Relacionamento era algo com que eu não queria lidar.
Ponto.

Broderick olhou para trás antes de voltar para mim, com um sorriso
estampado em seu rosto. — Parece que Gage não conseguiu.
Suas palavras me fizeram virar para confirmar. Gage agora estava
sozinho, olhando para o telefone. — Aposto que ele pensou que acabaria levando-a
lá para baixo. — Broderick deu de ombros enquanto eu balançava a cabeça e
terminava a bebida.

Outro garçom passou e disse: — Posso pegar, senhor?

— Sim, — Eu disse, e ele pegou o copo e o colocou em sua bandeja.


Abotoei meu paletó.

— Onde está indo?

— Tenho algo que preciso cuidar. Provavelmente voltarei. — Com isso,


saí para descobrir o que exatamente Anais estava fazendo aqui.

Não demorei muito para descer as escadas, mas as perdi de vista. De


alguma forma, Anais havia entrado na Elevate com o que parecia ser sua colega de
apartamento, com base nas fotos e legendas que Dave encontrou nos perfis de
mídia social de Anais. E eu queria saber como e por quê.

— Damien? — Olhei e vi Kingston. Ele era meu primo e estava nos


fazendo um favor substituindo um dos seguranças da Elevate que estava doente.
Estava posicionado perto das escadas para impedir a passagem de pessoas que não
pertenciam à área VIP. — Precisa de algo?

— Não, estou bem. — Eu disse, assim que avistei as duas mulheres. Elas
estavam indo em direção ao bar. Andei um pouco pelos arredores, pois não queria
chamar a atenção para mim, nem queria que Anais me visse antes que eu estivesse
pronto.

Observei sua colega de quarto se inclinar e sussurrar algo em seu ouvido.


Então ela começou a abrir caminho no meio da multidão deixando Anais sozinha
no bar. Eu sabia que era a minha vez de atacar. Não foi preciso muito esforço para
chegar até Anais, e assim que me aproximei o suficiente para tocá-la, parei. Ela
tinha deixado os longos cabelos castanhos soltos, o que era uma bênção e uma
maldição, pois pensei em como seria passar os dedos sobre eles enquanto ela me
dava um boquete. O vestido dourado deixava muito pouco para a imaginação, e eu
podia dizer que não era o único próximo a ela que pensava o mesmo. Notei um
rapaz à nossa direita se aproximando dela com os olhos grudados em seu corpo,
como provavelmente os meus estavam.

Seus olhos desviaram discretamente dela para mim e bastou um olhar


para que ele se afastasse. A pessoa ao lado dela pegou sua bebida e saiu de onde
estava, deixando o caminho livre para mim.

Entrei no espaço e me inclinei para perguntar: — O que está fazendo


aqui?

Percebi que ela estava prestes a perder a paciência, mas assim que seus
olhos pousaram em mim, as palavras desapareceram. Ela demorou alguns
segundos para se recuperar do choque, porém, quando conseguiu, voltou a ser mal-
humorada.

— O que você quer dizer com o que estou fazendo aqui? O que você está
fazendo aqui?

— Isso não é da sua conta.

— E a razão de eu estar aqui é da sua? — Vi um esboço de sorriso em


seu rosto, provavelmente porque ela achava que tinha vencido essa batalha. Tudo o
que eu conseguia pensar era em arrancar aquele vestido apertado e fodê-la sobre o
bar. Na frente dos clientes? Por que não?

— Cuidado. Você não gostaria de me irritar. E como sou um dos


proprietários deste estabelecimento e não gosto que você esteja aqui porque você
será minha, eu deveria mandar expulsá-la. Inclusive, não tenho nenhum problema
em fazer isso eu mesmo.

Percebi que minhas palavras tinham sido registradas porque seus olhos
se arregalaram. Ela sabia que eu também não estava brincando sobre fazer isso.

— Eu ainda não disse sim ao seu acordo. Você está achando que eu vou
dizer.

— Não estou achando nada. — Cruzei os braços sobre o peito. Eu estava


gostando demais desse confronto. O fogo em seus olhos era um contraste gritante
com a frieza que seus olhos verdes tinham demonstrado anteriormente. Eu sabia
que ela não estava disposta a cair sem lutar e, por causa disso, haveria vários dias e
noites interessantes pela frente. — Sabe o que eu estou esperando?

— O que seria? — Eu mal ouvi as palavras porque ela sussurrou.

— Amanhã, Spitfire 6. — Eu virei e dei um passo à frente, voltando para


a área VIP.

Mas suas palavras me pararam. — Não me chame assim.

Eu me virei e me aproximei dela. — Eu posso te chamar do que eu


quiser. Quer saber por que você virá até mim por livre e espontânea vontade?

Ela foi forçada a olhar para cima, mesmo com os saltos de sete
centímetros que usava.

— Porque seu pai não tem o dinheiro e não terá até meu prazo final.
Você não quer ver a Monroe Media Agency fechar. Os riscos são muito altos. —
Em mais de um sentido.

6
É uma pessoa, geralmente uma mulher ou garota que se irrita e fala de forma fogosa, ríspida.
Iremos traduzir como Vulcãozinho.
Esse tipo de negócio não era algo que eu normalmente faria porque não
precisava. Dessa vez, eu não queria correr o risco de que ela escapasse por entre
meus dedos. Eu não mentiria e diria que não me senti atraído por ela quando vi sua
foto pela primeira vez. Deixei meu olhar passear por seu corpo antes de voltar aos
seus olhos. Pude ver que eles estavam encarando meus lábios enquanto eu falava.

— E tem mais uma coisa, Anais.

Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, inclinei minha cabeça para
beijá-la, dando-lhe uma pequena amostra de como seria ser minha. No início, ela
não reagiu, mas quando começou a corresponder ao beijo, eu me afastei.

— Você quer saber como é ser fodida por mim. — Dei um pequeno
passo para trás e não lutei contra minha vontade de sorrir. — Vista algo assim
amanhã. — Eu me virei e me afastei, deixando seus lindos lábios inchados
entreabertos.

— Ei, Kingston, — Eu disse. — Peça a seus homens que vigiem aquela


mulher de dourado enquanto ela estiver aqui esta noite. Ela deve estar aqui com
outra mulher. Se ela tentar descer as escadas, impeça-a. — Eu não teria nenhum
problema em monitorá-la da minha posição na área VIP.

— Entendi. Vou trocar de posição e seguir em direção àquela porta, só


para garantir. — Kingston se afastou de mim e começou a falar em seu fone de
ouvido, transmitindo a mensagem que eu tinha acabado de dar.

Um sorriso surgiu em meu rosto enquanto eu subia as escadas da área


VIP. Eu sabia que em pouco tempo, Anais Monroe seria minha.
8

ANAIS

Vir ao clube tinha sido uma péssima ideia. Depois que Ellie me contou
sobre como ela suspeitava que Damien fosse o dono da boate Elevate, eu sabia que
havia uma chance de ele estar aqui esta noite. E estava. Meu celular vibrou. Olhei e
vi uma notificação de texto.

Damien: Esteja pronta amanhã às 19h30. Meu motorista irá buscá-


la.

— Você ainda não pediu uma bebida. — Ellie apareceu ao meu lado.

— Você quase me deu um ataque cardíaco. Esqueci de pedir.

— Está tudo bem? Falamos sobre as bebidas e depois fui ao banheiro.

Inclinei-me para sussurrar em seu ouvido: — Fiquei nervosa. Damien


apareceu.

— Espere, o quê? — A voz de Ellie falhou, fazendo-a soar quase como


um papagaio.

Se essa fosse uma situação normal, eu teria rido. Mas não era, e eu não
me daria ao trabalho de tentar fingir que era.
— Sim, e tem mais coisas que eu preciso te contar. — Era hora de ser
honesta. Eu faria isso quando chegássemos em casa.

— Ok. Você quer ficar aqui ou ir para casa agora?

Eu a admirava por ter se oferecido para ir para casa comigo, mesmo que
estivéssemos em uma das boates mais exclusivas da cidade de Nova York. Quem
saberia quando ou se teríamos a oportunidade de fazer isso de novo?

— Não, vamos ficar. Também devemos pelo menos tomar uma bebida
enquanto estivermos aqui.

— Boa ideia. Desta vez eu irei pedir.

Revirei os olhos para sua provocação e me virei para o bar novamente.


Quando já tínhamos nossos drinques em mãos, deixei o frescor do mojito cobrir
minha garganta na tentativa de acalmar o incêndio que a presença e as palavras de
Damien haviam provocado. Ellie e eu continuamos conversando enquanto
bebíamos, mas o tempo todo eu sentia como se alguém estivesse me observando.

— Você quer descer?

— Andar de baixo? Para quê? — Eu me fiz de boba, embora soubesse o


que ela estava se referindo.

— Para ver como é? Aparentemente, há uma espécie de lounge, ou


talvez seja outro bar onde as pessoas podem se encontrar e decidir se querem ir
além da boate. Eu não gostaria de ir tão longe, mas acho que o lounge pode ser um
bom lugar para termos uma ideia do ambiente.

Minha mente voltou para a interação com Damien há alguns minutos


atrás, antes que eu tomasse uma decisão. Eu sabia que, se ele descobrisse o que
pretendíamos fazer, isso iria irritá-lo ainda mais, mas eu não me importava. Eu não
respondia a ninguém e podia fazer o que quisesse e com quem quisesse. Bem, isso
era o que eu gostava de dizer a mim mesma, embora nunca tivesse feito nada
parecido com isso antes. — Claro, por que não?

Terminei meu drinque e segui Ellie enquanto ela avançava pela


multidão. Como ela sabia onde ficava a entrada do clube de sexo, eu nunca
saberia. Chegamos até ao segurança, que eu não me lembrava de ter visto quando
entrei, e Ellie usou seu charme.

— Olá, gostaríamos de descer.

— Vocês duas estão na lista?

— Talvez?

Não pude deixar de revirar os olhos. Ela sabia muito bem que não
estávamos em nenhuma lista, a menos que ela tivesse feito isso sem me avisar.

— Onde está sua moeda?

Ela olhou para mim e depois olhou de volta para ele. — O que você quer
dizer com onde está sua moeda?

Ele olhou para ela e balançou a cabeça. — Se você nem sabe do que
estou falando, tenho certeza que não está na lista para entrar. Por favor, se afaste.

— Isto é ridículo. Ninguém precisa de uma moeda para entrar aqui.

— Já falei o que é necessário. Agora se afaste. — Sua voz severa me


disse que ele falava sério e notei quando seus olhos permaneceram nela por um
momento longo demais. Ainda assim, ele não se mexeu.

— Veja bem…

— Você está tentando começar uma discussão comigo?


Agarrei o braço de Ellie e ela olhou para mim. — Isso não vale a pena,
E. Especialmente se for apenas para convidados.

— Acho que você deveria ouvir sua amiga.

Eu podia sentir a raiva de Ellie prestes a explodir. — Você está sendo


um completo idiota com relação a isso, porque não há necessidade de moedas para
entrar!

— São palavras grosseiras e você está me irritando.

— Eu não me importo se estou irritando você. Ouça…

—Não, e agora vou acompanhá-las até à saída.

Eu podia ver que Ellie estava furiosa e, se estivéssemos em um desenho


animado, teria saído fumaça pelos seus ouvidos. O segurança nos levou até à
metade do caminho para a saída, quando parei por um segundo, olhei para cima e
vi Damien parado no mezanino. Eu não sabia há quanto tempo ele estava ali, mas o
olhar que me lançou e o pequeno aceno que me fez me disseram que ele tinha algo
a ver com o fato de termos sido expulsas da Elevate esta noite.

***

— Aquele cara era um imbecil.

— Ellie.

— Você não precisa de uma moeda para entrar no clube. Eu saberia.


Observei Ellie andar de um lado para o outro na minha frente. Esperava
que seus passos não estivessem altos o suficiente para irritar os inquilinos abaixo
de nós.

— Ellie.

— Ele nos colocou para fora de lá de propósito.

Sem dúvida, tinha razão, mas ela estava me dando dor de cabeça, junto
com os outros pensamentos que estavam dando voltas na minha mente. — Ellie.

— Não aguento…

— Ellie! — Meu grito foi o suficiente.

— O quê? — Ela parou de andar para olhar para mim. — O que há de


errado?

— Tem algumas coisas que preciso te contar.

Ela se aproximou e sentou ao meu lado no sofá, enrolando os pés


embaixo dela. Foi então que as palavras que estavam represadas saíram. Eu contei
tudo o que havia acontecido comigo nos últimos dias. O colapso iminente da
Monroe Media Agency, meu pai indo até Damien Cross para pedir dinheiro para
ajudar a salvar a agência da falência, e depois Damien me abordando sobre um
acordo.

— Oh, querida. — Disse Ellie pelo que parecia ser a quinquagésima vez.
— Retiro tudo o que disse sobre você se envolver com Damien. Ele que se foda,
desculpe o trocadilho. Vamos descobrir uma maneira de tirar você dessa situação.

Se eu não estivesse preocupada com a situação, teria rido. — Sinto que


não tenho escolha a não ser dizer sim. — Passei a mão na testa e pelos meus
cabelos. Mal consegui me impedir de puxar os fios.
— Não, tem que haver outra maneira. Podemos ir à polícia.

— Ellie, não podemos chamar a polícia. Eles provavelmente não


acreditariam em mim de qualquer maneira, e não quero que meu pai saiba de nada
disso.

— Deve haver alguma maneira de tirar você dessa situação. Talvez se


nós fizéssemos um empréstimo. Eu poderia tentar pedir aos meus pais…

As palavras de Ellie fizeram minha cabeça virar na direção dela. Eu a


encarei por um momento antes que as palavras certas viessem à minha mente. —
De forma alguma eu arrastaria você para isso.

— Porra. — Ela murmurou. Ela manteve seus pensamentos para si


mesma. — Eu sei.

Ellie fechou os olhos por um momento e quando os abriu, eles se


concentraram em mim e não demorou muito para eu ler a tristeza neles. — No
mínimo, se você continuar com isso, serão apenas trinta dias, certo? Se conseguir
aguentar por trinta dias, talvez não seja tão ruim? Nada disso me parece certo.

Para mim também não. Pensei em Ellie me dizendo que ele tinha
dinheiro suficiente para me fazer desaparecer com um estalar de dedos. Mas se ele
pudesse fazer isso comigo, poderia fazer com meu pai também.

Visões do que aconteceria com meu pai invadiram meu cérebro e,


involuntariamente, me fizeram tremer. Murmurei um palavrão e joguei minha
cabeça para trás no sofá. Presumi que isso significava que qualquer pessoa da
minha família, ou em meu círculo de amigos, teria um alvo em suas costas se
Damien não recebesse seu dinheiro ou a mim.

Passaram alguns segundos até que eu me sentasse e ofegasse. — Há uma


coisa que esqueci de lhe contar!
— O quê?

— Na noite em que fui jantar na casa de meus pais, um homem aleatório


me deu um tapinha no ombro no caminho de volta ao nosso apartamento. Ele me
disse para ter cuidado. Também achei que alguém estava me observando na
Elevate, mas achei que era paranoia minha. Afinal de contas, era difícil não ter
pelo menos alguém te olhando quando se está em um local cheio de gente.

— Considerando o que sabemos agora do que Damien é capaz, eu não


duvidaria que ele estivesse vigiando você.

— Nem eu. Além disso, isso alimentaria o desejo dele de me intimidar.

— Qual é o prazo para dar a resposta a ele?

— Amanhã. Ele me disse para estar pronta às 19h30. — Abri a


mensagem no meu telefone e mostrei a Ellie. — Não vale a pena nem mesmo
fugir.

— Não, porque ele vai te encontrar. A única maneira de ver isso


funcionando seria se você conseguisse todo o dinheiro que seu pai deve a ele até
amanhã, mas nós duas sabemos que é impossível.

— Sim, eu sei. — Passei a mão no cabelo e observei como minhas


tranças caíam sobre o ombro.

Ellie agarrou minha outra mão e apertou. — Apenas lembre-se, você


precisa sair ilesa. Não pode ficar viciada nele.

— Isso não vai ser difícil. Eu odeio o homem.


***

Na noite seguinte, fiquei observando enquanto se aproximava cada vez


mais do horário de virem me buscar. Finalmente pude admitir para mim mesma
que eu iria até ele, mas não iria usar nada que se parecesse com o vestido que eu
havia usado ontem à noite na Elevate. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo alto e
vesti um suéter verde, uma calça jeans nova e um tênis branco que já tinha visto
dias melhores. Eu parecia mais uma estudante do que uma profissional que já
trabalhava há nove anos desde que saí da faculdade, mas não me importei. Eu não
estava ali para agradar, estava fazendo isso para salvar a Monroe Media Agency e
todos os seus funcionários. E se ele não me quisesse assim, o problema não era
meu.

Esse discurso encorajador me ajudou a me preparar para tudo o que


aconteceria hoje à noite. O problema era esse: Eu não sabia o que iria acontecer,
nem sabia o que esperar, e tinha certeza de que ele usaria isso a seu favor. Quando
o relógio marcou 19h28, eu me levantei e fechei o zíper do meu casaco de inverno.
Verifiquei novamente se estava com o spray de pimenta e fechei minha bolsa. Era
melhor prevenir do que remediar.

Fui até à porta da frente, meu coração batendo mais forte a cada passo.

Vi quando os faróis apareceram na esquina da minha rua. O carro passou


pelo meu prédio e, quando saí, o motorista fez um retorno antes de estacionar na
frente. Um homem com roupas escuras desceu do veículo e, pelo que pude ver, era
o homem que tinha ido buscar Damien no baile do Projeto Adoção.

— Senhorita Monroe? — Ele perguntou, com educação, mas eu tinha


certeza de que ele já sabia quem eu era, se minhas suposições sobre Damien
estivessem corretas. Ele estava vestindo o que parecia ser um terno preto, que
combinava com o exterior do sedã. Parecia mais musculoso do que na noite em que
Ellie e eu o vimos, mas isso pode ser resultado do fato de eu não ter prestado muita
atenção a ele, pelo fato de Damien exigir muito de minha atenção.

Levantei os ombros e o olhei nos olhos. Eu me recusaria a ser


intimidada. — Sim, sou eu.

— Por aqui. Meu nome é Rob e vou levá-la para a casa do Sr. Cross esta
noite. — Disse ele ao abrir a porta.

Entrei, sem dizer uma palavra, e ele fechou a porta atrás de mim.

Eu esperava ver Damien sentado dentro do carro apenas para me fazer


perder a cabeça, mas ele não estava lá, então eu tinha mais tempo para mim antes
de ter que lidar com o demônio de terno caro. Assim que Rob se acomodou no
banco do motorista e fechou a porta, ouvi as travas serem acionadas e me
perguntei se ele havia feito isso de propósito para me manter prisioneira ou se era
um dispositivo automático do carro.

— Você poderia me dizer para onde estamos indo? — perguntei, assim


que Rob saiu da vaga em que estava estacionado.

— Estamos indo para a casa do Sr.Cross. Me avise se precisar de alguma


coisa. — Ele me deu um pequeno sorriso e levantou a divisória entre nós.

Eu sabia que isso era uma forma de evitar que eu fizesse perguntas já que
ele não tinha me dado a resposta que eu queria. O som suave de jazz tocava ao
fundo enquanto deslizávamos pelas ruas de Nova York. Como eu estava sozinha,
tudo que podia fazer era pensar nos diferentes cenários que poderiam ocorrer esta
noite. Uma ideia me veio à cabeça, e eu peguei meu celular para enviar minha
localização para Ellie, apenas no caso de algo terrível acontecer. Depois de fazer
isso, guardei meu telefone. No mínimo, alguém saberia por onde começar a
procurar meu corpo. Pensar nisso me fez tremer, e tentei me tranquilizar sobre a
possibilidade de algo acontecer comigo.

A carona até à casa de Damien me deu ainda mais tempo para pensar no
acordo. Aceitar este acordo não significava que ele poderia estabelecer todas as
regras. Havia alguns limites rígidos para o que eu estava disposta a fazer e ele iria
ouvir sobre eles hoje à noite, gostasse ou não. Alguns dos itens que eu queria
discutir eu já tinha considerado, mas outros, lembrei apenas durante o trajeto até à
casa de Damien. Eu os digitei em meu celular para passar o tempo em minha
jornada para o que eu chamava de inferno.

Cerca de vinte e cinco minutos depois, chegamos a uma casa e eu estava


um pouco chocada por ainda estarmos em Manhattan. Rob cuidadosamente
estacionou o carro enquanto eu segurava meu telefone como se fosse uma muleta,
esperando que isso acalmasse meus nervos, porque pelo menos eu ainda tinha essa
tábua de salvação disponível para mim. — Vou acompanhá-la até à porta da frente.
— Com isso, ele abriu a porta.

— Bem, pelo menos eu não vou fazer minha caminhada para a morte
sozinha. — Murmurei, me certificando de que ele não estava me ouvindo.

Rob saiu do veículo, e eu o observei dar a volta no carro antes de chegar


à minha porta. Em cada passo que ele dava eu sentia o sangue pulsar mais forte nos
ouvidos. Olhei em volta e me vi em uma rua relativamente tranquila de Manhattan,
cheia de casas geminadas, todas semelhantes. Esperei por Rob e juntos subimos as
escadas até à porta da frente.

— Há quanto tempo você trabalha para Damien? — Perguntei.

— Trabalho para o Sr. Cross há sete anos.


— Hum. Então, tenho certeza de que você já viu muita coisa.

Ele não respondeu, o que me confirmou tudo o que que precisava saber.
O que não ajudou muito a diminuir minha ansiedade enquanto estávamos em frente
à porta.

— Se precisar de alguma coisa, basta pressionar o número um em


qualquer telefone da casa. Tenho certeza de que ele lhe dirá o mesmo.

Assenti com a cabeça e ele desceu as escadas, enquanto eu ficava


olhando para a porta vermelha. Bati na porta e dei um passo para trás. Prendi a
respiração, esperando para saber qual seria o meu destino.
9

DAMIEN

— E você precisa estar aqui às 10h para participar da reunião com Ben
Nichols. As informações sobre a pauta da reunião estarão em sua mesa e no
convite que consta em seu calendário.

— Ok, ótimo. Obrigado, Melissa.

Melissa tem sido minha assistente há aproximadamente três anos, e


admito que sem ela, eu seria muito mais desorganizado, mesmo que isso
significasse que ela precisasse ficar no trabalho até depois das sete para garantir
que eu tivesse tudo o que precisava.

— Precisa de mais alguma coisa?

— É tudo.

— Tenha uma boa noite.

Desliguei o telefone e fui até à sala de jantar. Observei Lucy, minha chef
de cozinha pessoal, terminar de acender as velas na mesa da sala de jantar e
verifiquei meu Rolex. Anais e Rob deveriam chegar nos próximos cinco minutos.
Eu sabia que Rob era pontual, portanto, se eles se atrasassem, era bem provável
que fosse por causa da teimosia de Anais. Eu estava muito ansioso pela chegada de
Anais, mas era exatamente o oposto do que eu normalmente procurava quando se
tratava de encontrar alguém para foder.

— A torta de maçã deve ficar pronta logo, mas precisará colocá-la para
esfriar no suporte. Eu o coloquei ali. — Lucy apontou na diagonal atrás dela. — O
restante está coberto para que permaneça quente ou pode ser aquecido no outro
forno.

Acenei com a cabeça e ela me cumprimentou antes de se dirigir ao


corredor que levava à porta da frente.

— Boa noite, Sr. Cross.

— Boa noite.

Ela fechou a porta da frente e eu fiquei sozinho mais uma vez. Alguns
diriam que uma casa com cinco quartos e seis banheiros era exagerado para um
homem, mas eu não me importava com o que as outras pessoas pensavam a
respeito do que eu deveria fazer com meu dinheiro. Além disso, a única razão pela
qual as pessoas realmente se importavam era porque os jornais escreviam sobre
isso e vendiam. Era um ciclo sem fim.

Uma rápida inspeção em minha casa me disse que tudo estava perfeito.
O serviço de limpeza havia terminado várias horas atrás, então minha casa estava
imaculada. Embora eu mal ficasse aqui, não fazia mal ter alguém para manter a
casa arrumada. Eu havia comprado essa casa há alguns anos, quando decidi que
queria ter um lugar para descansar minha cabeça em NoHo7. Além disso, a casa
tinha uma academia no subsolo. Uma coisa a menos que eu precisava pedir para
construir. Também era comum eu passar aqui para fazer um treino rápido após

7
Bairro de Manhattan
uma teleconferência ou para almoçar antes do próximo evento ou reunião que eu
precisasse participar.

A adega de vinhos foi bastante destacada pelo corretor de imóveis como


um bônus. Fui até à porta do meu quarto e a tranquei sem olhar para dentro. Esse
era o último lugar que eu queria que ela entrasse, caso decidisse bisbilhotar. Algo
me dizia que, se tivesse a chance, ela a aproveitaria. Ninguém entrava ali sem
minha permissão.

Eu não podia negar que gostava da coragem e determinação de Anais em


lutar para conseguir o que ela queria, mesmo que isso significasse lutar comigo. Eu
estava acostumado a ter pessoas que ficavam em cima de mim para garantir que eu
sempre estivesse bem cuidado, e era uma ótima experiência ter alguém que não
aceitava minhas merdas. Também deixou a luta e a eventual queda ainda melhores.
Eu sabia que essa experiência seria agradável para ambos, uma vez que ela
soubesse o que era ser minha. E ela aprenderia rapidamente.

Voltei para a cozinha e olhei para o cartão que Lucy havia colocado no
balcão para mim. Ela havia preparado tudo o que eu havia pedido para o jantar
desta noite. Parte de mim se perguntava se não era demais, quando olhei as velas
acesas. Eu estava tentando impressionar Anais fazendo tudo isso? Eu diria que sim,
mas apenas para pegá-la desprevenida e conseguir o que queria no final. Para que
ela pensasse que esse pequeno acordo não seria nada de mais quando eu colocasse
minhas exigências sobre a mesa. Ela não sabia no que estava se metendo e eu
estava ansioso para ver sua reação. Verifiquei o relógio novamente e ajeitei meu
paletó. Optei pelo terno preto padrão, sem gravata. Passei a mão no cabelo e então
ouvi uma batida na porta.
— Bem na hora. — Eu disse a mim mesmo enquanto dava mais uma
olhada na sala antes de ir para a porta da frente. Então, ela não tinha se rebelado
para vir aqui. Interessante.

Eu me olhei no espelho do corredor que minha designer de interiores


insistiu em instalar, e me certifiquei de que não havia manchas no terno. Abri a
porta e assustei Anais com base em seus olhos arregalados.

— Não era isso que eu tinha em mente quando disse que você deveria
usar algo parecido com o vestido que usou na Elevate. — Uma imagem dela no
vestido dourado cintilante se repetiu em minha mente e fez meu pau mexer. Eu
poderia ter dito oi primeiro, mas qual era a graça disso? Além disso, era a verdade.
Eu esperava que ela fosse rebelde, considerando as conversas que tivemos, mas
não esperava isso.

— Eu devo ter esquecido. — Ela disse com um encolher de ombros


enquanto entrava em minha casa. — Estou surpresa por você abrir sua própria
porta.

— Sou muito capaz de abrir uma porta. Mas você não parece ser capaz
de seguir instruções. Isso será corrigido. — Minhas palavras tiveram o efeito
pretendido quando ela desviou o olhar antes de me encarar mais uma vez. Fiz um
gesto para que ela entrasse no saguão e fechei a porta. Ela olhou para trás por um
segundo antes de se dirigir para o corredor.

— Estou chocada que sua casa seja um lugar agradável. Por outro lado,
você tem dinheiro suficiente para comprar qualquer coisa, inclusive mulheres.

Eu sabia que ela estava fazendo o possível para mudar de assunto, mas
esta não seria a última vez que ela ouviria sobre sua capacidade de não seguir
minhas instruções.
O plano dela hoje é me irritar o máximo possível? Boa tentativa. —
Obrigado. O jantar ficará pronto em alguns minutos. Vou pegar seu casaco. Vamos
descer e escolher uma garrafa de vinho. — Ela me entregou seu casaco e eu o
coloquei no armário.

— Eu não disse que queria uma taça de vinho.

Levantei uma sobrancelha para ela, já que tinha feito minha lição de
casa. — Me siga.

Balancei a cabeça e caminhei em direção às escadas que levavam ao


subsolo. Acendi as luzes e desci com Anais atrás de mim.

— Escolha qualquer garrafa. — Segurei aberta a porta de vidro que dava


para a adega.

Anais ficou de boca aberta, enquanto seu olhar se movia de uma garrafa
para outra. — Algumas dessas garrafas de vinho custam uma centena de dólares.

— Algumas custam até alguns milhões.

Demorou alguns segundos, mas ela fechou a boca e continuou


observando as garrafas de vinho. Finalmente, ela escolheu uma. — Aqui, eu
gostaria de experimentar este.

— Excelente escolha, esta garrafa é da Toscana.

O fantasma de um sorriso apareceu brevemente em seus lábios antes de


desaparecer. — Custa milhares de dólares?

— Não.— Mas eu não disse a ela que estava muito perto disso. — Tudo
bem, vamos lá e eu vou abri-la. — Deixei que ela subisse primeiro, então desliguei
as luzes e a segui.
Quando estávamos no andar de cima, passei por ela, dando-lhe a
oportunidade de circular pela área aberta que era minha sala de estar, cozinha e
sala de jantar. Eu me servi de uma dose de uísque no mesmo copo que havia
bebido antes. Enquanto abria a garrafa de vinho, olhei em sua direção e a vi
examinando minha casa.

— Se não estivesse frio lá fora, eu levaria você até ao telhado para que
pudesse ver todos os pontos de Manhattan.

— Não estou interessada.

— Não minta para mim.

Peguei nossas bebidas e fui até ela. Ela ficou olhando através da janela
que estava próxima do sofá. Quando me aproximei, ela se sentou no sofá e eu lhe
entreguei a taça de vinho. Conversas fúteis durante reuniões de negócios me
irritavam profundamente e isso não era muito diferente. — Então, você decidiu vir,
o que significa que aceitou o nosso acordo.

— Sim, mas quero negociar os termos. — Ela se inclinou para a frente e


colocou a taça de vinho na mesa de centro.

— Você acha que tem poder de negociação nessa situação? — Era


divertido pensar que tinha, e eu podia ver que ela estava ficando chateada.

Seus olhos percorreram o cômodo e ela apertou e abriu as mãos. Ela


provavelmente estava imaginando me dar um tapa no rosto e a ideia me forçou a
esconder qualquer excitação. Eu a desafiei a fazer isso em minha mente, só para
que ela pudesse experimentar que tipo de punições que eu aplicaria se ela se
rebelasse.

— Então, o que você quer que eu faça é me despir e deitar de costas,


para que eu esteja sempre pronta para você me foder quando quiser? É isso que
você quer? Então, aqui está. — Ela tirou o suéter e eu vi indícios do sutiã preto
simples que ela estava usando por baixo.

Eu zombei enquanto me inclinei para colocar meu copo na mesa de


centro ao lado dela. — Pare. Esta é a sua maneira de exercer poder? Você não tem
influência aqui, Anais. Mas é engraçado que esteja tentando agir como se tivesse.
— Pude ver quando ela se deu conta disso, pois seu humor mudou. Seu rosto
passou de chateado para completamente irritado. A atitude que ela tomou em
seguida surpreendeu até a mim.

Ela pegou o celular e se recostou no meu sofá. Ela me ignorou por


alguns segundos e eu me inclinei e peguei o celular.

— Ei…

— Você está tentando pedir um vibrador? — Perguntei. Não havia muito


neste mundo que me surpreendesse, mas admito que isso me surpreendeu. Meus
lábios se contraíram enquanto uma risada ameaçava sair de meus lábios. — Isso
deveria me irritar?

— Achei que, como não teria nenhum prazer com isso, um vibrador seria
um excelente investimento. Ou talvez eu possa pegar o meu em casa.

— Você não vai precisar de nenhum tipo de brinquedo, a menos que eu


seja o único a usá-lo em você. É o seguinte, Anais. Você não controla nada pelos
próximos trinta dias. Eu controlo. Controlo o seu prazer e tudo mais. Quando e
como, depende de mim. Assim que você entender isso, esse acordo será benéfico
para nós dois. Agora vamos nos sentar e desfrutar de uma refeição juntos.

Eu sabia que o tom de minha voz a afetava porque seus olhos se


recusavam a encontrar os meus. Meu pequeno discurso a deixou temporariamente
muda, porque tudo o que ela fazia era olhar para as mãos. A campainha do timer
do forno cortou a tensão.

— É o jantar? — Perguntou ela, com a cabeça inclinada de sua posição


anterior.

— Sim, você conhece a refeição que vem depois do almoço? — Eu


perguntei-lhe com uma sobrancelha levantada. Levantei do sofá e me dirigi à
cozinha. Minha casa de conceito aberto me permitia ver facilmente a sala de estar
da cozinha. — Essa deve ser a torta que Lucy deixou.

Seus olhos se voltaram para mim. — Quem é Lucy?

— Minha chef de cozinha pessoal.

Ela relaxou visivelmente com a minha resposta. Fascinante.

— Contratar uma chef de cozinha foi a melhor opção por causa do


trabalho e das viagens. — Coloquei uma luva e me virei para tirar a torta do forno.

— Ou você poderia simplesmente preparar as refeições como todos nós.

Sorri internamente antes de dizer: — O que foi isso? — Me levantei e


virei para encará-la, colocando a sobremesa quente no balcão.

— Nada. Eu não disse nada.

Afinal, isso pode ser mais divertido do que eu pensava.


10

ANAIS

O jantar foi, no mínimo, estranho. Fiquei em silêncio, só abri minha


boca para comer a refeição que a chef de Damien havia deixado para nós. A
lagosta que derretia na boca estava deliciosa, junto com o macarrão com queijo
trufado e o espinafre salteado.

— Tem torta de sobremesa.

Achei que foi um pouco exagerado fazer toda essa comida para alguém
que veio quitar uma dívida. Mas, por outro lado, não era como se Damien tivesse
gasto algum tempo para prepará-la. Eu não sabia como conseguiria colocar mais
comida no estômago depois do que acabamos de comer. Isso, no entanto, não me
impediu de acabar com minha segunda taça de vinho. Eu esperava que ajudasse a
acalmar a ansiedade que eu estava sentindo pelo que aconteceria depois que o
jantar terminasse.

— Mais? — Ele perguntou, apontando para a minha taça de vinho quase


vazia.

Balancei a cabeça porque meu objetivo era ficar alerta e duas taças me
deixariam assim.

Enquanto eu tomava outro gole de vinho, dei uma olhada na casa que
Damien chamava de lar. Eu a descreveria como um apartamento de solteiro,
embora a parte externa da casa parecesse um sobrado típico de Nova York. A
decoração escura e moderna da Elevate estava presente em sua casa, o que me fez
pensar se Damien ou sua decoradora tiveram algum papel no projeto do clube. Os
pisos de madeira eram impressionantes e era algo que eu gostaria de ter um dia,
quando tivesse minha própria casa.

— Em qual horário você poderá se mudar amanhã?

Olhei para Damien. — O quê?

— Você ouviu o que eu disse.

— E não posso acreditar que você ainda tem a capacidade de me deixar


surpresa. Não vou morar com você. Eu me recuso a pagar o aluguel do meu
apartamento se não estiver morando nele.

— Você não terá que se preocupar com isso porque será resolvido. Tudo.

Levantei uma sobrancelha. — Você quer dizer a parte de Ellie também?

— Tudo. Não gosto de ficar repetindo, Anais.

Minha boca não tinha filtro quando se tratava de Damien. Eu também


não podia evitar, mas algo dentro de mim temia que pudesse me afundar ainda
mais e eu ainda tinha muito a perder. Ele não deveria ter permissão para tratar a
mim ou a qualquer outra pessoa assim. Achei que minhas palavras poderiam irritá-
lo. Em vez disso, ele me deu um pequeno sorriso.

— Você e eu vamos nos divertir muito.

Sua voz se aprofundou quando a palavra diversão saiu de seus lábios,


enviando uma pequena corrente de eletricidade pelo meu corpo que me recusei a
reconhecer. Ainda havia medo, no entanto. Medo de não saber o que ele tinha em
mente ou o que havia planejado. Essa parecia ser uma tática que ele usava para
manter seus adversários na expectativa.

— Você vai se mudar e não há nenhuma margem para discussão. Se não


mudar, o acordo será cancelado e não acho que você possa se dar a esse luxo, não é
mesmo? — Suas palavras causaram um tremor na minha espinha. Mais uma vez,
ele estava certo. Eu não podia permitir que o acordo fosse cancelado. Muitas
pessoas contavam comigo para quitar essa dívida, mesmo que não soubessem
disso.

— Posso fazer um pedido? — Eu perguntei, tentando uma nova


abordagem.

Ele encolheu os ombros. — Isso não significa que eu vá concordar.

Coloquei o garfo sobre a mesa e cruzei as mãos. Olhei pela janela antes
de voltar minha atenção para Damien. — Não quero que ninguém saiba que isso
está acontecendo.

Ele inclinou a cabeça para o lado, aparentemente digerindo meu pedido.


— Você está tentando me manter como seu segredinho sujo?

Revirei os olhos. — Chame do que você quiser. Não quero que as


pessoas saibam que a razão pela qual você e eu estamos juntos é porque estou
tentando saldar uma dívida em nome do meu pai. Isso inclui meus pais. Agora,
suponho que haverá perguntas se formos vistos em público, mas gostaria de manter
isso o mais discreto possível. Também quero deixar por escrito que você cancelará
essa dívida assim que as condições forem… cumpridas.

— Posso concordar com isso.

Fiquei espantada por ter conseguido essa pequena vitória, mas não dei
muita importância a isso. — Também preciso ir trabalhar porque os clientes da
Monroe Media Agency contam comigo para fazer meu trabalho. — Eu poderia
trabalhar em casa com horários flexíveis, mas isso não era algo que eu queria que
ele soubesse. — Ah, e eu não quero dormir na mesma cama que você.

— Anais, você vai se acostumar com a ideia do que eu digo e o que deve
ser feito. Eu não tinha nenhuma pretensão de que você não fosse trabalhar ou não
fizesse seu trabalho, então está tudo bem. E você não dormirá na minha cama
porque eu não durmo com ninguém. Durmo sozinho.

Agradeci mentalmente a Ellie pelas suas informações que me prepararam


para isso. Observei enquanto ele colocava seus talheres na mesa e um olhar
sombrio tomou conta de seu rosto. O sorriso que apareceu não favoreceu em nada
também.

— Mal posso esperar para quebrar você. — Sua voz era baixa e
profunda, fazendo com que as palavras saíssem de forma sinistra.

— Então isso significa que terei meu próprio quarto?

Ele assentiu. — Você terá seu próprio quarto e banheiro. Ninguém entra
no meu quarto além de mim, a menos que eu permita.

Essa foi a primeira vez que me senti aliviada durante toda a noite. No
mínimo, eu teria meu próprio espaço longe dele. Mas isso levantou questões sobre
o porquê de ele ser tão protetor em relação ao seu quarto.

— Imagino que, como você tem uma chef de cozinha, tenha também um
serviço de limpeza. Eles também não podem entrar lá? — Fiz a pergunta da forma
mais inocente possível, esperando que ele não suspeitasse do fato de eu estar
procurando informações. Eu não tinha planejado entrar no quarto dele, mas o
mistério fez com que um alerta em minha cabeça fosse acionado.

— Podem, mas se preocupam apenas com suas tarefas.


Eu tive que me forçar para não revirar os olhos quando percebi o duplo
sentido em suas palavras. — Você faz parecer que tem um quarto vermelho ou
algo assim.

Ele riu. — Engraçado você mencionar isso, porque em breve iremos a


Elevate. Dessa forma, você não precisará implorar para que Kingston a deixe
entrar no subsolo.

— Eu não fiz isso. — Eu podia sentir que minha postura corporal estava
me denunciando, devido ao seu comentário, mas eu nunca admitiria isso.

Ele se recostou na cadeira e cruzou os braços com um olhar presunçoso


no rosto. — Sim, você e Ellie fizeram isso, e tenho certeza de que foi apenas para
ver o que estava acontecendo lá embaixo. Terei prazer em levá-la para conhecer os
aspectos da Elevate que você ainda não viu. Confie em mim, há muitos.

— Ah não.

Ele não pode fazer isso.

— Ah sim.

Sim, ele pode fazer isso.

— Eu já te disse, estou no controle do seu prazer e será um prazer te


levar lá.

Eu podia sentir meu pulso acelerado. Levantei a mão e coloquei na


lateral do meu pescoço. Ele não pode estar falando sério, pode?

Uma olhada em seu rosto me disse que sim.

Limpei a garganta e disse: — Por último, quero que sejamos


monogâmicos durante este arranjo.

— Isso é uma referência à minha reputação?


Fiz o possível para manter minha voz tranquila. — Não. Isso é algo que
eu queria e achei que você concordaria.

Ele não respondeu imediatamente, e eu não sabia dizer se ele estava


pensando na minha sugestão ou se estava fazendo isso de propósito para me deixar
nervosa. Se fosse honesta comigo, a resposta seria um pouco dos dois.

— Isso funciona para mim, pois não compartilho o que é meu.

— Eu não sou sua.

— Você será por um mês.

Com isso, ele me pegou.

Damien se afastou da mesa da sala de jantar, ficou de pé e caminhou até


à sala de estar. — Por que não começamos agora? — Ele perguntou olhando por
cima do ombro.

Pensei que a maneira como me vesti para vir ao jantar o afastaria. Eu me


levantei e fui atrás dele, com meu coração acelerado. — Mas eu não estou
vestida…

— De quem foi a culpa? Você parece ter muita dificuldade em seguir


instruções. — Ele se sentou no sofá e preguiçosamente deixou seus olhos
percorrerem meu corpo. — Você pensou que só porque você se vestiu mal, isso
impediria de cobrar o que me é devido?

O sorriso presunçoso apareceu mais uma vez e eu quis arrancá-lo de seu


rosto.

Isso tudo era um jogo para ele. — Já que você estava com tanta pressa
para tirar o suéter antes, por que não faz isso agora?
Não me movi imediatamente. Eu não gostava desse homem mais do que
qualquer um que já conheci, mas suas palavras acenderam uma pequena chama em
meu corpo que eu não conseguia controlar. As palavras de Ellie sobre não ficar
viciada nele soaram em meus ouvidos enquanto eu me preparava para tirar o
suéter.

— Espere um segundo. — Ele disse, pegando seu celular. Alguns toques


fizeram as persianas fecharem e as luzes da sala diminuírem de intensidade. —
Levante-se.

Dessa vez, ao invés de reclamar, fiz o que ele pediu.

Isso é apenas temporário. Você pode fazer isso, Anais.

— Eu disse, tire seu suéter.

Me virei, tirei meu suéter e o deixei cair no chão com um baque suave.
Fiquei parada. Não é que eu tivesse vergonha do meu corpo. Eu fazia exercícios
regularmente e tinha uma alimentação saudável na maior parte do tempo, e sabia
que isso era visível. Mas sentir o seu olhar fazendo um buraco em minhas costas
me impediu de virar, porque eu teria que enfrentá-lo.

— Anais. — Sua voz era firme com uma pitada de aborrecimento. Foi
isso que me fez virar. — Foi tão difícil assim?

Não responda. Isso só o incentivará a agir ainda mais como um idiota.


A chama que ele acendeu sob minha pele continuava aumentando, embora eu
fizesse o possível para contê-la. Sua inspeção do meu corpo fez com que a tensão
na sala se tornasse tão espessa quanto uma nuvem de fumaça. Pude sentir meus
mamilos endurecerem enquanto roçavam contra o tecido macio e firme do meu
sutiã. Eu não podia nem culpar o fato de estar frio, porque estava quente em sua
casa.
— Tire o sutiã e se toque.

— O que você…

Eu vi quando os olhos de Damien escureceram. — Não vou repetir.

Meus olhos desceram de seus olhos para o seu peito e seu pau. Embora
fosse mais difícil ver por baixo de suas calças, eu podia dizer que ele estava
afetado pela exibição que queria que eu fizesse. Um movimento da sua língua
surgiu por entre seus lábios. Eu podia sentir meu rosto esquentar, embora gostaria
que isso não acontecesse. Este não era meu primeiro encontro, embora nunca
tivesse saído com alguém que fosse tão exigente.

Minhas mãos foram em direção às minhas costas e soltaram o sutiã.


Deixei que ele caísse dos meus ombros e o observei atingir o chão com um leve
toque. Em seguida, minhas mãos foram até meus seios, os massageando
gentilmente como eu imaginava que ele faria. Mas quem eu estava enganando? Eu
sabia que ele seria mais duro do que isso.

Criei coragem suficiente para olhar em seus olhos e notei que eles
desviaram dos meus movimentos para retornar ao meu rosto, como se estivesse me
analisando. Eu não esperava que ele se levantasse, então, quando ele o fez, dei um
passo para trás e imediatamente me censurei por fazê-lo. Ele deu mais um passo
em minha direção e eu me mantive firme, não me movi nem um centímetro. Nem
tentei respirar porque não queria que ele pensasse que eu me sentia intimidada.

— Estou ansioso para passarmos um tempo juntos. — Seu tom assumiu


um timbre áspero e rouco que fez com que eu sentisse um arrepio pelo meu corpo.
Seus olhos diziam algo mais, mas eu estava tendo dificuldade para compreendê-
los. No entanto, suas palavras logo se tornaram mais claras, tornando fácil entendê-
lo — Pare de se tocar e se vista. Arrume suas coisas esta noite e nos veremos
amanhã.

Suas palavras foram como um balde de água gelada sobre meus


pensamentos, me fazendo perceber que, mais uma vez, tudo isso fazia parte do
plano que ele pretendia executar em minha mente e corpo. O pior é que meu corpo
estava me traindo e, por mais que eu tentasse negar, desejava que fossem as mãos
dele ao invés das minhas.

Damien se afastou de mim e saiu da sala sem olhar em minha direção.


Vesti as roupas como se minha pele estivesse pegando fogo. Eu havia sido
dispensada sem nenhuma consideração e não sabia como lidar com isso. Quando
fiquei apresentável, corri para o armário onde Damien pendurou meu casaco e nem
tive tempo de vesti-lo antes de sair correndo pela porta da frente. Ao sair da casa,
vi Rob sentado no carro. A batida da porta fez com que ele olhasse e, um momento
depois, ele saiu do sedã. Eu me afastei da porta, vestindo meu casaco de inverno e,
quando cheguei ao carro, Rob já tinha aberto uma das portas traseiras para mim.
Rob acenou levemente com a cabeça em sinal de reconhecimento, mas não disse
nada.

Eu me perguntei quantas vezes isso havia acontecido. Ellie mencionou


que Damien teve seu quinhão de mulheres indo e vindo, mas ele fez arranjos
semelhantes como este no passado? Espere. Por que eu me importo? Tirei esses
pensamentos da minha cabeça assim que o carro começou a se mover. Depois de
me acomodar, recostei a cabeça no assento e deixei que os eventos desta noite se
repetissem em minha mente. Enquanto pensava nisso, minha raiva aumentou,
substituindo os sentimentos de humilhação, vergonha e choque que eu havia
sentido anteriormente.
Como ele se atreveu a me expulsar daquele jeito? Eu queria ter coragem
suficiente para dizer alguma coisa enquanto ele estava na minha frente, mas fiquei
sobrecarregada, dada a rapidez com que tudo aconteceu. Precisava aprender a
reagir a ele e a seus jogos mentais, pois tinha certeza de que essa não seria a última
vez que isso aconteceria.

O que me abalou profundamente foi perceber que eu estava enganando a


mim mesma. Eu não fiquei chateada porque ele havia me humilhado antes de me
expulsar. Eu fiquei irritada porque tinha gostado.
11

ANAIS

— Olá? — Eu chamei quando entrei pela porta porque não sabia se Ellie
estava em casa ou não.

Ela espiou pelo corredor e foi então que percebi que a água estava
correndo na pia. — Ei! Eu estava lavando a louça enquanto esperava você voltar
para casa. Como foi com Damien? — Seus olhos se arregalaram e antes que eu
pudesse dizer qualquer coisa, ela voltou para a cozinha. A água foi desligada e ela
saiu correndo da cozinha, enxugando as mãos em um pano de prato.

— Foi. — Eu disse, fechando a porta e entrando em nosso apartamento.


Eu nem me incomodei em tirar meu casaco e então, me joguei no sofá. Coloquei as
mãos no rosto e tentei pensar como iria contar-lhe. — Então, ele pediu que seu
motorista pessoal me buscasse e já tinha o jantar preparado e pronto para ser
servido quando eu cheguei lá.

Ellie se sentou ao meu lado no sofá. — Isso parece gentil.

Olhei para ela incrédula. — Gentil? Essa é a última palavra que eu usaria
para descrever Damien. — Minha voz estava abafada por causa da força com que
eu estava pressionando as mãos contra o rosto.

— Bem, continue. — Ela disse, claramente impaciente e querendo saber


toda a história.
— Ele me disse para morar com ele.

— Pare. — Ela fez uma pausa e notou a minha reação. — Você não está
brincando. Como assim?

— Sim. Pelos próximos trinta dias.

— Você vai fazer isso?

— Ainda não decidi, mas segundo ele, irei me mudar amanhã.

— Isso é rápido. — Ellie flexionou as pernas e apoiou em cima do sofá.

— Nem me fala. Acho que, no máximo, eu preciso levar roupas, pois o


apartamento dele é completamente mobiliado.

— Bem, se você decidir ir morar com ele, eu pelo menos saberei onde
você está.

Eu tinha esquecido que enviei a Ellie minha localização no caminho para


a casa de Damien. Isso foi uma ótima ideia.

— Talvez não seja tão ruim?

Eu lentamente virei a cabeça para Ellie, não acreditando no que ela disse.
— Talvez não, mas não é algo que eu gostaria de fazer. Ele só está me levando
para lá porque me quer à sua disposição.

— Isso é verdade, mas talvez haja algumas vantagens que você possa se
beneficiar?

— Ele tem uma chef de cozinha pessoal.

A boca de Ellie se abriu completamente antes que ela a fechasse. — Eu


nem sei porque estou espantada com isso. Ele provavelmente caga notas de cem
dólares.
Eu não pude deixar de rir. — Ou talvez ele limpe a bunda com elas.
Você realmente tem jeito com as palavras.

— É um dom. De qualquer forma, pare de mudar de assunto. O que mais


aconteceu depois que ele falou que você iria morar com ele?

— Eu disse a ele que estava preocupada em ter que pagar o aluguel para
que pudéssemos manter o apartamento enquanto eu estivesse fora. Não sabia se
isso também seria adicionado à minha dívida.

— Ah, sim, isso mesmo. — Eu não podia acreditar que Ellie tivesse
esquecido essa parte, mas dei-lhe um desconto, considerando o que eu tinha
acabado de contar.

— Ele disse que não era um problema, ele pagaria o aluguel. Incluindo
sua parte.

Ellie agarrou minha perna. — Como assim?

Eu confirmei com um aceno de cabeça.

— Não tenho certeza de como me sinto sobre isso.

— Eu também não.

Ellie começou a brincar com as pontas de seu cabelo castanho. — Sim,


eu quero que meu aluguel seja pago, mas também sinto que podemos acabar
devendo a ele algo além do que você já está fazendo.

— Eu sei. — Concordei mais uma vez, tentando entender toda a


situação. Fiquei pensando se deveria ou não contar a ela sobre como ele me expôs.
Eu não sabia que bem isso faria além de me envergonhar ainda mais.

— Vou me deitar. Tenho muito em que pensar e estou exausta.

— Ok. Depois nos falamos.


Apaguei as luzes da sala de estar e desliguei a televisão para dormir
enquanto Ellie limpava a cozinha.

Fui até à janela para fechar as persianas e, quando estava prestes a baixar
uma delas, algo chamou minha atenção. Do prédio de apartamentos do outro lado
da rua, parecia haver alguém apontando algo para a nossa janela. Eu podia ver
movimentos leves e, quando vi um flash, confirmei que era uma câmera. Parei de
me mover por um instante antes de agir como se nada tivesse acontecido.

Me afastei da janela, sem fechar as persianas, e chamei: — Ellie?

— O quê? Eu estava me preparando para…

Eu coloquei o dedo na minha boca, sinalizando para ela ficar quieta. —


Você pode acender as luzes? — Ela fez o que eu pedi e se aproximou de mim.

— O que está acontecendo?

— Acho que alguém está nos espionando do outro lado da rua. Se


recuarmos o suficiente e contornarmos o sofá, poderemos olhar de ambos os lados
da janela para confirmar se estou certa.

— Tudo bem. — Disse ela, e nós duas saímos do alcance do que


achávamos que poderia ser visível em nosso apartamento antes de chegarmos à
janela e movermos lentamente a cabeça para espiar por ela.

Ellie engasgou e disse: — Acho que você está certa.

— Sim, mas por quem?

Ellie fechou lentamente as persianas, transformando o apartamento


novamente em nosso santuário particular. — Pode ser Damien. Garantindo que
você está cumprindo o que ele lhe disse para fazer.
— Mas se ele quer que eu vá morar com ele, o fato de ter alguém me
vigiando neste momento não anularia o propósito?

— Você ainda não foi morar com ele. — Ellie pontuou. — Pode ser a
maneira dele de mantê-la sob seu controle até que você vá.

— Este é um bom ponto.

Ellie bateu palmas e disse: — Ou se esse for o jeito dele de empurrá-la


para os seus braços?

Levantei uma sobrancelha para ela. — Você acha que Damien já teve
que trabalhar para conseguir que uma mulher caísse em seus braços?

— Touché.

— Podemos ir à polícia?

Ellie também arqueou a sobrancelha e zombou. — Você está brincando?


Com que evidências? Embora suspeitemos que essa pessoa esteja nos espionando,
ela pode estar apenas tirando fotos da arquitetura da cidade de Nova York.

Suspirei e apertei mais meu rabo de cavalo. — Se eu vou morar com


Damien por um mês, quero que você fique segura.

— Não se preocupe comigo. Eu vou ficar bem. Você é que está prestes a
entrar na cova dos leões.

***

Eu estaria mentindo se dissesse que não fiquei me revirando a maior


parte da noite. Minhas emoções estavam à flor da pele enquanto eu pensava no que
os próximos trinta dias me reservariam. Eu não queria me mudar para a casa dele.
Eu gostava de ter meu próprio espaço e, mais do que isso, odiava a ideia de
compartilhar um espaço com alguém que queria que eu me mudasse para ser seu
brinquedo sexual por um mês. Então, fiz o que qualquer pessoa sensata teria feito e
enviei uma mensagem de texto para Damien.

Eu: Esse arranjo de mudança não funciona para mim. Não tenho
nenhum problema em me encontrar com você em algum lugar, mas não vou
me mudar para sua casa.

Houve um momento de alívio quando cliquei em enviar. O pânico logo o


substituiu quando percebi que havia enviado a mensagem às três da manhã. Não
gostei muito da ideia de ele saber que eu estava acordada até tão tarde pensando
nele. Parte de mim não se importava com o fato que eu poderia tê-lo acordado, mas
eu valorizava o sono e me sentia um pouco culpada por perturbar o sono de outra
pessoa. Foi o que pensei até que meu celular tocou. Virei o celular, agradecendo a
quem criou a possibilidade de diminuir a luz da tela, e li a notificação.

Damien: Você vai se mudar amanhã. Rob estará em sua casa às 9h


em ponto.

Quase gritei de frustração. O fato do quarto de Ellie não ser muito longe
foi a única coisa que me impediu.
Eu: Não estou pronta e não quero ir.

Damien: Eu irei até aí e carregarei você.

— Boa sorte com isso. — Eu disse. Como eram 3h da manhã e não era
possível organizar qualquer coisa, enviei um e-mail para meu pai e Vicki, sua vice-
presidente, informando que tiraria o dia de folga. Coloquei o celular de lado e olhei
para o meu quarto. Não estava em condições de me mudar tão cedo. As roupas
estavam por toda parte porque eu estava muito ocupada entre o trabalho e a vida.
Os sapatos não estavam em seus devidos lugares no meu armário. Decidi que
passaria parte do dia amanhã fazendo uma faxina para meu próprio bem-estar, pois
não tinha planos de ir à casa de Damien. Levantei-me e fechei as cortinas. Voltei
para a cama e me virei.

Afofei o travesseiro e o coloquei de volta sob a cabeça, desejando que o


sono me dominasse. Não demorou muito para que isso acontecesse, mas não havia
sonhos para ter esta noite. Apenas escuridão enquanto eu pensava no que o amanhã
me traria.

***

Embora eu tenha ido dormir muito tarde, mesmo assim acordei cedo
porque estava acostumada a levantar cedo para trabalhar. Eu estava sonolenta, já
que tinha dormido cerca de quatro horas e meia apenas. Nada poderia ser feito
sobre isso além de beber uma tonelada de café. Uma rápida olhada no meu celular
me disse que eram oito da manhã e eu não tinha notícias de Damien depois da
conversa que tivemos na noite passada. Encolhendo os ombros, me levantei e
comecei meu dia com aquela xícara de café. Assim que alcancei minha meta,
verifiquei e vi que Ellie tinha ido trabalhar. Comecei a separar as roupas que
estavam espalhadas pelo meu quarto. Concluí a tarefa em cerca de trinta minutos,
então o próximo passo foi um banho. Fiquei sob o jato quente, sentindo-o cair
sobre meu corpo, o que ajudou a aliviar um pouco do estresse que estava sentindo.
Assim que me sequei, prendi meu cabelo molhado em uma trança francesa e vesti
uma regata e shorts de corrida. Olhei para o telefone novamente.

8h55.

Cinco minutos antes do horário que eu deveria descer com o que quer
que eu quisesse levar para a casa de Damien. Coloquei o celular no bolso e fui para
a cozinha enquanto pensava em outra tarefa que poderia fazer. Quem diria que
evitar morar com alguém poderia me motivar a limpar meu apartamento? Quando
estava prestes a me abaixar para descarregar a máquina de lavar louça, ouço
alguém batendo na minha porta.

Depois de um rápido debate pessoal, decidi não atender. Mas quando a


pessoa bateu mais alto, corri para a porta, porque não queria que ela incomodasse
os outros inquilinos.

— Mas que droga? É evidente que alguém não está em casa ou está
fingindo não estar. Vá embora. — Murmurei. E se fosse a pessoa que
suspeitávamos ter tirado fotos na noite passada? Espiei pelo olho mágico. O
homem que assombrava meus sonhos e se tornou meu pior pesadelo estava do
outro lado.

Como eu poderia esquecer que ele havia ameaçado vir pessoalmente me


pegar e me levar para a casa dele? A negação me atingiu como um tijolo. Meu
instinto de luta ou fuga entrou em ação e meu pensamento imediato foi ir em
direção à escada de incêndio. Quando me movi para pegar meus tênis de corrida,
seu punho bateu na porta novamente, ainda mais alto dessa vez.

— Anais, eu sei que você está aí. — Sua voz explodiu, soando tão alta
quanto alguém que tivesse um megafone na boca.

Mesmo que eu tentasse correr para a escada de incêndio, haveria uma


chance muito boa de que Rob estivesse esperando lá embaixo. Sem pensar duas
vezes, voltei para a porta da frente e a abri.

Ele imediatamente invadiu, fazendo com que eu recuasse. A porta se


fechou atrás dele e eu estava convencida de que um dos meus vizinhos logo
chamaria a polícia.

— Você gosta de me desafiar?

Não respondi, preferindo me concentrar em seu olhar e no tom de sua


voz. Seus olhos escureceram e ele estava definitivamente no limite.

— Anais, eu te fiz uma pergunta.

— Não. Só não sou o tipo de pessoa que pula quando você manda. — Eu
sabia que minha boca ia me colocar em apuros.

— Parece que suas aulas precisam começar agora.

Intrigada, observei enquanto ele olhava para a esquerda, verificando se


estávamos sozinhos. Ele agarrou meu braço e me puxou para o meu sofá e se
sentou.

— O que você está…

Ele preguiçosamente arrastou um dedo para cima e para baixo na minha


perna, causando arrepios ao longo do caminho. Ele tirou meu celular do bolso e o
jogou na mesa de centro. — Deite-se em meu colo.
— Desculpe-me, estou…

Seu olhar interrompeu minhas palavras. Seu peito estava se movendo


rapidamente para cima e para baixo e eu não sabia dizer se era devido a todos os
gritos e batidas que ele tinha acabado de dar ou se era porque estava excitado. Eu
só podia abusar da sorte até certo ponto e, com esse pensamento em mente, deitei-
me sobre seu colo.

— O que você vai fazer? Me bater?

A provocação teve o efeito oposto que eu queria.

— Engraçado você mencionar isso. — Disse ele, passando um dedo


suavemente para cima e para baixo em minha espinha. — E esse shortinho que
você está usando me dá ampla oportunidade de fazer o que eu quiser.

Seu toque trouxe outro arrepio ao meu corpo. Eu me odiei por estar
gostando do que ele estava fazendo comigo enquanto seu dedo voltava até minha
bunda. Ele passou a mão nela antes de dar uma palmada.

Uma lufada de ar deixou meus pulmões e pude ouvir o tapa vibrando


pelo meu corpo.

Ele fez isso.

E então fez isso de novo. Os golpes não eram fortes o suficiente para
doer, mas firmes o suficiente para fazer minha boceta vibrar.

E de novo.

Eu não confiava em mim para falar. Eu sabia que minhas palavras me


trairiam.

— Sem palavras, Anais?

Não respondi.
— Que vergonha. Afinal, estou gostando de você nesta posição.

Outro tapa atingiu minha carne. Não era possível que minha bunda não
estivesse ficando rosada a essa altura.

— Acho que agora chegamos a um entendimento, não é? — Suas


palavras voaram sobre mim como um cobertor pesado enquanto suas mãos
iniciaram uma guerra em meu corpo. Elas massageavam os locais que ele havia
atingido enquanto se dirigia ao meu centro. Damien afastou meu short e minha
calcinha para o lado, deixando que uma pequena corrente de ar fizesse cócegas em
minha boceta. Ele deslizou dois dedos dentro de mim e riu com o que encontrou.

— Você está encharcada. Acho que gostou bastante disso. E aposto que
você também gostou do show que fez para mim ontem.

Antes que eu pudesse falar algo, sua mão começou a se mover mais
rápido. Um gemido saiu de meus lábios, o primeiro som que fiz em minutos.
Minha respiração saiu ofegante enquanto eu tentava controlar a reação do meu
corpo aos movimentos dele, mas foi inútil. Há meses que eu não tinha um orgasmo
e meu corpo estava preparado e pronto para um agora.

— Você está perto? — ele perguntou.

Tudo o que pude fazer foi acenar com a cabeça enquanto enterrei meu
rosto em sua coxa. As sensações eram tão intensas que precisei de todo o meu
controle para não cair de seu colo.

— Eu poderia parar por aqui e acabar com isso tudo.

Quando ele parou de mexer os dedos, gritei: — Não! Por favor, não pare.
Ele soltou um grunhido e bateu na minha bunda antes de enfiar os dedos
novamente dentro de mim. Era quase como se ele não tivesse parado e eu estivesse
pronta para voltar ao mesmo ritmo novamente.

E foi então que ele desferiu um último golpe em minha bunda que me
fez voar alto, e foi somente porque meu rosto estava preso em seu colo que dessa
vez meu grito saiu abafado. Eu não esperava sentir as emoções que surgiram como
resultado de ele brincar comigo no sofá da minha sala de estar.

— Eu estou no controle de tudo. Da próxima vez que você for contra


minhas ordens, haverá muitos outros tapas e você vai contar cada um em voz alta.
Agora vamos.

Não havia como nós sairmos intactos desses próximos vinte e nove dias.
12

ANAIS

Levei alguns momentos para me recompor depois que Damien me


soltou. Fui ao meu quarto para colocar um par de jeans e uma camiseta. Então,
joguei algumas roupas na minha bolsa. Achei que uma mochila noturna seria
suficiente por enquanto. Eu poderia voltar ao meu apartamento em alguns dias para
pegar mais coisas. Também peguei minha bolsa de trabalho, grata por não ter
tirado nada dela e joguei por cima do ombro. Assim que eu estava saindo do meu
quarto, Damien desligou o celular.

— Fico feliz em ver que você finalmente está seguindo as instruções.


Antes tarde do que nunca. Vamos.

Mordi a língua enquanto ele caminhava até à porta e a abria. Peguei meu
celular da mesa de centro e o segui. Assim que tranquei a porta, fui com Damien
até ao carro, onde Rob estava esperando pacientemente.

Rob ajudou a carregar minhas coisas e abriu a porta para que eu entrasse.
Entrei rapidamente no carro, abrindo espaço suficiente para Damien entrar atrás de
mim, e levantei uma sobrancelha para ele quando ele não entrou.

— Tenho outra reunião que preciso comparecer não muito distante


daqui. Rob vai te levar para minha casa, para que possa se instalar. Vou ver como
você está depois que a reunião terminar. — Parte de mim se perguntou que tipo de
reunião ele poderia ter neste lado da cidade. Eu não perguntei, com medo de pensar
que poderia ser algo que eu não gostaria de saber. Eu vi seu rosto quando ele me
deixou no carro. Entre a sobrancelha franzida e o escurecimento de seu olhar azul,
fiquei preocupada com a segurança de qualquer pessoa que estivesse do outro lado
dessa reunião com ele. Balancei a cabeça, e Damien deu um passo para trás,
permitindo que Rob fechasse a porta. Quando Rob saiu, estiquei meu pescoço um
pouco para olhar para trás, para ver onde Damien estava. Ele já havia começado a
andar pela rua, como um homem em missão.

***

Não demorou muito para chegarmos a casa de Damien. Rob abriu a porta
para mim e se ofereceu para pegar minhas coisas, o que eu aceitei. Assim que
entramos, Rob se virou e disse: — Aqui está a chave da porta da frente e o cartão
com minhas informações de contato. Vou levar as coisas para o seu quarto.

Rob levou minha bagagem pelo saguão e por um corredor onde foi
possível ter uma ideia da casa de Damien. Pelo que pude perceber, sua casa era
impessoal. Não havia fotos de família ou livros que eu pudesse ver. Quase parecia
que ele só vinha aqui para comer e dormir antes de voltar ao trabalho para
conquistar a próxima empresa.

A enorme TV que vi pendurada na parede quando olhei para a sala de


estar parecia ter todos os recursos e gritava ‘casa de solteiro’. Segui Rob até que
ele parou na porta de um elevador e engasguei. É claro que Damien teria um
elevador em sua casa.
Quando entramos, Rob apertou o número quatro, e o elevador nos levou
até aquele andar. Nenhum de nós disse uma palavra. Quando saímos do elevador,
Rob me mostrou meu quarto e colocou minha bagagem dentro, e depois voltou
para se posicionar no corredor.

— Você não pode subir no último andar em nenhuma hipótese. Me diga


caso você precise de algo. — E com isso, ele foi embora.

Seu aviso o seguiu para fora do meu quarto e quando a porta se fechou, o
silêncio se instalou, criando uma sensação inquietante. O quarto em que eu estava
parecia um sonho tornado realidade, com seu piso de madeira, janelas do chão ao
teto e uma cama king-size que me chamava para que eu subisse nela. Parecia um
quarto de hotel, o que era bom. Se meu eu de dez anos pudesse ver esse quarto, eu
sabia que ela o descreveria como um quarto de cores neutras e brilhantes que
lembrava um quarto de princesa sem os enfeites. O quarto foi decorado em branco,
cinza, rosa e outros tons neutros. Tinha algumas pinturas abstratas com essas
mesmas cores penduradas na parede e a cama estava repleta de travesseiros. Adorei
as rosas de marfim que estavam em uma das mesas de apoio. Quem não gostaria de
se hospedar aqui se as circunstâncias fossem diferentes?

Fui até à cômoda e encontrei vários pedaços de papel e uma caneta. Li o


documento com calma e vi que se tratava de duas cópias de um contrato que
determinava que Damien quitaria a dívida de meu pai se as condições de nosso
acordo fossem cumpridas. Sua assinatura estava na última página. Ele manteve
sua palavra. Me sentindo cautelosa em assinar um contrato que um advogado não
havia examinado, assinei de qualquer jeito e o coloquei de volta na cômoda.

Comecei a desfazer a minha bagagem e cuidadosamente coloquei minhas


coisas em uma das gavetas da cômoda. Depois disso, dei um passo para trás antes
de me virar para o que pensei ser um armário. Quando abri a porta, engasguei de
surpresa e horror.

O armário estava cheio até à borda com roupas femininas. Roupas em


todas as cores e estilos diferentes, incluindo vestidos, calças, jeans e camisetas. Era
muito mais do que eu jamais poderia ter sonhado. Eu só podia imaginar o quanto
essas coisas valiam. Peguei um vestido vermelho e verifiquei a etiqueta. Fiquei
chocada por ele ter acertado o meu tamanho, e então fiquei chocada por ser
Valentino, que eu sabia que poderia custar vários milhares de dólares. Ele os
comprou especificamente para mim ou eram de segunda mão de outra amante?

Peguei um suéter de cashmere branco e senti o material entre as pontas


dos meus dedos. Sem dúvida, era verdadeiro, dada a maciez do tecido, e eu sabia
que só esse suéter devia custar algumas centenas de dólares. Qual era o sentido de
me comprar essas roupas? Para ter certeza de que eu me encaixava perfeitamente
em seu mundo? Embora eu gostasse de ter roupas novas como qualquer outra
pessoa, fiquei muito irritada, porque eu não sabia qual era o propósito de tudo isso.
Pensamentos sobre se eu deveria ou não trocar de quarto passaram pela minha
cabeça, porque isso iria irritá-lo, mas decidi que não valia a pena. Além disso,
adorei o quarto em que estava hospedada, o que solidificou minha decisão de ficar.

Peguei meu celular no bolso de trás, tirei uma foto, e enviei para Ellie.
Depois de debater por um momento sobre a ideia em minha cabeça, esperei para
falar com Damien sobre tudo isso pessoalmente na próxima vez que o visse. Joguei
o celular na cama e continuei a desfazer as malas, porém não demorei muito para
me acomodar, já que não havia trazido muita coisa. Como ficou evidente pelas
roupas no armário, eu não precisava do pouco que trouxe.

Depois que saí do quarto, pensei em descer para a sala ou subir até ao
quarto dele para olhar em volta. A curiosidade me invadiu e me atentei se ouvia
algum som. Caminhei suavemente até às escadas. Não ouvindo ninguém, subi-as e
quando cheguei ao nível superior, meus olhos se aventuraram a olhar para a única
porta que estava fechada. Algo me dizia que aquele era o quarto principal. Me
aproximei da porta e tentei a maçaneta, mas ela não se moveu.

Revirei os olhos. Eu deveria saber que ele havia trancado a porta, já que
estava me forçando a me mudar para cá e sabia que eu estaria sozinha na casa em
algum momento. Parte de mim queria arrombar a fechadura, mas não precisava de
uma acusação de invasão de domicílio além de qualquer punição que ele pudesse
aplicar. Sua punição foi para ‘corrigir’ meu comportamento, mas aconteceu o
oposto. A surra me fez sentir mais viva e excitada, algo que eu não teria imaginado
em um milhão de anos. Foi o orgasmo mais rápido que já tive, o que é maravilhoso
em teoria, mas eu odiava a ideia de que queria fazer isso de novo.

Eu me virei e voltei a descer as escadas. Quando cheguei ao patamar,


ouvi a porta da frente abrir. Quase pulei de susto com o fato do quão perto eu
estive de ter que me explicar com Damien.

Coloquei uma mão no coração enquanto tentava desacelerar minha


respiração e caminhei até às escadas para encontrar Damien. Quando cheguei ao
próximo andar, o homem do momento olhou para mim com uma sobrancelha
levantada.

— O que estava fazendo? — Sua voz estava carregada de suspeita.

— Eu estava voltando para o meu quarto. Da última vez que soube, eu


poderia fazer isso sem ter que falar com você. — Tecnicamente, o que eu disse não
era verdade, mas ele não precisava saber disso.
Ele deu de ombros, aceitando minha resposta. — Você deve ter tudo o
que precisa. Vou te levar para um tour pelo resto da casa e, se precisar de alguma
coisa, Rob é a pessoa para quem você deve ligar.

— Ok.

Ele balançou a cabeça, olhou para o relógio e depois para mim. Havia
algo por trás daqueles olhos azuis cristalinos, mas eu sabia que ele não iria me
contar. — O almoço deve ser entregue em uma hora.

— Tudo bem.

Damien estava saindo, mas parou quando chegou à porta. Ele se virou
para me olhar por cima do ombro. — Anais, se você tentar abrir a porta do meu
quarto sem permissão novamente, não vai gostar das consequências.

Com isso, me deixou sem palavras, imaginando como ele sabia que eu
havia me aventurado no último andar.

***

Damien teve que atender uma ligação de trabalho, então almocei


sozinha. Fiquei feliz. Isso me deu um pouco de espaço para respirar, algo que eu
precisava desesperadamente depois de ter que mudar toda a minha vida para me
adaptar à dele. Era bastante solitário e eu estava aqui há menos de um dia. Eu
geralmente almoçava com um colega de trabalho, então não ter ninguém por perto
era estranho. Dei mais uma olhada pela casa, evitando propositalmente seu quarto
porque não havia como eu entrar lá de qualquer maneira com ele em casa.
Os locais que conheci anteriormente mal arranharam a superfície de tudo
o que havia para fazer na casa de Damien. Descobri que ele tinha uma cozinha de
chef, uma academia, o que tenho certeza que poderia se tornar meu cômodo
favorito da casa, a adega. Embora a casa parecesse compacta por fora, por ser um
sobrado, tinha mais comodidades do que qualquer um poderia desejar em seus
cinco andares, e isso não incluía o terraço na cobertura. Além disso, estava em uma
localização privilegiada em NoHo. Eu podia entender por que ele quis este local.

Sonhei acordada sobre como seria viver aqui em tempo integral antes de
balançar a cabeça. Não havia como eu viver com Damien. Agora, se ele se
mudasse e resolvesse me deixar a casa seria outra história. Eu não sabia como não
estava a ponto de cair de pura exaustão a essa altura, porém parecia que estava sob
efeito de pura adrenalina. Então, decidi me exercitar na sua academia.

Quando voltei para o meu quarto, percebi que, embora tivesse usado
meus tênis de corrida, não havia trazido nenhuma roupa de ginástica. Caminhei até
ao armário gigante que estava cheio até à borda com roupas. Procurei e encontrei
algo apropriado para me exercitar, colocando um sutiã esportivo preto e leggings
pretas. As roupas se ajustaram bem, quase como uma segunda pele, e o tecido era
respirável.

— Como ele sabia meu tamanho? — Eu perguntei para o quarto vazio,


sem esperar uma resposta. O pensamento me incomodou, mas não havia muito que
eu pudesse fazer sobre isso no momento.

Verifiquei se minha trança francesa ainda parecia decente e peguei o


celular antes de ir em direção às escadas.

Desci as escadas para a academia. Havia algumas máquinas, incluindo


uma elíptica, uma bicicleta ergométrica e uma esteira, que era o que eu esperava.
Também encontrei algumas garrafas de água, algumas toalhas e um bebedouro
extremamente sofisticado. Fiz um high five 8 mental porque não precisava voltar
para cima, para ir à cozinha pegar a água que havia esquecido.

Não demorei muito para pegar um pouco de água e me preparar para a


esteira. Assim que escolhi um podcast e terminei meu treino de aquecimento,
estava pronta para começar. Eu estava na minha zona de conforto enquanto corria e
ouvia os comentários dos líderes da mídia social sobre as últimas tendências. Isso
era uma ótima maneira de ignorar que estava correndo na esteira ao invés de estar
correndo em terrenos acidentados e pistas regulares.

O exercício foi ótimo para o meu cérebro e me fez sentir como se a


névoa que estava ao meu redor estivesse se dissipando. Assim que terminei meu
cardio, pulei da esteira e a limpei. Peguei minha toalha e enxuguei o suor do meu
corpo. Então comecei a fazer meus exercícios abdominais no chão em um canto da
sala. Fechei os olhos enquanto deixava os movimentos assumirem o controle e
tentei respirar profundamente enquanto os executava.

— Não era assim que eu esperava te ver, de costas.

A voz de Damien era mais alta do que o episódio do podcast e eu pulei,


interrompendo o exercício que estava fazendo.

— Não pare por minha causa.

— De qualquer forma, eu estava terminando. Você pode sair agora.

Pelo meu tom, qualquer um teria recuado, mas Damien se aproximou


mais. Ele ficou no meu espaço pessoal e agia como se fosse dele.

— Você não tem nada para fazer além de me incomodar?

8
Gesto comemorativo de bater com a mão quando algo é dito ou feito.
— Eu não estou te incomodando, pois você é minha. Eu te digo o que
fazer, lembra? Ou preciso te relembrar?

Bufei. — O que você quer?

— Eu estava procurando por você. Suas sessões começam agora.

— Não. Você não pode me dar ordens sempre que quiser.

Ele estendeu a mão e gentilmente roçou minha bochecha. — Isso é


exatamente o que eu faço. — Ele deixou cair a mão como se minha bochecha o
queimasse. — Você tem exatamente vinte minutos para tomar banho e, quando
terminar, deve ficar nua, de bruços, com a bunda para cima na cama.

— E se eu não o fizer?

— Não me teste. Você não vai gostar das consequências, Vulcãozinho.


13

ANAIS

Parei em frente ao espelho me analisando. Se eu tivesse algum senso de


autopreservação, deveria estar entrando no meu quarto e me apresentando a
Damien. Em parte, a ideia disso me deixava enjoada. O que me abalava mesmo,
era o fato de que estar com Damien me deixava… excitada, e eu odiava ele e meu
corpo por isso. O pensamento dele colocando seus dedos dentro de mim, me
deixava molhada, mas eu nunca admitiria isso para ele. Apertei o roupão que
coloquei após o banho e ouvi a porta do meu quarto sendo aberta.

Eu sabia que estava com problemas.

— Você se recusa a fazer o que eu digo a todo custo, não é? — Ele


estava encostado no batente da porta do banheiro e eu o encarei pelo espelho. —
Vamos ver se você entende isso. Vá para perto da cama.

Eu me virei e ele saiu do caminho, mal me dando espaço suficiente para


passar por ele. Quando meu corpo roçou contra o dele, meu desejo por ele cresceu,
embora eu não pudesse suportá-lo. Desta vez fiz o que ele pediu e fiquei perto do
pé da cama.

— Não foi tão difícil, não é, Vulcãozinho?

— Ah, vá se foder.
— Não. Eu vou te foder. Sabe quanto tempo esperei por esse momento?
Tenho sido muito paciente com sua conversa fiada, mas talvez agora seja hora de
foder com isso.

Ele olhou para mim, me estudando como se fosse um predador e eu fosse


sua presa. Eu sabia que estava prestes a encontrar meu fim. Ele ainda estava
vestido com seu terno e colocou a mão em sua protuberância, se apalpando através
das calças. Eu não tinha certeza se já havia visto algo mais hipnotizante.

Minha frequência cardíaca acelerou, e minha respiração tornou-se cada


vez mais pesada, a ponto de me perguntar se eu iria hiperventilar por vê-lo se tocar.
Ele ainda não tinha colocado seu pau para fora, mas com base na protuberância que
se formou em suas calças, eu sabia que ele estava duro. Ele deu passos largos em
minha direção e, quando finalmente estava a poucos centímetros de distância,
colocou seu dedo indicador sob meu queixo e levantou minha cabeça para que eu
olhasse para ele. Meus olhos foram atraídos para seus lábios, se demorando um
pouco antes de fazerem seu caminho até seus olhos. Engoli em seco quando
percebi que este homem já tinha me dado um orgasmo, mas nossos lábios só se
tocaram uma vez.

Até agora.

Eu nunca fui de ficar excitada com beijos.

Até agora.

Quando seus lábios pousaram nos meus, minha mente esqueceu todos os
pensamentos, exceto Damien. Agora, meu principal objetivo era garantir que
Damien Cross, um dos homens mais poderosos da cidade de Nova York, perdesse
o controle.
O beijo ficou mais intenso e ele capturou meus lábios entre os dentes,
puxando meu lábio inferior antes de me consumir mais uma vez. Isso fez com que
minha temperatura subisse e meu pulso disparasse enquanto nós dois tentávamos
chegar o mais perto possível um do outro. Com seu corpo duro contra o meu corpo
mais macio, eu estava ansiosa para arrancar suas roupas. Esse pensamento me
deixou abalada, já que eu não suportava Damien, mas atribuí isso a não fazer sexo
há meses. Alguns segundos depois, ele deslizou sua língua entre meus lábios e
gemeu em resposta, quando nossas línguas declararam guerra uma contra a outra,
nenhum de nós querendo ser o vencedor por medo de que isso pudesse parar. O
calor sufocante que esse beijo provocou em meu corpo foi o suficiente para me
fazer despertar e ainda não tínhamos feito praticamente nada. Ainda.

Ele quebrou o beijo primeiro enquanto se movia em direção ao meu


pescoço, onde era apenas uma questão de tempo antes que ele…

Eu gemi quando ele encontrou o ponto sensível em meu pescoço e


continuou a atacá-lo, fazendo com que eu me contorcesse e gemesse. Tudo o que
ele fez foi rir e continuar com suas ações. Fiquei desapontada quando ele parou e
se afastou.

— Deite-se de costas.

— Eu pensei que você me queria com a bunda para cima?

— O tempo para isso já passou.

Eu fiz o que ele disse, e ele abriu a parte de cima do meu roupão
expondo meus seios. Ele não perdeu tempo. Imediatamente colocou um mamilo
em sua boca enquanto seus dedos massageavam e brincavam com meu outro
mamilo até que se tornasse rígido. Ele então alternou para o outro seio, e eu agarrei
os lençóis. Uma de suas mãos desceu pelo meu corpo e foi só quando senti seu
dedo na minha boceta que quase caí da cama.

Ele soltou meu mamilo com um estalo e perguntou: — O que temos


aqui?

— Damien. — Seu nome saiu mais como um gemido.

— Eu pensei que você disse que me odiava. Não está parecendo que
você me odeia.

— Eu odeio.

— Seu corpo não. — Ele disse enquanto tirava seus dedos de mim e
tomava seu tempo lambendo cada um deles.

Suas ações quase me fizeram querer gritar e implorar para que ele
colocasse os dedos de volta onde estavam.

Era como se estivéssemos nos comunicando telepaticamente, porque ele


colocou os dedos de volta entre minhas coxas e eu fiz um barulho que não
conseguiria descrever. Seus dedos se moviam como um maestro, em movimentos
muito distintos, como se ele estivesse tocando meu corpo como um instrumento.
Desta vez, ele se moveu mais rápido e quando senti um formigamento familiar, ele
diminuiu a velocidade e me deu um sorriso sombrio.

— Provocação.

Ele não negou.

Mas o que eu pensei que era provocação se transformou em um novo


patamar de prazer, quando ele adicionou outro dedo ao meu calor, e foi
literalmente tudo ladeira abaixo a partir daí. Minhas pernas se abriram
involuntariamente e, quando percebi que isso lhe deu a capacidade de aumentar a
velocidade, joguei a cabeça para trás em êxtase.

— Estou quase lá.

— Não.

Eu hesitei em suas palavras. Ele tinha que estar brincando.

— Não consigo segurar…

— Eu disse não. — A profundidade de sua voz enviou outra onda de


prazer através de mim, tornando ainda mais difícil de controlar.

— Não consigo…

— Eu vou te dizer quando.

O desejo de me soltar como resultado de sua foda com o dedo estava se


tornando insuportável. Se ele não me deixasse…

— Goze.

Não havia palavras que eu pudesse usar para descrever a sensação que
estava percorrendo meu corpo, ou o grito que saiu dos meus lábios quando ele
finalmente me deixou no limite. Eu o senti deixar meu corpo, mas estava exausta
demais para olhar para cima para ver onde ele tinha ido. Isso foi até que eu ouvi o
cinto dele desafivelar. Olhei para ele, e ele já havia despido a camisa. Foi preciso
me esforçar muito para manter meus olhos em seu rosto. Seu corpo magro, porém
musculoso, não era um choque para mim. Eu senti o poder sob sua mão e sua calça
fazia pouco para esconder suas coxas musculosas. Fiquei chocada ao descobrir que
ele havia acabado de tirar o cinto e o jogou ao meu lado na cama. Ele estava
pensando em me bater? Ou me amarrar?
Tirou a calça, e a cueca boxer em seguida, e fiquei hipnotizada mais uma
vez por seu pau. Seu pau me surpreendeu, e meus olhos se arregalaram antes que
eu pudesse controlar minha expressão. Era longo, grosso, duro e eu não podia
negar que fiquei mais molhada ao vê-lo. Ele voltou a andar lentamente, mas ao
invés de se aproximar de mim, foi até uma das mesinhas de cabeceira do quarto e
abriu a gaveta. Tirou os preservativos e os jogou na cama ao lado do cinto. Ele se
juntou a mim na cama e subiu sobre meu corpo. Tirou completamente meu roupão
e se inclinou para a frente para me beijar com força novamente, antes de se afastar.

— Agora eu quero essa bunda para cima.

Eu fiz o que ele pediu sem questionar e quando estava de bunda para
cima, ele já estava alinhando seu pau na minha entrada e mergulhando. O fato de
ele decidir me penetrar completamente de uma só vez me pegou de surpresa, e o
grito que escapou de meus lábios se transformou em um gemido.

— Eu sabia que essa boceta ficaria apertada em volta do meu pau.

Suas palavras me excitaram ainda mais e, quando ele se soltou um


pouco, eu me preparei para que ele me penetrasse novamente, e quando o fez, vi
estrelas. Seus movimentos ganharam velocidade e, a princípio, eu mal conseguia
acompanhar, mas assim que consegui encontrar o ritmo, ele gemeu.

Eu podia sentir que estava chegando ao limite novamente, mas não havia
como eu ter um segundo orgasmo. Era demais, e eu não conseguiria fazer isso de
novo. — Não posso.

— Sim, você pode.

— Não. Não posso.

— Eu sei que você pode. — Ele desacelerou um pouco e começou a


brincar com meu clitóris e eu gemi com as sensações.
Quando ele parou e começou a bater em mim novamente, isso foi o
suficiente para eu ir além do limite. — Damien, eu vou…

Minhas palavras foram cortadas depois que soltei outro som não
humano, e não demorou muito para Damien gozar atrás de mim. Ele desacelerou
até quase parar quando se inclinou sobre mim, colocando a cabeça em cima das
minhas costas suadas. Quando ele se levantou saindo de dentro de mim, eu desabei
na cama. Ouvi um farfalhar, mas estava exausta demais para me mover. Fechei os
olhos pelo que pensei ser um minuto.

A voz de Damien me fez abrir os olhos. Sua expressão era sem emoção
quando ele fechou o zíper da calça e disse: — O jantar será às seis e meia. Me
encontre na sala de jantar e não se atrase. Sugiro que tome um banho antes.

Ele se virou e saiu, fechando a porta atrás de si. Quando a porta fechou,
me senti usada e mais solitária do que nunca.
14

DAMIEN

— Porra! — Minha voz saiu como um sussurro áspero quando meus


olhos se abriram. Olhei ao redor do quarto, confirmando que estava em casa e na
minha cama. Limpei o suor da testa e senti uma dor de cabeça se formando. Tive
outro pesadelo esta noite.

Levantei da cama e vesti uma calça de pijama que havia jogado por
acaso em uma cadeira. Saí do quarto, fechando a porta suavemente atrás de mim e
desci as escadas, pensando que essa era a maneira mais silenciosa de descer para o
nível principal. Fui até ao armário de bebidas e servi um dedo de uísque antes de
me sentar em uma poltrona perto da lareira.

Fiquei observando as brasas da lareira crepitarem até ao ponto de


extinção. Parecia uma boa ideia acender uma lareira em uma noite fria de
dezembro, mas o que ela acabou fazendo foi levar minha mente para lugares onde
ela ia apenas quando eu estava dormindo. Imagens de chamas nublaram minha
mente e eu não conseguia me livrar delas. Tomei outro gole do uísque. Eu sabia
que não seria sensato por causa da dor de cabeça que estava sentindo, mas no
momento isso não importava. Eu sabia que já era madrugada, mas tudo o que eu
podia fazer era olhar para a luz que ia se apagando lentamente. Noites como essa
não eram incomuns e a falta de sono era o que meus irmãos diziam ser o motivo
pelo qual eu não tinha relacionamentos, mas era mais do que isso.

Eu tinha visto a vida ser dada e tirada em um único momento, o que me


assombraria até ao dia em que eu deixasse esta Terra, e não havia nada que eu
pudesse fazer a respeito. Terminei o que restava em meu copo e me levantei,
pronto para enfrentar os demônios que só apareciam quando eu fechava os olhos.
Quando a última brasa se apagou, era hora do show para outra festa que acontecia
apenas em meu subconsciente.

Toda vez que mamãe me perguntava quando eu iria me estabelecer e me


casar, eu mudava de assunto, me recusando a responder. Mas eu não queria trazer
ninguém permanentemente para o meu inferno pessoal. É por isso que ter
relacionamentos muito casuais funcionava melhor. Nenhum dano, nenhuma falta.
Era isso que tornava tudo com Anais muito melhor.

O jantar com ela hoje foi tranquilo porque ela estava mais quieta do que
o normal, mas atribuí isso a sua mudança para cá que deve tê-la deixado mais
cansada do que o normal. Ela ficaria aqui por trinta dias, o que deveria ser tempo
suficiente para que o desejo de transar com ela se dissipasse e, no trigésimo dia,
estaria acabado. No entanto, agora eu estava fazendo de tudo para ter certeza de
que tudo estava perfeito para ela, quando ela veio para o jantar e quando a convidei
para morar comigo. Os demônios que assombravam meus pesadelos devem estar
me afetado muito para que eu considerasse fazer algo assim.

Mas nunca tinha feito esse tipo de acordo com outra mulher. Nem tive
outra mulher se mudando para minha casa por qualquer período de tempo. Fazer as
coisas de forma espontânea não combinava com a minha personalidade e eu admiti
que todo esse acordo com ela foi uma decisão impulsiva. Quando fazia qualquer
coisa na vida, seja no trabalho ou na vida pessoal, pesquisava o máximo possível
antes de formar uma opinião ou tomar uma decisão. Aqui, eu tinha feito o oposto,
porque me sentia atraído por ela de uma forma que não conseguia explicar. Eu
faria o que pudesse para torná-la minha, mesmo que isso significasse fazer esse
acordo ridículo.

O fato de tê-la provado chamou ainda mais a atenção para o fato de que
esse negócio não deveria estar acontecendo e de como meu julgamento estava
obscurecido. Eu sabia que isso não aconteceria novamente, tanto para o bem dela
quanto para o meu. Balancei a cabeça diante da ideia. Esse era o objetivo de ela
estar aqui, ou pelo menos era o que eu tinha dito a mim mesmo.

Eu poderia deixá-la ir, dessa forma poderia garantir que ela


permanecesse ilesa, mas a parte egoísta em mim recusou. Eu sabia que sempre
seria o homem miserável que parecia ter tudo por fora, mas por dentro eu era
infeliz, e sabia que ela se machucaria com esse acordo.

Dizem que o dinheiro não compra a felicidade, mas no meu caso, o


dinheiro não comprava a paz.
15

ANAIS

Vários dias depois, saí do elevador e olhei ao redor para ver se havia
alguém parado perto da porta do meu escritório. Não vendo ninguém, caminhei o
mais rápido que minhas pernas permitiram, entrei em meu escritório e tirei o
casaco. Pendurei na parte de trás da minha porta e estremeci quando me estiquei
para colocá-lo no gancho. Meus olhos se desviaram para minha cadeira e suspirei.
Me dei um pequeno incentivo e me dirigi a ela.

As coisas estavam estranhas desde que Damien havia superado todas as


expectativas que eu tinha no quarto. Ele não veio me foder desde a primeira vez.
Na verdade, eu mal o via e só de passagem. Sentimentos conflitantes rondavam
minha mente em relação a isso. Eu me sentia aliviada por não precisar sentir sua
intimidação em cada canto, mas secretamente esperava que fôssemos ter outra
rodada… ou duas. Por mais que eu quisesse dizer a mim mesma que odiava a
situação em que me encontrava, ele estava certo. Eu o aceitaria disposta e sem
hesitação.

— Anais? — Ergui os olhos do laptop e encontrei meu pai parado na


porta. — Você tem um minuto?

— Claro. Está tudo bem?


Embora ele tivesse feito uma pergunta, parecia que estava fazendo uma
exigência. Não parecia zangado, mas eu poderia dizer que ele estava adotando uma
abordagem mais comedida com suas palavras ao invés de falar livremente. Papai
fechou a porta, e sentou em uma das cadeiras extras do meu escritório. Ele não
falou imediatamente, e parecia quase hesitante em me dizer qual era o assunto.
Respirei fundo, esperando pelo que eu estava preocupada que seriam mais más
notícias.

— Você sabe que tento não me meter em seus assuntos pessoais, mas
existe algo acontecendo entre você e Damien Cross?

Foi preciso todo o meu controle para não reagir às suas palavras. — O
quê?

— Vocês estão namorando?

— Não. — Tecnicamente, isso não estava errado. Fiz o possível para


manter nosso acordo em segredo e a única pessoa com quem conversei sobre isso
foi Ellie, que eu sabia que não contaria a ninguém. Ela era minha melhor amiga, e
eu confiava nela, mas ela também sabia o quanto as apostas eram altas. — O que te
deu essa ideia?

— Isso. — Papai pegou o celular, deslizou o dedo algumas vezes e me


entregou.

Éramos Damien e eu, com certeza. A foto estava embaçada e desfocada,


mas eu sabia que era da noite em que Ellie me convidou para ir à Elevate com ela.
O vestido dourado que usei era inconfundível e estávamos em frente ao bar no
andar principal do clube. Fiquei aliviada pelo fotógrafo não ter captado o beijo
explosivo que tínhamos compartilhado. Olhando para a foto, seria difícil dizer
quem eram, especialmente Damien, que estava de costas para a câmera. Passei meu
polegar pela tela, para ver discretamente quem poderia ter enviado a foto. O e-mail
no campo era um endereço sem sentido cheio de letras e números aleatórios, mas o
assunto continha meu nome. Quem seria a pessoa que havia tirado a foto e depois
vazou? A Elevate não tinha segurança rígida contra esse tipo de coisa?

Meu foco se voltou para o homem que me abordou, e para o homem que
eu e Ellie acreditávamos estar nos espionando próximo ao nosso apartamento.
Alguém estava me rastreando. Me afastei de meu pai para esconder meu lábio
trêmulo. Fechei os olhos e respirei fundo, tentando acalmar o medo que me corria
nas veias. Não havia como esses incidentes serem uma grande coincidência.

Damien. Ele sempre parecia estar vários passos à minha frente e nada
parecia acontecer sem a sua aprovação, então ele tinha que saber disso. A raiva
cresceu dentro de mim, mas fiz o possível para mantê-la sob controle na frente de
meu pai. Embora eu fosse adulta e pudesse fazer o que quisesse, e quando quisesse,
a última coisa que eu queria era que ele desconfiasse disso e relacionasse o fato à
nossa dívida.

— Ellie e eu acabamos em uma boate na outra noite, e Damien estava


andando por lá perguntando às pessoas se elas estavam se divertindo. Talvez ele
seja o dono do lugar? De qualquer forma, eu lhe disse que estava tudo ótimo, e foi
isso. — Eu não tinha que dar satisfações a ninguém, mas se isso acabasse com
qualquer suspeita, precisava ser feito.

Os olhos de papai desceram para a foto antes de voltar a olhar para mim.
Minha raiva se transformou em culpa. Eu odiava ter que contar até mesmo a menor
das mentiras, mas acreditei ser necessário nesse caso.

— Se ele tentar entrar em contato com você novamente, me avise, está


bem?
— Por quê? Há algo que eu deva saber sobre ele? — Fiquei com a
respiração suspensa depois de dizer essas palavras.

Ele levantou da cadeira e me observou. Sua expressão facial mudou de


alívio para outra que não consegui identificar, e isso foi assustador.

— A família Cross é dona desta cidade. Tudo passa por eles nesta cidade
e, se você quiser fazer certas coisas, eles precisam aprovar primeiro. Eles são
conhecidos por estarem envolvidos em coisas perigosas, embora não haja nenhuma
prova legítima que tenha chegado às autoridades. Pode até ter acontecido, mas eles
provavelmente têm todos em seus bolsos.

Um arrepio percorreu minhas costas ao ouvir suas palavras. Meu instinto


me dizia que eu deveria ter medo, mas ter isso confirmado era uma questão
completamente diferente. Eu precisava descobrir mais, mas com certeza, a maioria
das coisas que eu queria saber poderiam ter sido completamente apagadas da
Internet. Outro pensamento surgiu em minha cabeça. — É por isso que você foi até
eles para salvar a empresa, e não a um banco?

— Em parte, sim. Pesquisei vários empréstimos e nenhum deles teria


disponibilizado a quantia que necessitávamos tão rapidamente.

Parte de mim se perguntou se isso tinha algo a ver com Damien, mas eu
não queria levantar suspeitas de meu pai sobre o que Damien e eu estávamos
fazendo. Mas isso era algo que eu precisava saber. — Pai, que coisas perigosas a
família Cross faz?

Ele mudou de posição e passou a mão pelo cabelo curto e então


respondeu: — Há rumores de possíveis vínculos com a máfia. Não que eles façam
parte dela, mas podem ter alguns negócios com eles.
Mantive meu semblante inexpressivo — E estou disposta a apostar que
isso foi varrido para debaixo do tapete, certo?

Meu pai assentiu. — Cuidado, Anais. Se Damien entrar em contato com


você, me avise, ok?

Não tenho certeza do que você poderia fazer, mesmo se não


estivéssemos dormindo juntos. — Eu vou, papai.

— Eu te amo, e devemos sair para jantar com sua mãe em breve, ok?

— Ok. Eu também te amo.

Depois que ele saiu e fechou a porta atrás de si, joguei a cabeça em
minhas mãos, me perguntando no que eu havia me metido.
16

DAMIEN

— Melissa, precisarei dos arquivos de Samson após essa reunião.

— Cuidarei disso, Sr. Cross. — Eu não disse mais nada enquanto


caminhávamos em direção à porta da sala de conferências, então Melissa
continuou: — Não se esqueça de que tem reunião às 14h e às 15h15.

Verifiquei o relógio. Dez minutos até à reunião. Balancei a cabeça e ela


começou a se afastar antes de se virar para mim. — Obrigada pela cesta de frutas.

Fiquei surpreso com seu comentário, mas não demonstrei. Demorou um


segundo, e então me dei conta do que ela estava falando. — Feliz aniversário. —
Havia feito um pedido permanente a uma empresa local, para enviar a Melissa uma
cesta de frutas em seu aniversário todos os anos.

Ela sorriu para mim e se afastou, deduzi que ela se dirigiu à sua mesa,
que ficava do lado de fora do meu escritório. Entrei na sala de conferências e me
sentei perto da porta.

— Como vão as coisas com a mulher do momento?

— Do que você está falando?

Nem me preocupei em olhar para Gage enquanto esperava


pacientemente que a reunião iniciasse. Meu pai, meus irmãos, eu e outros
funcionários estávamos nos preparando para uma das maiores reuniões de diretoria
que a Cross Industries já havia realizado. Daí a necessidade de nos certificarmos,
de que estávamos adequadamente preparados para praticamente qualquer coisa que
pudesse acontecer, ou qualquer pergunta que pudesse surgir.

— Nós já sabemos que a mulher que vimos vestida de dourado na


Elevate da última vez em que você esteve lá, está morando em sua casa. —
Broderick entrou na conversa do outro lado da mesa.

Pelo canto do olho, vi Gage se sentar em sua cadeira. — Você a levou


para sua casa também?

— Terminou?

— É melhor que sim, pois temos trabalho a fazer.

Todos os olhos se concentraram em papai, quando ele entrou na sala de


conferências encerrando a conversa. Era raro eu ouvir meu pai usar um tom que me
lembrasse como ele costumava falar conosco quando éramos crianças, quando
estávamos fazendo algo que não deveríamos. Claramente, aquele tom ainda era
eficaz, pois todos corrigimos nossas posturas, a fim de nos prepararmos para a
reunião. Não demorou muito para a equipe sênior entrar. A reunião começou, e
minha mente ficou focada em todas as coisas relacionadas aos nossos
empreendimentos comerciais.

Quando estava chegando ao fim, meus pensamentos se voltaram para


Anais ficando em minha casa e mantendo meu pau molhado. Devido às nossas
agendas lotadas, não passávamos muito tempo juntos.

— Sr. Cross?

A reunião havia terminado. Todos se viraram para encarar a voz, pois


não sabíamos para qual Sr. Cross Melissa se dirigia.
— Eu, uh, quis dizer Damien. — Ela pareceu um tanto surpresa por ter
dito meu primeiro nome. — Há alguém aqui para vê-lo.

Levantei e caminhei até ela. — Quem está aqui para me ver?

— Ela disse que seu nome era Anais Monroe. Disse que você saberia
quem ela é.

Eu verifiquei meu celular para ver se ela havia deixado alguma


mensagem, mas não tinha nenhuma. Ela fez isso como uma surpresa. Interessante.

— Eu fiz a coisa errada? Ela está sentada no saguão.

Olhei para Melissa depois que guardei meu telefone. — Não, você fez o
certo. Eu cuidarei disso.

Pedi licença para sair da sala de conferências sem causar alarde, e me


dirigi para o saguão. Não demorei muito para avistar Anais sentada na primeira fila
de cadeiras mais perto da porta. Pelo seu semblante, ela estava chateada. Levei
meu tempo para apreciar sua vinda ao meu escritório com uma saia lápis vermelha.
Ela também calçava os sapatos bege ‘foda-me’ que havia usado na primeira vez em
que nos encontramos.

— Srta. Monroe. — Ela olhou para mim, e seu olhar me disse que seria
uma reunião divertida. — Por favor, me siga até ao meu escritório.

Coloquei a mão em suas costas e a guiei pelas estações de trabalho do


meu andar. Eu podia ver os olhos de todos me evitando, mas eu sabia que eles
estavam nos observando, enquanto caminhávamos para o meu escritório. Fiquei
feliz por meus irmãos ainda estarem na sala de conferências, ou terem ido para
seus próprios andares, para administrar suas operações, porque eles não deixariam
isso passar em branco, e era a última coisa que precisava nesse momento. Eu podia
sentir a vontade de meus subordinados de fofocar sobre a cena que estava se
desenrolando na frente deles, e sabia o que eles fariam uma vez que estivéssemos
fora de vista. Não que eu nunca tenha tido parceiras de negócios vindo ao meu
escritório para fazer reuniões, mas ela era diferente. A energia ao nosso redor era
diferente, e entendi por que isso faria os fofoqueiros ao nosso redor se agitarem.

A caminhada até ao meu escritório terminou comigo fechando a porta.


— A que devo este prazer?

Ela parecia atordoada enquanto observava a sala. Admito que meu


escritório era bastante notável. Ele estava localizado em um dos cantos do andar,
com grandes janelas que me permitiam olhar os arranha-céus de Nova York. Eu
tinha uma TV de tela grande em uma parede, caso quisesse assistir ao noticiário ou
à bolsa de valores. As outras paredes apresentavam reconhecimentos de caridade e
de negócios. Enquanto ela tentava absorver o máximo que podia do meu escritório,
minha mente vagou para visões dela curvada sobre a mesa. Foi então que ela se
recuperou e voltou sua atenção para mim, com fogo ardendo em seus olhos.

— Que diabos você pensa que está fazendo?

— Do que está falando?

— Você contou ao meu pai sobre o que estamos fazendo, seja lá o que
for isso?

O que for isso? — Não. Liguei ao seu pai para falar sobre o empréstimo
e se podemos nos encontrar ainda esta semana. Nada foi comentado sobre nós.

— Você mandou alguém enviar a ele uma foto nossa na Elevate?

— Eu não me rebaixaria para vazar uma foto. A Elevate tem protocolos


de segurança rígidos, e você está dizendo que alguém desobedeceu às minhas
regras? — Alguém teve a audácia de não só vazar uma foto da Elevate, como vazar
uma foto minha e de Anais? Não estava conseguindo controlar a raiva que sua
acusação e um vazamento em meu clube me causaram. Como ela ousava pensar
que eu faria uma coisa dessas? Antes que ela respondesse, continuei. — Será feita
uma investigação sobre quem tirou a foto. Nunca me acuse de voltar atrás em
minha palavra. Nós temos um acordo, e estou mantendo minha palavra.

Eu verifiquei meu pulso novamente. Tinha menos de dez minutos até


minha próxima reunião. Não havia tempo suficiente para curvá-la sobre minha
mesa agora, mas sempre haveria uma próxima vez.

Ela bufou. — Eu não posso confiar em você. Você mente para as pessoas
o tempo todo.

Aproximei-me dela e levantei seu queixo para forçá-la a me olhar nos


olhos. — Eu nunca menti para você, e nunca vou mentir.

Ela não disse nada, e não tive certeza se acreditava ou não no que eu
estava dizendo.

— Olha, achei que você estava aqui apenas para que eu te fodesse na
minha mesa.

Seus olhos dispararam da mesa e de volta para mim. — Isto não é sobre
sexo. Isso é sobre meu pai suspeitar que há algo entre nós, algo que eu não queria
que ele soubesse.

— Pode ter sido alguém que você conhece, que lhe contou.

— Como você ousa tentar acusar Ellie?

Tranquei a porta atrás de mim, com um clique que deixou claro o que eu
havia feito. — Não acusei ninguém. Sei que meu pessoal mantém a boca fechada e
jurou lealdade. Pode ser que haja um problema do seu lado que precisa ser
resolvido. Vamos descobrir quem está tentando vazar isso. — Dei um passo em
sua direção, forçando-a a recuar. Fiz isso de novo, até que ela estivesse encostada
em minha mesa. — Isso não é realmente um problema, você poderia ter ligado
para mim. Você já é minha.

E foi quando meus lábios se chocaram com os dela. O beijo ficou intenso
rapidamente, e foi intoxicante. Eu o quebrei para lhe sussurrar: — Coloque suas
mãos na beirada da minha mesa e não se mexa.

Ela fez o que eu disse sem discutir, e gemi de satisfação. Graças a Deus,
porque eu não tenho muito tempo para perder.

Minha boca geralmente ia primeiro para o pescoço dela, para o ponto


que eu achava que a deixava louca, mas dessa vez foi diferente. Meus olhos se
concentraram em seus seios que estavam escondidos atrás de um sutiã e uma
camisa branca. Como eu ainda não tinha o suficiente deles? — Desabotoe a camisa
agora, ou eu mesmo a arranco de você.

Mais uma vez, ela seguiu as instruções e logo estava parada na minha
frente com seu sutiã bege rendado, a camisa caindo dos ombros, a boca
ligeiramente aberta, com a respiração saindo em leves suspiros. Seus olhos verdes
me disseram que ela estava aguardando para ver o que eu faria a seguir.

Minha boca foi até seu seio, lambendo um pequeno rastro no topo dele,
enquanto minha mão massageava o outro, porque ele merecia um pouco de atenção
também. Quando ouvi um gemido escapar de seus lábios, meu pau endureceu
dentro da calça, e já me arrependia de não ter conseguido enfiá-lo em sua boceta
apertada, por causa de um encontro que poderia ter sido discutido por e-mail.

Depois que minha língua fez seu caminho para o início de seu decote,
usei minha outra mão para puxar o bojo do sutiã para baixo e colocar seu mamilo
marrom claro em minha boca. Olhei para cima, observando quando ela jogou a
cabeça para trás, soltando um gemido, sem me importar com quem poderia passar
e ouvi-la. Um minuto depois, passei para o outro seio, prestando tanta atenção nele
quanto ao anterior. Eu adorava ouvir os sons que saíam de sua boca, enquanto ela
enlouquecia por causa do que eu estava fazendo com ela. Quando terminei, deixei
seu mamilo sair da minha boca com um estalo alto e me ajoelhei para me preparar
para o prato principal desta refeição.

— Lembre-se do que eu disse. Não tire as mãos da mesa ou eu paro.

Ela assentiu com a cabeça, pois ela já não tinha mais palavras, sua
respiração ficando mais irregular à medida que eu descia.

— Mal posso esperar para colocar minha boca nessa linda boceta. —
Olhei para ela, e a encontrei olhando para mim, enquanto eu empurrava sua saia
para cima, colocando sua calcinha para o lado, para tocar sua boceta com meus
dedos enquanto ela estremecia. — Você já está molhada para mim e eu apenas
comecei.

Puxei duas das cadeiras que estavam na frente da minha mesa, e ela
intuitivamente soube que deveria colocar os calcanhares nelas, e foi então que
mergulhei em seu interior, e ela me indicou que eu tinha feito a coisa certa, no
momento em que ela se inclinou para a frente, mas eu me mantive firme e estendi a
mão para agarrar sua bunda, me certificando de não haver nenhuma maneira de ela
escapar da minha boca.

Parte de mim queria que ela passasse os dedos pelo meu cabelo só para
que eu pudesse puni-la quando chegássemos em casa, mas até agora, ela estava
fazendo o possível para manter os dedos apertados na mesa, honrando o que eu
tinha ordenado a ela antes. Minha língua fez seu caminho para seu clitóris e mesmo
que eu não soubesse que tinha tomado a decisão certa, seu corpo teria me dito que
sim, com base nos palavrões que ela estava murmurando. Seu gosto era doce, algo
que eu podia me ver querendo ter pelo resto dos meus dias, embora soubesse que
não poderia acontecer.

Eu alternava entre chupar e lamber, sem seguir um ritmo específico para


que ela não soubesse o que viria a seguir, e eu pudesse senti-la perdendo o
controle de seu corpo. Quanto mais forte sua respiração se tornava, mais fortes
eram meus movimentos, e quando senti seus dedos em meu cabelo, escondi meu
sorriso. Consegui outra coisa que eu queria.

— Damien. — Meu nome saiu como um gemido e quase gemi também.


Eu sabia que nunca me cansaria daquele som e continuei consumindo-a como se
precisasse dela para viver.

Mais alguns segundos e ela gozou, comigo lambendo cada gota dela,
apreciando o gosto na minha boca. Quando me afastei, ela parecia ter sido
devidamente fodida com seus peitos à mostra, e sua boceta ainda brilhando do
estrago que eu tinha acabado de lhe causar.

Me sentei sobre os calcanhares, e então me levantei, puxando meu paletó


para baixo para cobrir meu pau, que agora estava em seu ponto máximo. Verifiquei
o relógio e engoli um palavrão. Isso tinha levado oito minutos ao invés de sete.

— Tenho uma reunião às duas horas e preciso sair. Fique aqui o tempo
que precisar. Vejo você em casa mais tarde. — Parei por um momento. — Não se
apresse também, porque parece que você foi devidamente fodida.

Dei-lhe um pequeno sorriso antes de sair do meu escritório, fechando a


porta atrás de mim.
17

ANAIS

— Podemos conversar sobre isso mais tarde.

— Parece bom, Jake. — eu disse enquanto entrava em meu escritório e


fechava a porta. Eu me sentei na minha cadeira, finalmente deixando transparecer
como eu me sentia ferida, depois de Damien ter me feito gozar hoje de manhã. Eu
estava prestes a fazer uma ligação, quando meu celular vibrou me alertando que eu
tinha uma mensagem de texto.

Damien: Esteja pronta para ir às 7. Rob vai buscá-la em casa.

Fechei os olhos, primeiro tentando me acalmar para dominar o desejo de


enviar uma mensagem de texto sarcástica. Teria sido bom se ele tivesse me
perguntado se eu tinha planos. Eu também teria apreciado se esse aviso que eu
tinha que sair à noite, tivesse chegado com mais algumas horas de antecedência.
Havia também o fato que ele chamava sua casa, de nossa, quando antes ele sempre
se referia a ela como ‘minha casa’. Podia ser um deslize, mas quando Damien já
cometeu um deslize? Antes que eu pudesse analisar mais, uma segunda mensagem
de texto de Damien apareceu no meu telefone.
Damien: Não se preocupe em escolher algo para vestir. Pedi ao meu
estilista para enviar algumas opções.

Furiosamente digitei uma mensagem de volta para ele.

Eu: Não. Eu não vou aceitar.

Damien: Sim, você vai.

Eu: Eu não posso opinar sobre isso? Chocante. Você poderia ter me
dado mais do que algumas horas de antecedência? Não quero que vaze que
fomos vistos juntos, e que chegue ao meu pai.

Apertei enviar e coloquei meu celular virado para baixo na minha mesa.
Um grunhido frustrado escapou da minha boca depois que verifiquei a hora. Eram
quase quatro horas, o que significava que eu deveria começar a organizar as coisas
em breve, a fim de voltar para a casa e ficar pronta em apenas algumas horas. Meu
telefone vibrou novamente.

Damien: Meu pai deveria participar desse evento, mas não pode e
me pediu que eu o substituísse. Podemos nos divertir.

Bom, pelo menos ele também foi informado de última hora. Isso
diminuiu um pouco a raiva que eu estava sentindo. Percebi que ele não havia dito
nada sobre notícias sobre nós, sendo reveladas à imprensa. Eu estava preocupada
com o vazamento de mais fotos, e meu pai descobrindo que menti por omissão,
mas não forcei mais.

Eu: Você poderia pelo menos me dizer do que se trata esse evento?
Isso pode me ajudar a decidir sobre uma roupa apropriada.

Damien: É um evento com coquetel e jantar. Eu tenho que aparecer


e ser simpático.

Eu: Ser simpático. Você quer dizer, até assumir o controle de suas
empresas e portfólios?

Damien: Você entendeu. Rob vai te pegar no trabalho às 4:45.


Precisa estar pronta para sair às 7.

***

A viagem até à casa de Damien levou mais tempo do que o normal, com
o trânsito congestionado, mas cheguei com tempo suficiente para me arrumar.
Entrei no chuveiro, mas evitei molhar o cabelo para economizar tempo. Quando
saí, vi um vestido preto ombro a ombro, um vestido justo vermelho escuro que
descia um pouco na frente e um vestido justo verde escuro de mangas compridas
com gola canoa pendurados em um pequeno cabideiro no quarto. No chão, perto
do pé da cama, havia escarpins pretos, e fiquei grata por pelo menos serem básicos,
assim não tinha que escolher entre os sapatos também. Eles não estavam lá, antes
de eu entrar no chuveiro, me fazendo imaginar quem os havia deixado ali. Se fosse
Damien, eu ficaria chocada por ele não ter parado no banheiro para me ver,
assumindo que ele não deixaria o estilista entrar no meu quarto. Sabendo que era
dezembro, entrei no armário cheio de roupas caras, imaginando qual seria o motivo
de pedir ao estilista que trouxesse roupas quando eu poderia ter encontrado algo
adequado. Encontrei um lindo casaco longo branco e o coloquei na cama ao lado
do vestido verde escuro que decidi usar esta noite.

Não demorei muito para colocar meu vestido e aplicar minha


maquiagem. Pensei em passar algum tempo prendendo o cabelo, mas o deixei solto
por uma questão de conveniência. Quando terminei de calçar os saltos, ouvi uma
batida na porta.

— Entre. — Disse e fiquei chocada ao encontrar Damien do outro lado


da porta. Ele bateu em vez de invadir o quarto? Eu estava em um universo
alternativo? Ele ficou focado em quão apertado o meu vestido estava na área do
corpete, antes de seus olhos percorrerem o resto do meu corpo.

Gostou do que viu, embora não tenha dito nada sobre minha aparência.

— Use isso. — Disse enquanto me entregava uma pequena caixa.

Meu coração saltou temporariamente para minha boca por causa de seu
formato, mas minha mente finalmente alcançou meus olhos notando que era muito
grande para conter um anel. Quando abri a caixa, encontrei um par de brincos de
diamante e esmeralda com corte retangular. No topo havia um diamante, e
pendurado nele uma esmeralda.

Quase fechei a caixa e a deixei cair.

— Você quer fazer uma pergunta.

— O que poderia ter lhe dado essa ideia?

— Porque você nunca se cala.


Eu não poderia dizer se ele quis dizer isso como um elogio ou um
insulto, mas entendi como o primeiro.

— Quanto custou isso?

— Isso não é importante. É um presente.

— Isso será adicionado à minha dívida?

Seus olhos brilharam. — Que parte de ‘é um presente’ você não


entendeu?

Dar brincos que provavelmente valiam mais do que eu tinha em minha


conta poupança, era apenas uma ocorrência diária para ele?

— Por que os comprou?

— Porque eles me lembraram de seus olhos. Se você não tivesse


escolhido o vestido verde para usar, eu esperava que isso pudesse convencê-la a
fazê-lo.

Eu não tinha mais nada a dizer e, embora me sentisse desconfortável


usando algo tão caro, no fundo, eu sabia que parte do meu trabalho esta noite era
ser uma representação dele e de todas as empresas que faziam parte do ‘Cross
Empire’, então coloquei os brincos. Eu poderia conversar com ele sobre o fato de
não poder aceitá-los mais tarde.

Vesti o casaco branco e peguei a bolsa preta que usaria essa noite.
Quando olhei para ele, ele acenou com a cabeça, virou-se para sair do meu quarto e
esperou no corredor. Verifiquei minha maquiagem mais uma vez e o segui,
fechando a porta ao sair. Esperamos o elevador para nos levar até ao nível principal
e quando chegamos à porta da frente, ele estendeu o braço para eu segurar
enquanto descíamos as escadas da varanda onde Rob já estava nos aguardando
com o carro. Damien esperou que eu entrasse no sedã antes de dar a volta e entrar
pelo outro lado.

— Está tudo bem? — Suas ações ativaram meu detector de mentiras, e


eu queria saber do que se tratava.

Ele não disse nada, mas olhou para mim.

— Você está agindo como um cavalheiro, e eu gostaria de saber o que


está acontecendo.

— Está me questionando?

— Não. — Pensei em continuar discutindo, mas achei que se eu quisesse


ter uma noite agradável hoje, não valeria a pena continuar com isso.

Como ele disse, a viagem até ao evento foi curta e eu agarrei o braço de
Damien enquanto atravessávamos a multidão que estava presente. Estávamos
reunidos na enorme sala de estar de alguém que tinha mais dinheiro do que eu
poderia imaginar. Pude ver o que parecia ser parte de uma grande e impressionante
escadaria que descia até ao corredor.

Assim que chegamos, todos queriam falar com Damien e, portanto,


comigo, já que eu estava ao seu lado. Enquanto as pessoas falavam com ele, eu
percebi que os olhos de Damien examinavam a sala. O que ele estava procurando,
eu não sabia. Rezei para que isso não chegasse ao meu pai, mas também, se
acontecesse, de que adiantaria me preocupar agora? O que estava feito, estava
feito.

Senti meu corpo ficar tenso, e Damien deve ter sentido isso também,
porque esfregou a mão para cima e para baixo nas minhas costas, proporcionando
uma pequena sensação de conforto em uma sala lotada em um local desconhecido.
— Damien, olá!

Embora estivéssemos no meio de uma conversa, esse homem, cujo nome


não entendi, tinha necessidade de deixar sua presença ser notada. Os olhos de
Damien se estreitaram. Ele supostamente estava falando com Damien, mas seus
olhos estavam fixos em mim. — Tire os olhos dela se quiser respirar, quanto mais
trabalhar nesta cidade novamente.

As palavras de Damien causaram um tremor na minha espinha. As


pessoas que estavam próximas a nós ouviram as palavras de Damien e deram um
pequeno passo para trás, ou olharam para ele com os olhos arregalados. Não fiz
nenhuma dessas coisas, porque suspeitei que algo assim poderia acontecer, com
base em sua irritação, que esse homem estava provocando, e também em sua mão,
que estava na parte inferior das minhas costas, e tinha descido para minha cintura,
me prendendo como um torno9. Tudo o que esse homem fez, foi olhar para mim, e
foi o suficiente para Damien explodir. Eu me recusava a admitir para Damien, ou
para qualquer outra pessoa o quanto isso me excitava.

O homem em questão captou a mensagem rapidamente, e sua atenção se


voltou para Damien antes de encontrar uma desculpa para nos deixar a sós. Fiquei
aliviada pois realmente achei que Damien poderia matá-lo.

Me inclinei para sussurrar no ouvido de Damien. — Isso era mesmo


necessário?

— O que eu disse sobre me questionar? Não gostei de como ele estava


olhando para o que era meu, e deixei isso claro. Fim da discussão.

As conversas continuaram até que em um ponto, Damien se desculpou e


me puxou para ficarmos sozinhos.

9
A apertou de forma muito firme, rígida.
— Você quer tomar uma bebida ou algo assim?

Pensei por um momento e disse: — Acho que vou querer água.

— Nenhum Merlot?

Resmunguei. — Tentando manter uma mente clara em vez de beber e me


tornar uma pessoa bêbada.

— Damien, quanto tempo não te vejo!

Damien e eu nos viramos para encontrar um homem alto de pele


bronzeada parado atrás de nós. Sua aura era desagradável. Olhei para o estranho à
minha frente e depois de volta para Damien. Estava claro como o dia que esse
indivíduo não era um estranho para Damien.

— Will. É bom te ver. — O tom de Damien dizia que era tudo, menos
isso.

Eu sabia que meus instintos estavam corretos.

— Igualmente. Eu só queria vir e dizer olá, depois que vi você do outro


lado da sala. — Seus olhos se voltaram para mim e perguntou: — E você é?

Hesitei por um momento antes de dizer — Anais.

— Bem. Um nome bonito para uma mulher bonita.

Pensei em revirar os olhos com seu comentário muito clichê, mas algo
me dizia que isso não seria uma boa ideia. Quem era ele?

— Vou deixar vocês voltarem a conversar. Foi bom te ver novamente.

— Igualmente. — Damien respondeu.

Quando Will saiu, me virei para Damien e perguntei: — Quem era?


— Apenas alguém que conheci há muito tempo. Você não precisa se
preocupar com ele.

Embora eu não achasse que isso fosse o fim, seu tom de voz, repleto de
firmeza, foi tão reconfortante que me surpreendeu.
18

ANAIS

— Damien, acho que não estou vestida adequadamente para uma noite
na Elevate.

— Não importa sua aparência, se você estiver comigo.

Revirei os olhos e deitei a cabeça no encosto do banco. Eu sabia que a


Elevate seria divertida, mas também sabia que estava vestida demais, por mais que
Damien dissesse que eu não estava, mas eu estava pronta para um clima mais
descontraído, depois de passar a maior parte da noite em um evento onde eu não
queria estar. Mas a questão da segurança já havia sido resolvida? Isso estava me
irritando, porque eu não parava de pensar no assunto, mas não queria lidar com as
consequências disso.

— Mas… — Me inclinei para discutir com ele, porque essa era uma
péssima ideia.

— A questão da segurança está sendo resolvida, e a maioria das pessoas


que estarão lá hoje à noite, não irão ver você.

Eu me recostei, porque ele me deixou surpresa, quando respondeu à


minha dúvida.
Não demorou muito para chegarmos, mas passamos pela entrada. O
SUV virou em um beco, e fomos escoltados para dentro, através de uma porta
localizada atrás do prédio. Damien liderou o caminho, enquanto subíamos para a
área VIP, onde nos sentamos e nos serviram bebidas.

— Nada mal, hein? — Damien perguntou, enquanto abaixava a cabeça


para sussurrar em meu ouvido.

Balancei a cabeça. — Não, isso é ótimo. Não sei se já estive na área VIP
de um bar ou boate antes.

— Bem, sempre há uma primeira vez para tudo.

A maneira como ele disse essas palavras me excitou e me frustrou. As


palavras de Ellie sobre me tornar viciada em Damien, se repetiram em minha
mente. Fechei os olhos por um instante, deixando suas palavras de lado, já que não
havia nada de errado em gostar de como ele fazia meu corpo vibrar. Não há
necessidade de emoções.

— Nós vamos descer hoje à noite.

— Eu… Não estava esperando isso. — Não me opunha, e a ideia de


tentar algo novo com ele lá embaixo, era mais do que suficiente para me deixar
excitada. Eu tinha pensado que poderíamos tomar uma bebida rápida, e voltar para
casa. Visões do que ele poderia estar planejando, passaram pela minha mente. Se
ele sugerisse algo fora da minha zona de conforto, eu iria embora.

— Você sempre deve esperar o inesperado, especialmente quando o


assunto sou eu. Vamos descer, assim que terminar sua bebida. — Seus olhos me
desafiaram a enfrentá-lo, mas eu não queria.

O que queria fazer, era continuar a provocá-lo, e fiz isso tomando minha
bebida ainda mais devagar do que o normal.
Percebi que ele estava ficando impaciente enquanto eu segurava a
bebida, determinada a prolongar isso pelo maior tempo possível. Me levantei e
caminhei até ao mezanino. Tomei um gole de minha bebida e olhei para a
multidão. A atmosfera na boate era eletrizante, e parte de mim desejava estar
participando da festa lá embaixo. A área VIP era isolada do resto da vida noturna,
fazendo com que eu me sentisse simultaneamente envaidecida e invejosa.

— Vamos descer. — Ele disse enquanto eu tomava outro gole da minha


bebida.

Não tinha ouvido ele se aproximando, nem tinha sentido sua presença,
então sua voz me provocou um pequeno estremecimento. — Ainda não terminei
minha bebida.

— Pegarei outra para você.

Seu aborrecimento com minha protelação era óbvio. Engoli o resto da


bebida que restava no copo. Minhas tentativas de impedir o inevitável haviam
terminado.

Era agora ou nunca. Damien agarrou minha mão e juntos descemos as


escadas, ficando cara a cara com o segurança. Desta vez não tive nenhum problema
em entrar com Damien liderando o caminho.

Damien me conduziu por um corredor escuro, e a primeira parada do


passeio foi um salão, que parecia o bar do andar de cima, mas com uma vibração
diferente. A energia era mais sensual e sexual. Embora houvessem sofás na sala, a
maioria das pessoas estava na pista de dança, se esfregando e se divertindo. A falta
de roupa ajudava a definir o clima, enquanto eu observava uma mulher com o que
eu chamaria de roupa de dominatrix conduzindo um homem, que estava apenas de
cueca, em uma corrente.
Me inclinei e perguntei a Damien: — Você me deixaria assumir o
controle assim?

O olhar que ele me deu me disse o que eu precisava saber, e mordi o


lábio enquanto passávamos por uma sala gigantesca que parecia não ter fim.

Bang. Eu pulei vários centímetros no ar com o barulho alto que veio da


minha direita. O barulho veio de uma mulher que agora estava encostada em uma
porta de vidro, que dava para o corredor pelo qual estávamos passando. Suas mãos
e seios estavam grudados na porta quando seu parceiro apareceu das sombras e
começou a transar com ela por trás.

Foi a vez de Damien sussurrar em meu ouvido. — Eu posso dizer pela


sua reação que você gostaria que fosse você.

— Também foi um barulho alto e inesperado.

— Uh-huh. — Ele não acreditou em mim, e eu também não acreditei. O


olhar de puro êxtase no rosto da mulher dizia tudo. — Talvez você esteja
interessada em alguns dos outros quartos temáticos.

— Cabe a você, já que controla o meu prazer.

— Agora você está começando a entender. — O olhar que ele me deu


quando disse essas palavras, me deixou pronta para confessar todos os segredos
que eu tinha, desde que o levasse a me dar aquele olhar e muito mais. Continuamos
pelo corredor, passando por algumas áreas de recreação, incluindo uma com tema
de safári e outra com tema náutico. Quando passamos por um cômodo com
diferentes variações de luzes vermelhas, quase pintando a imagem de chamas nas
paredes, notei que Damien enrijeceu visivelmente, mas antes que eu pudesse
perguntar, ele estava me puxando em direção a uma porta.
— Aqui estamos nós. — Disse Damien. Entramos, e ele fechou a porta.
O quarto que ele escolheu era muito mais parecido com o que eu considerava sua
personalidade. Ele escolheu uma sala mal iluminada, cuja luz vinha de uma lareira
falsa. A cama king-size no meio do quarto era a única outra coisa que eu podia ver.
— Tire a roupa. Fique só com seu sutiã e calcinha.

Normalmente eu não tinha nenhum problema em discutir com ele, mas a


escuridão de seu tom enviou um arrepio na espinha que tentei esconder. Eu não
queria que ele soubesse o efeito que estava me causando por medo de que pudesse
usá-lo contra mim. — Você vai ter que abrir o meu zíper .

Eu me virei, e puxei meu cabelo para cima, dando bastante espaço para
ele alcançar o zíper. Ele colocou as mãos em minhas coxas e as empurrou de lado,
tocando brevemente meus seios, antes de mover as mãos em direção às minhas
costas. Abriu lentamente o zíper do vestido e, quando estava mais ou menos na
metade, soltei o cabelo, deixando-o balançar livremente pelas costas. Sua rápida
inspiração me disse que ele gostou daquela imagem. Arrastei as mangas para fora
dos ombros, deixando que o vestido ficasse preso na cintura.

Eu estava vestindo um sutiã de renda preta e calcinha igual embaixo do


vestido. Foi uma compra extravagante que fiz, quatro meses atrás, e finalmente
usei o conjunto esta noite, para me dar um pouco mais de confiança. Funcionou um
pouco, ou talvez tenha sido a bebida que tomei. Ele estava gostando do que eu
estava vestindo, embora não fosse para ele.

Revirei os olhos antes de parar de me mover, e uma ideia se formou em


minha mente. Damien adorava estar vários passos à frente, mas me perguntei se
poderia levar vantagem aqui. Lentamente abri o zíper do vestido e fiz um pouco de
show, tirando o vestido apertado do meu corpo, curvando-me, deixando-o ver todo
o meu decote enquanto eu arrastava o vestido pela cintura e pelas pernas.
— Você acha isso divertido? — Sua voz saiu um pouco rouca, então eu
sabia que meu ‘show’ teve o feito o que eu pretendia. — Você não está no controle
aqui. Eu estou.

— Há uma coisa que eu estou no controle. Não falamos sobre nenhum


limite, e quero esclarecer que não estou fazendo nada com o qual não me sinta
confortável. Se isso te irrita, que assim seja.

Seus olhos se estreitaram e então um sorriso malicioso apareceu em seus


lábios. — Eu estava esperando para ver se você diria alguma coisa. Você sempre
tem uma escolha. — Com essas palavras, ele me apoiou contra a parede e eu adorei
a sensação da parede fria contra minhas costas quentes.

— O que você quer?

Sua pergunta me assustou por uma fração de segundo. Respondi


honestamente. — Você. Quero você.

— Tire minha roupa.

Me sentindo atrevida, não hesitei em alcançar sua calça, querendo tirar


seu pau para fora. Demorei um pouco para desabotoar sua camisa e, assim que
todos os botões estavam abertos, eu a tirei, despindo os músculos duros de seus
ombros e de seus braços, antes de jogá-la no chão. Mordi o lábio enquanto
desabotoava sua calça, abria o zíper e soltava o cinto, observando a calça cair,
formando uma pilha de tecido em seus pés. Ele a tirou rapidamente, junto com os
sapatos e as meias. Não pude deixar de olhar para sua forma perfeita antes que
nossos olhos se encontrassem. O desejo que brilhava em seus olhos me deixou
ainda mais molhada quando olhei para seus abdominais duros, e a cueca boxer
preta que ele vestia. Eu senti como se seu pau estivesse me provocando, e mal
podia esperar para que ele me fodesse. Sem emoções, apenas prazer.
— Eu não deveria querer isso. — Damien murmurou enquanto levantava
minha cabeça com as duas mãos e me beijava. Meus sentidos ficaram
sobrecarregados com seu desespero. O beijo se tornou mais intenso, e suas mãos
deixaram meu rosto e desceram pelo meu pescoço até meus seios. Ele foi o
primeiro a interromper o beijo, iniciando um ataque de beijos e chupadas em meu
pescoço. Eu esperava que fizesse sua mágica ali, mas ele mudou o ritmo, quando
se afastou e se abaixou, envolvendo suas mãos em minhas pernas, e puxando ao
redor de sua cintura. O movimento foi inesperado e eu soltei um gemido em
resposta. Quando olhei para Damien, vi um esboço de sorriso em seus lábios.

Ele me carregou pelo quarto e gentilmente me jogou na cama. — Sabe,


já faz um tempo desde que ouvi você dizer alguma coisa, Vulcãozinho. Vamos
aumentar o nível.

Ele tirou as alças do meu sutiã pelos meus ombros, e os seios saltaram
livres. Eu o ouvi gemer baixinho, tentando conter seu desejo por mim. Parecia que
o que estava acontecendo, aumentava mais a intensidade das emoções para ele, do
que para mim. Isso foi até que seus lábios pousaram em meus seios. Quando sua
boca encontrou meus mamilos, eu gemi, reconhecendo mentalmente que ele havia
virado o jogo. Ele adorou meus seios como se fossem tudo que ele precisava para
sobreviver, e lentamente sua mão desceu pelo meu corpo. Quando ele tocou minha
boceta, eu estava pronta para arrastar seu pau para dentro de mim. Ele se afastou e
olhou para mim, seus olhos se movendo entre o local onde seus dedos estavam e
meu olhar.

— Quem te deixou tão molhada?

Formar palavras não estava em minha agenda, então não emiti um único
som, mesmo lutando contra o gemido que estava se formando em minha garganta.
— Anais. — Sua voz era baixa e cheia de advertência. — Vou tirar
minha mão.

— Não! Porra! Estou molhada por sua causa.

— Boa resposta. — Com isso, seu dedo deslizou entre os lábios de


minha boceta e eu soltei o gemido contra o qual estava lutando, pelo que parecia
ser uma eternidade. Como eu já estava me preparando para gozar tão rápido?

Seus dedos se moviam para dentro e para fora de mim com uma sutileza
que nenhum dos homens com quem eu tinha estado anteriormente possuía. Quando
ele adicionou mais um dedo, não demorou muito para que eu me elevasse acima
das nuvens imaginárias que haviam sido formadas em minha mente. Eu senti meu
orgasmo em seus dedos e, quando ele os retirou, meu orgasmo diminuiu de
intensidade. Achei que me daria um tempo para respirar, mas ele ainda não tinha
terminado.

— Fique de joelhos. Coloque os dedos nessa boceta enquanto eu me


preparo.

Meu corpo se moveu por reflexo, e eu me vi de quatro na cama king-size


macia. Me senti poderosa enquanto meus dedos esfregavam meu clitóris, e senti
seus olhos fixos nos movimentos que minha mão estava fazendo enquanto eu me
dava prazer. Ouvi o rasgo da embalagem do preservativo.

— Você não sabe o quanto eu amo essa bunda. — Damien murmurou


enquanto eu o ouvia se aproximar de mim.

O fato de não poder vê-lo aguçou meus outros sentidos e quase cedi
quando senti seu pau provocando minha entrada. Eu adorava quando ele passava
seu pau para cima e para baixo em minha fenda, porque eu não sabia quando
entraria em mim. Ele fazia isso várias vezes, e eu me perguntava se ele estava
esperando que eu implorasse. Não estava.

Ele entrou em mim e eu choraminguei, me sentindo aliviada por ele


finalmente saciar minha necessidade de tê-lo dentro de mim. Ele entrando em mim
por trás foi uma experiência nova, e as sensações que Damien desencadeou em
meu corpo enquanto me fodia me levaram para outro planeta. Seu ritmo acelerou e
não demorou muito para sentir o primeiro tapa na minha bunda. A picada do golpe
enviou outra carga de prazer pelo meu corpo e me deixou mais perto do meu
segundo orgasmo. Quando ele fez isso mais duas vezes, senti que estava prestes a
mergulhar fundo mais uma vez.

Com alguns golpes mais longos, eu gritei, atingindo o ponto crítico.


Damien não diminuiu o ritmo até sucumbir ao próprio orgasmo depois de mim. Ele
desabou sobre minhas costas, saindo de dentro do meu corpo. Damien se levantou
para ir ao banheiro, me deixando sozinha no quarto. Embora eu soubesse que
poderia me sentir segura neste lugar, meu instinto me dizia que o perigo não estava
muito longe.
19

ANAIS

Olhei em um corredor e não vi o que queria, então passei para o


próximo. Depois do trabalho, fui impulsivamente a uma farmácia perto do
escritório para comprar algumas coisas antes de voltar para a casa de Damien. Vi o
corredor cheio de itens de cuidados com as unhas, e corri para escolher uma nova
cor de esmalte. Sorrindo quando encontrei uma, tirei o frasco da prateleira e o
coloquei na cesta que estava segurando. O marrom escuro que encontrei era uma
cor perfeita para o inverno.

Segui para a parte da frente, e entrei em uma pequena fila que havia se
formado perto das caixas registradoras. Por um momento, fiquei distraída,
imaginando o que faria pelo resto da noite.

— Obrigado. Tenha uma boa noite.

Levantei a cabeça não só porque eu era a próxima da fila, mas também


por causa da voz que acabei de ouvir. Por que parecia familiar? Olhei para a minha
esquerda e notei um homem com um moletom preto e um boné de beisebol se
afastando.

Foi quando me dei conta. A voz rouca era semelhante à do homem que
me abordou do lado de fora do meu apartamento antes deste acordo com Damien
começar. Corri para o caixa e joguei minhas coisas no balcão com um sorriso
tenso. Eu esperava que o vendedor na minha frente não tivesse problemas em
registrar minhas compras, porque eu precisava encontrar esse homem.

Felizmente, o atendente me liberou em poucos minutos.

Eu sabia que não deveria procurá-lo sozinha, porque não sabia que tipo
de perigo isso poderia representar, mas queria dar uma boa olhada nele. Não dava
para acreditar que era apenas uma coincidência ele entrar na mesma farmácia que
eu. Corri para a porta da frente, e o ar frio me atingiu como um tapa na cara.
Depois de olhar várias vezes para cima e para baixo na rua, não consegui encontrá-
lo. A pessoa que tinha me seguido ainda estava lá fora e eu não podia fazer nada a
respeito. Peguei meu celular na bolsa e liguei para a primeira pessoa que me veio à
mente.

— Anais.

Apenas o fato de ele falar meu nome ajudou a me aquecer contra o frio,
causado pelo vento e pelo medo em minha alma. — Você está em casa?

— Estou a alguns minutos de distância. Por quê?

— Acho que estou sendo seguida. Você pode ficar no telefone comigo
até eu chegar em sua casa? — A máscara de confiança que eu normalmente usava
perto de Damien tinha quebrado.

— Onde você está? — Seu tom direto me acalmou um pouco e eu odiei


admitir isso.

— A dois quarteirões da sua casa.

— Você vai chegar primeiro por causa do trânsito. Quando você chegar,
tranque as portas até eu chegar. Vou ficar na linha até você estar segura.
Suspirei. Sobre o que poderíamos conversar? — Me conte uma história
engraçada. — Olhei por cima do ombro, mas não encontrei nada fora do comum.

Ele não perdeu o ritmo. — Uma lembrança que tenho de minha infância
é que eu estava na sala de estar terminando minha lição de casa enquanto minha
mãe me ajudava. Na época, eu não devia ter mais de seis anos. Com três meninos
com menos de sete anos de idade em casa, ela sabia que algo errado deveria estar
acontecendo sempre que as coisas ficavam um pouco quietas demais. Foi quando
ela encontrou meus irmãos gêmeos brincando com sua maquiagem quando eles
tinham mais ou menos dois ou três anos de idade. Me lembro do grito de horror
que ela deu.

Eu bufei. — Tenho certeza de que ela não ficou muito feliz por ter que
limpá-los. — Senti algum alívio tomar conta de mim quando vi a casa de Damien à
distância.

— Não, mas eu não podia mentir e dizer que não estava feliz por eles
estarem em apuros.

A pequena quantidade de alegria em sua voz me fez sorrir enquanto


subia as escadas para a casa de Damien, quase esquecendo o motivo pelo qual
liguei para ele.

***

Podia sentir que estava acordando, embora meu corpo estivesse me


dizendo que ainda não era hora de acordar porque eu ainda estava exausta. Depois
de conversar com Damien e discutir meu potencial uso de Rob para ir e voltar do
trabalho, subi para o quarto e fui para a cama cedo.
Um som baixo de bip estava tocando, mas eu não conseguia dizer se era
algo em meu sonho ou na vida real. Demorou mais um segundo para que eu ficasse
totalmente desperta e me sentasse na cama. Ouvi a porta ranger e me virei para ver
que Damien estava em meu quarto. Eu me esforcei para sair das cobertas e, quando
olhei para ele, ele colocou um dedo em seus lábios, indicando que eu deveria ficar
quieta. Eu me aproximei e vesti um casaco com capuz sobre a camiseta regata e a
calça de moletom.

— O que está acontecendo? — Sussurei, tentando arrumar as roupas no


meu corpo.

Ele não respondeu de imediato, e meus olhos se arregalaram até que ele
levantou um dedo. Foi quando percebi que ele estava tentando ouvir qualquer
barulho estranho. Isso tem alguma coisa a ver com o barulho de bipe baixo que eu
ouvi antes?

— Alguém está tentando entrar na casa e disparou o alarme.

Eu escutei mais uma vez, e ouvi os bipes soarem mais algumas vezes e
então pararam. Ele pegou o telefone e abriu o que parecia ser um aplicativo, mas
não reconheci o ícone.

— Venha comigo. — Ele disse, e eu corri até ele. Ele envolveu seu braço
em volta da minha cintura, e seu braço nu na parte inferior das minhas costas
proporcionou um pouco do calor do qual eu não sabia se queria.

Ele me guiou para fora do meu quarto e silenciosamente pelas escadas.


Parou em frente a uma porta fechada e prendi a respiração quando percebi que ele
havia me levado até seu quarto. Com um golpe de seu telefone, ele abriu a porta.

Dada a situação e a falta de iluminação, não perdi tempo olhando ao


redor do quarto como gostaria. Observei enquanto ele caminhava até um canto,
guiado pela luz de seu telefone, e colocava os dedos logo abaixo da mesa. Dei um
passo em sua direção, sem entender totalmente o que estava fazendo, e um
instante depois ouvi uma porta se abrir do outro lado do quarto.

Ele correu de volta para mim e disse: — Anais. Me ouça. Não é hora de
discutir comigo. Eu quero que você vá até aquele canto do quarto e passe pela
porta. A porta se fechará atrás de você e eu preciso que fique quieta até que eu
possa ir buscá-la.

Assenti e segui Damien em direção à porta aberta.

— Rob chamou reforços e isso é apenas uma precaução.

Assenti novamente e atravessei a porta, sem saber o que poderia encontra


do outro lado. Quando entrei, uma luz no teto acendeu. Olhei ao redor antes de me
virar para Damien.

— Voltarei assim que puder. Se eu não voltar em quinze minutos, use o


telefone ou o botão de pânico embaixo da mesa para chamar a polícia. — Ele
apontou para um telefone preto que parecia estar conectado a um telefone fixo no
canto.

Movi minha cabeça para verificar o botão vermelho circular na parte de


baixo da mesa. — Ok.

Damien me deu um último olhar antes de sair, fechando a porta atrás de


si e me trancando lá dentro. Respirei fundo e me virei para continuar examinando
os arredores. Encontrei um contêiner de armazenamento cheio de comida seca e
água. Outro continha pelo menos dois kits de primeiros socorros, cobertores,
roupas, lanternas, rádio portátil, banheiro portátil e papel higiênico. O container
final tinha o que pareciam ser cartas, um jogo de xadrez portátil e algumas outras
coisas para servir como uma forma de passar o tempo. Essencialmente, havia tudo
e qualquer coisa que você precisaria para sobreviver por várias semanas neste
quarto.

Damien havia pensado muito ao colocar esses materiais nesse quarto e se


certificou de que quem estivesse aqui, estaria preparado para praticamente
qualquer situação, isso era certo. E essa sensação ajudou a acalmar meus nervos
temporariamente. Dei tapinhas em meu corpo, tentando encontrar meu celular e
percebi que o havia deixado no meu quarto.

— Foda-se. — Murmurei enquanto debatia o que poderia fazer. Peguei o


container, tirei as cartas e comecei a distribuí-las para jogar uma partida de
paciência. Não era assim que eu imaginava que passaria minha noite de quarta-
feira, quando deveria estar dormindo.

À medida que o jogo avançava, notei que minhas mãos estavam ficando
úmidas, embora a temperatura da sala estivesse fria. Verifiquei o relógio na parede,
e se estava correto, apenas sete minutos haviam se passado, então continuei
jogando.

Alguns minutos depois, ouvi uma batida que quase me fez pular de
susto. — Que raios foi isso?

Claro, o silêncio respondeu à minha pergunta quando me levantei e


caminhei até à porta. Eu esperava que Damien, Rob e quem quer que fosse os
reforços deles estivessem bem. Coloquei meu ouvido contra a porta por alguns
segundos e percebi que poderia não ser uma boa ideia, pois se alguém começasse a
atirar, eu provavelmente seria atingida por uma bala. Com esse pensamento em
mente, me afastei rapidamente até que minhas costas alcançassem a outra parede.
Não demorou muito para que qualquer tipo de autoconfiança que eu tivesse caísse
no esquecimento, e a sensação de pavor se infiltrasse em minhas veias. O suor
escorreu pela minha pele, fazendo com que eu tremesse por um momento. Quando
o aperto em meu peito começou, finalmente percebi o que estava acontecendo:
ataque de pânico. Deslizei pela parede em posição fetal sobre o chão duro de
madeira.

Eu não tinha tido um ataque de pânico como esse desde que era
adolescente, momentos antes de ter que apresentar um projeto em grupo de
biologia. Agora definitivamente não era um bom momento para ter um.

Tentei respirar fundo para pelo menos aliviar o aperto no peito, mas não
estava ajudando muito. A náusea que surgiu logo depois estava interferindo na
minha respiração, fazendo com que eu lutasse ainda mais. As lágrimas aumentaram
e correram livremente pelo meu rosto e, embora eu tentasse manter silêncio, sabia
que não estava conseguindo.

Eu não sabia quanto tempo estava naquela posição, mas os segundos se


transformaram em minutos que depois se transformaram no que pareceram horas,
enquanto eu esperava que alguém me libertasse deste quarto.

— Controle-se. — Tentei dizer a mim mesma e isso diminuiu um pouco


minhas lágrimas. Diminuí minha pulsação a ponto de me forçar a rastejar até à
mesa e olhei para o relógio na parede.

— Faltam três minutos. — Murmurei para mim mesma e abri algumas


gavetas, pensando que talvez olhar através delas pudesse distrair minha mente do
que estava acontecendo na casa. Encontrei alguns papéis na gaveta de cima, mas
não tive tempo de lê-los. Abri a gaveta de baixo e meus olhos se arregalaram. Uma
arma estava olhando para mim. Eu a tirei da gaveta e me perguntei por que Damien
não havia mencionado que ela estava ali. Analisei-a por um minuto antes de
colocar a arma em cima da mesa. Isso podia ser útil caso alguém tentasse invadir o
quarto do pânico. O único problema é que eu nunca havia disparado uma arma,
então esperava que a trava de segurança não estivesse acionada para que, se fosse
necessário, eu pudesse simplesmente puxar o gatilho e fazer perguntas depois. Eu
lidaria com se eu poderia ou não puxar o gatilho quando chegasse a hora.

Eu tinha muitas perguntas que precisavam ser respondidas, mas houve


algumas que se destacaram. Quem infernos, invadiria a casa de Damien? E por que
ele achou necessário instalar um quarto do pânico em sua casa?
20

ANAIS

Assim que me levantei para fazer a ligação, ouvi o rangido de uma tábua
do assoalho do lado de fora. Meus sentimentos passaram de pavor a tentativa de
me acalmar para pensar racionalmente. Ouvi outro rangido de tábua se curvar sob a
pressão do peso de alguém, o que me fez ficar em alerta. Peguei a arma, apaguei as
luzes e me abaixei, em frente a um balcão.

— Anais?

Meu nome saiu de seus lábios em um sussurro abafado. Mas isso era
tudo que eu precisava para voltar a ficar calma. Em minha mente, estávamos
seguros.

Quando a porta se abriu, me afastei e deixei a arma cair aos meus pés.
Damien correu para dentro.

— Você está bem.

— Sim. — Ele respondeu e então agiu como se estivesse verificando se


eu tinha hematomas, como se fosse eu quem tivesse saído para enfrentar quem
tentou invadir sua casa. — Você está bem?

— Um pouco abalada, mas estou bem.


— Você não está bem. Parece que esteve chorando. — Ele enxugou o
restante das lágrimas do meu rosto. — Quem mandou aquele idiota à minha casa,
vai pagar por colocar essas lágrimas em seus olhos.

— Com tudo o que está acontecendo… — Eu estava olhando para o


rosto dele até que notei uma pequena mancha vermelha em sua bochecha. — Isso é
sangue?

Eu me movi para dar uma olhada mais de perto e foi quando finalmente
consegui ver suas mãos.

— Damien, suas mãos estão sangrando.

— Não é meu. Você precisa fazer uma mala. — Ele não escondeu o fato
de que estava mudando de assunto.

— Espere, o quê?

— Vamos sair daqui. — Ele disse, se preparando para me puxar atrás


dele, mas eu puxei minha mão para trás.

— O que você quer dizer com sair? Provavelmente deveríamos chamar a


polícia e esperar que eles cheguem aqui.

Ele balançou sua cabeça. — Não se preocupe com a polícia. Arrume sua
mochila com alguns itens essenciais, e o resto pode esperar até chegarmos lá.

— Chegar onde?

— Anais, agora não é hora de fazer um milhão de perguntas. Apenas


faça o que eu digo. Rob ficará do lado de fora da sua porta, por precaução.

— O que você vai fazer?

— Eu também vou fazer as malas.


Balancei a cabeça, e Damien me acompanhou até às escadas. Com
certeza, Rob estava parado no final da escada, perto o suficiente para proteger a
porta do meu quarto, então desci as escadas correndo. Rob me deu um leve aceno
de cabeça quando entrei, e arrumei o máximo que pude antes que Damien
aparecesse na minha porta.

— Está pronta?

— Me dê um segundo. — Vesti um moletom que havia trazido do meu


apartamento e peguei um casaco grosso de inverno no armário. — Agora estou.

— Ok. Vamos.

Quando descemos as escadas, outro homem que eu juro que já tinha


visto antes, estava parado perto da pia lavando as mãos.

— Kingston, vamos sair agora.

Kingston se virou enquanto enxugava as mãos e nos olhou. Foi quando


me dei conta. — Você é o segurança da Elevate.

— Sou. Eu também sou primo de Damien.

— Oh, que bom, há mais de vocês, Cross, no mundo. — Assistir


Kingston secar as mãos desencadeou outra memória enquanto eu olhava para o
rosto e as mãos de Damien. A única coisa que me dizia que ele poderia ter se
metido em uma briga eram os hematomas que manchavam seus dedos.

Os homens riram. — Precisamos ir. — Disse Damien e encarou


Kingston. — Se ouvir alguma coisa, me avise.

Kingston assentiu e disse: — Você sabe que sim. Foi bom vê-la de novo,
Anais.

Fiquei surpresa por ele saber meu nome. — Igualmente.


Damien e Rob pegaram nossa bagagem, e eu os segui até um SUV que
nos esperava. Encontrei mais dois homens que eu nunca tinha visto antes, parados
com suas armas em punho. — Mas o que é isso? — Mas ninguém disse nada
quando entramos no SUV e partimos na escuridão da noite.

Eu me virei para Damien, que estava ocupado em seu celular e não havia
dito uma palavra desde que saímos da casa.

— Agora é um bom momento para fazer perguntas? — Não conseguia


acreditar como minha voz soou suave e Damien deve ter pensado o mesmo porque,
quando olhou para mim, vi uma ponta de preocupação em seus olhos e sua
expressão.

— Espere. — Ele enfiou a mão no bolso e me entregou algo. Era o meu


celular. — Envie um e-mail para seu pai e para quem mais for necessário e diga a
eles que você estará trabalhando remotamente temporariamente.

— Ok, mas… — O olhar que ele me deu poderia derreter o aço. Quando
abri meu e-mail, disse: — Você precisa explicar o que está acontecendo. Estou
cansada de ficar no escuro.

— Não se preocupe. Explicarei assim que você enviar o e-mail.

Fiz o que ele pediu e então me virei para ele. — Você encontrou quem
tentou invadir?

— Sim.

Fiquei chocada com a resposta dele. — E então? Você os entregou à


polícia?

— Não, mas já cuidamos deles.


Quando ele disse isso, pensei em como seu punho estava machucado e
ensanguentado, e na mancha de sangue que havia em seu rosto antes de sairmos de
casa.

Ele deve ter notado que eu somei dois e dois, porque se inclinou e disse:
— Você não precisa mais se preocupar com aquele homem.

Pensamentos inconcebíveis passaram por minha cabeça e isso foi


suficiente para que eu parasse de fazer perguntas por enquanto. Embora estivesse
quente no carro, um calafrio percorreu meu corpo com uma constatação. Damien
não teria nenhum problema em matar alguém que o contrariasse. Ele também não
teria nenhum problema em fazer o mesmo comigo? O pensamento me causou dor
de cabeça, então me enrolei o máximo que meu cinto de segurança permitia e olhei
pela janela. Um pouco da exaustão, tanto mental quanto física, tomou conta do
meu corpo e caí em um sono inquieto.

***

— Para onde estamos indo? — Perguntei um pouco depois. Eu ainda


estava grogue, mas me sentindo um pouco mais humana enquanto o SUV
continuava sua jornada para Deus sabe onde.

— Norte do estado, para um local remoto que é mais seguro. — Disse


Damien. Ele havia pegado seu laptop em algum momento, e agora estava
trabalhando. — Achei que seria bom sair um pouco da cidade e dar ao meu pessoal
tempo suficiente para limpar e adicionar mais segurança às minhas propriedades na
cidade.
Consegui evitar que meus olhos saltassem das órbitas. Ele tinha várias
propriedades na cidade de Nova York? A casa na cidade em que estávamos
hospedados, sozinha, devia valer cerca de US$13 milhões. Olhei para o meu
celular e vi que meu pai havia respondido. Ele queria falar comigo, provavelmente
para saber o meu motivo para trabalhar remotamente.

— Estaremos de volta no Natal? — Fiz essa pergunta porque faltava


uma semana para o Natal, e eu queria estar com minha família para celebrá-lo.

— Sim.

Me recostei novamente, e observei enquanto descíamos a rodovia em


direção a um lugar que me era desconhecido. Felizmente, não demorou muito para
chegarmos a uma vasta propriedade que parecia ter quilômetros de extensão.

A enorme casa branca era algo feito de sonhos, e a neve que cobria a
propriedade fazia com que parecesse algo saído de um filme. Quando Rob dirigiu o
carro pela entrada circular, notei alguns carros pretos estacionados lá também. Eu
tinha certeza de que eram mais seguranças.

— Você é o dono desta casa? — Perguntei a Damien quando o carro


parou.

— Não. Meus pais são.

— O quê? Por que você não me disse que estávamos indo para a casa
dos seus pais?

— Olha, este é provavelmente um dos locais mais protegidos do estado


fora de uma instalação do governo. Esta foi a melhor opção, a menos que
voássemos para fora do país. Pelo menos até descobrirmos quem mandou aquele
idiota a minha casa.
— Você contou a seus pais sobre tudo isso?

Damien fechou seu laptop e o colocou em sua bolsa. — Sim, eles sabem
o que aconteceu e contei a eles sobre você. Eles dividem seu tempo entre a cidade
e aqui, mas estão aqui agora.

Eu brinquei com minhas roupas. Se ele tivesse mencionado isso antes,


teria me dado a oportunidade de pelo menos parecer mais apresentável, já que
conheceria seus pais pela primeira vez. Então, mais uma vez, por que isso
importava? Isso não era real e logo acabaria. Ele agarrou minha mão,
interrompendo meus movimentos.

— Não se preocupe com o que você está vestindo. Vamos entrar lá, falar
com meus pais um minuto, depois tomar banho e trocar de roupa. Todo mundo
entende o que aconteceu.

Eu rapidamente tentei prender meu cabelo em um rabo de cavalo,


esperando que isso me deixasse mais apresentável. As portas de ambos os lados do
carro abriram e eu peguei minha bolsa e a mochila com o laptop. Depois que saí do
carro, Damien fez o mesmo e se ofereceu para segurar minha mochila enquanto
subíamos as escadas para casa.

Alguém já nos aguardava, porque a porta se abriu e um homem de terno


nos cumprimentou.

— Olá, senhor.

Damien sorriu de volta para ele, e esta pode ter sido a primeira vez que o
vi sorrir. Foi estranho ver seus lábios se curvarem em um sorriso. Ele se virou para
mim e disse: — Este é Bernard. Bernard, esta é Anais.

— Prazer em conhecê-lo. — Estendi minha mão para apertar a dele.


— É um prazer conhecê-la também, Srta. Monroe. — Antes que
pudéssemos dizer mais alguma coisa, um belo casal entrou na sala. Eu poderia
dizer imediatamente que eles eram os pais de Damien. Era fácil ver que Damien
herdou a maior parte de sua aparência e altura de seu pai, e seus olhos vieram de
sua mãe.

— Oh céus. Você está bem, certo? — A mulher estendeu a mão e


segurou o rosto de Damien em suas mãos. — Eu juro que estava prendendo a
respiração até que Rob estacionou na garagem.

— Tudo está bem. Estamos seguros, e estamos aqui agora.

Quando ela se virou para mim, disse: — Você deve ser Anais. Ouvimos
falar muito sobre você.

Dei um sorriso educado porque isso era novidade para mim. Eu mal
tinha ouvido falar deles, e o que eu sabia vinha de Ellie ou de minha pesquisa. —
Obrigada por me receber em sua casa, Sra. Cross.

— Imagine! Qualquer amiga de Damien é bem-vinda em nossa casa e,


por favor, me chame de Selena. E este é meu marido, Martin. — Ela me deu um
sorriso caloroso enquanto Martin estendeu a mão para apertar a minha. — Precisa
de algo? Eu posso pedir a Maddie para preparar alguma coisa.

— Ela poderia preparar algo para o café da manhã? Nós não comemos.

— E quando ele não come, fica mais difícil de controlar. Acredite em


mim, eu sei disso muito bem. — Selena sorriu para mim e encarou seu filho.

— Claro, eu posso fazer isso, e você mostrará a Anais o quarto de


hóspedes do Hampton? Esse deve estar pronto. Damien, seu quarto ainda está
como você o deixou, então é onde você ficará.
— Parece ótimo. — Ele olhou para mim antes de seus olhos retornarem
para sua mãe e disse: — Acho que Anais e eu, provavelmente vamos trocar de
roupa. Estamos vestindo as mesmas roupas da noite passada.

— Certo. — Selena se afastou e permitiu que adentrássemos mais na


casa. — Estarei na cozinha ou na sala se precisarem de mim.

— Damien, precisamos conversar assim que você terminar de se instalar.


— Disse Martin.

Embora não houvesse nada que me indicasse que algo estava errado, eu
poderia dizer que as palavras de Martin tinham um significado diferente para
Damien. O olhar que eles compartilharam me disse isso.

— Claro. Vou mostrar o quarto a Anais.

Damien, Rob e Bernard pegaram nossa bagagem, subimos as escadas e


depois descemos um longo corredor. Ele estava repleto de fotos e pinturas, a
maioria das quais parecia estar relacionada à família, incluindo fotos e pinturas dos
filhos quando eram pequenos. Quando Damien parou em frente a uma porta, Rob e
Bernard colocaram as malas que carregavam. Damien agradeceu, e ambos
voltaram por onde tínhamos vindo.

— Então, você ficará aqui. — Disse ele, e abriu a porta ao lado. O quarto
tinha todas as comodidades padrão que você esperaria em um quarto de hóspedes,
mas era mais brilhante, e o completo oposto das cores escuras que Damien parecia
gostar. A cama king size tinha um edredom bege e uma tonelada de travesseiros, e
havia uma cômoda e janelas que davam para o enorme quintal. Os Cross
definitivamente se orgulhavam de ter tudo o que você poderia desejar. Eu tinha
certeza de que seria uma transição muito difícil voltar a cuidar completamente das
minhas despesas.
— Você tem seu próprio banheiro anexado ao seu quarto.

— Uau. Esta casa é linda. Entendo por que seus pais querem morar aqui.

— Temos algumas memórias maravilhosas daqui. — Seu tom era mais


suave do que o tom usual de ‘você deve obedecer minhas ordens’. Isso me fez
querer me aprofundar mais em suas boas lembranças, mas eu sabia que ele não iria
responder.

— Bem, eu tenho que me preparar para algumas teleconferências, então


te vejo mais tarde.

Balancei a cabeça enquanto Damien se virou para se afastar, e eu fiz o


mesmo. Entrei no quarto de hóspedes, e fechei a porta. Embora estivesse cansada
das mudanças repentinas que estavam ocorrendo em minha vida, eu ficaria aqui
por um período de tempo e precisava tirar o melhor proveito disso.

Desfiz a bagagem pelo que parecia ser a milionésima vez, antes de entrar
no banheiro e ofegar. Este banheiro parecia uma suíte de luxo de um hotel. O
banheiro era grande o suficiente para caber todo o meu quarto dentro dele. Me
livrei das roupas que há muito tempo já haviam passado da validade, liguei o
chuveiro na posição que suspeitava ser mais para quente do que para frio. Eu
estava certa, e, quando a temperatura da água estava onde eu queria, entrei no
chuveiro e quase desmaiei. Lá dentro, a água batia em meu corpo e me senti como
se estivesse sob uma cachoeira quente e vigorosa. A força da água era tão boa que
quase poderia compará-la com as massagens que recebia quando parava no
trabalho de Ellie para uma sessão. Eu não sabia há quanto tempo estava no
chuveiro, quando jurei que vi algo pelo canto do olho e fiquei surpresa ao ver
Damien apoiado no batente da porta. Abri a porta do boxe e perguntei: — O que
você está fazendo aqui?
— Só porque mudamos de local não significa que as circunstâncias
mudaram. Você me pertence e posso fazer o que eu quiser.

— Mesmo que isso signifique interromper o meu banho.

— Mesmo isso.

— Você não tem uma teleconferência para se preparar? Eu não esperava


te ver por mais algumas horas. — Eu estava ansiosa para ficar um tempo sozinha,
mas não iria admitir isso em voz alta.

— Quando você é o chefe, pode fazer o que quiser. Neste momento, meu
pau quer entrar nessa sua boca habilidosa e estou feliz em atendê-lo.
21

DAMIEN

Fechei a mesa de cabeceira depois de guardar uma caixa de


preservativos, e caminhei até ao banheiro. Não teria demorado muito para que eu
deixasse minhas roupas na porta e entrasse no chuveiro, mas não o fiz. Demorei a
despi-las, deixando a expectativa aumentar, porque Anais não sabia o que eu ia
fazer. Mantive meus olhos em sua forma nua, agradecido por mamãe não ter se
incomodado em instalar portas foscas para este chuveiro. Em vez disso, o vidro da
porta era transparente, permitindo que eu visse o quanto quisesse. Quando terminei
essa tarefa, entrei no chuveiro.

— Saia daqui. Não consigo nem tomar banho em paz. — Eu não achei
que ela estava se esforçando tanto para brigar comigo. Talvez isso tenha a ver com
o fato de ela não conseguir tirar os olhos do meu pau por mais de um segundo.

— Farei algo melhor para você. Você vai chupar meu pau e pode sentar
naquele banco de mármore ali para fazer isso. Sem machucar os joelhos, certo?

Eu podia ver que um argumento estava na ponta de sua língua, mas


preferia que fosse outra coisa. Ela jogou o cabelo para trás e limpou a água dos
olhos, que pousaram nos meus. Inclinei a cabeça, para que ela percebesse que
estava na hora. Ela foi em direção ao banco e, antes de se sentar nele, pude vê-la
lamber os lábios enquanto ficava cara a cara com meu pau. Seu primeiro
movimento foi lamber a cabeça, e fechei os olhos enquanto apreciava a leve
sensação. Outra lambida quase me fez balançar os quadris, esperando que ela me
levasse mais fundo em sua boca.

Como se pudesse ler minha mente, ela me levou mais fundo em sua
boca, e engasgou por um momento antes de relaxar. Ela me levou mais fundo do
que da vez anterior, percebendo que precisava relaxar a boca para acalmar seu
reflexo de vômito, e absorver mais de mim. Funcionou. Ela tomou mais de mim e
eu pude sentir quando meu pau atingiu o fundo de sua garganta. Respirei fundo e
gemi de satisfação.

Ela olhou para mim enquanto pegava meu pau e eu quase me perdi. A
sensação de sua boca em mim fazia meus joelhos dobrarem ligeiramente. Sua
língua deslizava sobre a ponta e alternava entre isso e levar meu membro latejante
em sua boca. Cada vez que ela recomeçava esse ciclo, chupava meu pau com mais
força e eu jogava minha cabeça para trás com os olhos fechados. Ela riu, e isso
levou a mais vibrações direto para o meu pau. Moveu a boca para trás e chupou a
cabeça do meu pau com mais força. Olhei para ela novamente e a imagem era
demais para mim.

— Não vejo a hora de você engolir cada gota, Vulcãozinho.

Isso, e o fato de minhas mãos terem encontrado o caminho para o seu


cabelo pareciam dar a ela um impulso, porque começou a alternar com entusiasmo
entre me chupar profundamente, lamber a cabeça do meu pau e massagear minhas
bolas, todas as coisas que me deixavam cada vez mais perto do limite.

Meus quadris se moveram involuntariamente, tentando chegar mais perto


dela, para que ela pudesse me levar ainda mais fundo do que antes. Gemi
novamente antes de assumir o controle do meu corpo e mergulhá-lo dentro e fora
de sua boca. Se a imagem dela me chupando já era demais, me ver bombeando
meu pau em sua boca era insuportável.

Um rugido precedeu meu orgasmo e observei enquanto ela se certificava


de não perder nenhuma gota. Ela olhou para mim, uma sugestão de sorriso
brincando em seus lábios quando se levantou e sorriu.

— Agora, eu agradeceria se você me deixasse tomar banho em paz. —


Seu sorriso traiu o tom de sua voz. Eu ignorei suas palavras e a observei por um
momento antes de me abaixar para pegar o xampu e colocar um pouco em minhas
mãos. A leve fragrância de coco atingiu minhas narinas e eu sabia que ela devia ter
sentido o cheiro também, porque olhou para mim, a água pingando de seu rosto.

— Vire-se.

Ela fez o que eu pedi sem discutir, e eu coloquei minhas mãos em seu
cabelo e comecei a lavá-lo, cobrindo cada centímetro. Um gemido baixo saiu de
seus lábios enquanto eu massageava seu couro cabeludo.

— Como está se sentindo?

— Você não tem ideia. Ok, vou enxaguar isso e então você pode fazer o
que precisar no chuveiro.

— Estou saindo. — Eu disse, sem dar uma explicação. Eu sabia que era
horário de uma ligação que precisava atender, e essa distração havia demorado
mais do que eu planejava. Olhei para Anais e saí do chuveiro. Sua boca estava
ligeiramente aberta quando ela estreitou o olhar e se afastou de mim. Dei uma
olhada rápida em sua bunda, que era muito apreciada, e peguei uma enorme toalha
felpuda. Me sequei e enrolei a toalha em volta da cintura, antes de pegar minhas
roupas e sair do banheiro.
Não demorei muito para ir do quarto de Anais para o meu quarto de
infância, que havia sido reformado algumas vezes desde que me mudei. Meus pais
mantiveram a cor azul-marinho que eu gostava quando era adolescente, mas
trocaram alguns móveis para transformá-lo em um quarto de hóspedes, se
necessário. Os pôsteres que pendurei na parede se foram, substituídos por algumas
das pinturas que minha mãe gostava e queria exibir em sua casa.

Joguei as roupas usadas no cesto, e verifiquei a hora no meu telefone. Eu


tinha cerca de vinte minutos até uma ligação telefônica que eu não queria atender.
Vesti meu terno e gravata pretos característicos e arrumei o cabelo. Olhei no
espelho, saí do quarto e fui para o escritório do meu pai.

Claro, ele já estava lá quando entrei, e me olhou brevemente antes de


levantar um dedo. Ele estava em uma ligação com um membro do conselho que
presumi que terminaria em breve.

— Obrigado, Don. Falo com você ainda esta semana. — Papai desligou
o telefone com um clique, se levantou, pegou o paletó e vestiu.

— Achei que tínhamos uma ligação com os gêmeos, e algumas


organizações em potencial que queriam expandir seus horizontes na boa e velha
Nova York?

Papai deu a volta em sua mesa. — Mudança de planos. Estamos saindo e


explicarei no carro.
22

ANAIS

Depois do banho, procurei por Damien, mas não o vi. Então desci para
comer sozinha. A mãe dele se juntou a mim por apenas um momento, então
precisou atender a uma ligação, e eu não a vi pelo resto do dia. A noite foi
tranquila, e devo admitir, preferia assim. Passei a noite sozinha, principalmente
descansando e lendo livros no meu celular. Eu pensei que Damien poderia vir para
verificar como eu estava, mas ele não veio. Fiquei parcialmente aliviada e
desapontada, mas não queria procurá-lo. Fui para a cama cedo, e me senti
rejuvenescida na manhã seguinte. Isso foi até que me forcei a enviar uma
mensagem de texto para meu pai.

Eu: Oi pai. Eu estou bem. Só queria fugir um pouco, mas devo


voltar a tempo para o Natal.

Pai: Tudo bem. Eu e sua mãe, estamos preocupados com você.

Eu: Não precisa. Está tudo bem e nos vemos em breve.

Pai: Ok, e não se esqueça de ligar para sua mãe.

Revirei os olhos, mas enviei uma mensagem de volta.


Eu: Ligarei.

Assim que saí da cama, e fiquei apresentável, desci para o café da


manhã. Encontrei Selena na sala de jantar. Era brilhante, com sua decoração
branca, bege e dourada, e a mesa de cor semelhante acomodava quatorze pessoas.
Selena combinou a sofisticação da sala com sua calça preta, suéter creme e seu
cabelo preso. Não fiquei chocada ao ver que Damien não estava lá. Quando
estávamos em sua casa na cidade, ele raramente aparecia para o café da manhã. O
interessante é que Martin também não estava. Olhei para a cadeira ao meu lado e
sentei no único outro assento que tinha um jogo americano e utensílios à sua frente.

— Tal pai, tal filho. Estou certa? — Selena sorriu, o que me disse que
ela tinha lido minha mente e estava acostumada com as ausências também. —
Espero que você não se importe que eu pedi a Maddie para preparar alguns pratos
diferentes. Eu não tinha certeza do que gostava e esqueci de perguntar antes de
irmos dormir.

— Oh não, tudo bem. Eu não sou uma comedora exigente de qualquer


maneira, então tenho certeza de que, o que foi preparado, será fantástico.

Ela sorriu para mim novamente, e me fez pensar como Damien acabou
sendo exatamente o oposto de sua mãe nesse aspecto. Ela era amigável, enquanto
ele era intimidador. Embora, como sua mãe, Damien fosse atencioso. A maneira
como ele cuidou de mim quando alguém invadiu a casa, quando me encontrou no
quarto do pânico, e a rapidez com que ele assumiu o controle para nos tirar de lá. A
maneira como ele garantiu que eu tivesse um orgasmo durante o sexo antes dele.
Estas foram apenas algumas das coisas que me fizeram vê-lo sob uma luz
diferente, e eu não tinha certeza de como me sentia sobre isso.
— Dormiu bem?

— Ah, sim, dormi. Como um bebê. — Isso era apenas parcialmente


verdade. Sempre tive dificuldade em adormecer quando estava em um lugar
desconhecido, e aqui não foi diferente. Quando finalmente consegui dormir, tinha
sido bom, mas não fazia sentido compartilhar isso.

— Isso é bom. Eu esperava que você descansasse um pouco. Eu só posso


imaginar como você deve se sentir tendo que lidar com um arrombamento.

— Sim, eu não esperava isso e, além disso, não temos certeza de quem o
fez. — Pelo menos eu não tinha certeza. Assim que as palavras saíram da minha
boca, Maddie entrou com o café da manhã.

Meu estômago roncou quando senti o cheiro do bacon recém-frito que


estava no prato. Maddie também fez Ovos Benedict e cortou uma variedade de
frutas que ela rapidamente pegou na cozinha, assim que deixou as comidas quentes
para nós comermos. Ela também trouxe café. Parecia que o café era um alarme,
porque Martin e Damien entraram na sala quando ela colocou o bule quente entre
Selena e eu.

— Tem alguma coisa que eu possa pegar para vocês? — Maddie


perguntou, olhando entre Martin e Damien.

— Viemos tomar outra xícara de café, e parece que chegamos na hora


certa. — disse Martin. Foi quando percebi que ambos tinham canecas nas mãos.

— Você poderia ter me chamado, e eu teria levado até lá. Não teria sido
um problema. — Maddie respondeu.

— Vir aqui não foi uma dificuldade. Confie em mim. — disse Martin
enquanto caminhava até sua esposa e dava um beijo em seus lábios. Embora ele
tenha sussurrado suas próximas palavras, eu ouvi parte delas.
— Como vai? Senti sua falta esta manhã… — Eles continuaram a ter
uma conversa particular e, para qualquer um que estivesse olhando, você poderia
ver quanto amor e paixão havia entre eles. Apenas observando como ele
gentilmente massageava seus ombros enquanto falava com ela, e a maneira como
seus olhos se iluminaram quando ela olhou para ele. Quase me fez desejar poder
encontrar uma pessoa para compartilhar esse tipo de conexão. Olhei de volta para o
meu prato, me sentindo um pouco estranha por ter me intrometido em um
momento tão íntimo entre os dois, antes de enfiar uma garfada de ovos na boca.

— Aham.

Eu quase esqueci que Damien estava lá, entre assistir os Cross mais
velhos, e decidir que a comida era a coisa mais importante neste mundo agora.

— Sim? — Eu perguntei quando olhei para ele.

— Teve uma boa noite de sono?

— Sim. Obrigada por perguntar.

— Se precisar de alguma coisa, você sabe que pode ligar…

— Para Bernard. — Eu disse, terminando sua frase. — Eu sei. — Ter


uma chef de cozinha na casa de Damien, que vinha e preparava a comida era
estranho. Me acostumar a ter um mordomo que as pessoas repetidamente me
diziam que eu poderia pedir ajuda era mais estranho ainda.

Damien me deu um olhar peculiar, contornou minha cadeira e pegou o


bule de café quente. Martin se inclinou e colocou sua caneca perto da de Damien, e
Damien serviu o café para os dois. Eles não ficaram muito tempo na sala de jantar
e, assim que saíram, voltei a comer.
— Mm-hmm, — Eu disse enquanto pegava o guardanapo do colo e
limpava meus lábios. — Eu preciso agradecer a Maddie quando terminarmos. Isso
está muito bom.

— Ela sempre faz um trabalho muito bom. É por isso que peço a Martin
que pague o quanto ela quiser, porque se ela for embora, não sei o que faremos. E
ele sabe que não se casou comigo por minhas habilidades culinárias e posso
queimar uma panela só de ferver a água. Isso aconteceu literalmente na época em
que estávamos namorando.

Felizmente, eu não tinha comido nada quando ela disse isso, porque a
gargalhada que soltei foi tão alta que quase doeu. — Isso foi muito engraçado.

Ela esperou um momento antes de perguntar: — O que você vai fazer


nas festas de fim de ano?

— Vou passar o Natal com meus pais, e talvez sair com alguns amigos
para o Ano Novo.

— É o que costumamos fazer também no Natal. No início de nosso


casamento, fiz Martin me prometer que não importa o que acontecesse, ele não
trabalharia no Natal. Eu queria que passássemos juntos como uma família. Ele
cumpriu a promessa todos esses anos. Então, é isso que sempre fazemos, e está
muito enraizado na cabeça dos meus filhos que, a menos que algo aconteça, todos
voltam para casa no Natal. Mal posso esperar para que eles tragam suas próprias
famílias para cá também. Temos muito espaço nesta grande casa, e mal posso
esperar para enchê-la com mais membros da nossa família.

Eu não disse nada enquanto tomava um gole do meu café. Olhei por
cima do meu prato e encontrei Selena olhando para mim, antes de voltar a comer
sua comida. Eu estava vendo demais, ou ela estava se referindo a mim? Eu tinha a
sensação de que vir aqui poderia dar uma ideia errada aos pais de Damien, então
me perguntei por que ele tinha feito isso.

— Você deveria fazer Damien trazê-la para nossa festa de Ano Novo.
Sei que é em cima da hora, mas garanto que vai ser muito divertida. E mais, talvez
isso torne as coisas mais suportáveis para ele. Ele, Broderick e Gage vêm tentando
se livrar da festa há anos, porque é apenas uma reunião de um bando de executivos
de terno, como Gage me disse carinhosamente um ano.

Eu ri. — Talvez eu consiga. — Eu não conseguia que Damien fizesse


nada, mas eu a deixaria viver sob a ilusão de que poderia.

***

— Estou tão feliz que você está passando algum tempo conosco.

— Obrigada por me receber. — Eu disse enquanto me sentava em sua


grande sala, com a lareira adicionando ainda mais calor ao ambiente. Selena e eu
passamos muito tempo juntas nos últimos dias, quando eu não estava trabalhando e
por causa das agendas lotadas de Damien e Martin. Assistimos filmes e programas
na televisão, e fizemos alguns exercícios juntas na academia de casa. Nós até
conseguimos que Maddie nos ensinasse algumas coisas na cozinha, o que Selena e
eu apreciamos. Era bom socializar com alguém. Apenas falar com Ellie e meus
pais no telefone ou por mensagem de texto, e com meus colegas de trabalho por e-
mail era péssimo.

Selena cruzou as pernas e disse: — Às vezes fico um pouco solitária


porque Martin trabalha muito. Tenho meus projetos que faço para instituições de
caridade aqui e ali, mas como é inverno e o tempo fica ruim com mais frequência,
fica difícil me locomover. Às vezes, alguns de nossos funcionários ficam ofendidos
de brincadeira quando tento ajudar. Mas, é porque eu quero me manter ocupada e
quero aquela interação social, sabe?

Eu não podia acreditar que Selena estava me contando isso, visto que
não nos conhecíamos há muito tempo.

— Também notei algumas mudanças em Damien desde que você chegou


aqui, e é maravilhoso de ver. Há uma luz em seus olhos que não vejo há muito
tempo.

Eu me perguntei para onde essa conversa poderia ir enquanto pensava no


que dizer a seguir. Esta poderia ser a oportunidade perfeita para conectar as peças
do quebra-cabeça que estava em minha mente.

— O que aconteceu, se você não se importa que eu pergunte?

— Hum?

— O que o fez perder o brilho dos olhos?

Selena se levantou, ajustando o lindo cardigã rosa que ela vestia, e


caminhou até uma das muitas janelas que se alinhavam nas paredes da sala. Ela
olhou para fora por um momento antes de se virar para me olhar por cima do
ombro. — Alguns de nós temos demônios hediondos que continuam a nos
assombrar em tudo o que fazemos. Alguns de nós podem seguir em frente e
continuar vivendo a vida como sempre, mas outros lutam para respirar por causa
da turbulência que enfrentam. Eu não posso dizer o que aconteceu com Damien.
Isso tem que partir dele.

Eu entendia isso. Como eu poderia esperar que uma mãe falasse de seu
filho pelas costas?
— Aja com cuidado, minha querida. Amo muito meu marido e meus
filhos, mas também sei que eles viram algumas coisas que ninguém deveria ver.
Isso os transformou nos homens que são hoje.

— O almoço está pronto, Selena.

Selena olhou para a porta e sorriu.

— Muito obrigada, Maddie. — Ela olhou para mim. — Você não quer
saber quantos anos ela levou para não me chamar de ‘Sra. Cross’? Essa era minha
sogra, que sua alma descanse em paz. — Selena caminhou até Maddie e se virou
para mim.

Me levantei e caminhei até às outras duas mulheres, e juntas fomos para


a sala de jantar para comer, porém, as perguntas em minha mente permaneceram.
23

DAMIEN

Deixei a água escorrer pelo meu rosto, não me importando se ela pintou
um padrão abstrato na minha camiseta branca. Eu tinha acabado de voltar da
academia que meus pais instalaram depois que viram a minha, e estava prestes a
tomar banho depois de um treino exaustivo. Uma notificação de mensagem de
texto em meu telefone de Kate, minha publicitária, ainda estava passando pela
minha cabeça.

Kate: A imprensa está fazendo perguntas sobre Charlotte.

Ao abrir a torneira do chuveiro, minha mente se desviou para


pensamentos sobre como foi crescer aqui. Estar nesta casa me trouxe de volta
tantas lembranças sobre minha família, minha infância e o que costumava ser
minha vida. As vezes que eu perseguia Gage e Broderick depois que eles entravam
no meu quarto quando não eram permitidos quando éramos crianças. Ou as
refeições que todos partilhávamos quando papai estava em casa. Esses momentos
foram, em sua maioria, ótimos, mas também houveram os momentos ruins que
marcaram o que me transformou no homem que sou hoje.

O fogo assombrava meus pesadelos.


Não havia nada que eu pudesse fazer para parar o sentimento que me
invadiu. Pensei no fato de que fui eu quem sobreviveu. Ela não. Fui forçado a
deixar Charlotte para trás. Porque quem sabia que tipo de merda teria sido escrita
se meu nome estivesse diretamente ligado ao incidente. Pelo menos foi o que meu
pai me disse. Quando ele praticamente me jogou no banco de trás de seu carro, e
nós aceleramos pela estrada vazia. Eu me lembrava de ouvir as sirenes tocando ao
fundo. Mas eles não estavam vindo atrás de nós. Eles estavam vindo para encontrar
Charlotte, a mulher que eu tentei tirar da casa, mas era tarde demais.

Me lembrei de papai parando no acostamento de uma estrada escura a


quilômetros e quilômetros de distância do incêndio. Lágrimas brotaram em meus
olhos enquanto meu corpo expulsava os restos do que restava em meu estômago.
Ele veio até mim e me deu uma pancada nas costas.

Assim que parei de vomitar, meu pai se afastou e, quando olhei para
cima, o vi encostado no capô do carro. Eu me aproximei e o encontrei fumando um
de seus charutos de marca registrada.

— Por que você não me deixou voltar e pegar Charlotte? — Eu tinha


perguntado.

Ele lançou um olhar na minha direção antes de balançar a cabeça. —


Porque vocês dois teriam morrido. Você tem sorte de estar lá embaixo e eu ter
conseguido tirá-lo a tempo.

— Não me sinto com sorte. Acho que nunca mais conseguirei acender o
fogo…

— Eu sei, filho. Provavelmente ficará gravado em sua mente para


sempre.
Eu estava chateado. Eu queria lamentar a vida que acabou de ser perdida,
mas nada saiu. Sem emoção. Sem lágrimas. Nada de querer quebrar alguma coisa.
Eu me senti quase… Entorpecido.

— Posso fazer uma pergunta?

— É melhor se você não fizer.

Eu sabia, devido a algumas coisas que tinha ouvido no passado, que era
melhor não fazer perguntas, mas isso era algo que iria me incomodar pelo resto da
minha vida.

— Eu preciso saber a resposta para isso.

Ele deu outra baforada no charuto e disse: — Continue.

— Você teve alguma coisa a ver com aquele incêndio?

Pude ver quando papai olhou para mim e nem mesmo a escuridão
conseguiu esconder o brilho que irradiava de seus olhos. Eu estava esperando que
ele gritasse, o que era raro, mas não gritou.

— Não tive nada a ver com isso. No entanto, fui avisado de que algo iria
acontecer e claramente cheguei bem a tempo. — Ele apagou o charuto e começou a
caminhar em direção à porta do lado do motorista. — Precisamos levar você para
casa.

E essa foi a última vez que falamos sobre o que aconteceu com Charlotte
DePalma.
24

ANAIS

Adorei o fato de que a propriedade Cross também tinha uma academia


em sua propriedade. Isso me deu a oportunidade de continuar meus treinos e não
ter que me aventurar ao ar livre, o que poderia causar uma grande distração com a
segurança que precisava estar envolvida. Além disso, estava frio lá fora e se eu
pudesse ficar em casa, era isso que eu faria.

Cerca de vinte minutos depois do meu treino, recebi uma notificação de


que Ellie havia me enviado uma mensagem. Esperei até que o treino terminasse,
que seria em dez minutos. Durante os últimos dois minutos da minha rotina de
exercícios, recebi uma enxurrada de mensagens de texto, me fazendo pensar se
havia acontecido algo grave. Durante meu relaxamento de cinco minutos, peguei o
telefone e examinei as mensagens.

Ellie: Oi?!

Ellie: Onde está?

Ellie: Como está?

Ellie: Está tudo bem?

Ellie : Me ligue assim que puder!


Droga, eu tinha esquecido de lhe dizer que estava na casa dos pais de
Damien. Liguei para ela e o telefone tocou uma vez antes de atender. Ela não disse
alô quando atendeu o telefone.

— Damien está aí?

Sua pergunta me fez olhar ao redor da sala para verificar o que eu já


sabia. Estava sozinha. — Não, ele não está aqui. O que há de errado?

— Onde você está?

Percebi que ela ainda não havia respondido à minha pergunta,


aumentando ainda mais os alarmes em minha mente. O que significava tudo isso?

— Na casa dos pais dele, no norte do estado.

— Por que está aí? — O pânico estava claro em sua voz, me deixando
ainda mais preocupada.

Pensei em contar a Ellie o que aconteceu, mas estava com medo da


possibilidade de envolvê-la em algo que a deixasse preocupada. — Um pequeno
incidente aconteceu na casa de Damien e ele decidiu passar alguns dias com seus
pais. Está tudo bem. — Será que foi mesmo? Estava tudo bem?

As palavras que eu disse em voz alta me fizeram lembrar o quanto desse


show Damien estava comandando. Não tive a oportunidade de escolher se iríamos
ou não à casa dos pais dele. Não tive a oportunidade de falar sobre o que estava
acontecendo, mas fui colocada em perigo e tive que me esconder em um quarto do
pânico. Então, enquanto as coisas estavam sendo investigadas, mudei minha rotina
mais uma vez, para ficar trancada a sete chaves no interior do estado de Nova
York. Droga, até mesmo a decisão de entrar neste acordo parecia predeterminada,
porque se eu não o fizesse, centenas teriam sofrido. — O que está acontecendo?

Parecia que eu tinha feito essa pergunta pela bilionésima vez, mas ainda
não estava nem perto de descobrir a resposta. Quase todas as pessoas da minha
vida, pareciam estar vários passos à minha frente, enquanto eu ficava tentando
alcançá-los. Eu já havia superado isso.

— Há mais sobre Damien do que você sabe.

— Ellie, se você não começar a me contar o que está acontecendo, eu


vou…

— Não tenho certeza do que posso dizer, pois muita coisa pode ser
boato. Mas você precisa descobrir quem é Charlotte DePalma, o que aconteceu
com ela, e qual é o envolvimento de Damien em tudo isso.

— Quem é Charlotte? O que ela tem a ver com Damien? Aconteceu


alguma coisa recentemente?

— Não. Foi algo que aconteceu anos atrás, mas não sei exatamente o
quê. A imprensa fez algumas insinuações, mas ninguém quer ser o primeiro a
contar. Provavelmente medo de retaliação.

— Certo, mas o que isso tem a ver comigo?

Ellie esperou um pouco antes de responder. — Estão circulando na


imprensa histórias de que Damien estava ligado a Charlotte, e que ela morreu
inesperadamente. Vou te enviar alguns links dessas notícias. Existe alguma
maneira de obtermos o restante do dinheiro que vocês devem a Damien e devolver
a ele? Não sei se ele tem envolvimento nesse caso, ou não, mas não me sinto
confortável com você aí com ele, e não perto de casa.
Eu também não, depois que todas essas informações vieram à tona. Eu
não consegui me impedir de analisar demais a situação, pois tudo se encaixava
quase perfeitamente. Será que Charlotte era a verdadeira razão pela qual ele queria
se esconder na casa dos pais por alguns dias? Para dar tempo para que isso
passasse, e para combinar com sua família quais seriam suas reações? E por que
Damien não havia me contado nada sobre isso? A constatação de que eu estava em
uma situação complicada, me abalou profundamente. Eu não sabia o que estava
enfrentando e isso me aterrorizava.

***

Outra noite, outro momento de agitação e reviravoltas enquanto eu


tentava relaxar e dormir. Mas desta vez foi diferente. Eu estava preocupada se
sobreviveria até ao final deste negócio ou não.

Agora era o medo. Medo de não saber do que Damien era capaz. Medo
de perder aquilo pelo qual trabalhei tanto. Medo de não entender Damien antes de
ficar viciada nele. Eu disse a mim mesma que não me deixaria ser uma vítima de
qualquer jogo que Damien estivesse jogando. O perigo que parecia crescer como
resultado de estar conectada a Damien era bastante condenável também. Embora as
coisas estivessem um pouco mais tranquilas com o passar do tempo, ainda havia o
fato de que eu sabia que ele estava escondendo coisas de mim. Isso não tinha nada
a ver com estar em um relacionamento. Era por isso que eu precisava desligar
todos os pensamentos racionais e simplesmente passar pelos próximos dias, porque
nosso prazo de trinta dias estava quase acabando.

Mas havia mais do que isso.


Eu sabia que assim que chegasse ao trigésimo dia, eu não seria mais a
mesma. Isso era algo com o qual eu lutaria no Ano Novo.

Um gemido alto que se transformou em um grito me fez sentar na cama


e congelar. Olhei para a porta do corredor. Um baque se seguiu e me fez pular de
susto, e meu primeiro pensamento foi que alguém estava tentando invadir esta casa
também. Me levantei, e caminhei até à porta, sabendo que era de lá que vinha o
barulho. Abri lentamente a porta e espiei o corredor.

Nada.

Algumas lâmpadas iluminavam um pouco o ambiente escuro. Esperei


para ver se conseguia ouvir mais alguma coisa. Demorou apenas alguns segundos,
e eu ouvi outro gemido que parecia ter vindo do quarto de Damien. Andei alguns
metros e parei na frente da porta antes de bater suavemente. Embora não tenha
obtido resposta, girei a maçaneta e encontrei a porta destrancada. Dizendo a mim
mesma que ele precisava de ajuda, entrei e encontrei uma sala escura e uma visão
que nunca pensei que veria.

Damien estava sentado na beira da cama com a cabeça entre as mãos,


uma única lâmpada iluminando ele e parte do quarto. Eu também vi o que poderia
ter causado aquele barulho alto - um livro enorme, a apenas alguns centímetros da
mesinha onde a lâmpada estava acesa.

— Damien. — Eu disse, minha voz um pouco acima de um sussurro. —


Você está bem?

— Eu pensei que tinha dito que não deveria entrar no meu quarto de jeito
nenhum? As regras da cidade ainda se aplicam aqui.

— Mas eu pensei que você poderia…

— Apenas saia.
Em vez de fazer o que ele pediu, adentrei ao quarto e parei em frente a
ele, colocando minha mão em seu ombro. — Existe algo que eu possa fazer para
ajudar? — Eu esperava que ele se zangasse comigo porque eu havia mais uma vez
desobedecido às suas ordens, mas o que vi foi algo mais doloroso. Ele tirou as
mãos do rosto. Embora não estivesse chorando, havia muita dor em seus olhos.
Havia algo de especial nesse momento e eu me perguntava se ele compartilhava
esse lado dele com mais alguém.

Algo havia substituído a mágoa e a raiva que eu sentia por ele, algo mais
intenso que eu não conseguia identificar.

— Anais, volte para a cama. — Seu tom não deixou espaço para
questionamentos, mas ainda soava mais fraco do que seus comandos diretos e
habituais.

— Tudo bem, mas fique à vontade para vir até mim caso precise de
alguma coisa. — Eu poderia dizer que nós dois ficamos chocados com as palavras
que saíram da minha boca, porque no início desse arranjo, eu não teria dito isso.
Não havia como voltar atrás, se quisesse, mas, eu não queria, o que me deixou
ainda mais perplexa.

Tropecei de volta para a porta e a fechei atrás de mim. Atravessei o


corredor de volta para o meu quarto. Eu sabia que as chances de eu voltar a dormir
eram mínimas, mas uma das perguntas que passavam pela minha mente tinha sido
respondida. Se ele estava tendo problemas para dormir, fazia sentido ele não querer
dormir no mesmo quarto que eu. Eu me perguntei se os segredos dos demônios
com quem ele lutava à noite estavam no quarto onde ele dormia.

Eu estava cochilando quando ouvi um som de um rangido vindo do outro


lado do quarto. — Quem está aí?
— Sou eu. — Meu corpo reconheceu sua voz imediatamente. Escutei
atentamente enquanto seus pés se arrastavam pelo chão conforme ele se dirigia
para a minha cama.

— O que está fazendo aqui? — Eu sussurrei uma vez que ele estava de
pé na minha frente.

— Indo para a cama.

Eu estava grata pela escuridão que nos cercava porque ele teria visto meu
queixo cair no chão. Ele subiu na cama e fez como sempre fazia quando estava em
um espaço: assumiu. Mas não tive nenhum problema com isso, porque ele me
envolveu em seus braços. Adormecemos juntos, e eu esperava que o que quer que
o tivesse acordado permanecesse nas profundezas das sombras para que ele
pudesse descansar um pouco.
25

DAMIEN

Na manhã seguinte, acordei e fiquei surpreso ao não me encontrar em


meu quarto. Meus olhos demoraram um pouco para se ajustar, e a primeira coisa
que atingiu minhas narinas foi um cheiro sutil de coco.

Anais.

Seu cabelo cheirava ao shampoo que ela usava enquanto estava aqui. As
visões do que havia acontecido na noite passada, e o fato de ela ter me encontrado
em um estado vulnerável não me agradaram muito. Ela pegou o final do que às
vezes acontece quando a memória de Charlotte me assombra durante o sono. Isso
nunca deveria ter acontecido, e sempre tive o cuidado de não deixar ninguém saber
o que acontecia quando fechava os olhos para dormir.

Depois que ela me visitou, me senti compelido a ir até ela. Quando entrei
em seu quarto, não consegui me impedir de rastejar até à cama. Quando estava ao
lado dela, não demorou muito para que eu desmaiasse entre os lençóis macios de
cor creme. Embora eu tenha acordado no meio da noite, foi a melhor noite de
descanso que tive em muito tempo. Rejuvenescido de uma forma que eu não
esperava.
Anais estava deitada de lado, de costas para mim. Mudei meu braço que
estava em volta de sua cintura, e arrastei meu dedo pela pele lisa que havia ficado
exposta durante a noite. Ela se mexeu, e eu não senti um pingo de culpa por isso.

Na luz da manhã, observei quando ela se virou para mim, um sorriso


brincando em seus lábios que me fez parar e olhar. Ela murmurou algo que não
entendi, se movendo, enquanto lutava entre ficar acordada e continuar dormindo.
Meu pau endureceu contra a calça do pijama que eu estava vestindo.

— Quero você. Agora mesmo. — Minha voz saiu mais áspera do que o
normal, algo que mal reconheci.

— Não estou dizendo não.

— Mas está dizendo sim?

— Sim.

Essa única palavra colocou tudo em movimento. Virei sua cabeça e


reivindiquei seus lábios. Ela virou seu corpo de modo que agora estava deitada de
costas, tornando mais fácil para mim aprofundar o beijo. Minhas mãos deslizaram
por suas laterais, até ao cós do short curto que usava para dormir. Ela prendeu a
respiração enquanto minha mão se dirigia ao seu monte. Eu sorri com o que
encontrei.

— Ou você estava tendo um sonho erótico ou aquele beijo foi tão quente
para você quanto foi para mim.

— Eu me declaro inocente.

Engoli uma réplica quando senti como ela estava molhada. Ela me
ajudou a tirar o pijama e a cueca, e eu comecei a brincar com seu clitóris antes de
enfiar um dedo em sua boceta.
— Você sabe o que eu mal posso esperar? Para pegar essa bunda.

Eu disse isso para obter uma reação dela e consegui. Ela jogou a cabeça
para trás e gemeu, e meu pau ficou duro como uma rocha contra seu quadril. Não
sabia se isso era por causa da névoa induzida pelo sexo que estavamos tendo
naquele momento, mas com certeza poderíamos tratar disso mais tarde.

— Volte para o seu lado, de costas para mim novamente.

Enquanto ela se posicionava, me ergui e peguei a camisinha no criado-


mudo, agradecendo a mim mesmo por ter pensado nisso. Não demorou para que eu
colocasse a camisinha na minha ereção, antes de correr meu pau para cima e para
baixo em sua fenda.

— Eu gosto quando você faz isso.

— Eu sei. — respondi enquanto a penetrava. Fechei os olhos por um


momento, apreciando a sensação de suas paredes apertadas ao redor do meu pau.
Um dia, gostaria de saber como seria não ter barreiras entre nós.

Penetrá-la nessa posição foi uma experiência nova para nós dois,
enquanto minhas mãos se alternavam entre acariciar seus seios e seu clitóris.

— Sim. — Ela sussurou, expressando as mesmas sensações que eu


estava sentindo. Toda vez que meu pau entrava nela, eu me perguntava quando
seria o fim. Quando isso ficaria velho. Quando eu iria querer parar com isso. Esses
pensamentos desapareciam quanto mais nos aproximávamos de nosso clímax. Não
demorou muito para que ambos atingíssemos o orgasmo, ela antes de mim.
Paramos um pouco para recuperar o fôlego e então eu saí de dentro dela, quase
imediatamente me arrependendo do movimento.

— Essa foi uma maneira de acordar. — Disse Anais quando se virou


para mim.
Meus olhos estavam fechados quando parei para aproveitar a euforia que
senti depois que as sensações de prazer diminuíram. — Foi. — Eu disse, mas ela
não respondeu. Em vez disso, senti que ela se aconchegou mais em meu peito e
começou a brincar com alguns dos pelos da minha trilha de felicidade. Algo estava
passando em minha cabeça, pouco antes de acordá-la e lhe dar prazer. Eu debati se
queria ou não dizer alguma coisa. O silêncio ao nosso redor era tão pacífico. Eu
não queria fazer nada para prejudicá-lo.

— Damien? — Ela perguntou.

Abri os olhos e olhei para ela. — Sim?

Ela estava deslumbrante sob a luz pálida que o sol lançava sobre o
quarto, com o cabelo esparramado no travesseiro atrás do meu braço, uma visão
com a qual eu poderia me acostumar a ver regularmente. Eu esperava arrepiar-me
ao pensar nisso, por causa dos eventos que aconteceram com Charlotte. Eu gostava
de permanecer solteiro e namorar quando queria. E não sabia se trinta dias seriam
suficientes. Ela seria minha, ponto final.

— Você quer falar sobre o que aconteceu ontem à noite?

E, com isso, água gelada correu por minhas veias enquanto eu deslocava
meu corpo para sair debaixo dela. — Não. Não quero discutir isso.

— Mas eu pensei…

— Você pensou errado. — Eu disse enquanto me levantava e saía da


cama. Vesti a calça do pijama que estava usando quando cheguei, e fui em direção
à porta. Ninguém precisava saber a dor que aquela noite havia causado, e eu não
estava pronto para falar sobre isso.

Não olhei para trás, mesmo quando a ouvi fungar, fechando a barreira
entre nós com um clique suave.
26

ANAIS

— Sou uma idiota. — Murmurei enquanto andava pelo quarto. Depois


que Damien saiu, fizemos o possível para evitar um ao outro nos últimos dias, o
que não foi difícil, pois ambos afirmamos que nossas tarefas profissionais eram
mais prioritárias do que qualquer outra coisa.

Faltavam dois dias para o Natal. Eu me senti como um rato em uma


prisão de vidro que precisava sair. Eu sabia que, ao entrar nisso, havia uma chance
de me tornar viciada nele. Seu toque. A maneira como ele me fazia sentir. Ele me
permitindo entrar em partes de seu mundo. Eu pensei que tinha feito o possível
para evitá-lo. Quando Damien não me queria, eu evitava ficar perto dele, mas
mesmo isso não me protegia, ou evitava que eu pensasse nele.

Eu tinha feito o que disse que não faria. Fiquei viciada em Damien Cross
e era apenas uma questão de tempo até que ele percebesse, e me chutasse para o
meio-fio. O pensamento dele fazendo isso fez meu estômago revirar. Eu sabia
quem ele era antes de ficar viciada e mesmo assim caí. Não, eu precisava sair do
que quer que isso fosse primeiro. Ele nem confiava em mim o suficiente para me
dizer o que o fazia gritar à noite. Eu poderia tentar sobreviver à última semana,
mas sabia que estaria mentindo para mim mesma e me levando ao ponto da histeria
se ficasse. Eu também não estava nem perto de descobrir quem era Charlotte
DePalma ou sua ligação com Damien. Tudo isso me preocupava e era por isso que
eu precisava ir embora agora.

Havia outra maneira de descobrir mais informações sobre Charlotte.


Olhei para o meu laptop, sobre a cama. Ellie tinha feito algumas pesquisas quando
me alertou, mas não encontrou muita coisa na época. Nos últimos dias, não
consegui encontrar nada, mas não custava procurar as coisas mais uma vez, não é?

Abri o laptop, digitei minha senha e esperei o navegador carregar.


Depois disso, digitei o nome de Charlotte e a cidade de Nova York para ver se
aparecia alguma coisa. Tive sorte, porque apareceu um artigo publicado há quatro
horas. Minha mão tremia enquanto meu cursor pairava sobre o link. Respirei fundo
e cliquei. Meus olhos vasculharam o artigo, absorvendo cada palavra sobre um
evento ocorrido anos atrás. Um incendiário colocou fogo em uma cabana, matando
uma pessoa: Charlotte DePalma. O assassinato foi trágico, mas uma das fotos
incluídas no artigo era uma imagem de Damien mais jovem. Foi fácil identificá-lo,
além de ele se parecer muito com o homem que era hoje, havia as fotos que Selena
pendurava em sua casa. Ele foi listado como o namorado de Charlotte e a última
pessoa com quem ela foi vista, embora ele nunca tenha sido acusado de um crime.
Minhas emoções foram da tristeza ao medo, e à raiva mais rapidamente do que eu
poderia lidar. Isso precisava acabar.

Imaginei que Damien estava em seu quarto ou no escritório de seu pai e,


como esperava encontrá-lo sozinho, atravessei o corredor até ao quarto dele
primeiro.

Uma batida rápida na porta confirmou que ele não estava lá, então desci
as escadas para o escritório, esperando que Damien e seu pai não estivessem lá
dentro.
— Entre. — Era a voz de Damien.

Respirei fundo para me fortalecer, porque não esperava que ele estivesse
lá e estava prestes a enfrentar o próprio diabo.

Abri a porta e ele olhou para mim de seu lugar, em uma das janelas atrás
da enorme mesa de madeira. Estava sozinho. — Isso é urgente? Tenho uma ligação
em cinco minutos com alguns investidores importantes que estão no exterior.

— Quem é Charlotte DePalma? — Eu queria dar-lhe uma oportunidade


de se explicar, embora eu soubesse muito mais do que ele pensava. Andei mais
para dentro da sala e parei vários passos à frente dele.

— Por quê você se importa?

— O que aconteceu com ela? — Eu acreditava que esta era a primeira


vez desde que Damien e eu nos conhecemos que eu o choquei. Seus olhos se
arregalaram brevemente, mas uma expressão de indiferença se instalou no lugar.

— Você precisa cuidar da sua vida. — Damien disse, ainda tão calmo
como sempre. Isso só me enfureceu ainda mais.

— Eu vou te dizer quem é Charlotte DePalma. Charlotte DePalma é sua


ex-namorada que morreu em um terrível incêndio quando você tinha dezoito anos.

Seu silêncio era palpável.

— Uau. — O silêncio de Damien falou muito. Quando ele ainda não


havia dito nada, continuei: — Por que você não me contou nada disso?

— Não era da sua conta.

Lágrimas brotaram em meus olhos e finalmente ficou claro para mim


onde eu estava em tudo isso, e o quanto eu realmente havia caído.

— Esse tempo todo você estava escondendo isso de mim.


— Anais, isso não foi algo…

— Pare com essa besteira!

Seus olhos azuis escureceram, e eu podia sentir seu olhar tentando me


congelar no lugar. — Cuidado com as palavras. A menos que você queira que eu a
castigue com…

— Você pode se foder. — Qualquer ameaça que ele tivesse por trás de
suas palavras não significava nada para mim neste momento, pois eu estava
liberando a raiva e a frustração que estavam reprimidas dentro de mim, há algum
tempo. — Você mandou matá-la?

O semblante de Damien ficou rígido. — Eu não tenho que me explicar


para você.

— O quê? Ela não queria jogar nenhum dos seus joguinhos, era isso? Foi
por isso que você a matou?

— Você não tem ideia do que está falando.

— Eu sei que não estava lá quinze anos atrás, mas o que eu sei é que
você ainda não me contou a verdade, e me prendeu em um acordo que eu não tive
nenhuma escolha.

— Besteira. Você sempre teve uma escolha. Você poderia ter ido embora
a qualquer momento e eu teria deixado. — Damien deu dois passos em minha
direção.

Eu zombei. — Não, o objetivo era me usar até você se cansar de mim. Se


eu fosse embora, a empresa da minha família teria ido por água abaixo, e você não
daria a mínima para isso. Isso porque você não se preocupa com ninguém além de
Damien Cross.
Minhas palavras tiveram o efeito pretendido em Damien, porque ele
parou de andar em minha direção. — Bem, a oportunidade de sair ainda está
aberta.

— Isso significa que você ainda vai saldar a dívida do meu pai? Essa é a
única razão pela qual estou aqui. — O gosto da liberdade era quase insuportável.

— Dado o número de dias que você está aqui e vendo que falta apenas
uma semana, se seu pai pagar o resto do dinheiro que seus serviços não
forneceram, a dívida estará quitada.

Eu sabia que ele estava usando essa frase para me irritar. Doeu, mas não
me importei. Rezei para que meu pai tivesse aquele dinheiro e não fosse mais
problema meu.

— Todo esse acordo acabou, e não me importo se os trinta dias ainda


não terminaram. Como alguém que disse que sempre manteria sua palavra, confio
que você anulará a dívida de meu pai, uma vez que ele liquide o restante que eu
não pude pagar, conforme estabelecido no contrato.

Damien deu um passo para trás e olhou através da janela de sua cadeira.
— Arrume suas coisas e eu vou me certificar de que Rob a deixe de volta em seu
apartamento.

— Obrigada. — Eu disse, me virei e saí. Podia sentir seus olhos abrindo


um buraco em meu corpo. E foi só quando fechei a porta do escritório que
enxuguei as lágrimas que escorriam pelo meu rosto.

Subi as escadas, e cheguei ao quarto que havia se tornado minha segunda


casa. Não demorei muito para empacotar os itens que trouxe comigo e, uma vez
pronta, carreguei minha bagagem pelas escadas. Eu me senti mal por sair às
pressas, depois que Selena e eu, tínhamos nos tornado amigas, mas, achei que não
conseguiria encará-la no momento. Bernard me cumprimentou na porta e me
desejou boa viagem de volta à cidade.

Agradeci, e ele abriu a porta no momento em que Rob estava saindo do


carro. Os dois homens me ajudaram a carregar as poucas coisas que eu tinha, e dei
um sorriso triste para Bernard. Atravessei a soleira da porta para entrar no carro
que logo me levaria de volta à vida que eu estava acostumada.

***

Embora vivas e movimentadas, as ruas da cidade de Nova York


pareciam solitárias, mesmo quando passamos por centenas de pessoas. Não
demorou muito para Rob deixar minha bagagem na porta do meu apartamento e
me dar um pequeno aceno. Ele desceu as escadas e entrou no carro. Levei um
minuto para encontrar minhas chaves, já que não as usava há cerca de um mês.

Assim que entrei, senti aquela solidão rastejar novamente. Ellie estava
no trabalho, então não havia ninguém para me receber na porta como havia na
residência dos Cross. Embora eu já estivesse alugando esse apartamento por três
anos, foi como entrar em um novo lar pela primeira vez. Não parecia mais comigo.
Não era o lugar que eu conhecia, embora tudo parecesse igual. Não tinha sido o
apartamento que havia mudado. Tinha sido eu.
27

ANAIS

— Obrigada por ter vindo jantar.

Eu sorri para minha mãe quando ela agarrou minha mão e apertou. Havia
uma expressão mais leve em seu rosto, uma que eu não via há muito tempo.

— Claro, é Natal. Onde mais eu estaria? — Nós duas rimos quando


papai se juntou a nós na mesa da sala de jantar.

Meu pai limpou a garganta. — Há algo que eu queria dizer a vocês duas.

Minha mão imediatamente foi para minha taça de vinho, me preparando


para o pior.

— Nossa dívida está totalmente paga.

Fiquei feliz por não ter aproveitado a oportunidade para tomar um gole,
porque sabia que engasgaria.

— O quê? — Minha mãe foi a primeira a falar.

Meu pai assentiu. — Parece que houve um milagre de Natal. Eu não


esperava a ligação, pois ainda tinha algumas semanas para pagar, mas tudo foi
quitado. Não precisei pagar um centavo.

Uau, Damien não tinha nem cobrado de meu pai o que ele e eu tínhamos
combinado que seria pago antes de eu sair da casa de seus pais. Fiquei atônita, mas
extasiada com a notícia, mas me perguntei qual seria a próxima jogada, porque
parecia que Damien nunca desistia de nada sem lutar.

— Para melhorar as coisas, isso coloca oficialmente a Monroe Media


Agency de volta no azul, e os clientes estão voltando em massa. Acho… não, eu
sei… que as coisas ficarão melhores. — Ele abraçou minha mãe primeiro e depois
estendeu a mão para me abraçar.

— Essa é uma notícia maravilhosa, pai. Estou tão feliz. Parece que as
bebidas estão por sua conta esta noite.

Meus pais riram e aproveitamos o resto da nossa noite de Natal.

***

O feriado de Natal veio e foi embora, e os dias seguintes voaram como


um borrão. Não demorou muito para eu voltar a uma rotina semelhante à que eu
tinha antes de Damien entrar na minha vida. Eu ia para o trabalho, voltava para
casa e a mesma coisa acontecia no dia seguinte. Ellie e eu saímos algumas vezes,
mas a rotina atrapalhou mais uma vez e não era tão frequente quanto desejávamos.
Damien não me dirigiu uma palavra sequer desde que fui embora, e nunca se
espalhou a notícia sobre nosso acordo ou rumores falsos de relacionamento. A
conversa sobre Charlotte também diminuiu na mesma época, e eu me perguntava
se ele tinha algo a ver com isso. Para completar, eu não havia descoberto mais nada
sobre o homem que estava me espionando, nem sobre o arrombamento na casa da
cidade. Pelo menos, parecia que ele não estava mais me observando e eu estava
grata por isso.
A véspera e o dia de Ano Novo vieram e passaram, e pensei na família
Cross com mais frequência do que gostaria de admitir. Embora não fosse meu
estilo, eu gostaria de ter estado lá para apoiar Selena, especialmente considerando
o quanto ela foi legal em me deixar ficar em sua casa.

No que dizia respeito ao trabalho, as coisas estavam indo bem. A


Monroe Media Agency ainda estava conquistando novos clientes, e pude ver o
estresse deixando o rosto de meu pai com o passar dos dias. Eu não poderia ficar
mais feliz. Eu também estava ocupada com os novos clientes.

Alguns dias depois do Ano Novo, eu estava lendo um e-mail de um


colega de trabalho, quando meu pai entrou no escritório depois de bater na porta.

— Olá, como está?

— Sua mãe não pode ir a um evento esta noite. Você poderia ir comigo?

Olhei para o vestido preto evasê de vários anos, mas ainda em boa
forma, que eu estava usando, e olhei de volta para meu pai.

— O que você está vestindo está bom porque não é um evento formal.
Além disso, já faz um tempo desde que você e eu tivemos algum tempo de pai e
filha juntos.

Apoiei a cabeça em meu braço enquanto me apoiava na mesa. — Pai, se


você quiser sair, podemos sair.

— Eu sei, e acho que deveríamos fazer mais isso. As coisas estão


melhorando e nós dois teremos mais tempo livre para ficarmos juntos, incluindo
sua mãe. Ela e eu temos um encontro marcado para sexta à noite.

Eu sorri. Fiquei feliz por eles ainda estarem saindo e mantendo o


romance vivo. — E ela te deu aquele Rolex caro que você tem no braço?
Papai realmente corou e acenou com a cabeça, mas não ofereceu uma
explicação.

— Ok, não tenho nada para fazer esta noite, então posso ir com você.

— Perfeito. Vejo você às cinco e poderemos ir juntos.

— Parece ótimo. Vejo você então. — Trocamos um pequeno sorriso e


ele saiu do meu escritório, fechando a porta atrás de si.

***

— Isso não foi tão ruim, foi?

Ele estava certo. O evento tinha sido bom, e passamos a maior parte do
tempo conversando sobre a Monroe Media Agency com alguns de seus amigos e
clientes em potencial. Além disso, pude passar um tempo com meu pai e tomar
uma taça de vinho. O que mais eu poderia pedir?

Olhei para meu pai e disse: — Não, tudo bem. Você sabe que não sou
uma grande fã de socialização.

— Mas você é maravilhosa nisso. E definitivamente melhorou muito nos


últimos meses.

— Obrigada, pai.

Fomos pegar nossos casacos que haviam sido guardados e eu sorri


quando papai me ajudou a vestir o meu. Fomos até à saída do prédio onde uma
arrecadação de fundos estava sendo realizada e olhamos ao redor. — Você quer ir
para casa comigo e ver sua mãe? Então posso deixá-la em sua casa, ou você pode
ficar em seu antigo quarto.
— Claro. Podemos dividir um táxi.

— Ok, vou ver se há um por perto. Você fica perto do prédio para se
manter aquecida. — Sua sugestão fazia sentido. Ainda estava frio na cidade e ficar
perto do prédio provavelmente seria mais quente. Além disso, esta rua não era bem
iluminada e gostava de estar mais perto de uma fonte de luz, em vez de tentar
encontrar um táxi no escuro.

Apenas alguns segundos depois, tiros soaram e eu caí no chão tão rápido
que perdi todo o fôlego que havia em meus pulmões. O caos me cercou enquanto
as pessoas corriam em direções diferentes, tentando fugir de quem estava
disparando a arma.

Embora meus ouvidos ainda zumbissem, meu primeiro pensamento foi


descobrir onde meu pai estava. — Pai?

Não obtive resposta.

— Pai! — Meu grito foi mais um guincho quando entrei em pânico e


tentei me levantar do chão.

Levei um momento, mas vi um corpo imóvel caído a uma pequena


distância e dei alguns passos em direção a ele, empurrando as pessoas que corriam
em minha direção para fora do caminho. Foi então que meus olhos pousaram no
relógio, aquele pelo qual eu havia elogiado meu pai poucas horas antes.

— Não, pai! — Eu gritei enquanto tentava correr em direção a ele. Eu


podia ver algo escuro vazando debaixo dele e o desejo de chegar até ele aumentou
dez vezes. Minha mobilidade para a frente parou quando alguém me agarrou por
trás e cobriu minha boca. Meus gritos abafados não atraíram nenhuma atenção
enquanto as pessoas se abaixavam para se proteger.
— Saia de perto de mim! Deixe-me ir! — Minha voz saiu como uma
bagunça murmurada, e a pessoa continuou a me puxar na direção oposta de onde
eu queria ir. Foi então que fui jogada na traseira de um SUV que saiu em
disparada. Quando tentei me sentar e abrir a porta, as travas de segurança para
crianças foram acionadas e percebi, que algo foi jogado sobre minha cabeça e
minhas mãos foram amarradas atrás das costas. Meus gritos não impediram meus
sequestradores, e o SUV acelerou em direção ao seu destino, desconhecido para
mim.

Continua...
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