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1ª.

Edição
Copyright © Mari Sales
Edição Digital: Criativa TI

Organização: Encantadas por Livros e Música

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,

personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação


da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a


reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios —
tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.

Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime

estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sinopse

Quando seu irmão faleceu e deixou a famosa Livraria Progresso para


que continuasse a gestão, Enzo precisou de um tempo para processar o que

estava fazendo de sua vida. Sem família ou herdeiros, o administrador


imobiliário não queria ter o mesmo fim do seu irmão mais velho e assim que
aceitou seu destino, largou tudo para se dedicar a livraria.

Sofia amava seu trabalho em meio a livros e atender pessoas que


buscavam na leitura conhecimento ou uma distração. Na livraria, era
respeitada e sempre tinha uma ideia genial para melhorar o ambiente de
trabalho, até que o dono da empresa morreu e Gláucio assumiu o posto
enquanto o verdadeiro herdeiro não aparecia.

O diretor do terror, como ela o chamava, era um homem sem

escrúpulos e não economizava nas palavras desmotivadoras. Não tinha outra


direção que não o fim do poço para a livraria, para desespero de Sofia.

O destino tinha um jeito engraçado de fazer com que as pessoas


certas se encontrassem. Ameaçada de ser demitida, Sofia foi beber em um bar
para afugentar suas frustrações e conheceu o homem que mudaria sua vida...
ou seria ela a redenção que ele tanto buscava?
Capítulo 1
Enzo

Entrar no apartamento redecorado do meu irmão me deu uma

fisgada no peito que não esperava. Foram dois meses para que eu tomasse a
decisão de estar aqui e assumir a paixão pelos livros que Erik tinha. Sem
família e filhos, eu fui o único que sobrou para lidar com sua herança.

Algo simples virou um rebuliço na minha cabeça, porque eu seguia o


mesmo caminho que ele, numa cidade do outro lado do país. Apesar de
longe, mantínhamos contato por telefone sempre que possível. Ele estava
contente em focar apenas no seu lado profissional e eu também estava, até
que a notícia do seu acidente de carro lhe tirar a vida abalou minhas

estruturas.

Qual era a razão de juntar tanto dinheiro sem ter ninguém para
compartilhar?

Deixei o comando da Livraria Progresso com o diretor de Erik e fui


processando aos poucos como faria minha transição, se era isso que eu
deveria fazer. A sensação era que estava devendo algo para o universo.
A verdade era que estava em busca de redenção antes que minha
vida fosse ceifada e eu não estivesse orgulhoso da minha jornada. Sentir-me

sozinho nesse mundo mostrava que em algum momento, havia me perdido.

Quando vi a manchete na televisão sobre a crise das livrarias,


percebi que a ocasião perfeita havia chegado para que eu mudasse de vida
completamente.

Parecia uma busca espiritual, algo tão profundo que não sabia
explicar. O que importava era que a único a concordar com minhas ações era
eu mesmo.

Contratei uma decoradora e pedi que mudasse tudo o que estava no


apartamento bem localizado de Erik para que eu morasse. Queria alguma
lembrança dele, estar em seu apartamento e mais próximo da sua rotina era
uma forma de tentar recuperar o que perdemos.

Demorou mais um mês para que tudo ficasse pronto para a minha

chegada. Sem olhar para o que estava deixando na minha antiga cidade,
cheguei no meu novo lar.

— Está precisando de algo, senhor Enzo? — dona Ana perguntou da


porta da cozinha enquanto eu estava estático na sala, com a mala ao meu
lado, pensando no meu próximo passo.

O que eu precisava agora? De força, porque a tristeza me dominava


a cada segundo que pensava sobre viver e morrer.

— Obrigada dona Ana. Vou trocar de roupa e andar pelo bairro para

conhecer os lugares ao redor.

— Estou à disposição. Gostaria de algo específico para o jantar?

Comecei a caminhar até o quarto e percebi que nem tinha almoçado.

O tempo estava passando e eu parecia o desperdiçando ao invés de aproveitar


o momento. Foram meses procrastinando, era momento de conhecer novas
pessoas e criar laços duradouros com vizinhos e amanhã, com os
colaboradores da livraria. Eu faria tudo diferente.

— Vou jantar fora, dona Ana — dispensei-a suavemente.

Cheguei no quarto e parecia mais disposto, arriscava dizer que


entusiasmado. O verde claro em uma das paredes, a cama nitidamente
confortável e os raios solares entrando pela janela me fizeram revigorar,
como se fosse uma comissão de boas-vindas. Abri a mala em cima da cama,

peguei uma roupa mais informal que minha camisa e calça social e fui para o
banheiro.

Precisava me distrair e parar de pensar com tristeza. Mesmo que a


administração de imóveis, minha atual profissão, não fosse algo que sonhei
para fazer parte, a Livraria Progresso também não era, mas faria de tudo para
que se tornasse. Estava aberto para ter um novo ideal profissional.
Se Erik amava seu trabalho, então, eu poderia fazer o mesmo.
Tínhamos muitas coisas em comuns, gosto por assistir esportes, pela vida

noturna nos bares, paquera sem compromisso e o vício em trabalho.

Quando saí do apartamento e caminhei pelo bairro, ao invés de me


sentir mais leve, um peso desconhecido nas minhas costas me dominou.
Parecia fácil aceitar a mudança, mas era complicado quando colocado em

prática. Entrei no primeiro boteco que vi, sentei em um dos bancos e pedi um
chopp para iniciar o que pretendia ser um dia de porre. Nada melhor que a
embriaguez para dar voz ao que realmente gritava dentro de mim.

Caralho, como doía pensar que não existia mais meu irmão para
escutar sobre uma reclamação qualquer, ou mesmo compartilhar uma vitória.
Perdemos nossos pais cedo e aprendemos a viver sozinhos... bem, eu achava
que sim, até ele ir embora também e só então a solidão me tomar por
completo.

Olhei para cima e apreciei a distração do jogo de futebol na


televisão, que minutos depois virou jogo de vôlei e por fim, luta de artes
marciais mistas. Iria atrás de uma academia, lutar era algo que me ajudava a
relaxar sempre.

Não sabia quanto tempo passou e nem se meu juízo estava


comprometido quando uma mulher sentou ao meu lado, pediu uma dose de
tequila e suspirou com a mesma desolação que eu estava sentindo. Não tinha

intenção de conversar no momento, meu humor estava péssimo e o silêncio

estava sendo uma ótima companhia. Por isso não reparei nas suas roupas ou
sua fisionomia, o dia era para bebedeira desacompanhada e não de conversa.

Fechei a cara mais do que já estava e encarei a televisão como se


fosse meu único interesse. Percebi que ela me encarou algumas vezes, ainda

mais depois que tomou sua dose em um gole apenas.

— Oi — ela falou e fingi que não ouvi, muito menos que era
comigo. — Que ótimo, sendo ignorada até pelo estranho no bar —
resmungou baixo e chamou o atendente. — Traz mais uma dose, por favor.

— Não esqueça de chamar um motorista — o homem lhe entregou


outra dose de tequila e ela brindou a ele.

— O único motorista que me leva para casa é o moço do ônibus. —


Bufou e o atendente ficou na sua frente lhe dando atenção. — O dinheiro que

estava guardando para comprar o carro vai ficar para me manter quando ficar
desempregada. Não basta parecer como eu, tenho que ter um carrasco no meu
calcanhar.

— Foi mandada embora? — O barman fez uma careta.

— Não, mas pelo visto, o diretor do terror dará sua cartada final a
qualquer momento. Minha cabeça vai rolar, eu sinto.
— Espero que seja apenas uma suposição. — O homem piscou o
olho e apertou a mão da moça ao meu lado. — Força na peruca, você é linda.

— Você que é uma gracinha — falou baixo e suspirou daquela


forma que eu tanto me identificava.

Virei meu rosto e encarei olhos estrábicos da moça que estava ao


meu lado. Não havia nada de feia, ou era eu bebendo demais, porque senti

uma atração além do normal pela sua beleza inigualável.

Seus cabelos lisos cobriam parte do rosto e algo na sua expressão


facial reforçava o que seus suspiros estavam externando, ela se sentia
derrotada.

— Pode continuar na sua tevê, não vou te perturbar mais do que já


fiz. — Ela tentou sorrir, tomou a sua segunda dose e apoiou o rosto na mão
para observar nada em especial a sua frente.

Deveria ter feito o que ela sugeriu, mas a curiosidade em saber mais

sobre a garota que estava com o emprego em risco me dominou e foi mais
forte que a razão. Quando o assunto envolvia o meio profissional, eu me
interessava além do normal, por isso não me freei ao perguntar:

— Problemas no trabalho?
Capítulo 2
Sofia

— Sim. A crise finalmente me alcançou. — Continuei na minha

pose desolada, mesmo que o escrutínio do homem ao lado estava mexendo


com minhas entranhas.

— E como sabe que será demitida?

— Eu tenho uma bola de cristal — respondi atrevida, virando o rosto


para ele e tentando não me incomodar como a forma que seus olhos me
encaravam me desconcertava. Poucos fixavam seu olhar no meu, por conta
do meu olho estrábico. Estava acostumada, tanto com minha aparência
quanto aos apelidos que recebia. Já estava de acordo que venceria nessa vida

com inteligência e não beleza.

E um pouco de ironia, claro.

O homem sorriu, se transformando em outra pessoa. O fechado e


rabugento agora parecia feliz.

— Então, cigana, precisando de ajuda para prever o futuro? Quem


sabe, ler minha mão? — Estendeu a sua com a palma para cima e contribuiu
para a brincadeira. Levemente alcoolizada, ele não sabia com quem estava

lidando.

Peguei sua mão, deslizei meu dedo sobre as linhas que ali existiam e
tentei não demonstrar o quanto o contato estava me afetando. Acostumada
em ser dispensada, suavemente ou bruscamente, arregalei meus olhos, neguei
com a cabeça e o chamei com um movimento do meu dedo.

Sedutora? Não, estava apenas começando a brincadeira.

Também era considerada a amiga de todos, aquela que servia apenas


para ser a coadjuvante de algo, não parte principal do ato.

Ele largou o copo de chopp para se aproximar. Minha boca quase


colocou na sua orelha quando disse:

— A sua previsão de futuro é que terá o melhor sexo da sua vida se


der chance para a mulher do seu lado. — Ele endureceu e atrevida, continuei:
— Ela é esquisita, mas sabe chupar como ninguém.

Meu rosto estava quente quando ele afastou sua mão, seu corpo e me
encarou com surpresa. Sorri para tentar dissipar a vergonha e quando ele não
disse nada, chamei o atendente e pedi mais uma dose de tequila.

Bem, tentei a estratégia hot. Claro que não funcionaria com um


homem tão lindo como esse, mas não custava tentar, iria adicionar no meu
caderno de cantadas fracassadas.
Sim, eu tinha um parafuso a menos, era algo que minha tia, a única
parente que tinha contato na cidade, costumava dizer. Eu preferia ver que

compensava meu defeito com as iniciativas. Nunca tive medo de trabalhar


além do necessário, muito menos de falar o que eu pensava.

Nossa, minha mente estava pervertida.

— Quem é você? — o homem perguntou baixo depois que recebi

mais uma dose de tequila, bebi em apenas um gole e o encarei, dessa vez,
olhando para além dele e não seus olhos intensos.

— Alguém que já bebeu demais e adora fazer brincadeiras. Ignore o


que disse. — Abanei a mão na sua frente.

— E se eu disser que eu topo? — Minha boca abriu em choque e foi


a vez dele me pegar de surpresa. — Também bebi demais e sobre sua
previsão, acho que está certa. O que acha?

— Acha do quê? — Segurei a respiração por alguns segundos antes

de soltar. Ele inclinou o corpo em minha direção, inspirou profundamente e


deixou nossos rostos quase colados.

— Sem nomes, sem amarras, apenas sexo. Eu e você, cigana.

Engoli em seco e tive minha boca dominada pela sua. Seus lábios se
movimentaram junto com os meus, que pareciam ávidos para conhecerem
mais sobre o que estava por vir.
Foi ele quem saiu do banco e ficou entre as minhas pernas, segurou
minha nuca e aprofundou o beijo que não deveria ser protagonizado sem estar

entre quatro paredes. Caramba, seu gosto era afrodisíaco e meu corpo parecia
clamar pelo dele, por mais, muito mais.

Quando percebi que estava a ponto e enlaçar sua cintura com minhas
pernas, coloquei minhas mãos no seu peito e o afastei aos poucos,

interrompendo nosso beijo. Céus, estava em chamas e até o meu possível


desemprego estava esquecido no momento.

Eu já disse que queria mais?

— Só um minuto — pedi erguendo o dedo e respirando


pausadamente, para controlar meu coração.

— Merda, desculpe. Avancei o sinal, exagerei. — O homem parecia


atordoado, chamou o barman e pediu a conta. — Vou me desculpar pela
ousadia, mas não por ter conhecido o sabor dos seus lábios — falou baixo,

sem me encarar.

Ele não necessitava dizer nada disso, só precisei de um tempo para


respirar e pedir minha conta também. Como dispensar um homem desses?
Outro igual não conseguiria futuramente e tinha certeza que nem bêbada.
Segurei no seu pulso e nos encaramos.

— Já desistiu? — questionei divertida.


— Então... — A sua conta veio e pedi que fechasse a minha. Meu
coração e ventre estavam entrando em sincronia com a emoção.

— Se não formos na sua casa, você paga o momento. — Tirei


algumas notas do meu bolso e pulei do banco, percebendo que nossa
diferença de tamanho era um tanto intimidadora.

Se estava preocupada em parecer oferecida? Passou longe de mim,

ainda mais quando o desconhecido bonitão segurou minha mão e


caminhamos juntos para fora do boteco e pelas calçadas como se fossemos
um casal.

Bem... eu tinha algumas horas para sonhar.


Capítulo 3
Sofia

Entramos em um hotel há duas quadras do boteco onde estávamos.

O medo não fazia parte do momento, mas a antecipação sim, uma vez que
lidava com muitas pessoas todos os dias e já tinha noção de quem parecia ser
do bem e quem era do mal.

O desconhecido bonitão estava mais para o desconhecido do bem


gostoso.

Ele não soltou minha mão em nenhum momento e depois que nos foi
entregue uma chave e subimos as escadas para o andar de cima, tive vontade
de recuar. Não que fosse a primeira vez que transaria com um estranho, mas

parecia que nesse momento, algo grandioso estava prestes a acontecer.

— Você pode recusar quando quiser. Estou bêbado, mas minha


hombridade está lúcida. — Abriu a porta do quarto e entrou, dando a opção
para que eu fizesse o mesmo ou fugisse.

Quem começou tudo isso tinha sido eu, então, que assumisse as
consequências. E, para provocar, não faria o que previ a ele. Nada de
chupadas, apenas o sexo rápido dos embriagados.

Entrei no quarto e fechei a porta tentando me acostumar com a

pouca luz do ambiente. Não percebi quando ele se aproximou, me pressionou


contra a parede e novamente me arrebatou com seu beijo ardente.

Sem me preocupar com formalidades, segurei seu rosto e tomei sua


boca com igual intensidade. Curvava minhas costas para que nossos quadris

se esfregassem e deixei que ele explorasse meu corpo enquanto conhecia sua
boca através da minha língua.

Maravilhoso.

Suas mãos seguraram meus seios com revência e percebi que


iríamos cedo demais ao pote. Seria melhor assim, porque o ônibus que
tomaria para casa deixaria de passar daqui uma hora.

Depois de um dia de merda, eu merecia gozar no final para aliviar.

Desci minhas mãos pelas suas costas e constatei que ele era firme e
definido. Quando cheguei na sua bunda, ele estava tentando tirar minha blusa
do corpo.

— Tire a sua também! — Interrompi nosso beijo para remover


minha blusa, o sutiã e ele fazer o mesmo, sem pestanejar.

Segurei o cos da sua calça e abri o zíper com pressa, sentindo seu
membro firme em minhas mãos. Ele gemeu, sua cabeça estava apoiada no
meu ombro e sem vergonha, comecei a estimulá-lo vagarosamente.

— Estou quase explodindo, cigana — continuou gemendo, o que me

fez parar e desabotoar minha própria calça.

— Então vamos logo com isso, eu estou toda molhada.

Não imaginei que ele colocaria sua mão dentro da minha calcinha

para conferir o que havia dito. Seus dedos brincaram com meus grandes
lábios até encontrar o clitóris, que foi estimulado com movimentos circulares.
Sua boca tomou a minha novamente, em um beijo lento e sensual.

Foi minha vez de gemer e quase me entregar ao ápice do prazer sem


precedentes. A adrenalina por estar com um estranho e fazendo coisas que
apenas li em meus livros de romance erótico tornava tudo mais do que
parecia ser.

Seu braço envolveu minha cintura, me levantou do chão e me


colocou com cuidado em cima da cama. Estiquei braços e pernas,

aproveitando a penumbra para não me avergonhar do meu corpo. Ele tirou o


resto da roupa, vestiu uma camisinha e ficou sobre mim, puxando uma perna
para que ficasse mais para cima e desse mais abertura para seu quadril se unir
ao meu.

Mesmo sem conseguir vê-lo por completo, ficamos um tempo nos


encarando antes de beijar sua boca e seu membro me preencher pouco a
pouco. Intenso e maravilhoso, senti uma conexão se formando, mesmo sem
saber o nome ou a história desse homem sério. Ele poderia ter participado da

minha brincadeira, mas tinha certeza que não fazia parte do seu estilo de vida
pegar mulheres e não saber o nome.

— O que é isso que estou sentindo? — murmurou entre os gemidos


assim que liberou minha boca e depositou beijos no meu pescoço e ombro.

Não conseguia responder seu questionamento, porque era algo que


não sabia explicar. Será que havia essa conexão na sua mente também?
Deixei minhas mãos vagarem pelo seu corpo enquanto subia e descia, se
esfregando em mim e causando um atrito maravilhoso.

Havia muitos músculos, desejo exalado e suor transbordando


luxúria. Forcei meu corpo contra o dele, para mudarmos de posição. Ele me
deixou que o dominasse estando por cima e ele por baixo, investi no sobe e
desce no seu sexo e finalmente me permiti gozar, sentada em seu quadril,

rebolando como uma devassa.

Era isso que eu precisava para encerrar meu dia menos frustrada.

Deixei meu corpo cair sobre o dele, que segurou meu quadril,
flexionou as pernas e meteu rápido e preciso até encontrar sua própria
libertação. O gemido quase animalesco me fez sentir poderosa, do quanto
conseguia proporcionar prazer quanto recebia.
Senti minha cabeça ser beijada, o que transformou o sexo em algo
mais carinhoso e íntimo. Não pretendia reencontrar esse homem, a não ser

que o universo conspirasse para que tivéssemos que ficar juntos.

Na vida real, eram poucos aqueles que respeitavam as mulheres que


tomavam a iniciativa como eu. Não queria pagar para ver qual era o tipo de
pessoa que o desconhecido bonitão era.

Saí de cima dele e fui para o banheiro sem olhar para trás. Lá, tomei
um banho rápido, me encarei no espelho e sorri com satisfação. Eu era
mulher, dona da minha vida e futura desempregada. Estava tudo bem, eu
venceria mais essa batalha na minha vida como fiz tantas outras vezes.

Fui para o quarto e o vi sentado na cama, já vestido de calça. Ele


olhava para o chão, com uma postura de derrota, o que não me deixaria
abalar, uma vez que ele também gozou.

A não ser que ele tivesse alguém em sua vida.

Oh, merda.

— Eu já vou — falei com pressa, colocando minha calcinha por


debaixo da toalha envolta no meu corpo. Ele não me olhou, me deixando
mais nervosa do que o normal.

Terminei de por minha roupa, coloquei o sapato e já ia abrir a porta,


quando vi que ele não tinha reagido a nada do que falei ou estava fazendo.
Isso que dava ter um encontro quente com quem não conhecia. Poderia ser
uma destruidora de lares e me arrependeria amargamente.

— Você é comprometido? Casado? — tive que perguntar, com a


mão na maçaneta da porta. Foi então que ele pareceu despertar do seu estado
de torpor e me encarou piscando várias vezes os olhos.

— Não, porra — respondeu ofendido.

— Então o sexo foi ruim. Bem, se te consola, para um de nós foi


bom — falei espirituosa, abri a porta e o vi se aproximar com velocidade.
Suas mãos seguraram meu rosto, sua boca tomou a minha com suavidade e
falou baixo, me desestabilizando por completo:

— Sei que falei sem nomes e só sexo. Espero ter um segundo


encontro para reverter essa situação e podermos nos conhecer melhor. Só
assim para acreditar que tive contato com uma mulher tão... singular.

— Acredite, são meus olhos, eu nasci assim. — Peguei-o de surpresa

com minhas palavras e o selinho que lhe dei na boca. Saí do seu agarre e
quase corri para fora do hotel em busca do ponto de ônibus mais próximo
para voltar para casa.

Foi bom ter alguém me elogiando de alguma forma, mesmo que


desse margem para um sentido mais cruel. Além de me tratarem diferente, eu
sabia o quanto as pessoas que trabalhavam comigo me olhavam desigual,
apesar do respeito que tinham comigo. Se era pela minha proatividade ou
coragem de falar com todos, em busca de melhorar alguma situação, conhecia

a forma que era tratada e não mudaria, mesmo que muitas vezes encontrava
dó ao perceberem meu estrabismo.

Pouco tempo se passou quando meu ônibus apareceu e segui para


casa, muito tarde, em busca da minha cama e paz para enfrentar mais um dia

de trabalho sendo ameaçada de demissão.

Só não esperava que tudo isso se tornaria no meu momento de


ascensão.
Capítulo 4
Sofia

Foi impossível não chegar atrasada depois do que havia acontecido

no dia anterior. Nunca tinha estendido a noite em dia de semana, porque


conhecia minha necessidade de sono revigorante.

— Pensei que você tinha me dito que estava empenhada em mostrar


que era possível mudar a situação da empresa, Sofia. Tem um monte de
caixas para serem abertas e livros para serem estocados. — O diretor do
terror me cumprimentou com sua habitual carranca assim que coloquei os pés
para dentro do meu local de trabalho e fui bater o ponto.

— Sim senhor — respondi solícita, porque brigar não resolveria

nada. Era mostrando meu potencial que o forçaria a parar de pegar no meu
pé. Ou apenas um milagre para isso acontecer, já que havia dois dias que ele
me ameaçava de demissão por coisas bobas.

Sempre dei meu sangue para tornar não só a empresa um local


melhor para trabalhar, mas também o ambiente de trabalho. Lidar com a
rotina interna e o atendimento ao público era um malabarismo que não
deveria acontecer, era demais para uma pessoa só, mas estava disposta a
mostrar que conseguiria.

Subi às pressas para o andar de cima e encontrei as caixas que ele


falou.

— Tá foda — um dos meus colegas de trabalho murmurou para


outro.

— Ele deveria avisar a todos que irão fechar. Fazer terrorismo para
trabalharem mais e ameaçar o emprego é sacanagem — outro colega
respondeu, também baixo.

Como assim, iriam fechar? Então, o diretor do terror só estava


fazendo seu papel de terrorista?

— Tem muita gente com família, o Gláucio deveria dar uma


oportunidade para que todos fossem atrás de outra coisa ao invés de fazer
essa palhaçada de assédio.

— Enquanto ninguém denunciar ou processar, vai continuar assim.


Ainda bem que a Eunice do RH me falou sobre isso e estou alertando quem
eu confio — o segundo encerrou a conversa quando me viu e fingi que não
tinha escutado.

— Bom dia pessoal. Precisam de ajuda?

— Bom dia, flor do dia. Tudo certo, Sofia. — Um deles sorriu


amplamente para mim, como se o assunto anterior não tivesse sido tão
crítico.

Meu Deus, esse lugar era meu sonho. Dediquei grande parte da
minha vida aqui. Ser demitida era uma coisa, mas fechar as portas? Mesmo
que a empresa não fosse minha, eu a considerava e estaria feliz se
prosperasse, sem estar no quadro de colaboradores.

Apressei minha atividade atual, cadastrei todo o novo estoque no


sistema, guardei nas prateleiras e fui para o computador da parte
administrativa em busca de uma solução. Não era possível que o diretor fosse
não imprudente, uma vez que tínhamos um grande público e havia lucro...
antes do dono falecer.

Busquei em arquivos antigos do meu e-mail e encontrei os planos de


ação que criei há um tempo e não tive coragem de apresentar ao meu chefe.
Claro, o direto não dava nenhuma brecha para que eu mostrasse meu

potencial. Sabia lidar com suas patadas, por isso era a ponte dele com os
outros empregados e não parecia que eu seria uma pessoa a ser mandada
embora.

Sem empresa, como tantos outros se manteriam no emprego?

Falindo ou apenas numa fase ruim, iria apresentar meu plano de ação
e orar para que me escutasse. Não estava querendo mérito ou mudar de cargo,
mas manter o que já tinha. A luta para mostrar meu valor ainda estava firme,
me colocaria em uma posição mais assertiva se me escutasse.

Clientes apareceram, precisei deixar meu plano para segundo plano


até que o ambiente estivesse mais tranquilo. Foi depois do almoço, que fiquei
trabalhando como sempre, que consegui um tempo livre, imprimi tudo e
organizei numa pasta para falar com Gláucio.

Estava animada, apesar do meu coração parecer uma escola de


samba. Essa sensação foi semelhante a que tive na noite anterior, com o
estranho que me permitir ter uma noite quente.

O termo cigana me fez rir sozinha. Por causa de uma brincadeira de


bola de cristal, havia ganhado meu primeiro apelido carinhoso. Eu tinha uma
coleção de adjetivos feios, mas apenas um bonito e guardaria no meu
coração. Mesmo que o universo não conspirasse a nosso favor, eu já aceitava
aquela noite como um presente.

— Com licença? — Bati duas vezes na porta e a abri, colocando


apenas minha cabeça para dentro. Gláucio estava rindo olhando o monitor do
computador, me encarou perdendo a alegria e me fez engolir seco pelo seu
tratamento.

— Você não tem clientes para atender? — questionou quando me


coloquei para dentro da sala e fui entusiasmada até sua mesa. Céus, custava
ele me dar uma chance?

— Aproveitei o movimento baixo para mostrar algo ao senhor. —

Não sentei na cadeira e entreguei os papéis que estavam nas minhas mãos.
Ele pegou mostrando nojo e pela primeira vez, me perguntei qual era o
motivo de tanta rispidez. Será que tinha feito algo a ele e não lembrava? —
Esse é um plano de ação para otimizar os setores de atendimento, estoque e

caixa. Usei os conhecimentos que tenho na empresa com...

— É lixo. — Colocou os papéis em cima da mesa para que eu


pegasse. — Mesmo que eu dissesse a você que está por um fio, você continua
fazendo o que não cabe a sua função. Você é apenas uma ESTOQUISTA,
Sofia.

— Eu amo meu trabalho e essa empresa. É apenas um plano, por


favor, só avalie. — Coloquei minhas mãos para frente. — Não quero mérito
nem nada.

— Se fazendo de coitada. Conheço pessoas como você, e acredite,


só estão esperando a primeira oportunidade para tirar o meu tapete. — Pegou
os papéis e o segurou com força, amassando uma parte. — Não sou mais
obrigado a lidar com você e seu... — Seu olhar foi para o meu e a vontade de
chorar foi grande quando percebi que ele falaria do meu estrabismo.
Caramba, eu não merecia esse tratamento. — Já que não entende meus
avisos, terei que agir antes do tempo. Vá para o RH e lide com sua demissão.

O aviso prévio será cumprido sem redução de carga horária, para compensar

o tempo que você está fazendo serviço que não é seu.

Engoli em seco, obedeci com o resto de dignidade e armadura que


tinha e saí da sua sala derrotada. Não era mais questão de ser mandada
embora, mas alguém que havia me humilhado por muito tempo e agora, fez

sua sentença final e destruiu meus sonhos.

Eu só queria fazer o bem. Novamente me questionava, o que será


que tinha feito para ser tratada desse jeito? Desde quando ele começou a
trabalhar como diretor, tem sido ríspido comigo, o que me fez concluir que
era apenas seu jeito de ser. Depois que o dono faleceu e Gláucio assumiu,
parecia ter piorado e de característica de sua personalidade passou a ser
pessoal.

Andei pelo estreito corredor, abri uma sala qualquer, verifiquei se

estava vazia e lá dispensei o plano de ação, rasgando ao meio. Era assim que
me sentia, como se fosse partida ao meio de forma irreparável.

Deixei que um pouco das lágrimas escorressem pelos meus olhos


enquanto observava o lixo com os papéis que ali joguei. Ele que descontasse
meu aviso prévio, porque estava abalada demais para continuar trabalhando
aqui. Era como se fosse o término de um namoro, não queria mais ver aquele
que um dia me fez tão bem.

Assustei quando a porta foi aberta. Quando olhei na direção, meu

coração pareceu pular da minha boca para meus pés.

— Você!

— Cigana? — o desconhecido questionou, vestido de forma tão

diferente. Terno, camisa social e calça jeans, cabelo bem penteado e barba
aparada destoava da barba por fazer e roupas informais. — O quê...

Ele não precisava dizer mais nada quando entrou e fechou a porta
atrás de si. Com sua postura confiante, era possível acreditar que ele era
alguém importante. Restava saber se era dentro da livraria ou fora dela, não
que fizesse alguma diferença, já que estava sendo demitida.

Com seu caminhar predador e feição preocupada, o homem se


aproximou de mim e eu escorei na mesa atrás de mim acuada. Não
precisávamos dizer algo ou explicar, até porque, suas palavras estavam

frescas na minha mente.

Espero ter um segundo encontro para reverter essa situação e


podermos nos conhecer melhor.

Quando abri a boca para perguntar sobre seu nome ou se ele sabia
quem eu era ontem, seus lábios foram de encontro aos meus em um beijo
suave e tentador.
Deveria interromper qualquer coisa que começasse a partir de agora,
mas estava destruída e carente demais para recusar seu afeto, por isso envolvi

meus braços ao seu redor e me entreguei ao seu beijo aterrador.


Capítulo 5
Enzo

Se era o destino ou o universo zombando de mim, estava pouco me

importando, porque iria aproveitar a oportunidade e não deixaria escapar.


Demorei para conseguir dormir no dia anterior, me arrependendo
amargamente de ter deixar a mulher escapar.

Poderia julgar ou considerar que seria mais uma transa com uma
mulher qualquer, mas não dava para fazer tal coisa quando tudo o que eu
queria era estar mais uma vez com ela.

Coloquei-a sentada em cima da minha mesa e suas pernas se abriram


para me acomodar. Meu pau já pulsava em busca do calor conhecido de sua

boceta. Se soubesse que a encontraria hoje, na minha sala, não teria sofrido
tanto para dormir e ainda chegar apenas depois do almoço.

— Isso não pode estar acontecendo de verdade — ela falou em tom


de brincadeira quando comecei a chupar seu pescoço e apertar seu seio. —
Podemos fazer isso aqui?

Olhei-a com curiosidade, sentindo o desejo correr nas minhas veias.


Ela pensava em apenas trocar beijos aqui ou transar?

Estava com meu lado imprudente em ação. Finalmente aproveitaria

meu status de dono para fazer algo por mim. Sentiria a vida pulsar dentro de
mim, não importava o quanto ilegal poderia parecer.

— Vou trancar a porta — anunciei me afastando.

— Sim, faça isso, porque eu mesma já não preciso me preocupar


com o futuro, mas você... — Voltei da porta para próximo dela, que tinha
removido a calça e os sapatos, estava apenas de camiseta polo e calcinha.

Não tinha condições de interpretar as entrelinhas de suas palavras.


Estava dominado pela luxúria.

— Olá, eu sou Enzo — disse apenas meu nome, colocando sua


calcinha de lado e sentindo sua umidade nos meus dedos. Fechei os olhos
com apreço e ela colocou os braços para trás, apoiando seu corpo e me dando
liberdade para fazer o que quiser.

Apressado em sentir o prazer mais uma vez, desabotoei o cinto,


minha calça e expus apenas meu pau para fora, para ser devorado por sua
boceta encharcada. Quando esfreguei meu membro nela, lembrei da porra da
camisinha e orei para que dentro da minha carteira tivesse mais uma, porque
a de ontem tinha sido usada.

— O que foi? — Ela me observou suspirar aliviado ao encontrar o


preservativo. — Ah, sim...

Desesperado como estava, não percebi que lhe faltei com a atenção.

Sentei na cadeira próximo a ela, trouxe para perto e fiquei entre suas pernas
para chupar todo o seu mel.

O gemido baixo que deu foi toda aprovação que esperava. Uma de
suas mãos segurou meus cabelos e me ajudaram a conduzir a dança dos meus

lábios e língua para que a fizesse gozar na minha boca.

Como um devasso, me permiti ser usado para o prazer até que seu
corpo parasse de tremer e o orgasmo a abandonasse. Vesti a camisinha,
levantei e beijei sua boca com toques suaves do seu próprio sabor. Ela
parecia ávida por tudo e aproveitei o momento para introduzir meu membro
pouco a pouco nela.

— Preparada para foder em cima da mesa do dono? — rosnei no seu


ouvido e não dei tempo que processasse minhas palavras. Seus braços

envolveram meu pescoço e seu corpo se entregou ao meu bel prazer.

— Está sendo uma doce vingança — ela murmurou enquanto gemia


de prazer. Entrei e saí várias vezes de dentro dela antes de tocá-la onde sentia
mais prazer, mais uma vez, para que encontrasse o clímax comigo.

Será que conseguiria fazer uma mulher gozar pela segunda vez?
Estava me sentindo ousado, por isso sussurrei:
— Vem comigo, cigana. — Faça parte da minha redenção,
completei na minha mente, sem saber o real significado dessas palavras.

— Estou bem aqui, Enzo. — Deitei nossos corpos em cima da mesa


e concluí nosso ato libidinoso, em local de trabalho, com um gemido baixo e
cheio de desabafo.

Dessa vez, eu não deixaria que ela fosse embora, ficaria comigo para

podermos nos conhecer mais e, quem sabe, ir além do prazer? Oportunismo e


imprudência, eu deveria pesar os prós e contras da nossa situação, mas não
conseguia tirar o foco da minha cabeça de baixo.

Respirei fundo várias vezes antes de me levantar e sair de dentro


dela. Apressada como da última vez, ela pulou da mesa, vestiu sua calça e
não me olhou nos olhos quando falou:

— Eu sou Sofia. Por favor, não ache que faço isso com todos aqui da
empresa ou mesmo com os bêbados do bar. Está sendo uma semana louca e

você... Você é diferente.

Tirei a camisinha dando um nó, guardei no bolso e ajeitei minha


roupa que estava um tanto amassada. A preocupação quanto a isso ficaria
para depois, porque estava um tanto impressionado por finalmente saber o
nome daquela que tinha me arrebatado.

— Sofia. — Sorri quando ela continuou acanhada, tão diferente da


mulher confiante do bar. Coloquei-a sentada em cima da mesa, sentei na
cadeira e finalmente estive na direção do seu olhar. — Somos fora de padrão,

não é mesmo? Primeiro a ação, depois a conversa.

— Não que isso faça parte de quem eu sou. — Suspirou, me fazendo


acreditar que ela estava arrependida. — Que se foda. — Arregalou os olhos
para mim. — Não você, mas a empresa... NÃO! — Tampou o rosto com as

mãos e lembrei do que conversamos no bar ontem, ou melhor, o que a ouvi


dizer para o atendente. — Por favor, só ignore o que estou falando. Se o
Gláucio ou o novo dono saber o que fiz aqui...

— Eu sou irmão de Erik, o dono da Livraria Progresso.

Eu poderia rir, se não me deixasse preocupado tudo o que sabia dela.

— Você... eu...

— O diretor do terror está te ameaçando.

— Eu não sabia! — Ela saiu de cima da mesa e se afastou de mim.


— Meu Deus, eu não sabia que você... — Tampou a boca dessa vez indo até
a porta. Corri até ela e não deixei que abrisse antes de falar o que seus olhos
tempestuosos queriam dizer. — Eu preciso ir.

— Fale comigo, Sofia.

— É muito estranho, Enzo. — Seu olhar atingiu meu coração com


força. Porra, ela estava sofrendo e eu só queria tirar isso dela. — Enquanto
estava no bem bom, parecia uma vingança maravilhosa, mas agora, estou me
sentido cruel. Eu fui demitida!

— Não, você não foi — afirmei com imposição, uma vez que eu
tinha poder sobre a situação e não a deixaria sem emprego. — Me fale o que
aconteceu.

— Cheguei atrasada. Fiz meu trabalho com o estoque de livros

novos que chegaram, depois atendi os clientes e fiz minha jornada tripla até
agora. Escutei que a livraria ia fechar. — Fiz uma careta e ela se
compadeceu. — Sei que não deveria dar ouvidos ao rádio corredor, mas é só
assim que consigo lidar com meus colegas de trabalho. Meu diretor me odeia,
mesmo eu sendo apaixonada pelo meu trabalho e fazendo além. Eu só queria
mostrar a ele que há uma luz no fim do túnel, há solução para essa bagunça
que virou depois que o Erik faleceu.

— Você está querendo dizer que Gláucio, quem deveria manter a

livraria em ordem enquanto eu não assumisse, afundou ela?

Deu um passo para trás chocada com minha conclusão. Eu também


estava, não havia nenhuma chance de que eu fechasse a Livraria Progresso.
Não só seria meu atestado de fracasso, como perderia minha oportunidade de
me redimir com meu irmão, mesmo pós morte. Sabia que poderia estar
acontecendo algo, mas não tão grave e com o culpado na minha frente.
— Não há culpados, longe de mim apontar o dedo para alguém. Me
desculpe, só preciso ir ao RH e sair daqui. Não vou cumprir aviso prévio.

— Eu te falei que você não será demitida, Sofia. — Ergui uma


sobrancelha em desafio e ela continuou angustiada. Poderia não saber o tipo
de profissional que era ela, mas hoje descobriria e tomaria outra atitude
amanhã, se fosse necessário. — Não hoje.

Ela me surpreendeu abraçando minha cintura e me deixando abraçá-


la também. Não sabia explicar se era o seu cheiro ou essa conexão invisível
que sentia, fechei os olhos e curti o momento alisando suas costas.

— Obrigada, mil vezes obrigada. Sou julgada por conta do meu


estrabismo. Sei que preciso provar minha inteligência e potencial, por isso, se
valer a pena manter meu cargo até que a empresa feche em definitivo, eu
prefiro não expor o que fizemos juntos.

— Ninguém precisa saber, Sofia. — Ela me encarou e não vi

nenhuma mulher frágil na minha frente, mas alguém determinada a fazer a


diferença. — A Livraria não vai fechar e você não será demitida. Quem
decide as coisas sou eu e não o diretor do terror.

— Não leve em consideração minhas palavras de bêbada.

— Lidarei com os fatos, não se preocupe. Agora volte ao trabalho,


eu resolverei o resto e conversaremos depois.
Ela se aproximou para me beijar, mas recuou, saiu dos meus braços
e abriu a porta para ir embora. Precisei de um momento para respirar fundo e

não ser guiado pelo meu tesão. Era a empresa do meu irmão, onde honraria
seu trabalho com o meu próprio. Eu até gostaria, mas não poderia arriscar
tudo por alguma paixão que poderia passar depois de alguns dias.

Algo dentro de mim tinha convicção e não conseguia ignorar. Sofia,

minha cigana, estava longe de ser apenas uma coisa de momento.


Capítulo 6
Sofia

Uma semana de tortura e espera para novas ações serem realizadas

na Livraria. Nesse tempo, fomos apresentados ao novo dono, as novas


esperanças de prosperidade e claro, meu terror pessoal aumentou. Gláucio
parecia saber de algo entre mim e Enzo, o que me fazia fugir do trabalho
quando dava o final de expediente.

Isso não impedia de ser massacrada por suas palavras diariamente,


afinal de contas, ele tinha me demitido e por algum motivo, consegui me
estabelecer.

— Novamente longe do seu posto, Sofia? Estou anotando tudo —

Gláucio falou quando saí do banheiro, que fui às pressas, pois estava sem
almoço e sem um gole de água há mais de cinco horas. Não adiantaria
rebater, por isso só acenei e fui para o atendimento ao cliente.

Não queria me sentir dessa forma, mas pouco a pouco estava


desgostando do meu trabalho. Uma coisa era ser criticada quando era
chamada na sala do diretor, outra coisa era estar diariamente no meu pé.
Meus colegas de trabalho já estavam questionando o motivo de não rebater
tanta negativa que me era imposta.

Ele está em um dia ruim, respondia, sem nem mesmo acreditar nas
minhas palavras. Sentia receio por Enzo, pelo que sentia por ele, além de ser
mais um motivo para fazer minha parte da melhor forma.

Enfim, eu estava uma completa confusão de otimismo e ceticismo.

— Sofia? — Senti uma mão no meu ombro e olhei para trás


assustada, reconhecendo a voz do homem que eu via todo dia, mas não tinha
coragem de dar o primeiro passo como fiz das outras vezes. A mulher
confiante estava sendo ocultada pela desesperança. — Pode me acompanhar
até minha sala?

— Sim — respondi olhando para minha colega vendedora e depois


seguindo-o ao seu lado. Entramos na parte administrativa e por fim, no
corredor, onde estava sua sala.

Ao mesmo tempo que queria ser arrebatada por ele, esperava que me
tratasse com profissionalismo. Era para o bem da Livraria, certo? Gláucio
nem poderia imaginar que eu estava aqui.

— Passei essa semana estudando seu plano de ação. — Sentei na


cadeira a frente da mesa de Enzo e me surpreendi ao ver os papéis que eu
rasguei na sua lixeira, agora unidos na minha frente. — Desculpe não entrar
em contato ou conversarmos pessoalmente. Estava lidando com uma crise e
esqueci da vida. — Ele me sorriu e tentei não retribuir.

— Você não precisa me pedir desculpas e nem usar isso. O Gláucio


já rejeitou o plano.

— Primeiro, esse plano foi anexado na proposta entregue a um


investidor. Se não fosse ela, talvez eu realmente tivesse que fechar a Livraria.

— Olhei-o com assombro, preocupada com o tanto que ele teve que lidar.

— Mas...

— Ele é bom, Sofia. Me pergunto o motivo de estar como estoquista


há tanto tempo, se poderia estar bem melhor alocada com um cargo
estratégico. — Ele inclinou para frente, senti carinho na sua feição. — E
segundo... relutei em me aproximar de você, porque não queria usar do meu
cargo para estar próximo a você. Por mais que você possa estar envolvida de
forma voluntária, a partir do momento que viramos patrão e empregado, há

muito mais em jogo.

— Quando te conheci, eu não sabia que você era meu chefe. —


Engoli em seco, o medo da rejeição queria envolver meu peito. — Mas
entendo se você não quiser mais nada.

— Você entendeu errado. Eu quero estar com você. Te observar


trabalhar de longe foi uma tortura que dei por fim hoje. — Esfregou o rosto
com as mãos. — Meu Deus, mulher, só quero uma chance para começarmos
algo, sabendo que nossa posição dentro da empresa não afetará nossa vida

pessoal ou profissional. Sei que começamos de forma precipitada, mas não há


como mudar o passado. Foi assim, que seja útil então. — Ele levantou e
sentou ao meu lado, deixando a palma da mão para cima, um convite para
estar com ele. — Prometo te respeitar.

Aos poucos, ergui minha mão e coloquei em cima da dele, dando a


resposta que esperava. Sorrimos um para o outro, sabia que segurava a
necessidade de se jogar em mim tanto quanto eu nele.

— Preciso do seu telefone, vamos nos encontrar hoje à noite, estou


com saudades.

— Sim! — Apertei sua mão e recebi carinho em retribuição. Falei os


números, ele enviou uma mensagem para mim e me puxou para depositar um
beijo casto nos meus lábios.

Seria essa minha recompensa depois de tanto desaforo direcionados


a mim?

Ele voltou para a sua cadeira e pegou o telefone da sua mesa.

— Vou chamar Gláucio para que ele saiba que você irá trabalhar
comigo a partir de hoje.

— O quê? — Estiquei a mão para tirar o telefone do seu ouvido, mas


hesitei. E agora? Eu tinha aceito a proposta de Enzo, ele prometeu me
respeitar, então, tinha que confiar, certo?

— Gláucio, por favor, venha a minha sala.

Desligou o telefone e me encarou com desejo, me desconcertando.


Quando o diretor entrou na sala sem bater, ajeitei minha postura na cadeira e
não o cumprimentei.

— Sim chefia — ele se colocou à disposição ficando de pé.

— Sofia começará a trabalhar comigo para iniciarmos o plano de


ação que ela mesmo elaborou. Tenho investidores aguardando os resultados
desse trabalho, precisarei de alguém de confiança comigo.

— Como? — Gláucio rebateu surpreso. Olhei-o rapidamente e voltei


minha atenção para Enzo, quem realmente importava. — Já tinha descartado
essa baboseira, há muitas falhas nesse plano. Ela me atravessou e mostrou
diretamente a você?

— Discordo do seu ponto de vista e os novos investidores também


— Enzo falou polido, mostrando quem é que mandava ali. Mas Gláucio
nunca foi de não ter a última palavras, por isso não me surpreendi quando
rebateu:

— Seu irmão confiava no meu discernimento para lidar com os


empregados e grandes mudanças na Livraria. Estou há mais tempo aqui para
dizer que esse tipo de plano não vai funcionar. Pessoas exercendo apenas
uma função? Terá muitos colaboradores ociosos. Não estamos podendo nos

dar ao luxo de falhar. A crise chegou na nossa porta.

— Obrigado pela sua preocupação. Infelizmente, meu irmão não está


mais no comando, mas eu sim. Era só isso que eu gostaria de falar.

Abaixei a cabeça assustada com a briga de elite dos dois, sem alterar

voz ou indispor. A porta foi fechada com brusquidão quando Gláucio saiu da
sala, me deixando preocupada que a perseguição dele, em mim, poderia
aumentar.

E se me expusesse a algo, caso ele descobrisse que estava com


Enzo? Poderá achar que eu causei tudo isso, uma vez que o senhor Erik
confiava nele.

— Você não precisa se preocupar. Eu já vi como ele lida com você e


outros funcionários. Não sei o motivo e não encontrei nada nos relatórios do

meu irmão. O que já foi, não importa mais, lidarei com tudo a partir de agora.

— Tudo bem — respondi submissa e ele suspirou, parecendo


derrotado.

— Não estou brigando com você, Sofia. É só que esses meses com
ele à frente de tudo o tornou arrogante. Ele precisa saber qual é o seu lugar e
você também. — Ele se levantou e buscou minha mão. Eu fiz o mesmo e
rodeei a mesa para ficar na frente dele, que me faz sentar em seu colo. —
Aqui é seu lugar. Está confortável?

Suspirei me rendendo ao seu charme e claro, o carinho que fazia nas


minhas costas.

— Que tal cinema e fastfood para hoje? — inquiri divertida, estava


me sentindo mais relaxada em seus braços. O peso de namorar o dono da

livraria parecia diminuindo pouco a pouco.

— Dessa vez, vamos terminar a noite no meu apartamento, na minha


cama. O que acha?

— Que falta muito para acabar o expediente. — Rimo, pulei do seu


colo e peguei o plano de ação que tinha feito e ele colou de volta para usar.
— Então, eu farei parte da execução desse trabalho?

— Com toda certeza. Eu confio no que você planejou e no seu


profissionalismo.

— Posso contar como pensei em começar? — Voltei a sentar na


cadeira à sua frente e discorri sobre tudo o que tinha em mente quando
elaborei esse projeto. Seria possível ter a mesma quantidade de
colaboradores, se cada um ficasse responsável pelo seu trabalho e o fizesse
bem feito. O que acontecia era que, como eu, o mesmo que estocava era o
mesmo que atendia, que estava no caixa e, às vezes, fazia parte
administrativa. Tempo ocioso não era algo ruim, desde que aproveitado em
prol da livraria, como, por exemplo, lendo.

Estava tão empolgada contando tudo o que vi e estava disposta a


fazer que nem percebi que Enzo parecia cada vez mais admirado. Ou talvez
fosse apenas a ilusão que meu coração queria plantar na minha mente, já que
a estranha em mim combinaria mais com o Sherek do que com José Bezerra.
Capítulo 7
Enzo

A semana passou maravilhosamente bem. Lidei com trabalhar até

mais tarde em horário comercial e tive Sofia nos meus braços de noite, na
minha cama. Não sabia o quanto a combinação pessoal e profissional poderia
ser tão boa e vantajosa.

Aquele sentimento de que fiz algo de errado no passado estava se


dissipando. Sentia, no meu peito, que a redenção quanto ao descaso com
minha própria vida estava acontecendo. Ela veio em forma de uma crise a ser
superada e no corpo de uma mulher que não tinha noção do seu potencial.

Será que meu irmão e pais estavam orgulhosos de mim de onde

estavam? Quando estava acompanhado pela mulher que me completava


profissionalmente e pessoalmente, não me sentia tão só. A distância da
família que ainda restava ou mesmo a ausência daqueles que eu amava,
estava ficando adormecido porque eu tinha alguém por completo ao meu
lado.

Era impossível não estar me apaixonando pela dedicada Sofia.


E meus pensamentos queriam seguir para longe enquanto a
observava dizer como foi sua primeira reunião com os vendedores e

estoquistas. Na minha sala, antes do expediente de atendimento terminar,


Sofia lia a ata da reunião e comentava cada momento e a reação positiva do
seu plano.

Optei por um caminho perigoso, confesso. Sem compartilhar meus

planos com Gláucio, deixando-o apenas com o trabalho de rotina com a


direção da livraria, preparei minha mulher para liderar aqueles que pareciam
admirá-la. Ela era uma líder nata, subjugada por seu superior invejoso.

Havia algo não contado entre os dois e Sofia não parecia


incomodada com a situação tão focada em mostrar resultado para mim. Ah,
se ela soubesse que eu já estava impressionado desde o momento que seus
olhos singulares encontraram os meus. Ela considerava seu estrabismo um
defeito, eu acreditava que era parte do seu charme, numa tentativa vã de

equilibrar aparência e inteligência.

— Você viu a cara do Josias? — Ela colocou a ata de reunião de


lado e foi gesticular com empolgação. — Primeiro, eu achei que ele estava
chocado ao perceber que um dos meus olhos nunca o encararia de frente.
Depois, quando ele contou que precisava fazer fisioterapia por conta de dores
na lombar, que fazendo apenas uma função, poderia fugir uma vez por
semana para tal, ele quase chorou. Isso é muito legal, porque a vida não é só
trabalhar e trabalhar. Precisamos poder escapar, que seja um dia na semana,

para cuidar de nós.

— Pensei algo parecido como isso quando fiquei sabendo do


acidente do meu irmão — confessei apoiando minhas costas na cadeira e
olhando para o teto. Havíamos trocado muitas informações sobre nós mesmos
durante o tempo que ficamos juntos, mas o assunto Erik eu evitava ao

máximo. Pelo visto, o momento havia chegado. — Do que adianta trabalhar


tanto e não se satisfazer no lado pessoal?

— Eu também pensava assim, mas agora eu posso ignorar esse


sentimento, porque tenho o melhor dos dois mundos juntos. — Ficou corada
e me encarou com ternura. — Às vezes, eu acho que você ainda está bêbado e
está vendo algo distorcido.

— Nunca mais bebi desde a nossa primeira vez, Sofia — afirmei


preocupado. — O que você quer dizer?

— Que você é lindo e eu sou... eu. — Apontou com a mão os olhos.


— Eu me enxergo no espelho.

— Pelo visto não, já que está tão preocupada em achar um defeito e


se esquecendo de ver o conjunto todo. — Levantei e sentei ao seu lado. —
Por que se acha feia? Você é linda.

— Sou esforçada e tenho boas ideias. Minha beleza vem daí. —


Negou com a cabeça. — Voltando ao assunto, agora, os colaboradores
estarão até mais motivados, porque podem pensar em si mesmos além da

empresa.

— Quero voltar a falar de você e sua beleza.

Toquei seu rosto e a senti tremer. Tínhamos colocado um limite


enquanto estivéssemos na livraria. Ninguém sabia que estávamos juntos.

Toques e beijos, eram restritos a momentos em que estivéssemos no nosso


intervalo. Apesar de pensar em fazer sexo novamente na minha sala, me
controlei ao máximo para que isso não acontecesse.

Pelo visto, iria ultrapassar um limite para que Sofia soubesse que ela
er muito mais do que uma boa colaboradora.

— Se você continuar com isso, não vou conseguir resistir —


sussurrou fechando os olhos e apreciando minha mão em seu rosto.

— Quem disse que precisa recusar? — Com meus dedos deslizando

pela sua pele até chegar na sua mão, puxei-a para o meu colo e ela veio,
colocando um joelho de cada lado. Apertei sua bunda e encarei seu olhar
nublado pelo desejo. Nós sempre estivemos em sintonia quando o assunto era
sexo.

Seus lábios encontraram os meus em uma carícia desmedida. Mesmo


que tivesse beijado sua boca todos os dias e sentindo prazer dentro dela quase
todas as noites, era como se fosse a primeira vez, como se ainda faltasse
muito para sentir antes de cairmos na rotina.

Seu quadril se movimentou para frente e para trás, esfregou contra


meu pau que já estava rígido e precisando de alívio.

— Acredite quando eu digo, você é linda aqui — toquei sua testa —,


aqui — apertei suavemente sua bochecha — e aqui. — Espalmei minha mão

entre seu peito, para indicar seu coração. — Sou um homem sortudo, por ter
uma pessoa perfeita para me completar.

— Eu não sei o que dizer. — Ela pressionou os lábios juntos


controlando a emoção.

— Só faça. Vamos quebrar as regras hoje, nós merecemos.

— Então, vamos fazer diferente. — Sorriu maliciosa, abraçou meu


pescoço e sussurrou no meu ouvido: — Vou gozar por baixo da calça e
depois, te dar a chupada que prometi desde a nossa primeira vez.

E ela fez, sem amarras ou intimidação. Rebolando no meu colo,


revezando entre me beijar e gemer no meu ouvido, ela gozou rapidamente e
quase me fez ejacular.

Quando ela se recuperou, rastejou do meu colo até ficar agachada


entre as minhas pernas, abriu minha calça e tirou meu membro para fora. Sua
boca buscou meu pau e não me deu descanso. Sugando e fazendo
movimentos de vai e vem com a mão, ela executou sua promessa com
maestria. Minha única preocupação era onde iria gozar.

— Estou quase... — gemi fechando os olhos, para prolongar ainda


mais o prazer.

— Pode gozar na minha boca — comandou e apenas relaxei,


gemendo alto e jorrando em sua boca. Minha cabeça no encosto da cadeira

me ajudou a manter o equilíbrio e não cair.

Estar com Sofia era não ter rotina mesmo estando 24 horas por dia
com ela.

Quando me arrumei na cadeira e a encarei, a declaração dos meus


sentimentos queria sair, mas ficaram entaladas quando ela sorriu e limpou o
canto da boca, provocadora.

— Até parece que sou profissional e faço isso sempre. É a primeira


vez. — Ficou vermelha e olhou para o lado. — Ainda bem que você curte as

minhas loucuras.

— Eu amo tudo em você, Sofia. — Ajeitei minha roupa, fiquei de pé


e ia fazê-la levantar, para que pudesse abraçá-la, mas a sala foi invadida por
Gláucio.

Não foi apenas eu que retesei e percebi que fizemos tudo isso sem
trancar a porta. Fui descuidado e arrisquei não só a exposição de minha
intimidade, mas de Sofia, o lado mais frágil dessa relação.

— Chefia. Estou com o relatório de vendas da semana passada que

você pediu. Já fiz os gráficos de entrada e saída, como Erik gostava. —


Gláucio parecia insensível quanto ao clima que estava, por isso dei a volta na
mesa e me sentei à cadeira enquanto Sofia se levantava.

— Depois eu volto — ela murmurou.

— Está com movimento na livraria. Vai dar uma força com o


atendimento — Gláucio ordenou para as costas dela. Ela parou de andar e o
encarou por cima do ombro.

Será que ela cederia ou se posicionaria corretamente? Tanto seu


salário quanto suas funções estavam claras durante a semana. Sofia tinha brio
e não a repreenderia se respondesse com rispidez.

— Vou ver o que posso fazer — respondeu apenas e saiu, me


deixando com uma centelha de orgulho por optar pela resposta polida.

— Ela está trabalhando diretamente comigo, não é mais sua função


lhe dar ordens — falei sério para Gláucio assim que Sofia saiu. Peguei os
papéis de sua mão e analisei os relatórios que não me diziam muita coisa.

— Se precisar de atendente, eu mesmo me coloco no lugar. Não


deve ser empecilho cobrir um setor que esteja precisando. Mais um motivo
para eu dizer que esse plano de ação é falho.
— Em uma emergência, sim. Ser rotina, cabe a nós contratar um
novo colaborador. — Ele finalmente sentou e eu mostrei o relatório para ele.

— Quero que faça dessa forma.

Passei o resto dos minutos explicando uma melhor forma de fazer os


relatórios de vendas e entradas. Apesar de focado, meu corpo lembrava do
momento anterior com Sofia e ansiava por completar a sessão íntima, com

um abraço e minha declaração, quem sabe, um pedido de namoro oficial?

Assim que esse plano acabasse, estava disposto a assumir nosso


relacionamento e que se fodesse a opinião alheia. Ela era a única que tinha
poder para me vetar.
Capítulo 8
Sofia

Mais uma semana se passou e nem percebi que Gláucio havia

mudado comigo quando um colega me falou:

— Acho que nosso diretor do terror está com namorada nova,


porque ele está até sorrindo.

Olhei para o homem que costumava ser meu pesadelo pessoal e


constatei a afirmação. Ajudando com o caixa, ele parecia outra pessoa com o
semblante de vitória e disposição para trabalhar junto. Normalmente, ele era
quem mandava e hoje, estava proativo trabalhando junto.

— Quem disse que precisamos de outra pessoa para nos fazer sorrir?

— questionei divertida para meu colega que estava mexendo no sistema e eu


ao seu lado, fazendo uma conferência de estoque. Meu plano de ação estava
de vento em poupa, todos estavam mais motivados, as vendas aumentaram e
queria acreditar que também tivesse mudado Gláucio.

— Eu sou homem, Sofia. Conheço esse tipo de sorriso. — Cutuquei


seu ombro e ele riu. O clima leve era maravilhoso. — Acho que nunca falei,
mas obrigado. Você fez mágica nessa livraria, merece estar onde está.

— Sou igual a você. Só estou ajudando nesse projeto para que a

livraria consiga o investidor — falei com humildade.

— Nós respeitamos você. Gláucio pode estar todo sorridente, mas


perdeu a credibilidade há muito tempo. Se tiver que escolher, você é nossa
opção.

— Nossa? — Fiquei acanhada e me afastei um pouco. — Não estou


competindo, muito menos quero tirar o trabalho de ninguém.

— Tem coisas que está fora do seu controle. Queremos você como
nossa chefe.

— Preciso ir ao banheiro — murmurei saindo de perto dele e


caminhando para a ala administrativa da livraria.

Céus, como isso aconteceu e nem percebi? Não estava competindo

para estar no lugar de Gláucio, achei que Enzo iria me por junto dele, não
contra ele.

Eu nem tinha percebido.

Tão focada em fazer o meu melhor e pela paixão avassaladora que


tinha me arrebatado, não percebi a verdade ao meu redor. Todos os
colaboradores me olhavam com admiração, eles pareciam me querer numa
posição que eu mesma não tinha me voluntariado a estar.
Mas se pensasse mais a fundo em todas as ações que tomei, reuniões
que precedi e ordens que dei, sim, eu estava passando por cima de Gláucio e

não de forma consciente.

Entrei no banheiro e fiquei um tempo em uma das cabines para me


concentrar e voltar ao trabalho. Amanhã teríamos a primeira reunião com os
investidores. Era uma editora multinacional, que viu potencial na forma que

trabalhávamos e onde estávamos localizados. Minha mente já via mil e uma


formas de fazer com que esse investimento se tornasse uma grande parceria.

Mesmo perturbada, minha mente empreendedora estava a todo


vapor.

Costumava visitar a sala de Enzo no final da tarde, mas não hoje.


Precisava de um tempo para processar se as minhas atitudes estavam certas
ou erradas. Mesmo que Gláucio merecesse uma boa bronca por tratar os
funcionários sem cordialidade, ele não merecia ser substituído sem estar

consciente.

Ou será que a única no escuro era eu?

Voltei a trabalhar fingindo que não estava em conflito comigo


mesma e no final do expediente, enviei uma mensagem para Enzo:

Sofia>> Hoje vou direto para casa. Vou me preparar para a


reunião de amanhã.
Enzo>> Eu te levo, já estou saindo também. Senti sua falta hoje.

Sofia>> Pode ficar tranquilo, eu vou de ônibus.

Enzo>> Converse comigo, o que aconteceu?

Sofia>> Fica tranquilo, depois nos falamos.

Voltei aos procedimentos finais do dia, peguei minha bolsa e saí da

livraria, dando de cara com Enzo e seu carro. Alguns colegas passaram por
mim e ele, acenou despedidas para ambos.

— Vamos? — perguntou sem se importar de alguém nos ver.

— Meu ônibus já está chegando. Obrigada. — Ele fez uma careta e


eu praticamente corri até o ponto e esperei minha locomoção. Fazia tanto
tempo que não andava em um transporte coletivo que até estranhei a demora
dele.

Quando meu ônibus chegou, sentei no banco mais ao fundo e senti

meu celular vibrar na bolsa. Estava receosa de ser Enzo, não era nada pessoal
com ele ao mesmo tempo que sim. Será que o dono da livraria me colocou
em uma posição de competição com Gláucio sem mesmo me falar? Ele
sempre ressaltava que estava trabalhando diretamente com ele, mas o meu
diretor do terror também estava.

Merda.

Olhei para a rua, depois o céu estrelado e tentei esvaziar minha


mente. Será que me julgariam por estar namorando o dono da livraria? E se
apontassem o dedo para ele, por ser aquele que me ludibriou?

Quando nos envolvemos pela primeira vez, bêbados, não


pensávamos em nada mais que o prazer. Além do mais, já confessamos que
deixamos para o destino nos unir novamente e como o fez, mesmo que de
forma desequilibrada, fizemos de tudo para que continuasse bom.

Sorri ao ver na minha mente, em letras brilhantes, a manchete da


minha vida. O chefe e a empregada, uma história de amor e também de
sucesso profissional. Por que eu estava com medo sendo que me sentia tão
bem com Enzo?

Saí do ônibus quando chegou no meu ponto e assustei quando um


carro deu luz alta enquanto eu caminhava em direção a minha casa. Quando
me alcançou, percebi que era o carro dele e meu coração quase saiu pela
boca.

— Entra, Sofia, por favor — pediu quando parou o carro ao meu


lado e baixou a janela. Fiz o que pediu e não coloquei o cinto, estava me
sentindo encurralada. — O que está acontecendo?

— Não acredito que você me seguiu até aqui.

— Claro que fiz. Você não quis voltar comigo para casa como
sempre fazemos e mesmo eu ignorando a melhor forma de revelar nosso
relacionamento para a livraria, você me dispensa com essa cara de velório
que você está. — Ele segurou meu rosto e fez com que eu o encarasse. —

Qualquer outra coisa pode ter morrido, menos nós e o amor que sentimos um
pelo outro. Fale comigo, por favor.

Engoli em seco, com medo de estar misturando nosso lado pessoal


com o profissional. Céus, será que ele me achará muito infantil se disser que

estou com medo de o amar?

— Preocupação com a reunião de amanhã, só isso.

— Então venha dormir comigo. — Neguei com a cabeça, sendo


difícil demais pronunciar as palavras sem me denunciar. — Vou ficar com
você então. Amanhã passo em casa e troco de roupa.

— Você não precisa fazer isso. — Ele me soltou e guiou o carro,


estávamos há duas quadras de casa.

— Estou mal-acostumado, Sofia. Durmo e acordo com você. Mesmo

sem transar ou mesmo conversar, me sinto dependente do seu contato. — Ele


parou o carro de segurou meu joelho. — Sei que preciso ter independência
emocional, vou melhorar a partir de amanhã. Hoje, eu quero estar com você,
porque sei que tem algo de errado e você não quer compartilhar.

Pulei no seu colo e o beijei com veemência. A buzina soou e por


reflexo, ele afastou o banco e nos deixou mais confortáveis. Céus, não tinha
nada a ver com o que sentia por ele, mas como tudo estava sendo tratado na
empresa. Como explicar e não perder o que temos?

Para onde estava indo meus pensamentos profissionais? Estava


cogitando sair do caminho de Gláucio? Não, de forma alguma, era apenas
medo de ser vista como uma oportunista.

Estávamos criando um padrão de ações também, tudo se resolvia

com sexo.

— Enzo — gemi contra seus lábios.

— Me diga o que está acontecendo, cigana. — Afastei para o


encarar. — Pareço um desesperado, senti que você escorria pelos meus dedos
e não poderia fazer nada.

— Eu não estou nas suas mãos. Somos companheiros, amantes...

— Amo você, Sofia. — Retesei e segurei a respiração por alguns

segundos. — Não me deixe no escuro, nunca irei te julgar. Pode me falar o


que quiser.

Será que eu respondia primeiro sobre os meus sentimentos? Ou


então entrava logo no assunto profissional? A desvantagens de estar
envolvida por completo com outra pessoa era que nos confundia a prioridade.
Pessoal ou profissional, como ver quem tinha precedência?
Capítulo 9
Sofia

— Me sinto insegura — decidi ser sincera.

— Estou com você. — Abraçou minha cintura e suspirei. Será que


ele sabia de qual lado eu falava? — Pode confiar em mim, também tenho
meus momentos. Mas vai dar tudo certo enquanto mantivermos a esperança.

— Eu e Gláucio somos concorrentes? — Franziu a testa em


confusão, por isso continuei: — Se me sair bem no papel de gestão que estou
exercendo, Gláucio será demitido?

— Vocês estão em pé de igualdade e não concorrência. Ele insinuou


algo para você?

— Não, ele anda se esforçando demais para ser bom. E... — suspirei
— um dos meus colegas falou que eles me querem no lugar de Gláucio.

— Isso é bom e também ruim, Sofia. — Alisou minhas costas. —


Bom, porque sabemos que os colaboradores te respeitam. Ruim, porque eles
acham que tem força contra uma decisão do dono. Por mim, ficam os dois
trabalhando. Gláucio realmente melhorou da semana passada para cá.
— Sim, concordo. — Deitei a cabeça no seu ombro. — Desculpe, eu
surtei achando que você me colocou numa posição que não me avisou. Fiquei

insegura de perguntar e estar cobrando, sendo que como sua empregada, eu


não tenho esse direito.

— Mas como minha mulher, sim. Você pode perguntar o que quiser,
nunca estará invadindo um espaço que não é seu. Não vou te deixaria em um

mar onde não conhecesse os peixes. Viu minha atitude impulsiva quando
fiquei no escuro quanto a sua atitude de hoje?

— Você está mal-acostumado, me fazendo de travesseiro, isso sim


— brinquei e ele me colocou sentada montada nele.

— Não só isso, como toda você, Sofia. Esse namoro escondido está
me matando, porque parece que estamos fazendo algo errado. Aos olhos de
alguns, até poderia ser, mas não há assédio entre nós. O que sinto no meu
peito, como meu corpo quando está próximo ao seu... sei que está além dos

julgamentos.

— É amor comigo também. — Timidamente, comecei a mexeu meu


quadril em um vai e vem. — Eu estou com você, Enzo e te respeito como
meu chefe e meu homem.

Parecia que tinha acionado um disjuntor, porque ele tomou minha


boca e me beijou como se não houvesse amanhã. Cheio de desejo e paixão,
pressionando seus lábios nos meus, ele demonstrou o quanto estava
necessitado de mim.

Uma necessidade gigantesca me dominou para que selasse nossa


confissão. Amávamos e apenas isso deverá bastar para o dia cheio de
dúvidas.

Voltei a sentar de lado no seu colo e interrompi o beijo. Tirei a calça,

os sapatos e a calcinha, mostrando o brilho nos meus olhos por conta da


adrenalina que corria em minhas veias.

Por ser de noite, não havia carros passando pelo bairro e Enzo
conferiu todos os espelhos antes de falar:

— Temos que ser rápidos. — Ajudou-me a ficar montada no seu


colo. Seu membro já estava exposto e coberto com uma camisinha.

Ele me preencheu com sua masculinidade e me fez gemer de tesão.


Estava além de excitada, porque o amor que existia entre nós se mesclava

com o risco de ter alguém nos pegando em flagrante.

Subi e desci, rebolei e me esfreguei para que meu clitóris fosse


estimulado em busca de prazer. A dança dos amantes selava nosso acordo de
almas, que não teríamos medo de dos expor, chegava de conversas para
depois.

— Eu amo como você domina a situação e busca se satisfazer sem


pudor.

— Sou apaixonada por você admirar minhas loucuras. — Olhei para

baixo e ele fez o mesmo, seu membro aparecendo e sumindo em um vai e


vem gostoso. — Quero fazer mais sexo no escritório.

— Vamos desligar as câmeras e fazer entre as prateleiras da livraria


— decretou batendo na minha bunda e me fazendo gemer. Abracei seu

pescoço e acelerei os movimentos, mas diminuindo a distância que dava do


meu corpo para o dele. Curtos e precisos, minha mobilidade me fez gozar
intensamente.

Senti Enzo segurar minha cintura, elevar seu quadril e pulsar dentro
de mim, indicando que também estava gozando enquanto meu corpo cedia
sobre o seu para se recuperar do ato.

— Acho que agora podemos oficializar o namoro — falou


suavemente e sorri de olhos fechados, minha cabeça estava apoiada em seu

ombro.

— Sim. Você está convidado a almoçar na minha tia e pedir minha


mão em namoro para ela no final de semana.

— Ah, finalmente vou poder conhecer a tia Janine? Domingo eu


estarei lá.

Coloquei a roupa de volta ao corpo, saímos do carro e seguimos para


a minha casa. Seria a primeira vez que dormiríamos no meu canto, uma vez
que o espaço no seu apartamento era muito maior e melhor que o meu.

— Não repare na bagunça — falei baixo quando entramos pelo


portão da kitnet e abri a porta do meu espaço. Simples, mas cheio de amor,
esse era meu lar.

— Me interessa a cama — respondeu divertido.

— Será interessante ver um homem do seu tamanho dividindo uma


cama daquela comigo. — Abri a porta do quarto, deixei minha bolsa no chão
e fui tirando a roupa. Minha cama era de casal, a menor das camas para duas
pessoas.

— Isso quer dizer que você não vai tão longe quanto queria. — Ele
também começou a tirar a roupa.

— Caramba, nem te ofereci comida. Você sempre tem algo gosto


para jantar.

— Já tive minha fome saciada, agora só quero poder descansar. —


Suspirou cedendo seus ombros. Era a primeira vez que ele se permitia ficar
tão vulnerável na minha frente, por isso apressei ficar nua para o ajudar com
o terno. — Sabia que nunca fui de namorar ninguém?

— Nunca falou com essas palavras, mas imaginei. — Fomos juntos


para o chuveiro. Abracei sua cintura e me permiti ser molhada enquanto
recebia seu carinho. — Mas também não o vejo como o pegador.

— Nunca fui ao extremo de nada até te conhecer. Sem saber o nome,

você foi a primeira.

— Eu te desvirginei — brinquei.

— Mais do que isso. Sinto que te conheço há muito tempo.

— Essa é a sensação causada por estarmos 24 horas por dia juntos.

— Menos domingo no almoço, que você passa com sua tia.

— Esse será diferente. — Comecei a me ensaboar e ele também,


com movimentos limitados. — E como faremos na livraria?

— Depois da reunião dos investidores, acho que não precisamos


mais esconder. Sem anunciar, apenas deixar que vejam nossa aproximação.

— Será que é a melhor solução? — questionei enquanto minha


mente testava outras opções.

— Estamos fazendo um ótimo trabalho. A livraria estava à beira da


falência. É pouco tempo para dizer se vai dar certo ou não, mas as mudanças
foram significativas. Há esperança.

— Sim, há esperança. — Fiquei na ponta dos pés e beijei seus


lábios. — Obrigada pela oportunidade.

— Por nada. — Sorriu saudoso. — Ainda bem que o álcool não me


impediu de falar com você naquele dia, no bar.

— Meu Deus, eu falei tanta besteira. — Terminei de repassar o

corpo e ele também, desligando o chuveiro.

— Naquela época, estava chateado demais pensando que demorei


para assumir a empresa que Erik tanto gostava. Era seu sonho, ele amava ler.
— Terminamos de nos enxugar, deitamos na cama nus e nos abraçamos.

— Ele sempre foi um bom patrão. Me inspirava muito nele para agir
no trabalho. — Inspirei seu cheiro envolvi minha perna na sua, estávamos de
frente.

— Sim. Meu irmão era um exemplo de ser humano e como eu,


nunca quis se apegar a ninguém. Família era muito dolorido para se ter e
perder. — Beijou minha cabeça. — Vim para cá disposto a mudar essa
situação. Não queria ser rico e bem-sucedido se não poderia compartilhar
com alguém.

— O que viu em mim? — questionei, aproveitando o seu momento


de revelação.

— Posso dizer o que senti? — Fez uma pausa. — Fiquei intrigado


com sua postura. Apesar de se autodepreciar por conta do estrabismo, era
confiante no trabalho. Fui enfeitiçado e quando falou da bola de cristal, só
poderia te ver de uma forma.
— Cigana — falei fechando os olhos e me entregando ao sono. —
Eu amo esse apelido.

— E mesmo sem magia ou misticismo, você mudou minha vida e da


Livraria Progresso. Não conseguiria sem você.

— Claro que seria capaz, não se subestime — falei bocejando.

— Seria diferente. Com você, é tudo muito melhor. Minha redenção


quanto a vida que levava e para honrar o legado do meu irmão, posso afirmar
com convicção, você foi peça fundamental. — Bocejou. — Eu amo você.

— Home intenso, cuidado para não me assustar. Temos reunião


importante amanhã — brinquei sonolenta.

— Não mais do que você fez comigo. Confio em você e no que


sentimos.

— Sim — sussurrei. — Eu também.

Não precisou dizer mais nada, porque agora era o momento de


sentir. Pele com pele, coração exposto e alma à mostra, éramos um só ao
mesmo tempo que seres individuais. Era um acordo silencioso, onde o amor
prevalecia sobre preceitos empresariais ou sociais.

Uma mistura de pessoal e profissional, na medida certa de ser feliz.


Capítulo 10
Sofia

Chegamos juntos na livraria e seguimos para a sala de reunião. Em

poucos minutos, os investidores iriam aparecer e faria minha primeira


apresentação oficial para eles.

— Estou tão nervosa — falei baixo, plugando o pendrive no


notebook enquanto Enzo conferia as pastas com os relatórios finais do
projeto.

— Vai dar tudo certo. — Sua convicção quase me convenceu. A


porta da sala foi aberta com brusquidão e Gláucio apareceu sorridente.

— Bom dia chefia, Sofia. Consegui fazer um vídeo institucional da

Livraria para a introdução, acho que será legal. — Franzi a testa para Enzo e
deixei que Gláucio tomasse conta do computador. Ele não estava convocado
para a reunião, o que tirou meu foco do nervosismo para o estranhamento.

— Gláucio, eu vou precisar que você fique no operacional enquanto


lidamos com a reunião hoje. Você pode fazer isso? — Quando a imagem
bonita da Livraria, as pessoas trabalhando sorrindo e os clientes entrando,
meu coração se aqueceu. Eu ajudei a construir tudo isso? — Nossa, ficou
muito bom.

— Uau, Gláucio — falei admirada, a edição do vídeo tinha ficado


maravilhosa.

— Tenho outras habilidades. Se puder participar, apenas para a


apresentação desse vídeo, ficarei agradecido — a humildade de suas palavras

destoava tanto do jeito arrogante que ele cultivava que me deu medo. Enzo
olho para mim, pedindo com os olhos se poderia atender o pedido dele.

Acenei imperceptível que sim, continuei assistindo ao vídeo e me


deixei contagiar pelo resultado. Clientes satisfeitos, colaboradores felizes.
Céus, a crise nem parecia ter chegado ali e contribuí para a evolução positiva.

Envolvida pela emoção e do orgulho que sentia por minhas ações,


além de ter firme meus sentimentos com Enzo, recebi os investidores na sala
junto deles e conversamos inicialmente sem compromisso. Poderia me sentir

intimidada com os olhares chocados em minha direção, o estrabismo, muitas


vezes, fazia com que desviassem o olhar, como se o defeito fosse algo feio
demais para se ver.

Talvez fosse minha confiança, mas não me senti excluída como


normalmente acontecia. A editora multinacional estava aberta para a Livraria
Progresso e estava satisfeita por realizar a meta de Enzo. Ele não tinha falado
com todas as palavras, mas percebi no seu tom. Ter a empresa fazendo
sucesso lhe daria paz, a redenção por ter ficado tanto tempo sem se apegar a

família ou mesmo não ter criado uma própria.

Perder alguém que amamos doía, mas não aproveitar o que tinha
enquanto estava vivo era mais dolorido ainda.

— Meu diretor Gláucio nos agraciou com um vídeo institucional das

mudanças que aconteceram na Livraria.

Sentada ao lado do meu antigo chefe, perto do computador,


enquanto Enzo estava perto dos convidados me deu uma visão privilegiada.
Novamente assisti o início do vídeo, do quanto as pessoas estavam felizes e
contribuía para melhorar a energia da empresa. Havia esperança para a
Livraria Progresso, isso me motivava ainda mais.

Quando parecia encerrar o vídeo de apresentação, que eu ainda não


tinha assistido, uma cena ao longe foi tendo zoom e meu coração gelou. Essa

era eu, ajoelhada entre as pernas de Enzo, enquanto chupava seu pau. Fiquei
tão impressionada, que não tive forças para pedir que parasse ou fizesse
qualquer coisa.

— Seu filho da puta, desligue isso! — Enzo gritou, Gláucio bufou


com ironia e se levantou, sem fazer o que pediu. Vi em câmera lenta meu
namorado desligar tudo da tomada sem cuidado e pressionar o meu ex-chefe
contra a parede.

Olhei para os homens que vieram investir na empresa e senti tanta

vergonha, que baixei o rosto e me permiti chorar. Queria fugir, precisava me


proteger, mas só consegui me manter estática enquanto as vozes me
atormentavam.

— Acalme-se, por favor — um dos convidados falou.

— Vou matar esse desgraçado por expor minha namorada desse


jeito! — Enzo explodiu e a risada de Gláucio ecoou me fazendo ter nojo de
mim mesma.

— Vou adicionar ameaçadas de morte no processo trabalhista que


moverei contra essa livraria. Você está falido e eu me demito, cansei de ser
conivente do assédio moral e sexual que acontece aqui — as palavras dele foi
como ácido nos meus ouvidos.

Escutei barulho, xingamentos e consegui reunir forças do além para

me levantar e afastar da sala.

Tinha sido humilhada e pior, destruí os sonhos de Enzo. A redenção


que ele buscava foi para o lixo no momento que aquele vídeo foi exposto
para estranhos. Violada e suja, estava me sentindo desolada.

Saí da parte administrativa e segui para dentro da Livraria sem olhar


para trás. Alguns colegas de trabalho tentaram me frear, mas o toque deles na
minha pele parecia queimar minha alma.

Não queria falar com mais ninguém, não teria mais coragem de olhar

para eles. Com certeza esse vídeo foi compartilhado com todos e deveriam
estar rindo do que aconteceu.

Só tinha coisa ruim na minha mente, por isso caminhei por muito
tempo, pelas calçadas da cidade, antes de pegar um ônibus e ficar na minha

casa, meu refúgio, o único lugar que não me sentia julgada.

Mas foi só deitar na cama e sentir o cheiro de Enzo que desabei no


choro sofrido. A dor da exposição de um ato tão íntimo me fez duvidar de
mim mesma, inclusive, de Enzo.

Por quê? O que Gláucio iria ganhar com isso, destruindo a empresa e
a mim? E pensar que estava com dó de tirar a vaga daquele idiota. Foi isso
que ganhei em troca, humilhação.

Exausta de sentir pena de mim mesma, me rendi ao sono e preferia

nunca mais acordar na mesma realidade que dormi.


Capítulo 11
Enzo

— Filho da puta! Desgraçado! — xinguei alto e indignado depois de

encerrar a reunião e me desculpar com os investidores. Bem, pelo menos eu


tentei, porque estava descontrolado e se não fosse um dos funcionários ter
invadido a sala e tirado Gláucio de perto de mim, eu o teria espancado mais
do que tinha feito.

Ele ainda saiu rindo e dizendo que eu merecia o lixo que chupava
meu pau.

Puta que pariu, ele expôs minha mulher e não sabia onde ela estava!

Não me importava mais com o futuro da Livraria Progresso se

tivesse perdido Sofia. O trauma poderia ser demais para o nosso


relacionamento, mesmo que eu estivesse disposto a fazer tudo para que ela
visse que eu a amava.

— Senhor? — O mesmo colaborador que me ajudou com Gláucio


falou depois que bateu à porta e colocou a cabeça para dentro na minha sala.
Como um leão enjaulado, andava de um lado para o outro respirando
pesadamente. — Posso entrar?

— Se precisar de algo, veja com o RH, não posso atender no

momento. — Só pensava em ir atrás de Sofia ao mesmo tempo que queria lhe


dar tempo para respirar. Ontem eu já tinha gastado minha carta de namorado
desesperado, não dava para invadir seu espaço novamente, uma vez que todas
as mensagens que enviei, ela não viu e nem respondeu.

— Só queria que o senhor soubesse que tanto eu, quanto todos os


outros funcionários estamos a sua disposição para depor contra Gláucio. —
Ele entrou e ficou na porta, um tanto acuado. Parei de andar e o encarei, não
entendendo o que ele queria dizer. — O babaca saiu no meio dos clientes
difamando a empresa e ameaçando processar por assédio. Nós sofremos na
mão desse idiota, ele não vai queimar a Livraria Progresso, ainda mais com
Sofia no comando.

— Obrigado — fiquei comovido com a fidelidade que essas pessoas

tinham com minha namorada. Por Deus, ela era uma ótima profissional, por
que isso tinha que acontecer?

— E... — Ele desviou o olhar antes de continuar. — Também


sabemos o que ele aprontou na reunião. O vídeo foi compartilhado com
alguns colegas. — Meu coração parou uma batida, não pela minha exposição,
mas dela. Era foda, porque a mulher sofreria pelo julgamento e eu não
permitiria. — Queremos autorização para ir fazer um boletim de ocorrência

de crime digital. Sofia não merecia isso.

— Não. — Sentei na cadeira em frente a minha mesa e segurei


minha cabeça com as mãos. E agora, será que era a melhor opção? Não tinha
mais meu irmão para ligar e pedir opinião e Sofia, a minha cigana, precisava
da minha proatividade para que não padecesse. — Preciso acionar um

advogado.

— Meu irmão. Eu já liguei para ele e foi isso que me orientou. —


Encarei-o surpreso. — Se quiser, eu peço para que venha falar com o senhor.
Ele trabalha em um escritório especializado nesse tipo de crime.

— Vou confiar em você — falei me levantando e caminhando em


sua direção.

— E confiamos em Sofia. Ela estava feliz, isso quer dizer que você
estava fazendo bem para ela.

— Vamos. — Não quis mais dar brecha para falar da minha


intimidade.

Pouco a pouco, fui me acalmando. Divididos em carros, eu e alguns


empregados fomos até a delegacia e lá, encontrei o irmão do meu
colaborador. O doutor Igor Chaves me passou muita confiança e conhecia
alguns dos funcionários da delegacia que nos atenderam. Não só o
depoimento dos meus colaboradores foi recolhido, como o meu. Relatar o
que aconteceu acendeu a chama de querer fazer justiça com minhas próprias

mãos, mas fui muito bem orientado para me controlar.

Deveria pensar em Sofia.

Um oficial de justiça iria intimar no mesmo dia para que Gláucio


fosse depor. O advogado colheu cópia dos depoimentos, que relatavam os

abusos do diretor e também do recebimento do vídeo íntimo gravado e


compartilhado indevidamente.

Contratei o advogado e passei algumas horas com ele, acertando os


pontos e fechando um contrato para cuidasse desse assunto. Se Gláucio
colocasse os pés na minha livraria, eu o faria sair de lá dentro de um caixão.

Nem almocei ao voltar para a empresa e conversar com os


colaboradores de forma individual. Queria saber como se sentiam na
empresa, mesmo que Sofia já tivesse feito tal coisa. A maioria apoiava e fazia

questão de ter minha namorada como sua chefe imediata, o que me trouxe
tranquilidade.

Enviei várias mensagens para Sofia e quando a noite chegou, cogitei


ir até sua casa ou mesmo pedir que rastreassem seu celular. Uma mensagem
dela chegou e não me tranquilizou.

Sofia>> Sinto muito.


Enzo>> Você não tem nada por que se desculpar. Me diga, como
está?

Sofia>> Péssima. Envergonhada.

Enzo>> Posso ir até você?

Sofia>> Queria um tempo sozinha. Preciso processar o que

aconteceu.

Enzo>> Vou te ligar.

Chamei seu número duas vezes e em ambas, ela cancelou a ligação.

Sofia>> Não estou legal.

Enzo>> Me deixe cuidar de você. Eu amo você, isso não mudou.

Sofia>> Não aguento mais chorar, me deixe sozinha. Segunda eu


volto para a livraria e vejo o que fazer.

Enzo>> Por favor, não esqueça que eu te amo.

Ela não respondeu. Meu coração apertou e minha mente brilhou não
só com uma ideia, mas algumas. O acontecimento nublou o que mais
importava, por isso, lhe daria um tempo, mas não o dela. Domingo era dia de
almoçar na tia e eu estaria ao seu lado, como prometido antes de toda essa
bagunça acontecer.

Na ausência de um diretor e minha namorada, iria mergulhar no


trabalho e afugentar minha ânsia assassina. Lidaria com as consequências dos

investidores e se fosse necessário, injetaria meu próprio dinheiro na

Progresso para que ela voltasse a ser como antes.

Se o universo queria uma prova de quer era digno da mulher que


tinha e do trabalho que estava aprendendo a valorizar, ele teria.
Capítulo 12
Sofia

Passei alguns dias em profunda tristeza. Trocava mensagens secas

com Enzo, apenas para que ele não se preocupasse e invadisse meu espaço
como da última vez. Alguns colegas de trabalho também queriam notícias
minhas, mas não respondi nenhum, estava muito envergonhada.

Céus, e se eles tivessem visto?

Era muita humilhação, não sabia como lidar com tudo isso, então
fiquei em casa e chorei até não me aguentar mais.

Deveria ter cancelado o almoço de domingo com minha tia, mas não
poderia me afastar da única família que tinha por perto. Talvez, com sua

sabedoria, encontraria forças para voltar a trabalhar e não pedir demissão ao


invés de férias. Sim, precisava de mais tempo até que pudesse digerir o que
me aconteceu.

Passei de me questionar sobre o que fazia para xingar Gláucio. O


diretor do terror teria uma vida infeliz se dependesse das maldições que
fantasiava na minha mente.
Não era chamada de cigana por Enzo? Faria alguma simpatia para
que seu pinto caísse.

Saí do meu canto e fui até o portão começando a sentir saudades


daquele que me confortava de noite. A vergonha estava se transformando em
aceitação, uma vez que o que aconteceu não poderia ser mudado.

Será que ele continuava sentindo da mesma forma que antes? Fomos

imprudentes e no dia anterior, ainda cogitei fazer mais sexo no escritório. O


medo seria uma constante por enquanto, era fato.

— Não quer uma carona? — Escutei a voz de Enzo e parei de andar


na calçada. Ele estava na frente da minha kitnet me esperando e tão avoada
que estava, nem o vi.

Corri para os seus braços e o abracei com toda a minha força, ainda
mais quando ele me recepcionou caloroso. Inspirei seu cheiro e encontrei o
que faltava para me curar desse baque, a sensação de estar com ele por ser eu

mesma.

Não sabia que estava esperando sua invasão de espaço quando seu
cheiro me acalentou.

— Eu te amo, Sofia — murmurou dando vários beijos no meu


cabelo.

— Também amo você. — Levantei meu rosto e deixei que seus


lábios encontrassem os meus. O beijo começou casto e passou para ousado
em pouco tempo, o que me fez recuar e olhar para os lados.

— Não se preocupe, Gláucio está preso e nenhum outro ousará nos


prejudicar.

— O quê? Como? — Ele sorriu com alívio, beijou minha testa e me


fez entrar no carro.

— Isso é assunto para depois. Você está segura comigo. Quero


conhecer sua tia hoje, porque estou em uma missão.

Apesar de querer saber o que aconteceu, não entrei no assunto,


apenas mostrei o caminho até minha tia, que era próximo de casa. Antes de
entrarmos na casa dela, olhei-o com intensidade e acolhi toda a força que
precisava.

Minha tia nos recepcionou com seu jeito humilde e comida caseira.
Ele não deu oportunidade de almoçarmos primeiro, me pediu em namoro e

recebeu o sim da pessoa que representava minha família. Claro que ela
contou todas as situações embaraçosas de quando era criança e adolescente
para que Enzo soubesse com quem estava se metendo.

Poderia ter me sentindo mais humilhada do que antes, mas percebi


que me fez bem. O passado era esse e ninguém poderia mudar, diferente do
presente e do futuro, que escolhi ter ao lado de Enzo.
Mas... e a Livraria?

Passei mais tempo que o normal aproveitando a bolha de alegria que

era estar com minha tia e quando fomos embora, Enzo seguiu para o seu
apartamento e não questionei. Estava com saudades dele e do seu canto.

— Hoje foi bom — ele falou quando saímos do carro, na garagem


subterrânea do seu prédio.

— Sim, parece que parte da tristeza que estava sentindo foi embora.
Minha tia é comédia, faz qualquer um rir.

— Ela te ama e percebeu que você estava precisando disso. —


Abraçou meu ombro e seguimos juntos até o elevador.

— Eu também te amo — falei sorridente e ganhei um selinho antes


do elevador chegar. — Acho que estou melhor.

— Pensei que seria chutado da porta da sua casa — confessou

quando saímos do cubículo de metal e entramos no seu apartamento.

— Obrigada por respeitar meu espaço até hoje de manhã. Você fez a
coisa certa. — Ele fechou a porta e segurei seu rosto com uma das mãos. —
Será que mereço tudo isso para mim?

— Pode apostar, será prazeroso te mostrar tudo o que você merece.


— Ele me pegou no colo como uma noiva e caminhou para o seu quarto.
Meu coração parecia que ia pular pela boca, eu não aguentava mais surpresas.
— Começarei com te fazendo gozar na minha boca.

— Estou pronta para você.

Pouco a pouco, minuto a minuto, fui cedendo ao prazer e também a


sua dominação. A confiança e o amor que exalava me contagiava e fazia com
que os medos fossem afugentados. A cada toque era uma confirmação do
quanto eu era desejada e merecia tudo isso.

Então, quando dormi nos braços do homem que estava apaixonada e


acordei recebendo vários beijos carinhos, nem pensei no que ele preparava
para mim no dia.

— Ainda bem que tenho uma roupa de trabalho aqui, não queria ir
em casa — falei abrindo seu guarda-roupas e pegando minha muda extra.

— Tudo bem, seu cantinho está liberado, pode encher de coisas. —


Ele me abraçou por trás, tinha saído do banho e seu cabeço respingava água
em cima de mim.

— Mal me pediu em namoro, agora quem me chamar para morar


com você? — Ele chupou meu pescoço, me fazendo gemer e foi se vestir
enquanto eu sentia meu corpo inteiro reagir ao seu ato libidinoso. —
Provocador.

— Apenas para te deixar com vontade. De noite iremos comemorar.

— O quê? — questionei me vestindo e ele parecia ter falado demais,


porque deu de ombro e não mostrou entusiasmo.

— Nosso namoro. Nunca fizemos isso direito.

— Ainda me lembro dos orgasmos que tive — rebati divertida,


terminei de me vestir e quanto ele o fez também, abracei sua cintura. —
Obrigada pela paciência e por me apoiar. Fiquei sem chão ao ser exposta e...

— Não diga mais nada. Tudo está sendo cuidado e você não
precisará temer nada e ninguém.

— Gláucio realmente está preso? — Olhei para cima e a seriedade


da sua feição me fez segurar a respiração.

— Sim. Além do crime por compartilhar intimidade alheia, ele


também foi pego roubando o caixa da livraria. Eu chequei pessoalmente
todas as câmeras, ninguém mais seria exposto. — Alisou meu cabelo e
suavizou seu olhar. — Cada um estará no seu devido lugar.

— Posso pedir férias? — perguntei e ele me fez virar e caminhar


com ele em direção a cozinha. O cheiro de café da manhã feito por dona Ana
me fez sorrir.

— Quando chegarmos na livraria, você me fala se realmente vai


precisar ou não. — Senti mistério nas suas palavras, mas não dei muita
atenção, ainda mais quando tinha um bolo de chocolate para comer.

Entretida com os mimos que Enzo me proporcionava, fui para a


Livraria Progresso em um ânimo renovador. Será que ele tentava me
convencer de que tudo voltaria ao normal? E se alguém comentar sobre o

vídeo?

— Os investidores retornaram? — questionei baixo e ele apertou


meu joelho com carinho enquanto dirigia.

— O que aconteceu mostrou certa instabilidade na empresa, que não

foi culpa sua, mas minha, que bati no idiota — falou rápido e respirei fundo
para controlar minhas emoções. — Eles querem mais tempo, vamos
conseguir com eles ou faremos com outro.

Fiquei em silêncio, processando as entrelinhas. Ele ainda estava


executando meu plano de ação, ou seja, precisava de mim.

Quando parou o carro e saímos juntos de mãos dadas para entrar na


Livraria Progresso, nada nesse mundo me fez preparar para o que estava por
vir.

Como um casal, entramos e vários balões contendo palavras


motivacionais eram segurados pelos meus colegas de trabalho. Alegria,
dedicação, foco, empatia... Eles pareciam me esperar chegar. Confusa, olhei
para Enzo e ele me fez dar um passo sozinha até eles.

Olhei um por um com emoção e percebi que meu colega, um dos


que mais tinha afinidade, segurava um quadro com minha foto e a frase
“funcionária do ano” escrito.

— Você merece essa promoção. — Enzo se aproximou do meu

colega, pegou o quadro e me entregou. — Eu, em nome de todos, esperamos


que você não nos abandone e ajude a merecer os valores da Livraria
Progresso.

— Sim, Sofia. Nós te amamos. — Uma colega falou e vários outros

concordaram acenando.

— O diretor do terror foi embora. Queremos a diretora do amor em


ação! — Meu querido colega falou e bateu palma. Os outros soltaram os
balões, que subiram para o teto e me ovacionaram também.

Céus, eu era tão querida assim?

Enzo enxugou minhas lágrimas e sorri, agradecida e apaixonada,


porque eu tinha as melhores pessoas e superaria o trauma com a cabeça
erguida.

— Obrigada. Serei a melhor diretora do amor que vocês possam


imaginar. — Abracei o quadro e Enzo abraçou meus ombros com o braço e
ficou ao meu lado.

— Vocês fazem da Livraria Progresso o que ela é hoje. Obrigado por


aguentarem firme até que eu chegasse. — Ele beijou minha boca e falou
baixo no meu ouvido. — Obrigado por fazer parte da minha redenção.
Assobios e urros de felicidade foram dados antes que todo o
movimento cessasse e seguíssemos para os nossos lugares. Sim, estávamos

bem posicionados e agora, a harmonia enfim nos encontraria.

Mesmo que misturasse o pessoal com o professional, mostrei a todos


que era competente e merecedora da minha posição, conquistando o respeito
de todos.
Epílogo
Sofia

6 meses depois...

— Você foi espetacular, senhor Enzo Borges. — Bati palmas


quando fechei a porta da sua sala na Livraria Progresso depois que novos
investidores saíram com o contrato de parceria assinado.

— Tenho certeza que não foi uma vitória individual, senhorita Sofia
Campos — rebateu ainda organizando os papéis em cima da sua mesa.

— Só fiz a minha parte. — Dei pulinhos me aproximando. — Estou

tão feliz que finalmente conseguimos esse apoio. Já me preocupava com você
colocando dinheiro na livraria todos os meses.

Ele me puxou para sentar no seu colo e esqueceu o trabalho, focando


apenas em mim. Depois de tanto tempo juntos, já reconhecia quando
estávamos pensando em um ou outro momento. Podemos ter começado nossa
relação às avessas, mas continuamos alinhados desde então.

— Será que agora vai aceitar minha proposta?


Beijei sua boca, para não ter que responder algo que já estava certo
há algumas semanas atrás. Ele me pediu em casamento e queria que fosse

morar em definitivo em seu apartamento. A segunda parte eu já fazia e não


entendia o motivo dele pedir, sendo que já estava mais do que invadido por
minhas coisas, seu apartamento.

— Tentando tirar meu foco? — questionou entre os beijos, me fez

levantar e acabou com minha estratégia de agir e não falar.

— Eu já moro com você, se não percebeu ainda.

— E por que mantem a kitnet? — Ele me encarou com a sobrancelha


erguida e fiz uma careta, por não saber responder.

— Onde vou colocar todas aquelas tranqueiras? — Tentei me


afastar, mas ele segurou minha mão, pegou a carteira, a chave do carro e foi
junto comigo para fora da sala.

— Temos dois quartos de visitas. Você pode escolher um deles para

ser o seu canto. — Parou-me e beijou minha boca. — O apartamento é seu


também, já deveria se acostumar.

— Só consegui me acostumar com as mordomias de dona Ana. Não


me julgue — brinquei e quando saímos da parte administrativa para a livraria,
percebi que já estávamos fechando. — Céus, é tão tarde assim?

— Eu acho isso bom — murmurou no meu ouvido e soltou minha


mão da sua. — Vá para o nosso esconderijo, vou dispensar o pessoal de uma
vez.

A adrenalina correu nas minhas veias e o vi descer as escadas até o


caixa. Demorei um pouco para colocar minhas pernas para funcionar e seguir
o comando dele, que nos traria muito prazer.

Depois do desastre que foi a primeira reunião com os investidores,

relutei demais fazer algo íntimo dentro da Livraria. Enzo sempre respeitou,
até que fizemos dois meses de namoro e como presente, mandou enfeitar a
livraria e conseguiu me convencer, com seus lábios, mãos e corpo que seria
maravilhoso voltar a paixão avassaladora que tínhamos.

Entre as prateleiras cheias de livros, nós nos amamos e deixamos


uma parte da nossa vida para trás. O antigo diretor estava sendo processado
por Enzo, o que o fez desistir de processar a Livraria e se mudar para bem
longe de nós. Meus colegas de trabalho me respeitavam e nunca comentaram

sobre o vídeo.

Era um assunto encerrado.

Disfarçando, entrei no corredor que tinha nosso nome invisível nele


e esperei as luzes da livraria apagarem para me preparar para o que estava por
vir. Enzo era um homem ativo, apaixonado e eu estava completamente
sintonizado na sua frequência.
Quando um pequeno feixe de luz apareceu no meu campo de visão,
segurei a emoção ao ver meu homem segurando duas alianças em seu dedo

indicador.

Chegou próximo de mim, ajoelhou e me mostrou que faria o pedido


oficial.

— Sim — falei quando abriu a boca.

— Eu ainda nem disse nada, cigana — sussurrou divertido e ri para


não chorar de felicidade. — Quer se casar comigo? Dividir um lar,
compartilhar o trabalho e construir uma família?

— Será meu maior prazer fazer parte da sua vida e ter você na
minha. Eu te amo, Enzo.

— Também te amo, Sofia.

Ele deixou o celular em uma das prateleiras, ajoelhei a sua frente e

trocamos alianças. Beijei seu dedo comprometido e ele fez o mesmo, depois
tomou minha boca e nos fez levantar, para me pressionar contra os livros e
me amar despudoradamente.

Quem poderia dizer que o amor pudesse surgir em meio a tanta


provação? No final das contas, apenas ele foi necessário para que no final, o
felizes para sempre surgisse e a redenção finalmente se concretizasse.
Sobre a Autora
Mari Sales é mãe, esposa e escritora em tempo integral, analista de
sistema quando requisitada e leitora assídua durante as noites e madrugadas.
Nos intervalos entre suas vocações, procura controlar a mente para não se
atropelar em todas as ideias que tem. Entusiasta das obras nacionais de

romance contemporâneo, contribuiu com esse universo literário através do


blog Resenhas Nacionais e entrou no universo das publicações independentes
em janeiro de 2017 com Superando com Amor, e desde então, não tem planos
para parar tão cedo.

Facebook: https://www.facebook.com/autoramarisales/

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Luvbook: https://www.luvbook.com.br/perfil/MariSales/
Outras Obras

Box – Quarteto de Noivos: https://amzn.to/2JQePU2

Sinopse: Essa é a história de quatro primos solteiros que encontram o amor.

Coincidência ou não, o movimento para que eles se permitissem amar iniciou


com a matriarca da família, avó Cida, em uma reunião de família. Ela
mostrou, sem papas na língua, o quanto eles estariam perdendo se buscassem
apenas relacionamentos vazios.

O que era para ser um encontro casual se tornou em uma grande história
sobre a próxima geração da família Saad.
Nenhuma das mulheres que se envolveram com o quarteto de primos era
convencional. Quem as visse de longe, julgariam suas escolhas ou mesmo se

afastariam.

Fred, Guido, Bastien e Leo aceitaram o ponto de vista da avó de forma


inconsciente, mas se apaixonaram por completo com a razão e o coração em
sintonia.

Envolva-se com as quatro histórias e se permita olhar para a família Saad de


uma forma completamente diferente.

Obs: Esse BOX contém:

1- Enlace Improvável

2- Enlace Impossível

3 - Enlace Incerto

4 - Enlace Indecente

Epílogo Bônus
BOX – Família Valentini: https://amzn.to/2RWtizX

Sinopse: Esse e-book contém os seis livros da série família Valentini:


1 - Benjamin
2 - Carlos Eduardo

3 - Arthur
4 - Antonio
5 - Vinicius
6 – Rodrigo

1 - Benjamin – sinopse: Marcados por uma tragédia em sua infância, os


irmãos Valentini estão afastados há muito tempo uns dos outros. Benjamin, o
irmão mais velho, precisou sofrer uma desilusão para saber que a família era

o pilar de tudo e que precisava unir todos novamente.

Embora a tarefa parecesse difícil, ele encontra uma aliada para essa missão, a
jovem Rayanne, uma mulher insegura, desempregada e apaixonada por
livros, que foi contratada para organizar a biblioteca da mansão e encontrar
os diários secretos da matriarca da família.

Em meio a tantos mistérios e segredos, o amor familiar parece se renovar


tanto quanto o amor entre um homem e uma mulher de mundos tão distintos.
Entre o Caos e o Amor: https://amzn.to/2WdCF3Y

Sinopse: Quem disse que os acontecimentos ruins da nossa vida não podem
ser o prenúncio de dias melhores?

Mesmo com o coração em pedaços, Elaine seguiu sua vida e conseguiu o seu
tão sonhado espaço para eventos, o Espaço Vivifica. Morando debaixo de um
teto diferente do que seus pais, sua independência estava quase completa,
apenas um assunto do passado perturbava sua paz.

Jonathan de Paula viu a morte. Seu companheiro de anos na polícia foi morto
de forma cruel em um acidente e ele só não teve o mesmo destino, porque
uma mulher corajosa desviou seu caminho. Só que do acidente veio sequelas
e com elas, a vontade de se vingar, mesmo não fazendo mais parte do

batalhão.

O encontro dessas almas marcadas por um dia trágico tinha tudo para que o
assunto mal resolvido fosse esclarecido. Mas quando se tratava de um dia de
azar, nada seria fácil.

Elaine procura paz e independência, Jonathan, paz de espírito e justiça.

Juntos, eles não imaginavam, mas encontrariam o amor e a resolução de suas


vidas.

Obs. Essa história também conta o surgimento da empresa que Leonides


Saad, da série Quarteto de Noivos, faz parte.
Operação CEO: https://amzn.to/2Chlamo

Sinopse: Sabrina é uma profissional da área de TI que está tentando


sobreviver aos trinta dias de férias repentinas do seu chefe setorial. Sua
primeira atividade será ajudar o mais novo CEO da empresa, que possui um
sotaque irresistível e olhos hipnotizantes.

Enrico Zanetti assumiu a posição de CEO de forma repentina, depois que seu
pai foi afastado por causa de um infarto. Em poucos dias de presidência
descobriu que a empresa possui um rombo em suas finanças, e agora está
disposto a encontrar o responsável a qualquer custo.

Com a ajuda do setor de TI, Enrico descobrirá não só o responsável pelas


falcatruas em sua empresa, mas também uma mulher competente, destemida
e que, aos poucos, despertará seus sentimentos mais profundos e nem um
pouco profissionais.

No meio dessa complexa investigação, Enrico e Sabrina descobrirão


afinidades, traição e amor.
Encantadas por Livros e Música – Primeira Temporada:
https://amzn.to/2GFfZlF

Sinopse: Os dez contos da primeira temporária da série Encantadas por


Livros e Música está aqui, com um capítulo bônus final.

10 contos em um só livro! Serão várias páginas de muito amor, emoção e

erotismo.

O Desejo de Leo

O Sonho de Justin

A Aposta de Kant

A Farsa de Evandro

O Charme de Alex
O Rompante de Well

O Retorno de Fabiano

A Escolha de Bruno

A Marca de Ryan

A Promessa de Thor
Encantadas por Livros e Música – Segunda Temporada:
https://amzn.to/2GSAIk9

Sinopse: Os doze contos da segunda temporada da série Encantadas por


Livros e Música estão aqui!
2 contos em um só livro! Serão várias páginas de muito amor, emoção e
erotismo.
Um Amor Real Para Danilo & Hay
Um Jantar Para Tom & Cami
Uma Resposta Para Ethan & Helo
Uma Aventura Para Wires & Bruna

Um Convite Para Andreas & Thais


Uma Conquista Para Jake & Rita
Uma Nova Perspectiva Para Andrew & Simone
Um Recomeço Para Renner & Cassia
Um Passo Parra Daniel & vivianne
Uma Lenda Para Jared & Nayane
Um Abraço Para Denis & Juliana

Uma Ousadia Para Phil & Lilian


Selvagem Moto Clube: https://amzn.to/2QlULdz

Sinopse: O presidente do Selvagem Moto Clube está gravemente doente e


um sucessor precisará ser escolhido antes que John morra. O vice-presidente
deveria ser o herdeiro legítimo, mas seu mal caráter e negócios ilícitos fazem
com que essa vaga seja disputada.

John nunca quis que sua família se envolvesse com seu Moto Clube, mas sua

filha Valentine entra na disputa pela presidência e nada mudará sua decisão.
No meio dessa disputa entre o comando do Selvagem, Doc é o único homem
que ela poderá confiar para lutar pelo Moto Clube e quem sabe pelo seu
coração, que há muito foi judiado por outro motociclista.

Entre a brutalidade e o preconceito, Doc e Valentine encontrarão muito mais


do que resistência nos membros do Moto Clube, mas intrigas e traição.
Aranhas Moto Clube: https://amzn.to/2x62CDU

Sinopse: Ter um relacionamento afetivo nunca foi preferência na vida de


Rachel Collins. Seu trabalho e seu irmão eram as únicas prioridades, até que
seu caminho cruza com o de Victor Aranha em um tribunal, em lados
opostos. O homem de postura arrogante e confiante, presidente de um Moto
Clube, abalou os planos da advogada.

Tempos depois, os dois se encontram informalmente e a chama adormecida


se acende. Prudente e competente, Rachel acaba em conflito de interesses ao
ser convidada por Victor, para uma noite sem compromisso. O lado pessoal
dos dois estava pronto para colocar em risco tudo o que construíram.
Ela seguia as leis. Ele as quebrava.
Victor precisa de assessoria jurídica, e claro que convoca a atrevida Rachel
Collins. Tentada pelo desafio, acaba envolvida em muito mais do que suas
teias, mas no lado obscuro do Aranhas Moto Clube.
Piratas Moto Clube: https://amzn.to/2QpLOzN

Sinopse: Ser o presidente do Piratas Moto Clube nunca tinha passado pela
cabeça de Richard Collins, um homem respeitado e de valores tradicionais.
Ele assumiu o posto de chefe de família muito cedo e isso trouxe sequelas
para sua confiança. Apesar disso, ninguém sabia que debaixo daquela postura
firme e cheia de argumentos morava um homem assombrado pelas suas

limitações.
Nina está envolvida em todos os assuntos dos seus amigos, principalmente
quando Richard, seu Lorde da vida, está em causa. Quando ele precisa de
proteção extra, além do que já tem por causa de JFreeman, ela não só se
voluntaria, mas decide investir, finalmente, na sua atração pelo homem que é
o verdadeiro príncipe de terno e gravata.
Apesar de serem de mundos diferentes e com convicções completamente
opostas, as circunstâncias colocarão à prova tudo o que acreditam, inclusive
seus próprios medos.
As aparências trazem julgamentos precipitados e as histórias de família mal
contadas também. Existem muito mais segredos pirateados do que ocultos
nessa história.

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