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Contents

Prólogo
APENAS UMA CARTA DE ADEUS
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CaPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
EPÍLOGO
Leia o Spin-off do livro:
Biografia
Série Escolhas
Todos os direitos reservados.
Criado no Brasil.
Edição: Rafa Alves
Diagramação: RP Desing Editorial / Ana Marzzari
Revisão: Tatiane Moro
Ilustração: Nayara Poluca ( @naliterata )
Capa: Mirella Santana
www.mirellasantana.com.br
Modelo por ©VitalikRadko/depositphotos

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produto da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes,
datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Todos os direitos estão reservados. São proibidos o


armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra,
através de quaisquer meios - tangível ou intangível - sem o
consentimento escrito da autora. Criado no Brasil. A violação dos
direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do código penal.
Eu já me machuquei, sim, eu conheço a sensação
De se abrir e depois descobrir que o amor não era real
Eu ainda estou sofrendo, sim, estou sofrendo por dentro
Estou com tanto medo de me apaixonar, mas se for por você, então
vou tentar
— It's You, Ali Gatie
Prólogo
Cinco anos atrás

— EU. NÃO. ESTOU. NEM. AI. — grita Mariana


pausadamente, tentando dar uma ênfase na sua raiva
desnecessária. — Eu quero que você me conte, agora!
— Mari, eu estou atrasada, se você não der sossego eu
juro que te coloco para fora deste quarto!
— Então me conta! — ela se joga em minha cama. Sendo
dramática como qualquer amiga curiosa, só para me fazer admitir
tudo o que estou guardando para mim.
Passo mais uma camada de rímel. Pois para mim, neste
momento, três camadas não são suficientes. Eu tenho mesmo que
passar mais uma. Sabe por que? Por um simples e pequeno fato:
Tem que ser tudo perfeito.
Eu quero que tudo ocorra da maneira mais linda que se
pode imaginar. Eu sonho tanto com este momento, criei inúmeras
expectativas, mesmo sabendo que criar expectativas é errado, e que
a gente sempre se ferra no final. Mas... É apenas nisso o que eu
penso.
Vai tudo dar certo, vai ser mágico e digno de conto de
fadas. Então, tenho que estar perfeita. Porque segundo meu amado
coração, é hoje! Tem que ser.
Santo Antônio jamais mandaria sinais errados para sua
mais fiel devota!
Analiso-me no espelho pela milionésima vez, e começo a
reparar nos detalhes. Este vestido de renda rosa bebê que minha
irmã me deu no meu aniversário do ano passado, finalmente ganhou
um evento especial para ser usado. Hoje. Olho para meu cabelo, e
memorizo cada detalhe das ondas que fiz, para saber perfeitamente
em que lugar posso passar minhas mãos sem estragar nada.
Olho minha maquiagem, que paguei caro a maquiadora,
mas que valeu a pena, pois hoje é um dia especial.
E agora, tudo está pronto, tudo está exatamente do jeito
que sonhei. Deixo um suspiro escapar, e me viro para Mari. Observo
sua cara de ansiedade. E tento em vão controlar meu coração.
— Quer fazer o favor de abrir logo o bico, Amanda! — ops,
ela me chamou de Amanda, não é um bom sinal quando amigas nos
chamam por nossos nomes. — Mas que droga! Se você não me
contar agora o porquê disso tudo. — ela mexe os braços em direção
ao meu corpo e eu começo a rir. — Desde quando sair para jantar
com o Edu você tem que até mesmo pagar para maquiarem você?
Que saco, é só um jantar! Tudo bem ficar gata assim nos primeiros
encontros, mas depois de quatro anos? Ele já te viu nos seus piores
dias, então... O que está acontecendo? Por que está chique assim?
Começo a rir. E então me preparo para jogar a bomba em
cima dela. Não consigo esconder nada da minha melhor amiga!
— Acho que ele vai me pedir em casamento! — grito dando
pulinhos no chão. Não consigo evitar, é tanta felicidade que eu
preciso expressar de alguma forma.
Mari arregala os olhos, e em seguida dá um grito e vem até
mim correndo, me abraça e pula junto comigo.
— Finalmente, depois de quatro anos ele enfim vai tomar
uma atitude de homem e não de vagabundo!
— Mariana!
Ela ri e então me puxa pelo braço e me senta na cama.
— Você definitivamente não está com uma expressão de
surpresa Mand, vamos cuidar disso! — ela se ajoelha no chão,
imitando um possível Eduardo da vida. E fecha a cara. — Você...
Aceita se casar comigo?
— Sim! — grito.
— Não! — ela grita mais alto.
— Não?
— Está parecendo que você tá desesperada amiga!
— Mas eu tô desesperada!
— Mas ele não precisa saber disso! — Mari diz, e em
seguida respira fundo. — Quer se casar comigo?
Fico calada olhando para ela. Imagino Edu em seu lugar.
Me olhando com aqueles olhos castanhos intensos, que me fizeram
delirar e suspirar tantas e tantas vezes. E ao invés de falar um sim,
eu simplesmente inclino a cabeça para o lado, concordando e
sorrindo levemente.
— Tá legal... O que você está fazendo? — Mari me olha
assustada.
— Estou fazendo cara de apaixonada, para ele ler em
meus olhos o que não preciso dizer. O sim que não preciso falar.
— Ai, meu Deus! Que merda! Isso está parecendo mais
que tá pensando em como dará um fora nele! Pow, um enorme pé na
bunda!
— Credo, Mari!
Reviro os olhos e ela solta um suspiro.
— Última tentativa... Amanda, depois de quatro anos, eu
descobri que cansei de ser um filho da puta sem vergonha e enrolar
você, e decidi tomar uma atitude para dizer... Quer se casar comigo?
— Ah, cala a boca! — começamos a rir. — Você fala que
ele está me enrolando, mas você e o Rick namoram a quanto tempo
mesmo? Três anos e...
— Três anos e sete meses. — ela diz.
— Exatamente! Você também está ficando encalhada!
— É, pensando por esse lado.
— Amanda, filha, o Edu chegou! — grita minha mãe lá em
baixo da escada.
E pronto, meu coração se congela novamente. Começo a
ficar nervosa. Meu coração está prestes a sofrer um ataque. Ai,ai,ai o
que será que vai acontecer?
— Uma dúvida! Como você sabe que ele vai te pedir em
casamento? — Mari pergunta com as sobrancelhas erguidas.
— Ontem ele desapareceu. Não respondeu nenhuma
mensagem minha. E a Vanessa disse que o viu na joalheria. E então
hoje ele me mandou uma mensagem dizendo que vai me levar para
jantar porque tem algo sério para conversar comigo. E ainda por
cima ele escolheu o mesmo restaurante do nosso primeiro encontro!
— Nossa, quem diria. São muitos sinais! E eu vivo
tentando dar pistas ao Rick para ser pedida em casamento também,
mas ele é difícil sabe? — ela sorri.
— Uma hora ele vai pedir, Mari... Ele jamais deixaria
alguém como você escapar, só se ele for muito burro!
Sorrio ao imaginar todas essas lindas coincidências que o
destino está reservando para mim.
Eduardo Freitas. Meu primeiro beijo. Primeiro olhar.
Primeiro andar de mãos dadas. Primeiro afago na cabeça. Primeiro
amor. Primeiro namorado. Primeira vez. O Edu é meu porto seguro.
Nos conhecemos no ensino médio, mas somente no segundo ano
ele me pediu em namoro. E agora estou com quase 20 anos. Uma
boa idade para ficar noiva de alguém.
— Vai lá, não vai querer deixá-lo esperando, né? — Mari
sussurra no meu ouvido. Em seguida pega meu braço e vamos indo
para a sala. — Quando ele te pedir, não se importe se ele vai odiar
se você der chilique ou não, o Edu sabe como você é. Não ligue para
nada. Apenas diga sim, do seu jeito. Seja você mesma.
— Obrigada, Mari. — sussurro enquanto a abraço. Dou
tchau para os meus pais e minha irmã, que me lança uma piscadela
cúmplice enquanto tenta respirar com os enjoos da gravidez.
Edu está tenso. Usa uma calça preta e uma blusa azul
escuro. Seus músculos estão definidos nessa blusa. Parece que os
botões querem saltar para fora. Ele arregala os olhos quando me vê,
surpreso, e eu sorrio satisfeita. Estou mesmo arrasando!
Ele puxa minha cintura e me dá um selinho demorado. E
em seguida, acena para os meus pais e vamos até seu carro. Ele
abre a porta e entra. E eu fico completamente sem graça ao ver que
ele não abriu a porta para mim. Ele sempre abre a porta para mim!
Entro. Coloco o cinto e ele dá a partida no carro. O
restaurante do nosso primeiro encontro é perto da minha casa, então
logo estaremos lá. Edu liga o som do carro, e depois disso eu fico
sem graça em lhe dizer alguma coisa. Acho que a música é mais
importante do que minha voz nesse momento.
— E então? Gostou do meu vestido? — tento puxar papo.
Ele me olha. Desvia o olhar. Suspira. Seu maxilar fica
tenso. Ele expira o ar, e volta a olhar para mim. Muitos gestos em
poucos segundos. Gestos secos, frios, calculados. Sem devolver
nada em troca.
— Você sabe que está linda! — ele diz apenas.
Nossa. Ok. Acho que “você está linda” é algo que nós,
namoradas, gostamos de ouvir!
Ele suspira de novo e me olha, arrependido pelo que fez.
— Você está linda, é linda Mand! — ele diz de novo, da
maneira correta, porém tardia. — Foi o vestido que a sua irmã te
deu, não foi?
— Foi.
— Mas você não me disse que só o usaria em uma noite
especial?
Opa, cartão vermelho! HOJE É ESPECIAL!
Mas ele não pode saber que eu sei.
— Você é especial. — estico meu braço e entrelaço minha
mão em seu cabelo. — Então sim, usarei ele com você.
Isso, arrasei geral!
Ele engole em seco, me lança um sorriso forçado. Acho
estranho, mas prefiro ficar calada. Deve ser porque ele está nervoso
com o que está prestes a fazer! Edu para o carro no estacionamento,
e saímos. Ele segura minha mão enquanto entramos no restaurante
procurando algum lugar vago. E logo em seguida nos sentamos.
Ele escolhe a mesma mesa do primeiro encontro!
Edu me conta como foi o trabalho, e pergunta como foi
meu dia. Conto algumas coisas para ele. E depois pedimos a
comida. Lasanha. Meu prato preferido. Ele sabe.
Comemos e ele ri enquanto me conta sobre a festa do seu
irmão no segundo ano. Eu já tinha ouvido essa história tipo, um
milhão de vezes, mas ouvir de novo ele contar, a voz dele é música
para os meus ouvidos. Me pergunto se será assim depois do
casamento, nós dois jantando juntos e contando como foi o dia e
lembrando de todas as coisas que já vivemos. É assim um
casamento, uma rotina entre duas pessoas que não vivem um sem o
outro. Uma união de cumplicidade.
Bebo o suco de laranja enquanto Edu manda mensagem
no celular. Ele fica tenso depois que o celular apita novamente. E eu
me pergunto quem será que está mandando mensagem para ele.
Um relâmpago ressoa no céu, e eu olho para a janela
assustada, sempre tive medo de chuva. Encolho-me e Edu larga o
celular imediatamente e me dá a mão dele para eu segurar.
— Está tudo bem Amanda, fica calma.
Por que diabos ele não me chama de amor?!
— Olha, eu quero... — ele começa... E a luz apaga.
SIM, TODAS AS LUZES SIMPLESMENTE APAGAM!
Solto um gritinho e Edu aperta minha mão, os garçons
dizem para todos se acalmar, que eles vão dar um jeito. E realmente
dão. Várias velas são trazidas lá de dentro e são colocadas nas
mesas e em todo o restante do restaurante.
Pergunto-me se isso foi ajuda do Santo Antônio para fazer
o cenário ficar mais bonito, e mesmo com relâmpagos, consigo sorrir
ao imaginar essa hipótese.
— Eu quero conversar com você. — Edu começa assim
que o clima fica mais calmo.
Tirando os trovões lá fora, claro.
— Claro amor, pode falar. — acaricio sua mão.
Ele fica tenso novamente, e suspira o ar com força.
— Olha Amanda, eu sei que a gente se conhece tem
quatro anos. — sorrio um pouco, não acredito que a vaca da Mariana
começou o meu pedido de casamento do mesmo jeito! — Você sabe
que esses foram os melhores quatro anos da minha vida. — ai gente,
que fofo. — Sem você do meu lado eu não teria conseguido muitas
coisas. Você foi meu porto seguro em várias situações, a minha
estrela guia. Você é a minha melhor amiga. E você sabe que eu te
amei desde que nos conhecemos, não sabe?
Tento segurar a vontade de gritar de alegria, e apenas
confirmo com a cabeça.
— Você é a minha melhor amiga! — ele repete olhando em
meus olhos.
— Você também é o meu melhor amigo, amor. — sussurro.
Ele parece ficar mais aliviado ao ouvir isso.
— Espero continuar sendo — sussurra.
Hein? Como assim?
— O que você quer dizer... — começo, mas ele me
interrompe. Abaixa a cabeça, olha para nossas mãos entrelaçadas
tão tenso que me deixa nervosa.
— Amanda... Eu quero terminar.
Sim! Assim! Do nada! Sem rodeios. Sem me olhar nos
olhos.
Ele continua apertando minha mão e isso é a única coisa
que me prova que não estou sonhando. Que é real. Ele diz rápido
assim uma bomba dessas, como é que é?!
Fico completamente muda. Edu me olha, e vejo que ele
está bastante nervoso.
— Droga! — resmunga. — Pior que eu pensei que hoje iria
ser apenas um jantar normal... E ai quando eu vou te buscar você
está toda linda desse jeito!
Aaaaaarrrr! Ar!
Estou ainda tentando encontrar o ar que estava em meus
pulmões há minutos atrás!
— Mand? — sussurra. Recuso-me a olhar para ele. — O
problema não é você... Sou eu.
A não! Não acredito! Ele realmente disse isso? Ele
realmente falou a frase de todos os fins de namoro que existem no
planeta?!
Sinto meu coração se apertar. Um bolo cresce na minha
garganta.
— Puta que pariu — ele diz. — Pelo amor de Deus,
Amanda, fala alguma coisa, qualquer coisa, esse seu silêncio está
me matando.
Solto nossas mãos entrelaçadas, não evito a minha cara de
choque, nem as lágrimas que estão enchendo meus olhos.
— Não! Não chora. — ele implora tentando segurar meu
rosto. Mas eu tiro suas mãos do meu corpo depressa.
Levanto-me sem conseguir acreditar e começo a andar em
direção à saída do restaurante. Escuto Edu se levantar e começar a
me chamar. Aumento meus passos, chego até a porta e vejo a
chuva, mas isso não é problema para mim. Pelo menos não agora.
Até o céu está chorando junto comigo.
Escuto alguém parar Edu por causa da conta e aproveito a
situação para começar a correr.
Cinco.
São somente cinco quarteirões até a minha casa.
Ouço sua voz me gritar, tento correr ainda mais. Porém, a
dor é tanta dentro de mim, que parece que meus músculos se
congelam, não somente pelo frio, mas pelo tremor enlouquecido por
um simples fato: A minha vida acabou!
Vejo Edu se aproximar, e eu tento apertar o passo, mas ele
é muito mais rápido do que eu. Quando eu vejo, suas mãos já estão
em volta do meu corpo, e ele já me puxou ao seu encontro.
— TIRE AS MÃOS DE MIM! — grito sem me preocupar se
alguém está vendo alguma coisa.
— Amor, por favor, me deixa explicar!
Cara de pau!
— Amor? Como tem coragem de me chamar de amor? —
grito e continuo me debatendo contra ele. Depois de muita briga, ele
me solta e eu me desequilibro caindo com força no chão.
Então é isso, estou molhada, sozinha, e com o coração
partido.
— Você é um monstro! — grito ainda sentada no chão. E
limpo minhas lágrimas com o dorso das minhas mãos.
— Você vai se resfriar mand, me deixa te levar para o
carro, ai a gente pode conversar melhor. — ele tenta me erguer para
me pegar no colo, mas eu me desvencilho dele mais rápido.
— Você me traz ao restaurante do nosso primeiro encontro,
senta na mesma mesa. Diz que quer conversar comigo, fala que sou
importante para você, que é grato por tudo o que vivemos. E ai vem
aqui e termina um relacionamento de quatro anos? — eu berro e me
levanto sozinha. — E ainda tem a cara de pau de dizer que espera
continuar sendo o meu melhor amigo? Você é um monstro, Eduardo!
Um monstro sem coração! Você nunca deu nenhum sinal de que
estava infeliz ou insatisfeito com qualquer coisa!
Já não me importo se minha maquiagem está borrada ou
não. Já não me importo se estou descabelada ou não. Ele está
parado com as duas mãos na cabeça e seu corpo está se sacudindo
como se tivesse chorando.
— Eu sei amor, desculpa, não tinha ligado o lugar ao que
iríamos conversar! Tenta me entender, eu estava muito nervoso! Não
é fácil terminar um relacionamento, ainda mais um tão longo como o
nosso! Depois de tudo o que vivemos, é difícil vir e acabar com
tudo...
— Quando é que eu deixei de ser suficiente para você? —
pergunto, e minha voz falha.
Ele me olha completamente destruído. Solta um logo
suspiro.
— Amanda, por favor... — implora. — Não torne as coisas
mais difíceis do que já estão sendo para mim.
— Quando é que meu amor deixou de ser importante?
Quando é que te dei motivos pra desistir da gente?
Edu fecha os olhos e começa a chorar de verdade.
— Eu estava me sentindo sozinho, tá legal? — grita. — Eu
achei que faltava algo na minha vida, e que o nosso relacionamento
estava te prejudicando. Não queria que você pensasse em mim o
tempo todo, Amanda! Não quero ser um fardo para você. Eu tenho
direito de querer terminar um relacionamento!
— O quê? Eu sempre estive do seu lado em todos os
momentos! Eu estava do seu lado o tempo todo! Eu me entreguei
para você Edu, de corpo, alma e coração.
— Eu sei disso, mas...
— Por que você tomou essa decisão? Querer terminar com
alguém não é algo que surge de uma hora para a outra!
— Eu...
Ele fica tenso, e eu vejo o que está escrito em seus olhos,
e não acredito no que vejo dentro deles. Não! Não pode ser... Ele
não...
— Eu traí você! — ele diz baixinho.
Nem tenho noção de tempo, só sei que quando eu dou por
mim, minha mão já está estapeando a cara dele com toda a minha
força. Minha mão arde, mas não está doendo tanto quanto meu
coração. Meu coração é esmagado. Solto um soluço e Edu tenta se
aproximar, mas eu ergo a mão e o impeço. Ele está me olhando
completamente derrotado, e seu rosto e uma parte do seu pescoço
estão completamente vermelhos pelo tapa.
— Eu sei que mereci isso. — ele sussurra.
— Não... Você merece muito mais do que isso. — sinto a
raiva invadir meu coração.
É incrível como todo o amor e admiração que eu sinto por
ele, se vão de uma hora para outra, e a raiva toma conta de cada
parte de mim. É como se tivesse um desconhecido na minha frente.
Edu solta um suspiro. E coloca o celular que estava
segurando dentro do bolso. E imediatamente eu me lembro de como
ele ficou tenso depois daquela mensagem, e em como ele do nada
ficou decidido a conversar depois daquilo.
— Era ela nas mensagens lá dentro?
Ele me olha com os olhos arregalados e sussurra:
— Como você sabe?
Ah! Não. Não acredito nisso. Vagabundo!
— Quando eu virei uma página descartada da sua vida?
— Amor, pelo amor de Deus! — ele se aproxima e dessa
vez eu permito que ele chegue perto. Segura meu rosto com as
mãos. — Eu estou errado. Eu terminei por que... Eu não sei... Você
não merece que mintam para você. Não merece ser enganada, e eu
não queria ser o babaca que continua traindo enquanto namora e...
— Eu pensei que você ia me pedir em casamento. —
sussurro admitindo o que tanto me machuca.
Seu olhar agora está uma completa dor profunda. Ele está
respirando depressa. Seu peito sobe e desce rápido.
— Você iria querer se casar comigo? — ele sussurra.
— Eu pensei que você sentia assim como eu, que não
existe mais vida se eu não estivesse com você. — olho para o chão.
— É claro que eu queria me casar com você! Estamos juntos a
quatro anos, seu idiota!
Ele começa a se sacudir, chora com força e deita o rosto
na curva do meu pescoço.
— Eu não sabia... Desculpa... Se você pedir... Eu volto
para você. Amor, desculpa. —sussurra.
O que?! Ele realmente disse para eu pedir para ele não ir
embora?
Quando se ama alguém, não precisamos de avisos, não
precisamos de palavras, e sim de atitudes. Precisamos de alguém
que esteja disposto a lutar por nós, o mesmo que estamos a nos
arriscar por eles.
O amor não vem de obrigação, de arrependimento, o amor
não precisa vir do medo de perder alguém.
Ele surge do nada.
Sem data marcada, e com a promessa de ser para sempre.
— Eu não vou implorar para você ficar. — sussurro.
— Pede, por favor. Eu não posso te deixar, agora eu sei
disso. É fácil na teoria te deixar e viver uma aventura ridícula, um
caso qualquer, mas, eu não tinha pensado que eu não iria mais ter
você... Eu não posso ter um caso com a Vanessa sendo que ela não
é você... Jamais chegará aos seus pés.
Espera, ele ficou com a Vanessa? Minha amiga? Tento
respirar ainda mais ao perceber que ele está disposto a jogar fora
quatro anos ótimos por um casinho qualquer. COM A MINHA AMIGA!
Que tipo de namorado ele é? E que tipo de amiga ela é? Que vaca!
Ahhh! Quem precisa de inimigos com um namorado e uma amiga
como eles? Se merecem!
— Me faz um favor — eu sussurro, tiro o anel de
compromisso do meu dedo e coloco na palma da sua mão. — Some
da minha frente. Some da minha vida... Desapareça, e nunca mais
volte!
Saio correndo antes que ele diga qualquer coisa.
Não preciso dizer como foi chegar em casa e ver meus
pais sorridentes esperando com o champanhe na geladeira para
brindarmos ao amor.
Ao falso amor!
Não preciso dizer como foi entrar no meu quarto correndo e
de como fiquei a noite inteira chorando no colo da Mari e da minha
irmã, que mesmo sentindo enjôos da gravidez me deitou em seu colo
e me deixou chorar. Não preciso dizer como foi triste e doloroso
quando a Mari ligou para o namorado dela, e ele foi à casa do Edu e
deu um murro na cara dele. Eles são melhores amigos, mas o Rick
disse que esse murro o Edu mereceu.
Não preciso dizer em como minha vida mudou. No quanto
meu coração foi despedaçado. E no quanto eu sofri ao ver que no
mesmo dia, ele já tinha mudado até o status do facebook para um
relacionamento sério com a Vanessa. Vacanessa, isso sim!
NO MESMO DIA!
No mesmo dia em que ele me implorou para pedir que ele
ficasse. No mesmo dia em que eu me produzi e vesti meu vestido
especial, e ao invés de um “quer se casar comigo?”, recebi um
subtexto estampado na minha cara de “Não quero mais você”.
Não preciso dizer em como eu mudei ao saber que minha
vida era uma completa mentira. E no quanto o verdadeiro amor,
aquele forte que dizem que é para sempre... Não passa de um
grande e horrível buraco dentro da gente.
Assim, sem sentimento, repleto de mentiras, e de sorrisos
que jamais irão voltar... E a história desse sentimento tão bonito, nem
sempre tem um final feliz.
Pois às vezes, quando a gente menos espera, algo
acontece e muda para sempre as nossas vidas!
O amor, por mais lindo e cheio de promessas que seja, às
vezes, pode nos surpreender, mostrando que o que pensávamos ser
para sempre... Na verdade, nunca teve a intenção de continuar em
nossas vidas.
APENAS UMA CARTA DE ADEUS

Por que a gente insiste tanto em algo que está claro que
não terá futuro? Por que lutamos, sofremos, amamos, choramos,
mudamos, e voltamos a repetir inúmeras vezes os mesmos erros?
As mesmas palavras? O mesmo motivo?
Eu deveria sair de tudo isso que me leva para trás, deveria
desejar nunca ter te conhecido, deveria te odiar por mudar meus
planos, meu coração, minhas metas.
Eu deveria fazer tantas coisas, tantas coisas poderiam ter
sido diferentes se eu nunca sequer tivesse tentado me aproximar de
você. Seria mais fácil? Você acha que se eu nunca tivesse dado o
primeiro passo, as coisas entre nós agora poderiam ter sido
diferentes?
Seria mais fácil? Não iríamos nos afastar, ou chorar, ou
lamentar algo que foi nossa escolha?!
Eu iria continuar sozinha, vivendo meus próprios sonhos?
Você continuaria seguindo sua vida e tirando o foco das coisas ruins
com a própria adrenalina que seu corpo produz... Que corre por suas
veias.
Essa sua incapacidade de querer sentir.
Você teve medo? Você não me amava o suficiente? Por
que simplesmente desistiu? Por que foi tão fácil me descartar da sua
vida como se eu fosse apenas papéis de uma reunião antiga que
agora não existe mais? Você me vê assim? Como se eu fosse uma
garota que se pode usar, abraçar, beijar, dizer palavras bonitas e
pronto, estala os dedos que estarei em suas mãos?
Não era essa sua intenção? Pois foi assim que me senti.
Ou... Foi sua intenção? Se for isso mesmo, faz um favor
pra mim? Vá se ferrar!
Engraçado que depois que tudo realmente acabou, mesmo
que a sensação de um fim nunca tenha acontecido, eu realmente
sinto que estou livre.
E isso é incrível, ser livre, e é... Assustador. Uma droga.
Eu tive um tempo para me acostumar com a sensação de
respirar sem você por perto. Eu me encontrei, me redescobri, me
xinguei, me iludi, me odiei, me julguei e tive nojo de mim mesma.
Discordei de muitas atitudes, me amei, chorei, pensei no “E se”... Eu
me culpei.
Me culpei por tudo o que não deu certo entre nós. E talvez,
este, tenha sido o pior sentimento que já me permiti sentir.
Porque eu não tenho culpa de nada, não sozinha.
Porque eu realmente estrago muita coisa na minha vida,
complico tudo, eu tenho esse super poder de destruição. Eu
realmente errei, mas... Não fui a única a errar. Não fui a única a não
fazer nada, eu não fui a culpada.
Culpada por qual motivo? Por querer tentar? Por me
humilhar? Por amar demais? Por amar de verdade? Culpada por
sentir?
Você também não foi o único culpado.
Você também foi bom. Me abraçou quando tive medo,
segurou a minha mão com força. Me fez rir e sorrir de vergonha. Me
beijou para me fazer calar a boca, mesmo quando a chuva lavava as
incertezas do meu peito.
Mas é claro que também errou, que teve medo, que se
privou, que não acreditou, que não sentiu.
Então, me libertei de novo, me libertei das dores, das
lembranças ruins, dos medos idiotas, das atitudes infantis.
Me libertei de você.
Chorei quando te expulsei do meu coração para sempre.
Doeu. Doeu muito. Amar dói. Amar de verdade dói.
Agora não existe nada, não existe você aqui dentro, não
existe você em mim, nem na minha vida, nem nos meus sonhos,
nem mesmo nas músicas que antes eu chamava de nossa. Você
sumiu.
Você foi sumindo aos poucos quando, eu, aos poucos, fui
me libertando de você.
E libertar é bom, dói, vicia, devolve o sorriso. Eu me
redescobri, conheci sentimentos que eu nem sabia que existiam. Eu
descobri que eu posso tudo. Você não é perfeito, não é o centro das
atenções. Você não é ninguém especial para mim.
Não mais.
Nunca mais.
Porque de amor em pedaços eu quero distância.
Eu quero o quebra cabeça completo, com todas as peças,
todas as certezas. Todo o amor possível. Eu quero o arriscado, o
errado, o certo, o bobo, o preocupado, eu quero um amor sem
limites. Sem metas, com planos reais. Com borboletas no estômago,
com pés no chão.
Eu sou tão mais feliz assim, me amando acima de qualquer
coisa, acima de tudo.
E eu espero que um dia, você entenda que a vida é bem
mais daquilo que apenas esperamos outra pessoa fazer. A vida não
é questão de espera.
E da sala de espera eu finalmente me levantei, cansei de
esperar. Eu simplesmente fui embora, fui chamada, segui o caminho
que Deus escolheu para mim. E eu espero que um dia você possa
ser chamado também, que encontre o seu lugar no mundo sem
depender de alguém para isso. Sem ter ninguém que decida por
você.
Esta é só uma carta de liberdade. De adeus, de agora você
sumiu pra sempre. De desculpa, mas... O errado era você. De agora
não ouço mais nossas músicas. De agora nunca estou sozinha.
É obrigada por ter feito parte da minha vida.
É adeus.
Quem sabe a gente se esbarre um dia por acaso, e nos
tornemos apenas estranhos que dizem “Ai, desculpa, foi sem
querer”. E sorriem. E então, dão as costas, e vão embora sem olhar
para trás.
Pois seguir em frente é mais empolgante.
E você segue sem perceber.
Assim como eu.
CAPÍTULO 1

Eu sempre acreditei em destino! Sempre! Com toda a mais


absoluta certeza do mundo.
Desde os meus 14 anos eu acreditei que os caminhos de
cada um estão traçados para se encontrar com sua alma gêmea. E
sim, eu realmente acreditava em almas gêmeas. Aquela pessoa por
quem o universo conspirava a seu favor. Aquela pessoa que você
está destinada a encontrar e que, quando encontrasse, iria entender
o porquê de todas as coisas. Eu achava que quando você e a “tal”
pessoa se encontrassem vocês sentiriam a ligação imediatamente,
como uma conexão entre seus corpos e o coração. E nesse
momento, seus destinos estariam para sempre traçados juntos.
Afinal, eu sempre fui uma pessoa desiludida da vida. Que
tinha uma família perfeita. Um namorado perfeito. Amigos perfeitos.
E ainda estava cursando faculdade de jornalismo, tudo o que eu
sempre sonhei na minha vida: ter sucesso, gostar do que faço e
construir uma família. Eu tinha tudo o que uma garota poderia querer.
Mas o universo me provou com clareza, que me odeia com todas as
forças.
Bem, digamos que minha vida não é muito com a minha
cara, por isso eu penso dessa maneira. Parece até que eu estou em
um teste onde falaram: “Vai lá, ferra a vida dessa garota para ver até
onde ela pode aguentar!”. E então, quando o imbecil do Edu
terminou comigo, a minha vida foi para o ralo! Literalmente!
E por causa desses acontecimentos imprevisíveis, mas
completamente ligados à “minha vida”, eu vi que não existe destino,
não existe alma gêmea... E se por acaso você também acreditar em
destino e em caminhos cruzados... Por favor, mude de ideia.
Sabe por que?
Porque não existe isso de “O que tiver que acontecer,
acontecerá”. Eu aprendi isso da pior forma. O que acontece em
nossas vidas não é pelo acaso do destino e sim pelas nossas
próprias atitudes! Você quer que algo aconteça? Então erga a
cabeça e lute por isso! Nada virá até você enquanto não der o
primeiro passo!
Mas, cá entre nós. Destino é mesmo real somente no
sentido de nos fazer surpresas inesperadas! Aqueles momentos
onde não sabemos o que irá acontecer, e BOOM, o destino aparece
trazendo surpresas, às vezes boas, outras ruins. E se você não
acredita nisso, espera só para ver. Quem nasce para ser azarada no
amor, sempre sofrerá desilusões. Tipo, eu.
Ainda me lembro de como foi para os meus pais, eles
ficaram chocados com o que eu falei após o término com Edu. Mas
logo perdoaram, diziam que ambos iríamos encontrar alguém que
fosse a pessoa certa. Ocultei a parte da traição, o que fez com que
eles achassem que um dia voltaríamos e que nada foi grave assim. E
ficaram ao lado dele também dando apoio, eles tentaram não
demonstrar isso, mas mamãe logo o tratou como filho de novo. E
essa foi à gota d´água para mim.
Saí de casa sem nem me preocupar com as
consequências que é viver sozinha.
E então é isso, me mudei para São Paulo na primeira
oportunidade que tive de fazer estágio em uma grande empresa.
Deixei Belo Horizonte com todas as minhas dores para trás. E com
muita luta e procura, consegui encontrar um apartamento pequeno
para alugar.
Em menos de um ano a empresa me contratou e eu pude
enfim ficar, cobrir as matérias e dar entrevistas. A minha parte no
jornal Revelações é voltado para cultura. Todos os acontecimentos
culturais que estão acontecendo, eu tenho que escrever. Amo isso.
E logo consegui comprar uma cama e parar de dormir com
o colchão no chão. E aos poucos, eu fui mobilhando meu
apartamento pequeno. E fazendo se tornar um lar, ou pelo menos,
um lugar aconchegante.
É claro que eu vi meus pais poucas vezes nesses longos
cinco anos. Mas por eles e por mim está tudo bem. Minha irmã,
Gabriela, mora aqui em São Paulo também, então a vejo sempre.
Converso com minha mãe e meu pai por vídeo chamada quase
todas as noites.
Hoje aqui no jornal está sendo muito cansativo. O Fábio, o
dono do jornal, está aqui nos vigiando, ele se senta perto da minha
mesa, e o ouço brigar com alguém no telefone. Aliás, o Fábio brigar
ao telefone é algo que todos estamos acostumados a ver.
— Não vai deixar a água entornar, Mand. — Gi diz rindo e
eu solto o botão de água gelada fecho minha garrafinha. — Que
coisa feia espiar a conversa dos outros! — sussurra.
Gisele.
A pessoa mais louca e sensível que eu conheço. Nos
tornamos amigas quando eu vim para São Paulo realizar o estágio
aqui no jornal. E quando finalmente consegui minha vaga aqui na
Revelações, desabafei com ela quando ficamos bêbadas nas
festinhas do jornal. Contei toda a decepção com o idiota do Eduardo.
E desde aquele dia não nos desgrudamos mais.
Ela é mais baixa que eu, seus cabelos são o que sempre
me encantou. Ela tem os cabelos pouco abaixo dos ombros, em um
tom ruivo avermelhado, e sempre faz alguns cachos soltos antes de
vir trabalhar. Ela é jornalista criminalista, e na primeira vez que a vi,
usando uma saia lápis chiquérrima, com uma blusa formal, e
segurando um copo de café, pensei até que fosse a dona do jornal.
Mas depois vi que ela gosta de andar sempre produzida.
— Eu não estou espiando. — digo e ela me olha com as
sobrancelhas erguidas. — Eu estou olhando na maior cara de pau
mesmo.
— Ai, meu Deus, que danadinha! — ela coloca água na
sua garrafinha, e então olha para mim assustada. — Ele está vindo
para cá, vamos despistar.
Esperamos quietas, e eu finjo que estou lendo a nova
matéria que até havia decorado de tanto que gostei! Feita por mim,
aliás. A área da cultura sempre foi o que mais me agradou. Vai ver
por isso eu sou tão ligada. Gisele um dia me disse que pareço a pilha
da Duracell. Quando todos já se cansam, eu ainda estou na metade
do meu pique de trabalho.
— Bom dia, senhoritas! — Fábio nos cumprimenta. —
Gisele, querida... Onde está o Arthur?
— Quem? O idiota redator chefe? — ela revira os olhos e
Fábio sorri.
— Dá para vocês pararem logo com isso?
— Hum... Pensando bem essa pergunta é pior do que a
primeira. Ele deve estar na sala né, Fábio?! Não virei sua assistênte
pessoal, e no dia que ele me colocar em tal cargo. Peço demissão.
— ela sussurra.
Fábio dá uma gargalhada e eu reviro os olhos com a
ousadia da Gi. Vai dizer isso justo para o dono da revista?!
O celular de Fábio toca e ele solta um suspiro. E o atende
rapidamente.
— Eu já disse não, Carlos! — posso ouvir alguns gritos do
outro lado da linha. — PORRA, É NÃO!
Fico em choque com o palavrão de Fábio e ele desliga o
celular, segue direto para a sala do Arthur.
Coitado, vai ter que ouvir algumas!
Gisele se vira novamente para mim rindo, e eu coloco o
jornal debaixo do braço. Dou um pulo quando Fábio entra na sala, e
puxa a porta com tanta força que eu tenho certeza que sacode o
prédio inteiro.
— Ele está puto hoje. — comento.
— Carlos sempre o deixa assim. — Gisele revira os olhos.
— Quem é Carlos? — olho para ela confusa.
— O filho dele. — ela franze a testa. — Nunca ouviu falar
do Carlos?
— Não sabia que ele tinha filho.
— Ah tem sim, o tal do primo do idiota, irresponsável e
troglodita do Arthur. — ela se senta na sua mesa, e liga o notebook.
Nunca vi tanta raiva entre a Gi e o Tu. — O único filho dele. — ela
continua. — E dá o maior trabalho, tipo, ele vai na empresa, lá na
cede em BH quando quer, mas faz tudo o que o pai manda. Porém,
apronta tanto que o Fábio acaba descobrindo... O que gera isso,
muitas brigas e gritaria pelo celular. — ela se aproxima sorrindo e
sussurra. — E muita dor de ouvido para a gente!
— Tá ai um dos motivos para eu esfregar na cara dos
meus pais a filha perfeita que eu sou.
Gisele começa a rir, duvidando de mim e então aponta para
o estagiário novo que começou a trabalhar com a gente.
— Gatinho, né? — ela sussurra.
— Não sabia que estava de olho nele! — digo rindo.
— Estou falando para você.
— Deus me livre! Homens são uma raça que eu quero
distância até o ultimo dia da minha vida!
— Tá brincando, né? — ela me olha assustada.
— Resolvi ficar solteirona, e ser a titia legal dos filhos da
Gabi!
— Ah tá, tia legal... Que triste!
— Vou ser feliz.
— Não vai nada!
— Nada presta nessa vida. — murmuro.
— Amanda! O mundo não vai parar só porque sua vida é
uma desgraça!
— Nossa, obrigada por me lembrar, estraga prazeres!
— Na boa! — ela cruza as pernas e começa a rir. — Você
tem que superar o imbecíl do Eduardo!
Eduardo. Ah, que raiva! Só de ouvir o nome dele eu já fico
atenta, e enfezada.
— Eu já superei! Há muitos anos, aliás, no momento em
que ele se fez de idiota, ele já era para mim.
— Ah, não brinca!
Odeio quando ela e Mariana são sarcásticas. Mas tento
entender que é uma preocupação de amigas, por isso, e apenas por
isso, perdoo muitas coisas.
— Eu vou embora porque é a melhor coisa que eu faço!
— Sorte sua! Tenho que trabalhar até mais tarde, acho que
não vou conseguir acabar essa matéria a tempo.
— Boa sorte! — dou um beijo no seu rosto, e vou correndo
pegar minha bolsa e ir logo embora para casa. — Se o Arthur sair
vivo da sala, fala para ele passar na minha casa.
— Amor, te garanto que se ele sair, a última pessoa com
quem eu falarei será ele. — ela reflete um pouco no que disse e olha
para mim. — E vice versa... Então, mande você mesma uma
mensagem, ou sei lá... Sinal de fumaça? Quem sabe o lado do
homem caverna dele vem a tona e ele não aceita suas origens?!
Meu queixo está no chão.
— Tá legal, eu sei que odeia o Arthur, mas também não é
para tanto! — começo a rir.
— Ah, é para tanto sim!
— O que houve para vocês se odiarem tanto?
— Você já fez essa pergunta durante os cinco anos que
nos conhecemos, sabe muito bem a resposta.
— Ele é um idiota por natureza, Mand... — imito sua voz.
— E o motivo porque eu o odeio com todas as minhas forças, está
trancado a 14 chaves, porque 7 chaves é fácil demais para abrir um
segredo tão profundo! — sorrio.
Ela me olha orgulhosa e bate palmas.
— Obrigada, poupou minha explicação.
— Ah, eu desisto! — me rendo. — Mas um dia vou
descobrir.
— Vai para casa que é a melhor coisa que você pode fazer!
— ela diz.
Beijo seu rosto e finalmente vou para o meu apartamento,
tentar descansar e relaxar meus pés inchados de mais um dia
exaustivo no trabalho.

Às vezes a vida é tão chata que dói. Às vezes eu fico


pensando que minha vida daria um belo filme. Mas minha rotina é a
pior coisa que alguém cogitária assistir. Aliás, minha vida é mesmo
uma maravilha, mas somente até os meus 20 anos.
Eu sinto falta, claro. Muita falta!
Às vezes tudo o que eu quero é que o tempo volte atrás.
Quero que meus pais sintam orgulho de mim. Queria ver a Mariana
todos os dias, e contar todas as novidades para ela. A gente iria ao
cinema ver filmes, e depois comentar sobre cada cena. Eu queria
que o Edu estivesse do meu lado quando eu soube que ganhei o
estágio na empresa do Fábio. Ele ficaria feliz por mim, e depois
iríamos sair para comemorar.
Ok, eu não posso mais pensar nele.
Meus pais, por mais que me amem, não são tão ligados
assim nas minhas escolhas. Papai até é... Ele se preocupa muito
comigo e com a minha irmã. Quando a Gabi saiu de casa foi um
escândalo.
Mas mesmo assim, nunca entendi o fato deles sequer
terem me impedido de mudar de cidade. Vai ver porque sabiam que
era o melhor que aconteceria. Ou talvez... Para eles eu sou a filha
que ficou chorando dentro do quarto por um mês, afinal eu sou fraca.
Eles não viram que eu estava chorando de saudades do
Edu, e nem ao menos de tristeza pelo que ele fez. Para os meus pais
eu sou aquela filha que veio para São Paulo porque sou incapaz de
enfrentar meus problemas, e não porque ganhei o estágio que eu
sempre quis. Uma dessas duas alternativas é a certa para eles... Só
não sei dizer qual.
E para o Edu, bem, para ele eu sou a namorada traída, a
pessoa que empacou quase quatro anos da sua vida. Para ele eu
sou a idiota que ficava chorando de saudades de algo, que ele fazia
questão de esquecer. Eu não entendo em como ele era um imbecil e
ao mesmo tempo tão certo para mim.
Eu queria saber qual é o botão capaz de desligar todas as
minhas dores.
Ele apagou todas as nossas memórias em tão pouco
tempo, que tenho até uma certa inveja dele por isso. Por mais que eu
tente esquecer e seguir em frente, meu corpo, minha mente... Viajam
de volta ao passado, relembrando de todos os momentos... Que eu
quero a todo custo esquecer.

— Ah! Eu não aguento mais. — eu resmungava enquanto


Edu começava a rir.
— Não aguenta mais o que? Amor, estou te carregando de
cavalinho em uma montanha, e você diz que não aguenta mais?
Comecei a rir, e dei um beijo na sua bochecha.
— Eca! Você está suado! — tento descer mais e ele me
segura com mais força.
— Isso é cansaço! E aguentar seu peso!
— Eu não sou pesada, isso é fraqueza sua! — rebati.
— Eu estou de cabeça quente com esse sol gigante em
cima da gente!
Peguei a garrafinha de água e joguei em cima da sua
cabeça. Edu solta um gemido, e começa a rir. Jogo por toda a sua
cara, limpando o suor e o refrescando, e ele faz uma pausa, e me
desce do seu colo. Tira sua blusa, e enxuga seu rosto.
— A gente está bem longe da cidade! — falo olhando as
montanhas ao nosso redor.
— Sim. Bem longe.
Ele fica me encarando pensativo, e olho para ele confusa.
— Que foi?
— Vem cá. — ele estica seus braços, e vejo o suor por
todo seu peito.
— Ai que nojo, Edu.
— Vem! — ele diz rindo.
Fico pensativa e fecho minha cara.
— Desiste, vai! — ele sussurra rindo.
Abraço ele, tentando ignorar o fato dele estar me molhando
toda de suor. E ele começa a rir.
— Eu amo você. Até mesmo quando está fresca desse
jeito.
— Eu sou fresca apenas em situações necessárias! — o
corrijo.
Edu começa a rir e então vai até os capins ao nosso redor,
e começa a puxar um pedaço seco.
— O que você está fazendo? — pergunto rindo.
Ele não responde. Apenas tira dois pedaços, e começa e
enrolar eles. Formando dois anéis de capim. Ele vem até mim e
segura minha mão esquerda, e começa a rir. Coloca um anel
provisório na palma da minha mão. E me pede para colocar nele.
— Eu prometo, Eduardo Freitas. — digo rindo. — Que eu
nunca vou abandonar você.
Ele começa a rir, me puxa para mais perto dele, beijando
meus lábios devagar. Em seguida, segura minha mão, colocando
meu anel em meu dedo anelar. E sorriu.
— E eu te prometo, Amanda Lopes... Que eu vou te amar
para sempre!
Promessas.
Eu sempre acreditei em todas as promessas feitas a mim.
E então, eu descobri que a maioria das promessas, chega um dia,
em que elas são quebradas!
Sempre prometemos algo para as pessoas como se não
houvesse mais o amanhã. E então, na grande maioria das vezes,
nada acontece do jeito que esperamos ou que queremos, e isso
acaba nos decepcionando. E as promessas acabam não sendo
cumpridas.
Eu prefiro não fazer promessas, e sim planos. Aqueles
planos onde são feitos juntos, e são construídos.
O meu celular toca, me tira completamente do meu transe
com o passado, e tenho vontade de me bater por ter pensado no Edu
de novo e com coisas que vivemos. Abro minha bolsa, e procuro o
celular desesperadamente e o nome MARI invade a tela.
— Oi.
— Que demora para atender essa porcaria! — ela grita. —
Para que mesmo você tem um celular?
— Desculpa Mari, eu estava... No banheiro.
— Ah, não estou nem ai! Tenho novidaaaaaades!
— Jura? Me conta!
Eu preferia não ter feito essa pergunta.
No fundo a novidade da minha amiga não é algo que eu
esperava ouvir tão cedo.
Quando eu acho que a vida não pode mais esfregar nada
na minha cara, eis que surge a maior prova que terei que enfrentar.
— Você ainda está ai? — A voz de Mari soa distânte agora.
Ela jogou uma bomba grande para eu poder processar!
— Como assim eu vou ter que entrar com o Edu no seu
casamento? — berro sem nem me importar se meus vizinhos estão
me ouvindo dar “a louca”.
— Caramba, depois de tudo que eu te contei você registrou
apenas isso? — ela está com a voz preocupada, mas então solta um
suspiro profundo e grita: — Hellow sua melhor amiga vai se casar!!!!
Merda! Destino, vamos parar de palhaçada?!
— Mari! — grito, ainda assustada com o fato de com
“quem” eu irei acompanhada.
— Amiga, sei que é difícil, mas aquele imbecil do Eduardo
só irá fazer figuração no meu casamento, até porque depois do que
ele fez com você, eu tenho vontade de quebrar a cara dele, mas
fazer o quê? Ele e o Rick são amigos desde a infância, e quando ele
falou “Acho melhor não, a Amanda ainda não me perdoou.” Eu falei:
“Engano seu, a Amanda nem se lembra mais de você Eduardo, seu
sonho isso... Ela irá porque se importa comigo.” — ela faz silêncio, e
eu tento me recuperar do que ouvi. Quer dizer, que além dele ter
aceitado, ele está com medo de que eu não aceite por causa de
tudo? Quem ele pensa que é?
— Que filho da mãe! Eu vou provar para ele que eu o
esqueci! — falo pra mim mesma, me esquecendo de Mari do outro
lado da linha.
— É isso ai! — Mari grita. — Então, por favor, será que
pode esquecer o fato que terá que entrar com seu ex como padrinho
do meu casamento e ficar feliz por que a sua melhor amiga vai se
casar?!
Puta merda! Não acredito nisso. Eu tenho mesmo que
entrar no casamento com aquele idiota?
Esquece isso Amanda! Já chega!
Imediatamente, paro de pensar.
Estou agindo como uma pirralha. Uma louca que se
importa com algo que deve esquecer. Minha amiga vai se casar! E
ao invés de surtar com ela, eu estou choramingando de novo por
causa do cara que prometi não derramar uma lágrima sequer, e que
destruiu completamente a minha vida?
— Mari, é claro que eu estou feliz por você! Já estava na
hora desse casamento acontecer, né? Rick demorou muito para o
meu gosto!
Ouço sua risadinha e seus gritinhos histéricos e então
alguém bate na porta do meu humilde apartamento. Vou abrir a
porta, mas então me lembro que estou de pijama, e saio correndo
para o meu quarto trocar de roupa.
— Só um minuto. — Grito para quem quer que seja.
— Amanda, mas então, como eu ia dizendo, vamos ter
uma festa, onde ele vai me pedir oficialmente em casamento... Mas
já marcamos a data, será nesse fim de semana, sei que está muito
em cima da hora, mas decidimos tudo ontem. E eu preciso da minha
madrinha por perto.
Opa! Cartão vermelho na parada.
— Você me quer ai... Nesse fim de semana? — coloco um
short, e procuro minha blusinha.
— Ah Amanda, sem essa tá, é um dia importante para
mim, e eu quero você por perto me ajudando a escolher tudo! Rick
disse que tem umas milhas, talvez ajude na passagem e...
— Eu sei... Mas é que, sei lá... Faz muito tempo que eu
não vou ai. — tento protestar, e coloco minha blusa.
— Cinco anos amiga! — ela berra. — Cinco anos e te vi
somente duas vezes nesse tempo! Quero minha melhor amiga do
meu lado nos momentos mais importantes da minha vida!
Começo a rir, e então respiro fundo e me preparo para
jogar a bomba em cima de mim mesmo.
— Qual dia é a festa de noivado mesmo?
Mariana grita no telefone, e posso apostar que ela está
fazendo aquela dança ridícula da nossa apresentação da escola na
oitava série.
— É no sábado!
Puta merda! Só o que faltava!
— Tudo bem, eu vou ver o que consigo fazer. Não me ligue
até lá, eu odeio pressão. E tenho que desligar porque tem gente
aqui.
— Tá bom! Vem logo para cá! Espera, quem está aí no seu
apartamento? — grita.
Desligo o celular.
Só o que faltava! Meu Deus do céu, e agora? O que eu vou
fazer?
A porta novamente está sendo esmurrada por alguém
insistente. Dou descarga no banheiro para manter as aparências,
embora seja uma aparência ruim que eu estou passando, e abro a
porta me preparando para enfrentar a Gisele.
Mas não é ela quem encontro. Muito pelo contrário... Arthur
está na minha frente.
Arthur Monteiro. O sobrinho do Fábio, dono da empresa
onde eu trabalho. Ele é meu melhor amigo e o tal do redator chefe
idiota da revista, segundo a Gi. Nos conhecemos no meu primeiro
dia, porém fora do Jornal Revelações.
Eu estava com raiva, meu salto havia quebrado por culpa
dele, que esbarrou em mim e acabei ficando presa na grade do
bueiro da rua. Ele me ajudou e comprou outro sapato para mim. E
ficou do meu lado me ouvindo reclamar de trabalhar em um lugar
novo sem parar. Falei super mal do meu dia e do meu medo do
jornal.
Nos demos bem logo de cara. Foi a primeira vez em que
me esqueci completamente de Edu. E só quando o dono do jornal
me apresentou seu sobrinho, foi que o choque veio em mim como
uma bomba. Ele já sabia no momento em que eu disse qual jornal
era, mas eu não. E rimos muito com isso.
Mas aquele cara sorridente não está parecido nem um
pouco com esse que está em minha frente. Seu corpo todo
musculoso para um ser pequeno como eu, está ocupando o espaço
da porta para eu não passar. Seus braços estão encostados no
batente da porta, dos dois lados. Sua respiração está apressada, e
tem uma veia estufada em seu pescoço.
Está óbvio que ele está a ponto de me matar.
— Amanda, preciso conversar com você. Agora. — fala
com sua voz grave, e em seguida suspira e vai seguindo em direção
a minha sala.
Merda! O que eu fiz dessa vez?
O barulho da porta quando fecho, é como um baque para o
meu coração. Eu não estou normal. Posso jurar que vou passar mal
de ansiedade.
— Arthur? — sussurro. — Aconteceu alguma coisa?
Ele me lança um sorriso sem graça, e puxa a cadeira para
eu me sentar. Me sento imediatamente e ele apenas se encosta na
mesa a minha frente.
— Seguinte, vou ter que falar depressa antes que eu perca
a coragem! — ele está bem nervoso.
— Ai não! — coloco as mãos no rosto. — Por favor, não
começa com aquelas coisas idiotas de “Eu gosto de você”, “Acho
que devemos tentar algo sério”.
Ele me olha em choque, e em seguida começa a rir alto e
empurra meus ombros.
— Pelo amor de Deus, Amanda! Por que você acha que é
isso? Eu gostar de você? Maluca!
— Por que você chegou ofegante na minha casa? Por que
você disse que tem algo sério para falar e ainda diz que precisa falar
logo antes que perca a coragem? — levanto as sobrancelhas e cruzo
os braços. — Ah, por nada, digamos que são sinais... Bem
evidentes.
Ele começa a rir ainda mais.
— Não! Não é isso, não gosto de você! — ele reflete sobre
o que diz e então sorri. — Quer dizer, gosto como amiga... Mas
enfim, relaxa, que se um dia isso acontecer, eu prometo não fazer
esse drama sem sentido, e te beijar de uma vez.
— Não vai nada! — olho feio para ele, e ele ri novamente,
mas logo em seguida fica sério e de pé em minha frente.
— Eu tô brincando, sua idiota!
— Eu sei, né?! Então o que tem para me falar?
— É algo que tem a ver com a empresa. — sussurra.
— O que aconteceu? — sinto o medo me invadir. — Fui
demitida?
Ele me olha incrédulo.
— Não! — ele fala meio incerto.
— Então, o que foi?
— Meu tio está passando por uns problemas lá no jornal de
Belo horizonte, o Cadu meio que é o redator chefe de lá no
momento, mas só por parentesco, já que o antigo redator pediu
demissão, Cadu não está nem aí para os compromissos, e ele tá
bem puto com isso! Ele conversou comigo hoje, e quer que eu
transfira alguém para ficar lá até as coisas se ajeitarem e ele
contratar outra pessoa... E precisa de você lá assumindo esse papel.
Eu tentei convencer ele de chamar outra pessoa, tipo a idiota da
Gisele... Seria incrível chegar no jornal sem ser morto pelos raios de
ódio dos olhos dela... Mas ele insiste que seja você. E antes que me
mate, vamos ver pelo lado profissional, é uma ótima oportunidade
para o seu currículo assumir esse cargo, e o salário também...
Arthur continua falando sem parar dos inúmeros benefícios
de ser transferida, mas eu só consigo pensar na frase: “Tá de
sacanagem!”
Fico em choque. O destino está realmente zoando comigo,
não existe isso, é sinais demais, azar demais, uma coincidência
horrível!
— Eu sei que você não quer voltar para sua cidade natal
tão cedo. — ele continua. — Mas será que podemos evitar gritos e
tapas e tentar agir como dois adultos civilizados?
Um balde de água fria é jogado em minha cabeça.
— Está tudo bem Tu... Eu vou.
Ele me olha incrédulo e logo em seguida abre a boca
exageradamente.
— Sério? Sem me bater? Sem me estapear? Sem me dizer
que sou seu pior amigo? Sem berrar que eu destruí a sua vida?
Eu começo a rir. Eu não acredito que sou tão dramática
assim.
Levanto rindo e me jogo em seus braços, envolvo seu
pescoço com meu braço e dobro meus joelhos, o obrigando a me
segurar depressa e sustentar todo o meu peso. Ele fica quieto, mas
então me corresponde me apertando contra ele.
— Caramba, se eu soubesse que você iria me abraçar
depois de dizer isso... Eu já tinha feito isso muito antes sem precisar
da porra da coragem.
Começo a rir, e me solto dele, mas ele não tira os braços
da minha cintura.
— Não é isso. — sussurro.
Arthur ergue a sobrancelha e eu saio de seu abraço e me
jogo no sofá.
— O que aconteceu, Maluca? — ele se senta no sofá, e me
puxa para deitar em seu colo.
— Sabe a Mari, minha melhor amiga? — ele concorda com
a cabeça. — Então... Ela vai se casar... De todo jeito eu teria que ir
para BH alguma hora e enfrentar tudo mesmo.
Arthur ri e me puxa de encontro a ele novamente. Beija o
topo da minha cabeça e dá uma risadinha.
— E eu posso saber o porquê dessa cara triste? É por que
você queria se casar primeiro? — ele deduz sozinho. — Porque se
for isso eu ajoelho agora mesmo! É só me dar um sinal. Uma
piscadinha que seja, vai!
Começo a rir e dou um tapa no seu peito.
— Não é isso, Tu. — sussurro.
— Então o que é?
— O Edu vai estar lá. — sussurro e minha voz falha.
Sinto o braço de Arthur ao redor da minha cintura ficar mais
apertado.
— Aquele filho da puta vai estar lá? — posso jurar que se
Eduardo estivesse aqui na sua frente agora, Arthur quebraria a cara
dele em mil pedaços.
— Vai... E o pior você não sabe...
Tu me empurra delicadamente para trás e me examina com
cuidado e atenção.
— Vou ter que entrar com ele na igreja no dia do
casamento. Acredita nisso? Ele será padrinho!
Arthur respira fundo. Fica pensativo, e sua veia no pescoço
fica ainda mais visível. É sempre assim quando ele está com muita
raiva e tenta de qualquer custo disfarçar. Tento falar com ele que
está tudo bem, que ele não precisa se preocupar, mas ele se nega a
isso.
— Bom, que merda! — é a única coisa que ele diz.
— Eu não sei como será... O que será que vai acontecer?
Como será que ele está? Acha que eu consigo ignorar ele e o meu
sentimento de abandono?
Arthur me abraça de novo. E então fica um tempo
pensando.
— Eu acho que você vai sentir algo por ele quando o
encontrar... Nem que seja raiva, ódio, saudade, sei lá... Mas alguma
coisa vai sentir. E eu sei que não será fácil! Mas, eu estarei aqui para
você. Qualquer coisa é só me ligar, que eu pego o primeiro avião e
vou até você.
Abraço meu amigo, que é meu porto seguro todas às
vezes, e dou um beijo na sua bochecha.
— Acho que o melhor para mim é organizar as coisas.
— Vai fazer as malas agora? — ele pergunta levantando a
sobrancelha. — Que dia que é a festa?
— Final da semana, no sábado.
— Entendi. — ele diz. — Mas preciso de você lá no jornal
na sexta.
— Tão rápido assim? — solto um gemido. — Ainda nem
processei a informação. É muita coisa de uma vez só!
Arthur apenas sorri e segura minha mão.
— Vai fazer as malas agora?
— Ah Arthur, nem sei. Isso tudo é novo para mim! Nem sei
se terá passagem disponível e...
— O Fábio vai ficar responsável por isso. Você vai para
assumir o cargo, então viaja com a passagem da empresa.
— Bom... Pelo menos não vou gastar dinheiro. — começo
a rir e ele revira os olhos. — Vou deixar para fazer a mala no dia da
viagem mesmo. Vou que dia?
— Na sexta mesmo, é perto, só preciso que vá na empresa
e procure o Cadu, ele já está sabendo que você vai, então deve
deixar os papéis com as reuniões que precisa fazer em relação ao
site da empresa.
— Tudo bem! Anem, lidar com reunião!
Ele começa a rir, e segura meu punho.
— Então até lá, vamos ver um filme e relaxar, sei que
reuniões você vai tirar de letra... E amanhã eu e você vamos comprar
roupas novas.
— Nós vamos?
— Vamos.
— Para que?
— Para você.
— Gosto das minhas roupas.
— Sim, por isso temos que mudar seu visual. — ele
começa a rir. E eu lhe dou um tapa forte.
— Ai! — Arthur reclama esfregando seu braço. — Isso dói,
sabia?
— É para doer mesmo. Tá falando que eu me visto mal?
Olho para mim mesma. Eu estou se sentindo super bem
com esse short preto e minha blusa do Mickey Mouse.
— Eu estou bem! Vai ser pouco tempo! Que nem da outra
vez que o Fábio me fez trabalhar lá, certo?
— Bem assim. Mas você não vai fugir de mudar o visual.
— Estou perfeita assim, me amo.
— Cala a boca, Amanda! O seu ex desgraçado vai estar lá,
então eu vou com você até a loja amanhã, e você vai escolher
muitas roupas lindas, decotadas e sexy´s... Entendeu?!
— Para que? — começo a rir. — Para me chamarem de
vagabunda?
— Não... Para você esfregar na cara dele, tudo o que ele
perdeu. — e então ele pisca para mim.
CAPÍTULO 2

Pego todos os papéis na sala do Arthur, e levo para minha


mesa para eu assinar minha transferência provisória para a sede do
Jornal Revelações em Belo Horizonte. Gisele quase cai para trás
quando fica sabendo que eu terei que ficar por um período
indeterminado longe dela. A sua primeira reação quando contei
sobre o casamento, foi de alegria. Ela e Mari fizeram amizade pelas
inúmeras chamadas de vídeo que eu fazia e na maioria ela estava
presente.
Depois, quando fui pela segunda vez visitar meus pais,
Gisele juntou dinheiro e me acompanhou, e lá conheceu Mari
pessoalmente e a amizade delas ficou também muito forte. Ela gritou
de felicidade ao saber que Mari finalmente estava realizando seu
maior sonho, ter um casamento digno de uma princesa.
Mas quando contei que Edu também estará lá, e que eu
vou ter que entrar com ele na igreja, já que eu sou a madrinha e
dama de honra da Mari e ele o Padrinho oficial do Rick, ficou mais
apresentável entrarmos juntos, ela teve a mesma reação que eu.
Mas eu ainda espero mudar a cabeça da Mariana até lá.
Entro com qualquer um, menos com o Eduardo, até
sozinha será melhor.
— Eu ainda não acredito que terei que ficar aqui sem você.
— ela resmunga e se senta em cima da minha mesa.
— Ei, que falta de consideração. — Rachel reclama. — Eu
também sou sua amiga querida, tá lembrada?
Rachel é a jornalista mais louca que existe. Ela tem sua
própria coluna no jornal, onde escreve textos que se aproxima dos
adolescentes. Fala sobre paixão, romances, férias, viagens. Sua
coluna é a mais famosa do jornal. Ela recebe vários textos de leitoras
contando sua história, e sempre está em contato com elas. Sua
coluna, intitulada de “Tudo junto e misturado” já saiu em diversos
lugares, até mesmo no jornal. Várias revistas a chamaram e fizeram
várias propostas, mas ela nunca aceitou.
— Eu te amo, sabe disso! Mas sentirei falta da Mand. —
Gisele choraminga. — Quero colo!
— Mas já? — Rachel revira os olhos. — Ela nem foi
embora ainda!
— Ah não Rach, para de falar! — Gi tampa seus ouvidos
com suas mãos e eu começo a rir enquanto assino a última folha da
papelada e ergo balançando na cara dela. Vejo Arthur parar na porta
da sua sala, ele olha fixamente para Gisele. — Eu não quero saber
de abandono! — ela começa a resmungar fazendo negação com a
cabeça.
Vejo ele observá-la, encosta sua cabeça no batente da
porta e um largo sorriso toma conta de seus lábios ao ver as
gracinhas da Gi, e ergo minhas sobrancelhas suspeitando do seu
olhar, que está demorado demais para tanto ódio que existe entre
eles.
— Já vou levar os papéis! — falo e vejo ele ficar todo
constrangido ao notar que está sendo observado.
Gisele para de falar e se levanta da mesa, e lança seu
olhar mortal para Arthur.
— Ela já está indo. Só me deixe aproveitar mais um pouco
antes de roubar ela de mim. — ela fala.
— Eu não estou roubando ninguém, vê se você se
enxerga! — Arthur debate e bate a porta de sua sala com força.
— Qual o problema entre vocês? — pergunto novamente.
— Ai Amanda, que canseira. Não vou contar nem que
fôssemos melhores amigas. — ela revira os olhos.
— Ei, que absurdo é esse? — digo assustada. — Eu amo
você, sua ingrata!
— Eu também te amo, vem cá antes de sair com o idiota
do Arthur. — ela me puxa para seus braços e me aperta com força.
— Vê se não se apaixona de novo por BH, e volta assim que Mari se
casar, combinado?
— Combinado! — murmuro e deito meu rosto em seu
ombro.
— Não quero escolher roupas! — imploro para Arthur antes
mesmo de abrir a porta do apartamento para deixá-lo entrar.
Hoje Fábio me deu o dia de folga para ajeitar as coisas da
minha mudança temporária. E Arthur vai chegar mais tarde no
serviço para me ajudar com as compras.
Ele está sorrindo quando abro a porta, usa uma bermuda
preta e uma blusa azul, e seu sorriso é debochado, inclinado para o
lado. Ele me observa descaradamente, e graças ao seu
descaramento todo... Me lembro que estou com a roupa que dormi.
Ai meu santo Deus, eu ainda estou vestida assim!
Acho que não foi uma boa ideia eu ter usado apenas uma
blusa antiga dele ontem à noite. Seus olhos passam por todo meu
corpo, e eu abro a boca em choque por ele nem ao menos disfarçar.
Seguro sua blusa, e o puxo para dentro e fecho a porta, antes que
Afonso — o cara pervertido do meu prédio — me veja assim.
— Caramba Maluca, por que você não vai para o jornal
vestida assim todos os dias? — ele tenta não rir quando eu olho para
mim mesma, examinando meu look. — Espera... Essa blusa é
minha?
— Sim! — começo a rir.
— É para isso que me pediu uma blusa que eu não usava
mais aquele dia? — ele está deduzindo coisas novamente. —
Amanda, você disse que era para passar pano no chão!
Começo a rir ainda mais.
— Passo pano no chão com pano de chão... Era para eu
dormir mesmo.
— Por que não disse? Eu te dava outra melhor! — ele me
olha incrédulo.
— Gosto das mais larguinhas e velhinhas, é confortável
para dormir, parece que tô pelada.
— Nossa! Se eu soubesse disso... Dormiria aqui mais
vezes. — dá uma piscadela pra mim.
— Ei, você é meu amigo tá! — dou um tapa em seu braço
com força.
— Sim, eu sei... Mas antes de ser seu amigo... Eu sou um
homem, Maluca. — ele pisca para mim novamente.
— Sem piadinhas, Arthur! Não estou com graça para você
hoje! — bufo de raiva.
— Só por que não quer ir às compras que está assim? —
ele se senta no sofá, e eu vou até a cozinha e pego um copo de
água.
— Sim!
— Mas, mulheres amam compras! — ele protesta em sua
defesa.
— Então sou um homem! — grito indo para o banheiro
escovar os dentes, e escuto ele começar a rir.
Eu volto escovando os dentes.
— Por que ocê naum vai fazer ompra om a aaciana? — eu
falo com a boca cheia de espuma e começo a rir quando falo tudo
errado.
— O quê? — ele franze a testa.
Vou até o banheiro e cuspo tudo e acabo de escovar os
dentes, Arthur está logo atrás de mim.
— Por que você não vai fazer compra com a Tatiana? —
enxaguo a boca novamente.
— Ah, a Tati anda meio ocupada ultimamente! — ele diz
em um tom baixo e vejo ele brincando com minha almofada em
formato da cara do Mikey. — É melhor deixar a enfezadinha para lá.
— Vocês... Brigaram? — pergunto chegando até ele e tiro
minha almofada de suas mãos e nós voltamos para a sala.
— Não. Estamos... Ah, a gente briga todo dia, mas não é
por isso não. — noto que ele está com uma voz cansada... Como se
não aguentasse mais essa situação.
— É... Por que, então?
— Ela brigou comigo porque estou indo fazer compras com
você. Ela tem muito ciúme da gente. E da... Esquece. Nada demais.
— Cachorra!
— Amanda!
— A gente é amigo! Quantas vezes ela dormiu aqui? Ela
até sabe da minha história!
— Eu sei... Mas fazer o que? É uma situação estranha se
ela chegasse aqui e te visse assim, desse jeito.
— A culpa é sua por me acordar essa hora, Arthur! Não vai
rolar nada entre a gente, tipo nunca!
— Eu sei. — ele começa a rir. — Eu não estou querendo
arrumar briga com você também, só disse que é estranho, sabe? Por
mais que seja normal eu te ver vestida assim, para ela é complicado
de entender, ter um namorado na casa de uma amiga que não vai
com a cara dela. — ele começa a rir. — Mas enfim, ela tem ciúmes, o
que eu posso fazer? Nada, então brigamos.
Ele fica apertando as mãos, e eu sinto pena dele. Tati é
uma boba que na verdade nunca deu valor e tentou fazer parte dos
momentos da vida de Arthur.
— Oh... Fala para ela abrir o olho, porque se ela não
resolver isso logo com você, tem uma fila de garotas prontas para
tomar o lugar dela.
Ele começa a rir, e nega com a cabeça.
— Não. Não tem ninguém na fila.
— Como tem coragem de dizer isso? EU SOU A
PRIMEIRA DA FILA, ENTENDEU? E ai de você, se não me der
prioridade. — corro até ele e me jogo no seu colo. Arthur começa a
fazer carinho no meu cabelo.
— Ah, pode deixar que eu vou falar. E separar um lugar
especial para você. — ele diz rindo e segura minha mão e a coloca
em cima de seu coração. — Um lugar especial bem aqui.
Começamos a rir e vejo ele ficar pensativo, provavelmente
lembrando da briga com a vaca da Tati. Abro a boca e percebo que
não tenho nada para falar. E então resolvo mudar de assunto. Puxo
minha mão depressa e noto que Arthur fica sem jeito.
— Tu nem vem viu?! Falando sério... Você é um gato e a
Tati é uma idiota por não tratar você do jeito que merece ser tratado.
Ele fica em silêncio por um tempo.
— Hum... Pode até ser. Mas vamos esquecer isso, ok?
Vamos às compras.
— Por que eu preciso disso? Eu estou legal assim.
— Ei! — ele se aproxima de mim, e segura meu queixo. —
Eu sei que você está legal assim. Foi assim que eu gostei de você.
Com seu jeito menina de ser, mas... Me deixa te ajudar a esnobar
aquele cara? Do meu jeito? Da minha versão maluca sexy que tenho
de você na cabeça?
— Você imagina o que de mim? — começo a rir, e ele me
joga em cima do sofá e se levanta. — Você imagina coisas de mim?
Que tarado!
— Só quero que ele fique impressionado, e com raiva de
um dia ter feito aquilo com você.
— Eu odeio ele com todas as minhas forças. — sussurro.
— Por isso precisa de ajuda, mulheres são vingativas, e
você dizer que odeia, significa que sua história com ele não
terminou, então, vamos lá, pois está mais do que na hora de
acabarmos com essa história.
Será que seria uma boa ideia eu ir completamente
diferente? Ele gostava de mim assim, do jeito que eu sou, mas
também me deixou por causa disso. Não que “o que uma pessoa
veste é o que ela é”. Mas, sei lá.
A minha vida é uma merda de todo jeito. Ela simplesmente
virou um quebra cabeça, uma bagunça, onde não consigo encontrar
todas as peças para se encaixarem, e voltar a ser a perfeição que
era.
Como será que Edu está agora? Será que mudou? Será
que está mais lindo do que era? Será que mudar será algo bom para
mim?
— Acho que se você for diferente, vai dar uma impressão
de que sua vida está perfeita e isso irá evitar algumas perguntas. —
ele fala como se respondesse minhas perguntas internas. — E se
perguntarem algo ruim, você joga em todo mundo uma resposta que
deixará todos de queixo caído. Fala que está saindo com um cara, e
que tem muitos no seu pé.
— Para que?
— Sei lá... Para ele escutar mesmo!
Arthur se aproxima, segura minhas mãos e me faz levantar
do sofá, e então ele segura meus ombros, me vira, e começa a me
empurrar em direção ao meu quarto.
— Coloca uma roupa linda agora, porque hoje tenho que
voltar antes do almoço! E quero aproveitar o tempo que me resta
com você.
Arthur e eu vamos em quase todas as lojas do primeiro
andar do shopping, e agora ele me obrigou a ir em outra no segundo
andar. Eu resolvi vestir um vestido floral curto para vir fazer essas
compras infinitas, e calcei um chinelo havaianas do Mikey, e Arthur
começou a rir quando me viu, mas sabia que nada iria mudar minha
opinião.
Eu sou assim mesmo, e só vou fazer compras, não
passear. É até engraçado entrar nessas lojas chiques, e ver as
moças me olhando completamente chocadas por eu escolher roupas
nada a ver com o que estavam me vendo vestir. Algumas me olham
da cabeça aos pés, em julgamento, e isso me irrita.
Como se o que a pessoa vestisse definisse quem ela é.
Arthur coloca as sacolas perto do provador, e vai me ajudar
a escolher algumas roupas, eu vou olhando as calças e vestidos
jeans, e pego algumas calças e, um vestido jean azul escuro com um
zíper atrás, e algumas blusas.
Me aproximo de Arthur, ele sorri e me estica uma blusa
preta com um super decote e em seguida me entrega um sutiã todo
de renda.
— Vamos estourar meu cartão de crédito. — resmungo.
— É para usar por baixo da blusa, fica muito sexy. — ele
comenta me ignorando e falando novamente da blusa que coloca em
meu braço.
— Sabe o que eu acho? — enrolo as roupas no meu braço
e Arthur olha para mim.
— Você e a Gi tem tudo a ver! Já viu como aquela mulher
vai trabalhar? Super seu estilo.
— Quer ficar sem ajuda, Maluca? — ele franze a testa e
cruza os braços.
— Não está mais aqui quem falou. — reviro os olhos e ele
sorri e aponta o provador.
— Vai lá experimentar essa blusa, a vendedora me ajudou
e disse que está na moda.
Eu vou experimentar a contragosto. Assim que visto a
calça de cós alto e coloco o sutiã de renda e a blusa decotada de
Arthur parece que estou vendo outra mulher. Ou melhor, uma mulher
sem aquele ar inocente que passo e noto o quanto as roupas fazem
falta para eu expressar melhor minha personalidade.
Não ficou nada vulgar como eu pensei, ficou recatado e
sexy. Sorrio ao me sentir poderosa nessa roupa, e então decido
mostrar ao Arthur, e assim que saio, vejo que está conversando com
a vendedora. E quando se vira sorri ao me ver.
— Essa é uma roupa ótima para ir em uma despedida de
solteira! — ele começa a rir. — Sua bunda fica bonita nesse jeans!
Começo a rir, e ele puxa minha mão em direção à
vendedora, pega das mãos dela um vestido preto. De mangas
compridas, ele é longo e tem uma fenda em um lado da perna. Acho
ele estranho, mas pego mesmo assim e vou vestir. O tecido é bem
macio. Tiro a roupa para o vestir, e assim que termino, me olho no
espelho e levo um choque.
Chamo Arthur para me ajudar com o zíper, e ele entra e
franze a testa, aponto o zíper e assim que ele o fecha, não me
reconheço dentro daquele vestido.
Eu estou sexy para caramba!
Me sinto absurdamente linda. Esse vestido me aperta e
marca minhas curvas perfeitamente. Tem um decote bem recortado
na parte de cima.
— Puta que pariu! — Arthur sussurra, me observando
incrédulo. — Vou sair daqui para não te agarrar.
Eu começo a rir, e quando estou prestes a dizer para ele
deixar de ser bobo, me assusto quando ele realmente sai do
provador.
E vou atrás dele.
— Tu, que idiota. Deixa de bobeira.
— Não é bobeira... Tampa isso. — ele se vira sem me
olhar, mas sua boca está curvada para um sorriso. — Esse vestido
você tem que usar na festa de noivado Amanda, tá me escutando?
Concordo, e saio rindo para tirar o vestido.
Foi um dia de esquecimento de tudo, e uma despedida
entre a gente. Quando chego em casa já arrumo as malas, faço
minhas unhas, e depois marco o alarme do meu celular com a hora
que Arthur vai me buscar para me levar no aeroporto amanhã cedo.

E pronto. Chegou a hora. Hoje é o dia. Às sete da manhã


estou com uma calça jeans maravilhosa, uma blusa ciganinha rosê e
um salto anabela preto. Fiz cachos meio bagunçados no cabelo e
uma maquiagem leve. Arthur me ajuda a colocar as coisas dentro do
carro, e vamos cantando diversas músicas durante o percurso até o
aeroporto de Guarulhos, como fazemos sempre ao andar de carro.
Gisele já está lá me esperando para me desejar sorte
quando chegamos, e vamos juntas conversando enquanto Arthur
leva minhas malas, ele é realmente um amigo faz tudo. Ele vai rindo
com a gente e espera que eu faça o chek-in, e despache minhas
malas. Acomodo a minha bolsa no ombro, mas Arthur a puxa do meu
ombro para carregar para mim. Não hesito, assim posso aproveitar
mais a Gisele, antes de morrer de saudades dela! Eles me
acompanham até o setor de embarque.
— Então... Chegou a hora. — sussurro já com o coração
apertado.
— Droga! — Gi resmunga e me puxa para abraça-la. — O
que vai ser de mim sem você, hein?
Sorrio e aperto com mais força.
— Você vai ser a excelente jornalista que sei que é. E vai
me ligar todos os dias me contando as novidades. Só não pode me
trocar pela Rachel! — começo a rir.
— Como se não fosse me trocar pela Mari. — ela me fuzila
com os olhos.
— Na verdade, foi ela quem foi trocada por você, sua
idiota!
Seu celular toca, e ela olha para a tela, vejo ela suspirar
com raiva.
— Que droga! Por causa da sua saída, estamos com um
funcionário a menos, Fábio quer fazer uma reunião hoje mais cedo e
estou meio atrasada.
— Mas ainda não deu seu horário. — reviro os olhos.
— Nem fala. — ela resmunga e dá de ombros.
— Eu... É... Posso te dar carona para o jornal, Gisele. Se
quiser, claro. — Arthur gagueja tanto, que começo a rir. Gisele olha
para ele e pela primeira vez na vida, vejo algo brilhando em seus
olhos. Raiva... Ou será de alguma outra coisa?
— Não quero incomodar. — ela fala. — Pode deixar que eu
chamo um táxi, ou pego o metrô.
— Não me incomoda. — ele diz e noto o quão tensa ela
fica. — Estamos indo para o mesmo lugar, assim não vai se atrasar,
qual o problema? — ele indaga. Mas noto que hora alguma ele olha
em sua direção.
— É Gi, qual o problema? — pergunto tentando entender o
que se passa com esses dois.
— Nenhum. — ela sussurra. — Tudo bem Arthur, obrigada.
Vejo um sorriso esboçar nos lábios de Arthur, mas ele o
reprime tão rápido que fico me perguntando se não imaginei isso. Ele
me entrega a passagem com o check-in, mas fica segurando.
— Qualquer coisa é só ligar! — ele sussurra e solta à
passagem.
— Ok, senhor mandão!
Eu o abraço com força.
— Caramba, não acredito que vou ficar o maior tempão
sem te ver! — ele sussurra no meu ouvido. — Vou sentir sua falta.
Não me troque por ninguém, e dê uma lição naquele idiota com
aquele vestido de tirar o fôlego.
Começo a rir e aperto Arthur com força.
— Eu te ligo. E não te trocarei. — seguro na mão dos meus
dois amigos que amo demais da conta, e suspiro. — Não se matem
até eu voltar, por favor... Façam um esforço para se entenderem.
Garanto que vão amar um ao outro... Vocês são tão iguais que
ficariam chocados. — noto que eles ficam tensos ao ouvir isso. —
Garanto que iriam se amar ao invés de querer se esfaquearem. —
eles começam a rir. — Eu amo vocês, muito.
— Também amamos você. — Gi sussurra.
Ambos me abraçaram juntos, e eu beijo a bochecha de
cada um.
— Eu te amo, Maluca. — Arthur diz.
Olho pra eles uma última vez e vou para o setor de
embarque, controlo minhas lágrimas e a falta dos meus amigos que
já habita em mim. Coloco meus óculos de sol tentando esconder a
tristeza e suspiro fundo.
Então é isso, Belo horizonte, ai vou eu.
Passado tumultuado e que até hoje acaba comigo? Estou
indo até você também.
CAPÍTULO 3

Assim que o avião anuncia: “Senhores passageiros,


estamos a caminho de Belo horizonte, Minas Gerais, desejamos a
todos que tenham uma boa viagem”.
Eu meio que desabo.
Tá, meio não, eu desabo completamente. Porque para mim
é como se eu fosse uma daquelas metáforas, onde a pessoa morre,
e então vê sua vida toda passar bem diante de si. Meus olhos se
enchem de lágrimas, e tudo o que eu quero é ligar meu celular,
chamar Arthur para me acalmar, e pedir para ele parar o avião,
chamar a força aérea, e vir me resgatar em pleno ar.
Mas eu tenho que controlar minha vontade e me acalmar
sozinha. É difícil para mim voltar para a minha casa. Ver meus pais
por mais do que três dias é um milagre, então imagina por meses? É
praticamente voltar a morar em Belo Horizonte!
Mas eu tenho um medo horrível, acho que é por isso que
eu não visitei meus pais durante cinco anos, eu tenho medo de voltar
para as minhas antigas lembranças.
Quando queremos seguir em frente, sempre vai existir
duas coisas: lembranças que te farão fraquejar, e motivos para lutar
e continuar. Isso é algo que temos que aprender a lidar durante o
tempo.
Isso foi algo que eu tentei aprender. Porque pelo jeito, dizer
que não dói, e dizer que tudo ficou no passado, é só da boca para
fora. Isso tudo ainda me machuca, me faz perder o sono várias
vezes. Afinal, não é todo dia que seu grande amor te trai, termina
com você e ainda por cima seus pais mal se importam com isso, né?
Mas eu me convenço de que tenho que mudar.
Foi isso que o Arthur disse para mim. Eu me sinto diferente
desde que tudo aconteceu. É claro que eu tive que mudar, crescer,
amadurecer e lutar pelos meus objetivos. É claro que eu já namorei
outros caras, mas nada sério. É claro que eu sou excelente no meu
trabalho e meu patrão me adora, mas tenho sérias dúvidas de que
todos os “Tudo bem ficar na sede do jornal em Bh, Amanda. Confio
no seu trabalho já que é uma profissional competente.” que Fábio me
disse, foi devido a falatórios do Arthur a meu respeito. E quero provar
o quão boa profissional eu sou por meus próprios méritos.
E Fábio está tendo problemas com a empresa por causa
do filho. Cadu vai aprender a andar nos trilhos me tendo por perto.
Aquela empresa vai sair da zona que ele a meteu e de quebra, vou
ganhar um agradecimento de Fábio.
Eu tenho que continuar em frente, por mais que doa, eu
estou fazendo isso por dois motivos:
Primeiro motivo: Para vencer meu passado, e enfim deixar
para trás e seguir em frente.
Segundo motivo: Pela Mari. Eu sei que nós duas estamos
afastadas, mas conversamos por chamada de vídeo e mensagens
sempre que dá, contamos tudo uma a outra, e é por ela que eu estou
voltando. Ela irá realizar o sonho da vida dela. Casar com o Rick era
algo que eu ouvi desde o ensino médio, e agora finalmente vai
acontecer, e eu não poderia estar mais feliz por ela!
O caminho todo eu vou ouvindo músicas pelo fone de
ouvido. Me distraio ao máximo. E assim que começamos a sobrevoar
Belo horizonte meu coração para por um segundo. Começo a entrar
em pânico, e acho que não vou conseguir, mas meu ego fala mais
alto, e respiro fundo. Esperando pacientemente o avião pousar.
Vai ver a ideia do Arthur de trocar minhas roupas, foi uma
boa coisa afinal, pelo menos eu me sinto diferente... É como se eu
pudesse ser outra pessoa. Saio do avião, e vou pegar minha mala.
Assim que viro o setor de embarque, posso ver meus pais,
e a Mari. Eles estão olhando longe, como se não estivessem me
reconhecendo. E realmente percebo que eles não haviam me visto.
Eu começo a sorrir sozinha, assim que me aproximo e empurro meus
óculos para cima da cabeça, começo a acenar para eles. Mari me
olha com os olhos arregalados, e começa a gritar, ela sai correndo e
vem na minha direção.
Eu largo minha mala e corro até ela também — ou, o
máximo que posso com esses saltos — E assim que ela me envolve
nos seus braços, eu tenho a certeza de que não importa se isso não
der certo, o simples abraço de Mari sempre é capaz de curar todos
os cacos partidos do meu coração.
— Ai meu Deus! — ela diz chorando. — Não acredito que
você está mesmo aqui!
Tento controlar minha emoção.
— Eu disse que viria.
— Eu sei, é só que eu pensei que não viesse para o meu
casamento. — ela se afasta e fica me olhando enquanto segura meu
rosto com suas mãos. — Você tá tão linda, Mand! Nem te reconheci.
— Eu sei. — sussurro. — As coisas mudam, as pessoas
também!
— Ah, deixa só eu olhar para você! — Rick se aproxima me
abraçando.— Caralho, Amanda!
Ele se afasta e eu nem escondo minhas bochechas
vermelhas.
— Se o Edu te ver, ele cai para trás porque te perdeu! —
ele revela sem nem pestanejar.
Essa é a intenção. — minha consciência sussurra.
— Ou... Ela cai para trás depois de ver ele, né? — uma voz
reconhecida vem atrás de Rick.
Nem seguro meu coração de doer e ficar apertado.
— Oi mamãe. — sussurro.
— Oi meu amor! — ela me abraça com força. — Quantas
saudades, como você está?
— Estou ótima, o trabalho melhor ainda. — sorrio enquanto
digo.
— Fico muito feliz em saber disso. — ela diz. — E como a
Gabi está?
— Não vejo a minha irmã a umas duas semanas, só por
ligação mesmo, não tem falado com ela?
— Mais ou menos. Queria saber por você. — ela diz. —
Vamos viajar, lembra? A viagem das férias?
Merda! Não acredito que esqueci!
Como eu poderia me esquecer da viagem de segunda lua
de mel dos meus pais? Eles não param de falar sobre isso!
— Claro. — murmuro. — Vai ser divertido.
— Vai sim, vai dar tudo certo. Acho que será bom ficar mais
tempo dessa vez, encontrar suas antigas amigas. Até mesmo o Edu,
ele era seu melhor amigo também e...
— Tá legal, chega de falar dele! — Mari protesta cortando
minha mãe. — Venha, vamos te levar para casa.
Abraço meu pai com toda a força que meus braços
permitem, e sinto toda a falta que senti dele tomar posse de cada
pedaço do meu coração. Ele não fala do Edu, nem comenta nada
que possa me machucar, apenas diz que estava com saudades e
beija minha testa, e Rick leva minha mala.
Mari me conta tudo o que aconteceu com ela quando eu
estava fora, mesmo que eu já saiba, ela diz que pessoalmente dá
mais emoção. Ela comenta sobre como o Rick a pediu em
casamento. E resume bastante seu trabalho. Ela não fala do Edu
hora alguma, e eu agradeço por isso.
Chego em casa, e só de olhar para a rua já vem trilhões de
lembranças. Foi ali que eu cresci minha infância e minha
adolescência toda. Foi ali que fui atropelada por Mari quando ela não
sabia andar de bicicleta, e meus pais tiveram que nos levar para o
hospital. Foi ali, naquele jardim, que eu desmaiei depois que
tomamos nosso primeiro porre e eu descobri que ela era forte para
bebida, e eu... Nem tanto.
Ok, para ser sincera a Mari é um desastre na bebida
também, chega até ser engraçado. Ficamos um mês de castigo. Foi
ali que Edu me pediu em namoro, e foi ali que minha irmã me
ensinou a plantar rosas e como cultivá-las. E foi ali que a bolsa de
Gabriela se rompeu enquanto cantávamos juntas, e por pouco o
Valentim não nasceu aqui mesmo no jardim.
Mas eu ignoro todas as lembranças. Rick para o carro, e
me ajuda a levar a mala, e assim que eu entro em casa, tudo vai
consumindo meu coração aos poucos, principalmente meu quarto.
Abro a porta, e sorrio ao ver que meus pais mudaram o
ambiente. Tiraram os poster das bandas que eu gostava na época.
Pintaram as paredes, meus livros ainda estão arrumados do jeito que
eu gosto. Mas todo o quarto infantil e repleto de lembranças foi
apagado, graças a Deus! Pois foi aqui que vivi tudo em relação a
sentimentos.
Foi aqui que Edu e eu nos beijamos pela primeira vez, foi
aqui que tivemos a nossa primeira vez, e seria péssimo me lembrar
dele e ainda por cima da sua traição. Fui idiota por quatro anos!
Que mulher não enxerga que as coisas estão mudando?
Eu! Porque eu era uma idiota!
— Eu fiz questão de mudar tudo, sabia que seria difícil. —
Mari sussurra.
— Obrigada, eu amei muito! — começo a rir.
— Onde eu coloco essa mala? — Rick grita.
— Traz aqui para o quarto, Rick!
Ele traz e coloca em cima da cama. Abraça Mari e os dois
começam a falar que estão muito felizes por eu estar aqui. Que era
muito importante, e blá, blá, blá. Meu celular começa a tocar.
— Só um minuto. — digo interrompendo Mari. — Alô?
— Por que não me ligou? — Arthur bufa do outro lado. Não
consigo parar de rir. Ouvir sua voz me acalma e me dá força. — Será
que é normal deixar eu e a Gisele preocupados com você, sua
idiota?
— Nossa... Eu também te amo! — começo a rir ainda mais.
— E eu não liguei porque acabei de chegar, me dá um descanso!
— Mas e a preocupação?
— Ah, nem vem viu? Eu estou aqui com a Mari, e estou
arrumando as malas, eu iria te ligar, mas tenha paciência.
— Tá bom. Pelo mesmo eu sei que o avião não caiu!
— Ai, que horror! — grito rindo.
Ele começa a rir.
— Olha, eu vou desligar, porque tenho coisas para fazer,
depois eu ligo ou mando mensagens, viu? — murmuro enquanto
abro minha mala.
— Tá! Olha, falei com o Cadu pelo celular, ele disse que
iria passar na revista para te entregar os papeis, é sério Mand.
Assina o quanto antes e envia para os fornecedores. Não pode
passar de segunda.
— Sim, senhor capitão. — resmungo revirando os olhos. —
Depois a gente se fala melhor. Beijo.
— Beijo Maluca, até mais! Se cuida e boa sorte!
Desligo o celular, e volto a conversar com os dois. Eles
estão estranhos depois da minha ligação, me olham de uma maneira
diferente, mas é só falar a palavra casamento que a Mari louca volta
e me conta os mínimos detalhes.
Rick fica um tempo com a gente, pergunta como estão às
coisas comigo lá em São Paulo, e eu conto tudo do jeito que eu e
Arthur havíamos combinado.
Que eu estou trabalhando muito, que meu patrão me ama,
e que eu havia ganhado um cargo melhor para resolver os
problemas da empresa aqui da cidade, e para isso é preciso muita
confiança.
Rick vez ou outra deixa escapar algo sobre Edu. Não o
culpo, eles são melhores amigos, sempre foram. É como se nós
quatro fossemos um quarteto fantástico. Os dois melhores amigos
com as duas melhores amigas. Saíamos sempre juntos, riamos
juntos, viajávamos juntos. Então, isso não dá para esquecer só
porque eu e o Edu terminamos.
Ele me abraça e rapidamente sai para deixar eu e a Mari
sozinhas. É claro que ela não para de falar enquanto eu arrumo
minhas malas.
— Você não acredita no que aconteceu, sabe a Fernanda?
— ela me olha incrédula.
— Mari, você tem alguma outra amiga aqui? Porque
sinceramente, a quanto tempo não conta as coisas para alguém?
Está igual uma maritaca fofoqueira!
— Amor, amigas são assim, fofocas são tudo de bom,
então... SABE A FERNANDA?
Começo e rir, tiro meu salto e me jogo na cama, como
fazíamos quando adolescentes. Ela ri histericamente e se deita
também.
— Sei. — sussurro.
— Então, ela e o Marcos estão juntos, acredita?
— O Marcos? — começo a rir. — Não brinca!
— É sério! Nossa, eu nunca achei que isso pudesse
acontecer, os dois sempre se odiavam.
— Demais! — admito, e me viro na cama, olho as coisas
que Mari fez no meu quarto.
Ela retirou todas as fotos do passado, pintou meu quarto de
bege claro, e em uma parede desenhou flores. Ela sempre foi uma
ótima desenhista, e eu sabia que aqueles traços marrom escuro
formando rosas eram dela. Sorrio ao imaginar que ela já esperava a
minha volta com um tempo de antecedência.
— Obrigada pelo quarto Mari, eu gostei do que fez.
Ela faz cafuné no meu cabelo, e beija o topo da minha
cabeça.
— Eu sabia que iria gostar.
Ah! Amigas, não importa quanto tempo passe, nunca o
tempo é contado em uma amizade. Nem mesmo a distância. Nada
muda em nossos corações. Sempre iremos nos sentir à vontade, e
saber tudo o que pessoa precisa apenas por olhar nos olhos.
CAPÍTULO 4

Meu coração dispara assim que aperto o botão do elevador


com o andar da sede do jornal. Eu me preparei psicologicamente
para comandar essa empresa, mas ainda sinto aquela ponta de
insegurança dentro de mim. É claro que eu sei que sou capaz.
Estudei isso por anos, aprendi ainda mais na prática, principalmente
quando Arthur me pedia ajuda e de quebra, me ensinava essa parte
do serviço.
Então é claro que eu estou ao mesmo tempo animada e
com medo de tudo isso que está acontecendo, de forma tão rápida!
Minha vida do nada sofreu uma reviravolta que se me contassem, eu
não acreditaria.
Décimo sétimo andar — a voz robótica do elevador fala.
As portas se abrem.
E toda as lembranças que eu tinha de dois anos atrás
quando trabalhei aqui por um tempo se vão imediatamente.
Meu Deus! Isso está uma zona!
Atrás das portas de vidro com o nome do jornal, tem uma
secretária com tanto papel amontoado em sua mesa que se eu fosse
um visitante sairia correndo. Inspiro o ar e ajeito minha bolsa, entro lá
dentro e espero ela terminar de falar ao telefone, e qual é minha
surpresa quando ela termina, estica um dedo me pedindo para
esperar, e coloca o celular no ouvido e termina mais uma ligação que
ainda está em andamento.
— Desculpe. — ela diz pegando alguns papéis da sua
mesa e os coloca no chão. — Precisa de alguma coisa?
— Eu quero falar com o Carlos, por favor. Ele está me
aguardando.
Ela franze a testa e me olha, posso sentir seu olhar me
inspecionar e então ela solta um suspiro. Como se estivesse
cansada de alguma situação.
— Olha, tenta o celular dele. Aqui não é ponto de encontro
da casa da mãe Joana! — ela diz e revira os olhos.
Como é que é? Ela tá achando que eu sou quem para dizer
isso para mim?
— Desculpe, acho que não entendi o que você quis dizer
com isso, é... — me aproximo da sua mesa e olho seu crachá. —
Júlia, não é?
— Sim. — ela fala e começa a digitar sem olhar para mim.
— O Cadu não veio trabalhar hoje, para ser sincera tem dois dias
que ele não aparece, então, desculpe, eu realmente não tenho
tempo para lidar com as coisas da vida pessoal dele!
Ok! Cadu não é muito querido por aqui. E do jeito que ela
fala, acho que realmente esse lugar precisa de mais alguém além de
mim, e rápido!
— Júlia, eu sou Amanda. O Fábio me mandou aqui para
que eu possa...
— Céus! — ela se assusta e se levanta depressa. —
Amanda, desculpe, nossa que vergonha! Achei que... Não importa o
que eu achei. É claro que eu sei sobre você. Pensei que fosse te
encontrar na segunda!
— Bom, na verdade eu vim porque preciso pegar alguns
papéis com o Cadu para assinar e mandar para os fornecedores, e...
Você disse que ele não vem aqui a dois dias?
— É. — ela fala e aperta a barra de sua blusa. — Olha,
Cadu é um cara legal, só que aqui não é bem a praia dele. Ele ajuda
o quanto pode, mas só vem, assina e aprova o material e vai
embora.
— A quanto tempo ele está liderando aqui?
— Tem uns dois meses. Nosso diretor pediu conta.
— Entendi. Bom, pode me mostrar o lugar? Eu sei quais
são os papéis, ele deixou na mesa dele, não?
Ela começa a rir e então para quando me vê confusa.
— Bom, com certeza ele não deixou lá.
Ela me guia e então vamos caminhando até dentro da
redação. O coração do lugar. Tem várias pessoas conversando,
discutindo sobre as matérias, e passo por eles um pouco
despercebida. Ela abre a porta da sala, e assim que entro me
surpreendo com a organização do lugar.
— Ele pode ser um pé no saco às vezes, mas acredite, só
ele é capaz de encontrar algo de tão organizado que é. Tem pastas
desde as matérias aos gastos da padaria. — ela sorri. — Vou te
passar o número dele. — ela pega um bloco em cima da mesa e a
caneta e anota em um papel, e então me entrega. — Liga para ele,
aí ele te informa onde está e tudo dará certo.
— Ok, obrigada Júlia!
— Imagina, qualquer coisa estou à disposição.
— Valeu!
Ela sai e fecha a porta atrás de si. Solto um suspiro e me
aproximo da mesa, me sento na cadeira e consigo sorrir ao me
imaginar no comando desse lugar. É um passo tão grande na minha
carreira, tudo que sonhei.
Assim que ergo os olhos vejo uma foto em cima da mesa.
É de uma mulher com o Fábio. Ele está a abraçando por trás, e ela
sorri enquanto aponta para a câmera. Me pego sorrindo também ao
ver o quanto a foto é linda. Tiro meu celular da bolsa e digito o
número que Júlia me entregou. E qual é minha surpresa quando
chama até cair na caixa postal, nas três vezes que ligo.
Reviro os olhos e então ligo para Arthur. Fecho a sala e
isso chama a atenção de alguns jornalistas na redação. Parecem
notar minha presença agora.
— Oi maluca. — ele fala.
— Escuta, eu vim aqui, mas o Cadu não está. — digo meio
irritada.
— Como assim ele não está? Ele disse que iria te entregar
os papéis.
— Liguei para ele, mas ele não me atendeu. Será que você
pode...
— Ligar e acabar com a raça dele? Óbvio!
Aceno para Júlia e chamo o elevador.
— Só... Faz ele me entregar esses papéis, preciso disso
antes de segunda!
— Beleza! Te mando mensagem avisando o que
aconteceu.
— Tá bom, obrigada!
Desligo o celular e tento controlar o fracasso do primeiro
dia. Mal comecei e tudo já deu errado. Mas tudo bem. Hoje é só o
começo, é claro que ainda pode piorar. Principalmente com a festa
de noivado da Mari amanhã.
Primeiro dia já veio com tudo.
Meu celular apita e vejo que é uma mensagem do Arthur.
CAPÍTULO 5

Meus pais resolveram ir para a roça da minha avó, para


ficarem um tempo lá com ela. Já que faz tempo que eles queriam ir
para lá, e resolveram achar que essa é a situação perfeita para
deixar a casa sobre os meus cuidados. Estou amando essa situação,
assim evita perguntas desnecessárias sobre a minha vida.
Coloco um short overcome, e uma blusa que amarro na
cintura, e lavo o banheiro cantarolando uma música alta. Saio
cantando igual quando eu era uma adolescente maluca, e fico nessa
faxina até à tarde. E quando são 17 horas da tarde, eu termino a
faxina. Mamãe ficaria orgulhosa de mim. Dei um trato em tudo.
Descubro que o quarto da minha irmã também havia
mudado, ela vem muito mais aqui do que eu. Então é bom ver um
pouco de mudança.
Vou para o meu quarto e pego minha toalha, corro para o
banheiro. Deixo a água cair em minhas costas, e relaxo. Só que
quando eu me lembro para onde eu vou... Minha barriga congela,
sinto uma falta de ar me invadir. Tento não pensar em mais nada.
Lavo meus cabelos até estarem bem limpos, e me enrolo na toalha.
Coloco música, troco de roupa, ligo o secador, pego a escova de
cabelo e puxo bastante os fios, para eles ficarem bem lisos.
E depois de seco, pego a chapa, e a uso para fazer cachos
nas pontas. Algumas das minhas mechas de morena iluminada ficam
destacadas assim.
É exatamente 18:40hrs quando eu começo a fazer a
maquiagem. A festa vai ser em uma hora, mas eu estou nervosa
demais. Demoro bastante na maquiagem, escolho uma maquiagem
esfumaçada de tons quentes, faço um delineado e coloco cílios
postiços. Passo um batom vermelho, para destacar meus lábios. E
então, eu visto meu vestido, o preto com a fenda que Arthur tanto me
falou, e calço meu salto alto. E assim que eu passo perfume e me
aproximo do espelho... Não me reconheço.
Parece que eu fui trocada por outra pessoa. Não que isso
seja algo ruim.
Tá bom, é péssimo, temos que ser nós mesmos, mas às
vezes: “Situações desesperadoras, pedem medias desesperadas”.
Ligo o carro, e vou até a casa da Mari, a festa será lá, pois
sua casa é maior. No caminho ligo o rádio e está tocando Ed
Sheeran, e eu começo a cantar para ferrar de vez o meu coração.
Passo em frente ao maldito restaurante, e sorrio ao perceber que
não sinto nada com as lembranças daquela noite do término. A rua
da casa da Mari está lotada de carros. Estaciono em frente à sua
garagem, afinal ela disse que podia.
E assim que desligo o carro... Vejo a pessoa que quero
evitar ao máximo.
Edu... Ele está parado do outro lado da rua. Fecha a porta
do seu carro. Ele está igual ao que eu imaginava. Nada de diferente,
pelo contrário, parece que não mudou quase nada. Sinto uma dor
horrível dentro de mim, e me controlo para não chorar. Assim que ele
se vira, noto uma mulher saindo do seu carro. E quase tenho um
ataque do coração quando vejo que a mulher é a Vanessa.
A mesma que ele tinha me traído!
Sinto o sangue esquentar meu corpo quando eles dão as
mãos. Ela está sorridente, parece mais metida. Seus cabelos estão
lisos e jogados para trás, ela está ainda mais loira e cortou seus
cabelos na altura do ombro. Ela usa uma calça jeans escura e uma
blusa vermelha cavada nas costas. Edu parece bem nervoso.
Quando eles passam perto do meu carro, me abaixo um pouco, tento
me esconder, mas eles nem sequer me notam, graças a Deus!
Ele está apertando o maxilar. Prendo a respiração quando
eles passam do meu carro, e tenho novamente vontade de chorar.
Eles ainda estão juntos! E a Mari nem me contou!
Bom, pelo menos ver eles antes é melhor do que ver ele de
cara na festa. Tenho que agradecer ao destino por isso. Tomo um
pouco de ar, e saio do carro, completamente destruída por dentro,
mas com um sorriso do tamanho do mundo por fora. Mulheres tem
esse super poder.
Tranco a porta, e começo a ir em direção a casa. Há
algumas pessoas do lado de fora, bebendo e estão rindo sem parar.
Não conheço ninguém, então nem cumprimento. Entro na casa e
começo a procurar por Mari desesperadamente.
— Meu deus, Amanda?! — alguém se aproxima me
abraçando rapidamente. Nem tenho tempo de ver quem é, só
correspondo ao entusiasmo exagerado da pessoa.
É Fernanda, uma colega do tempo de escola. Sorrio para
ela.
— Oi! — tento buscar algum assunto urgente. — Fiquei
sabendo de você e do Marcos! Parabéns, quem diria, não? — digo e
sorrio.
Eu havia decidido sorrir o tempo todo. É uma ótima
estratégia para acabar com quem quer te ver chorando e de coração
partido.
— Pois é! Muito obrigada... A propósito você está linda
demais!
— Obrigada... Cadê a Mari? — ela ri e me aponta onde a
Mari está.
Congelo.
Edu está ao lado dela, de mãos dadas com a Vanessa.
Sorrio ainda mais para manter as aparências na frente de Fernanda.
Mari está linda demais, com aquele vestido branco de renda, seus
cabelos estão cacheados. Ela está conversando com eles,
provavelmente contanto suas inúmeras histórias com Rick... E assim
que ela me vê, abre um sorriso do tamanho do mundo.
— Meu Deus! — ela fala dando voltinhas que me faz
começar a rir. — Que gata é essa vindo em minha direção?! — ela
sorri e estica seus braços enquanto me aproximo para abraçá-la. A
reação exagerada de Mari faz com que Vanessa e Edu olhem em
minha direção.
Faço questão de não olhar para eles. Vou sorrindo em
direção a Mari, desvio de algumas pessoas, e me lembro de andar
estilo “top model”. Eu estou me sentindo poderosa demais nesse
vestido. Chego até Mari e a abraço com força.
— Gata está você! A noiva mais linda que eu já vi na vida!
— falo rindo, completamente feliz por minha amiga estar realizando o
sonho que ela sempre teve. — Parabéns pelo noivado!
— Muito obrigada. Você não imagina como estou feliz de
você estar aqui! — ela sussurra e se afasta do meu abraço.
— Onde mais eu estaria? — digo rindo. — É claro que eu
estaria do seu lado.
Rick se aproxima, e começa a rir.
— Eu estou com ciúmes de você — ele diz me olhando de
cara fechada, mas noto que está prendendo o sorriso. — É quase
uma irmã, e tem muitos caras te olhando para o meu gosto.
Vou até ele e o abraço.
— Se você não a fizer feliz sabe que eu te arrebento, né?
— Eu jamais faria isso. — ele diz me olhando nos olhos.
— Eu espero que vocês sejam muito, muito felizes. —
seguro na mão dos dois.
Eles ficam me olhando sorrindo, e então sinto um frio me
congelar quando uma mão toca meu braço. Olho para o lado e vejo
que é Eduardo.
— Ei. — Ele sussurra.
Edu está me tocando!
Edu está me tocando!
EDU ESTÁ ME TOCANDO! Para tudoooo!
Olho para ele, e me surpreendo ao ver o choque em seu
rosto. Dá vontade de gritar: “Tá surpreendido querido? Porque eu
estou sorrindo e não pra baixo”. E abro um sorriso.
— Ah, oi! — minha voz não falha, yes!
— Quanto tempo... — ok. Ele está pior que eu.
Sinto sua mão tremer em meu braço, e então faço a coisa
que pensei que nunca faria, eu me aproximo e o abraço.
Vejo que ele se surpreende, como se não esperasse essa
minha aproximação, mas rapidamente seus braços me apertam
contra si. Ele deita seu rosto no meu pescoço, como sempre fez. E
eu sinto meu coração se acelerar com isso.
Merda, por que isso tudo tem que ser tão complicado?
Embora eu não goste de admitir, senti falta do seu abraço.
Me afasto assim que percebo que é um abraço longo
demais para tudo o que aconteceu entre nós, e ele respeita e se
afasta. Faço questão de me virar para Vanessa, e a abraço
levemente, ela também se surpreende, mas me corresponde.
— Oi. — ela sussurra.
Me afasto e a cumprimento com a cabeça. Ela troca um
olhar com o Edu, aperta o ombro dele e se afasta logo em seguida,
não entendo o motivo disso, até que ele segura meu braço de novo,
e sussurra:
— Precisamos conversar.
O quê? Uma conversa? Não estou preparada, muito menos
com vontade de “conversar” com ele. Mas é claro que eu aceito, para
não parecer fraca.
— Eu preferia que a gente fosse para outro lugar, se
possível. — ele sussurra.
— Eu prefiro aqui. — puxo meu braço de sua mão e ele me
solta.
Ele solta um suspiro, e coloca a mão na cabeça.
— Droga. — ele sussurra. — Eu queria saber como você
está em relação a mim e a Vanessa.
Oi? É sério isso? Puta merda, só o que faltava!
— Por que quer saber como eu estou?
— Porque é estranha essa situação.
— Eu não acho nada estranho, Eduardo. — ele me olha
surpreso por eu ter chamado ele assim. — Vocês são livres para
namorar, e já se passaram cinco anos! Pelo amor de Deus... Foi
coisa de criança o que aconteceu há anos e que ficou lá no passado.
— Não para mim. — ele sussurra. Faz uma pausa, e então
olha para Vanessa. — Então quando a Mari te contou, você ficou de
boa com tudo isso?
Ele quer saber se Mari me contou? É claro que eu não
estou nem ai.
— Sim, ela só comentou na verdade, mas eu realmente
não me importo e espero que sejam felizes.
— Que bom. Ufa! — ele sussurra. — Espero que você vá
na nossa festa também.
Opa... Espera um pouco, do que ele está falando? Como
assim nossa festa também? Uma festa tipo... Essa da Mari?
— A Vanessa estava com medo de te ver desde que tudo
aconteceu, ela te ama muito, você sempre foi a melhor amiga dela.
— grande amiga ela é então, né? — E ela estava com medo do que
você iria pensar sobre isso tudo. Pode ter certeza que ela ficou muito
feliz com seu abraço, até porque ela não esperava que falasse mais
com ela.
Ah, que canseira, que assunto prolongado!
— Eu estou bem, Eduardo! De verdade! Diga a Vanessa
que não precisa ficar com medo, eu não mordo. — olho ao redor,
tento encontrar Mari e claro, ignorar ele completamente.
Ele sorri, e segura meu braço de novo. Ah, que mania
irritante.
— Eu espero venha no nosso casamento também. — ele
diz de repente.
Paro de respirar. Então é isso, eles realmente vão se
casar???!!!
— Claro. — sussurro. — Eu vou ver a Mari, boa festa para
vocês!
Ele franze a testa, e me segura de novo. Eu quero gritar
com ele, para me soltar para que eu possa ir embora para São Paulo
de novo e chorar no colo do Arthur. Mas ao contrário disso, olho pra
ele e sorrio.
— Você está bem mesmo com isso? — ele não está
acreditando em mim.
— Sim. Muito bem... Vocês dois se merecem. — não posso
deixar de alfinetar.
Ele abaixa a cabeça, eu puxo meu braço e saio de perto
dele, e corro para o banheiro. Para poder trancar a porta e chorar em
paz. Mas assim que chego no banheiro, está ocupado, então vou até
o quarto da Mari, e tranco a porta.
Não acredito nisso! Eles estão noivos! Eu esperei por
quatro longos anos que ele me pedisse em casamento, afinal, ele
sempre disse que eu era tudo para ele. E agora eu volto e não só
descubro que ele ainda está com a mulher com quem me traiu, como
simplesmente decidiu se casar com ela!
Mas só de lembrar que estou no quarto de Mari... Sinto
cada centímetro do meu corpo pegar fogo com a raiva. Eu não posso
deixar eles me verem assim, chorando, como se eu ainda me
importasse. Bem, é claro que eu me importo, mas eles não precisam
saber disso! Pego meu celular, ligo a câmera, e começo a me
arrumar através dela. Limpo as manchas, e me torno novamente a
imagem da pessoa diferente e risonha que eu estou passando para
todo mundo.
Respiro fundo várias vezes, e então eu decido me
comportar diferente. Eles estão felizes, e eu não tenho conta com a
vida de ninguém, mas também ninguém tem conta com a minha.
Mari escondeu isso de mim, ela poderia muito bem ter me contado e
ter evitado uma surpresa e choro da minha parte justo hoje. Então, já
que todos estão a fim de esconder as coisas, eu também vou
começar a contar mentiras por ai.
Não é isso que todo mundo quer? Fingir que essa é uma
situação confortável onde todos estão bem e felizes e eu não passo
da namorada traída que superou e agora está sorrindo como uma
idiota? Mas que droga!
Saio do quarto, e vou para a festa novamente. Mari me
olha assustada, ela deve saber que me contaram, e agora com
certeza quer uma forma de me pedir um milhão de desculpas. Mas
apenas ignoro que isso aconteceu e foco que hoje é a noite dela,
depois resolvemos qualquer outro assunto.
Ela só está querendo me proteger, é isso que eu digo para
mim a todo instante.
Rick se aproxima da gente junto com Edu e Vanessa. E
nesse momento me sinto uma excluída, uma vela, um espantalho no
meio de dois casais. Saio de perto deles, e pego uma dose de
tequila, e bebo tudo de uma vez, desce queimando e chupo o limão.
Me aproximo de Fernanda e começamos a rir. E ela vai me
contando tudo sobre Marcos. Bem, é melhor ouvir ela do que ficar
vendo o olhar de culpa e medo da Mariana. Ela me distrai bastante.
E é bem no momento em que as músicas ficam mais
calmas, que Mari me puxa para eu me sentar com eles e com o casal
de idiotas que eu quero ignorar.
— E aí Amanda, como está o trabalho lá em São Paulo? —
Rick me pergunta.
Inspiro e o ar e tento ficar calma, não quero que eles
fiquem sabendo de nada da minha vida. Mas é como Arthur me
aconselhou. Eles imaginam que eu ainda sou a mesma do passado,
tenho que mostrar que nada é igual.
— As mil maravilhas! — digo e sorrio. — Mas ficarei um
tempo aqui, consegui um cargo maior para ajudar a sede da
empresa, mas em breve devo voltar novamente para São Paulo.
— Eu fiquei sabendo... Fiquei muito feliz que você
conseguiu, eu me lembro de como você sempre sonhou com isso. —
Edu diz e segura minha mão por cima da mesa.
Noto o olhar de Vanessa se abaixar e puxo minha mão da
dele.
— É, eu sempre quis. Eu fiz muitos amigos lá também. —
digo.
Vanessa sorri para mim.
— Só amigos? — ela me pergunta sorrindo.
Subtexto: Algum namorado?
Nessa hora Fernanda segura meu braço.
Assim, como um sinal estampado na minha cara.
— Cacete! Tem um cara muito gostoso te procurando! —
ela está realmente bêbada.
— O quê? — pergunto sem entender.
— Ele se chama Carlos! Ele é perfeito, onde o encontrou?
Ai meu Deus, claro o Carlos! O primo do Arthur! Ele ia
trazer os papéis para mim!
Eu me esqueci completamente dele!
— Quem é Carlos? — Mari pergunta me olhando com as
sobrancelhas erguidas.
Assim que eu abro a boca para começar a falar que ele é o
filho do dono do jornal que veio apenas para me entregar os papéis,
eu encontro o olhar de Edu. Ele está me olhando sério. Como se
estivesse com raiva. E Vanessa com os olhos arregalados.
Imediatamente percebo que todos estão achando que Carlos é...
Alguém especial.
E então eu penso... Ué, por que não?!
Todos estão escondendo coisas de mim, então é justo que
eu pague com a mesma moeda.
Me viro para Mari com um sorriso sem graça. E me
surpreendo ao ver que enganei minha amiga. Eu enganei minha
melhor amiga!
Se ela acreditou, todos vão acreditar!
— Sua vaca! Por que não me contou? — ela grita.
Vejo Edu apertar as próprias mãos em cima da mesa, e
gosto do fato de que eu não estou mais por baixo. Eu estou sendo
uma fonte de mistério, e não a pessoa que todos sabem seus
segredos.
— Eu sei. — me defendo. — Mas é que queremos manter
segredo por enquanto. — digo rindo.
— Segredo do quê?
É mesmo, droga! Segredo de quê?
— Só falta você também estar noiva. — Vanessa diz
debochando.
E é esse deboche que me atiça. Como se eu não pudesse
ser noiva de alguém.
— Nós estamos sim.
Noto que ela arregala os olhos.
— É complicado. — não evito ruborizar na frente deles. —
Ele é filho do meu chefe e...
As meninas gritam, mas noto que Edu fica quieto, e gosto
disso!
— Um amor proibido! — Mari diz e se abana. — Deve ser
gostoso ficar em segredo.
— É... Digamos que nunca cai na rotina a nossa relação.
— invento.
— Eu quero conhecer! — Mari grita.
Opa! Puta merda! Cartão vermelho na parada!
O que eu faço? Eu acabei mentir sobre um cara que está
me esperando! Ai Deus, se ele for igual ao Arthur irá me ajudar! Ele
provavelmente deve ter ouvido o Arthur falar sobre mim. Então ele
poder me ajudar, tem que me ajudar! Que situação!
— Eu te apresento amanhã, porque hoje tenho que levar
ele em um lugar, combinamos de nos encontrar! — é à primeira coisa
que sai da minha cabeça. — Sabe como é, matar as saudades.
— Ah, sem essa! — Mari diz.
— Mari é sério, eu prometi não contar para ninguém, então
espera eu falar com ele primeiro, eu preciso ir. — beijo sua
bochecha, e a abraço. — Parabéns ao casal!
Eles me abraçam e eu aceno para Edu e Vanessa que não
param de me encarar. Mas eu noto que ela está mais feliz. Aliviada
talvez, mas com o quê Deus do céu?!
Me surpreendo quando os quatro se levantam e vão me
acompanhando até a porta. Droga, o que eu faço agora?
— Não precisa! — paro na frente deles. — Qual é gente, é
uma situação chata.
— Ah, qual é! Deixa a gente ver ele, nem que seja de
longe! — Vanessa fala.
— Ah... Tá bom.
Mantenha as aparências, eu digo para mim mesma.
Só falta ele ser bem novo, Arthur nunca falou nada sobre
ele. Mas a Fernanda disse que ele é gostoso. Espera... Carlos, é o
filho que dá problemas ao Fábio. Puts, em que furada eu fui me
meter?
Saio da porta e vejo que ele está encostado em um carro
preto. Segura um envelope grande. Parece sem paciência.
E meu Santo Antônio dos bofes impossíveis! Ele é lindo pra
cacete!
Não preciso ver ele nú para saber que ele tem um corpo
definido e perfeito. Seus cabelos castanhos estão bagunçados. Seus
olhos são surpreendentemente negros, pelo menos, no escuro é o
que me parece. Ele usa um jeans preto justo, e uma camisa vinho
social, ela está solta de um lado da calça, e seu colarinho está
aberto. Ele tem uma barba tão alinhada ao seu rosto, que ele daria
um ótimo modelo.
Caramba, Fernanda tem razão, ele é um absurdo de
gostoso.
Assim que ele me olha, seu rosto fica com uma expressão
de puro choque. Noto que entre as sobrancelhas dele há um vinco,
que o deixava ainda mais charmoso. Ele endireita a postura, e eu me
aproximo dele cautelosamente, e paro na sua frente.
Meu Deus, que perfume delicioso é esse que ele está
usando?!
— É... — ele começa e vejo seus olhos vagarem por meu
corpo. — Amanda? — a voz dele é gravemente rouca, me arrepio
completamente ao ouvir.
Não respondo, eu posso sentir os olhares deles atrás de
mim. Me aproximo de Cadu e coloco minhas mãos no seu rosto.
Eu sempre acreditei em destino. E o que o destino mais
gosta de fazer é de nos pregar peças surpresas.
Mas às vezes, o seu destino se define, conforme as
escolhas que você faz.
— Me ajuda? — sussurro.
Ele levanta uma sobrancelha, completamente confuso.
— Ajudar com o quê? — ele fala, e vejo ele ficar surpreso
quando passo meus braços por seu pescoço.
— Eu preciso que você me beije. — sussurro.
CAPÍTULO 6

E assim, sem ter consciência do que acontecerá com o


meu destino de agora em diante... Eu faço a minha escolha.
Ele fica boquiaberto, e antes que ele diga qualquer coisa,
eu puxo seu rosto, completamente sem graça, e o beijo. O simples
tocar dos nossos lábios já faz meu corpo inteiro estremecer em
resposta. Tenho um certo medo no começo.
E se ele me empurrar? Imagina a vergonha que será? Puta
que pariu!
Fico com os nossos lábios colados, e vejo que ele ainda
está com os olhos abertos, totalmente chocado. Fico com medo de
tê-lo assustado. Também que tipo de pessoa sai pedindo beijo e
agarrando aos outros? Isso não soa muito como eu.
Eu começo a me distanciar, tímida por não ter sido
correspondida. E quando dou um passo para trás, totalmente
desnorteada e sem saber ao certo como pedir desculpas pelo meu
mal comportamento, sinto suas mãos tocarem meu quadril, olho para
ele e vejo o peito de Cadu subir e descer rápido demais devido sua
respiração desregular. Ele está com os olhos focados em minha
boca.
Ele me puxa para mais perto, e seus braços agarram
minha cintura com força e me levam para perto dele. Sinto cada
pedacinho do seu corpo tocar o meu e sua respiração quente tão
perto da minha boca que me esqueço de respirar.
— Porra. — ele sussurra com um misto de emoções no
olhar. — Por que fez isso?
É simples, você é meu noivo! Por isso fiz isso! Noivos
fazem isso!
— É... — gaguejo. — É que meu ex e meus amigos estão
aqui e...
— E você quis esfregar isso na cara de todo mundo? — ele
conclui sozinho e um sorriso se forma em sua boca perfeita.
— É... De certa forma.
— E esse é o melhor que você pode fazer?
Oi? Como assim?
— Bom...
— Você resolveu esfregar isso na cara deles com o cara
errado. — me sinto completamente sem graça.
Se ele é o cara errado por que ele não me solta e me
entrega para todo de uma vez? E de quebra, me deixa respirar!
Porque ele tá me apertando tanto e me intimidando tanto que me
sinto até de pernas bambas.
— Por que? — sussurro. — Por que você é o cara errado?
Ele sorri de lado, um sorriso esbanjando charme e
sedução. Ele faz negação com a cabeça, e me vira rapidamente. Me
encosta contra o carro, e joga novamente seu corpo contra o meu.
Seu braço me aperta ainda mais contra a minha cintura, e sua mão
livre sobe por meu braço, acariciando levemente, e enrosca nos
meus cabelos, faz com que ele tenha agora o controle do meu rosto.
Por que ele está fazendo isso?
Ele suspira fundo, e me assusto quando ele se aproxima
rapidamente, e morde meu lábio inferior, seus dentes raspam
levemente meu lábio e sinto um tremor dentro de mim quando ele
chupa depois de morder. Ele faz com força, mas não dói, é bom.
Caraca é muito bom!
Ele se aproxima ainda mais, seus olhos parecem
hipnotizados por minha boca. Ele desvia seus olhos para os meus
por apenas alguns segundos.
— Porque agora que eu senti o seu gosto... Não vou
conseguir mais parar. — ele murmura.
Sinto sua respiração contra meu rosto, seu corpo contra o
meu. Me sinto imediatamente vulnerável. Meu coração pula horrores
dentro do meu peito. O que esse cara está fazendo comigo?
Que sensações são essas? Por que eu também não quero
mais parar?
— Não para. — eu me vejo sussurrar.
Ele sorri quando digo, em seguida morde seus próprios
lábios, e isso me dá uma baita vontade de fazer o mesmo que ele fez
comigo, mas eu me controlo.
— Vou te mostrar... Como se dá o troco em alguém. — ele
sussurra.
Em um segundo eu estou pensando o que ele quer dizer
com aquilo, até porque eu não me lembro de mais nada. E no outro,
sua boca já está vindo em minha direção. Faminto, desesperado.
Seus lábios roçam aos meus, e ele chupa meu lábio, me faz dessa
forma me abrir para o beijo. Sua língua entra em minha boca e causa
uma explosão em meu corpo. Com movimentos velozes e
completamente dominantes. O gosto dele é tão viciante que me
deixa tonta.
Ele me guia, me beija de uma forma que nunca havia
experimentado antes. Com tanta intensidade, como se ele
dependesse de mim para respirar novamente. Cadu puxa seu braço
em minha cintura me apertando ainda mais contra ele, e não evito
que um gemido saia. Passo meus braços por seu pescoço, entrelaço
meus dedos em seus cabelos e o puxo para mais perto ainda. Ele
me acomoda contra o carro, e me sinto presa, mas não é um
sentimento ruim, já que estou presa justamente contra ele. Ele
aprofunda o beijo, e passo meu braço por sua cintura, e assim que
sinto minhas unhas apertarem sua pele e o puxar para mais perto,
Cadu sorri e então se afasta.
Não sei como ele tem forças para se afastar.
Fico atônita. Sem saber onde estou, quem eu sou. O que
estou fazendo aqui.
Até que ouço o assobio da Mari. Fico constrangida na
mesma hora e me lembro de que temos plateia.
— E ai? Isso serviu como troco? — ele acaricia meu lábio
inchado, e eu gelo imediatamente. — Tem mais de onde veio este. E
longe desse lugar não precisamos parar. — ele sussurra se
aproximando e beija meu pescoço. — Quer ir para outro lugar?
Oh se eu quero!
E noto o quanto ele sorri ainda mais ao me ver
completamente arrepiada.
Mari vem correndo até a gente, e eu só tenho tempo de
afastar Cadu e segurar a mão dele, entrelaço nossos dedos. Não dá
mais tempo para dizer nada a ele, já que Mari está se aproximando
de nós, junto com Vanessa.
— Oi. — Mari diz esticando sua mão. — Sou Mariana.
— Sou...
— Carlos? É eu sei. — ela começa a rir.
Ele segura a mão dela e aperta forte.
— Pode me chamar de Cadu. — ele diz isso olhando para
mim, como se de certa forma, me desse liberdade para chamá-lo
assim também.
Ela sorri, e então assim que me olha eu sei o que está a
minha espera.
— Eu sei que vocês querem manter segredo. Mas eu não
concordo com isso! O amor sempre vai além do lado profissional.
— Sobre o quê? — Cadu pergunta e eu aperto sua mão.
Me aproximo dele, o abraço pela cintura, e beijo seu pescoço. Dou
uma cutucada com as mãos nas costas de Cadu.
— Ela já sabe sobre a gente, amor. — sussurro cutucando
ele ainda mais.
Ele me olha com um olhar brincalhão, e então sua boca se
abriu em um grande “o”.
— É claro! Não, tudo bem... Segredos sempre são
revelados algum dia. — ele diz rindo para Mari. E então olha para
mim. — Não é? Amor... — ele fala e segura o riso.
— Claro! E eu estou tão feliz! — ela se vira para mim. —
Amanda, conversei com o Rick, e ele concordou em se você quiser
entrar com ele no lugar do Edu, tudo bem!
Ah, agora eu posso ir acompanhada de alguém que eu
queira?
— É...
Olho para ele, implorando com toda a minha alma com os
meus olhos. E ele fica me encarando de um jeito nada legal por um
tempo. Suas sobrancelhas estão franzidas, e eu meio que paraliso,
fico completamente tensa, e Cadu parece reparar, pois sinto ele
acariciar meu braço e me aconchegar mais em seu corpo.
— Claro, será um prazer te acompanhar, sabe disso. — ele
beija o topo da minha cabeça.
Ufa! Pelo menos, não terei a humilhação de acompanhar
Edu.
— Bem, eu já estou indo. — ele diz e se vira para mim, e
começa a sorrir. Eu sei que ele deve estar rindo de mim por dentro, e
fazendo isso apenas por solidariedade, afinal a frase “ajude o
próximo” é uma verdade em momentos desesperados.
— Onde você vai? — pergunta Mari.
Ele me olha por um instante.
— Err... Vou para casa. Só vim trazer isso.
Ele ergue o envelope e parece se segurar para não falar
mas alguma coisa. Pego o envelope da sua mão e apenas sorrio.
— Eu já assinei. — ele diz sem jeito. — O endereço dos
fornecedores deixei anotado aí dentro também.
— Valeu mesmo. — sussurro. Um agradecimento que vai
além desses míseros papéis.
— Ah, não! Eu não admito que o noivo da minha melhor
amiga fique longe dela, pelo amor de Deus vocês estão entre
amigos. Fica mais um pouco! Mand convence ele a ficar. — ela diz e
sai rindo em direção ao Rick.
Posso sentir os braços de Cadu ficarem rígidos ao redor da
minha cintura no momento em que Mari diz a palavra noivo.
Puta que pariu e agora?
Olho para ele, e seu rosto está sério. Completamente sem
emoção, não sei o que ele pode estar pensando sobre isso. Sobre
essa situação. E que loucura, vou dizer só! Como foi que chegamos
a esse ponto?
— Ela disse que...
— Será que posso te levar para algum lugar para a gente
conversar? — imploro novamente.
Cadu cerra o maxilar, e do nada ele me vira contra o carro
novamente, e me encosta contra o carro, Cadu segura minhas duas
mãos sobre o carro também, uma de cada lado do meu rosto, me
impossibilitando de me mover. E me encara ainda com o rosto sem
emoção.
— Escuta aqui... Eu não sou homem para ser usado por
uma mentira! Você está me ouvindo?
Sinto minhas pernas fraquejarem, e minha coragem vai
para o ralo. Com seus olhos pretos me encarando, e questionando o
que eu estou propondo. É como se ele pudesse ler meus
pensamentos, e me sinto imediatamente invadida por isso.
— Desculpa... Eu... É que...
— Achar que nós estamos ficando, tudo bem, agora me
envolver na sua vida pessoal é outra história, Mand.
— Cadu...
— Quando eu disse que não sou o cara para poder dar o
troco, eu estava falando sério. Eu não sabia que é algo além do que
um beijo na parada. — ele fala com os olhos arregalados.
— Eu sei disso! — falo e solto um suspiro. Tento soltar
minhas mãos, mas Cadu não deixa.
Olho para a porta e vejo Edu nos observar de longe, com
um olhar suspeito.
— Por favor! — imploro, e sinto as lágrimas em meus
olhos. — Você não pode ser tão sem coração assim.
Ele sorri debochando de mim, e então fica me encarando.
— Mas eu sou. — sussurra. — Eu não tenho essa coisa aí
de coração.
— É claro que tem... — falo e ele me encara com raiva. —
Talvez só não saiba disso ainda. — vejo Cadu se encolher com o que
eu falo. E estranho sua atitude.
Olho novamente para a porta, e noto que Edu está
começando a vir em nossa direção.
— Olha, por favor, me deixa apenas explicar, tem gente
olhando, e essa sua pose de durão discutindo comigo não vai me
ajudar no que eu preciso.
— Pouco me importa o que você precisa.
— Por favor! — sussurro deixando as lágrimas caírem.
Ele me olha com raiva novamente, seu maxilar está tenso.
E ele aperta os dentes com força. Ele também tem uma veia
estufada no pescoço. Ainda mais visível que a de Arthur. Sinto suas
mãos me soltarem devagar e ele aperta as próprias mãos e faz
negação com a cabeça.
— Amanda? — Edu me chama. — Algum problema?
— Cadu?! — sussurro implorando.
CAPÍTULO 7

Cadu
A última coisa que eu pensei, quando Arthur me ligou hoje
à tarde dizendo que eu teria que entregar alguns papéis para a
funcionária que iria me ajudar na empresa até contratarem outra
pessoa, que estava em uma festa de noivado, e como ele mesmo
disse, é só entregar o envelope e cair fora. A última coisa que eu
pensei foi que eu estaria pressionando os braços dela contra o carro
e meu corpo, sabendo que eu estou noivo!

QUE PORRA É ESSA?!

Quando vi tantas ligações no meu celular, incluindo do meu


pai, tive vontade de nem levantar da cama. Perdi a hora e
provavelmente eles queriam me matar porque não tinha atendido a
Amanda lá na empresa. Então preferi atender Arthur, que me contou
tudo o que tinha acontecido. A única alternativa de entregar esses
papéis tão importantes era encontrando a tal Amanda. Quando me
contou onde era a festa que eu tinha que entregar a papelada fiz de
tudo para não ir.
— Arthur pelo amor de Deus! Por que você não vai
entregar isso para ela? Manda pelo e-mail!
— Porque precisa da assinatura de um responsável do
jornal, Cadu! E por mais que eu e seu pai não gostamos da ideia,
você é o único que está ai por tempo indeterminado! Tem que ter a
porra da sua assinatura e a dela também!
— Droga!
— Escuta, a Amanda é legal, eu já falei dela para você.
Não será sacrifício algum.
Amanda... Eu já tinha cansado de ouvir falar dela. Arthur
falava tanto dela, que admito que ela era a segunda mulher de quem
eu mais ouvi falar. Não chegava a vencer Gisele, mas a Gi é um
nome proibido.
Já a Amanda... É como se eu já a conhecesse. Arthur me
mostrou algumas fotos dela quando nos encontrávamos, os dois são
muito amigos. Em toda foto, eu a via com blusas de séries e do
Mickey Mouse. A garota tem um gosto estranho para roupas. Mas
até que é bonitinha. Tá ai, eu pegava!
— Ok, o que eu não faço por ela, né? — zombo.
— Escuta aqui Cadu, a Amanda é uma garota que não é
da sua lábia entendeu? Ela nunca vai ficar com você.
Começo a rir imediatamente.
— Como você tem tanta certeza disso? — pego os
malditos papéis e assino-os rapidamente, jogo tudo em um envelope
junto com um papel com o endereço dos fornecedores, e pego a
chave do meu carro, e já tranco o apartamento e chamo o elevador.
— Digamos, que eu sou bastante convincente com as mulheres...
Você não entenderia.
Arthur bufa, e então o ouço rindo.
— Não com a Amanda, vai por mim, ela nunca vai ficar
com você. Ela não dá mole para ninguém! Uma vez eu tentei fazer
ela ficar com um amigo meu e ele levou um chute bem naquele lugar.
Imediatamente me bate uma vontade de ficar com essa
garota na frente do Arthur mesmo, odeio quando as pessoas falam
que eu não consigo uma coisa. Quando eu quero uma mulher, não
tenho limites para fazer de tudo para conquistá-la. Arthur não sabe,
mas ele acabou de me dar um desafio.
— E... Se você ficar com ela eu acabo com você! — ele
grita depois que eu não respondo.
— Arthur, se rolar algo é claro que eu não vou deixar a
oportunidade passar.
— Escuta aqui seu idiota, vai direto para a festa entregar
os papéis e só!
— Não sei não, me chamaram para sair hoje, balada,
mulheres, beber, sexo. — começo a rir.
— Pouco me importa o que você faz da sua vida Cadu, só
não deixe de entregar os papéis... E fique longe dela!
Desligo o celular antes de começar a ouvir ainda mais
falação. Ligo o carro e vou até até a maldita festa e custo a achar o
endereço. Só o que faltava.
Paro na porta e chamo uma garota bêbada para cacete,
pergunto pela Amanda. E ela sai em disparada para dentro da festa.
As pessoas chamam isso de festa? Isso é um noivado? Até que não
me parece tão ruim.
Sinto meu coração se apertar ao lembrar de várias coisas
que já fiz na minha vida, e me obrigo a pensar em outra coisa. Vou
até meu carro e me encosto na porta esperando pela boa vontade
dela vir até mim.
Amanda demora.
Ela morreu lá dentro, só pode. Eu sei muito bem que
mulheres demoram, mas porra! Que demora!
Meu celular começa a tocar sem parar. Uma balada,
garotas gostosas e várias doses me esperando e eu aqui, idiota,
esperando uma garota que não sabe como aproveitar a vida, apenas
para entregar a merda de um papel assinado!
Eu estou a ponto de jogar o papel para cima e gritar foda-
se, quando eu vejo alguém vir em minha direção. A primeira coisa
que noto é sua perna, uma fenda que deveria ser proibida vai de
seus pés até no meio de suas coxas, faz chamar uma atenção do
caralho para aquele lugar. O vestido preto deixa aquela mulher
simplesmente perfeita. E assim que ela se aproxima, eu percebo
quem ela é... E quase caio para trás.
Arthur filho da puta! Por que não me disse que ela é
assim?!
E eu realmente quase tenho um choque quando ela diz
“Preciso que você me beije”.
Oi? Como assim? Arthur jurou que eu não sou o tipo dela,
e eu pensei que seria difícil para cacete ficar com ela, e agora ela
vem aqui e pede para eu beijá-la? Praticamente não tive reação
quando ela simplesmente pegou meu rosto e beijou meus lábios com
força.
Ela tem um cheiro delicioso... Viciante. Porra, uma mulher
como ela não deveria cheirar assim! É irresistível!
Quando ela se afastou eu vi que ela estava completamente
envergonhada, e noto alguns olhares nos observando da porta.
Imediatamente eu entendo a situação. Uma vez uma garota já me
beijou assim, por causa da uma aposta de uma amiga. Mas pelos
olhares e pelo que conhecia dela, duvido ser uma aposta... E quando
ela me contou que é por causa de um ex... Não precisava dizer mais
nada.
Eu sabia que Arthur iria me matar, mas eu simplesmente
não podia controlar. Droga, antes de mais nada eu sou um homem!
Eu tenho vontades, tenho desejos, não tenho controle e muito menos
resistência!
E foi algo diferente do que eu imaginava. A princípio, eu
sorri percebendo que ela ficou sem entender o ato de que eu quis
mais. Ela ficou mais preocupada com o que estava acontecendo ao
redor do que com a minha aproximação. Mas quando a beijei, parece
que ela se desligou do resto do mundo, assim como eu. E nada mais
passou a importar.
Ela ficou sem jeito, talvez pela ousadia da situação. Mas
logo no primeiro contado com sua boca, eu me vi querendo
imediatamente ensiná-la a abraçar a mulher forte que existe dentro
dela. Queria intimidá-la. Queria fazer com que ela implorasse por
mais.
Nunca me arrependeria de levar uma surra de Arthur, se
como prêmio eu ganhasse um beijo desses.
Quando as mãos dela puxaram meu pescoço e
enroscaram seu dedos em meu cabelo. Eu simplesmente
enlouqueci. Eu me esqueci de tudo ao meu redor, e me assustei com
a intensidade das sensações que estava tendo, então eu tive que me
afastar. Pelo bem dela, e pelo meu bem também.
Quando ela me olhou ainda tonta por causa do beijo. Eu
tive que segurar o impulso de puxar ela para perto e beijá-la até me
sentir saciado.
Mas então quando uma amiga dela chegou perto da gente,
eu entendi o que Amanda havia dito para eles. Ela disse que
estávamos juntos. Eu lutei novamente com o impulso de voltar a
beijá-la quando ela me abraçou e beijou meu pescoço.
Danadinha! Arthur disse que ela era uma santa, e ela é
uma baita de uma mentirosa, isso sim!
Mas eu assumo, que tudo o que eu passei na minha vida,
todas as mulheres que fiquei, nunca, nada se compara ao que
aconteceu. Nunca senti tanta raiva misturada com um desejo insano
de alguém como naquele momento. E nunca a vontade de beijar ela,
consegue superar essa raiva.
Ela não havia mentido somente que estávamos ficando.
Ela disse que estávamos noivos. Vê se pode?! Porra!
Eu sabia que a festa inteira estava olhando. Sabia que eu
estou perdendo o controle, e muito rápido. Arthur está me ajudando a
controlar meus impulsos às vezes, mas nesse momento, eu não
consigo. O sangue me sobe a cabeça. E isso é algo que eu sempre
luto para não acontecer. Arthur sempre diz para eu esfriar a cabeça,
pois esses meus surtos de raiva um dia me levará para a prisão, mas
não consigo controlar. Quando minha raiva ultrapassa um limite eu
preciso, e anseio em colocar isso para fora.
E tudo o que eu queria era quebrar a cara de alguém. Não
ela. Nunca. Eu jamais seria capaz de machucar uma mulher, isso é
algo desumano. Mas a raiva que aquela mulher me fez sentir, eu
seria capaz de dar um soco no meu próprio carro.
Eu sei que todos estão nos observando, e sei que tem um
cara nos olhando com raiva, e começa a vir em nossa direção. Eu
estou preparado para dizer a ela que procurasse outro trouxa para
fazer de marionete de casamento.
Mas... Há algo nos olhos dela, que me impede de me
mover.
Ela está agora com o mesmo olhar, que me lançaram a
anos atrás e que eu tento todos os dias esquecer. Ela está com um
olhar suplicante, vulnerável, puro. Me implora para ajudá-la apenas
porque está se sentindo para baixo. E é por causa desse olhar, e de
todos os sentimentos que isso está me fazendo reviver, que eu
inspiro fundo e a solto devagar.
— Cadu? — ela sussurra me empurrando com os olhos
cheios de lágrimas.
— Quem é ele? — sussurro.
— Meu ex.— ela diz baixinho.
E isso é como um murro no meu coração. Agora entendo o
porquê do desespero dela em me empurrar, estamos sendo
observados por alguém que pode colocar o plano dela a perder. E eu
não sei o que me leva a escolher esse cara para descontar a raiva
que estou sentindo... Acho que a raiva que essa garota me fez sentir
se misturou com o fato de que aquele cara é um otário. E eu nem
mesmo sei o porquê! Só sei que ele machucou uma mulher muito
especial.
Uma mulher linda, e caralho ela é sexy pra caramba.
E que agora está tendo a atenção dela, apenas para provar
que está bem sem ele, mesmo não estando. E essa raiva faz com
que eu me afaste do carro, me viro com tudo, fecho minhas mãos em
punho, e soco a cara dele com toda a força que eu tenho dentro de
mim. Os músculos da minha mão ardem depois do golpe. E o trouxa
cai no chão com a mão na boca sangrando, gritando “Qual é o seu
problema, cara?”
Ela... Ela é o meu problema.
E quem sabe, a minha salvação.
— Você mereceu. — sussurro. Não sei como, nem por
que... Mas ele mereceu, só sentia isso.
Qualquer homem que magoa uma mulher dessa maneira,
ao ponto de fazer ela continuar se humilhando por um pouco de
amor próprio, merece uma surra das piores.
— Acho que eu e você temos assuntos pendentes! —
sussurro me virando para ela.
Me surpreendo ao ver que diferente de estar ao lado dele
como tantas vezes eu vi acontecer, ela está parada no mesmo lugar
que eu a coloquei, e está sorrindo. Seus olhos brilham.
— Você aceitou. — isso não foi uma pergunta. Ela afirmou.
— Não. Eu não aceitei nada ainda.
Abro a porta do meu carro, e destravo a porta do carona
para Amanda entrar. Ela se vira para o ex, diz para ele não levar em
conta o soco, porque eu sou um cara difícil.
E se ela não tivesse entrado logo em seguida, eu teria
dado partida no carro e teria deixado ela falando sozinha. Como
assim ela faz um julgamento da minha pessoa sem nem ao menos
me conhecer?

Eu dirijo rápido. E nesse momento tudo o que eu quero é


voar com o carro, e me esquecer de tudo. Mas a cara apavorada de
Amanda me faz reduzir a velocidade e me controlar. Eu não posso
ser um idiota com ela. Arthur jamais me perdoaria. E ela não merece
isso.
Ando com o carro até chegar na lagoa da Pampulha, que é
o mais perto da onde a gente estava. E assim que paro o carro,
desligo o motor. Eu já sinto a raiva tomar conta de mim novamente.
Olho para Amanda que está olhando fixamente para a
água. Resolvo esperar o momento dela. Eu conheci tantas mulheres
que aprendi a lidar com cada “batalha interna” que elas parecem
lutar.
Mas passa dois minutos, cinco minutos, e nada. Sinto meu
celular tocar, e ignoro quando vejo que é meu pai me ligando.
Provavelmente quer entrar em mais uma batalha de quem está certo
e errado. E não tô com saco para aturar isso agora.
Ignoro a chamada.
— Escuta aqui, Amanda... Eu não tenho todo o tempo do
mundo. — tento falar o mais calmo possível.
Ela continua calada.
— Amanda... Eu to falando sério!
Ela me olha e me surpreendo ao ver lágrimas em seus
olhos. Puta que pariu agora além de ser um babaca falando manso
com minha “noiva”, eu ainda a faço chorar?
— Foi uma ideia estúpida, eu sei. — ela suspira. Se recusa
a todo custo a olhar nos meus olhos. — Eu mesma não sei o que
tinha na minha cabeça em inventar algo tão sério assim. É ridículo.
— Sim... Foi a pior ideia que eu já ouvi na minha vida! —
digo.
— Olha Cadu... — ela finalmente se vira para mim.
Maldição! Acho que preferia ver ela olhar para a lagoa, do que ter
que encarar seus olhos. — Eu sei que você não é esse tipo de...
Pessoa... Que ajuda o próximo. Mas é que eu preciso que você me
ajude. Agora que isso já aconteceu, que toda essa situação e
mentira já foi dita, não posso voltar atrás.
— Amanda, olha só...
— Me escuta! — ela pede e estica sua mão e segura a
minha. — Eu não posso chegar para todos e dizer que eu inventei
tudo aquilo, será humilhante, vou parecer uma idiota... Se você me
ajudar...
— Amanda...
— O que você vai perder com isso? Estará ajudando uma
mulher desesperada! É apenas um faz de conta, tá legal? Não
estamos realmente apaixonados!
Solto uma risada.
— Acho que isso não preciso que me explique, né? Eu
meio que sei que não estou apaixonado por você!
Ela sorri um pouco.
— Então! — ela suspira novamente. — Eu só preciso que
você fique do meu lado na frente dos meus amigos, me olhe como se
sentisse alguma atração, sei lá... Ou tente, pelo menos... Será por
pouco tempo Cadu, só até o casamento da Mari daqui dois meses.
— Ah é? E depois disso? E depois do maldito casamento?
— Eu não sei! Invento uma história! Digo que não deu certo
e que terminamos.
— Porra, para que mentir assim? Me explica isso. — estico
minha mão e coloco uma mecha do seu cabelo atrás da orelha. —
Você não precisa se humilhar desse jeito para pessoas que não te
dão valor.
— Cadu... Desculpa por acabar sendo você o meu noivo, tá
legal? Eu não escolhi isso... É só que estavam me perguntando se
eu tinha alguém, e eu estava odiando ser o centro das atenções. E
quando a Fernanda chegou me dizendo que você estava me
esperando...
— Você resolveu me usar! — completo.
— Parecia um sinal.
— Ah! Não vai me dizer que você acredita nessas coisas
ridículas sobre destino?
— Pareceu destino para mim. — ela sussurra.
Puta que pariu!
— Olha Amanda, sinto muito, não gostei do seu plano. Me
diz onde você mora que eu deixo você em paz, ok? Te desejo uma
boa vida!
Ela me olha em choque, mas então fecha a cara.
— Eu só preciso que vá comigo em uns quatro lugares. E
no casamento! Só isso! Não estou pedindo para ser meu noivo de
verdade!
— É claro que não, né?! — me exalto.
— Então qual o motivo? O que custa você ser meu noivo
de mentirinha por pouco tempo? — ela segura meu braço e eu me
arrepio. Meus músculos ficam tensos a medida que sinto seu toque.
— Eu não estou pedindo para desistir da sua vida para viver essa
mentira... Eu só preciso que você oculte a verdade, pelo menos
quando estivermos em público...
Porra, o que eu faço para sair dessa furada?
— Amanda...
— Por favor! — ela suplica com seus olhos castanhos
claros novamente me hipnotizando.
— Eu não acho que isso seja uma boa ideia. — admito.
— Cadu... O que você perde fazendo isso? Me ajuda vai.
— O que eu perco? — começo a rir, e olho para ela. — O
que eu GANHO?
Ela abre a boca e fecha logo em seguida. E então vi um
sorriso surgir nos seus lábios.
— O prazer de fazer parte de algo inusitado?
Tento segurar o riso, mas não consigo! Arthur tem razão
com uma coisa, ela é uma pessoa comicamente convincente.
— Nossa! Pelo amor de Deus!
— Cadu...
— Ei, meu bem, escuta... Eu não sou esse tipo de cara,
entende? Eu posso ser parente do careta do Arthur, mas isso não
significa que nós sejamos iguais... Se seus amigos me pegarem com
alguém, o centro das atenções vai ser em você novamente, pois
você será uma noiva traída. Então vamos fazer assim, conte a
verdade, ou pelo menos diga que terminou comigo hoje. E você
segue sua vida e eu continuo seguindo a minha. Pronto, não importa
mais nada. Sem mentiras, sem noivado, sem casamento... E sem eu
ter que ficar olhando para você!
Ela fica muda. Seus olhos se arregalam e se desviam para
seu colo.
— Eu sou tão horrível que você não consegue nem ao
menos me olhar? — sua voz falha.
Puta que pariu! Que merda eu disse?!
— Não... Olha...
— É tão ruim assim ser meu noivo de mentira? — ela diz
isso de um jeito como se tivesse magoada.
— Quando você ficar noiva será por alguém que goste de
você, e não por causa de uma mentira!
— Mas mesmo assim... — ela olha para as suas mãos em
cima do seu colo. — Se nem um noivo de mentira, apenas para me
ajudar, eu consigo arrumar... Então jamais vou encontrar alguém que
me olhe apenas porque gosta de mim.
Caralho! Maldição! Que porra de situação!
— Mand, olha. — merda, sou péssimo para dar conselhos
e adular os outros.
— Até porque eu sou assim, Cadu! — ela se vira para mim
com raiva.
Isso mesmo: Raiva!
— Eu sou uma mulher que não aguenta mais ser olhada
como a namorada abandonada que não consegue seguir em frente.
Eu não quero ser olhada como a louca que está tentando se casar
com você, eu só quero que me ajude a calar a boca dessas pessoas
pelo menos até eu ir embora daqui.
— Eu não estou falando disso, Amanda. Só acho que ao
invés de você mentir, você pode provar que é uma mulher linda e
forte sem precisar de um noivo para isso! Entende? Cacete você é
uma mulher extraordinária.
Ela solta um suspiro e ergue a cabeça decidida.
— Tá. — ela sussurra indiferente.
Tá? Jura? Tá ai porque eu não aguento uma DR com
mulher! O que diabos ela quer dizer com TÁ?
— Tá... Você concorda comigo, ou Tá... Vá se foder?
— Apenas tá, Cadu. — ela sussurra de novo.
Caralho! Piorou a situação. Por que mulheres são assim?
Cheias de enigmas?!
Amanda fica calada novamente. Olho ao redor, e não sei o
que dizer, mas o silêncio está pior do que quando ela fala
constantemente.
— Diz... Alguma coisa. — sussurro.
— Essa música é boa. — ela sussurra. Olho para ela
sorrindo, enquanto percebo que o rádio está ligado, e o som da
Marília Mendonça invade o nosso silêncio.
— Alguma... Outra coisa sem ser a música? — levanto a
sobrancelha.
— Você tem razão. — ela diz baixinho.
Oi? Eu tenho razão? Essa é primeira vez que escuto isso
na vida!
— Sobre o quê, exatamente?
— Eu não sou mulher para mentir. Odeio mentiras, até
porque minha vida basicamente se resume a isso... Mentiras,
mentiras e mais mentiras... Então, acredite em mim quando eu digo
que odeio ocultar as coisas das pessoas. Até porque, eu fui a pessoa
que mais teve as coisas ocultas e sempre sai machucada. Então é
por isso, que eu prefiro fugir, do que encarar todo mundo novamente.
— Sobre o que inventou... Você quem procurou por isso,
agora aguente o peso da sua mentira.
— Eu não procurei, Carlos. — ela enfatiza meu nome, para
mostrar sua raiva. — As coisas aconteceram... Eu só quero parar de
ser vista dessa forma. Prefiro fugir do que encarar todo mundo.
— O que?! Nada disso!
Ela fica calada.
— Amanda, você tem que encarar todo mundo sim!
Ela se vira de costas para mim. Droga!
E então eu me lembro de quando ela disse que já foi
machucada por diversas mentiras... Quem será que mentiu para ela
ao ponto dela inventar isso? O que será que esconderam dela que a
deixou tão magoada?
— Me diz o porquê de você querer mentir para todo
mundo? — eu peço.
— Eu já disse... É porque não quero que me vejam como...
— A namorada abandonada. — repito. — Desculpa, mas
não acredito em você quando diz isso. Abandonada? Como assim?
Ela fica em silêncio de novo.
— Por que você está mentindo?
Cinco minutos se passam, e nada dela falar. Meu celular
começa a tocar de novo. Me deixa irritado. E eu ignoro a chamada
novamente. Olho para ela que está me observando, e nem um sinal
de que falará algo. O celular volta a tocar. Merda, essa situação só
vai piorar para o meu lado.
— Mas que droga! — resmungo. Não consigo me controlar.
— Dá para você começar a falar de uma vez?!
Ela me olha assustada, e abre a porta do carro. Meu
celular toca de novo. Amanda se vira para mim com raiva, pega meu
celular e verifica a tela.
— É o Fábio! Por que não vai atender seu pai?
Solto um suspiro e retiro meu celular da sua mão.
— É complicado. — digo e ignoro a ligação. — Eu e ele
não nos damos bem.
Ela franze a testa surpresa.
— É por que ele quer que você trabalhe no jornal contra a
sua vontade?
Não queria admitir isso, principalmente para alguém que eu
mal conheço. Então prefiro dizer meias verdades.
— Em parte sim. Ele quer o filho perfeito. — murmuro e
olho em seus olhos. — Eu sou longe de ser esse filho.
— Ei. — ela estica sua mão e segura a minha. — Seu pai
te ama. Por isso ele se preocupa tanto.
— Ele tem um jeito estranho de amar. — comento e levo
sua mão até minha boca e a beijo. — Mas isso não é o ponto, não
vamos fugir da conversa.
Ela franze a testa e então cruza os braços.
— Quer dizer que você sabe minhas inseguranças e eu
não posso saber as suas?
Sorrio e isso parece a irritar mais.
— O que quer saber? O fato de que meu pai quer um filho
diretor da empresa dele? Um filho comprometido com os interesses
que ele tem e que se foda se ele gostar de outra coisa? Um filho que
deveria ser responsável, casado, ser superior aos funcionários e que
sempre supre com as expectativas que ele coloca sobre mim? É isso
que quer saber?
Ela fica pensativa e então se encosta no banco do carro,
mas ainda não fecha a porta.
— O Fábio não me parece ser tão estúpido assim. — ela
diz.
— É que você conhece o Fábio chefe, eu, o pai.
Solto o cinto de segurança, já que me sinto sufocado por
ele. E novamente meu celular começa a tocar. Reviro os olhos e
Amanda o tira da minha mão e encara a tela.
— O que ele quer? — ela pergunta.
— Sei lá, deve estar puto porque eu não te encontrei ontem
na empresa, e quer saber que porra tô fazendo destruindo minha
vida.
Ela franze a testa e então, quando penso que nada pode
piorar, ela simplesmente atende o telefone.
— Alô? — ela faz uma pausa e eu tento tirar o celular da
sua mão mas ela me impede. — Não. Fábio, tudo bem? É a
Amanda... É, eu sei, eu estou na empresa com o Cadu, ele foi pegar
café para nós... É estamos juntos aqui... Desculpe, estávamos em
reunião, ele teve umas ideias excelentes para acrescentar no
contrato com os fornecedores e acabamos colocando os celulares no
silencioso... Quer que eu peça a ele para te ligar quando voltar?...
Ah, tudo bem. Boa noite!
Estou tão surpreso e paralisado com o que houve que não
sei como se respira novamente. Ela coloca o meu celular sobre o
painel e me olha de lado.
— Já que não pode me ajudar, pelo menos livrei você de
uma semana de problemas com seu velho. Obrigada por hoje mais
cedo, e desculpa por te envolver nisso tudo.
Ela sai e bate com força a porta, e vai andando as margens
da lagoa. O que meu carro fez para ela?! E... O que foi isso que
acabou de acontecer?!
Saio do carro, e vejo ela se abraçar por causa do frio lá
fora, então pego minha blusa de frio, e tranco tudo, ligo o alarme e
vou até ela.
— Amanda, espera...
Ela não para. Mas a vejo diminuir os passos.
— Dá para parar?
Ela para perto de uma árvore, de onde estamos podemos
ouvir os gritos das pessoas no parque de diversão lá perto. Ela não
se vira para me ver.
— Eu só quero ir para a casa da Mari, pegar meu carro e ir
embora. — ela fala. — E esquecer essa estupidez que te pedi. É
sério, estou morrendo de vergonha.
— Por que falou aquilo na ligação? — isso está na minha
cabeça.
E estou com muitas ideias. Ela se vira para mim, com os
olhos arregalados.
— O que? — ela levanta as mãos, e deixa elas caírem ao
lado do corpo, batendo em suas pernas. — Dizer que estávamos
juntos e que você deu ideia de algo na empresa? Desculpa, só
pensei que quisesse se livrar daquelas malditas ligações! — ela grita.
Engulo meu orgulho rapidamente, e sei que vou parecer
um idiota, mas...
— Eu topo. — sussurro.
Ela fica me encarando por um tempo.
— Você... Topa o que?
— Eu topo ser seu noivo de mentira. — droga, nem eu
mesmo acredito que estou falando isso. Soa tão ridículo.
Ela começa a sorrir, mas então eu levanto minha mão.
— Mas com algumas condições, amor.
— Qualquer coisa!
— Primeiro, eu vou usar você também. Vamos continuar
vivendo nossa vida normal quando estivermos longe das pessoas.
— Feito.
— Segundo, eu quero que seja minha namorada de
mentira também.
Ela paralisa e então arregala os olhos quando entende
onde quero chegar.
— Tá maluco? SEU PAI É MEU CHEFE!
— E você é alguém que ele confia. Qual é, eu vou te ajudar
a enganar todo mundo. Você bem que pode me ajudar também, para
eu fazer o que realmente tenho vontade e provar para ele que posso
muito bem ser um filho do qual pode ter orgulho.
Quando vi já saiu, e ela me olha com pena.
Ela se aproxima de mim, segura minha mão e ergue meu
rosto para olhar em sua direção.
— É claro que ele tem orgulho de você. Cadu, você não
precisa provar nada para ninguém.
— Assim como você. — a corto e ela solta um suspiro
entendendo.
— O que quer eu faça?
— Só me ajuda a manter ele achando que estou fazendo o
que ele quer. O resto eu já tenho projetos, só preciso do meu próprio
tempo para criar o meu negócio. Só preciso que ele confie e acredite
no filho que ele sonha em ter. E essa mentira pode ajudar com isso.
Ela concorda e então suspira. Vejo um sorriso surgir em
sua boca.
— Ok. Então, temos um acordo. — ela diz. — Você me
ajuda e eu te ajudo.
— Agora o ponto principal. — chego mais perto dela e a
vejo prender a respiração, coloco minha blusa de frio ao redor de seu
ombro e ela morde seus lábios nervosa com a nossa proximidade, e
veste minha blusa. — Para nosso acordo funcionar... Quando
estivermos sozinhos... Não vou te tocar, não vou te beijar, não vou te
levar para cama. Não vamos nos aproximar.
— Não quero isso! — ela fala olhando em meus olhos. —
Não quero você.
— Ótimo, temos um sentimento mútuo então. — falo
tentando ignorar a porra do meu coração acelerado. — Quer dizer,
se você quiser, só tem que pedir. — pisco para ela e a vejo revirar os
olhos.
— Só? — ela levanta as sobrancelhas. — Sem contato e
estamos juntos nessa?
— É... Acho que temos um acordo então.
Ela morde os lábios e concorda rapidamente, e começa a
sorrir. Dessa forma, pelo menos, ambos sairemos ganhando algo
com isso.
CAPÍTULO 8

Eu não estou acreditando nisso.


Quando eu percebo que ele está falando sério sobre “ ser
meu noivo”. Eu tenho vontade de gritar, dançar, pular! Quer dizer,
isso tudo é louco demais, e quando ele aceitou, tudo se torna real.
Pelo jeito tudo é mais fácil na teoria do que na prática. Mas
como o velho ditado sempre diz: “A prática leva a perfeição”.
Mas ao ver ele sorrir ao aceitar essa situação, e eu
também o acordo que ele propôs, tudo o que meus instintos me
pedem, eu faço, corro até ele e me jogo em seus braços. Pulo no seu
colo sem nem me importar com o “Não se aproxime de estranhos”.
Esse cara estranho é meu noivo, já quebrei todas as regras
possíveis mesmo!
Ele começa a rir, mas me segura com mais força. Passo
minhas pernas ao redor da sua cintura e estranho a sensação de
aconchego e confiança que me invade. É como se eu me sentisse
protegida. Como se já soubesse como é ser segurada por ele, e isso
me assusta um pouco.
— Eu sei que é uma coisa louca. — sussurro em seu
pescoço.
— Demais, mas não é louca pelas circunstâncias que nos
envolvem. Vamos agir como um acordo de negócios.
— Obrigada, Cadu.
Saio do colo dele, e ele se aproxima de mim e abaixa meu
vestido, e posso sentir o calor que sobe por meu corpo quando assim
que ele desce meu vestido, seu olhos sobem lentamente até se
encontrar com os meus. Eu travo e parece que o mundo se desliga
novamente.
— Melhor a gente ir. — ele fala franzindo a testa e corta
nosso contato visual.
E então me lembro de Arthur, caramba eu tenho que avisar
a ele. Contar que é uma mentira.
— Será que a gente pode ir? Aqui é perigoso a noite. — ele
diz sem paciência e vejo que parei de andar.
— Posso te pedir mais uma coisa? — digo meio sem jeito.
Ele me olha já se preparando, sua testa forma um vinco
novamente.
— Será que pode ir lá para minha casa algum dia? Ou eu ir
na sua casa, sei lá. — sussurro. — Pelo menos, para manter as
aparências.
— Quer dizer que já quer me levar para casa? — ele diz
levantando a sobrancelha. — Qual parte da casa quer me levar?
— Eu não quero transar com você, idiota! Mas noivos
dormem juntos!
Ele me encara em choque.
— Olha, eu estou aceitando fazer essa baboseira, porque
também vou te colocar em uma situação difícil, mas isso é demais
para mim.
— Demais? — eu o desafio. — Olha, acho que mentir
assim tudo bem, agora eu também vou mentir por você, Cadu. Não
venha se fazer de santo não! — me aproximo do seu ouvido e
sussurro: — Eu sei que de santo você não tem nada.
— Para que vamos dormir juntos então? — ele muda de
assunto.
— Para dormir. — reviro os olhos. — As pessoas vão achar
que tá rolando sacanagem... Mas não vai.
Cadu morde os lábios tentando reprimir um sorriso.
— Acabou o noivado, vamos terminar.
— Credo, Cadu! — bato no seu braço com força enquanto
voltamos em direção ao carro. — Seu pervertido! Temos que deixar
pintar um clima.
— Que clima? Eu não vi nenhum clima pintando entre a
gente!
— Mas para que isso dê certo, precisa pintar!
Vamos rindo para seu carro, e eu me aconchego ainda
mais na blusa de Cadu. Ele liga o carro e me olha como se estivesse
esperando a localização de onde me levar.
— Para São Paulo, por favor. — digo rindo.
— Engraçadinha.
— Tenho que pegar meu carro na casa da Mari.
Ele me encara, mas faz o que eu peço, vamos em direção
a casa dela.
— Cadu... Você e o Arthur são muito próximos? — puxo
algum assunto.
— Somos sim, na medida do possível, por que?
— Vocês não se parecem.
— Ele é careta demais... Fica perdendo tempo com a idiota
da Tatiana... Mas eu sei que no fundo ele gosta de outra pessoa.
— Sério? — fico em choque. — Por que ele contou isso
para você e não contou para mim? Eu sou mais próxima dele do que
você, eu acho.
— Por que acha isso? — ele me olha confuso.
— Porque ele nunca fala de você!
— Sério? Não brinca... Eu não aguento mais ouvir falar seu
nome, e então descubro que você não ouve nada ao meu respeito?
Sério?
— Sim, pode ficar magoado... Parece que eu sou mais
importante do que você, afinal.
— Pode apostar que é! — ele começa a rir sozinho.
— Por que ele não fala de você?
— Eu dou muito trabalho. — ele admite, mas então fica me
olhando. — Ou vai ver ele tinha medo que isso pudesse acontecer.
— Isso o que?
— Nós acabarmos juntos de alguma forma.
— Não estamos juntos!
— Eu disse de alguma forma.
— Ah!
— Ele sempre me disse que eu e você temos muito em
comum.
Ambos nos olhamos, e eu fico imaginando o que o Cadu
tem a ver comigo... Ele gosta de pegar mulheres, farra, desobedece
o pai como um adolescente, eu sou a responsável. Ele bebe demais
e dá trabalho, eu trabalho diariamente e morro de dor nas costas, ele
sai e foge dos problemas da vida, os meus problemas batem todos
os dias na minha porta.
— É, acho que pela primeira vez, o Arthur errou feio. —
falo. — Duvido que você tenha sofrido alguma decepção, e por isso
se fechou para a vida.
— Minha vida não é o que parece ser. — ele franze a testa
como se estivesse lembrando de alguma situação, olho para ele
surpresa.
Fico imaginando o que aconteceu para fazer um cara como
ele, filho de homem poderoso e dono de uma empresa famosa,
deixar de ligar para as coisas simples da vida. Que não dá certo com
o pai e ainda assim, faz de tudo para tentar ser o filho que Fábio
espera que ele seja.
Cadu é do tipo que não quer se prender a ninguém, mas eu
mais do que ninguém sei que isso é somente uma fachada. Todos
nós queremos alguém que cuide de nós, e que nós também
possamos cuidar. Ninguém é diferente nisso.
— Então... — tento descobrir. — Sua vida não é o que
parece ser?
Ele me olha e fica me encarando por um momento.
— Sim, mas isso não é algo que eu queira compartilhar,
como você está esperando. Eu não falo disso com ninguém.
— Não estou esperando por isso. Só fiquei... Curiosa.
— Bem, eu conheço muito bem as mulheres, pelo menos,
uma parte de vocês... E ficar me olhando com esses olhos
esbugalhados e ternos não irá fazer com que eu deite minha cabeça
no seu colo e comece a lamentar coisas sobre a minha vida.
— Então você tem coisas para se lamentar? — disparo.
Cadu me olha assustado, mas então sorri um pouco, para
o carro e eu vejo que já chegamos em casa.
— Todo mundo tem coisas para se lamentar. Você é boa
em pegar pequenos detalhes.
Começo a rir.
— Eu convivi com seu primo por cinco anos... Vai por mim,
chega um momento em que você acaba percebendo pequenas
coisas, afinal são as pequenas coisas que são as mais importantes.
— Hum, vou me lembrar disso. — ele pisca para mim e
destrava a tranca da porta. — Agora entra, a gente demorou
conversando, a festa até acabou, seus amigos devem estar
preocupados com você, já que saiu com um noivo desconhecido.
Começo a rir, e então abro a porta do carro.
— Eu conheço muito bem os homens. — sussurro. — Eu
sei que você quer se livrar de mim apenas para eu parar de captar
seus pequenos detalhes.
— Eu sou um livro aberto. — ele sussurra e fica encarando
o volante do carro. Inquieto, como se quisesse fugir logo dessa
pergunta.
— Ok, senhor livro aberto. Obrigada pela carona. — me
aproximo dele e mesmo com vergonha, puxo seu rosto e beijo sua
bochecha. — E obrigada por aceitar se casar comigo.
Ele abre um sorriso enorme e depois morde o lábio.
— De mentira! — ele completa.
— Que seja, Cadu... Obrigada... Vejo você amanhã, amor.
— faço graça e ele revira os olhos.
Saio do carro e fecho a porta.
— Então tá princesa, até amanhã.
— Não me chame de princesa... É feio. — digo e me apoio
na janela do seu lado do carro.
— Por que? Pensei que fosse romântico. — protesta.
— É romântico... Mas é romântico até demais, entende?
Não somos aquele tipo de casal meloso que dependem um do outro
até para respirar!
Ele começa a rir.
— Então tá né, concordo com você, princesa é brega.
Vamos ser um casal moderno.
— Romântico, mas na medida certa.
— E sexy. — ele completa piscando para mim.
— Boa noite, amor.
— Boa noite, gostosa.
— Nem tão sexy assim, Cadu. — começo a rir. — Sou sua
noiva e não sua peguete.
— Ahhhh... E eu não posso achar minha noiva gostosa?
Fico encarando ele por um tempo. E não consigo impedir
um sorriso em meu rosto.
— Me acha... Gostosa?
— Vai dizer que nunca ninguém disse isso para você?!
— Hum... Não. Não diretamente assim.
— Bom, então... Você é gostosa. Se olha no espelho para
confirmar. E eu te chamo do jeito que eu quiser. — ele pisca e dá a
partida no carro. — Entra logo para casa.
— Boa noite, gostoso. — sussurro, e Cadu me olha
surpreso.
— Como é que é? — ele diz rindo. — Eu ouvi mesmo o
que eu acho que ouvi?
— Não posso chamar meu noivo assim?
— Não brinca! — ele começa a rir. — Gosto quando você
se solta assim... Não tenha vergonha de dizer as coisas que pensa,
gostosa.. — ele aponta para a casa novamente. — Fico feliz que me
ache gostoso. Agora, entra.
— Não é tão gostoso quando fica se achando desse jeito!
E mandão também. — digo rindo em direção a porta.
— Eu gosto quando as coisas acontecem do meu jeito.
Pisco para ele, e entro dentro da casa. Dou um leve aceno
ao fechar a porta, e ouço o carro de Cadu cantar pneus pela rua.
Deus do céu, uma hora ele vai capotar esse carro!
— Posso saber o motivo da demora? — me viro e vejo
Mari, Rick, Vanessa e Eduardo sentados no sofá vendo tv.
— Eu estava com o Cadu. — digo, e pego minha bolsa de
dentro da estante na sala. — Esqueci que tinha deixado o carro aqui,
mas agora eu preciso mesmo ir.
— Você bebeu, é melhor ficar por aqui. — Rick fala e se
levanta do sofá.
Nossa, que clima mais pesado!
— Você demorou. — Mari diz se levantando também e se
aproxima de mim. — Fiquei preocupada.
— Não precisa se preocupar. Aliás, por que vocês estão
aqui, como se fosse uma reunião?
— Por que? Você tinha outros planos? — Edu diz e me
olha de um jeito estranho. — Talvez tivesse outros planos... Como
levar o idiota do seu noivo para casa.
Oi? Ele realmente está falando mal do Cadu?
— Olha aqui Eduardo, eu não admito que chame ele de
idiota, você nem o conhece.
— Não. — ele grita, e eu me assusto com essa sua atitude.
— Eu posso não ter o direito de me meter na sua vida há muito
tempo, Mand. Eu sei disso, tá legal? Não preciso que fique dizendo o
tempo todo! Mas, embora muitas coisas tenham acontecido, eu ainda
tenho um carinho por você! — ele fala mais manso agora, e meu
coração se acelera incontrolavelmente. — Eu vi o jeito que ele
estava te pressionando contra o carro. — isso me pega
desprevenida. — Ele me deu um soco na cara! Do nada! E eu vi que
ele estava brigando com você e não adianta desmentir isso para
mim. Então, é claro que eu tenho o direito de chamar ele de idiota.
Abro a boca para protestar, mas Edu tem razão por um
lado, por mais que Cadu batesse nele tudo o que eu tive vontade,
mas não tive força para fazer, ele agiu mal batendo em Edu, e
digamos que ele me questionar enquanto me pressionava contra o
carro, não foi uma visão muito romântica. E é claro, que por mais que
eu queira parecer forte. Eu não posso deixar isso atrapalhar meus
amigos.
— Desculpa, Edu. — sussurro, e ele me olha cansado. —
Eu não sei por que ele fez aquilo, mas ele no fundo é uma pessoa
boa. Você vai ver com o tempo.
— A primeira impressão é a que fica, e digamos que eu
não tive uma das melhores impressões dele. — ele dispara.
— Eu sei. Sinto muito que isso tenha acontecido. — digo
sinceramente.
Vanessa se levanta dizendo que tem que ir embora. E
abraça Mari desejando boa sorte daqui para frente. Edu fica me
olhando por algum tempo. Até que finalmente suspira, e vai
acompanhar ela até a porta. Desabo no sofá. E coloco a mão no
rosto. Caramba que situação!
— Ei, Cadu machucou você? — Mari se agacha no chão
de frente para mim. — Eu pensei que vocês estivessem bem... Se
não fosse pela boca roxa do Edu eu acharia até que ele estivesse
mentindo.
— Não, Mari! — protesto. — Cadu jamais me machucaria,
ficou maluca? E quer saber, ele é uma ótima pessoa sim,
surpreendentemente ótima! Ele me fala tantas verdades. E eu gosto
disso nele... Ele está do meu lado quando preciso... E, ele não mente
para mim, diferente da maioria das pessoas. — levanto e vou
andando em direção a saída, mas Mari segura meu braço.
Jogo uma indireta bem direta nela.
Quem mandou mentir para mim também. Até a minha
melhor amiga mentiu sobre o maldito noivado do meu ex. É claro que
eu ainda fico balançada pelo Edu. Por mais que eu não goste e que
eu o odeie com todas as minhas forças. No fundo meu coração se
lembra de todos os momentos bons que passamos juntos.
— Ei, espera ai, eu queria te contar sobre o noivado deles,
se é isso que está se referindo. — ela sussurra.
— Não importa o que eu me refiro. — solto meu braço da
mão dela. — Eu pensei que fossemos melhores amigas.
— E somos! — seus olhos se enchem de água.
— Melhores amigas não mentem! — sussurro.
— Eu não queria que fosse embora. Não menti, eu só omiti
esse fato. Não quero que me abandone pela segunda vez e por
causa da mesma pessoa. — as lágrimas caem dos seus olhos. —
Ele não merece isso Mand, eu sei. Mas o Edu mudou, e eu não
quero que me deixe por causa disso.
— Eu não ligo mais para essa história. — digo e olho em
direção a Edu e Vanessa, que se beijam no portão.
Sinto a ânsia em meu estômago ficar mais forte. E as
lágrimas tentam sair, mas eu me recuso a chorar por causa dele. Me
recuso a chorar pela merda da situação que minha vida se encontra.
— Eu sei. Estou feliz que tenha encontrado o Cadu... Mas
também estou triste. Você também mentiu para mim, Mand... Nem
me contou que estava namorando, quanto mais que estava noiva de
alguém!
Sinto a culpa me invadir.
— Eu não quero que ache que não me importo. — ela diz.
— É só que eu fiquei preocupada. E o Arthur ligou preocupado
também. Disse que precisava urgente conversar com você.
Puta merda, o Arthur!
— Mari, tudo bem. Desculpa também. Agora eu preciso ir,
tenho que ligar pro... Cadu antes que ele volte preocupado atrás de
mim. — dou uma risadinha sem graça. — Amanhã vamos sair e nos
divertir, ok?
— Tá bem. — ela diz.
— Então, já vou embora, é perto. — dou um beijo no rosto
dela. — Te aviso quando chegar.
Ela começa a rir, e eu vou embora para casa.
Assim que entro em casa e fecho a porta atrás de mim.
Pego meu celular e vejo 37 mensagens novas, e 6 ligações perdidas.
Todas dividias entre Arthur e Gisele. Penso em ligar para eles, mas
eu não sei o que dizer. Pego minha camisola, e corro para o
banheiro, tomo um banho demorado e depois visto um pijama e pego
algo para comer na cozinha. Vou até meu quarto, pego meu celular,
e deito na cama. Ligo primeiro para o Arthur. Ele atende no terceiro
toque.
— Oi. — sua voz está distante.
Oi? Sério? Sem gritos, e berros sobre o que aconteceu? Só
oi? Eu estou esperando um duelo de guerra e ele diz oi?!
— Tu? — estou tremendo. — Olha, eu posso explicar...
— Eu já sei de tudo Amanda. — sua voz está distante.
Conheço meu amigo, e ele está sem paciência. — Não precisa
explicar nada para mim.
— Não! Você não está entendendo... — estranho a calma
em sua voz. Eu tenho que me explicar. — Não é o que está
pensando. — digo e então falo mais baixo. — Eu não estou noiva de
verdade do Cadu.
— Eu sei.
O que? Como ele sabe? Claro, ele deve ter desconfiado
mas...
— Como você sabe?
— Ele me ligou contando. Eu só estranhei ele aceitar isso...
Mas tudo bem, quanto a você, eu entendo. Você estava
desesperada, e queria se mostrar forte para todo mundo. — ele diz
calmo. — Mas porra maluca, tinha mesmo que pegar meu primo para
isso?!
— Eu sei! Eu sei que ele não é a melhor pessoa para esse
faz de conta, mas olha...
— Não estou falando disso! — ele me corta.
— Então do que está falando?
— Eu entendo que você quis mentir, por mais que eu esteja
em choque por isso. — ele suspira. — Eu me surpreendo por ele ter
concordado, mas também entendo um pouco o lado dele... Agora, já
que é uma mentira... Me explica, por que você pediu para ele te
beijar? O Cadu é complicado, não quero que se machuque.
— Eu não sou do tipo que faz isso, Arthur.
— Eu sei que não... Mas por que fez então?
— Foi preciso. — sussurro.
— Veja bem maluca, o Cadu é um cara bonitão, eu sei,
sexy como vocês mulheres intitulam, mas ele não é homem para
você. — sua voz sai mais rouca. — Promete para mim que vai tomar
cuidado? Não quero que você se machuque, eu não vou estar ai
para juntar os seus caquinhos!
— Não precisa se preocupar com isso, porque meu
coração não será partido novamente. Uma coisa que a gente
aprende quando sofremos pelo amor pela primeira vez na vida, é em
como resistir e evitar o mesmo sofrimento. Não deixarei esse fato se
repetir.
— Assim espero. — ele sussurra. — A propósito, esqueceu
o envelope no carro dele. Ele disse que amanhã te liga e te entrega,
ok?
Droga! Que cabeça a minha!
— Ok, obrigada! Eu vou dormir, Arthur... Obrigada por se
preocupar...
— É claro que me preocupo, você é a minha melhor amiga!
— Obrigada.
— Boa noite maluca, descanse... Porque agora você está
noiva, não pode ficar conversando até tarde com outros homens.
— Ah, cala a boca! — digo rindo.
— Eu te amo. — ele sussurra.
— Eu também te amo. — sorrio no escuro, e desligo o
celular.
Nossa que dia maluco.
Eu acordei morrendo de medo da festa da Mariana, vim
para BH, passei na empresa, me arrumei para o noivado, eu vou à
festa, descubro que meu ex está noivo da minha amiga traidora,
descubro que minha ferida ainda está um pouco aberta. Conheço um
cara super gato e super indecifrável, e fico noiva dele, tudo no
mesmo dia! E ainda é uma mentira!
Caraca, santo Antonio do céu! Chega de brincar comigo!
CAPÍTULO 9

Chego tremendo na cede do jornal. Júlia está me


esperando sorridente quando chego, e me acompanha até a
redação. Assim que chego lá, vejo os jornalistas trabalhando em
suas matérias, e então eu respiro fundo e crio coragem para ser a
redatora chefe que esse jornal merece.
— Pessoal, só um minuto da atenção de vocês, por favor.
— eles olham para mim, uns surpresos, outros atentos ao que vou
falar. — Para quem não me conhece, meu nome é Amanda. Eu vou
ficar aqui por um tempo até o Fábio contratar outra pessoa. Eu quero
que saibam que se tiverem algo para me falar, seja uma reclamação,
sugestão, ideias, tudo será bem-vindo! Quero que nesse tempo que
passaremos juntos vocês me vejam como alguém da equipe. Então,
quero que todos venham até a minha sala, um por um, para que a
gente converse sobre cada coluna, como está sendo feito, quais as
dificuldades e o que não está legal, para que eu possa melhorar e
tudo fluir da melhor maneira, ok?
Alguns concordam, e vejo uma garota levantar a mão.
— Pode falar. — digo incerta.
— Recebi alguns arquivos para aprovação da
diagramação. Olho isso já direto com você ou o Cadu vai opinar
sobre alguma coisa ainda?
— Bom, ele vai me ajudar somente em reuniões, fora isso
qualquer assunto referente ao jornal é somente comigo.
— Graças a Deus! — ela suspira e então me olha
envergonhada. — Desculpa, é que eu fico semanas na cola dele até
ele aprovar tudo o que preciso. Será bom ter alguém por perto.
— Tudo vai dar certo! Estou aqui para garantir isso. — digo
e então vou caminhando em direção a minha sala.
Meu Deus! Eu tenho uma sala!
— Júlia, a propósito, cadê o Cadu? — pergunto enquanto
entro na sala e noto que muitos papéis, e itens decorativos e o porta
retrato foram retirados da sala.
— Boa pergunta. — ela diz rindo.
Coloco minha bolsa e meu café em cima da mesa e
estranho o local.
— Precisa de alguma coisa? — Júlia me pergunta.
— Não, tudo bem. — falo e ela começa a sair. — Espera!
Ela para e se vira em minha direção.
— Sua mesa tem muitos papéis, você precisa tirar aquilo
para se concentrar melhor. Separa o que for usar, e o que não for
jogue fora. E por favor, não precisa atender várias ligações ao
mesmo tempo. Uma ligação de cada vez. Se estiver sobrecarregada
com alguma coisa me fala que damos um jeitinho, ok?
— Sim senhora.
Ela sorri e então concorda e sai fechando a porta. Solto um
suspiro e vou até minha cadeira e me sento. Então é isso! Hoje é
oficialmente meu primeiro dia. Vou fazer valer a pena.

Perco a noção das horas, até que alguém bate a minha


porta e Júlia entra meio sem graça.
— Amanda? É que já deu meu horário, eu estou indo. O
Cadu te deu a chave da empresa?
— O Fábio pediu para me entregar antes da mudança.
Está tudo bem, pode ir. Obrigada pela ajuda hoje!
— Imagina, até amanhã!
— Até! Só fecha a porta principal, por favor? Como vou
ficar sozinha é perigoso.
— Sem problemas, vou deixar trancado ai você abre
quando sair!
— Obrigada!
Ela sai e eu me encosto na cadeira a respiro fundo. Hoje o
dia foi tão produtivo que minha cabeça dói. Conversei com cada
funcionário. Fiz uma lista com o que tenho que melhorar, e outra para
sugestões e o que deu certo para investir melhor. Minhas costas
doem tanto que até penso em tomar algum relaxante muscular.
Pego meu celular e respondo algumas mensagens da Gi e
do Arthur.
Termino de aprovar o material, e salvo tudo com as
alterações corretas e encaminho para o e-mail da Dalia, a garota da
diagramação que está super feliz em não precisar ficar mais na cola
do Cadu.
Desligo o computador, e pego minha bolsa, fecho a sala e
vou até a redação, e assim que chego na porta, já abro minha bolsa
e começo a procurar a chave. Meu coração congela.
Não foi essa bolsa que eu trouxe na viagem! Eu a deixei
em casa!
Puta que pariu! Não posso ser tão idiota assim!
Abro cada repartição da bolsa, e começo a tremer quando
percebo que realmente deixei as chaves em casa. Droga! Pego meu
celular e ligo para a Mari. Chama até cair na caixa postal. Ligo de
novo e ela atende.
— Oi.
— Mari! Graças a Deus! Eu estou aqui na empresa, pedi
para a Júlia fechar a porta e depois eu sairia, mas sou tão idiota que
esqueci as chaves da empresa em casa! Por favor busca para mim.
Mari faz um silêncio e então começa a rir.
— Você é...
— Nem começa!
Ela solta uma risada e ouço seus passos.
— O que eu não faço por você, né? Você deixou onde se...
Espera! Não tem jeito, sua idiota! Não tenho a chave da sua casa,
como vou entrar para pegar?
Coloco a mão na testa e suspiro. Droga! É mesmo! As
chaves de casa estão comigo, e não tem como a Mari pegar comigo,
já que a Júlia trancou a redação e a entrada principal.
— Não tem jeito de me entregar debaixo da porta? — Mari
pergunta.
— Não. Estou em outro lugar, muito longe da entrada.
— Quer que eu chame a polícia?
— MARIANA! QUE IDEIA!
— Só estou tentando ajudar!
Solto uma gargalhada e reviro os olhos ao mesmo tempo
que imagino a polícia invadindo meu serviço para me resgatar
porque eu sou a Dori do procurando Nemo.
— Pode deixar, tive uma ideia, depois te ligo. Beijo!
— Me manda notícias! — ela fala.
— Ok!
Desligo o celular e me sento no chão. Que droga de
situação. Crio toda a coragem do mundo e ligo para a pessoa que
mais poderá me socorrer. O telefone toca e ele não atende. Ligo de
novo e novamente cai na caixa postal. Na boa, Cadu tem um
problema com telefones só pode! Para que ter celular se não
atende?!
Bufo de raiva e coloco o celular no chão. Não quero ligar
para a Júlia, será humilhante demais. Péssima primeira impressão
como chefe. Que droga! Encosto minha cabeça na porta e tento
pensar em alguma solução. Mas nada.
Isso não pode estar acontecendo! Qual é!
Pego meu celular e ligo novamente para Cadu. E cai na
caixa portal.
— Inferno, Cadu! — jogo o celular no chão, ao meu lado e
coloco as mãos no rosto.
Passa uma hora e nada.
Me levanto e vou até as janelas quando ouço uns barulhos
de vento. Assim que olho para o céu e o vejo completamente
vermelho meu coração dispara. Não, isso não pode mesmo estar
acontecendo! Vou até meu celular e ligo de novo para Cadu, uma,
duas, três vezes...
— Oi?
— Cadu?!
— O que aconteceu? Tem umas vinte ligações suas no
meu celular!
— Justamente! Tem vinte ligações no seu celular, e você
atende essa porcaria só agora?
— Wow! Calma aí, não tenho culpa de estar ocupado.
Solto um suspiro e tento me controlar. E então bate a
humilhação, o que será que ele vai pensar de mim? Conhecendo ele,
com certeza vai rir da minha cara e esperar com que eu implore para
sua ajuda.
— O que você tanto pensa se me fala ou não? — sua voz
rouca acorda meu corpo e eu me sento novamente no chão e
encosto na porta.
— É que... Você vai rir e me achar idiota.
Ele fica um tempo em silêncio e então ouço o som de
algumas vozes ao fundo e portas de carro batendo.
— O que aconteceu?
— É que... — cubro meu rosto com os olhos e decido soltar
tudo de uma vez. — Tô presa na empresa, esqueci as chaves em
casa e...
— Tô indo aí.
Ele desliga o celular antes que eu possa raciocinar o que
acontece. Franzo a testa e bloqueio meu celular. Pronto, agora sim é
pior do que eu supunha. Não queria ligar para a Júlia para ela não
me achar uma péssima chefe mas ligo para meu noivo falso que é
em parte meu chefe?! A situação ficou pior que antes.
A chuva começa a cair lá fora e eu aperto a barra da minha
saia lápis preta. Por favor, que não caia nenhum trovão!
Quinze minutos se passam e eu ouço um barulho na porta
de entrada. Me levanto do chão e me afasto da porta. E assim que
passos se aproximam, e a porta da redação do jornal se abre, vejo
uma versão diferente de Cadu.
Ele está usando uma calça de moletom, uma regata cinza
e com um fone de ouvido pendurado ao lado do pescoço. Ele está
molhado e isso me deixa intrigada. Sua pele brilha por causa da
água, o que deixa seus músculos do braço mais evidentes e me
deixa com vontade de tocar. Ele morde os lábios e franze a testa ao
me observar.
— Está livre. — ele diz e sorri de lado, posso notar o subir
e descer do seu peito.
— Você não está com a aparência de um herói. —
comento, pego minha bolsa e jogo meu celular dentro dela e a fecho.
— Desculpe não estar bem vestido para resgatar você! De
nada, a propósito! — ele diz e sai andando na frente.
Vou atrás dele e assim que saímos ele tranca a empresa
enquanto eu chamo o elevador.
— Não foi isso o que eu quis dizer. — sussurro. — É que
está molhado.
— Eu estava fazendo corrida com um amigo. Você me
ligou e não dava para ele me trazer aqui.
Ele não fala mais nada. Apenas se aproxima e aperta de
novo o botão do elevador, como se isso fosse o fazer subir mais
rápido.
— Espera... Então você largou sua carona e veio correndo
na chuva só para me ajudar?
Ele olha para mim, confirma dando de ombros e eu
arregalo os olhos e me aproximo batendo em seu ombro. Ele fica
surpreso e segura meu pulso.
— Que isso?!
— Você é um idiota! Olha aqui. — me aproximo e coloco a
mão em seu rosto. — Puta que pariu Cadu, tá gelado para caramba!
Vai pegar um resfriado!
— Ok... Obrigada Cadu pelo seu ato super cavalheiro de vir
me salvar. — ele fala ainda me segurando.
Solto um suspiro e tento parar de agir como uma louca.
Relaxo os braços e ele me solta ainda hesitante.
Não sei o que deu em mim. Não tenho que me preocupar
com ele. Não posso.
— Obrigada. — sussurro. — Mas não precisava sair na
chuva só para bancar o herói machão!
— Precisava sim. — ele diz.
O elevador se abre e entramos juntos.
— Precisava o quê? Bancar o herói machão? — pergunto e
sorrio.
— Não. — ele diz e se vira para mim. — Precisava vir por
você. Simples assim.
Sinto um arrepio percorrer meu corpo e Cadu me lança um
sorriso de lado.
— E talvez para ter o prazer de outra coisa. — ele diz e dá
um passo em minha direção.
Travo completamente e me encosto na parede do elevador.
Cadu sorri e vem até mim, coloca as duas mãos, uma de cada lado
da minha cabeça no elevador, e então aproxima o rosto do meu.
Sinto todo o ar sumir daquele micro espaço.
Ainda mais com Cadu tão perto, seu cheiro é de loção pós
barba. E ver ele todo molhado assim me deixa com vontade de puxá-
lo para mais perto. Tirar essa roupa do seu corpo e o esquentar. Ah,
qual é, ele é meu falso noivo e meu chefe, mas é um homem
completamente irresistível.
— Que coisa? — sussurro sem ar.
— Eu queria ficar perto de você. — ele fala e se aproxima
mais. — Queria ver seu pescoço exposto assim para mim. — ele se
aproxima e eu instintivamente inclino minha cabeça para o lado, para
dar a ele uma visão melhor. — Eu queria me aproximar da sua pele,
sentir seu cheiro. — ele vem se aproximando e eu mordo os lábios
para controlar essa sensação totalmente nova dentro de mim. —
Queria chegar perto do seu ouvido, gostosa. — ele sussurra e se
aproxima do meu ouvido, e eu fecho os olhos. — Chegar assim
pertinho, para ter o prazer de dizer que você é muito idiota por
esquecer a porra da chave da empresa.
Sorrio e ele solta uma risada baixinha. E quando vai se
afastar eu seguro seu quadril, e o puxo para mais perto de mim,
levanto minha perna e dobro meus joelhos até encostar nas bolas
dele. Cadu arqueia surpreso e olha nos meus olhos.
— Cuidado ao brincar com o fogo, amor. — sussurro. — Dá
próxima vez, pode encontrar com alguma mulher que fez curso de
defesa pessoal bem vingativa.
Abaixo minha perna e tento ignorar outra coisa começando
a dar vida ao Cadu lá em baixo.
— Não sei se isso me causa medo ou se tem outro efeito,
ter você assim tão perto me tocando. — ele diz baixinho.
Sorrio e o afasto de mim quando o elevador chega na
garagem. Beijo sua bochecha e começo a sair do elevador. Seguro
as portas e me viro para olhar para ele.
— Estava falando sério quando disse que veio correndo?
Ele dá de ombros e aponta para o próprio corpo.
— Não, imagina. Eu parei o carro do outro lado da rua e
esperei a chuva me molhar.
Solto uma risada e aponto meu carro.
— Já me salvou por hoje, então vem que eu te levo para
casa.
— Não sei, não. — ele se aproxima e coloca as mãos na
porta do elevador também. — Está querendo me levar para casa, é?
Sem nem me chamar para sair antes?
— Vai te catar, Cadu! — resmungo e vou andando em
direção ao meu carro, e ouço seus passos atrás de mim.
E então ele se aproxima e sinto seu braço passar pelo meu
ombro e ele me puxa para mais perto.
— Eu só estou brincando, sabe disso né? — ele fala e eu
sorrio e pisco para ele.
— Eu sei.
Desativo o alarme e assim que ele vai para abrir a porta eu
tranco o carro de novo, e ele me olha sem entender.
— Meu banco não é de couro, então vai lá pedir na portaria
um saco plástico para cobrir e não molhar.
— Tá de sacanagem. — ele diz rindo.
Cruzo os braços em frente ao peito e ele faz negação e se
aproxima de mim, e beija minha bochecha.
— Se não ficasse tão sexy mandona assim, juro que te
mostrava minha vocação no jogo do cara ou coroa para ver quem ia
buscar o saco plástico. — e então ele se afasta de mim e eu fico
sorrindo sozinha.
CAPÍTULO 10

A semana passa tão rápido que eu até estranho. No fim foi


tanta coisa para resolver, que nem acredito como consegui estar
aqui, viva em plena sexta-feira. Solto o coque que fiz no cabelo e
coloco a mão no rosto, fecho os olhos. Por um momento dessa
semana eu achei que não iria conseguir, foram tantos problemas,
desde reuniões até atraso na impressão da gráfica.
Anoto mentalmente de procurar alguma outra gráfica. Ouço
a porta da minha sala se fechar e levanto o rosto depressa e me
deparo com Cadu. E só de fazer isso parece que meu corpo todo
responde quando ele se aproxima. Ele está tão diferente nessa calça
preta e blusa social vinho, que por um momento me esqueço como
se respira, é como se o tempo parasse de passar.
— Soube que está me procurando. — ele diz e então se
aproxima e senta na cadeira de frente a minha mesa.
— Eu preciso que assine esses papéis, por favor. — pego
os papéis na minha gaveta e estico em sua direção, coloco uma
caneta por cima.
Ele pega a caneta e começa a assinar, e tento não reparar
que, até segurando a caneta e concentrado em míseros papéis ele
consegue ser sexy. Coloco as mãos no pescoço tentando esfriar meu
corpo e faço uma massagem para tentar aliviar a tensão.
Cadu estica os papéis assinados e franze a testa ao olhar
para mim.
— Não li. — ele fala assim que pego os papéis. — Então
saiba que confio que isso não seja os papéis do nosso casamento
que acabei de assinar.
Reviro os olhos e ele sorri por me irritar.
— Engraçadinho! — guardo os papéis novamente na
gaveta e noto quando ele se levanta e vem até mim lentamente. —
Acho que nunca mais vou ter paz depois de toda essa mentira.
— Ainda tem alguma dúvida disso? — ele sorri e se
encosta na minha mesa, fica tão perto de mim que novamente sinto
seu perfume e tento não demonstrar como isso me afeta.
O que diabos está acontecendo comigo?
— Mand! — Júlia fala e abre a porta, e assim que vê Cadu,
ajeita a postura. — Desculpe, atrapalho?
— Não, tudo bem. Precisa de alguma coisa? — toco meu
pescoço novamente tentando esquecer a dor.
— Na verdade é só uma pergunta... Hoje é sexta.
Queríamos saber se vai ir no encontrão do jornal.
Arregalo os olhos surpresa e começo a sorrir.
— Mentira! Tem isso aqui também?
— Fábio diz que é tradição. — ela fala rindo.
— Poxa, é muito bom saber disso! — solto um suspiro com
as saudades que sinto do pessoal de São Paulo. — Eu vou ir na
próxima, prometo. Estou exausta com a rotina essa semana, então
semana que vem contem comigo!
— Beleza! Já vou ir então, deixo a entrada fechada. Bom
fim de semana para vocês!
— Valeu, Juju! — Cadu diz piscando para ela.
— Obrigada. — digo e ela acena fechando a porta atrás de
si.
Guardo alguns papéis em cima da minha mesa, e começo
a desligar o computador. Tento não notar o olhar de Cadu sobre mim
a cada segundo do tempo. Não entendo o que ele está fazendo aqui
ainda, só precisava da assinatura dos papéis, não entendo o motivo
dele ainda não ter ido embora.
Assim que o computador desliga, pego meu celular e o
coloco dentro da minha bolsa e então viro a cadeira e olho para ele.
— Eu já vou ir. Vai querer ficar aqui? — pergunto e me
levanto da cadeira.
Me surpreendo quando vejo que mesmo sentado em cima
da minha mesa, ele fica do meu tamanho. Cadu só sorri e então
estica sua mão e segura meu pulso.
— Vem cá. — ele sussurra e me puxa para mais perto.
Sinto um tremor percorrer meu corpo quando vejo que minhas
pernas vão sem nenhuma resistência ou questionamento.
— Você tá bem? — pergunto meio incerta.
Ele dá de ombros e olho para sua mão em meu pulso. Não
tem como negar o quão quente ele está. Inspiro fundo e crio
coragem, chego mais perto dele, nossos corpos tão perto que
estremeço. Coloco minha mão em seu rosto e reviro os olhos irritada.
— Mas que droga, Cadu! — toco sua testa e ele retira
minha mão. — Você tá queimando de febre!
— Acontece. — ele diz baixinho. — Deve ser o preço por
bancar o herói segunda-feira.
Meu queixo cai.
— Você tá assim desde segunda? Quando pegou aquela
chuva?
— Gostosa, não é a primeira vez que eu pego uma gripe, e
infelizmente não será a última.
Coloco a mão no rosto e tento manter a paciência. Ele está
mal porque tentou me ajudar, e conhecendo ele como já conheço,
com certeza não está fazendo nada para se ajudar.
— Já foi no médico?
— É só gripe. — ele diz e se levanta, se distância de mim,
uma tentativa clara que quer encerrar o assunto. — Tomei um anti-
inflamatório por causa da garganta, mas tá tudo bem.
Coloco a bolsa no ombro e então apago a luz da sala e vou
até a porta, a abro e estico minha mão para ele. Cadu fica meio
hesitante, e cruza os braços sobre o peito.
— Vem cá. — sussurro como ele fez comigo.
Ele desiste de tentar hesitar, e segura minha mão. O puxo
para fora da sala, e o levo até a saída. Solto sua mão e pego minha
bolsa, tiro a chave lá de dentro e balanço no ar fazendo ele rir.
Saímos e tranco tudo e confiro novamente. E o vejo chamar o
elevador.
Fica um silêncio perturbador enquanto ouço aquela caixa
metálica se aproximar do nosso andar. E assim que as portas se
abrem e nós entramos, ele se encosta na parede e eu aperto o botão
da garagem. Solto um suspiro e me viro de frente para ele, que já
está me olhando atentamente.
— Está decidido... Vou para sua casa. — afirmo e me viro
de costas para ele.
— Sério? Sem ser convidada? — ele fala e posso notar o
tom brincalhão em sua voz.
— Beleza, vamos para a minha. Tanto faz. — digo sem me
virar.
Ele solta um suspiro e o ouço se aproximar de mim.
— Achei que a gente tinha decidido um acordo sem sexo.
— ele fala.
Reviro os olhos e me viro novamente de frente para ele.
Mas não é uma boa escolha, Cadu está tão perto que me
deixa paralisada. Que poder é esse que este homem tem sobre
mim? Parece que ele controla meu corpo apenas pelo olhar, voz,
cheiro... Ah, que cheiro maravilhoso!
Não! Foco Amanda, foco!
— Se com sexo você quer dizer ir para cama, ah sim...
Você vai para a cama. — digo e cruzo os braços. — Vamos chegar
em casa, você vai tomar um banho, tomar a minha famosa sopa, e
vai ficar na cama sem reclamar. Estamos entendidos?
— Ah, qual é. — ele revira os olhos. — Não preciso de
ninguém cuidando de mim, já me olhou? Eu sou homem feito não
uma criança.
Isso me pega de surpresa. Cadu fecha a cara e o elevador
para na garagem. Ele sai e me deixa para trás. Vai até seu carro e
desliga o alarme, abre a porta e já entra. Tomo coragem e vou na
sua direção, abro a porta do carona e entro no carro.
— Amanda, eu tô legal! Vai para a sua casa descansar!
— Qual o problema? — o questiono e coloco o cinto
provando que não vou a lugar algum. — Qual o problema de deixar
alguém cuidar de você?
— Eu não preciso de cuidados. — ele fala e agarra o
volante a sua frente. — Tá levando muito a sério esse papo de
noivado falso. Você não tem conta com a minha vida, então por
favor, não finja que se importa e sai do meu carro.
Me assusto com o jeito que ele fala. Qual o problema de ter
alguém que cuide de nós?
— Quer fazer o favor de deixar esse orgulho besta de lado
e só me deixar pelo menos conhecer sua casa. — tento outra
alternativa. — Juro que não vou me meter na sua vida, Cadu.
Ele fica pensativo por um momento. E então olha para mim
procurado algo que não sei explicar, mas torço para ele encontrar a
resposta que precisa, então não me atrevo a desviar o olhar. Ele
suspira e então liga o carro e eu relaxo no banco.
Não é que eu me importe com o que ele faz da vida, é só
que ele me ajudou aquele dia, e por minha culpa ficou doente. O
mínimo que posso fazer para retribuir é ajudá-lo também.
Assim que ele sai do prédio e começa a seguir por um
caminho que já sei de cor, já que o deixei na porta da sua casa
segunda, eu relaxo ainda mais.
Não demora muito para chegarmos. Cadu para o carro em
frente ao condomínio mais chique que já vi na vida, e então alguém
na portaria libera nossa passagem. Ele segue com o carro por ruas
calçadas, onde há várias casas apenas com jardins na frente. Bem
cidade americana. E assim que ele pega outra rua e anda uns dois
quarteirões, estaciona o carro em uma garagem, e o desliga.
O silêncio é meio constrangedor. Ele destrava nossas
portas, e saímos juntos. Ele liga o alarme e se aproxima de mim.
— Tem certeza? — ele questiona.
— Quer fazer logo o favor de abrir a porta? Está frio aqui
fora.
Ele só sorri e segura a minha mão. Seguimos por um
jardim tão lindo que meu coração se aquece. Há algumas rosas em
meio a grama, e um coqueiro com uma luz verde por baixo, reflete
seus galhos e folhas e deixa a casa tão acolhedora. Cadu me leva
até uma enorme porta de madeira clara, a destranca e a abre para
mim.
Assim que entro noto o quanto ele é organizado. Tem uma
enorme sala com um sofá gigante e parece tão macio. Uma televisão
que mais parece uma tela de cinema, e uma mesa no centro com
alguns papéis.
— Bom, fica a vontade. — ele fala e fecha a porta e a
tranca. — Está com fome?
Abraço meu corpo e tento ficar mais a vontade.
— Que tal você ir tomar um banho e eu preparo o jantar?
Cadu solta uma gargalhada e se aproxima de mim, seus
braços seguram meu quadril e ele me ergue do chão e eu solto um
grito, mas começo a rir.
— Isso foi muito coisa de casal, gostosa! — ele resmunga
e me joga em seus ombros. — Vamos levar a sério esse lance de
noivado, é? — ele me leva até a cozinha e me coloca em cima de um
banco.
— Ok, bem pensado, eu trabalhei feito uma louca hoje. —
digo e coloco minha bolsa em cima da bancada da cozinha. — Eu
tomo o banho e você faz o jantar.
Ele sorri e faz negação com a cabeça. Aproveito o clima
mais leve e seguro sua camisa e o puxo para mais perto, e Cadu
ergue as sobrancelhas provavelmente pensando outras coisas.
Toco sua testa novamente e ele revira os olhos. Ele ainda
está quente. Seu rosto está meio corado por causa da temperatura, e
isso me preocupa mais do que eu imagino.
— Então trabalhou feito louca hoje, é? — ele pergunta e
tento não reparar em como o tom da sua voz fica mais rouco do
nada.
— É, não tem piedade? Estou tão cansada e com frio, que
se não fosse estranha nossa relação, eu tomaria banho, e deitaria
abraçada com você só porque tá quentinho.
Ele solta uma risada e passa as mãos por meus cabelos e
os coloca atrás dos meus ombros.
— Tá querendo aproveitar minha febre para o seu bem
estar? Isso é muito cruel... — ele diz baixinho e se aproxima de mim,
nossos rostos de repente estão tão próximos que sinto sua
respiração bater em meu nariz. — Principalmente vindo de você.
— Ah, então quer dizer que eu posso cuidar de você, mas
não ganho nada em troca? — insinuo magoada e ele apenas morde
os lábios.
— Quer dizer que eu vou ter que pagar pelos seus serviços
de enfermeira particular? — sinto seu polegar desenhar círculos em
meu pescoço e me arrepio por inteira. — Quer ter seu pagamento se
aproveitando do calor do meu corpo contra o seu?
Sorrio e então quebro o contato visual antes que eu agarre
esse homem. Pulo do banco e olho ao redor, rezo para que ele não
tenha visto o meu arrepio e seus efeitos sobre mim.
— Ok, por essa noite eu aceito trabalhar de graça como
enfermeira se você for um paciente responsável. — abro minha bolsa
e pego meu celular. — Vou ligar para a farmácia, e você vai tomar
um banho.
Cadu cruza os braços na mesma posição, não gosta nem
um pouco da minha sugestão.
— Olha, gostosa, eu...
— Eu só quero cuidar de você. — o corto. — Só isso. Por
favor, não me deixe com a consciência pesada por te ver assim e
saber que se não fosse por mim...
— Ei, pode parar! Eu fui te ajudar porque eu quis. Você não
tem culpa se eu fui irresponsável e sai debaixo de uma tempestade.
— Mesmo assim. Só me deixa fazer isso.
Ele fica pensativo por um momento e então suspira e
concorda. Tento não comemorar pois sei que ele é difícil de deixar
alguém se aproximar.
— Ok, vou ir tomar banho, não demoro. — ele diz e eu
sorrio. — Pode ficar à vontade tá, pequena. — ele se aproxima e
beija o topo da minha cabeça, e então some por um corredor.
Não perco tempo e já ligo para a farmácia e faço pedidos
de anti-inflamatório, pastilhas, dipirona e própolis. Eles prometem
não demorar a entregar. Em seguida eu abro a geladeira e os
armários de Cadu, mas não encontro muitas verduras. Pego algumas
batatas e um frango na geladeira. Coloco para cozinhar e fico
mexendo no celular enquanto o tempo passa.
Assim que noto que está tudo cozinho, pico alguns
pedaços e coloco o mixer para triturar tudo. Coloco muito alho na
panela, e jogo minha sopa lá dentro. Estou terminando quando vejo
Cadu passar por trás de mim. Ele senta no banco e está tão cheiroso
e lindo com aqueles cabelos molhados que me dá vontade de
suspirar.
— Que cheiro bom. — ele comenta e sorri.
— Já posso casar! Está vendo? — sorrio e olho em sua
direção. — Aceita? Sou o pacote completo.
— Não vai nem se ajoelhar na minha frente? — ele sorri e
se inclina sobre a bancada. — E com pacote completo, quer dizer...
Distraída, implicante, chata pra caralho e maluca. — ele diz e eu
aponto o dedo do meio em sua direção e ele só ri mais.
Desligo o fogo, e olho em sua direção.
— Será que eu posso tomar um banho também?
— Já disse para ficar a vontade. — ele sorri e pisca para
mim.
— Não fala isso, eu sou bem folgada quando pego
intimidade, ok? — pego minha bolsa da bancada e o entrego setenta
reais. — Liguei para a farmácia, se eles chegarem acerta com eles,
por favor.
Cadu fecha a cara na mesma hora.
— Porra, não fala que pediu remédios para mim.
— Para você? Não! São meus.
Ele franze a testa e pega o dinheiro sem entender. Sorrio e
então vou andando em direção ao corredor que o vi ir.
— Só vou te dar alguns comprimidos, e depois levo o que
sobrar. — falo rindo e ouço ele bufar de raiva.

Não pensei que o banho fosse me relaxar tanto. Mas ainda


assim, sinto a dor por toda minha coluna cervical e torácica. Deve ser
por causa da má postura no trabalho. Pego meu vestido do trabalho
mesmo e o visto. Com dificuldade consigo fechar zíper na parte de
trás.
Ajeito as poucas ondas que restaram nos meus cabelos, e
saio do banheiro. A casa do Cadu realmente é linda. Ele tem bom
gosto. Assim que passo pelo corredor, vejo uma porta toda pintada
de preto. Há uma luz vermelha por debaixo dela. Me aproximo sem
fazer barulho e tento abrir, mas está trancada.
Me pergunto o que tem atrás dessa porta, mas
rapidamente cai a ficha de que não tenho conta com isso. Vou até a
cozinha e encontro Cadu terminando de colocar os pratos em cima
da mesa. Sorrio e me aproximo dele.
— Preparou uma mesa de jantar? — ele me olha, franze a
testa e então dá de ombros.
— Temos que manter as aparências com visitas.
— Visitas? — me aproximo e o empurro pelos ombros. —
Está parecendo coisa de casal, isso sim.
Cadu para e então sorri de lado e só então noto uma
covinha em sua bochecha. Meu Deus, como se ele já não fosse
perfeito e irresistível antes, agora com essas covinhas...
— Sabe, eu andei pensando... — ele se aproxima de mim e
me obrigo a parar de pensar nele, e nos músculo dos braços dele, e
focar apenas em manter um papo, sem nenhuma intenção.
— Conta para mim. — murmuro e abraço meu próprio
corpo quando ele se aproxima mais.
— Já que certas pessoas resolveram dar uma de
enfermeira particular e cuidar de mim... — ele fica na minha frente,
suas mãos tocam meus braços e ele me puxa e coloca minhas mãos
em seus ombros. — Acho que é minha obrigação te dar algo em
troca.
Começo a rir e abaixo o rosto, mas Cadu ergue sua mão,
toca meu queixo e faz com que eu levante minha cabeça em sua
direção.
— Não tá levando a sério? — ele pergunta com um sorriso
de lado, cafajeste.
— Bom, tirando o fato de que você é bom em dar em cima
das pessoas... Não, não estou levando a sério.
Ele abre a boca fingindo surpresa, e coloca uma mecha do
meu cabelo atrás da minha orelha.
— Então quer dizer que você acha que eu estou dando em
cima de você?
Entendo o que ele está fazendo. Então Cadu gosta de se
mostrar sempre no controle das coisas. E se diverte me intimidando
assim, com esse seu jeito sexy até de olhar. Bom, acho que ele não
está acostumado a ser tratado da mesma maneira também.
Desço minhas mãos por seu peito, e o vejo ergues as
sobrancelhas, sorrio e círculo sua cintura e o puxo um pouco para
mais perto.
— Não sei... — sussurro e tento usar a voz mais sexy que
consigo. Me aproximo dele, e encosto o queixo em cima de seu
coração e olho em seus olhos. — Você está?
Ele fica me encarando por um tempo, sinto todo seu corpo
rígido e comemoro por dentro do quanto o deixei abalado. Ele com
certeza não está acostumado com alguém como eu.
— Você quer isso? — ele pergunta enquanto suas mãos
sobem por meu corpo, eu sinto ele me tocar, e por um momento me
pergunto se essa brincadeira não está indo longe demais.
Assim que ele entrelaça os dedos em cima do meu cabelo
e seu polegar toca meu lábio, eu tenho a certeza de que estamos
passando do limite.
— Cadu...
— Shhh. — ele sussurra e aperta o polegar na minha boca
me pedindo silêncio.
Cacete!
Sinto cada célula do meu copo pegar fogo. Minha
respiração aumenta a velocidade, e aperto a barra da blusa dele
para tentar ficar sã diante das sensações intensas que ele me faz
sentir, apenas por me tocar, por ouvir sua voz, sentir seu cheiro. É
insano isso tudo. É louco imaginar isso.
Não! Eu não posso nem imaginar algo assim! Amanda, cai
na real!
Mas a realidade, no momento é quando eu sinto Cadu
segurar meus ombros. Ele me vira lentamente, e eu paraliso, travo
no mesmo lugar.
— Só confia em mim, gostosa. — ele sussurra em meu
ouvido, e então eu deixo ele terminar de me virar.
Fico de costas para ele. Cadu se aproxima por trás de mim,
e então sinto ele tocar meus cabelos, e os coloca para o lado. Sinto
seus dedos tocarem a pele exposta do meu pescoço, e seguro um
gemido só de imaginar como seria tê-lo me beijando bem ali,
sugando minha pele, mordendo...
— Vem cá. — ouço sua voz e sinto sua mão percorrer meu
quadril, e minha barriga e ele me puxa para mais perto. Até encostar
mais seu corpo contra o meu. — Sabe o que eu estou pensando
agora?
Sinto sua mão subir pela lateral do meu corpo, e estremeço
com a sensação. E assim que ele toca meu vestido, sinto o zíper se
abrir, o barulho é a única coisa que ouço fora minha respiração.
Cadu desce o zíper devagar, e vou sentindo minhas costas ficarem
nuas.
— Eu estou pensando... — Cadu sussurra e então sinto
suas mãos tocarem meus ombros. — Que você merece uma
massagem como pagamento por ser minha enfermeira particular.
E é isso. Seu tom zombeteiro que tira todas a fantasias
mais divertidas que estava tendo com o que ele faria depois de
descer o zíper do meu vestido. E isso me deixa brava. É claro que
ele está fazendo hora com a minha cara só para se mostrar no
controle.
Golpe baixo, Cadu! Usar os sentimentos e essa voz rouca
sexy, e esse toque decidido a seu favor.
— Você é bom nisso. — murmuro e faço negação com a
cabeça e sinto seus dedos apertarem os pontos doloridos em minhas
costas.
— Só quis te dar o que desejava. Vi que desde lá no jornal
você está sentindo dor, então resolvi te ajudar a aliviar isso. — ele se
aproxima do meu pescoço e solto um gemido quando ele aperta um
nódulo de tensão. — Ou entendi mal os seus sinais e na verdade
você estava desejando que eu alivie outra coisa?
E então ele sorri quando não digo nada, e se afasta de
mim. Vai até o armário e pega dois copos, e então ele vira apenas a
cabeça, continua de costas.
— Vai até meu quarto e pega uma blusa minha. Tira essa
roupa. Eu prometo que depois do jantar, você me medica e eu alivio
essas dores, combinado?
Não consigo nem responder. Inspiro o ar e tento acalmar
meu corpo e coração.
— Ok. — sussurro e então saio da cozinha e vou para o
corredor procurar o bendito quarto, e rezo para minhas pernas
fiquem firmes de novo.
CAPÍTULO 11

Assim que Amanda sai de perto de mim e vai em direção


ao meu quarto, solto o ar que estou prendendo e coloco os copos em
cima da bancada. Tinha sido interessante brincar com ela na teoria.
Ver como ela iria reagir.
O que eu não achei que fosse acontecer era vê-la se
entregar tão intensamente a cada toque meu. Muito menos ter que
ficar de costas para ela e me esconder.
Afinal, que porra de noivo de mentira fica de pau duro?!
Já foi constrangedor demais notar que eu queria fazer
outra coisa além da massagem ao descer o zíper daquele vestido
sexy dos infernos. Assim que a vi fechar os olhos, seu cheiro doce
invadindo cada espaço do ar a minha volta, suas costas nuas
tensionadas esperando que eu a beijasse bem ali... Ela me ver nessa
situação será humilhante demais.
E se eu tivesse entendido suas reações de um jeito
errado? Se ela me ver assim, provavelmente se assustaria... Isso é
tudo um maldito faz de conta. Temos a merda de um acordo.
— E o principal é sem sexo, Cadu. — digo olhando para
baixo. — Vê se assume o controle do seu maldito corpo!
Pego a sopa que ela fez e a coloco em cima da mesa e me
sento do outro lado da bancada, para que ela não consiga me ver
nessa situação.
Já que nem a porra do meu corpo eu consigo controlar.
E então rezo a Deus para ela não desconfiar de nada. Se
eu já estava com febre antes, tê-la tão perto de mim sem poder tocá-
la ou beijá-la, fez a minha temperatura corporal subir ainda mais.
E quando penso que tudo vai ficar bem, ela me aparece
usando uma blusa minha de moletom, sem mais nada por baixo. É
assim que ela quer jogar? Me enlouquecendo? Que merda de acordo
foi esse que fomos nos meter?
— Eu estou tentando não me assustar com aquele quarto
com luz vermelha. Por acaso é onde esconde os corpos das suas
vítimas? Ou é algo tipo o Christian Grey? Não vou julgar, prometo.
Ela sorri e tento não reparar no quanto ela fica linda assim.
Ela se senta no banco e pega o prato para servir a sopa.
— Cadê a parte debaixo da roupa? — a pergunto e ela
para com a colher de sopa no ar e olha pra mim.
— Talvez nada sirva. Quem mandou ser esse tamanho de
homem! Viu o jeito que esse moletom ficou em mim?
Tento ignorar, e dou graças a Deus que o balcão está
tampando suas pernas. Assim não vejo suas coxas e ela não vê
como me deixou a minutos atrás. Como está me deixando agora.
— Mas é sério. — ela diz e pega o meu prato e começa a
me servir. — Qual é a do quarto vermelho?
Meu coração se aperta. Por mais que ela e eu nos
aproximamos de uma forma rápida e bizarra. Ainda não estou pronto
para me abrir assim desse jeito. Contar coisas da minha vida é
pessoal demais. Ninguém sabe disso além da minha mãe.
— Não é nada demais. — digo baixinho e ela franze a testa
e me entrega o prato.
— Ainda vou descobrir. — ela diz sorrindo e então se
inclina e pega os remédios em uma sacola e começa a ler os rótulos.
— Assim que terminar de comer, vou te dar esse remédio. Para ver
se essa febre passa. — ela estica a mão e quando não alcança,
estala os dedos chamando minha atenção. — Chega mais perto de
mim.
Porra!
Eu juro que quero mesmo ficar mais perto dela.
Me inclino devagar e reviro os olhos, ela coloca a mão na
minha testa para sentir a temperatura, e então solta um suspiro. Ela
ajeita meu cabelo antes de tirar as mãos de mim.
— Parece que está mais quente. — ela resmunga, se
levanta e vai até a geladeira, coloca água em um copo para mim, e
volta até a bancada.
Me entrega o copo, e um dos comprimidos.
— Bebe agora para ver se o efeito vem mais rápido.
A contragosto pego o remédio e o bebo. Nunca gostei de
ficar me entupindo de medicamentos. Tem coisas que podem ser
melhoradas com chá, ou com o tempo. Depois do que passei com
minha mãe, remédios só me trazem más lembranças.
Mas ela veio até aqui só para me fazer tomar a droga dos
remédios e fazer sua sopa. O mínimo que tenho que fazer é
obedecer.
— Ei. — estico minha mão sobre a bancada e seguro sua
mão. — Obrigado. Sei que não sou um cara fácil, mas...
— Jura? — ela sorri e eu reviro os olhos e sorrio também.
— É que não estou acostumado com alguém cuidando de
mim. Sempre fui bom em me virar sozinho.
Ela franze a testa e então começa a acariciar minha mão.
— Tomara que não precise mais ficar sozinho. Enquanto eu
estiver aqui sabe que pode contar comigo, não sabe?
— Claro que sei. É meio que sua obrigação. Na saúde e na
doença, né?
Ela solta uma gargalhada e empurra minha mão.
— Você é um idiota, Carlos! — ela revira os olhos. E então
aponta para a sopa. — Agora vê se come tudo, antes que esfrie.
Sorrio e então começo a tomar a sopa.
— Terei sobremesa? — assim que pergunto e a vejo com
dificuldade para engolir a sopa, percebo a merda do duplo sentido
que falei.
— Acho que quem merece sobremesa sou eu. — ela fala
assim que bebe um gole de água e parece voltar a respirar. —
Trabalhei feito louca no serviço. Fiz o jantar, você cuida do resto.
Tento ignorar o clima de tensão que fica sobre nós.
E me vejo caminhando até a geladeira, pego um spray de
chantilly e vou até sua direção, viro o banco que ela está sentada em
minha direção, seguro a barra do moletom que ela veste e tento
ignorar quando suas mãos seguram meus braços e apertam meu
bíceps, como se ela estivesse tentando ter controle assim como eu.
— Cadu?
Subo o moletom em seu corpo devagar, expondo cada
parte da sua pele até acima do umbigo. Pego o chantilly, e o aperto
contra sua pele, a vejo me olhar com desejo e então me ajoelho na
sua frente. E começo a lamber sua pele. Seu corpo se arqueia ao
meu toque e seguro suas coxas, ergo meu olhar e encontro o seu. E
então começo a separar suas pernas lentamente, e me coloco no
meio delas. Ela segura meu cabelo, sua mão treme enquanto me vê
aproximar.
— Cadu?!
Sua mão toca a minha por cima da bancada e tira qualquer
fantasia que estivesse tendo. Amanda franze a testa e então percebo
que meu amigo lá em baixo está mais acordado do que antes.
Que porra essa mulher tá fazendo comigo?
— Ouviu o que eu falei? — ela questiona e me obrigo a
agir normalmente. — Que tal a gente fazer brigadeiro e ver um filme?
Abro a boca e tento respirar fundo.
— Ok. — digo de uma vez. — Mas, tudo bem para você
ficar por aqui?
— Ah, por mim tá tranquilo. Tudo bem se eu ficar?
Não. Merda, te ter perto de mim não é uma boa ideia.
— Claro, pode ficar a vontade.
Ela sorri e então aponta novamente para a minha sopa.
— Vai comer tudo ou vou ter que te enfiar goela abaixo?
MAS QUE PORRA É ESSA?
Cadu, idiota, para de ficar pensando só em sacanagem a
cada fala!
— Sou um paciente responsável. — digo e minha voz falha
um pouco.
— Então me prova. — ela diz e arqueio as sobrancelhas
em sua direção. — Que foi? Por que tá me olhando desse jeito?
— Primeiro quer me enfiar goela abaixo agora quer que eu
prove você?
Não consigo evitar.
Ela faz uma cara ainda mais sexy quando fica constrangida
com as besteiras que eu falo. Ela parece ter consciência só agora do
quanto ficou estranho esse papo todo sobre a sopa.
E então ela sorri e morde os lábios, e porra.
Para que fazer isso?!
— Você é muito tarado! — ela solta uma risada.
— Eu? Olha as coisas que você tá falando para mim! Estou
me sentindo meio usado.
— A diferença entre eu e você é que eu estou me referindo
a sopa, você só fica pensando em pornografia!
Solto uma gargalhada e ela me acompanha, e então bate
na minha mão e aponta a colher no prato a minha frente.
— Agora come, Cadu! — ela diz e ainda sorri. — A SOPA.
CAPÍTULO 12

E assim que acordo de manhã, sinto vontade de nem me


levantar da cama. Olho ao redor do quarto de hóspedes do Cadu e
me aconchego mais no edredom. Ontem ficamos até tarde com a
ideia de assistir uma série, mas a verdade é que ficamos
conversando a maior parte do tempo, enquanto passava um episódio
atrás do outro na tv.
Faz tempo que eu não me sinto tão bem em só conversar
com um cara. Me abrir profundamente. É como se Cadu conseguisse
me ler só de me olhar nos olhos. E que olhos! Céus!
Por um momento, sei que foi demais um homem como ele
aceitar fazer parte de um acordo maluco, mesmo que eu também
tenha que o ajudar. É louco pensar que estamos em um acordo e
que me sinto tão bem e a vontade com ele. Até mais do que eu
gostaria.
Cadu é sarcástico, parece que ama me constranger. Ele é
respeitoso, sonhador, dono de um caráter único. Dono dos olhos
mais intensos e do sorriso mais sexy. Fora aquele corpo maravilhoso!
Puta que pariu! Não tem como olhar para ele sem lembrar de beijos,
mordidas e sexo.
Ouço uma batida na porta do quarto e logo em seguida
vejo a porta se abrir.
Fecho meus olhos e finjo que ainda estou dormindo.
Passos suaves e lentos caminham em minha direção. Sinto o
colchão se afundar um pouco.
— Gostosa? — a voz rouca sussurrada arrepia meu corpo.
Passa um minuto inteiro até que sinto sua mão tocar meu
rosto. Seu polegar faz um círculo tão leve em minha bochecha. E
logo em seguida, toca meus lábios e isso consegue parar meu
coração. Cadu sobe sua mão devagar e tira uma mecha do meu
cabelo caído em meu rosto. É um gesto tão simples e ao mesmo
tempo tão carinhoso, que parece que meu coração se entrega um
pouco.
— Ei, dorminhoca. — ele se aproxima e sinto sua boca
beijar minha bochecha e por um momento prendo minha respiração.
— Gostosa, tá na hora de acordar.
Como uma boa atriz, me rendo a parar de embarcar em
mais uma mentira para me aproveitar desse pedaço de mal caminho,
e então resmungo, mexo um pouco e abro meus olhos.
E meu Santo Antônio dos bofes gostosos!
Cadu usa somente uma calça de moletom preta. Sem
nenhuma blusa. Seus músculos se tensionam e tenho vontade de
tocar. Aquele tanquinho, aquele peitoral, seus bíceps, seu pescoço,
essa boca carnuda, e seus olhos...
— Agora já dá para olhar para mim? — ele pergunta e sorri
de lado. — Bem nos meus olhos, ou tá difícil?
Sorrio e me sento na cama, o empurro pelos ombros.
— Sinceramente? Tá difícil. — digo e seu sorriso se alarga.
— Cadê a parte de cima da sua roupa?
Ele apenas morde os lábios e puxa meu edredom. Me
deixando só com o moletom dele de ontem.
— Sinceramente? — ele questiona e se levanta. — Acho
que eu e você chegamos naquela fase.
— Que fase?
— A que tiramos alguma peça para atrair o outro. — ele diz
e aponta para as minhas pernas. — Aqui se faz. — e então ele
aponta para o próprio corpo sem blusa, sensual do caramba. — Aqui
se paga.
Solto uma gargalhada e me levanto, vou até ele e me jogo
em seus braços. Cadu apenas me segura e corresponde ao meu
abraço. Mas noto que é um mal sinal quando penso nas diferentes
formas de subir a mão por seu cabelo, puxar seu rosto em minha
direção e beijá-lo de verdade.
Mas, é contra o acordo.
— Sedutor barato. — resmungo e beijo sua bochecha. E
então me afasto do abraço.
— Praticamente um noivo de graça. — ele fala e pisca para
mim. — Acordei cedo hoje para correr.
— De novo? — pergunto e coloco a mão na sua testa, sua
temperatura está normal. Sorrio e então aproveito, e toco seu peitoral
e Cadu ergue uma sobrancelha. — Parece que a febre passou. Está
se sentindo melhor? — desço minhas mãos lentamente e deixo as
unhas rasparem sua pele, e vou em direção ao seu abdômen.
Cadu segura minhas mãos e sua respiração parece
entrecortada.
— É crime se aproveitar de um paciente. — ele rosna. —
Ainda mais um tão responsável como eu.
Reviro os olhos e Cadu me puxa passando seu braço por
meu ombro e me leva em direção a cozinha. Passo meu braço por
sua cintura e me aconchego mais perto.
— Mas sério, como está se sentindo? — questiono.
— Estou melhor. Minha garganta ainda tá doendo, mas
pelo menos a febre passou.
Chegamos na cozinha, e eu o solto e me sento no banco.
Cadu coloca uma sacola em cima da bancada, e começa a retirar
pães, leite, frutas e um bolo de dentro. E então estica um dos copos
de café em cima da bancada e me entrega.
— Fui correr e passei na padaria antes de voltar. Pedi para
fazer cappuccino para você.
— Obrigada. Não precisava se incomodar. — comento sem
graça.
Ele só sorri e senta ao meu lado. Pego uma fatia de bolo, e
bebo um gole do meu cappuccino. E tento não suspirar de prazer.
Cadu também come em silêncio.
— Você gosta de correr? — pergunto.
— Eu amo. Mas só corro de manhã, antes do sol nascer,
ou a noite. Sei lá, eu prefiro. E me ajuda a liberar a adrenalina.
Sorrio e só concordo com ele. É, correr realmente faz a ele
um bem danado!
— E você? — ele questiona.
— O que tem eu?
— Jornalista, gostosa, minha noiva falsa, ama seu
trabalho... O que você ama fazer que eu ainda não sei?
Sou pega de surpresa. Ele está interessado em saber mais
sobre mim? O que isso quer dizer?
— É meio complicado falar sobre nós mesmos. — digo
brincando com o copo. — Ah, sei lá... Eu gosto muito de escrever, e
de comandar o jornal. Eu amo ler. Adoro música. E pode não
acreditar, mas ás vezes eu sou tímida.
— Tímida? A mulher que me beijou e me pediu em
casamento?
— Aquilo se chama desespero. — digo rindo. — Eu sou
divertida, mas só quando pego intimidade com a pessoa consigo me
soltar.
— Então quer dizer que nós somos íntimos?
Solto uma risada e como outro pedaço de bolo.
— Bom, eu sou sua noiva... Meio que temos que ser.
Ele franze a testa, mas parece aceitar minha resposta.
Cadu se levanta e bebe seu café, e então pega seu celular. Fica
concentrado por um tempo e então solta um suspiro.
— Bom, já que somos íntimos, preciso que se arrume. Eu
tenho um compromisso agora, se quiser te deixo em casa.
Desço do banco em um pulo.
— Será que é demais te pedir para me deixar em uma loja?
— digo revirando os olhos.
— Ir fazer compras é um saco. — ele diz. — Não me peça
para te acompanhar nessas coisas.
— Não! Eu também acho! Acho até que te amo mais por
odiar. — sorrio e beijo sua bochecha mas vejo que Cadu está mais
tenso. — A Mari vai experimentar o vestido, e eu vou comprar um
para mim, sou a madrinha, preciso estar linda e gostosa no dia.
— Mas isso você já é, sem precisar da porra de um
vestido. — Cadu diz enquanto digita algo no celular.
E dou graças a Deus para ele não reparar no que causou
em mim. Ele termina e bloqueia o celular e então suspira e olha para
mim.
— Vai logo trocar de roupa e me fala onde tenho que te
deixar.
— Ok. Obrigada.

Fico até sem graça ao ver Mari e algumas amigas dela, já


escolhendo os vestidos. Assim que entro, Vanessa vira o rosto e se
afasta um pouco de mim. Mari já está me olhando com raiva, como
se eu estivesse mega atrasada. Ela segura um vestido rosa bebê
lindo no cabide, e o estica para mim assim que me aproximo dela.
— Não quero nem saber, você vai experimentar! — Mari
diz. — E por que tá com a roupa do trabalho de ontem?
Pego o vestido de sua mão e suspiro.
— Ontem o Cadu estava com febre, acabei indo para a
casa dele obrigar aquele teimoso a se cuidar.
Mari sorri e ergue uma sobrancelha.
— Ui, a noite foi agitada. Se aproveitou ao cuidar dele
também?! — ela fala rindo e sai de perto de mim.
— Quem dera. — remungo e então cai a ficha.
Quem dera não, Amanda! Para com isso! Foco! Noivo de
MENTIRA. Qual parte disso eu ainda não entendi?
Vou até o provador. O vestido é um rosa bebê longo, e tem
um caimento maravilhoso. Na parte de cima há várias rendas
bordadas com pérolas bem pequenas. Ele escorrega pelo meu
corpo, mas abre uma roda bem linda logo abaixo da cintura. Me sinto
linda. E sorrio ao me lembrar de Cadu dizendo que não preciso da
porra de um vestido para ser nada disso.
— E ai? — Mari chega com a cara dentro do provador e
assobia. — Caramba, ficou lindo em você!
— Eu também gostei dele.
Me analiso no espelho, e dou uma volta.
— Cadu também vai gostar de ver você com esse vestido.
— ela diz e depois sai.
Sinto uma pontada no meu coração quando ela fala o
nome dele. E começo a anotar mentalmente o quão errado é pensar
no meu noivo falso.
— Mand, a gente tem que ir! — grita Mari me despertando
do meu momento ilusão.
Tiro o vestido. E visto o vestido vinho que estou desde
ontem. Puta merda, eu preciso logo trocar de roupa. Calço meus
sapatos, pego minha bolsa e saio do provador. A vendedora pega o
vestido da minha mão.
— Eu decidi levar ele, aceita cartão?
— Claro, passamos sim.
Vou até o caixa e abro minha bolsa, retiro minha carteira e
entrego o cartão para a vendedora. Digito a senha, e quando vou
guardar a carteira novamente, procuro meu celular e vejo que ele
não está lá dentro. Que saco!
A vendedora chama a minha atenção, e me entrega a
sacola com o vestido.
— Volte sempre. — ela diz sorrindo.
— Obrigada. — digo e vou em direção as meninas.
Mari e Vanessa estão na porta me esperando. Eu sei que
Mari é amiga dela, mas ter ela por perto é meio incômodo. Qual é, a
mulher era a minha amiga e ficou com o meu namorado, traiu minha
amizade. Não sou obrigada a ficar sorrindo e agindo como se nada
tivesse acontecido.
Vamos todas para o carro da Mari. Me sento no banco do
carona, e Vanessa senta atrás. A loja de vestidos é bem longe da
minha casa. Mari começa a dirigir e se vira para mim sorrindo. Dá
para ver nos olhos dela o quanto esses pequenos detalhes do
casamento a fazem feliz.
— Eu não vejo a hora de chegar o dia, Mand. — ela diz. —
Sabe é tanta coisa que enlouquece.
— Vai dar tudo certo, você vai ver. — a tranquilizo.
— É que sei lá sabe, é uma coisa tão maluca, cheia de
detalhes, ás vezes eu acho que não vou conseguir organizar tudo
isso, outras eu acho que vou pirar... Mas outras vezes é tão bom,
que quero adiar o casamento ou me casar outra vez só para passar
por tudo isso de novo!
Começo a rir.
— Vou me lembrar disso quando me casar. — digo a ela.
— E como está o Cadu? — ela pergunta, e o celular de
Vanessa começa a tocar. — Ele melhorou depois de ontem e da farra
de vocês?
— Ele está melhor sim. — comento.
Ela me olha de canto de olho e começa a rir.
— Ah qual é, me conta os detalhes sórdidos!
— Oi? — Vanessa atende o celular, e uso essa como uma
brecha para ficar calada e não contar para a Mari como foi a noite,
ou melhor... Como eu queria que ela tivesse sido.— Eu estou bem
amor, e você?
Amor.
Já até sei quem está ligando para ela, e sinto novamente a
dor invadir meu coração. Que merda! Na boa, eu sou a pessoa mais
fraca que existe no planeta! Como eu ainda posso sentir algo com
essa situação?! Nem que seja raiva e nojo?
— Eu sei, eu estou bem... Nós estamos bem... Não se
preocupe, quer dizer, obrigada por se preocupar.
Nós estamos bem, será que eles brigaram? Por qual
motivo?
— Bem, posso ver com elas aqui. Só um minuto. — ela se
vira para nós duas. — Meninas, o Edu está perguntando se vocês
topam ir ao cinema amanhã.
— Ah, que legal, é claro que sim! — Mari grita empolgada.
Merda.
Elas me encaram, e minha vontade é de pular do carro em
pleno movimento. Mas quero passar todos os momentos com a Mari.
E já que Rick e Edu não se desgrudam, o jeito é aturar todo o lance
da traição.
— Parece divertido. — digo.
E elas sorriem.
— Elas toparam. — Vanessa diz ao telefone. — Ta bom,
beijo.
E desliga.
Elas vão comentando sobre o possível filme que iremos
assistir, e eu estou a ponto de querer descer do carro novamente.
Quero chegar em casa, tomar um banho e dormir. Mas quando Mari
vira a esquina que dá até minha casa, eu o vejo.
Meu corpo inteiro vira gelo.
Cadu está parado na porta da minha casa. Encostado no
seu carro, está bem pensativo. Cada vez que o carro de Mari se
aproxima eu fico ainda mais nervosa. Parece que vou passar mal.
Mari estaciona o carro, e eu desço rapidamente primeiro que elas.
Cadu está me olhando. O sorriso cafajeste no seu rosto é o
que eu tenho de prova de que ele ainda está dentro do meu plano. E
isso de certa forma, alivia meu coração.
Chego perto dele, e ele olha as meninas saindo do carro,
com certeza nos observando.
— Ei, gostosa! — ele sussurra.
— Não me chama assim em público! — sorrio.
Ele me puxa pela cintura, me leva para mais perto de seu
corpo, e eu tenho que prender a respiração de susto e desejo
quando ele segura minha nuca e beija minha boca. Estremeço com a
sensação forte dentro de mim.
Passo minha mão por seu pescoço por puro instinto. A
vontade de não me afastar é grande. A vontade de beijá-lo de
verdade e que se danem as consequências só aumenta. Mas Cadu
se afasta antes mesmo que eu possa expulsar esses pensamentos.
E cacete! Por que eu estou pensando isso? Puta merda!
— Como você está? — ele sussurra. — Achou algum
vestido?
— Achei. — sorrio sem graça e olho para baixo. — Mas
não preciso dele para ser extremamente gata.
— Isso aí, me enche de orgulho vai. — ele fala e
começamos a rir.
— Trouxe isso. — ele retira meu celular do bolso e solto um
suspiro aliviada. — Deixou no banco do carro hoje mais cedo, aí
pensei que estivesse quase chamando o FBI.
O pego de sua mão e sorrio.
— Valeu mesmo.
— Oi Cadu. — Mari diz e se aproxima.
Cadu me solta e a abraça, e ela me entrega a sacola com o
meu vestido.
— A Mand disse que você estava passando mal ontem.
Está se sentindo melhor?
Noto Cadu se encolher, como se ele não estivesse
acostumado com as pessoas se preocupando ou cuidando dele. E
isso mexe comigo. Não quero que ele pense que ninguém se
importa.
— Estou melhor sim, obrigado. — ele fala sem jeito.
— Viemos só trazer a Mand, não sabíamos que estaria
aqui. — ela fala. — Amanhã vamos ir no cinema, você devia ir.
— Você vai? — Cadu me pergunta e eu só confirmo. —
Bom, farei o possível para ir. Eu estou trabalhando muito esse fim de
semana, mas vim aqui porque... — ele se vira para mim e parece
meio sem jeito. E então ele coloca as mãos no bolso de novo e tira
um anel de lá de dentro. — Esqueceu isso lá em casa, não quero
que minha noiva saia por aí sem esfregar na cara de todo mundo
que não está disponível.
Fico roxa de vergonha. Mari o olha tão apaixonada quanto
Vanessa. E me irrito, pode tirar o olho!
— Mand, me dá ás chaves da sua casa, vou deixar vocês á
sós.
Entrego as chaves para Mari e então ela segura a mão da
Vanessa e ambas vão em direção a minha casa. Olho assustada
para Cadu assim que o portão se fecha.
— Cadu! Isso é um anel sabia?!
Ele sorri.
— Não diga.
— Não devia ter gastado dinheiro com uma mentira. — o
fuzilo.
— Não gastei. Ele... Ele é... Uma bijuteria. Não vou gastar
dinheiro com você.
— Credo, Cadu! — bato no seu ombro com força e começo
a rir. — Que noivo horrível é você.
— Está vendo? Esses é um dos motivos para eu não ficar
noivo de verdade, ter que ficar gastando dinheiro com tudo. — ele
fica em silêncio, como se um filme de um futuro casamento estivesse
passando por sua mente. — Deus me livre!
— É romântico. — defen-do a aliança.
— Não, gostosa. — ele bagunça meu cabelo, e eu protesto
para ele parar, e quando para, ele segura meu rosto com as mãos.
— Não tem nada de romântico nisso para o meu bolso.
Começo a rir, e me sento no capô do seu carro, e Cadu se
encosta do meu lado. Homens só pensam em dinheiro e mulheres, e
só.
— Imagina só... — ele tenta se redimir, mas sei que será
em vão. — Se você comprar um anel caro para caramba... Ao invés
disso, dá para comprar um iphone com o valor daquela coisa
brilhante e sem sentido, que fica só sendo exibido no dedo da
mulher. É só para isso que ele serve!
— Ah Cadu, que pensamento mais idiota! — me viro para
ele. — Anel de noivado não pode ser olhado através do preço e sim
dos sentimentos que ele representa.
Ele solta um suspiro.
— Sim.— ele concorda, e fico surpresa. — Como o
sentimento de tristeza que eu terei todas ás vezes que eu olhar para
o anel e ver minha falência escancarada no dedo de alguém!
Solto uma gargalhada alta. E ele também me acompanha e
pisca para mim.
— Ah, nem vem com isso tá. — o empurro pelo ombro.
Olho para o anel na minha mão e perco o fôlego. Isso não
se parece nada com uma bijuteria, mas eu não entendendo nada de
anéis também. Ele é todo dourado, tem uma pérola e ao seu redor
cheio de pedrinhas como diamantes. Solto um suspiro. Quando eu
casar quero um anel igual. Ele é tão delicado que ganha
completamente meu coração.
O coloco em meu dedo e me surpreendo ao ver que coube
perfeitamente. Sorrio e olho para Cadu. Ele está tenso me
observando. Olha fixamente para a minha mão. Estranho sua atitude,
e então toco seu ombro e ele olha para mim.
— Tá tudo bem?
— Tá. — ele fala e junta as sobrancelhas. — Ficou lindo
em você.
— Ele é lindo. — sussurro. — Prometo devolver quando
essa loucura acabar.
Ele só assente e olha para o chão.
— Mand... Eu quero conversar com você.
— Pode falar.
Ele se vira em minha direção e sorri.
— Sobre ontem. E hoje de manhã.
Meu sorriso vai embora e ele também fica sério.
— O que tem?
Cadu se aproxima lentamente de mim, segura minha
cintura, e me puxa para mais perto, ele se coloca no meio das
minhas pernas, sinto o ar faltar em meus pulmões. Meu vestido sobe,
e seguro seu rosto e o faço olhar para mim.
— Meus olhos estão bem aqui, Cadu. — murmuro.
Ele pisca para mim. E eu não me contento e dou um tapa
leve em seu braço.
— Safado! — o olho em choque.
— O quê? Não posso olhar para minha noiva gostosa? —
ele debate reprimindo um sorriso.
— Não! Nem tocar, nem olhar, nem beija... — ele me puxa
contra ele rapidamente, e beija meus lábios com força. Mas tão
rápido quanto se aproxima, ele se afasta.
— Ah, desculpa o que é que estava dizendo? — ele se faz
de desentendido.
— Safado! Era isso o que eu estava dizendo. — coloco a
mão no coração para fingir que estou profundamente assustada, o
que faz Cadu cair na risada. — Aproveitador, também.
— É que as meninas estavam olhando. — ele aponta para
a minha casa.
E eu cautelosamente me viro para olhar, porém não vejo
nada além das janelas na parte de cima da casa. Franzo a testa
estranhando.
— Amanhã eles vão no cinema. — comento. — Eu meio
que vou também. Então... Por favor, me faz companhia. E aí a gente
conversa.
Ele sorri e esconde o rosto no meu pescoço. E sinto todo
meu corpo se arrepiar com sua aproximação.
— Foi mal gostosa, não curto muito ver esses filmes
românticos que vocês gostam.
— É terror. — digo e abro um sorriso sexy.
Quem sabe assim eu não consigo convencer esse cara
difícil?!
— Sério? — seus olhos brilham, e vejo que ele cai no meu
jogo, porém, cedo demais ele cai a ficha. — Jura? Você é muito boa
para mentir.
Merda!
— Ah, qual é? O que é melhor do que ver filme de terror
com sua noiva gostosa? — tento novamente meu plano.
— Não é tão gostosa quando se acha assim. — ele diz e
pisca para mim.
— Essa fala é minha. — retruco e coloco o dedo indicador
em seu peito.
Porém ele se abaixa e tenta morder meu dedo e eu tenho
que retirar.
— Não vi nenhum contrato dizendo que é sua. — ele
debate.
Se aproxima de mim lentamente enquanto olha para minha
boca. Prendo a respiração quando sinto sua mão entrelaçar em meu
cabelo, e seu outro braço puxa minha cintura para mais perto. Seu
rosto fica a centímetros do meu, e então ele raspa lentamente seus
lábios contra os meus. Uma tortura de provocação. Seu cheiro me
vicia, sua pegada em meu corpo decidida e forte me deixa
completamente a mercê dele. Da vontade de sentir seu gosto.
Sinto Cadu sorrir e então ele se afasta e quebra assim
qualquer encanto que eu possa ter. Meu coração parece que vai sair
boca a fora.
— Eu não vou te dar certeza que vai dar para ir... Mas você
devia ir, se divertir, esquecer a empresa por um tempo. Divirta-se. —
ele me puxa pela cintura e me tira de cima de seu carro. — Mas
cuidado viu, estou de olho em você, amor. Nada de papo com outros
caras.
— Até parece. — resmungo.
Ele olha para a minha boca de novo e então se aproxima e
beija minha bochecha.
— Depois a gente conversa. — pisca para mim, entra
dentro do carro e acelera para longe de mim.
CAPÍTULO 13

Demoro um tempo até decidir qual roupa usar para ir ao


cinema. Não que eu não esteja a fim de ver um filme, mas é por
causa das companhias. Mas preciso parar e lidar melhor com essa
situação.
Hoje está quente, então pego um short jeans de cós alto, e
coloco um croped estilo ciganinha preto, e visto um casaco branco
por cima. Calço um sapato anabela de amarrar, e faço uma
maquiagem mais suave, mas com muita máscara de cílios.
Faço ondas em meus cabelos, e passo perfume. Pego o
meu celular e mando uma mensagem para Cadu.

Solto um suspiro e guardo meu celular na bolsinha. Saio do


quarto e tranco a porta. Desço as escadas e tranco a casa, vou até o
portão e o abro para sair com o carro e me assusto quando encontro
Eduardo parado do outro lado.
— Oi. — ele fala sem jeito.
— Oi. O que está fazendo aqui?
— Eu fui buscar a Vanessa, mas quando cheguei ela já
tinha ido para a casa da Mari.
Outro fato ruim é morar perto de Vanessa, foi assim que
ficamos amigas aliás, ela além de amiga, é minha vizinha.
— Se ela já foi o que ainda faz aqui? — levanto as
sobrancelhas.
— É que... Eu vi que ainda estava em casa, resolvi ver com
você se... Se você quer ir comigo?
O quê? Ir com ele para o cinema?
— É... Eu... Não sei, acho melhor não, Eduardo. — ele
abaixa a cabeça como se já esperasse por essa resposta. — Eu vou
com meu carro mesmo. Então, só vou fechar tudo e já vou ir.
— Ele vai com você? — noto o quanto ele fica sério de
repente.
E entendo a quem ele se refere. Ele quer mesmo saber se
vou levar o meu “noivo” para o cinema com eles? Meu sonho!
Esfregar na cara dele o que ele estragou perdendo um mulherão.
— O Cadu? — o questiono e ele só confirma. — Não sei,
acho que não. Ele tinha umas coisas para resolver.
E essa é minha desculpa para não dizer “Ah, é que ele é só
de mentira, então não tem conta com todos os meus compromissos.”
— Que tipo de homem ele é que deixa uma mulher como
você ir sozinha para o cinema?
Puta que pariu! Só o que faltava eu ter que ouvir algo
assim do cara que trocou “uma mulher como eu” por um casinho
qualquer com a amiga dela.
— Bom... Talvez ele seja do tipo de homem fiel. Finalmente
estou em um relacionamento onde a base é a confiança, se é que
me entende. — Edu arregala os olhos surpreso. — Você vai ir ou
não? Porque sinceramente estou atrasada.
Ele não diz nada, apenas dá um passo para frente, mais
perto de mim.
— Será que pode ir comigo? Eu quero conversar com
você.
— Amanhã a gente conversa.
— Amanda, para que ir com dois carros? Vai gastar
gasolina a toa! O Cadu por acaso acha ruim você ir comigo?
— Não. Ele não liga se eu sair com outras pessoas, porque
eu não sou do tipo que trai.
Ele olha para baixo e não consigo notar se ficou chateado,
e se ficou, ele não deixa transparecer.
— Tá, desculpa. — ele diz. — É só que estamos indo para
o mesmo lugar. Se quiser ir embora mais cedo, eu te levo, prometo.
— Me leva para a casa do Cadu se eu quiser também? —
desafio. E ele arregala os olhos.
— Claro, sem problemas. Só quero conversar.
Ah que saco! Acabou minhas desculpas. O que ele quer
conversar comigo?
— Ok. — suspiro derrotada, e saio trancando o portão. E
vou até seu carro.
Edu entra no carro e colocamos juntos o cinto de
segurança. Ele pega o celular, digita uma mensagem rapidamente e
logo depois o joga no banco de trás. Ele liga o som e coloca uma
música baixinha. E quando Ed Sheeran começa a tocar, me pergunto
se ele não fez de propósito. Não! É claro que não! Ele não está
querendo me impressionar. Agora ele está com a Vanessa, e estão
muito bem!
E mesmo se eles não estivessem juntos, jamais cogitaria a
ideia de ter algo com ele de novo.
Ele dá a partida no carro e vamos em direção ao cinema.
Olho ao redor no carro, e me perco em memórias. Muita coisa do
nosso passado aconteceu bem nesse carro. Eu me lembro também
de como foi difícil para ele finalmente o comprar. Foram anos de
economia. E agora esse caro é tão familiar para mim, quanto
estranho.
É incrível como algumas coisas, por mais importantes que
tenham sido, se tornam diferentes com simples acontecimentos
inevitáveis do destino.
— E aí? Está curtindo o novo emprego? — ele puxa
assunto.
— Na verdade é mais cansativo do que pensei. Mas estou
amando.
— Poxa, que bacana Mand! — ele diz sem jeito. — Por que
votou para BH só agora? Se não fosse por essa promoção e o
casamento da Mari você voltaria?
Merda! É para ir ao cinema ou ser interrogada?
— Ah, nunca se sabe né. O que importa são os fatos que
aconteceram, e isso me fez voltar.
— Entendi.
O sinal fica verde e ele segue com o carro. Pego meu
celular para despistar a vergonha e o desconforto que estou
sentindo. E vejo que Cadu me respondeu.
Sorrio e imagino o olhar sarcástico de Cadu me
imaginando ler essa mensagem.
— Você voltou também pelo seu noivo, né.
— Como? — pergunto encarando-o surpresa.
— Ah Mand, qual é. Quem diria... Vai se casar com um
filhinho de papai rico. É só por isso que voltou?
Olho em choque ao ouvir ele dizer isso.
— É o quê? — ele insiste rindo. — Pelo dinheiro que o cara
tem... Ou pela promoção. Foi por isso que virou redatora?
Aperto meu punho e tento me controlar.
— É pela minha mão causando a porra de um buraco na
sua cara se voltar a se referir a mim como uma interesseira! — rosno
e ele para de sorrir e fica sério.
— Só estou brincando com você. — ele diz e sorri. — É
claro que não é interesseira, se não, nunca iria namorar comigo. —
continua rindo, como se fosse uma piada. — Mesmo que antes você
fosse mais nova, e agora está bem gosto... — ele olha para mim
rapidamente, e seus olhos vagam por meu corpo, e ele logo fica
sério. — Desculpa.
Estou ainda mais irritada com esse imbecil! Ele realmente
ia me chamar de gostosa?
Só o Cadu pode me chamar assim!
Vindo do Eduardo soa tão pornográfico, e sujo. E com o
Cadu, eu me sinto realmente linda e respeitada. É incrível como um
simples apelido pode ser tanto lisonjeiro quanto nojento. Basta soar
com as intenções de quem o diz.
— Olha aqui, Edu. — digo tentando me controlar. — Aceitei
ir até o cinema com você pela carona e para economizarmos a
gasolina. Agora, se for para ficar falando mal do Cadu, me chamar
de interesseira ou me elogiar como se tivesse esse direito, por favor,
pare o carro.
Ele me olha mortificado. Anda um quarteirão sem dizer
uma palavra, e então o vejo procurar um lugar para estacionar. Ele
realmente vai parar o carro? Não me importo é até melhor. Não
admito que falem coisas sobre mim. Pego meu celular, respondo
uma mensagem do Cadu e abro o aplicativo de uber.
Edu para o carro, e quando vou sair ele trava as portas, e
me viro para ele com raiva.
— Não parei o carro para você descer. Parei porque eu
quero conversar com você.
Ah, que droga! Só o que faltava!
— É sobre o Cadu. — ele diz.
— Como assim?
Sinto o medo invadir meu coração. Será que ele sabe de
algo sobre a mentira? Será que ele viu Cadu com alguma mulher por
aí?
— Olha, eu sei que perdi o direito de até mesmo ser seu
amigo há anos. Agi como um canalha com você, você não merecia
nada daquilo. E agora estamos adultos o suficiente para uma
conversa.
Me encosto no banco e solto um suspiro.
— Eu quero te pedir desculpas. — ele diz e o olho
surpresa. — Eu sei que te machuquei. E sei que é uma puta
canalhice eu e sua amiga estarmos juntos. Você confiava em nós
dois.
— Na boa, não quero falar sobre isso.
— Tudo bem. Só quero pedir perdão. Com o tempo a gente
cresce e eu tenho vergonha das coisas que fiz, das minhas atitudes
naquela época. Meu melhor amigo vai se casar, e não quero passar
por isso sem te dizer que eu sinto muito.
— Tudo bem. — resmungo. — Hoje eu vejo que aquilo foi a
melhor coisa que me aconteceu.
Ele me olha e concorda e então coloca as mãos no volante.
— Sabe, não somos mais próximos, mas ainda me importo
com você. Não sei porque seu noivo me bateu naquele dia, mas
acho que agora posso entender o motivo. Ele deveria saber sobre
mim e o que fiz com você no passado. Eu teria feito a mesma coisa
se estivesse no lugar dele.
— Tá tudo bem.
— Eu posso não gostar do cara, posso ter raiva de mim por
ter te machucado. Mas eu só quero que saiba que estou aqui se
precisar de alguma coisa. Eu ainda sou seu amigo.
Sinto meu coração se apertar. Ele era meu melhor amigo.
E depois que nosso relacionamento terminou, acho que senti mais
falta da sua amizade do que no sentido romântico.
— Por mais que nós não merecemos nada... Saiba que
estou aqui e a Vane também.
Só concordo com a cabeça.
— Cadu parece ser um cara legal.
— É, ele é. — sussurro.
— Eu vejo o jeito que ele olha pra você. — Edu diz e dá a
partida no carro. — O cara tá fodido. — ele solta uma risada. —
Parece só ter você no mundo para ele.
Abro um sorriso só com a ilusão dessa possibilidade.
Não sei o que faz as pessoas pensarem que Cadu pensa
em mim dessa forma. Vai ver temos uma química, isso não dá para
negar. Parece que sou atraída por seu corpo, por cada parte sua.
E o que mais me assusta, é que Cadu está se tornando
cada vez mais presente nos meus pensamentos. No trabalho,
quando chego em casa, cada segundo do dia algo me lembra ele, ou
me dá vontade de contar coisas para ele.
Mas eu não posso pensar isso. Já que nós dois seremos
um casal feliz de mentira e em breve separados. Então, para o meu
próprio bem, tenho que mandar esses pensamentos embora, antes
que seja tarde demais.
CAPÍTULO 14

Cadu
— Você veio! — Ana diz sorrindo, se aproxima de mim e
beija minha bochecha. — Pensei que fosse me enrolar de novo.
Passo meu braço ao redor do seu ombro e a levo em
direção ao meu carro.
— Não vai entrar? — ela me questiona. Olho em direção
ao hospital e sinto um aperto na garganta. Apenas nego com a
cabeça e continuo a puxando junto a mim.
Ela fica em silêncio. E me deixa lavá-la. Entramos no carro
e colocamos o cinto de segurança.
— Como ela está? — pergunto e seguro o volante.
— Do mesmo jeito. — ela diz e pega seu celular. — O
Henrique falou que ia esperar a gente na casa dele. Então, só tem
que me deixar em casa.
— Não estou muito animado para encontrar todo mundo
hoje.
Ela me olha e solta um suspiro. Dou a partida no carro e
fico em silêncio. Ana é uma das minhas melhores amigas. Ela e
Henrique estudaram comigo desde os tempos do colégio, e ficamos
bem próximos. Eles estiveram comigo nos piores momentos da
minha vida. E mesmo que eu tenha me tornado um cara fechado que
afasta todo mundo da minha vida, eles sempre estão lá.
— Vá quando estiver bem. — ela diz e coloca a mão em
cima da minha coxa. — Como estão as coisas?
Sorrio sem querer ao me lembrar de como estão as coisas
na minha vida ultimamente.
— Para ser sincero me meti em uma furada. — digo e ela
ergue as sobrancelhas.
— O que aprontou agora?
— Meu pai chamou uma funcionária dele de São Paulo
para assumir o comando aqui de BH por enquanto, e tive que
encontrá-la, para passar toda a parte burocrática com os papéis de
alguns fornecedores. Acontece que ela é uma maluca. — começo a
rir. — Para resumir, ela está fugindo do passado, e aí inventou que
tem um noivo falso. E eu acabei me metendo nisso. Agora temos
esse acordo idiota.
— Espera! — ela diz e começa a rir. — Você tá em um
relacionamento?
— De mentira, Ana. — digo e ela revira os olhos.
— Quando acho que você tem solução. — ela resmunga e
dá de ombros. — Por que topou algo assim?
— Eu meio que estou usando ela também. Digamos que
meu pai confia nela. Então estamos nisso de mentira. Eu a ajudo e
ela me ajuda a ganhar tempo para criar o estúdio.
Ana concorda e então se vira de lado e fica de frente para
mim.
— Acho que é bom ter um tempo para se dedicar a isso e
calar a boca do Fábio.
Sorrio e concordo com ela. Ficamos um tempo em silêncio,
e ela coloca uma música para tocar. E volta a dar atenção ao seu
celular. Mas logo em seguida fica pensativa e se vira de lado de
novo.
— Como ela é?
— Ah, ela é teimosa demais. Irritante, adora ser sarcástica
e acho que ela tem um parafuso solto. Mas ela é muito focada,
tralhadora, leal. No fim só está querendo provar a todos o quão
incrível ela é. Ela é linda e...
— Ah, meu Deus! Vocês transaram! — ela revira os olhos.
Solto uma gargalhada e empurro Ana pelos ombros.
— É claro que não, Ana! Nosso acordo não permite sexo.
— E tá tudo bem para você essa regra? — ela pergunta
sorrindo. — E ela? Você é bonitão, ela não vai conseguir resistir.
— Bom... Nós meio que gostamos de nos provocar, mas...
Não quero estragar tudo com ela.
— Ora. — Ana fala e começa a rir. — Parece que nem tudo
está sem solução como eu achei.
— Não entendi.
Ela se vira para mim e franze a testa.
— Cadu! Deixa de ser retardado e perceba os sinais!
Reviro os olhos. Esse papo de mulher eu não entendo
nada. Meu celular apita e o pego assim que paramos no sinal
vermelho.
— Cadu?
O que o ex dela está levando ela para o cinema? E ainda
por cima tentando dar em cima dela? Que eu saiba ele está em um
relacionamento. E por que ele está levando ela para o cinema? Ela
tem carro, tem Mari, tem uber! Não tem que ir de carona com o filho
da puta de um ex-namorado.
— Cadu? O sinal abriu.
Jogo meu celular em meu colo e dou a partida no carro.
Minha mente não para.
— O que aconteceu? — Ana pergunta.
— Por que alguém elogia e tenta se aproximar da noiva de
outra pessoa?
Ana me olha sem entender.
— Bom... Sei lá, elogiar a sós ou...
— A sós, um ex namorado.
— Vai ver se arrependeu e tá tentando voltar, ou... Espera,
o que isso tem a ver?
Como assim tentando voltar? Não tem mais nada para rolar
entre eles.
— A Mand me mandou mensagem. Disse que está indo
com o ex de carona para o cinema. Eles todos irão juntos. E ela
disse que ele a chamou de gostosa e quis conversar com ela.
Ana fraze a testa e sorri.
— O cara deve estar desesperado. Isso incomoda você?
Olho para ela com raiva e ela só sorri e olha para a rua a
nossa frente.
— Só acho que ela poderia muito bem não ir. Ou ir com
seu próprio carro.
— Mentira! Tá mesmo com ciúmes?
Ciúmes. Essa palavra me faz freiar o carro com força assim
que chego na rua da casa dela. Estaciono o carro e solto um
suspiro.
— Que ciúmes, Ana! Claro que não, só acho que não se
deve agir assim com alguém comprometida.
Ela solta uma gargalhada e eu percebo. Eu realmente
estou puto por esse motivo? Amanda e eu estamos mentindo para
todo mundo, principalmente sobre nossa situação. Não nos
importamos um com o outro.
E imediatamente minha mente me traz lembranças dela
desesperada me pedindo um beijo. Do que senti ao beijá-la. De
como ela me entende, e parece se preocupar comigo. Me lembro do
quanto ela me enlouquece com aquele corpo sexy. De como daria
tudo para quebrar a porra do acordo e só ter uma noite perfeita com
ela.
— Ei. — Ana chama minha atenção e fecha a porta do
carro ao sair. — Se ela está no cinema... Tá fazendo o que aqui
ainda?
— Tchau, Ana. — reviro os olhos e ela só ri e eu dou a
partida no carro.
E mesmo sem querer parecer um idiota controlador, me
vejo pegar o caminho do cinema. Fico a imaginando sozinha no meio
daqueles casais. Não acredito que fui tão estúpido de deixá-la
sozinha em algo que me comprometi em ajudá-la. E me vejo
querendo estar perto dela.
Entro no estacionamento. Tranco o carro e vou até o
elevador. E quase piro quando ele desce ao invés de subir para o
andar do cinema.
Cadu, tem que apertar a porra do botão!
O elevador desce vários andares, para então começar a
subir em direção ao cinema. Se tivesse ido de escadas seria melhor.
Assim que a porta abre, ando em direção ao cinema. Parece a
sensação da merda de um primeiro encontro. Meu corpo treme e
meu coração acelera. Coloco as mãos no bolso e os vejo de longe.
Ela está ao lado de Mari, ambas estão perto de uma tv que
passa o trailer de um filme. Vejo Eduardo em um canto com Vanessa,
mas está olhando para a Amanda sem disfarçar. Meu sangue sobe à
cabeça. Me aproximo deles, e faço questão de o olhar da pior
maneira possível.
E o pior é que ela está linda pra cacete!
Usa um short, suas pernas bronzeadas de fora.
Enlouqueço só de olhar. Mari é a primeira a me ver. Ela sorri e
aponta para mim, e Amanda vira com a testa franzida, e quando seu
olhar se encontra o meu ela fica em choque ao ver que estou
realmente ali.
E não quero saber de nada, não me importo com mais
nada. Vou em sua direção, a puxo pela cintura e beijo sua boca com
força. Seu cheiro me deixa completamente louco. Ela se assusta a
princípio, mas então a sinto se aproximar de mim e ela puxa meu
quadril para mais perto. E então suas mãos sobem por meu corpo.
Ela segura meu rosto com suas mãos.
E isso de alguma forma, consegue acalmar o turbilhão de
sensações dentro de mim.
Isso antes de começar outras sensações que me pegam de
surpresa.
CAPÍTULO 15

Não acredito quando me viro e vejo Cadu vindo em minha


direção. Ele está com as mãos nos bolsos de sua calça, veste uma
blusa vinho e uma jaqueta preta. E assim que se aproxima, já estica
suas mãos como se precisasse me tocar.
Ele parece nervoso, e por um segundo até penso que
aconteceu algo de errado. Mas ele simplesmente puxa minha cintura
com seus braços, cola seu corpo no meu, e a urgência com que faz
isso é surreal. Ele me beija como se precisasse disso para
sobreviver. E me pego querendo acalmá-lo. Mas não nego que os
braços dele me segurando, é a única coisa que me mantém de pé
nesse momento. Seu cheiro me embriaga. A pressão da sua boca
contra a minha me enlouquece. Seguro seu rosto em minhas mãos,
e ele parece relaxar com esse gesto.
Ele sorri ainda com os lábios colados aos meus, e então se
afasta devagar. Passa um braço por meu pescoço e me puxa para
que eu o abrace. Deito meu rosto em seu peito e abraço sua cintura.
— Pensei que não fosse vir. — digo baixo.
— Mudei de ideia. — ele passa sua mão por meu cabelo,
afastando uma mecha do meu rosto e o coloca atrás da minha
orelha. — Como você está?
— Estou bem, e você? Melhorou?
Ele só concorda comigo, e o pessoal chega perto de nós.
Posso notar Cadu ficar rígido com a presença deles.
— Não sabia que iria vir. Amanda disse que estaria
ocupado. — Edu diz amigavelmente, noto Cadu ainda mais tenso.
— É, mas o que eu estava fazendo pode esperar. Não quis
deixá-la vir sozinha quando pode ter muitos homens por aí olhando
para algo meu.
Caraca! Uau! Ele está se saindo muito bem como um noivo
ciumento. Quem diria, não?
— Concordo. Também fico de olho quando alguém fica
perto da Vanessa. — ela sorri para ele, tão vermelha de vergonha
que sinto dó por ela amar alguém tão baixo assim.
— Exatamente. Imagina, os caras verem ela sozinha com
dois casais, podem até começar a se achar no direito de elogiar e
tentar ganhar ponto. — Cadu diz e me abraça por trás.
Agora entendo! A mensagem!
— Ainda bem que eu sou grande e esperta o bastante para
me defender, né? — olho em sua direção e pisco para ele. Ele
parece relaxar.
— Bom, já escolheram o filme? — Rick pergunta.
— Estamos em uma divisão. — Mari diz. — Queremos ver
terror, mas a do contra quer ver filme de romance. — ela olha para
mim.
— Ah não, Mand! Romance não! — Edu ri e se aproxima
de mim para me tocar, mas assim que olha para Cadu, que aperta os
braços ao redor do meu corpo, se detêm com as mãos no ar.
— Tenho medo de terror. — me justifico para Cadu. — Sei
que te prometi, mas sabe como é.
— Sei. — ele abre um sorriso. — E romance não é bem
mais assustador do que algum espírito possuído querendo te pegar?
— Depende. — começo a rir e me viro de frente para ele e
abraço seu pescoço. Fico na ponta do pé, e beijo sua boca
levemente, e seu sorriso se alarga.
Tá ai, vou beijar Cadu mais vezes nessa mentira se a
recompensa for vê-lo sorrir.
— Acho até que eu poderia ver o filme de terror, mas com
uma condição. — digo.
— Ah é? — Cadu fica sério, me analisa com atenção. — E
qual é a condição?
— Só assisto se segurar a minha mão. — sussurro. — E
fechar os meus olhos quando a situação ficar feia. E ser meu escudo
de pescoço para que eu possa esconder meu rosto.
Ele sorri e o vejo olhar de relance para o Eduardo, antes de
me olhar e sorrir.
— Pode deixar. Eu vou te beijar tanto que não irá se
assustar. — ele se aproxima do meu pescoço o beija e mordisca meu
ouvido, sinto todo o arrepio percorrer meu corpo. — Vai ficar o filme
todo de olhos fechados no que depender de mim. — ele diz baixinho.
E isso me faz congelar no lugar. Não é algo que ele diz
para todos ouvirem.
— Vamos comprar os ingressos, então? — Mari diz e
vamos todos em direção a fila.
Cadu entrelaça seus dedos aos meus e vamos
caminhando atrás de todos. Aproveito e abro a minha bolsa e retiro
minha carteira lá de dentro. Até que Cadu a pega e para de andar.
— Que porra é essa? — ele me olha feio. — Eu sou seu
noivo. Eu pago.
— O quê? Não mesmo, não vou deixar você fazer isso.
— Gostosa...
— Os tempos mudaram, anjo. — sussurro e pego minha
carteira da sua mão. — Hoje quem paga para a gente serei eu. Se
quiser ajudar, pode comprar a pipoca e o refrigerante.
Ele só sorri e revira os olhos, mas volta a segurar minha
mão e vamos até a fila junto com os outros. Compro os ingressos e
depois acompanho Cadu para comprarmos pipoca, refrigerante e
chocolate.
Então vamos todos até a sala do cinema. Escolhemos um
lugar longe de Edu e Vanessa. E assim que nos sentamos, ele se
vira em minha direção e franze a testa.
— O que foi? — sussurro.
— O que ele queria conversar com você?
— Ah, bobeira. Só pediu perdão e disse que ainda é meu
amigo e...
— Lorota. — Cadu diz.
— Não Cadu, tá tudo bem. Ele só agiu como sempre. Quer
dizer, tirando a parte que ele me chamou de gostosa. Por que ele
faria isso? Você acha que de certa forma ele ainda me deseja?
— Gostosa, para de me contar detalhes, estou tentando
me controlar.
— Mas só tenho você por perto para contar essas coisas.
— começo a rir. — Acha que ele...
— Eu acho que ele é um filho da mãe, que fica te olhando
como se fosse a única mulher presente. Um canalha. Não sei o que
houve entre vocês, mas ele perdeu. Te perdeu, tá me ouvindo?
Ok, tem alguém muito no personagem hoje!
— Não vai acontecer de novo. Você está certo, ele não
merece minha companhia.
Ele parece se acalmar com isso. O filme começa e me
surpreendo quando ele segura a minha mão. E com o passar do
tempo me ajeito melhor na poltrona e deito meu rosto em seu ombro.
Cadu me faz sentir extremamente confortável. O filme é bem
assustador, mas sempre que quero me esconder ele só sorri e me
ajuda.
Mas depois de um tempo eu percebo que é uma ótima
desculpa para ficar perto dele, e mesmo quando o filme está
tranquilo, eu me aproximo e minto estar com medo.
E tudo está bem assim, quando de repente eu sinto os
lábios de Cadu tocar meu pescoço. Um arrepio percorre meu corpo,
e como Cadu está com a mão na minha coxa, ele parece notar o que
seu toque causa em mim, pois o sinto sorrir e me beija de novo. E de
novo.
Meu coração se acelera, sinto minha respiração falhar.
Cadu mordisca meu ouvido, leva sua mão até meus cabelos e
entrelaça seus dedos nos fios e me puxa para mais perto. Sinto sua
respiração rápida e quente contra a minha pele, me deixando
completamente louca. Isso não me parece em nada uma mentira.
Cadu mordisca meu lábio inferior devagar, fecho os olhos e
solto um gemido baixinho. Ele beija meu queixo, desce por minha
garganta e sinto sua língua passar por meu pescoço, provando
minha pele e me arqueio com a sensação.
Sou tomada por desejos, pensamentos. Pelos olhos de
Cadu, com as pupilas dilatadas, e os braços me puxando para mais
perto.
O que é isso que está acontecendo? Nos conhecemos a
pouco tempo para essas sensações existirem. Não podemos nos
beijar assim tão entregues. E estamos quase...
— Você disse que isso não está no acordo. — sussurro
tentando fazer com que ele pare antes que eu me enlouqueça.
— Que se foda nosso acordo. — ele diz.
E então, finalmente, sou tomada por sua boca.
Desesperado, faminto em busca de tudo que posso lhe dar.
E me entrego por inteira. Quando sua língua invade minha boca, e se
enrosca contra a minha, em ritmos selvagens, ele vai tão fundo e tão
certo de cada movimento que é como se soubesse o jeito certo de
me beijar. Puxo Cadu pela nuca para mais perto, e subo minha outra
mão vagarosamente por seu abdômen por baixo de sua blusa. Cadu
solta um gemido abafado, e sorrio por ser eu quem o provocou
assim.
Sinto sua mão descer por meu pescoço e ele segura minha
cintura, e sobe até sua mão estar perto do meu seio. E assim que
deixo minha mão cair no botão de sua calça ele separa nosso beijo e
encosta nossas testas.
— Mand... — ele ofega.
Posso jurar que estou vendo estrelas. Óbvio que não ia
fazer nada demais, estamos em um lugar púbico, mas isso não
significa que eu tivesse vontade.
E do nada, as luzes do cinema se acendem. O filme
acabou e nem vi. Me solto de Cadu e tento voltar a raciocinar. De
repente parece que tudo muda, tudo se vai e me lembro que isso é
só um faz de conta. Todos se levantam para irmos embora, e Cadu
segura a minha mão.
— Odiei esse filme. — Vanessa reclama andando na frente.
— Eu nem vi filme algum. — Mari diz e lança um sorriso
cúmplice para Rick.
— É o jeito para não ficar acordado a noite toda por causa
do seu medo. — ele fala.
— Idiota. — ela resmunga. — A Mand e o Cadu também
não viram muita coisa.
Sinto o constrangimento me atingir.
Meu Deus! Eu e Cadu acabamos de nos beijar. Não foi por
causa da aposta, não foi falso. Foi duas pessoas totalmente
entregues aos desejos que estamos sentindo. E ouvir Mari falar só
torna tudo ainda mais real.
Agora mesmo que Santo Antônio dos bofes impossíveis vai
ferrar com a minha vida!
Eu acabei de beijar de verdade... O meu noivo de mentira!
CAPÍTULO 16
— Vou só passar em casa rapidinho, aí depois levo vocês.
— Edu fala para mim e Vanessa, e sinto os braços de Cadu
circularem minha cintura.
— Não precisa, ela vai comigo. — Cadu diz. — Mas
agradecemos.
Sorrio sem graça e então aceno para Mari e deixo Cadu
me levar até seu carro no estacionamento do shopping. E assim que
entramos, coloco o cinto de segurança, e o observo.
Cadu não fala nada, apenas afivela seu cinto, ajeita o
retrovisor e então dá a partida no carro. O silêncio é quebrado pelos
barulhos que ele faz ao dirigir, e sinto meu coração bater forte dentro
do peito. É tanta coisa que se passa em mim, que não sei o que
dizer, ou como explicar.
Nos beijamos! Ai meu Deus!
Nos beijamos de verdade.
Tudo bem que sempre gostamos de nos provocar e ele
mexe comigo quando se insinua para mim, mas eu sempre disse
para mim mesma que é tudo coisa da minha cabeça. Só química. Ele
é um cara incrível, lindo pra cacete, então é claro que é normal sentir
tanta atração assim.
Ele liga o rádio e está tocando uma música da Marília
Mendonça. E eu começo a cantarolar baixinho para tentar me
acalmar, mas a letra parece fazer o clima ficar ainda mais propício.
A culpa é sua por ter esse sorriso?
Ou é culpa minha eu me apaixonar por ele?
Cadu começa a sorrir baixinho, faz negação com a cabeça,
e acaricia meu joelho, e eu estranho essa atitude, mas sorrio mesmo
assim. O fato de nos beijarmos pode ser porque estávamos perto de
alguém que poderia acabar com meu plano. Mas ao mesmo tempo.
Ele mesmo disse para o nosso acordo de “Sem beijos, sem sexo,
sem nos aproximarmos” ir se foder.
Então aquilo não foi a mentira, foi apenas nós dois. Apenas
essa atração absurda que rola e nos envolve.
Assim que ele para o carro de frente a minha casa fico sem
saber o que dizer. Ficamos em silêncio por um tempo, e eu estou
prestes a dizer a ele que aquele beijo não significou nada, que tudo
bem romper o acordo...
— Por que não vai lá para casa? — ele pergunta e eu o
olho surpresa. — Sei que está sozinha aí, mas amanhã te levo para
o trabalho se quiser. Só pega algumas roupas.
— Não sei não, Cadu...
— Não sou uma companhia tão horrível assim... E acho
que a gente precisa de um tempo para poder raciocinar e conversar
sobre o que está acontecendo.
— Não tem nada acontecendo. — murmuro nervosa.
— Fale por você. — ele diz, se inclina na minha direção e
abre a minha porta. — Vai lá, deixa de ser marrenta, gostosa! Só
aceita.
O olho por um momento e pondero sobre o que devo fazer.
Fugir não adianta nada. Realmente precisamos conversar.
— Ok. — digo e ele parece que volta a respirar quando
aceito. — Não demoro, só vou pegar umas roupas, tá?
— Temos a noite toda. — ele sussurra e pisca para mim.
Se encosta no bando e me obrigo a sair do carro respirando
normalmente.
Abro a casa e subo correndo até meu quarto. Pego meu
celular e ligo para a Mari, e então começo a procurar as roupas
enquanto ela não atende. Pego uma saia preta lápis, e uma blusa
branca, e um casaco pink. Pego um salto alto preto, e coloco dentro
da minha bolsa.
— Oi miga. — Mari atende e paro o que estou fazendo. —
Já chegou em casa?
— Mari. Preciso conversar com você. — me sento na cama
e me preparo psicologicamente para o que irei dizer.
— Pode falar. Aconteceu alguma coisa?
— Não quero que fique chateada comigo, ou pense
merda... Só, me escuta e tenta me entender por um momento, ok?
— Hum... Tá bem... Acho.
— Eu e o Cadu não estamos noivos de verdade! — solto, e
por um momento tiro um certo peso do meu coração. — Sei que é
muita coisa, vou jogar uma bomba na sua cabeça mas não tem
tempo para te preparar. Eu sei que é uma idiotice essa história, mas
sabe... Eu só queria que todos parassem de ficar me julgando ou
imaginando coisas ao meu respeito. E aí aquele dia, foi tanta
pressão, e a Fernanda chegou falando do Cadu e...
— Ei, calma, respira. — Mari me corta. — Eu já sabia
Mand.
O quê?! Ela já sabia? Ah meu Deus, se ela sabe será que
os outros também sabem?
— Como assim você já sabia?
Ouço seu suspiro e meu coração se acelera.
— Sua surpresa me deixa triste. — ela diz. — Acha mesmo
que iria conseguir me enganar? Porra, você é a minha melhor amiga!
Se tivesse ficando, ou ainda mais ficar noiva do filho do seu chefe ou
de qualquer outro cara já teria me contado a muito tempo.
Solto uma risada e coloco as mãos no rosto.
— Eu sou tão idiota. — murmuro.
— Ah, pode apostar que é! — ela diz e começa a rir. —
Também pensei a mesma coisa quando a Fernanda chegou falando.
Sei lá, compartilhamos pensamentos. Achei que se eu acreditasse os
outros iam acreditar também.
Meu coração se aperta com a revelação. Mari sempre está
lá para mim me protegendo.
— Obrigada, Mari.
— Não por isso. — ela fala. — Mas aqui, cá entre nós, que
pedaço de mal caminho foi arrumar, hein? E hoje lá no cinema? O
acordo mudou e tá pegando ele sério?
— Não! — me levanto e separo alguns ítens de higiene que
irei levar. Jogo minha bolsinha de maquiagem dentro da bolsa. —
Por isso te liguei. Sei lá, Cadu é meio diferente do que eu achei. E
desde que esse acordo começou, eu me sinto meio perdida, sabe?
Eu e ele gostamos de brincar e nos provocar mas, sei lá... É que...
— Você quer dar uns pegas nele! — Mari fala.
— E eu me acho ridícula por isso. — admito. — Só vai
deixar tudo ainda mais estranho do que já está. Fizemos um acordo,
sem beijos, sem sexo, sem qualquer tipo de interação, mas hoje ele
mandou, literalmente, essa regra se fuder!
Mari solta uma risada alta e afasto o telefone do ouvido.
— Você tá ferrada. — ela diz.
— Te liguei porque ele me trouxe aqui para casa, mas me
chamou para ir ficar lá na casa dele. Estou separando algumas
roupas e juro que estou neurótica.
Fica um silêncio do outro lado da linha.
— Mari?
— Vou fingir que não sei o que vai rolar hoje. — ela fala. —
Amiga, sei lá cara... Eu te conheço. Sei que isso é um acordo entre
vocês, mas se está sentindo algo, então...
— Mas não é isso. É só... Só queria não me envolver de
nenhuma forma, sabe?
— Já se envolveu. Já tá ferrada. Então, ou você manda ele
ir embora e seja sincera. Diz que está confusa e prefere se afastar
disso. Ou vai para a casa dele, sede ao desejo que está sentindo. É
só sexo!
Reviro os olhos e coloco a bolsa nos ombros.
— Eu sei que é idiota. E sei que é um acordo. Mas... Eu
sou uma mulher, né. Não tô morta para não reparar ou sentir algo por
ele. Puta que pariu, onde foi que ele se escondeu?
Mari gargalha e tranco a casa.
— Mari preciso desligar.
— Vai ficar ou vai ir? — ela pergunta.
— Bom... Que se foda isso tudo. — digo e começamos a
rir. — Preciso desligar.
— Ok. Mas não se preocupe, se rolar algo entre vocês,
rolou. Acho que é normal sentir algo por aquele homem. E tá tudo
bem também. É só seguir seu coração.
— Obrigada, Mari. Te amo. — digo e entro no carro.
— Também amo você. — ela fala. — E não esqueça a
camisinha! — ela grita e desligo o telefone rápido e rezo a Deus para
Cadu não ter ouvido.

O som do trovão ressoa no céu. Meu coração se aperta, e


eu tento me lembrar de que está tudo bem. Eu estou bem. Não
posso deixar meu medo me controlar. Os relâmpagos acendem no
céu, clareiam a janela do quarto de hóspedes da casa de Cadu.
Penso em ir até o quarto dele e me esconder, mas estou
travada no lugar. Sinto o medo me invadir, e cubro a cabeça com o
edredom quando um trovão ecoa por toda a casa, balança o vidro da
janela.
Que droga!
Me estico e pego meu celular em cima da cômoda ao lado
da cama, e ligo para o celular de Cadu. Chama um pouco e vejo que
ele desliga a ligação. Franzo a testa e disco seu número de novo,
mas quando começa a chamar, ouço o som de seu celular por perto.
Ele desliga novamente, e então bate na porta do meu quarto e a abre
devagar.
— Mand? — ele coloca a cabeça para dentro do quarto e
olha na minha direção. — Que foi?
Me sento na cama e faço sinal com as mãos o chamando
para perto de mim.
— Vem cá, Cadu. — digo.
Ele franze a testa, fecha a porta atrás de si, se aproxima da
cama e então puxa o edredom para cima e senta ao meu lado
cobrindo seu corpo.
— O que foi? Por que me ligou?
— Minha cama tá querendo saber se você está a fim de
dormir com a gente.
Cadu ergue as sobrancelhas e um sorriso de lado
provocante surge em seus lábios.
— Desculpa. — sussurro sorrindo. — Pode parecer coisa
de criança, mas eu realmente morro de medo de trovões e
relâmpagos.
Cadu abre um sorriso e então fecha a boca como se
tentasse evitar algum deboche. Ele deita o rosto no travesseiro e se
vira ficando de frente para mim. Mais um relâmpago clareia a janela
e fecho os olhos e me encolho na cama.
— Só não queria ficar sozinha. Tudo bem para você?
Ele concorda e então se levanta, vai até a janela e fecha as
cortinas. E depois volta até a cama e se deita novamente. Se
acomoda melhor nos travesseiros e abre os braços.
— Vem cá. — sussurra.
Me arrasto devagar até ele, e me deito em seu peito. Cadu
passa seu braço ao redor do meu corpo, e ter ele tão perto me deixa
mais calma. Pouso minha mão em cima de seu abdômen, e fecho os
olhos aproveitando a sensação do calor do seu corpo e em como
meu coração aos poucos bate mais devagar, como se encontrasse
um escudo de proteção.
Os trovões lá fora voltam a preencher o silêncio do quarto.
E ao mesmo tempo é abafado quando me concentro na respiração
de Cadu. Em como seu peito sobe e desce lentamente debaixo da
minha cabeça deitada em cima de seu coração. Me concentro nas
batidas do sangue sendo bombeado por suas veias. E isso continua
me acalmando.
— Já que me acordou, e não vai conseguir dormir tão cedo
até essa chuva passar, o que acha de conversarmos para passar o
tempo?
Ergo meu rosto em sua direção, e sei que foi uma péssima
ideia quando fico tão perto da sua boca, que sinto sua respiração em
meu rosto.
— O que quer conversar? — pergunto.
— Talvez o fato que desde que chegamos em casa você
parece fugir de mim. — ele diz.
Volto a me deitar em seu peito porque olhar em seus olhos
me intimida.
— Talvez eu esteja fugindo pelo que aconteceu no cinema,
e não sei se quero falar disso agora. — resolvo ser sincera.
Sinto a mão de Cadu subir por minha cintura, e então ele
segura meu queixo e me faz olhar para ele. Ele parece tão confuso e
perdido tanto quanto eu.
Tão sexy e se martiriza pelo que quer, como eu.
— Se não falar, isso vai ficar te sufocando. Então coloca
para fora. — ele diz. — Sem anestesia, que tal?
Sorrio e reviro os olhos. Por um momento me esqueço da
tempestade lá fora, porque parece que tem outra acontecendo bem
dentro de mim.
— Ok. — digo baixinho.
— Ok? — Cadu ergue a sobrancelha surpreso.
Acho que ele não esperava que eu fosse dizer tão
abertamente assim, nem eu. Mas já que estou aqui, então, que se
foda a anestesia, vamos jogar a verdade na cara de uma vez.
— A verdade é que eu estou confusa. — digo e mordo
meus lábios, Cadu acompanha cada movimento meu, atento. — Sei
que isso é só um faz de conta. Mas... Argh! Cadu, você beija bem
pra caralho!
Ele solta uma gargalhada e eu também. E volto a deitar em
seu peito. Acaricio seu peito devagar.
— E você é implicante, ama me provocar só me deixar
irritada, e sério. Você me deixa puta da vida! E eu sei que a gente fez
esse acordo restringindo algumas coisas, e sei lá... Parece que estou
perdendo o controle, sabe?
Ele para de rir. Sei disso porque seu peito não se sacode
mais. Sinto seus dedos se entrelaçarem em meus cabelos, e fecho
os olhos para aproveitar a sensação. E me obrigo a não fantasiar ele
me puxando e tomando posse da minha boca.
— Então quer dizer que está se sentindo atraída por mim?
— ele questiona.
Confirmo com a cabeça e sinto seus dedos se tensionarem
em meus cabelos. Meu coração parece que vai parar a qualquer
instante.
— De qualquer forma, isso não vai acontecer. Temos
regras, lembra? — digo baixinho e começo novamente a acariciar
seu peito.
— Lá no cinema eu disse que essas regras já não
importavam mais, lembra?
Paro de me mover e inspiro o ar tentando me controlar.
Confirmo novamente balançando a cabeça, ainda impossibilitada de
olhar em seus olhos.
— E já que estamos falando a verdade... — ele começa. —
Aquele dia que te provoquei descendo o zíper do seu vestido para
fazer massagem, eu queria fazer era outra coisa.
Sinto meu corpo começar a tremer levemente e engulo em
seco.
— Não quis te assustar e então inventei uma desculpa para
você não ver o estado humilhante que me deixou.
Solto minha respiração e olho em seus olhos e sorrio. Cadu
revira os olhos e continua me fazendo cafuné.
— Não precisava ter se escondido de mim. — digo e então
mordo meus lábios e me sento devagar na cama e fico de frente para
ele. Cadu coloca sua mão por cima da minha coxa e ergue os olhos
devagar por todo meu corpo até chegar ao meu rosto, e não posso
negar no quanto esse olhar me incendeia. — Para com isso!
— Com o quê? — ele questiona sorrindo e levanta uma
sobrancelha.
— De me comer com os olhos, Cadu.
— Bom, só sobra os olhos, não posso fazer de outro jeito.
— ele diz e pisca para mim.
Solto uma risada e bato em seu ombro. Me deito
novamente ao seu lado, e o olho.
— Eu acho que tudo bem se sentir atraído por alguém. —
digo. — Olha para mim, eu sou gostosa demais, é impossível não
sentir atração por mim.
Cadu solta uma gargalhada, e se aproxima, abraça minha
cintura e me puxa para mais perto.
— Ah, é assim? — ele sussurra. — Eu também acho que
tudo bem sentir isso, desde que a gente não se deixe envolver.
Seria...
— Uma droga? — o completo.
— Complicado. — ele fala e sobe sua mão até tocar meu
rosto. — Eu sou complicado. Você merece mais que isso.
Sorrio e reviro os olhos.
— Não vamos nos envolver, estamos em um acordo. —
digo.
— Um acordo pode ter cláusulas excluídas. — ele diz.
— Com certeza. — suspiro e olho para sua boca carnuda.
Cadu se aproxima e beija minha testa. E então desce e
beija minha bochecha, segue trilhando beijos até chegar em meu
pescoço. Arrepio ao sentir seus lábios tocarem um ponto sensível.
Cadu lambe a pele do meu pescoço até perto da minha orelha, e ele
a mordisca lentamente, causa um arrepio forte por todo meu corpo.
Estou tão entregue ao momento, que parece uma tortura.
Cadu me deita na cama, e vem por cima de mim. Separa minhas
pernas e se coloca entre elas. Ele se aproxima da minha boca, seus
lábios raspam os meus lentamente, de um lado para o outro. Uma
provocação que me deixa louca.
— Que porra tá fazendo comigo, gostosa? — ele sussurra
de olhos fechados, nossos lábios se tocando levemente.
Meu coração bate tão rápido que não sou capaz de
responder. Porque não sei o que ele está fazendo comigo também,
ele mudou tudo dentro de mim, e não sei explicar o que está
acontecendo. Só sei que não quero parar.
Cadu sorri, e então se aproxima e mordisca meu lábio
inferior, seus dentes fazem uma pressão gostosa e sexy e ele suga
meu lábio me fazendo abrir para o beijo. Assim que sua língua se
encontra com a minha, posso jurar que não quero que esse
momento termine nunca. Seus dedos entrelaçam em meus cabelos e
ditam meus movimentos. Aprofunda o beijo e geme dentro da minha
boca.
Passo minhas mãos por sua cintura, e o puxo para mais
perto. Cadu solta seu peso, pressionando seu quadril com força
contra o meu, iniciando outro tipo de tortura entre nossos corpos, um
começa a procurar o prazer no outro.
Cadu solta nossas bocas em um estalo e passa um braço
por debaixo de mim e morde meu pescoço. Me faz arquear e querer
ele ainda mais perto.
— Essa sua boca e seu corpo valeram o preço de perder o
sossego que eu tinha antes de você aparecer na minha vida. — ele
sussurra e beija minha garganta.
Sorrio e solto um suspiro. Entrelaço minhas mãos em seus
cabelos e Cadu me beija de um ombro ao outro, sua mão abaixa
devagar a alcinha da minha camisola e ele deposita mais beijos ali, e
acrescenta pequenas mordidas.
Aperto os dedos em seus cabelos quando ele abaixa minha
camisola e suga meu seio direito com sua boca, solto um gemido e
Cadu se concentra em continuar me deixando louca e fora do ar.
Sua mão desce por minha cintura e ele segura a barra da
minha camisola e a puxa para cima, estico minhas mãos e deixo que
ele a tire de mim. Cadu a joga em qualquer lugar do quarto, e leva
sua mão para trás, puxa sua blusa e a retira do seu corpo. Deixando
seus músculos e sua pele toda a minha total apreciação.
Ele sorri, e então volta para perto de mim, entrelaço minhas
pernas ao redor do seu quadril e ele beija minha boca enquanto eu
abraço seu pescoço e o puxo para mais perto. Parece que o tempo
para de passar enquanto sinto sua boca contra a mim, sua língua me
provoca e suas mãos apertam cada parte do meu corpo.
Desço minhas mãos até sua calça de moletom, e a
empurro para baixo. Cadu não corta nosso beijo, apenas me ajuda a
se livrar dela, e se afasta o suficiente para jogar a calça no chão e
então ele se levanta da cama.
— Espera um pouco. — ele diz sem ar.
Sai do quarto e sinto minha coação bater com tanta força
que tenho medo de sofrer um ataque cardíaco.
Cadu volta para o quarto com três embalagens de
preservativo, se aproxima de mim e volta a me beijar, preenchendo o
frio do quarto com o calor do seu corpo. Suas mãos descem até
chegar no elástico da minha calcinha e ele a desce por minhas
pernas e para um pouco para me olhar. Não sinto vergonha ou fico
sem jeito por estarmos fazendo isso na situação que nos
encontramos.
Pelo contrário, nunca me senti tão viva, tão sexy, quanto
agora sendo devorada por seus olhos.
Ele sorri e pisca para mim e então se abaixa devagar e
mordisca minha barriga, solto um gemido e o puxo para perto de mim
novamente e beijo sua boca. Cadu sorri em meio ao beijo e aperta
seu quadril contra o meu, seu membro ereto faz a pressão que
preciso e ele começa a se esfregar devagar contra mim, aperto
minhas unhas em suas costas e solto um gemido que é silenciado
por sua boca, que mordisca a minha e aprofunda o beijo, me levando
a um outro mundo além do nosso.
Cadu se afasta e então se abaixa e desce sua cueca preta.
Ele é tão lindo e está com tanto tesão que perco o ar. Cadu estica
sua mão e pega uma embalagem do preservativo e a mordisca,
rasga devagar, e então ele olha para mim, se aproxima devagar, e
sua mão toca meu rosto, seu polegar faz círculos em minha
bochecha.
— Tem certeza? — ele pergunta.
Só confirmo com a cabeça enquanto o vejo colocar a
embalagem por todo seu comprimento, e então ele se deita
novamente por cima de mim.
— Não estou te ouvindo. — ele fala e encosta nossos
narizes. — Fala mais perto da minha boca, fala.
Sorrio e seguro seu rosto e o beijo, mordisco seu lábio
inferior até que ele geme e então o solto raspando meus dentes
devagar.
— Acaba com essa tortura. — sussurro sem fôlego.
Ele só sorri. Esconde o rosto em meu pescoço e deixa o
corpo cair sobre o meu, seus cotovelos um de cada lado da minha
cabeça. Nem sei onde começa meu corpo e onde termina o dele.
— Me coloca para dentro. — ele sussurra em meu ouvido.
Puta que pariu! Ele quer me matar, só pode.
Coloco minha mão entre nossos corpos e o seguro com
força, Cadu solta um gemido e sinto seus dedos apertarem meu
corpo quando provoco nós dois o deslizando lentamente por cima do
meu clitóris.
— Porra, Mand. — ele rosna, seus dedos entrelaçam em
meus cabelos e ele me aperta ainda mais.
E então, cedo a tentação e o coloco em minha entrada,
Cadu nem precisa da deixa para se jogar para frente me
preenchendo de uma vez.
Solto um grito com a sensação de estar totalmente
completa, cheia dele, conectada de uma forma que me assusta. Isso
não parece sexo. Vai além. Não é só pelo prazer, meu corpo parece
precisar do dele, de só senti-lo.
— Você é perfeita. — ele sussurra em meu ouvido, e em
seguida começa a meter com força. — Cacete! Tão apertada.
Aperto suas costas com força e nem consigo me manter de
olhos abertos. É uma sensação tão diferente para mim, tão intensa.
Nunca foi assim com ninguém antes. Cadu aumenta o ritmo, ele
parece insaciável.
Coloca sua mão entre nossos corpos e me toca bem onde
preciso. Solto um gemido, me inclino e mordo seu ombro. E assim
que tudo se explode ao meu redor, solto um grito quando sou levada
a um mundo paralelo onde só existe nós dois.
O clímax é tão forte e tão intenso, Cadu chega em seu
ápice logo após o meu. Seu corpo fica tenso, e o sinto tremer, e
então ele desacelera o ritmo até parar, e sai devagar de dentro de
mim, se joga ao meu lado.
Assim que consigo voltar ao meu estado normal, sinto
Cadu puxar o edredom até nos cobrir. Me viro em sua direção, ele
sorri e me puxa pela cintura para mais perto. Beija meu lábio com
força e solto um suspiro.
— Com certeza que se foda as cláusulas desse nosso
acordo. — ele diz e eu sorrio. — Porra, gostosa. O que foi isso que
acabou de acontecer?
— Acho que não é a primeira vez que noivos transam. —
digo e Cadu solta uma gargalhada.
— É. Mas na nossa situação é meio inédito. — ele fala, tira
o cabelo do meu rosto e coloca atrás do meu ombro. — Sabe o que
eu acho?
— Hum? — murmuro sentindo ele beijar meu pescoço e ir
descendo devagar.
— Que também não tem problema em quebrar essas
cláusulas mais vezes.
CAPÍTULO 17

Me enrolo na toalha e me aproximo do espelho do


banheiro. Caramba, a imagem de quem fez sexo. Meus cabelos
estão parecendo de bruxa, arrepiados. Pego um pente em cima da
bancada. Sorrio e reviro os olhos ao me lembrar da noite passada.
Santo Antônio não vai me dar nenhuma chance depois
disso.
Eu sei que pelo que estou sentindo, uma hora ou outra isso
iria acabar acontecendo, só não pensei que iria ser tão fantástico, e
que eu fosse sentir tantas coisas assim. Ajeito meus cabelos, pego
minha bolsinha de maquiagem e passo meu protetor solar, um pouco
de base, pó. Corrijo minhas sobrancelhas e passo muita máscara de
cílios. Passo um batom rosa seco, e então guardo tudo.
Daqui do banheiro já sinto o cheiro do café que Cadu está
preparando. Encarar ele hoje cedo não foi tão constrangedor quanto
achei que seria. Por um lado, eu só queria abraçar ele e que nenhum
de nós precisasse levantar daquela cama.
Solto um suspiro, saio do banheiro e vou em direção à
cozinha. E suspiro quando o encontro, ele está de costas, sem
camisa, usa somente uma bermuda preta, está concentrado
misturando os ovos mexidos na panela, no fogo baixo. Me aproximo
de Cadu, e abraço sua cintura por trás depositando um beijo em
suas costas.
— Bom dia de novo! Agora sim estou de pé. — digo.
— Já era hora. — ele diz. — Bom, precisamos conversar
rapidinho antes que surte.
Ele ri, desliga o fogo e se vira segurando a colher na mão.
Mas assim que me olha, arregala os olhos e fica em choque.
— Que foi? — sussurro.
— Você tá de toalha! — ele diz incrédulo e seus olhos
vagam por meu corpo.
— E qual o problema em estar de toalha?
Uma certa mágoa atinge meu coração. Sou uma visão tão
ruim assim? Depois de ontem achei que não tivesse problema, não é
como se estivesse nua por ai. Cadu entende rapidamente o que eu
estou pensando e segura meu rosto com as mãos. Um sorriso largo
toma conta dos seus lábios.
— Não tem problema nenhum, gostosa. — ele passa seus
braços por minha cintura e me vira, pressiona o meu corpo contra o
seu na bancada da cozinha, aproxima seu nariz do meu pescoço, e
sinto ele inspirar meu cheiro. — Eu adoro te ver assim, se quer
saber, mas... É que...
Na hora que ele vai falar ouço uma voz super conhecida
vindo da sala. E passos em nossa direção.
— Você esqueceu de colocar açúcar nesse café!
Fábio! Oh, céus! Puta merda!
Fábio, meu colega/chefe/vítima de mais uma mentira, está
aqui e eu de toalha na cozinha. O que ele vai pensar de mim?
Por puro instinto tiro as mãos de Cadu do meu rosto,
empurro ele para longe de mim, me agacho no chão, e me escondo
debaixo da bancada da cozinha. Cadu começa a rir e eu belisco sua
perna, e faço sinal de silêncio.
Cala a boca, Cadu! Ele vai desconfiar!
— Isso não tem graça.— Fábio diz. — Está amargo pra
cacete. Onde está o açúcar?
Fábio vem caminhando e Cadu se inclina na bancada
rapidamente o impedindo de se aproximar. Me encolho ainda mais
contra a parede da bancada.
— Deixa que eu pego para você, pai. — ele diz e eu fico
aliviada. Pelo menos ele não irá me ver nessa situação.
Cadu abre o armário e se estica para pegar o pote de
açúcar, ver ele sem camisa assim perto de mim faz com que meu
coração se derreta. Ele pega o pote, vem até perto de mim e estende
ao pai.
— Cadê a Mand? Tá dormindo até agora? — Fábio
pergunta.
Como é que é? Ele sabe que eu estou aqui?
— Tá sim. — Cadu reprime um sorriso.
Abro a boca em choque e sinto o ar faltar em meus
pulmões.
— E por que você diz isso rindo?
Dou um murro no pé de Cadu, para cair a ficha de que ele
está dando na cara demais. E ao mesmo tempo, quero gritar
perguntando que merda está acontecendo aqui?!
— É que... Ela ficou muito cansada ontem à noite. Quase
não dormiu. — ele diz.
— Por que? — Fábio parece preocupado.
Cadu limpa a garganta e dá de ombros.
— Não tenho que te dar satisfação do que faço com a
minha namorada, pai! — Cadu ri.
O QUÊ?!
Tudo fica preto ao meu redor, parece que vou desmaiar.
Sei que combinamos isso. Foi nosso acordo. Ele me ajuda com o
lance do noivado até o casamento da Mari e eu me mandar da
cidade, e eu o ajudaria com o pai.
Mas não pensei que seria comigo de toalha, escondida do
meu chefe atrás de uma bancada. Puta que pariu!
Fábio limpa a garganta claramente constrangido e eu fuzilo
Cadu com os olhos.
Pronto e agora o que meu chefe vai pensar de mim?
Ouço os passos de Fábio se afastar e Cadu começa a rir.
Seu olhar se encontra com o meu e vejo ele morder os lábios ao me
observar, seus olhos queimam de... Desejo? O quê? Ele não pode
estar pensando nisso bem nessa situação!
— Por que tá me olhando desse jeito? — sussurro.
— Que jeito? — sua voz sai mais rouca.
— Como se quisesse me devorar.
Ele ri ainda mais.
— Gostosa, desculpa, mas é que eu achei muito sexy você
se escondendo do meu pai como uma adolescente! E ajudaria se
prendesse direito a toalha no seu corpo. — ele pisca para mim.
Olho pra baixo e vejo que meu colo está todo descoberto, e
a prendo novamente em meu corpo.
Droga! Ainda bem que não foi o Fábio que veio pegar o
açúcar se não, já era!
— Safado! Pervertido! — resmungo e Cadu estica a mão
para me ajudar a me levantar. — Cadu, que merda foi essa de contar
para seu pai bem agora?
— Faz parte do nosso acordo. — ele me lembra. — Ele
chegou hoje logo cedo, fui pego de surpresa também. Ele tem
costume de ficar lá no quarto de hóspedes e bem... Você estava
apagada lá na cama. Não queria que ele pensasse que eu fico com
qualquer mulher, então meio que decidi revelar isso logo.
Coloco a mão no rosto e tento respirar normalmente.
— O que ele vai pensar de mim agora? Que vim trabalhar
ou ficar com o filho?
— Ei, tá tudo bem. — ele se aproxima de mim devagar. —
Se quer mesmo saber, ele ficou feliz. Disse que finalmente alguém
pode colocar juízo na minha cabeça.
Franzo a testa e por um momento sinto pena de Cadu.
Fábio não aceita o filho que ele é, quer que ele seja uma versão dele
mesmo. E Cadu tem seus próprios sonhos para seguir.
— Tá. — digo nervosa. — Só iria gostar de me preparar
antes. E para com esse papo de juízo. Você já é motivo suficiente
para ele se orgulhar.
Cadu sorri e parece ficar sem jeito com meu elogio. Suas
mãos deslizam por minha cintura e ele me puxa para mais perto.
— Sobre ontem...
— Depois de hoje, acho melhor a gente se controlar. —
digo. — Isso é um acordo, temos muito em jogo, principalmente meu
emprego. Estamos brincando com meu chefe, Cadu. Não tinha
entendido a gravidade disso até gora.
Ele concorda e solta um suspiro, e então coloca um dedo
em minha boca me silenciando.
— Sobre ontem... — ele volta a falar. — Eu gostei muito.
Sorrio e mordo meus lábios tentando controlar a vontade
de beijá-lo. E Cadu toca meu lábio com seu polegar, encarando
minha boca com desejo.
— Eu também. — admito baixinho. — Mas, também é sério
quando falo que não pode se repetir.
Ele ergue uma sobrancelha como se me desafiasse.
— Tem certeza? — ele pergunta e se inclina um pouco,
mordisca minha orelha e sorri, e isso arrepia minha pele inteira. Ele
vai até minha boca e morde meu lábio inferior e o suga para dentro
da sua boca, sua lingua entra decidida e acaricia a minha.
Mas por mais derretida pelo beijo de Cadu que eu estou,
não posso continuar assim, não quando...
— Seu pai tá na sala! — digo separando minha boca da
dele, e quando vou me afastar Cadu me segura e esconde o rosto
em meu pescoço. — Para, Cadu! A gente conversa melhor mais
tarde. Eu vou me trocar!
— Quer ajuda? — ergue a cabeça do meu pescoço.
Ah, essa é uma ótima sugestão, ele me ajudar a... Não! É
horrível, claro que não!
O empurro para longe de mim e o fuzilo com os olhos.
— Não, Cadu! Já ajudou muito dizendo que ficamos
fazendo sabe-se lá o quê o Fábio tá pensando, a noite toda!
Dou as costas e Cadu cai na gargalhada.
Ah, que situação fui me meter!

— Estou impressionado com as mudanças que você fez


em tão pouco tempo aqui, Amanda. — Fábio diz assim que entramos
na minha sala e eu fecho a porta.
Foi um pouco constrangedor encará-lo hoje de manhã.
Ainda mais quando ele começou a perguntar do meu “namoro” com o
Cadu. Quando sentimos algo diferente? Quando decidimos arriscar?
Mas até que eu e Cadu enganamos bem nessa parte.
Chegamos no jornal juntos, e fiz questão de mostrar a Fábio todas as
mudanças.
Posso ser a namorada falsa do filho dele, mas não quero
que ele pense que eu estou aqui pelos motivos errados e sim pelos
meus próprios méritos e esforços.
— Ela é muito dedicada e apaixonada pelo que faz. —
Cadu comenta e senta em uma das cadeiras.
— Sei disso. Não é a toa que quis que viesse para cá. —
Fábio diz. — Acho que isso está sendo melhor do que pensei. Além
de fazer as melhorias que a sede do jornal precisa e antecipar todos
os prazos... Não poderia imaginar uma namorada melhor para o meu
filho.
Sinto meu rosto corar e Cadu morde os lábios e depois
sorri.
— Ele precisa de alguém assim. Centrada, com objetivos
concretos e em constante crescimento profissional.
Cadu abaixa o rosto e sei o quanto essas palavras o
machucam. Fábio senta em uma das cadeiras ao lado dele e começa
a mexer no celular.
Qual o problema do Fábio? Qual o sentido tratar o filho
dessa maneira? Será que ele não percebe que Cadu não precisa de
um chefe que dita regras? Mas sim de um pai?
— Acho que você está subestimando o seu filho, Fábio. —
digo e ele ergue os olhos do celular para mim. — Sou eu que não
poderia ter um namorado melhor para mim. — olho para Cadu e vejo
que ele franze a testa e ergue os olhos para me observar. — Tudo
bem que o Cadu tem um pouco de problemas com prazos, mas ele
só faz isso porque se divide em dois para fazer o que essa empresa
precisa, e lidar com seus projetos pessoais. Seu filho me motiva, me
dá ideias, e está sempre lá quando preciso. Então, nessa história,
acho que também tirei a sorte grande em tê-lo por perto.
Fábio sorri meio sem jeito e só balança a cabeça
concordando. E depois volta a mexer no celular. Cadu continua com
os olhos intactos em mim.
— Bom, que bom que está feliz com esse relacionamento.
— Fábio diz e se levanta. — Espero que consigam separar as coisas
também. Que isso não interfira no seu trabalho.
— Isso nunca. Estou na sua empresa a cinco anos Fábio,
não sou do tipo que mistura o lado emocional com o profissional.
Ele concorda e pisca para mim.
— Bom, vou deixá-los trabalhar. Tenho uma reunião com
uns novos fornecedores, pedi para a Júlia ajeitar a sala de reunião
para mim, e eles acabaram de chegar. Amanda, se tudo der certo eu
comunico você e o Arthur sobre algumas mudanças, e depois a
gente conversa melhor, tudo bem?
— Ok, Fábio. Espero que dê tudo certo.
Ele acena para nós, e sai fechando a porta atrás de si.
Solto um suspiro e me sento na minha cadeira. Não acredito que
sobrevivi ao meu chefe bancando o sogro.
— Na boa, se reclamar mais uma vez sobre ser meu noivo
de mentira para meus amigos, eu juro que dou um murro na sua
cara. — digo para Cadu e ele só sorri e dá de ombros.
— Você se saiu bem, ele nem desconfiou. — Cadu diz e se
levanta, vem até mim e começa a massagear meus ombros e solto
um gemido de prazer.
— Ok, vai, pode me calar desse jeito. — murmuro e fecho
os olhos para aproveitar a sensação da massagem.
— Tenho jeitos mais interessantes de te fazer calar a boca.
— ele sussurra em meu ouvido e estremeço quando sinto um arrepio
percorrer meu corpo.
— Preciso me concentrar no trabalho, Cadu. Não tire meu
foco. — sussurro sorrindo.
— Por que? Não aguenta ouvir ou não consegue se
controlar?
— Já conversamos sobre isso.
— Não. Você falou, eu só ouvi. — ele fala. Vira minha
cadeira e me gira até ficar de frente para ele. Cadu se agacha e fica
na altura do meu rosto. — Obrigado por ter me ajudado nisso com
meu pai. Sei que não entende agora, mas juro que depois te conto
melhor sobre meus projetos.
— Esse projeto, seja o que for, é importante para você.
Isso já basta para mim.
Ele sorri e solta um suspiro. Ajoelha no chão e seus braços
puxam minha cintura para mais perto e eu o abraço. Passo meus
braços por suas costas e o acaricio levemente.
— Sei que você falou tudo aquilo para o meu pai me
defendendo, não precisava exagerar, mas obrigado.
— Não exagerei em nada. Acho que além do seu pai, você
também precisa enxergar o homem incrível que é, Cadu. — me
afasto e seguro seu rosto em minhas mãos. — Para de se rebaixar
com as coisas que ele fala para você. Se ele não entende, foda-se.
Ele é seu pai, merece seu respeito, mas não merece controlar sua
vida!
Ele concorda e morde os lábios meio confuso.
— É só que... Muita coisa aconteceu entre nós. — ele
ergue os olhos até encontrar os meus. — Um dia te conto.
— Quando estiver preparado para contar, estarei
preparada para te ouvir.
Ele sorri e me puxa para mais perto e deita o rosto em meu
pescoço.
— Desse jeito fica difícil não me apaixonar! — ele fala rindo
e eu começo a rir também. — Vai, me faz mudar de idéia.
Passo meus braços por seu pescoço e o puxo para mais
perto.
— Bom, sou uma farsa. Isso tá bom para você? —
comento e Cadu se afasta devagar, segura minha mão e me faz ficar
de pé também.
E assim que fico de pé, ele segura minha cintura e me vira,
me encosta na mesa e pressiona seu corpo contra o meu. Sua mão
sobe até meu rosto, e seus dedos entrelaçam em meus cabelos e ele
me puxa para mais perto.
— Cadu...
Sua boca pressiona a minha tão delicadamente que perco
o ar. Seus lábios são tão macios, e esse cheiro de loção pós barba
me acorda por dentro. A língua de Cadu entra em minha boca, em
movimentos tão lentos e repletos de tanto zelo e carinho que me
derreto ainda mais.
Passo minhas mãos por seu quadril e o puxo para mais
perto e Cadu solta um gemido abafado em nossas bocas. E assim
que ele inspira fundo, separa sua boca da minha devagar e encosta
nossas testas, ainda de olhos fechados.
— Isso não me parece uma farsa. Você é bem real para
mim. — ele diz baixinho.
Abro meus olhos e encontro os dele abertos, e ele parece
ver minha alma. Me sinto mais exposta do que já me senti em toda a
minha vida. Me afasto um pouco dele para tentar buscar a clareza
sem as mãos dele em mim.
— Cadu... Isso está indo longe demais.
Parece que dei um murro em seu estômago, ele se
encolhe, mas concorda balançando a cabeça. E rapidamente o clima
fica tenso entre nós.
— Tem razão. — ele fala. E então olha para mim sorrindo.
— Mas já estamos nessa mentira. Eu e você sentimos essa atração
bizarra. Não estamos com ninguém, acho que não faz mal só
deixarmos rolar. — ele ergue meu rosto e pisca para mim. — Eu sei
que eu sou irresistível e tal, mas...
— Você é a modéstia em pessoa. — comento e ele volta a
me abraçar pela cintura. — Se acha.
— Diz a garota que não se controlou ao me ver pela
primeira vez, e logo me pediu em casamento. — ele fala.
Solto uma gargalhada.
— Tá vendo? — Cadu diz, sua mão segura minha nuca e
seu polegar acaricia minha bochecha. — Do seu pescoço já provei o
gosto. — ele sussurra e se aproxima, beija meu pescoço, o mordisca
com força e cravo minhas unhas em seus ombros, e logo em
seguida, Cadu sorri e lambe minha pele. — Do seu corpo, já tirei
suspiros. — ele diz em meu ouvido, suas mãos descem até minha
bunda e ele a aperta e me levanta, me colocando em cima da mesa.
— Da sua boca já tirei um sorriso. — ele murmura e beija minha
boca com força e em seguida entrelaça os dedo em meus cabelos,
os puxa para cima e seus dentes mordiscam minha orelha, antes de
sussurrar. — O resto eu tiro na cama.
Sorrio e estremeço. Cadu me solta de repente e dá um
passo para trás. Ainda estou mole e tão entregue ao momento que
deixo ele rir de mim.
— Mas, como você mesma disse. Não podemos deixar
isso acontecer. Temos que nos controlar e...
Me levanto e vou até ele, seguro seu rosto e ele bate as
costas na estante com o impacto do meu corpo contra o seu.
— Que merda, Cadu. Cala a boca!— digo irritada. Suas
mãos circulam minha cintura e ele me aperta contra seu corpo, e
aproxima o rosto do meu. — Essa é a última vez, tá?
— Se você tá dizendo, quem sou eu pra...
O puxo para mim e o beijo. Tão sedenta por ele que me
assusto. Quem mandou ele ser irresistível, ter pegada, e ainda por
cima ficar me provocando?!
Mas, isso não pode se repetir.
É a última vez.
CAPÍTULO 18

Ando de um lado para o outro de frente ao espelho. Nem


acredito que hoje é sexta-feira. Essa semana custou a passar no
trabalho, Fábio estava por aqui, e ficou na minha cola em cada
decisão, autorização e passo que eu dava dentro da empresa.
Acho que ele queria averiguar se estava tudo bem. Mas em
parte, ele me encheu de perguntas sobre o Cadu.
Ainda disse para eu não desistir dele, pois eu seria a única
pessoa e boa índole que se interessou por alguém como ele.
E só não arrumei briga com meu “sogro falso”, porque ele
também é meu chefe. Mas me imaginei diversas vezes na semana
dizendo poucas e boas para ele sobre Cadu. Jamais pensei que
Fábio seria assim. E por um lado, admiro ainda mais Cadu por não
ter se tornado como o pai, ríspido e que só pensa em negócios.
Coloco uma saia jeans e um croped de renda vinho. E
calço meu tênis branco. Coloco um brinco pequeno dourado, e um
colar. E então faço uma maquiagem leve.
Hoje a Mari chamou vários amigos para ir no sítio do pai
dela, onde será realizado o casamento. E só por causa dela, estou
aqui de pé, em pleno sábado às sete horas terminando de me
arrumar. Pego um kimono de frio preto e o visto. Ainda está cedo e o
vento gelado está me fazendo estremecer.
Mas com certeza fará calor daqui umas duas horas.
Pego meu celular em cima da cama e disco o número da
Gisele. Sei que ela vai me matar por ligar esse horário, mas preciso
desabafar com alguém agora. Ligo umas três vezes até ela
finalmente atender.
— Gi?
— Que droga, Mand! — resmunga. — Isso é horas de ligar
para mim? Tá morrendo ou... Espera, tá tudo bem, né?
— Está sim, desculpa o horário. É que estou precisando
desabafar e...
— Sua vaca! — ela fala e começa a rir. — Então é assim?
Eu tenho que ficar sabendo de notícias suas só através do Arthur, e
agora que você está querendo desabafar resolve me ligar de
madrugada?
— Para de drama! Não está de madrugada.
— Minha cortina está fechada, para mim é noite.
— Ok, então já que não quer conversar agora e...
— É ÓBVIO QUE EU QUERO! — ela grita e começa a rir.
— Só estou dizendo que é uma ingrata, tem que ligar para mim
também. Tive que ficar sabendo da sua vida maluca por mensagens
e pelo Arthur, e nem pude surtar.
— Desculpa, Gi. Tem tanta coisa acontecendo que sei lá.
Parece que estou em um filme.
— Tudo bem. Fiquei sabendo o que aconteceu. Deu algum
B.O?
Solto uma risada e abraço meu travesseiro em cima da
cama.
— Bom, muita coisa rolou. E esse lance todo do noivado de
mentira está me deixando confusa e sem saber o que vai acontecer
com a minha vida.
— Ah, depois do casamento da Mari você vai voltar para
cá, e você e ele vão trilhar caminhos diferentes, ué. Então, se
coninuarem um ajudando o outro, vai ser futuramente um casal feliz
e separado em pouco tempo.
Mordo meus lábios ao pensar em como a situação está
indo longe demais.
— Eu sei, é que é estranho ficar perto dele, sem realmente
estar com ele. Parece que a qualquer momento isso tudo vai explodir
e eu que vou ser atingida nessa história toda.
— Ei, calma! Você está agindo como se sentissem algo um
pelo o outro! O único contato estranho que terão que enfrentar é
alguns beijos. Não é como se fizessem isso fora desse plano e você
acabasse ferrada.
Merda! Bom, é claro que está tudo tranquilo, imagina.
— Bom... Quanto a isso...
— Como assim quanto a isso?
Eu preciso ser sincera. Preciso colocar isso para fora antes
que me sufoque.
— Acabou que... Eu meio que comecei a me interessar por
ele.
— Mentira! — ela grita surpresa.
— Ele é... Muito sexy, e educado e tem aqueles olhos que
enxergam minha alma, e ele é gentil, dedicado e...
— Puta que pariu!
— Transamos. — digo e coloco o travesseiro no meu rosto.
— Eu estava na casa dele e...
— Amanda! Não estou acreditando!
— Eu sei que é um problemão, tá legal? A gente só achou
que na hora não tinha problema, já que nenhum dos dois quer se
envolver e acabou rolando. E merda, foi melhor do que eu imaginei.
Agora eu tô realmete ferrada.
— Eu tô chocada ainda. QUANDO IA ME CONTAR,
CACHORRA?! Fica aí no rala e rola com aquele bofe escândalo e
não me conta nada!
— Bofe escândalo? — solto uma risada.
— É. O Arthur me mostrou uma foto dele! Cacete, Amanda!
Quer fazer o favor de se aproveitar mais daquele corpo e daquela
boca?!
— Gi, eu estou falando sério! Isso não pode continuar
acontecendo!
— E você acha que estou brincando por acaso?
Sorrio e então ouço a buzina do carro de Cadu lá fora de
casa. Inspiro o ar e tento controlar meu coração que nem o viu e já
se acelera.
— Gi, preciso ir, prometo te manter mais informada.
— Assim espero. — ela ameaça. — Beijinhos, miga.
Desligo o celular, e o coloco dentro da minha bolsa. E
então já saio de casa e preparo meu psicológico para me encontrar
com o Cadu e lidarmos bem com tudo durante o decorrer do dia.

— Esse lugar é maravilhoso. — Cadu diz se aproximando e


me abraça por trás. — Dá umas fotos lindas.
— Aqui é incrível mesmo. — digo e suspiro ao olhar o
pequeno lago ao lado da grama.
Mal pisamos no gramado e Mari já está andando de um
lado para o outro decidindo onde as flores iriam ficar, onde será a
posição das madrinhas e padrinhos, e literalmente, contando quantos
passos ela terá que dar até onde ficará o altar.
— Não vejo a hora disso tudo passar. — Rick diz, se
aproxima de nós, e estende uma cerveja para Cadu.
— Obrigado. — ele diz e a abre e bebe um gole. — Mas
aproveita, agora pode ser cheio de problemas mas na hora tudo dará
certo.
— Tomara. Aí eu vou esquecer do mundo quando chegar a
lua de mel.
Eles começam a rir e Mari se vira para nós e faz um gesto
para Rick se aproximar quando o padre chega para falar com ela.
Rick me entrega correndo a lata de sua cerveja, ajeita o corpo e se
aproxima deles. Cadu começa a rir e eu reviro os olhos.
— Casamento é um grande passo em nossas vidas. — o
padre diz a eles. — É um compromisso. Uma escolha perante Deus.
Provavelmente é a escolha mais difícil que irão fazer. Pois vão
escolher deixar tudo para trás e começar uma nova vida ao lado
dessa pessoa.
Solto um suspiro ao ouvir o que o padre fala. Mas Cadu
assim que termina a cerveja, se afasta e vai para perto das outras
pessoas, mas eu prefiro ficar onde estou. Me sento na grama e fico
admirando o lago. E depois de umas duas horas conversando, o
padre finalmente ajeita a data do casamento, e acerta todos os
detalhes.
Rick vai acompanhando o padre para dentro da casa para
preencher a papelada.
Vejo Cadu ir em direção a Mari, que está sentada onde
criaram a estrutura de madeira para o altar. Ele fala algo e ela
começa a rir e ele senta ao seu lado. Ele pega seu celular e mostra
algo a ela, e olho ao redor onde todos estão.
Eduardo está parado perto do fogão de lenha do outro lado
do lago. Com os olhos fixos em mim. Não me sinto bem com o modo
como ele me olha, e assim que ele se mexe, e começa a vir em
minha direção, me levanto e vou até onde Mari e Cadu estão.
— Acho que já está ficando tarde. É melhor irmos. — digo
para Cadu, ele só me olha e concorda comigo.
Mari se levanta e sobe mais um degrau do altar.
— Vamos receber a noiva. — Mari diz e reviro os olhos. —
Cadu se levanta.
Cadu franze a testa mas faz o que ela pede.
— Mari, o que você...
— Vem até aqui e não estraga meu momento. — ela diz.
Começo a rir e me aproximo deles. Mari me coloca na
posição onde ficará no dia do casamento, e anda um passo para
trás.
— Acho que vou pedir para colocarem mais um degrau
nessa estrutura.
— Não, está ótimo do jeito que está. Vai ficar muito alto e
exagerado. — digo.
Ela sorri e faz sinal de silêncio. Vai até lá em cima também
e então pisca pra mim e seu sorriso se abre ainda mais.
— Sabem, estar noivos é algo importante em nossas vidas.
Podemos conhecer melhor um ao outro, e querer fazer parte de
todos os momentos dessa pessoa. Se apaixonar, ou sentir uma
atração louca por alguém que nos tira do sério. E o casamento é
apenas um passo desse amor. Vocês devem saber do que estou
falando. — Mari diz e eu tento controlar meu coração.
Cadu concorda, parece tenso com as palavras dela.
— Já podiam ir treinando também, o que acham? — Mari
diz. — Para quando se casarem, não é Cadu?
— Claro. — ele sussurra constrangido, e por um momento
penso se conto para ele que Mari sabe que é tudo uma mentira.
— Então vão treinando aí. Digam um para o outro o que
mais amam, e me encham de orgulho.
Reviro os olhos e empurro Mari pelos ombros.
— Mari, deixa de ser idiota.
— Ah, qual é, não vai doer entrar na brincadeira e...
— Seus olhos. — Cadu fala e ambas olhamos para ele
sem entender.
Ele solta um suspiro, coloca a mão no cabelo e morde os
lábios. E então seus olhos se encontram com os meus e ele da um
passo para frente. Segura minha mão e acaricia minha pele com seu
polegar.
— Eu amo seus olhos. Eles tem algo que eu não sei
explicar, só sei que não consigo desviar ou dizer não para você, não
importe o que peça. — ele sorri de lado e me puxa para mais perto.
— E seu cheiro, seu jeito, até mesmo quando fica brava, me deixa
louco.
Prendo a respiração quando ele termina de falar.
O que ele quer dizer com tudo isso? Que faz parte do
acordo por que ele não sabe sobre a Mari? Ou nada disso é
interpretação e ele realmente tá falando sério?
— Sua vez. — Mari diz. — Não vai escapar.
Fuzilo ela com os olhos e estou prestes e dizer a verdade
para Cadu, quando olho para ele, e eu também travo. Porque ele
parece realmente querer saber as coisas que amo nele.
— Eu...
Cadu abaixa a cabeça, e posso sentir seu toque mais
frouxo, prestes a me soltar. Não quero que ele pense que nenhum
detalhe dele é importante para mim.
— Seu sorriso. — falo e ele olha para mim de novo. — Foi
uma das primeiras coisas que chamou minha atenção. E seus olhos
também, sua mania irritante de me provocar, eu fico puta contigo,
mas eu amo quando faz.
Ele sorri de lado, e parece que nesse instante, criamos
uma certa conexão que não sei decifrar. Fico um pouco intimidada
pelo momento e então Mari coloca a mão em nossos ombros.
— Ok, isso foi revelador. — ela fala.
— Já posso beijar a noiva? — Cadu brinca sem deixar de
me olhar e sinto meu corpo queimar.
— Vou sair para deixar vocês à sós.
Cadu me puxa antes mesmo da Mari terminar de falar.
Seus braços circulam minha cintura e ele me puxa para mais perto.
Sua boca carnuda vem contra a minha com força, e contorno meus
braços ao redor do seu pescoço.
Cadu se inclina para frente, seus braços me apertam com
mais força e ele me ergue do chão. E sinto sua língua se aprofundar
em minha boca, em movimentos e sensações agora já conhecidas
por nós dois. Estremeço com seu beijo e enlouqueço com seu toque
e seu sabor. Cadu desce as escadas da estrutura de madeira do
altar comigo em seus braços, e então sorri e me coloca no chão
devagar, me dá um selinho e me puxa para um abraço.
E tudo acontece muito rápido.
Ouço o som de uma garrafa se quebrar e eu e Cadu
olhamos em direção a todos do outro lado do lago. Vanessa sai
correndo de lá, e passa por nós chorando e vai em direção a casa.
Mari vai atrás dela.
— Será que aconteceu algo muito sério? — murmuro.
— Parece que sim, ela passou por nós chorando. Por que
não vai lá ver?
— Não nos falamos mais. — sussurro.
— Por que não? — ele me olha confuso.
— Longa história, de certa forma ainda me machuca.
— Hum, ainda não quer me contar, né. — ele diz e me
abraça de novo. — Mas gostosa, se você e ela já foram amigas
antes, ela deve querer alguém por perto agora. Ela pode ter feito
algo errado, mas isso não significa que não se preocupa mais com
ela.
É. Por mais que dói admitir, eu ainda me importo muito com
a Vanessa. Que pessoa de enorme coração eu sou. A garota me trai,
trai nosso pacto de amizade, e eu ainda fico preocupada e triste por
ver ela chorar?!
— Quer ir embora mesmo? — ele me pergunta enquanto
acaricia meus cabelos.
— Acho melhor. — digo e olho novamente em direção a
casa. — Só vou lá ver se precisam de algo e me despedir da Mari.
— Tudo bem, te espero no carro. — ele diz e beija minha
testa e então se afasta.
Solto um suspiro e abraço meu próprio corpo. Caminho
devagar em direção a casa, e me aproximo. Elas estão sentadas de
costas do outro lado da casa, na varanda.
— Eu já estou cansada disso! — Vanessa fala.
Eu paro de andar, não sei se é uma boa opção ouvir a
conversa dos outros, mas também sei que não temos intimidade uma
com a outra para desabafar e a outra ouvir.
— Foi só eles se beijarem que ele ficou puto, jogou a
garrafa no chão. Eu não aguento mais, Mari! — ela diz. — Eu sabia
que iria ser difícil quando ela voltasse para cá. O Edu nunca a
esqueceu, e sei que se arrependeu de ter terminado com ela para
com alguém como eu. Mas, na época que aconteceu, você sabe.
Para mim ele falou que eles não estavam mais juntos. Eu realmente
nunca iria trair a Mand, mas quando ele me contou eu acreditei. Errei
em não ter questionado ela antes, e quando vi eu exigi que ele
contasse. Não queria que ele ficasse comigo, só queria que ele fosse
sincero com ela.
O quê? Então o Edu mentiu para ela? Ele ficou com ela
dizendo que tinha terminado nosso namoro? E esse tempo todo eu
achei que ela tinha traído minha amizade?
Bom, é claro que eu não iria me importar dela ficar com um
ex, e claro que ela errou em não me perguntar antes. Mas o Eduardo
agir dessa maneira e ainda por cima criar uma situação como se ela
fosse a maior vagabunda traidora?!
— Não diz isso, por favor para de relembrar. Uma hora ou
outra você vai conseguir conversar com ela e contar, sei que quer
contar, mas se quiser eu posso...
— Não, Mari isso é entre nós duas.
— Tudo bem. Mas então fala logo. Você não pode se
rebaixar assim também. O Eduardo que é um filho da puta, você nem
devia ainda estar com ele, Vane. Mas é cega demais de tanta paixão
tóxica.
— Eu sei. — ela diz e esconde o rosto nas mãos.
— O fato da Mand voltar, sabíamos que iria abalar o Edu,
ele sempre falou dela. Mas agora ela está noiva e nem quer saber
dele. — Mari diz.
— Eu sei, e sei que sou idiota por correr atrás de alguém
como ele, mas... Não consigo evitar. Amo aquele imbecíl. E ele não
consegue nem disfarçar a admiração e o desejo que tem por ela,
Mariana! Ele não me respeita.
— Oh, Vane, imagino que deve ser muito difícil, mas você
precisa ser forte. Ainda mais agora, sabe do que estou falando, né?
Deixa as coisas melhorarem, e aí conversam e decidem tudo isso de
uma vez.
Isso faz Vanessa chorar ainda mais. Ela abraça Mari e
então resolvo sair de perto delas, foi tanta informação que preciso de
um tempo para pensar. Depois eu me desculpo com a Mari, mas
preciso sair desse lugar o mais rápido possível.

— Obrigada pela carona, Cadu! — digo assim que ele me


deixa na porta de casa. Abro a porta do carro, mas me lembro do
que iria falar com ele. — Sobre esses últimos dias, e nossa
aproximação...
— Não precisamos falar disso. Eu quis tudo o que
aconteceu, e você também, não adianta negar.
Arregalo os olhos e sorrio.
— Não vou negar. Só queria te agradecer pelas coisas que
disse hoje sobre mim lá no sítio.
— Não foi nada. — ele diz sorrindo, se aproxima de mim e
me deixa tirar o espaço que sobra entre nós. Seguro seu rosto e
beijo sua boca devagar e aproveito a sensação deliciosa dos seus
lábios macios sobre os meus.
— Acho que pode me agradecer mais vezes. — ele diz e
pisca para mim.
Reviro os olhos e me encosto no banco novamente.
— E de nada, pela carona. — ele sorri.
— É... Então, amanhã eu vou fazer um churrasco aqui em
casa, nada em especial... Você poderia vir?
Não quero contar a ele que é meu aniversário. Não sou
muito de comemorar essas datas. Cadu me olha intrigado e então
concorda balançado a cabeça.
— Que horas?
— Lá pelas 20hrs.
— Tudo bem, eu venho.
— Obrigada. — sorrio e me aproximo dele, dou um beijo
em sua boca. — Nos vemos amanhã.
— E a nossa lua de mel? — ele pergunta erguendo as
sobrancelhas.
— Nossa o quê? — solto uma risada.
— Praticamente nos casamos no altar da Mari, não acha
que está faltando alguma coisa?
— Ah, claro! — digo e levanto minha mão. — Um anel de
casamento de verdade.
Cadu começa a rir e saio do carro.
— Até amanhã, gostosa! — ele pisca para mim e me
manda um beijo e tento não levar a sério o arrepio que ele causa em
mim.
CAPÍTULO 19

Arthur chegou hoje cedo para o meu aniversário, veio fazer


surpresa. E passamos o dia todo comprando carne no açougue,
fomos em uma loja, e comprei um vestido vermelho lindo, tem uma
fenda na parte de trás, que o deixa sexy. E Arthur me fez comprar um
bolo pequeno, só para cantar parabéns entre nós. Mari me ajudou a
alugar o karaokê do bar do Beto, perto da minha casa. Tínhamos o
costume de ir cantar lá e resolvi colocar em casa para lembrar os
velhos tempos.
E finalmente está na hora. Estou pronta e me sinto tão
linda e feliz, queria que o tempo parasse.
Rick está na churrasqueira me ajudando, Mari está
cantando sertanejo na maior altura, e todos estão fazendo um coro
junto a ela para diminuir sua horrível afinação. Bando de bêbados,
isso sim. Vanessa chegou faz pouco tempo, e só acenou para mim.
Ela chegou com Edu, mas assim que entraram ela já ficou longe
dele. Devem ter brigado.
Arthur senta ao meu lado perto da bancada, e me serve um
drink.
— A Gi mandou te desejar parabéns e disse que quando
voltar te entrega seu presente, porque ela está ajudando a dona
Marta com algumas coisas e eu sou um idiota por não avisar que
meu voo era mais cedo.
— Aposto que foi isso que ela disse para você. — deduzo
rindo.
— Foi exatamente isso!
Nesse momento uma mão toca meu rosto, tapa meus
olhos. Me levanto rindo, e me viro devagar, a pessoa não me deixa
ver quem é. Mas assim que toco seu abdômen sei exatamente, de
quem esse corpo pertence. Sorrio ainda mais, e ergo os braços para
abraçar ele. Cadu acaba desistindo e puxa minha cintura me
abraçando com força.
— Não adianta, eu te conheço! — digo rindo.
— Acho bom, Gostosa. — ele beija meu pescoço, e eu me
afasto sorrindo e ele senta no banco ao lado do Arthur.
Cadu se aproxima, segura meu rosto, me puxa para mais
perto e beija meus lábios delicadamente. Cadu cumprimenta o primo,
e logo em seguida o celular de Arthur começa a tocar de novo. Ele
atende rapidamente, e nesse momento eu sinto meu corpo pegar
fogo ao sentir o olhar de Cadu sobre mim. Vagando por meu corpo.
— Uau. — ele assobia. — Acho que hoje a minha noiva
deu valor no seu apelido afinal, né gostosa? — ele sussurra.
— É, senhor me passa vergonha. — começo a rir, e me
aproximo de Cadu que está sentado no banco ao lado de Arthur, e
beijo sua bochecha.
— É a Gi! — Arthur diz estendendo seu celular.
— Oi, Gi! — digo no celular.
E me surpreendo quando Cadu passa seu braço pela
minha cintura e me puxa para ficar mais perto dele.
— Feliz aniversário! — ela grita. — Caramba como eu
queria te abraçar!
— Valeu, Gi. E eu também estou com saudades. —
desconverso.
— Aposto que o Cadu está ai perto, né?
— É, pois é, acredita nisso? — começo a rir. E deito meu
rosto na curva do pescoço de Cadu quando vejo Edu se aproximar.
Ele ainda está me encarando com raiva desde o sítio. E eu
nem sei o motivo. Mas vejo Cadu se arrepiar com minha
aproximação. Ele e Arthur seguem conversando, mas sei que ele
está notando o clima que está rolando entre mim e o seu primo. Fora
de toda essa mentira.
— Ele está perto ou longe?
— É... Caramba, o celular tá perto de mim e eu não
consigo te ouvir direito Gisele!
— Saquei! — ela começa a rir. — Ele está cheiroso?
— Nossa, tá uma delícia, tá perdendo tudo aqui, pedi
salgadinho, estamos assando carne, tá um cheiro divino! — começo
a rir junto com ela.
— Amanda, você tem problemas cara, na boa!
— É complicado não poder comer quando se está na dieta.
A gargalhada de Gisele estoura meus tímpanos, e eu fico
sem jeito, se por acaso Cadu ouviu algo, já que estou perto dele.
— Caramba! Para de falar isso! — ela tenta parar de rir. —
Faz logo o favor para você mesma, e diga a ele que quer tentar algo
a mais. Amiga vocês estão se aproximando, no rala e rola, ele
mesmo diz que o enlouquece, não acha que isso pode ser um sinal?
— Eu não sei... Vai que eu engordo se comer demais? —
disfarço. — E aí depois eu meio que sofro, sabe?
— Ei, tá mesmo negando comida na minha frente? — Cadu
sussurra. — Não se preocupa com a merda de engordar, você é
linda. Para de frescura.
Ai meu Deus, meu coração vai despencar!
— Ai meu Deus, eu ouvi isso! — Gisele grita. — Essa voz
maravilhosa é a do bofe escândalo?
— Tá tudo bem Cadu, eu só estou brincando com a Gisele.
— Brincando? Faça o favor de dizer isso para ele AGORA!
— Gisele fala.
— Tá, tem razão... Eu vou. — digo a ela.
— Sério? FALA AGORA!
— Viu! — digo rindo.
Talvez seja mais fácil essa situação se eu disser que estou
começando a sentir algo diferente por ele. Que não quero que
fiquemos juntos só por culpa de uma atração não controlada, mas
porque realmente preciso admitir que estou começando a sentir
coisas a mais que não gostaria. Assim se a resposta dele for sim,
ótimo, beleza, ele se sente igual. E se for não, pelo menos eu sei que
tentei!
— Ótimo, deixa o celular no viva voz, e ai eu...
— Tchau, Gisele! — começo a rir. — Obrigada de novo, já
já eu volto para São Paulo.
— Vaca! — Gisele grita. — Beijos amiga, boa sorte!
— Valeu. — desligo o celular e o entrego para o Arthur.
Ele está me olhando como se soubesse do que realmente
se tratou a conversa minha com a Gisele, e faz um sinal afirmativo
com a cabeça.
Pronto, não preciso de mais nenhum incentivo depois
disso!
Vou falar com o Cadu, e se for realmente para ser, dará
tudo certo! Sorrio timidamente para ele, e então me viro para Cadu.
Mordo meus lábios, e passo meus braços por seu pescoço.
Cadu me olha sorrindo, e seu braço me puxa para mais perto do seu
corpo.
— Cadu, eu posso...
— Posso conversar com você, Mand? — Edu diz se
colocando ao meu lado.
Aaaaaaaaaaahhh! Que merda!
— É... Tem que ser agora, Edu? — tento diminuir minha
raiva por ele ter estragado meu momento!
— Tem. — diz decidido.
Ai meu Deus, será que aconteceu alguma coisa?
— Tudo bem. — digo.
Olho para Arthur, que levanta a sobrancelha irritado
também. E dou um selinho em Cadu rapidamente.
— Já volto. — sussurro.
— Tudo bem. Só... Não demora. — ele lança um olhar
mortal para Edu, e então muito hesitante me solta.
Sigo Edu, que vai em direção ao meu quarto. E assim que
entramos, ele fecha a porta atrás de si e se vira sorrindo me
estendendo um embrulho.
Não acredito que ele me tirou do meu momento com Cadu
para me presentear!
— Que isso? — digo.
— Um presente! — ele diz rindo. — Sua observadora
horrível!
Consigo rir. E então ele estende o presente.
— Feliz aniversário, Mand. — ele sussurra.
— Obrigada.
Pego o presente hesitante, e o abro calmamente. Tiro a
embalagem, e vejo que é um relógio despertador do Mikey. Começo
a rir imediatamente.
— Ainda gosta dele, né? — ele pergunta esperançoso.
— Claro, eu amo... Obrigada, Edu. — vou até minha
cômoda e guardo o presente.
Ele sorri, e eu dou um passo para trás.
— Bom, é melhor eu ver se tem alguém precisando de
alguma coisa. — digo, e começo a me afastar, mas ele segura meu
braço me impedindo.
— Amanda, espera. — ele diz.
Droga! Senti mesmo que não era só o presente.
— Eu preciso ir ver se o Cadu precisa de mim para...
— Termina com ele. — Edu diz.
Assim mesmo, sem nem pestanejar!
— É... O quê? — minha voz sai incrédula.
— Eu não gosto de ver vocês dois juntos... Eu sei que não
tenho esse direito, mas eu tenho que ser sincero. Não aguento mais
ficar longe de você... Então eu quero que você termine com ele, e
largue tudo pra ficar comigo outra vez.
No chão.
Meu queixo está no chão!
CAPÍTULO 20

— Termina com ele. — Edu repete como se isso fosse à


coisa mais normal de se dizer.
Ainda estou em choque. Como assim ele vem aqui, noivo
da Vanessa, e simplesmente pede para eu terminar meu
relacionamento com o Cadu, por que ele não gosta de me ver com
ele?
Ah, vai à merda! Ele acha que eu gostei de ver ele com a
Vanessa por acaso?
Nem por isso eu me humilhei diante de um idiota como ele!
— Você tá de brincadeira com a minha cara, não tá? —
digo rindo. — É porque eu vi você bebendo, e sei lá...
— Eu não estou bêbado, Amanda. — ele rosna. — Eu só
quero que você me dê uma segunda chance.
— Segunda chance? — repito incrédula. — Ah Edu, me
poupe, olha para você! — grito. — Vê se você se enxerga! Está
noivo de uma mulher que faz de tudo para chamar a maldita da sua
atenção, e mesmo assim você vai e fica querendo voltar comigo? Eu
estou com o Cadu!
— Eu só acho que eu ainda sinto coisas em relação a
você, sabe? — ele diz. — Então eu não consigo segurar. Não
consigo te ver perto dele.
Que cara de pau!
— O problema é seu! — disparo. — Estou com alguém, e
mesmo se eu não estivesse, jamais voltaria com você!
— Quer dizer que com o passar dos anos você
simplesmente esqueceu tudo, e achou que ele é o melhor para
você?
— Cadu é o mais próximo que eu tenho de algo verdadeiro
na minha vida, por mais incrível que seja dizer isso... E não, eu não
me esqueci do que a gente viveu, afinal eu te conheço há anos e
isso não se apaga... Mas eu não amo mais você! Até me arrependi
de perder tanto tempo com um escroto como você.
— Amanda, por favor... Se você terminar com ele eu
prometo que eu vou ser o homem mais incrível que você já
conheceu.
— Meu, você está se ouvindo? — grito chocada. — Na
boa, precisa se internar!
— Amanda, para! Eu quero terminar com a Vanessa
porque eu não consigo mais mentir! — ele grita.
— Não aguenta mais mentir? — repito. — A Vanessa não
merece alguém como você. — digo. — Mentiu para ela a anos atrás,
para mim, continua mentindo agora. Vê se você se enxerga e sai
agora da minha casa antes que eu tire você a força daqui.
— Eu só quero que pense pelo menos. Eu vou terminar
com ela, só para ficar com você... É como no passado, só que agora
eu tomei a escolha certa.
Solto uma risada de deboche, não consigo acreditar que
alguém é capaz de ser tão ridículo e paranoico assim.
— Sério, Edu. Some da minha frente. — digo.
Vou me aproximando da porta e assim que eu a abro Edu
grita.
— Há cinco anos eu tomei a maldita decisão de terminar
com você, e não tem um dia, que eu não me arrependa disso. — e
assim que ele se cala, eu ainda estou em choque ao ver Vanessa do
outro lado da porta.
Ela está com uma mão na boca e a outra no coração. Seus
olhos estão vermelhos de tanto chorar. Puta merda!
— Vane. — sussurro. — Vane eu não fiz nada, juro.
— Eu sei. — ela diz. E seus olhos de prendem no Eduardo.
— Seu canalha! — ela berra.
E então sai correndo.
Saio correndo atrás de Vanessa, ela precisa conversar e
também me ouvir. Assim que passamos na sala, todo mundo nos
olha. Mas ela não para. E sai pela porta, continuo correndo atrás
dela. E assim que ela abre o portão eu grito. Mas ela não para.
Edu aparece logo atrás de mim. Sem fôlego. E logo depois
Cadu, Arthur e Mari chegam. Não consigo controlar as lágrimas em
meus olhos.
— O que aconteceu? — Arthur pergunta. — Por que ela
saiu correndo chorando assim?
Me viro para Edu morrendo de raiva, faço negação com a
cabeça.
— Eu não tenho culpa se ela escutou, mas pelo menos
agora ela sabe. — ele diz.
Não me controlo e dou um tapa forte em seu rosto. O
estalo arde a minha mão. E deixa uma marca em seu rosto. Mas isso
é tão pouco perto do que ele merece. Nunca me imaginei batendo
em Edu por causa da Vanessa. Mas no fundo, era além dela... É
simplesmente por ele ser um idiota que só sabe machucar as
pessoas!
Mari e Arthur se assustam com a minha atitude, mas Cadu
começa a sorrir. Como se dissesse “Ah, que orgulho de você. Essa é
a minha garota”.
— Se você não sair da minha frente. — eu digo, tentando
me controlar. — O Cadu vai te bater e te colocar para fora daqui a
socos e a murros.
— Pode deixar. Amei essa opção. — Cadu diz.
— Amanda... — Edu começa.
— Sai da minha frente! — eu berro e o empurro.
Começo a andar para longe de todo mundo. Preciso sair e
esfriar minha cabeça.
— Amanda, amor espera! — Cadu grita.
— Não. — eu me viro e ergo a mão, o impeço de se
aproximar. — Mari, a Vane precisa de você. — ela assente e entra
para dentro de casa. — Cadu, eu preciso ficar sozinha.
— Não... Gostosa não faz isso, eu tô aqui para você
também, não tá vendo? — ele implora baixinho.
— Desculpa, Cadu... Não posso fazer isso agora. — olho
para o Arthur e ele entende meu olhar, e segura Cadu.
Começo a correr e ouço Cadu tentar de soltar de Arthur.
— Me solta. — ele diz. — Que porra Arthur, ela precisa de
mim!
— Ela precisa de um tempo. — Arthur diz.
— Amanda?! — Cadu me grita.
E eu continuo correndo sem direção. Como o Edu tem
coragem de fazer isso comigo e com a Vanessa?
Sinto meu coração se apertar, e me obrigo a me acalmar.
Meu celular vibra duas vezes, e eu o pego para ver as mensagens.
Começo a chorar ainda mais. Depois de tanto tempo e
essa é a mensagem mais linda que eu já recebi deles até hoje. Leio
a mensagem duas vezes, e clico em responder.
Em seguida abro a outra mensagem.
CAPÍTULO 21

Me sento no banco da praça, e o vento das árvores bate


em meu rosto, fazendo-me imediatamente relaxar. Pelo menos,
relaxar meu corpo do calor de tanta raiva que passei ao brigar com
Edu.
Justo hoje que eu estava com um milhão de ideias,
querendo entender o que sinto em relação ao Cadu... O Edu vai e
tenta me convencer a terminar tudo, e ai diz aquelas coisas para
mim?
— Na boa, as coisas precisam parar de dar errado! — digo
olhando para o céu.
Vou andando pela praça, e subo na ponte que divide a
única fonte que está brilhando no meio dessa noite sombria. Deixo
minhas pernas caírem em direção a água, e molho as pontas dos
meus pés.
Do nada vejo as pernas de Cadu do meu lado, alguém
senta e seu ombro se encosta no meu.
— Gostosa. — ele sussurra. — Não é querendo parecer a
porra de um machista, mas infelizmente tem homens estúpidos por
aí. Não pode ficar sozinha em um lugar como este. Pode ser
assaltada, ou até acontecer coisa pior.
Só concordo com a cabeça, e no fundo me sinto
completamente segura com ele agora do meu lado. Continuo calada.
— O que você está fazendo aqui? — ele me olha sem
entender.
Será que eu falo o que pensei em relação a nós dois? Ou é
melhor deixar quieto?
É... É melhor deixar quieto o assunto.
— Hoje... — engulo em seco. — Hoje é o meu aniversário.
Ele ergue as sobrancelhas, e sorri. Depois ele bate seu
ombro contra o meu.
— Parabéns...? — ele diz incerto.
Sorrio um pouco, me encosto nele e deito me rosto em seu
ombro.
— Valeu, Cadu. — sussurro.
Sinto sua mão acariciar minhas costas. Todo meu corpo se
congela ao seu toque.
— Por que não estamos comemorando?
Olho em sua direção e tento sorrir.
— Ah, por nada não... Só acho que 25 anos de puro azar
na minha vida já está mais do que bom. Se eu tiver mais uma
surpresa do destino, juro que não sei o que fazer.
Ele me olha preocupado de novo.
— O que aconteceu para você ficar tão descrente das
coisas assim?
— Não sou assim.
— Você está sendo pessimista, meu anjo... Não podemos
ser assim.
— Então me diz como posso não ser pessimista depois de
só levar socos da vida?
Ele suspira e beija minha testa.
— O que a vida fez para você?
Olho em sua direção e começo a rir.
— Tá falando sério?
— Fala para mim. — ele sussurra.
— Bem, acho que a vida nada, e sim as pessoas.
Sua testa se forma um vinco, e ele suspira.
— Como assim as pessoas?
— Digamos que sempre tem algo para se resolver, algo
para esconder, e eu estou cansada disso tudo. Não gosto de
mentiras, mas estou mentindo, embora tudo às vezes pareça tão
real. — sinto minhas bochechas corarem ao descobrir com quem
estou falando. — As pessoas nunca estão cem porcento felizes e
aproveitando o momento.
Cadu tira sua mão das minhas costas, e coloca uma mecha
do meu cabelo atrás da minha orelha.
— Vocês terminaram como Mand? Terminaram bem, certo?
— ele pergunta.
— Se com bem você quer dizer que ele terminou comigo
no dia em que eu pensei que seria pedida em casamento, porque ele
me enrolou por quase quatro anos, e depois me largou no mesmo
dia, por causa de um casinho com a Vanessa... Mas o pior mesmo foi
voltar e descobrir que ele iria se casar com alguém que tinha me
traído... Tá aí um bom motivo para terminar com alguém, certo?
Cadu solta um palavrão, e fica ainda mais furioso do que
eu imaginei. A veia estufada no seu pescoço é um ótimo sinal de que
ele vai explodir. Cadu se vira para mim, segura meu queixo e me faz
olhar para ele.
— Escuta aqui, ele é um filho da puta! Que deixou uma
pessoa incrível como você escapar!
— Não acho que quem saiu perdendo foi ele... Ele ficou
bem, com um caso amoroso, um noivado logo em seguida, não vejo
porque ele terminou sua vida planejada justo agora! — tiro sua mão
do meu queixo e olho para a fonte de novo. — Tem noção de que ele
me enrolou por quatro anos, e depois do nada resolveu se casar com
ela. Sabe o que isso significa?
— Que até essa Vanessa fez a pior escolha? — Cadu me
fuzila com seus olhos.
— Não... Que eu não era boa o suficiente. Eu sempre
sorrio para as pessoas Cadu, sempre digo a elas que estou bem, e
que aquilo ficou no passado... Que ele é um idiota que saiu
perdendo. Mas a verdade... É que dói, sabe?
Ele suspira, deita a cabeça na curva do meu pescoço, e eu
tento ignorar o arrepio percorrer meu corpo.
— Dói muito. — sussurro. — Não o fato dele ser um
babaca. Mas porque muita gente que eu conheço ficou do lado dele.
Muita gente me trata como se eu fosse uma mulher quebrada. E isso
é um saco. Sou muito mais do que aquela garota que saiu da cidade,
traída. Eu batalhei muito para ter tudo o que tenho hoje. Consegui
me transformar na mulher bem sucedida, conquistei tanta coisa, e
ninguém consegue me ver assim.
— Um dia eles vão ver. — Cadu sussurra, causando
sopros no meu pescoço. — Mas até lá foda-se. Você, eu, seus
amigos, todos sabemos do mulherão da porra que você é! Isso
basta.
Rimos, e ele beija meu pescoço. Sinto um arrepio percorrer
meu corpo.
— Olha para essa fonte. — digo a ele. — Olha lá aquelas
pratinhas, provavelmente são de pessoas que pediram um grande
amor, e jogaram na esperança disso acontecer. E sabe o que
acontece? Nada! Porque essas pessoas são as que colocam o amor
à cima delas mesmas, e eu sou uma dessas pessoas. Que se
entrega a um relacionamento como se fosse existir o feliz para
sempre.
— Não pode generalizar isso só porque um desgraçado foi
burro e te tirar da vida dele! — ele começa a rir — O amor, ele não
aparece quando você quer. Não existe príncipe encantado, e não
existem caras perfeitos. Todos nós temos defeitos. Você não vai
encontrar por ai uma história de amor a primeira vista e ser feliz para
sempre. Porque isso não existe! Todo relacionamento tem que
passar por provas, por desafios... É isso que faz com que ele seja
forte e inabalável, e prove que é capaz de vencer tudo.
Olho para ele surpresa por suas palavras.
— Seu destino se define conforme as escolhas que você
faz.
Ele faz uma pausa, e eu estou em choque demais para
reagir ou falar qualquer coisa. Sua mão vai até minha nuca, e eu
suspiro devagar enquanto seus dedos entrelaçam em meus cabelos,
e Cadu me faz olhar para ele.
— O cara certo para você não é aquele que você imagina.
Não é aquele que você espera. O cara certo é aquele amor onde
quando você menos espera, ele vai vir assim do nada... E para isso
você precisa seguir em frente e arriscar... O cara da sua vida pode
estar bem na sua frente e... — ele para de falar, se dando conta do
que acabou de dizer, e me lança um sorriso cafajeste. — E você só
precisa se arriscar para saber o que pode acontecer.
Paro de respirar. Será que isso foi alguma indireta?
— É... Eu sei, mas é meio complicado acreditar em algo se
sua vida é uma merda, não acha?
— Acho. E ter medo é normal. E tá tudo bem.
Cadu se vira e tira algo do bolso de sua calça jeans. Ele se
aproxima de mim e estende a mão, e quando abre a palma, tem uma
prata dourada de 25 centavos. Brilha como um verdadeiro ouro.
Franzo a testa e olho para ele sem entender, mas Cadu apenas sorri,
e aponta para fonte.
— Tá falando sério? — um sorriso escapa dos meus lábios.
— Hoje é o seu aniversário... Ás vezes, desejos são
somente desejos, mas a esperança que temos sobre eles, é o que
deixa tudo mais mágico.
Meu sorrio se abre ainda mais, mordo meus lábios, e Cadu
sorri ao me observar. Seguro a pratinha em minha mão, e em
seguida seguro a mão dele.
— Joga comigo?
— Será que dois desejos funcionam em uma pratinha só?
— ele ri e um vinco se forma em entre suas sobrancelhas.
— Vai ver é por isso que os outros não se realizam. —
sussurro, e aperto nossas mãos. — Estavam sem energia suficiente
para o desejo acontecer.
Ele ri, mas então segura a ponta da pratinha enquanto eu
fecho meus olhos e mentalizo meu desejo.
E de tantos desejos que eu possa fazer, eu desejo apenas
ter coragem o suficiente para entender e seguir meu coração. Sorrio
e abro meus olhos. Encontro Cadu me observando, e então olhamos
para a fonte e jogamos juntos a pratinha dentro da água. Cadu sorri
e começa a acariciar meu cabelo, e aquilo me deixa completamente
arrepiada. Mas não digo nada, nem ele.
Pelo contrário, apenas ficamos olhando em silêncio para
uma prata submersa que não representa nada, e ao mesmo tempo,
significa tudo.
CAPÍTULO 22

Nunca pensei que sábados à noite pudessem ser tão


chatos assim!
Eu passei a semana toda tão focada no trabalho, que mal
tive tempo de falar com o Cadu. Ele também se afastou um pouco.
Faz dois dias que mando mensagem, ligo, e ele nem ao menos me
dá um retorno. Fico confusa em relação a isso. Não sei se ele se
cansou de tudo e prefere fugir do que encarar.
Pego meu celular e coloco uma série para assistir, quem
sabe assim eu me distraio.
Meu celular começa a tocar, interrompendo minha série, e
me surpreendo ao ver o nome de Cadu na tela. Agora ele quer falar
comigo?
Ok. Quem sabe ainda restava uma esperança de ter uma
companhia nem que seja para ver um filme?
Começo a rir, e atendo a ligação rapidamente.
— E ai, amor da minha vida! — começo a rir. — Já arrumou
outra amante para me trair, é?
Um silêncio paira no ar.
E eu só ouço um gemido e a respiração forte de Cadu do
outro lado da linha. Ele não ri, não diz nada. Me sento melhor no sofá
e confiro o celular para ver se ele realmente está na linha, e vejo que
a chamada está correndo o tempo.
— Cadu? — o chamo insegura.
Ouço um suspiro.
— Oi. — sua voz está péssima. — Mand, eu...
Ele para de falar de novo.
— Está tudo bem?
— Não. — ele diz, e ouço um soluço.
E isso já é o suficiente para partir meu coração. Como
assim ele está chorando? O que aconteceu?
— Você tá me assustando. — sussurro. — Me fala o que
aconteceu.
Ele fica um tempo em silêncio. E eu só ouço sua respiração
alterada, e seus soluços.
— Mand. — sua voz dilacera meu coração. — Eu preciso
de você.
Meu coração se acelera.
— Ai meu Deus! — ele diz. — Eu preciso tanto de você!
Me levanto na mesma hora e corro até a cozinha para
pegar as chaves do carro.
— O que aconteceu? Cadu, onde você está?
— Eu tô... No hospital... No Lifecenter, tô do lado de fora.
Eu só quero sumir! Eu não sei... Eu só sei que eu preciso de você!
Visto uma blusa de frio, e corro para a garagem, tranco a
porta, e saio com o carro.
— Eu não tô aguentando! — ele fala.
— Cadu, para com isso tá me assustando!
— Eu não sabia para quem ligar, e só veio você na minha
cabeça. — ele fala e escuto outro soluço.
Acelero com o carro ainda mais.
— Eu já estou indo... Eu já estou chegando, tá legal? Fica
calmo, por favor. — tento acalmar ele, mas rapidamente percebo que
eu estou precisando me acalmar também.
Nunca um lugar ficou tão longe assim quanto esse bendito
hospital. Deixo o celular ligado e no viva voz enquanto dirijo.
Eu só consigo tremer, enquanto ouço Cadu chorar. E não
importa onde ele esteja. Ele precisa de mim, e eu não ligo para o que
quer que seja o motivo. Ele está chorando e precisa de mim, e isso já
é motivo suficiente.
Assim que avisto o hospital, já estaciono rapidamente, e
saio do carro trancando e ligando o alarme, desligo o celular, e
começo a correr em direção a entrada do hospital. Olho para todos
os lados, procurando por ele. Na recepção ele não está. Ele disse
que estaria do lado de fora. Saio e começo a olhar ao redor, e
consigo avistar alguém sentado debaixo de uma árvore. Fico em
choque ao constatar que é ele. Corro até sua direção. E meu
coração se acelera ainda mais.
Assim que chego perto dele, hesito. Não sei se dou um
passo para frente, se me agacho, se abraço ele, ou se digo alguma
coisa.
O que fazer em uma situação que você nem mesmo sabe o
que houve?
Cadu olha para cima, e quando seu olhar encontra o meu,
minhas pernas ficam completamente bambas. Mas o olhar que ele
me lança, completamente destruído, me faz saber exatamente o que
fazer.
Me aproximo dele rapidamente, e me agacho no chão,
puxo seu pescoço para perto de mim, e os braços de Cadu
encontram o lugar que ele tanto conhece na minha cintura, e ele me
puxa para me sentar em seu colo. Seus olhos vermelhos exploram
meu corpo, e logo em seguida ele deita o rosto na curva do meu
pescoço, e chora baixinho. Seu corpo se sacode, e eu sou
esmagada por um instinto protetor. Abraço ele com mais força, e o
tremor percorre todo meu corpo.
— Eu não acredito que você está mesmo aqui! — ele
sussurra, e seus braços me apertam ainda mais contra o seu corpo.
— Aonde mais eu poderia estar? — sussurro. — Fica
calmo. Vai ficar tudo bem. Por favor, só respira e me abraça.
Ele chora ainda mais depois disso. Acaricio suas costas na
intenção de acalmá-lo, minhas mãos percorrem seus cabelos e fico
fazendo cafuné, e deixo Cadu me apertar o quanto ele queira, e
chorar o quanto precisa. Eu só quero que ele saiba que eu estou
aqui, do seu lado. Fico fazendo isso até enfim eu ver que ele começa
a se acalmar. Seus braços estão mais frouxos, e sua testa descansa
o seu rosto em meu ombro.
— Vai me dizer o que aconteceu? — pergunto acariciando
suas costas.
— Não quero falar sobre isso. — ele diz.
— Tudo bem. — abraço ele novamente. — Quando quiser
falar eu vou estar aqui para ouvir.
— Eu só quero sumir, Amanda. — ele diz e sinto seu corpo
tremer.
— Ei, não diz isso não. — me afasto dele, seguro seu
queixo e o forço a olhar para mim. O Cadu de agora está tão
vulnerável, que tudo o que eu quero é deitar ele no meu colo e
proteger. — Algumas coisas que acontecem em nossas vidas
simplesmente não têm como mudar, Cadu. Mas como em qualquer
momento, precisamos ser fortes, e aguentar tudo isso. Continuar
seguindo em frente mesmo se estiver doendo.
Eu não sei o que aconteceu com ele. Então resolvo falar
sobre motivos do que leva uma pessoa a chorar. E ainda mais levar
um homem como o Cadu a chorar. Deve ser algo bem ruim.
— Eu sei que preciso seguir em frente... Mas é que... Ás
vezes é muito complicado. — ele diz baixinho.
Meu coração se parte novamente. Acaricio suas costas de
novo, e deito meu rosto no seu ombro. Noto que Cadu está me
observando atentamente, o silêncio paira entre nós, e eu só vejo
suas lágrimas escorrendo por seu belo rosto. Um rosto que jamais
deveria chorar, jamais deveria sofrer.
— Não é complicado seguir em frente quando não estamos
sozinhos. — sussurro.
Outra lágrima silenciosa rola por seu rosto, e Cadu levanta
a mão para acariciar meu cabelo.
— Então eu estou perdido. — ele sussurra. — Porque eu
não tenho ninguém do meu lado.
— Eu. — digo alto, e Cadu me olha. — Eu sempre vou
estar do seu lado, Cadu. Nunca vou te abandonar. — acaricio sua
bochecha, e ele olha para o chão, tentando desviar sua expressão
do meu foco de visão.
Ele segura minha mão ainda em seu rosto, e beija a minha
palma.
— Isso significa muito para mim. — ele diz ainda sem me
olhar.
— Eu sou sua noiva, gostoso, terá que me aturar por
muitos e muitos anos. — faço graça.
E finalmente Cadu esboça o começo de um sorriso, mas
não dura nem meio segundo.
Ele volta a olhar para mim, me observa com toda a atenção
do mundo. Uma outra lágrima escapa dos seus olhos, e eu tento
segurar o buraco que se instala na minha garganta. Acaricio seus
cabelos, e depois desço até seu rosto. Limpo o molhado em sua face
com a manga do meu moletom, e sem pensar, puxo Cadu pela nuca
e beijo sua boca.
Como se isso pudesse dizer a ele, que eu sempre estarei
por perto. Para minha surpresa, ele entrelaça suas mãos nos meus
cabelos e me puxa para mais perto. Aperta nossos lábios com força.
E como num passe de mágica, sua língua invade minha boca, me
deixando completamente desnorteada. Seus lábios famintos
devoram e exploram minha boca, e eu me permito esquecer de tudo
e só me entregar ao momento.
Permito que ele me beije do jeito que quiser, para assim,
quem sabe, ele sintir tudo o que eu quero falar, consolar, e não
consigo.
Sua mão em minha cintura me puxa para mais perto, e eu
o abraço pela cintura. Cadu diminui o ritmo do beijo, e depois morde
meus lábios. E fica assim, com seus dentes contra meu lábio inferior
por algum tempo até me soltar.
Dou mais um selinho nele, e mais um, e mais um. E então
vejo que ele ri. Beijo sua bochecha, seu nariz, a pálpebra dos seus
olhos, sinto o gosto salgado das suas lágrimas, e depois puxo sua
cabeça para ele deitar em meu peito. Seus braços circulam minha
cintura, e me apertam com força contra seu corpo.
O rosto de Cadu está frio contra o meu pescoço. E
imediatamente cai a ficha noto que estamos no meio da noite,
sentados no chão na porta de um hospital.
— Cadu... Está frio aqui. — sussurro.
E como em um tele transporte, ele se levanta num pulo. Me
levanto também e ele olha para mim e ao olhar para o meu short do
pijama, se abaixa e toca minha coxa, e depois meu rosto.
— Você está gelada. Puta que pariu veio de pijama até
aqui!
— Você disse que precisava de mim. — eu explico. — Não
quis te deixar esperando.
Seus braços me puxam para mais perto e eu abraço sua
cintura.
— Obrigado. — ele sussurra. — Nem sei como te
agradecer.
— Não precisa, Cadu. — me afasto do seu abraço, e
seguro sua mão. — Me deixa te levar para casa?
— Não precisa, eu estou bem agora... Deixa que eu te levo
para casa.
Ele tenta me puxar, mas eu o seguro no lugar.
— Não, Cadu... Poxa, me deixa cuidar de você.
— Amanda, eu não sou mais uma criança.
— E quem disse isso? — começo a puxar ele, e ele
milagrosamente começa a andar. — Você já se cuidou muito sozinho
Cadu, agora me deixa cuidar de você... Prometo não incomodar.
— Você jamais me incomoda. — ele se aproxima, passa os
braços por meu ombro, e me deixa guia-lo até o meu carro. Não
deixo ele dirigir. E coloco-o dentro do carro antes que ele possa
desistir de me deixar acompanhá-lo.
Eu não sei o que aconteceu. Só sei que em meio a tantas
pessoas... Foi para mim que ele ligou quando estava mal. Foi de mim
que ele precisou. E sou eu que ele disse que estaria ao seu lado
para sempre. E por mais que eu não queira que isso me afete, não
consigo. Pois nada que eu fizer voltará a ser como antes. Nada do
que eu fizer me fará mudar o que eu estou sentindo. Ver ele ali do
meu lado, mais tranquilo depois de tudo... Isso só me faz ter certeza
do que eu tanto tento esconder... Ou negar...
Eu estou perdidamente apaixonada por ele.
CAPÍTULO 23
Cadu me encara sem nem ao menos piscar.
Seus cabelos estão molhados por causa do banho que eu
obriguei ele a tomar, para não se resfriar. Seus olhos brilham de um
jeito que nunca vi antes acontecer. E seus lábios estão curvados em
seu sorriso cafajeste que eu tanto amo.
Ele está deitado em sua cama, e eu me aproximo dele, e
deito meu rosto no mesmo travesseiro que ele está deitado. Ele ri um
pouco, e depois passa seu braço por debaixo do meu pescoço, para
eu poder me deitar por cima. E noto que ele para de assistir ao filme
na tv e continua olhando para mim.
— Que foi? — sussurro.
— Nada. — ele diz, e noto um vinco em sua testa.
— Se não é nada... Por que tem uma preocupação bem
aqui? — coloco meu dedo delicadamente por cima da sua testa
franzida.
Ele retira minha mão, leva até seus lábios e a beija. Sinto
um calor e um frio estranho duelar dentro de mim.
— É que eu estou pensando em como eu sou um idiota por
fazer você passar por tudo isso.
—Ei. — seguro seu rosto com as minhas mãos. — Você
não me fez passar por nada que eu não quisesse.
— Eu não queria que você me visse daquele jeito. — ele
olha para o lado, e eu vejo seus olhos ficarem vermelhos. — Eu não
queria que você me visse fraco. Eu não sou assim, gostosa.
— Não é questão de ser ou não fraco, Cadu. — sussurro.
— Todos nós, por mais que estejamos com um sorriso enorme no
rosto o tempo todo, por mais que a gente tente nos fazer de fortes...
Sempre irá existir um dia em que vamos chegar ao nosso limite.
Cada um tem um limite de algo que consegue suportar.
— Eu sei. Obrigado por ir lá, eu esperava que você não
fosse.
Meu coração se aperta dentro de mim.
— É claro que eu iria.
— Eu só não entendo porque você me trouxe até aqui,
cuidou de mim, e está aqui até agora. — ele sussurra.
— Ai meu Deus, tem razão. — digo surpresa e ele me olha
confuso. — Até porque eu iria ouvir sua ligação e não iria atrás de
você. Eu te encontraria sofrendo e não faria nada a respeito... Tem
razão, na verdade eu deveria ter te deixado aqui sozinho, com frio, e
péssimo. Isso sim é uma boa atitude a se fazer, né?
Ele ri um pouco, e me puxa e beija o topo da minha
cabeça.
— Só você para me fazer ficar calmo. — ele sussurra. —
Mesmo eu não merecendo, e você não tendo obrigação.
— Não fala mais isso... Se eu estou aqui, é porque é o
único lugar onde eu quero estar.
— Mesmo? — ele ergue a sobrancelha. — Em pleno
sábado à noite você prefere ficar com uma versão estranha minha,
do que estar na farra, cinema ou sei lá o quê mais com a Mariana?
Começo a rir.
— Sim Cadu, eu prefiro estar aqui. Com você, não importa
em qual versão você esteja... Só quero estar do seu lado, será que
pode baixar a guarda só um pouquinho, e deixar eu cuidar de você?
Ele sorri um pouco.
— Desculpa... É que ninguém nunca fez isso por mim.
— Isso o quê?
— Esse lance ai de cuidar. Já fez isso aquela outra vez
também.
Sinto meu coração se espremer em meu peito.
— Bom... Um dia ou outro isso iria acontecer, não é
mesmo?
Ele apenas suspira, e fica olhando para as cobertas ao
nosso redor.
— Eu sei. — sussurra.
Ele fica em silêncio e eu fico imaginando no que ele está
pensando. Será que é sobre o que aconteceu?
Me sento na cama, e puxo um travesseiro para o meu colo,
dobro os joelhos e coloco o travesseiro por cima das minhas pernas
entrelaçadas. Bato com a mão no travesseiro e Cadu sorri, e
obedece meu pedido.
Seus braços circulam minha cintura, e ele deita de bruços
com a cabeça no travesseiro em meu colo. Eu puxo a coberta dele, e
o cubro até os ombros. E o ouço suspirar. Fico fazendo massagem
em suas costas, tentando mostrar a ele que pode ficar calmo, e
dormir, que eu não vou sair de perto dele.
— Sobre hoje... — ele sussurra.
— Não precisa contar se não quiser. — me antecipo, e me
abaixo beijando o topo de sua cabeça.
— Eu quero dizer. — ele diz. E então se vira para me olhar.
Ele fica em silêncio, como se estivesse pensando na
melhor maneira de me dizer isso. Será que foi alguma briga dele com
o Arthur ou o Fábio? Por mais que meus pais me estressem, eu
sempre chorei pelo fato de não ser apoiada. E isso sempre me deixa
mal. Cadu suspira, e depois de um tempo olha para mim novamente.
— É que hoje é aniversário da minha mãe. E... Bom, ela
está em coma no hospital. — ele diz baixinho.
Isso acaba com o restante de coração que eu ainda tenho
dentro de mim. Eu nunca pensei isso sobre o Fábio, já que ele quase
não para na empresa. Eu soube que tinha acontecido algo com a
esposa dele, mas eu jamais associei isso ao Cadu.
Talvez porque seja estranho admitir que ele é filho do dono
da empresa que eu sempre trabalhei.
O que dizer para alguém nessa situação? Eu não faço a
menor ideia.
— Sinto muito, Cadu. — sussurro.
Ele sorri um pouco, e puxa a correntinha que ele sempre
usa no pescoço. Ele a tira, e então olha para mim.
— Eu não me dou muito bem com o meu pai, Mand. — ele
diz. — O Arthur sempre tentou reconciliar nós dois, mas nada
funcionou. Quando minha mãe sofreu o acidente, eu meio que
desabei. Ela é tudo para mim e de repente não estava mais lá para
me abraçar, nem para me perguntar coisas idiotas.
Fico paralisada no meu lugar, enquanto ouço Cadu
desabafar coisas sobre sua vida para mim. Ele está confiando em
mim para isso.
— Ela sofreu um acidente de carro. — ele diz. — Ela e meu
pai tinham brigado, porque ela não queria que eu fizesse jornalismo
a força, e ele disse que era meu dever seguir com o negócio da
família... Eu não estava em casa. Mas ela me mandou uma
mensagem dizendo que eles tinham brigado, e que ela iria vir aqui
para casa até a situação passar. — ele fica em silêncio, se
lembrando dos detalhes, e eu queria que ele não revivesse esse
acontecimento terrível em memórias. — E ai veio um carro na
contramão... Um cara idiota bêbado, e o acidente aconteceu.
— Nossa, Cadu. — seguro sua mão, tentando passar força
para ele.
— Eu nem pude me despedir dela, Mand. — ele sussurra.
— Isso é o que mais dói. Eu me lembro que meu pai me ligou
desesperado falando que um socorrista ligou para ele e disse o que
aconteceu. Fomos para o hospital, e... Ela nunca acordou. E eu sei
que existe muita forma de perder alguém que se ama. Ela está lá e
ao mesmo tempo não está, sabe?
O bolo na minha garganta ficou mais forte. E não me
seguro e choro na frente dele. Cadu me olha surpreso, e se aproxima
de mim, limpa a lágrima do meu rosto.
— Tá tudo bem. — ele sussurra.
— Eu não posso imaginar o que sentiu... O que ainda
sente. — coloco a mão em cima do seu coração e Cadu fica me
observando.
— Eu sinto saudades, gostosa... Muita. Uma maldita falta
que nunca vai passar. Mas sei que se de alguma forma ela saber o
que está acontecendo, sei que ela torce por mim.
— E ela está muito orgulhosa por ter um filho assim como
você. — digo baixinho.
Cadu sorri, suas covinhas aparecem, e ele suspira antes
de continuar.
— Quando fiquei sabendo eu fiquei muito mal. Nada mais
importava para mim. Dei muito trabalho para o meu pai, admito. Na
época eu tinha muitos amigos e uma namorada. — ergo as
sobrancelhas e Cadu só sorri e revira os olhos. — Não estamos mais
juntos. Ela disse que eu me tornei um desconhecido. Ela sempre
curtiu mais a ideia de estabilidade financeira na empresa que meu
pai pregava. E depois que tudo aconteceu, eu simplesmente não
queria que minha mãe tivesse sofrido um acidente por discutir com
meu pai sobre mim. Sobre meus sonhos. Aí eu larguei a faculdade e
fiz um curso que eu queria.
— Que curso você fez?
— Fotografia. — sua voz sai toda cheia de orgulho.
— Fotografia? — repito incrédula. — Uau, Cadu!
Ele franze a testa avaliando minha reação.
— Por que? — ele pergunta sorrindo.
— Eu acho fotografia o máximo!
— Sério?
— Sim. Eu adoro fotos! Quero ver algumas que você tirou!
Ele fica sério rapidamente. E eu me pergunto se disse algo
errado.
— Quer mesmo?
— Por que a surpresa?
— Sei lá, tirando minha mãe, ninguém nunca me apoiou
em fotografar. Nem a Nath.
Sinto minhas bochechas ficarem vermelhas pimenta
malagueta.
— Ah... Eu gosto de fotos... E Nath era sua namorada?
Ele só concorda dando de ombros.
— Ela me machucou muito na época, não ficou do meu
lado no acidente da minha mãe. Dizia que eu não era o mesmo
depois de tudo. Aí me cansei. Tenho dois amigos que estão me
ajudando muito. Mas até eles eu meio que me afastei porque me
lembram uma época que não existe mais.
— E seu pai?
Ele revira os olhos e solta um suspiro irritado.
— Hoje nos encontramos no hospital. Discutimos. Minha
mãe já está a meses ligada aos aparelhos. Eu disse para ele que
não é isso que ela iria querer. Ficar respirando por máquinas, e só
existir sem poder viver. Não aguento ver ela naquele lugar. Tínhamos
que deixá-la ir.
— E não tem chances dela acordar? — o questiono.
— Os médicos disseram que ela está com pouquíssima
atividade cerebral. O corpo dela sofreu muitas fraturas. Ela não
consegue respirar sozinha, Mand. Ele disse que mesmo se ela
conseguir controlar a respiração e acordar. Ela irá ter inúmeras
sequelas. Ele disse que a possibilidade dela acordar é zero. E eu sei
que ela não iria querer viver assim. Mas meu pai não entende. Ele
acha que ela vai acordar e que tudo vai voltar a ser como era antes.
Ele tem raiva de mim pelo que eu me tornei. Disse que se não fosse
por mim ela não teria saído de casa para ir me ver, e o acidente não
teria acontecido.
— O quê? Acho bom o imbecíl do Fábio não cruzar com
meu caminho tão cedo, ou eu vou ser demitida por agressão em
ambiente de trabalho.
— Não, relaxa. Eu estou acostumado com ele agindo
assim. No fundo ele sente falta dela.
— Mas isso não é motivo para ele jogar tudo em cima de
você. O único culpado dessa história é a porra do motorista
alcoolizado.
— Sei disso, Mand. — Cadu diz como se estivesse
acostumado em ser acusado por seu pai. — Vamos falar de coisa
boa. A fotografia. É isso que minha mãe iria querer que eu me
focasse. E tirar fotos, meio que me tira do meu mundo, e me leva a
registrar os melhores momentos e lembranças das outras pessoas,
sabe?
Seu sorriso se abre ainda mais, e ele se levanta. Vai até a
cômoda, e tira de lá, uma mochila preta. Abre, e tira sua câmera lá
de dentro. Não entendo muito de máquinas, mas aquela me parece
uma bem cara! E muito chique. Cadu se aproxima de novo, liga a
câmera, e senta ao meu lado. Ele procura por algumas imagens, e
depois me passa a câmera.
— Aqui, eu adoro essa.
Pego da sua mão toda animada. Assim que olho a foto, fico
petrificada. Não é foto de paisagem, ou de modelos, é uma foto...
Minha.
Foi da semana passada, no dia do meu aniversário, estou
sentada na fonte, debruçada sobre a ponte, olhando para aquela
água como se ela fosse a solução dos meus problemas. A foto está
perfeita. A luz jogada pelo meu corpo, mostra com exatidão meu
olhar brilhando. Há alguns galhos que ele deve ter se posicionado
em algum lugar estratégico para tirar aquela foto com detalhes tão
precisos.
Como eu não o vi tirando essa foto?
— Eu gosto de tirar fotos sem as pessoas saberem. — ele
diz como se estivesse lendo meus pensamentos.
— Por quê? — desvio o olhar da foto para ele.
— Por que pega a essência do que a pessoa está sentindo.
— E o que eu estava sentindo?
Ele segura a câmera da minha mão, e fica olhando a foto
por algum tempo. Meu coração se acelera com isso.
— Quando eu cheguei na praça e vi você lá, tão no seu
mundo. Eu tirei a foto rapidamente. Eu adoro essa foto. Ela mostra
que quando estamos presos nos nossos próprios pensamentos, a
gente se desliga da realidade por um breve momento. E esse era
seu momento com você mesma.
— Tem outras fotos minhas? — olho em dúvida.
— Sim. Na verdade, é estranho, mas gosto de te fotografar.
Só que não vou deixar você ver tudo. — ele desliga a câmera e a
guarda na mochila e coloca dentro da cômoda novamente. E em
seguida sobe na cama, e se deita no meu colo de novo.
— Você é muito bom, Cadu.— o elogio. — O melhor
fotógrafo do mundo!
Ele ri.
— Minha mãe também me dizia isso. — ele me olha e nota
minha segunda vergonha do dia. — Vocês são muito parecidas.
— Por que? Ambas te amamos e queremos que seja feliz?
— me arrependo assim que digo isso.
— Não, meu bem. — ele ri. — Vocês têm a mesma força,
não querem se entregar ao que sentem. E sempre colocam as
pessoas importantes para vocês, acima de vocês mesmas.
— Sinto muito por isso. Mas saiba que os anjos estão
protegendo ela agora.
Cadu me olha um pouco paralisado. E sinto vergonha, e se
ele achar que isso é uma idiotice, afinal, a mãe dele ainda não se foi.
— Fica mais aceitável perder ela quando se pensa dessa
maneira... Eu espero mesmo que os anjos saibam do tesouro que ela
representa na minha vida.
— Eles sabem. — acaricio seus cabelos. — Por isso ela
veio ao mundo, Cadu. Todos temos missões a cumprir.
— E qual foi a dela? — ele me olha, buscando explicação
por algo sem lógica.
— Ela veio para mudar a vida de muitas pessoas. —
sussurro. — Para te dar a vida. Para te criar. Para te dar o maior
amor do mundo... E para me dar de presente um noivo fantástico.
Ele me empurra, e começa a rir. Eu caio de costas no
colchão, e sou puxada para os seus braços, ele me abraça com
força, e eu aproveito da nossa proximidade para enterrar meu rosto
na curva do seu pescoço, e sentir seu cheiro. O que será que irá
acontecer comigo?
Eu estou apaixonada por um cara incrível, mas que tem o
defeito de se esconder. Ele nunca irá se prender a alguém como eu.
O peito de Cadu sobe e desce. Ele não tira meu rosto do
seu pescoço. A vontade de dizer para ele o que eu estou sentindo é
grande demais para eu poder resistir. Mas eu não posso fazer isso.
Estragaria tudo. Ele está vulnerável e não é um bom momento. Meu
pensamento se desfoca quando as mãos de Cadu acariciam minhas
costas. Solto um suspiro e me afasto um pouco dele. Cadu está
perdido em seus próprios pensamentos. Olha para algum ponto do
quarto.
— O que você está pensando? — sussurro acariciando
seus cabelos.
— Eu estou pensando em como uma mulher como você...
Está sozinha até hoje. — diz baixinho.
Um tremor percorre meu corpo, e eu deixo um gemido
escapar.
— Eu já te disse, Cadu... É meio complicado.
Ele suspira. Desço minhas mãos até seu peito, e fico
acariciando levemente sua pele. Vejo Cadu estremecer ao meu
toque, ou é impressão minha. Talvez eu queira tanto que
isso seja real, que fantasio até as coisas que vejo agora.
Acorda Amanda, acorda!
— Eu acho que se você parar de procurar, você vai
encontrar alguém que te valorize. — ele diz.
O problema é que eu já encontrei Cadu, mas ele é burro
demais para perceber.
— É... Pode ser. — sussurro.
Ele fica me olhando cautelosamente. Beija a ponta do seu
dedo e encosta na minha bochecha. Começo a rir e me aproximo
dele e beijo sua bochecha. Cadu acha graça e beija o dedo
novamente e encosta na minha testa. Eu me abaixo e beijo sua
testa. Ele fica me olhando por um tempo, beija meu dedo novamente,
e depois se aproxima de mim, encostando nos meus lábios enquanto
seus olhos negros estão queimando de desejo.
Congelo.
Ai.
Meu.
Deus.
Então eu penso que se isso não der certo entre a gente,
pelo menos vou aproveitar da sensação de tê-lo por perto mais uma
vez. Nem que seja nessa louca amizade colorida que levamos.
Sorrio e me aproximo dele rapidamente.
Cadu também vem na minha direção, sua mão puxa minha
nuca, e ele senta na cama enquanto sua língua mergulha dentro da
minha boca. Solto um gemido quando ele me puxa pela cintura para
mais perto.
Passo uma perna em cada lado de sua cintura e me sento
em seu colo, com uma mão puxo seu rosto, e a outra desço
lentamente por todo seu peitoral. Cadu aprofunda o beijo em ritmos
lentos. Ele me beija devagar, e isso me abala profundamente. Pois
assim eu consigo sentir tudo de maneira mais clara, seu toque, seu
beijo, seu gosto. Estou a ponto de enlouquecer.
E nesse momento eu sei que eu estou completamente
perdida. Eu não sei mais viver sem esse homem. Deus do céu!
Eu estou completamente desesperada. Mordo seu lábio
inferior, e ouço Cadu soltar um gemido baixinho, abafado por nossas
bocas. Cadu coloca sua mão por dentro da minha blusa, e me puxa
para mais perto.
E eu viro pensamentos tumultuados, horas sem marcar
tempo, uma garota perdida em um espaço.
Cadu sobe minha blusa para cima, e mesmo com todas as
dúvidas e todas as inseguranças, eu deixo que ele a tire de mim. Ele
a joga para um canto do seu quarto. E se aproxima beijando meu
pescoço.
Sua língua explora minha pele, e ele a suga em sua boca e
mordisca me fazendo arquear até de ouvir sua respiração acelerada.
Desço minha mão por seu peito. Admiro com exatidão a
beleza fora do comum deste homem.
— Você me enlouquece, sabia? — ele diz enquanto
entrelaça sua mão em meus cabelos.
— E você acha que é o único? Você me tira do sério. —
murmuro e beijo sua boca devagar.
— Eu sei. — Cadu sussurra, segura minha cintura e me
vira, me deita na cama e vem por cima de mim. — Mas você poderia
tirar minha roupa, ao invés de me tirar do sério.
Começo a rir e Cadu me cala com sua boca. Desço minha
mão até sua calça e abro o botão e desço seu zíper. Cadu mordisca
minha boca e então se levanta, e tira a calça, ficando só de cueca
branca na minha frente, e eu me derreto toda ao vê-lo assim. Posso
ficar dias só olhando ele.
Ele segura meus braços e os coloca por cima da minha
cabeça. Me impossibilitando de me mover. Abaixa o rosto e beija
minha orelha, a mordisca e depois desce por meu pescoço, minha
garganta. Suas mãos descem por meu corpo e ele puxa meu short
do pijama e a calcinha juntos, e eu chuto minhas pernas empurrando
as roupas mais para baixo.
O olhar de Cadu vaga por todo meu corpo e posso jurar
que vou ter um ataque cardíaco.
— Você é linda demais, puta que pariu. — ele diz. — Não
me canso de te olhar.
Sorrio e ele se aproxima e beija meu seio, o suga em sua
boca e entrelaço meus dedos em seus cabelos e solto um gemido.
Cadu sorri e então desce beijos por minha barriga.
— Vou te provar o quanto preciso beijar cada centímetro de
você. Quem sabe assim não consigo te enlouquecer também.
Ah, ele acha que não me enlouquece? Que mundo ele
vive?
Ele segura minhas pernas e as abre devagar.
— Seu desejo é me enlouquecer? — sussurro.
— Meu desejo é você. — ele diz e então abaixa a cabeça e
me prova explicitamente, o quando me deseja.
CaPÍTULO 24

Tiro o café da cafeteira, e o coloco dentro da garrafa.


Coloco uma toalha vermelha de mesa em cima da bancada. E Cadu
chega na cozinha usando nada além de uma toalha branca enrolada
em sua cintura. Seu peitoral todo molhado pela água do banho que
tomou, se mistura com o cheiro do sabonete de hortelã que ele usou.
Sinto minhas pernas ficarem imediatamente bambas ao ver
aquelas pequenas gotículas escorrem de seu pescoço, passa pelo
seu peito, e desce com um pouco de dificuldade por cada elevação
tentadora de seu abdômen definido.
Cadu solta uma risadinha ao olhar para mim, e se aproxima
com passos determinados em minha direção. Dá a volta na bancada,
e suas mãos tomam posse da minha cintura. Ele me puxa com força
contra seu corpo, sua boca captura a minha e sua língua quente
entra dentro da minha boca, se entrelaça a minha língua, a acaricia,
me fazendo gemer baixinho.
Ele sorri em meio ao beijo ao notar que estou totalmente e
mercê de seus toques. Cadu sobe uma mão até minha nuca, e
depois até meus cabelos, onde ele os ajeita e os segura em uma
espécie de rabo de cavalo. Ele aprofunda o beijo na mesma hora em
que sua outra mão, posta em meu quadril, desce mais um pouco por
meu corpo e aperta minha bunda com força. Gemo dentro da sua
boca e passo minhas mãos por sua cintura, o puxo para mais perto
de mim.
Esse homem é minha perdição!
Cadu afasta do beijo, mas seus lábios vão direto para o
meu pescoço, onde ele puxa meus cabelos para trás, com a intenção
de ter mais acesso ao meu pescoço. Ele sobe sua mão das minhas
nádegas até minha lombar, e me encosta na bancada da cozinha.
Sobe sua mão até sua camisa, que está mega larga para mim, e
abaixa um ombro. No mesmo momento em que o morde com força.
Sinto meu corpo entrar em combustão.
Como se Cadu fosse a chama, e eu a gasolina.
Como se ele fosse o ar, e eu estivesse morrendo para
respirar.
— Cadu... — solto um suspiro.
Ele pressiona seu quadril contra o meu, posso sentir sua
ereção através da toalha e um gelo percorre meu corpo ao imaginar
diversas maneiras diferentes, de arrancar essa toalha de seu corpo e
implorar para ele me dar o que quero. Ele mordisca meu pescoço, e
sinto suas mãos desceram por minhas pernas.
Ele se abaixa um pouco, suas mãos apertam minhas coxas
e eu ofego ele segura a barra da sua blusa que estou usando, e a
sobe para cima. Tirando-a de mim. Livrando meu corpo do primeiro
tecido que está entre nós.
Ele a joga no chão, e desce suas mãos novamente para as
minhas coxas, ergue o olhar para mim, e morde minha barriga.
Ofego e jogo minha cabeça para trás. Por que ele tem que ser tão
intenso assim? Por que isso continua acontecendo? A gente está na
merda de um acordo com prazo de validade e...
— Ai, Cadu! — sussurro quando sinto sua boca sugar a
pele perto dos meus seios.
Ele me lança um sorriso divertido. Suas mãos seguram
minha bunda e ele me levanta, me pega em seu colo e me coloca em
cima da bancada da cozinha. Sinto todo o meu corpo tremer e pulsar
de vontade de puxar ele para mais perto. Beijar sua boca e esquecer
da porcaria desse acordo. Esquecer dos medos, inseguranças.
Acordos e passados com pessoas idiotas.
Nesse momento, temos o presente... Nesse momento a
boca de Cadu toma posse da minha. Cala todos os meus
pensamentos. Sua língua insinua movimentos perigosos, um pecado.
Contra regras. Ele me tem em suas mãos, completamente entregue
a essa atração descompensada que sinto em cada centímetro do
meu corpo por esse homem à minha frente.
Subo minhas mãos até suas costas e o puxo para perto de
mim. Cadu desabotoa sua blusa em meu corpo, e depois a arranca
lentamente do meu corpo, beijando cada centímetro de pele que
começa a aparecer sem a proteção de mais um tecido entre nós.
E assim que suas mãos tocam um dos meus seios, e ele
continua dando toda a atenção com a boca e beijos cálidos enquanto
joga meu sutiã no chão, não resisto e cravo minhas unhas em suas
costas, descendo por todos os lugares que consigo unhar. Cadu
solta um gemido e me beija enquanto ofega dentro da minha boca.
Seus olhos brilham como duas chamas acesas. Ele me lança um
sorriso e morde seu lábio inferior.
— Cadu...
Ele olha nos meus olhos e sinto meu corpo tremer em
negação do que pretendo lhe pedir.
— Vamos parar por aqui? — sinto o soco das minhas
próprias palavras me atingirem. — A gente já está passando dos
limites. Depois vai... — travo com o que pretendia dizer o sorriso em
sua boca se abre ainda mais.
— Depois vai ser difícil esquecer? — ele pergunta em um
tom sensual. — Desculpa ir te atacando assim. É que eu cheguei do
banho e vi você com a porra da minha blusa, me comendo com os
olhos e de repente eu soube exatamente o que você queria. — ele
diz e mordisca meu ombro nu. — E eu me vi querendo te dar
exatamente o que quer.
Ele se aproxima de mim e me pressiona com força contra
seu corpo. Passo minhas pernas ao redor da sua cintura, e solto um
suspiro.
— Agora fica calada. — ele murmura e morde o lóbulo da
minha orelha, um arrepio percorre todo o meu corpo. — Você já me
deixou com marcas... Agora é a minha vez.
Dito isso, ele suga meu pescoço com força. Coloco minhas
mãos em seu peito para o impedir, mas ele só me aperta ainda mais
forte contra sí. Dói. Mas é uma dor prazerosa. Ele me beija devagar
depois de ter sugado a pele do meu pescoço. E sorri ao ver minha
cara de satisfação.
E assim parte para a minha garganta, segura meus cabelos
em um rabo de cavalo, leva meu rosto para trás, e suga meu
pescoço. Naquele momento eu sabia que aquele prazer iria deixar
alguma marca. Mas jamais pensei que fosse me sentir tão completa
quanto ser marcada por ele. Ter suas marcas por meu corpo, e saber
exatamente por onde sua boca me beijou. Me desejou e...
— Ah. — solto um gemido e Cadu sorri contra a pele do
meu ombro.
Ele solta um suspiro contra meu pescoço e assim que olha
nos meus olhos morde seus próprios lábios.
— Cadu... Isso tá errado. — sussurro, o puxo pela cintura e
ele afasta os meus cabelos, e os joga para trás. Sorrio ao perceber
que me sinto completamente a vontade em ficar tão exposta assim
para ele. Nada além da minha calcinha preta, a blusa, e a toalha se
prendia entre nós. — Isso é muito bom... Você é uma tentação,
mas... Tá errado.
— Tem razão — ele diz, escondendo o rosto em meu
pescoço. — Você quer que eu pare, certo? — ele murmura enquanto
beija meu pescoço.
— Hurum. — murmuro completamente atordoada.
— Você quer que eu pare de te tocar, não é? — ele
sussurra e lambe meu pescoço, prova minha pele e eu solto um
gemido baixinho. Ele se afasta, e eu abro meus olhos encontrando
ele com um sorriso convencido nos lábios. — Engraçado. —
sussurra enquanto sinto ele pegar minhas mãos e colocar ao redor
da sua toalha. — Sua boca diz uma coisa, mas seu corpo discorda
totalmente de você. — ele diz e eu respiro fundo. — A escolha é sua.
— ele diz se aproximando e coloca suas mãos no elástico da minha
calcinha. — Ou faz o que sua mente diz... Ou faz o que seu corpo
precisa.
Meu coração quase tem um infarto com suas palavras.
Morro um pouco só de imaginar o afastando de mim logo agora. Que
estou praticamente em combustão, pegando fogo. Cedenta por mais.
Cadu continua sorrindo, me provocando ao passar sua língua pelos
seus próprios lábios, tentando me incentivar e me entregar.
E nesse momento sei que ele é mais cafajeste do que eu
supunha, que ele é mais convincente sem ter que implorar nada. Ele
está me dando o poder da escolha. Eu o tenho em minhas mãos. E
assim como eu ele já sabe que não tem escolha, que está tudo bem
claro.
Então assim que puxo sua toalha e a deixo cair no chão, e
ele faz o mesmo com o último tecido que está entre nós. Ele sorri
vitorioso, me puxa para mais perto, e entra em mim devagar, cravo
minhas unhas suas costas e ofêgo. E diferente das outras vezes,
Cadu segura meu rosto e me faz olhar em seus olhos, move seu
corpo tão devagar que inicia outro tipo de tortura. Jogo minha cabeça
para trás e ele sorri aproveitando para beijar e mordiscar minha
garganta.
E então ele puxa meu rosto e beija minha boca. Sua língua
faz os mesmos movimentos que ele entrando em mim, e solto um
gemido abafado.
— Cadu, por favor. — sussurro e ele sorri e para de se
mover.
— É isso que você faz comigo. — ele diz baixinho e morde
meu lábio inferior.
E então ele esconde o rosto em meu pescoço, e começa a
se mover mais rápido, enquanto me aperta contra ele com força... E
me dá, exatamente o que meu corpo precisa.

Cadu foi comprar alguns pães e algumas coisas para


deixar na sua casa pelo próximo final de semana. Eu ainda estou
completamente bamba e me sentindo a pessoa mais completa do
mundo todo. Me esqueço do acordo, do que sinto, de tudo a nossa
volta. E penso somente em acabar de ajeitar a louça e toda a
bagunça que fizemos na cozinha para então tomar um banho e
relaxar. Pego a toalha dele no chão e a penduro no arame na área
da lavanderia. Bem na hora que a campainha toca.
Começo a rir.
Meu Deus, não faz nem cinco minutos que ele acabou de
sair!
Deve ter esquecido alguma coisa, porque se for para me
roubar outro beijo igual agora a pouco eu juro que dessa vez não vou
mostrar nenhuma resistência ao puxá-lo para dentro de casa.
Vou até a porta a abro rapidamente. Tem uma mulher do
outro lado da porta, só não a fecho rapidamente porque é uma
mulher, e não um homem completamente estranho para me ver
usando apenas uma camisa que vai até acima dos meus joelhos.
A mulher usa um vestido curto, todo floral. Seus cabelos
vão até seus ombros, são loiros platinados. Usa uma maquiagem tão
leve que é como se já tivesse nascido daquele jeito. Carrega uma
bolsa da Victória Secret´s em um dos antebraços. E me olha da
cabeça aos pés, para dentro da casa, e depois olha ao redor.
— É... Desculpe, deve ter algum engano. — ela fala
olhando ao redor, e logo em seguida, olha para a porta novamente
verificando o número. E quando seus olhos pousam em mim
novamente. Todo aquele sorriso dela se esvai. — Aqui... Aqui é a
cada do Cadu? Ele pintou a casa? Tá diferente.
Puxo instantaneamente a porta até cobrir metade do meu
corpo. Não que eu queira me esconder dela. Mas poxa vida. Ela é o
sonho de qualquer cara e eu aqui toda descabelada, corada, e
praticamente sem roupa.
— Ele deu uma saída, mas já deve estar voltando. — digo
baixinho.
Ela solta uma risadinha baixa e revira os olhos.
— Pensei que ele tivesse parado de transar com
vagabundas. — ela abre a bolsa e pega seu celular.
Espera... Ela me chamou de vagabunda?
— Não pensava que ele trouxesse alguém para a casa
dele. Pelo jeito eu...
— E não traz! — digo alto e ele ergue seus olhos para mim.
— E eu não sou uma vagabunda, olha bem antes de falar coisas na
minha cara. A gente nem ao menos se conhece!
Ela solta uma gargalhada.
— Conheço as vagabundas que saem com o Cadu. — ela
revira os olhos. — Então saia da minha frente, pega sua roupa, e dá
o fora da casa dele.
— O QUE? — é a minha vez de gargalhar. — Escuta
aqui... Sua... Metida de uma figa, quem tá sobrando aqui é você. Se
quer conversar com o Cadu, ótimo. Ele vai demorar só um pouco.
Não te convido para entrar porque nem ao menos sei seu nome e...
— Nathália. — ela fala e eu me calo na mesma hora. —
Ah, parece que já ouviu falar de mim.
— Não muito bem, devo acrescentar. — sussurro.
Nathália? A ex do Cadu? Ai meu Deus!
— Ele... Ele já deve estar vindo e...
— Seu nome? Qual é? — ela exige. — Porque eu quero
saber o nome da vagabunda que está tentando tirar meu homem de
mim.
— Como é que é? — começo a rir na mesma hora.
— Seu nome.
— É... Amanda. — sussurro. — E o Cadu não é seu...
— Amanda? Aquela que tem um acordo com ele?
Ela sabe sobre o acordo?
— Cadu me contou sobre o acordo de vocês. Entrei em
contato com ele semana passada, para voltarmos a ser amigos e...
Ele me disse. Meu Deus, desculpa te chamar de vagabunda, é que
apenas estava tentando me livrar de você achando que era igual as
outras.
Ouvir que Cadu tem costume de ficar com outras do
mesmo jeito que fica comigo faz meu estômago embrulhar.
— Mas enfim. Será que pode se vestir e sair daqui? — ela
fala olhando para o celular. — Sei que vocês são só amigos, e eu
preciso reconquistar ele.
Ergo meus olhos e engulo todo o orgulho que sinto dentro
do meu coração. Essa mulher machucou o Cadu não o apoiando e
nem estava lá quando ele precisou no acidente da mãe. E agora
acha que é só reaparecer das cinzas que poder mandar nele
novamente?
Ela começa a entrar na casa e barro sua entrada. O que a
faz olhar para mim surpresa.
— Você não vai entrar. — sussurro. — E se tá achando que
é só estalar os dedos para ter o Cadu de volta está muito enganada.
Ele me observa por um tempo e então sorri sem graça.
— Ah, entendi. Acreditou nas palavras dele foi? Acha que
só porque estão em um acordo vai conseguir algo com ele?
Queridinha, ele só vai te beijar para ajudar nesse seu acordo infantil.
E outra... Cadu é louco por mim. É só eu estalar os dedos e...
— Sai agora daqui. — digo alto. — Não quero que esteja
aqui quando ele chegar. Já destruiu o coração dele, não acha que já
tá bom? Não acha que ele merece seguir em frente?
— Com quem? Com você?
— E se for? — a encaro com raiva e ele solta uma
gargalhada.
— Querida, eu e Cadu temos um passado. — ele fala e fica
séria de repente. — Você não pode lidar com isso. Temos um
passado, coisa que você não tem.
Concordo com a cabeça e olho para os meus pés. Inspiro o
ar e então ergo a cabeça e a encaro da pior maneira que consigo.
— Tem razão... Não tenho um passado com ele. — ela
sorri convencida e então eu sorrio. — Eu tenho um presente. Coisa
que você não tem. — me aproximo dela e ela fecha a cara na
mesma hora. — Antes você o machucava porque não tinha ninguém
para o proteger. Mas agora ele tem a mim. E se você se aproximar
dele eu juro por Deus que eu mesma acabo com você.
— Ah, que amor! — ela começa a rir. — A noivinha falsa
acha que tem chances, é? Se toca garota, o máximo que vai
conseguir dele é beijos falsos na frente dos meus amiguinhos idiotas.
Começo a rir junto com ela.
— Beijos do acordo já demos um monte, e fora dele
também. — continuo rindo e Nath para de sorrir.
— Cadu jamais ficaria com alguém como você, uma
inexperiente. Fique sabendo que eu vou lutar por ele. Ele é louco por
mim. — ela vai se afastando e guarda o celular na bolsa. — Fala
para ele que depois eu venho aqui.
— Não precisa vir, Nathália. — digo e me encosto no
batente da porta. — Eu posso ser uma inexperiente, mas acho que
ele não é tão louco por você quanto pensa. — sorrio.
Ela se vira para mim e franze a testa.
— Por que tá falando isso?
— Porque é o meu nome que ele grita quando estamos em
um mundo tão perto do paraíso que nem lembramos que existem
outras pessoas além de nós.
Ela me olha chocada e bato a porta com força.
Sei que o que falei jamais teria coragem de falar com
ninguém. Mas essa idiota bem que mereceu.
Quem ela pensa que é para continuar voltando para a vida
de Cadu? Pode ser um acordo entre nós. Mas o acordo está de pé.
Ele é meu, no presente. E ai de quem o machucar ou tentar tirá-lo de
mim durante esse tempo.
Eu parto para cima até do santo Ântônio se preciso for.
Quando Cadu chegou, eu resolvi omitir o fato de que Nath
esteve aqui. Ele está tão feliz e nós estamos tão bem, que eu não
quero simplesmente estragar tudo revelando isso a ele. Eu sei que
no fundo ele poderia não gostar e querer ir atrás dela. E isso só iria
me machucar no fim das contas, mesmo eu sabendo que isso é
errado demais se sentir.
Então a ignoro completamente e tento apagá-la da sua
vida. Cadu faz pipoca para a gente enquanto assistimos um filme.
Combinei com ele de me levar para casa depois, já que não dormi lá
noite passada, e amanhã tenho trabalho.
— Por mim você ficaria aqui o fim de semana todo. —
Cadu fala enquanto joga uma pipoca para o ar e pega com a boca.
E que boca!
Sinto um formigamento subir pelo meu corpo quanto tenho
lembranças do que fizemos hoje na cozinha e ontem a noite. Suas
mãos por meu corpo, sua boca em todos os lugares, beijos longos e
selvagens e Cadu como sempre, sendo irresistível e...
Quando ergo meu olhar para ele, o vejo me observar. Vejo
o desejo brilhar em seus olhos e nesse momento sinto seu fogo
começar a me aquecer novamente. Ele é um perigo constante para
mim! Meu Deus do céu!
— Se não parar de me olhar assim, eu juro que não te levo
para casa hoje. — ele diz sério enquanto seu olhar vaga por meu
corpo e para em minhas pernas.
— Não seja bobo. Eu preciso das minhas roupas. — falo e
ele me lança um sorriso cafajeste.
— Por mim você poderia ficar usando as minhas... Ou
podia ficar sem roupa. — sussurra e ergue uma sobrancelha para
mim, me desafiando.
— Ah, sem chance! — começo a rir. — Não terá tanta sorte
assim, gostoso!
Ele sorri ao me ouvir chamá-lo assim. Me levanto e deixo
meu balde de pipoca em cima da mesinha.
— Eu vou pegar só mais uma blusa de frio sua. E... —
acho estranho falar isso, sendo que sinto tanto calor ao me lembrar
dele só de toalha. — Eu vou tomar um banho e você me leva em
casa, tá bem?
Passo por ele que continua me observando.
— Pensar em você nua debaixo do meu chuveiro não
ajuda a melhorar as coisas, Mand. — ele grita antes que eu entre no
chuveiro e tire sua blusa e todo o resto da minha roupa.
Ligo o chuveiro, fecho o box preto e entro dentro daquela
água quentinha. É como se eu fosse explodir a qualquer momento se
continuasse perto de Cadu. Sinto meu coração se apertar. Agora
mesmo que preciso de coragem para dizer a ele o que estou
sentindo. Sua ex sabe do nosso acordo, o que significa que Cadu e
ela não tem segredos, e ele ainda confia nela para se abrir a algo
desse tipo. Ela sabia sobre mim, e eu só soube da sua existência
noite passada.
Será que Cadu realmente me trata como todas as
mulheres que ela diz que ele fica por aí? Será que para ele isso é
realmente um lance casual de amizade colorida e eu que estou
confundindo tudo me entregando dessa forma?
Seja o que for, eu preciso decidir isso logo, antes que mais
coisas aconteçam e eu acabe me ferindo mais do que já irei sair
machucada dessa história.
CAPÍTULO 25

Mari está cada vez mais estressada, chora sem motivos, e


todos os dias ela me liga gritando “Tá tudo dando errado!”.
Hoje é um dos dias mais calmos até agora. Estou
concentrada no trabalho, e tento ignorar minha dor de cabeça. Não
consigo parar de pensar nas coisas que a Nathália sabia ao meu
respeito.
E ainda tem todo esse acordo sem sentido com o Cadu, e
isso me deixa ainda mais nervosa. Até porque ainda faltam três
semanas para o casamento, então eu sei que isso só tem a intenção
de piorar a medida que o grande dia se aproxima. Porque nosso
acordo tem exatamente esse prazo de validade.
— Toc toc. — Mari diz enquanto bate na porta da minha
sala. — A porta estava entre aberta, e eu preciso conversar com
você.
— Me deixa adivinhar. — digo rindo. — Alguma coisa deu
errado? O que foi dessa vez? Foi algo no sítio? Decoração? Roupa?
Buffet? — ela ri e nega com a cabeça. — Hum... Deixa eu pensar...
Algo deu errado com o Rick e precisa da minha ajuda para ser sua
piloto de fuga?
Ela solta uma risada e fecha a porta atrás de si, e senta em
uma das cadeiras de frente a minha mesa.
— Não Mand, nada disso. — ela diz. — Finalmente está
tudo se ajeitando.
— Então o que foi dessa vez?
Ela fica séria e solta um suspiro.
— Foi seu coração.
— Meu... Coração?
— Eu não tive tempo de vir conversar com você, até
porque eu estou uma pilha de nervos, e ontem nem tive tempo de
sossegar, mas eu sou sua amiga, e quero estar aqui para você
também... O que aconteceu? Desde que voltou da casa dele você
está agindo de uma forma estranha.
Ah, droga! Esse assunto! Eu evitei Mariana para que eu
não precisasse colocar para fora, e agora ela está aqui me
prendendo contra a parede e não tem mais como fugir.
— É... Você tem razão. — digo. — Estou mesmo gostando
dele.
— Ah! Eu sabia! — ela gritou sorrindo.
— E... Eu decidi que o melhor é não falar nada. Deixar
chegar o casamento e fazer essa história toda ficar só no passado.
— O quê? Não é passado! É presente! Amanda o que
sente é real! Isso não vai deixar de existir quando o acordo acabar.
— O que eu sinto? — repito incrédula. — Eu nem sei o que
sentir! Acontece que ele tem uma ex, que está mais presente na vida
dele do que eu supunha. E eles tem um passado, uma história, e
com certeza ele sente alguma coisa já que até a merda do nosso
acordo ele contou.
— Puta que pariu.
— Eu não quis contar para ele sobre ela, mas...
— Esquece ela. Ás vezes é só amizade entre eles.
— Não é isso o que ela quer. — digo me lembrando do
tanto que ela impôs que ele pertencia a ele.
— Que se dane o que ela quer! O que importa é o que ele
quer.
— Eu tô cansada disso, Mari. — cubro o rosto com minhas
mãos. — O amor é uma droga.
— Ei, não diz isso. — ela se aproxima de mim e se agacha
ao meu lado. — Sabe por que as pessoas mais erram no mundo?
— Por que?
— É porque confundem tudo com o amor... O amor não é
algo ruim, Amanda. O que aconteceu entre você e o Edu foi mágoa,
decepção, traição... E o que aconteceu com o Cadu e ela, pode ser
só uma fachada também. Mas o amor em si, é o sentimento mais
puro e verdadeiro que sentimos na vida... Ele não é uma droga
Amanda... Amor é salvação.
Sorrio para a Mari, ela tem razão, eu tenho que parar de
culpar o amor, e quem sabe o Santo Antônio também.
— Eu sei... Mas não é amor o que eu sinto pelo Cadu.
— Tem certeza? — ela pergunta erguendo as
sobrancelhas.
— Não... Sim... Quer dizer, eu não sei. As vezes acho que
eu não o conheço de verdade. Ou não me conheço tanto assim.
— Ei, você nunca vai conhecer ele melhor se decidir ficar
assim, se escondendo no trabalho e em casa e evitando se encontrar
com ele.
— Eu tenho medo, Mari.
— Sabe o que eu acho? Que você tem que falar para ele
tudo isso que sente. Seus receios, pergunta sobre a tal da ex. Ele vai
te explicar pelo ponto de vista dele, não dela. E aí só parte para
cima.
Começo a rir e empurro Mari para o lado.
— Eu não consigo saber o que fazer.
— Se arrisque. O máximo que vai levar é um não. Mas
também pode levar um sim, você nunca vai saber se não tentar.
— Acho que o medo não é de falar... O medo é mesmo da
resposta.
— Você já tem o não. Não vai mudar muito a partir daí.
— Nada sobre relacionamentos é fácil.
— Isso só depende de você!
— Mari! — Rick bate na porta e sorri para mim. — Oi
Mand, não queria incomodar o papo de mulheres aí, mas ligaram da
confeitaria, querem conversar com você.
— Ah! Estava demorando! Você e sua boca grande,
Amanda. — ela diz rindo, e beija o topo da minha cabeça. — Fala
para ele.
— Vou tentar, quer dizer... Pensar. — ela revira os olhos e
eu começo a rir.
Eu não sei o que falar sobre o Cadu. Mas é como Cadu me
disse no dia do meu aniversário.
O seu destino se define conforme as escolhas que você
faz.
Quando estou perto dele, nada parece errado. Mas quando
estou longe dele tenho dúvidas se isso realmente pode dar certo. É
como se meu coração se dividisse em escolhas. Escolhas que eu
quero tomar, mas às vezes, preciso da certeza que habita em mim,
para ter a convicção de que estou fazendo a escolha certa.
Sinto meu corpo se congelar quando dou a partida no carro
e saio do estacionamento do prédio da empresa. Fiquei pensando
muito sobre o que Mari me disse hoje mais cedo. Eu preciso criar
coragem e ser sincera com o Cadu, e até mesmo dizer a ele que
estou confusa e tudo o que se passa dentro de mim.
Sendo assim, pego o caminho até a sua casa. E penso em
todas as formas de dizer a ele o que estou sentindo.
Por onde devo começar? Qual vai ser a reação dele? Será
que ele sente a mesma coisa? Ou será que só quer uma amizade
colorida e nada mais que isso?
Perco a noção do tempo a medida que sua casa se
aproxima, e assim que paro na portaria do condomínio, parece que
tudo se torna ainda mais real. Abro o vidro da janela e aceno para o
porteiro.
— Oi. — ele me cumprimenta sorrindo.
— Oi, Cadu está em casa?
— Vou verificar para você.
Ele se afasta e fala algo no telefone, e concorda com a
cabeça, e então se aproxima de novo de mim.
— Pode entrar. — ele fala e abre o portão me dando
passagem.
Entro com o carro e sigo a caminho da casa de Cadu. E
meu nervosismo só aumenta. Estaciono o carro, abaixo o retrovisor
do carro e confiro meu rosto. Bom, estou meio social do trabalho,
mas pelo menos a maquiagem ainda está lá.
— Ok, você consegue. É só o Cadu. — digo para mim
mesma no espelho.
Saio do carro, ligo o alarme e caminho até sua casa e toco
a campainha. Sinto meu coração se acelerar e respiro fundo. Passa
um tempo e ele não abre a porta. Então toco de novo a campainha.
Ouço passos se aproximando e o barulho da chave
destrancando a porta. E assim que ele abre a porta, meio que
esconde seu corpo. Está rindo de alguma coisa, mas assim que me
vê do outro lado da porta, seu rosto fica pálido e seu sorriso some.
— Mand? — ele sussurra surpreso. — Tá fazendo o quê
aqui?
Abraço meu próprio corpo para controlar o nervosismo.
— Desculpa vir sem avisar, mas eu preciso conversar com
você. — digo e ele franze a testa. — Posso entrar?
Estranho ele ainda não ter me deixado entrar.
— Claro. — ele diz meio incerto. — Aconteceu alguma
coisa?
Assim que ele se afasta um pouco da porta vejo que está
com uma toalha em sua cintura e sorrio com as lembranças que essa
visão me trás. Ele encosta a porta, e fico imediatamente sem jeito.
Que ideia foi essa de vir aqui sem mais nem menos e jogar
essa bomba na cara dele, assim do nada?
— Na verdade, aconteceu sim, de certa forma.
Ele engole em seco e me observa com atenção.
— O que foi? — ele me pergunta, se aproxima e coloca
meu cabelo atrás da minha orelha.
— Não tem um jeito simples de falar isso. — digo nervosa
e mordo meus lábios. — Não sei o que vai pensar ou o que vai dizer
depois do que eu disser... Mas eu preciso falar sobre nós.
Ele concorda meio hesitante.
— Ok. — diz baixinho. — O que tem nós?
Meu coração se aperta e tento controlar o tremor que
percorre meu corpo.
— Aí é que está. — sussurro.
Olho para Cadu e me aproximo lentamente. Seguro seu
rosto em minhas mãos, ele apoia suas mãos em meu quadril. Beijo
sua boca lentamente e ele fecha os olhos e sinto seus dedos
apertarem minha pele.
E então me afasto devagar, e espero que ele olhe
novamente para mim. E assim que o faz, estremeço.
— Tem um nós, Cadu? — murmuro. — Para você, você
acha que... Pode existir um nós?
Ele prende a respiração e quando vai me falar algo ouço
passos em nossa direção. Olho em direção ao corredor da sua casa,
e parece que uma faca golpeia meu peito ao ver Nath parada lá com
uma toalha enrolada em seu corpo. Ela me olha e então sorri.
E tudo é tão revelador que me sinto fraca.
— Amanda! — ela fala e se encosta na parede. —
Esqueceu algo aqui? Veio em péssima hora, não precisava
atrapalhar...
— Cala a boca! — Cadu fala, me solta e se vira para ela.
— Vai para o quarto, eu preciso conversar com ela.
Ela sorri e ergue os braços para cima.
— Ok, te espero no quarto. — ela sorri e diz isso olhando
bem para mim.
E então se vira e entra para dentro. Sinto vontade de
chorar mas me recuso a fazer isso na frente dele.
— Porra. — Cadu coloca a mão na testa e então se vira em
minha direção. — Vai parecer canalhice o que eu vou dizer mas... Eu
juro que eu posso explicar.
Faço negação com a cabeça e vou em direção a porta, e
assim que a abro, Cadu me empurra contra a porta, a fecha e
pressiona meu corpo contra a madeira da porta e seu corpo. Seu
rosto está em meu pescoço e ouço sua respiração acelerada.
— Por favor, gostosa... Não faz isso.
— Só me deixa ir. — digo e empurro seu corpo para trás e
volto a abrir a porta.
Saio de sua casa apressada e Cadu sai e vem junto
comigo, nem se importa em estar só de toalha.
— Mand, o que veio fazer aqui? — ele me pergunta. — O
que quis dizer lá dentro sobre existir um nós?
Vou até meu carro e abro a porta, entro depressa e tranco
a porta para que ele não consiga abrir.
— Amanda! — ele fala e bate no vidro da janela. — Não
pensa merda.
— Que merda acha que eu tô pensando? — abro o vidro
da janela e ele suspira e se abaixa para me olhar. — Só... Faz um
favor e volta lá para o quarto. Não vá deixar visitas esperando.
— Não! Amanda, cacete só me escuta.
Dou partida no carro e acelero para longe da casa dele. E
assim que saio do condomínio, ando algumas ruas e estaciono o
carro debaixo de uma árvore. E assim que desligo o carro eu me
permito chorar. Tirar esse bolo que se forma em minha garganta.
Ele está com ela! Ele realmente não se importa com nada
disso e eu aqui fazendo o papel de palhaça. No fundo eu achei de
verdade que ele pudesse sentir algo, ou só resolver dar uma chance
para nós dois. Mas não.
Ele realmente prefere fazer do seu passado um presente.
CAPÍTULO 26

— Eu sei, você já me falou isso umas dez vezes Amanda,


mas eu não quero saber, você vai, tem que ir! — reclama Mari
praticamente dentro do meu guarda roupa. — Agora venha me
ajudar a achar algo sexy para você vestir.
— Ah é, tipo o que? — começo a rir.
— Tipo um vestido mega justo!
Suspiro irritada, e me jogo na cama. Eu não estou com um
pingo de animação para ir em uma despedida de solteira. Pensei que
Mari quisesse só um Chá de Langerie, mas não. Ela quer ir para a
farra só com as amigas na sua última noite sozinha de liberdade.
— Amiga, esse é um evento perfeito! E eu preciso de você
do meu lado.
— Mari, não tô a fim.
Ela se aproxima de mim, segura um vestido preto com um
decote. Coloca em cima da minha ama e senta ao meu lado.
— Olha, eu sei que foi uma merda o que aconteceu, mas
você precisa tirar essa energia negativa toda, jogar para o ar e se
divertir.
— Uma merda? Eu fiz papel de otária lá na casa dele.
— Ah, chega! Chega isso! Não aguento mais! — ela segura
minhas mãos e me faz levantar. — Já está ignorando ele a duas
semanas, deu! Uma hora você vai ter que encarar ele sem ser pelo
celular. Meu casamento é daqui uma semana. Cedo ou tarde isso vai
acontecer.
Meu celular vibra. E nem olho para ele.
— Tá vendo! — Mari grita. — Aposto que é o Cadu
tentando conversar com você sobre aquele dia e você ai nem ai para
ele!
— Mas a culpa foi dele!
— Amanda, ele tentou conversar com você depois daquele
dia... E ao invés de você falar “Ok, vamos ser adultos”, você está
novamente fazendo aquela sua idiota mania de fugir.
— Você me conhece bem mesmo, hein. — digo.
Abro a mensagem de áudio que ele me mandou.

Mand... Até quando vai ficar sem falar comigo? Precisamos


conversar.

Suspiro. E meu coração se aperta.


— Aposto que é ele. — Mari diz.
— E é mesmo.
— Amiga, diz que vai ir em uma despedida de solteira onde
terão homens que dizem na cara o que quer, e que você vai ter uma
noite produtiva!
— Mariana! Eu não quero que o Cadu pense que eu sou
uma vadia!
— Bom, ele e o amigo dele lá em baixo não são taxados
disso quando passam o rodo em geral. Não deixarei ninguém pensar
isso de você se quiser fazer o mesmo. Vai que ele sinta ciúmes e
veja enfim o mulherão que perdeu.
— Não se pode ter ciúmes de alguém que não se goste. —
digo.
Clico no áudio para responder.

Oi Cadu, foi mal. Estive ocupada com o trabalho, você


sabe muito bem como seu pai é com prazos a cumprir. Mas relaxa
que estou dizendo a ele que você está ajudando, pode ficar tranquilo
que estou cumprindo o acordo para você ganhar tempo e aproveitar
sua vida pessoal. Depois a gente conversa. Vou sair hoje com as
meninas. Beijo.

Eu poderia sim ter respondido ele e atendido as ligações


mas estou chateada demais para isso. E não vou deixar ele pensar
que eu estou em casa entediada.
— E então, é aquele vestido lá? Acabei de me decidir!
— Ah, isso ai! — Mari comemora e eu saio correndo para
trocar de roupa.
— Então é ali? — Mari sussurra para Vanessa, que está
dirigindo o carro. — Naquele bar ali que acontece despedidas de
solteiras?
— É, pois é. — Vane disse. — Você vai se divertir, vai ver!
— Assim espero. — ela começa a rir.
Mari sai do carro correndo quando Vanessa estaciona. E
saímos do carro, e outras amigas de Mari se aproximam em seus
carros e todas esperamos para entrarmos juntas.
E assim que todas chegam, Vanessa tira da sua bolsa um
arquinho com um véu e coloca na cabeça de Mari que começa a rir
imediatamente. Todas vamos em direção ao bar, mas eu sinto
vontade de fazer outra coisa que também está me machucando.
Seguro o braço de Vane e a impeço de continuar.
— Vane... Espera.
Ela para e me olha surpresa e constrangida.
— Que foi, Mand? Tá tudo bem, não quer ir?
— Quero conversar, você sabe do que eu tô falando.
Ela suspira e solto seu braço. Ela olha para baixo e fica
sem jeito.
— Olha, sobre aquele dia, eu sinto muito ter saído da sua
casa correndo, e sei o que o Edu falou e...
— Eu sei. — digo e seguro sua mão. — Na verdade não é
do idiota do Edu que eu quero falar.
Ela ergue a sobrancelha e me olha.
— Eu só queria dizer que... Eu sinto sua falta.
Os olhos dela se enchem de lágrimas, e vejo que ela está
se controlando para não chorar.
— Eu também sinto a sua, Mand. Sempre senti.
Sinto um bolo crescendo na minha garganta.
— Cadu disse que eu tinha que falar isso para você... Ele
disse que por mais que eu tenha me magoado, eu ainda me importo
porque não deixamos de gostar de amigos da noite para o dia, e
você é minha amiga desde o dia que eu nasci, Vane. — digo. —
Então sim, essa situação é estranha, e eu ouvi o que você falou com
a Mari. Sei que ele também mentiu para você no passado e eu
queria que tivesse me contado isso antes, assim eu não iria passar
tanto tempo te odiando. Mas, esse... É o primeiro passo. Eu sinto sua
falta. E espero que com o tempo a gente consiga dar o segundo
passo.
Ela sorri e aperta minha mão.
— Obrigada, é muito importante ouvir isso de você. Você
não imagina como foi ruim ter que ver filme de terror no meio da
noite sem você.
Começo a rir me lembrando dos velhos tempos, e Vane
para de rir.
— E foi horrível ouvir todas as tempestades e não ter mais
intimidade para te mandar mensagem dizendo que estava tudo bem.
Ou te contar tudo que está acontecendo.
— Obrigada, Vane... Foi o primeiro passo.
Ela concorda e então limpa as lágrimas.
— E vê se para de correr atrás daquele idiota. — digo e ela
chora ainda mais.
— A Mari não te contou mesmo, né?
A olho confusa e ela limpa as lágrimas de novo.
— Acontece que eu não descartei ele totalmente da minha
vida, porque eu descobri que estou grávida.
Arregalo os olhos surpresa e ela faz negação com a
cabeça.
— É um saco ter que aturar ele de agora em diante, não
vou voltar com ele nunca mais. Mas infelizmente é algo que nos une,
sabe? E... Sei lá, mesmo que esteja puta com ele, por um lado... Eu
até me sinto completa por ter esse bebê, sabe?
Sorrio e me aproximo dela e a abraço.
— Vai dar tudo certo. Saiba que pode contar comigo se
precisar.
— Obrigada, Mand. — ela acaricia minhas costas e então
solta um suspiro, limpa as lágrimas e sorri. — Mas vamos focar em
coisas boas. Vamos entrar lá, você vai beber, vamos dançar com
caras, e nos divertir.
— Ok, mas acho que não vou beber não.
— Por que?
— Digamos que... Eu e a bebida agora somos inimigas
mortais.
Mas foi só eu entrar naquele maldito
estabelecimento... Que eu e a minha inimiga mortal... Nos tornamos
amigas inseparáveis.

— Mais um! Mais um! Mais um! — gritam as mulheres a


nossa volta.
E nós pegamos mais um copo de tequila.
— Vira! Vira! — gritam.
Eu nem penso, e pela segunda vez jogo a dose para
dentro. Sinto meu estômago queimar, e meu corpo todo pega fogo.
Começo a pular e a rir constantemente. Eu sei que estou bêbeda.
Conheço meus sinais. Mas eu estou feliz e é isso que importa. Se
tiver PT de manhã, vai valer a pena.
— Tudo bem! — grita Mari. — Chega de beber, porque eu
quero me lembrar com perfeição desse dia!
É estranho pensar em despedidas de solteiros. Enquanto
Mari está aqui babando por homens dançando, provavelmente Rick
está admirando outras mulheres também. Droga, quando eu me
casar não quero isso! Isso parece tanto com uma traição.
Sentamos em uma mesa perto do palco, e um homem
maravilhoso chega usando apenas calça preta, e animando a noite.
— Ficamos sabendo que temos uma noiva aqui hoje! — ele
diz.
E nós gritamos incentivando Mari, que levanta os braços
toda tímida, se revelando no meio da multidão com aquele véu
branco na cabeça.
— Ah, ai está você! Pode vir aqui no palco, por favor?
Ela me olha sorrindo e ajudam ela a subir, eu até coloco
meu celular para filmar, preciso registrar esse momento.
— Vai lá, Mari! — grita Vanessa. — Aproveita esses caras
antes de ter que aguentar o Rick para sempre!
— Vanessa! — a repreendo.
— Que foi? — ela grita. — Eles são pagos para isso, temos
que aproveitar!
Começo a rir, e reclamo sobre o quanto isso não deveria
fazer parte da tradição do casamento. Vane fica me encarando
sorrindo e faz negação com a cabeça.
— Na boa Amanda, você também está noiva! Deveria subir
lá também! — ela diz rindo.
Meu coração se aperta ao me dar conta que todos ainda
acreditam na minha mentira.
— Tá maluca?! — grito com os olhos arregalados. — Eu
não.
Olho para Mari que está roxa de vergonha e o cara do
palco começa a acariciar seu corpo.
— Mariana é um noiva muito tímida... Que tal chamarmos o
bombeiro Ricardão para ajudar com o fogo dela?
Solto uma gargalhada alta.
Ricardão para ajudar com o fogo dela? Oi?
Enquanto Mari me olha de um jeito como se implorasse por
ajuda. Eu não evito rir ainda mais quando um homem chega vestido
de bombeiro no palco e fica dançando ao lado de Mari.
Que situação! Coitada dela!
Pensando bem ser noiva tem seus contras também. Vou
até o bar e pego mais um copo de bebida, e tomo um gole.
Meu celular começa a tocar, nem olho para a tela. Estou
tão distraída com o espetáculo vergonhoso da Mari na minha frente,
que nada basta.
— O... Oi! — gaguejo e começo rir imediatamente.
— Amanda? — assim que eu ouço a voz, congelo.
Cadu.
Ai que merda por que eu não olhei quem era antes de
atender?
— Oi. Que foi? — começo a rir imediatamente, e o barman
fica me encarando sorrindo.
— Está tudo bem? Você está estranha. — ele começa.
— Eu tô bem Carlos, se é para isso que... Que você ligou
pode...
— Não! Não é isso. — ele sussurra.
Ele fica calado e eu sinto meu estômago arder pelo álcool.
— O que você está fazendo comigo, Gostosa? — ele
murmura.
Meu coração se acelera com isso. Como assim? O que ele
quis dizer com isso?
Ouço o grito de Mari e quando olho para ela, vejo que o
bombeiro está pegando ela no colo. Começo a rir imediatamente.
— Por que você está rindo? Eu estou falando sério. Mas
que droga, eu não estou aguentando mais essa situação. — ele grita.
— Que porra é essa de barulho ai? Onde você está?
Não consigo prestar atenção em mais nada.
— Na despedida de solteira da Mari! — grito.
Cadu fica calado, penso até que ele tinha desligado o
celular, mas a chamada estava correndo.
— Por favor, diga que essa sua voz estranha não é porque
está bêbeda. — ele rosna.
Ah que droga, quer saber, eu não devo explicação para ele!
Ele não é nada meu. Não tem conta com a minha vida.
— Quer saber? — grito. — Eu tô numa boate, e tem caras
lindos aqui dançando. Tomei várias doses de tequila, e eu tô pouco
me lixando para a merda dessa mentira!
— Onde é essa boate? Estou indo até aí.
— Eu estou na despedida de solteira da Mari, idiota! Eu
não quero ver homem na minha frente, se não esses que vou dançar
agora! — desligo o telefone e sorrio vitoriosa por minha atitude forte.
Olho para o palco e sinto toda a adrenalina me invadir. Vou
até nossa mesa termino de tomar minha bebida e fico rindo pela
situação da Mari.
O bombeiro fica levantando os braços dela enquanto dança
colado em seu corpo, e eu posso ver o quanto ela está se divertindo.
E assim que eles terminam, ela vem até a mesa suada e pega uma
bebida e começa a se abanar.
— Quero isso mais vezes! — ela diz. — Esquece o que eu
disse, os preparativos do casamento são ótimos!
— Mari!
— Ah que foi? Rick tá lá vendo mulher também
provavelmente, eu só estou me divertindo.
Começo a rir e me encosto na cadeira. Começamos a
conversar e tirar fotos para recordarmos esse momento, e então o
lugar todo fica com uma luz azul. As mulheres assobiam e começam
a gritar quando uma música sensual toca.
— Então vocês estavam se escondendo? — uma voz diz
no microfone. — Vou chamar uns policiais para prender vocês por
mal comportamento.
— OPA! ADORO! — Fernanda fala.
Todas nós levantamos e vamos até perto do palco, e vários
caras se aproximam de nós. Um deles chega ate mim e toca meu
quadril, segura meus braços e começa a levantá-los para cima.
— Vou te revistar, gata! — ele diz alto.
Sinto suas mãos tocarem meu corpo, e então do nada ele
para. Fico sem entender, e quase me viro para olhar para ele, até
que sinto novamente seu toque por meu corpo.
Sua mão me puxa para trás e encosta seu corpo no meu.
Mari se vira e olha pra mim, parece levar um susto mas só sorri e se
afasta de novo.
As mãos do policial sobem até minha garganta, e ele
inclina meu rosto para o lado e beija meu pescoço. Sinto um arrepio
percorrer meu corpo, é tão intenso o toque dele que meu corpo me
trai me entregando dessa forma. Assim que aperta seu corpo ao
meu, posso sentir sua ereção em minhas costas, e acho que isso
tudo está indo longe demais.
Tiro suas mãos do meu corpo, e então fico sem graça.
— Desculpa, mas não vai rolar. — digo me virando e fico
de frente para ele.
E quase morro do coração quando vejo Cadu ao invés do
policial na minha frente. Então era ele quem me tocava assim?
— Não tô acreditando. — reviro os olhos e começo a me
afastar, mas ele me segura pela cintura e me puxa em sua direção —
Realmente precisou fingir uma fantasia só para se aproveitar de
mim?
— Eu não uso fantasia, só realizo. — ele diz e puxa meu
rosto até sua direção e encosta nossas testas. — E vamos
conversar.
— Não. — me afasto antes que meu corpo de traia
novamente. — Eu não vou a lugar nenhum com você.
— Nem que volte depois, mas vamos conversar agora. —
ele fala, e então segura minha cintura e me ergue do chão, me joga
por seus ombros, e se vira para Mari.
— Mari, só vou conversar com sua amiga.
— Isso aí! — Mari grita e tenho vontade de matar ela.
Tento me levantar colocando minhas mãos nas costas dele
e ter outra visão a não ser a bunda perfeita de Cadu na minha frente,
e vejo Vanessa e Mari sorrindo para mim enquanto ele me leva para
fora do estabelecimento.
— Me solta! — grito. — Quem te contou que eu estava
aqui? Não temos nada para conversar.
Cadu aperta minhas pernas ainda mais. Ele anda rápido, e
quando mais eu me debato, mais seus braços ficam rígidos contra
mim. Me canso e tento não pensar no que estou sentindo. Mas é
mais forte do que eu.
Como assim ele está aqui e parece estar com raiva de
mim? Ele não tem o direito de estar com raiva! Eu que tenho esse
direito! Cadu me seduz, me beija, transa comigo, diz palavras lindas,
e do nada ele resolve que tudo bem passar o rodo em todas as
outras? Ainda mais sua ex?
Chegamos no estacionamento e ele me coloca no chão
devagar. Cadu abre a porta do carro, e eu fico puta de raiva e vou
voltando para o bar, ele percebe e vai novamente atrás de mim.
— Porra gostosa, dá para parar de ser infantil?! — ele
segura meu braço.
— Quer fazer o favor de me soltar? — eu berro
cambaleando e ele me segura e me impede de cair. — Você tá
bêbada pra caralho, eu não vou soltar você.
Me debato contra ele de novo. E ele me empurra devagar
contra o carro e esmaga seu corpo contra o meu.
— Eu. Estou. Falando. Sério. — ele diz com raiva e
pausadamente. — Não tenho saco para ter que aturar isso.
— Sério? Ah, cala a boca! — grito. — Eu não entendo
porque você está tão nervosinho, eu só estava me divertindo, e
dançando com caras! Então qual o problema?
Cadu fica me olhando, e então ele fica calado, apenas em
silêncio. Seu olhar me sufoca, me queima, me deixa desorientada e
sem saber o que fazer.
— O problema? — ele repete incrédulo. — O problema, é
que eu não quero que outros caras toquem, olham, cheiram,
sintam... O que é meu. — ele diz chegando mais perto de mim. —
Você é minha.
Estou em choque. É como se eu tivesse ganhado um tapa
na cara. Como assim eu sou dele? Como assim ele não quer que
outros caras cheguem perto de mim? Quem ele pensa que é? Bom,
meu dono que não é!
— Desde quando eu sou sua, Cadu? — eu o encaro
pasma. — Sou sua quando se cansa de transar com sua ex, e
resolve brincar de casinha comigo de faz de conta?
Ele cerra os dentes. E fica olhando para os meus lábios.
— É sobre isso que eu quero conversar. — ele diz. —
Aquele dia as coisas ficaram confusas.
— Confusas? — pergunto e reviro os olhos. — Pelo
contrário, estão muito claras para mim! Nós estamos na merda de
um acordo! E tudo o que rolou entre nós nesse momento não passa
de fingimento!
— É isso o que acha? — ele pergunta e me olha incrédulo.
— Realmente não sentiu nada real?
— Sai de perto de mim. — digo e tento o empurrar, mas ele
não se afasta.
— Mas eu quero isso. Quero ficar perto de você.
— As coisas não acontecem só porque você quer, Cadu. —
disparo.
— Tem razão. — ele faz uma pausa. — Mas as coisas
acontecem, talvez, porque nós dois queremos o mesmo, Gostosa...
Ou vai negar que não me quer?
Estou perdida, presa, sem poder ao menos me mover.
Cada vez que tento sair ele me segura, e seu corpo contra o meu
não é uma boa opção. Ergo meus olhos para ele, e o vejo olhar
minha boca. E imediatamente sei o que ele quer fazer.
— Cadu... Eu não vou beijar você. — sussurro.
Ele me aperta ainda mais. Seus braços vão para a minha
cintura esmagando-me contra ele. E eu tenho que abrir um pouco
minha boca para continuar lembrando de como se respira. O simples
toque dele já me faz perder totalmente o controle.
— Me beija. — ele sussurra. — Deixa eu confirmar minha
teoria
Se aproxima de mim, e beija meu pescoço.
Merda, golpe baixo.
Eu tento empurrá-lo mas ele não sai do lugar. Seus lábios
continuam explorando com insistência meu pescoço exposto. Eu
aperto seus braços, e sinto ele sorrir contra minha pele, ele sabe que
eu estou caindo. Muito, muito rápido, no seu joguinho de sedução.
Ele aproxima seus lábios de mim, sua respiração quente contra meu
rosto.
Eu estou perdida, Deus do céu!
— Você está me enlouquecendo. — ele sussurra, passa
seu polegar por meu lábio inferior vagarosamente, e minha
respiração se acelera ainda mais.
— Cadu...
— O que você está fazendo comigo? — ele me olha nos
olhos. — Por que não consigo mais me controlar perto de você? Que
merda é essa?
Sou sugada por seus olhos. Não posso esquecer da última
vez que o vi.
— Eu não vou beijar você. — digo.
Ele me olha completamente destruído. Seus braços me
apertam com mais força, e ele deita o rosto na curva do meu
pescoço.
— Por que não?
Tudo vem como um flashback para mim agora. O cinema, o
nosso acordo, nossa entrega um ao outro. Essa sensação forte, esse
desejo incontrolável, ele chorando no meu colo, e ele de toalha com
a ex mandando ele o esperar no quarto na minha frente.
— Porque não existe um nós, Cadu. — digo.
Sinto os braços dele ficarem mais soltos ao redor do meu
corpo.
Solto suas mãos do meu corpo, abro a porta e entro no
carro, prendo o cinto de segurança em mim. Meus olhos ardem e eu
seguro as lágrimas insistentes. Não posso chorar, não vou chorar!
Cadu fica na mesma posição por um tempo. Calado, e
então ele sai e dá a volta no carro. Dá a partida no carro e nos tira
daquele lugar.

O caminho até minha casa é silencioso.


Eu queria dizer a ele. O quanto me machucou ver ele com
outra, no quanto essa situação está acabando comigo. Queria falar
que essa mentira está tomando conta do meu coração, e que eu
penso nele todos os dias.
Quero dizer a ele em como ele fica lindo quando está bravo
e aquela veia aparece em seu pescoço, e em como o vinco em sua
testa me deixa feliz ao saber que ele está preocupado comigo. Quero
dizer a ele que tudo bem ser fraco às vezes, pois na vida vamos
enfrentar muitos momentos assim.
É como eu li em um livro uma vez: “A vida é uma grande e
gigantesca confusão, mas essa também é a beleza dela”.
Quero dizer a ele quantos batimentos meu coração dá por
segundo quando ele me toca. Quantos arrepios ele consegue
provocar no meu corpo apenas por me olhar. Quero gritar para ele
parar o carro, e dizer que vai ficar comigo para sempre, de verdade.
E que nada é o que pareceu ser aquele dia na sua casa.
Mas quando o carro para, tudo o que eu penso é em entrar
para minha casa e chorar. Chorar como se não houvesse o amanhã.
E só esquecer que um dia toda essa farsa existiu. E tudo voltaria
como antes.
Menos o que eu sinto.
Meu coração jamais será como antes.
— Valeu por me trazer. — digo baixinho. — Daqui uma
semana é o casamento da Mari. Eu te mando o convite se ainda
quiser ir.
Ele está olhando sério. O vinco entre suas sobrancelhas
me deixa confusa. Vou sair do carro, mas Cadu trava as portas.
— Por que... Você está agindo assim, Amanda? — ele olha
para o volante. — E não me diz que não é nada. — ele olha para
mim com raiva e a vontade de chorar de novo me invade. — É por
causa da Nath? Você está me afastando assim por causa daquele
dia?
O bolo cresce na minha garganta.
— Impressão sua. — sussurro.
— Nem a porra do que aconteceu você me deixa falar. —
ele diz.
Cadu faz negação com a cabeça, e destrava a porta. Meu
coração dispara, e eu saio indo rapidamente em direção ao portão da
minha casa. Cadu sai do carro também.
Maldição!
Ouço ele ligar o alarme, e assim que eu entro em casa, ele
entra depois de mim. Tranco o portão, e abro a porta da sala, e o
espero entrar. Assim que ele entra, sinto que estou prestes a
explodir.
— Olha nos meus olhos. — ele pede baixinho.
Vou até ele rendida, e chego bem perto e olho para ele.
— O que eu fiz de errado?
— Nada, Cadu. — sussurro.
— Como assim nada? Droga! Fala para mim. — ele segura
meus braços, implora para eu lhe dizer.
O bolo cresce na minha garganta e eu tento respirar mas
não consigo.
— Eu tentei explicar, você não quis me ouvir. Te procurei e
você só ignora. Fica difícil te entender assim!
— Quer saber, Cadu? — explodo, e tiro suas mãos do meu
corpo. — Quando você me ligou aquele dia chorando e eu não sabia
o que tinha acontecido, eu não entendi nada! Eu só sabia que eu
estava com uma preocupação tamanho power por você!
Ele sorri um pouco, e parece meio sem jeito.
— Por que você está rindo?
— É que eu não sabia que se preocupava dessa forma! —
ele admite.
— Não sabia? — digo em choque. — Cadu eu fui atrás de
você sem nem trocar de roupa... Porque não me importava se eu
estava de pijama ou pelada se você estivesse sofrendo! — as
lágrimas escorrem por meu rosto, e Cadu me puxa para me abraçar.
— Eu tinha brigado com meu pai aquele dia. — ele
sussurra. — E ouvir ele dizer um monte de merda para mim me
machucou. — ele diz baixinho. — E a única coisa que eu queria
perto de mim era você. Porque parece que só você é capaz de
enxergar quem eu sou de verdade, sem máscaras, sem fingimento...
Eu só pensava em você.
Aperto ele contra mim e me permito chorar.
— Eu estive lá por você. E no outro dia quando saiu a Nath
foi lá na sua casa.
Cadu arregala os olhos surpreso.
— Não te contei porque tive medo.
— Que merda ela foi fazer lá?
— Ela disse que sabia quem eu era. Que você só está me
usando, e que isso tudo é só uma mentira para você. Eu sou uma
mentira para você.
— E você vai acreditar nela ou em mim? — ele ergue meu
rosto e me faz olhar para ele.
— O fato é que ela me mostrou estar certa. Aquele dia...
— Aquele dia ela me ligou pedindo ajuda porque o carro
dela estragou. Estava perto da minha casa. E a busquei e levei para
minha casa até o gincho chegar. Fui tomar um banho porque me
sujei tentando arrumar o carro, e a campainha tocou. Eu chamei ela,
mas ela não abriu a porta. Por isso eu estava de toalha.
— E ela também. — digo.
— Não! — ele fala alto, parece cansado. — Aí é o ponto!
Ela não estava, vestiu só para ir lá fora quando ouviu você! Mand! Eu
juro. Fiquei em choque quando a vi daquele jeito.
— Ok! — digo e olho para baixo. — Vamos só esquecer
isso. Só esquecer que isso tudo rolou entre a gente.
— Gostosa...
— Porque eu admito. — ergo meus olhos e ele trava. — Eu
fui na sua casa dizer que o que estou sentindo vai além dessa
mentira toda. Por isso me machuquei tanto com o que vi.
Ele morde o lábio com força, e quando vou continuar a
falar, ele coloca a mão na minha boca, me impedindo. Me empurra
levemente até fazer com que eu me encoste na parede. Seus olhos
vasculham os meus em busca de algo que não sei o que é. E por fim
ele suspira.
— Não posso fazer isso. — ele diz.
Um arrepio percorre meu corpo, e eu paraliso.
— Você é incrível demais para mim... — ele parece estar
dizendo isso mais para si mesmo do que para mim. — Merece
alguém melhor do que eu! — ele diz alto, tentando me explicar uma
barbaridade dessas!
— Mas aí que está o problema. Agora, depois de tudo, não
quero ninguém! — digo e olho em seus olhos. — Eu quero você.
— Não. — ele diz para si mesmo e balança a cabeça. —
Mand... Porra, você prometeu que isso não iria acontecer.
— Desculpa... Eu não posso controlar o que sinto! — olho
para ele, e solto um soluço.
— É claro que pode! — ele diz. — Você não pode sentir
algo por um homem como eu, Amanda. Você é uma mulher incrível e
eu não posso ser esse cara que quer.
Sinto meu peito inflar de dor, é como se alguém tivesse
pegando e rasgando meu coração ao meio. Não posso fazer isso.
Por que ele não admite logo que sente algo por mim? Se ele não
sentisse o mesmo, nunca teria me beijado, nunca estaríamos nessa
situação.
— Então... Você não sente nada? — pergunto e ele se
recusa a olhar para mim. — Cadu?
Ele solta um suspiro e coloca uma mão de cada lado da
minha cabeça na parede.
— Isso tudo foi um acordo entre nós, certo? — ele diz.
— Um acordo que você mesmo disse que excluiríamos
algumas cláusulas. Então, olha para mim, nos meus olhos, e diz que
não sentiu nada real.
Ele não olha, e eu sinto a lágrima descer por minha
bochecha.
— Se não sentiu nada real, então seus gemidos e seus
olhares não significaram nada. — digo para ele. — Essa química
entre nós, não é nada.
Coloco minha mão em seus ombros e o afasto de mim.
— Vai embora daqui. — sussurro.
— Por quê?
— Por que eu acabei de me declarar para você e tá claro
para mim que você não sente a mesma coisa.
Ele fecha as mãos em punho e então segura meus braços
e me encosta na parede de novo.
— Escuta, droga! — ele fala. — É claro que não foi tudo
mentira! É claro que eu senti coisas, acha que eu sou o quê? — ele
ergue meu rosto e me faz olhar para ele. — Mas meu pai está certo.
Você merece alguém melhor que eu.
— Então agora seu pai está decidindo até mesmo a merda
da sua vida pessoal?
— Mand... Por favor...
— Por favor, sai daqui. — sussurro. — Nos vemos no
casamento. — tento controlar tudo o que eu estou sentindo. Se ele
pensa que eu estou confundindo as coisas, e prefere ouvir o que o
pai acha ao invés dos seus próprios sentimentos, ele que se dane. —
Mas agora preciso que vá embora.
Ele me olha por um tempo e então se afasta e suspira.
— Tudo bem... — ele beija minha bochecha e dá um passo
para trás. — Porque eu estou sentindo que isso é uma despedida?
— Não é. — controlo minha voz. — Eu só quero ficar um
tempo sozinha.
Ele olha para o chão. Suas mãos caem ao lado do seu
corpo, como se ele tivesse tomado um soco. E então fecho os olhos.
Seus lábios tocam a minha testa.
— Boa noite, meu anjo. — ele sussurra. — Espero que
possa me entender e me perdoar algum dia.
Eu juro que isso nunca mais vai acontecer! Essa foi à
última vez que eu implorei para alguém ficar na minha vida.
Já que todos na verdade, só tem a intenção de me
abandonar.
CAPÍTULO 27
Termino de enviar o material aprovado para a diagramação
quando alguém bate em minha porta.
— Pode entrar.
Assim que Fábio entra sorrindo eu sinto meu coração se
apertar. Ele fecha a porta atrás de si e estica sua mão para segurar a
minha. E assim que seguro sua mão, ele aperta a minha e senta na
cadeira a minha frente.
— E aí, como estão as coisas? — ele me pergunta.
— Está tudo as mil maravilhas, Fábio! — sorrio. — Agora
que peguei o jeito tudo flui. O próximo redator vai chegar e ficar
aliviado com o que eu deixei.
Ele solta uma risada.
— Então, é sobre isso mesmo que eu vim conversar com
você.
Franzo a testa e me ajeito na cadeira para ouvir o que ele
tem para me dizer.
— Já encontrou alguém? — o questiono.
— Na verdade, sim. — ele diz. — Só falta fazer a proposta
e ver qual será a resposta.
— Poxa Fábio, que coisa boa. — sorrio.
— Você até conhece. — ele diz.
— Ah é? Quem é?
— Estou olhando para ela agora. — ele fala.
O mundo se cala ao meu redor. Não consigo nem mesmo
piscar, ou me mover. Meu coração acelera e o olho confusa.
— É isso mesmo que ouviu. — ele diz. — Fiquei surpreso
com seu profissionalismo e tudo o que conquistou e realizou aqui em
tão pouco tempo. É uma redatora nata.
Ele quer que eu fique aqui?
— Então eu pensei bem, e queria propor isso a você. O
que me diz? Seu salário até vai aumentar por estar na vaga fixa. E
tem outros benefícios também. Sei que mora em São Paulo, mas
seus pais são daqui, não é? E agora até seu namorado é daqui, acho
que nada mais te prende lá.
“Até seu namorado é daqui”.
— Isso é por causa do Cadu? — pergunto e sinto enjoo só
de pensar. — Está me oferecendo a vaga por que namoro seu filho?
Fábio arregala os olhos e fica sério.
— Claro que não, Amanda! Não sou baixo a esse nível.
Tudo o que eu prezo dentro da minha empresa é um bom
profissionalismo. E você tem cada dia me provado o quanto nasceu
para estar aqui. — ele estica sua mão e segura a minha. — Se
quiser voltar, eu entendo. Dou um jeito e tenho outra opção para
essa vaga. Mas se cogitar a hispótese de permanecer em Belo
Horizonte, ficarei muito feliz por aceitar essa oportunidade.
Sorrio e concordo com ele.
— Bom, Fábio, eu fico agradecida por pensar em mim
dessa forma. E me confiar algo tão grande assim. — digo incerta. —
Mas, minha vida toda está lá, seria um passo muito grande. Eu...
Posso pensar?
— Claro que pode. Tem até o final do mês para se decidir.
— ele diz e se levanta e vai em direção a porta. — Espero mesmo
que fique, você merece isso. Lutou muito para conseguir.
Sorrio e ele abre a porta e cumprimenta alguém e sai rindo
até a redação. Ouço a porta se fechar, e olho para cima e vejo Cadu
parado na minha frente.
— Ei. — ele sussurra incerto. — Bom dia.
— Oi. — digo.
Ele solta um suspiro profundo, cansado desta situação e
desse clima entre nós.
— Gostosa. — meu apelido faz meu corpo inteiro se
congelar. Já posso sentir minhas pernas começarem a tremer. — Eu
sinto muito por ontem à noite, quero conversar com você sobre isso,
será que tem um tempinho agora?
Conversar? Ele quer conversar? E dizer o quê? Que não
teve a intenção de me machucar? Que é melhor sermos amigos? Ah,
eu acho que não!
— Desculpa, não posso, estou trabalhando. Até sábado,
Cadu. — digo e foco no computador a minha frente.
Cadu se aproxima de mim, vira minha cadeira e se agacha
no chão na minha frente.
— Ei, não faz assim. — ele diz com aquela voz rouca que
me deixa louca. — Eu quero conversar uma coisa com você, será
que dá para entender? — seus olhos imploram para que sim, eu
entenda.
— E eu quero ficar sozinha, será que dá para entender? —
meu tom sai mais ríspido do que eu gostaria, mas isso é o suficiente
para Cadu me lançar um olhar de dor e se afastar.
É como se eu fosse atingida por um murro.
— Desculpa, não quero atrapalhar. — ele diz.
— Então se não quer piorar as coisas, faz um favor para
nós dois, Cadu. — ele me olha e eu suspiro. — Fica longe de mim.
Ele desvia os olhos, abalado com o que eu disse, e então
ele fica quieto.
— Que horas quer que eu te pegue sábado para o
casamento? — ele diz incerto.
— O casamento é às seis horas. Pode me buscar a tarde,
porque o sítio é longe daqui. — digo olhando para o computador.
— Tudo bem, até sábado então. — ele vem se
aproximando de mim, seus olhos focados nos meus lábios.
E eu fico completamente dividida entre duas vontades, uma
de puxar ele para mim, e me permitir ter um beijo de despedida
fantástico, e a outra, de empurrar ele para longe de mim, fugir de
tudo isso... Fugir dele.
Mas antes que eu pense ainda mais, Cadu para no meio do
caminho, me olha completamente derrotado.
— Desculpa. — ele diz. E então vai até a porta. — Fiquei
sabendo da promoção. Espero que aceite ficar.
Ergo meu olhos e ele só sorri e sai fechando a porta atrás
de si, me deixando com o coração tão apertado, que me seguro para
não chorar.

Nunca me senti tão linda quanto nesse dia.


Meu cabelo está liso, mas repleto de cachos nas pontas, a
maquiagem ficou simplesmente perfeita! E a Ester, a maquiadora do
salão, usou um batom rosa claro da mesma cor do meu vestido.
E agora vem a melhor parte, o meu vestido, estava louca
para usá-lo desde o dia que comprei. Coloco meu salto alto, e me
olho no espelho, pronta para ser a madrinha mais chorona de toda a
história dos casamentos.
Saio pelo quarto que estou ficando na casa do sítio, e
fecho a porta. E assim que me viro Cadu está parado no corredor.
Usa um terno preto que o deixava mais lindo do que eu
pensei que seria possível! Seu colarinho da camisa branca por baixo
está aberto, e sua gravata está toda embolada. Seus olhos
percorrem todo meu corpo, e demoram um pouco mais nos meus
olhos. Me aproximo dele a sem dizer nada puxo sua gravata, e
começo a fazer um nó descente.
— Você está linda. — ele diz baixinho. Ainda vejo seus
olhos me observando. — Está linda pra cacete!
Meu coração dispara, e o simples ato de tocar nele dói tudo
em mim. Esse momento, e o casamento será nosso último tempo
juntos um no outro.
Acabo de ajeitar sua gravata e sorrio ao observar minha
obra prima. Papai finalmente deixou um ensinamento que eu enfim
usei. Todos aqueles pedidos para ajeitar a gravata serviram para
alguma coisa afinal.
— Obrigada. — sussurro, me referindo ao elogio que ele
me deu. — Você também está... Lindo, Cadu.

Primeiro entraram as madrinhas. Mari queria que


ficássemos as madrinhas de um lado e os padrinhos do outro. De pé!
O sítio todo está repleto de fores e pequenas luzes e varal, que dá
ao ambiente um ar mega romântico.
Quando Rick entra ele está muito nervoso, ansioso, do jeito
que qualquer noivo em um casamento. Mas assim que a música
Give me love começa a tocar, e Mari aparece toda linda naquele
vestido, toda a ansiedade de Rick parece passar, dando ar a um
futuro marido completamente encantado pela esposa.
Ela parece uma princesa nesse vestido. Seus cabelos
estão presos em um coque alto, e alguns fios soltos caem em
cachos. E logo abaixo do penteado há um véu maravilhoso e enorme
preso.
Limpo algumas lágrimas que insistem em sair quando Rick
pega o microfone e promete ser o marido perfeito, pois ele tinha
encontrado a mulher que fazia dos dias dele os mais felizes.
Eu sei que minha amiga seria a mulher mais feliz desse
mundo. Ambos merecem isso. E fico feliz que tenham encontrado
essa felicidade um no outro.
Ao olhar para os convidados quando enfim o padre os
decreta “Marido e mulher”, pude ver o Arthur e a Gisele em um canto
e aceno para eles, logo em seguida palmas invadem o lugar quando
o padre diz o famoso “Pode beijar a noiva”.
Noto Cadu tirando uma foto. Caramba nem vi que a
câmera dele estava por perto. E depois todos saímos em fila,
jogando arroz em cima dos coitados dos noivos, e eles vão seguindo
em direção ao salão onde acontecerá a festa.
— O casamento foi lindo! — Gisele diz se aproximando de
mim e me abraça. — E eu estava morrendo de saudades de você!
Aperto ela com força contra mim.
— Eu também estava morrendo de saudades, Gi!
Arthur me puxa para ele logo em seguida.
— E ai maluca, como você tá?
— Melhor agora que estão aqui!
Cadu limpa a garganta e fica me encarando.
— Mand, a gente tem que ir. — ele diz.
Ele e Arthur vão indo na frente, e Gisele vai caminhando
devagar comigo mais atrás.
— E ai? Como estão as coisas? — ela sussurra. — ELE É
UM GATO!
Começo a rir imediatamente.
— Estão horríveis... Eu disse para ele se afastar, e ele
realmente se afastou! Eu pensei que ele iria ver que eu não estava
dizendo a verdade, mas parece que ele quer se manter longe
também. — digo.
— O acordo está acabando. — ela diz.
— É... Está.
— Meu amor! — ouço uma voz gritar. — Ei, filha!
Me viro rapidamente me deparando com meu pai, vou até
ele e o abraço.
— Que saudade papai! Como estava a viagem?
— Melhor impossível! — ele diz.— E você? Como está?
— Eu estou bem. — digo. — Cadê a mamãe?
— Foi procurar um banheiro.
Começo a rir.
— Bem, papai eu tenho que ir, porque eles estão me
esperando, mas nos vemos lá, ok? — o abraço de novo.
— Não vamos na festa filha, estamos velhos demais para
isso.
— Ah, deixa de bobeira.
— Eu e sua mãe estamos cansados de viagem, mas nos
vemos quando voltar pa ra casa.
— Está bem. — beijo seu rosto desapontada. — Até mais
tarde então.
Volto até Gisele, e entrelaço meu braço com o seu.
— Pelo menos você falou o que sente para ele. — ela
sussurra baixinho. — Pior seria se não tivesse tentado.
— Tentar nem sempre é bom.
— O problema é como ele realmente se sente em relação a
isso, né?
A valsa dos noivos é a coisa mais linda que eu já vi na
vida! Rick e Mari se olham com tanto amor, que é impossível alguém
ver e não se emocionar. Gisele começa a filmar a valsa e eu vou até
a mesa para pegar minha taça de bebida, quando Cadu me puxa
pelo braço.
— Podemos conversar?
Ai merda, é agora!
Eu não posso fugir do fim do nosso acordo, mas por mim já
está tudo acabado. Não quero ouvir nada.
— Cadu, está tudo bem, se quiser ir para casa pode ir, tá
legal? — digo e me viro novamente, mas ele volta a me puxar.
— Como assim pode ir para casa? — ele repete.
— Pode voltar a ser como antes, não é isso o que tanto
quer? — me viro novamente e então Cadu me puxa pela cintura, e
vai me puxando até fazer com que eu me encoste em uma das
pilastras do salão.
— Para de agir assim, gostosa!
— Agir assim como?
— Como se nada magoasse você! — ele diz incrédulo. —
Como se isso não significasse nada para você!
— Ah, garanto que eu me importei... Desculpa, mas é algo
que marca a gente. E eu sinceramente? Não me importo. O plano
era esse acordo e agora ele acabou, e você também deixou claro o
que quer. — me aproximo dele, olho para sua boca, e então decido
desviar os olhos rapidamente antes que faça uma estupidez. — Você
não significa nada para mim! — eu digo.
— Mesmo? — ele diz.
— Mesmo.
— Jura? Certeza absoluta?
— É. — digo incerta.
— Então para você tudo bem eu ficar com outra pessoa e
nunca mais me ver.
— É... Por mim tudo bem. — engulo em seco.
— Puta que pariu! — Cadu diz. — Para de agir assim!
E então ele sai de perto de mim. Meu coração parece sair
pela boca quando ele sai de perto de mim. E assim que Gi se
aproxima de mim sorrindo, fica séria ao ver minha expressão.
— O que aconteceu?
— Acho que vou embora.
— Mas já? A festa ainda nem começou e...
— Não. Não estou falando disso. Estou falando de voltar
para São Paulo.
Gisele franze a testa e sentamos em algumas cadeiras que
encontramos por ali.
— Mas e a promoção que o Fábio te deu?
— Não sei se é uma boa ideia.
— Bom, mas pensa com carinho. É uma baita
oportunidade.
— Eu sei. Só quero ficar sozinha e tirar um tempo para
pensar. Vou falar com o Fábio que ficarei em São Paulo até me
decidir, e vou usar a passagem da empresa para ir embora.
— Mand! — ela resmunga e suspira. — Não pode fugir
assim, eu sei que vocês dois são complicados, mas uma hora ou
outra isso ia acabar acontecendo. Então, só lide com isso.
— Não posso, Gi. — sussurro e olho em direção a festa.
Vejo Cadu conversar com uma garota e reviro os olhos. Ele nem
esperou para começar a atacar né.
— Diz para a Mari que estava tudo lindo, ok? — beijo Gi,
me levanto e começo a correr em direção a casa, para pegar minhas
coisas e ir embora.
— Amanda! — ela grita.
Mas eu não paro.
Porque parar... Significa responder perguntas que nem eu
mesma sei as respostas.
CAPÍTULO 28

— Eu não consigo mais fazer isso. — digo sozinha assim


que retiro meu vestido e visto uma calça jeans e uma blusa de frio.
Pego minha mochila e guardo minhas coisas. Tiro meus brincos, o
colar, e guardo tudo em um bolso. E assim que retiro meu anel, vejo
o anel que Cadu me deu, e meu coração se aperta.
O barulho das músicas lá fora cala todo o mundo ao meu
redor. Quando fiquei olhando para Cadu hoje, agora eu sei. Ele
nunca vai me olhar do mesmo jeito que Rick olha para a Mari... Nem
do jeito que meu pai faz carinho no cabelo da minha mãe. Ele não
vai querer trocar noites de festa e curtição, por um filme qualquer ao
lado de uma maluca vestida com uma camisa velha masculina.
Agora enfim eu acredito no apelido do Arthur. Vai ver eu
realmente sou uma maluca, uma pessoa insana que acredita no
amor verdadeiro e em príncipes encantados.
Uma pessoa incorrigível que acredita que podemos mentir
sobre algo que envolve sentimentos e depois sair sorrindo da
situação. Agora me olhando, eu enfim entendo que eu ainda sou a
Amanda de cinco anos atrás. Aquela que se joga, aquela que
acredita.
Acredita que amores são eternos e que tudo bem em amar
alguém com todo o seu coração.
Mas não podemos esperar que esse alguém nos ame de
volta.
Estar apaixonada por Cadu, é a pior e a melhor coisa da
minha vida. E eu não posso forçar ele a sentir algo, que no fundo só
eu quero que seja real.
— Eu não consigo mais. — sussurro.
— Falando sozinha? — Cadu se aproxima e eu o olho
surpresa. Ele entra no quarto e senta na cama.
Sinto as lágrimas invadirem meus olhos, e assim que Cadu
percebe que estou chorando, se levanta, vem até mim e segura meu
rosto mesmo contra a minha vontade, seus olham buscam os meus e
ele parece se preocupar ainda mais com o que encontra.
— Que foi, Mand? — ele diz.
— Eu não consigo mais. — digo chorando.
— Não consegue mais o quê?
— Isso. — tiro suas mãos do meu rosto. — Nós. Essa
maldita situação!
— Do que você está falando?
— Da gente, Cadu! — tento me lembrar de como é respirar
calmamente. — Não está me fazendo bem o que está acontecendo.
— Desculpa. — ele diz. — Eu não queria invadir o seu
espaço, é só que...
Não acredito nisso!
— Invadir o meu espaço? Tá ouvindo o que tá dizendo?
— Amanda, desculpa... Não quero te magoar.
— Tarde demais para isso não?
— Tudo bem... Não vou mais ficar perto de você.
Ele faz menção de sair. Ai meu Deus, ele realmente está
indo embora?
— Cadu! — grito e ele se vira. Noto que seus olhos estão
vermelhos, mas tento me controlar. — Você é um idiota!
Ele apenas assente com a cabeça.
— Você vai mesmo embora?
Seus olhos me encaram sem entender.
— Eu pensei que você quisesse... Ficar... Sozinha. — ele
explica pausadamente.
— Quer saber? Esse é seu problema Cadu, você pensa
demais! — disparo, pego meu celular em cima da cama, e respiro
fundo novamente. Já tomando a melhor decisão para mim naquele
instante.
— Amanda...
— Eu vou voltar para São Paulo amanhã. — digo.
— O que? Por que?
— Porque eu voltei para trabalhar e estou livre para me
decidir onde quero ficar, vim para o casamento da minha melhor
amiga, e agora ela se casou e eu me meti no maior erro da minha
vida... E como a gente tinha combinado, o acordo acaba aqui. Nossa
mentira estúpida... Acaba aqui.
— Não foi estúpida. Dói te ouvir falar isso, sabia?
— Eu estou indo para São Paulo de novo. Então...
Obrigada... Por ter me ajudado.
Ele me olha incrédulo. Dá um passo a frente e seus olhos
buscam constantemente os meus.
— Não vai embora. — ele se aproxima rapidamente, puxa
minha cintura contra ele. Eu perco o fôlego em questão de segundos
— Fica comigo. — ele sussurra.
Meu coração golpeia rapidamente no meu peito. Ficar com
ele? Eu pedi ele isso, e agora que eu vou embora ele simplesmente
quer que eu fique?
— Ficar com você? — repito. — Do mesmo jeito que
estava ficando com a Nath? Ou ficar te ajudar a fugir do seu pai ao
invés de encará-lo de vez?
Ele engole em seco e eu tento me controlar. Me aproximo
dele e seguro seu rosto.
— Sei que ele merece respeito. Mas você já é adulto e
pode tomar as próprias decisões! Então decida o que quer e o que é
importante para você e pare de deixar que os outros decidam. —
retiro o anel que ele me deu do meu dedo e o coloco em sua mão. —
Decida antes que perca mais coisas pelas quais vai se arrepender.
Beijo sua bochecha e pego minha mochila.
— Você vai mesmo fugir? Vai abandonar tudo e ir embora?
Paro de andar.
— Eu pensei que você era a mulher mais forte desse
mundo, Amanda. — ele diz alto. — Mas agora eu sei que eu não
poderia estar mais errado! Você é a pessoa mais fraca que eu
conheço. Foi só seu namorado te deixar por outra mulher.... — as
lágrimas enchem meus olhos e eu me viro para encará-lo. — Que
você foge.
Cadu para de falar, vejo lágrimas nos seus olhos, e tudo o
que eu quero é gritar para ele parar de falar. Parar de me machucar.
Parar de ficar longe de mim e de pensar coisas horríveis do meu
respeito... Eu quero socar a cara dele.
— E agora tudo se repete, não é mesmo? — ele sussurra.
Ele sabe mesmo me atingir em cheio. — Você cria uma mentira,
finge para todos ao seu redor, e ai só porque tá machucada você
novamente vai deixar tudo para trás e partir... Só para não encarar
seus problemas aqui! — ele dispara.
— Cala a boca! — eu grito. — Você não sabe nada sobre
mim! Não se preocupe que eu vou me despedir de todo mundo e
desmentir esse plano ridículo.
— E quanto a mim? — ele diz alto.
— Desculpa, Cadu. Vou embora amanhã. Teve muito
tempo para me dizer o que sente. A decisão foi sua de se afastar.
Ele me olha petrificado. Como se acabasse de levar um
soco no estômago. Seus olhos ficam observando cada movimento
meu, enquanto eu passo por ele, decidida a ir embora dessa cidade,
e ir embora dos meus problemas.
Cadu tem razão, eu sempre desisto de lutar quando estou
machucada. Mas é mais forte do que eu. Eu não suporto o fato de
olhar para ele sem poder tocá-lo. E agora sei que ele não vai me
tocar nunca mais.
É que as vezes o nosso coração se engana. Ele prefere
escolher amar um outro coração mais complicado do que um cheio
de amor para nos oferecer. Ele prefere que a gente sinta ele bater
dentro do peito de outra pessoa. Porque é assim que o amor é.
Sem escolhas, requer luta, e também coragem suficiente
para não deixar escapar.
E é isso que eu fiz.
Por mais que eu esteja morrendo de vergonha, eu usei o
Cadu. Implorei para ele ficar, lutei pelo que eu estava sentindo. Então
eu não posso estar decepcionada comigo mesma, porque eu tentei.
Isso sim é o que realmente importa. Pois se não tentasse, eu jamais
poderia saber o que podia acontecer.
Mas eu também tenho que saber o momento de desistir.
Eu só não sei se eu estou preparada para isso.

— Mãe já pegou as minhas malas? — grito saindo do


banheiro, e fecho minha bolsinha de maquiagem.
— Já sim, coloquei lá na sala. — ela diz se aproximando.
— Obrigada. — pego meu celular para conferir as horas, e
noto que minha mãe está me encarando sem nem piscar. — Que foi?
— Eu queria ter conhecido aquele rapaz. — ela diz. Meu
coração se aperta novamente, será que é pedir muito eu ir embora e
não ouvir falarem o nome de Cadu. — Que pena que terminaram...
Desse jeito vai ficar para titia.
Ela sai de perto de mim, e eu tento controlar a respiração.
Ai está minha mãe, que se importa mais com a reputação e o meu
futuro do que com os meus sentimentos.
Vou até a sala, e meu pai está sentado no sofá vendo
futebol. Mamãe aparece e me dá um abraço.
— Faça boa viagem querida, quando chegar nos avise. —
deito meu rosto contra o ombro dela. — E venha sempre que quiser.
— Obrigada. — sussurro.
Ela sai da sala com lágrimas nos olhos dizendo que tem
que olhar as panelas, e papai do nada desliga a tv. Ele me olha por
um instante, e bate com a mão no sofá ao seu lado para eu me
sentar. Meio sem jeito eu vou até ele e me sento. Ele fica encarando
a minha mala por alguns segundos.
— Filha... Olha, eu sei que eu e a sua mãe não somos
desse tipo de pais que entendem seus filhos. — ele diz, me pegando
completamente de surpresa. — Eu sei que você tem uma mágoa
muito grande das coisas que dissemos no passado. Mas não foi por
mal aquilo, filha.
— Pai, não, tudo bem. — seguro a mão dele. — Vocês só
gostavam demais do Edu, e quando terminamos vocês esperavam
que ele encontrasse alguém legal também.
— Não. Não foi nada disso. — ele diz.
Olho pra ele sem entender.
— Eu fiquei feliz quando terminaram, mas não era por
causa dele. Era por sua causa. Porque eu sempre soube que você é
a mulher mais incrível desse mundo. Eu sempre soube que você
merece alguém bem melhor que aquele cara. — ele me confidencia.
— E eu vi o jeito que você olhou para aquele rapaz no casamento.
Eu vi que tinham brigado, mas eu também vi o brilho nos seus olhos
ao olhar para ele.
Sinto as lágrimas saírem dos meus olhos e papai limpa
uma que escorre em minha bochecha com seu polegar.
— Fugir de novo não vai resolver tudo, Mand. — ele diz.
— Mas pelo menos ajuda a esquecer. — sussurro.
— Mas nunca vai passar enquanto não conversarem.
— Papai, olha eu agradeço mesmo suas palavras... E por
se preocupar comigo. Mas o Cadu e eu somos complicados demais,
entende? Eu preciso me afastar, preciso ficar longe disso por um
tempo. Para esfriar minha cabeça. Você mesmo disse que nós
dizemos e fazemos coisas erradas quando estamos de cabeça
quente... Então me deixa ter esse tempo para mim.
Ele me puxa para ele, e me abraça apertado. Seco minhas
lágrimas enquanto o abraço, e depois o solto, e me levanto,
preparada para ir embora.
— Obrigada, papai. Por tudo. — sussurro.
— Sempre que quiser.— ele diz.
Bip, Bip.
O uber amigo do meu pai buzina lá fora avisando que
chegou. Papai pega minha mala e nós vamos até lá fora. Ele coloca
a mala no porta malas, e ele e minha mãe me abraçam outra vez.
— Vamos sentir saudades. — ele diz.
— Eu também vou.
— Amanda?
Meus pais me soltam, e Vanessa está parada no portão.
Me olha sem jeito.
— Oi, Vane. — digo.
Meus pais ficam olhando para o chão o tempo todo.
— Vim me despedir. — ela diz. — Desejar boa viagem
sabe.
Sorrio e me aproximo dela, ela vem até mim me
envolvendo em seus braços, e eu a aperto contra mim. Sei que ela
deve sentir a minha falta, e eu não posso culpá-la por ter caído na
lábia do Eduardo.
E então eu a solto, aceno para meus pais e eu vou até o
carro, dou tchau para todos eles, enquanto o carro se afasta de tudo,
e vai me levando para minha antiga vida.
CAPÍTULO 29

Cadu
Acordo com o celular tocando na maior altura. Ainda estou
exausto da festa. Tive que levar o Arthur e a Gisele para um hotel
aqui perto, e depois vim embora e apaguei. Não estou cansado
apenas fisicamente, mas emocionalmente também.
Me estico na cama e alcanço meu celular e o atendo
rapidamente.
— Oi.
— Cadu, onde você está? — Arthur berra do outro lado da
linha.
— Dormindo.
— Abre a porra dessa porta! — e desliga a ligação.
Oi? Ele está aqui? Me levanto da cama, e visto minha
blusa, vou até a porta e a abro, Arthur e Gisele entram em disparada
dentro da minha casa.
— Que isso? Invasão? — brinco.
Arthur me olha furioso e aponta o sofá para eu me sentar.
— A gente precisa conversar! — ele diz com raiva.
Gisele está toda sem jeito. E vai para minha cozinha na
intenção de nos deixar a sós.
— Arthur cara, você me acordou apenas para a gente
conversar?
— Você ficou com a sua ex? Tá ferrando as coisas com ela
por culpa da porra do que o Fábio pensa? — ele grita.
— Não, não é bem assim.
— Seu desgraçado! — Arthur berra, vem em minha direção
e segura minha blusa. Se ele me bater não vou impedir, eu mesmo
queria me encher de porrada. — Cadu, eu vou ser bastante sincero
com você! Eu não estou aguentando mais essa situação!
— Ah, e você acha que eu estou por acaso? — grito.
Ele me solta, e solta um suspiro com raiva.
— Escuta, eu sei que você nunca gostou de ninguém, pelo
menos até agora, mas vai por mim, agir desse jeito, como se não se
importasse com nada não é a solução. Ela não é como a falsa da
Nathália, Carlos!
— Eu não preciso que diga isso, eu sei exatamente como
ela é.
— Então já que você sabe... Você compreende que ela
ficou muito magoada com o que viu. E principalmente depois que
você disse que não é o cara certo para ela! Dê onde diabos você
tirou uma coisa dessas?
— Porque ela merece alguém melhor que eu, Arthur! — me
sento no sofá.
— Mas é de você que ela gosta, seu otário. É com você
que ela quer ficar e não com esse alguém melhor que nem existe! —
ele diz e senta do meu lado.
— Ela me evitou desde aquele dia. — digo.
— Você é mesmo um otário. — ele sussurra. — Quando
você vai entender que ela não quer distância de você, Cadu?
— Mas ela disse que...
— Não importa o que ela disse. Mulheres dizem coisas
com enigmas ocultos, à gente só tem que saber enxergar, e sentir o
que o coração delas realmente quer.
— Arthur...
— Eu odiei quando ela me contou que vocês estavam
noivos de mentira. Era uma ideia estúpida eu sei, e eu queria
realmente a levar para longe de você... Mas com o tempo eu vi que
você estava mudando por causa disso, e eu gosto dessa mudança
em você. Gosto da pessoa que você se tornou, e eu não quero
perder isso em você, Cadu. — ele diz. — Você não pode perder esse
lado em você que desde o acidente da sua mãe, parou de se
importar com as pessoas. Você nunca se abriu para ninguém depois
disso, e a maluca é o mais perto do seu coração que alguém sequer
já conseguiu chegar.
— Eu sei. — digo. — Mas é que ela disse para eu ficar
longe dela.
— O que significa que ela te quer por perto.
O celular da Gisele toca e ela atende rapidamente.
Arthur tem razão, eu não posso deixar o meu medo de
perder as pessoas me impedir de deixar alguém entrar em minha
vida. E também não posso deixar meu pai controlar tudo. Eu tenho
que fazer o que eu quero, e ficar longe da gostosa não é nem de
longe uma boa opção para mim.
Minhas tentativas de afastá-la para eu mesmo não me
machucar, acabaram ferindo ela. E eu estou disposto a qualquer
coisa para que ela possa me perdoar.
— Você está certo. Eu vou atrás dela. — digo me
levantando.
— Ah, tá bom, nos vemos lá então amiga, beijos. — Gisele
diz, e depois de desligar o celular vem até nós.
— Gente, não dá tempo, a Amanda está no setor de
embarque já!
— O quê? — digo incrédulo. — Mas ontem ela me disse
que tinha que resolver umas coisas antes de ir!
— Ela já está lá! — Gisele repete.
Saio correndo e pego a chave do meu carro, ouço Arthur
me chamar, mas eu não paro. Vou correndo até o estacionamento e
pego meu carro, o ligo em tempo recorde e já vou dirigindo em
direção ao aeroporto.
Puta que pariu! Esses sinais de trânsito é para ferrar com a
vida de qualquer um!
Pego todos os atalhos possíveis e depois de vinte minutos
consigo finalmente chegar ao aeroporto. Fecho meu carro, e
enquanto eu entro só consigo pensar em uma coisa “Setor de
embarque”.
Gisele disse que ela está lá.
Vou sem parar naquela direção. E assim que chego, um
segurança barra a minha entrada.
— Sua passagem, por favor. — ele diz.
— Não eu não tenho passagem, eu só preciso falar com
uma pessoa que está ai! — tento ir, mas os braços dele me barram
novamente.
— Desculpe senhor, mas sem passagem não pode passar.
Cacete!
Saio correndo já pego meu celular, e ligo para Amanda,
enquanto me dirijo até a fila enorme de passageiros. Ele toca três
vezes e ela desliga na minha cara. Ligo de novo e ela novamente
desliga. Merda, Amanda! Droga!
Ligo mais uma vez, e ouço uma maldita voz dizer “Esse
celular encontra-se desligado ou fora da área de cobertura”.
Porra!
— Próximo! — diz a atendente.
— Eu preciso de uma passagem para o voo de São Paulo
que vai sair agora! — digo apressadamente.
Ela me olha de um jeito estranho, e então checa algo em
seu computador.
— Desculpe senhor, o voo para São Paulo já está prestes a
decolar.
— Porra! — grito, e ela me olha incrédula.
Saio de lá, e vou novamente até o setor de embarque.
— Cara, por favor, eu preciso muito ir até lá!
O segurança me olha com raiva.
— Senhor, sem passagem não entra.
— EU PRECISO PARAR AQUELE MALDITO AVIÃO!
SERÁ QUE DÁ PRA ME ENTENDER PORRA?!
Um braço me puxa para trás.
— Cadu não é assim que as coisas funcionam. — Arthur
grita. — Fica calmo! Custei te alcançar com o carro.
— É... Você teve tempo de sobra para ir atrás dela. Então
não adianta bancar o arrependido agora! — Gisele diz ríspida.
Não posso culpá-la, ela está mais do que certa.
— Droga Arthur, mas que droga!
— Calma, a gente dá um jeito. — ele diz.
Jeito? Que jeito? A gostosa está naquele maldito avião
indo para longe de mim, e eu precisei da bronca do Arthur para
perceber a chance que eu desperdicei aquele dia. Meu medo de
perder alguém foi tão forte que eu não deixei ela se aproximar.
Agora meu medo continua, e eu percebi que não preciso
dele. Pois o único jeito de não perder alguém é trazendo a pessoa
para perto de você.
Mas eu não fiz isso.
Eu a afastei.
E agora ela está indo para longe de mim. E eu não posso
fazer nada para impedir.
CAPÍTULO 30

Chegar em casa depois de tanto tempo é bem estranho,


aconteceram tantas coisas, que é como se um ano tivesse se
passado neste meio tempo. Ele continua do mesmo jeito. Arthur
cuidou dele direitinho. Depois de guardar minhas malas, e trocar de
roupa, pego meu notebook, e envio um email para Fábio.
Ainda estou machucada com tudo o que aconteceu, mas
sei que ele me deu uma ótima oportunidade. Então se ele me desse
até o final do mês, eu aceitaria a proposta. Seria bom ficar perto dos
meus pais e da Mari novamente. E até lá eu conseguiria ver um
apartamento só para mim.
Ligo meu celular e vejo as três ligações de Cadu. O que ele
queria comigo? Será que parte do “fique longe de mim” ele não é
capaz de entender?
Como se esperasse eu ligar o celular, o nome Gisele
aparece na tela. Sorrio ao atender.
— Oi, Gi!
— Já chegou? — sua voz está diferente.
— Já... Aconteceu alguma coisa?
— Não, Mand.. Não aconteceu nada. — ela suspira. —
Como você está?
— Acredita que o Cadu me ligou? Ele acha mesmo que eu
não iria vir será?
— Sei lá, Mand... Vai ver ele só tem medo de se aproximar
de alguém. — ela diz. — Quem sabe ele tenha medo de perder as
pessoas?
Oi? Que papo estranho é esse?
— Ah... Eu acho que não sabe. — digo. — Ele teve
oportunidades para perceber que eu realmente queria ficar com ele,
mas se mesmo assim ele deixou um medo idiota, de achar que me
manter longe estava me protegendo, ele pensou errado... Não quero
mais ver ele, e nem quero que ele se aproxime de mim novamente. A
melhor coisa que temos que fazer é esquecer de tudo.
— Calma, amiga... Você quer ver grandes mudanças nas
pequenas coisas, e não é assim que as coisas funcionam. As coisas
não vão mudar só porque estão longe. Mas vocês têm sim que se
resolverem. E seja lá o que tiver que acontecer, saiba que eu sempre
vou estar com você, tá bem? Vai dar tudo certo, eu te prometo.
— Obrigada, Gi. — sinto as lágrimas invadirem meus
olhos. — É... Acho que vou desligar para dormir um pouco, depois a
gente se fala, beijos, amo você.
— Também te amo. — desligo a ligação.
Ah, amigas!
Elas são tão sonhadoras e querem nos fazer acreditar que
existe um mundo perfeito. Um mundo onde acontece tudo o que nós
queremos. Onde só existem surpresas e felicidades. Mas a realidade
é muito diferente.
Nada é como sonhamos, nem como esperamos. A vida é
feita de erros e tentativas.
Erros para nos derrubar e nos ensinar a ser fortes. E
tentativas, que são o nosso livre arbítrio... Para nos arriscarmos com
o que quisermos.
Assim é o mundo real. Repleto de sonhos, fantasias,
surpresas inesperadas e marcantes. De momentos. Repleto de erros
aprendidos e provas futuras.
O mundo real é um mistério onde temos que viver para
descobrirmos o que nos espera.

— Nunca pensei que eu fosse sentir tanta falta da empresa


do Fábio assim. — digo apreciando minha mesinha linda do
notebook a minha frente.
Mesmo sabendo que em breve vou ir embora, sentirei falta
daqui.
— Ah, pois para mim foi uma bênção ficar longe por dois
dias. — Gisele diz rindo.
— Bom Dia, meninas. — Arthur diz chegando perto da
Gisele e dando um selinho nela. — Ei meu bem. — ele sussurra.
COMO É QUE É?
Eles olham para mim receosos e eu fico literalmente de
boca aberta. Cadê aquelas brigas e o ódio mortal que sempre rolou
ali?
— Vai entrar mosquito. — Gi fala e então eu me viro em
direção a eles e coloco as mãos na cintura.
— Por que só estou sabendo disso agora?
— Bom, você estava com seus problemas, e é meio
recente.
Sorrio e ele a abraça, e acho estranho ver eles juntos. Eles
viviam se implicando e quase se matando. Graças a Deus isso vai
passar. Mas se bem que ver eles melosos é pior do que separar uma
terceira guerra mundial.
— Só não machuca ela que eu te mato, e não machuca ele
se não dou na sua cara. — digo e ela começa a rir.
— Ok, maluca. — ele se aproxima, beija o topo da minha
cabeça. — Como você está?
— Eu tô bem. — digo e ligo meu celular.
— Por que está deixando seu celular desligado o tempo
todo? Ontem eu tentei te ligar e não deu certo.
— Ah, não é nada não... É só que eu não quero falar com o
Cadu e ele me liga o tempo todo.
— E ele não vai parar de te ligar enquanto não atender. —
Arthur diz rindo. Pisca para Gisele, e bagunça o meu cabelo antes de
ir para sua sala.
Meu celular começa a tocar de novo.
Cadu.
— Merda, Arthur e sua boca grande! — digo alto.
Gisele começa a rir.
— Atende logo! — ela diz pegando uns papéis e sai de
perto de mim.
Meu celular continua.
Primeiro toque. Meu coração acelera.
Segundo toque. Meu corpo inteiro vira gelo.
Terceiro toque. Minhas pernas começam a tremer.
Quarto toque. Eu estico minha mão e esqueço de como se
respira.
Quinto toque.
Eu atendo.
— Alô. — digo baixinho.
— Mand? — Cadu sussurra. — Graças a Deus, pensei que
não ia me atender.
— O que você quer, Cadu?
— Eu queria te dizer algumas coisas.
— Não precisa dizer nada, nós já falamos tudo o que
tínhamos para falar.
— Mas eu... Preciso.
— Não você não precisa, você só está com a consciência
pesada e acha que me deve explicações, mas não precisa. Então
por favor, para de me ligar, eu tenho que voltar ao trabalho. —
desligo antes que ele possa me dizer qualquer outra coisa.
— E ai? — Gisele aparece de repente.
— Ele quer conversar... Me poupe. Eu não quero
conversar, não quero nada a não ser continuar vivendo a minha vida.
— Okay, então vamos sair hoje a noite, eu você e o Arthur.
— ela diz rapidamente. — Vamos naquele barzinho, e tenho certeza
que seus problemas serão resolvidos. — ela pisca para mim.
— Isso ai. — Arthur diz. — Nada como encarar o problema
frente a frente. — ele diz piscando para Gisele.
— Frente a frente?
— Sim, seu futuro e tal. Te pego as sete maluca, não se
atrase e vista uma roupa bonita e sexy. — ele diz rindo.
— Isso ai, muito sexy. — Gisele completa.
— Agora para piorar tenho dois amigos pervertidos.
Imagino o porquê ficaram juntos, quero saber da história depois.
— Ainda vai nos agradecer. — ela diz enquanto é abraçada
por Arthur, e eu vejo meu celular acender de mais uma das infinitas
ligações de Cadu.
CAPÍTULO 31

Visto um vestido branco, que tem um zíper preto na frente.


Deixa meu corpo bem modelado. E calço um salto alto. Arthur
assobia quando vem me buscar e eu começo a rir imediatamente.
— Não enche. — digo rindo.
— A Gisele já está nos esperando no bar.
— Ok. — ligo o som do seu carro, e deixo a música invadir
o ar e tomar conta dos meus pensamentos.
O caminho até o bar não é longe. Fica uns dez quarteirões
da minha casa, mas mesmo assim, Arthur quis me buscar e eu que
não vou dispensar uma carona! Assim que ele estaciona, eu corro
até o bar para encontrar Gisele.
Ela está em uma mesa perto do palco, onde a banda de
músicos toca uma música da banda Malta. E assim que me vê, larga
o copo de bebida e começa a acenar que nem uma louca. Me sento
perto dela. E assim que o garçom passa, eu peço para ele trazer um
coquetel para mim. Arthur se junta a nós minutos depois, o que é
estranho. Ele já estava fechando o carro quando o deixei.
— Amiga, vamos fazer um brinde! — Gisele anuncia
quando meu coquetel chega.
— Ok, vamos comemorar o quê? — pergunto já levantando
meu copo.
— Ao futuro! Vamos brindar as surpresas do destino que
nos aguarda e que você será muito feliz!
— Bom, discordo de algumas coisas, mas tudo bem. —
levanto o copo e bato contra o dela. — Ao futuro!
Ela começa a rir, e então começa a cantarolar sozinha.
— A Mari está aproveitando a lua de mel? — ela pergunta.
— Devem estar. Eles iriam chegar lá hoje a tarde.
— Que máximo! Para onde foram?
— Roma. — digo e bebo mais um gole do meu coquetel.
— Que chique! Roma!
— Lá é a cidade do amor, onde mais acha que eles
passariam a lua de mel se não lá? — digo rindo.
— É tem razão, faz sentido.
Os músicos são realmente muito bons. E estou começando
a me animar. Quando estamos felizes tudo tende a dar certo. Ás
vezes acho que felicidade atrai coisas boas. Gisele começa a me
contar que a Tatiana resolveu querer voltar com o Arthur, e que elas
brigaram muito. Porque eles agora estão juntos e aquela vaca o
perdeu para sempre.
— Isso mesmo, mostra para ela que ele é seu e que
diferente dela você dá valor no homem incrível que ele é.
— Justamente, amiga! — ela diz.
— Com licença? — o garçom chega perto de mim. —
Pediram para eu te entregar isso. — ele me entregou um envelope
azul.
— Obrigada, eu acho. — sussurro.
— Valeu seu garçom! — Gisele grita.
Começo a rir e quando viro o envelope tem uma frase
escrita.

— Quem mandou? — Gisele pergunta.


— Não sei. — digo e abro o envelope.
Lá dentro tem uma foto do Cadu me beijando. Estou
sentada na bancada da cozinha, e ele está de toalha, e me beija.
Como ele conseguiu essa foto?
Sinto meu coração acelerar dentro de mim. Meu corpo
inteiro vai se congelando aos poucos a medida que eu entendo quem
me mandou isso.
Não! Ele não pode estar aqui.
— Mand. — uma voz sussurra atrás de mim. E meu corpo
se congela ainda mais.
Sinto as lágrimas invadirem meus olhos. Arthur e Gisele
estão me observando atentamente. E o olhar dela me pede
desculpas em silêncio.
— Vocês não tinham esse direito. — digo, e me levanto
jogando o envelope no chão.
Eu só quero ir embora desse bar. MALDITA CARONA DO
ARTHUR!
Assim que chego na porta um trovão ressoa no céu. Sinto
meu coração aumentar a velocidade, o medo de estar andando que
nem uma maluca no meio das ruas enquanto uma tempestade se
forma não somente acima, mas dentro de mim também. Me assusta.
— Amanda! — Cadu grita.
Eu continuo andando. Abraço meu próprio corpo quando a
chuva começa enfim a cair. A água molha meus cabelos bem de
leve. Escorre por meu rosto, e eu não me importo mais em segurar
minhas lágrimas, já que elas agora vão se misturar com as lágrimas
do céu.
— Amanda espera! — ele grita.
E então eu paro. Não adianta correr, ele não vai desistir!
— O que você está fazendo aqui? — pergunto com raiva e
me viro para encará-lo.
Olhar para ele dói. Mas eu ignoro essa dor. Tenho que ser
forte.
— Eu precisei vir até aqui! — ele diz.
— Ah, você precisou? Se quisesse falar algo comigo era só
dizer antes que eu viajasse. — disparo.
— Eu tentei! — ele grita. — Mas quando cheguei no
aeroporto seu avião estava decolando! Tem noção do que é tentar
até comprar uma passagem para ir atrás de você e perceber que não
dá mais tempo, pois eu já te perdi para sempre... Eu tomei a decisão
errada.
Isso me pega completamente de surpresa. Como assim ele
foi até o aeroporto? Então aquelas ligações insistentes aquele dia
era porque ele estava lá querendo falar comigo?
— Que bom que eu não preciso te explicar, então. — digo,
e me viro para sair.
— Amanda, espera.
— Não, Cadu. Eu não espero. Eu não quero ter que
escutar coisas horríveis, hoje não. Eu não quero ter que falar sobre
esse assunto porque ele ainda dói em mim! — grito. — Eu não quero
conversar. Só me respeita.
Vou andando e vejo que ele está me seguindo.
— Não vem atrás de mim. — grito.
— Que se dane o que você quer... A rua é publica eu ando
por onde eu quiser.— ele diz.
Ah! Que idiota!
— Amanda, eu sei que fui um canalha, mas eu só queria te
dar o seu espaço. Sabia que estava querendo ficar sozinha, então foi
por isso que eu não me aproximei.
Paro de andar.
— Para! — ergo a mão para cima, e o impeço de chegar
perto de mim. — Não vem atrás de mim, para de falar!
— Amanda... Eu sei que agi como se não se importasse,
mas por favor tenta me entender! Eu não fiquei com minha ex. Eu só
tenho uma mania de fugir também quando as coisas acontecem.
— Não me importo!
— E ai então você foi embora, e tudo o que eu queria era
te puxar e te prender para mim e não deixar você ir embora nunca
mais! — ele grita e então começa a chover.
— Não! Cadu, não! — sussurro. — Agora quem não quer
saber sou eu.— digo.
— O que você quer então se não conversar?
— Eu quero que fique longe de mim. — grito.
Sinto as minhas palavras o atingirem assim como me
atingem. Saio correndo com a mão no rosto. Não olho para trás. A
chuva está cada vez mais forte. E tudo o que quero é fugir de tudo
isso. Da dor entalada na minha garganta. Do medo de perder ele
para sempre. Ele não vai me tocar nunca mais. Nunca mais vai me
chamar de gostosa, nem vai me beijar sorrindo como sempre fez.
Eu não consigo entender mais a vida, Santo Antônio!
A vida só é complicada porque nós a complicamos. Mas ás
vezes é tão difícil tomar a decisão simples, apenas pelo fato dela ser
tão fácil de se resolver que temos medo.
E assim, deixamos tudo complicado para nós mesmos.
CAPÍTULO 32

Chego em casa ensopada por causa da chuva. Vou ao


banheiro e me seco com uma toalha. Meu vestido está úmido, mas
tenho preguiça de tirá-lo. Ainda sinto a dor invadir meu coração. As
lágrimas presas em minha garganta. Tudo o que eu queria é que
tudo se resolvesse como em um passe de mágica.
Mas é claro que isso não dará certo.
Ouço alguém bater na porta. E a batida é igual a de Arthur.
Temos um código de batida de porta. Ah, ele vai ver só!
— Pode entrar! Tá aberta! — grito e vou até meu quarto.
O silêncio se instala. Não ouço vozes como esperava, nem
barulhos. Somente passos pra lá e pra cá. Um frio na espinha me
invade. Será que eu deixei um bandido entrar?
— Oi?
Será que se eu correr eu consigo sair daqui antes de
alguém me atacar e... Então o Cadu aparece. Meu peito se aperta
novamente. Ele está muito molhado. Seu maxilar está tenso. E sua
respiração rápida me faz lembrar de que estou prendendo a minha
respiração também.
— O que está fazendo aqui? — sussurro.
— Quer que eu fique longe de você? — ele repete minhas
próprias palavras. Está tremendo de frio. E isso, mesmo com a raiva,
parte meu coração.
Sem dizer nada vou até meu guarda roupa e pego duas
toalhas para ele, o vinco em sua sobrancelha se forma enquanto
hesitante ele as retira das minhas mãos. Ele se enxuga e eu fico
perto da janela do meu quarto.
Merda, será que ele não pode simplesmente ir embora?
Assim seria mais fácil, não é?
— Obrigado. — ele diz e coloca as talhas no encosto da
cadeira. Eu continuo olhando para a janela.
Ele fica me observando e eu tento controlar minha
respiração acelerada.
— É isso que você quer? — Cadu dá um passo a frente, e
eu dou três passos para trás. — Que eu fique longe de você? —
repete.
Meu coração congela, e eu tento me lembrar de respirar
calmamente, mas... Ai. Meu. Deus. Como se respira calmamente
com um homem como o Cadu me encarando desse jeito?
Mas vamos lá Amanda, não seja assim.
Se ele realmente me quisesse... Ele não teria ido embora
aquele dia. Mas, já que é isso que ele escolheu, quem sou eu para
deixar minha palavra de lado e ceder as suas chantagens de se
manter por perto?
— É... Isso deu o que tinha que dar... Você teve a sua
chance, Cadu. Não comece a agir como se eu fosse a culpada. —
sussurro.
Olho para ele, e o encontro petrificado. Encarando-me
como se eu fosse partir naquele momento e nunca mais voltar. Sua
respiração aumenta a intensidade. Ele dá mais um passo em minha
direção, e eu me afasto novamente para trás, até que me encosto na
parede.
Puta merda!
— Não estou dizendo que é culpada. — mais um passo.
Fico tensa, mas não tenho mais como ir para trás, não tem como eu
me afastar. — Eu quero que entenda... — ele continua. — Que eu
estou arrependido de ter tomado a decisão errada. — mais um
passo.
Caramba! Ele não deveria estar chegando tão perto de
mim assim.
Isso já é jogo baixo! Muito, muito baixo!
— Tudo bem. — levanto uma mão detendo qualquer
possível avanço de sua parte. — Eu entendo. — ele ergue a
sobrancelha e me analisa sem acreditar no que eu falo. O que
provavelmente é uma verdade. — Eu só quero que fique longe de
mim, agora. — arrisco dizer.
Seu olhar me domina por inteira, me questiona, perguntas
que eu não estou disposta a responder, porque exigem coisas que
eu não seria capaz de suportar.
Ele morde o lábio inferior, e a lembrança de quando ele fez
isso comigo pela primeira vez me invade, assim como a vontade que
eu senti de corresponder aos seus caprichos.
— E se eu não quiser? — mais um passo. Merda! Para de
andar! — O que vai fazer?
Respirar! Como faço para respirar?!
— Eu tô falando sério. — sussurro já sem fôlego.
— Eu também. — sua voz sai rouca. Ele dá mais um passo
e seu corpo cola contra o meu. — Se você não me quisesse por
perto... Já teria me afastado há muito tempo.
Pronto, isso já foi o suficiente para eu perder o controle. Se
me aproximar dele já causa efeitos completamente devastadores em
mim, e agora que ele está com o corpo colado no meu?
Ele sobe uma mão e segura meu queixo, erguendo-o para
cima. Seus olhos exploram meu rosto, em busca de algo... E parece
que ele gosta do que vê. Minha boca se abre em busca de ar.
Suas mãos deslizam para a minha cintura, circula minhas
costas, e ele me puxa sem nenhuma gentileza para mais perto.
Como se tivesse medo de que eu fosse para algum outro lugar.
Cadu se aproxima, perco o foco de acordo com que ele vai
se aproximando do meu pescoço. Seus lábios doces tocam minha
pele. E eu seguro seus ombros com força para me apoiar. Porque
tenho certeza que se ele me soltar, eu iria desabar ainda mais.
Cadu segue trilhando beijos por todo meu pescoço, e eu
não evito que um gemido escape por meus lábios quando ele aperta
meu seio. Seus lábios seguem para minha orelha, e Cadu beija a
parte sensível detrás dela. Por mais que a onda de sensações
dominantes sejam fortes de mais para que eu possa suportar, me
lembro com perfeição da noite em que ele mentiu e se privou de
sentir e só foi embora, e não posso evitar que uma lágrima escorra
por meu rosto. Sinto Cadu ficar rígido ao se deparar com minhas
lágrimas. Ele me lança um olhar preocupado, e seus braços ao
contrário de me abandonarem, me apartaram com mais força.
— O que foi, Mand? — ele sussurra.
Não evito um soluço.
— Você foi embora e... — paro de falar ao sentir minha
garganta se fechar de dor. Mas eu tenho que falar para aliviar. — E
eu pensei que nunca mais iria me tocar outra vez. — admito. — É
como se eu fosse um erro. — olho para ele e sou sugada por seus
olhos completamente furiosos, e eu sei que ele está dirigindo esse
olhar a si mesmo. — Tocar em mim... É tão ruim assim, Cadu?
Falar em voz alta o que machuca não me ajuda, pelo
contrário, deixa tudo ainda mais real.
— Porra, Mand. — ele sussurra mortificado. — Tocar você
é a única coisa que me deixa mais vivo. — seu rosto se aproxima de
mim, e ele coloca a testa sobre a minha. — Por que você é tão cega
ao ponto de não enxergar que apenas seu cheiro causa efeitos sobre
mim?
Tá legal, isso me pega de surpresa. Como assim eu causo
efeitos sobre ele com apenas meu cheiro?
— Mas...
— Eu enlouqueço, e perco o controle se estiver perto de
você e não te tocar. — ele sussurra.
Me olha desesperado. Sinto que ele precisa de mim, passo
meus braços por seu pescoço, e ele suspira profundamente.
— Então, por que ficou fugindo de mim também? —
sussurro. Me lembrando de todas as vezes que ele mesmo disse que
iria me deixar sozinha. Ao invés de simplesmente admitir.
— Eu não estava fugindo de você. Eu estava fugindo de
mim mesmo. — ele diz, seus olhos imploram para que eu o entenda,
para que eu compreenda o que ele quer dizer. — Eu nunca encontrei
a mulher certa, gostosa... Nunca me entreguei completamente a
alguém. Eu não fugi porque quis... — ele sussurra. — Quando vi
você se afastando sempre que eu tentava me aproximar... Quando vi
você não querendo minha companhia... Eu não sei, eu só queria te
dar a porra do seu espaço, droga!
Ele queria que eu tivesse meu espaço?
— Mas que merda, Cadu. — sussurro. — Quando é que
você vai entender que eu não quero ter espaço nenhum se você não
estiver comigo?
Ele me olha surpreso, e vejo um brilho de esperança no
fundo dos seus olhos.
— Então você me perdoa por ter sido cego ao não
enxergar o que você queria?
Ele me olha indeciso, e logo em seguida pressiona nossos
corpos contra a parede.
— Eu não quero você longe de mim. — digo sem
pestanejar.
— Tem noção... — ele segura minha nuca, e morde meu
lábio inferior com força. Pegando-me totalmente de surpresa. — De
quantas vezes eu quis te pegar no colo e calar sua boca sobre tudo o
que você supostamente iria me dizer?
Um sorriso brota em meus lábios. Me entregando
completamente.
— Então... Você quis vir atrás de mim?
— Mais do que qualquer coisa nesse mundo! — ele
sussurra.
— Não queria espaço. — digo.
— E eu fui um tolo de não perceber o que realmente
queria. — ele fala. — Desculpa.
— Desculpar por você não ter percebido? — fico confusa.
Ele nega com a cabeça, e seus olhos são como livros,
onde se tem escrito tudo o que está sentindo. Seus olhos queimam
quando ele aperta minha cintura contra ele.
— Não. — ele nega novamente com a cabeça. — Me
desculpa... Por não ter vindo até você, mesmo não tendo percebido.
— ele olha fixamente para a minha boca. — Eu falhei com você.
Achei que tivesse te perdido naquele instante.
— É preciso ter alguém para se perder, Cadu. — digo
rindo.
— Eu já disse que você é minha. Desde o dia que pediu
para eu te beijar naquela festa.
Sorrio novamente me lembrando daquele dia, e Cadu tenta
reprimir um sorriso, mas não consegue. E suas covinhas novamente
aparecem.
— Você nunca me perdeu. — sussurro. Acaricio seu lábio
inferior com meu polegar.
— Que bom. — seus olhos deixam o ar brincalhão, e o
desejo novamente toma conta de suas expressões. — Porque eu
não iria suportar a ideia de não poder mais sequer tocar em você.
Sou tomada por um milhão de sensações, um milhão de
desejos, um milhão de maneiras diferentes de beijar Cadu e nunca
mais parar.
— Pode parecer inadequado o que eu vou dizer... — ele
começa, me olha com intensidade. — Mas seria muito errado eu
pedir para você fazer amor comigo agora?
Literalmente eu não sei como se respira!
Olho para a sua boca, que está tão próxima, implorando,
desejando que eu me entregue a ele sem nenhuma barreira. Agora
não somos mais como no passado, antes não sabíamos o que
estávamos fazendo, era uma atração, sem explicação. Agora não.
Sem dizer uma palavra, desvio meu olhar até seu peito.
Desço minhas mãos ate sua calça, e solto um suspiro, começo a
desabotoar os botões de sua camisa. De baixo para cima, sem tirar
meus olhos do dele.
Percebo o momento em que ele entende que sim, eu o
quero. E não posso deixar de reprimir um sorriso bobo, quando ele
sorri tanto, que suas covinhas aparecem novamente. Ele morde seus
lábios, tira minhas mãos de sua blusa, e começa a desabotoar
sozinho, mas eu o impeço.
Eu não quero isso, eu quero fazer!
Ele ri mais um pouco ao entender o que eu quero e eu me
aproximo, desabotoo o terceiro botão, o quarto, o quinto, seu
abdômen começa a aparecer e eu mordo meus lábios, abro o sexto
botão, e vou assim seguindo, até enfim ter terminado e poder abrir
meu campo de visão para o homem lindo a minha frente.
Deslizo a blusa dele por seus bíceps, e tenho um pouco de
dificuldade ao passar por aquele local, noto que ele está de olhos
fechados enquanto eu faço todos os caminhos para tirar a blusa do
seu corpo, mas assim que consigo, ele toma a blusa da minha mão,
e a joga para um canto do quarto. Seus olhos se abrem, e ele sorri,
chegando perto de mim, e segura o zíper da frente do meu vestido
também.
E começa a abrir o zíper tão devagar que parece uma
tortura. Eu estou tremendo, custo respirar, não vou sobreviver a isso.
Impaciente seguro a barra do vestido, mas quando começo
a subir ele, Cadu segura minhas mãos, e as desce novamente, me
fazendo soltar a mão da barra, e volta a se concentrar no zíper. Ele
vai abrindo e se ajoelha na minha frente, a cada vez que ele abre,
ele beija o novo pedacinho da minha pele que se revela.
Isso está acabando comigo. Ele quer me matar de
provocação, só pode. Não estou aguentando mais, e quando ele está
na altura dos meus seios, eu me apoio em seu ombro, me ajoelho a
sua frente. E tento beijá-lo, mas ele me mantém onde eu estou.
— Cadu... — sussurro.
Ele coloca um dedo em meus lábios, e me pede silêncio.
Suspiro de frustração, e ele ri ao se aproximar do meu
ouvido.
— Não estou com pressa. — sua voz rouca, é sussurrada
contra meu pescoço.
Ele aproveita a proximidade e continua trilhando um
caminho secreto de beijos, que ele conhece muito bem, por toda a
extensão da minha pele, indo da minha orelha, até meus ombros,
onde morde levemente, causando uma série de arrepios por todo
lugar.
Não aguento a pressão e toco seu peito, deslizo as mãos
para cima e para baixo, seguro sua cintura e o puxo em minha
direção, me inclino um pouco, e também beijo seu pescoço. Sinto o
corpo de Cadu estremecer com isso, e sorrio satisfeita, e desço
meus beijos por seu peito, seu abdômen, e sugo sua pele em minha
boca quando me aproximo da sua virilha. Suas mãos agarram meus
cabelos e vejo o quanto ele me deseja por baixo de sua calça.
Suas mãos puxam meu rosto para cima, e ele me puxa
com força. E então morde minha orelha.
— Puta que pariu. — ele sussurra. — Talvez eu esteja sim,
com um pouquinho de pressa.
Começo a rir.
De uma hora para outra, suas mãos alcançam a barra do
meu vestido. Subindo-o por minha cabeça, e o joga em qualquer
lugar do quarto. Seus olhos percorrem meu corpo rapidamente, e ele
me abraça apertado, coloca meus braços por cima de seu pescoço,
e depois desce para minhas pernas enquanto se levanta me levando
junto.
Assim que ele se levanta, eu círculo e entrelaço minhas
pernas ao redor da sua cintura, e os braços de Cadu me apertam
contra seu corpo. Cadu me encosta contra a parede, e suas mãos
enormes acariciaram minhas pernas, indo até meus pés, e retira
meus sapatos de salto alto.
Arfo quando ele aperta seu quadril contra o meu, e começa
a causar fricção entre nossos corpos.
Sua boca mergulha na minha. Ele está faminto, morde
meus lábios, suga minha boca de maneira tão dominante, que
sinceramente não sei como ainda estou viva e bem, e respirando e...
Inteira.
Puxo seu rosto contra o meu, e acaricio cada pequeno
lugar do seu corpo, que eu tanto queria que fosse somente meu. E
tento me conformar com o fato de que nesse momento, nesse
instante, ele é somente meu. Pertencemos um ao outro.
Coloco minha mão entre nós dois e o seguro através da
calça jeans e Cadu geme em minha boca. Puxo seu rosto para mais
perto de mim ainda, porque não importa o que eu faço ou o quanto
me aproximo, nada parece suficiente para mim. Para nós.
As mãos de Cadu exploram minhas curvas, por um
momento ele brinca com meu sutiã, e em um piscar de olhos eu já
não estou mais com ele, suas mãos sobem para o meu cabelo, onde
se enrosca, e aprofunda o beijo mais do que eu pensei ser capaz.
Ouço Cadu soltar um gemido dentro da minha boca.
Somos guiados por sensações impossíveis de se negar,
desejos insanos e profundos, vontades irresistíveis.
Ele me leva em direção a cama, me deita, e vem por cima
de mim. Cadu continua a me beijar, seus lábios devoram os meus, e
eu soube nesse momento que estou ainda mais perdida
— Diga que é minha. — ele sussurra. — Porque não
aguento mais ter que defender minha opinião sobre você, com base
naquele dia que nos conhecemos.
Ergo uma sobrancelha e puxo seu rosto para perto do meu.
— Só por causa disso?
Ele sorri e esconde seu rosto na curva do meu pescoço.
— Não. — ele fala baixinho. — Eu quero que diga que é
minha, porque ai eu poderei sentir que não vou te perder novamente.
Arrepio. Sinto meu coração disparar, e sorrio satisfeita
quando coloco a minha mão no peito de Cadu, e noto que seu
coração bate na mesma velocidade que o meu. Coloco os cotovelos
em cima da cama, mal conseguindo esperar. E beijo sua bochecha.
— Sou sua. — digo baixinho.
Cadu parece relaxar depois de ouvir isso. Sua postura fica
mais ereta, mais decidida, e ele vem me beijar com tanta força, que é
como se quisesse se certificar de que realmente me perder está fora
de qualquer hipótese.
Cadu me ajuda a me livrar da minha calcinha e faz o
mesmo com ele, e depois de tudo mais do que perfeito, ele vem se
aproximando de mim novamente. Meu coração parece que vai parar
a qualquer momento.
E quando ele finalmente entra dentro de mim, posso jurar
que vou chorar de emoção. Por me sentir completa.

Seguro a mão de Cadu quando ele faz menção de se


levantar, mas ele apenas pega meu edredom, me cobre, e se deita
ao meu lado. Puxando-me para ele. Onde descanso minha mão no
lugar onde sempre quis: em cima do seu coração.
— Fico feliz que não tenha ido embora de mansinho. —
sussurro sendo levada para o sono e vejo que ele sorri.
— E eu fico feliz que você me queira aqui mesmo depois
de tudo.
É a minha vez de sorrir.
Me aconchego mais perto dele, e Cadu começa a fazer
cafuné em minha cabeça. Sinto ele se mover, e acariciar meu rosto.
E então ele beija o topo da minha cabeça calmamente.
— Eu também sou seu, Mand. — ele sussurra.
— Sabe que eu ainda estou acordada, né? — digo
baixinho.
Ele reprimi uma risada. E beija o topo da minha cabeça
novamente.
— Não. Não sabia... Puta que pariu... O que eu faria sem
você?
Abro meus olhos mesmo que cansada, e beijo seus lábios
levemente.
— Não faria nada... Porque você é meu. — admito rindo
enquanto vejo ele corar.
— Eu sou. — ele diz sem hesitar. — De corpo, alma...
Completamente seu.
— Ah, Cadu...
Ele se aproxima e beija meu pescoço. E não sei em que
momento, só sei que ao estar ali no aconchego dos seus braços,
sentindo seu cheiro me invadir, eu sou levada rapidamente para o
sono da melhor noite da minha vida.

Acordo sentindo o cheiro de café. Me lembro de tudo o que


aconteceu noite passada e sorrio. Meu vestido e as roupas de Cadu
ainda estão espalhadas pelo chão. Me levanto enrolada no lençol,
pego sua blusa, uma toalha e vou até o banheiro. Tomo um banho
relaxante. Lavo meus cabelos. E deixo a água correr por toda as
minhas costas, me aquecendo e me relaxando imediatamente.
Depois me seco, passo meu hidratante, e troco de roupa.
Coloco o lençol no cesto de roupas sujas do banheiro, e penteio
meus cabelos molhados. Penduro a toalha na área de serviço, e vou
até a cozinha. Encontro Cadu, somente de cueca boxer preta,
fazendo ovos mexidos.
Céus!
Eu fico parada na porta da cozinha observando ele
cantarolar a música no fone de ouvido. E assim que ele se vira e se
depara comigo, tira os fones sorridente, e coloca em cima da
bancada.
— Sabia que eu tenho amigos que entram em minha casa
sem nem bater na porta? — digo me aproximando dele. — O que
eles pensariam se te vissem só assim na minha cozinha?
Ele sorri e se aproxima de mim, e assim que sua boca
encontra a minha eu esqueço novamente de todas as minhas
dúvidas.
— Eles não pensariam nada que não tivesse realmente
acontecido. — ele sussurra.
Os braços de Cadu me puxam pela cintura para mais perto,
ele me levanta enquanto beija minha boca mais uma vez, e me senta
em cima da bancada.
— Tenho boas lembranças de bancadas de cozinhas. —
digo sorrindo e circulo minhas pernas ao redor de sua cintura e Cadu
me lança um sorriso cafajeste, antes de vir novamente para perto de
mim, beija minha boca, deixando-me completamente abalada.
— Ontem a noite foi incrível. — ele sussurra.
— É porque eu sou incrível. — digo tentando fazer uma voz
sensual.
— E convencida também. — ele diz rindo, e então seus
lábios voltam em direção a minha boca.
E assim que passo meus braços por seu pescoço pronta
para ser beijada e quem sabe continuar com o que havíamos
começado noite passada... Ouço batidas na porta.
— Tô entrando! — Arthur grita.
— Cadu vai vestir uma roupa! — sussurro o empurrando,
desço da bancada, mas ele apenas me abraça e me impede de tirá-
lo do lugar.
Arthur e Gisele aparecem na cozinha, e ela olha para o
chão constrangida. E eu dou um tapa em Cadu.
— Vai agora vestir uma roupa! — grito.
Ele apenas ri, e saiu reclamando sobre não estar pelado na
cozinha. Arthur e Gisele estão me encarando tentando reprimir um
sorriso.
— Eu ainda estou com raiva de vocês! — digo.
— Tô percebendo. — Arthur diz rindo. — A raiva que
estava a minutos atrás.
— Arthur! — o repreendo.
— Não tem de quê. — ele pisca para mim.
Gisele dá um grito e sai correndo em minha direção me
abraçando com força.
— Ah, eu sabia que daria tudo certo! Estou tão feliz por
vocês!
Correspondo seu abraço, e Cadu chega na hora, vestido
com sua calça.
— Cadu, vai ficar aqui ou vai voltar para BH? — Arthur
pergunta casualmente.
Mas então percebo que essa não era uma pergunta casual,
na verdade. Fico séria imediatamente, e Arthur percebe.
— Ah, desculpa, claro, está cedo para pensarem sobre
isso...
Ele limpa a garganta e chama Gisele para irem para a
empresa.
— Só vim trazer isso. — ele estica o celular de Cadu que
sorri e o pega.
— Valeu, cara.
Despeço-me deles e grito para fecharem a porta quando
sairem. Assim que a porta se fecha, Cadu me pega e me coloca em
cima da bancada de novo.
— Mand...
— Tá tudo bem Cadu, eu entendo sobre você voltar.
— Meu pai me ligou ontem. — ele diz.
— Seu pai? Sério?
— É... Brigamos um pouco, eu disse tudo o que estava
entalado na garganta. Ele queria se desculpar pelas coisas que falou
comigo no hospital.
— Que coisa boa, Cadu. — acaricio seu rosto. — E você o
desculpou?
— De certa forma... Eu contei para ele o que tinha
acontecido entre a gente, disse a verdade, e que iria vir aqui para
São Paulo para te pedir para ficar comigo, e que eu queria mesmo
você na minha vida. — meu coração se acelera e Cadu segura meu
rosto. — Eu quero você na minha vida.
— Eu também. — sussurro.
— Ele ficou muito feliz. Disse que você sempre foi uma
funcionária exemplar... E disse que eu estava enfim tomando um
rumo na minha vida. — ele fica em silêncio por um tempo. — Nós
vamos desligar os aparelhos da minha mãe.
Sinto um aperto no peito e apoio minhas mãos nos ombros
de Cadu.
— Sinto muito que tenha que ser assim. — digo baixinho.
— Está tudo bem. Ela não iria querer isso. — ele diz, e
então olha para mim e sorri. — Ela iria ficar feliz em saber que nosso
plano deu certo. Consegui finalizar meu projeto.
— MENTIRA! O quê é, será que posso saber agora?
— Meu estúdio de fotografia.
Arregalo os olhos surpresa e o puxo para me abraçar.
Estou tão feliz por ele finalmente seguir seu sonho. E conseguir
realizá-lo.
— Você conseguiu! — sussurro.
— Sim, tenho quase tudo que eu quero na minha vida.
— Ah é? E o que falta?
— Você. — ele diz sério. — Vem para BH comigo. — Cadu
sussurra ainda com o rosto em meu pescoço.
Fico um tempo em silêncio e Cadu se afasta um pouco e
fica me observando. Bom, não era bem nesse momento que eu
queria contar a novidade, mas já que tudo aconteceu entre nós. Acho
que ele é a primeira pessoa que precisa saber.
— Eu aceitei a proposta do seu pai de ficar definitivamente
com a vaga de redatora.
— Tá de sacanagem! — Cadu sorri e me puxa pela cintura
e começo a rir. — Você realmente vai voltar para lá?
Ele me roda e me coloca no chão, começo a rir e abraço
sua cintura e o puxo para mais perto.
— Bom, podíamos não estar juntos, mas é tudo o que
sonhei na profissão. Só pedi um tempo para arrumar um
apartamento para morar.
Ele ri, e se aproxima de mim novamente, beija meus lábios
vagarosamente, e depois aperta minha cintura enquanto me observa.
— Se quiser, podemos fazer um acordo. — ele pisca para
mim sorrindo.
— Que tipo de acordo? — começo a sorrir.
— Não sei, que tal a gente ficar junto de verdade? — ele
sugere. — Você poderia ficar lá em casa. Contamos para todo
mundo, mas tem que fazer todos acreditarem, hein! — ele diz rindo.
— Você vai ter que fazer eles acreditarem me beijando sempre... Vai
ter que ficar do meu lado. E eu vou acrescentar no acordo cláusulas
mais divertidas de serem quebradas do que o primeiro.
Deito meu rosto no peito dele e Cadu sorri.
— E então? — ele questiona.
Olho para seus olhos, que perco o foco de qualquer coisa
ao me ver refletida neles. Eu quero sempre me ver refletida nos
olhos dele.
Não tenho mais aquele medo. De certa forma encarar os
meus problemas e as minhas mágoas, foi o que eu mais precisava
para poder seguir em frente. E de quebra meus pais ficaram
melosos, minha melhor amiga se casou, e eu ainda ganhei um
homem incrível.
Minha vida sempre estava destinada a isso, aquele lugar...
Eu que quase perdi tudo isso enquanto tentava fugir.
— Acho que temos um acordo, senhor Carlos. — me
aproximo dele ainda mais.
— Ah é? — ele sussurra enquanto suas mãos me apertam
contra seu corpo.
— MAS... Só se prometer fazer um book de fotos só
minhas. — sussurro. — Você sabe que eu amo foto.
Ele sorri, morde meu lábio inferior, seus lábios seguem
uma trilha da minha garganta, até chegar ao meu pescoço, onde ele
sobre até minha orelha e a mordisca.
— Você ama minhas fotos? — e sinto-o sorrir contra a
minha pele. — Pois eu amo você.
EPÍLOGO

Assim que chego do serviço, coloco minha bolsa em cima


da bancada e tomo um copo de água.
— Cadu? — o chamo, e aguardo ele me responder.
Pego meu celular, confiro as mensagens, e decido
responder todo mundo depois. Estou tão cansada que só quero
tomar um banho e me deitar. Olho em direção ao corredor e estranho
ele não ter me respondido.
— Cadu? — coloco meu celular em cima da bancada e vou
em direção ao corredor, passo direto e vou até seu quarto, não o
encontro lá.
Olho no quarto de hóspedes e também não o encontro.
Resolvo voltar para a cozinha e ligar para ele. Mas assim que estou
no corredor, me surpreendo ao olhar aquela porta preta entre aberta.
Cadu sempre disse que lá é seu escritório, mas nunca me
deixou entrar. E eu sempre respeitei, mas agora vendo a porta aberta
fico ainda mais curiosa para ver como é por dentro. Sinto meu
coração bater mais rápido e me aproximo devagar. Toco a maçaneta
e a abro. Aquela luz vermelha ilumina meu corpo, e assim que olho
para dentro do cômodo um arrepio percorre todo meu corpo.
É o estúdio particular do Cadu. Há algumas máquinas lá
dentro, e tem alguns varais com fotos pregadas por todo lado. Todas
as fotos são de nós dois. Tem ele e eu nos beijando, eu trabalhando,
dormindo em sua cama. Ele registrou todos os momentos. Sorrio e
me aproximo de uma das fotos, é a mesma que ele me mandou
através do garçom aquele dia em São Paulo. Solto um suspiro e
ouço um barulho atrás de mim. Assim que viro o vejo entrar na sala.
Ele sorri e fecha a porta atrás de si.
— Descobriu meu esconderijo secreto, foi? — ele diz, se
aproxima de mim e me abraça por trás. — Não gosto que ninguém
entre aqui.
— Nem mesmo eu? — deito minha cabeça em seu ombro
e ele sorri.
— Depende. — ele sorri e então me vira para ficar de
frente para ele.
— Por que você faz esse tipo de revelação? Não existem
máquinas que revelam sem precisar de tudo isso? — aponto em
volta.
Luzes vermelhas preenchem todo o espaço, e há alguns
tanques com líquidos dentro e algumas ferramentas ao lado.
— Eu revelo por máquinas quando faço um trabalho. Mas
as minhas fotos pessoais, eu sei lá... Tenho um certo fetiche pelo
jeito antigo. Por ver a imagem surgindo e se transformando, sabe?
Sorrio e o abraço pela cintura. Não esperava mesmo de
Cadu. Ele nunca é um cara típico.
— Você viu todas as fotos? — ele me pergunta.
— Não... Só algumas. Você chegou e interrompeu meu
momento. — sorrio e me aproximo de uma das fotos. — Achei que
aqui era um quarto tipo aquele do Christian Grey.
Cadu solta uma risada e se aproxima de mim e beija meu
pescoço.
— Foi mal. — sinto ele sorrir contra a minha pele. — Cada
um com seus fetiches. Esse é o meu.
Solto uma risada e ando para o lado e vejo a próxima foto.
— Não deixa de ser sexy. — digo e olho para ele. — Acho
que prefiro o seu fetiche.
— Te garanto que ele pode ser ainda mais sexy do que
parece. — ele segura meus ombros e me vira devagar. — Viu aquela
última foto?
Não tinha visto. Me afasto dele e ando até o fundo da sala.
Olho para a foto, que é uma foto de uma caixa preta. Franzo a testa
estranhando e me viro com a foto estendida para Cadu me explicar.
E então quando me viro, o encontro ajoelhado na minha
frente com a mesma caixinha de veludo preta da foto. Meu coração
para de bater por um momento.
— Cadu...
Minha respiração aumenta a velocidade e ele só sorri e
estica sua mão. Me aproximo dele tremendo e seguro sua mão.
Cadu morde os lábios e abre a caixinha, e vejo o mesmo anel que
ele me deu para a nossa mentira.
— Esse anel é da minha mãe. — ele diz e eu o olho
surpresa. Me agacho no chão de frente a ele e sinto as lágrimas
invadirem meus olhos. — Eu sei que onde quer que ela esteja agora,
ela iria querer que ele ficasse com você.
— Ah, Cadu. — acaricio seu rosto e sinto meu coração se
apertar.
— As coisas entre nós são sempre intensas. E eu só sei
que desde que você apareceu e me fez aquela proposta, tudo
mudou. E... Porra, eu te amo tanto que agradeço todo dia que te vejo
do meu lado.
Sorrio e limpo uma lágrima que escorre e Cadu tira o anel e
segura minha mão.
— Então, aqui vai a minha proposta para você. — ele se
aproxima e beija minha boca levemente. — Eu proponho não
fazermos planos. Só viver cada segundo juntos. Eu proponho me
comprometer com você, te apoiar, te amar, e cuidar. Eu proponho um
nós, gostosa. Mas um nós de verdade. Perante todos e perante a
Deus.
Me aproximo dele, seguro seu rosto e encosto nossas
testas.
— Casa comigo?— ele diz. — Seja minha.
Estou tão feliz e aceno com a cabeça. O puxo e beijo sua
boca, e depois beijo sua testa.
— Eu aceito. — sussurro e olho em seus olhos. — Eu te
amo.
— Eu também te amo. — ele diz e escorrega o anel por
meu dedo anelar e ele parece ainda mais lindo agora. — Cacete, só
preciso de uma coisa para oficializar isso.
— E posso saber o que é?
Ele sorri e faz com que eu levanta. Em seguida ele se
abaixa, segura minhas pernas e me pega no colo. Começo a rir e
círculo minhas pernas ao redor de sua cintura e apoio meus braços
em seu pescoço. Ele me leva devagar até a parede, e me encosta
nela. Seu polegar acaricia minha boca e ele sorri. Olha nos meus
olhos e parece ver minha alma.
— Eu preciso que você me beije.
Obrigada por ter lido!
Leia o Spin-off do livro:
Faz de conta que acontece
Biografia
Rafa Alves mora em Divinópolis, MG. Com sua mãe e seu
zoológico de animais de estimação. Apaixonada por séries, filmes,
livros e anatomia, dedica seu tempo dividindo seu amor por escrever
e cursar a faculdade de fisioterapia. Gosta de escrever sobre
sentimentos, sobre a vida, sobre caras playboys que nos fazem
perder o fôlego. E de trazer esses personagens á vida em suas
histórias.

Maiores informações e contato com a autora:

Instagram: @autorarafaalves
Série Escolhas

1- Faz de conta que é amor. ( Amanda e Cadu )

2- A eterna promessa. ( Arthur e Gisele )

3- Em busca da batida perfeita. ( Rachel e Max )

Não é necessário ler na sequência, cada livro conta a história de


personagens diferentes.

(Pode conter alguns pequenos spoiler´s, como chamativa aos


outros livros, que não interferem na história).

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