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Amanda Leandro — 1ª Edição — 2019

Copyright

Copyright@2018 AMANDA LEANDRO


Revisão: Victoria Gomes
Capa: Amber Beasly
Diagramação Digital: Giuliana Sperandio, Help – Serviços Literários
Direitos imagens: © pngtree.com.
Está é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,
personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação
da autora. Qualquer semelhança entre esses aspectos é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da nova ortografia da língua portuguesa.
Leandro, Amanda
Deixe-me ir…
1ª edição – 2019/ 350 páginas
Ficção Brasileira
Romance
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.
É proibido o armazenamento e/ou reprodução de qualquer parte dessa
obra, através de quaisquer meios – Tangível ou intangível – sem o
consentimento por escrito das autoras.
Criado no Brasil.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9610/98 e
punido pelo artigo 184 do código penal.
Sumário
Copyright
Nota da Autora:
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Epílogo
Nota II
Biografia
Conheça seu trabalho:
Nota da Autora:

Olá! Desde já, obrigada por estar lendo Deixe-me Ir…


Espero que vocês gostem da Charlotte, ela foi escrita com muito amor,
misturando ficção com histórias reais. Foi escrita de forma imperfeita,
crescendo aos poucos. Tentei passar, através dela, todo sentimento que
encontrou caminho até vocês através da escrita.
Este livro aborda temas ligados a transtornos mentais como depressão,
além do luto, então esteja ciente que alguns capítulos podem levá-lo a passar
por momentos difíceis e dolorosos. Por isso, tenha consciência de seus
limites.
Agradeço às minhas leitoras e amigas, que tanto me incentivaram, tanto
no desenvolvimento, quanto na escolha de publicá-lo por aqui. Vocês foram
muito importantes para que essa decisão fosse tomada.
E a você, leitor, que está aqui agora, seja bem-vindo ao mundo cinza e
colorido de Charlotte Evans e sua família.
Epígrafe
Prólogo

Onze anos antes…

A diretora me chama em sua sala. Isso nunca aconteceu. Minha cabeça


está girando sobre o que pode ser enquanto caminho pelos corredores da
escola tentando lembrar se fiz algo, mas nada me vem à mente.
Bato na porta e espero, ansiosa.
— Entre — a senhora Coller diz do outro lado da porta.
Entro e fico à espera. Não sei se devo me sentar ou ficar em pé. A
senhora Coller faz sinal para que eu me sente à sua frente, o que eu faço
sentindo-me desconfortável por estar aqui, na sala da diretora.
— Senhorita Evans, aqui está a liberação para ir mais cedo para casa —
a diretora diz, rapidamente entregando-me uma folha.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto, começando a entrar em
pânico.
Ela sorri com pesar. Isso não é bom. Meu estômago revira de nervoso e
confusão, talvez seja melhor ir logo para casa.
— Eu não sei dizer, mas seu irmão espera por você em casa. — A
diretora Coller coloca as mãos sobre a mesa e me olha longamente; por um
segundo penso que ela dirá mais alguma coisa, mas não fala mais nada.
— Obrigada.
Pego a folha que a senhora Coller me estendeu e saio de sua sala. O
sinal toca assim que fecho a porta. Respirando fundo, faço meu caminho de
volta para a sala de aula para pegar minhas coisas, mas Miranda está
esperando-me com minha mochila na mão assim que chego ao final do
corredor que leva até a direção.
— Está tudo bem? — ela pergunta, franzindo o cenho. Minha amiga me
conhece muito bem e, mais ainda, a minha família.
— Eu não sei, Mi, mas acho que não. Estou indo para casa. Vejo você
depois. —Pego minha mochila de suas mãos.
— Não tenha dúvidas disso! — Miranda diz, abraçando-me forte. —
Gostaria de ir com você, mas tenho que ficar.
Sorrio para ela e me afasto a passos largos em direção à saída. Sei que
Miranda gostaria de estar comigo, mas infelizmente, seja lá o que for, terei
que fazer o caminho de casa sozinha.
Meu estômago está dando nós, minhas mãos suam, e o sentimento de
que algo ruim aconteceu não para de me perturbar. Esse sentimento só se
amplia quando encontro o irmão de minha cunhada Ana esperando-me na
saída da escola.
Eu e Kalebe não temos um bom convívio. Ele na verdade não tem bom
convívio com ninguém.
— Olá, Charlotte — Kalebe me cumprimenta e indica seu carro para
que eu entre. Ele abre a porta e espera.
— Oi — respondo ao entrar.
Seu olhar de compaixão me deixa inquieta. Kalebe não diz nada,
simplesmente abre a porta do carro para mim e eu entro sem fazer perguntas.
Essa é a volta para casa mais longa da minha vida… E a mais silenciosa
também.
Andando, seriam quarenta minutos da escola até minha casa, mas de
carro é rápido, muito rápido. Logo eu me encontro em frente à minha casa.
Desafivelo o cinto e abro a porta do carro, agradeço e saio.
O vento sopra meus cabelos assim que chego à porta. É como se alguém
passasse as mãos pelos fios vermelhos, quase um afago, como minha mãe
costuma fazer.
Respiro fundo e entro em casa. Tudo parece mais silencioso que de
costume e, consultando o relógio na parede do corredor, percebo que meus
pais deviam estar em casa, e eles não eram são um pouco silenciosos.
— Mãe? Pai? — chamo do corredor, mas não há resposta. Meu coração
está batendo nas orelhas, como Miranda costuma dizer quando está
encrencada.
— Lottie — meu irmão me chama —, aqui na sala. — Sua voz soa mais
determinada que de costume.
Jared. Isso não está bom. Nada bom. Jared a essa hora costuma estar no
escritório e não aqui em casa. A menos que algo acontecesse, e por algo quero
dizer EU.
Caminho devagar pelo corredor e deixo minha mochila na porta da sala.
Fico parada lá, olhando para todos, procurando meus pais, que não estão em
lugar nenhum. Como isso é possível?
— Jared? — Não consigo evitar que minha voz soe um tanto
desafinada. —Onde estão nossos pais? Eles não disseram que iriam sair —
digo, cruzando os braços.
Meu irmão mais velho me observa com carinho, mas de um jeito
diferente de como ele costuma me olhar. Jared é um irmão maravilhoso, às
vezes muito superprotetor, mas, no meu caso, eu entendo a posição dele.
— Sente aqui. — Jared bate no lugar vago ao seu lado no sofá. —
Precisamos conversar.
Vou até ele. Não consigo evitar a desconfiança que sai de mim em
ondas e, por alguma razão, tenho um pressentimento muito ruim. Alguma
coisa aconteceu. Com meus pais, e as possibilidades estão me matando…
Por que, em situações como essa, imaginar é mil vezes pior do que ver
ou presenciar o que aconteceu?
Jared segura minha mão com firmeza. Esse é um hábito dele, desde que
tudo desandou na minha vida. Mas é o Jared, desde o dia em que nasci ele não
largou mais minha mão. Era como se tivesse medo que eu escorresse por seus
dedos como areia no vento. Nós dois sabemos que, por mais que ele segure
firme minhas mãos, eu ainda posso voar como um balão sem rumo.
— Lottie. — A voz de meu irmão está embargada. Ele limpa a garganta
e Ana aperta seu ombro. Meu coração bate mais forte, ou talvez tenha parado
aos poucos. — Nossos pais sofreram um acidente e… Eles não resistiram. —
Seus olhos cinzentos como os meus estão tempestuosos.
Afasto minhas mãos das suas e fico de pé, levando as mãos à cabeça.
Isso não pode estar acontecendo. Outra vez, não. Não posso perder mais
ninguém, não posso perder meus pais, meus pais não!
Por favor, por favor, por favor!
— Não! Isso não pode ser verdade! — grito na direção dele. — Jared,
eu tomei café com eles há duas horas! Duas horas! — continuo gritando com
ele, negando-me a acreditar no que ele acabou de dizer. Eu não me despedi.
Eu não disse adeus…
Jared se coloca de pé e me abraça com força. Tento lutar para sair de
seu abraço, soco seu peito, grito, mas nada vai mudar o que aconteceu. Nada
vai tirar essa dor lancinante de mim.
Um motorista bêbado. Meus pais se foram…
Meus joelhos batem no chão, de cansaço, e Jared me abraça mais forte.

Jared e Ana lidam com tudo. Eu me sinto entorpecida. Eu não consigo


sentir nada e, ao mesmo tempo, sinto tudo… Principalmente o vazio que se
forma em minha alma, porque meu coração já estava partido há muito tempo.
Seus órgãos foram doados, bem, os que estavam funcionando quando
eles chegaram ao hospital. Meu irmão tomou a decisão certa, nossos pais
iriam querer isso, ninguém poderia salvá-los, mas eles poderiam salvar outras
vidas.
— Char… Eu sinto muito! Só soube agora — Miranda diz, abraçando-
me, mas nenhuma lágrima sai de mim agora. — Eu sinto tanto. Eu estou aqui,
com você.
— Eles se foram, Miranda. Para sempre — falo de modo automático.
— Eu nunca mais vou vê-los sorrir, ou conversar enquanto fazem o jantar…
Ela me olha nos olhos por um longo momento. Não sei o que está
procurando, vida, talvez? Dor? Raiva? Eu não sei.
— Eu sei, mas eu estou aqui. E vou ficar aqui sempre — ela diz,
envolvendo seus braços ao meu redor novamente. — Eles se foram, mas
muitas outras pessoas que te amam estão aqui.
Fecho os olhos e espero as lágrimas rolarem, mas elas não vêm. Talvez
eu só não sinta mais nada. Minha cabeça parece tão pesada às vezes, meu
corpo todo parece pesado demais.
As horas passam e, às seis da tarde, os corpos são liberados para o
velório. Miranda fez eu me trocar e, em seguida, nos dirigimos à capela do
cemitério, com seus pais. Não sei o que faço neste espaço de tempo, e não
presto atenção no caminho que fazemos até a capela.
A dor é um sentimento muito estranho e contraditório. E muito
perturbador também.
Desde que cheguei à capela, Jared ficou o tempo todo ao meu lado,
assim como Miranda e Ana.
Minha cunhada já me deu diversos abraços e em cada um era como se
ela tentasse me passar uma nova carga de vitalidade.
Aproximo-me dos caixões. Mamãe é a primeira que vejo, ela é tão
bonita… Era. Não é, e não será mais… Olho as flores em seu caixão, sua
roupa, seu cabelo… Eu guardarei essa imagem para sempre em minha mente.
Deixo Jared aqui, chorando com Ana em frente ao caixão de mamãe, e
vou até o caixão de papai. Ele parece sorrir… Como se isso fosse uma
brincadeira e ele fosse se acordar a qualquer momento. Nesse preciso
momento, as comportas se abrem, com força. Minhas lágrimas saem de mim
em soluços entrecortados. A dor é demais, é implacável. Eu quero ir junto…
Grito com ele, mas ele continua aqui, sereno. Braços me rodeiam e alguém
diz algo em meu ouvido, mas neste momento eu estou surda. Estou com raiva.
Eu estou devastada.

As horas passam e mais pessoas aparecem. Quanto mais pessoas


chegam, mais “eu sinto muito!” e “você está bem?” eu ouço. A vontade é
gritar NÃO, EU NÃO ESTOU BEM! Mas nada vai mudar o que aconteceu.
Ana tenta me levar para casa, mas eu não quero ir. Eu ficarei com eles
até a hora em que não puder mais. Ficarei aqui até o último momento. Ela
precisa ir, Alice é só um bebê e precisa dela. O que entendo, é claro. Mas eu
preciso ficar.
— Eu irei em casa e volto o mais rápido possível. Eu te amo — Ana
diz, dando-me um beijo na testa. Assinto em concordância para deixá-la mais
calma.
Miranda em nenhum momento solta minha mão. Neste instante, sei que
ela nunca soltaria. Seremos assim para sempre; quando uma quebrar, a outra
juntará e colará os pedaços.
— Jared? — chamo meu irmão, que está distraído conversando com
alguém.
— Sim? — ele diz, virando-se para mim. — Você precisa de alguma
coisa? — Ele me observa atentamente.
— Que horas nossos pais serão enterrados? — pergunto calmamente.
— Às oito da manhã — Jared diz, colocando uma mecha de meu cabelo
atrás da orelha. — Você deve descansar um pouco.
— Não quero descansar. Vou até a rua um pouco. Preciso de ar. Daqui a
pouco estou de volta — informo a ele.
— Está bem. Se precisar de algo, estou aqui — ele diz, beijando meu
rosto.
— Eu sei — digo a ele, porque é verdade. Eu sei. Jared nunca me
deixou ir… Nunca largou minha mão; se ele pudesse enfrentar tudo por mim,
faria, sei que faria.
Saio com Miranda atrás de mim, desço para o cemitério. Meus pais
serão enterrados na parte da nossa família, já há tantos túmulos aqui… Avós,
pais, irmãos, filhos… Os Evans têm uma infinidade de placas aqui.
Aproximo-me da lápide de minha avó. Sua foto é igual a como eu me
lembrava dela, feliz, sorridente e teimosa. Vovô não está diferente… Eles
sempre fizeram um belo casal. Vovô… Lembrar dele fez com que tudo doa
mais.
— Charlotte, quer ficar sozinha? — Miranda pergunta atrás de mim.
— Não, vamos. Quero andar um pouco. Você se importa? — Levanto a
cabeça para olhá-la nos olhos.
— Não. Claro que não.
Andamos alguns passos e Miranda pega minha mão novamente.
Observo nossas mãos unidas… Há muito tempo é assim. Charlotte e Miranda,
amigas para sempre.
— Com quem eu vou ficar, Mi? — Não consigo esconder dela minha
preocupação.
— Jared e Ana, ouvi minha mãe falando com eles. Vamos continuar
juntas. Não importa o que aconteça. Eu te levaria para a minha casa, mas seu
irmão não vai deixar — ela diz, rindo.
Retribuo seu sorriso, porque ela está certa.
— Sim, nós vamos ficar juntas, o máximo que conseguirmos. — Sim, o
máximo que conseguirmos, porque minha vida é uma bagunça.
Depois de andar por quase todo o cemitério sem ver nada, voltamos à
capela. Jared está aliviado em me ver. Não sei o que se passou em sua cabeça,
mas isso é típico de meu irmão. Embora, é claro, agora ele aumentará muito
sua vigilância sobre mim.
A madrugada está arrastando-se e custando a passar. Mas, quando me
dou conta, o dia está amanhecendo. Está chegando a hora. Na verdade, está na
hora de me despedir.
São exatamente oito horas. Os caixões já foram baixados, fiz minha
última despedida. Meu último adeus. Ainda não consigo acreditar que eles
não estarão mais à minha espera quando eu chegar em casa.
George e Carmem Evans.
Adeus…
Meu nome é Charlotte Evans, tenho dezesseis anos… E acabei de
enterrar meus pais.

— Lottie — Jared diz ao meu lado —, a partir de agora você vai morar
comigo e Ana. Seu quarto já está pronto. Decore como quiser. Sei que
provavelmente você quer ficar, mas…
— Não quero ficar aqui. Está tudo bem. — Eu gargalho. — E eu
achando que tinha me livrado de você!
— Isso nunca vai acontecer! Eu estarei sempre aqui. Eu prometo! —
diz meu irmão, não gostando da brincadeira.
Mal sabíamos neste momento que isso é uma grande mentira, mas aqui,
neste exato segundo, esta promessa está valendo. Jared Evans nunca fez uma
promessa que não fosse cumprir. Até esse dia…
— E, além disso, irmão, você deve estar precisando de uma babá —
digo, entregando-o minha mala. — Depois voltamos para pegar o restante.
Ele sorri para mim. Nem parece que há algumas horas nós enterramos
os nossos pais. Agora, só quero sair daqui e da dor que esta casa e suas
lembranças me trazem.
— Alice precisa da tia dela — ele diz confiante.
— Ela tem só dois meses! Nem sabe quem eu sou! — argumento com
ele.
— Acredite em mim, ela sabe! Ela vive procurando a tia amada dela —
Jared diz, debochado. — Nem parece que existem outras pessoas para ela.
— É claro que sim — digo, estreitando os olhos para ele. — Ana não se
importa? Quer dizer… De eu morar com vocês?
— Não, eu não me importo! Charlotte você é minha irmã. Eu te amo. E
estou feliz que finalmente vamos nos ver mais! — Ana diz, aparecendo na
porta. — Vai ser ótimo ter minha melhor amiga bem pertinho — ela diz,
piscando.
— Desculpa, Ana, mas, para mim, meus livros são mais atraentes que
você! —digo, debochada, fazendo Jared engasgar-se para não rir.
— Ha-ha, muito esperto da sua parte! Vou encher sua comida de
pimenta! — ela diz, fazendo bico.
— Boa sorte com isso! — digo em tom de desafio. — Acho que alguém
acordou! — Pisco para ela.
Ana sai, mostrando a língua para mim. Alice está em sua cadeirinha na
cozinha de nossa casa. Ana está jogando algumas coisas da geladeira fora.
— Estou orgulhoso da minha linda irmãzinha! — Jared diz, realmente
orgulhoso.
— Eu te amo, seu chato — rebato, mal-humorada.
— Eu te amo mais! Muito mais! — Ele me abraça forte.
Neste momento, é o que importa. Eu não quero ficar na casa deles… Na
minha casa, na casa dos meus pais. Dói, e muito, as lembranças que estão ali.
Então, preferi partir, trancar as portas e esperar o dia em que eu pudesse entrar
naquela casa sem sentir o vazio que sinto agora.
A perda é algo que ninguém aceita. Eu, pelo menos, não aceitei…
Minha cabeça lateja sem parar e, por alguma razão, sinto que este é só o
começo da minha jornada e das minhas perdas.
Meu caminho está nublado, não tenho mais horizonte, mas eu tenho
Jared, Ana, Alice e Miranda.
Quão tolas as pessoas podem ser? Eu sou tola. Todos somos… O
destino não colocou seu ponto final ainda… Há muito mais por vir.
Aqui e agora é só o começo… Nossas vidas são tão frágeis, tão
quebráveis.
Eu estou sangrando por dentro, mas ninguém pode ver. Meu coração
está no chão, aos meus pés.
Tudo mudou.
A perda nos muda. A dor nos transforma e o amor nos cura.

Os dias são longos… Muito longos. Meus pés já não tem mais o
propósito de sempre, agora eu me obrigo a ir aos lugares, a ir para a escola.
Na escola, as pessoas sempre me olham com pena, ou se sentem
obrigados a dizer “eu sinto muito pelos seus pais”, como se eu precisasse de
um lembrete todos os dias.
Meu irmão disse que meu quarto novo seria do jeito que eu quisesse,
então, três dias depois, nós o pintamos em tons de roxo e lilás, cortinas vinho
e borboletas para todos os lados. Minhas estantes estão abarrotadas de livros,
como sempre.
Eu li As pontes de Madison, do Robert James Waller, O mundo de Sofia
e O dia do Curinga, de Jostein Gaarder. Ele quase teve um treco quando li a A
marca de uma lágrima. Então, algum tempo depois, Jared escondeu meus
livros onde a morte estava sempre em evidência.
Entrei cedo na escola, minha formatura é naquele ano, mas não tenho a
mínima vontade de ir. Ana, por outro lado, está empolgada, como se fosse ela
a pessoa a receber o tão esperado diploma.
Alice está cada dia mais bonita. Depois da escola, meu dia é com ela.
Mamãe e papai nunca a verão crescer.
Ana me fez olhar alguns vestidos e Jared me obrigou a me matricular
para as faculdades. Fiquei em dúvida, eu queria duas áreas, caso uma não
desse certo. Optei por direito e fotografia. E meu irmão me apoiou, como
sempre.
Miranda está sempre ao meu lado, amiga como ela você não acha em
qualquer lugar, e, por mais engraçado que pareça, ela escolheu direito
também.
— Vamos escolher um vestido hoje! Chega de enrolação! Miranda está
indo conosco escolher o dela também — Ana me avisa.
— Vamos todas escolher vestidos hoje? — pergunto. desanimada.
Alice bate palmas. Ela está com seis meses agora.
— Sim, nós vamos! — Ana me dá um tapa na bunda e sai. — Quinze
minutos! — ela grita do corredor.

Os meses passam rápido e logo chega minha formatura. Estamos todos


bem arrumados, Miranda veio se arrumar comigo, rimos muito e acabamos
atrasando-nos vinte minutos.
Foi bom ter vindo. Jared e Ana são meus padrinhos de formatura,
tiramos muitas fotos e comemoramos muito. Por fim, Jared me diz para ficar
e aproveitar. Eu e Miranda fugimos quarenta minutos depois. Vamos para
minha antiga casa, nos sentamos na árvore em frente a ela e comemos
chocolate, relembrando as aulas, os professores, colegas, e avaliando o que foi
bom e o que não foi.
Dois meses depois, entro na faculdade. Estudo direito de manhã e
fotografia à noite. À tarde, cuido de Alice.
No fim, ela cresce tendo-me como sua irmã mais velha, não só sua tia.
No terceiro ano de faculdade e com dezenove anos, ganho um sobrinho.
Alec, lindo e com os olhos de Ana.
Miranda e eu nos formamos aos nossos vinte e um anos, e resolvemos ir
morar sozinhas. Eu e ela agora trabalhamos na empresa dos meus pais.
Evans Advocacia.
Assisto Jared chorar ao me ver mudar de casa. É engraçado porque,
embora ele esteja feliz, não queria que eu fosse, mas estava na hora de crescer
e tomar responsabilidades, e, além do mais, Miranda irá morar comigo. Como
eu sou louca por meus sobrinhos, Ele não se livrará de mim facilmente.
Quatro anos depois, ganho mais uma sobrinha. Aria, ela era uma versão
mais nova de mim e de Alice.
O tempo passa e finalmente começo a superar um pouco da dor de
perder meus pais. Todos seguiram em frente… Sem esquecê-los. E a cada dia
nossa família pode dizer que está ficando completa de novo.
Capítulo 1

Onze anos depois…

Aqui estou eu de novo… Sentada em uma capela na entrada do


cemitério. Se dependesse do histórico de minha família, nunca mais dirigiria
na vida.
Meu irmão e minha cunhada acabam de falecer. Acabam não, isso foi
há cinco horas e agora aqui estou eu… Tendo minha vida virada de cabeça
para baixo novamente. E agora, além de enterrar as últimas pessoas de minha
família, eu ganhei três filhos.
Sim, Jared e Ana deixaram a guarda de seus três filhos para mim. Duas
meninas e um menino. E ainda tive que ouvir do irmão de Ana, Kalebe, que
não tenho condições emocionais de cuidar dos sobrinhos dele. Meus
sobrinhos… meus filhos agora.
As crianças foram para casa com os pais de Miranda. Eu fiquei. É muito
para assimilar. Preciso de um tempo sozinha.
Há onze anos, passei por isso, mas Jared estava aqui… Isso me faz
lembrar de sua promessa, de que ele sempre estaria aqui. Comigo. Mas ele se
foi, e se é da vontade dele que eu crie seus filhos… assim será! Kalebe aceite
ou não.
Minha vida será uma eterna montanha-russa. Para deixar bem claro,
odeio esse brinquedo. Ficar de cabeça para baixo com um monte de gente
gritando não é comigo.
As horas parecem ter parado no exato instante em que atendi ao
telefone… Eu estava no escritório ainda, e, quando o policial disse “sinto
muito”, meu mundo parou. Achei que as crianças estivessem junto com eles,
mas não estavam. Na verdade, estavam são e salvas, dormindo.
E dessa vez fui eu dando a notícia catastrófica e dolorosa. Jared não está
aqui. Dessa vez eu estou sozinha… Bem, não totalmente, tenho Miranda e os
pais dela, que me ajudaram muito com as crianças hoje.
Isso tudo me faz pensar nas promessas que fazemos ao longo da vida.
Quer dizer, Jared me fez uma promessa que não vai poder cumprir, por causa
de um idiota que invadiu a pista contrária. E agora aqui estou eu… Ainda não,
mas daqui a pouco vou estar onde ele esteve, fazendo promessas que não sei
se poderei cumprir porque não depende só de mim.
Como se diz às crianças que seus pais não voltarão para casa? É uma
boa pergunta, já que até hoje eu tento achar uma resposta aceitável e eu tinha
dezesseis anos.
Tudo isso sem falar que eu não tinha planejado filhos. Ainda não. Alice
cresceu comigo por perto, mas, quando entrei na faculdade, Ana achou que eu
devia ter algumas experiências sozinha. Em outras palavras, sem a constante
vigilância de meu irmão mais velho. Acho que ele nunca a perdoou por essa
sugestão, que foi rapidamente aceita.
Isso fez com que, mesmo que eu fosse uma tia muito presente, e eu
quero dizer muito, ainda assim não estava perto dos meus sobrinhos todo o
tempo. Por mais estranho que seja, o idiota do meu irmão me fez ser
madrinha de seus três filhos.
Então meu vínculo com eles é muito forte, mas eu vou fazer o papel de
mãe e pai daqui para frente, não mais o de tia e madrinha.
Está chegando a hora de me despedir para sempre, tirando é claro os
dias em que eu virei trazer flores para todos eles. Já falei com meus pais. E
teve uma senhora que ficou me olhando como se eu fosse louca. Claro que
conversar com lápides não é exatamente algo muito normal.
No velório e no enterro dos meus pais vieram muitas pessoas falsas, e
no do meu irmão e minha cunhada não está sendo diferente.
No momento não me sinto cansada, mas sei que quando que eu me
deixar levar vai ser como se um trem tivesse passado por cima de mim, mas
nos próximos dias não posso me deixar abater… Tenho três crianças
precisando de mim.
Aria ainda é um bebê! Tem só quatro anos e ainda não é muito boa com
as palavras. Alec ama handebol, mas ainda está aprendendo, e Alice? Bem,
Alice ama balé, mas não sei se sua delicadeza vai resistir a toda essa dor e
confusão. Infelizmente Aria virá a esquecer, Alec terá uma sombra de quem
eles foram, mas Alice? Alice sempre saberá quem eles foram, eles sempre
estarão vivos em sua memória.
Eu já ouvi tanta coisa hoje… Que tudo que quero é cair na cama e
chorar, mas não posso. Ainda não.
As horas passam e os caixões já estão embaixo da terra. Eles descansam
juntos. Como meus pais.
— Vou cuidar das crianças e da empresa, não se preocupe. Jared…
Acho que essa foi a primeira vez que vi você quebrar uma promessa. Nossa
promessa. Eu serei honesta. Nesse momento estou meio perdida. Miranda vai
casar e eu estarei sozinha com Alice, Alec e Aria… Preciso de você e Ana.
Precisava.
Sinto o vento balançar meus cabelos, e ouço sua voz. “Estou aqui”. E as
lágrimas finalmente fluem livres.
Eu posso vê-los no dia do seu casamento, Ana estava tão linda e meu
irmão era o homem mais feliz do mundo, e me obrigou a ser sua madrinha de
casamento aos quinze anos. Assim como de seus filhos, anos depois.
É estranho que, com Kalebe casado e com uma filha, ele deixe seus
filhos para mim. Não que eu não me sinta capaz, mas será um longo tempo
até nos quatro nos acostumarmos.
Mas Kalebe e sua grande vontade de ficar com as crianças estão me
preocupando, por alguma razão acho que tem mais nesse angu do que
aparenta. E o fato de todos os três dos meus sobrinhos surtarem com a
possibilidade de ficarem com ele me deixa ainda mais com o pé atrás.
Vou proibir qualquer contato até saber o que está realmente
acontecendo.
Seremos nós quatro para sempre. Ou até que a vida decidia que está na
hora de mudar de novo.
Às vezes a vida só não parece justa… E nesse momento sempre vem
alguém e diz: tem pessoas com mais problemas que você. Mas no momento
só consigo pensar nos meus problemas. Uma empresa. Três crianças. Uma
casa (não sei onde vamos morar ainda), é muita coisa.
Nessas horas eu penso “quero a minha mãe!” E adivinhe? Minha mãe
não virá. Ela não me dirá que tudo vai passar, na verdade eu que direi isso, e
logo.
— Oi, Tobias — cumprimento o noivo de Miranda, que está no portão,
não sei se à minha espera ou se só para não ficar dentro da casa.
Eu não gosto dele e nunca escondi isso de Miranda. Tobias não me
inspira confiança, nem lealdade, mas minha melhor amiga gosta dele, então
eu relevo, por ela.
— Miranda estava começando a surtar por não ter te arrastado para casa
— ele diz, dando um de seus sorrisos calorosos que não me agradam nem um
pouco.
— Eu já sou bem… — Ouvimos vozes alteradas dentro de casa e
entramos correndo.
Kalebe e sua esposa, Clarissa, estão aqui, achei que tivesse deixado bem
claro que não os queria perto das crianças, para que eles vieram?! Era o que
estava faltando para encerrar a noite.
— O quer aqui? — digo já sem paciência, entrando na casa de Eric e
Mônica e encarado Kalebe.
Ele se vira para me ver encostada à porta, esperando sua incrível
resposta. Tenho pena de Clarissa por ser casada com ele, ela não era nem um
pouco assim, mas talvez tenha se tornado.
— Vim buscar meus sobrinhos, Charlotte — Kalebe diz com
arrogância, mas está latindo para a pessoa errada.
— Não me lembro de ter autorizado uma visita — rebato, debochada e
sem paciência.
— Eles virão comigo, você queira ou não — Kalebe me desafia não só
em palavras, mas com o olhar.
Alice aparece na escada com olhos arregalados ao ouvir o que Kalebe
diz, esse imbecil está me irritando mais do que de costume e hoje não é um
bom dia para isso. Aparentemente ele não notou que a irmã dele e o meu
irmão faleceram.
Sorrio para Kalebe, o meu melhor sorriso simpático e bonzinho.
— Meu irmão e sua irmã deram a guarda deles para mim, está tudo
registrado, eles são meus, você aceite ou não. E não dou a mínima para a sua
opinião. — Enfatizo bem o “sua opinião” para Kalebe, depois olho na direção
de minha sobrinha. — Alice, pode subir, eu já vou.
Ela faz que sim com a cabeça, pálida, e sobe correndo as escadas.
Suspiro irritada. Isso é tudo que as crianças não precisam nesse momento, e
esse idiota está testando minha paciência e, por respeito aos donos da casa,
estou lhe dando essa chance.
— Eu vou entrar com uma petição pela guarda deles! — ele grita na
minha direção. Agressividade? É sério? Quantos anos ele tem?
— Entre com quantas quiser! Agora saia, você não é bem-vindo aqui. E
você diz que eu não tenho condições emocionais para criá-los, quando é você
que não respeita a dor dessas crianças, vindo até aqui arrumar briga uma hora
depois dos pais deles serem enterrados! E fique sabendo que o juiz vai saber
disso! Não brinque com meus sobrinhos, ou passo por cima você. Agora fora!
— digo grosseiramente.
— Isso ainda não acabou — Kalebe diz, saindo com sua esposa perfeita
atrás dele. Talvez eu não tenha tanta pena dela assim.
Miranda desce as escadas correndo, mas é tarde demais, Kalebe já se foi
e ela perdeu a chance de espezinhá-lo.
— Você perdeu a festa — falo sorrindo fracamente.
— Droga! Aria estava chorando, não pude descer — Miranda diz
batendo o pé no último degrau. — Estão te esperando.
— Onde eles estão? — Fico séria instantaneamente. Preciso enfrentar
logo esse momento.
— No quarto onde você fica sempre que está aqui — Miranda diz,
alegre.
Dou-lhe um beijo na testa ao passar ao seu lado e subo as escadas um
degrau de cada vez. Estou quase me sentindo como se estivesse caminhando
para o corredor da morte. Quase.
Respiro fundo e abro a porta. Aria dorme tranquila no meio da cama. Já
Alice e Alec, sentados ao pé da cama, fitam a parede sem realmente vê-la.
— Oi — digo abrindo mais a porta.
— Tia! — ambos dizem e correm em minha direção, não sei como Aria
não acordou com suas vozes alteradas. Talvez ela tenha um sono bem pesado,
ou só esteja cansada.
Abaixo-me para abraçá-los e ouço seus soluços. Sinto suas lágrimas
molhando minha blusa. Eu preciso ser forte. Aos meus vinte e sete anos, eu
sou mãe de três crianças e tenho uma empresa para administrar. Mas os Evans
não desistem com facilidade e comigo não será diferente.
— Vai ficar tudo bem, estou aqui — lembro a eles, embora eu saiba que
essas palavras não têm lá uma carga muito motivacional, principalmente
quando você acaba de perder seus pais.
Alice levanta a cabeça e seus olhos transbordam em lágrimas não
derramadas. Seus lindos olhos cinza são duas piscinas tempestuosas agora.
— Você não vai morrer, não é? — ela pergunta como se eu tivesse todas
as respostas do mundo.
Coloco uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.
— Um dia, como todo mundo, mas não hoje, não amanhã. Prometo que
estarei aqui quando entrarem na faculdade e quando tiverem seus filhos —
digo enxugando seu rosto.
Alec me observa atentamente, só que com olhos azuis doces e gentis.
Ele me lembra muito a Ana.
— Vamos ficar com você, não é? — Consigo notar o medo no tom de
sua voz e isso me deixa muito, muito preocupada.
— Claro que sim! — afirmo a ele.
— Posso perguntar outra coisa? — Alice diz em dúvida.
— Sim. É claro que sim, o que quiser.
— Onde vamos morar? — ela pergunta preocupada.
— Se quiserem, na casa dos seus pais. Se não, podemos ficar um tempo
lá no meu apartamento e depois decidir, que tal? — Não sei para eles, mas
para mim é uma proposta tentadora.
— Eu gosto assim. É um bom plano — diz Alec. E sua irmã só balança
a cabeça em concordância.
— Tudo bem, então. — Passo a mão em seu cabelo. Com oito anos, ele
é muito esperto. Eu terei trabalho com eles, sorte de Jared não estar aqui para
que eu possa chutá-lo.
— Que tal café da manhã? — digo empolgada e ambos assentem com a
cabeça. — Então desçam que a titia aqui vai tomar um banho e já encontra
vocês!
Assisto-os descer as escadas. Depois volto para o quarto, passo as mãos
no rosto. Será um longo dia. Muito longo e, depois de uma noite inteira em
claro, um banho vai ajudar a aliviar o cansaço.
— Alice? — Assusto-me ao vê-la parada na porta me observando.
— Como vou chamar você agora? — ela pergunta com olhos afiados.
— Do que você quiser — digo, indo até ela e me ajoelhando para ficar
do seu tamanho.
— Está doendo, tia. Muito — ela diz com voz embargada e a puxo para
meus braços.
— Eu sei, mas só o tempo vai aliviar essa dor — explico a ela, e é
verdade. E, mesmo assim, não sei ao certo se a dor vai realmente embora, ou
se fica ali escondida, esperando a hora de voltar.
— Você me ama? — ela pergunta me olhando nos olhos.
— Muito — digo com sinceridade
— Então você não vai embora, não é? — ela diz isso com tanta
sinceridade, medo e angústia que me parte o coração saber o que está se
passando em sua mente.
Esfrego seus braços com carinho e então seguro suas mãos nas minhas.
Quero que ela tenha confiança no que vou dizer, não é uma promessa eterna,
mas quero que ela saiba que é verdade.
— Seus pais não foram embora porque não te amavam, eles amam
muito você e seus irmãos, se eles pudessem escolher estariam aqui. E eles
estarão sempre com você, aqui no seu coração — enfatizo isso. — Para
sempre.
— Então eles escolheram você para ficar com a gente porque nos
amam? Muito? — ela pergunta em dúvida.
— Sim. Mas você gostaria de ficar com o tio Kalebe? — É a única
outra pessoa provável nessa história.
— Não! Só com você! Não deixe ele nos levar. Não gosto dele — ela
enfatiza cada palavra.
— Eu não vou deixar que ele leve vocês. Prometo. Agora vá tomar seu
café enquanto eu vou tomar um banho. — Dou-lhe um abraço apertado e
sorrio para ela.
— Eu vou, tem bolo de chocolate — ela diz animada.
Espero até ouvir seus passos na escada, para ter certeza de que ela não
vai voltar. Tomo um banho quente, esperando que Aria durma um pouco
mais.
Eu quero ir para casa, chega de ocupar os pais de Miranda. Eu já ocupei
tanto do tempo deles, e acredito que também queiram viver seu luto e
descansar, afinal essa é uma carga pesada para todos nós.

— Esse bolo está com uma cara ótima. Quero um pedaço! — falo,
aproximando-me da mesa cheia de comidas deliciosas.
— Aqui, tia! — Alec me oferece um pedaço de seu bolo. — Está muito
bom!
— Hum, está delicioso. — Pisco para ele depois de comer o pedaço que
ele me ofereceu. — Miranda, você que fez? — As crianças gargalham. — O
que foi?
— Seu queixo — Miranda sussurra ao meu ouvido assim que me sento
entre ela e Alec.
Viro-me para Alec e o ataco com cócegas na barriga. Ninguém ri de
mim e sai impune, e essa é uma frase de autoria de Miranda Anton.
— Você me sujou de propósito… — Faço mais cócegas nele.
— Aqui. Guardanapos — diz Miranda, piscando para mim debochada.
— Engraçadinha. Tia Miranda também quer cócegas! — Alec e Alice a
atacam e eu me sento tranquilamente para tomar meu café, enquanto ela tenta
fugir deles.
Ouço um chorinho baixo vindo das escadas. Aria acaba de acordar. E eu
com esperanças de que ela dormiria até mais tarde.
— Eu pego — aviso, me preparando para subir as escadas. Mas não foi
preciso, ela já se encontrava ali, parada, nos observando com olhos tristes.
— Cadê a ma-ma-ma-mãe? E o pa-pa-pa-pai? — Aria pergunta,
esfregando os olhos de sono.
Vou até ela e pego-a no colo. Como dizer a uma criança que seus pais se
foram? Que ela nunca mais os verá? Até hoje eu mesma procuro por essa
resposta.
— Sua mamãe e seu papai estão no céu agora, mas eu, seus irmãos e
seus tios e tias estamos aqui com você — esclareço a ela.
— Aquele céu? — Aria aponta para a janela pensativa.
— Sim, meu amor, naquele céu — confirmo a ela.
Ela me abraça forte, Alec se gruda na minha perna e a Alice na minha
cintura. Eles precisam de um pilar de sustentação, que sou eu. E o meu? É
Miranda, sempre será ela.
Serão dias longos até todos nos acostumarmos às mudanças e à falta das
pessoas que amamos. Mas o tempo, que pode não curar a dor, pode, sim,
amenizá-la.
Eu tinha dezesseis anos quando meus pais se foram e nunca aceitei.
Assim como não aceito a morte de Jared e sua esposa. Assim como eles nunca
aceitarão. Porque ninguém nasceu para perder quem ama.
Capítulo 2

Ontem fizemos a mudança de Miranda para o apartamento ao lado.


Combinei com as crianças que ficaríamos aqui por pouco tempo e que, antes
de nos mudarmos para a casa de Jared, trocaríamos a mobília e a decoração.
Agora aqui estou eu… Tentando convencer meus sobrinhos a ir para a
escola. Ser mãe é cansativo! Eu os arrumei, dei café da manhã e, do jeito que
as coisas estão indo, eles chegarão atrasados. Às vezes dá vontade de chorar
com Aria.
— Me deem uma boa justificativa para vocês não irem para a escola
hoje.
— Nossos pais morreram — dizem Alice e Alec ao mesmo tempo.
— Meus pais faleceram no meu último ano e não deixei de terminar a
escola nem de ir à formatura. E isso tudo graças aos pais de vocês. Nós temos
que achar um foco e seguir nele. Então…
— Tia, não queremos ir hoje. Só mais hoje — implora Alec.
Penso por um momento nas palavras que proferi. Um foco. Então todos
teriam que ter um foco. Vou até meu quarto e pego uma cartolina e caneta e
volto para a sala.
— Aqui, cada um de nós vai escrever qual vai ser seu foco, vamos
começar com um e, quando realizar esse, faremos outro. Alice, você é a
primeira — digo tentando incentivá-los.
— Não tenho um — ela responde rapidamente.
— Então vamos achar um foco para você. Deixe-me pensar…
— O que é um foco? — Alec interrompe meus pensamentos e, com a
mão levantada, espera uma resposta.
— Foco é algo que você centraliza até alcançar. Algo que você almeja,
por exemplo… — Coloco a mão na cintura enquanto penso em uma
explicação melhor.
— Tipo um balde de ouro no fim do arco-íris? — Alec sugere com o
nariz enrugado.
— Isso, esse é um bom exemplo, Alec. Tem alguma sugestão para a
Alice? Ou já tem o seu? — Levanto a sobrancelha em encorajamento.
— Tenho o meu. Vai ser entrar para o time de Handebol da escola! —
ele diz empolgado.
— Ótimo, Alec — encorajo para que as meninas sigam a iniciativa do
irmão. Escrevo Alec na cartolina e, embaixo, o foco dele. — É um bom pote
de ouro.
Viro-me sorridente na esperança de que as meninas já tenham suas
respostas, mas encontro Aria pensativa e Alice olhando para o teto. Bem,
então será minha vez.
— Bom, o meu foco será… ser uma boa mãe. — Não tenho coragem de
escrever “ser uma boa mãe”, penso nisso, mas… Não sou a mãe deles. Olho
para frente e me deparo com três pares de olhos me encarando.
— O que foi? — pergunto na defensiva. Talvez eu devesse ter ficado
por último.
— Escreve — diz Alice.
— Escrever o quê? Ainda não escolhi o meu.
— Tia, você disse “ser uma boa mãe” — Alec esclarece. — Para ser o
seu foco.
— Eu disse? Não quis dizer isso. Eu…
— Você não quer ser nossa mãe? — Alice pergunta com olhos
marejados e voz esganiçada.
Não tem nada indo bem hoje! Primeiro, a briga para arrancá-los da
cama, agora isso. E para ajudar, ainda estou pensando alto.
— Eu não sei… Vocês querem que eu seja? Quer dizer, querem que eu
seja a mãe de vocês? — pergunto, mostrando a eles que nossos planos serão
em conjunto.
Juntos formamos uma família e, assim como Jared fazia comigo, farei
com eles: decisões tomadas em conjunto. Eles são crianças, mas são as
crianças mais espertas que conheço. Não deixam passar nada.
— Sim — Alec diz com convicção e Aria balança a cabeça
efusivamente.
— Entrar para o grupo oficial do balé — Alice diz, interrompendo meu
diálogo sobre ser a mãe deles.
Ela passa por mim e escreve embaixo de seu nome “entrar para a equipe
oficial de balé” e, embaixo do meu, “ser uma boa mãe”. Fico olhando para
sua letra ao lado da minha e os dizeres que formamos.
Alice me abraça forte na cintura e depois se senta no sofá novamente.
— Tudo bem. Aria, falta você meu anjo. — Pisco os olhos para ela,
esperando sua escolha.
— Andar de bicicleta — ela diz sorridente e escrevo embaixo de seu
nome.
Alice se levanta e finalmente vamos para a escola. Alec ainda está
reclamando e arrastando os pés, mas não tem mais nenhum argumento. Ainda
bem que acabaram. Pego minha bolsa e Aria no colo.
Olho o relógio. Chegaremos quinze minutos atrasados na escola e trinta
no trabalho, agora eu sou a chefe, mas sou mãe também. E pelo visto atrasos
serão constantes, pelo menos até estarmos adaptados.

Chegamos à escola. Por sorte Alice e Alec estudam no mesmo colégio.


Aria não estuda nem vai para a creche ainda, vou esperar ela completar cinco
anos. Era o plano de Ana.
Chegamos à sala de aula de Alice, e cadê a professora? Pelo visto
também está atrasada, porque a mulher ali dentro não é a professora que
conheço. Aceno para a representante em questão.
— Com licença. — Tento soar o mais simpática possível.
— Pois não? — responde quem imagino ser uma professora substituta.
Ou alguém perto disso.
É, eu devia tê-los deixado ficar em casa hoje.
— Bom dia. — Sorrio para ela. — Eu sou a nova guardiã da Alice e
sinto muito pelo nosso atraso. — Tento me desculpar.
— Sem problemas, ela pode entrar — diz a moça sorridente. — A
professora regente está de licença, então eu estou no lugar dela.
— É mesmo? Espero que ela fique boa rapidamente. Obrigada pela
compreensão. — Dou um beijo na testa de Alice, ela entra e espero até que
ela se sente em seu lugar.
Olho para Alec de forma interrogativa, não lembro onde é a sala dele.
Que mãe incrível, não?
— Onde fica sua sala?
— Vamos voltar por esse corredor, virar à esquerda, lá no final do outro
corredor — ele diz sorrindo.
E lá vamos nós! Aria, no meu colo, está achando tudo uma grande
aventura. Não sei como Alec não se perde. Eu não me lembrava de essa
escola ser o labirinto que é, mas acho que ela passou por reformas desde que
me formei.
A porta da sala de Alec está fechada e não ouço nenhum barulho.
Respirando fundo, bato de leve na porta e espero. Uma professora loira abre a
porta com um sorriso nada convincente.
— Posso ajudar? — ela pergunta ainda com seu sorriso no lugar.
— Bom dia. — Sim, eu sou educada. — Você pode me ajudar sim, sou
a nova guardiã de Alec e nos atrasamos hoje. Sinto muito por isso.
— Ele pode entrar. Sem problemas — ela diz, passando a mão pelos
cabelos dele.
Despeço-me de Alec. Ele entra na sala e se senta depois de bater na mão
de Xande, mas a professora permanece ali, na minha frente, sorrindo.
— Posso falar com você um minuto? — ela diz soando compreensiva.
— Claro. — Tento o meu melhor para não dizer que sei o que ela irá me
dizer.
— Sei que deve ser difícil, e vai demorar um pouco para a adaptação,
mas qualquer problema ou eventuais atrasos pode ficar tranquila, a escola e eu
entendemos. É uma transição difícil. Perder os pais é algo muito…
traumatizante.
Ela está brincando comigo? Respire Charlotte, respire.
— Obrigada pela compreensão. Prometo que isso não se repetirá muitas
vezes. — Devolvo-lhe o mesmo tipo de sorriso.
— Claro — ela diz passando a mão em meu braço.
— Obrigada pela atenção. Tenha um bom dia.
Finalmente ela se dá por convencida, e, após dar mais um sorriso, entra
na sala e fecha a porta. Eu sempre gostei dos meus professores e, me desculpe
as palavras, mas não se fazem mais professores como antigamente.
Aria me observa risonha.
— Agora somos eu, você e o trabalho.
Mas antes vou enfrentar o diretor. Charlotte Evans! Você não é mais
aluna! É a mãe dos alunos agora.
A secretária da escola está em um mundo particular, porque não nos
nota em pé paradas na sua frente.
— Bom dia! — digo meio grosseiramente, mas com um belo sorriso
para encobrir isso. — Eu gostaria de falar com o diretor Colper.
Ela se assusta em um primeiro momento, mas depois se recompõe.
— Bom dia. Vou ver se ele pode recebê-la.
Sorrio para ela.
— Ele vai me receber — digo, trincando os dentes.
Eu havia dito trinta minutos atrasada no trabalho? Acrescente mais
sessenta minutos a isso. Essa mistura não para de entornar.
— Claro. — Ela se corrige rapidamente.
Ser advogada nesses momentos é muito bom, não que eu aconselhe
intimidação, não é nada disso. Mas hoje as pessoas estão com uma propensão
maior para me irritar. Alguns minutos depois e uma ligação:
— Pode entrar — ela diz sorrindo. — Ele está esperando.
— Obrigada! — Sorrio para ela.
Bato na porta e entro antes que o diretor possa dizer alguma coisa. Essa
sala não mudou em nada.
— Com licença, Diretor Colper. Bom dia. — Sorrio ao cumprimentá-lo.
— Toda! Entre — ele diz empolgado. — Você deve ser Charlotte
Evans, a nova guardiã das crianças Evans. Eu sinto muito pela sua perda. —
Ele olha Aria de forma pesarosa.
— Sim, sou eu. E obrigada.
— No que posso ajudá-la?
— Vou ser bem franca com o senhor, eu tenho tido problemas com o
irmão de minha cunhada, Kalebe Manson, e por isso eu quero que as crianças
sejam pegas no fim das aulas ou por mim ou por alguém da família Anton. Se
por acaso isso não acontecer, eu e o senhor teremos um problema. E nenhum
de nós gostaria que o nome da escola ficasse sujo, não é mesmo? — Vou
direto ao ponto. — Eu estudei aqui nessa escola e não gostaria de ter que
fazer isso.
— É claro que não. Eu passarei isso para os professores e para os
guardas da escola. Fique tranquila quanto a isso — ele diz simpaticamente. —
E qualquer assistência que as crianças precisem, a escola ficará feliz em
ajudar.
— Assim espero. E mais uma vez, obrigada. Tenha um bom dia, senhor
Colper. — Despeço-me dele, foi mais rápido do que pensei que
seria. Aparentemente, ele já não gosta de mim.
— A senhorita também.
Assinto, aperto sua mão e saio de sua sala. Aria abraça meu pescoço e
diz para a secretária que continua a fazer o que fazia antes.
— Ti-ti-tiaa chateada.
— A titia não está chateada. Só um pouco… irritada. Agora vamos
trabalhar! —Tento deixá-la empolgada.
— Vamos taba-baiar! — Ela retribui a empolgação.
Aria será minha escudeira hoje, minha colega de trabalho e minha
ajudante.
Saímos da escola e finalmente estamos indo para o escritório que deve
estar uma bagunça. Que eu tenha forças, porque o dia está só começando.

— Bom dia, Olivia. Miranda já chegou? — pergunto ao passar por


minha secretária.
— Bom dia, Charlotte. Oi, Aria. Não, estou tentando entrar em contato,
mas nada até agora — Olivia diz, vindo atrás de mim com o telefone no
ouvido e papéis nas mãos.
— Oi, Oliva-a — Aria diz rindo.
— Está bem, continue tentando. Ela tinha alguma reunião ou audiência
hoje?
— Audiência não, mas reunião tem duas. Uma às onze da manhã e a
outra às três da tarde.
— Dá tempo de ela chegar. E eu? Tenho alguma coisa?
— Não. A senhorita pediu para cancelar tudo essa semana — ela diz,
ainda brincando com Aria.
— “Senhorita”, Olivia? Sério? — digo sarcástica.
— Agora você é a chefe!
— E? — pergunto, levantando a sobrancelha em indagação.
— Bem, achei que você iria continuar com a secretária do Jared — ela
sugere um pouco tristonha.
— Achou errado. Você é minha secretária! Isso não vai mudar. Sheron
vai trabalhar com o advogado que vai ficar com meu escritório, por falar
nisso. — Acho que me esqueci de passar essa informação.
Observo Olivia torcer as mãos, não entendo qual o problema, é uma
mesa maior, em um lugar melhor.
— Bom dia, senhorita Evans — cumprimenta-me uma Sheron
sorridente.
— Bom dia, senhorita Carmichael — cumprimento-a de volta e ainda
observando Olivia digo: — Pode se mudar para sua nova sala, por favor?
Obrigada.
— Não entendi — ela diz parando na minha frente.
— Olivia é minha secretária e continuará assim. Você será a secretária
do novo advogado da empresa. — Que está atrasado, por sinal.
— Mas eu sou a secretária do seu irmão há anos — Sheron rebate.
Agora eu sei porque Ana não gostava dela. Qual a dificuldade em
entender que eu não sou meu irmão? E, principalmente, que Jared não pegou
um resfriado e vai faltar o trabalho, ele morreu, não vai voltar.
— Sim, você disse bem, do meu irmão, não minha. Essa empresa está
enfrentando mudanças e uma nova liderança — esclareço a ela. — Mas certas
coisas não vão mudar — digo enfática.
— Eu não vou ser a secretaria de um advogado qualquer! — Sheron
diz, alterando a voz e fazendo Aria arregalar os olhos.
— Então… paciência. Peça as contas nesse caso. Olivia, quero você na
sua mesa nova agora.
— Você não pode simplesmente me substituir! — Sheron continua a
falar como se fosse me fazer mudar de ideia, me fazendo revirando os olhos.
— Ela pode sim. Não se esqueça que agora “ela” é sua chefe. Desculpe
o atraso — Miranda diz fazendo bico para mim. — Oi, docinho. Eu quero um
abraço! — ela fala para Aria, que se joga em seus braços.
— Vim tabaiar, ti-ti-tia! — Aria diz entusiasmada.
— Temos uma nova ajudante? Que maravilha! — Aria sorri
brilhantemente para Miranda. — E então, senhorita Carmichael? Vai mudar
de mesa ou se demitir?
Miranda não perdoa, assim como eu também não pretendo mudar de
ideia. Olivia vem sendo a minha secretária há anos, e nossa relação é muito
boa.
— Pois eu me demito, senhoria Anton — Sheron diz, empertigada.
E lá se vai uma secretária furiosa. Sheron recolhe suas coisas da mesa e
sai batendo seus saltos com força no chão.
— Desculpe o atraso. Eu sou o novo advogado. Eduardo Antunes. —
Além de atrasado ele está com a gravata torta, mas enfim…
— Seja bem-vindo, Eduardo. Estas são Charlotte Evans, a nova dona
da empresa, e sua sócia, Miranda Anton — Olivia nos apresenta a ele.
— Eu sinto muito pelo meu atraso — Eduardo diz, corando. Isso é
sério? Um homem desse tamanho?
— Está tudo bem, senhor Antunes. Seja bem-vindo. Espero que goste
de trabalhar conosco, e qualquer dúvida pode me procurar. Olivia vai mostrar
seu escritório. — Sorrio para ele e indico que Olivia pode mostrar-lhe o
caminho.
Miranda sorri ao meu lado, maliciosa. Ana não era a única querendo se
livrar de Sheron pelo visto.
— Senhor Antunes — Miranda diz, alterando a voz —, a moça que
seria a sua secretária acabou de se demitir, mas logo teremos uma nova
funcionária para você.
Eduardo assente rapidamente. Olivia aproveita o nervosismo dele e
indica a porta que vai se abrir para seu escritório.
— É uma segunda-feira animadora, não? — Miranda diz debochada.
Aria sorri para ela.
— Sim, me atrasei tantas vezes hoje que comecei a odiar relógios. —
Reviro os olhos para a gargalhada que ela dá em troca.
— Aria! Vamos conhecer a nova sala da sua tia? — Miranda pergunta
empolgada à minha sobrinha que não recusa nada. NADA.
— Va-va-vamos! — Aria bate palmas empolgadas. Ela e Miranda
caminham à minha frente, enquanto me preparo para entrar no escritório que
foi do meu avô, do meu pai, do meu irmão e que agora é meu.
— Pedi para deixar igual o seu antigo, a diferença é que esse é maior —
Miranda me explica assim que passo pelas portas.
— Bem maior, você quer dizer. — É duas vezes o tamanho do meu
antigo escritório.
— E tem um espaço só para a Aria.
— Não só para a Aria, pelo visto. — Aponto para a mesa no outro canto
da sala.
— Vou te fazer companhia. — Miranda dá de ombros.
— Você tem uma reunião às onze. Eu não tenho nada. Cancelei todos os
compromissos dessa semana e não lembrei disso.
Ela coloca Aria no chão, que vai correndo para seu cantinho.
— Ótimo. Foi uma semana cheia. E você está errada. Ao meio-dia tem
que pegar as crianças na escola. Às duas horas, deixar Alice no balé e às duas
e meia, Alec no handebol.
Encosto minha cabeça em seu ombro e juntas observamos Aria
mexendo em tudo que foi colocado ali para ela.
— Onde eu me demito?
— Não tem essa opção. E se bem me lembro, a razão pela qual você
tirou a semana de folga é para ficar de olho na reforma.
Bem lembrado, a reforma, odeio reformas por falar nisso. Odeio
mudanças.
— Sim, vou passar lá depois que deixar Alice e Alec nos seus afazeres.
— Ti-ti-tia! —Aria grita, se virando para nós.
— Sim, Aria? — pergunto, sorrindo e caminhando até ela.
— Quer bincar? — ela pergunta em dúvida.
— Claro! Quero sim.
Depois de vinte minutos brincando com Aria, Miranda está se
preparando no outro lado do escritório para sua reunião. Por alguma razão,
sinto como se algo estivesse errado.
Eu tenho duas horas pela frente sem fazer nada… Bem, vou arrumar
alguma coisa. Porque não sei ficar sem fazer nada.
A empregada que vai me ajudar com a casa, a comida e essas coisas,
chega amanhã. A que trabalhava para Jared e Ana pediu demissão,
aparentemente ela é mais uma que não tem fé em mim como mãe.
Peço para Miranda chamar Olivia até nossa sala.
— Sim, Char — Olivia diz segundos depois.
— Aria pegou no sono, então vou para casa. — Aproximo-me devagar
de Olivia e, sorrindo, digo: — Qualquer problema me ligue, mesmo que
Miranda diga o contrário.
— Claro. Sem problemas. — Pisca o olho de forma cúmplice para mim.
— Eu já disse isso, mas sinto muito pelas suas perdas.
— Obrigada, Olivia. E parabéns pela nova mesa e pelo novo cargo, sei
que você é capaz — digo, apertando sua mão. — Mas não se esqueça que o
seu novo cargo…
— Sim, eu sei, traz muitas responsabilidades. E eu trabalho para a
pessoa que é muito boa em ser responsável. Porque Charlotte Evans, eu tenho
muita fé em você!
Abraço Olivia apertado. Ficamos grandes amigas ao longo dos anos.
Sinto os olhos de Miranda em nós.
— Obrigada por acreditar em mim, quando nem eu faço isso.
— Sei que está difícil agora, mas, vai ficar mais fácil. Prometo.
Estreito os olhos para Miranda que finge sublinhar algo em suas folhas,
me abaixo e pego uma Aria dormindo no colo.
— Boa reunião, Mi. Tenham um bom dia.
— Qualquer coisa me ligue — Miranda diz me soprando um beijo.

Enfim, em casa.
Tiro meus sapatos de salto com Aria no colo e deixo na sala mesmo,
vou até o quarto das meninas e coloco meu anjo adormecido lá.
Agora vou fazer o almoço.
Só que eu não pensei no que vou fazer caso Aria não acorde quando eu
tiver que buscar Alice e Alec. Eu vou chorar… Tem horas que é impossível
ter fé de que vou dar conta de tudo isso.
Cadê a porcaria do manual “como ser uma boa mãe”? Não tem
nenhum! Por quê? Boa pergunta.
Encosto a cabeça na geladeira. Uma coisa de cada vez, Charlotte. No
momento vamos nos preocupar com o almoço. E vamos de… lasanha, com
muita carne e queijo. Ainda bem que essa família ama lasanha. Viva a
lasanha.
Então monto e coloco no forno, cozinho arroz e faço com cenoura e
milho. Uma salada de tomate, beterraba e alface. Está bom assim.
Olho para o relógio. Onze e meia. Tenho que ir buscar as crianças. Aria
ainda está dormindo. Como a hora está passando rápido hoje!
E agora? O que eu faço? Vou levar Aria junto. Não tem outro jeito, não
vou deixá-la aqui sozinha.
Calço meus saltos de volta, coloco um casaco em Aria para evitar que
ela se resfrie, está ventando. E lá vamos nós!
Ah, o forno! Desligo o forno, confiro o fogão… Tudo desligado.
Agora sim, lá vamos nós!

Estaciono faltando cinco minutos para meio dia. Aria acorda, observo-a
abrindo os olhos pelo espelho retrovisor.
— Vamos pa-passear! — ela diz empolgada.
— Na verdade, meu anjo, já chegamos. Agora vamos buscar seus
irmãos. — Tiro Aria da cadeirinha, tranco o carro e corro para a escola. Vou
direto até a sala de Alec.
Ele me avista assim que chego em frente à porta de sua sala. A
professora dele também me vê.
— Alec, pode ir — ela diz para ele.
Alec me abraça assim que sai da sala. Agradeço a professora e
corremos para a sala de Alice, que nos espera com a professora ao lado.
— Vamos? — pergunto à Alice.
Ela sorri e vem em nossa direção. Mas a professora a detém, professora
essa que não é a mesma de hoje cedo.
— Desculpe, mas preciso saber quem você é — a professora diz,
simpática.
— Sou a nova guardiã de Alice, Charlotte Evans. Eu não sei, mas acho
que você conhece os irmãos dela. Podemos ir agora? — pergunto para ver se
ela quer mais alguma informação.
A professora olha para Alec e Aria e assente sem graça. Eu pedi que
fosse averiguado para quem as crianças são entregues, mas nesse caso, não
seria estranho eu estar com os irmãos dela e ser uma das pessoas restritas?
Alice corre até mim. Outro problema que ainda não solucionei: três
filhos, duas mãos. Mas quem sabe um dia eu descubro um jeito para isso.
— Alice, dê a mão para Alec.
— Tudo bem — ela diz, pegando a mão do irmão.
— Como foi a escola? — pergunto a eles, ainda estamos nos corredores
e tem crianças ainda esperando pelos pais, ou adolescentes saindo de sala.
— Bem legal — Alec diz, sorrindo empolgado.
Alice só faz que não com a cabeça. Em outras palavras… conversamos
mais tarde. Assinto para ela e Aria faz mais algumas perguntas, que Alec
responde sem hesitação.

Assim que chegamos em casa, Alice vai direto para seu quarto. Coloco
Aria em sua cadeira com proteção e Alec se senta ao lado dela na mesa.
— Alice não vai comer, mamãe? — Olho para Alec, que me olha
preocupado. Sorrio para ele.
— Pode ficar de olho em Aria enquanto vou buscá-la?
— Posso sim!
Dou-lhe um beijo na testa e vou em busca de Alice, com a palavra
mamãe girando em minha mente.
Paro em frente à porta e respiro fundo. Bato e coloco a cabeça para
dentro. Encontro Alice soluçando na cabeceira da cama. Entro e vou até ela.
— O que aconteceu, meu amor?
Alice levanta os olhos vermelhos para mim.
— As meninas da escola riram de mim porque agora eu não tenho mais
uma mãe.
Puxo Alice para meu colo.
— Isso não é verdade, você tem uma mãe sim e ela se chama Ana.
Embora ela não esteja aqui agora, nunca vai deixar de ser sua mãe.
— Mas elas quiseram disser que, se ela não está mais aqui, quem vai
me ajudar com coisas de meninas e o balé?
— Eu vou. Eu estou aqui para isso.
— Você vai ser minha mãe?
— Se você quiser, sim.
— Posso chamar você de mãe, então?
Embora ser chamada de mãe me apavore além do imaginável, eu não
posso negar um pedido desses para ela, para nenhum deles na verdade.
— É claro que pode, meu amor.
Ela me abraça com força.
— Você é a melhor tia, madrinha e mãe da história da humanidade!
Eu sorrio para ela. Vamos ver até quando ela vai pensar isso…
— Vem, vamos almoçar.
Capítulo 3

A semana de folga acaba, as crianças estão finalmente se familiarizando


com nossa nova realidade. Tenho que agradecer muito aos pais de Miranda
por toda a ajuda que eles têm me prestado.
Alice finalmente não está mais chorando depois da escola. Alec está
cada dia mais empenhado no time de Handebol. E Aria… bem, levei-a em um
fonoaudiólogo e agora iniciamos um tratamento para ela desenvolver a fala
sem maiores problemas.
Ser mãe é quase uma missão impossível!
Hoje é terça e já tive duas reuniões. Uma delas porque aparentemente o
meu novo advogado não entende sua cliente, que “só quer se divorciar do
marido imprestável”, palavras dela, não minhas. Então precisei passar o caso
para um de nossos advogados mais antigos. Imagino que seja um tanto difícil
para eles me verem como nova líder no escritório e por isso fizemos uma
reunião bem cedo. Claro, eu sabia que eles teriam dúvidas, ainda mais depois
da demissão de Sheron, mas deixei claro que todos fazem parte do escritório e
que, a menos que queiram sair, faço questão que fiquem.
Aria ficou comigo até que a mãe de Miranda apareceu e levou-a para
sua casa, com a proposta de que haveria bolo de chocolate.
Meu celular toca às dez e meia, mas não consigo atender. Minutos
depois, quando Olivia me diz que é da escola, quase saio de minha própria
pele.
— Se acalme, Charlotte.
— Me acalmar? Que tipo de professora aceita briga em sala de aula e
não faz nada a respeito? Cancele minhas reuniões de agora de manhã.
Desculpe, Olivia. A culpa não é sua.
— Não é sua também. Agora vá. — Olivia aperta meu ombro para que
eu me acalme.
Peço desculpas a ela mais uma vez, respiro fundo, pego minha bolsa e
saio de minha sala a caminho do elevador.

Chego à escola e vou direto para a sala do diretor, onde Alice está. E
quando a secretária abre a porta e a localizo, tenho que reunir toda minha
força de vontade para não gritar com o diretor na presença dela.
Alice está descabelada, com sangue no canto da boca e um aranhão
sangrando no pescoço, que mancha a gola de sua camisa.
Respire, Charlotte. É só respirar, lembre-se de respirar.
— Diretor Colper — cumprimento com os dentes trincados.
Alice, ouvindo minha voz, corre em minha direção e se agarra à minha
cintura com força.
— Ei, boneca, o que aconteceu? — pergunto, colocando uma mecha de
cabelo atrás de sua orelha.
— Não quero falar agora. — É tudo que recebo de resposta.
Aliso suas costas e foco meu olhar no diretor.
— Eu gostaria de saber o que aconteceu na sua escola, para que eu
tenha vindo buscar minha filha antes do horário e encontrá-la neste estado.
— Bem, senhorita Evans, sua sobrinha…
— Minha filha.
— Sua filha brigou com a colega por conta de uma simples observação
sobre os cabelos dela — ele diz, como se não fosse nada demais.
Olho para Alice, depois peço que ela me espere do lado de fora. Assim
que ela sai da sala, olho bem para o diretor à minha frente.
— Está me dizendo que tudo isso — faço sinal para a porta indicando
Alice — é por conta de uma observação? E eu devo acreditar que a outra
menina envolvida é um anjo e que a professora é surda e cega para não dar
um basta antes que chegasse a esse ponto?
Respeito muitos os professores, mas qualquer pessoa em sã consciência
que observe uma briga dessas entre crianças irá intervir, certo?
— A senhorita há de convir que com uma sala cheia… — Ele tenta me
dar uma desculpa, mas eu já fui aluna.
— Se esta professora não é apta, então coloque uma que seja. Garanto
que há muitas professoras incríveis e que realmente amam o que fazem, que
não se importariam, nem dariam uma desculpa de sala cheia para tal situação.
O diretor não tem uma resposta, e claro que não tem. Muitos pais
reclamam desta professora, Ana inclusive, sem falar em seus constantes
atrasos e faltas. Entendo que ter uma sala cheia é complicado, mas ela não
ouviu as “observações”?
— Eu garanto que falarei com a professora de Alice e isso não ocorrerá
mais.
— Assim espero. Tenha um bom dia. — E com isso dito, saio de sua
sala. Em minha época de estudante, os professores amavam o que faziam e
acredito que ainda haja professores assim.
Encontro Alice de cabeça baixa ao lado da porta. Pelo visto irei
enfrentar todas as situações possíveis e imagináveis como mãe de uma única
vez.
— Vamos para casa, Alice. Está doendo o aranhão? — Esfrego suas
costas e a guio para a rua, em resposta ela faz que não com a cabeça.
E assim saímos da escola. Peço para o pai de Miranda pegar Alec para
mim e, como de costume, ele aceita mais do que feliz.
Chegando em casa, coloco Alice sentada no sofá, enquanto vou atrás do
kit de primeiros socorros.
Enquanto limpo o machucado no pescoço dela, espero que ela me diga
algo.
— Ela disse que eu tinha cabelo de bruxa, e eu respondi que ela tinha
cabelo de vassoura de palha, então ela se jogou em cima de mim.
Eu não podia negar que ela puxou muito de Jared. É o tipo de coisa que
ele responderia. O tipo de briga em que se meteria.
— E por que ela disse isso? — Passo pomada.
— Estávamos lendo um livro que dizia que mulheres com a cor de
cabelo como os meus eram amaldiçoadas.
— Você puxou os cabelos do seu pai, que são da cor dos meus também.
E não tenho visto nada que traga maldições nisso. — Coloco o curativo no
machucado e passo o dedo em seu nariz fazendo a rir.
— Eu tenho os olhos do papai também — ela diz me observando.
Sim, você tem, assim como eu e Aria.
— Alec puxou os olhos da mamãe? — ela indaga.
Penso nisso por um momento. Meu irmão e eu puxamos os olhos de
nosso pai, cinza e os cabelos de nossa mãe, ruivos. Já os filhos de Jared, as
meninas saíram iguais a ele, Alec saiu ruivo de olhos azuis. A nostalgia na
voz de Alice não me passou despercebida.
Lembro também que meu pai tinha os cabelos castanhos claros, mas a
barba era ruiva.
— Eu e sua mãe também tivemos problemas na escola, a diferença era
que no nosso caso era a Miranda que fazia toda a briga.
Alice sorri e me lembra de tempos distantes quando Ana voltou para
nossas vidas e eu entrava em depressão pela segunda vez…
— O que nós vamos almoçar?
— Lasanha?
Ela sorri, me beija na bochecha e vai lavar o rosto. Nessa família tudo
se resolve com lasanha.
Levo Alice para a casa da mãe de Miranda, que já está com Aria e
Alec. Ofereci-me para levar Alec ao ginásio, mas me mandaram ir trabalhar
que das crianças eles cuidariam.
Sendo assim, voltei para o escritório, que está calmo hoje, embora as
papeladas pareçam ter formado novas pilhas. Miranda teve uma audiência e o
novo advogado finalmente tem sua própria secretária.
Chego em casa às sete em ponto, me preparando para tomar banho e ir
buscar as crianças, mas assim que a porta se fecha atrás de mim, alguém bate
e eu a abro novamente.
— Quem…
Miranda se joga em meus braços, chorando, tremendo e soluçando. Fico
em choque sem saber o que fazer, mas, quando noto que eu não estou
sonhando, trago-a para dentro e sento-a no sofá. Dou-lhe um copo de água e
espero ela se acalmar para me contar o que está acontecendo.
— Consegue me contar o que aconteceu? — pergunto aflita.
— Saí da audiência e resolvi passar no café da outra rua, para comprar
um e levar para nós conversarmos no escritório, e então… eu o vi, Char! Meu
noivo quase engolindo outra garota! Eu fiquei furiosa, entrei e confrontei-o, e
ela disse para mim: quem é essa, Tobias? Eu que devia fazer essa pergunta!
— Miranda chora em meio à sua fúria.
Fico com ódio de Tobias! Como ele pôde? Eu tinha razão em não gostar
dele, Miranda merece alguém muito melhor.
— Miranda…
— Não! Você nunca gostou dele. Eu devia ter escutado você! Mas eu
sou burra e esqueci que os Evans não costumam errar sobre pessoas —
Miranda esbraveja entre soluços.
— Ele ser um cafajeste não é culpa sua — digo apertando suas mãos
nas minhas.
— Jared também nunca gostou dele — ela lembra. E tem toda razão,
Jared foi mais umas das pessoas que nunca foi com a cara de Tobias.
Puxo-a para o chão comigo e a abraço forte. Em momentos como este
não há palavras suficientes e nem tão eficazes quanto um simples abraço.
Agora é recomeçar a mudança. Miranda vai voltar para cá, mas ela terá
que dormir no meu quarto. E ainda tem o fato de que Tobias vai continuar no
mesmo prédio… Ou seja, como nosso vizinho.
Miranda voltar para a casa dos pais? Nunca, não por causa de um noivo
cafajeste. E bom, as mudanças já estão prontas então… É conversar com as
crianças e decidir em conjunto o que fazer.
— Vou ligar para sua mãe e ver se as crianças podem dormir lá hoje —
informo a ela, esfregando suas costas.
— Char… Posso ter meu lugar de volta? — Miranda pergunta em
dúvida, mas como ela mesma disse, sou uma Evans, e em minha mente já está
tudo acertado.
Eu sorrio para ela. Como ela pode ter pensado que não teria seu lugar
de volta?
— Sim, você pode, já estava pensando nisso, mas você vai ter que
dormir no meu quarto… — lembro a ela.
— Sem problemas. Nada que eu já não tenha feito antes. — Miranda
me dá um sorriso triste e um beijo na bochecha.
É verdade. Na época da escola, Miranda dormia mais na minha casa que
na dela.
Beijo sua testa e vou até a cozinha quando ela começa a chorar
novamente. Pego meu calmante na bolsa e um copo de água. Faço-a tomar
com a ameaça de enfiar goela abaixo. O que ela sabe que eu faria.
Em dez minutos, Miranda Anton está dormindo um sono pesado. Tomo
o resto da água pensando em como minha vida está de cabeça para baixo, e a
de Miranda também. Nossas famílias sempre foram muito unidas.
Estico o sofá para ela não cair, porque tudo que eu não preciso é ir parar
no hospital uma hora dessas. Meu celular toca e o tiro do bolso para ver quem
é. Mônica aparece sorridente no visor.
— Oi, Mônica.
— Charlotte, você já está em casa? — Mônica soa muito preocupada, o
que me arrepia.
— Sim, aconteceu alguma coisa com as crianças? — O que mais pode
acontecer hoje?
— Alice e Alec estão com Eric, mas Aria está com uma febre que não
quer baixar. Acho melhor levá-la a um médico. Mas, como você mudou o
pediatra não sei para onde ir com ela.
— Está bem, estou indo para sua casa. — Suspiro cansada.
O dia hoje está sendo extremamente estressante e complicado. A
semana está sendo bem desastrosa, na verdade. Não se permita cair, não se
permita cair, é o mantra que tento entoar.
Desligo o celular, coloco um cobertor em Miranda e saio correndo. Aria
está com febre. Febre é ruim, muito ruim, pelo menos até onde sei. Enquanto
desço as escadas, sim, porque não tive paciência de esperar o elevador subir.
Onde está o manual?, penso. Morar no quarto andar tem seu lado negativo,
quando você precisa usar as escadas.
Enquanto faço minha corrida pelos infinitos degraus, ligo para o
consultório para o qual escolhi levar as crianças de agora em diante. Nada
contra os antigos pediatras, mas achei melhor mudar, a nova clínica da cidade
me parece muito mais acessível e com bons profissionais.
— Boa noite. Clí…
— Boa noite. Eu estou levando minha… filha para se consultar com o
doutor Cass e gostaria de saber se ele ainda se encontra no consultório. —
Sim, interrompi a secretária no meio de suas boas-vindas.
— Sim, o doutor Cass ainda tem dois pacientes. — Ouço-a digitar. —
Qual o problema da sua filha?
— Febre alta, sem causa aparente. — Pelo menos até onde sei, não há
causa aparente.
— Vou avisar que tem mais uma paciente. Nos vemos daqui a pouco. —
Sua voz soa sorridente.
— Obrigada — digo, ao ficar olhando para a porta que me levará para a
garagem. Empurro-a e caminho a passos largos até meu carro. Termino de
passar o cadastro de Aria e ainda bato a cabeça na porta do carro. Sorte que é
menos de quinze minutos até os Anton.

Minutos depois de encerrar a ligação, estou estacionando toda torta na


frente da casa de Mônica, e desço voando do carro. Mônica abre a porta de
casa e caminha em minha direção, com Aria sonolenta e ardendo em febre em
seus braços.
— Vou com você, Charlotte, espere só até que eu tente falar com Eric
para avisar onde estamos — Mônica diz ao se aproximar.
— Não, a senhora fica e avisa Eric e as crianças, depois me encontrem
na clínica. — Pego Aria no colo e entrego um cartão da nova clínica para
eventuais surpresas como essa. Coloco Aria em sua cadeirinha no carro. —
Qualquer coisa é só me ligar. — Dou-lhe um beijo no rosto e entro no carro.
— Já estamos indo, meu amor. Vai ficar tudo bem — informo mais para
mim do que para Aria.
No caminho, tudo que eu consigo pensar é que todos estão certos, eu
não dou conta. Em menos de um mês, Alice brigou na escola, Aria está com
febre e Alec… Bem, com esse nada aconteceu ainda. E espero que continue
assim.
A clínica não é longe e logo estou estacionando o carro. Não há mais
ninguém para se consultar na sala de espera e a secretária, assim que me vê,
me leva até a sala do médico, e quando eu o vejo, penso: “nossa, ele é
jovem!”. Muito jovem, para ser bem exata.
— Boa noite, mãe. Qual o problema? — ele pergunta sem olhar para
cima, até que seus olhos param em mim e depois em Aria. Percebo sua
postura mudar ao nos ver.
— Eu não sei — digo aflita.
Ele caminha até nós e pega Aria de meus braços, depois a coloca sobre
a mesa para examinar. Observo tudo com aflição, já estive em situações
parecidas, mas naquela época eu era o apoio, não a pessoa a ser apoiada. Seu
consultório é grande, todo branco, uma mesa grande branca, um armário com
remédios e papéis.
— Mãe de primeira viagem? — o médico pergunta, sorrindo para mim.
— Sim. É grave? — pergunto começando a suar frio.
— Vamos ver.
Doutor Cass faz um exame rápido em Aria, mas não consegue descobrir
o porquê de sua febre, então ele a leva para fazer alguns exames. Depois de
quase uma hora, o médico aparece na minha frente. É uma clínica que
trabalha até tarde, então as outras áreas estão movimentadas, mas isso não
diminui meu nervosismo.
Esse corredor branco não está ajudando, nem essas enfermeiras
passando de um lado para o outro. Cruzo os braços, descruzo.
— Bem, senhora… — Começa a dizer o doutor Cass.
— Mãe! — gritam Alice e Alec às minhas costas, dando-me um susto e
calando o médico à minha frente.
Eu não sei quem acompanhar primeiro, o médico ou meus filhos.
Abaixo-me para abraçá-los e depois me viro para o médico que tem uma
sobrancelha levantada ao me observar interagir com as crianças.
Peço que os dois se sentem e esperem com os avós deles enquanto eu
falo com o médico. Dou de ombros e espero que ele continue, o que não
acontece. Então, um pouco irritada eu volto ao assunto.
— E então, doutor? — pergunto, fazendo sinal para ele continuar o que
estava a me dizer.
— Por aqui. — Doutor Cass sinaliza para que eu o siga.
Caminho com ele sem entender o porquê de tanta demora em me dizer
o que há de errado com Aria. Quero vê-la e saber o motivo de sua febre.
Respire, Charlotte.
— Aria está bem. Ela está com uma pequena infecção urinária, nada
grave. A febre já baixou e daqui a pouco ela pode ir para casa. Então, é só
continuar com a medicação — ele diz com uma postura mais retraída.
— Que bom — digo aliviada. Respiro mais tranquilamente.
— Achei que fosse mãe de primeira viagem. — E não é uma pergunta,
seu tom é de acusação e esse eu conheço bem. A questão é: o que isso
interessa a ele?
— E eu sou. — Meu tom muda de preocupada e histérica para furiosa e
louca.
— Eu ouvi aquelas duas crianças chamarem você de mãe, e pelo que
pude notar você foi mãe bem cedo — ele diz, fazendo menção a Alice.
Como assim? Quem ele pensa que é? Que tipo de médico diz isso? Ou
sai acusando pessoas por aí?
— Eu não lhe devo satisfação da minha vida pessoal. Obrigada por
atender a Aria — digo, irritada. Viro as costas e saio andando até Mônica e
Eric.
Explico que está tudo bem com Aria e pergunto se Alice e Alec podem
dormir na casa deles. Miranda e Aria acabaram comigo hoje. E Alice também.
Esfrego o cabelo de Alec, que sorri para mim com seus belos olhos azuis
brilhantes e caindo de sono.
Depois de ver Aria, eles vão para casa. Eu fico aqui sentada ao seu lado
até ela ser liberada. Chegamos em casa dez e meia da noite.
Estou destruída, mas já sei que não irei dormir essa noite. Preciso ficar
de olho em Aria e sua febre, e em Miranda, caso ela queira ir esganar o ex-
noivo no apartamento ao lado.

E, como o previsto, passo a noite em claro. Quando vou até a cozinha


pela manhã, encontro Miranda atacando minha torta de chocolate
silenciosamente. Observo-a por um momento, enquanto ela come e debate
consigo mesma.
— Não coma tudo — digo, sorrindo de meu lugar na porta.
— Eu mereço. — Ela se defende e se queixa ao mesmo tempo.
— Eu também mereço — rebato, agora mal-humorada. E como mereço.
O relógio está marcando suas horas irritantes.
— O que houve com você? — ela pergunta notando meu cansaço, meu
desalinho e o cabelo bagunçado.
Roubo seu garfo e como um pedaço de bolo enquanto puxo uma cadeira
e me sento ao seu lado, depois penso por onde começar.
— Depois que você dormiu, sua mãe ligou dizendo que Aria estava
com febre e não baixava, então fui até lá e a levei nessa nova clínica que
escolhi para levar as crianças, e adivinhe? O médico era jovem. Perguntou-me
se eu era mãe de primeira viagem e eu disse que sim, então quando ele veio
me trazer notícias de Aria, as crianças chegaram e ele teve a cara de pau de
dizer: “achei que você fosse mãe de primeira viagem, mas pelo visto você foi
mãe bem cedo!”. Palhaço. Fui liberada às dez e meia com Aria e não dormi
ainda.
— Eu vou matar o Tobias! Por culpa dele eu não estava lá! E quem esse
médico pensa que é? — ela diz, pegando seu garfo de volta.
— Provavelmente alguém que odeia as mulheres. — Reviro os olhos e
volto a comer bolo enquanto Miranda se levanta para pegar outro garfo e,
depois, anda pela cozinha xingando Tobias e o médico de Aria. No fim, eu
rio, e quase sobra para mim um pouco da fúria de Miranda Anton.

Não vou trabalhar hoje e Mi também não está em condições. Odeio


deixar tudo nas costas de Olivia e dos outros advogados, mas eu não tenho a
quem recorrer nesse momento a não ser eles.
Olivia me liga a cada três horas. Não tiro os olhos de Aria e nem do
termômetro. Alice e Alec foram à escola, mas pediram para faltar aos treinos
e ficarem conosco em casa. Eu deixei, é claro.
Mônica vem nos ver e fazer o jantar, então, enquanto isso, eu e Miranda
estamos indo buscar suas coisas na casa de seu ex e, quando pegamos tudo e
voltamos só para trancar a porta e pegar a última bolsa, quem aparece? E o
pior… com a outra.
— Miranda…
— Cala essa boca — Miranda diz para Tobias. — E você também! —
ela diz para a garota ao lado dele. — E Tobias, se me vir na rua, muda de
lado, senão te jogo embaixo dos carros que estiverem passando!
E como não seria Miranda se não batesse nele, foi justamente o que ela
fez, mas por um momento achei que seria só um tapa. Mas não, ela encheu a
mão e, como Jared ensinou, deu um soco nele que o jogou para trás. Eu estive
sob tanta pressão nos últimos tempos que caí na gargalhada. O pai de Miranda
chega e nos leva para dentro.
— O que está acontecendo aqui? — Eric pergunta, irritado e frustrado.
Eu não consigo parar de rir, então deixo Miranda falar. Mal estou
conseguindo respirar de tanto que estou rindo e nem sei o que é tão
engraçado, mas gostei muito de ver a cara assustada de Tobias.
— Ele me traiu, pai! Com ela! E agora o senhor trate de ir lá e pegar a
sua parte do dinheiro nesse casamento que não vai mais acontecer! E se ele
aparecer na minha frente de novo…
Miranda continua a falar com o pai enquanto eu acompanho tudo sem
conseguir falar nada porque estou ocupada demais ainda rindo, até que o pai
dela toca em um assunto que me diz respeito.
— E você vai voltar para casa? — pergunta Eric.
— Não, ela vai morar comigo e com as crianças — digo rapidamente,
parando de rir. Ou tentando.
— Legal! — Alec bate palmas e corre para contar a novidade para
quem está na cozinha.
— Tem certeza, Charlotte? — Eric parece em dúvida.
E por que eu não teria? Esse apartamento é nosso, no fim das contas, e
quando disse que estava expulsando minha amiga foi porque ela iria se casar.
Do contrário ela só mudaria de quarto.
— Eu tenho. Ela precisa arrumar o que fazer e eu tenho três crianças. —
Pisco para ele. — Terei um babá de graça. É quase como ganhar na loteria.
Beijo seu rosto ao passar por ele e vou para a cozinha, onde encontro
Alice e Alec comemorando.
— Que bom que gostaram da notícia.
Ambos fazem sinal positivo e voltam para o que estavam fazendo, Alec
bebendo água e Alice comendo maçã. Vou até Mônica e encosto minha
cabeça em seu ombro, pensativa.
— Ele parecia ser um bom rapaz — Mônica me diz, também pensativa.
— Nem tudo que parece, é — respondo a ela, dando os ombros.
Não foi uma boa forma de descobrir isso, mas talvez tenha sido melhor
assim, se ele não presta antes, não prestaria depois, e seria eu a socar a cara
dele.
Mônica sorri para mim e me entrega uma travessa, que eu levo até a
mesa e então, junto com Alice e Alec, montamos nossa lasanha da noite.
Alguns minutos depois Miranda se junta a nós, atrás de gelo para colocar em
sua mão.
Capítulo 4

Estou cansada. Mais uma semana se passou e aqui estou eu, no


cemitério. Hoje faz um mês que Jared e Ana se foram e a dor ainda está aqui,
escondida, esperando que eu me dê por vencida.
Já faz duas horas que estou aqui, olho meu relógio e vejo que está na
hora de voltar para a realidade. Caminho para fora do cemitério, e, no último
momento, olho para trás; minha família já está quase toda aqui. Passo pelo
portão e tento recolher os pedaços enquanto entro no carro.
Chego ao escritório meia hora depois e Olivia vem até mim quase
correndo. Mais problemas? Não, espero que não.
— Bom dia, Charlotte.
— Bom dia, Olivia.
— Tem uma cliente muito alterada aqui — ela diz enfatizando o
“alterada”. — É uma cliente do Eduardo, não sei mais o que dizer a ela.
Assinto com a cabeça e caminho até o escritório do novo advogado. Por
que ele não pode simplesmente fazer seu trabalho sem irritar uma cliente?
Sirva água, café, converse sobre periquitos verdes, mas não irrite uma cliente.
Observo a porta com o sobrenome de Eduardo no lugar onde ficava o
meu. Bato de leve e espero um segundo, depois entro.
— Bom dia. Em que posso ajudar? — pergunto, entrando e me
dirigindo diretamente à nossa cliente que, com certeza, está a ponto de pular
sobre a mesa e estrangulá-lo.
— Bom dia — ela diz, recompondo-se. — Seu advogado não está
fazendo o trabalho dele! E se estou pagando, exijo um bom serviço.
— De que maneira ele não está fazendo o trabalho dele? — Espero que
ela seja mais específica.
E então ela fala, e fala sem parar, sobre ele estar se vendendo ao marido
dela para que ela perca os direitos que tem no divórcio. Ouço tudo com
atenção e, por fim, passo para Miranda o caso, que aceita rapidamente e assim
sai com a senhora Ranover para discutirem o processo em nosso escritório.
Mas… no meio de tudo que ela falou lembro que não é a primeira vez
que reclamam de Eduardo, que por sua vez permanece em silêncio o tempo
todo. Que tipo de advogado exatamente está sentado à minha frente? A
política da Evans Advocacia é sermos honestos e, assim como meu pai, cada
advogado aqui escolhe o caso que mais se encaixa com sua área. Mas, nesse
caso em especial, não é a primeira vez que essa mesma queixa é feita.
Observo o escritório que foi meu antes de ser dele e percebo que ele já
o modificou totalmente e que está muito bem instalado, mas eu não tenho
medo de demitir um empregado caso ele não cumpra com a política da
empresa.
— Tem algo para me dizer, senhor Antunes? — pergunto, encarando-o.
— Não — ele responde rápido demais.
— Tem certeza? — insisto.
Ele assente, confiante. E, pensando em tudo que ouvi de reclamações ao
longo das últimas semanas, desde que ele veio para cá (em nossa empresa
que, além de mim e Miranda, são oito advogados), percebo que nunca tive
nenhuma reclamação como as que venho recebendo sobre Eduardo.
Claro que já houve reclamações sobre outros advogados, mas nunca
sobre algum deles estar se vendendo ou trabalhando para os dois lados. Bem,
em todo caso, talvez isso se deva por eu e Miranda sermos as advogadas mais
novas… Éramos.
— Eu estive aqui há alguns dias e disse que mais uma reclamação e
teríamos uma conversa, mas não será preciso. Você está demitido, e se disser
que vai nos processar, tenho uma pilha de reclamações sobre você, e garanto
que se eu for atrás de tudo que disseram, descobrirei outras coisas. Eu não
aceito este tipo de comportamento dentro de meu escritório e acredito que isto
estava no edital. — Desafio-o com o olhar a discutir.
— Eu sairei ainda está manhã — ele diz sem discussões. — Será você
que terá dificuldade em encontrar outro advogado?
Ah claro, muito difícil, não é mesmo? O que todos querem é um
emprego, então realmente vai ser um grande problema, penso revirando os
olhos. Nem me dou ao trabalho de responder, simplesmente caminho para
fora e, depois, para meu escritório, onde encontro Miranda sozinha.
Pelo visto foi fácil de resolver os danos e controlar a senhora em
questão.
— Três coisas para você. Primeira: demiti Eduardo. Segunda: onde está
a senhora Ranover? Terceira: você já conheceu alguém? — pergunto
cruzando os braços em frente à sua mesa.
— Primeira: você fez bem, tem mais reclamações sobre ele para nós. —
Ela aponta uma pilha de papéis. — Segunda: já resolvi com ela, a audiência é
daqui quatro dias e, terceira: sim, ele é lindo, médico e vou ouvir você dessa
vez, então… diga-me se ele vale à pena. Se disser que não, caio fora. Eu
prometo! — Ela pisca seus encantadores olhos castanhos para mim.
Assinto com a cabeça em afirmação. Talvez ela dê sorte dessa vez,
estou torcendo para isso, porque Miranda e Tobias estavam juntos desde a
faculdade. A última vez que a vi terminar um relacionamento, estávamos no
ensino médio.
Pego meu celular e noto que recebi uma mensagem e já faz horas.
— Vou ter que sair, mas volto antes do almoço e então podemos
almoçar juntas. — Mando um beijo estalado para ela.
Miranda bate palmas de alegria, o que significa que ela está bem
empolgada com esse novo cara, o que é ótimo. E para a segurança dele, é bom
que passe pelo sinal Evans de qualidade.

Chego ao estacionamento da clínica depois da hora marcada, mas, como


os horários foram mudados, sou atendida assim que chego na sala de espera.
Sou uma paciente antiga, muito antiga…
— Bom dia, Charlotte.
— Bom dia, doutora Samira — cumprimento-a sentando-me a sua
frente.
Ela cruza as mãos sobre a mesa e me olha nos olhos, então espero um
momento em que me pego um tanto paranoica.
— Como estamos? Se sente melhor? — minha médica pergunta,
observando-me atentamente.
— Cansada e me sentido um completo desastre! Em pouco tempo, eu
tive Aria com febre, um médico me julgando, Alice brigando na escola. Aria
não fala direito e cada dia mais sinto como se Jared estivesse me olhando e
balançando a cabeça em concordância com meu fracasso — digo, levando as
mãos ao rosto.
— Você não fracassou, Charlotte. E isso é normal, são crianças. E Aria,
ela vai conseguir, você conseguiu, aí está o exemplo para ela. Paciência é tudo
que vocês precisam agora.
— Miranda rompeu o noivado, está morando com a gente, demiti meu
novo advogado hoje e…
— Calma. Temos tempo. Tudo vai se ajeitar. E os remédios?
— Acho que não estão mais fazendo efeito.
— Então vou pedir para sua psiquiatra trocá-los.
Passei uma hora e meia conversando com minha psicóloga e,
finalmente, me senti mais calma e com uma certeza de que em algum
momento tudo vai se encaixar. Faz algum tempo que havia abandonado a
terapia, mas com tudo que vem acontecendo, resolvi voltar.
Penso em todas as pessoas que acham que não trato mais minha
depressão há anos e chego a me parabenizar por isso, já que desde minha crise
na escola todos me vigiavam constantemente. Claro que tiveram outras, mas
eu já conseguia lidar um pouco melhor.
Tem dias que é extremamente difícil de esconder, mas têm outros que é
muito fácil. Ou as pessoas que estão se iludindo com mais facilidade. Ou só
não têm os olhos atentos de Jared.
Miranda me liga e me informa que eu a encontre em um restaurante
novo, então me dirijo até lá para almoçar com ela.

Observo-a por um momento, distraída, esperando. Miranda tem um


brilho próprio, e está realmente empolgada com esse novo futuro namorado. É
possível ver na postura dela e no sorriso fácil. Resolvo me mexer antes que
pensem que estou perdida.
— Desculpe o atraso — digo ao surgir a sua frente.
Miranda beija minha bochecha e despenca a falar sobre o tal homem
perfeito. Não quero dizer a ela, mas, sinceramente, acho que ele não existe.
Claro, tem homens bons e muito bons, mas perfeitos? Esse ponto é um pouco
demais.
Eu sorrio com algumas das coisas que ela diz, porque é um pouco de
detalhe demais, mas essa é minha melhor amiga. Ela não tem medo de contar
os pormenores. Nunca.

Almoçamos e Miranda fala o tempo todo, mas depois de minha consulta


estou mais leve, então presto atenção, já que eu serei o juiz em breve. Dar
sentenças às vezes pode ser bem exaustivo, mas rimos bastante.
Depois, Miranda vai em direção ao fórum pegar alguns papéis e vou em
direção à minha empresa… Minha empresa, antes era a empresa do meu pai,
depois do meu irmão e agora minha… Realmente muita coisa mudou.
Meu celular toca e quando vejo de onde é meu coração despenca em
queda livre. De novo não, por favor!
— Charlotte Evans?
— Sim.
— Aqui é a pedagoga da escola, seu sobrinho machucou o braço e
estamos a caminho do hospital.
Demoro tempo demais para responder, pois ela pergunta duas vezes se
eu estou ouvindo. Então, peço que ela o leve até a clínica onde eu levo as
crianças agora e, enquanto corro para o meu carro, ligo para a clínica e aviso
que Alec chegará sem mim, mas que eu já estou a caminho.
Engarrafamento? É sério? Inspiro e expiro tentando me acalmar, Alec já
deve estar na clínica, ou quase chegando. O trânsito finalmente limpa e
consigo acelerar um pouco. Estaciono de qualquer jeito e saio correndo.
A pedagoga me espera aflita na sala de espera. Em um primeiro
momento me pergunto por que ela está aqui e não lá com ele, mas agora estou
aqui, isso que importa.
— Ele está no consultório. Eu não quis entrar porque imaginei que você
não demoraria. — Ela dá de ombros nervosa.
— Certo, obrigada. Daqui pode deixar que eu resolvo — digo sem
esconder meu completo desinteresse nela, que deveria estar com ele até eu
chegar.
Caminho até a atendente, que me encaminha ao consultório que eu já
conheço. Não pude resistir a revirar os olhos ao ver o doutor Cass
conversando animado com Alec sobre handebol.
— Mãe! — Alec grita assim que me vê na porta.
— Oi, amor! Como você está? — pergunto, alcançando-o.
Alec está radiante para alguém que se machucou. Eu não consigo
entender, já que ele tem um braço engessado, o que parece ter doído bastante.
E vai doer.
— Não está doendo mais.
— Isso é ótimo — digo esfregando suas costas.
— Na verdade, é muito bom, mãe. — Doutor Cass se intromete em
nossa conversa.
Tiro um chocolate da bolsa e entrego a Alec. Sim, sou dessas pessoas
que carrega chocolate na bolsa.
Não estou com paciência para ser educada e, sinceramente, esse médico
me irrita só de olhar para ele, ou melhor, pela forma como ele me olha.
— E então? Quais cuidados serão necessários? — pergunto, ignorando
minha raiva por ele.
— Só remédios para a dor e, daqui quarenta dias, voltar para tirar o
gesso. A radiografia não mostrou nada grave — doutor Cass esclarece.
— Isso é bom, já que ele já vai ficar chateado o suficiente por não poder
jogar.
O médico me diz que pediu para fazer mais alguns exames, porque Alec
reclamou de dor na barriga. E me pergunto por que eu não estou sabendo
dessas dores.
Assim ficamos na espera. Ligo para Miranda que já está correndo para
cá. Deixo Alec um minuto na sala de espera enquanto vou à procura do doutor
irritante Cass.
— Com licença — chamo-o no corredor onde ele está passando. Ele se
vira e faz sinal para que eu fale. — Os exames saíram? Ele não me disse nada
sobre essa dor…
— Você parece uma mãe bastante ausente, talvez devesse prestar mais
atenção aos seus filhos ao invés de…
— Quem você pensa que é? Não me conhece, não sabe nada sobre
mim, e se você não gosta de mulheres ou tem raiva delas não desconte em
mim — esbravejo, porque se ele está no limite, eu já ultrapassei isso umas
duas vezes e não saí por aí acusando as pessoas.
— Eu…
— E só para você saber, eles são meus sobrinhos, só que, quando meu
irmão morreu, fiquei com eles, com uma empresa e uma casa enorme. Então
desculpe se para você não é o suficiente! — falo alterada.
Não posso perder a cabeça, é tudo que Kalebe gostaria que eu fizesse.
Respire, respire! Lá se vai minha calma pós-consulta. Malditas paredes
brancas.
— Posso ajudar? — diz outro médico alto e com cabelos escuros.
— Não, não pode! Porque esse homem não tem educação! Então…
— Charlotte? Marc? Mas o que está acontecendo aqui? — indaga
Miranda, surgindo atrás de mim.
— Conhece esse homem? — pergunto mais irritada a cada minuto.
— Falei dele no almoço — ela responde enfática.
Estreito os olhos diante de sua informação, mas estou furiosa demais
para responder.
— Mamãe? — Alec chama.
— Sim, Alec?
— Podemos ir para casa?
— Sim. Nós podemos, com certeza. Nós não só podemos, como
devemos ir para casa — falo mais para o médico irritante que para Alec.
Doutor Cass tenta dizer que não, mas Miranda entra em seu caminho,
discute com Marc e vem atrás de mim e de Alec.
Caminho até Alec e o ajudo a ficar de pé, pego sua mochila e o guio
para o estacionamento com Miranda nas nossas costas. Chegando ao carro,
passo um pouco de trabalho para ajudar Alec a entrar no carro, mas consigo.
Quando chegamos à garagem do nosso prédio, levar Alec até o elevador
é um desafio, mas no fim dá tudo certo. Ele não acorda e está bem pesado.
Coloco-o em sua cama e Miranda chega logo em seguida, não me
deixando fazer o jantar. Resolvo tomar um banho enquanto as meninas não
chegam em casa.
Tão pouco tempo e já passei por tanta coisa que não me passava na
cabeça enfrentar tão cedo. E notei que amar e ser mãe são coisas muito
diferentes, mas que andam constantemente abraçadas.
Enfrentei pela segunda vez um hospital com um filho doente em menos
de um mês, eu me sinto a ponto de perder esta batalha, mas, pela primeira vez
depende só de mim. Agora Jared não está mais aqui para velar meu sono, ou
me dizer que ele lutaria quando eu não pudesse. Agora éramos eu Alice, Alec
e Aria.

Acordo meio zonza e penso que estou sonhando. Mas não é um sonho,
e sim minha atual realidade.
Alice, Alec e Aria me esperam sentados na mesa do café. Prontos para a
escola e com olhares sérios em seus rostos quase angelicais. Tem alguma
coisa errada. Eles não acordam exatamente de bom humor, mas também não
acordam assim.
Lá vem! Espero que seja algo que eu possa resolver, do contrário
mandarei todos para a cama e voltarei para a minha.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto desconfiada.
— Sim — respondem os três ao mesmo tempo.
Sento-me a mesa de frente para eles e os observo cuidadosamente. O
que pode ser de tão sério?
— Então…
— Queremos voltar para casa — dizem, mais uma vez em coro.
Esfrego o rosto. Será que agora estou sonhado? Coloco leite e
achocolatado em uma xícara, mexo com a colher e tomo um gole, que desce
quente por minha garganta. Observo o bolo sobre a mesa e depois a pia com o
prato e o copo de Miranda, um recado pregado a porta da geladeira.
— Não gostam daqui? — Eu gosto daqui, foi o apartamento de Ana e
Jared, e mais tarde, meu e de Miranda, é por onde passamos antes de ter que
crescer definitivamente.
Alice me observa e, depois de olhar para Alec, responde:
— Nossa casa é maior e já mudamos tudo, então podemos voltar para
nosso lar. É maior e tia Miranda não precisará mais brigar aqui no prédio.
— Sobre isso…
— Não precisa explicar — ela diz rapidamente.
E assim, estamos de mudança mais uma vez. Consigo uma empresa de
mudança para mudar ainda hoje, para evitar o estresse de mais uma mudança
em tão pouco tempo. Já mencionei que odeio fazer mudança? Quando meus
pais faleceram e fui morar com Jared, levei tudo que eu realmente precisaria
em malas, ele e Ana voltaram depois e levaram o restante.
Sim, a casa é maior, com mais quartos, espaço para eles brincarem, é
perto da escola, do escritório, dos pais de Miranda, e tem vizinhos melhores.
Sendo assim, na quarta à noite aqui estamos nós, alojados em nossa
nova/velha casa.
Cada um tem seu quarto agora. Eu fico com o quarto de Jared e as
crianças, cada um com o seu. Miranda fica no fim do corredor. A senhora que
contratei para me ajudar com a casa é um amor e só pôde vir agora.
Seu nome é Maria e as crianças também gostaram muito dela. Miranda
e Marc estão cada vez mais próximos, e hoje ele vem jantar aqui para
comemorar nossa mudança e para eu dar meu veredicto, já que Miranda está
cada vez gostando mais dele.
Eu e Maria, com a ajuda das crianças, escolhemos o cardápio do jantar
e cada um quis uma sobremesa, e assim teremos um cardápio variado, afinal
de contas é uma comemoração.
Nossas metas estão pregadas na parede da sala e encontro Alice as
observando atentamente quando estava indo ver se Miranda estava pronta.
Paro ao seu lado e observo-as também, mas, com certeza, não vejo o mesmo
que ela.
— Sua meta já foi cumprida — diz Alice, segurando minha mão com
firmeza.
— Acho que eu preciso de mais um tempo de experiência. — Pisco
para ela. E é verdade, em minha opinião, ainda há muito mais pelo que passar
antes de ter uma aprovação.
A campainha toca, nos despertando de nosso devaneio. Sorrio para
Alice e faço sinal para que ela me acompanhe até a porta que eu abro com
cuidado. Alice parece ansiosa ao meu lado em seu vestido florido.
— Boa noite, Charlotte. Alice — Marc diz, meio sem jeito do lado de
fora.
— Boa noite, Marc. Entre! Seja bem-vindo — digo, dando um aperto
de mão.
Alice parece um detetive, observando-o atentamente, depois ela corre
escada acima para chamar Miranda. Ficamos os dois em silêncio na entrada
da sala.
— Eu quero pedir desculpas pelo Landon. Ele nem sempre foi assim.
Mas, depois do divórcio, meu melhor amigo se tornou amargo — Marc me
informa como se isso fosse desculpa para seu amigo ser como é.
— Só com as mulheres pelo visto, mas o divórcio faz isso com as
pessoas. Não se preocupe. Você é pediatra também? — Mudo de assunto.
— Sim. — Ele dá de ombros.
— Se importa de cuidar das crianças agora? — pergunto em tom de
brincadeira.
— Claro que não. É até bom, ele tem se sentido muito culpado. — Marc
soa triste cada vez que cita Landon em nossa conversa.
— Obrigada. Mas é para evitar que eu o ataque com mais do que
palavras. — Dou de ombros. Talvez não seja totalmente uma brincadeira.
Marc começa a dizer algo, mas é interrompido ao observar Miranda
descer as escadas com Alice e Aria ao seu lado, minhas três meninas estão
lindas. Miranda está radiante, quase brilhando, e fico feliz de vê-la assim.
— Você está linda. As três, eu quero dizer. — Marc está babando.
Por trás dele eu faço sinal de aprovado e Miranda solta à respiração.
Não sei por que ela sempre parece tão preocupada. Medo de que eu o ataque?
Talvez, mas o combinado é que se houver um não, ela cai fora. Mas a verdade
é que gosto de Marc, é um sentimento forte, quase como se eu já o
conhecesse. Ele é sincero, bonito e simpático. Gosto principalmente da forma
como ele olha para Miranda.
Mas algo me diz que graças a esse “relacionamento relâmpago” entre
nossos amigos, Landon e eu estaremos encrencados.

O jantar teve alguns imprevistos, como Alec derrubando macarrão em


sua camisa e manchando tudo, ou Aria derrubando o suco na mesa, mas são
coisas que acontecem. Marc não se importou e nos contou um pouco de sua
infância. Miranda aproveitou o embalo e contou um pouco sobre a nossa.
Na hora da sobremesa, Marc e Alec discutiram táticas de jogo e nós,
meninas, elogiamos Miranda, tanto pela escolha de vestido, como a do
penteado.
Marc vai embora tarde e, assim que as crianças dormem, nós duas
desabamos no sofá, sorrindo.
— Ele vale à pena. — Dou minha aprovação.
— Obrigada.
Eu sorrio. Eu quase posso ver um casamento chegando em breve.
Assistimos Casamento Grego e rimos muito, é um dos filmes que mais
assistimos na adolescência com Ana. Éramos um trio e tanto… Agora somos
uma dupla de atrapalhadas.
Alice grita no andar de cima e saio correndo pelas escadas para
encontrá-la. Deve ser só um pesadelo, mas o que dizer quando eu mesma não
sei como reagir a isso?
Acendo a luz e a encontro soluçando e assustada, encolhida em sua
cama que agora parece grande demais para ela.
— Estou aqui, amor.
Sento-me na cama ao seu lado e a puxo para meus braços, Miranda se
junta a nós nesse emaranhado.
— Eu sonhei que você morria e que nós ficávamos com tio Kalebe.
Você não vai morrer, não é?
Seus olhos cinza estão cheios de esperança e temor.
— É claro que não, estarei aqui o máximo que eu puder.
Aos poucos ela vai se acalmando e pega no sono novamente. Saio com
Miranda do quarto e digo a ela:
— Mi… Quero te pedir algo.
— Eu já sei o que é, e a reposta é sim.
Dou um beijo em sua testa e vou para meu quarto. Amanhã bem cedo
vou com Miranda ao cartório para fazer um documento dizendo que, caso eu
venha a faltar, ela ficará com a guarda das crianças.
E depois vou descobrir a razão pela qual Kalebe quer tanto a guarda de
nossos sobrinhos.
Acordo cedo e, depois da semana que tive, decido que as crianças
podem ficar em casa. Enquanto caminho até a cozinha sentindo o cheiro de
café que Maria está passando, a campainha toca e vou atender.
Eu só não esperava encontrar a pessoa parada a minha frente com
flores.
— Eu te devo um pedido de desculpas. — Doutor Cass se apressa em
dizer antes que eu bata a porta em sua cara.
— E resolveu fazer isso às sete da manhã? — pergunto debochada.
— Eu moro no fim da rua — ele diz simplesmente.
— Você ficou com a casa — digo ao invés de pensar.
— Que casa? — Landon pergunta confuso por um segundo. — Marc te
contou sobre isso… Não, essa eu comprei depois.
— Não é da minha conta. Mas, já que nossos melhores amigos estão
namorando, eu te desculpo, mas se me ofender de novo te deixo com um olho
roxo.
— Eu prometo não fazer mais isso. — Landon levanta as mãos em sinal
de paz.
Pego as flores que ele me oferece e o convido para tomar café, me
surpreendendo não só com o fato de ele aceitar entrar, como também porque o
homem que está na minha frente não se parece em nada com o médico
ranzinza com quem tenho brigado. Aqui ele está solto e descontraído.
— Eu imagino que você pense que tenho dupla personalidade.
— Não, nada disso, embora eu deva admitir que esse seu lado me
assusta um pouco. — Estreito os olhos para ele.
— Meu lado sexy te assusta? Vai ver foi por isso que ela me trocou por
outro. — Ele faz piada de si mesmo.
— Ela te trocou por outro porque é burra e com certeza se arrependeu,
já que agora deve estar casada com alguém que nunca vai fazer por ela
metade do que você fez.
E eu percebi que falei em voz alta, de novo. Cale a boca, Charlotte!
— Você já foi casada?
— Não, mas eu tive muitos exemplos de casamentos felizes na minha
vida. E trabalhei em alguns casos de divórcio bem feios.
Eu tento consertar minha observação que ele não devia ter escutado,
mas pelo sorriso em seu rosto, fracasso feio.
— Você é uma mãe maravilhosa — ele afirma com seus olhos verdes
brilhantes e um sorriso nos lábios.
— O que foi colocado no seu café?
Landon sorri e eu estou perdida.
Embora eu saiba que a última coisa que ele deve querer agora é um
relacionamento, ainda mais com uma moça com três filhos… Fico confusa
com seu lado engraçado. E, além disso, não posso colocar uma pessoa que
não tem intenção de ficar em nossas vidas.
— Bom dia, Char. Desculpa ter me atrasado, mas Marc… Landon?
— Bom dia, Miranda — ele a cumprimenta.
— Vou avisar Alice que ela não vai para a escola hoje — digo
rapidamente, já me colocando de pé.
— E eu estou de saída. Acompanha-me, Charlotte? — Landon pergunta
e fica esperando uma resposta.
Inferno.
Faço sinal para ele me acompanhar até a porta da frente, o que ele faz,
me indicando para passar à sua frente. É quando olho para meus pés e noto
que estou de pantufas.
— Tenha um bom dia, Landon, e obrigado pelas flores. — Tento ser o
mais simpática possível.
— Eu que agradeço por você ter me perdoado. — Sua voz é sincera,
assim como sua expressão.
Sorrio para, ele que sai mais relaxado do que quando chegou.
Suspirando, fecho a porta pensativa. Essa manhã está calma demais… Sinto
os olhos de Miranda derretendo meu cérebro.
— Nem uma palavra — eu ameaço.
Miranda assente com a cabeça, mas seu sorriso não me engana. Nem
seus olhos brilhantes. Sua mente deve estar traçando formas de nos juntar.
Vou precisar ser mais rápida que ela, geralmente eu consigo, mas todo mundo
tem um dia ruim…
— Ele é lindo. — Miranda começa a dizer.
— Eu disse para você não dizer nada! — grito enquanto subo as
escadas.
Ouço a gargalhada de Miranda na cozinha. Suspirando, me forço a não
olhar para minha cama, passar direto e tomar um banho.
Capítulo 5

Um mês depois…

Estamos em agosto e ainda não esquentou. Jared amava o verão, sempre


pensei que era porque ele era uma pessoa solar, daquelas que conseguia
iluminar tudo só com sua presença…
Landon corre na rua em frente de casa todos os dias, e sempre me dá
bom dia ou vem puxar conversa. Temos passado mais tempo juntos, já que
Marc tem visitado mais nossa casa. Sinto as crianças se apagarem a ambos,
mas com Landon eles têm uma relação diferente, o que me faz sempre fazer
uma careta quando ele sorri na minha direção, como se dissesse que gosta de
estar com eles, de estar comigo… As últimas semanas têm mostrado que ele
não é sempre um babaca, mas ainda não mudei totalmente a minha visão a seu
respeito.
Estou vestindo Aria, fazendo uma trança em Alice e tentando pôr o
casaco em Alec. Miranda está presa em uma reunião. Dona Maria vem ao
meu socorro, termina a trança de Alice e amarra os sapatos de Aria enquanto
eu e Alec seguimos na luta contra o casaco.
Depois de mais vinte minutos, estávamos todos entrando no carro,
coloquei a cadeirinha de Aria e não aprendi a fechar essa coisa ainda.
Tranquei o dedo em vez da fivela e tive que voltar e colocar spray para aliviar
a dor; após mais dez minutos pegamos a estrada. Até que enfim!
Quando chegamos, o ginásio ainda está meio vazio, então coloco-os
sentados bem na frente e perto do time, assim Alec pode incentivar seu
melhor amigo de perto.
— Tia Miranda não vem? — Alec pergunta curioso.
— Ela vem, só vai se atrasar um pouco — digo a ele.
Alec sorri e assente com a cabeça. Aceno para Xande, seu melhor
amigo, que fica vermelho. Por que ele…
— Você devia guardar seu charme para homens mais velhos.
Viro-me para ver quem está falando e quase derramo o suco de Aria em
sua própria cabeça ao ver doutor Landon Cass ao meu lado.
— O que faz aqui?!
— Ele me convidou. — Landon sinaliza Alec. — E Miranda também.
Marc vai chegar em breve — disse Landon despreocupado, comendo pipoca.
Vejo ele me olhar de lado e sorrir sozinho.
Volto minha atenção para Aria e Alice que estão tentando acertar a
pronúncia de uma palavra, quando Alec pisa em meu pé indo se sentar perto
de Landon.
— Aonde você vai? — pergunto quando vejo Alec se sentar ao lado
Landon e não em nosso meio.
— Tio Marc está ali e, portanto, vou me sentar com os homens — fala
Alec orgulhoso, sentando-se.
Landon se aproxima de mim e diz em meu ouvido.
— Ele ainda é jovem, mas em breve vai ver que cometeu um erro.
Reviro os olhos.
— Só porque você está se provando ser um tarado não significa que ele
será um também.
Landon sorri despreocupado.
— Você é ótima…
— Doutor Cass! — diz um coro de mães.
Era só o que me faltava!
— Olha só! Você tem grandes fãs — eu digo, tirando sarro.
Ele as cumprimenta, muito educado, sorri, brinca com as crianças e
depois se vira para mim.
— Eu sou um homem com muitos atrativos.
— Então devo estar cega. — Avisto uma pessoa muito interessante do
outro lado. — Pode olhá-los para mim por um minuto?
— Claro. Vai esperar a…
Não espero ele terminar, me levanto e saio andando, cumprimentando
Marc no caminho, seguindo meu caminho até Breno, um colega de fotografia
(bom, da época que eu tinha tempo para fotografar, é claro).
— Breno.
Ele me olha surpreso.
— Charlotte! Quanto tempo.
— Pois é! Muito tempo. Desculpe, nós não terminamos aquela
conversa.
Como sempre Breno me deu um de seus sorrisos fáceis e tranquilos.
— Você precisou de tempo para se aprumar. Tudo bem.
A conversa a qual me refiro é o beijo que ele me deu dias antes da
morte de meu irmão e nossa briga sobre eu ser medrosa demais para aceitar
alguém diferente em minha vida com medo de perdê-lo.
— Veio torcer por quem?
— Meu sobrinho. Jonas. O camisa seis.
— Meu sobrinho barra filho quebrou o braço vai só assistir. — Aponto
para onde eles estão, evitando de propósito olhar para Landon.
— Elas são a sua cara! E ele só muda a cor dos olhos. Parabéns! Os
genes da sua família são incríveis.
Eu sorrio e ele também.
— Depois do rompimento de Miranda, eu notei que nada é totalmente
seguro. Acho que agora eu posso arriscar, com cautela, é claro. Eu tenho três
crianças.
— Eu estou solteiro. Posso me candidatar?
— Eu jurava que tinha visto você na fila! — eu digo, debochada.
— É bom saber que meu lugar está seguro.
— Está sim, mas agora eu tenho que voltar.
Antes que eu possa me levantar ou reagir, ele me dá um beijo no canto
da boca.
— Eu ligo.
— Eu te processo se você não ligar.
Ele pisca e eu me levanto, saindo a caminho do meu lugar.
O olhar de Landon está me dando um calor danado. Passo na sua frente
e me sento em meu lugar.
— Se eu soubesse que você estava indo falar com o seu namorado, não
teria me oferecido para olhar as crianças — diz Landon mal-humorado.
— Ele não é meu namorado. — Sorrio para Landon. — Ainda não. —
Volto a prestar atenção aos meninos, enfileirando-se agora.
— Nesse caso, nem vai.
— É mesmo?
— Sim.
— E por quê?
— Porque eu estou aqui agora — diz ele, autoritário.
Estou prestes a dar uma resposta azeda para ele quando Alice me chama
para arrumar a trança dela que está se desmanchando. Landon continua
comendo sua pipoca, despreocupado. De onde vem tanta pipoca? Que mãos
lindas ele tem, sempre gostei de fotografar mãos… Foco, Charlotte!
O jogo começa, Alec faz gestos constantes para seu melhor amigo.
Marc e Landon discutem o jogo, Aria dormiu e Alice está preocupada com o
time. Miranda não chegou ainda e eu me pego no meio disso tudo gritando
incentivos, o que deve ter sido algo pavoroso, já que todos me observavam
espantados.
— O que foi?
— É sempre a tia Miranda quem grita no jogo, mãe — diz Alec.
— Ser mãe me modificou.
Alec e Alice sorriem orgulhosos e voltam a assistir ao jogo. Nosso time
está um ponto na frente, quatro a três.
— Você é uma caixinha de surpresas — Landon diz pensativo.
— Sou uma Evans.

Miranda me liga no intervalo dizendo que não conseguirá vir a tempo.


Alec pede o telefone e disse que tudo bem, ele contará tudo no jantar.
Landon está me dando nos nervos com seus olhares. Ele provavelmente
foi aquele tipo de cara na faculdade, o que podia ter todas as garotas, o
conquistador. Mas eu sou fria de natureza… Embora deva dizer que seu olhar
estava começando a derreter minha geleira e isso estava me deixando em
pânico. Por que as pessoas não podem simplesmente me deixar ir?
Ao fim do jogo eu estou rouca, Aria gritou comigo e Alice registrou
tudo com minha máquina fotográfica.
— Mãe? — Alec chama minha atenção.
— Sim?
— Vamos fazer um jantar de comemoração?
— Claro que sim.
— Podemos convidar Landon e Marc?
Só de pensar em ter Landon no mesmo ambiente que eu, me dá um
nervoso, e um medo de esganá-lo na frente das crianças.
— Pode, claro.
Alec faz o convite e eles aceitam. Espero Alec conversar com seus
amigos e depois partimos para casa, onde Miranda tinha acabado de chegar.
Cada uma das crianças conta uma coisa e noto que Aria ainda não está
falando corretamente.
Miranda se aproxima de mim.
— Eles me contaram que você e Landon conversaram o jogo todo.
Reviro os olhos.
— Ele é um irritante! E me dá nos nervos! Ah! Eu encontrei Breno no
jogo e ele ficou de me ligar — eu digo esfuziante para uma Miranda me
olhando como seu eu fosse louca.
— Breno? Ele é lindo, mas você precisa de um homem na sua vida. E
isso que você sente por Landon Cass tem outro nome, e é excitação. Tem uma
sutil diferença — fala Miranda, séria.
Embora ela esteja certa, eu não darei o braço a torcer.
— Eu ainda quero enforcá-lo.
— O bom — diz ela, ignorando-me — é que ele já está envolvido e não
vai arredar o pé para Breno.
— Isso é bom? Sério? Pra quem?
— Para você! Ele é ideal para você.
— Ele tem tanta bagagem quanto eu. Onde isso pode ser bom? E ainda
tem três crianças!
— Que ele já ama! E por falar na bagagem dele, ele deu azar de você
ser você.
— O que isso significa?
— Que se ele tivesse sorte, você teria aparecido antes dela! — Miranda
diz, sorrindo como o gato da Alice no país das Maravilhas.
Argh!

A campainha toca e vou abrir, já que está uma bagunça na sala e uma
loucura de vozes. Abro a porta e dou de cara com Landon e Marc. Eu não
deveria estar surpresa, mas depois da conversa com Mi esqueci que eles
vinham.
— Olá, Charlotte — Landon me cumprimenta e estreito os olhos para
ele.
— Olá, doutor Cass — falo fuzilando Landon. — Marc. Entrem! — eu
digo sorrindo para o segundo.
Marc passa entre nós.
— Essa doeu.
— Eu sei muito bem o seu tipo.
— É mesmo?
— O conquistador da faculdade.
— Eu me aposentei.
— Não vai arrumar uma briga? Me chamar de grossa? Fria? Maluca?
— Você é tudo isso, na verdade, mas não vou dizer, já que você já falou
— ele diz passando por mim.
Puxo-o por seu braço de novo em minha direção. Fico cara a cara com
ele, nossos narizes quase se encostando.
— Cuidado, algo pode, acidentalmente é claro, cair em você no jantar.
Nossos lábios estão a ponto de se tocar e…
— Landon! Achei que não fosse vir mais.
Alec.
— Isso não vai ficar assim — diz Landon com uma ameaça velada.
Inferno! Isso é tudo que eu não preciso!
Mas esse homem de olhos verdes profundos, cabelo cor de areia, alto de
mãos grandes e lindas está acabando com meus nervos! E de um jeito bom, o
que é pior!
Breno não terá chance se Landon realmente valer a pena. O problema é
que eu tenho minha própria bagagem e a das crianças, e ele tem a dele. Breno
é livre de tudo isso… Mas Breno não tem o charme e confiança de Landon e
não me tira do sério desde que nos conhecemos, e não é Breno que vem
visitando meus sonhos malucos… e sim Landon Cass. Eu estou ferrada!
Capítulo 6

O escritório está um inferno flamejante hoje. Miranda acordou de mau


humor depois de dar de cara com o ex na noite passada enquanto jantava com
Marc. Segundo ela, Tobias fez uma cena do tipo “Miranda, você está linda…
E você deve ser o cara da vez! Bom te conhecer, pode ficar com o que eu já
usei, mas te digo uma coisa… Tudo que eu faço, faço bem, uma hora dessas
ela pode querer reviver alguns desses momentos”. Marc perdeu a cabeça e
quase bateu em Tobias. Eles são um casal muito bonito, de verdade, mas não
sei… Miranda geralmente é mais apegada a seus namorados e com Marc ela
parece querer tomar cuidado. Não que eu possa culpá-la ou julgá-la, nada
disso.
Alec está me enlouquecendo com seu gesso e Alice está falando de
Landon sem parar nem para respirar, o que me deixa bem irritada. Aria, bem,
eu a levei a uma nova fonoaudióloga, e ela explicou que seria devagar o
tratamento e que esse atraso na fala correta deve ter se agravado com a morte
dos pais.
E junte a tudo isso o aniversário de Miranda que será na quinta. Hoje
ainda é segunda, e já começou bem irritante. A nova advogada acabou de
chegar, ela é simpática e tagarela.
Meu último encontro com o doutor Cass foi há duas semanas, nem
parece que passou tanto tempo. Breno me liga dia sim, dia não, e isso me deu
saudade de fotografar, e não dele, o que não é bom, porque no fundo Miranda
tem razão.
Eu preciso arrumar uma distração para tirar Miranda de casa e Alice
precisa de uma sapatilha nova. Ela tem muitas, mas disse que quer uma de
outra cor.
Por isso, às cinco e meia peço para Olivia agendar tudo que aparecesse
a partir de agora para amanhã. Marc vai me ajudar nisso, ser namorado de
Miranda é fazer parte dessa enorme bagunça.
Sendo assim, aqui estou eu caminhando em direção ao consultório dele
que, infelizmente, é depois do de Landon. Eu já estou terminando de passar
em frente à sua sala quando ele abre a porta.
— Charlotte? Aconteceu alguma coisa com as crianças? — ele
pergunta, surpreso e meio preocupado.
— Não, as crianças estão ótimas. Eu vim falar com Marc — falo
rapidamente.
E, ou doutor Cass está sem palavras, ou há algo em seu consultório que
ele não quer que eu veja, porque não faz nada além de me olhar parecendo
cansado.
— Landon! Eu não terminei — uma voz melosa diz de dentro da sala.
Uma mulher! Doutor Certinho está sem jeito e desconcertado.
— Eu preciso ir antes que Marc saia — falo, recomeçando minha
caminhada.
— Não é o que você está pensando — ele diz, segurando meu cotovelo.
— Mas eu não pensei em nada — respondo sorrindo.
Uma loira em uma roupa ridiculamente colada, de saltos finíssimos, me
olha de cima a baixo e depois pega a mão de Landon.
— Então você realmente acha que vai me esquecer? — Voz melosa é
irritante.
Presumo, pela expressão irada de Landon e de Marc (que parece ter
vindo em socorro do amigo), que essa deve ser a tal ex, a mulher que o fez
odiar todas as mulheres restantes… Ou tentar odiar.
Por alguma razão isso faz meu sangue ferver e Charlotte Evans não é
uma boa pessoa assim.
Sorrio para ela e depois dou um rápido selinho no doutor Cass.
— Na verdade, querida, ele não precisa esquecer aquilo que nunca foi
lembrado, não é mesmo, amor? — Enfatizo a palavra “amor” e, só então, noto
que Landon está sem reação, o que faz Marc chutá-lo para acordar.
— Sim — Landon diz, aproveitando-se da situação e enlaçando minha
cintura. — Não restou nada, Marine, porque no fundo nunca existiu nada, e
Charlotte sabe que não precisa se preocupar — ele diz, arrogante.
Seguro-me para não revirar os olhos.
— Mas é claro que não, doutor Cass não trai e não sai da linha, não é
mesmo? — Marine diz, muito confiante para minha paciência.
— Entenda Marine, se ele sair da linha, vai sair uma vez só. E se você
entrar no meu caminho, não restará nem esse salto ridículo para contar
história — falo, deixando claro que eu não tenho paciência para suas
insinuações idiotas.
Primeiro, porque eu não estou com Landon de verdade; segundo,
porque não fui com a cara dela; terceiro, é um aviso velado para meu falso
namorado.
Ela tenta dizer algo, mas depois pensa melhor e sai batendo esses saltos
irritantes pelo corredor. Estreito os olhos, ela rebola demais, isso nem parece
remotamente humano. Então noto olhos em mim, é quando percebo que
Landon ainda me segura firme, e isso é perto demais para o meu gosto.
— Bem — falo, afastando Landon de mim —, já fiz minha boa ação do
dia, doutor Cass. Agora preciso falar com você, Marc — digo, virando-me
para olhar para ele.
— Você pode me dar uma rápida consultoria? — Marc pergunta,
chateado.
— Claro — sorrio para ele.
— Tem alguma forma de tirar essa mulher de nossas vidas? — ele
pergunta incisivo.
— Sim, seu advogado… bem, o dele — faço sinal para Landon —,
pode entrar com medidas restritivas e essas coisas. É bem simples na verdade
— falo, pensativa.
— Vou ver se Miranda tem um horário amanhã — Marc diz, voltando
para o seu consultório.
— Você não tem um advogado? Achei que fosse divorciado — digo,
com a sobrancelha erguida para Landon.
— Eu diria que é complicado, mas você não me deixaria escapar tão
fácil. Então não, eu estou com o processo há dois anos para me separar e abri
mão da casa que comprei para vivermos, até uma boa pensão eu aceitei dar,
mas ela não assinar os papéis, e meu advogado obviamente não tem
colaborado. Marc me fez retirar o processo e agora estou sem advogado. E a
minha “casa” está no nome de Marc, para ela não poder pegá-la futuramente.
— Landon termina de falar, cruzando os braços e se escorando na parede.
— Miranda só terá um horário na sexta — Marc fala cabisbaixo
aparecendo novamente.
Suspiro, ficaria em minhas mãos e então eu ficaria mais enrolada ainda
com Landon.
— Eu tenho um horário amanhã às dez e meia, posso cuidar do seu caso
e, mais tarde, se você quiser pode passar para Miranda. Ela pegou grande
parte dos casos que estavam comigo — falo para Marc.
— Então estaremos lá. O que você queria falar comigo? — ele
pergunta, agora curioso.
— Miranda faz aniversário na quinta e vou fazer uma festa, simples, só
para os mais próximos, e preciso que você a distraia. Então, já que Alice
precisa de uma nova sapatilha e Miranda ficou de levá-la para escolher,
preciso que vá com elas e as atrase o máximo possível — falo sorrindo.
— Posso fazer isso com o maior prazer — ele concorda, piscando.
— Doutor Cass? Você está bem? — pergunto, já que Landon não havia
dito mais nada.
— Sim, só estava pensando sobre o que ela vai querer tirar de mim
agora — ele diz, achando graça.
— Não se preocupe, eu sou sua advogada agora — falo, confiante.
— E minha namorada — ele diz, sorrindo.
O primeiro sorriso de verdade desde que o conheci, bem, desde que ele
apareceu na minha porta pedindo desculpas.
— É isso que acontece quando você ajuda o próximo. — Reviro os
olhos. — Nem comece! — Eu interrompo quando ele abre a boca para falar.
Meu celular toca na bolsa, é uma mensagem de Miranda.
“Kalebe esteve no escritório ainda há pouco.”
“O que ele queria?”
“O mesmo de sempre, confusão, mas descobri que ele está falido,
provavelmente por isso quer as crianças.”
— Algum problema? — Landon pergunta, se afastando da parede.
— Nada novo. Bem, eu preciso ir. Envio os convites amanhã. E
Landon? Seu colarinho está sujo de batom vermelho — digo, revirando os
olhos.
Ele me olha sério por longos segundos, depois começa a abrir a camisa
e entrar em seu consultório.
— Você devia pegar mais leve com ele — Marc diz, olhando para a
porta assim como eu.
— Mas eu não fiz nada! — argumento.
— Vocês têm soltado farpa um no outro desde o dia que se conheceram,
mas Landon já aceitou que ele estava errado sobre você, então seja mais
boazinha. Por favor. Ele já sofreu demais. Ele gostava muito dela, mas acho
que nunca a amou de verdade. Ele tentou, mesmo quando soube da traição. E
quando ela tentou tirar tudo dele… Mas enfim, é graças a você que ele
realmente desistiu dela.
— Graças a mim? — pergunto, olhando para ele.
— Sim, você. Charlotte Evans é a primeira mulher por quem ele se
interessou desde tudo isso — Marc fala, piscando para mim, fazendo-me
sentir um pouco de consciência pesada, então vou em direção ao consultório
de Landon.
Se eu serei advogada dele, e também conviverei com ele, e muito, por
causa de Miranda e Marc, eu vou me desculpar pela minha insensibilidade.
Não que eu ache que fui insensível, mas…
Abro a porta do consultório de Landon e quase tenho um ataque
cardíaco. Minha nossa! Ele está sem camisa. E parece bem irritado. Fecho a
porta atrás de mim e, depois de tentar processar o que dizer com ele neste
estado, respiro fundo e digo:
— Eu…
— Sim, você já deixou bem claro o que pensa de mim. — Sua voz soa
fria em minha direção.
— Olha quem está julgando primeiro novamente! Eu não disse nada
demais, só alertei que sua camisa estava suja. O que há de mal nisso? —
pergunto irritada.
— O que há de mal nisso? Bem, vamos ver. O que você disse, em
outras palavras, é que eu não consigo resistir a ela. Mas isso não acontece
mais, e não é por minha vontade que eu ainda estou casado com ela! —
Landon grita para mim.
— Não grite comigo! E se eu dei a entender desta maneira, me
desculpe! — grito de volta. — Eu me ofereci para ser sua advogada, e,
acredite, eu não faria isso se acreditasse que você ainda pode cair nas garras
dela! Eu não tenho paciência para casos assim — falo, exasperada. — E vista
uma camisa logo.
Ele estreita os olhos para mim, pega uma camisa limpa do armário ao
seu lado e começa a vesti-la. Meu cérebro, criativo demais, começa a cogitar
que eu também não largaria um homem desses…
— O que você disse? — Landon pergunta, com a sobrancelha erguida.
— O que eu disse? Nada, não falei nada. — Espero que ele realmente
não tenha escutado.
Landon abotoa a camisa e depois vira as costas para mim.
— Eu poderia ter caído na conversa dela há alguns meses, mas não
agora e não futuramente. Demorou para que eu entendesse que ela sempre
quis só o que eu tinha. Desisti da especialização em cardiologia infantil por
ela e…
Fui até ele, eu sabia como era difícil recomeçar do zero. Coloquei a mão
em suas costas.
— Vai ficar tudo bem, você estará livre em algumas semanas, eu
prometo! — Esfrego suas costas.
— Obrigado. — Sua voz está embargada.
Meu coração se parte por ele e, embora eu não queira admitir, já me
importo.
— Preciso ir, prometi jantar com as crianças todos os dias — falo
virando-o para mim e beijando sua bochecha. Ele levanta o rosto e nossos
lábios se tocam no instante em que Marc entra na sala.
— Desculpe.
— Eu já estava de saída — falo quase correndo para a porta e me
despedindo de longe.
À noite, conto para Miranda o que aconteceu e, por sorte, ela não
pergunta o que eu estava fazendo na clínica. Eu não pensei em um plano B,
mas qualquer coisa era só dizer o quanto aquela melação entre ela e Marc
estava me dando nos nervos.
Miranda me conta de seu dia corrido e da intriga que seu ex fez. Tobias
mandou mensagens para Miranda e Marc as viu, e a briga foi feia, porque,
segundo Marc, não pareciam que as mensagens não obtiveram respostas, o
que eu esperava que não fosse o caso. Marc é uma ótima pessoa, e eu não
ficaria feliz se Miranda deixasse passar o único homem que realmente presta
para ela. Depois da briga, eles fizeram as pazes, com direito a coisas sendo
derrubadas do balcão e tudo. Quanta paixão…
Aria estava realmente cansada, dormiu ainda na mesa. Alec quer ver o
jogo de futebol que vai passar mais tarde e Alice precisa de ajuda no dever. E,
falando em Alec, ele está com o gesso todo escrito, de diversas cores. Alice e
Aria assinaram nele também.
A apresentação de Alice será daqui a duas semanas, o time de Alec
jogará no domingo e seu melhor amigo vem dormir aqui amanhã. Eu preciso
conversar com Alice sobre isso, eu nunca ouvi sobre uma melhor amiga, e
não sei o que seria de mim sem Miranda.
— Você poderia namorar o Landon? — Alice pergunta sem levantar os
olhos do caderno.
— Eu não sei, mas por que essa pergunta agora? — questiono, alisando
seus cabelos.
— Eu gosto dele, Alec e Aria também. E ele gosta de você. Ele sempre
te olha como o papai olhava a mamãe — ela diz pensativa.
— Eu não posso prometer nada, mas vou pensar, tudo bem assim?
Ela sorri satisfeita e volta ao dever.
— Eu também gosto dele — Alec fala da porta.
— Isso é alguma espécie de fã clube? — pergunto, fazendo-os sorrir.
Depois de terminarmos de assistir ao jogo juntos, eles vão dormir e eu
fico sentada na sala pensando no que Alice disse…
“Ele te olha como o papai olhava a mamãe”.
Jared se apaixonou por Ana ainda quando era criança, ela foi minha
melhor amiga. Jared, o mesmo Jared que vigiava meu sono e que fazia todos
os garotos fugirem, só que ele não está aqui, nem Ana.

Estou no escritório desde cedo, Miranda levou as crianças para a escola


hoje. Será um longo dia. Eu preciso acompanhar um dos nossos advogados
hoje e rever um caso com outro. Trabalho em equipe, meu pai sempre disse
que confiança era crucial para manter uma empresa, essa sempre foi a política
dele.
Acabei dormindo no sofá ontem, acordei com Aria olhando seriamente
para mim às cinco da manhã e estiquei os braços para ela, que se juntou a
mim. Minhas costas doíam. E ainda tive que ajudar a vestir Alec, emburrado
porque ele não havia sido chamado para dormir no sofá.
— Senhorita Evans, seus clientes chegaram — Olivia avisa da porta.
— Pode mandá-los entrar — digo sorrindo para ela.
Os dois entram na sala. Landon está me olhando de um jeito estranho e
Marc parece ter gostado da decoração.
— Você fica bem de óculos — Landon afirma para mim.
— Bom dia pra você também — falo meio de mal humor.
— Bom dia, Charlotte. — Marc aperta minha mão.
Faço sinal para eles se sentarem e acesso o processo de divórcio de
Landon, e imagine minha surpresa quando vejo que ele está oficialmente
divorciado há mais de um ano. E, em minha humilde opinião, sua ex-mulher
não parecia ter só um amante.
— Tem certeza que seu divórcio não saiu? E esse era seu segundo
advogado, é isso? — pergunto só para confirmar.
— Sim, esse era meu segundo advogado, e ele afirmou que Marine
nunca assinou os papéis — ele responde, cauteloso.
— Então me parabenize porque esse foi o caso mais rápido da minha
carreira. Você está divorciado há mais de um ano, e, pelo que eu estou vendo,
foi um pouco antes de você trocar de advogado. Por isso, não vou cobrar pelo
horário de hoje — brinco com ele, que passa de calmo a furioso em instantes.
— Antes que você me acuse de algo, eu não estou brincando — falo, virando-
me para pegar o papel confirmando o que eu expliquei a ele.
— Essa mulher é mais peçonhenta do que eu previ — Marc diz para si
mesmo.
— Então eu estou livre dela? Para sempre? — Landon pergunta
desconfiado.
— Para a justiça sim, mas o para sempre fica por sua conta — falo
massageando o ombro.
Depois de mais meia hora de conversa, eles saem de meu escritório para
comemorar a notícia. Suspiro, eu ainda tenho um longo dia pela frente…
Lembro da última alfinetada entre mim e Landon.
— Posso recompensar você de alguma forma? — Landon pergunta com
um sorriso malicioso após receber a notícia.
— Pode, claro! — falo, cruzando as mãos sobre a mesa e olhando para
ele. — Fechando a porta quando passar.
— Em algum momento você consegue ser menos irritante? — ele me
pergunta, de cara feia agora.
— Sim! — digo, alegre. — Quando você não está por perto.

Os convites chegam ao meio dia e, às duas horas da tarde, Olivia já os


tem distribuído. Fico até as oito e meia no escritório e, quando eu já estou
saindo, Olivia entra porta adentro, vermelha de raiva.
— O que foi? — pergunto sorrindo.
— Tem uma mulher irritante querendo falar com você — ela fala,
irritada.
Faço sinal para ela ir na frente e vou logo atrás, o escritório já está
vazio, só restamos nós duas.
Voz irritante observa a sala de entrada.
— Posso ajudar? — pergunto desinteressada.
Ela me olha de cima a baixo, depois sorri.
— Meu advogado me informou que Landon havia mudado de
advogado, eu só não esperava que ela tivesse ido pedir socorro para a
namorada — ela diz, enfatizando o “namorada”.
— Bem, isso não é da sua conta e seu advogado deveria se preocupar
mais com o próprio trabalho. E… você não deveria querer comprar uma briga
comigo — falo, olhando-a nos olhos.
— Seu chefe não vai gostar de ouvir você ameaçar uma possível cliente
— ela diz em tom de desafio.
— Caso você não tenha sido informada, a chefe e dona do escritório sou
eu, e dispenso clientes como você. E pare de seu preocupar com Landon. Na
verdade, com o dinheiro dele que não vai entrar mais na sua conta. Desta
forma, você estará livre para casar com seja lá quem for — digo, olhando para
Olivia, indicando que ela pode pegar suas coisas para ir embora.
— E se não percebeu, o escritório já fechou — Miranda diz atrás dela.
— E quem é você? — Voz irritante, popularmente conhecida como
Marine, pergunta.
— Eu sou a sócia e melhor amiga dela. — Miranda aponta para mim.
— E namorada de Marc Reid, portanto não vou com a sua cara. E se pensar
em pôr as suas mãos sujas no meu namorado, ou no dela, vou ter que arrancá-
las — Miranda diz dando um passo em sua direção.
— Eu já estava de saída. E, querida — ela diz olhando para mim —,
Landon gosta de mulheres que sabem o que fazem.
— Então ele finalmente está com a pessoa certa! Realmente, não sei o
que leva você a mudar tanto de parceiro, e não é da minha conta, então, por
favor, saia — falo irritada. — Carlos, pode acompanhar essa senhora até a
rua, por favor? — Um de nossos seguranças surge na porta na hora certa.
Ela faz cara feia e sai sem dizer mais nada.
Miranda olha para mim e, depois que ela some no elevador, pergunta:
— Desde quando você namora Landon?
— Não namoro, ele precisava de ajuda, só isso.
E, ignorando suas outras perguntas e a expressão de Olivia, caminho em
direção ao elevador. Quando elas perceberam que não vou dizer mais nada,
desistem e me seguem até a saída.
Acabo perdendo o jantar e me desculpo com meus filhos, que dizem
que não tinha problema se fosse “só às vezes”.
Hoje resolvo finalmente olhar as fotografias de minha família. Alice,
Alec e Aria invadem meu quarto e, juntos, decidimos que amanhã, depois que
eu chegar do trabalho, iremos encher a casa de fotos. Eles acabam dormindo
comigo.
Cada um deles tem uma personalidade única, mas em muitas coisas
puxaram seus pais. Às vezes eu posso notar semelhanças quase
imperceptíveis neles.
Alice tem a obstinação de Jared.
Alec, o carinho e paixão de Ana.
E Aria? Ela é a mistura dos dois.
Capítulo 7

Estou me arrumando para o trabalho quando Alice grita meu nome do


quarto dela. Bato com a testa na porta do guarda roupa e saio correndo.
Alice não está na cama e nem em lugar nenhum que eu possa ver, até
que a encontro sentada no chão ao lado da cama.
— Alice, o que aconteceu? — pergunto preocupada.
Ela não responde, só aponta para a cama. Vou olhar e… Alice ficou
mocinha, é uma nova fase para ela, uma que ela provavelmente não gostará
muito. Puxo-a para perto de mim quando me sento ao seu lado e, depois de
acalmá-la, explico tudo como minha mãe me explicou e ela vai tomar banho.
Miranda finalmente aparece e, quando eu conto o que aconteceu, ela
vibra muito.
— Não é muito legal nessa época da vida, mas depois muda — Miranda
fala fazendo careta.
— É mesmo? Mudou para você? Porque para mim ainda não — digo,
pegando no pé dela.
— Nem para mim — ela responde rindo.
— Eu me lembro da Ana, quando ela tentava engravidar do Alec. Ela
chorava muito quando a menstruação dela vinha — lembro, rindo com
Miranda. — Jared ficava desesperado com o choro dela.
— Eu me lembro dessa fase. Jared sofreu um pouquinho.
Depois de algum tempo, Alice sai do banho e Miranda vai conversar
com ela. Alec me atropela no meio do corredor, vestido com metade da blusa,
então vou ajudá-lo.
— Mamãe, falta muito para tirar o gesso? — ele me pergunta, travesso.
— Não, em breve você vai tirá-lo. — Faço cócegas nele. — Até parece
que não está gostando de toda essa bajulação.
Ele sorri e depois discutimos sobre manobras de jogos. A conversa com
ele é sempre leve, e ele me lembra pela décima vez que seu amigo virá direto
da escola e irá dormir aqui. Garanto que eu e Miranda chegaremos antes do
jantar.
Hoje será lasanha porque Alice precisa de lasanha.
Aria está montando um quebra-cabeça em seu quarto, que forma o
desenho de lobos na neve, e ajudo-a com algumas partes antes de pegá-la no
colo e levá-la para tomar café. Ela está gripando.
— Mãe, quem é Breno? — Alec pergunta, sentando-se à mesa.
— Um amigo, por quê? — pergunto, picando a maçã de Aria.
— Porque o deixei lá na sala — Alec diz, mordendo seu pão.
Olho bem séria para Alec por um longo momento, achando que era
brincadeira, mas, quando vejo que ele continua comendo seu pão como se
nada fosse nada, percebo que é verdade.
— Alec, você não pode deixar quem você não conhece entrar em casa,
entendeu? E também não quero você abrindo a porta sozinho. E nem falando
com estranhos. — Depois de dar uma bronca, respiro fundo, enquanto ele me
encara com olhos chorosos e confirma que entendeu.
Termino de cortar a maçã para Aria, coloco o suco para Alec e corro
para a sala, onde encontro Breno com as mãos nos bolsos, esperando.
— Breno. Bom dia! — Sorrio meio sem jeito.
— Oi, Char — ele fala quando vou abraçá-lo. — Desculpe ter vindo,
mas eu precisava falar com você.
— Sem problemas, vamos até meu escritório, as crianças estão tomando
café na cozinha — falo, indicando o caminho.
Breno assente e vamos até lá. Eu mal fecho a porta e ele tenta me beijar,
fico meio sem saber o que fazer, não é o que eu esperava, e, infelizmente, não
sinto nada, não como eu senti com o quase beijo de Landon.
— Char…
— Eu acho que estamos apresando as coisas, não entenda mal, eu quero
tentar, mas estamos indo muito rápido — falo, afastando-me.
— Claro, eu entendo.
Conversamos por um bom tempo, e eu devo ter acordado de cabeça
para baixo, porque encontro doutor Cass e Marc correndo na frente de casa
bem na hora que Breno está se despedindo com um beijo no rosto que tinha
outra intenção.
— Bom dia, Charlotte. Miranda está? — Marc pergunta.
— Sim, ela ainda não saiu para trabalhar. Tchau, Breno — falo,
empurrando-o sutilmente para seu carro. O que, ainda bem, ele faz. — Bom
dia, doutor Cass.
Landon espera o carro de Breno sair para atravessar a rua com Marc.
Acho que Marc pegou algo que eu não percebi, porque ele passa por mim e
entra e, quando me viro, Landon está invadindo meu espaço.
— Parece que mais alguém comemorou ontem — ele fala, irritado.
— Acho que eu não entendi o que você quis dizer — digo, dando um
passo em sua direção.
— Eu o vi saindo da sua casa! Às sete e meia da manhã — Landon diz
acusadoramente.
— Ele veio conversar mais cedo, não que isso seja da sua conta! —
digo impaciente.
— Vocês dois querem entrar em casa para poderem discutir à vontade?
— Miranda pergunta atrás de mim. — Bom dia, Landon. Alice pediu para não
ir à escola hoje, é com você, Char.
Assinto e, depois de lançar um olhar fulminante para Landon, entro em
casa para dizer a Alice que ela poderá ficar em casa hoje. Depois de nossa
conversa, desço para encontrar Landon e Alec conversando alegremente.
— Você gosta da minha mãe? Pode namorar com ela? — Alec pergunta
a Landon.
Mas o que é isso? Por um acaso eu reclamei de estar solteira e não sei?!
— Sim, eu gosto da sua mãe, e a segunda pergunta não depende só de
mim — Landon responde a ele.
Aria grita “mamãe” e finjo que tinha acabado de aparecer na escada.
Filhos.
— Alec, você vai para a escola sem Alice hoje — falo, pegando Aria no
colo.
— Por que ela pode ficar em casa e eu não? — ele pergunta, chateado.
— Problemas de menina — respondo olhando para Landon.
— Meninas são tão chatas às vezes — Alec diz, mal-humorado.
Landon me olha e levanto a sobrancelha para ele, que fica explicando a
Alec alguma coisa enquanto subo com Aria para trocar sua roupa. Miranda
ligou para a mãe dela, que ficará aqui em casa hoje com as crianças.
Quando desço, Miranda, Marc e Alec haviam sumido, mas Landon
continua no sofá.
— Cadê todo mundo? — pergunto sem entender por que ninguém se
despediu de mim.
— Alec foi para a escola, Miranda para o escritório e Marc para casa —
ele responde simplesmente.
— E por que você continua no meu sofá? — pergunto, suspeita.
Landon dá de ombros e fica de pé, aproximando-se devagar de mim,
que vou andando para trás a cada passo dele.
— Fiquei para ajudar você — ele diz, cercando-me.
— Com o quê?
— O aniversário de Miranda.
— Essa não! Eu esqueci! Que droga!
Landon acaba passando a manhã toda me ajudando com a decoração
que eu já havia trazido e com a escolha dos vinhos (o que, devo dizer, ele é
muito bom fazendo).
Deixo as crianças com Mônica e, depois de ligar para Olivia e pedir
para me acobertar por hoje, vou com Landon até o shopping.
— Qual a loja em que precisamos ir? — ele pergunta.
— Mas que filho da mãe! — eu falo, esquecendo que Landon está ali.
Breno está aos beijos com uma morena na área de alimentação.
— Eu só perguntei.
— Quê? O que você disse?
— Acho que não estamos falando da mesma coisa.
Ignoro o que ele disse e saio em disparada até onde Breno está com sua
companhia. Landon me segue sem entender onde eu estou indo, mas não me
preocupo em dizer, eu estou furiosa!
— Bom dia — falo, parando ao lado da mesa.
— Charlot…
Sorrio para a mulher e, depois de pegar Breno pelo colarinho da camisa
e dizer que se ele aparecesse na minha frente de novo eu iria deixá-lo com um
olho roxo, viro o suco em sua cabeça. Eu sei, foi infantil, mas não resisti.
Depois pego Landon pela mão e saio dali antes que eu pense melhor e dê um
soco nele ali mesmo.
— Você é realmente tudo que eu nunca conheci na vida. Como você é
tão boa em intimidar assim? — ele diz, parecendo abismado.
— Então com você eu devo estar fazendo algo errado. E, respondendo à
sua pergunta, meu irmão mais velho me ensinou a ser assim — falo,
lembrando-me do dia que Jared me ensinou a dar um bom soco e o acertei
sem querer.
— Eu sou um homem, ele ainda é só um garoto. É por isso. — É sua
resposta simples.
Tem como se achar mais? Está certo que ele é bonito e é médico,
engraçado, inteligente… Argh!
Consigo chegar até a loja e, depois de pegar tudo que eu encomendei,
vamos embora com Landon falando sobre a escolha do tema da festa. Explico
que Miranda gosta de brilho e essas coisas.
Depois de chegarmos, resolvo montar a decoração cedo. Ligo para
Miranda e conto sobre Breno, e ela fala a mesma coisa que Landon. Então
digo a ela que terá que ir direto do escritório para o shopping com Alice, e,
quando me pergunta por que, falo que Marc que irá levar Alice e assim eles
podem fazer algo juntos.
Assim que tudo fica pronto, subo para trocar de roupa, porque Aria
derramou suco em mim e eu estou encharcada.

Landon vai embora depois do almoço, e de me alfinetar mais um pouco.


Ele tinha consultas na parte da tarde e só não joguei um vaso em sua cabeça
porque Mônica me impediu.
E, sendo assim, agora aqui estamos, eu, Alec, Aria, os pais de Miranda
e o pessoal do escritório.
Vou até a cozinha tomar um copo de água e Mônica me segue. Sorrio
para ela e ofereço água, mas ela recusa.
— Gosto deles, dos dois… Landon e Marc. Minha filha fica feliz com
doutor Reid ao lado dela…
Paro para pensar nisso, e, sim, Miranda e Marc ficam ótimos juntos…
Miranda é alegre, radiante, Marc é tranquilo, paciente. Eles se completam.
Lembro de Tobias. Foi uma excelente mudança… Marc é muito melhor que
ele.
Lembro quando espiei Miranda e Marc se despedindo na porta de casa,
o sorriso leve, os olhos brilhantes, é como se houvesse certa desconfiança em
ambos, mas eles são brasa e fogo. Sorrio com isso, o beijo deles se
transformou em amasso tão rápido que achei que os vizinhos iriam chamar a
polícia. Passei o outro dia todo tirando sarro dela por isso.
— Gosto de Miranda com Marc, eles se completam e ele é um bom
homem. É um homem, ao contrário de Tobias, que sempre foi imaturo e
idiota.
— Você nunca gostou dele, Charlotte, mas com Marc você simpatizou
rápido… Então provavelmente ele é tudo isso mesmo. Minha filha tem sorte.
E, bem, você parece ir pelo mesmo caminho…
— Oh, não! A senhora também? Não mesmo! Eu e Landon somos, no
máximo, um entrelaçado de mau humor! Mas sim, Miranda está com sorte.
Mais sorte que ela, quem tem é Marc! Miranda é incrível! Eu poderia me
casar com ela… — digo, fingindo pensar nisso.
— Vocês fariam um belo casal, mas acho que Miranda gosta de outra
coisa… — Mônica diz sorrindo. — Senão, por que ela arrumou um namorado
tão rápido?
— Porque eu sou chata e ela precisa de uma fuga de minha querida
pessoa! Mas falando sério… Sim, foi rápido, mas não dizem que o amor pode
ser assim? Como uma flecha acertando o alvo com precisão?
— Sim, o amor pode ser rápido, como pode ser construído, dona moça!
Você não está inume a isso.
— Está me jogando uma praga? Que coisa feia! — digo, dando-lhe um
abraço apertado.
Landon chega pouco antes da aniversariante, ele diz que teve uma
consulta de última hora.
Miranda chega e cantamos parabéns para ela, todos a abraçam e
desejam feliz aniversário. “Me desculpe por não ter te parabenizado mais
cedo”, eu digo a ela enquanto a abraço, e ela responde que eu não preciso me
desculpar e que a festa está linda.
Marc a beija com vontade em meio a todos e tenho que tapar os olhos
das crianças, com a ajuda de Landon.
Ela ganha presentes lindos, e foi um trabalho escolher quatro presentes
diferentes, mas ela ama cada um.
Marc dá à Miranda um colar em forma de nuvem, com o nome dela
gravado no centro, muito bonito, o que rende mais beijos impróprios para
crianças.
O jantar é longo, contamos sobre a vida de Miranda, rimos dela, todos
dizem algo em que fizeram parte em sua vida. Marc conta da primeira vez que
a viu… Linda e furiosa. Eu conto de quando Miranda foi pega beijando um
garoto no jogo de Jared. Cada uma das crianças contou suas facetas com a tia
também.
Depois do jantar e de todas as brincadeiras, risos e mais canções de
aniversário (Aria nos faz cantar oito vezes), todos começam a ir embora.
Coloco as crianças para dormir e depois desço para roubar sobremesa, e
não estou nem aí se alguém falar. Preciso de doce.
Comemorei com ela sem deixar minha irritação afetar a festa embora eu
pudesse notar o olhar de Landon sobre mim toda hora.
“Ele te olha como o papai olhava para a mamãe…” Cérebro, pare com
isso! Que droga!
Breno teve a audácia de me ligar, mas não atendi e bloqueei seu número
de celular. Que garoto cara de pau! Sim, um garoto! É isso que ele é.
— Obrigada, Char. De verdade, eu amei — Miranda diz, me abraçando
e agradecendo mais uma vez pela festa.
— É minha obrigação como sua melhor amiga — falo, piscando para
ela.
Eu digo que se ela quiser ir para casa de Marc está tudo bem, mas ela
diz que não, que vai ficar aqui.
— Nós já comemoramos… mais cedo — ela conta, sorrindo maliciosa.
— Sabe… Você está precisando de umas escapadas assim!
— E eu deixei Alice com vocês! — digo, batendo nela com a colher da
sobremesa que estou comendo.
— Isso foi na hora do almoço. Depois de um ótimo almoço, veio uma
sobremesa ainda melhor…
— Sem ofensas, mas não quero saber da sua vida… nesse
departamento, bom, não quando estou comendo — digo, piscando para ela.
Miranda começa a contar o que ela e Marc andaram aprontando e
prefiro tapar os ouvidos e dizer para que ela cale a boca, o que ela não faz, é
claro.
— Eu já estou indo — Landon diz assustando nós duas.
— Mas já? — Miranda pergunta fazendo bico.
— Não tem mais ninguém além de nós quatro e tenho um longo dia
amanhã — Foi a pior desculpa que eu já ouvi, e olha que eu sou péssima
nisso.
Miranda o abraça e o agradece por ter vindo, já eu me despeço de longe.
Depois de alguns momentos, resolvo ir dormir e deixar Miranda e Marc
namorarem na sala. Com decência, é claro. Não quero meu sofá sendo palco
de certas coisas…
Eu devo ter pegado no sono rápido porque meu celular está tocando
loucamente perto de minha cabeça.
— Oi — respondo, zonza.
— Olá, Charzoteee. Charloze — responde a pessoa.
Olho para o número no visor. Landon… bêbado?
— Landon, o que você está fazendo? — pergunto, achando graça.
— No momento? Acho que eu caí de algum lugar — ele responde,
confuso.
Suspiro. Que maravilha.
— Eu vou até a sua casa — respondo e desligo celular para poder trocar
de roupa.
Dez minutos depois eu estou caminhando até lá. O bom é que nosso
bairro é seguro e ele mora perto. Observo as casas e árvores, muros e cercas
ao redor da estrada… Jared tinha razão, é um belo bairro. Bato na porta, mas
ninguém atende, testo a maçaneta e a porta abre.
— Ela tá abertaaaaa — ele grita.
Não diga, gênio. Caminho até sua voz e o encontro sentado nos pés da
escada. Acendo a luz, cegando-o momentaneamente.
— Vem, vou colocar você embaixo da água fria — falo tentando
levantá-lo. Depois de alguns momentos, ele resolve colaborar.
É um grande desafio subir a escada com ele tropeçando, mas consigo,
depois pergunto onde está seu quarto e ele pergunta se eu tenho outras ideias
para a noite. Respondo que não e arrasto-o para seu quarto, onde consigo
achar o interruptor e, depois de caminhar até o banheiro, empurro-o para
dentro do box e abro o chuveiro na água fria.
— Está fria! Você é muito má! — ele diz tentando me achar em meio a
toda a água que cai em sua cabeça.
— É mesmo? Olha quem foi que bebeu até literalmente cair? Não fui
eu! — falo tentando abrir a camisa dele.
Landon está bêbado, mas muito ciente da minha presença. Ele me puxa
para de baixo da água com ele, e está fria mesmo! Tento me soltar, mas ele
não deixa e logo depois seus lábios estão nos meus. E dessa vez eu não
resisto. Beijo-o de volta, Landon me levanta e me vira, prendendo-me na
parede. Nossos beijos ficam mais urgentes, até que ouço Marc chamar na
parte de baixo e empurro Landon para longe, saindo do chuveiro.
— Aqui em cima! — grito para ele.
Ouço Marc subir a escada com passos apressados, deve estar
imaginando quem está aqui com Landon…
— Charlotte? — Marc pergunta, mas desiste da resposta quando
Landon me puxa para baixo do chuveiro de novo.
Quinze minutos depois, Landon está seco, e dormindo em sua cama.
— Obrigado por ter vindo — Marc agradece quando descemos as
escadas.
— Sem problemas — falo para ele, e não me importo mesmo. — Eu
devolvo a camisa amanhã.
Ele assente com a cabeça e, depois de me levar até em casa e agradecer
de novo, volta para a casa de Landon onde ele dormirá hoje.
Encosto-me a porta de casa e respiro fundo por longos momentos
pensando no dia que tive hoje… Pensando em Breno… Pensando em
Landon…
Depois de minutos parada na porta de casa, subo até o quarto de
Miranda e conto o que aconteceu, menos a parte dos beijos, é claro.
Capítulo 8

Estou em casa há vinte minutos, sozinha. Maria já foi para casa,


Miranda foi ver Marc e as crianças só virão mais tarde. É estranho estar aqui
sozinha. Essa foi a casa do meu irmão e sua família por tanto tempo… E
agora ela não se parece mais com a casa onde ele vivia, porque está como eu
arrumei. Observo as fotos de Jared com as crianças e Ana. Eu sinto falta da
vida que eles irradiavam. Eu sinto falta do barulho. Eu sinto falta de vê-los
todos os dias…
Lembro-me de quando Jared foi para a faculdade, que ficava cinco
horas de onde moramos, e meu irmão fazia nossos pais me levarem para vê-lo
todo fim de semana. Ou eles me levavam ou ele vinha me ver. Sempre fomos
muito próximos. Acho que a possibilidade de que ele não teria uma irmã e,
mais tarde, o fato de, mesmo contra a certeza dos médicos, eu ter nascido,
grudou alguma parte de Jared em mim. Grudou seu coração ao meu.
E por falar em seu coração… Estou tentando descobrir quem recebeu o
coração de Jared. Poucos órgãos puderam ser doados, tanto de meu irmão
quanto de minha cunhada… O coração de Ana já havia parado, mas o de
Jared não. É como se ele ainda quisesse fazer algo. Por isso, quero encontrar a
pessoa que tem o coração dele.
Meu pai vivia rindo de meu irmão, porque, mesmo com Ana por perto,
ele precisava ter a irmã mais nova sob vigilância e grudada a ele. Mamãe, por
outro lado, achava isso ótimo.
Meu pai, mãe, irmão e cunhada… Todos tirados de mim. Meu coração
ainda sangra pela perda deles. Pela parte de mim que foi com eles… Por tudo
que ainda farei sem eles.
Estou tentando superar e espero estar vencendo. Cuidar de três crianças
não é fácil. Ser chamada de mãe me fere e me acalma ao mesmo tempo,
porque era para ser Ana aqui, era para ser ela falando com Alice, e ensinando
palavras para Aria e gritando por Alec em seus jogos. Estou vivendo os
momentos dela, os sonhos dela…
Sonhos e momentos que agora são meus. Que se tornaram meus. Que
um dia pensei que eu viveria, mas não assim.
As horas passam e ninguém chegou ainda, não estou mais acostumada
com o silêncio, estou ficando louca.
Resolvo abrir uma garrafa de vinho e estou na minha segunda taça
quando a campainha toca. Finjo que não estou em casa, mas a pessoa é
insistente, então me levanto do chão onde estou e vou até a porta.
Kalebe. Que maravilha! Por um momento cogito a possibilidade de
jogar a garrafa em sua cabeça, mas penso melhor e acho idiotice desperdiçar
meu vinho com ele.
— Posso ajudar? — pergunto sarcástica ao abrir a porta.
— Na verdade você já está ajudando — ele diz sorrindo, e eu quero
esmurrar seu rosto. — A senhorita exemplar manda as crianças para os pais
da amiga e fica enchendo a cara em casa.
— Em primeiro lugar, não estou bêbeda. Em segundo, as crianças
chegarão mais tarde e, em terceiro, qualquer um é exemplo perto de você —
falo, alfinetando-o.
— Não acho que o juiz concordaria com você…
— E eu não me lembro de ter te perguntado nada — falo, batendo a
porta na cara dele.
Kalebe fica apertando a campainha, grito que irei chamar a polícia e ele
se vai. Às dez e meia Eric me liga para dizer que, com Alec e Aria dormindo,
é melhor deixá-los lá e de manhã ele os trará para casa. E eu concordo.
E, sendo assim, sento-me no chão e volto a beber meu vinho, o que é
uma péssima ideia, já que eu tomo remédios para depressão, mas nesse
momento eu não me importo muito.
Começo a chorar sem parar, as lembranças invadem minha mente e com
elas a dor do luto… Ela demorou a vir dessa vez. O som da gargalhada de
Jared e da voz doce de Ana invadiram minha mente e depois de todo o
desespero veio à calmaria.
Eu estou ficando anestesiada. Eu já não sinto mais nada. E já fazia um
tempo, por isso talvez a depressão não fosse embora, porque eu não vivia a
dor quando ela vinha.
Eu havia sido marcada há muito tempo com a tragédia, a perda e a dor.
E superar estava me corroendo.
Não lembro se bebi a garrafa toda ou não, só sei que agora estou
sentada ao lado da privada vomitando. E lembro que não comi nada o dia
todo.
Escuto um barulho que parece muito longe até que ouço meu nome e
noto que é bem perto.
— Char, você está bem? — Miranda pergunta preocupada.
Assinto com a cabeça.
Miranda continua a falar, mas não estou entendendo nada, volto a
vomitar, o que parece deixá-la ainda mais aflita.

Acordo com Alec olhando seriamente para mim. Sorrio para ele, minha
cabeça dói, mas me obrigado a levantar. Que gosto horrível em minha boca…
Realmente foi uma péssima ideia beber ontem.
— Bom dia, Alec — digo levando a mão a testa.
— Bom dia, mamãe — ele diz se sentando ao meu lado. — Hoje é dia
de tirar o gesso!
Essa não! Alguém diz que estou sonhando! Em falar em sonhando…
— Mirandaaaaaaa! — grito.
Alec tapa os ouvidos, Miranda aparece em seguida em minha porta.
— Achei que você iria acordar com dor de cabeça, e não gritando assim
— ela diz sorrindo.
— Alec, pode esperar lá embaixo?
— Sim. — Ele sorri e dou um beijo em sua testa.
Miranda fecha a porta.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunta de forma suspeita.
— Sim! Kalebe esteve aqui ontem e eu estava meio alta, acho que vou
receber uma notificação em breve do juiz. Ele não vai perder essa chance! —
digo chateada comigo mesma.
— Agora não a nada a fazer a não ser esperar, e claro curar sua ressaca
e… levar Alec para tirar o gesso. Nem vem! Você vai — ela diz enérgica.
Enfio a cabeça no travesseiro e gemo de frustração.
Depois de meia hora Miranda leva as meninas para a escola, bem, Alice
vai para a escola, Aria para a casa dos pais de Miranda, e eu vou com Alec
para a clínica tirar seu gesso e… Ver Landon.
Conversamos o caminho todo e Alec me pergunta se minha cabeça está
melhor, eu digo que sim, mas ela está martelando.
Tenho que ligar para minha médica e contar da minha ideia idiota, ouvir
um sermão e contar a verdade a Miranda.
Chegamos à clínica e Alec quase sai voando do banco de tanta pressa.
Encosto a testa no volante. Tudo que eu não precisava! Ver Landon oito horas
da manhã e de resseca.
— Mamãe? — Alec pergunta preocupado ao lado da minha janela.
— Estou indo, amor.
Forço-me a levantar a cabeça e descer do carro. Alec pega minha mão,
empolgado, e caminhamos para a entrada da clínica.
Converso com a atendente que me manda ir direto para o consultório de
Landon, o paciente deste horário não veio.
A porta de Landon está fechada e Alec vê Marc entrar em seu
consultório e pede para ir dar um abraço nele, o que eu permito, claro. Eu
gosto muito de Marc, nos demos muito bem desde que nos conhecemos.
É claro que meu dia tinha que piorar!
Landon sai de sua sala com os lábios tingidos de vermelho, com sua ex-
mulher logo atrás.
— Isso virou motel? Eu deveria ser informada, já que meus filhos
frequentam essa clínica. — Quando Marine abre a boca para falar (Landon
está em choque), levanto a mão. — Nem comece! Não estou com paciência
para idiotas.
Afasto-me de ambos e, quando noto Landon vir atrás de mim, corro
para dentro do consultório de Marc. Tudo que eu não preciso agora é de um
discurso sobre sua relação conturbada com a ex-mulher.
— Está tudo…
— Charlotte! Vamos conversar! Abra está porta! — Landon fala
tentando abrir a porta, mas desse jeito ele irá é quebrá-la.
— Marc, você pode tirar o gesso de Alec? — falo alto para Landon
ouvir, Alec observa a mim e a porta com interesse.
— Claro — Marc diz sem graça.
Landon para do lado de fora e eu assisto Marc cortar o gesso de Alec,
minha cabeça vai estourar em breve. Marc tem um carisma que atrai as
pessoas até ele. Jared era assim também…
— Não sinto mais nada, mamãe! — Alec diz empolgado.
Sorrio para ele. Isso é ótimo, porque Alec não aguenta mais usar gesso,
por mais que ele tivesse gostado da atenção extra.
Marc bagunça seu cabelo e depois se aproxima de mim.
— Posso perguntar o que aconteceu?
— Eu encontrei Landon com sua ex-esposa, e pelos lábios com batom
do seu amigo significa que ele teve um momento “lembranças” com ela —
falo, esfregando as têmporas.
— Não acredito nisso! Mas ela pode tê-lo atacado… — Marc diz
esperançoso.
Lanço um olhar fulminante em sua direção, o que o faz murchar como
uma flor sem água.
— Desculpe, a culpa de o seu amigo ser idiota não é sua. Bem, então
vamos, Alec, você ainda tem escola — falo, arrumando a manga de sua blusa.
— Obrigada, Marc.
— Não foi nada. E agora nosso campeão pode voltar a jogar! Desculpe
qualquer coisa Charlotte. Eu não sei mais o que dizer a ele… E…
Faço que não com a cabeça.
Marc abre a porta e Landon aparece na nossa frente, com o rosto sujo
de batom assim como a manga de sua camisa. Que maravilha!
— Tio Landon! — Alec sorri. — Você está parecendo com Aria quando
mamãe a beija com batom roxo e ela limpa, se sujando toda.
— Vamos Alec, seus tios têm que trabalhar. Um deles, pelo menos.
— Charlotte… — Landon tenta começar sua desculpa patética.
— Não. Eu não tenho nada a ver com a sua vida. Você faz dela o que
quiser. Só não coloque meus filhos nisso! — falo furiosa para ele.
Alec está um pouco à frente, conversando com a atendente.
— Não é o que você está pensando! Eu não tenho mais nada com ela!
— ele diz na defensiva.
— Claro, e você quer que eu acredite que ela obrigou você a isso?
Sério?! Um homem de um metro e noventa? Faça-me o favor! E… nunca
mais me beije! Está me ouvindo?! — falo, chegando bem perto dele e
apontando o dedo em seu peito.
— O quê? Nós nos beijamos? Mas… eu achei que tivesse sonhado —
Landon fala sorrindo.
O que só me deixa com mais dor de cabeça. E mais irritada. E muito
furiosa.
— Não vai se repetir, idiota! — falo e me afasto, porque o olhar
indecente em seu rosto em vez de me dar nojo, só me deixa mais furiosa.
Aquele batom ridículo!
— Vai se repetir sim, não importa o quanto você me xingue — ele me
desafia.
Agradeço a atendente e saio com Alec porta afora. Coloco-o no carro e
afivelo o cinto.
— Ele gosta de você, mamãe — Alec diz, beijando meu rosto.
— E eu gosto do Edward mãos de tesoura — falo irritada e Alec
gargalha.
Meu menino não sabe como as coisas funcionam e espero que demore
em entender.
Não preciso contar nada a Miranda quando chego ao escritório, pois
Marc fez isso por mim. Ela ficou furiosa e fez o favor de xingar Landon em
meu lugar.
Ligo para minha médica que, como o previsto, me passa um grande
sermão (grande mesmo! Quarenta minutos). Miranda sai para resolver um
problema com um cliente, mas volta cedo. Então peço para irmos mais cedo
para casa. Ela estranha, mas não discute.
Minha cabeça não para de doer. Assim, às cinco horas estamos em casa.
Arranco meus sapatos e me jogo no sofá.
— Precisamos conversar — anuncio para Miranda.
— Sobre Landon? — ela diz sorrindo.
— Não, sobre mim e minhas mentiras. E já vou começar pedindo
desculpas — falo, tentando soar arrependida.
— Que mentiras? — ela pergunta, sentando-se ao meu lado.
— Miranda, eu… bem, eu nunca fiquei bem. Eu nunca deixei de tomar
antidepressivos, eu nunca parei o tratamento. Foi difícil esconder, mas eu
consegui, não queria que ninguém se preocupasse ainda mais comigo.
— Você bebeu ontem à noite, mesmo tomando esses remédios? Ficou
louca?! Você poderia ter morrido! E como eu ficaria? Ou as crianças? — ela
diz, exaltada e furiosa.
— Dizer que sinto muito não vai resolver as coisas… E o problema é
que eu não sinto nada. Há muito tempo — eu falo a verdade. Continuar
escondendo não é inteligente.
— Por que não me contou? Isso é muito sério! Eu deveria ter percebido.
— Não é culpa sua, é minha. Eu sou a pessoa com defeito. Não você.
— Nunca mais diga isso! — Miranda fala segurando meu rosto. —
Você é minha família. Eu não consigo nem pensar em perder você — Miranda
diz, abraçando-me.
— Achei que estava na hora de contar, Kalebe já deve ter procurado o
advogado dele, que há essa hora já sabe que ainda tomo meus remédios.
— Não se preocupe com ele, eu cuido disso — ela garante com uma
certeza assustadora.
Passamos uma hora e meia conversando. Conto sobre o tratamento,
sobre não estar sentindo nada, sobre o quanto isso me afeta. Eu sempre fui
uma pessoa cheia de sentimentos fervilhantes e agora vivo em meio ao vazio.
Miranda garante que a partir de agora iremos juntas às consultas e que ela
estará sempre ao meu lado.
Eu espero me curar definitivamente desta vez, não só por mim ou por
ela, mas pelas crianças, elas merecem alguém inteiro.
Essa noite fazemos lasanha e comemos todos juntos. Aria repete as
palavras novas que aprendeu e conta sobre os novos exercícios que sua
médica passou. Alec conta empolgado que amanhã voltará aos seus treinos.
Alice lembra a todos de que ela dançará no domingo.
Assim encerramos a noite, com muitas novidades, alegria e
determinação.
Juntos, tudo dará certo. Juntos, tudo se encaixará.
Capítulo 9

A apresentação de balé de Alice é amanhã às três da tarde e ela está uma


pilha de nervos. Andou o dia todo com a sapatilha nova para amanhã não
machucar no pé, brigou com Alec e os dois quase saíram no tapa. Alec
chamou a irmã de burra e tive que lhe passar um sermão. Aria saiu gritando
pela casa que Alice era burra e lá se foi mais um sermão. Agora os três estão
sentados no sofá assistindo “o bom dinossauro”.
Estou sentindo o cansaço me pegar, e devo ter dormido sentada na mesa
da cozinha, porque acordo com uma Aria chorando.
— O que houve, meu amor? — pergunto, pegando-a no colo.
— Mu-muito tris-triste, ma-mamãe. — Aria chora em meu pescoço.
Levanto-me com ela no colo para encontrar Alice e Alec chorando no
sofá, tão desconsolados quanto Aria. Então sento-me no meio dos dois, que
logo se grudam em mim.
— Muito triste, mamãe. Eles não ficaram juntos — diz Alice.
— Por que eles não ficaram juntos, mamãe? — Alec me olha desolado.
Por que eu fui atrás da indicação de Marc? E pior, sem assistir ao filme
antes! Tentei me lembrar o que Marc falou sobre o filme. O final.
— Bem, porque ele tinha que ficar com pessoas como ele, e o
dinossauro tinha que ficar com a família dele e ajudar a mamãe dele. — Tento
explicar de um jeito que eles achem aceitável.
Ficamos os quatro olhando pensativos para os créditos do filme
passando na televisão. A história é bonita, mas acho que Shrek teria sido uma
ideia melhor. É mais animado, e tem a combinação certa para os três.
Então resolvo colocar Shrek e, em poucos minutos, eles estão
chorando… Mas é de rir.
O grande dia chegou! Deixo Alec e Aria com Miranda e Marc na
entrada e vou com Alice para os bastidores. Ajudo-a a colocar o collant e o
tutu e ela pede que eu afofe bem o tutu, eu não sei o que ela quer dizer com
isso, para mim já está bem fofo.
— Alice, você está linda! Agora respire fundo e se acalme — falo para
ela, que já está me deixando tonta de tanto andar de um lado a outro.
Alice será a bailarina principal, uma grande responsabilidade. Todas as
meninas estão de rosa dos pés à cabeça, mas Alice tem as sapatilhas azuis ao
invés da rosa, o restante é da mesma cor. Seu cabelo ruivo está em um coque
bem firme.
— Mãe? E se eu errar algum passo? — ela me pergunta com seus olhos
cinza tempestuosos.
— Se você errar algum passo, não pare, continue, você e suas amigas
estão lindas, ninguém vai notar. E eu, seus irmãos e Miranda não vamos nos
importar nem um pouco. Nem seu tio Marc e Landon. Prometo — falo
confiante.
— Elas não são minhas amigas. — É a única resposta de Alice.
Não é a primeira vez que escuto isso dela, sem falar que nessa idade já
temos uma grande amiga; eu tinha duas. Todas as vezes que tento conversar
sobre isso, ela foge do assunto. Com um olho em Alice e outro em sua
professora, que parece fugir de mim, vou até ela.
— Olá, senhorita Santiago, eu gostaria de perguntar… Por que Alice
parece não ter amigas no grupo de balé, há algo que eu deva saber? —
pergunto, deixando claro que vou descobrir, quer ela contasse ou não.
— Senhorita Evans! É claro que não! São só meninas, sendo meninas.
Toda essa disputa é natural. Alice é muito talentosa, você deve estar orgulhosa
— ela me diz sorridente demais.
Assinto sem querer continuar esta conversa que não irá a lugar nenhum
e, quando estou andando em direção à Alice, alguém esbarra em mim…
Alguém não. Breno. Era só o que me faltava!
— Charlotte — ele diz sorrindo.
— É senhorita Evans para você — digo fria e sigo meu caminho.
Paro ao lado de Alice, que afofa seu tutu mais uma vez. Observo as
meninas ao nosso redor, todas a observam. Agora entendo o porquê de tanto
nervosismo.
Tento lembrar se ela alguma vez comentou sobre alguma amiga, é
estranho ela não ter amigas nem aqui, nem na escola, então tem que haver
uma resposta e… Um nome.
Observo atentamente todas as meninas e noto uma em especial, que
olha de sua mãe para Alice e de Alice para a mãe, então escuto uma das
garotas chamar seu nome, Clara. Penso… E sim, havia uma Clara.
— Alice… Clara não é sua amiga? Melhor amiga? — pergunto, com a
sobrancelha erguida para ela.
— Era. Não é mais — ela diz tristonha.
— E por quê?
— A mãe dela não quer que ela seja minha amiga. Por isso.
— Como é?!
Alice dá de ombros, mas meu sangue ferve de raiva! Como assim?!
Provavelmente é por causa de nossa situação, quer dizer, não é uma situação,
Alice perdeu os pais. E então essa mãe, sem nada na cabeça, proíbe a filha de
conviver com Alice? Que mãe é essa? E, claro, Alice não deve ser a única a
sofrer com isso, porque as crianças de pais separados devem passar pelo
mesmo.
Quando me dou conta já está na hora da apresentação das meninas.
— Boa sorte, meu amor! Estarei na plateia tirando muitas fotos e
torcendo muito por você! — digo, abraçando-a apertado e beijando sua testa.
— Obrigada, mamãe.
Espero ela se colocar na fila e, depois de mandar beijos, faço meu
caminho para a plateia.
Avisto Landon de longe. Ele está bonito com a camisa social de um tom
mais escuro que seus olhos.
Como hoje é um dia de domingo, estou sem roupa social, nem nada
perto disso (que é como ele está acostumado a me ver vestida), estou com
algo bem mais simples e delicado hoje. Um vestido floreado na altura dos
joelhos, ele é justo em cima e rodado em baixo, saltos altos e cabelo solto.
— Boa tarde, doutor Cass. Pode me dar licença? — pergunto, fazendo
sinal de que quero passar. Miranda deixou a cadeira ao lado dele para mim.
Landon me olha por um longo momento sem sair do lugar, então ergo a
sobrancelha indicando que espero uma reação dele.
— É claro, me desculpe — ele diz, me dando espaço para passar na sua
frente, mas ainda ficamos próximo demais.
Pego minha câmera das mãos de Miranda e começo minhas fotos,
aproveito que ainda está claro aqui, e fotografo todos. Inclusive um beijo de
Miranda e Marc e algumas fotos dele olhando para ela.
— Não sabia que você gostava de fotografar — diz Landon perto do
meu ouvido.
— Na verdade, eu cursei fotografia junto com direito e… Foi nessa fase
que conheci o Breno — digo, ressaltando o nome Breno.
— Você pode perdoá-lo, mas não a mim? — Ele soa irritado.
— Não perdoei Breno, e você… — digo olhando para ele pela primeira
vez desde que ele começou a falar. — Você eu não tenho o que perdoar, afinal
de contas você é só o médico dos meus filhos e amigo da família. Agora faça
silêncio, sim? — Volto a focar nas fotos que estou fazendo.
A apresentação começa, Alice está linda dançando, todas estão. A
música é profunda e as meninas dançam junto com a melodia, fotografo cada
passo e movimento. Está tudo perfeito.
Quando a música acaba e as meninas formam o movimento final, a
plateia aplaude de pé, elas estão incríveis! Termino as fotos, entrego a câmera
à Miranda e corro de volta aos bastidores para ajudar Alice com a roupa.
Encontro a mãe de Clara no caminho, para azar dela.
— Denise! Lembra de mim? Charlotte, a mãe da Alice. Ou tia, se você
ainda preferir assim. — Sorrio falsamente, mas enfatizando o “mãe de Alice”.
— Olá, Charlotte — ela diz, tentando sem sucesso disfarçar o
nervosismo.
Chego mais perto dela e digo olhando em seus olhos:
— Eu soube que você não quer que sua filha seja amiga da minha, mas
espero que isso tenha sido um grande mal-entendido, já que, é claro, você não
vai me querer como inimiga — digo sorridente como se estivéssemos falando
sobre o espetáculo das meninas.
Pelo visto ela sabe que minha família não leva desaforo para casa.
— É claro que não quero isso, e com certeza foi só um mal-entendido,
minha filha deve ter entendido errado a forma como falei. — Ela olha para os
lados.
— Assim espero — digo, fazendo sinal para ela passar a minha frente
em nosso caminho, o que ela faz bem depressa.
Caminho em direção a onde as meninas estão sendo encaminhadas para
trocar de roupa e vejo Clara conversar com Alice, até que ela vê a mãe e sai
correndo, espero que isso mude bem depressa.
— Assustando as mães das meninas? — Breno pergunta perto do meu
ouvido.
— Sim, e parece que a única pessoa que não entende o recado é você —
digo seca e continuo meu caminho.
O que há com esses homens hoje? Querem todos me enlouquecer?
Alice me avista e vem correndo ao meu encontro, abaixo-me e a abraço forte.
— Eu disse que você iria arrasar! — falo colocando os fios soltos de
seu cabelo atrás de sua orelha.
— Eu te amo, mamãe.
— Eu te amo muito mais! — digo, girando-a.
Enfim vamos para o vestiário, onde tiramos sapatilhas, meias, collant,
tutu e desfazemos a maquiagem e o coque.
Alec parece impaciente quando aparecemos na saída. Aria bate palma
empolgada quando vê a irmã, Alice corre até ela e a abraça, e Alec se gruda
nas duas. Miranda, Landon e Marc são os próximos a abraçá-la e parabenizá-
la pelo espetáculo.
Clara corre até nós e, depois de me dar um abraço, abraça Alice
apertado e corre para a mãe de volta.
— Nós vemos amanhã na escola! — Clara diz a Alice.
Alice olha para mim e pisco para ela. Apesar da minha fase horrível
comigo mesma, meus filhos não precisam passar por isso, na verdade eles já
passaram por tanto…
Chegamos em casa quase sete da noite. Vamos comemorar, como
sempre, com lasanha. Marc e Landon ficam para comemorar conosco. Vemos
todas as fotos que tirei na televisão da sala e Marc diz que eu trapaceei com as
fotos que tirei dele e de Miranda. Sorrio para ele e digo que bons fotógrafos
são discretos.
— Ma-ma-mãe… — Aria diz alegre.
Ela tem gaguejado muito ultimamente, amanhã vamos novamente a sua
fonoaudióloga, mas dessa vez eu vou levá-la. Mônica tem feito isso, mas
preciso conversar com a médica. Isso não é normal.
Em meio aos meus devaneios, não percebo o que Miranda acabou de
dizer, mas pelo visto é algo que exige minha resposta imediata, porque todos
me observam atentos.
— O quê? — pergunto sem entender os olhares.
— Vamos, não é, mamãe? — Alec pergunta empolgado, falando errado.
— Vamos aonde?
— Passar o fim de semana na praia — Miranda diz — Lembra?
Feriado, quatro dias de folga…
As crianças me olharam esperançosas, assim como Landon, devo ter
perdido uma parte muito importante desta conversa.
— Está bem, nós vamos. — As crianças pulam em cima de mim e
depois voltam para seu jogo com Marc.
Aria se senta no colo de Marc e narra o jogo para ele, que não se
importa com a gagueira dela. Alice senta-se de um lado e Alec do outro, mas,
enquanto Alec é o adversário de Marc no jogo, Alice é só uma espectadora.
Landon se aproxima de mim.
— Quatro dias juntos. Parece ótimo para mim — ele diz soando
divertido.
Olho seriamente para ele.
— Você vai também? — pergunto incrédula.
— Mas é claro que vou, não perderia isso. Nunca — ele diz piscando
para mim e caminhando para onde as crianças estão com Marc.
Mas que porcaria! Esse mês vai me deixar doida! Fuzilo Miranda com
os olhos, que logo foge de meu olhar furioso. Resolvo voltar à cozinha e
encher a cara de sorvete.

São seis da manhã e tudo ainda está calmo nesta casa, mas em breve
começa a correria para a escola.
Eles foram dormir tarde ontem, mas ninguém pareceu querer faltar a
escola hoje. Esses meus filhos são muito talentosos, ou estão querendo me
agradar para eu não mudar de ideia sobre o fim de semana na praia.
Às sete e meia saímos todos de casa. Miranda leva Aria para seus pais e
eu levo Alec e Alice para a escola, depois vou direto para o trabalho.
Assim que entro em meu escritório, vejo um envelope em cima da mesa
destinado a mim, e não sei se choro ou se rio com o que está escrito ali.
O imbecil do Kalebe realmente levou meu dia ruim para o conselho
tutelar e agora eu tenho uma audiência a respeito da guarda das crianças, já
que ele entrou com uma ação para ter a guarda para ele.
— O que aconteceu? — pergunta Miranda, entrando pouco depois.
— Kalebe foi ao conselho tutelar — digo, entregando o papel a ela.
Miranda lê tudo atentamente e, depois de longos momentos pensando,
ela diz:
— Ele vai jogar pesado porque ele está desesperado, então teremos que
jogar no mesmo nível. E isso significa…
— Significa? — pergunto, mal-humorada.
— Que você tem que ter uma relação estável, de preferência estar
casada.
— Não sou casada.
— Então… Vai casar — ela diz simplesmente.
— Como é?!
— Landon pode fazer esse grande esforço. — Ela dá de ombros.
Prevejo um final de semana dos infernos, e não vou pedir Landon Cass
em casamento! Nem pensar. E, depois de ameaçar Miranda por quase uma
hora, ela promete ficar de boca fechada sobre essa ideia. Principalmente para
Marc.
O dia tem que melhorar, mas não é o que acontece.
Levo Aria a sua fonoaudióloga e ela me diz que Aria desenvolveu
gagueira, mas que com o tratamento certinho ela poderia falar corretamente
em breve.
Tudo que eu quero é dormir e voltar para o dia antes do acidente de meu
irmão e sua esposa, mas ainda não tenho essa habilidade.
Alice chega empolgada em casa, dizendo que Clara voltou a ser sua
melhor amiga. Alec está muito feliz por ter feito dois gols hoje e Aria está
radiante por conseguir montar uma parte do quebra-cabeça sozinha.
Essa semana será difícil, mas com fé eu conseguirei vencer tudo isso.
Capítulo 10

Minha cabeça não para de dar voltas. Eu, casada. Vou estrangular
Kalebe! E Jared, por morrer e me colocar nessa encrenca! Que raiva. Daqui a
pouco vou fazer tratamento para controlar a raiva. O que eu vou fazer agora?
Perder as crianças para Kalebe nem pensar. Casar? Esfrego a testa com força.
— Vai acabar esfolando a testa de tanto esfregar — diz Miranda nas
minhas costas.
— Estou coçando o chifre que você colocou na minha testa — digo
irritada para ela.
— Eu?! Coitada de mim! — ela diz sorrindo.
— O-o que-que é um-um chifre-fre, mamã-mãe? — Aria pergunta,
surgindo na porta.
— Não é nada, meu amor. Quer alguma coisa? — pergunto a ela, que
aponta para uma maçã na fruteira.
Miranda descasca a maçã e Aria sai feliz da vida da cozinha.
Olho para Miranda por um longo momento e depois saio da cozinha.
Subo para meu quarto com ela gritando atrás de mim, o que ignoro. Aria está
comendo sua maçã em frente à televisão, onde ela assiste Shrek. Alice está
em seu quarto com Clara. Alec está no treino com Eric, treino esse que hoje
foi mais tarde.
Jogo-me na cama e fecho os olhos com força tentando esquecer o que
está acontecendo.
No escritório também foi um dia infernal. Ainda tive que aturar a ex-
esposa de Landon que mandei para o inferno, embora eu saiba que ela não foi.
Ainda tenho um fim de semana pela frente que, pelo visto, será muito,
muito longo…
Cinco dias depois…

Hoje é sexta-feira, em outras palavras, dia da nossa viagem para a casa


de praia. Meu cabelo acordou rebelde. Alec perdeu o dente da frente, Aria
está levando sete quebra-cabeças. Alice está me deixando louca com o fato de
na casa de praia o sinal de celular ser ruim, embora eu a lembre
constantemente que tem telefone fixo na casa.
Marc está desde cedo aqui em casa e não consigo ser a pessoa mais
simpática essa manhã. Peço desculpas muitas vezes por minha grosseria, que
ele faz o favor de ignorar. Pego Miranda e Marc se beijando na cozinha, como
se não fossemos passar o fim de semana todos na mesma casa.
Olho meu cabelo vermelho mais uma vez no espelho da sala e, quando
vou olhar minhas olheiras, dou de cara com Landon me encarando de volta
através do espelho.
— O quê? — pergunto de mau humor.
— Você está linda — ele diz sorridente demais para o meu gosto.
— É mesmo? Que pena que não posso dizer o mesmo de você. E sua
camisa está abotoada errado. — Landon para de sorrir, muito bom. —
Crianças, para o carro!
Coloco Aria em sua cadeirinha e a prendo bem, depois afivelo o cinto
de Alec e Alice. Grito para Miranda que estou indo quando vejo Landon
sentado no assento do passageiro.
Mas que droga é essa? E que diabos está havendo comigo? Essa não
sou eu! Que droga. É esse homem.
Bato os pés no lado de fora do carro tentando me controlar perto das
crianças. Alec conta a Landon como seu dente caiu.
— O que você está fazendo? — pergunto, abrindo a porta do motorista.
— Vim só me despedir — diz simplesmente.
— Você não vai mais? — pergunto, subitamente alegre.
— Vou sim — diz Landon, ficando chateado. — Só que vou com Marc.
Vejo você daqui a pouco. — Landon pisca para mim.
Fico olhando para ele com cara de idiota e quero correr atrás dele e
gritar. Argh!
Entro no carro e bato a porta com raiva. Alice pergunta se eu estou bem,
digo que sim e Alec sorri para mim pelo espelho retrovisor.
Miranda finalmente entra no carro e podemos pegar a estrada. Ela
escolhe uma música agitada, e assim cantamos o caminho todo, são duas
horas e meia de viagem. Marc nos segue de perto no carro de trás.
Meu mau humor está indo embora aos poucos, e do nada vem à imagem
de Landon com os lábios sujos pelo batom de Marine… Esqueça isso,
Charlotte. Eu estou pensando seriamente em me casar com Miranda.
Acho graça desse pensamento.
Miranda pergunta o que é tão engraçado e digo que vou me casar com
ela, que começa a rir também.
Alec conta sobre seus treinos nos últimos dias, ele está muito
empolgado para seu primeiro jogo. Estou empolgada também, meu menino
em quadra. Ele é muito bom, Jared era assim também, aprendia muito rápido.

Chegamos um pouco depois do previsto, e, assim que estaciono o carro,


as crianças pulam para fora. Alice fica presa pelo sinto e Alec tira sarro dela,
tenho que repreendê-lo já na chegada.
Marc e Landon dizem que a casa é linda e me irrita o fato de Landon
dizer isso olhando para mim. Idiota. Estou de implicância mesmo!
Respiro fundo e tento relaxar. O vento sopra meus cabelos. Aria rodopia
ao redor de si mesma e Alice bate palmas.
Miranda está dentro de casa com Alec, que estava louco para ir ao
banheiro, mas não me disse nada no caminho para cá.
— Vamos entrar? — pergunto a todos que assentem com a cabeça e
começam a ir para dentro.
Aproveito que as meninas estão indo atrás de Miranda e vou para a
praia, que é muito perto e isso me deixa meio apavorada por conta dos meus
filhos travessos, vou amarrar boias neles.
Ando até o fim do trapiche em frente de casa. Deixo o vento acariciar
meus cabelos e respiro o ar limpo do mar. É tão diferente do cheiro da
cidade… Posso ouvir as risadas em casa.
— Começamos com o pé esquerdo e admito foi culpa minha, mas…
acredito que isso é remediável, Charlotte, desde que você me deixe consertar
a burrada que fiz, é claro — Landon diz às minhas costas.
Respiro fundo. Será que não posso ter um minuto de paz?
— Não a nada a ser perdoado. Isso já passou — digo a ele sem me virar.
— Então por que você foge tanto de mim? — ele pergunta, sério. — É
por causa de Marine? Eu não quero mais nada com ela, nem nada que ela
esteja envolvida. Tem minha palavra quanto a isso.
— Não estou fugindo de você, e me importar com Marine significaria
que eu me importo com você — digo de cabeça quente. — Me desculpe.
— Eu sei o que está preocupando você e… Não é esforço nenhum para
mim. Eu posso fazer todo o trabalho pesado — Landon diz em tom de
paquera.
— Oi? Do que você está falando? — pergunto muito irritada.
— Charlotte Evans, você quer se casar comigo? Se disser não, eu vou
ignorar, porque eu sei que no fundo é um sim — ele diz sorrindo. — Miranda
disse ao Marc, que me contou.
— E você deduziu que eu sou orgulhosa demais pra pedir você em
casamento?
— Bom, se não é isso, não sei o que diabos é! — ele diz, perdendo a
paciência. — E nem venha com “não é você, sou eu”.
— O que seria a verdade, mas… Landon, desde que eu perdi minha
família eu não sinto nada por ninguém, há muito tempo é como se eu
estivesse anestesiada ou algo assim, e você… Bom, você quer paixão e…
Nesse momento não posso nem oferecer um casamento de interesse — digo a
verdade.
— Isso não é verdade, eu vejo paixão nos seus olhos toda vez que você
discute comigo. E quando você quer me esganar e… Deixe-me tentar — ele
diz, segurando meus braços.
— Quer tentar casando comigo? Está realmente disposto a enfrentar
outra mulher maluca? E um divórcio que vai arrancar tudo de você? — digo
irônica.
— Você vai me trair? — ele pergunta sério.
— Mas é claro que não! Que tipo de pessoa você acha que eu sou?!
— Então eu não corro esses riscos. Dê-me uma chance! — ele diz
irritadiço.
— Está bem. Mas… você quer casar comigo? E nada de me agarrar! E
só vamos contar as crianças no último dia — digo olhando para o mar.
— Eu aceito casar com você e aceito quase todas as suas condições, já
que te agarrar é meio impossível, mas em todo caso… Acho que você que vai
me agarrar primeiro — ele diz, beijando meu rosto.
— Parabéns! Você acaba de ganhar três filhos! — digo, jogando-me na
água. Três filhos que ele já havia conquistado. Uma esposa? Não sei.
A água não está fria, na verdade está morna. Landon me observa de
braços cruzados então resolvo sair da água. Assim que subo as escadas noto
que pulei na água de calça jeans e tênis, mas agora é tarde para me
arrepender, assim como do meu noivado.
Faço sinal com a cabeça para ir para casa e Landon acena para que eu
vá na frente, e assim eu faço.
Entro em casa e as crianças perguntam por que eu estou molhada, então
falo que tropecei no trapiche e caí no mar. Miranda pergunta se estava tudo
bem e eu digo a ela que sim, o que a fez notar que eu estou chateada com ela.
Subo as escadas e vou para meu quarto tomar banho e, assim que tiro a
roupa, lembro que não trouxe as malas para cima, me enrolo em uma toalha e
saio do banheiro, onde encontro Landon com uma calcinha minha na mão.
— O que você está fazendo com a minha calcinha? — pergunto com a
sobrancelha erguida. — E o que faz no meu quarto?
— Eu trouxe suas malas e uma delas abriu ao cair no chão, estou
juntando… — ele diz com a calcinha na mão.
— Pode me devolver? — Estendo a mão.
Landon entrega minha calcinha e, depois de pedir desculpas, sai
vermelho do quarto, onde eu rapidamente tranco a porta. Encosto minha testa
na madeira fria e penso que o dia está indo de ruim a bem ruim.

Depois de tomar um banho, colocar um short e uma regata, desço para


ajudar no almoço que Miranda está fazendo.
Marc, Landon e Alec estão jogando dominó e Alice e Aria montam um
quebra-cabeça do pão de açúcar. Miranda está terminando de picar cebola, eu
vou fazer a salada. Ficamos em silêncio na cozinha. Eu posso sentir sua
inquietação, mas agora ela aprende a ficar de boca fechada. Será uma das
últimas a saber que eu irei me casar com doutor Certinho barra irritante.
O dia foi muito quente, levamos as crianças para tomar banho no mar,
depois, é claro, de eu deixá-las brancas de protetor solar. Depois do almoço
Landon ressalta que é bom as crianças nos verem mais próximos, então passo
protetor em suas costas e ele na minha.
— Você quer desamarrar o biquíni? — Landon pergunta antes de passar
o protetor solar.
— Sim — falo segurando a parte da frente. Landon desamarra a parte
de cima do biquíni e depois passa o protetor solar, amarrando de volta quando
termina. — Obrigada — falo piscando para ele.
Depois de muita diversão, estamos sentados na sala jogando baralho, as
crianças foram dormir exaustas, então ficamos só os adultos. Miranda, Marc e
Landon estão tomando vinho, eu fico no suco de morango.
O cansaço começa a me pegar então dou boa noite e começo a subir
escada acima. Quando eu estou prestes a entrar em meu quarto, sinto alguém
atrás de mim e, quando me viro, bato em Landon e caio em cima dele.
— Você parece realmente cansada — ele fala.
— É porque estou cansada — digo, apontando o óbvio. — Agora sai de
cima de mim.
— É você quem está por cima, não que eu esteja reclamando — ele diz
sedutor.
Faço cara de boba e me coloco de pé. Landon está muito alegrinho.
Literalmente.
— Boa noite, doutor.
— Sonhe comigo — ele diz ainda no chão.
Reviro os olhos e entro em meu quarto. Mas que coisa! Eu vivo me
enroscando em Landon. Destino, já chega! Parou com a palhaçada.
Jogo-me na cama e eu devo estar mais cansada do que imaginei, porque
em minutos estou sonhando… com Landon.
Capítulo 11

O dia de ontem foi longo, e, com meu pedido de casamento recém-


aceito, devo dizer que estou bem cansada, mesmo tendo dormido como uma
pedra na noite passada.
São nove da manhã e não vejo movimentação nenhuma pela casa, então
depois de trocar de roupa resolvo descer e fazer o café, já que, pelo visto,
depois que eu subi, Landon correu para seu quarto para não servir de vela
para Miranda e Marc.
Desço as escadas tentando fazer silêncio, e caminho até a cozinha.
— Bom dia — Marc diz, pegando-me de surpresa. — Desculpe, eu não
queria te assustar.
— Não foi nada. Bom dia — digo sorrindo. — A noite foi boa?
— Sim, muito boa, embora eu não deva comentar sobre isso, porque
você está brava com Miranda e ela quer te infernizar com os possíveis
detalhes. — ele diz, fazendo um brinde com sua xícara de café.
Sim, imagino que sim, ela deve estar cozinhando porque tenho a
ignorado desde ontem, mas dessa vez ela não será perdoada tão fácil, nem que
eu tenha que escutar nos mínimos detalhes o que ela fez com Marc aos berros.
— Você fez café? — pergunto confusa.
— Fiz sim, já coloquei a mesa também, mas como não vi nenhuma
movimentação…
— É, eles estão cansados da praia, mas não se preocupe, não vai ser
silencioso por muito tempo — digo servindo-me de suco.
— Então… Conte-me um pouco sobre você.
— Por exemplo?
— Sei lá, qualquer coisa.
Penso por um momento, tem tantas coisas para contar… Jared, a
empresa, Miranda… Breno. Fotografia.
— Bem, eu perdi meus pais com dezesseis anos, pouco antes da
formatura da escola, a qual eu fui obrigada a ir, meu irmão queria que eu
aproveitasse, então deixou Miranda e eu na festa, mas acabamos fugindo e
indo para a casa dos meus pais, subimos na arvore em frente a meu antigo
quarto e tomamos refrigerante, comemos chocolate e conversamos até tarde,
mas Jared só ficou sabendo disso semanas depois.
Sorrio ao pensar nisso, lembro que ele ficou chateado, não pelo que
fizemos, e sim porque não contamos a ele.
— Fiz faculdade perto de casa, porque queria ver Alice crescer, fui
morar com Miranda no antigo apartamento de Jared. Ana, esposa dele, era
minha melhor amiga e foi quem fez com que ele aceitasse. Depois vieram
Alec e Aria. Então conheci Breno, e outra pessoa, que prefiro não lembrar. —
Fico mal-humorada com essa lembrança. — Miranda teve seu primeiro
namorado sério. Então eu estava com vinte e sete anos, meu irmão e cunhada
mortos e três crianças para criar… Miranda iria se casar e eu teria muitas
coisas para lidar, inclusive uma empresa. Então Miranda rompeu o noivado,
voltou para meu apartamento, ela conheceu você, eu conheci Landon e agora
estamos aqui. — Termino de falar pensando em como o tempo passou rápido.
Estamos entrando em novembro.
— Você passou por muita coisa e te admiro por isso. Você não se
deixou abater. Nem todas as pessoas são assim.
— Eu não me deixei abater? — Tenho que rir. — Da primeira vez,
Jared foi minha pilastra de sustentação e da segunda vez, foi Miranda.
— Mas isso não significa que você não tentou, ter ajuda não significa
que você é fraca, muito pelo contrário. Sabe, quando você fala assim de
Miranda, posso ver que sua amizade com ela é muito parecida com a minha e
de Landon. Ele também foi minha pilastra de sustentação…
— Um brinde aos grandes amigos e amigas que não nos largam nunca!
Marc brindou comigo e continuamos a conversar por um longo
momento. Ele me conta sobre sua relação com Landon, como eles se
conheceram, que ele escolheu pediatria porque era o que o avô dele era. Marc
me conta que teve uma grande virada em sua vida há pouco tempo, mas não
quis dizer o que tinha sido e respeito seu espaço.
Miranda finalmente aparece na cozinha e, ao invés de ir direto para
Marc, ela vem para mim, me abraça e se senta ao meu lado, tentando puxar
conversa.
Landon é o próximo a aparecer. Descabelado, de camiseta e bermuda
social, ele está bonito e se junta a nós na mesa.
Depois de conversarmos por mais um longo momento, resolvo subir
para acordar as crianças, o que deixa Miranda mal-humorada porque ela já
percebeu que não terá seu perdão tão facilmente.
São dez da manhã e meus filhos não acordaram ainda? Alguma coisa
está errada nisso. E eu estou certa ao pensar assim. Os três estão acordados e
sentados no tapete do quarto de Aria, montando um quebra-cabeça e, vendo
aquela cena, penso em como eles ainda não estão com fome, mas é quando
vejo bolachas e suco ao lado da mesa onde eles estão.
— E eu preocupada que vocês ainda estavam dormindo…
— Bom dia, mamãe! — dizem os três juntos.
— Não querem ir à praia? — pergunto com a sobrancelha erguida.
— Eba! — É a resposta que recebo.
Alice e Alec me abraçam ao passarem por mim em seu caminho para
seus quartos, para trocarem de roupa.
Entro no quarto e me sento na cama de Aria, esperando-a encaixar no
quebra-cabeça à sua frente a peça que tem na mão. Depois de alguns minutos,
ela nota que aquela peça não é ali e desiste.
— Trocar de roupa? — pergunto em dúvida para ela.
— Si-im mamã-mãe.
Ajudo Aria e se vestir e descemos juntas para a sala, onde Alice e Alec
nos esperam. Passo protetor solar nos três e depois em Landon. Ofereço para
passar protetor em Marc, que meio sem jeito agradece e diz que não vai tirar a
regata. Acho isso estranho, pois ontem ele também não tirou, mas prefiro não
comentar.
E então os cinco saem para a praia, as cadeiras, toalhas, bola e outras
coisas já estão próximas e bem no caminho, pergunto se precisam de ajuda,
mas os três homens da casa me garantem que não.
Assisto-os ir para a praia e, depois que eles já estão lá, vou para a
cozinha ajudar Miranda com o almoço.
Lavo a louça da pia, que Landon já havia lavado, mas Miranda sujou de
novo. Estamos em silêncio há quase trinta minutos, o que é um recorde para
ela.
— O que eu preciso fazer para você me desculpar? Eu falei por falar. —
Continuo em silêncio, o que a deixa ainda mais irritada e chorosa. — Char…
por favor. Odeio quando você me ignora.
— A água já ferveu. — É tudo que eu digo.
Miranda bate os pés em frustração ao meu lado e volta para o fogão. Sei
que ela fez minha sobremesa favorita, arroz doce, para tentar me amolecer,
mas ainda não…

Eu queria me deitar um pouco depois do almoço, mas me obrigaram a ir


até à praia com eles. Miranda está tomando sol, Alice e Aria construindo
castelos de areia. Alec, Marc e Landon jogam bola.
Eu? Bem, eu estou sentada aqui, com um livro na mão, tentando ler,
mas não estou conseguindo prestar atenção, então guardo meu lindo livro na
bolsa ao meu lado e, depois de me ajeitar, observo o mar à minha frente.
Resolvo ir tomar um banho, a água parece ótima… Levanto-me de
minha cadeira e tiro a blusa de crochê que eu estou vestida, sei que Landon
levou uma bolada, porque Alec grita indignado que Tio Landon não está
prestando atenção.
Molho primeiro os pés, depois vou entrando na água, que está uma
delícia. Está tudo calmo, até que noto uma movimentação às minhas costas na
água.
— O que você quer? Acho que posso tomar banho de mar sozinha —
digo, virando para ver Landon.
— Eu sei, mas em todo caso…
— Em todo caso, o que pode acontecer é eu te afogar! Seu irritante —
falo chateada. Landon parece não se importar e passa à minha frente.
Landon mergulha e depois de respirar fundo faço o mesmo. A água faz
com que eu me sinta mais tranquila e calma.
— Não sabia que você tem uma tatuagem. Interessante. — Landon diz
com voz… divertida.
— Sim, eu tenho, de uma época muito distante.
Landon assente com a cabeça e não comenta mais sobre isso. A
tatuagem em questão foi feita há algum tempo. É um nome e está bem
escondida, não sei como ele a viu… Fica bem na linha do sutiã do biquíni,
embaixo do seio.
Eu digo que ele é tarado, mas alguém me escuta? Não, claro que não!
Sinto uma mão envolver ao redor do meu tornozelo e sou puxada para baixo.
Vou matar Landon!
Quando finalmente consigo me soltar de suas mãos, que agora estão em
minha cintura, me empurrando para fora da água, coloco minhas mãos em seu
pescoço, tentadoramente querendo apertar, até ele ficar sem ar.
— Lembre-se das crianças — ele diz piscando para mim.
Tiro suas mãos de minha cintura e me afasto dele. Jogo água em seu
rosto, o que o faz rir e isso me deixa muito irritada. Então resolvo sair da
água, porque eu irei me vingar em breve…

Miranda tenta conversar a tarde toda, mas, quando nota que eu não direi
nada, desiste. Finalmente consigo ler alguns capítulos do meu livro,
Simplesmente acontece, da Cecilia Ahern. Gosto do casal desse livro, lembra
meu irmão e Ana.
Quando o relógio marca seis horas, resolvemos voltar para casa. Eu já
estou seca do banho de mar, então vou para dentro de casa fazer o lanche com
Miranda.
As meninas, como também não entraram na água, vêm conosco, mas as
faço subir e tomar banho.
Marc, Alec e Landon vão tomar banho na área de praia lá fora, onde
tem um banheiro grande, com cabines individuais, vasos sanitários, pia e
espelhos. Eu e Miranda colocamos as toalhas limpas, sabonete, shampoo,
essas coisas.
Alec é o primeiro a entrar em casa, finjo ir ver as crianças e saio para a
rua novamente. Landon me paga!
Espero Marc sair, abaixada entre os arbustos ao lado da porta. Ele não
me vê e, depois de dizer algo a Landon, caminha para dentro de casa.
Entro o mais silenciosamente possível e vejo a toalha e roupas de
Landon do lado da porta. Sorrio para mim mesma.
Caminho até lá e pego as roupas e a toalha, depois espero Landon
desligar o chuveiro…
Então ele abre a porta e tenta sem sucesso achar suas roupas pelo tato,
quando não as encontra, ele espia pela porta e me vê parada lá.
— Oi, amor! Não achou que eu deixar passar não é mesmo? — Pisco
para ele e saio correndo quando o noto correr em minha direção.
Mas é claro que ele não pode correr pelo jardim ou pela casa sem
roupas, então ele para na porta e pede que eu entregue suas roupas, faço que
não com a cabeça e entro em casa.

Miranda e Marc estão de agarração nos fundos da casa, enquanto as


crianças assistem desenho e já vai fazer quase uma hora que deixei Landon
sem roupas no banheiro… E ninguém parece ter notado.
Então, depois de pensar muito, resolvo ir até lá.
Abro a porta e encontro Landon sem roupas escorado na porta da cabine
de banho.
— Pensei que fosse me deixar a noite toda aqui — ele diz, soando
irritado.
— Você poderia se cobrir?
— Não, não posso, porque alguém roubou minha toalha e minhas
roupas. E pelo visto era esse seu intuito, mas se queria tanto me ver sem
roupas, era só ter pedido — Landon diz para me irritar.
Jogo a toalha na cara dele e depois suas roupas e, fumegando de raiva,
saio dali. Não demora muito para ele entrar em casa, e depois de perguntar às
crianças onde eu estava, ele vem ao meu encontro.
Eu estou picando cenouras na pia e finjo não notar sua presença. Mas
Landon tem outros planos. Chegando bem perto de mim, ele diz em meu
ouvido:
— Vai ter troco…
— Você que sabe, mas já entendeu que posso ser bem perversa, não é
mesmo? Então cuidado… — rebato.
— Veremos.
E, dito isso, ele sai da cozinha. Escuto um barulho lá fora e espio pela
janela; Marc e Miranda estão rolando no chão, abraçados.
Reviro os olhos para eles e volto para minhas cenouras.
Depois de alguns momentos, o jantar fica pronto. Miranda coloca a
mesa com a ajuda de Marc, que pergunta onde Landon estava. Landon me
olha de cara feia e depois diz que seu amigo não deveria ter ficado
preocupado, já que não foi à sua procura, e sou obrigada a rir com isso.
Miranda me olha de forma suspeita, mas só faço dar de ombros em
resposta.

Doutor Certinho é uma peste! Achei que ele não fosse levar a sério o
que disse, mas… Eu estava enganada.
Landon sumiu com todas as minhas roupas e ele derramou suco em
mim no jantar, então estou toda melada e sem roupas para trocar.
Penso por um momento…
Caminho até o carro e noto Landon me observar pela janela, de onde
está sentado no sofá, bebendo vinho com Marc e Miranda.
Abro o carro e encontro o que eu procurava. A camiseta dele que
coloquei no carro para devolver.
Dou a volta na casa e jogo a camiseta pela janela do corredor.
— O que você está fazendo deste lado da casa? — Landon pergunta
desconfiado.
— Nada — digo, inocente.
Dou a volta nele e subo correndo escada acima, recolho a camiseta do
chão, entro no quarto, tranco a porta e, depois de achar uma calcinha na bolsa,
tomo um banho, e visto sua camiseta para dormir.
Amanhã eu me vingo… Ou quando voltarmos para casa. Mas essa terá
volta!
Capítulo 12

Está passando rápido, hoje já é domingo. Landon, Marc e Alec foram à


cidade. Eu, Miranda, Alice e Aria estamos sentadas no trapiche olhando o
mar.
Ontem pedi desculpas a Landon por ser uma chata quando viemos
viajar e ele deve ter pensado que era algum tipo de convite, porque tentou me
beijar, e, quando não o deixei, ficou furioso porque o único beijo que tivemos
foi com ele bêbado, e no fim, agora ele não está falando comigo. Ele já não
estava falando comigo por causa da vingança do banheiro e agora só piorou.
— Não consigo falar com Marc, vamos até a cidade meninas? —
Miranda diz alegre.
As meninas ficam em pé empolgadas, dez minutos depois estamos
saindo de casa. Estou até vendo a briga dos dois. Acho que Marc foi comprar
alguma surpresa para Miranda.
Assim que Miranda estaciona em frente a uma das lojas, Alice e Aria
descem do carro, escuto a voz alterada de Landon e, quando ergo a cabeça,
encontro ele segurando o braço de Marine.
— Que casal fofinho! — digo, furiosamente batendo o pé.
— Charlotte. Não é…
— Mas nunca é nada do que estou pensando!
Viro as costas e começo a caminhar em direção a uma rua que dá de
frente para uma padaria, Landon está gritando meu nome, mas não diminuo o
passo. Alec e Marc estão saindo de lá.
— Você quer me deixar explicar? Ela apareceu aqui! Estou mandando-a
embora! Quantas vezes vou ter que repetir que a mulher que eu quero é
você?! Pare de ser teimosa — ele diz entre dentes.
— Você vai ser meu pai? — pergunta Alec sorrindo.
— O quê?! — diz Breno saindo da padaria.
— Mas que diabos! — digo furiosa. — Alec, volte e fique com sua tia
Miranda, depois nós conversamos. Mas não, Landon não será seu pai e
você… — digo virando para Breno. — O que está fazendo aqui?
— É, o que você está fazendo aqui? — Landon diz com a mão na
cintura e os olhos cintilando ódio.
— É feriado, Char. Minha família tem casa aqui, lembra? E… Vai se
casar com ele? — Breno pergunta, apontando para Landon.
— É uma longa história, mas… Você veio com alguém? — pergunto
intrigada.
— Sim, uma amiga veio comigo — ele diz coçando a nuca. — Não
acredito que você vai se casar…
— E por que não?! E sua amiga se chama Marine? Você é um idiota! —
digo perdendo a paciência.
— Então você é o novo caso de Marine? — pergunta Landon.
— O que isso te interessa? — pergunto a Landon. — Está arrependido
por acaso?
— É claro que não! Eu amo você. Quantas vezes vou ter que dizer? —
Landon diz, silenciando-me.
— Cuidado, ela costuma enrolar muito os homens. Eu, por exemplo.
Charlotte me enrolou por quase três anos…
Não tenho tempo de responder, porque Landon dá um soco em Breno,
que retribui o soco em Landon. Marc corre em nossa direção para separá-los e
eu, como estou furiosa, aproveito o fato de Breno estar focado em Landon e
dou-lhe um soco na boca do estômago.
Depois de muitas ofensas trocadas, cada um vai para um lado. Compro
um saco de gelo na padaria e coloco no olho já inchando de Landon.
— Você não precisava ter me defendido.
— Eu tenho obrigação de defender minha noiva — ele diz sorrindo.
Vejo Marc levantar a sobrancelha pelo espelho retrovisor em
questionamento.
— Nem se atreva a comentar, seu fofoqueiro — digo a Marc, que em
reposta pisca para mim. — E o senhor, doutor Cass — digo, apertando o gelo
em seu rosto —, quietinho.
Miranda está no carro da frente com as crianças, Landon e Marc estão
infernizando minha vida para saber onde aprendi um soco tão certeiro e conto
como foi aprender com Jared, e que Miranda também aprendeu.
Chegamos em casa e tento ajudar Landon, mas ele é um homem grande,
acabo batendo a porta do carro em seu joelho, as crianças riem de mim, reviro
os olhos e finalmente consigo tirar Landon do carro e arrastá-lo para seu
quarto.
— Obrigado, eu tenho remédios na mala — diz Landon se jogando em
cima da cama.
Vou até suas coisas no armário, encontro os remédios na bolsa e entrego
a ele, que toma rapidamente. Deve estar doendo…
Deixo-o no quarto e vou até o meu pegar uma pomada, quando volto ele
está tentando sem sucesso tirar a camisa de botão.
— Eu te ajudo — digo, colocando a pomada sobre a cama e ficando em
frente a ele para desabotoar a camisa.
Depois de desabotoar os botões, vou ajudá-lo a tirar os braços de dentro
da camisa, meus seios ficam muito próximos de seus olhos e o ameaço para
não olhar para baixo. Ele diz que só está enxergando com um olho, começo a
rir e ele também.
Landon coloca as mãos em minha cintura e olho em seus olhos ardentes
de paixão, o que é minha grande perdição… Nossos lábios ficam próximos,
minha respiração pesada. Landon me beija suave e depois o beijo vai se
aprofundando, ele me puxa para seu colo, passo os braços por seu pescoço
e… Algo mexe com meu coração pela primeira vez em anos.
— Você é a criatura mais teimosa, irritante e apaixonante que eu já
conheci — Landon diz nos meus lábios.
E sou eu quem o beija dessa vez.

Os remédios fizeram efeito, e agora eu estou pulando na porta tentando


colocar minha sapatinha e vestir minha blusa ao mesmo tempo. Foram só
beijos muito… quentes, e, bem, minha blusa acabou voando para longe de
mim, mas nada além disso.
— Tudo bem? — Marc pergunta do topo das escadas.
— Tudo ótimo. Eu… derramei…
— Vocês são adultos e desimpedidos, não precisa explicar nada Char —
ele diz sorrindo.
Mostro a língua para ele e caminho para meu quarto, tomo um banho e
desço para ver Alec jogando vídeo game e Alice e Aria brigando por causa de
uma peça do quebra-cabeça.
Alec coloca pausa no jogo e vem até mim.
— Podemos conversar, mamãe?
— Claro. Vamos lá fora — digo estendendo a mão, que ele agarra com
força.
— Mãe… Landon vai ser meu pai? Eu gosto dele… E ele gosta de
você. Por favor! — Alec me implora, ele tem os mesmos olhos azuis de sua
mãe.
— Ele vai ser sim, mas só se vocês três aceitarem — digo me
abaixando na altura de seus olhos.
— Nós gostamos muito dele — diz Alice de mãos dadas com Aria atrás
de mim.
— Bem nesse caso… Acho que não há impedimentos.
Alice e Aria correm até mim e me derrubam quando se jogam em meu
colo, Alec pula em cima de nós três e acabamos rindo.

À noite, com Landon já acordado e um olho roxo horrível, damos a


notícia do noivado, e imagine minha surpresa quando ele tira um anel lindo
em forma de Buganvília do bolso! Minha flor favorita.
As meninas ficam apaixonadas e a paixão delas por Landon aumenta,
vou confessar que meu coração derrete um pouco.
Miranda fica doida de raiva, porque ela era a única a não saber, nem
Marc escapa de sua fúria.
Jantamos com as crianças discutindo a decoração e Miranda dizendo
que ela será a madrinha, quando eu digo que não a havia convidado, ela quase
vira o prato de molho em mim.
Com todas as confusões e brigas, a noite está terminando muito bem.
Ligo para os pais de Miranda para avisar que eu irei me casar. Mônica e Eric
ficaram muito felizes, e Eric fica quase quarenta minutos conversando com
Landon, já que com Marc ele já havia conversado e diz que, se soubesse que
eu e Landon estávamos juntos, ele teria economizado tempo e feito o sermão
de uma vez só.
Tiro muito sarro de Landon.
As crianças vão dormir muito alegres e o dia de amanhã promete muita
felicidade, alegria e banho de mar.
— Você fica ótima feliz — Landon diz as minhas costas.
— Eu sou ótima sempre — digo quando ele se aproxima de mim. —
Não é porque eu… Eu tive pena de você hoje à tarde que vai se repetir.
— Você me tentou! Esfregando o decote no meu nariz! Que covardia,
eu fui ferido para proteger sua honra! — ele diz sorrindo.
— Isso… Argh! Idiota.
— Charlotte Evans não vai resistir a meu charme por muito tempo… —
ele diz dando a volta em mim e me abraçando por trás, depois coloca seu
nariz no meu pescoço. — Eu amo seu cheiro de doce de morango.
Coloco minhas mãos sobre as dele em minha barriga e ficamos em
silêncio olhando para o céu estrelado.
— Landon! Por que você vive pegando minha roupa íntima? Que
droga! Larga meu sutiã — digo furiosa a ele quando entro em meu quarto e
ele está segurando a peça em suas mãos.
— Eu vim buscar uma blusa para você e seu sutiã pulou em minhas
mãos! Eu juro. Mas… é muito bonito, eu devo dizer…
— Que cara de pau a sua, não? — digo, pegando meu sutiã de sua mão.
Arranco a blusa molhada pela cabeça, jogo no chão e começo a colocar
a que está sobre a cama. Escuto Landon guinchar ao meu lado.
— O quê?! — pergunto irritada.
— Bela blusa… Sabe, se você estava tão brava porque eu estava com
seu sutiã, por que está tirando a roupa na minha frente? E, só para constar…
Eu disse que isso iria acontecer — ele diz sorrindo, malicioso.
— Nossa, mamãe! Landon está te examinando? — Alec pergunta,
aparecendo na porta bem na hora que Landon vai me ajudar com a camiseta
em que fiquei presa.
Que vergonha! Digo a Alec que não é nada disso e ele me olha sem
entender, então Landon sai com ele para jogar videogame. Sento-me a cama
irritada, frustrada e chateada.
Que maravilha! Alec vai contar para todo mundo. Não que isso seja um
problema, já que eu sou maior de idade e JARED NÃO ESTÁ AQUI PARA
SURTAR COM NADA!
Se fosse na época de Jared, Landon estaria encrencado e com o outro
olho roxo também.
Junto a blusa suja de suco e vou guardar o sutiã de volta no guarda-
roupa. Olho minhas roupas e avisto uma caixa na parte de baixo.
Que estranho.
Charlotte. Está escrito na tampa. Pego a caixa e me sento na cama para
ler, é a letra de Jared.
São documentos da empresa, muitos documentos e… Levo um susto ao
ver o que tem escrito ali… Mas não pode ser… Isso é muito assustador…
Levo a mão à boca porque algo lateja em minha cabeça… Que a morte
de Jared e Ana não foi por acaso. Coloco os papéis de volta na caixa e coloco
no lugar que estava, bem no fundo do guarda roupa.
Se for como está escrito ali… As crianças não têm utilidade para
Kalebe, ele quer o dinheiro da empresa que vai com eles. Não que eu me
importe com isso, se fosse para escolher entre meus sobrinhos e a empresa, eu
os escolheria sem pensar duas vezes…
Mas agora minha vida corre perigo, bem, se ele souber de algo… O que
não vai acontecer. As crianças não têm mais ninguém além de mim… Eles
precisam de mim.
Capítulo 13

Passou tudo tão depressa. Estamos em casa, saí daqui solteira e voltei
noiva, em breve passarei por essa porta casada… Como Jared fez um dia.
As crianças estão cansadas então vai cada uma para seu quarto. Landon
e Marc vão para suas casas, já que eles têm coisas a resolver da clínica.
Subo em minha cama e, depois de me recostar em minha cabeceira,
abro a carta que encontrei de Ana endereçada a mim. Estava em uma das
minhas gavetas com fotos antigas.

Char… Lottie… Minha doce Charlotte.


Se você está lendo está carta é porque não estou
mais ao seu lado, e quero pedir desculpas por isso. Eu
te fiz promessas e me dói imaginar que não as
cumprirei, mas quero que saiba que sempre vou amar
você.
Lembro-me do medo que senti um dia pela
possibilidade de te perder, quando seu avô paterno
morreu e você entrou em depressão. Eu sofria vendo a
garota ensolarada que você é se apagar. Quando eu fui
embora, vi você me assistindo partir, achei que Jared
nunca me perdoaria, não por estar indo embora, mas
porque eu estava levando uma parte sua. Quando seus
pais se foram, temi perder você para sempre e eu não
podia aceitar isso, não sem lutar.
Desculpe por não estar com você… Porque,
Char, você esteve sempre comigo, e quero dizer sempre.
Você me viu no primeiro dia de volta para casa em
meio à multidão da escola, você me perdoou sem
pensar duas vezes, dividiu seu irmão comigo, esteve
presente em todos os meus testes de gravidez, em cada
parto você segurou minha mão com Jared, foi minha
dama de honra e só não foi minha madrinha porque
seu irmão roubou isso de mim (mas eu já o perdoei). É
a madrinha dos meus filhos, é mais minha irmã que
Kalebe será um dia.
Kalebe. Char, não confie nele, nunca! Não sei
como ele saiu assim, mas ele não é uma pessoa boa, e
temo que nunca tenha sido.
Eu deixei a guarda dos meus filhos com você,
porque não há pessoa melhor no mundo para ser mãe
deles por mim.
Eu te amo, amo muito, nunca se esqueça disso.
Com amor, Ana.

Ana… Como descrever Ana Evans? Ela era doce, forte, corajosa,
amável… E estará sempre em meu coração, e no fundo sei que, mesmo não
estando aqui, ela vai enfrentar tudo comigo e que, de alguma forma, ela estará
presente nessas ocasiões.
Permito-me chorar como há muito tempo não faço… Eu segurei essas
lágrimas por tanto tempo que agora sou como uma represa que rompeu.
Li em algum lugar que a dor deve ser sentida, e como essa pessoa está
certa. No fundo, chorar limpa a alma e conforta o coração, porque temos que
por pelo menos um pouco dessa dor para fora.
E dói, como dói. É como um ferimento em brasa… É como estar
pegando fogo e ninguém consegue apagar. Consome de dentro para fora todos
os dias.
Eu era uma pessoa solar como Ana disse, alegre e colorida, mas desde
que comecei a sofrer com as peças que o destino escolheu para mim, essa
vivacidade se foi e não sei como trazê-la de volta.
Não sei como trazer Charlotte Evans de volta à vida…

Pego no sono de tanto chorar, meus olhos estão inchados, mas minha
alma está mais leve. Ana sempre teve esse poder sobre mim.
Miranda é meu pilar de sustentação, se eu a perdesse não sei o que seria
de mim, na verdade sou incapaz de perder mais alguém.
Avisto Aria dormindo nos pés da cama, puxo-a para perto de mim e a
abraço apertado. Sinto seu cheiro de bebê.
Observo uma foto de Ana abraçada comigo, e como sinto falta de seu
abraço e seu perfume doce. Jared foi quem tirou essa foto. Meus cabelos
vermelhos se misturam aos seus fios dourados e nossos sorrisos são como sóis
iluminando a rua.
Meu celular começa a tocar e não conheço esse número.
— Alô? — digo ainda sonolenta.
— Charlotte Evans? Mãe de Alice? Sou Anita Line. — Anita… Avó de
Clara, eu a conheço, muito simpática.
— Sim, eu mesma, posso ajudar? — pergunto, sentando-me.
— Sim, bem… Estou ligando para avisar que… Minha neta Clara
faleceu e… Acho que Alice vai querer se despedir — ela diz com voz
embargada.
— Eu… Eu sinto muito. Sei o quanto dói perder quem amamos. Eu
realmente sinto muito. Sua neta é uma menina muito doce e amável —
balbucio no celular.
— Sim, e… Obrigada, Charlotte, minha neta sempre falou de você e
Ana com muito carinho e admiração. Alice para ela era uma irmã. Obrigada
pelo carinho que sua família deu à minha neta. Clara se afogou. Seu corpo foi
encontrado hoje de manhã. Eu gostaria de ver vocês aqui. — Anita diz em um
misto de dor e desculpas.
— Nós estaremos com você em breve. Mais uma vez, sinto muito de
todo o coração. — Despeço-me e deixo o celular cair na cama.
A dor abre meu peito, por um momento me sinto sufocar. O silêncio ao
meu redor só traz mais dor. Ela se foi… Um anjo pequeno e brilhante. Ela se
foi! Minha garganta trava com as lágrimas. E não há nada que eu possa
fazer… Nada que vá tirar essa dor e levá-la embora. Ela partiu sem volta…
Sua perda será sempre um grande espaço vazio, principalmente para
Alice, minha menina. Três perdas em um ano. Seu coração ainda está ferido.
Como o destino poder ser cruel e impiedoso?
Levanto-me da cama e caminho até o quarto de Miranda, abro a porta e
a observo ler documentos, sentada em meio a muitos travesseiros. Seu cabelo
castanho escuro contrastando com as fronhas brancas…
— Eu preciso de você — digo, tentando segurar em vão as lágrimas que
não vão embora.
Miranda ergue a cabeça sorrindo, mas, quando vê minhas lágrimas, ela
abre os braços, me convidando sem perguntas.
Corro para ela e me jogo em seus braços acolhedores, Miranda me
aperta e beija meus cabelos tentando me acalmar. Miranda tem sido feliz por
nós duas e eu agradeço muito por isso, não sei se eu teria chegado até aqui
sem ela.
— O que houve? Você está bem? Char, fale comigo! Estou ficando
preocupada — ela diz, segurando meu rosto em suas mãos.
— Clara… Ela se foi, Mi! Como vou contar a Alice? Nós sabemos
como é perder uma melhor amiga. Eu… Não quero que ela fique como eu.
Ela é muito jovem. Eu não sei… Não sei o que fazer! — digo em meio a
soluços.
Miranda me puxa para seus braços novamente e me garante que vai
ficar tudo bem. Estamos todos juntos e isso é tudo que precisamos. Miranda
chora também.
Clara era uma menina doce e me sinto envergonhada de ter me
esquecido dela. Achava estranho Alice dizer que não tinha amigas, porque
Clara sempre esteve ali com ela, mas não fui atrás disso mais cedo, agora ela
se foi e elas perderam tanto tempo…

Tomo coragem e ando até a porta de Alice, abro com delicadeza e a


encontro lendo O Pequeno Príncipe. Ela está realmente envolvida na história,
porque não nota que me sento ao seu lado. Passo as mãos por seus cabelos, da
cor dos meus.
— Oi, mamãe — ela diz sorrindo para mim.
— Oi, meu amor.
— Mãe, não estou conseguindo falar com Clara, você pode me levar até
a casa dela? Estou preocupada — Alice diz com cenho franzido.
— Precisamos conversar — digo, puxando Alice para meu colo, beijo
seu cabelo vermelho. — Alice, aconteceu algo e… Clara se foi meu amor.
Sinto muito — digo com o coração apertado.
Alice me olha sem entender por um longo momento, mas, assim que ela
compreende o que eu disse, ela abraça meu pescoço, sinto suas lágrimas
molharem minha camiseta. Choro com ela.
— Como isso aconteceu? — Alice me pergunta em meio a soluços.
— Ela se afogou…
— Acha que papai e mamãe irão cuidar dela? — Alice pergunta com
olhos esperançosos. E sim, eu tenho certeza disso.
— Não duvide disso — afirmo.
Alice me abraça por um longo momento e a deixo chorar, garanto que
serei sua melhor amiga se ela quiser, que estarei aqui quando ela precisar, que,
embora a perda de Clara seja algo insubstituível ela, terá outras amigas,
conhecerá outras pessoas.
Miranda foi contar a Alec, que não demora muito a aparecer, abre a
porta e se joga em cima de nós duas. Meu menino está chorando também, ele
abraça a irmã e diz que sempre estará aqui… Eu já ouvi essa mesma
promessa…
Abraço os dois e Miranda abraça nós três. Enquanto estamos grudados e
lamentando a perde de Clara, Aria dorme tranquila.

Aqui estamos nós, no velório de Clara. Está cheio, o que é triste porque
garanto que essas pessoas vieram pelo pai dela, e não por ela, isso aconteceu
comigo também. Pessoas que só vêm para marcar presença.
Alice aperta minha mão com mais força. Minha menina corajosa. Com
uma mão, ela segura a minha apertada, com a outra, a sapatilha azul com que
fez a apresentação junto a Clara. “Clara tem que ficar com elas, mamãe”, é o
que Alice quer, que a melhor amiga fique com sua sapatilha favorita, então
assim será.
Caminhamos em direção ao belo caixão no centro da sala. Miranda vem
com Alec logo atrás. Aria ficou com os pais de Miranda, achei que estar aqui
não faria bem a ela; Alice entendeu.
Paramos diante do caixão, Alice o observa com cuidado e saudade. O
caixão está lacrado devido ao tempo que o corpo ficou no mar. Com o canto
do olho observo Anita caminhar até nós.
— Olá, querida — ela diz me abraçando.
— Anita. — Retribuo o abraço. — Sinto muito. Eu… eu não tenho
palavras para expressar o quanto sinto. Sua neta era maravilhosa.
— Sim, Charlotte, Clara era sim. E você… mais uma vez obrigado por
todo amor que sua família deu a ela. — Anita olha para Alice, que se derrama
em lágrimas. Ela então se abaixa e a abraça forte. — Minha filha quer falar
com você — ela diz para mim, sem largar Alice.
Deixo Alice ali e caminho à procura de Denise. Sinto os olhos de
Miranda nas minhas costas, mas continuo andando.
Sei como dói perder quem amamos, eu já perdi muitas pessoas.
Encontro Denise perto da janela enorme com vitrais coloridos, ela tem
um copo de água nas mãos e parece alheia a tudo que acontece ao seu redor.
Ela não está arrumada como de costume, está bem básica na verdade. Ela
desfere à janela um olhar saudoso e amargo.
Conforme me aproximo, ela parece notar minha presença, pois se
levanta e me abraça forte por um longo momento, não sei como lidar com
isso, então só a abraço de volta.
— Obrigada, Charlotte — ela diz, segurando meu rosto, lágrimas
escorrem pelo seu. — Clara tinha muito carinho por Alice, e muita admiração
tanto por Ana quanto por você. Obrigada pelo amor que deram à minha filha,
e me perdoe pela minha idiotice de tentar separá-las.
— Não me agradeça, amor é de graça, e… sua filha é maravilhosa. Uma
menina incrível. Sinto muito pela sua perda. De verdade — digo de coração a
ela.
— A última coisa que minha filha disse foi “eu queria que você fosse
como a mãe de Alice…” Essas palavras estarão sempre em minha mente. E
por ela eu serei uma pessoa melhor. Eu não era assim, mas meu casamento me
transformou no que você conheceu. Só vou me perdoar no dia em que eu for
como Clara queria. Por isso, obrigada, você foi o exemplo que ela não teve de
mim. — Denise beijou meu rosto e saiu andando para o lado de fora.
Suas palavras ferem minha alma, eu fui o exemplo daquela menininha,
mas não consigo ser quem eu fui um dia.
Enxugo as lágrimas e volto para Alice, Miranda e Alec.

Estamos em casa… Alice quis passar a madrugada lá então ficamos


todos com ela. O enterro de Clara foi às sete da manhã, ainda posso ouvir os
gritos de Denise quando o caixão da filha foi baixado a terra. A avó de Clara
colocou as sapatilhas junto com o caixão.
Alice, Alec e Aria estão dormindo agora.
Landon e Marc fazem o almoço, tomo um banho rápido e desço para
comer com eles, mesmo estando sem fome.
— Como você está? — Landon está muito preocupado comigo, acho
que reagi muito pior que Alice.
— Bem, eu vou ficar bem. Não se preocupe — digo apertando sua mão.
Passamos o almoço ouvindo Marc contar como foi sua primeira
consulta e da criança que vomitou nele. Miranda queria enforcá-lo pela parte
do vômito.
Eles não me deixam ajudar com a louça, então abraço todos e subo para
meu quarto. Landon agora deve realmente achar que estou doente.
Marc, não contente com minha afirmação de que estou bem, vem até
mim quando estou subindo as escadas.
— Tem certeza de que você está bem? — ele pergunta mais uma vez.
— Sim, Marc, eu tenho. — Aperto a mão dele para passar mais
confiança, já que nem eu consigo acreditar em minhas palavras.
— Se precisar de mim, estou aqui. Você sabe que não vai se livrar de
mim tão fácil, não é mesmo? — ele diz piscando para mim.
— Pelo que notei… nem eu, nem Miranda. Mas de verdade, eu vou
ficar bem, só preciso de tempo.
— Certo, qualquer coisa é só gritar.
Sorrio para Marc e continuo meu caminho para meu quarto. Estamos
nos tornando grandes amigos, no fundo eu sempre gostei dele, mas por conta
de minhas rixas com Landon, preferi me manter longe, mas agora…
Deito-me na cama e me enrolo em meu lençol pensando nas perdas que
tive ao longo do tempo. Eu perdi tantas pessoas… Algumas que nem cheguei
a ver o rosto.
Escuto minha porta se abrir e encontro Alice parada me observando.
Levanto o lençol e ela sobe na cama comigo, eu a abraço forte e assim
pegamos no sono.
Na volta para casa, depois de um passeio a casa dos pais de Miranda,
somos recebidos pela polícia na porta. Alguém tentou roubar a casa. O
estranho é que, embora tudo tenha sido revirado, nada foi levado. Fazemos o
boletim de ocorrência, mas eu sei quem invadiu a casa… Kalebe.
A essa altura, ele já deve saber que Miranda deu entrada no meu
processo de casamento com Landon e que, assim, não corro mais riscos de
perder a guarda das crianças. Sua empresa faliu. Ele deve estar ficando louco.
O único prejuízo foi uma janela quebrada que já foi substituída.
A partir deste momento, todo cuidado será pouco. Kalebe está perdendo
o juízo de vez.
Se ele souber o que tem naqueles documentos… Garanto que era atrás
deles que ele estava. Mônica está em choque, mas Eric está calmo, algo me
diz que ele suspeita da verdade.
Meu casamento é daqui vinte dias, tenho decoração e todo o resto para
cuidar, isso é claro, se Miranda não fosse minha madrinha.
Tenho que ser forte. E acima de tudo muito cuidadosa.
Capítulo 14

Alice pediu para não ir à escola na terça, e compreendi que seria difícil,
então permiti que ela ficasse em casa, na quarta-feira ela faltou aula também.
Na quinta eu a levei à escola, e voltei duas horas depois para buscá-la porque
ela teve uma crise de choro depois do recreio.
Quando achei que as coisas estivessem caminhando para ela, sua
melhor amiga se foi, Alice ficou sem ninguém, espero que seja por pouco
tempo.
A volta para o escritório é marcada por muito estresse, Miranda se
desentende com a advogada recém-contratada, recebo um telefonema
desagradável de Marine e ainda tenho que receber Breno, mas depois dessa
nunca mais terei que ver sua cara de pau. Deixo bem claro que depois de suas
doces e apaixonadas palavras naquela manhã e depois de ele sair com Marine,
não haverá mais nada entre nós, de preferência nem um cumprimento sequer.
Pensei que meu sábado seria mais tranquilo, mas o dia de hoje me
reserva surpresas… Landon e Marc estarão na clínica até as seis, então não
virão para o almoço, mas os pais de Miranda já estão aqui desde cedo. Alice
está mais conformada, eu é que não estou.
Observo Mônica com Aria, conversando no sofá. Aria gagueja bastante
e às vezes temos que tentar compreender o que ela quer dizer, mas tenho fé
que em breve ela falará normalmente. Mônica parece cansada…
Eric sorri para mim de onde está com Alec, montando o novo quebra-
cabeça de Aria, sorrio de volta e faço meu caminho para a cozinha. A senhora
que contratei precisou sair do trabalho e estou sem empregada, Miranda está
cozinhando hoje.
— Precisa de ajuda? — pergunto abraçando sua cintura.
— Ainda não… — ela diz sorrindo para mim.
Suspiro e sento-me à mesa, olhando Miranda cantarolar enquanto mexe
seu molho para lasanha.
Meu celular toca e me surpreendo em ver que é Denise, mãe de Clara.
Nunca fomos próximas, mas a perda de sua filha trouxe a velha Denise de
volta.
— Alô? — atendo, estranhando sua ligação.
— Charlotte? É Denise, você pode conversar? — ela pergunta
cautelosa.
— Claro, estou livre. Posso ajudar em alguma coisa?
Miranda me olha com a sobrancelha levantada, indagando quem é na
linha, mas faço sinal para ela esperar, o que a contragosto ela faz.
— Que bom, bem, eu… Charlotte preciso de um advogado, e ouvi
muito bem da sua empresa, você pode ser minha advogada? — Denise
pergunta tudo de uma vez, e por um estante penso ter escutado errado.
— Sim, eu posso, mas para que você precisa de um advogado? —
pergunto sem saber o que dizer exatamente sobre este telefonema.
— Quero o divórcio, mas meu marido não quer fazer isso de boa
vontade, então terei que ser mais firme. Eu não era a pessoa que você
conheceu, na verdade era uma pessoa muito diferente, mas meu casamento
me mudou. Eu me deixei levar pelo dinheiro, intriga e aparência, mas quero
voltar a ser quem eu era, pela minha filha. Pode me ajudar?
— Sim, Denise, eu posso. Venha ao meu escritório na segunda-feira,
deixarei avisado que estarei à sua espera. E… Quero que saiba que estou aqui
caso você precise de alguma coisa. — E realmente quero dizer isso, sei como
é difícil esse momento.
— Obrigada — Denise diz com voz embargada. — Obrigada mesmo,
mas nesse momento minha mãe está me ajudando.
Fico feliz em saber que mãe e filha voltaram a se entender, trocamos
mais algumas palavras e encerramos a ligação, conto a Miranda o que Denise
queria e, claro, minha amiga diz que, caso ela precise, estará disponível
também.
Alice aparece na porta ainda de pijama, puxo-a para meu colo, e assim
ambas assistimos Miranda dançar e cantar na cozinha. Alice sorri com as
maluquices de minha amiga e então ela me conta que Dália, uma menina de
sua escola e também do balé, se mostrou querer sua amiga, o que nós três
comemoramos. Alice murcha um pouco com isso, mas falo a ela que Clara
ficaria feliz que ela tivesse uma amiga nova, e que Dália não estaria ocupando
o lugar de Clara e sim ganhando seu próprio lugar na vida dela.
O almoço sai mais tarde que o pretendido, e comemos na maior
bagunça de vozes e talheres batendo, mas as crianças estão felizes e eu muito
mais em paz com todo esse barulho. O silêncio tem acordado em mim um
desespero que há muito tempo havia ido embora.
Aria está toda suja de molho, mas não digo nada, ela está se divertindo.
Alec ri da irmã e se suja como ela. É o tipo de coisa que Jared faria…
Amanhã é o primeiro jogo de Alec no handebol. Pensei que ele fosse
estar mais nervoso, mas pelo contrário, está calmo e confiante, falando sobre
as táticas e jogadas do time.
Landon me liga às três da tarde, estranho sua ligação, ainda mais que
ele ainda está no trabalho.
— Você não deveria estar trabalhando? — digo para chateá-lo.
— Boa tarde para você também — ele diz mal-humorado. — Você
deveria ter me contado sobre o telefonema de Marine e da visita de Breno. Eu
ainda tenho um belo olho roxo.
— É mesmo? E por que eu deveria ter dito? Lidei muito bem com as
duas cobras em questão… Mas como você sabe sobre isso? Ah, deixe-me
adivinhar… Sua ex foi até seu consultório contar? Ou ela telefonou? —
pergunto sarcástica.
— Ela telefonou na verdade, mas… Deixe isso pra lá, estou
incomodado com algo e falei o que não devia. Vamos começar de novo… Boa
tarde, Charlotte. Tudo certo para o jogo de Alec amanhã? — Landon diz
soando mais tranquilo.
— Boa tarde, e, sim, está tudo nos conformes, nenhum gesso a vista por
enquanto e espero que continue assim. Agora me diga o que tirou o doutor
Cass do sério?
— Uma nova clínica infantil será inaugurada na segunda, e não, não
tenho medo de concorrência de nenhum tipo, por falar nisso. Você quer jantar
comigo hoje? Por favor?
— Isso é você implorando? — falo rindo no celular. — Mas… sim, eu
aceito. E por que você se preocuparia com essa clínica nova? O atendimento
de vocês é excelente e se for o caso… Eu te defendo.
— Eu agradeceria muito, mas como vou me casar com uma advogada,
vou ter que declinar do convite. Passo na sua casa às oito, eu cozinho.
Landon não me espera fazer nenhum tipo de comentário e desliga.
Reviro os olhos, doutor Certinho está chateado… Interessante, devo dizer, ele
está sempre tão bem-humorado, mas todos temos nossos dias ruins.
Jogo vídeo game com Alec e perco todos às vezes de propósito, Alice
percebe isso, mas pisco para ela antes que possa comentar a respeito.
Pergunto a Miranda se ela pode ficar com as crianças para que eu vá
jantar com Landon, o que ela diz prontamente que não será problema. Minha
amiga tem um sério problema com tempo para se arrumar e me sinto como
uma boneca quando ela insiste em me ajudar para ficar pronta.
Lavo os cabelos e deixo-os secar naturalmente, assim fica um penteado
desarrumado, coloco um vestido rodado verde escuro e sandálias baixas. Um
batom cereja e rímel para realçar a cor dos olhos e estou pronta
Desço as escadas e recebo muitos assovios e elogios, Marc já chegou,
nem notei a campainha tocar. Alec bate palmas para mim, Alice diz que
pareço uma boneca e Aria abraça minhas pernas.
— Alguém chegou quinze minutos adiantados — comenta Marc
quando a campainha toca.
Aceno com a cabeça, me despeço de todos e caminho até a porta onde
encontro um Landon com o primeiro botão da camisa aberto, mangas
arregaçadas e cabelo despenteado.
— Você está… linda.
— Obrigada — digo sorrindo.
Landon cumprimenta todos rapidamente e então caminhamos até sua
casa, devo dizer que foi mais criativo do que ele me levar de carro, até porque
ele mora logo ali.
Caminhamos em silêncio até sua casa, onde ele abre a porta e me deixa
entrar primeiro, não havia parado para reparar em sua casa antes, é uma bela
mobília. Ele tem bom gosto, não posso negar.
Landon me deixa na sala e caminha para a cozinha, de onde escuto
barulhos de panelas batendo, vou até lá ver o que ele pretende fazer. Risoto de
camarão. Muito boa escolha, ele me nota e pergunta se quero vinho, digo que
não, mas aceito um suco, o que ele me entrega rapidamente.
Em quarenta minutos estamos nos sentando à mesa, que eu briguei para
arrumar, o cheiro está delicioso.
Landon me serve e experimento, noto que meu futuro esposo tem
muitos talentos, embora tenha o dedo podre para mulheres.
Conversamos sobre o trabalho, as crianças, a casa… Discutimos os
horários para a escolha das flores, bolo e a decoração geral do casamento.
Digo a ele que não precisa ir, mas ele faz questão, diz que quer participar de
tudo.
— Admita, eu lhe surpreendi com meus dotes culinários — ele diz,
tirando sarro de mim quando estamos limpando a cozinha.
— Está bem! Eu admito que você me surpreendeu, mas só porque estou
em um dia particularmente bom — digo, esclarecendo minha admissão.
— Particularmente bom para me dar um beijo também? — ele pergunta
cercando-me com seus braços.
— Você é um tarado incontrolável! — digo sorrindo. — Mas… você
está com sorte.
Deixo que ele me beije, Landon é calmo no começo, mas então
aprofunda nosso beijo, suas mãos se tornam firmes em minha cintura, mas
não me afasto como das outras vezes. Desta vez não estou com pressa, e nem
fugindo dele.

Entro em casa as três da madrugada e me assusto com Miranda deitada


no sofá. Ela acorda assim que escuta meus passos pela sala.
— Me diga que algo aconteceu! Por favor! Minta se for preciso… —
ela suplica, sentando-se.
Jogo-me ao seu lado no sofá e depois de alguns minutos em silêncio
para provocá-la…
— Não preciso mentir… Desta vez eu não fugi, não me afastei, mas
devo dizer que acho que fiz besteira… Mi, não sei se estou pronta para isso…
E se não der certo? Eu…
— Pare de palhaçada! E isso é ótimo! Como foi? Diga-me que foi bom,
ou mato ele amanhã. Se bem que a esposa dele o deixou por um amante, isso
deixa uma grande margem para um não, e nesse caso terei que pedir a Marc
que dê uns conselhos a ele — ela diz pensativa.
— Foi bom… Foi ótimo, e não acho que esse tenha sido o problema do
casamento anterior dele…
Miranda sorri e me abraça forte. Faz muito tempo que não me envolvo
assim com alguém, mas devo concordar Landon é um homem incrível e cheio
de dotes…
Conversamos por um longo tempo e depois vamos dormir, Miranda
acaba dormindo em meu quarto e acabamos virando a noite. Amigas são para
isso.

Domingo…

O grande dia de Alec chegou! O jogo é hoje e estou nervosa por ele.
Miranda está aqui gritando desde que chegou e o jogo nem começou. Landon
não tira os olhos de mim e está muito próximo, isso me deixa desconfortável,
vamos casar, mas não quero que ele pense o que não está acontecendo.
Teremos que conversar mais tarde. Marc conversa animado com Eric e
Mônica está contando algo a Alice e Aria.
Landon me disse hoje pela manhã que seus pais estão chegando na terça
para me conhecer e conhecer as crianças, então marcamos um almoço,
Miranda ri de mim.
Meu futuro marido reclama de eu ter vindo embora na madrugada
enquanto ele dormia, prefiro mudar de assunto e acho que ele notou que algo
não está indo como ele pensou que iria.
Os times entram em quadra e Alec acena para nós. Avisto Breno do
outro lado, mas ignoro seu aceno para mim. Landon fica irritado ao meu lado.
Miranda grita mais alto e as meninas a acompanham. Entro no espírito do
jogo e grito com elas, o que ainda as surpreende, não é meu estilo.
Ser mãe mudou muitas coisas em mim… Talvez eu já tivesse mudado
nesse departamento e nem notei… Mas isso foi há muito tempo.
— Boa sorte, amor! — grito para Alec.
O jogo começa, o melhor amigo de Alec marca o primeiro gol, o outro
time pontua também, o jogo é acirrado. Alec faz dois gols no primeiro tempo.
Mandamos beijos para eles e gritamos seus nomes. Ainda faltam quinze
minutos para o primeiro tempo acabar. Estou aflita com o caminho que o jogo
está tomando.
Marc e Landon discutem que o outro time tem jogadores mais altos e
que por isso nosso ataque está tendo problemas para fazer os gols.
— E isso é um problema? — pergunto, irritada com esse treinador.
— O ataque deles tem jogadores altos, então ou eles vão todos em cima
do mesmo jogador, ou ele passa entre eles… Será um grande problema — diz
Marc pensativo.
— Eles terão que ser mais rápidos no ataque deles, mas o pivô parece
meio perdido… — Landon comenta sem olhar para mim.
Fico ainda mais apreensiva, esse treinador idiota não está vendo isso?
Mas que droga de treinador é esse?
— Mamãe? Alec vai perder? — pergunta Alice soando chateada.
— Ale-lec!! — Aria grita ao nosso lado e bate palmas para o irmão.
— Eu não sei… — É tudo que consigo dizer.
— Não se preocupe, se ele perder nós estaremos aqui para confortá-lo
— diz Mônica para Alice.
O primeiro tempo acaba e nosso time está perdendo, Alec parece
chateado enquanto conversa com Xande, seu melhor amigo. Landon aperta
minha mão, e Eric diz que ainda tem tempo para mudar o placar.

Vou até o banheiro levar Aria e na volta esbarro em Breno, que vontade
de esganar esse homem! Ou melhor… Esse moleque!
Voltamos para nossos lugares e esperamos o segundo tempo começar.
Alec está agitado e isso me deixa ainda mais nervosa. Miranda continua a
gritar incentivos de seu lugar.
O segundo tempo começa e Alec faz mais um gol, minutos depois ele
recebe uma falta dura, e quase salto de minha pele por isso. Landon, Marc e
Eric, pedem que eu e Miranda fiquemos calmas, mas o outro time marca
novamente. Xande toma as dores de Alec e bate boca com o jogador do outro
time. Ele leva cartão amarelo e o treinador o manda para o banco.
Alec leva mais uma falta dura e estou prestes a entrar na quadra, mas
tento me controlar. Juiz idiota! Treinador banana não diz nada!
Depois de toda a pancadaria e estresse, tanto dos pais quantos dos
jogadores em quadra, o jogo termina e o time adversário acaba vencendo. Os
meninos saem chateados de quadra.
É um dos últimos jogos do ano, então entendo a frustração e chateação
pela derrota, mas tem o jogo de volta, então é treinar e torcer…
Vou até a porta do vestiário esperar por Alec.
— Desculpe mãe, eu não ganhei o jogo — Alec diz assim que me vê na
porta do vestiário.
— Você foi incrível! — digo me abaixando e segurando seu rosto. —
Nem sempre ganhamos, mas o que aprendemos com isso conta muito, e você
fez três gols! O que mostra que jogou muito bem. Você e seu amigo. Agora
sorria e vamos que sua família espera para comemorarmos.
Todos ao nosso redor devem achar que somos uma família louca,
porque mesmo com a derrota todos comemoramos, com tudo que aconteceu
ultimamente o primeiro jogo de Alec deve ser comemorado, e muito.
Alice sorri feliz pelo irmão e garante que ele foi o melhor jogador que
estava na quadra. Isso me lembra sua mãe, seria o tipo de coisa que Ana diria.

O melhor amigo de Alec vem conosco para casa, e vai dormir aqui hoje.
Faço o jantar junto com Miranda, que está tão chateada quanto eu.
— Odeio esse treinador! — ela diz furiosa.
— Nem me fale! Aquele homem é um banana! — digo indignada.
— Vocês ainda estão discutindo sobre isso? — Marc diz parado no
batente da porta.
— Sim! — dizemos as duas juntas.
— Vocês separadas, eu já acho terrível. Juntas então! — ele diz sério.
— E isso porque você não viu nada ainda! — digo sorrindo para ele.
Fazemos muita bagunça, as crianças cansam rápido, ou fingem que
cansam. Se bem que depois de comer tanto no jantar e depois ainda se
empanturrar de sobremesa imagino que a fadiga tenha sido difícil de mandar
embora.
Landon leva Alice para cama e eu levo Aria, ambas dormiram no sofá.
Alec e seu amigo já haviam ido dormir… Assim disseram eles.
Estou fugindo de Landon, não vou negar, e, assim como ele notou,
Miranda notou também, mas não posso fugir para sempre.
— Podemos conversar? — Landon pergunta atrás de mim quando estou
fechando a porta de Aria.
— Sim. — Indico meu quarto.
Assim que fecho a porta e Landon senta-se na cama, observo tudo
menos o homem a minha frente, imóvel me olhando.
— Acho que interpretei errado a noite de ontem — ele diz me
encarando.
— Não vou dizer que foi um erro, porque não penso assim, mas sim,
acho que você entendeu errado, eu fraquejei e… desculpe.
— Não peça desculpas, Charlotte, só me faz me sentir mais inútil e
idiota. Eu… Bem, deixe pra lá — ele diz colocando-se de pé.
— Você não é nada disso — falo segurando sua mão. — Pelo contrário.
E foi ótimo, de verdade, eu só… Não estou pronta para esse passo, entende?
Tem coisas que eu ainda não superei e que ainda não consigo dividir com
você. Podemos ir com calma? Mesmo tendo dado este passo?
— É claro que sim — Landon diz segurando meu rosto em suas mãos.
— Eu posso esperar, só não me jogue para a zona de gelo novamente, me
deixe estar mais perto de você.
— Eu prometo tentar ser mais boazinha.
Landon sorri e beija minha testa com carinho, ficamos um bom tempo
sentados juntos em minha cama, mais tarde ele vai para casa.
Estamos começando a entrar em sintonia, a ser um casal, e isso me
assusta muito. Eu já passei por isso e não foi nada bom como acabou, e,
embora eu saiba que Landon é diferente, minha cabeça grita que eu estou indo
pelo caminho errado.
Capítulo 15

Despeço-me de Landon e vou para o escritório, e para virar minha vida


ainda mais de cabeça para baixo… Miranda está aos berros com a advogada
nova. Respiro fundo e entro na discussão.
Eu tento, mas ambas parecem não me verem.
— O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? — grito no meio da briga
acalorada chamando a atenção de ambas para mim.
— Eu descobri que ela escondeu sete, SETE reclamações sobre ela! —
diz Miranda furiosa.
— Isso… Essas pessoas são loucas! Eu fiz o que tinha que fazer para
ganhar os processos e elas ainda reclamam de mim? — Débora diz lamuriosa.
Tento manter a calma, essa não é a primeira vez que isso acontece! Mas
que diabos está acontecendo? Isso nunca havia acontecido neste escritório
antes!
— Olivia, onde estão as reclamações? — pergunto sem desviar os olhos
de Débora.
— Aqui, Charlotte — Olivia diz, entregando-me os papéis que geraram
toda essa discussão.
Havia mais de sete reclamações e algumas bem ruins, como as em que
ela tentou subornar alguém, ou comprar testemunhas, pagar para que a versão
fosse mudada, entre outras muito graves que poderiam trazer grandes perdas
de clientes para nosso escritório. Meu avô, pai e irmão nunca deixaram isso
acontecer e eu estou levando o nome da família para a lama.
Esfrego a testa com força, respiro fundo e olho diretamente nos olhos
de Débora.
— Você está demitida, e antes que tente me ameaçar, com essas
reclamações a sua carteira da OAB pode até ser caçada e você sabe bem
disso. O senhor Andrade irá acompanhá-la até sua sala, para que assim você
não tente levar nenhum documento. E nunca peça para que dê referências
sobre você, vou esquecer que um dia te contratei, passe no RH e saia daqui —
digo enfática. Débora abre e fecha a boca, mas acaba não dizendo nada e sai
vermelha de raiva para sua sala, com o segurança atrás dela.
— Como foi a escolha do local para a cerimônia? — Miranda pergunta
mais calma.
— Foi bem. Miranda, você pode ajudar Frederico naquela revisão? Vou
pedir desculpas pessoalmente a esses clientes — digo balançando as folhas
em minha mão.
Miranda assente, mas diz que ficará esperando Débora sair. Fazemos
um rápido remanejamento só para o dia de hoje. Rebeca, que era a secretária
de Débora, ficará no lugar de Olivia hoje como minha secretária, que virá me
ajudar com os telefonemas.
Despeço-me de Miranda e caminho para minha sala, Olivia instrui
Rebeca e em seguida entra atrás de mim.
Sorrio para ela que logo se senta à minha frente e começa a listar todos
que precisamos ligar.
Observo a mesa e as coisas de Miranda… Vou sentir falta dela aqui.
— Meu irmão está se divorciando, e acredita que a cretina não quis
ficar com a filha? Ainda bem que Elisa sempre foi mais apegada ao pai e à
nossa família. Agora eles estão de mudança para cá, o que é ótimo, vou ficar
mais tempo com minha sobrinha. Ela tem a idade de Alice, quem sabe ficam
amigas? — Olivia diz sem tirar os olhos da folha em que está escrevendo.
— Sam está vindo morar aqui? — pergunto, muito interessada.
— Sim — Olivia diz, olhando-me.
— E ele já tem emprego?
— Ainda não.
Sorrio para ela, porque ele não tinha emprego. Sam é um ótimo
advogado e sei que com ele não precisarei me preocupar. Com todo azar que
tenho tido, tê-lo aqui será um prêmio, claro que lamento ser pelas razões que
está sendo, mas…
— Me dê o número dele Olivia, porque, se seu irmão quiser, emprego
será o último dos problemas dele. E se ele já arrumou alguma coisa… Vou
esganar você por não me dar essa informação antes.
Olivia só faz sorrir. Disco o número de Sam, que atende no terceiro
toque.
— Alô?
— Oi, Sam, aqui é a Charlotte, lembra de mim? Irmã do Jared.
— Olá Charlotte! Como vai? Aconteceu alguma coisa com Olivia? —
Ele passa de alegre para preocupado rapidamente.
— Não. Olivia está ótima. E eu também. Bem, estou ligando porque
tenho uma sala vazia que precisa ser ocupada, e Jared sempre disse que você é
ótimo advogado, e Olivia me contou sobre o que aconteceu… Sinto muito
pelo seu divórcio. Você estaria interessado em trabalhar comigo? — Tento
fazer uma proposta interessante.
— Bem… — A linha fica muda por quase um minuto. — Eu e Elisa
ainda estamos nos habituando à nova realidade e seria ótimo trabalhar com
você. Seria ótimo ajudar com o escritório que foi de Jared. É claro que aceito.
— Ótimo! Espero você, assim que chegar pode vir direto para cá. E
obrigado! Preciso de um advogado de confiança.
— Eu que agradeço.
Conversamos mais um pouco e depois desligo. Como ele e a filha já
estão com tudo encaixotado e com a casa aqui já comprada, adiantam a
viagem para quinta-feira, ao invés de na próxima segunda. O que para mim é
ótimo, preciso de um advogado o quanto antes. Ainda mais depois do que
vem por aí.
Volto minha atenção para Olivia, que fala algo que não prestei atenção.
Depois de alguns minutos discutindo por quem iríamos começar, resolvemos
que seria pela senhora Lauren.
Olho para o relógio que parece rir de mim. São quase seis e meia e
acabei de terminar meu último telefonema, acredito que não iremos perder
nenhum cliente antigo. Ainda bem.
Organizo com Olivia algumas pastas que estão sobre a mesa e me
despeço dela e de Rebeca, tenho que ir voando para casa, tomar um banho e ir
para a prova do vestido.
Quando penso nisso Ethan Kane surge em minha mente. Tento colocar
essa lembrança de volta para seu baú e caminho para o elevador.
Estou dirigindo quando recebo uma mensagem de Miranda.

“Já estou aqui na loja com as crianças.”


Respiro fundo tentando acalmar o desespero que parece querer criar
vida própria e sair de dentro de mim. Mas que droga! Ethan tinha que
aparecer logo agora?
Estaciono na frente de casa e encontro Landon sentado na calçada com
Marc, os dois parecem ter estado correndo, suspiro deprimida porque em
breve eles não estarão mais sorrindo como estão agora.
— Olha quem encontro na minha porta — digo descendo do carro.
— Eu preciso de uma chave — disse Landon dando de ombros.
— Eu estou atrás da Miranda, ela não me atende — Marc diz sorrindo.
— Você. — Aponto para Landon. — Farei uma cópia amanhã, e você.
— Aponto para Marc. — Miranda está com as crianças na loja em que vou
fazer a prova do vestido. Querem entrar? E Landon… Posso deixar as
crianças com você por algumas horas depois? Preciso de Miranda só pra mim
— digo tentando não soar cansada.
— Se você vai sair então nós já vamos, e sim, você pode deixar as
crianças lá em casa — diz Landon me dando um beijo na testa.
— Só não vá roubar ela de mim! — diz Marc seguindo Landon.
Dou de ombros, o que os faz rir e voltar a correr. Entro em casa, subo as
escadas correndo, tomo um banho rápido e pego a estrada novamente.
Em quarenta minutos chego ao meu destino, atrasada, mas a essa altura
da minha vida doida já me acostumei a isso.
Peço desculpas pelo atraso, mas a costureira diz que não tem problema.
Alice já escolheu seu vestido, lilás com uma fita azul claro, que faz um
belo laço atrás. Alec também escolheu e fugiu do tradicional preto, seu terno é
cinza e a gravata azul da cor do laço de Alice. Aria é a única indecisa. Ela está
olhando um branco com laço azul ou igual ao da irmã.
Deixo os três ali tentando chegar ao consenso e vou para perto de
Miranda escolher o vestido dela, que optou por um azul escuro longo, de um
ombro só.
E então partimos para o meu vestido. O tão temido momento da escolha
do vestido…
Observo todos os que estão disponíveis, mas não encontro nada que
chame a atenção. A essa altura, Aria já se decidiu pelo branco com laço azul e
agora tem quatro pessoas me observando.
— Que tal se vocês me ajudarem a escolher? Encontrem aquele que
gostarem e me mostrem, pode ser? — Todos os quatro assentem e saem
decididos a procura de um vestido para mim.
Caminho até a parte de trás para ver se encontro algo. Aqui é tudo
branco, com manequins vestidas em vestido de noivas, e têm vestidos para
todos os lados.
Uma ponta de fita vinho chama minha atenção, então caminho para lá e
puxo um belo vestido branco, com uma fita vinho na cintura, ele é meia
manga, longo, com bordados de flores, é rodado em baixo e em cima é como
um corpete.
— Acho que encontrei o vestido perfeito! — aviso para eles.
— É lindo, Char! — Miranda diz sendo a primeira a vir ver.
— Eu gostei muito! — diz Alec.
— Vai parecer uma princesa! — diz Alice.
E minha doce Aria? Ela sorri e faz sinal de positivo, depois bate
palmas, empolgada.
Vou com Miranda provar o vestido, passamos um pouco de trabalho e
rimos muito por isso, mas depois de dois tombos, consigo entrar no vestido,
peço para Miranda esperar lá fora com as crianças.
Observo-me no espelho à minha frente. Ficou realmente bonito. É um
belo vestido, tão parecido com outro… Fecho os olhos com força, conto até
dez e saio do provador.
Ninguém diz nada então levanto a cabeça para ver se não estou sozinha,
mas não estou, os olhos das quatro pessoas a minha frente brilham e há
sorrisos idênticos no rosto de cada um.
— Magnífica! — dizem juntos, Aria demora a dizer a palavra toda,
mas ela consegue.
Recebo palmas e mais elogios. O vestido será esse!
Decidimos ir jantar fora hoje… Comemos pizza para alegria das
crianças. Depois Miranda foi na frente porque vai passar nos pais e eu sigo
com as crianças para a casa de Landon.
Alice observa os irmãos entretidos e fala comigo.
— Mamãe… Não está feliz?
— É claro que estou feliz, por que não estaria? — indago a ela.
— É que parece que está tentando… Aceitar algo. — Alice diz
pensativa.
— Há muito tempo aconteceu uma coisa que eu havia esquecido, mas
hoje… Bem, hoje veio para me atormentar novamente. É só isso.
— Tudo bem, mas se quiser mudar de ideia…
— Não se preocupe meu amor, está tudo bem — garanto a Alice.
O restante da viagem é uma bagunça de vozes discutindo sobre detalhes
do casamento em que eles querem ajudar.

Paro em frente à casa de Landon e quando vou apertar a campainha


Marc abre à porta e as crianças entram felizes da vida dizendo o quanto meu
vestido é bonito.
— Isso me deixa mais tranquilo — diz Landon.
— Pois não fique! Eu ainda posso ir de camiseta — rebato suas
palavras debochadas.
— Eu não reclamaria.
— Ou posso sumir com suas roupas de noivo… — digo pensativa e
espero uma resposta, mas tudo que encontro é um Landon branco de pavor.
Pisco para ele e saio para fazer o caminho até minha casa… É um
percurso muito curto, mas pela primeira vez parece enorme.
O carro de Miranda já está em nossa garagem, estaciono o meu e
respiro fundo antes de descer. Meu coração está sangrando por ela e por tudo
que virá pela frente, mas não posso deixar como está, porque senão o preço a
se pagar mais para frente será caro demais para todos os envolvidos.
Entro em casa e, depois de observar nossa sala finalmente cheia de vida
mais uma vez, subo as escadas ao encontro de minha melhor amiga, minha
irmã.
Escuto Miranda cantarolando dentro do quarto, bato fraquinho na porta
e ela sorri a me ver ali.
— Onde estão as crianças? — ela pergunta ainda sorrindo.
— Estão na casa de Landon. Nós precisamos conversar… Agora —
digo tentando controlar meu nervosismo.
— Aconteceu alguma coisa? — ela me pergunta, sentando-se em sua
cama.
Puxo uma cadeira para me sentar em frente a ela e, depois de respirar
fundo, seguro suas mãos e não consigo mais segurar as lágrimas que lutam
para sair de mim.
— Eu sei de tudo. E quero dizer tudo mesmo. Sei sobre sua mãe…
Estou muito triste por isso, e entendo por que você não quis me contar, mas
não pode me proteger para sempre — digo a ela que em troca não diz nada.
— Sei sobre o Marc também.
Isso chama sua atenção.
— Sei que só começou a namorar com ele para se vingar dos homens,
por você, por mim. Mas, Mi… Foi um começo tão rápido e tudo estava me
deixando doida e eu não percebi… Não percebi que você não o amava, que…
Você nunca manteve distância de nenhum namorado como fez com ele… Eu
devia ter notado antes, deveria ter te ajudado. E… Fracassei como amiga. —
As lágrimas trancam minha voz.
— Não vou negar, porque seria burrice. Eu… Char, eu não queria te
ver no fundo do poço novamente por isso não contei sobre minha mãe. E
Marc? — Miranda chora. — Eu fiz o que você disse sim, e me arrependo
muito! Eu o amo, mesmo que tenha começado errado…
— Você esteve com Tobias, não foi?
— Uma vez só e foi só um beijo, eu me arrependo muito — Miranda
diz entre soluços.
— Você o ama. Sei disso, mas… Demorou demais, Miranda. E não
estou te culpando. Nem te julgando, eu jamais faria isso. Mas, por mais que
doa, eu tenho que te mostrar o caminho certo. Tem que dizer a ele. Marc tem
que saber, porque é melhor que ele saiba por você. Tobias é traiçoeiro.
Sempre foi e Marc merece a verdade, merece desculpas. — Puxo-a para meus
braços e a aperto forte.
— Eu…
— E quero que você volte para a casa dos seus pais. — Miranda me
observa de olhos arregalados. — Sua mãe vai precisar de você e quero que
vocês duas possam se despedir. Eu queria ter tido a chance de fazer isso, mas
não tive. Não jogue essa chance fora.
— Está me colocando pra fora de casa?
— Sim, mas é para o seu bem — digo tentando sorrir.
— Vou falar com Marc hoje, mas preciso de você aqui comigo. Eu
preciso de você, Charlotte. Eu sempre precisei.
Miranda me aperta ainda mais e eu garanto a ela que sempre estarei
aqui. Ou enquanto eu puder estar aqui, sempre estarei do lado dela,. Não
aprovo o que ela fez, mas jamais a condenaria ou a julgaria. Eu a amo e
sempre vou amar. E se Landon não aceitar isso, porque se ela me pedisse eu
mentiria e esqueceria tudo isso. Miranda é parte de minha alma, sempre foi.
Ela foi a parte de mim que não morreu com minha família. Ela é minha
pilastra de sustentação e eu a dela e nós duas juntas nossas uma casa onde
Alice, Alec e Aria sempre terão moradia… Assim como ela…
Mirada mandou uma mensagem para Marc não faz muito tempo.
Lavamos o rosto e tentamos respirar uma pela outra como fazíamos na escola.
Seguro sua mão com firmeza e digo que amo, não importando o que vai
acontecer. Miranda me abraça forte e depois desce para sala.
Observo-me mais uma vez no espelho, estou com o rosto inchado, nariz
vermelho, olhos vermelhos… E coração sangrando.
Ouço a porta abrir, então caminho lentamente para perto das escadas,
onde me sento no último degrau e onde sei que não podem me ver, mas
poderia ouvi-los, foi um pedido de Miranda.
Encosto a cabeça na madeira e espero o que quer que venha por aí. E
sem dúvida nenhuma sei que virá muita dor, mas essa é a consequência de
nossas escolhas.
— Aconteceu alguma coisa, Miranda? — pergunta Marc preocupado.
— Sim, precisamos conversar, e… Sei que você vai ficar com raiva,
mas me prometa que vai ouvir tudo. Por favor — Miranda implora.
Eu gostaria de estar naquela sala e poder segurar sua mão, mas ela tem
que fazer isso sozinha e quando acabar estarei aqui e seremos só nós duas.
— Está bem, eu prometo. — Marc agora está desconfiado.
Ouço Miranda respirar fundo e isso parte meu coração ainda mais.
— Eu menti Marc, mas não foi sempre, eu juro que não! Eu… Eu
estava com tanta raiva dos homens, por mim e por Charlotte, e então você
apareceu e eu não enxerguei a tempo que era um erro. Eu… O plano era ficar
com você e depois… Trair você, como fizeram comigo e eu me arrependo
tanto! Eu… Me apaixonei por você e teria levado isso comigo para sempre,
mas… Charlotte descobriu e…
— Você nunca gostou de mim? Quer dizer, Landon comentou algumas
vezes sobre você se manter afastada, mas nunca liguei para isso, mas agora…
Faz todo sentido. — Marc está com voz emotiva. — Charlotte não sabia
disso?
— Ela não sabia, descobriu hoje e veio falar comigo. E não é verdade!
Eu te amo! Eu sempre amei, mas… Eu quis ignorar por tanto tempo…
— Aquelas mensagens do seu ex… Não era mentira! Aquilo sim era
verdade! E não minta mais para mim, vocês tiveram algo depois que
estávamos juntos? — Marc diz com raiva.
— Foi só um beijo e eu…
— Só um beijo… Eu passei por isso uma vez, sabia? Ela tinha esse
mesmo plano! Parece que eu sou sempre o escolhido para idiota! Mas… Você
parecia diferente! Quando Landon tratava as mulheres a um braço de
distância, eu ria dele, mas no fim ele estava certo… Quer dizer, nem sei mais,
porque Charlotte mudou a vida dele. Como você pôde fazer isso comigo?! Eu
sempre deixei você me dizer o que quisesse! — Marc está chorando.
Ouço os soluços de Miranda.
— Me perdoe. — É tudo que Miranda consegue dizer.
— Acabou. E eu espero que você seja feliz com o próximo idiota que
aparecer — Marc diz com raiva.
— Marc! Marc!
Ouço a porta bater com força e corro escada abaixo no momento em
que Miranda cai de joelhos no chão. Abraço minha amiga com força e deixo
que ela chore, guardar isso dentro dela não vai ajudar. Acaricio seus cabelos
castanhos enquanto ela se agarra a mim como se eu fosse seu bote salva vidas
e choro com ela.
A vida não é fácil e nossas escolhas influenciam muito a forma como
ela segue seu curso.
Consigo levar Miranda para seu quarto e, depois de dar um copo de
água com muito açúcar, ela acaba dormindo. Olho o relógio, são quase duas
da manhã. Saio da cama sem fazer barulho e vou até meu quarto pegar meu
celular. Doze chamadas de Landon.
Ligo para ele, que demora a atender.
— Charlotte, aconteceu alguma coisa? — Landon diz preocupado.
Eu queria gritar que sim, mas não podia, essa era uma conversa para ele
ter com Marc e não comigo, ainda não pelo menos.
— Vai ficar tudo bem. Eu perdi a hora, mas estou indo aí buscar as
crianças.
— Elas podem ficar aqui hoje…
— Você tem que pegar seus pais de manhã e eu tenho que mandá-los
para a escola. Estou indo até sua casa em dez minutos.
Desligo antes que ele diga mais alguma coisa. Troco de roupa, limpo o
rosto e vou de caro até lá.
Landon espera na porta, colocamos os três meio sonolentos no carro e
volto para casa. Alice e Alec acordam e vão sozinhos para suas camas, eu
levo Aria.
Amanhã será um dia difícil, mas o que seria de nossa vida sem dias
assim?
Capítulo 16

Acordo decidida a passear com Aria hoje. Peço a Miranda que leve as
crianças na escola, o que ela não se importa de fazer e assim estou indo mais
cedo para o escritório.
Assim que chego, a única pessoa que vejo é Olivia… e Denise.
Cumprimento ambas e indico que Denise me acompanhe até meu escritório.
Ofereço algo a ela, que nega, parece estranhamente nervosa e aflita, sei
que um divórcio não é fácil, e com um marido como o dela será ainda mais
desgastante, mas não entendo o porquê de tanta aflição a não ser…
— Você parece aflita e chegou cedo demais, então seja sincera comigo,
está tudo bem? — Denise assente com a cabeça. — Ele bateu em você? Fez
ameaças? Algo assim? Denise, precisa confiar em mim, para que eu possa
ajudar você — digo objetiva.
— Você está certa. — Ela respira fundo. — Ele fez ameaças sim, mas
não me preocupo com isso. Minha mãe também tem dinheiro e minha filha se
foi, mas… Ele esteve ontem na casa da minha mãe, disse que não iria me dar
o divórcio, que não me daria nenhum centavo, mas não quero o dinheiro dele,
faço questão de abrir mão disso, mas ele não quer que eu pegue o restante das
coisas de Clara, e eu as quero. Charlotte, é só isso que irei pedir — ela diz
desamparada.
— Não se preocupe, irei agora mesmo pedir uma medida restritiva e
preciso que você me ligue imediatamente caso ele não venha a cumprir. E
quanto a pegar as coisas de sua filha, bem, você saiu de casa…
— Eu dei queixa na polícia antes de sair de casa… Ele me bateu e eu
não podia mais ficar naquela casa.
E agora sim estão vindo as peças que estavam faltando.
— Certo, isso foi muito bom, assim podemos provar que você saiu por
justa causa. Vai demorar um pouco, tentarei apressar o máximo que eu
conseguir, mas você terá os pertences de Clara — garanto a ela.
— Eu não me importo de esperar, desde que eu consiga tê-los — ela
diz, finalmente relaxando.
Converso com Denise por quase uma hora, dou entrada em seu processo
de divórcio e medida restritiva. Depois, peço a Olivia que cancele meus
compromissos da manhã. Espero Miranda chegar e digo a ela que tenho que
levar Aria na médica e depois tenho que ir ver as flores com Landon. Miranda
me lembra que tenho a última prova do vestido e das roupas das crianças às
sete da noite. O bom é que ela está cuidando de tudo para mim, eu escolho e
ela resolve o restante. Falta pouco, os convites foram escolhidos ontem à
noite, agora tem a escolha das flores e bolo.
Às dez e meia me despeço de Miranda e dirijo até a casa de Mônica e
Eric. É cerca de vinte e oitos minutos do escritório. Eric me atende antes
mesmo que eu aperte a campainha.
— Bom dia, querida. Entre. Aria está na sala — Eric diz, abraçando-
me.
— Bom dia! Está animado hoje. Espero que Aria não esteja dando
trabalho — digo sorrindo, sei que eles amam ficar com as crianças.
— É sempre muito bom poder ficar com eles.
Encontro Aria sentada assistindo bob esponja, ela me nota e corre em
minha direção, pego-a no colo e dou-lhe muitos beijos.
— Ma-ma-mãe, já-já, está-tá na hora-ra da consulta-sulta? — ela
pergunta animada.
— Sim, já está na hora da consulta, vou só falar com Mônica e já
estamos saindo — digo, colocando-a no chão.
Eric indica que eu vá até o quarto deles, o que eu faço alegremente.
Mônica tem sido uma mãe para mim há muito tempo. E essa casa… Ela faz
parte de minha vida.
A porta está entreaberta, então eu entro, mas não a vejo em lugar algum,
noto que em sua cama há dezenas de exames de diferentes laboratórios.
— Não há como negar que você é uma Evans — Mônica diz atrás de
mim. — Não vou negar nada, não posso fazer isso.
Fecho os olhos com raiva, conto até vinte e abro os olhos, observo a
mulher que é uma versão de minha melhor amiga… Ainda não consigo
acreditar que Mônica está doente e não nos disse nada.
— Há quanto tempo está doente? Por que não me disse nada? —
pergunto indignada.
— Descobri há três meses — ela diz, sentando-se na cama e pegando
os exames na mão. — Não há nada a ser feito, nada que possa ser mudado. E
não contei porque todos vocês já perderam tanto. Você já perdeu tanto. E você
é como minha filha…
— E não acha que deveríamos ter o direito de nos despedirmos?!
Miranda principalmente… Quando ela descobriu?
— Ela descobriu no dia em que descobriu que você ainda trata sua
depressão, só não contou porque não queria ver você pior, não fique chateada
— Mônica diz segurando minha mão.
— Quanto tempo? — pergunto sem conseguir olhá-la, as lágrimas
mancham meu rosto e não sei o que está doendo mais… Não saber de sua
doença ou saber que Miranda sofreu esse tempo todo calada.
— Um mês… Algumas semanas. O câncer foi detectado muito tarde.
Venha cá — ela diz puxando-me para seus braços, e eu vou, choro por ela, por
Miranda, Eric, meus filhos…
Depois de muita conversa lavo o rosto e fico observando-me no espelho
do banheiro. Quando saio, Eric está à minha espera, ele me abraça e diz que
vai ficar tudo bem.
Despeço-me deles e levo Aria para o carro, onde a coloco em sua
cadeirinha. Entro no carro e dirijo de modo automático até a clínica onde a
médica de Aria trabalha. Landon disse que a fonoaudióloga de sua clínica é
muito boa, mas Aria se adaptou a essa médica, então acho melhor deixar
como está.
Estaciono em frente ao consultório e Aria diz que está um pouquinho
nervosa, sorrio para ela e digo que vai ficar tudo bem.
Descemos do carro e entramos no ar gelado da clínica, sento Aria na
cadeira para esperar e caminho até a recepção onde sou informada que a
médica teve um contratempo e por isso não virá hoje, ela disse que me ligou,
e que a consulta ficará para amanhã.
Levo Aria para passear. Voltamos para o carro e dirijo para o parque da
cidade, pego um pouco de trânsito, mas não me importo com isso.
Assim que estaciono, Aria diz que quer sorvete, é quase onze e meia da
manhã, mas hoje não tem problema, preciso de um sorvete também. Ajudo-a
descer do carro e caminhamos até o carinho de sorvete, ambas pedimos um de
chocolate, depois caminhamos até um banco e nos sentamos.
— Ma-ma-mãe. Por que-que está-ta tris-triste? — ela pergunta
lambendo seu sorvete.
— Não estou triste, só… Um pouco cansada. Seu sorvete está bom? —
Aria acena esfuziante com a cabeça.
Sorrio para ela e volto a pensar em meus problemas… Mônica está
morrendo, eu vou me casar, tenho uma empresa, casa e filhos para cuidar. E
tem Miranda… Não posso deixar que ela continue a assumir meus problemas.
Observo a menina de cabelos vermelhos ao meu lado… Aria é tão doce
e cheia de vida. Penso por um momento… Meu casamento será daqui alguns
dias e amanhã vou conhecer os pais de Landon. Penso em meus três filhos e
hoje é um dia de grandes decisões e mudanças.

Deixo Aria com Mônica e Eric novamente, Alice e Alec já estão com
eles, almoçamos todos juntos e em seguida saio para ir escolher as flores com
Landon.
Chego à floricultura um pouco cedo, então desço do carro pensativa a
espera de Landon. Penso nos últimos meses… O desenvolvimento de meu
relacionamento com Landon foi tão rápido ou talvez não, no fundo o que mais
me irrita é que eu sinto como se já o conhecesse há muito tempo, por isso
talvez tenhamos passado tão rápido de irritação para algo… Bem, não quero
dar nome ao que temos.
Então penso no relacionamento de Miranda e Marc, que foi meio
meteórico, não posso negar, mas noto que ela não estava como sempre
quando está em um relacionamento… Miranda é o tipo apaixonada, que se
entrega totalmente, mas com Marc não foi assim e nem percebi isso, o que
significa que na verdade minha amiga escolheu um caminho perigoso e
arriscado e ela quebrou a cara feio, muito feio.
— Desculpe o atraso… — Landon diz, assustando-me.
— Não… Você não está atrasado, eu que cheguei cedo mesmo. Vamos
entrar? Landon assente com a cabeça e faz sinal para que eu vá na frente. Já
sei que flor vou escolher, as minhas favoritas, buganvílias, mas não decidi a
cor ainda.
A dona da floricultura vem até nós assim que cruzamos a porta, ela nos
leva para a parte de trás onde tem um tipo de estufa e mais à frente um grande
espaço em aberto com muitas fileiras de flores, é um lugar lindo.
— Você já pensou em alguma flor? — a senhora me pergunta sorrindo.
— Sim, eu quero ver as buganvílias. — Olho para Landon. — Você
quer olhar mais alguma?
— Não, essas são muito bonitas. Vou pela sua escolha.
Assinto com a cabeça e sorrio para a senhora que nos encaminha até
uma grande fileira de buganvílias de muitas cores. Encanto-me por todas, mas
eu e meu noivo chegamos à conclusão que as brancas, roxas e alaranjadas
serão as escolhidas.
— Querem olhar mais alguma flor? Temos muitas opções.
— Sim, vamos dar uma volta, se encontrarmos mais alguma flor de
nosso interesse, nós a chamamos — Landon informa a senhora.
Sorrio para ela e começo a caminhar pelas fileiras de flores, Landon
vem logo atrás de mim. Há orquídeas, rosas, lírios, margaridas…
— Quando você acha que devo levar minhas coisas para sua casa? —
Landon diz atrás de mim.
— Depois de amanhã, pode ser? É que amanhã tem o almoço com sua
família… Então vai ficar um horário apertado para mim.
— Quarta está ótimo. Eu fui convidado para ir hoje à… — Landon
começa, mas é interrompido pela última pessoa que imaginei encontrar.
— Charlotte?
Levanto a cabeça para ver quem é e me arrependo instantaneamente.
Ethan Kane está parado do outro lado da fileira de flores, olhando para mim
como quem encontra o pote de ouro no fim do arco-íris. Eu não sabia que ele
estava de volta. Espere… Landon disse que… A clínica nova. É claro, Ethan é
pediatra.
— Olá, Ethan. Quanto tempo… — digo forçando-me a ser educada.
— Tempo demais, acredito eu. Você está linda… — ele diz sem
acreditar que estou na sua frente, mas quem não consegue acreditar nisso sou
eu. Que raiva. Esse homem me faz sentir algo, uma mistura de sentimentos
contraditórios, mas eu o perdoei, certo? . Então lembro que não estou sozinha.
— Ethan… Este é meu noivo, doutor Landon Cass, da clínica
concorrente a sua. Estamos escolhendo as flores do nosso casamento —
informo a ele, deixando bem claro que minha vida seguiu em frente, mesmo
sem ele.
— É um prazer conhecê-lo, doutor Cass — Ethan diz, estendendo a
mão para Landon em meio às flores.
— O prazer é todo meu. Eu estava inclusive falando para Charlotte
sobre a inauguração de sua clínica… Vocês se conhecem há muito tempo? —
Landon pergunta sem entender minha chateação, de forma suspeita.
— Não… — Tento dizer, mas Ethan me interrompe.
— Sim, há muito tempo… — Ethan diz sorrindo.
— Bom saber que minha noiva conhece a concorrência — Landon diz
sorrindo. — É bom finalmente conhecê-lo. Seja bem-vindo a cidade. Mas…
deixe-me dizer que, caso não tenha ficado claro, Charlotte já tem alguém —
Landon diz em tom simpático, mas nós dois notamos que não é assim.
— Na verdade… Eu estou de volta e… bem, voltei para ter de volta o
que é meu, mesmo que seja difícil, mas sabe como é… Tem coisas que não
mudam. — Ethan diz enfrentando Landon. A cordialidade já era.
— Nós temos que ir — falo rapidamente e saio arrastando Landon pelo
caminho, tento ignorar ambos os olhares em mim.
— Não gostei dele, nem um pouco — Landon diz irritado.
— Bem-vindo ao clube — digo nada feliz com a volta de Ethan Kane a
minha vida.
Capítulo 17

Acordo com Miranda encarando-me. Puxo-a para meus braços e


ficamos abraçadas assim até Alec aparecer e se jogar em cima de nós duas.
Então me levanto, troco de roupa, coloco o café para as crianças e subo para
falar com Miranda.
— Posso deixar a maioria das coisas? Eu quero voltar um dia — ela diz
indecisa.
— Sua boba! É claro que pode. Essa casa é sua também, sabe disso —
digo sorrindo para ela.
— Vou sair enquanto as crianças estiverem na escola. E boa sorte com
os futuros sogros hoje — Miranda diz vindo me abraçar.
— Obrigado, porque eu vou precisar. E… vou mudar a data do
casamento, eu preciso de um tempinho depois de tudo que aconteceu…
— Como vou ficar em casa hoje, posso fazer isso. Pra quando, então?
— ela diz tristonha.
— Mesmo dia, mas em dezembro em vez de novembro. Vai ficar perto
do natal, mas…
— Deixa comigo! — ela diz sorrindo.
Miranda parece conformada. Triste, mas conformada. Ela chorou a
noite toda, mas decidiu que essa é a consequência de suas ideias sem pé nem
cabeça. Eu disse que ela podia chorar o quanto precisasse, mas Miranda disse
que não, que nesse momento ela precisava erguer a cabeça e seguir em frente.
Despeço-me dela e desço para encaminhar meus filhos, que estão discutindo
na cozinha, para o carro.
Em minutos estamos saindo para a escola.
O escritório está uma bagunça e por isso decido sair à caça de mais um
advogado, mas dessa vez vou tomar mais cuidado.
Tenho uma reunião com todos os nossos sete advogados e digo que em
breve eles terão dois novos colegas e que seria bom se eles tivessem
estagiários novamente, isso pareceu deixar todos contentes.
Às onze da manhã, Miranda me manda uma mensagem dizendo que
tudo foi alterado para vinte de dezembro.
Não sei se é a decisão correta, mas meu sexto sentido diz que vem mais
confusão pela frente. Infelizmente não se pode impedir o furacão de vir, o que
se faz é alertar as pessoas de que ele está vindo.
— Bom dia, Char! Eu andei pensando… E, bem, acho que sei de uma
advogada desempregada que você não vai ter que se preocupar se contratá-la
— diz Olivia.
— Certo, e quem seria essa pessoa? Porque com o azar que eu ando…
— digo revirando os olhos para ela, que sorri em resposta.
— Denise. Ela é advogada, trabalhou por um ano, porque depois ela se
casou e teve que largar o emprego e ouvi dizer que ela está querendo voltar à
ativa, então… — Olivia parece radiante com a ideia, que devo dizer é muito
boa.
— Você não está pensando em ser cupido, não é? — Olho de forma
suspeita para ela.
— E por que não? Ambos são solteiros, passaram por muita coisa nos
últimos meses… Seria um par perfeito — Olivia fala empolgada.
Suspiro, derrotada. Que seja, desde que isso não prejudique o
rendimento de ninguém.
Peço a Olivia que ligue para Denise, e ela sai quase que pulando de
minha sala, isso vai render e muito, penso sorrindo. Parece que mesmo com
tanta coisa desandando ultimamente, ainda assim alguém vai ter um final
feliz.
Observo o relógio a minha frente, são quase onze da manhã. Aviso
Olivia que estou saindo e que possivelmente devo me atrasar na parte da
tarde.
Dirijo até a casa de Mônica, onde ela me espera na porta com Aria no
colo, dou um beijo em ambas e coloco Aria no carro, essa cadeirinha vai me
deixar louca! Eu sempre tranco meu dedo.
— Boa sorte no almoço de hoje. Miranda e Eric tiveram que ir até a
farmácia para mim e por isso não estão aqui, mas desejaram boa sorte —
Mônica diz, abraçando-me forte.
— Eu vou precisar de toda sorte possível — digo abraçando-a de volta.
Entro no carro e pego o caminho para a escola das crianças, mas não
sem antes observar Mônica acenando para Aria da calçada.
Chego na escola faltando menos de dez minutos para o sinal bater,
desço do carro e pego Aria no colo, que ri com minha falta de jeito hoje.
Chegando na porta da sala, avisto Alice já me esperando. A professora
nova sorri ao me ver e Alice corre até mim, desejo boa tarde e caminhamos
até a sala de Alec, ele ainda está terminado de copiar o texto e acaba junto
com o sinal de final de aula.
Então faço o caminho para fora da escola com meus três filhos em meio
a muitos outros pais e mães na mesma situação, qualquer dia eu paro e
pergunto como organizar a vida de mãe tendo duas mãos e três filhos.
Landon resolveu almoçar em um restaurante em cima da hora porque
ele não conseguia falar com Marc, meu coração pesa com a preocupação em
sua voz.
Faço o caminho contrário ao de casa e dirijo para o restaurante que
Landon disse. É muito bonitinho e simples, parece uma casa de campo antiga.
Landon me vê chegando de longe, com Alice e Alec brigando. Reviro
os olhos para ele, que vem sorridente em minha direção.
— Vejo que estão todos animados — Landon pega Alec pela mão,
antes que ele ataque Alice de verdade.
— Esses dois já acordaram brigando. — Sorrio para ele e dou-lhe um
beijo no rosto, já Aria se joga em seu colo. — Os filhos são todos seus. —
Pisco para ele e caminho em direção a seus pais.
Landon fica perdido com as três crianças brigando ao seu redor,
enquanto eu sorrio para os pais dele. Landon é uma mistura dos dois.
— Você deve ser Charlotte! — diz a mãe de Landon, me abraçando.
— Sim, sou eu, é um prazer conhecê-la. — Dou-lhe um abraço
desajeitado.
— Você é mais bonita do que Landon tentou dizer — diz o pai dele me
abraçando também.
Que família carinhosa! Bem diferente do filho que é um ogro em pele
de príncipe… Nesse momento penso em Marc, que está sempre em defesa de
Landon.
— Obrigada! — digo sorridente.
— Pai! Isso não é verdade! Charlotte é exatamente como eu disse.
Esses são: Alice, Alec e Aria — diz Landon soando orgulhoso.
Roberta e Luiz abraçam as crianças e elogiam muito cada um deles.
Sorrio para isso, as crianças estão empolgadas com a ideia dos novos avós.
Sentamo-nos a mesa e fazemos os pedidos. Alice e Alec voltam a se
alfinetar e eu estou prestes a ter uma conversa em particular com os dois
quando Landon chama ambos para a conversa na mesa.
— Nós estávamos conversando com Landon que não podemos deixar a
propriedade muito tempo sem ninguém, então nós vamos para casa amanhã e
voltamos um dia antes do casamento de vocês… — Luiz começa a dizer, mas
eu o interrompo.
— Sobre isso… Eu não tive tempo de conversar com Landon porque
decidi de última hora, mas… resolvi estender a data do casamento, por conta
de alguns imprevistos que aconteceram nos últimos dias. Por isso ficará para
dia vinte do mês que vem. — Landon para de falar e fica me observando. —
Desculpe, mas eu decidi hoje mais cedo, o dia de ontem foi… complicado. —
Tento amenizar as coisas.
— Tudo bem, se para você é melhor assim… E já está tudo pronto
mesmo. — ele diz soando desconfiado.
— Isso é ótimo! — Roberta diz empolgada. — Assim poderemos nos
organizar melhor e vir para ficar mais tempo!
A comida chega e o clima tenso entre mim e Landon não vai embora, o
bom disso é que Roberta está feliz. As crianças ficam resmungando e pelo
canto do olho noto Luiz nos observando. Sorrio para ele e volto a ajudar Aria
com a comida.
Conversamos o almoço todo, as crianças contam sobre a escola,
handebol, balé, e Aria de seus quebra-cabeças. Fico sabendo mais sobre os
pais de Landon, conto sobre as novidades do escritório e assim o almoço
passa rápido.
Uma e meia da tarde, Eric vem buscar as crianças e os pais de Landon
vão visitar um amigo, restando apenas nós dois na mesa.
— Pode falar Landon, posso ver você se corroendo — digo sem olhá-
lo.
— Isso tudo é por conta de Ethan? — Tento argumentar, mas ele não
deixa. — Porque depois que cheguei em casa e fiquei pensando nas palavras
dele e na forma como ele olhou para você… Eu cheguei à conclusão que
vocês já se conheciam, e agora com o adiamento do casamento eu tenho
certeza que vocês já estiveram envolvidos. Não minta para mim Charlotte. É
por causa dele? — Landon diz me queimando com a intensidade de seu olhar
magoado.
— Não vou mentir Landon, eu e Ethan já tivemos um relacionamento,
mas isso foi há muito tempo e não terminou nada bem para dizer o mínimo. E
mesmo que ele tenha voltado para consertar alguma coisa… Não tem
conserto. E quanto ao adiamento do nosso casamento? Descobri que Mônica
está com câncer e… — Landon não me interrompe nenhuma vez então me
viro para olhá-lo. Ele está com o celular nas mãos e seu olhar magoado vai
para um furioso quando me olha.
— Mônica está doente ou Miranda traiu Marc? Isso é claro além do
plano sórdido dela! E não me diga que você não sabia! Porque vocês são
próximas demais para uma não saber o que a outra faz — Landon grita
comigo.
Estamos em um lugar reservado, mas ainda assim!
— Não grite comigo! E eu não sabia, mas quando eu soube, falei para
Miranda contar a Marc, mas não vou negar! Se eu soubesse disso desde o
começo não teria contado, mas teria a feito dar um fim nisso muito antes! E
está me acusando do quê? — digo gritando também e pegando seu celular. —
Marine? — pergunto furiosa. — Sério? Nela você sempre acredita, já parou
para reparar nisso? Que sempre que ela está em jogo eu viro a vilã! — Fico
furiosa também.
— Ela é…
— É o quê?! Ela traiu você mais de uma vez, fez de tudo para tirar tudo
que você tinha e ainda assim você sempre acredita nela? — Bato o pé com
força no chão.
— Ela não me escondeu um ex, não ajudou a enganar meu melhor
amigo! Você foi traiçoeira, assim como Miranda! — ele diz, levantando-se, o
que eu faço também e ficamos cara a cara.
Acabo apertando um teclado do celular sem perceber, tamanha minha
raiva, e quando olho para o a tela do celular…
“Estou grávida Landon! E você sabe que é seu!”
Dou um passo para trás e depois jogo o celular com força no peito de
Landon, que urra de dor, mas não me importo. Pego minha bolsa e caminho
para fora do restaurante.
— Não me dê as costas, Charlotte! — Landon vem a passos largos
atrás de mim.
— Eu não tenho mais nada a dizer. — Porque realmente não tenho,
ando tão cansada…
— Então acabamos! — ele grita para mim.
Dou de ombros, entro no carro e engato a ré, sem dirigir nenhum olhar
para Landon. Acaba tão rápido quando começou, assim como Miranda e
Marc.

Fico tão fora de mim com o fato de Landon gritar e me acusar de algo
que nem é culpa minha enquanto ele estava guardando algo muito sério e que
diz respeito a nós dois que nem noto o carro sair da pista.
Piso nos freios com força e o carro para com um baque forte. Tento
controlar minha respiração e meu coração que parecem prestes a sair pela
boca! Eu sou tudo que meus sobrinhos têm e quase sofro um acidente! Mais
um nessa família catastrófica!
Desço do carro com as pernas bambas e noto que o pneu furou,
provavelmente por conta de algo que estava fora da pista.
Encosto no capô do carro e levo as mãos aos olhos, e fico lá parada
tentando processar como minha vida foi de desastre a alegria e de volta ao
desastre.
Escuto passos vindos até mim e quando levanto os olhos… Ethan.
— Você está bem? O que aconteceu? — ele diz preocupado.
— O pneu furou e saí da pista — minto para ele.
Ethan nota que estou mentindo, o que não seria diferente já que nos
conhecemos muito bem, ele abre a porta do carro, testa alguma coisa e para
ao meu lado.
— Acho que é mais que um pneu furado, são quase cinco da tarde,
então… Vamos, vou te dar uma carona até sua casa e ligar para um amigo
meu. Amanhã seu carro já estará pronto para outra — ele diz despreocupado
com seu sorriso de lado que sempre me fez querer pular em seu colo. E bem
no fundo… eu ainda quero.
— Eu posso me virar sozinha…
— Charlotte, vamos ser realistas.. Até o guincho chegar, levar até o
mecânico e você pegar um taxi para casa já será noite e você tem que estar em
casa cedo já que seus filhos devem estar esperando você — ele diz cheio de
razão.
Levo as mãos ao rosto irritada com o fato de ele estar certo, respiro
fundo e assinto com a cabeça para ele.
Pego minha bolsa e as pastas que estão dentro do carro enquanto Ethan
liga para seu amigo, fecho o carro, entrego a chave a ele e sento-me no banco
do passageiro em seu carro.
Ethan encerra a ligação e depois entra no carro dele, sentando-se ao
meu lado como nos velhos tempos.
— Ele vem buscar seu carro depois das seis e meia, mas não se
preocupe, ele é muito bom — ele diz sorrindo para mim.
Assinto com a cabeça e observo a estrada. Ethan usa o mesmo perfume.
Seu carro tem o mesmo cheiro… um cheiro familiar que me deixa furiosa.
— Você quer conversar? — Ethan tem os olhos fixos na estrada
enquanto espera minha resposta.
— Não.
— Tudo bem então.
Ficamos o restante do caminho em silêncio, e o pior é que é um silêncio
confortável de anos juntos… Balanço a cabeça trancando as memórias de
volta em seu baú.
Finalmente estamos chegando a minha rua, vejo Miranda, Mônica e
Eric respirarem aliviados ao ver o carro vindo em direção a eles. E quando me
veem, parecem quase flutuar. Miranda corre até mim assim que abro a porta
do carro para descer.
— Eu estava quase chamando a polícia! São quase seis horas e você
não atendia a droga do celular! Você está bem? Cadê seu carro? E por que
Ethan está aqui? — Miranda me abraça, briga comigo e me interroga, tudo ao
mesmo tempo.
— Meu carro furou o pneu, eu não estou nada bem, mas vou ficar, e
Ethan me deu uma carona, só isso. — Viro-me para ele. — Obrigada pela
ajuda, Ethan.
— Não foi nada, Char… — diz para todos ouvirem. — Eu ainda te amo
— Ethan diz só para mim.
Respiro fundo e entro em casa, as crianças correm para mim de três
direções diferentes e Mônica sorri quando nós quatro vamos parar no chão.
— Eu amo vocês três! Muito.
Capítulo 18

Três semanas depois…

Sam já está trabalhando a todo vapor no escritório, assim como Denise.


Os dois têm estado soltando farpa um no outro desde o dia em que se
encontraram. Parece que Olivia tinha razão, os dois estarão juntos em breve.
Alice e Elisa são grandes amigas, estão arrasando no balé. Mônica tem
progredido em seu tratamento, o que foi um milagre para os médicos, mas
Eric diz que foi por causa de mim e Miranda.
Não tenho tido notícias nem de Marc nem de Landon.
Hoje o dia está calmo até demais. Tenho estado tão cansada e faminta
ao mesmo tempo…
— Charlotte? Tem alguém aqui querendo muito te ver. — Olivia parece
aliviada com quem quer que seja.
— Mande entrar — digo sonolenta.
— Eu espero que você não esteja doente… — diz Marc sorrindo em
minha direção.
Levanto-me e dou-lhe um abraço apertado. Acho que isso o surpreende,
porque demoram uns três segundos para me abraçar de volta.
— Que bom que você apareceu! Eu estava preocupada — acuso,
batendo em seu braço com força.
Marc guincha de dor e depois cai na cadeira à sua frente, sorrindo. Ele
está bonito com seu cabelo escuro um pouco mais comprido e camisa social
escura.
— Eu precisava digerir as coisas, sabe? Foi um golpe e tanto, mas
estou ótimo e por isso vim aqui… Eu comprei a casa ao lado da sua porque
estava pensando em pedir Miranda em casamento, mas agora… Eu quero
saber se posso ser seu vizinho? Posso ajudar com as crianças! — ele diz
fazendo piada.
Sento-me em minha cadeira e, depois de observá-lo por um longo
momento, decido que não há problema nenhum com isso, muito pelo
contrário, será ótimo ter um vizinho como Marc, ao invés do casal fofoqueiro
e curioso que morava lá.
— Eu vou adorar ter você como vizinho! Precisa de ajuda com a
mudança? — pergunto brincalhona.
Marc parece aliviado e tranquilo com minha empolgação para sua
mudança. As crianças vão amar saber disso.
— Sinto muito por você e Landon. Ele é cabeça dura assim mesmo,
logo ele vai ver que…
— Não se desculpe, Marc. Onde ele está? Garanto que se escondendo!
Ainda mais depois que eu descobri que Marine está grávida dele. — Reviro
os olhos com a lembrança.
— Ele está na casa dos pais, tive que pedir a um amigo para vir ficar no
lugar dele por um tempo, mas… O quê?! — ele fala tão exaltado que eu me
assusto do outro lado da mesa.
— Você não sabia? Pois é. Parece que ele não consegue viver sem
Marine. — digo dando de ombros.
Marc fica tão irritado que soca a mesa com força, pede desculpas,
bagunça o cabelo, fala mais um pouco e acabamos mudando de assunto para a
mudança novamente.
Marc vai embora quase às dez e meia da manhã. Depois de saber que
Landon fugiu para as colinas, literalmente, vou até Sam pedir ajuda.
Bato na porta e espero um instante para entrar, Sam abre a porta de cara
feia e depois sorri ao me ver. Por que todo mundo pensa que estou doente?
Estou tão mal assim?
Ignoro seu olhar preocupado e me jogo na cadeira à frente de sua mesa.
A sala de Sam é minha antiga sala, é grande e ele mudou o papel de parede
para um azul escuro, há fotos de Elisa, Olivia e seus pais por todos os lugares.
— No que posso te ajudar? — ele diz curioso.
— Preciso de um conselho na verdade. Eu não sei o que fazer em
relação ao processo com Kalebe pelas crianças. Eu iria me casar como
Miranda sugeriu, mas estou sem noivo agora e… O que eu faço? — digo
soando meio desesperada e odeio isso.
— Bom, a sugestão de Miranda era boa para esse caso, mas agora…
Posso tentar outros caminhos.…
Suspiro cansada e assinto com a cabeça, dando carta branca para ele
tentar outro caminho. Conversamos por meia hora e depois volto para minha
sala, agora solitária. Miranda tem acompanhado Mônica com frequência e os
processos dela estão indo todos para Sam.
Olho para as fotografias em minha mesa e nas paredes e noto o quanto
mudamos em tão poucos meses…
Eu deveria estar casada com Landon de acordo com a primeira data que
escolhemos.

Três dias depois…

Ouço alguém bater na porta e por um momento penso em jogar algo


nessa pessoa, são seis e meia da manhã! Nem as crianças acordaram ainda! Se
bem que hoje não tem aula… Conselho de classe. Penso na professora nova…
Ela é muito melhor que a antiga.
A pessoa bate com mais força na porta e finalmente decido caminhar até
lá. As coisas mudaram nessas três semanas. Miranda está na casa dos pais,
Landon está plantando batata em algum lugar, Ethan tem invadido minha vida
como se ainda fizesse parte dela. Denise, eu e Olivia estamos muito próximas,
passamos muito tempo juntas ultimamente e Miranda está morrendo de
ciúmes, embora eu viva dizendo que não é necessário. Alice e Elisa estão se
dando muito bem. Sam está sendo minha sombra no escritório e os outros
advogados pararam de surtar um pouco.
A pessoa volta a bater na porta, mas que diabos?! É alguma infestação
de baratas na rua? Só pode ser! Abro a porta com raiva e pronta para brigar
com a pessoa do outro lado, mas…
— Marc! São seis da manhã! — Estou de mau humor hoje.
— Na verdade… São seis e quarenta agora. E bom dia! Você disse que
me ajudava com a mudança, então pare de ser tão estraga prazeres. — Marc
diz debochado e penso seriamente em dar-lhe um soco, mas então lembro que
eu preciso mesmo de um favor.
— Eu ajudo… Mas preciso de um favor depois… — Tento soar mais
amável.
— Certo — ele diz colocando a mão na cintura. — Você me ajuda que
eu te ajudo. Política da boa vizinhança, mas… Não é para tacar fogo na casa
do Landon, é? — Seu ar brincalhão fica sério.
— É claro que não! Embora seja tentador…
E, com meu bom humor de volta, fecho a porta atrás de mim e caminho
com Marc nos meus calcanhares até sua casa nova. A casa é bonita e a
construção é igual à da minha.
Em minha opinião, e que faço questão de esfregar na cara de Marc, ele
deve trocar a cor das paredes e escolher móveis novos, porque embora ele
esteja solteiro, essa é uma casa enorme e seria bom trazer um ar mais alegre.
— Que cores você sugere? Sou péssimo nisso… E os móveis você
pode indicar também, meu apartamento veio pronto, então estou meio perdido
e minha mãe não pode vir me ajudar. — Marc soa perdido em meio a todo
esse vazio, mas para sorte dele, além de advogada e fotógrafa, sou ótima em
mudança.
— Certo… Vamos tirar o dia para fazer isso. E vamos começar indo
escolher as tintas e os móveis assim você já me ajuda com aquele favor… —
digo sorrindo animada pela primeira vez em semanas.
Ligo para Olivia e peço para ela ver o que consegue mudar ou passar
para Sam hoje, depois aviso dona Lena que vou sair e que as crianças podem
dormir até mais tarde.
Lena tem sido meu anjo da guarda! Desde que a outra senhora precisou
sair do emprego eu estava sem ninguém para ajudar em casa, mas então esse
anjo surgiu no meu caminho. Lena estava desempregada há três meses e a
encontrei por acaso em um dia que fui ao mercado da cidade. Contratei-a na
hora. Lena dorme em nossa casa, limpa, cozinha e me ajuda com as crianças.
Ela deve estar com quase cinquenta anos, mas ganha de muita moça jovem.
Faço sinal para Marc que vamos sair enquanto converso com Sam sobre
algumas coisas do escritório, indico onde vamos ir e deixo Marc dirigir em
paz, encerro a ligação e começo a falar das noções básicas de uma reforma e
de uma boa mudança, Marc ri de mim e reviro os olhos para ele.
Marc erra a rua da loja de tintas e estou rindo tanto que nem consigo
dizer onde ele deve entrar para fazer a volta, depois de quase dez minutos e
comigo ainda afinada de rir conseguimos parar em frente à loja certa.
— Você vai parar de rir ou não? — Marc está irritado, mas acaba rindo
junto comigo.
Entramos na loja e digo ao atendente, que corre até nós, que caso
precisemos de alguma coisa, nós o chamaremos. O rapaz parece chateado
com isso e Marc diz que eu acabei com a ideia dele de ser prestativo.
Chegamos ao quadro de cores e olho seriamente para Marc ao invés de
para o quadro. Ele começa a falar, mas para quando me nota observando-o.
Penso por um momento e chego à conclusão que vamos de marrom.
Quatro tipos de marrom para ser mais exata, dois para a sala e dois para
o quarto dele. Os corredores serão de cinza claro, e os outros quatro quartos
foram em tons variados de azul.
Discuto com o vendedor que diz que essas cores não combinam, e estou
quase batendo nele quando Marc diz: você não vai querer comprar uma briga
com ela! O homem, notando minha irritação, desiste e sorrio pela vitória.
Em meia hora estamos saindo com muitas latas de tinta, pincéis e
vasilhas… Compramos tinta sem cheiro porque Marc tem rinite. Reviro os
olhos e ele fica indignado.
Colocamos as latas de tinta no carro e saímos à procura de móveis
novos. Andamos pela calçada observando as vitrines em busca de alguma
coisa que nos atraia, até que encontramos! Compro até duas poltronas novas
para minha casa.
E compro um mural para presentear Marc em sua casa nova.
Depois chega a vez de irmos atrás de algo para mim… Para mim não,
mas para as crianças. Marc está tranquilo e finalmente animado com a
mudança. Eu estou mais leve também.
Chegamos a um pet shop onde há vários cãezinhos à venda. Um mais
fofo que o outro! Marc diz para que eu escolha o menor da ninhada. Reviro os
olhos para ele.
A moça diz que as raças que ela tem são só raças pequenas e digo que é
isso que eu quero. Ela então me apresenta poodle, shih tzu, maltês, pug e
bulldog inglês.
— Qual você gostou mais, Char? Vai dar um só para os três? — Marc
pergunta sorrindo com minha indecisão.
— Eu não sei… Três cachorros darão muito trabalho e nesse momento
eu já tenho bastante. — Penso por um momento e decido levar dois. — Eu
vou levar aquele poodle ali, a de olhos verdes e focinho rosa, e um maltês. —
Ambas serão fêmeas e brancas, achei tão fofas… E se eu levasse macho teria
que castrar e… Marc estava com pena dos bichinhos. Reviro os olhos para
essa idiotice.
Saímos da loja com duas cadelinhas, duas casinhas, vasilhas para água e
comida, ração e mais algumas coisas que acho que seria bom levar.
— As crianças ficarão felizes, embora eu ache que Alec vai reclamar…
Charlotte? Você está bem? — Marc pergunta preocupado.
— Estou ótima! Só um pouco enjoada. — Respiro pelo nariz para ver
se ajuda e depois de alguns minutos já estou bem de verdade.
Entramos no carro e Marc pergunta se estou bem mesmo, e garanto
cinco vezes que sim. Mudo de assunto e pergunto sobre a clínica, acho muita
irresponsabilidade de doutor Certinho em largar tudo nas mãos de Marc e
fugir para a casa dos pais. Marc diz que está indo bem e que o amigo é bom
em substituir Landon. Ele comenta sobre a clínica de Ethan e tento disfarçar o
desconforto em relação a isso, mas ele nota.
— Não me diga que você conhece a concorrência! — ele diz e cai na
gargalhada.
— Conheço e muito bem — digo pensativa e noto que Marc não está
mais gargalhando e sim me olhando seriamente.
— O que você tem com os pediatras? — pergunta sarcástico. — E pelo
visto foi algo sério… Por isso sua antipatia por Landon?
— Marc, não quero falar sobre nenhum desses dois, então cale a boca e
preste atenção na estrada. — Lanço um olhar feroz para ele que assente com a
cabeça em acordo.
Chegamos em frente a nossas casas e Alec abre a porta e corre até nós.
Ele me abraça pela cintura e depois Marc o abraça forte, em seguida Alice
corre para fora e Aria também, indo ao encontro de Marc. Dez minutos depois
consigo colocá-los para dentro novamente.
— Eu tenho um presente para vocês… Mas antes quero que me
prometam algumas coisas… Lembram daquele quadro ali? — Aponto para a
parede onde estão os focos que criamos quando fomos viver juntos. — Acho
que está na hora de mudar, então resolvi que vocês devem ter mais
responsabilidades e por isso… Marc, pode trazer as responsabilidades deles?
— Enquanto Marc caminha para a rua volto ao meu discurso. — Alice e Aria
ficam com a casinha lilás e Alec com a casinha roxo escuro.
Marc entra com as casinhas e as crianças ficam na expectativa. Faço
sinal para cada um vir para a sua e abrir a portinha. Ambas as cadelinhas
pulam neles e é ótimo ver a alegria no rosto dos meus filhos… Com o sumiço
de Marc e Landon eles foram atingidos também, mas agora…
— Eu prometo cuidar muito bem dela mamãe! Posso escolher o nome?
— Alec está com olhos brilhantes de emoção.
— É claro que pode! — Sorrio para ele.
— Nós também vamos cuidar muito bem da nossa, mamãe! E o
nome… — Alice olha para Aria em busca de opções.
— Lilaaaa! — Grita Aria sem gaguejar e Alice sorri empolgada e
concorda com o nome.
Meus olhos ficam marejados, o tratamento de Aria está fazendo efeito.
Minha menina está superando seus problemas e vencendo suas batalhas
internas.
— Então a minha será… Lilás! — grita Alec feliz.
As cadelinhas correm de um lado a outro, pulam nas crianças, em mim,
Marc e Lena.
A casa está feliz novamente! Os corações desta casa estão finalmente
encontrando felicidade e seguindo em frente! Cada um de seu jeito, às vezes
caindo aqui e ali, mas no fim todos estamos caminhando para a mesma
finalidade.
Capítulo 19

Os dias têm passado devagar, muito devagar e sinto-me meio que como
se estivesse me arrastando todos os dias… É como se minha vivacidade
estivesse se esvaindo de mim.
Tenho conversado muito com Sam nos últimos dias, e ele me diz que há
outras formas de me livrar de Kalebe, mas que deve ter alguma razão para
Miranda ter me sugerido um casamento e nesse momento penso no fato de
Eric não ter ficado surpreso com a invasão da casa a não muito tempo atrás.
Perguntei a Miranda sobre isso, mas ela só fez mudar de assunto, então
resolvi esperar para ver o que acontece… Ou até que eu descubra sozinha.
Marc se mudou há três dias para a casa ao lado e gostou da nova
decoração, o que eu falei que ele iria gostar. Ele tem me ajudado com as
crianças e os novos integrantes da casa também.
Chego em casa às sete e meia e me deparo com uma Lena desesperada
com Aria no colo ardendo em febre. Pego Aria no colo e peço que Lena fique
com Alice e Alec.
Meus dedos digitam o número de Landon automaticamente, mas então
lembro que ele não está aqui, não tenho o número do novo médico da clínica,
o telefone da recepção da clínica só chama e o de Marc também, começo a
entrar em pânico, mas… Eu me lembro de alguém.
Eu queria estar com raiva por lembrar o número dele, mas nesse
momento só sinto alivio, tanto por eu ainda me lembrar, quanto por ele ainda
ter o mesmo número.
— Alô? — ele diz do outro lado da linha… Sua voz revive muitas
lembranças.
— Ethan? É a… — Como isso é difícil.
— Charlotte. — Sua voz soa feliz com minha ligação.
— Preciso de você… Como médico. Aria está com febre e dor de
barriga e não sei mais a quem recorrer. — O desespero tinge minha voz.
— É claro que posso, já estou em casa, mas estou indo para a clínica —
ele diz, sério. — Vejo vocês em breve.
— Obrigada — digo caminhando com Aria ardendo em meus braços.
Ethan Kane… Pelo visto ele será sempre um herói.
Ethan está parado perto das portas da clínica à minha espera e de Aria.
Sorrio para ele ao descer do carro, Ethan corre ao meu socorro e me ajuda a
tirar Aria da cadeirinha.
Entramos na clínica rapidamente e Ethan nos guia até seu consultório,
estou aflita com tanta coisa nesse momento que não sei como ainda estou de
pé, minha vontade é sentar e chorar e Ethan parece notar isso, pois é a terceira
vez que ele diz que vai ficar tudo bem.
Ele examina Aria e depois pede alguns exames, sou encaminhada para a
sala de espera, mas estou a ponto de furar o chão com meu salto quando
Denise e Sam entram em meu campo de visão.
— Charlotte! Como está Aria? — perguntam os dois ao mesmo tempo,
depois se olham mal-humorados.
— Ainda não sei, Ethan está fazendo alguns exames, espero que nada
grave — digo pensativa.
— E não será! — diz Denise apertando minha mão.
— Logo Ethan estará aqui com boas notícias. — Eu havia me
esquecido que Sam conheceu Ethan.
Assinto com a cabeça para ambos, eles se sentam próximos a mim, mas
continuo de pé andando de um lado a outro, esperando…
Parece que se passou uma eternidade quando finalmente avisto Ethan
caminhando em minha direção em um jaleco branco. Ele sorri e posso respirar
mais tranquilamente.
— É só uma virose, Aria terá que ficar aqui essa noite, para tomar soro,
mas amanhã já poderá ir para casa. E no mais é observar Alice e Alec, para
ver se eles não contraíram essa mesma virose — Ethan diz, apertando minha
mão para me tranquilizar.
— Obrigada, Ethan — digo à beira das lágrimas e ele me puxa para
seus braços… Um abraço reconfortante, conhecido. Recomponho-me depois
de alguns minutos. — Posso vê-la?
— Claro, é por aqui. — Indica-me o caminho. — Como vai, Sam?
Imagino que sua filha esteja tão grande quanto Alice — Ethan diz apertando a
mão de Sam e cumprimentando Denise.
— Está sim, para você ver como estamos ficando velhos! — Sam pisca
para mim e, depois de agradecer por eles estarem ali caminho com Ethan ao
meu lado.

Aria está dormindo pacificamente agora, estamos aqui há quase quatro


horas, Lena estava uma pilha de nervos quando me lembrei de ligar para ela,
mas garanti que tudo ficaria bem.
Ethan, que teria a noite de folga, acabou fazendo plantão e vem ver Aria
a cada hora, posso ver e sentir a preocupação dele comigo. Velhos hábitos não
somem fácil.
Sam e Denise foram embora há uns quarenta minutos, brigando como
sempre, e isso me faz lembrar de Landon.
Meu celular toca e me assusto com ele. Respiro aliviada quando vejo
que não é Miranda, e sim Marc.
— Oi Marc — digo cansada.
— Char? Aconteceu alguma coisa? Quinze chamadas. Desculpa-me eu
estava ocupado com… — Ele tenta pensar em uma desculpa.
— Agora está tudo bem, Aria ficou doente, mas Ethan me ajudou.
Fique tranquilo — digo sorrindo.
— Que droga! Ela está bem? Eu…
— Marc, tudo bem, você nem é o médico dela. E Ethan já fez todos os
exames, é só uma virose, vamos passar a noite aqui e depois finalmente
vamos para casa. Ela acordou, vejo você amanhã — Aria me olha chorosa.
— Tudo bem, até amanhã — Marc diz chateado.
Caminho até a cama de Aria e me sento com ela, que se gruda em mim,
sorrio e beijo sua cabeça. Duas febres, dois médicos e duas situações
completamente diferentes uma da outra.
— Sente alguma dor? — pergunto a ela que balança a cabeça em
negativa.
Ouço sua respiração se acalmando e logo ela está dormindo agarrada a
mim, como se isso fosse preciso. Não vou a lugar algum.
— Eles se adaptaram rápido a você. — Assusto-me com a voz de
Ethan. — Desculpe, eu não queria te assustar.
— Não, eu que não ouvi você entrar. Sim, mas também eu sou
madrinha dos três e sempre fomos muito próximos, foi fácil passar de
madrinha para mamãe — digo pensando que realmente foi muito fácil e
rápido.
— Isso é bom — diz Ethan, sentando-se na cadeira próxima a mim. —
E como foi para você?
— Para mim? Bom… Foi difícil, não vou negar. Esse momento era para
ser da Ana e, no entanto… É complicado. Mas estou feliz que eles tenham
registrado que as crianças ficariam comigo. Kalebe queria a guarda também.
— Kalebe… Recebi umas mensagens estranhas dele.
— Eles não poderiam ter escolhido melhor, você é uma mãe incrível.
Eu sempre soube disso.
Preparo-me para mudar de assunto quando uma enfermeira abre a porta
e pede que Ethan a acompanhe. Ele se despede com um aceno de desculpas e
sorrio para ele. No fundo, e por mais que eu saiba que em algum momento
teremos que conversar sobre isso, eu ainda não me sinto pronta.
Finalmente em casa! Coloco Aria em sua cama, já que ela dormiu no
caminho, e espero na sala até Lena chegar, ela foi levar as crianças na escola.
A casa está em ordem e posso sentir o cheiro de pão caseiro. Sorrio para
a lembrança de minha mãe que surge em minha mente. Eu sinto falta dela,
muita falta dela. De todos, na verdade.
— Charlotte! Que bom que já estão em casa, eu ia ligar, mas achei que
você fosse ir direto para a cama. — Lena sorri quando me vê e faço sinal para
ela se sentar ao meu lado no sofá.
— Obrigada por tudo. E por mais cansada que eu esteja, não estou com
cabeça para dormir. Fez pão tão cedo? — digo sorrindo.
— Na verdade não, quem fez foi Marc e trouxe ainda quente para você,
por isso esse cheiro de pão assado. Você devia tentar descansar um pouco —
ela diz apertando minha mão.
— Estou bem, e vamos comer esse pão logo, porque se estiver ruim…
esgano-o! — digo piscando para ela, que parece se tranquilizar.
E não é que o pão está bom? Uma delícia!

Miranda me liga às dez da manhã perguntando se é verdade que Marc é


agora é meu vizinho e digo que sim. Ela fica em silêncio por um tempo, mas
depois resolve que isso é bom, já que ela não pode estar aqui e Landon não dá
sinal de vida.
Landon… Não quero falar nem pensar nele. Eu comecei a sentir algo
por ele em algum momento, mas agora isso não importa.
Uma semana depois…

Estou na minha cama há tanto tempo que penso já estar fazendo parte
do colchão, Marc se mudou para a casa ao lado e acredito que seja ele a
pessoa a estar cuidando das crianças com Lena, não sei realmente. A não ser
que alguém vem todo dia aqui ver se estou respirando.
Ouço as crianças conversarem no quarto, Lena preocupada comigo e a
voz de Marc, mas a tristeza me mantém onde estou… É como se algo me
puxasse para dentro de mim mesma, algo que não sei explicar. Uma dor que
vem tão de dentro que me tira todas as forças.
Tento lembrar como vim parar nessa melancolia sem fim, mas não
consigo, não vem nada a minha mente. Eu só tenho feito chorar e dormir e
não via essa Charlotte desde que vovó morreu aos meus oitos anos…
— Está bem, já chega! — diz Marc em algum lugar no quarto. — Você
vai levantar, tomar banho, colocar uma roupa limpa e comer. — Soa como
uma ordem.
Continuo em silêncio na esperança de que ele se canse mais uma vez e
me deixe em paz, mas então outra voz soa ainda mais perto.
— Não me faça escolher por você… — Ethan? O que ele faz na minha
casa? Não importa.
Ouço passos impacientes, mas em nenhum momento a voz de Miranda,
o que é bom, ela tem Mônica para se preocupar agora.
Em seguida sinto alguém me arrancar do colchão e caminhar comigo
até algum lugar, permaneço de olhos fechados até sentir a água fria em mim e
abrir os olhos em busca de algo para me orientar.
Estamos em meu banheiro, embaixo do chuveiro, com a água mais fria
que já senti. Ethan me segura firme em seus braços e, quando nota que está de
volta a minha fúria por ele, me tira debaixo do chuveiro, colocando-me no
chão. Fico zonza e ele me segura em seus braços quentes.
— Estou bem! — grito com ele, que sorri e continua ao meu lado.
Marc entra em meu campo de visão com uma toalha grande, que ele
enrola em mim com firmeza. Enxoto os dois para fora do banheiro, tomo um
banho de água quente e coloco uma roupa seca.
— Agora sim é a Charlotte que conheço! — dizem os dois patetas ao
mesmo tempo assim que apareço no quarto novamente.
— Que bom que estão satisfeitos! — Reviro os olhos para eles.
Não sei como Marc e Ethan acabaram ficando “amigos”, não é bem
uma amizade, parece mais algo do tipo “para o bem de todos, eu vou te
aturar”. Eles me fazem descer as escadas e comer. Tudo parece tão robótico,
como se eu estivesse me vendo através de mim mesma.
As crianças chegam de onde presumo ser a escola e correm até mim
como se eu tivesse viajado e voltado agora para casa. Abraço os três com
saudade… Isso tem sido constante nos últimos tempos… Uma saudade, como
se eu não fosse vê-los mais. Ou fosse demorar em vê-los novamente.
Pergunto de Miranda, Mônica e Eric, e os dois patetas garantem que os
três estão ótimos, Mônica está reagindo cada vez melhor ao tratamento.

Aos poucos, meu ânimo tem voltado e Marc e Ethan têm feito grande
parte do trabalho. Faz três dias que eles me arrancaram de minha cama, e
agora todo dia um deles me acorda e me obriga a comer. Fui a minha
psiquiatra ontem e ela me passou novos remédios, mas tive a impressão que
ela e Marc, meu acompanhante, já tinham conversado antes. Ela fez umas
perguntas um tanto estranhas.
Hoje recebi a notícia de que Kalebe está realmente falido e isso parece
ter afetado o cérebro dele, é a única explicação, ou ele realmente é um
psicopata.
Fiquei sabendo que ele agrediu a esposa, agora ela tem uma restrição
contra ele e um pedido de divórcio, pedi uma medida restritiva também, não
quero ele perto das crianças.
Sinto cheiro de massa de tomate e corro para o banheiro vomitar, será
que é virose também? Ou talvez seja do remédio, porque já faz algum tempo
que não há vestígios de virose aqui em casa.
— Você está bem? — Ethan pergunta entrando no banheiro e
segurando meu cabelo.
— Você ser médico não torna isso menos nojento, sabe disso, não é? E
sim, estou bem, foi só… o remédio novo. — Dou de ombros. Fico tonta ao
me levantar e Ethan me segura.
— Tem certeza disso? E como médico já vi coisas piores — ele diz com
a sobrancelha erguida.
— Estou ótima.
Que gente chata! Toda hora perguntando se estou bem, estou bem sim!
Ou não, mas de qualquer forma eles estão me irritando muito! Tudo tem me
irritado, até minha respiração.
Capítulo 20

Marc tem quatro caixas nas mãos e Ethan parece chateado com isso,
olho para ambos de forma suspeita e espero.
— Eu acho que… Bem, não é minha área, mas com as pesquisas que
fiz, cheguei, ou chegamos — ele diz olhando para Ethan — à conclusão que
você pode estar grávid…
— Não termine essa palavra! — grito furiosa e jogo o travesseiro nele.
— Grávida! — Marc grita de volta segurando o travesseiro. — Agora
vá fazer os testes para sabermos se é verdade! — ele diz, empurrando-me para
o banheiro novamente.
Eles me acordaram a não muito tempo para essa ideia absurda? Sério?
Eu passei uma noite com Landon e… Por favor, por favor…
Entro no banheiro com as quatro caixas na mão, sei muito bem como
usar esses testes, então respiro fundo e faço xixi no palitinho.
Depois abro a porta do banheiro e coloco os quatro em cima do criado
mudo perto da cama, cruzo os braços e me escorro na porta, Marc e Ethan
estão sentados aos pés da cama.
Eu olho para o teto e os dois estão fixados nos testes… Dois minutos e
meio depois… Os quatro testes dão negativos e respiro aliviada, mas em
seguida meu pesadelo se torna real… Os quatro testes ficam positivos.
Tento argumentar que está tudo errado, mas Marc diz que está tudo
certo e depois de me abraçar rapidamente ele sai para marcar uma consulta
com uma ginecologista como se fosse minha melhor amiga.
Ethan continua no quarto, sentado olhando para os quatro testes a sua
frente.
— Parabéns, Char — ele diz tristonho.
— Está me dando parabéns por quê? O pai da criança me odeia, vai ser
pai de outra criança, estou em um processo pela guarda dos meus
sobrinhos/filhos e você me dá parabéns? — pergunto irritada.
— Me deixe te ajudar! Case-se comigo. Eu errei no passado e quero
consertar isso e… Eu sei que Landon vai querer o mesmo, mas… ele não está
aqui agora e pelo visto vai demorar a voltar já que nem Marc ele tem
atendido. — Ethan dá de ombros.
— Eu preciso… pensar — digo distraída.
— Seu casamento ainda está marcado para daqui uma semana e meia.
— Ele diz esperançoso.
— E estou grávida de outra pessoa…
— Eu não me importo! Se me importasse com isso não acha que eu me
importaria com Alice, Alec e Aria? Eles são seus filhos também. — Ethan diz
esfregando o rosto.
Passo as mãos em suas costas e encosto a cabeça em seu ombro como
fazia no passado. Temos tanto para conversar ainda… E tenho um bebê a
caminho. O quanto mais minha vida pode desandar?

Ethan teve que ir para seu consultório, já Marc ficou para me infernizar
e assim agora aqui estamos nós dois… juntos, esperando minha consulta com
a ginecologista.
— Charlotte Evans — a moça da recepção me chama.
E assim eu e Marc vamos brigando até o consultório, eu digo que ele
não precisava entrar, mas ele diz que entrará para evitar que eu omita algo da
médica.
Cumprimento minha médica e sento-me na cadeira destinada a mim. A
doutora pergunta o que me leva até seu consultório e é Marc quem responde
dizendo que com certeza estou grávida, chuto sua perna, mas ele parece não
se abalar com isso. A médica pergunta de quanto tempo e chuto um palpite de
uns dois meses mais ou menos.
Sou encaminhada até a sala para fazer um ultrassom e assim que a
médica coloca o gel em minha barriga e começa o exame aparece uma
manchinha no visor e um coração forte começa a bater…
As lagrimas saem de mim, involuntárias, não há mais como negar, estou
grávida de Landon, que não dá notícias e nem atende ligação de ninguém e
que… já tem um filho a caminho.

Marc resolve que precisamos tomar um bom sorvete e não estou com
disposição para brigar no momento, então aceno em resposta a todo seu
entusiasmo.
Ele se perde de novo e tiro sarro dele, que faz cara feia, mas nem ligo.
Saber que estou grávida quebra uma parte minha e cola outra, e não sei se isso
é bom ou ruim, porque tem marcas do passado que nunca deixaram minha
pele nem minha alma.
Marc está me tratando como se eu fosse de vidro, o que garanto a ele
que não sou, mas ele me ignora e assim caminhamos até a sorveteria.
— O que você está olhando? — pergunto a ele achando graça.
— Você misturou açaí com chocolate… Isso é meio nojento — ele diz
me olhando como se eu tivesse duas cabeças.
— Eu gosto de misturar e… estou grávida, ninguém discute com uma
grávida! Bom, meu irmão que era muito inteligente nunca discutiu. — Penso
em Jared e Ana e Marc nota minha melancolia. — Eles não estarão comigo…
— Eu estou aqui, Miranda e os pais dela também… E Landon — Marc
termina com esperança.
— Eu diria Ethan! Landon… Eu não quero falar sobre ele. — Respiro
fundo e encho de calda de chocolate o restante do pote.
Marc enche o pote dele e depois caminhamos até a mesa nos fundos,
conversamos sobre como contar para as crianças e para Miranda, que vai pirar
por não poder estar comigo agora, mas eu jamais a deixaria sair do lado de
Mônica.
Observo a movimentação na sorveteria, adultos, crianças, idosos…
Todos tão contentes por um sorvete. E então entra uma moça loira com uma
menininha de cabelos castanhos e eu penso em mim, penso nela… Minha
menina.
Imagino como ela seria, como estaria hoje. E sou obrigada a desviar o
olhar, dói demais, é como cavar um poço do qual sei que eu nunca sairei.
— Eu queria te pedir desculpas. Eu deveria ter notado antes sobre
Miranda, eu faltei com ela. E quando você voltou, não pedi desculpas e você
está sendo tão bom comigo… — Seguro a mão de Marc. — Obrigada.
— Eu que agradeço, com Landon longe não me sobraram muitos
amigos e… você é minha amiga. Sei que mesmo sendo essa pessoa difícil,
você teria feito o mesmo por mim — ele diz apertando minha mão de volta.
Sorrio para ele e volto minha atenção para meu sorvete. Sinto meu
celular vibrar e quando olho o visor. É Miranda. Então é agora ou nunca!
— Eu vou colocar um chip em você! — ela grita comigo.
— Oi para você também, por que tanto estresse? — digo achando
graça.
— Você me omitiu uma crise séria e agora não atendia o celular, que
droga, Char! Eu não posso estar com você, mas eu quero ouvir sua voz, eu
quero ter certeza que você está aqui, ao alcance de minhas mãos — Miranda
murmura.
— Tenho uma notícia para você, mas não surte, porque eu estou bem.
Então… Miranda, eu estou grávida — falo rapidamente e afasto o celular do
ouvido porque sei que ela vai gritar, mas não há som algum no celular. —
Miranda?
— Estou aqui. Quando você soube? Quem mais sabe? Quer dizer…
Parabéns, Char! — Ela tenta parecer empolgada, mas sei que ela pensou no
mesmo que eu e sei que terei que contar a Marc e a Ethan tudo que aconteceu
no passado.
— Vai ficar tudo bem, Mi. Marc e Ethan sabem, eles me fizeram fazer
o teste de farmácia e Marc me fez ir à ginecologista. — Reviro os olhos para
ele. — Que tal um almoço amanhã?
— Um almoço será ótimo. Eu vou avisar meus pais. Char, eu tenho que
ir, mas… — Ela soa perdida.
— Pode ir, eu te ligo mais tarde.
— Eu te amo. E… só fique. Fique comigo. — Espero a linha ficar
muda e coloco sobre a mesa.
Deixe-me ir…
Foi o que eu pedi, mas Jared, Ana e Miranda não deixaram, eles não me
deixaram ir, não me deixaram partir. Mas as coisas mudaram. Eles se foram.
Somos só nós duas agora.
— Se você não quiser ir ao almoço… não precisa ir — digo olhando
sinceramente para Marc.
— Obrigado, eu acho um pouco cedo. Por mais que eu saiba que terei
que vê-la com mais frequência daqui para frente, prefiro pular esse almoço —
ele diz mordendo um bombom.
— Sem problemas.
Terminamos nosso sorvete e, antes de sair, brigamos por causa da conta.
Quase bato nele, mas no fim o deixo pagar.
Caminhamos pela rua de volta ao carro e sinto uma brisa leve balançar
meu cabelo. Jared…

Às vezes a vida acontece de forma muito estranha, seguindo sua própria


coordenada, sem perguntar nada a ninguém.
Depois de virmos da sorveteria, brigando, claro, porque eu e Marc
temos convivido tanto que já somos de casa o bastante para um se intrometer
na vida do outro, ele tenta tocar no assunto Landon mais de uma vez. Mas
nesse momento não quero saber dele, nem de suas possíveis razões para
simplesmente sumir como se não tivesse compromisso nenhum com nada.
Não digo por mim, mas por Marc e a clínica que eles têm juntos.
Doutor Certinho está me desapontando cada vez mais.
E Ethan… Bem, esse tem ganhado pontos, mas Ethan é o Ethan. Ele
sempre foi assim, menos quando se tratou de mim… Ele me feriu muito no
passado, mas tem sido meu presente neste momento.
Talvez realmente tenhamos sido feitos para estar no caminho um do
outro, sem necessariamente para ser um casal.
Subo para tomar banho enquanto Marc faz o jantar, que será lasanha e
que ele teve que aprender a fazer. Lena ensinou a ele, agora é ver se ele
aprendeu.
Observo minha barriga pelo espelho… É tão estranho saber que ela
cresceu e eu nem notei…
Desço as escadas silenciosamente até a cozinha para ver o que ele está
fazendo. Eric trará as crianças mais tarde. Ambos, Marc e Eric, queriam me
estrangular. Marc por não saber que tenho depressão e Eric por não saber que
eu estava passando por uma crise.
Ouço Marc dizer um palavrão e, quando surjo na porta, ele está tirando
a camisa e fico sem chão com o que vejo a minha frente…
Não pode ser…
Marc tem uma cicatriz enorme bem no meio do peito. Não pode ser!
Seria muita coincidência a pessoa que ganhou o coração de Jared estar aqui
tão perto de mim. Ou melhor, bem na minha frente.
Marc ergue a cabeça e deve ter se deparado com minha cara de espanto
e incredulidade, porque faz uma careta e coloca a camisa em frente a seu peito
para tapar a cicatriz… A cicatriz que pode estar escondendo o coração de
Jared.
— Não é algo muito atraente de se olhar — ele diz sem jeito.
— Do que é essa cicatriz? — Preciso que ele fale.
— Eu sou transplantado do coração. Eu evito mostrar por causa desse
olhar no rosto das pessoas. Eu sou médico e sei que não deveria ligar, mas…
Não consigo mais ficar ali, eu preciso ter certeza, eu preciso saber…
Essa ligação tão rápida… Eu devo estar enlouquecendo.
Subo as escadas correndo e procuro em meu quarto os papéis que
consegui, onde diz o nome da pessoa que recebeu o coração de Jared. Eu
recebi e preferi guardar por um tempo, mas está na hora de saber.
Ouço os passos de Marc na escada, mas não me preocupo com isso, não
nesse momento.
— Char? Você está bem? — Marc pergunta surgindo na porta.
— Eu não sei…
Finalmente abro a pasta certa e ali está escrito o que pensei ser
impossível de acontecer. Eu sabia que meu coração e de Jared eram grudados,
mas nunca pensei que o destino pudesse ser tão cruel! Tirá-lo de mim como
tirou e depois fazer nossos caminhos se cruzarem novamente.
Leio tão rápido aqueles papéis que devo estar parecendo uma louca aos
olhos de Marc, mas não ligo, preciso achar onde diz quem possui o coração
de meu irmão. E então eu encontro…
O recebedor de um dos órgãos de Jared Evans… É Marc Reid.
Caio de joelhos no chão com papéis voando para todos os lados, mas
essa folha permanece em minhas mãos, a folha que tanto tentei esquecer e que
eu tanto quis encontrar.
— Char?! — Marc corre ao meu encontro. — Você está bem? Está
sentindo alguma coisa? — Sua voz soa distante.
Tudo que vejo é o rosto de Jared sorrindo para mim e gritando:
“Eu te amo! E mesmo que eu venha a morrer, meu coração baterá
sempre por você, porque você é meu coração, Charlotte.”
— Sabe quem foi seu doador? — pergunto sem olhar para ele.
— O quê? — Marc parece perdido.
— Seu doador. A pessoa que doou o coração para você, sabe quem foi?
— Não, eu nunca procurei. Por quê? — Marc soa preocupado. — Eu
não entendo…
Não respondo nada, só mostro o papel para ele ver. Marc pega o papel
de minhas mãos e não entende o que significa, então digo para ele ler o
terceiro parágrafo.
— Isso é quase impossível… Eu recebi um bilhete com a frase…
— “Eu te amo! E mesmo que eu venha a morrer meu coração baterá
sempre por você, porque você é meu coração, Charlotte.” Ele sempre me dizia
isso. — Minhas lágrimas fluem livremente por meu rosto.
Eu queria encontrá-lo e encontrei, ou ele me encontrou…
Marc se senta ao meu lado ainda com a folha em sua mão. Ficamos em
silêncio por um longo tempo, tão longo que penso que estou sonhando, até
que ele se mexe ao meu lado.
— Eu não sabia, achei que era melhor não saber… Embora eu quisesse
e muito saber quem era a Charlotte que merecia tamanha devoção de alguém.
E agora que sei… Sei também por que ele dizia essas palavras — Marc diz
me puxando para seus braços.
— Eu fui o milagre de Jared… — É tudo que consigo dizer.
— Você é o meu milagre também, porque se não fosse o amor dele por
você, eu não estaria aqui. O coração dele resistiu todo aquele tempo por você.
Charlotte, você é meu coração — Marc diz com o mesmo amor com que
Jared gritava isso para mim.
Capítulo 21

A noite de ontem foi longa, muito longa. Marc e eu permanecemos um


bom tempo abraçados, falando de Jared. Então as crianças chegaram,
improvisamos um jantar às pressas e tentamos disfarçar os acontecimentos.
É quase meio-dia, em breve a casa estará cheia. Observo a mesa pronta,
esperando que todos cheguem para poder almoçar e comunicar as novidades.
Marc, que não iria participar do almoço, resolveu ficar. Eu não quero mentir e
ele entende isso.
As crianças descem correndo as escadas, felizes com a reunião de
família. Marc e Lena estão trocando truques e receitas, reviro os olhos, ele
está realmente interessado nessa área culinária.
— Mamãe? — Alice me chama sorridente.
— Sim? Algum problema? — pergunto passando a mão por seus
longos cabelos vermelhos.
— É sobre Landon. Estou com saudades… estamos — Alice diz
olhando para os irmãos com suas cadelinhas pulando ao redor deles.
— Eu sei que estão com saudades, mas não tenho notícias de Landon,
sinto muito. Mas a notícia que tenho é boa, eu espero que seja pelo menos. —
Penso sobre isso e mais uma vez considero deixar para dar essa notícia em
outro dia.
— Parece bom, mamãe! — Alice está feliz, então estou feliz, ela sofreu
tanto…
Mônica é a primeira a entrar, seguida de Miranda e Eric, depois Sam,
Denise e Elisa, acredito que perdi alguma coisa nesses dias em que andei
trancada em meu quarto.
— Oi, tia Char! — Elisa diz se grudando em minha cintura.
— Oi, minha pequena bailarina! Você está linda! Amei o penteado —
digo, girando-a.
— Denise que fez, ela dormiu lá em casa — ela diz sorrindo radiante.
— É mesmo? Perdi muito coisa pelo visto… — digo olhando para os
dois culpados que desviam o olhar do meu. — Talvez ela faça uma trança
dessas para mim. O que acha? — Elisa faz que sim com a cabeça e corre para
Alice.
Mônica me abraça com força e pergunta como estou, digo que ficarei
bem e ela diz que nós ficaremos bem, o que eu peço a Deus que seja verdade.
Miranda é a próxima, ela segura meu rosto em suas mãos e diz que me
ama. Começo a rir e ela fica brava, mas isso muda rapidamente quando ela
avista Marc na porta da cozinha.
Eric empurra Miranda para o lado e me abraça também, depois é a vez
dos fugitivos. Sam é o primeiro.
— Eu iria contar, mas… Eu sabia que era um momento difícil, então…
— Sam dá de ombros como se isso fosse um bom pedido de desculpas.
— Obrigada por tudo que fez para mim. Depois do que eu fiz, você
deveria me odiar, mas, no entanto… — Denise diz e coloco as mãos em seu
rosto e digo que estou muito feliz por ela estar seguindo em frente e que ela
escolheu muito bem.
Olivia é a última a chegar. Ela está radiante por ver todos seguindo em
frente… Quase todos, eu estou me sentindo afundar em mim mesma.
É a segunda vez em meses que está casa fica tão cheia. É bom ver todos
reunidos, ouvir as vozes e as risadas.
Dói ver Miranda assim, tristonha, essa não é a pessoa que conheço, a
garota vibrante e festeira está apagada… O jeito que ela olha para Marc fere
minha pele, eu odeio vê-la se punir desta maneira.
— Podemos conversar um pouquinho antes de reunir todos? —
Encosto meu quadril no dela, fazendo-a sorrir para mim.
— Claro. Vamos ao meu quarto, porque eu ainda tenho um quarto nesta
casa — Miranda diz fazendo bico.
Subimos as escadas e por um momento consigo nos ver subindo essa
mesma escada há dez anos… Jared e Ana no sofá, Alice brincando no
tapete…
— Char? — Miranda chama minha atenção já no topo das escadas.
Sorrio e termino de subir os degraus. Ela segura minha mão e juntas
entramos em seu quarto. A janela está aberta e entra uma brisa gostosa, nos
jogamos em sua cama e olhamos para o teto.
— Você o ama, então lute por ele, Miranda. Não o deixe ir longe
demais. Mostre que você errou e que se arrepende. Não deixe seu brilho
morrer, nenhum de vocês dois merecem isso. — Preciso trazê-la de volta a
razão.
— Você tem razão, mas não sei como fazer isso… Eu o vi com outra
pessoa e isso rachou minha confiança. Não sei como começar de novo… —
Miranda está pensativa.
— Sabe sim! Só precisa de um empurrão! Chegue nele de novo,
marque espaço… Se tem alguém bom nisso, é você! E não tenho dúvidas
disso. Marc também te ama, ele só precisa de tempo. E veja bem! Eu disse
tempo, não espaço. — Pisco para ela, que deita a cabeça em meu ombro.
— Eu preciso te contar uma coisa. Quando eu sugeri que você casasse
com Landon, tinha outra razão além de mostrar uma pessoa com mais
responsabilidades… Jared deixou um papel que imagino ser ainda da época
de Ethan, onde diz que você deve casar para manter a guarda efetiva das
crianças. É como uma…
— Apólice de seguro. Mas Landon não está aqui. Nós terminamos e
ele tem um filho a caminho… — Minha mente está fervilhando. — Deixei
papéis onde eu passo a guarda das crianças para você, caso algo me aconteça.
— Mas eu não sou parente de sangue. O casamento seria o mais lógico,
infelizmente — Miranda diz com pesar.
— Tenho algo para contar, Miranda. Eu descobri quem recebeu o
coração de Jared… Foi o Marc. Por que nunca me falou da cicatriz no peito
dele? — Viro-me para olhá-la, mas Miranda está em choque.
— Isso é… Nossa, eu nem sei o que dizer. Ele não gostava de falar
nisso e eu não liguei uma coisa na outra, até porque isso parece coisa de
filme. — Ela segura firme minha mão e, decidida, diz que tudo vai dar certo e
eu espero que ela tenha razão.

O almoço foi servido, todos estão com pratos cheios e conversando


animadamente. É incrível ver todos aqui, falta Landon ou… Ethan.
— Eu tenho uma notícia para dar. Duas, na verdade. — Todos ficam
em silêncio e Miranda segura uma de minhas mãos e Marc a outra, esses dois
nasceram para estar juntos, mesmo que o destino, ou Jared, não tivessem
interferido. — A primeira é que, mesmo que isso pareça coisa de filme, é bem
real. Há algum tempo eu resolvi descobrir quem recebeu o coração de Jared e
há algumas semanas eu recebi os papéis com o nome da pessoa, mas só ontem
resolvi ler e… Essa pessoa esteve o tempo todo tão perto de cada um de nós
que chega a ser meio assustador. Essa pessoa é Marc Reid. E a segunda
notícia é que… eu estou grávida. — Termino rapidamente e me sento,
sentindo uma leve tontura.
O silêncio é tanto que por um momento penso que desmaiei e não
percebi, mas então Marc diz que tudo é verdade e a conversa recomeça a
vozes chocadas e alegres. Recebo felicitações, e Marc boas-vindas.
— Dá próxima vez tente respirar enquanto fala, pra evitar que você
desmaie e eu surte com isso — Miranda diz em meu ouvido.
— Eu prometo — Tento tranquilizá-la.
— Vamos ganhar um irmãozinho? — Alec grita, finalmente
entendendo o fim do meu discurso.
— Ou uma irmãzinha, pode ser menina, não é? — Alice diz em dúvida.
— É claro que pode. E você Aria? Feliz com a notícia? — Mônica
pergunta a minha filha caçula, que até então parece estar segurando a
respiração.
— Eu posso cuidar dela também? — Aria pergunta, sem gaguejar!
Uma frase completa e eu começo a chorar que nem uma louca por isso.
Todos param para olhar para mim, que me levanto e vou até ela,
abraçando-a com força. Minha menina está crescendo.
— É claro que você pode! E deve. — E como devo estar parecendo
uma louca com hormônios demais, esclareço. — Aria disse uma frase
completa sem gaguejar!
E mais uma vez há muitas felicitações e risos. É bom estar em casa com
minha família. Porque mesmo que não seja de sangue, essa é minha família.
Eu não sei o que tenho na cabeça, mas estou ligando para Landon há
quase meia hora, o celular toca, mas ele não atende e não vou deixar recado.
Desisto de tentar e coloco o celular no braço do sofá.
O celular vibra e o pego rapidamente. É Ethan e não Landon. Odeio os
homens. Odeio com todas as minhas forças.

“Jantar comigo hoje? Não aceito não como


resposta. Pego você às sete.”
Por que essa mensagem não me surpreende? Porque Ethan é assim, um
não nunca é um não para ele. Mas não vou negar que senti certa alegria por
ver seu nome em meu visor. Ele tem estado tão próximo de mim, e no fundo
esse homem ainda mexe comigo, e muito.
Decido que sorvete será a solução temporária dos meus problemas e
pego um pote pela metade, de chocolate, e encho com calda de morango e
chocolate.
Marc entra em casa com duas caixas nas mãos e se depara comigo cheia
de sorvete e calda pelo cabelo, rosto e camiseta.
— É um jeito novo de tomar sorvete? Porque se é eu vou continuar no
jeito antigo — ele diz tirando sarro de mim, reviro os olhos e caminho para a
cozinha atrás dele.
— Eu tenho que sair, pode ficar com as crianças para mim? Eu não
demoro. E antes que você diga o que sei que dirá, sim, vou sair com Ethan
e… pretendo me casar com ele, então se vai pirar, faça isso agora — digo
tentando sem sucesso limpar o cabelo na pia.
— Você vai o quê? — Marc diz tão bravo que me assusta.
— É o que você ouviu. Preciso me casar o mais rápido possível e seu
amigo terminou comigo, vai ter outro filho e sumiu — digo no mesmo tom
que ele.
— Char, Landon precisa de tempo, logo ele volta e vocês se acertam…
— Não tenho esse tempo, Marc. A data é para daqui algumas semanas,
eu não posso esperar, meus filhos estão em risco e não posso arriscá-los mais.
Não vai ser um casamento de verdade. — E não vai mesmo.
— Sério? Está na cara do Ethan que ele te ama e que te quer de volta,
então por que não seria de verdade? Eu posso ver que ele ainda mexe com
você… — Marc bate a mão na mesa.
— Provavelmente você está certo em tudo que disse, mas… Eu já
estive muito perto de me casar com Ethan e assim como Landon ele fugiu,
então aquele que aparecer primeiro, casa comigo. E não será de verdade
porque nas duas ocasiões o que vem depois, veio primeiro. E isso é pizza? Eu
quero pizza — digo abrindo a caixa e pegando uma fatia enquanto Marc me
olha boquiaberto.
— Agora eu sei por que você odeia pediatras — ele diz pegando uma
fatia assim como eu.
— Eu não os odeio… Certo, eu odeio sim. E não quero mais falar
sobre isso. — Esse assunto está começando a ser tópico de todas as nossas
discussões.

Estou me observando no espelho por um longo tempo, minha barriga


está começando a crescer… Em algumas semanas é natal e a data que
marquei para me casar com Landon.
— Você está linda, mamãe! — Alec abraça minha cintura e encosta a
cabeça em minha barriga. — Vovó Mônica disse que eu podia ouvir o bebê se
mexer, mas não ouço nada! — ele diz confuso, o que me faz sorrir.
— É porque é muito cedo, mas em breve você vai ouvir e sentir, eu
prometo! — Passo as mãos por seus cabelos e imagino Jared com esse mesmo
entusiasmo quando mamãe estava grávida de mim. — Você me lembra tanto
seu pai…
Alec sorri para mim pelo espelho e ficamos assim por um tempo. Meu
vestido azul contrasta com os olhos azuis dele e nossos cabelos vermelhos
realçam as cores ao nosso redor.
Ouço a campainha tocar e digo a Alec que vou sair, mas que logo
estarei em casa, ele sorri e diz que gosta de Ethan. Provavelmente ele não tem
lembranças de Ethan em sua vida, afinal de contas ele era muito novinho, mas
tenho quase certeza que Alice lembra, mesmo que ainda não tenhamos
conversado sobre isso.
Desço as escadas com Alec ao meu lado. Marc está encarando Ethan na
porta, Alice e Aria olham para mim com olhos brilhantes, assim como Elisa.
— Como eu estou? — digo girando ao redor de Alec e as fazendo rir.
— Linda, mamãe! — Aria diz batendo palmas.
— Maravilhosa! — Alice diz me abraçando.
— Uma princesa! Quando eu crescer quero ser como você e tia
Denise… E tia Miranda. — Elisa sorri tão brilhante, ela é muito corajosa,
uma guerreira como todas as mulheres que integram essa família, sendo de
sangue ou não.
Viro-me para ver Ethan e Marc que ainda estão parados na porta, um do
lado de dentro e o outro do lado de fora. Reviro os olhos para eles. Tão
infantis.
— Ethan? Podemos ir — digo sorrindo para ele e beijando o rosto de
Marc. — Eu volto logo e não os deixe acordados até muito tarde.
— Não se preocupe com as crianças, e você… — Marc aponta para
Ethan. — Cuidado.
— Não se preocupe, Marc. Charlotte já foi minha namorada, lembra?
— Ethan pisca para Marc e me guia até o carro.
Noto Marc ainda parado na porta nos observando e imagino Miranda ao
lado dele. Sei que eles acabarão juntos, mesmo que não queiram. O engraçado
disso tudo é que não consigo me ver ali…
— Ele realmente me ameaçou? Lembra-me do dia que conheci Jared,
achei que ele iria me bater caso eu dissesse algo que ele não gostasse —
Ethan lembra, tirando o carro do meio fio.
— Eu me lembro desse dia, você estava tão nervoso! Ainda mais
depois que Miranda contou como ele era superprotetor… — Olho para Ethan,
que está sorrindo.
São tantas lembranças que compartilhamos, mas também! Foram quatro
anos juntos… Um casal consegue muitas lembranças em prazos muito
menores.
— Que tal jantarmos no nosso restaurante favorito? Eu fiz reserva, mas
se você quiser ir a outro lugar… — Ethan está sorrindo o caminho todo.
— Está ótimo, faz tempo que não vou até lá. — E faz mesmo… A
última vez foi antes da morte de Jared e Ana há quase seis meses atrás… Nem
parece, mas já se passaram seis meses… Bem, quase isso, mais algumas
semanas e o tempo mostrará o quanto pode ser implacável com a saudade.
Denise finalmente tem todas as lembranças de Clara; Sam terminou o
que comecei. Espero que eles se deem bem, formam um casal bonito e Denise
não podia recomeçar com uma pessoa melhor.
Chegamos ao restaurante e o cheiro familiar me rodeia, ainda mais com
o homem ao meu lado, entramos no restaurante e somos guiados a nossa mesa
de costume e anoto mentalmente de trazer as crianças aqui em breve.
Reviro os olhos ao ver que pedimos os mesmos pratos de sempre, mas
troco o vinho por suco. A gravidez e os remédios para depressão não me
deixam beber há muito tempo, mas eu ando tão reclamona nos últimos tempos
que nem ligo mais para isso.
— Você está linda, radiante na verdade. A gravidez faz bem a você. —
Ethan toma um gole de vinho e começo a rir desse hábito dele de fechar os
olhos no primeiro gole.
— Você fica ridículo quando faz isso! Não sei quantas vezes já te falei
isso, não o bastante pelo visto. — Pisco para ele.
— Você pode dizer isso até o fim de nossas vidas, é só aceitar casar
comigo. — Ethan me olha com tanta intensidade que sinto como se
estivéssemos nos vendo pela primeira vez.
— Já falamos sobre isso, tem coisas que precisamos dizer e discutir, e
ainda não fizemos isso. Foram quatro anos sem nos ver e muita coisa
aconteceu que você precisa saber, e sei que quer saber. — Tomo um gole de
meu suco.
Ethan parece querer dizer algo, mas nossos pratos chegam e resolvemos
fazer uma trégua. Pedi lasanha à bolonhesa, a daqui é uma delícia, e Ethan
pediu macarronada italiana. Somos dois loucos por massa.
Comemos em silêncio e pedimos a mesma sobremesa, mousse de
chocolate e morangos com chocolate.
— Sabe que pode confiar em mim, não é? Eu te feri no passado, mas
eu era idiota, jovem e… Sei que não tem desculpas, Charlotte, mas case
comigo! Podemos começar de novo, eu quero começar de novo, quero ver
seus lindos olhos de tempestade todos os dias de minha vida… Eu te amo.
— Ela não vai se casar com você, porque ela casará comigo. — Olho
para cima sem acreditar na pessoa parada ao nosso lado a mesa. Landon.
— Ela, no caso eu, me caso com quem eu quiser. Nós terminamos,
lembra? E você foi embora com a Marine e seu filho que está a caminho —
digo ficando furiosa.
— Eu discordo, nós tivemos uma discussão e estávamos com a cabeça
quente — ele diz cheio de razão.
— Ethan, vamos, eu quero te levar a um lugar. — Não digo isso só
para irritar Landon, mas porque é verdade, e nesse momento vejo Marine
sorrindo para mim de uma mesa não muito longe, sua barriga está pouco
maior que a minha. — E Landon, eu não sei se você percebeu, mas… você
nunca teve um lugar para querer chamar de seu agora.
Ethan paga a conta e estou prestes a arrastá-lo para a rua quando ele
resolve se mexer. Estou fervendo de ódio! Como Landon ousa entrar em
minha vida assim novamente, com Marine em seu bolso?
Ouço Landon dizer que o lugar dele sempre será ao meu lado, só
precisa de tempo para isso acontecer. Recuso-me a dar uma resposta a ele.

Pedi que Ethan nos trouxesse até a casa dos meus pais, casa essa a qual
não venho há muito tempo… Tempo demais.
— Por que estamos aqui? Sei o quanto essa casa mexe com você…
— É aqui que está tudo… Meu vestido de casamento, o berço, as
roupinhas e todo resto do enxoval. É aqui que está… é aqui que estão as
lembranças de nossa filha… É aqui que guardo tudo que foi de Dakota. — As
lágrimas mancham meu rosto e sei que o de Ethan está do mesmo jeito.
Perdê-la doeu demais e ele não esteve comigo. Ele não a viu nascer, não a
conheceu, não a enterrou. Eu fiz isso. Eu e minha família.
Capítulo 22

Oito anos atrás…

Terceiro ano de faculdade. Para outras pessoas seria o segundo ano, mas
eu e Miranda entramos mais cedo na escola, por isso estamos adiantadas. Em
direito tenho mais dois anos de curso, mas fotografia está acabando.
Ontem esbarrei em um idiota do curso de medicina, cabelos que não sei
dizer se eram loiros ou castanhos, uma mistura dos dois, olhos azuis
profundos e barba um pouco mais escura que os cabelos. Ele tem um sorriso
encantador, mas bastou abrir a boca para o encanto acabar.
Seu nome? Ethan Kane, quarto ano no curso de medicina. Ele entrou na
idade certa na escola. Reviro os olhos com esse pensamento, o que esse cara
me interessa? Em nada, não quero um relacionamento tão cedo, ainda mais
depois do desastre chamado Josué, um nome bíblico para um capeta, porque é
isso que aquele idiota é. Mas ele tentou brincar com a garota errada, porque
para quebrar meu coração eu teria que me importar com ele primeiro. E talvez
eu tenha me importado… Ah, não, aquilo foi só a minha raiva criando forma.
Sorrio com isso. Dei um soco nele há alguns dias..
Meu celular toca assim que saio de meu apartamento que divido com
minha melhor amiga Miranda. Faço faculdade perto de casa porque não
queria ficar longe das únicas pessoas que ainda tenho para chamar de família,
meu irmão Jared, minha cunhada e melhor amiga Ana, meus sobrinhos e os
pais de Miranda. É Jared ao telefone.
— A ideia de eu me mudar era para você desgrudar um pouco de mim,
sabia? — Meu irmão é uma extensão do meu corpo.
— Por que não me contou sobre esse tal de Josué? Achei que tínhamos
um trato! Quem esse imbecil pensa que é? — Jared está furioso.
— Se acalme! Está tudo bem, ele nem era importante e nesse
momento… Acho que ele deve estar te odiando já que foi você quem me
ensinou a dar aquele belo soco de direita que dei nele. — Consigo ver a cena
nitidamente. — Como estão as crianças?
— Não troque de assunto, mas elas estão ótimas, com saudade, é claro.
Bateu nele? Isso é bom, mas não estou feliz de ser o último a saber. — Ouço
Alice cantar algo perto do celular.
— Desculpe, eu não queria contar por telefone e só vamos almoçar no
domingo. E quem está com saudades? Você ou as crianças? Eu estou bem, é
sério! Não se preocupe, se eu precisar de colo, corro para você. — Como
sempre faço, penso sobre isso… Jared é sempre meu porto seguro.
— Isso é bom. Vou te deixar ir estudar e vejo você em breve, ligo mais
tarde. Te amo. — Ouço Alice rir e Ana cantar para ela.
— Também te amo.
Encerro a ligação e continuo meu caminho até a garagem onde Miranda
me espera sorridente. Ela nem pergunta se era Jared, porque sabe que só ele
liga no instante em que sabe das coisas, como se eu fosse surtar (de novo) ou
coisa assim.
Entro no carro e Miranda dá partida, sempre acho graça da forma como
ela estica a primeira marcha, como se estivesse no filme velozes e furiosos,
ela me nota sorrir e revira os olhos para mim, me fazendo gargalhar. No fundo
era isso que ela queria.
Vinte e cinco minutos depois, estamos estacionando no pátio da
faculdade. Hoje não tinha trânsito, então chegamos cedo e avisto a última
pessoa que eu queria ver nesse momento. Ethan.
Eu não sabia o nome dele até que Miranda me contou. Ela não sossegou
até saber, que pessoa persistente essa!
Miranda bate mim, como se eu não o tivesse notado nos esperando.
Reviro os olhos para ela e fazemos nosso caminho para a entrada da
faculdade. Meu cabelo vermelho hoje está meio rebelde…
— Bom dia, moças! É Charlotte, certo? — Ele tenta soar engraçado,
mas lembra que eu disse que quando ele abre a boca o encanto acaba? Pois
é… Ele só me irrita.
— Não, meu nome é Melissa. — Reviro os olhos para ele e continuo
meu caminho, ignorando o sorriso de Miranda.
— Sabe Melissa, você combina mais com Charlotte. E você é muito,
muito bonita… — Ethan diz, alcançando meus passos, e Miranda começa a
ficar um pouco mais atrás. — Seus olhos cor de tempestade são fascinantes.
— Olho para ele em busca de alguma piada, no entanto, ele me olha
realmente fascinado.
— Você sempre tenta essa cantada? Porque ela é horrível, talvez você
deva ensaiar algo melhor no fim de semana. — Apresso o passo e aproveito
quando uma loira bonita tranca o caminho dele.
Miranda corre para me alcançar e caminhamos em silêncio até nossa
aula. O professor já está em sala e nos cumprimenta quando entramos.
Sentamo-nos lado a lado e aproveito os poucos alunos na sala para tirar
algumas dúvidas.
A aula passa rápido, tão rápido que quando noto já é hora do intervalo,
então Miranda e eu vamos até a lanchonete comprar alguma coisa e nos
sentamos em uma das mesas ainda vazias no lado de fora.
Mordo meu pastel de forno e quando termino de engolir… Ethan está
sentado ao meu lado. Miranda está entretida com seu namorado e eu tento não
jogar o suco em Ethan.
— Você não devia ser mal-humorada assim o dia todo, isso faz mal a
alma, sabia? E você tem cabelos de um vermelho impressionante. E não era
uma cantada mais cedo. — Ele morde seu sanduíche. — Era um elogio,
senhorita mal-humorada.
— Você é sempre tão chato? Ou insistente? Porque eu acabei de chutar
um cara como você, não estou a fim de gastar tempo à toa. — Mordo meu
pastel.
— Não, você chutou um idiota, eu sou muito diferente. E caso você
não queira me dar uma chance por bem… Terei que fazer você me dar uma
chance por mal. — Ele diz piscando para mim.
Desisto de meu lanche e do intervalo e vou para minha próxima aula
com ele gritando que eu não tenho como fugir dele, que sou sua alma gêmea.

Um ano depois…

Faz um ano que estou namorando com Ethan e finalmente posso dizer
que o que sinto por ele é quase amor, mas ainda acho cedo para arriscar essa
palavra com A. Hoje Jared vai conhecer Ethan, meu irmão e meu namorado
na mesma sala chega a me dar calafrios. Jared fez as perguntas mais estranhas
do mundo quando eu disse que Ethan virá hoje e Ana tentou me ajudar, mas
meu irmão é terrível quando se trata de garotos, mesmo que eu tenha vinte
anos.
— Respire, Ethan, você é o médico aqui, nós somos todos advogados.
— Tiro sarro dele, que só me olha como se eu fosse um grande presente.
— Estou tentando, mas Miranda me disse tantas coisas sobre seu irmão
que eu não consigo pensar direito — ele diz irritado consigo mesmo.
— Vai ficar tudo bem e qualquer coisa… eu te protejo. — Beijo seu
rosto e nesse momento a porta se abre e Jared aparece com cara de poucos
amigos.
Sorrio para ele e pulo em seu colo, ainda segurando a mão de Ethan, o
que o traz junto comigo. Jared estreita os olhos para meu namorado, faço as
apresentações e, puxando Ethan comigo, entro na casa em que morei e em que
ainda tenho meu quarto.
Ana vem em minha direção com Alec no colo e Alice logo atrás dela,
minha cunhada me abraça apertado trazendo Alec junto com ela e depois
Alice corre até mim. Pego-a no colo e a giro, fazendo-a rir. Ana abraça Ethan
e diz que ele é muito bem-vindo, Alice sorri para Ethan e a aproximo dele
para que ela beije seu rosto.
Sentamo-nos todos à mesa e Jared faz as perguntas de praxe para Ethan,
sobre a faculdade, a área que ele escolheu, o que procura em seu trabalho, sua
especialização e planos para o futuro. Depois de respondidas essas perguntas
e servida a mesa, começamos a comer e Jared continua a falar. Ele fala do
escritório, sobre mim, nossa família, do fato de Ethan ser o primeiro
namorado a vir em casa e sobre o que acontecerá com ele caso me machuque
algum dia.
Finalmente seu estoque de palavras parece ter acabado e eu e Ana
começamos uma conversa sobre enxoval de bebê, e é quando Jared me intima
a ser a madrinha de Alec, assim como sou de Alice, tento argumentar, mas
nem ele, nem Ana me deixam ganhar a discussão.
O prato principal foi lasanha e contamos a Ethan nossa obsessão por
lasanha, depois vem a sobremesa, mousse de chocolate, meu favorito, bem, eu
amo tudo que é de chocolate. Ethan sorri com isso.
— Eu estava pensando em irmos passar o fim de semana na praia, o
que acha, Lottie? Será bom para você descansar um pouco… — Jared nota
que desvio o olhar dele e levanta a sobrancelha.
— Eu já marquei uma viagem com Ethan, mas no próximo fim de
semana estou livre. Eu conheci os pais de Ethan há algumas semanas e ele
veio aqui hoje, então… Resolvemos fazer um passeio, Miranda e Tobias irão
junto. — Tento concertar a briga, mas pela expressão de meu irmão não deu
nada certo.
— E por que não viajamos todos juntos? — Jared diz em tom de aviso.
— É porque eu preciso ir até a cidade vizinha para pegar uns papéis
para o meu pai e então decidimos passar o fim de semana lá, mas eu prometo
que a trago inteira — Ethan diz em tom brincalhão.
Levo à mão a testa, porque Ethan acabou de estragar minha desculpa
quase perfeita, nem preciso olhar para saber que Jared está lançando punhais
na direção do meu namorado.
— Eu acho bom que ela volte inteira, porque senão eu vou…
— Vai ficar muito chateado e você não quer que Jared fique chateado
com você, não é mesmo? Ainda mais se quer fazer parte da família. — Ana
intervém em nosso auxílio.
— Bem, já está tarde e Ethan tem trabalho amanhã cedo, nós estamos
indo — digo, levantando-me e Ethan faz o mesmo.
Jared e Ana se levantam também. Alice e Alec dormiram antes do
jantar, beijo suas testas quando passo pela sala onde eles dormem em meio a
seus brinquedos. Chegamos à porta e beijo e abraço Ana e por último meu
irmão.
— Você prometeu ser bonzinho — digo enquanto o abraço forte. —
Ele é um bom rapaz.
— Eu notei isso, mas não gostei da piada que ele fez. Eu te amo e te
vejo amanhã. — Jared beija minha testa e depois aperta a mão de Ethan.
Caminhamos em direção ao carro com Ethan a quase um braço de
distância de mim, e começo a rir por isso. Eu não devia rir dele, mas a noite
de hoje vai ficar para sempre na memória.
Entramos no carro e Ethan dá a partida, finalmente soltando o ar que
estava prendendo. Esfrego suas costas como faço sempre e ele relaxa.
— Eu achei que ele iria pular por cima da mesa e me esganar! —
Sorrio para ele e depois falo que na próxima será melhor… Mas é claro que
omiti o fato de o que ele pensou ser verdade.

Dois anos depois…

Estou na casa de Jared em uma quinta à noite, o que eu não costumo


fazer, mas eu precisava vir… Estou olhando para meu irmão há quase meia
hora, ele está ajudando Ana na cozinha enquanto eu brinco com Alice e Alec.
Eu vim porque… bem, porque conto tudo a Jared, mas como eu digo
que a irmãzinha dele é uma mulher de verdade? Passei minha primeira noite
com Ethan e apesar de estranha foi incrível, ele é romântico e… me ama. Isso
deve contar pontos, certo? Está me dando uma coceira infernal e penso
seriamente em desistir e ir embora.
— Lottie? Quer me contar alguma coisa? — Levo um susto quando
ouço a voz de Jared tão perto de mim.
— É… Não, claro que não. Quer dizer… sim, eu quero, mas não sei
como. — Encosto a cabeça em seu ombro e fecho os olhos com força.
— Que tal se formos até seu quarto? Tenho algo para você. — Meu
irmão acaricia meus cabelos e assim nós subimos as escadas até meu quarto,
olho para Ana que me diz “boa sorte”.
Entramos em meu quarto e me deparo com um lindo vestido sobre a
cama. Jared diz que é para o evento de fotografia e o abraço pelo presente, é
lindo. Um vestido um pouco acima dos joelhos em tom vinho, meia manga
com um belo decote.
Pego o vestido na mão e Jared se senta ao meu lado.
— O que eu quero dizer, é que… Você sabe que isso iria acontecer,
então… Jared, eu e Ethan passamos a noite juntos e eu realmente gosto dele,
então seja mais bonzinho com ele…
— Vocês o quê? — Jared passa as mãos pelos cabelos, fica de pé, anda
de um lado a outro e depois para de frente para mim. — Eu sabia, mas… é
diferente de ter a confirmação. Como foi?
— Foi ótimo, estranho, mas foi bom. — Eu esperava gritos e ameaças
à vida de Ethan, mas assim está bom.
— Isso é ótimo, porque caso contrário eu teria que castrar ele. E… eu
não sei, te dou parabéns? Ou algo assim? — Começo a rir e digo que um
abraço já está ótimo, o que ele faz rapidamente. — Vou ser melhor com ele.
Sabe que pensando nisso… ele pode vir jantar conosco.
— Jared, não! Você… — Mas não tive como salvar Ethan dessa.

Três anos depois…

O dia hoje foi uma correria! Um inferno, Jared discutiu com um dos
advogados, Ana com a secretária de Jared, Miranda brigou com Tobias, e eu?
Bem, eu estou com dor nos pés e na cabeça e não briguei com ninguém…
ainda.
Sinto cheiro de chocolate assim que chego em frente à minha porta, mas
imagine minha reação quando o que encontro é meu namorado, cercado de
pétalas de rosas por todo chão ajoelhado e sorrindo para mim.
— Não me diga que você está ficando louco com a residência ou algo
assim! Por favor? — Tento fazer uma expressão feliz e caminho até ele. —
Você pretende se levantar?
— Se você me deixar falar, sim, eu vou me levantar — ele diz me
olhando com intensidade, então fico em silêncio. — Charlotte Evans… Você
aceita se casar comigo? Ser minha esposa, minha companheira, minha amiga,
minha confidente, a mãe dos meus filhos? Para que eu possa acordar todos os
dias e ver esses lindos olhos de tempestades? E ter filhos ruivos?
— Eu… — Não sei o que dizer, em meio a tudo que planejei e tenho
planejado, casamento nem me passou pela cabeça, embora na do meu irmão
já tenha passado muitas vezes. — Aceito… Quer dizer, sim! — Se é mais um
teste em minha vida, lá vou eu enfrentá-lo de frente.
Ethan coloca uma linda aliança em forma de máquina fotográfica em
meu dedo e depois, colocando-se em pé, ele me pega no colo e me gira,
beijando-me com vontade.
Meu noivo fez o jantar que está uma delícia! Lasanha de camarão com
batatas amanteigadas. Ele é um bom cozinheiro. Conversamos sobre nosso
dia como sempre fazemos, depois comemos a sobremesa sentados no sofá
assistindo um filme qualquer.
— Eu acho que deveria ter pedido a Jared primeiro, só para evitar de
você ficar sem noivo… — Ethan está pensativo, então sei que não é
brincadeira.
— Não seja bobo, ele vai aceitar bem, quer dizer, namoramos há três
anos. Meu irmão já te aceita… Melhor do que há dois anos. — E começo a rir
de seu olhar apavorado.
Coloco meu pote de sobremesa ao lado do sofá e subo em seu colo,
depois alcanço meu celular e espero Jared atender, é meia-noite, ele deve estar
na cama, mas sei que vai atender. Ethan coloca as mãos em meus quadris.
— Aconteceu alguma coisa? — Jared estava dormindo como imaginei.
— Aconteceu sim! Jared, você está deitado certo? — Ana responde
que sim, já que meu irmão está em silêncio. — Então… podem me
parabenizar porque eu fiquei noiva! E Ethan quer falar com você. — Meu
irmão grita alguma coisa que deixa Ethan branco, beijo seu pescoço enquanto
ele espera Jared respirar para ele poder falar.
— Nós namoramos há três anos, se eu enrolasse sua irmã você me
ameaçaria igual! E não diga que não. — Jared diz algo no celular que faz
Ethan suspirar, ou ele está suspirando por minha causa? Enfim…
— Jared, eu e Ethan te amamos, mas agora nós vamos festejar nosso
noivado. Beijos, Ana! — E dito isso desligo o celular e beijo meu lindo noivo.
Estamos entrelaçados no sofá quando a campainha toca à uma da
manhã, a sorte é que estamos vestidos. Levanto-me para atender Miranda,
mas advinha quem está na porta? Isso mesmo! Meu irmão e minha cunhada.
— O que você está fazendo aqui? Não te convidei para a comemoração
— digo fechando os botões da blusa, o que claro Jared notou.
Ele entra no apartamento e Ethan já está de pé, Ana geme ao meu lado e
levo à mão a testa, isso não será nada bom!
— Você devia ter falado comigo antes, Ethan! Minha irmã é muito
importante para mim, eu não posso e não vou aceitar qualquer pessoa ao lado
dela que não a mereça. Não estou dizendo que você é uma má pessoa nem
nada disso, mas não posso perder Charlotte. Nunca — Jared diz com voz
embargada e Ana faz sinal para que eu fale com ele. Então caminho até ficar
de frente para ele e olhá-lo nos olhos.
— Vai ficar tudo bem! Não vou a lugar nenhum, estou aqui e pretendo
te dar muita dor de cabeça ainda! Ethan será parte da família, você já pode
aceitar ele — digo abraçando meu irmão.
— Com certeza ela vai ficar muito tempo aqui e juntas nós três te
daremos muita dor de cabeça! — Miranda se junta ao nosso abraço trazendo
Ana com ela. — Agora… por que estamos chorando?
— Charlotte ficou noiva! — Ana esclarece mesmo com Jared ainda
fazendo careta.
Naquele momento, nenhum de nós previu que Ethan, sendo um
espectador dessa família louca, chegaria a conclusões mais para frente que só
trariam dor e sofrimento e que, mesmo não querendo isso, ele me levou com
ele. O maior pesadelo de Jared se tornou verdade por conta daquela cena.
Capítulo 23

Quatro anos depois…

Estou noiva há quase um ano, mas ainda não pensamos em casamento,


embora Ana e Miranda tenham me feito escolher um vestido que está
guardado na casa do meu irmão. É lindo! É simples, mas muito bonito todo
em renda, manga um pouco abaixo do cotovelo, decote em v, com uma bela
cauda.
Tenho notado algumas coisas estranhas há algumas semanas, mas
sempre que penso em gravidez me bato mentalmente, afinal de contas nós
tomamos todos os cuidados.
Ana está grávida de cinco meses, é uma menina e seu nome será Aria.
Jared já está pensando em todos os garotos que ele irá pôr para correr com
duas filhas, já que todos sabem o quanto eu e Miranda sofremos com ele.
Às três horas, Ana tem um ultrassom, mas Jared não poderá ir com ela
então serei eu a ir fazer companhia. Vou almoçar com eles e depois iremos
comprar algumas coisas e ir para a consulta.
Entro no banheiro e, olhando para a pia, vejo um teste de farmácia e
penso: por que não? Talvez seja só coisa de minha cabeça, já que Ana está
grávida e Ethan é pediatra. Faço xixi no palitinho e espero o tempo certo,
pedindo que seja negativo e pensando seriamente em jogar o teste no lixo sem
olhar antes.
Mas é então que começo a passar mal, porque dá positivo! POSITIVO!
Eu estou ferrada! Engulo meu nervosismo e jogo o teste com caixa e tudo no
lixo, lavo o rosto e tento respirar normalmente, mas acabo caindo no choro.
Vinte minutos depois eu saio do banheiro decidida a esperar um pouco
mais, porque vai que está errado? Pare de se enganar! Digo a mim mesma,
mas assim que vejo Jared penso que vou desmaiar.
— Você está bem, Lottie? Parece pálida. — Jared me olha desconfiado,
provavelmente notando que chorei.
— Estou bem, é só a empolgação de ver Aria. — Alec corre até mim e
eu o pego no colo. Acabo pensando em meu filho que pode ou não estar a
caminho.
— Sabe que pode me contar qualquer coisa, não é? Eu vou surtar, mas
ainda assim eu quero saber. — Meu irmão beija minha testa e me sinto
péssima com isso.
O almoço não quer descer por minha garganta, mas me forço a engolir,
já que posso sentir o olhar de Jared e Ana em mim, garanto três vezes que
estou bem.
À uma e meia Ana e eu saímos de casa para passar no shopping e pegar
algumas encomendas. Meu celular toca em minha bolsa e, pegando-o nas
mãos, Ethan surge no visor.
— Oi. — Sorrio ao ver que é ele.
— Tenho uma notícia para te dar mais tarde! Já estão a caminho da
clínica? Minha mãe mandou um presente para você. Minha paciente das duas
e quinze chegou. Eu te amo e mande um abraço para Ana. — Ethan ama o
que faz.
— Eu acho que amo você. Boa consulta. — É nossa saudação por
conta do primeiro ano de namoro.
— Ethan? Ele é igual ao seu irmão, por isso os dois preferem ficar
longe um do outro! — Ana sorri e passo o braço no meu.
Pegamos tudo que deixamos encomendado e dirijo para a clínica,
chegamos dez minutos atrasadas e chateio Ana com isso, depois de vinte
minutos somos atendidas.
Entramos no consultório e depois das perguntas de praxe, vamos ao o
ultrassom. Aria tem um coração forte, e já podemos vê-la nitidamente, parece
tão pequena…
Espero Ana ir trocar de roupa para falar com a doutora.
— Fiz um exame de farmácia que deu positivo, qual a chance de erro?
Por favor, me diga que tem algum! — Estou quase implorando.
— Pode estar errado e pode não estar. Mas dependendo de quanto
tempo você acha que está, talvez no ultrassom apareça — a doutora diz
sorrindo.
— Dois meses, mas não tenho certeza, eu notei algumas diferenças,
mas não pensei em gravidez, não de forma concreta pelo menos… — Penso
sobre isso por um momento…
— Bem, vamos confirmar então.
E assim eu subo na maca e espero a médica passar o gel em minha
barriga, e peço que algum anjo me ajude.
— O que está acontecendo? — Ana diz entrando na sala com sua
enorme barriga.
— Eu espero que nada, mas…
Tum, Tum, Tum. É um coração batendo, e por mais que o meu esteja em
minha garganta esse som vem de mim, mas não de onde deveria vir.
— Parabéns, mamãe! — A doutora me parabeniza.
— Precisamos de um tranquilizante para elefantes… com urgência —
Ana diz pálida, mas logo sua cor volta e ela me abraça apertado. — Vai dar
tudo certo, somos uma equipe!
Assinto com a cabeça, mas não consigo evitar o choro.
Jared vai pirar, Ethan vai surtar, Miranda vai me esganar, tenho uma
sobrinha a caminho e uma filha ou filho… Espero que a notícia de Ethan seja
boa… Muito boa.

Depois de muita conversa com Ana e de contar a Miranda, que caiu do


sofá e está com um hematoma no queixo por causa da queda, estou em casa
esperando Ethan vir me contar sua novidade.
Ele chega na hora marcada, como sempre, e sorri enquanto caminha até
mim. Tento o meu melhor para sorrir.
— E então? Aria é tão forte quanto o pai? — Ethan se senta no pufe a
minha frente.
— Muito mais forte que ele. Qual a notícia que você tem para mim? —
Pela expressão de Ethan não é nada de bom, não para mim pelo menos.
— Eu vou precisar anular o casamento… Nós não tínhamos uma data
nem nada, mas… eu recebi uma proposta irrecusável para trabalhar nos
Estados Unidos e… Eu te amo, mas vou precisar ficar quatro anos fora.
Talvez devamos…
— Terminar? — completo por ele.
— Você não vai querer deixar sua família e Jared me mata se eu levar
você daqui, eu não vejo… — Ethan passa as mãos no cabelo.
— Não vê outra opção? Que tal discutir isso comigo antes de aceitar?
Porque se você está aqui tão inquieto é porque já aceitou e nem se preocupou
em me perguntar nada! Sai daqui! — digo arrancando a aliança do dedo e
jogando no peito dele. — Me poupe das desculpas esfarrapadas! Eu tive uma
surpresa hoje sabia? E adivinhe? Eu sim não tive como consultar nem você
nem ninguém porque não estava nos meus planos! Mas agora? Só sai daqui! E
não coloque a culpa em Jared! Quando ele diz que não quer me perder, não
fala sobre eu me mudar e você sabe disso! Agora só sai daqui.
Levo as mãos ao rosto, mas que droga! Meu bebê não tem culpa, a
culpa é desse idiota ainda parado na minha sala. Jogo nosso porta-retratos na
parede com raiva.
— Você não está me deixando falar. Eu aceitei, mas o que você queria
discutir? Não é como se você fosse querer me acompanhar! — Ethan grita as
minhas costas.
— Eu estou grávida! E eu pedi por isso? Não! E quer saber? Ai de mim
se te pedisse para ficar, não é mesmo?! — Jogo logo na cara dele porque
estou fervendo de raiva.
— O quê? Mas nós tomamos cuidado…
— Agora está dizendo que fiz de propósito? Que tipo de idiota é você?
Um idiota diferente, estou lembrando agora. É bom você sair do país mesmo,
já que meu irmão vai caçar você, assim como minha melhor amiga. — Ethan
continua lá, parado me olhando como se eu fosse um letreiro ou algo assim.
— Eu não disse isso, eu só… estou em choque. Essa é a chance da
minha vida…
— Sai daqui, Ethan! Ou eu chamo a polícia! — A raiva sai de mim em
ondas, ele tenta tocar em mim, mas o empurro com força e já que ele não sai,
saio eu.
Acordo sem saber onde eu estou, olho meu celular que tem umas
quatrocentas ligações perdidas e a mesma quantidade de mensagens. Demoro
um tempo para me situar e então noto que estou na casa dos meus pais, eu não
vinha aqui há bastante tempo.
Meu celular toca, é Miranda.
— Alô?
— Onde você está? Estamos todos atrás de você! E quer me dizer por
que Ethan está em um avião para os Estados Unidos? — Jogo-me de volta no
sofá. Então ele foi, sem olhar para trás.
— Pode vir onde eu estou? Mas sem falar para o Jared. Eu quero estar
calma quando falar com ele. — Miranda diz que sim e quando digo onde
estou ela parece tão chocada quanto eu quando acordei aqui.
Meia hora depois ela está batendo na porta que deixei aberta, ela entra e
a tranca e vem até onde estou, senta-se ao meu lado e me puxa para seu colo
onde me permito chorar mais um pouco.
— Ele recebeu uma proposta para trabalhar nos EUA e nem me
contou! Ou pediu minha opinião, nada! Simplesmente ontem disse que queria
anular o casamento e depois ficou procurando uma palavra para usar em vez
de término. E quando eu disse que estava grávida… Ele nem se desculpou.
Nada. — Estou abraçada a Miranda.
— Ele tinha razão quando disse que era diferente… Um tipo de idiota
diferente. Mas nós estamos aqui, Char, com você. — Miranda beija minha
cabeça e ficamos ali por um longo tempo.
Assim que ela estaciona o carro em frente à casa de meu irmão posso
vê-lo andar de um lado a outro pela janela. Alice aponta para a rua e grita
algo, ele olha para trás e em um primeiro momento vejo alivio, depois fúria.
Respiro fundo e desço do carro, Miranda segura firme minha mão e
juntas entramos em casa. Jared corre até mim e me esmaga contra ele.
— Onde você estava? Eu sabia que não devia deixar você morar longe
de mim! — Ele continua me segurando firme.
— Precisamos conversar. — Digo quando Ana consegue desgrudá-lo
de mim e me abraça forte.
Sentamo-nos os quatro no sofá e depois de respirar fundo umas quatro
vezes, e Ana e Miranda pedirem calma a Jared umas dez vezes, eu começo a
falar.
— Estou grávida… Descobri ontem e… Ethan terminou comigo e foi
embora para o EUA, ele recebeu uma proposta de trabalho e se foi. Eu contei
a ele, mas pelo visto o amor pela carreira é mais forte. — Seguro a mão de
Jared. — Desculpe por te decepcionar.
— Não é você que deve desculpas. — Jared me puxa para seus braços
e Ana e Miranda se juntam a nós.
Meu irmão só foi mostrar sua raiva mais tarde naquele dia, quando
quase esganou o pai de Ethan.
Jared é superprotetor e às vezes pode até passar dos limites, mas com
meu histórico pessoal não poderia ser diferente. Eu tentei me matar uma vez e
isso o despedaçou…
Quatro meses depois…

Tenho tido poucas notícias de Ethan, por muitos motivos, mas o maior
deles é por minha gravidez ser de risco. Jared está quase arrancando os
cabelos de preocupação.
Aria escolheu o dia de hoje, dois dias após completar nove meses, para
nascer. Alice e Alec, estão com Mônica, Eric, Miranda e Tobias na sala de
espera, enquanto eu e Jared estamos no quarto com Ana.
Minha barriga está enorme, mas também! Já estou de seis meses. É uma
menina, Jared nasceu para ser rodeado de mulheres… Ele e Alec.
— Charlotte? — Ana me chama com urgência.
— Estou aqui, bem do seu lado. — Seguro firme sua mão.
— Eu também estou aqui, amor, estou bem aqui. Vocês duas estão bem
certo? — Jared está branco e começo a sentir pena dele.
Assentimos com a cabeça e ele parece se acalmar um pouco, as
contrações de Ana começam a vir, mas depois de dois partos já estamos
formados em ajudar.
A médica manda empurrar e Ana faz força apertando nossas mãos nas
delas, Jared diz palavras de apoio e eu também. Começo a pensar que logo
será minha vez…
Em alguns minutos um choro forte soa pelo quarto e Aria Evans está ali
gritando a plenos pulmões. Ela é linda. Jared a pega no colo e a trás para que
nós possamos vê-la.
— Aria me lembra Charlotte quando nasceu… — Meu irmão diz
emocionado.
— Você disse a mesma coisa quando Alice nasceu. — Ana sorri para
meu irmão e posso ver a sorte que eles têm de terem se encontrado tão cedo.
Esse sim é amor de verdade.
Pego Aria no colo e sou mais uma vez intimada a ser madrinha. O que
eu aceito, é claro, até porque Ana acabou de ter minha sobrinha.
Espero elas pegarem no sono e eu e Jared vamos até a sala de espera
contar das novidades, meus sobrinhos pulam no colo de meu irmão
empolgados com a irmãzinha. Miranda vem me abraçar.
— Em breve a família estará completa! — Miranda coloca a mão sobre
minha barriga.
Meus sobrinhos vêm até mim e se grudam as minhas pernas e Jared
beija minha enorme barriga. Digo para ele voltar para nossas meninas, que eu
cuido de tudo aqui fora.
Sento-me em uma das cadeiras ao lado de Miranda e sinto algo
molhado, penso que pode ter sido Alice ou Alec, mas quando olho para o
chão sei que sou eu, sangue mancha minhas pernas e tento não chamar a
atenção das crianças.
— Chame um médico, Miranda, rápido. — A dor torce meu ventre,
mas não solto um único som.
Miranda entra em pânico, mas logo um enfermeiro vem com uma
cadeira de rodas e me leva para um consultório, minha médica devia estar
com Jared, porque cinco minutos depois ambos entram na sala..
Ela me examina e foi só mais um susto… Esse na verdade é o terceiro
sangramento que tenho e a partir de agora é descanso absoluto.

Três meses depois…


Minha bolsa acabou de romper, eu estava observando Aria dormir
quando a bolsa estourou, com calma caminhei até as escadas e chamei por
Jared, que apareceu no fim das escadas sorridente.
— Não entre em pânico, mas… a bolsa rompeu. — E sinto a primeira
contração que quase me faz perder a força das pernas.
Miranda surge ao meu lado e Jared sobe as escadas correndo, me pega
no colo e diz para Mi pegar o restante das coisas para levar para o hospital.
Ana surge na porta com Alec e quando vê a cena sabe o que vem pela
frente. Mônica e Eric ficam com as crianças enquanto nós três vamos para o
hospital.
Hoje é domingo, então estávamos todos juntos, o que foi bom, senão
seria um desespero daqueles! Com as crianças e tudo.
Ana já falou com minha médica que já estava no hospital, agora é só
chegarmos, Jared parece que vai ter um ataque, então ele faz as respirações
comigo, mas parece não fazer diferença para nenhum de nós dois.
Cerca de vinte e cinco minutos depois chegamos ao hospital e sou
encaminhada para um quarto com minha médica, meu irmão e minha cunhada
ao meu lado.
A médica examina a dilatação, mas ainda está pouca, então
continuamos a esperar as contrações, todos me garantem que vai dar tudo
certo e tenho fé que sim.
As horas passam e finalmente tenho a dilatação suficiente, Miranda
também já está aqui, os três estão tentando ser positivos, mas no fundo
estamos todos preocupados.
— Certo, Charlotte, quando eu disser você empurra, entendeu? — A
médica espera que diga sim e depois de olhar para as três pessoas ao meu
redor, assinto com a cabeça. — Empurre.
Faço força e empurro ao mesmo tempo, dói demais! Um tempo de
espera e empurro novamente, talvez eu devesse ter optado por uma cesariana.
Empurra, respire, empurra e respire.
— Já posso ver a cabeça. Mais uma vez! — A médica manda e eu faço,
e finalmente Dakota vem ao mundo, mas o que escuto não é um choro forte
como o de meus sobrinhos e sim e um choro fraquinho…
Em minutos a enfermeira que está conosco sai com minha filha, começo
a perder sangue demais e tudo que consigo pensar é em minha filha, eu não a
vi ainda… Ouço Jared, Miranda e Ana exaltados, mas depois só a escuridão
me cerca.

Três dias depois…

Perdi sangue demais e só voltei para o quarto doze horas depois. Já


minha filha, eu só conheci ontem, ela é linda e me lembra Ethan, embora os
cabelos sejam meus. Ela está ligada a muitos fios e aparelhos e só pude pegá-
la nos braços uma vez e foi muito rápido e isso foi há um dia.
Dakota Evans nasceu com só um dos rins funcionando e o coração
fraco, os aparelhos a estão ajudando, pelo menos por um tempo.
Nesse momento estou chorando no colo de Jared, ela nem bem nasceu e
já está indo embora… Não consigo acreditar nisso. Eu a quero aqui comigo.
Jared acaricia meus cabelos e depois segura meu rosto em suas mãos.
— Ela é forte como você, vai ficar tudo bem. Não se esqueça que
estamos todos aqui com você e te amamos muito.
Assinto com a cabeça e penso pela milionésima vez que Jared deveria
ter me deixado ir quando eu tentei partir.
Eu quero Dakota aqui comigo, quero vê-la crescer, mas o destino parece
não querer o mesmo que eu, mais uma vez…
Dois meses depois…

Estamos em casa… Dakota recebeu alta, seu único rim está


funcionando bem e seu coração está mais forte, e depois de duas cirurgias
estamos finalmente em casa. Mas ela parece tão frágil…
É uma luta diária, remédios, exames, consultas, qualquer sinal de febre
ou algo assim é razão para corrermos para o hospital..
Estamos em casa há uma semana, mas para mim parece muito mais
tempo, e, embora estejamos em casa, não saímos do hospital.
Estou olhando para minha linda filha e ela me lembra tanto Ethan…
Que não sei se sabe que ela nasceu, mas se soube preferiu não se manifestar,
Jared não se colocou no caminho, por Dakota e, no entanto, Ethan não mudou
sua opinião.
Dakota sorri para mim e eu para ela, minha filha é uma luz que brilha
cada dia mais, a médica disse que ela é uma guerreira e é verdade.
— Você é uma mãe muito babona! Mas fazer o que, não é mesmo? Ela
é linda — Miranda diz me abraçando.
— Olha quem fala?! A tia babona! — brinco com ela.
— Parem de chatear minha sobrinha! E olha quem veio fazer uma
visita? — Jared surge na porta com Alice e Alec.
Os dois entram e com cuidado se aproximam do berço e a observam.
Passo a mão em seus cabelos e fico ali assistindo, com Miranda e Jared, a
admiração deles por ela. Dakota Evans é uma lutadora.
— Nós também viemos cuidar dela! — Ana diz entrando no quarto
com uma Aria sorridente.
Pego Aria no colo e sorrio quando ela esfrega o nariz em minha
bochecha. Mônica e Eric entram também e então toda a família fica ali,
observando Dakota dormir.
É nesses momentos que tenho raiva de Ethan, ele deveria estar aqui,
deveria estar ao lado dela e lutando por ela.
— Ela é linda, e me lembra muito de você quando era desse tamanho
— Mônica diz beijando meu rosto.
— A menina ruiva mais sorridente que já vi! Jared passava dia e noite
cuidando de você — Eric diz dando tapinhas nas costas de meu irmão, que
sorri orgulhoso de sua sobrinha.

Três semanas, é esse o tempo que estamos em casa. Dakota está mais
forte, ou pelo menos é isso que digo a mim mesma todos os dias.
É tão bom vê-la com Alice, Alec e Aria! Bati muitas fotos que estão
espalhadas por toda a casa, mas o que posso fazer se meu lado fotografa está
em ação? Eu fotografo cada conquista de minha filha.
Dakota e Aria parecem se entender tão bem, sempre que estão lado a
lado, elas parecem ter uma conversa só delas o que deixa Alec chateado por
não ser convidado. E Alice ri dele por isso.
Desde o dia que Ethan foi embora, eu voltei a morar com Jared, e
Miranda está aqui desde então para ajudar. Tobias não gostou muito disso,
porque, ele admita ou não, Jared coloca mais medo nele que Eric. Eu nunca
gostei de Tobias, mas Miranda gosta. Ele me parece… como se sempre
tivesse algo a esconder.
Dakota sorri e ouço ela dizer algo em sua língua de bebê.
— Estou aqui meu amor, com sono? Mas você acordou nem faz tanto
tempo… — Pego-a no colo e ela sorri novamente.
Depois de embalar e conversar com ela como faço todos os dias, ela
adormece tranquila e sorridente. Então me viro para o computador para editar
algumas fotos.
Mesmo estando ali ao lado de minha filha, não noto o tempo passar,
mas quando olho para a janela noto que está anoitecendo e estranho Dakota
não ter acordado com fome, olho o relógio e se passou apenas meia hora,
talvez ela não esteja com fome ainda…
Dakota permanece do jeito que eu a deitei ao meu lado, sorridente e
serena… Mas não noto seu peito subir e descer e o pânico começa a ser
acionado em minha mente.
— Dakota, meu amor, fale com a mamãe! — Tento acordá-la, mas seus
olhos não abrem e sua pele está gelada.
Começo a gritar e em instantes Miranda e Jared surgem na porta. Jared
me tira da cama e Miranda corre para ver Dakota, mas quando ela olha para
nós não preciso que nenhuma palavra seja dita. Dakota se foi…
Ana chamou a pediatra que veio o mais rápido o possível, mas não
havia nada que pudesse ter sido feito. Ela disse que o coração de Dakota deve
ter parado e ela se foi sem sofrimento. Ela se despediu de mim e descansou e,
por mais que o fato de ela não ter sofrido me acalme, não ameniza o fato de
nunca mais poder vê-la.

Dakota foi enterrada hoje pela manhã. Nem consigo acreditar, tudo que
meu cérebro registra é que vou entrar naquele quarto e ela sorrirá para mim,
mas isso não vai acontecer.
Alec sobe no sofá comigo e me abraça e ficamos assim por um longo
tempo…
Eu tive pouco mais de três meses com minha filha, e nesse período de
tempo ela lutou por sua vida todos os dias, e no fim tive que deixá-la ir,
mesmo não querendo.
E mais uma vez nem sinal de Ethan. Nossa filha nasceu e morreu e ele
nunca se pronunciou em nada…
Escuto Alec chorar baixinho e o aperto mais.
— O que foi, meu amor? — Levanto seu rosto para olhá-lo.
— Eu já sinto falta dela. — Alec enterra seu rosto em meu pescoço.
— Eu também, mas ela está descansando. E nós temos que seguir em
frente, por ela. — É isso que tento dizer a mim mesma.
Por mais que eu tenha odiado Ethan em alguns momentos, ou em
muitos, quando Dakota se foi eu o perdoei, perdoei porque eu não conseguiria
seguir com isso em meu peito, não depois de tê-la segurado em meu colo e ter
visto seu sorriso.
Eu perdoei a ele e a mim mesma, porque de alguma forma, embora meu
coração esteja com mais pedaços faltando, lá no fundo alguma coisa
finalmente está livre. Algum pedaço foi colado e em meio a toda essa dor e
sofrimento eu sei que ela iria querer que eu fosse forte.
Dakota Evans se foi como um dia de sol e chuva que no fim traz um
belo arco-íris, ela trouxe força e paixão, e levou consigo paz e amor em seu
belo coração. Ela lutou e venceu, e mostrou que, mesmo quando o que
queremos não acontece, não quer dizer que perdemos a batalha, e sim que
precisamos enxergar a vitória naquilo que nos é dado.
Quando conheci Ethan eu não queria um amor, não queria um homem
em minha vida, não queria uma história de amor de filme, não queria nada
que pudesse ser tirado de mim, e no fundo eu tinha razão em não querer,
porque mais uma vez eu estou em pedaços.
Capítulo 24

Ethan está chorando, assim como eu, quando termino de contar como
foi depois que ele partiu, mas o obrigo a sair do carro. Quando ele me
pergunta o porquê de vir aqui, explico que foi para onde vim quando ele foi
embora.
Sei o quanto pode ser estranho eu ter perdoado Ethan com tanta
facilidade, e digo isso porque Miranda fica louca quando digo isso, mas há
quase dois anos o pai de Ethan me procurou. Roberto Kane, cirurgião
cardíaco, veio bater em minha porta com culpa escorrendo de seus olhos.
Ele me perguntou por sua neta e quando falei sobre seu coração frágil
ele me contou a verdade, verdade essa que Ethan não quer me dizer, porque
ele quer ser punido, mas no fim nenhum de nós três teve culpa dos
acontecimentos daquele ano.
Roberto me contou que ele nasceu com essa mesma fraqueza no
coração e que ele e sua esposa perderam duas crianças, assim como perdi
minha filha. Desde então Ethan quis ser pediatra, ou melhor, cirurgião
cardíaco infantil, para assim tentar descobrir o porquê disso.
Eu perdoei seu pai também, mas há alguém que nunca irei perdoar…
Suzana Kane, a mãe de Ethan.
Quando Ethan pediu para ela vir até mim, ela disse a ele que eu havia
estado enganada, que nunca estivera grávida e Ethan se apegou a isso, pois foi
na mesma época em que sua pesquisa avançou… E assim ele poderia no
futuro evitar o que aconteceu com seus irmãos.
Ethan só soube de Dakota um ano depois que ela se foi… Através de
um amigo que estava passeando onde ele morava.
Eu sei que parece muita invenção, mas a própria Suzana veio me dizer
isso quando soube que Jared e Ana haviam falecido. Ela me pediu perdão,
mas eu não podia perdoá-la. Por culpa dela, eu e Ethan perdemos momentos
que não voltam mais, nunca mais, e Ethan perdeu a chance de conhecer sua
filha… Sua bela menina.
Ethan está debruçado sobre o berço que foi de nossa filha, com uma das
últimas fotos que bati dela em suas mãos. Para mim foi doloroso perdê-la,
mas eu tive três meses com ela, ele não teve nada, nem um sorriso, um olhar,
uma risada…
Ele não podia vir, não antes de sua pesquisa ser terminada, ele não
queria vir antes de ter algo em que se agarrar, algo pelo que lutar… Eu não
queria saber o nome da clínica de Ethan, mas agora eu sei… Dakota Evans é
o nome em todos os documentos, com uma área especial para cardiologia
infantil.
Isso me faz lembrar de Landon… Que abandonou a cardiologia infantil
por Marine, me lembra Jared, que aguentou até ter seu coração batendo em
outra pessoa. Lembra-me Marc, que recebeu o coração de Jared.
— Eu deveria ter estado aqui com você… com ela. Você não deveria
mais querer olhar na minha cara, eu não olharia no seu lugar. — Ethan está
tão destruído.
— Eu sei a verdade, Ethan. Sei de sua família… seus irmãos e… de
sua mãe. E eu perdoei você, mas acredito que nunca vou conseguir perdoá-la.
Eu queria você aqui, do meu lado, e errei em não te procurar, embora sua mãe
tenha dito que não adiantaria em nada. Ela é boa em ser cruel. — Esfrego suas
costas tentando acalmá-lo.
— Minha mãe tirou o tempo que eu teria com Dakota, mas no fundo eu
sou culpado também. Me empenhei tanto em salvar outras crianças que não
estive aqui para salvar minha própria filha. — Ethan se afasta de mim e se
senta aos pés da cama.
— Naquela época você não poderia salvá-la, mesmo que quisesse.
Tinha recém começado a avançar nos estudos e nas pesquisas. E não diga
isso, ela foi em paz, não sofreu e você salvou vidas e evitou que outras mães
como eu perdessem uma parte de nós mesmas. — Sento-me ao lado dele e
passo a mão por minha barriga.
— Eu conheço esse olhar…
— Eu tenho medo de acontecer de novo. Talvez o problema não tenha
sido a sua genética. E se foi a nossa combinação? Quer dizer, eu… — Esse
pensamento está me deixando louca, não sei o que fazer com tudo que está
passando em minha mente.
— Isso não é verdade e sabe disso. Qual a chance de o problema ser de
Landon? E estou aqui, você tem o melhor especialista ao seu lado. Eu não vou
te deixar. Prometo — ele diz enxugando uma lágrima solitária de meu rosto.
— Essa promessa soa melhor que um pedido de casamento — digo
sorrindo, o que o faz sorrir também.
E nossos olhos se encontram e… nossos lábios também, mas é um beijo
rápido, com urgência, e no fundo nós dois sabemos que é um beijo de
despedida.

O dia amanhece lindo e encontro Alec grudado a mim. Nem o percebi


subir na cama, Lilás está dormindo conosco. Passo as mãos por seus cabelos e
penso em Landon… Vê-lo mexeu comigo, e vê-la com ele mexeu mais ainda.
Beijo o topo da cabeça de Alec e me levanto da cama, tomo um banho e
quando estou no topo das escadas posso ouvir Marc conversando com Lena,
tenho uma batalha com ele pela frente. Quero voltar ao escritório, e depois da
conversa de ontem onde contei tudo sobre Dakota, Marc, Eric e Sam não
estão favoráveis a isso, mas eu preciso de algo para focar. E logo será natal, e
será mais tempo em casa.
— Bom dia! É bom ver que nessa casa e vizinhança já se acorda a mil
por hora! — digo, sentando-se na mesa e pegando uma fatia de bolo de milho
que encho de manteiga por cima, e é quando noto olhos em mim. — O quê?
— Nada, só é estanho comer bolo de milho com manteiga… — Marc
começa a argumentar sobre minha estranha forma de me alimentar.
— Ela sempre comeu bolo de milho assim, qual o problema com isso
agora? — Miranda diz entrando porta adentro e beijando minha testa. — Vim
buscar as crianças, mas elas devem estar dormindo ainda…
— É férias! Claro que estão dormindo ainda. Alec está no meu quarto
com Lilás, e eu tenho que ir. — Beijo o rosto de Miranda, que me deseja boa
sorte. Sei que ela gostaria de ir comigo, mas preciso fazer isso com Ethan.
— Aonde você vai? — Marc entra em meu caminho.
— Eu não te devo satisfação nenhuma… Mas, pensando bem… Que
tal dizer para o seu querido melhor amigo não aparecer na minha frente de
novo? Seria um grande favor. — Beijo seu rosto.
— Ignore o Marc. Porque embora eu FOSSE do time Landon, Ethan
precisa desse fechamento na vida dele, todos nós precisamos — Miranda diz
piscando para mim.
— Certo, estou de saída, comportem-se perto das crianças e tentem não
quebrar nada! — E, dito isso, saio para a rua, uma brisa leve passa por mim e
Ethan sorri de onde está encostado em seu carro. — Bom dia.
— Bom dia, Charlotte. Não é emoção demais para você? — Ethan soa
preocupado.
— Estou bem, seu implicante! Vamos logo, antes que alguém apareça.
— Ethan abre a porta para mim e, depois de beijar minha testa, a fecha e dá a
volta no carro.
Nós temos química ainda, mas agora… Tudo que me vem à cabeça é…
Doutor Certinho-barra-cabeça dura-barra-irritante Landon Cass.
Coloco a mão em minha barriga que está começando a aparecer, não
tanto como a de Marine, mas já se nota uma pequena diferença. Dois meses…
está passando rápido.
Ethan coloca sua mão sobre a minha em minha barriga e diz que vai
ficar tudo bem. É tudo em que quero pensar, que tudo ficará bem, que dará
certo de alguma forma.
Chegamos ao cemitério onde estão meus pais, meu irmão, minha
cunhada e minha filha, assim como outros tantos Evans. Coloco flores em
seus túmulos e depois caminho com Ethan até o de Dakota. Ethan trava e
pede um segundo sozinho, já eu faço meu caminho até lá.
Suspiro ao parar em frente a seu túmulo. Coloco minhas flores favoritas
ali e penso em seu sorriso, seu olhar, nela, minha menina, e coloco a mão em
minha barriga, seu irmão ou irmã está aqui.
— Olá, meu amor. Sinto tanto sua falta… Desculpe não vir com mais
regularidade, hoje eu trouxe alguém… seu pai. Eu te amo, Dakota.
As lágrimas queimam em meus olhos e resolvo deixá-las cair, fico mais
um tempo pensando nela e contando como estão as coisas, Ethan finalmente
se aproxima e resolvo deixá-lo sozinho para falar o que ele precisa dizer.
Caminho até o túmulo de Jared, eu já coloquei as flores quando cheguei.
— Oi, Jared, estou com saudades e estou sendo forte e corajosa como
você sempre disse que eu era… E seus filhos estão muito bem, eles me
lembram tanto você… E obrigado por salvar Marc. Desculpe se mais uma vez
eu estou te decepcionando. Landon foi um erro que prometi não cometer
novamente e aqui estou eu… de novo. Ethan está de volta…
Tenho tanta coisa para dizer, mas no fundo é melhor pensar que ele
esteve o tempo todo assistindo tudo.
Passamos a manhã toda no cemitério, eu não me importo de vir a esse
lugar, ainda mais quando tenho tantas pessoas que amo aqui.
Ethan parece mais leve e está muito abatido. Ele me deixa em frente à
casa de Mônica às onze horas e então saio com Miranda.
— Trouxe tudo que pedi? — pergunto assim que entro no carro.
— Sim, foi um pouco difícil, já que Marc estava me vigiando, mas
consegui sim. Tem certeza que essa é a decisão certa? — Miranda tira o carro
do meio fio e começa a dirigir.
— Sim, eu tenho, e pense no lado engraçado! As meninas da família
terão uma enorme variedade de vestidos de noiva para escolher caso queiram
usar algo antigo. — Ouço Miranda sorrir e sei que mesmo que não aceite, ela
entende.
Estamos indo para a casa de meus pais, que agora é minha. Eu a
arrumei quando iria me casar com Ethan, mas agora ela está sem uso, a não
ser para coisas antigas. Eu dei muita coisa de meus pais, e de meu irmão e
cunhada, mas ainda fiquei com muita coisa que está nessa casa. Assim como
tudo que foi de Dakota, meu vestido de casamento da época de Ethan… E
agora o que eu usaria no casamento com Landon.
Entramos em casa e levamos tudo que Miranda trouxe para o quarto
onde já estão coisas parecidas, como o vestido, o enfeite de cabelo, o buquê,
sapato, essas coisas.
— Mais um casamento não realizado, estou começando a ficar
traumatizada com isso, sabia? Ser madrinha era para ser algo alegre! —
Miranda me abraça e começo a sorrir, porque até eu estou traumatizando.
Sinto uma forte dor na barriga e algo molhado nas pernas e meu
desespero começa a fluir é como se eu estivesse no passado… Ouço Miranda
falar comigo, mas me sinto em choque. De novo não!
Não sei como cheguei ao hospital, penso sobre isso, mas não chego a
nada concreto. O que sei é que estou em uma cama de hospital, com Miranda
e Ethan impacientes aos pés da cama.
A médica entra e tento me sentar na cama, Ethan vem me ajudar.
— Olá, Charlotte. Precisamos conversar um pouco… — doutora Maira
diz com ar tristonho e já posso ouvir as palavras “gravidez de risco” saírem de
sua boca. — Sua gestação será de risco, o bebê está bem, mas pelo histórico
de sua primeira gestação e esse começo de aborto, você terá que ficar em
repouso. Não se preocupar ou se estressar e preciso falar com sua psiquiatra
para ver como funcionará seu tratamento. Sei que é assustador ouvir isso
novamente, mas estou aqui para garantir que corra tudo bem — ela diz mais
alguma coisa, mas não consigo ouvir, não realmente pelo menos.
Tudo que consigo pensar é no fato de ter feito Miranda assinar papéis
que darão poder a ela caso algo aconteça comigo, ela poderá ficar com as
crianças e cuidar delas, ouço alguém chamar meu nome em algum lugar e
logo Marc está na porta, assim como Landon.
— O que houve? Você está bem? — Marc parece ter vindo correndo.
Nem notei a doutora sair do quarto, mas ela não está em lugar algum.
Landon me observa, incerto do que dizer, e minha vontade é de dar-lhe um
soco e mandá-lo sumir de minha frente.
— O que você está fazendo aqui? — Ethan diz indo em direção a
Landon.
— Eu vim acompanhar Marc, por quê? Charlotte é… — Miranda entra
entre os dois e dá de dedo na cara de Landon.
— Você não é bem-vindo aqui, Charlotte não pode ter fortes emoções e
você evoca um instinto assassino em muita gente nesse momento. Então saia!
— Miranda está determinada a esmagar qualquer pessoa que tente me atingir.
Eu assisto toda a discussão entre eles e parece que estou fora de meu
corpo por um tempo, mas simplesmente não consigo acreditar que estou
passando por isso de novo. Posso garantir pelo olhar ferido de Landon que ele
tem uma razão forte o bastante para não estar aqui, mas nesse momento não
estou me importando com isso.
— O que quer aqui, Landon? Seu filho com Marine não está te fazendo
realizado o bastante? Não era isso que você queria, um filho com ela? —
Landon começa a dizer algo, mas não quero ouvir, eu quero ferir alguém,
assim como estou sendo ferida. — Não preciso de você aqui, Ethan está aqui,
e sabe o que me irrita nisso? É o fato de eu ter cometido o mesmo erro! E
sabe o que mais? Não vou precisar da sua ajuda patética, sabe por quê? Não,
você não sabe… Eu estou grávida. — Landon olha para Ethan e posso sentir
sua raiva. — De um filho seu, mas não se preocupe com isso, porque nós —
coloco a mão em minha barriga — estaremos muito bem sem você. Agora
saia daqui, eu preciso conversar com Ethan.
Landon passa por todos e para perto de mim, ele está magoado com
Marc por não contar a ele. Olha para minha barriga e depois para mim com
determinação.
— Eu não sabia… Vou ser pai. Sei que devo explicações, mas não
posso dá-las agora, eu preciso resolver algo e então… — Landon tenta pegar
em minha mão.
— Então… Eu vou te contar a história. Ethan tem o mesmo trabalho
que você e eu tive quase a mesma história com ele e… bem, você sabe que
vocês dois tem o mesmo tipo de área na medicina, certo? Então pense
logicamente, você vai embora e vai voltar me querendo de volta, mas… Eu já
terei encontrado outro médico pediatra com especialização em cardiologia
infantil e você será como Ethan, mas a diferença é que Ethan e eu temos uma
história, e nós? Não temos nada. — Estou sendo fria e cruel, mas não consigo
me importar.
— Nós temos uma história sim, pode não ser tão longa, nem ter tido
tanto tempo, mas temos uma história e vou ser pai da sua filha. Ethan não tem
isso e vou lutar por vocês…
— Ethan e eu tivemos uma filha sim, mas ela faleceu com três meses,
não que isso seja da sua conta. Agora saia, Landon, porque eu já escutei o
bastante. — Minha voz escore indiferença.
— O quê? Char, eu sinto muito! Mas será diferente agora, eu prometo
isso, só que antes eu preciso encerrar algo, não posso dar só metade de mim
para você, porque eu quero você inteira. — Miranda diz que a gravidez é de
risco e Landon está começando a ficar desesperado com tanta informação. —
Eu volto o mais rápido possível… — Ignoro seus apelos e Marc arrasta-o para
fora e finalmente posso voltar a respirar.
— Desculpe citar você daquela forma, mas eu precisava que ele saísse,
me desculpe, Ethan. Eu… — Eu não sei o que sentir, não sei o que estou
fazendo.
— Está tudo bem, você me viu assim por muito tempo e sei disso, e,
além do mais, ele merecia, assim como eu mereci também. Agora você
precisa descansar, seus filhos devem estar preocupados e precisam de você.
— Ethan beija minha testa e sai do quarto.
— É uma pena os dois serem idiotas, porque senão você teria um
grande problema para escolher! — Miranda se senta ao meu lado e segura
minha mão. — Vai ficar tudo bem! Eu estou aqui e… Enquanto você estava
fora do ar, eu pensei e… Que tal se juntarmos todos como fizemos da outra
vez? Temos espaço e meus pais não vão descansar com você estando em
repouso nem você vai ficar descansada sem poder fazer nada. O que acha? —
Miranda está esperançosa.
— Eu acho ótimo! Pode começar a mudança. Estou começando a odiar
essa palavra! E Mi, eu sei que você guarda muito ressentimento de Ethan,
mas… eu quero ele por perto, eu não sei talvez só pela grande pesquisa e
experiência na cardiologia infantil… — Tento pensar em por que Ethan
deveria estar em minha vida e chego à conclusão que, depois de ter uma filha
com ele e dado continuidade a nossa amizade, não tem porque mantê-lo
longe. Para o bem ou para o mal ele já é da família também.
— Eu não guardo mais ressentimento dele na verdade, ele me contou a
verdade, mostrou que vale a pena, porque senão não teria dado a cara a tapa
como fez. Ele será muito bem-vindo. E tenho mais notícias boas para você!
Sam e Denise resolveram se juntar e… eles precisam de uma data, o que você
tem… caso não vá usar, é claro. E estão se mudando para três casas depois da
nossa! Isso não é maravilhoso? — Eu queria dizer que não, não era nada
maravilhoso, porque em outras palavras o que ela realmente quer dizer é:
mais pessoa para te vigiar!
Converso com Miranda por um longo tempo e só terei alta amanhã,
sendo assim, hoje eu tenho muitas visitas. Alice, Alec e Aria, que choram até
terem certeza que não vou a lugar algum, Sam e Denise, que me convidam
para ser madrinha com Ethan, Elisa, que me traz flores, Mônica e Eric, que
ficam radiantes de morar conosco, e, claro, a doida da Olivia que está
chateada por ser a única a morar longe de mim.
Marc pede desculpas e sinceramente nem sei por que, não havia nada
que pudesse ser mudado.
Meu quarto está cheio de pessoas… Pessoas que já sofreram muito, mas
que seguiram em frente assim como estou fazendo, pessoas que perderam
muito, mas que também ganharam muito.
E todas essas pessoas juntas são uma família, minha família.
No fundo quando se diz que família não é só a de sangue, estão certos,
porque aqui neste quarto estão pessoas que talvez em outras circunstâncias
talvez nunca se encontrassem.
Vê-los sorrir e fazer planos me dá certeza que, seja lá para onde estou
caminhando, sei que quem ficar aqui estará muito bem acompanhado.
Capítulo 25

Uma semana depois…

— Aleeeeeec! — Ouço Miranda gritar na sala.


A casa está uma bagunça! Mas é bom ter a casa cheia, Eric e Mônica
estão se sentido no céu aqui. Miranda e Marc parecem eu e Landon quando
nos conhecemos, em outras palavras, vivem brigando. Denise e Sam estão
felizes e seguindo em frente. Todas as crianças da família estão fazendo a
festa. Olivia está adorando ter tantas sobrinhas e sobrinhos. E Ethan? Bem,
esse parece minha sombra.
— Eu posso fazer isso sozinha — digo irritada e Ethan faz uma careta.
— A questão não é essa e você sabe disso, agora pare quieta — ele diz
amarrando pela terceira vez meu vestido.
O vestido faz um laço atrás e não está prendendo, eu disse que ele que é
tonto e isso parece ter tornado a tarefa ainda mais difícil. “Homens!”, penso
revirando os olhos.
Finalmente parece dar certo e Ethan está feliz com isso, agradeço a ele e
pego sua gravata sobre a cama, faço um belo nó e depois beijo seu rosto.
— Vamos descer? Quero ver as crianças. — Paro em frente ao espelho e
olho minha barriga que está aparecendo muito pouco ainda.
— Podíamos ser nós nos casando hoje também… — Ethan diz parando
atrás de mim.
— Se você não fosse tão chato… seria até bonito. — Pisco para ele e
caminho para fora do quarto.
Desde o princípio de aborto que tive, estou só de cama comendo, até
para ir ao banheiro eu tenho sofrido com eles querendo ir também. Até as
crianças têm cuidado de mim. O sangramento parou e agora é repouso, mas
isso me irrita.
Tudo que tenho feito é comer, assistir séries (já coloquei todas em dia),
ver filmes, ler, montar quebra-cabeças com Aria e ver as meninas treinarem
balé. Alec é meu parceiro para o crime, sempre que eu tento algo ele me dá
cobertura e Miranda fica doida com isso.
Cedi minha data de casamento para Denise, só trocamos a decoração
que ela queria ainda mais simples do que a que escolhi e pronto. Então hoje
estamos nos arrumando para o casamento de Denise e Sam. Eu serei madrinha
com Ethan no lado de Denise e Olivia e Marc do lado de Sam.
Assim que chegamos ao topo das escadas, Ethan me pega no colo e
grudo a ele, subir essa escada tem se tornado um dilema, ou alguém me leva
ou tenho que ficar na parte de baixo, isso até completar três meses, então
depois já vou poder ficar mais tranquila.
— Você está tão linda, tia Char! — Elisa me assusta ao me elogiar, não
havia visto ela parada ao lado da escada. Ethan me coloca no chão.
— Obrigada. Você também está muito bonita — falo girando-a.
Meu vestido é lilás, com um laço em tom um pouco mais escuro,
comprimento até o joelho, meia manga e decote em V, mas nada muito
profundo. Elisa está em um vestido branco com laço verde, assim como Alice
e Aria.
Elisa sorri, mas noto que há algo errado. Ethan foi ver a bagunça na
cozinha e aproveito para falar com ela.
Andamos até o jardim que Mônica fez na frente de casa e nos sentamos
em um banco que as crianças pintaram.
— Está tudo bem? Você parece triste. — Ela balança os pés, mas não
diz nada. — Pode me contar. — Elisa suspira e olha para mim.
— Minha mãe nunca foi muito próxima, e… Denise perdeu a filha, eu
não quero que ela seja como minha mãe e… Eu escolhi você para ser minha
mãe, mas você já tem tantos filhos… Só não quero ficar só eu e meu pai de
novo. — Uma lágrima solitária rola em sua bochecha e penso no que a mãe
de Denise me disse há não muito tempo: “você era o exemplo de Clara”.
— Vem cá, meu amor. — Puxo-a para meu colo. — Eu posso ser sua
mãe se você quiser, meu coração é muito grande e eu já te amo muito. E
quanto a Denise, ela sofreu muito com perda de Clara, mas ela te ama como
se fosse filha dela, não duvide disso. Eu imagino o quanto você sofreu com
sua mãe, mas aqui, neste lugar e nessa família, todos te amamos e nunca mais
será só você e seu pai. Essa é sua família agora. — Elisa me abraça e ficamos
um bom tempo assim.
— Ethan, não acho Charlotte nem a Elisa! — Miranda está entrando
em pânico.
— Estamos aqui, rainha do drama! — Miranda se vira aliviada e Elisa
sorri com a piada. — Que tal ir apressar Alice e Aria? — Elisa beija meu
rosto e sai correndo, Miranda se senta ao meu lado e coloca a mão em minha
barriga.
— Como está se sentindo hoje? — Respiro fundo e coloco a mão sobre
a dela, porque sei que não é comigo que ela está falando. — Você tem que
crescer bem forte.
— Do jeito que você nos vigia, mais forte impossível! — brinco com
ela.
Miranda vai voltar para o escritório depois da festa, porque agora que
eu e Mônica estamos na mesma casa podemos vigiar uma a outra.
Por falar em festa, daqui três dias é natal, foi um trabalho esconder
todos os presentes esse ano, mas eu consegui. Com muita luta, mas não seria
eu se fosse fácil.

Enquanto não começa a cerimônia, durante a qual eu terei que ficar de


pé, Miranda está me fazendo ficar sentada, chegamos há meia hora, as
crianças andam para cá e para lá e os adultos não fazem diferente.
Está tudo tão bonito, as flores brancas, o arco na frente com flores
brancas e amarelas, os bancos com enfeites, tudo está perfeito.
Marc sorri para mim de onde ele está e depois volta sua atenção para
Eric e Ethan.
Noto que Alec não está em lugar algum, então resolvo ir atrás dele,
ando até o lado direito e entro em um corredor onde há algumas salas, Alec
está em uma delas, conversando com alguém.
— Você me assustou, não se afaste sem avisar. — Alec se vira e sorri
para mim.
— Desculpe, mamãe, eu estava procurando o banheiro e achei o
Landon! — Ele entra em meu campo de visão e só podem ser os malditos
hormônios da gravidez mexendo tanto comigo.
— O banheiro é para o outro lado, vai — digo estreitando os olhos para
Landon, que confirma para Alec ir. — O que está fazendo aqui? Achei que
tivesse dito que não queria mais te ver… E para de me olhar assim!
Landon me olhava com paixão e, quando ele foca em minha barriga,
passam tantas emoções em seus olhos… Ele estica a mão em minha direção e
me afasto.
Olho ao nosso redor e há flores aqui também, um livro grande aberto,
depois há outra sala no final.
— É o dia do nosso casamento, onde mais eu estaria? — Digo que não
é mais nosso casamento e Landon dá de ombros. — Eu queria te ver e, bem,
você queria tanto casar…
— Eu precisava casar, é diferente. — Cruzo os braços na defensiva.
— Sim, e eu soube que Ethan está morando mais na sua casa que na
dele. Estão juntos? Você o perdoou bem rápido, tanto que ele já até está na
sua…
— Cuidado com o que vai falar. Ethan e eu somos amigos, só isso. E
nós temos muita história juntos. E nada disso te diz respeito.
Que raiva! Esse homem vai sempre me afetar assim? Estou me sentindo
como se tivesse voltado no tempo e estou odiando esses passeios.
— Desculpe. Eu pensei e… Vim para me casar com você, ninguém vai
precisar saber… ainda, mas você e as crianças estarão seguras. Por favor,
aceite. — Landon fica a centímetros de mim.
Ele acabou de me pedir para casar com ele? Mas que droga ele pensa da
vida? Respiro fundo para me acalmar e conto até vinte.
— Você está voltando? — Espero ansiosa por sua resposta.
— Ainda não, mas em breve…
Ele não termina a maldita da frase, porque acerto um soco em seu nariz
e Landon se dobra com as mãos no rosto, mas eu não estou satisfeita, ainda
não. Dou outro soco nele, esse na boca do estômago, fazendo-o cair de
joelhos e eu iria bater de novo, mas um senhor entrou em meu caminho.
— Acalme-se filha, pense no seu estado. — Afasto-me do homem e de
Landon e tento respirar fundo para me acalmar.
— Ela bate muito forte — Landon diz com voz abafada.
O senhor ajuda Landon a se levantar e, depois de examinar o nariz dele
e confirmar que nada está quebrado, Landon limpa o sangue do rosto. Eu bati
forte mesmo porque está ficando roxo embaixo dos olhos.
Começo a ficar com pena, mas então me lembro de tudo que já passei
com ele e decido que é bem merecido. Landon levanta as mãos em
rendimento.
— Não terá mais casamento, eu suponho? — diz o senhor que agora
sei ser o juiz de paz.
— Vai ter sim, Charlotte só precisa relaxar, está tudo bem — Landon
diz com algodão no nariz.
— Tudo bem, eu caso, mas fique longe de mim. Seu traidor. — Landon
me olha sem entender nada e eu ignoro.
O juiz de paz fala algumas coisas, que não presto atenção, porque
Landon está perto demais. Assinamos o livro a nossa frente e o homem sorri
para nós, duas pessoas que não notei paradas na porta assinam como
testemunha e os três saem da sala em seguida.
— Você é muita boa com essa direita. Está doendo pra caramba — ele
diz com lágrimas nos olhos.
— Você merece, tomara que doa bastante. E deixe de ser manhoso —
digo revirando os olhos e começo andar em direção a porta.
— Charlotte, eu realmente sinto sua falta e das crianças, por favor, só
preciso de mais um tempo. — Landon está parecendo cansado.
— Eu beijei o Ethan.
— Você o quê?!
Dou de ombros e olho para a janela. O que eu estou fazendo? Por que
contei a ele? Posso sentir seu olhar ferido em mim.
— Eu posso entender, vocês tiveram algo forte no passado e as
lembranças mexem com o emocional. — Sua voz sai tristonha.
— É claro que você entende, afinal está com a Marine… Eu preciso ir,
sou a madrinha, e possivelmente na cabeça deles uma grávida em fuga.
— Não estou com a Marine, desde que você entrou na minha vida
Marine deixou de fazer parte dela. Eu te amo — Landon diz segurando minha
mão na dele.
— Isso não é verdade, ela espera um filho seu. — Coloco a mão livre
em seu rosto.
— O filho não é meu, é de Breno, mas ele não quis assumir. O único
filho que é meu está com você, bem, estão todos com você — ele diz,
olhando-me nos olhos. — Eu preciso resolver isso, Charlotte, não quero você
pela metade, então não posso me dar pela metade. Eu não posso contar o que
está me fazendo ficar longe de você e perto dela, mas eu posso dizer o quanto
te amo.
Landon me beija com saudade e sei que, mesmo que eu não queira
admitir, gosto muito dele. Mas nesse momento é melhor ficarmos longe, ou
pelo menos até tudo se resolver.
— Prometa que, aconteça o que acontecer, vai cuidar dessa pessoinha
que está vindo e também dos três que já estão aqui. Melhor, quatro. Eles
sentem sua falta, e caso eu falte… irão precisar de você.
— Não diga isso. — Landon encosta sua testa na minha. — Eu
prometo. Mas não será preciso.
— Nunca se sabe. Preciso ir. — Beijo sua testa e saio da sala.
Vim para este casamento para ser uma madrinha e nem sai ainda e já
estou casada. Minha vida vive de pernas para o ar, o destino definitivamente
não é meu amigo, e nem o amor pelo visto.
Miranda me encontra e me abraça com força. Ethan vem logo atrás,
seguido de Marc.
— Estou bem, só fiquei cansada de procurar Alec e precisei me sentar
um pouco. O casamento vai começar? — Tento soar menos emotiva.
— Sim, Denise está pronta e Sam estava tendo um ataque assim como
nós. Será que eu vou ter que te algemar em um de nós? — Ethan está bem
chateado.
Sorrio e digo que não, depois passo meu braço no dele e o arrasto
comigo, Marc vem logo atrás implicando com Miranda e eu chamo a atenção
dos dois.
Sam quase cai de joelhos de tanto alivio quando me vê. Pisco para ele,
que entra com a mãe pelo caminho que o levará ao altar. Depois somos nós,
os padrinhos, então as meninas, todas daminhas, e, enfim, Denise, linda em
um vestido champanhe. A cerimônia começa e posso ver muitas pessoas
chorarem com tudo que o juiz de paz diz, os votos são feitos e mais lágrimas
são derramadas, e, então, o tão esperado beijo dos recém-casados.
Tiramos algumas fotos e caminhamos atrás dos noivos para festa que é
do outro lado.
Sento-me na primeira cadeira que vejo com um pouco de dor nos pés,
minha barriga nem cresceu ainda, mas os pés já estão inchando.
— Charlotte! Quer me matar do coração? — Sam diz me abraçando.
Sorrio para ele.
— É claro que não! Eu só fui descansar um pouco, e parabéns! Está
tudo muito bonito. Desejo toda felicidade para vocês. — Sam me abraça de
novo e agradece com olhos marejados.
— Achei vocês! Char, obrigada por tudo! — Denise me abraça. —
Você é uma pessoa muito especial para mim.
— Somos uma família agora, e a família apoia e ajuda uns aos outros.
Estava aqui dizendo para o senhor chorão que está tudo muito bonito, e
desejando muitas felicidades. Vocês merecem.
— Todos merecemos e pelo que ouvi dizer… Quando um Evans diz,
acontece! Ou seria onde tem um Evans, tudo se completa? — Denise finge
pensar o que me faz sorrir. — É uma honra ser parte dessa família incrível.
Clara amaria estar aqui…
— E ela está — digo, segurando seu rosto em minhas mãos. — Todos
que amamos de alguma forma estão aqui, eles estão sempre conosco, em
nossos corações. — Puxo-a para mais um abraço. — Agora vão cumprimentar
o restante dos convidados enquanto descanso os pés!
Eles saem sorrindo e Elisa os encontra no meio do caminho, Sam a pega
no colo e ela abraça Denise, aproveito para bater uma foto deles assim.
— Você sempre tirando fotos quando menos esperamos. — Ethan se
senta ao meu lado. — Pensei que não tivesse trazido a câmera, mas ela faz
parte de você.
— Eu amo fotografar. — Tiro uma foto de Aria abraçada com Alec e
Alice dançando com Marc. — Fotos guardam lembranças e isso é
maravilhoso. — Viro e tiro uma foto dele.
— Você tem toda razão, mamãe. Eu trouxe comida. Não quero que
você vire o Hulk de novo. — Mostro a língua para ele e volto minha atenção
para as pessoas a nossa frente.
— Posso te contar um segredo? Mas tem que prometer não contar para
ninguém! — Eu preciso contar para ele, sei que no fundo Ethan tem
esperanças e não quero que ele tenha pensamentos errados.
— Tem minha palavra, pode falar. — Ethan come um sanduíche com
azeitona em cima e eu pego um também.
— Eu dei dois socos em Landon e me casei com ele. Eu sei que você
vai dizer que ele é o cara errado, mas é o filho ou filha dele também, e…
estou com um pressentimento ruim. — Ethan não responde. — Me desculpe,
mas nós dois não tínhamos volta, você é muito especial para mim e um
grande amigo, e quero você ao meu lado. Sei que é um pedido egoísta, por
isso não vou ficar chateada caso você queira se afastar.
Ethan continua em silêncio e estou apreensiva, então como o sanduíche
com azeitona em cima e depois um pastel de frango. Olho para ele e seu rosto
está sereno.
— Eu demorei demais para voltar, não é? No fundo eu sabia que minha
chance havia passado, mas… Se eu posso ter sua amizade é claro que eu vou
aceitar, porque, por mais que eu não seja mais o homem da sua vida, você
sempre será a mulher da minha, mesmo que eu me apaixone de novo. —
Ethan beija minha testa e descanso a cabeça em seu ombro.
— Vai demorar para sair o jantar? Porque esses petiscos não estão
matando minha fome… — Ethan começa a rir e sei que estamos bem.
Hoje foi um dia surpreendente para se dizer o mínimo, mas a vida é
assim, minha vida é assim, cheia de altos e baixos.
Capítulo 26

Véspera de natal…

É estranho ver as coisas fugindo do nosso controle. Eu conheço bem


essa sensação, mas, sempre que acontece, eu tomo o mesmo susto inicial, ou
pelo menos é isso que eu penso.
Ontem eu entrei em meu quarto depois de ajudar Aria com seu vestido
para a ceia e encontrei um envelope com meu nome escrito com a letra de
Landon. Na carta, ele conta porque teve que se afastar, e devo dizer que uma
das razões me partiu o coração, pois é ligada aos pais dele, já a outra me
deixou em um misto de chateação e raiva, pois essa não tinha só ele envolvido
e sim outra pessoa muito próxima a mim.
Por alguma razão eu me aproximei da janela e avistei Landon fazer o
caminho de sua casa e, como não sou pessoa de levar desaforo para casa, eu
fui até lá, fui sim, e tirei tudo a limpo.
Nós gritamos um com outro, eu acabei dando outro soco nele e ele me
beijou. Mas minha fúria era muita, bem, ainda é, porque ele ainda terá que
ficar longe e… Ele fez o que achou ser certo e não posso culpá-lo, mas
quando isso cobrar seu preço eu terei que pagá-lo, por mais caro que seja.
Ninguém pode fugir para sempre.
A outra pessoa envolvida? Miranda. Dói-me saber que ela também
sofreu e que teve que se manter longe de mim pela mesma razão. Eles não
estão me traindo nem nada do tipo, só trabalharam juntos para o que eles
pensam ser um bem comum. Ou seja, meu bem e das crianças.
Quando voltei para casa depois de discutir com Landon, meu celular
tocou e recebi a notícia que eu já sabia que viria. Kalebe foi preso. Imagino
que para alguém chegar onde ele chegou é preciso muito desespero, ou muito
desequilíbrio.
Ele foi preso por agredir a esposa, mas havia sido solto. Há algumas
semanas, ele entrou na casa dos meus pais e foi assim que parou na cadeia
novamente, além de é claro ter provas dele me ameaçando e ameaçando a
vida das crianças.
Lembro-me do papel que achei na casa na praia… O único papel que
realmente importa nessa história toda e que ninguém, além de mim, Jared e
Ana, sabe da existência. Mas Eric, Miranda e Landon acharam que sabiam o
bastante para interferir.
Eu gostaria de gritar com ela também, mas é véspera de natal e por isso
irei me controlar, por mais alguns dias. Aprendi que tudo tem um preço e que
não importa como, nem quando, alguém ou alguma coisa vem cobrá-lo.
— Você parece preocupada. — Mônica entrou em meu quarto e nem
percebi, seu cabelo está muito curto, pois o tratamento os fez cair, mas valeu a
pena, ela está curada.
— Não é nada, só estou pensando. Minha mãe e Ana eram sempre as
mais empolgadas nessa época, eu perdi essa ilusão… bem, você sabe quando.
— Sim, ela sabia, todos sabiam. Meu avô sofreu um ataque do coração
enquanto me assistia andar de bicicleta, meu pai tentou socorrê-lo, mas foi em
vão. Meu avô morreu na calçada de sua casa sem que nós pudéssemos fazer
alguma coisa. Foi quando minha depressão começou. E quando perdi as
ilusões que todos têm de certas épocas do ano. Eu tinha oito anos e passei a
adolescência ouvindo de outras meninas que eu era fraca como a mãe de Ana,
essa provavelmente era a razão dos dez por cento a mais de preocupação de
Jared.
— Eu sei, foi um tempo difícil, ainda é. Daqui mais alguns dias
completará seis meses que seu irmão e cunhada se foram. É uma data triste,
mas pelas crianças eles iriam querer mais alegria. Sei que está difícil, mas
você é forte e vai conseguir. Eu sei que vai. — Mônica coloca a mão em
minha barriga e sorri para mim.
— Essa fé de vocês em mim me assusta, eu sou uma pessoa dura na
queda, mas forte? Isso eu já não tenho tanta certeza. E você? Como está se
sentindo? — Sua cor voltou ao normal, Mônica parece bem por fora, mas
como realmente está a parte de dentro?
— Eu estou ótima! Por incrível que possa parecer, é assim que me sinto
morando aqui com as crianças e com você, sendo útil de novo, meus cabelos
estão crescendo e… Estou assistindo de perto você e Miranda caminharem
sozinhas.
— Eu agradeço muito por estar aqui. — Mônica me abraça com força.
Chamo alguém para me ajudar a descer e quem aparece é Marc, que me
pega no colo com muita empolgação e me desce se sentindo o super-homem,
reviro os olhos para ele quando sorri brilhantemente para mim.
Sam, Denise, Elisa e Olivia chegam no mesmo momento em que
apareço na sala, ganho abraços e elogios e depois roubo Sam por alguns
momentos. A mãe de Marc não pôde vir para o natal, mas ela vem para a
virada do ano.
Ele está empolgado para o primeiro natal com todos nós reunidos, os
pais dele e os de Denise chegarão mais tarde. Ainda está cedo, então nada
para se preocupar.
— Eu sinto muito por Landon não estar aqui, e eu não vi o Ethan, ele
não vem? — Sam diz se jogando no confortável sofá que tenho no escritório.
— Vem sim, mas antes ele foi ver o pai, já que não fala com a mãe
dele, logo deve estar chegando. E quanto a Landon… Eu não sei o que dizer,
a não ser que já bati nele duas vezes e a raiva não passa. Quer dizer eu
entendo o lado dele, mas… Eu não sei. Eu trouxe você aqui porque quero
saber como vai o escritório? Eles devem achar que estou fugindo de novo…
— Não, longe disso, Olivia e Denise esganam quem pensar uma coisa
dessas. Está tudo sobre controle, nem faz tanto tempo assim que você teve
que sair e é só por mais alguns meses certo? Logo você está de volta para
colocá-los nos lugares deles.
O que foi que eu disse? A fé dessas pessoas em mim me assusta, não sei
se realmente posso atender a essa demanda.
— Obrigada, por tudo. Você veio para ter um começo calmo e eu
joguei tudo em cima de você, me desculpe.
— Não me peça desculpas, Charlotte. Eu tenho que te agradecer por
isso, conheci pessoas incríveis, minha esposa, e posso finalmente dar uma
família enorme e completa para Elisa. E tenho uma novidade! Estamos
pensando em ter um bebê, ainda é cedo, mas já começamos a planejar.
É assim que a vida é. Você cai, levanta e segue em frente, por mais que
doa e por mais cansativo que seja é assim que o ciclo segue seu curso.
Dou os parabéns e digo o quanto estou feliz por eles.
Ethan chega junto com os outros integrantes que faltavam e nos
reunimos todos a mesa, que está linda. Marc, Lena e Mônica que montaram.
Nossa árvore enorme está toda enfeitada e rodeada de presentes, a pilha está
quase do tamanho dela.
Tem peru, frango assado, lasanha, muitos tipos de batata, saladas, arroz,
macarrão. O macarrão foi feito por Marc e está muito bonito.
Eric faz uma oração e começamos a montar os pratos, primeiro as
crianças depois os adultos, colocamos os pequenos em uma mesa separada e
imagino a pessoinha que está aqui dentro sentada com eles.
Há muita alegria, risadas, vozes, o som dos talheres batendo nos pratos.
Histórias estão sendo contadas, outras revividas. Têm planos sendo divididos
e ideias surgindo. Muita comemoração.
Chegamos à parte do amigo secreto, é bem engraçado já que as pistas
são bem estranhas, vamos dizer assim, mas todos participam e as crianças são
as mais empolgadas para chegar a vez deles e, depois de todos serem
revelados, finalmente vamos para a sobremesa.
Quando todos vão embora já é quase duas da manhã. Há papel de
presente por toda a casa, mas a cozinha está impecável. Também pudera, as
mulheres dessa família são possessivas, mal me deixaram levantar para
caminhar até o banheiro.
Miranda estava tão feliz que irradiava alegria e claro que Marc também
notou isso. Minha amiga está voltando a ser quem era e isso me deixa feliz,
mesmo que tenhamos um conflito em breve.

Natal…

Acordo com fome, por alguma razão eu raramente sofro com enjoos.
Ethan dormiu aqui em casa, já que ele, Marc e Sam beberam até tarde.
A casa está silenciosa, mas encontro a mesa posta e arrumada, Lena está
cantarolando baixinho na cozinha. É natal e estamos todos muito felizes. Em
breve a casa acorda, a visita volta junto com a bagunça.
— Bom dia Lena. Acordou cedo. Feliz Natal! — Dou um abraço nela
que me retribui com muito carinho.
— Bom dia! Feliz Natal, Charlotte! Muito obrigado por ter me
convidado para ficar ontem. — Como eu poderia não convidar? Lena faz
parte da família e, além do mais, ela não se casou, nem teve filhos e seus
irmãos moram a quase um dia de distância.
— Você já é da família!
Ficamos conversando por um bom tempo, até que seu celular toca, é um
dos sobrinhos e ela vai atender. Fico sozinha na cozinha. O dia está lindo e
promete ser bem quente. Marc entra e beija minha testa, depois de me
observar por um tempo ele se senta à minha frente.
— Bateu em Landon de novo? Estou começando a achar que ele vai ter
um nariz torto para sempre e será culpa sua. Feliz Natal! Estou feliz de ver
que está todo mundo seguindo em frente…
— Menos você. Porque não negue, você ama a Miranda, mas quer
puni-la, por isso se mantém longe. Mas está sofrendo tanto quanto ela e eu
estou assistindo a tudo de camarote, só me falta a pipoca. Os homens são tão
idiotas, principalmente quando tentam ser inteligentes. Você tentou seguir em
frente, mas não deu certo. Admita que perdeu e me poupe a dor de cabeça. —
Tomo um gole de meu suco de laranja enquanto Marc me olha de boca aberta.
— Eu poderia dizer que é verdade, mas seria mentira e você saberia.
Então vou fingir que essa conversa não aconteceu. E você desceu sozinha? —
Faço que sim com a cabeça. — Por que não acordou o Ethan?
— Porque eu desci devagar, está tudo bem e eu estava com fome —
falo dando de ombros.
Seguimos tomando nosso café até que Miranda aparece e Marc resolve
ir buscar os biscoitos que a mãe dele mandou para mim. Minha amiga senta
onde ele estava e faz uma careta quando ouve a porta da frente abrir e fechar.
Esses dois estão como cão e gato e isso está começando a me irritar, às
vezes é engraçado não vou negar, mas outras é só irritante mesmo.
— Você está bem? — Miranda enche o copo de suco e corta uma fatia
de bolo, observo-a atentamente e me pergunto como deixei tanta coisa
passar… Mas também, ela foi esperta ficando longe de mim para ser como
foi.
— Você escondeu bem o que estava fazendo. — Miranda arregala os
olhos e a fatia de bolo cai de sua mão. — Eu sei que Mônica está bem agora,
mas o trato era você cuidar dela e não de mim! Você não pode me proteger de
tudo, Miranda, e tem que entender isso. E sim, foi o Landon que me contou,
acho que a mente dele pesou mais que a sua.
— Char… Eu não podia deixar as coisas caminharem para onde
estavam indo, mas eu cuidei da minha mãe, não saí do lado dela e fiz o que
precisava para ajudar você também. Eu sabia que você não iria mais querer
casar, então fiz o que daria pra fazer. Sinto muito — ela diz, tentando pegar
minha mão, mas eu me afasto.
— É natal e não quero discutir sobre isso mais, o assunto acaba aqui
e… Eu me casei sim, com Landon, mas é segredo. — Saio da mesa para
segurar a língua de dizer “segredo… Algo que você sabe fazer muito bem.”
Miranda fica lá sentada com olhos cheios de lágrimas, mas é melhor
assim. Eu não quero ter uma discussão enorme que não levará a nada, tudo já
foi feito, não há como voltar atrás. Agora é só esperar.

As crianças acordam às nove da manhã. Ethan está de ressaca, assim


como Sam. Denise, Olivia, Anita, Mônica e Lena estão na cozinha cortando
coisas e rindo de receitas que não deram certo. Eric e José estão discutindo
alguma coisa sobre política. Marc, Ethan e Sam estão falando sobre ressaca e
beber mais.
Miranda está com Alice e Elisa falando sobre vestidos e sapatilhas. E eu
estou com Aria e Alec montando um quebra-cabeças.
Já expliquei para Alec que, se a irmã está tentando colocar a peça no
lugar errado, ele não pode simplesmente arrancá-la da mão dela, mas ele hoje
não quer colaborar. E Aria já beliscou o irmão duas vezes.
Meu celular começa a tocar e faço sinal para que Marc e Ethan fiquem
de olho nesses dois. Não reconheço o número, caminho até nosso jardim (que
ficou lindo e não me canso de vir até aqui) para atender.
— Alô?
— Charlotte? É Roberta, mãe de Landon. Desculpe por ligar, mas eu
precisava falar com você. — Por essa eu não esperava.
— Olá, Roberta, como vai? Não se preocupe, pode me ligar sempre
que quiser. — Eu não diria nada diferente. Ela será avó do meu bebê.
— Landon me contou dos últimos episódios e ele está sofrendo tanto,
mas é cabeça dura demais para admitir. Foi um erro nosso e, no entanto, ele se
achou no dever de consertar. E eu soube que ganharei um netinho ou netinha.
Luiz e eu estamos muito felizes. Queria que você nos desculpasse por tirá-lo
de perto de você.
— Não se preocupe, Roberta. Seu filho e eu brigamos um pouco antes
de ele resolver ir ajudá-los, e eu entendo, faria o mesmo pelos meus pais. E
quanto a ser avó… espero que seja uma notícia boa.
— É uma notícia maravilhosa! Landon não para de falar de você e das
crianças e agora do filho que está a caminho, e quero agradecer por fazer
Breno voltar à razão. Não me entenda mal, mas desde que Marine fez Landon
largar a especialização dele eu não a aguento mais. Bem, querida, vou ver o
quer os rapazes estão fazendo. Landon está com o nariz inchado e os olhos
roxos, esse meu filho! Feliz natal e mande um abraço para as crianças. —
Prefiro ignorar a parte onde ela fala dos ferimentos de Landon.
— Feliz natal para a senhora também.
Fico com o celular na mão pensando na conversa que acabei de ter.
Landon é uma pessoa extremamente irritante, mas a mãe dele é uma pessoa
muita boa e gentil, bem, até ela descobrir que quem fez o estrago no rosto do
filho dela fui eu…
De toda forma, ainda estou chateada, mas quem sabe quando tudo for
resolvido?
— Charlotteeeee! Vem, vamos abrir os presentes — chama Mônica.
Caminho até a sala e me sento ao lado de Ethan. As crianças distribuem
seus presentes primeiro, depois os mais velhos e então os ditos “jovens” da
casa. Eu me sinto uma velha… Talvez eu tenha uma alma velha.
A sala está uma bagunça de papéis de presente pelo chão, e um monte
de presentes também, até Landon mandou presentes, e Lila e Lilás receberam
alguns também.
Estou com fome, de novo. Deixo todos conversando animados e rindo,
e vou à cozinha atacar o pacote de biscoitos que ganhei.
— Às vezes eu me pergunto se isso tudo é fome ou ansiedade. —
Ethan está parado na porta e respondo que é fome com toda certeza.
— Eu só tenho feito três coisas nas últimas semanas: comer, fazer xixi
e repousar, então para de me observar.
Ethan dá de ombros e rouba o biscoito que está em minhas mãos, depois
sai sorrindo, as mulheres voltam à cozinha e me expulsam de lá, a mesa é
colocada e logo estamos todos sentados, de pratos cheios. São nessas ocasiões
que as pessoas mais comem.
Estão todos tão empolgados e felizes. É bom vê-los assim. Confesso
que achei que quando esse momento chegasse seria difícil para mim e para as
crianças, mas eu estava enganada. Toda essa bagunça faz com que eles
esqueçam os problemas, pelo menos por enquanto.
A sobremesa está deliciosa, tão deliciosa que Aria vira o pote na cabeça
de Alec, não sei o que esses dois têm hoje! Marc corre para socorrer Alec e eu
vou falar com Aria. Alice quer se meter, mas acaba desistindo.
— Aria, o que está acontecendo, meu amor? Você não pode sair
jogando as coisas em Alec. — Ela cruza os braços e não me responde, pego-a
pela mão e levo até meu escritório, onde ela se senta na cadeira de frente para
minha mesa.
— Alec está muito chato mamãe! Ele fica falando que vai cuidar do
bebê sozinho. Eu quero ajuda-ar. — Ela gagueja na última palavra e meu sinal
de alerta é acionado.
— Ah, meu amor, não se preocupe com isso, ainda vai demorar para
isso acontecer, e até lá nós vamos arrumar um jeito de todos ajudarem. Agora
prometa que não vai mais jogar coisas no seu irmão.
— Eu prometo, mas só se ele não me irritar!
Suspiro para não rir de sua expressão emburrada. Terminamos nossa
conversa e caminhamos de volta para a sala, onde ela vai terminar seu quebra-
cabeças. Ela é muito parecida comigo. Quando Jared disse isso, nós rimos,
mas ele é que estava certo.
Observo de onde estou cada uma das pessoas aqui presentes. Eles estão
felizes, fazendo planos… Isso é seguir em frente.
Coloco a mão sobre minha barriga e sorrio para quem quer que esteja
aqui. Não vejo a hora de saber se é menino ou menina.
O dia de natal termina como ontem, todos satisfeitos com a comida,
alguns altos pela bebida, mas todos felizes por comemorarmos juntos. Esse é
o primeiro Natal em que a casa está cheia como nos velhos tempos. E uma
casa cheia, é uma casa feliz.
Capítulo 27

Véspera de Ano Novo…

A casa está cheia novamente, a ideia era ir para a casa na praia, mas
como o voo da mãe de Marc atrasou resolvemos ficar todos aqui.
Eu sempre acho engraçada essa data, porque a maioria das pessoas se
veste de branco, mas aqui em casa nem todos estão de branco. Miranda está
de vermelho, Alice e Elisa de amarelo, eu e Aria de verde, os outros sim estão
de branco.
Os homens inspecionaram a equipe que montou alguns fogos de
artifícios, as mulheres a comida, eu e as crianças a decoração, a casa está
muito bonita.
Marc surge na porta com sua mãe, que é muita parecida com ele,
levanto-me do sofá e caminho até eles para cumprimentá-los.
— Olá! Seja bem-vinda! A casa está uma loucura. Eu sou Charlotte. —
Os olhos da mãe de Marc brilham quando escuta meu nome e ela me abraça
sem pensar duas vezes.
— É um prazer conhecê-la, Charlotte! Meu nome é Lucia. Marc fala
tanto de você! E das crianças. Eu devo a sua família a vida de meu filho.
Sinto muito que foi como foi, mas… — Ela segura meu rosto emocionada. —
Quero que saiba que estou aqui para o que vocês precisarem. São como a
minha família, eu queria mais filhos, mas não pude ter, e saber que Marc tem
uma família aqui alivia muito minhas preocupações.
— Graças a seu filho o coração de meu irmão continua batendo. E eu
aceito! Saiba que a senhora já é da família. — Dou um abraço apertado nela.
— Bem, já que vocês duas se deram tão bem, vou contar a novidade!
Daqui alguns meses minha mãe vem morar comigo. Eu não quero mais ela
tão longe — Marc diz sorrindo para a mãe.
— Eu apoio. — Avisto Aria vir carrancuda em nossa direção. — Esta
mocinha linda é a Aria, minha caçula. — Aria sorri para Lucia, que estende os
braços e Aria a abraça.
Lila foge para a rua, deixo Marc apresentar sua mãe para todos, tento
alcançar a cadelinha, que é mais rápida. Estou no meio da rua já quando ela
resolve parar e se sentar. Respiro fundo e calmamente vou até ela, para evitar
que corra novamente.
— Você não pode correr assim! E se um carro te atropela? Vai ficar de
castigo. — Estou conversando com Lila quando sinto olhos em mim, não sei
de que direção, mas tenho certeza que alguém está me observando.
— Não me bata! Eu só quero conversar. — Breno caminha em minha
direção com as mãos erguidas.
— O que você quer? Eu não tenho mais nada para conversar. — Tento
fazer o caminho para casa, mas ele entra na frente.
— Eu voltei e vou assumir o filho de Marine, que eu sei, porque você
disse, que não é mais que minha obrigação. Eu sei de algo que talvez você
devesse saber… — Reviro os olhos para ele, que nota que a essa altura eu já
sei de tudo. — No fim você não ficou com nenhum de nós três.
— Com quem eu vou ficar ou não, não é da sua conta. Vá cuidar da
mãe do seu filho e pare de se preocupar comigo. E você tem sorte, porque eu
no lugar de Landon teria te dado uma surra. E… diga a ela pra tomar cuidado,
minha mão anda coçando com frequência. — Desvio dele e caminho para
casa.
Solto Lila no colo de Alice e caminho até meu escritório. Falta quase
quatro horas para a virada do ano e devo dizer que encontrar Breno não me
animou nem um pouco. O que ele realmente queria? Eu não sei.
Mas é um fardo a menos para Landon com ele aqui, como eu gostaria
de meter a mão na cara de Marine! Essa criatura só pensa em maldade.
Caminho até minha mesa e me sento na cadeira que foi do meu irmão.
Em cima da mesa há uma foto minha com Jared e Ana, uma com as crianças,
com Miranda, meus pais, os pais de Miranda, com Dakota. Preciso de mais
espaço… Até uma foto minha com Ethan voltou para cá.
Anoto mentalmente colocar mais fotos nessa mesa e nesse escritório.
Respiro fundo, mas uma lágrima solitária cai mesmo assim. Seis meses… Há
seis meses meu irmão e cunhada ainda estavam aqui… Posso me imaginar
entrando porta adentro e me jogando no sofá e Jared dizendo que eu podia me
machucar.
Há seis meses eu dividia um apartamento com Miranda, via meus
sobrinhos com frequência, trabalhava no escritório e tirava fotos todo fim de
semana. Miranda estava noiva… O tempo passou e tudo mudou.
Penso em Landon, a vida dele mudou muito, deu uma reviravolta e ele
retrocedeu. Imagino que deva ser apavorante.
Marc, por outro lado, fez um passeio ao passado, mas seguiu em frente.
Eu não sei em qual dos dois quadros me encaixo exatamente, eu já
passei pelos dois momentos. Toco em minha barriga e penso em como o
futuro será… mas não consigo ver, e não entendo por quê.
Nunca fui o tipo de pessoa que pensa no futuro com antecedência,
passei tanto tempo vivendo um dia após o outro que não sei se consigo fazer
isso.
— Um doce pelos seus pensamentos… — Ergo a cabeça para
encontrar Eric parado a porta.
— Um só? Tem que ser uns vinte. — Observo Eric caminhar até a
mesa e se sentar na cadeira em frente a mim. — O que passou, passou.
— Não é bem assim e sabe disso. Fizemos o que achamos certo para
proteger vocês, sei que está chateada Charlotte. E eu sinto muito, mas prometi
ao seu pai que protegeria você e seu irmão, nesse caso os filhos de Jared. E
quanto a Landon? Ele é um bom homem, não faça a mesma besteira que
Miranda fez. — Eric está sem graça, e não olhou para mim nenhuma vez, mas
ele já observou todo o escritório.
— Eu e Landon tivemos uma discussão e então terminamos o noivado,
ele foi embora e eu fiquei e descobri que estava grávida. Ele voltou,
esclareceu as coisas e foi embora de novo. Eu nunca o mandei embora. Ele foi
sozinho, como sempre. Na minha vida ou as pessoas morrem ou elas vão
embora. E não os culpo por isso, eu não sou uma pessoa fácil. E eu teria feito
o mesmo pelas pessoas que amo. — Eric me olha nos olhos pela primeira vez.
— Por muito tempo eu quis partir como todos fizeram e, no entanto, agora só
eu fiquei.
— Isso não é verdade, Charlotte. Estamos aqui, com você. Sei que
muitos partiram, foi assim comigo também, a diferença é que eu já vivi muito
mais que você e aprendi que um dia todos partem e que nem sempre é como
nós pensamos. Eu só não quero que aconteça com você o que aconteceu com
Jared. — Eric aperta minha mão que estava sobre a mesa. — Ligue para ele.
— E dito isso ele sai do escritório.
Minha cabeça está pesando tanto que penso que ela vai sair rolando dos
meus ombros a qualquer momento.
Disco o número de Landon e espero começar a tocar. Toca cinco vezes
e ele não atende, tento mais uma vez e nada.
— Não sei o que você está fazendo, mas espero que não seja nada que
faça você levar outro soco meu. Bem, só estou ligando para desejar um ano
novo repleto de paz, alegria e realizações. Mande um abraço para os seus
pais. E Landon… Eu não odeio você… Não completamente.
Desligo o telefone e, depois de olhar mais uma vez as fotos sobre a
mesa, saio do escritório.

Dez minutos para acabar o ano… Já começo a pensar no que irei pedir
esse ano. Alice, Alec e Aria estão ao meu redor, estamos todos esperando dar
meia noite para vermos os fogos e comemorarmos.
Os minutos passam e finalmente falta cinquenta e oito segundos para o
novo ano… E dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois… Um!
Terminamos nossa contagem, gritamos em comemoração.
Eu peço paz, amor, felicidade, alegria, esperança, perseverança,
amizade, lealdade, confiança…
Eu peço que o novo ano tenha todos esses sentimentos, que minha
família continue unida, que sejamos mais próximos a cada dia e que possamos
colar os pedaços quebrados.
Abraço as crianças e cada uma das pessoas aqui, a mais difícil e ao
mesmo tempo mais fácil de abraçar é Miranda. Nós nos abraçamos e
choramos uma nos braços da outra. Prometemos que nesse novo ano seriamos
como nos anos anteriores, onde nada ficaria entre a nós duas.
— Mãe? Quero que me prometa algo. — Alice aparece ao meu lado,
envergonhada pelo pedido que quer fazer, Miranda sorri e se afasta.
— Diga e vou ver o que posso fazer. — Sorrio para ela, que continua
nervosa.
— Pode prometer de novo que só vai morrer quando nós estivermos
grandes e não precisarmos tanto de você?
— Eu não prevejo o futuro, mas pretendo cumprir, se o destino não
tiver outros planos. Mas por que isso agora? — Alice está com os olhos
cheios de lágrimas.
— Porque sempre vamos precisar de você e assim vou saber que nunca
vamos te perder. — Alice está esperando por algo que eu diga e confirme sua
ideia, mas tudo que posso fazer é abraçá-la.
Se em um futuro próximo eu não puder estar aqui, sei que terei os
deixado com as melhores pessoas do mundo.

Primeiro dia do ano…


Landon me ligou durante a noite, mas eu estava tão cansada que não
ouvi o celular tocar, ele me deixou um recado.
“Eu estava fazendo risoto de camarão pra minha mãe, então não percebi
o celular tocar… Eu agradeço por você não me odiar tanto, e não estou
fazendo nada que mereça outro soco, já que ainda estou me recuperando dos
anteriores. Minha mãe acha que esse estrago todo quem fez foi ou o Marc
ou… Ethan. Obrigado por ter ligado para me desejar feliz ano novo, eu desejo
tudo em dobro para você, inclusive eu mesmo. Mande um grande abraço para
nossos filhos… Cinco filhos, certo? E Charlotte… Eu te amo, mesmo que
você me odeie.”
Seu recado mexe comigo, mas considerando que estou grávida e meus
hormônios estão loucos, é tudo culpa deles… “Eu desejo tudo em dobro para
você, inclusive eu mesmo.”
Sorrio com a insinuação dele, criatividade é um dom ao que parece,
mas… Ele é charmoso e sua voz me dá calafrios…
— Bom dia! — Miranda diz sorrindo enquanto entra no quarto com
meu café da manhã. — Você sempre acorda linda, isso é horrível.
— Bom dia pra você também, e olha só quem fala?! Deu-me uma
vontade de comer risoto de camarão… — Miranda levanta a sobrancelha para
mim e coloco no viva-voz o recado de Landon.
— Tem certeza que é risoto que você quer? — ela diz com malicia. —
Porque em minha humilde opinião… você está excitada e sendo assim seu
desejo é outro! — ela diz caindo na gargalhada.
— Eu ouvi a palavra desejo? — Ethan coloca a cabeça na porta. E
Miranda está roxa de tanto rir.
— Desejo? O que você quer comer, Char? — É a vez de Marc de
aparecer na porta.
Sério isso? E Miranda não ajuda, rindo como uma hiena. Os rapazes
continuam na porta a espera de que eu diga algo, mas realmente pode ser o
que ela disse… Mas nesse momento posso até sentir o cheiro do risoto.
— Risoto de camarão. É esse o meu desejo. Eu quero risoto de
camarão, com farofa e salada de tomate…
Estou com água na boca só de imaginar, que raiva de Landon, agora
nosso bebê corre o risco de ter rosto de camarão… Ou tomate.
— Tudo bem… Eu e Ethan vamos dar um jeito nisso — Marc diz
levando Ethan com ele. Ouço os dois discutirem no corredor e Miranda para
de rir ao notar que é sério.
— Enquanto o risoto não sai, eu posso arrumar tomate para você
comer!

São nove e meia da manhã e estou no meu segundo prato de risoto de


camarão. Alice, Alec, Aria, Mônica, Eric, Marc, Ethan, Lena e Lucia estão
me observando boquiabertos enquanto como sem parar para respirar.
Finalmente me sinto satisfeita e me encosto às costas da cadeira.
— Eu odeio os homens! — Todos começam a rir.
— O quê? Mas, e eu? — Alec pergunta espantando.
— Você não se enquadra nesse quesito, Alec, eu amo você. —
Bagunço seu cabelo.
— Mas eu sou homem…
— Não é não! Você é só um menino — Aria grita para o irmão e a
briga está feita.
Demoramos um pouco para acalmar os ânimos, mas conseguimos. Elisa
fica chateada por não estar presente durante a briga.
Os outros integrantes da família chegam e alguns comem de meu risoto.
Faço cara feia para Sam que diz: “os homens são uns amores, você que é
implicante.” Denise e Miranda entram na conversa e começa outra discussão.
Isso significa que teremos um ano agitado e animado pela frente.

Almoçamos todos juntos, tivemos mais discussões e pela primeira vez


em semanas Marc e Miranda entram em consenso.
Na parte da tarde todos se arranjam na sala onde fazemos maratona de
filmes comendo sanduíches e salgadinhos. É um dia gostoso para passar com
a família. Está quente, mas não abafado.
Pego no sono e quando acordo são quase sete horas da noite e lá está
tudo de novo, o cheiro de comida sendo feita, vozes alegres por conta de um
jogo de cartas.
— Olha quem acordou. — Ethan está sentado no chão encostado ao
sofá onde eu dormia.
— Perdi a maior parte da tarde. O que está fazendo no chão? — Ele
aponta para seu notebook em seu colo, mas continuo sem entender.
— Montando, ou tentando montar, um slide para passar todas as fotos
que você fez nas últimas semanas. — Ethan parece confuso e estressado.
— Senta aqui que eu te ajudo. — Ele sorri e se senta ao meu lado e
começamos o trabalho.
Depois do jantar nos reunimos todos na sala de novo e assistimos o
slide que eu e Ethan demoramos duas horas para fazer, mas ficou muito
bonito. Fotos do casamento, do dia a dia, da véspera de natal, natal, ontem e
hoje.
— Nossa, Char! Ficaram incríveis essas fotos! Se você não fosse
minha chefe eu diria para você se demitir e viver disso. — Olivia está
hipnotizada.
— São fotos belíssimas, não é mesmo José? — Anita pergunta ao
marido.
— Sim, querida. Charlotte, você tem muito talento! — Ele sorri para
mim.
Fico feliz que eles tenham gostado, as fotos mostram poses
espontâneas, onde eles nem imaginariam que havia uma louca fotografando.
— Sim, Jared sempre disse que você tinha talento, mas tudo se
aprimora com o tempo — Eric diz lembrando o orgulho de Jared por minhas
fotos.
— É verdade, lembro disso. Você pegou momentos tão bonitos… —
Mônica diz sonhadora.
Sim, eu aproveitei parar tirá-las quando ninguém estava notando, ou
preocupado com a pose certa, ou sorrindo falsamente. As do casamento
ficaram lindas.
No final, colocamos um vídeo com momentos importantes das últimas
datas e todos se emocionam, fazemos uma homenagem a quem não está
também.
— Sua filha era muito bonita, Denise! Ela tinha seus olhos e seu
sorriso — Elisa diz com carinho.
— Sim, ela era muito bonita…
— É o papai! E a mamãe! — Aria grita e aponta para a tela. Alice, que
já estava feliz por rever Clara, fica ainda mais alegre ao ver os pais. Alec sorri
com a imagem deles, Xande, seu amigo aparece também, assim como
Landon.
Todos são lembrados e muitas lembranças são contadas. Nós rimos e
conhecemos um pouco mais cada um ali presente.
Alice, Alec e Aria querem dormir comigo essa noite e assim aqui
estamos os quatro juntos em minha cama.
Eles ressonam baixinho e observo seus peitos subirem e descerem. Seus
cabelos ruivos ganham luminosidade com a luz da lua e me pergunto se meu
bebê terá o cabelo característico dos Evans.
Eu não sei o que os próximos meses me reservam, mas espero que seja
mais desse companheirismo e união que estamos tendo nos últimos meses.
Miranda entra sorrateira no quarto e se deita atrás de mim.
— Eu não podia faltar, não é mesmo?! — Não, claro que não.
Estamos bem e tudo está bem, eu costumo pensar que depois da
calmaria vem a tempestade, mas já enfrentei tantas que nesse momento eu
queria ser um para raios para afastar qualquer trovão que possa anunciar uma
nova tempestade.

Meu corpo dói, tudo dói. Mas a sensação de frio passou. Sinto uma
mão quente se enrolar em meu pulso e uma sensação de alivio corre por mim.
— Charlotte! Charlotte? Por favor, acorde. — Uma voz conhecida
grita comigo, mas não consigo abrir os olhos, nem responder.
O ar falta em meus pulmões e alguém pede que a pessoa de afaste.
— Charlotte! Você não pode me deixar… — A pessoa chora
desesperada.
Eu quero ir… Deixe-me ir… É tudo que minha mente grita, mas meu
coração grita diferente.
E nesse momento eu reconheço a voz me chamando. É Landon Cass.
Capítulo 28

Dois meses depois…

Respiro fundo ao parar em frente à escola com Alice, Alec e Aria —


sim, é o primeiro dia de aula dela. Como Aria completa cinco anos em maio,
entra na escola hoje. Estou nervosa, mas ela parece tão… Tranquila.
Descemos do carro, e tiro-a da cadeirinha. Seguro sua mão e sorrio para
ela, então entramos na escola. Alec cumprimenta alguns amigos pelo
caminho, Alice segura minha outra mão e sorri para nós.
Deixamos Alice em sua sala, em seguida Alec, então chega a vez de
Aria. Respiro fundo quando paramos diante da porta, abaixando-me na altura
dos seus olhos.
— Estou orgulhosa de você, minha menina corajosa. — Beijo seu rosto
e Aria sorri, logo em seguida me abraçando apertado.
Bato na porta e uma professora sorridente nos atende. Aria espia a sala
e sorri para ela. Fico com o coração literalmente na mão, pensando se ela vai
entrar ou querer voltar para casa, mas depois de pensar por um momento, Aria
se vira e me abaixo, então ela me abraça mais uma vez.
— Amo você, mamãe. Vou ficar. — Então ela se afasta e, balançando os
cachos ruivos, entra na sala.
— Não se preocupe, mãe, qualquer coisa nós ligamos para você — diz
a professora sorrindo em compreensão.
— Obrigada e até mais tarde. — Dou uma última olhada em Aria, agora
sentada na primeira carteira do canto, e caminho pelo corredor indo até a
saída.
Nunca pensei que esse momento fosse ser tão difícil, porque isso diz
que ela está crescendo, não é mais o bebê da casa. Passo a mão por minha
barriga, ainda pouco aparente, e suspiro. Em breve teremos outro bebê em
casa.
Quem busca as crianças é Marc, então quando eles chegam em casa,
depois de me abraçarem apertado, me contam em detalhes como foi se
primeiro dia de aula. Sorrio com a empolgação deles. Quando Alec e Alice
sobem para tirar o uniforme, Aria permanece sentada e me conta o que não
quis dividir com os irmãos.
Diz-me o quanto sua professora é legal e seus colegas são divertidos.
Aria sabe ler e escrever desde os três anos, então não foi problema para ela.
Seus olhos brilham a cada nova aventura contada e fico feliz por ela estar
finalmente se abrindo para novas experiências.

Quatro meses depois…

Há quatro meses eu comecei a ter sonhos estranhos, mas preferi não


contar nada. No sonho alguém sempre chama meu nome, mas não reconheço
a voz, só quando a pessoa se afasta que eu lembro que a voz é de Landon.
Estou sentada no sofá observando Aria montar seu novo quebra-
cabeças. Ethan foi viajar há algumas semanas para conhecer um menino que
nasceu com um problema no coração e quando voltou trouxe muitos quebra-
cabeças novos para ela. O menino está muito bem agora e crescendo rápido.
Ainda me lembro de encontrar Ethan chorando por salvar mais uma
vida quando ele não salvou a da própria filha. Já conversamos muitas vezes
sobre isso, ele não precisa se punir pelo que aconteceu.
Minha barriga está enorme! Já estou de seis meses, como está passando
rápido, já estamos em abril.
Quando completei três meses de gestação, fomos saber o sexo do bebê.
Miranda e Alice foram comigo. Eu estava nervosa, não vou negar. Tudo
correu bem, mas ainda estou de repouso.
É uma menina. Alec pelo que parece será como Jared, cercado de
mulheres fortes e teimosas. Ele está achando isso o máximo! E as meninas
gostaram de ter mais uma irmãzinha.
Não falei mais com Landon desde o ano novo, mas Marc tem passado
as informações para ele e ao que parece ele ficou feliz e preocupado com o
fato de ser uma menina. Segundo ele, se ela me puxar, ele terá muito trabalho.
Já escolhi o nome dela e, ao contrário do que pensam, mandei um e-
mail para ele com sugestões, mas Landon disse que a escolha seria minha.
Sendo assim, já escolhi o nome e ele aprovou, mas só nós dois sabemos, os
outros estão se roendo de curiosidade.
Com quatro meses, eu recebi uma visita inusitada. Marine teve a
audácia de vir até aqui me ver, eu não sei o que essa mulher tem na cabeça,
sempre tão fútil e mesquinha. Ela quer Landon de volta, chegou à conclusão
tardia de que Breno ainda é muito imaturo (sem falar que Landon tem muito
mais dinheiro), falei para ela arrumar um trabalho e parar de infernizar as
pessoas. Miranda chegou e colocou Marine na rua.
Landon ligou naquele mesmo dia, furioso, perguntando se Marine
esteve aqui e, quando Mônica o confirmou, teve um acesso de raiva, pediu
desculpas e disse para não acreditar em nada do que ela falou.
Aos cinco meses eu tive um sangramento, daqueles que deixa até os
médicos com o cabelo em pé, mas está tudo bem com minha menina. Ela é
forte e Ethan está acompanhando tudo de perto, é até engraçado. Eu sei era
para Landon estar fazendo isso, mas Ethan é o especialista, ele tem avaliado
tudo para me deixar mais tranquila.
Landon vai voltar para sua antiga especialização.
Alice está crescendo, semana passada compramos sutiãs para ela e para
Elisa. Foi bom sair só às meninas, rimos bastante e compramos roupinhas
para a nova integrante da família.
Alec teve seu primeiro coração partido. Meu doce menino se
apaixonou, mas não foi correspondido, e assim ele passou a usar minha frase,
mas com algumas modificações: “eu odeio as mulheres… menos as da
família, essas eu amo muito.”
— Aria, eu vou sair com sua tia Miranda, quer vir? — Aria sempre
empaca quando chega na parte de montar algum rosto.
— Não, mamãe, eu vou ficar para terminar esse aqui e depois vou fazer
meu novo livro de atividades. — Ela olha para mim e sorri, seus cachinhos
ruivos caem ao lado de seu rosto.
— Está bem, eu volto logo. — Dou-lhe um beijo e um abraço e me
sento novamente.
Miranda está atrasada, de novo. Ela está pegando meu lugar, eu odeio
me atrasar, mas desde que tive três filhos, infelizmente, virou um tipo
estranho de rotina.
— Você não vai sair com Miranda? O carro dela está aí na frente. Onde
está sua caderneta de gestação? Eu não consigo achar. — Ethan está pensativo
e penso nisso também.
— Lembrei, está com Marc, vou lá buscar. Miranda não entrou em casa
ainda. Caso ela apareça, diz que eu já volto. — Ethan assente com a cabeça
para mim e volta sua atenção para Aria que pergunta algo a ele.
Caminho até a porta e me assusto ao abrir, pois encontro Landon com a
mão erguida para tocar a campainha.
— Olá, Charlotte, eu… — Fecho a porta na cara dele, o que ele quer?
Mas que droga! — Eu voltei. Posso entrar? — Com o canto do olho vejo
Ethan cruzar os braços.
— Não! Você não pode! Vá para a sua casa! — grito do outro lado da
porta.
— Eu… Está bem, mas podemos conversar antes? Charlotte? — Aria
fica olhando para mim assim como Ethan. — Charlotte? Está aí? Charlotte!
Ignoro seu chamado e fico batendo o pé no chão com raiva. Isso até ver
o carro de Olivia estacionado em frente à casa de Marc, o que é bem estranho,
e então ver Miranda caminhado a passos largos para lá.
Abro a porta e Landon parece aliviado, mas eu ignoro o que ele tem a
dizer, e passo direto caminhando atrás de Miranda. Quando alcanço a frente
da casa de Marc ela já entrou sem bater e nem nada, isso não está prometendo
coisa boa.
E eu estava certa sobre isso. Miranda está parada na porta. Chego atrás
dela, procuro a razão pela qual ela está praticamente colada ao chão e… Marc
está beijando Olivia no meio da sala.
Marc deve ter sentido que algo estava errado porque ele vira para nós
duas, e devo dizer que estou chocada, Miranda e ele pareciam estar se
arrumando. As coisas acontecem muito rápido. Marc tenta argumentar alguma
coisa, mas Miranda é mais rápida. Ela anda até ele e… dá um soco nele, Marc
cai no chão e ela sobe em cima dele e continua socando seu rosto.
Eu devo estar ficando louca porque começo a rir sem parar e Olivia
olha de mim para Miranda e Marc em pânico. Jared não devia ter nos
ensinado essas coisas.
Landon chega atrás de mim e, vendo a situação, corre para tirar
Miranda de cima de Marc, mas para isso ele precisa da ajuda de Ethan que
veio ver o que estava acontecendo.
— Seu filho da mãe imprestável! Eu… Você me paga, Marc Reid! —
Marc está com o rosto ensanguentado e Miranda parece pronta para pular em
cima dele outra vez.
— Charlotte? — Ainda estou rindo quando ouço Ethan chamar meu
nome. — Charlotte! Vocês não estavam de saída?
— É, sim, bom… estamos, claro que estamos. — Puxo Miranda pelo
cotovelo e saímos da casa, ela está com as mãos machucadas, mas não se
importa. Caminhamos para o carro dela e ouço Marc dizer que precisa
conversar com ela, mas Landon e Ethan o impedem. Entramos no carro em
silêncio e Miranda começa a dirigir.
— Por que você está tão chateada? — Miranda não responde. —
Aconteceu alguma coisa, não é? Você dormiu com ele? Sério?!
Uma lágrima solitária cai dos olhos de minha amiga e aperto sua mão
que está no volante.
— É, eu dormi com ele, aquele filho da mãe cretino! — Miranda soca
o volante. — Por que eu acreditei que algo havia mudado? Ele queria o quê?
Dar-me o troco? Que raiva.
— Foi bom? Quer dizer… valeu à pena? Porque se valeu, ele quem
saiu perdendo. — Pisco para ela, que começa a rir e em segundos estamos
gargalhando alto no carro.
— Você tem razão, mas pelo menos agora eu posso dar uma chance a
um cara novo. — Eu reviro os olhos, Miranda sempre teve muitos olhares
sobre ela.
— Por exemplo… O cara que é amigo do Marc e do Landon? Ou o que
está trabalhando com Ethan? É sério, Mi, temos que fugir desses médicos!
Foco novo… conhecer um cara que não seja médico.
— Feito, próximos namorados… qualquer profissão menos médico!
Mas esses que você citou são tão bonitos! — Estamos rindo histericamente de
novo.
Nós precisamos parar de bater neles… Isso não é um bom exemplo. Ah,
Jared!

Quando voltamos para casa, Marc está no sofá com o rosto bem
machucado, Miranda o manda sair, mas ele permanece firme em querer
explicar o que aconteceu. Miranda olha com nojo para ele e depois sobe para
seu quarto.
— Bom, eu vou subir também — digo sorrindo para Marc.
— Você também não vai me ouvir? — Marc se senta no sofá e olha
para o teto. — Eu não iria machucá-la, Char.
— Olivia conversou com ela… E sabemos que esse não foi o primeiro
beijo de vocês. E o que pesou em Miranda foi que você deixou Olivia por ela
e, no entanto, não resistiu ao que aconteceu hoje. Não estou te culpando, mas
se quer uma visão geral disso tudo… Miranda finalmente abriu mão de você,
Marc, então se realmente a quer de volta, mexa-se! — Brinco com ele sobre
não sujar meu sofá de sangue e depois subo as escadas.
Eu preciso descansar meus pés, estão tão inchados hoje… E eu quero
um banho também.
— O que você faz aqui? — Landon está sentando-se aos pés da minha
cama.
— Esperando por você. Eu estou de volta e estamos casados. Vim
cumprir meus deveres e, claro, ver minha filha e a mãe dela. — Ele me dá seu
sorriso galã da faculdade.
— Em primeiro lugar, eu disse pra você não entrar. Segundo, estando
casado comigo ou não, você não vai morar aqui. Terceiro, quer ver sua filha?
Espere o próximo ultrassom ou quando ela nascer. Agora sai do meu quarto
— digo cruzando os braços, o que chama a atenção de Landon para meus
seios, que estão maiores. — Está olhando o que, seu tarado?
— Nada que eu já não tenha visto…
— Eu não diria isso, você pode ter gerado um filho de primeira, mas
não sei se deu tempo pra eternizar alguma coisa. Sabe, você é bem pendente
em alguns…
— Eu posso reparar isso, e posso demorar muito tempo…
— Não, você não pode — digo colocando a mão em seu peito para
pará-lo. — Mas você pode ir embora. Eu preciso descansar.
— Eu posso te fazer uma massagem — Landon diz com voz sedosa.
— Isso foi golpe baixo! Mas ainda assim, é não. — Dou a volta nele e
me deito na cama. Meus pés não aguentam mais. Landon deve ter visto isso
como um convite, pois se deita ao meu lado e coloca sua cabeça encostada em
minha barriga e nossa filha chuta com força.
— Eu estou aqui. — Landon ergue a cabeça para olhar para mim. —
Ela vai puxar você, eu não tenho dúvidas quanto a isso.
— Sorte a dela. Agora, você pode ir embora? — É sério que ele vai
passar meses longe e agora chegar e deitar na minha cama? Ou invadir meu
espaço? Não mesmo! Não posso negar que nossa discussão mexeu com meus
hormônios, mas é só isso.
— Está bem, não quero você nervosa, eu vou dormir no Marc, mas
passar o dia aqui. Vou esperar as crianças chegarem lá na sala. — Landon
beija minha barriga e se levanta.
— Eles cresceram nos últimos meses… — Landon assente com olhos
marejados e sai do quarto.
Suspiro cansada. Miranda está trancada no quarto, Marc e Landon
voltaram a trilhar o mesmo caminho, eu estou com dor nos pés e minha filha
não para de chutar, alguém também está chateada.
À noite, Miranda decide ficar no quarto, para tristeza de Marc. Landon
está aqui e conheceu Sam, Denise e Elisa. Ethan está aqui também. Alice,
Alec e Aria ficaram muito felizes por encontrar Landon e por saber que ele
veio para ficar.
Por mais que ele repita que veio para ficar, algo na visita que Marine
me fez há não muito tempo me faz duvidar disso. Claro que é um motivo
nobre, mas ainda assim…
— Temos uma novidade! — Sam se coloca de pé, assustando-me. — É
com muito orgulho que viemos contar que a família vai aumentar!
Em um primeiro momento ninguém se mexe ou respira, mais um bebê
na família, isso é maravilhoso!
— Parabéns! Sam, Denise, estou muito feliz pela notícia. — Abraço
um de cada vez e aos poucos os outros fazem o mesmo. Caminho até Elisa. —
Parabéns, meu amor! — Elisa me abraça e diz o quanto está feliz com tudo.
Brindamos e comemoramos, por fim Miranda desce para dar os
parabéns a Sam e Denise, mas logo sobe de novo.
— Ele é mais bonito do que eu pensei. — Sam esbarra em mim e fico
sem entender do que se trata.
— De quem você está falando? — O sono em mim é tanto que não
estou mais acompanhando a conversa.
— Landon, quem mais? — Esqueci que Sam não o conhecia
pessoalmente. — Você só namora pediatras? Isso é meio estranho.
— Estranho é você ficar encarando e piscando para ele. Parece até que
se apaixonou. — Sam fica sério e eu começo a rir, até que ele entra na
brincadeira.
Dou a noite por encerrada e caminho para meu quarto que fica depois
dessa escada enorme. Isso está me cansando só de olhar, mas bravamente eu
subo degrau por degrau e me jogo em minha cama maravilhosa.
Hoje o dia foi longo, cheio de surpresas, mas agora eu quero dormir e
descansar, mesmo que minha filha tenha outros planos…

Uma semana depois…

Estou de pantufas caminhando no meio da madrugada, furiosa. Alec


veio me dizer no jantar que era injusto a irmã dele que não tinha nascido
ainda ter três casas, quando ele só tinha uma, o que não é verdade! Eu nunca o
proibi de dormir na casa de Marc ou de Landon, que por acaso só apareceu
agora. E quem levantou a questão? Ele mesmo! Doutor certinho-barra-tarado!
Caminho mais rápido até a casa de Landon, a luz da sala está acessa
então ele está ali; fiquei em dúvida se estaria na casa de Marc.
Paro em frente à porta e toco a campainha. Aperto mais duas vezes
seguidas e finalmente ouço passos pela sala.
Landon abre a porta sem camisa, com o cabelo molhado e toalha, por
um momento eu não sei como reagir e meus hormônios começam a dar sinal
de vida. Eu os odeio, por falar nisso. Depois de recuperar minha razão, fico
furiosa por ele atender a porta assim. Passo por ele e entro na casa, Landon
fecha a porta sem dizer nada.
— Você não pode abrir a porta assim! — Landon tenta dizer algo, mas
balanço o dedo para ele e continuo. — E que história é essa de dizer a Alec
que eu não o deixo dormir aqui? Ou no Marc? Esse assunto nunca foi
levantado e, bem, você não estava aqui. — Landon ri, o que me deixa mais
brava ainda.
— Em minha defesa, sobre o assunto da porta, eu vi você caminhando
na rua pela janela do corredor. E quanto ao outro assunto, quem falou foi o
Marc, eu disse que precisávamos conversar com você antes. Alec quer uma
noite dos meninos, já que vocês têm a das meninas — ele fala com tanta
calma…
— Bem, nesse caso, não vejo por que não. Ele sente falta de presença
masculina… Mesmo com Ethan sempre por perto…
— Ethan? Qual a real relação de vocês? — Landon cruza os braços
sobre o peito forte e encosta-se à porta. — Eu quero saber com o que estou
lidando.
Estreito os olhos para ele na esperança de tirar de minha mente a
vontade de passar a mão por seu peito… Controle-se!
— Já que foi tudo um mal-entendido, vou voltar para casa — falo
dando a volta nele para abrir a porta, mas Landon entra em meu caminho.
— Eu quero uma resposta, Charlotte — ele diz em meu ouvido de
forma sensual.
Foi uma péssima ideia ter vindo até aqui uma hora dessas e sozinha, eu
quero tocar nele, quero… eu quero tanta coisa nesse momento…
— Sobre o quê? Ethan? Somos amigos, ele tem me ajudado com o
repouso e eu tenho o ajudado com a perda… Enfim, estamos nos ajudando. —
Levanto os olhos para Landon e encontro tantas emoções ali que não sei se
me parte o coração ou se junta os nossos pedaços.
— Eu quero você, eu venho querendo há muito tempo… Não vou
deixar você ir a lugar algum. Mas, se quiser ir hoje, pode ir. — Landon está
sorrindo com simpatia, mas em seus olhos eu vejo paixão. Dou um passo em
direção a porta, mas Landon me puxa e me beija.
Nosso beijo passa tantas coisas… Saudade, paixão, raiva e amor.
Suas mãos passeiam por mim e mesmo minha barriga grande não é um
impedimento. Puxo seus cabelos e Landon me puxa mais para perto, minha
resistência vai para os ares. Foi injusto da parte dele jogar com meus
hormônios, mas essa altura não importa mais.
Encontro Miranda debruçada sobre a mesa do café da manhã discutindo
com Lila do outro lado da mesa.
— Bom dia. — Miranda sorri para mim e se arruma na cadeira. —
Estou me sentindo meio idiota, igual você semana passada.
— Você dormiu com Landon? Dormiu! — Miranda começa a rir. —
Somos duas idiotas, agora não tem mais o que negar. E eu sinto que daqui a
pouco ele baterá aqui…
— Charlotte! — Landon grita na porta.
— Miranda! — Marc grita logo em seguida.
É, a idiotice foi grande, penso levando à mão a testa. A manhã será
longa, muito longa pela expressão dos homens a nossa frente.
— Por que você veio embora? Não somos adolescentes e somos
casados! — Landon diz com a mão na cintura.
— Você me enganou! Me fez ir até a sua casa, quando você está
morando com Marc e sabia que ver você só de toalha iria mexer com esses
malditos hormônios! E não é porque aconteceu dessa vez que vai se repetir!
Eu ainda não estou completamente certa de perdoar você e aquele nem foi um
casamento de verdade! — grito para ele, sem nem ao menos respirar.
— O que foi, Marc? — Miranda diz com inocência.
— Você convidou Jonas para sair? Ficou louca? Ele é meu amigo,
trabalha comigo e estamos juntos! — Marc está vermelho de raiva.
— E daí? Eu vou sair com ele sim, e não estamos juntos! E caso você
tenha se esquecido, Olivia também é minha amiga e trabalha comigo, seu
cretino filho da mãe! — Miranda fulmina Marc com os olhos.
— Espera, você fez o quê? — Marc diz virando para Landon. — Eu
não acredito que eu não fiquei sabendo disso.
— Eu iria te contar, mas não tive tempo. Desculpe. — Landon diz mais
calmo.
— Nós estamos juntos sim, você me queria de volta e por mais difícil
que tenha sido pra mim, eu tive que admitir que quero você do meu lado.
Charlotte tem participação nisso. E não vou a lugar algum. Você me queria,
não é? Pois bem, agora você me tem e coitado daquele que entrar no
caminho! — Marc se apoia na mesa ficando cara a cara com Miranda.
— Isso é o que vamos ver! — Ela se encosta a cadeira para se afastar
dele.
Isso sim é um homem com um espinho na pata, Miranda sabe ser
terrível quando quer, embora eu possa ver ela se derretendo por dentro.
— Engraçado, você não se derreteu toda quando eu usei esse
argumento! — Landon está irritado agora, reviro os olhos.
— É que ele tem pontos comigo, diferente de você. E com ele soou
mais romântico também. — Penso nisso por um momento. — E você já
mostrou que sabe jogar sujo, doutor Tarado! — Landon fica boquiaberto com
o apelido que dei para ele, bem, isso porque ele não ouviu os outros. Miranda
cai na gargalhada e Marc fica olhando de forma debochada para o amigo. —
Não faça essa cara pra mim, Marc, vocês dois convivem juntos há bastante
tempo.
— Eu não estou discordando. — Marc puxa uma cadeira e se senta,
servindo-se de suco de laranja.
— Você está no lado de quem afinal de contas? — Landon está ficando
cada vez mais irritado. — E você — ele aponta para mim —, eu joguei sujo
sim, mas isso é culpa sua.
— Ela não me escondeu o casamento dela — Marc diz, interrompendo
Landon.
Os dois começam a brigar e eu e Miranda respiramos aliviadas porque
não somos mais o foco da conversa.
Miranda me passa o bolo de chocolate que está me chamando, e Landon
se senta à mesa também.
É, pelo visto ninguém aqui vai conseguir fugir para lugar nenhum. A
dupla dinâmica, embora esteja brigando, não vai se separar, o que significa
que eu e Miranda teremos que ser muito mais resistentes.
Capítulo 29

Um mês depois…

Nem acredito que o tempo está passando tão rápido! Daqui a três dias
Alec completa nove anos e será a primeira vez que estarei na festa não como
tia ou madrinha, mas como mãe. Eu pensei que Landon não estaria aqui para
a comemoração, mas ele voltou há alguns dias…
Fizemos tudo escondido para ser uma grande surpresa. Convidei os
meninos do handebol, da escola e também os filhos dos advogados da
empresa.
O tema será dos Transformers, já que Alec anda assistindo muito esses
filmes. Meu favorito é o Bumblebee e o de Alec é Optimus prime, por isso os
dois estarão em tamanho real na sala. Foi trabalhoso montar tudo nesse tema,
mas vai valer à pena, ainda mais que com esse barrigão eu não tenho muito
para fazer.
Comprei uma bicicleta de presente para ele, espero poder ensiná-lo a
andar nela, mas isso, claro, só depois que minha filha nascer, porque com essa
barriga é impossível.
Observo Marc entrar sorrateiro pela cozinha com uma caixa não muito
grande, e sinto uma vontade imensa de comer fruta do conde, não sei por que,
acho que nem é época dessa fruta.
— O que você está escondendo? — Marc não deve ter me visto, pois
leva um susto e quase derruba a caixa que está trazendo.
— Que susto! Eu trouxe bolacha confeitada, a mãe de Sam que
mandou para você. Pelo que entendi, você é fã das bolachas dela, embora eu
nunca tenha visto uma ligação de amizade muito forte entre você e Olivia. —
Marc me entrega a caixa e se senta ao meu lado.
— Bom, eu e Olivia fomos “conhecidas” até ela virar minha secretária.
Já a relação com Sam é diferente e você deve ter notado… É por isso que a
mãe deles sabe sobre minha paixão por suas bolachas. Sam era o melhor
amigo do meu irmão. — Penso sobre isso, Olivia e eu fomos colegas até vir
trabalhar comigo, mas Sam e eu sempre fomos amigos e ele sempre trazia as
bolachas para mim. Como uma com confete roxo, está maravilhosa como
sempre.
— Eu vou pegar a decoração com Landon e levar para a casa dele, lá
não tem perigo de Alec ver. E então daqui três dias montamos tudo. — Marc
espera uma resposta minha, mas estou ocupada demais comendo minhas
bolachas confeitadas.

Os dias voaram! Hoje é aniversário de Alec! Levanto-me com um


pouco de dificuldade por conta do tamanho de minha barriga, lavo o rosto e
escovo os dentes, já que eu havia acabado de fazer xixi e me deitado, quando
lembrei e me levantei de novo.
Calço minhas pantufas e caminho vagarosamente até o quarto de meu
menino. Abro a porta com cuidado e por um momento fico ali, observando-o
dormir. O sol está passando por uma fresta deixada na janela e batendo em
seus cabelos, fazendo com que reflita a cor na cabeceira da cama. Seu rosto
está tranquilo, seus cílios longos descansam nas bochechas. Caminho até sua
cama e me sento ao seu lado. Passo a mão por seus cabelos, logo seus cílios
tremem e seus lindos olhos azuis me focalizam.
— Bom dia, meu amor! Feliz aniversário! — Alec abre um lindo
sorriso, senta-se na cama e me abraça com força. — Que todos os seus sonhos
se realizem, e que você seja sempre esse garoto maravilhoso e saiba que
sempre estarei do seu lado. Eu te amo muito. — Beijo o topo de sua cabeça e
seus braços apertam ainda mais meu pescoço.
— Obrigado. — Alec olha em meus olhos. — Minha mãe Ana não
poderia ter escolhido uma mãe melhor para ficar comigo e minhas irmãs. Eu
te amo, mãe. — Alec é um menino muito doce e eu ando uma chorona.
— Eu trouxe uma lembrança para você e mais tarde virá o presente
surpresa! Espero que goste. — Eu deixei ontem à noite o presente dele aqui
no quarto, para não ter que arrastá-lo hoje de manhã. Levanto-me e o pego
dentro de seu guarda roupa e o entrego para que Alec o abra.
Seus olhos brilham com o papel de presente dos Transformers, que fiz
Marc passar três horas andando pela cidade até encontrar. Assim que abre,
Alec para de sorrir, ele observa o presente com cuidado. É um desses porta-
retratos com muitas fotos. A primeira é minha com ele em minha formatura, a
segunda é minha com ele ainda no hospital, uma minha com ele e Ana em
frente o escritório, era meu primeiro dia de trabalho, outra em seu primeiro
jogo em que ele está segurando meu rosto. Coloquei fotos minhas com ele e
Ana, para que ele não pense que quero o lugar dela, mas para que ele saiba
que sempre estive ali, e que agora, mesmo sem estar aqui, Ana está com ele.
— Ela é tão bonita… Eu tenho medo de esquecer como ela era e não
quero que isso aconteça. Você se lembra da vovó? — Eu sei muito bem como
é esse medo, e sei que a resposta para isso não é das melhores.
Quando penso em minha mãe, consigo uma imagem muito distante
dela… Era mais presente quando Jared estava aqui, porque ele era um
lembrete diário de que eles existiram, já que meu irmão sempre foi mais
parecido com os dois. Quando penso em minha mãe, eu vejo um rosto
distante, mas o sentimento que tenho por esse rosto é muito próximo, é como
uma ferida sempre aberta, e mesmo que um dia eu me esqueça do rosto o
sentimento sempre vai estar ali.
— Um dia você vai ver um rosto distante, mas seu sentimento por esse
rosto será tão forte que você vai saber que é ela, e a dor de perdê-la vai estar
sempre aí, mas o amor que ela deu a você também. É assim que eu me lembro
da minha mãe. Eu sei por que você não tem esse pensamento em relação à
Jared, porque eu faço você lembrar-se dele. Era assim comigo também, mas
agora os dois estão da mesma forma em minha lembrança. E eu sinto falta
todos os dias. — Alec assente com a cabeça me abraça mais uma vez e em
seguida ouvimos vozes no corredor. Em instantes Aria entra correndo pelo
quarto e só dá tempo de Alec colocar seu presente do outro lado da cama
antes de ela pular em cima dele, seguida por Alice.
Miranda e Marc estão brigando no corredor. É sábado, por isso Marc e
Landon ficaram encarregados de distrair Alec até a hora da festa.
— Que tal se vocês forem dar os parabéns para seu sobrinho e então
podem se matar até as dez da manhã? — Pisco para eles e saio rindo da cara
feia que fazem.
Entro em meu quarto e quase tenho um infarto quando encontro Landon
deitado em minha cama. Minha primeira reação é de susto, a segunda é de
raiva e então jogo a escova de cabelo (que é o utensílio mais próximo a mim)
nele. O problema é que medi mal à distância e acertei bem no meio das pernas
dele. Pela cara que faz, fico com pena, mas logo em seguida começo a rir e
Marc entra porta adentro.
— O que houve com você? — Marc pergunta para Landon, que só faz
gemer com as mãos entre as pernas.
— Eu joguei a escova nele, mas medi mal à distância, então posso ter
atingido uma região um tanto… sensível — explico voltando a rir.
— Um tanto sensível? — Landon pergunta irritado. — Meu nariz é
uma área sensível, essa área que você acabou de atingir é muito sensível! Da
próxima vez mira pra cima, que eu já estou acostumado. Eu posso não ter
mais filhos. — Ele termina de dizer e volta a gemer.
— Eu mirei pra cima! — digo irritada e cruzo os braços. — Você já fez
uma filha. Pare de drama, um homem desse tamanho. — Ando até minha
cama e me sento ao lado dele, Marc assiste tudo da porta. — Pensei ter dito
que você não é bem-vindo no meu quarto. — Sim, desde que Landon voltou,
tenho estado impertinente e meio louca, devem ser os hormônios.
Miranda aparece com cara de riso na porta e chacoalha um saco de gelo,
que joga em meu colo e que, em um movimento reflexo, jogo no colo de
Landon, fazendo com que ele urre de dor mais uma vez.
— Eu sinto muito — digo pulando da cama para sair de perto dele,
porque pela cara que ele faz, está seriamente pensando em me esganar. — A
culpa é sua, sabia? Ninguém manda entrar escondido no quarto de uma
grávida.

São quatro da tarde, a festa está marcada para as cinco horas. A


decoração está toda montada, as comidas já chegaram e os convidados em
breve devem estar aqui.
— Será que o Landon já está andando normal? — Miranda diz, rindo
atrás de mim. — Mesmo sendo sem querer da sua parte, foi engraçado e ao
mesmo tempo trágico.
— Foi sem querer. E foi muito azar. E agora ele está bravo comigo,
mas isso é bom, ele vai se manter afastado — digo sorrindo para ela.
— Ou não, quer dizer, ele pode querer testar se ainda está
funcionando… — Miranda sacode minha cintura e depois me abraça.
— Isso não tem graça! — digo batendo o pé. Não sou uma pessoa
desastrada, às vezes eu quebro algumas coisas, mas isso é normal. E bom,
realmente foi engraçado, mas no fim eu fiquei com pena, deve ter doído
muito. E depois tive que explicar para as crianças o porquê de Landon estar
com um saco de gelo entre as pernas. Eu disse que foi um acidente, claro, mas
meu marido (sim, ele é meu marido, como ele bem gostou de ressaltar quando
ficamos sozinhos em meu quarto) disse que foi um acidente causado por um
instinto estranho que eu tenho por ele. Ha-ha.
Estou me sentindo de volta a quando o conheci na clínica e mais uma
vez sinto sentimentos divergentes, embora agora eu não possa negar que sinto
algo a mais por ele, mas é claro que não vou perdoá-lo tão cedo.
Às quinze para as cinco, os amigos de Alec vão chegando. Alice, Aria e
Elisa estão com Denise e Olivia na cozinha montando quebra-cabeças,
Miranda está combinando com os meninos a surpresa. Xande caminha até
mim sorridente.
— Oi, tia Charlotte! Você está muito bonita. — Sorrio para ele que me
abraça apertado.
— Obrigada, Xande. Você é um menino muito bonito e simpático. —
Pisco para ele o que o faz ficar vermelho.
— Até os garotinhos caem de amor por você, realmente a concorrência
é grande — diz Ethan, que não vi chegar e quando ele vai beijar meu rosto eu
acabo virando para vê-lo e quase ganho um beijo na boca, o que nos faz rir.
— Desculpe. — E finalmente o beijo é na bochecha, quando vou olhar para
Xande novamente meus olhos encontram com os verdes de Landon.
— É a cor do cabelo — brinco com Ethan. — Suas fãs estão na
cozinha — digo piscando para ele, que sorri e faz seu caminho até a cozinha.
— Fico feliz que esteja andando normalmente de novo. — Viro o rosto para
dar de cara com Landon e ficamos nariz com nariz.
— Eu sei que não fiz certo deixando você aqui, mas era necessário. E
ele? Por que ele é aceitável e eu não? — Landon fecha os olhos e se afasta. —
Deixa pra outra hora, não quero ouvir uma resposta agora. — E dito isso ele
caminha para a rua. Vou atrás dele.
— Ele não mentiu pra mim, eu sempre soube por que ele foi embora.
Fui eu quem não contei nada e a mãe dele que mentiu para ele. Eu o perdoei
porque… não tinha razão para mágoas, nosso tempo juntos já passou, mas
você? Nem era um problema no nosso relacionamento quando você foi
embora! A razão pela qual você se sentiu pelo Marc tudo bem, eu faria o
mesmo. E eu entendo que voltar por isso colocaria tudo a perder, mas agora,
nesse momento, eu ainda não consigo esquecer. Se você não quiser esperar,
tudo bem, Landon, não somos costurados um no outro. E sua filha não vai
sumir só porque não estamos juntos — falo tudo de uma vez, mas fazer o
quê?
— Tempo… eu quero dar tempo para você, mas ele não sai de cima! E
não minta, ele mexe com você e eu sei disso, porque por muito tempo foi
assim comigo em relação à Marine. E é isso que me tira o sono. Não é que eu
não confie em você, porque eu confio, mas nele? Ele sabe o que perdeu, assim
como eu. E quer você de volta, como eu também quero, e eu sei que no meu
caso, faz pouco tempo, mas… Vou ver se Alec e Marc já estão vindo. Hoje é
dia de festa.
— O mês que vem inteiro será de festas. — Landon me olha como se
eu estivesse doida. — Maio é um mês corrido para a família, porque é meu
aniversário e das meninas. O meu dia oito, o da Alice dia quinze e da Aria dia
vinte e quatro. — Dou de ombros.
— Então voltamos a discutir em junho e vou me lembrar de amarrar
você e tirar tudo que for fácil de arremessar. — Landon coloca as mãos na
cintura, olha para o céu, depois vem até mim, beija minha testa e sai em
direção à sua casa.
— Mamãe? — Viro-me para encontrar Alice torcendo os dedos. —
Temos um problema com o bolo.

O problema com o bolo foi resolvido com sucesso! Nada que mais
glacê não resolvesse, ficou… com um toque único.
Todos nos escondemos e esperamos ele entrar. Alec fala com Marc e
Landon, quando entra e me chama a plenos pulmões.
— Maaaaaaãe! Mamãaaaaae! Cadê minha mãe? — Alec diz agora
preocupado.
Miranda entra na sala com o bolo e todos começamos a bater palmas e a
cantar “parabéns para você”. Alec abre um sorriso enorme e observa todos
que estão ao seu redor. As luzes são acessas e as cortinas abertas, então ele vê
a decoração e seus olhos brilham de alegria. O problema é que com a
confusão do bolo, Miranda entra na mesma hora que eles e o parabéns
começa a ser cantado e fico para trás, lambendo o glacê. Miranda coloca o
bolo em cima da mesa e depois dá um forte abraço em Alec, seguido de Eric e
Mônica, depois de seus amiguinhos. Assisto tudo da porta da cozinha porque
estou cheia de glacê.
Alec recebe as felicitações de todos e, quando as crianças se dirigem
para a mesa, Alec permanece onde está. Alice vai servir Aria e Elisa vai junto,
mas ele continua ali, parado, olhando para todas as formas de se chegar à sala.
— Está tudo bem, Alec? — Miranda soa preocupada com ele. Estou
toda melecada de glacê e não queria perder a entrada dele, assim que vejo
Miranda se aproximar de Alec, corro para lavar as mãos e os braços, assim
como o meu queixo.
— Onde ela está? — Ouço um Alec desesperado perguntar. — Cadê a
minha mãe? — Minha blusa fica presa na porta do armário da pia. Eu deveria
estar lá conversando com ele.
— Meu amor, sua mãe está descansando…
— Ela está lá em cima então? — Alec soa esperançoso.
— Não, Alec, ela está…
— Acho que não é a essa mãe que ele se refere, Miranda — Landon
diz a ela.
— Sua mãe está na cozinha, Alec. — É a vez de Ethan falar.
Sou eu que Alec está procurando? Eu não pensei que ele notaria, foi
tudo tão rápido e ele estava tão impressionado…
— Mamãe? — Alec soluça na porta da cozinha.
— Estou aqui, meu amor. — Alec levanta os olhos ao ouvir minha voz.
— Desculpe, eu estou presa. — Faço sinal para a lateral de minha blusa que
não sei onde trancou. Ele corre até mim e me abraça forte, pressionando a
cabeça em minha barriga.
Landon dá a volta em nós e com um pouco de trabalho consegue
destrancar minha blusa. Agradeço a ele com um sorriso.
Então afasto Alec um pouco de mim, que me olha um tanto apavorado.
Não posso me ajoelhar com essa barriga enorme, então puxo a cadeira
próxima de mim e me sento, depois puxo Alec de volta para meus braços, o
que ele aceita sem pensar duas vezes.
— Está tudo bem, meu amor. Desculpe não ter estado lá quando você
entrou, mas estou aqui agora. — Alec soluça em meus braços e sinto suas
lágrimas molharem meu pescoço.
— Pensei que você tivesse ido embora também.
— Eu não vou a lugar algum, a menos é claro que você queira. —
Seguro seu rosto em minhas mãos. — Estou aqui, foi só um mal-entendido.
Vamos comer bolo? E tem aqueles docinhos que você ama! E seu bolo é dos
Transformers.
— Você não vai embora? — ele diz desconfiado.
— Eu não vou a lugar algum, prometo! Mas vou precisar limpar o
rosto e o cabelo que pelo visto ainda têm glacê — digo passando o dedo em
sua sobrancelha com glacê e mostro a ele.
— Tem glacê no seu cabelo… Eu vou, mas você vai vir rapidinho?
— Sim, estou logo atrás de você! — Alec me abraça mais uma vez, diz
que me ama e faz seu caminho para porta, mas não sem antes me olhar mais
uma vez.
Lágrimas caem por meu rosto, segurei até ele sair, agora elas estão
implacáveis, e me sinto como uma cachoeira de lágrimas. Landon se ajoelha a
minha frente e me puxa para ele, eu o abraço e choro.
— Estou suja de glacê — digo chorosa.
— Não tem problema. Está pronta para se limpar? — Faço que sim e
Landon me ajuda a levantar, depois caminhamos até o banheiro e com
delicadeza Landon limpa meu cabelo na pia e depois passa uma toalha
molhada em meu rosto.
— Obrigada.
— Eu te amo com glacê e tudo. — Reviro os olhos para não perder a
esportiva.
Entramos na sala e Alec traz um prato cheio de salgadinho para mim,
seguido de Aria com um prato cheio de docinhos. Sento-me ao lado de Eric
na outra mesa e com muito esforço faço Alec ir brincar com seus amigos.
Muitos de seus amigos olham para mim e sorriem, então olham para Miranda
e fazem a mesma coisa.
— É, parece que vocês duas fisgaram muitos corações essa tarde —
Eric diz sorrindo e fazendo os homens na mesa torcerem o nariz.
— Isso é porque eles não nos viram em um dia ruim — Miranda diz
debochada.
— Eu vi e ainda estou aqui, assim como Landon — Marc diz jogando
um guardanapo nela. Eu só faço revirar os olhos e mandar um beijo para
Alec, mas o amiguinho dele deve ter pensando que o beijo foi para ele, pois
caiu do banco, dando um susto em Mônica.
— Você não pode dar esperanças a um homem e depois tirá-la dessa
forma — diz Landon, sentando-se ao meu lado.
— É mesmo? Então me diga… cadê este tal homem? Não estou vendo.
— Sorrio para ele de forma inocente.
— Eu posso mostrar mais tarde… — Landon diz em meu ouvido.
— Eu não sei se me lembro bem, mas… creio que tem alguém
impossibilitado por hoje… O que é uma pena. — Pisco sorrindo para ele, que
só faz estreitar os olhos e quando se aproxima de minha orelha novamente…
— Landon! Não lambe a orelha da minha mãe! — Alec diz irritado e
acaba derrubando o livro que ganhou no colo de Landon, deixando-o lívido.
Todos riem, até que Marc sai correndo para pegar mais gelo, Alec
começa a pedir desculpa e no meio disso tudo eu ainda estou gargalhando. O
que, claro, chama a atenção de todos para mim.
— O quê? Não seria um aniversário nessa família sem um pouco de
drama! — digo dando de ombros
As crianças estão alheias a tudo enquanto nós começamos uma nova
discussão. Alec está feliz e aproveitando seu aniversário. É isso que importa,
e Landon? Bom, vamos dizer que é bom eu ficar longe dele por uns dias…
Ou não.
Capítulo 30

Estou tendo um sonho tão bom, e quando finalmente chega a uma parte
em que a Charlotte do sonho tanto esperava… Sinto algo pular em minha
cama e parece ser mais de um… Com um pouco de preguiça abro os olhos,
encontrando dois pares de olhos cinza e um de olhos azuis me observando.
— Feliz aniversário, mamãe! — dizem meus filhos sorrindo e brigando
para ver quem vai me abraçar primeiro.
— Cuidado com a barriga da mãe de vocês — Miranda avisa e quando
os três se afastam ela me abraça apertado. — Feliz Aniversário, minha amiga-
irmã.
— Isso não foi justo, tia! — reclama Alice.
— Pronto! Ela é toda de vocês agora. — Miranda se afasta e Aria é a
próxima a me abraçar, depois Alec e finalmente Alice.
— Mãe, nós te amamos, e por isso resolvemos fazer o seu presente de
aniversário. Marc ajudou — Alice diz o nome dos três, Alec e Aria chamam
Marc na porta, ele entra com um quadro, eu acho, e deve ter um metro de
altura. Ele pede para Miranda segurar enquanto vem me abraçar.
— Feliz aniversário! E levante-se pra abrir o presente! — Estreito os
olhos para ele que me ajuda a levantar. Marc e eu somos uma dupla e tanto.
Miranda traz o presente para mais perto de onde estou e com cuidado
começo a rasgar o pacote, posso observar que meus filhos estão nervosos e
ansiosos. Quando finalmente consigo rasgar a parte de cima, dou um puxão
forte arrancando boa parte do embrulho e fico boquiaberta com o que ganhei.
É lindo! E deve ter sido trabalhoso. Por um momento não consigo dizer
nada, só observar o que tem a minha frente.
É uma foto muito antiga, e quem tirou foi Miranda, ela me deu a
original e ficou com uma cópia, mas faz anos que não vejo mais essa foto… E
agora que estou aqui diante dessa imagem novamente quase posso sentir a
alegria daquele dia… O vento no meu cabelo e o cheiro de grama…
— Mãe? Não gostou? — Alice pergunta em dúvida.
— Eu falei que deveríamos ter comprado algo! — Alec diz chateado.
— Mãe, não chora não! — Aria fala colocando a mão em minha perna.
— Eu… é… lindo. Eu amei de verdade. Obrigada! Vocês são
maravilhosos! Está incrível. — Aria se coloca a minha frente, Alice senta-se
do meu outro lado e Alec se senta do lado que Aria deixou para ele.
 nossa frente está um quebra-cabeça de um metro, e a imagem? Bem,
nela eu estou com os cabelos voando ao meu redor, com minha câmera na
mão batendo fotos, atrás de mim estão Jared e Ana abraçados, e Miranda foi
quem tirou a foto. Era na frente de casa e as flores de mamãe tinham aberto
para receber a primavera.
— Que bom, porque deu muito trabalho! — Marc diz suspirando. —
Aqui está o meu presente. — Ele me entrega uma caixa pequena, dentro tem
uma presilha em forma de borboleta, é daquelas que tem dentes longos para
prender ao cabelo.
— É lindo, Marc. Eu amo essas presilhas. — Miranda torce o nariz.
— Eu também trouxe um presente para você. — Ela me entrega uma
caixa de tamanho médio e um pouco pesada.
Alec abre espaço para que eu a coloque sobre a cama desfaço o laço e
dentro encontro uma placa que diz “A melhor mãe do mundo reside aqui”, um
livro da Jane Austen e por último uma presilha em forma de libélula.
— Eu amei cada presente, Mi. Obrigada! — Miranda se aproxima e me
abraça novamente.
Depois expulso todos do quarto, porque quem não precisa ir trabalhar,
precisa ir para a escola.
Quando eu desço, recebo mais presentes e abraços. Lena me dá um
lindo cachecol que ela mesma fez e devo dizer que eu amei! Tenho uma
coleção de cachecóis. De Eric ganho uma coleção de livros de fotografia que
saiu no mês passado. A mãe de Marc mandou presentes para mim, assim
como a de Landon.
— Isso é para você. — Mônica me entrega uma caixa linda feita de
madeira, onde eu encontro um barco dentro de uma garrafa e ali diz “existem
pessoas maravilhosas em todo o mundo, mas você raramente vai encontrá-las
duas vezes”. — Eu ganhei um desses da sua mãe quando Miranda nasceu
agora você também tem um, assim terá uma parte de nós duas para sempre
com você.
— Obrigada. — Lágrimas escorrem por meu rosto e Mônica me abraça
apertado. — Ela era fascinada por essas garrafas…
São sete e meia e para comemorar resolvemos fazer um jantar, ou
melhor eles resolveram, estou só de enfeite, já que não me deixam fazer nada.
Ethan acabou de sair, ele me entregou seu presente, mas não pôde ficar, está
acompanhando o progresso de um bebezinho recém-operado.
Estou tentando em vão alcançar minha sandália quando ouço alguém
bater na porta, mando entrar e continuo tentando.
— Feliz aniversário, Charlotte!… O que você está tentando fazer?
Entrar em trabalho de parto? — Landon diz colocando seu presente em cima
da cama e parando na minha frente.
— Não, mas não tem ninguém para me ajudar com a alça da sandália.
— Deixa que eu arrumo, então. — Landon se ajoelha na minha frente e,
como meu vestido é longo, ele entra embaixo dele, depois de alguns segundo
ele finalmente acerta fechar ambas as alças e para meu completo choque…
ele beija minha coxa.
— Seu tarado! — digo furiosa e, claro, ele trata de sair de perto de mim.
— Como você ousa?
— Eu estava perto demais para perder a oportunidade. — Landon dá de
ombros, inocentemente. Depois dá a volta por mim e me abraça por trás. —
Feliz aniversário! Espero que goste do presente. — Estreito os olhos para ele,
me afasto e pego a caixa que ele deixou sobre a cama.
É uma caixa de madeira escura, com entalhes antigos, dentro há uma
tiara muito bonita, e que também parece ser antiga. Ela é prata com folhas e
flores entrelaçadas com pedras incrustadas.
— É linda, Landon! Mas não posso aceitar, eu…
— Foi da minha bisavó, ela pediu que ficasse comigo até que eu
encontrasse a mulher que deveria usá-la e com toda certeza é você. A mãe da
minha filha, a mulher que virou minha vida de cabeça para baixo e que eu
amo. E não aceito devolução.
— Tem certeza de que quer que eu fique com ela? — Landon assente
com a cabeça e eu agradeço mais uma vez.
Depois descemos para jantar, que é calmo até demais…

Eu realmente estou pensando em trancar a porta do meu quarto, porque


mais uma vez sou acordada na parte boa do sonho que eu estava tendo.
— Feliz dia das mães! — dizem meus três filhos ao mesmo tempo.
Depois sobem na cama comigo e, um por um, eles me abraçam. — Mãe, vem
abrir seu presente!
— Já estou acordando! — Levanto-me da cama e me deparo com uma
caixa grande na minha frente. Onde eles arrumam tantas caixas? Dentro tem
uma… um pé de árvore.
— Gostou, mamãe? — perguntam os três em coro.
— É uma muda de…?
— Eu não lembro o nome, mas é da mesma árvore que tem na frente da
casa dos nossos avós, a que você morou quando era criança! Vamos plantar
aqui na frente, assim vamos sempre lembrar que foi seu presente de primeiro
dia das mães! — Alice diz empolgada.
— É uma ótima ideia! Obrigada! Podemos plantar assim que eu for ao
banheiro. — Eles começam a rir com minha menção ao banheiro, já que
venho dizendo muito isso.
Miranda sorri para mim e quando eles descem para reunir o material e
escolher o local, ela se senta ao meu lado.
— Feliz dia das mães, mamãe urso! Eu estou tão orgulhosa de você,
Char! E obrigada por revisar minha defesa ontem, os pontos que você
mostrou estavam certos e eu estava desfocada. Prometa que ficaremos
velhinhas e sempre estaremos aqui para socorrer uma à outra. — Ela se deita
em meu colo.
— Farei o possível para que seja assim. Eu também te amo, e em breve
você será uma mãe muito melhor do que eu e Ana. Não tenho dúvidas sobre
isso. — Ela aperta minha mão e ficamos assim por um tempo.

São dez da manhã e aqui estou com meus três filhos quem além de
cheios de terra, estão muito contentes, o que é muito bom. Elisa se juntou a
nós, e os outros membros da família aos poucos vão chegando. Landon e
Marc viajaram na quinta à noite para visitarem suas mães e devem chegar
daqui a pouco para comemorarem comigo.
— Você está encantadora de mãe natureza — Ethan diz debochado.
Mostro o dedo do meio para ele, escondido das crianças é claro. — Eu trouxe
um presente para você. Quer ajuda pra levantar?
— O que você acha, babaca? — Rindo, Ethan me ajuda a levantar, lavo
as mãos na bacia com água ao meu lado, seco-as e pego o presente que ele
segura. É uma manta lilás pequena e uma manta vinho longa.
— Para o inverno, uma para você e outra para o bebê que está vindo —
ele diz com as mãos nos bolsos.
— Ah, Ethan! São lindas! Obrigada. Só não vou te abraçar porque estou
toda suja. Pode entregar para Mônica guardar para mim?
— É claro. — Ethan pega seus presentes e depois beija minha testa. —
Cuidado para eles não regarem seus pés — ele diz piscando para mim e
correndo antes que eu possa jogar areia nele.
É nesse momento que Landon aparece, ou melhor, é nesse momento
que eu o vejo parado me observando.
— Chegou cedo… — É tudo que consigo dizer.
— Pois é, mas de alguma maneira ele sempre chega antes de mim. O
que estão fazendo? — ele pergunta se aproximando e colocando a mão em
minha barriga, e nossa filha chuta ao sentir sua presença.
— Eu ganhei uma árvore das crianças, e ela é filha da árvore que tem na
frente da casa dos meus pais, então vamos plantá-la com o intuito de que
sempre nos lembraremos que esse foi meu presente de primeiro dia das mães.
Eu achei muito criativo. — Olho para Landon que está me observando de um
jeito diferente. — O que foi?
— Você está tão linda toda suja de terra… que eu quero muito te beijar.
— Estreito os olhos, já que, desde que eu machuquei certa parte dele, não
resisti a provocá-lo, mas pelo visto não é obra disso.
— Onde está meu presente? — pergunto para mudar de assunto.
— Está bem na sua frente — ele diz sedutor.
— Impossível! Só aceito se vier com um belo laço, senão, não vale —
digo dando as costas para ele.
— É porque eu tenho um plano — ele diz sorrateiro.
— É mesmo? E que plano é esse? — pergunto, agora preocupada com
suas ideias libidinosas.
— Só mais tarde! — ele diz beijando minha barriga e entrando em casa.
— Mãe, você acha que cavamos fundo o bastante? — Alec pergunta
curioso.
— Será que colocamos bastante terra? Talvez devêssemos ter colocado
vitamina para que ela cresça mais rápido — diz Alice pensativa.
— Eu acredito que está muito bom! Essa areia é bem escura. — É a vez
de Elisa dar seu ponto de vista.
Só Aria permanece em silêncio, ela olha de mim para a pequena árvore
e vice-versa, olha para o céu e depois de fechar os olhos por alguns minutos…
— Devemos pôr água, mas não muita. E mãe, como vai ser quando
ficar frio? Ela vai morrer? — Seus olhos cinza esperam ansiosos por uma
resposta positiva.
— Eu não entendo muito de flores, nem nada disso, minha área é
advocacia e fotografia. Mas, segundo a Mônica, o buraco foi feito no tamanho
certo, a terra é de ótima qualidade e só precisa colocar água na medida certa.
Não Aria, ela não vai morrer, vamos cuidar bem dela. Agora vamos todos
subir e tomar banho! Está quase na hora do almoço. — Eles ficam tristes por
terem que sair da sujeira em que estão, ganho um abraço de cada um e fico
mais suja ainda, mas fazer o quê? Marc é o último a chegar.
— Nossa! O que você está tentando fazer? Virar semente? — ele diz
sorrindo.
Dou de ombros inocentemente e quando ele se aproximou de mim,
passo as mãos sujas em seu rosto.
— Bem melhor! Ficou até mais bonito. — Marc estreita os olhos para
mim e só faço rir de sua cara mal-humorada. Ele e Miranda estão se
estranhando mais do que de costume.
Subo para tomar banho com Miranda atrás de mim, ela me ajuda a tirar
sutiã e a blusa, porque com minha barriga cada vez maior fica difícil fazer
coisas simples. Isso me lembra a saudade que estou de estar no escritório.
— Você devia tirar Landon do castigo, já o machucou o bastante. — Ela
tira sarro de mim.
— Você devia perdoar o Marc, dormir com ele e acabar com esse seu
mau humor, porque você também já o machucou fisicamente o bastante —
digo mostrando a língua para ela.
— Dormir com ele não é má ideia — ela diz pensativa.
— Sua tarada! Você e Landon deveriam ser irmãos! Só pensam nisso,
até parece que não tem outra coisa para fazer na vida…
— Uau! Alguém ficou chateada. Mas isso é algo muito importante,
sabia? — ela diz para me irritar.
— Não, não sabia. Agora voltando ao assunto Marc, eu o vi com um
sutiã seu ontem, um vermelho que eu te ajudei a escolher. Será que ele está
fazendo alguma simpatia? — Miranda fica vermelha de raiva.
— Como assim?! Aquele… Aquele… Imbecil.
Começo a rir e tomo meu banho, nada como irritar a melhor amiga para
nos sentirmos alegres. Nós podemos, outras pessoas não.
A casa está cheia, todas as mães já receberam seus presentes (eu dei
para Mônica uma coleção nova de jardinagem, para Lena uma coleção de
culinária e para Denise uma camiseta de melhor mãe. Eu sou péssima para
escolher presentes, eu sei).
Landon, Marc e Sam estão discutindo algo sobre política, Eric e Alec
discutem táticas de jogos, Alice, Aria e Elisa montam um quebra-cabeça de
castelo. As mulheres da casa estão todas reunidas na cozinha, penso que é
para experimentar alguma comida, já que tenho notado que estão sempre
juntas, mas não, estão assistindo um vídeo de um cara de sunga dançando.
— Que bonito! Mães de família assistindo essas coisas em pleno dia das
mães! — Todas se assustam, pois não me viram entrar.
— Eu sou solteira — Miranda diz sorridente.
— Vou fingir que acredito nisso! Eu estou com fome, tem alguma coisa
que eu possa experimentar? — Lena sorri e coloca em um prato um pedaço de
torta de legumes. Elas voltam a assistir ao vídeo e eu começo a comer.
Vinte minutos depois estamos todos sentados à mesa, comendo, e você
esperaria que estaríamos todos em silencio, mas é muito diferente, estão todos
falando ao mesmo tempo e um termina a frase do outro.
Alec rouba beterraba do meu prato e Aria pega os bolinhos de arroz,
Alice está me observando e faço sinal para ela pegar o que quer, o que era a
banana empanada. Sendo assim, volto a encher meu prato.
O restante do almoço continua assim, um interrompe o outro, ou
termina a linha de raciocínio, espero ansiosa a sobremesa que não me
decepciona e como tudo que contém chocolate.
Eric e Mônica resolvem ir descansar, assim como Lena. As crianças,
junto com Marc, Sam e Denise fazem um acampamento na sala para ver
filmes.
— Eu preciso ir, vou viajar amanhã cedo e quero dormir um pouco.
Você sabe como eu fico tenso antes de viajar, e tem a cirurgia que vou fazer
depois de amanhã. Estava tudo ótimo, Char. — Ethan sorri e observa a
bagunça na sala.
— Obrigada por ter vindo, sei que está cansado. Boa viagem e venha
me ver assim que chegar. Vai dar tudo certo na cirurgia, você é incrível e sabe
o que está fazendo. — Puxo-o para um abraço, que ele aceita.
— Obrigado por ainda ter fé em mim.
— É isso que as pessoas que se importam fazem. Bom descanso. Se
precisar conversar, é só me ligar. — Beijo seu rosto e, depois de dar tchau
para todos, Ethan vai embora.
Fico observando-o entrar no carro e depois se afastar do meio fio, Ethan
continua bonito e muito simpático, ele vai encontrar alguém que valha a pena
em breve, sei que vai.
— Pronta para o seu presente? — Landon pergunta em meu ouvido, me
assustando.
— Você não vai me enganar. Sei muito bem dos seus planos libidinosos,
Doutor Tarado. — Cruzo os braços na frente do peito, que, devo dizer, estão
enormes.

São exatamente oito da noite, e onde eu estou? Exatamente!


Caminhando até a casa de Landon, contra a minha vontade devo ressaltar,
mas fui obrigada a vir, porque meus filhos querem Landon presente no jantar
e porque Miranda e Denise ajudaram no drama e os outros integrantes da
família se recusaram a vir.
Estou irritada para dizer o mínimo, mas lá vou eu. E eu estava
dormindo quando me disseram que Landon foi embora e não voltou e que não
atendia o celular nem o telefone da casa dele. Esse idiota não podia ter ido
para a casa do Marc? Não, ele tinha que ir para a dele e me fazer andar até lá.
Agora aqui estou no meio da rua, descabelada, de pantufas, camiseta,
bermuda do pijama e um casaco, e se alguém achar ruim que me processe!
Estou mesmo sentido faltar de estar em um tribunal.
O lado bom de ele agora morar com Marc é que tenho as chaves da
casa, assim não preciso bater na porta, é só entrar, esganar ele e arrastá-lo pela
rua, simples assim.
Chego à frente da casa dele e só tem a luz da sala acessa e do escritório,
eu acho. Abro a porta com cuidado e entro o mais silenciosamente possível,
não o vejo em lugar algum do andar de baixo, por isso com um pouco de
dificuldade subo as escadas, bem devagar para aumentar minha raiva.
Caminho pelo corredor e todas as portas estão fechadas, menos a do
quarto dele, que está com a porta aberta, mas a luz apagada. Continuo
caminhando e sorrateiramente entro em seu quarto, não o vejo em lugar
algum até que…
— Ah, minha nossa! Isso…
Mas o que é que está acontecendo? Ah, eu só espero que não seja o que
passou em minha mente. Caminho mais para dentro do quarto e ele está
sentado na beira da cama sem camisa.
— Eu não quero interromper, mas já interrompendo… — digo virando
de costas com tanta rapidez que fico um pouco tonta.
— O quê? Não é o que você está pensando! Eu… deixei o seu presente
do lado da cama e agora quando fui levantar eu o quebrei. É só isso! Depois o
tarado sou eu — Landon diz debochado.
Reviro os olhos e me viro para ver do que ele está falando e lá está uma
caixa de música com a bailarina quebrada e o espelho também. E…bom, não
posso evitar notar que Landon está só de cueca.
— Você pode se vestir, por favor? — digo, batendo o pé.
— Por quê? Não venha se fazer de inocente, porque você já me viu com
muito menos, tanto que está grávida de um filho meu. Eu vou atrás de outro
presente amanhã. — Landon agora está soando realmente chateado.
— Está tudo bem. — Sento-me ao lado dele e passo a mão em suas
costas. — Você pode me dar outro amanhã.
— Ou posso te dar outro presente hoje… — ele diz, deitando-me na
cama. É, foi uma péssima ideia ter vindo sozinha… Mas, já que estou aqui…
Por fim, eu perdi o jantar. Quando volto, só está Miranda me esperando
e, sendo assim, com uma troca de olhares resolvemos comer sorvete.
— Eu estava pensando… É tão estranho ser mãe dos meus sobrinhos,
mas o que mais me assustou é que só agora eu me lembrei que esse era para
ser um dia comemorado pela Ana. — Miranda me entrega uma taça com
muito sorvete e eu encho de calda. — Será que eu estou esquecendo-a?
— Não, você está seguindo em frente e sendo a mãe que ela queria que
você fosse para os filhos dela, é só isso. Agora, como foi com Landon? — ela
pergunta sem esconder a curiosidade.
— Foi bom como sempre, mas… Eu ainda não estou fazendo as pazes.
— Miranda começa a gargalhar e eu só posso dar de ombros, porque eu não
perdoei ainda, mas não significa que não possa aproveitar, certo?
Capítulo 31

E hoje é dia de… mais aniversário! Chegou o dia de Alice e por isso
quem vai entretê-la serei eu. Comprei uma sapatilha roxa e outra verde para
ela de presente. Caminho devagar até seu quarto e abro a porta com cuidado,
depois me sento ao seu lado na cama.
Alice se parece muito comigo, mas o nariz é de Ana, algo que só noto
agora, seu cabelo é do tom do meu e tem algumas sardas aparecendo sobre o
nariz, mas são bem clarinhas.
— Bom dia, minha bailarina! — Beijo sua testa e Alice abre os olhos e
sorri para mim. — Feliz aniversário! E você tem dois presentes para abrir,
antes que seus irmãos apareçam — digo piscando para ela.
Alice se senta na cama e me abraça apertado, ou melhor, o máximo que
ela consegue com minha barriga no caminho, depois pega os embrulhos e os
abre com cuidado. Então vê as duas sapatilhas e seus olhos brilham de alegria.
— São lindas, mamãe! Não vejo a hora de poder usá-las. Clara ia ficar
apaixonada. Eu sinto falta dela, e a senhora tinha razão, Elisa tem seu próprio
lugar em meu coração, assim como a Clara sempre vai ter. — Coloco seu
cabelo atrás da orelha e sorrio para ela.
— Na maioria das vezes as mães acertam, mas não é sempre. — Ela me
abraça novamente e então o quarto se enche de pessoas, Aria pula entre nós
duas e Alice a recebe sorrindo, Alec beija minha barriga e depois se joga em
cima das irmãs. Deixo os três no emaranhado deles e os observo da porta.
Miranda passa por mim sorrindo e, depois de beijar Alice e parabenizá-
la, deixa que eles voltem a se aglomerar novamente.
— Eu lembro quando éramos assim… Um tempo muito bom… — ela
diz pensativa.
— Quando era assim? Até hoje você invade meu quarto e se joga em
cima de mim! — Ela me abraça apertado e saímos do quarto.
— Você já sabe onde vai levá-la? — Miranda pergunta ainda grudada
em mim.
— Sim, eu sei. Ela vai gostar, vou pegá-la depois da escola e voltamos
às quatro da tarde como o combinado, Elisa vai junto. — Miranda assente
com a cabeça e garante que vai cuidar de tudo.
— A temática é bailarina, disso eu entendo! — ela diz pulando de
alegria. Essa é a Miranda que eu conheço.
Meia hora depois, Marc leva Alice, Alec, Aria e Elisa para a escola,
enquanto eu, Miranda, Mônica e Lucia começamos a trazer a decoração.
Bom, elas trazem, eu só organizo.

Meio dia, Marc e eu pegamos os quatro na escola, depois ele nos deixa
no shopping (não sou muito fã de compras, mas…) e leva Alec para casa.
— Bem, por onde vamos começar? — pergunto para as duas.
— Sutiãs e vestidos? — Elisa diz entusiasmada.
— Eu quero um collant e um tutu mãe — Alice diz sorridente.
Assim, saímos pelo shopping atrás de tudo que elas lembram que
querem, depois de comprar sutiãs resolvemos que é hora de almoçar e elas
decidem que querem pizza.
Fazemos nossos pedidos e nos sentamos em uma mesa no canto.
— Mãe, posso fazer uma pergunta? Sobre meninos. — Alice está sem
jeito e com as bochechas coradas, assim como Elisa.
— Bom, eu não sou um gênio nessa questão, mas se eu puder ajudar é
só perguntar. — Vou tentar ser um pouco mais romântica, não que eu não
seja, é claro.
— Por isso queremos falar com você, tia, porque a tia Miranda é
muito… romântica? Já você é mais simples nisso tudo. — Elisa acha minha
relação com homens simples? Eu me considero uma mina esquecida no
deserto. Faço sinal para elas perguntarem à vontade.
— Tem um menino na minha sala, ele se chama Eric, como o vovô, mas
ele é muito… arrogante. Ele disse que eu era bonita e perguntou se eu iria
querer fazer o trabalho com ele, mas minha dupla é a Elisa e eu disse não,
então ele falou que meu cabelo é de bruxa e que sou estranha. Mãe, ele gosta
de mim? — Minha vontade é de descobrir o telefone do pai dessa criança e ter
uma longa conversar com ele! Onde já se viu? Onde esse pirralho pensa que
vive?
— Não, ele não gosta de você, na verdade ele é idiota, por isso não dê
importância para ele, Alice. O garoto certo deve estar mais perto do que você
imagina e uma hora ele sai da casa dele. Eu vou dizer algo e quero que as
duas prestem muita atenção. Homens não são melhores do que nós mulheres,
são iguais, por isso não aceitem menos do que serem bem tratadas. Mulheres
merecem respeito e ponto final, e qualquer um que não faça isso não merece
nem bom dia. E nisso sua tia Miranda vai concordar comigo, na verdade ela
diria até mais coisas, mas essa será uma conversa para outro dia, por enquanto
basta ignorar.
— Eu passei por algo igual na minha outra escola, mas minha mãe disse
que isso é algo bom — Elisa diz com os olhos cheios de lágrimas. Essa
mulher é idiota?
— Elisa, tem mulheres que não sabem como é ser bem tratada, e por
isso esquecem que elas merecem respeito mesmo assim. Existem homens
ruins e os bons em todo lugar, mas isso não os torna os reis do mundo e nós
temos, sim, que impor respeito. Mulher nasceu para estar e trabalhar onde ela
quiser. Por isso, não aceite menos de ninguém, você é linda, é simpática,
inteligente e a pessoa certa vai ver isso. E quanto aos outros? Se eles não
respeitam quem dizem amar, como vão respeitar aqueles ao seu redor? Mas
não se preocupe, você tem muitas mulheres fortes na família e logo vai
entender melhor o que estou dizendo. — Ambas assentem com a cabeça e as
pizzas chegam.
Comemos e conversamos sobre livros, eu tenho lido bastante e elas
falam sobre balé, isso é bom, saímos da nevoa tenebrosa que se alojou em
nossas cabeças alguns minutos atrás.
Voltamos às compras e às quatro horas Landon me liga avisando que
será ele a vir nos buscar, sendo assim nos dirigimos até o estacionamento,
onde ele nos espera.
— Eu precisei vir ao shopping também. Olá, meninas. Feliz aniversário,
Alice! Eu fui te dar os parabéns, mas você tinha saído para uma tarde das
meninas. — Ele se abaixa e ganha um abraço de ambas, que parecem bem
derretidas.
— Oi, Landon, e obrigada por nos dar uma carona. Agora entrem no
carro e coloquem o cinto. — Landon abre a porta para mim e me ajuda com o
cinto, depois verifica as meninas e só então entra no carro.

A casa está o maior silêncio e tudo fechado, quando abro a porta com
Alice à minha frente, Alec e Aria aparecem no centro da sala e todos cantam
parabéns, a casa está cheia de suas amigas e da família, ela vira e me abraça
apertado, depois abraça os irmãos.
Landon está cheio de sacolas atrás de mim e Marc vem ajudá-lo, e os
dois sobem as escadas com as sacolas que peço para serem colocadas no meu
quarto.
— E então? — Miranda diz batendo o quadril no meu.
— Foi bom, rimos bastante, mas temos um problema chamado
“meninos”. — E com isso dito resolvemos que em breve teremos uma longa
conversa com as duas.
Recebo muitos elogios das amigas de Alice, assim como Miranda, que
se senta com elas e dá dicas de maquiagem, roupas e, claro, meninos.
Encontro Alice parada no meio da cozinha, com um copo de
refrigerante na mão.
— Algum problema? — Ela se vira assustada e faz que não com a
cabeça.
— Você pode me contar tudo o que quiser, e eu sei que tem algo errado,
meu amor. — Alice tenta negar, mas acaba desistindo.
— Eu estava pensando na minha mãe, eu não quero esquecer ela, mas…
É como se fosse isso que está acontecendo. — Abro os braços e ela corre até
mim.
— Você nunca vai se esquecer dela, eu prometo isso. Agora vamos
comemorar porque é isso que ela iria querer. — Alice me abraça apertado e,
depois de chorar um pouco, ela abre um lindo sorriso e me oferece o primeiro
pedaço de bolo.
Saímos da cozinha e a ajudo a cortar o bolo, recebo o primeiro pedaço e
depois me sento ao lado de Aria.
— Você não quer bolo? Está uma delícia.
— Não, eu comi muito docinho, vou deixar para mais tarde — ela diz
pensativa. — Mãe, posso pedir uma coisa? — Estou realmente começando a
ficar preocupada com esses começos de frase.
— Claro que sim. — Ofereço bolo para ela que sacode a cabeça em
negação.
— Podemos fazer minha festa à fantasia? E pode não ser aqui? — Eu
não tinha pensado nessa possibilidade, mas é uma ótima ideia.
— É claro que podemos! É uma ótima ideia, meu amor — digo
puxando-a para o meu colo.
Aria acaba dormindo e eu peço mais bolo, Alec está em uma discussão
séria com Elisa e Alice está contando algo sobre a nossa ida à praia de muito
tempo atrás.
— Eu beijei o Marc e agora estou com raiva, o quão insano isso é? —
Miranda diz desabando ao meu lado.
— É muito insano, mas se tratando dessa família, bem normal. — E
assim nós enceramos o aniversário de Alice que dura até bem tarde, o que
significa que vai até as nove da noite…

Retiro o que eu disse sobre um aniversario à fantasia ser uma boa ideia!
Nada me serve e eu não gosto muito disso, mas… ser mãe é isso.
Alice e Elisa serão bailarinas, Aria é uma abelha. Por que, eu não sei.
Alec será o capitão América. Eric e Mônica são o casal dos Flintstones, Marc
é o Superman, Landon eu ainda não sei. Denise é bailarina também, Sam está
de Hulk (passei duas horas ajudando Denise a deixá-lo verde) e Miranda… é
o capeta, mentira, é um anjo, só que a cor é vermelha e não branca.
Acordei Aria com muitos beijos e cosquinhas, mas isso não diminuiu
sua alegria em ter uma festa à fantasia. Alice e Alec estão muito empolgados
também.
Sabe o que ela me disse?
— Mamãe, você vai ser uma linda mulher maravilha! E eu gostei muito
do presente. — Dei para Aria um jogo de quebra-cabeça com castelos de todo
o mundo.
— Nem pensar! Eu serei um feijão, já decidi! — falo beijando sua testa
e deixando que os irmãos a mimem um pouco.
Prefiro me arrumar diretamente na casa de Landon, porque, sim, a festa
será aqui. Estou começando a tirar a blusa quando ele entra.
— Você não fez isso! Ele é meu herói favorito da DC! Isso não é justo!
— digo jogando um travesseiro nele.
— Eu sou o Batman, todo mundo gosta dele! Menos o Marc, mas ele é
louco — Landon diz transtornado. — E você? Qual sua fantasia? — Ele me
observa.
— Eu ainda não decidi, tenho duas opções, estou esperando Miranda
para vir me ajudar — brigo, batendo na mão dele que vai para ver o que tinha
sobre a cama.
— Landon, para fora! E eu ainda não acredito que você está fantasiado
de Batman e Marc de Superman. — Isso me deixou chateada também, mas
Miranda está em um elevado padrão de irritação com eles.
Landon sai do quarto e começamos nossa briga outra vez. Por fim,
decidimos que eu serei uma fada, meu vestido, sandália e tiara são verdes.
Colocamos presilhas pequenas de folhas no meu cabelo, Miranda faz minha
maquiagem verde, até orelhas arrebitadas eu tenho.
Quando terminamos, me olho no espelho e estou parecendo uma fada
mãe-natureza. Miranda diz que estou maravilhosa e minha filha parece
concordar já que está pulando em minha barriga.
— Obrigada — digo abraçando minha amiga emburrada. O dia no
escritório não foi fácil, sei que como estou longe tudo tem estado nas costas
dela e de Sam, não vejo a hora de voltar para equilibrar as coisas.
Assim que descemos, avisto Ethan entrar de Gavião Arqueiro e começo
a rir. Pelo menos ele não está acabando com as minhas fantasias.
— Você está incrível! — ele diz estendendo a mão para mim, que eu
aceito e ele me rodopia.
— Eu acho que eles regaram o meu pé — digo piscando para ele que ri
se lembrando que foi uma frase dele.
— Vou procurar a aniversariante. Eu trouxe um quebra-cabeças
especial, roubei do meu pai, é bem antigo. — Dou um beijo em seu rosto e o
deixo seguir seu caminho.
— Vou está linda de ninfa da natureza — Landon diz ao meu lado.
— Eu sou uma fada, uma fada mãe-natureza — digo irritada. —
Superman, será que você pode dar uma surra no Batman por mim? — Marc
sorri ao meu ouvir.
— Eu posso sim! — ele diz ao puxar uma das asas de Miranda.
— Mãe! Olha o que eu ganhei! Um quebra-cabeças antigo do tio Ethan.
Vai ficar junto com o que você me deu hoje. E mãe, você está tão linda! —
Aria diz abraçando minhas pernas.
— Você que é a abelha mais linda que eu já vi! — Aliso seus cabelos.
— Uau! Mãe, você está tão bonita! — Alec diz emocionado.
— Ah, você é que está lindo! Sabe como eu amo o Capitão América! —
Isso o faz sorrir de orelha a orelha.
— Mãe, você está maravilhosa! Eu gostei da maquiagem — Alice diz
passando a mão em minha barriga.
— Você está encantadora de bailarina com essa tiara de cisne. Eu
gostei. — Pisco para ela, que está muito feliz.
Depois de tantos elogios a mim, chega a vez de Miranda que está
prestes a dar um soco em Marc, mas as crianças o salvam a tempo.
A festa não está cheia como foram a de Alice e Alec, isso se deve ao
círculo pequeno que Aria tem, mas vai mudar em breve, logo ela fará novas
amizades.
Chega a hora do parabéns e Aria faz questão que eu esteja grudada ao
lado dela, e quero dizer realmente isso, porque é só eu ir para o lado que ela
me puxa de volta para ficar grudada nela. Aria apaga as velas e, juntas,
cortamos a primeira fatia de bolo que vai para mim e a segunda, para
Miranda.
Enquanto todos voltam a comer, eu aproveito para me sentar no sofá
que está vazio. Landon se senta ao meu lado e me entrega um prato com
doces e outro com salgadinhos que eu coloco no braço do sofá.
— Você está bem? — ele pergunta, observando-me.
— Eu aceito uma massagem nos pés. — Com um sorriso ele tira meu
sapato e começa a massagear meus pés inchados.
— Mãe? Você está bem? — Faço que sim com a cabeça. — Então por
que está fazendo esses sons? — Aria está realmente preocupada.
Abro os olhos, que não notei que estavam fechados, e avisto mais três
fadas e uma abelha atrás dela.
— Suas amigas vieram! Ah, é só dor nos pés, está tudo bem. Quer
sentar aqui comigo e com Landon? — Ela faz que sim com a cabeça e dou um
espaço para ela.
— Eu te amo, mamãe. Eu amo você também — ela diz para minha
barriga. Depois se ajeita ao meu lado e acaba pegando no sono.
— Ela está crescendo rápido e a fala está perfeita — Landon diz,
observando-nos.
— Ela nasceu pouco antes de Dakota, me lembro de vigiá-la quando
minha filha se foi, elas eram tão parecidas… — digo alisando o cabelo de
Aria. — E sim, ela está crescendo muito rápido.
Lembro de colocá-las juntas na cama e observá-las com Ana. Elas
seriam melhores amigas hoje e passariam por tudo juntas, mas a vida quis
diferente.
Volto a comer meus salgadinhos e vejo Miranda e Alice nos
observarem. Mando beijos para elas, que sorriem e voltam a conversar com
Elisa.
O tempo está passando rápido, e eles estão crescendo mais rápido ainda.
Alec agora tem nove anos, Alice, doze e Aria, cinco, cada um passando por
uma fase diferente.
Descobrindo o mundo do seu próprio jeito. E sempre juntos, eles podem
até tentar se afastar, mas não conseguem. Porque além de irmãos, eles são
amigos.
Às dez da noite já estão todos deitados, mas não consigo dormir, já virei
de um lado para o outro e nada de o sono vir, é quando ouço um barulho na
porta e depois Miranda aparece.
— Posso dormir aqui hoje? — Sorrio para ela e levanto a coberta.
Miranda entra e fecha a porta com cuidado, depois se deita ao meu lado e me
abraça do jeito que consegue. — Não vejo a hora de ver o rostinho dessa
menina linda! Será que ela vai se parecer com Landon? — Miranda pergunta
com a mão sobre minha barriga, minha filha chuta para mostrar que está
ouvindo.
— Eu não sei, vamos ter que esperar para ver. Que bom que você está
aqui, eu não estava conseguindo dormir. Estou preocupada com você Mi, e
com Marc também, os dois estão perdendo o brilho, e por quê? Orgulho?
Sejamos realistas, vocês tentaram andar separados, mas não conseguiram,
então não seria melhor tentar de novo? — Eu sei que minha relação com
Landon não é das mais fáceis, nós brigamos, nos “amamos” e depois
voltamos a nossas vidas, mas quem sabe em breve poderemos seguir juntos.
— Eu sei, mas… fizemos tanta besteira, Char, que agora isso pesa para
nós dois, ou talvez esteja pesando só para mim, eu não sei. Quando estou com
ele, é maravilhoso, mas ao mesmo tempo é como se eu estivesse sempre me
lembrando do que aconteceu, e querendo ou não afetou você e Landon.
Fomos nós dois que fizemos esse estrago em um relacionamento perfeito, fui
eu que estraguei tudo, por culpa de um idiota que nunca se importou
realmente comigo. — Coloco minha mão sobre a dela em minha barriga.
— Ainda dá pra concertar, Mi, sei que vocês podem fazer isso, mas se
chegar em um ponto que realmente não der mais, é melhor sentar com ele e
dizer que tem certeza que acabou. Eu vou estar do seu lado, não importa sua
escolha.
— Eu sei, e é isso que me dá esperanças de que tudo isso vai passar e
virá um tempo melhor.
Eu realmente espero por esse tempo melhor, porque, sinceramente? Já
estávamos enroladas o suficiente antes de tudo isso. Nenhuma de nós
procurou o amor, ele simplesmente caiu no nosso colo, e o quão raro é isso?
Foi uma segunda chance para nós quatro e nós erramos e acertamos, mas de
maneira alguma o amor nos tornou fracos, acredito que nos tornou muito mais
fortes e que com ele nós evoluímos muito mais.
Capítulo 32

Um mês depois…

Estou sentada na calçada desde que Landon esteve aqui mais cedo e
disse que precisa ir para a casa dos pais… Por causa de Marine. O bebê dela
nasceu há algumas semanas, é um menino. Richard foi o nome escolhido.
Nas últimas semanas eu e Landon estávamos entrando nos eixos, vamos
dizer assim, já conseguíamos sentar juntos no sofá sem brigar, e ele passava
quase todo o tempo falando com minha barriga, o que era até engraçado.
Mas agora ele se foi de novo… E eu estou aqui de novo, pensando em
quando vamos ter paz o bastante para poder respirar sem a sombra de nada
nos rondando.
— Mamãe? — Alice senta-se ao meu lado. — Ele vai voltar?
Puxo-a para perto de mim, Alice passa seus braços ao redor de minha
barriga e beijo sua cabeça, depois penso em uma resposta, e a resposta é sim,
Landon vai voltar. Ele não aguenta ver o tempo passar sem estar por perto.
— Sim, ele vai voltar em breve, eu prometo. — Alice assente com a
cabeça e me abraça mais forte.
— E se ele não voltar? — Alec pergunta triste na porta.
— Sente aqui. — Alec se senta do meu outro lado. — Ele vai voltar,
mas caso isso não aconteça, seremos nós seis e ponto. Chegamos até aqui sem
ele, não foi? — digo o abraçando também.
— Mas com ele ficou mais… divertido? — Aria diz aparecendo
também, faço sinal para ela se juntar a nós e ela se senta entre minhas pernas.
— Landon tem alguns problemas para resolver, mas mesmo que eu e
ele não nos acertemos, ele sempre será da família e nunca vai virar as costas
para vocês — digo, puxando-a para o abraço coletivo.
Estamos assim quando Sam vem buscá-los para ir a um jogo de
Handebol do ensino médio, me despeço deles e mais uma vez digo que vai
ficar tudo bem. Sam me dá um olhar chateado, beija minha testa e entra no
carro onde Elisa já está, ela manda beijos para mim e eu o retribuo.
Suspiro cansada, minha barriga está enorme e hoje não acordei num
espírito muito bom, tive outro sonho daqueles e acabei não dormindo o resto
da noite.
Levanto-me com um pouquinho de dificuldade ao mesmo tempo em
que Miranda encosta o carro no meio fio.
— Meus pais estão em casa? Você está bem? — ela diz ao sair do carro.
— Seu pai saiu com Marc para ver alguma coisa na clínica, sua mãe
está com Lena escolhendo uma receita de bolo de cenoura ou banana, e eu?
Estou… não sei, sinceramente, não sei como eu estou. — Miranda me abraça
apertado.
— Nós já enfrentamos coisa pior, não é mesmo? E estamos aqui. —
Assinto com a cabeça e entramos em casa.
Ethan ontem atendeu uma menininha que nasceu com uma falha no
coração, foi feita uma cirurgia e, quando ele passou pela porta de minha casa,
eu senti e pude comprovar que finalmente ele se perdoou.
Marc e Miranda estão em guerra constante. Olivia está saindo com
Jonas, culpa de Marc, e Miranda queria arrancar os olhos dele quando soube.
Mônica está cada dia mais forte e eu agora estou ajudando-a com o
jardim. Eric passa muito tempo com Alec em seus treinos de Handebol, Lena
e Aria estão sempre escolhendo receitas, Alice e Elisa estão treinando todo
dia para uma apresentação especial para Clara. Lucia, mãe de Marc chega
daqui a algumas semanas.
Por falar em Aria, ela não gagueja mais, a não ser que fique nervosa,
portanto ela ainda faz tratamento com a fonoaudióloga.
O cansaço está me vencendo, então aviso Miranda que vou dormir um
pouco, mas peço que ela não me deixe dormir demais.
E assim eu subo as escadas, mas ao invés de ir para meu quarto, vou
para o de minha filha, está tudo pronto esperando por ela, os tons de lilás com
roxo em toda a decoração… O guarda-roupa arrumado…
Está tudo pronto para sua chegada, daqui algumas semanas completo
nove meses, será parto normal, a não ser que algum exame nas próximas
semanas mude as coisas.
Finalmente vou para meu quarto e me deito em minha cama muito
confortável, meu celular apita indicando uma mensagem. É de Landon.
“Marine perdeu a cabeça, só isso explica a confusão que ela fez. Minha
mãe está em pânico. Eu te amo.”
Não estou triste pela razão que o fez ir, nem por ele ter ido, eu faria a
mesma coisa, mas é que hoje o dia não começou bem.
É como se eu pudesse sentir uma tempestade com raios e ventos fortes
chegando e não posso fazer nada para evitar.
Vou dormir para ver se quando eu acordar de novo tudo estará melhor.

Duas semanas depois…

Landon não voltou ainda, mas liga todos os dias, o problema que nem
todo dia estou disposta a conversar com ele, o que se tornou um problema
para Miranda e Marc.
Mônica saiu com Aria cedo para ir à fonoaudióloga, Alice e Alec estão
na escola. Em casa estamos eu, Ethan que veio me ajudar com as aulas de
respiração e Lena.
Essas aulas me fazem pensar em cachorros nadando, não sei por quê.
Ethan se esforça, mas até ele acha engraçado, porque é meio ridículo, mas diz
a enfermeira que me faz fazer esses exercícios que isso ajuda muito com as
contrações.
Estamos na sala agora e Ethan está massageando meus pés, o que eu
agradeço muito, já que eles se parecem com os pães crescidos que Lena faz.
— Eu quero dormir um pouco. — Levanto os pés do colo de Ethan.
Caminho para a escada e Ethan vem atrás de mim, e penso em como essa
escada é exaustiva.
— Você devia ter casado comigo, não com ele, e então você teria menos
dores nos pés! — Ethan diz sorrindo para mim.
Quando vou responder a campainha toca e Lena vem atender, reviro os
olhos para Ethan e espero. Para minha surpresa, é a polícia pedindo para falar
comigo.
Desço os dois degraus que havia subido e caminho até a porta.
— Posso ajudar? — pergunto ao policial que primeiro olha minha
barriga e depois para Ethan.
— Charlotte Evans? — confirmo e ele pede para entrar e depois pede
que eu me sente, não estou gostando nada disso, mas sento-me mesmo assim.
— Kalebe Manson fugiu do presídio e viemos avisar que estamos procurando
por ele, mas ainda assim é melhor tomar cuidado.
— Já tem alguma pista de onde ele possa estar? — Ethan conversa com
o policial enquanto eu estou em choque.
Kalebe fugiu… Ainda estou processando essa informação quando
Miranda entra porta adentro dizendo que já avisou a escola. Os três estão
discutindo sobre possíveis rotas e coisas assim quando Lena me entrega um
copo de água.
Eu sei para onde Kalebe vai… Ele virá atrás de mim.

As horas passam e todos vão chegando a nossa casa, as crianças vêm


com Sam e Denise. Depois chegam Marc e Eric. Estão todos mais calmos
agora que estão em casa, a salvo. Há polícia está aqui também… São dez e
meia, por que eu acho que tem algo errado?
E quando eu olho para o relógio, mais uma vez meu coração se parte
em tantos pedaços que fica difícil respirar. Ethan corre até mim assim que me
vê passar mal. Minha garganta fecha com o desespero, que corre mais grosso
em minhas veias.
— O que você está sentindo? — ele pergunta com medo de ser algo
relacionado ao parto.
— É a Aria e a Mônica, as únicas pessoas que Kalebe conseguiu fora de
casa por mais tempo. Elas já deviam estar em casa há quase duas horas,
Ethan. — Minha voz está embargada e lágrimas grosas correm por meu rosto.
— Miranda? Ligue para sua mãe! Ela está com Aria e Charlotte disse
que elas já deviam estar em casa! — Ethan me ajuda a sentar no sofá
enquanto todos tentam encontrar Mônica e Aria.
Os minutos passam e nada de Mônica atender o celular, o medo começa
a me sufocar. Ele virá atrás de mim, mesmo que para isso tenha que machucar
a própria sobrinha.
O policial que está aqui aciona a delegacia e as viaturas e em poucos
minutos eles intensificam a procura por elas.
A hora passa e nada, não há sinal de nenhum dos três, nem Kalebe
pedindo algo, nem de Mônica. Lena pede que eu almoce, mas não consigo.
— Char, vai ficar tudo bem, agora você precisa comer e ficar forte. —
Miranda está implorando para que eu coma alguma coisa, mas nada desce.
Por fim peço para ir para o meu quarto descansar e eles concordam que
assim será melhor, então é o que faço. Subo as escadas depois de dizer a Alice
e Alec que tudo ficará bem e logo Aria estará aqui com a avó deles.
Chegando ao topo das escadas, o medo aperta minha garganta mais uma
vez ao ver a porta do quarto de Aria e de minha filha. Caminho para meu
quarto e me sento encostada à cabeceira da cama por um longo momento, tão
longo que quando noto já são quase quatro da tarde.
É incrível como o tempo às vezes se congela bem na frente de nossos
olhos.
Meu celular está em cima do criado-mudo perto de minha foto com Ana
tirada em frente à casa dos pais dela. A casa dos pais de Ana…
É para lá que Kalebe vai, se já não estiver lá. Preciso ir para lá e depois
é só dar a ele o que tanto procura… aquele maldito papel.
Desço as escadas com cuidado e aproveito que estão todos reunidos na
cozinha para sair sem ser vista. O carro de Marc é o que está mais longe e
afastado de minha casa, sua chave está no braço do sofá. Pego a chave do
carro e saio para a rua.
O céu está tingido de amarelo com rosa e o dia está quente, embora
tenha uma brisa leve. Entro no carro e me afasto do meio fio, observo pelo
retrovisor minha casa ficar cada vez mais distante. O relógio marca cinco e
meia da tarde.
É engraçado como passei tantos anos distantes dessa casa e no fim ela
guarda tantas histórias e lembranças, e parece sempre terminar ou começar
aqui o próximo capitulo de minha vida.
Estaciono o carro longe da casa e caminho até lá, está tudo em silêncio
até que ao me aproximar ouço o choro de uma criança e reconheço ser Aria.
— Faça-a calar a boca ou vou fazer isso! — Kalebe grita e o avisto na
frente da casa que ficou com ele após a morte do pai.
— Você está assustando a menina! — Mônica grita de volta e Kalebe as
empurra para dentro de casa.
Mando uma mensagem para Miranda, que responde furiosa. Espero
pacientemente a polícia chegar e cercar a casa.
Leva alguns minutos, mas finalmente vejo as viaturas, o carro de
Miranda, Sam e Ethan. Permaneço escondida onde estou, porque caso Kalebe
exija algo que só eu posso dar, não consigo nem pensar no que ele fará com
Aria caso não o consiga. O policial encarregado pela operação salta do carro
para falar com Kalebe, que aparece na porta com Mônica. Ele segura uma
arma em sua cabeça e meu sangue gela. Não vejo Aria em lugar algum perto
deles.
— Você está cercado, se entregue sem ferir as duas e você não sofrerá
nenhum dano — diz o policial.
Miranda, Marc e Ethan estão me procurando, mas continuo onde estou
atrás de um carro, algumas casas longe de onde todos estão.
— Pode ficar com ela — Kalebe diz empurrando Mônica, que cai de
joelhos a uns dois passos dele. — É Aria que me interessa — ele debocha do
policial. — Charlotte! — ele grita por mim e os sentimentos começar a
convergir em meu peito. — Eu estou com Aria, o que me diz disso?
Eu digo que não posso deixar que ele a leve. Espero o restante da
negociação, mas Kalebe não quer um acordo, ele quer o que diz ser dele.
Meu sangue gela ao vê-lo com Aria no colo com uma arma em sua
cabeça, ele grita meu nome mais uma vez, exige sair dali. Os policiais
discutem entre si e aceitam esse acordo, então Marc, Ethan e Sam se oferecem
para ir no lugar de Aria. Mas Kalebe não aceita.
— Eu quero a Charlotte! É a única pessoa por quem eu troco Aria. —
Ele deve ter a apertado porque Aria grita de dor e eu sei que não vou o deixar
sair daqui com ela. Minha filha é forte, ela vai resistir até tudo acabar, sei que
vai. As duas vão.
E assim eu caminho até o lado da casa, sem que ninguém perceba ou
possa me impedir de ir salvar Aria.
— Eu vou com você, mas solte-a primeiro — digo surgindo próxima a
ele.
Ouço Miranda soltar um grito esganiçado e Marc ampará-la. Eu
também estaria em choque, mas nesse momento estou calma, preciso me
obrigar a estar calma, minha vida e de minhas filhas dependem disso.
— Mamãe! — Aria grita quando me vê.
Kalebe assente com a cabeça e ajudo Mônica a levantar, passo por ela e
assim que ele coloca Aria no chão eu a empurro para longe das mãos dele e
me coloco a sua frente. Ele dá um sorriso louco e me puxa pelos cabelos,
exigindo passagem. Vejo Aria correr para Miranda, o que tira um peso de meu
peito.
O policial resolve mudar de ideia e meu coração para ao ouvir o disparo
de Kalebe. Mônica cai no chão a minha frente, tento me desvencilhar dele
para socorrê-la, mas sua mão em meu cabelo é mais forte.
— Eu quero um carro! Agora, ou vou atirar em Charlotte! — O policial
recua e um carro é deixado um pouco mais na frente, com as portas abertas e
ligado. — Que bom que você resolveu colaborar.
E assim ele me arrasta pela grama em frente à casa que foi dos meus
pais, onde cresci com meu irmão… Onde conheci Ana, irmã dele. Mônica
está no chão sangrando, ainda bem que Kalebe atirou na perna dela. Tento
pensar de forma a não entrar em pânico.
Caminhamos para o carro onde ele me faz entrar à força e tranca a
porta, depois dá a volta no carro e, sorrindo, atira mais uma vez em Mônica
que vai ao chão. Ele entra no carro e dá a partida.
Eu grito e tento sair do carro, Kalebe puxa-me pelos cabelos mais uma
vez e me manda ficar quieta. Obrigo-me a obedecer, preciso pensar em minha
filha, preciso lutar por ela, para mantê-la viva, custe o que custar.

A dor em meu peito é muito forte, saber que Mônica não poderia
sobreviver com o tiro que levou quebra o restante do meu coração.
— Onde está o documento, Charlotte? — Kalebe grita para mim.
— Na casa de praia, está na casa de praia — respondo sentindo-me fora
de meu corpo.
Kalebe fica em silêncio e penso em tudo que aconteceu nos últimos
meses. Jared e Ana morreram…
— Você os matou, não foi? — Estou tão entorpecida com tudo que
aconteceu que é como se estivéssemos em câmera lenta.
— Sim, fui eu. Mandei cortar o freio do carro em que eles estavam,
depois liguei e disse que ia passear com as crianças, assim ele teve que vir
rápido demais para casa… E o fato de eu ter pagado para outro carro cortar a
frente dele foi muito esperto de minha parte. Ela não tinha o direito de deixar
tudo para você! Eu que sou o irmão dela! Eu! Mas ela sempre preferiu você e
sua família a mim. — Kalebe soca o volante com raiva.
Eu devia ter notado que alguma coisa estava errada, mas eram tantos
problemas a serem resolvidos que não tive tempo para pensar nisso. Agora faz
todo o sentido.
Ele aumenta velocidade, embora eu duvide muito que eles venham atrás
de nós para onde estamos indo.
Coloco a mão em minha barriga e as lágrimas escorrem grossas por
meu rosto. A expressão de Aria ao me vir ir buscá-la, o choro de Miranda, a
morte de Mônica, tudo está saindo de mim em lágrimas.
Alice, Alec, Aria, meus filhos… Eu não me despedi deles.
Lembro do papel que Kalebe tanto quer… É um documento de uns três
anos atrás onde Jared deixou tudo em meu nome, e Ana também.
Provavelmente Kalebe já vinha os perseguindo naquela época.
Havia outro documento sem validade, onde dizia que todo patrimônio
do casal ficava para seus filhos, e por isso Kalebe tanto quis a guarda das
crianças. Por isso o outro documento que Miranda encontrou meses depois
me uniu a Landon, dizendo que eu deveria me casar para assumir o
patrimônio até as crianças serem maiores de idade, falso também.
O único válido é o que está na casa da praia, e como Kalebe descobriu
isso? Eu não sei, já que eu mesma me surpreendi com esse achado.
Ele está acelerando cada vez mais, enquanto fala sozinho. Pega outra
rota, uma que vai por uma estrada de terra, fica mais longe, mas também
quem passaria por ali? Ainda mais de noite. O que torna ainda mais difícil de
a polícia nos rastrear a tempo.
As lágrimas pararam, mas a dor não. A dor nunca vai embora, ela
apenas adormece, esperando o momento de atacar com toda sua força.
Eu não sei como o dia de hoje vai terminar, o que eu sei é que não me
arrependo de nada que fiz pelas pessoas que tanto amo e que chamo de
família. Fiz o melhor que pude, ou pelo menos acho que fiz. Quando todos
esses eventos começaram em minha vida, eu estava perdida, ou pensei que
estava, agora não tenho tanta certeza.
Tudo acontece tão rápido que eu não saberia dizer o que exatamente
acontece, o que sei é que o carro está na estrada e no minuto seguinte estamos
descendo uma encosta.
As coisas dentro do carro voam, os vidros quebram, eu grito, mas
Kalebe não responde. Nosso carro ainda está dando cambalhotas quando
minha visão fica escura e não vejo mais nada.
Deixe-me ir… Não parece mais uma escolha e sim algo planejado
desde o começo.
Epílogo

Há algo apitando perto de minha cabeça, alguém está falando, mas não
consigo ouvir direito. Meu corpo dói, tudo em mim dói.
— Já chegamos ao o hospital, querida, falta pouco.
Ouço portas abrirem e depois o barulho de mais vozes, não consigo
abrir os olhos nem falar, minha mente está perdida, não sei onde estou…
— Ela está perdendo muito sangue.
Mais vozes e, depois, mais nada, sou sugada para a escuridão
novamente.

Não sei quanto tempo passou, mas ouço vozes diferentes, uma criança
ao fundo e mais vozes. Pergunto-me onde estou e o que aconteceu, mas não
chego à conclusão alguma, minha mente não consegue funcionar.
— Charlotte! Charlotte! Você precisa aguentar só um pouco mais, por
favor!
— O senhor precisa se afastar — diz outra voz.
— Rápido, estamos a perdendo! Precisamos tirar a criança ou nenhuma
delas vai sobreviver…
Charlotte… Eu conheço essa voz… Estou com frio, muito frio.
— Charlotte!!!! — a pessoa grita mais uma vez e de repente eu sei
quem está me chamando. Landon.
Landon Cass.
Lembro de Alice, Alec e Aria… E Aurora. Nossa filha. É a última
imagem que vem à minha mente, todos juntos.
Eu queria poder…
Charlotte.

É natal e minha mãe diz que no natal devemos


estar em paz, já que logo em seguida se inicia um novo
ano, e é por isso que estou escrevendo essa carta e não
me importo se você me achar covarde por isso.
Eu tive que ir embora e deixar você, mas eu não
queria. O que eu queria era ter ido até sua casa e
pedido desculpa e depois ter dado um soco em Ethan.
Eu não sei o que você está pensando de mim
nesse momento, mas eu sei que depois de ler o que
escrevi você vai entender. Seu coração é bom.
Há alguns anos meu pai teve problemas com a
propriedade deles, temos uma fazenda e então, ele não
querendo me pedir ajuda, pediu para um amigo, que
por acaso foi um dos amantes de Marine.
Quando ela soube que estava grávida e que eu
não queria mais nada com ela, se aproveitou disso e
conseguiu a promissória do empréstimo que esse amigo
fez ao meu pai. Ela estava nos chantageando e quando
eu não soube a quem mais recorrer procurei por
Miranda, que prontamente quis me ajudar. E assim
estamos reavendo o que é de meus pais, mas Marine
não desistirá tão fácil.
Ela na verdade veio cobrar de meu pai que ele
me fizesse ficar com ela e ele acabou tendo um
princípio de AVC, mas está se recuperando bem, eu
estou cuidando dele, já que minha mãe sozinha não iria
conseguir. Ele ficou com algumas sequelas, a boca está
torta, uma das mãos não tem mais firmeza… Mas meu
pai é forte.
E então chegamos à outra razão pela qual eu
precisei me manter longe… Miranda encontrou um
documento onde diz que as crianças têm todo o
patrimônio de vocês, desde que você esteja casada,
mas foi preciso reunir provas contra Kalebe e, por
sorte ou não, ele esteve aqui há alguns anos, arrumou
brigas e deixou rastros de negociações ilegais.
Sim, ele tem muito a esconder, mas agora, com
tudo reunido, conseguimos um mandado de prisão que
vai permitir descanso a todos nós.
Partiu-me o coração encontrar você no hospital
tão frágil e, por mais que você quisesse me ferir, eu
sabia que estava se ferindo também.
Você me fez o homem mais feliz do mundo. Eu
sempre quis filhos e você me deu quatro. Na verdade,
essa notícia alegrou muito os meus pais também. Essa
notícia trouxe ânimo ao meu pai, ele quer poder
segurar seu neto ou neta em breve.
Obrigado por ter casado comigo, e eu mereci a
surra, infelizmente. Na verdade, eu estava disposto a
implorar quando você resolveu aceitar casar comigo.
Meu nariz está inteiro, por quanto tempo? Só você
pode dizer.
Assim que tudo se ajeitar e eu voltar para casa,
porque você, nossos filhos e amigos são minha casa, eu
vou te contar como me apaixonei pela mulher mais
malvada e grossa da história, porque, sim, você é má
comigo, admita.
Eu te amo, Landon Cass.
P.S.: talvez você tenha uma surpresa no natal.
Você foi boazinha durante o ano?
Nota II

Pedir ajuda não é vergonha, nem te torna uma pessoa fraca. Pessoas que
sofrem de depressão não têm o mesmo tipo de consciência e pensamento que
uma pessoa sã. Seja compreensivo. Seja paciente. Seja amigo.
Ninguém pede para estar doente.
A ideia deste livro surgiu inicialmente para falar sobre família, mas ele
tornou algo muito maior e pude inserir muitos assuntos, um deles sendo a
depressão, uma doença que vem atingindo cada vez mais pessoas pelo mundo.
Deixarei aqui alguns números telefônicos e alguns sites para ajudar
quem tem depressão, ou algum outro tipo de transtorno, mas também para
quem tem vontade de entender melhor as pessoas que sofrem deste mal.
Centro de Valorização à Vida: 188 (funciona vinte e quatro horas).
Site: https://www.cvv.org.br/
Em casos graves, ligue para o 192 (SAMU) ou o 193 (bombeiros).
O CAPS funciona nos municípios (acredito que quase todos devem ter)
que é o Centro de Atenção Psicossocial. É pronto atendimento.
Conheça um pouco sobre ele: http://www.saude.gov.br/noticias/693-
acoes-e-programas/41146-centro-de-atencao-psicossocial-caps
Para saber mais sobre transtornos: https://vitaalere.com.br/sobre-o-
suicidio/prevencao/
Agradeço à Day Fernandes, que me forneceu os sites, números de
telefone e esclarecimentos.
Depressão é uma doença séria, então a trate como trata outras doenças.
Ela é uma doença que mata milhões de pessoas por ano. Então pense antes de
dizer que é frescura, que passa sozinho. Seja solidário, tenha empatia.
Obrigada por terem lido “Deixe-me Ir…” Obrigada por passarem o
tempo de vocês com a Charlotte e sua família imperfeita. Quero agradecer às
minhas leitoras, às minhas amigas que tanto insistiram nessa história comigo,
que me ajudaram a construi-la. Vocês são incríveis, mesmo sofrendo com a
minha veia assassina. Esse livro foi escrito em um momento muito difícil, um
momento em que eu estava em um mundo como o da Charlotte, cinzento e
sem vida. E vocês tornaram tudo mais fácil. Obrigada!
Biografia

CONTATO:
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Conheça seu trabalho:

Participou das antologias:


v Posso te amar por mais 5 minutos com o conto “Corações
Pendurados no Ar” da Editorial Hope.
v Música em contos com o conto “A garota na Chuva”.

Samanta Céu Azul:


O que pode curar uma pessoa mentalmente doente? O amor? A fé? A
família? Os amigos? Uma pessoa?
Eu não sei o que pode curar uma pessoa que se sente vazia, perdida ou
esquecida, mas eu sei que ela pode ser salva se alguém ou algo tiver a chance
de salvá-la.
E quando você não quer ser salva? E quando quer deixar de sentir para
sempre?
Essa é uma ótima pergunta e eu ainda não tenho a resposta.
Ainda. Embora eu saiba que sim, isso pode acontecer, alguém pode me
salvar.
Mas quem vai querer chegar perto o bastante para isso…?
Link: https://amzn.to/2Ii8e5W

Quando ela Voltar:


Eu quero ser um pássaro, livre para ir onde eu quiser, mas sou um ser
sem asas e no momento incapaz de ir a qualquer lugar.
Eu o amo, sempre amei e não sei como sobreviver a algo que já foi decidido
há muito tempo. Algo que nenhum de nós dois pode mudar.
Meu destino já está escrito, mas o dele ainda pode ser mudado.
Tenha fé é tudo que peço a mim mesma todos os dias. Acredite! Seja forte…
Até o último momento, não por você, mas por ele.
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