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Copyright © 2022 MARCIA CANDIDO

Capa: Marcia Candido


Revisão: Marcia Candido
Diagramação: Marcia Candido
Autora: Marcia Candido
1◦ Edição

Está é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Está obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

Todos os direitos reservados.

É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte


dessa obra, através de quaisquer meios (tangível ou intangível) sem o
consentimento escrito da autora. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
2018.
Sinopse

Dedicatória!
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Epílogo
Redes Sociais
Livros Da Série
Livros 4/5/6 Em Breve!
Sinopse

Atena Moore é uma moça meiga, doce e gentil, mas também muito
determinada a não desistir dos seus objetivos, por mais que o mundo
resolva lhe dizer não. Mas ela sempre terá ao seu lado uma das poucas
pessoas que nunca a abandonou depois que perdeu os seus pais e a sua
visão em um trágico acidente de carro, a sua melhor amiga Luana.
Atena é uma moça cega e com suas atuais limitações, a sua vida
mudou radicalmente, ela teve que se adaptar a muitas mudanças mas
sempre teve ao seu lado a sua melhor amiga, que lhe é como uma irmã, na
verdade Luana e sua família são as únicas pessoas que ela tem ao seu lado.
Os médicos não conseguem descobrir a causa da sua cegueira, mas
isso não a impedirá de lutar todos os dias para ter a sua independência, para
ter a sua vida de volta, mas as suas atuais condições lhe traz muitas
dificuldades e situações desagradáveis, tudo se torna mais difícil, mas não
impossível.
Em uma de suas saídas para mais uma entrevista de emprego, Atena
conhecerá um homem que vai se impressionar com a sua beleza e
determinação. O Tenente Théo Carlson a ajudará, a seguirá com a única
intenção de ajudá-la e descobrirá que mesmo com as suas limitações, Atena
vende flores para se sustentar e isso vai deixá-lo encantado, mas também
impressionado ao conhecer a sua história de vida.
Théo trará para vida de Atena não só apenas esperança de um
recomeço, um novo olhar, mas também um grande amor com muitas
surpresas e realizações, sonhos que se perderam juntamente com a
escuridão dos seus olhos. Sua vida mudará mais uma vez, mas o destino
quer lhe dar nossas oportunidades, uma vida nova como ela jamais
imaginou.
Théo entrará na vida de Atena mas ele não virá sozinho, ele não será
o único a entregar o seu amor essa bela mulher. Ela também conhecerá
Tony Carlson, irmão gêmeo de Théo.
Dedicatória!

Dedico essa obra a todos vocês que apoiam o meu trabalho, que me
incentivam a melhorar a cada história escrita. Um grande beijo com muito
carinho, da sua autora Marcia Candido!
SETE ANOS ANTES...

Saímos do restaurante com papai e mamãe iniciando mais uma DR,


não aguento mais essas brigas deles e ultimamente tem acontecido com
frequência, isso não é normal. Entramos no carro e papai acelera saindo do
estacionamento, mas a discussão deles não para, papai está correndo demais
e entra em uma via expressa, esse não é o caminho de casa, por aqui vamos
dar muita volta e chegaremos em casa mais tarde.
— Não entendo o porquê você insiste nesse assunto, eu já expliquei
que não aconteceu nada entre mim Emerson. Você está vendo coisas onde
não existem, Douglas! — Mamãe contesta as desconfianças do papai.
— Aquele cara me olha com deboche, ele fala comigo com deboche
mas fica cheio de sorrisos para você, onde você vai ele aparece e você vai
me dizer que é coincidência? Conta outra, Ruth! — Papai Esbravejo e essa
discussão deles me assusta, eles nunca brigaram assim antes.
— Papai? Vai mais devagar? Você está correndo muito. — Peço
realmente com medo mas ele não me dá ouvidos.
— Você está ficando louco! Você anda bebendo demais e os seus
ciúmes está destruindo o nosso casamento. Eu nunca te dei motivos para
isso, Douglas! Pelo amor de Deus para de ver em todo homem uma
ameaça... Eu te amo, droga! Não tenho motivos algum para te trair ou ficar
admirando outros homens... Por favor? Vamos acabar com isso? Vamos
conversar sem brigar? A nossa filha está presenciando essa baixaria e eu
não gosto disso! — Mamãe chora, esbraveja também irritada e olha do
papai para mim.
Estou aflita com essa briga deles, papai realmente anda bebendo
demais e eles sempre acabam brigando. Ele respira fundo e solta o volante
esfregando as mãos no rosto. Vejo nitidamente um carro vir na nossa
direção e o meu coração dispara.
— PAPAAAI!
Grito antes de sentir o impacto do carro me jogar por cima do banco
da mamãe, vejo ela atravessar o vidro gritando e meu pai sendo esmagado
pelo carro da frente, antes de capotarmos por diversas vezes. Bato a cabeça
em algum lugar e perco os sentidos rapidamente, não vejo e não ouço mais
nada.
UM MÊS DEPOIS...

Ouço o som de algo apitando e a minha cabeça latejar, sinto como se


estivesse levando marteladas insistentemente na cabeça, não consigo movê-
la cabeça para direção alguma. Não consigo me mexer, não consigo abrir os
olhos por mais que eu me esforce. Tento dizer algo, tento chamar pelos
meus pais mas sinto algo na minha boca que não sei o que é.
— Ela acordou! Chamem o Dr. Antônio! Eu vou desentubá-la... Ei,
mocinha? Como está se sentindo? Você passou um mês dormindo, deve
estar cansada dessa cama, não é? Te apelidamos de bela adormecida porque
você é linda. — Ouço uma voz feminina, uma voz doce mas não é a
mamãe.
Tento responder, tento dizer algo mas não consigo, a minha garganta
dói enquanto sinto algo sendo retirado dela. Tento abrir os olhos mas não
consigo, não consigo ver nada mas consigo sentir os meus olhos piscando.
Finalmente consigo virar o rosto de um lado para o outro, pisco
algumas vezes mas ainda não consigo ver nada.
— Ma... Mamãe...? Papai...? — Chamo em um tom tão baixo que eu
mesma quase não ouço.
— O que foi, meu bem? O que você está tentando dizer? —
Pergunta alguém ao meu lado, sinto a sua presença mas não posso ver.
— Os meus pais...? O acidente...? Porque eu não consigo abrir os
olhos? Não consigo ver você... — Sinto algo quente descer pelo meu rosto.
— Atena Moore! Que nome lindo, não é...? Como está se sentindo,
querida? A cabeça dói? Alguma outra parte do corpo está doendo? — Ouço
agora uma voz masculina mas também não é o meu pai.
Estendo a minha mão mesmo sentido o meu braço pesar duas
toneladas.
— Porque eu não consigo ver? O que está acontecendo? Onde eu
estou? Cadê os meus pais...? Sofremos um acidente, eles estão bem? —
Pergunto sem rodeios ignorando as perguntas do homem.
Só ouço o silêncio por um instante, tento me levantar, no entanto,
mal consigo me mexer.
— Você está de olhos abertos e não consegue me ver? — Pergunta a
voz masculina.
— Não, eu não consigo ver nada além da escuridão, o que está
acontecendo comigo? Onde estão os meus pais? — Insisto nas minhas
perguntas e ouço uma respiração pesada.
— Atena, eu sou o Dr. Antônio Carlos Rivera, sou o médico que
vem acompanhando o seu caso desde o acidente que você sofreu, você ficou
em coma por um mês e muitos não acreditavam que você sobreviveria...
Você sofreu traumatismo craniano e passou por uma cirurgia muito
delicada, estamos felizes em vê-la finalmente acordada. — Explica a
mesma voz de antes.
— Vocês estão ignorando as minhas perguntas e eu não vou repetir...
Apenas me responde, por favor? — Peço em um tom trêmulo sentindo um
aperto tão grande no peito que me sinto sufocar.
— Não entendo o porquê você não consegue enxergar, vamos
precisar refazer os seus exames para sabermos o que está acontecendo...
Quanto aos seus pais... Eu sinto muito, Atena... O acidente foi muito grave,
infelizmente os seus pais não resistiram...
— NÃO...! NÃO...! EU PRECISO SAIR DAQUI! EU QUERO
VER OS MEUS PAIS...! Vocês estão mentindo... PAPAI...? MAMÃE...? —
Grito mesmo sentindo a minha garganta arranhando, doendo como se
passassem pequenas facas por ela.
— Fica calma, Atena? Não é bom você se agitar desse jeito. Você
passou muito tempo entubada e suas vias aéreas estão sensíveis. — Ouço a
mesma voz feminina de antes mas também sinto uma picada no meu braço.
— Não chore? É muito triste te ver assim depois de tanto tempo em coma.
— Os meus pais... Eles não estão mortos... Eles não estão mortos...
Eu não tenho mais ninguém... Não tenho...
Sinto o meu corpo sendo movido mas aos poucos sinto uma
sonolência muito grande. Vou apagando aos poucos.
Meus pais não podem estar mortos, o que vai ser de mim sem eles?
Porque eu não consigo enxergar? Eu não posso ter passado tanto tempo em
coma, o acidente foi hoje, estávamos saindo do restaurante e meus pais
brigavam muito, ele pegou o caminho mais longo para casa e aquele carro
veio na nossa direção, minha mãe voou pelo para-brisa do carro e meu pai
foi esmagado pelo carro que bateu em nós. Meu Deus, eles não podem estar
mortos, eu só tinha eles, não tenho mais ninguém, não tenho mais família.

Respiro fundo e me mexo tentando me sentar, mas sinto algo no


meu braço doer e a minha cabeça girar. Ponho a mão na cabeça e sinto uma
faixa enrolada na mesma. Ouço alguém chorar e lembro-me do choro da
minha mãe no carro.
— Mamãe? Mamãe você está aqui? Me responde? — Tento me
sentar mas paro quando sinto o meu estômago revirar e uma ânsia intensa
me incomodar.
— Atena... Minha amiga sou eu, Luana... — Ouço seu tom choroso
se aproximar e ela pega a minha mão.
— Eu vou vomitar... Sinto uma ânsia...
Mal termino de falar e me inclino para o lado vomitando uma água
amarga, sinto alguém me segurar para eu não cair da cama.
— ME AJUDEM? ALGUÉM ME AJUDA? ELA ESTÁ
PASSANDO MAL! — Ouço os gritos estéticos de Lua.
— Cadê os meus pais...? Onde estão os meus pais...? — Pergunto
antes de vomitar mais uma vez.
Ouço passos entrarem no quarto correndo e pessoas conversando
entre si, me examinando e mexem em algo preso no meu braço, deve ser
um acesso para o soro. Eles me fazem perguntas mas eu não respondo,
minha cabeça está uma grande confusão e eu só penso nos meus pais. Fecho
os olhos tentando ignorar as muitas vozes ao meu redor.
— Parem de falar! Por favor? Parem de falar, a minha cabeça está
doendo muito, está dando voltas me deixando zonza... O barulho me
incomoda... — Peço inquieta puxando o ar com força para os meus
pulmões, me sentindo fadigada.
Todos param de falar e só ouço o som da máquina apitando. Olho de
um lado para o outro mas não vejo nada, forço a minha visão mas não
acontece nada, não vejo nem sequer um vulto.
Estico a mão tentando tocar algo ou alguém, sinto uma mão pegar a
minha e novamente aquele choro sentido de antes.
— Lua...? Responde às perguntas que eu te fiz? Por favor não
minta? — Peço em um tom trêmulo já imaginado a resposta.
— Eu sinto muito... Amiga eu sinto muito... Eles se foram mas você
não vai estar sozinha, eu prometo... — Suas mãos trêmulas apertam a minha
e seu choro é ainda mais doloroso.
Não digo nada, fico em silêncio mesmo sentindo as minhas lágrimas
descerem insistentemente. O som da máquina fica mais alto e sinto alguém
pôr a mão no meu pescoço.
— Ela está entrando em choque! Vamos ter que entubá-la de novo.
— Avisa a mesma voz feminina de antes. Me sinto mole, me sinto sem
reação.
— Atena? Atena vai ficar tudo bem! Você está me ouvindo? —
Ouço bem distante a voz da Lua desesperada.
— Tirem ela daqui! Ela está nervosa demais e isso só vai complicar
mais o estado da paciente. — Pede alguém também com a voz bem distante.
Sinto mexerem em mim e algo descer pela minha garganta antes de
apagar completamente. A minha vida está acabada, fiquei órfã de pai e mãe,
perdi os dois de uma só vez e não tenho nenhum parente vivo de pai e mãe,
estou cega e não sei como vou me virar nessa situação, espero voltar a
enxergar logo, espero que tudo isso seja passageiro pois eu não vou
aguentar ficar assim.

Acordo mais uma vez ouvindo apenas o som da máquina apitando,


novamente sentindo a minha garganta doer mas não sinto nada na minha
boca, não estou entubada? Menos mal, isso deve ser um bom sinal, mas o
que aconteceu comigo?
Olho de um lado para o outro, pisco algumas vezes e olho para o
teto, cadê o teto? Ainda não vejo nada além da escuridão. Passo a mão pelo
rosto e sinto algo preso na palma da minha mão, mexo nele tentando
descobrir o que é e aperto sentindo um botão descer e subir.
— Tem alguém aí? Estou com sede...
Ninguém responde então sei que estou sozinha, se eu tentar me
levantar vou me estabacar no chão, então vou ter que esperar alguém
aparecer. Não sei que aparelho é esse na minha mão mas aperto algumas
vezes até ouvir alguém entrar correndo.
— Atena...? Meu Deus, que susto você me deu, bela adormecida,
pensei que estivesse tendo uma crise novamente... Como está se sentindo?
Precisa de alguma coisa? — Ouço a mesma voz feminina de antes.
— Estou com sede...
— Está bem, eu vou te dar apenas umas gotinhas de água para você
não enjoar, você precisa beber aos poucos, ok?
— Ok...!
Tento identificar onde ela está, sua voz veio da esquerda mas ela não
diz mais nada, ouço passos e fico atenta.
— Qual é o seu nome? Você é enfermeira?
— Meu nome é Fabíola, e sim, sou enfermeira.
— Está de noite ou é dia? — Pergunto curiosa.
— É noite, agora são duas horas da manhã... Sua amiga esá lá fora
dormindo em uma cadeira esperando mais notícias suas. — Sua voz
aproxima-se e ela pega a minha mão, me entregando um copo levemente
vazio, pois está leve.
Ela ergue a minha cabeça para eu conseguir tocar a água, mas
novamente ela me orientar a beber aos poucos, assim o faço.
— Fabíola? Porque eu não consigo enxergar? O que eu tenho?
— O seu problema é uma incógnita para os médicos desse hospital,
Atena, ninguém sabe dizer ao certo o que você tem, os seus exames deram
todos normais... Você teve traumatismo craniano, sofreu uma pancada
muito forte na cabeça e isso causou um pequeno inchaço na parte do
cérebro que comanda a visão, a parte que recebe todas as informações sobre
a visão, mas isso não impediria a sua visão total, talvez parcial, mas... Bom,
depois o Dr. Antônio vai conversar com você direitinho e te explicar
melhor, você fará outros exames mais específico quando estiver melhor. —
Conta calmamente.
— Está bem, não sei se consigo entender isso agora, a minha cabeça
ainda está doando voltas.
Mexo-me na cama tentando me sentar, ela pede para eu ficar quieta
e suspende a cama para eu me erguer um pouco.
— Os meus pais estão mesmo mortos? Por favor? Me diz a
verdade? Se você mentir ou omitir algo, a minha amiga vai te desmentir e
será pior para mim, ela é muito sincera e as vezes acho ela sincera até
demais.
— Já perdi as contas de quantas vezes você fez essa pergunta hoje...
Sinto muito, Atena, mas a resposta não mudou, ela sempre será a mesma.
— Eles morreram no local do acidente ou no hospital? — Sinto os
meus olhos lacrimejar.
— Eles morreram no local do acidente, pelo que os paramédicos
informaram no relatório, seus pais tiveram uma morte rápida, eles não
sofreram. — Choro com as suas palavras e sinto ela acariciar o meu rosto.
— Você precisa ser forte, querida, precisa se manter calma ou vamos ter
que sedar você outra vez. — Seu tom é apreensivo.
— Não! Por favor? Eu não quero dormir de novo... Me deixa
acordada? Eu vou ficar calma... — Fungo limpando o rosto tentando conter
o choro.
Respiro fundo e tomo mais um gole da água, tudo fica em silêncio e
tudo que consigo ouvir são os gritos da minha mãe no momento do
acidente, a sua imagem voando pelo para-brisa se repete na minha mente,
meu pai sendo esmagado. Volto a chorar.
— Você disse que iria ficar calma, mocinha. Sei o quanto está sendo
difícil mas não fica assim?
— Já faz um mês que estou nesse hospital, com certeza os meus pais
já foram enterrados e eu nem vou poder ver o túmulo deles... O que vai ser
de mim sem os meus pais? Como vou me sustentar? Como vou trabalhar
nessas condições...? Porque eu não morri com eles? Porque me deixaram
sozinha...? — Choro de soluçar e sinto ela me abraçar, isso era tudo que eu
precisava agora, tento me imaginar abraçando a minha mãe.
— Você não vai estar sozinha, querida, você terá ao seu lado uma
pessoa que te ama muito, ela está aqui desde que você foi internada... A sua
amiga te ama e vai te ajudar, confia nela e não a decepcione, está bem
assim? — Me aconselha em um tom suave e sereno, um tom doce e eu me
acalmo.
Balanço a cabeça concordando, limpo o rosto mais uma vez
tentando realmente me acalmar.
— Não quero me sentir tão sozinha, eu preciso de alguém aqui
comigo então deixa a Lua ficar comigo? Por favor? Eu prometo me manter
calma... Eu vou me sentir melhor com ela ao meu lado.
— Está bem, se for para você se sentir melhor, vou conseguir uma
autorização para ela ficar com você, mas não prometo nada pois assim com
você, ela também é de menor.
— Mas nós temos a mesma idade, eu já sou de maior.
— É verdade, você tem dezoito anos... Me confundi com outra
paciente que está na UTI ao lado, ela tem dezesseis anos e foi retirada de
um incêndio... Acho que estou falando demais. Eu vou atrás da autorização
e já volto. — Ouço ela sorrir antes de ouvir os seus passos se afastar.
Fico aqui pensativa e lutando firmemente para não me agitar, não
quero ser sedada novamente, eu já dormi o suficiente. Ouço uma porta bater
e passos se aproximar.
— Quem está aí?
— Sou eu, amiga, Lua... Eu entrei sem ninguém me ver, não vou
poder ficar muito tempo para não brigarem comigo... Você está melhor?
Está mais calma? — Sinto ela pegar a minha mão com carinho.
Puxo a sua mão contra o meu peito segurando com firmeza, me
agarrando a ela como um bote salva vidas, me sinto totalmente perdida e
sozinha.
— Me abraça, Lua...? Por favor, amiga...? Eu preciso disso. — Peço
já com a voz trêmula pelo choro que vem espontaneamente.
Sem dizer nada ela me abraça chorando junto comigo, ela me aperta
contra o seu corpo e mesmo me sentindo dolorida, eu não reclamo, sinto um
beijo no alto da minha cabeça enquanto ouço o seu choro unido ao meu.
Ficamos assim por poucos minutos até Fabíola voltar e nos repreender, nos
alertando que não vão nos deixar ficar juntas se eu me agitar novamente,
apenas concordo e deito-me de novo com receios de soltar a mão de Lua e
me perder de vez.
— Dorme tranquila, amiga, eu prometo que não vou sair daqui. Não
vou a lugar algum sem você. — Ela toca o meu rosto limpando as minhas
lagrimas insistentes.
— Como está o meu rosto? O meu cabelo deve estar uma merda...
Porque a minha perna dói tanto? Estou muito machucada? — Pergunto ao
sentir a minha perna coçar mas tem algo duro nela, parece engessada.
— Você quebrou a perna direita em dois lugares e deslocou o
quadril, mas no tempo em que você ficou em coma nós cuidamos disso...
Você vai precisar de mais um mês para conseguir andar sem esse gesso, o
seu rosto tem leves hematomas e sua amiga pode confirmar que antes
estava pior... O seu cabelo também está começando a crescer no local em
que foi raspado durante a cirurgia, mas logo você vai estar lindíssima
novamente. — Relata Fabíola empolgada mas eu me sinto destruída.
— Lua? E o Bruno? Ele veio me ver? Ele me viu assim? Destruída?
— Pergunto preocupada ao lembrar-me do meu namorado.
No dia do acidente antes de sair com os meus pais, nós combinamos
de passar a noite juntos, seria a nossa primeira vez e minha mãe sabia disso,
ela me orientou sobre camisinha e tudo mais, me levou a ginecologista e me
deu muitos conselhos, ela era uma das minha melhor amiga.
— Sim, amiga, ele veio algumas vezes mas ele precisava estudar...
— Sinto pelo seu tom de voz que ela está mentindo. Ela é péssima fazendo
isso por ser sincera demais.
— Não tenta me poupar, Lua, a verdade dói menos que uma mentira
e você sabe disso... Ele não veio, não é? — Pergunto já imaginando a
resposta.
— Sim, ele veio duas vezes e não voltou mais... Me desculpa,
amiga? Aquele cachorro não presta, ele já está namorando outra menina. É
melhor que você saiba por mim do que por outros, ele não te merece. —
Seu tom agora é apreensivo e eu respiro fundo.
— Ele disse que me amava, eu ia me entregar a ele, Luana... Não
vou chorar por ele, eu acabei de perder pessoas mais importantes que ele.
Tenho mais com o que me preocupar. — Ergo a minha cabeça mesmo
sentimento o meu coração destruído e a minha alma partida.
Tento sorrir para não ficar chorando o tempo inteiro, vou ter que me
adaptar a uma nova vida que não sei se vou conseguir enfrentar, não posso
perder o meu tempo sofrendo por quem não merece, é doloroso, mas não
tanto quanto perder os meus pais.
Se meu pai não estivesse brigando com a minha mãe enquanto
dirigia, se ele não tivesse bebido e estivesse atento ao trânsito, se ele tivesse
me ouvido quando pedi para ele ir mais devagar, eu não estaria nessa
situação, eles não teriam me deixado sozinha nesse mundo. O que vai
adiantar eu ficar lamentando se eles não vão voltar?
— Quando eu vou ter Alta? Quando vou poder ir para casa?
— O ideal era você ficar mais algumas semanas, mas infelizmente o
seu plano de saúde não aceitou cobrir novos gastos neste hospital, os
procedimentos que realizamos em você, partes deles foram os pais da sua
amiga quem pagaram, você estava em coma então eles ficaram responsáveis
por você. — Surpreendo-me com essa revelação.
— Lua? Eu tenho um dinheiro na poupança que meus pais vinham
guardando para pagar a minha faculdade, eu prometo que vou pagar aos
deus pais tudo que estão gastando comigo...
— Não pensa nisso agora, Atena, se recupera primeiro e depois você
decide o que fazer... A mamãe ficou aqui o dia todo enquanto eu estava na
escola, o papai também veio mas ele precisou ir trabalhar... Eles estão muito
preocupados com você, você ficou muito tempo em coma, o papai resolveu
tudo sobre o sepultamento dos seus pais. — Seu tom é triste e abatido.
— Como eles pagaram o enterro? Foi muito caro? — Pergunto
preocupada com mais essa dívida.
— Relaxa! Os seus pais pagavam assistência funeral, eles cuidaram
de tudo.
— Menos mal...
— Vocês já conversam o bastante, agora vão as duas descansar...!
Você pode inclinar a poltrona ao lado da cama para descansar um pouco,
Luana, ela é mais confortável que aquelas cadeiras lá fora. Não quero
nenhuma das duas fazendo travessuras, eu fui clara? Vou passar a cada meia
hora para ver vocês. — Nos orienta Fabíola e nós concordamos.
Ela abaixa a minha cama novamente e em seguida inclina a poltrona
para Lua, agradecemos e ela verifica os monitores e também o meu sogro,
em seguida ela verifica e troca da minha sonda. Não vou conseguir dormir
com os pensamentos fervilhando, peço a Fabíola para me dar um calmante
para eu conseguir dormir tranquila mas não quero ser sedada, rapidamente
ela concorda e sai para buscar o remédio para pôr no meu soro.
Lua diz alguma coisa que não consigo prestar atenção, estou com a
mente cheia, não estou com cabeça para mais nada depois de tudo que ouvi
hoje. Como fica a mente de uma pessoa que acorda de um coma depois de
um mês dormindo, e descobre que seus pais estão mortos, o plano de saúde
não cobre a minha internação por muito mais tempo e eu já tenho dividas
com os pais da minha melhor amiga.
Por quanto tempo mais eu vou ficar sem enxergar? Porque os
médicos não descobriram o que eu tenho? Será que um dia vou voltar a
enxergar? Vou poder ver o rosto dos meus pais novamente através das
fotografias? Vou conseguir fazer a minha faculdade? São tantas perguntas e
ninguém vai saber me dar uma resposta.
UMA SEMANA DEPOIS...

— Vamos, querida? Você precisa sair dessa cama, está na hora de ir


para casa. — Dona Sônia acaricia a minha mão.
— Ainda não agradeci o suficiente por tudo que estão fazendo por
mim, mas vou ser grata pelo resto da vida... Me desculpa por me tornar um
peso para vocês, me tornei um ser totalmente dependente de cuidados. —
Emociono-me, porém, tento ser forte.
— Não diga bobagem, filha, você nunca será um peso para nós,
assim como sei que Luana jamais seria um peso para você se fosse o
contrário. Nós te amamos, é por isso que estamos do seu lado. Agora vamos
sair desse lugar! Vamos te levar para casa depois de quase um mês e meio
nesse lugar. — Seu tom mais animado me diz que ela está sorrindo.
Sinto alguém me pegar no colo e em seguida me pôr sentada em
uma cadeira, que suponho ser uma cadeira de rodas.
— Se cuida, bela adormecida! Melhoras, ouviu? — Reconheço a
voz do Dr. Antônio Carlos.
— Eu vou me cuidar, doutor, ou pelo menos vou tentar. — Forço um
sorriso.
— Não se esqueça de voltar em três semanas para refazemos os seus
exames, nós vamos descobrir o motivo da sua cegueira, ouviu?
— Está bem. — Limito-me a dizer isso.
Despeço-me mais uma vez de Fabíola que nos acompanha para
algum lugar. Suspiro fundo receosa de sair para o mundo assim, nessas
novas condições, mas que seja o que Deus quiser.
Saímos do hospital e ouço um carro parar próximo a nós.
— Atena! Finalmente vai abandonar esse lugar, estou muito feliz
por você estar indo para casa, querida. — Reconheço a voz do Sr.
Adalberto, o pai de Lua.
— Eu também estou aliviada por estar indo embora, Sr. Adalberto, e
muito obrigada por me acolher tão bem na sua família. — Forço um sorriso
enquanto ele me ajuda a me levantar da cadeira.
Ele me abraça para eu me apoiar nele e não colocar o meu peso
sobre a perna quebrada. Ele me coloca no banco da frente onde fica mais
confortável para eu esticar a perna, Lua e a mãe dela entram atrás e saímos
dali finalmente. Vou ficar na casa deles até eu conseguir andar sozinha
novamente, depois volto para minha casa mesmo sabendo a tortura que será
para mim entrar naquela casa outra vez e não encontrar os meus pais.
Meia hora depois o carro para e eles pulam para fora do mesmo, Lua
vem me ajudar junto com o pai dela e assim entramos em casa.
— Quer ficar na sala um pouco, filha? Vou preparar algo para você
comer...
— Não precisa se incomodar, dona Sônia, não estou com fome... Eu
quero ir para o quarto, estou me sentindo zonza. — Olho de um lado para o
outro mesmo sem conseguir ver nada.
— Tudo bem, filha, vá descansar, mas no jantar você vai ter que
comer alguma coisas, não vou aceitar ver você se definhando em uma
tristeza tão profunda, então ergue essa cabeça pois a vida não acaba aqui,
ouviu? Os seus pais te amavam, então lute por eles, ok? — Seu tom é firme
e encorajador.
— Eu vou lutar, dona Sônia, eu prometo que vou lutar, mas não
nesse momento, agora eu não consigo, agora eu só quero um tempo para
mim. Quero me deitar. — Me sinto tão frustrada, tão perdida.
Não consigo ver onde estou mas me lembro bem de como é a casa
dela, consigo imaginar onde está cada móvel assim como na minha casa,
mas em que direção estou? Em direção fica a cozinha ou os quartos?
— Tudo bem, filha, eu vou te acomodar no quarto da Lua,
trouxemos a sua cama do jeitinho que você gosta para se sentir em casa,
você não pode ficar sozinha nesses primeiros momentos então Lua vai ficar
com você... Vamos! Vou levar você até a sua cama. — Sinto ela segurar o
meu braço e me guiar para algum lugar com a ajuda da minha melhor
amiga, limito-me em apenas concordar.
Seguimos para o quarto de Lua e eu tendo decorar o caminho até lá,
me esqueci de contar quantos passos tem, mas vou ter muito tempo para
isso depois, não quero pensar em fazer nada agora, eu só preciso me
acostumar com a idéia de que não tenho mais os meus pais, não tenho mais
a vida de antes, nem o meu namorado eu tenho mais. Desgraçado! Pensei
que ele ficaria do meu lado mas me enganei.
Dona Sônia me põe deitada na minha cama e me deixa sozinha
como peço, choro tudo que não me deixaram chorar no hospital pois isso
me deixava agitada, eles sempre me sedavam e eu não podia pôr para fora
tudo que estou sentindo, e eu estou na merda, estou literalmente sem chão,
fui jogada para dentro de uma escuridão e não faço a mínima idéia de como
sair dela.
Durmo agarrada ao meu travesseiro, ainda não acreditando que os
meus pais estão mortos, a minha ficha ainda não caiu.
Imagens do acidente invadem os meus sonhos, sinto aquela angústia
tudo de novo, vejo nitidamente a minha mãe sendo arremessada através do
para-brisa, meu pai sendo esmagado pelas ferragens do carro e meu corpo
bater no teto antes de sentir uma pancada forte na cabeça, mas ainda estou
consciente, ainda vejo o desespero dos meus pais e os gritos da minha mãe
vindo de algum lugar.
— ATENA...! ATENA...! FILHA...?
Os gritos da minha mãe me dá um aperto tão grande no peito. Vejo
nos olhos do meu pai a mesma angústia que estou sentindo.
— Não me deixa, papai? Você não pode fazer isso...
Ele abre a boca para dizer algo mas não consigo ouvir a sua voz.
Estendo a mão para ele mas não consigo alcançá-lo, a sua imagem se
distancia cada vez mais de mim até desaparecer diante dos meus olhos.
— PAPAAAAI...? PAPAAAAI...? MAMÃE? MAMÃE...? — Grito
por eles mas tudo parece desfocado, tudo vai escurecendo de repente e eu
não vejo mais nada.
— Papai...? Mamãe...? — Choro desesperada com medo da
escuridão, eu não vou conseguir passar por isso. Não vou.
— Atena? Acorda por favor...? Acorda? Amiga, acorda...? — Ouço
a voz chorosa de Lua e tento abrir os olhos.
— Cadê você...? Eu não consigo te ver, Lua, onde você está...? —
Ergo os braços procurando por ela e sinto-a me agarrar em um abraço
apertado.
— Eu não consigo ver, Lua... Eu não consigo te ver, amiga... Me
ajuda? Por favor me ajuda...? — Choro abraçada a ela e apenas ouço o seu
choro junto ao meu.
— Vai ficar tudo bem... Eu prometo que vai ficar tudo bem... Não
fica assim, por favor? Fica calma, Tena...? — Ela beija o alto da minha
cabeça como minha mãe costumava fazer.
Ela se deita comigo e me abraça forte, ela não me solta nem por um
segundo e aos poucos os nossos soluços vão passando, mas ouço mais
alguém chorar além de nós.
— Fica calma, querida, as duas já estão nervosas demais... Vamos
ter que levá-la em um psicólogo, ela vai precisar de ajuda profissional para
passar por tudo isso, e nós vamos estar com ela. — Ouço a voz do Sr.
Adalberto, mais distante de nós.
Eles conversam entre si e eu fico atenta, eles vão me arrumar um
psicólogo e acho mesmo que vou precisar disso, sozinha eu não vou
conseguir superar essa nova realidade.
Apago novamente e durmo tranquilamente sem novos pesadelos, me
sinto bem agora com a minha melhor amiga ao meu lado, eu só não quero
me sentir sozinha como sei que estou a partir de agora, tenho Lua e os pais
dela para me ajudar, mas não tenho mais o meu pai e minha mãe, não tenho
mais um parente de sangue para dizer que é minha família, estou
literalmente órfã.
Acordo sozinha na cama pois passo a mão e Lua não está mais aqui,
no entanto consigo ouvir bem distante vozes alteradas e me sento na cama.
Ponho os pés para fora e sinto o carpete fofinho no chão, passo os pés
procurando por um chinelo mas não encontro, tento me levantar assim
mesmo por mais que a minha perna doa bastante.
— Não me interessa o que você acha, eu quero ver Atena!
— Você não vai vê-la, seu cachorro! Você não tem vergonha na cara
de procurar por ela depois de ficar desfilando com aquela vadia? Você não
presta, Bruno! Você não à merece! — É a voz alterada de Lua, ela está
brigando com Bruno.
Tento andar até a porta, mas onde fica a porta? Me arrasto pulando
em uma perna só, me segurando nos móveis para não cair e aos poucos
consigo chegar até a porta que está aberta, chegar até aqui já foi cansativo,
como vou chegar até a sala?
— Lua...? Lua...? — Chamo por ela e espero que ela me responda.
— Atena? O que está fazendo de pé, amiga? Você vai complicar a
recuperação da sua perna, o papai comprou um par de muletas para você...
— Atena? Como você está? Eu vim te ver mas a Lua não quis me
deixar entrar. — Ouço sua voz se aproximar e apenas abaixo a cabeça
sentindo Lua abraçar a minha cintura.
— O que você quer aqui, Bruno? Porque você quer me ver? O seu
casinho com aquela outra já terminou? — Continuo de cabeça baixa.
— Não tive caso com ninguém, Atena, essa louca está inventando...
— Inventando? Quem está inventando, Bruno? Eu vi fotos suas com
aquela garota no Facebook, então quem está inventando? — Questiono
irritada e ele fica em silêncio, acho que ele ainda não sabe que estou cega
ou teria contestado.
— Você ficou um mês apagada, fora do ar, ninguém acreditava que
você iria sobreviver, tenta me entender, Atena?
— Como eu vou conseguir te entender se você já chegou aqui
mentindo? Eu não confio em você e quero que você vá embora... Agora! —
Rebato alterada e tento me soltar de Lua para entrar de volta no quarto.
— Por favor? Olha nos meus olhos e diz se estou mentindo? Diz que
não me ama mais...? Você é minha namorada, Atena! — Sinto ele tocar o
meu rosto com as duas mãos e sua respiração bater contra o meu rosto.
Ele está olhando nos meus olhos e eu finjo estar fazendo o mesmo.
— Você está mentindo! Eu não te amo mais e me trair com aquela
garota, foi um favor que você me fez. — Afirmo convicta das minhas
palavras e sorrio tirando as suas mãos do meu rosto. — Você é um bosta
que se diz homem, um moleque que acha que pegar várias mulheres vai te
fazer mais homem que os outros... A virgindade é algo sagrado para uma
mulher, e ainda bem que não entreguei a minha para você, agora você já
pode ir embora. — Viro-me entrando de volta no quarto me escorando nos
móveis.
— Sai daqui, Bruno! Ou eu vou chamar o meu pai! Sai daqui! Ela
não quer mais nada com você, ela está te dando um pé na bunda seu infeliz!
— A voz de Lua se afasta e sei que está levando-o para longe de mim.
— Me desculpa, Atena? Vamos conversar direito? Me dá mais uma
chance...? Atena? Atena? — Seus gritos estéticos me irritam.
Sinto o meu estômago revirar, sinto uma ânsia tão grande que
vomito pondo para fora o café da manhã que comi no hospital, me sinto
zonza e vou parar no chão por não conseguir me segurar em nada.
— AHHH... Meu Deus... A minha perna... — Grito de dor sentindo
tudo girar.
— Atena! O que aconteceu? Amiga? — Sinto Lua tentar me erguer
do chão e eu tento ajudá-la, não sou gorda mas osso também pesa.
— Me leva até o banheiro? Eu preciso escovar os dentes... Minha
boca está amarga. — Peço esforçando-me ao máximo para conseguir ficar
de pé.
— Você quer tomar um tamanho para aliviar as náuseas? Eu te
ajudo, vou enrolar o seu gesso para não molhar e uma cadeira para você se
sentar. — Ela me leva para algum lugar.
— Está bem, eu aceito a sua sugestão...
Entramos no banheiro e ela vai falando onde está a pia, onde está a
privada e o box do banheiro, vou tentando me adaptar a tudo isso e espero
realmente conseguir sair dessa situação logo. Espero que isso não seja
definitivo.
Não tenho vergonha de ficar nua na frente da minha melhor amiga,
sempre fizemos isso quando nos arrumávamos juntas e já estou acostumada
então tiro a minha roupa enquanto ela põe uma cadeira embaixo do
chuveiro, sento-me na mesma e ela enrola um plástico grande no meu gesso
para não molhar, ela também põe uma cadeira para eu apoiar a perna e liga
o chuveiro, sinto a água cair fria sobre a minha cabeça antes de esquentar,
não me importo, essa água fria me incomoda menos que uma traição, me
fere menos que a dor que martela aqui no peito.
Respiro fundo, puxo o ar para os meus pulmões com força e fecho
os olhos deixando a água escorrer pelo meu rosto, desejando que ela leve
embora a escuridão dos meus olhos, mas não deu certo, ainda não vejo
nada.
Lua lava os meus cabelos com shampoo e condicionador, me
entrega um sabonete e uma esponja para eu me levar, enquanto isso ela sai
para separar a minha roupa fazendo eu me sentir como uma criança que
precisa de cuidados, uma criança que a mãe precisar amarrar até o cadarço
do sapato, sorrio por ser justamente a Lua a cuidar assim de mim, ela é a
minha melhor amiga e está comigo desde que nos tornamos amigas na
primeira série, sempre fizemos tudo juntas, sempre contamos tudo uma para
a outra e ela ainda está aqui comigo no momento em que eu mais preciso.
— Olha, você está sorrindo... Eu posso saber o motivo desse
sorriso? — Sinto o seu tom de voz risonho.
— O motivo é você... Estava aqui me dando conta de que estamos
juntas desde a primeira série. Você sempre foi e sempre será a minha
melhor amiga para sempre... Eu amo você, Lua... Amo você, amiga. —
Sorrio mesmo com os olhos ardendo.
— Eu também amo você, Tena... Te amo muito porque você é mais
que uma amiga, você é uma irmã para mim mesmo que não tenhamos o
mesmo sangue. Nós duas não tivemos irmãos porque nascemos para sermos
somente eu e você, amigas irmãs. — Ela desliga o chuveiro e me abraça
carinhosamente.
Retribuo o seu abraço me sentindo acolhida, me sentindo em casa.
Nos soltamos uma da outra e ela me entrega uma toalha, me seco e ela me
ajuda a me vestir e voltar para cama com as muletas, até nisso eles
pensaram em mim, eles pensaram em tudo para não me deixar sozinha
nessa escuridão.
Depois de me deitar eu peço para ela me contar as novidades da
internet, mas não quero saber de nada que envolva aquele canalha do
Bruno. O cara que eu pensei que me amava me traiu, me deixou largada
naquele hospital sem se importar comigo, mas para minha sorte Deus me
deu uma amiga de ouro, e os pais dela também são muito importantes para
mim.
Peço para Lua pegar a minha bolsa com os meus documentos e os
documentos do meu pai, ele tem um dinheiro guardado no banco mas eu
não posso sacar sem ir pessoalmente ao banco, talvez eu precise de um
advogado, não sei, mas eu vou resolver essa situação ainda essa semana,
não posso apenas ficar dando despesas aos pais da Lua, eu preciso
contribuir arcando com as minhas despesas, então vou ter que mexer no
dinheiro que meu pai guardou para a minha faculdade.
— Amiga, depois você diz aos seus pais que eu quero ir no banco
essa semana, eu preciso abrir uma conta no meu nome e transferir o
dinheiro que meu pai e minha mãe tinham na conta deles, isso vai me ajudar
por um tempo e eu ainda preciso pagar aos seus pais os gastos que eles
tiveram comigo no hospital... Não sei como resolver essas coisas mas o seu
pai é advogado, talvez ele possa me orientar.
— Depois eu falo com eles, não se preocupa com isso agora... Está
com fome? Quer comer alguma coisa? Eu posso colocar um filme pra gente
e eu vou narrando para você tudo que tiver acontecendo, o que me diz? —
Seu tom empolgado me anima um pouco mais.
— Está bem, mas vê se narra direito para eu entender. — Sorrio.
— Eu sou a melhor narradora que existe, você vai ver... Mas antes
vamos comer alguma coisa, vamos comer comida de verdade. Eu vou até a
cozinha e já volto, a mamãe já deve ter chegado... Não me demoro então
não durma! — Sinto ela colocar uma coberta sobre mim, em seguida um
beijo no rosto me faz sorrir. Ela é muito amorsa.
Apenas concordo e ela liga a TV pondo um filme qualquer antes de
iniciarmos a nossa série. Ela sai em seguida e eu fico aqui sozinha,
pensativa e não tem como não pensar nos meus pais, já estou sentindo tanta
saudade, não vou mais ver os rostos deles pois não estão mais aqui.
Viro-me para o outro lado da cama passeando a mão por ela,
encontro o meu urso favorito e um pano com o perfume da minha mãe,
deve ser uma camisa dela. Não posso evitar que as minhas lágrimas
desçam, não posso evitar chorar de saudades e de lamentações agarrada a
esse pano com o perfume dela.
— Mamãe...? Cadê você...? Eu estou com saudade...
Tento chorar em silêncio para não alarmar Lua e sua mãe, passo
alguns longos minutos aqui presa em pensamentos, nas lembranças que
tenho daquele dia terrível que será para mim uma das piores lembranças da
minha vida, mas o que posso fazer além de chorar? Eu preciso viver,
preciso seguir a minha vida como eles queriam que eu fizesse, quero tentar
fazer uma faculdade como meu pai sonhava para mim, quero ser a mulher
que minha mãe desejava que eu fosse, uma mulher forte e responsável,
quero lutar pelos meus objetivos independente das minhas limitações, não
vou ficar cega para sempre, os médicos vão me ajudar e eu vou voltar a
enxergar, eu sei disso. Eu preciso acreditar nisso.
— Atena? Filha, eu trouxe o seu jantar. — Ouço a voz de dona
Sônia e limpo o meu rosto me sentando na cama. — Estava chorando de
novo, querida? Não fica assim? Você precisa ser forte, precisa começar a se
alimentar direitinho. — Ouço ela pôr o prato em algum lugar e depois me
ajuda a me sentar ajeitando os travesseiros atrás de mim.
— Eu senti o perfume da mamãe, me deu saudade mas eu vou
reagir, dona Sônia, eu prometo que vou reagir... Depois com calma eu quero
conversar com a senhora e o Sr. Adalberto, eu vou precisar de ajuda e
orientações para movimentar as contas dos meus pais, vou precisar de
dinheiro e não sei fazer isso sozinha.
— Está bem, mas hoje você vai apenas descansar e amanhã nós
conversaremos sobre isso, ok? Nós vamos te ajudar no que você precisar,
não se preocupe.
— Obrigada, vocês estão sendo maravilhosos para mim, eu amo
muito vocês. — Sorrio brevemente.
— Nós também amamos muito você, querida... Eu trouxe uma
comidinha que preparei com todo carinho, promete que vai comer tudo? Eu
quero ver esse prato limpo, eu fui clara? — Sorrio com o seu tom mandão,
mas sinto que ela está sorrindo também.
— Eu vou comer tudo, pode deixar. — Sinto ela pôr uma bandeja no
meu colo e põe a minha mão no copo para eu segurar.
Passo a mão pela bandeja e encontro o garfo, passo o garfo de um
lado para o outro e ouço ele bater no prato. Lua aparece perguntando se
preciso de ajuda e apenas estendo o copo para ela segurar, eu quero tentar
comer sozinha e aos poucos vou conseguindo e ela vibra pelas minhas
pequenas conquistas, sorrio por ter uma incentivadora tão empolgada, assim
eu sei que vou conseguir passar por tudo isso, não tenho dúvidas disso.
SETE ANOS DEPOIS... Dias atuais...

Ando pela sala e sigo até a cozinha, abro a geladeira e posso a mão
nas três garrafas na porta, pego a garrafa média pois sei que é a garrafa de
suco, fecho a geladeira novamente e vou até pia pegar um copo. Preciso sair
logo de casa, já era para eu estar na floricultura e Lua deve estar me
esperando.
Depois de beber o meu suco de manga eu guardo novamente a
garrafa na geladeira, volto até a sala contando mentalmente os passos até a
estante, onde deixei a minha bolsa no lugar de sempre.
A minha vida não tem sido fácil, já faz sete anos que vivo nessa
escuridão, sete anos que perdi os meus pais e aprendi a viver apenas com as
lembranças boas que guardo deles.
Os médicos ainda não descobriram o motivo da minha cegueira,
tudo parece um mistério que ninguém consegue desvendar, a cinco anos
atrás me falaram de uma cirurgia para devolver a visão, um chip que seria
implantado em uma parte do cérebro e uma lente que funciona como uma
microcâmera enviaria as imagens para esse chip, eu poderia enxergar de
novo se essa cirurgia não fosse tão cara, cento e setenta mil dólares, um
absurdo de tão caro e eu não conseguiria pagar nem que fosse a metade
desse valor,, além domas não se sabe a causa da minha cegueira, até
cheguei a conversar com alguns bancos para um possível empréstimo para
um tratamento ou uma cirurgia fora do país, mas de todos eles eu ouvi a
mesma resposta, eu não tenho direito a pegar um empréstimo tão alto, no
máximo eu conseguiria vinte mil dólares, o que eu vou fazer com vinte mil
dólares? Só me resta aceitar que não vou mais enxergar e conviver com
isso.
Pego a minha bengala guia dobrável e saio de casa fechando a porta
na chave, seguro o corrimão que foi posto para a minha adaptação e desço
alguns poucos degraus da varanda até o portão, no começo eu caía tanto
dessa escada, ela é pequena, mas tem degraus o suficiente para eu me
esborrachar no chão, já perdi as contas de quantas vezes eu caí dela, quase
quebrei a minha perna outra vez mas graças a Deus, não aconteceu nada
grave comigo.
Saio pelo portão e sigo até o ponto de ônibus, já está quase na hora
dele passar, como sei disso, Lua colocou o meu relógio para despertar
quinze minutos antes do horário do ônibus, e como me atrasei um pouco, ou
ele já passou ou vai passar logo.
Ouço o som do ônibus se aproximar e tento me apressar para chegar
no ponto, por não conseguir enxergar eu desenvolvi uma sensibilidade
muito grande para ouvir sons, e conheço de longe quando o ônibus está
vindo. Ele buzina e para em seguida.
— Está indo para onde com tanta pressa, Atena? — Pergunta
Basílio, o motorista do ônibus e também um grande amigo.
— Para onde mais eu estaria indo, Basílio? Lua já deve estar
preocupada me esperando. — Sorrio aproximando-me do ônibus e subo
com cuidado.
— Sente-se e se segura. Hoje estou dirigindo feito um piloto de
fuga.
— Minha nossa, Basílio! Para que a pressa, homem?
— Estou atrasado, princesa, já era para eu ter passado, você deu
sorte. Vamos nessa! — Seu tom de voz engraçado me faz sorrir e eu me
sento.
Seguro-me como ele sugeriu pois Basílio tem pelo menos três
parafusos a menos nessa cabeça. Ele põe o ônibus em movimento e
seguimos enquanto conversamos, ele já sabe onde vou descer então nem
preciso dizer nada.
Alguns minutos depois estou me despedindo de Basílio e desço no
ponto de ônibus em frente a floricultura, onde tenho passado a maior parte
do meu tempo.
— Até logo, princesa ruiva! Tenha um bom dia! — Ele buzina me
fazendo sorrir.
— Igualmente, Basílio! Até logo! — Aceno e sorrio para ele, ouço o
ônibus sair em seguida.
Desdobro a minha bengala guia e sigo para dentro da floricultura,
estou ajudando Lua no que posso para não ficar sem trabalhar, mas estou
esperando respostas de algumas agências de emprego e também tenho uma
entrevista hoje à tarde, se coloco no currículo que sou cega ninguém me
liga, e quando ligam é apenas para dizer que não estou qualificada para o
cargo, então as vezes conto com a sorte e não digo que sou cega, não digo
que tenho algumas limitações mas ao longo desses sete anos eu aprendi
muita coisa, aprendi a ler em braille, fiz alguns cursos mas não consegui
cursar a faculdade, não consegui repor o dinheiro que meus pais me
deixaram e o único lugar onde consegui trabalho, não pagavam o suficiente
para eu me sustentar e pagar a faculdade.
— Tena! Meu Deus, eu já estava quase ligando para polícia para
relatar o seu desaparecimento... O que aconteceu? Porque não ligou
avisando que iria se atrasar? — Questiona Lua naquele seu tom dramático.
— Eu dormi mais que a cama, me desculpa...? Não sei o que
aconteceu, o meu despertador não tocou, apenas o alarme do meu relógio
despertou no horário de sempre, eu tive que fazer tudo as presas e acabei
me enrolando, por sorte Basílio também passou atrasado hoje e eu não
fiquei a pé. — Sigo para o meu posto junto com Rayssa, separando as rosas
e cortando os excessos de talos.
— As pilhas do despertador devem estar fracas, depois eu vejo isso
para você... Tomou café da manhã?
— Não, tomei apenas um copo de suco mas não estou com fome.
Me diz onde tem pilhas lá em casa e eu mesma troco as pilhas do
despertador, não precisa ir lá em casa só para fazer isso... Eu vou precisar
sair depois do almoço, Lua, tenho uma entrevista de emprego e espero ser
contratada dessa vez. — Rayssa me ajuda a me sentar em uma cadeira e eu
passo as mãos pela bancada de flores.
— Eu sinto muito por não poder te pagar muito pelo seu trabalho,
Tena, a floricultura não rende o suficiente para pagar tantos funcionários...
— Ei? Eu não estou reclamando e muito menos cobrando nada,
Luana, pelo amor de Deus, amiga, você já fez demais por mim e eu só
tenho a agradecer... Você fez e está fazendo por mim o que ninguém mais
quer fazer... Não se sinta culpada por nada? Você e seu marido, seus pais,
todos sempre foram maravilhosos comigo. — Levanto-me estendendo as
mãos procurando por ela.
Lua segura as minhas mãos com carinho mas eu trago-a para os
meus braços. Aperto-a contra o meu peito me sentindo segura como só sinto
com ela e os meus tios Adalberto e Sônia.
— Fico tranquila por saber que você pensa assim, eu queria fazer
muito mais por você, mas não posso... Estou feliz pelo seu progresso ao
longo desses anos, você prometeu lutar e nunca desistiu de nada. Você é o
meu orgulho e a minha inspiração, Tena. — Ela está emocionada e me
abraça mais uma vez.
— O que está acontecendo com vocês, meninas? Estão chorando
porque? — Ouço a voz de Otávio, marido de Luana.
— Não está acontecendo nada, meu amor, é coisa de mulheres. —
Nos soltamos e eu volto a me sentar.
— Eu só estava dizendo o quanto sou grata pelo carinho de vocês,
Tavinho, você, Lua e meus tios são tudo que eu tenho... Mas me deixem
começar o meu trabalho, eu sou uma pessoa muito chorona e não quero
passar vergonha. — Sorrio pegando um feixe de rosas para começar a
separar.
— Você também é muito especial para nós, Atena, eu também
sempre serei grato por você ter me apresentado a sua amiga maluquinha, ela
é o grande amor da minha vida e todos já sabem disso. — Sinto um beijo no
meu rosto e sorrio.
— Eu vou te mostrar quem é a maluquinha, Otávio Pedrosa! —
Retruca Lua.
— É minha gente, ela ficou séria... Relaxa, amorzinho, eu só estava
brincando para fazer Atena sorrir. — Se justifica o sem vergonha.
— Me tira dessa, Tavinho! Não me mete nas suas confusões, sou sua
amiga e não o seu álibi. — Gargalho da sua cara de pau.
— Justamente por ser minha amiga você deveria me ajudar! Você
sabe o quanto a sua amiga é brava. — Seu tom incrédulo me arranca
gargalhadas e posso ouvir Lua sorrir também.
— Você não é nada exagerando, amor... Termina de colocar essas
flores na estufa, depois do almoço eu dou uma olhada nelas. Vamos
trabalhar meu povo. — Ouço minha amiga empolgada.
Sorrio abertamente. Conheci Otávio em um dos cursos que eu fiz e
nos demos muito bem, quando percebi que ele estava afim de mim eu
decidi apresentá-lo à Lua, e assim unir os dois ao invés de me afastar dele, e
deu certo, hoje eles estão casados a dois anos mas ainda não tem filhos.
Luana decidiu tomar conta da floricultura da mãe dela enquanto
minha tia se organizava para abrir uma nova floricultura, e os planos dela
derem certo, a nova floricultura ainda não tem a mesma movimentação que
essa mas ela tem uma ajudante, assim ela não fica tão sozinha longe da
filha. Otávio se desdobra para fazer as entregas de novas remessas de flores
entre as duas floricultura, mas ele deixou claro que gosta do que faz, e eu
também não reclamo, mas gostaria muito de vencer novos desafios
trabalhando em outras áreas, quem sabe eu não dou sorte?
Hoje tenho vinte e cinco anos e ainda sou virgem, é verdade, estou
ficando velha e ainda não fui tocada por um homem, pelo menos não um
que eu quisesse, mas já fui tocada sem o meu consentimento. Tentei
namorar um cara quando eu tinha vinte anos e ele tentou me pegar a força,
estávamos namorando a três semanas e ele se irritou por eu não me sentir
pronta para me entregar a ele, e essa foi apenas mais uma das minhas
maiores decepções.
Eu sou cega, não consigo ver as pessoas mas consigo sentir tocando
os seus rostos, eu gostava de Alexandre mas ainda não o amava, queria
conhecê-lo um pouco mais antes de me entregar, mas ele era impaciente,
não aceitou a minha recusa e rasgou as minhas roupas tentando me pegar a
força, eu gritei, implorei, supliquei para ele parar mas ele parecia não me
ouvir, mas graças a Deus eu tenho um anjo da guarda muito fiel, ele trouxe
Lua até a minha no momento certo e no lugar exato, eu fiquei traumatizada,
precisei fazer algumas seções com o psicólogo por um tempo e isso me
ajudou muito, depois disso eu me fechei, tenho medo de namorar alguém e
passar pela mesma situação, eu sou cega, não saberia descrever quem
abusar de mim, se é branco ou negro, se é loiro ou moreno, se tem olhos
claros ou escuros. É angustiante.
O fato é que o meu medo me afastou da intimidade entre um homem
e uma mulher, já faz tempo que não sei o que é beijar na boca, mas não por
falta de opção, pois o que mais tem por aí são homens afim de ficar comigo,
não sei se é por curiosidade por eu ser cega, ou por eu ser bonita. Lua
sempre diz que sou linda como a minha mãe era, e eu me lembro muito bem
do rosto dela, ainda sinto muita saudade dela e do papai e as vezes ainda me
dói muito a falta que eles me fazem.
Enfim, estou solteira porque eu quero, estou sozinha por opção
minha, por falta de confiança nas pessoas. Esse mundo está repleto de
pessoas maldosas, já perdi as contas de quantas vezes peguei ônibus errado
porque eu perguntava pelo ônibus que iria para o Sul, e eles me mandavam
para o Norte. Uma vez peguei um táxi e um homem entrou junto comigo
sem eu perceber, só me dei conta quando senti passarem a mão na minha
perna e apertar, eu gritei e pedi socorro, o motorista pensou que o homem
estava comigo pois entramos juntos no táxi sem eu perceber.
Fomos parar na delegacia mas o homem fugiu, e tudo que eu ouvi
do delegado foi que eu deveria tomar mais cuidado, eu fiquei indignada e
acabei desacatando uma autoridade, por sorte ele teve pena de mim por eu
ser cega e não me prendeu. E eu ainda tive que ouvir que isso foi sorte,
como se fosse sorte minha eu ser cega, como se eu gostasse de ser cega. É
cada uma que eu tenho que aturar. Já me chamaram de ceguinha linda,
ceguinha gostosa, ceguinha isso e ceguinha aquilo, mas também já me
chamaram de ceguinha abusada por eu bater em alguém que me beijou a
força, se me perguntarem quem foi, como vou saber?
— Ficou pensativa, está tudo bem? — Sinto a mão de Lua no meu
ombro.
— Estou melancólica hoje, você vai ficar chateada se depois da
entrevista eu for para casa? Mas antes vou levar flores para os meus pais. —
Comento ainda pensativa.
— É o aniversário deles, não é? Não era nem para você ter vindo
hoje, mas você é tão teimosa quanto eu... Eu não vou ficar chateada, mas
você precisa me ligar quando chegar em casa, e também se precisar de algo,
está bem? — Me orienta.
— Está bem, eu ligo. — Concordo com um breve sorriso e volto ao
trabalho.
A minha manhã vai passando e na hora do almoço eu vou para nossa
cozinha com Lua, enquanto Rayssa atende na loja com Otávio, ele é um
ótimo cozinheiro e faz questão de preparar o nosso almoço todos os dias, eu
adoro isso pois a sua comida é deliciosa.
Depois de almoçarmos é a vez deles almoçar enquanto eu ajudo Lua
na loja, mas ela me dispensa para eu ir para minha entrevista e eu agradeço.
Lua ainda se preocupa muito comigo então assim como de costume, ela me
põe no ônibus e diz ao motorista onde me deixar, como se eu não soubesse
dizer isso a ele.
— A minha amiga tem um rastreador na bolsa e eu vou monitorar o
trajeto dela, se você desviar o caminho com ela dentro desse ônibus, ou
deixá-la fora do ponto indicado, você vai me ver de novo, entendeu,
Roberto? — Dispara Lua me matando de vergonha.
— Luana!
— Relaxa, Lua! Comigo ela não corre perigo e você sabe disse,
mulher. Você está bem estressada hoje, sabia? Que bicho te mordeu? —
Roberto sorrir mas eu sinto o meu rosto queimar. Não é a primeira vez que
ela faz isso.
— Você ainda não me viu estressada, querido, para sua sorte eu não
estou de TPM... Se cuida, Tena! Se precisar me ligar, você sabe como fazer
isso. — Diz enquanto me sento atrás do motorista. Eu apenas concordo.
Roberto gargalha e sai com o ônibus, me sinto sem graça mas sei
que ela ainda tem o pé meio atrás com os motoristas dessas área, por sorte
Basílio é nosso amigo e tem muitos amigos nessas companhias de ônibus,
ele falou de mim para os colegas pedindo para cuidarem de mim, eu achei
isso fofo da parte dele, apesar de ter me deixado sem graça.

Depois de alguns minutos no trânsito eu finalmente estou descendo


no meu ponto e Roberto pede para eu avisar a Lua que ele é obediente, não
teve como não sorrir. Abro a minha bengala dobrável e fico atenta aos sons
a minha volta, pelo ponto onde Roberto me deixou e pela direção que ele
foi, sei que preciso voltar uma quadra até a agência onde vou fazer a
entrevista. Viro-me para seguir o meu caminho, mas sinto alguém bater em
mim e vou parar no chão.
— Presta atenção, garota! Olha por onde anda! Droga! Derramou
todo o meu café! — Esbraveja uma voz grossa alterada.
— Me desculpa...? Eu não fiz por querer, me desculpa, senhor? —
Desculpo-me passando as mãos pelo chão procurando pela minha bengala,
mas não encontro.
Cubro o rosto com as mãos e respiro fundo, me levanto e estendo as
minhas mãos tentando tocar em algo ou alguém que possa me ajudar, mas
as pessoas parecem passar longe de mim.
— Meu Deus, o que eu faço...? Por favor? Alguém pode me ajudar?
Eu perdi a minha bengala. — Viro de um lado para o outro, não sei em que
direção seguir, não consigo me concentrar quando estou nervosa.
Estou literalmente mais perdida que cego em tiroteio. Agarro a
minha bolsa contra o meu peito me sentido aflita. Sinto alguém segurar a
minha mão e colocar a minha bengala sobre ela.
— Por favor, peço que me perdoe? Eu não fazia ideia de que você...
De que você...
— Cega? Pode dizer, eu não me importo... Obrigada por encontrar a
minha bengala, eu preciso ir e já estou atrasada. — Viro-me tentando
encontrar a direção certa, mas sinto segurarem o meu braço.
— Meu nome é Théo, para onde você está indo? Me deixa te
ajudar?
— Me desculpa, mas da última vez que aceitei ajuda de alguém, eu
fui parar dentro de uma favela e tentando me agarrar a força. Eu sou cega
mas não sou louca. Com licença. — Solto o meu braço do seu aperto e tento
sair dali, mas novamente ele segura o meu braço.
— Me desculpa por insistir. Eu sou o Tenente Théo Carlson da
polícia de Downtown, aqui no centro de Detroit, me deixa te ajudar? Estou
com a minha consciência pesada por ter gritado com você.
— Não precisa ter pena de mim, Tenente, você está desculpado...
Como vou saber se você é mesmo da polícia? Eu não posso te ver, não é...?
Olha, eu estou atrasada para uma entrevista, eu preciso mesmo ir, se quer
mesmo me ajudar, apenas me diga para que lago fica a agência de empregos
L&S serviços? — Peço impaciente.
— Fica a sua esquerda, eu posso te leva...
— Não precisa, mas obrigada mesmo assim. — Agradeço já me
afastando dele e não ouço mais a sua voz.
Sigo a passadas largas com a minha bengala mas tomando cuidado
para não cair. Sigo pela calçada e alguns metros mais a diante eu chego na
agência, eu já vim aqui antes então já sei como subir até lá, a sala fica no
terceiro andar.
Entro na portaria e sigo para o elevador, cumprimento o
recepcionista e ele me põe no elevador apertando para mim o botão do
terceiro andar, agradeço antes que as portas do mesmo se fechem e lhe dou
um sorriso gentil, ouço as portas de aço se fecharem e suspiro confiante.
Rezo mentalmente para ter uma boa notícia nessa entrevista, graças a Deus
não estou passando fome mas gostaria de ganhar o suficiente para conseguir
juntar um dinheiro extra, eu ainda sonho com a minha faculdade e sei que
nunca é tarde para estudar.
Quando começo a me sentir enclausurada por estar presa dentro
dessa caixa de metal, as portas de aço se abrem e eu saio a procura de
Jailson, ele já está acostumado a me ver por aqui e assim como das outras
vezes, ele vem me encontrar antes de chegar na sua sala.
— Atena Moore! Quanto tempo não te vejo. Como você está? Como
tem passado. — Sinto ele me abraçar me levando para sua sala mas eu não
respondo.
Quando ele me recebe nessa empolgação toda tentando me distrair,
eu sei que ele não tem boas notícias e mais uma vez vou sair daqui
frustrada.
— Você está tão calada, o que houve? Não vai me dizer que ficou
muda também...? Me desculpa? Eu só queria descontrair um pouco. — Ele
me põe sentada mas sinto o seu tom de voz ficar apreensivo.
— Porque a entrevista foi marcada aqui? Eu não iria me encontrar
direto com o gerente de telemarketing? Você não tem boas notícias então
diz logo! Eu ainda tenho que ir ver os meus pais. — Levanto-me já sentindo
os meus olhos arderem pois prevejo mais uma derrota.
— Me desculpa, Atena? Quando o gerente marcou a entrevista, ele
não sabia que é deficiente visual, ele alegou que a empresa dele ainda não
está preparada para receber funcionários especiais...
— Tudo bem, não precisa dizer mais nada, no fundo eu já esperava
por isso... Quantas vezes eu já vim aqui, Jailson? Acho que eu devo
desistir? — Forço um sorriso mesmo sentido as minhas lágrimas descerem
sem permissão.
— Não! Você não deve desistir, não desistiu esses anos todos,
porque vai fazer isso agora...? Olha, se quiser eu posso arrumar alguma
coisa aqui para você...
— Eu não quero a piedade de ninguém, Jailson! Eu já passo por isso
todos os dias com os meus melhores amigos, não quero trabalhar aqui
porque você também está com pena de mim, quero que me contratem
porque eu mereço pois sei que sou capaz! Eu só preciso de uma
oportunidade para provar isso. — Contesto irritada sentindo um aperto no
peito. — Me desculpa? Eu... Eu não queria descontar as minhas frustrações
em cima de você, afinal, você só está tentando me ajudar... Eu vou indo...
— Me desculpa também, Atena? Eu não queria te ofender.
— Você não me ofendeu, não se preocupe... Eu volto quando você
tiver alguma novidade para mim, está bem? Tenha uma boa tarde. — Limpo
o meu rosto e ergo a minha cabeça, saio da sua sala com a minha bengala
procurando o elevador.
Ouço as pessoas falarem comigo mas apenas sorrio e aceno, mesmo
com uma profunda dor no peito por ser tão fracassada. Tudo que eu consigo
das pessoas é piedade, as vezes nem isso. Respiro fundo algumas vezes
tentando não deixar as frustrações me abalarem tanto, saio do prédio sem
rumo e paro no sinal, ouço os carros correndo então sei que o sinal está
aberto.
Sinto uma mão no meu ombro direito e olho para o lado mesmo sem
enxergar nada, ponho a minha mão sobre o meu ombro mas não sinto mais
a mão que me tocou. Ouço muitos passos e vozes ao meu redor então pode
ter sido qualquer um.
Respiro fundo, fecho os olhos com força e abro-os lentamente,
respiro fundo mais uma vez e dobro a minha bengala, fico aqui parada por
um tempo pensativa, tentando me lembrar para onde estava indo, o que eu
vim fazer aqui? Perder tempo ouvindo mais uma vez que não sou
qualificada para o trabalho? Vou ter que me contentar em vender flores para
conseguir me sustentar.
Lua queria me pagar um salário assim como Rayssa também recebe,
mas não achei justo pois ela me dá muitas regalias, facilita tudo para mim
tentando me ajudar, estou ciente das minhas limitações e com isso só posso
pensar no que já tenho, e não no que ainda posso ter, a minha vida não está
fácil mas não posso ficar apenas me lamentando, eu preciso correr atrás do
que eu quero, e eu não quero depender tanto das pessoas.
Não sei quanto tempo passo aqui parada pensativa apenas ouvindo
vozes estranhamente diferentes, passos lentos e outros apressados, carros
buzinando e acelerando, crianças chorando e telefones tocando, tudo ao
mesmo tempo até que um silêncio súbito se instala na minha mente, um
zumbido estranho me deixa apavorada. Não sinto mais o vento tocar a
minha pele, o tempo parece ter parado.
Giro a cabeça de um lado para o outro, me sinto sufocar com o
desespero que toma conta de mim, será que também fiquei surda?
— Meu Deus, me ajuda? — Tento sair do lugar mas as minhas
pernas não se movem.
Ergo as mãos tentando tocar algo ou alguém, e sinto uma mão tocar
a minha.
— Você está bem? Precisa de ajuda? — Ouço uma voz grave, seu
tom preocupado e todo aquele barulho voltar a minha mente. Sorrio
aliviada.
— Eu estou bem... Sim, estou bem. — Sorrio e choro ao mesmo
tempo.
— Está chorando e sorrindo ao mesmo tempo, o que significa isso?
— Sinto que o homem também está sorrindo.
— Andar na escuridão não é o fim do mundo, não se pode voar se
não tiver asas... Me desculpa, eu preciso ir. — Desdobro a minha bengala
atenta a direção em que os carros estão passando, eu preciso seguir ao
contrário.
— Espera! Me deixa te ajudar? Para onde você está indo agora? —
as suas perguntas me surpreendem e eu paro.
Eu já ouvi essa voz antes, já me fizerem essas perguntas também.
Não pode ser a mesma pessoa, ou pode?
— Não estou com pena de você, se é o que está pensando, eu chamo
de solidariedade, humanidade, respeito ao próximo, enfim...
— Foi em você que eu esbarrei mais cedo? Você é o policial que
queria me ajudar? — Questiono curiosa.
— Na verdade eu sou Tenente... Tenente Théo Carlson. — Sinto ele
pegar a minha mão e dessa vez eu não recuo.
— Você está me seguindo, Tenente? Estava me esperando por
acaso? Como sabia onde eu estava? Não vai me dizer que é coincidência?
— Sorrio de lado e ele fica mudo por um instante, então solto a sua mão.
— Deixa eu me explicar, hoje eu literalmente acordei com o pé
esquerdo, acordei chateado e por isso me irritei quando você esbarrou em
mim, eu fui muito rude e só me dei conta da minha amargura quando
percebi o quanto fui injusto com você, fiquei com a consciência pesada pois
normalmente eu não sou assim... Acredita em mim pois estou sendo sincero
com você, eu sou mesmo Tenente da polícia de Downtown, me preocupei
por te ver andar sozinha nessas condições pois o mundo é realmente um
lugar perigoso... Me perdoe? Eu não sei como me referir a sua situação sem
parecer um idiota. — Sinto pelo seu tom de voz que ele está sim sendo
sincero, e ele parece realmente constrangido.
— Tudo bem, você não precisa se desculpar por isso... Mas você
ainda não respondeu as minhas perguntas. — Insisto.
— É verdade... Não estava te seguindo, eu apenas permaneci por
aqui até você voltar a aparecer, e parece que eu fiz bem pois vi que estava
bastante abalada, parecia confusa...
— Foi você quem tocou o meu ombro minutos atrás? Tocou em
mim? Viu alguém me tocar? — Pergunto confusa.
— Não! Eu não toquei em você e não vi ninguém te tocar, e eu
estava atento a você desde que saiu do prédio.
— Que estranho, eu senti alguém me tocar... Bom, eu realmente não
me senti bem mas já estou melhor, eu preciso ir agora... Foi bom conhecer
você, Tenente. — Abro um sorriso gentil e me afasto movendo a minha
bengala.
— Espera! Qual é o seu nome? Me diz ao menos o seu nome?
— Atena! Eu me chamo Atena Moore!
Respondo sem parar de andar, sigo o meu trajeto com um pequeno
sorriso no rosto, estou impressionada por ter conhecido um Tenente da
polícia, será que ele estava fardado? Como será a farda dele? Não sei como
são os uniformes da polícia de hoje e isso me deixou curiosa.
Deixo esse Tenente de lado e sigo para o cemitério aqui mesmo no
centro de Detroit, foi aqui que os meus pais foram enterrados e eu venho
com frequência para visitá-los...
— Perdeu ceguinha! Me dá essa bolsa!
Sinto alguém arrancar a bolsa do meu ombro e eu tento segurar a
alça, mas sou sacudida com violência e vou parar no chão.
— SOCORRO! EU FUI ASSALTADA! SOCORRO! Alguém me
ajuda? Eu fui assaltada! — Passo as mãos pelo chão procurando a minha
bengala. De novo não!
Meu coração acelerar, estou trêmula e me encolho tentando me
proteger.
— Moça, você está bem? Se machucou? — Pergunta uma mulher
me ajudando a me levantar.
— Não, eu não me machuquei, mas levaram a minha bolsa com
tudo que eu tinha... Como vou voltar para casa sem o meu passe? O
dinheiro que eu tinha, os meus documentos, levaram tudo. Droga! Hoje não
está sendo um bom dia para mim. — Tento não chorar de raiva, isso não vai
trazer a minha bolsa de volta.
— Se precisar do dinheiro da condução eu te dou. Onde você mora?
Você estava sozinha?
— Sim, eu estava sozinha... Eu estava indo visitar os meus pais...
— Onde eles moram? Eu posso levar você até lá.
— Eles moram no cemitério, minha senhora... Me perdoe? Estou
chateada... Estava realmente indo ao cemitério. Você consegue achar a
minha bengala? Eu sou cega e preciso dela. — Me encosto em alguma coisa
atrás de mim e respiro fundo.
— Me desculpa, eu não havia percebido que você é cega... Quer que
eu te leve até o cemitério para visitar os seus pais? Toma esse dinheiro,
assim você consegue ir para casa depois. — Ela põe alguma coisa na minha
mão e se afasta.
— Obrigada! Que Deus lhe pague pela sua bondade... O que vou
fazer agora? Não tenho mais o meu celular, como vou ligar para Lua? —
Resmungo comigo mesma.
— Achei a sua bengala! Vamos! Eu vou te acompanhar até o
cemitério, você está duas quadras dele. — Ela pega a minha mão
devolvendo a minha bengala e enlaça o seu braço no meu.
— Eu pensei que tivesse ido embora. Obrigada por me ajudar. —
Agarro o seu braço com firmeza com receios de que me assaltem
novamente se eu estiver sozinha.
— Imagina, não precisa agradecer... Eu também sou deficiente
visual, mas apenas do olho direito... Tive câncer quando era criança e para
não perder as duas vistas, perdi apenas uma. — Surpreendo-me com a sua
história.
— Então você imagina como eu me sinto, eu perdi a visão das duas
visitas mas até hoje os médicos não sabem o que aconteceu comigo, sofri
um assistente aos dezoito anos e quando acordei um mês depois, eu estava
assim, na escuridão. Mas não vou ficar me lamentando pois estou viva, eu
poderia estar morta agora assim como os meus pais. — Comento pensativa.
— Eu sinto muito pelas suas perdas, mas você está completamente
certa em não ficar se lamentando. Você é uma mulher linda, forte, ainda tem
um longo caminho para percorrer nessa vida e você vai conseguir... A
propósito, eu me chamo Mariana.
— Eu um prazer conhecê-la, Mariana, eu me chamo Atena. —
Conversamos até chegar no cemitério.
Mariana me leva até o túmulo dos meus pais mas ela não fica por
muito mais tempo, ela se despede pois tem os seus compromissos e eu fico
aqui, sentada diante do túmulo dos meus pais contando a eles como foi o
meu dia hoje. Passo a mão pela lápide sentindo os meus dedos desenhar os
seus nomes, Ruth e Douglas Moore.
— Vocês estão cuidando de mim, não estão? Estão aqui comigo,
papai...? Sabe, é nos piores momentos que passam as ideias mais malucas
pela nossa cabeça, é nas dificuldade que sinto uma imensa vontade de me
juntar a vocês. Mas sabem que hoje eu conheci a Mariana e o Tenente Théo,
eles foram tão gentis comigo... É tão raro encontrar alguém assim... —
Suspiro fundo segurando as minhas emoções.
Sento-me novamente pensativa, mais uma vez vendo as imagens
daquele acidente invadir a minha mente, não consigo esquecer aquele
episódio, não consigo deixar de ficar triste com essas lembranças.
— Prometi tantas vezes que iria lutar, e eu estou tentando todos os
dias, mamãe... Antes o meu maior sonho era fazer uma boa faculdade, viver
um grande amor e ser feliz como você era... Mas hoje o meu maior sonho é
poder ver a sua imagem mais uma vez... Eu sinto tanto a sua falta... Às
vezes eu me sinto tão sozinha, mamãe... Me sinto perdida tentando me
encontrar de alguma maneira, mas não consigo... Até para viver o essencial
é difícil, eu estou em processo de adaptação à anos, todos os dias eu preciso
me adaptar a algo novo. — Choro sem me importar se tem alguém por perto
ou não, eu choro de saudade e ainda de tristeza.
Sinto alguém tocar o meu ombro e me abraçar em seguida, eu
desabo, choro ainda mais ouvindo também o seu choro sentido.
— Você não imagina o quanto me dói te ver assim... Tão frágil, tão
indefesa... — Ouço a voz da Lua antes de sentir um beijo no alto da cabeça.
— Como você me encontrou aqui? Levaram a minha bolsa e eu não
pude te ligar. — Fungo limpando o meu rosto mas não me solto dela.
— Eu sei, acharam a sua bolsa e me ligaram, eu imaginei que
estivesse aqui, por isso vim direto para cá. — Ela se senta ao meu lado me
puxando para os seus braços.
— Estou tão desanimada, quero me deitar e dormir por dias até
voltar para essa realidade...
— Não diga bobagens, Tena! Eu preciso de você para me ajudar a
preparar o enxoval. — Sinto ela sorrir me apertando contra o seu corpo,
mas solto-me dela confusa.
— Como assim? Que enxoval...? Oh meu Deus, você está grávida?
Lua você vai ter um bebê? — Meu sorriso vai nas orelhas.
— Sim, amiga! Você vai ser titia e madrinha... Eu estou grávida e só
descobri agora a tarde, antes de me ligarem para falar sobre a sua bolsa. —
Afirma empolgada mas sinto o seu tom mudar em seguida.
— Você deixou tudo para vir atrás de mim. Me sinto uma criança te
dando tanto trabalho... Não posso ser madrinha do seu bebê, não consigo
proteger nem a mim mesma, como vou proteger o seu filho caso ele precise
de mim? Não vou ficar triste se você escolher outra pessoa, estou falando
isso de coração, Lua. — Tento não demonstrar a triste no meu tom de voz,
mas ela sempre percebe.
— Quando nós demos o nosso primeiro beijo nos nossos
namorados, nós duas prometemos que uma seria madrinha do filho da outra,
a minha parte eu estou cumprindo então dá logo um jeito de cumprir a sua
também, eu estou esperando por isso! — Seu tom firme me faz sorrir.
— Quando fizemos essa promessa eu podia enxergar, sabia me
defender sozinha e agora a história é outra... Estou falando sério, Lua. Eu
vou amar ser madrinha do seu bebê, e vou amá-lo do mesmo jeito se você
quiser escolher outra madrinha, eu não vou ficar triste...
— Parece que você não quer ser madrinha do meu filho, se for isso
está tudo bem...
— Eu quero sim ser madrinha do seu bebê, Luana! É claro que eu
quero!
— Eu sabia! Sua mentirosa! Você mente muito mal, Atena...! Você
será a madrinha mais linda do mundo. Depois de mim, então me dá logo um
afilhado, ouviu! — Ela se joga para trás me levando junto e nós sorrimos.
— Para eu te dar um afilhado eu teria que estar casada, e nem um
namorado eu tenho...
— Não tem porque não quer, pretendentes é o que não faltam. Por
falar em pretendentes, que Tenente gato você arranjou hein? Minha nossa,
aquele homem é lindo. — Surpreendo-me com as suas palavras e me
levanto abruptamente, me sentindo zonza.
— Do que você está falando, Lua? Como você sabe que eu conheci
um Tenente? — Pergunto boquiaberta.
— Ora, porque foi ele quem me ligou. Ele disse que ouviu você
gritar por socorro dizendo ter sido assaltada, ele foi atrás do ladrão e
recuperou a sua bolsa, mas quando voltou você havia sumido... Eu pedi
para ele me encontrar aqui pois tinha certeza de que você viria para cá. —
Conta apreensiva.
— Ele está aqui? O Tenente está aqui no cemitério? Ele não deve ser
Tenente coisa nenhuma, é um louco que está me seguindo.
— Sim! Ele está um pouco mais a diante de nós e ele é Tenente sim!
Ele me mostrou o distintivo e tudo mais... Ele não tira os olhos de você e
parece bastante interessado. — Sinto ela sorrir e sorrio também.
— Agora é você quem está dizendo bobagens, Lua! Não brinca
comigo? Ele não pode estar aqui... Você está brincando, não é? — Estendo
a mão para tocá-lo mas ela não responde.
— Olá de novo, Atena! Você tem um nome tão lindo quanto esses
olhos intensos. — A sua voz me estremece e eu ofego.
— Você... Está mesmo aqui...? Meu Deus, que vergonha. Você me
viu chorando? — Sinto o meu rosto esquentar e ouço ele sorrir.
— Relaxa, até chorando você é linda, mas confesso que prefiro ver
aquele sorriso que você me deu mais cedo. É encantador. — Sinto o meu
rosto esquentar ainda mais.
— É a primeira vez que vejo alguém ser paquerada dentro de
cemitério, vocês não acham melhor a gente sair daqui? Está ficando tarde e
a gente precisa ir, Atena. Eu deixei Rayssa e Otávio sozinhos na
floricultura. — Dispara Lua me matando de vergonha.
— Eu posso levar vocês? Ou você vai recusar a minha ajuda de
novo, Atena? — Pergunta o homem pondo a mão na minha cintura.
— Me desculpa mas você é um estanho, e eu não confio em
estranhos por isso recusei a sua ajuda... Mas, levando em conta que tirei a
minha melhor amiga do seu trabalho e a deixei preocupada, vamos aceitar a
sua carona. Ou você está de carro, Lua? — Seguro o braço dela enquanto
seguimos para longe dali.
— Eu estou de carro, mas o Tenente Théo pode te levar em casa, eu
ainda preciso voltar até a floricultura e meu marido deve estar preocupado
com a gente.
— Perfeito! Eu levo ela em casa...
— Não precisa se incomodar, Tenente...
— Não é incomodo algum, eu faço questão de deixar você em casa
e em segurança. Me dá uma chance, vai? Eu sou um bom sujeito. — Sinto
ele sorrir.
— Está bem, você recuperou a minha bolsa e avisou a minha amiga
sobre o que houve, então vou te dar um voto de confiança. — Sorrio
abertamente mesmo sentimento os meus olhos inchados por ter chorado.
Meu Deus, eu devo estar horrível e ele está me vendo assim.
— Obrigado pelo voto de confiança, eu não vou te decepcionar. —
Sinto a empolgação no seu tom de voz.
Seguimos até o seu carro e ele me ajuda a entrar, despeço-me de
Luana e ela avisa que vai me esperar para jantar e comemorar a notícia da
gravidez, e ainda convidou o Tenente para jantar com a gente, ela não devia
ter feito isso, ele é um estanho, mal o conhecemos mas devo confessar, ele
salvou o meu dia ao recuperar a minha bolsa com todos os meus
documentos, assim não vou precisar tirar tudo outra vez. Bom, que seja o
que Deus quiser.

Longos minutos depois o carro para e ele diz que chegamos, ele
desce do carro e vem me ajudar a descer também, pelo menos ele é gentil,
será que é mesmo bonito como Lua disse? Porque fiquei tão curiosa? Não
vou vê-lo mais depois desse jantar, moramos longe e as chances de nos
esbarramos outra vez é uma em um milhão.
— Está entregue, Srta. Atena! Eu posso vir te buscar para o jantar na
casa da sua amiga? Ela não me deu o endereço então acho que você terá que
me levar até lá.
Sorrio da sua insistência em se manter perto de mim, o que esse cara
quer comigo?
— Você já está no endereço dela, Luana mora cinco casas depois da
minha, a esquerda... Qual será a sua próxima desculpa para vir me buscar,
Tenente Théo?
Sorrio esperando a sua próxima desculpa, mas ao invés disso sinto
os seus dedos tocarem o meu rosto em um carinho suave.
— Você é tão linda... Gostei de conhecer você, estou ansioso para te
ver de novo, por isso quero vir te buscar... — Consigo ouvir a sua
respiração pesada e isso me assusta.
Da última vez que ouvi alguém ofegante assim perto de mim,
estavam tentando me estuprar.
— Obrigada pela sinceridade, mas eu preciso entrar... Com licença.
— Afasto-me entrando no portão, estendo as mãos procurando pelo
corrimão e me lembro da minha bengala. — Droga! Esqueci a minha
bengala no cemitério...
— Não esqueceu não, eu peguei ela no chão antes de sairmos de lá...
Está no carro, eu já trago. — Ouço ele sair apressado e respiro aliviada.
Ele volta me entregando a bengala e eu agradeço com um pequeno
sorriso, despeço-me e subo os poucos degraus da varanda até a porta, não
ouço o som do seu carro então ele ainda está lá. Abro a porta mas não entro,
viro-me para ele saber que sei que ele ainda está aqui. Poucos segundos
depois finalmente ouço o som do motor do carro se afastar e sei que agora
ele foi embora. Sorrio, esse cara deve ser louco, mas ele tem uma voz bem
atraente, uma voz grave, rouca o suficiente para me deixar tensa.
Tiro esse Tenente dos meus pensamentos e entro em casa trancando
a porta, preciso de um banho e alguns minutos de descanso até o jantar.
Como essa garota consegue ser tão linda? Estou fascinado por ela,
aquele sorriso, aqueles olhos intensos, a sua voz doce e suave.
— Atena... Que mulher linda. E desconfiada também. — Sorrio com
as lembranças daquele rostinho de anjo.
Termino de me arrumar ansioso para vê-la de novo, vou fazer
questão de passar para busca. Ouço o meu telefone tocar e pego o mesmo,
merda! É da delegacia.
— Alô?
— Tenente! Me desculpa por estar incomodando-o na sua folga,
mas temos uma emergência e não estamos conseguindo contatar o Sr.
Valério. — Diz Gustavo me deixando frustrado, não quero deixar de ir
nesse jantar.
— Você ligou no celular dele? Cara, hoje é minha folga.
— Eu sei, senhor, mas estou ligando para o Sr. Valério e está caindo
na caixa postal, já tentamos ligar na casa dele mas a esposa disse que ele
ainda não deu notícias depois que saiu para o trabalho, o que eu faço? O
inspetor Renato já saiu para uma ocorrência. — Esfrego a mão no rosto
ainda mais frustrado.
— Está bem, eu chego ai em dez minutos.
Encerro a ligação e pego o meu distintivo, carteira com os
documentos e as chaves do carro, não tenho tempo para ne trocar então saio
de casa assim mesmo. Entro no meu carro e saio da garagem seguindo para
delegacia, eu nem perguntei qual era a ocorrência, talvez se for algo simples
eu consiga chegar a tempo para o jantar, eu nem peguei o telefone dela,
como vou ligar para avisar que não vou poder ir? Ela vai pensar que desisti
de vê-la.
Depois minutos depois eu chego na delegacia e encontro Gustavo
conversando com o 2° Tenente Valério. Encaro-os confuso.
— O que aconteceu? Pensei que estavam precisando de mim. —
Aproximo-me deles atento ao assunto.
— Foi mal, parceiro! Eu me prendi em uma ocorrência por mais
tempo do que gostaria, meu celular descarregou e só agora consegui voltar a
delegacia. Estou de saída, volta para casa e vá descansar! — Valério vem na
minha direção apressado e eu sigo com ele de volta até o pátio.
Pergunto o que houve e se ele precisa de ajuda, ele me garante que
está tudo sobre controle e entra no carro em seguida. Mais um problema
com essas malditas gangues de Detroit, isso não acaba nunca.
Lembro-me dela no chão gritando por socorro após ser assaltada, se
eu não tivesse seguido ela à distância eu jamais teria prendido aquele
delinquente, voltei correndo até ela depois de encaminhar o infeliz para
delegacia mas ela já havia ido embora, por sorte eu estava com a sua bolsa e
no celular estava gravado o número da melhor amiga. Droga! Estou
atrasado para o jantar.
Entro no carro e saio apressado afim de chegar a tempo para a
sobremesa, ela mora longe mas acho que consigo chegar antes dela desejar
não me ver nunca mais.
Lembrar dos seus belos olhos vermelhos pelo choro me deixa mal, o
seu choro foi tão sentido que doeu a alma, eu vi o seu desespero quando
parou naquele sinal de trânsito, ela parecia distante, perdida. Eu quero vê-la
mais vezes, será que ela vai aceitar isso? Ela é bastante desconfiada.
Aqueles lábios rosados parecendo tão macios.
— Você está louco se acha que vai conseguir beijá-la com tanta
facilidade, Tenente Théo Carlson... — Comento com um sorriso de lado.
Eu nunca havia visto uma mulher tão linda. Foi uma surpresa muito
grande quando percebi que ela cega, o que será que aconteceu com ela?
Como ela perdeu a visão? Será que ela nasceu assim?
Acelero o quanto posso e chego no endereço dela em vinte minutos,
paro o carro na frente da casa dela mas sei que ela já deve estar na casa da
amiga. Pego o vinho e o champanhe sem álcool que comprei depois que
deixei ela em casa mais cedo, a amiga dela está grávida e não vai poder
tomar o vinho, também não sei se Atena toma bebida alcoólica então resolvi
trazer um meio termo, uma bebida com álcool e outra sem, espero que elas
gostem pois não sabia mais o que trazer.
Onde mesmo é a casa dela? Merda! Eu não me lembro, a esquerda
mas em qual casa? Ando pela calçada atento as portas da casa, não vejo
ninguém, não ouço nada. Quando chego em frente a quinta casa a porta da
mesma se abre e ela aparece, ela fecha os olhos e ergue a cabeça respirando
fundo.
— A noite está fresca, não está tão frio... Está bom para caminhar
mas não posso fazer isso sozinha, muito menos a noite, não é? — Ela
encosta no batente da porta e um cara abraça ela por trás beijando o seu
rosto.
— Talvez você possa fazer isso depois do jantar... Acho que o seu
convidado chegou. — Diz o cara ao lado dela.
— Tenente? Théo? — Pergunta surpresa, acho que ela não
acreditava que eu viria.
— Fala aí, parceiro? Entra! Fica à vontade. — O cara vem me
encontrar enquanto entro pelo pequeno portão. — Então você é mesmo
Tenente da polícia? — Ele me estende a mão curioso.
— Boa noite! Sim, Tenente Théo Carlson, mas hoje estou aqui
somente como Théo pois estou de folga do trabalho. — Apresento-me.
— Otávio Pedrosa! Marido da Luana e também melhor amigo de
Atena... Vamos entrar! O jantar já está na mesa. — Ele aperta firme a minha
mão e eu retribuo.
— Ei, vocês dois! O jantar é aqui dentro e não aí fora... Entrem! —
A esposa dele aparece na porta sorridente e eu entrego a ele as bebidas.
Sorrimos e entramos na casa, quando passo pela porta vejo-a mais a
diante brincando com os dedos.
— Boa noite, Luana! Atena! É muito bom vê-la de novo. —
Cumprimento Luana com um beijo no rosto e me aproximo de Atena que
me estende a mão.
Eu pego beijando demoradamente sentido o perfume doce da sua
pele.
— Pensamos que não vinha mais, Sr. Théo Carlson... — Ela sorrir
mas vejo que está corada. Mas porque?
— Me perdoem pelo atraso, eu recebi um chamado de urgência e
tive que ir até a delegacia, mas quando cheguei lá já não precisavam mais
de mim. Eu não peguei o contato de vocês, por isso não tive como avisar
que iria me atrasar. — Justifico-me.
— Você não disse que hoje você está de folga? — Questiona Otávio
desconfiado.
— Sim, mas na minha profissão a folga termina quando recebemos
um chamado para uma ocorrência, mas estou contente por conseguir
comparecer a esse jantar. — Explico-me olhando dele para Atena atenta a
minha voz.
— Ok! Está desculpado, agora vamos para mesa pois mulher
grávida tem um apetite que vocês não fazem idéia. — Luana vem até o
marido empolgada e o arrasta com ela para irem na frente.
Encaro Atena e ela está sorrindo, linda, pego a sua mão enlaçando o
seu braço no meu e ela abre mais o seu sorriso me deixando abobalhado.
Entramos na sala de jantar e vejo uma senhora vir com uma travessa nas
mãos e o marido com algumas taças, Otávio nos apresenta e todos estão
atentos em mim ao lado de Atena, ela está calada apenas ouvindo a nossa
conversa.
Eu também estou atento a mulher ao meu lado, mas ela parece com
vergonha de comer por estar na minha presença, será que ela precisa de
ajuda? Encaro as pessoas na mesa e com os olhos eles parecem dizer que
está tudo bem, pelo menos é isso que eu entendo e eu tenho experiência em
ler os olhos das pessoas.
Começamos a comer enquanto todos perguntam sobre mim e o meu
trabalho, me sinto em um interrogatório mas não me importo, sorrio pois sei
que só estão preocupados com Atena, sei que perceberam o meu interesse
por ela e só estão tomando cuidado com a presença de um estranho, e eu
fico feliz que eles se preocupem assim com ela.
— É um prazer ter um Tenente da polícia de Detroit jantando
conosco, muitos só reconhecem o valor que a polícia tem quando precisa
dela, é uma profissão arriscada, muitos morrem apenas por ser quem são,
morrem para defender inocentes... Eu tiro o meu chapéu para vocês da
polícia, Tenente Théo, para os bombeiros, para os médicos e muitos outros
profissionais que estão nessa terra para salvar vidas... Foi por muito pouco
que conseguiram salvar a nossa Atena, e também foi por muito pouco que
não conseguiram salvar os pais dela... Me perdoe por tocar nesse assunto,
filha, mas sei que essa semana é o aniversário deles. — O senhor Adalberto
comenta pensativo. Suas palavras me surpreendem.
— Me perdoem pela curiosidade, mas... O que aconteceu com você
e seus pais, Atena? Se não quiser falar tudo bem, não precisa. — Encaro a
mulher ao meu lado e ela me dá um pequeno sorriso.
— Nem todos que se aproximam de mim se interessam em saber o
que aconteceu com os meus pais, só querem saber o porquê sou cega...
Aquele dia tinha mesmo tudo para dar errado, meus pais estavam brigando
muito, ele estava bebendo com frequência, naquele dia em especial o papai
estava muito enciumado, via coisas até onde não tinha... Saímos do
restaurante e eles estavam agitados, meu pai pegou a via expressa e não era
aquele o nosso caminho, ele estava correndo muito e eu pedi para ele ir
mais devagar, mas ele parecia não me ouvir... Ele não viu o carro vir na
nossa direção em alta velocidade, quando ele tentou desviar já era tarde... A
sete anos atrás eu vi a minha mãe voar pelo para-brisa do carro e o meu pai
sendo esmagado pelas ferragens. Mesmo cega eu consigo ver aquela
imagem se repetir na minha mente como se estivesse acontecendo de novo,
e de novo, e de novo... Foi a última vez que eu vi a luz do dia... Foi a última
vez que os meus olhos filmaram uma imagem diante de mim, e foi a pior de
todas. — Seu tom emocionado não esconde a tristeza da sua alma.
Suas lágrimas descendo mesmo ela forçando um sorriso, seu tom
trêmulo mesmo com a voz tão doce.
— Não precisa dizer mais nada, estou vendo o quanto tudo isso te
machuca... Perdoe a minha curiosidade? — Pego a sua mão sobre a mesa e
ela vira o rosto para mim como se quisesse me ver.
— Está tudo bem, eu não me importo em falar disso pois não quero
esquecer o que houve, ou vou ter que esquecer os meus pais também. —
Ela respira fundo voltando a sua postura de antes. — Depois daquela última
visão que tive, eu acordei em um quarto de hospital um mês depois, e já
acordei assim, cega, sem conseguir ver o rosto das pessoas, sem poder ver a
luz do dia... O processo de adaptação foi muito longo, foi difícil e eu não
desisti porque não deixaram. Eu perdi uma família mas ganhei outra tão
amorosa quanto a que perdi... Lua e meus tios são a minha força para não
desistir e eu serei eternamente grata a eles por tudo... — Ela sorrir
estendendo a mão sobre a mesa e a amiga pego com lágrimas nos olhos,
mas com um sorriso amoroso.
— Amiga de verdade não abandona a outra, muito menos em um
momento tão difícil... Eu não tenho dúvidas de que se fosse eu no seu lugar,
você teria feito o mesmo por mim, por isso fico triste quando você acha que
está sendo um peso para mim, porque isso não é verdade, tudo que eu fiz e
faço por você, eu faço por amor, ouviu? Então pensa nisso toda vez que
sentir que está me incomodando ou algo do tipo, pois não é verdade... —
Luana declara tão emocionada que me comove.
— Caramba... Eu não estava preparado para tudo isso. Essa amizade
de vocês é surpreendente, é admirável. — Comento realmente surpreso com
tudo isso. E eles são pessoas tão simples e gentis.
— É, companheiro, não foi à toa que eu entrei para essa família.
Você também não vai se arrepender pois já percebi que você também gostou
de alguém aqui. — Dispara o marido de Luana e vejo Atena se engasgar
com o suco que ela bebe.
Encaro-a preocupado mas Luana corre para acudir a amiga, levanto-
me assustado mas logo ela melhora.
— Não liga para as bobagens que Otávio diz, Théo... Ele não sabe a
hora certa de brincar. — Ela se ajeita na cadeira visivelmente
envergonhada. Sorrio.
— Ele não disse nenhuma bobagem, Atena... Eu gostei sim de você
e quero te conhecer melhor. Se você também quiser, é claro. — Seguro
novamente a sua mão sobre a mesa, vejo o seu rosto ficar ainda mais
corado.
— Porque você quer me conhecer melhor? Olha para mim, Théo?
Você está mesmo interessado em conhecer melhor uma mulher com
limitações? — Ela solta a minha mão sem jeito mas pego novamente
beijando demoradamente.
— Eu já percebi que você parece ser muito teimosa, mas para o seu
azar eu também sou. — Firmo convicto e vejo as pessoas na mesa sorrir. —
Quando a gente quer muito uma coisa, a gente não desisti, muito menos eu
que sou um Tenente da polícia de Detroit e estou acostumado com
desafios... E conquistar você será o desafio mais lindo que já tive nessa
vida. — Disparo espontaneamente e surpreendo-me comigo mesmo.
— Uau... Por essa eu não esperava. O cara chegou chegando
decidido e cheio de atitude. Você ganhou o meu respeito, Tenente! —
Otávio me estende a mão e eu sorrio pegando em seguida.
— Eu sei que esse jantar é para comemorar boas notícias entre
família, e eu quero dar os parabéns a vocês pelo bebê que está chegando.
Mas também quero deixar claro as minhas intenções em vir aqui... Eu me
encantei por essa linda mulher desde o primeiro instante em que a vi, e
gostaria muito de poder vir vê-la mais vezes se ela e vocês permitirem...
Sou solteiro e nunca fui casado, não tenho filhos e minha família também
mora no centro de Detroit, minha mãe e meu irmão Tony. Esse está
viajando pois está de férias no trabalho, ele também é da polícia de Detroit
e trabalhamos na mesma unidade, meu pai faleceu a alguns anos enquanto
estava de serviço, ele também era dá polícia... Bom, é isso, se quiserem me
investigar vocês estão no seu direito pois vejo o quanto se preocupam com
Atena, e querem o bem dela... Mas é isso, eu quero sim conhecer você
melhor, Atena, e não vou desistir de conquistar a sua confiança mesmo que
me rejeite. — Me abro para essas pessoas pois estou decidido a conquistar
essa mulher, não sei o que deu em mim mas é isso que eu quero.
— A decisão é dela, o que ela decidir nós apoiaremos. — Afirma
Sra. Sônia sorridente.
— Mas tem cabimento uma coisa dessas? Você me conheceu hoje e
já está aqui pedindo permissão para me conhecer melhor, Tenente? Você é
louco! — Atenta se levanta abruptamente chocada com a situação. Me
levanto também.
— Eu não sou louco, Atena! Eu só não gosto de perder tempo. A
vida é curta e na minha profissão isso é um fato... Eu só não quero morrer
antes de viver algo especial com alguém...
— E eu não quero viver algo especial para depois perder alguém.
Então isso acaba aqui, com licença! — Ela sai deslizando a mão pela parede
e se afasta me deixando aqui confuso.
— Me desculpem...? Eu não queria chateá-la. — Encaro as pessoas
na mesa e Luana sai atrás de Atena.
— Relaxa, Tenente! Ela está na defensiva porque já teve algumas
decepções, ela só não quer passar por isso de novo. — Conta Otávio.
— Eu entendo. Um coração que já sofreu tanto é como um campo
minado, tem que saber onde pisar para ganhar o seu espaço. Sei que não vai
ser fácil mas eu vou tentar. — Afirmo pensativo.
— É assim que se fala, cunhado...! Quer dizer, Tenente! — Dispara
Otávio empolgado e eu sorrio. Esse cara é um barato.
— O jantar está ótimo mas acho que já vou indo. Não quero
incomodar mais. Foi um prazer conhecer vocês. — Despeço-me ajeitando a
cadeira no lugar e todos se levanta da mesa. — Por favor, não se levantem!
Não se incomodem, eu sei onde fica a porta. Tenham uma boa noite! —
Lhes ofereço um sorriso sincero e saio em seguida.
Não me arrependo de ter vindo, e vou voltar outras vezes por mais
que ela me rejeite. Não sou homem de desistir do que quero e agora mais do
que nunca eu quero conquistar essa mulher, quero ajudá-la e protegê-la e eu
vou fazer isso.
Saio da casa e sigo até o meu carro parado na frente da casa dela.
Quantas vezes mais ela já passou por situações como aquele assalto de
hoje? Ela já teve namorados depois de ficar nessas condições? Com certeza
sim pois Otávio disse que ela já sofreu decepções, então terei que ir com
calma.
Abro a porta do carro para entrar, mas paro quando ouço ela me
chamar.
— Tenente...? Théo! — Ela vem apressada de braços dados com a
amiga e sua bengala dobrada na mão.
Fecho novamente a porta do carro e apresso-me para chegar até ela.
— Atena? O que houve? Aconteceu alguma coisa? — Olho dela
para a amiga e ela pisca para mim.
— Não, não aconteceu nada, eu só queria me desculpa por ter saído
daquele jeito. — Se desculpa envergonhada. Sorrio abertamente.
— Não precisa se desculpar, está tudo bem. — Aproximo-me mais e
Luana me entrega a mão dela.
— Vou deixar vocês conversarem a vontade, se for embora depois,
me liga para avisar que está em casa, ouviu, Tena? Não vou dormir até você
ligar.
— Não se preocupe, eu vou ligar. — Ela sorrir timidamente.
— Luana? Antes de ir, anota para mim o seu número e o número
dela também. Quero poder entrar em contato quando eu não puder vir vê-la.
— Tiro o meu celular do bolso e entrego a ela.
Rapidamente ela concorda e vejo Atena com um pequeno sorriso,
mas igualmente lindo e encantador. Em seguida Luana se despede e sai nos
deixando a sós.
— Tem uma cadeira de balanço na minha varanda, quer se sentar
um pouco? — Sugere sem jeito.
— Que tal se dermos um passeio? A noite está muito bonita, boa
para fazer uma caminhada. — Lembro-me do seu comentário quando
cheguei.
— Claro, vamos sim, eu vou adorar.
Seu sorriso se abre de uma maneira que não sei explicar, só sei que
me deixa sem ar.
Enlaço o seu braço no meu e andamos pela calçada enquanto
conversamos, ela ainda está acanhada depois do episódio na casa da sua
amiga, sorrio. Pergunto mas sobre ela e também conto mais sobre mim,
deixo ela perguntar o que quiser e respondo com o maior prazer, quero que
ela se sinta confortável, quero que confie em mim e aos poucos ela se abre
conversando comigo mais abertamente, e estou feliz por isso.
— Posso te fazer uma pergunta? Espero que não se chateie... Você é
tão linda, porque não tem um namorado? Porque não se casou como a sua
amiga fez? — Pergunto realmente curioso.
— Não consigo confiar nas pessoas como eu gostaria, tenho medo
de sofrer mais do que já sofri... Não posso ver quem está na minha frente,
Théo, se alguém tentar me fazer mal como me fizeram mais cedo, eu não
poderia denunciar pois não saberia descrever quem fez aquilo comigo. —
Ela solta o meu braço inquieta.
— Alguém já fez ou tentou fazer algo contra você? Atena? Seja
sincera comigo como estou sendo com você, se tem algo que você queria
me contar, não se sinta envergonhada, não precisar ter receios pois estou
aqui para te ajudar e não para te julgar. — Questiono sério pois estou vendo
claramente que algo aconteceu com ela.
— Já andamos o suficiente, podemos voltar para casa?
— Sim, podemos! Mas antes responde a minha pergunta? Alguém
fez ou tentou fazer algo com você, se aproveitando das suas condições? Me
responde, Atena? — Pergunto irritado incrédulo por imaginar alguém
mexendo com ela.
— Está bem! Eu vou responder as suas perguntas, Tenente, mas
apenas para você cair na realidade e ver o erro que está cometendo
perdendo o seu tempo com uma cega inválida...! Eu tive um namorado há
alguns anos atrás, em poucas semanas de namoro ele queria que eu
transasse com ele, mas eu não estava pronta para fazer isso e ele ficou
impaciente, ele me arrastou até um beco escuro enquanto caminhávamos
aqui perto e tentou me estuprar... Por sorte Deus levou Luana até a mim no
lugar certo e na hora certa... Ela estava passando para ir na casa de Otávio e
ouviu gritos, quando se deu conta de que era eu ali sendo atacada pelo
homem que dizia gostar de mim, ela gritou por ajuda e ele fugiu me
deixando largada no chão feito um lixo, alguns homens apareceram e
correram atrás dele, mas ele conseguiu fugir. — Conta inquieta, nervosa
enquanto aperto as mãos em punho desejando socar alguém.
— Qual é o nome completo dele? Luana o conhece? Ela saberia me
dizer quem ele é? — Pergunto tirando o celular do bolso e ela sorrir com os
olhos em lágrimas.
— Para que isso agora? Já faz tanto tempo...
— O que ele não conseguiu fazer com você ele pode ter feito com
outras pessoas, Atena! Esse cara é um desgraçado e se ele tentou algo assim
com você, com toda certeza ele já fez ou ainda está fazendo com outras
mulheres e ele precisa ser parado! — Altero-me novamente mas paro
quando vejo que ela parece assustada.
— Tudo bem, você tem razão eu não tinha pensado por esse lado...
Amanhã você pode falar com Lua, ela o conhece e sabe te dizer como ele é,
mas quero deixar uma coisa clara para você, Théo... Não estou acostumada
com estranhos querendo me ajudar assim do nada, quem faz isso está
sempre esperando algo em troca e como você mesmo pode ver, eu não
tenho nada para te dar além da minha amizade...
— Não estou te ajudando esperando que você se apaixone por mim,
estou fazendo isso porque eu quero e também porque é o meu dever! E eu
não quero apenas a sua amizade e você também já percebeu isso. — Toco o
seu rosto admirando esses lábios pequenos.
— Isso não pode ser possível... Você me conheceu hoje e já está
interessado em mim? Já brincaram comigo antes, Théo... Eu... Tenho medo
de gostar de alguém novamente. — Seu tom suave, doce e tranquilo me
prende nessa boquinha pequena. Seus olhos agora parecem mais escuros
pela escuridão da noite.
— Que Deus me castigue se eu brincar com você, não é esse o meu
interesse... Não precisa ter medo de mim, Atena, eu só quero te proteger...
— Passo o meu polegar pelos seus lábios e ela ofega, mas se afasta em
seguida.
— Eu posso mesmo confiar em você? Não vai me iludir e depois se
mandar e me deixar para trás? — Ela sorrir erguendo a sobrancelha. Sorrio.
— Não, eu não vou te iludir, e antes de fazer uma estupidez dessa,
Deus vai me castigar com toda certeza. — Pego a sua mão e ela não me
rejeita.
— Está bem! Eu vou te dar uma única chance para nos conhecermos
melhor. Mas na primeira vacilada que você der, eu mesma vou mandar
prender você por abuso de poder. — Dispara em tom mais confiante
enquanto seguimos de volta para sua casa. Sorrio.
— Abuso de poder?
— Não é porque você é Tenente que vai poder me iludir ou brincar
comigo, se você fizer isso, eu te denuncio! — Seu sorriso largo me fascina.
Gargalho pelo seu comentário.
— É justo! Então esse será mais um motivo para eu não brincar com
você. Eu não quero que você me denuncie. — Acaricio o seu braço
admirando esse sorriso incrivelmente lindo estampando o seu rosto.
Não dissemos mais nada e continuamos a nossa caminhada, a noite
está realmente gostosa para esse passeio, e a companhia está perfeita. Ela
caminha com segurança segurando o me braço, mas de repente ela pisa em
falso em um buraco e se desequilibra, vejo o seu corpo cair para o lado mas
sou mais rápido e puxo ela para os meus braços. Ela ofega pelo susto
segurando os meus braços com firmeza, ela está trêmula.
— Me desculpa... Eu me assustei...
Ela está tremendo muito, não consigo imaginar quantas vezes ela já
passou por isso, quantas vezes ela já passou situações assustadoras.
— Não se desculpe, eu devia ter prestado mais atenção já que estou
sendo o seu guia. Você está bem? Machucou o pé? — Mantenho-a em meus
braços sem a intenção te soltá-la.
— Sim, eu estou bem, não me machuquei, foi apenas o susto
mesmo, não se preocupe. — Ela se solta de mim sutilmente e continuamos
o nosso trajeto.
Não nos afastamos muito então em poucos metros mais a diante
paramos na frente do seu portão. Entro com ela até a varanda para deixá-la
na porta de casa, ela volta a ficar acanhada e eu pela primeira vez estou sem
jeito para lidar com uma mulher.
— Bom, já está tarde e você mora longe. Já sabe o meu endereço e
tem o meu número de telefone, quando quiser ligar ou aparecer, fique à
vontade... Eu gostei de conversar com você, Théo... Eu posso te fazer um
pedido? — Ela me dá um sorriso doce me enfeitiçando ainda mais.
— Claro! Peça o que quiser.
— Eu posso tocar o seu rosto...? Estou curiosa para saber como você
é. — Pede envergonhada surpreendendo-me com o seu pedido.
— Sim... Você pode tocar o meu rosto. — Concordo.
Toco a sua cintura e trago-a para mais perto de mim, suas mãos
agarram os meus braços com a mesma firmeza de antes e seus dedos
delicados sobem até o me pescoço, ela acaricia a minha nuca e adentra os
seus dedos nos meus cabelos, me controlo ao extremo para não beijá-la.
Seus dedos sobem até a minha testa e ela fecha os olhos deslizando
lentamente os seus dedos pelo meu rosto, desenhando com os dedos os
contornos e expressões do meu rosto. Ela toca o meu nariz e sorrir ainda de
olhos fechados, ela acaricia a minha barba e finalmente toca os meus lábios,
e quando o faz sinto ela ficar tensa assim como eu.
Seguro a sua mão e beijo os seus dedos, beijo a palma da sua mão
desejando ardentemente beijar os seus lábios, mas ela se solta de mim ao
perceber o quanto estou ofegante de desejo por ela.
— Boa noite, Théo... Eu preciso entrar agora. — Ela se afasta como
se quisesse fugir de mim.
— Espera? O que houve? Você parece com medo de mim. Eu fiz
algo que você não gostou? — Pergunto confuso pois hoje mais cedo ela
teve essa mesma reação.
— A sua respiração pesada me traz lembranças. Lembranças de um
pesadelo... Se quiser mesmo continuar com isso, você vai precisar ter
paciência comigo, você está ciente disso? — Alerta-me enquanto abre a
porta de casa.
— Sim, estou ciente e repito que não vou desistir de você por isso...
Posso vir te ver amanhã? Gostaria de levar você para almoçar comigo. —
Aproximo-me novamente dela mas paro com receios dela se incomodar
com isso. Ela fica em silêncio por uns instantes.
— Tudo bem, você pode ir me buscar na floricultura da Lua, eu
trabalho com ela. — Ela sorrir orgulhosa ao dizer que está trabalhando. Isso
é surpreendente.
— Ok! Então estamos combinados, eu passo para te buscar amanhã
ao meio dia em ponto. Pode ser?
— Pode! Só me esclarece uma dúvida? Isso é um encontro? — Ela
volta a sorrir eu retribuo espontaneamente.
— Pode considerar um segundo encontro, já que hoje tivemos um
primeiro encontro com a sua família. — Ela abre mais o seu sorriso.
— Sim! Minha família! — Afirma com convicção. — Tenha uma
boa noite, Tenente Théo!
— Boa noite, Atena!
Sorrio feito um bobo enquanto ela entra em casa e fecha a porta em
seguida. Fico aqui parado feito um idiota que não sabe o que fazer ou para
onde ir, depois de receber um sorriso como aquele. Ela é tão linda.
Saio finalmente da sua varanda e sigo para o meu carro, entro no
mesmo e dou a partida saindo dali satisfeito com o meu final de noite, ela
aceitou me conhecer melhor, aceitou o meu convite para almoçar mas vou
precisar ir devagar com ela. Agora entendo o porquê ela se assustou com a
minha respiração pesada, ela se lembrou daquele infeliz que tentou estuprá-
la, eu vou correr atrás disso, vou encontrar esse miserável nem que isso seja
a última coisa que eu faça nessa vida.
Meu Deus, conheci essa mulher hoje e já estou louco por ela, como
isso é possível? Não tiro a razão dela estranhar o meu interesse por ela, mas
quando bati os olhos naquela mulher caída no chão depois de se chocar
contra mim, a sua beleza me impressionou, eu só percebi que ela é
deficiente quando ouvi ela pedir ajudar para encontrar a bengala que rolou
pelo chão, meu coração doeu de remorso por ter gritado com ela ao
derramar café em mim, eu só reparei nela quando a vi sentada no chão
tentando encontrar alguma coisa.
Como ela consegue ser tão linda? Como consegue andar por aí
sozinha nessas condições? É perigoso demais, me assusta e me dói imaginar
alguém tentando contra ela, eu preciso protegê-la, preciso fazer alguma
coisa por ela, não posso permitir que ela fique desprotegida.
Durante o jantar a mãe de Luana falou da luta de Atena em
conseguir um trabalho, ela quer trabalhar fora da floricultura mas não tem
sorte em encontrar outro emprego. Que mulher forte e determinada, linda e
dona dos lábios mais tentadores que já vi.
Chego em casa e estaciono na porta de casa, vejo que a luz da sala
está acesa e pego a minha arma embaixo do banco, eu tenho certeza de que
apaguei tudo quando saí, então tem alguém na casa.
Aproximo-me da porta com cautela e com a minha pistola em
punho, toco a maçaneta e está destrancada então entro devagar apontando a
minha arma, mas dou de cara a minha mãe no sofá folheando uma revista.
— Mamãe? O que faz aqui tão tarde? Como entrou na minha casa?
— Pergunto guardando a minha arma na cintura e ela solta um suspiro
pesado.
— Estou te esperando a horas, onde você estava? Eu liguei na
delegacia e me falaram que hoje foi a sua folga... Eu esperei você para o
jantar e você não apareceu, liguei no seu celular inúmeras vezes e você não
me atendeu. Porque você não pode ser como o seu irmão? Mesmo longe ele
me liga todos os dias... Vocês são iguais na aparência mas na personalidade
são como a noite e o dia, completamente diferentes. — Reclama ignorando
as minhas perguntas e isso me faz bufa.
Suspiro fundo, vai começar mais uma seção de questionamentos,
reclamações, cobranças e tudo mais.
— Está tarde e eu estou cansado, mamãe, se veio aqui para reclamar,
eu sugiro que deixe para outro dia... Responde a minha pergunta? Como
você entrou aqui? Achou a minha chave extra? — Sigo até o bar e me sirvo
uma dose de uísque. É minha mãe, mas eu só consigo aturá-la assim.
— Sim! Eu achei a sua chave extra e não é a primeira vez que entro
aqui. Eu me preocupo com você, sabia? As vezes gosto de ver que o meu
filho ainda está vivo. — Retruca inquieta e eu tento não prolongar a sua
visita.
— Tudo bem, me desculpa por não ter ido ao jantar, eu tive um
compromisso de última hora e me esqueci de avisar que não ia poder ir. No
próximo eu prometo que vou por mais que o mundo esteja acabando. —
Aproximo-me e lhe dou um beijo no rosto voltando em seguida para o bar.
— No final de semana sem falta eu quero você lá em casa, seu
irmão vai chegar de viagem e eu quero os meus filhos reunidos comigo e
Norman. — Reviro os olhos ao vir o nome daquele infeliz encostado.
— Não se preocupe, mamãe, eu estarei na sua casa no final de
semana, agora eu preciso mesmo descansar para voltar ao trabalho amanhã.
Estou exausto. — Tiro a jaqueta jogando sobre o sofá. Ela suspira fundo
ainda emburrada.
— Está bem, eu espero não me decepcionar de novo. E a Silvia? Ela
te procurou? Vocês voltaram?
— Sim, ela me procurou, e não! Nós não voltamos e não vamos
voltar só porque você quer. Ela já está em outra e eu quero mais é que ela
seja feliz. Não nos amamos mais e é por isso que não deu certo, estávamos
empurrando esse relacionamento com a barriga porque você pegava no
nosso pé... Por favor, mamãe? Me deixa descansar? — Me jogo no sofá
inquieto e ela cruza os braços.
— Eu não acredito que vocês não voltaram, eu suei para convencê-
la a ir falar com você. Ela é filha de um milionário e você termina com ela,
Théo? Em que mundo você vive, meu filho?
— Com toda certeza eu não vivo no mesmo mundo que você,
mamãe! Não vou me prender a uma mulher que eu não amo só porque o pai
dela é milionário, o dinheiro é dele e não dela... Por favor? Não enche a
minha paciência pois Silvia não quer se casar com um homem que passa dia
e noite correndo atrás de bandido. Eu não sou o que ela quer e eu também
não a quero como minha esposa! Foi você quem arranjou esse
relacionamento e no fundo eu já sabia que não ia dar certo. Agora me deixe
em paz! — Retruco farto dessa sua insistência.
— Não precisa brigar comigo! Eu ainda sou a sua mãe! Se você
quer passar a sua vida enfiado em uma delegacia eu não vou me meter mais,
vou focar a minha atenção em Tony pois ele sim ouve os meus conselhos.
— Contesta também irritada e eu gargalho.
— Você claramente não conhece os filhos que tem, mamãe, ou então
não perderia o seu tempo tentando nos casar com as mulheres que você
escolhe. — Gargalho de me contorcer e ela me lança um olhar furioso.
Ela não diz mais nada e sai batendo a porta, meu sorriso está
pregado no rosto mas não é por ele, é por uma certa ruivinha de olhos tão
surpreendentes, apesar deles não poderem me ver. Atena... Você está
roubando os meus pensamentos desde cedo.
— Eu preciso protegê-la, preciso investigar o infeliz que tentou
estuprá-la.
Não consigo nem imaginar alguém fazendo aquilo com ela sem ela
ver quem é e sem saber se defender, sem ver para onde pode correr para
fugir de um canalha como aquele. Levanto-me inquieto e pego o meu
celular, eu preciso cuidar da segurança dela, preciso protegê-la pois algo
dentro de mim grita por isso.
Ligo para o Tenente Valério, ele pode me ajudar a colocar alguém
para cuidar de Atena, mas não vou poder contar nada a ela ou não vai
aceitar a minha ajuda.
— Tenente Théo?
— Tenente Valério! Preciso da sua ajuda, preciso proteger alguém e
gostaria que me orientasse para eu não meter os pés pelas mãos, não estou
com cabeça para pensar sozinho hoje. — Desabafo de uma vez.
— Do que você precisa? Quem precisa proteger?
— Eu conheci uma garota hoje, ela é especial, Valério, ela é
deficiente visual mas é a mulher mais linda que já vi na vida. — Comento
espontaneamente sem me dar conta do sorriso em meu rosto ao falar dela.
— Entendi, você está apaixonado... Mas porque ela precisa de
proteção...? Espera! Você disse que ela é deficiente visual? Como isso
aconteceu? Porque ela precisa de proteção? — Ouço ele sorrir antes de
sentir o seu tom de voz confuso e ao mesmo tempo curioso.
— É uma longa história e eu vou te contar assim que possível. Essa
garota sofreu uma tentativa de estupro há um tempo atrás, ela passa por
muitas situações desagradáveis pelo fato de não poder enxergar... Preciso
investigar o cara que tentou contra ela, mas também preciso proteger essa
garota, Valério, não vou ficar tranquilo se eu não fizer isso. — Desabafo
mais uma vez preocupado com Atena.
— Beleza! Não sei se vamos conseguir tirar um dos oficiais aqui da
delegacia, mas conheço uma agência de seguranças particulares, essa é a
sua melhor opção agora para não misturar o pessoal com o profissional, o
delegado Camilo pode não aprovar isso e é melhor que você não tenha que
se preocupar com ele... Vou fazer umas ligações e amanhã mesmo te
apresento a alguns colegas que podem te ajudar. Quanto a investigação,
depois me passa os dados que você tiver, eu te ajudo. — Suas palavras me
animam e me deixam mais decidido.
Converso um pouco mais com ele sobre as minhas ideias e sobre
essa minha paixão repentina por Atena, foi paixão à primeira vista, não tem
outra explicação e Valério concorda comigo. Estou apaixonado por Atena,
eu gostei dela desde o primeiro instante em que a vi, eu preciso fazer por
ela o que só eu posso fazer.
— Você parece nervosa, Tena, o que você tem? — Lua pergunta
curiosa.
— Não tenho nada, estou normal.
— Ah mas não está mesmo. Você está tensa, parece nervosa e
inquieta. Por acaso tem a ver com o Tenente bonitão? — Seu tom de voz
animado indica que ela está sorrindo. — Você está corada, isso quer dizer
que eu acertei?
— Ele vai vir me buscar para almoçarmos juntos, ele disse que é um
encontro. Estou nervosa sim, Lua. — Sinto as minhas mãos trêmulas, está
chegando a hora do almoço e ele vai vir.
— Você está gostando dele, amiga? Estou te vendo tão entusiasmada
que até esqueceu a sua frustração por não ter conseguido o emprego. Ele te
faz bem? Você gostou de estar com ele? Eu vi que vocês passaram bastante
tempo caminhando ontem.
— Está me vigiando, Lua...? Obrigada por se preocupar tanto
comigo, amiga... E sim, eu gostei muito de conversar com ele, não é porque
ele da polícia, mas, eu me sinto segura quando estou com ele, Théo é tão
atencioso, ele me deixou tocar o rosto dele, ele deve ser lindo. — Comento
empolgada e suspiro ao me lembrar dele.
— Realmente ele é muito bonito, mas você também é linda então
não me espanto por um Tenente da polícia estar caidinho por você... A
maneira como ele te olhava o denunciou. — Seu tom risonho me faz sentir
o meu rosto esquentar.
— Você acha que ele gostou mesmo de mim? Mesmo com as
minhas limitações um homem como ele se apaixonaria por mim? —
Pergunto sem jeito e envergonhada.
— Acho que ele já está apaixonado por você, amiga, já ouviu falar
de paixão à primeira vista? Ele está caidinho por você, e você por ele. —
Ela sorrir me abraçando por trás e meu sorriso vai nas orelhas.
Continuamos o nosso trabalho e eu separo os brotos de rosas para
Rayssa mexer neles depois, nos distraímos conversando e eu finalmente
falo da minha dificuldade em conseguir um trabalho, mas nesse momento
não estou muito chateada com isso, vou deixar para me preocupar amanhã
pois hoje não tenho cabeça para isso, só tenho pensamentos para ele, para o
Tenente Théo Carlson.
— Bom dia meninas! — Ouço a sua voz o meu corpo fica tenso
rapidamente.
— Bom dia! — Respondemos todas juntas.
— Tenente! Que bom vê-lo novamente. Veio comprar flores? —
Ouço também a voz de Otávio e ele não estava aqui. Deve ter acabado de
chegar.
— Sim, Otávio! Eu quero o buquê mais lindo e mais caro que vocês
tiverem, estou tentando impressionar uma mulher surpreendentemente
linda. — Sua voz está se aproximando e eu vou ficando mais tensa e
surpresa.
Sinto alguém pegar a minha mão e beijar demoradamente. Minha
respiração pesa assim como aconteceu ontem.
— Atena, como você está hoje? Eu vim te buscar para o nosso
almoço. — Sinto que seus olhos estão fixos em mim.
Ele está muito perto pois sinto o seu perfume invadir as minhas
narinas. Sorrio e espero que ele não perceba que estou nervosa.
— Eu estou bem, Théo, e você? Como está?
— Agora eu estou bem melhor. Estava ansioso para te ver. — Suas
palavras me fazem corar. — Eu vim um pouquinho mais cedo pois quero
conversar com você e Otávio por um instante, Luana, vocês podem me
acompanhar até o meu carro? — Informa em um tom mais sério e isso me
deixa curiosa.
— É claro, Tenente, vamos lá! — Concorda Otávio e eu fico atenta.
Ouço seus passos se afastar me deixando furiosa e intrigada. O que
ele quer conversar com eles? Será que tem a ver comigo? Puxo na minha
memória sobre a nossa conversa de ontem e me lembro que ele disse que
viria conversar com Lua sobre aquele maldito que tentou me estuprar,
minha nossa! Será que ele vai fazer alguma coisa? Por isso veio conversar
com Lua e Otávio?
— Onde você vai, Atena? Precisa de ajuda? — Questiona Rayssa
quando me levanto.
— Eu vou até a cozinha. Estou com a garganta arranhando de sede.
— Sigo com calma até a pequena cozinha nos fundos da loja.
Entro na cozinha e pego a água na geladeira, bebo um copo
generoso de água enquanto tento não surtar de curiosidade para saber o que
eles estão conversando, depois Lua vai me contar caso Théo me esconda a
verdade, talvez ele tenha receios de me contar alguma coisa, ou não quer
me incomodar perguntando na minha frente sobre o que aconteceu no
passado, bom, vou ter que esperar para saber o que está acontecendo.
Lavo as mãos e seco em seguida, saio da cozinha tirando o meu
avental e passo as mãos nos cabelos, me sento atrás do balcão pensativa
enquanto espero eles voltarem, e eles estão conversando a bastante tempo.
Minutos depois estou conversando com Rayssa quando ouço passos
se aproximarem, paro atenta para tentar identificar quem é, ouço o som das
embalagens que usamos para preparar os buquês.
— Aqui estão as suas flores, Tenente, espero que a mulher que as
receber goste. — Ouço a voz empolgada de Lua.
— Saberemos se ela gostou em poucos segundos. — Fico atenta e
sinto alguém segurar a minha mão me fazendo levantar.
Sinto colocarem algo em meus braços e é um buquê de flores.
— Mesmo que não possa ver essas flores tão lindas, não tem
problema, você já vai me fazer feliz se aceitá-las como prova do meu
carinho por você. — Surpreendo-me com a sua voz aqui pertinho de mim e
um carinho suave em meu rosto.
Sorrio abraçando o buquê flores, toco-as para saber que flores são,
são rosas. Meu sorriso vai nas orelhas.
— Obrigada, Théo, você é muito gentil. Eu aceito as flores.
Meu sorriso está pregado no rosto e eu cheiro as rosas ouvindo
através do silêncio da floricultura, apenas o som dos carros passando lá fora
e as pessoas conversando.
— Bom, é melhor vocês irem logo, Tena não tomou café da manhã
direito e com certeza está morrendo de fome, nós também vamos almoçar.
Vou colocar essas flores na água para você até que volte, mais tarde você
leva para sua casa ou eu levo para você se for passar o dia fora. — Lua pega
o buquê das minhas mãos mas eu seguro-as contra o meu peito.
— Me deixe ficar com elas, Lua? Eu nunca ganhei flores antes, eu
quero ficar com elas. — Sorrio abraçada ao buquê de rosas. Ele me deu
rosas.
— Como assim nunca ganhou flores antes? Como isso é possível?
— Seu tom surpreso me deixa constrangida.
— Pega Lua? Coloca na água, eu pego depois. — Forço um sorriso
meio sem jeito.
Nessas horas dou graças a Deus por não poder ver a cara que ele
deve estar fazendo. Mas eu gostaria tanto vê-lo.
— Não, amiga! Pode levá-las com você, quando você voltar eu
ponho elas na água.
— Me desculpa se pareci surpreso demais, Atena, é que não aceito o
fato de ninguém ter lhe dado flores antes. Talvez pelo fato de você ser tão
linda quanto essas rosas e estar trabalhando no meio delas. — Sinto seus
dedos tocar o meu rosto, sinto o meu rosto esquentar.
— Já podemos sair se você quiser, não quero ocupar muito o seu
tempo pois você deve ser bastante ocupado. — Comento sem jeito.
— Para você eu nunca vou estar ocupado, mas se algum dia você
precisar de mim e eu não puder vir, sempre terá alguém a sua disposição...
Podemos ir agora. — Suas palavras me deixam confusa mas antes que eu
possa questionar, ele enlaça o meu braço no seu para sairmos.
Despeço-me de Lua e os outros e deixo o Tenente me levar até o seu
carro, entramos no mesmo e ele segue para algum lugar, perguntando se eu
prefiro ir a um restaurante ou almoçar na sua casa. Eu prefiro ir a um
restaurante pois ainda não o conheço bem, então não vou para casa de um
estranho.
Passamos o caminho conversando com ele querendo saber mais de
mim e dos meus gostos, mas também fala bastante dele, do irmão que
trabalha junto com ele e também da sua mãe, mas não entra em detalhes.
Melhor assim.
Quinze minutos depois o caro para, pergunto se já chegamos e ele
afirma que sim, é um restaurante em Downtown na área onde ele mora, me
surpreendo por ele ter me trago para almoçar tão longe da minha casa, mas
não ligo, ele é da polícia e não vai fazer nada contra mim, ele parece ser
muito sincero e Lua e os outros parecem confiar muito nele.
A louca da Lua ligou para delegacia para confirmar se ele é mesmo
Tenente naquela unidade, quem atendeu foi o Inspetor Renato e passou o
telefone para Théo, eu morri de vergonha e me escondi para Lua não passar
o telefone para mim, não sei como conseguiria falar com ele sabendo que
ele sabia que estávamos investigando ele, sorrio ao me lembrar de tal
situação.
— Você está sorrindo, isso significa que está animada com o nosso
passeio até aqui. — Ouço ele abrir a porta do carro e pegar a minha mão,
me ajudando a descer.
— Sim, estou animada, mas também apreensiva, não quero fazer
você passar vergonha.
— E porque você me faria passar vergonha? Estou ao lado da
mulher mais linda que os meus olhos já viram... Me desculpa, não quero
fazer você se sentir mal pelo fato de eu poder te ver e você não poder me
ver.
— Está tudo bem, não se preocupe com isso. Que bom que me acha
bonita, isso já é um consolo. — Agarro o seu braço com firmeza com
receios de cair como ia acontecer ontem.
Ele me segurou com tanta firmeza que fez eu me sentir segura por
estar em seus braços, ele não parecer ser um daqueles homens musculosos,
mas ele é forte, ele tem uma pegada forte. Entramos no tal restaurante e ele
conversa com uma mulher, suponho ser a recepcionista pois ela nos leva até
a mesa reservada por Théo, ele me ajuda a me sentar e se senta em seguida
próximo a mim.
— O que você gostaria de comer? O que quer pedir? Vou ler o
cardápio para você. — Pergunta em um tom risonho me fazendo sorrir
também.
Ele me fala tudo que tem no cardápio e explica o que é, são tudo
coisas difíceis de comer com talheres e eu não posso ver a comida a minha
frente. Droga! Vou fazê-lo passar vergonha, não vou conseguir comer nesse
lugar sem derramar a comida, não vou poder pegar com a mão para não ser
deselegante.
— O que foi? Ficou séria demais, parece triste. — Seu tom é
preocupado e eu não quero estragar o nosso encontro.
— Não é nada... É... Escolhe o que você quiser, por mim tudo bem.
— Me ajeito na cadeira sem jeito e receosa.
Para mim é normal comer e as vezes me sujar, derramar comida,
mas não quero fazer isso em um restaurante na frente de tanta gente, não
quero passar vergonha no nosso primeiro encontro. Ou melhor, no nosso
segundo encontro.
— Eu pensei em pedir uma pizza no lugar da comida, ou você
prefere a comida? Tem medo de engordar por comer massa? — Suas
palavras faz um largo sorriso surgir no meu rosto.
— Eu adorei a ideia, vou me sentir mais à vontade comendo algo
bem mais sólido — Comento espontaneamente e ouço ele sorrir, sinto o
meu rosto mais uma vez esquentar.
— Foi o que pensei. Podia ter dito antes de ficar tão preocupada.
Você não tem que ficar com medo, receios ou se envergonhar por nada,
Atena, você não deve nada a ninguém então não importa se cair um
carocinho de arroz fora do prato. — Ele pega a minha mão com carinho e
suas palavras mais uma vez me tranquilizam.
— Me desculpa, eu só não quero fazer você passar vergonha...
— Você me fazer passar vergonha? Impossível! Como eu disse
antes, você não deve nada a ninguém, nem mesmo a mim então não tem
que se preocupar com uma bobagem como essa... Você quer mesmo pedir a
pizza ou gostaria de comer algo em especial? — Sinto ele beijar a minha
mão e eu respiro fundo.
— O risoto de camarão que você citou pare ser uma delícia... É uma
pena eu ser alérgica a frutos do mar... Bom, hoje eu vou aceitar a pizza, mas
no nosso próximo encontro eu peço algo diferente, desde que não seja um
restaurante chique como esse parece ser.
— E se o nosso próximo encontro for um jantar na minha casa? Ou
na sua, você escolhe onde... Você aceita? — Ele acaricia a minha mão
gentilmente.
— É claro que eu aceito, sei que realmente é da polícia e não me
parece ser corrupto, não parece ser alguém ruim e por isso eu confio em
você... Aceito o seu convite mas Luana e Otávio precisam saber o seu
endereço, se acontecer algo comigo eles precisam saber onde me procurar.
— Solto de uma vez para ele saber que tem gente que se preocupa comigo.
— Concordo! É justo e você está certa... Vamos fazer o seguinte!
Vou marcar um jantar lá em casa para você e sua família, vocês já me
receberam no primeiro dia em que nos conhecermos, então quero retribuir a
gentileza, assim eles ficam conhecendo a minha casa e se sentirão mais
seguros em deixar você vir comigo. O que acha? — Surpreendo-me com as
suas sugestões.
— Está falando sério? Quer mesmo levar a minha família na sua
casa?
— Porque não? Você é uma raridade, Atena, e eu estou gostando de
você, as minhas intenções com você são sérias, por isso quero deixar a sua
família tranquila quanto a mim. — Estou chocada com as suas palavras,
mas sorrio abertamente por saber que ele gosta de mim.
Pedimos uma pizza meio a meio, metade Pepperoni e metade
Romana, esse sabor eu ainda não havia comido mas vou experimentar.
Conversamos um pouco até servirem a nossa pizza e começamos a comer,
tento usar o talher para não ser tão deselegante, mas me surpreendo com
Théo sugerindo para eu pegar com a mão como ele está fazendo, ouço ele
largar o talher de lado e sorrio por ele tornar esse encontro tão confortável
para mim, ele está fazendo isso para me agradar e parece não estar se
importando se tem ou não alguém olhando para ele, ou para nós.
Depois da nossa pizza ele pede um sorvete de sobremesa e eu estou
sorrindo tanto que me surpreendo comigo mesma.
— Me diz uma coisa, Atena? O que os médicos falam sobre essa sua
cegueira? Você me contou ontem que os médicos não descobriram o motivo
dessa sua falha na visão, antes do acidente você enxergava e apenas depois
do que houve foi que você ficou assim... Quantos médicos te deram o
mesmo diagnóstico? — Sinto a curiosidade na sua voz.
— Não fui a nenhum especialista, pois para isso eu teria que sair do
país, e eu não tenho condições para isso. Fui a muitos médicos aqui mesmo
na cidade e todos eles se surpreenderam, todos eles não sabem o que eu
tenho e ficam apenas em suposições, eu não tenho dinheiro para gastar com
suposições... Eu tinha esperanças de que essa situação fosse passageira, que
eu voltaria a enxergar logo, mas... Sete anos... Já estou assim a sete anos,
tive que recomeçar a minha vida tudo de novo, tive que aprender coisas
novas, me adaptar a muitas mudanças... Me desculpa mas eu não gosto
muito de ficar falando desse assunto, isso me faz lembrar do acidente e
sentir a falta dos meus pais. Não gosto de chorar na frente de ninguém e
esse assunto me deixa muito emotiva. — Tento não me incomodar muito
com isso e suspiro fundo.
— Me desculpa, não está mais aqui quem perguntou. Se um dia
você quiser se abrir e conversar, eu vou estar aqui para te ouvir e te ajudar
no que eu puder. — Mais uma vez ele pega a minha mão carinhosamente,
sorrio por ele ser tão atencioso.
— Obrigada, isso era tudo que eu precisava ouvir... Já terminamos
então podemos ir. — Solto a sua mão e procuro pelo copo de água.
Bebo enquanto ele sai da mesa dizendo que vai pagar a conta,
pouquíssimos minutos depois ele volta e me ajuda a levantar. Théo me
entrega o buquê que ele havia posto na cadeira ao lado e mais uma vez
enlaça o meu braço no seu, seguimos para fora do restaurante e seu telefone
toca, ele atende e fala brevemente com o Inspetor Renato, meu rosto
esquenta só em me lembrar que mais cedo Lua falou com ele para pedir
mais informações sobre Théo. Pergunto se está tudo bem e ele diz que
precisa voltar ao trabalho, mas antes vai me deixar na floricultura e ele
também pede para ir me ver em casa mais tarde, e óbvio que eu concordo
então entramos no seu carro.
Seguimos de volta para floricultura e conversamos um pouco mais
durante o nosso trajeto, e é muito bom conversar com ele, eu me sinto à
vontade mas prefiro não ficar à vontade demais por enquanto, vamos ver até
onde vai esse seu interesse por mim.

Chegamos na floricultura e ele abre a porta para mim, saio com a


sua ajuda e sinto a temperatura agradável do sol na minha pele. Eu daria
tudo para ver a luz do dia outra vez e contemplar esse sol maravilhoso.
— Antes de você entrar, eu preciso te contar algo que talvez você
não aprove, mas antes que saiba pela sua amiga eu prefiro que saiba por
mim.
— Do que se trata? É algo sério? Algo grave? — Pergunto já
receosa.
— Não, não é nada grave mas é sério sim... Espera um minuto. —
Sinto ele se mover mas não solto o seu braço.
O silêncio se faz presente por poucos segundos.
— Sr. Carlson!
Ouço uma voz grossa se aproximar e me agarro ao braço de Théo
com firmeza.
— Fica calma, Atena. Eu quero te apresentar a uma pessoa. Está
aqui na nossa frente o segurança Alonso, eu o contratei para ficar a sua
disposição, ele vai proteger você e te levar onde quer que você precise ir...
— Para que isso, Théo? Eu não quero um desconhecido andando
atrás de mim, isso me assusta. Não vou deixá-lo entrar na minha casa, eu
não conheço esse homem! — Me solto dele e tento entrar na floricultura,
mas estou sem a minha bengala e não sei onde ele parou o carro.
— Espera, Atena! Ele não vai entrar na sua casa e nem eu te pediria
para deixá-lo entrar. Por favor? Me deixe te ajudar pois me preocupo com
você.
— Se preocupa comigo ou está com pena de mim, Tenente?
— Não estou com pena de você, Atena, preocupação e piedade são
duas coisas totalmente diferente. Por favor não me leve a mal? Me deixa
cuidar de você? Te quero como minha mulher, por isso me preocupo com a
sua segurança. — Ele segura a minha mão me impedindo de ir, mas abraça
a minha cintura quando diz que me quer como sua mulher.
Estou surpresa e não consigo contestar, seus dedos tocam o meu
rosto de forma suave, gentil.
— Me deixa cuidar de você? Eu prometo que você nem vai perceber
a presença dele por perto, ele vai ficar o tempo todo no carro ou andando
pela área e nada mais, se você precisar sair e não quiser ir com ele, tome um
taxi e ele seguirá você a distância em outro carro, ele está aqui para te
proteger quando eu não puder fazer isso... Por favor, Atena? Não precisa me
responder agora, pode me responder mais tarde. — Seu tom é carinhoso e
ao mesmo tempo preocupado.
Não sei o que dizer, mas se ele conhece esse cara e confia nele, acho
que eu também posso confiar, certo?
— Eu vou conversar com Lua e Otávio, mais tarde eu te dou uma
resposta.
— Eles já sabem e concordaram. Conversei com eles mais cedo
antes de sairmos, se lembra? — Sinto ele apertar sutilmente a minha cintura
e isso me deixa nervosa.
Me solto dele meio sem jeito, ele só quer me ajudar e ninguém mais
se interessou em fazer isso antes além de Lua e sua família.
— Ok! Eu aceito que você cuide de mim, mas ainda vamos
conversar um pouco mais sobre esse segurança... Ele ainda está aqui? —
Me sinto envergonhada pela minha reação.
— Sim, ele está aqui e só vai se aproximar da floricultura se vê que
você e seus amigos precisem de ajuda, está bem assim?
— Prometo ser o mais discreto possível, Srta. Atena. Você não vai
se decepcionar com a minha presença. — Ouço a voz do homem a nossa
frente e eu estendo a minha mão para ele e o mesmo pega. Ele tem um
aperto firme.
— É um prazer conhecê-lo, Sr. Alonso, me desculpa pela minha
reação, essa situação é algo novo para mim mas vou tentar me adaptar a
isso. — Recolho a minha mão me sentindo acanhada.
— Por favor, me chame apenas de Alonso. Se precisar da minha
ajuda para algo, é só me chamar, eu vou estar perto o suficiente para ouvi-
la. Fiquem à vontade. Com licença! — Diz antes de ouvir os seus passos se
afastar.
— É melhor você ir, precisa voltar ao trabalho. — Tento me soltar
dele mas o mesmo não deixa. Suas mãos me seguram com firmeza.
— Você já sabe que tenho intenções com você e essas intenções são
sérias, sabe que te quero como mulher então eu posso te pedir um beijo? —
Não me surpreendo com o seu pedido, estou surpresa por ele não ter pedido
antes.
Não respondo com palavras, apenas aceno concordando e sinto seus
dedos erguerem o meu queixo. Não demora e sinto os seus lábios tocarem
os meus em um beijo calmo, profundo e eu retribuo espontaneamente, um
beijo tão bom que me faz flutuar, me faz ouvir sinos tocando e uma
sensação tão boa invade o meu ser. Já faz tanto tempo que eu não beijo na
boca, tinha medo de me pedirem mais que um beijo e eu não poder dar,
medo de que me tomassem a força, mas com Théo é diferente, eu quero os
seus beijos e eles são tão doces, mas estão ficando intensos e ele me aperta
contra o seu corpo de um jeito que me deixa mole. Interrompo o beijo me
soltando dele ofegante, zonza.
— Eu preciso entrar e você precisa ir... Nos vemos mais tarde mas
se não der para vir, avisa para eu não ficar esperando, está bem? Tenha um
bom trabalho, Tenente. — Sorrio timidamente e me afasto, mas ele segura a
minha mão.
— Espera! As suas flores ficaram no carro. — Sinto o seu tom
risonho e ele solta a minha mão.
Ouço a porta do carro se abrir e em seguida se fechar, logo sinto ele
pôr o buquê em meus braços e me entregar a minha bengala, havia me
esquecido dela também.
— Se eu não puder ficar um tempo com você hoje, eu venho nem
que seja apenas para te dar boa noite pessoalmente, tudo bem? — Suas
palavras mexem comigo, me deixam tensa.
— Tudo bem, até mais tarde então.
Quando penso em me afastar sinto seus lábios me roubar um breve
beijo, ele me leva até a porta da floricultura e se despede de Lua e Rayssa,
me diz até logo e sai em seguida. Viro-me desejando com toda minha alma
poder vê-lo, mas não posso, meus lábios estão formigando, meu coração
bate mais acelerado que normalmente, sinto um calor que eu não sentia
antes e estou sorrindo feito boba.
— Que beijo foi aquele, hein ruivinha...?
— Meu Deus, Lua... Que susto... Está me vigiando? — Com o susto
o buquê cai das minhas mãos, estou trêmula mas mesmo assim, sorrio.
— Vocês se beijaram na frente da loja, não tinha como não ver. —
Ela coloca novamente o buquê em meus braços e eu ainda estou sorrindo.
— Como está a movimentação da loja? Eu preciso conversar com
você um instante, você tem um minuto? — Peço apreensiva e ela enlaça o
seu braço meu me levando para dentro da loja.
— Mas é claro, amiga, vamos conversar sim... Rayssa, dá uma
paradinha no que você está fazendo, fica no balcão para mim um instante.
— Claro! Como quiser. — Ouço a voz dela mais a diante.
Seguimos para os fundos da loja e entramos na cozinha, ela puxa
uma cadeira para eu me sentar e assim o faço, ouço ela puxar outra cadeira
e se sentar à minha frente segurando a minha mão.
— Você parece tensa, está nervosa com alguma coisa? Eu vi que se
chateou com algo que o Théo disse, o que houve, amiga? — Sinto a
preocupação no seu tom de voz.
— Ele me contou sobre o segurança que deixou para me ajudar,
fique surpresas e receosa mas ele disse que você e Otávio concordaram...
Você confia mesmo nas intenções dele? Você acha mesmo que posso
confiar nele? Eu não quero me decepcionar, Lua, se ele for mesmo tudo que
você me contou, por quanto tempo você achar que ele vai estar comigo? —
Solto as minhas inseguranças e ela acaricia as minhas mãos.
— Eu entendo essa sua ingurança e não deixaria você entrar nessa
se eu não confiasse nele. Amiga, já passou da hora de você ser feliz com
alguém, então deixa o Théo te fazer feliz? Confia nele pois esse homem
quer o melhor para você. Otávio o alertou que se ver você chorando por
causa dele, não interessa se ele é da polícia, nós vamos acabar com a raça
dele. — Diz com confiança e me faz sorrir com o seu último comentário.
Suspiro fundo.
— Está bem! Eu vou me dar essa chance... Depois daquele beijo eu
não vou consegui pensar em mais nada. — Comento espontaneamente e ela
gargalha.
— Estou gostando de ver, Atena Moore está apaixonada...
— Fala baixo, Lua! Meu Deus, não precisa gritar para o mundo
ouvir. — Sorrio totalmente sem jeito. — Tem outro assunto que está me
deixando tensa. O Théo acabou de dizer que me quer como mulher, e eu
não sei como pedir a ele para ser paciente comigo. Ontem a sua respiração
pesada me assustou, eu quase saí correndo dele, Lua, me senti tão
envergonhada por isso mas também senti medo, me fez lembrar do canalha
do Alexandre. — Conto ainda mais envergonhada por me lembrar do
quanto ele estava ofegante, ele parecia excitado.
— Você precisa conversar com ele, Tena, a julgar por aquele beijão
que ele te deu, esse homem está te desejando e não vai demorar para ele
quere mais que um beijo. — Seu tom é mais suave mas suas palavras me
deixam apreensiva.
— Estamos nos conhecendo agora, ele não vai tentar nada ainda
pois contei a ele tudo que passei com Alexandre, ele sabe que momentos
íntimos me assustam... O que eu faço? — Levanto-me inquieta e com o
coração acelerado.
— Fica calma, amiga, o que você precisa fazer é conversar com ele,
seja franca, diz a verdade e ele será compreensível com você. — Ela me
abraça e me leva de volta para fora da cozinha.
Suspiro ainda apreensiva com esse assunto, como vou falar com ele
sobre algo tão íntimo? Ele vai rir na minha por uma mulher da minha idade
ainda ser virgem, eu não vou conseguir contar a ele. Tento esquecer esse
assunto por enquanto e volto ao trabalho, é tudo que posso fazer agora.

Meu expediente na floricultura termina e eu sigo para casa com Lua


e Otávio, mas estou pensativa demais, o Tenente está roubando todos os
meus pensamentos para ele. Suspiro como não faço a muito tempo por
causa de um homem, abraço o buquê de flores no meu colo, sorrindo feito
boba. Ele me deu flores, o Tenente Théo me deu flores.
Otávio nos deixa em casa e sai para buscar a sogra. Despeço-me da
minha amiga e entro pelo portão de casa, agarro o corrimão e subo os
poucos degraus até a porta, pego as chaves presa em uma correntinha na
minha bolsa, abro a porta e entro em casa ainda suspirando, fecho a porta
sentindo o cheiro de flores, mas não é o mesmo cheiro do buquê nas minhas
mãos, que estranho.
Vou até a cômoda ao lado da porta e ponho as chaves, mas sinto os
meus dedos tocarem um pequeno envelope, pego o mesmo e abro, tem um
bilhete editado em braille.

“Em cada canto da sua sala, você encontrará um pequeno arranjo


de flores para que não se esqueça que estarei pensando em você.
Tenente Théo.”

— Não pode ser possível... Ele não fez isso.


Meu sorriso vai nas orelhas, deixo o cartão sobre a cômoda e passo
as mãos sobre ela, encontro um vaso com flores perfumadas e sorrio mais,
deixo o meu buquê de rosas ao delas e saio pela sala procurando sobre cada
móvel as benditas flores, e eu as encontro, há muitos arranjos de flores
diferentes, me sinto em uma floricultura com tantos aromas doces, tem
jasmim, orquídeas, violetas, copo de leite, lírios, tulipas entre outras.
— São muitas flores e sei que são lindas, consigo identificar a cada
uma delas apenas tocando. — Meu maxilar dói pelo imenso sorriso pregado
no rosto.
Passo um bom tempo tocando as minhas flores sentindo o seu aroma
e sorrindo feito boba, ninguém nunca havia me dado flores antes, e agora a
minha casa está repleta de flores das mais belas espécies, e foi um único
homem quem me deu, um Tenente da polícia.
Tento me desgrudar um pouco das minhas flores e vou para o meu
quarto tomar um banho, já deixo separado um vestido confortável de alças
finas, é longo e se tiver no cabide certo, deve ser o floral. Luana me ajudou
a por nomes em todos os cabides, ela descreveu para mim cada peça de
roupa e as colocou em ordem, para lavar as minhas roupas sou eu mesma
quem faço, é só pôr na lavadora, mas Lua sempre vem me ajudar na
organização e eu me sinto mal por depender tanto dela mas não tenho como
recusar a sua ajuda, não tenho como pagar alguém para me ajudar, por isso
estou sempre tentando conseguir um outro emprego, além de provar para
mim mesma que sou capaz de ultrapassar limites, e eu sei que posso mas
ninguém me dá oportunidades para isso, além de Luana e sua família.

Já de banho tomado e arrumada, eu vou para cozinha preparar algo


para comer, na verdade eu já deixo porções de legumes prontos e
congelador, carnes, arroz entre outras coisas e depois é só tirar do
congelador na noite anterior para fazer no dia seguinte, mas sempre tem
aquele dia que eu mesma gosto de cozinhar e pensando nisso, Lua me deu
de presente panelas especiais para que eu não me queime, ela é um amor e
pensa em tudo para me ajudar, ela é como uma irmã para mim, é minha
família e eu seria capaz de tudo por ela se eu tivesse condições para ajudá-
la, mas ao invés disso é ela quem está sempre me ajudando em tudo.
Descongelo uma salada de legumes cozidos e também uma carne
assada que dona Sônia fez questão de fazer para mim, penso em
descongelar comida suficiente para Théo jantar comigo, mas não faço a
mínima idéia de que horas ele virá, e com certeza não está acostumado a
comer comida congelada, que cabeça a minha pensar isso.
Ponho a mesa e me sento para comer, a comida é muito saborosa
pois foi feita com amor, dona Sônia e o marido, assim como Lua e Otávio,
todos tem um carinho especial por mim e por isso os amo, eles são tudo que
eu tenho nessa vida e sou grata a Deus por não estar sozinha nesse mundo,
levando em conta as minhas limitações. Como com gosto ansiosa para ver
novamente o Tenente Théo, tomara que ele consiga vir.
Depois de jantar e lavar a pouca louça que sujei, eu me acomodo no
sofá, ligo a TV e como já me adaptei ao controle remoto eu consigo ligar,
trocar de canal, aumentar e abaixar o volume, sei até qual é o botão da
Netflix mas não dá para procurar o que assistir, tenho que contar com a
sorte colocando qualquer coisa para passar e então fico sabendo o que é.
Perco a noção do tempo ouvindo a uma série qualquer, meu celular
toca em algum lugar e me lembro da minha bolsa, levanto-me e saio a
procura dela, a deixei na cômoda perto da porta então procuro pelo
aparelho, mas quando pego-o a ligação cai. Droga! Será que era ele para
avisar que não vem? Suspiro frustrada voltando para o sofá com o celular
na mão, mas nesse instante ele toca novamente e eu procuro o botão para
atender. Tive que abrir mão de um aparelho mais moderno por um mais
antigo.
— Alô?
— Atena? É o Théo. — Sua voz faz o meu coração disparar.
— Théo... — Minha voz sai em um sussurro.
— Estava ocupada? Te atrapalhei?
— Não! Não estava ocupada, estava ouvindo a TV e me atrapalhei
para encontrar o telefone... Se está ligando é porque não vem, certo? —
Tento não demonstrar a minha decepção por não vê-lo hoje.
— Você gostaria de me ver? Está esperando por mim?
— Sim, eu gostaria muito de te ver, mas se não der para vir não tem
problema, podemos nos ver outro dia. — Forço um sorriso e ouço ele
respirar fundo.
— Se quiser me ver, você só precisa abrir a porta, eu estou aqui
fora. — Ouço ele sorrir enquanto minhas pernas tremem. Ele está aqui.
— Porque não bateu na porta ao invés de ligar? Vou desligar e
abrir para você. — Sorrio e encerro a chamada.
Sigo a passadas largas até a porta e deixo o aparelho na cômoda,
abro a porta e rapidamente o seu perfume invade as minhas narinas, ele está
aqui, está perto.
— Você está linda, vai sair para algum lugar ou estava apenas me
esperando? — A sua pergunta me deixa sem jeito.
— Estava te esperando... Estava ansiosa para ver você, queria
agradecer pelas flores, são muitas mas eu adorei. Obrigada. — Sorrio ainda
mais sem jeito, mas estendo a mão para tocá-lo.
Sinto ele pegar a minha mão e beijar demoradamente, sua outra mão
abraça a minha cintura me prendendo ao seu corpo. Toco o seu rosto
desenhando os seus traços, ele está sorrindo e beija os meus dedos ao tocar
os seus lábios.
— Posso beijar você? Estou ansioso para isso. — Seu pedido me
estremece.
Apenas sorrio e espero por esse beijo tão ansiosa quanto ele. E ele
me beija de forma doce e calma, seu beijo é envolvente, seus lábios tomam
os meus mais intensamente enquanto suas mãos sobem pelas minhas costas,
ele me aperta contra o seu corpo me beijando tão profundamente que me
estremeço, sinto ele ofegar entre os beijos mas também sinto-o excitado.
Solto-me dele sem jeito e extremamente ofegante, trêmula, tensa por
deixar as coisas chegarem a esse ponto, mas não tenho medo dele como tive
de outros homens, ele me desperta um desejo que ainda não fui capaz de
sentir.
— Me desculpa se te assustei, eu nunca havia beijado lábios tão
macios e doces, e ao mesmo tempo tão viciantes.
Me encosto no batente da porta sentindo as pernas bombas, sinto ele
se aproximar novamente e tocar o meu rosto.
— Você quer entrar? Não repara pois minha casa é muito simples,
mas hoje ela está linda com tantas flores. — Lhe dou passagem entrando
em casa.
— Apesar de simples, a sua casa é muito bonita e aconchegante, eu
gosto daqui. — Ouço ele passar por mim e fechar a porta.
Sigo para o sofá e me sento esperando ele fazer o mesmo, e ele o faz
pegando a minha mão. Pergunto como foi o seu dia na delegacia e ele me
conta como é arriscada a sua vida na polícia, pois apesar de passar mais
tempo atrás de uma mesa, sempre há possibilidades de sair atrás de
bandidos e isso me deixa pensativa, pois estou me apaixonado por ele,
tenho receios de perdê-lo como perdi os meus pais.
Deixo ele contar empolgado sobre a emoção de poder fazer justiça
contra pessoas perversas, ele é feliz por poder pegar bandidos e provar se
são ou não inocentes, e eu preciso ficar feliz pois está fazendo um bem para
nossa cidade ao tirar das ruas, pessoas mas, pessoas capazes de matar,
roubar, violentar e sequestrar, entre outras coisas, Théo é como um herói, é
assim que penso nele, como um herói.
Enquanto conversamos ele pega a minha mão carinhosamente, a
todo instante me surpreendo com um carinho no meu rosto. Ele pergunta
mais sobre mim, sobre Lua e sua família, como foi a minha adaptação às
minhas novas limitações, e mesmo sendo assim como sou, ele me olhou, me
viu e me aceitou, seu olhar sem medidas o fez se encantar por mim, seus
interesses em me proteger, em me ajudar me faz ter um carinho especial por
ele, me faz ter sentimentos que a muito tempo não sinto por ninguém.
Seus dedos novamente tocam o meu rosto e eu toco o seu, percorro
os meus dedos gravando mais uma vez os seus traços, ele deve ser muito
bonito. Sinto ele se aproximar cautelosamente, destruindo beijos pelo meu
rosto e eu sorrio, antes dele tomar os meus lábios em um beijo lento, um
beijo amoroso e que me prende a ele, eu retribuo com o mesmo desejo
sentindo a sua mão forte segurar a minha cintura com firmeza, ele me puxa
contra o seu corpo com uma facilidade tão grande, abraço o seu pescoço
perdida em desejos, perdida nessa sensação que vem como imã, mas
quando sinto ele me deitar no sofá ponde-se sobre mim, eu me apavoro ao
sentir algo duro pressionar a minha coxa, o empurro com força e me levanto
assustada, ou ele está excitado ou está armado, mas não acredito que ele
ficaria armado perto de mim.
— Me desculpa, Atena? Eu me deixei levar pelo desejo mas eu
prometo me controlar... Eu... Eu... Seu beijo é perfeito, você é perfeita...
Caramba, me desculpa se me empolguei demais, eu não queria te assustar
com isso. — Ele está apreensivo, sinto isso pelo seu tom de voz.
— Você precisa ser paciente comigo, Théo, não estou acostumada
com isso, tenta me entender? — Afasto-me receosa dando a volta no sofá,
mas ouço os seus passos se aproximar e eu paro.
— Atena? Você está com medo de mim? Está fugindo de mim? —
Sua pergunta me deixa tensa, mas não me surpreendo.
— Eu não tenho medo de você, Théo... Não é medo, eu não sei
explicar, eu só... É que... Me desculpa? Você me deixa nervosa, nos
conhecemos ontem e hoje você já está na minha casa me beijando daquele
jeito. Me assusta sim mas eu não tenho medo de você, e sim da situação,
você me entende? — Esforço-me ao máximo para conseguir me explicar de
um jeito que ele me entenda e eu não me sinta constrangida.
— Mas é claro que eu entendo, e mais uma vez peço desculpas por
me deixar mover pelo desejo, é que você é uma mulher tão linda, tem um
beijo tão viciante que eu me perco... Se isso voltar a acontecer e você não se
sentir bem com a situação, é só me pedir para parar e eu obedeço... Não
precisa se assustar comigo. — Ele pega a minha mão e mesmo receosa eu
abaixo a guarda novamente.
— Me responde uma pergunta...? Você está armado? — Pergunto
envergonhada ao me lembra de sentir algo tão duro pressionar a minha
coxa.
— Não, não estou armado, porque a pergunta?
— Por nada, não é nada. — Viro o rosto totalmente envergonhada
pois agora tenho certeza de que ele estava excitado.
— Porque ficou envergonhada...? Está assim porque eu fiquei
excitado, não é? Me desculpa por isso? Eu não consigo controlar. — Ouço
ele sorrir e tocar o meu queixo, virando o meu rosto.
— Tudo bem, vamos esquecer isso... Podemos assistir alguma coisa
ou já está tarde para você? — Afasto-me e dou a volta no sofá.
— Eu fico o tempo que você quiser, quando achar que eu devo ir
embora é só me dizer. — Sua voz é mais animada e eu sorrio.
— Está bem, escolhe algo para assistirmos, eu vou fazer uma
pipoca. — Vou em direção a cozinha mas ouço ele viz atrás.
— Eu posso te ajudar a fazer a pipoca? Ou eu posso fazer o suco.
— Vou fazer pipoca de micro-ondas, é rápido, simples e fácil de
fazer, e na geladeira tem suco pronto que eu fiz no café da manhã, mas
acabei não tomando... Tem copo na terceira porta de cima do armário a
direita... Théo...? Théo? Você está aí? — Chamo por ele ao sentir um
silêncio estranho para um ambiente onde tem visita.
— Sim, eu estou aqui... Perdi o foco admirando você.
— Que privilégio o seu em poder me admirar. Eu queria poder fazer
o mesmo... Queria poder ver o rosto do homem por quem estou me
apaixonado... — Afirmo espontaneamente pegando a pipoca no armário,
mas sem perceber a pipoca cai das minhas mãos.
Me abaixo para pegar a pipoca mas sinto a sua mão segurar a minha.
— Você não imagina o quanto me fez feliz ao dizer isso... Eu
também estou me apaixonado por você, Atena. — Sua voz rouca mas ao
mesmo tempo suave me abala.
Me levanto com a sua ajuda e sinto ele tocar a minha cintura, ele me
beija com doçura, um beijo tão bom mas ele não dura muito, o alerto para ir
escolher o filme enquanto eu faço a pipoca, não posso beijá-lo a todos
instante ou ele vai se excitar novamente. Suspiro fundo.
TRÊS SEMANAS DEPOIS...

As semanas estão se passando rápido e eu e Atena estamos cada vez


mais próximos, na verdade começamos a namorar a uma semana e estamos
nos dando tão bem. Eu fiz um jantar na minha casa para que a família dela
conheça o meu lar e saibam onde moro, assim eles ficam mais
despreocupados com ela em relação a mim.
Ainda não consegui levá-la para conhecer a minha mãe e meu
irmão, Tony voltou de viagem ainda mais focado no trabalho e não tem
tempo para nada, mas mamãe está me evitando depois que falei que não
voltaria com Silvia, não me importei com isso, só o que me importa agora é
Atena.
E por falar nela, está muito difícil beijá-la e não poder fazê-la
minha, ela parece fugir de mim, parece ter algum trauma pois ela sempre
foge de mim quando as coisas esquentam, no entanto ela não me diz nada e
eu também não faço cobranças, pois conheço a história daquele infeliz que
tentou abusar dela, só pode ser por causa disso que ela me evita.
Renato e Tony me ajudaram a investigar o tal Alexandre mas
descobrimos que ele já está cumprindo pena pelo mesmo crime, estuprou
três garotas menores de idade há alguns anos atrás, ele já está preso e Atena
gostou de saber disso, mas lamentou muito pelo que ele fez com as garotas
mas está tranquila por ele estar onde tem que estar. Vou ficar tranquilo por
enquanto mas não vou me esquecer desse cara, isso nunca pois ele já foi
namorado dela e se ele sair da cadeia, eu pego ele aqui fora.
Falei muito de Atena para Tony e ele ficou muito curioso para
conhecê-la, mas sempre acontece um imprevisto e não consigo apresentar
os dois, hoje vou fazer um jantar para ela na minha casa e espero que ela
não fuja de mim outra vez pois estou enlouquecendo apenas com os seus
beijos, eu a quero como minha mulher, quero ela todinha para mim.
— Com licença, Tenente! Tem uma moça te procurando, disse que é
sua cunhada, Luana. — Gustavo aparece na porta da minha sala e eu deixo
os relatórios de lado.
— Sim, pede para ela entrar por favor! Estou esperando por ela. —
Levanto-me ajeitando o meu blazer e aguardo até que ela entre fechando a
porta.
— Tenente? O que aconteceu para você pedir para eu vir te ver?
Está tudo bem entre você e Atena? Aconteceu alguma coisa? — Pergunta
apreensiva.
— Sente-se por favor? Eu quero sim conversar com você sobre
Atena, mas não aconteceu nada demais, porém, estou tentando entender o
que aconteceu com ela a anos atrás, se ela já superou ou se ainda tem
traumas. — Me sento atento a mulher a minha frente.
— Como assim? O que aconteceu para te deixar tão preocupado
com isso? Atena por um tempo ficou sim traumatizada e evitava a todo
custo se relacionar com homens novamente, para você ter uma ideia, até
você aparecer ela estava a anos sem beijar na boca por receios de se
envolver com alguém, mas eu posso te garantir que com você ela não tem
medos e nem receios, Atena está apaixonada por você, Théo, e isso é visível
para qualquer um. — Suas palavras ao mesmo tempo que me tranquilizam
me deixam confuso.
— Sim, eu sei que ela me ama e disso eu não tenho dúvidas, mas
não entendo o porquê ela foge de mim, Luana... Quando estamos juntos em
um momento mais quente, mais íntimo ela sempre foge de mim como se
tivesse medo, estou tentando entender isso mas não consigo. — Desabafo
frustrado e com os pensamentos naquela ruivinha linda.
— Me responde uma coisa, Théo? Porque vocês homens são tão
lerdos?
— Como assim? Porque está dizendo isso? — Questiono ainda mais
confuso.
— Você não percebeu que Atena é virgem?
— O QUE...? Como assim...? Como isso é possível...? — Levanto-
me abruptamente espantado e surpreso com a sua revelação.
— Não imaginei que você fosse ficar tão chocado com isso, agora
entendo o porquê ela não teve coragem de te contar, por medo ou por
vergonha. — Ela se levanta incrédula.
— Me desculpa, mas... É inacreditável, como ela pode ser virgem
ainda? Isso é surreal, Luana... Meu Deus... Ela é perfeita. — Digo a última
parte para mim mesmo, mas ela se aproxima com um sorriso amoroso.
— Você falou tudo agora, Théo... Ela é perfeita, está fazendo de
tudo para te agradar mas não encontrou coragem para te contar esse
pequeno detalhe da vida dela, então seja mais paciente, mais carinhoso com
ela? Tenho certeza de que você não vai se arrepender, ela vai se entregar a
você de corpo e alma mas no tempo dela, então não a apresse como
tentaram fazer, está bem? Deixa ela à vontade e as coisas vão acontecer
quando ela estiver pronta. — Seu tom sereno me deixa orgulhoso, ela é uma
ótima amiga para Atena e está sendo para mim também.
— Eu não fazia ideia, Luana, não entendo o porquê ela não me
contou isso antes, eu saberia entender, me surpreenderia, óbvio, mas
entenderia. Claro que serei paciente com ela. — Afirmo ainda perplexo. Ela
é virgem?
— No dia em que Atena sofreu o acidente com os pais dela, ela
tinha dezoito anos e estava decidida a se entregar ao seu namoradinho na
época, mas quando descobriu que ela estava em coma em um hospital, o
infeliz saiu pegando qualquer mulher que passava na frente e depois veio
atrás dela como se nada tivesse acontecido, mas eu não o deixei enganá-la,
nunca deixei ninguém brincar com ela e agora muito menos, sei que está
sendo sincero com ela e é só por isso que estou te contando tudo isso. Não
pisa na bola com ela nunca e você sempre terá a minha admiração, do
contrário eu acabo com você e eu já disse isso. — Depois de um olhar de
ternura ela me lança um olhar mortal.
Sorrio e me aproximo lhe dando um abraço apertado, Atena não
podia ter escolhido amiga melhor que Luana.
— Obrigado por cuidar tão bem dela. Você e sua família ainda serão
muito recompensados por isso... Você é uma amiga perfeita, Luana, é a
melhor amiga dela e minha também. — Lhe dou um beijo no alto da cabeça
ainda abraçado a ela.
Luana retribui o meu abraço com carinho mas logo se solta de mim
com um sorriso gentil.
— Não me agradeça, tudo que eu fiz e faço por ela, eu faço por
amor... Atena era filha única assim como eu, mas nós decidimos que
seríamos mais que melhores amigas, que seríamos irmãs e assim somos, e
irmãs estão nessa vida para isso, para cuidar uma da outra. — Seu sorriso
sincero e seus olhos transbordando emoção me revela exatamente o que ela
acabou de dizer.
— Quero que me faça um favor, Luana. — Vou até a minha mesa e
pego a minha carteira. — Pegue esse dinheiro, estou pagando pelas rosas
mais lindas que você tiver na sua floricultura, um buquê para cada uma de
vocês, compre também uma caixa de chocolate da sua preferência e dela
também... Quero agradar uma grávida linda e uma ruivinha que eu amo
tanto, quero agradar duas amigas de verdade e por favor? Não recuse?
— Não se preocupe pois não pretendo recusar. Qual mulher em sã
consciência recusaria flores e chocolates? Nós vamos adorar, obrigada. —
Ela pega o dinheiro com um sorriso nas orelhas assim como eu.
Volto até a minha mesa e pego o meu bloco de notas com as minhas
iniciais, começo a escrever com os pensamentos nela.
"Para a mulher mais linda, doce e meiga que já vi na vida, para a
mulher que amo e sempre vou amar.
Tenente Théo Carlson!"
Entrego o bilhete a ela e a acompanho até o estacionamento. Fico
aqui até ela entrar no seu carro.
— Vá com cuidado! Se precisar é só me ligar. — Fecho a porta do
seu carro assim que ela entra.
— Pode deixar, eu ligo se precisar... E Théo? A sua namorada
comentou que adoraria comer pudim de leite condensado, ela tentou fazer
sozinha ontem e acabou se queimando na hora de tirar do forno, a luva
ficou presa na forma de agua quente e quando ela puxou a forma veio junto
e derramou tudo...
— Meu Deus, Luana! Ela está bem? Se queimou muito? Eu vou vê-
la agora mesmo. Não vou me perdoar por não ter ido vê-la ontem...
— Fica calmo, Tenente. Ela conseguiu se esquiva mas mesmo
assim, queimou a perna quando a água quente da forma derramou, não foi
nada grave e eu já cuidei dela, não permiti que ela fosse trabalhar hoje por
mais teimosa que ela seja... Ela está bem, não se preocupe. — Me
tranquiliza com as suas palavras mas ainda estou preocupado e querendo ir
vê-la.
— Tem certeza de que ela está bem? Eu posso trabalhar
despreocupado?
— Sim! Fica tranquilo, ela está bem, do contrário eu teria te ligado,
eu só te contei agora para você não se assustar quando for buscá-la... Eu
prometi fazer o pudim para ela mais tarde, mas como ela vai jantar com
você, espero que seja discreto e faça o doce que ela tanto gosta.
— Valeu pela dica, vou providenciar isso agora mesmo... Obrigado,
Luana.
— Disponha, Tenente Théo! — Ela sai com o carro em seguida e eu
entro na delegacia.
Sigo de volta para minha sala e pego o meu celular, ligo para casa e
peço a minha empregada para fazer o tal pudim, realmente é um doce muito
saboroso e já faz tempo que eu não como, mas peço para Cícera fazer para
agradar a minha namorada. Lembro-me da revelação que Luana me fez,
como é possível que Atena ainda seja virgem? Tá legal, eu já sei o motivo
mas é inacreditável, eu não fazia ideia de que ela corre de mim por ser
virgem. Vou ter que ser mais paciente com ela, preciso ser mais atencioso e
me controlar mais.
— Théo! Está tudo bem? Parece preocupado. — Tony entra na
minha sala com mais papeis nas mãos.
— É Atena, Luana esteve aqui hoje e me contou que ela se queimou.
Eu te contei do problema dela, ela perdeu a visão em um acidente e nuca
mais voltou a enxergar. — Comento pensativo.
— Sim, você me contou, você me fala tanto dela que já estou me
odiando por não conseguir tempo para conhecê-la... E a mamãe? Continua
te evitando? — Ele joga os documentos sobre a mesa e se senta de frente
para mim.
— Não estou dando a mínima, mamãe é completamente sem noção,
ela queria me casar com Silvia mas nem eu e muito menos ela queríamos
isso. Ela até já está em outra e está feliz, porque eu não posso ser feliz
também sem que a mamãe dê um chilique? — Sento-me na minha cadeira
frustrado.
— Não liga para ela, e se eu fosse você não perderia tempo
chamando-a para jantar, o nosso último jantar acabou em discussão por
causa daquele inútil do marido dela. Eu sinto vontade de pegar aquele
infeliz e jogar na cela mais suja desse lugar. — Ele esfrega as mãos no rosto
assim como eu. Somos parecidos em algumas manias também.
— Não estou me importando com ela, não preciso de aprovação
para namorar, e Atena já é minha mulher então pouco me importo se
mamãe vai gostar ou não. — Afirmo.
— Ela já é sua mulher? Vocês já estou íntimos fisicamente? Você
me contou sobre os traumas dela, pensei que essa parte seria mais
complicado para você lidar com ela. — Pergunta atento e eu me lembro
dela mais uma vez.
— E é, meu irmão, muito complicado. Quando digo que ela é minha
mulher é apenas porque já somos namorados, mas vou precisar ser muito
paciente com ela... Atenta tem sim um trauma pelo que fizeram com ela,
mas ela se sente segura comigo, ela confia em mim como não confiou em
mais ninguém... A questão é que apenas hoje eu descobrir que ela ainda é
virgem. — Desabafo pensativo.
— Como é que é...? Virgem? Você está me dizendo que a sua
mulher é virgem? Quantos anos tem essa garota? Dezoito? Não sabia que
você gostava de novinhas, Théo. — Questiona tão surpreso quanto eu
fiquei.
— Que novinha o quê, Tony, ela tem vinte e cinco, de certa forma
ela é nova sim...
Desabafo com o meu irmão e conto a ele a mesma história que
Luana me contou, Tony não é apenas meu irmão, ele também é meu melhor
amigo e eu conto tudo a ele, coisas muito íntimas eu guardo somente para
mim, mas não consigo guardar essa situação só para mim sem poder
conversar com ninguém, do mesmo jeito que ela conta tudo para sua melhor
amiga eu também conto para o meu melhor amigo, o meu irmão.
Passamos um tempo conversando e aproveitamos para terminarmos
os relatórios juntos, sempre nos ajudamos em tudo, principalmente no
trabalho.

A tarde passou voando e eu saí para uma ocorrência com o meu


irmão e Renato, o Inspetor do nosso turno e também um amigo. A
ocorrência foi um chamado que recebemos para um assalto com reféns em
um ônibus, os nossos atiradores abateram um dos criminosos que segurava
uma estudante com uma faca no pescoço, em seguida avisamos ao outro
sequestrador que se ele fizesse um movimento em falso ele também não
sairia dessa vivo, ele deixou todos os passageiros saírem e se entregou antes
que o matassem, esse vai pegar um bom tempo de cadeia com muitos
agravantes pois ele já tem passagem na polícia, no ônibus ele pegou como
refém duas mulheres gravidas, idosos e crianças, além dos demais civis.
Depois da ocorrência voltamos para delegacia com o criminoso e o
jogamos em uma cela, ele vai aguardar até ser transferido para aguardar
julgamento em um presídio.
Meu celular toca e pego vendo o nome dela piscar na tela. Atendo
com um sorriso no rosto.
— Oi princesa?
— Oi Tenente. Liguei para agradecer pelas flores e os chocolates,
eu amei. Estava mesmo querendo comer um doce. — Pelo seu tom de voz
eu sei que está sorrindo.
— Imagina, não me agradeça, não fiz nem um terço do que você
merece... Já estou saindo da delegacia e vou passar aí em breve para te
buscar, está bem? — Meu sorriso vai nas orelhas apenas por ouvir a sua
voz.
— Está bem, vou te esperar ansiosa. Não vou mais tomar o seu
tempo, até mais tarde. — Sei que ela está sorrindo pelo seu tom de voz.
— Você nunca toma o meu tempo, eu amo ouvir a sua voz... Até
mais tarde princesa.
— Até mais tarde, Théo.
Encerro a ligação com um sorriso bobo no rosto e me apresso para
juntar as minhas coisas, saio da minha sala empolgado e esbarro no meu
irmão.
— Onde vai com tanta pressa, Tenente?
— Vou buscar a minha namorada para jantar comigo, não vou nem
te convidar porque você nunca pode ir. — Sigo em direção a saída e ele me
acompanha.
— E se eu te disser que hoje eu tenho tempo? Vou atrapalhar se
aparecer para jantar na sua casa? Estou curioso para conhecer a minha
cunhada, você já me falou tanto dela que parece que já a conheço. — Ele
parece empolgado.
— Atrapalhar? Mas é claro que não. Atena também quer muito
conhecer você... Droga! Eu não contei a ela que somos gêmeos, não se
preocupe se ela se assusta ao ouvir a sua voz igual a minha, como fui
esquecer desse detalhe? — Comento enquanto vou para o meu carro e ele
vai para o seu ao lado.
— Que mancada, Théo! Com toda certeza ela vai se assustar, você
diz que tem um irmão mas não diz que somos gêmeos... Estou curioso para
ver a reação dela ao fazer essa descoberta. — O infeliz sorrir de lado, ele
vai se divertir com isso.
— Vai jantar conosco hoje, vou te apresentar a ela e vamos ver qual
será a sua reação. Se chegar antes de nós a chaves está no lugar de sempre.
— Entro no carro e ele concorda entrando no seu carro em seguida.
Saio rumo ao endereço dela, estou ansioso para vê-la depois da
incrível descoberta que fiz hoje, ela é virgem, como eu poderia imaginar
que ela foge de mim por isso? Atena é virgem, não teve nenhum outro
homem intimamente, eu serei o seu primeiro e único, minha mulher, ela vai
ser minha mulher.
Meu trajeto até o seu endereço eu faço em vinte e cinco minutos,
peguei um engarrafamento inesperado e isso me aborreceu, estou ansioso
por um beijo dela e eu quero estar longo com ela, seu sorriso é a coisa mais
linda que já vi, seus olhos apesar de sem a visão que ela necessita tanto, são
belíssimos e intensos.
Paro na frente da sua casa e Alonso vem falar comigo me passando
o relatório de como foi o dia dela, se teve ou não algum imprevisto e ele me
conta que ouviu os seus gritos na casa ontem à noite, mas ela gritou que
estava bem e não o deixou entrar, então ele achou melhor avisa Luana e foi
então que a mesma foi ajudá-la. O repreendo por ele não ter me ligado
imediatamente mas ele se justifica afirmando que Atena pediu para ele não
me ligar, ela não queria me preocupar mas mesmo assim ele errou, não
estou pagando-o para me omitir nada por mais que ela peça isso a ele.
— Théo? É você...? Eu ouvi o seu carro chegar. — Surpreendo-me
com ela na varanda da sua casa, ela tem a audição bastante aguçada.
— Sim, princesa! Sou eu e já vou entrar... Está dispensado por hoje,
Alonso, volte amanhã bem cedo, está bem?
— Obrigado, Sr. Carlson, e mais uma vez me desculpa pelo
ocorrido, isso não vai mais se repetir. — Se desculpa envergonhado.
Apenas concordo e ele sai em seguida. Entro pelo pequeno portão
da casa de Atena e vou até ela. Subo alguns degraus e toco o seu rosto
enquanto abraço a sua cintura, seus dedos delicados também tocam o meu
rosto desenhando os meus traços como ela sempre faz, e faz isso sorrindo
antes de me beijar, aquele beijo doce que me deixa ainda mais apaixonado
por ela.
— Eu senti tanto a sua falta... Me perdoe por não ter vindo te ver
ontem, eu fiquei de plantão e não deu para vir. — Admiro o seu rosto ainda
mais encantado por essa mulher.
— Não precisa se desculpar, é o seu trabalho e eu entendo... Você é
um herói... O meu herói. — Ela distribui beijos pelo meu rosto e eu sorrio.
— Você me acha um herói? Não sou herói de ninguém, eu só tento
ajudar a quem precisa, tento fazer desse mundo um pouco melhor. —
Acaricio os seus cabelos e ponho um mecha atrás da sua orelha, ela sorrir
abertamente.
— Por isso você é o meu herói, então não diga que não pois é sim...!
Você é o meu herói e sei que muita gente pensa como eu. — Ela me beija
brevemente antes de se soltar de mim. — Vem! Entra um pouquinho? Eu
vou pegar a minha bolsa.
Ela me puxa pela mão e eu consigo reparar na sua perna enfaixada.
Entramos na sala e ela vai buscar a sua bolsa, ela está linda, usa um vestido
vermelho claro quase da cor dos seus cabelos, ela está maquiada como
sempre e sei que é obra da Luana, ela está realmente linda mas gosto de ver
as sardas do seu rosto.
— Porque não deixou Alonso me contar o que houve ontem? Porque
não me ligou? A queimadura foi grave? — Pergunto atento.
— Ele só fez o que eu pedi... Não achei necessidade te ligar, você
estava trabalhando e eu não queria te preocupar. — Ela vira-se para mim
sem jeito, sorrio por ela se preocupar em não me preocupar.
— Não me esconda mais nada, se você cortar um dedo eu quero
ficar sabendo... Eu me preocupo sim com você porque eu te amo, Atena...
Eu te amo, minha princesa. — Abraço a sua cintura, e ela vem para os meus
braços sorridente.
— Eu também te amo, Théo, nunca amei um homem como eu te
amo... Te amo demais. — Declara tocando o meu rosto com aquele mesmo
sorriso encantador de sempre.
Seguro ela pela nuca e beijo-a ardentemente, aperto a sua cintura
prendendo o seu corpo ao meu e lembro-me que ela ainda é virgem, eu
preciso conseguir me controlar mais.
— É melhor a gente ir logo. Cícera está preparando um jantar
especial para nós, mas teremos um convidado. Tony finalmente vai aparecer
para eu apresentar vocês. — Conto guiando-a para fora de casa.
— Até que enfim! Eu também quero muito conhecê-lo, você fala
tanto dele e com tanto carinho, vocês devem ser muito apegados, não é?
Deve ser muito bom ter um irmão, mas não me queixo pois tenho Lua, ela é
como se tivesse saído da minha mãe também e vice versa. — Ela segura o
meu braço com firmeza e seu sorriso ao falar de Lua é algo admirável.
— Eu admiro muito a amizade de vocês, não é diferente da minha
amizade com o meu irmão, pois acima de tudo somos melhores amigos. —
Afirmo com convicção.
Tranco a sua casa e seguimos para o meu carro, percebo que o carro
de Alonso não está mais aqui então sei que ele já foi. Seguimos para casa
conversando empolgados sobre os nossos amigos irmãos.
Chego na casa de Théo e pego a chave no novo esconderijo, lá em
casa eu também tive que mudar a chave extra de lugar, outro dia saí do
banheiro pelado e dei cara com a mamãe andando pelo meu quarto, quase
enfartei de susto pois estou acostumado a estar sozinho. Ela é realmente
terrível.
Entro na casa do meu irmão e subo direto para o quarto que estou
acostumado a usar quando fico aqui, lá em casa ele também tem um quarto
só dele pois somos muito unidos, a sua casa é como a minha casa e vice
versa. Já tem roupas minhas aqui então tomo um banho e me arrumo, me
deito um pouco para descansar as pernas até eles chegarem, mas ouço uma
porta bater e sei que é o Théo, com certeza ele chegou enquanto eu estava
no banho então vou descer para conhecer a minha cunhada.
Saio do quarto pensando que Théo havia descido, mas quando estou
descendo as escadas vejo apenas um anjo andando pela sala tocando os
móveis por onde passa. Ela é Atena? Ela é linda, Théo não exagerou em
nada.
Desço a escada atento a ela, como ela pode ser tão linda, e é virgem,
essa garota é virgem? Como isso é possível?
— Théo? Eu ouvi você descer. Já tomou banho? Você foi muito
rápido... Onde você está? — Ela fica atenta aos meus passos enquanto me
aproximo dela.
Ela vem na minha direção com os braços estendidos e esbarra na
mesa de centro.
— Ahh... Eu preciso me acostumar com esses móveis.
— Cuidado! Vai se machucar. — Aproximo-me rápido e seguro as
suas mãos.
Ela sorrir tímida e agarra os meus braços. De repente ela toca o meu
rosto desenhando os meus traços assim como Théo disse que ela faz com
ele, Atena sorrir e sem dizer nada ela me beija, não consigo evitar retribuir,
não consigo empurrá-la e dizer que não sou o Théo, seu beijo é tão doce
que me deixa confuso, seus são lábios tão macios. Ela se solta brevemente
de mim e parece tão confusa quanto eu, acho que já percebeu que não sou o
meu irmão.
— O seu beijo está diferente, o que aconteceu? Você está bem? —
Pergunta confusa tocando novamente o meu rosto para ter certeza de que
sou o Théo. — Théo...? Porque está tão calado?
— Me perdoe, Atena...? Eu não sou o Théo, sou o Tony. — Revelo
sem rodeios admirando o seu belo rosto e esses lábios mágicos.
Vejo seus olhos se arregalar e ela dá passos para trás, esbarrando na
mesinha ao lado do sofá.
— Cuidado! Você vai cair. — Aproximo-me tocando a sua cintura
mas ela se afasta de mim assustada.
— Porque está brincando comigo, Théo? Eu não gosto disso!
Porque está dizendo que é o Tony? Eu toquei o seu rosto, a sua voz, você é
o mesmo de sempre. — Questiona séria ainda se afastando tocando o sofá.
— Théo não te falou que somos gêmeos? Sou Detetive na mesma
corporação que ele... Você me surpreendeu com aquele beijo, não conseguir
me afastar, me desculpa? — Aproximo-me no mesmo instante em que vejo
Théo descer.
— Vejo que já se conheceram... O que aconteceu? Está tudo bem,
Atena? Parece assustada? — Questiona meu irmão ao perceber que a
namorada parece confusa e retraída.
— Théo...? Théo, O que está acontecendo? Estou ouvindo a sua voz
em dois lugares diferentes... Meu Deus, eu estou ficando louca! Não brinca
comigo, Théo! Por favor? — Retruca irritada com voz trêmula. Estou me
sentindo culpado.
— Meu amor? Me perdoa por não ter te contando antes, eu
realmente me esqueci desse detalhe... Eu e Tony somos gêmeos, eu acabei
de descer, não era comigo que você estava conversando, era com Tony. Não
fica nervosa? Me perdoa? — Théo segura a sua e beija a sua palma, mesmo
receosa ela o abraça.
— Porque não me contou antes que são gêmeos...? Théo! Eu pensei
que ele era você, eu toquei o rosto dele e o beijei...
— O quê...? Você beijou a minha mulher, Tony? Seu filho da mãe!
— Théo se irrita e tenta vir até a mim furioso, mas Atena segura firme o seu
braço.
— Ele não teve culpa, Théo! Eu ouvi a voz dele e toquei o seu rosto,
fiz como faço com você e o beijei... A culpa foi sua por não ter me dito que
tem um irmão gêmeo, como eu iria saber que não era você? Não fica
chateado? Não significou nada, não é Tony? Eu pensei que você fosse o
Théo. — Ainda abraça o meu irmão, ela olha para os lados como se me
procurasse.
— Claro! Não significou nada, não a afastei por ter ficado sem jeito,
não queria ser rude com você. — Sorrio aproximo-me deles. — É um
enorme prazer te conhecer, Atena, e mais uma vez peço perdão pelo
acontecido. — Olho dela para Théo e vice versa.
Ela sorrir de forma doce e me estende a mão, encaro Théo e ele
sorrir acenando em concordância. Pego a sua mão encarando fixamente o
seu rosto, seus olhos são como imã, me prende. Que estranho. Aperto
sutilmente a sua mão e trago-a até o meu rosto, ela toca ainda surpresa e
Théo se solta brevemente dela, também erguendo a sua mão fazendo-a tocar
o seu rosto. Mais uma vez a vejo assustada mas logo ela sorrir.
— Minha nossa... São realmente idênticos... Vou ter que colocar
uma pulseirinha em cada um para saber quem é quem. — Comenta ainda
surpresa e nós sorrimos.
— Acho bom mesmo! Não vou perdoar outro beijo entre vocês...
Seu cretino! Podia ter avisado antes que não era eu. — Théo me encara
sério puxando Atena para os seus braços.
— Desculpa, maninho, eu não tive tempo para fazer isso, Atena
quase caiu e eu corri para ajudá-la, ela ouviu a minha voz e pensou que era
você. Olha! Não fica chateado contigo e muito menos com ela, se preferir
eu posso deixar vocês a sós, eu janto em casa mesmo. — Ponho as mãos
nos bolsos e vou para o centro da sala.
— Imagina, não precisa ir embora por causa disso. Vai fazer o que
em casa? Jantar sozinho? Fica com a gente, o jantar deve ser servido logo.
— Théo vem com Atena até a mim e nos sentamos para conversarmos um
pouco.
Reparo que Atena tem uma faixa na perna e pergunto o que houve,
ela conta envergonhada sobre as suas travessuras na cozinha, me
surpreendo mas sorrio e me orgulho por ela ser tão independente, apesar das
suas limitações. Théo revela que Cícera preparou um pudim de leite
condensado especialmente para ela, seus olhos brilham ao falar do quanto
adora esse doce e eu sorrio.
Théo tirou a sorte grande, essa garota não é apenas linda, ela é forte,
determinada e ao mesmo tempo tão meiga, doce e gentil, eu conversaria
com ela por horas sem me cansar, mas ela é minha cunhada, namorada do
meu irmão e eu lhes devo respeito. Mas é impossível não admirar a sua
beleza, a sua força de vontade é gigantesca. Théo contou que ela vende
flores em uma floricultura, não tem como não se surpreender com essa
mulher.
Fomos para mesa e o jantar é servido, começamos a comer entre
uma conversar e outra e eu me diverti com o meu irmão e minha cunhada,
foi bom vir jantar com eles para não ter que comer sozinho mais uma vez.
Tâmara terminou comigo por eu não ter tempo para ela e mamãe está
pegando no meu pé, Théo não é o único a ser rejeitado por ela por não nos
casarmos como ela quer, e ela só aceita se for com alguém que ela escolher
e eu acho isso um absurdo, não tenho tempo para essas bobagens de
casamento, se Tâmara não quer por não aceitar o meu trabalho, acho que
nenhuma outra vai aceitar, mulher gosta de sair, de ser paparicada o tempo
inteiro e na minha profissão eu não tenho muito tempo para isso.
Théo é um homem de sorte, encontrou uma mulher que ver nele um
herói, admira o seu trabalho e o apoia, pelo menos um de nós dois tínhamos
que acertar uma vez, e que bom que foi ele, meu irmão merece isso e eu
vou torcer por ele como a nossa mãe não é capaz de fazer.
Depois do nosso jantar fomos para sala, conversamos um pouco
mais mas vejo que Atena parece cansada. Parece com sono.
— Théo, já está tarde, você me leva em casa? Amanhã tenho que
levantar cedo para trabalhar. — Ela se levanta e meu irmão se levanta junto.
— Não quer ficar aqui hoje? Amanhã eu te deixo em casa ou na
floricultura, posso ligar para Lua e avisar que você vai ficar comigo hoje.
— Sugere esperançoso e vejo que ela parece acanhada.
— Não sei se é uma boa ideia... Acho melhor eu ir para casa. — Ela
toca o braço dele e sobe suas mãos até o seu rosto sorrindo daquele jeito
doce.
Estou impressionado com essa garota, mas não posso me
impressionar demais ou vou perder a amizade do meu irmão. Mas que
merda, eu também não quero que ela vá embora, mas eu vou precisar ir.
— Fica? Por favor? Eu prometo me comportar. — Théo sorrir
abraçando a sua cintura e beija a sua namorada como ela me beijou.
Ela parece sem jeito mas concorda em ficar, mas eu não posso ficar,
não quero atrapalhar e nem ouvir nada caso a primeira vez deles aconteça
hoje, é inacreditável que ela seja virgem nessa idade, mas Théo me contou
sobre as más experiências que ela teve, no lugar dela acho que qualquer
mulher se guardaria por medos e receios.
— Bom, não vou mais incomodar vocês, eu preciso descansar para
trabalhar amanhã também, estou com saudades da minha cama... Adorei te
conhecer, Atena! Meu irmão é um cara de sorte. Espero vê-la mais vezes.
— Aproximo-me deles e pego a sua mão beijando brevemente, ela me dá
aquele seu sorriso encantador que parece a sua marca registrada.
— Foi bom te conhecer também, Tony, e eu estava falando sério
quando disse que colocaria uma pulseirinha em cada um, vou providenciar
logo com o nome de vocês em braille, assim vou saber quem é quem. —
Ela sorrir e nós retribuímos.
— Eu vou esperar pela pulseirinha, assim vamos evitar outro mal-
entendido. — Pisco para meu irmão e ele sorrir.
— Se quiser ficar aqui hoje, você sabe onde fica o seu quarto. —
Ele me abraça pelos ombros.
— Não, eu vou deixar vocês à vontade, vou para casa e rezar que a
mamãe não apareça. Eu troquei a chave de lugar, decorou onde fica?
— Sim! Sei onde fica. Até amanhã então, te vejo na delegacia. —
Ele me abraça apertado como sempre fazemos e eu retribuo.
— Valeu, irmão! Tenham uma boa noite. — Me despeço e sigo até a
porta, saio deixando-os a sós.
Vou para o meu carro e entro seguindo para casa, mas não posso
evitar pensar em quem não devo, ela e minha cunhada, Théo me falou tanto
dela que já a conhecia antes mesmo de vê-la pessoalmente, ela é tão linda.
Que ruiva mais linda, realmente ela é impressionante.
Sigo para casa não muito distante daqui e logo estou parando nos
portões de casa, mas me surpreendo com Tâmara em pé no portão
resmungando irritada ao telefone, saio do carro para falar com ela.
— Tâmara? O que está fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa?
Precisa de ajuda com algo? — Pergunto confuso, há semanas não a vejo.
— Eu é que pergunto? O que você quer comigo? A sua mãe não
para de me ligar dizendo que você precisar conversar comigo, mas você
sabe que não temos nada para conversarmos. — Ela cruza os braços
inquieta.
— Eu sei, mas a minha mãe não entende isso. Não liga para ela,
minha mãe está louca. — Aciono o portão para abri-lo e ela encara o
relógio no seu pulso.
— Ok! Já que você não quer nada comigo eu vou embora...
— Ei! Espera? Você não precisa perder a viagem por ter vindo até
aqui... Acho que a minha mãe só queria que tivéssemos uma despedida
melhor, o que acha? — Seguro a sua mão trazendo-a para o meu corpo.
— Uma despedida? Fala sério, Tony! — Ela se solta de mim mas
trago ela de volta para os meus braços.
— É sério, Tâmara, você sabe que eu adoro dormir de conchinha...
— Você é muito cara de pau, sabia? Cafajeste do jeito que é, você
vai me bagunçar antes de dormir de conchinha. — Ela sorrir de lado me
olhando daquele jeito perigoso.
— Você sempre gostou e nunca reclamou... Dorme comigo hoje?
Prometo que amanhã deixou você livre outra vez. — Viro ela abruptamente
abraçando ela por trás, beijo e cheiro o seu pescoço.
— Só uma despedida... E amanhã eu sumo da sua vida para sempre,
ouviu bem...? — Afirma ofegante, ela me quer.
— Combinado! Entra em casa, eu vou colocar o carro para dentro.
— Entrego a chave de casa a ela e a mesma passa pelo portão enquanto eu
entro no carro.
Coloco o mesmo na garagem e fecho o portão, corro para dentro de
casa e subo direto para o meu quarto, entro no mesmo e encontro-a só de
lingerie na minha cama, apenas me esperando. Arranco as minhas roupas
apressado e vou para cama beijando e acariciando a minha ex mulher, ela é
gostosa, fogosa e sabe como me deixar louco, mas tem algo de errado
comigo, não sei o que está acontecendo.
— O que foi? Você não me quer? Armou esse circo todo para me
deixar assim? Eu já sabia que você não me ama mais. — Questiona
incrédula me empurrando de cima dela.
— Espera, Tâmara? Eu não sei o que aconteceu, eu nunca falhei
antes e você sabe disse... Vamos tentar de novo? Deve ser pelo cansaço. —
Trago ela de volta para os meus braços mas novamente ela se solta de mim.
— Mesmo que você não me ame mais, é um crime você falhar
comigo, Tony! Eu não esperava por isso. — Retruca magoada vestindo as
suas roupas.
— Qual é amigão? Colabora? Vai me deixar na mão...? — Toco o
meu pau mas o infeliz não sobe, está morto o infeliz. — Espera, minha
gostosa? Não vai embora?
— Me esquece, Tony! Eu nem devia ter vindo aqui, a culpa é da sua
mamãezinha que não para de me perturbar. — Ela sai do quarto batendo o
pé e eu vou atrás, seguro o seu braço mas ela se solta e desce as escadas
apressada.
— Não vai embora assim, Tâmara? Vamos tentar de novo? Me dá
mais uma chance? — Suplico para tentar desfazer esse mal-entendido mas
ela não dá a mínima.
— Eu vou sair da cidade amanhã, preciso terminar de arrumar as
malas... Fica tranquilo, não vou guardar magoa de você por isso. Vai ficar
me devendo uma. — Ela me dá uma beijo casto e sai batendo a porta.
— Qual é a sua, cara? Quer queimar o meu filme justo com ela que
você conhece bem? Vai me deixar na mão mesmo, infeliz...? Mas que
droga! Eu não mereço uma humilhação dessas. — Puxo a cueca encarando
o meu pau mas o infeliz não dá sinal de vida.
Saio bufando esfregando as mãos nos cabelos e vou até o bar, me
sirvo uma dose tripla de uísque e dou uma longa golada sentindo o liquido
descer queimando, mas não me importo, dou mais uma longa golada no
mesmo instante e que a imagem dela me beijando surge na minha mente,
me fazendo desejar beijá-la de novo. O copo escapa da minha mão e se
estilhaça no chão.
— Que porra foi essa...? Eu não posso pensar nela... Não posso...
Mais uma vez a sua imagem sorrindo invade a minha mente, seu
sorriso, seus olhos intensos e aqueles lábios mágicos, ela em meus braços.
Sinto o meu pau latejar, olho para baixo e me assusto.
— Puta merda...! Cacete! Não pode ser, não pode! — Esfrego as
mãos no rosto me sentindo aflito, me sentindo culpado.
Corro em direção a escada e subo às pressas até o meu quarto, entro
no mesmo e sigo para o banheiro entrando na água gelada. Isso não pode
estar acontecendo, não é possível. Théo não vai me perdoar se desconfiar de
algo assim.
— Seu traidor! Você está me sacaneando pela segunda vez hoje. O
que está acontecendo com você, cara? Porra você é meu amigo ou meu
inimigo? — Encaro o meu pau perplexo por ele ter acordado pela pessoa
errada.
Passo longos minutos na água gelada e penso na mamãe me
torrando a paciência, não demora muito e já estou saindo do banheiro mais
tranquilo e me esforçando ao extremo para não pensar nela. Preciso arrumar
uma namorada com urgência, se a Tâmara não fosse embora eu até voltaria
com ela como mamãe tanto quer, mas ela não vai querer me ver depois de
ter deixado ela não mão. Que merda! Eu nunca broxei com uma mulher
antes, estou espantado comigo mesmo.
Lembro-me da loirinha que conheci ontem em uma ocorrência, ela
me deu o telefone dela e eu coloquei em algum lugar, se não estiver aqui
está na minha sala delegacia, vou chamá-la para sair e espero não
decepcioná-la também.
Não demora muito e estou dormindo pois realmente estou exausto,
eu e Théo andamos muito hoje com Renato, o nosso dia foi puxado então
apago rapidamente pois amanhã começa tudo de novo.
— Não precisa ficar apreensiva, não vai acontecer nada sem o seu
consentimento, nem precisa acontecer nada, vamos apenas dormir como das
doutras vezes. — Levo ela até a cama e ela se senta visivelmente
apreensiva.
Elas está muito sexy usando a minha camisa, acho que foi por isso
que das outras vezes ela fugiu de mim, eu me empolguei demais e ela se
assustou como sempre.
— Sei que está pensando que estou com medo de você, e eu não
estou, Théo, pelo contrário, eu me sinto muito à vontade com você, confio
como nunca confiei em nenhum outro homem antes... Eu sinto vontade de
estar com você como você quer, eu quero, mas... Eu... Eu não sei... Eu não
quero decepcionar você. — A vejo angustiada e se levantar inquieta.
— Não precisa ficar tão aflita, não tem que se preocupar se vai me
decepcionar ou não, porque eu sei que não vai... As coisas vão acontecer no
seu tempo, não se preocupe... Eu prometi ser paciente com você e vou
cumprir... Porque não me contou antes que você é virgem?
— O que...? Como... Como você sabe? Como você... Ahh...
Ela se afasta de mim nervosa e esbarra no abajur e se assusta,
apresso-me para abraçar o seu corpo trazendo ela para mim. Ela está
ofegante, trêmula.
— Relaxa, Atena! Não precisa ficar tão nervosa por causa disso. Eu
só queria que tivesse tido coragem para me contar... Não entendo o porquê
não confiou em mim, por acaso achou que eu me envergonharia ou riria de
você? — Ergo o seu queixo olhando nos seus olhos.
Ela ofega vermelha como uma pimenta. Com certeza está
envergonhada por eu saber que ela é virgem.
— Como você sabe? A Lua te contou? Você conversou com ela? —
Ela se solta de mim procurando a cama e eu a ajudo.
— A culpa foi mim, eu chamei ela para conversar. Você estava
fugindo de mim e eu quis saber se tinha algum outro trauma que não havia
me contado, então ela me contou sobre você nunca ter transado antes... Eu
teria me controlado mais se tivesse me contado. — Seguro a sua mão e
abraço ela por trás.
— Me desculpa? Eu realmente tive vergonha de contar, imagina só!
Uma mulher na minha idade ainda virgem?
— E qual é o problema disso? Você teve os seus motivos para não se
entregar a ninguém, e tenha a certeza de que você não deve ser a única...
Não fica com vergonha de mim? Eu te amo, Atena. — Ela tenta se soltar
mas eu não deixo.
Beijo o seu ombro e subo a minha boca pelo seu pescoço, ela
estremece e ofega, apertado a sua cintura sutilmente e espero ela fugir de
mim, mas ela não o faz. Viro ela de frente para e suas mãos sobem pelos
meus braços e acariciam o meu peito, antes dela tocar o meu rosto e me
beija com doçura, me beija com paixão e isso me surpreende por ela não
fugir.
— Não quero mais ser tão insegura, eu quero ser sua mulher...
Ela se solta de mim decidida mas consigo ver o quanto ela está
trêmula. Vejo ela abrir a minha camisa em seu corpo, estou surpreso com a
sua decisão.
— Não precisa fazer isso se não estiver pronta, eu posso esperar o
seu tempo sem nenhum problema... Eu vou ser paciente com você, meu
amor...
— Não precisa ser paciente comigo, Théo. Nenhum outro homem
me tratou como você, ninguém teve a delicadeza de conversar comigo e
perguntar se estou pronta ou não, ninguém me fez promessas de ser
paciente e conseguiu cumprir... Apenas você fez tudo isso... Eu estou
pronta! Eu quero ser sua mulher, eu só estou apreensiva por ser
inexperiente... Seja delicado comigo e eu serei sua... Se eu não for sua
mulher, não serei demais ninguém porque eu escolhi você. — Seu tom
trêmulo e ao mesmo tempo emocionado me deixa chocado.
Ela abre a camisa em seu corpo me revelando a sua lingerie
vermelha, eu ainda não a via visto ela assim. E ela é linda. Aproximo-me
dela e toco o seu rosto, beijo o seu rosto inteiro antes de beijar os seus
lábios doces.
— Tem certeza que quer fazer isso hoje? Está segura disso...? A
minha respiração pesada não te assusta? — Ofego de desejo por ela. Abraço
a sua cintura trazendo o seu corpo para o meu.
— Antes eu me assustava por me lembrar do passado, mas eu sei
que é você aqui comigo então não me assusta mais... Me deixa nervosa, não
vou negar, mas eu preciso vencer isso, então me ajuda...? Me faz sua
mulher? — Se explica tirando a camisa do seu corpo e se deita na minha
cama.
Fico atento a ela mas sinto o meu pau latejar, estou esperando por
isso a semanas. Ela está nervosa mas também está decidida. Subo na cama
me deitando ao seu lado, toco o seu rosto e beijo os seus lábios macios, ela
retribui me beijando apaixonadamente, ela me ama, por isso quer se
entregar a mim.
Toco o seu ombro e desço a alça da sua lingerie, ela ofega na minha
boca mas não me interrompe. Descubro o seu seio e toco o mesmo
enchendo a minha mão, ela está quente, trêmula e ofegante. Deixo os seus
lábios para admirar o seu seio nu, minha boca saliva e eu não fico na
vontade, beijo o seu pescoço e calmamente desço a minha boca até o seu
seio, beijo delicadamente em volta do seu mamilo até sugar o mesmo.
— Théo... Ahh... Meu Deus...
Ela se arqueia e geme baixinho agarrando os meus braços com
firmeza. Não paro, não consigo, a sua pele é tão macia, cheirosa e delicada.
Sutilmente eu me ponho sobre ela descobrindo o outro seio, beijo chupo-o
também, ela geme, estremece e desço a minha boca até encontrar a barra da
sua calcinha. Converso com ela pedindo para ela se manter calma, para
tentar focar a sua atenção na minha voz e ela concorda.
Tiro a sua calcinha admirando a mulher a minha frente, eu não
estava errado, ela é perfeita. Acaricio a sua perna e subo beijos pela sua
coxa, peço para ela não se assustar e abro as suas pernas beijando a sua
boceta pequena, delicada e cheirosa, passo a língua e chupo delicadamente.
— O que está fazendo...? Ahh... O que está fazendo...? Hummm
Théo...
Ela geme mordendo o lábio inferior e se contorce tentando fechar as
pernas, mas não deixo. Chupo-a com mais vontade me esforçando ao
extremo para ir devagar.
— Théo...
Ela grita o meu nome e eu paro assustado, mas vejo o seu corpo em
colapso tremendo com as reações do seu orgasmo, ela gozou e eu volto a
chupá-la, seu gostoso é incrivelmente viciante. Me ergo tirando a minha
bermuda e a cueca, volto a me por sobre ela e beijo a sua boca calmamente
me esfregando na sua bocetinha gostosa.
— Você é perfeita... Minha princesa deliciosa... Agora eu vou sentir
a sua carne na minha, não vou te machucar mas pode pedir para parar se
não me quiser, está bem...? — Afirmo mesmo desejando ardentemente que
ela não me peça para parar.
Ela apenas concorda ainda ofegante e trêmula, ela está tão
meladinha que isso vai facilitar as coisas. Esfrego-me na sua entrada
massageando vendo ela se perder em delírios, mas ainda parece tensa.
— Relaxa, meu amor...? Não quero machucar você mas precisa
relaxar... Me beija...? — Peço erguendo cada uma das suas pernas
envolvendo-as na minha cintura.
— Por favor...? Vai devagar? — Pede em um fio de voz. Ela engole
em seco.
— Eu prometo que vou devagar, não precisa ter medo, já chegamos
até aqui e você foi perfeita. — Sinto-me tenso, também estou nervoso mas
tento cumprir a minha promessa de ser delicado com ela.
Tomo os seus lábios em um beijo ardente enquanto aos poucos bem
lentamente eu a penetro, ela respira fundo na minha boca, mas não me pede
para parar, apenas quando estou por completo sentindo a sua carne apertada,
úmida e quente me envolver, eu paro deixando-a se acostumar comigo. Sua
expressão é de dor e eu me preocupo, pergunto se ela está bem e beijo o seu
rosto, a sua testa e seus lábios na intensão de amenizar um pouco o seu
desconforto.
— Você me ama...? Diz que me ama, Théo...? Estou me entregando
ao amor da minha vida, eu escolhi você para ser marcada para sempre, te
escolhi para ser o meu primeiro e único amor... Eu te amo... — Declara em
um tom suave, doce e ao mesmo tempo emocionado.
— Eu prometo para você, que nunca nessa vida amei uma mulher
como eu te amo... Nunca nessa vida eu quis tanto uma mulher como eu te
quero... Eu te amo, Atena... Ahh eu te amo, minha princesa... — Meu tom
sai mais rouco do que eu pretendia, me declaro começando a me
movimentar.
Nunca tive em meus braços uma mulher tão perfeita, ela será minha
para sempre, eu sei disso. Nos amamos e ela se adaptou ao desconforto
muito rapidamente, eu vi a sua expressão de prazer, ouvi as suas palavras de
amor e senti os seus beijos doces enquanto nos amávamos, ela se entregou
para mim, ainda não acredito que ela se entregou para mim e está sorrindo,
mesmo ofegante após gozarmos.
Saio dela lentamente e me deito ao seu lado, trago-a para os meus
braços e ela não está mais tão tímida como antes, não está tão retraída e
fugindo de mim como está acostumada a fazer. De repente ela se senta
passando as mãos no rosto e parece envergonhada.
— O que foi? O que você tem? — Sento-me preocupado e seguro o
seu queixo, virando o seu rosto para mim.
— É que... É... A Lua me contou que na primeira vez a gente... A
gente sangra, e... Oh meu Deus. Que vergonha, eu devo ter sujado a sua
cama e nem posso arrumar isso. — Ela cobre o rosto com as mãos ainda
envergonhada. Sorrio abertamente.
— Não tem problema então não se preocupe com isso. É natural que
isso aconteça na primeira vez, não fique envergonhada. — Trago ela para os
meus braços e nos deitamos mais uma vez.
Beijo essa mulher maravilhosa e ela sorrir de olhos fechados, não
preciso nem perguntar se ela gostou, ela está sorrindo mais que o normal,
está mais carinhosa, mais desinibida, agora ela é uma mulher de verdade,
agora ela é uma mulher completa e é minha mulher.
— Se eu te pedir para tomar banho comigo, você vem? Ou inda tem
vergonha de mim? — Toco o seu rosto pondo o seu cabelo atrás da orelha,
vejo ela corar rapidamente.
— Você vai me ver nua no banho...
— Estou te vendo nua agora em meus braços, e você é a mulher
mais linda que já vi na vida, não tem que ficar envergonhada comigo, sou o
seu namorado e não um estranho. — Aperto ela contra o meu corpo e ouço
ela suspirar.
— Está certo, eu vou tentar deixar de ser tão tímida... Podemos ir
tomar banho, mas antes vamos trocar o lençol da cama. — Ela se solta de
mim e se levanta cobrindo os seios com os braços.
Sorrio, ela tem os seios lindos, ela é toda linda. Peço para ela
esperar enquanto vou até o closet buscar um lençol limpo, a marca da sua
pureza está ali para me provar o que eu já sabia, ela era virgem e escolheu
se entregar para mim porque me ama. Meu coração está feliz, está acelerado
e eu sinto vontade de cantarolar, vontade de pegá-la no colo e girar ela no
ar, mas ela tem medo e fica zonza com facilidade.
Volto para o quarto e arrumo a cama antes do nosso banho, estou
tentado a fazer amor com ela outra vez mas não posso ir com muita cede ao
pote, amanhã de amanhã antes de levá-la em casa ela será minha mais uma
vez.
Depois do nosso banho voltamos para cama e novamente ela veste a
sua calcinha e a minha camisa de mangas, ponho apenas uma boxer para
não ficar completamente ne e deixá-la constrangida. Me deito com ela em
meus braços e beijo-a mais uma vez antes de adormecemos ambos com um
sorriso pregado no rosto.

Acordo com ela em meus braços dormindo feito um anjo, dá até


pena de acordar, mas eu preciso trabalhar e ela também, e ainda quero fazer
amor com ela mais uma vez. Percorro os meus dedos pelo seu rosto e toco
os seus lábios, ela se mexe me abraçando ainda mais e suspira fundo, sorrio
admirando-a atentamente.
Beijo os seus lábios brevemente para acordá-la, ela sorrir na minha
boca e me beija de volta, ponho-me sobre ela beijando-a mais ardentemente
e ela não me rejeita, não foge de mim e se entrega, acaricio o deu corpo por
baixo da camisa e sinto os seus seios macios nos meus dedos, já estou duro
e desejando estar logo dentro dela, e não me privo disso. Tiro a sua calcinha
e abaixo a minha cueca pondo-me novamente sobre ela, me esfrego e
acaricio o seu pontinho, ela geme excitada e sei que está pronta para me
receber, penetro-a lentamente gemendo ao sentir o quanto ela é apertada, a
sua carne me envolve e eu me perco nas sensações causadas pelo nosso
momento juntos, nos amamos sem reservas como nós dois desejávamos.
Depois de nos entregarmos a um delicioso orgasmo, tomamos um
banho e dessa vez eu não resisto em tê-la embaixo do chuveiro, ela é
totalmente inexperiente e isso a torna única, isso me encanta pois o que ela
precisa saber, eu vou ensinar.
Depois do banho nos arrumamos e descemos para o café da manhã,
Cícera fez o que pedi e preparou um pudim extra para Atena levar para
casa, descobri que esse doce é um dos preferidos dela e já pedi para ela ser
mais cuidadosa quando decidir cozinhar sozinha novamente, sugiro de
Cícera ir ajudá-la três ou quatro vezes na semana, mas ela é orgulhosa e não
aceitou, depois eu insisto um pouco mais e com calma, sei que ela vai ceder
pois sabe que só quero ajudar.
Nos levantamos da mesa após nos faltarmos e matarmos a nossa
fome, acordamos famintos hoje. Seguimos para sala e dou de cara com a
minha mãe entrando em casa, porra! Ela descobriu o novo esconderijo?
— Bom dia!
Ela vem na nossa direção escaneando Atena dos pés à cabeça.
— Bom dia! — Dissemos juntos eu e a minha namorada.
— Quem é essa mulher? Mais uma das vagabundas que você traz
para essa casa? — Dispara me deixando chocado e Atena desfaz o seu
sorriso abraçando a minha cintura.
— Eu não quero te faltar com o respeito porque você é minha mãe,
mas se você ofender mais alguém nessa casa por mais que seja uma
empregada, eu prometo para você que vou te odiar pelo resto da minha
vida! Atena e minha mulher! Eu a amo e você não vai se meter no meu
relacionamento, eu não devo nada a você além de respeito, mas até isso
você está perdendo não só de mim, mas do meu irmão também. — Rebato
entre dentes apertando Atena contra o meu peito.
— Quem é essa mulher, Théo? Porque ela está me tratando assim?
— Pergunta séria e visivelmente magoada.
— Não é ninguém importante. Eu vou te levar em casa, meu amor...
— Não sou ninguém importante? É assim que você trata a sua mãe
por causa de uma qualquer? Olha bem para essa garota, Théo? Uma mulher
simples que não deve ter onde cair morta... E ainda é cega? Porque ela
segura uma bengala para cegos? Como ela consegue andar sem enxergar?
Pessoas assim deviam ser proibidas de sair na rua...
— CHEGA, MAMÃE! SAIA DA MINHA CASA! — Solto-me de
Atena alterado mas não me afasto. — Devolva a minha chave e suma
daqui! Eu não quero mais você entrando na minha casa sem a minha
permissão! — Sinto uma raiva imensa me consumir, estou cansado disso,
estou cansado dela.
— Eu vou! Mas você ainda vai me agradecer quando essa mulher
sair da sua vida...
— Saia! Eu já mandei você sair! Você passou dos limites, mamãe!
Você não é mais bem-vinda nessa casa, eu estou farto de você! —
Aproximo-me dela e pego as chances da sua mão, ela parece chocada.
Seguro ela pelo braço e levo ela até a porta me controlando para não
passar dos limites com ela, ela ainda é minha mãe, eu só não sei até quando.
Ela resmunga e mais uma vez insulta Atena, isso só me aborrece mais. Vejo
Alonso em pé do lado de fora do portão ao lado do seu carro, chamo por ele
e peço que ele acompanhe minha mãe para fora daqui.
Volto até Atena e ela está chorando em silêncio, meu peito dói por
vê-la assim.
— Me perdoa, meu amor? Não fica assim por causa dela, minha
mãe não merece isso de você... Ela já atrapalhou a minha vida por tempo
demais, agora, chega! — Abraço-a receoso mas ela não me rejeita, ela me
abraça de volta.
— Está tudo bem, não se preocupa... Eu já estou acostumada com
pessoas me tratando assim, mas ela é sua mãe, no mínimo eu imaginei que
ela fosse querer me conhecer melhor, saber de ondem eu vim... Não vou
mentir, me magoou sim, mas se você não está se importando com ela, me
sinto no direito de fazer o mesmo. Só você me importa, dela eu não quero
nem saber. — Limpo o seu rosto e ela me dá aquele sorriso lindo que faz o
meu coração bater mais forte.
Aperto-a em meus braços antes de beijá-la ardentemente, a cada dia
me surpreendo mais com essa mulher incrível. Forte. Madura.
— Vamos! Eu vou te levar em casa antes de ir para delegacia, vou
acabar me atrasando por causa dessa visita inesperada. — Sigo em direção a
porta abraçado a ela.
— Eu ouvi você chamar o Alonso, ele está aqui?
— Sim, ele deve saber que você dormiu aqui então ele veio para cá
ao invés de ir direto para sua casa. — Comento pegando a sua bolsa sobre o
sofá e saímos de casa com Cícera atrás de nós, com o pudim que fez para
Atena.
— Não precisa me levar em casa, eu moro longe e a essa hora tem
engarrafamento, você vai se atrasar ainda mais... Eu posso voltar com
Alonso como da outra vez, eu já confio nele para aceitar uma carona. —
Seu sorriso está ali para me deixar ainda mais encantado.
— Não vai ficar chateada se eu não te levar em casa?
— Mas é claro que não, e tudo isso graças ao pudim que você
mandou preparar para mim. Obrigada, Cícera, você é um amor. Ela está
aqui? — Ela estende a mão procurando por Cícera e a mesma se aproxima.
— Sim, querida, eu estou aqui... Eu posso preparar outras gostosura
e mandar para você, ou eu posso ir te ver como o Sr. Théo sugeriu. Me
deixe te ajudar? Estou curiosa para conhecer a floricultura onde você
trabalha. Eu amo flores. — Cícera pisca para mim e pega a mão dela
sorridente.
— Está bem, então você escolhe os dias que vai ficar contigo, eu
preparo porções e congelo para comer durante a semana, minha amiga e a
família dela trabalham e eu não gosto de incomodar muito, eu adorei a sua
comida e a sua companhia, então vou adorar te receber em casa. — A vejo
animada e sorrio por ela não ter se abalado tanto por causa da minha mãe.
— Sendo assim, você está dispensada por hoje para ir com Atena até
a casa dela, Cícera, eu vou almoçar na rua com o meu irmão e o Inspetor
Renato, eu espero você aqui amanhã.
— Sim senhor! Eu vou pegar a minha bolsa para ir com ela. —
Cícera volta apressada para dentro de casa e Atena sorrir.
— Obrigada, Théo, ela vai me ajudar muito mas estou sem graça
por não poder pagar o dia a ela. — Confessa envergonhada e eu sorrio.
— Eu já falei para você não se preocupar com isso, você é minha
namorada e em breve será minha esposa, então é minha obrigação te ajudar,
mas confesso que faço isso por amor, eu te amo demais, Atena. — Confesso
espontaneamente e ela parece surpresa.
— Esposa...? Você quer mesmo se casar comigo um dia? — Seu
sorriso se abre em câmera lenta prendendo a minha atenção na sua boca.
— Eu serei incompleto se não tomá-la como minha esposa... Eu
quero sim me casar com você muito em breve, não vejo necessidade de
prolongarmos muito o nosso namoro, eu tenho a impressão de que já nos
conhecemos a muito tempo, eu sinto por você um amor que eu ainda não
havia sentido por ninguém, e eu não quero perder isso, não quero perder
você. — Declaro abraçado a sua cintura, admirando esse sorriso encantador
aqui de pertinho.
— Você não vai me perder nunca, eu prometo... Eu também te amo
como nunca fui capaz de amar alguém, eu escolhi você para fazer parte de
mim, para fazer parte da minha vida... Eu amo muito você, Tenente Théo.
— Declara suspirando apaixonada. Beijo-a mais uma vez.
Cícera aparece e nós saímos de casa, coloco as duas no carro de
Alonso e faço inúmeras recomendações sobre a sua ida com elas e peço
para ele me ligar depois que deixá-las em casa, também peço a Atena para
me esperar pois vou vê-la mais tarde, e talvez eu passe a noite lá outra vez,
com a diferença de que agora ela dormirá em meus braços depois de nos
amarmos.
Depois que eles saem eu entro no meu carro e sigo para delegacia
não muito longe daqui, meus pensamentos estão na minha mãe e na sua
agressividade com Atena, ela passou dos limites, minha mãe parece não ter
noção do que está fazendo e se tiver, ela sabe que está errada, que está
cometendo um crime tratando assim uma pessoa que tem necessidades
especiais. Eu preciso trocar as fechaduras lá de casa, minha mãe não pode
mais entrar e sair a hora que bem entender, eu não vou aceitar mais isso.
Paro o meu carro em uma vaga qualquer e saio entrando na
delegacia.
— Bom dia, Tenente! — Me cumprimenta Gustavo.
— Bom dia, Cabo Gustavo! Sabe dizer se já tem café pronto? Pede
a Priscila para vir até a minha sala, por favor? — Peço enquanto sigo para
minha sala.
— Agora mesmo, senhor!
Ele segue para um lado e eu para o outro, entro na minha sala e
encontro Tony deitado na minha poltrona, ele parece estar dormindo.
Aproximo-me dele e tiro o óculos escuro do seu rosto, ele está mesmo
dormindo, o que aconteceu para ele vir se refugiar na minha sala? Será que
a mamãe também o visitou?
— Tony...? Irmão?
Chamo por ele e o mesmo se assusta.
— Puta merda! Não podia fazer um barulho para eu acordar...?
Chegou a muito tempo? — Ele se senta esfregando os olhos.
— Ah sim, já são quase dez da manhã e eu até já saí para uma
ocorrência e voltei, e você ainda está dormindo. — Vou para minha mesa e
ele olha no relógio de pulso assustado. Sorrio.
— Engraçadinho!
— O que houve? Está com algum problema ou apenas não dormiu
bem a noite? — Sento-me ligando o computador mas com a minha atenção
nele.
— A minha noite foi péssima, tive até pesadelo com direito a sustos.
— Ele suspira frustrado e se deita novamente. — Mamãe mandou Tâmara
me procurar, eu quiser aproveitar a vista dela para uma despedida, mas
aconteceu algo que me fez ter pesadelos... Eu deixei ela na mão, cara, não
sei como isso foi acontecer mas o meu parceiro aqui não quis me ajudar,
justo com ela... Tâmara saiu decepcionada comigo e com razão. — Conta
visivelmente frustrado e eu me seguro para não rir.
— Realmente, você teve uma péssima noite e eu sinto muito por
isso, é um crime gravíssimo deixar uma mulher na mão, você sabe disso. —
Tento não rir da sua desgraça e foco a minha atenção no computador.
— Em compreensão, você está com uma cara ótimo para quem
dormiu no zero a zero como eu. — Ele se levanta arrumando os cabelos e
eu sorrio abertamente.
— E quem te falou que eu dormi no zero a zero, irmão...? A minha
noite foi maravilhosa mas não vou entrar em detalhes. Eu só posso afirmar
que finalmente Atena é por inteira minha mulher... Eu quero me casar com
ela o quanto antes. — Conto eufórico mas ele parece surpreso.
— Casar...? Vocês vão se casar? Assim tão rápido...? Espero que a
mamãe não esteja sabendo disso ou a sua vida vai virar um inferno. Ela está
fora de controle com essa mania de se meter onde não deve. — Ele me
encara espantado ao falar do casamento, mas depois dá de ombros.
— Concordo com você, e por falar nela, vou trocar a fechadura da
minha casa e depois te dou a cópia da chave, não dá mais para deixar em
esconderijos, a mamãe passou de todos os limites. — Levanto-me irritado e
vou para frente da janela com os pensamentos em Atena.
— O que aconteceu? O que ela aprontou dessa vez? — Ele para ao
meu lado e eu suspiro fundo.
— Ela apareceu lá em casa hoje de manhã e insultou Atena, antes
mesmo de saber quem ela era mamãe já foi insultando a garota por ela ser
cega, disse coisas horríveis mas graças a Deus Atena é uma mulher muito
madura, ela não deu a mínima para a nossa mãe, mas ficou sim magoada
pois esperava ser bem recebida pela sogra. Foi vergonhoso, Tony, nós não
temos o apoio da nossa mãe para nada, ela só nos apoia se for do interesse
dela. — Conto irritado sentindo o meu sangue ferver e uma magoa profunda
me consumir.
— Como está Atena depois de tudo isso? Ela ficou bem? — Ele
parece mesmo preocupado.
— Sim, ela ficou bem. Eu ia levá-la em casa mas já estava muito
atrasado por causa da visita inesperada da nossa mãe, Alonso apareceu lá
em casa e Atena me dispensou para ir com ele, ela se preocupou pois eu iria
me atrasar ainda mais levando-a em casa, ela mora longe e a essa hora da
manhã realmente tem muito engarrafamento... Essa mulher é incrível, ela é
maravilhosa e não vou mais aguentar ficar longe dela, quero me casar o
quanto antes com ela. — Conto pensativo mas meu sorriso aparece só em
me imaginar casado com ela.
— Parabéns, irmão! Se é isso que vocês realmente querem, se vocês
se amam o bastante para darem esse passo na vida de vocês, vocês terão
todo o meu apoio. — Ele abre um sorriso amoroso e me abraça apertado,
sei que está realmente torcendo por mim.
Agradeço a ele pelo apoio e voltamos ao trabalho quando Priscila
aparece com o meu café, mas com ela também chega a informação de um
homicídio em um hotel aqui mesmo no centro, deixo Tony encarregado da
investigação junto com ela e os dois saem, mas Renato os acompanha para
um reforço na coleta de evidências, enquanto isso eu fico para revisar
alguns relatórios que chegaram da análise pericial. E assim o meu dia vai
passando.

UM MÊS DEPOIS...

O meu dia está passando tranquilamente apesar da montanha de


papéis que deixaram aqui para eu analisar, esse é o meu principal trabalho
então me afundo nele.
— Sr. Tony, o senhor está ferido, precisa de um médico. — Ouço a
voz da polícia Priscila e me levanto apressado saindo da minha sala.
— Não foi nada demais, pegou de raspão e já fui atendido por um
paramédico da ambulância. — Explica indo para sua sala e eu vou atrás.
— O que aconteceu? Porque foi ferido? — Questiono ao entrar atrás
dele.
— Estávamos colhendo evidências em uma cena de crime, mas
encontramos o assassino escondido e ele nos atacou, o tiro pegou no meu
braço de raspão, não foi nada grave. Mas tivemos que matar o infeliz ou
mais dos nossos agentes sairiam feridos. — Ele encara o braço enfaixado e
eu faço o mesmo.
— Isso aí parece feio, vá para o hospital vez isso aí. Estou te dando
uma ordem pois sou o seu primeiro Tenente, não estou te pedindo como
irmão... O meu turno está terminando e eu preciso buscar... — Ordeno em
um tom firme, mas meu celular toca no meu bolso.
Pego o mesmo e vejo que é o número de Alonso, ele só me liga
quando acontece alguma emergência então atendo de uma vez.
— Tenente Carlson! Pode falar, Alonso, estou ouvindo! — Atendo
me virando para Tony atento a mim.
— Tenente! Estou ligando para informar que estou levando a Srta.
Atena para o hospital, ela está ferida mas não é nada grave. — Meu peito
se aperta ao ouvir tais palavras.
— Ela está ferida? O que aconteceu? Como aconteceu? Onde vocês
estão agora? — Pergunto correndo para minha sala para pegar as minhas
coisas.
— A floricultura onde ela trabalha foi assaltada, o assaltante não
percebeu que ela é deficiente visual e pensou que ela estivesse reagindo, ele
a esfaqueou no braço mas ela está perdendo sangue, por isso achei melhor
me adiantar e levá-lo para o hospital, a ambulância ia demorar muito. Eu
já liguei chamando a polícia e o assaltante está morto no local, eu precisei
sair da cena do crime mas estarei no hospital Anchieta com a Srta. Atena.
— Explica meio afoito e eu pego as minhas coisas saindo apressado.
— Tudo bem, Alonso, eu encontro vocês no hospital! — Aviso antes
de encerrar a chamada.
— O que aconteceu, Théo? É algo com Atena? Ela está bem? —
Pergunta aflito.
— Assaltaram a floricultura onde ela trabalha, ela foi esfaqueada no
braço e Alonso está levando ela para o hospital. Você vem comigo? Você
precisa ser atendido também, eu só preciso saber se já mandaram alguém
para o local.
— Théo! Recebemos um chamado para a floricultura da sua
namorada, já está ciente disso? Estou indo para o local com o inspetor que
vai assumir o lugar do Tony. Parece que o assaltante está morto. — Renato
vem na minha direção e eu paro para falar com ele.
Explico a ele tudo que Alonso me contou e aviso que estou indo até
ele e Atena no hospital, eu mesmo vou tomar o depoimento dele junto com
Tony então saímos todos apressados da delegacia. Entro no meu carro e
peço Tony para vir comigo, ele está ferido e não é bom forçar o braço
dirigindo.
Seguimos para o hospital os dois preocupados pois ele também se
importa bastante com Atena, eles estão se dando bem e eu fico feliz por
isso, pelo menos ele está nos apoiando, ao contrário da minha mãe. Eu tive
que trocar a fechadura da minha casa por causa dela, agora meu irmão e
minha namorada tem a chave lá de casa e eu tenho a chave da casa dele, e
tudo só para não correr o risco da mamãe encontrar o nosso esconderijo
novamente.
Paro em uma vaga na frente da entrada da emergência do hospital e
saio com Tony, seguimos até a recepção e vejo Alonso sentado, mas se
levanta assim que me ver. Enquanto converso com ele, o mesmo me leva
até o quarto onde Atena está internada, ela vai precisar ficar no soro por
algumas horas e vê-la nesse estado me dói.
Entro no quarto e ela está de olhos fechados, suspira fundo e esfrega
a mão no rosto.
— Quem está aí? Estou ouvindo passos... Alonso, é você? —
Pergunta atenta e eu me aproximo pregando a sua mão.
— Sou eu, meu amor. Como você está? Está sentindo alguma coisa?
— Pego a sua mão e beijo demoradamente, ela acaricia a minha mão
tocando a pulseira que me deu para saber se sou mesmo eu ou o meu irmão.
Sorrio, mas ela puxa a minha mão e se senta me abraçando apertado,
ela parece tão aflita.
— Como é bom saber que você está aqui... Eu tive tanto medo...
Pensei que ele fosse me matar, pensei que não fosse mais ver você. — Ela
chora agarrada a mim e eu beijo o alto da sua cabeça.
— Fica calma! Está tudo bem agora, não aconteceu nada grave e
você está bem... Graças a Deus você está bem. — Aperto ela contra o meu
peito aliviado por vê-la bem. — Tony também se feriu em uma investigação
hoje, ele foi baleado no braço. — Conto pensativo e ela se solta de mim
assustada.
— O que? Ele está bem? O ferimento foi grave? Onde ele está?
Você estava com ele? Também foi ferido...? Théo! Vocês estão bem? Cadê o
Tony? — Pergunta nervosa tateando o meu corpo para saber se estou ferido.
— Fica calma, princesa! Eu já falei que está tudo bem. Eu não
estava com ele pois eu trabalho mais dentro da delegacia, Tony estava
investigando a cena de um crime e foi surpreendido pelo assassino
escondido. Mas ele está bem, ele está aqui no hospital também. — Toco o
seu rosto encantado por ela se preocupar tanto com nós dois.
— Tem alguém preocupada comigo? Porque? Eu estou bem... Como
você está, cunhada? Só para relatar, não estou gostando nada de te ver nessa
cama de hospital, não combina com você. — Tony se aproxima do outro
lado da cama e pega a sua mão carinhosamente.
Ela faz com ele o mesmo que faz comigo, ela toca a sua pulseira e
aperta a sua mão com o mesmo carinho.
— Eu odeio hospitais, não suporto ficar aqui e já quero ir embora...
Mas você está mesmo bem? O ferimento não foi grave...? O Théo está
ferido? Sei que você não vai mentir para mim, não é? — A sua carinha de
preocupada não me surpreende.
— Mas é claro que eu não mentiria para você, mesmo que isso te
deixasse triste e nós não gostamos de te ver assim... Pode ficar
despreocupada, o seu namorado não tem um único aranhão. Ele está inteiro.
— Ele pisca para mim e eu sorrio vendo ela suspirar aliviada.
— Obrigada, Tony, você é um amor. — Ela nos dá aquele seu
sorriso que nos seixa hipnotizados e me estende a mão.
Me sento ao seu lado e lhe dou um breve beijo, Tony pergunta a ela
o que aconteceu na floricultura e ela nos conta nos mínimos detalhes tudo
que ela ouviu, mas Alonso está à frente da cama atento ao que ela diz e
confirma tudo que ele viu e fez contra o assaltante. Luana está grávida e
ficou muito assustada com a situação, mas ficou ainda mais assustada com
Atena e pediu para Alonso trazê-la para o hospital.
Tony foi cuidar do seu ferimento e o delegado Camilo também
aparece para ver Atena, pois ele a conheceu e sabe o quanto ela é
importante para mim, ele também pede o depoimento de Atena e Alonso e
eles vão ter que ir à delegacia depois para assinar os seus depoimentos,
assim como Luana e Otávio também.
O delegado foi embora e o médico passa para dar alta a minha
namorada, mas passa alguns remédios para não infeccionar o ferimento, eu
compro no caminho para casa quando sairmos daqui. Saímos os três do
hospital no meu carro e seguimos para minha casa, no caminho faço como
planejado e compro os seus remédios e os de Tony também. Atena vai ficar
comigo hoje para eu mesmo cuidar dela e assim eu também vou ficar mais
despreocupado, no caminho eu ligo para Luana avisando que ela vai ficar
comigo, e também pergunto como eles estão, e graças a Deus eles estão
bem. Atena conversa pessoalmente com a amiga e também fica mais
tranquila sabendo que ela está bem.
Entramos em casa e eu peço a Alonso para ir buscar o carro de Tony
na delegacia, ele está indo com os documentos do carro e meu irmão
também ligou avisando que estão indo até lá.
— Menina Atena...? Meu Deus, o que aconteceu com você? Está
ferida? Sr. Tony? O que aconteceu com vocês? Foram feridos no mesmo
braço, vocês estavam juntos? — Pergunta Cícera espantada.
— Fomos literalmente baleados, Cícera, mas cada um em um canto
diferente da cidade. Na verdade Tony foi baleado por uma arma e eu fui
ferida com uma faca, a floricultura foi assaltada e foi horrível, mas graças a
Deus e ao Alonso, ninguém mais ficou ferido além do bandido... Essa
cidade está a cada dia mais perigosa, não é a primeira vez que nos assaltam
mas das outras vezes foi mais tranquilo. Aquele garoto estava visivelmente
drogado, ele estava fora de si... Eu tentei me afastar procurando por Lua e
ele pensou que eu iria reagir, então ele me atacou mas Alonso foi mais
rápido e por sorte só feriu o meu braço. Poderia ter sido pior. — Ela conta
abraçada a Cícera e as duas vão para cozinha.
Encaro Tony e ele está largado no sofá pensativo. Me sento ao seu
lado para conversarmos um pouco, mas logo ele sobe para tomar banho e
descansar, eu faço o mesmo.
— Apesar desse terrível acontecimento de hoje, você está feliz, não
é, querida? Seus olhinhos brilham tanto, o seu sorriso é tão radiante. —
Pergunta Cícera mexendo nas panelas e o cheiro está divino.
— Sim, Cícera. Eu estou feliz, ontem Théo me levou para jantar e
me pediu em casamento, acredita...? Ele quer se casar comigo. Estamos
juntos a tão pouco tempo e já vamos nos casar. — Conto eufórica tocando o
anel no meu dedo eu mal acreditei quando ele fez o pedido.
— Ele me contou, ele me pediu sugestões de lugares para te levar e
eu fiquei muito feliz em saber dessa novidade, vocês dois merecem essa
felicidade, e que bom que estão buscando por isso juntos. — Sinto ela pegar
a minha mão com carinho e sorrio.
Meus pensamentos voam para o dia de ontem, Théo foi me buscar
em casa e ele parecia tão nervoso, e mesmo eu perguntando se estava tudo
bem, ele afirmava que sim.
— Amor? Para onde estamos indo? O trajeto parece mais longo que
normalmente. O que está aprontando, Tenente? — Sorrio abertamente
procurando pela sua mão.
Ele pega a minha mão beijando demoradamente.
— É surpresa, não posso falar para onde vamos mas sei que você
vai gostar. Nós já estamos chegando.
— Vamos jantar em um restaurante? Não é um restaurante muito
chique, é? — Pergunto apreensiva.
— Relaxa! Vamos em um lugar chique sim porque você merece, mas
eu pedi uma mesa em um local mais reservado, você vai poder fazer
bagunça à vontade pois ninguém vai ver. — Ouço ele sorrir e eu gargalho.
— Você até já se acostumou com a minha bagunça, não é? Não sei
como você ainda não desistiu de mim por causa disso. — Sorrio agora
meio sem jeito por confessar tal coisa.
— Não gosto de gente perfeita de mais pois eu também não sou
perfeito, você ainda não percebeu os meus defeitos pois me ama demais,
assim como eu sou louco por você... Eu te amo exatamente como você é,
Atena, eu me apaixonei por você assim e não desistiria de você por um
motivo bobo desses... Eu amo até as suas bagunça, fica tranquila. E você
não é tão bagunceira assim, você que insiste nisso. — O carro para e ele
pega a minha mão com carinho, mas sinto os seus lábios tocarem os meus.
Ele me beija apaixonadamente, aquele beijo que me amolece, que
me acalma internamente, que me faz desejar me atirar em seus braços,
aquele beijo de amor que eu passei anos desejando sentir e agora eu sinto
quase todos os dias.
Ele avisa que chegamos no restaurante e desce do carro abrindo a
porta para mim, ouço ele conversar com alguém e somos cumprimentados
por uma voz masculino, o homem pede as chaves do carro e Théo entrega,
sei que é o manobrista como das outras vezes. Théo me guia para algum
lugar e mais uma vez somos cumprimentados mas agora por uma voz
feminina, a mulher pede para acompanharmos ela e meu namorado abraça
a minha cintura me levando com ele.
— Fiquem à vontade, um garçom logo virá para atendê-los. — Diz
a mulher.
— Obrigado!
Théo agradece e puxa a cadeira para eu me sentar, ouço ele fazer o
mesmo. Sinto uma brisa fresca e sei que estamos em uma área aberta, ele
pede para eu passar a mão sobre a mesa e assim o faço, sinto os meus
dedos tocarem pétalas de rosas, encontrar um rosa sobre o prato e meu
sorriso vai nas orelhas.
— Com licença, senhor! Trouxe o buquê de rosas como
encomendou. Meu nome é Alfredo e vou atendê-los essa noite. — Ouço a
voz de um homem ao nosso lado.
— Obrigado, Alfredo! Quando fizermos os nossos pedidos eu te
chamo.
Fico atenta e ouço o homem se afastar em seguida, mas logo sinto
Théo pegar a minha mão e colocar em meus braços um generoso buquê de
rosas.
— Sei que você gosta de jasmim, mas a ocasião de hoje pede um
romântico buquê de rosas vermelhas. — Ouço sua voz aqui do meu lado e
eu sorrio tocando e cheirando as rosas.
— Obrigada, meu amor, eu amo flores pois eu trabalho com elas
todos os dias, mas você está deixando mal acostumada me dando flores
toda vez que saímos. Ou sempre que vai me ver em casa... Mas eu amei,
obrigada. — Estendo a minha mão procurando o seu rosto e o encontro
abaixado ao meu lado.
Toco o seu rosto e deslizo os meus dedos até os seus lábios, me
inclino e beijo-o com ternura. Meu Deus, eu amo tanto esse homem que
morro de medo dele me deixar, não vou conseguir me relacionar com mais
ninguém se um dia ele me deixar.
— Você sabe o quanto te amo, não sabe? Sabe o quanto sou louco
por você, Atena? — Seu tom de voz é um pouco mais angustiado como de
minutos atrás quando foi me buscar em casa.
— Sim, eu sei, não tenho dúvida alguma disso. — Afirmo.
— Eu não consigo mais levar você na sua casa e voltar sozinho
para minha, eu não quero mais isso, Atena. — Suas palavras me causam
uma sensação de perda.
— Como assim...? Você não quer mais ir me ver? Théo, eu sei que
você me ama, mas... Meu Deus... O que você está tentando me dizer? Você
não me quer mais, é isso? — Ofego pelo medo que estou sentindo, meu
coração palpita mais forte e me sinto trêmula.
— Pelo contrário, meu amor, eu te quero tanto que não quero mais
precisar te levar de volta para sua casa... Atena, a minha vida não tem mais
sentido sem você nela, eu estou tentando dizer que quero me casar com
você... Quero que seja minha esposa, minha mulher... Você quer se casar
comigo, Atena? — Seu tom é ainda mais angustiado mas sinto ele pôr algo
no meu dedo.
Suspiro fundo aliviada mas também surpresa. Toco o anel que ele
pôs no meu dedo e sinto que é um anel solitário. Eu daria tudo para
conseguir ver isso.
— Théo... Meu Deus... Você quer mesmo se casar comigo...? Não
vai se arrepender de ter ao seu lado uma mulher que não pose te admirar
dormindo? Não pode ver quando você sai para o trabalho e me dá tchau,
tudo que me resta é imaginar o quanto você está lindo e se está sorrindo
para mim sem eu perceber, não posso ver essa mesa que você mandou
preparar com tanta carinho... Eu daria tudo para poder ver o anel que você
pôs no meu dedo mas eu não posso... Você ainda tem certeza de que me
quer como sua esposa? — Questiono já em lagrimas de tristeza mas
também de felicidade.
— Eu nunca tive tanta certeza em toda a minha vida... Não quero
me casar com outra mulher se não for com você, então diz que sim, meu
amor? Me faz feliz aceitando o meu pedido? — Sua voz emocionada e seus
dedos acariciando o meu rosto, faz o meu coração bater descompassado.
— Sim...! Meu Deus, sim! Eu quero me casar com você, Tenente
Théo Carlson! — Meu sorriso vai nas orelhas e ele me beija ardentemente
roubando todos os meus receios e inseguranças.
— Sei que tudo parece estar acontecendo rápido demais, mas eu
prometo que você jamais vai se arrepender por me aceitar... Eu vou fazer
você feliz, Atena... Eu prometo meu amor. — Seus dedos tocam o meu rosto
pondo uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
Théo me beija mais uma vez antes de se afastar e se sentar
novamente. Toco mais uma vez o anel no meu dedo sorrindo abertamente.
Ele me pergunta o que eu quero comer e eu digo que ele pode pedir o que
quiser desde não tenha frutos do mar, ele chama pelo garçom enquanto põe
na minha mão uma taça de champanhe, fizemos um brinde e eu tomo essa
bebida deliciosa. Meu rosto dói pelo sorriso pregado nele, sei que hoje
vamos dormir juntos e ele vai me amar, vai fazer amor comigo como em
todas as outras vezes em que dormimos juntos. E ele é tão carinhoso,
atencioso, ele é muito romântico igual a mim.
— Esse sorriso em seu rosto não me deixa nenhuma dúvida, você
está radiante de tanta felicidade, sei que serão felizes com esse casamento e
eu estarei sempre aqui para vocês. — Cícera beija o meu rosto
carinhosamente.
— Eu ouvi bem? Vocês estão falando de casamento? Você acha
mesmo que eu vou deixar você se casar com o meu filho, garota? Uma cega
que nem sabe para que lado está indo, se um dia você engravidar, como
você acha que vai conseguir cuidar de uma criança...? Eu não vou deixar
esse casamento acontecer! — Ouço a voz daquela mulher e me assusto.
— Eu não estou pedindo a sua permissão, senhora, eu e o seu filho
somos adultos e sabemos o que estamos fazendo. — Retruco enquanto me
afasto.
— O meu filho não sabe o que está fazendo, no mínimo ele bateu a
cabeça pois ele não está no seu juízo normal, mas eu vou tirar essa ideia
absurda da cabeça dele. Você vai voltar para o buraco de onde você saiu
com uma mão na frente e outra atrás. — Sua voz é alterada.
— Eu vou chamar o Sr. Théo...
— Você não vai chamar ninguém, sua empregadinha intrometida! —
Enquanto ela briga com Cícera eu saio apressada tateando as paredes para
sair de perto dela.
Ainda ouço a sua voz alterada na cozinha enquanto me afasto
rezando para o Théo aparecer logo. Entro na sala e sinto alguém segura o
meu braço.
— Théo? Amor, é você? — Estendo a mão para tocar o seu rosto
mas ele me puxa pela cintura com brutalidade, beijando o meu pescoço.
Empurro-o para longe de mim mas ele me pega pelo braço.
— Quem é você? Me solta! — Empurro-o mais uma vez me
soltando dele.
— Qual é, princesa? Você está aqui dormindo com os dois irmãos,
porque eu não posso aproveitar também? Eu sou da família. — Sua voz me
assusta e eu saio apressada, mas ele me puxa pelo cabelo me prendendo ao
seu corpo.
— Me solta! Tire as mãos de mim! Théo! — Desespero-me para me
soltar do homem.
Sinto ele me virar abruptamente antes de sentir algo acertar o meu
rosto com força. Vou parar no chão atordoada, me sentindo zonza enquanto
a minha blusa é rasgada com brutalidade. De novo não.
— THÉEEEO... ME SOLTA! ME SOLTA! — Choro batendo e
arranhando o seu rosto enquanto as suas mãos imundas me apalpam.
— SOCORRO! MENINO THÉO! AJUDA! AJUDAAA! — Ouço
os gritos de Cícera enquanto tento com todas as minhas forças tirar esse
homem de cima de mim.
— ATENA! SOLTA ELA! SEU MALDITO! — Ouço os gritos de
Théo ao longe antes de sentir esse monstro sendo arrancado de cima de
mim. — Maldito! Desgraçado! Eu vou matar você! Eu vou matar você!
AHH DESGRAÇADO! — Arrasto-me para longe dos gritos.
— Solta ele, Théo! Ele não teve culpa de nada, foi essa vagabunda
que seduziu o meu marido. Solta ele! — Esbraveja aquela cobra
peçonhenta, no entanto eu apenas choro e me afasto.
— Atena? Filha, você está bem? — Cícera me abraça me prendendo
ao seu corpo.
— Théo? O que aconteceu...? Atena? — Ouço a voz de Tony mas eu
me agarro a Cícera como se ela fosse a minha segunda pele.
— Esse desgraçado atacou Atena! Eu vou matar esse verme! Vou
matar esse maldito...! Olha o Estado dela, mamãe! Você acha que ela estaria
nesse desespero se tivesse deduzido esse filho da puta que você chama de
marido? Diz! Olha na minha cara e diz! — Théo esbraveja alterado.
— Eu vou acabar com ele, vou mostrá-lo o que aconteceu com
estupradores como esse canalha! — Me assusto com a voz irritada de Tony
e ouço o homem voltar a gritar.
— Para por favor...? Para...! Foi a sua mãe quem mandou... Foi a
sua mãe...! — Implora entre gritos mas Tony ainda bate nele, posso ouvir o
som dos golpes que ele dá. Até o homem fazer tal revelação.
Eu apenas choro de soluçar, Cícera chora junto comigo me
abraçando apertado. Não acredito que estou passando por isso de novo.
— Você não é a minha mãe, você é um monstro! Você é um
monstro! Eu te odeio, mamãe... EU TE ODEIO! TE ODEIO! — Théo grita
quebrando alguma coisa e eu me assusto.
Sua voz é tão rouca, ele está furioso assim como o irmão, eles
parecem possuídos, parecem outra pessoa.
— Eu vou fazer com esse desgraçado o que eu não posso fazer com
você, justamente por ser minha mãe. Por ser minha mãe não, por ser mulher
porque nem ser chamada de mãe você não merece mais... EU VOU
MATAR ESSE DEMÔNIO! — Tony grita voltando a bater no homem que
nem grita mais, apenas geme de dor.
— Para, Tony! Eu ainda sou a sua mãe! Vocês estão me maltratando
por causa dessa mulher! Eu não vou perdoar vocês! Não vou! — Ouço os
gritos da mãe deles.
— Cala a boca, mamãe! Eu não preciso do seu perdão, não preciso
de nada que venha de você! — Esbravejar mais uma vez com a voz cheia de
ódio.
— Théo! Tony! Parem por favor? Por favor...? Por favor? —
Imploro aos prantos sem me soltar de Cícera.
— Me perdoa, meu amor? Por favor me perdoa? Eu não queria ter
trago você para esse inferno que é a minha vida, mas eu te amo e não posso
abrir mão de você. Eu não consigo... Me perdoa? Não chora por favor? —
Seu choroso me surpreende, nunca ouvi ele assim antes.
Théo toca o meu queixo virando o meu rosto mas solta em seguida.
Estendo a minha mão para tocar o seu rosto mas ele se afasta.
— Théo...? Théo cadê você? — Chamo por ele e sinto ele segurar a
minha mão.
— Atena...?
Ouço ele sussurrar o meu nome e soltar a minha mão, choro de
angústia, de medo, de raiva.
— O seu rosto... O seu rosto está vermelho e está sangrando... Ele
bateu em você, esse covarde bateu em você! — Sua voz é rouca, tão
sombria que me assusta.
Ouço-o gritar e voltar a bater no homem, Tony também esbraveja
alguma coisa que não consigo entender e o homem volta a gritar, a mãe
deles volta a implorar para eles pararem mas pelos sons que eu ouço, eles
parecem possuídos pela fúria.
Solto-me de Cícera e me levanto do chão, mas ela se levanta junto
abraçada a mim.
— Eu não quero mais presenciar isso... Me tira daqui, Cícera? Por
favor me tira daqui? — Imploro me esgueirando para longe dali e ela vem
junto.
— Théo! Vai cuidar dela, ela está em choque, leva ela de volta para
o hospital, eu vou efetuar a prisão desse lixo! — Ouço a voz Tony mas eu
não paro.
— Ele vai ser preso, mas ele não vai sozinho, a mulher dele vai
junto! Pode algemar os dois, isso é uma ordem! — Dispara Théo.
— Você não pode me prender, eu ainda sou a sua mãe!
— NÃO! VOCÊ NÃO É MAIS A MINHA MÃE! Você é apenas
mais um monstro que precisa aprender a lidar com as pessoas, e talvez
depois alguns dias na cadeia você consiga entender o mal que você traz para
as nossas vidas. Prenda os dois, Tony! — Novamente ele se altera e eu me
afasto mais.
Mas não vou muito longe, sinto ele abraçar a minha cintura mas eu
me solta dele abruptamente ao me lembrar daquele homem me agarrando a
força.
— Se acalme, meu amor? Sou eu! — Ele me puxa de volta para os
seus braços e eu vou de bom grado.
Abraço-o apertado e volto a chorar. Eu não sabia onde estava me
metendo, não sabia que essa mulher faria algo assim para me separar dele,
com certeza ela é capaz de coisas piores.
— Não chore mais? Por favor não fica assim, meu amor? — Ele me
aperta contra o seu corpo e beija o alto da minha cabeça. — Cícera! Pega
uma blusa minha para ela vestir? A roupa dela está toda rasgada... Ah meu
Deus, ela não merecia passar por isso.
— Vou agora mesmo, senhor! — Concorda Cícera em um tom
choroso.
— Me tira daqui? Por tudo que há de mais sagrado, me leva embora
daqui? Eu não quero mais ficar nessa casa. Se você não me levar agora, eu
vou fugir! — Peço agarrada a ele com medo de me soltar e ele se afastar.
— Não repita mais isso! Eu não vou deixar você fugir de mim, isso
nunca! Eu não posso permitir por mais que você esteja no seu direito de
fazer isso... Eu não posso permitir, eu morro sem você. — Sinto ele me
pegar no colo me levando para algum lugar.
— Para onde você está me levando? Eu quero ir embora! Eu quero
ir embora! Me leva embora, Théo! Me leva...? Por favor...? Me leva... —
Me desespero tentando sair do seu colo com medo dele não me deixar ir.
Sinto a minha cabeça dar voltas, sinto uma zonzeira tão grande que
perco os sentidos sem conseguir ouvir novamente a sua voz.

Acordo ainda sonolenta ouvindo alguém chorar, é a voz da Lua,


onde eu estou? Estou em casa? Porque ela está chorando?
— Lua...? Lua, você está aqui...? — Estendo a minha mão
procurando por ela.
— Sim, amiga... Eu estou aqui, não vou deixar você sozinha. — Ela
pega a minha mão e eu trago-a para mais perto de mim.
Abraço ela apertado enquanto lembranças daquele pesadelo invade a
minha mente. Eu choro abraçada a ela, sentindo os seus carinhos. Sinto o
meu maxilar dolorido pela agressão daquele infeliz.
— Não fica assim? Vai passar, amiga, esse pesadelo vai passar. —
Ela beija e acaricia os meus cabelos.
— Onde ele está? Théo está aqui? Eu estou em casa?
— Não, e não... Você está novamente no hospital, você desmaiou e
Théo ficou muito preocupado, ele estava aqui até pouco tempo, mas ele
teve que ir até a delegacia encontrar o irmão dele.
— Ele mandou prender a mãe e o padrasto dele, Théo e Tony quase
mataram aquele homem, toda essa confusão aconteceu porque aquela
mulher não me quer com o filho dela... O que eu faço, Lua? Eu não quero
mais ficar no meio dessa confusão, eu não vou ser feliz assim com eles
brigando com a mãe o tempo inteiro por minha causa... O que eu faço?
Desisto dele? — Desabafo pensativa e suspiro frustrada.
— Você não é mulher de desistir dos seus objetivos assim com tanta
facilidade. Você ama esse homem e ele é louco por você, Atena, você se
entregou a ele, você o escolheu para ser o homem da sua vida. Ele não tem
culpa de ter uma cobra peçonhenta como mãe, ele mesmo mandou prendê-
la porque ele sabe o quanto ela errou com você, o que ela fez é crime e seu
noivo está fazendo justiça por você... Ele não vai desistir de você assim tão
fácil, ele está lutando por você, amiga, pensa nisso. — Me aconselha ainda
me apertando em seus braços.
Suspiro fundo e me solto dela me acomodando na cama. Tiro o anel
do meu dedo o analisando atentamente, não vou encontrar nessa vida
nenhum outro homem que me aceite assim como Théo me aceitou, mas
para viver esse amor eu terei que aturar aquela mulher armando contra
mim?
Viro para o lado pensativa segurando o anel ainda indecisa. Passo
longos minutos assim, perdida em pensamentos e quando estou quase
pegando no sono de tanto pensar, ouço passos se aproximar e penso ser Lua,
mas alguém pega o anel da minha mão e põe no meu dedo novamente,
beijando a minha mão em seguida.
— O lugar desse anel é no seu dedo, a menos que você não o queira
mais. — Sua voz faz o meu coração bater forte e os meus olhos lacrimejar.
— Eu o quero... Quero muito mas estou com medo e é horrível me
sentir assim... Eu não quero passar por aquilo de novo, Théo, não quero. —
Choro segurando firme a sua mão.
— Você não vai passar por aquilo de novo, eu prometo... Aquilo só
aconteceu porque eu não esperava que a minha própria mãe fosse capaz de
tramar algo assim. Mas ela vai pagar pelo que fez, ela está presa e deve sair
em alguns dias, mas vai responder processo por conspiração contra uma
pessoa com necessidades especiais. Mas aquele canalha do marido dela não
vai sair tão cedo, e quando sair não vai sair vivo para tentar abusar de mais
ninguém. — Suas palavras me surpreendem.
— Do que você está falando? Como assim ele não vai sair vivo? —
Pergunto curiosa.
— Estupradores não esquentam lugar no presídio, e Norman sabe
disso... Ele foi pela cabeça da minha mãe e se deu mal, a verdade é que ele
nunca prestou, eu nunca fui com a cara dele e agora eu sei o porquê... Eu
devia ter matado aquele infeliz eu mesmo. Ele vai morrer de qualquer jeito.
— Seu tom me assusta, mas ele é da polícia e está acostumado com isso, ele
já deve ter matado muito bandido.
— Se você for preso eu não vou poder me casar com você, não
quero ter que ir visitar você na cadeia, lá é lugar para bandidos, Théo, e não
para você que é o meu herói. — Tento lhe dar um pequeno sorriso e sinto
ele se sentar ao meu lado me puxando para os seus braços.
— Só ele é o seu herói? Não se esqueça que somos a Xerox um do
outro em tudo. — Ouço a voz de Tony e o meu coração dispara.
— Tony...? Você está bem? Venha aqui? Me deixa tocar você? —
Sorrio lhe estendendo a mão e ouço ele sorrir.
Ele me dá a mão e eu toco a pulseira no seu braço, solto a sua mão e
me acomodo nos braços de Théo suspirando aliviada.
— Que bom que estão os dois aqui comigo, eu estou muito
envergonhada pelo que houve e quero pedir desculpas aos dois. Vocês
ficaram contra a mãe de vocês por minha causa, e...
— Não, Atena! Não começa com esse discurso de pedido de
desculpa, a nossa mãe errou e mesmo que não tivesse sido com você, nós
íamos fazê-la pagar do mesmo jeito... Eu e meu irmão entramos para polícia
para fazermos justiça, e não para acobertarmos pessoas como a nossa mãe...
Sou eu que estou me sentindo envergonhado, sou eu que tenho que pedir
desculpas pelo que fizeram com você. Ela é minha mãe e não tinha o direito
de fazer isso, nem com você e nem com ninguém. — Seu tom inquieto me
diz claramente o quanto ele está irritando.
— Vocês não tiveram culpa de nada então parem de se desculpar.
Infelizmente eu não vou conseguir esquecer o que houve e eu não vou mais
querer ir na sua casa, Théo, não me sinto mais segura lá... A sua mãe vai
sair da cadeia e vai continuar implicando comigo, eu quero ficar o mais
longe possível dela para não ter que desistir de você. — Afirmo pensativa
abraçando o meu noivo.
— Eu te entendo e não vou pedir para você voltar lá em casa. Mas
quero pedir que me aceite na sua casa até eu conseguir comprar outra casa
em outro lugar. Depois eu vendo aquela para me desfazer dela de uma vez.
— Me solto dele espantada com a sua decisão.
— Você vai vender a sua casa? Mas... Théo... Caramba, eu vou me
sentir culpada por isso. — Contesto perplexa mas ele me puxa de volta para
os seus braços.
— Relaxa, não estou fazendo isso só por você, estou fazendo por
mim também. Toda vez que eu entrar naquela casa vou me lembrar do que
houve e vou continuar odiando a minha mãe por isso, então é melhor eu sair
de lá. — Insiste decidido.
Não digo mais nada, apenas fico quieta em seus braços mas me
lembro de Lua, pergunto por ela mas eles dizem que ela está do lado de fora
do quarto com o marido. Peço para ir embora, quero voltar para minha casa
e Tony sai para buscar o médico.
Ponho a mão no rosto sentindo o meu maxilar ainda dolorido, Théo
distribui beijos pelo meu rosto e beija os meus lábios de leve. Me acomodo
em seus braços até o médico passar e me dar alta, e ele não demora a
aparecer, logo estou saindo do hospital com Théo, Lua e os outros, mas
Tony diz que vai direto para sua casa descansar e eu agradeço por ele
interceder por mim junto ao irmão, ele pede para eu não agradecer mas se
não fosse por eles, aquele maldito sairia impune assim como o desgraçado
do Alexandre que tentou me violentar mesmo eu sendo sua namorada, mas
ele teve o castigo que merecia.
Entro em casa com Théo e Lua, vou para o sofá e me sento ainda
pensativa sobre o que aconteceu, eu quero esquecer, estou tentando
esquecer mas não consigo. Dona Sônia aparece com uma comida cheirosa
mas eu estou sem fome, Théo também não quer comer mas insiste para que
eu coma nem que seja um pouquinho, eu como apenas para agradá-lo e não
deixá-lo preocupado comigo.
Depois de comer eu me despeço delas e sigo para o meu quarto, eu
preciso de um banho para tirar do meu corpo a sensação de ainda ter aquele
homem me tocando, me sinto mal apenas em me lembrar dele.
— Amiga, você está mesmo bem? Precisa de alguma coisa? — Lua
vem atrás de mim enquanto eu entro no banheiro do meu quarto.
— Não preciso de nada, Lua, obrigada, amiga... Eu não vou mentir
porque você me conhece bem. Eu não estou bem, ainda estou abalada mas
não quero parecer tão frágil na frente do Théo. Não quero que ele desista de
mim, eu o amo demais, Lua... Mas algo aqui dentro de mim me diz que não
vai ser fácil viver esse amor... Eu vou perdê-lo... Eu vou perdê-lo. — Seco o
meu rosto ao sentir uma lágrima descer.
— Não fica assim, a gente não sabe o dia de amanhã, vocês vão se
casar e vão ser muito felizes. Eu sinto isso. — Ela segura o meu rosto com
as duas mãos e eu tento sorrir.
— Está bem, vou tentar ser mais otimista... Como você está de
verdade? O bebê está bem? — Tento mudar de assunto e toco a sua barriga
levemente ondulada.
— Sim, o bebê está bem, graças a Deus. Amanhã eu vou sair para
comprar algumas coisinhas para ele e quero que você vá comigo, ok? —
Diz animada.
— Ok, vamos sim... Eu vou tomar um banho para descansar um
pouco, você vai ficar chateada se eu não for trabalhar amanhã?
— Mas é claro que não, pelo contrário, se você aparecer na
floricultura amanhã, eu mesma vou expulsar você de lá. — Seu tom
exagerado me faz sorrir. — Toma o seu banho e descansa, estou indo
embora mas se precisar de mim, peça ao Tenente para me ligar.
— Está bem, você também precisa descansar para o meu sobrinho
crescer forte e saudável, então se manda daqui! — Lhe dou um abraço
apertado mas me solto já me despindo.
Ela sai do meu banheiro sorrindo e eu fecho a porta. Entro no Box e
ligo a agua bem quente, entro em baixo pegando a esponja e o sabonete,
começo a esfregar o meu corpo, principalmente o meu pescoço onde senti
aquele homem nojento beijar, que nojo, que raiva. Porque eu precisava
passar por isso de novo? Porque?
Choro esfregando a esponja com força pois ainda me sinto suja, as
lembranças daquelas mãos me apalpando me aterroriza, sinto como se ainda
estivesse sendo tocada e entro em pânico.
— Não...! Não! NÃO...! NÃO!
Grito em meio ao choro ainda me esfregando. Me escorrego e vou
parar no chão.
— Atena! Abre a porta? Por favor abre essa porta...? — Ouço a voz
aflita de Théo mas eu não quero ele aqui, não quero que me veja assim.
Ele continua me chamando mas eu não respondo, abraço o meu
corpo sentindo o ar me faltar. Ouço um barulho alto na porta e logo sinto
ele me abraçar me erguendo do chão.
— Não fica assim, amor? Por favor não fica assim? — Ele me pega
no colo saindo do banheiro comigo.
Abraço-o apertando desejando ardentemente que ele me acalme, que
arranque os meus medos pois sei que isso vai voltar assim que eu pegar no
sono. Não é a primeira vez que eu passo por isso.
Théo me põe sentada na cama e sinto ele me secar cuidadosamente,
de um jeito tão delicado que me sinto bem, ele está calado apenas ouvindo o
meu choro, eu não queria estar assim na frente dele. Seguro a sua mão
fazendo ele parar, tento tocar o seu rosto mas ele me evita, ele vira o rosto
mas eu insisto. Toco o seu rosto sinto suas lágrimas nos meus dedos, ele
está chorando por mim? Oh meu Deus... Me levanto e abraço-o apertado
deitando a minha cabeça em seu peito.
— Me perdoa...? Por favor, Atena...?
— Não me peça perdão, a culpa não foi sua... Eu vou ficar bem, eu
prometo que vou ficar bem. — Fico aqui agarrada a ele me esforçando ao
máximo para não chorar mais. — Me faz um favor...? Tem uma camisa
social feminina no guarda-roupas, dentro de uma caixinha de madeira...
Pega para mim?
— Está bem, eu pego. — Fico aqui parada esperando ele voltar, e
quando o faz ele me entrega a camisa.
— Era da minha mãe... Toda vez que eu visto essa camisa, eu sinto
como se ela estivesse aqui, eu me sinto mais forte e hoje eu vou precisar ser
forte. — Sorrio mesmo sentindo que as minhas lágrimas ainda descem.
Ele não diz nada, apenas me dá um beijo na testa enquanto visto a
camisa. Ele veste a minha calcinha em mim e me leva pra cama, nos
deitamos juntos e ele me prende em seus braços. Pergunto se a porta da casa
está trancada e ele afirma que sim, diz que permitiu que Alonso fique na
sala atento a tudo. Fico mais tranquila assim.
Me deito sobre o seu peito e deixo o sono me vencer, mas durmo
ouvindo a voz de Théo dizendo que me ama, pedindo para eu dormir
tranquila pois ele não vai sair do meu lado, eu confio nisso e me deixo levar
pelo sono.
No meio da noite eu me agito ao sonhar com aquele terrível
episódio, acordo suada, ofegante e assustada mas sinto Théo beijar o meu
rosto dizendo "sou eu, meu amor, o seu noivo, sou o Théo" a sua voz e seus
beijos me acalmam e eu volto a dormir cheirando o seu peito, sentindo o
seu perfume inconfundível. É mesmo ele aqui comigo, eu não preciso ter
medo pois ele vai me proteger.

Acordo na amanhã seguinte com um cheirinho bom de café, passo a


mão pela cama mas não o encontro, ele deve estar na cozinha. Bocejo e me
espreguiço, me agarro ao travesseiro que ele dormiu e cheiro sentindo o seu
perfume, sorrio e toco o anel no meu dedo, fecho os olhos suspirando
fundo. Meus pensamentos vão no acontecido de ontem e meu sorriso se
desfaz.
— Eu não quero mais pensar naquilo, não quero...! Ahh mamãe...
Eu preciso tanto de você. Não me deixa perdê-lo? Eu o amo tanto que
morreria sem ele na minha vida. — Converso sozinha, pensativa.
— Você não vai me perder nunca, meu amor. Porque também te amo
demais. — Ouço a sua voz rouca e ao mesmo tempo doce. Me sento
abruptamente.
— Théo...? Você está aqui, eu pensei que estivesse na cozinha. Senti
o cheirinho de café. — Digo envergonhada.
— Estou sentado na sua poltrona admirando você dormir já faz uma
hora...
— Uma hora? Porque não me acordou...? Me dá um beijo de bom
dia? — Tento sair da cama mas sinto ele se sentar ao meu lado.
— Não precisava ter pedido, eu ia te beijar mesmo que você não
quisesse. — Seus dedos tocam o meu rosto e eu sorrio mesmo sentido o
meu maxilar doer.
Ele me segura pela nuca e me beija com calma, me beija devagar
com amor e paixão se declarando entre os beijos, eu amo quando ele faz
isso, amo ouvi-lo dizer que me ama.
— Cícera está preparando o nosso café da manhã, está com fome?
— Sim, muita! Eu vou me vestir. — Sorrio e me levanto empolgada
por Cícera estar aqui, eu quero vê-la.
— Eu te ajudo! — Ele me pega no colo com cuidado para eu não me
assustar.
Ele me gira no ar me fazendo sorrir e eu me agarro ao seu pescoço
com medo dele me deixar cair. Mas ele se senta comigo no colo, seus dedos
tocam mais uma vez o meu rosto e novamente ele me beija. Saio do seu
colo por um instante apenas para me sentar de frente para ele, toco o seu
rosto e fecho os olhos desenhando os seus traços, suas mãos apertam a
minha coxa e sobe até a minha bunda, ele segura firme a minha cintura e
sinto a sua respiração pesada. Ele está excitado, eu quero fazer amor com
ele, quero senti-lo mas fica voltando na minha mente lembranças do que
aconteceu ontem. Abraço-o forte com receios de me entregar e acabar
imaginando aquele homem me tocando, eu não quero isso.
— Ei...? Está tudo bem, meu amor, não precisamos fazer nada, sou
eu aqui, o seu noivo e eu só quero sentir você assim, em meus braços mas
não quero que tenha medo. — Seu tom tranquilo e seus braços me
apertando contra o seu corpo me acalmam.
— Me desculpa...? Eu quero muito fazer amor com você, quero te
sentir mas ainda não consigo... Eu preciso de um tempo, alguns dias apenas
para pôr na cabeça que aquilo não vai mais acontecer.
— Tudo bem, o tempo que você quiser e eu vou te ajudar. — Sinto
ele beijar o meu ombro mas se afasta para tocar o meu rosto. — Precisamos
conversar sobre aquele assunto, Atena, sei que você não quer ter falsas
esperança mas nós precisamos tentar, precisamos procurar um especialista
fora da cidade, quero que você pelo menos tente... Eu quero que você saiba
se defender, quero que veja o perigo a sua frente e desvie dele até eu chegar
para te ajudar... Eu sempre vou estar aqui para te ajudar, então aceite a
minha ajuda? Me deixa lutar por você? — Pede angustiado e eu tento sair
do seu colo, mas ele não deixa. — Não vou deixar você fugir de mim, eu
vou ser o seu marido e você precisa aceitar o melhor que eu quero para
você.
— Mas Théo, uma avaliação fora do país ou mesmo fora da cidade é
muito cara, e se tiver que fazer alguma cirurgia eu não tenho como pagar,
eu já tentei pegar empréstimo mas não consegui...
— Você não está mais sozinhas, Atena! Eu sou o seu noivo, vamos
nos casar e eu posso te ajudar, se eu não puder fazer isso sozinho eu corro
atrás de mais ajuda mas eu quero lutar por você, talvez nem precise sair do
país, em Houston também tem ótimos especialistas... Você não sente
vontade de ver o meu rosto? Não sente vontade de poder ver a imagem dos
seus pais em uma fotografia? Não vai querer ver o rostinho do seu afilhado
quando ele nascer? — Seus argumentos são fortes e mexem comigo.
— E se não der certo? E se eu não conseguir voltar a enxergar? Já
estou assim a tantos anos que os médicos não me dão mais esperanças de
voltar a enxergar. — Sinto os meus olhos lacrimejar.
— Se não der certo eu prometo não insistir mais, eu farei como você
quiser, mas me deixe tentar? Estou pedindo como seu futuro marido. — Seu
polegar tocar os meus lábios antes de me beijar e me apertar contra o seu
corpo.
Suspiro na sua boca por ele querer fazer isso por mim. Se ele não
fizer, ninguém mais vai fazer, ele está certo, eu preciso pelo menos tentar
uma última vez, ele vai ser o meu marido e eu preciso aceitar o melhor que
ele quer para mim.
— Tudo bem... Eu aceito tentar uma última vez, mas se não der
certo nós não vamos mais falar sobre isso, está bem? — Afirmo decida e ele
me enche de beijos me fazendo sorrir.
— Perfeito! Então vá arrumando as malas, eu vou fazer algumas
ligações e vou tentar marcar uma consulta com o especialista para a
próxima semana. — Ele se levanta comigo no colo e parece bastante
empolgado.
— Na próxima semana? Mas já?
— Claro! Isso se eu não conseguir para essa semana mesmo, eu
tenho alguns conhecidos e vou pedir ajudar para agilizar tudo, assim que
estiver tudo certo eu te aviso. Conversa com a Luana e avisa que vamos
viajar em breve, se ela quiser ir conosco para não te deixar sozinha, eu pago
a passagem dela. — Ele fala enquanto me gira no ar e me beija. Sorrio pela
sua animação.
— Está bem, eu falo com ela. Mas agora me deixa vestir uma roupa,
eu estou com fome. — Desço do seu colo sorridente e ele me ajuda
escolhendo uma roupa para eu vestir.
Depois de vestida eu vou ao banheiro e faço a minha higiene
pessoal, Théo me dá os meus remédios quando eu reclamo de dor e saímos
do meu quarto, o cheirinho de café está cada vez mais forte e meu estômago
dá sinal de vida.
— Menina Atena! Bom dia, filha! — Sua voz carinhosa se aproxima
e sinto um carinho no meu rosto.
— Bom dia, Cícera! Que bom que está aqui. O cheirinho do seu café
está divino. — Estendo a mão puxando-a para um abraço.
Ela me leva até a mesa e eu me sento com Théo e ele mesmo faz
questão de me servir.
DIAS DEPOIS...

— Você parece agitado, irmão, está tudo bem? — Tony entra na


minha e eu largo os documentos de lado suspirando fundo.
— Estou tentando vender a minha casa mas está difícil, a imobiliária
ainda não tem novidades sobre compradores. Eu preciso levantar uma
quantia grande de dinheiro o mais rápido possível, vou levar Atena para
uma avaliação médica em Houston, e se tudo der certo ela já fica para fazer
o tratamento ou se necessário uma cirurgia, aqui ninguém sabe dizer a causa
da cegueira dela mas eu sinto que ela tem uma chance de voltar a enxergar...
Não quero a minha mulher nessas condições sem poder se defender, não
quero que aquilo se repita ou eu vou para cadeia, pois eu mato o infeliz que
tentar contra ela de novo. — Comento inquieto.
— Por falar em cadeia, a mamãe foi solta, está respondendo o
processo em liberdade mas o canalha do Norman já está marcado no
presídio... Eu conheço alguns carcereiros e eles me garantiram que aquele
filho da puta não vai passar de um mês lá dentro. — Ele se senta à frente da
minha mesa com um sorriso diabólico.
— Pelo menos uma notícia boa... Como foi na rua? Teve progresso
na cena do crime?
— Sim, esse caso está mais fácil do que imaginei, acho que vamos
conseguir resolvê-lo ainda essa semana, só precisamos esperar os laudos da
perícia e confirmar alguns depoimentos... Mas me diz? De quanto você
precisa em dinheiro? Para quando? — Ele se levanta e parece tão agitado
quanto eu.
— Ainda não sei ao certo, mas, se for o caso de uma cirurgia muito
avançada eu vou precisar de pelo menos uns duzentos mil dólares para
viajar despreocupado, eu tenho umas economias no branco e só preciso de
mais oitenta mil. Tive que emprestar dinheiro a mamãe um tempo atrás e
agora não tenho a quantia que preciso, não quero ter que pegar empréstimo
agora pois ainda tem o casamento, também tenho que comprar uma casa
nova em outro lugar e estou planejando pegar um empréstimo para isso se
eu não conseguir vender logo aquela casa. — Explico pensativo.
— Relaxa, eu também tenho as minhas economias e não tenho com
quem gastar, transfiro os oitenta mil para você ainda hoje... Quanto ao
casamento, considere como um presente meu também, e não quero
discussão por causa disso. — Ele vai em direção a porta mas vejo
claramente que ele está forçando um sorriso.
— Espera, Tony! — Chamo por ele e me levanto dando a volta na
mesa. — Porque está me ajudando tanto com ela? Porque ultimamente você
anda evitando ir nos ver? — Pergunto desconfiado mas ele desconversa.
— Você é meu irmão, estou fazendo isso porque agora nós só temos
um ao outro. E eu não estou evitando ninguém, relaxa! Só estou
trabalhando demais e nas minhas folgas eu também preciso me divertir,
namorar. — Ele me abraça pelos ombros olhando nos meus olhos, mas sai
antes que eu possa dizer algo mais.
Fico aqui pensativo, eu conheço aquele brilho nos seus olhos
quando surge o nome dela, eu quero estar enganado mas acho que meu
irmão está apaixonado pela minha mulher, eu vejo como ele a admira, o
carinho que ele tem por ela, Tony também ficou contra a nossa mãe por
causa de Atena, ele está fazendo de tudo para que Norman pague pelo que
fez a ela, e agora ele vai me dar parte do seu dinheiro assim de mão beijada
para ajudá-la, e ainda vai nos dar a festa de casamento? Os problemas de
Atena são meus e não dele, a menos que ele também a ame e está fazendo
isso por ela.
Ah meu Deus, espero estar enganado pois não vou abrir mão dela,
ela me ama tanto quanto eu a amo, ela é minha mulher e vamos nos casar e
não quero o meu irmão sofrendo com isso. Ele não pode estar apaixonado
por ela. Não pode.
Me sento novamente na minha cadeira ainda mais pensativo, mas
tento focar a minha atenção no trabalho para não pensar besteiras. Termino
de analisar os relatórios forense e dou o meu parecer sobre o caso, mas esse
não é o único que tenho que revisar hoje, a minha mesa está cheia de papeis
e eu preciso eliminar esse trabalho ainda hoje.
Já falei com o delegado Camilo e vou tirar parte das minhas férias
acumuladas, eu só preciso de tempo para viajar com Atena e voltar, depois
eu volto ao trabalho e ele até me sugeriu de tirar as minhas férias completa,
mas não vou conseguir ficar muito tempo longe do trabalho, mas ainda
preciso pensar nesse assunto com calma.
Estou esperançoso de que Atena volte a enxergar, ela não queria
festa de casamento pois não vai pode ver nada e nem ninguém, não vai nem
poder se ver de noiva mas se tudo der certo, eu vou dar a ela o casamento
que ela merece.

UMA SEMANA DEPOIS...

Ela anda de um lado para o outro nervosa, Luana tenta acalmá-la


mas Atena está muito agitada, ela acabou de fazer uma avaliação com uma
junta médica de oftalmologistas e estamos esperando o parecer médico
sobre as suas condições, ele não quis nos alarmar enquanto não ouvir a
opinião de outros especialistas que participaram da avaliação que demorou
cerca de uma hora, eles estão avaliando os exames e as tomografias e
ressonância que ela vez, mas ele está demorando, estamos esperando a
horas e eu estou tentando não ficar mais agitado que ela, Atena sozinha já
está nos deixando de cabelos em pé de tanto tentar acalmá-la mas não
estamos conseguindo.
— Eu sabia, essa demora toda só pode significar uma coisa, o meu
caso está perdido, não tem cura e eu vou ficar cega para o resto da vida, eu
não queria ter esperanças justamente para não passar por esse sofrimento.
— Seu tom choroso me dói e eu tento trazê-la para os meus braços.
— Não seja tão negativa, meu amor, vamos esperar para sabermos o
que os médicos tem a dizer, nesse hospital tem a maior e melhor equipe
oftalmológica e sei que eles vão solucionar o seu problema, se a sua causa
realmente não tiver cura, você vai ficar sabendo hoje e nós não vamos mais
nos preocupar com isso, eu já prometi isso a você, mas do contrário o
médico mesmo disse que você já pode se internar essa semana mesmo para
a cirurgia... Vamos esperar um pouquinho mais? Por favor se acalme? —
Aperto ela contra o meu peito e beijo o seu rosto.
Sei o quanto ela gosta disso. Beijo os seus lábios brevemente e por
um instante ela parece se acalmar, mas em seguida volta a se agitar quando
o médico finalmente aparece.
— Por favor, Sr. Carlson! Senhoritas! Me acompanhem até a minha
sala, por favor? O médico passa por nós e o seguimos até a sua sala.
Entramos os três atrás do médico e eu faço as duas se sentarem à
frente da sua mesa enquanto eu permaneço de pé.
— Bom, Srta. Atena Moore. Eu e os meus colegas estudamos o seu
caso com atenção e todos chegamos a mesma conclusão. Avaliamos
também os exames realizados a sete anos atrás, quando foi realizado a sua
cirurgia após o acidente, realmente a causa da sua cegueira é algo
desconhecido até mesmo para nós, e olha que já tratamos muitos casos
complicados...
— Isso significa que eu não vou voltar a enxergar? Eu já sabia disso,
vir até aqui só nos fez perder tempo e dinheiro. — Atena interrompe o
médico se levantando agitada.
— Se acalme! Não foi o que eu disse, o seu caso ainda é um
mistério para nós mesmo com a nossa experiência no mundo da medicina, e
por não termos um diagnóstico definitivo nós ainda temos esperanças. Os
nossos estudos estão bem avançados e acreditamos que com a cirurgia nós
podemos tentar devolver a sua visão. — Explica atento as reações dela
assim como eu.
— E é certo que eu vá voltar a enxergar? — Pergunta ofegante pela
ansiedade.
— Temos uma chance grande de conseguirmos te ajudar, mas como
não sabemos o que de fato você tem, nada pode ser cem por cento certo. Eu
não tenho como te dar essa certeza...
— Então eu agradeço pela sua intensão em querer me ajudar, mas
nós vamos embora...
— Não, Atena! Nós não vamos! Você vai sim fazer essa cirurgia, eu
não vim aqui com você a toa! Se há uma chance por menor que seja, nós
vamos tentar...! Eu te amo e estou aqui lutando por você, será que você não
pode lutar por mim também...? Não estou fazendo isso por mim pois a sua
cegueira jamais me impedirá de ser feliz com você, estou fazendo isso por
você! Será que não entende isso? — Altero-me por mais uma vez ela se
recusar a me ajudar a ajudá-la. — Com licença, doutor! Eu preciso respirar.
Saio da sua sala inquieto, irritado e incomodado andando pelo
corredor. Existe uma chance dela voltar a enxergar e ela está jogando isso
fora.
— Théo...? Théo, onde você está. Amor? — Ouço ela me chamar e
paro.
Viro-me e ela está vindo tateando as paredes. Respiro fundo e ela
para fazendo o mesmo, ela se encosto na parede puxando a respiração com
força.
— Se você estiver aqui, eu só quero dizer que posso lutar por você...
Eu só estou nervosa, não quero ter falsas esperanças, estou a sete anos
passando por isso e não é fácil... Perdi as contas de quantas vezes pensei
que voltaria a enxergar, pensei que conheceria o mundo de hoje, o mundo
que nunca pude ver... Me perdoa? Eu só estou com medo... Théo...? Não me
deixa agora, por favor? — Ela estende a mão me procurando e eu volto na
sua direção.
Puxo ela para os meus braços e aperto-a contra o meu peito, ela
chora compulsivamente e eu não gosto de vê-la assim.
— Eu não vou te deixar jamais, não precisa ter medo de nada, se
não der certo eu vou continuar aqui te amando do mesmo jeito ou até mais,
você é forte, é determinada, linda e eu quero que você possa enxergar tudo
isso através dos seus olhos... Vamos nos dar uma chance para isso, meu
amor? — Beijo o alto da sua cabeça sentindo o quanto ela está tensa.
— Se você estiver comigo eu posso tentar. Não vou fazer isso por
mim, mas vou fazer por nós. — Ela enterra o rosto no meu peito fungando e
me apertar com tanta força.
— Eu vou estar com você, disso nunca tenha dúvidas... Você é a
minha vida então sempre estaremos juntos... Eu te amo. — Meu coração
dispara.
Sinto uma euforia tão grande por imaginar a reação dela ao me ver
pela primeira vez, porque estou confiante de que vai dar tudo certo.
— Ela está bem? Podemos continuar conversando ou podemos
marcar o procedimento para a próxima semana. — O médico sai da sua sala
e ela se solta brevemente de mim, sem se afastar.
— Meu noivo não vai me deixar desistir dos meus sonhos, então se
existe uma chance por menor que seja da minha visão voltar, então vamos
em frente, doutor... Eu só quero poder ver o rosto dele antes do casamento...
Meu Deus, o Tony! Quero muito ver vocês dois juntos. Vai ser como se
estivesse vendo você se olhar na frente do espelho... Olha eu falando como
se tivesse certeza de que vou voltar a enxergar... Estou tendo esperanças,
doutor, então espero que lute por mim até eu conseguir recuperar a minha
visão. — Vejo ela um pouco mais empolgada e eu suspiro fundo. Ela não
vai desistir.
— Eu prometo que vamos lutar para recuperarmos a sua visão,
Atena, vamos fazer tudo que estiver ao nosso alcance para que a sua vida
volte ao normal, pode confiar pois temos aqui a melhor equipe
oftalmológica a sua disposição. Vamos mudar a sua vida. — Diz confiante e
pega a mão dela nos passando coragem, nos passando esperanças.
— Obrigado, doutor! O senhor vai realizar não apenas o sonho dela
mas o meu também, o de Luana e sua família. Ver Atena admirar as flores
na qual ela cuida com tanto carinho para entregar a outras pessoas, vai ser
algo impagável. — Estendo a minha mão para ele e o mesmo pega com um
aperto firme.
— Vamos fazer tudo que estiver ao nosso alcance para ajudarmos
vocês. Vamos voltar ao meu consultório, eu vou explicar tudo que será feito
e em seguida encaminhar o pedido para marcar a internação da paciente
para daqui alguns dias, mais tardar uma semana no máximo, vou fazer o
que puder para adiantarmos ao máximo esse procedimento para não
precisarem esperar tanto tempo, enquanto isso eu vou passar todos os
exames pré-operatórios para irmos adiantando tudo. Vocês podem fazer
hoje mesmo se quiserem...
O médico entra no seu consultório confiante e nós entramos atrás,
Luana tira Atena dos meus braços agarrando-a em um abraço apertado. As
duas choram mesmo sorrindo e sei que é um choro de felicidade, Luana está
ao lado dela desde muito antes de tudo isso acontecer, e o fato de Atena ter
se tornado totalmente dependente depois de ter tido uma vida de liberdade
fazendo tudo sozinha, e de repente ela acorda em um quarto de hospital
cega e órfã de pai e mãe, ajudar a devolver a visão da mulher que amo é o
mínimo que eu posso fazer.
Conversamos uma pouco mais com o médico e ele explica tudo que
precisamos saber, a cirurgia que eu havia me informado não será necessário,
ao invés disso a cirurgia será um pouco menos complicada e um pouco mais
barata também, e além disso, o delegado Camilo tem muitos conhecidos
aqui em Houston e um dos médicos que atendeu Atena é amigo dele, nós
conseguimos um pequeno desconto então não vou precisar gastar todo o
dinheiro que eu trouxe, talvez eu consiga devolver ao Tony o dinheiro que
ele me deu, se é que ele vai querer de volta, eu não tiro da cabeça que ele
também ama Atena.

Depois de conversarmos com o médico ele nos encaminha para


fazermos os exames, também já deixa a documentação pronta para
entregarmos na recepção junto com os exames prontos, e assim deixar
marcado a cirurgia para daqui a poucos dias, então vamos ter que ficar na
cidade até lá.
— Estou falando sério, amiga, eu guardei todas aquelas nossas
fotos, as roupas de escolas, você vai pirar quando finalmente poder vê-las
novamente... Eu estou tão feliz por você ter aceitado fazer a cirurgia, o
Théo está sendo um príncipe com você, Tena, ele está fazendo tudo que eu e
meus pais não poderíamos fazer... Acho que alguém lá em cima colocou ele
no seu caminho, estou te vendo tão feliz, eu nunca te vi assim depois que
tudo aquilo aconteceu... Você está seguindo a sua vida sem a minha ajuda, é
independente como era antes, com a diferença de que agora você está noiva
e quem vai cuidar de você é o seu marido. — Luana chora e sorrir ao meu
tempo sentada com ela na recepção.
Aproximo-me parando a uma boa distância delas, apenas atento a
conversa.
— Você e seus pais fizeram muito por mim, Lua, eu fui feliz com
vocês sim, e ainda sou, só que agora eu sou mais, sem querer eu encontrei a
minha outra metade, agora eu estou me sentindo completa igual você se
sente com Otávio, entende...? Se Deus quiser eu vou voltar a enxergar, vou
ser um mulher inteira para ele e vou fazê-lo feliz... O Théo é o grande amor
da minha vida. — Ela suspira ao se declarar e eu abro o meu melhor sorriso.
— Meninas! Já entreguei os exames e a documentação no setor de
marcação de procedimentos, já podemos ir, estou faminto, e vocês? —
Finjo ter acabado de chegar e ela se levanta com um sorriso tão lindo.
— Amor...? Me beija...? Eu preciso de um beijo. — Ela estende a
mão me procurando e eu pego a sua mão.
Ela vem para os meus braços tocando o meu rosto, sorrio e deixo ela
acariciar os meus lábios, antes de me beijar com a mesma doçura de
sempre, com o mesmo amor que a cada dia sinto ainda maior, mas ela
também me beija com desejo e isso me surpreende, a mais de um mês não
fazemos amor, a mais de um mês ela vem me evitando por causa daquele
terrível pesadelo e eu entendo os seus medos, mesmo morrendo de saudades
de fazer amor com ela, de senti-la entregue em meus braços.
— Espero que vocês não se esqueçam que ainda estamos em um
hospital. É melhor sairmos logo daqui, vamos voltar para o hotel. — Luana
nos alerta e nós sorrimos.
Saímos do hospital abraçados e entramos no primeiro táxi que passa
na nossa frente, seguimos para o hotel onde nos hospedamos e vejo Atena
empolgada demais, ao mesmo tempo que isso me deixa feliz também me
deixa preocupado, estou rezando internamente para que essa cirurgia dê
certo, ou ela nunca mais vai tentar voltar a enxergar outra vez, vai ser uma
decepção muito grande e tenho medo dela me culpar por isso, mas estamos
confiantes de que vai dá tudo certo, os médicos nos deram muitas esperança
e eu creio que ela vai voltar para casa enxergando.
Chegamos no hotel e Lua se despede dizendo que vai descansar um
pouco, passamos o dia inteiro no hospital mas pelos menos saímos de lá
com o coração cheio de esperanças. Sugiro pedir algo para comermos os
três juntos mas ela pisca para mim dizendo que prefere descansar, que vai
pedir algo para comer no seu quarto e eu peço para ela por na minha conta.
Não entendi essa piscadela mas encaro a minha noiva sorrindo abertamente,
suas bochechas estão rosadas e isso me deixa confuso, será que depois de
todo esse tempo sem tê-la em meus braços finalmente hoje ela será minha
outra vez?
Nos despedimos de Luana e entramos no nosso quarto, fecho a porta
e pergunto se ela quer comer algo, mas ela fica calada.
— Estamos a sós? Não tem mais ninguém aqui...? — Pergunta
parada no meio do quarto me deixando confuso.
— Sim, meu amor, estamos sozinhos, porque?
Ela não me responde, apenas segue o som da minha voz e para
diante de mim, fico atento a ela, vejo ela abrir a sua blusa e tirar a mesma
me revelando a sua lingerie branca. Ela abre também o fecho da sua saia e
desce o zíper até embaixo, ela está linda.
— Meu amor...? O que está fazendo? Você... Você vai tomar banho
agora...? — Ofego de desejo rezando para ouvir outra coisa que não seja
que ela vai mesmo tomar banho.
— Sim, eu preciso de um banho pois estou suada... Você pode me
ajudar...? Sinto falta de ter você dando banho em mim como se eu fosse
uma menina. — Seu sorriso tímido aparece. Já faz tempo que ela não toma
mais banho comigo.
— Claro! Eu te ajudo.
Tiro as minhas roupas sem deixar de admirá-la, sinto falta da minha
mulher, ela me pediu um tempo mas não estou mais aguentando de saudade.
Pego a sua mão e entramos no banheiro, ela tira a sua lingerie me dando a
visão do seu corpo nu. Puta merda. Eu quero sentir a minha mulher.
Vejo ela ofegar e eu entro com ela Box, ligo a agua morna e
entramos embaixo.
— A sua respiração está pesada...
Comenta tão ofegante quanto eu.
— Me desculpa, eu não consigo evitar... Sinto a sua falta, meu corpo
está ardendo de desejo por você mas tenho medo de te tocar... Tenho medo
que me rejeite. — Afasto-me brevemente pegando o sabonete.
— Também sinto a sua falta... Quero fazer amor com você... Théo...
Amor, eu quero você... — Ela estende a mão tocando o meu peito e sobe
para o meu pescoço.
Ela me beija ardentemente e eu abraço o seu corpo, tomado pelo
desejo e a ansiedade de senti-la. Ponho-a contra parede beijando-a
profundamente aproveitando para tocar e acariciar o seu corpo, não tenho
sanidade para tentar as preliminares, quero senti-la de uma vez então o faço,
ergo uma de suas pernas envolvendo-a na minha cintura, preencho-a
lentamente gemendo o seu nome assim como ela geme o meu.
— Te amo, Théo... Ahh te amo...
Declara entre gemidos e sussurros, delirando abraçada ao meu
pescoço. Converso com ela dizendo palavras de amor e carinho, me declaro
no seu ouvido para que tenha certeza de que sou eu aqui com ela, e não
aquele monstro que tentou contra ela. Nos amamos e ela foi completamente
minha, saímos do banheiro ainda molhados e fomos para cama, faço dela
minha mulher mais uma vez saciando a saudade que senti de tê-la assim,
completamente entregue a mim. Completamente minha.
MAIS ALGUNS DIAS DEPOIS...

Me sinto zonza, tento erguer a cabeça mas sinto ela pesar uma
tonelada. Operei a dois dias e ainda não tiraram os curativos dos meus
olhos, estou ansiosa para saber se a cirurgia deu certo mas disseram que eu
preciso esperar, apenas no horário da tarde vão vir me examinar.
— Estou com sede... Lua? Théo...? Vocês estão aí? — Mexo-me
tentando me sentar.
— Serve o seu cunhado favorito? Os outros foram até a cantina e me
deixaram como seu segurança pessoal, isso não é para qualquer um, ouviu?
— Ouço a sua voz e como sempre o meu coração dispara.
— Tony... Você veio! Que bom que está aqui. — Meu sorriso se abre
espontaneamente.
Ergo a mão para ele e sinto ele pegar carinhosamente, toco a
pulseira no seu pulso e é ele mesmo. Puxo a sua mão para mais perto de
mim e tento tocar o seu rosto, mas ele parece longe. Ouço a sua respiração
pesar aqui pertinho do meu rosto, ergo a minha mão e consigo tocá-lo,
porque ele está ofegante? Se não fosse pela pulseira no seu braço, eu iria
jurar que é o Théo.
Desenho os traços do seu rosto e sem querer toco os seus lábios
sentindo a sua respiração quente nos meus dedos, afasto-me me ajeitando
na cama e tento sorrir.
— Pega água para mim? Estou com a garganta seca. — Peço sem
jeito.
— Claro, eu pego. — Ouço ele se afastar e depois de aproximar.
Ele pega a minha mão me entregando o copo de água, mas me ajuda
erguendo a minha cabeça para que eu consiga beber a água. Agradeço e lhe
entrego o copo quase vazio, bebi a água quase toda pois estava morrendo de
sede. Sinto a sua presença ainda perto de mim mas ele não diz nada.
— Já tem quase um mês que não nos falamos direito, muito mal
você me liga para saber como eu estou... Está tudo bem? Está chateado
comigo para ter se afastado tanto...? — Pergunto envergonhada, não quero
ter que admitir que senti a falta dele por perto, pensei que nos tornaríamos
amigos.
— Porque eu ficaria chateado com você, sardenta? Pelo contrário...
É que... Eu... Eu estou trabalhando demais... Entretanto, eu conheci uma
garota e a gente tem saído bastante, é isso, preciso dar atenção a ela pois
estamos nos conhecendo.
— Que legal! Fico muito feliz em saber disso... E quando você vai
nos apresentar a ela? Porque nem o Théo está sabendo que você está
namorando... Vamos marcar um jantar para nós quatro, o que acha? —
Comento empolgada mas ele fica mudo.
Espero ele dizer algo mas ele não diz, sinto um carinho no meu
rosto e eu pego a sua mão.
— Não se afasta de mim, Tony? Eu pensei que seriamos amigos,
pensei que você tivesse gostado de mim, pensei que tivesse me aceitado
como sua cunhada... É por isso que você está me evitando? Você não gosta
de mim? — Pergunto apreensiva e sentido o meu coração apertado.
— Gosto mais do que deveria... — Diz em um sussurro, quase não
entendo o que ele disse.
— Não entendi, você pode repetir?
— É claro que eu gosto de você, Atena, e é óbvio que somos
amigos, eu realmente estou trabalhando demais mas eu prometo aparecer
mais vezes. Gostei da idéia do jantar para casais, Gustavo e Luana também
deviam particular, eles são gente boa, gostei muito de conhecê-los. — Seu
tom é mais animado e eu sorrio.
— Está bem, eu vou falar com eles sobre isso... E Tony...? Obrigada
por ter vindo, ter você, Théo e Lua aqui é muito importante para mim. —
Acaricio a sua mão e ele faz o mesmo.
— Sobre o que vocês estão conversando que estão tão empolgados?
— Ouço a voz de Théo e sinto Tony soltar a minha mão.
— Estamos combinando um jantar de casais, ele vai finalmente nos
apresentar a namorada. Lua e Otávio também precisam participar, e como
estamos falando de casais, dona Sônia e o Sr. Adalberto também podem vir,
não quero deixá-los de fora e eu adoro conversar com eles. — Tento me
ajeitar na cama mas ainda me sinto zonza.
— Não sabia que estava namorando, meu irmão... Quando isso
aconteceu? — Pergunta Théo.
— Nem eu sabia, me deram uma intimação e eu resolvi tentar, vai
que cola. — Responde desanimado. — Eu vou dar uma volta, antes das
quatro estarei de volta. — Ouço os seus passos se afastar.
— O que deu nele? Tony parece sério demais, ele não era assim
quando o conheci, estamos nos dando bem mas ele se afastou. Ele jura que
está apenas trabalhando demais e espero que seja apenas isso mesmo...
Cadê a Lua? Ela está aqui? — Estendo as mãos procurando por eles.
— Estou aqui, amiga. — Ela segura a minha mão de um lado e Théo
do outro, mas ele está calado.
O que está acontecendo com esses gêmeos hoje? Eles estão
estranhos.
— Como você está se sentindo, Tena? Ainda está zonza? A cabeça
ainda está doendo? — Lua toca o meu rosto com carinho.
— Sim, ainda estou zonza mas a dor de cabeça já passou, me deram
um remédio para dor...
Inicio uma conversa com ela mas sinto Théo calado demais, ele
sempre entra nos nossos assuntos mas assim com Tony, ele está distante.
Pergunto se está tudo bem e ele diz que sim, diz apenas que está ansioso e
ao mesmo tempo com medo, e eu entendo esse seu medo mas ele não tem
culpa de nada, se essa cirurgia não der certo pelo menos nós tentamos, eu
fiz o que ele queria pois sei o quanto ele quer me ajudar, estou rezando para
que tenha dado certo mas se não der, nós vamos seguir em frente do mesmo
jeito.
Estendo a minha mão para ele e o mesmo pega, beija e acaricia, as
horas vão se passando e a minha ansiedade vai aumentando.
— Srta. Atena Moore! Eu sou o mesmo médico que examinou e te
operou, junto com os meus amigos aqui ao lado. Está preparada para tirar
essa venda dos seus olhos? está preparada para voltar a enxergar? — Ouço
a voz do Dr. Benício se aproximar mas ouço passos aleatórios.
— Sim senhor, estou ansiosa mas também apreensiva. Eu só quero
desde já agradecer a dedicação de vocês no meu caso, estou feliz por ter
pessoas dispostas a me ajudar e mesmo que eu não consiga enxergar outra
vez, já está valendo ter ao meu lado as pessoas que eu mais amo nessa vida,
me apoiando e me incentivando a não desistir, me passando coragem e
confiança, assim como o senhor e sua equipe tem me apoiado nesse tempo
em que estou aqui. — Esfrego uma mão na outra nervosa, e muito ansiosa.
— Eu é que agradeço por confiar em nós, Atena, e quero que saiba
que fizemos o nosso melhor e estamos confiantes... E então? Podemos tirar
os seus curativos? — O médico pega a minha mão e sinto a sua voz bem
próxima.
— Estão todos aqui...? Lua? Théo e Tony? — Estendo a minha mão
procurando por meu noivo.
— Tony saiu e ainda não voltou, talvez tenhamos que fazer isso
sem...
— Eu estou aqui! Eu falei que estaria aqui e não quebraria a minha
promessa. — Sua voz me faz suspirar, meu coração bate forte ao vir a voz
dos dois, acho que pelo fato de serem idênticas.
— Ótimo! Então podemos tirar esses curativos, doutor! — Afirmo
decidida e respiro fundo, sorrio ansiosa mas Théo solta a minha mão.
Ouço outras vozes ao meu lado e sei que são outros médicos. Eles
começam a tirar a faixa enrolada na minha cabeça muito lentamente, eles
conversam entre si mas eu só consigo pensar em Lua, Théo e Tony, quero
que a imagem deles sejam as primeiras a aparecerem diante dos meus olhos
caso eu volte a enxergar.
Depois de tirarem a faixa da minha cabeça, eles pedem para que eu
continue de olhos fechados enquanto os curativos sejam retirados dos meus
olhos, e assim o faço. Eles tiram um a um e todos ficam em silêncio.
— Atena Moore! Abra os seus olhos lentamente, no seu tempo, não
precisa ter pressa pois ninguém vai sair daqui. Abra os olhos bem devagar
para que os seus olhos se acostume com a sensibilidade da claridade. —
Orienta o Dr. Benício e eu apenas concordo.
Faço como ele manda e abro os olhos bem devagar, sinto as minhas
pálpebras pesadas mas me esforço para abrir os olhos, aos poucos aquela
expeça escuridão dá lugar a um borrão cinza embaçado, meu coração
dispara e eu pisco algumas vezes tentando melhor a minha visão, e aos
poucos aquele borrão cinza vai se dissipando e eu consigo ver alguns
vultos.
— E então, Atena? Você consegue ver alguma coisa? — Pergunta
alguém ao meu lado.
— Quase nada, mas aquela escuridão deixou de existir... Isso é um
bom sinal, não é? A minha visão vai voltar completamente? — Pergunto
olhando para os lados e volto a olhar para frente.
Vejo direitinho três vultos a minha frente, são eles, tem que ser eles.
Lua Théo e Tony.
— Deu certo! A cirurgia deu certo! Você já está enxergando, Atena!
Essa visão embaçada é normal após a cirurgia, os seus olhos aviam se
adaptado a escuridão por anos então isso é normal, aos poucos você vai
voltar a enxergar nitidamente, pode acontecer agora ou até mais tarde, pode
ser que leve dias mas a sua visão vai voltar ao normal. — Explica Dr.
Benício empolgado e os outros fazem uma festa.
Choro de felicidade ao ouvir tudo isso, eu vou poder ver a minha
casa como eu me lembrava dela, vou poder ver o pôr do sol, vou poder ir
ver o túmulo dos meus pais. Estou ansiosa para ver a barriguinha de grávida
da minha melhor amiga, vou ver os irmãos Carlson e um deles é meu noivo.
Ouço a voz chorosa de Lua conversando comigo, do outro lado
Théo segura a minha mão beijando incansavelmente, dizendo que me ama e
sua voz também é emocionada. Olho para frente e vejo uma silhueta alta,
ele não diz nada mas sei que é o Tony pois o irmão dele está ao meu lado.
Pisco algumas vezes e vejo tudo se clarear aos poucos, sua imagem
vai ficando mais nítida na minha frente mas eu fecho os olhos sorrindo.
— Théo! Lua! Fiquem a frente da cama por favor? Eu quero ver
vocês três juntos... Por favor...? A minha visão está voltando... A minha
visão... Meu Deus eu estou enxergando. — Peço aos prantos e eles soltam a
minha mão.
Olho para cima e vejo nitidamente o teto e luz acesa, meus olhos
tremem e eu pisco algumas vezes, abaixo a cabeça lentamente até ver a
minha frente um homem lindo de morrer e a sua cópia ao seu lado, Lua está
tão diferente, está mais linda do que eu me lembrava, todos emocionados.
— Lua... Luana... Amiga...
Choro estendendo os braços para ela e a mesma corre para os meus
braços me apertando tão forte, chorando tanto quanto eu.
— Você está linda... Me deixa ver a sua barriga? Você está tão
diferente, os anos se passaram e você ficou ainda mais linda... A sua barriga
já está grandinha, você vai ser mãe... — Choro visivelmente emocionada.
Olho para frente e os irmãos estão ali, um de braços cruzados
cobrindo a boca, o outro segurando com força o suporte da cama chorando
tanto quanto eu.
— Théo... Meu amor... Tony... Ahhh... Meu Deus, vocês são mesmo
idênticos. São lindos. — Sorrio abertamente admirando os dois encantada.
Estendo as mãos para eles chamando-os, eles se aproximam e param
um do lado do outro. Admiro-os atenta, encantada, eles são lindos, eu
poderia beijar um achando que é o outro, mas ainda bem que tive a ideia
das pulseiras. Pego a mão dos dois e vejo as pulseiras, toco cada uma delas
e meu sorriso se abre ainda mais.
— Meu amor...! Eu posso te ver... Eu posso ver você. — Volto a
chorar de emoção e solto a mão de Tony puxando Théo para um abraço
apertado.
— Eu sabia que você ia conseguir, eu... Eu sabia que ainda havia
uma chance para você e eu não ia desistir dela... Estou feliz por você, meu
amor, muito. — Ele se solta de mim olhando nos meus olhos, sua emoção é
tão grande quanto a minha. Meu Deus ele é tão lindo.
Ele me beija, me abraça e eu retribuo feliz por essa chance que ele
me deu de voltar a enxergar, ele pagou a minha operação para que eu
pudesse voltar a ver a vida, ver o amor em seus olhos e eu estou vendo. Me
solto brevemente dele ainda sorrindo e encaro Tony ao seu lado, e ele
parece querer esconder as suas emoções. Sorrio olhando de um para o
outro.
— Tony... Não vai me dar um abraço, cunhado...? Uau... Vocês são
lindos juntos, não é à toa que são gêmeos. — Estendo a mão para ele e o
mesmo pega sem jeito.
— Eu estava esperando por esse elogio a muito tempo, e sabia que
um dia ele viria... Finalmente agora você vai poder se olhar no espelho e ver
a mulher incrível que você é, além de muito linda... Meu irmão tirou a sorte
grande, é uma pena você também não ter uma irmã gêmea... Seja bem vinda
de volta ao mundo da luz, cunhada... Estou muito feliz por você, de
verdade... Estou feliz que a partir de agora, você vai poder se defender
melhor sozinha, vai poder correr atrás dos seus objetivos, vai se casar e
curtir a sua festa com todos que te amam lá, ao seu lado admirando e
desejando a sua felicidade. Desde já, meus parabéns, sardenta! — Ele diz
olhando nos seus olhos, e por um instante consigo sentir como se fosse o
Théo me dizendo tudo isso.
Vejo o seu carinho por mim, seus olhos brilham de um jeito que não
sei descrever. Lhe peço um abraço e eu me dá, um abraço tão apertado e ao
mesmo tempo tão sentido. Quando nos soltamos ele pede licença dizendo
que precisa ligar para Detroit, apenas concordamos e ele sai. Os médicos
me fazemos inúmeras perguntas sobre como está a minha visão, me passam
recomendações e me pedem para voltar em breve para fazer uma nova
avaliação, para saber como estou me saindo depois da recuperação.
Converso mais com Théo e Luana, ela faz chamada de vídeo com os
pais e me põe para falar com eles, eu me emociono de cá e eles de lá, eles
tem sido como os meu pais foram para mim, eu devo muito a eles e agora
vou poder pagar ajudando mais a Lua na floricultura, vou poder fazer mais
do que eu realmente podia fazer, e vou tentar finalmente cursar a faculdade
como era o sonho dos meus pais.
Passamos bastante tempo conversando e a noite chegou sem eu
perceber, trouxeram o meu jantar e Théo e Lua ficam comigo o tempo todo,
Tony também volta a se juntar a nós mas ele e Théo parecem estranhos, eles
saem para conversar e quando voltam parecem mais resolvidos, e isso me
deixa mais tranquila.
— Vocês não precisam passar a noite aqui comigo, principalmente
você, Lua, você está grávida e precisa descansar. Vão para o hotel, eu vou
ficar bem. — Me acomodo melhor na cama mas Théo se senta ao meu lado.
— Eu só saio daqui com você, não vou te deixar sozinha. — Afirma
decidido e eu sorrio satisfeita, no fundo eu não queria que ele fosse.
— Bom, eu vou aceitar ir para o hotel, estou mesmo exausta e
preciso descansar um pouco. — Lua me dá um beijo e eu a abraço apertado.
— Eu também vou indo, eu passo amanhã para me despedir antes de
voltar para Detroit, o trabalho me chama. — Tony se aproxima e me dá um
beijo demorado no rosto.
— Obrigada por ter vindo, Tony, por ter aceito o meu pedido, isso
era muito importante para mim porque vocês são importantes... Nos vemos
em Detroit, eu devo ter alta amanhã de manhã, a noite nós voltaremos para
casa. — Empolgo-me segurando a mão do meu noivo.
Todos sorriem e nos despedimos, Théo os acompanha até a saída do
hospital e eu fico aqui, sentada pensativa e sorrindo feito boba. Olho para
janela e me lembro de como eu adorava admirar o céu estrelado. Levanto-
me com cuidado pois ainda me sinto um pouco zonza, mas sigo até a janela
com um sorriso pregado no rosto. Olho para o céu e lá estão as estrelas que
eu sempre amei admirar, e eu sempre fazia isso na companhia da minha
mãe mas ela não está mais aqui.
Encaro aquela cama de hospital e imagens do acidente invadem a
minha mente, meu pai sendo esmagado pelas ferragens do carro, a minha
mãe sendo arremessada pelo para-brisa do carro, eu bati a cabeça em algum
lugar e acordei cega um mês depois em uma cama de hospital. E em uma
cama de hospital eu voltei a enxergar depois de sete anos.
— Eu voltei, mamãe... Eu voltei graças ao seu genro... Você deve
estar agora junto a essas estrelas no céu brilhando por mim, não está...? Eu
sinto tanto a sua falta, sinto muito a sua falta... Você era linda, será que
estou parecida com você? — Converso sozinha admirando as estrelas no
céu.
Sinto ele me abraçar por trás e beijar o meu ombro, suspiro fundo de
olhos fechados e abro-os novamente. De repente vejo ele erguer lentamente
um pequeno espelho na minha frente, me deparo comigo mesma e eu nem
me lembrava mais qual era a cor dos meus olhos, os meus cabelos ruivos
ondulados.
— Acredita em mim agora quando digo que você é a mulher mais
linda que já vi na vida? Entende agora o porquê me apaixonei tão
perdidamente assim que te vi...? — Seu tom é tão suave.
Seguro a sua mão e viro um pouco o espelho vendo a sua imagem
junto a minha, sorrio abertamente e ele também. Meu Deus, ele tem um
sorriso tão lindo, ele é todo lindo assim com o irmão, afinal, eles são a
Xerox um do outro.
Viro-me para ele encarando fixamente os seus olhos, toco o seu
rosto como me acostumei a fazer, sorrio sentindo o meu coração bater
descompassado e beijo-o, beijo com ternura, com amor e paixão sentindo
uma euforia tão grande que não cabe no peito.
— Obrigada... Eu te devo a minha vida, Théo... Você realizou o meu
maior sonho, o sonho de poder te ver, de poder ver outra vez a minha
melhor amiga... Eu vou poder ver outra vez a imagem dos meus pais, vou
poder construir uma família com você e vou ver o seu sorriso todos os dias,
vou ver a sua expressão ao acariciar o meu rosto, a sua expressão ao
fazermos amor... Meu Deus... Théo... Já fizemos amor tantas fezes e eu
nunca te vi nu. — Comento emocionada mas coro ao me dar conta de tal
detalhe, ele sorrir de um jeito que me deixa abobalhada.
— Não seja por isso, você vai ter muitas oportunidades para ver o
seu noivo nu. Podemos resolver esse problema agora mesmo... Vamos no
banheiro? Eu fico peladinho para você. — Sugere mordendo o lábio inferior
e eu sinto o meu rosto pegar fogo.
— Você ficou louco? Estamos em um hospital, Théo! — Me solto
dele visivelmente envergonhada e ele sorrir.
— Qual é o problema de estarmos em um hospital? Você está me
vendo pela primeira vez hoje e eu só quero matar a sua curiosidade. — Ele
vem atrás de mim e me pega no colo.
— Não estou assim tão curiosa, estou envergonhada então podemos
esperar até amanhã... Quando formos para o hotel... — Ofego por me
lembrar das vezes que já estive em seus braços, de como é intenso fazer
amor com ele.
— Você está me desejando e não adianta negar isso. A sua
respiração está pesada, seu corpo está tenso e eu vejo o desejo em seus
olhos... Olha para mim, amor? Olha nos meus olhos e diga o que você vê?
Agora você pode fazer isso. — Suas palavras me estremecem mas faço o
que ele pede.
Olho nos seus olhos e vejo amor, vejo ternura mas também vejo
desejo. Espontaneamente eu seguro o seu rosto e beijo-o apaixonadamente.
Ele me põe na cama e se deita ao meu lado me pegando em seus braços, eu
vou de bom grado e conversamos até eu pegar no sono.
Sinto a sensação de estar sendo vigiada e abro os olhos, ele está em
pé ao lado da minha cama de braços cruzados e me olhando daquele mesmo
jeito amoroso de ontem, é a primeira vez que acordo literalmente com
alguém me olhando, antes eu só podia sentir a sua presença e adivinhar
onde ele estava, mas agora o vejo aqui na minha frente, sorrindo de um jeito
tão amoroso, com tanta ternura que eu retribuo espontaneamente.
— Não vai me dar um beijo de bom dia...? — Pergunto ainda
sonolenta.
Ele se aproxima sorrindo e me dá um beijo na testa, mas quando se
afasta ele encara a minha boca como se quisesse me beijar mas não o faz.
— O que foi? Não quer me beijar? Estou com mal hálito, é isso? —
Sorrio envergonhada mas me sentindo mal por meu noivo evitar me beijar.
— Vontade de te beijar não me falta... Mas se eu fizer isso o Théo
me mata. — Seu tom rouco encarando a minha boca me estremece.
— Tony... Oh meu Deus... Me desculpa? Eu jurava que você era o
Théo, não esperava ver você tão cedo... Onde está o seu irmão? — Coro
violentamente por ter desejado beijá-lo sem saber que ele não é quem eu
pensei que fosse. Isso é tão confuso.
Ele suspira fundo e se afasta mexendo nos cabelos, ele parece tenso,
parece nervoso.
— Théo foi até a cantina mas não vai demorar, ele estava faminto e
me pediu para ficar com você até ele voltar... Eu vim me despedir, preciso
voltar antes de vocês por causa do trabalho. — Volta a se virar para mim e
seus olhos estão mais intensos que antes.
O que está acontecendo com ele? Porque ele me olha assim? E que
ele disse que tem vontade de me beijar?
— Entendi... Estou feliz que veio mesmo que por pouco tempo. E
sinto muito por ter te afastado do trabalho mas era importante para mim,
você, seu irmão, a Lua e os pais dela são tudo que eu tenho. Eu vou me
casar com o seu irmão então você também será a minha família. — Sento-
me arrumando o meu cabelo e ele está atento a mim.
— Está tudo bem, não se preocupe. Eu vim até aqui exatamente por
isso, porque vamos ser uma família pois também não tenho ninguém mais
além de Théo, a minha cópia fiel... Praticamente não temos mais mãe, o
nosso pai nos deixou a alguns anos então também só temos você... Enfim,
você não faz idéia do quanto estou feliz por você está bem outra vez, por
finalmente ter a sua vida de volta no mundo da luz, sardentinha. — Ele me
dá um sorriso tão lindo, aquele mesmo que o Théo está acostumado a me
dar.
Adoro quando ele me chama de sardenta por causa das pintinhas no
meu rosto, mas ele não precisa saber disso. Seu sorriso ainda está ali.
Merda! Eles são iguais em muita coisa e isso me deixa confusa. Até nesse
sorriso que tem me encantado desde ontem. Eu finalmente posso vê-los
sorrindo, posso vê-los me admirar e... Aff!
— Bom, então é isso, eu só vim te desejar uma boa recuperação e
dizer que nos veremos em Detroit.
— Está bem, nos vemos em Detroit... Mas antes de você ir, você
pode me ajudar a descer? Estou achando essa cama alta demais e estou me
sentindo zonza. Ainda estou me acostumando a enxergar de novo. — Sorrio
sem jeito.
— Deixa comigo, eles deixaram a escadinha muito distante. — Ele
vem até a mim e puxa a escadinha debaixo da cama, e me ajuda a descer.
— Obrigada, você é um amor. — Me solto dele sorrindo e calço o
chinelo que Lua deixou para mim.
— Senta aí! Espera o seu irmão voltar. Eu preciso ir ao banheiro.
Aponto para ele se sentar na poltrona e pego a minha bolsa entrando
no banheiro em seguida, faço a minha higiene pessoal e tomo um banho, eu
precisava mesmo disso para terminar de acordar, já dormir demais e quero
aproveitar para conhecer a cidade antes de ir embora.
Minutos depois e saio do banheiro já vestida e ansiosa para sair
desse hospital, não vejo mais o Tony e nem o Théo voltou, será que o meu
cunhado foi embora? Olho a minha volta e vejo três vasos de flores fazendo
o meu sorriso surgir, um deles é jasmim, o outro copos de leite e também
lírios, todos são lindos e eu vou até lá para ver de quem são. E as minhas
flores preferidas quem me deu foi o meu amor, eu amor jasmim, os copos
de leite são da Lua e os lírios do Tony, meu sorrio vai nas orelhas.
— O que achou das flores? Gostou? — Assusto-me com a voz de
Théo atrás de mim e viro-me abruptamente.
É ele, suas roupas são diferentes das roupas do irmão.
— Amor...? Sim, eu amei as flores, todas elas. — Corro paras os
seus braços e lhe dou um beijo ardente.
— Estou vendo que teremos um ótimo dia hoje. — Ele sorrir na
minha boca e eu me afasto brevemente.
Olho em direção a porta e Tony está ali com aquele mesmo sorriso
de antes. Vou até ele e lhe dou um beijo no rosto.
— Obrigada pelas flores, eu amei... Agora só falta eu dar um beijo
na minha melhor amiga, a minha irmã. — Suspiro fundo e volto para os
braços do meu amor.
— Ela também já está ansiosa para te ver, mas dissemos a ela para
esperar no hotel e assim ela pode descansar um pouco mais... Bom, daqui
eu estou indo para o aeroporto, vejo vocês em casa. Se cuidem. — Ele vem
dar um abraço apertado no irmão e me dá mais um beijo no rosto antes de
sair apressado.
Abraço o meu noivo e beijo-o ardentemente antes de me afastaram
para admirar o seu rosto, eu desejei tanto isso, desejei ver os seus olhos
brilhar como agora, desejei ver esse sorriso perfeito que ele tem, ver os seus
dedos tocar a minha pele em um carinho suave, ver a sua feição ao dizer
que me ama.
— Eu daria tudo para me casar com você agora mesmo... Estou
ansioso para tê-la como minha esposa, não quero mais nada além disso,
serei feliz apenas em saber que será sempre minha. Você não faz idéia do
quanto te amo. — Théo me aperta contra o seu corpo, mas seus dedos
deslizam pelo meu rosto antes de me beijar.
Retribuo ao seu beijo com a mesma paixão, com o mesmo amor,
amor esse que jamais senti por outro homem até ele chegar. Eu lhe devo
essa felicidade que estou sentindo agora, lhe devo a luz dos meus olhos pois
se voltei a enxergar, foi graças a ele que pagou a minha cirurgia.
— Se tivesse como, eu me casaria com você agora mesmo. Quero
ser sua esposa o quanto antes... Eu te devo muito mas não quero me casar
por isso, quero me casar por amor. Eu te amo demais, Théo. — Seguro o
seu rosto com as duas mãos e beijo-o mais uma vez.
— Tem um jeito de nos casarmos, mas não sei se você vai aceitar...
Meu amor, podemos nos casarmos em Las Vegas, depois faremos apenas a
festa ou podemos fazer uma cerimônia com os nossos amigos... Case-se
comigo o quanto antes, amor? Podemos nos casar hoje mesmo e de lá nós
voltamos para casa como marido e mulher. — Sugere empolgado me
fazendo sorrir. Eu faço tudo por ele depois do que fez por mim.
— Está bem, eu me caso com você hoje! Depois faremos uma
pequena cerimônia e nem precisa ser na igreja, eu só quero ser sua esposa.
— Concordo tão empolgada quanto ele.
Théo me pega no colo me girando no ar e eu sorrio abertamente.
Nos beijamos, nos abraçamos e fizemos planos para uma nova vida, ele não
quer que eu insista em sair para procurar emprego como eu fazia antes,
então prometo continuar ajudando Lua na floricultura agora que ela está
grávida, vou fazer por ela mais do que eu podia fazer antes. Vou poder
cuidar da minha casa eu mesma, não vou precisar incomodar ninguém para
me ajudar, não vou me queimar quando tiver que cozinhar algo. Eu estou
tão feliz.
Théo está fazendo planos de comprar uma nova casa para nós e se
desfazer da atual, tudo por causa do que aconteceu com o padrasto e a mãe
dele, mas ele já gastou tanto comigo que estou sem graça de deixá-lo fazer
isso.
— Você ficou pensativa, mudou de ideia? Não quer mais se casar
comigo hoje? — Pergunta sentando-se na poltrona comigo em seu colo.
Ele segura o meu queixo me fazendo encará-lo, acaricio a sua mão
ainda sem jeito, mas eu preciso superar o que houve, foi uma armação que
fizeram contra mim para eu desistir do meu amor, mas eu não vou fazer
isso, não posso e não quero. Eu preciso vencer os meus medos pois os
obstáculos aparecem nas nossas vidas onde quer que estejamos, fazê-lo sair
da sua casa por minha causa pode não mudar em nada a nossa situação com
a mãe dele, ou ela vai continuar nos odiando ou vai nos aceitar de vez após
o casamento.
— Não quero que se desfaça da sua casa, não quero que gaste mais
só para me agradar pelo que houve... Se você me prometer que a sua mãe
não conseguirá mais entrar lá, eu aceito que moremos lá onde você já está
acostumado, e também não vou abrir mão do Alonso só por eu ter voltado a
enxergar, não sabemos se a minha querida sogrinha vai mandar mais
alguém me atacar. — Saio do seu colo apreensiva, mas sinto ele me abraçar
por trás.
— Se não quiser ficar lá, não tem problema, eu me aperto um pouco
e compro outra casa em outro lugar...
— Não, Théo! Você já gastou demais comigo, pagou essa viagem e
ainda trouxe Lua para me agradar, bancou essa cirurgia caríssima, vai
bancar o casamento e tudo isso sozinho porque eu não tenho como te
ajudar... Eu não posso permitir isso. — Viro-me para ele me sentindo mal
por ele estar fazendo tudo isso sozinho, mas ao mesmo tempo estou feliz
por tê-lo ao meu lado.
— Eu não fiz tudo isso sozinho, Atena... Tony também me ajudou a
pagar a cirurgia e vai nos dar a festa de casamento. Eu tentei devolver uma
parte do dinheiro que ele me deu, pois a cirurgia foi um pouco mais barata
do que pensamos que fosse, mas ele insistiu que eu ficasse como um
presente de casamento. — Suas palavras me surpreendem, o Tony também
ajudou na minha cirurgia?
— Eu... Eu não fazia idéia, porque não me contou nada antes? Eu
teria agradecido a ele pôr esse gesto tão bondoso. — Volto para os seus
braços mesmo ainda surpresa.
— Ele me pediu para não dizer nada, mas não quero ver você
tristinha por achar que estou fazendo tudo sozinho... Todos nós te amamos e
todos estamos te ajudando de alguma maneira, porque você merece, meu
amor. Eu sou capaz de tudo por você, então se não quiser ficar na minha
casa atual, podemos sim nos mudarmos para outra. — Ele me aperta em
seus braços e beija o alto da minha cabeça.
— Me deixa conhecer a sua casa agora que posso ver como ela
realmente é, já faz tempo que não volto lá desde o acontecido, quero ver
como ela é e se ainda vou me sentir mal, se for o caso de realmente você se
desfazer dela, podemos reformar a minha casa até podermos comprar outra
sem você se apertar tanto... Mas é óbvio que você vai preferir uma casa
mais perto do seu trabalho e por mim tudo bem. Mas vamos nos casar
primeiro, depois decidimos isso pois já estamos morando juntos mesmo. —
Suspiro apaixonada, meu coração bate tão forte de tanta felicidade.
— Está bem, eu vou procurar o médico para te dar alta logo, vamos
para o hotel descansar um pouco e depois do almoço partiremos para Las
Vegas. Vou fazer de você minha esposa. — Ele volta a me pegar no colo e
me põe deitada na cama, me beija docemente antes de se afastar.
Ele sai à procura do médico e eu sorrio eufórica, eu vou me casar,
Lua vai estar comigo e será a minha madrinha, não sei como funciona o
casamento nesse lugar onde ele vai me levar, mas sei que voltarei para casa
como uma mulher casada.
HORAS DEPOIS...

— Vocês são loucos mas eu não posso julgar. Eu e Otávio também


queríamos ter feito o mesmo só para estarmos casados logo, mas as nossas
condições não deixaram... Eu estou tão feliz por vocês, de verdade e estou
disposta a apoiar essa loucura. — Lua sentada a nossa frente segura a nossa
mão emocionada, mas eu e Théo apenas sorrimos.
— Estamos com pressa de sermos felizes, Lua, eu já passei tempo
demais desejando um amor verdadeiro e ele nunca apareceu, até esbarrar no
homem que se tornaria o amor da minha vida — Dou um breve beijo no
meu noivo e volto a me acomodar no meu acento.
Não solto a sua mão por nenhum motivo, não quero me soltar dele
nunca mais. Théo é a minha vida. Encaro a janela da aeronave admirando as
nuvens aqui de cima, eu passei tanto tempo tendo medo de tudo que agora
não tenho medo de mais nada, nem mesmo de andar de avião.
Théo fretou um jatinho só para chegarmos logo em Las Vegas e nos
casarmos ainda hoje, se tudo der certo, hoje vou dormir como uma mulher
casada. Théo já preencheu os documentos online e quanto chegarmos na
cidade, ele mesmo vai correr atrás de tudo e enquanto isso, eu vou com Lua
atrás de um vestido para o casamento, não precisa ser um vestido de noiva
pois esse eu quero usar na cerimônia que vamos fazer depois, será algo bem
simples já que não temos nem o Tony, Otávio e nem os pais de Luana aqui
conosco, então depois faremos tudo como manda o figurino em uma
cerimônia mais bonitinha.
Seguimos viagem e conversamos empolgados, Théo está sorrindo
tanto, será que ele também sorrio assim quando eu não podia vê-lo? Ele
parece realmente feliz com esse nosso casamento às pressas, tudo aconteceu
praticamente do noite para o dia, eu o conheci, começamos a namorar,
conheci Tony e vivi todo aquele pesadelo, operei e voltei a enxergar, e
agora estamos indo nos casar em Las Vegas.
Minha nossa, tudo parece tão inacreditável, tão surreal, pareço estar
vivendo um sonho, essa é a única explicação para tudo estar acontecendo
tão rapidamente. Mas estou feliz, estou muito feliz e sei que os meus pais
também estariam felizes por mim, eu encontrei um homem que está lutando
por mim, ele já me ajudou a recuperar a minha visão pagando a minha
cirurgia, mas ele não o fez sozinho. Tony também me ajudou a conquistar
essa vitória, os irmãos Carlson entraram na minha vida para trazerem a
minha maior felicidade, eu posso ver novamente, voltei a enxergar graças a
eles e a minha melhor amiga mais uma vez está ao meu lado.
Eu queria que Otávio estivesse aqui, queria ele como meu padrinho
junto com Luana mas ele ficou na floricultura, mas o que vale é a intenção e
ele sempre será o nosso padrinho.
Luana está animada demais para quem está tanto tempo longe do
marido, pergunto como ela e o bebê estão e ela pega a minha mão pondo na
sua barriga, inclino-me e acaricio sorrindo abertamente feliz por ela estar
construindo a sua família. Lembro-me das palavras da minha sogra dizendo
que se um dia eu tivesse um filho eu não saberia cuidar dele, não nas
minhas antigas condições mas agora eu posso sim. Ela não estava errada,
mas a maneira como ela disse me feriu muito, eu realmente acreditei que
jamais poderia ser mãe nas minhas condições, mas Deus pôs esse homem
maravilhoso na minha vida para que eu pudesse realizar os meus sonhos ao
lado dele, e para começar, vamos nos casar, seremos marido e mulher.
— O que foi, amiga? Ficou triste de repente, está tudo bem? — Lua
encara-me apreensiva.
— Não é nada demais, só estava perdida em lembranças de um
passado que quero muito esquecer. Agora eu só quero focar a minha
atenção na minha nova realidade, na minha nova vida mas nunca longe de
você... Você faz parte de mim, Lua, você se tornou uma parte essencial da
minha vida em todos esses anos que passou ao meu lado... Eu amo tanto
você, minha amiga... Poder ver o seu rosto de novo depois de tudo que
passamos juntas, é um sonho se realizando. Eu desejei tanto poder ver o seu
rosto mais uma vez, desejei poder te ver assim, barrigudinha esperando o
meu sobrinho... Você está ainda mais linda do que eu me lembrava e eu
queria tanto poder te dizer isso olhando nos seus olhos, e agora eu posso. —
Choro de emoção por estar aqui, frente a frente com ela podendo olhar em
seus olhos como fazia antes.
— Meu Deus, Tena... Seu noivo vai dizer que somos duas
choronas... Que palavras lindas, minha amiga... Deus sabe o quanto rezei, o
quanto pedi e implorei para que ele devolvesse a sua visão, não fiz isso por
pena e nem para me livrar das minhas responsabilidades com você, mas sim
porque você merecia viver a vida assim como eu, vendo a felicidade com os
olhos do amor, um olhar sem medidas para o mundo... Você merecia
recuperar a sua vida de antes, demorou mas ela veio graças ao Tenente
Théo, aquele cara que esbarrou em você e se irritou antes de se apaixonar...
É por isso que estou apoiando essa loucura de vocês, porque eu vejo o
quanto se amam e vocês tem mais é que viver a vida sem pensar no
amanhã... Eu estou muito feliz por vocês. — Ela chora junto comigo e
consigo ver Théo também emocionado.
— Realmente, Luana, vocês são duas choronas e estão me fazendo
chorar também... Essa amizade de vocês é admirável e eu já disse isso, mas
não custa nada repetir. — Ele funga nos fazendo sorrir.
Conversamos um pouco mais nos distraindo até chegar em Las
Vegas, mas já estamos quase pousando. Poucas horas depois estamos
aterrissando no nosso destino e fazemos como tanto desejamos, Théo nos
deixa em um hotel e pede para que um dos seguranças fique a nossa
disposição, ele sai para resolver os trâmites do casamento e escolher a
capela onde vamos nos casar, eu pedi algo simples pois assim sai mais
barato.
Saí com Lua e compramos um vestido branco rendado, longo, ele
parece um vestido de noiva mas é apenas um vestido de festas, fiz questão
de que Lua também comprasse algo para ela e mais uma vez lamentei a
falta de Otávio. Eu queria muito ele aqui também.
— Eu tenho uma surpresa para você, então antes de entrar no
quarto, fecha os olhos! Será por pouco tempo. — Pede Lua com um sorriso
tão largo.
— O que você está aprontando, Lua?
— Não estou aprontando nada, isso é obra do seu futuro marido e eu
adorei. Agora fecha os olhos e só abra quando eu mandar! — Insiste com
uma carinha de mandona e eu apenas obedeço.
Fecho os olhos e entramos no quarto, ela me guia por poucos metros
e pede para eu abrir os olhos, quando o faço vejo um homem loiro de olhos
claros parado no meio do quarto e me assusto, mas lembro-me da vídeo
chamada que fizemos com os pais dela e Otávio, é o meu melhor amigo.
— Otávio! Oh meu Deus, você está aqui. — Corro para os seus
braços já emocionada.
— Fala aí ruivinha...? Meu Deus, parece um sonho, não é? Mas é
real, agora você pode me ver e me acertar uma bengalada toda vez que eu te
aborrecer... Esconde a bengala dela, amor! — Ele me abraça e beija o alto
da minha cabeça, tão emocionado quanto eu mas tenta disfarçar.
— Você é mais bonito pessoalmente, meu amigo, e combina tanto
com a minha irmã. Vocês estão construindo uma família tão linda. Parabéns
aos dois, espero um dia poder fazer o mesmo. — Me solto dele e o mesmo
abraça Lua. Eles são lindos juntos.
— Você já está construindo a sua família, Tena! Você vai se casar
hoje e só vai faltar um bebê, mas isso vocês precisam planejar direitinho
antes de deixarem de se prevenir. Sem pressa pois vocês tem a vida toda
pela frente. — Eles vem me abraçar e meu coração mais uma vez se enche
de alegria.
— Ela está tão linda... Parece um anjo ruivo. — Ela entra na capela
de braços dados com Otávio enquanto Lua permanece ao meu lado.
Ela está toda de branco e usa um pequeno véu, um buquê de flores e
aquele seu sorriso me enfeitiça. Que me deixa bobo de tanta felicidade.
Uma música suave toca ao fundo e ela vem para mim, sorridente como de
costume.
— Espero que esteja ciente de que se magoa-la, você estará
comprando uma briga feia com a família inteira, então não esperamos
menos do que esse sorriso no rosto dela diariamente... Com tudo, desejo de
coração que vocês sejam felizes. — Otávio a entrega a mim e meu sorriso
está preso no rosto.
— O meu maior sonho passou a ser fazê-la feliz, e eu vou correr
atrás desse objetivo. Antes de magoa-la eu mesmo me afasto dela, e eu te
afirmo que isso não acontecerá jamais. — Aperto a sua mão e lhe dou um
breve abraço.
Beijo a testa da minha noiva que está mais linda que normalmente.
— Eu te amo!
— Eu também te amo!
Nos declaramos olhando nos olhos um do outro como temos feito
desde que ela voltou a enxergar, vejo tanta ternura, tão amor que me
impressiona, nunca pensei que fosse possível amar tanto alguém como amo
essa mulher.
— Atena Moore e Théo Carlson! É de livre e espontânea vontade
que querem esse casamento? — Pergunta o padre.
— Sim! — Nos viramos de frente para ele.
— Vocês estão cientes de que casamento não é apenas uma palavra?
Casamento não é apenas pôr uma aliança no dedo, casamento também é
cumplicidade, lealdade, casamento é uma parceria para vida toda, a união
de duas pessoas que se amam tem que ser para vida inteira, e vocês estão
dispostos a passarem por isso?
— Sim! Estamos! — Respondemos olhando nos olhos um do outro.
— Sendo assim eu pergunto! Atena Moore? Você aceita como seu
legítimo esposo Théo Carlson, para amar e respeitar, na alegria e na tristeza,
na saúde e na doente, na riqueza e na pobreza para todo sempre? —
Pergunta o padre fazendo o meu coração quase parar.
— Sim! Eu aceito! — Responde convicta mesmo emocionada.
— Théo Carlson! Você aceita como sua legítima esposa Atena
Moore, para amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doente,
na riqueza e na pobreza para todo sempre?
— Sim! Eu aceito! — Respondo ansioso.
— Podem trocar as alianças e dizerem os votos, se quiserem. — Nos
orienta o padre atento.
Luana se aproxima e me entrega a caixinha com as alianças, Otávio
me ajudou a comprar quando chegou de viagem e eu fiz questão de pagar a
sua passagem para vir, Atena o queria como nosso padrinho junto com a
esposa e eu não podia deixar de realizar isso.
Tiro a aliança pondo no seu dedo e ela faz o mesmo, beijo a sua mão
e ela beija a minha sem tirar esse sorriso encantador dos seus lábios.
— No dia em que nos conhecemos, eu não estava em um bom dia,
estava estressado e uma ruivinha linda esbarrou em mim, é verdade que eu
me irritei, fui ignorante mas me culpei, me senti mal ao ver caída ao chão
aquele anjo lindo. Ao perceber que não podia me ver eu me odiei pela
forma como te tratei, mas ao ver o quão forte você é, guerreira, valente e
determinada, isso me encantou, eu me apaixonei perdidamente e quero
passar o resto da minha vida ao seu lado. Eu te amo como jamais fui capaz
de amar alguém, Atena, você é a minha razão de viver. — Declaro
emocionando.
— E você é a minha razão de viver, Tenente Théo Carlson! Esperei
por você a minha vida inteira, você demorou a chegar mas enfim estamos
juntos. Deus e mais alguém lá em cima estão abençoando o nosso amor pois
ele é grande, e eu prometo estar ao seu lado para todo sempre... Eu te amo,
meu amor. — Declara em lágrimas fazendo um sorriso imenso tomar os
meus lábios.
— Sendo assim. Pelos poderes que a mim foram concedidos pelo
estado, eu os declaro marido e mulher! Você já pode beijar a noiva. —
Declara o padre e eu suspiro fundo.
Abraço a minha mulher pela cintura e acaricio o seu rosto, seguro-a
pela nuca e beijo-a apaixonadamente. Um beijo tão doce, tão profundo que
me faz esquecer o resto do mundo a minha volta. Ouço o choro de Luana
mas ela nos aplaude junto ao marido, estamos sorrindo feito bobos e somos
cumprimentados pelos nossos amigos e também pelo padre, a cerimônia é
bem curta mas durou tempo suficiente para sermos declarados casados, isso
é perfeito.
Saímos da capela e seguimos para as fontes do Bellagio para
brindarmos ao nosso casamento, e assim fizemos, seguimos sorrindo
empolgados pois agora sou um homem casado, ela é minha esposa, nos
declaramos em frente a um padre e estamos casados.
Chegamos nas fontes e saímos do táxi correndo de mãos dadas, ela
está tão feliz, seus olhos brilham mais que antes. No caminho para cá
compramos champanhe, um refrigerante para Luana e algumas taças,
brindamos em frente as fontes e nos declaramos mais uma vezes, Luana e
Otávio aproveitam para fazer o mesmo e eles também parecem muito
apaixonados.
Passamos um bom tempo nessas fontes belíssimas, conversamos,
brindamos o quanto pudemos e saímos dando um passeio pela cidade, mas
estou ansioso para fazer amor com a minha mulher, não estou mais
aguentando e acho que ela também não, ela me olha com desejo, me beija
tão profundamente que me esforço ao extremo para não me excitar.
— Meus amigos! Eu não sei vocês mas eu não aguento mais, estou
exausta então vamos para o hotel, os meus pés estão me matando. — Luana
pisca para mim e eu suspiro fundo.
— É melhor irmos mesmo, amanhã aproveitaremos melhor o dia na
cidade antes de voltarmos para casa. — Atena concorda abraçada a minha
cintura. Aperto-a em meus braços.
— Está certo! Então vamos voltar para o hotel, amanhã curtiremos
uma pequena lua de mel antes de irmos embora. — Concordo enquanto
seguimos os dois casais abraçados e elas dizendo o quanto estão felizes.
Paramos no primeiro ponto de táxi e entramos em um seguindo para
o hotel, não é um hotel cinco estrelas mas Atena gostou muito, pedi a Luana
para se arrumar com Atena no seu quarto enquanto uma funcionária do
hotel preparava tudo para nos receber depois do casamento, mandei
encherem o quarto de jasmim já que são as suas flores preferidas, mas
também pedi alguns buquês de rosas vermelhas e muitas pétalas na cama e
na banheira, antes de sair do hotel eu deixei tudo pronto então vamos ter
uma noite romântica.
Poucos minutos depois estamos entrando no hotel e seguimos cada
casal para o seu quarto, Otávio também se empolgou e disse que faria uma
surpresa para sua esposa. Hoje o amor está literalmente no ar.
Antes de entramos no nosso quarto e pego a minha esposa no colo,
abro a porta e entro no quarto ganhando um beijo intenso e apaixonado. Ela
admira as flores com aquele sorriso largo, surpresa e emocionada por ver
tantas flores juntas, ela ainda não viu a floricultura onde trabalha, ela vai se
apaixonar ainda mais por flores.
— Eu te amo, Théo... Você é a minha vida... Meu marido. — Diz
entre beijos ainda no meu colo.
Ponho ela no chão mesmo não querendo pôr, ela sai admirando e
tocando as flores enquanto eu nos sirvo mais champanhe. Brindamos mais
uma vez e nos beijamos novamente, nos declaramos e eu abro o zíper nas
costas do seu vestido, ela me ajuda a tirá-lo me revelando um conjunto de
lingerie branca como o vestido. Ofego desejando ardentemente fazer amor
com ela, já tem quatro dias que não nos amamos pois ela estava internada e
teve que ficar em observação, em seguida viajamos para cá e agora ela é
minha esposa.
Ela me admira acanhada enquanto começo a me despir, vejo-a
nervosa, ofegante pois é a primeira vez que ela vai me ver assim, não vai
apenas me tocar e me sentir como antes, vai me ver nu e também verá o
quanto fico bobo admirando a sua beleza. Quando estou somente de cueca
vejo o seu rosto delicado ficar mais vermelho que o normal, sorrio de lado e
ela ofega.
Pego a sua mão e beijo demoradamente, subo beijos pelo seu braço
aproximo-me mais abraçando a sua cintura, beijo o seu ombro e o seu
pescoço cheirando a sua pele, ela é cheirosa e macia e eu já disse isso a ela.
Ergo o seu queixo e beijo os seus lábios rosados, ela se entrega rapidamente
e eu aproveito para abrir a sua lingerie, tiro a peça do seu corpo deixando os
seus seios lindos a mostra. Ofego.
— Você tem noção do quanto é linda...? Do quanto te amo...?
Admiro os seus seios trazendo ela de volta para o meu corpo, ela
segura os meus braços com força e sinto o quanto está trêmula.
— Eu te amo tanto... Fazer amor com você olhando nos seus olhos,
será como se fosse a nossa primeira vez...
Sua voz sai em um sussurro mais ofegante que o normal. Pego ela
no colo e levo ela para cama deitando-a com calma, tiro a sua calcinha
delicadamente admirando cada curva do seu corpo. Ponho-me sobre ela
beijando e acariciando o seu corpo, ela está visivelmente trêmula, mas
ofegante de desejo e toca o meu corpo me acariciando entre sussurros de
desejo, delírio de prazer.
Beijo os seus seios um a um, desço a minha boca pelo seu corpo e
beijo a sua barriga, ela se contrai e eu desço um pouco mais, beijo a sua
boceta pequenininha e ela treme inteira como das outras vezes, seguro as
suas coxas prendendo ela no lugar e chupo-a até se derramar na minha
boca, ela precisa ver e sentir tudo que já fizemos antes e eu vou mostrar a
ela.
Atena geme, se contorce ao gozar e eu não quero perder a visão do
seu rosto tomado pelo desejo, tiro a minha boxer ponho-me sobre ela
encaixando-me entre as suas pernas, preencho-a lentamente, ela se arqueia,
geme me chamando de amor, me chamando de meu marido enquanto
acaricia o meu corpo, não há sensação melhor do que estar assim com ela
em meus braços, ela se entrega a mim de corpo e alma, gememos e nos
amamos em um ritmo lento e enlouquecedor, faço a minha até atingirmos
um prazeroso orgasmo.
Tento não desabar sobre ela para não soltar o meu peso, beija-a com
doçura, beijo-a com amor sentindo uma euforia tão grande, sentindo uma
felicidade que jamais imaginei que pudesse existir, estou feliz como jamais
imaginei que seria.
Toco o seu rosto e esses lábios perfeitos que ela tem, ela sorrir
tocando o meu rosto e me beija devagar, mas intensamente. Ela não está
mais tão envergonhada como minutos atrás.
— Vamos tomar um banho juntos? Mais cedo eu vi que tem uma
banheira e eu adoraria um momento com o meu marido dentro dela. —
Sugere meio sem jeito e eu sorrio a cada vez que ela diz meu marido.
— Eu também vou adorar um momento com a minha esposa dentro
daquela banheira. — Roubo-lhe um beijo antes de sair dela.
Nos levantamos e seguimos para o banheiro, e realmente deixaram a
banheira como eu pedi e posso ver a minha mulher mais uma vez surpresa,
encantada ao ver a banheira cheia com espumas e pétalas de rosas. Ganho
como recompensa o sorriso mais lindo do mundo e um beijo ardente, eu
amo quando ela me beija assim.
Ela prende os cabelos e entramos na banheira, me sento atrás dela
massageando as suas costas e acaricio todo o seu corpo com espuma e
pétalas de rosas, ela sorrir mas também ofega, ela está excitada e me
deixa excitado também. Beijo o seu ombro e o seu pescoço, mas ela vira o
rosto para me beijar e eu não resisto em tocar e massagear os seus seios.
O nosso beijo fica mais intenso e ela se vira totalmente de frente
para mim sentando-se no meu colo, admiro descaradamente os seus seios
segurando a sua cintura com firmeza, subo as minhas mãos pelas suas
costas embasbacado com a beleza da minha mulher, sou louco por ela.
Atena toma a minha boca em um beijo urgente rebolando no meu colo se
esfregando em mim, ela está visivelmente excitada e me deixando louco
mais uma vez.
Seguro o seu quadril com firmeza fazendo ela se erguer, me encaixo
nela e se senta em mim voltando a me beijar, ela fica sexy, fica muito linda
quando toma essas iniciativas, isso me deixa atordoado de desejo. Nos
entregamos a mais um momento de amor com a felicidade estampada em
nossos rostos, ela é maravilhosa, é perfeita e é minha esposa.
Depois de nos amarmos e tomarmos o nosso banho, nos secamos e
fomos para cama nos aninharmos nos braços um do outro, tomamos mais
champanhe na cama e conversamos mais sobre a festa que vamos fazer em
breve, já nos casamos então vou cancelar o pedido que fiz antes da papelada
do casamento, teríamos que esperar mais de dois meses e agora não vamos
precisar esperar mais nada, além dos preparativos da cerimônia que vamos
fazer junto com a festa.
Eu queria que Tony tivesse participado do meu casamento, mas
levando em conta o fato dele também estar apaixonado pela minha mulher,
acho que não seria uma boa ideia, sei que ele não se sentiria bem vendo a
mulher que ama se casando com outro, muito menos com o próprio irmão,
mas eu cheguei primeiro, me apaixonei por ela à primeira vista e pelo que
parece, ele também, mas ela me ama, ela nasceu para ser minha e agora
estamos casados. Ela é minha esposa, Atena Moore Carlson. Sorrio
abertamente abraçado a minha esposa já adormecida em meus braços.
Não sou órfã como Atena, mas é como se eu fosse já que minha mãe
não apoia a minha felicidade, ela nem merece mais ser chamada de mãe
depois do que fez, perdi meu pai há uns anos atrás enquanto estava de
serviço então me sinto órfã exatamente como ela é, mas Atena ainda tem
pessoas maravilhosas a quem ela considera como dá família, eu só tenho
um irmão que anda se afastando de mim por gostar da minha mulher, sei
que ela me ama e não me trocaria por ele, e por sua vez, Tony também me
respeita muito e não vai se meter entre nós, é só por isso que não vou
aceitar que ele se afaste de mim, eu só tenho ele de família além de Atena,
não posso me afastar do meu único irmão.

SEIS MESES DEPOIS....

— Tenente! Venha até a minha sala! — O delegado Camilo aparece


na porta da minha sala mas sai rapidamente.
Será que aconteceu alguma coisa? O que será que ele quer comigo?
Deixo os relatórios sobre a minha mesa e saio da minha sala, sigo até a sala
do delegado e entro fechando a porta atrás de mim.
— Delegado! Em que posso ajudar?
Sento-me a frente da sua mesa e o homem a minha frente se larga na
cadeira, ele suspira fundo atento a mim me deixando confuso.
— Como está indo o casamento? Como vai a sua esposa? —
Pergunta me olhando como se me analisasse.
— Meu casamento não podia estar melhor, acho que nada nessa vida
me faria mais feliz do que estou agora... A minha esposa está ótima, ainda
está ajudando a amiga na floricultura pois o nosso afilhado acabou de
nascer, ele ainda é muito pequeno e requer cuidados. Estou curtindo muito o
meu casamento, só é uma pena não ter mais tempo para me dedicar a minha
mulher, ela merece o meu tempo e todos os mimos que faço a ela, Atena é
maravilhosa. — Abro um largo sorriso lembrando-me da mulher mais linda
do mundo.
— Bom, ela é uma mulher de sorte por ter um homem como você ao
lado dela. Dê os parabéns a ela por mim pois a partir de amanhã, você terá
mais tempo para se dedicar a sua esposa, afinal, com o cargo de delegado
você ganhará mais, poderá sair mais cedo caso tudo esteja em ordem pois o
seu novo Tenente promete ser tão competente quanto você. — Revela numa
tranquilidade tão grande e eu ainda estou tentando entender o que ele disse.
— O senhor está dizendo que... Espera! Como assim delegado?
Novo Tenente? Não estou entendendo, Sr. Camilo. — Levanto-me eufórico
esperando que ele me explique melhor o que disse.
— Estou dizendo que eu pedi transferência para outra cidade e você
vai me substituir, Théo Carlson! Você está sendo promovido a delegado
dessa cidade, Valério vai assumir o seu cargo como primeiro Tenente. Eu
queria o Tony no seu lugar, mas ele não abriu mão de estar nas ruas
investigando e pegando bandidos... Parabéns, delegado! Agora vá já para
casa e dê a boa notícia a senhora sua esposa. — Ele se levanta sério, seu
tom é firme mas ele sorrir vindo me abraçar.
— Obrigado por pensar em mim para esse cargo, senhor! Mesmo
que não esteja mais aqui, eu não vou te decepcionar... Obrigado! —
Retribuo ao seu abraço apertado sentindo o meu coração bater acelerado.
— Não me agradeça, você fez por merecer ou então não teria
chegado onde está... Estou de olho em você a muito tempo, Théo, não tinha
mais ninguém para assumir o meu lugar que não fosse você. Parabéns,
filho! Saiba que o seu pai estaria muito orgulhoso de você agora por chegar
onde estar. — Ele me abraça mais uma vez e parece emocionando, isso me
emociona também.
— Eu aprendi muito com o senhor e com o meu pai também, se
cheguei onde estou é porque eu me espelhei em vocês, delegado, Camilo...
Eu devo tudo isso ao senhor que tem me apoiado muito mesmo depois que
pai se foi, então muito obrigado por tudo. — Abraço-o mais uma vez. — Eu
vou ver a minha esposa agora mesmo. Com licença, senhor!
Solto-me dele eufórico e saio da sua sala apressado, entro na minha
sala e pego as minhas coisas, saio novamente e nem sinto os meus pés
tocarem o chão, corro para o meu carro e entro no mesmo, nesse instante
Tony encosta o seu carro ao lado do meu.
— Já vai, delegado?
Ele sai do seu carro com um sorriso largo e eu faço o mesmo,
agarro-o em um abraço forte e ele apenas retribui.
— Obrigado por tudo, meu irmão, obrigado por ser parte de mim...
Eu te amo, Tony! Nunca se esqueça disso, ouviu? — Declaro ainda mais
emocionado que antes.
— Eu também te amo, Théo! Não queria ter outro irmão que não
fosse você... Vai comemorar a sua promoção. E dá um beijo da sardenta por
mim. — Nos soltamos um do outro, os dois emocionados.
Vejo nos seus olhos aquele mesmo brilho de quando ele olha para
minha mulher, ele ainda a ama mas o seu amor e seu respeito por mim está
acima de tudo, e eu o admiro por isso.
— Você ainda vai ser feliz exatamente como eu sou, Tony, escreve o
que estou dizendo... Agora eu preciso ir. Te vejo amanhã, detetive! — Volto
para o meu carro e ele fica ali enquanto saio do estacionamento.
Sigo para o bairro onde Lua mora para ver a minha mulher,
voltamos a morar na minha antiga casa e estamos felizes, não precisamos
nos mudar para sermos felizes e tudo parece perfeito. Meu casamento
parece um sonho de tão bom, tudo tem sido perfeito, dormir e acordar ao
lado dela é perfeito e eu quero viver isso eternamente.
A nossa convivência com Tony tem sido melhor que antes, ele nos
apresentou uma garota que estava namorando mas não durou muito, Tony é
o famoso pegador e já prometeu levar uma terceira candidata para nos
apresentar, espero que dessa vez dê certo e que ele encontre a mesma
felicidade que eu encontrei.
Depois de quinze minutos no trânsito eu paro na frente da
floricultura e saio do carro, ela vem correndo e pula nos meus braços como
uma menina sapeca, ela me beija e eu sorrio na sua boca.
— Que surpresa boa te ver aqui... Eu estava morrendo de saudades.
— Ela me beija mais ardentemente e tudo que eu mais queria agora era
levá-la para casa, para a nossa cama.
— Tenho novidade e precisava te contar logo. Vamos entrar! —
Sorrio e ela desce do meu colo. Abraço a sua cintura.
Entramos na floricultura e eu escolho o arranjo de flores mais lindo
da floricultura, entrego a ela com um sorriso no rosto e ganho mais um
beijo como recompensa.
— Qual é a novidade que você tem para me contar? Você parece
muito feliz então deve ser uma coisa boa. — Ela se solta de mim sorrindo
daquele jeito que tanto amo.
— Fui promovido no trabalho. Eu vou substituir o delegado
Camilo... Você está olhando para o novo delegado de Downtown! —
Revelo de uma só vez.
— Amor! Isso é maravilhoso, parabéns, minha vida! — Ela sorrir
escandalosamente me agarrando em um abraço apertado e ao mesmo tempo
carinhoso.
— Obrigado, amor. Ter o seu apoio é muito importante, eu te amo
tanto, princesa, te amo mais que a minha vida. — Ergo ela do chão beijando
e cheirando o seu pescoço.
Ela me segura pela nuca e me beija com a mesma doçura de sempre,
com o mesmo amor.
— Eu te amo, delegado Théo Carlson! Te amo, papai! — Declara
entre os beijos e eu ponho ela no chão encarando os seus olhos marejados.
— Você disse... Papai...?
Afasto-me encarando a sua mão na sua barriga, volto a encarar os
seus olhos e ela já está chorando.
— Estou grávida de quase dois meses... Théo... Vamos ser pais... —
Atena chora abraçada ao buquê de flores.
Aproximo-me trazendo ela para os meus braços e beijo-a mais uma
vez com todo o meu amor. Ajoelho-me encarando a sua barriga e beijo
demoradamente.
— Um filho... Você vai me dar um filho, meu amor...? Eu pensei que
não pudesse ser mais feliz do que eu já sou, mas é possível sim... Você vai
me dar um filho, estamos realmente construindo a nossa família... Eu vou
ser pai! Você vai me dar um filho! — Levanto-me pegando-a em meus
braços e giro ela no ar. Ela sorrir abertamente antes de ficar apreensiva.
— Não sei se estou preparada para ser mãe, mas se eu tiver você ao
meu lado eu serei a melhor mãe do mundo para os nossos filhos... Porque
teremos gêmeos... — Suas palavras mansas e tranquilas trazem consigo
uma surpresa que no fundo eu já esperava.
— Gêmeos...? Vamos ter dois bebês? — Meu sorriso se amplia
instantaneamente.
Ela apenas concorda ainda emocionada e sorrindo abertamente. Lhe
roubo um beijo ardente ainda com ela no colo.
— Você merece o mundo aos seus pés e eu vou te dá! Você faz idéia
do quanto sou feliz com você, Atena Moore Carlson...? Eu nunca amei
nessa vida outra mulher como eu amo você. Eu vou fazer você ainda mais
feliz, eu prometo! Nunca vai te faltar nada, muito menos amor, carinho,
atenção, eu sempre vou estar ao seu lado, nunca duvide disse... Eu te amo.
— Declaro olhando em seus olhos azuis intensos e me apaixono ainda mais
por ela.
— Eu também te amo e também vou fazer você feliz... Eu prometo!
— Você já me fez feliz, minha vida. Sou o homem mais feliz e
completo do universo. — Afirmo recebendo os seus carinhos no meu rosto.
— Eu preciso dar alguns telefonemas, preciso preparar o jantar mais
romântico do mundo para minha esposa... Vou pegar a melhor suíte de um
bom hotel pois precisamos comemorar. Sou o novo delegado de Detroit e
vou ser pai de gêmeos... Minha nossa... Caramba, eu estou muito feliz.
Muito feliz mesmo. — Ponho ela no chão mas não solto-a dos meus braços.
— Ainda falta um tempinho para eu sair, Otávio vai vir me ajudar a
fechar a floricultura então nos vemos em casa... Eu pretendia te contar sobre
a gravidez mais tarde e eu ia mesmo te sugerir que saíssemos para jantar,
mas você chegou tão feliz, tão empolgado que não resisti... Está mesmo
feliz com os bebês? — Seu tom carinhoso me fascina, seu sorrio radiante
me deixa bobo como sempre.
— Teremos uma das melhores noites das nossas vidas hoje, eu
prometo! E sim, estou muito feliz com os bebês, mas agora eu terei que
dobrar a sua segurança, não quero que nada aconteça com você e os bebês,
vamos ser pais, a mulher da minha vida vai me dar dois filhos. — Me
empolgo e ela sorrir abertamente.
— Sobre os dois filhos, a culpa é sua! Ninguém mandou ser gêmeo
então é óbvio que isso poderia acontecer... Mas estou feliz mesmo assim, já
estou amando os nossos bebês. Agora vai e me espere em casa! Eu vou
tentar chegar pronta para sairmos, vou me arrumar na casa da Lua e preciso
contar a novidade a ela. Eu quis que você fosse o primeiro a saber. — Seu
olhar transborda amor e paixão.
— Obrigado pela prioridade. Eu amei a notícia, agora terei três
vidas para cuidar e proteger... Eu te amo, minha ruivinha. Te vejo em casa e
por favor? Não demora muito, está bem? — Deixo o dinheiro das flores
sobre o caixa e ela me acompanha até a porta.
Nos despedimos com um beijo demorado e apaixonado, ela me leva
até o carro e eu entro no mesmo dando a partida, mas só saio quando a vejo
entrar de volta na loja, aceno para Alonso mais a diante olhando a
movimentação da área e saio em seguida.
Sigo para nossa casa numa felicidade tão grande, a minha mulher
está grávida, ela vai me dar dois filhos. Eu queria tanto ter o meu pai e
minha mãe aqui para ver a minha felicidade, mas meu pai morreu a anos e
minha mãe praticamente sumiu no mundo, ela me culpa pela morte Norman
no presídio, aquele lixo tentou estuprar a minha mulher, a agrediu e minha
mãe ainda o defendeu, mas ele teve o que merecia e morreu dois meses
depois que foi preso, na cadeia ele viveu tudo que tentou fazer com Atena e
com certeza já fez com outras mulheres também. Ele foi estuprado, apanhou
muito e teve a morte que tem todo e qualquer estuprador dentro daquele
lugar, mamãe culpa a mim e Tony pela morte dele mas não me importo, ela
não me importa mais por tramar e apoiar atos tão covardes como aquele.
Hoje sou um homem realizado, não me falta mais nada pois agora
está tudo perfeito. Me casei com a mulher da minha vida, fui promovido a
delegado e vou ser pai de gêmeos, será que são dois meninos como eu e
Tony? Ou pode ser duas meninas ruivinhas como a minha Atena, e se for a
cópia de cada um de nós vai ser perfeito.
Sorrio abertamente e quando dou por mim já estou no centro de
Detroit, penso em ir contar a novidade ao meu irmão mas freio bruscamente
ao me deparar com uma cena de crime a minha frente, são três corpos
estirados no mio da pista cobertos por lonas pretas, Tony e Gustavo estão ao
lado do inspetor Renato e eu encosto o carro, saio do mesmo e sigo até eles.
— O que está fazendo aqui, Théo? Não era para você estar em casa
com a sua esposa? Já está com saudades do trabalho, irmãozinho? — Tony
me encara surpreso enquanto analisa algumas evidências.
— Estava indo para casa preparar uma surpresa para minha mulher,
mas pensei em passar na sua casa para te dar uma notícia em primeira mão.
Então me deparei com isso aqui. O que houve? Assalto ou chacina? Três
corpo em ângulos diferentes, mas não há muitas cápsulas pelo chão. —
Comento enquanto ando pela cena do crime analisando a situação a olho nu.
— Exatamente, tudo indica que foi queima de arquivo, quem atirou
já sabia quem queriam mortos. Esse crime foi encomendado... Mas me diz?
Que notícia você tem para mim além da que eu já sei? — Ele se abaixa e
tira uma pinça do bolso, pegando um pedaço de lâmina perto de um dos
corpos.
— Eu vou ser pai. Atena está grávida de gêmeos. — Conto com um
sorriso largo e ele se levanta surpreso.
— Grávida...? Gêmeos...? Uau... Parabéns! A sua vida se tornará
mais agitada depois que os bebês nascerem... Fico feliz por ver vocês tão
felizes, meu irmão. A vida está sendo muito generosa com você pois você
merece isso... Como a sardenta mesmo diz, você é o nosso herói e eu
concordo com ela. — Ele me dá um sorriso tão sincero, tão amoroso.
Abro os braços para ele e o mesmo vem de bom grado, nos
abraçamos sorrindo abertamente mas ouvimos o som de um único disparo.
— Ali! O atirador está ali! Vamos homens! — Grita Renato
correndo enquanto me abaixo com Tony.
— Théo...
— Tony...
Caímos os dois cada um para um lado, vejo sangue escorrer da sua
boca mas também sinto um gosto estranho na minha, um gosto de ferrugem.
O ar dos meus pulmões parece evaporar, sinto que estou me sufocando mas
vejo Tony se engasgar com o próprio sangue. Estendemos as mãos um para
o outro e tento me arrastar até a ele. Meu irmão também se arrasta até a
mim e segura a minha mão com força.
— Atena... — Sussurramos juntos.
— Rápido! Chamem uma ambulância rápido! Droga! Théo?
Tony...? Mas que merda! — Vejo Renato se aproximar apavorado antes de
perder os sentidos.
Meu coração se aperta, sinto uma angústia tão grande dentro de
mim, uma sensação tão estranha que me arrepia dos pés à cabeça. Entrego
Joaquim a Lua e corro para o banheiro, mal tenho tempo de levantar a
tampa da privada e ponho o meu lanche da tarde para fora.
— Otávio! Amor, rápido! Ajuda! Tena está passando mal. — Ouço
os gritos desesperados de Lua e não demora muito sinto alguém segurar os
meus cabelos.
— Relaxa, vai ficar tudo bem... Eu já vi muito isso antes. — Otávio
me ajuda a levantar e me leva até a pia.
Estou suando frio, meu peito ainda dói, meu coração parece mais
apertado que antes. Lavo a boca e tento sair do banheiro mas estou zonza.
— Você está muito pálida, o que está acontecendo com você? —
Questiona Otávio me pegando no colo e me leva até a sua cama.
— Estou com um aperto no peito, uma sensação ruim... Eu preciso
ligar para o meu marido, preciso saber se ele está bem. — Levanto-me
lentamente e me sento na cama.
— Ele está bem, amiga, você não disse que ele foi direto para casa?
Então ele já deve estar esperando por você. — Lua põe o bebê no berço e se
senta ao meu lado.
— Você tem razão, ele não voltou para delegacia, ele foi direto para
casa... Não vou me arrumar agora, vou fazer isso em casa e com calma para
não sair daqui correndo... Eu preciso ir, Lua, nos vemos amanhã. — Lhe
dou um beijo no rosto e vou até o berço acariciar o rostinho do meu
afilhado.
— Tem certeza que você está mesmo bem? Não prefere que eu ligue
para o Théo vir te buscar? — Otávio sugere ainda preocupado.
— Não, não precisa ligar, eu prefiro ir com Alonso, não quero
preocupar o meu marido à toa, você sabe que enjôos são normais na
gravidez. — Contesto sorrindo e toco a minha barriga.
— E os seus enjôos podem ser ainda mais intensos já que está
grávida de gêmeos... Caramba, ainda estou surpreso mesmo sabendo que
isso já era o esperando, afinal o seu marido tem um irmão gêmeo... Bom,
você quer que eu te acompanhe até em casa? — Insiste Otávio.
— Não precisa, meu amigo, fica com a sua mulher e seu filho, eles
também precisam de você. Eu vou ficar bem, se eu não melhorar eu janto
em casa mesmo com o meu marido, podemos deixar para comemorar outro
dia... Bom, eu vou indo, se precisarem de mim ou de Théo, é só nos ligar.
— Dou um beijo em cada um deles e meu amigo me acompanha até a porta.
Pego a minha bolsa no sofá e saio da casa deles seguindo até o carro
de Alonso parado mais a diante, aviso que já podemos ir e entramos no
carro mas ele acelera e corre mais que o normal.
— Está tudo bem, Alonso? Porque está correndo tanto? —
Questiono confusa.
— Me desculpe, Sra. Atena, mas o inspetor acabou de me ligar
pedindo para que eu a levasse para o hospital. Houve uma ocorrência no
centro de Detroit bem perto da casa do Sr. Tony...
— Meu Deus, o Tony está bem? Aconteceu alguma coisa com ele?
— Pergunto preocupada.
— Infelizmente sim, o Sr. Tony foi baleado mas ele não estava
sozinho... O Sr. Théo estava com ele e ambos estão hospitalizados em
estado grave. — Revela de uma vez fazendo tudo girar a minha volta.
Respiro fundo desejando com toda a minha alma não ter ouvido
isso.
— Alonso... Eu estou grávida e estou abeira de um ataque
cardíaco... Por favor...? Acho que não ouvi bem o que você disse... Onde
está o meu marido? — Pergunto me deitando no banco do carro me
sentindo zonza.
— Minha nossa senhora! Sra. Atena? Puta merda...! — Vejo tudo
girar e ouço a sua voz bem distante.
Rapidamente não vejo e não ouço mais nada. Com toda certeza
houve um engano, ele não quis dizer isso, não pode, Théo e Tony estão bem
eu sei disso.
Acordo mais uma vez em um quarto de hospital, ligada ao soro e
Luana ao meu lado toda chorosa, isso não pode estar acontecendo, isso é
uma piada. O que eu estou fazendo aqui?
— Lua...? O que aconteceu? Como eu vim parar aqui? Cadê o
Théo? Porque o meu marido não está aqui? — Pergunto confusa mas ela
apenas chora.
Imagens de Alonso correndo com o carro invade a minha mente, a
sua voz ecoa na minha cabeça dizendo que Théo e Tony estão feridos
gravemente. Sento-me abruptamente e me sinto zonza. Me deito
novamente.
— Não... Não... Luana...? Por tudo que há de mais sagrado...? Me
diz que eles estão bem? Me diz? Por favor...? Eu vou morrer se acontecer
alguma coisa com o meu marido... Eu vou morrer, Luana... Eu vou morrer
sem ele então me diz...? Ele está bem? Théo está bem? — Pergunto
ofegante com lágrimas descendo pelo meu rosto insistentemente.
— Eles estão vivos, estão lutando pela vida, minha amiga. Eles
foram vítimas de um atirador escondido na cena do crime, outros policiais
também foram feridos, mas estão vivos. — Ela tenta me confortar.
— Como aconteceu? O que eles estavam fazendo? Onde eles
estavam? — Questiono em choque.
— Eles estavam em uma cena de crime, disseram que eles estavam
abraçados... Um único tiro atravessou os dois, meu Deus... Mas eles são
fortes, eles vão sair dessa, Atena! Eu sei que vão... Eles saíram da cirurgia a
uma hora e foram levados para UTI. — Otávio ampara Luana em seus
braços e meu marido não está aqui para fazer o mesmo comigo.
Choro compulsivamente, isso não pode estar acontecendo, ele
estava indo para casa, porque ele estava nessa cena de crime? Como Tony
não viu que esse atirador estava por perto?
Levanto-me com calma me sentindo enjoada, meu estômago está
dando voltas mas eu preciso ser forte.
— Quero ver o meu marido! Eu preciso ver o meu marido ou vou
enfartar. — Saio da cama tentando tirar o acesso do meu braço, mas Lua
não deixa.
— Fica calma, Atena! Você não pode tirar isso assim, eu vou
chamar a enfermeira mas você precisa ser paciente, eles não vão te deixar
entrar na UTI nervosa desse jeito. — Repreende-me tentando me fazer
deitar novamente e eu tento me manter calma.
— Chama uma enfermeira, Otávio! Pede para tirarem isso de mim
ou eu saio arrastando esse soro comigo, mas eu vou ver o meu marido! —
Me sento respirando fundo, tentando não desmaiar de novo.
Otávio sai apressado mas logo volta com uma enfermeira ao seu
lado, ela tenta me dar um remédio mas eu não deixo, sei que é um calmante
e ninguém vai me colocar para dormir.
— Eu estou grávida! Só vou conseguir me acalmar se você me levar
para ver o meu marido, se você não me ajudar e eu perder os meus bebês,
eu juro que processo esse hospital! Eu processo você! Eu só estou pedindo
para vê-lo! — Peço ainda mais nervosa e a mulher parece apreensiva.
— Está bem, senhora! Eu vou te levar para ver o seu marido, mas
antes você precisa se higienizar, eles estão em uma sala esterilizada e
precisamos evitar bactérias entre outras possíveis infecções. — Explica
tirando o acesso do meu braço e eu concordo.
Tento fazer tudo que ela pede para conseguir me acalmar e poder ver
o meu marido. Fomos até a sala de esterilização e ponho uma roupa
especial, máscara e touca, luvas e tudo mais, ela me leva até a UTI e pelo
vidro posso ver os dois, cada um em uma cama mas na mesma UTI. Choro
de soluçar pondo a mão em meu ventre, tento não desabar ao ver o meu
amor e o irmão dele, ambos em uma cama de hospital ligados a aparelhos.
Entro com a enfermeira ao meu lado e vou até um deles tocando a
sua pulseira, é o Tony na cama da direita e toco o seu rosto antes de correr
até o outro lado vendo a pulseira do Théo.
— Meu amor...? Minha vida...? Jamais me imaginei vindo ver você
aqui em um hospital... Melhor logo pelo amor de Deus...? Eu preciso de
você, não posso criar os nossos filhos sem você aqui... Por favor...? Eu não
vou resistir se eu perder você então luta por mim mais uma vez...? Théo...
Meu amor, minha vida... Sai logo desse hospital e volte para nós...? Por
favor...? Eu estou implorando...? — Suplico em um tom trêmulo e choro
segurando a sua mão.
Vejo ele abrir os olhos meio grogue pela anestesia, ele tenta sorrir
para mim e isso acaba comigo, choro ainda mais.
— Não chore...? Amor... Eu vou ficar bem... Você me ama...? —
Sua voz sai em um sussurro.
— Te amo mais que a mim mesma... Você é a minha vida, Théo...?
Eu e os nossos filhos precisamos de você, entende isso? Você promete que
vai melhorar logo? — Toco o seu rosto e tento sorrir como ele gosta de me
ver.
— Eu prometo que vou estar sempre com você, não importa como...
Você não vai se livrar de mim tão cedo... Eu te amo... Amo os nossos...
Bebês... — Ele sorrir mas vejo uma lágrima descer dos seus olhos. Isso me
quebra por dentro.
— Nós seremos os melhores pais do mundo, então melhora logo?
Eu preciso muito de você... Não consigo mais viver sem você, Théo, você
está me ouvindo? Amor? Eu não sei mais viver sem você, então por favor?
Não me deixa, está bem? — Peço esperançosa de que ele atenda ao meu
pedido mas ele apenas suspira fundo de olhos fechados.
— O paciente está cansado, ele não pode falar muito e já falou mais
que o necessário. — Me alertar a enfermeira.
Apenas concordo e beijo demoradamente a mão do meu marido, tiro
a minha máscara brevemente e beijo os seus lábios esbranquiçados. Afasto-
me dele contra a minha vontade, vou até Tony e assim com o irmão, ele está
pálido, parece dormir serenamente e eu toco o seu rosto. Ele abre os olhos
me olhando fixamente e também vejo uma lágrima descer pelo seu rosto.
Pego a sua mão carinhosamente e o vejo me dar um pequeno sorriso.
— Você sabe que eu te amo... Não sabe? — Pergunta olhando nos
meus olhos.
— Sempre desconfie... Mas não vamos falar disso agora, lute para
sair logo daqui, está bem? Eu não vou te perdoar se você me deixar, isso é
uma promessa... Melhora logo e tire o seu irmão daqui, por favor...? Você
vai ser tio. — Tento controlar as minhas lágrimas mas a dor que estou
sentindo é imensa.
— Ele me contou... Estou feliz por vocês, de verdade... Você precisa
descansar, está pálida... — Seu tom é cansado.
Encaro a enfermeira e ela faz sinal apontando para o relógio. Sei que
ela quer que eu saia. Apenas balanço a cabeça concordando.
— Melhora logo! Não vou sair desse hospital sem vocês, eu fui
clara? Não me deixa esperar muito. — Acaricio o seu rosto e beijo a sua
mão.
Encaro os seus olhos lacrimejados cortando o meu coração, tiro a
minha máscara brevemente e beijo os seus lábios de leve, ele sorrir e solta
um suspiro pesado, sei que ele precisava disso.
Me despeço dos dois e saio afirmando que não vou sair daqui sem
eles. Vejo Lua no corredor andando de um lado para o outro.
— Luana!
Corro para os seus braços e choro compulsivamente, choro de medo
de perdê-los, não posso perder nenhum deles, não posso. Já faz tempo que
desconfiava do amor de Tony por mim, ele me olha exatamente como meu
marido me olha, sei o quanto devo ser importante para ele e não lhe desejo
esse fim, não quero que ele e muito menos Théo morram, pois um não
saberá viver sem o outro, eles são muito ligados, são como unha e carne e
eu também não quero perder nenhum deles. Não posso.
— Fica calma, por favor? Você está grávida e está nervosa demais...
Aceita tomar um calmante só para ficar mais tranquila? Eu sei o quanto está
sendo difícil para você, minha irmã, mas aguenta firme pois vai dar tudo
certo. — Ela me aperta em seus braços e eu recebo os seus carinhos de bom
grado.
Mesmo chorando junto comigo ela me leva de volta para o meu
quarto e me ajuda a me acomodar na cama novamente, Otávio chama a
enfermeira e ela me põe no novamente no soro, e junto injeta um calmante
para eu estar mais tranquila quando eles saírem da UTI, e eu espero que eles
saiam logo de lá.
DIA SEGUINTE...

Ando pelos corredores tentando me acalmar, estou desde ontem sem


dormir e preocupada com o meu marido e meu cunhado, os vi hoje pela
manhã depois de muito insistir, nem um e nem o outro melhoram, estão na
mesma mas os ferimentos de Théo foi pior, a bala acertou nele primeiro
antes de atravessar Tony, o tiro pegou nas costas de um e entrou no peito do
outro, passou muito perto do coração, não acertou nenhum órgão vital mas
eles perderam muito sangue, o organismo de Théo está rejeitando a
transfusão e eu estou apavorada, estou em choque de tanto medo de perder
o pai dos meus filhos.
Agora a tarde é que eles começaram a reagir um pouco, tentei doar o
meu sangue para eles mas não posso por estar grávida, Lua está
amamentando e se recuperando do resguardo, meus tios Sônia e Adalberto
assim como Otávio fizeram a doação de sangue, só por isso eles começaram
a reagir.
Lua esteve aqui comigo ontem a noite inteira mas teve que ir
embora para não deixar o seu filho muito sozinho sem ela, já recebi também
a sua visita hoje mas Joaquim está muito manhoso sem os pais em casa, eles
estão se revezando para ficarem aqui comigo e agora estou esperando
Otávio vir me fazer companhia.
— Vamos, rápido! Um deles está piorando, ele teve uma parada
cardíaca. — Um médico passa por mim correndo e os enfermeiros correndo
atrás.
Minhas pernas amolecem e começo a suar frio, não pode ser um
deles. Fico atenta para ver onde eles vão entrar e sinto o meu mundo
desabar, quando os vejo entrar na UTI dos irmãos.
— Meu Deus, tenha misericórdia...? Por favor salve-os? Por tudo
que a de mais sagrado...? Salve-os? — Apoio-me na parede para não cair, as
minhas lágrimas já estão descendo livremente.
— NÃO...! NÃO...! MEU IRMÃO... MEU IRMÃO...! — Ouço os
gritos de um deles e caio de joelhos no chão.
O ar me falta, me sinto zonza mas tento não desmaiar. Ofego mas
puxo a respiração com força, ouço os gritos angustiantes de um deles
pedindo socorro, pedindo para salvarem o irmão mas ele não diz o nome.
— Meu Deus... Meu Deus... Meu Deus me ajuda...? Me ajuda...? —
Imploro me arrastando pelo chão do corredor.
— Senhora...? Senhora? Você está bem? O que você tem? —
Pergunta uma enfermeira me abraçando para me erguer do chão.
— Os gêmeos da UTI...? O que aconteceu? — Pergunto quase sem
voz.
— Infelizmente perdemos um deles, o que se chama Théo...
— NÃO! MEU MARIDO...! MEU MARIDO! THÉO...?
THÉEEEEO...? Eu quero ver o meu marido? Eu preciso ver o meu
marido... Pelo amor de Deus me deixa ver o meu marido...? — Grito e
choro, tento me soltar dela mas a mulher me segura.
— Se acalma por favor? Você não pode entrar lá...
— Atena...? Meu amor? — Ele sai da UTI se apoiando na parede de
vidro. Meu coração dispara.
— Théo...? Théo! Meu amor você está vivo... Você está vivo! — Me
solto da enfermeira e corro até ele, toco a sua pulseira e é ele mesmo.
— Eu não vou deixar você, meu amor. Eu prometi não deixar você...
— Ele chora de soluçar me agarrando em um abraço tão apertado.
Ele desaba me levando junto, chorando tanto quanto eu pois
acabamos de perder o Tony, estamos destruídos por dentro e ele ainda mais,
perdeu alguém que tem o seu sangue, a única pessoa que sempre esteve ao
seu lado desde que nasceu, meu Deus, eu não terei mais os dois sorrindo na
minha frente, não poderei abraçá-lo mais, não poderei brigar com ele por
me chamar de sardenta, não vou perdoa-lo por me deixar, eu prometi isso a
ele, mas não sei se poderei cumprir, não posso odiá-lo, não tem como amar
um sem amar o outro.
— Tony... Meu Deus... Perdemos o Tony... Porque? Porque...? —
Choro agarrada ao meu marido que parece desfalecer em cima de mim.
— Peguem ele! Levem-no de volta para o seu leito, ele está muito
fraco, não podemos perdê-lo também. — Pede um dos médico ajudando um
enfermeiro a tirar Théo do chão.
A enfermeira que estava ao meu lado me ergue com a ajuda de
outra, elas me levam para longe dali mas eu só sei chorar.
— Porque você disse que era o meu marido quem havia morrido?
Eu vi a pulseira no braço dele, o meu marido está vivo! Ele está vivo! —
Questiono em meio a soluços e ela me encara confusa.
— Eu devo ter feito confusão, senhora, eles são idênticos e eu não vi
direito o nome na prancheta, é isso. Peço que me perdoe pelo susto que lhe
dei, não foi a minha intensão. — Ela me leva de volta para sala de espera e
vejo Otávio entrar nesse mesmo instante.
— Atena? O que aconteceu? — Ele me tira dos braços das
enfermeiras e me aperta contra o seu peito. Choro ainda mais.
— O Tony... Tony não resistiu... Ele está morto, Otávio... O meu
cunhado está morto. — Desabo em lágrimas mais uma vez e ele me ampara.
Choro o quanto aguento mesmo com Otávio pedindo para eu me
acalmar, não consigo, não posso aceitar que Tony se foi, se tivesse sido o
Théo eu morreria junto com ele, não quero perder os meus filhos, estou
pedindo a Deus para me acalmar internamente pois estou um caco.
Penso em ligar para Lua mas não quero ela ainda mais preocupada
comigo, ela está amamentando e vou me odiar se o seu leite secar por se
preocupar comigo, então tento me agarrar a essa chance que a vida está me
dando de ainda poder rezar pelo meu marido, ele ainda está lutando por nós
e sei que a nossa história não termina aqui.

HORAS MAIS TARDE...

Estou sentada ainda angustiada e com uma imensa dor no peito,


ainda não acredito que o Tony se foi, um homem tão lindo, jovem morrer
assim.
— Por favor, a Sra. Carlson? — Uma enfermeira entra na sala de
espera e eu me levanto abruptamente.
— Sou eu! O que aconteceu com o meu marido? Ele está bem? Ele
piorou? — Sigo até ela já entrando em desespero.
— Se acalme, senhora! Ele está bem, só está muito agitado
chamando muito pela senhora, os médicos conversaram e concordaram em
deixar a senhora passar uns minutos com ele, talvez assim ele se acalme. —
Explica calmamente e eu suspiro aliviada.
— Está bem, então vamos, por favor...? Otávio! Se quiser ir em casa
ver a sua mulher e seu filho...
— Não! Eu vou ficar, eles estão bem, meus sogros estão com eles
então eu fico com você... Vá tranquila! Eu vou até a cantina e depois te
espero aqui. — Ele me interrompe decidido e eu agradeço por isso, não vou
conseguir passar por essa situação sozinha.
Apenas concordo e saio apressada com a enfermeira, me troco mais
uma vez antes de entrar na mesma UTI mas agora só tem uma cama, a cama
do meu marido. Já entro chorando mas tento me conter.
— Meu amor...? Eu sinto muito, eu não queria te ver nessa situação,
não desejo nunca uma dor como essa nem para o meu pior inimigo... Como
está a sua saúde agora? O que os médicos disseram? Já está fora de perigo?
— Converso com ele tentando a todo custo não chorar tanto.
Ele toca o meu rosto limpando as minhas lágrimas, ele me puxa para
um abraço tão sentido que me dói. Eu sei muito bem como é perder alguém
carne da nossa carne, sei a dor que é perder alguém que amamos com toda a
nossa alma.
— Eu só preciso de você pertinho de mim. Só você é capaz de me
acalmar... Ele se foi, o meu irmão se foi, Atena... Meu Deus... Eu não o terei
mais aqui. — Ele chora agarrado a mim. Eu preciso ser forte por nós dois
agora.
— Vai ficar tudo bem, meu amor. Apesar da imensa saudade que
vamos sentir dele, sei que ele estará entre nós nos nossos corações. Vai ser
difícil no começo, mas vamos passar por isso juntos pois eu sempre estarei
contigo. — Minhas lágrimas ainda descem mas tento sorrir como ele gosta.
Seus dedos acariciam o meu rosto e ele me beija docemente, me
beija com doçura mas volta a chorar.
— Eu te amo... Eu te amo tanto, Atena... Te amo minha esposa...
Vamos tentar superar tudo isso construindo a nossa família, e eu vou estar
ao seu lado até o fim da minha vida, eu prometi e vou cumprir. — Ele desce
a sua mão até a minha barriga e acaricia de olhos fechados.
— Eu não tenho dúvidas de que estará para sempre comigo, eu
tenho certeza mas melhora logo para irmos para casa? Você está me
devendo um jantar, se lembra? Para comemorarmos a sua promoção e a
notícia dos bebês... Eu não abro mão desse jantar então tenta se acalmar
para você sair logo daqui, está bem? — Pego a sua mão e beijo
demoradamente, ele me dá um breve sorriso mesmo ainda chorando a morte
do irmão.
— Me responde uma pergunta? Eu tinha certeza de que meu irmão
amava você, ele deixou isso bem claro para mim... Mas e você? Você o
amava também? Sentia algo mais por ele além de carinho? Eu não vou me
magoar com você seja lá qual for a sua resposta... Eu só preciso saber pois
ele se foi te amando. — A sua pergunta me deixa tensa, tento soltar a sua
mão mas ele não deixa.
— Théo... Amor, porque está me perguntando isso agora?
— Por favor? Apenas me responde? Ele ainda está aqui entre nós,
eu sinto isso então diga? Ele vai te ouvir. — Seus olhos parecem diferentes
ao falar do irmão, não sei como responder a sua pergunta mas eu não posso
mentir.
— Se eu disser sim, você vai me perdoar...? Vocês dois lutaram por
mim, vocês dois me ajudaram com a operação, vocês dois me aceitaram
cega como eu era antes, vocês dois me amam então como não amar vocês
dois? Mas eu escolhi você, minha vida... Eu te amo Théo... Me perdoa? —
Deixo as minhas emoções voltarem a aflorar e mais uma vez ele toca o meu
rosto.
— Não tenho nada do que te perdoar... Pelo menos ele vai saber que
o amor dele não foi em vão, pois também teve o amor da mulher mais linda
do mundo... Você é especial, você é maravilhosa, você é a minha força,
sardenta... Não era assim que ele te chamava? — Suas palavras me
encantam, mas me estremeço quando ele me chama de sardenta.
— Sim, era assim que ele me chamava, e eu adorava mas fazia
questão de brigar com ele por isso. — Sorrio ao me lembrar dele, mas volto
a chorar por saber que ele não vai mais estar aqui. — Tenta descansar um
pouco? Você precisar ir logo para o quarto particular, assim eu vou poder
passar mais tempo com você, está bem? — Beijo os seus lábios levemente
acariciando a sua barba bem aparada.
— Vá para casa descansar um pouco, você parece muito abatida...
Por favor? Não quero que perca os nossos filhos, então vá descansar...? Eu
prometo que vou estar aqui quando você voltar. — Ele beija a minha mão
mas me apavoro só de pensar em ir embora e deixá-lo aqui.
— Não! Eu não vou sair daqui sem você, tenho medo de me ligarem
para darem uma má notícia, ou de chegar aqui e descobrir que você me
deixou. — Contesto angustiada e ele beija a minha mão mais uma vez.
— Está bem, tudo bem, não precisa ir... Mas tenta descansar um
pouco, você está muito pálida... Está se alimentando direitinho...? Meu
amor...? — Ele limpa o rosto preocupado comigo.
— Eu vou descansar, na sala de espera tem umas poltronas mais
confortáveis e eu vou ficar bem nelas... Não se preocupe comigo, se
preocupe apenas em se recuperar logo. — Toco o seu rosto como estou
acostumada a fazer, ele beija os meus dedos quando toco os seus lábios.
Converso um pouco mais com ele e pergunto se ele quer que eu
avise a mãe dele sobre o que houve, ele diz que não, ele e o irmão já não a
viam mais como mãe depois do que ela aprontou. Também pergunto sobre o
sepultamento de Tony e ele pede para eu chamar o inspetor Renato, ele vai
cuidar de tudo para eu não precisar passar por essa situação, apenas no
enterro nós vamos e ele faz questão de ir comigo, só espero que ele esteja
bem o suficiente para isso, não quero correr o risco dele piorar.
Deixo ele descansar um pouco e volto para junto de Otávio, estou
um pouco mais calma mas ainda tentando acreditar que Tony se foi, é
surreal, é inacreditável.

UMAS SEMANA DEPOIS...

O sepultamento de Tony demorou para acontecer pois Théo quis


estar bem para se despedir do irmão, e o delegado Camilo consegui que
atrasassem o sepultamento justamente para dar a chance de um irmão se
despedir do outro. Os médicos tentaram impedir a sua saída pois ele ainda
não está bem o suficiente para sair do hospital, mas ele ameaçou fugir e não
tivemos como impedir. Uma enfermeira veio com ele para se certificar de
que ele não se levante da cadeira de rodas para não se cansar, e ele está
sendo bem obediente, graças a Deus.
Conseguimos nos despedirmos de Tony, todos muito emocionados,
principalmente meu marido que era tão ligado ao irmão, eles tinham uma
conexão só deles, eram confidentes um do outro, melhores amigos. Os
oficiais da corporação estão todos presente e fizeram uma linda homenagem
a ele, mas me assustei quando eles dedicaram a homenagem a Théo, eles se
confundiram pois os dois foram baleados e assim como a enfermeira, eles
também pensam que foi Théo quem morreu.
— A culpa foi dessa mulher! Ela entrou na vida dos meus filhos
trazendo essa desgraça! Essa maldita cega! — Assusto-me com a voz
irritada da minha sogra se aproximando.
Suspiro frustrada, Théo me abraça me prendendo ao seu corpo
pedindo para eu não dar ouvidos ao que ela diz.
— Não tiveram nem a decência de me avisarem que o meu filho
morreu, precisei ficar sabendo por terceiros... Você é culpada, você tirou os
meus filhos de mim! — Esbraveja estérica.
— Cala a boca, mamãe! Ninguém tirou ninguém de você! Você
nunca foi uma mãe amorosa, nunca nos apoiou em nada e está culpando
Atena por nos dar a felicidade que você nunca nos deu! — Théo se altera e
eu temo que ele passe mal pois ainda está se recuperando de um tiro no
peito. — Tony não te via mais como mãe e eu também não! Você não tem o
que fazer aqui, mas se quiser se despedir dele, faça isso sem ofender a
minha esposa!
Ele tenta se levantar da cadeira de rodas mas eu não deixo.
— Se acalme, meu amor! Não é bom você se alterar assim. —
Seguro firme a sua mão mas não tiro a minha atenção da minha sogra.
— Me deixem chorar pelo meu filho, eu quero ver o meu filho! Eu
tenho direitos! — Ela chora debruçada no caixão, fazendo uma cena terrível
pois não sei se ela realmente ama os filho, pelo menos não sabe demonstrar.
Eles abrem o caixão para que ela se despeça do filho e vejo
realmente o quanto ela chora, ela também fica na dúvida sobre quem está
ali, morto sem vida e isso me deixa mal, ela não sabe se chama por Théo ou
por Tony. Choro em silêncio pondo a mão na minha barriga, eu vou ter dois
filhos e não sei se quero essa mulher perto deles, não sei se ela é realmente
capaz de mudar.
Théo beija a minha mão e pergunta se eu estou bem, apenas afirmo
que sim enquanto todos dão o seu último a Deus a Tony Carlson. Não tem
como não me sentir mal, não tem como não sentir a morte dele, vou sentir
muito a sua falta, está me doendo muito vê-lo sendo sepultado nos dando a
certeza de que nunca mais o veremos, ele não vai mais estar entre nós, não
queria perdê-lo, porque tinha que ser assim?
Jogo flores brancas sobre o seu caixão me lembrando de quando nos
conhecemos, eu o beijei sem saber que ele não era o Théo, depois daquele
episódio quase nos beijamos outros duas vezes mas ele sempre se lembrava
das palavras de Théo, de que não perdoaria outro beijo entre nós. Me sinto
zonza, sinto que posso desmaiar mas Otávio me abraça me tirando dali,
choro compulsivamente desejando que tudo isso seja apenas um pesadelo,
mas não é pois não acaba nunca.
— Fica calma, Tena! Você não pode ficar nervosa desse jeito, pensa
nos seus filhos, minha amiga? — Otávio me consola me pondo sentada ao
lado de Lua.
Eu até tento, mas não consigo, sinto uma dor inexplicável pois eu
também o amava, eu amava Tony e só me dei conta quando o vi naquela
cama de hospital, a sua presença sempre mexeu muito comigo assim como
Théo, mas nunca me dei conta do que sentia por ele até perceber que podia
perdê-lo, mas eu amo o meu marido, ele é tudo para mim e se fosse ele ali
sendo sepultado, eu morreria junto com ele, o meu amor por ele é maior que
tudo.
Assusto-me quando aquela mulher se aproxima e para na minha
frente, mas Lua se levanta no mesmo instante.
— Pense duas vezes antes de ofender a minha irmã, ela pode te
respeitar por você ser a mãe do marido dela, mas você não me conhece e
não sabe do que sou capaz para defendê-la. Atena está sofrendo muito mais
do que você então passa daqui! Quer chorar e se lamentar, faço isso longe
dela! — Dispara em um tom firme mas não me surpreendo.
Quando eu era cega Lua lutava por mim feito uma leoa e sei que
isso não vai mudar. Dona Leah me encara nos olhos e encara Théo, mas ele
vira o resto. Ela sai em seguida e eu respiro mais aliviada, me levanto
abraçando Lua e nos aproximamos do meu marido, mas ele pede um minuto
a sós ali, vendo o caixão sendo sepultado.
Saio com os meus amigos e alguns oficiais amigos deles, todos me
prestando as condolências pelo meu cunhado e já estou me acostumando
com alguns confundindo Théo e Tony, eu mesma já fiz muito isso mas eles
já deviam estar acostumados, mas se até a mãe deles ficou confusa sem ter
certeza de qual filho estava enterrando, então vou ver isso como algo
normal.
Théo está mesmo muito abalado, o admiro de longe chorando
sozinho pelo irmão e conversando com ele, meu marido está sofrendo tanto
que parece realmente outra pessoa, seus olhos abatidos e tristes, seu rosto
ainda pálido e totalmente desanimado, o que tem distraído ele bastante é
falar dos bebês, ele sempre chora quando acaricia a minha barriga dizendo
que bom que os nossos filhos vão ter um ao outro, assim como ele sempre
teve o irmão ao seu lado, mas agora só terá a mim e os nossos filhos como
sua família.
UM MÊS DEPOIS...

Acordo com ela andando pelo quarto agitada, terminando de se


arrumar, tem sido uma tortura dormir ao lado dela todos os dias e não poder
tocá-la como sempre sonhei, quando ela se troca na minha frente eu fico
duro apenas em admirá-la mas não quero que as coisas aconteçam assim,
ela vai me odiar quando descobrir a verdade, não consigo tocar nela me
passando pelo meu irmão e tenho lhe dado a mesma desculpa de que ainda
mal, não sei o porquê aceitei fazer essa loucura pois ela vai acabar
descobrindo, Théo teve medo de que ela sofresse um aborto pois com
certeza ela ficaria ainda mais transtornada se fosse ele sendo enterrado
naquele dia.
Meu Deus, ainda é difícil acreditar que ele se foi, que me deixou
com uma grande responsabilidade nas costas, cuidar da sua mulher e seus
filhos, a mulher que eu também amo.
— Porque está me olhando assim? Dormiu bem? — Ela para em
frente a cama e eu me sento esfregando os olhos.
— Sim, eu dormi bem, e você? Onde vai tão cedo? — Admiro-a de
cima abaixo, ela está linda como de costume.
— Estou indo para floricultura, hoje vou mais cedo mas você pode
ir me ver se quiser, eu vou adorar receber a visita do meu marido, ou você
pode ir me buscar para almoçarmos fora. Paramos as nossas vidas depois do
que aconteceu mas precisamos voltar ao normal, ele não iria gostar de nos
ver assim, o que me diz? — Ela vem até a mim e me dá um beijo de bom
dia e se senta no meu colo.
— Acho uma excelente ideia, mas e se eu resolver cozinha para
você? O que me diz? — Deito ela na cama pondo-me sobre ela, louco para
fazer amor com ela.
— Você cozinhando para mim? Uau! Adorei a ideia, você nunca
cozinhou para mim antes.
— Estou tentando voltar com a nossa vida ao normal como você
sugeriu, mesmo que seja um processo lento, mas eu quero mimar a minha
esposa, eu posso? — Encaro esses lábios tentadores e não resisto em beijá-
los mais ardentemente.
— Eu vou adorar ser mimada como antes, mas agora eu preciso ir,
não quero me atrasar. — Ela se solta de mim sorrindo e eu dou graças a
Deus por isso, não sei até quando vou resistir.
Não quero e não posso continuar com isso por mais que eu tenha
prometido ao meu irmão, mas eu não quero fazer amor com ela como Théo,
quero viver isso como eu mesmo.
— O que você vai preparar de gostoso para nós? Me surpreenda,
meu amor? — Ela arruma a sua roupa na frente do espelho e eu me levanto.
— Estava pensando em um risoto. Que tal um risoto de camarão? —
Abraço ela por trás mas ela se solta de mim olhando confusa.
— Risoto de camarão...? Mas amor... Eu sou alérgica a frutos do
mar, você se esqueceu? — Vejo-a ainda mais confusa e desconfiada.
Merda! Porque ele não contou que ela é alérgica a frutos do mar?
Coço a cabeça sem jeito forçando um sorriso.
— Me desculpa, vida? Não sei onde estou com a cabeça, eu
realmente me esqueci disso. — Trago-a para os meus braços e ela envolve
os seus braços no meu pescoço.
— Tudo bem, não se preocupe... Mas porque você não prepara o
prato que nós comemos no nosso segundo encontro? Foi maravilhoso, você
se lembra? Eu estava com medo de me sujar e fazer bagunça por não
conseguir enxergar. — Sugere atenta, ela está desconfiando, a semanas ela
está estranhando o meu comportamento.
— A minha cabeça ainda não está muito boa, sardenta, já faz tanto
tempo que acabei me esquecendo.
Ela se afasta de mim confusa, ofegante e muito desconfiada, merda!
Eu sabia que não ia dar certo e estou surpreso por ter conseguido fazer isso
por um mês.
— Oh meu Deus... Não... Não pode ser... A um mês você está me
evitando como sua mulher, e meu marido jamais me evitaria, você se
esqueceu que sou alérgica a frutos do mar porque você não sabia disso, por
várias vezes você me chamou de sardenta como fez agora, e só o Tony me
chama assim... Você não é o Théo... Meu Deus você não é o Théo... O que
nós comemos no nosso segundo encontro? Me responde, por favor? — Ela
se desespera me deixando aflito, mas sussurra as últimas palavras.
— Não posso te responder... Pois eu não sou o seu marido... Não sou
o Théo, Atena...
— Não... Não... Tony... Théo! THÉEEEO! Meu Deus... Oh meu
Deus... Eu enterrei o meu marido sem saber... Porque você fez isso, Tony?
Porque? — Ela entra em pânico partindo o meu coração ao meio. Me
deixando ainda mais destruído.
— Ele me fez prometer! Meu irmão morreu nos meus braços depois
de me fazer prometer que ocuparia o lugar dele. Ele teve medo de que você
não resistisse, de que abortasse os filhos dele... Por favor me perdoa?
Atena! — Ela corre pelo quarto desnorteada e eu tentando me explica.
Abraço o seu corpo por trás mas ela desmaia nos meus braços me
deixando apavorado.
— Atena? Atena, fala comigo? Meu Deus me ajude? O que ela tem?
Atena? Eu não tive culpa. — Pego ela no colo e ponho ela na cama.
Corro até a porta do quarto e grito por Cícera, ela foi a única que
notou de cara que eu não era o Théo, mas fiz ela prometer não contar nada,
eu mesmo queria fazer isso mas não pensei que ela fosse descobrir assim.
Cícera aparece preocupada e corre até o banheiro, ela pega álcool e algodão
no banheiro e volta até a cama passando no nariz dela, mas Atena não
reage, estou com medo dela perder os bebes, ela ficou muito atordoada e
não era assim que eu queria contar a ela. Merda!
Cícera tenta novamente e ela desperta esfregando os olhos, olhando
de um lado para o outro como se procurasse por alguém, ela para os seus
olhos em mim e se senta abruptamente me agarrando em um abraço
desesperado voltando a chorar compulsivamente.
— Me perdoa? Ele me fez fazer isso por medo... Por favor,
sardenta...? Me perdoa? Eu não queria te ver assim... Por favor não desmaia
de novo? Isso me deixa em pânico. — Tento me soltar mas ela não deixa,
apenas chora agarrada a mim chamando por Théo.
Seu choro é tão sentido agora quanto antes, ela está sofrendo igual
ou mais que antes e eu estou me sentindo um filho da mãe por ser o culpado
por isso. Era para ser eu e não ele. Choramos juntos mas aos poucos ela vai
se acalmando e se deita novamente.
— Quem teve a ideia...? Quando vocês decidiram isso? Como
trocaram as pulseiras para me enganar? — Pergunta visivelmente abalada.
— A intensão não era te enganar, e sim te poupar de algo que tanto
ele quanto eu nos culparíamos nessa vida e na outra... Fizemos isso com a
melhor das intensões pois te amamos... Me perdoa? — Conto com uma
profunda dor no peito por vê-la chorar dessa maneira.
Ela estava se recuperando dessa terrível dor e agora vai começar
tudo de novo.
— Vocês dois não tinham o direito, eu me despedi dele como se
fosse você e não como meu marido. Você faz ideia da dor que estou
sentindo? É ainda pior, ele era o pai dos meus filhos, como vou fazer agora
sem ele? Eu vou ter dois filhos dele, como vou fazer agora sozinha? Como
vou explicar para os meus filhos que eles não tem o pai deles aqui? — Ela
chora de um jeito que destrói a minha alma. Eu não imaginei que seria
assim tão difícil.
— Você não estará sozinha, Atena, eu não quero ocupar um lugar na
sua vida me pesando pelo meu irmão, eu quero merecer estar aqui com você
pois vou cuidar de vocês, eu prometi isso a ele e a mim mesmo. Você sabe
que eu te amo e vou fazer por vocês o que meu irmão não vai mais poder
fazer, eu só preciso de uma chance. Seus filhos não precisam crescer sem
um pai, eu estou disposto a assumir você como minha mulher e essas
crianças como meus filhos, eu quero muito isso. — Seguro a sua mão
carinhosamente e beijo. Ela apenas chora.
— Não sei o que dizer... Meu Deus... O que eu fiz para merecer uma
dor como essa? Porque isso tinha que acontecer? A desgraça parece
acompanhar a minha vida... É um pesadelo atrás do outro. — Ela se encolhe
na cama chorando agarrada ao travesseiro. — Por isso eu pensei que
estavam confundindo vocês, por isso fizeram aquela homenagem para ele e
não para você, porque eles sabiam que era o Théo e eu feito uma idiota não
percebi a troca de vocês... Estou me odiando por isso... — Atena chora
ainda mais e eu me deito ao seu lado trazendo-a para os meus braços. Ela
não me rejeita.
Ela apenas chora enquanto eu tento consolá-la, mas ela me pede
para contar tudo que aconteceu naquela UTI e eu conto, mesmo sentindo
novamente aquela dor avassaladora martelar em meu peito.
"— Tony...? Meu irmão...? Eu preciso... Eu preciso falar com você...
Ouço a sua foz fraca e olho na sua direção, ele está me estendendo
a mão mas eu não consigo me levantar, estou me sentindo fraco, o tiro
atravessou o meu peito e passou próximo ao pulmão, não sei como ele está
de verdade pois não vão nos contar, mas Théo parece pior que eu.
— Fica quieto, Théo! Você precisa se recuperar logo... A sua família
está aí fora esperando por você... Eu não tenho ninguém... Então não se
preocupe comigo... Melhora logo como a sua... A sua esposa pediu... —
Ofego por me sentir tão cansado.
— Estou pedindo... Meu irmão... Por favor...? Eu preciso... Falar
com você... Não vou resistir, eu sinto... — Mais uma vez ele me estende a
mão fazendo o meu coração se apertar.
Me desespero, tenho medo de perde-lo então me levanto, mesmo
sentindo uma dor infernal no peito. Aproximo-me dele me escorando pelas
paredes e pego a sua mão pondo contra o meu peito.
— Você precisa resistir... Pela sua família, Théo... Não decepciona a
sua mulher, ela não vai te... Perdoar... E eu também não! — Sinto os meus
olhos lacrimejar tamanho é o desespero que está me consumindo. Meu
coração está disparado.
— Eu não vou decepcioná-la, e você... Vai me ajudar... Nisso... Você
precisa... Ocupar o meu lugar... Ela vai sofrer muito... Não quero que perca
os meus... Filhos... Tony... Você a ama... Pode fazê-la feliz... Não deixa ela...
Sofrer... Cuida dela por mim...? Proteja os meus... Os meus filhos...? Eles
são seus... Agora... A minha família é sua... Responsabilidade... Me
promete...? Por favor...? Me promete...? — Pede puxando a minha mão
contra o seu peito. Suas lágrimas descem mesmo ele parecendo estar
tranquilo.
— Se você nos deixar... Eu não vou te perdoar... Théo... Não faz isso,
cara...? Estou te pedindo...? Eu só tenho você... — Inclino-me sobre ele
beijando a sua testa. Meu coração está sangrando demais.
— Se tem consideração... Por mim... Se me ama como a sua... Única
família... Me prometa...? Não vou partir tranquilo... Se você não me
prometer... Meu irmão...? Luta por ela...? Luta por eles...? A minha família,
é a sua... Família, agora... — Sua voz é tão fraca, ele está mais pálido que
antes.
— Não posso ocupar o seu lugar, ela vai perceber... Ela vai sofrer
ainda mais e vai me odiar... Eu não posso fazer isso, Théo... — Solto a
minha voz rouca em meio ao choro, isso não pode estar acontecendo.
— Por favor...? Faça isso por mim...? Ou faça por ela... Só até ela
se acalmar, só até aceitar... A dor da perda... Não permita que ela perca, os
meus... Filhos...? Por favor, Tony...? É só por um tempo...? Depois você
conta a ela... Sei que também te ama, por mais que não admita... Ela te
ama... Ama a nós dois... Você precisa me ajudar... — Ele chora de um lado
e eu do outro, não posso perdê-lo ou estarei sozinho nessa vida.
Aperto o botão ao lado da sua cama inúmeras vezes para que
venham logo, mas eles podem chegar tarde demais.
— Eu vou chamar o médico, eles vão salvar você... Eles precisam
salvar você. — Tento me afastar e ir até a porta, mas ele segura a minha
mão.
— Me promete, Tony...! Por tudo que você mais ama...? Me
promete? Me dá essa... Tranquilidade, meu irmão...? Por favor...? Por
favor, cuida da minha família...? Tony...? — Implora com lágrima nos
olhos, suspirando fundo e isso me assusta.
Ele tira a sua pulseira me entregando, penso duas vezes antes de
pôr no meu braço e tirar a minha pondo nele, vou precisar ser convincente
pelo menos para ela.
— Eu prometo tudo que você quiser, meu irmão... Eu vou cuidar da
sua família, vou dar a minha vida por eles, se necessário for... Mas lute...?
Lute por eles, Théo...? Lute, meu irmão...? Não me deixe aqui sozinho? —
Imploro segurando a sua mão contra o meu peito.
Théo sorrir como se estivesse aliviado e dá a seu último suspiro
antes de ver os seus olhos perderem o brilho, e seu sorriso desaparecer e o
medo me domina.
— Não, Théo...! Não... Por favor não faz isso, meu irmão...? —
Choro agarrando-o com força contra o meu corpo, tento fazer a massagem
cardíaca nele mas estou sem forças.
— Vamos! Rápido! Estamos perdendo ele. — Um médico entra
correndo no quarto e me afasta de Théo.
Outras enfermeiras tentam me levar para minha cama mas não me
movo, não saio de perto do meu irmão esperançoso de que consigam salvá-
lo, mas o médico para a massagem cardíaca encarando o relógio no seu
pulso.
— Ele se foi, não há mais nada que se possa ser feito. Anotem a
hora da morte, quinze horas e dezoito minutos...
— NÃO...! NÃO...! MEU IRMÃO, MEU IRMÃO...! Socorro?
Salvem o meu irmão? Por favor salvem-no? — Grito desesperado
abraçando o corpo do meu irmão, eles tentam me tirar mas eu não o solto.
— NÃO! MEU MARIDO...! MEU MARIDO! THÉO...?
THÉEEEEO...? Eu quero ver o meu marido? Eu preciso ver o meu
marido... Pelo amor de Deus me deixa ver o meu marido...? — Ouço os
gritos desesperados de Atena e tento ir até ela.
Essa mulher será a única pessoa capaz de me ajudar a passar por
isso, eu não posso decepcionar o meu irmão, se ela o ver morto ela não vai
surtar, pode até perder o bebê como Théo tanto temia.
— Atena...? Meu amor? — Saio da UTI me apoiando na parede
para não cair.
Minhas pernas perdem as forças mas tento me manter de pé por ela.
— Théo...? Théo! Meu amor você está vivo... Você está vivo! — Ela
se solta da enfermeira e corre até a mim, tocando a minha pulseira para ter
certeza de que sou mesmo o Théo.
— Eu não vou deixar você, meu amor. Eu prometi não deixar você...
— Choro de soluça agarrando-a em um abraço apertado pois eu preciso
dela.
Desabamos os dois e ela chora lamentando por pensar que sou eu
morto naquele quarto, se ela descobrir agora que não sou eu e sim o
marido dela, ela não vai aguentar, eu preciso cumprir o que Théo pediu"
Ela chora em meus braços e eu tento ser forte para não deixá-la
ainda pior, eu prometi cuidar dela e é isso que vou fazer por mais que ela
não me queria por perto.
— Meu irmão te amava o suficiente para me pedir para ocupar o
lugar dele, ele queria garantir que você não sofreria, que você teria alguém
para proteger você e seus filhos... Não me julgue, por favor...? Eu avisei a
ele que isso não daria certo, ele disse que eu podia te contar depois quando
estivesse mais calma. Por isso tive que te evitar mesmo não sendo esse o
meu desejo... Eu sou louco por você e espero que um dia me aceite, eu vou
esperar o tempo que for preciso mas isso não significa que vou me afastar
de você... Estou aqui porque prometi e eu vou cumprir! — Desabafo
pensativo e chorando em silêncio, a morte dele ainda me dói muito, as
vezes anda parece inacreditável.
Atena me abraça tão apertado, seu choro é tão sofrido que me
machuca. Aperto-a de volta em meus braços, beijo o alto da sua cabeça mas
ela se solta de mim abruptamente correndo para o banheiro, ela debruça na
privada vomitando de um jeito que me deixa espantado, eu já a vi assim
antes algumas poucas vezes e foi igualmente assustador não poder ajudá-la,
ainda estava me recuperando e não podia fazer nada.
Seguro os seus cabelos pondo a mão na sua testa, ela desaba em
cima de mim e eu pego ela no colo, levo ela de volta para cama e ligo para
o hospital pedindo uma ambulância, eu ainda não posso dirigir e nem era
para estar me esforçando, mas é Atena, não posso ficar apenas olhando, ela
está fraca demais, está quase desmaiando de novo.
Ela diz que não precisava ter chamando a ambulância mas eu prefiro
não arriscar, ela está grávida e está agitada demais, está pálida, fraca e
precisa ser examinada. Pego o celular e ligo para Luana, aviso que Atena
não vai trabalhar hoje pois ela está passando mal, informo que estou
levando-a para o hospital e ela diz que nos encontrará lá.
— Não tinha necessidade de ligar para ela... Lua vai ficar ainda mais
preocupada comigo e eu não quero isso. — Ela respira fundo pondo a mão
na barriga.
Sento-me ao seu lado tocando a sua mão preocupado.
— Eles também são os meus amigos e também precisam saber a
verdade. Você e Luana são duas mulheres bastante desconfiadas, não sei
como consegui esconder a verdade de vocês por um mês, isso foi quase um
milagre mas estou feliz de poder voltar a ser eu mesmo, é assim que eu
quero que você me veja. — Abaixo a cabeça cabisbaixo. Ela suspira fundo
soltando a minha mão e se vira para o outro lado.
— Não vou dizer que sou uma mulher abandonada pois eu não me
deixou porque quis... Mas eu sou uma viúva grávida que mora com o
cunhado, isso é muito confuso... Eu vi o quanto você estava diferente e no
fundo eu cheguei a pensar que não era ele... Meu Deus, você me viu nua no
banheiro e eu pensando que o meu marido estava me rejeitando. — Ela
suspira cansada mas suas lágrimas ainda descem.
— Por favor? Não me pede para ir embora pois eu não posso... Eu
só tenho vocês...
— Não vou pedir para você ir embora, mas vou pedir para se mudar
para o quarto de hóspedes... Você não é o meu marido e eu preciso do luto...
Preciso aceitar a morte dele... Não quero pensar que o traí estando com
você durante todo esse tempo. — Ela evita me olhar e eu entendo o que ela
está sentindo.
— Você não o traiu, você pensou que eu fosse ele, o seu marido me
pediu para ocupar o lugar dele, eu não pude negar o seu último pedido...
Mas não fiz isso só por ele, fiz por mim também pois eu te amo. Mas enfim,
vou fazer como me pediu e vou para o quarto de hóspedes, mas antes vou
cuidar de você. Quero ter certeza de que vai ficar bem quando eu voltar a
trabalhar...
— Não...! Por favor, não...? Tony, você não pode fazer isso, você vai
estar se colando em risco... Porque não ocupa um cargo para trabalhar na
delegacia como o Théo fazia? Você vai estar mais seguro...
— Vou estar seguro como, Atena? O meu irmão trabalhava atrás de
uma mesa e foi assassinado! Foi ferido junto comigo e poderíamos estar os
dois mortos agora... Eu vou atrás de quem fez isso! Eu vou voltar para as
ruas atrás desses filhos da puta! — Levanto-me irritado ao me lembrar do
que aconteceu, eles ainda não pegaram aquele desgraçado mas eu vou fazer
isso.
— Se você me ama de verdade, por favor não volte para as ruas...?
Tony...? Os meus filhos já perderam um pai, eles não podem perder outro...!
Quer dizer... Você disse que iria cuidar de nós, como pretende fazer isso se
arriscando? Eu estou te pedindo? Estou implorando para você não voltar
para as suas... Eu te amo e não posso te perder também, vai ser demais para
mim... Por favor...? Tony, por favor? Eu não posso te perder também. — Ela
chora de soluçar me surpreendo com o seu pedido e sua declaração. Ela me
ama.
Vou até ela e me deito novamente ao seu lado, ela vem para os meus
braços de bom grado ainda chorando e eu tento acalmá-la ainda com as suas
palavras ecoando na minha cabeça. "Eu te amo e não posso te perder
também, vai ser demais para mim"
— Eu vou pensar no seu pedido com carinho, eu prometo! —
Aperto ela em meus braços desejando com toda a minha alma que ela me
aceite.
A ambulância chega e os paramédicos a examinam, a sua pressão
subiu um pouco então eles vão levá-la apenas para que fique em observação
por algumas horas, depois ela será liberada mas eu vou com ela. Eu também
preciso ser examinado para saber se já estou liberado para trabalhar.
Confesso que o pedido de Atena para não trabalhar mais nas ruas mexeu
muito comigo, a forma como me pediu, ela parece bastante preocupada
comigo e eu a entendo.
Théo me fez prometer que cuidaria dela e dos bebês, ela precisa
ficar tranquila para levar essa gravidez até o final, e para isso eu sou capaz
de fazer tudo que ela me pedir. Menos ir embora de perto dela, isso eu
jamais farei.
Fui examinado por um médico e reprovado para voltar ao trabalho,
ainda preciso de mais uma ou duas semanas para finamente voltar com a
minha rotina ao normal. Levei um tiro no peito então é óbvio que eles não
me deixaria voltar ao trabalho agora, mesmo eu prometendo não me
esforçar.
Saio a procura de Atena, Luana já chegou e foi fazer companhia a
ela enquanto eu era atendido. Pergunto na recepção por Atena Moore
Carlson e sou informado que ela está na observação, no terceiro andar mas
precisou tomar um calmante, ela está muito nervosa e com razão. Eu sabia
que essa história de me passar por Théo não ia dar certo, mas pelo menos
pude estar ao lado dela recebendo os seus carinhos e cuidados, pude mostrar
o meu amor a ela mesmo que ela estivesse vendo Théo em mim.
Muitas vezes eu senti que ela me olhava desconfiada, como se
tivesse dúvidas se era mesmo ou não o Théo ali com ela, dei muitas
mancadas por não saber detalhes que somente o Théo sabia. Mas ela sabe o
quanto a amo e vou lutar por ela, Atena também me ama e sei que com o
passar do tempo ela vai me olhar com eu sou, ela vai me aceitar. Assim
espero.
Sigo até o terceiro andar procurando pelo quarto dela e entro no
mesmo, me deparo com Luana em pé ao lado da cama admirando-a em
silêncio. Aproximo-me parando ao seu lado e ela se vira me olhando
fixamente nos olhos. Sinto que ela quer me dizer alguma coisa mas ela fica
aqui apenas me olhando atenta.
— Eu sinto muito... Não foi a minha intensão mentir para ninguém,
eu só estava cumprindo uma promessa. Não pensei que ela fosse ficar tão
mal por minha culpa. — Tento permanecer tranquilo, tento não ser fraco na
frente dela.
Luana me surpreende com um abraço apertado, um abraço sentido
chorando contra o meu peito.
— Cumpra a sua promessa...! Não deixa ela sozinha, Atena vai
precisar muito de você nesse momento... Como não percebemos que era
você o tempo todo? — Ela se solta de mim admirando a amiga dormindo
com os olhos inchados pelo choro.
— Somos idênticos, eu e Théo conversamos muito sobre os nossos
relacionamentos, foi de tanto ouvir sobre Atena que eu acabei me
apaixonando por ela... Eu estava disposto a pedir transferência para outra
cidade mas Théo não deixou, ele sabia que eu também a amo. — Desabafo
pensativo, lembrando-me das nossas conversas.
— Eu também já desconfiava, você sempre olhou para ela
exatamente como ele a olhava... Meu Deus... É inacreditável... A minha
irmã está viúva e grávida de gêmeos, ela vai ter dois bebês e eles já vão
nascer sem um pai. Isso é muito triste, nós nunca estamos preparados para
algo assim. — Luana acaricia o rosto de Atena com ternura.
Eu quero muito fazer o mesmo mas não sei como serei visto a partir
de agora.
— Ela nunca estará sozinha com as crianças, eu estou aqui para ser
para eles o que precisarem que eu seja, vou amá-los como o meu irmão
amaria. — Pego a mão dela desejando ver os seus olhos azuis intensos, eles
me encantam.
— Ela me falou que você já quer voltar ao trabalho, que vai atrás do
atirador. Você vai matá-la de desgosto se chegar em casa com um arranhão,
está ciente disso? Ela já perdeu o marido, perder você também pode ser
fatal, então pensa no pedido que ela te fez? Se quer mesmo assumir a
família do seu irmão, você vai precisar dedicar tempo a eles. — Suas
palavras me deixam pensativo pois ela tem razão.
Encaro a mulher deitada dormindo serenamente e me lembro do seu
choro de angústia, do seu pedido em meio ao desespero.
— Eu vou pensar em tudo isso. Prometo!
— Ela não pode mais trabalhar enquanto estiver grávida, acho isso
muito arriscado levando em conta as suas emoções, mas sei que não será
bom para ela ficar trancada em casa, vou dar a ela a mesma função de antes
ou apenas deixá-la sentada atrás do caixa, assim ela se distrai um pouco. —
Argumenta decidida e eu concordo com ela.
— Tudo bem, faça o que for melhor para vocês duas, sei que um
filho pequeno também dá muito trabalho, você não acha que seria melhor
contratar outra pessoa para te ajudar? — Sugiro fundo.
— Já estou pagando Atena e Rayssa, não tenho como pagar uma
terceira pessoa, vai ficar pesado para mim.
— Você não precisa pagar Atena, ela não precisa e nem faz questão
de receber, ela me disse isso... Ela trabalha com você por amor e não pelo
dinheiro, antes ela precisava para se sustenta mas agora ela tem a mim, eu
vou sustentar a ela e os meus sobrinhos, sem falar nas economias de Théo
que ela como viúva vai poder ter acesso, por mim ela nem mexeria nesse
dinheiro, deixaria no banco rendendo juros para o futuro das crianças, mas
isso quem vai decidir é ela.
— Está mesmo disposto a assumir ela e as crianças? — Pergunta
surpresa.
— Eu a amo, então sim! Estou decidido e vou fazer isso... Luana,
ela não vai conseguir trabalhar quando a barriga estiver grande, muito
menos depois que os bebês nascerem, isso se ela não quiser deixar por
conta de babás e ela já deixou claro que ela mesma vai cuidar das crianças,
em todo caso, você vai sim precisar de alguém para te ajudar.
— Você razão, Théo... Quer dizer, Tony... Me desculpa, eu vou ter
que me acostumar com isso. Mas você tem razão, eu vou mesmo precisar de
alguém para me ajudar, assim também posso ter mais tempo com o meu
filho. — Ela me abraça carinhosamente e vejo que Atena está acordada,
atenta a mim.
Nos soltamos um do outro e eu me aproximo cautelosamente dela,
Atena me estende a mão e eu pego desejando com toda a minha alma um
beijo seu.
— Tony... Estou feliz que você esteja vivo, mas estou destruída por
dentro por ele também não estar aqui... Ele havia acabado de saber que iria
ser pai, ele estava tão feliz com a notícia. — Suas lágrimas voltam a descer
mas vejo o quanto está tentando ser forte.
— Ele me contou quando chegou na cena do crime, ele estava indo
para casa e me encontrou no caminho... Nos abraçamos e eu lhe dei os
parabéns pelas grandes conquistas da vida dele, o cargo de delegado que ele
nem chegou a ocupar, e os filhos que ele nunca vai poder conhecer... Eu
sinto muito... Eu queria que fosse ele aqui com você agora, afinal, eu não
tinha família para sofrer por mim, mas agora tenho vocês. — Conto
emocionado por me lembrar do meu irmão, o cara que era um pedaço de
mim.
— Seremos a sua família se você prometer aceitar o meu pedido...
Por favor...? Não me faça sofrer você também? Não estou te pedindo para
deixar a polícia, só estou pedindo para se cuidar mais, para se proteger mais
e...
— Eu aceito!
Disparo sem pensar duas vezes, eu pensei que ela fosse me odiar
mas ao invés disso ela só que me quer em segurança, ela está disposta a me
aceitar como parte da sua família.
— Antes de voltar ao trabalho vou falar com o delgado Camilo. Ele
queria que eu ocupasse o cargo do Théo como Tenente, enquanto ele se
tornaria o novo delegado dessa cidade, então...
— Está falando sério...? Tony... É verdade? Você vai aceitar o meu
pedido? Oh meu Deus... Obrigada...? Obrigada, eu vou ficar mais tranquila
sabendo que você não estará correndo atrás do perigo. — Ela abre um
sorriso tão lindo e puxa-me para um abraço tão apertado.
Sorrio, agora tenho certeza de que vou conseguir cuidar deles, ela
vai me deixar ficar por perto e assim vou poder conquistar a sua confiança
aos poucos, vou merecer o seu amor e o lugar que era do meu irmão na sua
vida. Eu a amo. Muito.
Ela suspira fundo e chora ainda sorrindo, me sento a beira da sua
cama e conversamos um pouco mais, e novamente ela me pede um tempo
para viver o luto pelo meu irmão, pelo seu marido e é óbvio que eu preciso
respeitar isso, não sei quanto tempo isso vai levar mas estou determinado a
esperar o tempo que for.
O médico passa para examiná-la mais uma vez e graças a Deus está
tudo bem com ela e os bebês, ela recebe alta e voltamos para casa com
Luana pois ela está de carro. Atena pede para visitar o túmulo de Théo e eu
não tenho como negar isso, só peço para ela não se emocionar tanto ou terei
que levá-la de volta para o hospital, ela apenas concorda e seguimos o
caminho em silêncio.
Ela está pensativa, com um olhar perdido mas não tira as mãos da
sua barriga, entendo e respeito a sua dor, mas espero que ela consiga
superar isso assim como eu estou tentando, tudo ainda é muito recente, as
vezes nem consigo acreditar que ele se foi, mas quando espero ele aparecer
para chamar a minha atenção e ele não aparece, a minha ficha cai assim
como as minhas tristeza, mas nesse um mês que passou eu tiver que chorar
sem poder chamar por ele, sem poder citar o seu nome para não ser
descoberto, e agora estamos aqui, eu e a sua mulher em frente ao seu
túmulo, ambos sofrendo, ambos chorando de dor pela sua perda e essa
situação é muito difícil.
Atena chora tocando a sua lápide, conversando com ele pedindo
desculpas por não ter percebido a troca, o repreende pela nossa travessura e
sorrir, afirmando a ele que terá os seus filhos e cuidará deles com unhas e
dentes como se ele realmente estivesse aqui conosco, a sua força e
impressionante, a sua fibra, a sua garra e coragem me contagia, me faz forte
também.
Deixo ela um instante a sós mas Lua não sai de perto dela e isso me
tranquiliza. Paro em frente a uma grande árvore e puxo a respiração com
força.
— Não vai ser fácil passar por isso, mas você vai conseguir! Eu
confio em você. — Digo como se alguém falasse através de mim.
Encaro fixamente a árvore e me sento na grama embaixo dela,
ponho a mão no peito onde levei o tiro, eu preciso saber se fomos uma
vítima aleatória ou se realmente nos queriam mortos, eu vou investigar sem
precisar correr atrás de bandidos, ela já está sofrendo demais e não precisa
de mais uma decepção, eu prometi a ela e preciso cumprir.
Inclino-me para trás apoiando as mãos na grama verde e fecho os
olhos respirando fundo, consigo ver perfeitamente o seu rosto sorrindo ao
dizer que seria pai, a sua felicidade era tão grande, ele seria o novo
delegado e agora não está mais entre nós. O delegado Camilo reconsiderou
a sua transferência, e ele ainda não havia dito a Valério que ele ocuparia o
lugar de Théo, ele faria o anúncio formalmente aos dois em uma pequena
cerimônia, mas antes disso aconteceu aquela terrível fatalidade.
Não faço a mínima idéia de como será a nossa vida a partir de agora,
eu só sei que não quero e não posso desistir da minha promessa apenas
porque ela descobriu a verdade, eu sei muito sobre ela, eu e meu irmão
conversávamos muito sobre ela e também sobre Kemilly, a garota com
quem eu estava saindo, mas confesso que Théo não me contou muita coisa
sobre Atena, eu não fazia idéia de que ela era alérgica a frutos do mar,
também não sei o que comeram no segundo encontro mas sei que o
primeiro encontro foi com a família de Luana.
Eu cheguei a apresentar Kemilly a eles mas não deu muito certo, ela
ouviu uma conversa minha com Théo onde ele mais uma vez me
questionava por eu amar Atena, tentei me explicar, tentei conversar mas
uma briga feia foi inevitável, ela queria que eu me afastasse de Atena, me
fez escolher entre uma e outra e é óbvio que eu escolhi Atena, eu sempre
vou escolher ela.
— Tony! Já podemos ir, Atena está muito abalada e precisa
descansar... Eu pedi para ficar com vocês por uns dias e espero que não se
incomode com isso. Meu filho e meu marido vão comigo, será apenas por
uns dias. — Luana para ao meu lado tirando-me dos meus pensamentos.
— Imagina, Luana, a casa é de Atena agora, então vocês podem
ficar o tempo que precisarem... Podemos ir. — Levanto-me da grama e
seguimos os três lado a lado e Atena ainda está muito calada.
Apenas seguimos para o seu carro e saímos dali voltando para casa.
Todos estamos mais calados que antes mas talvez seja melhor assim, todos
nós precisamos de tempo e isso vai nos fazer bem, só espero que ela não
mude muito comigo, espero que essa fase passe logo pois vê-la sofrer é algo
angustiante.
Entramos em casa e deixamos Atena na cama, ela ainda está muito
abatida e pedindo para ficar sozinha, vamos respeitar isso então eu saio
dizendo que vou em casa buscar algumas coisas, não posso mais ficar
usando as coisas do meu irmão, ela já está ciente de toda a verdade então
não quero que ela continue vendo-o em mim.
Também preciso passar na delegacia e conversar com o delegado
Camilo, preciso acertar o quanto antes a minha volta ao trabalho, também
quero saber se eles tem mais informações sobre o assassinato do meu irmão
e o meu atentado, eles estão investigando mas eu também quero fazer isso a
minha maneira. Quero investigar eu mesmo sobre aquele maldito atirador.

Entro na delegacia e sou cumprimentado pelos meus colegas, todos


felizes por eu estar me recuperando bem e também lamentando mais uma
vez pela perda de Théo. Priscila vem até a mim emocionada e me abraça,
todos aqui sempre tivemos muito carinho uns pelos outros, somos mais que
colegas, somos uma grande equipe e sempre lutamos juntos.
— O delegado vai gostar de te ver inteiro outra vez. Estou ansiosa
para que volte ao trabalho, você está fazendo falta por aqui. — Ela me
acompanha até a sala do delegado.
​— Acredite em mim, eu também sinto muita falta de vocês, sinto
falta do trabalho pois nunca fiquei tanto tempo parado. Mas o médico ainda
não me liberou, vou precisar de mais uma ou duas semanas para voltar à
ativa. Depois nos falamos melhorar, eu preciso ver o delegado mas peça ao
Renato para vir falar comigo, por favor? — Me despeço dela ali no corredor
e entro na sala do delegado em seguida.
— Tony? O que está fazendo aqui? Você não devia estar em casa
descansando...? Como está a viúva? Ela já desconfia que você não é o
Théo? — Pergunta surpreso vindo me cumprimentar.
— Até que durou muito, ela está muito fragilizada ainda por isso
não percebeu antes, mas hoje ela descobriu a verdade quando sugeri de
fazer um risoto de camarão... Ela é alérgica frutos do mar e eu não sabia, e é
óbvio que o Théo sabia então ela estranhou o meu esquecimento sobre
alguns acontecimentos também... Eu precisei levá-la para o hospital, ela
desmaiou, passou mal e vomitou bastante, a pressão subiu e ela teve que
ficar em observação por causa da gravidez. Ela ainda está muito sentida
pela morte do Théo, ela se despediu dele como se estivesse se despedindo
de mim, vê-la daquele jeito me destruiu. — Conto ao me sentar à frente da
sua mesa e ele volta para sua cadeira.
— Eu imagino tudo que vocês estão passando e lamento muito por
isso, você sabe que estarei sempre aqui para vocês... Mas agora que ela está
ciente de tudo, precisamos conversar com ela, não condição de viúva ela
tem direito a uma pensão, e ela vai precisar muito agora com duas crianças
para criar... Você falou com ela sobre a promessa que fez a Théo? Ela vai
deixar você cuidar dela e das crianças? — Vejo-o curioso e ao mesmo
tempo pensativo.
— É exatamente por isso que estou aqui. Ela disse que me aceita se
eu prometer não ir mais para as ruas, ela teme me perder também e eu quero
dar essa tranquilidade a ela... Eu vim aqui para saber do senhor se eu ainda
posso ocupar o cargo do meu irmão? Isso vai deixá-la mais tranquila e no
estado dela eu faço qualquer coisa que ela me pedir, até mesmo deixar a
corporação, mas isso eu sei que ela jamais me pediria. — Afirmo com uma
certeza tão grande que ele encara-me surpreso.
— O seu amor pela sua cunhada é visível para qualquer um...
Caramba... É claro que você pode ocupar o cargo do seu irmão, eu estava
apenas esperando você se decidir e que bom que fez isso logo, ou eu teria
que colocar outra pessoa no lugar dele, não podemos ficar sem um primeiro
Tenente na nossa corporação. — Ele me dá um sorriso amistoso e me
estende a mão, eu pego satisfeito. — Tenente Tony Carlson! Seja bem vindo
de volta a nossa equipe! Cumpra o que falta do seu atestado e retorne ao
trabalho assim que possível... O seu irmão com certeza está orgulhoso de
você por cumprir a promessa que fez a ele. Se a viúva precisar de qualquer
coisa que eu puder ajudar, não hesite em me procurar, está bem?
— Obrigado, delegado! O seu apoio é muito importante para mim.
— Aperto a sua mão antes de soltá-la me sentando novamente.
Conversamos um pouco mais sobre tudo que houve e eu pergunto
sobre como anda as investigações, ainda não tem nada de concerto mas tudo
indica que o atirador é um traficante perigoso que estamos atrás dele a
bastante tempo, a anos atrás eu e Théo prendemos toda a sua quadrilha e
muitos deles foram mortos pelos seus rivais que já estavam detidos no
mesmo presídio, o assassinato de Théo e o meu atentado pode ter sido uma
vingança mas ainda precisamos apurar todos os fatos.
Se todos esses filhos da puta resolverem se vingar de mim, eu não
vou durar muito tempo. Espero que os meus pensamentos possam ser
ouvidos, mas eu terei que montar uma força tarefa para irmos atrás daquele
desgraçado, e eu não vou prendê-lo, não quero aquele miserável preso,
quero ele morto debaixo de trinta palmos de terra, ele vai pagar pelo que
fez, ele tirou a vida do meu irmão e eu vou tirar a ele também. Eu só preciso
ter certeza de que foi mesmo ele quem atirou.
CINCO MESES DEPOIS...

A minha vida não tem sido fácil depois que descobri que enterramos
o meu marido e não o meu cunhado como eu havia pensado, mas pouco a
pouco a minha vida está começando a voltar ao normal. Ainda sinto muito a
morte de Théo mas aos poucos estou conseguindo amenizar essa saudade
grande que sinto dentro do peito, e tudo isso porque tenho dois pedacinhos
dele crescendo aqui dentro de mim, não estou sozinha, tenho os meus bebês
e também a ele, o meu cunhado que tem sido mais que um cunhado, tem
sido um amigo, um companheiro muito atencioso pois ele não nunca me
deixa sozinha por muito tempo, ele é carinhoso e se preocupa muito comigo
e as crianças, ele quer o meu amor e ele tem, mas ainda não consigo me
envolver com ele, Théo ainda está muito presente na minha vida e eu não
sei se consigo fazer isso agora sem pensar nele.
Saio do meu quarto e sigo pelo corredor acariciando a minha
barriga, essas crianças não me deixam dormir e eu estou exausta. Entro na
sala e sigo até a escada, mas antes de subir lembro-me da bronca que levei
dele, fui obrigada a me mudar para o primeiro andar e no fundo eu já
esperava por isso, a minha barriga está enorme por serem dois bebês e eu já
vou fazer nove meses de gestação, estou ansiosa para elas nascerem logo
pois Tony se preocupa demais comigo e teme que eu acabe escorregando
dessas escadas, ou algo do tipo, o fato é que estou proibida de acessar o
andar de cima, pelo menos não sozinha e ele sempre deixa um rádio
comunicador ao meu lado para chamá-lo quando precisar.
As vezes ele dorme aqui em baixo na sala ou no escritório onde tem
um sofá cama bastante confortável, mas quando ele chega tarde do trabalho
ele dorme no seu quarto para não fazer barulho e me acordar, eu acho isso
fofo.
— Tony! Tony...! — Chamo por ele e volto em direção ao meu
quarto.
Sorrio e conto até três, ouço ele descer as escadas correndo.
— O que foi? O que aconteceu? O que está sentindo? Por que não
me chamou pelo rádio? — Pergunta preocupado vindo atrás de mim
apressado.
— Estou com sono e as meninas não me deixam dormir, você
acostumou elas mal então vem me ajudar! Não estou me aguentando em pé
e elas estão agitadas. — Entro no corredor e sigo para o quarto ouvindo ele
sorrir.
— Elas me amam, por isso não te deixam dormir longe de mim,
porém, você é teimosa e não me quer na sua cama... Não vou discutir sobre
isso, eu também estou morrendo de sono.
Sorrio e entro no meu quarto, ele entra atrás mas deixa a porta
aberta como de costume. Essas meninas só sossegam quando ele está por
perto, elas o obedecem e isso me deixa chocada, quase todas as noites ele
fica aqui comigo até eu dormir, mas hoje elas tiraram a noite para fazer
bagunça.
Deito-me na minha cama e ele se deita ao meu lado, ele toca a
minha barriga e rapidamente elas param.
— Vocês são terríveis, meninas, eu amo isso mas hoje precisamos
descansar... Deixa a mamãe dormir pois eu preciso dormir também. Eu
trabalhei demais hoje mas amanhã vou ficar mais tempo com vocês, ok?
Agora durmam! A mamãe está cansadinha e vocês sabem disso. — Ele
conversar com elas acariciando a minha barriga. Sorrio de olhos fechados já
quase dormindo novamente.
Sinto os seus dedos tocarem o meu rosto em um carinho suave, ele
tem sido muito paciente comigo, não me pressiona mas sempre deixa claro
o quanto me ama, eu quero corresponder mas ainda não me sinto pronta
para esquecer o Théo, tenho dentro de mim dois pedacinhos dele que me
faz lembrar dele diariamente.
Ele sabia que eu também amo o Tony, eu sinto que ele sabia, por
isso pediu ao irmão para cuidar de mim e das crianças e nós nos
aproximamos bastante nesses meses que se passaram. Ele é um amor, cuida
de mim igual ou mais que o Théo e a sua presença tem amenizado bastante
aquela dor intensa que estava sentindo, ainda dói, mas está dando para
suportar melhor a cada mês que se passa.
Sinto elas mexerem novamente, viro-me para o outro lado mas não
tem jeito, viro-me para o outro lado mas elas estão inquietas, elas estão
fazendo de propósito, essa é a única explicação. Acordo sozinha na cama
pois ele não está mais aqui, ele sempre volta para o seu quarto depois que
durmo. Levanto-me mais uma vez, são quatro da manhã e eu estou andando
pela casa feito um zumbi.
Vou até a cozinha beber água e volto até a sala para chamar Tony,
mas decidido subir mesmo sabendo que ele vai brigar comigo depois. Subo
até o seu quarto e entro de mansinho, ele está jogado na cama sem camisa,
de bruços em uma posição engraçada todo torto. Sorrio e me deito ao seu
lado, ele ainda está no quarto de hóspedes.
Acaricio as suas costas chamando por ele, Tony está desmaiado de
sono, coitado, estou acabando com ele por acordá-lo tantas vezes durante a
madrugada, ninguém mandou ele sair da minha cama. Eu queria que ele
ficasse mas ele me olha daquele jeito que me deixa nervosa, isso mexe
muito comigo.
— Sardenta...? O que está fazendo aqui em cima? Subiu sozinha? O
que conversamos sobre isso? — Ele chama a minha atenção virando-se para
mim.
— Deixa para brigar comigo quando amanhecer, eu ainda estou com
sono e você me deixou sozinha com essas bagunceiras. — Pego a sua mão
pondo na minha barriga e ele sorrir.
— Elas são teimosas iguais a mãe, isso não tem como negar. — Ele
me puxa para os seus braços e eu vou de bom grado.
— Elas puxaram o pai, então faça a sua obrigação e acalme elas...
Eu acho que elas vão se parecer com você... Quer dizer, com o seu irmão...
Com vocês. Ahh! Isso é confuso, fica parecendo que elas são filhas de
vocês dois...
— E elas podem ser, é só você deixar...
Ele ergue o meu queixo me olhando nos olhos e só então me dou
conta do que disse. Seu olhar intenso me deixa nervosa como sempre, tento
sair dos seus braços mas ele não deixa. Ele está ofegante e me olhando
daquele jeito que me deixa trêmula. Encaro os seus lábios aqui tão de
pertinho e rapidamente sinto ele tomar a minha boca em um beijo ardente.
Eu não sou mais capaz de resistir a ele como tenho feito todo esse tempo,
então retribuo o seu beijo com a mesma paixão. Com o mesmo amor.
— Me deixa ser o pai delas? Me deixa ser para você o que precisar
que eu seja? — Ele toca o meu rosto de forma suave e carinhosa. — Você
não está traindo ele, Atena, Théo mesmo me pediu para ocupar o lugar dele,
ele me fez prometer que cuidaria de você e das filhas dele e eu vou cumprir
isso... Me deixa te amar? Me deixa fazer por vocês o que ele não pode mais
fazer? Me deixa fazer você feliz como ele queria que você fosse? — Ele me
beija mais uma vez mas interrompo o beijo.
— Vamos devagar, Tony...? Eu preciso que a gente vá devagar...
Está bem? — Peço ofegante pelo beijo admirando os seus olhos brilhantes.
— O que você quer dizer com, vamos devagar? Vai me deixar
assumir vocês? É isso? — Ele parece surpreso.
— Sim! Mas eu preciso ir devagar... Estamos convivendo e nos
conhecendo de um jeito que não podíamos fazer antes, mas dessa vez não
quero apressar muito as coisas, você me entende?
— Entendo e aceito. Será como você quiser, no seu tempo. —
Aquele seu sorriso magnífico aparecer para me deixar atordoada.
Respiro fundo e saio dos seus braços, acomodo-me no travesseiro
tentando realmente ir devagar, mas ele me abraça por trás cheirando os
meus cabelos e toca a minha barriga, sorrio e deixo o sono vir novamente
para me livrar dessa sensação de desejo que passou a me consumir com os
seus toques, vê-lo nu se trocando para ir trabalhar, mexeu comigo, eu ainda
não o havia visto assim antes pois me evitava quando se passava por Théo,
mas agora ele está escancarando para conseguir me conquistar, o que ele
não sabe que nunca precisou fazer isso, eu só estava insegura por ele ser o
meu cunhado, mas vou seguir os conselhos de Lua e dona Sônia, sou uma
mulher viúva, nova e vou dar à luz a duas crianças de uma só vez, elas vão
precisar de um pai e eu de alguém que me ame e me ajude, bom, eu já tenho
tudo isso, eu só preciso aceitar que posso e mereço ter uma nova chance.
Pego rapidamente no sono pois estou mesmo exausta, passei o dia
inteiro perturbando a decoradora que está reformando o quartinho das
meninas, elas vão ficar ao lado do meu quarto e já comprei muitas coisas
para elas, Lua me ajudou em tudo, óbvio, eu só tenho ela e dona Sônia de
amigas e elas sempre estiveram ao meu lado, todos estão me apoiando
muito, até mesmo o delegado Camilo que sempre teve um carinho muito
especial por Théo e Tony.
Todos estão torcendo por nós, todos conseguem ver um futuro para
mim, Tony e as meninas. O próprio delegado conversou comigo sobre essa
promessa que Tony fez a Théo em seu leito de morte, ele queria partir em
paz sabendo que eu e as crianças ficaríamos bem, ele sabia que Tony me
ama e com isso, ele sabe que estaremos bem e seguras com ele, então só me
resta viver esse novo amor, essa nova oportunidade que a vida está me
dando de ter uma família completa.
Não vejo mais o Théo em Tony, eles eram idênticos na aparência
mas agora, depois de passar todo esse tempo vivendo ao lado dele, eu
percebi o quão diferentes eles eram. Théo era romântico demais e eu amava
isso nele, ele sabia como me agradar e me fazer feliz com um simples gesto,
ele parecia adivinhar todos os meus pensamentos pois éramos muito
parecidos em muita coisa, mas ele também era mais centrado, mais pé no
chão apesar de embarcar comigo de cabeça nesse nosso amor em tão pouco
tempo que estávamos juntos, mas tínhamos certeza do que queríamos.
Por outro lado, Tony também é muito intenso, ele faz de tudo para
me agradar mesmo não sabendo como fazer, isso torna tudo muito
engraçado e leve, é único e novo, ele me faz sorrir com uma facilidade
absurda. Eu sempre soube que ele era muito mulherengo, não ficava em um
relacionamento por muito tempo, ao contrário do irmão, talvez por isso um
tinha mais experiência que o outro em agradar uma mulher no romantismo.
Mas Tony também consegue ser amoroso, romântico, à sua maneira mas ele
consegue sim, ele está fazendo por mim o que ele não fazia por outras
mulheres, ele está sendo inteiramente meu e das minhas filhas, eu sinto que
pode dar certo pois nos amamos, eu sinto o seu amor por mim, ele está
assumindo uma responsabilidade que não era dele e mesmo assim, ele está
feliz por isso.
Definitivamente eu posso sim ser feliz com ele, eu só preciso
esquecer a dor que a ausência do Théo me causa, eu sei que ele sempre vai
estar comigo através das nossas filhas, ele me prometeu não me deixar
jamais e as vezes eu sinto que ele está torcendo pela minha felicidade, ele
apareceu nos meus sonhos por diversas vezes pedindo para eu não desistir
de ser feliz, ele me fez prometer que não ficaria sozinha, me fez prometer
que me daria uma nova chance com Tony, no sonho ele me pedia perdão
por me deixar tão triste com a sua partida, mas ele sempre sorria quando
falava do irmão, o amor deles era tão grande que dava gosto admirar, e eu
me orgulhava muito deles por isso, não é à toa que me apaixonei por eles.
As minhas filhas não vão crescer sem um pai como imaginei, pois
no sonho Théo entregava a minha mão a Tony, dizendo que agora nós
somos uma família, eu acordei arrepiada pois no sonho estávamos os três de
branco, Théo me entregava ao irmão como Otávio me entregou a ele no dia
do nosso casamento. Eu chorei tanto, passei um dia e uma noite apenas
chorando e deixei a todos preocupados comigo, apenas depois de contar
sobre o sonho foi que eles entenderam o porquê eu estava daquele jeito.
Se hoje eu estou tranquila e aceitando melhor tudo isso, é porque o
meu marido tem me tranquilizado bastante através dos meus sonhos, porém,
depois desses sonhos ele não apareceu mais, não fiquei triste mas fiquei
pensativa sobre tudo isso.
Acordo com carinhos na minha barriga e abro os olhos, deparo-me
com Tony beijando a minha barriga e conversando baixinho com as
meninas. Sorrio feito boba, ele é tão amoroso, ele vai ser um pai perfeito
como Théo seria. Não vou esquecer jamais o homem que tanto amei, o
homem que faz tanto por mim, no entanto, preciso evitar falar tanto nele já
que estou decidida a viver a minha vida com Tony, já que vou viver esse
novo amor.
— Me ajuda, meninas? A mãe de vocês é teimosa demais, não gosto
quando ela me desobedece, essas escadas é perigosa demais. Se vocês
ficarem quietinhas ela sossega lá embaixo até vocês nascerem... Mas eu
quero ficar lá com ela, será que tenho chance? Dormir perto dela é tão bom,
na verdade é perfeito e eu não aguento mais dormir longe dela... Amo essa
mulher, ela é a minha vida. Assim como vocês. — Sua declaração nesse
tom amoroso me derrete.
Finjo ainda estar dormindo apenas para ouvir a sua conversar com
as meninas, mas seu tom dramático ao se preocupar comigo me faz reprimir
um sorriso.
— Eu sei que está acordada, mamãe, então abra esses olhos lindos e
intensos para mim...? Eu trouxe o seu café da manhã. — Sorrio abertamente
e abro os olhos como ele pede.
Realmente, o cheirinho de mingau de aveia está muito próximo e eu
pensando que vinha da cozinha lá embaixo.
— O que temos para o café da manhã? Acordei com muita fome
hoje... Estou com desejo de comer aquele pudim de leite que a Cícera faz,
uma torta holandesa, biscoitos amanteigados e o meu iogurte favorito. —
Comento de olhos fechados imaginado todos esses doces, a minha boca
enche de água.
Abro os olhos e ele está sorrindo abertamente, mas ergue uma
sobrancelha me fazendo corar.
— O que foi? Estou comendo de mais, não é? Estou engordando
muito? Meu Deus, eu devo estar horrível, só penso em comida. — Sento-
me na cama envergonhada e ele solta uma gargalhada gostosa.
— Você não está gorda, está grávida, é diferente... Se você acha que
está gorda então eu também estou, pois estou compartilhando da gulodice
de vocês esse tempo todo para não deixá-las sozinhas. — Dispara sem
cerimônia me deixando perplexa.
— Está chamando uma mulher grávida de gulosa? Você perdeu a
noção do perigo, não é, Tenente Tony...? — Seguro-me para rir mas fico
sem graça ao me lembrar que sempre chamava Théo de Tenente.
— Se lembrou dele, não foi...? Está tudo bem, ele era o pai das suas
filhas e eu jamais vou te pedir para esquecê-lo, ele chegou primeiro na sua
vida... Eu vou providenciar os seus doces, enquanto isso, vá se deliciando
com esse maravilhoso mingau de veia. Cícera disse que você não se
alimentou direito ontem então hoje eu vou pegar no seu pé, literalmente. —
Ele me rouba um breve beijo e se levanta pondo a bandeja no meu colo.
Tony sai do quarto mas volta e para na porta. — Não se atreva a descer
essas escadas sozinha, ou eu vou me chatear com você, ouviu? — Alerta-
me sério e eu apenas concordo.
Sorrio e começo a comer o meu mingau, as meninas adoram pois
sempre ficam mais calmas quando como isso, e eu até que gosto.
Depois de comer eu me levanto e vou até o banheiro do meu quarto
aqui em cima, na verdade o quarto em frente ao quarto do Tony. Eu preciso
resolver essa questão também, estou me acostumado a dormir com ele ao
meu lado e quando ele não está comigo, eu sinto a sua falta, seus braços
quentes e acolhedores me fazem falta toda vez que durmo sozinha, e as
meninas tem me obrigado a procurar por ele como aconteceu ontem, de
novo, isso está se tornando um hábito, mas ele me faz tão bem que a sua
presença deixa o meu sofrimento mais brando, mais suportável, digamos
assim.
Entro no banheiro sorrindo e faço a minha higiene pessoal, ainda
tenho roupas aqui então aproveito para tomar um banho bem demorado e
perco a noção do tempo acariciando a minha barriga, imaginando os
rostinhos delas. Elas vão se parecer com ele... Melhor dizendo, com eles,
minha nossa.
— ATENA!
Ouço ele me gritar e parece apavorado. Não demora muito e a porta
do Box se abre abruptamente e eu cubro os meus seios e a minha intimidade
com as mãos.
— O que foi? O que aconteceu? Porque está tão assustado? —
Questiono sem jeito por ele me admirar tão descaradamente.
— Eu... Eu me assustei por não te encontrar no quarto... Não sabia
se havia descido e me preocupei... — Ele está ofegante, me admira como se
quisesse me devorar.
Minha respiração pesa, minhas pernas tremem e ele entra no Box se
aproximando enquanto me afasto.
— Tony... Você... O que está fazendo...? — Sinto as minhas costas
contra parede e ofego ainda mais.
— Eu sei que... Sei que prometi esperar o seu tempo, e eu vou
cumprir isso. Mas não consigo evitar te desejar... Estou enlouquecendo,
sardenta... — Ele aproxima-se mais e o seu tom rouco me abala.
Seus dedos tocam o meu rosto e desliza até a minha nuca, ele me
beija ardentemente abraçando o meu corpo contra o seu, agarro os seus
braços com firmeza procurando por apoio pois mal sinto as minhas pernas,
me entrego esse beijo desejando que ele me faça sua, no entanto, não posso
fazer isso aqui, nesse quarto.
— Eu não posso... Tony... Aqui não! Eu vivi muitos momentos aqui
com ele e não vou me sentir bem fazendo isso aqui... Me desculpa...? Eu
quero você, mas não agora e não aqui. — Afasto-me ofegante e trêmula lhe
dando as costas.
— Você tem razão. Me desculpa...? Eu não pensei nisso, na verdade
eu perco a noção de tudo quando sinto os seus beijos. — Sua voz rouca está
bem atrás de mim me estremecendo.
— Eu vou me trocar para descermos. Depois precisamos conversar
sobre essa nossa situação... Se vamos tentar viver o nosso amor, eu preciso
sair desse quarto, não vou conseguir estar verdadeiramente com você aqui
onde há tantas lembranças dele... Eu não havia parado para pensar sobre
isso, só agora estou me dando conta do quão difícil é estar nesse quarto
pensando tanto nele. Ele me pediu para ser feliz mas não vou conseguir
fazer isso aqui... Precisamos tomar uma decisão sobre isso, mas deixa eu
me trocar primeiro, está bem? — Desabafo ainda de costas para ele.
— Está bem, eu vou te esperar no meu quarto então descemos,
podemos conversar na sala ou na mesa do café. — Avisa antes de sair e eu
agradeço por isso.
Respiro fundo e o seu perfume se mistura com o dele, tudo parece
muito confuso e vai continuar assim se continuarmos aqui, tudo aqui me
lembra o meu marido, não vou conseguir começar algo novo com tantas
lembranças dele aqui pois o amo, isso faz eu me sentir como se tivesse
traindo-o e eu não suporto isso. Meu Deus, o quartinho das meninas está
praticamente pronto, se decidirmos sair daqui vamos ter que fazer tudo
outra vez e elas já estão perto de nascer. Bom, tem muita coisa que vamos
poder tirar de lá e levar para outro lugar, a pintura e tudo mais que tiver que
ser feito, sei que podemos dar um jeito para terminarem logo.
Saio do banheiro e me seco. Me visto calmamente pensando nessa
conversa que teremos e sei que ele vai concordar comigo. Termino de me
arrumar e saio do quarto, ele está em pé no corredor encostado na parede,
pensativo como ainda não havia visto.
Não dissemos nada, apenas passo por ele e o mesmo abraça a minha
cintura carinhosamente e pega a minha mão, descemos as escadas com
calma e devagar, ele fica atento a mim e pede para eu segurar no corrimão,
assim o faço para deixá-lo tranquilo.
Seguimos para sala de refeições e a mesa está posta, acordamos
tarde, ou melhor, eu acordei tarde mas Cícera faz questão de pôr a mesa do
café para nós, e por sua vez, Tony faz questão de me acompanhar para eu
não comer sozinha, acho isso muito fofo da sua parte.
— Bom, como você mesma levantou o assunto sobre não conseguir
seguir a diante com as lembranças dele aqui, eu pensei por um momento e
acho que devemos ir para minha casa, não fica longe daqui, a casa é tão
grande quanto essa e também tem um ótimo quintal para fazer o parquinho
das meninas como você tanto quer, também é uma área segura pois eu e
meu irmão tínhamos os mesmos gostos, prova disse era nós dois amarmos a
mesma mulher, você...! Quanto a essa casa, não quero que você se desfaça
dela, isso aqui será das meninas no futuro assim como a minha casa
também, quero dizer, nossa casa também... Você pode alugar essa casa, ou
emprestar para Luana e Otávio apenas para não deixá-la vazia, assim eles
cuidam da casa para você, a decisão é sua. Enfim. A decisão que você
tomar eu vou te apoiar. — Suas palavras me surpreendem, não esperava
todas essas suas idéias e na verdade eu gostei muito.
— Você vai me assumir como sua mulher, vai assumir as minhas
filhas como suas filhas, ou seja, você será o chefe da nossa família e eu
concordo com os seus argumentos... Eu não tive tempo de pensar muito
enquanto me vestia, no entanto, a idéia de trazer Lua e sua família para
ficarem aqui, me agradou muito, é o mínimo que eu posso fazer para
retribuir tudo que ela já fez por mim nessa vida. Moramos naquele bairro
humilde por muitos anos, é hora de termos uma vida melhor e sei que seu
irmão também aprovaria uma decisão como essa. — Concordo realmente
feliz com essa decisão, vai ser melhor assim.
— Então você aceita se mudar comigo para minha casa? Você não
vai precisar levar nada daqui, a menos que você queira levar, lá em casa tem
praticamente tudo que tem aqui, o quarto das meninas você pode deixar de
presente para Joaquim, eles só vão precisar trocar a cor. Eu faço questão de
mandar preparar tudo de novo lá em casa, mas dessa vez não quero você
correndo atrás de nada, a decoradora já sabe de tudo que você quer então
deixa tudo por conta dela. — Vejo ele mais empolgado e me empolga
também.
— Está bem, vamos nos mudar o quanto antes, deixa a decoradora
terminar o quartinho e vou pedir apenas para mudar as cores. As coisas que
compramos eu vou ter que levar pois é tudo rosa, lilás, cores de menina e
eles não vão querer... Estou empolgada, a sua casa é realmente muito bonita
e espaçosa. — Comento sorridente.
— E tem uma vantagem, só tem um andar, não tem escadas para
você me assustar como fez agora pouco, até para as crianças vai ser melhor
quando estiverem correndo pela casa.
Afirma com um sorriso tão lindo, nos empolgamos e conversamos
bastante enquanto comemos, já faz tempo que não me sinto assim tão bem,
ele me faz bem e sinto que posso sim recomeçar o meu futuro com ele, mas
dessa vez vamos com calma mesmo sentindo que já nos conhecemos a vida
inteira, parece estar acontecendo um Déjà vu, sinto com Tony as mesas
sensações que sentia com Théo quando nos conhecemos, com a diferença
de que ele é extrovertido, ele faz piadas e brincadeiras para descontrair e me
fazer sorrir, ele é sério quando precisa ser, mas também consegue ser um
palhaço apenas para me divertir.
Sem falar no fato dele estar ao meu lado durante todo o período da
gravidez, ele me acompanha para médicos, sai comigo quando quero
comprar alguma coisa e está sempre satisfazendo os meus desejos de
grávida. Ele é realmente um amor.
Depois do nosso café da manhã saímos para o jardim da casa, me
sento em uma cadeira de balanço na sombra com ele ao meu lado. Não faz
mais sentido continuar com ele ao meu lado nessa casa, aqui é realmente
muito bonito, tranquilo e arejado, mas na casa dele também é e fica ainda
mais perto do trabalho dele.
Mais uma vez sinto que tudo está acontecendo rápido mesmo eu não
querendo isso, ainda vai fazer sete meses que ele se foi, o nosso amor era e
ainda é tão grande, mas o fato de também amar Tony faz tudo ser um pouco
mais fácil, faz tudo ser menos doloroso que realmente deveria ser ao perder
um grande amor.
— Você ficou tão pensativa, está tudo bem? Está reconsiderando a
idéia de se mudar daqui comigo? — Seu é tom sereno, tranquilo e ele toca a
minha barriga.
Deito a minha cabeça em seu ombro ainda pensativa, tento não
deixar as lembranças dele me abalar novamente pois ele me pediu para
seguir em frente.
— Não... Não estou reconsiderando, pelo contrário. Quero sair
daqui o quanto antes mas Cícera vem conosco, eu vou precisar muito dela.
— Solto um suspiro pesado. — Eu quero me deitar, de repente eu fiquei
deprimida por pensar demais e eu não quero e não posso ficar chorando
como antes, não faz bem para as meninas e eu já estou ciente disso. —
Levanto-me com cuidado e ele me ajuda.
— Quer ficar sozinha? Ou eu posso ficar com você? — Vejo-o
preocupado e não queria isso.
— Se não se importa, eu quero ficar sozinha, vou apenas tentar
dormir um pouco mais aproveitando que as meninas estão calmas, a nossa
noite foi agitada, ainda estou com sono. — Tento ser o mais gentil possível
pois ele já aguentou o meu mal humor por tempo suficiente.
Eu andava triste demais, não queria aceitar a morte de Théo e acabei
o evitando, fui rude com ele algumas vezes quando ele apenas tentava me
ajudar, ele foi muito compreensivo e eu me desculpava sempre que me deva
conta do que estava fazendo, ele não teve culpa de nada e o fato de amá-lo
me fez baixar a guarda rapidamente, com isso tudo se tornou mais suave, a
dor no meu peito passou a doer menos por causa dele e foi justo Luana e
dona Sônia que me fizeram enxergar isso.
— Tudo bem, deixa o seu celular ao lado da cama, se precisar de
mim é só me ligar, não precisa se levantar para me chamar... Vou aproveitar
para ir até em casa, é coisa rápida, vou apenas ver como está tudo por lá e
chamar uma diarista para fazer uma limpeza, organizar a casa para nos
mudarmos quando você achar melhor. — Ele me acompanha de volta para
dentro de casa e solta um suspiro longo.
Acho que ele também está feliz por sairmos daqui, vai ser melhor
para nós dois termos uma convivência sem todas as lembranças que tenho
de Théo para nos deixar inseguros quanto ao que estamos fazendo, mesmo
que ele próprio tenha pedido isso ao irmão.
— Você volta para o almoço? Posso esperar por você ou vai direto
para o trabalho? — Pergunto esperançosa de que ele volte.
Eu fico mais tranquila quando ele passa mais tempo em casa do que
naquele lugar, sei que ele ainda está investigando o tal traficante
responsável pela morte do Théo, e ao mesmo tempo que isso me deixa feliz
por ele não ter se esquecido que há um culpado pelo que houve, também me
deixa apavorada pois o ouvi conversando com Renato sobre vingar a morte
de Théo.
— Hoje vou trabalhar apenas meio período, então pode me esperar
para o almoço, eu não vou me demorar... E por favor? Não suba as escadas
sozinha, se precisar subir e eu não estiver aqui, peça a Cícera para subir
com você, ela já está ciente dessa sua nova função. — Ele sorrir e me dá um
beijo no alto da cabeça. Eu apenas concordo.
Ele pega as chaves do seu carro e sai em seguida me deixando aqui
no meio da sala. Sigo para o meu quarto aqui embaixo mas na entrada do
corredor, pego um porta retrato dos irmãos admirando-os, sinto falta de vê-
los juntos, seus sorrisos pareciam os mesmos. Théo usava o cabelo mais
arrumadinho e roupas mais formais, mais social, o oposto de Tony, por isso
raramente os confundia, mas quando meu marido crismava de deixar os
cabelos mais bagunçados ou levemente desarrumados, usando roupas
casuais em casa e Tony aparecia, era difícil saber quem era quem se não
fosse a pulseira que dei a eles, e para piorar, Tony adorava me confundir se
vestindo como Théo ou apenas arrumando mais o cabelos para ficarem mais
parecidos, eu chamava a atenção deles por isso mas tudo que eles faziam
era rir da minha cara.
Sorrio com essas lembranças e entro no quarto abraçada ao porta
retrato deles, o coloco na mesa de cabeceira ao lado da foto dos meus pais,
sigo até a janela e encaro o céu azul lá fora, suspiro fundo e me sento na
poltrona em frente à janela, fico aqui imersa nos meus pensamentos
acariciando a minha barriga, mais uma vez desejando ter os meus pais aqui
comigo, assim como Théo. Eles me fazem tanta falta.
A minha barriga está enorme e minhas filhas estão perto de nascer, a
minha cesariana está marcada para daqui a uma semana e eu já estou
ansiosa, quero ver se elas se parecem comigo ou com o pai, se puxarem a
mim, elas também vão herdar as minhas sardas pelo rosto e Tony disse que
acha elas lindas. Meu Deus, vamos nos mudar agora e não tem nada pronto
na casa de Tony.
A decoradora não veio hoje mas ligo para ela informando sobre a
mudança, a decoração era para ser finalizada hoje mas ela teve um
imprevisto, talvez eu deva esperar um pouco mais para me mudar, pelo
menos até prepararem o quartinho delas na nova cosa, vou ter que esperar
elas nascerem para depois me mudar.
Afundo-me em pensamentos sobre toda essa situação, pego no sono
aqui senta sentindo o sol contra o meu rosto e está tão bom, não está quente
demais pois estamos no inverno então não me importo em ir para cama.
O tempo passa e eu durmo tranquilamente com um sorriso no rosto
por estar feliz, por saber que logo terei as minhas filhas nos meus braços.
— Você está tão linda, minha filha. Você vai ser mãe de duas
garotinhas lindas e elas serão como você, serão como dois anjinhos...
Estou orgulhosa de você, Atena. Minha Atena. — A sua voz vem de algum
lugar e eu me levanto olhando pelo quarto, mas não vejo ninguém.
— Mamãe...? Onde você está? Cadê você? Eu sinto a sua falta... —
Olho em todas as direções até para novamente em frente à janela.
Ela está ali, para sorrindo abertamente exatamente como eu me
lembro, atrás dela estão meu pai e Théo, todos sorrindo de forma tão
aberta, eles parecem felizes. Já estou aos pratos estendendo os braços para
eles, ambos se aproximam parando lado a lado na minha frente.
— Você está linda, meu amor, exatamente como eu imaginei que
ficaria assim que me contou sobre a gravidez... Vai dar tudo certo, as
meninas vão nascer forte e saudáveis e você será a melhor mãe do mundo,
minha princesa. — Seus dedos cotam o meu rosto suavemente antes de
tocar a minha barriga.
— Théo, ainda tenho dúvidas, ainda não estou completamente
segura das decisões que estou tomando...
— Shiii... Você é uma mulher forte, decidida e muito inteligente,
qualquer decisão que você tomar será a melhor... Você me fez uma
promessa e não estou vendo você cumprir, meu amor... Você o ama e isso é
um fato, então faça o que o seu coração mandar. As nossas filhas terão um
pai como deve ser, e Tony já as ama como se fossem dele, eu sinto e vejo no
coração dele, assim como vejo no seu. — Suas palavras me fazem chorar
ainda mais.
Abraço-o apertado e ele retribui, sinto os seus carinhos nos meus
cabelos e meus pais abraçam a nós dois.
— Segue em frente, filha... Segue em frente, não pare no tempo pois
a vida é preciosa e passageira, dedique o seu tempo e seu amor a sua
família, ao seu futuro marido, ele será tudo que vocês precisam, ele é um
bom rapaz e está se esforçando para cumprir a promessa que fez ao Théo.
Estamos com você, estamos felizes por ser uma mulher tão forte, querida.
— Papai segura o meu rosto, eles não mudaram nada, continuam iguais.
— Põe para fora todo o amor que você sente por ele, entregue esse
sentimento a ele, filha! Pois ele já te entregou o dele. — Mamãe parece um
pouco mais angustiada, parece que ela tem medo de me ver sozinha.
Encaro Théo e ele apenas concorda. Seu olhar também parece mais
aflito e isso me deixa confusa.
— Tony vai querer vingar a minha morte, não deixa-o ir, Atena! Ele
não pode deixar você sozinha com as nossas filhas, não deixa ele ir...
Impeça-o! Impeça-o! Impeça-o! — Théo pede em um tom firme e decidido.
Ele se afasta de mim mesmo eu tentando prendê-lo a mim, meus
pais também desaparecem diante dos meus olhos me deixando angustiada.
— Não... Não vão...? Não vão...? O que querem me dizer? Papai?
Mamãe...? Théo...! — Chamo por eles mas todos desaparecem diante de
mim.
Sinto o meu corpo sendo movido e eu abraço o seu pescoço, meu
corpo relaxa no colchão macio e eu agarro o travesseiro me acomodando
melhor.
— Disse que ia me esperar para o almoço e ainda está dormindo...
Dorme, meu amor, descanse, meu anjo. — Sinto ele acariciar o meu rosto e
beijar a minha testa. Me entrego ao sono novamente.

— Atena? Amiga...? Minha nossa, como dorme, parece eu grávida


de Joaquim. — Ouço a voz de Lua e suspiro fundo ainda de olhos fechados.
— Por mim eu dormiria o dia inteiro, mas minha bexiga já está
doendo de tão cheia... Me ajude a levantar? A minha barriga está muito
pesada. — Esforço-me para abrir os olhos, ainda estou muito sonolenta. Ela
sorrir enquanto me ajuda.
— Cícera está preocupada pois você ainda não almoçou. Você
precisa comer alguma coisa, Atena, você não voltou com aquela bobagem
de ficar sem comer, não é? — Questiona séria.
— Mas é claro que não, Lua, eu estou comendo por três, esqueceu?
Essas meninas são tão gulosa quanto eu e Tony disse na minha cara que sou
gulosa, acredita nisso? — Sorrio ao me lembrar de tal acontecimento, ele é
realmente muito espontâneo. Como eu.
— Os seus olhos voltaram a brilhar como antes, isso se deve ao
amor que você sente por ele? Estão finalmente se entendendo? — Vejo a
curiosidade nos seus olhos.
— Digamos que nós nos beijamos de novo e eu pedi a ele para
irmos devagar... Eu vou tentar, Lua, eu sei que não estou fazendo nada de
errado, eu o amo mas não me sentia pronta para dar o meu amor a ele,
porém... Ele está sofrendo com a minha rejeição e eu por falta de ter os seus
carinhos... Eu gosto muito dele e não quero acabar afastando-o de mim. —
Desabafo lembrando-me da nossa última conversa onde ela mesma me
alertou sobre essa possibilidade.
— Minha nossa, até que enfim! Todos sabemos que você amou
muito o seu falecido marido e nunca o desrespeitou, sempre foi fiel ao Théo
mas ele não está mais aqui e você precisa seguir a sua vida, já tem quase um
ano que ele se foi, as meninas vão nascer e vão precisar de um pai, e você
vai precisar de alguém que te ajude e te apoie, e acima de tudo que te ame, e
você já tem tudo isso dentro da sua casa. — Insiste confiante me
acompanhando até o banheiro.
Sorrio pois sei que ela tem razão, lembro-me do sonho que tive onde
os meus pais e o próprio Théo me apoiavam para seguir ao lado de Tony. Eu
nunca havia sonhado com os meus pais dessa maneira, toda vez que
sonhava com eles era sobre o nosso acidente, em anos foi a primeira que
que eles falaram comigo fora daquela cena do acidente, e eles pareciam
felizes ao lado de Théo, todos estão aceitando a minha decisão de ficar com
ele. E é isso que vou fazer.
Saio do banheiro com Lua falando empolgada sobre o quartinho das
meninas e eu ainda nem escolhi os nomes delas, estou em dúvida sobre
alguns nomes mas depois eu vejo isso, não estou com cabeça para nada,
estou pensando em deixar para dar nomes a elas depois que eu ver os seus
rostinhos, e talvez eu faça mesmo isso, afinal, já está mesmo chegando o
dia delas nascerem.
Não vou falar agora com ela sobre a mudança, depois
conversaremos com calma e eu faço a proposta dela se mudar para cá.
Saímos do quarto com ela dizendo que pediu a Cícera para preparar algo
para eu comer e sorrio por ela ainda se preocupar e cuidar tanto de mim.
— Não, Renato! Vocês não vão até lá sem mim! Eu quero estar
presente para fazermos essa prisão, e vocês vão me dar dois minutos a sós
com ele. Eu mesmo quero meter uma bala no meio da testa daquele
desgraçado! Eu vou vingar a morte do meu irmão e você prometeu me
ajudar nisso. — Ouço a voz alterada de Tony vindo da sala enquanto nos
aproximamos.
Partes perdidas do sonho que tive voltam a minha mente, com a voz
firme e decidida de Théo ecoando na minha cabeça.
"— Tony vai querer vingar a minha morte, não deixa-o ir, Atena!
Ele não pode deixar você sozinha com as nossas filhas, não deixa ele ir...
Impeça-o! Impeça-o! Impeça-o!"
— Não interessa, Renato! Eu preciso fazer isso pelo Théo! Preciso
vingar o meu irmão! — Afirma inquieto e eu paro na entrada do corredor.
— Se ele for, ele não vai voltar, Lua... Ele também vai me deixar...
Não... Não... Tony! — Sussurro sentindo as minhas pernas bambas.
Sinto uma pontada na barriga e desabo, caio de joelhos sentindo um
calafrio subir pela minha espinha. Luana me abraça preocupada.
— ATENA! Meu Deus, o que houve? O que você tem, meu amor?
— Ele corre até a mim e se abaixa na minha frente tocando a minha barriga.
Encaro o seu rosto olhando nos seus olhos, minhas lágrimas já estão
descendo livremente.
— Me leva para o hospital? Eu não estou me sentindo bem... Eu não
quero perder as meninas... Não quero... — Choro me sentindo realmente
mal. Com medo de perdê-lo também.
— Fica calma, Tena, vai dar tudo certo. — Lua limpa o meu rosto
pois estou suando frio.
— As bolsas dela e das meninas já estão prontas, Luana! Te espero
no carro, não demora! — Tony me pega no colo e sai apressado.
Abraço o seu pescoço apertando-o com força, com medo de solta-lo,
apenas choro em silêncio pois não vou aguentar perder mais ninguém, eu
não vou aguentar.
— Não chora, sardenta...? Por favor não chora? O que está
sentindo? Está com dores? Eu vou te levar para o hospital. — Ele sai
comigo de casa e abre a porta do carro pondo-me com cuidado.
Ele dá a volta no carro e entra no mesmo dando a partida, Lua
aparece correndo e entra atrás. Não tiro a minha atenção de Tony, o meu
medo de perdê-lo está me deixando apavorada. Ele sai de casa afoito
ganhando as ruas frias de Detroit, pego a sua mão segurando com firmeza e
ele beija a minha mão, dividindo a sua atenção entre mim e a pista.
— Ahh... Meu Deus... Eles querem nascer... As meninas querem
nascer... — Respiro fundo segurando a minha barriga com as duas mãos.
Sinto como se elas estivessem emburrando para sair, elas não vão
esperar mais.
— Mas ainda não está na hora, o parto está marcado para daqui a
uma semana... Qual é, sardentinhas? Esperem um pouco mais, meus
amores? O papai está pedindo? — Ele toca a minha barriga sem tirar a sua
atenção da pista.
As suas palavras me surpreendem mas me deixa feliz, Théo me
disse em sonhos que Tony as sentem como suas filhas, e assim será.
Contorço-me no banco sentindo as dores aumentar, dessa vez acho que ele
não vai conseguir acalmá-las, elas sentem a minha aflição por causa dele.
Pouquíssimos minutos depois ele para na entrada da emergência e
sai desesperado vindo me ajudar, Lua sai em seguida correndo para dentro
da emergência aflita e volta com uma cadeira de rodas, pedindo a Tony para
me pôr sentada na mesma e juntos eles me levam para dentro enquanto eu
rezo mentalmente para que tudo dê certo. Algumas enfermeiras aparecem
querendo saber o que houver enquanto me levam para o atendimento, mas
Lua fica para preencher a minha ficha.
— Me desculpe, senhor, mas você não pode entrar!
— Eu sou o pai! Então eu vou entrar sim! — Contesta em um tom
firme segurando a minha mão.

— Tudo bem, senhor, me desculpe. — Concorda a enfermeira me


levando para sala de ultrassom.
Tony me tira da cadeira me colocando na maca, um médico vem me
atender e faz o ultrassom enquanto me enche de perguntas, mas a maioria
delas quem responde é Tony, ele está agindo como um verdadeiro pai.
— Fica tranquila, Sra. Carlson, os seus bebês estão ótimos e elas
não vão nascer hoje, o seu útero está fechadinho, está tudo bem com você e
os bebês. Vou colocá-la em observação apenas porque a sua pressão está
levemente alta, se até o final da tarde você estiver bem, eu te darei alta e
você vai precisar repousar muito até a data marcada para o parto. Evite
aborrecimentos, ok? — Explica o médico me dando toque e eu odeio isso.
— Mas ela está sentindo dores, não são as contrações do parto? Ela
vai poder tomar algum remédio para aliviar essas dores? — Pergunta
preocupado segurando firme a minha mão.
— Não, o remédio que ela vai tomar, nós vamos administrar aqui no
hospital, se as dores não passar ela continua em observação, está bem? Vou
pedir para providenciar um leito para ela na enfermaria, se ela tiver que
ficar mais tempo, então ela será transferida para um quarto. — Ele vai para
sua mesa rabiscando alguma coisa.
Tony concorda e eu só consigo pensar naquele sonho, Théo me
pediu para impedi-lo de sair para vingá-lo, mas como vou fazer isso? Como
vou impedi-lo de ir atrás desse traficante? Meu Deus, me ajuda? O que eu
faço? Como faço?
— Ainda está sentindo dores, meu amor? Porque ainda está
chorando? — Ele toca o meu rosto secando as minhas lágrimas.
— Precisamos conversar, a conversa será séria, talvez por isso eu
tenha passado mal. — Seguro a sua mão sobre o meu peito, mas ponho-a na
minha barriga.
— Tudo bem, mas primeiro você se recupera e depois conversamos,
não estou gostando de te ver assim. — Seu olhar é apreensivo mas ele beija
a minha mão, em seguida volta a acariciar a minha barriga.
— Sr. Carlson! Uma enfermeira virá para levar a sua esposa até a
enfermaria, se quiser ficar como acompanhante não haverá problemas. — O
médico se refere a ele como meu marido e ele abre um pequeno sorriso.
Acho que já sei como impedi-lo de ir atrás desse traficante. A
mesma enfermeira de antes volta com a cadeira de rodas mas dessa vez, o
próprio Tony me conduz para a enfermaria e seguindo atrás da enfermeira.
Minutos depois já estou acomodada e recebendo a medicação no
sono, Lua aparece para me entregar as bolsas e Tony pede para ela ficar
comigo enquanto vai até a delegacia, peço para ele não ir mas ele diz que
será rápido, que não vai demorar. Quando vejo-o passar pela porta da
enfermaria, meu peito se aperta e eu volto a me desesperar.
— Tony!
Chamo por ele me sentando na cama com a mão na barriga, ele
volta até a mim com um olhar atento. Meu cunhado se aproxima e toca o
meu rosto de um jeito suave e delicado, ele me dá um sorriso diferente que
não sei explicar o que ele transmite, não estou gostando disso, sinto que
será uma despedida.
— Preciso te fazer um pedido, e se você aceitar, preciso impor
algumas condições... Na verdade, uma condição. — Toco o seu rosto com
as duas mãos como eu fazia com Théo, como eu fazia com ele quando ainda
era cega.
— Que pedido você quer me fazer? Do que se trata? O que você tem
Atena? Você parece agitada, nervosa. Parece com medo de algo...
— Estou com medo de perder você... Tony... Eu te amo, você é tudo
para mim, é tudo que eu quero e preciso além das minhas filhas. Se
acontecer alguma coisa você, eu não vou resistir, eu só estou conseguindo
superar a perda do seu irmão porque eu tenho você, porque eu te amo. —
Declaro em um tom trêmulo. Ainda não havia me declarado assim para ele.
Seus olhos brilham como estrelas no céu, seu sorriso se abre e ele
me beija, eu não recuso, retribuo o seu beijo abraçando o seu pescoço.
— Eu esperei tanto para ouvir... Você está se declarando para mim e
não para o Théo... Eu te amo, sardenta... Te amo. — Diz olhando nos meus
olhos, ele me beija mais uma vez antes de me abraçar apertado.
— Quero me casar com você... Mas eu tenho uma condição para
isso. — Disparo ainda abraçada a ele. Tony se solta de mim visivelmente
surpreso.
— Você está me pedindo em casamento, Atena...? É isso? —
Encara-me de boca aberta, mas sua expressão é tranquila, suave.
— Não quero que se envolva na prisão do traficante que matou o
Théo, se tiver que fazer alguma coisa, peça para farem, não se meta nisso
diretamente, se você fizer o que estou pedindo, eu me caso com você
quando você quiser, e não estou fazendo isso apenas para te impedir, estou
fazendo também porque eu te amo e tenho medo de te perder... Estou com
um mal pressentimento em relação a essa prisão, tenho medo de tentarem
algo contra você e é por isso que eu passei mal... Eu não posso perder as
nossas filhas, Tony... Por favor? Me dá essa tranquilidade? Não vai atrás
desse cara? Fica aqui comigo? Eu estou te implorando. — Tento a todo
custo não chorar mais, mas meu peito ainda dói de medo.
Ele não diz nada, apenas fica ali parado na minha frente pensativo.
Ele tira o celular do bolso e liga para alguém, enquanto espera ser atendido
ele se senta na cama segurando a minha mão e olhando nos meus olhos.
— Renato, é o Tony! Estou ligando apenas para dizer que você pode
ficar à frente da prisão de Marcelo cunha. Estou me retirando do caso a
pedido da minha noiva... É isso mesmo que você ouviu, cara, a minha
sardenta me pediu em casamento e essa ligação é um sim ao pedido dela...
Beleza, parceiro! Falo melhor com você depois, ela está no hospital e eu
vou ficar com ela... Tudo bem, é só me manter informado. — Ele conversar
olhando nos meus olhos e sei que estou sorrindo e chorando ao mesmo
tempo.
Meu maxilar dói pelo sorriso largo no meu rosto mas minhas
lágrimas também descem. Ele desliga o telefone sorrindo e mais uma vez
toca o meu rosto.
— Se eu tiver que escolher entre vocês e o trabalho, eu sempre vou
escolher vocês.
— Isso era tudo que eu precisava ouvir, meu amor. — Atiro-me em
seus braços o apertando com firmeza.
— Me desculpe, senhores, mas a senhora não pode se emocionar
assim, a sua pressão já está alta e desse jeito vai acabar subindo mais. —
Nos alerta a enfermeira emocionada assim como Lua quietinha no canto.
— Eu só estou feliz. Na verdade eu estou muito feliz e eu não me
sinto assim a meses... Eu só quero garantir que a minha família não vá se
despedaçar novamente. — Seguro o rosto dele com as duas mãos e beijo-o
apaixonadamente.
Nos declaramos e sorrimos entre os beijos, trago Lua para mais
perto de mim e conversamos um pouco sobre a ideia de me casar de novo,
não pensei que apressaria as coisas novamente mas essa foi a única maneira
de garantir que Tony faria que o que eu pedisse, bom, pelo menos sei que
ele não vai atrás daquele bandido então posso dizer que consegui impedi-lo
como Théo me orientou.
Resolvo contar a ele sobre o sonho que tive, e para a minha surpresa
ele disse que também teve um sonho parecido, onde Théo e o pai o pedia
para não fazer isso, para não ir atrás daquele traficante, ele disse que pensou
ser apenas um sonho e não um aviso como eu estou afirmando que foi, isso
foi um livramento e ele sabe que não vou perdoa-lo se me deixar também.
Tony fica bastante pensativo com isso mas tenta disfarçar para não me
preocupar.
— Amor? Você tem certeza de que quer se casar comigo? Se isso
acontecer você vai perder a pensão do Théo que você recebe da polícia... Eu
não faço questão que você receba essa pensão sendo minha mulher, eu vou
sustentar você e as meninas. — Me alertar apreensivo e eu sorrio.
— Eu te amo, vamos começar uma família juntos então eu também
não faço questão de receber essa pensão... Acho bom ir se preparando
psicologicamente, pois você vai ter que lidar com três mulheres dentro de
casa, papai. — Meu sorriso vai mas orelhas, estou realmente feliz, sinto
como se tivesse sido libertada de algo que me prendia.
— Três sardentas dentro de casa? Vai ser moleza, eu vou tirar de
letra você vai ver. — Diz convencido nos fazendo sorrir.
— Vamos ver se ele vai continuar dizendo isso depois ouvir uma
gritando pelo absorvente, outra dizendo que está namorando e a mamãe
cobrando os seus direitos de esposa, espero que dê conta disso, papai. —
Dispara Lua o deixando de boca aberta.
— Você está tentando me traumatizar, Luana? Eu sei que vou dar
conta do recado, não vem com essa não! — Contesta apavorado nos
fazendo sorrir.
Sinto uma água escorrer pela cama e meu rosto cora, será que eu fiz
xixi? As contrações voltam e eu aperto o braço de Tony com força.
— Tony...! Acho que a bolsa estourou... As meninas decidiram que
querem nascer hoje e não existe médico para dizer o contrário... Ahhh...
Meu Deus... As contrações estão vindo forte, eu não tenho passagem para
perto normal... Chame o médico, Lua! — Deito-me novamente sentindo
uma dor absurda, a minha lombar parece estar se abrindo.
— Respira, meu amor! Fica calma e respira! — Pede apavorado
enquanto Lua corre para fora da enfermaria.
Elas vão nascer hoje, não há quem diga que não pois minhas filhas
tem personalidade forte como os pais delas. O ginecologista obstetra
aparece para me examinar e me encaminha para o centro cirúrgico, Tony
pede para permanecer comigo e o médico permite, todos aqui pensam que
ele é meu marido por termos o mesmo sobrenome, não me importo pois
agora está claro como água que os nossos destinos estão traçados, vamos
nos casar e seremos uma família.
O parto ocorreu tranquilamente e minhas filhas nasceram saudáveis,
chorando com força pois elas tem o pulmão abençoado, Tony não saiu do
meu lado nem um só segundo e também se emocionou quando viu as
meninas pela primeira vez, até pegamos elas no colo por uns breves
minutos pois elas serem levadas para serem cuidadas, e elas são lindas, são
ruivinhas como eu e Tony ficou todo bobo com elas.
Enquanto os médicos terminam os procedimentos em mim, Tony sai
por um instante para dar a boa notícia a Lua, ela com certeza está aflita por
notícias igual eu fiquei quando Joaquim nasceu. Minutos depois estou
saindo do centro cirúrgico e sou levada para um quarto particular, quando
entro com um maqueiro guiando-me até a cama, me deparo com o quarto
cheio de flores, as minhas preferidas e eles estão ali, ao lado da cama com
um sorriso largo no rosto.
— Minha irmã... As meninas já estão no berçário e elas são tão
lindas, ruivinhas iguais a você. — Lua está emocionada e se aproxima
ajeitando o meu travesseiro enquanto sou colocada na cama.
— Elas são mesmo lindas, são as minhas vidas, Lua... As minhas
filhas são tudo para mim, são a continuação da minha existência... — Meu
sorriso é tão largo quanto o dela.
Estou tão feliz. Ela me abraça com cuidado e beija o meu rosto com
carinho, é tão bom tê-la aqui comigo em um momento como esse, e poder
viver e enxergar tudo a minha volta é como um sonho, estou construindo a
minha família e vou poder ver os rostos de cada um deles.
— Elas serão as minhas filhas, eu e Théo éramos gêmeos idênticos e
os nossos DNA também, então é como se elas fossem realmente minhas
também... Eu vou fazer tudo por vocês, Atena, minha sardenta... Eu sabia
que elas seriam as suas copias, elas são lindas demais, a pele clara e os
cabelos ruivos, os olhos azuis. Elas são perfeitas. — Tony vem para o outro
lado da cama e pega a minha mão carinhosamente.
— Concordo! Elas são perfeitas e eu já estou ansiosa para vê-las,
para amamenta-las... Vou precisar de ajuda, não vou conseguir amamentar
as duas ao mesmo tempo, os meus braços estão pesando toneladas por causa
da anestesia. — Suspiro ainda sorrindo. Ele me abraça e me beija com
calma, com paixão.
— Amo você... Amo muito você...
Declara entre os beijos, um beijo tão doce, cheio de amor e ternura,
seus olhos ainda estão brilhando como estrelas no céu, eu nasci para ser
uma Carlson, seja com um ou com o outro eu serei feliz como fui um dia e
estou sendo agora.
— Te amo, Tony... Te amo...
Seguro o seu rosto com as duas mãos desenhando os seus traços, eu
aprendi a amar fazer isso, só para saber que é ele aqui comigo. Seu sorrio ao
ouvir a minha declaração é tão grande, tão largo que me faz sorrir também.
— Eu sabia que vocês iriam se entender, sempre soubemos que se
amavam, vocês nunca souberam esconder isso. — Saio dessa viagem de
amor com dona Sônia entrando no quarto com o Sr. Adalberto.
— Dona Sônia, Sr. Adalberto... Que bom que vieram. — Abro mais
o meu sorriso pois pela primeira vez em meses eu realmente sinto uma
felicidade sem tamanho.
— Não podíamos deixar de vir, querida, prometemos aos seus pais
que estaríamos ao seu lado nos momentos bons e ruins, e nós passamos por
todas essas fazes juntos... Você está feliz outra vez e nós vamos continuar
ao seu lado. — Sr. Adalberto se aproxima pegando a minha mão.
— Eu jamais vou esquecer tudo que fizeram por mim, o amor e
carinho que me deram eu espero conseguir retribuir a altura... Meus pais
não estão aqui nesse momento tão importante para mim, mas sinto através
de vocês que eles estão aqui, que estão orgulhosos de mim e da família que
eu construí... Obrigada por tudo, todos vocês contribuíram para essa minha
felicidade, e aos que não podem estar aqui conosco, sempre estarão no meu
coração... O amor que eu sinto por cada um de vocês é sem medidas, não
tem tamanho mas saibam que é imenso. O olhar que vocês tiveram para
mim enquanto eu estava na escuridão, era um olhar sem medidas, um olhar
de amor e compaixão que somente a minha família teria por mim... Eu amo
muito você por mais que eu não saiba como demonstrar isso, vocês são a
minha família e assim como nunca me deixaram sozinha, eu jamais vou
deixá-los sozinhos... Somos uma família e a nossa família cresceu.
Perdemos um mas ganhamos outros três, as minhas filhas e o meu futuro
marido. — Desabafo emocionada segurando firme a mão de dona Sônia e o
marido.
— Concordo com você, filha, quando perdemos algo ou alguém que
amamos muito, Deus sempre nos recompensa como forma de abrandar o
nosso coração, o nosso sofrimento, e estou muito feliz em ver que você
enxergou essa oportunidade que Deus e a vida estão te dando... Não é
errado amar de novo ou amar ainda mais após uma grande perda, pelo
contrário, precisamos seguir em frente pois Deus não fez o homem e a
mulher para viverem sozinhos, ele nos fez para sermos felizes e vocês estão
seguindo isso. E sim, querida, os seus pais estão muito orgulhosos de você,
nunca tenha dúvidas disso. — Sr. Adalberto acaricia a minha com ternura e
me dá um sorriso tão amoroso.
— Obrigada pelo apoio de vocês, eu jamais teria essa visão da vida
sem os conselhos de pessoas tão sabias e amorosas. — Recebo um abraço
de cada um deles. Abro os braços para minha irmã. — Lua... Depois
daquele trágico acidente eu praticamente nasci de novo, e
consequentemente aprendi tudo de novo e você sempre esteve lá para me
ajuda, me apoiar e me amar sem preconceitos, sem medos, sem receios... Eu
literalmente dei os meus primeiros passos com a sua ajuda, não sei o que
teria sido de mim se não tivesse você ao meu lado... Nascemos para sermos
irmãs, mesmo que em famílias diferentes, e eu vou fazer agora tudo que eu
puder por você e sua família... O meu amor por você é incondicional, é
eterno... Eu só quero que Deus não me tire mais ninguém, quero estar na
terra por tempo suficiente para ver você se tornar bisavó e estragar os seus
netos com tantos mimos, assim como eu vou fazer com os meus... Somos
mães e somos felizes, construímos as nossas famílias como sempre
planejamos, e o mais importante de tudo isso, é que fizemos juntas, estamos
ao lado uma da outra como sempre prometemos que estaríamos... Eu te
amo, Luana... Te amo muito minha irmã... — Minhas lágrimas descem
insistentemente mas não me importo.
Ela chora tanto quanto eu, me abraça tão apertado, com o mesmo
amor gigante que sinto por ela, com a mesma ternura de todos esses anos ao
lado uma da outra. Ela se solta de mim olhando nos meus olhos.
— Minha irmã... Meu Deus, como você consegue me fazer chorar
tanto...? A nossa cumplicidade de amigas é algo abençoado por Deus, isso é
algo raro, mas é possível como foi com a gente e não vai terminar aqui...
Como você mesma sempre diz, o nosso amor de amigas, de irmãs, é um
amor sem medidas, não tem tamanho, só tem amor, simples assim e com os
nossos filhos não será diferente, eles vão se amar, vão ser amigos e primos e
terão um sentimento como o nosso, algo sem medidas e nós vamos apoiá-
los. — Seu tom é choroso, porém, firme e decidido.
— Vamos apoiá-los! Eles serão amigos como as mães deles são... E
os pais também pois Otávio é o meu melhor amigo, e já vi o quanto ele e
Tony também estão se entendendo bem. — Estendo a mão para ele e o
mesmo pega beijando o alto da minha cabeça.
— Amar você é algo extraordinário, pois juntos com isso a gente
ganha também novos amigos, uma família unida e amorosa e eu nunca tive
isso, a minha única família praticamente era apenas o Théo, Deus o levou
para junto do nosso pai mas em compensação, ele me deixou você e sua
família, e todos estão me aceitando tão bem que parece inacreditável... Não
é à toa que nos apaixonamos pela mesma mulher, você é um ser incrível,
alguém capaz de nos despertar sentimentos que a gente julga impossível de
sentir, um amor que não imaginávamos que pudesse existir... Eu nunca
sonhei em me casar e ter filhos, eu estava satisfeito com a vida que eu tinha,
uma vida sem rumos e sem nada definitivo, uma vida de liberdade, pelo
menos eu pensava que era livre... Até conhecer você e me apaixonar
perdidamente, só então descobri que estava preso em um mundo de solidão
e a minha única saída era amar você. Mas como amar uma mulher que já
tinha o amor do meu irmão? Eu me senti mal, me senti perdido pois você
era proibida para mim, até tentei me afastar mas Théo não deixou, pois me
afastando de você eu também me afastaria dele. — Tony desabafa me
olhando de um jeito que não sei explicar, sua voz é suave mas ele está tão
emocionado.
Ele beija a minha mão e respira fundo tomando fôlego, seus dedos
tocam o meu rosto em um gesto de carinho e ternura.
— Só estou tentando dizer, que é extremamente impossível não
amar você, é impossível não desejar fazer você feliz, é impossível imaginar
um futuro se você não estiver nele. Eu serei o seu melhor amigo, serei o
homem que vai fazer você e as nossas filhas felizes, serei o homem que vai
estar ao seu lado em todos os momentos seja eles bons, ou ruins, serei o
homem que não vai te abandonar jamais pois o meu amor por você não me
permite isso... Serei seu até quando você não quiser que seja. — Declara me
olhando fixamente enquanto os seus dedos acariciam o meu rosto.
Choro de emoção mas sorrio de tanta felicidade.
— Vamos buscar o nosso para sempre juntos! — Ele abre aquele
sorriso lindo que tanto bagunça a minha mente.
— Vamos fazer isso juntos, meu amor! — Concordo ainda mais
decidida, antes de sentir os seus lábios macios tomarem os meus.
Ele me beija com doçura e eu retribuo mesmo ouvindo o choro da
minha família à frente da minha cama.
— Me desculpem por interromper, papai e mamãe! Mas tem duas
garotinhas aqui famintas. — Uma enfermeira entra empurrando um
bercinho duplo com as minhas filhas chorando manhosas.
Nos separamos com um sorriso tão largo no rosto. Ele se afasta
dando espaço para deixarem elas perto da minha cama. A enfermeira coloca
um travesseiro no meu colo e me orienta para eu conseguir amamentar as
duas ao mesmo tempo, elas estão realmente famintas pois estão chorando
muito e isso me dói.
Ela me entrega uma das meninas ajeitando ela no meu colo sobre o
travesseiro, depois me entrega a outra ajeitando-a também, me ensinando
como segurá-las e orienta Théo para me ajudar caso eu precise. Estão todos
me admirando com as meninas mas eu só tenho olhos para elas, minhas
princesas são tão lindas.
— Como elas vão se chamar, Atena...? Você precisa dar um nome a
elas, filha. — Dona Sônia nos admira encantada.
Encaro-a brevemente e volto a admirar as minhas filhas, olho de
uma para a outra pensando em como vou chamá-las. Elas são idênticas
como os pais delas, não tem uma única pintinha diferente uma da outra.
Elas me olham atentas enquanto mamam, sorrio e suspiro fundo encantada
com as minhas bonequinhas.
— Maitê e Eloá... Elas vão se chamar, Maitê e Eloá, mas assim
como os pais delas, vão precisar de uma pulseirinha para saber quem é
quem, optei por nomes diferentes pois até nomes parecidos confundem a
gente. Não é, Tony? — Sorrio abertamente mas ergo uma sobrancelha para
ele. Todos sorriem.
— Só para me defender, a culpa não é minha, não escolhi o meu
nome e nem decidi ser gêmeo. Mas confesso que esse pequeno fato nos
deixa mais unidos, nos amávamos como irmãos e isso nunca vai mudar,
mesmo que ele não esteja mais aqui... Com as meninas não vai ser
diferente, elas vão ser unidas e vão se amar muito, vão cuidar uma da outra
e nós vamos cuidar delas. Não me canso de dizer o quanto elas são lindas.
Nessas horas eu agradeço por ser da polícia, vou poder investigar cada
garoto que se aproximar delas. — Comenta espontaneamente e solta um
longo suspiro nos fazendo gargalhar.
— Não exagera, amor. Assim como eu soube escolher, elas vão
saber também. — Admiro-as mamando atentas a nossa voz.
Quando termino de amamentá-las eu peço para dona Sônia pegar
uma e Lua pegar a outra, preciso descansar os braços um pouco. Tony fica
babando pelas meninas mas tem medo de pegá-las, entretanto Lua insiste
que ele pegue uma das filhas já que ele quer ser o pai delas, isso foi uma
intimação e ele não teve como negar, por fim ele perdeu o medo e anda pelo
quarto conversando com uma e depois com a outra.
Peço para ele não me deixar sozinha com as meninas, estou com
muito sono por causa da anestesia e não quero acordar sozinha no quarto.
Ele me promete que não vai sair de perto de mim, ele sabe o quanto vai me
magoar se descumprir a sua promessa então durmo tranquila suspirando
pela felicidade que voltou a se instalar na minha vida.
Não imaginei que pudesse ser tão feliz depois que Théo se foi, mas
graças ao próprio, eu estou aqui tranquila e feliz por estar me dando uma
nova oportunidade de seguir a diante com a minha família, e de um jeito ou
de outro, eu tenho um Carlson ao meu lado.

Acordo com um chorinho manhoso ao longe mas não abro os olhos,


ainda estou com muito sono.
— Shiii... Não chora princesa, você mamou não tem muito tempo, a
mamãe precisa descansar um pouquinho... A sua mãe tem razão, vocês
precisam de uma pulseirinha, você é a Eloá ou a Maitê? Caramba, estou
perdido. — Ouço ele conversar e sorrio ainda de olhos fechados.
Agora ele sabe o que eu passei com ele e o irmão brincando comigo
quando ficavam tão parecidos. Abro os olhos e ele está andando pelo
quarto, mas está sozinho, Lua e os pais devem ter ido embora mas pelo
menos ele ficou com prometeu. Sonhei mais uma vez com Théo e os meus
pais, mas dessa vez eles apenas sorriam para mim, ou melhor, para nós pois
Tony estava ao meu lado com as meninas no colo, e Théo parecia feliz com
isso, eu não perdi as nossas filhas como ele temia, elas nasceram fortes e
saudáveis e isso graças a ele também.
— Durma um pouco mais, meu amor, você não descansou quase
nada. — Tony vem até a mim mas ouço do outro lado da cama a nossa outra
filha resmungar.
— Elas estão com fome, me dá essa e pega a outra. — Ajeito-me na
cama e ele faz como pedi.
Dou de mama para uma e depois para a outra, fazemos elas arrotar e
ele volta a pôr elas no bercinho depois dormirem. Tony se senta ao meu
lado e ele parece um pouco mais sério que antes, ele beija a minha cabeça
demoradamente e me pega em um abraço tão apertado.
— Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa, Tony...? Amor? —
Tento me soltar mas ele não deixa.
Fico aqui em seus braços acalentando-o até que se sinta pronto para
conversamos, ele suspira fundo e se levanta cruzando os braços.
— Obrigado por me impedir de sair hoje, você salvou a minha vida.
— Confessa de cabeça baixa antes de voltar a sua atenção para mim.
— O que aconteceu para te deixar assim? Seu irmão me pediu para
não te deixar sair, ele sabia que algo aconteceria, mas... O que aconteceu?
— Ajeito-me na cama atenta a ele.
— Renato foi atrás do traficante com uma das nossas melhores
equipes. Eles conseguiram pegar o infeliz, mas o desgraçado estava com
uma bomba presa ao corpo, haviam muitos galões de combustível no galpão
onde ele estava escondido, e... Ele se explodiu levando com ele todos os
oficiais que estavam no local, entre eles, o próprio Renato... Se eu estivesse
lá, eu estaria morto agora. Aquele infeliz armou para nos pegar e ele
conseguiu, mesmo que ele tenha ido junto. — Revela em um tom rouco,
pensativo e triste.
Minhas lágrimas descem espontaneamente, ele queria vingar o
irmão, mas o irmão o salvou de ser morto também. Théo o salvou pela
segunda vez.
— Você está vivo e vai honrar a memória dos seus colegas fazendo
um bom trabalho na delegacia. Não se culpe por nada, você recebeu um
livramento para conseguir cumprir a promessa que fez ao seu irmão, e a
mim também... Você prometeu não me deixar sozinha com as meninas, fico
feliz que esteja realmente cumprindo a sua promessa... Eu sinto muito pelos
oficiais que se foram, sinto muito mesmo, Tony... Mas estou feliz que você
ainda esteja aqui. — Estendo a mão e ele vem de bom grado.
Lhe dou um abraço apertado, acaricio as suas costas e beijo o seu
ombro, um pouco de carinho e conforto é tudo que ele precisa agora.

DOIS MESES DEPOIS...

Termino de amamentar as meninas e deixo cada uma delas em seu


berço, elas desmaiaram depois de mama. Sorrio encantada com as minhas
bonequinhas, elas são tão lindas e se parecem mesmo comigo, mas tem
alguns traços do Theo e Tony, afinal eles erem idênticos assim como elas.
Suspiro fundo e volto para o nosso quarto, admiro o seu lado da
cama vazio sentindo a sua falta aqui comigo, ele tem me ajudado tanto, tem
sido maravilhoso como pai e como marido, me apoiou durante toda a
gestação e isso foi essencial, foi perfeito, mas estamos brigados.
Ontem fui com as meninas visitá-lo na delegacia e aquela Priscila
estava cheia de dedos em cima dele, o cretino estava todo sorridente e isso
me deixou furiosa, ele diz que me ama e deixa aquela policialzinha fazer
massagem nos seus ombros? Eu saí da delegacia na mesma hora para não
brigar com ele mas ele me seguiu até em casa, discutimos feio e o mandei
dormir no quarto de hóspedes mesmo não sendo esse o meu desejo, é
horrível acordar sozinha sem ele na cama.
Ainda não nos casamos pois estamos aguardando o prazo dos
trâmites para o casamento, não vou correr para Las Vegas para me casar
como fiz no passado, dessa vez não vamos nos apressar tanto como eu fiz
com Théo.
Acabamos de nos mudar e estou feliz na casa nova, aqui é perfeito.
Quanto a outra casa, já conversei com Lua e seus pais e eles aceitaram a
minha proposta, eles ficaram muito felizes de poderem se mudar para uma
casa melhor e mais perto de mim também, a casa fica apenas cinco minutos
de carro uma da outra e isso também é perfeito, pois vamos continuar perto
uns dos outros.
Entro no banheiro encarando o anel e a aliança que Théo colocou no
meu dedo, eu não estava pronta para tirá-la do dedo mas acho que já está na
hora de fazer isso, e eu não pensava assim até Tony também me dar um anel
essa semana. Ele fez um jantar aqui mesmo em casa pois eu estou de
resguardo e não queria sair ainda com as meninas, ele mesmo cozinhou para
mim e preparou uma linda mesa para nós no jardim, foi algo incrível, foi
perfeito mesmo eu não podendo me entregar a ele. Os nossos beijos e
carícias tem ficado cada vez mais intensos, mas ele sabe respeitar o meu
tempo para me recuperar totalmente.
Tiro o anel e a aliança de Théo do dedo e ponho em uma caixinha de
joias sobre a pia, depois eu guardo no armário. Me despi sentindo o meu
corpo cansado, eu preciso de um bom banho antes do jantar mas estou
morrendo de sono, eu nunca passei tantas noites em claro como agora, mas
não estou me queixando, eu amo as minhas filhas e a fome delas não tem
hora certa. Sorrio entrando embaixo da água quente deixando os jatos fortes
massagear o meu corpo para relaxar os músculos.
Depois de um tempo no banho eu saio enrolada na toalha, vou para
o closet me trocar para tomar café da manhã e nem sei se ele vai estar na
mesa comigo, odeio comer sozinha pois já me acostumei com ele sempre
comigo. Visto uma calcinha confortável e pego um vestido soltinho e
confortável para vestir, mas sinto ele me abraçar por trás segurando a minha
cintura com firmeza eu me estremeço.
— Tony...
Sussurro o seu nome por senti-lo tão excitado, estou subindo pelas
parede de tanto desejá-lo e estamos nos controlando a tempos, pois ainda
estou de resguardo.
— Precisamos conversar, sardenta, eu não vou mais dormir em um
quarto de hóspedes longe de você, eu não vou suportar isso. — Ele me
aperta contra o seu corpo me deixando tensa, nervosa. Mas me solto dele.
— Ainda estou chateada, não estou tranquila para conversarmos
agora... Não quero aquela mulher tocando em você outra vez, eu não vou
aceitar isso, Tony! Se quer mesmo se casar comigo é bom não me magoar!
— Saio do closet irritada mas ele vem atrás.
Tento pôr o meu vestido mas ele toma da minha mão. Cubro os
meus seios com o braço me sentindo sem jeito, não é a primeira vez que ele
me ver assim, já tomamos banho juntos e rolou amassos quentes mas não
passou disso.
— Eu já me expliquei, eu não tenho nada com ela, Atena! Priscila é
só uma colega de trabalho, estamos na mesma corporação a anos e nunca
aconteceu nada entre nós, porque eu faria isso justo agora que tenho
você...? Eu jamais te magoaria, você precisa acreditar em mim! — Contesta
inquieto se esforçando para não se alterar.
— Eu estou tentando, Tony! Mas não vou aguentar ver aquela
mulher tocando em você outra vez. Eu estou estressada, chateada e quando
resolvo fazer um agrado ao meu noivo o encontro com aquela policial
praticamente se esfregando dele! Não parou para pensar em como estar a
minha mente? Eu te amo e estou morrendo de ciúmes, droga! Você ainda
não entendeu isso? — Irrito-me novamente mas sinto ele me puxar
abruptamente pela nuca me beijando ferozmente.
Sinto as minhas costas contra parede e tento me soltar, mas ao invés
disso me rendo aos seus beijos sedenta de desejo por ele, estou desde ontem
sentindo falta dos seus beijos, do seus toques na minha pele.
— Eu te amo, sardenta... Nenhuma outra mulher me interessa mais
do que você, não precisa ter ciúmes de ninguém... Atena... Sardenta, eu te
amo... Te quero...
Seu tom rouco em meio aos beijos acariciando o meu corpo, me
derrete, me estremece e eu só consigo desejá-lo.
— Eu te amo, Tony... Eu te amo...
Sussurro entre beijos abraçando o seu pescoço. Sinto a sua língua
quente no meu ombro e subir pelo pescoço, ofego, sussurro me derretendo
inteira por ele.
— Tony... Não podemos ainda...
Solto-me dele tentando resistir à tentação, mas ele me puxa pela
nuca tomando a minha boca em um beijo faminto, roubando as minhas
resistências.
— O seu período de resguardo já passou e eu não estou mais
aguentando, sardenta... Estou te desejando demais, trabalhei o dia inteiro
trancado na minha sala por me excitar tanto pensando em você. —
Surpreendo-me com as suas palavras e o seu tom rouco.
Mas sorrio por saber que ele está sempre pensando em mim. Ele tem
razão, o meu período de resguardo já passou e eu não me dei conta.
— As meninas estão fazendo dois meses hoje e eu não me dei conta,
estou tão exausta que acabei perdendo a noção do tempo. — Admiro o seu
corpo com desejo pois ele está sem camisa, ele me atrai muito.
— Eu queria preparar uma noite romântica para a nossa primeira
vez juntos, queria te levar ao melhor hotel da cidade para termos um
tempinho só nosso, quero te encher de flores e beijos mas não consigo mais
esperar... Te ver assim, nua na minha frente me deixa louco... Quero você,
meu amor... Me deixa sentir, sardenta? — Tony me pega novamente em
seus braços me deixando trêmula, ele está tão duro.
— Quero você... Quero ser sua mulher, Tony...
Abraço o seu pescoço e ele me ergue em seus braços, envolvo as
minhas pernas na sua cintura sentindo a sua boca no meu pescoço lambendo
a minha pele, seus lábios quentes descem entre os meus seios beijando-os
sem tocar o meu mamilo, não é a primeira vez que ele tem que se controlar
para não pôr a boca onde só as nossas filhas podem tocar.
Ele já me beijou inteira e eu não pude evitar, não resisti e por muito
pouco não transamos, dormir com ele agarrado em mim é irresistível mas
Eloá e Maitê sempre nos alertavam com o seu chorinho de manhoso de
fome.
Tony me leva até a cama e me deita pondo-se sobre mim, me
beijando faminto, se esfregando em mim me arrancando gemidos e delírio
de prazer, ele parece tão atordoado quanto eu pois o desejo está acabando
com a gente. Ele se ergue admirando o meu corpo como já fez inúmeras
vezes, seus dedos longos e grossos pegam as laterais da minha calcinha e
tiram delicadamente.
Ofegamos atentos um ao outro, seus olhos não deixam o meu corpo
e os meus o seu.
— Linda... Gostosa...
Sussurra admirando-me com desejo mas fico atenta aos seus
movimentos arrancando a sua bermuda e a cueca. Ele se abaixa abraçando
as minhas coxas e sinto a sua língua serpentear na minha intimidade.
— Tony... Ahh Tony...
Arqueio-me gemendo perdida em delírios, ele me chupa com tanta
vontade gemendo na minha intimidade, mas ele se ergue pondo-se sobre
mim novamente e me preenche, eu gemo com essa sensação prazerosa dele
me esticando depois de tantos meses sem transar. Théo havia sido o único
homem que tive na minha vida e não posso negar que sentia falta disso,
sentia falta de transar, de fazer amor e ser amada como Tony está fazendo
agora.
— Gostosa... Você é tão gostosa, sardenta... Não faz ideia do quanto
sonhei com isso... Ahh Atena... Você é realmente perfeita, apertada... Ohh
você é minha...
Ele me apalpa, beijando o meu rosto, os meus lábios e o meu
pescoço mas ele geme tão rouco apoiando as mãos na cama me penetrando
mais forte, mais rápido dominado pelo desejo.
— Você é mais do que imaginei que fosse... É maravilhoso, Tony...
Minha voz sai em um sussurro pois ofego mais que o normal, ele me
admira e eu contemplo o seu rosto tomado pela luxuria. Nos entregamos a
esse delicioso momento saciando os nossos desejos, mas não paramos por
aqui, nos amamos mais uma vez sem ele sair de mim e ele é tão carinhoso,
delicado e gentil, mas ainda assim tem uma pegada tão forte que me
desarma, me deixa completamente rendida a ele.
Nos declaramos entre suspiros apaixonados, sorrimos e nos
beijamos e ele me confessa que não esteve com nenhuma outra mulher
depois que terminou com a tal Kemilly, a mais de um ano e meio atrás, não
teve como não me surpreender, mas ele já era apaixonado por mim e não
conseguia se prender a ninguém, ele me queria mesmo sabendo que não
podia ter, mas agora temos um ao outro e estou rezando para que seja para
vida inteira.
Fomos tomar um banho para tirar o suor do corpo, quando saímos
do banheiro empolgados para nos amarmos mais uma vez, somos
interrompidos pelo chorinho gostoso das meninas. Sorrimos e nos vestimos
para irmos vê-las e seguimos os dois para o quartinho delas, ambas estão
acordadas chorando porque a chupeta saiu da boca, mas agora que estão
acordadas nós as pegamos e seguimos para sala de estar, já passou a hora do
café da manhã mas estamos famintos, então peço a Cícera para servir a
mesa.
Tony coloca as meninas cada uma em seu bebê conforto e as leva
conosco para sala de refeição, nos acomodamos e começamos a comer com
um sorriso largo no rosto, dividindo a nossa atenção entre Eloá e Maitê.
Tomamos o nosso café tranquilos mas logo Tony vai se arrumar para
ir trabalhar, quando desce já arrumado eu estou na sala com as meninas
brincando com os seus dedinhos, ele dá um beijo em cada uma delas e me
pega no colo me fazendo sorrir.
— Vou fazer de tudo para voltar mais cedo para ficar com vocês...
Eu amo muito vocês, não fica pensando bobagens pois a única mulher que
eu quero massageando o meu corpo inteiro, é você... Você é mais do que eu
merecia, mais do que sonhei um dia... Você é maravilhosa. — Declara com
aquele sorriso lindo que me deixa boba.
Beijo-o apaixonadamente antes de deixá-lo ir trabalhar tranquilo
pois estou ciente de que ele é só meu, não tenho nenhuma rival pois ele me
ama, somos um do outro é só precisamos ser abençoados por Deus para
tudo ser perfeito. Estamos ansiosos com os preparativos da festa e da
cerimônia mas ainda estamos aguardando a conclusão dos trâmites para o
casamento, ele também já vai tirar férias para viajarmos então estamos fazer
tudo com calma dessa vez, não estamos fazendo nada correndo pois
queremos que tudo saia como desejamos.

O meu dia passou tranquilo e eu recebi uma dúzia de buquês de


flores do meu noivo, rosas vermelhas, rosas brancas e as minhas flores
preferidas, jasmim, passei o dia sorrindo e suspirando por finalmente ter me
tornado a sua mulher, Tony é o meu homem e é maravilhoso.
Liguei para agradecer pelas flores e recebi mais uma declaração de
amor, ele está ainda mais romântico depois que fizemos amor pela primeira
vez, foi incrível, foi maravilhoso tê-lo me tocando, me beijando e me
possuindo, foi delicioso, apesar de ser carinhoso e até mesmo delicado, suas
mãos grandes me pegaram com firmeza, fico mole só em me lembrar.
A tarde vai passando e a noite vai chegando e eu ainda estou
pensando nele, já está na hora do jantar e ele ainda não chegou, mas
entendo pois ele não foi de manhã então tem muitos papeis para analisar.
Estou com fome então peço a Cícera para servir o jantar, não vou conseguir
esperar mais, no entanto, mal eu me sento para comer e sinto ele beijar o
meu pescoço.
— Me desculpa pela demora, meu amor, eu tentei sair cedo mas não
consegui. — Ele me beija com doçura antes de se sentar ao meu lado.
— Não se desculpa, eu entendo. Eu te atrasei de manhã então a
culpa é minha. — Sorrio de lado me lembrando do nosso momento juntos.
— Eu adorei aquele atraso, se for para eu me atrasar mais vezes, que
seja por você e as meninas. — Ele inclina-se para me beijar mais uma vez e
eu sorrio na sua boca.
— Com licença, menina Atena, Alonso interfonou avisando que a
Sra. Luana está entrando com o filho e o marido. — Avisa Cícera parada na
ponta da mesa.
— Lua e Otávio estão aqui? Vá abrir a porta, Cícera. Por favor? —
Sorrio abertamente e ela sai em seguida.
Tony serve o seu prato e começamos a comer enquanto esperamos
por eles, não demora muito e meus amigos entram empolgados.
— Boa noite, casal! — Lua me cumprimenta com beijos e um
abraço amoroso.
— Boa noite, amiga. Porque não avisaram que vinham? Teríamos
esperado vocês para jantar conosco. — Retribuo ao seu abraço e me levanto
para cumprimentar Otávio falando com Tony. — Como está o meu
sobrinho, meu amigo?
— Ele está bem, está crescendo rápido demais, porém, é o maior
motivo da nossa alegria. — Otávio me cumprimenta e eu pego Joaquim dos
seus braços.
— Tivemos que sair de casa de última hora, papai resolveu bancar o
romântico com a mamãe e nos expulsou de casa, eles quase não tem um
tempo a sós para eles então decidimos cooperar... Queria saber se podemos
nos abrigar aqui hoje. — Lua se senta empolgada nos fazendo sorrir.
— Pelo amor de Deus, Lua! Não precisava nem pedir. Vai ser bom
ter você aqui comigo, precisamos começar a conversar mais sobre os
detalhes do casamento, ultimamente estou sem tempo até para pensar sobre
isso... Nem acredito que vou me casar novamente, e mais uma vez é com
um grande amor. — Comento admirando meu noivo conversando
empolgado com Otávio.
Ele é lindo, ele se parecia sim com Théo mas ele tem alguns traços
diferentes, o cabelo está sempre com um penteado mais despojado, muito
raramente o vejo com os fios negros bem alinhados, mas mesmo assim não
vejo mais o Théo nele, vejo apenas esse homem maravilhoso que ele é.
— Conheço esse olhar apaixonado, é muito bom ver você assim
novamente, Tena, seus olhos voltaram a brilhar no instante em que assumiu
o seu amor por ele. Gosto muito de te ver assim. — Minha irmã segura a
minha mão carinhosamente e eu abro mais o meu sorriso.
— Não tinha como negar o que estava estampado na minha cara.
Amo esse homem, Luana... Amo muito. — Declaro brincando com as
mãozinhas de Joaquim que se joga para o colo da mãe.
Tony me dá um sorriso tão lindo ao ouvir a minha declaração, não
tem como não retribuir.
— Eu também te amo muito, sardenta, amo você demais. — Declara
mordendo o lábio inferior, me fazendo lembrar do nosso momento de amor.
— Eu acho que estamos sobrando aqui, amor. — Dispara Otávio me
deixando sem jeito.
— Amanhã é domingo e eu quero que vocês fiquem para almoçar
conosco, ligue para os seus pais, Lua, chame eles para passarem o dia
conosco, vai ser bom passarmos esse tempo juntos, eu sinto falta disso. —
Mudo de assunto e eles sorriem ainda mais.
Iniciamos uma conversa mais animada e Cícera serve a sobremesa
para todos nós, após isso eu peço para ela preparar o quarto de hóspedes, as
meninas podem ficar em um único berço para que Joaquim fique em um
dos berço, isso se ele conseguir dormir longe dos pais, sem falar que as
meninas acordam muito para mama e elas choram bastante, vão acabar
acordando ele. Bom, depois veremos isso com calma.
Passamos um bom tempo conversando e eu amamento as meninas
mais uma vez, em seguida Tony e Otávio vão colocá-las no berço para me
deixar mais à vontade, eles são um amor, são homens maravilhosos e não
tenho dúvidas de que eu e Lua tivemos muita sorte.
QUATRO MESES DEPOIS...

Eloá dorme no meu colo e eu ponho ela no berço, fecho o


mosquiteiro e volto até o meu quarto para buscar Maitê, ela está dormindo
agarrada no peito da mãe mas ela precisa voltar para o berço, não podemos
acostumá-las a dormir na cama ou vamos perder a nossa privacidade.
Pego ela com cuidado para que não acorde, ajeito a blusa da minha
mulher e volto para o quarto das meninas, faço ela arrotar primeiro antes de
lhe dar um beijo e pôr ela no berço, elas dormem tranquilamente depois de
passarem a noite em claro com cólica e nós andando com elas pela casa, só
agora pela manhã elas conseguiram se acalmar. Quando não acordam com
fome acordam com cólicas ou dor de ouvido, e isso nos preocupa muito, eu
fico apavorado e Atena tem que acalmar pai e filhas.
Sorrio. Vida de pai e mãe não é fácil, é uma luta grande mas não
estou reclamando, pelo contrário, acho que eu nunca fui tão feliz em toda a
minha vida como sou agora, tenho duas filhas lindas e uma mulher alegre,
amorosa, companheira e me apoia em tudo mesmo que esteja preocupada,
ela é perfeita como mulher e como esposa. Principalmente como mãe.
Saio do quarto delas e fecho a porta, volto para o meu quarto e
Atena ainda está desmaiada de sono, coitada, está exausta então não vou
acordá-la. Sigo para o banheiro ainda bocejando e tomo um banho pouco
demorado, ainda tenho que ir trabalhar mas vou voltar mais cedo para
descansar um pouco, estou fazendo isso todos os dias para ter mais tempo
para ajudar Atena, ela não se sente segura deixando as crianças com uma
babá, então ela faz questão de cuidar das crianças ela mesma, mas Cícera
está sempre ajudando ela na minha ausência, até dei um aumento a ela por
isso.
Já estamos na minha casa e Luana se mudou com a família e os pais
para casa que foi do Théo, eles estão felizes e abriram mais uma filial da
sua floricultura aqui no centro de Detroit, e está dando super certo, até já
contrataram mais pessoas para ajudá-los. Luana está com mais tempo para
ficar com o filho e está sempre aqui em casa para ficar mais tempo com a
irmã e as sobrinhas. Não tem como não estar feliz com isso.
Termino o meu banho e sigo para o closet, preciso me arrumar para
sair, mas sinto mãos delicadas descer pelas minhas costas e vir para o meu
abdômen, subindo para o meu peito enquanto beija as minhas costas, ela
está nua, sinto a quentura do seu corpo no meu. Viro-me para ela
constatando o que eu já sabia. Ela está nua e me olhando daquele jeito
provocante que ela sabe que me desarma.
— Preciso trabalhar, sardenta... Já estou atrasado e vendo você
assim, vai me atrasar ainda mais, meu amor. — Admiro o seu corpo com
desejo.
Seus seios estão lindos e eu não posso pôr a boca neles, só posso
acariciar de leve sem tocar o seu mamilo. Já faz três dias que não fazemos
amor, as meninas não estão nos dando tempo para isso.
— Acabei de falar com o delegado Camilo, avisei a ele que você
está muito cansado, que só conseguiu dormir agora de amanhã então você
vai trabalhar depois do almoço... Volta para cama com a sua mulher? Vamos
dormir um pouco mais? Mas antes faça amor comigo? — Suas mãos
descem pelo meu corpo e arranca a toalha da minha cintura.
— Atena...
Puxo ela pela cintura e tento beijá-la, mas ela se esquiva sorrindo.
— Não é assim que gosto de ouvir você me chamar...
— Aceito os seus argumentos, sardenta... Agora vamos voltar para
cama. — Trago ela de volta para o meu corpo e ergo ela meus braços
sentindo-a envolver as suas pernas na minha cintura.
Ela me beija ardentemente enquanto saio do closet. Estou sedento de
desejo por ela, mas mesmo cansada ela também demonstra o seu desejo em
estar em meus braços. Deito ela na cama ponho-me novamente sobre ela
beijando os seus lábios mágicos e viciantes, macios. Chupo a sua língua e
ela a minha, me perco nessas sensações extraordinárias. Encaixo-me entre
as suas pernas preenchendo-a sentido a sua carne quente me arrancar
gemidos.
— Sardenta... Ahh Deus... Meu amor...
Acaricio o seu corpo tomado pelo desejo, me perco em seus braços,
me entrego a ela de corpo e alma como temos feito a meses. Ela é
inteiramente minha, sempre nos lembramos do meu irmão com muita
saudade, com carinho, mas essas lembranças já não nos impede mais de
sermos um do outro, de nos amarmos e sermos felizes como estamos nesse
momento.
Beijo-a perdido de amor e desejo, delirando e admirando-a tocar o
meu corpo tão perdida quanto eu, nos entregamos até perdemos de vez as
nossas forças nos braços um do outro. Saio dela deitando-me ao seu lado e
ela vem para os meus braços, beijo-a ainda ofegante mas não me importo,
eu amo sentir os seus beijos, amo tê-la em meus braços mesmo que não seja
nua como agora, mas eu amo ter essa mulher perto de mim, sorrindo desse
jeito como ela está fazendo agora.
A nossa primeira vez não foi nada romântica, ela foi na delegacia
me visitar com as meninas e ficou com ciúmes por ver Priscila tão perto de
mim, vi que ela não gostou pois ela mal chegou e saiu emburrada, sem
deixar eu me explicar, em casa acabamos discutimos e tivemos uma briga
feia, ela ficou muito incomodada e me evitou o dia e a noite inteira, me fez
até dormir no quarto de hóspedes mas na manhã seguinte ela me questionou
sobre Priscila e novamente discutimos, ela ficou tão alterada que a agarrei,
coloquei ela contra parede e a beijei na tentativa de acalmá-la, e deu certo,
ela se rendeu aos meus beijos e fizemos amor como tanto desejei.
Eu queria ter preparado um belo jantar, comprado flores e reservado
uma suíte para termos mais tempo juntos, mas as coisas aconteceram
inesperadamente e mesmo assim foi maravilhoso, estar com ela seja onde
for, é maravilhoso. Depois disso tivemos sim um encontro romântico com
tudo que tem direito, Luana veio aqui para casa ficar com as crianças e nós
pudemos sair despreocupados.
Também levei ela na delegacia e a apresentei formalmente a Priscila
e seu marido, muitos não sabem que Priscila é casada com um dos nossos
colegas pois eles são bem discretos, mas eu fiz questão de rasgar o verbo e
anunciar a todos que sou um homem comprometido, um pai de família.
— Está sorrindo assim porque? Do que se lembrou? — Ela desliza
os seus dedos pelo meu rosto e eu pego a sua mão, beijando os seus dedos.
— Estava me lembrando da primeira vez que nos amamos, não saiu
nada como eu havia planejado na minha mente mas mesmo assim, foi
maravilhoso. — Encaro fixamente o seu rosto e ela está sorrindo.
— Nem me lembre daquele dia pois uma coisa puxou a outra, eu
estava morrendo de ciúmes de você e nem sabia que Priscila é casada. Até
que estamos nos dando bem depois daquele episódio, ela está se tornando
uma amiga e me conta tudo que você apronta por lá, então é melhor andar
na linda. — Ela sai dos meus braços sorrindo e se levanta indo para o
pandeiro.
— Que história é essa, sardenta? Mandou a Priscila me vigiar? Por
isso estão tão amiguinhas, não é? Não acredito nisso, vocês são terríveis. —
Corro atrás dela sorrindo e pego ela no colo.
— Não somos assim tão amigas, não exagera. Só estamos nos
entendendo para o seu próprio bem. Não quero você se metendo em casos
arriscados e ela vai me garantir que você não está quebrando a promessa
que me fez... Eu amo você demais, por isso me preocupo demais. — Ela
acaricia a minha nuca antes de me beijar.
— Eu sei o quanto se preocupa comigo, é exatamente por isso que
estou evitando ao máximo ajudar os meus colegas com os casos deles fora
da delegacia, estou focando a minha atenção apenas nos papeis, nas
evidência colhidas... Não precisa se preocupar tanto, eu estou me cuidando
porque eu tenho uma mulher muito brava e mandona. Mas também muito
sexy. — Entro com ela no Box e mais uma vez sou assediado e rendido aos
encantos da minha mulher.
Nos amamos mais uma vez e voltamos para cama, ela veste a sua
camisola sem nada por baixo e eu visto apenas a minha cueca, nos
acomodamos nos braços um do outros e deixamos o sono vir, mas Atena se
ergue sobre o meu peito me olhando atentamente.
— O que foi? Quer me perguntar algo? — Toco o seu rosto, ela
parece confusa por algum motivo.
— Precisei abrir o cofre hoje para e vi uma arma, mas sei que não é
a sua pois você deixa no carro... De quem é aquela arma? Você tem duas
armas? — Questiona apreensiva, sei que ela não gosta de ver arma em casa.
— É a arma do Théo, estava na outra casa mas Otávio não se sentiu
bem em ficar com ela, por isso eu trouxe. Mas eu vou tirá-la daqui, vou
colocar no meu cofre na delegacia, já era para eu ter feito isso, porém,
acabei me esquecendo... Fica tranquila, ainda hoje eu tiro ela daqui. —
Beijo a sua testa e ela volta a se deitar sobre o meu peito.
— Não precisa tirar daqui, sei que você quer ter uma segurança a
mais dentro de casa, pois a sua arma sempre fica lá fora no carro, então
desde que a arma continue no cofre longe do alcance das crianças, por mim
tudo bem. Agora vamos descansar, estamos ainda mais exaustos depois do
nosso banho, vamos aproveitar que a tropa está dormindo. — Ela sorrir ao
falar das meninas.
Sorrio e puxo as cobertas, o tempo está friozinho então vamos
dormir um pouco mais. Se as meninas não acordar assim que pegarmos no
sono.

Consegui descansar bastante mas acordamos com o despertador


mais gostoso de ouvir, o chorinho manhoso de quem está sentindo a nossa
falta e está querendo colo. Visto uma bermuda e uma camisa, saio do quarto
rapidamente para Atena não acordar, deixo ela dormir um pouco mais.
Entro no quarto das meninas e é Maitê que está acordada, olho no relógio
de pulso e falta dez para meio dia. Caramba, dormimos demais e elas estão
com fome.
— Foi mal, filha, o papai e a mamãe dormiram demais, mas vocês
não deixaram a gente pregar os olhos essa noite... Está com fome, não é? A
sua irmã também já acordou mas está quietinha chupando dedo. — Pego
também Eloá que sorrir tentando puxar a minha barba.
Estou ansioso para ouvi-las me chamarem de papai, vai ser um dos
dias mais emocionantes da minha vida pois o nascimento delas está gravado
na minha mente, não me esqueci de um único detalhe.
— Como vocês conseguem ser tão lindas? É culpa da mãe de vocês,
vocês vieram a cópia dela... Vão me dar trabalho, já estou até vendo. Vocês
precisam de irmãos, três homens já está bom, vou precisar de uma pequena
tropa de elite dentro de casa, afinal, são três mulher para eu cuidar
sozinho... Será que em um futuro não muito distante ela aceitaria essa idéia?
São só três, nenhum mais e nem a menos, o papai precisa equilibrar a
situação, entendem? — Ando com elas pelo quarto e ambas estão atentas a
minha voz.
Eu conversei bastante com elas enquanto estavam na barriga, sei que
reconhecem a minha voz.
— Que história é essa de equilíbrio, amor...? Está desejando ter três
filhos homens? Como você pretende me convencer a concordar com isso?
— Ela me abraça por trás e beija as minhas costas, eu amo quando ela faz
isso.
— Pretendo te convencer te amando infinitamente mais. Mas você
pode me dizer do que você gostaria para realizar o meu desejo, eu faço tudo
que você quiser, menos te deixar, isso eu não faço mesmo que me implore.
— Você já está fazendo tudo que eu quero e preciso, está nos
amando, está sendo tudo que precisamos, não precisa fazer mais nada além
de nos amar mais, isso é o suficiente... Quanto a realizar o seu desejo, acho
que vamos ter que esperar um pouco mais, quero me casar com você
primeiro, mesmo que já estejamos morando juntos. E além do mas, mal
estamos conseguindo dormir com duas crianças em casa, imagina se vier
mais dois? — Seu sorriso radiante está ali, seus olhos brilhando me
conquistam ainda mais.
Sorrio e concordo, ela fica na ponta dos pés para me beijar e pega
uma das meninas, ela vai até a sua poltrona para amamentar e eu me sento
no chão de frente para ela admirando-a enquanto brinco com Eloá no meu
colo, ela está mais tranquila que a irmã.
Fico aqui enquanto ela amamenta as meninas, depois disso fomos
almoçar juntos pois eu não gosto de comer sozinho e nem ela, as meninas
precisam de um banho mas ela diz que o fará depois que eu sair, ela não
quer que eu me atrase e eu amo ver a sua dedicação e preocupação comigo.
Atena me leva até a porta e nos despedimos com um beijo
demorado, o dia do nosso casamento está próximo e ambos estamos
ansiosos, tudo está sendo preparado exatamente como ela quer, e sei que
tudo sairá perfeito.
— Tenha um bom trabalho, meu amor, vá despreocupado, vamos
ficar bem. — Ela toca o meu rosto como de costume e me dá mais um beijo
antes de se soltar de mim.
— Obrigado, amor. No menor problema você me liga ou pede para
Cícera ou Alonso me ligar, está bem? Eu te amo. — Trago ela de volta para
o meu corpo e lhe roubo mais um beijo.
— Também te amo. Muito! — Declara sorrindo e só então me solto
dela entrando no meu carro.
Buzino para ela e minha mulher me manda um beijo no ar, saio de
casa seguindo para delegacia não muito longe daqui, moramos no centro de
Detroit então aqui fica perto de tudo, principalmente do trabalho e da casa
de Luana.
Em poucos minutos estou na delegacia e entro indo para minha sala,
no meu trajeto até ela eu cumprimento Priscila, Gustavo e Renato, todos
agitados com os seus afazeres e eu entro na minha sala encontro o delegado
Camilo parado em frente à minha janela, pensativo.
— Delegado? Boa tarde, estava me esperando? Desde já quero me
desculpar pelo meu atraso pois eu realmente precisava de um descanso,
além do mas...
— Ei? Relaxa, Tenente! Não estou aqui para fazer queixas suas,
pelo contrário... Aliás, boa tarde! — Ele vira-se para mim e vem na minha
direção com um pequeno sorriso.
Vou para trás da minha mesa e me sento atento ao homem a minha
frente, ele respira fundo e cruza os braços.
— Você tem feito um ótimo trabalho, Tony, estou orgulhoso de você
como eu estava do seu irmão. Eu sempre me orgulhei muito de vocês dois
igualmente, você com a sua garra e determinação para correr atrás de
bandidos, atrás e evidências para solucionar os seus casos, e seu irmão com
a sua inteligência e habilidade para analisar todos os processos, todos os
casos que você jogava nas mãos dele. Vocês dois eram brilhantes juntos,
eram uma dupla e tanto e até hoje não me conformo com essa perda, mas
você está trabalhando tão bem quanto ele, vocês herdaram do seu pai a
mesma honestidade e habilidade para investigar e comandar. — Vejo-o
desabafar com um olhar distante mas estou atento a ele.
— Em uma coisa eu preciso concordar, delegado, éramos mesmo
uma dupla e tanto, como irmãos e como oficiais da lei... Ele também me faz
muita falta, o que me consola é ver todos os dias os rostinhos das minhas
filhas e saber que elas eram dele também, e eu vou lutar por elas como ele
lutaria, vou proteger as três mulheres da minha vida, vou cumprir a minha
promessa mas não estou fazendo isso apenas por ele, e Théo sabia que seria
assim, ele sabia do meu amor por ela e sentia que ela também me amava,
por mais que ela sempre fosse escolher ele, e saber disso isso não me
magoa, pelo contrário, eles se conheceram primeiro, o Théo foi o primeiro
amor e o primeiro homem da vida dela então isso não me machuca. Agora
estamos tendo a nossa chance juntos e é por isso que vou lutar. — Meu
peito se aperta ao falar dele pois a saudade é imensa.
Mas estou feliz por estar na vida dela como ele queria que eu
estivesse, pois assim ele sabia que ela seria feliz e suas filhas estariam
amparadas, e ele se foi tendo certeza disso pois nunca quebramos uma
promessa feita um ao outro.
— A sinceridade de vocês também sempre me impressionou, sei o
quanto se orgulhavam e respeitavam um ao outro, prova disso foi você se
apaixonar pela sua cunhada mas nunca se meteu entre eles, outro no seu
lugar teria aproveitado o fato de serem gêmeos para tirá-la dele, mas você
nem se quer cogitou algo assim e eu te admiro por isso... Bom, Tony, antes
de tudo aquilo acontecer, você sabe que eu queria uma transferência e seu
irmão ocuparia o meu lugar, e eu sempre desejei que você ocupasse o cargo
dele como está fazendo agora. O fato é que eu ainda preciso daquela
transferência, Tony, já estou perto de me aposentar como delegado e minha
mulher precisa voltar para cuidar da mãe dela em Midtown, ela me pediu
para nos mudarmos e eu a amo tanto que não consegui dizer não. — Seu
sorriso amoroso ao falar da esposa me faz lembrar a minha mulher.
— O que o senhor está tentando me dizer, delegado? Seja mais
claro, por favor?
— Estou tentando dizer que assim como eu queria o Théo no meu
lugar, eu também quero você ocupando o meu lugar, Tony Carlson! Quero
você como delegado dessa cidade mas vou esperar até você voltar da sua
Lua de mel, assim você assumirá o meu cargo com mais tranquilidade. —
Dispara sem rodeios me deixando perplexo.
— Delegado? Eu...? Eu nunca me imaginei em um cargo tão alto,
imaginava o meu irmão em um cargo como esse, mas eu? — Levanto-me
ainda chocado.
— Você tem os mesmos talentos que o seu irmão, cada um à sua
maneira, mas sim, vocês dois tinham competência para um cargo como
esse... Acho que a sua senhora vai gostar de saber da novidade, você vai
poder dar um futuro melhor para as suas filhas como delegado... O que me
diz? Aceita a promoção ou terei que procurar outro tão qualificado quanto
você?
— Eu aceito! É óbvio que eu aceito, delegado Camilo, e vou fazer
isso por elas, pela minha mulher e minhas filhas. — Meu sorriso vai nas
orelhas e meu coração bate mais acelerado.
— Eu não esperava outra resposta que não fosse essa... Parabéns,
delegado Tony! Você assumirá o seu novo posto assim que retornar da sua
lua de mel com a sua família, mas eu estarei sempre à disposição caso
precise da minha ajuda, seja pessoal ou profissional. — Ele abre um sorriso
tão largo quanto o meu.
— Deixa comigo, senhor! Vou voltar ainda mais preparado e focado
para esse novo cargo. Eu não vou te decepcionar, eu prometo! Muito
obrigado por tudo.
— Eu sei que você vai cumprir essa promessa, agora volte ao
trabalho pois eu quero esses relatórios finalizados antes da sua viagem... E
Tony? Hoje eu não vou poder te liberar mais cedo, você precisa me entregar
o máximo de relatórios ainda hoje. Você devia reconsiderar a ideia de uma
babá para ajudar a sua mulher, mesmo que seja por meio período, conheço
uma agência de confiança pois indiquei também para minha sobrinha, se
quiser, é só me falar. — Ele vai até a porta mas para mais uma vez atento a
mim.
— Eu vou conversar com Atena sobre isso, senhor, obrigado mais
numa vez!
Agradeço e ele sai da minha sala em seguida, sorrio abertamente e
volto a me sentar iniciando o meu trabalho. Delegado? Eu serei o novo
delegado de Detroit? Por essa eu não esperava, sempre vi o Théo como
delegado, mas eu? Caramba! O que Atena vai achar disso? Pensei em ligar
para ela mas vou deixar para contar quando chegar em casa.
Foco a minha atenção no meu trabalho e tento adiantar ao máximo
os relatórios, eu quero viajar com a minha família despreocupado então
preciso deixar tudo organizado e adiantado.
A noite entrou e eu ainda estou focado no trabalho, liguei para casa
avisando que vou chegar tarde e pedi para ela não me esperar, Atena sempre
me espera para jantarmos juntos mas não quero que ela fique com fome
esperando por mim, não tenho hora para sair daqui hoje mas quando vejo
que já passa das dez da noite, decido recolher as minhas coisas para ir
embora, muitos já saíram e outros ocuparam os seus turnos e eu ainda estou
aqui, no entanto, consegui cumprir a minha meta do dia e adiantei bastante
o meu trabalho.
O delegado Camilo já foi embora então deixo os relatórios na minha
gaveta para entregar a ele amanhã, ele já pegou hoje o que precisava então
amanhã continuo de onde parei.
Pego as minhas coisas e saio da delegacia entrando no meu carro,
saio do pátio e sigo para casa exausto e cheio de saudades das mulheres da
minha vida. Camilo tem razão, Atena precisa de ajuda com as crianças mas
precisamos ter alguém de confiança em casa com elas, minha mãe já
aprontou muito com ela e por isso Atena teme em pôr uma estranha para
trabalhar dentro de casa, ela já se acostumou com Cícera pois ela sempre
defendeu a minha mulher, e a está ajudando muito mas não queremos
sobrecarrega-la demais, então precisamos sim de uma babá mas vamos ver
isso com calma.
Depois de poucos minutos no trânsito eu entro pelo portão
estacionando na frente de casa, posso ver que a casa está toda escura e isso
é sinal de que ela já está dormindo com as crianças, mais cedo ela me
mandou uma mensagem perguntando se estava tudo bem, sei que isso é
medo de que eu saia em uma ocorrência e não volte mais, mas eu prometi
abandonar as ocorrências nas ruas por ela e estou tentando fazer isso, claro
que tem sempre um caso ou outro que precisa da minha atenção, mas nada
comprado ao que eu fazia antes, eu apenas analiso algumas cenas de crimes
quando tudo está sobre controle, não saio mais atrás de bandidos como eu
fazia antes e isso a deixou bastante tranquila.
Entro e casa e sigo direto para o quarto, entro no mesmo e ela está
dormindo agarrada ao meu travesseiro, fico aqui parado admirando a minha
mulher, eu nunca tive esperanças de tê-la como minha mulher até perdemos
o meu irmão, mas agora ela está ali, dormindo serenamente agarrada ao
meu travesseiro, sentindo o meu cheiro e sei que dormiu pensando em mim.
Sorrio e sigo para o closet, guardo a minha mochila no alto do
armário e vou para o banheiro, tomo um banho pouco demorado e visto
apenas um short confortável. Saio do quarto e vou ver as meninas antes de
dormir, elas tão tranquilas, estão dormindo então não vou pegá-las, estou
exausto e quero descansar um pouco antes delas acordarem com fome.
Dou um beijo em cada uma e volto para o meu quarto, fecho a porta
e verifico a babá eletrônica. Está tudo certo então me acomodo na cama ao
lado da minha mulher. Entro embaixo das cobertas e ela se mexe voltando
para o seu travesseiro, ela está só de lingerie, está gostosa e mesmo cansado
me sinto eufórico para estar com ela.
Abraço a sua cintura e desço a minha mão pela sua coxa, subo
novamente apertando a sua bundinha arrebitada enquanto beijo e cheiro os
seus cabelos.
— Você demorou muito, amor... Você jantou? Comeu alguma coisa?
— Pergunta sonolenta e vira o rosto para me beijar.
— A única coisa que eu quero comer agora, é você...
Digo no seu ouvido me esfregando nela, ela geme empinando a
bunda para mim e eu adentro a minha mão na sua calcinha, acaricio a sua
boceta pequena e apertadinha, ela está úmida, está quente e sei que me quer.
Atena geme e se esfrega em mim, já estou duro e desejando fazer
amor com ela. Volto a acariciar a sua bundinha e puxo a sua calcinha para o
lado, ela se empina e eu não penso duas vezes, abaixo o meu short e seguro
o meu pau latejando, me encaixo nela preenchendo-a por completo.
— Ahh... Me pega, Tony...? Me pega, meu amor...? — Pede em um
sussurro enquanto começo a me movimentar.
— Eu vou pegar você exatamente como você gosta...
Viro ela de bruços pondo-me sobre ela, meto mais forte, seguro a
sua cintura com firmeza e beijo as suas costas, chupo a sua pele e ela morde
o travesseiro para não gemer alto. Mas eu quero ouvi-la gemer o meu nome,
isso me enlouquece.
Abraço o seu corpo e me ergo fazendo ela ficar de quatro, seguro a
sua cintura e puxo mais a sua calcinha para o lado, dou uma estocada e ela
geme alto.
— Tony... Ahh... Minha nossa...
Dou mais uma estocada e ela desaba de cara no travesseiro, seguro
os seus cabelos e abraço o seu corpo erguendo-a até a mim.
— O que combinamos, sardenta...? Se eu estiver sendo bruto
demais, pede para parar, está bem...? Gostosa... — Oriento-a em um tom
rouco e ela apenas balança a cabeça concordando.
Agarro os seus cabelos sem usar a força, viro o seu rosto para mim e
mando ela me beijar, ela me obedece e eu volto a me movimentar, entro
nela mais rápido, mais forte, totalmente descontrolado pelo tesão que me
consome. Ela geme chamando o meu nome e isso me excita. Toco a sua
boceta sentido ela latejar apertando o meu pau, gemo rouco ensandecido
pela adrenalina de estar dentro dela, meto nela até gozarmos e ela desaba na
cama ofegante como ainda não havia visto, desabo ao seu lado com o corpo
trêmulo após esse delicioso orgasmo, isso era tudo que eu precisava para ter
uma excelente noite de sono.
Trago-a para os meus braços e ela beija o meu peito antes de
devorar a minha boca, ela ainda parece excitada, está tão fogosa. Sorrio.
— Vou deixar você descansar, mas quero que me acorde assim de
novo amanhã... Isso é tão bom, você me deixa louca quando me pega assim.
— Sua voz manhosa e esse olhar perigoso que ela adquiriu acabam comigo.
— Porque deixar para amanhã o que podemos fazer agora...? Eu
nunca vou estar cansado para você. — Puxo ela para cima de mim e beijo-a
mais ardentemente.
Ela me toca e me beija com desejo, mas nos levantamos e fomos
tomar uma ducha para tirar o suor do corpo e namorar um pouco mais, e
assim fizemos, namoramos, tomamos banho e em seguida nos jogamos na
cama, no mesmo instante em que ouvimos aquele famoso chorinho das
meninas, será que nós as acordamos? Acho que não, o nosso quarto e o
delas estão com as portas fechadas, não somos assim tão escandalosos mas
passamos bastante tempo namorando, já está na hora delas mama e fomos
buscá-las. Acho que por hoje elas podem dormir conosco ou não vamos
conseguir descansar, agora estamos os dois exaustos mas felizes, saciados.
Pegamos as meninas e voltamos para nossa cama, ela dá de mama a
elas e fico aqui feito um bobo apenas admirando-as. Como podem ser tão
lindas? Três ruivas, a minha sardenta e as nossas sardentinhas. Sorrio
distraindo Eloá enquanto Maitê mama.
— Preciso te contar algo... Fui promovido no trabalho. O delgado
Camilo vai para outra cidade e eu vou ocupar o lugar dele. — Conto de uma
vez atento a ela.
— Você está me dizendo que será o novo delegado da cidade...? E
isso? Meu amor, parabéns! Você é tão dedicado e empenhado a proteger
essa cidade, você merece essa promoção. — Atena toca o eu rosto mas vejo
que ela parece apreensiva.
— Não gostou da notícia, não é? Não parece feliz.
— Eu estou feliz, minha vida, prometo que estou pois você merece
isso, mas... É que... Quando o seu irmão recebeu essa mesma promoção ele
nem teve tempo para comemorar, muito menos para ocupar o cargo... Não
vou negar, estou com medo... Estou com muito medo. — Vejo os seus olhos
lacrimejar transbordando preocupação.
— Não vai acontecer nada, meu amor, quem me queria morto já não
vive mais. Além do mas, eu não vou assumir o cargo agora, somente depois
que voltarmos de viagem... Não fica preocupada? Não vai acontecer nada,
eu prometo! — Toco o seu rosto limpando uma lágrima que desce. Ela tenta
sorrir para não me deixar mal.
— Eu vou confiar em você, vou te dar apenas um voto de confiança
então não me decepcione, está bem? Não me deixa ou eu não vou te
perdoar. — Alerta-me séria e ainda temerosa.
— Pode confiar! Eu não vou te decepcionar. Tem muita gente lá em
cima nos protegendo, a gente vai ser feliz por muitos e muitos anos, você
vai ver... Agora me dá um beijo? — Sorrio para ela pondo o seu cabelo
atrás da orelha.
Ela me dá um breve sorriso e me beija como pedi, sinto uma
mãozinha bater em mim e sorrio na sua boca.
Brinco com as meninas até elas dormirem e também dou um pouco
mais de atenção a minha mulher, mas ela adormece logo e eu apago logo
em seguida.

UM MÊS E MEIO DEPOIS...


Ando de um lado para o outro nervoso, minhas mãos estão suando
frio e minhas pernas parecem moles, meu peito está angustiado pela
ansiedade e meu coração disparado, que sofrimento meu Deus, porque ela
tem que demorar tanto? Porque essa espera tem que ser tão sofrida?
— Fala sério, Otávio! O que está acontecendo? Você sabe de alguma
coisa que eu não sei... Ela está demorando muito, é angustiante, cara. —
Questiono impaciente e ele sorrir de lado.
— Relaxa, meu amigo! Eu já passei por isso antes, é normal a gente
querer sair correndo atrás da noiva, ficar receoso pensando que ela desistiu
da gente, no final a espera sempre vale a pena. — Ele tenta me acalmar e eu
suspiro fundo. Suas palavras não me ajudaram muito.
— Relaxa, filho! Ela já vai chegar, você vai ver. — Delegado
Camilo também está ao meu lado com a sua esposa, eles também serão
padrinhos do nosso casamento junto com Luana e Otávio.
— Estou tentando, senhor, prometo que estou tentando mas estou
ansioso demais, sinto que posso enfartar a qualquer momento. — Tiro o
lenço do bolso secando o meu rosto, estou suando frio. Ele sorrir.
— Ela chegou! Já está aí fora esperando para entrar. — Revela
Otávio com o telefone na mão.
Meu coração dispara e ele sai para ir buscar Luana, Atena entrará
com o pai da amiga e eu entrei aqui com a dona Sônia. Estou de farda como
ela me exigiu, os meus colegas aqui presente também estão todos fardados
já que somos militares. Eles seguem todos pelos tapete vermelho formando
uma fila de cada lado do mesmo.
Vejo Otávio entrar com a esposa ao som de uma melodia suave, eles
vem até a mim cada uma deles com uma das minhas filhas no colo e elas
estão lindas, parecem duas princesinhas roubando o meu sorriso só para
elas.
Meus amigos param ao meu lado e eu beijo as minhas filhas, quero
pegá-las mas preciso esperar para receber a mãe delas. Na sequência toca a
marcha nupcial e ela entra de braços dados com o Sr. Adalberto, ela está
linda, está com um sorriso radiante fazendo a minha ansiedade aumentar.
Meus colegas estendem as espadas formando um arco para ela passar, ela
caminha com o homem que se tornou um pai para ela, ele está emocionado
pois é a segunda vez que ele entrega Atena a alguém no altar, Otávio a
entregou a meu irmão em Las Vegas e depois em uma cerimônia simples, o
Sr. Adalberto também a entregou a ele, e agora ela será entregue a mim.
Meu coração dispara a cada suspiro que dou.
Quando eles estão na metade do trajeto eu não consigo mais esperar,
sigo até eles e ela para abrindo mais o seu sorriso, não aguento mais ficar
angustiado.
— Me perdoe, Sr. Adalberto? A minha ansiedade de ser feliz e fazê-
la feliz, é grande demais. — Estendo a minha mão para ele ofegante, louco
para beijar a minha noiva.
— É compreensivo, rapaz, o meu sermão eu já te dei mais cedo,
agora case-se logo com ela, Atena está tão ansiosa quanto você. — Ele me
dá um breve abraço e entrega-me a mão dela sorrindo. Solto uma respiração
pesada e pego a mão dela.
— Sardenta... Me faltam palavras para descrever o quanto você está
linda... Quero muito te beijar mas vou tentar esperar a hora do sim. — Meu
tom trêmulo me denúncia, ela sorrir ainda mais fungando, segurando o
choro.
— Você está perfeito... Exatamente como eu sonhei que estaria. —
Seu tom é ainda mais trêmulo que o meu.
Ela respira fundo e eu lhe dou um beijo na testa. Enlaço o seu braço
no meu e conduzo-a até o altar, a minha atenção está presa nela, seus olhos
azuis parecem mais intensos que antes, um batom realçando o rosado dos
seus lábios e uma maquiagem escondendo levemente as sardas do seu rosto,
ela não escondeu tudo pois sabe o quanto me fascina.
Paro em frente ao padre e ele inicia o seu discurso, respiro fundo
mais uma vez tentando controlar a minha ansiedade de beijá-la.

A cerimônia foi perfeita, apesar de eu achar que demorou demais,


mas reconheço que pode ter sido apenas a minha ansiedade gritando alto. A
troca se alianças foi muito emocionante pois ambos estamos trêmulos,
nervosos e compartilhado a mesma ansiedade.
— Atena Moore Carlson e Tony Carlson! Vocês aceitam um ao
outro como marido e mulher? Para amar e respeitar, na alegria e na tristeza,
na saúde e na doente, na riqueza e na pobreza por todos os dias de suas
vidas?
— Sim! — Respondemos juntos com um sorriso tão largo.
— Vocês desejam dizer os votos um ao outro? — Pergunta o padre.
— Sim! Eu quero dizer mais uma vez a essa mulher maravilhosa, o
quanto ela é importante na minha vida... Você mudou o meu mundo,
sardenta, mudou a minha história de vida, mudou a minha maneira de
pensar e agir, mudou tudo que eu sentia dentro de mim, e mudou para
melhor, a quem diga que estou irreconhecível, e tudo isso teve um único
motivo, vocês! Você e as nossas filhas... Sou capaz de mudar muito mais se
for para fazê-las felizes, mas uma coisa jamais mudará... O amor que eu
sinto por você e essas princesas lindas que o meu irmão me deixou. Vocês
são e sempre serão a minha única e principal razão para viver... Te amo! —
Declaro sentindo-me tenso, mas aguento firme para não dar um vexame na
frente dela.
Seu sorriso contínua ali me chamado para beijá-la.
— Preciso confessar que me apaixonar por você foi algo inesperado,
eu não planejei, não percebi quando aconteceu, eu se quer sabia que te
amava até perceber que poderia te perder. Você nunca foi uma segunda
opção, nunca foi um reserva como muitos devem ter pensado ao saber que
nos amávamos, o meu coração amou vocês dois igualmente, mas ele entrou
na minha vida primeiro antes de te entregar para mim... Ele sabia que eu
sempre te amei, ele sabia que você seria a minha salvação, seria o homem
que eu precisaria para ser feliz, foi por isso que ele te fez prometer não me
deixar, e que bom que ele fez isso, Théo se foi mas antes de ir, ele abriu os
meus olhos para um amor que eu sentia dentro de mim e não me dava
conta. Você é um pai perfeito, é um marido maravilhoso e estamos aqui
apenas para termos a benção de Deus. E ele já nos abençoou... Eu te amo
mais a cada dia que passo ao seu lado, vou retribuir toda essa felicidade que
você está me proporcionando fazendo você ainda mais feliz. — Declara
com lágrimas nos olhos e um sorriso que me deixa atordoado de emoção.
— Atena! Tony! Eu abençoo a união de vocês, o que Deus está
unindo o homem não pode separar! Pelos poderes a mim concedidos, eu os
declaro, casados! Pode beijar a noiva. — Anuncia o padre mais uma vez
fazendo o meu coração disparar.
Finalmente! Estamos casados e vou beijá-la. Abraço a sua cintura e
toco o seu rosto, ela sorrir de forma doce roubando a minha atenção para os
seus belos e sensuais lábios. Beijo-a com calma saboreando o seu gosto
fascinante, ela é legalmente minha esposa, ela é minha como pensei que
jamais seria possível, mas minhas esperanças se acenderam quando ela
descobriu que sou eu aqui e disse que me ama, que não queria me perder e
ela jamais me perderá.
Somos aplaudidos mas não interrompo o beijo, ontem ela foi com as
crianças para casa de Luana me deixando em uma aflição sem tamanho. Eu
não fazia ideia de que para me casar com ela eu teria que ficar um dia de
castigo, sem vê-la e sem beijá-la, sem poder tocá-la, nem mesmo as minhas
filhas eu pude ter ao meu lado para não separá-las da mãe, e Atena também
não aceitaria isso.
— Finalmente minha esposa! Isso é mesmo real? Porque estou tão
nervoso? — Sorrio prendendo-a em meus braços, admirando esse sorrio
lindo aqui de pertinho.
— Parece mesmo um sonho, mas é real... Sou sua esposa, Tony
Carlson! — Ela me beija mais uma vez com a mesma doçura de antes.
Ouço as nossas filhas resmungar no colo de dona Sônia e o Sr.
Adalberto, chamo por eles e os mesmos vem até nós nos entregando o
nosso tesouro mais valioso.
— Queridos amigos! Eu apresento a vocês, a família Carlson! —
Diz o padre atrás de nós sorrindo tão abertamente quanto nós.
Elas tem o meu nome, as três são minhas, são parte de mim para
sempre. Puta merda, porque eu nunca senti uma felicidade como essa antes?
Talvez porque o meu destino sempre foi esperar elas. Me perdoe por estar
tão feliz, meu irmão, você me fez prometer que as faria feliz mas não estou
fazendo isso apenas por você, estou fazendo isso por mim também e
principalmente por elas, elas merecem tudo de mim e eu vou dar a elas.
Os oficiais estendendo novamente as espadas formando um arco,
saio de mãos dadas com Atena e as nossas filhas nos nossos braços. Estou
feliz, muito feliz. Saímos da igreja sorrindo e os convidados saem atrás,
todos jogando arroz para o alto desejando a nossa felicidade.
— Você está comentando o maior erro da sua vida, Tony...! Eu já
perdi um filho e não posso perder outro! — Surpreendo-me com a minha
mãe parada na nossa frente.
Mas me assusto quando ela saca uma arma apontando para Atena
com a nossa filha no colo. Entrego Maitê a ela entrando na sua frente.
— Se quer tanto acabar com a minha felicidade, então acaba logo
comigo, assim quando você morrer não terá ninguém para enterrar você...
Você perdeu os seus filhos a muito tempo, você não é nada para mim, Leah!
Você devia estar feliz por mim, devia se interessar em conhecer as suas
netas mas ao invés disso, vem aqui no dia do meu casamento apontando
uma arma para minha família? — Desabafo sentindo surgir em meu coração
uma profunda mágoa. Era para ela ser a minha mãe, e não a minha inimiga.
— Tony! Cuidado, amor! — Atena tenta passar a minha frente mas
eu não deixo, ela não está mais com as meninas no colo.
— Essa mulher tirou você e seu irmão de mim. Se eu não posso ter
você de volta, ela também não terá você! — Esbraveja entre dentes e
destrava a arma.
— TONY!
Atena grita me empurrando para o lado com força e ouço um tiro.
— ATENA!
Grito apavorado puxando ela de volta para os meus braços. Meu
coração está parado e sinto que posso morrer. Estou trêmulo, assustado e
suando frio.
— Meu amor? Você está ferida? Aonde? Cadê? — Afasto-me
brevemente dela procurando o ferimento pelo seu corpo, mas não encontro.
— Não estou ferida, o tiro não me acertou, mas e você? Está ferido?
Meu amor? — Ela chora também procurando algum ferimento em mim.
Aperto-a em meus braços e olho para o lado, vejo o delegado com a
sua arma empunho, olho em direção a Leah e ela está caída no chão com
um tiro no coração. Estou sem chão, estou perplexo com o que aconteceu
aqui. Esse era para ser um dos dias mais felizes da minha vida.
— Me perdoe, Tony? A sua mãe já cometeu um crime contra a sua
esposa antes, ela apontou uma arma para vocês com duas crianças no colo...
Ela ia atirar, a sua mãe não estava bem da cabeça! Uma mãe não faz isso
com um filho no dia do casamento. — Se justifica o delegado surpreso com
o que fez.
— Está tudo bem, delegado! Não se desculpe... O senhor salvou a
mim e a minha família, porque eu morreria se tivesse perdido alguma delas.
— Esfrego as mãos no rosto ainda atordoado.
Ele me puxa para um abraço e eu vou de bom grado. Fomos até o
corpo de Leah caído no chão lamentando profundamente por ela ter
chegado a esse ponto. Bem ou mal ela era minha mãe, eu jamais desejaria
isso a ela mas não podia perder a minha família, e muito menos deixá-las.
— Atenção, pessoal! Devido a esse terrível acontecimento, não
haverá mais festa! Os noivos estão muito abalados e precisam se retirar com
a família. — Ouço a voz de Adalberto visivelmente preocupado.
— Muito obrigada pela preocupação, Sr. Adalberto, mas nós não
podemos deixar de viver esse dia que escolhemos para celebrar com os
nossos amigos a nossa união... Me perdoe, meu amor? Mas eu não vou
deixar esse acontecimento atrapalhar a nossa felicidade, eu não quero isso
pois o mal já foi cortado pela raiz... Como o padre mesmo disse. O que
Deus uniu o homem não vai separar! — Afirma minha esposa ainda
emocionada.
— Tem certeza? Você ainda está nervosa, as meninas estão
agitadas...
— Vamos ficar bem, elas são estão assustadas com essa confusão.
Precisamos nos distrair ou vamos ficar deprimidos no dia do nosso
casamento. — Ela me abraça apertado e eu retribuo.
— Vocês ouviram a minha esposa! O salão está alugado até às três
da manhã, então vamos comemorar! — Aviso ainda abraçado a ela, mas me
solto quando Luana e Priscila se aproximam com as meninas.
Pego as duas beijando e apertando-as sutilmente em meus braços,
elas esfregam os olhinhos deitando as duas em meu peito. Atena acaricia e
beija as costas delas e eu olho novamente na direção do corpo coberto mais
a diante.
— Você tem razão, Tony! Não estraga o dia de vocês com isso,
deixa que eu resolvo tudo por aqui. O pessoal do IML já está vindo para
escolher o corpo, vão comemorar o casamento de vocês. — O delegado se
aproxima nos guiando para longe dali.
Apenas concordo e entro no carro com a minha família, Atena pega
Eloá mas estamos os dois calados, até ela resolver falar.
— Eu sinto muito por toda essa situação, pois bem ou mal ela era a
sua mãe... Estou me sentindo culpada, ela não me queria com Théo e não
me queria com você, a sua mãe claramente não me suportava... Já perdemos
o Théo e ela ia atirar em você. — Desabafa em um tom choroso e eu
abraço-a, trazendo ela para o meu corpo.
— Você não tem que se culpar por nada, Leah estava louca mas eu
não gostei de você ter entrado na frente daquela arma, se você fosse
atingida eu não ia te perdoar, Atena! Eu não posso perder você! Eu já perdi
o meu irmão, eu não posso perder você! — Irrito-me ao lembrar-me dela na
mira da arma e o som daquele tiro sendo disparado. Isso me apavora.
— Eu também perdi o seu irmão e eu também não posso perder
você! Eu agi em um momento de pânico... Me desculpa...? Eu não saberia
viver sem você, eu e as meninas precisamos muito de você, Tony... Eu tive
medo... Tive muito medo... — Ela também se altera mas chora escondendo
o rosto no meu pescoço.
Beijo a sua testa demoradamente, aperto-a em meus braços sentindo
o quanto ela está tensa e trêmula.
— Não precisa ter medo, eu estou aqui e não vou te deixar... Eu
nunca vou te deixar, eu prometo! — Acaricio os seus cabelos e ela abraça o
meu pescoço.
Maitê e Eloá resmungam e nós tentamos sorrir dando a atenção que
elas pedem. Seguimos para o salão que não fica muito longe da igreja,
admiro a minha mulher um pouco mais animada brincando as nossas
meninas e isso me conforta. Ela me dá um beijo dizendo eu te amo meu
marido, eu sorrio ainda mais por isso, ela é minha esposa.

Andamos pelo salão cumprimentando os nossos amigos, Atena não


tem muitos amigos mas eu tenho bastante, o pessoal da corporação estão em
peso todos aqui hoje e estamos tentando esquecer aquele terrível
acontecimento bem no dia do meu casamento. Infelizmente ela era a minha
mãe, mas já fazia tempo que deixei de vê-la como tal, ela nos decepcionou
muito, nunca nos deu o seu amor e carinho de mãe, ela sempre se
preocupou mais em saber com quem iríamos nos casar, e ela mesma queria
escolher as nossas esposas, isso era ridículo, um absurdo.
Paro suspirando fundo, eu não posso deixá-la estragar o meu dia
mesmo depois de morta, mas não consigo esquecer que ela apontou uma
arma para a minha mulher e as minhas filhas, netas dela. Atena me lança
aquele seu olhar amoroso, ela está preocupada comigo e está fazendo de
tudo para não me ver tão mal na nossa festa de casamento.
— Vou ter que esperar a boa vontade de alguém me tirar para
dançar, ou o meu marido pode fazer isso? — Atena ergue uma sonbrancelha
abraçando a minha cintura. Sorrio e me afasto fazendo reverência a ela.
— A minha rainha me concede a honra de uma dança? — Minha
mulher abre ainda mais o seu sorriso me reverenciando como uma princesa.
— Com muito prazer, meu rei. — Ouço suas gargalhadas e adoro
quando ela acha graça e entra nas minhas brincadeiras.
Sigo com ela para o centro do salão, a música ao fundo muda
automaticamente mas sei que isso é coisa dela. Trago o seu corpo para mais
perto do meu e abraço a sua cintura, inicio a nossa dança com ela sorrindo
abertamente, apesar do acontecido na porta da igreja ela está feliz, e eu
estou feliz apenas por vê-la assim.
Ela está magnífica, palavras me faltam para fazer um simples elogio
pois tenho receios de dizer alguma bobagem. Apenas sorrio e beijo a minha
esposa.
— Ma... Ma...
Interrompo o beijo ao ouvir a minha filha dizer algo. Meu sorriso
vai nas orelhas. Priscila está a nossa frente com Maitê no colo e mais a
diante o seu marido, o cabo Danilo com Eloá fazendo manha.
Faço sinal para eles trazem as minhas meninas, pego Maitê que está
mais perto e Atena pega Eloá, elas estão bocejando, estão enjoadinhas pois
estão com sono.
— Elas já estão quase dizendo mamãe e papai, já estão ensaiando as
primeiras palavrinhas. — Minha esposa abraça a minha cintura e eu abraço
a sua. Voltamos a dançar com elas no colo.
— Vai ser um dos dias mais felizes da minha vida, ouvir as nossas
filhas me chamando de papai.
— Nossas filhas... Elas são nossas, e não apenas minhas. — Afirma
confiante me arrancando um largo sorriso por isso.
As nossas filhas estão quase dormindo no nosso colo, decidimos
cortar logo o bolo e ela vai jogar o buquê, precisamos levar as crianças para
casa pois também estamos exaustos, decidimos viajar amanhã cedo por
causa das meninas e depois do que houve hoje, também não teríamos
cabeça para isso. Eu preciso de um momento a sós com a minha esposa pois
seus beijos são milagrosos, ela tem o poder de me acalmar e eu preciso
dela, quero consumar o nosso casamento e disso eu não abro mão, a menos
que ela esteja cansada demais e não me queira hoje.
— Atenção meninas! A noiva vai jogar o buquê! — Vejo Priscila
agitando a mulherada e Atena sai animada, deixando as nossas filhas
comigo e dona Sônia.
Nunca vi essas mulheres tão agitadas por causa de um buquê, mas
estou achando tudo isso hilário. Atena faz a contagem regressiva e joga o
buquê para o alto, eu jurava que ela iria escolher alguém para entregar o
mesmo, não fazia ideia de que a entrega do buquê seria assim, sendo
arremessado para o alto. Sorrio vendo o pequeno buquê voar sobre as
cabeças dessas mulheres, mas o mesmo vai parar nas mãos de Rayssa, a
menina que trabalha em uma das floricultura de Luana, e ela parece feliz
por ter pego o buquê.
Atena cumprimenta algumas das meninas empolgada e fico feliz que
ela não tenha deixada aquele terrível episódio estragar a nossa festa de
casamento, sei que ela ficou muito chateada e preocupada pois tinha uma
arma apontada para nós e nossas filhas, mas vamos fazer de tudo para
esquecermos aquela cena lamentável. Eu esperava tudo da Leah, menos que
ela aprontasse uma arma para as minhas filhas, duas crianças inocentes mas
ela também ameaçou a mim e minha esposa e isso não tinha como perdoar,
se o delegado Camilo não tivesse atirado, ela o faria e Atena poderia não
estar aqui agora, pois ela se pôs na minha frente para me salvar, eu morreria
se ela tivesse sido ferida, não posso nem imaginar uma coisa dessas pois o
meu peito se aperta.
— Meu amor! Já podemos ir para casa, já cumprimos a nossa parte
por aqui então vamos embora, eu estou exausta e louca para dormir nos
braços do meu marido. — Ela vem até a mim apressada mas tem um belo
sorriso no rosto.
— Sim, minha vida, vamos!
Lhe dou um beijo na testa e nos afastamos para nos despedirmos de
alguns amigos, mas não nos demoramos e pegamos as nossas filhas, saindo
do salão de festas e entramos no carro e pedimos a Alonso para nos tirar
dali, seguimos de volta para nossa casa mas agora casados, pois ela é
oficialmente minha esposa.

DOZE ANOS DEPOIS...

— Sardentinhas! — Tony entra em casa chamando pelas meninas.


— Delegado papai! — Elas saem do corredor correndo até ele.
Meu marido tem o sorriso mais lindo do mundo recebendo as nossas
filhas em seus braços, ele dá atenção as duas mas Adam e Théo vem da
cozinha correndo com a cara melada de chocolate.
— Super-herói papai! — Eles chamam pelo pai e o mesmo pega os
dois no colo.
— Meus campeões! Quero saber qual de vocês cuidaram das
mulheres da casa, Adam? Théo? Quem cuidou das princesas da casa? —
Ele vem até o centro da sala com os meninos no colo e as meninas
agarradas a sua cintura.
— Fui eu, papai! — Dispara Théo.
— Não papai, fui eu! — Contesta Adam me fazendo sorrir.
— Mentira papai! Eles não cuidaram da gente, só ficaram comendo
chocolate o dia todo. — Maitê entrega os irmãos.
— Eu estava com saudades, papai, você demorou muito. — Eloá diz
tímida e Tony põe os meninos no chão.
— Eu também estava com saudades, querida, mas o papai não pôde
sair mais cedo hoje... Me dá um beijo? — Ele toca o rosto dela
carinhosamente e se inclina para receber um beijo.
Ele faz o mesmo com Maitê e todos vem até a mim arrastando o pai
com eles.
— Meu amor? Como foi o seu dia? Está muito cansada? Precisa de
ajuda aí? — Ele me dá um beijo e pega Hektor enquanto eu faço Ayla
dormir.
— O meu dia foi tranquilo sem nenhuma preocupação, as babas me
ajudaram bastante com os bebês e eles estão calmos. E você? Está tudo
bem? Muito trabalho na delegacia?
— Bastante, no entanto, adiantei tudo que eu podia antes de entrar
de férias, então a partir de amanhã eu posso aproveitar a cama e a minha
esposa um pouco mais. — Seu olhar malicioso ainda mexe comigo, mas
preciso pôr um freio no meu marido.
— Você pode até aproveitar a sua esposa um pouco mais, mas
precisamos nos cuidar mais também. Se você me engravidar de movo eu
mesma te dou uma surra! — Estreito os olhos para ele mas o cara de pau se
aproxima sorridente.
— Que exagero, amor, eu só te engravidei duas vezes...
— E essas duas vezes nos renderam mais quatro filhos, Tony! Isso é
culpa minha por me envolver com gêmeos, eu vou ter que me cuidar muito
pois não posso mais engravidar, já temos um time de vôlei, não precisamos
de um time de futebol. — Contesto incrédula e ele gargalha.
— Eu adoraria te engravidar mais uma vez, mas sei o quanto é
cansativo para você cuidar das crianças enquanto eu trabalho, sei que as
babás fazem um ótimo trabalho e são competentes, mas também sei que
você faz questão de estar atenta a tudo, e isso faz de você uma mãe
maravilhosa, a melhor que já vi em toda a minha vida... Estamos dando aos
nossos filhos todo amor e carinho que eu e meu irmão não tivemos, e isso é
muito importante para mim. — Seus dedos tocam o meu rosto em um
carinho tão bom, eu amo isso.
— Eu sei, minha vida, eu também faço questão de estar sempre com
as crianças pois eu não tive os meus pais junto a mim por muito tempo, de
certa forma eu só estou tentando dar a eles o que eu não tive por tantos
anos. — Afirmo pensativa saudosa por aqueles que não temos mais entre
nós.
A única irmã que tenho nessa vida é a Luana, não tenho mais os
meus pais então estou feliz por ter uma família tão grande, meus filhos, eu e
meu marido jamais nos sentiremos sozinhos pois mesmo que sejamos
órfãos de pai e mãe, mesmo que não tenhamos irmãos nós sempre teremos
um ao outro e teremos os nossos seis filhos, jamais me imaginei com tantos
filhos mas eu fui me envolver logo com dois gêmeos, tive duas filhas de um
e quatro do outro, os gêmeos só tem seis meses e esse cretino gostoso do
meu marido ainda tem esperanças de me engravidar de novo, só que não.
Sorrio abertamente.
— E o motivo desse sorriso radiante? Eu posso saber quem é? —
Pergunta largado no sofá com Hektor sobre o seu peito, eu me sento ao seu
lado admirando os nossos filhos correndo pela sala.
— O motivo do meu sorriso é você, os nossos filhos e essa família
linda e numerosa que construímos. Acho que eu nunca fui tão feliz como
sou agora, não sou mais sozinha nesse mundo como pensei que acabaria a
minha vida, sem uma descendência, sem um parente de sangue, sem ter
vivido um grande amor por ser cega e eu vivi dois grandes amores... Você
me faz tão feliz, Tony... Eu me casaria com você quantas vezes mais você
quisesse. — Meu coração bate forte com a minha própria declaração.
Meu marido me abraça me puxando para o seu corpo e me beija
devagar, me beija com tanto amor, acho que nos amamos igual ou mais que
antes e estamos sempre vivendo esse nosso amor intensamente.
— Tirou as palavras da minha boca... Te amo tanto que me casaria
com você quantas vezes você me aceitasse. E você também me faz tão feliz,
só não estou destruído hoje porque você me reergueu ao me dar o seu amor,
também não estou sozinho como pensei que ficaria depois que ele se foi,
mas estou tranquilo pois toda vez que olho para o nosso filho Théo, eu o
vejo aqui entre nós e ele está feliz, ele está sempre torcendo por nós e sei
que gostou dessa homenagem. — Ele suspiro admirando o nosso filho
correr tão sorridente, ele é tão amoroso quanto o tio era.
Parece confuso ter filhos de um e do outro? Não! Só o que posso
dizer é que todos eles foram feitos com muito amor, onde há amor, o resto
não interessa e eu amo os meus filhos, amo o meu marido não importa o
que o mundo diga, pois só quem tem a capacidade de amar tem um olhar
sem medidas, um olhar de amor e esperança e eu estou vendo e vivendo
tudo isso graças a eles, aos irmãos Carlson, os grandes amores da minha
vida.
— Crianças! Está na hora de lavar as mãos para jantarmos, quero
todos na mesa e com as mãos limpas! — Tony se levanta chamado atenção
das crianças.
— Está bem, papai! — Respondem todos juntos me fazendo sorrir
abertamente.
Suspiro apaixonada pela minha família. As babá de Théo e Adam
aparecem para ajudá-los e as babás de Hektor e Ayla também, meus
pequenos já mamaram e dormiram no meu colo e no colo do pai, eles vão
para os seus berços e sei que vão dormir à noite toda. Sigo para mesa
abraçada ao meu marido e esperamos pelas crianças.
Ainda moramos na mesma casa pois ela é grande, só tivemos que
mudar o escritório do meu marido para a biblioteca para termos um quarto a
mais, mas no futuro vamos precisar de uma casa maior pois quando forem
adolescentes cada um deles vão querer ter o seu próprio quarto, e nós já
estamos no programando para isso, estamos pensando em uma casa nova e
maior também.
Cursei a faculdade como os meus pais tanto queriam, estudei
medicina mas não trabalho na área, estudei apenas para ter conhecimento
para cuidar dos meus próprios filhos e também dos meus sobrinhos, pois só
quem tem filhos entende o sofrimento que é quando um deles fica doente, e
eu tenho seis filhos para me preocupar e cuidar. Luana também tem uma
família linda e numerosa, ela tem dois meninos e duas meninas e estamos
felizes por vermos que os nossos filhos jamais vão se sentir sozinhos como
nós nos sentíamos antes de nos conhecermos, antes de nos amarmos como
amigas e depois como irmãs.
Dona Sônia e o Sr. Adalberto não poderiam estar mais felizes com
tantas crianças para ocuparem o seu tempo, e eles também tem os meus
filhos como netos e eu amo o carinho que eles tem com as crianças, somos
uma família grande e amorosa, e isso supriu a dor e a saudade que
carregávamos dentro de nós, eu e Tony. Meu marido e Otávio hoje são
melhores amigos assim como eu, Luana e Priscila, somos inseparáveis e
estamos sempre juntas, o marido de Priscila e Tony também se dão super
bem e seus filhos também estão se dando bem com os nossos. Já estou
imaginando uma grande amizade entre todos eles.
Meu marido é muito estimado por todos na corporação onde
trabalha e ele é visto como um dos melhores delegados que já assumiram
aquela unidade, e agora ele está sendo cogitado para assumir uma unidade
da polícia federal, ele está muito empolgado e eu estou torcendo por ele,
Tony merece todo o sucesso do mundo, nós merecemos e estamos
alcançando os nossos objetivos.
Nos acomodamos a mesa com as crianças e começamos s comer em
silêncio, mas eu e meu marido estamos atentos as crianças, os gêmeos
comeram tanto chocolate que estão rejeitando a comida.
— Não estou com fome, papai, eu quero só o pudim de leite. —
Adam larga a sua colher e Tony suspira fundo.
— O que nós conversamos sobre vocês comerem doces demais e
deixarem a comida de lado? Eu já deixei claro que não gosto disso, não é
saudável, meus filhos, e isso vale para vocês também, meninas! Hoje Adam
e Théo estão de castigo, não querem a comida, tudo bem, mas não tem
sobremesa e amanhã os doces estão proibidos para todos! Ouviram? —
Tony repreende os filhos e todos abaixam a cabeça concordando.
— Zilar! Marta! Fiquem atentas para eles não saírem do castigo, eu
liberei para eles comerem um chocolate cada um mas parece que passaram
da conta, por isso vão ficar de castigo para aprenderem a não fazer o que
não podem. — Alerto as babás em pé no canto da sala.
— Sim senhora, vamos ficar atentas a isso. — Afirma Marta.
— Mas papai, eu também estou de castigo? Eu não comi doces hoje.
— Contesta Eloá, tímida, ela é mais delicada que Maitê.
— Sim, filha, pois quando você e sua irmã também nos
desobedeceram, os seus irmãos também ficaram de castigo, então é justo
que agora vocês também fiquem pois todos precisam aprender a lição. Ok?
— Ele explica em um tom sereno e pisca para nossa filha.
— Está bem, papai. — Concorda voltando a comer.
Seguro a mão do meu marido sobre a mesa e ele pisca para mim.
Sorrio e terminamos de comer enquanto os meninos estão emburrados. Peço
as babás para levá-los e pôr eles na cama, depois passaremos para dar um
beijo neles.

Depois do jantar colocamos as meninas também na cama e demos


um beijo de boa noite em cada uma das crianças, fomos para o nosso quarto
e eu me troco enquanto meu marido vai tomar o seu banho para dormirmos,
estou cansada pois hoje além de dar atenção aos meus filhos, também ajudei
na inauguração da oitava floricultura Lua e Sol, mais uma filial que sei que
será um grande sucesso, meu marido mesmo é um cliente fiel pois está
sempre me presenteando com lindos buquê de flores, e eu amo isso, amo ele
e amo as flores que ele me dá.
Adormeço deitada na poltrona esperando o meu marido para irmos
para cama, mal consigo abrir os olhos de tão exausta que estou. Sinto Tony
me pega no colo e me pôr na cama se deitando ao meu lado, agarro o
travesseiro macio suspirando fundo e ele me abraçar por trás, cheirando os
meus cabelos como ele faz todos os dias ao se deitar ao meu lados, ou
sempre que tem uma oportunidade para fazê-lo.
— Boa noite, meu amor... Te amo! — Diz no meu ouvido.
— Boa noite, vida... Também te amo! — Afirmo enrolando a língua
de tanto sono.
Apago literalmente ouvindo o a música de ninar que vem da babá
eletrônica no quartinho dos bebês, eles estão dormindo com os anjos e nós
vamos fazer o mesmo, vamos sonhar com um futuro tão feliz quanto o
nosso presente. E que ele seja eterno e sem medidas.
Fim!!!
Livros Da Série
Livros 4/5/6 Em Breve!

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