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Índice

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
CHEGOU AO FIM, CARA MENINA
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Eu deveria
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Epílogo
Obrigada por ter lido!
Biografia
Série Escolhas
OBRAS DA MESMA SÉRIE:
Faz de conta que é amor
de conta que acontece
A Eterna Promessa
2021
Todos os direitos reservados.
Criado no Brasil.
Edição: Rafa Alves
Revisão: Larissa O. Gomes.
Designer da capa: Mirella Santana.
Foto da capa: Biaura Fotografia.
Modelo da capa: Ricardo Gimenez
Diagramação: RP Design Editorial.

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são produto da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Todos os direitos estão reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução


de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios - tangível ou intangível - sem o
consentimento escrito da autora. Criado no Brasil.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do código penal.

1º edição, Rafa Alves, 2021.


Trilha Sonora

Então você sorriu sobre seu ombro


Por um minuto, eu estava sóbrio
Eu te puxei para perto do meu peito
E você me pediu para passar a noite
Eu falei
"Eu já falei que acho que você deveria descansar um pouco"

Eu sabia que te amava


Mas você nunca soube
Porque eu fingia estar calmo
Quando tinha medo de te perder
Eu sabia que precisava de você
Mas eu nunca demonstrei
Mas eu quero ficar com você
Até ficarmos grisalhos e velhos
Apenas diga que não vai embora
Apenas diga que não vai embora

James Arthur - Say You Won´t Let Go


Prólogo

Talvez seja assim que as coisas tem que ser, afinal. Talvez, a
melhor decisão teria sido não segurar sua mão quando tudo ficou
escuro aquele dia.

Pequenas decisões. Pequenos momentos. Pequenos picos de


adrenalina.

Talvez, se eu não tivesse segurado a sua mão, eu não teria me


apaixonado pelo calor da sua pele, nem em como elas se encaixam.
Talvez, se eu não tivesse segurado a sua mão, não iria estar
pensando em como tudo teria sido se eu não tivesse conhecido
você.

É incrível como uma simples decisão, muda completamente as


nossas vidas. Cria novos caminhos, novas escolhas. Tudo muda tão
rápido e ao mesmo tempo tão devagar...

Eu só sei que se eu não tivesse me aproximado de você, não me


sentiria assim: completa. Nem saberia a sensação de me arrepiar ao
sentir seu toque pelo meu corpo, nem de perder o fôlego ao sentir
sua boca contra a minha. Eu não teria me machucado, não teria me
destruído por dentro. Eu não teria passado horas do seu lado
contando meu dia, nem iria sentir o aconchego do seu abraço. Não
teria brigado tanto, chorado tanto, amado tanto... se não fosse
aquele dia.

O dia em que eu segurei a sua mão na escuridão.

E mudei meu mundo no processo.


Capítulo 1

Eu odeio a realidade da vida! Aquele meio termo entre o que


desejamos, sonhamos, e o que de fato, acontece. Idealizamos tanto
as coisas e colocamos tantas expectativas, que quando acontece o
oposto do que pensamos, nos frustramos e desejamos nunca ter
sonhado com aquilo. Odeio a perfeição, os mínimos detalhes, a
prioridade que as pessoas colocam nas pequenas coisas.

É como se tivéssemos que seguir um padrão, do que é bonito e o


que é feio. Do que é certo e errado. O que devemos fazer ou não.
Nossa vida é regrada por críticas, conselhos, comentários idiotas que
acabam nos afetando mais do que gostaríamos.

E eu odeio criar uma expectativa sobre algo e depois me


decepcionar.

Fui assim desde criança, sonhava além... E sempre tive um


problema ao acreditar demais no que os outros falam pra mim. Na
importância que todo mundo dá. E foi por seguir tanto o que todo
mundo quer, que eu preciso aprender a parar de escutar o que eu iria
gostar de ouvir, e enfrentar a realidade.

— Abre a porta, Rach! — A voz de Max soa ainda mais irritada do


que as outras cinco vezes que ele disse isso.

— Não! Não vai rolar! — resmungo e tenho vontade de quebrar o


espelho gigante á minha frente.

Hoje eu preciso que tudo saia lindo e especial. Afinal, já não


aguento mais minha família ficar no meu pé sobre meu noivo. Não
depois de tanta coisa. Ele fugiria assim que conhecesse toda a
minha família.

Quando me mudei para São Paulo, fiquei um tempo gastando


todo o dinheiro que juntei para tentar conseguir um emprego em
algum jornal. Passei meses apenas gastando minhas economias, e
já estava quase desistindo porque não conseguia nenhuma
oportunidade legal. Tudo dava errado, minha grana curta só dava
para pagar o aluguel do quartinho que eu estava, e às vezes eu
comia qualquer coisa apenas para não ficar com fome.

E aí, quando eu consegui o emprego no jornal, rezava para não


ser demitida. E aos poucos tudo foi se ajeitando. Eu fui me
reerguendo. Não dei aos meus pais e toda a minha família o poder
de dizer: "Eu disse que jornalismo não iria dar certo pra você". Ou
pior: "Sabia que isso não daria certo. Já parou com a
palhaçada?". Todo mundo queria que eu fizesse direito igual ao meu
irmão mais novo. Ele era o orgulho da família. Já eu, era a ovelha
negra.

Assim que as coisas deram certo, e eu consegui financiar meu


apartamento, que é um amor e pequeno, mas é o que eu posso
pagar. Tudo foi se ajeitando. E então... Eu conheci o Pedro.

Fui apaixonada por ele por dois anos, ele trabalha no jornal. Sua
mesa fica de frente para a minha, e eu sempre lhe dei o maior mole,
mas ele nunca me dava uma pista sequer. Nenhuma pistinha! E
quando enfim desisti dele... descobri que ele também gostava de
mim. Ele ficou na minha cola, e eu fiquei dividida entre insistir em
algo que um dia eu tanto sonhei, ou dizer "Agora sou eu que não
quero." Mas, tudo parecia certo, o momento e as pessoas ao nosso
favor. Então resolvi me arriscar ao invés de pensar naquele
insuportável e clichê: "E se".

Demoramos um pouco para ficar juntos. Mas aí o tempo foi


passando, o que eu sinto por ele foi ficando mais forte e o amor foi
crescendo. E quando foi nosso aniversário de um ano e meio de
namoro, Pedro me disse que deveríamos levar isso a um nível mais
elevado. E foi aí que ele soltou "Acho que a gente devia se casar".

E é bem aí que eu percebi que eu estava escondendo meu


namoro da minha família, por dois medos idiotas e justificativos. Um
era deles criarem uma expectativa e a gente terminar. E a outra é
dele conhecer minha família e sair correndo desistindo do
casamento. Sim, acho que a segunda opção é bem considerável!

Sabe aquela família educada, gentil? Que se preocupa se você


está comendo algo, se está gostando ou precisando de alguma
coisa? Aquele tipo de família que senta todos na mesa do jantar e
contam histórias do passado, e tiram inúmeras fotos? Pois é... Minha
família é pior que isso.

Eles são controladores, querem saber o até a ficha criminal da


pessoa. Então eu sempre guardei tudo pra mim. Eles me amam, mas
sempre agem como se eu ainda fosse uma garotinha que não sabe
direito o que está fazendo da vida. Acho que eles nunca me
perdoaram por sair de casa.

Ainda me lembro das reações de todo mundo quando eu contei


que iria cursar jornalismo. Luís, meu irmão do meio, ficou em
silêncio, pra ele não fazia diferença alguma. Ele apenas me
parabenizou por eu ter passado na faculdade. Mamãe ficou em
desespero porque eu iria estudar longe. "O que eu iria comer? Quem
ia me ajudar com as coisas? E se eu passasse mal?". Meu pai
fechou a cara, sem nenhuma expressão. Se levantou e saiu da sala
sem nem olhar na minha cara. E Rodrigo estava lá, com um sorriso
tão grande, os olhos brilhantes de orgulho, como se dissesse "Minha
irmã vai ser uma jornalista da porra". Ele sempre desejou isso para
mim.

Acho que ele e mamãe, mesmo que ela ás vezes se importe mais
com as coisas materiais do que sentimentais, são os que mais se
preocupam comigo. E foi por isso que não contei a eles do Pedro.
Tudo entre nós estava bem, então não queria que nada
atrapalhasse. Queria tomar minhas próprias decisões.

E agora, não posso mais fugir. Já adiei esse encontro o máximo


que pude. Minha família só faz pressão. Por fim, marquei um jantar
com ele para comunicar e conversar sobre o jantar de noivado que a
minha família está esperando. Eles estão loucos para conhecer
Pedro.

Eles só ficaram ansiosos para conhecer ele quando contei que


ele conseguiu um trabalho internacional. Ele iria trabalhar online.
Mandaria as matérias, e estava dando certo. Ele estava ganhando
bem e crescendo demais profissionalmente. E Arthur, o redator chefe
do jornal onde nós trabalhávamos, estava queimando todos os
neurônios para tentar manter Pedro no jornal e não perdê-lo. Mas
estava difícil. O salário era alto demais e Arthur e ele não
conseguíam entrar em nenhum acordo. De um lado completamente
diferente de mim, Pedro era bem ambicioso. Queria sempre mais, e
não se preocupava com o mínimo que poderia ser mais importante
que qualquer coisa.
— RACHEL, PORRA! — Max grita do outro lado da porta. — Eu
não tenho o dia todo!

Ah, meu Deus! O Max!

Solto um suspiro e abro a porta do meu apartamento. Max está


com as mãos no batente da porta, com a cabeça baixa, como se
estivesse encostado a testa na porta enquanto implorava para eu
abrir a porta logo. E quando vê que eu abri, ele ergue o rosto, vejo
seus dedos apertarem a madeira abaixo de sua mão. Ele trava o
maxilar e olha para o meu corpo, da cabeça aos pés. Sorrio ao olhar
para a barba que cresceu em seu rosto, se tornando um leve
cavanhaque marcado e escupido perfeitamente em seu rosto.

As mulheres piram em Max de todas as maneiras possíveis.


Talvez seja porque o corpo dele é completamente esculpido...
Consigo ver a anatomia dos músculos só de olhar para seus braços,
que fica ainda mais esculpido em sua tatuagem no braço esquerdo.
O que mais acho lindo nele, é essa barba. Malditamente sexy.
Fazendo aquela imensidão verde penetrar no fundo da minha alma.
Mas é claro que eu jamais iria falar pra ele o quanto ele ficaria lindo
de barba, Max a detesta. Ele detesta quando as mulheres o elogiam
demais. Ele odeia regras e pessoas que se aproximam somente pela
aparência que ele possui.

Nós dois demoramos um tempo para ficar amigos e acho que o


que mais nos uniu foi isso. A nossa capacidade de enxergar um ao
outro pelo olhar. Não poderia existir um melhor amigo nessa terra
melhor do que o meu, parado irritado por me esperar tanto tempo
para abrir a porta.

— Qual a emergência? — ele sussurra e vai entrando para dentro


do meu apartamento. Assim que fecho a porta atrás de mim, ele olha
para meus peitos e eu rujo de raiva.

— Dá pra parar?! — Reviro os olhos e passo por ele o


empurrando e indo para meu quarto.
— Parar de quê? De olhar para...

— Não se atreva, Max! — Paro e ergo um dedo o impedindo de


continuar. — Você só reagiu como eu imaginava.

— O que eu posso fazer? — ele fala. — Esse vestido está tão


decotado que qualquer cara que te ver só vai te imaginar nua. Anda,
vai lá, pode tirar isso... — Ele me vira, coloca as mãos em minhas
costas e começa a me empurrar para o quarto.

— Tá vendo? Tá mesmo ridículo! — resmungo e o deixo me


levar. — Por que eu tive que comprar isso?

— Ei, espera... Breve pausa. — Ele me para e então


aquele v sexy se mostra no meio de suas sobrancelhas. — É sério
que todo aquele drama e desespero no celular era para eu dar a
minha opinião sobre um vestido? — Max me olha tentando manter a
calma. — Por favor, Rach, me diz que realmente tem outra
emergência aqui!

— Bom... Eu... Ah, que se dane! Isso é...

— Rachel! — ele diz soltando meu nome como se soltasse o ar


que estava o mantendo no controle. — Eu estou trabalhando bem no
sábado, porque deu problema na impressão do jornal lá na gráfica!
Não tenho tempo para ser seu estilista pessoal! — Ele se vira para
sair e eu corro até ele e o impeço de sair do quarto.

— Mas eu preciso de você.

— Pensei que fosse uma emergência! — ele diz alto. Aquelas


listras em sua testa aparecem e eu mordisco a lateral da minha
bochecha, sempre que fico irritada tenho essa mania. — Pensei que
estava passando mal, de ressaca... — ele hesita por um momento e
então um canto de sua boca se ergue para cima e ele morde os
lábios, lentamente. — Desistido do casamento e a fim de fugir... —
Cruzo os braços de frente ao meu peito e ele solta uma gargalhada,
e então descruza meus braços e me vira de costas. — Mas, isso? —
Ele aponta para o meu vestido e faz negação com a cabeça.

— Mas é uma emergência! — Suspiro. — Eu quero ficar bonita. E


que seja um apelo convincente para ele aceitar o convite da minha
família para jantar.

Max ergue a sobrancelha e ri sem graça, vai se afastando até


chegar na parede, onde se escora e coloca as mãos nos bolsos da
frente de sua calça jeans. Espera eu terminar de ajeitar o vestido em
meu corpo, e quando me viro, estranho sua expressão.

— Max?

— Resolveu apresentar ele pra sua família? — ele diz e enfim


ergue os olhos até encontrar os meus.

— É. Tá na hora, né? — Abraço meu corpo e solto um suspiro.

— É, só que... — Ele se aproxima de mim, ergue sua mão e pega


uma mecha do meu cabelo, enrola em seus dedos e depois a coloca
atrás da minha orelha. — Isso é meio sério, não acha?

Solto uma gargalhada e Max revira os olhos.

— Bem, Max, eu vou me casar! Então meio que o sério já


aconteceu e eu é que estou atrasada protegendo ele da minha
família! Chega uma hora que não dá mais pra fugir, né?

— Ok. Vai lá, estraga sua vida! — ele diz e verifica seu celular.

— Estragar? Max! Eu vou me casar!

Ele ergue os olhos e então sorri.

— E isso não é uma droga? Eca se prender a alguém!

Começo a rir e me aproximo dele. Puxo seu rosto e beijo sua


bochecha com força. Acho engraçado o jeito como sua barba faz
cócegas em minha pele, quer dizer, deve ser isso já que minha pele
se arrepia assim que o toco.

— Sou que nem a Gi. Louca pra ver quando se apaixonar por
alguém. Aí vai entender como nos sentimos em relação a outra
pessoa.

Max passa seu braço pela minha cintura e beija minha bochecha
também soltando um suspiro.

— Isso não vai acontecer. Sou feliz assim, minha linda. — Max
me solta devagar.

— E as coisas profundas?

— Rachel, na boa, não tô a fim de falar sobre essas merdas de


babaquisse do amor. — Ele revira os olhos e se senta na minha
cama.

— Não é babaquisse! É bom ter alguém que podemos ser nós


mesmos. Confiar e...

— Eu tenho você! — ele fala começando a se irritar sobre o


assunto. — Você é meu saco de pancada, e as outras para aliviar a
tensão.

— Argh! Não quero detalhes, obrigada.

Me aproximo dele e dou uma voltinha sorrindo.

— Por favor? — murmuro baixinho. — Tenha piedade!

Ele sorri e faz negação com a cabeça. Fica pensativo como se


estivesse decidindo se me ajuda com o chilique de crise feminina ou
não. Porém, assim que mordo meus lábios, ele desvia o olhar e
revira os olhos. Tira do bolso seu celular e me mostra.

— Tenho dez minutos para voar daqui, então fala logo.


— Ok! — Sorrio, pego sua mão e o levo comigo até o espelho.
Paramos de frente ao nosso reflexo, e suspiro. — Na manequim
estava lindo! Mas meu culote tá terrível! Eu tô deformada com esse
vestido! Por que as pessoas magras tem que ser tão exibidas? E por
que meus peitos parecem que vão sair pra fora se eu simplesmente
me agachar?

Max fecha os olhos como se estivesse tentando ter paciência e


então olha pra mim.

— Não sabia que era neurótica — ele fala e me dá um tapa leve


na cabeça. — Para de drama, você é linda, tem um corpão e uma
bunda de dar inveja. Para de mimimi e vista o que quiser. E seus
peitos estão assim porque são grandes, sorte sua. É só isso. Posso
ir?

— Max, não é drama! Eu preciso ficar linda para distrair o Pedro e


convencê-lo a aceitar ir no tal jantar idiota lá da minha família.

— E o que eu tenho a ver com isso?

— Quero que me dê sua opinião masculina. Não é pra isso que


serve amigos homens? — solto e ele abre a boca surpreso, e então
solta uma gargalhada gostosa.

— Na boa? Rachel, tanto faz — ele fala e chega perto de mim e


abaixa o zíper do meu vestido. — Eu sou mais do tipo sem roupa.

— Idiota! — Reviro os olhos e começo a rir. — É sério, Max!

— Também estou falando sério... É a opinião masculina.

— Eu quero sua opinião real! Não quero que pense com seu
amigo lá em baixo quero que pense com os miolos do seu cérebro,
idiota! — Reviro os olhos e tento fechar meu zíper das costas mas
não consigo, e isso me deixa estressada.

— Rachel?! — ele sussurra e eu continuo me esforçando para


fechar o maldito zíper.
Quase... Quase pegando...

Max segura meus braços e me impede de continuar tentando,


inutilmente, fechar meu vestido. Ele ergue meu rosto com o polegar e
segura meu rosto em suas mãos.

— Olha pra você! Você é linda! Não importa que roupa use, ok?
Para de drama porque eu não tenho paciência pra frescura, ok?

— Ok. — Suspiro me sentindo uma idiota.

Max sorri de lado, e coloca meus cabelos para trás dos meus
ombros.

— Então repete — ele pede.

— Eu sou linda e maravilhosa, e vou parar de frescura porque...

— O jeito que você é, é o que importa — ele diz.

— Me sinto ridícula agora. — Reviro os olhos. — Acho que esse


lance de noivado tá me enlouquecendo.

— E agora eu preciso ir. Tô liberado? — ele fala já se afastando e


conferindo o celular novamente.

— Tá! Vai! — Suspiro.

— Ei... O que sempre falamos?

— Vai embora, Max! — Solto uma gargalhada e começo o


empurrar em direção a porta da sala.

— O que nós falamos? — ele repete assim que chegamos até a


porta.

— Eu, você, juntos pra sempre — resmungo e ele sorri.


— Pra sempre. — Ele beija o topo da minha cabeça e então
desliza sua mão da minha cintura para as minhas costas e aproxima
a boca do meu ouvido. Sinto sua mão no zíper atrás do meu vestido
e Max o fecha devagar. — Veste aquele vestido vinho que usou no
noivado da Gi. Tenho certeza que ele irá aceitar ir até para o inferno
com você.

E então ele se afasta sem olhar pra mim e sai fechando a porta
atrás dele.
Capítulo 2

Ando de um lado para o outro esperando o interfone tocar e


Pedro dar o ar da graça. Já ensaiei inúmeras vezes de frente o
espelho o que irei falar com ele. Por um lado eu me sinto meio
culpada por nunca ter permitido esse encontro do meu namorado —
quer dizer, noivo — com a minha família. Mas, por outro lado, Pedro
às vezes me perguntava, porem, nunca incentivou esse encontro.
Acho que no fundo ele sabe do meu receio e deixou essa decisão
para mim, para quando eu estivesse pronta.
Suspiro e vou até o espelho. Ajeito o vestido em meu corpo e
sorrio ao perceber que Max fez mesmo uma escolha certa. O vestido
vinho molda todo meu corpo, tem um formato de coração no decote,
e bate pouco acima dos meus joelhos. Na lateral das minhas pernas,
tem um leve corte, sendo sensual e recatada ao mesmo tempo.
Calcei um sapato de salto preto e fiz alguns cachos em meu cabelo.

Sempre quis pintar meu cabelo, ou fazer luzes, mas nada parece
combinar comigo. Então preferi deixá-lo castanho mesmo. Ele bate
até a minha cintura, e os cachos já estão virando apenas ondulações
já que meu cabelo é tão grande que pesa os fios.

Solto um suspiro e olho diretamente nos meus olhos, imaginando


Pedro no meu lugar.

— Então, minha família quer conhecer você. Adiei isso muito


tempo porque não queria que você desistisse do casamento ao ver o
que te aguarda — começo e reviro os olhos. — Isso está horrível!

Respiro fundo e vou até o espelho de novo. Max tinha razão,


esse vestido vinho é bem sexy. Sorrio, e pego meu celular para olhar
as horas

10 minutos de atraso.

Que droga! Sou péssima nessas coisas!

Reviro os olhos, e meu celular apita com uma mensagem. Assim


que vejo "Grupo família", já congelo. Abro depressa e vejo a
mensagem da minha mãe.

MÃE: Rachel, advinha? Já convidamos nossos vizinhos e


amigos para a festa que faremos para você de noivado! Isso
mesmo, não acho que jantar iria ser legal, então preferi cancelar
e fazer uma festinha como deve ser, né? Você vai desencalhar,
isso precisa ser comemorado!Espero que seu noivo misterioso
goste!
Que droga! Como assim agora vai ser uma festa? Já basta Pedro
conhecer minha família, agora tem que conhecer os amigos e
vizinhos. Sério? Agora mesmo que eu iria ter que penar para fazer
ele aceitar essas tantas informações ao mesmo tempo!

O interfone toca me trazendo para a realidade. Ok. Seja o que


Deus quiser!

— Oi?

— Amor, sou eu. — ele fala no interfone.

— Já estou descendo.

Suspiro fundo e saio de casa, tranco tudo e entro no elevador. À


medida que os números vão descendo meu coração se, acelera. É
como se eu estivesse prestes a fazer uma apresentação onde tenho
que sair bem para conseguir a aprovação. Ou, como se estivesse em
um teatro, as cortinas prestes a se abrirem, o silêncio repleto de
expectativa, até que a cortina do teatro se abre, assim como a porta
do elevador. E eu me vejo sorrindo e implorando a Deus para
conseguir encenar o melhor pedido de quase casamento para Pedro.
Saio e dou tchau para o o Martinho, o melhor zelador de todos os
prédios, e encontro Pedro já dentro do carro.

— Ei, tudo bem? — Sorrio e fecho a porta, puxo o cinto de


segurança e o prendo ao redor do meu corpo.

Pedro está com o celular nas mãos, totalmente absorto, seja lá


qual fosse o assunto.

— Pedro? — o chamo.

— Oi. — Ele ergue um dedo me pedindo um minuto, continua


digitando a mensagem ao celular e sorri.

Suspiro e meu celular vibra. Olho e vejo que é uma mensagem de


Max.
MAX: E aí? Ao ver você com o vestido ele desistiu de sair e
já levou você de volta para casa? kkk

Começo a rir, e olho para Pedro de novo. Ele começa a mandar


áudio para alguém.

— Chegando em casa eu te mando todos os arquivos que iremos


precisar e a gente combina o resto. Estou meio ocupado agora, mas
meu compromisso não vai demorar muito, assim que chegar em
casa eu te informo.

“Meu compromisso não vai demorar muito.” Então, sair comigo


tem que ser rápido porque ele tem coisas mais importantes para
fazer?

Pedro sorri e então, ou até que enfim, ele bloqueia o celular e o


coloca perto da porta e se vira pra mim sorrindo.

— Oi, amor. Desculpa por isso. — Ele sorri e se aproxima de


mim, beija minha boca rápido e então já dá a partida no carro. — Era
um sócio que eu conheço.

— Tudo bem — murmuro.

— Mas vou conversar mais sobre isso durante o jantar. — Ele


sorri. — E aí? Animada?

— Claro — sussurro.

— Então que bom porque eu estou morrendo de fome.

Ele liga o som e sorri. Não olha pra mim, não me explica nada,
não pergunta como estou.

Pego meu celular e digito uma mensagem para Max.


EU: Digamos que ele nem ao menos notou. Sua reação tá
sendo melhor do que a do meu noivo. ( Estou revirando os olhos
até eles ficarem brancos.)

MAX: kkk Ele é um idiota! Se quiser, ainda dá tempo de te


encontrar e prometo fazer o que é certo.

Suspiro irritada quando Max o chama de idiota. Ele não é. Essa


implicância entre eles que é idiota, isso sim.

EU: E o que seria? Se você me encontrasse iria fazer o quê?

Mando a mensagem e Pedro muda a música que está tocando.


Começa a tocar sertanejo. Ele fica cantando a música baixinho
enquanto batuca os dedos no volante do carro.

MAX: Iria te ver e falar: "Na minha cama ou na sua?"

Começo a rir e Pedro desvia os olhos por um segundo, prestando


atenção em mim e depois volta a se concentrar na direção.

EU: kkkk Você é um idiota, Max!

MAX: Idiota? Imagina, pode ser no elevador. Aí a gente


suborna o Zelador depois.

EU: Kkk Ah claro, coitado do Martinho!


MAX: Que isso, seu Martinho é dos meus. Tô sabendo.

Fico aguardando ele mandar mais alguma coisa, mas ele não
manda. Então suspiro e um sorriso bobo toma conta dos meus
lábios.

EU: Obrigada por me fazer sorrir.

MAX: Eu e você, pra sempre. Tá lembrada? Qualquer coisa


me chama que eu dou uma lição nesse seu noivinho imbecil, tá?
Uma lição bem no meio da cara.

EU: Já falei pra não chamar ele assim.

MAX: Então fala pra ele começar a tomar atitude de homem.


Aí podemos conversar.

Reviro os olhos e Pedro coloca uma mão no meu joelho,


chamando minha atenção. Então decido por encerrar isso de uma
vez.

EU: Depois a gente conversa mais, tá?

MAX: Ok. Bom jantar, e boa sorte!


Bloqueio meu celular e o jogo em meu colo, coloco minha mão
por cima da mão dele em meu joelho e pela primeira vez ele sorri ao
olhar pra mim.

— Algum problema? Quem era nas mensagens? — ele


questiona.

— Ah, nada não. Era só o Max. — Sorrio e sinto sua mão apertar
meu joelho com mais força.

— Rach...

— Não. Por favor... Hoje não — murmuro já sabendo o que vem


em seguida.

— Como hoje não? O que você faria se fosse uma situação


contrária?

— Max é meu melhor amigo — resmungo. — Não vou deixar de


conversar com ele só porque você fica com esse ciúme sem sentido.

— Ah, tá, claro! Sem sentido? O cara fica na sua cola desde que
eu te conheço. Não quero que ele fique entre nós.

Reviro os olhos e deito meu rosto no banco.

— Justamente, ele e eu somos amigos há muitos anos. E nem eu


e nem ele nos aproximamos no sentido romântico, não é agora que
isso vai acontecer. — estico minha mão até sua nuca, e entrelaço
meus dedos em seus cabelos. — Ele é só meu amigo.

— E se eu tivesse uma amizade assim com uma mulher? Você


iria gostar? — ele me pergunta, me intimidando. — Isso não vai rolar,
tá me ouvindo? Você e ele, ele indo lá em casa... Porra, Rachel, ele
já viu você só de toalha!

— Argh! Aquela vez você estava junto e eu nem sabia que ele
estava lá.
— Aquela vez? — ele questiona e ergue a sobrancelha. E eu
percebo o que ele quer dizer. — Tiveram outras?

Solto um suspiro de raiva e me solto dele. Fico em silêncio e isso


é a resposta que ele precisa.

— Desculpa — ele sussurra. — É só que...

— Você me acha uma qualquer? Pedro, eu não fico sem roupa


perto de outros caras. Nunca aconteceu. Eu não sou o tipo de
pessoa que trai.

— Eu sei. Mas, só me entenda — ele implora e segura a minha


mão. — Não é que eu queira que você pare de falar com ele.

— É óbvio que não. Jamais faria isso.

— Eu só estou pedindo que não dê tanta liberdade assim. Eu sou


homem Rachel, eu conheço Max, já vi como ele a olha de vez em
quando.

Solto uma gargalhada alta e Pedro franze a testa.

— Como uma irmã? Pedro, não viaja! Max tem tipo... Umas treze
namoradas, eu não sou o tipo dele, ele não me olha... — Movo
minhas mãos e começo a rir — Assim! Ele não me olha assim!

— Tá, desisto de falar com você. — Ele revira os olhos e segura


minha mão de novo. — Só... por favor, não deixa ele ficar entre nós.

— É claro que não! — Sorrio e me aproximo dele, beijo sua


bochecha. — Eu amo você, bobão!

— Obrigado. — Ele sorri e beija a palma da minha mão. — Eu


também te amo. Sabe disso.

Suspiro e então me ajeito no banco. Pedro depois de um tempo


começa a cantarolar a outra música que toca, e eu fico repetindo em
minha mente tudo o que devo falar hoje com ele. Eu preciso que dê
certo.
Capítulo 3

Demora uns cinco minutos até Pedro parar o carro perto de um


restaurante meio rústico. Coloco meu celular em meu sutiã já que
não trouxe nenhuma bolsa, e então assim que saímos, ele finalmente
me olha da cabeça aos pés e sorri. Se aproxima de mim e me puxa
pela cintura. Sua boca encontra a minha, e ele me beija devagar, e
então se abaixa e beija meu pescoço.

— Estou encrencado por não ter pirado quando te vi? — ele


murmura em meu ouvido. — Você está perfeita.
Sorrio e o aperto contra mim.

— Digamos que não está mais encrencado por ter notado e ter
elogiado a tempo.

— Desculpe por ser uma reação tardia — ele diz. — Acho melhor
voltarmos para o carro. E depois pra sua casa.

Começo a rir e me lembro de Max dizendo sobre voltar pra minha


casa. Ele sabia que essa seria a reação de Pedro. Minhas
bochechas se esquentam e me lembro de Max dizendo "Boa sorte".
Caramba, preciso falar sobre a festa de noivado!

— Voltaremos depois do jantar — sussurro e me afasto de Pedro.


— Eu tô com fome e precisamos conversar.

Ele franze a testa e parece recobrar a consciência também.

— Claro, má ideia que tive. Temos a noite toda pela frente. — Ele
segura minha mão e entrelaça seus dedos aos meus.

Assim que nos sentamos na mesa e fizemos nosso pedido, Pedro


pega o celular e vibra com algo que ele lê. Sua expressão se torna
ainda mais animada do que quando estava conversando com,
provavelmente, a mesma pessoa. E assim que coloca seu celular em
cima da mesa ele estica suas mãos e segura a minha.

— O que houve? — pergunto. — Por que essa felicidade toda?


Quem era nas mensagens?

— Você não acreditaria se eu contasse — ele diz. — Caramba,


você não tem noção das coisas boas que estão acontecendo.

Sorrio e mordo meus lábios nervosa. Será que ele finalmente


sossegou e está planejando parar e sentar comigo para falarmos do
casamento? Já está na hora de pelo menos, marcarmos a data!

— Bom... experimenta.
— Não sei como começar — ele diz incerto e respira fundo.

— Eu também preciso conversar com você, e não sei por onde


começar, então estamos quites — digo rindo. — Que tal parar de
enrolação e falarmos de uma vez? Jogar a bomba?!

Pedro morde o lábio e aperta minhas mãos.

— Sem anestesia? — indaga.

— Acho que seria um único jeito que eu conseguiria falar...


Imagina, jogar uma bomba da minha famí...

— Vou me mudar para Chicago! — Pedro diz e eu paro de falar


na mesma hora. Espera, acho que eu não vou direito. — O jornal me
fez outra proposta, de ir morar lá e... Cacete, Rachel, eu vou ganhar
quase o triplo do que eu recebo aqui, e é só o começo!

Ah, meu Deus! Eu ouvi, ouvi sim! Direitinho!

— Chicago? — murmuro e começo a respirar apressada. — Em...


Em outro país?

Como assim ele vai para outro país? Ele tem noção que o outro
país tem um oceano de distância entre nós dois? Ele tem noção de
que um oceano é... MUITO, MUITO LONGE?

— Pois é! — Ele sorri e então aperta minhas mãos, e posso notar


que está tremendo um pouco. — Mas relaxa, vamos ficar bem,
prometo que isso é pelo nosso futuro e...

— Quando você vai? — pergunto de uma vez.

Por favor, não vá! Por favor, não seja semana que vem! Por favor,
desiste e fica aqui comigo!

— Depois de amanhã — ele fala e meu mundo inteiro desaba.


Meu coração se acelera e eu tento controlar a dor que se instala na
minha garganta. — Eu sei que é uma surpresa, e que você vai surtar,
mas podemos adiar a briga e esquecer disso e ficar feliz por mim por
um momento?

Fico calada, ainda processando tudo, e Pedro entende isso como


se eu estivesse concordado com ele. Mas não concordei. Como
assim esquecer que ele vai para outro país? Quem esquece que o
noivo vai para outro país, se mudar, e só decide te contar dois dias
antes da viagem?

— E você? — sussurra. — O que tinha para me falar?

O que eu tinha pra falar mesmo? Ah, que se dane!

ESTOU FERRADA E QUERO TE MATAR. É ISSO QUE EU VOU


TE FALAR!
Capítulo 4

— Acho melhor pedir a conta — sussurro retirando minhas mãos


das suas, e Pedro suspira fundo.

— Rach... não vamos deixar isso atrapalhar a gente. Por favor?

Por favor? Fácil assim? Ah, claro, ele acha que é só pedir para eu
não deixar isso atrapalhar a gente e... pronto, esqueci que ele vai
para OUTRO PAÍS?!
— Por favor? — Aumento meu tom de voz. Respiro fundo.
Estamos em um restaurante, não gosto de fazer cena. Ninguém tem
conta com a minha vida. Então, recomeço em um tom mais baixo. —
Pedro, você vai se mudar para outro país!

— Eu sei, é que...

— Outro país! — digo exasperada.

— Olha, isso não vai ficar entre a gente, tá bom? — Ele segura
minha mão por cima da mesa, mas a retiro novamente e cruzo meus
braços para impedi-lo de se aproximar de novo. Estou em surto, não
posso ser tocada. Fecho a cara e ele faz negação com a cabeça. —
Amor, por favor... Eu sei que é chato isso, tá legal? Sei que vai ser
complicado, principalmente no início, quando eu for e...

— Você tá ouvindo o que está falando? — o interrompo.

Ele já está com tudo planejado e só vem e joga a bomba em mim


e espera que eu aceite?!

— Só tenta me entender...

— Pedro!

— A distância não vai atrapalhar a gente, eu prometo.

— Não é por causa da distância que eu tô puta com você! —


Reviro os olhos. — Quanto tempo tem que você sabe disso? Quando
fizeram a proposta? Quanto tempo demorou até você tomar uma
decisão que iria abalar a vida de nós dois? E decidir me contar isso
dois dias antes de resolver mudar tudo e exigir minha calma e
compreensão?

Ele fica calado e abaixa a cabeça, olha para as próprias mãos


que apertam uma a outra nervoso.

— Cacete, Pedro! — Coloco as mãos no rosto e tento manter a


calma. — Não sei nem o que falar. Quer dizer, tem tanta coisa que
eu quero falar que preciso me controlar pra não perder a cabeça com
você — confesso.

Como assim ele decide que tem que ser assim? Que é só decidir
tudo e vir aqui e só avisar o que decidiu?

— Nós temos um relacionamento! — sussurro e tiro as mãos do


meu rosto apenas para olhar em seus olhos, mas ele se recusa a
olhar para mim — Decidimos ficar juntos, Pedro. E uma das coisas
que as pessoas fazem quando estão juntas é contar as coisas!
Contar os planos, pedir conselhos...

— Não depende de você tomar decisões por mim — ele fala


quebrando o silêncio. — Essa é uma decisão minha!

Ah, claro! Que coisa perfeita para se falar em um momento de


crise.

— Eu não estou dizendo que irei decidir por você, seu idiota! —
falo alto e reviro os olhos. — Não acredito que disse isso!

— Bom, você vem com esse papo de que temos que contar
planos e pedir conselhos... Pedir conselhos, Rachel? Eu não preciso
da sua permissão para decidir algo que pode mudar a minha vida
profissional!

Uma facada teria doído menos do que isso.

— Eu não disse hora alguma que sou eu quem deveria escolher


por você! Que se dane o que você quer pra sua vida, Pedro! Quer
focar na sua vida profissional? Ótimo, boa sorte! Faça suas escolhas!
Mas e quanto a vida pessoal? Será que isso não é importante
também?

— É claro que é! Droga, é por isso que eu vim conversar com


você. Por isso marquei esse maldito jantar!

— E então você decide tudo, e resolve vir aqui e só me informar


sobre tudo? — Ele olha nos meus olhos e sinto as lágrimas
preencherem meus olhos. — Você diz que eu não tenho direito em
me meter nas suas escolhas, mas é exatamente isso que você está
fazendo com as minhas!

Solto um suspiro e Pedro franze a testa ao olhar pra mim.

— Espera... O que está querendo dizer com isso?

— Você vem e chega dizendo que vai se mudar de país daqui


dois dias, e que tudo bem mantermos um relacionamento à
distância? Já parou pra me perguntar como eu iria me sentir com
isso? Se eu... iria, ao menos... querer isso? — digo pausadamente.

Pedro abre a boca surpreso e faz negação com a cabeça.

— Aí só porque eu resolvo seguir minha carreira você desconta


tudo em mim? Só porque decido me mudar, do nada não significo
nada pra você?

— Para de colocar palavra na minha boca!

— Foi você mesma quem disse isso — ele diz e aponta pra ele —
Que não queria mais ficar comigo assim.

— Eu não disse que não queria você. Eu disse que não quero
essa situação. Ou você acha que tudo bem aceitar que meu noivo
vai para o outro lado do oceano e nem teve o caráter pra me contar o
que estava pretendendo? Joga uma bomba dessa e espera que eu
aceite calada e fique torcendo por você?

— Não. Mas achei que você iria me apoiar! E quem sabe... Sei lá,
ir pra lá também!

— Ir pra lá? Pedro! — Respiro fundo, preciso me acalmar. Preciso


me acalmar. Me acalmar. Acalme-se Rachel. — Minha vida toda está
aqui!

— Mas lá você tem mais escolhas, tem a opção de subir na vida


ao invés de ficar trabalhando e continuar sendo apenas uma
jornalista qualquer — ele diz e isso me machuca mais do que
qualquer coisa.

O bolo cresce na minha garganta. Eu esperava qualquer coisa,


porém, jamais pensei que ele fosse duvidar de mim, de quem eu sou
profissionalmente.

— Olha quem está querendo fazer escolhas pra vida do outro


agora — eu digo e me levanto irritada. — Eu tenho orgulho de ser
uma jornalista que pra você é uma qualquer. Eu estudei pra cacete
pra chegar onde estou. E nem precisei de você na minha vida para
conseguir tudo o que tenho hoje!

— Rachel... Eu não quis dizer que você é uma qualquer. Só disse


que você precisa ter ambições e...

— Ambições não me interessam se eu tiver que ficar solitária e


afastar todos de mim!

— Que droga, Rachel! — ele resmunga. — Senta logo aqui pra


gente decidir tudo. Vai ficar tudo bem. É só sentar e a gente combina
como vamos fazer com essa distância . Se não quiser ir tudo bem,
não preciso ficar ouvindo suas idiotices só porque não concorda com
meus planos de vida! — Ele bate a mão na mesa e quando me olha,
vejo outra pessoa em seu lugar. — A vida é minha e eu faço dela o
que eu quiser.

Faço negação com a cabeça. Vai ver ele não é outra pessoa. Eu
que fui cega demais para não perceber como ele é de verdade. O
amor cega às vezes.

— Esse é o problema — sussurro e limpo a lágrima que escorre


dos meus olhos. — Não era pra ser sua vida. A gente ia se casar...
Era pra ser a nossa vida.

Saio do restaurante deixando Pedro paralisado na mesma


posição. Ele não vem atrás de mim quando o deixo lá sozinho, e o
agradeço mentalmente por não vir. Ele me conhece. Se ele vier
vamos brigar e destruir mais do que já destruímos o nosso
relacionamento. Eu preciso de um tempo para absorver tudo o que
acabou de acontecer. Tudo o que ouvi.

Estava tudo bem e do nada tudo muda? Qual o problema? Onde


desandou tudo assim?

Tiro meu celular que ajeitei no sutiã, e desbloqueio rapidamente.


Já abro meu whatsapp e clico no nome do Max.

EU: Tá ocupado?

Espero por um tempo, um cara sai do restaurante e começa a me


encarar, vai até um dos carros e se encosta nele, me encara
descaradamente. Fico nervosa com a situação. Olho de novo meu
celular e Max ainda nem visualizou minha mensagem. Suspiro fundo,
e olho para os vidros do restaurante. Pedro está na mesma posição.
Com uma mão no cabelo, olha para a mesa fixamente, como se
estivesse pensando no que fazer.

E dói ainda mais ao ver que ele nem ao menos veio atrás de mim.
Eu sei que seria pior e iríamos brigar, mas... E a merda da
preocupação? Será que ele não sente, não?

MAX: Em casa. Pq?

Max manda e suspiro fundo. Abro meu aplicativo e chamo um


Uber e dou Graças a Deus quando vejo que ele chegará em média
de dois minutos. Olho para o restaurante de novo, e vejo Pedro
digitar algo no celular. Ele hesita por um momento, e clica de novo. E
assim que ele clica, sinto meu celular vibrar com uma mensagem
nova. Meu coração dói, e abro a mensagem tremendo.

PEDRO: Desculpa. Sou um idiota. Me diz onde você está.


Limpo as lágrimas nos meus olhos e digito a mensagem
rapidamente. Fico o observando ler minha mensagem.

EU: O Uber já está chegando. Depois a gente conversa.

Pedro ergue os olhos para a janela, e parece me procurar, e


assim que me encontra, se levanta, mas é interrompido pelo garçom
chegando com a conta que ele provavelmente pediu. Ele pega o
papel e retira o cartão da carteira, e o entrega ao garçom. Se vira pra
mim e digita algo no celular.

PEDRO: Cancela. Tô indo aí.

Um carro para no restaurante e reconheço o motorista. Vou até


ele depressa, e abro a porta no banco de trás, e entro depressa.

— Boa noite! — o motorista me cumprimenta.

— Boa noite — sussurro.

Ele dá a partida e envio a mensagem que digitei enquanto


andava.

EU: Preciso pensar. E você também. Amanhã a gente


conversa, se você não estiver ocupado demais fazendo as
malas.

O motorista nota que estou chorando, pois sou surpreendida com


ele estendendo um lenço para mim. E sorrio ao sentir o cheiro que
eu chamo de "Limpador de bumbum de bebê". Está úmido, mas o
cheiro me traz uma sensação reconfortante.

— Noite difícil? — ele pergunta.


— Quem nunca? — murmuro e faço negação.

PEDRO: Rachel... Por favor, não faz isso.

— Não sei porque eu acho que tudo um dia vai dar certo pra mim
— solto de uma vez e limpo minhas lágrimas devagar com o lenço
que ele me deu. — Sabe quando tudo dá certo e vai bem e a única
preocupação que a gente acha que tem é com a porcaria de um
jantar em família? Eu nem acredito que eu fiquei tão neurótica por
tão pouco. Não acredito que aceitei sempre. Tão pouco.

O motorista fica calado e eu apenas ignoro a mensagem que


Pedro me mandou. Solto um suspiro e sorrio de novo quando ele
estica um vidro com várias balas dentro. Retiro uma e ele sorri
também.

— Um conselho? — ele pergunta incerto.

— Por favor... — permito, mesmo sendo mais um pedido do que


qualquer outra coisa.

— Nossa vida é baseada em escolhas — ele diz. — Está em


suas mãos aceitar o que as pessoas te oferecem, ou lutar e fazer
com que tudo seja diferente. Se for problema na família, é fogo. Sei
como é. Família não entende a gente, mas também são pessoas que
dão a vida porque nos amam tanto, que acabam interferindo demais.
Não os recrimine por tentar — ele diz e então vejo que entrou na rua
do prédio de Max. — E se for sobre amor... — ele para o carro de
frente ao prédio de Max e se vira pra mim. — Lembre-se daquela
frase: A gente aceita o amor que acha que merece receber. Não se
rebaixe por ninguém.
Capítulo 5

O porteiro me deixa entrar assim que me vê prestes a tocar o


interfone do apartamento de Max. Já estava decidida a chamar e
fazer o que eu queria. Que era correr para seus braços, e deixar ele
me abraçar forte enquanto eu choro. Preciso do colo dele, que ele
sempre me deu em todas as brigas que tive com as pessoas, todo o
meu medo de me arriscar. Max sempre esteve lá me dando apoio e
apenas demonstrando que estaria sempre por aí se eu precisasse
dele. E hoje é um desses dias.
— Menina Rachel! — o porteiro me cumprimenta sorrindo. — Vou
abrir em um instante para você.

Sorrio mesmo que minha garganta esteja queimando por dentro.


Max deu ordens bem claras ao porteiro de seu prédio para que eu
pudesse entrar sem nem ao menos pedir para entrar. E ele já estava
acostumado com minhas visitas. Acho que às vezes ele pensa que
Max e eu somos um casal, ou irmãos... Pois só isso explicaria a
quantidade de vezes que venho aqui.

— Vou subir, obrigada por abrir — digo sorrindo e ele atende o


telefone que está tocando e faz sinal de positivo pra mim.

Pego o elevador, e suspiro ao apertar o botão de número 5. E


assim que a porta se fecha e eu me viro de costas, vejo minha
imagem refletida no espelho. Caramba! Fui atropelada por um
caminhão?!

Limpo uma mancha preta de rímel que escorreu quando chorei.


Ajeito meus cabelos e o elevador para no andar de Max. Saio
apressada e já vou direto até o extintor de incêndio e pego a chave
da casa dele. Abro e estranho a escuridão do local. Fecho a porta
atrás de mim, e tiro meus sapatos e salto. Seguro entre meus dedos
e vou andando para dentro dos corredores em direção ao banheiro.

— Max? — o chamo, acho a porta do banheiro e não tem


ninguém lá. — Max?

Vou em direção ao seu quarto e assim que abro a porta me


arrependo imediatamente. Não é a imagem que eu gostaria de ver.
Queria ver ele dormindo, em paz, pra eu acordá-lo e pedir colo. Não
esperava ver ele... por cima... de outra pessoa.

— Ah, que droga! — me espanto.

Me assusto ao ver a bunda de Max bem na minha direção. O


rubor percorre meu rosto, e eu me atrapalho ao virar correndo e
fecho a porta atrás de mim.
— Quem diabos é você?! — a garota grita.

Quero afundar minha cara em um buraco no chão. Que vergonha!


O que eu faço agora? O que eu falo?

— Só um minuto, gatinha — ouço Max dizer, e depois de um


tempo a porta se abre e eu me viro para ele, mas me surpreendo ao
ver que Max não colocou nenhuma roupa.

Ah, meu Deus! Não que ele precise de roupa... Ele é lindo... É só
que...

— Que droga, Max! — resmungo. — Cobre isso. — Viro meu


rosto e Max volta para o quarto, e sai com um travesseiro no quadril,
na frente do seu amigão lá embaixo.

E me surpreendo ao ver um sorriso nos seus lábios.

— Que porra você tá fazendo aqui, Rach? — ele sussurra.

— Eu queria... Eu precisava conversar com... Ah, que se dane!


Deveria ter falado que não estava sozinho!

— Eu não ia imaginar que você tava vindo pra cá! — ele fala. —
Hoje é sexta feira, é dia de...

— Shiu! — falo alto. — Não quero saber! Já vi o suficiente. Mais


que suficiente! Seu mané, vai ter que me dever muitos favores por eu
ter visto isso. Nunca vai sair da minha cabeça. Vai ter que pagar
minha terapia.

Max começa a rir e dou um tapa em seu ombro.

— Leva a sério! — Reviro os olhos e então me encosto na parede


e solto um suspiro. Por que eu tinha que vir aqui? Deveria ter ido pra
casa, ou se não na casa da Gi. Ela iria me ajudar e provavelmente,
saberia que eu iria pra lá e não transaria com o Arthur.

Olho para Max e vejo que fica sério ao observar meu rosto.
— Ei — Max me chama e eu olho para meu celular procurando
um uber. — Meu anjo?

Desisto e olho para ele.

— O que foi? — ele sussurra. — Fala pra mim.

— Max, volta pra cama! — a garota fala alto.

E isso me traz de volta para a realidade. Não posso atrapalhar


Max dessa forma, o que eu estava na cabeça? Meu Deus!

— Max, volta pra lá — sussurro. — Eu tô bem e te mando


mensagem quando chegar em casa, tá bom?

— Ei... — Ele agarra meu braço me impedindo de sair. — Fica.

— Pra quê? — Reviro os olhos. — Eu tô bem assim. Não vou


ficar na sala esperando você... terminar... Não quero te atrapalhar.

Ele fica em silêncio, e essa é a afirmação que eu preciso. Suspiro


fundo e retiro sua mão do meu braço. Max franze a testa e fica
olhando nos meus olhos sem desviar um segundo sequer.

— Boa noite — digo. — Eca. — Tento rir e me aproximo e beijo


seu rosto pra quebrar o clima, mas ele não ri. Fica me observando
sair de lá como se tudo estivesse em um incêndio.

Assim que chego na portaria do prédio deixo um longo suspiro


escapar. Que vergonha me intrometer na vida dele desse jeito! Eu
deveria ter ido para a casa da Gi... Ou, ele poderia ter me falado que
não estava sozinho.

Sinto meu coração se apertar, e engulo seco. Não quero chorar,


não quero deixar as lágrimas saírem. Eu preciso controlar essa dor,
não quero senti-la agora. Não quero me permitir sentir que minha
história com Pedro está por um fio, ou a um oceano de distância. Um
oceano que ele mesmo colocou entre nós sem nem me comunicar
que planejava fazer isso.
Ele jogou as bombas e somente me avisou que está na hora da
explosão. Mas eu não quero isso. Eu quero o caminho fácil. Será que
é tão difícil de entender assim? Será que ele não vê que eu preciso
dele? Que construir uma família é algo que estava nos nossos
planos? Ou será que sempre foi apenas o meu sonho?
Capítulo 6

Me sento embaixo de uma árvore e abraço minhas pernas. Um


trovão ressoa no céu e meu coração parece se identificar com ele.
Por dentro cheio de raios e tempestades, segurando para não deixar
a água cair.

Uma mão toca meu ombro, e viro para o lado a tempo de ver Max
se sentando ao meu lado. Franzo a testa e ele deita o rosto de lado e
sorri.
— Que diabos você tá fazendo aqui? — pergunto. — Que droga,
Max!

Ele apenas sorri mais e faz negação com a cabeça. Ergue sua
mão e coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha, e
em seguida acaricia minha bochecha com seu polegar.

— Vamos entrar, daqui a pouco vai cair uma tempestade — ele


diz baixinho sem deixar de me acariciar e olha para o céu.

— Max, cadê aquela garota? Vai lá ficar com ela! Não me deixe
pior do que eu estou. Anda, tira a bunda daqui que eu tô me virando
pra ir embora já! — O empurro devagar pelos ombros e ele para de
acariciar meu rosto e segura minha mão em seus ombros com sua
outra mão livre.

— Ela já foi embora — ele diz.

— Pelo amor de Deus! Pensei que fosse mais esperto e um de


nós ia se dar bem essa noite.

— E eu pensei que soubesse que você é mais importante pra


mim do que uma noite qualquer — ele diz e se levanta.

Levo um choque de início, e então suspiro e ergo meu olhar pra


ele. Consigo ver tudo em seus olhos, o mesmo sentimento que o
meu. Eu também mandaria minhas noites de sexo para o espaço se
soubesse que ele estava precisando de mim. Amigos de verdade são
assim, um pelo outro, pra sempre.

Max estica sua mão e eu a seguro sem hesitar. Ele me ajuda a


levantar e assim que fico de pé, o abraço pela cintura, e ele me
envolve forte, acariciando minhas costas com suas mãos.

— Obrigada — sussurro e deito minha testa em seu ombro. —


Não sei o que faria sem você.
— Nem eu. Ia ficar perdida sem me ter por perto — ele diz e o
sinto se sacudir rindo e eu também começo a rir.

— Gabe-se menos — murmuro.

— Me ame menos — ele fala e então segura meu rosto e me faz


olhar em seus olhos. Sou capturada por aquela imensidão verde e
Max morde seus lábios devagar. — Vamos subir?

Suspiro e fecho meus olhos.

— Promete fazer chocolate quente e me deixar chorar em seu


colo?

Ele solta uma gargalhada baixa e me puxa para seus braços e


me conduz em direção ao prédio.

— Até durmo no sofá e deixo a cama pra você. Quer prova de


amor maior que essa?

Dou um soquinho em seu braço.

— Aquela cama que eu vi hoje? Ah não, obrigada. Só depois que


eu desinfetar tudo amanhã.

Max solta uma gargalhada e eu dou outro soco leve em sua


barriga e entramos no elevador.

— Ok! — ele resmunga. — Então eu levo umas colchas pra sala


e a gente faz um acampamento no tapete. Que tal?

Max aperta o número do seu andar no elevador e eu me afasto


um pouco dele.

Me lembro da minha noite, de tudo o que Pedro e eu dissemos


um para o outro, e abraço meu próprio corpo.

— Acho... — Sinto a dor em meu coração aumentar à medida que


a porta se fecha. E Max olha pra mim na mesma hora notando a
alteração em meu tom de voz. — Acho que essa é uma ideia incrível.
— Sinto as lágrimas encherem meus olhos e me esforço para não
chorar.

Max suspira, se aproxima de mim e coloca suas mãos fechadas


em punho, uma de cada lado do meu rosto contra a parede do
elevador.

— Eu vou matar aquele cara — ele diz sério.

— Não! Max... — Estico minhas mãos e as coloco em seu peito.


— Não é que... Só... Só me deixa esquecer — Suplico.

As lágrimas escorrem por meu rosto e Max deita seu rosto em


meu ombro. A sua mão desliza pela minha cintura e ele me puxa
para mais perto. Enlaço meus braços em seu pescoço e escondo
meu rosto.

— Odeio ver você chorar — ele diz.

— Vai passar. É só uma fase — digo. — Eu vou ficar bem. Já


passei por coisas piores. Ficarei bem.

— Então me deixa cuidar de você — ele propõe e se abaixa,


pega meus joelhos com seu braço livre, e me segura em seu colo.
Aperto meus braços em seu pescoço, e Max sai do elevador comigo
e apenas dá um empurrão na porta para abri-la e depois a chuta a
fechando atrás de si. E assim que chegamos ele me coloca no sofá,
e se agacha no chão de frente pra mim. Tira um cabelo que grudou
em meu rosto por causa das lágrimas e acaricia minha bochecha
com seu polegar.

— Agora me conta — ele pede baixinho.

— Promete não quebrar a cara dele?

— Prometo não fazer isso.

— Então.
— Hoje — ele diz. — Prometo não fazer isso hoje. Porque você
precisa de mim.

— Max!

— Não posso evitar — ele confessa e me solta, se levanta e


coloca as mãos na cabeça. — Rachel, eu já tô ficando puto dele te
tratar assim! Pelo amor de Deus. Onde está aquela baboseira do
amor próprio?

— Max...

— Sempre é assim. Ele te machuca, ou fala alguma coisa que


quer que concorde com ele, e você encolhe o rabo entre as pernas e
aceita tudo o que ele fala?

— Acha que é fácil um relacionamento? — Me levanto e o encaro


com raiva. — Max, você nem ama alguém! Não conta sua opinião
sobre DR que os casais discutem! Você não faz a mínima noção do
que é isso.

Ele fica em silêncio e eu me arrependo na mesma hora. E as


lágrimas escorrem por meu rosto de novo.

— Ah... droga! — Me sento no sofá de novo e limpo as lágrimas


das minhas bochechas. — Desculpa, eu...

— Eu posso não saber o que é amar alguém em um


relacionamento, Rachel — ele diz baixinho e se aproxima de mim. —
Mas eu sei o que é amar alguém na amizade. — Ele se senta ao
meu lado e eu olho para ele. — Eu amo você. E por isso tenho o
direito de opinar sobre sua vida. Por isso tenho o direito de dizer que
eu detesto ver você sempre chorando por causa daquele cara. Eu
tenho o direito de não gostar de ver você nessa situação, e querer
socar a cara dele por isso. Tá me entendendo?

Respiro fundo e me permito me colocar no lugar de Max. Eu


também socaria a cara de qualquer mulher que brincasse ou usasse
Max de qualquer forma. Não que Pedro me use, quer dizer, depois
de hoje...

— Eu me sinto uma marionete — admito.

Max segura minha mão e a aperto.

— Conta pra mim o que aconteceu — ele insiste baixinho.

— Eu entrei no carro e ele estava mexendo no celular, me notou


somente quando chegamos no restaurante, mas tudo bem. Quando
chegamos lá, eu estava sem saber como começar a contar sobre a
porcaria do jantar da minha família, e não sabia o que dizer... Aí ele
me disse que iria se mudar.

— Se mudar?

— Para outro país — enfatizo para Max ter a noção do oceano


que se instalou agora no meu relacionamento.

— Porra, Rachel! E quando fizeram a proposta pra ele? Ele te


falou? Ele já decidiu?

— Não só decidiu como o avião parte depois de amanhã —


informo e faço negação com a cabeça.

— O quê? — Max pergunta soltando o ar. Sinto sua mão se


apertar na minha. — Onde ele tá com a merda da cabeça?

— Ele vai pra outro país, e quando eu falei que ele tinha que ter
me avisado antes, pra sei lá, conversarmos. Porque, afinal, iremos
nos casar. Ele simplesmente disse que eu não tenho o direito de
decidir o que ele faz da vida. E que que ele está pensando em mim
fazendo isso, no nosso futuro.

— No futuro de vocês? — Max começa a rir. — O futuro onde ele


se torna aquele cara que só pensa no trabalho e você uma mulher
infeliz que segue os passos do marido?
— Max! — Reviro os olhos. — Eu jamais me prestaria esse papel.

— É óbvio que não, né, Rach? Se não eu mesmo dava na sua


cara! — Ele revira os olhos e coloca as mãos no rosto.

Solto um suspiro.

— Ele cogitou que eu fosse me mudar, segui-lo para Chicago.

Max bufa e olha para mim.

— Agora quem está decidindo a vida de quem?

— Exatamente o que eu falei — sussurro. — Ele disse que eu


tenho que ser ambiciosa, que eu não posso passar a vida toda sendo
uma jornalista qualquer e...

— Filho da puta! — Max rosna e se levanta. Vai até a cozinha e


vejo tirar as chaves de seu carro.

Imediatamente, sei o que ele pretende fazer.

— MAX! MAX, NÃO! — Corro até ele e me coloco na sua frente.

— Eu vou matar esse cara! — ele fala e seguro seus braços.

— Você prometeu, lembra? Chocolate quente e colo?!

— Rach... — Ele suspira e evita olhar pra mim. — Ninguém,


muito a menos a porra do seu noivo vai chamar você de qualquer
sem encontrar com a minha mão na cara dele.

— Ei, ele só quis dizer de profissão. Max, por favor. Eu já falei


com ele tudo o que tinha pra dizer. Por favor. — Desço minhas mãos
por seus braços até encontrar seus dedos fechados ao redor da
chave. — Olha pra mim, Max.

Ele hesita por um momento, até abaixar seus olhos e olhar nos
meus. Prendo a respiração e sorrio para ele ver que está tudo bem.
— Por favor — insisto.

Por fim, Max expira o ar com força e abre sua mão e me deixa
tirar as chaves de sua mão. A coloco em cima da bancada da
cozinha e quando me viro ele está sentado no sofá. Vou até ele e fico
de pé a sua frente.

— Você... você... vai com... com ele? — ele me pergunta,


gaguejando e sem olhar para mim.

— Max?

Ele suspira e olha pra mim.

— É óbvio que eu não vou com ele — asseguro, e o vejo expirar


aliviado. — Minha vida toda tá aqui. Meu emprego, minha família.
Você, a Gi... Vocês são minha vida, são tudo o que eu tenho. Há
coisas mais importantes na vida do que uma proposta de emprego. E
tenho certeza que Pedro um dia irá perceber isso.

— E até lá? O que vão fazer?

— Ainda não conversamos. Eu pedi a ele um tempo. Achei


melhor esfriarmos a cabeça e pensar. Pedro lutou muito para essa
proposta, mas o que eu não sabia era que ele iria conseguir, manter
segredo e que era do outro lado do oceano. Ele hora alguma pensou
no nosso casamento, ou...

— Em você — Max diz.

— Ou em mim — concordo e fico em silêncio.

Max estica sua mão em minha direção e eu a seguro, ele me


puxa até eu me aproximar e então sorri.

— Não sei o que vai acontecer com a gente — admito. — Eu o


amo, Max. Mas o odeio por não pensar em nós juntos.
— Dê tempo ao tempo. Ele vai ver a burrada que tá fazendo —
ele diz.

— Só espero que não seja tarde demais — argumento e então


limpo a lágrima que escorreu por minha bochecha.

A mão de Max encontra meu rosto, e ele acaricia minha


bochecha.

— Vem — ele sussurra.

Me aproximo ainda mais, e me sento em seu colo. Max puxa


meus joelhos e estica minha perna no sofá, e então me aconchega
em seus braços. Deito meu rosto na curva de seu pescoço e sorrio.

— Falta o chocolate quente — sussurro.

Max solta uma gargalhada.

— Ah, larga de ser pidona. — Revira os olhos. — Você tem mais


de mim do que qualquer mulher nesse mundo.

Puxo seu rosto e beijo sua bochecha com força.

— Admita, vai; sou o homem da sua vida também — ele fala e


sou eu quem revira os olhos agora.
Capítulo 7

Visto um vestido azul marinho lindo que comprei quando saí com
Gisele, minha melhor amiga. Ele bate pouco acima dos joelhos, me
deixa elegante, e hoje estou precisando me sentir confiante para
melhorar minha autoestima depois de tudo o que aconteceu. Calço
meu sapato de salto alto. Ajeito meus cabelos para trás e passo mais
uma camada de rímel. Em seguida, pego minha bolsa a coloco no
antebraço, e tranco meu apartamento.

Assim que chego no elevador pego meu celular e confiro pela


décima vez desde que acordei. Nada, nenhuma mensagem ou
ligação dele. Pedro simplesmente sumiu desde o jantar de ontem.
Mas hoje ele não conseguiria fugir. Iríamos trabalhar no mesmo local,
alguma hora ele terá que conversar comigo.

Chego no estacionamento e entro no carro, jogo minha bolsa no


banco do passageiro e conecto meu celular no som, e coloco para
ligar para Max. Dou partida no carro e o telefone toca até cair na
caixa postal. Solto um suspiro e assim que paro em um sinal, ligo
para Gisele.

Ela atende no terceiro toque.

— Alô, Rach?

— Oi — digo e suspiro aliviada. — Bom dia! Graças a Deus me


atendeu.

— Bom dia! Ué, por quê?

— Liguei para o Max, mas ele deve estar preso em alguma


reunião com o pai lá na gráfica.

— Ou preso com alguma mulher por aí — ela fala rindo e eu a


acompanho.

— Faz sentido, depois do que eu vi aquele dia!

Gisele solta uma gargalhada.

— Caramba, não acredito. Eu fico imaginando a cena de você


chegando a pegando ele no flagra. Com a bunda pra cima no maior
rala e rola.

— Meu Deus! Não me lembre disso, não. — Sorrio. — Mas... Gi?

— Oi?

— O Pedro... Ele... até agora nada.


— Nada? Nadinha? Nem mesmo uma mensagem qualquer
pedindo pra conversarem? — ela questiona.

— Nada. — Suspiro. — Eu não sei, sabe? Tô pensando em ligar


pra ele, sei lá.

— Rach, não faz isso. Poxa, ele vive pisando na bola... Deixa ele
pra lá. Ele que tem que te procurar. Ele colocou vocês nessa
situação então o interesse maior deve partir dele, ok?

— É. Você tá certa. Se eu ligasse estaria concordando que ele


tem razão em agir como um idiota.

— Pois é! — ela fala e então começa a rir. — Arthur, o jornal é


para o outro lado.

— Eu vou passar na cafeteria pra comprar algo pra você comer.


Não pode ficar assim, ruivinha. Principalmente agora. Tem que se
alimentar por dois. — ouço Arthur falar.

Sorrio com a cumplicidade deles. Gisele e Arthur são aquele tipo


de casal que me faz acreditar que o amor realmente existe. Servem
de inspiração. Ainda me lembro de quando ela ficou grávida a quase
dois anos atrás, e em como após o nascimento do Miguel, a relação
deles ficou ainda mais forte. E agora, aqui estamos nós, em mais
uma gravidez e ela continua a mesma amiga teimosa de antes.

— Leva um chocolate quente pra mim, por favor? Te pago


quando chegar, eu já estou chegando no jornal também, nem pensei
em comer nada até agora.

— Claro, vou levar e levo um cookie também — ela diz.

— Valeu, Gi. Te vejo no jornal. Obrigada por me acalmar, eu


estava quase apertando o chamar quando vi o número dele.

— Relaxa, qualquer coisa estou aqui.

— Beijos.
— Tchau.

Desligo o celular e dentro de cinco minutos chego no jornal. Tudo


parece tranquilo. Vou até minha mesa, ajeito tudo lá. Deixo minha
bolsa no armário na sala dos funcionários, e sento no sofá. Ainda
nenhum sinal dele. Suspiro, e meu celular vibra com uma notificação.
Desbloqueio ele rapidamente com esperança de ser de Pedro, mas
não é.

É apenas meu instagram.

Eu tenho um instagram que geralmente divido com meu trabalho


aqui no jornal. Como meu foco é o entreterimento com os
adolescentes, resolvi criar um instagram para colocar meus textos. O
Decifrando-te. Até que o pessoal tem curtido bastante.

Assim que termino de conferir, meu celular vibra com uma


mensagem da minha mãe.

MÃE: Oi, meu amor. E aí? Já está tudo decidido para esse
final de semana? Estamos ansiosos! Bom trabalho!

Que ótimo! Como se não bastasse ter que lidar com o fato do
meu noivo estar indo morar em outro país, ainda tenho que procurar
uma desculpa para cancelar esse jantar e momentos legais com a
minha família.

Clico em responder a mensagem, e decido não ter que lidar com


tudo agora. Uma coisa de cada vez.

EU: Oi, mamãe. Bom dia! Claro, estou decidindo tudo, ok?
Não se preocupe, vai dar tudo certo! Obrigada, e bom trabalho
também! Diz ao papai e aos meninos que mandei um beijo e que
estou com saudades!

Pronto! Vai dar tudo certo! É nisso que eu preciso e quero


acreditar. Se eu for depender do universo para que ele cuide da
minha vida, acho pouco provável que as coisas aconteçam como o
esperado. Não sei se quem precisa se preocupar é a minha mãe, ou
se sou eu, que mesmo preocupada, fico tentando me convencer de
que está tudo bem. Vai dar tudo certo, ao menos, precisa dar!

— Nossa, chegou cedo! — A voz de Gi me traz para a realidade.


— Quando disse que já estava vindo, pensei que fosse chegar no
seu horário normal e que estava me enrolando.

— Ah, bom... Você que chega cedo demais todo dia!

Ela sorri e então se aproxima de mim, estica meu copo de


chocolate quente e eu o pego.

— Bom, queira ficar noiva do chefe redator pra ver. Ou é isso, ou


ter que dirigir. E ultimamente não ando no clima para isso.

— Mas o Arthur começa a trabalhar pouco depois da gente —


digo.

— Ah, mas é que hoje ele tinha uma reunião de manhã, ele já
deve até estar lá tentando fazer a cabeça do Pedro — ela diz e então
se senta ao meu lado no sofá.

Pedro? Como assim fazer a cabeça do Pedro?

— O Pedro tá aqui? — sussurro.

— Está. Pensei que soubesse — ela diz franzindo a testa. — Não


foi por isso que chegou mais cedo, não? Pra tentar convencer a ele a
desistir?

— Desistir? Da viagem?

— Também — ela fala e se vira na minha direção. — Rach...


Pedro pediu para que Arthur o demitisse. Por isso estão
conversando, tentando entrar em algum acordo.
— O quê? Ele já vai sair? Assim do nada também? Sem nem me
contar nada?

— Rach...

— Que tipo de relacionamento é o nosso pra ele? — explodo. —


Que amor é esse que ele diz sentir por mim?

— Calma — ela pede suavemente. — Eu sei que deve estar


sendo uma barra, mas você precisa ter calma. Pra lidarem com essa
situação. Fica calma, por favor.

Coloco meu chocolate quente no meu colo, e faço negação com a


cabeça.

— Eu tô cansada disso — desabafo. — Preciso esfriar minha


cabeça.

— Tente não pensar por enquanto. Deixa ele vir te procurar, e aí


vocês conversam, ok? Vai dar tudo certo.

— Não vejo tudo dando certo com ele a um oceano de distância


que mim. E principalmente depois da forma que ele me tratou, como
se eu, nós, nossa vida aqui, e o casamento não significasse nada pra
ele, sabe?

— Eu sei, Rach... Juro que sei. — Ela se aproxima e segura


minha mão. — Sei que deve estar doendo, e que você não sabe o
que fazer. Mas, olhe pra mim. — Olho em sua direção e ela sorri. —
Um conselho de uma pessoa que achou que nunca mais fosse ter
um final feliz? Tudo o que acontece é porque tem que acontecer.
Nada acontece por acaso.

— E qual a razão para eu e Pedro nos separarmos? — indago.

— Às vezes a resposta é simples — ela diz e se levanta.

— Por exemplo? — questiono.


— Às vezes, simplesmente não é pra ser. Mas pode ser que
vocês não perceberão a distância e isso fortalecerá a união. E pode
ocorrer de tentarem e se arrependerem. Como também, pode ser
que ele simplesmente não seja o cara certo.

— A essa altura do campeonato? Meu Deus! Queria ser que nem


você, que soube que Arthur era sua alma gêmea pra sempre. Tenho
inveja de quem sente esse tipo de amor.

A vejo franzir a testa e então ela se aproxima de mim.

— Não... Não se sente assim por ele?

— Claro que eu o amo — sussurro.

— Não tô falando de amor, Rach. Tô falando de sentir.

— Se eu sinto que ele é o amor da minha vida? Bom, eu amo


tudo o que passamos e...

— Se sente como se sem ele não conseguisse respirar? Como se


faltasse um pedaço do seu coração? Sente isso tão intensamente
que não sabe onde começa e onde termina?

— Não desse jeito, mas...

— Casamento é uma decisão importante — ela fala. — Você tá


escolhendo viver ao lado de uma pessoa. Se entregar a alguém pra
sempre. Promete pra mim que só irá fazer isso quando tiver certeza
desse amor?

— Eu o amo, Gi.

— Eu sei. Mas é como eu falo para o Max: Quando sentir isso, a


gente conversa.

— Meu Deus, você não fez isso! — Começo a sorrir. — Tá


mesmo comparando meu quase casamento com as rodadas de
mulheres que Max faz? É isso?
— Conversamos no futuro — eEla sorri.

— GI, NADA A VER! — discordo. — Eu sei o que é o amor.

— Deu a hora! — Ela ri e bate o dedo no ponto e então sai da


sala.

— Gisele! — a chamo assustada e então bato meu ponto


também. — Eu sei o que é o amor!
Capítulo 8

Um dia nunca demorou tanto para passar quanto hoje!

Toda vez que eu olhava o horário no computador, passava um


minuto, menos uma hora. E minha mente não me ajudava a pensar
ou me distrair. Tudo estava errado. Minha vida estava se
transformando em um furacão que iria destruir tudo amanhã. E eu
simplesmente não conseguia me focar no trabalho por este motivo.
Gostei de Pedro assim que comecei a trabalhar no jornal, foi
aquele tipo de história que a gente desiste de tentar chamar alguma
atenção, e depois a pessoa nota nossa existência. E agora que tudo
está perfeito, estamos bem, construímos um relacionamento real,
nos tornamos companheiros e amigos... Agora que vamos nos
casar... Ele aceita trabalhar do outro lado do oceano sem nem ao
menos me avisar?

E qual foi minha surpresa quando ele pediu demissão para ficar
livre para sua vida vida, E Gisele me contou que ele nem ao menos
quis ouvir qualquer acordo que Arthur pudesse propor a ele. Ele nem
quis ouvir algo que poderia ser uma chance para ficar perto de mim.

E depois que saiu da sala de Arthur quando a reunião terminou,


ele foi diretamente em direção à saída e nem fez questão de olhar
para mim.

Não me contou sobre qual foi essa decisão também, nem que
tinha desistido de tudo.

Ele saiu e só foi embora. E isso me machucou mais do que


qualquer coisa. Algo está muito errado em minha vida. Eu sinto que
preciso correr até ele, implorar pra ele ficar e não me abandonar, pra
não cancelar o casamento, e lutar junto comigo para fazermos dar
certo... E ao mesmo tempo, uma parte de mim, diz pra eu não fazer
isso. Ele não merece que eu implore por algo que era para ele me
dar sem eu ter que pedir.

Não preciso implorar para não ser abandonada quando a pessoa


do outro lado, não sente que está deixando algo pra traz.

E assim que deu meu horário, corri e bati o ponto, peguei minhas
coisas no meu armário e saí apressada para o estacionamento. Eu
preciso ficar longe de tudo isso. Tudo que me faz lembrar ele, e essa
situação que não existe solução.

— Ei, Rach! — Gi me grita assim que a porta do elevador começa


a fechar.
Mas eu não impeço as portas de fecharem. Sinto as lágrimas nos
meus olhos assim que ele começa a descer em direção a garagem.
Me recuso a deixá-las sair. Respiro fundo e aperto a bolsa ao meu
redor com mais força, e entro depressa dentro do carro.

E assim que fico lá, sozinha, naquele estacionamento iluminado


apenas por algumas luzes no chão indicando a saída. Eu finalmente
desabo. Deixo a dor que estou sentindo sair de dentro de mim. Por
que tudo na minha vida tem que ser tão difícil? Porque eu não posso
ser igual a todo mundo que ama? Que tem tudo que sempre
desejou? Que não surge a porra de uma decisão idiota de querer
mudar pra outro país?

Por quê? Por que não consigo encontrar um por quê?

As lágrimas escorrem por minhas bochechas, e eu apenas as


limpo rapidamente com minha mão, e pego meu celular dentro da
bolsa.

Que se dane esperar! Se eu esperasse provavelmente ele iria


embora, e nunca conversaríamos, nunca resolveríamos tudo! Eu não
vou deixar ele partir sem ouvir tudo o que eu tenho que falar. Não
vou ficar com esse bolo na garganta nunca!

Clico no nome dele, e já digito a mensagem.

EU: Oi. Sou eu. Precisamos conversar. Hoje! Dá pra ser lá


em casa?

Suspiro, e começo a tremer assim que vejo que ele viu a


mensagem, e começa a digitar.

PEDRO: Onde você acha que eu estou? Tô aqui sentado na


escada do seu prédio. Quando chegar conversamos.
Bloqueio meu celular, e já dou a partida no carro. O caminho até
chegar minha casa parece levar anos. Ouço meu celular apitar com
novas mensagens, e vejo o nome da Gi na tela me ligando. Fica
assim o processo todo até chegar em casa.

Assim que viro a esquina da minha casa, o vejo sentado nos


degraus da escada. Ele olha para mim e me segue com o olhar
enquanto estaciono o carro do outro lado da rua. Assim que saio e
fecho a porta, posso notar seu carro, e vejo duas malas no banco de
trás. Isso aperta meu coração, e me irrita na mesma intensidade.
Vou em sua direção e Pedro se levanta e encosta em uma
paredinha que formam um corrimão junto com as escadas. Ele
suspira quando me aproximo, e está tudo doendo demais para se
resolver bem. Eu sei o que tem que ser feito, mas tudo parece
errado.

— Não acredito que foi embora hoje mais cedo no jornal sem
nem olhar pra mim! — já chego o acusando. — Pedro! Como você...
Por quê?

— Eu não vim aqui brigar com você — ele diz devagar e aperta
as chaves de seu carro em sua mão. — Eu sei que temos muito o
que conversar. Como eu sei também que conversarmos, iremos
brigar, então... Não quero brigar com você.

Fico um tempo o encarando, sem saber como reagir, ou o que


dizer. Ele não quer brigar, mas se a gente conversar vamos brigar...
Então se não vamos conversar pra não brigar... O que diabos ele
veio fazer aqui?

— Eu vim me despedir — ele sussurra, respondendo a minha


pergunta.

Uma dor invade meu coração, e faço negação com a cabeça.


Também aperto as chaves em minhas mãos.

— E eu sei que você tem um milhão de coisas pra me falar. Como


eu também tenho.

Continuo calada. Não sei o que dizer... Ou como começar. Eu


quero gritar com ele, pedir pra ele parar de falar, parar de olhar pra
mim, sumir da minha frente, e ao mesmo tempo eu quero abraçar ele
e pedir pra ele não dizer adeus.

— Então, acho que a melhor solução pra isso, é eu falar tudo que
quero e você não dizer nada. E depois você diz tudo o que quer e eu
fico calado só ouvindo. E então a gente não briga...
— Não vou fazer isso — digo. — Se você não tem maturidade
para conversar com alguém sem brigar, o problema é seu!

— Rachel... É isso que eu tô querendo evitar. Eu e você temos


esse gênio forte. Um vai discordando do outro e quando vemos, já
estamos discutindo.

— Eu só queria que entendesse meu lado. Não é questão de


gênio. É saber ouvir e ver como o outro está sentindo.

— Não tenho tempo pra isso — ele me corta. — O avião sai daqui
duas horas.

— O quê?! — sussurro sem ar.

— Então, por favor, apenas uma vez... podemos fazer as coisas


do meu jeito?

— E não tem sido tudo do seu jeito sempre? — Ergo meu olhar
em sua direção e ele trava.

Pedro se aproxima de mim devagar, segura as minhas mãos, e


vejo seus olhos um pouco vermelhos, como se ele segurasse tudo o
que está sentindo. Ele sobe uma de suas mãos até meu rosto,
acaricia minha bochecha, e entrelaça seus dedos em meus cabelos
perto da nuca.

— Eu sei que te machuquei não te contando sobre essa proposta.


Mas é porque eu fiquei com medo. Com medo disso que está
acontecendo agora. No fundo, eu sempre soube que você é a mulher
que eu sempre quis passar o resto da vida, Rach — ele sussurra e
sinto as lágrimas escorrerem por meus olhos. — Eu te amo demais!
Por favor, não duvide nunca do que eu sinto por você. Então, é óbvio
que eu não tinha cara nem coragem pra te falar sobre isso. É óbvio
que eu tô sendo um babaca que tá estragando tudo. E sei que estou
te machucando ainda mais por isso, mas, ei... — Ele ergue meu
rosto e me faz olhar pra ele. — A minha escolha não é abandonar
você. Eu não te contei porque pensei que talvez conseguisse te fazer
mudar de ideia aos poucos e te levar comigo, mas sei que você não
vai fazer isso. Então, só quero que entenda. Esse é o meu sonho,
lutei desde a faculdade pra conseguir algo assim, e não posso
deixar... essa oportunidade passar assim por mim, mesmo que isso
atrapalhe um pouco a gente.

— Você acha mesmo que eu estou com raiva porque,


hipoteticamente, queria que me escolhesse ao invés dessa
proposta?

— E não é? — pergunta, confuso.

Reviro os olhos e tiro os braços dele de mim, e me afasto um


pouco.

— Quem sou eu pra fazer você fazer uma escolha estúpida dessa
Pedro? Se pensou assim, realmente não me conhece direito.

Vou andando em direção a entrada do meu prédio e ele me


segura pelo braço me impedindo.

— Desculpa, é que...

— Eu sou toda palhaça, né? Adoro brincar, mas eu falo sério


quando o assunto é sério. — Solto meu braço de sua mão. — Eu
estou com raiva é porque você não me contou sobre isso, ou o que
pretendia. Se você tivesse me contado, quem sabe se podíamos ou
não ter dado um jeito? Ou... Talvez, eu fosse me acostumar com a
ideia se tivesse me falado antes. Falar o que está querendo, contar
os problemas, é isso que casais fazem!

— Não quero brigar — ele diz. — Por favor... — Ele se aproxima


de mim e segura meu rosto entre as mãos. — É nesse ponto que
quero chegar. A gente pode dar um jeito, Rach. Você ficar aqui na
mesma nesse seu trabalho que gosta tanto. E eu espero que daqui
uns meses eu me ajeite por lá, e então poderemos conversar sobre
você se mudar. Poderemos nos casar lá. Já pensou? Eu sei que é
complicado no começo, mas... vai ficar tudo bem desde que
estejamos juntos.
O bolo na minha garganta cresce, e eu respiro fundo. Ele não
entende. Então já que ele quer que seja assim, que seja.

— Já é a minha vez? — sussurro.

— Prometo ficar calado. — ele diz.

Reúno minhas forças e olho em seus olhos.

— Você me machucou muito. Eu amo você.

— Também te...

— Prometeu ficar calado — o interrompo e ele franze a testa, e


então confirma.

— Mas eu percebi que não adianta eu falar, você não vai


entender. Nossos planos são diferentes, nós dois somos diferentes, e
queremos coisas diferentes. Não sou do tipo que implora míseros
sentimentos das outras pessoas. — Sinto todo meu corpo tremer e
controlo as lágrimas. — Então eu vou ser bem clara.

Retiro devagar minha aliança de noivado do meu dedo e Pedro


me observa. O vejo perder o fôlego quando estico minha mão e
deixo a aliança no meio da palma.

— Rach...

— Eu não vou me mudar. Não vou abandonar tudo o que eu


tenho só porque você quer seguir seus sonhos. Eu tenho os meus
também, e jamais pedi pra desistir de algo só para que eu me
sentisse realizada na vida. — Ergo meus olhos em sua direção e
vejo que ainda está olhando para a aliança. — Então já que quer
escolhas, aqui vai... Número um: você coloca o anel no meu dedo e
vamos conversar como dois adultos, provavelmente brigar, e tentar
resolver essa situação sem que nenhum dos dois abra mão das
coisas que quer. Ou, número dois: se você quiser ir para nunca mais
voltar, pega essa aliança e vai embora, porque eu não vou te esperar
pra sempre.
As lágrimas escorrem por minha bochecha, e tento controlar
minha respiração. Sei que peguei pesado, mas ás vezes é bom um
tapa na cara pra ver se ele acorda para a vida e age como um
homem. O homem com quem irei me casar, ou o filho da puta que
ele está demonstrando ser.

Ele se aproxima de mim, beija minha boca devagar, e eu não o


afasto, mesmo com o choque. Em seguida ele segura minha mão e
retira aliança de cima da minha palma.

— Eu e você merecemos ser felizes, Rach — ele sussurra e beija


minha testa. — Espero que consiga.

E então ele simplesmente se vira e sai de perto de mim, entra


dentro do carro e dá a partida sem nem ao menos olhar na minha
direção, nem mesmo uma última vez.

O chão praticamente desaba debaixo de mim, e me suga junto


com ele. Me sinto como Alice no país das Maravilhas por um
momento, caindo naquele buraco negro sem fim, e sem saber o que
irá acontecer comigo quando esse túnel acabar.

Ele foi embora mesmo!

Pra sempre!
CHEGOU AO FIM, CARA MENINA
Chegou ao fim, menina.

Não adianta mais insistir nessa relação que só exige coisas de


você. Não adianta mais correr atrás, pedir perdão, implorar por uma
segunda, terceira, quarta chance... Não adianta insistir mais. No
momento em que ele se afastou, se resguardou, te deixou em
segundo plano... Ali acabou, menina.

No momento em que ele não notou sua tristeza, seu amor, sua
dedicação... Ali ele perdeu um pedaço do seu coração. Um pedaço
que não será reconstruido, menina, não importa o quanto você
queira, o quanto insiste em ir até ele e lhe dizer o que se entalou na
garganta.

Ele não te ouve mais, menina.

Ele deixou de se importar e já não escuta a voz que vem de


dentro do seu coração. Perceba. Olhe bem no fundo dos olhos dele e
veja o quão distante ele está. Chegou ao fim, mesmo que seu
coração diga o contrário.

Eu sei que dói, cara menina. Eu sei o quanto o coração sangra


por um amor não correspondido, eu sei que isso te sufoca por
dentro, te deixa cansada, agachada em um canto escuro do quarto,
com lágrimas passadas de dores que ainda não deixaram teu peito.

Eu sei que dói ver fotos antigas. Eu sei a vontade que dá, de
fazer o tempo voltar, e de agir da forma diferente.

Mas você é quem és, cara menina. Você é humana, você tem
medos, você sonha, luta, se agarra com todas as forças na palavra
esperança. Você acredita nele, mas acabou. Chegou ao fim.

Admita isso para si mesma: esse é o segredo, o primeiro passo


para o desapego deste amor. Chegou ao fim no momento em que
você correu e se perdeu. No momento em que você se jogou de
cabeça e bateu com força contra os muros do coração dele. Chegou
ao fim no momento em que vocês se davam uma segunda chance, e
tudo continuava do mesmo jeito.

Aí acabou, ali naquele olhar onde você queria ter visto outra coisa
se não a distância que ele criou de ti.

Eu sei que é difícil seguir em frente, cara menina. Mas coloque


sua melhor roupa, limpe suas lágrimas, demonstre seu melhor
sorriso sincero. E se ame, cara menina. Veja o quanto de pessoas há
no mundo que mal esperariam uma lágrima sua cair, para ampará-la.
Veja o quanto de pessoas há no mundo que segurariam sua mão e
prometeriam jamais soltar.
Lembre-se, cara menina: o desapego do coração parte de você,
de sua decisão. Você quem escolhe se ergue a cabeça ou continua
insistindo em algo que só lhe causará dor. Chegou ao fim de suas
tentativas infinitas e insignificantes de uma melhora que só era feita
por você.

Chegou ao fim suas lágrimas dentro do banheiro, dos seus


diários com páginas tristes, chegou ao fim, e está na hora de parar
de ouvir músicas que te deixam para baixo.

Chegar ao fim de um relacionamento, não significa desistir, e sim


parar de INSISTIR tanto em algo que só te levava para trás. Chega
de remar contra a maré, cara menina. Volte à direção e solte a corda
que ele deixou de segurar na outra margem daquele rio.

Deixe a vida passar, a correnteza te mostrar o recomeço de um


fim insistido. Vá, cara menina. Decida-se, arrisque-se, coloque seu
melhor sorriso e deseje-o para você.

Chegou ao fim o sofrer, cara menina.

Mas também chegou o tempo de começar de novo.


Capítulo 9
Visto uma calça de cós alto preta, e uma blusa ciganinha
vermelha, e coloco um moletom cinza, aberto na frente por cima.
Faço uma maquiagem mais leve, só passo pó, delineado e rímel.
Passo um batom rosa no tom de boca, e pego meu celular. Tranco
meu apartamento e já desço pelo elevador.
A briga com Pedro ontem me deixou triste, porém, ele não quis
nem saber, não quis resolver os problemas como dois adultos que
somos. Ele só pensou nele, de novo. E então eu percebi que já que
ele pensa assim, e não sofreu em nada ao pegar minha aliança e
simplesmente entrar naquela porcaria de avião. Não serei eu que
vou ficar em casa trancada o dia todo.

Hoje é dia do encontrão do jornal. Toda sexta-feira, meus colegas


de trabalho se encontram em um bar que toca música ao vivo e
fazemos nosso encontrão. Nos divertimos e só jogamos conversa
fora. Contudo, justo hoje a Gi chamou eu e Max para jantarmos na
casa dela, e achei que passar um tempo com meus amigos é o que
eu mais preciso.

Eu não vou ficar em casa chorando, quando posso estar


aproveitando minha vida. Saio de casa e já vejo o carro do Max
parado do outro lado da rua. Atravesso a rua correndo ignorando o
vento frio que balança meus cabelos e abraça meu corpo. Abro a
porta do carona, entro e a fecho de repente.

— Caramba, tá frio! — sussurro tremendo.

— Deve ter sido por causa da chuva de hoje — ele diz digitando
algo no celular.

Coloco o cinto de segurança e encolho minhas pernas as


abraçando. Max guarda seu celular e olha para mim.

— Você tá bem mesmo pra ir? — questiona.

— Claro. Não vou ficar em casa triste, vou sair e me distrair.

— Isso aí — ele fala. — Qualquer coisa eu tô aqui, se precisar


fazer aquele lance lá de desabafar e tal.

Solto uma risadinha e estico minha mão, acaricio seus cabelos e


Max sorri.
— Só estou tentando ser legal — ele diz. — Esse é meu lado que
está tentando fazer o certo... Porque meu lado verdadeiro, quer ligar
para aquele cara e dizer poucas e boas. Ele tem sorte de estar
longe, senão, quebrava a cara dele.

— Sei disso — digo. — E obrigada por se preocupar, Max... Mas,


eu realmente quero esquecer, e uma das coisas que ajudam é não
tocar no assunto.

— Ok, porque até eu fico puto de falar, então vamos falar de


outras coisas.

Ele dá a partida no carro, e logo em seguida ficamos em silêncio.


Assim que ele para no sinal, olha para mim.

— Você tá linda — ele sussurra.

— Você também está — digo sorrindo. — Onde vai depois, hein?


Se encontrar com a Vivian ou a Melissa?

Ele solta uma gargalhada e me empurra pelos ombros.

— Vai se fuder! — resmunga.

— Você que fica aí, intercalando as mulheres... Quer que eu diga


o quê?

—Sei lá, quer mesmo falar disso?

— Bom, já tive muita revelação da sua vida amorosa, então


mereço saber dos detalhes também. — Começo a rir e vejo Max
corando de vergonha.

— Aquele dia foi estranho — ele diz.

— Mais estranho do que eu ver a sua bunda? Ou de ver o seu...

— É, Rachel! Cala a boca vai! — Ele começa a rir e vira uma


esquina. — Eu estava com a Vivian aquele dia.
— Não precisava saber disso — Reviro os olhos.

— Quando eu falei pra ela ir embora e se trocar, ela ficou bem


puta de raiva comigo. Notei que ela ultimamente está tentando se
aproximar, sabe?

— Não entendi. Como assim se aproximar? Vocês pararam de se


ver depois daquele dia?

— Mais ou menos. E eu falo se aproximar no sentindo de querer


ficar mais perto. Ela tem me ligado mais, querendo se encontrar de
dia para tomar café, coisas assim...

— Ela tá quebrando sua regra de que sexo é o único tipo de


encontro que te interessa?

— Wow! Falando assim eu pareço um animal.

— E não é? Maior galinha da face da terra.

— Lindinha, nada a ver! — Ele solta uma gargalhada. — Eu só


não sou do tipo de cara que quer aquilo que a Gi e o Arthur tem.

— Ter alguém que se importa?

— Pra isso eu tenho você — ele diz. — Você é a parte da minha


vida que se preocupa e eu posso contar pra qualquer coisa. Eu não
quero é aquilo de casar e ficar pra sempre com alguém.

Rio alto e Max me acompanha.

— Que horror, Max! Você tá pior que eu em relação ao amor!


Quando você se casar e ver a noiva entrando linda na sua direção,
vai querer tudo aquilo e mais um pouco.

— Claro, ver a noiva entrando. Como um bolo de pote gigante...


Eu não sirvo pra isso não — ele diz.
— Max, nada a ver! Se você falar que meu vestido parece um...
— Paro de falar assim que me dou conta do óbvio.

Não vou vestir meu vestido.

Não vou ter a sensação de ser um bolo de pote.

Não vai ter ninguém no altar me esperando para dividir e embolar


nossas vidas.

E meu coração se aperta quando me lembro de tudo. Já está


tudo preparado, a comida da festa, meu vestido, o terno que ele vai
usar, o bolo. Já está tudo decidido. Só falta marcarmos a data que
tanto adiamos por causa do trabalho.

— Rachel?

Ele realmente foi embora? Pra sempre? Depois de tudo o que


nós passamos, depois de idas e vindas, ele realmente resolveu ir?
Seguir seu sonho e destruir o que sonhamos juntos no processo?

— Linda?

E agora? Agora ele vai embora e eu que me vire em ter que


cancelar todas as coisas? Devolver tudo?

— Ei. — A mão de Max toca meu ombro, e só quando olho para


ele e o vejo secar uma lágrima que escorre por minha bochecha que
eu percebo que estou chorando. — O que ele disse pra você?

— Eu vou ter mesmo que cancelar tudo do casamento? Será que


ele não pensou que isso fosse doer, Max?

Max solta um suspiro e estaciona o carro na porta do prédio do


apartamento da Gi e do Arthur. Ele desliga o carro e então se vira um
pouco na minha direção.

— O que aconteceu? — ele pergunta. — Eu sei que eu brinco


sobre quebrar a cara dele, mesmo que me dê realmente vontade...
Me conta o que houve. Sou até bom pra ouvir.

— Ele foi lá em casa depois do fim do meu expediente —


desabafo. — Ele não queria conversar, só queria que a gente falasse
e fosse embora porque o avião dele partiria em duas horas... Eu tirei
meu anel e... daí eu falei pra ele que dava duas opções. Ou ele
pegava meu anel e colocava no meu dedo pra gente conversar como
adulto e resolver essa situação, ou, ele pegava e fosse embora
porque eu não ia esperar ele pra sempre.

Vejo Max olhar para a minha mão, e quando não encontra meu
anel, já mata a charada e sabe exatamente o que aconteceu.

— Porra. Não acredito que ele fez isso — ele diz. — Meu, o que o
Pedro tem na cabeça?

— Ele fez uma escolha — murmuro. — E me deixou aqui para


limpar os restos.

Max suspira e pega seu celular, vejo ele digitar uma mensagem e
em seguida começa a mandar um áudio.

— Acho bom você já estar bem longe daqui, se não eu juro que ia
no aeroporto agora quebrar a sua cara.

— Max! — o repreendo e tento tirar o celular da mão dele.

— Se você tá pensando que vai embora assim e deixar a Rachel


pra cancelar as porcarias desse casamento tá muito enganado,
Pedro. Você fez a bagunça, você arruma. Quando ouvir isso liga pra
mim, porque ela não merece mais ouvir desaforos de você, tá me
ouvindo? Já chega de bancar o moleque, tá na hora de tomar atitude
de homem, será que é capaz de fazer isso?

E então ele manda o áudio e bloqueia o celular. Se vira pra mim e


eu quero bater nele. Mas ao mesmo tempo quero agradecer. No
fundo preciso de alguém que me proteja. Um abrigo pra eu me
esconder e gritar em paz.
— Fica tranquila que não vai ter que lidar com nada do
casamento. Eu e ele nos viramos com isso.

— Eu tô com tanta raiva dele! — digo. — Mas não quero pensar


nisso agora. — Limpo minhas lágrimas e sorrio.

Max franze a testa quando me vê sorrir.

— Vocês mulheres são loucas!

— Vamos entrar, sorrir, tirar foto, comer tudo da casa deles


porque meu estômago tá roncando, e depois vamos simplesmente
esquecer dos problemas no bar do encontrão e beber até eu
desmaiar, ok?

— Hum... Ok, mas sem a parte do desmaio — ele diz e


começamos a rir. — Vamos lá pra casa.

— E fazer o quê? Eu quero me distrair, Max!

— Ok, então vamos pra sua casa, compra bebida, e a gente vai e
queima algumas coisas.

— Queimar coisas? — Solto uma gargalhada. — Tipo o quê?

— Tipo fotos. Carta ou cartão, qualquer merda que tenha dele lá.
Vamos só beber e queimar coisas.

Uma lágrima escorre por minha bochecha e eu sorrio ignorando


toda essa situação.

— Parece ótimo — concluo.

— É claro que vai ser. Eu sou demais!

— Ah, meu Deus! Agora quero socar sua fuça! — Reviro os olhos
enquanto ele cai na gargalhada.
Capítulo 10
O jantar na casa da Gi foi tudo muito divertido. Consegui me
distrair e esquecer que existe um mundo lá fora, ou que existe
qualquer tristeza dentro do meu coração. Assim que ajudo Gi a
limpar a louça, vamos até o quarto e começamos a conversar.

— O que é tudo isso? — pergunto e abro uma caixa de papelão


que já está semiaberta que encontro em cima da cama de Gisele.
Lá dentro encontro vários potinhos de festa. Todos azul e rosa.
Franzo a testa e ela se aproxima de mim sorrindo e se senta ao meu
lado no chão.

— Decidi fazer um chá revelação — Gi diz.

— Jura? Que legal, Gi! — Pego as coisas e analiso tudo com


mais atenção.

— Eu já estou com 23 semanas. Dá última vez não deu pra ver o


sexo no ultrassom. Mas vou fazer um morfológico agora nessa
semana que vai vir, já está marcado. Vão fazer as medidas pra ver
se está tudo bem, e tentar ver o sexo agora.

— Que empolgante.

— É. Minha mãe que diga. — Ela começa a rir e eu também.

— Sua mãe que vai guardar o segredo? — a questiono juntando


as sobrancelhas.

— É... Bom... — ela hesita. — Minha mãe vai saber, mas ela
também vai precisar de ajuda para planejar tudo. Ela não é muito fã
de preparar uma festa, e eu nem posso saber o que é.

— É só ela decidir, depois vou dar umas dicas pra ela. Tem muita
opção legal pra descobrir o sexo. Poderíamos até fazer aquelas
brincadeiras de simpatias idiotas. — Começo a rir e Gi me empurra
pelos ombros.

— Vai ser lindo — Ela diz, segura minha mão e olho pra ela. —
Mas... Eu ficaria muito honrada se a dinda dele ou dela pudesse
ajudar minha mãe com os preparativos.

Arregalo meus olhos e um sorriso se apodera dos meus lábios.


Quando Gi descobriu que estava grávida de novo, logo convidou eu
e Max para sermos os padrinhos do bebê. Já que em sua primeira
gestação, que veio o Miguel, Amanda e Cadu assumiram esse papel.
Na época que ela fez o convite Pedro ficou meio puto, mas o que eu
posso fazer se Max acaba sendo mais presente e mais amigo dela
do que ele?

— Tá falando sério? — Abro um sorriso. — Vou saber o sexo do


neném primeiro que todo mundo?

— Bom... Só se quiser e...

— Ah, meu Deus! Eu vou amar! — Me jogo em seus braços e Pri


me aperta contra ela.

No fundo eu sei que ela está fazendo isso além de confiar em


mim, pra tentar me distrair e me tirar de todos esses problemas que
estou lidando no momento. E isso a torna ainda mais especial pra
mim, por se preocupar, e me incluir em uma decisão tão importante.

— Já decidiram os nomes? — indago.

— Ainda estamos decidindo. Temos alguns em mente, mas


vamos decidir até o chá. Quero colocar os nomes escolhidos no
painel da mesa do bolo.

— Vai ficar lindo! — Entrelaço nossas mãos. — Prometo que vou


fazer tudo ser mágico. Obrigada por confiar em mim.

— Ah, Rach... — Ela me puxa e me abraça de novo. — É claro


que eu confio. Eu amo você. Saiba que ficará com as partes do cocô
também, tá? Não só com as belezas não.

Começamos a rir e Max chega na porta do quarto com Miguel no


colo. Encosta no batente e sorri pra nós.

— Oh meu amor, o anjinho da tia tá com sono? — Me levanto e


vou até ele, que sorri ainda com sono e deita a cabeça no peito de
Max. — Vem aqui, vem.

Estico os braços e Miguel vem para o meu colo. E imagino se


será mais um menino ruivo de olho azul igual ao Miguel, ou se virá
alguma menina ruivinha ou se dessa vez puxará Arthur além dos
olhos.

— Nadei hoje, tia Rach. — ele fala baixinho.

— Não acredito nisso! Você já está na natação?

— Conta para a tia que você ganhou um certificado da professora


falando tudo o que já aprendeu até hoje.

Miguel sorri e cora de vergonha e esconde o rosto em meu


pescoço.

— Não acredito nisso. — Max diz se aproximando de mim, passa


o braço por minha cintura e encara Miguel por trás. — Cara, bate
aqui! — ele estica a mão fechada e Miguel fecha a mãozinha em
punho e dá um soco na do Max.

Solto uma risada, e Gisele me observa com atenção. Seu olhar


desvia de mim para Max e quando franzo a testa ela só morde os
lábios.

— O que foi? — pergunto a ela.

— Na próxima vou ir te ver nadar, pode? — Max pergunta e vejo


Gi olhar para a mão dele em minha cintura, e noto que Max colocou
um dedo no passante de cinto da minha calça, e me acaricia
levemente com o polegar enquanto brinca com Miguel.

— Gi? — chamo sua atenção.

— Vocês formariam um casal bonitinho. — ela fala e arregalo


meus olhos.

— Tá louca, Gisele? — começo a rir, e quando vejo Arthur na


porta vou até ele e sinto Max retirar sua mão presa em minha calça e
entrego Miguel para Arthur. — Ele está morrendo de sono. — falo
para Arthur.
— Ele nadou muito hoje. — Arthur diz orgulhoso. — Não é,
filhão?

Ele sai do quarto e me viro para Gisele, que perdeu a noção com
aquele comentário.

— Não precisa surtar, só falei por que realmente achei. — ela diz.

— Achou o quê? — Max questiona.

— É que ela me convidou para saber o sexo do bebê antes de


todo mundo — desconverso e Gisele sorri. — Morra de inveja.

Ele olha feio pra ela que sorri, e sinto um olhar cúmplice ali, como
se ele já soubesse. Me sento no colchão e Max se aproxima se
sentando atrás de mim e me puxa para mais perto. Algo me diz que
eles já estavam planejando me deixar fazer parte desse momento na
vida dela. Isso só prova que eles querem me ver sorrir ao me tirar de
tudo isso. Os amo ainda mais.

— Só não vale contar pra ela ou dar dica, hein, lindinha? — ele
fala rindo e eu concordo imediatamente.

— Só por cima do meu cadáver que alguém vai descobrir! —


Abro um sorriso e coloco uma caixinha que estava olhando dentro da
caixa novamente e a fecho.

— Olha — Gi sussurra e pega a mão de Max e a coloca em sua


barriga. — Tá ouvindo sua voz e está pedindo dois pacotes de
fraldas do padrinho.

— Ah, jura? — Ele começa a rir e fica olhando extasiado para a


barriga de Gisele. — Caramba, que chute!

— Pra mim é ainda mais forte. — Gisele diz.

— Olha meu anjo. — Max pega minha mão e a coloca por


debaixo da sua, sinto um relevo forte passar por minha palma. Sorrio
e ficamos todos em silêncio por um tempo apenas sentindo o bebê
chutar.

Me traz uma energia nova. Sentir a vida assim, tão perto. Sentir
como tenho as duas pessoas mais especiais que se preocupam por
perto. Solto um suspiro, e somos interrompidos pelo som do meu
celular tocando.

— Péssima hora — sussurro e nós começamos a rir.

Pego meu celular e vejo o nome "Mamãe" escrito na tela.


Congelo completamente. E sei que se eu não atender ela me
mandará um milhão de mensagens no Whatsapp, e depois ligar para
todos os meus amigos achando que aconteceu alguma coisa.

— Com licença — sussurro e Max franze a testa ao olhar pra


mim.

Me levanto e saio do quarto, vou até a sala, na varanda que dá


acesso a vista de todos os prédios de São Paulo e a rua vazia, e
atendo a ligação tremendo.

Por favor, não pergunte do Pedro nem do casamento.

— Oi, mãe.

— Oi, meu amor! — ela vibra no telefone. — Atrapalho?

— Ah, não, tudo bem. Estou na casa da Gi, vim jantar aqui com
uns amigos. Acabei conversando com ela sobre o bebê e me distrai.

— E como anda a gravidez dela?

— Está tudo bem, graças a Deus! — Suspiro.

— Fala pra ela que mandei um beijo, tá? Para ela e o Max. Ah,
filha, e falando de preparativos...

Não! Não por favor!


Max se aproxima de mim, e se debruça na sacada ao meu lado.

— Andei pensando sobre o jantar que estamos planejando para o


casamento. Você acha que seu noivo vai gostar se eu fizer
parmegiana? Porque eu não faço a mínima ideia do gosto dele, já
que você tá adiando tanto esse encontro.

Travo completamente e Max olha pra mim no momento em que


estou esmagando o celular em minhas mãos. E agora? Como vou
falar que brigamos? Que provavelmente nem vai ter casamento
porque ele nem disse adeus? Ele só pegou o anel e foi embora.

Como vou falar isso assim do nada?

— Bom... Ele... Ele adora, mamãe — sussurro mentindo e isso


acaba comigo. Não quero cortar essa empolgação dela. É melhor
contar tudo pessoalmente, pelo telefone seria doloroso. — Tenho
certeza que ele vai amar qualquer coisa que você fizer.

Max suspira e se aproxima de mim e me abraça por trás.


Esconde seu rosto em meu ombro e tento controlar minha vontade
de chorar.

— Oba, então já irei preparar tudo! Ah, e será uma surpresa, tá?
Espero que gostem da surpresa que estamos preparando.

— Hurum — murmuro controlando o bolo na minha garganta.

— Bom, não vou te incomodar mais, vai lá ajudar se divertir! Te


amamos!

— Eu também — digo. — Tchau.

Desligo o celular rápido. E sinto as mãos de Max circularem


minha barriga e ele me puxa até me encostar em seu corpo.

— Vai ficar tudo bem — ele assegura. — Prometo.


— Não tive coragem de contar pra ela — admito. — Minha mãe tá
toda feliz com o casamento, não queria tirar isso assim do nada.

— Mas uma hora ou outra terá que lidar com isso Rach — ele diz.
— Não agora. Mas vai.

— Eu sei — digo e me viro e fico de frente para ele, o puxo pela


cintura e deito o rosto em cima de seu coração. Max me puxa e me
aconchega mais pra perto dele, beija o topo da minha cabeça e faz
cafuné nos meus cabelos. — Só não agora.

— Quando estiver pronta, se quiser posso te ajudar — ele


murmura.

Me afasto um pouco e olho para ele, seus olhos verdes parecem


querer sugar qualquer dor do meu coração.

— Ajudaria se fôssemos embora e queimássemos algumas


coisas — respondo e tento sorrir.
Max concorda e me puxa de novo para seus braços.

— Isso é fácil. Mas, eu fico com o fogo porque com você no


comando é bem capaz de incendiar o apartamento. Aí vamos ter que
chamar o bombeiro, sair correndo rindo e todo mundo iria chamar a
gente de malucos.

— Ei! — Dou um soco na barriga dele e começo a rir. —


Depende.

— Depende? — Ele arregala os olhos.

— Imagina se vier um bombeiro bonitão pra curar meu coração


partido?

— Aff, meu! Eu todo solidário tentando te ajudar e você já


pensando em dar uns pegas platônicos?

Solto uma gargalhada e Max bagunça meu cabelo.


— Só tô zoando, chorão! — resmungo tirando suas mãos do meu
cabelo.

— Ainda bem. Quase partiu meu coração. — Ele coloca a mão no


peito como se realmente tivesse sido afetado e reviro os olhos.

— Max, na boa... Não sei como ainda tenho reputação com você
na minha vida!

— Ei, essa fala é 100% minha! — Começamos a rir ele se


aproxima e morde minha bochecha. — Não assinei nenhum papel
dando a você direito sobre ela!
Capítulo 11

Max e eu bebemos e ficamos conversando até tarde. Max


realmente me fez pegar algumas coisas que estavam me
machucando e eram insignificantes para queimarmos juntos em um
recipiente de metal. Não irei me rebaixar ou ficar sentimental por
isso. Pedro me machucou. Acho que mesmo que ele se
arrependesse, eu jamais irei confiar 100% nele novamente.

E, desde então, estou com essa pergunta fixa em minha mente...


“Ele dizia me amar. Quem ama não faz isso, então como é ser
amada?” Se o amor for assim, se for tão fácil desistir de alguém que
se ama e essa ser uma decisão “costumeira” como escolher a roupa
que vai usar para ficar em casa, significa que ser amado é horrível.

Está doendo mais o fato de ser amada por ele, do que amar ele.
É como se ele não sentisse algo forte assim. É neste instante em
que me encontro relembrando das palavras que a Gi proferiu a mim
no serviço: Se sente como se sem ele não conseguisse respirar?
Como se faltasse um pedaço do seu coração? Sente isso tão
intensamente que não sabe onde começa e onde termina?

O louco é que eu sei a resposta para essas perguntas. Sem


respirar? Eu ando bem sem ele por perto, estou conseguindo seguir
em frente mais rápido do que pensei. A raiva dele está sendo maior
do que a falta que ele me faz. Pedro sempre falava mais comigo
sobre o trabalho. Sinto falta somente da companhia dele, e acho que
isso não é como faltar um pedaço do meu coração. Sinto como se
faltasse só uma parte do quebra-cabeça.

E não acho que o amor seja apenas uma parte de um quebra-


cabeça. Ele tem que ser o quebra-cabeça completo.

Tento ignorar todas essas perguntas e focar no presente. É a


melhor coisa que faço.

— Tô muito mal! — Max resmunga, deitado no tapete da sala e


eu começo a rir. — Por que me deixou beber aquela mistura horrível
que fez?

— Porque você é corajoso em beber algo que eu faço!

Ele revira os olhos e se levanta.

— Vou tomar um banho, tem roupa minha aqui?

— Tem sim, roubei algumas coisas suas. Tem uma gaveta só sua
aqui em casa.

— Por isso que minhas roupas estão sumindo.


— É porque gosto de usar suas roupas, são mais folgadinhas e
parecem pijamas enormes.

— Ok, vou imaginar que gosta de usar porque meu cheiro é muito
irresistível e...

— Ah, cala a boca! — Reviro os olhos e pego meu computador.


— Vou ver se encontro coisas legais sobre o chá de revelação para a
Gi. Aliás, obrigada por concordar e provavelmente dar a dica para
que eu ajudasse a mãe dela com os preparativos. Vai me distrair
bastante.

— Sei de nada disso — ele diz.

— Max!

— Você é especial para ela. Não é porque eu falei pra ela


escolher você porque está sofrendo. Você é forte e capaz de se
distrair sem ninguém pra ajudar, ok? — Ele se aproxima de mim e
sorri. — Eu sabia que ela iria te escolher. Mas não é porque eu a
convenci ou porque você está mal. E sim porque você é importante
para ela, e ela quer que você participe desse momento especial...
Linda, você é especial pra nós. Só aceita, tá?

— A bebida tá fazendo efeito, te deixou meloso, Max. — Sorrio e


ele revira os olhos. Passo minhas mãos em seus cabelos, me
aproximo e beijo sua testa.

— Obrigada — sussurro.

— Não por isso — ele diz baixinho. — Onde está a toalha? Eu


vou e depois você vai, pode ser? Aí a gente apaga porque tô morto
de sono!

— Ok, vai lá, depois é a minha vez. A toalha está lá no varal na


lavanderia.

Ele sai de perto de mim e eu pego meu celular e vejo uma


mensagem da minha mãe.
MÃE: "Oi, meu amor! Você tá bem mesmo? Te achei com
uma voz triste no telefone.

Solto um suspiro e já respondo ela rapidamente.

EU: Oi, mãe. Não se preocupe. Está tudo bem. Só não estou
tendo dias legais. Mas agora vai dar tudo certo. Depois
conversamos mais. BJS.
Capítulo 12

— Qual seu maior medo? — Minha voz sai como um sussurro no


meio da noite.

Os olhos de Max se erguem do celular, onde ele está digitando


uma coisa qualquer. Seu sorriso de deboche pela mensagem se
esvai um pouco, somente um lado de seus lábios está um pouco
erguido para cima. Ele afofa o travesseiro debaixo de si, e um vinco
se forma entre as suas sobrancelhas.

— Meu maior medo em que sentido? — ele questiona.

Ajeito a toalha ao redor do meu corpo e suspiro.

— Sei lá. Um medo que te faz ter medo — tento explicar.

Max morde os lábios e logo em seguida começa a sorrir.

— Ser pego — ele fala.

— Como assim ser pego?

— Tenho medo, por exemplo, da Vivian descobrir que estou


saindo com duas ao mesmo tempo. Então sempre fico com medo de
uma descobrir da outra e aí dar merda pra mim.

Reviro os olhos e corro até ele e bato forte em seu braço, Max,
por sua vez, começa a rir.

— Eu tô falando sério, Max! — Suspiro e me sento ao seu lado.

— Eu também estou — ele fala, mas continua sorrindo


brincalhão.

— Eu não estou falando de medo de suas vagabundices, e sim,


de um medo real. Consegue me entender?

Ele fica sério na mesma hora. Parece que sua ficha cai e ele vê
que eu estou falando sério.

— Eu não sei... Acho que eu não tenho medo de nada — ele diz
por fim.

— Todo mundo tem medo de alguma coisa — sussurro.


Ele fica em silêncio por um momento, e então franze a testa, se
aproxima de mim e apoia o cotovelo em cima da cama e se vira de
lado, e então, com a mão que está livre, ajeita uma mecha do meu
cabelo, o qual está molhado e coloca atrás da minha orelha
lentamente. Observo todos os seus movimentos como se fossem
mais importantes do que realmente são.

— Do que você tem medo? — ele sussurra.

Um frio estremece meu corpo. E por um momento me esqueço de


tudo ao olhar nos olhos verdes reluzentes de Max. Ele sempre soube
ler meus pensamentos através do meu olhar. Ele me conhece melhor
do que eu mesma. Ele sabe quando eu estou mal, triste, com
saudades, precisando de um abraço, ou precisando descontar meu
mau humor em alguém. E esse alguém sempre sobra para ele. Ter
um melhor amigo na TPM às vezes consegue ser melhor do que
chocolate.

— Quer saber? Esquece... — murmuro.

Me levanto, mas Max segura meu pulso, impedindo o meu


afastamento.

— Não fuja de mim — ele diz. — De mim não.

Suspiro e sinto as lágrimas encherem meus olhos. Me aproximo


dele e beijo sua bochecha devagar.

— Jamais vou fugir de você — sussurro. — Preciso me trocar.

Max relutantemente me deixa ir. Pego um moletom grande de


Max que estava em meu guarda-roupa, e vou para o banheiro. Me
enxugo melhor com a minha toalha gigante que ganhei de presente
uma vez, e em seguida visto sua blusa de frio e penteio meus
cabelos. Faço uma trança na lateral do meu cabelo, e saio do
banheiro.

Quando volto, as luzes estão apagadas, só vejo o clarão do


celular de Max sendo usado. Já me deito ao seu lado na cama e me
cubro com as cobertas quentes que Max ajeitou pra gente. Afofo o
travesseiro e me viro de costas para ele.

Vejo um clarão do celular de Max se apagar e, em seguida, ele se


deita melhor na cama, e puxa minha blusa um pouco em sua
direção.

— Ei... olha pra mim — ele pede.

Viro-me em sua direção, mas não consigo olhar em seus olhos.

— Qual o seu maior medo? — ele pergunta de novo. — Se você


me falar o seu, eu prometo falar o meu também.

Ergo meus olhos em sua direção, e encontro os olhos do meu


amigo tão preocupados comigo, que me arrependo por ter começado
a falar sobre este assunto.

— Você já me disse que não tem medo nenhum — falo tentando


encerrar o assunto.

— Mas eu sou seu melhor amigo, não é? — ele diz e segura


minha trança com uma mão, e fica brincando com ela. — Melhores
amigos são pra isso. Se mentir um medo idiota só pra saber porque
você está mal, tenha certeza que é isso o que eu farei.

Sorrio um pouco e as lágrimas escorrem dos meus olhos.

— Não é para chorar... Só quero que confie em mim e...

— Tenho medo do amor, Max — confesso e ele franze a testa.

— Eu também tenho — ele fala. — Amor deve ser uma droga.


Imagina? Ficar preso a alguém e...

— Não — o corto e sorrio. — Eu tô falando do amor em outro


sentido.

— Qual sentido?
— O de ser amada.

Ele morde os lábios e suspira um pouco. Espera meu tempo para


querer continuar.

— Eu acho que o Pedro não me ama o suficiente. Nunca amou,


por isso me deixou.

— Ah, para de bobeira. — Max revira os olhos.

— Ele, às vezes, agia de um jeito como se não desse a mínima.

— Bom, somos homens. Geralmente nós...

— Cala a boca. Eu tô falando sério — o repreendo. — Eu tenho


medo que ele não me ame o suficiente, por que se ele não me ama,
o que é ser amado então? Como é sentir que alguém precisa da
gente? Eu não quero um amor pela metade, Max. Quero o quebra-
cabeças completo.

— E você terá seu quebra-cabeças completo. Mas só o tempo irá


te mostrar onde estarão as outras peças — ele diz e se aproxima de
mim, beija minha testa de um jeito tão lento e demorado que fecho
meus olhos. — Não quero que se preocupe com isso — ele fala
enquanto junta nossas testas. — Se um dia, quem quer que for o
cara de sorte que ficar com você... Se ele não te amar o suficiente,
saiba que você tem um melhor amigo que irá te amar, a outra
metade que falta.

Sorrio e me agarro ao seu corpo. Deito meu rosto em seu peito e


o beijo em cima de seu coração.

— Só não espalhe por aí, porque eu tenho uma reputação a zelar


— ele comenta.

— Estava demorando — reclamo e começo a rir.


Max olha para mim e coloca seu braço debaixo do meu pescoço
para que eu possa me deitar.

— E você? Não disse que iria inventar um medo para mim? —


sussurro.

Max sorri e morde os lábios.

— Bom... — ele começa, sem saber o que inventar. — Tenho


medo perder as coisas. Mas como não tenho nada na minha vida.,
então não preciso ter medo.

— Às vezes, as pessoas tem medo de perder alguém, ou algo


material que tenha um grande significado — comento. — Mamãe
uma vez perdeu o anel da bisavó, tinha que ver ela chorando. Falava
que seria meu anel de noivado e que eu nunca iria me casar por
causa disso. — Reviro os olhos e Max solta uma gargalhada.

— Sorte sua — ele diz rindo ainda mais alto. — Casar é uma
sentença.

Sorrio para ele e sinto meus olhos pesados por causa do sono. O
banho que tomei finalmente relaxou todo o meu corpo.

— Bom... — começo. — Então que bom que você não tem nada
a perder, aí não precisa ter medo de nada.

Max fica um tempo em silêncio.

— É... — ele sussurra e eu bocejo e me viro de costas para ele.


— Bom pra mim.

Me ajeito no braço dele, e Max me puxa pela cintura para mais


perto e me abraça de conchinha. Um longo tempo de passa, faço
minhas orações em silêncio, e o sono começa a me levar. Sinto Max
acariciar meus cabelos tão lentamente que nem tenho forças para
sorrir.
— Você que pensa — ouço uma voz grave sussurrar baixinho. —
Eu morro de medo de perder você.

E então o sono finalmente me vence.


Capítulo 13

THAAAAAAAAAAAAAAAM!

Pulo da cama ao ouvir o som terrível da campainha do meu


apartamento. Meu coração começa a bater forte e eu penso
mentalmente que um dia irei infartar por acordar assim. Ou melhor,
ser acordada. Solto um rugido de raiva e deito o rosto no travesseiro
de novo. Fecho meus olhos novamente quando tudo faz silêncio.
Isso... Boa pessoa... Parou de chamar... Vai embora de uma vez
e...

THAAAAAAAAAAAM!

Não! Por favor, pense que eu não estou em casa e vai embora...
Seja uma boa pessoa!

THAAAAAAAAAAAM!

THAAAAAAAAAAAM!

— Que droga! — murmuro com raiva e jogo meu edredom para


um lado, me obrigo a levantar da cama. Olho para minha mesinha de
cabeceira e pego meu celular. — Oito e meia? Que tipo de pessoa
bate na porta dos outros pleno sábado às oito e meia da manhã?!
Hoje é minha folga! — Reviro os olhos.

Começo a andar até a porta, e não estou nem aí por estar com
uma regata do Max. Aliás... Nem lembro o momento que tirei o
moletom.

Quero mostrar para a pessoa que fui acordada, assim a


consciência fica pesada como minha pálpebra está! Que absurdo!
Falta de amor ao próximo!

Abro a porta, e toda minha raiva, meu sono, minha falta de


atenção, vai embora quando vejo meus pais e meus irmãos parados
do outro lado da porta.

Tá legal, eu estou sonhando!

É isso, né, destino? Vamos parar de palhaçada!

— Meu Deus, você está horrível — mamãe sussurra sorrindo e se


joga em meus braços.
— Ah... Oi! — murmuro surpresa e retribuo seu abraço. Meu pai
se aproxima e nos abraça.

Meu Deus do céu! O que eles estão fazendo na minha casa?

— Se Maomé não vai até a montanha... — papai começa a falar,


sorrindo. — Estávamos com saudades!

— Eu também — digo, e então fuzilo meus irmãos, Luís e


Renato, e sussurro: — Pelo amor de Deus, o que estão fazendo
aqui?

Luís simplesmente sorri e olha seu celular. Mas Renato está me


encarando com raiva. Não entendo por quê!

— Bom, nós recebemos sua mensagem ontem — Renato fala. —


Pensamos que seu noivo e você estivessem com problemas no
trabalho já que mamãe te achou tristinha e então resolvemos vir aqui
e fazer o jantar na sua casa.

— Tá, mas... Sem avisar? — O fuzilo com o olhar também.

— Ah, qual é, Rach! Somos sua família!

— Atrapalhamos alguma coisa? — mamãe pergunta preocupada.

— Ah, mãe... Claro que não, né?! Que isso, entra aí... — Meus
pais entram, e mamãe vai direto para a cozinha.

Luís entra mexendo no celular como sempre, e já se joga no sofá.


Renato fecha a porta e para ao meu lado.

— Agora o idiota do seu noivo não vai conseguir fugir! — ele fala.

— Ele não está fugindo... Bem, ele... Na verdade... — Não irá


encontrar vocês porque resolveu ir para o outro lado do mundo e
demos um tempo indeterminado no nosso casamento! — Ele...
— Se ele pensa que você é qualquer uma, ele está muito
enganado, tá me ouvindo? Ninguém brinca com você.

— Ele não está brincando, nós só...

— Ele nem ao menos tentou nos conhecer, Rachel! — Ele segura


a barra da blusa de Max que estou vestindo e me fuzila. — Você não
é só sexo casual! Se ele pensa que vai enrolar você, é porque a cara
dele ainda não encontrou com a minha mão!

— Cala a boca! É claro que ele não me trata... É claro que não
fazemos só sexo casual, quem você pensa que eu sou? — sussurro
baixinho. — Vocês irão se conhecer, tá legal? Só que... Pra tudo tem
seu tempo!

— Acho bom! — ele diz. Olha ao redor e seus olhos vão direto na
garrafa de tequila em cima da mesinha da sala, assim que olha de
novo pra mim começa a sorrir. — Sério?

— Ah, qual é papai! — Reviro os olhos e me jogo em seus


braços. — Estava com saudades, será que dá pra deixar essa marra
de lado e abraçar sua irmã?

Ele sorri e seus braços finalmente me puxam para mais perto.


Vamos andando abraçados até onde mamãe está.

— Só quero te proteger — ele diz.

— Já estou grandinha demais para tanta proteção.

Empurro ele pelos ombros e vou até a mesinha e pego a garrafa


de tequila. Por que o destino deixou meus pais virem aqui pra minha
casa? Por que eu não tentei ser mais feliz ontem pelo telefone, pra
eles não virem me visitar? Por que eu não deixei de ser infantil e
contei logo pra eles que não tem mais casamento? Como que eu falo
isso agora?

Me viro em direção a cozinha e vejo mamãe sorrindo ao colocar a


água para ferver. Ela se vira pra mim e olha a garrafa de tequila na
minha mão.

— Ainda bem que estou fazendo café! Assim dá pra você acordar
dessa ressaca! — ela resmunga. — Me dá logo essa garrafa! Pra
que você comprou isso, Rachel? Que absurdo! Uma garrafa inteira
só pra você?

— Ah não, mãe... Eu... Já sou adulta e... — Levar bronca da mãe


com 25 anos de idade, não, por favor! — Que horas saíram de casa
para chegar aqui agora?

— Ah, filha, saímos de lá era de madrugada ainda, umas quatro


horas ou três e meia... Os seus irmãos reclamaram, mas eu
precisava vir até aqui. — Ela se aproxima de mim sorrindo e coloca
uma mecha do meu cabelo atrás dos meus ombros. — Senti que
precisava de mim.

Não, mãe, eu preciso mesmo é acabar com seu sonho de me ver


entrando de noiva na igreja, isso sim.

— Eu estou bem mamãe — sussurro.

— Aqui parece menor desde a última vez que viemos — papai


comenta.

— Ah... É porque quando vieram eu não tinha quase nenhum


móvel, papai! — Respiro fundo e ele se aproxima da minha mãe.

Renato franze a testa e p vejo olhar para o corredor que dá


acesso ao meu quarto. Mas por que ele está olhando para...

— Que dia vamos conhecer esse seu noivo, Rachel? — mamãe


resmunga. — Agora não dá para fugir! Chama ele pra tomar café da
manhã com a gente se ele estiver por perto.

— Ah, ele... Bom...

Como dizer que ele está do outro lado do país? Como fazer eles
descobrirem que vieram para um jantar que não vai mais acontecer?
— Mãe, eu... — Respiro fundo e eles me encaram com atenção.
Seguro a barra da blusa de Max nervosa. — Precisamos conversar.
Que tal se sentarem?

Eles se entreolham e suspiram, e então vão até a sala, se sentam


ao lado de Luís. Renato continua olhando para o corredor. Fico na
frente deles e me preparo para soltar a bomba.

Tá legal, família, é simples. Não vou me casar. Não tenho noivo.


Podem ir embora e...

— Bom... Não sei por onde começar.

— Do começo — papai fala rindo.

— É só se acalmar, filha. Não entendo o motivo de estar tão


nervosa e com medo por causa de alguém que está apaixonada.
Fico feliz em saber que alguém te ama e quer cuidar de você.

Sinto todo o meu corpo começar a tremer. Nunca pensei que


fosse tão difícil assim. Mas também a culpa é minha. Quem mandou
eu nunca falar nada sobre os meus relacionamentos?

— Bom, é sobre isso que quero falar mamãe. Sobre ele — digo
de uma vez. — Eu não sei qual será a reação de vocês, espero que
me entendam e fiquem do meu lado. Porque...

Sou interrompida pela risada de Renato. Ele começa a rir e faz


negação com a cabeça.

— TÁ DE BRINCADEIRA?! — Ele começa a rir ainda mais e vem


na minha direção.

— Do que você tá falan... — começo e me viro junto com Renato


que passa por mim e ambos encontramos Max de cara fechada e
uma mão na cabeça.
— Pra que tanto barulho desse jeito? — ele resmunga. — Visita
logo cedo?

— Max, seu filho da mãe! — Renato diz rindo e dá um tapinha


nos ombros dele.

— O que tá fazendo aqui? — ele pergunta para o meu irmão, e


então se vira pra mim. — O que ele tá fazendo aqui?

— O que EU tô fazendo aqui, é? — Renato pergunta rindo.

Max franze a teste e olha para os meus pais, ele meio que trava
um pouco.

— O que... O que sua família tá fazendo aqui?

— Eles vieram porque me acharam triste no telefone ontem,


aquela hora na casa da Gi. Mas já expliquei que está tudo bem.

— E vocês vieram aqui só por isso? — Max pergunta à minha


mãe e dá um aceno pra ela.

Papai o fuzila com os olhos e Luís coloca o celular em um canto


qualquer. Só Renato que continua rindo que nem um idiota sem
motivos.

— Bom, achamos ela estranha no telefone e resolvemos vir aqui.

— Ah, saquei — ele fala. — Bom, deveria ter falado com ela
ontem pelo telefone sobre o casamento.

— Não tô acreditando nisso, meu! — Renato fala.

— Não tá acreditando em que Re? — o questiono sem entender.

Max se aproxima de mim e semicerra os olhos.

— Minha cabeça vai explodir, linda, onde tem remédio?


— É, LINDA, cadê o remédio dele? — Renato repete, rindo.

— Cala a boca, Renato! — resmungo. — Não tá vendo que ele tá


com dor? — viro-me para Max e o empurro gentilmente pelas costas
até a cozinha. Abro o armário e pego o remédio para ele. — Você tá
péssimo, quem mandou beber daquele jeito ontem? — o acuso e
estico o remédio. — Tem água na geladeira, mas come qualquer
coisa só pra forrar o estômago antes.

Volto para a sala e encontro todos sorrindo.

— Bom, como eu estava dizendo... Quero muito que me


entendem e...

— Agora tudo faz sentido! — Renato diz. — Rachel! Nunca


iríamos pensar mal de você por querer se casar com o Max!

É.... O QUE ELE DISSE?


Capítulo 14

— É... O quê? — O olho sem entender.

— Na verdade, eu até pensei que um dia isso fosse mesmo


acontecer — mamãe diz sorrindo. — Vocês sempre foram tão
próximos e...
— Não tô acreditando que ele realmente pegou a minha irmã —
Luís resmunga. — Eu confiei nele.

— Max é de boa — Renato fala. — Só nunca pensei que a Rach


fosse o tipo dele, ou qualquer tipo de compromisso — Ele se vira
para mim sorrindo e as peças do quebra-cabeças se juntam em
minha cabeça. — Eu pensando que vocês eram amigos e vocês
estavam se pegando?

— Renato, olha os modos com a sua irmã! — papai o repreende.

— O QUÊ? — grito em choque. — NÃO, VOCÊS NÃO


ENTENDERAM!

Eles acham mesmo que Max é o meu noivo? Não! Tá todo


mundo louco aqui na minha casa! Piraram de vez!

— Max e eu não nos pegamos! — resmungo.

— Por isso nunca ouvi falar do seu noivo — Renato fala. — O


próprio noivo vivia mentindo pra mim dizendo que estava com outras
mulheres, quando estava era com você. Por isso sempre te ouvia
nas ligações quando falava com ele.

— Tá legal, tá passando dos limites! — Olho para Renato com


raiva.

— Que foi?

Max se aproxima da gente e para do meu lado.

— Parece que um trator me atropelou — ele diz e então franze a


testa ao me observar. — Por que tá com essa cara? — Ele olha para
a minha família e começa a rir. — Por que tá todo mundo me olhando
assim? Todo mundo já me conhece, não precisam ficar me
encarando como se eu fosse um estranho na casa da Rach.

— Max, você tá tão ferrado comigo, meu irmão! — Luís fala com
raiva e coloca as duas mãos na cabeça.
— O que eu fiz? — Ele se vira pra mim sem entender.

— Eles estão loucos! — sussurro.

— Se vocês tivessem contado antes, não teria tido problema


algum — mamãe fala. — Pra falar a verdade, eu estou muito feliz. —
Ela se aproxima da gente e segura minha mão e a de Max. — Eu
sempre desconfiei de vocês dois.

— Mamãe, nós...

— Eu sempre tive medo do noivo da Rachel ser alguém que


nunca vi antes, e que não cuidasse dela. — ela diz para Max. — Mas
você já é da família, sempre foi. Agora é só oficializar.

— Oficializar? — Max pergunta e então arregala os olhos e


começa a rir. — Tipo... Casamento?

— Ainda bem que descobrimos que você é o noivo secreto dela!


— Ela se aproxima de Max e o abraça, e os olhos dele se encontram
com os meus e levamos um susto juntos.

Eles realmente estão acreditando que Max e eu...

— Eca! — murmuro e Max sorri ainda mais.

— Também fico feliz que tenha gostado de descobrir que sou eu!
— Max diz.

— O QUÊ? SEM ESSA, VOCÊ NÃO... — começo e mamãe se


solta de Max e me puxa para abraçá-la.

— Na verdade... Acho que esse momento é só isso o que


importa. — Max fala e se vira pra mim. — Não é? Todo mundo com
os ânimos calmos, e tudo certo sem ter que lidar com tudo de uma
vez.
Lidar com tudo de uma vez? Agora, além de cancelar meu
casamento, vou ter que dizer que nunca nos pegamos?

— Sabia! — Renato comemora. — É nojento e estranho, mas


sempre soube!

— Não! Eu...

Max sorri ainda mais. Ele está realmente se divertindo com a


situação? Será que ele não vê o quanto isso é sério?

— Bom, seu pai e eu precisamos ir até o hotel. Alugamos nosso


quarto e um para os meninos. Já fazia tempo também que a gente
não vinha te visitar. Só passei para ver como estava, mas ainda bem
que eu vim, porque agora vou sair daqui mais feliz do que quando
cheguei.

Travo na mesma hora. Mamãe realmente está feliz por ser o


Max? Essa situação está fazendo bem pra ela? Bom... Melhor do
que descobrir que fui abandonada por um noivo que foi embora do
país.

— Mãe, é sério... Eu preciso...

— Onde vão ficar hospedados? — Max me corta e se aproxima


de mim, passa seu braço por minha cintura e sinto ele apertar meu
quadril. — Devem estar cansados por dirigir à noite.

— Ah, é aqui pertinho, não precisa se preocupar — ela fala


sorrindo.

— Depois quero conversar com você — Meu pai fala, olhando


para Max.

Ah, pai! Eu também quero conversar com ele. E socar a cara


dele!

— Conversar com o sogrão? Que medo. Tem espingarda


também?
— Max! — Reviro os olhos. — Para, por favor.

Ele olha pra mim e franze a testa, e então assente e fica calado.

— Que isso, filha, ele só tá brincando! — papai diz rindo. — Mas


não vai escapar de mim.

— Sim, senhor — Max sussurra e volta a ficar calado.

Mamãe se aproxima de mim e me abraça com força e depois


papai vem e me abraça também.

— Te amamos muito — mamãe fala.

— Eu também. Quando chegarem no hotel, manda uma


mensagem.

— Pode deixar.

Ela e papai vão até a sala, e Luís vem até mim.

— Não quero olhar pra sua cara agora — ele fala para Max.

Se aproxima de mim e beija minha testa.

— Você tem muito o que me explicar, mocinha.

— Ah, agora eu vi. Ter que dar satisfação pra irmão? Nunca
precisou.

Renato solta uma gargalhada e me puxa para seus braços.

— Eu estava bem puto — ele diz e se aproxima de mim sorrindo.


— Mas no fundo eu já sacava.

— Você não imagina como tem um ótimo senso de desconfiança


— Reviro os olhos.

— Depois passo aqui — ele fala e beija minha bochecha.


— Ok — murmuro.

— Max, tô de olho em você — ele fala rindo e então ajuda a


mamãe a pegar as coisas.

Max continua um túmulo como pedi. Eles ajeitam tudo e os levo


até a porta, onde demoram horrores, pois eles decidem dar tchau ao
Max e nos explicar como chega até o hotel. E assim que eles vão
embora, e fecho a porta, me viro querendo matar Max e fazer
picadinho dele.
Capítulo 15

Max segura o riso e se encosta na parede.

— Tá ficando louco? — resmungo me aproximando dele. — Max,


aquelas pessoas lá são minha família! Não é uma peça de teatro
onde vou ficar atuando, não!

— Wow, calma aí! Eu só pensei que não quisesse lidar com a


verdade naquele momento. Tá na cara que não vai conseguir contar
pra eles do Pedro. Sem contar que seus irmãos vão ficar putos como
eu querendo quebrar a cara dele.

Coloco minhas mãos na cabeça e tento respirar fundo para


manter a calma.

— Que se dane o que eles vão querer fazer! É a minha vida, Max!
É a minha família! Não dá pra eu contar uma mentira pra depois...

— Depois o quê? — ele começa a rir. — Desmentir?

— Não é tão fácil assim não. A vida não é um teatro.

— Então tudo bem. Vamos lá no hotel, falar que estávamos


brincando, e que seu casamento com um cara que ninguém nunca
ouviu falar foi cancelado. Vai lá falar pra eles que o cara deixou você
sozinha com tudo pronto do casamento, por causa da porra de uma
proposta de emprego. Vou amar ver essa atuação.

— MAX! — Sinto as lágrimas encherem meus olhos.

— Só queria te fazer um favor — ele diz tentando se acalmar


também.

— Favor? Fingir ser meu noivo é um favor? Sem essa!

Max para de falar e respira fundo.

— Não foi essa minha intenção.

— Ah, não? Não quis zoar com a minha cara?

— Rachel, eu jamais faria isso. Até parece que não me conhece.

— Então o que tá se passando na merda da sua cabeça? — grito.

— Pensei que talvez fosse mais fácil você entrar na onda deles...
Daí eles vão embora pra cidade deles. E depois quando estiverem
longe, é só contar pelo telefone. É mais fácil falar e desligar do que
encarar tudo. Já que não tem essa coragem agora.

Sinto as lágrimas rolarem por meu rosto e me sento no sofá.

— Eu... Não quero essa situação. Não quero contar pra eles do
Pedro, mamãe ia ficar uma fera. E eu não quero que eles saibam
que simplesmente fui abandonada. Não quero parecer fraca.

— Linda, isso não é ser fraca — ele diz e se aproxima de mim, se


senta ao meu lado e limpa minhas lágrimas com seu polegar. —
Você só está machucada e com razão. Aquele cara é um filho da
puta.

— Eu sei, mas ainda assim parece que o problema também sou


eu.

— Você não tem culpa de nada, ok? A culpa é totalmente dele,


Rachel. Não faz eu querer te dar uns tapas — ele resmunga e eu
começo a rir.

Respiro fundo e limpo minhas lágrimas, me encosto no sofá, e


tento repassar tudo o que houve agora a pouco. Eles realmente
acharam que Max e eu um dia iríamos ficar juntos? Que loucura.
Nada a ver.

— Você tem duas opções — Max sugere. — Ou vamos lá e


contamos para eles a verdade, prometo que fico do seu lado... Ou,
pode deixar eles acreditando que estamos juntos, não é irracional
assim.

— Jura? — O olho surpresa. — Não é irracional? Eca, Max! Eles


acham que estamos transando!

Max solta uma gargalhada.

— Eu sei... Eu também não imagino a gente junto, mas eu tô


falando no sentido que, para eles, sempre fomos próximos um do
outro, então não foi tão chocante pra eles.
— Max, não! Isso é horrível! É como beijar o Renato ou ficar
noiva dele!

— Comigo não é diferente, tá? — Max resmunga. — Mas, se


você quiser podemos entrar na onda. Eles vão embora logo. É mais
fácil contar pra eles que eu e você achamos melhor ser apenas
amigos. Do que ter que explicar sobre um cara que, pra início de
conversa, ninguém sabe nem o nome dele! Aliás, por que caralhos
sua família não sabe o nome dele?

Solto um suspiro e reviro os olhos.

— É porque eu não achei que seria sério. Nenhum dos meus


outros relacionamentos foram, e sempre era a mesma coisa, eu
apresentava pra família, todos criavam expectativa, e aí eu terminava
e eles viviam me enchendo o saco. Morando fora, eu senti que não
precisava mais dar satisfação da minha vida pra ninguém.
Namoramos por pouco tempo, e aí ele já me pediu em casamento,
então achei melhor arriscar e abrir logo o jogo.

— Rachel...

— Não preciso que me diga que fui idiota e infantil, porque sei
disso, mas acabou que no fim, foi melhor assim. Como sempre, eu
estava certa. Nenhum dos meus relacionamentos estão dispostos a
ficar pra sempre na minha vida.

Coloco minhas mãos no rosto, e por mais que eu odeie isso, Max
tem razão sobre ele embarcar nessa e depois eu só dizer que
acabou, como sempre. Essa explicação seria melhor. Ninguém nem
conhece o Pedro, graças a Deus! Quisera eu não o ter conhecido
também.

— Você faria isso por mim? — indago e o olho.

Max sorri e se aproxima, me puxa em seus braços e escondo


meu rosto na curva de seu pescoço.
— Meio que já fiz.

— Isso é verdade! — Começo a rir. — Mas... — Afasto-me um


pouco dele e o olho. — Continuaria fazendo? Tipo, pode atrapalhar
você ou sua reputação e...

— Rach... — ele diz, soltando o ar e faz negação. — Você é mais


importante do que minha reputação, ok? Vai dar certo. Mentimos,
eles vão embora, esperamos um tempo e você fala que acabou.
Simples assim.

Passo toda essa maluquice na minha cabeça e solto um suspiro,

— É... Pode dar certo.

— É claro que vai dar — ele diz e abre um sorriso cafajeste de


lado. — Eu sou o melhor noivo da história.

— Ah, não! Tava demorando!

— E você se tornou meu bolo de pote preferido! — Ele se inclina


sobre mim e começa a fazer cócegas.

— Para, Max! — Solto uma gargalhada. — Se eu virei um bolo de


pote, você virou pinguim, preto e branco que nem o terno que usará
se um dia se casar.
Capítulo 16

— Ok, vai ser fácil — sussurro para Max, me encosto ao seu lado
no muro do restaurante que marcamos com a minha família.

Minha mãe praticamente exigiu esse jantar. Tínhamos que


conversar sobre tudo, e, provavelmente, contar nossa história. Ela
queria saber de todos os detalhes, e planejar um casamento que
nunca vai existir. Só na cabeça dela mesmo.
— Entramos, batemos um papo, bebemos alguma coisa e depois
vamos embora — ele fala com aquela voz rouca que me causa
arrepios.

— Tá querendo agarrar alguém hoje? — sussurro e olho pra ele,


Max me olha na hora com a testa franzida.

— Como assim? — ele pergunta sorrindo.

— Tá fazendo a voz sexy — digo. — Você só usa essa voz


quando quer conseguir alguma coisa com alguma mulher — explico.

Max tenta não rir, mas perde a batalha e deita a cabeça contra o
muro até as risadas sumirem.

— Só você, Rachel! — Ele revira os olhos. — E para de me


desconcentrar, ou você quer que todo o nosso plano vá para o
espaço?

— Depende... Lá dá pra fugir?

— Nasceu o dia que dá pra gente fugir. — Ele fala sorrindo, e


então fica sério. — Se você quiser, podemos desmentir, é só chegar
e...

— Não tô preparada pra explicar sobre o Pedro agora.

Max solta um suspiro e então segura minha mão, seus dedos se


entrelaçam nos meus e sinto seu polegar acariciar minha pele
levemente.

— A gente entra, bate um papo, e vaza na primeira oportunidade


— ele diz.

— Simples assim — tento me convencer e quando olho pra Max,


noto que ele está me olhando também. É como se por um momento
o tempo parasse de passar.
Ele olha no fundo dos meus olhos, meio que sorri de lado, e
então se aproxima de mim, uma de suas mãos vai até meu rosto e
ele acaricia meu queixo devagar. Seu olhar para por um momento
nos meus lábios, e paro de respirar. E assim que seus olhos se
encontram com os meus, ele suspira e deixa sua testa cair em meu
ombro.

— A gente tá ferrado — ele sussurra meio rindo, meio nervoso e


começo a rir também.

— Vão descobrir na mesma hora que não estamos apaixonados.


Nem conseguimos deixar um clima rolar.

— É porque não existe clima — ele fala e faz negação. — Ei, mas
a gente se ama, isso deve valer de alguma coisa, certo? — Max
pergunta meio incerto.

— Como amigos, né, Max? — resmungo e ele solta um suspiro.


— É uma diferença bem grande se parar pra pensar.

— Vai ser fácil — ele diz. — É só agirmos como a Gi e o Arthur.


Aquela melação toda e...

— Eca, eu não. Eles vivem se pegando! — Reviro os olhos e


depois olho chocada para Max. — NEM OUSE ME BEIJAR!

— Te beijar? Tá louca? Rachel... Que nojo! — Ele se encosta no


muro do restaurante e eu faço o mesmo, tentando me esconder caso
alguém nos veja.

Ajeito o vestido em meu corpo e assim que me viro, vejo Max


olhando para as minhas pernas. Seu olhar sobe por todo o meu
corpo até chegar em meu rosto e me surpreendo ao notar que ele
parece meio arrependido.

— Que foi? — sussurro.

— Falei que te beijar seria um nojo — ele diz. — Mas, assim...


Não que você não seja atraente e tal...
— É, você também é lindo e gostoso, e tal, mas... — começo e
ambos nos olhamos. — Nem tente, Max! Seria como beijar meu
irmão!

— Digo o mesmo — ele fala. — Se for pra beijar, que seja a testa,
a bochecha e só.

— Vamos ficar bem — sussurro e estico minha mão. — É só eu


me lembrar de não tocar no nome do Pedro, e você esquecer seus
momentos de galinhagem. Tudo dará certo, vamos conseguir.

— Vamos conseguir — ele diz mais convicto e segura minha mão


e entrelaça nossos dedos. — Eu e você pra sempre?

— Eu e você pra sempre — afirmo, e então respiro fundo e deixo


Max me puxar para dentro do restaurante.

A primeira pessoa que vejo é Renato, ele está de pé e balança a


mão no alto chamando um garçom. Paro de andar e travo. Sinto meu
corpo inteiro começar a tremer e Max se vira e me olha, parece
preocupado ao ver minha expressão.

— Ei, não empaca agora, vai. No futuro, vamos rir disso, linda,
prometo — ele diz.

— Acha que estamos fazendo certo em mentir assim? —


questiono. — Parece imaturo.

— E é — ele fala e sorri. — Já falei, se precisar desmentir é só


falar, a gente dá um jeito.

— Eu sei. E eu tô me odiando por fazer isso, e mentir pra minha


própria família... Mas é que... — Respiro fundo e mando todos os
pensamentos ruins para longe de mim. — Só quero que eles fiquem
felizes e não se preocupem comigo. Falar do Pedro vai trazer algo
ruim. Não quero que eles enfrentem isso agora.

— Por quê? — ele me pergunta.


— Um dia eu te explico — murmuro. — Vamos logo acabar com
isso.

Max concorda e se vira, começa a me puxar em direção à mesa,


e assim que nos aproximamos eu me lembro de sorrir o tempo todo.
É meu disfarce. Nos sentamos ao lado de Renato, ele deixou duas
cadeiras ao seu lado, e meus pais e Luís ficam na nossa frente.

— Você está linda! — mamãe diz sorrindo.

— Obrigada, mãe, você também está — Mando um beijo pra ela,


e papai continua encarando Max.

— Pedimos algumas porções, se quiserem pedir algo para beber,


o garçom está para chegar com a minha loira gelada — Renato fala
e bate nas costas de Max. — Podemos pedir um chopp. Que tal?

— É... — Max começa e então coloca os braços por cima da


mesa, parece meio constrangido e ao mesmo tempo autoconfiante.
— Não vai rolar, tô dirigindo.

Meu queixo cai na mesma hora! Como assim ele tá dirigindo?


Desde quando isso foi desculpa pra dar? Não acredito que Max vai
fazer isso só pra provar alguma coisa aos meus pais. Papai apenas
franze a testa.

— Peraí, tá falando sério? — Renato olha surpreso pra Max. —


Cara, bota a minha irmã pra dirigir e foda-se!

— Vai falhar hoje — Max diz. — Eu tenho que deixar a Rachel em


casa e amanhã trabalho cedo. As coisas complicam se eu beber.

Ah, pelo amor de Deus!

— Aff, só enrolar com alguém que já muda. Odeio perder os


meus amigos pra mulher, dá nisso, ó!
— Ei, essa mulher em questão é sua irmã, olha como você fala —
Max diz e eu arregalo os olhos.

Renato apenas sorri e vejo um brilho em seus olhos, de orgulho,


mas ele tenta em vão não demonstrar. Papai apenas sorri e pega o
cardápio e mostra alguma coisa para a minha mãe. Aproveito que
todos estão distraídos e me aproximo de Max. Abraço um de seus
braços em cima da mesa e me aproximo dele, chego até seu ouvido
para conseguir falar sem todos me ouvirem.

— Não precisa fazer coisas que não quiser por mim, Max. Eu te
conheço, sei que você não é do tipo que deixa de beber pra levar
mulher em casa — sussurro.

Ele olha pra mim, e sinto um gelo em meu coração. Aquele olhar
sombrio, cheio de coisas que eu não consigo decifrar. O tipo de olhar
que faz com que eu sinta algo que eu jamais pensei que fosse sentir:
como se aquela fosse a primeira vez que visse Max. Nunca vi esse
olhar antes.

— Não é mulher. É você — ele diz. — E... É até estranho dizer


isso Rach, mas... Acho que você não me conhece totalmente.

— Ah, para, né — sussurro rindo e reviro os olhos. — Só há


anos, seu idiota.

— Não foi isso que eu quis dizer — ele fala e então pega o
cardápio e começa a ler a parte dos sucos. Ele passa o polegar
sobre os nomes, e então um V se forma entre as suas sobrancelhas.
Ele desvia o olhar para mim. — Sua mente está barulhenta, estou
sentindo seus pensamentos daqui.

— O que você quis dizer? Acha que eu não conheço você? Max...
— Reviro os olhos. — É sério? Eu estive do seu lado em vários
momentos, tem coisas que só eu sei de você e só você sabe de mim.
— Suspiro.

— Eu sei, meu bem — ele sussurra. — É só que... tem coisas


que são diferentes. Acho que a ideia que você tem de mim é — ele
diz.

— É porque você é assim, do jeito que eu te conheço! — Me


aproximo dele. — Tá agindo assim pra se mostrar para os meus
pais?

Max reprime um sorrisinho e então bate sua mão na minha.

— Pode acreditar nisso se quiser — ele diz e então franze a


testa. Segura minha mão e a aperta gentilmente. — Cacete, Rachel!
Cadê sua blusa de frio? Tá gelada!

— Ah, tudo bem. É só que quando fico nervosa começo a tremer,


e fico gelada, quando chegar em casa vai passar — dou de ombros.

Ele expira o ar com força e faz negação. Pega o cardápio e me


aponta um suco.

— Que tal laranja com morango? — ele me pergunta. —


Podíamos pedir e...

— Eu quero tequila — digo.

— Tequila? Sério? — Seu sorriso aumenta ainda mais. — Rachel,


estamos na frente dos seus pais.

— Por isso mesmo. Ajudaria a ficar bêbada e você ter desculpa


pra irmos embora mais cedo — digo rindo e Max tenta não rir tão
alto, mas acabamos chamando a atenção.

— Já decidiram o que vão pedir? — meu pai nos pergunta.

— Ah, a Rach tá meio Fitness esses dias, tá louca pelo suco de


laranja e morango, vou lá pedir e aproveito e peço o garçom para vir
aqui, acho que esqueceram que essa mesa existe — Max fala e
sorri.

— Vou com você então. — Renato fala. — Minha loira está


demorando muito.
— Quem escuta você acha que tá falando de mulher e não de
cerveja! — digo pra ele e reviro os olhos.

— Pelo menos a cerveja esfria minha cabeça — ele resmunga e


os dois se levantam.

Olho pra mamãe que sorri pra mim, e então levo um susto
quando sinto Max colocar sua jaqueta sobre meus ombros. Ele se
abaixa e beija o topo da minha cabeça. É um gesto normal pra gente.
Ele sempre cuidou de mim, não importa na frente de quem, ou em
qual situação. Mas minha mãe pareceu ver isso com outros olhos. E
eu apenas sorri como se concordasse com ela de que Max é mesmo
um cara perfeito.

Só não foi feito pra mim.

Ela se levanta e vem em minha direção. Já me preparo


psicologicamente para nossa conversa. Ela se senta onde Max
estava sentado, e eu visto a jaqueta dele, preciso esquentar meus
braços. O seu perfume se instala em meu corpo, é como se ele
estivesse me abraçando naquele mesmo instante.

— E aí, me conta como aconteceu — ela pede.

O cheiro dele, a sensação de ter um pedaço dele comigo me


trouxe uma paz e uma força que é exatamente o que eu preciso.

— Do que quer saber, mamãe?

— Quando sentiu? — Ela sorri.

— Senti... o quê? — Franzo minha testa e ela solta uma


risadinha.

— Quando sentiu que ele era muito mais do que seu melhor
amigo?
Wow! Ok. Eu estava preparada para perguntas de como ficamos
juntos, e de como decidimos nos casar. Mas não me preparei para
dizer o momento em que eu descobri estar apaixonada por Max.
Como saio dessa?

— Comigo foi na casa do seu tio — mamãe fala.

A olho surpresa e sorrio.

— Como assim?

— Eu estava com uma amiga, ela estava conhecendo o seu tio


Márcio, irmão do seu pai. Eles ficaram conversando por horas. E eu
e seu pai já estávamos naquele vai e vem que nunca tinha uma
direção. — Ela sorri. — Mas naquele dia, estava tudo diferente. Ele
ia viajar e ficaria longe por alguns meses, não iríamos nos ver tão
cedo. E então ele escreveu um bilhete pra mim. Sempre fui muito
teimosa, não queria nem ler o que estava escrito, mas então eu
decidi ler. Senti e entendi o que aquilo queria dizer. Fui atrás dele, e
o vi entrando dentro daquele carro, e ali eu sabia que iria ficar um
bom tempo sem ver ele.

— E o que aconteceu?

— Ele disse: "Me espera" enquanto entrava no carro. E eu senti,


eu estava completamente apaixonada por ele. E iria esperar por ele
o tempo que fosse preciso.

Meu coração se aperta quando ela termina de falar. Mamãe


sempre foi muito reservada em relação ao amor. Nunca me contou
essa história nem nenhuma outra mais intensa que envolvesse ela e
papai.

— Por que tá me contando isso? — a olho sem entender.

— Porque eu queria te contar quando você sentisse o mesmo


que eu — ela diz.
— Ah... — murmuro sem graça. — Eu amei a história. A minha e
a do Max não é tão intensa assim.

— Pois eu duvido disso! — Ela sorri e então olha em um ponto,


me viro e vejo Max olhando pra gente. Ele sorri pra mim e então se
vira para Renato. — Max é um livro aberto. Dá pra ver no olhar de
vocês dois. Um completa o outro.

— Ah, isso é verdade — digo rápido. — Não consigo imaginar


minha vida sem ele, seria muito chata.

Mamãe começa a rir e então se levanta ao ver Renato e Max se


aproximando.

— Acho que isso pode te ajudar a descobrir o momento certo.

— O momento certo? — pergunto rindo.

— Que você sentiu quem era a pessoa olhando a mesma estrela


— ela diz e então me entrega um pedaço de papel.

— Que estrela, mãe?

— Interrompo a conversa feminina? — Max fala assim que chega


até nós. Coloca a jarra com o suco em cima da mesa e se aproxima
da minha mãe e beija seu rosto.

— Estávamos falando sobre como você é um príncipe — ela fala.

— O Max? Tá fácil! — Começo a rir.

— Pelo menos uma mulher nesse mundo pra me enxergar como


eu sou — Max fala e se abaixa dando um beijo na bochecha da
minha mãe. — Ainda bem que você existe, Miriam!

Ela começa a rir e dá a volta na mesa, e Max se senta ao meu


lado.

— Tá viva? — ele sussurra rindo. — Da conversa.


— Acho que seria legal a parte da desculpa da tequila agora —
murmuro e ele solta uma risada alta.

Reviro os olhos, e Max começa a me servir com o suco. Pego o


papel que a minha mãe me deu e o abro. Lá encontro um bilhete,
com a letra do meu pai. Seria o mesmo que ele a entregou anos
atrás? Meu coração dispara e sinto como se um pedaço de amor
estivesse em minhas mãos.

Quando olhares para o céu, e contemplares uma minúscula


estrela, pense que longe, ou muito distante, alguém que possa
ser tudo para você poderá estar olhando para o mesmo céu, e
contemplando a mesma estrela. Isso pode não ser tudo para
você. Mas pode ser o começo de algo... Como aquilo que se
chama um grande amor.
Capítulo 17

Assim que entro no apartamento de Max, já tiro meus saltos e


resmungo de dor ao pisar no chão. Puta que pariu! Pisar no chão dói
mais do que quando o sapato estava me destruindo.

Max fecha a porta do apartamento atrás de si, passa a chave


trancando e na mesma hora eu me viro sorrindo e ele me lança
sorriso de lado e ergue uma sobrancelha, estica as chaves
balançando na minha frente e coloca em seu bolso.
— Sem chance. Você sabe que eu não vou ficar aqui. — Pego
meus sapatos do chão e me viro em sua direção. — Você disse, abre
aspas, é só pra beber água e a gente desce, fecha aspas.

Max coça a cabeça e então vai andando em direção a cozinha


sem dizer nada. Ele abre seu armário de vidro e se vira sorrindo pra
mim com uma garrafa nas mãos.

— O que é isso?

— O que você acha? Tequila — ele fala rindo e pega dois copos.

— Max! Eu tava brincando! — Jogo meus sapatos no chão e me


aproximo dele. — Foi só uma piada pra tentar tornar a noite não tão
estranha como...

— Como? — Ele para o que está fazendo e olha pra mim.

— É... — solto um suspiro. — Como eu achei que ia ser.

— E foi?

— Não. Sabe, pra falar a verdade foi até natural. Acho que eles
acreditaram mesmo na gente — digo e reviro os olhos. — Até o
idiota do Renato. Como ele pode ser tão lerdo assim? Vocês são
amigos há o quê? Uns oito anos?

Max se aproxima e coloca os copos e a garrafa de tequila em


cima da mesa.

— Sei lá, tá mais pra uns onze — ele fala. — Fiquei amigo do seu
irmão primeiro, quando nem sabia que você existia.

— Você conhece Deus e o mundo, Max! — falo rindo e pego o


limão na fruteira que fica em cima da bancada. — Tanto da raça
masculina, e ainda mais da raça feminina. Traz a faca aí pra eu
cortar o limão.
Vejo Max ficar parado, ele começa a dizer algo, mas desiste e
pega uma faca na gaveta. Se aproxima de mim e a coloca em cima
da bancada junto com uma tampinha com sal. Ele se senta na minha
frente e fica me observando enquanto corto os limões.

— Bom... Eu conheço muita gente mesmo — ele diz. — Mas


enfim... Sobre hoje, foi tranquilo, sim. A gente se dá bem. É claro que
eu sou o sonho de qualquer pai e mãe.

— Argh... Meu Deus, menos! — solto uma gargalhada. — Quero


ver se meu pai souber o quanto você é galinha, com certeza... O
sonho de qualquer pai.

Max solta um suspiro e estica suas mãos por cima da bancada e


segura meus braços. Ergo meus olhos até os seus e ele está com a
testa franzida. O que eu fiz agora?!

— Linda... Olha, não é que eu esteja sendo grosso ou...

— Você não consegue ser grosso. — Sorrio.

— Ótimo. Então eu agradeceria se você parasse de me chamar


de galinha.

— Max! — Solto uma gargalhada. — Não se pode apagar o


passado. Não posso fazer nada.

— Eu sei... É que... — Ele solta o ar que está segurando e então


aperta minhas mãos. — Não sou assim, Rach.

— Jura? — continuo, levando na brincadeira, mas assim que vejo


que ele ainda está sério enquanto olha pra mim, decido parar com
isso. Max parece realmente incomodado em me ouvir falar isso. —
Desculpa — sussurro.

— Me sinto sujo — ele diz. — É claro que eu tenho uma


reputação nada legal... Mas eu sou mais do que um galinha caçador
de mulheres... Pensei que não me visse só dessa forma.
— Ei... — murmuro, me levanto e dou a volta na bancada até
chegar perto dele. Jogo meus braços ao redor do seu pescoço e ele
abraça minha cintura. — Acha que eu não sei disso, hein? — Seguro
seu queixo com minhas mãos e o faço olhar pra mim. — Você é um
homem incrível, Max! Que se dane a reputação. Eu tenho um baita
orgulho de você. Você é tão bom amigo, quanto filho, quanto
profissional... Eu só brinco assim zoando. Você sabe. E se não sabe,
pode parar com isso porque você sabe o quanto é importante pra
mim, não é?

— Eu sei minha linda... Você também é. — Ele beija o topo da


minha cabeça e encosta nossas testas. — Eu só... Sei lá... Não
queria que me visse como o cara que todos dizem que eu sou.

— Isso é passado — eu falo rápido. — E pare de se rebaixar


também, porque se não eu vou te dar uns tapas.

— Wow, então tá. — Ele começa a rir. — Obrigado.

— Só não deixa ninguém mudar sua visão de você e tudo certo,


ok? Você é incrível, exatamente como você é, além de ser um
homão da porra que vai perder no nosso jogo da tequila.

— Ah, vai te catar. — Ele revira os olhos, mas me puxa e beija


minha bochecha.

Sinto meu coração se apertar por finalmente ver um sorriso surgir


novamente.

Acho que ele não faz ideia do que penso sobre ele. Acho que de
todo mundo em sua vida, eu sou a única que o enxerga como ele
realmente é, sem mentiras, ilusões... Mas acho que ele também não
faz ideia de como eu o vejo, e do que ele significa pra mim.
Pareceu uma eternidade até a semana passar. Minha rotina foi
basicamente ir trabalhar, e depois dar atenção para a minha família
que ainda está na cidade. Mamãe aproveitou que estava em São
Paulo, e me fez ir com ela na 25 de março para comprarmos coisas
para o natal. Ainda faltava um mês, mas ela estava uma pilha porque
não tinha organizado nada.

Minha família sempre foi do tipo que comemora o natal como tudo
deve ser. Monta a árvore, colocamos os presentes debaixo dela. Nos
reunimos, fazemos brincadeiras, a ceia do natal. Mamãe sempre fala
sobre com o que está grata e é assim sempre. Todos os anos. Eu os
amo por isso, por querer sempre reunir a família, renovar e fortalecer
nossos laços.
— Eu acho que você deve levar uma pra você também — mamãe
fala enquanto eu e ela estamos paradas analisando a árvore de natal
de três metros na nossa frente.

— E colocar onde? — começo a rir e olho para ela.

— Na sala, filha. Perto de um presépio lindo que montará — ela


diz.

— Ah, claro, ou a árvore, ou meu sofá — zombo e ela me dá um


tapa nos ombros. — É sério, mãe, essa árvore roubaria todo meu
espaço. E outra que eu nem vou passar o natal em casa, não vejo
porquê fazer tudo isso.

— É pra entrar no clima! Vai ver. — Ela fica de frente pra mim e
abre um sorriso. — Ainda me lembro em como ficava feliz ao ver as
luzes e os pisca-pisca.

Ah, meu Deus! Luzes! Sou apaixonada por luzes!

Solto um suspiro e olho para a árvore de novo.

— Mas essa aí tá meio exagerada. — Sorrio. — Acho que uma


menor já está de bom tamanho. Ficaria feliz assim?

— Pode apostar. — Ela sorri e vai até a vendedora.

Mamãe acaba comprando a árvore de três metros para ela. E


quando a mulher chega com as nossas caixas eu começo a rir e
entro em um pequeno surto de desespero.

— Já era o resto das compras, não vamos conseguir carregar


isso! — Começo a rir e mamãe concorda analisando a caixa da
árvore.

A caixa dela é o triplo da minha. Entrego a vendedora algumas


bolas que separei decoradas, e luzes, e já pego meu celular.
Começo a sorrir e clico no nome de Max para encaminhar uma
mensagem.
EU: Ei, Pinguim, tô na rua até agora! Acredita que minha
mãe me fez comprar uma árvore de natal? Sabe o que significa,
né?

— Rachel? — mamãe me chama e eu a olho segurando um


monte de bonequinho de neve pequenos. — Olha que fofo pra
colocar na árvore.

— Que amor! — Solto um suspiro e já confiro o valor.

É, está dentro do que posso levar. Entrego para a vendedora e


ela e mamãe começam a levar as coisas para o caixa. Empurro
minha caixa com a árvore, e sinto meu celular vibrar. Assim que vejo
o nome de Max, é como se fosse a primeira vez que ele me
mandasse mensagem no dia.

Ultimamente tenho sentido essa nova sensação. Sempre que o


celular apita, parece ser a primeira vez que Max está me falando
algo durante o dia. Minhas mãos criam vida própria para abrir todas
as mensagens.

MAX: Significa que eu vou ser o capacho que terá que


montar?

Solto uma gargalhada e mamãe me observa digitar a resposta


enquanto paga as coisas que comprou.

EU: Prometo comprar um vinho para pagar por seus


esforços.

Ela finaliza sua compra, e eu entrego meu cartão para a moça


cobrar a minha compra. Mamãe sorri e me cutuca pelo ombro.
— É... o Max nas mensagens? — ela sussurra.

— Hum... É... Por quê?

— Bem desconfiei desse seu sorriso.

Meu sorriso se abre ainda mais, e eu me obrigo a não rir na cara


dela. É, mãe, a senhora entendeu tudo lindamente errado. Um dia
espero te contar e não me matar no processo.

— Senha, por favor — a moça do caixa solicita.

Digito a senha e ela me entrega o comprovante. A vendedora


começa a colocar tudo em sacolas e pego meu celular novamente.

MAX: Agora tá me convencendo kkk Tá onde na 25?

Pego minhas sacolas e puxo minha árvore até a porta da loja.

— Onde vamos, filha? — mamãe pergunta preocupada.

— Vou chamar um uber, mãe — sussurro.

EU: Perto de Luz. Naquela loja que uma vez passamos e eu


te mostrei aquela bola de neve que me apaixonei lembra? Daqui
a pouco chego em casa, vou chamar um uber. Torce pra vir
um motorista gato.

Abro o aplicativo, e bufo quando a minha internet demora a


carregar. Que ótimo! Tudo o que eu preciso agora é de uma internet
que não me deixa ir embora.

MAX: O maior de todos os gatos... Eu. Nem ouse chamar


nenhum, tô indo te pegar.
Reviro os olhos, mas é óbvio que eu não vou rejeitar sua carona.
Ainda mais agora que compramos duas árvores imensas. Mamãe se
aproxima de mim e nos sentamos no degrau da escada da loja. Ele
toca em meu braço, chamando minha atenção e me viro olhando
para ela.

— Seu pai e eu decidimos voltar para casa — ela diz e sinto meu
coração apertar.

— O quê?! — Ofego. Como assim eles mal chegaram e já vão ir


embora?

— Eu estava preocupada com você. É que você nunca


apresentava seu noivo, e eu já estava achando que ele não existia.
Ou que estava passando por problemas em seu relacionamento,
longe de mim, e eu nem poderia estar aqui para te ajudar.

Minha consciência pesa na mesma hora. Meu Deus! Eu sou uma


péssima filha.

— Mas agora que já vimos o quanto está feliz, até seu pai está
mais calmo. Ele andava meio nervoso, com aquela pancada de
problema no coração, e ver você bem o deixou mais calmo.

— Mas vocês mal chegaram — resmungo.

— Eu sei, meu bem. Mas não podemos ficar muito. Já estamos


aqui há três dias. Seu pai precisa voltar, e eu tenho trabalho lá em
casa.

Sorrio e mamãe acaricia meus cabelos.

— Renato disse que vai ficar. Ele está tentando arrumar emprego,
como você sabe, e queria tentar a sorte aqui.

Concordo com ela e tento ignorar o aperto no meu coração.


— Quando vocês vão? — pergunto e de certa forma, não quero
saber a resposta.

— Amanhã de manhã. Mas hoje será nossa despedida — ela diz.


— Mas tudo vai ficar bem.

Abraço algumas sacolas em meu colo, e sinto meu coração se


apertar. Eu não sabia o quanto estava com saudades da minha
família até tê-los por perto e depois ter que dizer adeus novamente.
Olho para minha mãe, que está distraída vendo algo em seu celular,
e meu coração dói ao pensar que ela vai embora sem saber da
verdade. Sem saber que durante esse tempo estive com um cara
que ela não sabe nem o nome, que foi legal comigo por um tempo,
mas me abandonou e se mudou para o outro lado do mundo. Ela não
sabe o quanto preciso do seu colo e abraço.

Ela não sabe em como eu ainda não descobri onde fica aquele
botão que a gente aperta para seguir em frente.

Já tive muitos términos na vida, mas jamais tive que cancelar o


casamento porque o noivo resolveu me abandonar porque era
melhor assim para sua carreira. Uma carreira que é mais importante
do que eu.

— Mãe — sussurro e ela olha pra mim. — Preciso te contar uma


coisa.

Assim que ela concorda, ouço a buzina alta do outro lado da rua.
Max buzina três vezes e acena pra gente.

— Ué, a gente não ia de Uber? — mamãe franze a testa sorrindo.

— Mudança de planos — digo pegando as sacolas. — Max


estava perto e se ofereceu para nos buscar.

— Ah, que gentil! — Ela sorri.

Eu e ela levamos as sacolas para dentro do carro e Max abre o


porta malas. A vendedora da loja me ajuda com a caixa da árvore, e
Max pega a caixa maior, da árvore da minha mãe. Assim que
ajeitamos tudo e ele fecha o porta malas, mamãe entra no banco de
trás e eu sento no carona, e já coloco o cinto de segurança.

— E aí Miriam, como vai? — Ele se vira sorrindo pra minha mãe


que já brilha os olhos só de olhar pra ele.

— Eu estou amando cada segundo aqui. — Ela sorri. — Estou


muito bem, meu filho, e você? Estava no trabalho?

Meu coração se aperta ao pensar em como contar pra minha mãe


sobre Pedro. Seja o que for, vai ser um choque. Vai me machucar.
Eu quero contar, mas ao mesmo tempo quero adiar porque sinto que
não tô preparada para falar em voz alta que fui abandonada.

— Pois é — Max diz e dá a partida no carro. — Eu estava em


uma reunião, acabou ficando até depois do expediente, mas acabou
mais cedo do que eu supunha.

— Bom que dá para descansar um pouco — ela diz.

— Fala não! — Max diz. — Nem acredito que o pior já passou. E


agora posso respirar fundo e concentrar em outro projeto.

— Você trabalha onde mesmo? — ela o questiona.

— Eu trabalho em uma gráfica. Aí sou eu quem fecho as


parcerias com as empresas, e faço a impressão do jornal onde a
Rachel trabalha. Pelo menos uma ou duas vezes na semana até
estou por lá no jornal também. Ajudando o Arthur na aprovação dos
projetos e na reunião com os fornecedores.

— Ah, sim, me lembro do Renato contar mesmo! Estou esquecida


ultimamente — ela diz sorrindo.

Um silêncio se instala no carro assim que Max para o carro no


sinal. O vejo olhar de relance para mim. Ele franze a testa e estica
sua mão até segurar meu joelho e enfim olho para ele. Ele tomba a
cabeça para o lado e eu solto um suspiro.
— Oi — ele diz baixinho sorrindo pra mim. — Tá caladinha, linda.
Tá tudo bem?

— Oi — sussurro. — Desculpa. Não é nada, não.

Um vinco se forma entre suas sobrancelhas e mamãe se


aproxima da gente.

— Ela está meio triste porque falei que vou embora amanhã.

— Por que já vai tão cedo? — Max olha para ela.

— Não posso ficar muito tempo. Agora que sei que está tudo
bem, e a Rachel está bem cuidada por você, posso ir tranquila e
aguentar a saudade até o natal.

Max olha pra mim e parece pensar o mesmo que eu. Nessa
mentira. No meu real estado por trás de toda a encenação, sinto sua
mão apertar mais meu joelho.

— Bom, então esse natal promete, hein! — ele muda de assunto.

— Pode apostar que sim! — mamãe comemora sorrindo.

Max continua dirigindo apenas com uma mão e deixa a outra


descansando em meu joelho. E assim que sinto meu coração se
apertar de novo, coloco minha mão por cima da sua e entrelaço
nossos dedos. Max puxa minha mão até sua boca e a beija devagar
e sinto meu coração se acelerar com esse seu gesto. Um sorriso se
forma nos meus lábios assim que ele olha pra mim de relance e em
seguida para a estrada. Puxo nossas mãos até minha boca e faço o
mesmo, beijando sua mão.

E em seguida solto nossas mãos e coloco a dele por cima do


meu joelho de novo e apenas coloco a minha por cima da sua.

— Bolo de pote — ele brinca.


— Pinguim — digo rindo.

Max solta uma risadinha e pisca pra mim.

— Aposto que quer que eu vá montar a árvore hoje, por isso esse
olhar piedoso de gato de botas — Max fala e começo a rir.

— Bom, eu não alcanço a ponta da árvore, e ela precisa de uma


estrela — sorrio e Max morde os lábios.

— O que eu ganho com isso? Vai usar aquele vestido vinho para
me inspirar? Você sabe que ele significa na minha cama ou na... —
Ele para de repente e então arregala os olhos e fica imediatamente
sem graça. Acho estranho ver pela primeira vez Max corar. Até que
entendo quando ouço a voz da minha mãe.

— Ok, finjam que não estou aqui — ela fala baixinho e eu começo
a rir ainda mais.

Max está tão acostumado em brincar comigo dando em cima de


mim, mas suas brincadeiras agora seriam interpretadas a sério
nessa mentira louca que estamos.

— Mãe, relaxa. Nada a ver! — Começo a rir e Max retira a mão


do meu joelho e segura o volante com as duas mãos.

Ele vira a rua de casa e para o carro de frente ao meu prédio.

— Vou te deixar aqui primeiro, e depois deixo sua mãe no hotel


— Max fala.

— Mamãe, não vai ficar aqui? — a pergunto me virando para trás.

— Vou ir para o hotel, filha, se Max não se importar. Tenho que


ajeitar tudo para amanhã. Mas à noite passo aqui, tá bem?

— Vou esperar. — Me aproximo dela e ela de mim, e beijo sua


bochecha.
— Abre lá o porta malas — digo já com a mão na maçaneta da
porta.

— Deixa as coisas aqui. Só vou levar sua mãe, e então pegar


umas coisas lá em casa e volto pra cá, aí levo tudo pra você quando
chegar. Não tem que pegar peso.

— Não precisa, eu pego a árvore e os enfeites e peço ajuda do


Martinho para me ajudar até chegar ao elevador. Só não demora pois
não quero fazer tudo sozinha.

— Sim, senhora. — Ele sorri e assim que vou sair, sinto Max
segurar meu braço, paro e me viro para ele. Seu polegar acaricia
minha pele, e Max sobe sua mão até chegar na minha nuca, onde
sua mão se entrelaça nos meus cabelos. E percebo que mamãe está
nos observando. — Então... — Max me puxa e beija minha bochecha
devagar. — Até à noite.

— Não precisam ficar com vergonha de mim. Podem se beijar de


verdade, acho bonitinho até.

Bom, que merda!

Olho para Max assustada e ele apenas sorri como se dissesse


"Como saímos dessa?".

— Vou até passar para o banco da frente — mamãe diz e sai do


carro para se sentar no meu lugar.

O carro parece mudar a atmosfera. É como se eu fosse uma


adolescente que acaba de ser pega pelos pais. Meu coração parece
que vai sair pela boca. Principalmente quando penso no que estou
prestes a fazer.

— Ela tá olhando — ele sussurra sorrindo. — Vamos só fingir


que...

Me aproximo de Max antes que desista, pressiono sua boca com


a minha e é como se tudo ao meu redor congelasse. Me surpreendo
em como os lábios de Max são macios, sugestivos... Sinto seus
dedos em minha nuca apertarem minha pele, e ele meio que me
puxa um pouco para mais perto. E assustada com a vontade de
fechar meus olhos e só me jogar em cima dele, estico minha mão e
toco seu peito, e me afasto o suficiente para olhar em seus olhos.
Max parece atordoado, sua mão aperta minha pele ainda, como se
estivesse impossibilitado de me soltar.

— Rachel... — ele sussurra.

Me aproximo novamente e beijo sua boca rápido de novo e então


me afasto sorrindo, tentando continuar a encenação. É só um
selinho, nada demais.

— Te amo — murmuro alto o suficiente para minha mãe ouvir, e


então a abraço, abro o porta malas e retiro a caixa da árvore, as
sacolas, e coloco tudo do lado de fora do carro, Martinho o porteiro,
já me vê e como sempre prestativo vem me ajudar, e então, apenas
vou andando para o meu prédio sem nem olhar para trás.

Foi só um beijo, um selinho... Não significou nada.

Muito menos esse formigamento que percorre meus lábios e o


calor que sinto em meu corpo... Não significa nada.
Capítulo 18

Ando de um lado para o outro do meu apartamento sem


conseguir parar de pensar. Desde que saí do carro de Max, não
consigo parar de pensar naquele simples selinho que dei nele. Foi só
um selinho, nem pode ser considerado um beijo. Então por que eu
estou tão neurótica quanto esse assunto?

Será que é apenas preocupação por ter ferrado com a nossa


amizade? Acho que não. Max e eu somos mais do que isso. Não
ferrei nada, nossa amizade não vai acabar por causa de uma
estupidez dessa. Isso, achei a palavra. Estupidez, Rachel! Foi isso o
que você fez!

Por que eu não fiz o que ele começou a me falar? Ele disse para
apenas fingirmos. Mas não, eu só fui e o ataquei. Como se fosse
uma coisa simples entre nós.

Mas o que mais me deixa nervosa, não é pensar na nossa


amizade, ou no motivo que fiz aquilo. O que mais me deixa assim é
simplesmente ter raiva por estar me sentindo assim. Por que eu
estou assim? Max está acostumado a fazer essas coisas por aí. Não
sou qualquer uma pra ele, mas ele não deve ter se assustado tanto
visto a situação em que nos encontramos.

Então não tenho motivos para me desesperar.

Inspiro o ar e expiro três vezes tentando me acalmar. Pego meu


celular e vejo uma mensagem da minha mãe. A abro para tentar
parar de pensar tanto no que houve hoje mais cedo. Preciso
esquecer isso o quanto antes.

MÃE: Filha, vou passar aí só para te dar um beijo, ok? Te


aviso quando estiver chegando. Bjos.

Solto um suspiro e coloco meu celular em cima da bancada. Olho


para a caixa da árvore que comprei e sorrio. Acho que mamãe me
fez comprar essa árvore para que eu sinta que tem um pedaço dela
comigo. Vou até a cozinha, pego uma faca. E abro a caixa inteira.
Retiro todo o plástico e separo as partes de montar. É mais fácil do
que eu pensei que seria. Sei que disse que iria esperar o Max, mas
preciso ir adiantando e distraindo minha mente.
Ajeito a base da árvore e vou encaixando as partes. Assim que
termino de montar, começo a ajeitar as folhas, já que estão todas
amassadas. Me pego sorrindo enquanto a faço se transformar em
uma árvore menos depenada possível. E assim que termino de
ajeitá-la, pego os enfeites que comprei e os tiro da sacola e jogo tudo
em cima do tapete. Empurro um pouco a árvore para que ela fique
entre o sofá e a janela que dá acesso à sacada, e percebo que fica
perfeita ali.

A campainha de casa toca e sinto um calafrio percorrer meu


corpo, vou caminhando até a porta devagar, sem fazer barulho
algum, pisando na ponta do pé. Coloco a mão na maçaneta e tento
acalmar meus pensamentos. Solto um suspiro e ouço a campainha
tocar de novo.

— RACHEL! — Max grita do outro lado e meu corpo estremece


ao ouvir sua voz.

Mas que diabos está acontecendo comigo? Por que tô com


vergonha de ver o Max? Será que é pelo que houve mais cedo? Mas
cheguei a conclusão de que não houve nada, não significou nada.
Então é claro que não importa.

Inspiro o ar e abro a porta rapidamente.

Max franze a testa ao me ver, está usando uma calça preta, uma
blusa azul escuro e um moletom cinza. Está de chinelos, como se
estivesse em sua própria casa. Ele segura duas sacolas, e entra me
olhando de um jeito estranho. Assim que ele passa, fecho a porta e
demoro um pouco para me virar.

— Tá escondendo alguma coisa? — ele sussurra baixinho.

Me viro devagar em sua direção e tento sorrir, mas acho que


falho, porque tenho certeza que fiz uma careta assustada.

— É... Não, eu... Por quê?


Max solta uma risada.

— Então por que está agindo como se fosse uma adolescente


que dormiu escondido com o namorado e agora quer expulsar ele de
casa antes da família acordar?

Reviro os olhos, mas solto uma risada. Max é tão idiota que não
sei como o aguento.

— Que comparação. — Passo por ele e vou até a cozinha.

Max me segue e me sento no banco perto da bancada, e ele


coloca uma sacola em cima do sofá, e a outra traz para mim e a
coloca em cima da bancada.

— Então por que tá estranha? — Ele me olha com a testa


franzida e já vai abrindo a minha geladeira. — Cadê aquele doce
gostoso que comprou no mercadão?

— Tá na porta, em um pote vermelho pequeno — aponto quando


ele abre a geladeira e volto a ficar calada.

Max pega o pote e se vira pra mim, fecha a geladeira e coloca


tudo em cima da bancada. Ele ergue seus olhos e assim que os
olhos dele se encontram com os meus, solto um suspiro.

— Tá me assustando com essa cara — ele diz.

— Ah, Max... Não consigo mentir, não somos do tipo que fica
falando coisas nada a ver, certo? A gente não enrola como todo
mundo.

— A gente bota pra fora — ele diz sorrindo.

— Isso — digo e então respiro fundo juntando a coragem. — Tô


me sentindo ridícula por ter te beijado hoje mais cedo. Tá bom? Tá
aí. Joguei na sua cara, não aguento ficar estranha com você, e eu
sei que nossa amizade não tá ferrada. E eu sei que você achava
nojento a gente se pegar... MAS GRANDE DROGA, AQUILO NEM
FOI UM BEIJO!

— Wow! — Max começa a rir e dá a volta na bancada para ficar


perto de mim. — Calma aí! São muitas coisas ao mesmo tempo,
respira cacete!

Sorrio e reviro os olhos. Max se aproxima de mim sorrindo


também e fica entre minhas pernas e abraça minha cintura.

— Desculpa — sussurro.

— Pelo turbilhão de desabafo ou pelo beijo gostoso?

— Pelo beijo, idiota! — Solto uma gargalhada. Mas meu coração


se aperta ao ouvir ele dizer que nosso beijo foi gostoso.

Max coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e


eu passo minhas mãos ao redor do seu pescoço.

— Primeiro... Não se sinta ridícula, sua mãe estava olhando. Está


tudo bem. Foi só um beijinho, Rachel, não é como se tivéssemos
transado e agora é a hora da conversa do dia seguinte, tá?

— Nojento. — Reviro os olhos.

— E falando em nojo... Beijar você não é, ok?

— Mas... Você disse isso, no dia do jantar — digo de uma vez.

— Eu sei, mas eu estava só zoando. Me beijar te lembrou o


Renato?

— Credo, lógico que não! — me apresso.

— Então... Agora que estamos bem e podemos acrescentar


beijos na nossa amizade porque seria demais...
— Idiota! — Dou um tapa no seu ombro rindo e Max beija minha
bochecha e se afasta de mim.

— Tô zoando, lindinha — ele sussurra e então fica sério ao olhar


pra mim. — E está tudo bem. Eu sei que sou um delícia, impossível
resistir.

— Max? — Ele vê que estou falando sério pelo meu tom e fica
sério de novo.

— Tá tudo bem. Só me pegou de surpresa, da próxima vez a


gente combina que aí eu não me assusto. — Max se vira de costas
pra mim e começa a mexer em alguns talheres.

Próxima vez? O que ele quis dizer com” da próxima vez”? Caso
alguém nos force e a gente acabe fazendo isso para manter as
aparências? Ou fazer isso à toa? Sem motivo algum?

Ah, meu Deus!

Acho que estou enlouquecendo. Decido dar esse assunto por


encerrado. Preciso esquecer isso, e a melhor forma de fazer isso é
não pensar e não tocar nunca mais no assunto.
Capítulo 19

Pego umas sacolas em cima da mesa, e vejo que dentro dela tem
um vinho e meu chocolate preferido. Max sabe que eu amo.

— É pra mim? — pergunto sorrindo, enquanto pego o Snickers.

— É, mas eu quero um pedaço — ele fala chegando com duas


taças.

— Você é o melhor amigo dessa vida — digo rindo e Max revira


os olhos. — Ah, e você viu minha linda obra de arte hoje?
Max abre um sorriso de lado, e então ergue a cabeça e olha para
a árvore de natal no canto da sala. Ele dá a volta no balcão e se
aproxima do sofá.

— Então quer dizer que aquele desastre é culpa sua? — Seus


ombros se sacodem e ele tenta não rir pra não me magoar. Mas não
consegue. Ele gosta de me provocar. — Coitada da árvore de natal!

— Ah, cala a boca! — Corro até ele e o empurro. Max cai deitado
no sofá e começamos a rir.

— Quando falou que precisava da minha ajuda pra montar, não


achei que estivesse falando que sem mim a árvore não poderia ser
considerada para o natal, e sim, para o Halloween.

— Ah, ei! — Cruzo meus braços e ele sorri e pisca pra mim.

— Precisa urgente da minha ajuda! — Ele se levanta e aponta


para os enfeites no chão e para o bolo que fiz de pisca-pisca na
árvore. — Eu desembolo aquele excesso de luz num lugar só, e
depois a gente coloca os enfeites.

— Não quero. Me cansei montando isso! Faz anos que não sigo a
tradição de natal da minha família.

— Tradição de natal? — Max questiona e começa a retirar os


pisca-pisca da árvore.

Me aproximo dele e ele sorri e me entrega alguns fios do pisca-


pisca, e após retirar tudo, começa a colocá-los do jeito mais gracioso
de todos.

— Como é a tradição de natal da sua família? — ele pergunta


enquanto arruma a árvore.

— Ah... Bom... Minha mãe sempre amou essa época do ano.


Dizia que além de comemorarmos o nascimento de Jesus, tínhamos
que aproveitar cada segundo com quem amamos. Pois é a época de
renascer novos laços. Criar mais união. Então ela sempre fazia eu e
meus irmãos contarmos tudo para ela enquanto montávamos a
árvore. Só que além dos enfeites, ela colocava algumas fotos
também. — Sorrio sendo puxada pelas lembranças. — Uma foto de
cada momento especial que passamos... Era... Até divertido.

Solto um suspiro, e ao me virar, pego Max sorrindo ao me


observar.

— Que foi? — sussurro.

— Nada — ele diz e para de sorrir e puxa um pouco dos fios do


pisca-pisca da minha mão. — Vou colocar na parte de cima agora.

— Tá bem.

Max estica os braços, e vai prendendo as luzinhas em alguns


galhos da árvore. E sem querer, meus olhos descem um pouco por
seu corpo. A blusa de Max sobe um pouco, deixando uma parte do
seu abdômen à mostra. Meu coração bate rápido e por mais que eu
tente, não consigo desviar meu olhar. Que merda!

Rachel, para com isso! Qual é?! É só o mané do Max!

Solto um suspiro e viro meu rosto de uma vez. Max continua seu
trabalho minucioso. E então ele termina, pega a tomada da minha
mão e a liga. As luzinhas se acendem, perfeitamente ajeitadas como
deve ser no natal.

— É, você é bom nisso. — Sorrio.

— Eu disse que precisava da minha ajuda — ele diz e então se


senta no chão, e bate no chão com as mãos me pedindo para sentar
também.

Me sento de frente para ele e puxo uma caixa de papelão com


alguns enfeites.
— Sabe, eu também tinha esse costume de decorar a árvore. Só
que sempre gostei de decorar sozinho. Meus pais ficavam bem
irritados, porque queriam participar, mas eu sempre quis fazer as
coisas do meu jeito.

— Sei como é — sussurro.

— Eu sei que sabe — ele diz. — Mas isso não é motivo para
dividirmos as nossas tradições? Eu deixei você entrar no meu
mundinho e ficar perto de mim nesse momento. E já que... — Max se
aproxima de mim e coloca as mãos no meu joelho. — Já que essa
época do ano é para renascer novos laços, acho que seria legal
renovarmos os nossos.

Abro um sorriso e reviro os olhos.

— Não vou contar histórias idiotas da minha infância pra você.

— Eu não fiz parte da sua infância — ele diz. — Mas faço do


presente, Rachel. E... Do futuro também, quero isso.

Solto um suspiro e concordo com ele. Max se levanta, vai até a


bancada da cozinha, e pega uma sacola, as taças e a garrafa de
vinho, volta sentando-se na minha frente novamente. Ele abre a
garrafa, enche nossas taças, me entrega uma e bebe um gole da
sua.

— Vai passar o natal com a sua família, certo? Lá na casa dos


seus pais?

— Provavelmente — digo e bebo um gole do vinho. — Ou minha


mãe me arrasta pra lá de todo jeito.

Ele sorri e morde os lábios.

— E você, Max?

— Bom... Minha mãe não é do tipo que vai me arrastar pra lá.
Não liga pra isso — ele fala.
E meu coração se aperta. Conheço Max há anos, e nunca soube
o quão distante da família dele ele era. Nunca soube onde ele passa
o natal.

— Então, que tal a gente fazer essa tradição da sua mãe? — ele
pergunta.

— Antes do natal? — Começo a rir.

— Bom, não vou te ver no natal. E nós já estamos nesse clima de


luzes e tal. Acho que não existe um dia certo para agradecermos.

— Hum... Tá legal. — Sorrio. — E o que tem em mente?

— Eu proponho um brinde. — Max sorri, levando bem a sério


tudo o que diz, então decido levar a sério o que ele quer fazer
também.

— Ao que especificamente?

— Nós, Rach — ele sussurra.

Sinto o ar faltar nos meus pulmões. Meu coração bate forte e


então sorrio.

— Como vocês fazem isso na sua família? — ele me pergunta.

— Bom... Quer mesmo fazer isso? — Começo a rir, e quando


Max não ri junto comigo percebo que é sério isso que ele está
querendo fazer.

E então me lembro que ele nunca teve ninguém que se


preocupasse em querer ele por perto em datas especiais.

— Bom. Tudo bem. — me aproximo dele e inspiro o ar, para criar


coragem e olhar nos olhos dele. — Max... Eu quero te agradecer por
tudo o que fez por mim. Especialmente esse ano. Obrigada por se
preocupar comigo. Por me oferecer sempre dois ombros quando
quero chorar. Obrigada por manter a paz no meu coração. Por
aceitar sair comigo e beber todas. Por ser o único que consegue ver
quem eu realmente sou. Por ser implicante e por ter o melhor abraço
do mundo. — Max franze a testa e sorri, ele parece tão tocado com
minhas palavras, que me pergunto se alguém alguma vez já lhe
disse o quanto ele é especial. E já que não sei, resolvo ser a pessoa
que irá fazer ele se sentir assim. — Você é a minha pessoa favorita
no mundo. Você é meu refúgio. Minha âncora, o responsável pelas
minhas melhores lembranças.Todas passei com você. E eu tenho
tanto orgulho de você, da pessoa que vejo você se tornar a cada dia,
que me sinto honrada por poder ter você na minha vida e te chamar
de meu melhor amigo... Então, eu quero que brindemos à isso, por
todos os momentos, todos os segredos. Por ser meu noivo por
alguns dias, mesmo sendo um pouco galinha, mas amo essa parte
sua também. — Começamos a rir e ele se aproxima, colocando uma
mecha do meu cabelo atrás da minha orelha, e me perco em seu
olhar. — Eu quero muito que você fique na minha vida pra sempre, tá
bom, pinguim?

Ele não ri. Apenas balança a cabeça concordando e noto que sua
mão ainda em meus cabelos, embolando aos poucos até ele segurar
meu pescoço, e começar a fazer pequenos círculos com seu polegar
pela minha pele.

Será que ele sabe que está tocando bem na parte sensível do
meu pescoço? Devo avisar?

Não, melhor não. Tá tudo bem assim.

— Sua vez. — Sorrio, meio sem graça. — O que significo pra


você?

Max prende a respiração, e então solta um suspiro devagar.

— Tem certeza que não sabe? — ele sussurra.

— Ah, Max. Qual é? Eu te falei. — Sorrio e então desvio meu


olhar. — Não venha com suas metáforas pra se livrar, não.
Por que não estou mais conseguindo manter nosso contato
visual?

— Bom... — ele começa e então inspira o ar novamente. — Você


também é a minha pessoa preferida no mundo. Você é tão mandona
quanto corajosa. É a única mulher por quem eu faria qualquer coisa
que estivesse ao meu alcance, apenas para saber que você ficaria
bem. E eu queria te agradecer este ano por todos os momentos.

Meus olhos se enchem de lágrimas, pois é. Sou mesmo


sentimental.

— Obrigado por ter cuidado de mim aquele dia que tomei um


porre, e depois fiquei chorando no seu colo. — Começo a rir e Max
também. — Obrigado por me fazer deixar meu serviço mais cedo,
fingindo passar mal, só porque você estava chorando em casa
quando soube que seu avô morreu. — As lágrimas escorrem por
meus olhos e Max continua fazendo pequenos círculos com seu
polegar em meu pescoço. — Obrigado por me tirar daquela festa do
jornal pra ir te ajudar quando você não tinha ideia do que escrever na
matéria. Obrigado por não ter me deixado dormir a noite toda, só pra
te dar aulas de direção pra mandar bem na prova, e depois não me
deixar dormir na outra noite, porque passou e queria comemorar
vendo filme de romance com sorvete... Eca. — Solto uma gargalhada
e Max se aproxima de mim. — Obrigado por ter atrapalhado minha
noite aquele dia com a Vi, mesmo que tenha tido uma bela visão da
minha bunda e outras partes inesquecíveis. — Dou um tapa no
ombro dele e ele apenas começa a rir. — Foi um dia constrangedor,
mas... Obrigado por me fazer cuidar de você quando terminou seu
noivado.

— Max... — murmuro chorando. — Essas coisas sou eu que


tenho que te agradecer. Olha o tanto de coisa que abriu mão por
mim.

— Não, não é linda... Não tá percebendo?


— O quê?

— Sem essas coisas eu não me tornaria o homem que sou hoje.


Não teria você na minha vida. E só Deus sabe o quanto eu mudei por
você. O quanto você significa pra mim.

Ele limpa minhas lágrimas e então ergue meu rosto para olhar em
seus olhos.

— Obrigado por não desistir de mim.

— Max...

— Mesmo quando todos desistiram — ele sussurra.

Me jogo em seus braços e subo em seu colo. Max me abraça e


comprova mais uma vez ser meu refúgio. O lugar onde posso me
esconder de tudo.

— Eu te amo, tá? — ele sussurra.

— Eu também amo você, Max — confesso a mais pura verdade


do meu coração. — Eu e você pra sempre, esqueceu?

— Nunca me esquecerei disso — ele afirma baixinho.

Max me aperta contra ele, e beija o topo da minha cabeça. Sinto


direitinho seu coração batendo forte contra o meu. E quando fecho
os olhos para aproveitar mais essa sensação, Max me afasta um
pouco, e ajeita as pernas para eu me sentar direito em seu colo. Ele
pega a sacola ao seu lado, e então me entrega.

— Comprei isso pra você hoje — ele diz.

Franzo a testa, e abro a sacola, tem dois embrulhos lá dentro.


Pego o primeiro embrulho e assim que o abro vejo que é um enfeite
para a árvore de natal. Um pinguim cheio de brilhinho. Solto uma
gargalhada e ele me abraça pela cintura.
— Foi mal, não achei um bolo de pote, nem a lindinha das
meninas super poderosas pra te dar — ele diz.

— Meu Deus! Você é uma peça. — Me aproximo dele e beijo sua


bochecha. — Vem, me ajuda a colocar.

Me levanto e estico minha mão pra ajudar Max. Ele se levanta,


começo a rir quando ele me puxa e me pega pela cintura, me
levantando.

— Max! — Solto um grito. — Vai me deixar cair.

— Qual é! E a sua confiança? Coloca bem no alto, vai!

Mesmo rindo coloco o pinguim em cima, e percebo que só de ter


ele como enfeite, minha árvore já é a mais linda e especial de todas.
Max me desce devagar e me coloca no chão.

— Eu amei — sussurro. — Obrigada.

— Ainda falta o outro. — Ele diz, se abaixa, pega a caixinha e me


entrega.

Sorrio, e então mordo meus lábios ao abrir o embrulho. E meu


coração meio que para. Lá dentro tem um globo de neve. Com dois
noivos dentro, e estão segurando um coração.

— Mandei gravar isso que está escrito na plaquinha — ele


informa.

Deito o globo de neve um pouco e leio.

"Para Lindinha. Quando encontrar a batida

perfeita do seu coração."


Olho para cima e Max sorri.

— Eu sei que ainda está machucada com o que o Pedro fez —


ele diz. — Mas ele não é o cara certo. O cara certo será aquele que
vai fazer seu coração bater rápido... Pelo menos, é isso que aprendi
com todas aquelas sessões de terror dos filmes de amor que me fez
assistir.

Solto uma gargalhada, o empurrando.

A campainha toca, e Max começa a rir.

— Vou lá abrir a porta, meu bem. Ser o empregado dessa casa


de novo — ele diz pulando as caixas e indo até a porta.

Balanço o globo de neve, e fico olhando para ele.

Engraçado que, olhando para esses noivinhos, a única coisa que


consigo pensar é nessa loucura de noivado que Max e eu nos
encontramos.

E por mais estranho que seja... No quanto, só quando estou perto


dele, meu coração parece assumir o ritmo mais perfeito de todos.
Capítulo 20

— Se você quiser, posso ver com o Arthur se no jornal vai


precisar de algum novo funcionário — digo para Renato.

Ele abraça o travesseiro em seu colo, e franze a testa.

— No jornal? Mas eu não sou jornalista.

— Eu sei. Mas às vezes lá está precisando de alguém para


alguma outra vaga. Se quiser posso ver e levo seu currículo.
— Poxa, Rach, agradeço muito — Ele sorri e eu concordo com a
cabeça.

— Também posso dar uma olhada lá na gráfica, se quiser — Max


diz.

— Nós dois trabalhando juntos, não iria prestar, Max. Mas é claro
que quero. Toda ajuda é bem-vinda. — Renato solta uma gargalhada
e Max revira os olhos sorrindo.

Minha mãe, papai e Luís estão perto da bancada da cozinha. Eles


estão conversando sobre a viagem, e papai se afasta colocando o
celular no ouvido.

— Tá chamando, vou ver se esse táxi pega a gente aqui agora.

Meu coração se aperta, e mamãe me olha na mesma hora. Tento


sorrir para ela, mas sempre que vejo as malas deles perto da porta,
sinto vontade de chorar por essa situação, por tudo o que aconteceu,
minha mentira, a saudade que eu nem sabia que estava.

— Podemos conversar? — mamãe sussurra.

— Claro mãe.

Ela se levanta e vamos andando até a árvore de natal que Max e


eu passamos minutos arrumando. Ela sorri e me puxa até a sacada
atrás da árvore. E ficamos lá, vendo os carros na rua abaixo de nós.

— Não precisa ficar assim. Daqui a pouco o natal chega e você


vai pra casa para aprontarmos muito — ela diz.

— Eu sei mãe.

É que eu não queria que você fosse embora acreditando que meu
coração está entregue ao de alguém que é uma mentira. — tenho
vontade de lhe dizer.
— Sabe... — Ela se aproxima de mim e segura minhas mãos. —
Eu acho que você e Max são perfeitos um para o outro. Eu sempre
soube, só que me perguntava quando você enfim iria descobrir isso.

Fico sem graça.

— Bom... Acho que no fim, nossa amizade forte assim significou


algo. Ele é muito importante pra mim, não se esqueça disso. —
Sorrio. — Essa é a maior verdade do meu coração.

— Fico feliz em saber disso, filha. — Ela sorri e então olhamos


para Max, que mesmo conversando com Renato, está olhando para
nós. — Ele deve estar se perguntando o que diabos estamos
fofocando dele.

Solto uma gargalhada e então me aproximo dela E me lembro de


tudo o que Max me disse antes deles chegarem.

— Mãe... Eu estava pensando... Será que... Eu posso levar o Max


para o natal?

Ela abre um sorriso e olha pra mim.

— É claro que pode, Rachel! Que pergunta. Max faz parte da


nossa família agora.

Concordo com ela e abraço meu corpo com o frio que está vindo
aqui de fora. Os carros passam rápido, e me pergunto por uma
fração de segundos, onde Pedro estaria nesse momento em
Chicago. Como ele deve estar? Será que ele sente a minha falta?
Será que se arrepende? Ou está no modo "foda-se" e curtindo sua
liberdade e seu sonho? Será que...

Me assusto quando os braços de Max passam ao redor do meu


corpo e ele me abraça por trás. Seu corpo cola ao meu, e ele beija
meu ombro devagar e depois deita sua cabeça nele. Estico minha
mão e acaricio seus cabelos. Já nem lembro mais o que estava
pensando antes dele se aproximar.
Max tem algum problema. Ele me faz esquecer do mundo e de
tudo ao redor quando simplesmente está por perto, ou me olhando,
ou... me tocando.

— Está gelada, linda — ele sussurra. — Vamos pra dentro.

— Está tudo bem. Só estava conversando com minha mãe —


digo e ela sorri.

— Desse jeito vocês vão resfriar. — Ele aperta seus braços ao


redor do meu corpo, e me aconchego mais nesse abrigo protetor que
ele formou ao meu redor.

— E se eu me resfriar vai sobrar pra você. Pois terá que cuidar de


mim — digo rindo.

— E te obrigar a tomar chá — ele fala e eu faço careta. — Tá


vendo? Nada legal, né?

— Chá é horrível. Mas aceito um chocolate quente e massagem


nos pés.

— Ah, meu Deus! Ela puxou isso de você? — Max pergunta


olhando pra minha mãe que está sorrindo demais para o meu gosto.

— Eu adoro chá — mamãe fala e eu começo a rir.

— Então de quem? Do seu pai? — ele pergunta pra mim.

— Talvez... — mamãe começa e coloca a mão no ombro de Max.


— Ela só esteja agindo assim pra chamar sua atenção.

— Eu? Chamando atenção? Por quê? — A olho sem entender.

Mamãe sorri e fala para Max como se eu nem tivesse perguntado


nada.

— Porque no fundo ela gosta quando você fica assim, perto dela.
Rachel nunca gostou de ser mimada, odiava isso. Se ela gosta tanto
de ter você por perto, está mais do que claro o quanto ela ama você.
Ela nunca deixou ninguém chegar assim tão perto.

Não sei onde enfiar a cara depois disso. Sinto os braços de Max
ficarem rígidos ao redor do meu corpo.

— E eu fico feliz que ela sinta liberdade de ser ela mesma, ou me


deixar chegar perto assim — Max fala.

— Mãe, me deixou com vergonha — murmuro.

— Qual o problema em dizer para o seu noivo que só te vejo agir


assim perto dele? — Ela sorri. — Max, pode ficar convencido, porque
ela nunca agiu desse jeito com nenhum namorado, então tá claro o
que ela sente.

Sorrio querendo enfiar a cara num buraco.

— Claro, fico feliz em saber disso — Max fala e eu nem consigo


mais olhar na cara dele.

— Bom, eu vou ir ver com seu pai desse táxi, está demorando
demais. — Ela se aproxima e beija minha bochecha e entra pra
dentro.

Solto um suspiro e tiro os braços de Max ao redor do meu corpo.


E assim que dou dois passos para frente em direção a porta, ele
segura minha mão me impedindo de sair, me puxa até me encostar
na sacada e coloca uma mão de cada lado, impossibilitando a minha
saída.

— Rach?

Estico minha mão e finjo olhar minhas unhas.

— Hum?

— Rachel? — ele me chama de novo.


— Oi?

Max solta um suspiro e então segura meu queixo e começa a


erguer meu rosto para cima. Mas ainda assim, não olho para ele.
Fico olhando para a árvore de natal lá dentro.

— Olha pra mim, linda — ele sussurra com aquele maldita voz
grave, que faz meu corpo inteiro se arrepiar.

Se arrepiar sem motivo, isso sim. Inspiro fundo e então aos


poucos vou vagando meu olhar, na parede, em seu seu braço, seus
bíceps, Max aperta a mandíbula e vou seguindo por seus lábios, até
enfim chegar em seus olhos. E aquelas duas esmeraldas me deixam
um pouco hipnotizada.

— Isso é sério? — ele sussurra. — Realmente está com


vergonha e se escondendo de mim?

Sinto ainda mais vergonha.

— O quê? Não, eu só... fiquei sem graça com o que minha mãe
disse.

— Aí você ficou sem graça... comigo? — Ele me olha sem


entender.

— Minha mãe vem e fala que eu estou chamando sua atenção?


Que é porque eu gosto de ser cuidada por você, e...

— E isso não é verdade? — Ele abre um sorriso.

Reviro os olhos e tento sair. Max solta uma risada e me abraça


pela cintura me mantendo no mesmo lugar.

— Eu não fico chamando sua atenção! — disparo.

E Max cola seu corpo contra o meu, seus braços me apertam


contra si.
— É claro que não. Você não precisa disso para fazer com que
eu note você — ele sussurra contra meu ouvido.

Meu coração para de bater por um segundo.

— Qual é, Rach — ele murmura se aproximando mais, colando


seu corpo ao meu e me pressionando contra a sacada. — Não é
vergonha eu cuidar de você, ou fazer de tudo pra chamar sua
atenção também.

Olho pra ele na mesma hora e reviro os olhos de novo. Solto o ar


com raiva e Max sorri.

— Mas na situação em que a gente se encontra é estranho isso


tudo, Max — digo. — Não é possível que em nenhum momento isso
não ficou estranho pra você.

— Se com estranho você quer dizer que, aos poucos estamos


descobrindo coisas um sobre o outro que até então não sabíamos...
Ou que a cada dia que passa, me sinto cada vez mais próximo de
vo...

— Para — digo de uma vez. — Eu digo estranho por agirmos e


dizermos coisas que não são verdades, Max. Porque nada disso é.
Nada.

Max fica um tempo em silêncio. E então olha para baixo. Ele faz
um gesto afirmativo com a cabeça e então ergue os olhos
novamente para mim.

— Quer dizer que pra você nada mudou? — ele indaga.

— Continuo me preocupando e te amando como sempre foi —


afirmo depressa. — Pra você mudou alguma coisa?

Ele franze a testa.

— Sua mãe ainda a pouco disse que nunca viu você agir assim
perto de algum namorado...
— É porque ela nunca me viu com o Pedro — digo o cortando. —
Isso não tem nada a ver com você. É essa situação que me deixa
assim.

Max concorda e então suspira.

— Só queria que soubesse que se estiver sentindo algo estranho,


é só falar. Não precisa fugir de mim como se fôssemos estranhos.
Eu... estou aqui por você.

— Eu sei disso, Max.

— Sabe mesmo? — ele questiona.

Meu coração se aperta e um bolo cresce na minha garganta.

— Sério que quer discutir isso aqui? Agora? — Reviro os olhos


tentando fugir do assunto.

— Só responde, Rach — ele diz. — E não se faz de boba,


responde o que eu te perguntei.

Engulo em seco, tudo vem como uma bomba na minha direção.

— Você sempre foi sincera sobre tudo. Isso é o que eu mais


admiro em você — ele diz.

Inspiro o ar e me encosto na sacada. Ergo minhas mãos e seguro


seu rosto, sinto um tremor percorrer meu corpo.

— Quer a verdade? — sussurro.

— Só bota pra fora.

— Eu sinceramente não sei — murmuro. — É tudo tão estranho,


eu ainda estou tão machucada por causa daquele idiota, e não sei
como agir nessa situação. Não quero que se preocupe com o que
minha mãe disse. Se está preocupado dessa situação fazer com que
eu me apaixone por você, não precisa, Max.

— Rach...

— Eu não estou, nem vou me apaixonar — digo de uma vez. —


Não vou acabar com sua reputação ou te deixar em uma situação
constrangedora pra nós dois. Nossa amizade não está em risco, ok?
Não se preocupe com isso.

— Acha que é com isso que estou preocupado? — ele questiona.


— Se essa situação só está afetando você?

— Max...

— É claro que ela está — ele diz.

— É claro que sim — digo. — Mas não acho que falarmos sobre
como o outro está se sentindo é algo relevante. Qual é, Max... Nada
mudou.

Ele assente sem dizer nada e abaixa seu olhar, parece não
querer olhar pra mim, e então vira o rosto, olha para Renato na sala,
que olha pra gente e sorri acenando. Renato começa a rir.

— SE BEIJEM LOGO, TÔ TE ESTRANHANDO, MAX! — ele


grita.

Mamãe olha pra gente sorrindo, e meu coração para de bater.

— Sobre nada mudar... — Max fala baixinho. Suas mãos vão


para minha nuca e Max me puxa para um beijo. Assim que seus
lábios tocam os meus parece que tudo some, minha família, os
carros lá em baixo, minhas dúvidas e incertezas. A única coisa que
escuto é o som do meu coração, e assim que Max morde meus
lábios e coloca minha mão em cima de seu peito, posso sentir seu
coração tão acelerado quanto o meu. Quero que ele me beije de
verdade, seus lábios tão macios, e quando seus dentes raspam
sobre meu lábio inferior causando uma fricção, quase puxo seu rosto
com o intuito de fazer essa sensação se prolongar. Sentir seu gosto,
sua língua, fazer seu coração se acelerar mais... Max se afasta e
beija minha testa. — Fale por você.

E então ele se afasta de perto de mim, entra dentro da minha


casa e faz um sinal estranho com Renato. Se vira para meus pais
sorrindo e abraça minha mãe.

— Vou ter que ir embora, tenho que fazer umas compras ainda lá
pra casa, mas espero que tudo corra bem na viagem. Quando
chegarem lá, avisa a Rachel pra eu ficar sabendo.

— Pode deixar, Max! — mamãe sorri e o abraça pela cintura. —


Vou te esperar lá em casa, viu?

— Pode deixar, vou falar com a Rachel para irmos visitar vocês o
quanto antes, tá bom?

Eles continuam se despedindo, e eu fico paralisada com tudo


isso.

Meu coração parece se apertar, e meus lábios formigam, o cheiro


de Max está por todo o meu corpo e sinto meus olhos se encherem
de lágrimas quando começo a sentir. Tudo o que de fato está
ocorrendo dentro de mim.

Eu realmente estou sentindo.


Capítulo 21

A porta da sacada se fecha e assim que olho em sua direção,


vejo Renato a fechar atrás de si. Ele sorri para mim de um jeito
debochado e se aproxima de mim, e quando me vê chorando franze
a testa, ergue sua mão até meu rosto, e limpa minhas lágrimas.

— Respira, Rach. — ele sussurra sorrindo.

— Rê...— As lágrimas escorrem por meus olhos e assim que vejo


Max sair do meu apartamento sem nem olhar para mim, faço
negação com a cabeça e me viro para olhar novamente em direção à
rua. — Eu preciso ficar sozinha.

— Você precisa é parar de mentir.

O bolo cresce na minha garganta e olho para ele desconfiada,


reviro os olhos na mesma hora. É claro, já deveria imaginar isso.

— Você sabe — Afirmo.

— É claro que eu sei. — Ele começa a rir. — Max é meu melhor


amigo e você é minha irmã.

Solto um suspiro e olho para o céu. Abraço meu corpo e o cheiro


de Max me invade e fecho meus olhos. Em nossa vida bem que
podia existir um botão para nos desligarmos um pouco do mundo, ou
voltar no tempo. Qualquer coisa para evitar com que essa situação
acontecesse, ou que eu parasse de me sentir assim.

— Olha isso — Renato sussurra. Ele me entrega o globo de neve


que Max me deu e então sorri. — Esse é o globo mágico da verdade.

— O quê?! — O olho sem entender.

— Esse é o globo mágico da verdade, dizem que quando as


pessoas tocam nele e balançam, elas só podem falar a verdade,
apenas. Além de admitir coisas que as consomem por sempre
guardá-las somente para si.

— Olha...

— Tenta — ele diz. — Dizem que esse globo alivia corações.

Meu coração se aperta quando entendo o que ele está querendo


dizer e fazer por mim. Ele só quer encontrar uma maneira de fazer
com que eu desabafe tudo o que estou sentindo. Entendo
completamente o que meu coração quer falar, o alívio que ele
deseja.
— Não posso — As lágrimas enchem meus olhos e Renato
coloca sua mão por cima de minha e retira o globo da minha mão.

— Por que não?

— Porque... — Olho para Re e então desvio meu olhar para a


rua, os carros passam e parece que estou presa no tempo. —
Porque tem coisas que são mentiras... E se eu falar, pode ser que se
concretizem, que se tornem reais. E tudo o que é real, se eu admitir,
pode não dar certo... E eu me machucar.

Renato se debruça na sacada ao meu lado e fica encarando o


globo de neve, pensativo.

— É, compreendo — ele fala. — Mas eu também sei que sufocar


as coisas, só por causa da porra do medo da gente se machucar,
pode doer muito mais do que sofrer agora e depois seguir em frente.

Solto um suspiro e olho em sua direção.

— Tem coisas que é tão errado sentir que, sei lá, só queria voltar
no tempo.

— Não tem essa de voltar no tempo, Rach! — ele fala. — Para de


se machucar assim. Qual é! Não se recrimine por admitir coisas que
existem, que acontecem.

— Você tá sabendo mais que eu — sussurro sorrindo.

— Não é isso — Ele fala. — Eu te conheço desde que nasceu.


Acompanhei você dar os primeiros passos, falar as primeiras
palavras, cair horrores quando aprendeu a andar de bicicleta... — Ele
sorri e bagunça meu cabelo, o afasto irritada. Assim que paramos de
rir ele fica sério. — Acompanhei você chorar pelo primeiro namorado,
seu primeiro beijo eu vi bem na minha frente e o cara mereceu
aquele soco. E... Eu conheço você. Eu conheço seus olhares e seu
jeito. Eu sei como você age. Eu seria cego se não visse essa mentira
e em como ela está afetando vocês dois.
Sinto as lágrimas escorrerem por meus olhos e abraço meu corpo
novamente.

— Max só está me ajudando, sabe? — digo baixinho. — Depois


te conto o motivo.

— Existiu realmente um noivo? — ele questiona.

— Sim — confesso. — Mas... Não vem ao caso. Max é meu


melhor amigo, e ele ama mulheres. Não quero atrapalhar a vida dele,
ou estragar nossa amizade por causa dessa mentira.

Renato sorri e estica novamente o globo de neve.

— Por isso existe o globo da verdade. Nunca saberá o que pode


acontecer, se antes você não admitir.

Mordo meus lábios, pensando. Mas já está óbvia minha decisão.

— Não vou fazer isso.

— Eu primeiro. — Ele sorri e balança o globo de neve. — Eu sou


apaixonado por tequila.

Solto uma risada e reviro os olhos, limpo minhas lágrimas e


Renato sorri e me entrega o globo de neve.

— Viu? Isso estava me consumindo a séculos — ele diz e então


fica em silêncio olhando pra mim.

Balanço o globo de neve.

— Eu também sou apaixonada por tequila.

Renato revira os olhos e então aponta língua pra mim.

— Essa é a minha verdade crua. Não sua. Pode pensar em algo


melhor.
— Tipo?

Ele fica em silêncio e então se aproxima de mim e limpa minha


bochecha molhada com seu polegar.

— Tipo admitir o motivo dessas lágrimas, por exemplo.

Meu coração se aperta ainda mais. Olho para o globo de neve, e


tudo vem como um filme em minha cabeça.

Se com estranho você quer dizer que, aos poucos estamos


descobrindo coisas um sobre o outro que até então não
sabíamos... Me lembro de Max falar.

— Sou seu irmão, Rach. Só quero ver você bem... E sem medo.

Balanço o globo de neve de novo e é como se tudo lá dentro e ao


meu redor ficasse em câmera lenta como lá dentro.

Quer dizer que pra você nada mudou? —É como se eu ouvisse a


voz de Max em minha mente.

— Eu... — murmuro e fico olhando o casal de noivos lá dentro do


globo. — Eu estou me sentindo atraída pelo Max.

Assim que digo isso, é como se tirassem um peso do meu


coração. Renato coloca sua mão sobre a minha.

— Eu estou confusa. Até então ele era meu melhor amigo, e


nunca senti nada quando estávamos perto. Não estou dizendo que
me apaixonei, não é isso. Mas... De uns tempos pra cá, acho que
antes mesmo da mentira... Quando ele me toca... — Olho para meu
irmão e ele sorri pra mim. — Não quero que pare.

Renato faz uma cara de nojo e então me puxa e me abraça.

— Ele tem um cheiro tão bom, e um abraço tão gostoso. Nunca


nos beijamos pra valer, só selinho. Mas... hoje, por exemplo, eu tive
vontade de puxá-lo e beijar do jeito que quero, sabe? E eu... Não
queria me sentir assim, nunca me senti assim.

— E por que não fala isso pra ele? — ele me pergunta.

— Por que... Max é um bad boy pegador. Até perdi as contas de


quantas mulheres já vi ele ficar. Eu sei que ele não se resume a isso,
ele é um ótimo homem, ótimo amigo, mas tenho medo dele não se
sentir atraído também e eu acabar estragando nossa amizade, sabe?
Porque realmente estraga.

— Max não é do tipo que foge quando as coisas ficam feias —


ele diz. — Nunca vi ele ser assim com nenhuma mulher a não ser
você.

— Não sei o que está acontecendo comigo — admito. — Dá


vontade de abraçar ele e não soltar. E quando ele olha pra mim...
Parece que tudo se congela, sabe? Ultimamente, eu venho me
sentido tão atraída, que tenho medo de olhar pra ele e meus olhos
me entregarem.

— Rachel...

— Então eu prefiro deixar tudo como está. É o melhor a se fazer.

— Não, meu bem — ele diz e me lança um sorriso reconfortante.


— Não é.

— RACHEL! O TÁXI CHEGOU! — mamãe grita me trazendo para


a realidade.
Capítulo 22

Não imaginei que fosse ser tão difícil me despedir dos meus pais.
Não tinha noção da saudade que estava até eles virem me ver, e
agora que estão indo embora novamente, me pergunto como foi que
consegui ficar tanto tempo longe.

Assim que minha mãe me abraçou pela décima vez, e o táxi virou
a esquina da minha casa, meu coração se apertou. Senti os braços
de Renato passarem por meus ombros, e ele me puxa para mais
perto, abraço sua cintura e então nós viramos e subimos juntos para
meu apartamento.
— Daqui uns dias é natal e vamos ir pra lá irritar eles de novo —
Renato fala tentando me animar.

— É — sussurro.

Me abaixo e começo a limpar a bagunça que Max e eu fizemos


ao decorar a árvore de natal. Coloco tudo dentro das caixas, e
Renato arruma algumas coisas na cozinha.

— Ei, posso ficar aqui ao invés do hotel né? Amanhã tenho que ir
pegar minhas coisas que ficaram lá. — Ele questiona encostando no
batente da porta.

— Claro que pode, que pergunta! Fica aqui o tempo que quiser.
Vai ser até bom. — Me viro pra ele sorrindo, e estico algumas caixas.
— Coloca em cima do meu guarda-roupa pra mim?

— Claro. — Ele pega a caixa, e eu pego outras no chão e vamos


até meu quarto.

Renato coloca as caixas todas em cima do guarda-roupa, e


aproveito da sua altura e o peço para pegar algumas colchas que
guardei na parte de cima.

— Vou ajeitar essas colchas no sofá pra você. Sorte sua que meu
sofá vira cama, você vai amar — Comento sorrindo.

— Acho que vou tomar um banho, que tal pedir alguma coisa pra
gente comer?

— Pede sanduíche com batata frita? — me viro pra ele olhando


com piedade e ele revira os olhos.

— Tá bom, pestinha, o que eu não faço por você? — Ele sorri.

Vou até a gaveta do meu guarda roupa, e aponto ela aberta para
Renato.
— O que seria isso? — Ele franze a testa.

— Roupas do Max. Se quiser pode pegar e tomar banho, está


tudo limpo.

Ele vai dizer alguma coisa, mas desiste. Então apenas pega uma
calça de moletom e uma blusa folgada e o entrego uma toalha.

Assim que Renato vai tomar banho, eu vou até a sala e arrumo
as colchas no sofá, coloco o travesseiro e deixo tudo pronto para
quando ele terminar. Me sento no sofá e pego meu celular.

Fico encarando o nome do Max por uma eternidade até decidir


quebrar esse gelo que sinto que ficou entre nós.

EU: Eles já foram embora, Mas o Re ficou aqui comigo... Só


queria que soubesse.

Max demora um pouco para visualizar, mas não fala nada.

EU: Max? Podemos conversar?

Assim que envio, já aparece visualizado.

EU: Eu sei que hoje foi tudo muito estranho, mas, por favor,
não vamos deixar isso nos afastar.

Na mesma hora meu celular começa a tocar, e vejo seu nome na


tela. Meu coração dispara, e eu me pego completamente sem graça
para atender aquela ligação. Pela primeira vez, sinto vergonha de
falar com Max, e isso é tão novidade pra mim que me assusta.

Atendo e sinto minhas mãos tremerem ao segurar o celular.


— Oi?

— Eles já foram tem muito tempo? — Ouço sua voz, mais rouca
do que o normal do outro lado da linha e sinto um tremor percorrer
meu corpo.

— Já deve ter quase duas horas — sussurro.

— Fico menos preocupado em saber que o Renato está aí com


você — ele diz.

— Eu sempre fiquei sozinha no meu apartamento, e isso nunca te


incomodou antes — assim que digo, logo me arrependo.

Coloco a mão na testa e dá vontade de me bater.

— Ah, Rachel, qual é. Só porque eu nunca falei, não quer dizer


que eu não me preocupava.

— Eu sei...eu sei, desculpa. — Solto um suspiro.

Um silêncio se acomoda entre nós, me deixando constrangida.

— Desculpa por ter te pressionado hoje mais cedo — ele fala. —


Sério, não quis nenhum clima ruim, ou te deixar constrangida. Não
sei o que deu em mim.

— Tá tudo bem, Max! — murmuro distraída. — E você tinha


razão mesmo... Eu sei que as coisas estão confusas, e na maioria
das vezes não sabemos como agir. Mas... Só não quero que se
afaste de mim.

— Isso nunca vai acontecer — ele fala e então começa a rir. — É


mais fácil você me ver esperando um bolo de pote entrar na igreja,
do que fazer com que eu me afaste de você algum dia.

Começo a rir também.


— Eu também não vou me afastar. — Ouço um barulho na porta
do banheiro e vejo Renato se aproximar de mim. — Ei, vou desligar
aqui. O Re acabou de sair do banho, e amanhã eu tenho um longo
dia.

— Ok, linda. — Ele sussurra. — Boa noite, viu? Amanhã me


manda mensagem se for no encontrão.

— Pode deixar! — Sorrio.

— Eu... — Max começa e então fica em silêncio. — Eu te amo.

Meu coração para de bater por um momento. Pela primeira vez


isso soou tão diferente. Não foi como das outras vezes.

— Eu também te amo — digo. — Eu e você.

— Eu e você pra sempre — Ele diz. — Beijo.

— Até amanhã. — Desligo o celular e então o coloco na mesinha


da sala.

Renato se senta ao meu lado no sofá, e franze a testa.

— Eu te amo? — Ele começa a sorrir. — Sabe que eu sei da


verdade e não precisam fingir, né?

— Eu sei. Mas Max e eu sempre dizemos eu te amo. Não é por


sua causa. — Me aproximo dele, jogo um travesseiro em seu colo e
me deito por cima.

Renato me abraça e acaricia meus braços devagar. Um silêncio


se instala entre nós, e eu me vejo querendo colocar tudo pra fora.
Parar de pensar demais.

— Ele se chama Pedro — murmuro.

— Quem?
— O... — Me levanto e olho em sua direção. — O meu ex.

Renato fecha a cara e então solta um suspiro.

— O fato deu não contar é porque o Pedro trabalhava comigo.


Ele teve uma proposta muito boa em Chicago e decidiu se mudar pra
lá.

Renato arregala os olhos e vejo sua mão fechar em punho.

— O desgraçado abandonou você?

— Bom... — Dobro meus joelhos e os abraço. — Digamos que


ele tinha planos que não me envolviam. E eu não queria abrir mão
dos meus sonhos pra seguir os passos dele. Ele nem ao menos me
contou. E eu sei que mereço mais do que isso.

— Rachel! Se eu ver esse cara alguma vez...

— Max já andou brigando muito com ele pelo telefone.

Renato fica em silêncio e se aproxima de mim.

— Eu sei. Mas ninguém brinca com a minha irmã.

— Eu te amo — murmuro e me aproximo dele, deito meu rosto de


novo no travesseiro e Renato faz cafuné nos meus cabelos. — Foi
por isso que Max embarcou nessa mentira quando você disse que
estávamos juntos. Ele não queria que eu enfrentasse isso tudo,
porque tinha só um dia que Pedro havia me deixado, estava tudo
muito recente.

— Fico feliz que ele esteja te ajudando a passar por essa fase,
pelo menos até as coisas se ajeitarem — ele confessa.

— Eu também. — Sorrio e me sento novamente, e Renato abraça


o travesseiro em seu colo. — E falando em amizade, espero que
você não dedure o que estou admitindo sentir, para o seu amigo
Max.
Renato sorri e bagunça meu cabelo contra meus protestos.

— Relaxa, o pacto da irmandade é maior. — Ele me empurra e eu


reviro meus olhos. — Mas, se eu puder opinar...

— Por favor. — Sorrio.

— Eu acho que você tem que falar pra ele, ou se não, mostrar a
ele o que está sentindo.

— Tá maluco? — O olho assustada.

— Não. Tô falando muito sério. Você e o Max se conhecem há


anos, e por causa disso, você está enxergando coisas que antes não
via. Então, ou chega pra ele e fala na cara. Ou, se não, vai
mostrando pra ele como se sente, se ele se sentir igual, vai retribuir.

Solto um suspiro e sorrio sem graça pensando nos meus planos.

— Amanhã vai ser o encontrão do jornal — digo. — Acho que ele


vai.

— Ele não sabe que eu sei da mentira de vocês — Renato fala.


— Causa um pouco de ciúmes nele.

— Max não tem ciúmes de mim.

— Isso é o que vamos descobrir — Renato diz e sorri de um jeito


tão macabro que solto uma gargalhada.
Capítulo 23

— Tá legal, no três! Um... Dois... — Renato e Arthur bebem a


segunda tequila, e Renato é o primeiro a acabar. — Ganhei de novo,
porra!

Reviro os olhos e Arthur faz negação com a cabeça.

— Sorte de principiante — Arthur diz.

— Principiante? Que ganha duas vezes seguidas?


Solto uma gargalhada e Arthur bufa e olha na direção da Gisele,
que está sentada ao meu lado. Ela está toda concentrada em
escrever uma mensagem no celular, e beber seu suco.

— Tá tudo bem? — sussurro.

— Tá! — Ela abre um sorriso. — O Miguel está dando um pouco


de trabalho pra minha mãe, mas falei pra ela colocar um filme que
ele gosta ou preparar algumas coisas para o chá revelação.

— Daqui a pouco ele apaga! — Começo a rir. — Fala pra Marta


que mandei um beijo pra ela, e pra ela apertar meu neném!

— Pode deixar! — Ela sorri e começa a digitar novamente.

Olho para frente e pego Arthur sorrindo, observando essa cena, e


bem nessa hora, começa a tocar "Photograph, do Ed Sheeran" E a
Gi arregala os olhos, larga o suco e o celular, e olha pra Arthur.

— Amor! Nossa música! Temos que ir dançar!

— O quê? — Ele começa a rir. — É perigoso eu pisar no seu pé


depois de beber com esse maluco aqui.

— Levanta! Anda! — Ela vai até ele e o puxa pelo braço. Arthur
acaba cedendo, sorri e a leva até a pista de dança.

Renato limpa a garganta chamando minha atenção, e olho pra


ele.

— Que foi? — sussurro.

— Tá de boa?

— Tô... Super de boa! — Sorrio nervosa e sinto meu coração


bater forte. — De boaça!
— Meu Deus! — Renato começa a rir. — De boaça? Tá mais
ferrada do que eu pensei.

— Re, você que...

— Shiu! Ele tá vindo pra cá... — Renato fala baixinho e finge


pegar o cardápio.

Meu coração parece uma escola de samba. Eu preciso aprender


a lidar com essa coisa estranha que estou sentindo pelo Max. E mais
do que aprender a lidar, é descobrir o que é. Já que nunca me senti
dessa forma por ninguém.

Sinto as mãos de Max em meus ombros, e me viro o olhando. Ele


sorri e beija minha bochecha e em seguida cumprimenta Renato. Ele
puxa uma cadeira ao meu lado, e se senta nela.

— Acho que eu vou pedir mais um drink pra mim — Renato fala.
— Querem também?

— Quer saber, eu vou buscar — digo. — O que você vai querer?

Renato franze a testa e mexe a boca falando sem som. "O que tá
fazendo? É pra ficar sozinha com ele".

— O que quer? — pergunto de novo, e ele revira os olhos.

Max desvia os olhos da mesa para mim, mas assim que olho em
seus olhos ele para de me olhar novamente, e pega seu celular. Mas
que droga é essa?

— Pode ser cerveja. — Renato fala.

— Ok — sussurro.

Assim que me viro para Max, o vejo digitar uma mensagem.


Jamais quis ser enxerida na conversa dos outros, mas aquele
nome... Vivi. Eu conheço bem a Vivian.
VIVI: Vamos nos encontrar hoje? Diz que sim!

Travo completamente. E por incrível que pareça, me vejo


querendo saber qual será a resposta de Max. Porém acho que dei
muito na cara, porque ele para de olhar para o celular e se vira pra
mim, ainda evitando o contato visual.

— Tudo bem, Rachel? — ele questiona.

Rachel... De alguma forma meu coração dói em ser chamada


assim. Faz tempo que Max não me chama pelo nome, desse modo
seco e frio.

— É... Quer alguma coisa? — digo e me mato por dentro.

— Não, estou bem. Valeu.

Solto um suspiro e me levanto. Mas não me aguento. Não


consigo pensar que ele ficará ali conversando com ela, pensei que
ele também estivesse sentindo que algo mudou entre nós. Mesmo
não sabendo ao certo o que é, ou como lidar. Ele chegou a me
questionar isso. E mesmo que eu tenha fugido do assunto... Se ele
realmente a responder querendo se encontrar, então é sinal de que
tomei a escolha certa e que para ele nada mudou. Me sento de novo
e Max me olha e suspira.

— Você vai comigo — digo de uma vez.

— O quê?!

Preciso arrumar uma desculpa, se não vou falar....

— Quer ajuda para pedir as bebidas? — ele me pergunta.

Preciso de alguma desculpa.... Eu vou falar. Não aguento. Sou


dessas.

— É sério que vai se encontrar com ela? — quando vejo, já falei.


Max arregala os olhos, e olha para Renato e depois pra mim
surpreso.

— É... Rach... Amor, eu...

— O Renato já sabe sobre nós, Max! — falo de uma vez e Max


olha surpreso para Renato.

— Qual é, Rach! — Renato diz impaciente. — Caramba, meu!


Nunca mais me pede conselhos!

Ele levanta fazendo negação, e vai até o bar, provavelmente na


intenção de encher a cara.

Não consegui, foi uma força maior que eu. E eu nunca fui do tipo
que deixa de falar as coisas, quando vejo já foi.

— Não sabia que o Re sabia sobre isso — ele fala. — Tem muito
tempo que ele sabe?

Fugindo da conversa. Ótimo.

— Ok — sussurro. — Vou beber!

Me levanto, e assim que dou um passo Max segura meu pulso e


me impede de sair.

— Não faz isso, por favor — ele pede, sua voz rouca me mata por
dentro.

— Não fazer o que, Max?

Ele suspira, e bloqueia o celular, colocando-o no bolso da calça.


Ainda me segurando, ele se levanta da cadeira e entrelaça as
nossas mãos. Max me leva para perto dos banheiros, me vira e me
encosta na parece e fica de frente para mim.
— O que está acontecendo entre nós? — ele me pergunta
baixinho. — Parece que eu estou te perdendo aos poucos. Parece
que você é outra pessoa ao invés daquela melhor amiga de alguns
meses atrás.

Seguro um nó na garganta.

— Ainda sou eu, Max.

— Rach... — ele sussurra, e segura meu rosto em suas mãos,


seus dedos se entrelaçam nos cabelos da minha nuca e isso me
arrepia. — Parece que agora só de te olhar é errado.

Desvio meus olhos dos seus e Max solta um suspiro, solta meu
rosto e deixa seus braços caírem ao redor do corpo.

— Não estamos conseguindo nos olharmos por um minuto


consecutivo — ele diz. — Eu sou difícil de entender linda... Desde
que a gente tá nessa, está tudo mudando. Eu não consigo mais falar
das outras mulheres perto de você, com medo do que os outros vão
pensar e porra... Até do que você vai pensar.

Meu coração se aperta e eu tento entender porque estou me


sentindo assim. É o Max! Meu melhor amigo de anos! Que merda
estamos fazendo nos sentindo dessa forma? Porque não consigo
parar de me sentir assim? Nem em parar de pensar nas inúmeras
possibilidades de puxá-lo agora e fazer o que pede meu corpo,
minha mente e, porra... Meu coração.

— Se eu fiz alguma coisa, ou se você sabe o que está


acontecendo, só me fala... Só me ajude a entender.

Respiro fundo e olho em seus olhos. Max ainda está na mesma


vida, de farra, zoação. E entende essa distância na nossa amizade,
pois por mais distantes que estamos, parece que mais perto um do
outro chegamos sem querer. Quanto mais fujo, mais penso nele.
Quando mais evito o assunto, mais sinto a necessidade de falar. Mas
não quero me abrir demais, não sei até que ponto essa situação o
afetou.
— Não precisa ficar sem graça de me contar que ainda está
saindo com a Vivian.

— Rachel. — Ele revira os olhos e se aproxima de mim, encosta


sua testa na minha e fecha seus olhos. Seu cheiro é tão bom, sua
pele é tão gostosa. — Não dá pra explicar algo que você não vê.

— E o que eu não estou vendo? — sussurro.

Fala, por favor! Se abre pra mim! Diz que não estou louca e que
também enxerga uma mulher com desejos na sua frente, não apenas
uma melhor amiga.

Max abre seus olhos, estamos tão perto que posso jurar que seus
olhos são mais claros assim de pertinho. Ele respira fundo, e se
aproxima de mim mais um pouco, suas mãos seguram meus quadris,
e assim que Max olha para a minha boca, sinto que vou desmaiar.

Olha aí, a iminente atração forte que sinto por ele atacando de
novo.

— Ei, não precisam encenar nada agora! — A voz de Gisele me


tira da realidade e eu e Max nos afastamos. — O Renato nem está
olhando, e vocês iam mesmo se beijar? Foi o que pareceu... Eca!

Sorrio sem graça, e Max sorri e coça a barba nascendo em seu


queixo e morde o lábio inferior.

— Não pira, Gi — Max fala. — A Rachel anda meio esquisita


desde que essa loucura começou.

— Quem não ficaria? — ela diz rindo. — Mas enfim, para de


bobeira. Max, a Rachel não vai ficar chateada se você sair com a
Vivian. Tudo o que você fez durante os anos é transar com aquela
oferecida. — Parece que uma faca atingiu meu coração. — E
Rachel, o Max não vai ficar com raiva de você querer usar aquele
vestido vinho para atrair os caras, o compromisso de vocês não é de
verdade, então... Paquere! — Ela pisca pra mim e fico sem entender
o que ela quis dizer.

Ela se aproxima da gente e beija o rosto do Max.

— Eu tenho que ir embora porque o Miguel quer ir pra casa.


Arthur e eu vamos passar lá para pegar ele mais cedo, mas qualquer
coisa, me mandem mensagem, ok?

Ela beija minha bochecha e se aproxima do meu ouvido enquanto


Arthur puxa assunto com Max.

— Eu não quero usar vestido vinho pra paquerar os caras. De


onde tirou isso? — digo baixinho.

— Só quis causar um ciuminho — Ela começa a rir. — E vai usar,


sim. Para paquerar só um, não seja gulosa!

Ela se afasta e pisca pra mim de novo.

— Eu senti o clima entre vocês — ela diz.

— Gi...

— Tá tudo bem. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde algo


assim aconteceria. Só... Não se culpem ou se privem de sentir, ok?

Balanço a cabeça concordando e ela se aproxima de Arthur o


puxando, que se vira e me dá tchau antes de sair.

— Então quer dizer que quer paquerar uns caras? Aquele vestido
vinho? — Max abre um sorriso. — Rachel, aquele vestido significa
"Na minha cama ou na sua?" É um convite.

— Bom... Fazer o quê? — Sorrio sem graça. — E você? Vai sair


com a Vivian?

Max revira os olhos e me estica seu celular.


— Não — ele fala e abaixa a cabeça. — Faz um tempo já que
não saio com ninguém. O que é estranho até pra mim.... Mas... Se
quiser ver, pode verificar e...

Coloco minha mão por cima da sua e sorrio.

— Não preciso disso, Max!

Eu preciso é ser forte e tirar essa atração que sinto por você de
dentro de mim.

Max abre um sorriso de lado, e meu mundo para por um


momento. Ele passa a língua pelos lábios, e assim que seus olhos se
encontram os meus, eu me seguro para não agarrar ele bem ali.

Na verdade, eu preciso é colocar essa atração em prática.

Max coloca o celular no bolso de novo e estica sua mão.

— Vamos lá então pedir a bebida? — falo sorrindo.

— Depende... Só se amanhã você for na festa do meu primo


comigo — ele diz.

— Bom, ok! Assim coloco meu plano de atração em prática. —


Sorrio e Max franze a testa.

— Você sabe que eu parto pra cima de qualquer um que mexa


contigo, né?

— Talvez essa seja a intenção — digo rindo.

— Rachel! Idiota! — Ele revira os olhos e me puxa pela cintura,


coloca meus pés por cima dos seus e beija minha bochecha com
força e eu começo a rir. — Estava com saudade disso.

— De quê? — pergunto enquanto ele anda comigo em seus


braços.
E que braços!

— De sentir que não estou te perdendo. Que essa loucura não


nos afastou.

— E nem vai — sussurro e o abraço, deito meu rosto em seu


pescoço e sorrio ao pensar nos meus planos. — Não importa o que
aconteça... Se depender de mim, não quero te perder nunca,
pinguim!
Eu deveria

Existe uma enorme diferença entre o sentir e o falar.


O ver o preferir continuar sem enxergar.
Deixar que esse sentimento te sufoque, ou criar suas próprias
maneiras de se expressar.
Colocar para fora todo esse turbilhão de sensações, desejos,
medos e incertezas.
Eu deveria me afastar de tudo isso que me puxa para você.
Deveria só fingir que nada está acontecendo.
Deveria ignorar todos os sinais em minha mente me alertando do
perigo.
Só tem um problema.
Já estou longe da minha sanidade o suficiente para não ter mais
forças de continuar sem você.
Capítulo 24

Assim que chegamos na casa do primo de Max, ele se vira pra


mim, revira os olhos e depois deita a cabeça no banco. Começo a rir
e tento entender porque ele está estressado de vir até aqui. Será que
ele o primo não se dão bem? Ou será que ele tinha outro
compromisso ou outros planos que seriam mais interessantes do que
aqui?

— Quer mesmo entrar? — pergunto e junto minhas sobrancelhas.


— Sua expressão está dizendo "Rach, por favor, me tira dessa, vai".
Ele apenas se vira pra mim e abre aquele sorriso que passei a ter
raiva... Aquele em que me olha, sorri meio de lado e depois morde
lentamente o lábio inferior. Tem algo nesse sorriso que me deixa
meio aérea, faz meu coração acelerar.

— Se quiser, posso bancar a doida e ficar te chamando pra irmos


embora, aí todo mundo fica estressado comigo e você sai de bom
moço que teve a noite estragada.

— Ah, para com isso — ele diz e estica sua mão e a coloca em
meu joelho. — Você jamais estragaria minha noite.

— É só pra te tirar de lá caso não queira ir... Vai que tem outros
planos e...

— Não tenho — me interrompe.

Max destrava as portas e sai do carro.

— É... Tá legal, sem planos — sussurro.

Abro a porta e saio logo atrás dele. Ele tranca as portas e liga o
alarme e então se aproxima de mim. Um sorriso surge em seus
lábios e ele meio que trava quando eu tiro meu casaco e ele me vê
usando o vestido vinho. Aquele que decidi usar só quando queria
que alguém me notasse.

Sinto meu corpo começar a tremer. Agora que estou aqui, não sei
porque vim com esse vestido. No fundo eu queria ficar bonita, e de
um jeito meio torto, queria fazer Max notar isso em mim. Queria
apagar a imagem que ele tem de mim como a melhor amiga. E sentir
isso me deixa assustada. Max é meu melhor amigo, eu não posso
sentir essas coisas.

— Você sabe que estamos na festa do meu primo, né? — ele


pergunta em um tom baixo.

— Hurum.
— E você sabe que eu não quero ninguém te olhando lá dentro,
não é?

Por um lado, tive vontade de sorrir. Mas por outro, eu sentia que
Max estava apenas sendo ele. Meu protetor e piadista como sempre.

— E se eu quiser que apenas uma pessoa olhe pra mim? —


murmuro incerta e Max franze a testa sem entender.

— Por isso está usando o vestido? Pra alguém lá dentro te notar?


— ele se aproxima de mim e coloca uma mecha do meu cabelo pra
trás. — Rach, você não precisa disso.

Essa é uma indireta Max! Vê se acorda!

— Só estou usando porque me sinto sexy com ele.

Max faz aquele sorriso de novo, e eu tenho que desviar os olhos


para não piorar isso tudo o que estou sentindo. Que sensação forte é
essa? O que Max está fazendo comigo?

— Mas você é sexy. O que muda isso é a atitude da pessoa. —


Ele sorri, segura minha mão, e vamos caminhando até a casa. Aqui
de fora já ouço os barulhos.

Atitude? Max quer que eu seja sexy pelas minhas atitudes? Ah, é
óbvio, né, Rachel? Não adianta se vestir bem e continuar quieta em
um canto apenas esperando tudo acontecer à sua volta. Eu preciso
começar a falar, e ser sincera, principalmente comigo mesma.

Algo que no momento é meio complicado, principalmente quando


estamos confusos sobre o que acontece dentro de nós.

Assim que entramos vários caras vem cumprimentando Max, eles


tocam as mãos, fazem sinais estranhos, outros dão tapas nas costas
uns dos outros.

— Cara, vou trazer bebida pra você! — um deles fala. — Tá muito


sério, tem que começar a bebedeira pra animar logo.
— Não vai rolar, tô dirigindo — ele fala e os amigos o olham
calados por um tempo, e então começam a rir.

— Ei, e quem é essa aí com você? — um deles pergunta e todos


viram a cabeça para olhar pra mim.

Me encolho a princípio, mas depois me lembro de ter


atitude. Seja sexy, Rach. Vai, você consegue.

Melhoro a minha postura e ergo a cabeça, vou sorrindo até eles e


estico minha mão.

— Sou a Rachel, muito prazer. — Ele sorri e pega minha mão.

— Igor — ele fala. — Vê se não se assusta com a turma, tá?


Todo mundo é doido, mas é gente boa.

— Imagina, conhecendo o Max, posso saber como vocês são.

Ele sorri e se aproxima de mim.

— Quer beber alguma coisa? — ele pergunta e o vejo me olhar


de cima para baixo. — Ou tá com o enfezadinho aí?

Solto uma risada sem graça e vejo Max me olhar de relance.

— Depende, é só pra beber algo ou você tá com outras


intenções?

Max vira o rosto inteiro na minha direção depois que falo isso.

— Só tem um jeito de descobrir — Igor fala sorrindo e estica sua


mão, sugestivo.

Tento controlar o ataque que estou tendo por dentro, mas respiro
fundo. Eu preciso voltar a ser aquela pessoa confiante que eu era
antes de estar com Pedro.
Levo minha mão até a dele, e quando estou quase o tocando,
sinto a mão de Max pegar a minha ainda no ar. Ele entrelaça nossos
dedos e olha para Igor. Seu peito sobe e desce rápido. Fico sem
entender o que está acontecendo. Até que Igor sorri e ergue as mãos
em rendição.

— Ela pode escolher cara — ele diz rindo para Max.

— Ela não sabe onde está se metendo — ele fala. — Ela não é
nenhuma dessas que está acostumado.

— Eu sei me cuidar — resmungo e Max se vira pra mim, pedindo


silêncio com os olhos.

— Rach... Eu sei, eu só...

— É só uma bebida — começo a andar em direção a Igor e Max


da um passo e se coloca a minha frente, meu corpo bate no seu, que
me impede de me aproximar.

Solto um suspiro e Max olha pra baixo.

— Max, juro que sei me cuidar. — Abro um sorriso e ergo seu


rosto na minha direção. — Não se preocupe.

— Ele... está com outras intenções — ele diz.

— Eu sei. — Solto uma risada baixinha. — E aposto que você


também está doido pra achar alguma mulher por aí. Não quero
atrapalhar.

Max faz negação com a cabeça e franze a testa ao olhar pra mim.

— Cacete. Tá falando sério? É isso o que acha?

— Não. — Não hesito em negar. — Só estou tornando o clima


mais leve. Vai ver seus amigos, e eu estou por aí, ok? — Me
aproximo e beijo sua bochecha e então desvio de Max e vou até Igor.
— E vamos lá, porque quero beber.
Igor solta uma gargalhada e o sigo para dentro da casa. Assim
que chegamos na sala, vejo algumas luzes piscando, tem muita
gente ali dançando, e me animo de repente. Assim que conseguimos
sair de perto da aglomeração, chegamos até uma cozinha grande,
Igor pega dois copos e coloca gelo neles e em seguida coloca
cerveja. Ele estica meu copo e eu me encosto na parede, e ele faz o
mesmo do meu lado.

— Então, você e o Max... — Ele começa e me olha esperando


que eu confirme ou negue.

Sei o que ele está pensando. Mas a resposta está tão clara que,
por um momento, sinto que ele sabe melhor do que eu.

— Ah... É... Somos amigos — digo. — Já faz uns anos.

Ele concorda sorrindo e então morde os lábios. Igor até que é


bem bonito. Parece que Max tem uma gangue de amigos gostosos.
Por que que eles decidem andar juntos? Aí complica a vida de todo
mundo.

— Percebi — ele fala e eu dou um longo gole na cerveja. —


Wow, vai devagar!

Começamos a rir.

— Eu preciso animar. Esquecer da vida por um momento.

— Por que uma mulher como você precisa esquecer da vida?

— Muito drama. Longa história — digo revirando os olhos.

— Não acha que existem formas mais legais de esquecer? —


Igor diz e se vira em minha direção.

Abro a boca surpresa e sorrio, sinto meu celular vibrar em minhas


mãos e olho para as pessoas dançando, e apenas sorrio e ignoro o
que ele disse. É a melhor coisa que eu faço. Pego meu celular e vejo
que é uma mensagem de Max.

MAX: Tá tudo bem aí?


Capítulo 25

Ergo meus olhos em sua direção, e o vejo com alguns amigos em


um canto da sala, ele ergue os olhos na minha direção e sinto como
se o mundo parasse ao meu redor. Parece que as pessoas dançam
em câmera lenta e a música se torna um zumbido suave, onde
minha respiração é mais barulhenta que tudo.

EU: Estou tentando ser sexy, treinar as atitudes, mas acho


que não sei por onde começar.
Não consigo olhar pra ele, pois Igor coloca a mão em meu braço
chamando minha atenção. Me viro pra ele sorrindo, e então ele
estica aponta para a minha bebida.

— Quer mais um pouco?

— Por favor! — concordo sorrindo.

— Vou lá pegar a garrafa, já volto.

Ele sai de perto de mim, e assim que o vejo chegar na cozinha e


ser abordado por alguns amigos, pego meu celular e abro a
mensagem de Max.

MAX: É fácil ser sexy. Tem que falar coisas reais, e fazer isso
soar com outras intenções.

Solto uma risadinha, e paro para pensar. Falar coisas reais e que
pareçam com segundas intenções? O que eu devo falar? Mal
conheço o Igor, não sei que tipo de situação real devo usar.

EU: Não sei como faço isso. Me mostra como faz.

Envio a mensagem e ele visualiza na mesma hora. Ele ergue os


olhos na minha direção e eu aponto o celular ele sorri e volta a olhar
para o celular dele. O vejo digitar, e rapidamente a mensagem
chega.

MAX: Experimenta fazer você comigo. Aí te falo se está indo


bem.

Assim que olho para ele, é como se qualquer situação real


parecesse fácil para ser usada como outras intenções. E de tudo o
que eu penso, fico surpresa quando termino de escrever a
mensagem, em perceber que o que eu escrevi não deixa de ser uma
verdade. Não é uma brincadeira. É a verdade nua e crua.

EU: Quando olho para você, e penso no seu cheiro, me dá


vontade de ir até aí e te beijar.

Max olha para o celular e o vejo franzir a testa enquanto lê a


mensagem. Ele não olha para mim. Mas um sorriso se forma em
seus lábios assim que ele termina de digitar a mensagem.

MAX: Tipo isso..., mas tente ousar mais. Qual é, Rach, você
consegue.

Meu coração se acelera só de pensar em falar, já me assusta.


Por que realmente é assim que me sinto. Igor se aproxima de mim e
coloca a bebida em meu copo.

— Desculpa a demora, estou servindo algumas pessoas, vou só


dar a garrafa para meus amigos e a gente se enturma, tá?

— Tudo bem relaxa, estou bem aqui. Se preocupa comigo não. —


Pisco pra ele e ele sai sorrindo.

Respiro fundo e bebo mais um gole da cerveja. Pego meu celular


e começo a digitar. E assim que envio tento não surtar nem me
arrepender.

EU: Sabe o vestido que estou usando? Vesti ele pra você.
Sabe o que significa?

Não consigo olhar para Max depois de enviar a mensagem, e


assim que ele começa a digitar meu corpo inteiro treme.
MAX: Me diz você.

Estremeço e sino um calafrio percorrer meu corpo. Bebo mais um


gole da bebida, e assim que envio, olho em sua direção.

EU: Significa... Na minha cama ou na sua?

Max depois de ler olha na minha direção e começamos a rir


juntos. Certamente se lembrando do dia que usei o vestido quando
fui me encontrar com Pedro naquele jantar. E depois desse dia, é
isso o que este vestido passou a significar.

MAX: Pegou o jeito. Embora essa seja uma cantada minha.

Ele me responde e eu sorrio. Reúno toda a coragem que tenho


para continuar treinando com Max.

EU: Sério? Eu falo isso e você não tem nem a coragem de


responder?

Max lê a mensagem e sorri. O vejo encostar na parede como eu,


se afastando de alguns amigos e o vejo digitar no celular.

MAX: Nenhum dos dois. Eu fico é me perguntando quando


vai criar coragem e atravessar essa sala pra me beijar. O resto
não importa o lugar desde que esteja com você.

Meu coração dispara e eu vejo que prendi a respiração. E por um


lado, fico querendo continuar nessa brincadeira com Max.
EU: Me convença a fazer isso.

Assim que encaminho a mensagem e Max lê, ele olha pra mim.
Parece que tem algo diferente, a atmosfera do lugar mudou. Sinto
tanta coisa nesse olhar que parece que vou morrer do coração.
Engulo em seco e sinto que ultrapassei todos os limites. Essa
brincadeira está parecendo séria demais.

Ou pior ainda, real demais.

Será que ele está se sentindo assim também?

Não, provavelmente ele já está acostumado com isso.

MAX: Não tem capacidade de arriscar? Só assim vai saber o


que pode acontecer.

Que droga! Reviro os olhos e coloco meu copo na bancada perto


de mim. Se isso é uma brincadeira e um teste, não está rolando pra
mim. É me testar que ele quer? Então eu também vou testá-lo, vou
entrar na brincadeira pra ver se Max é capaz de cair.

EU: Sua vez. Me mostre como sua reputação é conhecida.

Encaminho a mensagem e sei que ele vai ficar com raiva quando
ler isso. Mas assim que ele me olha e me flagra rindo, ele sabe que é
brincadeira, e isso o faz me lançar um olhar tão selvagem que fico
com medo.

MAX: Você disse que vestiu o vestido pra mim... Agora me


deixou imaginando como está por baixo dele.
Fico um tempo encarando o celular, e meu coração parece que
parou de bater. Respiro fundo e mordo o canto da minha bochecha.

EU: Adivinha.

Meu sorriso aumenta, e assim que Igor chega perto de mim e


começa a conversar com um amigo dele, eu sinto que não adianta
pensar em ser sexy com ele para fazer ciúmes em Max... Estou me
sentindo assim agora justamente pelo Max. Ok, essa bebida está
fazendo efeito. Bateu!

MAX: Prefiro ver. Posso?

Assim que leio a mensagem, meu corpo começa a tremer de


novo. Não consigo responder, afinal, me pego querendo saber como
vamos terminar isso.

EU: Só tem um jeito de descobrir minha resposta.

Vejo Max digitar a mensagem, e então ele guarda o celular no


bolso e começa a vir em minha direção. Abro a mensagem
imediatamente.

MAX: Vamos ver até onde está disposta a ir.

Guardo meu celular no meu sutiã, e engulo em seco. Ok, se Max


quer me testar, estou pronta para mostrar que consigo fazer isso. E
essa bebida está fazendo maravilhas com minha coragem. Max
apenas se aproxima de mim, em passos lentos, e eu só consigo
pensar no quanto ele está atraente nessa calça jeans clara colada
em seu corpo, e sua blusa branca com uma estampa preta na frente.
Sua roupa define seu corpo, e me pergunto como nunca reparei nele
assim. Lindo e atraente, ele esbanja charme só quando sorri. Seu
olhar se foca ao meu e assim ele permanece durante todo o percurso
até mim, e assim que para na minha frente, ele apenas sorri.

— Não desviou o olhar do meu, ganhou um ponto — ele diz e


morde os lábios. — Tá aprovada nas mensagens, agora tem que
treinar pessoalmente. Acho que...

— Shiu — O silencio colocando meu dedo em seus lábios e


seguro sua mão.

Entrelaço nossas mãos, e vou levando Max em direção aos


corredores da casa. Ele me segue em silêncio. Assim que abro a
porta e vejo que é o banheiro, Max começa a rir.

— Tá me levando pra onde, Linda?

Fecho a porta e continuo andando pelo corredor, abro outra porta


e assim que vejo um quarto, puxo Max pra dentro e fecho a porta. A
música se abafa um pouco, mas ainda dá para ouvir a música Lovely
tocando lá fora. Max franze a testa e assim que me viro pra ele
sorrio.

— Não estou entendendo — ele diz baixinho.

Sem falar nada, sou apenas guiada pelos meus próprios instintos
e desejos. Levo minhas mãos para trás e desço o zíper do meu
vestido. É uma brincadeira, mas o modo como meu corpo está em
combustão, e o jeito que Max me olha... como se estivesse pegando
fogo e eu fosse a brasa que o incendeia ainda mais. Não parecemos
mais aqueles melhores amigos, por um momento, é como se
estivéssemos nos vendo pela primeira vez. É tão real, palpável.

E isso me excita, me assusta. A intensidade de um nós existir, me


trás a certeza que nunca mais quero voltar a ser apenas sua melhor
amiga.
— Rachel... — Ele solta um ar, como se fosse desmoronar
naquela hora.
Capítulo 26

— Você queria saber como eu estava — sussurro, seguro a


manga do vestido e começo a descer ela lentamente. Max morde o
lábio inferior, suas mãos se fecham em punho e ele fecha os olhos
com foça, como se estivesse em uma batalha, lutando contra o
próprio corpo, ele vira o rosto e fica de costas de mim, seu peito sobe
e desce rápido.

Ele faz negação com a cabeça.


— Tá fazendo o quê? — ele fala, sua voz mais rouca que o
normal.

— É sério? Você me pediu para ver... E minha resposta é sim.

Max solta um gemido baixo, e então ele se vira pra mim devagar,
e ao me ver ainda com o vestido, parece em conflito.

— Por que está me olhando desse jeito? — sussurro sorrindo. —


É só uma brincadeira, né? Você já me viu de Biquíni, é quase a
mesma coisa.

— Eu sei.

— Parece que você está com medo de me ver — digo baixinho.


— Max...

— Rachel, qual é! — Ele faz negação com a cabeça. — Eu sei


que você não é de brincar. E você sabe que eu também não sou
assim.

Fecho minha boca e então meu corpo começa a tremer de novo.

Que diabos tá acontecendo comigo? O que ele vai pensar? Onde


estou com a cabeça ouvindo meu coração e meu corpo e me
esquecendo de tudo ao nosso redor?!

— Desculpa — sussurro. — Deve ser a bebida e...

— Sério que vai colocar a culpa na porra da bebida? — Ele faz


que não, e começa a se aproximar de mim devagar.

Não! Não vou! Eu dou conta disso! A gente consegue. Quer


dizer...

— Que merda estamos fazendo, Max? — sussurro sem ar.

— Não sei — ele fala e continua andando devagar em minha


direção.
— Bom, pois ajudaria muito se você me desse alguma
explicação.

Max chega perto de mim.

— Não tem explicação, meu bem. É só... Isso é só eu e você. —


Max segura meu cotovelo e me faz virar lentamente até ficar de
costas para ele. Sinto sua mão tocar minhas costas, e esse simples
contato da sua mão com a minha pele, já me faz morder meus
lábios.

— Max... — Solto um suspiro assim que ele se aproxima de mim,


sinto seu nariz passar lentamente pela pele do meu pescoço, e suas
mãos se firmam em minha cintura. Ele inspira meu cheiro ao mesmo
tempo em que seus dedos apertam minha cintura. Como se ele
quisesse se perder e ao mesmo tempo se controlar. Viro meu rosto
em sua direção.

— O que estamos fazendo? — ele me pergunta baixinho.

Meu coração parece que vai sair pela minha boca em qualquer
momento. A mão de Max percorre minhas costas, onde ele as coloca
em contato com a minha pele exposta depois que desci o zíper do
vestido, e ele passa suas mãos por dentro do vestido até circular
meu corpo, e me puxa até fazer com que eu encoste em seu corpo,
ele ainda parece confuso, tenta se decidir se realmente continua a
me tocar. Ele me quer, mas ao mesmo tempo tem medo. Então
decido apenas aproveitar o momento, e convencê-lo que vale a pena
nos deixarmos levar por esses sentimentos, desejos e emoções
reprimidas.

— Só vou dizer uma coisa — sussurro. — Eu não sei o que está


acontecendo, ou quando começou..., mas eu tô sentindo algo que
não sei explicar, Max. E se você não se sentir igual e eu acabar
ultrapassando o limite da nossa amizade, quero que a gente saia
daqui e que tudo isso fique apenas nesse quarto. Como se eu nunca
tivesse te falado nada disso.
Max faz que não com a cabeça, e fecha seus olhos, me viro em
sua direção, coloco minhas mãos trêmulas em seu quadril, e ignoro
tudo o que estou sentindo.

— Eu não vejo problema. Não vou deixar ser um problema —


sussurro e Max abre seus olhos. Aquela imensidão verde se
encontra com meus olhos, prendo a respiração. — Só quero
descobrir o que é isso.

— Rachel... Se eu aceitar isso... — ele murmura me empurrando


gentilmente, me fazendo andar pra trás.

— Eu sei.

— Não vou conseguir parar. — Meu corpo se encontra com a


porta e o corpo de Max me pressiona com força, e coloco minhas
mãos em sua cintura.

— Eu sei — afirmo outra vez.

Max coloca uma mão na porta, se encostando, e a outra ele


entrelaça em minha nuca, fazendo meus cabelos se embolarem em
sua mão. Max puxa levemente meus cabelos pela sua mão para trás,
e faz com que meu pescoço fique ainda mais exposto para ele. Se
aproxima de mim, e quando sinto seus lábios beijarem meu pescoço,
subi minhas mãos e aperto minhas unhas em suas costas por cima
da sua roupa.

— Diz pra eu parar, Rachel — ele implora e morde levemente


minha pele. Me contorço um pouco e abro minha boca em busca de
ar.

— Não vou dizer.

Max desce sua mão que estava na porta até minha cintura, onde
ele me puxa com força contra ele. Ele segue trilhando beijos por toda
a extensão do meu pescoço, morde levemente, até subir por minha
garganta e chegar ao meu queixo. Experimentando cada pedaço
mínimo do meu corpo, até chegar aos meus lábios. Sinto sua
respiração apressada se unir a minha.

Por baixo de toda insegurança, nos sentimos iguais. Não


sabemos a merda do que está acontecendo, só estamos nos
permitindo sentir.

Max encosta nossas testas e assim que abro meus olhos o pego
olhando para mim.

— Estou nervosa — sussurro sorrindo.

— Não precisa ficar.

— Imaginei isso muitas vezes — admito baixinho. — E agora


você está aqui, de verdade e... era para parecer errado, mas está
longe disso. Parece que meu coração vai explodir.

Max sorri e passa seu nariz sobre o meu de um lado para o outro.
E me puxa mais contra ele.

— Não estou acreditando que você está mesmo em meus braços


— ele fala. — Não vamos deixar isso ser estranho, por favor.

— Não quero isso também — admito.

Max sorri, sua mão se acomoda em meu pescoço e puxa meu


rosto em sua direção, sua boca finalmente se encontra com a minha,
seus lábios são tão macios que tenho vontade de pedir para o
mundo parar, para o tempo se congelar aqui, agora, para que eu não
precise me afastar dele nunca. Ele se afasta um pouco sorrindo
contra meus lábios.

— Mesmo que tenha usado isso para treinar nas mensagens...


Vou fingir que realmente vestiu esse vestido pra mim — ele diz e eu
sorrio.

Tombo minha cabeça para trás quando ele morde meu pescoço e
o lambe devagar, e deixo um gemido escapar.
— Talvez seja verdade — digo baixinho, sinto tanta falta de ar
que não sei como fazer pra voltar a respirar.

Max sorri e sei que ele está se deixando levar tanto quanto eu.

— E eu vou fingir que mesmo fora dessa brincadeira... Você


pensa em mim — ele sussurra em meu ouvido e mordisca o lóbulo
da minha orelha.

— Talvez seja verdade também... — Max paralisa quando me


ouve confessar que ando pensando nele, ergue os olhos para mim,
buscando alguma confirmação. — Isso preocupa você?

Nos olhamos por tanto tempo que parece uma eternidade. Sinto
meu corpo tremer de novo, e Max se aproxima de mim e mordisca
meu lábio inferior. E então sua boca toma posse da minha, faminta,
desesperada. Sua língua invade minha boca em ritmos que deveriam
ser proibidos. Me sinto tão entregue, que me pergunto se é normal
alguém se sentir assim. Minha mão entra debaixo da blusa dele, e o
puxo para mais perto, apertando seu corpo contra o meu e aperto
sua bunda. Max interrompe o beijo e se afasta um pouco sorrindo.

— Linda... — ele sussurra. — Você quer me matar.

Não perdemos o contato visual. Max estica sua mão até a porta,
e a tranca para ninguém nos incomodar. Sinto suas mãos descerem
por meu corpo e ele segura a barra do meu vestido e começa a subir
para cima.

— Max...

— Não fala que não quer. Eu sei que quer isso tanto quanto eu —
ele implora.

— É que estamos na casa do seu primo! — digo rindo. — E...

Assim que olho seus olhos todas as minhas dúvidas somem.


— Não vou te deixar se afastar agora — ele diz baixinho.

Ergo meus braços para cima e deixo que Max o retire de mim. Ele
o joga em qualquer canto e para na minha frente e vejo seu olhar
vagar por todo o meu corpo.

Não sinto vergonha, nem exposta, nem sem graça. Eu me sinto


sexy, me sinto desejada, me sinto à vontade perto dele. Sorrio e me
aproximo dele, Max abre aquele sorriso cafajeste e começo a
desabotoar sua camisa. A passo por seus ombros largos, e deixo a
mostra seu abdômen que parece ainda mais atraente assim, perto de
mim, onde eu posso tocar, beijar...

Max se aproxima e me vira de costas, afasta meu cabelo e beija


meu pescoço, seu corpo se aperta contra o meu e a parede, sinto
sua ereção contra mim e perco o ar quando ele modisca minha
orelha. Max me vira e segura minhas pernas e me pega em seu colo.
Abraço seu pescoço, cruzando minhas pernas ao redor da sua
cintura. Suas mãos exploram meu quadril, minhas costas, me
puxando para mais perto, me acariciando, me provocando. Beijo sua
boca e todo o restante do mundo se apaga completamente à nossa
volta.

Max caminha até a cama, me deita sobre ela, se abaixa sem


cortar nosso beijo e então morde meu lábio inferior com força. Meu
corpo parece que vai entrar em combustão. Max solta meu sutiã, e
me aproximo dele soltando o botão e abrindo o zíper da sua calça e
Max a tira e a joga aos pés da cama. Me deito, Max se debruça
sobre o cotovelo e fica mantendo contato visual, até chegar perto de
mim e beijar minha boca tão lentamente que parece ser ainda mais
intenso. E assim que ele se afasta, abro a boca em busca de ar. Max
tira meu sutiã, começa a beijar meu pescoço, segue por minha
garganta, vai até meus seios, e desce por minha barriga.

Me contorço sobre ele e amasso o lençol da cama, quando ele


abre minhas pernas e se coloca no meio delas. Ele puxa minha
calcinha para o lado, e sinto sua língua passar por meu clitóris e
então ele me chupa com força e solto um gemido. Max parece saber
o jeito certo de me tocar e me enlouquecer. Seguro seus cabelos e
ele ergue o rosto sorrindo pra mim, beija meu ventre, sobe por minha
barriga e mordisca levemente meu seio. Max acrescenta dois dedos
dentro de mim e abafa um gemido ao me beijar.

— Você já está pronta pra mim, linda. — ele sussurra.

Max retira a minha calcinha e mantém o contato visual enquanto


desce o rosto, e me beija bem onde preciso. Sua língua lambe meu
clitóris e solto um gemido, parece que vou morrer do coração. Max
me chupa com força, até eu segurar seu braço e o fazer se
aproximar de mim. Ele retira sua cueca e então puxa minhas pernas,
me trazendo para mais perto, e me penetra de uma vez.

Aperto suas costas com minhas unhas e solto um gemido com a


invasão imensa que Max se torna pra mim. Pois parece que isso
tudo vai além do ato físico. Tem uma conexão. Sinto essa
necessidade de apenas sentí-lo. Max começa a se mover rápido,
entrelaça nossas mãos e se debruça sobre mim.

— Rach... — ele me chama sem ar. — Você é perfeita!

Mordo meus lábios e abro meus olhos, e assim que encontro os


seus consigo ter a sensação exata de que depois dessa noite, nunca
mais vou ser a mesma. Tudo mudou. Inclusive minha visão em
relação ao que é o amor.

Max puxa meu rosto, e me beija me tirando o resto do ar que


tinha para respirar. Tenho a certeza de que ele sentiu alguma coisa
mais forte também. Não sei o quão entregue ele também está.

— Goza comigo, Rach. — Max sussurra em meu ouvido quando


sinto o prazer se acumular, ele aumenta o ritmo e passo uma mão
por seus cabelos, agarro seus fios, e a outra mão seguro suas
costas, e o puxo para mais perto a medida que a sensação aumenta.

Chegamos juntos a um clímax tão forte, que não sabia mais como
parar de puxar ele pra mim, não sabia onde começava ele e
terminava eu. Nem quero saber.
Max solta seu corpo contra o meu cansado, e deixo minha
cabeça cair no colchão. Ele não sai de dentro de mim, apenas
respira apressado e sorri. Ficamos um tempo em silêncio até que eu
conseguisse recuperar meu fôlego. E assim que ele se retira,
gememos juntos e sinto um certo vazio.

E agora?

O que vamos dizer?

Como explicar para ele que não dá para deixar o que aconteceu
entre nós nesse quarto e simplesmente esquecer? Como explicar
que parece que o que eu sinto conseguiu aumentar grandemente
dentro de mim?

— Tô ouvindo seu coração — Max sussurra baixinho deitado com


a cabeça em meu peito. E então ele ergue a cabeça e olha para mim
sorrindo. — Se essa não for a porra da batida perfeita, eu juro que
não sei de mais nada.
Capítulo 27

— Se essa não for a porra da batida perfeita, eu juro que não sei
de mais nada.

Meu coração se acelera ainda mais e assim que vou dizer alguma
coisa ouvimos a porta do quarto tentar ser aberta. Arregalo meus
olhos e Max sai de cima de mim. Finalmente percebemos que não
estamos em casa.
Meu Deus! A ficha caiu! Eu realmente estou louca! Acabei de
transar com o Max na casa de um estranho.

— Tem alguém aí dentro?! — uma voz grita do lado de fora.

— Só um minuto! — Max fala e se veste correndo. Pega meu


vestido no chão e me joga enquanto veste as calças.

Me apresso em vestir o vestido, e ajeitar meu cabelo.

— Max? É você? — a voz do outro lado diz rindo.

— É, cala a boca, espera aí! — Max diz.

Terminamos de nos vestir, e Max para com a blusa no meio do


caminho, deixando seu abdômen aparecendo. E assim que olha para
mim, terminando de ajeitar o vestido, ele sorri, e eu também começo
a rir e coro de vergonha no processo. Realmente aconteceu! Aquela
atração forte por ele aumentou em um nível tão alto que já nem sei
mais explicar o que estou sentindo.

— Não me olha assim — peço sorrindo e me afasto a medida que


ele dá passos lentos, sensuais em minha direção. — Max...
Precisamos sair desse quarto.

Ele apenas sorri, aumenta o ritmo dos passos, me puxa pela


cintura. Sorrio e abraço seu pescoço. Max me encosta na parede e
beija minha boca sem nem se preocupar na pessoa do outro lado da
porta. Sua língua invade minha boca e Max solta um gemido e eu
acaricio seu rosto, passo minhas mãos em um franzido que sua testa
faz, tentando guardar esse momento na minha memória pra sempre.
Esse beijo pra sempre. Desço minhas mãos por seu peito, unho seu
abdômen e Max estremece e mordisca meu lábio inferior, e depois
coloca sua testa contra a minha.

— Não quero sair daqui. — ele confessa. — Parece que ainda


não obtive o suficiente de você.
Paro minha mão no botão de sua calça, e a desço lentamente e
seguro sua ereção por cima do jeans, e Max solta um gemido
baixinho, me surpreendo ao ver que ele já está pronto para um
segundo round.

— Podemos resolver isso. Acho que seu corpo concorda. — digo


e ele agarra meus pulsos, e os coloca acima de mim, me prendendo
contra ele e a parede.

— Não provoca, Rachel... Se não eu juro que não te deixo sair da


minha cama tão cedo. E terá dificuldades até pra andar depois.

Sinto meu corpo se incendiar e ergo uma perna e circulo sua


cintura o trazendo para mais perto.

— E está esperando o quê? — murmuro sorrindo. — Eu juro que


se fizer isso, não conseguirá se afastar de mim.

Max sorri e me cala com um beijo, solta minhas mãos, segura


minha perna ao redor da sua cintura, e sua língua invade minha boca
ao mesmo tempo que ele esfrega sua ereção contra mim.

— MAX! — A porta é esmurrada.

Max interrompe o beijo sorrindo, solta minha perna lentamente,


me aconchega em seus braços e beija minha bochecha, encosta
nossas testas.

— Linda... O que foi isso que acabou de acontecer? — ele me


pergunta sem ar.

Assim que abro a boca para responder, escuto algo que jamais
poderia imaginar.

— Está aí com a Vivian, né? — a voz diz e isso me cala. —


Caramba, eu sei que ela ia vir, ela me disse quando encontrei com
vocês dois ontem. Falou até que iam usar meu quarto. Eu sei que
vocês sempre usam minha cama, mas porra! Vivi tem mesmo que se
aproveitar do meu amigo bem quando preciso entrar no quarto?
Max fica completamente paralisado, seus músculos parecem que
ficam rígidos ao redor da minha cintura. Meu coração acelera, e sinto
como se uma faca tivesse atingido meu coração.

Max estava com a Vivian ontem? Ele a chamou pra vir? Eles
sempre usam esse quarto como abatedouro?

Eles já ficaram juntos aqui?

Nessa mesma cama e...

Ele ergue os olhos na minha direção e consigo ler completamente


a verdade.

— Rachel...

— Estava com ela ontem? — pergunto sem ar.

Por que ele mentiria pra mim? Ele se encontrou com ela depois
do encontrão do jornal? Ele respondeu que sim naquelas
mensagens?

— Rachel... Ontem eu e ela...

— Me solta — sussurro e a falta de ar só vai piorando.

— Ei, eu posso explicar — ele diz e acaricia meu quadril com seu
polegar.

— Eu disse pra me soltar! — Empurro suas mãos de mim e vou


até perto da cama e pego minha calcinha, e minha bolsa.

Não consigo acreditar! Max é meu melhor amigo, e parou de me


contar as coisas da sua vida tem um tempo, já estamos nos
afastando. Não entendo é o motivo pra ele fazer isso.

Pensei que ele estivesse se afastando da sua rotina de usar as


mulheres porque estava começando a sentir que poderia existir um
nós, assim como eu. Pensei que ele tinha se afastado de tudo... por
mim.

Mas se for assim... Por que ele ainda está se encontrando com
ela?

— Rachel! Por favor... — Max se aproxima de mim e assim que


toca meu braço eu me afasto e me viro pra ele esticando a minha
mão para ele não se aproximar.

— Só me responde uma coisa — digo. — Você estava com ela


ontem?

Max solta um suspiro e olha para o teto sem saber o que dizer.

— Eu... Eu estava, mas... — Ele se aproxima e eu reviro os olhos.

— Mais nada, Max!

Vou até a porta e a destranco, e Max me segura pelo pulso me


impedindo de sair. Do outro lado da porta o primo de Max abre a
porta e então nos encara sem entender.

— Ué, pensei que era a Vivian — ele diz sem entender. — Já


partiu pra outra cara? Sério, você não tem medo de pegar uma
doença, não?

— Cala a porra da boca! — Max grita com ele e eu tento andar


pelo corredor mesmo com Max me segurando tentando me impedir.
— Linda, só me escuta, por favor.

— Não! — grito e sinto o bolo na garganta ao virar pra ele e olhar


em seus olhos. — Não, porque eu fui sincera com você. Me
entreguei que nem uma burra acreditando que você sentia algo por
mim também!

— E eu sinto, Rachel! Porra! — ele grita.


— Então o que foi fazer com aquela mulher ontem? — As
lágrimas invadem meus olhos.

Max só a encontra pra uma coisa: sexo. Só isso importa pra ele.
Ele sempre dizia "É a única relação que me importa".

— Não precisa responder. — sussurro. — Só não esperava ser


mais uma pra você.

Tento sair e novamente ele me segura.

— Não! Rachel! Nem ouse pensar isso! Você é tudo, menos


qualquer uma pra mim.

— Vamos fazer um favor? Aquele quarto é que nem Las Vegas, o


que aconteceu lá, fica lá. — tiro suas mãos de mim, vou andando
para fora da casa, já chamamos atenção demais.

— Wow, Max! FOI MAL CARA! — ouço seu primo gritar.

Saio correndo da casa e já digito uma mensagem para Renato


me encontrar em casa. Chamo um uber, que por coincidência está
bem perto.

Assim que saio da casa, Max me segura pelo braço e para na


minha frente me impedindo de me afastar.

— Você não pode chegar do nada e falar que sente algo por mim,
e aí tudo aquilo aconteceu, e mudou totalmente nossa relação, não
adianta negar.... E aí depois de tudo o que sentimos lá dentro, você
não pode vir me dizer para simplesmente esquecer.

— Mas é o que vamos fazer — admito.

— Rachel... Qual é. — Ele coloca as mãos no rosto e faz


negação. Se aproxima de mim e coloca as mãos no meu rosto
tentando me fazer olhar pra ele. — O que aconteceu naquele
quarto...
— O que aconteceu naquele quarto foi um erro. Não deveria ter
acontecido.

— Não? Por quê?

— Porque você é meu melhor amigo! E só! E é um galinha que


faz rodada de mulheres e eu não vou ser mais uma em sua lista!

Max parece que ganhou um murro, se afasta de mim em choque,


parece tão machucado que me dói.

— Nunca esperava ouvir isso de você — ele sussurra.

— É melhor assim. Só vamos esquecer. Fingir que nunca


aconteceu — peço mesmo que meu coração não concorde.

Max faz negação e olha em meus olhos.

— Quer dizer que nunca percebeu nada nesses meses pra cá?

— O quê? Sua ajuda com o lance do noivado? Sentir algo por


você e me machucar por acreditar que era recíproco?

— Quer saber? Se você não entende, ou se não sentiu nada com


o que aconteceu entre a gente hoje... Se você não enxerga o que
está na sua cara, não vou te explicar!

E então ele sai e me dá as costas, bem quando o uber vira a


esquina para me tirar daquele lugar.

E consequentemente, me levar para longe dele.


Capítulo 28

Hoje o dia no trabalho demorou uma eternidade para passar. A


cada vez que eu olhava para o relógio parecia que só passava um
minuto. Mas não foi somente meu dia que estava demorando desse
jeito. Eu mal dormi a noite toda. Minha mente não desliga. É como se
eu tivesse presa em lembranças. Fico reprisando tudo o que
aconteceu na festa, e mal conseguia fechar os olhos essa noite.

Eu estou tão dividida. É como se aquela fosse a minha melhor e a


pior noite, tudo ao mesmo tempo. Sentir Max perto de mim, ter ele
em meus braços, me mostrou que não é só aquela atração que eu
achei que sentia por ele. É muito mais do que isso. Eu o queria por
completo, inteiro. Queria ter ele perto de mim todos os dias e todas
as manhãs.

Senti algo tão forte, que eu nunca senti nem pelo Pedro.

E ao mesmo tempo, não esperava que ele fosse realmente mentir


pra mim. Ele tinha se encontrado com a Vivian aquele dia.

E eu bem conheço a Vivian. Desde que eu e Max somos amigos,


não houve um dia em que eles não se encontraram para fazer outra
coisa além de transar. O que não me dá muitas escolhas para só
pensar positivo, ou acreditar nele. Foram anos que Max e ela se
encontram casualmente.

— Ei — ouço Gi chamar da mesa dela, ao meu lado. — Moça


solitária.

Desvio meus olhos do computador para ela, que franze a testa e


aproxima um pouco sua cadeira da minha mesa.

— O que aconteceu, Rach? E não fala que não é nada.

Meu coração se aperta, e eu tento me concentrar no trabalho,


preciso disso para me distrair. Mas amiga é amiga, não dá pra
enganar ou fingir estar bem perto delas. Parecem sugar tudo, saber
como estamos só de olhar nos nossos olhos.

— Aconteceu uma coisa na festa ontem, mas ainda não estou


preparada pra falar sobre isso.

— Tem certeza?
— Não — sussurro. — Eu quero falar, mas é aquilo, sabe? Medo
de falar e se tornar real e doer mais?

— Bom, real já é, meu bem. Tudo o que vivemos, se alguma


coisa acontecer, temos que lidar com as consequências.

Solto um suspiro e termino de enviar minha matéria para Arthur.


Olho no relógio e ainda faltam vinte minutos para eu ir embora. Gi
permanece ao meu lado, esperando o momento que eu vou lhe
contar.

— Max e eu transamos — confesso, e ela sorri. — Foi na casa do


primo dele, nunca senti aquilo que eu senti.

— É porque agora vocês estão conhecendo o amor.

— O amor uma ova! — Reviro os olhos e começo a desligar o


computador. — Foi só sexo! Literalmente isso o que significou pra
ele. Mas qual a surpresa, não é? Max sempre foi assim, e burra foi
eu de acreditar que alguma coisa mudou.

— Ele te disse que foi só sexo? — Gi arregala os olhos.

— Bom... Não.

— RACHEL! — Ela revira os olhos.

— Mas o primo dele achou que eu era a Vivian, porque ela estava
com o Max no sábado, e eles sempre usam aquele quarto como
abatedouro.

Gi fica surpresa e fecha a boca com o que ia falar.

— Eu sou muito burra! — murmuro.

— Ei, vamos parar com isso. — Ela se levanta e massagea meus


ombros.
— Não consigo parar de pensar. Brigamos, acusei ele de ser
mais uma pra ele.

— E você acha isso?

— O quê?

— Conhecendo o Max como conhece... Você realmente acha que


é mais uma da lista dele?

— Não sei, Gi. Mas foi como eu me senti naquele momento.

Ele vira minha cadeira pra ela, e se agacha no chão.

— Você ficou com raiva por saber que Max estava com ela
sábado? Ou ficou com raiva de saber que o lugar onde ficaram pela
primeira vez era um tipo de abatedouro dele e você queria que fosse
especial?

Meus olhos se enchem de lágrimas e Gi suspira e as limpa com


seu polegar.

— Ei, tá tudo bem aí? — Arthur chega perguntando.

— Vai ficar — Gi diz.

— Ok, qualquer coisa, estou na minha sala se precisar conversar,


Rach!

Eu e Gi sorrimos.

— Não vejo você me aconselhando com isso, mas ok. Valeu! —


digo sorrindo.

Arthur pisca pra mim e vai para a sua sala, e eu suspiro.

— E se não tiver significado nada pra ele? E se não tiver sido


especial?
— Por que não pergunta pra ele?

— E se eles estiverem juntos ainda?

— Por que não pergunta pra ele? — ela repete sorrindo.

— Porque... se for verdade... vai me machucar mais.

— E não saber a verdade faz você criar coisas na sua cabeça


que doem ainda mais. Não entende?

Pego minhas coisas na mesa, e Gi se afasta e desliga seu


computador pra gente já ir embora.

— Eu vou pensar no que fazer — murmuro. — Mas obrigada.

— Não tem que me agradecer com isso! — ela fala e vamos


andando juntas para bater o ponto.

— Amanhã é um dia especial! — comento sorrindo. — Isso vai


me tirar da realidade.

Amanhã é o dia que a Gi vai fazer a ultrassonografia para


descobrir o sexo do bebê. Ela está torcendo para ser menina, pois já
tem o Miguel. Já Arthur, acha que é outro menino para montarem um
time de futebol. Isso tudo vai me tirar da realidade por um tempo...
Espero.
— Tem mesmo certeza disso? — o médico pergunta para Gi
enquanto limpa o gel do ultrassom da sua barriga. Vejo o quão aflita
ela está, mas se recusa de qualquer forma.

— Absoluta! — ela fala sorrindo.

Ajudo Gi a se levantar da maca. Sua barriga está crescendo tanto


que até me assusto. De uma semana para outra faz tanta diferença
que parece que já está na hora do bebê nascer.

— Bom, muito bem! Então a senhorita pode esperar lá fora que


eu tenho que ter uma conversinha com a tia do bebê.
Gi sorri e olha pra mim, beija minha bochecha e então sai junto
com a mãe dela. Meu coração até bate mais rápido. Jamais pensei
que fosse ficar tão nervosa ao saber o sexo de um bebê.

O médico puxa o aparelho de ultrassom para mais perto e me


mostra uma foto do bebê.

— O que você acha que é? — ele pergunta sorrindo.

— Sou péssima nesses chutes. — Começo a rir. — Eu acho que


é um menino, pra já montarmos logo um time de futebol.

— Bom, sabe o que eu acho? — Ele sorri e pega o laudo do


exame pronto com a assistente e me entrega. — Que todo time de
futebol precisa de uma líder de torcida.

Meu coração dispara e começo a rir que nem uma bobona.

— É sério? Ah, meu Deus! Ela vai ficar tão feliz.

— Aposto que o pai não. Meninas dão muita dor de cabeça.

Sorrio e aperto o laudo do exame contra meu corpo. Meu


segredo. Agora tem um nome.

— Obrigada, Doutor!

— Imagina, espero que dê tudo certo no chá revelação!

— Vai sim! — Aceno pra ele e para a assistente, e então saio do


consultório e vou até a recepção, onde Gi está sentada roendo a
unha e sua mãe rindo da atitude.

Assim que me aproximo, ela arregala os olhos e parece que vai


explodir ali mesmo.

— NÃO ME CONTA!

— Eu não vou te contar, nem que implore.


Ela fecha a cara e fica incomodada.

— Não acredito que o nome do meu bebê está a dois passos de


mim e eu não posso saber.

— Você que decidiu assim, Gi!

— Agora não adianta reclamar! — Marta, a mãe da Gi fala.

Sorrimos cúmplices, e então saímos da clínica e vamos até o


carro onde Arthur espera junto com Miguel. Até imagino a cena de
uma garotinha com lacinho na cabeça pulando pedindo sorvete e
dando o maior trabalho.

Gi abre a porta e se senta na frente, e Marta abre a porta de trás


pra nós.

— Amor, senta direito no banco e coloca o cinto de segurança! —


Gi fala se virando para Miguel. — Mãe, ajuda ele a colocar.

Olho para a frente e vejo Arthur me encarando pelo retrovisor.

— Nem vem você também! Minha boca é um túmulo!

Ele começa a rir e faz negação com a cabeça e dá a partida no


carro. Marta fica brincando com Miguel e conversando com ele, e
Arthur coloca a mão no joelho da Gi tentando acalmá-la.

— Vamos descobrir sábado — ele diz. — Fica calma.

— Só estou ansiosa — ela fala.

— Como foi no ultrassom hoje? — Ele tenta mudar os


pensamentos dela.

— O médico disse que está tudo bem. O coração batendo tão


rápido e lindo quando da última vez — ela fala rindo.
— Vai ver ele imaginou que hoje seria o dia que descobriríamos o
sexo, e ficou ansioso igual a mamãe.

— Sabe... Pode ser uma menina! — Gi fala sorrindo e eu sorrio


também.

— Ah, claro que pode!

— Então para de chamar nosso bebê de ele!

Eles começam a rir, e eu sinto meu coração se apertar. Por mais


machucada que eu estou, sinto falta de Max. Da nossa cumplicidade,
dele fazer com que eu me acalmasse em qualquer situação. Ele
sempre deixa o clima mais leve, não importa o motivo.

Pego meu celular e abro meu whatsapp, vejo "Max pinguim"


escrito e um bolo se forma na minha garganta. Abro seu nome, e
vejo que ele está online. A vontade de mandar "Por que sinto falta de
pessoas idiotas?" é grande. Mas não quero falar nada com ele.

Max me machucou, confiei nele e ele nem se importou em como


eu me senti. Já faz uma semana que estamos sem nos falar, isso foi
o maior tempo pra gente. Sempre que brigávamos, no outro dia já
procurávamos um ao outro para pedir desculpa.

Mas nunca o motivo da briga foi porque transamos e ele estava


se encontrando com sua amante do sexo enquanto eu acreditava
que ele estava mudando em relação a sentimentos... Por mim.

Vai ver eu realmente fui mais uma em sua lista, e agora ele
simplesmente me riscou. Como se eu fosse papéis antigos em uma
reunião que não se precisa mais. E isso me machuca de uma
forma... Seu silêncio... Sua distância... Jamais pensei que fosse doer
tanto assim.

Meu celular vibra com uma mensagem e eu congelo. Começo a


tremer quando desbloqueio meu celular e estou com raiva e rezando
ao mesmo tempo pra ser dele... Mas não é.
É da última pessoa que pensei que falaria comigo no mundo.

PEDRO: Amor, tô sentindo sua falta. Você não faz ideia de


como está sendo difícil ficar aqui em outro país sem você.
Precisamos conversar.

— Ah, O QUÊ?! — falo alto e todos olham pra mim.

— Que foi? — Gi se vira em minha direção.

Entrego meu celular pra ela e ela lê a mensagem e franze a testa.

— O que o Pedro tem na cabeça? — Ela me entrega o celular tão


chateada quanto eu.

— Eu pensei que nunca mais fosse ter qualquer sinal dele!

— Como assim ele pega o seu anel e vai embora e depois de um


tempão ele manda mensagem falando umas asneiras dessas ? —
Gisele resmunga.

Olho para meu celular novamente, e isso só aumenta minha


vontade de chorar. Tenho evitado isso desde fui embora da casa do
primo de Max, brigada com ele. Prometi ontem que não irei mais
chorar por homem nenhum. E agora o quê? Como que o tempo
passa assim tão rápido? Num dia Pedro estava sendo idiota e indo
embora, e no outro eu me vejo sentindo coisas estranhas pelo meu
melhor amigo?

Aperto o celular nas minhas mãos, e assim que o carro para, que
cai minha ficha que estou na porta de casa.

— Nem pense em cair na dele de novo! Se eu fosse você nem


respondia! — Gi fala.

— Não vou cair mais na dele — sussurro. — Bom, pombinhos,


prometo cuidar desse segredo muito bem até sábado, tudo vai ser
lindo, ok?

— Tá bom! — Gi abre um sorrisão e segura a mão de Arthur.

— Meu anjo, cadê o beijo da tia? — Me aproximo de Miguel que


sorri e coloca a mãozinha no meu rosto e beija minha bochecha.

— Tia Rach? Eu sei guardar segredo, sabe?

Abro um sorriso e beijo sua bochecha muitas vezes enquanto


todos caem na risada.

— Eu sei, espertinho, tanto que você vive me dedurando para os


seus pais. Não vai rolar dessa vez.

Ele coloca as mãos no rosto envergonhado e falo tchau com


todos enquanto saio do carro. Eles vão embora e ainda fico sorrindo
sozinha. Subo as escadas de casa e já chamo o elevador. Verifico
meu celular de novo e a mensagem do Pedro grita na minha tela.
Entro no elevador assim que ele chega e resolvo responder o que ele
me enviou.

EU: Será que dá pra me deixar em paz?!

Envio a mensagem e clico novamente no nome de Max.

Online.

Minhas mãos tremem e sinto a dor se instalar em meu peito, e


assim que o bolo começa a se formar na minha garganta bloqueio
meu celular. Eu sou mesmo muito idiota!
Capítulo 29
A semana demorou tanto para passar que até perdi as contas.
Passei todas as minhas horas vagas comprando balões rosa e azul,
docinhos, enfeites para a mesa, encomendei o bolo. Fiz tudo do jeito
que Gi está sonhando. Nunca pensei que fosse tão difícil planejar um
chá revelação. Mas a Marta às vezes tentava me ajudar, mas nossos
horários nunca batiam, então a maior parte das coisas fiz sozinha.

Por um lado eu estava gostando de todas essas tarefas, com


tudo o que eu estava fazendo não anda sobrando muito tempo para
pensar na minha vida. Que está mais confusa e complicada do que
planejar essa festa. Por um lado eu sentia falta de Max. Toda vez
que via algum arranjo de natal. Ou um homem de terno... Até mesmo
na hora de provar o sabores dos bolos. Não consigo entender em
como simples coisas conseguem me afetar dessa forma tão
profunda.

Dói não ver ele. Dói não vencer o orgulho e ligar, como dói não
receber ligações. Dói não mandar mensagens, como sofro por não
receber. Machuca não procurá-lo e dizer que está doendo, e o motivo
por isso... Como também machuca não ser procurada como se eu
realmente tivesse certeza naquilo que nunca achei que fosse me
importar... A lista de Max, das mulheres que ele fica.

A cada dia que passa eu apenas tento me convencer que toda


essa distância não significa que fui mais uma. Mas não há nada que
comprove que realmente não fui.

Acabo de arrumar minha mesa no serviço e vejo todos arrumando


os papéis para a reunião. Separo minha matéria impressa e fico
encarando meu celular em cima da mesa. Pedro me mandou
algumas mensagens, mas desde segunda feira não tive coragem
nem vontade de ler o que ele anda me mandando. Ele vai esperar
até eu estar disposta a pelo menos perder meu tempo lendo algo que
ele escreveu.

— Pessoal! — Arthur fala na porta de sua sala. — Todos aqui.


Agora. Temos vinte minutos!

Solto um suspiro, e Gisele chega sorrindo perto de mim.

— O que foi? — Franzo minha testa e me levando para irmos


juntas até a sala do Arthur.

— Nada... Só acho meu marido muito sexy mandão assim.

— Argh! Para com isso. — Reviro meus olhos. — Eu tô deprê,


amiga, não precisa esfregar na minha cara seu marido sexy!
Ele solta uma risada alta e Arthur a olha. Acho lindo como apenas
pelo olhar já dá pra ver o que eles sentem um pelo outro. Passamos
por Arthur que pisca para ela e reviro os olhos de novo. Ah, o amor!

— Pessoal, sei que está em cima da hora, mas hoje meu dia foi
muito corrido. Preciso que me entreguem as matérias para eu
verificar tudo. Vai ser a primeira vez que o jornal vai se dedicar mais
ao site online, então eu preciso revisar junto com vocês para tudo ser
do jeito que queremos, ok?

— Sim, senhor capitão! — zombo e Arthur começa a esboçar um


sorriso mas então entra novamente no seu profissional.

— Ótimo, então vamos começar por você! — ele diz esticando a


mão me desafiando.

Assim que me levanto a porta é aberta. E quando me viro, me


deparo com Max entrando na sala.

— Foi mal o atraso! — ele diz fechando a porta atrás de si.

De repente a sala do Arthur fica sem ar. Eu acho que ele deveria
comprar um outro ar-condicionado. Minhas pernas tremem à medida
que Max atravessa a sala e se senta ao lado de Arthur do outro lado
da mesa. Ele está usando uma calça social e uma camisa verde
clara que faz seus olhos destacarem, um paletó bem moldado ao seu
corpo. Sua barba está bem feita e o cheiro da loção e seu perfume
fazem com que meu cérebro do nada pare de raciocinar. Ele estica a
cadeira e se senta, acomoda seu notebook em cima da mesa e o
liga.

— ... me entregar.

O clima está pesado. Meu coração bate tanto que acho que vou
desmaiar bem aqui. Engulo em seco e tento manter o foco, em
qualquer lugar que não seja Max mordendo seu lábio inferior.

— Rachel? — A voz de Arthur impaciente preenche a sala e


quebra qualquer encanto que eu me encontro. Levo um susto e
desvio meu olhar para ele, que olha para Max e depois para mim e
parece entender a situação, pois seu tom de voz se suaviza. — Pode
me entregar. — Ele continua com a mão esticada.

— Claro, Arthur, desculpe. — Pego os papéis na minha frente e


vou até ele, o entrego e quando olho para Max, vejo que está travado
naquela posição, seus olhos sobem por meu corpo, devagar, e assim
que ele encontra meus olhos, leva apenas um segundo para desviar
o olhar e dar atenção a seja lá o que está fazendo no notebook.

Volto para o meu lugar e ignoro alguns olhares. Arthur chama a


atenção de todos para a matéria e começa a lê-la em voz alta e fala
sobre o instagram que criei para colocar os textos, e como pretende
juntar os dois meios de comunicação em diferentes plataformas
digitais. Mas não o ouço e nem presto atenção em mais nada depois
que olho para Max novamente. Ele nem ao menos olhou pra mim.
Ele fez coisas erradas, fez eu me afastar, e depois se comporta
como se eu simplesmente não existisse.

Sinto a mão de Gisele segurando a minha por debaixo da mesa,


e apenas aperto sua mão. Em agradecimento, em apoio... Saber que
mesmo que eu esteja com um milhão de sensações, ela está
dizendo com esse gesto "Estou aqui por você".

A reunião demora mais do que o previsto. Arthur lê as matérias


de cada um, e debate com todos, e então começa a debater com
Max sobre como ficará o layout do site, em como ele quer a
diagramação das matérias e toda parte técnica que eu simplesmente
nem dei bola.

— Então é isso, pessoal. Estamos no caminho certo, fico muito


feliz e orgulhoso de cada um pelo esforço mesmo que ficassem
sobrecarregados. Prometo que as coisas vão melhorar e todos juntos
vamos alcançar esse objetivo, ok? — Ele se levanta e todos nos
levantamos também.

— Ah, e... Eu quero aproveitar antes de todos saírem para...


Amor, pode vir aqui por favor? — Arthur fala e Gi se aproxima dele.
— Amanhã como sabem vamos fazer um chá revelação do sexo do
nosso bebê lá em casa. Eu já andei falando com alguns de vocês,
mas como está tudo uma correria preferi deixar para depois da
reunião. Então será às sete horas mesmo, ok? Não deixem de ir e
principalmente não deixem de levar fraudas pelo amor de Deus! Não
quero ir a falência logo cedo!

O pessoal começa a rir e algumas pessoas vão até Gi para


abraçá-la.

— Estaremos lá seeeee tiver bebida grátis! — Guilherme fala.

— Faço uma mamadeira pra você, ô chorão! — Arthur zomba e


começamos a rir.

O pessoal começa a falar e discutir sobre a festa, e eu


simplesmente saio de fininho. Vou até minha mesa e pego meu
celular, e pego minhas coisas no meu armário. Bato meu ponto e
fecho a porta da sala. Visto meu casaco e vou até o elevador. Assim
que o chamo sinto todo meu corpo tremer quando vejo Max saindo
da sala de Arthur, ele olha para os lados, como se estivesse
procurando alguém, e assim que o elevador faz barulho ele olha na
minha direção. Ele solta um suspiro e começa a vir na minha direção.

Abre! Abre logo a porta! Vai, abre logo, qual é, por favor! Abre
logo! Como nos filmes, pra eu entrar e fechar a porta e não ter que
olhar pra ele! Por favor...

Vejo Max se aproximar de mim pelo canto do olho.

Só mais dois andares, elevador, abre logo!

Ouço seu suspiro, tão profundo que quero sair correndo, mas não
quero parecer fraca e machucada como estou. Não adianta! Ele
mentiu pra mim. Fingiu que eu era especial quando era mais uma na
lista dele. Max não vai me enganar de novo! Não vou ceder ou ser a
boba que acredita! Nada do que ele disser vai mudar o que
aconteceu.
— Linda? — ele sussurra. E isso acaba de vez com meu coração.
— Senti sua falta.

Fico calada. Tento não esboçar o quanto doeu ouvir isso. Sua voz
parece tão cansada, como se ele estivesse querendo se aproximar
mas sem saber como parar de mentir. Ou como me fazer acreditar
novamente nele.

— Qual é, meu bem... — Ele se aproxima de mim, não me movo.


Max encosta seu nariz nos meus cabelos e sinto ele inspirar meu
cheiro. — Me deixa explicar. Me deixa falar... Só... Só por favor, olha
para mim.

Dou um passo para frente assim que o elevador chega no nosso


andar. Max solta um suspiro derrotado e assim que as portas abrem,
eu entro lá dentro e cruzo meus braços.

Desce.

Assim que as portas começam a fechar, Max segura as portas as


impedindo e eu solto um suspiro.

Favor liberar as portas - a voz robótica do elevador diz.

— Rachel?

Olho na sua direção e sou sugada por seus olhos. Max está aflito,
exausto. Parece que não sabe o que dizer porque também não sabe
o motivo como eu.

— Rachel...

Favor liberar as portas.

— ... Não é o que você está pensando — ele diz.


— O quê? — Solto o ar que estou prendendo em meus pulmões.
— "Não Rachel, eu realmente não transei com a Vivian um dia antes
de riscar você da minha lista" — digo imitando a voz dele. — Ou
"Não Rachel, eu realmente não tentei te usar e depois sumir da sua
vida comprovando que você está certa". Ou até mesmo, melhor,
Max... "Não Rachel... NÃO É O QUE VOCÊ TÁ PENSANDO" —
explodo.

Max solta um suspiro e faz negação com a cabeça.

Favor liberar as portas.

— PORQUE REALMENTE NÃO É, CACETE! — Max grita. —


Você realmente acha que é mais uma na minha.... Ah, o que
mesmo? Uma lista imaginária idiota que você criou somente na sua
cabeça?

— Fatos, Max, realidade de quem você é — digo seca.

— Sabe qual é a realidade aqui? Eu te dar um tempo para você


colocar sua cabeça no lugar para você entender que você foi a
pessoa mais importante na minha vida em todos esses anos e que
do nada as coisas mudaram entre nós. E você nem ao menos me
deu a chance de explicar o quê... — ele para de falar.

Favor liberar as portas.

— O que o quê? — Aumento meu tom de voz. — Inventar uma


desculpa para seus encontros de sexo casual? Ou arrumar uma
explicação para gente ter feito aquela merda? Porque sinceramente
eu não sei o que tinha na cabeça quando transei com você.

Max se retrai, como se tivesse se machucado com as minhas


palavras, e me arrependo na mesma hora por dizê-las. Me
machucou ele ficar com a Vivian e não me contar, doeu ele ter ficado
comigo num lugar onde pretendia ficar com ela... Mas me arrepender
de ter ficado com ele? Por mais que me doa admitir porque me sinto
uma idiota, ficar com Max... Foi a decisão que meu coração mais
gritou que eu fizesse... Pela primeira vez na minha vida eu nunca
quis tanto alguém, e isso me assusta. Pela primeira vez eu permiti
que alguém chegasse tão perto. As lágrimas enchem meus olhos e
ele solta um suspiro fazendo um gesto afirmativo com a cabeça
encarando seus pés.

— O que fez a gente fazer aquela merda.... — ele repete e então


olha para mim. — Não sei sua desculpa... Mas para mim? Estava
tudo confuso se é o que quer saber, eu não estava pensando em
mais nada, Rachel. Te juro que parece que a porra toda das pessoas
e daquele lugar pareciam não existir. Só sei que eu estava
desesperado, e a gente estava lá, você parada me olhando e a gente
estava bem... Quer dizer, do nada, eu não conseguia desviar meus
olhos de você. Do nada eu me peguei de uma maneira que queria
me dar um murro por isso. E aí do nada as coisas não estavam mais
bem... Não até eu estar dentro de você.

Meu corpo se congela. Max me devora com os olhos. Sinto que


acabou todo o ar do elevador. Por que as coisas tem que ser assim
tão difíceis? Ele me pareceu tão... Louco por mim. Mas se fosse, por
que diabos ele procuraria a Viviam? Encaro meus próprios pés na
tentativa de acalmar meu coração. E uma lágrima desce por meu
rosto. Não sei o que dizer porque... Tudo parece errado, mas tudo
parecia certo quando o tinha em meus braços.

Desce.

Assim que ouço a voz robótica do elevador olho para frente e vejo
que Max entrou no elevador.

— Tá de brincadeira! — Reviro os olhos e fico de costas para ele.

— Vou só te fazer uma pergunta — Max diz e se aproxima de


mim, suas mãos agarram meus cotovelos, e sinto todo meu corpo se
arrepiar ao sentir seu toque, tão sutil e doce que parece que tenho
meu Max de volta, e não aquele cara que me machucou e que dá
vontade de brigar. Ele me vira de frente para ele e me encosta na
parede do elevador. Vejo sua mão subir até chegar perto do meu
rosto. Max ergue meu queixo e me faz olhar em seus olhos. Seu
polegar encosta na minha pele e eu estremeço pelo seu toque, noto
Maz franzir a testa, surpreso. Ou pelo menos pareceu surpreso. Ele
seca minha lágrima nas duas bochechas, e assim que volta a me
olhar, parece travar uma batalha dentro de si. — Se arrependeu? De
ficar comigo?

Engulo em seco.

A porta do elevador abre e duas pessoas entram. Max continua


olhando para mim e com a mão no meu rosto, ele desce e a
acomoda em meu pescoço, onde começa a traçar pequenos círculos
em minha pele. Tento não transparecer em como isso me afeta.

Me arrependi de ficar com ele? Me recordo do seu olhar me


devorando por inteira, suas mãos tocando cada centímetro do meu
corpo, sua boa sussurrando coisas em meu ouvido. Seu corpo se
encaixando perfeitamente no meu... Me arrependo? Seus lábios
provando a extensão do meu pescoço, descendo até meus seios.
Seus dentes mordendo meus lábios, que incham com a pressão que
ele depositou ali.

"Se essa não for a porra da batida perfeita... Então não sei de mais
nada". — me lembro dele dizer aquele dia.

Portaria.

As pessoas saem do elevador, e as portas novamente se fecham,


não consigo sair de onde estou.

Desce.

Max começa a se aproximar de mim, meio incerto, meio sorrindo.


— Você foi um idiota. — sussurro.

— Isso não é um sim. "Sim, Max, me arrependi".

— Aquilo não deveria ter acontecido, a gente pirou — resmungo.

— Isso ainda.... não é um sim.

E assim que ele olha para minha boca, eu travo e ele percebe
minha reação. Seus olhos buscam os meus e solto um suspiro.

— Você não admitiu que...

— Me arrependi — digo clara. — Eu realmente não queria ter


transado com você! — minto.

Garagem, subsolo.

Max paralisa. Vejo seu corpo ficar rígido ao ouvir minhas


palavras, como se elas pudessem o machucar. Tiro suas mãos de
mim e isso só faz com ele fique parecendo ainda mais desolado. Me
poupe!

Max se afasta, me dando liberdade para sair, e assim que


começo a sair, ele segura meu braço, coloca a mão na porta do
elevador, impedindo de fechar e se aproxima de mim por trás. Seu
braço livre circula minha cintura por trás, e meu coração dispara
quando ele me puxa e meu corpo vai desmanchando em direção ao
seu. Max se aproxima da minha orelha e travo completamente
quando sinto ele a mordiscar devagar, meu corpo estremece e se
arrepia no processo.

— Mentirosa — ele sussurra.

— No minuto em que nos beijamos eu já sabia que tinha


cometido um erro.
Max bufa e me aperta ainda mais contra seu corpo. Ah, se ele
soubesse o que estou sentindo agora... Não, para, Rachel! Deixa de
ser idiota.

— Se realmente não quiser transar comigo, seja mais clara da


próxima vez. Porque acho que posso ter confundido seus gemidos
com outra coisa... E acho que você me puxar, gritar meu nome e
pedir para eu não parar, não foram sinais muito claros para mim.

Max me solta e entra dentro do elevador. Me viro em sua direção


e olho com raiva em sua direção.

Sobe.

— Se arrepende? Mas tudo isso me deixa confuso quanto ao


que realmente quer.

E as portas se fecham.
Capítulo 30
A mesa está linda. Dividi em duas partes, uma parte cheio de
aviões de brinquedo, para o caso de ser um menino, e uma parte
cheio de unicórnios, se for uma menina. Enchi de vários balões com
os dois tons, e vários balões transparentes com glíter dentro.
Coloquei o bolo brando em cima da mesa e tinha um bebê em cima.
O bolo era branco com várias borboletas de açúcar rosas e azuis.

Estava tudo tão lindo, repleto de flores nas mesas dos


convidados. Ainda bem que o apartamento de Arthur é no último
andar, assim pude aproveitar a cobertura do apartamento onde eles
fizeram uma área de lazer.

— Sua roupa não me dá muitas pistas! — Ouço a voz de Arthur


ao meu lado e abro um sorriso. — Calça rosa e blusa azul? Sério?
Nem uma pistinha, assim, minúscula?

— Sem chances! — Dou um soco em seu ombro e começamos a


rir.

Vários convidados já chegaram, mas eu sempre estou recolhendo


as fraldas e presentes e colocando tudo na caixa que fiz. Pego o
próximo pacote e coloco uma etiqueta branco e escrevo o nome de
quem deu e coloco na caixa.

— Sabe o que seria legal? — Arthur chama minha atenção de


novo, me surpreendo por ele ainda está perto de mim, ele se
aproxima e se senta na beirada da caixa.

— Você pegar uma bebida escondido da Gi para mim?

Arthur solta uma risada alta e me dá um empurrão leve no ombro.

— Sem chance, ela confiscou todas as bebidas! Mesmo se eu


quisesse colocar vodka no refrigerante ela ia nos pegar! A coisa ia
ficar feia para o nosso lado.

— Ela tá preparando as pessoas para se acostumarem em não


ficar bêbadas perto do bebê. — Sorrio. — O que vai ser difícil, visto
que somos cachaceiros.

— Eu sou um santo — Arthur diz convencido e reviro meus olhos.


— Não sou que nem uns e outros que fazem competição com tequila
no encontrão do trabalho, não presto esse papel, sou aquele que dá
exemplo.

— Ah, ei! — Empurro Arthur pelos ombros. — Grande coisa,


papai de família! Fala isso, mas duvido me vencer bebendo tequila
que eu, ok? Primeiro copo ficaria dormindo no colo da Gi.
— Você que pensa — ele diz rindo e então olha para onde Gi
está, conversando com Amanda, que não sabe se presa atenção na
Gisele ou em Sofia, filha dela, que vem correndo na minha direção.

Ela se aproxima e abraça minha cintura.

— Posso roubar um brigadeiro, tia? — ela diz sorrindo.

— Sof! Não se pode fazer isso com o dono da festa do nosso


lado. Vem. — Estico minha mão. — A tia Rachel aqui vai te ensinar a
roubar escondido.

— Ei! — Arthur fala e começa a rir. — Por isso você é um


péssimo exemplo para as crianças.

— E o tio Arthur é certinho demais. — Me agacho no chão e fico


na mesma altura que ela. — Seu pai que é dos meus... Quer dizer,
era. Porque depois que você nasceu, Cadu está na sua cola
também... Moças como nós sorrimos, encantamos com nossa fofura
as pessoas, e disfarçadamente pegamos o brigadeiro por trás e
saímos correndo de perto da mesa. — Coloco um brigadeiro em sua
mão e ela sorri cúmplice pra mim.

— Aiaiai mocinha! — Arthur olha feio pra ela, e a puxa, faz


cócegas nela e eu sorrio o imaginando com sua filha. — Isso é
contrabando!

Sofia sorri e então Arthur a solta.

— Só estou encantando com a minha fofura — ela diz e sai


correndo de perto da gente.

— Essa é das minhas! — Estico minha mão e Arthur bate sua


mão na minha revirando os olhos. — A titia aqui é moderna, tá
pensando o quê?

Arthur sorri e então olha para Gisele, que se aproxima e entrega


uma coisa pra ele.
— Tudo certo. — Ela pisca pra ele e sorri para mim. Me abraça a
beija minha bochecha. — Tá tudo lindo, eu amo você!

— Também te amo.

Ela vai de novo até a Amanda e pega Sofia no colo.

— A Gi vai acabar cedendo depois da revelação. As bebidas —


Arthur diz, e então olha pra mim novamente e volta aquela mesma
expressão, preocupado. — Rach?

Olho em sua direção e estranho ver ele tão aflito, e assim que ele
suspira e ergue a sobrancelha já sei o que ele quer dizer.

— Sabe o que seria legal?

Pego uma embalagem de presente e coloco nome de quem deu,


e então começo a ajeitar a caixa. Arthur pega meu braço e me puxa
para perto dele.

— Não foge — ele diz.

— Não quero falar sobre isso — sussurro.

— Sabe o que seria legal? — ele pergunta novamente erguendo


as sobrancelhas.

Solto um suspiro e Arthur vê que eu não vou falar nada. Me


aproximo dele e me sento ao seu lado na beirada da caixa de
madeira dos presentes.

— O quê? — digo rendida.

— Os padrinhos do bebê se darem bem hoje. Não brigarem...

— Arthur...
— Não se magoarem. — Ele me segura quando tento levantar
me mantendo no lugar.

— É isso o que você pensa? Que eu que estou o magoando?

— Os dois estão — ele diz convicto.

— Ah, qual é, Arthur! — Reviro os olhos. — Desculpa ser


constrangedor comentar isso com você... Mas não foi você que
descobriu que foi usado e mentiram pra você. Não foi você que do
nada se sentiu como se uma coisa que até então parecia ser um
sonho... Do nada passou a ser só uma noite de sexo casual.

— Sei que se sentiu assim — ele fala. — Confia em mim pra uma
coisa?

— Que coisa?

— Chegou um momento na minha vida, em que eu vi que eu e a


Gi fomos extremamente idiotas. Eu duvidei da palavra dela, a
magoei. Ela se privou de mim também. Eu e ela vivíamos brigando,
não suportando ficar perto um do outro. E sabe o que eu aprendi
com isso tudo?

Fico em silêncio e Arthur estala os dedos chamando minha


atenção.

— Eu aprendi que às vezes, tudo o que temos que fazer é chegar


perto da pessoa e falar que está doendo. Falar que você está
machucada e caramba... Que sente falta dele. — As lágrimas
invadem meus olhos e Arthur sorri como se entendesse o que estou
sentindo. — Às vezes, complicamos tanto uma situação, que tudo o
que precisamos é saber ouvir. Sentar, ficar calmos, e só baixar um
pouco o orgulho e abrir o coração, ser sincera, sabe?

Limpo minhas lágrimas com o dorso da mão e solto um suspiro.


Arthur se aproxima de mim e passa seu braço por meus ombros e
me puxa para mais perto. Deito meu rosto em seu ombro e ouço ele
suspirar.
— Mas... Ele estava com a Vivian e isso machucou. E aquela
noite nem foi especial pra ele.

— Ele te disse isso... Ou você quem está fazendo suposições do


que acha e do que ouviu o primo dele dizer?

— Como sabe sobre isso?

— Homens também trocam ideia às vezes — ele fala e faz com


que eu erga meu rosto e olhe para ele. — Só deixa a gritaria de lado,
ouve o que ele tem a dizer... Se depois disso quiser gritar com ele e
dar um murro na cara dele, saiba que minhas mãos estão à
disposição, tenho uma super força para te defender.

Solto uma risadinha e ele se aproxima de mim e beija o topo da


minha cabeça.

— Promete pra mim que pelo menos vai tentar? — ele questiona
e se agacha na minha frente e segura minhas mãos.

— Dói, Arthur — sussurro.

— A dor faz parte da vida. Significa que se importa.

Solto um suspiro e concordo com a cabeça. Arthur sorri e


bagunça me cabelo ao se levantar.

— Essa é a Rachel que eu conheço.

Gisele chega perto da gente sorrindo e sei que ela sabe muito
bem o que Arthur veio me dizer assim que ela sussurra sem emitir
som, só mexendo a boca "Confia nele".

— Tá legal! Não adianta serem bonzinhos comigo, pombinhos.


Minha boca é um túmulo. — Sorrio.

— Ah, QUAL É! — Arthur resmunga e joga a cabeça pra trás. —


Tá demorando demais!
— Aprenda a confiar em mim também. — Sorrio e ele fecha a
cara.

— Vou te dar trabalho para ficar depois do expediente se não


revelar logo — Arthur ameaça.

— Não atiça a maldade dela! — Gisele reclama rindo.

— Ops... Vai ter que esperar então a quantidade de tempo das


minhas horas extras.

— Te dou um dia de folga — Arthur fala me chantageando.

— Tô começando a gostar disso... fale mais. — Paro e me viro


pra eles que começam a rir.

Assim que as risadas param e eles se olham, vejo tanto amor e


tanta esperança nos olhos deles que me assusto, meu coração se
aperta de tão feliz por eles que estou.

— Por favor? — Arthur sussurra, sem piadas ou zombação. — Eu


quero muito dar nome a outro grande amor da minha vida.

Gi começa a chorar e até eu sinto vontade, mas respiro fundo e


sorrio para os dois.

— PESSOAL, TÁ NA HORA! VAMOS COMEÇAR! — grito


rendida para a festa toda.

— Graças a Deus! — Arthur suspira aliviado e me entrega a


chave do quarto do bebê. — Prometo que não vi nada.

Pego as chaves assustada e faço negação com a cabeça.

— Você é bom em conseguir o que quer! Entendi o por quê! —


Gisele sorri e o beija.
Está finalmente na hora, começo a descer as escadas para
buscar o balão no quarto do bebê para fazer a revelação. A porta
que liga o apartamento até a cobertura, quando fecho noto que ela
está abafando as conversas e músicas de cima, e sorrio sozinha já
imaginando a cena da revelação.

Me aproximo do quarto e destranco a porta do quarto do bebê.

Quase tenho um ataque cardíaco ao ver um corpo enorme lá


dentro, braços fortes, costas largas... Sei bem de quem são essas
costas. Assim que ele se vira, aqueles dois pares de esmeraldas me
encaram, apreensivo, como se estivesse com medo que eu fosse
simplesmente desaparecer naquele instante, ou gritar e isso fazer
com que a gente se afaste ainda mais... Posso sentir tudo isso pela
sua postura, pelo modo que me olha...

Lembro de toda minha conversa agora a pouco com Arthur. De


tudo o que ele me disse... "Confia em mim pra uma coisa?" " Só
deixa a gritaria de lado, ouve o que ele tem a dizer." "Promete pra
mim que vai pelo menos tentar?".

— Será que agora podemos conversar com calma? — A voz de


Max sai tão rouca que estremeço.

Eu vou matar o Arthur!


Capítulo 31
Meu coração parece que vai sair para fora do meu peito. Meu
corpo se congela, e estremeço ao sentir o perfume de Max. Ter ele
por perto causa mais efeitos em mim, físicos e psicológicos, do que
eu sequer poderia prever ou algum dia imaginar sentir. Os barulhos
da música e das conversar da festa estão abafadas aqui dentro,
assim como o ar... Que, novamente, parece que parou de circular.

Aperto a maçaneta da porta com a mão escondida atrás das


minhas costas e ficamos nos olhando a todo o tempo. Max captura
qualquer mínimo movimento meu. Eu sei o que ele está fazendo.
Não dizer nada é uma forma dele me dar uma escolha. Posso
escolher ficar aqui e conversarmos ou posso ir lá para cima. Ele não
me forçaria a nada.

Por um lado; quero sair de perto de dele por estar tão machucada
e magoada. E por outro, que sente falta, que está doendo, quer que
eu simplesmente converse como dois adultos que somos.

Dou um passo para dentro do quarto, e fecho a porta atrás de


mim. Max nem disfarça o suspiro de alívio ao me ver aceitar seus
termos. Abraço meu próprio corpo assim que me viro para ficar de
frente a ele.

Um silêncio se instala entre nós. E isso só piora o que estou


sentindo. Meu corpo começa a tremer de tão nervosa que estou.
Ergo meus olhos para Max e noto que ele está me observando, seus
olhos estão intactos em mim, seu peito desce e sobe, e quando ele
coloca as mãos dentro do bolso de sua jaqueta de couro, me
pergunto se ele também está sentindo esses calafrios repentino.

— Você precisa começar a falar — digo baixo. — Não é por isso


que armou com o Arthur de me enganar só para me ter presa aqui
com você?

— Acha que eu te quero presa comigo? — Um sorriso surge em


seus lábios, e então ele o reprime. — Não quero te obrigar a nada.
Você é livre para fazer ou falar o que quiser, Rach. Se não quiser
estar aqui, pode sair também.

Inspiro o ar profundamente e então sinto minhas mãos


começarem a tremer.

Não saio, fico onde estou.

— Sabe o que estou pensando agora? — Max pergunta.

— Em que desculpa inventar para me enganar? — alfineto e Max


faz negação com a cabeça. — Ou o que fez para merecer essa
situação?
Max solta uma risadinha e parece relaxar um pouco.

— Em parte também — ele diz. — Vivo pensando no que fiz pra


merecer você.

— Bom, já que sempre quis se livrar de mim e dessa situação,


então...

— Qual é, Rachel! — Ele aumenta o tom de voz e eu me calo. —


Para com isso! Para de fazer suposições e entender somente o que
você quer. Não é assim que as coisas funcionam. Jamais pensei em
ter você na minha vida como um fardo... Pelo contrário. Você é tão
preciosa pra mim, que um cara como eu jamais mereceria sequer ser
tocado por você.

— Sem essa, Max! — Reviro os olhos. — Sem essas baboseiras.

Ele suspira e então concorda comigo. Dá um passo se


aproximando e estica suas duas mãos. Vejo seus dedos tremerem
enquanto o observo.

— Vamos primeiro vencer um passo — ele diz. — Não tenha


medo ou nojo de tocar em mim. Por favor.

Respiro fundo e vou hesitante em sua direção. Coloco minhas


mãos por cima das suas e assim que Max aperta suas mãos contra
as minhas, sinto todo meu corpo estremecer com o contato. Max me
puxa para mais perto, e mesmo resistindo, me pego andando em sua
direção. Max coloca minhas mãos em cima de seu peito, de seu
coração e ergue os olhos para mim.

— Vamos ser sinceros, ok? — ele pede e então clareia a


garganta. — Eu sinto sua falta.

Um arrepio percorre todo o meu corpo e um bolo se forma na


minha garganta. Ele disse isso tão sem rodeios, convicto.

Eu também sentia falta dele. Deus! Tanta falta!


— E o ponto mais importante que deve ser dito: eu não transei
com a Viviam, como você pensa.

— Estava demorando. — Reviro meus olhos e tento me afastar,


mas Max me segura no lugar me impedindo de me mover. — É sério,
me solta, Max!

— Não! Você vai ouvir! — ele fala.

— E foram fazer o quê? Brincar de casinha? Lanchar fora?


Tomar...

— Fui terminar com ela — ele fala e eu me calo.

— Vocês nunca tiveram nada sério para ser terminado.

— Mas ainda assim ela é mulher e merece respeito e


consideração — Max fala e solta um suspiro. — Mesmo que foi
apenas sexo o que tínhamos, Rachel... Desde que você nos pegou
aquela vez no meu apartamento depois da briga com o Pedro, eu
não fiquei com mais ninguém! E não estou falando só de não fazer
sexo, já que para você eu sou um animal! Eu tô falando que parece
que você ferrou com a minha cabeça!

— Ah, agora a culpa é minha? — O olho chocada. — Quer dizer


que a culpa é minha se do nada você não consegue mais se divertir
com o seu amigo lá embaixo, e com isso, perder todas as noites
divertidas?

— Para de entender errado tudo o que estou tentando explicar! —


Ele aumenta o tom de voz. — Eu não estou te culpando por perder
minhas noites... Estou dizendo que desde aquele dia eu não fico com
mais ninguém. Não porque as coisas não deram certo, ou porque
fizemos um acordo de mentira... Mas porque eu estava me culpando.

— Culpando pelo quê ?

— Por passar a te olhar. — ele fala e soa tão aliviado.


— Max...

— Você acha que eu estava tranquilo? Acha que estava nos


meus planos? Do nada eu queria te ajudar, e então me vi com
ciúmes do seu noivo. Rachel... Se você soubesse quantas vezes eu
imaginei você no lugar das mulheres que eu ficava. A quantidade de
vezes que eu tinha vontade de acabar com o Pedro por ele não te
dar valor! E aí aquele dia do encontro de vocês, eu quis ver a Vivian
porque eu sentia que depois do jantar com a sua família, você
finalmente ia deixar ele chegar tão perto... como só havia deixado eu
chegar. Imaginar você usando a porra daquele vestido com ele... Eu
ia te perder pra sempre.

Ele está dizendo o que acho que está? Max estava a fim de mim
antes dessa mentira? Enquanto eu ainda estava com o Pedro? Então
todos os elogios e olhares que eu via da parte dele, não era apenas
brincadeira porque tínhamos intimidade de amigos, mas porque ele
realmente estava me dando sinais?

Me lembro do dia do encontro, quando o chamei pra me ajudar


com o vestido, o jeito que ele me olhava, o arrepio que senti. As
coisas que ele falava.

"Veste aquele vestido vinho que usou no noivado da Gi. Tenho


certeza que ele irá aceitar ir até para o inferno com você."

"Iria te ver e falar "Na minha cama ou na sua?"

— Max...

As lembranças vão preenchendo minha cabeça, dando duplo


sentido a tudo que Max me falava.

"— Pelo amor de Deus! Pensei que fosse mais esperto e um de


nós ia se dar bem essa noite.

— E eu pensei que soubesse que você é mais importante pra


mim do que uma noite qualquer."
— E aí eu te ajudei, a gente teve aquele acordo maluco de
noivado.— Max continua falando. — E as coisas foram mudando.
Saíamos juntos, e eu passei a reparar em você. Comecei a te olhar
de um jeito que eu mesmo queria me dar um murro por isso... Se
você soubesse as coisas que passavam pela minha cabeça...

" — Você que pensa — ele disse aquele dia quando achou que
eu estava dormindo. — Eu morro de medo de perder você. "

— E aí tudo foi rolando — Max continua. — Ao mesmo tempo que


a gente se aproximava... Nos afastavamos porque você tinha medo.
Eu só não sabia se era medo de mim ou medo porque eu estava
confundindo tudo. Mas, seus olhos... Tinha um desejo que eu só
podia ser maluco se imaginasse que fosse pra mim.

Ele se aproxima e segura meus ombros e isso me trás de volta a


realidade.

— Me encontrei com a Vivian e disse para ela que não queria


mais vê-la. Que queria que ela encontrasse alguém legal que a
fizesse feliz, mas que esse cara não era eu.

— E como vou saber se está falando a verdade? — murmuro.

— Só tenho minha palavra, Rachel! E achei que ela valia de


alguma forma pra você.

Sinto uma facada em meu peito. Max está tão ferido, e agora que
percebi que não é raiva da situação, ou porque eu pensava que ele
estivesse com a Vivian. Ele está ferido por eu não confiar nele, por
eu achar que fui mais uma. E então entendo Arthur ao dizer que eu
também o estou magoando. Fiz Max se sentir como se nada do que
ele dissesse fosse verdade.

— E vale, Max! — sussurro. — Eu confio em você. Sabe disso,


não sabe?
— Então sabe como me machucou jogando na minha cara o cara
sujo que sou por só estar interessado em transar com você?

Um bolo cresce na minha garganta, e eu tenho vontade de me


dar um murro. Jamais pensei que agindo assim, iria fazer com que
ele se sentisse como um cara que usa as pessoas... Principalmente
em relação a mim.

— Max...

— Sabe como me machucou ver nos seus olhos como se eu


fosse o tipo de cara que usa alguém? Cacete, Rachel! Que porra de
pessoa eu seria se te tratasse dessa forma? Eu realmente te tratei
assim?

— Você me machucou! Tudo bem que não tenha ficado com ela...
Mas, aquele quarto...

— Não posso mudar as coisas que fiz, Rachel! Mas aí por causa
de um quarto, você achou que eu sou capaz de me aproveitar de
você? Tem noção do merda que eu me senti? — ele diz alto.

As lágrimas invadem meus olhos e Max suspira fundo e diminui o


tom de voz.

— Ver seu olhar de desprezo, como se eu tivesse feito tudo a


força com você... Você fugiu de mim como se estivesse com nojo.
Tem noção de como isso acabou comigo?

— Ah, Max... — Me aproximo ele e o puxo pra mim. Max esconde


o rosto em meu pescoço e começo a chorar. Sinto suas mãos
ficarem rígidas em minha cintura e então me afasto e olho em seus
olhos.

— Olha pra mim, Rachel! — Ele se afasta de mim e ele abre os


braços. — Eu posso não ser perfeito, posso ser um galinha, mas
jamais pensei que você pensasse isso sobre mim. Me conhecendo a
o quê? Sei lá quantos anos?” — Suas mãos caem ao redor de seu
corpo.
— É óbvio que não penso, Max!

— Do nada eu me senti a porra de um homem das cavernas por


ter você nos meus braços. Eu me permiti não me recriminar por te
olhar daquele jeito... Por te querer pra mim. Do nada eu me senti
completo, até aquela confusão toda e então você sentir nojo de mim,
Rachel!

As lágrimas escorrem por meus olhos.

— Posso não ser perfeito. Posso ser um inútil. Posso ter pisado
feio na bola com você por ter ficado naquele lugar, ou esconder que
encontrei com a Vivi. Mas você nunca foi qualquer uma pra mim.
Nunca foi mais uma. Nunca faria algo sem você concordar, eu nunca
tocaria em você se não tivesse realmente a fim, eu só...

— Shii! — Me aproximo dele e o calo com a mão. — Agora sou


eu quem vai falar.

Max tenta não parecer abalado com as coisas que disse, mas
agora quem está se sentindo um lixo sou eu.

— Eu conheço você. Nunca tive nojo de você. Nunca duvidei da


sua índole, Max! O que eu tô puta é porque ficamos num lugar que
era um abatedouro pra você e eu pensei que tivesse ficado com a
Vivian.

— Eu já disse que eu...

— Eu sei, mas eu não sabia! Pensei que você tinha sentimentos


por mim, e depois vi que não tinha, já que tinha se encontrado com
ela... E... Eu...

— Você sabe que eu sinto algo, Rachel. Nunca tocaria em você,


nem me entregaria daquela fora se não sentisse.

— Eu também sinto — sussurro.


Max ergue os olhos pra mim. Sinto uma conexão diferente passar
por nós como uma corrente elétrica. Espera! Realmente acabamos
de nos declarar?!

— Eu só queria que fosse especial, e não num lugar sujo com


memórias pra você.

— Acha que eu lembrei de outras coisas lá? Rachel! Não importa


o lugar, só me importava você! E foi você que me levou para aquele
quarto!

Esboço um sorriso e Max franze a testa pra mim.

— Pra ser sincero, me sinto usado também.

— Quanto a isso... — Me aproximo dele e beijo sua testa. —


Nunca tive medo ou nojo de você, não se sinta assim, por favor.
Essa situação me deixou com medo, e confusa, e eu fiquei
apavorada com o que senti por você e acabei te afastando de mim.
Estava enxergando uma situação com base nas minhas suposições
e no que o momento deu a entender. Jamais quis que sentisse como
se eu não quisesse.

— Você disse que se arrependeu no elevador. Embora eu não...

— E você não acreditou — digo baixinho. — E não deveria.

Ele solta um suspiro e dá um passo em minha direção e coloca


sua mão em meu pescoço, a entrelaçando em meus cabelos, e a
outra ele circula minha cintura e me puxa para mais perto.

— Desculpa te machucar te fazendo pensar que era qualquer


uma pra mim. Desculpa por ter feito você pensar que aquilo não era
especial, e que tenha achado que eu estava com a Vivian. Juro que
eu sinto muito por ter te machucado, mas não foi minha intenção.
Como eu ia prever que realmente e gente ia transar aquele dia e que
do nada as coisas ficariam daquele jeito?

— Tudo bem — sussurro. — E desculpa por ter se sentido assim.


Max fica em silêncio assim como eu. Só ouço nossas
respirações, irregulares naquele quarto. O polegar de Max começa a
traçar círculos em minha cintura e sinto minha pele de arrepiar. Ergo
meus olhos e assim que encontro os de Max, travo ainda mais, o que
vejo em seus olhos me queima por dentro. É tanto amor e desejo,
tanto medo e hesitação, tantas certezas e dúvidas...

— Um beijo por seus pensamentos — Max se aproxima e


sussurra em meu ouvido.

Começo a respirar apressada.

— Eu... É... Não sei o que pensar, tudo se apagou.

Sinto Max descer seu rosto, seus dentes mordiscam minha orelha
e coloco minhas mãos em seus ombros para me apoiar. Sua boca
desce por meu pescoço, e sinto Max começar a me beijar ali, bem
nos pontos sensíveis. Aperto meus dedos em sua pele e solto um
gemido quando sinto sua língua se deliciar na pele do meu pescoço.

— Max...

Ele segue trilhando beijos até minha garganta, e começa a dar


leves mordidas, ele vai descendo, distribuindo beijos, suas mãos
descem por minhas costas e ele me puxa para mais perto. Parece
que meu corpo vai entrar em combustão. Assim que ele desce e
beija meu seio esquerdo, pego sua cabeça e o puxo pra mim. Ele
sabe o que quero, e vem na mesma hora. Sua boca se choca contra
a minha, e solto o ar que nem percebi que estava prendendo. Sua
língua entra em minha boca me tirando literalmente desse planeta.

É como se eu estivesse no escuro e Max fosse minha estrela luz.


E diante desta luz, é impossível não desejar orbitar ao seu redor.

As mãos de Max descem até meu bumbum e ele me aperta e me


ergue do chão, me levantando, prendo minhas pernas ao redor de
sua cintura e começo a sorrir. Max para de me beijar e se afasta
franzindo a testa.
— Que foi?

— Gosto de estar no seu colo — sussurro me aproximando e


beijo seu pescoço, o cheio de Max parece fazer parte de mim.
Mordisco sua orelha assim como ele faz comigo, e Max solta um
gemido rouco. Suas mãos me apertam.

— Só porque é baixinha e isso te dá uma superioridade? — ele


brinca.

— Ah, ei! — Me afasto e coloco minhas mãos em seus ombros.

Ele está com aquele sorriso debochado nos lábios, mas que
rapidamente passa quando olha novamente para a minha boca.

— Gosto porque me sinto protegida... Desejada... Mais perto de


você.

Max caminha para trás e nossas bocas se encontram novamente.


Nossas línguas dançam, provocam e seduzem uma a outra. Sinto o
trocador de fraudas atrás de mim e Max me senta em cima. Puxa
minhas pernas para mais perto e esmaga seu corpo contra o meu.
Suas mãos me seguram tão firmes, como se ele tivesse medo que
eu me afaste novamente. Minha respiração se acelera e tenho
certeza que vou morrer do coração.

— Você me enlouquece, Rachel! — ele murmura assim que para


de me beijar. Seus olhos se focam nos meus e Max encosta sua
testa na minha.

— Te enlouqueço como? — sussurro.

Ele abre um sorriso e sinto suas mãos de acomodarem em meu


quadril. Max morde seu lábio inferior e se aproxima de mim, beija
meu pescoço e sua língua faz coisas deliciosas ali. Suas mãos
descem por minhas coxas, e então começam a subir... Sinto a mão
de Max se prender no botão da minha calça, o desabotoando. Seus
beijos descem pela minha garganta, o topo dos meus seios, ele
levanta minha blusa e mordisca minha barriga e solto um gemido ao
sentir ele descer.

— Vou te mostrar como — ele sussurra e desce o zíper da minha


calça.

Coloco meus braços escorados na cômoda, para me dar apoio, e


esmago um ursinho com minha mão, que de repente começa a fazer
sons de beijos e dizer "I love you". Max solta uma risada e eu me
retraio assustada e então, minha ficha cai.

— MAX! A GENTE TÁ NO QUARTO DE UM BEBÊ!

— Grande coisa... Vem cá. — Ele estica meus pulsos para cima,
e segura minha blusa e assim que começa a levantá-la, abaixo os
braços e Max geme de frustração. — Droga, você estava começando
a entrar no clima.

— Estão me esperando para fazer a revelação! — Começo a rir.

— Desse jeito vou pensar que é uma desculpa para se livrar de


mim.

Olho em seus olhos e não vejo brincadeira, ele realmente está


com medo que eu escape? Abro um sorriso e passo minhas mãos
por dentro de sua blusa, o arranho de leve e Max morde os lábios
para reprimir um gemido. Fico satisfeita ao ver meu efeito sobre ele.
Retiro minhas mãos e o abraço pelo pescoço e circulo sua cintura
com minhas pernas.

Max entende e me pega em seu colo e me tira de onde estou, ele


caminha comigo e quando solta suas mãos eu firmo minhas pernas
em sua cintura e não saio de seu colo. Ele sorri e deito minha cabeça
em seu ombro e beijo seu pescoço.

— Quando chegarmos em casa, irei te mostrar o quanto não


quero me livrar de você, a noite toda. — sussurro e então desço
minhas pernas vagarosamente por seu corpo e Max prende a
respiração. Assim que encosto os pés no chão ele segura minha
cintura me impedindo de me afastar.

— Isso é um aviso ou ameaça? — ele pergunta com aquela voz


rouca que eu amo.

— Um pouco dos dois. — Sorrio e vou até o balão preto


amarrado no berço, e o solto e então seguro para ele não ir para o
teto voando.

— Vamos contar pra eles a pestinha que os aguarda? — sussurro


esticando minha mão.

Max abre a boca surpreso e me aproximo rindo e tampo sua boca


com minha mão.

— É uma menina! — ele diz tão baixinho que mal escuto.

Apenas concordo com a cabeça.

— Sim, mas cala a boca porque vamos revelar ainda.

— Não acha que tem maneiras mais divertidas de me fazer calar


a boca? — ele me pergunta aproveitando a situação para me segurar
e me puxar para mais perto. Sua boca se aproxima da minha e ele
mordisca meu lábio inferior.

— Até tem... Mas...

— Covarde! — ele diz ameaçador erguendo a sobrancelha. —


Posso calar minha boca onde você quiser.

— Não provoca, Max! — O empurro gentilmente e o faço me


soltar. Caminho até a porta e a abro. — Vamos?

Max se aproxima de mim e segura minha mão, entrelaça seus


dedos aos meus e eleva minha mão até os lábios, beijando-a.

— Agora sim, vamos.


Assim que Max e eu chegamos no térreo, onde está acontecendo
a festa, Gi e Arthur já começam a sorrir, como se estivessem
satisfeitos pelo plano deles terem funcionado. O que me surpreende
é que eles já sabiam que iria dar certo. Ambos sabiam que Max
estava decepcionado comigo e eu magoada com ele. Eles sabiam
que precisávamos conversar, quebrar esse muro que construímos no
lugar do coração e deixar o orgulho de lado. E de alguma forma eles
também sabiam que eu não iria conversar por vontade própria.
Me lembro de algo que Arthur me falou e que, realmente, tenho
que aprender a ser assim: Saber sentir e conversar e às vezes
admitir estar com saudades. É simples resolver uma situação, basta
baixar a guarda, pedir desculpas e dizer o que sente.

Minha relação com Pedro nunca foi das mais fortes, percebo isso
porque nunca tive ciúmes, ou raiva e vontade de perder ao mesmo
tempo. Foi uma relação de convivência. Acabou que acostumamos
um com o outro. Não tinha mais aquele fogo que pensei que tivesse.

E Max, mesmo chamando minha atenção desde que o conheço,


ele chama a atenção de qualquer pessoa que passe perto dele. Mas
nunca pensei que isso pudesse ser algo relacionado ao amor. E por
incrível que pareça, Gi estava certa quando disse que quando eu
conhecesse o amor como Max, entenderia o que ela estava dizendo.

— Vocês armaram pra mim. — Me aproximo deles e Arthur sorri.

— Bom, de nada! Deu certo — ele diz..

Desvio meu olhar pra Gi e me aproximo dela e a abraço. Max


solta sua mão da minha e retira os balões para eu poder abraçá-la
direito.

— Agora acho que estou entendendo aquilo que disse do amor —


sussurro.

— Está dizendo que o ama?

Sinto cada parte do meu corpo de congelar. Eu amo Max...


Sempre amei. Mas isso nunca foi no sentido literal da palavra, de
amor carnal, de almas, de não imaginar vivendo sem.

— Eu... Eu ainda não sei.

— Quando estiver pronta pra dizer, estarei pronta pra ouvir.

Me afasto dela sorrindo e solto um suspiro.


— E quero saber de tudo depois, de vocês dois — ela exige.

Max se aproxima por trás de mim, um de seus braços circulam


minha cintura, e ele coloca seu rosto na curva do meu pescoço e
levanta o braço dos balões.

— Isso está me lembrando outra comemoração!

Gi sorri e bate palmas, e assim que eu vou pegar os balões, Max


me impede.

— Seria legal os padrinhos segurarem, enquanto os pais


estouram.

— Amei! — Gi sorri e segura na mão de Arthur.

Vamos até perto da mesa do bolo, e Mand se aproxima com dois


celulares em suas mãos pronta para filmar qualquer passo que
dermos. Seguro a fita do balão e Max coloca sua mão por cima da
minha, esticamos nossos braços, e Arthur e Gisele se posicionam
um de cada lado do balão, com palitinhos de dente em suas mãos.
Miguel está abraçado com a perna de Arthur, tentando entender a
situação.

Meu coração se acelera com a ansiedade e todos começam a


contagem regressiva.

2
Os dois apertam os palitos no balão com força e eu solto um grito
com o barulho, até que inúmeros papéis cor de rosa preenchem o
lugar, voam para cima, ficam presos no cabelo, e todas as pessoas
que vieram de rosa vibram correndo até Gi e Arthur, que se abraçam
meio rindo, meio chorando, e sinto uma lágrima escorrer por minha
bochecha. Finalmente o amor deles ganhou um nome: Emanuelle. E
vibro de felicidade por eles, por esta família, por poder fazer parte
disso, deles. Max me abraça por trás e beija minha bochecha.

— Sabe, eu até que tô feliz em saber que teremos uma pestinha


a mais pra nos irritar. — Ele começa a rir e me viro pra ele sem
entender. — Amo o Miguel e a Sofia mesmo detestando criança, mas
acho que ser padrinhos da Manu terá uma relação mais forte, mais
próxima da gente, sabe?

— Essa é a intenção. — Sorrio. — É um significado forte ser


padrinhos de batismo, Max.

— Eu sei, é que é a primeira vez que isso acontece comigo.

— Comigo também! — Me viro pra ele e abraço seu pescoço. —


Serei uma ótima dindinha, e você também!

Ele sorri e seus braços me puxam para mais perto, sua boca se
aproxima da minha e ele a beija vagarosamente. Me arrepio só de
sentir os lábios dele contra os meus.

— E sabe o que eu acho? — ele diz entre beijos.

— Hum?

— Que podíamos dar uma fugidinha mais cedo da festa.

Começo a sorrir e reviro os olhos.

— Ah, qual é. Estamos longe um do outro tem um tempão, tô com


saudades de você. De poder ir pra minha casa ou a sua, e poder
conversar, só contar coisas bobas.
— Sei... Tá pensando em sacanagem.

— Não. — Ele começa a rir e eu arqueio minha sobrancelha


duvidando. — Bom, também — ele admite rindo e eu sorrio. Max
coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e beija
minha boca de novo. — Mas eu tô sentindo falta até de ficar ouvindo
você reclamar de tudo o tempo todo. De me contar coisas do
trabalho, histórias do passado, de poder te abraçar e beijar sem me
preocupar com nada... É disso que estou sentindo falta.

— Ah, Max. — Abraço sua cintura e beijo seu peito, bem em cima
do seu coração. — Eu prometo que fugiremos, mas só depois de
partir o bolo, é de chocolate e foi a Dona Marta quem fez! Max sorri e
arregala os olhos.

— A Dona Marta? O bolo é da Dona Marta? Porra, concordo


plenamente, não perco o bolo dela! Podíamos roubar um pote da
casa da Gi e levar um pedação lá pra casa.

— Não esperava menos de você — digo rindo e pego sua mão.


— Mas antes, vamos lá dar um abraço neles!

Gi parece um tsunami. Tá com o rosto todo molhado e com


papeis cor de rosa preso na pele por causa das lágrimas. Começo a
rir e me aproximo dela a abraçando com força.

— Obrigada por tudo — ela sussurra. — Te amo muito.

— Eu que te amo. — Me afasto um pouco e limpo seu rosto da


melhor maneira que posso. — O doutor me deu a notícia dizendo
que todo time de futebol precisa de uma líder de torcida.

Gi começa a rir e Arthur se aproxima da gente com Max. Me


aproximo dele e o abraço, vendo que está emocionado também. E
depois ele abraça a Gi por trás.

— Até agora estou sem acreditar — ele fala. — Mal descobri que
é ela e já tô pensando nos namoradinhos.
Solto uma gargalhada e dou um soquinho em seu ombro.

— Tá vendo? Imagina na hora que ela começar a sair sozinha


com ele.

— Para, Rach, é sério! — ele diz apavorado.

Sofia se aproxima da gente e abraça minha cintura.

— Tia Rach, eu quero bolo!

— Adoro criança! — Max fala sorrindo e olho pra ele que pisca
pra mim e puxa Sofia pela cintura e a pega em seu colo. — Vamos
agora resolver esse problema!

— Eu quero o primeiro pedaço, e o mais grande de todos, tio


Max! — ela fala circulando suas mãozinhas no pescoço dele.

— Bate aqui. — Max ergue a mão e ela dá uma batidinha na mão


dele. — Você é das minhas!

Ele se vira pra mim sorrindo e Sofia me olha com aquela cara
piedosa.

— Ah, ei! Isso é chantagem de ambas as partes

— Por favor, Tia Rach. Não está vendo que ela tá doida pra
comer bolo o mais rápido possível, não? Tenha misericórdia!

— Sei! Ela, né! — Sorrio e Sofia olha pra gente sem entender. —
Tá bom, Sof! Vamos lá embaixo pegar os pratinhos e a faca pra
partirmos o bolo!

— OBA! — ela comemora e Max a coloca no chão, ela segura


minha mão e já começa a me puxar.

— Ei, não esquece a vasilha! — Max grita e eu apenas sorrio e


deixo Sofia me levar, já que estou tão zen que pareço pisar nas
nuvens.
Capítulo 32
Max é extremamente sexy enquanto dirigi. Sua expressão
concentrada no caminho a frente, a tensão dos seus bíceps ao fazer
curvas em rotatórias, ele agarra o volante de uma forma forte, que
me faz sentir vontade de ser o volante. Isso sem falar dos seus
músculos que ficam rígidos quando ele troca a marcha do carro. Max
é tenso de qualquer jeito. Todos os seus movimentos são rápidos,
decididos, e ele gosta de saber exatamente o que está fazendo.

Observo seu corpo, cada minúsculo centímetro de sua pele, e


não evito um suspiro. Seu maxilar marcado por aquela barba bem
feita. Um sorriso surge em sua boca, que está vermelha por causa
do nosso beijo antes de entrar no carro. Ele morde os lábios
inferiores assim que o sinal fica verde, e ele volta a se concentrar na
direção. Encosto no banco do carro e solto um suspiro.

Onde eu poderia imaginar que um cara assim seria só meu?


Onde eu poderia imaginar que um dia estaria olhando pra ele dessa
forma? E, pior: como eu fui tão cega em todos esses anos? Não no
sentido de ver que algo a mais rolava entre a gente... Mas cega por
não ver ele por completo. Não como melhor amigo, mas como
homem.

— Se continuar me olhando assim, eu juro que paro a porra


desse carro e te ensino a se comportar, linda — ele diz sem sequer
me olhar.

Me viro rapidamente sorrindo, parando de olhar pra ele como se


fosse uma caixa de bombom... E que delícia de bombom! Olho para
a rua a nossa frente e me imagino Max parando o carro para me
ensinar a me comportar.

— Também não precisa ficar encarando a rua e nem ficar


ruborizada desse jeito. — Ele começa a rir.— Aliás, por que tá
vermelha desse jeito?

— Porque... eu estava me questionando sobre algumas coisas.

— Que coisas?

— Do tipo: como eu fui burra por nunca ter notado você — digo
baixinho e Max desvia os olhos pra mim apenas por um segundo e
sorri, e depois volta a olhar para a rua. — E... — Me aproximo um
pouco dele e acaricio seu rosto e depois passo a mão por seus
cabelos. — No quanto você é uma tentação enquanto dirige. Faz
com que ferre meus pensamentos e fantasie coisas.

Max abre um sorriso e faz negação com a cabeça.


— Que foi? O Arthur contrabandeou bebida escondido da Gi pra
você? Você nunca falou assim antes — ele diz e assim que para no
sinal olha pra mim, enquanto encosta no banco e deita a cabeça por
cima do meu braço, me impedindo de continuar acariciando seus
cabelos.

— Nunca falei assim porque nunca estivemos nessa situação. Tá


tudo bem pra você, né?

— Claro que sim, linda — ele fala. — É que isso nunca aconteceu
comigo antes.

— O quê? As mulheres dizerem que é lindo e não parar de te


olhar? Conta outra!

Max sorri e se ajeita no assento, o sinal abre e ele dá a partida no


carro.

— Não — ele sussurra. — Já aconteceu, mas... É a primeira vez


que eu acredito que é real. Que é puro e sincero e... Que tem algo
além disso, entende?

Sorrio e me aproximo dele e beijo sua bochecha.

— Eu sei. É novidade algumas coisas pra mim também —


confesso.

O silêncio se instala entre nós e eu sorrio e me viro novamente


para continuar olhando pra ele. Noto que ele fica incomodado ao
sentir meu olhar. É a primeira vez que o vejo assim, sem graça.
Intimidado porque sente que é real, que estou aqui. Que eu
realmente sou louca por cada pedaço dele, por dentro e por fora.

Mas ao mesmo tempo, ele tem medo de acreditar, assim como


eu. Medo de acreditar e tudo desaparecer.

Me viro para ele e mordo meus lábios. Max é o homem mais lindo
desse mundo. Tudo o que eu quero é tocar ele sempre e nunca mais
parar. Sendo assim, solto meu cinto de segurança assim que o
próximo sinal se fecha e me aproximo dele. Inclino em sua direção e
beijo seu pescoço. Max sobe um ombro meio que me impedindo e
sorri. Me aproximo devagar e acaricio seus cabelos, ele me olha pelo
canto do olho e sorri de lado e pisca pra mim, sorrio e beijo
novamente seu pescoço e subo devagar, mordo levemente sua
orelha e Max se contorce tentando se afastar antes do sinal abrir e
ele me empurra gentilmente.

— Rach, por favor, volta para o seu lugar — ele diz com a voz
rouca.

E isso só me incentiva ainda mais a continuar. Sua voz tem um


super poder de me arrepiar, de tocar lá no fundo, me seduz.
Enquanto ele dirige, eu apenas não tiro minhas mãos dele, acaricio
seu rosto, seu ombro... Deslizo uma mão por seu peito e a desço
desenhando pequenos círculos por todo seu abdômen, noto Max
prendendo a respiração, e gosto desse controle que tenho sobre ele
agora.

— Rach, por favor — sussurra sem fôlego.

Assim que chegamos na rua de sua casa, Max já aperta o botão


para abrir o portão da garagem, assim que passamos ele começa a ir
em direção a sua vaga no estacionamento do prédio. Me aproximo
devagar e me aproximo de sua orelha, onde mordo levemente e Max
se estremece quando sente minha respiração em sua pele. Desço
mais um pouco minha mão assim que o sinto parar o carro, meus
dedos se prendem nos botões de sua calça jeans. Max se remexe
ainda mais tentando me empurrar com o braço.

— Tira à mão daí,sua maluca. Eu bato esse carro e pode se


machucar! — ele diz sério. Mas noto o desejo em seu olhar.

— Tenta se concentrar então. Me deixa continuar.

— Porra, Rachel! — ele diz.

Desabotoo sua calça e Max começa a respirar ofegante.


— Para com isso — sussurra apertando o volante e assim que
para o carro, ele puxa o freio de mão e vejo seu corpo ficar rígido.

— Fica quieto, Max! – sussurro tentando fazer ele parar de se


remexer.

Ele tira a mão do volante e tira minha mão do zíper de sua calça,
encosta a cabeça no banco e me olha sorrindo.

Sorrio ao ver que ele continua com a mão lá, tapando tudo,
impossibilitando minha aproximação.

— Quer dizer que quer fazer esse joguinho, é?

— Que joguinho?

— Onde eu tenho que obedecer tudo o que fizer... — Ele se


aproxima de mim, sua mão joga meu cabelo para trás e inclino meu
rosto para dar acesso ao meu pescoço, onde Max vai de bom grado,
beija minha pele e me arrepia ainda mais. — Tenho que aceitar tudo
o que fizer sem ter a chance de revidar? — Sua língua passa por
minha pele e ele mordisca minha orelha e sorri contra minha pele. —
Sem que eu possa pagar na mesma moeda?

A mão de Max se acomoda na minha coxa e ele acaricia minha


pele devagar. Finjo ser arrebatada por ele... Não que não estivesse,
mas ainda tenho consciência do que quero. Me aproximo dele e Max
segura meu rosto com suas mãos. Sua boca se aproxima da minha,
mas ele raspa levemente sua boca contra a minha, na tentativa de
me provocar. Ele mordisca meu lábio, e quando me abro para o beijo
assim como ele, ele se afasta devagar sorrindo. Em uma série de
tortura.

Desço minhas mãos por seu corpo até chegar no zíper e o abro
devagar. Ele sorri e segura minhas mãos rapidamente, posso ver o
quão no limite ele já está. E eu reprimo um sorriso ao saber que eu
fui quem o fez ficar assim. Max me empurra para trás, e vejo ele
usando uma cueca boxer preta. Max solta um suspiro, e me encara
sorrindo.
— Meu bem, para com isso – diz. — Não sei o que eu fiz para
você querer fazer isso aqui, mas, por favor, Rach...

— Me deixa continuar — sussurro, e o sorriso dele aumenta


ainda mais.

— Não vou deixar! — fala. — Já basta ter me deixado assim. —


Aponta para baixo, para sua ereção. — Eu não perco o controle
assim tão fácil. É humilhante.

Reviro os olhos e me sento de lado no banco. Max se remexe e


fecha o zíper de sua calça, fecha os botões, abaixa sua camisa me
tirando daquela visão sensacional. Ele se vira na minha direção e
morde os lábios.

— Sabe o que eu estou pensando? — sussurro.

— Que o Arthur te deu a bebida mais forte de todas?

Empurro seus ombros e sorrimos.

— Para, estou falando sério! — Ele para de rir e apenas fica com
aquele sorriso de canto de boca.

— Fala.

— Que você não tá muito acostumado com esse lance de


romance.

Max revira os olhos e eu me aproximo dele, subo no seu colo


devagar e ele me acomoda entre ele e o volante. E fica com as mãos
na minha cintura.

— Bom... Digamos que não existiu ninguém que eu sentisse isso


que sinto por você.

Ele acaricia meu rosto e depois coloca uma mecha do meu


cabelo atrás da minha orelha.
— Chega até a ser bizarro — ele diz. — Hoje eu tava com medo
do que ia acontecer lá na casa da Gi. Não sabia se iríamos ficar
bem, ou se iríamos brigar, ou se iria me ignorar... Ou... Se isso
acontecesse, eu iria te perder. Ia te mandar pra longe.

— Desculpa por ter feito você se sentir daquele jeito aquele dia —
sussurro e coloco minhas mãos ao redor de seu pescoço.

— E desculpa por ter deixado você tirar outras conclusões e não


ter te procurado pra explicar a verdade no mesmo dia — ele diz e se
aproxima de mim e beija minha boca. — Pra falar a verdade, esse
lance de romance é até bom.

— Ah, é? — pergunto distraída enquanto ele se aproxima e


começa a beijar meu pescoço.

— Você é a pessoa que eu nunca menti, que sabe todos os meus


segredos. Que me conhece e me corrige quando estou errado.— ele
diz e me afasto um pouco para ouvir. — É maluco ter você aqui no
meu colo, até te beijar é como se não fosse real. Como se eu fosse
acordar qualquer hora e você vai ter sumido entende?

— Ei. — Entrelaço meus dedos em seus cabelos e beijo sua


testa. — Eu não vou a lugar nenhum. Até parece que sou louca ao
ponto de te deixar escapar.

Sorrimos e ele morde os lábios.

— Nunca tive experiência, Rachel, com esse lance aí de


casalzinho. Por isso tenho medo de fazer uma idiotice e acabar
ferrando a melhor coisa da minha vida — segura meu queixo e me
faz olhar para ele. — O que eu fiz para merecer você?

Entendo quais são suas dúvidas, e me aproximo devagar.

Beijo sua testa para abafar os pensamentos.

Beijo suas pálpebras para afastar o medo.


Beijo suas bochechas para lhe mostrar que estou aqui, inteira,
pra ele.

Beijo seus lábios com força e sorrio deixando a pergunta no ar


por um tempo.

— O que você fez? — repito e Max abre os olhos, me encara


esperando uma resposta.

Toco meu nariz com o dele levemente, e depois pego sua mão e
entrelaço meus dedos aos seus. Espero ele olhar nos meus olhos.

— Você fez eu me apaixonar por você, Max — sussurro


colocando para fora a maior verdade que já senti.

E enfim, meu coração concorda que encontrou a batida perfeita


que estava faltando.
Max está um pouco mais calado que o normal desde que saímos
do carro e chegamos no apartamento. Ele vai até a cozinha e pega
um copo de água pra beber, e eu verifico no meu celular as novas
mensagens. E para minha surpresa, o nome de Pedro está lá, com
oito mensagens novas não lidas. Solto um suspiro e apenas apago
as mensagens, e faço algo que já deveria ter feito há muito tempo.
Bloqueio ele, para que não consiga mais me mandar mensagens,
pelo menos pelo Whatsapp.

Me sento no sofá e coloco meu celular em cima da mesinha na


sala. Passo a mão por meus cabelos e ajeito as ondas que fiz. Max
se aproxima de mim, deita no sofá e se aproxima até colocar sua
cabeça em meu colo. Sorrio e começo a fazer cafuné na sua cabeça.
Ele sorri e fecha os olhos, se vira de lado e me abraça pela cintura,
colando seu rosto em minha barriga.

— Tem segredos aqui — sussurro colocando um dedo em sua


testa. — Quero que eles saiam.

Max solta um suspiro e abre os olhos, quando aquela imensidão


verde me encara eu travo. Será que um dia eu vou conseguir olhar
pra ele sem ser afetada assim?

Ele se senta no sofá, e me segura pela cintura e me puxa para


mais perto.

— Vem cá, senta no meu colo — ele diz.

Me aproximo dele com a testa franzida e coloco uma perna de


cada lado de sua cintura e me sento em seu colo. Max me lança um
sorriso de lado.

— Que foi? — sussurro.

— Era pra sentar no meu colo, não ficar nessa posição sexy que
ferra com meus pensamentos.

— Ah, para! — Reviro os olhos rindo e ele morde seus lábios.

Tombo minha cabeça para o lado e Max começa a acariciar meu


rosto, pega uma mecha de cabelo e coloca tão devagar atrás da
minha orelha que dá vontade de chorar. Por finalmente ter
encontrado meu lar, meu abrigo, meu porto seguro.

— Que foi?

— É que... — ele começa e limpa a garganta, — No carro você


disse que está apaixonada por mim.

Sorrio e ele fecha a cara como se dissesse que o assunto é sério.


— E daí, Max? — Acaricio seus cabelos e me aproximo devagar
e beijo sua boca. — Por isso você está todo tenso desse jeito?

Ele afirma com a cabeça.

— Por quê?

— Digamos que isso tudo é uma baita novidade pra mim. Tanto
no fato de te olhar dessa forma, de perder o controle de tudo com
você... Por de repente eu querer ficar o tempo todo do seu lado e
ouvir você dizendo que está apaixonada, meio que ferrou ainda mais
com minha cabeça.

— Como assim?

— Eu to com medo — ele confessa.

Meu coração se aperta e fico parada na mesma posição, não


acaricio mais seus cabelos.

— Medo... De mim?

Ele faz negação e então me puxa para mais perto e me abraça.


Passo meus braços por seu pescoço e Max encosta a sua testa em
meu ombro. Sinto sua respiração apressada, pesada. Suas mãos
parecem tremer em minha cintura.

— Teve um dia... — ele começa sem me olhar. — Que estávamos


na sua casa, e você tava puta da vida com o Pedro. Porque ele tinha
ido embora, e te deixado aqui. Eu não queria te deixar sozinha, então
fui pra sua casa.

— Eu me lembro. — Sorrio. — Você bebeu e me ajudou a


queimar coisas.

Quando tento me afastar para olhar em seus olhos, Max me


impede e me aperta em seus braços, mantendo a cabeça em meu
ombro.
— E aí você foi de noite e veio com um papo de falar sobre o seu
medo e querendo saber o meu medo também.

Meu coração começa a disparar e acaricio suas costas.

— Você meio que dormiu, mas eu sabia do meu medo, e meio


que falei isso em voz alta, mas você já...

— Eu ouvi — admito, e Max se paralisa. Ele enfim se afasta e


olha em meus olhos. — Eu ainda não estava dormindo.

— Então você me ouviu dizer que eu morro de...

— Medo de me perder — Completo, e ele apenas afirma com a


cabeça, abalado com o que está sentindo.

— Max. — Entrelaço minhas mãos em seus cabelos e o faço


olhar pra mim. — Não precisa ter medo. Eu estou aqui, não estou?

— Você não entende? — ele murmura fazendo negação e solta


um suspiro, suas mãos sobem pela minha cintura, por meus braços,
até segurarem meu rosto, e ele acaricia minha bochecha com seu
polegar. — Rachel, esse medo ainda está aqui.

— Assim como eu também estou — digo e seguro em seus


bíceps para me apoiar e para ele me sentir.

— Antes eu tinha medo de perder o que você significava pra mim


— ele começa.

— Max...

— E agora eu tenho medo de perder o que você se tornou pra


mim.

Prendo a respiração e ele me olha desesperado.

— Então, sim, Rachel! Eu tô com medo. Porque você é a pessoa


que faz com que eu me sinta vivo. Eu não te respondi lá no carro
quando disse que está apaixonada por mim, porque eu não faço a
menor ideia disso tudo, porque isso nunca aconteceu comigo. Nunca
tive ninguém que se importasse, nunca me machucaram e depois eu
me senti como um Deus por ter feito as pazes com você. Nunca senti
como se você eu nem pudesse respirar. E isso é louco, é bizarro!
Porque você é livre, você tem seus sentimentos e tenho medo que
se assuste com os meus e vá embora.

— Ei! — Começo a tremer e me jogo em seus braços e o aperto


contra mim. — Eu não vou a lugar nenhum. Não precisa ter medo, e
nem precisa falar que está apaixonado por mim, Max! Só diga
quando sentir que entendeu e é isso.

— Eu não sei colocar nome no que eu sinto. Mas me pareceu


errado eu falar só porque você falou. E ao mesmo tempo, pareceu
errado não dizer nada e só te beijar.

Sorrio e me afasto novamente para olhar em seus olhos.

— Não preciso que diga algo que sinto com suas atitudes.
Palavras são só palavras.

— Tenho medo de falar e isso se tornar real — ele diz. — Porque,


linda, se eu perder você...

— Não vai! — sussurro e acaricio seu rosto. — Max, é real. Só...


sinta. Você está com medo de me perder, mas esse medo está te
privando de sentir que eu estou aqui, agora, pra sempre.

Ele suspira e encosta sua testa com a minha.

— Me sinto um babaca sentimental.

Começamos a rir e beijo sua testa.

— Quem diria, hein? Quem te viu quem te vê — comento rindo e


ele revira os olhos.
— Não começa — ele diz. — Só achei que seria certo me abrir
pra você. Não quero que pense que eu não...

Ele trava e eu sorrio, e então ele sorri também e sinto meu corpo
inteiro se bambear e arrepiar em resposta.

— Que você... — tento continuar sua fala.

Ele sorri e então se levanta comigo no colo. Forço minhas pernas


ao redor da sua cintura e Max me carrega até chegarmos no seu
quarto, ele me encosta na parede e se aproxima e beija meu
pescoço.

— Não quero que pense que eu também não tô fodidamente


apaixonado por você — ele sussurra em meu ouvido e morde o
lóbulo da minha orelha.

Solto um gemido e estremeço com suas palavras, meu corpo


começa a tremer com o impacto de suas palavras. Não pensei que
ele fosse admitir isso assim, sem delongas. Sem demora, sem medo.

— E é por isso que isso nem parece real — ele murmura e beija
minha garganta.

— Vou te mostrar em como sou real — sussurro e desço do seu


colo devagar. — Deita na cama.

Max sorri de lado e ergue as sobrancelhas.

— Rach...

Apenas sorrio para ele e começo a empurrá-lo devagar até fazer


com que ele caia na cama. Max observa atentamente cada gesto
meu.

— Deita mais pra cima e confia em mim — digo.

Ele franze a testa, mas obedece. Ele se joga mais para trás e
então ele deita na cama. Mas o tempo todo me encarando, em
alerta. Sorrio e vou até sua cômoda, ligo a caixinha de som e coloco
uma música que eu sempre penso nele para tocar. Shallow da Lady
Gaga com o Bradley Cooper, e também deixo para outras músicas
suaves irem tocando também.

Vou até a cama novamente e subo lentamente. Coloco minhas


pernas ao redor de cada lado de sua cintura e os olhos esmeraldas
de Max estão atentos a cada movimento meu.

Sorrio e então puxo minha blusa para cima, devagar, quando tiro
a jogo para qualquer canto, Max sobe suas mãos até minha cintura,
mas eu apenas sorrio e retiro suas mãos, as levo até acima de sua
cabeça o impossibilitando de me tocar e de se mover. Ele sorri e faz
negação com a cabeça.

— Linda, eu tô acostumado a ter o controle — ele diz.

— Não vai ser dessa vez — digo sorrindo e me aproximo dele,


fico a milímetros da sua boca e Max olha para meus lábios, mas não
o deixo me beijar. — Eu quero que perca o controle — sussurro e
abaixo e beijo seu pescoço.

Ele se contorce um pouco, e quando meus dentes mordem


levemente sua pele e ele estremece e solta um gemido, sei que ele
está sentindo o que eu estou sentindo.

— Eu quero que sinta que eu estou aqui, que sinta como eu sou
apaixonada por cada pedaço seu... Quero que sinta que eu não vou
embora, não vai me perder... Me sinta, Max...

Solto suas mãos e ele continua com elas lá. Ele fecha seus olhos
e eu me aproximo, beijo sua testa lentamente, suas têmporas, suas
sobrancelhas, beijo cada uma de suas pálpebras, a ponta de seu
nariz, suas bochechas, beijo sua boca devagar e Max solta um
suspiro quando sua língua começa a brincar com a minha, aprofundo
o beijo e sinto todo o meu corpo se arrepiar. Sinto uma mão de Max
se entrelaçar em meu cabelo e ele intensifica o beijo, e a outra mão
vai descendo por meu corpo, até chegar em minha bunda onde ele
aperta com força e me puxa para mais perto.

— Max... — Me afasto um pouco sorrindo.

Pego suas mãos e as coloco novamente em cima de sua cabeça.

— Fica — ordeno.

Ele apenas sorri ainda mais e revira os olhos.

— Rachel, puta que pariu, você tá tão sexy que não está dando
pra controlar, não. Não consigo manter minhas mãos longe de você.

— Mas vai — sussurro. — Max?

Ele olha pra mim e fico em silêncio por um tempo. E então,


suspira e então concorda com a cabeça, se rendendo. Sorrio e
começo a puxar sua blusa pra cima, ele me ajuda a tirá-la de seu
corpo, e então se deita novamente colocando os braços para cima
como lhe pedi.

— Fecha os olhos — digo e ele os fecha.

Me aproximo e beijo seu peito, minhas mãos acariciam seu


abdômen, e dou uma leve mordida em seu peito, desço mais um
pouco e sigo trilhando uma série de beijos e mordiscadas em sua
pele, por todo seu abdômen, Max estremece e se arrepia de uma
forma, que me pergunto se agora ele sente que sou real, que estou
aqui. Quero que ele sinta o que eu sinto, além das provocações dos
beijos... Quero que ele sinta como cada pedaço dele me faz amá-lo,
como ele é especial pra mim.

Seguro o botão de sua calça e a desabotoo, desço o zíper e


então ele ergue o quadril para me ajudar a tirar sua calça, e eu a tiro,
o deixando apenas com sua cueca boxer branca, tiro seu tênis, e
jogo tudo em um canto qualquer. Retiro minha calça também, e os
saltos. E fico só de calcinha e sutiã. Quando volto Max está me
encarando, mordendo os lábios.
Vou até ele e unho levemente do seu pescoço até abaixo de seu
umbigo, Max se remexe e seus olhos me ameaçam, e sorrio ao ver
ele perder o controle. Me abaixo e beijo sua barriga novamente. Me
afasto e seguro o elástico de sua cueca e vejo o escrito de uma
tatuagem recente ali. O olho surpresa e ele está sorrindo.

— Quando fez isso?

— Tem quatro dias — ele diz. — Achei que aí seria um lugar que
só veria quem eu quisesse.

— Safado! — Bato em seu corpo e ele sorri e ergue o corpo, com


os cotovelos apoiados na cama. — Fez algo só para as mulheres
verem?

— Não mulheres... Você.

Estremeço e então Max segura e abaixa sua cueca o suficiente


para as palavras tatuadas em sua pele apareçam inteiras.

Se faz sentir, faz sentido.

Leio duas vezes, e me aproximo, toco sua pele e passo meus


dedos lentamente por todas as palavras e Max estremece. Sua
respiração está ofegante como a minha.

— Se faz sentir...

— Faz sentido — ele me completa e então olho em seus olhos.


— Acho que isso entre nós, Rachel... Já era amor antes de ser.
Me aproximo e o abraço e me jogo contra ele, Max cai na cama,
suas mãos começam a tocar meu corpo e eu apenas beijo sua boca
depressa e puxo suas mãos novamente para cima.

— Ah, qual é! — Ele se rende e faz negação.

Apenas sorrio e me abaixo, puxo novamente o elástico de sua


cueca para baixo e vejo as palavras na minha frente. Ele fez isso
pensando em mim, pensando no que ele está sentindo. Não precisa
fazer sentido quando sentimos isso que estamos sentindo. E então
eu beijo sua tatuagem. Afasto suas pernas e desço e beijo sua coxa,
de um lado e do outro.

— Rachel — ele sussurra sem fôlego.

Puxo sua cueca para baixo, o libertando de tudo que sobre seu
corpo perfeito. E a jogo para o lado. E então volto e o beijo seguindo
a linha da tatuagem. Seu membro está duro, inchado e toda vez que
meu cabelo raspa sobre ele, Max geme baixinho. O seguro em
minhas mãos e Max retém seu quadril, se controlando e se
entregando. Movo minhas mãos por toda extensão de seu pênis e
observo Max enquanto ele abre um pouco sua boca para gemer e
mordisca seu lábio inferior.

— Rachel...

— Shii — murmuro. — Não se segura.

Ele fecha os olhos, e então suas mãos descem e apertam minhas


coxas. Paro de mover minha mão, e fico de quatro na cama, Max me
encara e mantenho nosso contato visual enquanto o seguro e o
coloco na boca. Max joga a cabeça para trás e seu quadril se
aproxima mais de mim. O chupo com força, porém lentamente, e
depois raspo meus dentes devagar e Max solta um grito abafado.

— Puta que pariu — ele suspira. — Faz de novo.

Coloco minhas mãos em meus cabelos, e faço um rabo


improvisado de cabeço. Seguro a mão de Max, e a coloco em meu
cabelo, e ele entrelaça os dedos nos meus fios, e então sorrio e me
abaixo novamente. E Max geme enquanto me guia em meus
movimentos, mas deixando com que eu tenha o total controle.

— Porra, Rachel. Você vai me matar assim. — ele sussurra


gemendo e acelero o ritmo. Sinto todo o corpo de Max se tensionar e
ele fica ainda mais ofegante. — Tô quase lá.

E assim o retiro da minha boca, e toco em seu abdômen, retiro


minha calcinha, e Max me ajuda com o sutiã, e os jogamos em
qualquer canto. E então me sento devagar, e ambos gememos com
a penetração. Já estou completamente excitada só de ter ouvido Max
gemer e saber que eu o enlouqueci assim. E assim continuo
lentamente, e Max reclama querendo chegar logo ao ápice. Mas eu
estou no controle. E quero senti-lo pelo máximo de tempo que
conseguirmos nos segurar. Puxo seu rosto e o beijo para que ele
entenda. Para que ele me sinta.

O beijo e me movo lentamente para afastar esse medo dele me


perder, para ele enlouquecer e sentir que estou aqui. Agora.

— Ah, Rachel... — ele murmura compreendendo e me beija com


adoração.
Capítulo 33
Max me puxa pela cintura, e me aperta junto ao seu corpo. Sua
respiração ofegante se iguala a minha. Ele morde meu ombro.

— Chega de provocação — ele fala e eu sorrio. Passo minhas


mãos ao redor do seu pescoço e Max me abraça pela cintura. — Eu
te quero agora, debaixo de mim. Te quero com força.

Ele me vira e me joga no colchão me fazendo deitar, me acomoda


em cima de um travesseiro, sua boca vem imediatamente em direção
a minha. Sua língua invade minha boca calando todos os meus
pensamentos. Em movimentos perigosos e eróticos demais para
descrever. Só sinto. Subo minhas mãos por suas costas e o puxo
mais para perto de mim.

Max sem separar nosso beijo, sobe suas mãos, segura as minhas
e as puxa para cima da minha cabeça, como fiz com ele, e sorrimos
juntos em meio ao beijo.

— Max...

— Aqui se faz, aqui se paga, amor. — Ele morde meu lábio


inferior com força e o puxa junto a sua boca e quando o solta sinto-o
inchar. — Agora, fecha os olhos pra mim.

Sorrio e nego com a cabeça. Ele sorri e revira os olhos.

— Então é assim?

— Faz quem quer, obedece quem tem juízo... E eu sou do tipo


que quebra regras — sussurro em seu ouvido.

Ele sorri e faz negação, se levanta da cama e o olho surpresa.


Ele vai até a cama me dando uma ótima visão da sua comissão de
trás e abre a gaveta, pega uma gravata e dois pacotes de camisinha
e então se vira sorrindo.

— Vai fechar os olhos por bem ou por mal. — Ele sorri e vem até
mim.

Coloca a gravata em meus olhos e começa a amarrar atrás da


minha cabeça.

— Eu vinha sonhando em fazer isso em você desde que me


deixou louco na casa do meu primo.

Meu coração dispara dentro do peito. Max termina de colocar a


venda em meus olhos e eu me deito novamente. É meio intimidador
não saber o que está acontecendo, mas todos meus outros sentidos
ficaram ainda mais aguçados. O cheiro dele, o toque, tudo é
intensificado.
Sinto sua boca contra a minha. Max me beija sem se preocupar
com o tempo. Essa noite é como se literalmente não existisse o
tempo, nem a pressa. Só queremos sentir um ao outro, sem
resistência, sem medo. Ele mordisca meu queixo, beija minhas
bochechas, minhas pálpebras, minha testa, e passa seu nariz contra
o meu.

Ele começa a descer em direção a minha garganta e a beija


lentamente, sua língua prova minha pele. Suas mãos seguram as
minhas, e ele entrelaça nossos dedos. Ele desce e beija meu seio e
aperto nossos dedos e minha respiração aumenta, sinto-o sorrir
provavelmente ao notar o arrepio insano que ele me causou. Ele me
beija, me enlouquece.

Desce o rosto e beija minha barriga, puxa minhas mãos e as coloca


em seu cabelo. entrelaço minhas mãos entre os fios e estremeço
quando ele chupa minha barriga com força.

— Max, vai ficar roxo — comento, rindo.

— Shii — ele murmura e meu coração se acelera ainda mais.

Sinto suas mãos segurarem minhas coxas, e Max vai se


abaixando lentamente, seguindo uma trilha de beijos até chegar aos
meus pés. E depois começa a subir e vem até mim, me beijando. Ele
abre minhas pernas, e então sinto ele esfregar sua ereção contra
meu clitóris, e solto um gemido. Agarro o lençol da cama e o aperto,
quando Max ameaça me penetrar e depois recua, me provocando e
me deixando sedenta por mais.

— Você é tão gostosa, Rach — diz.

Ele para, ouço a embalagem do preservativo se abrir. E então


Max se aproxima, sua mão desce lentamente até chegar até minha
entrada, e Max introduz três dedos de uma vez, começa a mover
suas mãos, sabendo exatamente o jeito de me tocar.

Jogo minha cabeça para trás e me contorço debaixo dele.


— Max... — Minha respiração está tão pesada que acho que sai
fora de órbita. — Eu preciso...

— Depois de hoje, não quero que se afaste — ele diz. — Não vai
levantar da minha cama mais.

Solto uma risada e sinto ele me puxar para mais perto e beija
meu pescoço sorrindo também contra a minha pele.

— Nunca fiquei com tanto tesão na vida.

— Você acaba comigo — sussurro.

— Agora sabe como é — ele diz e se afasta um pouco e toca a


gravata. — Tira isso. — Ele puxa a gravata dos meus olhos. E assim
que meus olhos se encontram os seus sinto toda a conexão que
criamos juntos hoje. Algo forte que nem sei explicar.

Max segura minhas pernas e me puxa para baixo, coloca minhas


pernas cada uma em seus ombros, e abraça minhas pernas.

— Quero que olhe nos meus olhos quando sentir um orgasmo tão
forte, que não se lembrará de mais nada.

— Max...

Ele me penetra de uma vez, e solto um grito com a profundidade


que ele consegue ir nessa posição e ouço Max gemer. Todo o meu
corpo parece pegar fogo.

— Linda?

Max diz enquanto me acostumo com a sensação e me


desmancho nele por inteiro.

— Hum? — murmuro distraída.


— Faz amor comigo. — ele pede com aquela voz rouca, e isso
ferra de vez meu coração.

E quando o olho e sorrio, Max começa a se mover rápido, e solto


um grito junto com ele, enquanto ele mete em mim com força. E nem
precisou muito tempo, rapidamente quanto a intensidade da atração
e tesão que sinto por ele vem, chegamos juntos ao clímax mais
intenso que já senti. Meu corpo treme e Max apenas continua em um
entra e sai rápido, prolongando nosso prazer e unho com força suas
coxas. E então ele simplesmente sai de dentro de mim e se desaba
ao meu lado.

— Max...

— Literalmente, eu tô muito ferrado. — ele admite sem fôlego. Me


puxa pela cintura e beija minha boca. — Nada nunca será tão
perfeito quanto o fato de existir um nós.
Me remexo na cama e estico minhas mãos em direção a Max,
mas toco o vazio. Abro meus olhos e resmungo quando a claridade
me afeta. Me sento na cama e olho ao redor, não tem nada além das
nossas roupas no chão.

— Max? — o chamo, e não tenho resposta.

Passo as mãos pelo meu cabelo e reviro os olhos. Devo estar


parecendo um leão que acaba de acordar. Olho para minha barriga e
vejo um leve roxo lá, e sorrio. Meu Deus! Eu disse pra ele que estou
apaixonada por ele e ele também disse pra mim.

Pela primeira vez, eu me sinto com todas as peças do meu


coração, um quebra-cabeças completo. Me sinto inteira, viva. Pela
primeira vez, fiz amor. Além de todas as formas físicas, foi mais forte,
foi união, foi conexão, foi reencontro.

Puxo os lençóis e me enrolo neles, levanto da cama, e pego


minha calça no chão. Tiro meu celular dela e vejo que tem novas
mensagens. Abro primeiro a da Gi.

GI: Bom dia! Não sou burra de não saber que vai demorar a
responder, mas acorda logo que precisamos conversar!

Sorrio e já a respondo logo.

EU: Acho que sabe o que aconteceu, mas depois te conto


tudo detalhadamente.

As outras mensagens é do meu irmão, querendo saber onde eu


me meti, porque está na minha casa, e isso foi há duas horas.
Decido ligar pra ele. Ele me atende no segundo toque.

— Porra, Rachel. É melhor estar num hospital. tá me ouvindo? —


ele diz.

— Ric...

— Não! Por favor, não diz que tá num hospital!

— Não estou no hospital!

— ENTÃO ONDE VOCÊ TÁ? CARALHO!

— Eu... Bom... É que ontem... O Max...

— Não tô acreditando que eu tô igual burro na porta do seu


prédio, e você no rala e rola com meu amigo!
— Cala a boca! — Começo a rir. Coloco o celular no viva voz
para vestir minha calcinha e a calça. — Minha vida não lhe diz
respeito.

— Desde que me atrapalhe, sim! — Ele solta um suspiro e então


o ouço começar a rir. — Quer dizer que finalmente se acertaram
agora?

Visto meu sutiã e nesse momento a porta do quarto abre. Max


está lá, usando apenas uma cueca boxer branca e com a testa
franzida.

— Bom, estamos ótimos — digo e pisco para Max que entra no


quarto.

— Grande coisa! Eu aqui nesse frio do caramba e vocês dois aí!


Ótimo amigo que eu tenho e ótima irmã!

— Não! Tá vestindo sua roupa por quê? — Max me impede de


pegar a blusa e sorrio.

— NÃO QUERO OUVIR SACANAGENS PELO TELEFONE! —


Renato diz.

— O Rê está na porta lá de casa, preciso ir até lá. — Me


aproximo dele e o abraço, fico na ponta dos pés e beijo sua boca
devagar. — Bom dia!

— Bom dia, minha linda! — ele sussurra. — Dormiu bem? — Um


sorriso safado surge em seus lábios e eu me derreto.

— Bom, digamos que dormir foi a última coisa que fizemos —


digo e beijo sua boca de novo.

— ALÔ? SERÁ QUE ALGUÉM PODE ME DAR ATENÇÃO AQUI?


— A voz de Renato toma conta do quarto.

Max e eu rimos e ele pega meu celular em cima da cama.


— Cara, qual é, tá atrapalhando meus esquemas.

— Que se dane seus esquemas, ela é minha irmã, pensasse


antes de pegar ela!

— Não posso fazer nada se ela me enlouquece.

— MAX! QUE NOJO! Cala a boca!

Ele começa a rir e eu visto minha blusa, Max franze a testa ao me


olhar. Procuro meus saltos e os calço rapidamente.

— Eu tô sozinho aqui na rua, não tem piedade do seu melhor


amigo, não? Amigo da onça!

— Tá chorão! Estamos indo, mas você me deve uma, por ter


atrapalhado minha manhã!

— Vocês tem muito tempo pela...

Max desliga o meu celular e posso imaginar Renato falando


palavrão de raiva. Max segura minha mão e me puxa para mais
perto, assim que chego ele sobe minha blusa e encara o roxo na
minha barriga.

— Sinto muito por isso — ele sussurra e beija bem em cima do


roxo delicadamente.

— Eu não — digo sorrindo e ele ergue as sobrancelhas.

Me aproximo dele e me sento em seu colo. Passo minhas pernas


ao redor da sua cintura e ele me puxa para mais perto até colar seu
corpo com o meu, e me agarra pela cintura.

— Nem sei o que dizer depois de ontem — ele fala. — Agora


mesmo que eu tenho medo de te perder.

— Ei. — Sorrio e deito meu rosto em seu ombro. — Achei que


tivesse entendido que não vou a lugar nenhum.
— Promete? — ele sussurra e eu olho em seus olhos. — Que
nada vai separar ou acabar com isso que a gente tem.

— Eu prometo. — Sorrio e me aproximo dele e beijo sua boca


devagar. — Sabe por quê?

— Por quê? — ele murmura enquanto me beija.

— Porque eu te amo — digo e ele abre um sorriso.

— Eu que te amo — ele diz e me aperta ainda mais em seus


braços. — Porra, por que perdemos tanto tempo todos esses anos?

— Tudo tem um tempo certo para acontecer, Max! — digo e


acaricio seus cabelos. — Talvez antes não teríamos a noção das
coisas, como temos agora.

— Antes tarde do que nunca então — ele diz baixinho e eu


concordo e o beijo e então saio do seu colo com seus protestos.

— Mas o Renato tá lá esperando a gente!

— Porra! — ele reclama e se joga na cama. — Ele tá tão ferrado


comigo! Puta que pariu!

Começo a rir, me abaixo e jogo uma camisa para Max. Ele a


veste e depois veste sua calça e seus tênis. Vou até o banheiro e me
assusto com o que vejo no espelho. Não é meu cabelo ou minha
maquiagem borrada, porque isso pouco me importa. Eu me assusto
é com minhas bochechas ruborizadas, com o brilho nos meus olhos.
E sorrio ao relembrar tudo que ouve essa noite. Pego um pente de
cabelo e penteio meus cabelos. Max chega atrás de mim e me
abraça por trás.

— Não adianta arrumar, vou bagunçá-los depois! — ele diz rindo


e beija meu pescoço.
Me viro em sua direção e penteio seus cabelos jogando-os para
trás e Max sorri. Depois pego sua escova de dentes, a pasta de
dente e assim que a jogo na minha boca para escovar, Max solta
uma gargalhada e encosta a testa em minhas costas.

— Intimidade é foda! — ele diz.

— Como si ocê num tivesse feito issu com a minha! — digo com
a boca cheia de espuma e Max solta uma gargalhada.

— Vou pegar as chaves do carro pra gente ir, se não ele mata a
gente!

Ele sai do banheiro e termino de escovar os dentes e enxáguo a


boca e depois limpo debaixo dos meus olhos o rímel borrado.
Tirando isso, está até tudo certo com a maquiagem.

Vou até a cozinha esperar Max e o encontro lá, e uma bandeja


com suco e café da manhã tudo preparado pra nós.

— Ah, Max! Você fez café da manhã pra mim!

— Como eu disse, ele me pega por atrapalhar meus esquemas!


— Ele revira os olhos e me estica o celular.

Sorrio, e pego meu celular e o abraço com força.

— Obrigada por isso!

— Pode me agradecer depois que ficamos a sós e sem


interrupções.

— Combinado! — Sorrio.

Descemos pelo elevador até o estacionamento, e só de estar de


mãos dadas com ele já faz meu coração bater forte no peito. Nunca
me senti tão completa assim antes, tão em casa.
Max e eu entramos no carro e assim que coloco meu cinto meu
celular começa a tocar e o atendo rapidamente.

— Eu já disse que estamos indo, custa esperar? — Começo a rir.


— Ah, e só pra constar... Você tá devendo a mim também agora, não
somente o Max! Atrapalhou meu...

— Rachel? — uma voz sussurra.

Sinto um tremor percorrer todo o meu corpo. Afasto lentamente o


celular do ouvido e vejo o nome Pedro escrito na tela. PUTA
MERDA!

— Será que dá pra você parar? — Coloco o telefone no ouvido e


Max me olha sem entender minha mudança de humor.

— Parar com o quê? — Pedro diz. — De te procurar? De tentar


me explicar ou de implorar pra pelo menos ouvir sua voz? Que porra,
Rachel! Que parte do "eu tô arrependido e sentindo sua falta" você
não entendeu?

— E que parte do "se você tirasse minha aliança e fosse embora,


tudo estava acabado entre nós" ou do "me deixa em paz" você não
entendeu? — grito no telefone e desligo na cara dele.

Max está com as mãos no volante e olha fixamente para a frente..

— Era... O...

— Era. — Bufo de raiva e encosto minha cabeça no banco. — Ele


andou me mandando umas mensagens, e eu fui ignorando e
bloqueei ele ontem no Whatsapp. Não sei porquê ele perde tempo
ligando pra mim.

Max fica em silêncio e vejo suas mãos apertarem o volante.

— Bom, eu sei o por quê.

Olho para ele confusa e ele suspira e olha em minha direção.


— Você vale a pena lutar — ele diz. — Por você, eu até me
humilharia se te quisesse de volta.

— Ah, Max! — Reviro os olhos. — Ele decidiu ir embora e me


deixar aqui. Pouco me importa se ele só se deu conta disso, de
quem eu sou, depois de três anos e de me abandonar. Que ele jogue
a humilhação no ralo e não tire minha paciência!

— Eu sei, meu bem — Max diz e então ele liga o carro e dá a


partida.

Ele não fala mais nada, nem eu. Acalmo meu coração e coloco
minha mão no joelho de Max. Ele me olha de relance e suspira.

— Posso te perguntar uma coisa? — ele diz.

— Claro.

— Você ainda sente algo por ele?

Sinto uma facada invadir meu coração. Olho para Max surpresa e
ele apenas franze a testa com meu silêncio.

— Por que você tá me perguntando isso?

— Bom... Isso não foi um "Não, Max".

— E também não foi um sim. Qual é, Max!

— É que... — Ele para o carro no sinal e olha pra mim. — Você


ficou com ele por anos. E você era toda apaixonada, e iriam se
casar. Agora que comecei a entender esse lance de amor, e pelo que
tô sentindo, isso não passa da noite pro dia... Porra, Rachel, nem sei
se um dia eu seria capaz de te esquecer.

Sinto meus olhos se encherem de lágrimas e sorrio.

— E você tá rindo? — ele franze a testa confuso.


— E também tô aprendendo sobre o amor agora, Max! Nunca
amei ninguém de verdade antes. Nada nunca foi assim, como o que
sinto por você. E já que você sente também, há alguma possibilidade
da Vivian abalar isso o que você sente por mim?

— Quê? Tá maluca!

— Então é claro que o Pedro jamais vai ficar entre a gente.

Max começa a dirigir e revira os olhos.

— Bom, não é querendo parecer galinha... Mas usando uma frase


que já falou comigo... O que minha rodada de mulheres tem a ver
com seu quase casamento?

— Para o carro — sussurro.

Max me olha e então concorda. Espero até ele chegar em algum


lugar fácil de estacionar, e então ele desliga o carro e se vira pra
mim.

— Desculpa vir com esse papo — ele diz.

— Olha só! — Me viro em sua direção e seguro sua mão. — O


Pedro foi muito especial pra mim, sim. Ele me ajudou em muitas
coisas e realmente, três anos não se apagam de repente! Eu não tô
falando que ainda gosto dele. Eu estou falando dos momentos que a
gente passou, isso não se apaga. E eu sofri por ele, você estava
comigo, você lembra. Mas... Max? Eu realmente não sou o tipo de
mulher que fica a vida toda sofrendo por um idiota. Eu realmente não
vou deixar de viver minha vida porque fui abandonada!

— Eu sei... Mas, é que é tudo tão novo pra gente e eu tenho


medo de você ainda ficar... balançada, ou querer o que tinha com
ele.

— Deus me livre de ter o que eu tive com ele! Max! — Seguro


seu rosto e o acaricio. — Você me fez sentir mais amada nesses
últimos meses, do que nunca me senti em todos esses anos!

Ele sorri e vejo sua cara de convencido e reviro os olhos.

— Então... Não tem nenhuma chance de você querer ouvir o que


ele tem a dizer e perdoá-lo?

— Se eu fosse burra teria. — Começo a rir e então fico séria. —


Max?

— Oi?

— Qual a parte do eu te amo você ainda não entendeu?

Ele abre um sorriso e me puxa pela cintura até me abraçar. Beija


o topo da minha cabeça e sorri.

— E qual a parte do eu tenho medo de te perder você ainda não


entendeu?

— Chega desse assunto. — Me afasto um pouco e beijo sua


boca. — O que eu ainda tenho que fazer pra esse medo passar?

— Eu tenho uma certa ideia.

— Tipo? — Sorrio.

— Já que você não se importa com ele, não iria se preocupar se


eu contasse pra ele sobre nós.

Ergo minhas sobrancelhas e começo a rir.

— Bom... Isso é novidade.

— Aposto que pra ele não vai ser — Max fala sorrindo.

Ele me puxa sorrindo e começa a me beijar. Sou envolvida pelo


momento, fecho meus olhos e sou levada a outra dimensão, outro
mundo. Sua língua entra na minha boca e cala qualquer pensamento
que eu pudesse ter, e então ouço um barulhinho. Franzo minha testa
e me afasto do beijo. Max sorri e me mostra seu celular, onde ele
tirou uma foto da gente.

— Max! — Começo a rir. — Ficou linda, me envia.

— Sim, mas antes...

Max fica um tempo em silêncio, digitando. E então ele dá a


partida no carro e me entrega o celular.

— Pronto, pode enviar pra você.

Desbloqueio o celular de Max e dou de cara com uma conversa


com Pedro aberta. Onde Max enviou a foto da gente se beijando. E
escreveu na legenda da foto:

MAX: Não deu valor? Perdeu. E infelizmente pra você, nem


tudo que vai, volta. Vou avisar pela primeira e última vez: FICA
LONGE DELA!

Abro a boca surpresa e olho para Max. Ele está me olhando aflito,
como se estivesse medo que eu tivesse raiva do que ele fez. Me jogo
em seus braços e o abraço, beijo sua bochecha e ele começa a rir.

— Ele vai ficar muito puto! — comento rindo e Max começa a rir
também.

— Puto é pouco! Ele vai achar que foi corno no namoro inteiro.

— Por que não tenho pena se ele achar isso? Bom que sofre
ainda mais! — digo rindo e Max apenas pisca pra mim.

— Agora bloqueia ele da nossa vida, porque se ele te procurar de


novo, eu juro que vou ensinar a ele a não mexer com a mulher dos
outros.
Capítulo 34

Renato e Max estão largados no sofá assistindo futebol.


Enquanto me sentei no banco da bancada da cozinha mexendo no
celular esperando bolo que inventei fazer, assar. Eles parecem dois
adolescentes bobões. E sorrio ao ver a cena. O celular de Max está
do meu lado, e vibra com uma mensagem bem na hora que o alarme
toca informando que está na hora de retirar o bolo do forno.

Eu pego o celular para chamá-lo, mas o nome Vivian nas


notificações me fazem paralisar no lugar. Ergo meus olhos em sua
direção e respiro fundo. Coloco o celular em cima da bancada e vou
até o forno, coloco as luvas e retiro o tabuleiro. Desligo o forno, e
coloco em cima da bancada para esfriar.

Minha mente parecem duas. De um lado quero chamar Max e


entregar o celular e rezar para ele ser sincero e me contar. E o outro
lado; quer que eu abra a mensagem e invada a privacidade de Max
pra ver o que essa filha da mãe está falando com ele.

Vou até o fogão e pego o recheio que preparei. Coloco tudo em


cima da bancada. Reviro os olhos e olho em direção de Max. Ele e
meu irmão estão rindo e apontando para a televisão. Então eu pego
seu celular e coloco a senha. Abro a mensagem na mesma hora,
mesmo me sentindo péssima.

VIVI: Oi, gato! Estou tentando falar com você há dias... Qual
é? Essa sua amiguinha tá precisando de solidariedade pós
término até hoje? Estou com saudades!

Bloqueio o celular de Max e quando olho em sua direção ele está


olhando pra mim. Fico vermelha de vergonha e coloco
imediatamente o celular dele na bancada e pego o recheio do bolo.
Ele fala algo com meu irmão e vejo ele vindo em minha direção. Ele
puxa o banco ao meu lado, se senta e puxa meu queixo com a mão
me fazendo olhar para ele.

— Que foi? — ele pergunta pegando seu celular e começa a


olhar as mensagens.

Um vinco se forma em sua testa e ele olha para mim sorrindo.

— Ela te incomoda?

— Pensei que não tinha mais nada com ela.

— E não tenho — ele fala e se aproxima de mim.


— Então porque não a bloqueou como eu fiz com o Pedro? —
digo e me levanto para pegar o leite de coco na geladeira.

— Seguinte, vou ir pro quarto ver tv porque não tô a fim de ouvir


DR! — Renato fala e segue para o meu quarto.

Me sento novamente perto de Max e ele ainda continua sorrindo.

— Não bloqueei porque é só não responder — ele diz. — Tá com


ciúmes, Rachel?

— Claro que eu estou! — resmungo e ele sorri ainda mais.

— Não tô acreditando nisso! — Ele se aproxima e me abraça por


trás. — Linda, você sabe que não tem a menor chance de eu dar
mole pra Vivian, né?

— Eu sei — digo. — Confio em você, mas isso não quer dizer


que eu precise gostar dela te mandando mensagens!

— Rachel!

— E ela ainda te chama de gato? — Reviro os olhos. — O único


animal que você é, é um pinguim — faço graça e ele solta uma
gargalhada.

— Então acho que você também está fazendo jus ao seu apelido,
né? — ele diz pegando um pouco do recheio do bolo que fiz e passa
lentamente pelo meu lábio.

E então vem se aproximando devagar e chupa meu lábio, e


mordisca levemente. Suspiro rendida já ao seu charme e o beijo.
Max passa seus braços por minha cintura e eu circulo seu pescoço.
Ele aprofunda o beijo, que está com gosto de morango.

O puxo para mais perto e solto um gemido quando ele me puxa


para seu colo e suas mãos vão levemente para meu bumbum e ele
aperta gentilmente. Circulo minhas pernas ao redor da sua cintura e
Max me coloca em cima da bancada, e puxa minhas coxas para
frente, fazendo seu corpo se colar ao seu.

Ele separa o beijo e beija minha garganta, e começa a descer


devagar.

— Não entendo como consegue ferrar tanto com a minha cabeça


— Ele sussurra.

Seus beijos vão descendo, e quando ele começa a puxar minha


blusa para baixo. Ouvimos um grito e me encolho assustada e
olhamos para Renato, que está parado com as mãos nos olhos.

— PUTA QUE PARIU! ESSA IMAGEM NUNCA MAIS VAI SAIR


DA MINHA CABEÇA!

Solto uma risada e Max ajeita minha blusa e me puxa, me pega e


me desce da bancada.

— Pronto, Renato! — resmungo.

Ele abre dois dedos conferindo e depois tira as mãos do rosto e


fecha a cara.

— Nunca vou me acostumar com vocês se pegando! — ele fala e


abre a geladeira. Tira duas cervejas de lá. — Que nojo!

— Sabe o que é isso? — Max fala. — Inveja!

— Hum... Inveja... Por você tá dando uns pegar em uma das


mulheres que te quebro a cara se você machucar?

— Inveja porque está carente e não tá pegando nem gripe! Quem


dirá me pegar de porrada por algo que eu mesmo me bateria se a
machucasse algum dia.

Renato dá um tapinha nas costas de Max e sorri.


— Continue com esse pensamento — ele fala e se aproxima de
mim e beija o topo da minha cabeça. — Meu parceiro tá liberado?

Sorrio e Max revira os olhos.

— Daqui a pouco — Max fala. — Pode me esperar lá que já vou.

— Tá perdendo o jogo, anda logo — Renato fala e vai para o


quarto.

Max se vira pra mim, pega seu celular e me entrega.

— Manda mensagem pra ela — ele diz.

— Falando o quê?

— Que é você e pode falar o que tiver vontade.

— Max, não precisa, só deixa ela no vácuo.

— Ela vai continuar mandando mensagem. — Ele se aproxima de


mim e beija meu ombro. — E você vai ficar com isso na cabeça.

Sorrio e reviro os olhos.

Pego o celular ele e apenas a bloqueio. E entrego o celular para


ele, que o coloca em cima da bancada da cozinha. Sorrio e começo
a cortar o bolo.

— Sabe o que eu acho? — Max diz. — Esses celulares já deu por


hoje. Que tal ficarmos fora da área de cobertura?

— Como assim?

— Ir lá pro sítio do meu pai — Max fala.

O sítio... Bom, todo ano todo mundo do jornal vai para lá. É um
ritual. Já fui algumas vezes com Pedro sem ser com o jornal, íamos
todos juntos. Lá é tão bom, tranquilo.
— Podíamos chamar a Gi, e o Arthur e talvez a Mand e o Cadu
aceitem. Eles vieram pra cá por causa do chá de bebê. Segunda é
feriado então acho que eles devem ir embora só na segunda. Talvez
topem. Se não toparem, seria ótimo ficar um tempo a sós com você.
Não ia reclamar de jeito nenhum.

Sorrio e fico pensativa por um momento. É, realmente ir para a


roça seria ótimo, só a gente e nenhuma ligação ou mensagem para
atrapalhar esse bem estar.

— Quer saber, eu topo! — digo sorrindo e Max vem até mim e


beija minha boca com força.

— Vou ver se o Renato quer ir, e você olha com a Gi e a Mand,


ok?

— Vou mandar mensagem para elas!

Max vai para meu quarto, e eu termino de arrumar o recheio no


bolo, e o coloco na geladeira. Pego meu celular e mando mensagem
para a Gio e a Mand as chamando para o sítio! Mas como eu
imaginava, Gi não quer porque quer me dar um tempo a sós com
Max, e a Mand irá com Cadu ficar na casa do Fábio pra ele ficar um
tempo com Sofia.

Guardo meu celular, vou até o quarto e Renato está com a cara
fechada.

— Por favor, levem uma mulher pra lá, uma amiga, Rachel... Ficar
de vela é foda!

— Posso tentar, mas vai ser difícil. Se não quiser ir pode ficar
aqui no Ap.

— Jura? Só eu sem ninguém pra encher o saco?

— Pegar ou largar!
— MANO, VOCÊ É A MELHOR IRMÃ DO MUNDO! SE NÃO
FOSSE MINHA IRMÃ TE DAVA UM BEIJO!

— Ei! Tá querendo morrer? — Max diz bravo e eu começo a rir.

Assim que chegamos no sítio, Max estaciona o carro o mais perto


da casa e abre o porta malas. Eu pego minha bolsa e as sacolas
com as compras que fizemos, e ele pega duas malas de mão, uma
minha e outra dele. Fecho o porta-malas e tranco o carro. Está tudo
escuro, então Max liga a lanterna do celular para enxergamos as
escadas que dão acesso até a entrada da casa. E assim que
chegamos, ele liga as luzes e tudo se acende, a casa, as luzes perto
de algumas árvores, até as luzes da piscina.
— Não pensei que iríamos chegar já de noite — ele diz enquanto
abre a casa e desliga a lanterna do celular.

Ele coloca as malas no chão e liga a luz da sala, e eu tranco a


porta. Max pega as malas enquanto coloco as compras em cima da
bancada e caminhamos para o andar de cima até chegarmos em um
quarto, ele coloca as malas em cima da cama e logo em seguida se
joga em cima dela.

— Você deve estar exausto — comento. Afinal, foram duas horas


dirigindo até chegarmos aqui. E Max já havia resmungado de dor de
cabeça quando saímos de casa. — Sua cabeça ainda está doendo?

— Sim — ele fala e cobre com o braço os olhos da claridade da


luz. — Acho que vou tomar um banho.

— Que tal você ir tomar banho, e tomar um remédio e eu preparo


algo pra gente comer?

— Que tal eu comer primeiro e depois tomar banho? — ele fala.


— Tô morto de fome, vamos preparar qualquer coisa lá na cozinha.

Sorrio e o deixo me levar pelas mãos. Ajudo Max a abrir algumas


sacolas de compras que fizemos e retiramos o pão e faço um
sanduíche com patê de frango para comermos. E depois que
comemos Max pega nos armários uma caixinha e procura alguns
comprimidos.

— Deixa que eu olho — sussurro. Tiro das mãos dele e encontro


um Paracetamol.

Max sobe e vai até o banheiro e eu pego um copo com água e o


remédio e subo as escadas até o banheiro. Quando chego, o
chuveiro já está ligado e Max está dentro do box já tomando banho.
Me aproximo e bato no vídeo do box, Max se vira sorrindo e pega o
remédio e toma com a água.

— Vai me falando quando começar a melhorar — sussurro.


Max concorda e pega o sabonete. Vou até o quarto e retiro minha
toalha, tiro meus sapatos, minha roupa e me enrolo na toalha. Vou
até o banheiro e Max está terminando de se ensaboar. Espero ele
enxaguar o corpo e fico só quieta admirando a visão. E assim que
ele termina e se vira na minha direção, eu fecho a porta atrás de mim
e isso faz o vapor começar a embaçar tudo ao nosso redor.

Max abre um sorriso quando me vê de toalha. Me aproximo dele


e ele puxa minha toalha, a tirando do meu corpo e fazendo com que
ela caia do chão e me deixe nua.

— Opa — ele diz. — Caiu tão fácil.

Reviro os olhos e me aproximo dele. Max me puxa e a água me


molha inteira. Ele pega o sabonete e me olha incerto.

— Que foi? — murmuro.

— Posso te dar banho?

— Quem precisa de cuidados é você, não eu. — protesto.

— Cuidar de você é como cuidar de uma parte de mim — ele


sussurra e passa a bucha por meus braços.

Max ensaboa minha barriga, todo meu corpo, vagarosamente.


Não tem nada sexy nisso, nem com outras intenções, é só cuidado,
só amor, proteção. Ele me enxágua enquanto termino de me limpar e
lavo meus cabelos. Passo shampoo e condicionador, e enxáguo
tudo. Max fica me observando sorrindo. Ele se aproxima de mim e
me abraça. Deito meu rosto em seu peito quente e molhado da água
e fecho meus olhos.

— Eu queria que o tempo se congelasse — confesso.

— Daí não teríamos outros momentos — ele fala e me puxa para


mais perto. — Obrigado por não desistir de mim, Rach.
— Você é especial demais pra que eu desista de algo — digo e
ele sorri.

Max se aproxima e me beija, ele me empurra gentilmente na


parede do banheiro e aprofunda o beijo. Solto um gemido e minhas
mãos sobem por suas costas, o unho levemente e o puxo para mais
perto até seu corpo se colar ao meu. E Max morde meu lábio com
força e o puxa entre seus dentes. Abro meus olhos e sou tomada por
esse homem maravilhoso todo em volta de vapor quentinho.

— Como você tá se sentindo? — Seguro seu rosto e beijo sua


bochecha levemente. — Tá meio quente e não é por causa do
banho.

Ele revira os olhos e desliga o chuveiro atrás de mim, pega minha


toalha e me cobre e depois se cobre.

— Eu vou ficar bem, linda— ele murmura.

Nos secamos e trocamos de roupa em tempo recorde. Max veste


uma calça de moletom e uma blusa de frio de malha, e eu visto um
conjunto de moletom cinza que mamãe me deu uma vez. Com listras
nas laterais. Vamos para o quarto e Max já se deita na cama.

Estendo nossas toalhas, e guardo as malas, pego os edredons e


cobertores e jogo na cama e Max me ajuda a ajeitar eles. Desligo a
luz do quarto e tranco a porta. Vou até ele e me enrolo nas cobertas.
Max está me olhando sorrindo.

— Desculpe não estar totalmente bem — ele diz.

— Tive uma ótima ideia! — sussurro e seguro sua mão. — Que


tal você descansar, e dormir de conchinha comigo?

Ele sorri e me puxa para mais perto, beija minha boca e então me
vira de costas e se acomoda atrás de mim. Suas mãos me seguram
com posse, e dobramos nossas pernas juntos. Me encaixo nele
como a peça de um quebra-cabeças que faltava.
— Promete que qualquer coisa me chama?

— Prometo, mas tá tudo bem, linda... Melhor dor de cabeça que


tive na vida.

Começamos a rir e ele me puxa para mais perto, e aos poucos


ouço sua respiração pesada. Me sinto tão protegida e acolhida, tão
dependente dele e ao mesmo tempo tão livre. Que tenho vontade de
chorar. Acaricio suas mãos e solto um suspiro.

— Eu também morro de medo de perder você, Max — assumo


baixinho no escuro.
Capítulo 35
A semana demorou a passar no trabalho. Teve tanta coisa para
fazer, já que o natal se aproxima que meu nível de estresse triplicou
com tudo. Todos no jornal estavam assim, e isso acabou afetando
Max também. Principalmente ele. Já que agora além de fazer a
diagramação do jornal e fazer os serviços gráficos, também teve que
praticamente morar na sala do Arthur por causa da criação do site do
jornal. Tivemos que criar conteúdos extras, para assim que eles
terminarem o site, já deixarem tudo pronto para o acesso online.
Então eu custei esperar chegar sexta-feira. Iriam realizar o
encontrão, mas não tive vontade nenhuma de ir. O único encontrão
que eu iria seria o antes do ano novo. Pois faríamos o amigo oculto
do jornal. Assim que cheguei em casa na sexta estava exausta. Mas
como o natal já era no outro dia, eu tinha que fazer as malas.

E assim que tiro meus sapatos, quase dou um grito de tanta dor
nos pés. Eu tenho que parar de trabalhar de salto, por mais elegante
que seja. Uma hora eu vou morrer por isso. Jogo minha bolsa no
sofá, e vou até meu quarto. É melhor fazer tudo agora e tomar banho
depois e me jogar na cama.

Pego minha mala e começo a colocar algumas roupas, meus


sapatos. Coloco um kit de higiene e então fecho a mala. Serão só
três dias, não preciso de muita coisa. Pego uma mochila fofa que
comprei, e coloco algumas coisas pessoais, meus documentos, e
minha passagem. Coloco minhas maquiagens, e a coloco junto com
a mala em um canto do quarto.

Renato foi hoje de manhã para lá, e levou praticamente tudo o


que trouxe. As coisas aqui não saíram como o planejado. Ninguém o
chamou para entrevistas e ele decidiu voltar. Lá em Campinas pelo
menos ele já tinha como fazer uns bicos até conseguir outro
emprego. Uma hora ou outra o seguro dele vai acabar. Separo meu
pijama e minha toalha e pego meu celular para mandar uma
mensagem para Max.

Todos nós do jornal fomos embora, mas ele ficou com Arthur,
para fazer os últimos retoques.

EU: Ainda vai demorar muito? Não esquece que amanhã


temos um voo cedo!

Ele demora cinco minutos para ver a mensagem e me responder.

MAX: Acho que ainda demora umas duas horas isso aqui,
linda. Deu um probleminha, e estamos corrigindo. Não se
preocupe comigo.

EU: É claro que me preocupo. Olha lá, hein. Nada de sair


com o Arthur pra farra.

MAX: KKKK Juro que tô morto. Mas se pudesse escolher,


preferiria a farra do que resolver problemas! Vou ter que focar
aqui pra tentar acabar mais cedo. Faz o seguinte: vou passar em
casa e pego minhas coisas e aí vou pra sua casa. Deixa a chave
extra debaixo do extintor. E tenta descansar.

EU: Ok, faço sim. Mas não demora, tá? Vou tomar um banho
aqui e deitar.

MAX: Não faz inveja kkk Bjos! Te amo.

EU: Também te amo.

Envio a mensagem sorrindo e vou para o banheiro. A água


quente me relaxa tanto que só caio na cama e apago
completamente.

Nem sei quanto tempo se passa até sentir alguém tocando meu
braço.

— Linda? — ouço Max sussurrar. — Chega um pouco pra lá.

Abro meus olhos e quase fico cega com a luz. Vejo que Max
tentou me cobrir, mas estou por cima das colchas então não teve
sucesso e foi obrigado a me acordar. Me afasto e ele me cobre.

— Só vou tomar banho, ok? E já volto. — ele diz e se aproxima e


beija minha testa.

E novamente eu esqueço da vida e simplesmente apago.


Não demorou muito até chegarmos em Campinas. Acordamos
cedo e já fomos direto para o aeroporto. Tomamos café lá mesmo e
assim que chegamos, já pegamos um táxi para ir na casa dos meus
pais. Max parecia mais animado que o normal. E ao mesmo tempo
mais nervoso.

— Tá tudo bem? — Começo a rir.

— Tá. — ele diz sorrindo. — É que agora é meio sério, né?

Solto uma gargalhada e empurro seus ombros.


— Deixa de besteira, Max!

— Vai contar pra eles quando chegarmos?

— A verdade? — pergunto e franzo a testa.

Ele vira o rosto na minha direção e deita a cabeça no banco.

— Acho que não vou contar, pelo menos não no natal. Eu sei que
devo só falar do Pedro e tal, mas... Essa loucura acabou dando certo
no fim das contas, né? Eu e você estamos juntos de verdade. Acho
melhor contar quando estiver vindo embora do que contar assim que
a gente chegar.

— Você que manda — ele fala.

Meu coração se aperta. Max pega o celular e nem parece notar o


que de fato me aflige. Bom, como eu vou chegar pra minha mãe e
falar: " Mãe, então, teve o lance do Pedro, mas aí Max e eu
fingíamos estar noivos. Mas era tudo mentira, mas aí nos
apaixonamos e..."

E o quê? Somos amigos com benefícios? Max ainda não disse o


que somos. Namorados? Só sexo casual? Amizade colorida para o
resto da vida?

É. Com certeza preciso ter certeza de algumas coisas primeiro


antes de confundir ainda mais a cabeça dos meus pais.

— Chegamos! — digo apontando a casa e o motorista para na


porta.

Desço e pego minha mochila.

— Pode ir entrando, eu acerto aqui e pego nossas malas — Max


fala.

— Ok!
Vou correndo e aperto a campainha, e mamãe vai abrir o portão
pra gente. A abraço com força, matando as saudades, e me sinto em
casa, no meu lar, só por estar nos braços dela.

— Fizeram boa viagem?

— Foi tudo bem, mamãe. Estava morrendo de saudades.

— Eu estava mais — ela diz sorrindo.

Vou até a casa enquanto ela espera Max pegar as bagagens, e


cumprimento meus irmãos que estão mais interessados na tv do que
em mim. E vou até papai que está na cozinha. O abraço por trás e
ele sorri.

— Oi, meu amor! — ele fala. — Estou fazendo o almoço, espero


que estejam com fome!

— Morrendo. — Sorrio.

Max e mamãe chegam e o vejo puxando nossas malas, ele


cumprimenta a todos e pego minha mala para ajudá-lo.

— Max, quero que se sinta em casa! — mamãe fala.

— Já estou me sentindo. — Ele sorri.

O chamo e vamos andando até meu quarto. Abro a porta e então


entramos. Guardamos nossas malas em um canto e solto um suspiro
com as lembranças que estar de volta em casa me proporciona. Max
me abraça e deito meu rosto em seu peito.

— É tão bom estar aqui com você — sussurro.

— Esse com certeza vai ser o meu melhor natal — ele diz, segura
meu rosto e me faz olhar pra ele. — Só de estar do seu lado já vai
ser.
Sorrio e ele se abaixa e beija minha boca devagar e sorrimos
juntos em meio ao beijo.

— Com licença pombinhos! — mamãe fala encostada na porta.

Só sorrimos e ele volta a me abraçar.

— Vou precisar roubar ela um pouquinho. — Mamãe se aproxima


e segura minha mão. — Temos que conversar.

Max foi com meu pai levar o dinheiro do Peru que está assando.
E eu e mamãe estamos terminando de arrumar as coisas do natal.
Hoje é uma data importante. Além de todo o significado, é a primeira
vez que me sinto compartilhando isso com alguém que amo. Já que
Pedro sempre passou com a família, nunca tivemos nenhum
momento assim juntos.

Mamãe me entrega um forro dourado de mesa lindo, e eu forro a


mesa com ele. Em seguida começamos a distribuir os pratos e
arrumar tudo.

— Sabe, eu acho que agora é um bom momento para


conversarmos — mamãe fala quando o silêncio se instala entre nós.

Viro meu rosto em sua direção enquanto seguro os talheres, e ela


se aproxima e se encosta na cadeira. Sinto meu coração quase parar
de bater. Ela sabe! Ai meu Deus! O que eu falo agora? Por onde
começar?

— Tem mesmo que ser agora essa conversa? Estava planejando


ser depois do natal.

Mamãe franze a testa e então vejo uma caixinha preta em sua


mão.

— Que isso?

— É o que quero conversar, longe deles — ela diz sorrindo e se


senta na mesa e empurra uma cadeira ao seu lado para eu me
sentar.

Vou até ela e me sento meio sem graça. Então não é sobre o
Pedro? Ela realmente não sabe de nada?

— Queria que ficasse com isso — mamãe fala me entregando a


caixinha.

A pego sem jeito e a abro devagar. Lá dentro tem um colar bem


delicado em formato de coração. Mamãe o abre e lá tem uma foto
dela e outra da minha avó. Sinto meus olhos se encherem de
lágrimas e ela segura minha mão.
— Eu sei que de onde quer que ela esteja, iria querer que eu
passasse isso pra você.

— Ah, mamãe. — Me jogo em seus braços e ela me abraça, colo


de mãe é tudo o que eu preciso agora. — Obrigada!

— Não por isso — ela fala e começa acariciar minhas costas,


como fazia quando eu era pequena e queria colo. Sorrio e aperto o
colar em minhas mãos, isso significa tanto pra mim. — Agora, me
conte... O que você estava planejando me contar?

Paraliso por alguns instantes e então me afasto devagar dela.


Mamãe limpa minhas lágrimas e sorri.

— Confia em mim se eu te disser que ainda quero contar depois


do natal?

— É claro meu amor — ela diz. — Quando estiver preparada para


dizer o que tiver que dizer, estarei preparada para ouvir.

Sorrio e seguro sua mão. Estranhamente me lembro do primeiro


jantar que fizemos todo juntos, com o Max. Onde mamãe me
entregou uma história, ela queria em que momento eu descobri que
amava Max.

Isso era importante para ela... E naquele tempo eu ainda não


sabia. Mas agora eu sei.

— Foi em uma noite no meu apartamento — sussurro e mamãe


me olha sem entender. Ergo meu olhar e solto fôlego que estava
prendendo.

— O que foi em uma noite no seu apartamento?

— Eu tinha acabado de tomar banho e o Max estava deitado na


cama conversando com provavelmente as mulheres que ele
enrolava. Aquele dia tinha acontecido muita coisa. Eu tinha
terminado um relacionamento, e Max, como sempre, estava tentando
me animar. E eu por outro lado, estava com uma ideia maluca na
cabeça. Eu cheguei perto dele e perguntei qual era o maior medo
dele, e ele me fez dizer o meu. Eu disse que tinha medo do amor.

Mamãe franze a testa e aperta minha mão.

— Disse a ele que eu queria um quebra-cabeças completo. E ele


me disse que se eu encontrasse alguém e essa pessoa não me
amasse o suficiente, ele me amaria o restante que faltasse.

Mamãe abriu um sorriso e outra lágrima escorre por minha


bochecha.

— E naquele momento, mesmo que breve... Eu me peguei


imaginando como seria ser amada completamente por ele.

— Então foi ali — mamãe disse.

— É, mãe... Foi ali que eu senti a possibilidade de um nós pela


primeira vez.

Ela sorri e me abraça, ficamos um tempo em silêncio até que


ouço passos atrás de mim. Nos viramos e Max está parado na porta
com papai. Por um momento me esqueci que o lugar onde eles
levariam o dinheiro era na esquina.

— Então... Parece que por um momento sua imaginação se


concretizou — Max diz. — Porque eu amo você principalmente
quando esse quebra-cabeças tem peças faltando.

Me levanto e vou até ele, que me abraça, me ergue um pouco do


chão, e me prova que com ele, não tenho que ter medo de nada. Ele
beija minha boca e minha bochecha e eu começo a rir.

— Esses dois, já tava na cara — papai fala indo para a cozinha.

— Ah, não, não aguento mais ver isso — Renato fala rindo e dá
meia volta.
Max me solta, me coloca no chão, e eu me viro enquanto ele me
abraça por trás. Mamãe termina de arrumar a mesa e então me
entrega a caixinha do colar.

— Quero todos vocês prontos às dez! — ela diz, e se aproxima


de mim e do Max. — Espero que a conversa de amanhã tenha a ver
com netinhos.

— AH, MAMÃE! — Reviro os olhos e Max meio que arregala os


olhos. — EU NÃO TÔ GRÁVIDA.

— Ué, mas você quer esperar passar o natal para me contar algo
importante. E você é a salvação dessa família.

Solto uma gargalhada e Renato resmunga da sala. Sinto os


braços de Max ainda rígidos em meu corpo.

— Bom, então vai ter que esperar! — digo.

Mamãe bufa irritada e vai até a cozinha onde meu pai está. Sinto
Max deslizar sua mão até a minha, ele segura e começa a me puxar
em direção ao quarto. E assim que a gente entra, ele fecha a porta e
me olha assustado.

— Que foi? — pergunto me assustando também.

— Você... É... Você... Tá grávida?

Fico um tempo em choque, mas quando percebo que Max está


falando sério, solto uma gargalhada e ele não muda a expressão.

— Claro que não, tá maluco? Deus me livre! Não quero isso


agora.

Ele se senta no colchão pensativo, e então bate com a mão na


lateral. Continuo rindo quando me sento lá, mas me obrigo a ficar
mais comportada para ouvir ele.
— Linda... — Ele se vira de lado e segura minha mão. — É que,
eu me lembrei da nossa primeira vez, né.

— O que tem ela? — Dou de ombros.

— Qual é, Rachel. Não usamos nenhuma prevenção.

Solto outra risada e cruzo as pernas.

— Max! Eu me cuidei. Tá que foi errado esquecermos a


camisinha, mas eu tomo anticoncepcional e tomei a pílula do dia
seguinte. Minha menstruação veio e foi embora normalmente. Qual
é!

— A Gi continuou menstruando e estava grávida do Miguel — ele


fala.

— Para! — Me estresso e me levanto da cama. — Ela foi


diferente, ela estava passando mal a beça. Eu não estou grávida.
Fim de papo.

— Tá. — ele diz e solta um suspiro. — Então não se importaria se


eu comprasse um teste só por prevenção e...

— NÃO! Chega disso! — Me irrito e abro a porta do quarto. — Eu


tô ótima e não tem nada em mim.

Ele concorda e solta um suspiro.

— Tem certeza?

— Max! Sério, para com isso.

Ele concorda e segura minha mão e me puxa para mais perto.


Até me fazer sentar em seu colo.

— Então faz pra mim, por favor — ele sussurra.


— Fazer o quê? — Me assusto e Max percebe o que disse e
começa a rir.

— O teste, Rach.

— Que susto! — O empurro e ele cai de costas na cama comigo


em cima. — Eu faço se isso tirar essa preocupação daqui. — Aponto
para sua testa.

— Obrigado — ele diz. — Mas tem outras coisas que você pode
fazer para tirar esse estresse. Mas enfim, o lugar não é apropriado.

Sorrio e saio de cima dele me deitando ao seu lado. Estico minha


mão e pego a dele, e Max cruza nossos dedo e começa a brincar
com minha mão. Apertando e massageando meus dedos.

— Você estava no encontrão do jornal — Max diz e eu o olho sem


entender.

— Não entendi.

— Você estava feliz, eu cheguei e estava com a mão esticada,


isso foi há uns dez meses atrás. Na sua mão tinha um anel e você
estava falando que iriam se casar. Eu me lembro que eu me encostei
na pilastra e fiquei te observando de longe. Você conversou com a Gi
e estava tão feliz que eu não quis incomodar. — Ele vira o rosto na
minha direção e eu me recordo desse dia. — Aí você me viu e sorriu.
Veio na minha direção e pulou nos meus braços.

— Eu me lembro. — Sorrio. — Você disse que eu estava louca e


que...

Max e eu ficamos em silêncio e eu enfim consigo entender.

— Que ele não era o cara certo — Max diz e eu franzo a testa. —
E aí você disse que eu não entendia nada sobre o que é amar
alguém. E que quando eu amasse, entenderia o motivo.

— Quero me matar — sussurro.


— E aí você foi e fez aquela cara quando fica irritada comigo por
ter implicado com você. Ficamos até o encontrão acabar. O Pedro
teve que ir embora e fiquei lá com você, e depois te levei pra casa. E
você começou a me falar sobre o amor. Você estava bêbada pra
caralho. — Ele sorri e eu reviro os olhos. — E aí você foi e disse "Só
tenta, Max". E apagou no meu colo. E aí, mesmo que por um
momento, eu me peguei imaginando como seria amar você. E em
como eu faria tudo diferente dele.

Perco o ar quando Max fala e eu me sento meio atônita com a


revelação. Max se senta também e fica meio sem graça.

— Então foi ali?

— Foi ali.

— Mas você saiu com várias depois disso — digo.

— Naquele tempo éramos amigos. Você estava noiva e bêbada e


o amava. E... Eu não sabia o que era o amor. Só que naquele dia, eu
parei por um tempo e pensei em nós dois... Em como seria essa
loucura, e no quanto seria perfeito.

— Max... — O empurro já chorando e ele vem até mim e deita a


cabeça no meu colo. — Que bom que está sendo perfeito então.

Ele ergue a mão e toca meu rosto.

— Com você não tem como não ser — ele sussurra já se


aproximando para me beijar.
Capítulo 36

A noite está sendo perfeita. Assim que mamãe ligou os pisca-


pisca, e Max e papai chegaram com o Pernil e o colocaram sobre a
mesa, eu olhei ao redor e vi Renato se aproximando com uma
garota.

Sorrio ao reconhecer que é a Sara, uma ex-namoradinha dele.


Me aproximo dela sorrindo que está completamente envergonhada,
mas retribui quando a abraço.

— Que surpresa! — digo sorrindo.


— Quanto tempo! — ela fala. — Eu passei só pra dar um abraço
em vocês.

— Sei. — Abro um sorriso porque sempre soube que Renato foi


apaixonado por ela, mas ele sempre escolhe caminhos errados. Faz
escolhas erradas. — Fico feliz em se lembrar.

A abraço novamente, e a libero para ir até minha mãe.

— Vê se não estraga tudo dessa vez! — sussurro pra Renato.

Max se aproxima de mim e me abraça por trás. Deita o rosto em


meu pescoço e o beija, causando uma série de arrepios por meu
corpo. Me contorço sorrindo.

— Max... — resmungo. — Sossega.

— Como você quer que eu sossegue quando tá usando esse


vestido? Quer me matar?

Meu sorriso se abre. Realmente escolhi esse vestido exatamente


para deixar ele sem palavras. Ele é todo vermelho, longo, faz uma
sereia, bem colado ao corpo. As alças ficam nas laterais e caem um
pouco em meus ombros. Ele faz um nó na frente, o que dá uma boa
visão dos meus seios. Me deixa elegante e sexy.

Sinto as mãos de Max apertarem minha cintura e me viro e beijo


sua boca, toco seu rosto com minha mão o puxando para mais perto
e acaricio seus cabelos quando vejo um clarão. Abro meus olhos
assustada e vejo minha mãe com a câmera na mão sorrindo.

— Que susto! — digo e Max me puxa por trás para mais perto e
coloca o rosto na curva do meu pescoço, entrelaçamos nossos
dedos e sorrimos juntos para minha mãe que bate outra foto nossa.

Logo depois que ela sai, ajeitamos a mesa e em seguida


juntamos todo mundo ao redor e fazemos nossas orações, e então
comemos a ceia. Foi fantástico. Todos juntos, rindo, conversando,
contando casos. Olhei tudo ao meu redor e tive a certeza que essa
noite seria marcada pra sempre. Sara precisou ir embora mais cedo,
mas parece que Renato está começando a se reaproximar dela.

Depois de comermos, fomos até a sala e começamos a fazer


brindes e brincadeiras e distribuir os presentes. Ganhei várias coisas
fofas. Até que fui até a árvore e pego o embrulho pequeno. Vou até
Max sorrindo, que está sentado na beirada do sofá com meu irmão.
E ele sorri pra mim. Me aproximo e ele me puxa pela cintura e o beijo
devagar na boca.

— Feliz natal — sussurro sem separar muito nossas bocas.

Max pega o embrulho e o abre. Comprei um relógio bem caro pra


ele. Para ele usar sempre no trabalho, e que sei que ele queria
muito.

— Rachel, tá louca? Isso deve ter sido caro! — ele diz.

— Olha atrás.

Max franze a testa e vira o relógio, mandeigravar "Você é a batida


perfeita do meu coração". Seu sorriso aumenta e Max tomba a
cabeça para o lado e me puxa novamente para mais perto e beija
minha boca depressa. Guarda o relógio, e o coloca em cima do sofá.
Segura minha mão e entrelaça nossos dedos.

— Agora chegou sua vez — ele fala, e cobre meus olhos com as
mãos. — Vai ter que confiar em mim.

Sinto uns degraus, e o vento lá de fora bater em meu corpo. Ouço


a porta de fechar e Max me puxa para mais perto dele e cola seu
corpo no meu por trás.

— Continua assim. — A voz de Max chega como um sussurro


nos meus ouvidos e vamos andando.

Ele está com as duas mãos em meus olhos, tapando


completamente minha visão.
— Max, eu vou cair! — Começo a rir tentando andar sem
tropeçar. E então depois de uns dez passos, ele solta as mãos.

Estamos no jardim do quintal. Perto de uma árvore cheia de luzes


piscando. Franzo a testa e Max sorri e coloca uma mecha do meu
cabelo atrás da minha orelha, e então ele inspira fundo, parece
realmente muito nervoso.

— Rach... Não surta — ele fala e meu coração já se acelera.

— O que aprontou? — murmuro.

Max sorri e pega minha mão, entrelaça nossos dedos, a puxa e


beija o dorso da minha mão. E então ele solta meus dedos dos deus.
E então ele olha para meus olhos. Sou sugada por aquela imensidão
verde como o mar.

— Eu andei pensando e... — ele começa. — Não sou bom com


essas coisas, mas quero aprender tudo com você, cada fase.

— Max...

— Você já me ensinou a amar. A cuidar e proteger, a conversar e


aconselhar. A me sentir em família e em casa quando estou com
você. E eu quero tudo com você... Então... — ele pega uma caixinha
em seu bolso e arregalo meus olhos surpresa. Max a abre e tem
duas alianças lá dentro. — Namora comigo?

Um sorriso se instala em meus lábios e eu apenas me jogo em


seus braços.

— Não acredito nisso! — digo rindo e Max me aperta contra ele e


depois me afasta um pouco. — MAX!

— Oi?

— Você finalmente me tirou da Friendzone! — Bato em seu braço


tentando brincar e ele revira os olhos sorrindo jogando a cabeça para
trás sorrindo.

Sorrio e o abraço pela cintura, me aproximo e beijo sua garganta,


fazendo ele abaixar o rosto e olhar nos meus olhos.

— Não esperava uma resposta assim — ele fala.

— Que tal assim... — Puxo seu rosto e beijo sua boca devagar.
— Eu aceito... Quero tudo com você — murmuro e mordo deus
lábios devagar. — Eu te amo, Max!

— Então coloca logo isso no dedo pra esfregar na cara de todo


mundo que é minha — ele fala e puxa minha mão e coloca o anel no
meu dedo. Sorrio e faço o mesmo com ele.

Ouvimos um barulho e olho para o lado vendo Renato parado lá


em choque.

— Ok, acho que preciso de mais uma bebida! — ele fala. —


Parabéns ao antigo/novo casal?

Sorrio e vou até ele e o abraço.

— Obrigada. Mas falando em casal, e a Sara?

— Falei pra ela voltar depois do compromisso, mas não sei se...

A campainha toca e abro um sorriso junto com ele, que tenta


reprimir, fingindo não ligar. E já vai correndo para dentro abrir a porta.
Max sorri e se aproxima, entrelaço minha mão na sua e me aproximo
e o beijo.

— Obrigada, eu amei — digo baixinho.

— Não aceito menos do que para sempre — ele fala.

Voltamos para dentro de casa, e noto que está tudo um silêncio.


Vou até a sala e assim que chego lá parece que vou desmaiar. Minha
pressão abaixa de repente com o susto que levo. E de repente todos
olham para mim.

— Rachel? — minha mãe pergunta um pouco nervosa.— Pode


nos dizer quem é esse rapaz?

Pedro está parado no meio da sala. Com os olhos fixos na minha


mão entrelaçada com a de Max. Posso ver seu peito subir e descer
de tão nervoso que ele está.

— SEU FILHO DA PUTA! — Pedro grita partindo com tudo na


direção de Max.
Capítulo 37

Sabe quando tudo ao seu redor parece se congelar? É como se


seu sangue esfriasse e percorresse suas veias com gelo dentro. Foi
assim que me senti ao ver Pedro no meio da sala da casa dos meus
pais. É como se todo o tempo parasse de passar. Como se eu
estivesse em um pesadelo, que me tirou do sonho mais perfeito e
tudo o que eu quero é acordar.

— SEU FILHO DA PUTA! — Assim que Pedro grita desviando o


olhar da minha mão entrelaçada com a de Max, e vem na direção
dele, eu não sei qual foi o meu instinto.
Solto minhas mãos da de Max e me apresso para ficar na frente
dele, noto que Pedro diminui a intensidade que vem correndo
quando me vê na sua frente.

— PARA! — grito e vou para frente, coloco minhas mãos em seu


peito o impedindo de se aproximar, ele está tão furioso que começo a
tremer, tudo aconteceu tão rápido que não consegui processar a
informação ainda. — Pedro, para!

Ele para de tentar se aproximar. Nessa hora Renato já se


apressou em se colocar comigo entre os dois.

— Fica longe disso! — Pedro grita, segura minhas mãos em seu


peito e me empurra com força em direção ao sofá.

— Não encosta as mãos nela! — ouço Max gritar, que é segurado


por Renato, que não sabe quem olha primeiro.

— SERÁ QUE DÁ PRA TODO MUNDO PARAR COM ESSA


PORRA AQUI? — Renato grita e os dois nem escutam o que ele
falou.

— Quem é ele? — mamãe pergunta alto e todos olhamos em sua


direção.

Sinto meu coração querer sair pra fora do meu corpo. Reúno toda
a coragem para falar e...

— Sou o noivo dela. — Pedro fala fazendo mamãe arregalar os


olhos e eu também.

— Cala a boca! — digo me aproximando. — Você não é nada


meu!

— Bom, era pra ser, né, Rach? — Ele aumenta o tom de voz. —
Mas é só eu ir para a cidade da minha promoção do serviço que o
quê? Do nada você resolve me esquecer assim tão fácil?
— É tanta coisa ridícula que saiu da sua boca que eu me
pergunto como tive coragem de ficar com você! — digo o
empurrando pelo ombro.

— Então... É verdade? — mamãe pergunta assustada.

— Sua filha e eu estávamos noivos, mas foi só eu receber uma


proposta de outro emprego e me mudar que ela resolveu terminar
nosso noivado e assim que eu fui embora, ela começou a ficar com o
melhor amigo. Fala sério. Da noite pro dia? — Ele se vira pra mim. —
Aposto que me traía desde que começamos a namorar.

— CALA A SUA BOCA! — Bato em seu peito com força. — Como


tem coragem de vir aqui depois de tudo o que fez?

Pedro simplesmente me empurra para o lado e vai em direção a


Max, mesmo sendo segurado pelo meu irmão.

— Teve sorte que eu estava longe, se não quebrava sua cara


assim que me enviou aquela maldita foto! — Pedro fala empurrando
Renato e se aproxima de Max, que não se deixa abater, ergue o
rosto, ficando mais alto que ele, e meio que estufa o peito, pronto
para partir pra cima. — Mas nunca é tarde pra acertar as coisas.

Assim que Pedro fecha a mão em punho para bater em Max, eu


me aproximo deles correndo, mas Max pega a mão de Pedro no ar.
Renato tenta se aproximar e Max o fuzila enquanto segura Pedro
pelos braços.

— Fica fora, Renato! — Max berra. — Meu assunto é com ele.

— Como você tem coragem de tocar na minha mulher? — Pedro


grita e então todos fazem silêncio, inclusive eu.

— O quê? — Max pergunta e então ele começa a rir. — Sua o


quê? Repete na minha cara.

— Minha mulh...
Max acerta um murro no rosto de Pedro, solto um grito assustada
e Pedro anda uns dois passos para trás.

— Por Deus, o que está acontecendo? — mamãe fala assustada.

E então eu respiro fundo tentando me acalmar.

— PAREM VOCÊS DOIS! — berro e eles olham pra mim. — Aqui


não é hora nem lugar para essa palhaçada. — Me viro para minha
mãe e solto um suspiro. — Mamãe, vai pra dentro, depois a gente
conversa.

Papai segura nos braços dela e eles saem da sala, mas não
antes de ver o olhar da minha mãe. Ela estava tão decepcionada e
magoada que quando passa por vira o rosto pra mim, como se
doesse me olhar, e isso acaba com meu coração. Renato solta um
suspiro e começa a andar de costas junto com meu outro irmão.

— Se precisar, eu tô ali. — ele fala e eles saem da sala.

Começo a respirar fundo, e sinto as lágrimas escorrerem por


meus olhos. Podemos ouvir só a respiração de nós três no meio da
sala. Max se aproxima de mim e limpa minha bochecha e beija o
topo da minha cabeça.

— Fica calma — ele sussurra. — Fica calma por favor.

— Tira as mãos dela! Será que é surdo? — Pedro berra se


aproximando e fico de frente para ele.

— Olha pra mim — digo e Pedro continua olhando para Max. —


Cacete, Pedro, olha pra mim.

Ele respira apressado e então abaixa o olhar, seu peito sobe e


desce. E nem reconheço mais seus olhos, tem uma raiva e uma ira
que tenho medo até de olhar, mas não vou deixar ele me abalar.

— Eu te dei duas escolhas. Agir como adulto e conversar ou que


terminássemos e você iria embora pra sempre.
— Eu sei... — ele sussurra. — Amor, eu entendo. Mas eu sou
humano, Rachel! Eu tenho o direito de me arrepender.

— Foda-se! — grito. — Você tinha que ir embora pra sempre,


então que merda está fazendo aqui?

Ele solta um suspiro e pega minha mão, mas puxo de volta o


impedindo de me tocar. Ele franze a testa e bufa estressada.

— Eu senti sua falta! — ele fala. — Senti desde a primeira noite


dormindo naquela cama fria, em como eu queria compartilhar tudo
aquilo com você. E... Quando aquele desgraçado me...

— Max! — eu o corto e ele me olha. — O nome dele é Max.

— Quando aquele desgraçado... — Pedro repete sem desviar o


olhar do meu. — Me mandou uma foto e disse que estavam juntos, o
que você queria que eu pensasse? Eu já estava com as malas
prontas pra voltar pra você, e...

— De onde tirou a ideia que eu te queria de volta? — Aumento o


tom de voz. — Presta atenção no que eu vou te falar e eu vou falar
só uma vez.

— Amor...

— Para de me chamar assim! — O empurro com força e ele faz


negação com a cabeça.

— Você já me traía com ele, né? — Pedro me acusa.

— Não te devo satisfações! — digo e então coloco as mãos na


cintura. — Presta atenção no que eu vou te falar. Você vai sair agora
dessa casa, vai sumir da minha vida, e nunca mais vai voltar.

— Rach... — Ele segura meu braço e tento sair mas ele é mais
forte e me segura.
Max se aproxima e segura o braço dele.

— Tira as mãos dela, eu não vou falar de novo! — A voz grave de


Max faz até minha pele se arrepiar.

Pedro solta uma risada e me solta com força.

Abraço Max por trás e ele fica como um escudo na minha frente.

— O único filho da puta, desgraçado, traidor aqui é quem eu


estou olhando agora — Max diz andando para frente na direção dele.
— Você não precisa que digam a você o quanto foi um filho da mãe
porque você sabe que foi. Você não precisa dizer que sente falta
dela porque é óbvio. Quem não sentiria? Ela é mulher demais pra
você.

— Inclusive pra você — Pedro fala. — Qual é, Max! Me


surpreende a Rachel se rebaixar a sexo casual com alguém você.

Max dá outro murro em Pedro, se afasta de mim e coloco a mão


na boca. Pedro também o empurra e dá outro soco forte no rosto de
Max. Eles começam a se atacar e eu começo a gritar o Renato. Que
aparece com meu pai e os dois separam a briga.

— Eu vou acabar com você! — Pedro grita.

— Entra na fila, Pedro! — Max diz e faz Renato o soltar. — E quer


saber? Eu peguei mesmo a Rachel. Ela é muito mulher pra nós dois,
mas eu pelo menos estou fazendo de tudo para ser um homem digno
de merecer ela, e você fez o quê?

— Ela só pode estar louca por ficar com alguém como você.

Me aproximo com tudo, aproveitando que papai está o


segurando, e dou um tapa tão forte no rosto de Pedro que minhas
mãos doem.

— Nunca mais chega perto de mim! — grito. — Você é um


monstro!
— Só não esquece que esse monstro aqui, era a pessoa que
você queria começar uma família!

— E graças a Deus ele me livrou disso! — digo alto. — E como


queria que eu tivesse percebido isso antes! Quem sabe...

Paro de falar e então percebo que tudo na nossa vida acontece


por uma razão. Por um motivo.

— Foi bom assim — digo baixinho. — Se você não tivesse me


abandonado, eu não teria me aproximado tanto do Max... Então,
obrigada. Porque foi você que acabou abrindo meus olhos para eu
enxergar o que estava, literalmente, na minha cara todos esses
anos!

— Rachel! — Pedro revira os olhos e suspira. — Eu só não


entendo como é capaz de fazer isso.

— Você precisa se tratar — digo. — Veio no meio da noite, na


casa da sua ex fazer barraco e se acha no direito de me julgar?
Toma vergonha na cara e vê se some com o mínimo de dignidade
que te restou.

Papai solta Pedro que parece ter levado um murro.

— Você não pode estar falando sério — ele fala. — Quando ele
for pra cama com outra, e te abandonar como se fosse mais uma,
nem pense em me procurar, porque eu avisei.

Ele fala e então ajeita a jaqueta e sai pela porta a batendo com
força.
Capítulo 38

Fico um momento parada, olhando em como essa noite foi


arruinada. Mas graças a Deus tudo passou. Sinto Max se aproximar
de mim, suas mãos me puxam para mais a perto e ele beija minha
bochecha com força.

— Já acabou — ele sussurra. — Por favor, não acredita no que


ele diz, ele...

— Max? — Ergo seu rosto e o faço olhar pra mim. — É óbvio que
não. Eu te amo.
— Ele disse que eu...

— Sei exatamente quem você é — sussurro e ele concorda e me


abraça.

Um silêncio se instala na sala, até que assim que me afasto de


Max, vejo mamãe no corredor olhando para a gente.

— Ah, mãe eu... — digo me aproximando.

— Você realmente estava noiva daquele homem? — ela


pergunta.

Paro de andar e puxo o ar para ignorar meu coração, as pessoas,


todos os últimos acontecimentos.

— Eu era — sussurro. — Ele ia no jantar da senhora, mas, aí ele


me contou que...

— E você realmente ficou com o Max depois que ele se mudou


para o novo emprego?

Olho para Max que está com a testa franzida, claramente


incomodado e constrangido com a situação.

— Sim — admito num sussurro.

Mamãe coloca as mãos no rosto e depois ajeita o cabelo e faz


negação.

— Onde foi que eu errei com você?

É... O quê?

— Mãe, eu...

— Você termina seu noivado porque seu noivo vai se mudar de


cidade e logo em seguida o trai com seu melhor amigo?
— O quê? — Max pergunta a olhando assustado.

— Mãe! Quem você pensa que eu sou? Não pode...

— É melhor vocês irem embora amanhã cedo — ela fala e sai de


perto, anda em direção ao seu quarto e fecha a porta.

Uma facada teria doido menos. Sinto a dor se instalar em meu


peito, sinto as lágrimas invadirem meus olhos e começo a respirar
apressada. Sinto a mão de Max me segurar e tudo fica como um
borrão na minha frente.

— Rachel? — Ouço sua voz distante. — Olha pra mim, amor. —


Max vira meu rosto e eu enfim me lembro de respirar quando olho
em seus olhos. — Esquece isso, esqueça tudo. Foca em mim. Olha
nos meus olhos e respira. — Sinto minha pressão parecer voltar, é
como se eu fosse cair naquele instante. Mas começo a respirar
fundo. — Isso. Devagar.

E então tudo explode, e começo a chorar. Max nem perde tempo


e me puxa para seus braços, deixando eu chorar em paz.

— Isso, coloca pra fora — ele fala baixinho e eu solto um soluço e


me aconchego mais nada, parece que nada é suficiente. — Por
favor, só tente ficar calma. Estou aqui com você.

— Ela acha que eu terminei com ele! — digo aos prantos. — Ele
acha que eu sou uma idiota que traí!

— Ela está de cabeça quente, não ouviu o lado certo da história,


ela só não está pensando direito, Rach... Espera até amanhã, as
coisas se acalmarem e aí a gente conversa, ok?

Concordo com a cabeça e sinto Max se abaixar e passar seu


braço por baixo do meu joelho. Ele me pega em seu colo e eu
escondo meu rosto em seu pescoço.
— Amanhã a gente resolve tudo — ele fala para papai e Renato,
sinto alguém segurar o braço dele, mas só quero chorar e esquecer
de tudo. — Pode deixar, eu vou cuidar dela.

E então Max me leva até o quarto, fecha a porta com o pé, e me


coloca devagar no chão.

— Só me deixa cuidar de você — ele sussurra, me vira e desce


devagar o zíper do meu vestido.

Max segura a barra e sinto ele puxar o vestido para cima, tirando-
o de mim. Em seguida ele coloca meu vestido em cima da mesinha e
pega uma blusa sua em sua mala. Se aproxima e me ajuda a vestir
ela. Sorrio e ele me puxa para mais perto e me abraça.

— Acho que precisa de colo e conchinha — ele fala em meus


cabelos.

— E você — sussurro deitando o rosto em seu peito.

— Isso é fácil, você já me tem por completo — ele diz e ergue


meu rosto, e me beija.

Calando qualquer dor e pensamento que eu possa ter.


Capítulo 39
MAX
Ela parece um anjo dormindo. Seus cabelos caem um pouco em
seu rosto, e ela abraça o travesseiro. Minha blusa subiu em seu
corpo, parando no rumo de seu umbigo, e ela está com as pernas
dobradas. Ainda na posição de conchinha. Me aproximo devagar e a
cubro.

Me sinto um idiota por estar assim, criando coragem para fazer o


que eu vou fazer. Porque isso podia tanto ser para o bem, quando
piorar a situação. Mas olhando para ela, tudo o que eu quero é
protegê-la, principalmente seu coração.

Me levanto devagar da cama, e visto um moletom, calço meus


chinelos, e saio do quarto sem fazer nenhum barulho. Ouço algumas
vozes na cozinha, e então respiro fundo e me preparo para fazer
isso.

Eu posso aceitar qualquer coisa justa. Mas se ela pensa que vai
machucar a Rachel de novo, é porque ela não se meteu comigo
ainda.

— Precisamos conversar. — falo e faço a mãe de Rachel fechar a


cara ao olhar na minha direção.

Renato estava lá na mesa, e assim que digo ele suspira e se


levanta e sai.

— Não tenho nada pra falar com você — ela diz.

— Miriam? — sussurro e ela enfim termina de passar o café e se


vira na minha direção. — Agora.

— Como é que é? — Ela me olha estressada. — Quem você


pensa que é para me dar ordens assim? Seus pais não te deram
educação, não?

— E quem você pensa que é pra tratar sua filha daquele jeito? —
Altero meu tom de voz e ela se encolhe. — Sinceramente? Quem
precisa aprender como tratar as pessoas não sou eu.

— Olha aqui, Max...

— Então o que você prefere? — digo começando a me acalmar.


— Sentar e conversar, ou eu juro por Deus que se você falar mais
alguma merda pra ela, eu mesmo a tiro da sua vida.

Ela fica calada e então solta um suspiro. E então apenas puxa a


cadeira e se senta meio emburrada. Agradeço mentalmente a Deus
por isso. Me aproximo dela e me sento ao seu lado na mesa.

— Não quero que ela acorde e ouça a gente — digo.

— Não acredito que vocês se relacionaram enquanto ela ia se


casar.

— Olha pra mim.— digo e ela demora uns segundos até


finalmente me olhar. Me aproximo dela e seguro sua mão. — Quanto
tempo você me conhece?

Ela não responde.

— Quanto tempo você conhece ele? — digo e ela trinca o


maxilar. — E quanto tempo conhece a Rach?

— Isso só dói ainda mais. Saber que ela...

— Que ela o quê? — Solto sua mão e a olho a desafiando. —


Realmente vai acreditar no que um estranho diz pra você sem nem
querer saber o principal lado da história que é o da sua filha? Sério
isso, Miriam? Na boa, eu nunca esperaria algo assim de você!

Ela solta um suspiro e coloca as mãos no rosto, tentando fugir.

— Eu não sei o que pensar — ela diz. — Fiquei muito assustada


ontem, e acabei falando aquilo sem querer, me machuquei também.

Não estou aqui para consolar ela. Ela perdeu a minha confiança
em não ficar do lado da filha. E só o que quero é jogar na cara dela
como errou com a Rach.

— Ele se chama Pedro — digo a cortando. — Rachel e ele se


conheceram no jornal. Eles namoraram, até que ele a pediu em
casamento. E aí você ligou falando do jantar, porque ela sempre
fugia. E ela queria que vocês o conhecessem, ela estava super
empolgada em chamar ele pra finalmente prosseguirem mais juntos
com o noivado.
— E onde você entra nisso? — ela me olha.

— Eu entro na vida dela muito antes daquele cara, estive em


momentos da vida dela em que você não estava, eu sei quando ela
se machuca, sei quando está feliz, eu estive lá... O tempo todo. Mas
sobre o Pedro... Eu entro na parte em que sua filha chegou lá na
minha casa, chorando, porque o noivo aceitou uma proposta de
emprego em outro país.

Miriam franze a testa e acho que ela começa a entender.

— Outro... país? — ela pergunta assustada.

— Acontece, Miriam, que o Pedro é um filho da mãe. Que


abandonou sua filha e a deixou com tudo para cancelar o casamento
porque a carreira era algo que mais importava pra ele. E ela ficou
com medo. Ela ficou péssima. Ele a ignorava quando ela ligava. E
quando você entrou em contato, ela não queria te contar ainda
porque não estava preparada, e não queria que fosse pelo telefone.

— Então por isso ela estava com aquela voz triste.

— Sim. E aí você foi atrás dela, e eu acabei entrando na onda


daquele lance de noivado e só quis ajudar. Eu só queria que ela
lidasse com uma coisa de cada vez. Foi idiota? Foi. Imaturo? Pra
cacete! Mas foi essa idiotice e imaturidade que fez com que...

Miriam olha pra mim e sorri. Segura minha mão e eu aperto a sua
contra a minha.

— Foi graças a isso que me apaixonei por ela, e digamos que ela
também foi sentindo isso. Aos poucos. Ela tinha medo, e eu também.
Mas fui quebrando aqueles muros dela, a gente foi se aproximando.
Não escolhemos isso, só aconteceu.

— Oh, meu Deus! Sinto muito por isso. Me sinto horrível pelas
coisas que falei — ela diz. — Não acredito que ele foi embora sem
que eu desse um murro na cara dele por ter feito minha filha de
boba. Ninguém brinca com ela.
Sorrio e percebo de onde Rachel tirou seu jeito.

— Obrigada por me contar, Max.

— Era isso que ela ia te falar hoje. Ela só queria esperar um dia
mais calmo pra te contar desde o início.

— Nada de netinhos mesmo, então — ela se lamenta e eu solto


uma risada.

— Quem sabe no futuro?

Ela sorri e franze a testa.

— Vocês dois... Meio que, são... o quê?

— Eu quero tudo com sua filha, mas quero devagar, não tenho
pressa. Pedi ela em namoro, porque quero viver cada fase de um
relacionamento com ela. Mas... Prometo que só quero vâ-la feliz.

— Ainda bem que ficaram juntos, eu sempre soube... Mas não


podia interferir. Era uma escolha dela.

— Eu entendo — sussurro. — Enfim, só quis falar isso, porque


não admito que a machuque ou a ofenda da maneira como fez
ontem.

— Eu sei. Me sinto péssima.

Ficamos em silêncio e ouço o barulho da porta do quarto se


fechar e sons de rodinha preenchem o corredor. De repente, Rachel
aparece usando ainda minha blusa, mas colocou meu moletom por
cima e sua calça, e está puxando nossas malas.

— Oi. — Me levanto e me aproximo dela, estranho nossas malas.


— Bom dia.

Ela me deixa beijá-la e então suspira e toca meu rosto.


— Já arrumei nossas coisas, vai lá trocar de roupa pra gente ir.

— Mas, nosso voo é só a tarde.

— Não fico mais um minuto nessa casa — ela fala e pega seu
celular para conferir as horas. — Por favor, Max.

Solto um suspiro e olho para Miriam, que está envergonhada,


mas se aproxima de Rachel.

— Filha? — ela a chama e Rachel não diz nada, apenas aperta


mais o celular.

Me aproximo dela devagar e tiro seu celular de sua mão. Ela me


olha como se eu fosse um traidor.

— Sua mãe quer conversar.

— Me devolve — ela fala. — Não quero falar com ela.

— Tá querendo enganar quem? Rachel, sou eu! Eu sei que se


você não conversar isso vai te consumir, então só escuta. — Estico o
celular e ela pega sem jeito. — Se mesmo assim quiser sumir, eu
juro que te levo embora na mesma hora.

Ela fica pensativa por um momento, e então concorda com a


cabeça. Se vira na direção da mãe e abraça seu próprio corpo.

— Eu... — Miriam começa a se aproximar. — Eu sinto muto,


Rachel!

— Pelo quê? Ficar do lado de um cara que não conhece ou me


julgar de ser uma ingrata traidora?

As lágrimas invadem os olhos dela e tenho que me segurar para


não puxá-la para os meus braços. Mas isso é um assunto só delas.
— Por tudo — Miriam diz. — Max me contou o que houve. E eu
realmente sinto muito por tudo o que houve com você e por tudo o
que eu disse... Mas, principalmente... Sinto muito por não ter te dado
liberdade ao ponto de você achar que precisaria mentir pra mim.

— Mãe...

— Eu teria quebrado a cara dele e te dado colo. Eu queria estar


com você quando não estava bem, e saber que você precisou mentir
só para eu não me preocupar com você... Rachel! Não é isso o que
fazemos!

Rachel começa a chorar e Miriam se aproxima dela e abraça.

— Não é isso o que fazemos — ela fala e afaga os cabelos dela,


a acalmando como eu quero fazer. — Quando uma está com
problema ou precisando de ajuda, a gente conta uma pra outra. Você
não tinha que lidar com isso tudo sozinha. Não quando tem uma mãe
que te ama.

E então eu decido sair para dar privacidade a elas. E agradeço


mentalmente a Arthur por isso. É como ele me disse quando sugeriu
que armasse-mos um plano para eu conversar com a Rachel.

Às vezes, em nossa vida, tudo o que temos que fazer é baixar um


pouco o orgulho e dizer que dói, que sente falta. Só se colocar no
lugar do outro e deixar que o tempo e o coração toma conta do resto.
Capítulo 40

Gisele e eu ficamos de queixo caído quando Pedro entrou na


sede do jornal. Ele cumprimentou algumas pessoas, contou como foi
as coisas em Chicago para alguns. E o que mais me incomodava é
que o tempo todo ele estava olhando para mim. Não importa com
quem ele falasse, ele fazia questão de virar a cadeira e o corpo e
ficar me olhando como se só existisse a mim naquele lugar.

E quando o vi se aproximando da Gi, fiz questão de pegar o


telefone e fingir estar em uma ligação, para que ele nem se atreva a
me dirigir a palavra.
— Ei, pequena, fiquei sabendo sobre a bebê. Deve estar feliz que
a Emanuelle está a caminho. — Pedro diz se aproximando da mesa
dela, que nem tira os olhos do computador e continua digitando.

Gi quase caiu para trás quando contei sobre o que ele fez no
natal.

— Está precisando de alguma coisa? — ela diz sem olhar para


ele.

Sinto os olhos de Pedro sobre mim e ouço seu suspiro.

— Tudo bem, entendi, a porra da união feminina... Onde está o


Arthur?

— Ele tem uma sala, como você sabe. Se não estiver lá... — Ela
levanta e vai até a impressora. — Se vira e o encontre sozinho. Eu
tenho mais o que fazer do que ficar bancando a assistente do redator
dessa empresa.

Pedro solta uma risadinha e ouço seus passos se aproximando


de mim. Inspiro o ar, e então desligo o telefone. Não preciso dessa
desculpa. Não preciso criar situações para não falar com ele. Isso é
imaturidade e eu preciso começar a enfrentar as coisas.

Ergo meu olhar e ele está parado na frente da minha mesa, me


olha sorrindo. Ele se aproxima devagar e se debruça sobre a mesa,
e não me intimido, ergo meu rosto e o encaro. Porque não significa
nada olhar pra ele. Não dói, não pesa a consciência, não me afeta no
sentido ruim... Só no de raiva, de querer dar um tapa na cara dele
pelo que fez na casa dos meus pais. Mas quanto ao que ele fez
comigo, não quero sujar minhas mãos.

— Perdeu alguma coisa? — digo brusca.

— Você tá linda — ele sussurra e sorri.


Ouço Gisele rindo de deboche e sorrio também. Reviro meus
olhos e inspiro fundo. Pedro dá a volta na mesa e vem até mim, se
agacha do meu lado e apoia uma mão na minha cadeira.

— Precisamos conversar — ele diz.

— Não precisamos, não.

Ajeito meus arquivos com as matérias do dia seguinte, e começo


a correção. Pelo menos tento.

— Rach... — Ele segura minha mão e a retira do teclado. Depois


vira minha cadeira, e me coloca de frente para ele. — Não precisa
me falar nada. Só escuta.

— Escuta você — digo alto e me levanto da cadeira. Várias


pessoas nos olham e Pedro balança a cabeça e se levanta também.
— Eu já perdi cinco anos da minha vida com você! Já perdi minha
confiança, meu amor, meu respeito por você! Já perdi minha
sanidade por querer quebrar sua cara e te tirar à força da minha
casa... Só que o que você não sabe é que eu não sou mais aquela
mulher idiota que ficava cega e te protegendo, tá me ouvindo? E eu
não vou perder mais nenhum segundo da minha vida com a porcaria
da sua conversa!

Saio de perto e várias pessoas do meu serviço sorriem e gritam


vibrando pelo que eu disse. Vou andando em direção a sala de
Arthur quando sinto Pedro me segurar pelo braço, ele me puxa até
perto do banheiro e me coloca contra a parede.

— Não preciso que diga que não é a mesma, sei disso, cacete! —
ele fala. — Eu realmente me arrependo pela cena que fiz na casa
dos seus pais, e sinto muito se te deixei pra trás. Não tem um
segundo que eu não me sinta um otário por ter tomado a pior
decisão da minha vida. — O encaro e Pedro segura meu rosto em
suas mãos. — Eu já tinha tudo só por ter você. E desculpa se fui
burro demais pra perceber tarde demais, mas agora não importa.
Porque eu já te perdi e sei disso.
— Tira as mãos de mim. — Retiro suas mãos e Pedro dá um
passo para trás de afastando. — Só vou te dizer uma coisa: Aquilo
que eu disse na casa dos seus pais sobre não te querer quando
descobri sobre o Max era mentira. Quando você descobrir que ele
está te usando e faz tudo parte do joguinho dele... Saiba que eu vou
estar lá por você.

— Pedro...

— Porque você é alguém que vale a pena esperar.

E então ele se vira e vai embora. Inspiro o ar e tento me manter


calma. Pego um copo de água no bebedouro e volto para a minha
mesa. Gisele está me encarando e quando me sento ela já se
aproxima e segura minha mão.

— Não entra nessa — ela diz baixinho.

Balanço a cabeça concordando com ela e começo a desligar meu


computador. Já deu meu horário há algum tempo, mas tinha tanta
coisa para resolver, e por mais que amanhã tudo acumule eu não
tenho cabeça para nada hoje. Ajeito minha mesa e dou um beijo na
cabeça da Gi.

— Já vou.

— Me liga ou manda mensagem se precisar — ela fala.

— Ok.

Vou até a sala, bato meu ponto e pego minha bolsa. Deixo todos
me olhando quando passo pelos outros funcionários, e chamo o
elevador. Ligo meu celular e vejo que tem três mensagens não lidas.
Abro primeiro a de Max.

MAX: Linda, surgiu um imprevisto hoje, não vai ter como te


encontrar. Pode ser no fim de semana? Bj.
Suspiro chateada mas respondo que tudo bem. E então assim
que entro no elevador abro a outra mensagem de um número
desconhecido. E me surpreendo ao descobrir que é de Vivian.

DESCONHECIDO: Oi, Rachel. É a Vivian. Sabe, andei


pensando muito antes de te mandar uma mensagem. E eu
queria que soubesse disso, porque se eu estivesse no seu lugar,
gostaria. Max está mentindo para você. Ele não terminou
comigo, pelo contrário, nos veremos hoje à noite. E sei que não
vai acreditar, porque se eu estivesse no seu lugar também não
acreditaria. Então vou te mandar um áudio que gravei dele
falando sobre você quando perguntei. Então, faz um favor?
Suma e pare de atrapalhar nossa vida.

Sinto um tremor percorrer meu corpo, mas crio coragem e clico


no áudio que ela me mandou, e me surpreendo ao ouvir que
realmente é a voz de Max.

— Ela é só uma amiga. Que mal tem nisso? Eu sei que ela
está sofrendo e tudo mais, mas eu ajudei até agora e depois é
só ir se afastando um pouco até acabar tudo e ela não ver que
menti todo esse tempo. Eu respeito muito ela, mas sabe como
é? Aquelas listas onde sempre tem a primeira do topo? Ela era
aquele tipo que nunca pensei, mas quem resiste? Só não
preocupa que as coisas não vão mudar, ok? Eu não vou te
abandonar só por causa de alguém na lista. Já faz anos que
estou tentando, mas você não precisa se preocupar, sabe como
funciona. Quando tudo acabar... Eu estarei na pista de novo,
como sempre. à noite vou passar na sua casa e a gente
conversa mais, tá bom? Ela nem vai desconfiar. Beijo!
Capítulo 41
MAX
Existem momentos na vida da gente, em que tudo dá tão errado
que nem parece que é real. Parece um daqueles pesadelos ruins
onde tentamos acordar e não acontece. Momentos em que
relaxamos, porque nada mais de ruim vai acontecer, nada mais vai
mudar, e então... acontece. Esses momentos nos perseguem, nos
cegam. Nos questionam. Nos intimidam.

E quando achei que nada mais podia acontecer, mais uma bomba
explode sem nem me dar a chance de me preparar para juntar os
estilhaços.

Me sento na beirada da cama e coloco as mãos na cabeça, tento


controlar minha respiração e meu coração, não consigo pensar em
nenhum plano, nenhuma prova...

— Olha pra mim — Vivian fala e agacha no chão e tira minhas


mãos do meu rosto. — Não é hora pra ficar todo pensativo aí, tá me
ouvindo?

— E você espera que eu fique como? — Tiro suas mãos de mim


e então respiro fundo para tentar manter o controle.

— Não tenho culpa disso, tá legal? Não precisa descontar em


mim!

Me obrigo a parar de fazer isso e ser grosso ignorante. Ela tem


razão, não tenho que descontar nela. Pelo contrário, ainda bem que
ela teve a decência de me dizer a verdade. E ser sincera.

— Você vai me contar direitinho como tudo aconteceu, Vi. — Me


aproximo dela e sento ao seu lado.

Ela concorda e dobra as pernas e então estica seu celular.

— Eu estava num bar. Juro, Max, eu não sei direito o que rolou.
Eu estava muito bêbada! — Ela revira os olhos e mexe no cabelo
tentando se lembrar. — E aí eu e as minhas amigas conversamos
com uns caras, e eu apaguei numa hora. Quando vi, já estava sendo
acordada pela Micaela e ela querendo me levar embora.

— E?

— E aí hoje de manhã eu peguei meu celular e vi a mensagem.

— Que porra, Vivian!

— Eu não sei o que aconteceu... Não sei que diabos de áudio é


esse! Mas o que eu sei é que eu não mandei porcaria de mensagem
nenhuma pra sua namoradinha! Qual é, Max! Eu posso ter raiva de
vocês mas não sou nenhuma maníaca psicopata!

— Eu sei! Mas é muito estranho isso do nada aparecer no seu


celular.

— Eu estava bêbada. E mesmo que eu tivesse feito isso, nem sei


que porcaria de áudio é esse! — Ela se levanta e coloca uma mão na
minha frente, me acusando. — Espera aí! Realmente tá achando que
eu mandei isso? Max! Se eu tivesse feito isso não estaria aqui
contando pra você, seu idiota!

Bufo de raiva e pego meu celular, ligo para Rachel pela décima
vez e ela não me atende. Mando mensagem e ela não visualiza.
Mando uma mensagem perguntando onde ela está e ela também
não me responde.

— Porra! — Jogo meu celular na cama e tento me acalmar.

— Max? — Vivian me chama e eu me acalmo primeiro antes de


olhar na cara dela. — Aquele áudio...

— Não estava falando dela. Mas agora ela pensa que estou! Ela
acha que eu brinquei com ela esse tempo todo e que não significa
nada!

— Quanto tempo gravou aquilo?

— Sei lá, deve ter uns dois anos aquilo, que merda isso importa,
Vivian?

Ela concorda com a cabeça e limpa uma lágrima em sua


bochecha.

— É que você estava falando de mim — ela sussurra.

Fico parado e então sinto outro golpe do destino na minha vida.


Olho em seus olhos e confirmo o que ela quer saber. Ela abraça as
pernas e se esconde de mim.
Me sinto um merda de um babaca. Como eu não via que ela se
importava e que para ela tudo aquilo não era apenas encontros
casuais? Me aproximo dela devagar e me agacho na sua frente.

— Ei... — Puxo seus braços e ela olha para mim.

— Hoje é sexta, né? — ela pergunta enquanto as lágrimas


escorrem nos seus olhos e ela tenta se esconder.

— Sim.

— Então hoje é aquele tal de encontrão que você sempre me


deixava e ia. Ela deve estar lá. Se quiser vou com você, mostro meu
celular, eu falo que não fui eu ou invento o que quiser.

— Vi? — Seguro o rosto dela e a faço olhar pra mim. — Não


quero que pense que foi só mais uma pra mim.

— Vamos lá ver ela — ela diz e tenta sair mas não deixo.

— Vivian! Você me conheceu antes, e me conhece agora — digo


e ela para e se vira para olhar pra mim.

— Eu sempre achei que um dia você iria baixar a guarda e se


apaixonar por quem eu sou.

— E eu amo você, mas não como gostaria, entende? E eu juro


que se tratei você com alguma falta de respeito, não foi por maldade.
Houve um tempo na minha vida em que eu não ligava pra porra
nenhuma. E foi bem aí que você apareceu.

Ela sorri e então me dá um tapa leve na cabeça.

— Todo sentimental! Ela ferrou mesmo com sua cabeça, né?

— Não só com a cabeça — digo sorrindo e ela revira os olhos. —


Só... desculpa se alguma vez se sentiu desrespeitada ou se te
magoei. Nunca foi minha intenção.
— Não esquenta com isso, você sempre foi sincero e muito
respeitoso. Se um dia eu encontrar alguém que me olhe como você
sempre olhou pra ela... — Ela revira os olhos e me abraça. — Já vou
estar muito satisfeita.

— Vai achar. E ele vai ser um cara de sorte.

— Pelo menos um de nós está feliz e encontrou algo bom...


Então o que diabos ainda faz aqui?

— Não sei o que dizer, ou como explicar... Falar "Ah Rach a


propósito, sabe a Vivian? Minha ex? Então, ela ficou bêbada e
apareceu uma mensagem no celular dela, que ela não mandou, e um
áudio que ela nem sabia que existia."

— Bom... Que merda. — Vivian começa a rir e pega as chaves do


carro na minha mesa de cabeceira. — Mas é um bom começo!
Capítulo 42
MAX
Assim que estaciono o carro, começo a pensar em um milhão de
coisas para dizer. Tento encontrar diferentes modos de explicar todo
esse rolo em que eu me meti, sem nem saber. Olho para o bar do
encontrão bem no momento em que Gisele e Arthur estão saindo e
indo até o carro. Um trovão se estronda no céu, e pela primeira vez
sinto medo.

Pela primeira vez, consigo ver perfeitamente a imagem dela na


minha frente. Consigo ver o dia em que a vi pela primeira vez, nossa
primeira conversa, a primeira aproximação, os primeiros segredos e
a primeira vez que ela confiou em mim. Consigo me lembrar de como
ela sempre me fez rir com o som da sua risada. Em como ela era
divertida e sexy esse tempo todo e eu cego de nunca perceber o que
de fato importava.

Olho novamente para a entrada do bar e aperto o volante,


tentando encontrar as palavras certas, ou a coragem que preciso.

— Vai sair do carro ou vou ter que te dar um pontapé? — Vivian


pergunta me encarando.

— Eu... Estou me preparando psicologicamente pra tudo. Acho


que é melhor você ficar aqui, se ela te ver do meu lado, vai acreditar
e será pior.

— Não, eu saio e entro sozinha lá no bar, tem uma amiga me


esperando já. Qualquer coisa se a situação ficar feia você me chama
ok?

Concordo e tiro as chaves, guardo no bolso e saio do carro.


Conhecendo a Rachel como conheço ela deve estar puta comigo.
Isso é pouco, ela com certeza não está a fim de ver nem pintado de
ouro. Vai me ignorar e vamos brigar e só Deus sabe como isso tudo
vai acabar. Logo hoje! Hoje eu demorei no serviço, conversei com
Arthur e fui em uma loja comprar algo para ela, era para ser uma
surpresa boa, era para o dia acabar de um jeito totalmente diferente
hoje.

Atravesso a rua e começa a cair uns pingos grossos de chuva.


Vou até a entrada do bar, e assim que passo pela portaria começo a
procurá-la, Vivian passa por mim e vai até uma mesa com sua
amiga.

Assim que encontro a Rachel, meu coração congela. A vejo de


longe perguntando algo do cardápio ao garçom, ela aponta e parece
feliz. Não parece que está prestes a me matar. E quando dou um
passo a frente, travo quando vejo Pedro se levantando da mesa.
O que esse filho da mãe está fazendo aqui com eles?

Pedro vem andando tranquilamente em minha direção, um sorriso


de deboche surge em seus lábios, e quando enfim ele chega perto
de mim, coloca as mãos no bolso e respira fundo como se estivesse
tentando manter a paciência.

— Sabia que você estragaria tudo com ela rápido, só não


esperava que fosse tão rápido assim.

— Sai da minha frente — digo com raiva, e quando passo por ele
Pedro segura meu braço me impedindo e me puxa para perto da
entrada.

— Escuta, Max, não estou a fim de brigar. Se quer do jeito difícil


tudo bem. Mas, acho bom saber de algumas coisas antes.

Cruzo meus braços de frente ao peito e controlo minha vontade


de quebrar a cara dele.

— Rachel hoje mais cedo, recebeu uma certa mensagem com


provas de que você estava mentindo esse tempo todo. Como eu
sempre a alertei que fizesse.

— Isso não é da sua conta — digo e começo a andar quando o


ouço falar.

— A partir do momento em que fui eu que a consolei da


mensagem, a alertei e abri a mente dela... É sim. A partir do
momento em que decidimos que o melhor seria continuar com o
casamento, passa a ser da minha conta, sim.

O quê?

Me viro devagar e o encaro com raiva, fecho minha mão prestes


a dar um soco em seu rosto, mas respiro fundo tentando manter o
controle.
— A Rachel jamais voltaria com você.

— Isso é o que você pensa — Pedro diz e simplesmente sai de


perto de mim e vai em direção a mesa novamente.

Respiro fundo tentando manter o controle e me surpreendo


quando ele chega perto dela e diz algo que a faz sorrir. Ela pega o
celular em cima da mesa e a vejo revirando os olhos. Fico em dúvida
se vou até lá, ou se é melhor simplesmente ir embora e deixar ela
esfriar a cabeça. Como tudo aconteceu hoje, não queria que ela
tomasse nenhuma decisão de cabeça quente. Sem pensar.

Pego meu celular e escrevo uma mensagem enquanto saio do


bar. Bloqueio meu celular e saio andando na chuva mesmo. Pego as
chaves do carro, e quando estou no meio da rua paraliso.

— Max! — a voz de Rachel cala qualquer coisa à minha volta.

Me viro e a vejo correndo em minha direção, ela semicerra os


olhos por causa da chuva e enquanto se aproxima de mim mentalizo
tudo o que quero dizer.

— Você realmente ia embora sem nem falar comigo?


Capítulo 43

MAX: Ei, linda, sei que deve estar puta comigo, mas juro que
não é o que está pesando com a Vivian. Conversei com o Pedro
e ele me disse que voltaram com os planos do casamento.
Relaxa, sei que não é verdade. Mas decidi ir embora, amanhã a
gente conversa melhor. É sério, eu preciso conversar com você.
Te amo. Bjos.

Assim que vejo essa mensagem de Max chegar para mim


começo a olhar no bar a minha volta, e o vejo indo em direção à
porta e saindo do local. Por que ele vai ir embora sem falar comigo?
Me levanto depressa e assim que vou em direção à saída, Pedro se
coloca na minha frente.

— Eu estava pensando... Talvez eu tente te vencer na tequila, tô


preparado. Topa?

Respiro fundo e o encaro da pior maneira possível.

— Se eu aceitei tentar tolerar você aqui é porque eu sou muito


educada — digo me aproximado dele. — Mas da próxima vez que
você for falar merda para o meu namorado ou achar que tem
liberdade comigo, eu juro que perco a compostura. Tá me
entendendo?

Pedro solta um suspiro e sorri de lado.

— O engraçado é que... O cara é seu namorado — Pedro fala e


toca meu rosto com sua mão. — Quando você poderia ter um
marido.

— Eu prefiro ficar sozinha o resto da minha vida, do que passá-la


com você. — O empurro e vou mais depressa em direção a saída.

Vejo Max no meio da rua, indo em direção ao seu carro. Está


chovendo, e isso me faz estremecer, só não sei se é de frio ou
nervosismo pela situação. Apresso meus passos enquanto o observo
seguir seu caminho totalmente alheio a mim. Ele está com as mãos
no bolso, cabisbaixo.
— MAX! — grito e vejo a surpresa em seu rosto quando se vira e
me vê, e então para para me esperar. — Você realmente ia embora
sem me falar nada?

Ele solta um suspiro e segura meu braço, me puxa até a calçada


e nos escondemos da chuva.

— Desculpa, é só que... — As gotas da chuva pousam em seus


cílios, o que faz com que seus olhos brilhem. Como um mar vende
iluminado. — Pra ser sincero, não sabia bem se queria falar comigo.

Franzo a testa e cruzo meus braços de frente ao corpo.

— E por que eu não iria querer falar com você?

Max me encara por um tempo, tentando entender alguma coisa,


ele parece surpreso e isso só me deixa ainda mais confusa. Estalo
meus dedos querendo chamar sua atenção.

— Hoje a Vivian foi lá em casa. Ela me disse que foi em uma


festa e apagou e tinha uma mensagem enviada para você sobre
mim.

Começo a falar mas ele se aproxima de mim, segura meu rosto


com as mãos e apoio as minhas mãos em seu quadril.

— Eu sei que é uma história bizarra sem nexo, e difícil de


acreditar... Mas, juro por Deus, linda que eu não fiz nem falei nada de
você. Por favor, não vamos brigar.

Solto uma risada e ele me olha sem entender.

— Tá legal, eu esperava gritos, ser ignorado, até apanhar, mas...


Você está mesmo rindo?

Puxo ele pela cintura e Max entrelaça seus dedos em meus


cabelos.
— É claro que eu não acreditei naquela mensagem. Acha que eu
sou burra? — digo rindo e Max franze a testa. — Aquilo lá foi algo
que mandou pra mim há um tempão, nem sei como ela conseguiu
isso e...

— Ela disse que foi em uma...

— E não me importa como ela conseguiu. — Tampo sua boca


com minha mão e Max suspira concordando. — Porque o que
importa é que existem pessoas invejosas demais com a felicidade
dos outros. — Max sorri e fico na ponta do pé tentando alcançar sua
boca. — Mas isso não vai nos afastar.

Ele puxa meu rosto para mais perto e sua boca se choca contra a
minha. E assim que ele suspira e sua língua dança contra a minha
em movimentos lentos e perigosos, o puxo pela jaqueta o trazendo
para mais perto. Max me vira contra a porta de algum
estabelecimento fechado e sua boca desce até meu pescoço, e ele
me beija e mordisca minha pele.

— Não sabe como eu tô aliviado em saber que estamos bem —


ele sussurra contra meu ouvido.

Sorrio e encosto nossas testas.

— Você não estava atendendo minhas ligações, fiquei maluco.

— Lá tinha muito barulho, desculpa — sussurro e acaricio seu


rosto. — Ficou trabalhando até mais tarde?

Max se paralisa depois que digo isso. Seu corpo fica rígido e
posso notar sua hesitação em me falar algo. Ele olha para baixo,
pensando, e posso ver a batalha que ele luta, até que enfim suspira
desistindo e sorri, ergue seus olhos na minha direção e morde os
lábios devagar.

— Na verdade, Arthur me falou de um lugar pra eu ir e eu fui. Eu


precisava comprar uma coisa e aí inventei algumas coisas.
Semicerro os olhos em sua direção e ele começa a rir.

— E posso saber por que mentiu pra mim?

— Talvez seja porque eu tenha enfim percebido que eu fui idiota


esses anos todos em não ter notado você.

— Max...

Ele começa a acariciar meu quadril com seus polegares, traçando


pequenos círculos e tento agir como se não estivesse sendo afetada.

— Eu penso em você assim que acordo, e antes de dormir. Pode


parecer idiota e vergonhoso mas eu faço isso. E quando eu passo
por um momento feliz ou triste você é quem eu mais quero contar. E
foi por isso que eu menti.

— Porque se assustou por me amar demais? Porque eu sou


incrível e maravilhosa? — me gabo rindo e ele revira os olhos e
então se afasta um pouco colocando as mãos nos bolsos.

— Eu menti justamente porque eu acho bobeira planejar demais,


querer tudo devagar com você... Não quero nada devagar. Não
quero pensar em você quando eu acordar ou ir dormir. Eu quero ver
você, abraçar você... — Max segura minha blusa com sua mão e me
puxa lentamente para mais perto. — Dormir e acordar do seu lado.

— O que você...

—Eu quero tudo, Rach! — ele sussurra. — Não existe hora certa.
Eu juro que eu queria um jantar cheio de velas e aquelas bobeiras de
flores... Mas, em uma rua qualquer, debaixo de um temporal e
olhando pra você parece tão certo...

— Tão certo para?

Começo a rir e ele também, e então ele morde os lábios e tira sua
outra mão do bolso, e assim que olho para sua mão vejo uma
caixinha preta sendo aberta. E um anel brilha ainda mais quando
algumas gotas de chuvas rebeldes caem sobre ele. Meu coração de
repente para, me esqueço de respirar. Ergo meus olhos em sua
direção e se o mundo se congelasse agora eu ficaria feliz.

Max agacha sobre uma perna e estica o anel em minha direção.


Um sorriso toma conta da sua boca e eu começo a tremer.

— Rachel...

— SIM! — Começo a rir e me aproximo dele, me ajoelho no chão


e o abraço pela cintura.

— Casa comigo.

— SIM! — Puxo seu rosto e salpico beijos em seu rosto enquanto


ele ri.

— Seja minha — ele diz sussurrando e eu paro de beijá-lo e olho


em seus olhos.

Entrelaço minhas mãos em seus cabelos e encosto nossas


testas.

— Eu já sou sua Max, por inteiro — sussurro.

— Mas agora é diferente — ele diz. — Porque é pra sempre. Não


tem como recusar, ou se estressar comigo porque cozinho melhor
que você, ou porque sou implicante quando pego no seu pé, não tem
devolução.

— Ei. — Sorrio e seguro seu rosto e beijo sua boca devagar. —


Não aceito menos do que pra sempre.

Ele sorri e então tira o anel da caixinha, e coloca em meu dedo, e


assim que ele coloca em meu dedo, é como se uma ligação dentro
de mim acontecesse, é como se com esse gesto e tudo o que esse
anel representa. Eu finalmente sinto que encontrei a última peça que
faltava do meu quebra cabeças. Ele não está completo, ele está
além disso. Tudo que passei até agora me faz entender o motivo de
cada encaixe, de cada peça. Me faz entender que a vida é como
quebra cabeças, com fases, lados e caminhos diferentes.

Uma decisão muda tudo. E foi graças a tentativas e erros que


descobri a peça final que estava na minha frente esse tempo todo, e
que agora não falta mais nada.

— Ei. — Max ergue meu rosto em sua direção e beija minha boca
devagar. — Eu e você.

— Eu e você pra sempre — sussurro.

Max se levanta e me puxa pela cintura, me abraça e me ergue do


chão.

— Só vou te dizer uma coisa... — ele fala e morde minha orelha


enquanto me leva de volta em direção ao bar do encontrão. — Você
vai ser o bolo de pote mais sexy que eu verei na vida.
Epílogo
Talvez é assim que as coisas devessem ser, afinal. Talvez eu
deveria sim ter segurando sua mão quando tudo ficou escuro aquele
dia.

Pequenas decisões. Pequenos momentos. Pequenos picos de


adrenalina.

Foi devido a isso, simplesmente ter segurado a sua mão, que me


apaixonei pelo calor de sua pele. Me peguei ansiando seu toque, seu
beijo, seu cheiro. Ouvir sua voz... Foi tudo por um motivo, é assim
que as coisas acontecem, por uma razão maior que só
entenderemos no final de tudo. Só entenderemos quando todas as
peças se encaixarem, quando toda brincadeira vire verdade, quando,
de repente, parece que seu coração encontra a batida com o ritmo
mais perfeito de todos.

É ali que sabe que encontrou a pessoa certa. Quando deseja que
todo o tempo que passaram juntos, durasse sempre um pouco mais.
E tudo isso é graças ao primeiro dia, a primeira conexão criada. E
tudo isso é graças a um primeiro momento, aquele momento, aquele
dia.

O dia em que eu segurei a sua mão na escuridão.

E mudei meu mundo no processo.


Obrigada por ter lido!
Biografia
Mora em Divinópolis, MG. Com sua mãe e seu zoológico de
animais de estimação. Apaixonada por séries, filmes, livros e
anatomia, dedica seu tempo dividindo seu amor por escrever e
cursar a faculdade de fisioterapia. Gosta de escrever sobre
sentimentos, sobre a vida, sobre caras playboys que nos fazem
perder o fôlego. E de trazer esses personagens á vida em suas
histórias.

Maiores informações e contato com a autora:

instagram: @autorarafaalves
Série Escolhas
1- Faz de conta que é amor. ( Amanda e Cadu )

Spin-off: Faz de conta qu acontece

2- A eterna promessa. ( Arthur e Gisele )

3- Em busca da batida perfeita. ( Rachel e Max )


Não é necessário ler a série em sequência, cada livro conta
a história de personagens secundários diferentes.

(Porém, pode conter alguns pequenos spoiler´s, como


chamativa aos outros livros, que não interfere na obra em
si).
OBRAS DA MESMA SÉRIE:
Faz de conta que é amor
Depois de longos quatro anos de relacionamento, Amanda se depara com um término
inesperado ao invés do pedido de casamento que ela tanto sonha. E depois de ter a vida
virada de ponta cabeça, ela só tem uma decisão: Ir embora para outra cidade, e recomeçar
sua vida. Mas claro que o destino não a deixaria continuar seguindo em frente deixando
tudo para trás, como se nada tivesse acontecido. Após cinco anos fugindo do passado, sua
melhor amiga vai se casar e ela se vê obrigada a voltar e enfrentar aquele que mais a
machucou.
Disposta a mostrar a todos que já superou o que tanto a machuca, ela embarca em um
plano que com certeza irá enganar todo mundo. E se joga de cabeça nele.
O que ela não esperava, é que seu plano fosse dono dos olhos mais sombrios, do sorriso
mais provocante, e do coração mais complicado. Cadu é do tipo que quebra as regras. Sua
vida é vivida da melhor maneira possível, sempre testando todos os seus limites.
Mas será que o cara errado e a garota com o coração partido irão mesmo enganar a todos?
Ou será que embarcar neste FAZ DE CONTA irá mudar a vida deles para sempre?
de conta que acontece
( É NECESSÁRIO TER LIDO O LIVRO FAZ DE CONTA QUE
É AMOR PARA LER ESTE SPIN-OFF)

" Algumas histórias, foram feitas para durar para sempre.


Algumas terminam com um gostinho de quero mais. "

Depois de se jogar de cabeça em um plano que foi totalmente aceito pelo seu coração,
Amanda não poderia estar mais feliz. Trabalha na vaga dos seus sonhos, se apaixona ainda
mais pelo homem de olhos sombrios e sorriso cafajeste... E, de quebra, conseguiu o pedido
que sempre sonhou.
É, Santo Antônio atendeu todas as suas preces! Cadu é o homem dos sonhos!
E é claro que eles juntos, ainda tem muitos outros momentos á compartilhar.

Faz de conta que Acontece é um spin-off, uma coletânea de contos dos melhores
momentos que ainda estão por vir.
O tão esperado casamento, aquela despedida de solteira, e "Ah meu Deus"
Acho que o destino preparou mais uma surpresa na vida desses dois. Será que eles estão
preparados para embarcar em um novo acordo?

Será que o coração dela tem alguma chance de encontrar alguém


que esteja disposto a ficar?
A Eterna Promessa
Quando um coração é partido... Quanto tempo ele leva para se curar?

De casa ao trabalho, festas com os amigos... Ignorar em todos os momentos, aqueles


dois pares de olhos azuis por trás dos óculos, focado em sua tarefa. Ignorar a dor que sente
toda vez que fica perto dele de novo. É assim a vida de Gisele. Desde que terminou seu
relacionamento á seis anos atrás, pensava que o melhor a fazer era esquecer esse
sentimento. Mas parece que com o tempo, ele só ficou mais forte.

Arthur está em um relacionamento desgastante, parece que vive sua vida todos os dias
no piloto automático, sem poder fazer o que realmente quer. Ás vezes, a vida nos trás
surpresas. Algumas complicadas demais para simplesmente ser esquecida. E nesse
momento é a hora de fazer a escolha certa.

Ela só não esperava que seu mundo fosse desabar por causa dele.

E ele não esperava, que no momento mais delicado de sua vida, fosse perdê-la no
processo.

Mas ás vezes, sua vida pode mudar conforme as escolhas que você faz. E você pode
descobrir que mesmo que os caminhos do destino te levem para um lugar diferente...
Sempre existirá um outro caminho que irá trazê-lo de volta ao começo.

Um faz de conta já foi contado.


Agora chegou a vez de uma promessa acontecer.

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