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Dedicatória!
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Epílogo
Redes Sociais
Livros Da Série
Livros 4/5/6 Em Breve!
Sinopse
Atena Moore é uma moça meiga, doce e gentil, mas também muito
determinada a não desistir dos seus objetivos, por mais que o mundo
resolva lhe dizer não. Mas ela sempre terá ao seu lado uma das poucas
pessoas que nunca a abandonou depois que perdeu os seus pais e a sua
visão em um trágico acidente de carro, a sua melhor amiga Luana.
Atena é uma moça cega e com suas atuais limitações, a sua vida
mudou radicalmente, ela teve que se adaptar a muitas mudanças mas
sempre teve ao seu lado a sua melhor amiga, que lhe é como uma irmã, na
verdade Luana e sua família são as únicas pessoas que ela tem ao seu lado.
Os médicos não conseguem descobrir a causa da sua cegueira, mas
isso não a impedirá de lutar todos os dias para ter a sua independência, para
ter a sua vida de volta, mas as suas atuais condições lhe traz muitas
dificuldades e situações desagradáveis, tudo se torna mais difícil, mas não
impossível.
Em uma de suas saídas para mais uma entrevista de emprego, Atena
conhecerá um homem que vai se impressionar com a sua beleza e
determinação. O Tenente Théo Carlson a ajudará, a seguirá com a única
intenção de ajudá-la e descobrirá que mesmo com as suas limitações, Atena
vende flores para se sustentar e isso vai deixá-lo encantado, mas também
impressionado ao conhecer a sua história de vida.
Théo trará para vida de Atena não só apenas esperança de um
recomeço, um novo olhar, mas também um grande amor com muitas
surpresas e realizações, sonhos que se perderam juntamente com a
escuridão dos seus olhos. Sua vida mudará mais uma vez, mas o destino
quer lhe dar nossas oportunidades, uma vida nova como ela jamais
imaginou.
Théo entrará na vida de Atena mas ele não virá sozinho, ele não será
o único a entregar o seu amor essa bela mulher. Ela também conhecerá
Tony Carlson, irmão gêmeo de Théo.
Dedicatória!
Dedico essa obra a todos vocês que apoiam o meu trabalho, que me
incentivam a melhorar a cada história escrita. Um grande beijo com muito
carinho, da sua autora Marcia Candido!
SETE ANOS ANTES...
Ando pela sala e sigo até a cozinha, abro a geladeira e posso a mão
nas três garrafas na porta, pego a garrafa média pois sei que é a garrafa de
suco, fecho a geladeira novamente e vou até pia pegar um copo. Preciso sair
logo de casa, já era para eu estar na floricultura e Lua deve estar me
esperando.
Depois de beber o meu suco de manga eu guardo novamente a
garrafa na geladeira, volto até a sala contando mentalmente os passos até a
estante, onde deixei a minha bolsa no lugar de sempre.
A minha vida não tem sido fácil, já faz sete anos que vivo nessa
escuridão, sete anos que perdi os meus pais e aprendi a viver apenas com as
lembranças boas que guardo deles.
Os médicos ainda não descobriram o motivo da minha cegueira,
tudo parece um mistério que ninguém consegue desvendar, a cinco anos
atrás me falaram de uma cirurgia para devolver a visão, um chip que seria
implantado em uma parte do cérebro e uma lente que funciona como uma
microcâmera enviaria as imagens para esse chip, eu poderia enxergar de
novo se essa cirurgia não fosse tão cara, cento e setenta mil dólares, um
absurdo de tão caro e eu não conseguiria pagar nem que fosse a metade
desse valor,, além domas não se sabe a causa da minha cegueira, até
cheguei a conversar com alguns bancos para um possível empréstimo para
um tratamento ou uma cirurgia fora do país, mas de todos eles eu ouvi a
mesma resposta, eu não tenho direito a pegar um empréstimo tão alto, no
máximo eu conseguiria vinte mil dólares, o que eu vou fazer com vinte mil
dólares? Só me resta aceitar que não vou mais enxergar e conviver com
isso.
Pego a minha bengala guia dobrável e saio de casa fechando a porta
na chave, seguro o corrimão que foi posto para a minha adaptação e desço
alguns poucos degraus da varanda até o portão, no começo eu caía tanto
dessa escada, ela é pequena, mas tem degraus o suficiente para eu me
esborrachar no chão, já perdi as contas de quantas vezes eu caí dela, quase
quebrei a minha perna outra vez mas graças a Deus, não aconteceu nada
grave comigo.
Saio pelo portão e sigo até o ponto de ônibus, já está quase na hora
dele passar, como sei disso, Lua colocou o meu relógio para despertar
quinze minutos antes do horário do ônibus, e como me atrasei um pouco, ou
ele já passou ou vai passar logo.
Ouço o som do ônibus se aproximar e tento me apressar para chegar
no ponto, por não conseguir enxergar eu desenvolvi uma sensibilidade
muito grande para ouvir sons, e conheço de longe quando o ônibus está
vindo. Ele buzina e para em seguida.
— Está indo para onde com tanta pressa, Atena? — Pergunta
Basílio, o motorista do ônibus e também um grande amigo.
— Para onde mais eu estaria indo, Basílio? Lua já deve estar
preocupada me esperando. — Sorrio aproximando-me do ônibus e subo
com cuidado.
— Sente-se e se segura. Hoje estou dirigindo feito um piloto de
fuga.
— Minha nossa, Basílio! Para que a pressa, homem?
— Estou atrasado, princesa, já era para eu ter passado, você deu
sorte. Vamos nessa! — Seu tom de voz engraçado me faz sorrir e eu me
sento.
Seguro-me como ele sugeriu pois Basílio tem pelo menos três
parafusos a menos nessa cabeça. Ele põe o ônibus em movimento e
seguimos enquanto conversamos, ele já sabe onde vou descer então nem
preciso dizer nada.
Alguns minutos depois estou me despedindo de Basílio e desço no
ponto de ônibus em frente a floricultura, onde tenho passado a maior parte
do meu tempo.
— Até logo, princesa ruiva! Tenha um bom dia! — Ele buzina me
fazendo sorrir.
— Igualmente, Basílio! Até logo! — Aceno e sorrio para ele, ouço o
ônibus sair em seguida.
Desdobro a minha bengala guia e sigo para dentro da floricultura,
estou ajudando Lua no que posso para não ficar sem trabalhar, mas estou
esperando respostas de algumas agências de emprego e também tenho uma
entrevista hoje à tarde, se coloco no currículo que sou cega ninguém me
liga, e quando ligam é apenas para dizer que não estou qualificada para o
cargo, então as vezes conto com a sorte e não digo que sou cega, não digo
que tenho algumas limitações mas ao longo desses sete anos eu aprendi
muita coisa, aprendi a ler em braille, fiz alguns cursos mas não consegui
cursar a faculdade, não consegui repor o dinheiro que meus pais me
deixaram e o único lugar onde consegui trabalho, não pagavam o suficiente
para eu me sustentar e pagar a faculdade.
— Tena! Meu Deus, eu já estava quase ligando para polícia para
relatar o seu desaparecimento... O que aconteceu? Porque não ligou
avisando que iria se atrasar? — Questiona Lua naquele seu tom dramático.
— Eu dormi mais que a cama, me desculpa...? Não sei o que
aconteceu, o meu despertador não tocou, apenas o alarme do meu relógio
despertou no horário de sempre, eu tive que fazer tudo as presas e acabei
me enrolando, por sorte Basílio também passou atrasado hoje e eu não
fiquei a pé. — Sigo para o meu posto junto com Rayssa, separando as rosas
e cortando os excessos de talos.
— As pilhas do despertador devem estar fracas, depois eu vejo isso
para você... Tomou café da manhã?
— Não, tomei apenas um copo de suco mas não estou com fome.
Me diz onde tem pilhas lá em casa e eu mesma troco as pilhas do
despertador, não precisa ir lá em casa só para fazer isso... Eu vou precisar
sair depois do almoço, Lua, tenho uma entrevista de emprego e espero ser
contratada dessa vez. — Rayssa me ajuda a me sentar em uma cadeira e eu
passo as mãos pela bancada de flores.
— Eu sinto muito por não poder te pagar muito pelo seu trabalho,
Tena, a floricultura não rende o suficiente para pagar tantos funcionários...
— Ei? Eu não estou reclamando e muito menos cobrando nada,
Luana, pelo amor de Deus, amiga, você já fez demais por mim e eu só
tenho a agradecer... Você fez e está fazendo por mim o que ninguém mais
quer fazer... Não se sinta culpada por nada? Você e seu marido, seus pais,
todos sempre foram maravilhosos comigo. — Levanto-me estendendo as
mãos procurando por ela.
Lua segura as minhas mãos com carinho mas eu trago-a para os
meus braços. Aperto-a contra o meu peito me sentindo segura como só sinto
com ela e os meus tios Adalberto e Sônia.
— Fico tranquila por saber que você pensa assim, eu queria fazer
muito mais por você, mas não posso... Estou feliz pelo seu progresso ao
longo desses anos, você prometeu lutar e nunca desistiu de nada. Você é o
meu orgulho e a minha inspiração, Tena. — Ela está emocionada e me
abraça mais uma vez.
— O que está acontecendo com vocês, meninas? Estão chorando
porque? — Ouço a voz de Otávio, marido de Luana.
— Não está acontecendo nada, meu amor, é coisa de mulheres. —
Nos soltamos e eu volto a me sentar.
— Eu só estava dizendo o quanto sou grata pelo carinho de vocês,
Tavinho, você, Lua e meus tios são tudo que eu tenho... Mas me deixem
começar o meu trabalho, eu sou uma pessoa muito chorona e não quero
passar vergonha. — Sorrio pegando um feixe de rosas para começar a
separar.
— Você também é muito especial para nós, Atena, eu também
sempre serei grato por você ter me apresentado a sua amiga maluquinha, ela
é o grande amor da minha vida e todos já sabem disso. — Sinto um beijo no
meu rosto e sorrio.
— Eu vou te mostrar quem é a maluquinha, Otávio Pedrosa! —
Retruca Lua.
— É minha gente, ela ficou séria... Relaxa, amorzinho, eu só estava
brincando para fazer Atena sorrir. — Se justifica o sem vergonha.
— Me tira dessa, Tavinho! Não me mete nas suas confusões, sou sua
amiga e não o seu álibi. — Gargalho da sua cara de pau.
— Justamente por ser minha amiga você deveria me ajudar! Você
sabe o quanto a sua amiga é brava. — Seu tom incrédulo me arranca
gargalhadas e posso ouvir Lua sorrir também.
— Você não é nada exagerando, amor... Termina de colocar essas
flores na estufa, depois do almoço eu dou uma olhada nelas. Vamos
trabalhar meu povo. — Ouço minha amiga empolgada.
Sorrio abertamente. Conheci Otávio em um dos cursos que eu fiz e
nos demos muito bem, quando percebi que ele estava afim de mim eu
decidi apresentá-lo à Lua, e assim unir os dois ao invés de me afastar dele, e
deu certo, hoje eles estão casados a dois anos mas ainda não tem filhos.
Luana decidiu tomar conta da floricultura da mãe dela enquanto
minha tia se organizava para abrir uma nova floricultura, e os planos dela
derem certo, a nova floricultura ainda não tem a mesma movimentação que
essa mas ela tem uma ajudante, assim ela não fica tão sozinha longe da
filha. Otávio se desdobra para fazer as entregas de novas remessas de flores
entre as duas floricultura, mas ele deixou claro que gosta do que faz, e eu
também não reclamo, mas gostaria muito de vencer novos desafios
trabalhando em outras áreas, quem sabe eu não dou sorte?
Hoje tenho vinte e cinco anos e ainda sou virgem, é verdade, estou
ficando velha e ainda não fui tocada por um homem, pelo menos não um
que eu quisesse, mas já fui tocada sem o meu consentimento. Tentei
namorar um cara quando eu tinha vinte anos e ele tentou me pegar a força,
estávamos namorando a três semanas e ele se irritou por eu não me sentir
pronta para me entregar a ele, e essa foi apenas mais uma das minhas
maiores decepções.
Eu sou cega, não consigo ver as pessoas mas consigo sentir tocando
os seus rostos, eu gostava de Alexandre mas ainda não o amava, queria
conhecê-lo um pouco mais antes de me entregar, mas ele era impaciente,
não aceitou a minha recusa e rasgou as minhas roupas tentando me pegar a
força, eu gritei, implorei, supliquei para ele parar mas ele parecia não me
ouvir, mas graças a Deus eu tenho um anjo da guarda muito fiel, ele trouxe
Lua até a minha no momento certo e no lugar exato, eu fiquei traumatizada,
precisei fazer algumas seções com o psicólogo por um tempo e isso me
ajudou muito, depois disso eu me fechei, tenho medo de namorar alguém e
passar pela mesma situação, eu sou cega, não saberia descrever quem
abusar de mim, se é branco ou negro, se é loiro ou moreno, se tem olhos
claros ou escuros. É angustiante.
O fato é que o meu medo me afastou da intimidade entre um homem
e uma mulher, já faz tempo que não sei o que é beijar na boca, mas não por
falta de opção, pois o que mais tem por aí são homens afim de ficar comigo,
não sei se é por curiosidade por eu ser cega, ou por eu ser bonita. Lua
sempre diz que sou linda como a minha mãe era, e eu me lembro muito bem
do rosto dela, ainda sinto muita saudade dela e do papai e as vezes ainda me
dói muito a falta que eles me fazem.
Enfim, estou solteira porque eu quero, estou sozinha por opção
minha, por falta de confiança nas pessoas. Esse mundo está repleto de
pessoas maldosas, já perdi as contas de quantas vezes peguei ônibus errado
porque eu perguntava pelo ônibus que iria para o Sul, e eles me mandavam
para o Norte. Uma vez peguei um táxi e um homem entrou junto comigo
sem eu perceber, só me dei conta quando senti passarem a mão na minha
perna e apertar, eu gritei e pedi socorro, o motorista pensou que o homem
estava comigo pois entramos juntos no táxi sem eu perceber.
Fomos parar na delegacia mas o homem fugiu, e tudo que eu ouvi
do delegado foi que eu deveria tomar mais cuidado, eu fiquei indignada e
acabei desacatando uma autoridade, por sorte ele teve pena de mim por eu
ser cega e não me prendeu. E eu ainda tive que ouvir que isso foi sorte,
como se fosse sorte minha eu ser cega, como se eu gostasse de ser cega. É
cada uma que eu tenho que aturar. Já me chamaram de ceguinha linda,
ceguinha gostosa, ceguinha isso e ceguinha aquilo, mas também já me
chamaram de ceguinha abusada por eu bater em alguém que me beijou a
força, se me perguntarem quem foi, como vou saber?
— Ficou pensativa, está tudo bem? — Sinto a mão de Lua no meu
ombro.
— Estou melancólica hoje, você vai ficar chateada se depois da
entrevista eu for para casa? Mas antes vou levar flores para os meus pais. —
Comento ainda pensativa.
— É o aniversário deles, não é? Não era nem para você ter vindo
hoje, mas você é tão teimosa quanto eu... Eu não vou ficar chateada, mas
você precisa me ligar quando chegar em casa, e também se precisar de algo,
está bem? — Me orienta.
— Está bem, eu ligo. — Concordo com um breve sorriso e volto ao
trabalho.
A minha manhã vai passando e na hora do almoço eu vou para nossa
cozinha com Lua, enquanto Rayssa atende na loja com Otávio, ele é um
ótimo cozinheiro e faz questão de preparar o nosso almoço todos os dias, eu
adoro isso pois a sua comida é deliciosa.
Depois de almoçarmos é a vez deles almoçar enquanto eu ajudo Lua
na loja, mas ela me dispensa para eu ir para minha entrevista e eu agradeço.
Lua ainda se preocupa muito comigo então assim como de costume, ela me
põe no ônibus e diz ao motorista onde me deixar, como se eu não soubesse
dizer isso a ele.
— A minha amiga tem um rastreador na bolsa e eu vou monitorar o
trajeto dela, se você desviar o caminho com ela dentro desse ônibus, ou
deixá-la fora do ponto indicado, você vai me ver de novo, entendeu,
Roberto? — Dispara Lua me matando de vergonha.
— Luana!
— Relaxa, Lua! Comigo ela não corre perigo e você sabe disse,
mulher. Você está bem estressada hoje, sabia? Que bicho te mordeu? —
Roberto sorrir mas eu sinto o meu rosto queimar. Não é a primeira vez que
ela faz isso.
— Você ainda não me viu estressada, querido, para sua sorte eu não
estou de TPM... Se cuida, Tena! Se precisar me ligar, você sabe como fazer
isso. — Diz enquanto me sento atrás do motorista. Eu apenas concordo.
Roberto gargalha e sai com o ônibus, me sinto sem graça mas sei
que ela ainda tem o pé meio atrás com os motoristas dessas área, por sorte
Basílio é nosso amigo e tem muitos amigos nessas companhias de ônibus,
ele falou de mim para os colegas pedindo para cuidarem de mim, eu achei
isso fofo da parte dele, apesar de ter me deixado sem graça.
Longos minutos depois o carro para e ele diz que chegamos, ele
desce do carro e vem me ajudar a descer também, pelo menos ele é gentil,
será que é mesmo bonito como Lua disse? Porque fiquei tão curiosa? Não
vou vê-lo mais depois desse jantar, moramos longe e as chances de nos
esbarramos outra vez é uma em um milhão.
— Está entregue, Srta. Atena! Eu posso vir te buscar para o jantar na
casa da sua amiga? Ela não me deu o endereço então acho que você terá que
me levar até lá.
Sorrio da sua insistência em se manter perto de mim, o que esse cara
quer comigo?
— Você já está no endereço dela, Luana mora cinco casas depois da
minha, a esquerda... Qual será a sua próxima desculpa para vir me buscar,
Tenente Théo?
Sorrio esperando a sua próxima desculpa, mas ao invés disso sinto
os seus dedos tocarem o meu rosto em um carinho suave.
— Você é tão linda... Gostei de conhecer você, estou ansioso para te
ver de novo, por isso quero vir te buscar... — Consigo ouvir a sua
respiração pesada e isso me assusta.
Da última vez que ouvi alguém ofegante assim perto de mim,
estavam tentando me estuprar.
— Obrigada pela sinceridade, mas eu preciso entrar... Com licença.
— Afasto-me entrando no portão, estendo as mãos procurando pelo
corrimão e me lembro da minha bengala. — Droga! Esqueci a minha
bengala no cemitério...
— Não esqueceu não, eu peguei ela no chão antes de sairmos de lá...
Está no carro, eu já trago. — Ouço ele sair apressado e respiro aliviada.
Ele volta me entregando a bengala e eu agradeço com um pequeno
sorriso, despeço-me e subo os poucos degraus da varanda até a porta, não
ouço o som do seu carro então ele ainda está lá. Abro a porta mas não entro,
viro-me para ele saber que sei que ele ainda está aqui. Poucos segundos
depois finalmente ouço o som do motor do carro se afastar e sei que agora
ele foi embora. Sorrio, esse cara deve ser louco, mas ele tem uma voz bem
atraente, uma voz grave, rouca o suficiente para me deixar tensa.
Tiro esse Tenente dos meus pensamentos e entro em casa trancando
a porta, preciso de um banho e alguns minutos de descanso até o jantar.
Como essa garota consegue ser tão linda? Estou fascinado por ela,
aquele sorriso, aqueles olhos intensos, a sua voz doce e suave.
— Atena... Que mulher linda. E desconfiada também. — Sorrio com
as lembranças daquele rostinho de anjo.
Termino de me arrumar ansioso para vê-la de novo, vou fazer
questão de passar para busca. Ouço o meu telefone tocar e pego o mesmo,
merda! É da delegacia.
— Alô?
— Tenente! Me desculpa por estar incomodando-o na sua folga,
mas temos uma emergência e não estamos conseguindo contatar o Sr.
Valério. — Diz Gustavo me deixando frustrado, não quero deixar de ir
nesse jantar.
— Você ligou no celular dele? Cara, hoje é minha folga.
— Eu sei, senhor, mas estou ligando para o Sr. Valério e está caindo
na caixa postal, já tentamos ligar na casa dele mas a esposa disse que ele
ainda não deu notícias depois que saiu para o trabalho, o que eu faço? O
inspetor Renato já saiu para uma ocorrência. — Esfrego a mão no rosto
ainda mais frustrado.
— Está bem, eu chego ai em dez minutos.
Encerro a ligação e pego o meu distintivo, carteira com os
documentos e as chaves do carro, não tenho tempo para ne trocar então saio
de casa assim mesmo. Entro no meu carro e saio da garagem seguindo para
delegacia, eu nem perguntei qual era a ocorrência, talvez se for algo simples
eu consiga chegar a tempo para o jantar, eu nem peguei o telefone dela,
como vou ligar para avisar que não vou poder ir? Ela vai pensar que desisti
de vê-la.
Depois minutos depois eu chego na delegacia e encontro Gustavo
conversando com o 2° Tenente Valério. Encaro-os confuso.
— O que aconteceu? Pensei que estavam precisando de mim. —
Aproximo-me deles atento ao assunto.
— Foi mal, parceiro! Eu me prendi em uma ocorrência por mais
tempo do que gostaria, meu celular descarregou e só agora consegui voltar a
delegacia. Estou de saída, volta para casa e vá descansar! — Valério vem na
minha direção apressado e eu sigo com ele de volta até o pátio.
Pergunto o que houve e se ele precisa de ajuda, ele me garante que
está tudo sobre controle e entra no carro em seguida. Mais um problema
com essas malditas gangues de Detroit, isso não acaba nunca.
Lembro-me dela no chão gritando por socorro após ser assaltada, se
eu não tivesse seguido ela à distância eu jamais teria prendido aquele
delinquente, voltei correndo até ela depois de encaminhar o infeliz para
delegacia mas ela já havia ido embora, por sorte eu estava com a sua bolsa e
no celular estava gravado o número da melhor amiga. Droga! Estou
atrasado para o jantar.
Entro no carro e saio apressado afim de chegar a tempo para a
sobremesa, ela mora longe mas acho que consigo chegar antes dela desejar
não me ver nunca mais.
Lembrar dos seus belos olhos vermelhos pelo choro me deixa mal, o
seu choro foi tão sentido que doeu a alma, eu vi o seu desespero quando
parou naquele sinal de trânsito, ela parecia distante, perdida. Eu quero vê-la
mais vezes, será que ela vai aceitar isso? Ela é bastante desconfiada.
Aqueles lábios rosados parecendo tão macios.
— Você está louco se acha que vai conseguir beijá-la com tanta
facilidade, Tenente Théo Carlson... — Comento com um sorriso de lado.
Eu nunca havia visto uma mulher tão linda. Foi uma surpresa muito
grande quando percebi que ela cega, o que será que aconteceu com ela?
Como ela perdeu a visão? Será que ela nasceu assim?
Acelero o quanto posso e chego no endereço dela em vinte minutos,
paro o carro na frente da casa dela mas sei que ela já deve estar na casa da
amiga. Pego o vinho e o champanhe sem álcool que comprei depois que
deixei ela em casa mais cedo, a amiga dela está grávida e não vai poder
tomar o vinho, também não sei se Atena toma bebida alcoólica então resolvi
trazer um meio termo, uma bebida com álcool e outra sem, espero que elas
gostem pois não sabia mais o que trazer.
Onde mesmo é a casa dela? Merda! Eu não me lembro, a esquerda
mas em qual casa? Ando pela calçada atento as portas da casa, não vejo
ninguém, não ouço nada. Quando chego em frente a quinta casa a porta da
mesma se abre e ela aparece, ela fecha os olhos e ergue a cabeça respirando
fundo.
— A noite está fresca, não está tão frio... Está bom para caminhar
mas não posso fazer isso sozinha, muito menos a noite, não é? — Ela
encosta no batente da porta e um cara abraça ela por trás beijando o seu
rosto.
— Talvez você possa fazer isso depois do jantar... Acho que o seu
convidado chegou. — Diz o cara ao lado dela.
— Tenente? Théo? — Pergunta surpresa, acho que ela não
acreditava que eu viria.
— Fala aí, parceiro? Entra! Fica à vontade. — O cara vem me
encontrar enquanto entro pelo pequeno portão. — Então você é mesmo
Tenente da polícia? — Ele me estende a mão curioso.
— Boa noite! Sim, Tenente Théo Carlson, mas hoje estou aqui
somente como Théo pois estou de folga do trabalho. — Apresento-me.
— Otávio Pedrosa! Marido da Luana e também melhor amigo de
Atena... Vamos entrar! O jantar já está na mesa. — Ele aperta firme a minha
mão e eu retribuo.
— Ei, vocês dois! O jantar é aqui dentro e não aí fora... Entrem! —
A esposa dele aparece na porta sorridente e eu entrego a ele as bebidas.
Sorrimos e entramos na casa, quando passo pela porta vejo-a mais a
diante brincando com os dedos.
— Boa noite, Luana! Atena! É muito bom vê-la de novo. —
Cumprimento Luana com um beijo no rosto e me aproximo de Atena que
me estende a mão.
Eu pego beijando demoradamente sentido o perfume doce da sua
pele.
— Pensamos que não vinha mais, Sr. Théo Carlson... — Ela sorrir
mas vejo que está corada. Mas porque?
— Me perdoem pelo atraso, eu recebi um chamado de urgência e
tive que ir até a delegacia, mas quando cheguei lá já não precisavam mais
de mim. Eu não peguei o contato de vocês, por isso não tive como avisar
que iria me atrasar. — Justifico-me.
— Você não disse que hoje você está de folga? — Questiona Otávio
desconfiado.
— Sim, mas na minha profissão a folga termina quando recebemos
um chamado para uma ocorrência, mas estou contente por conseguir
comparecer a esse jantar. — Explico-me olhando dele para Atena atenta a
minha voz.
— Ok! Está desculpado, agora vamos para mesa pois mulher
grávida tem um apetite que vocês não fazem idéia. — Luana vem até o
marido empolgada e o arrasta com ela para irem na frente.
Encaro Atena e ela está sorrindo, linda, pego a sua mão enlaçando o
seu braço no meu e ela abre mais o seu sorriso me deixando abobalhado.
Entramos na sala de jantar e vejo uma senhora vir com uma travessa nas
mãos e o marido com algumas taças, Otávio nos apresenta e todos estão
atentos em mim ao lado de Atena, ela está calada apenas ouvindo a nossa
conversa.
Eu também estou atento a mulher ao meu lado, mas ela parece com
vergonha de comer por estar na minha presença, será que ela precisa de
ajuda? Encaro as pessoas na mesa e com os olhos eles parecem dizer que
está tudo bem, pelo menos é isso que eu entendo e eu tenho experiência em
ler os olhos das pessoas.
Começamos a comer enquanto todos perguntam sobre mim e o meu
trabalho, me sinto em um interrogatório mas não me importo, sorrio pois sei
que só estão preocupados com Atena, sei que perceberam o meu interesse
por ela e só estão tomando cuidado com a presença de um estranho, e eu
fico feliz que eles se preocupem assim com ela.
— É um prazer ter um Tenente da polícia de Detroit jantando
conosco, muitos só reconhecem o valor que a polícia tem quando precisa
dela, é uma profissão arriscada, muitos morrem apenas por ser quem são,
morrem para defender inocentes... Eu tiro o meu chapéu para vocês da
polícia, Tenente Théo, para os bombeiros, para os médicos e muitos outros
profissionais que estão nessa terra para salvar vidas... Foi por muito pouco
que conseguiram salvar a nossa Atena, e também foi por muito pouco que
não conseguiram salvar os pais dela... Me perdoe por tocar nesse assunto,
filha, mas sei que essa semana é o aniversário deles. — O senhor Adalberto
comenta pensativo. Suas palavras me surpreendem.
— Me perdoem pela curiosidade, mas... O que aconteceu com você
e seus pais, Atena? Se não quiser falar tudo bem, não precisa. — Encaro a
mulher ao meu lado e ela me dá um pequeno sorriso.
— Nem todos que se aproximam de mim se interessam em saber o
que aconteceu com os meus pais, só querem saber o porquê sou cega...
Aquele dia tinha mesmo tudo para dar errado, meus pais estavam brigando
muito, ele estava bebendo com frequência, naquele dia em especial o papai
estava muito enciumado, via coisas até onde não tinha... Saímos do
restaurante e eles estavam agitados, meu pai pegou a via expressa e não era
aquele o nosso caminho, ele estava correndo muito e eu pedi para ele ir
mais devagar, mas ele parecia não me ouvir... Ele não viu o carro vir na
nossa direção em alta velocidade, quando ele tentou desviar já era tarde... A
sete anos atrás eu vi a minha mãe voar pelo para-brisa do carro e o meu pai
sendo esmagado pelas ferragens. Mesmo cega eu consigo ver aquela
imagem se repetir na minha mente como se estivesse acontecendo de novo,
e de novo, e de novo... Foi a última vez que eu vi a luz do dia... Foi a última
vez que os meus olhos filmaram uma imagem diante de mim, e foi a pior de
todas. — Seu tom emocionado não esconde a tristeza da sua alma.
Suas lágrimas descendo mesmo ela forçando um sorriso, seu tom
trêmulo mesmo com a voz tão doce.
— Não precisa dizer mais nada, estou vendo o quanto tudo isso te
machuca... Perdoe a minha curiosidade? — Pego a sua mão sobre a mesa e
ela vira o rosto para mim como se quisesse me ver.
— Está tudo bem, eu não me importo em falar disso pois não quero
esquecer o que houve, ou vou ter que esquecer os meus pais também. —
Ela respira fundo voltando a sua postura de antes. — Depois daquela última
visão que tive, eu acordei em um quarto de hospital um mês depois, e já
acordei assim, cega, sem conseguir ver o rosto das pessoas, sem poder ver a
luz do dia... O processo de adaptação foi muito longo, foi difícil e eu não
desisti porque não deixaram. Eu perdi uma família mas ganhei outra tão
amorosa quanto a que perdi... Lua e meus tios são a minha força para não
desistir e eu serei eternamente grata a eles por tudo... — Ela sorrir
estendendo a mão sobre a mesa e a amiga pego com lágrimas nos olhos,
mas com um sorriso amoroso.
— Amiga de verdade não abandona a outra, muito menos em um
momento tão difícil... Eu não tenho dúvidas de que se fosse eu no seu lugar,
você teria feito o mesmo por mim, por isso fico triste quando você acha que
está sendo um peso para mim, porque isso não é verdade, tudo que eu fiz e
faço por você, eu faço por amor, ouviu? Então pensa nisso toda vez que
sentir que está me incomodando ou algo do tipo, pois não é verdade... —
Luana declara tão emocionada que me comove.
— Caramba... Eu não estava preparado para tudo isso. Essa amizade
de vocês é surpreendente, é admirável. — Comento realmente surpreso com
tudo isso. E eles são pessoas tão simples e gentis.
— É, companheiro, não foi à toa que eu entrei para essa família.
Você também não vai se arrepender pois já percebi que você também gostou
de alguém aqui. — Dispara o marido de Luana e vejo Atena se engasgar
com o suco que ela bebe.
Encaro-a preocupado mas Luana corre para acudir a amiga, levanto-
me assustado mas logo ela melhora.
— Não liga para as bobagens que Otávio diz, Théo... Ele não sabe a
hora certa de brincar. — Ela se ajeita na cadeira visivelmente
envergonhada. Sorrio.
— Ele não disse nenhuma bobagem, Atena... Eu gostei sim de você
e quero te conhecer melhor. Se você também quiser, é claro. — Seguro
novamente a sua mão sobre a mesa, vejo o seu rosto ficar ainda mais
corado.
— Porque você quer me conhecer melhor? Olha para mim, Théo?
Você está mesmo interessado em conhecer melhor uma mulher com
limitações? — Ela solta a minha mão sem jeito mas pego novamente
beijando demoradamente.
— Eu já percebi que você parece ser muito teimosa, mas para o seu
azar eu também sou. — Firmo convicto e vejo as pessoas na mesa sorrir. —
Quando a gente quer muito uma coisa, a gente não desisti, muito menos eu
que sou um Tenente da polícia de Detroit e estou acostumado com
desafios... E conquistar você será o desafio mais lindo que já tive nessa
vida. — Disparo espontaneamente e surpreendo-me comigo mesmo.
— Uau... Por essa eu não esperava. O cara chegou chegando
decidido e cheio de atitude. Você ganhou o meu respeito, Tenente! —
Otávio me estende a mão e eu sorrio pegando em seguida.
— Eu sei que esse jantar é para comemorar boas notícias entre
família, e eu quero dar os parabéns a vocês pelo bebê que está chegando.
Mas também quero deixar claro as minhas intenções em vir aqui... Eu me
encantei por essa linda mulher desde o primeiro instante em que a vi, e
gostaria muito de poder vir vê-la mais vezes se ela e vocês permitirem...
Sou solteiro e nunca fui casado, não tenho filhos e minha família também
mora no centro de Detroit, minha mãe e meu irmão Tony. Esse está
viajando pois está de férias no trabalho, ele também é da polícia de Detroit
e trabalhamos na mesma unidade, meu pai faleceu a alguns anos enquanto
estava de serviço, ele também era dá polícia... Bom, é isso, se quiserem me
investigar vocês estão no seu direito pois vejo o quanto se preocupam com
Atena, e querem o bem dela... Mas é isso, eu quero sim conhecer você
melhor, Atena, e não vou desistir de conquistar a sua confiança mesmo que
me rejeite. — Me abro para essas pessoas pois estou decidido a conquistar
essa mulher, não sei o que deu em mim mas é isso que eu quero.
— A decisão é dela, o que ela decidir nós apoiaremos. — Afirma
Sra. Sônia sorridente.
— Mas tem cabimento uma coisa dessas? Você me conheceu hoje e
já está aqui pedindo permissão para me conhecer melhor, Tenente? Você é
louco! — Atenta se levanta abruptamente chocada com a situação. Me
levanto também.
— Eu não sou louco, Atena! Eu só não gosto de perder tempo. A
vida é curta e na minha profissão isso é um fato... Eu só não quero morrer
antes de viver algo especial com alguém...
— E eu não quero viver algo especial para depois perder alguém.
Então isso acaba aqui, com licença! — Ela sai deslizando a mão pela parede
e se afasta me deixando aqui confuso.
— Me desculpem...? Eu não queria chateá-la. — Encaro as pessoas
na mesa e Luana sai atrás de Atena.
— Relaxa, Tenente! Ela está na defensiva porque já teve algumas
decepções, ela só não quer passar por isso de novo. — Conta Otávio.
— Eu entendo. Um coração que já sofreu tanto é como um campo
minado, tem que saber onde pisar para ganhar o seu espaço. Sei que não vai
ser fácil mas eu vou tentar. — Afirmo pensativo.
— É assim que se fala, cunhado...! Quer dizer, Tenente! — Dispara
Otávio empolgado e eu sorrio. Esse cara é um barato.
— O jantar está ótimo mas acho que já vou indo. Não quero
incomodar mais. Foi um prazer conhecer vocês. — Despeço-me ajeitando a
cadeira no lugar e todos se levanta da mesa. — Por favor, não se levantem!
Não se incomodem, eu sei onde fica a porta. Tenham uma boa noite! —
Lhes ofereço um sorriso sincero e saio em seguida.
Não me arrependo de ter vindo, e vou voltar outras vezes por mais
que ela me rejeite. Não sou homem de desistir do que quero e agora mais do
que nunca eu quero conquistar essa mulher, quero ajudá-la e protegê-la e eu
vou fazer isso.
Saio da casa e sigo até o meu carro parado na frente da casa dela.
Quantas vezes mais ela já passou por situações como aquele assalto de
hoje? Ela já teve namorados depois de ficar nessas condições? Com certeza
sim pois Otávio disse que ela já sofreu decepções, então terei que ir com
calma.
Abro a porta do carro para entrar, mas paro quando ouço ela me
chamar.
— Tenente...? Théo! — Ela vem apressada de braços dados com a
amiga e sua bengala dobrada na mão.
Fecho novamente a porta do carro e apresso-me para chegar até ela.
— Atena? O que houve? Aconteceu alguma coisa? — Olho dela
para a amiga e ela pisca para mim.
— Não, não aconteceu nada, eu só queria me desculpa por ter saído
daquele jeito. — Se desculpa envergonhada. Sorrio abertamente.
— Não precisa se desculpar, está tudo bem. — Aproximo-me mais e
Luana me entrega a mão dela.
— Vou deixar vocês conversarem a vontade, se for embora depois,
me liga para avisar que está em casa, ouviu, Tena? Não vou dormir até você
ligar.
— Não se preocupe, eu vou ligar. — Ela sorrir timidamente.
— Luana? Antes de ir, anota para mim o seu número e o número
dela também. Quero poder entrar em contato quando eu não puder vir vê-la.
— Tiro o meu celular do bolso e entrego a ela.
Rapidamente ela concorda e vejo Atena com um pequeno sorriso,
mas igualmente lindo e encantador. Em seguida Luana se despede e sai nos
deixando a sós.
— Tem uma cadeira de balanço na minha varanda, quer se sentar
um pouco? — Sugere sem jeito.
— Que tal se dermos um passeio? A noite está muito bonita, boa
para fazer uma caminhada. — Lembro-me do seu comentário quando
cheguei.
— Claro, vamos sim, eu vou adorar.
Seu sorriso se abre de uma maneira que não sei explicar, só sei que
me deixa sem ar.
Enlaço o seu braço no meu e andamos pela calçada enquanto
conversamos, ela ainda está acanhada depois do episódio na casa da sua
amiga, sorrio. Pergunto mas sobre ela e também conto mais sobre mim,
deixo ela perguntar o que quiser e respondo com o maior prazer, quero que
ela se sinta confortável, quero que confie em mim e aos poucos ela se abre
conversando comigo mais abertamente, e estou feliz por isso.
— Posso te fazer uma pergunta? Espero que não se chateie... Você é
tão linda, porque não tem um namorado? Porque não se casou como a sua
amiga fez? — Pergunto realmente curioso.
— Não consigo confiar nas pessoas como eu gostaria, tenho medo
de sofrer mais do que já sofri... Não posso ver quem está na minha frente,
Théo, se alguém tentar me fazer mal como me fizeram mais cedo, eu não
poderia denunciar pois não saberia descrever quem fez aquilo comigo. —
Ela solta o meu braço inquieta.
— Alguém já fez ou tentou fazer algo contra você? Atena? Seja
sincera comigo como estou sendo com você, se tem algo que você queria
me contar, não se sinta envergonhada, não precisar ter receios pois estou
aqui para te ajudar e não para te julgar. — Questiono sério pois estou vendo
claramente que algo aconteceu com ela.
— Já andamos o suficiente, podemos voltar para casa?
— Sim, podemos! Mas antes responde a minha pergunta? Alguém
fez ou tentou fazer algo com você, se aproveitando das suas condições? Me
responde, Atena? — Pergunto irritado incrédulo por imaginar alguém
mexendo com ela.
— Está bem! Eu vou responder as suas perguntas, Tenente, mas
apenas para você cair na realidade e ver o erro que está cometendo
perdendo o seu tempo com uma cega inválida...! Eu tive um namorado há
alguns anos atrás, em poucas semanas de namoro ele queria que eu
transasse com ele, mas eu não estava pronta para fazer isso e ele ficou
impaciente, ele me arrastou até um beco escuro enquanto caminhávamos
aqui perto e tentou me estuprar... Por sorte Deus levou Luana até a mim no
lugar certo e na hora certa... Ela estava passando para ir na casa de Otávio e
ouviu gritos, quando se deu conta de que era eu ali sendo atacada pelo
homem que dizia gostar de mim, ela gritou por ajuda e ele fugiu me
deixando largada no chão feito um lixo, alguns homens apareceram e
correram atrás dele, mas ele conseguiu fugir. — Conta inquieta, nervosa
enquanto aperto as mãos em punho desejando socar alguém.
— Qual é o nome completo dele? Luana o conhece? Ela saberia me
dizer quem ele é? — Pergunto tirando o celular do bolso e ela sorrir com os
olhos em lágrimas.
— Para que isso agora? Já faz tanto tempo...
— O que ele não conseguiu fazer com você ele pode ter feito com
outras pessoas, Atena! Esse cara é um desgraçado e se ele tentou algo assim
com você, com toda certeza ele já fez ou ainda está fazendo com outras
mulheres e ele precisa ser parado! — Altero-me novamente mas paro
quando vejo que ela parece assustada.
— Tudo bem, você tem razão eu não tinha pensado por esse lado...
Amanhã você pode falar com Lua, ela o conhece e sabe te dizer como ele é,
mas quero deixar uma coisa clara para você, Théo... Não estou acostumada
com estranhos querendo me ajudar assim do nada, quem faz isso está
sempre esperando algo em troca e como você mesmo pode ver, eu não
tenho nada para te dar além da minha amizade...
— Não estou te ajudando esperando que você se apaixone por mim,
estou fazendo isso porque eu quero e também porque é o meu dever! E eu
não quero apenas a sua amizade e você também já percebeu isso. — Toco o
seu rosto admirando esses lábios pequenos.
— Isso não pode ser possível... Você me conheceu hoje e já está
interessado em mim? Já brincaram comigo antes, Théo... Eu... Tenho medo
de gostar de alguém novamente. — Seu tom suave, doce e tranquilo me
prende nessa boquinha pequena. Seus olhos agora parecem mais escuros
pela escuridão da noite.
— Que Deus me castigue se eu brincar com você, não é esse o meu
interesse... Não precisa ter medo de mim, Atena, eu só quero te proteger...
— Passo o meu polegar pelos seus lábios e ela ofega, mas se afasta em
seguida.
— Eu posso mesmo confiar em você? Não vai me iludir e depois se
mandar e me deixar para trás? — Ela sorrir erguendo a sobrancelha. Sorrio.
— Não, eu não vou te iludir, e antes de fazer uma estupidez dessa,
Deus vai me castigar com toda certeza. — Pego a sua mão e ela não me
rejeita.
— Está bem! Eu vou te dar uma única chance para nos conhecermos
melhor. Mas na primeira vacilada que você der, eu mesma vou mandar
prender você por abuso de poder. — Dispara em tom mais confiante
enquanto seguimos de volta para sua casa. Sorrio.
— Abuso de poder?
— Não é porque você é Tenente que vai poder me iludir ou brincar
comigo, se você fizer isso, eu te denuncio! — Seu sorriso largo me fascina.
Gargalho pelo seu comentário.
— É justo! Então esse será mais um motivo para eu não brincar com
você. Eu não quero que você me denuncie. — Acaricio o seu braço
admirando esse sorriso incrivelmente lindo estampando o seu rosto.
Não dissemos mais nada e continuamos a nossa caminhada, a noite
está realmente gostosa para esse passeio, e a companhia está perfeita. Ela
caminha com segurança segurando o me braço, mas de repente ela pisa em
falso em um buraco e se desequilibra, vejo o seu corpo cair para o lado mas
sou mais rápido e puxo ela para os meus braços. Ela ofega pelo susto
segurando os meus braços com firmeza, ela está trêmula.
— Me desculpa... Eu me assustei...
Ela está tremendo muito, não consigo imaginar quantas vezes ela já
passou por isso, quantas vezes ela já passou situações assustadoras.
— Não se desculpe, eu devia ter prestado mais atenção já que estou
sendo o seu guia. Você está bem? Machucou o pé? — Mantenho-a em meus
braços sem a intenção te soltá-la.
— Sim, eu estou bem, não me machuquei, foi apenas o susto
mesmo, não se preocupe. — Ela se solta de mim sutilmente e continuamos
o nosso trajeto.
Não nos afastamos muito então em poucos metros mais a diante
paramos na frente do seu portão. Entro com ela até a varanda para deixá-la
na porta de casa, ela volta a ficar acanhada e eu pela primeira vez estou sem
jeito para lidar com uma mulher.
— Bom, já está tarde e você mora longe. Já sabe o meu endereço e
tem o meu número de telefone, quando quiser ligar ou aparecer, fique à
vontade... Eu gostei de conversar com você, Théo... Eu posso te fazer um
pedido? — Ela me dá um sorriso doce me enfeitiçando ainda mais.
— Claro! Peça o que quiser.
— Eu posso tocar o seu rosto...? Estou curiosa para saber como você
é. — Pede envergonhada surpreendendo-me com o seu pedido.
— Sim... Você pode tocar o meu rosto. — Concordo.
Toco a sua cintura e trago-a para mais perto de mim, suas mãos
agarram os meus braços com a mesma firmeza de antes e seus dedos
delicados sobem até o me pescoço, ela acaricia a minha nuca e adentra os
seus dedos nos meus cabelos, me controlo ao extremo para não beijá-la.
Seus dedos sobem até a minha testa e ela fecha os olhos deslizando
lentamente os seus dedos pelo meu rosto, desenhando com os dedos os
contornos e expressões do meu rosto. Ela toca o meu nariz e sorrir ainda de
olhos fechados, ela acaricia a minha barba e finalmente toca os meus lábios,
e quando o faz sinto ela ficar tensa assim como eu.
Seguro a sua mão e beijo os seus dedos, beijo a palma da sua mão
desejando ardentemente beijar os seus lábios, mas ela se solta de mim ao
perceber o quanto estou ofegante de desejo por ela.
— Boa noite, Théo... Eu preciso entrar agora. — Ela se afasta como
se quisesse fugir de mim.
— Espera? O que houve? Você parece com medo de mim. Eu fiz
algo que você não gostou? — Pergunto confuso pois hoje mais cedo ela
teve essa mesma reação.
— A sua respiração pesada me traz lembranças. Lembranças de um
pesadelo... Se quiser mesmo continuar com isso, você vai precisar ter
paciência comigo, você está ciente disso? — Alerta-me enquanto abre a
porta de casa.
— Sim, estou ciente e repito que não vou desistir de você por isso...
Posso vir te ver amanhã? Gostaria de levar você para almoçar comigo. —
Aproximo-me novamente dela mas paro com receios dela se incomodar
com isso. Ela fica em silêncio por uns instantes.
— Tudo bem, você pode ir me buscar na floricultura da Lua, eu
trabalho com ela. — Ela sorrir orgulhosa ao dizer que está trabalhando. Isso
é surpreendente.
— Ok! Então estamos combinados, eu passo para te buscar amanhã
ao meio dia em ponto. Pode ser?
— Pode! Só me esclarece uma dúvida? Isso é um encontro? — Ela
volta a sorrir eu retribuo espontaneamente.
— Pode considerar um segundo encontro, já que hoje tivemos um
primeiro encontro com a sua família. — Ela abre mais o seu sorriso.
— Sim! Minha família! — Afirma com convicção. — Tenha uma
boa noite, Tenente Théo!
— Boa noite, Atena!
Sorrio feito um bobo enquanto ela entra em casa e fecha a porta em
seguida. Fico aqui parado feito um idiota que não sabe o que fazer ou para
onde ir, depois de receber um sorriso como aquele. Ela é tão linda.
Saio finalmente da sua varanda e sigo para o meu carro, entro no
mesmo e dou a partida saindo dali satisfeito com o meu final de noite, ela
aceitou me conhecer melhor, aceitou o meu convite para almoçar mas vou
precisar ir devagar com ela. Agora entendo o porquê ela se assustou com a
minha respiração pesada, ela se lembrou daquele infeliz que tentou estuprá-
la, eu vou correr atrás disso, vou encontrar esse miserável nem que isso seja
a última coisa que eu faça nessa vida.
Meu Deus, conheci essa mulher hoje e já estou louco por ela, como
isso é possível? Não tiro a razão dela estranhar o meu interesse por ela, mas
quando bati os olhos naquela mulher caída no chão depois de se chocar
contra mim, a sua beleza me impressionou, eu só percebi que ela é
deficiente quando ouvi ela pedir ajudar para encontrar a bengala que rolou
pelo chão, meu coração doeu de remorso por ter gritado com ela ao
derramar café em mim, eu só reparei nela quando a vi sentada no chão
tentando encontrar alguma coisa.
Como ela consegue ser tão linda? Como consegue andar por aí
sozinha nessas condições? É perigoso demais, me assusta e me dói imaginar
alguém tentando contra ela, eu preciso protegê-la, preciso fazer alguma
coisa por ela, não posso permitir que ela fique desprotegida.
Durante o jantar a mãe de Luana falou da luta de Atena em
conseguir um trabalho, ela quer trabalhar fora da floricultura mas não tem
sorte em encontrar outro emprego. Que mulher forte e determinada, linda e
dona dos lábios mais tentadores que já vi.
Chego em casa e estaciono na porta de casa, vejo que a luz da sala
está acesa e pego a minha arma embaixo do banco, eu tenho certeza de que
apaguei tudo quando saí, então tem alguém na casa.
Aproximo-me da porta com cautela e com a minha pistola em
punho, toco a maçaneta e está destrancada então entro devagar apontando a
minha arma, mas dou de cara a minha mãe no sofá folheando uma revista.
— Mamãe? O que faz aqui tão tarde? Como entrou na minha casa?
— Pergunto guardando a minha arma na cintura e ela solta um suspiro
pesado.
— Estou te esperando a horas, onde você estava? Eu liguei na
delegacia e me falaram que hoje foi a sua folga... Eu esperei você para o
jantar e você não apareceu, liguei no seu celular inúmeras vezes e você não
me atendeu. Porque você não pode ser como o seu irmão? Mesmo longe ele
me liga todos os dias... Vocês são iguais na aparência mas na personalidade
são como a noite e o dia, completamente diferentes. — Reclama ignorando
as minhas perguntas e isso me faz bufa.
Suspiro fundo, vai começar mais uma seção de questionamentos,
reclamações, cobranças e tudo mais.
— Está tarde e eu estou cansado, mamãe, se veio aqui para reclamar,
eu sugiro que deixe para outro dia... Responde a minha pergunta? Como
você entrou aqui? Achou a minha chave extra? — Sigo até o bar e me sirvo
uma dose de uísque. É minha mãe, mas eu só consigo aturá-la assim.
— Sim! Eu achei a sua chave extra e não é a primeira vez que entro
aqui. Eu me preocupo com você, sabia? As vezes gosto de ver que o meu
filho ainda está vivo. — Retruca inquieta e eu tento não prolongar a sua
visita.
— Tudo bem, me desculpa por não ter ido ao jantar, eu tive um
compromisso de última hora e me esqueci de avisar que não ia poder ir. No
próximo eu prometo que vou por mais que o mundo esteja acabando. —
Aproximo-me e lhe dou um beijo no rosto voltando em seguida para o bar.
— No final de semana sem falta eu quero você lá em casa, seu
irmão vai chegar de viagem e eu quero os meus filhos reunidos comigo e
Norman. — Reviro os olhos ao vir o nome daquele infeliz encostado.
— Não se preocupe, mamãe, eu estarei na sua casa no final de
semana, agora eu preciso mesmo descansar para voltar ao trabalho amanhã.
Estou exausto. — Tiro a jaqueta jogando sobre o sofá. Ela suspira fundo
ainda emburrada.
— Está bem, eu espero não me decepcionar de novo. E a Silvia? Ela
te procurou? Vocês voltaram?
— Sim, ela me procurou, e não! Nós não voltamos e não vamos
voltar só porque você quer. Ela já está em outra e eu quero mais é que ela
seja feliz. Não nos amamos mais e é por isso que não deu certo, estávamos
empurrando esse relacionamento com a barriga porque você pegava no
nosso pé... Por favor, mamãe? Me deixa descansar? — Me jogo no sofá
inquieto e ela cruza os braços.
— Eu não acredito que vocês não voltaram, eu suei para convencê-
la a ir falar com você. Ela é filha de um milionário e você termina com ela,
Théo? Em que mundo você vive, meu filho?
— Com toda certeza eu não vivo no mesmo mundo que você,
mamãe! Não vou me prender a uma mulher que eu não amo só porque o pai
dela é milionário, o dinheiro é dele e não dela... Por favor? Não enche a
minha paciência pois Silvia não quer se casar com um homem que passa dia
e noite correndo atrás de bandido. Eu não sou o que ela quer e eu também
não a quero como minha esposa! Foi você quem arranjou esse
relacionamento e no fundo eu já sabia que não ia dar certo. Agora me deixe
em paz! — Retruco farto dessa sua insistência.
— Não precisa brigar comigo! Eu ainda sou a sua mãe! Se você
quer passar a sua vida enfiado em uma delegacia eu não vou me meter mais,
vou focar a minha atenção em Tony pois ele sim ouve os meus conselhos.
— Contesta também irritada e eu gargalho.
— Você claramente não conhece os filhos que tem, mamãe, ou então
não perderia o seu tempo tentando nos casar com as mulheres que você
escolhe. — Gargalho de me contorcer e ela me lança um olhar furioso.
Ela não diz mais nada e sai batendo a porta, meu sorriso está
pregado no rosto mas não é por ele, é por uma certa ruivinha de olhos tão
surpreendentes, apesar deles não poderem me ver. Atena... Você está
roubando os meus pensamentos desde cedo.
— Eu preciso protegê-la, preciso investigar o infeliz que tentou
estuprá-la.
Não consigo nem imaginar alguém fazendo aquilo com ela sem ela
ver quem é e sem saber se defender, sem ver para onde pode correr para
fugir de um canalha como aquele. Levanto-me inquieto e pego o meu
celular, eu preciso cuidar da segurança dela, preciso protegê-la pois algo
dentro de mim grita por isso.
Ligo para o Tenente Valério, ele pode me ajudar a colocar alguém
para cuidar de Atena, mas não vou poder contar nada a ela ou não vai
aceitar a minha ajuda.
— Tenente Théo?
— Tenente Valério! Preciso da sua ajuda, preciso proteger alguém e
gostaria que me orientasse para eu não meter os pés pelas mãos, não estou
com cabeça para pensar sozinho hoje. — Desabafo de uma vez.
— Do que você precisa? Quem precisa proteger?
— Eu conheci uma garota hoje, ela é especial, Valério, ela é
deficiente visual mas é a mulher mais linda que já vi na vida. — Comento
espontaneamente sem me dar conta do sorriso em meu rosto ao falar dela.
— Entendi, você está apaixonado... Mas porque ela precisa de
proteção...? Espera! Você disse que ela é deficiente visual? Como isso
aconteceu? Porque ela precisa de proteção? — Ouço ele sorrir antes de
sentir o seu tom de voz confuso e ao mesmo tempo curioso.
— É uma longa história e eu vou te contar assim que possível. Essa
garota sofreu uma tentativa de estupro há um tempo atrás, ela passa por
muitas situações desagradáveis pelo fato de não poder enxergar... Preciso
investigar o cara que tentou contra ela, mas também preciso proteger essa
garota, Valério, não vou ficar tranquilo se eu não fizer isso. — Desabafo
mais uma vez preocupado com Atena.
— Beleza! Não sei se vamos conseguir tirar um dos oficiais aqui da
delegacia, mas conheço uma agência de seguranças particulares, essa é a
sua melhor opção agora para não misturar o pessoal com o profissional, o
delegado Camilo pode não aprovar isso e é melhor que você não tenha que
se preocupar com ele... Vou fazer umas ligações e amanhã mesmo te
apresento a alguns colegas que podem te ajudar. Quanto a investigação,
depois me passa os dados que você tiver, eu te ajudo. — Suas palavras me
animam e me deixam mais decidido.
Converso um pouco mais com ele sobre as minhas ideias e sobre
essa minha paixão repentina por Atena, foi paixão à primeira vista, não tem
outra explicação e Valério concorda comigo. Estou apaixonado por Atena,
eu gostei dela desde o primeiro instante em que a vi, eu preciso fazer por
ela o que só eu posso fazer.
— Você parece nervosa, Tena, o que você tem? — Lua pergunta
curiosa.
— Não tenho nada, estou normal.
— Ah mas não está mesmo. Você está tensa, parece nervosa e
inquieta. Por acaso tem a ver com o Tenente bonitão? — Seu tom de voz
animado indica que ela está sorrindo. — Você está corada, isso quer dizer
que eu acertei?
— Ele vai vir me buscar para almoçarmos juntos, ele disse que é um
encontro. Estou nervosa sim, Lua. — Sinto as minhas mãos trêmulas, está
chegando a hora do almoço e ele vai vir.
— Você está gostando dele, amiga? Estou te vendo tão entusiasmada
que até esqueceu a sua frustração por não ter conseguido o emprego. Ele te
faz bem? Você gostou de estar com ele? Eu vi que vocês passaram bastante
tempo caminhando ontem.
— Está me vigiando, Lua...? Obrigada por se preocupar tanto
comigo, amiga... E sim, eu gostei muito de conversar com ele, não é porque
ele da polícia, mas, eu me sinto segura quando estou com ele, Théo é tão
atencioso, ele me deixou tocar o rosto dele, ele deve ser lindo. — Comento
empolgada e suspiro ao me lembrar dele.
— Realmente ele é muito bonito, mas você também é linda então
não me espanto por um Tenente da polícia estar caidinho por você... A
maneira como ele te olhava o denunciou. — Seu tom risonho me faz sentir
o meu rosto esquentar.
— Você acha que ele gostou mesmo de mim? Mesmo com as
minhas limitações um homem como ele se apaixonaria por mim? —
Pergunto sem jeito e envergonhada.
— Acho que ele já está apaixonado por você, amiga, já ouviu falar
de paixão à primeira vista? Ele está caidinho por você, e você por ele. —
Ela sorrir me abraçando por trás e meu sorriso vai nas orelhas.
Continuamos o nosso trabalho e eu separo os brotos de rosas para
Rayssa mexer neles depois, nos distraímos conversando e eu finalmente
falo da minha dificuldade em conseguir um trabalho, mas nesse momento
não estou muito chateada com isso, vou deixar para me preocupar amanhã
pois hoje não tenho cabeça para isso, só tenho pensamentos para ele, para o
Tenente Théo Carlson.
— Bom dia meninas! — Ouço a sua voz o meu corpo fica tenso
rapidamente.
— Bom dia! — Respondemos todas juntas.
— Tenente! Que bom vê-lo novamente. Veio comprar flores? —
Ouço também a voz de Otávio e ele não estava aqui. Deve ter acabado de
chegar.
— Sim, Otávio! Eu quero o buquê mais lindo e mais caro que vocês
tiverem, estou tentando impressionar uma mulher surpreendentemente
linda. — Sua voz está se aproximando e eu vou ficando mais tensa e
surpresa.
Sinto alguém pegar a minha mão e beijar demoradamente. Minha
respiração pesa assim como aconteceu ontem.
— Atena, como você está hoje? Eu vim te buscar para o nosso
almoço. — Sinto que seus olhos estão fixos em mim.
Ele está muito perto pois sinto o seu perfume invadir as minhas
narinas. Sorrio e espero que ele não perceba que estou nervosa.
— Eu estou bem, Théo, e você? Como está?
— Agora eu estou bem melhor. Estava ansioso para te ver. — Suas
palavras me fazem corar. — Eu vim um pouquinho mais cedo pois quero
conversar com você e Otávio por um instante, Luana, vocês podem me
acompanhar até o meu carro? — Informa em um tom mais sério e isso me
deixa curiosa.
— É claro, Tenente, vamos lá! — Concorda Otávio e eu fico atenta.
Ouço seus passos se afastar me deixando furiosa e intrigada. O que
ele quer conversar com eles? Será que tem a ver comigo? Puxo na minha
memória sobre a nossa conversa de ontem e me lembro que ele disse que
viria conversar com Lua sobre aquele maldito que tentou me estuprar,
minha nossa! Será que ele vai fazer alguma coisa? Por isso veio conversar
com Lua e Otávio?
— Onde você vai, Atena? Precisa de ajuda? — Questiona Rayssa
quando me levanto.
— Eu vou até a cozinha. Estou com a garganta arranhando de sede.
— Sigo com calma até a pequena cozinha nos fundos da loja.
Entro na cozinha e pego a água na geladeira, bebo um copo
generoso de água enquanto tento não surtar de curiosidade para saber o que
eles estão conversando, depois Lua vai me contar caso Théo me esconda a
verdade, talvez ele tenha receios de me contar alguma coisa, ou não quer
me incomodar perguntando na minha frente sobre o que aconteceu no
passado, bom, vou ter que esperar para saber o que está acontecendo.
Lavo as mãos e seco em seguida, saio da cozinha tirando o meu
avental e passo as mãos nos cabelos, me sento atrás do balcão pensativa
enquanto espero eles voltarem, e eles estão conversando a bastante tempo.
Minutos depois estou conversando com Rayssa quando ouço passos
se aproximarem, paro atenta para tentar identificar quem é, ouço o som das
embalagens que usamos para preparar os buquês.
— Aqui estão as suas flores, Tenente, espero que a mulher que as
receber goste. — Ouço a voz empolgada de Lua.
— Saberemos se ela gostou em poucos segundos. — Fico atenta e
sinto alguém segurar a minha mão me fazendo levantar.
Sinto colocarem algo em meus braços e é um buquê de flores.
— Mesmo que não possa ver essas flores tão lindas, não tem
problema, você já vai me fazer feliz se aceitá-las como prova do meu
carinho por você. — Surpreendo-me com a sua voz aqui pertinho de mim e
um carinho suave em meu rosto.
Sorrio abraçando o buquê flores, toco-as para saber que flores são,
são rosas. Meu sorriso vai nas orelhas.
— Obrigada, Théo, você é muito gentil. Eu aceito as flores.
Meu sorriso está pregado no rosto e eu cheiro as rosas ouvindo
através do silêncio da floricultura, apenas o som dos carros passando lá fora
e as pessoas conversando.
— Bom, é melhor vocês irem logo, Tena não tomou café da manhã
direito e com certeza está morrendo de fome, nós também vamos almoçar.
Vou colocar essas flores na água para você até que volte, mais tarde você
leva para sua casa ou eu levo para você se for passar o dia fora. — Lua pega
o buquê das minhas mãos mas eu seguro-as contra o meu peito.
— Me deixe ficar com elas, Lua? Eu nunca ganhei flores antes, eu
quero ficar com elas. — Sorrio abraçada ao buquê de rosas. Ele me deu
rosas.
— Como assim nunca ganhou flores antes? Como isso é possível?
— Seu tom surpreso me deixa constrangida.
— Pega Lua? Coloca na água, eu pego depois. — Forço um sorriso
meio sem jeito.
Nessas horas dou graças a Deus por não poder ver a cara que ele
deve estar fazendo. Mas eu gostaria tanto vê-lo.
— Não, amiga! Pode levá-las com você, quando você voltar eu
ponho elas na água.
— Me desculpa se pareci surpreso demais, Atena, é que não aceito o
fato de ninguém ter lhe dado flores antes. Talvez pelo fato de você ser tão
linda quanto essas rosas e estar trabalhando no meio delas. — Sinto seus
dedos tocar o meu rosto, sinto o meu rosto esquentar.
— Já podemos sair se você quiser, não quero ocupar muito o seu
tempo pois você deve ser bastante ocupado. — Comento sem jeito.
— Para você eu nunca vou estar ocupado, mas se algum dia você
precisar de mim e eu não puder vir, sempre terá alguém a sua disposição...
Podemos ir agora. — Suas palavras me deixam confusa mas antes que eu
possa questionar, ele enlaça o meu braço no seu para sairmos.
Despeço-me de Lua e os outros e deixo o Tenente me levar até o seu
carro, entramos no mesmo e ele segue para algum lugar, perguntando se eu
prefiro ir a um restaurante ou almoçar na sua casa. Eu prefiro ir a um
restaurante pois ainda não o conheço bem, então não vou para casa de um
estranho.
Passamos o caminho conversando com ele querendo saber mais de
mim e dos meus gostos, mas também fala bastante dele, do irmão que
trabalha junto com ele e também da sua mãe, mas não entra em detalhes.
Melhor assim.
Quinze minutos depois o caro para, pergunto se já chegamos e ele
afirma que sim, é um restaurante em Downtown na área onde ele mora, me
surpreendo por ele ter me trago para almoçar tão longe da minha casa, mas
não ligo, ele é da polícia e não vai fazer nada contra mim, ele parece ser
muito sincero e Lua e os outros parecem confiar muito nele.
A louca da Lua ligou para delegacia para confirmar se ele é mesmo
Tenente naquela unidade, quem atendeu foi o Inspetor Renato e passou o
telefone para Théo, eu morri de vergonha e me escondi para Lua não passar
o telefone para mim, não sei como conseguiria falar com ele sabendo que
ele sabia que estávamos investigando ele, sorrio ao me lembrar de tal
situação.
— Você está sorrindo, isso significa que está animada com o nosso
passeio até aqui. — Ouço ele abrir a porta do carro e pegar a minha mão,
me ajudando a descer.
— Sim, estou animada, mas também apreensiva, não quero fazer
você passar vergonha.
— E porque você me faria passar vergonha? Estou ao lado da
mulher mais linda que os meus olhos já viram... Me desculpa, não quero
fazer você se sentir mal pelo fato de eu poder te ver e você não poder me
ver.
— Está tudo bem, não se preocupe com isso. Que bom que me acha
bonita, isso já é um consolo. — Agarro o seu braço com firmeza com
receios de cair como ia acontecer ontem.
Ele me segurou com tanta firmeza que fez eu me sentir segura por
estar em seus braços, ele não parecer ser um daqueles homens musculosos,
mas ele é forte, ele tem uma pegada forte. Entramos no tal restaurante e ele
conversa com uma mulher, suponho ser a recepcionista pois ela nos leva até
a mesa reservada por Théo, ele me ajuda a me sentar e se senta em seguida
próximo a mim.
— O que você gostaria de comer? O que quer pedir? Vou ler o
cardápio para você. — Pergunta em um tom risonho me fazendo sorrir
também.
Ele me fala tudo que tem no cardápio e explica o que é, são tudo
coisas difíceis de comer com talheres e eu não posso ver a comida a minha
frente. Droga! Vou fazê-lo passar vergonha, não vou conseguir comer nesse
lugar sem derramar a comida, não vou poder pegar com a mão para não ser
deselegante.
— O que foi? Ficou séria demais, parece triste. — Seu tom é
preocupado e eu não quero estragar o nosso encontro.
— Não é nada... É... Escolhe o que você quiser, por mim tudo bem.
— Me ajeito na cadeira sem jeito e receosa.
Para mim é normal comer e as vezes me sujar, derramar comida,
mas não quero fazer isso em um restaurante na frente de tanta gente, não
quero passar vergonha no nosso primeiro encontro. Ou melhor, no nosso
segundo encontro.
— Eu pensei em pedir uma pizza no lugar da comida, ou você
prefere a comida? Tem medo de engordar por comer massa? — Suas
palavras faz um largo sorriso surgir no meu rosto.
— Eu adorei a ideia, vou me sentir mais à vontade comendo algo
bem mais sólido — Comento espontaneamente e ouço ele sorrir, sinto o
meu rosto mais uma vez esquentar.
— Foi o que pensei. Podia ter dito antes de ficar tão preocupada.
Você não tem que ficar com medo, receios ou se envergonhar por nada,
Atena, você não deve nada a ninguém então não importa se cair um
carocinho de arroz fora do prato. — Ele pega a minha mão com carinho e
suas palavras mais uma vez me tranquilizam.
— Me desculpa, eu só não quero fazer você passar vergonha...
— Você me fazer passar vergonha? Impossível! Como eu disse
antes, você não deve nada a ninguém, nem mesmo a mim então não tem
que se preocupar com uma bobagem como essa... Você quer mesmo pedir a
pizza ou gostaria de comer algo em especial? — Sinto ele beijar a minha
mão e eu respiro fundo.
— O risoto de camarão que você citou pare ser uma delícia... É uma
pena eu ser alérgica a frutos do mar... Bom, hoje eu vou aceitar a pizza, mas
no nosso próximo encontro eu peço algo diferente, desde que não seja um
restaurante chique como esse parece ser.
— E se o nosso próximo encontro for um jantar na minha casa? Ou
na sua, você escolhe onde... Você aceita? — Ele acaricia a minha mão
gentilmente.
— É claro que eu aceito, sei que realmente é da polícia e não me
parece ser corrupto, não parece ser alguém ruim e por isso eu confio em
você... Aceito o seu convite mas Luana e Otávio precisam saber o seu
endereço, se acontecer algo comigo eles precisam saber onde me procurar.
— Solto de uma vez para ele saber que tem gente que se preocupa comigo.
— Concordo! É justo e você está certa... Vamos fazer o seguinte!
Vou marcar um jantar lá em casa para você e sua família, vocês já me
receberam no primeiro dia em que nos conhecermos, então quero retribuir a
gentileza, assim eles ficam conhecendo a minha casa e se sentirão mais
seguros em deixar você vir comigo. O que acha? — Surpreendo-me com as
suas sugestões.
— Está falando sério? Quer mesmo levar a minha família na sua
casa?
— Porque não? Você é uma raridade, Atena, e eu estou gostando de
você, as minhas intenções com você são sérias, por isso quero deixar a sua
família tranquila quanto a mim. — Estou chocada com as suas palavras,
mas sorrio abertamente por saber que ele gosta de mim.
Pedimos uma pizza meio a meio, metade Pepperoni e metade
Romana, esse sabor eu ainda não havia comido mas vou experimentar.
Conversamos um pouco até servirem a nossa pizza e começamos a comer,
tento usar o talher para não ser tão deselegante, mas me surpreendo com
Théo sugerindo para eu pegar com a mão como ele está fazendo, ouço ele
largar o talher de lado e sorrio por ele tornar esse encontro tão confortável
para mim, ele está fazendo isso para me agradar e parece não estar se
importando se tem ou não alguém olhando para ele, ou para nós.
Depois da nossa pizza ele pede um sorvete de sobremesa e eu estou
sorrindo tanto que me surpreendo comigo mesma.
— Me diz uma coisa, Atena? O que os médicos falam sobre essa sua
cegueira? Você me contou ontem que os médicos não descobriram o motivo
dessa sua falha na visão, antes do acidente você enxergava e apenas depois
do que houve foi que você ficou assim... Quantos médicos te deram o
mesmo diagnóstico? — Sinto a curiosidade na sua voz.
— Não fui a nenhum especialista, pois para isso eu teria que sair do
país, e eu não tenho condições para isso. Fui a muitos médicos aqui mesmo
na cidade e todos eles se surpreenderam, todos eles não sabem o que eu
tenho e ficam apenas em suposições, eu não tenho dinheiro para gastar com
suposições... Eu tinha esperanças de que essa situação fosse passageira, que
eu voltaria a enxergar logo, mas... Sete anos... Já estou assim a sete anos,
tive que recomeçar a minha vida tudo de novo, tive que aprender coisas
novas, me adaptar a muitas mudanças... Me desculpa mas eu não gosto
muito de ficar falando desse assunto, isso me faz lembrar do acidente e
sentir a falta dos meus pais. Não gosto de chorar na frente de ninguém e
esse assunto me deixa muito emotiva. — Tento não me incomodar muito
com isso e suspiro fundo.
— Me desculpa, não está mais aqui quem perguntou. Se um dia
você quiser se abrir e conversar, eu vou estar aqui para te ouvir e te ajudar
no que eu puder. — Mais uma vez ele pega a minha mão carinhosamente,
sorrio por ele ser tão atencioso.
— Obrigada, isso era tudo que eu precisava ouvir... Já terminamos
então podemos ir. — Solto a sua mão e procuro pelo copo de água.
Bebo enquanto ele sai da mesa dizendo que vai pagar a conta,
pouquíssimos minutos depois ele volta e me ajuda a levantar. Théo me
entrega o buquê que ele havia posto na cadeira ao lado e mais uma vez
enlaça o meu braço no seu, seguimos para fora do restaurante e seu telefone
toca, ele atende e fala brevemente com o Inspetor Renato, meu rosto
esquenta só em me lembrar que mais cedo Lua falou com ele para pedir
mais informações sobre Théo. Pergunto se está tudo bem e ele diz que
precisa voltar ao trabalho, mas antes vai me deixar na floricultura e ele
também pede para ir me ver em casa mais tarde, e óbvio que eu concordo
então entramos no seu carro.
Seguimos de volta para floricultura e conversamos um pouco mais
durante o nosso trajeto, e é muito bom conversar com ele, eu me sinto à
vontade mas prefiro não ficar à vontade demais por enquanto, vamos ver até
onde vai esse seu interesse por mim.
UM MÊS DEPOIS...
Me sinto zonza, tento erguer a cabeça mas sinto ela pesar uma
tonelada. Operei a dois dias e ainda não tiraram os curativos dos meus
olhos, estou ansiosa para saber se a cirurgia deu certo mas disseram que eu
preciso esperar, apenas no horário da tarde vão vir me examinar.
— Estou com sede... Lua? Théo...? Vocês estão aí? — Mexo-me
tentando me sentar.
— Serve o seu cunhado favorito? Os outros foram até a cantina e me
deixaram como seu segurança pessoal, isso não é para qualquer um, ouviu?
— Ouço a sua voz e como sempre o meu coração dispara.
— Tony... Você veio! Que bom que está aqui. — Meu sorriso se abre
espontaneamente.
Ergo a mão para ele e sinto ele pegar carinhosamente, toco a
pulseira no seu pulso e é ele mesmo. Puxo a sua mão para mais perto de
mim e tento tocar o seu rosto, mas ele parece longe. Ouço a sua respiração
pesar aqui pertinho do meu rosto, ergo a minha mão e consigo tocá-lo,
porque ele está ofegante? Se não fosse pela pulseira no seu braço, eu iria
jurar que é o Théo.
Desenho os traços do seu rosto e sem querer toco os seus lábios
sentindo a sua respiração quente nos meus dedos, afasto-me me ajeitando
na cama e tento sorrir.
— Pega água para mim? Estou com a garganta seca. — Peço sem
jeito.
— Claro, eu pego. — Ouço ele se afastar e depois de aproximar.
Ele pega a minha mão me entregando o copo de água, mas me ajuda
erguendo a minha cabeça para que eu consiga beber a água. Agradeço e lhe
entrego o copo quase vazio, bebi a água quase toda pois estava morrendo de
sede. Sinto a sua presença ainda perto de mim mas ele não diz nada.
— Já tem quase um mês que não nos falamos direito, muito mal
você me liga para saber como eu estou... Está tudo bem? Está chateado
comigo para ter se afastado tanto...? — Pergunto envergonhada, não quero
ter que admitir que senti a falta dele por perto, pensei que nos tornaríamos
amigos.
— Porque eu ficaria chateado com você, sardenta? Pelo contrário...
É que... Eu... Eu estou trabalhando demais... Entretanto, eu conheci uma
garota e a gente tem saído bastante, é isso, preciso dar atenção a ela pois
estamos nos conhecendo.
— Que legal! Fico muito feliz em saber disso... E quando você vai
nos apresentar a ela? Porque nem o Théo está sabendo que você está
namorando... Vamos marcar um jantar para nós quatro, o que acha? —
Comento empolgada mas ele fica mudo.
Espero ele dizer algo mas ele não diz, sinto um carinho no meu
rosto e eu pego a sua mão.
— Não se afasta de mim, Tony? Eu pensei que seriamos amigos,
pensei que você tivesse gostado de mim, pensei que tivesse me aceitado
como sua cunhada... É por isso que você está me evitando? Você não gosta
de mim? — Pergunto apreensiva e sentido o meu coração apertado.
— Gosto mais do que deveria... — Diz em um sussurro, quase não
entendo o que ele disse.
— Não entendi, você pode repetir?
— É claro que eu gosto de você, Atena, e é óbvio que somos
amigos, eu realmente estou trabalhando demais mas eu prometo aparecer
mais vezes. Gostei da idéia do jantar para casais, Gustavo e Luana também
deviam particular, eles são gente boa, gostei muito de conhecê-los. — Seu
tom é mais animado e eu sorrio.
— Está bem, eu vou falar com eles sobre isso... E Tony...? Obrigada
por ter vindo, ter você, Théo e Lua aqui é muito importante para mim. —
Acaricio a sua mão e ele faz o mesmo.
— Sobre o que vocês estão conversando que estão tão empolgados?
— Ouço a voz de Théo e sinto Tony soltar a minha mão.
— Estamos combinando um jantar de casais, ele vai finalmente nos
apresentar a namorada. Lua e Otávio também precisam participar, e como
estamos falando de casais, dona Sônia e o Sr. Adalberto também podem vir,
não quero deixá-los de fora e eu adoro conversar com eles. — Tento me
ajeitar na cama mas ainda me sinto zonza.
— Não sabia que estava namorando, meu irmão... Quando isso
aconteceu? — Pergunta Théo.
— Nem eu sabia, me deram uma intimação e eu resolvi tentar, vai
que cola. — Responde desanimado. — Eu vou dar uma volta, antes das
quatro estarei de volta. — Ouço os seus passos se afastar.
— O que deu nele? Tony parece sério demais, ele não era assim
quando o conheci, estamos nos dando bem mas ele se afastou. Ele jura que
está apenas trabalhando demais e espero que seja apenas isso mesmo...
Cadê a Lua? Ela está aqui? — Estendo as mãos procurando por eles.
— Estou aqui, amiga. — Ela segura a minha mão de um lado e Théo
do outro, mas ele está calado.
O que está acontecendo com esses gêmeos hoje? Eles estão
estranhos.
— Como você está se sentindo, Tena? Ainda está zonza? A cabeça
ainda está doendo? — Lua toca o meu rosto com carinho.
— Sim, ainda estou zonza mas a dor de cabeça já passou, me deram
um remédio para dor...
Inicio uma conversa com ela mas sinto Théo calado demais, ele
sempre entra nos nossos assuntos mas assim com Tony, ele está distante.
Pergunto se está tudo bem e ele diz que sim, diz apenas que está ansioso e
ao mesmo tempo com medo, e eu entendo esse seu medo mas ele não tem
culpa de nada, se essa cirurgia não der certo pelo menos nós tentamos, eu
fiz o que ele queria pois sei o quanto ele quer me ajudar, estou rezando para
que tenha dado certo mas se não der, nós vamos seguir em frente do mesmo
jeito.
Estendo a minha mão para ele e o mesmo pega, beija e acaricia, as
horas vão se passando e a minha ansiedade vai aumentando.
— Srta. Atena Moore! Eu sou o mesmo médico que examinou e te
operou, junto com os meus amigos aqui ao lado. Está preparada para tirar
essa venda dos seus olhos? está preparada para voltar a enxergar? — Ouço
a voz do Dr. Benício se aproximar mas ouço passos aleatórios.
— Sim senhor, estou ansiosa mas também apreensiva. Eu só quero
desde já agradecer a dedicação de vocês no meu caso, estou feliz por ter
pessoas dispostas a me ajudar e mesmo que eu não consiga enxergar outra
vez, já está valendo ter ao meu lado as pessoas que eu mais amo nessa vida,
me apoiando e me incentivando a não desistir, me passando coragem e
confiança, assim como o senhor e sua equipe tem me apoiado nesse tempo
em que estou aqui. — Esfrego uma mão na outra nervosa, e muito ansiosa.
— Eu é que agradeço por confiar em nós, Atena, e quero que saiba
que fizemos o nosso melhor e estamos confiantes... E então? Podemos tirar
os seus curativos? — O médico pega a minha mão e sinto a sua voz bem
próxima.
— Estão todos aqui...? Lua? Théo e Tony? — Estendo a minha mão
procurando por meu noivo.
— Tony saiu e ainda não voltou, talvez tenhamos que fazer isso
sem...
— Eu estou aqui! Eu falei que estaria aqui e não quebraria a minha
promessa. — Sua voz me faz suspirar, meu coração bate forte ao vir a voz
dos dois, acho que pelo fato de serem idênticas.
— Ótimo! Então podemos tirar esses curativos, doutor! — Afirmo
decidida e respiro fundo, sorrio ansiosa mas Théo solta a minha mão.
Ouço outras vozes ao meu lado e sei que são outros médicos. Eles
começam a tirar a faixa enrolada na minha cabeça muito lentamente, eles
conversam entre si mas eu só consigo pensar em Lua, Théo e Tony, quero
que a imagem deles sejam as primeiras a aparecerem diante dos meus olhos
caso eu volte a enxergar.
Depois de tirarem a faixa da minha cabeça, eles pedem para que eu
continue de olhos fechados enquanto os curativos sejam retirados dos meus
olhos, e assim o faço. Eles tiram um a um e todos ficam em silêncio.
— Atena Moore! Abra os seus olhos lentamente, no seu tempo, não
precisa ter pressa pois ninguém vai sair daqui. Abra os olhos bem devagar
para que os seus olhos se acostume com a sensibilidade da claridade. —
Orienta o Dr. Benício e eu apenas concordo.
Faço como ele manda e abro os olhos bem devagar, sinto as minhas
pálpebras pesadas mas me esforço para abrir os olhos, aos poucos aquela
expeça escuridão dá lugar a um borrão cinza embaçado, meu coração
dispara e eu pisco algumas vezes tentando melhor a minha visão, e aos
poucos aquele borrão cinza vai se dissipando e eu consigo ver alguns
vultos.
— E então, Atena? Você consegue ver alguma coisa? — Pergunta
alguém ao meu lado.
— Quase nada, mas aquela escuridão deixou de existir... Isso é um
bom sinal, não é? A minha visão vai voltar completamente? — Pergunto
olhando para os lados e volto a olhar para frente.
Vejo direitinho três vultos a minha frente, são eles, tem que ser eles.
Lua Théo e Tony.
— Deu certo! A cirurgia deu certo! Você já está enxergando, Atena!
Essa visão embaçada é normal após a cirurgia, os seus olhos aviam se
adaptado a escuridão por anos então isso é normal, aos poucos você vai
voltar a enxergar nitidamente, pode acontecer agora ou até mais tarde, pode
ser que leve dias mas a sua visão vai voltar ao normal. — Explica Dr.
Benício empolgado e os outros fazem uma festa.
Choro de felicidade ao ouvir tudo isso, eu vou poder ver a minha
casa como eu me lembrava dela, vou poder ver o pôr do sol, vou poder ir
ver o túmulo dos meus pais. Estou ansiosa para ver a barriguinha de grávida
da minha melhor amiga, vou ver os irmãos Carlson e um deles é meu noivo.
Ouço a voz chorosa de Lua conversando comigo, do outro lado
Théo segura a minha mão beijando incansavelmente, dizendo que me ama e
sua voz também é emocionada. Olho para frente e vejo uma silhueta alta,
ele não diz nada mas sei que é o Tony pois o irmão dele está ao meu lado.
Pisco algumas vezes e vejo tudo se clarear aos poucos, sua imagem
vai ficando mais nítida na minha frente mas eu fecho os olhos sorrindo.
— Théo! Lua! Fiquem a frente da cama por favor? Eu quero ver
vocês três juntos... Por favor...? A minha visão está voltando... A minha
visão... Meu Deus eu estou enxergando. — Peço aos prantos e eles soltam a
minha mão.
Olho para cima e vejo nitidamente o teto e luz acesa, meus olhos
tremem e eu pisco algumas vezes, abaixo a cabeça lentamente até ver a
minha frente um homem lindo de morrer e a sua cópia ao seu lado, Lua está
tão diferente, está mais linda do que eu me lembrava, todos emocionados.
— Lua... Luana... Amiga...
Choro estendendo os braços para ela e a mesma corre para os meus
braços me apertando tão forte, chorando tanto quanto eu.
— Você está linda... Me deixa ver a sua barriga? Você está tão
diferente, os anos se passaram e você ficou ainda mais linda... A sua barriga
já está grandinha, você vai ser mãe... — Choro visivelmente emocionada.
Olho para frente e os irmãos estão ali, um de braços cruzados
cobrindo a boca, o outro segurando com força o suporte da cama chorando
tanto quanto eu.
— Théo... Meu amor... Tony... Ahhh... Meu Deus, vocês são mesmo
idênticos. São lindos. — Sorrio abertamente admirando os dois encantada.
Estendo as mãos para eles chamando-os, eles se aproximam e param
um do lado do outro. Admiro-os atenta, encantada, eles são lindos, eu
poderia beijar um achando que é o outro, mas ainda bem que tive a ideia
das pulseiras. Pego a mão dos dois e vejo as pulseiras, toco cada uma delas
e meu sorriso se abre ainda mais.
— Meu amor...! Eu posso te ver... Eu posso ver você. — Volto a
chorar de emoção e solto a mão de Tony puxando Théo para um abraço
apertado.
— Eu sabia que você ia conseguir, eu... Eu sabia que ainda havia
uma chance para você e eu não ia desistir dela... Estou feliz por você, meu
amor, muito. — Ele se solta de mim olhando nos meus olhos, sua emoção é
tão grande quanto a minha. Meu Deus ele é tão lindo.
Ele me beija, me abraça e eu retribuo feliz por essa chance que ele
me deu de voltar a enxergar, ele pagou a minha operação para que eu
pudesse voltar a ver a vida, ver o amor em seus olhos e eu estou vendo. Me
solto brevemente dele ainda sorrindo e encaro Tony ao seu lado, e ele
parece querer esconder as suas emoções. Sorrio olhando de um para o
outro.
— Tony... Não vai me dar um abraço, cunhado...? Uau... Vocês são
lindos juntos, não é à toa que são gêmeos. — Estendo a mão para ele e o
mesmo pega sem jeito.
— Eu estava esperando por esse elogio a muito tempo, e sabia que
um dia ele viria... Finalmente agora você vai poder se olhar no espelho e ver
a mulher incrível que você é, além de muito linda... Meu irmão tirou a sorte
grande, é uma pena você também não ter uma irmã gêmea... Seja bem vinda
de volta ao mundo da luz, cunhada... Estou muito feliz por você, de
verdade... Estou feliz que a partir de agora, você vai poder se defender
melhor sozinha, vai poder correr atrás dos seus objetivos, vai se casar e
curtir a sua festa com todos que te amam lá, ao seu lado admirando e
desejando a sua felicidade. Desde já, meus parabéns, sardenta! — Ele diz
olhando nos seus olhos, e por um instante consigo sentir como se fosse o
Théo me dizendo tudo isso.
Vejo o seu carinho por mim, seus olhos brilham de um jeito que não
sei descrever. Lhe peço um abraço e eu me dá, um abraço tão apertado e ao
mesmo tempo tão sentido. Quando nos soltamos ele pede licença dizendo
que precisa ligar para Detroit, apenas concordamos e ele sai. Os médicos
me fazemos inúmeras perguntas sobre como está a minha visão, me passam
recomendações e me pedem para voltar em breve para fazer uma nova
avaliação, para saber como estou me saindo depois da recuperação.
Converso mais com Théo e Luana, ela faz chamada de vídeo com os
pais e me põe para falar com eles, eu me emociono de cá e eles de lá, eles
tem sido como os meu pais foram para mim, eu devo muito a eles e agora
vou poder pagar ajudando mais a Lua na floricultura, vou poder fazer mais
do que eu realmente podia fazer, e vou tentar finalmente cursar a faculdade
como era o sonho dos meus pais.
Passamos bastante tempo conversando e a noite chegou sem eu
perceber, trouxeram o meu jantar e Théo e Lua ficam comigo o tempo todo,
Tony também volta a se juntar a nós mas ele e Théo parecem estranhos, eles
saem para conversar e quando voltam parecem mais resolvidos, e isso me
deixa mais tranquila.
— Vocês não precisam passar a noite aqui comigo, principalmente
você, Lua, você está grávida e precisa descansar. Vão para o hotel, eu vou
ficar bem. — Me acomodo melhor na cama mas Théo se senta ao meu lado.
— Eu só saio daqui com você, não vou te deixar sozinha. — Afirma
decidido e eu sorrio satisfeita, no fundo eu não queria que ele fosse.
— Bom, eu vou aceitar ir para o hotel, estou mesmo exausta e
preciso descansar um pouco. — Lua me dá um beijo e eu a abraço apertado.
— Eu também vou indo, eu passo amanhã para me despedir antes de
voltar para Detroit, o trabalho me chama. — Tony se aproxima e me dá um
beijo demorado no rosto.
— Obrigada por ter vindo, Tony, por ter aceito o meu pedido, isso
era muito importante para mim porque vocês são importantes... Nos vemos
em Detroit, eu devo ter alta amanhã de manhã, a noite nós voltaremos para
casa. — Empolgo-me segurando a mão do meu noivo.
Todos sorriem e nos despedimos, Théo os acompanha até a saída do
hospital e eu fico aqui, sentada pensativa e sorrindo feito boba. Olho para
janela e me lembro de como eu adorava admirar o céu estrelado. Levanto-
me com cuidado pois ainda me sinto um pouco zonza, mas sigo até a janela
com um sorriso pregado no rosto. Olho para o céu e lá estão as estrelas que
eu sempre amei admirar, e eu sempre fazia isso na companhia da minha
mãe mas ela não está mais aqui.
Encaro aquela cama de hospital e imagens do acidente invadem a
minha mente, meu pai sendo esmagado pelas ferragens do carro, a minha
mãe sendo arremessada pelo para-brisa do carro, eu bati a cabeça em algum
lugar e acordei cega um mês depois em uma cama de hospital. E em uma
cama de hospital eu voltei a enxergar depois de sete anos.
— Eu voltei, mamãe... Eu voltei graças ao seu genro... Você deve
estar agora junto a essas estrelas no céu brilhando por mim, não está...? Eu
sinto tanto a sua falta, sinto muito a sua falta... Você era linda, será que
estou parecida com você? — Converso sozinha admirando as estrelas no
céu.
Sinto ele me abraçar por trás e beijar o meu ombro, suspiro fundo de
olhos fechados e abro-os novamente. De repente vejo ele erguer lentamente
um pequeno espelho na minha frente, me deparo comigo mesma e eu nem
me lembrava mais qual era a cor dos meus olhos, os meus cabelos ruivos
ondulados.
— Acredita em mim agora quando digo que você é a mulher mais
linda que já vi na vida? Entende agora o porquê me apaixonei tão
perdidamente assim que te vi...? — Seu tom é tão suave.
Seguro a sua mão e viro um pouco o espelho vendo a sua imagem
junto a minha, sorrio abertamente e ele também. Meu Deus, ele tem um
sorriso tão lindo, ele é todo lindo assim com o irmão, afinal, eles são a
Xerox um do outro.
Viro-me para ele encarando fixamente os seus olhos, toco o seu
rosto como me acostumei a fazer, sorrio sentindo o meu coração bater
descompassado e beijo-o, beijo com ternura, com amor e paixão sentindo
uma euforia tão grande que não cabe no peito.
— Obrigada... Eu te devo a minha vida, Théo... Você realizou o meu
maior sonho, o sonho de poder te ver, de poder ver outra vez a minha
melhor amiga... Eu vou poder ver outra vez a imagem dos meus pais, vou
poder construir uma família com você e vou ver o seu sorriso todos os dias,
vou ver a sua expressão ao acariciar o meu rosto, a sua expressão ao
fazermos amor... Meu Deus... Théo... Já fizemos amor tantas fezes e eu
nunca te vi nu. — Comento emocionada mas coro ao me dar conta de tal
detalhe, ele sorrir de um jeito que me deixa abobalhada.
— Não seja por isso, você vai ter muitas oportunidades para ver o
seu noivo nu. Podemos resolver esse problema agora mesmo... Vamos no
banheiro? Eu fico peladinho para você. — Sugere mordendo o lábio inferior
e eu sinto o meu rosto pegar fogo.
— Você ficou louco? Estamos em um hospital, Théo! — Me solto
dele visivelmente envergonhada e ele sorrir.
— Qual é o problema de estarmos em um hospital? Você está me
vendo pela primeira vez hoje e eu só quero matar a sua curiosidade. — Ele
vem atrás de mim e me pega no colo.
— Não estou assim tão curiosa, estou envergonhada então podemos
esperar até amanhã... Quando formos para o hotel... — Ofego por me
lembrar das vezes que já estive em seus braços, de como é intenso fazer
amor com ele.
— Você está me desejando e não adianta negar isso. A sua
respiração está pesada, seu corpo está tenso e eu vejo o desejo em seus
olhos... Olha para mim, amor? Olha nos meus olhos e diga o que você vê?
Agora você pode fazer isso. — Suas palavras me estremecem mas faço o
que ele pede.
Olho nos seus olhos e vejo amor, vejo ternura mas também vejo
desejo. Espontaneamente eu seguro o seu rosto e beijo-o apaixonadamente.
Ele me põe na cama e se deita ao meu lado me pegando em seus braços, eu
vou de bom grado e conversamos até eu pegar no sono.
Sinto a sensação de estar sendo vigiada e abro os olhos, ele está em
pé ao lado da minha cama de braços cruzados e me olhando daquele mesmo
jeito amoroso de ontem, é a primeira vez que acordo literalmente com
alguém me olhando, antes eu só podia sentir a sua presença e adivinhar
onde ele estava, mas agora o vejo aqui na minha frente, sorrindo de um jeito
tão amoroso, com tanta ternura que eu retribuo espontaneamente.
— Não vai me dar um beijo de bom dia...? — Pergunto ainda
sonolenta.
Ele se aproxima sorrindo e me dá um beijo na testa, mas quando se
afasta ele encara a minha boca como se quisesse me beijar mas não o faz.
— O que foi? Não quer me beijar? Estou com mal hálito, é isso? —
Sorrio envergonhada mas me sentindo mal por meu noivo evitar me beijar.
— Vontade de te beijar não me falta... Mas se eu fizer isso o Théo
me mata. — Seu tom rouco encarando a minha boca me estremece.
— Tony... Oh meu Deus... Me desculpa? Eu jurava que você era o
Théo, não esperava ver você tão cedo... Onde está o seu irmão? — Coro
violentamente por ter desejado beijá-lo sem saber que ele não é quem eu
pensei que fosse. Isso é tão confuso.
Ele suspira fundo e se afasta mexendo nos cabelos, ele parece tenso,
parece nervoso.
— Théo foi até a cantina mas não vai demorar, ele estava faminto e
me pediu para ficar com você até ele voltar... Eu vim me despedir, preciso
voltar antes de vocês por causa do trabalho. — Volta a se virar para mim e
seus olhos estão mais intensos que antes.
O que está acontecendo com ele? Porque ele me olha assim? E que
ele disse que tem vontade de me beijar?
— Entendi... Estou feliz que veio mesmo que por pouco tempo. E
sinto muito por ter te afastado do trabalho mas era importante para mim,
você, seu irmão, a Lua e os pais dela são tudo que eu tenho. Eu vou me
casar com o seu irmão então você também será a minha família. — Sento-
me arrumando o meu cabelo e ele está atento a mim.
— Está tudo bem, não se preocupe. Eu vim até aqui exatamente por
isso, porque vamos ser uma família pois também não tenho ninguém mais
além de Théo, a minha cópia fiel... Praticamente não temos mais mãe, o
nosso pai nos deixou a alguns anos então também só temos você... Enfim,
você não faz idéia do quanto estou feliz por você está bem outra vez, por
finalmente ter a sua vida de volta no mundo da luz, sardentinha. — Ele me
dá um sorriso tão lindo, aquele mesmo que o Théo está acostumado a me
dar.
Adoro quando ele me chama de sardenta por causa das pintinhas no
meu rosto, mas ele não precisa saber disso. Seu sorriso ainda está ali.
Merda! Eles são iguais em muita coisa e isso me deixa confusa. Até nesse
sorriso que tem me encantado desde ontem. Eu finalmente posso vê-los
sorrindo, posso vê-los me admirar e... Aff!
— Bom, então é isso, eu só vim te desejar uma boa recuperação e
dizer que nos veremos em Detroit.
— Está bem, nos vemos em Detroit... Mas antes de você ir, você
pode me ajudar a descer? Estou achando essa cama alta demais e estou me
sentindo zonza. Ainda estou me acostumando a enxergar de novo. — Sorrio
sem jeito.
— Deixa comigo, eles deixaram a escadinha muito distante. — Ele
vem até a mim e puxa a escadinha debaixo da cama, e me ajuda a descer.
— Obrigada, você é um amor. — Me solto dele sorrindo e calço o
chinelo que Lua deixou para mim.
— Senta aí! Espera o seu irmão voltar. Eu preciso ir ao banheiro.
Aponto para ele se sentar na poltrona e pego a minha bolsa entrando
no banheiro em seguida, faço a minha higiene pessoal e tomo um banho, eu
precisava mesmo disso para terminar de acordar, já dormir demais e quero
aproveitar para conhecer a cidade antes de ir embora.
Minutos depois e saio do banheiro já vestida e ansiosa para sair
desse hospital, não vejo mais o Tony e nem o Théo voltou, será que o meu
cunhado foi embora? Olho a minha volta e vejo três vasos de flores fazendo
o meu sorriso surgir, um deles é jasmim, o outro copos de leite e também
lírios, todos são lindos e eu vou até lá para ver de quem são. E as minhas
flores preferidas quem me deu foi o meu amor, eu amor jasmim, os copos
de leite são da Lua e os lírios do Tony, meu sorrio vai nas orelhas.
— O que achou das flores? Gostou? — Assusto-me com a voz de
Théo atrás de mim e viro-me abruptamente.
É ele, suas roupas são diferentes das roupas do irmão.
— Amor...? Sim, eu amei as flores, todas elas. — Corro paras os
seus braços e lhe dou um beijo ardente.
— Estou vendo que teremos um ótimo dia hoje. — Ele sorrir na
minha boca e eu me afasto brevemente.
Olho em direção a porta e Tony está ali com aquele mesmo sorriso
de antes. Vou até ele e lhe dou um beijo no rosto.
— Obrigada pelas flores, eu amei... Agora só falta eu dar um beijo
na minha melhor amiga, a minha irmã. — Suspiro fundo e volto para os
braços do meu amor.
— Ela também já está ansiosa para te ver, mas dissemos a ela para
esperar no hotel e assim ela pode descansar um pouco mais... Bom, daqui
eu estou indo para o aeroporto, vejo vocês em casa. Se cuidem. — Ele vem
dar um abraço apertado no irmão e me dá mais um beijo no rosto antes de
sair apressado.
Abraço o meu noivo e beijo-o ardentemente antes de me afastaram
para admirar o seu rosto, eu desejei tanto isso, desejei ver os seus olhos
brilhar como agora, desejei ver esse sorriso perfeito que ele tem, ver os seus
dedos tocar a minha pele em um carinho suave, ver a sua feição ao dizer
que me ama.
— Eu daria tudo para me casar com você agora mesmo... Estou
ansioso para tê-la como minha esposa, não quero mais nada além disso,
serei feliz apenas em saber que será sempre minha. Você não faz idéia do
quanto te amo. — Théo me aperta contra o seu corpo, mas seus dedos
deslizam pelo meu rosto antes de me beijar.
Retribuo ao seu beijo com a mesma paixão, com o mesmo amor,
amor esse que jamais senti por outro homem até ele chegar. Eu lhe devo
essa felicidade que estou sentindo agora, lhe devo a luz dos meus olhos pois
se voltei a enxergar, foi graças a ele que pagou a minha cirurgia.
— Se tivesse como, eu me casaria com você agora mesmo. Quero
ser sua esposa o quanto antes... Eu te devo muito mas não quero me casar
por isso, quero me casar por amor. Eu te amo demais, Théo. — Seguro o
seu rosto com as duas mãos e beijo-o mais uma vez.
— Tem um jeito de nos casarmos, mas não sei se você vai aceitar...
Meu amor, podemos nos casarmos em Las Vegas, depois faremos apenas a
festa ou podemos fazer uma cerimônia com os nossos amigos... Case-se
comigo o quanto antes, amor? Podemos nos casar hoje mesmo e de lá nós
voltamos para casa como marido e mulher. — Sugere empolgado me
fazendo sorrir. Eu faço tudo por ele depois do que fez por mim.
— Está bem, eu me caso com você hoje! Depois faremos uma
pequena cerimônia e nem precisa ser na igreja, eu só quero ser sua esposa.
— Concordo tão empolgada quanto ele.
Théo me pega no colo me girando no ar e eu sorrio abertamente.
Nos beijamos, nos abraçamos e fizemos planos para uma nova vida, ele não
quer que eu insista em sair para procurar emprego como eu fazia antes,
então prometo continuar ajudando Lua na floricultura agora que ela está
grávida, vou fazer por ela mais do que eu podia fazer antes. Vou poder
cuidar da minha casa eu mesma, não vou precisar incomodar ninguém para
me ajudar, não vou me queimar quando tiver que cozinhar algo. Eu estou
tão feliz.
Théo está fazendo planos de comprar uma nova casa para nós e se
desfazer da atual, tudo por causa do que aconteceu com o padrasto e a mãe
dele, mas ele já gastou tanto comigo que estou sem graça de deixá-lo fazer
isso.
— Você ficou pensativa, mudou de ideia? Não quer mais se casar
comigo hoje? — Pergunta sentando-se na poltrona comigo em seu colo.
Ele segura o meu queixo me fazendo encará-lo, acaricio a sua mão
ainda sem jeito, mas eu preciso superar o que houve, foi uma armação que
fizeram contra mim para eu desistir do meu amor, mas eu não vou fazer
isso, não posso e não quero. Eu preciso vencer os meus medos pois os
obstáculos aparecem nas nossas vidas onde quer que estejamos, fazê-lo sair
da sua casa por minha causa pode não mudar em nada a nossa situação com
a mãe dele, ou ela vai continuar nos odiando ou vai nos aceitar de vez após
o casamento.
— Não quero que se desfaça da sua casa, não quero que gaste mais
só para me agradar pelo que houve... Se você me prometer que a sua mãe
não conseguirá mais entrar lá, eu aceito que moremos lá onde você já está
acostumado, e também não vou abrir mão do Alonso só por eu ter voltado a
enxergar, não sabemos se a minha querida sogrinha vai mandar mais
alguém me atacar. — Saio do seu colo apreensiva, mas sinto ele me abraçar
por trás.
— Se não quiser ficar lá, não tem problema, eu me aperto um pouco
e compro outra casa em outro lugar...
— Não, Théo! Você já gastou demais comigo, pagou essa viagem e
ainda trouxe Lua para me agradar, bancou essa cirurgia caríssima, vai
bancar o casamento e tudo isso sozinho porque eu não tenho como te
ajudar... Eu não posso permitir isso. — Viro-me para ele me sentindo mal
por ele estar fazendo tudo isso sozinho, mas ao mesmo tempo estou feliz
por tê-lo ao meu lado.
— Eu não fiz tudo isso sozinho, Atena... Tony também me ajudou a
pagar a cirurgia e vai nos dar a festa de casamento. Eu tentei devolver uma
parte do dinheiro que ele me deu, pois a cirurgia foi um pouco mais barata
do que pensamos que fosse, mas ele insistiu que eu ficasse como um
presente de casamento. — Suas palavras me surpreendem, o Tony também
ajudou na minha cirurgia?
— Eu... Eu não fazia idéia, porque não me contou nada antes? Eu
teria agradecido a ele pôr esse gesto tão bondoso. — Volto para os seus
braços mesmo ainda surpresa.
— Ele me pediu para não dizer nada, mas não quero ver você
tristinha por achar que estou fazendo tudo sozinho... Todos nós te amamos e
todos estamos te ajudando de alguma maneira, porque você merece, meu
amor. Eu sou capaz de tudo por você, então se não quiser ficar na minha
casa atual, podemos sim nos mudarmos para outra. — Ele me aperta em
seus braços e beija o alto da minha cabeça.
— Me deixa conhecer a sua casa agora que posso ver como ela
realmente é, já faz tempo que não volto lá desde o acontecido, quero ver
como ela é e se ainda vou me sentir mal, se for o caso de realmente você se
desfazer dela, podemos reformar a minha casa até podermos comprar outra
sem você se apertar tanto... Mas é óbvio que você vai preferir uma casa
mais perto do seu trabalho e por mim tudo bem. Mas vamos nos casar
primeiro, depois decidimos isso pois já estamos morando juntos mesmo. —
Suspiro apaixonada, meu coração bate tão forte de tanta felicidade.
— Está bem, eu vou procurar o médico para te dar alta logo, vamos
para o hotel descansar um pouco e depois do almoço partiremos para Las
Vegas. Vou fazer de você minha esposa. — Ele volta a me pegar no colo e
me põe deitada na cama, me beija docemente antes de se afastar.
Ele sai à procura do médico e eu sorrio eufórica, eu vou me casar,
Lua vai estar comigo e será a minha madrinha, não sei como funciona o
casamento nesse lugar onde ele vai me levar, mas sei que voltarei para casa
como uma mulher casada.
HORAS DEPOIS...
A minha vida não tem sido fácil depois que descobri que enterramos
o meu marido e não o meu cunhado como eu havia pensado, mas pouco a
pouco a minha vida está começando a voltar ao normal. Ainda sinto muito a
morte de Théo mas aos poucos estou conseguindo amenizar essa saudade
grande que sinto dentro do peito, e tudo isso porque tenho dois pedacinhos
dele crescendo aqui dentro de mim, não estou sozinha, tenho os meus bebês
e também a ele, o meu cunhado que tem sido mais que um cunhado, tem
sido um amigo, um companheiro muito atencioso pois ele não nunca me
deixa sozinha por muito tempo, ele é carinhoso e se preocupa muito comigo
e as crianças, ele quer o meu amor e ele tem, mas ainda não consigo me
envolver com ele, Théo ainda está muito presente na minha vida e eu não
sei se consigo fazer isso agora sem pensar nele.
Saio do meu quarto e sigo pelo corredor acariciando a minha
barriga, essas crianças não me deixam dormir e eu estou exausta. Entro na
sala e sigo até a escada, mas antes de subir lembro-me da bronca que levei
dele, fui obrigada a me mudar para o primeiro andar e no fundo eu já
esperava por isso, a minha barriga está enorme por serem dois bebês e eu já
vou fazer nove meses de gestação, estou ansiosa para elas nascerem logo
pois Tony se preocupa demais comigo e teme que eu acabe escorregando
dessas escadas, ou algo do tipo, o fato é que estou proibida de acessar o
andar de cima, pelo menos não sozinha e ele sempre deixa um rádio
comunicador ao meu lado para chamá-lo quando precisar.
As vezes ele dorme aqui em baixo na sala ou no escritório onde tem
um sofá cama bastante confortável, mas quando ele chega tarde do trabalho
ele dorme no seu quarto para não fazer barulho e me acordar, eu acho isso
fofo.
— Tony! Tony...! — Chamo por ele e volto em direção ao meu
quarto.
Sorrio e conto até três, ouço ele descer as escadas correndo.
— O que foi? O que aconteceu? O que está sentindo? Por que não
me chamou pelo rádio? — Pergunta preocupado vindo atrás de mim
apressado.
— Estou com sono e as meninas não me deixam dormir, você
acostumou elas mal então vem me ajudar! Não estou me aguentando em pé
e elas estão agitadas. — Entro no corredor e sigo para o quarto ouvindo ele
sorrir.
— Elas me amam, por isso não te deixam dormir longe de mim,
porém, você é teimosa e não me quer na sua cama... Não vou discutir sobre
isso, eu também estou morrendo de sono.
Sorrio e entro no meu quarto, ele entra atrás mas deixa a porta
aberta como de costume. Essas meninas só sossegam quando ele está por
perto, elas o obedecem e isso me deixa chocada, quase todas as noites ele
fica aqui comigo até eu dormir, mas hoje elas tiraram a noite para fazer
bagunça.
Deito-me na minha cama e ele se deita ao meu lado, ele toca a
minha barriga e rapidamente elas param.
— Vocês são terríveis, meninas, eu amo isso mas hoje precisamos
descansar... Deixa a mamãe dormir pois eu preciso dormir também. Eu
trabalhei demais hoje mas amanhã vou ficar mais tempo com vocês, ok?
Agora durmam! A mamãe está cansadinha e vocês sabem disso. — Ele
conversar com elas acariciando a minha barriga. Sorrio de olhos fechados já
quase dormindo novamente.
Sinto os seus dedos tocarem o meu rosto em um carinho suave, ele
tem sido muito paciente comigo, não me pressiona mas sempre deixa claro
o quanto me ama, eu quero corresponder mas ainda não me sinto pronta
para esquecer o Théo, tenho dentro de mim dois pedacinhos dele que me
faz lembrar dele diariamente.
Ele sabia que eu também amo o Tony, eu sinto que ele sabia, por
isso pediu ao irmão para cuidar de mim e das crianças e nós nos
aproximamos bastante nesses meses que se passaram. Ele é um amor, cuida
de mim igual ou mais que o Théo e a sua presença tem amenizado bastante
aquela dor intensa que estava sentindo, ainda dói, mas está dando para
suportar melhor a cada mês que se passa.
Sinto elas mexerem novamente, viro-me para o outro lado mas não
tem jeito, viro-me para o outro lado mas elas estão inquietas, elas estão
fazendo de propósito, essa é a única explicação. Acordo sozinha na cama
pois ele não está mais aqui, ele sempre volta para o seu quarto depois que
durmo. Levanto-me mais uma vez, são quatro da manhã e eu estou andando
pela casa feito um zumbi.
Vou até a cozinha beber água e volto até a sala para chamar Tony,
mas decidido subir mesmo sabendo que ele vai brigar comigo depois. Subo
até o seu quarto e entro de mansinho, ele está jogado na cama sem camisa,
de bruços em uma posição engraçada todo torto. Sorrio e me deito ao seu
lado, ele ainda está no quarto de hóspedes.
Acaricio as suas costas chamando por ele, Tony está desmaiado de
sono, coitado, estou acabando com ele por acordá-lo tantas vezes durante a
madrugada, ninguém mandou ele sair da minha cama. Eu queria que ele
ficasse mas ele me olha daquele jeito que me deixa nervosa, isso mexe
muito comigo.
— Sardenta...? O que está fazendo aqui em cima? Subiu sozinha? O
que conversamos sobre isso? — Ele chama a minha atenção virando-se para
mim.
— Deixa para brigar comigo quando amanhecer, eu ainda estou com
sono e você me deixou sozinha com essas bagunceiras. — Pego a sua mão
pondo na minha barriga e ele sorrir.
— Elas são teimosas iguais a mãe, isso não tem como negar. — Ele
me puxa para os seus braços e eu vou de bom grado.
— Elas puxaram o pai, então faça a sua obrigação e acalme elas...
Eu acho que elas vão se parecer com você... Quer dizer, com o seu irmão...
Com vocês. Ahh! Isso é confuso, fica parecendo que elas são filhas de
vocês dois...
— E elas podem ser, é só você deixar...
Ele ergue o meu queixo me olhando nos olhos e só então me dou
conta do que disse. Seu olhar intenso me deixa nervosa como sempre, tento
sair dos seus braços mas ele não deixa. Ele está ofegante e me olhando
daquele jeito que me deixa trêmula. Encaro os seus lábios aqui tão de
pertinho e rapidamente sinto ele tomar a minha boca em um beijo ardente.
Eu não sou mais capaz de resistir a ele como tenho feito todo esse tempo,
então retribuo o seu beijo com a mesma paixão. Com o mesmo amor.
— Me deixa ser o pai delas? Me deixa ser para você o que precisar
que eu seja? — Ele toca o meu rosto de forma suave e carinhosa. — Você
não está traindo ele, Atena, Théo mesmo me pediu para ocupar o lugar dele,
ele me fez prometer que cuidaria de você e das filhas dele e eu vou cumprir
isso... Me deixa te amar? Me deixa fazer por vocês o que ele não pode mais
fazer? Me deixa fazer você feliz como ele queria que você fosse? — Ele me
beija mais uma vez mas interrompo o beijo.
— Vamos devagar, Tony...? Eu preciso que a gente vá devagar...
Está bem? — Peço ofegante pelo beijo admirando os seus olhos brilhantes.
— O que você quer dizer com, vamos devagar? Vai me deixar
assumir vocês? É isso? — Ele parece surpreso.
— Sim! Mas eu preciso ir devagar... Estamos convivendo e nos
conhecendo de um jeito que não podíamos fazer antes, mas dessa vez não
quero apressar muito as coisas, você me entende?
— Entendo e aceito. Será como você quiser, no seu tempo. —
Aquele seu sorriso magnífico aparecer para me deixar atordoada.
Respiro fundo e saio dos seus braços, acomodo-me no travesseiro
tentando realmente ir devagar, mas ele me abraça por trás cheirando os
meus cabelos e toca a minha barriga, sorrio e deixo o sono vir novamente
para me livrar dessa sensação de desejo que passou a me consumir com os
seus toques, vê-lo nu se trocando para ir trabalhar, mexeu comigo, eu ainda
não o havia visto assim antes pois me evitava quando se passava por Théo,
mas agora ele está escancarando para conseguir me conquistar, o que ele
não sabe que nunca precisou fazer isso, eu só estava insegura por ele ser o
meu cunhado, mas vou seguir os conselhos de Lua e dona Sônia, sou uma
mulher viúva, nova e vou dar à luz a duas crianças de uma só vez, elas vão
precisar de um pai e eu de alguém que me ame e me ajude, bom, eu já tenho
tudo isso, eu só preciso aceitar que posso e mereço ter uma nova chance.
Pego rapidamente no sono pois estou mesmo exausta, passei o dia
inteiro perturbando a decoradora que está reformando o quartinho das
meninas, elas vão ficar ao lado do meu quarto e já comprei muitas coisas
para elas, Lua me ajudou em tudo, óbvio, eu só tenho ela e dona Sônia de
amigas e elas sempre estiveram ao meu lado, todos estão me apoiando
muito, até mesmo o delegado Camilo que sempre teve um carinho muito
especial por Théo e Tony.
Todos estão torcendo por nós, todos conseguem ver um futuro para
mim, Tony e as meninas. O próprio delegado conversou comigo sobre essa
promessa que Tony fez a Théo em seu leito de morte, ele queria partir em
paz sabendo que eu e as crianças ficaríamos bem, ele sabia que Tony me
ama e com isso, ele sabe que estaremos bem e seguras com ele, então só me
resta viver esse novo amor, essa nova oportunidade que a vida está me
dando de ter uma família completa.
Não vejo mais o Théo em Tony, eles eram idênticos na aparência
mas agora, depois de passar todo esse tempo vivendo ao lado dele, eu
percebi o quão diferentes eles eram. Théo era romântico demais e eu amava
isso nele, ele sabia como me agradar e me fazer feliz com um simples gesto,
ele parecia adivinhar todos os meus pensamentos pois éramos muito
parecidos em muita coisa, mas ele também era mais centrado, mais pé no
chão apesar de embarcar comigo de cabeça nesse nosso amor em tão pouco
tempo que estávamos juntos, mas tínhamos certeza do que queríamos.
Por outro lado, Tony também é muito intenso, ele faz de tudo para
me agradar mesmo não sabendo como fazer, isso torna tudo muito
engraçado e leve, é único e novo, ele me faz sorrir com uma facilidade
absurda. Eu sempre soube que ele era muito mulherengo, não ficava em um
relacionamento por muito tempo, ao contrário do irmão, talvez por isso um
tinha mais experiência que o outro em agradar uma mulher no romantismo.
Mas Tony também consegue ser amoroso, romântico, à sua maneira mas ele
consegue sim, ele está fazendo por mim o que ele não fazia por outras
mulheres, ele está sendo inteiramente meu e das minhas filhas, eu sinto que
pode dar certo pois nos amamos, eu sinto o seu amor por mim, ele está
assumindo uma responsabilidade que não era dele e mesmo assim, ele está
feliz por isso.
Definitivamente eu posso sim ser feliz com ele, eu só preciso
esquecer a dor que a ausência do Théo me causa, eu sei que ele sempre vai
estar comigo através das nossas filhas, ele me prometeu não me deixar
jamais e as vezes eu sinto que ele está torcendo pela minha felicidade, ele
apareceu nos meus sonhos por diversas vezes pedindo para eu não desistir
de ser feliz, ele me fez prometer que não ficaria sozinha, me fez prometer
que me daria uma nova chance com Tony, no sonho ele me pedia perdão
por me deixar tão triste com a sua partida, mas ele sempre sorria quando
falava do irmão, o amor deles era tão grande que dava gosto admirar, e eu
me orgulhava muito deles por isso, não é à toa que me apaixonei por eles.
As minhas filhas não vão crescer sem um pai como imaginei, pois
no sonho Théo entregava a minha mão a Tony, dizendo que agora nós
somos uma família, eu acordei arrepiada pois no sonho estávamos os três de
branco, Théo me entregava ao irmão como Otávio me entregou a ele no dia
do nosso casamento. Eu chorei tanto, passei um dia e uma noite apenas
chorando e deixei a todos preocupados comigo, apenas depois de contar
sobre o sonho foi que eles entenderam o porquê eu estava daquele jeito.
Se hoje eu estou tranquila e aceitando melhor tudo isso, é porque o
meu marido tem me tranquilizado bastante através dos meus sonhos, porém,
depois desses sonhos ele não apareceu mais, não fiquei triste mas fiquei
pensativa sobre tudo isso.
Acordo com carinhos na minha barriga e abro os olhos, deparo-me
com Tony beijando a minha barriga e conversando baixinho com as
meninas. Sorrio feito boba, ele é tão amoroso, ele vai ser um pai perfeito
como Théo seria. Não vou esquecer jamais o homem que tanto amei, o
homem que faz tanto por mim, no entanto, preciso evitar falar tanto nele já
que estou decidida a viver a minha vida com Tony, já que vou viver esse
novo amor.
— Me ajuda, meninas? A mãe de vocês é teimosa demais, não gosto
quando ela me desobedece, essas escadas é perigosa demais. Se vocês
ficarem quietinhas ela sossega lá embaixo até vocês nascerem... Mas eu
quero ficar lá com ela, será que tenho chance? Dormir perto dela é tão bom,
na verdade é perfeito e eu não aguento mais dormir longe dela... Amo essa
mulher, ela é a minha vida. Assim como vocês. — Sua declaração nesse
tom amoroso me derrete.
Finjo ainda estar dormindo apenas para ouvir a sua conversar com
as meninas, mas seu tom dramático ao se preocupar comigo me faz reprimir
um sorriso.
— Eu sei que está acordada, mamãe, então abra esses olhos lindos e
intensos para mim...? Eu trouxe o seu café da manhã. — Sorrio abertamente
e abro os olhos como ele pede.
Realmente, o cheirinho de mingau de aveia está muito próximo e eu
pensando que vinha da cozinha lá embaixo.
— O que temos para o café da manhã? Acordei com muita fome
hoje... Estou com desejo de comer aquele pudim de leite que a Cícera faz,
uma torta holandesa, biscoitos amanteigados e o meu iogurte favorito. —
Comento de olhos fechados imaginado todos esses doces, a minha boca
enche de água.
Abro os olhos e ele está sorrindo abertamente, mas ergue uma
sobrancelha me fazendo corar.
— O que foi? Estou comendo de mais, não é? Estou engordando
muito? Meu Deus, eu devo estar horrível, só penso em comida. — Sento-
me na cama envergonhada e ele solta uma gargalhada gostosa.
— Você não está gorda, está grávida, é diferente... Se você acha que
está gorda então eu também estou, pois estou compartilhando da gulodice
de vocês esse tempo todo para não deixá-las sozinhas. — Dispara sem
cerimônia me deixando perplexa.
— Está chamando uma mulher grávida de gulosa? Você perdeu a
noção do perigo, não é, Tenente Tony...? — Seguro-me para rir mas fico
sem graça ao me lembrar que sempre chamava Théo de Tenente.
— Se lembrou dele, não foi...? Está tudo bem, ele era o pai das suas
filhas e eu jamais vou te pedir para esquecê-lo, ele chegou primeiro na sua
vida... Eu vou providenciar os seus doces, enquanto isso, vá se deliciando
com esse maravilhoso mingau de veia. Cícera disse que você não se
alimentou direito ontem então hoje eu vou pegar no seu pé, literalmente. —
Ele me rouba um breve beijo e se levanta pondo a bandeja no meu colo.
Tony sai do quarto mas volta e para na porta. — Não se atreva a descer
essas escadas sozinha, ou eu vou me chatear com você, ouviu? — Alerta-
me sério e eu apenas concordo.
Sorrio e começo a comer o meu mingau, as meninas adoram pois
sempre ficam mais calmas quando como isso, e eu até que gosto.
Depois de comer eu me levanto e vou até o banheiro do meu quarto
aqui em cima, na verdade o quarto em frente ao quarto do Tony. Eu preciso
resolver essa questão também, estou me acostumado a dormir com ele ao
meu lado e quando ele não está comigo, eu sinto a sua falta, seus braços
quentes e acolhedores me fazem falta toda vez que durmo sozinha, e as
meninas tem me obrigado a procurar por ele como aconteceu ontem, de
novo, isso está se tornando um hábito, mas ele me faz tão bem que a sua
presença deixa o meu sofrimento mais brando, mais suportável, digamos
assim.
Entro no banheiro sorrindo e faço a minha higiene pessoal, ainda
tenho roupas aqui então aproveito para tomar um banho bem demorado e
perco a noção do tempo acariciando a minha barriga, imaginando os
rostinhos delas. Elas vão se parecer com ele... Melhor dizendo, com eles,
minha nossa.
— ATENA!
Ouço ele me gritar e parece apavorado. Não demora muito e a porta
do Box se abre abruptamente e eu cubro os meus seios e a minha intimidade
com as mãos.
— O que foi? O que aconteceu? Porque está tão assustado? —
Questiono sem jeito por ele me admirar tão descaradamente.
— Eu... Eu me assustei por não te encontrar no quarto... Não sabia
se havia descido e me preocupei... — Ele está ofegante, me admira como se
quisesse me devorar.
Minha respiração pesa, minhas pernas tremem e ele entra no Box se
aproximando enquanto me afasto.
— Tony... Você... O que está fazendo...? — Sinto as minhas costas
contra parede e ofego ainda mais.
— Eu sei que... Sei que prometi esperar o seu tempo, e eu vou
cumprir isso. Mas não consigo evitar te desejar... Estou enlouquecendo,
sardenta... — Ele aproxima-se mais e o seu tom rouco me abala.
Seus dedos tocam o meu rosto e desliza até a minha nuca, ele me
beija ardentemente abraçando o meu corpo contra o seu, agarro os seus
braços com firmeza procurando por apoio pois mal sinto as minhas pernas,
me entrego esse beijo desejando que ele me faça sua, no entanto, não posso
fazer isso aqui, nesse quarto.
— Eu não posso... Tony... Aqui não! Eu vivi muitos momentos aqui
com ele e não vou me sentir bem fazendo isso aqui... Me desculpa...? Eu
quero você, mas não agora e não aqui. — Afasto-me ofegante e trêmula lhe
dando as costas.
— Você tem razão. Me desculpa...? Eu não pensei nisso, na verdade
eu perco a noção de tudo quando sinto os seus beijos. — Sua voz rouca está
bem atrás de mim me estremecendo.
— Eu vou me trocar para descermos. Depois precisamos conversar
sobre essa nossa situação... Se vamos tentar viver o nosso amor, eu preciso
sair desse quarto, não vou conseguir estar verdadeiramente com você aqui
onde há tantas lembranças dele... Eu não havia parado para pensar sobre
isso, só agora estou me dando conta do quão difícil é estar nesse quarto
pensando tanto nele. Ele me pediu para ser feliz mas não vou conseguir
fazer isso aqui... Precisamos tomar uma decisão sobre isso, mas deixa eu
me trocar primeiro, está bem? — Desabafo ainda de costas para ele.
— Está bem, eu vou te esperar no meu quarto então descemos,
podemos conversar na sala ou na mesa do café. — Avisa antes de sair e eu
agradeço por isso.
Respiro fundo e o seu perfume se mistura com o dele, tudo parece
muito confuso e vai continuar assim se continuarmos aqui, tudo aqui me
lembra o meu marido, não vou conseguir começar algo novo com tantas
lembranças dele aqui pois o amo, isso faz eu me sentir como se tivesse
traindo-o e eu não suporto isso. Meu Deus, o quartinho das meninas está
praticamente pronto, se decidirmos sair daqui vamos ter que fazer tudo
outra vez e elas já estão perto de nascer. Bom, tem muita coisa que vamos
poder tirar de lá e levar para outro lugar, a pintura e tudo mais que tiver que
ser feito, sei que podemos dar um jeito para terminarem logo.
Saio do banheiro e me seco. Me visto calmamente pensando nessa
conversa que teremos e sei que ele vai concordar comigo. Termino de me
arrumar e saio do quarto, ele está em pé no corredor encostado na parede,
pensativo como ainda não havia visto.
Não dissemos nada, apenas passo por ele e o mesmo abraça a minha
cintura carinhosamente e pega a minha mão, descemos as escadas com
calma e devagar, ele fica atento a mim e pede para eu segurar no corrimão,
assim o faço para deixá-lo tranquilo.
Seguimos para sala de refeições e a mesa está posta, acordamos
tarde, ou melhor, eu acordei tarde mas Cícera faz questão de pôr a mesa do
café para nós, e por sua vez, Tony faz questão de me acompanhar para eu
não comer sozinha, acho isso muito fofo da sua parte.
— Bom, como você mesma levantou o assunto sobre não conseguir
seguir a diante com as lembranças dele aqui, eu pensei por um momento e
acho que devemos ir para minha casa, não fica longe daqui, a casa é tão
grande quanto essa e também tem um ótimo quintal para fazer o parquinho
das meninas como você tanto quer, também é uma área segura pois eu e
meu irmão tínhamos os mesmos gostos, prova disse era nós dois amarmos a
mesma mulher, você...! Quanto a essa casa, não quero que você se desfaça
dela, isso aqui será das meninas no futuro assim como a minha casa
também, quero dizer, nossa casa também... Você pode alugar essa casa, ou
emprestar para Luana e Otávio apenas para não deixá-la vazia, assim eles
cuidam da casa para você, a decisão é sua. Enfim. A decisão que você
tomar eu vou te apoiar. — Suas palavras me surpreendem, não esperava
todas essas suas idéias e na verdade eu gostei muito.
— Você vai me assumir como sua mulher, vai assumir as minhas
filhas como suas filhas, ou seja, você será o chefe da nossa família e eu
concordo com os seus argumentos... Eu não tive tempo de pensar muito
enquanto me vestia, no entanto, a idéia de trazer Lua e sua família para
ficarem aqui, me agradou muito, é o mínimo que eu posso fazer para
retribuir tudo que ela já fez por mim nessa vida. Moramos naquele bairro
humilde por muitos anos, é hora de termos uma vida melhor e sei que seu
irmão também aprovaria uma decisão como essa. — Concordo realmente
feliz com essa decisão, vai ser melhor assim.
— Então você aceita se mudar comigo para minha casa? Você não
vai precisar levar nada daqui, a menos que você queira levar, lá em casa tem
praticamente tudo que tem aqui, o quarto das meninas você pode deixar de
presente para Joaquim, eles só vão precisar trocar a cor. Eu faço questão de
mandar preparar tudo de novo lá em casa, mas dessa vez não quero você
correndo atrás de nada, a decoradora já sabe de tudo que você quer então
deixa tudo por conta dela. — Vejo ele mais empolgado e me empolga
também.
— Está bem, vamos nos mudar o quanto antes, deixa a decoradora
terminar o quartinho e vou pedir apenas para mudar as cores. As coisas que
compramos eu vou ter que levar pois é tudo rosa, lilás, cores de menina e
eles não vão querer... Estou empolgada, a sua casa é realmente muito bonita
e espaçosa. — Comento sorridente.
— E tem uma vantagem, só tem um andar, não tem escadas para
você me assustar como fez agora pouco, até para as crianças vai ser melhor
quando estiverem correndo pela casa.
Afirma com um sorriso tão lindo, nos empolgamos e conversamos
bastante enquanto comemos, já faz tempo que não me sinto assim tão bem,
ele me faz bem e sinto que posso sim recomeçar o meu futuro com ele, mas
dessa vez vamos com calma mesmo sentindo que já nos conhecemos a vida
inteira, parece estar acontecendo um Déjà vu, sinto com Tony as mesas
sensações que sentia com Théo quando nos conhecemos, com a diferença
de que ele é extrovertido, ele faz piadas e brincadeiras para descontrair e me
fazer sorrir, ele é sério quando precisa ser, mas também consegue ser um
palhaço apenas para me divertir.
Sem falar no fato dele estar ao meu lado durante todo o período da
gravidez, ele me acompanha para médicos, sai comigo quando quero
comprar alguma coisa e está sempre satisfazendo os meus desejos de
grávida. Ele é realmente um amor.
Depois do nosso café da manhã saímos para o jardim da casa, me
sento em uma cadeira de balanço na sombra com ele ao meu lado. Não faz
mais sentido continuar com ele ao meu lado nessa casa, aqui é realmente
muito bonito, tranquilo e arejado, mas na casa dele também é e fica ainda
mais perto do trabalho dele.
Mais uma vez sinto que tudo está acontecendo rápido mesmo eu não
querendo isso, ainda vai fazer sete meses que ele se foi, o nosso amor era e
ainda é tão grande, mas o fato de também amar Tony faz tudo ser um pouco
mais fácil, faz tudo ser menos doloroso que realmente deveria ser ao perder
um grande amor.
— Você ficou tão pensativa, está tudo bem? Está reconsiderando a
idéia de se mudar daqui comigo? — Seu é tom sereno, tranquilo e ele toca a
minha barriga.
Deito a minha cabeça em seu ombro ainda pensativa, tento não
deixar as lembranças dele me abalar novamente pois ele me pediu para
seguir em frente.
— Não... Não estou reconsiderando, pelo contrário. Quero sair
daqui o quanto antes mas Cícera vem conosco, eu vou precisar muito dela.
— Solto um suspiro pesado. — Eu quero me deitar, de repente eu fiquei
deprimida por pensar demais e eu não quero e não posso ficar chorando
como antes, não faz bem para as meninas e eu já estou ciente disso. —
Levanto-me com cuidado e ele me ajuda.
— Quer ficar sozinha? Ou eu posso ficar com você? — Vejo-o
preocupado e não queria isso.
— Se não se importa, eu quero ficar sozinha, vou apenas tentar
dormir um pouco mais aproveitando que as meninas estão calmas, a nossa
noite foi agitada, ainda estou com sono. — Tento ser o mais gentil possível
pois ele já aguentou o meu mal humor por tempo suficiente.
Eu andava triste demais, não queria aceitar a morte de Théo e acabei
o evitando, fui rude com ele algumas vezes quando ele apenas tentava me
ajudar, ele foi muito compreensivo e eu me desculpava sempre que me deva
conta do que estava fazendo, ele não teve culpa de nada e o fato de amá-lo
me fez baixar a guarda rapidamente, com isso tudo se tornou mais suave, a
dor no meu peito passou a doer menos por causa dele e foi justo Luana e
dona Sônia que me fizeram enxergar isso.
— Tudo bem, deixa o seu celular ao lado da cama, se precisar de
mim é só me ligar, não precisa se levantar para me chamar... Vou aproveitar
para ir até em casa, é coisa rápida, vou apenas ver como está tudo por lá e
chamar uma diarista para fazer uma limpeza, organizar a casa para nos
mudarmos quando você achar melhor. — Ele me acompanha de volta para
dentro de casa e solta um suspiro longo.
Acho que ele também está feliz por sairmos daqui, vai ser melhor
para nós dois termos uma convivência sem todas as lembranças que tenho
de Théo para nos deixar inseguros quanto ao que estamos fazendo, mesmo
que ele próprio tenha pedido isso ao irmão.
— Você volta para o almoço? Posso esperar por você ou vai direto
para o trabalho? — Pergunto esperançosa de que ele volte.
Eu fico mais tranquila quando ele passa mais tempo em casa do que
naquele lugar, sei que ele ainda está investigando o tal traficante
responsável pela morte do Théo, e ao mesmo tempo que isso me deixa feliz
por ele não ter se esquecido que há um culpado pelo que houve, também me
deixa apavorada pois o ouvi conversando com Renato sobre vingar a morte
de Théo.
— Hoje vou trabalhar apenas meio período, então pode me esperar
para o almoço, eu não vou me demorar... E por favor? Não suba as escadas
sozinha, se precisar subir e eu não estiver aqui, peça a Cícera para subir
com você, ela já está ciente dessa sua nova função. — Ele sorrir e me dá um
beijo no alto da cabeça. Eu apenas concordo.
Ele pega as chaves do seu carro e sai em seguida me deixando aqui
no meio da sala. Sigo para o meu quarto aqui embaixo mas na entrada do
corredor, pego um porta retrato dos irmãos admirando-os, sinto falta de vê-
los juntos, seus sorrisos pareciam os mesmos. Théo usava o cabelo mais
arrumadinho e roupas mais formais, mais social, o oposto de Tony, por isso
raramente os confundia, mas quando meu marido crismava de deixar os
cabelos mais bagunçados ou levemente desarrumados, usando roupas
casuais em casa e Tony aparecia, era difícil saber quem era quem se não
fosse a pulseira que dei a eles, e para piorar, Tony adorava me confundir se
vestindo como Théo ou apenas arrumando mais o cabelos para ficarem mais
parecidos, eu chamava a atenção deles por isso mas tudo que eles faziam
era rir da minha cara.
Sorrio com essas lembranças e entro no quarto abraçada ao porta
retrato deles, o coloco na mesa de cabeceira ao lado da foto dos meus pais,
sigo até a janela e encaro o céu azul lá fora, suspiro fundo e me sento na
poltrona em frente à janela, fico aqui imersa nos meus pensamentos
acariciando a minha barriga, mais uma vez desejando ter os meus pais aqui
comigo, assim como Théo. Eles me fazem tanta falta.
A minha barriga está enorme e minhas filhas estão perto de nascer, a
minha cesariana está marcada para daqui a uma semana e eu já estou
ansiosa, quero ver se elas se parecem comigo ou com o pai, se puxarem a
mim, elas também vão herdar as minhas sardas pelo rosto e Tony disse que
acha elas lindas. Meu Deus, vamos nos mudar agora e não tem nada pronto
na casa de Tony.
A decoradora não veio hoje mas ligo para ela informando sobre a
mudança, a decoração era para ser finalizada hoje mas ela teve um
imprevisto, talvez eu deva esperar um pouco mais para me mudar, pelo
menos até prepararem o quartinho delas na nova cosa, vou ter que esperar
elas nascerem para depois me mudar.
Afundo-me em pensamentos sobre toda essa situação, pego no sono
aqui senta sentindo o sol contra o meu rosto e está tão bom, não está quente
demais pois estamos no inverno então não me importo em ir para cama.
O tempo passa e eu durmo tranquilamente com um sorriso no rosto
por estar feliz, por saber que logo terei as minhas filhas nos meus braços.
— Você está tão linda, minha filha. Você vai ser mãe de duas
garotinhas lindas e elas serão como você, serão como dois anjinhos...
Estou orgulhosa de você, Atena. Minha Atena. — A sua voz vem de algum
lugar e eu me levanto olhando pelo quarto, mas não vejo ninguém.
— Mamãe...? Onde você está? Cadê você? Eu sinto a sua falta... —
Olho em todas as direções até para novamente em frente à janela.
Ela está ali, para sorrindo abertamente exatamente como eu me
lembro, atrás dela estão meu pai e Théo, todos sorrindo de forma tão
aberta, eles parecem felizes. Já estou aos pratos estendendo os braços para
eles, ambos se aproximam parando lado a lado na minha frente.
— Você está linda, meu amor, exatamente como eu imaginei que
ficaria assim que me contou sobre a gravidez... Vai dar tudo certo, as
meninas vão nascer forte e saudáveis e você será a melhor mãe do mundo,
minha princesa. — Seus dedos cotam o meu rosto suavemente antes de
tocar a minha barriga.
— Théo, ainda tenho dúvidas, ainda não estou completamente
segura das decisões que estou tomando...
— Shiii... Você é uma mulher forte, decidida e muito inteligente,
qualquer decisão que você tomar será a melhor... Você me fez uma
promessa e não estou vendo você cumprir, meu amor... Você o ama e isso é
um fato, então faça o que o seu coração mandar. As nossas filhas terão um
pai como deve ser, e Tony já as ama como se fossem dele, eu sinto e vejo no
coração dele, assim como vejo no seu. — Suas palavras me fazem chorar
ainda mais.
Abraço-o apertado e ele retribui, sinto os seus carinhos nos meus
cabelos e meus pais abraçam a nós dois.
— Segue em frente, filha... Segue em frente, não pare no tempo pois
a vida é preciosa e passageira, dedique o seu tempo e seu amor a sua
família, ao seu futuro marido, ele será tudo que vocês precisam, ele é um
bom rapaz e está se esforçando para cumprir a promessa que fez ao Théo.
Estamos com você, estamos felizes por ser uma mulher tão forte, querida.
— Papai segura o meu rosto, eles não mudaram nada, continuam iguais.
— Põe para fora todo o amor que você sente por ele, entregue esse
sentimento a ele, filha! Pois ele já te entregou o dele. — Mamãe parece um
pouco mais angustiada, parece que ela tem medo de me ver sozinha.
Encaro Théo e ele apenas concorda. Seu olhar também parece mais
aflito e isso me deixa confusa.
— Tony vai querer vingar a minha morte, não deixa-o ir, Atena! Ele
não pode deixar você sozinha com as nossas filhas, não deixa ele ir...
Impeça-o! Impeça-o! Impeça-o! — Théo pede em um tom firme e decidido.
Ele se afasta de mim mesmo eu tentando prendê-lo a mim, meus
pais também desaparecem diante dos meus olhos me deixando angustiada.
— Não... Não vão...? Não vão...? O que querem me dizer? Papai?
Mamãe...? Théo...! — Chamo por eles mas todos desaparecem diante de
mim.
Sinto o meu corpo sendo movido e eu abraço o seu pescoço, meu
corpo relaxa no colchão macio e eu agarro o travesseiro me acomodando
melhor.
— Disse que ia me esperar para o almoço e ainda está dormindo...
Dorme, meu amor, descanse, meu anjo. — Sinto ele acariciar o meu rosto e
beijar a minha testa. Me entrego ao sono novamente.