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— Lottie — Jared diz ao meu lado —, a partir de agora você vai morar
comigo e Ana. Seu quarto já está pronto. Decore como quiser. Sei que
provavelmente você quer ficar, mas…
— Não quero ficar aqui. Está tudo bem. — Eu gargalho. — E eu
achando que tinha me livrado de você!
— Isso nunca vai acontecer! Eu estarei sempre aqui. Eu prometo! —
diz meu irmão, não gostando da brincadeira.
Mal sabíamos neste momento que isso é uma grande mentira, mas aqui,
neste exato segundo, esta promessa está valendo. Jared Evans nunca fez uma
promessa que não fosse cumprir. Até esse dia…
— E, além disso, irmão, você deve estar precisando de uma babá —
digo, entregando-o minha mala. — Depois voltamos para pegar o restante.
Ele sorri para mim. Nem parece que há algumas horas nós enterramos
os nossos pais. Agora, só quero sair daqui e da dor que esta casa e suas
lembranças me trazem.
— Alice precisa da tia dela — ele diz confiante.
— Ela tem só dois meses! Nem sabe quem eu sou! — argumento com
ele.
— Acredite em mim, ela sabe! Ela vive procurando a tia amada dela —
Jared diz, debochado. — Nem parece que existem outras pessoas para ela.
— É claro que sim — digo, estreitando os olhos para ele. — Ana não se
importa? Quer dizer… De eu morar com vocês?
— Não, eu não me importo! Charlotte você é minha irmã. Eu te amo. E
estou feliz que finalmente vamos nos ver mais! — Ana diz, aparecendo na
porta. — Vai ser ótimo ter minha melhor amiga bem pertinho — ela diz,
piscando.
— Desculpa, Ana, mas, para mim, meus livros são mais atraentes que
você! —digo, debochada, fazendo Jared engasgar-se para não rir.
— Ha-ha, muito esperto da sua parte! Vou encher sua comida de
pimenta! — ela diz, fazendo bico.
— Boa sorte com isso! — digo em tom de desafio. — Acho que alguém
acordou! — Pisco para ela.
Ana sai, mostrando a língua para mim. Alice está em sua cadeirinha na
cozinha de nossa casa. Ana está jogando algumas coisas da geladeira fora.
— Estou orgulhoso da minha linda irmãzinha! — Jared diz, realmente
orgulhoso.
— Eu te amo, seu chato — rebato, mal-humorada.
— Eu te amo mais! Muito mais! — Ele me abraça forte.
Neste momento, é o que importa. Eu não quero ficar na casa deles… Na
minha casa, na casa dos meus pais. Dói, e muito, as lembranças que estão ali.
Então, preferi partir, trancar as portas e esperar o dia em que eu pudesse entrar
naquela casa sem sentir o vazio que sinto agora.
A perda é algo que ninguém aceita. Eu, pelo menos, não aceitei…
Minha cabeça lateja sem parar e, por alguma razão, sinto que este é só o
começo da minha jornada e das minhas perdas.
Meu caminho está nublado, não tenho mais horizonte, mas eu tenho
Jared, Ana, Alice e Miranda.
Quão tolas as pessoas podem ser? Eu sou tola. Todos somos… O
destino não colocou seu ponto final ainda… Há muito mais por vir.
Aqui e agora é só o começo… Nossas vidas são tão frágeis, tão
quebráveis.
Eu estou sangrando por dentro, mas ninguém pode ver. Meu coração
está no chão, aos meus pés.
Tudo mudou.
A perda nos muda. A dor nos transforma e o amor nos cura.
Os dias são longos… Muito longos. Meus pés já não tem mais o
propósito de sempre, agora eu me obrigo a ir aos lugares, a ir para a escola.
Na escola, as pessoas sempre me olham com pena, ou se sentem
obrigados a dizer “eu sinto muito pelos seus pais”, como se eu precisasse de
um lembrete todos os dias.
Meu irmão disse que meu quarto novo seria do jeito que eu quisesse,
então, três dias depois, nós o pintamos em tons de roxo e lilás, cortinas vinho
e borboletas para todos os lados. Minhas estantes estão abarrotadas de livros,
como sempre.
Eu li As pontes de Madison, do Robert James Waller, O mundo de Sofia
e O dia do Curinga, de Jostein Gaarder. Ele quase teve um treco quando li a A
marca de uma lágrima. Então, algum tempo depois, Jared escondeu meus
livros onde a morte estava sempre em evidência.
Entrei cedo na escola, minha formatura é naquele ano, mas não tenho a
mínima vontade de ir. Ana, por outro lado, está empolgada, como se fosse ela
a pessoa a receber o tão esperado diploma.
Alice está cada dia mais bonita. Depois da escola, meu dia é com ela.
Mamãe e papai nunca a verão crescer.
Ana me fez olhar alguns vestidos e Jared me obrigou a me matricular
para as faculdades. Fiquei em dúvida, eu queria duas áreas, caso uma não
desse certo. Optei por direito e fotografia. E meu irmão me apoiou, como
sempre.
Miranda está sempre ao meu lado, amiga como ela você não acha em
qualquer lugar, e, por mais engraçado que pareça, ela escolheu direito
também.
— Vamos escolher um vestido hoje! Chega de enrolação! Miranda está
indo conosco escolher o dela também — Ana me avisa.
— Vamos todas escolher vestidos hoje? — pergunto. desanimada.
Alice bate palmas. Ela está com seis meses agora.
— Sim, nós vamos! — Ana me dá um tapa na bunda e sai. — Quinze
minutos! — ela grita do corredor.
— Esse bolo está com uma cara ótima. Quero um pedaço! — falo,
aproximando-me da mesa cheia de comidas deliciosas.
— Aqui, tia! — Alec me oferece um pedaço de seu bolo. — Está muito
bom!
— Hum, está delicioso. — Pisco para ele depois de comer o pedaço que
ele me ofereceu. — Miranda, você que fez? — As crianças gargalham. — O
que foi?
— Seu queixo — Miranda sussurra ao meu ouvido assim que me sento
entre ela e Alec.
Viro-me para Alec e o ataco com cócegas na barriga. Ninguém ri de
mim e sai impune, e essa é uma frase de autoria de Miranda Anton.
— Você me sujou de propósito… — Faço mais cócegas nele.
— Aqui. Guardanapos — diz Miranda, piscando para mim debochada.
— Engraçadinha. Tia Miranda também quer cócegas! — Alec e Alice a
atacam e eu me sento tranquilamente para tomar meu café, enquanto ela tenta
fugir deles.
Ouço um chorinho baixo vindo das escadas. Aria acaba de acordar. E eu
com esperanças de que ela dormiria até mais tarde.
— Eu pego — aviso, me preparando para subir as escadas. Mas não foi
preciso, ela já se encontrava ali, parada, nos observando com olhos tristes.
— Cadê a ma-ma-ma-mãe? E o pa-pa-pa-pai? — Aria pergunta,
esfregando os olhos de sono.
Vou até ela e pego-a no colo. Como dizer a uma criança que seus pais se
foram? Que ela nunca mais os verá? Até hoje eu mesma procuro por essa
resposta.
— Sua mamãe e seu papai estão no céu agora, mas eu, seus irmãos e
seus tios e tias estamos aqui com você — esclareço a ela.
— Aquele céu? — Aria aponta para a janela pensativa.
— Sim, meu amor, naquele céu — confirmo a ela.
Ela me abraça forte, Alec se gruda na minha perna e a Alice na minha
cintura. Eles precisam de um pilar de sustentação, que sou eu. E o meu? É
Miranda, sempre será ela.
Serão dias longos até todos nos acostumarmos às mudanças e à falta das
pessoas que amamos. Mas o tempo, que pode não curar a dor, pode, sim,
amenizá-la.
Eu tinha dezesseis anos quando meus pais se foram e nunca aceitei.
Assim como não aceito a morte de Jared e sua esposa. Assim como eles nunca
aceitarão. Porque ninguém nasceu para perder quem ama.
Capítulo 2
Enfim, em casa.
Tiro meus sapatos de salto com Aria no colo e deixo na sala mesmo,
vou até o quarto das meninas e coloco meu anjo adormecido lá.
Agora vou fazer o almoço.
Só que eu não pensei no que vou fazer caso Aria não acorde quando eu
tiver que buscar Alice e Alec. Eu vou chorar… Tem horas que é impossível
ter fé de que vou dar conta de tudo isso.
Cadê a porcaria do manual “como ser uma boa mãe”? Não tem
nenhum! Por quê? Boa pergunta.
Encosto a cabeça na geladeira. Uma coisa de cada vez, Charlotte. No
momento vamos nos preocupar com o almoço. E vamos de… lasanha, com
muita carne e queijo. Ainda bem que essa família ama lasanha. Viva a
lasanha.
Então monto e coloco no forno, cozinho arroz e faço com cenoura e
milho. Uma salada de tomate, beterraba e alface. Está bom assim.
Olho para o relógio. Onze e meia. Tenho que ir buscar as crianças. Aria
ainda está dormindo. Como a hora está passando rápido hoje!
E agora? O que eu faço? Vou levar Aria junto. Não tem outro jeito, não
vou deixá-la aqui sozinha.
Calço meus saltos de volta, coloco um casaco em Aria para evitar que
ela se resfrie, está ventando. E lá vamos nós!
Ah, o forno! Desligo o forno, confiro o fogão… Tudo desligado.
Agora sim, lá vamos nós!
Estaciono faltando cinco minutos para meio dia. Aria acorda, observo-a
abrindo os olhos pelo espelho retrovisor.
— Vamos pa-passear! — ela diz empolgada.
— Na verdade, meu anjo, já chegamos. Agora vamos buscar seus
irmãos. — Tiro Aria da cadeirinha, tranco o carro e corro para a escola. Vou
direto até a sala de Alec.
Ele me avista assim que chego em frente à porta de sua sala. A
professora dele também me vê.
— Alec, pode ir — ela diz para ele.
Alec me abraça assim que sai da sala. Agradeço a professora e
corremos para a sala de Alice, que nos espera com a professora ao lado.
— Vamos? — pergunto à Alice.
Ela sorri e vem em nossa direção. Mas a professora a detém, professora
essa que não é a mesma de hoje cedo.
— Desculpe, mas preciso saber quem você é — a professora diz,
simpática.
— Sou a nova guardiã de Alice, Charlotte Evans. Eu não sei, mas acho
que você conhece os irmãos dela. Podemos ir agora? — pergunto para ver se
ela quer mais alguma informação.
A professora olha para Alec e Aria e assente sem graça. Eu pedi que
fosse averiguado para quem as crianças são entregues, mas nesse caso, não
seria estranho eu estar com os irmãos dela e ser uma das pessoas restritas?
Alice corre até mim. Outro problema que ainda não solucionei: três
filhos, duas mãos. Mas quem sabe um dia eu descubro um jeito para isso.
— Alice, dê a mão para Alec.
— Tudo bem — ela diz, pegando a mão do irmão.
— Como foi a escola? — pergunto a eles, ainda estamos nos corredores
e tem crianças ainda esperando pelos pais, ou adolescentes saindo de sala.
— Bem legal — Alec diz, sorrindo empolgado.
Alice só faz que não com a cabeça. Em outras palavras… conversamos
mais tarde. Assinto para ela e Aria faz mais algumas perguntas, que Alec
responde sem hesitação.
Assim que chegamos em casa, Alice vai direto para seu quarto. Coloco
Aria em sua cadeira com proteção e Alec se senta ao lado dela na mesa.
— Alice não vai comer, mamãe? — Olho para Alec, que me olha
preocupado. Sorrio para ele.
— Pode ficar de olho em Aria enquanto vou buscá-la?
— Posso sim!
Dou-lhe um beijo na testa e vou em busca de Alice, com a palavra
mamãe girando em minha mente.
Paro em frente à porta e respiro fundo. Bato e coloco a cabeça para
dentro. Encontro Alice soluçando na cabeceira da cama. Entro e vou até ela.
— O que aconteceu, meu amor?
Alice levanta os olhos vermelhos para mim.
— As meninas da escola riram de mim porque agora eu não tenho mais
uma mãe.
Puxo Alice para meu colo.
— Isso não é verdade, você tem uma mãe sim e ela se chama Ana.
Embora ela não esteja aqui agora, nunca vai deixar de ser sua mãe.
— Mas elas quiseram disser que, se ela não está mais aqui, quem vai
me ajudar com coisas de meninas e o balé?
— Eu vou. Eu estou aqui para isso.
— Você vai ser minha mãe?
— Se você quiser, sim.
— Posso chamar você de mãe, então?
Embora ser chamada de mãe me apavore além do imaginável, eu não
posso negar um pedido desses para ela, para nenhum deles na verdade.
— É claro que pode, meu amor.
Ela me abraça com força.
— Você é a melhor tia, madrinha e mãe da história da humanidade!
Eu sorrio para ela. Vamos ver até quando ela vai pensar isso…
— Vem, vamos almoçar.
Capítulo 3
Chego à escola e vou direto para a sala do diretor, onde Alice está. E
quando a secretária abre a porta e a localizo, tenho que reunir toda minha
força de vontade para não gritar com o diretor na presença dela.
Alice está descabelada, com sangue no canto da boca e um aranhão
sangrando no pescoço, que mancha a gola de sua camisa.
Respire, Charlotte. É só respirar, lembre-se de respirar.
— Diretor Colper — cumprimento com os dentes trincados.
Alice, ouvindo minha voz, corre em minha direção e se agarra à minha
cintura com força.
— Ei, boneca, o que aconteceu? — pergunto, colocando uma mecha de
cabelo atrás de sua orelha.
— Não quero falar agora. — É tudo que recebo de resposta.
Aliso suas costas e foco meu olhar no diretor.
— Eu gostaria de saber o que aconteceu na sua escola, para que eu
tenha vindo buscar minha filha antes do horário e encontrá-la neste estado.
— Bem, senhorita Evans, sua sobrinha…
— Minha filha.
— Sua filha brigou com a colega por conta de uma simples observação
sobre os cabelos dela — ele diz, como se não fosse nada demais.
Olho para Alice, depois peço que ela me espere do lado de fora. Assim
que ela sai da sala, olho bem para o diretor à minha frente.
— Está me dizendo que tudo isso — faço sinal para a porta indicando
Alice — é por conta de uma observação? E eu devo acreditar que a outra
menina envolvida é um anjo e que a professora é surda e cega para não dar
um basta antes que chegasse a esse ponto?
Respeito muitos os professores, mas qualquer pessoa em sã consciência
que observe uma briga dessas entre crianças irá intervir, certo?
— A senhorita há de convir que com uma sala cheia… — Ele tenta me
dar uma desculpa, mas eu já fui aluna.
— Se esta professora não é apta, então coloque uma que seja. Garanto
que há muitas professoras incríveis e que realmente amam o que fazem, que
não se importariam, nem dariam uma desculpa de sala cheia para tal situação.
O diretor não tem uma resposta, e claro que não tem. Muitos pais
reclamam desta professora, Ana inclusive, sem falar em seus constantes
atrasos e faltas. Entendo que ter uma sala cheia é complicado, mas ela não
ouviu as “observações”?
— Eu garanto que falarei com a professora de Alice e isso não ocorrerá
mais.
— Assim espero. Tenha um bom dia. — E com isso dito, saio de sua
sala. Em minha época de estudante, os professores amavam o que faziam e
acredito que ainda haja professores assim.
Encontro Alice de cabeça baixa ao lado da porta. Pelo visto irei
enfrentar todas as situações possíveis e imagináveis como mãe de uma única
vez.
— Vamos para casa, Alice. Está doendo o aranhão? — Esfrego suas
costas e a guio para a rua, em resposta ela faz que não com a cabeça.
E assim saímos da escola. Peço para o pai de Miranda pegar Alec para
mim e, como de costume, ele aceita mais do que feliz.
Chegando em casa, coloco Alice sentada no sofá, enquanto vou atrás do
kit de primeiros socorros.
Enquanto limpo o machucado no pescoço dela, espero que ela me diga
algo.
— Ela disse que eu tinha cabelo de bruxa, e eu respondi que ela tinha
cabelo de vassoura de palha, então ela se jogou em cima de mim.
Eu não podia negar que ela puxou muito de Jared. É o tipo de coisa que
ele responderia. O tipo de briga em que se meteria.
— E por que ela disse isso? — Passo pomada.
— Estávamos lendo um livro que dizia que mulheres com a cor de
cabelo como os meus eram amaldiçoadas.
— Você puxou os cabelos do seu pai, que são da cor dos meus também.
E não tenho visto nada que traga maldições nisso. — Coloco o curativo no
machucado e passo o dedo em seu nariz fazendo a rir.
— Eu tenho os olhos do papai também — ela diz me observando.
Sim, você tem, assim como eu e Aria.
— Alec puxou os olhos da mamãe? — ela indaga.
Penso nisso por um momento. Meu irmão e eu puxamos os olhos de
nosso pai, cinza e os cabelos de nossa mãe, ruivos. Já os filhos de Jared, as
meninas saíram iguais a ele, Alec saiu ruivo de olhos azuis. A nostalgia na
voz de Alice não me passou despercebida.
Lembro também que meu pai tinha os cabelos castanhos claros, mas a
barba era ruiva.
— Eu e sua mãe também tivemos problemas na escola, a diferença era
que no nosso caso era a Miranda que fazia toda a briga.
Alice sorri e me lembra de tempos distantes quando Ana voltou para
nossas vidas e eu entrava em depressão pela segunda vez…
— O que nós vamos almoçar?
— Lasanha?
Ela sorri, me beija na bochecha e vai lavar o rosto. Nessa família tudo
se resolve com lasanha.
Levo Alice para a casa da mãe de Miranda, que já está com Aria e
Alec. Ofereci-me para levar Alec ao ginásio, mas me mandaram ir trabalhar
que das crianças eles cuidariam.
Sendo assim, voltei para o escritório, que está calmo hoje, embora as
papeladas pareçam ter formado novas pilhas. Miranda teve uma audiência e o
novo advogado finalmente tem sua própria secretária.
Chego em casa às sete em ponto, me preparando para tomar banho e ir
buscar as crianças, mas assim que a porta se fecha atrás de mim, alguém bate
e eu a abro novamente.
— Quem…
Miranda se joga em meus braços, chorando, tremendo e soluçando. Fico
em choque sem saber o que fazer, mas, quando noto que eu não estou
sonhando, trago-a para dentro e sento-a no sofá. Dou-lhe um copo de água e
espero ela se acalmar para me contar o que está acontecendo.
— Consegue me contar o que aconteceu? — pergunto aflita.
— Saí da audiência e resolvi passar no café da outra rua, para comprar
um e levar para nós conversarmos no escritório, e então… eu o vi, Char! Meu
noivo quase engolindo outra garota! Eu fiquei furiosa, entrei e confrontei-o, e
ela disse para mim: quem é essa, Tobias? Eu que devia fazer essa pergunta!
— Miranda chora em meio à sua fúria.
Fico com ódio de Tobias! Como ele pôde? Eu tinha razão em não gostar
dele, Miranda merece alguém muito melhor.
— Miranda…
— Não! Você nunca gostou dele. Eu devia ter escutado você! Mas eu
sou burra e esqueci que os Evans não costumam errar sobre pessoas —
Miranda esbraveja entre soluços.
— Ele ser um cafajeste não é culpa sua — digo apertando suas mãos
nas minhas.
— Jared também nunca gostou dele — ela lembra. E tem toda razão,
Jared foi mais umas das pessoas que nunca foi com a cara de Tobias.
Puxo-a para o chão comigo e a abraço forte. Em momentos como este
não há palavras suficientes e nem tão eficazes quanto um simples abraço.
Agora é recomeçar a mudança. Miranda vai voltar para cá, mas ela terá
que dormir no meu quarto. E ainda tem o fato de que Tobias vai continuar no
mesmo prédio… Ou seja, como nosso vizinho.
Miranda voltar para a casa dos pais? Nunca, não por causa de um noivo
cafajeste. E bom, as mudanças já estão prontas então… É conversar com as
crianças e decidir em conjunto o que fazer.
— Vou ligar para sua mãe e ver se as crianças podem dormir lá hoje —
informo a ela, esfregando suas costas.
— Char… Posso ter meu lugar de volta? — Miranda pergunta em
dúvida, mas como ela mesma disse, sou uma Evans, e em minha mente já está
tudo acertado.
Eu sorrio para ela. Como ela pode ter pensado que não teria seu lugar
de volta?
— Sim, você pode, já estava pensando nisso, mas você vai ter que
dormir no meu quarto… — lembro a ela.
— Sem problemas. Nada que eu já não tenha feito antes. — Miranda
me dá um sorriso triste e um beijo na bochecha.
É verdade. Na época da escola, Miranda dormia mais na minha casa que
na dela.
Beijo sua testa e vou até a cozinha quando ela começa a chorar
novamente. Pego meu calmante na bolsa e um copo de água. Faço-a tomar
com a ameaça de enfiar goela abaixo. O que ela sabe que eu faria.
Em dez minutos, Miranda Anton está dormindo um sono pesado. Tomo
o resto da água pensando em como minha vida está de cabeça para baixo, e a
de Miranda também. Nossas famílias sempre foram muito unidas.
Estico o sofá para ela não cair, porque tudo que eu não preciso é ir parar
no hospital uma hora dessas. Meu celular toca e o tiro do bolso para ver quem
é. Mônica aparece sorridente no visor.
— Oi, Mônica.
— Charlotte, você já está em casa? — Mônica soa muito preocupada, o
que me arrepia.
— Sim, aconteceu alguma coisa com as crianças? — O que mais pode
acontecer hoje?
— Alice e Alec estão com Eric, mas Aria está com uma febre que não
quer baixar. Acho melhor levá-la a um médico. Mas, como você mudou o
pediatra não sei para onde ir com ela.
— Está bem, estou indo para sua casa. — Suspiro cansada.
O dia hoje está sendo extremamente estressante e complicado. A
semana está sendo bem desastrosa, na verdade. Não se permita cair, não se
permita cair, é o mantra que tento entoar.
Desligo o celular, coloco um cobertor em Miranda e saio correndo. Aria
está com febre. Febre é ruim, muito ruim, pelo menos até onde sei. Enquanto
desço as escadas, sim, porque não tive paciência de esperar o elevador subir.
Onde está o manual?, penso. Morar no quarto andar tem seu lado negativo,
quando você precisa usar as escadas.
Enquanto faço minha corrida pelos infinitos degraus, ligo para o
consultório para o qual escolhi levar as crianças de agora em diante. Nada
contra os antigos pediatras, mas achei melhor mudar, a nova clínica da cidade
me parece muito mais acessível e com bons profissionais.
— Boa noite. Clí…
— Boa noite. Eu estou levando minha… filha para se consultar com o
doutor Cass e gostaria de saber se ele ainda se encontra no consultório. —
Sim, interrompi a secretária no meio de suas boas-vindas.
— Sim, o doutor Cass ainda tem dois pacientes. — Ouço-a digitar. —
Qual o problema da sua filha?
— Febre alta, sem causa aparente. — Pelo menos até onde sei, não há
causa aparente.
— Vou avisar que tem mais uma paciente. Nos vemos daqui a pouco. —
Sua voz soa sorridente.
— Obrigada — digo, ao ficar olhando para a porta que me levará para a
garagem. Empurro-a e caminho a passos largos até meu carro. Termino de
passar o cadastro de Aria e ainda bato a cabeça na porta do carro. Sorte que é
menos de quinze minutos até os Anton.
Acordo meio zonza e penso que estou sonhando. Mas não é um sonho,
e sim minha atual realidade.
Alice, Alec e Aria me esperam sentados na mesa do café. Prontos para a
escola e com olhares sérios em seus rostos quase angelicais. Tem alguma
coisa errada. Eles não acordam exatamente de bom humor, mas também não
acordam assim.
Lá vem! Espero que seja algo que eu possa resolver, do contrário
mandarei todos para a cama e voltarei para a minha.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto desconfiada.
— Sim — respondem os três ao mesmo tempo.
Sento-me a mesa de frente para eles e os observo cuidadosamente. O
que pode ser de tão sério?
— Então…
— Queremos voltar para casa — dizem, mais uma vez em coro.
Esfrego o rosto. Será que agora estou sonhado? Coloco leite e
achocolatado em uma xícara, mexo com a colher e tomo um gole, que desce
quente por minha garganta. Observo o bolo sobre a mesa e depois a pia com o
prato e o copo de Miranda, um recado pregado a porta da geladeira.
— Não gostam daqui? — Eu gosto daqui, foi o apartamento de Ana e
Jared, e mais tarde, meu e de Miranda, é por onde passamos antes de ter que
crescer definitivamente.
Alice me observa e, depois de olhar para Alec, responde:
— Nossa casa é maior e já mudamos tudo, então podemos voltar para
nosso lar. É maior e tia Miranda não precisará mais brigar aqui no prédio.
— Sobre isso…
— Não precisa explicar — ela diz rapidamente.
E assim, estamos de mudança mais uma vez. Consigo uma empresa de
mudança para mudar ainda hoje, para evitar o estresse de mais uma mudança
em tão pouco tempo. Já mencionei que odeio fazer mudança? Quando meus
pais faleceram e fui morar com Jared, levei tudo que eu realmente precisaria
em malas, ele e Ana voltaram depois e levaram o restante.
Sim, a casa é maior, com mais quartos, espaço para eles brincarem, é
perto da escola, do escritório, dos pais de Miranda, e tem vizinhos melhores.
Sendo assim, na quarta à noite aqui estamos nós, alojados em nossa
nova/velha casa.
Cada um tem seu quarto agora. Eu fico com o quarto de Jared e as
crianças, cada um com o seu. Miranda fica no fim do corredor. A senhora que
contratei para me ajudar com a casa é um amor e só pôde vir agora.
Seu nome é Maria e as crianças também gostaram muito dela. Miranda
e Marc estão cada vez mais próximos, e hoje ele vem jantar aqui para
comemorar nossa mudança e para eu dar meu veredicto, já que Miranda está
cada vez gostando mais dele.
Eu e Maria, com a ajuda das crianças, escolhemos o cardápio do jantar
e cada um quis uma sobremesa, e assim teremos um cardápio variado, afinal
de contas é uma comemoração.
Nossas metas estão pregadas na parede da sala e encontro Alice as
observando atentamente quando estava indo ver se Miranda estava pronta.
Paro ao seu lado e observo-as também, mas, com certeza, não vejo o mesmo
que ela.
— Sua meta já foi cumprida — diz Alice, segurando minha mão com
firmeza.
— Acho que eu preciso de mais um tempo de experiência. — Pisco
para ela. E é verdade, em minha opinião, ainda há muito mais pelo que passar
antes de ter uma aprovação.
A campainha toca, nos despertando de nosso devaneio. Sorrio para
Alice e faço sinal para que ela me acompanhe até a porta que eu abro com
cuidado. Alice parece ansiosa ao meu lado em seu vestido florido.
— Boa noite, Charlotte. Alice — Marc diz, meio sem jeito do lado de
fora.
— Boa noite, Marc. Entre! Seja bem-vindo — digo, dando um aperto
de mão.
Alice parece um detetive, observando-o atentamente, depois ela corre
escada acima para chamar Miranda. Ficamos os dois em silêncio na entrada
da sala.
— Eu quero pedir desculpas pelo Landon. Ele nem sempre foi assim.
Mas, depois do divórcio, meu melhor amigo se tornou amargo — Marc me
informa como se isso fosse desculpa para seu amigo ser como é.
— Só com as mulheres pelo visto, mas o divórcio faz isso com as
pessoas. Não se preocupe. Você é pediatra também? — Mudo de assunto.
— Sim. — Ele dá de ombros.
— Se importa de cuidar das crianças agora? — pergunto em tom de
brincadeira.
— Claro que não. É até bom, ele tem se sentido muito culpado. — Marc
soa triste cada vez que cita Landon em nossa conversa.
— Obrigada. Mas é para evitar que eu o ataque com mais do que
palavras. — Dou de ombros. Talvez não seja totalmente uma brincadeira.
Marc começa a dizer algo, mas é interrompido ao observar Miranda
descer as escadas com Alice e Aria ao seu lado, minhas três meninas estão
lindas. Miranda está radiante, quase brilhando, e fico feliz de vê-la assim.
— Você está linda. As três, eu quero dizer. — Marc está babando.
Por trás dele eu faço sinal de aprovado e Miranda solta à respiração.
Não sei por que ela sempre parece tão preocupada. Medo de que eu o ataque?
Talvez, mas o combinado é que se houver um não, ela cai fora. Mas a verdade
é que gosto de Marc, é um sentimento forte, quase como se eu já o
conhecesse. Ele é sincero, bonito e simpático. Gosto principalmente da forma
como ele olha para Miranda.
Mas algo me diz que graças a esse “relacionamento relâmpago” entre
nossos amigos, Landon e eu estaremos encrencados.
Um mês depois…
A campainha toca e vou abrir, já que está uma bagunça na sala e uma
loucura de vozes. Abro a porta e dou de cara com Landon e Marc. Eu não
deveria estar surpresa, mas depois da conversa com Mi esqueci que eles
vinham.
— Olá, Charlotte — Landon me cumprimenta e estreito os olhos para
ele.
— Olá, doutor Cass — falo fuzilando Landon. — Marc. Entrem! — eu
digo sorrindo para o segundo.
Marc passa entre nós.
— Essa doeu.
— Eu sei muito bem o seu tipo.
— É mesmo?
— O conquistador da faculdade.
— Eu me aposentei.
— Não vai arrumar uma briga? Me chamar de grossa? Fria? Maluca?
— Você é tudo isso, na verdade, mas não vou dizer, já que você já falou
— ele diz passando por mim.
Puxo-o por seu braço de novo em minha direção. Fico cara a cara com
ele, nossos narizes quase se encostando.
— Cuidado, algo pode, acidentalmente é claro, cair em você no jantar.
Nossos lábios estão a ponto de se tocar e…
— Landon! Achei que não fosse vir mais.
Alec.
— Isso não vai ficar assim — diz Landon com uma ameaça velada.
Inferno! Isso é tudo que eu não preciso!
Mas esse homem de olhos verdes profundos, cabelo cor de areia, alto de
mãos grandes e lindas está acabando com meus nervos! E de um jeito bom, o
que é pior!
Breno não terá chance se Landon realmente valer a pena. O problema é
que eu tenho minha própria bagagem e a das crianças, e ele tem a dele. Breno
é livre de tudo isso… Mas Breno não tem o charme e confiança de Landon e
não me tira do sério desde que nos conhecemos, e não é Breno que vem
visitando meus sonhos malucos… e sim Landon Cass. Eu estou ferrada!
Capítulo 6
Acordo com Alec olhando seriamente para mim. Sorrio para ele, minha
cabeça dói, mas me obrigado a levantar. Que gosto horrível em minha boca…
Realmente foi uma péssima ideia beber ontem.
— Bom dia, Alec — digo levando a mão a testa.
— Bom dia, mamãe — ele diz se sentando ao meu lado. — Hoje é dia
de tirar o gesso!
Essa não! Alguém diz que estou sonhando! Em falar em sonhando…
— Mirandaaaaaaa! — grito.
Alec tapa os ouvidos, Miranda aparece em seguida em minha porta.
— Achei que você iria acordar com dor de cabeça, e não gritando assim
— ela diz sorrindo.
— Alec, pode esperar lá embaixo?
— Sim. — Ele sorri e dou um beijo em sua testa.
Miranda fecha a porta.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunta de forma suspeita.
— Sim! Kalebe esteve aqui ontem e eu estava meio alta, acho que vou
receber uma notificação em breve do juiz. Ele não vai perder essa chance! —
digo chateada comigo mesma.
— Agora não a nada a fazer a não ser esperar, e claro curar sua ressaca
e… levar Alec para tirar o gesso. Nem vem! Você vai — ela diz enérgica.
Enfio a cabeça no travesseiro e gemo de frustração.
Depois de meia hora Miranda leva as meninas para a escola, bem, Alice
vai para a escola, Aria para a casa dos pais de Miranda, e eu vou com Alec
para a clínica tirar seu gesso e… Ver Landon.
Conversamos o caminho todo e Alec me pergunta se minha cabeça está
melhor, eu digo que sim, mas ela está martelando.
Tenho que ligar para minha médica e contar da minha ideia idiota, ouvir
um sermão e contar a verdade a Miranda.
Chegamos à clínica e Alec quase sai voando do banco de tanta pressa.
Encosto a testa no volante. Tudo que eu não precisava! Ver Landon oito horas
da manhã e de resseca.
— Mamãe? — Alec pergunta preocupado ao lado da minha janela.
— Estou indo, amor.
Forço-me a levantar a cabeça e descer do carro. Alec pega minha mão,
empolgado, e caminhamos para a entrada da clínica.
Converso com a atendente que me manda ir direto para o consultório de
Landon, o paciente deste horário não veio.
A porta de Landon está fechada e Alec vê Marc entrar em seu
consultório e pede para ir dar um abraço nele, o que eu permito, claro. Eu
gosto muito de Marc, nos demos muito bem desde que nos conhecemos.
É claro que meu dia tinha que piorar!
Landon sai de sua sala com os lábios tingidos de vermelho, com sua ex-
mulher logo atrás.
— Isso virou motel? Eu deveria ser informada, já que meus filhos
frequentam essa clínica. — Quando Marine abre a boca para falar (Landon
está em choque), levanto a mão. — Nem comece! Não estou com paciência
para idiotas.
Afasto-me de ambos e, quando noto Landon vir atrás de mim, corro
para dentro do consultório de Marc. Tudo que eu não preciso agora é de um
discurso sobre sua relação conturbada com a ex-mulher.
— Está tudo…
— Charlotte! Vamos conversar! Abra está porta! — Landon fala
tentando abrir a porta, mas desse jeito ele irá é quebrá-la.
— Marc, você pode tirar o gesso de Alec? — falo alto para Landon
ouvir, Alec observa a mim e a porta com interesse.
— Claro — Marc diz sem graça.
Landon para do lado de fora e eu assisto Marc cortar o gesso de Alec,
minha cabeça vai estourar em breve. Marc tem um carisma que atrai as
pessoas até ele. Jared era assim também…
— Não sinto mais nada, mamãe! — Alec diz empolgado.
Sorrio para ele. Isso é ótimo, porque Alec não aguenta mais usar gesso,
por mais que ele tivesse gostado da atenção extra.
Marc bagunça seu cabelo e depois se aproxima de mim.
— Posso perguntar o que aconteceu?
— Eu encontrei Landon com sua ex-esposa, e pelos lábios com batom
do seu amigo significa que ele teve um momento “lembranças” com ela —
falo, esfregando as têmporas.
— Não acredito nisso! Mas ela pode tê-lo atacado… — Marc diz
esperançoso.
Lanço um olhar fulminante em sua direção, o que o faz murchar como
uma flor sem água.
— Desculpe, a culpa de o seu amigo ser idiota não é sua. Bem, então
vamos, Alec, você ainda tem escola — falo, arrumando a manga de sua blusa.
— Obrigada, Marc.
— Não foi nada. E agora nosso campeão pode voltar a jogar! Desculpe
qualquer coisa Charlotte. Eu não sei mais o que dizer a ele… E…
Faço que não com a cabeça.
Marc abre a porta e Landon aparece na nossa frente, com o rosto sujo
de batom assim como a manga de sua camisa. Que maravilha!
— Tio Landon! — Alec sorri. — Você está parecendo com Aria quando
mamãe a beija com batom roxo e ela limpa, se sujando toda.
— Vamos Alec, seus tios têm que trabalhar. Um deles, pelo menos.
— Charlotte… — Landon tenta começar sua desculpa patética.
— Não. Eu não tenho nada a ver com a sua vida. Você faz dela o que
quiser. Só não coloque meus filhos nisso! — falo furiosa para ele.
Alec está um pouco à frente, conversando com a atendente.
— Não é o que você está pensando! Eu não tenho mais nada com ela!
— ele diz na defensiva.
— Claro, e você quer que eu acredite que ela obrigou você a isso?
Sério?! Um homem de um metro e noventa? Faça-me o favor! E… nunca
mais me beije! Está me ouvindo?! — falo, chegando bem perto dele e
apontando o dedo em seu peito.
— O quê? Nós nos beijamos? Mas… eu achei que tivesse sonhado —
Landon fala sorrindo.
O que só me deixa com mais dor de cabeça. E mais irritada. E muito
furiosa.
— Não vai se repetir, idiota! — falo e me afasto, porque o olhar
indecente em seu rosto em vez de me dar nojo, só me deixa mais furiosa.
Aquele batom ridículo!
— Vai se repetir sim, não importa o quanto você me xingue — ele me
desafia.
Agradeço a atendente e saio com Alec porta afora. Coloco-o no carro e
afivelo o cinto.
— Ele gosta de você, mamãe — Alec diz, beijando meu rosto.
— E eu gosto do Edward mãos de tesoura — falo irritada e Alec
gargalha.
Meu menino não sabe como as coisas funcionam e espero que demore
em entender.
Não preciso contar nada a Miranda quando chego ao escritório, pois
Marc fez isso por mim. Ela ficou furiosa e fez o favor de xingar Landon em
meu lugar.
Ligo para minha médica que, como o previsto, me passa um grande
sermão (grande mesmo! Quarenta minutos). Miranda sai para resolver um
problema com um cliente, mas volta cedo. Então peço para irmos mais cedo
para casa. Ela estranha, mas não discute.
Minha cabeça não para de doer. Assim, às cinco horas estamos em casa.
Arranco meus sapatos e me jogo no sofá.
— Precisamos conversar — anuncio para Miranda.
— Sobre Landon? — ela diz sorrindo.
— Não, sobre mim e minhas mentiras. E já vou começar pedindo
desculpas — falo, tentando soar arrependida.
— Que mentiras? — ela pergunta, sentando-se ao meu lado.
— Miranda, eu… bem, eu nunca fiquei bem. Eu nunca deixei de tomar
antidepressivos, eu nunca parei o tratamento. Foi difícil esconder, mas eu
consegui, não queria que ninguém se preocupasse ainda mais comigo.
— Você bebeu ontem à noite, mesmo tomando esses remédios? Ficou
louca?! Você poderia ter morrido! E como eu ficaria? Ou as crianças? — ela
diz, exaltada e furiosa.
— Dizer que sinto muito não vai resolver as coisas… E o problema é
que eu não sinto nada. Há muito tempo — eu falo a verdade. Continuar
escondendo não é inteligente.
— Por que não me contou? Isso é muito sério! Eu deveria ter percebido.
— Não é culpa sua, é minha. Eu sou a pessoa com defeito. Não você.
— Nunca mais diga isso! — Miranda fala segurando meu rosto. —
Você é minha família. Eu não consigo nem pensar em perder você — Miranda
diz, abraçando-me.
— Achei que estava na hora de contar, Kalebe já deve ter procurado o
advogado dele, que há essa hora já sabe que ainda tomo meus remédios.
— Não se preocupe com ele, eu cuido disso — ela garante com uma
certeza assustadora.
Passamos uma hora e meia conversando. Conto sobre o tratamento,
sobre não estar sentindo nada, sobre o quanto isso me afeta. Eu sempre fui
uma pessoa cheia de sentimentos fervilhantes e agora vivo em meio ao vazio.
Miranda garante que a partir de agora iremos juntas às consultas e que ela
estará sempre ao meu lado.
Eu espero me curar definitivamente desta vez, não só por mim ou por
ela, mas pelas crianças, elas merecem alguém inteiro.
Essa noite fazemos lasanha e comemos todos juntos. Aria repete as
palavras novas que aprendeu e conta sobre os novos exercícios que sua
médica passou. Alec conta empolgado que amanhã voltará aos seus treinos.
Alice lembra a todos de que ela dançará no domingo.
Assim encerramos a noite, com muitas novidades, alegria e
determinação.
Juntos, tudo dará certo. Juntos, tudo se encaixará.
Capítulo 9
São seis da manhã e tudo ainda está calmo nesta casa, mas em breve
começa a correria para a escola.
Eles foram dormir tarde ontem, mas ninguém pareceu querer faltar a
escola hoje. Esses meus filhos são muito talentosos, ou estão querendo me
agradar para eu não mudar de ideia sobre o fim de semana na praia.
Às sete e meia saímos todos de casa. Miranda leva Aria para seus pais e
eu levo Alec e Alice para a escola, depois vou direto para o trabalho.
Assim que entro em meu escritório, vejo um envelope em cima da mesa
destinado a mim, e não sei se choro ou se rio com o que está escrito ali.
O imbecil do Kalebe realmente levou meu dia ruim para o conselho
tutelar e agora eu tenho uma audiência a respeito da guarda das crianças, já
que ele entrou com uma ação para ter a guarda para ele.
— O que aconteceu? — pergunta Miranda, entrando pouco depois.
— Kalebe foi ao conselho tutelar — digo, entregando o papel a ela.
Miranda lê tudo atentamente e, depois de longos momentos pensando,
ela diz:
— Ele vai jogar pesado porque ele está desesperado, então teremos que
jogar no mesmo nível. E isso significa…
— Significa? — pergunto, mal-humorada.
— Que você tem que ter uma relação estável, de preferência estar
casada.
— Não sou casada.
— Então… Vai casar — ela diz simplesmente.
— Como é?!
— Landon pode fazer esse grande esforço. — Ela dá de ombros.
Prevejo um final de semana dos infernos, e não vou pedir Landon Cass
em casamento! Nem pensar. E, depois de ameaçar Miranda por quase uma
hora, ela promete ficar de boca fechada sobre essa ideia. Principalmente para
Marc.
O dia tem que melhorar, mas não é o que acontece.
Levo Aria a sua fonoaudióloga e ela me diz que Aria desenvolveu
gagueira, mas que com o tratamento certinho ela poderia falar corretamente
em breve.
Tudo que eu quero é dormir e voltar para o dia antes do acidente de meu
irmão e sua esposa, mas ainda não tenho essa habilidade.
Alice chega empolgada em casa, dizendo que Clara voltou a ser sua
melhor amiga. Alec está muito feliz por ter feito dois gols hoje e Aria está
radiante por conseguir montar uma parte do quebra-cabeça sozinha.
Essa semana será difícil, mas com fé eu conseguirei vencer tudo isso.
Capítulo 10
Minha cabeça não para de dar voltas. Eu, casada. Vou estrangular
Kalebe! E Jared, por morrer e me colocar nessa encrenca! Que raiva. Daqui a
pouco vou fazer tratamento para controlar a raiva. O que eu vou fazer agora?
Perder as crianças para Kalebe nem pensar. Casar? Esfrego a testa com força.
— Vai acabar esfolando a testa de tanto esfregar — diz Miranda nas
minhas costas.
— Estou coçando o chifre que você colocou na minha testa — digo
irritada para ela.
— Eu?! Coitada de mim! — ela diz sorrindo.
— O-o que-que é um-um chifre-fre, mamã-mãe? — Aria pergunta,
surgindo na porta.
— Não é nada, meu amor. Quer alguma coisa? — pergunto a ela, que
aponta para uma maçã na fruteira.
Miranda descasca a maçã e Aria sai feliz da vida da cozinha.
Olho para Miranda por um longo momento e depois saio da cozinha.
Subo para meu quarto com ela gritando atrás de mim, o que ignoro. Aria está
comendo sua maçã em frente à televisão, onde ela assiste Shrek. Alice está
em seu quarto com Clara. Alec está no treino com Eric, treino esse que hoje
foi mais tarde.
Jogo-me na cama e fecho os olhos com força tentando esquecer o que
está acontecendo.
No escritório também foi um dia infernal. Ainda tive que aturar a ex-
esposa de Landon que mandei para o inferno, embora eu saiba que ela não foi.
Ainda tenho um fim de semana pela frente que, pelo visto, será muito,
muito longo…
Cinco dias depois…
Miranda tenta conversar a tarde toda, mas, quando nota que eu não direi
nada, desiste. Finalmente consigo ler alguns capítulos do meu livro,
Simplesmente acontece, da Cecilia Ahern. Gosto do casal desse livro, lembra
meu irmão e Ana.
Quando o relógio marca seis horas, resolvemos voltar para casa. Eu já
estou seca do banho de mar, então vou para dentro de casa fazer o lanche com
Miranda.
As meninas, como também não entraram na água, vêm conosco, mas as
faço subir e tomar banho.
Marc, Alec e Landon vão tomar banho na área de praia lá fora, onde
tem um banheiro grande, com cabines individuais, vasos sanitários, pia e
espelhos. Eu e Miranda colocamos as toalhas limpas, sabonete, shampoo,
essas coisas.
Alec é o primeiro a entrar em casa, finjo ir ver as crianças e saio para a
rua novamente. Landon me paga!
Espero Marc sair, abaixada entre os arbustos ao lado da porta. Ele não
me vê e, depois de dizer algo a Landon, caminha para dentro de casa.
Entro o mais silenciosamente possível e vejo a toalha e roupas de
Landon do lado da porta. Sorrio para mim mesma.
Caminho até lá e pego as roupas e a toalha, depois espero Landon
desligar o chuveiro…
Então ele abre a porta e tenta sem sucesso achar suas roupas pelo tato,
quando não as encontra, ele espia pela porta e me vê parada lá.
— Oi, amor! Não achou que eu deixar passar não é mesmo? — Pisco
para ele e saio correndo quando o noto correr em minha direção.
Mas é claro que ele não pode correr pelo jardim ou pela casa sem
roupas, então ele para na porta e pede que eu entregue suas roupas, faço que
não com a cabeça e entro em casa.
Doutor Certinho é uma peste! Achei que ele não fosse levar a sério o
que disse, mas… Eu estava enganada.
Landon sumiu com todas as minhas roupas e ele derramou suco em
mim no jantar, então estou toda melada e sem roupas para trocar.
Penso por um momento…
Caminho até o carro e noto Landon me observar pela janela, de onde
está sentado no sofá, bebendo vinho com Marc e Miranda.
Abro o carro e encontro o que eu procurava. A camiseta dele que
coloquei no carro para devolver.
Dou a volta na casa e jogo a camiseta pela janela do corredor.
— O que você está fazendo deste lado da casa? — Landon pergunta
desconfiado.
— Nada — digo, inocente.
Dou a volta nele e subo correndo escada acima, recolho a camiseta do
chão, entro no quarto, tranco a porta e, depois de achar uma calcinha na bolsa,
tomo um banho, e visto sua camiseta para dormir.
Amanhã eu me vingo… Ou quando voltarmos para casa. Mas essa terá
volta!
Capítulo 12
Passou tudo tão depressa. Estamos em casa, saí daqui solteira e voltei
noiva, em breve passarei por essa porta casada… Como Jared fez um dia.
As crianças estão cansadas então vai cada uma para seu quarto. Landon
e Marc vão para suas casas, já que eles têm coisas a resolver da clínica.
Subo em minha cama e, depois de me recostar em minha cabeceira,
abro a carta que encontrei de Ana endereçada a mim. Estava em uma das
minhas gavetas com fotos antigas.
Ana… Como descrever Ana Evans? Ela era doce, forte, corajosa,
amável… E estará sempre em meu coração, e no fundo sei que, mesmo não
estando aqui, ela vai enfrentar tudo comigo e que, de alguma forma, ela estará
presente nessas ocasiões.
Permito-me chorar como há muito tempo não faço… Eu segurei essas
lágrimas por tanto tempo que agora sou como uma represa que rompeu.
Li em algum lugar que a dor deve ser sentida, e como essa pessoa está
certa. No fundo, chorar limpa a alma e conforta o coração, porque temos que
por pelo menos um pouco dessa dor para fora.
E dói, como dói. É como um ferimento em brasa… É como estar
pegando fogo e ninguém consegue apagar. Consome de dentro para fora todos
os dias.
Eu era uma pessoa solar como Ana disse, alegre e colorida, mas desde
que comecei a sofrer com as peças que o destino escolheu para mim, essa
vivacidade se foi e não sei como trazê-la de volta.
Não sei como trazer Charlotte Evans de volta à vida…
Pego no sono de tanto chorar, meus olhos estão inchados, mas minha
alma está mais leve. Ana sempre teve esse poder sobre mim.
Miranda é meu pilar de sustentação, se eu a perdesse não sei o que seria
de mim, na verdade sou incapaz de perder mais alguém.
Avisto Aria dormindo nos pés da cama, puxo-a para perto de mim e a
abraço apertado. Sinto seu cheiro de bebê.
Observo uma foto de Ana abraçada comigo, e como sinto falta de seu
abraço e seu perfume doce. Jared foi quem tirou essa foto. Meus cabelos
vermelhos se misturam aos seus fios dourados e nossos sorrisos são como sóis
iluminando a rua.
Meu celular começa a tocar e não conheço esse número.
— Alô? — digo ainda sonolenta.
— Charlotte Evans? Mãe de Alice? Sou Anita Line. — Anita… Avó de
Clara, eu a conheço, muito simpática.
— Sim, eu mesma, posso ajudar? — pergunto, sentando-me.
— Sim, bem… Estou ligando para avisar que… Minha neta Clara
faleceu e… Acho que Alice vai querer se despedir — ela diz com voz
embargada.
— Eu… Eu sinto muito. Sei o quanto dói perder quem amamos. Eu
realmente sinto muito. Sua neta é uma menina muito doce e amável —
balbucio no celular.
— Sim, e… Obrigada, Charlotte, minha neta sempre falou de você e
Ana com muito carinho e admiração. Alice para ela era uma irmã. Obrigada
pelo carinho que sua família deu à minha neta. Clara se afogou. Seu corpo foi
encontrado hoje de manhã. Eu gostaria de ver vocês aqui. — Anita diz em um
misto de dor e desculpas.
— Nós estaremos com você em breve. Mais uma vez, sinto muito de
todo o coração. — Despeço-me e deixo o celular cair na cama.
A dor abre meu peito, por um momento me sinto sufocar. O silêncio ao
meu redor só traz mais dor. Ela se foi… Um anjo pequeno e brilhante. Ela se
foi! Minha garganta trava com as lágrimas. E não há nada que eu possa
fazer… Nada que vá tirar essa dor e levá-la embora. Ela partiu sem volta…
Sua perda será sempre um grande espaço vazio, principalmente para
Alice, minha menina. Três perdas em um ano. Seu coração ainda está ferido.
Como o destino poder ser cruel e impiedoso?
Levanto-me da cama e caminho até o quarto de Miranda, abro a porta e
a observo ler documentos, sentada em meio a muitos travesseiros. Seu cabelo
castanho escuro contrastando com as fronhas brancas…
— Eu preciso de você — digo, tentando segurar em vão as lágrimas que
não vão embora.
Miranda ergue a cabeça sorrindo, mas, quando vê minhas lágrimas, ela
abre os braços, me convidando sem perguntas.
Corro para ela e me jogo em seus braços acolhedores, Miranda me
aperta e beija meus cabelos tentando me acalmar. Miranda tem sido feliz por
nós duas e eu agradeço muito por isso, não sei se eu teria chegado até aqui
sem ela.
— O que houve? Você está bem? Char, fale comigo! Estou ficando
preocupada — ela diz, segurando meu rosto em suas mãos.
— Clara… Ela se foi, Mi! Como vou contar a Alice? Nós sabemos
como é perder uma melhor amiga. Eu… Não quero que ela fique como eu.
Ela é muito jovem. Eu não sei… Não sei o que fazer! — digo em meio a
soluços.
Miranda me puxa para seus braços novamente e me garante que vai
ficar tudo bem. Estamos todos juntos e isso é tudo que precisamos. Miranda
chora também.
Clara era uma menina doce e me sinto envergonhada de ter me
esquecido dela. Achava estranho Alice dizer que não tinha amigas, porque
Clara sempre esteve ali com ela, mas não fui atrás disso mais cedo, agora ela
se foi e elas perderam tanto tempo…
Aqui estamos nós, no velório de Clara. Está cheio, o que é triste porque
garanto que essas pessoas vieram pelo pai dela, e não por ela, isso aconteceu
comigo também. Pessoas que só vêm para marcar presença.
Alice aperta minha mão com mais força. Minha menina corajosa. Com
uma mão, ela segura a minha apertada, com a outra, a sapatilha azul com que
fez a apresentação junto a Clara. “Clara tem que ficar com elas, mamãe”, é o
que Alice quer, que a melhor amiga fique com sua sapatilha favorita, então
assim será.
Caminhamos em direção ao belo caixão no centro da sala. Miranda vem
com Alec logo atrás. Aria ficou com os pais de Miranda, achei que estar aqui
não faria bem a ela; Alice entendeu.
Paramos diante do caixão, Alice o observa com cuidado e saudade. O
caixão está lacrado devido ao tempo que o corpo ficou no mar. Com o canto
do olho observo Anita caminhar até nós.
— Olá, querida — ela diz me abraçando.
— Anita. — Retribuo o abraço. — Sinto muito. Eu… eu não tenho
palavras para expressar o quanto sinto. Sua neta era maravilhosa.
— Sim, Charlotte, Clara era sim. E você… mais uma vez obrigado por
todo amor que sua família deu a ela. — Anita olha para Alice, que se derrama
em lágrimas. Ela então se abaixa e a abraça forte. — Minha filha quer falar
com você — ela diz para mim, sem largar Alice.
Deixo Alice ali e caminho à procura de Denise. Sinto os olhos de
Miranda nas minhas costas, mas continuo andando.
Sei como dói perder quem amamos, eu já perdi muitas pessoas.
Encontro Denise perto da janela enorme com vitrais coloridos, ela tem
um copo de água nas mãos e parece alheia a tudo que acontece ao seu redor.
Ela não está arrumada como de costume, está bem básica na verdade. Ela
desfere à janela um olhar saudoso e amargo.
Conforme me aproximo, ela parece notar minha presença, pois se
levanta e me abraça forte por um longo momento, não sei como lidar com
isso, então só a abraço de volta.
— Obrigada, Charlotte — ela diz, segurando meu rosto, lágrimas
escorrem pelo seu. — Clara tinha muito carinho por Alice, e muita admiração
tanto por Ana quanto por você. Obrigada pelo amor que deram à minha filha,
e me perdoe pela minha idiotice de tentar separá-las.
— Não me agradeça, amor é de graça, e… sua filha é maravilhosa. Uma
menina incrível. Sinto muito pela sua perda. De verdade — digo de coração a
ela.
— A última coisa que minha filha disse foi “eu queria que você fosse
como a mãe de Alice…” Essas palavras estarão sempre em minha mente. E
por ela eu serei uma pessoa melhor. Eu não era assim, mas meu casamento me
transformou no que você conheceu. Só vou me perdoar no dia em que eu for
como Clara queria. Por isso, obrigada, você foi o exemplo que ela não teve de
mim. — Denise beijou meu rosto e saiu andando para o lado de fora.
Suas palavras ferem minha alma, eu fui o exemplo daquela menininha,
mas não consigo ser quem eu fui um dia.
Enxugo as lágrimas e volto para Alice, Miranda e Alec.
Alice pediu para não ir à escola na terça, e compreendi que seria difícil,
então permiti que ela ficasse em casa, na quarta-feira ela faltou aula também.
Na quinta eu a levei à escola, e voltei duas horas depois para buscá-la porque
ela teve uma crise de choro depois do recreio.
Quando achei que as coisas estivessem caminhando para ela, sua
melhor amiga se foi, Alice ficou sem ninguém, espero que seja por pouco
tempo.
A volta para o escritório é marcada por muito estresse, Miranda se
desentende com a advogada recém-contratada, recebo um telefonema
desagradável de Marine e ainda tenho que receber Breno, mas depois dessa
nunca mais terei que ver sua cara de pau. Deixo bem claro que depois de suas
doces e apaixonadas palavras naquela manhã e depois de ele sair com Marine,
não haverá mais nada entre nós, de preferência nem um cumprimento sequer.
Pensei que meu sábado seria mais tranquilo, mas o dia de hoje me
reserva surpresas… Landon e Marc estarão na clínica até as seis, então não
virão para o almoço, mas os pais de Miranda já estão aqui desde cedo. Alice
está mais conformada, eu é que não estou.
Observo Mônica com Aria, conversando no sofá. Aria gagueja bastante
e às vezes temos que tentar compreender o que ela quer dizer, mas tenho fé
que em breve ela falará normalmente. Mônica parece cansada…
Eric sorri para mim de onde está com Alec, montando o novo quebra-
cabeça de Aria, sorrio de volta e faço meu caminho para a cozinha. A senhora
que contratei precisou sair do trabalho e estou sem empregada, Miranda está
cozinhando hoje.
— Precisa de ajuda? — pergunto abraçando sua cintura.
— Ainda não… — ela diz sorrindo para mim.
Suspiro e sento-me à mesa, olhando Miranda cantarolar enquanto mexe
seu molho para lasanha.
Meu celular toca e me surpreendo em ver que é Denise, mãe de Clara.
Nunca fomos próximas, mas a perda de sua filha trouxe a velha Denise de
volta.
— Alô? — atendo, estranhando sua ligação.
— Charlotte? É Denise, você pode conversar? — ela pergunta
cautelosa.
— Claro, estou livre. Posso ajudar em alguma coisa?
Miranda me olha com a sobrancelha levantada, indagando quem é na
linha, mas faço sinal para ela esperar, o que a contragosto ela faz.
— Que bom, bem, eu… Charlotte preciso de um advogado, e ouvi
muito bem da sua empresa, você pode ser minha advogada? — Denise
pergunta tudo de uma vez, e por um estante penso ter escutado errado.
— Sim, eu posso, mas para que você precisa de um advogado? —
pergunto sem saber o que dizer exatamente sobre este telefonema.
— Quero o divórcio, mas meu marido não quer fazer isso de boa
vontade, então terei que ser mais firme. Eu não era a pessoa que você
conheceu, na verdade era uma pessoa muito diferente, mas meu casamento
me mudou. Eu me deixei levar pelo dinheiro, intriga e aparência, mas quero
voltar a ser quem eu era, pela minha filha. Pode me ajudar?
— Sim, Denise, eu posso. Venha ao meu escritório na segunda-feira,
deixarei avisado que estarei à sua espera. E… Quero que saiba que estou aqui
caso você precise de alguma coisa. — E realmente quero dizer isso, sei como
é difícil esse momento.
— Obrigada — Denise diz com voz embargada. — Obrigada mesmo,
mas nesse momento minha mãe está me ajudando.
Fico feliz em saber que mãe e filha voltaram a se entender, trocamos
mais algumas palavras e encerramos a ligação, conto a Miranda o que Denise
queria e, claro, minha amiga diz que, caso ela precise, estará disponível
também.
Alice aparece na porta ainda de pijama, puxo-a para meu colo, e assim
ambas assistimos Miranda dançar e cantar na cozinha. Alice sorri com as
maluquices de minha amiga e então ela me conta que Dália, uma menina de
sua escola e também do balé, se mostrou querer sua amiga, o que nós três
comemoramos. Alice murcha um pouco com isso, mas falo a ela que Clara
ficaria feliz que ela tivesse uma amiga nova, e que Dália não estaria ocupando
o lugar de Clara e sim ganhando seu próprio lugar na vida dela.
O almoço sai mais tarde que o pretendido, e comemos na maior
bagunça de vozes e talheres batendo, mas as crianças estão felizes e eu muito
mais em paz com todo esse barulho. O silêncio tem acordado em mim um
desespero que há muito tempo havia ido embora.
Aria está toda suja de molho, mas não digo nada, ela está se divertindo.
Alec ri da irmã e se suja como ela. É o tipo de coisa que Jared faria…
Amanhã é o primeiro jogo de Alec no handebol. Pensei que ele fosse
estar mais nervoso, mas pelo contrário, está calmo e confiante, falando sobre
as táticas e jogadas do time.
Landon me liga às três da tarde, estranho sua ligação, ainda mais que
ele ainda está no trabalho.
— Você não deveria estar trabalhando? — digo para chateá-lo.
— Boa tarde para você também — ele diz mal-humorado. — Você
deveria ter me contado sobre o telefonema de Marine e da visita de Breno. Eu
ainda tenho um belo olho roxo.
— É mesmo? E por que eu deveria ter dito? Lidei muito bem com as
duas cobras em questão… Mas como você sabe sobre isso? Ah, deixe-me
adivinhar… Sua ex foi até seu consultório contar? Ou ela telefonou? —
pergunto sarcástica.
— Ela telefonou na verdade, mas… Deixe isso pra lá, estou
incomodado com algo e falei o que não devia. Vamos começar de novo… Boa
tarde, Charlotte. Tudo certo para o jogo de Alec amanhã? — Landon diz
soando mais tranquilo.
— Boa tarde, e, sim, está tudo nos conformes, nenhum gesso a vista por
enquanto e espero que continue assim. Agora me diga o que tirou o doutor
Cass do sério?
— Uma nova clínica infantil será inaugurada na segunda, e não, não
tenho medo de concorrência de nenhum tipo, por falar nisso. Você quer jantar
comigo hoje? Por favor?
— Isso é você implorando? — falo rindo no celular. — Mas… sim, eu
aceito. E por que você se preocuparia com essa clínica nova? O atendimento
de vocês é excelente e se for o caso… Eu te defendo.
— Eu agradeceria muito, mas como vou me casar com uma advogada,
vou ter que declinar do convite. Passo na sua casa às oito, eu cozinho.
Landon não me espera fazer nenhum tipo de comentário e desliga.
Reviro os olhos, doutor Certinho está chateado… Interessante, devo dizer, ele
está sempre tão bem-humorado, mas todos temos nossos dias ruins.
Jogo vídeo game com Alec e perco todos às vezes de propósito, Alice
percebe isso, mas pisco para ela antes que possa comentar a respeito.
Pergunto a Miranda se ela pode ficar com as crianças para que eu vá
jantar com Landon, o que ela diz prontamente que não será problema. Minha
amiga tem um sério problema com tempo para se arrumar e me sinto como
uma boneca quando ela insiste em me ajudar para ficar pronta.
Lavo os cabelos e deixo-os secar naturalmente, assim fica um penteado
desarrumado, coloco um vestido rodado verde escuro e sandálias baixas. Um
batom cereja e rímel para realçar a cor dos olhos e estou pronta
Desço as escadas e recebo muitos assovios e elogios, Marc já chegou,
nem notei a campainha tocar. Alec bate palmas para mim, Alice diz que
pareço uma boneca e Aria abraça minhas pernas.
— Alguém chegou quinze minutos adiantados — comenta Marc
quando a campainha toca.
Aceno com a cabeça, me despeço de todos e caminho até a porta onde
encontro um Landon com o primeiro botão da camisa aberto, mangas
arregaçadas e cabelo despenteado.
— Você está… linda.
— Obrigada — digo sorrindo.
Landon cumprimenta todos rapidamente e então caminhamos até sua
casa, devo dizer que foi mais criativo do que ele me levar de carro, até porque
ele mora logo ali.
Caminhamos em silêncio até sua casa, onde ele abre a porta e me deixa
entrar primeiro, não havia parado para reparar em sua casa antes, é uma bela
mobília. Ele tem bom gosto, não posso negar.
Landon me deixa na sala e caminha para a cozinha, de onde escuto
barulhos de panelas batendo, vou até lá ver o que ele pretende fazer. Risoto de
camarão. Muito boa escolha, ele me nota e pergunta se quero vinho, digo que
não, mas aceito um suco, o que ele me entrega rapidamente.
Em quarenta minutos estamos nos sentando à mesa, que eu briguei para
arrumar, o cheiro está delicioso.
Landon me serve e experimento, noto que meu futuro esposo tem
muitos talentos, embora tenha o dedo podre para mulheres.
Conversamos sobre o trabalho, as crianças, a casa… Discutimos os
horários para a escolha das flores, bolo e a decoração geral do casamento.
Digo a ele que não precisa ir, mas ele faz questão, diz que quer participar de
tudo.
— Admita, eu lhe surpreendi com meus dotes culinários — ele diz,
tirando sarro de mim quando estamos limpando a cozinha.
— Está bem! Eu admito que você me surpreendeu, mas só porque estou
em um dia particularmente bom — digo, esclarecendo minha admissão.
— Particularmente bom para me dar um beijo também? — ele pergunta
cercando-me com seus braços.
— Você é um tarado incontrolável! — digo sorrindo. — Mas… você
está com sorte.
Deixo que ele me beije, Landon é calmo no começo, mas então
aprofunda nosso beijo, suas mãos se tornam firmes em minha cintura, mas
não me afasto como das outras vezes. Desta vez não estou com pressa, e nem
fugindo dele.
Domingo…
O grande dia de Alec chegou! O jogo é hoje e estou nervosa por ele.
Miranda está aqui gritando desde que chegou e o jogo nem começou. Landon
não tira os olhos de mim e está muito próximo, isso me deixa desconfortável,
vamos casar, mas não quero que ele pense o que não está acontecendo.
Teremos que conversar mais tarde. Marc conversa animado com Eric e
Mônica está contando algo a Alice e Aria.
Landon me disse hoje pela manhã que seus pais estão chegando na terça
para me conhecer e conhecer as crianças, então marcamos um almoço,
Miranda ri de mim.
Meu futuro marido reclama de eu ter vindo embora na madrugada
enquanto ele dormia, prefiro mudar de assunto e acho que ele notou que algo
não está indo como ele pensou que iria.
Os times entram em quadra e Alec acena para nós. Avisto Breno do
outro lado, mas ignoro seu aceno para mim. Landon fica irritado ao meu lado.
Miranda grita mais alto e as meninas a acompanham. Entro no espírito do
jogo e grito com elas, o que ainda as surpreende, não é meu estilo.
Ser mãe mudou muitas coisas em mim… Talvez eu já tivesse mudado
nesse departamento e nem notei… Mas isso foi há muito tempo.
— Boa sorte, amor! — grito para Alec.
O jogo começa, o melhor amigo de Alec marca o primeiro gol, o outro
time pontua também, o jogo é acirrado. Alec faz dois gols no primeiro tempo.
Mandamos beijos para eles e gritamos seus nomes. Ainda faltam quinze
minutos para o primeiro tempo acabar. Estou aflita com o caminho que o jogo
está tomando.
Marc e Landon discutem que o outro time tem jogadores mais altos e
que por isso nosso ataque está tendo problemas para fazer os gols.
— E isso é um problema? — pergunto, irritada com esse treinador.
— O ataque deles tem jogadores altos, então ou eles vão todos em cima
do mesmo jogador, ou ele passa entre eles… Será um grande problema — diz
Marc pensativo.
— Eles terão que ser mais rápidos no ataque deles, mas o pivô parece
meio perdido… — Landon comenta sem olhar para mim.
Fico ainda mais apreensiva, esse treinador idiota não está vendo isso?
Mas que droga de treinador é esse?
— Mamãe? Alec vai perder? — pergunta Alice soando chateada.
— Ale-lec!! — Aria grita ao nosso lado e bate palmas para o irmão.
— Eu não sei… — É tudo que consigo dizer.
— Não se preocupe, se ele perder nós estaremos aqui para confortá-lo
— diz Mônica para Alice.
O primeiro tempo acaba e nosso time está perdendo, Alec parece
chateado enquanto conversa com Xande, seu melhor amigo. Landon aperta
minha mão, e Eric diz que ainda tem tempo para mudar o placar.
Vou até o banheiro levar Aria e na volta esbarro em Breno, que vontade
de esganar esse homem! Ou melhor… Esse moleque!
Voltamos para nossos lugares e esperamos o segundo tempo começar.
Alec está agitado e isso me deixa ainda mais nervosa. Miranda continua a
gritar incentivos de seu lugar.
O segundo tempo começa e Alec faz mais um gol, minutos depois ele
recebe uma falta dura, e quase salto de minha pele por isso. Landon, Marc e
Eric, pedem que eu e Miranda fiquemos calmas, mas o outro time marca
novamente. Xande toma as dores de Alec e bate boca com o jogador do outro
time. Ele leva cartão amarelo e o treinador o manda para o banco.
Alec leva mais uma falta dura e estou prestes a entrar na quadra, mas
tento me controlar. Juiz idiota! Treinador banana não diz nada!
Depois de toda a pancadaria e estresse, tanto dos pais quantos dos
jogadores em quadra, o jogo termina e o time adversário acaba vencendo. Os
meninos saem chateados de quadra.
É um dos últimos jogos do ano, então entendo a frustração e chateação
pela derrota, mas tem o jogo de volta, então é treinar e torcer…
Vou até a porta do vestiário esperar por Alec.
— Desculpe mãe, eu não ganhei o jogo — Alec diz assim que me vê na
porta do vestiário.
— Você foi incrível! — digo me abaixando e segurando seu rosto. —
Nem sempre ganhamos, mas o que aprendemos com isso conta muito, e você
fez três gols! O que mostra que jogou muito bem. Você e seu amigo. Agora
sorria e vamos que sua família espera para comemorarmos.
Todos ao nosso redor devem achar que somos uma família louca,
porque mesmo com a derrota todos comemoramos, com tudo que aconteceu
ultimamente o primeiro jogo de Alec deve ser comemorado, e muito.
Alice sorri feliz pelo irmão e garante que ele foi o melhor jogador que
estava na quadra. Isso me lembra sua mãe, seria o tipo de coisa que Ana diria.
O melhor amigo de Alec vem conosco para casa, e vai dormir aqui hoje.
Faço o jantar junto com Miranda, que está tão chateada quanto eu.
— Odeio esse treinador! — ela diz furiosa.
— Nem me fale! Aquele homem é um banana! — digo indignada.
— Vocês ainda estão discutindo sobre isso? — Marc diz parado no
batente da porta.
— Sim! — dizemos as duas juntas.
— Vocês separadas, eu já acho terrível. Juntas então! — ele diz sério.
— E isso porque você não viu nada ainda! — digo sorrindo para ele.
Fazemos muita bagunça, as crianças cansam rápido, ou fingem que
cansam. Se bem que depois de comer tanto no jantar e depois ainda se
empanturrar de sobremesa imagino que a fadiga tenha sido difícil de mandar
embora.
Landon leva Alice para cama e eu levo Aria, ambas dormiram no sofá.
Alec e seu amigo já haviam ido dormir… Assim disseram eles.
Estou fugindo de Landon, não vou negar, e, assim como ele notou,
Miranda notou também, mas não posso fugir para sempre.
— Podemos conversar? — Landon pergunta atrás de mim quando estou
fechando a porta de Aria.
— Sim. — Indico meu quarto.
Assim que fecho a porta e Landon senta-se na cama, observo tudo
menos o homem a minha frente, imóvel me olhando.
— Acho que interpretei errado a noite de ontem — ele diz me
encarando.
— Não vou dizer que foi um erro, porque não penso assim, mas sim,
acho que você entendeu errado, eu fraquejei e… desculpe.
— Não peça desculpas, Charlotte, só me faz me sentir mais inútil e
idiota. Eu… Bem, deixe pra lá — ele diz colocando-se de pé.
— Você não é nada disso — falo segurando sua mão. — Pelo contrário.
E foi ótimo, de verdade, eu só… Não estou pronta para esse passo, entende?
Tem coisas que eu ainda não superei e que ainda não consigo dividir com
você. Podemos ir com calma? Mesmo tendo dado este passo?
— É claro que sim — Landon diz segurando meu rosto em suas mãos.
— Eu posso esperar, só não me jogue para a zona de gelo novamente, me
deixe estar mais perto de você.
— Eu prometo tentar ser mais boazinha.
Landon sorri e beija minha testa com carinho, ficamos um bom tempo
sentados juntos em minha cama, mais tarde ele vai para casa.
Estamos começando a entrar em sintonia, a ser um casal, e isso me
assusta muito. Eu já passei por isso e não foi nada bom como acabou, e,
embora eu saiba que Landon é diferente, minha cabeça grita que eu estou indo
pelo caminho errado.
Capítulo 15
Acordo decidida a passear com Aria hoje. Peço a Miranda que leve as
crianças na escola, o que ela não se importa de fazer e assim estou indo mais
cedo para o escritório.
Assim que chego, a única pessoa que vejo é Olivia… e Denise.
Cumprimento ambas e indico que Denise me acompanhe até meu escritório.
Ofereço algo a ela, que nega, parece estranhamente nervosa e aflita, sei
que um divórcio não é fácil, e com um marido como o dela será ainda mais
desgastante, mas não entendo o porquê de tanta aflição a não ser…
— Você parece aflita e chegou cedo demais, então seja sincera comigo,
está tudo bem? — Denise assente com a cabeça. — Ele bateu em você? Fez
ameaças? Algo assim? Denise, precisa confiar em mim, para que eu possa
ajudar você — digo objetiva.
— Você está certa. — Ela respira fundo. — Ele fez ameaças sim, mas
não me preocupo com isso. Minha mãe também tem dinheiro e minha filha se
foi, mas… Ele esteve ontem na casa da minha mãe, disse que não iria me dar
o divórcio, que não me daria nenhum centavo, mas não quero o dinheiro dele,
faço questão de abrir mão disso, mas ele não quer que eu pegue o restante das
coisas de Clara, e eu as quero. Charlotte, é só isso que irei pedir — ela diz
desamparada.
— Não se preocupe, irei agora mesmo pedir uma medida restritiva e
preciso que você me ligue imediatamente caso ele não venha a cumprir. E
quanto a pegar as coisas de sua filha, bem, você saiu de casa…
— Eu dei queixa na polícia antes de sair de casa… Ele me bateu e eu
não podia mais ficar naquela casa.
E agora sim estão vindo as peças que estavam faltando.
— Certo, isso foi muito bom, assim podemos provar que você saiu por
justa causa. Vai demorar um pouco, tentarei apressar o máximo que eu
conseguir, mas você terá os pertences de Clara — garanto a ela.
— Eu não me importo de esperar, desde que eu consiga tê-los — ela
diz, finalmente relaxando.
Converso com Denise por quase uma hora, dou entrada em seu processo
de divórcio e medida restritiva. Depois, peço a Olivia que cancele meus
compromissos da manhã. Espero Miranda chegar e digo a ela que tenho que
levar Aria na médica e depois tenho que ir ver as flores com Landon. Miranda
me lembra que tenho a última prova do vestido e das roupas das crianças às
sete da noite. O bom é que ela está cuidando de tudo para mim, eu escolho e
ela resolve o restante. Falta pouco, os convites foram escolhidos ontem à
noite, agora tem a escolha das flores e bolo.
Às dez e meia me despeço de Miranda e dirijo até a casa de Mônica e
Eric. É cerca de vinte e oitos minutos do escritório. Eric me atende antes
mesmo que eu aperte a campainha.
— Bom dia, querida. Entre. Aria está na sala — Eric diz, abraçando-
me.
— Bom dia! Está animado hoje. Espero que Aria não esteja dando
trabalho — digo sorrindo, sei que eles amam ficar com as crianças.
— É sempre muito bom poder ficar com eles.
Encontro Aria sentada assistindo bob esponja, ela me nota e corre em
minha direção, pego-a no colo e dou-lhe muitos beijos.
— Ma-ma-mãe, já-já, está-tá na hora-ra da consulta-sulta? — ela
pergunta animada.
— Sim, já está na hora da consulta, vou só falar com Mônica e já
estamos saindo — digo, colocando-a no chão.
Eric indica que eu vá até o quarto deles, o que eu faço alegremente.
Mônica tem sido uma mãe para mim há muito tempo. E essa casa… Ela faz
parte de minha vida.
A porta está entreaberta, então eu entro, mas não a vejo em lugar algum,
noto que em sua cama há dezenas de exames de diferentes laboratórios.
— Não há como negar que você é uma Evans — Mônica diz atrás de
mim. — Não vou negar nada, não posso fazer isso.
Fecho os olhos com raiva, conto até vinte e abro os olhos, observo a
mulher que é uma versão de minha melhor amiga… Ainda não consigo
acreditar que Mônica está doente e não nos disse nada.
— Há quanto tempo está doente? Por que não me disse nada? —
pergunto indignada.
— Descobri há três meses — ela diz, sentando-se na cama e pegando
os exames na mão. — Não há nada a ser feito, nada que possa ser mudado. E
não contei porque todos vocês já perderam tanto. Você já perdeu tanto. E você
é como minha filha…
— E não acha que deveríamos ter o direito de nos despedirmos?!
Miranda principalmente… Quando ela descobriu?
— Ela descobriu no dia em que descobriu que você ainda trata sua
depressão, só não contou porque não queria ver você pior, não fique chateada
— Mônica diz segurando minha mão.
— Quanto tempo? — pergunto sem conseguir olhá-la, as lágrimas
mancham meu rosto e não sei o que está doendo mais… Não saber de sua
doença ou saber que Miranda sofreu esse tempo todo calada.
— Um mês… Algumas semanas. O câncer foi detectado muito tarde.
Venha cá — ela diz puxando-me para seus braços, e eu vou, choro por ela, por
Miranda, Eric, meus filhos…
Depois de muita conversa lavo o rosto e fico observando-me no espelho
do banheiro. Quando saio, Eric está à minha espera, ele me abraça e diz que
vai ficar tudo bem.
Despeço-me deles e levo Aria para o carro, onde a coloco em sua
cadeirinha. Entro no carro e dirijo de modo automático até a clínica onde a
médica de Aria trabalha. Landon disse que a fonoaudióloga de sua clínica é
muito boa, mas Aria se adaptou a essa médica, então acho melhor deixar
como está.
Estaciono em frente ao consultório e Aria diz que está um pouquinho
nervosa, sorrio para ela e digo que vai ficar tudo bem.
Descemos do carro e entramos no ar gelado da clínica, sento Aria na
cadeira para esperar e caminho até a recepção onde sou informada que a
médica teve um contratempo e por isso não virá hoje, ela disse que me ligou,
e que a consulta ficará para amanhã.
Levo Aria para passear. Voltamos para o carro e dirijo para o parque da
cidade, pego um pouco de trânsito, mas não me importo com isso.
Assim que estaciono, Aria diz que quer sorvete, é quase onze e meia da
manhã, mas hoje não tem problema, preciso de um sorvete também. Ajudo-a
descer do carro e caminhamos até o carinho de sorvete, ambas pedimos um de
chocolate, depois caminhamos até um banco e nos sentamos.
— Ma-ma-mãe. Por que-que está-ta tris-triste? — ela pergunta
lambendo seu sorvete.
— Não estou triste, só… Um pouco cansada. Seu sorvete está bom? —
Aria acena esfuziante com a cabeça.
Sorrio para ela e volto a pensar em meus problemas… Mônica está
morrendo, eu vou me casar, tenho uma empresa, casa e filhos para cuidar. E
tem Miranda… Não posso deixar que ela continue a assumir meus problemas.
Observo a menina de cabelos vermelhos ao meu lado… Aria é tão doce
e cheia de vida. Penso por um momento… Meu casamento será daqui alguns
dias e amanhã vou conhecer os pais de Landon. Penso em meus três filhos e
hoje é um dia de grandes decisões e mudanças.
Deixo Aria com Mônica e Eric novamente, Alice e Alec já estão com
eles, almoçamos todos juntos e em seguida saio para ir escolher as flores com
Landon.
Chego à floricultura um pouco cedo, então desço do carro pensativa a
espera de Landon. Penso nos últimos meses… O desenvolvimento de meu
relacionamento com Landon foi tão rápido ou talvez não, no fundo o que mais
me irrita é que eu sinto como se já o conhecesse há muito tempo, por isso
talvez tenhamos passado tão rápido de irritação para algo… Bem, não quero
dar nome ao que temos.
Então penso no relacionamento de Miranda e Marc, que foi meio
meteórico, não posso negar, mas noto que ela não estava como sempre
quando está em um relacionamento… Miranda é o tipo apaixonada, que se
entrega totalmente, mas com Marc não foi assim e nem percebi isso, o que
significa que na verdade minha amiga escolheu um caminho perigoso e
arriscado e ela quebrou a cara feio, muito feio.
— Desculpe o atraso… — Landon diz, assustando-me.
— Não… Você não está atrasado, eu que cheguei cedo mesmo. Vamos
entrar? Landon assente com a cabeça e faz sinal para que eu vá na frente. Já
sei que flor vou escolher, as minhas favoritas, buganvílias, mas não decidi a
cor ainda.
A dona da floricultura vem até nós assim que cruzamos a porta, ela nos
leva para a parte de trás onde tem um tipo de estufa e mais à frente um grande
espaço em aberto com muitas fileiras de flores, é um lugar lindo.
— Você já pensou em alguma flor? — a senhora me pergunta sorrindo.
— Sim, eu quero ver as buganvílias. — Olho para Landon. — Você
quer olhar mais alguma?
— Não, essas são muito bonitas. Vou pela sua escolha.
Assinto com a cabeça e sorrio para a senhora que nos encaminha até
uma grande fileira de buganvílias de muitas cores. Encanto-me por todas, mas
eu e meu noivo chegamos à conclusão que as brancas, roxas e alaranjadas
serão as escolhidas.
— Querem olhar mais alguma flor? Temos muitas opções.
— Sim, vamos dar uma volta, se encontrarmos mais alguma flor de
nosso interesse, nós a chamamos — Landon informa a senhora.
Sorrio para ela e começo a caminhar pelas fileiras de flores, Landon
vem logo atrás de mim. Há orquídeas, rosas, lírios, margaridas…
— Quando você acha que devo levar minhas coisas para sua casa? —
Landon diz atrás de mim.
— Depois de amanhã, pode ser? É que amanhã tem o almoço com sua
família… Então vai ficar um horário apertado para mim.
— Quarta está ótimo. Eu fui convidado para ir hoje à… — Landon
começa, mas é interrompido pela última pessoa que imaginei encontrar.
— Charlotte?
Levanto a cabeça para ver quem é e me arrependo instantaneamente.
Ethan Kane está parado do outro lado da fileira de flores, olhando para mim
como quem encontra o pote de ouro no fim do arco-íris. Eu não sabia que ele
estava de volta. Espere… Landon disse que… A clínica nova. É claro, Ethan é
pediatra.
— Olá, Ethan. Quanto tempo… — digo forçando-me a ser educada.
— Tempo demais, acredito eu. Você está linda… — ele diz sem
acreditar que estou na sua frente, mas quem não consegue acreditar nisso sou
eu. Que raiva. Esse homem me faz sentir algo, uma mistura de sentimentos
contraditórios, mas eu o perdoei, certo? . Então lembro que não estou sozinha.
— Ethan… Este é meu noivo, doutor Landon Cass, da clínica
concorrente a sua. Estamos escolhendo as flores do nosso casamento —
informo a ele, deixando bem claro que minha vida seguiu em frente, mesmo
sem ele.
— É um prazer conhecê-lo, doutor Cass — Ethan diz, estendendo a
mão para Landon em meio às flores.
— O prazer é todo meu. Eu estava inclusive falando para Charlotte
sobre a inauguração de sua clínica… Vocês se conhecem há muito tempo? —
Landon pergunta sem entender minha chateação, de forma suspeita.
— Não… — Tento dizer, mas Ethan me interrompe.
— Sim, há muito tempo… — Ethan diz sorrindo.
— Bom saber que minha noiva conhece a concorrência — Landon diz
sorrindo. — É bom finalmente conhecê-lo. Seja bem-vindo a cidade. Mas…
deixe-me dizer que, caso não tenha ficado claro, Charlotte já tem alguém —
Landon diz em tom simpático, mas nós dois notamos que não é assim.
— Na verdade… Eu estou de volta e… bem, voltei para ter de volta o
que é meu, mesmo que seja difícil, mas sabe como é… Tem coisas que não
mudam. — Ethan diz enfrentando Landon. A cordialidade já era.
— Nós temos que ir — falo rapidamente e saio arrastando Landon pelo
caminho, tento ignorar ambos os olhares em mim.
— Não gostei dele, nem um pouco — Landon diz irritado.
— Bem-vindo ao clube — digo nada feliz com a volta de Ethan Kane a
minha vida.
Capítulo 17
Fico tão fora de mim com o fato de Landon gritar e me acusar de algo
que nem é culpa minha enquanto ele estava guardando algo muito sério e que
diz respeito a nós dois que nem noto o carro sair da pista.
Piso nos freios com força e o carro para com um baque forte. Tento
controlar minha respiração e meu coração que parecem prestes a sair pela
boca! Eu sou tudo que meus sobrinhos têm e quase sofro um acidente! Mais
um nessa família catastrófica!
Desço do carro com as pernas bambas e noto que o pneu furou,
provavelmente por conta de algo que estava fora da pista.
Encosto no capô do carro e levo as mãos aos olhos, e fico lá parada
tentando processar como minha vida foi de desastre a alegria e de volta ao
desastre.
Escuto passos vindos até mim e quando levanto os olhos… Ethan.
— Você está bem? O que aconteceu? — ele diz preocupado.
— O pneu furou e saí da pista — minto para ele.
Ethan nota que estou mentindo, o que não seria diferente já que nos
conhecemos muito bem, ele abre a porta do carro, testa alguma coisa e para
ao meu lado.
— Acho que é mais que um pneu furado, são quase cinco da tarde,
então… Vamos, vou te dar uma carona até sua casa e ligar para um amigo
meu. Amanhã seu carro já estará pronto para outra — ele diz despreocupado
com seu sorriso de lado que sempre me fez querer pular em seu colo. E bem
no fundo… eu ainda quero.
— Eu posso me virar sozinha…
— Charlotte, vamos ser realistas.. Até o guincho chegar, levar até o
mecânico e você pegar um taxi para casa já será noite e você tem que estar em
casa cedo já que seus filhos devem estar esperando você — ele diz cheio de
razão.
Levo as mãos ao rosto irritada com o fato de ele estar certo, respiro
fundo e assinto com a cabeça para ele.
Pego minha bolsa e as pastas que estão dentro do carro enquanto Ethan
liga para seu amigo, fecho o carro, entrego a chave a ele e sento-me no banco
do passageiro em seu carro.
Ethan encerra a ligação e depois entra no carro dele, sentando-se ao
meu lado como nos velhos tempos.
— Ele vem buscar seu carro depois das seis e meia, mas não se
preocupe, ele é muito bom — ele diz sorrindo para mim.
Assinto com a cabeça e observo a estrada. Ethan usa o mesmo perfume.
Seu carro tem o mesmo cheiro… um cheiro familiar que me deixa furiosa.
— Você quer conversar? — Ethan tem os olhos fixos na estrada
enquanto espera minha resposta.
— Não.
— Tudo bem então.
Ficamos o restante do caminho em silêncio, e o pior é que é um silêncio
confortável de anos juntos… Balanço a cabeça trancando as memórias de
volta em seu baú.
Finalmente estamos chegando a minha rua, vejo Miranda, Mônica e
Eric respirarem aliviados ao ver o carro vindo em direção a eles. E quando me
veem, parecem quase flutuar. Miranda corre até mim assim que abro a porta
do carro para descer.
— Eu estava quase chamando a polícia! São quase seis horas e você
não atendia a droga do celular! Você está bem? Cadê seu carro? E por que
Ethan está aqui? — Miranda me abraça, briga comigo e me interroga, tudo ao
mesmo tempo.
— Meu carro furou o pneu, eu não estou nada bem, mas vou ficar, e
Ethan me deu uma carona, só isso. — Viro-me para ele. — Obrigada pela
ajuda, Ethan.
— Não foi nada, Char… — diz para todos ouvirem. — Eu ainda te amo
— Ethan diz só para mim.
Respiro fundo e entro em casa, as crianças correm para mim de três
direções diferentes e Mônica sorri quando nós quatro vamos parar no chão.
— Eu amo vocês três! Muito.
Capítulo 18
Os dias têm passado devagar, muito devagar e sinto-me meio que como
se estivesse me arrastando todos os dias… É como se minha vivacidade
estivesse se esvaindo de mim.
Tenho conversado muito com Sam nos últimos dias, e ele me diz que há
outras formas de me livrar de Kalebe, mas que deve ter alguma razão para
Miranda ter me sugerido um casamento e nesse momento penso no fato de
Eric não ter ficado surpreso com a invasão da casa a não muito tempo atrás.
Perguntei a Miranda sobre isso, mas ela só fez mudar de assunto, então
resolvi esperar para ver o que acontece… Ou até que eu descubra sozinha.
Marc se mudou há três dias para a casa ao lado e gostou da nova
decoração, o que eu falei que ele iria gostar. Ele tem me ajudado com as
crianças e os novos integrantes da casa também.
Chego em casa às sete e meia e me deparo com uma Lena desesperada
com Aria no colo ardendo em febre. Pego Aria no colo e peço que Lena fique
com Alice e Alec.
Meus dedos digitam o número de Landon automaticamente, mas então
lembro que ele não está aqui, não tenho o número do novo médico da clínica,
o telefone da recepção da clínica só chama e o de Marc também, começo a
entrar em pânico, mas… Eu me lembro de alguém.
Eu queria estar com raiva por lembrar o número dele, mas nesse
momento só sinto alivio, tanto por eu ainda me lembrar, quanto por ele ainda
ter o mesmo número.
— Alô? — ele diz do outro lado da linha… Sua voz revive muitas
lembranças.
— Ethan? É a… — Como isso é difícil.
— Charlotte. — Sua voz soa feliz com minha ligação.
— Preciso de você… Como médico. Aria está com febre e dor de
barriga e não sei mais a quem recorrer. — O desespero tinge minha voz.
— É claro que posso, já estou em casa, mas estou indo para a clínica —
ele diz, sério. — Vejo vocês em breve.
— Obrigada — digo caminhando com Aria ardendo em meus braços.
Ethan Kane… Pelo visto ele será sempre um herói.
Ethan está parado perto das portas da clínica à minha espera e de Aria.
Sorrio para ele ao descer do carro, Ethan corre ao meu socorro e me ajuda a
tirar Aria da cadeirinha.
Entramos na clínica rapidamente e Ethan nos guia até seu consultório,
estou aflita com tanta coisa nesse momento que não sei como ainda estou de
pé, minha vontade é sentar e chorar e Ethan parece notar isso, pois é a terceira
vez que ele diz que vai ficar tudo bem.
Ele examina Aria e depois pede alguns exames, sou encaminhada para a
sala de espera, mas estou a ponto de furar o chão com meu salto quando
Denise e Sam entram em meu campo de visão.
— Charlotte! Como está Aria? — perguntam os dois ao mesmo tempo,
depois se olham mal-humorados.
— Ainda não sei, Ethan está fazendo alguns exames, espero que nada
grave — digo pensativa.
— E não será! — diz Denise apertando minha mão.
— Logo Ethan estará aqui com boas notícias. — Eu havia me
esquecido que Sam conheceu Ethan.
Assinto com a cabeça para ambos, eles se sentam próximos a mim, mas
continuo de pé andando de um lado a outro, esperando…
Parece que se passou uma eternidade quando finalmente avisto Ethan
caminhando em minha direção em um jaleco branco. Ele sorri e posso respirar
mais tranquilamente.
— É só uma virose, Aria terá que ficar aqui essa noite, para tomar soro,
mas amanhã já poderá ir para casa. E no mais é observar Alice e Alec, para
ver se eles não contraíram essa mesma virose — Ethan diz, apertando minha
mão para me tranquilizar.
— Obrigada, Ethan — digo à beira das lágrimas e ele me puxa para
seus braços… Um abraço reconfortante, conhecido. Recomponho-me depois
de alguns minutos. — Posso vê-la?
— Claro, é por aqui. — Indica-me o caminho. — Como vai, Sam?
Imagino que sua filha esteja tão grande quanto Alice — Ethan diz apertando a
mão de Sam e cumprimentando Denise.
— Está sim, para você ver como estamos ficando velhos! — Sam pisca
para mim e, depois de agradecer por eles estarem ali caminho com Ethan ao
meu lado.
Estou na minha cama há tanto tempo que penso já estar fazendo parte
do colchão, Marc se mudou para a casa ao lado e acredito que seja ele a
pessoa a estar cuidando das crianças com Lena, não sei realmente. A não ser
que alguém vem todo dia aqui ver se estou respirando.
Ouço as crianças conversarem no quarto, Lena preocupada comigo e a
voz de Marc, mas a tristeza me mantém onde estou… É como se algo me
puxasse para dentro de mim mesma, algo que não sei explicar. Uma dor que
vem tão de dentro que me tira todas as forças.
Tento lembrar como vim parar nessa melancolia sem fim, mas não
consigo, não vem nada a minha mente. Eu só tenho feito chorar e dormir e
não via essa Charlotte desde que vovó morreu aos meus oitos anos…
— Está bem, já chega! — diz Marc em algum lugar no quarto. — Você
vai levantar, tomar banho, colocar uma roupa limpa e comer. — Soa como
uma ordem.
Continuo em silêncio na esperança de que ele se canse mais uma vez e
me deixe em paz, mas então outra voz soa ainda mais perto.
— Não me faça escolher por você… — Ethan? O que ele faz na minha
casa? Não importa.
Ouço passos impacientes, mas em nenhum momento a voz de Miranda,
o que é bom, ela tem Mônica para se preocupar agora.
Em seguida sinto alguém me arrancar do colchão e caminhar comigo
até algum lugar, permaneço de olhos fechados até sentir a água fria em mim e
abrir os olhos em busca de algo para me orientar.
Estamos em meu banheiro, embaixo do chuveiro, com a água mais fria
que já senti. Ethan me segura firme em seus braços e, quando nota que está de
volta a minha fúria por ele, me tira debaixo do chuveiro, colocando-me no
chão. Fico zonza e ele me segura em seus braços quentes.
— Estou bem! — grito com ele, que sorri e continua ao meu lado.
Marc entra em meu campo de visão com uma toalha grande, que ele
enrola em mim com firmeza. Enxoto os dois para fora do banheiro, tomo um
banho de água quente e coloco uma roupa seca.
— Agora sim é a Charlotte que conheço! — dizem os dois patetas ao
mesmo tempo assim que apareço no quarto novamente.
— Que bom que estão satisfeitos! — Reviro os olhos para eles.
Não sei como Marc e Ethan acabaram ficando “amigos”, não é bem
uma amizade, parece mais algo do tipo “para o bem de todos, eu vou te
aturar”. Eles me fazem descer as escadas e comer. Tudo parece tão robótico,
como se eu estivesse me vendo através de mim mesma.
As crianças chegam de onde presumo ser a escola e correm até mim
como se eu tivesse viajado e voltado agora para casa. Abraço os três com
saudade… Isso tem sido constante nos últimos tempos… Uma saudade, como
se eu não fosse vê-los mais. Ou fosse demorar em vê-los novamente.
Pergunto de Miranda, Mônica e Eric, e os dois patetas garantem que os
três estão ótimos, Mônica está reagindo cada vez melhor ao tratamento.
Aos poucos, meu ânimo tem voltado e Marc e Ethan têm feito grande
parte do trabalho. Faz três dias que eles me arrancaram de minha cama, e
agora todo dia um deles me acorda e me obriga a comer. Fui a minha
psiquiatra ontem e ela me passou novos remédios, mas tive a impressão que
ela e Marc, meu acompanhante, já tinham conversado antes. Ela fez umas
perguntas um tanto estranhas.
Hoje recebi a notícia de que Kalebe está realmente falido e isso parece
ter afetado o cérebro dele, é a única explicação, ou ele realmente é um
psicopata.
Fiquei sabendo que ele agrediu a esposa, agora ela tem uma restrição
contra ele e um pedido de divórcio, pedi uma medida restritiva também, não
quero ele perto das crianças.
Sinto cheiro de massa de tomate e corro para o banheiro vomitar, será
que é virose também? Ou talvez seja do remédio, porque já faz algum tempo
que não há vestígios de virose aqui em casa.
— Você está bem? — Ethan pergunta entrando no banheiro e
segurando meu cabelo.
— Você ser médico não torna isso menos nojento, sabe disso, não é? E
sim, estou bem, foi só… o remédio novo. — Dou de ombros. Fico tonta ao
me levantar e Ethan me segura.
— Tem certeza disso? E como médico já vi coisas piores — ele diz com
a sobrancelha erguida.
— Estou ótima.
Que gente chata! Toda hora perguntando se estou bem, estou bem sim!
Ou não, mas de qualquer forma eles estão me irritando muito! Tudo tem me
irritado, até minha respiração.
Capítulo 20
Marc tem quatro caixas nas mãos e Ethan parece chateado com isso,
olho para ambos de forma suspeita e espero.
— Eu acho que… Bem, não é minha área, mas com as pesquisas que
fiz, cheguei, ou chegamos — ele diz olhando para Ethan — à conclusão que
você pode estar grávid…
— Não termine essa palavra! — grito furiosa e jogo o travesseiro nele.
— Grávida! — Marc grita de volta segurando o travesseiro. — Agora
vá fazer os testes para sabermos se é verdade! — ele diz, empurrando-me para
o banheiro novamente.
Eles me acordaram a não muito tempo para essa ideia absurda? Sério?
Eu passei uma noite com Landon e… Por favor, por favor…
Entro no banheiro com as quatro caixas na mão, sei muito bem como
usar esses testes, então respiro fundo e faço xixi no palitinho.
Depois abro a porta do banheiro e coloco os quatro em cima do criado
mudo perto da cama, cruzo os braços e me escorro na porta, Marc e Ethan
estão sentados aos pés da cama.
Eu olho para o teto e os dois estão fixados nos testes… Dois minutos e
meio depois… Os quatro testes dão negativos e respiro aliviada, mas em
seguida meu pesadelo se torna real… Os quatro testes ficam positivos.
Tento argumentar que está tudo errado, mas Marc diz que está tudo
certo e depois de me abraçar rapidamente ele sai para marcar uma consulta
com uma ginecologista como se fosse minha melhor amiga.
Ethan continua no quarto, sentado olhando para os quatro testes a sua
frente.
— Parabéns, Char — ele diz tristonho.
— Está me dando parabéns por quê? O pai da criança me odeia, vai ser
pai de outra criança, estou em um processo pela guarda dos meus
sobrinhos/filhos e você me dá parabéns? — pergunto irritada.
— Me deixe te ajudar! Case-se comigo. Eu errei no passado e quero
consertar isso e… Eu sei que Landon vai querer o mesmo, mas… ele não está
aqui agora e pelo visto vai demorar a voltar já que nem Marc ele tem
atendido. — Ethan dá de ombros.
— Eu preciso… pensar — digo distraída.
— Seu casamento ainda está marcado para daqui uma semana e meia.
— Ele diz esperançoso.
— E estou grávida de outra pessoa…
— Eu não me importo! Se me importasse com isso não acha que eu me
importaria com Alice, Alec e Aria? Eles são seus filhos também. — Ethan diz
esfregando o rosto.
Passo as mãos em suas costas e encosto a cabeça em seu ombro como
fazia no passado. Temos tanto para conversar ainda… E tenho um bebê a
caminho. O quanto mais minha vida pode desandar?
Ethan teve que ir para seu consultório, já Marc ficou para me infernizar
e assim agora aqui estamos nós dois… juntos, esperando minha consulta com
a ginecologista.
— Charlotte Evans — a moça da recepção me chama.
E assim eu e Marc vamos brigando até o consultório, eu digo que ele
não precisava entrar, mas ele diz que entrará para evitar que eu omita algo da
médica.
Cumprimento minha médica e sento-me na cadeira destinada a mim. A
doutora pergunta o que me leva até seu consultório e é Marc quem responde
dizendo que com certeza estou grávida, chuto sua perna, mas ele parece não
se abalar com isso. A médica pergunta de quanto tempo e chuto um palpite de
uns dois meses mais ou menos.
Sou encaminhada até a sala para fazer um ultrassom e assim que a
médica coloca o gel em minha barriga e começa o exame aparece uma
manchinha no visor e um coração forte começa a bater…
As lagrimas saem de mim, involuntárias, não há mais como negar, estou
grávida de Landon, que não dá notícias e nem atende ligação de ninguém e
que… já tem um filho a caminho.
Marc resolve que precisamos tomar um bom sorvete e não estou com
disposição para brigar no momento, então aceno em resposta a todo seu
entusiasmo.
Ele se perde de novo e tiro sarro dele, que faz cara feia, mas nem ligo.
Saber que estou grávida quebra uma parte minha e cola outra, e não sei se isso
é bom ou ruim, porque tem marcas do passado que nunca deixaram minha
pele nem minha alma.
Marc está me tratando como se eu fosse de vidro, o que garanto a ele
que não sou, mas ele me ignora e assim caminhamos até a sorveteria.
— O que você está olhando? — pergunto a ele achando graça.
— Você misturou açaí com chocolate… Isso é meio nojento — ele diz
me olhando como se eu tivesse duas cabeças.
— Eu gosto de misturar e… estou grávida, ninguém discute com uma
grávida! Bom, meu irmão que era muito inteligente nunca discutiu. — Penso
em Jared e Ana e Marc nota minha melancolia. — Eles não estarão comigo…
— Eu estou aqui, Miranda e os pais dela também… E Landon — Marc
termina com esperança.
— Eu diria Ethan! Landon… Eu não quero falar sobre ele. — Respiro
fundo e encho de calda de chocolate o restante do pote.
Marc enche o pote dele e depois caminhamos até a mesa nos fundos,
conversamos sobre como contar para as crianças e para Miranda, que vai pirar
por não poder estar comigo agora, mas eu jamais a deixaria sair do lado de
Mônica.
Observo a movimentação na sorveteria, adultos, crianças, idosos…
Todos tão contentes por um sorvete. E então entra uma moça loira com uma
menininha de cabelos castanhos e eu penso em mim, penso nela… Minha
menina.
Imagino como ela seria, como estaria hoje. E sou obrigada a desviar o
olhar, dói demais, é como cavar um poço do qual sei que eu nunca sairei.
— Eu queria te pedir desculpas. Eu deveria ter notado antes sobre
Miranda, eu faltei com ela. E quando você voltou, não pedi desculpas e você
está sendo tão bom comigo… — Seguro a mão de Marc. — Obrigada.
— Eu que agradeço, com Landon longe não me sobraram muitos
amigos e… você é minha amiga. Sei que mesmo sendo essa pessoa difícil,
você teria feito o mesmo por mim — ele diz apertando minha mão de volta.
Sorrio para ele e volto minha atenção para meu sorvete. Sinto meu
celular vibrar e quando olho o visor. É Miranda. Então é agora ou nunca!
— Eu vou colocar um chip em você! — ela grita comigo.
— Oi para você também, por que tanto estresse? — digo achando
graça.
— Você me omitiu uma crise séria e agora não atendia o celular, que
droga, Char! Eu não posso estar com você, mas eu quero ouvir sua voz, eu
quero ter certeza que você está aqui, ao alcance de minhas mãos — Miranda
murmura.
— Tenho uma notícia para você, mas não surte, porque eu estou bem.
Então… Miranda, eu estou grávida — falo rapidamente e afasto o celular do
ouvido porque sei que ela vai gritar, mas não há som algum no celular. —
Miranda?
— Estou aqui. Quando você soube? Quem mais sabe? Quer dizer…
Parabéns, Char! — Ela tenta parecer empolgada, mas sei que ela pensou no
mesmo que eu e sei que terei que contar a Marc e a Ethan tudo que aconteceu
no passado.
— Vai ficar tudo bem, Mi. Marc e Ethan sabem, eles me fizeram fazer
o teste de farmácia e Marc me fez ir à ginecologista. — Reviro os olhos para
ele. — Que tal um almoço amanhã?
— Um almoço será ótimo. Eu vou avisar meus pais. Char, eu tenho que
ir, mas… — Ela soa perdida.
— Pode ir, eu te ligo mais tarde.
— Eu te amo. E… só fique. Fique comigo. — Espero a linha ficar
muda e coloco sobre a mesa.
Deixe-me ir…
Foi o que eu pedi, mas Jared, Ana e Miranda não deixaram, eles não me
deixaram ir, não me deixaram partir. Mas as coisas mudaram. Eles se foram.
Somos só nós duas agora.
— Se você não quiser ir ao almoço… não precisa ir — digo olhando
sinceramente para Marc.
— Obrigado, eu acho um pouco cedo. Por mais que eu saiba que terei
que vê-la com mais frequência daqui para frente, prefiro pular esse almoço —
ele diz mordendo um bombom.
— Sem problemas.
Terminamos nosso sorvete e, antes de sair, brigamos por causa da conta.
Quase bato nele, mas no fim o deixo pagar.
Caminhamos pela rua de volta ao carro e sinto uma brisa leve balançar
meu cabelo. Jared…
Pedi que Ethan nos trouxesse até a casa dos meus pais, casa essa a qual
não venho há muito tempo… Tempo demais.
— Por que estamos aqui? Sei o quanto essa casa mexe com você…
— É aqui que está tudo… Meu vestido de casamento, o berço, as
roupinhas e todo resto do enxoval. É aqui que está… é aqui que estão as
lembranças de nossa filha… É aqui que guardo tudo que foi de Dakota. — As
lágrimas mancham meu rosto e sei que o de Ethan está do mesmo jeito.
Perdê-la doeu demais e ele não esteve comigo. Ele não a viu nascer, não a
conheceu, não a enterrou. Eu fiz isso. Eu e minha família.
Capítulo 22
Terceiro ano de faculdade. Para outras pessoas seria o segundo ano, mas
eu e Miranda entramos mais cedo na escola, por isso estamos adiantadas. Em
direito tenho mais dois anos de curso, mas fotografia está acabando.
Ontem esbarrei em um idiota do curso de medicina, cabelos que não sei
dizer se eram loiros ou castanhos, uma mistura dos dois, olhos azuis
profundos e barba um pouco mais escura que os cabelos. Ele tem um sorriso
encantador, mas bastou abrir a boca para o encanto acabar.
Seu nome? Ethan Kane, quarto ano no curso de medicina. Ele entrou na
idade certa na escola. Reviro os olhos com esse pensamento, o que esse cara
me interessa? Em nada, não quero um relacionamento tão cedo, ainda mais
depois do desastre chamado Josué, um nome bíblico para um capeta, porque é
isso que aquele idiota é. Mas ele tentou brincar com a garota errada, porque
para quebrar meu coração eu teria que me importar com ele primeiro. E talvez
eu tenha me importado… Ah, não, aquilo foi só a minha raiva criando forma.
Sorrio com isso. Dei um soco nele há alguns dias..
Meu celular toca assim que saio de meu apartamento que divido com
minha melhor amiga Miranda. Faço faculdade perto de casa porque não
queria ficar longe das únicas pessoas que ainda tenho para chamar de família,
meu irmão Jared, minha cunhada e melhor amiga Ana, meus sobrinhos e os
pais de Miranda. É Jared ao telefone.
— A ideia de eu me mudar era para você desgrudar um pouco de mim,
sabia? — Meu irmão é uma extensão do meu corpo.
— Por que não me contou sobre esse tal de Josué? Achei que tínhamos
um trato! Quem esse imbecil pensa que é? — Jared está furioso.
— Se acalme! Está tudo bem, ele nem era importante e nesse
momento… Acho que ele deve estar te odiando já que foi você quem me
ensinou a dar aquele belo soco de direita que dei nele. — Consigo ver a cena
nitidamente. — Como estão as crianças?
— Não troque de assunto, mas elas estão ótimas, com saudade, é claro.
Bateu nele? Isso é bom, mas não estou feliz de ser o último a saber. — Ouço
Alice cantar algo perto do celular.
— Desculpe, eu não queria contar por telefone e só vamos almoçar no
domingo. E quem está com saudades? Você ou as crianças? Eu estou bem, é
sério! Não se preocupe, se eu precisar de colo, corro para você. — Como
sempre faço, penso sobre isso… Jared é sempre meu porto seguro.
— Isso é bom. Vou te deixar ir estudar e vejo você em breve, ligo mais
tarde. Te amo. — Ouço Alice rir e Ana cantar para ela.
— Também te amo.
Encerro a ligação e continuo meu caminho até a garagem onde Miranda
me espera sorridente. Ela nem pergunta se era Jared, porque sabe que só ele
liga no instante em que sabe das coisas, como se eu fosse surtar (de novo) ou
coisa assim.
Entro no carro e Miranda dá partida, sempre acho graça da forma como
ela estica a primeira marcha, como se estivesse no filme velozes e furiosos,
ela me nota sorrir e revira os olhos para mim, me fazendo gargalhar. No fundo
era isso que ela queria.
Vinte e cinco minutos depois, estamos estacionando no pátio da
faculdade. Hoje não tinha trânsito, então chegamos cedo e avisto a última
pessoa que eu queria ver nesse momento. Ethan.
Eu não sabia o nome dele até que Miranda me contou. Ela não sossegou
até saber, que pessoa persistente essa!
Miranda bate mim, como se eu não o tivesse notado nos esperando.
Reviro os olhos para ela e fazemos nosso caminho para a entrada da
faculdade. Meu cabelo vermelho hoje está meio rebelde…
— Bom dia, moças! É Charlotte, certo? — Ele tenta soar engraçado,
mas lembra que eu disse que quando ele abre a boca o encanto acaba? Pois
é… Ele só me irrita.
— Não, meu nome é Melissa. — Reviro os olhos para ele e continuo
meu caminho, ignorando o sorriso de Miranda.
— Sabe Melissa, você combina mais com Charlotte. E você é muito,
muito bonita… — Ethan diz, alcançando meus passos, e Miranda começa a
ficar um pouco mais atrás. — Seus olhos cor de tempestade são fascinantes.
— Olho para ele em busca de alguma piada, no entanto, ele me olha
realmente fascinado.
— Você sempre tenta essa cantada? Porque ela é horrível, talvez você
deva ensaiar algo melhor no fim de semana. — Apresso o passo e aproveito
quando uma loira bonita tranca o caminho dele.
Miranda corre para me alcançar e caminhamos em silêncio até nossa
aula. O professor já está em sala e nos cumprimenta quando entramos.
Sentamo-nos lado a lado e aproveito os poucos alunos na sala para tirar
algumas dúvidas.
A aula passa rápido, tão rápido que quando noto já é hora do intervalo,
então Miranda e eu vamos até a lanchonete comprar alguma coisa e nos
sentamos em uma das mesas ainda vazias no lado de fora.
Mordo meu pastel de forno e quando termino de engolir… Ethan está
sentado ao meu lado. Miranda está entretida com seu namorado e eu tento não
jogar o suco em Ethan.
— Você não devia ser mal-humorada assim o dia todo, isso faz mal a
alma, sabia? E você tem cabelos de um vermelho impressionante. E não era
uma cantada mais cedo. — Ele morde seu sanduíche. — Era um elogio,
senhorita mal-humorada.
— Você é sempre tão chato? Ou insistente? Porque eu acabei de chutar
um cara como você, não estou a fim de gastar tempo à toa. — Mordo meu
pastel.
— Não, você chutou um idiota, eu sou muito diferente. E caso você
não queira me dar uma chance por bem… Terei que fazer você me dar uma
chance por mal. — Ele diz piscando para mim.
Desisto de meu lanche e do intervalo e vou para minha próxima aula
com ele gritando que eu não tenho como fugir dele, que sou sua alma gêmea.
Um ano depois…
Faz um ano que estou namorando com Ethan e finalmente posso dizer
que o que sinto por ele é quase amor, mas ainda acho cedo para arriscar essa
palavra com A. Hoje Jared vai conhecer Ethan, meu irmão e meu namorado
na mesma sala chega a me dar calafrios. Jared fez as perguntas mais estranhas
do mundo quando eu disse que Ethan virá hoje e Ana tentou me ajudar, mas
meu irmão é terrível quando se trata de garotos, mesmo que eu tenha vinte
anos.
— Respire, Ethan, você é o médico aqui, nós somos todos advogados.
— Tiro sarro dele, que só me olha como se eu fosse um grande presente.
— Estou tentando, mas Miranda me disse tantas coisas sobre seu irmão
que eu não consigo pensar direito — ele diz irritado consigo mesmo.
— Vai ficar tudo bem e qualquer coisa… eu te protejo. — Beijo seu
rosto e nesse momento a porta se abre e Jared aparece com cara de poucos
amigos.
Sorrio para ele e pulo em seu colo, ainda segurando a mão de Ethan, o
que o traz junto comigo. Jared estreita os olhos para meu namorado, faço as
apresentações e, puxando Ethan comigo, entro na casa em que morei e em que
ainda tenho meu quarto.
Ana vem em minha direção com Alec no colo e Alice logo atrás dela,
minha cunhada me abraça apertado trazendo Alec junto com ela e depois
Alice corre até mim. Pego-a no colo e a giro, fazendo-a rir. Ana abraça Ethan
e diz que ele é muito bem-vindo, Alice sorri para Ethan e a aproximo dele
para que ela beije seu rosto.
Sentamo-nos todos à mesa e Jared faz as perguntas de praxe para Ethan,
sobre a faculdade, a área que ele escolheu, o que procura em seu trabalho, sua
especialização e planos para o futuro. Depois de respondidas essas perguntas
e servida a mesa, começamos a comer e Jared continua a falar. Ele fala do
escritório, sobre mim, nossa família, do fato de Ethan ser o primeiro
namorado a vir em casa e sobre o que acontecerá com ele caso me machuque
algum dia.
Finalmente seu estoque de palavras parece ter acabado e eu e Ana
começamos uma conversa sobre enxoval de bebê, e é quando Jared me intima
a ser a madrinha de Alec, assim como sou de Alice, tento argumentar, mas
nem ele, nem Ana me deixam ganhar a discussão.
O prato principal foi lasanha e contamos a Ethan nossa obsessão por
lasanha, depois vem a sobremesa, mousse de chocolate, meu favorito, bem, eu
amo tudo que é de chocolate. Ethan sorri com isso.
— Eu estava pensando em irmos passar o fim de semana na praia, o
que acha, Lottie? Será bom para você descansar um pouco… — Jared nota
que desvio o olhar dele e levanta a sobrancelha.
— Eu já marquei uma viagem com Ethan, mas no próximo fim de
semana estou livre. Eu conheci os pais de Ethan há algumas semanas e ele
veio aqui hoje, então… Resolvemos fazer um passeio, Miranda e Tobias irão
junto. — Tento concertar a briga, mas pela expressão de meu irmão não deu
nada certo.
— E por que não viajamos todos juntos? — Jared diz em tom de aviso.
— É porque eu preciso ir até a cidade vizinha para pegar uns papéis
para o meu pai e então decidimos passar o fim de semana lá, mas eu prometo
que a trago inteira — Ethan diz em tom brincalhão.
Levo à mão a testa, porque Ethan acabou de estragar minha desculpa
quase perfeita, nem preciso olhar para saber que Jared está lançando punhais
na direção do meu namorado.
— Eu acho bom que ela volte inteira, porque senão eu vou…
— Vai ficar muito chateado e você não quer que Jared fique chateado
com você, não é mesmo? Ainda mais se quer fazer parte da família. — Ana
intervém em nosso auxílio.
— Bem, já está tarde e Ethan tem trabalho amanhã cedo, nós estamos
indo — digo, levantando-me e Ethan faz o mesmo.
Jared e Ana se levantam também. Alice e Alec dormiram antes do
jantar, beijo suas testas quando passo pela sala onde eles dormem em meio a
seus brinquedos. Chegamos à porta e beijo e abraço Ana e por último meu
irmão.
— Você prometeu ser bonzinho — digo enquanto o abraço forte. —
Ele é um bom rapaz.
— Eu notei isso, mas não gostei da piada que ele fez. Eu te amo e te
vejo amanhã. — Jared beija minha testa e depois aperta a mão de Ethan.
Caminhamos em direção ao carro com Ethan a quase um braço de
distância de mim, e começo a rir por isso. Eu não devia rir dele, mas a noite
de hoje vai ficar para sempre na memória.
Entramos no carro e Ethan dá a partida, finalmente soltando o ar que
estava prendendo. Esfrego suas costas como faço sempre e ele relaxa.
— Eu achei que ele iria pular por cima da mesa e me esganar! —
Sorrio para ele e depois falo que na próxima será melhor… Mas é claro que
omiti o fato de o que ele pensou ser verdade.
O dia hoje foi uma correria! Um inferno, Jared discutiu com um dos
advogados, Ana com a secretária de Jared, Miranda brigou com Tobias, e eu?
Bem, eu estou com dor nos pés e na cabeça e não briguei com ninguém…
ainda.
Sinto cheiro de chocolate assim que chego em frente à minha porta, mas
imagine minha reação quando o que encontro é meu namorado, cercado de
pétalas de rosas por todo chão ajoelhado e sorrindo para mim.
— Não me diga que você está ficando louco com a residência ou algo
assim! Por favor? — Tento fazer uma expressão feliz e caminho até ele. —
Você pretende se levantar?
— Se você me deixar falar, sim, eu vou me levantar — ele diz me
olhando com intensidade, então fico em silêncio. — Charlotte Evans… Você
aceita se casar comigo? Ser minha esposa, minha companheira, minha amiga,
minha confidente, a mãe dos meus filhos? Para que eu possa acordar todos os
dias e ver esses lindos olhos de tempestades? E ter filhos ruivos?
— Eu… — Não sei o que dizer, em meio a tudo que planejei e tenho
planejado, casamento nem me passou pela cabeça, embora na do meu irmão
já tenha passado muitas vezes. — Aceito… Quer dizer, sim! — Se é mais um
teste em minha vida, lá vou eu enfrentá-lo de frente.
Ethan coloca uma linda aliança em forma de máquina fotográfica em
meu dedo e depois, colocando-se em pé, ele me pega no colo e me gira,
beijando-me com vontade.
Meu noivo fez o jantar que está uma delícia! Lasanha de camarão com
batatas amanteigadas. Ele é um bom cozinheiro. Conversamos sobre nosso
dia como sempre fazemos, depois comemos a sobremesa sentados no sofá
assistindo um filme qualquer.
— Eu acho que deveria ter pedido a Jared primeiro, só para evitar de
você ficar sem noivo… — Ethan está pensativo, então sei que não é
brincadeira.
— Não seja bobo, ele vai aceitar bem, quer dizer, namoramos há três
anos. Meu irmão já te aceita… Melhor do que há dois anos. — E começo a rir
de seu olhar apavorado.
Coloco meu pote de sobremesa ao lado do sofá e subo em seu colo,
depois alcanço meu celular e espero Jared atender, é meia-noite, ele deve estar
na cama, mas sei que vai atender. Ethan coloca as mãos em meus quadris.
— Aconteceu alguma coisa? — Jared estava dormindo como imaginei.
— Aconteceu sim! Jared, você está deitado certo? — Ana responde
que sim, já que meu irmão está em silêncio. — Então… podem me
parabenizar porque eu fiquei noiva! E Ethan quer falar com você. — Meu
irmão grita alguma coisa que deixa Ethan branco, beijo seu pescoço enquanto
ele espera Jared respirar para ele poder falar.
— Nós namoramos há três anos, se eu enrolasse sua irmã você me
ameaçaria igual! E não diga que não. — Jared diz algo no celular que faz
Ethan suspirar, ou ele está suspirando por minha causa? Enfim…
— Jared, eu e Ethan te amamos, mas agora nós vamos festejar nosso
noivado. Beijos, Ana! — E dito isso desligo o celular e beijo meu lindo noivo.
Estamos entrelaçados no sofá quando a campainha toca à uma da
manhã, a sorte é que estamos vestidos. Levanto-me para atender Miranda,
mas advinha quem está na porta? Isso mesmo! Meu irmão e minha cunhada.
— O que você está fazendo aqui? Não te convidei para a comemoração
— digo fechando os botões da blusa, o que claro Jared notou.
Ele entra no apartamento e Ethan já está de pé, Ana geme ao meu lado e
levo à mão a testa, isso não será nada bom!
— Você devia ter falado comigo antes, Ethan! Minha irmã é muito
importante para mim, eu não posso e não vou aceitar qualquer pessoa ao lado
dela que não a mereça. Não estou dizendo que você é uma má pessoa nem
nada disso, mas não posso perder Charlotte. Nunca — Jared diz com voz
embargada e Ana faz sinal para que eu fale com ele. Então caminho até ficar
de frente para ele e olhá-lo nos olhos.
— Vai ficar tudo bem! Não vou a lugar nenhum, estou aqui e pretendo
te dar muita dor de cabeça ainda! Ethan será parte da família, você já pode
aceitar ele — digo abraçando meu irmão.
— Com certeza ela vai ficar muito tempo aqui e juntas nós três te
daremos muita dor de cabeça! — Miranda se junta ao nosso abraço trazendo
Ana com ela. — Agora… por que estamos chorando?
— Charlotte ficou noiva! — Ana esclarece mesmo com Jared ainda
fazendo careta.
Naquele momento, nenhum de nós previu que Ethan, sendo um
espectador dessa família louca, chegaria a conclusões mais para frente que só
trariam dor e sofrimento e que, mesmo não querendo isso, ele me levou com
ele. O maior pesadelo de Jared se tornou verdade por conta daquela cena.
Capítulo 23
Tenho tido poucas notícias de Ethan, por muitos motivos, mas o maior
deles é por minha gravidez ser de risco. Jared está quase arrancando os
cabelos de preocupação.
Aria escolheu o dia de hoje, dois dias após completar nove meses, para
nascer. Alice e Alec, estão com Mônica, Eric, Miranda e Tobias na sala de
espera, enquanto eu e Jared estamos no quarto com Ana.
Minha barriga está enorme, mas também! Já estou de seis meses. É uma
menina, Jared nasceu para ser rodeado de mulheres… Ele e Alec.
— Charlotte? — Ana me chama com urgência.
— Estou aqui, bem do seu lado. — Seguro firme sua mão.
— Eu também estou aqui, amor, estou bem aqui. Vocês duas estão bem
certo? — Jared está branco e começo a sentir pena dele.
Assentimos com a cabeça e ele parece se acalmar um pouco, as
contrações de Ana começam a vir, mas depois de dois partos já estamos
formados em ajudar.
A médica manda empurrar e Ana faz força apertando nossas mãos nas
delas, Jared diz palavras de apoio e eu também. Começo a pensar que logo
será minha vez…
Em alguns minutos um choro forte soa pelo quarto e Aria Evans está ali
gritando a plenos pulmões. Ela é linda. Jared a pega no colo e a trás para que
nós possamos vê-la.
— Aria me lembra Charlotte quando nasceu… — Meu irmão diz
emocionado.
— Você disse a mesma coisa quando Alice nasceu. — Ana sorri para
meu irmão e posso ver a sorte que eles têm de terem se encontrado tão cedo.
Esse sim é amor de verdade.
Pego Aria no colo e sou mais uma vez intimada a ser madrinha. O que
eu aceito, é claro, até porque Ana acabou de ter minha sobrinha.
Espero elas pegarem no sono e eu e Jared vamos até a sala de espera
contar das novidades, meus sobrinhos pulam no colo de meu irmão
empolgados com a irmãzinha. Miranda vem me abraçar.
— Em breve a família estará completa! — Miranda coloca a mão sobre
minha barriga.
Meus sobrinhos vêm até mim e se grudam as minhas pernas e Jared
beija minha enorme barriga. Digo para ele voltar para nossas meninas, que eu
cuido de tudo aqui fora.
Sento-me em uma das cadeiras ao lado de Miranda e sinto algo
molhado, penso que pode ter sido Alice ou Alec, mas quando olho para o
chão sei que sou eu, sangue mancha minhas pernas e tento não chamar a
atenção das crianças.
— Chame um médico, Miranda, rápido. — A dor torce meu ventre,
mas não solto um único som.
Miranda entra em pânico, mas logo um enfermeiro vem com uma
cadeira de rodas e me leva para um consultório, minha médica devia estar
com Jared, porque cinco minutos depois ambos entram na sala..
Ela me examina e foi só mais um susto… Esse na verdade é o terceiro
sangramento que tenho e a partir de agora é descanso absoluto.
Três semanas, é esse o tempo que estamos em casa. Dakota está mais
forte, ou pelo menos é isso que digo a mim mesma todos os dias.
É tão bom vê-la com Alice, Alec e Aria! Bati muitas fotos que estão
espalhadas por toda a casa, mas o que posso fazer se meu lado fotografa está
em ação? Eu fotografo cada conquista de minha filha.
Dakota e Aria parecem se entender tão bem, sempre que estão lado a
lado, elas parecem ter uma conversa só delas o que deixa Alec chateado por
não ser convidado. E Alice ri dele por isso.
Desde o dia que Ethan foi embora, eu voltei a morar com Jared, e
Miranda está aqui desde então para ajudar. Tobias não gostou muito disso,
porque, ele admita ou não, Jared coloca mais medo nele que Eric. Eu nunca
gostei de Tobias, mas Miranda gosta. Ele me parece… como se sempre
tivesse algo a esconder.
Dakota sorri e ouço ela dizer algo em sua língua de bebê.
— Estou aqui meu amor, com sono? Mas você acordou nem faz tanto
tempo… — Pego-a no colo e ela sorri novamente.
Depois de embalar e conversar com ela como faço todos os dias, ela
adormece tranquila e sorridente. Então me viro para o computador para editar
algumas fotos.
Mesmo estando ali ao lado de minha filha, não noto o tempo passar,
mas quando olho para a janela noto que está anoitecendo e estranho Dakota
não ter acordado com fome, olho o relógio e se passou apenas meia hora,
talvez ela não esteja com fome ainda…
Dakota permanece do jeito que eu a deitei ao meu lado, sorridente e
serena… Mas não noto seu peito subir e descer e o pânico começa a ser
acionado em minha mente.
— Dakota, meu amor, fale com a mamãe! — Tento acordá-la, mas seus
olhos não abrem e sua pele está gelada.
Começo a gritar e em instantes Miranda e Jared surgem na porta. Jared
me tira da cama e Miranda corre para ver Dakota, mas quando ela olha para
nós não preciso que nenhuma palavra seja dita. Dakota se foi…
Ana chamou a pediatra que veio o mais rápido o possível, mas não
havia nada que pudesse ter sido feito. Ela disse que o coração de Dakota deve
ter parado e ela se foi sem sofrimento. Ela se despediu de mim e descansou e,
por mais que o fato de ela não ter sofrido me acalme, não ameniza o fato de
nunca mais poder vê-la.
Dakota foi enterrada hoje pela manhã. Nem consigo acreditar, tudo que
meu cérebro registra é que vou entrar naquele quarto e ela sorrirá para mim,
mas isso não vai acontecer.
Alec sobe no sofá comigo e me abraça e ficamos assim por um longo
tempo…
Eu tive pouco mais de três meses com minha filha, e nesse período de
tempo ela lutou por sua vida todos os dias, e no fim tive que deixá-la ir,
mesmo não querendo.
E mais uma vez nem sinal de Ethan. Nossa filha nasceu e morreu e ele
nunca se pronunciou em nada…
Escuto Alec chorar baixinho e o aperto mais.
— O que foi, meu amor? — Levanto seu rosto para olhá-lo.
— Eu já sinto falta dela. — Alec enterra seu rosto em meu pescoço.
— Eu também, mas ela está descansando. E nós temos que seguir em
frente, por ela. — É isso que tento dizer a mim mesma.
Por mais que eu tenha odiado Ethan em alguns momentos, ou em
muitos, quando Dakota se foi eu o perdoei, perdoei porque eu não conseguiria
seguir com isso em meu peito, não depois de tê-la segurado em meu colo e ter
visto seu sorriso.
Eu perdoei a ele e a mim mesma, porque de alguma forma, embora meu
coração esteja com mais pedaços faltando, lá no fundo alguma coisa
finalmente está livre. Algum pedaço foi colado e em meio a toda essa dor e
sofrimento eu sei que ela iria querer que eu fosse forte.
Dakota Evans se foi como um dia de sol e chuva que no fim traz um
belo arco-íris, ela trouxe força e paixão, e levou consigo paz e amor em seu
belo coração. Ela lutou e venceu, e mostrou que, mesmo quando o que
queremos não acontece, não quer dizer que perdemos a batalha, e sim que
precisamos enxergar a vitória naquilo que nos é dado.
Quando conheci Ethan eu não queria um amor, não queria um homem
em minha vida, não queria uma história de amor de filme, não queria nada
que pudesse ser tirado de mim, e no fundo eu tinha razão em não querer,
porque mais uma vez eu estou em pedaços.
Capítulo 24
Ethan está chorando, assim como eu, quando termino de contar como
foi depois que ele partiu, mas o obrigo a sair do carro. Quando ele me
pergunta o porquê de vir aqui, explico que foi para onde vim quando ele foi
embora.
Sei o quanto pode ser estranho eu ter perdoado Ethan com tanta
facilidade, e digo isso porque Miranda fica louca quando digo isso, mas há
quase dois anos o pai de Ethan me procurou. Roberto Kane, cirurgião
cardíaco, veio bater em minha porta com culpa escorrendo de seus olhos.
Ele me perguntou por sua neta e quando falei sobre seu coração frágil
ele me contou a verdade, verdade essa que Ethan não quer me dizer, porque
ele quer ser punido, mas no fim nenhum de nós três teve culpa dos
acontecimentos daquele ano.
Roberto me contou que ele nasceu com essa mesma fraqueza no
coração e que ele e sua esposa perderam duas crianças, assim como perdi
minha filha. Desde então Ethan quis ser pediatra, ou melhor, cirurgião
cardíaco infantil, para assim tentar descobrir o porquê disso.
Eu perdoei seu pai também, mas há alguém que nunca irei perdoar…
Suzana Kane, a mãe de Ethan.
Quando Ethan pediu para ela vir até mim, ela disse a ele que eu havia
estado enganada, que nunca estivera grávida e Ethan se apegou a isso, pois foi
na mesma época em que sua pesquisa avançou… E assim ele poderia no
futuro evitar o que aconteceu com seus irmãos.
Ethan só soube de Dakota um ano depois que ela se foi… Através de
um amigo que estava passeando onde ele morava.
Eu sei que parece muita invenção, mas a própria Suzana veio me dizer
isso quando soube que Jared e Ana haviam falecido. Ela me pediu perdão,
mas eu não podia perdoá-la. Por culpa dela, eu e Ethan perdemos momentos
que não voltam mais, nunca mais, e Ethan perdeu a chance de conhecer sua
filha… Sua bela menina.
Ethan está debruçado sobre o berço que foi de nossa filha, com uma das
últimas fotos que bati dela em suas mãos. Para mim foi doloroso perdê-la,
mas eu tive três meses com ela, ele não teve nada, nem um sorriso, um olhar,
uma risada…
Ele não podia vir, não antes de sua pesquisa ser terminada, ele não
queria vir antes de ter algo em que se agarrar, algo pelo que lutar… Eu não
queria saber o nome da clínica de Ethan, mas agora eu sei… Dakota Evans é
o nome em todos os documentos, com uma área especial para cardiologia
infantil.
Isso me faz lembrar de Landon… Que abandonou a cardiologia infantil
por Marine, me lembra Jared, que aguentou até ter seu coração batendo em
outra pessoa. Lembra-me Marc, que recebeu o coração de Jared.
— Eu deveria ter estado aqui com você… com ela. Você não deveria
mais querer olhar na minha cara, eu não olharia no seu lugar. — Ethan está
tão destruído.
— Eu sei a verdade, Ethan. Sei de sua família… seus irmãos e… de
sua mãe. E eu perdoei você, mas acredito que nunca vou conseguir perdoá-la.
Eu queria você aqui, do meu lado, e errei em não te procurar, embora sua mãe
tenha dito que não adiantaria em nada. Ela é boa em ser cruel. — Esfrego suas
costas tentando acalmá-lo.
— Minha mãe tirou o tempo que eu teria com Dakota, mas no fundo eu
sou culpado também. Me empenhei tanto em salvar outras crianças que não
estive aqui para salvar minha própria filha. — Ethan se afasta de mim e se
senta aos pés da cama.
— Naquela época você não poderia salvá-la, mesmo que quisesse.
Tinha recém começado a avançar nos estudos e nas pesquisas. E não diga
isso, ela foi em paz, não sofreu e você salvou vidas e evitou que outras mães
como eu perdessem uma parte de nós mesmas. — Sento-me ao lado dele e
passo a mão por minha barriga.
— Eu conheço esse olhar…
— Eu tenho medo de acontecer de novo. Talvez o problema não tenha
sido a sua genética. E se foi a nossa combinação? Quer dizer, eu… — Esse
pensamento está me deixando louca, não sei o que fazer com tudo que está
passando em minha mente.
— Isso não é verdade e sabe disso. Qual a chance de o problema ser de
Landon? E estou aqui, você tem o melhor especialista ao seu lado. Eu não vou
te deixar. Prometo — ele diz enxugando uma lágrima solitária de meu rosto.
— Essa promessa soa melhor que um pedido de casamento — digo
sorrindo, o que o faz sorrir também.
E nossos olhos se encontram e… nossos lábios também, mas é um beijo
rápido, com urgência, e no fundo nós dois sabemos que é um beijo de
despedida.
Véspera de natal…
Natal…
Acordo com fome, por alguma razão eu raramente sofro com enjoos.
Ethan dormiu aqui em casa, já que ele, Marc e Sam beberam até tarde.
A casa está silenciosa, mas encontro a mesa posta e arrumada, Lena está
cantarolando baixinho na cozinha. É natal e estamos todos muito felizes. Em
breve a casa acorda, a visita volta junto com a bagunça.
— Bom dia Lena. Acordou cedo. Feliz Natal! — Dou um abraço nela
que me retribui com muito carinho.
— Bom dia! Feliz Natal, Charlotte! Muito obrigado por ter me
convidado para ficar ontem. — Como eu poderia não convidar? Lena faz
parte da família e, além do mais, ela não se casou, nem teve filhos e seus
irmãos moram a quase um dia de distância.
— Você já é da família!
Ficamos conversando por um bom tempo, até que seu celular toca, é um
dos sobrinhos e ela vai atender. Fico sozinha na cozinha. O dia está lindo e
promete ser bem quente. Marc entra e beija minha testa, depois de me
observar por um tempo ele se senta à minha frente.
— Bateu em Landon de novo? Estou começando a achar que ele vai ter
um nariz torto para sempre e será culpa sua. Feliz Natal! Estou feliz de ver
que está todo mundo seguindo em frente…
— Menos você. Porque não negue, você ama a Miranda, mas quer
puni-la, por isso se mantém longe. Mas está sofrendo tanto quanto ela e eu
estou assistindo a tudo de camarote, só me falta a pipoca. Os homens são tão
idiotas, principalmente quando tentam ser inteligentes. Você tentou seguir em
frente, mas não deu certo. Admita que perdeu e me poupe a dor de cabeça. —
Tomo um gole de meu suco de laranja enquanto Marc me olha de boca aberta.
— Eu poderia dizer que é verdade, mas seria mentira e você saberia.
Então vou fingir que essa conversa não aconteceu. E você desceu sozinha? —
Faço que sim com a cabeça. — Por que não acordou o Ethan?
— Porque eu desci devagar, está tudo bem e eu estava com fome —
falo dando de ombros.
Seguimos tomando nosso café até que Miranda aparece e Marc resolve
ir buscar os biscoitos que a mãe dele mandou para mim. Minha amiga senta
onde ele estava e faz uma careta quando ouve a porta da frente abrir e fechar.
Esses dois estão como cão e gato e isso está começando a me irritar, às
vezes é engraçado não vou negar, mas outras é só irritante mesmo.
— Você está bem? — Miranda enche o copo de suco e corta uma fatia
de bolo, observo-a atentamente e me pergunto como deixei tanta coisa
passar… Mas também, ela foi esperta ficando longe de mim para ser como
foi.
— Você escondeu bem o que estava fazendo. — Miranda arregala os
olhos e a fatia de bolo cai de sua mão. — Eu sei que Mônica está bem agora,
mas o trato era você cuidar dela e não de mim! Você não pode me proteger de
tudo, Miranda, e tem que entender isso. E sim, foi o Landon que me contou,
acho que a mente dele pesou mais que a sua.
— Char… Eu não podia deixar as coisas caminharem para onde
estavam indo, mas eu cuidei da minha mãe, não saí do lado dela e fiz o que
precisava para ajudar você também. Eu sabia que você não iria mais querer
casar, então fiz o que daria pra fazer. Sinto muito — ela diz, tentando pegar
minha mão, mas eu me afasto.
— É natal e não quero discutir sobre isso mais, o assunto acaba aqui
e… Eu me casei sim, com Landon, mas é segredo. — Saio da mesa para
segurar a língua de dizer “segredo… Algo que você sabe fazer muito bem.”
Miranda fica lá sentada com olhos cheios de lágrimas, mas é melhor
assim. Eu não quero ter uma discussão enorme que não levará a nada, tudo já
foi feito, não há como voltar atrás. Agora é só esperar.
A casa está cheia novamente, a ideia era ir para a casa na praia, mas
como o voo da mãe de Marc atrasou resolvemos ficar todos aqui.
Eu sempre acho engraçada essa data, porque a maioria das pessoas se
veste de branco, mas aqui em casa nem todos estão de branco. Miranda está
de vermelho, Alice e Elisa de amarelo, eu e Aria de verde, os outros sim estão
de branco.
Os homens inspecionaram a equipe que montou alguns fogos de
artifícios, as mulheres a comida, eu e as crianças a decoração, a casa está
muito bonita.
Marc surge na porta com sua mãe, que é muita parecida com ele,
levanto-me do sofá e caminho até eles para cumprimentá-los.
— Olá! Seja bem-vinda! A casa está uma loucura. Eu sou Charlotte. —
Os olhos da mãe de Marc brilham quando escuta meu nome e ela me abraça
sem pensar duas vezes.
— É um prazer conhecê-la, Charlotte! Meu nome é Lucia. Marc fala
tanto de você! E das crianças. Eu devo a sua família a vida de meu filho.
Sinto muito que foi como foi, mas… — Ela segura meu rosto emocionada. —
Quero que saiba que estou aqui para o que vocês precisarem. São como a
minha família, eu queria mais filhos, mas não pude ter, e saber que Marc tem
uma família aqui alivia muito minhas preocupações.
— Graças a seu filho o coração de meu irmão continua batendo. E eu
aceito! Saiba que a senhora já é da família. — Dou um abraço apertado nela.
— Bem, já que vocês duas se deram tão bem, vou contar a novidade!
Daqui alguns meses minha mãe vem morar comigo. Eu não quero mais ela
tão longe — Marc diz sorrindo para a mãe.
— Eu apoio. — Avisto Aria vir carrancuda em nossa direção. — Esta
mocinha linda é a Aria, minha caçula. — Aria sorri para Lucia, que estende os
braços e Aria a abraça.
Lila foge para a rua, deixo Marc apresentar sua mãe para todos, tento
alcançar a cadelinha, que é mais rápida. Estou no meio da rua já quando ela
resolve parar e se sentar. Respiro fundo e calmamente vou até ela, para evitar
que corra novamente.
— Você não pode correr assim! E se um carro te atropela? Vai ficar de
castigo. — Estou conversando com Lila quando sinto olhos em mim, não sei
de que direção, mas tenho certeza que alguém está me observando.
— Não me bata! Eu só quero conversar. — Breno caminha em minha
direção com as mãos erguidas.
— O que você quer? Eu não tenho mais nada para conversar. — Tento
fazer o caminho para casa, mas ele entra na frente.
— Eu voltei e vou assumir o filho de Marine, que eu sei, porque você
disse, que não é mais que minha obrigação. Eu sei de algo que talvez você
devesse saber… — Reviro os olhos para ele, que nota que a essa altura eu já
sei de tudo. — No fim você não ficou com nenhum de nós três.
— Com quem eu vou ficar ou não, não é da sua conta. Vá cuidar da
mãe do seu filho e pare de se preocupar comigo. E você tem sorte, porque eu
no lugar de Landon teria te dado uma surra. E… diga a ela pra tomar cuidado,
minha mão anda coçando com frequência. — Desvio dele e caminho para
casa.
Solto Lila no colo de Alice e caminho até meu escritório. Falta quase
quatro horas para a virada do ano e devo dizer que encontrar Breno não me
animou nem um pouco. O que ele realmente queria? Eu não sei.
Mas é um fardo a menos para Landon com ele aqui, como eu gostaria
de meter a mão na cara de Marine! Essa criatura só pensa em maldade.
Caminho até minha mesa e me sento na cadeira que foi do meu irmão.
Em cima da mesa há uma foto minha com Jared e Ana, uma com as crianças,
com Miranda, meus pais, os pais de Miranda, com Dakota. Preciso de mais
espaço… Até uma foto minha com Ethan voltou para cá.
Anoto mentalmente colocar mais fotos nessa mesa e nesse escritório.
Respiro fundo, mas uma lágrima solitária cai mesmo assim. Seis meses… Há
seis meses meu irmão e cunhada ainda estavam aqui… Posso me imaginar
entrando porta adentro e me jogando no sofá e Jared dizendo que eu podia me
machucar.
Há seis meses eu dividia um apartamento com Miranda, via meus
sobrinhos com frequência, trabalhava no escritório e tirava fotos todo fim de
semana. Miranda estava noiva… O tempo passou e tudo mudou.
Penso em Landon, a vida dele mudou muito, deu uma reviravolta e ele
retrocedeu. Imagino que deva ser apavorante.
Marc, por outro lado, fez um passeio ao passado, mas seguiu em frente.
Eu não sei em qual dos dois quadros me encaixo exatamente, eu já
passei pelos dois momentos. Toco em minha barriga e penso em como o
futuro será… mas não consigo ver, e não entendo por quê.
Nunca fui o tipo de pessoa que pensa no futuro com antecedência,
passei tanto tempo vivendo um dia após o outro que não sei se consigo fazer
isso.
— Um doce pelos seus pensamentos… — Ergo a cabeça para
encontrar Eric parado a porta.
— Um só? Tem que ser uns vinte. — Observo Eric caminhar até a
mesa e se sentar na cadeira em frente a mim. — O que passou, passou.
— Não é bem assim e sabe disso. Fizemos o que achamos certo para
proteger vocês, sei que está chateada Charlotte. E eu sinto muito, mas prometi
ao seu pai que protegeria você e seu irmão, nesse caso os filhos de Jared. E
quanto a Landon? Ele é um bom homem, não faça a mesma besteira que
Miranda fez. — Eric está sem graça, e não olhou para mim nenhuma vez, mas
ele já observou todo o escritório.
— Eu e Landon tivemos uma discussão e então terminamos o noivado,
ele foi embora e eu fiquei e descobri que estava grávida. Ele voltou,
esclareceu as coisas e foi embora de novo. Eu nunca o mandei embora. Ele foi
sozinho, como sempre. Na minha vida ou as pessoas morrem ou elas vão
embora. E não os culpo por isso, eu não sou uma pessoa fácil. E eu teria feito
o mesmo pelas pessoas que amo. — Eric me olha nos olhos pela primeira vez.
— Por muito tempo eu quis partir como todos fizeram e, no entanto, agora só
eu fiquei.
— Isso não é verdade, Charlotte. Estamos aqui, com você. Sei que
muitos partiram, foi assim comigo também, a diferença é que eu já vivi muito
mais que você e aprendi que um dia todos partem e que nem sempre é como
nós pensamos. Eu só não quero que aconteça com você o que aconteceu com
Jared. — Eric aperta minha mão que estava sobre a mesa. — Ligue para ele.
— E dito isso ele sai do escritório.
Minha cabeça está pesando tanto que penso que ela vai sair rolando dos
meus ombros a qualquer momento.
Disco o número de Landon e espero começar a tocar. Toca cinco vezes
e ele não atende, tento mais uma vez e nada.
— Não sei o que você está fazendo, mas espero que não seja nada que
faça você levar outro soco meu. Bem, só estou ligando para desejar um ano
novo repleto de paz, alegria e realizações. Mande um abraço para os seus
pais. E Landon… Eu não odeio você… Não completamente.
Desligo o telefone e, depois de olhar mais uma vez as fotos sobre a
mesa, saio do escritório.
Dez minutos para acabar o ano… Já começo a pensar no que irei pedir
esse ano. Alice, Alec e Aria estão ao meu redor, estamos todos esperando dar
meia noite para vermos os fogos e comemorarmos.
Os minutos passam e finalmente falta cinquenta e oito segundos para o
novo ano… E dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois… Um!
Terminamos nossa contagem, gritamos em comemoração.
Eu peço paz, amor, felicidade, alegria, esperança, perseverança,
amizade, lealdade, confiança…
Eu peço que o novo ano tenha todos esses sentimentos, que minha
família continue unida, que sejamos mais próximos a cada dia e que possamos
colar os pedaços quebrados.
Abraço as crianças e cada uma das pessoas aqui, a mais difícil e ao
mesmo tempo mais fácil de abraçar é Miranda. Nós nos abraçamos e
choramos uma nos braços da outra. Prometemos que nesse novo ano seriamos
como nos anos anteriores, onde nada ficaria entre a nós duas.
— Mãe? Quero que me prometa algo. — Alice aparece ao meu lado,
envergonhada pelo pedido que quer fazer, Miranda sorri e se afasta.
— Diga e vou ver o que posso fazer. — Sorrio para ela, que continua
nervosa.
— Pode prometer de novo que só vai morrer quando nós estivermos
grandes e não precisarmos tanto de você?
— Eu não prevejo o futuro, mas pretendo cumprir, se o destino não
tiver outros planos. Mas por que isso agora? — Alice está com os olhos
cheios de lágrimas.
— Porque sempre vamos precisar de você e assim vou saber que nunca
vamos te perder. — Alice está esperando por algo que eu diga e confirme sua
ideia, mas tudo que posso fazer é abraçá-la.
Se em um futuro próximo eu não puder estar aqui, sei que terei os
deixado com as melhores pessoas do mundo.
Meu corpo dói, tudo dói. Mas a sensação de frio passou. Sinto uma
mão quente se enrolar em meu pulso e uma sensação de alivio corre por mim.
— Charlotte! Charlotte? Por favor, acorde. — Uma voz conhecida
grita comigo, mas não consigo abrir os olhos, nem responder.
O ar falta em meus pulmões e alguém pede que a pessoa de afaste.
— Charlotte! Você não pode me deixar… — A pessoa chora
desesperada.
Eu quero ir… Deixe-me ir… É tudo que minha mente grita, mas meu
coração grita diferente.
E nesse momento eu reconheço a voz me chamando. É Landon Cass.
Capítulo 28
Quando voltamos para casa, Marc está no sofá com o rosto bem
machucado, Miranda o manda sair, mas ele permanece firme em querer
explicar o que aconteceu. Miranda olha com nojo para ele e depois sobe para
seu quarto.
— Bom, eu vou subir também — digo sorrindo para Marc.
— Você também não vai me ouvir? — Marc se senta no sofá e olha
para o teto. — Eu não iria machucá-la, Char.
— Olivia conversou com ela… E sabemos que esse não foi o primeiro
beijo de vocês. E o que pesou em Miranda foi que você deixou Olivia por ela
e, no entanto, não resistiu ao que aconteceu hoje. Não estou te culpando, mas
se quer uma visão geral disso tudo… Miranda finalmente abriu mão de você,
Marc, então se realmente a quer de volta, mexa-se! — Brinco com ele sobre
não sujar meu sofá de sangue e depois subo as escadas.
Eu preciso descansar meus pés, estão tão inchados hoje… E eu quero
um banho também.
— O que você faz aqui? — Landon está sentando-se aos pés da minha
cama.
— Esperando por você. Eu estou de volta e estamos casados. Vim
cumprir meus deveres e, claro, ver minha filha e a mãe dela. — Ele me dá seu
sorriso galã da faculdade.
— Em primeiro lugar, eu disse pra você não entrar. Segundo, estando
casado comigo ou não, você não vai morar aqui. Terceiro, quer ver sua filha?
Espere o próximo ultrassom ou quando ela nascer. Agora sai do meu quarto
— digo cruzando os braços, o que chama a atenção de Landon para meus
seios, que estão maiores. — Está olhando o que, seu tarado?
— Nada que eu já não tenha visto…
— Eu não diria isso, você pode ter gerado um filho de primeira, mas
não sei se deu tempo pra eternizar alguma coisa. Sabe, você é bem pendente
em alguns…
— Eu posso reparar isso, e posso demorar muito tempo…
— Não, você não pode — digo colocando a mão em seu peito para
pará-lo. — Mas você pode ir embora. Eu preciso descansar.
— Eu posso te fazer uma massagem — Landon diz com voz sedosa.
— Isso foi golpe baixo! Mas ainda assim, é não. — Dou a volta nele e
me deito na cama. Meus pés não aguentam mais. Landon deve ter visto isso
como um convite, pois se deita ao meu lado e coloca sua cabeça encostada em
minha barriga e nossa filha chuta com força.
— Eu estou aqui. — Landon ergue a cabeça para olhar para mim. —
Ela vai puxar você, eu não tenho dúvidas quanto a isso.
— Sorte a dela. Agora, você pode ir embora? — É sério que ele vai
passar meses longe e agora chegar e deitar na minha cama? Ou invadir meu
espaço? Não mesmo! Não posso negar que nossa discussão mexeu com meus
hormônios, mas é só isso.
— Está bem, não quero você nervosa, eu vou dormir no Marc, mas
passar o dia aqui. Vou esperar as crianças chegarem lá na sala. — Landon
beija minha barriga e se levanta.
— Eles cresceram nos últimos meses… — Landon assente com olhos
marejados e sai do quarto.
Suspiro cansada. Miranda está trancada no quarto, Marc e Landon
voltaram a trilhar o mesmo caminho, eu estou com dor nos pés e minha filha
não para de chutar, alguém também está chateada.
À noite, Miranda decide ficar no quarto, para tristeza de Marc. Landon
está aqui e conheceu Sam, Denise e Elisa. Ethan está aqui também. Alice,
Alec e Aria ficaram muito felizes por encontrar Landon e por saber que ele
veio para ficar.
Por mais que ele repita que veio para ficar, algo na visita que Marine
me fez há não muito tempo me faz duvidar disso. Claro que é um motivo
nobre, mas ainda assim…
— Temos uma novidade! — Sam se coloca de pé, assustando-me. — É
com muito orgulho que viemos contar que a família vai aumentar!
Em um primeiro momento ninguém se mexe ou respira, mais um bebê
na família, isso é maravilhoso!
— Parabéns! Sam, Denise, estou muito feliz pela notícia. — Abraço
um de cada vez e aos poucos os outros fazem o mesmo. Caminho até Elisa. —
Parabéns, meu amor! — Elisa me abraça e diz o quanto está feliz com tudo.
Brindamos e comemoramos, por fim Miranda desce para dar os
parabéns a Sam e Denise, mas logo sobe de novo.
— Ele é mais bonito do que eu pensei. — Sam esbarra em mim e fico
sem entender do que se trata.
— De quem você está falando? — O sono em mim é tanto que não
estou mais acompanhando a conversa.
— Landon, quem mais? — Esqueci que Sam não o conhecia
pessoalmente. — Você só namora pediatras? Isso é meio estranho.
— Estranho é você ficar encarando e piscando para ele. Parece até que
se apaixonou. — Sam fica sério e eu começo a rir, até que ele entra na
brincadeira.
Dou a noite por encerrada e caminho para meu quarto que fica depois
dessa escada enorme. Isso está me cansando só de olhar, mas bravamente eu
subo degrau por degrau e me jogo em minha cama maravilhosa.
Hoje o dia foi longo, cheio de surpresas, mas agora eu quero dormir e
descansar, mesmo que minha filha tenha outros planos…
Um mês depois…
Nem acredito que o tempo está passando tão rápido! Daqui a três dias
Alec completa nove anos e será a primeira vez que estarei na festa não como
tia ou madrinha, mas como mãe. Eu pensei que Landon não estaria aqui para
a comemoração, mas ele voltou há alguns dias…
Fizemos tudo escondido para ser uma grande surpresa. Convidei os
meninos do handebol, da escola e também os filhos dos advogados da
empresa.
O tema será dos Transformers, já que Alec anda assistindo muito esses
filmes. Meu favorito é o Bumblebee e o de Alec é Optimus prime, por isso os
dois estarão em tamanho real na sala. Foi trabalhoso montar tudo nesse tema,
mas vai valer à pena, ainda mais que com esse barrigão eu não tenho muito
para fazer.
Comprei uma bicicleta de presente para ele, espero poder ensiná-lo a
andar nela, mas isso, claro, só depois que minha filha nascer, porque com essa
barriga é impossível.
Observo Marc entrar sorrateiro pela cozinha com uma caixa não muito
grande, e sinto uma vontade imensa de comer fruta do conde, não sei por que,
acho que nem é época dessa fruta.
— O que você está escondendo? — Marc não deve ter me visto, pois
leva um susto e quase derruba a caixa que está trazendo.
— Que susto! Eu trouxe bolacha confeitada, a mãe de Sam que
mandou para você. Pelo que entendi, você é fã das bolachas dela, embora eu
nunca tenha visto uma ligação de amizade muito forte entre você e Olivia. —
Marc me entrega a caixa e se senta ao meu lado.
— Bom, eu e Olivia fomos “conhecidas” até ela virar minha secretária.
Já a relação com Sam é diferente e você deve ter notado… É por isso que a
mãe deles sabe sobre minha paixão por suas bolachas. Sam era o melhor
amigo do meu irmão. — Penso sobre isso, Olivia e eu fomos colegas até vir
trabalhar comigo, mas Sam e eu sempre fomos amigos e ele sempre trazia as
bolachas para mim. Como uma com confete roxo, está maravilhosa como
sempre.
— Eu vou pegar a decoração com Landon e levar para a casa dele, lá
não tem perigo de Alec ver. E então daqui três dias montamos tudo. — Marc
espera uma resposta minha, mas estou ocupada demais comendo minhas
bolachas confeitadas.
O problema com o bolo foi resolvido com sucesso! Nada que mais
glacê não resolvesse, ficou… com um toque único.
Todos nos escondemos e esperamos ele entrar. Alec fala com Marc e
Landon, quando entra e me chama a plenos pulmões.
— Maaaaaaãe! Mamãaaaaae! Cadê minha mãe? — Alec diz agora
preocupado.
Miranda entra na sala com o bolo e todos começamos a bater palmas e a
cantar “parabéns para você”. Alec abre um sorriso enorme e observa todos
que estão ao seu redor. As luzes são acessas e as cortinas abertas, então ele vê
a decoração e seus olhos brilham de alegria. O problema é que com a
confusão do bolo, Miranda entra na mesma hora que eles e o parabéns
começa a ser cantado e fico para trás, lambendo o glacê. Miranda coloca o
bolo em cima da mesa e depois dá um forte abraço em Alec, seguido de Eric e
Mônica, depois de seus amiguinhos. Assisto tudo da porta da cozinha porque
estou cheia de glacê.
Alec recebe as felicitações de todos e, quando as crianças se dirigem
para a mesa, Alec permanece onde está. Alice vai servir Aria e Elisa vai junto,
mas ele continua ali, parado, olhando para todas as formas de se chegar à sala.
— Está tudo bem, Alec? — Miranda soa preocupada com ele. Estou
toda melecada de glacê e não queria perder a entrada dele, assim que vejo
Miranda se aproximar de Alec, corro para lavar as mãos e os braços, assim
como o meu queixo.
— Onde ela está? — Ouço um Alec desesperado perguntar. — Cadê a
minha mãe? — Minha blusa fica presa na porta do armário da pia. Eu deveria
estar lá conversando com ele.
— Meu amor, sua mãe está descansando…
— Ela está lá em cima então? — Alec soa esperançoso.
— Não, Alec, ela está…
— Acho que não é a essa mãe que ele se refere, Miranda — Landon
diz a ela.
— Sua mãe está na cozinha, Alec. — É a vez de Ethan falar.
Sou eu que Alec está procurando? Eu não pensei que ele notaria, foi
tudo tão rápido e ele estava tão impressionado…
— Mamãe? — Alec soluça na porta da cozinha.
— Estou aqui, meu amor. — Alec levanta os olhos ao ouvir minha voz.
— Desculpe, eu estou presa. — Faço sinal para a lateral de minha blusa que
não sei onde trancou. Ele corre até mim e me abraça forte, pressionando a
cabeça em minha barriga.
Landon dá a volta em nós e com um pouco de trabalho consegue
destrancar minha blusa. Agradeço a ele com um sorriso.
Então afasto Alec um pouco de mim, que me olha um tanto apavorado.
Não posso me ajoelhar com essa barriga enorme, então puxo a cadeira
próxima de mim e me sento, depois puxo Alec de volta para meus braços, o
que ele aceita sem pensar duas vezes.
— Está tudo bem, meu amor. Desculpe não ter estado lá quando você
entrou, mas estou aqui agora. — Alec soluça em meus braços e sinto suas
lágrimas molharem meu pescoço.
— Pensei que você tivesse ido embora também.
— Eu não vou a lugar algum, a menos é claro que você queira. —
Seguro seu rosto em minhas mãos. — Estou aqui, foi só um mal-entendido.
Vamos comer bolo? E tem aqueles docinhos que você ama! E seu bolo é dos
Transformers.
— Você não vai embora? — ele diz desconfiado.
— Eu não vou a lugar algum, prometo! Mas vou precisar limpar o
rosto e o cabelo que pelo visto ainda têm glacê — digo passando o dedo em
sua sobrancelha com glacê e mostro a ele.
— Tem glacê no seu cabelo… Eu vou, mas você vai vir rapidinho?
— Sim, estou logo atrás de você! — Alec me abraça mais uma vez, diz
que me ama e faz seu caminho para porta, mas não sem antes me olhar mais
uma vez.
Lágrimas caem por meu rosto, segurei até ele sair, agora elas estão
implacáveis, e me sinto como uma cachoeira de lágrimas. Landon se ajoelha a
minha frente e me puxa para ele, eu o abraço e choro.
— Estou suja de glacê — digo chorosa.
— Não tem problema. Está pronta para se limpar? — Faço que sim e
Landon me ajuda a levantar, depois caminhamos até o banheiro e com
delicadeza Landon limpa meu cabelo na pia e depois passa uma toalha
molhada em meu rosto.
— Obrigada.
— Eu te amo com glacê e tudo. — Reviro os olhos para não perder a
esportiva.
Entramos na sala e Alec traz um prato cheio de salgadinho para mim,
seguido de Aria com um prato cheio de docinhos. Sento-me ao lado de Eric
na outra mesa e com muito esforço faço Alec ir brincar com seus amigos.
Muitos de seus amigos olham para mim e sorriem, então olham para Miranda
e fazem a mesma coisa.
— É, parece que vocês duas fisgaram muitos corações essa tarde —
Eric diz sorrindo e fazendo os homens na mesa torcerem o nariz.
— Isso é porque eles não nos viram em um dia ruim — Miranda diz
debochada.
— Eu vi e ainda estou aqui, assim como Landon — Marc diz jogando
um guardanapo nela. Eu só faço revirar os olhos e mandar um beijo para
Alec, mas o amiguinho dele deve ter pensando que o beijo foi para ele, pois
caiu do banco, dando um susto em Mônica.
— Você não pode dar esperanças a um homem e depois tirá-la dessa
forma — diz Landon, sentando-se ao meu lado.
— É mesmo? Então me diga… cadê este tal homem? Não estou vendo.
— Sorrio para ele de forma inocente.
— Eu posso mostrar mais tarde… — Landon diz em meu ouvido.
— Eu não sei se me lembro bem, mas… creio que tem alguém
impossibilitado por hoje… O que é uma pena. — Pisco sorrindo para ele, que
só faz estreitar os olhos e quando se aproxima de minha orelha novamente…
— Landon! Não lambe a orelha da minha mãe! — Alec diz irritado e
acaba derrubando o livro que ganhou no colo de Landon, deixando-o lívido.
Todos riem, até que Marc sai correndo para pegar mais gelo, Alec
começa a pedir desculpa e no meio disso tudo eu ainda estou gargalhando. O
que, claro, chama a atenção de todos para mim.
— O quê? Não seria um aniversário nessa família sem um pouco de
drama! — digo dando de ombros
As crianças estão alheias a tudo enquanto nós começamos uma nova
discussão. Alec está feliz e aproveitando seu aniversário. É isso que importa,
e Landon? Bom, vamos dizer que é bom eu ficar longe dele por uns dias…
Ou não.
Capítulo 30
Estou tendo um sonho tão bom, e quando finalmente chega a uma parte
em que a Charlotte do sonho tanto esperava… Sinto algo pular em minha
cama e parece ser mais de um… Com um pouco de preguiça abro os olhos,
encontrando dois pares de olhos cinza e um de olhos azuis me observando.
— Feliz aniversário, mamãe! — dizem meus filhos sorrindo e brigando
para ver quem vai me abraçar primeiro.
— Cuidado com a barriga da mãe de vocês — Miranda avisa e quando
os três se afastam ela me abraça apertado. — Feliz Aniversário, minha amiga-
irmã.
— Isso não foi justo, tia! — reclama Alice.
— Pronto! Ela é toda de vocês agora. — Miranda se afasta e Aria é a
próxima a me abraçar, depois Alec e finalmente Alice.
— Mãe, nós te amamos, e por isso resolvemos fazer o seu presente de
aniversário. Marc ajudou — Alice diz o nome dos três, Alec e Aria chamam
Marc na porta, ele entra com um quadro, eu acho, e deve ter um metro de
altura. Ele pede para Miranda segurar enquanto vem me abraçar.
— Feliz aniversário! E levante-se pra abrir o presente! — Estreito os
olhos para ele que me ajuda a levantar. Marc e eu somos uma dupla e tanto.
Miranda traz o presente para mais perto de onde estou e com cuidado
começo a rasgar o pacote, posso observar que meus filhos estão nervosos e
ansiosos. Quando finalmente consigo rasgar a parte de cima, dou um puxão
forte arrancando boa parte do embrulho e fico boquiaberta com o que ganhei.
É lindo! E deve ter sido trabalhoso. Por um momento não consigo dizer
nada, só observar o que tem a minha frente.
É uma foto muito antiga, e quem tirou foi Miranda, ela me deu a
original e ficou com uma cópia, mas faz anos que não vejo mais essa foto… E
agora que estou aqui diante dessa imagem novamente quase posso sentir a
alegria daquele dia… O vento no meu cabelo e o cheiro de grama…
— Mãe? Não gostou? — Alice pergunta em dúvida.
— Eu falei que deveríamos ter comprado algo! — Alec diz chateado.
— Mãe, não chora não! — Aria fala colocando a mão em minha perna.
— Eu… é… lindo. Eu amei de verdade. Obrigada! Vocês são
maravilhosos! Está incrível. — Aria se coloca a minha frente, Alice senta-se
do meu outro lado e Alec se senta do lado que Aria deixou para ele.
 nossa frente está um quebra-cabeça de um metro, e a imagem? Bem,
nela eu estou com os cabelos voando ao meu redor, com minha câmera na
mão batendo fotos, atrás de mim estão Jared e Ana abraçados, e Miranda foi
quem tirou a foto. Era na frente de casa e as flores de mamãe tinham aberto
para receber a primavera.
— Que bom, porque deu muito trabalho! — Marc diz suspirando. —
Aqui está o meu presente. — Ele me entrega uma caixa pequena, dentro tem
uma presilha em forma de borboleta, é daquelas que tem dentes longos para
prender ao cabelo.
— É lindo, Marc. Eu amo essas presilhas. — Miranda torce o nariz.
— Eu também trouxe um presente para você. — Ela me entrega uma
caixa de tamanho médio e um pouco pesada.
Alec abre espaço para que eu a coloque sobre a cama desfaço o laço e
dentro encontro uma placa que diz “A melhor mãe do mundo reside aqui”, um
livro da Jane Austen e por último uma presilha em forma de libélula.
— Eu amei cada presente, Mi. Obrigada! — Miranda se aproxima e me
abraça novamente.
Depois expulso todos do quarto, porque quem não precisa ir trabalhar,
precisa ir para a escola.
Quando eu desço, recebo mais presentes e abraços. Lena me dá um
lindo cachecol que ela mesma fez e devo dizer que eu amei! Tenho uma
coleção de cachecóis. De Eric ganho uma coleção de livros de fotografia que
saiu no mês passado. A mãe de Marc mandou presentes para mim, assim
como a de Landon.
— Isso é para você. — Mônica me entrega uma caixa linda feita de
madeira, onde eu encontro um barco dentro de uma garrafa e ali diz “existem
pessoas maravilhosas em todo o mundo, mas você raramente vai encontrá-las
duas vezes”. — Eu ganhei um desses da sua mãe quando Miranda nasceu
agora você também tem um, assim terá uma parte de nós duas para sempre
com você.
— Obrigada. — Lágrimas escorrem por meu rosto e Mônica me abraça
apertado. — Ela era fascinada por essas garrafas…
São sete e meia e para comemorar resolvemos fazer um jantar, ou
melhor eles resolveram, estou só de enfeite, já que não me deixam fazer nada.
Ethan acabou de sair, ele me entregou seu presente, mas não pôde ficar, está
acompanhando o progresso de um bebezinho recém-operado.
Estou tentando em vão alcançar minha sandália quando ouço alguém
bater na porta, mando entrar e continuo tentando.
— Feliz aniversário, Charlotte!… O que você está tentando fazer?
Entrar em trabalho de parto? — Landon diz colocando seu presente em cima
da cama e parando na minha frente.
— Não, mas não tem ninguém para me ajudar com a alça da sandália.
— Deixa que eu arrumo, então. — Landon se ajoelha na minha frente e,
como meu vestido é longo, ele entra embaixo dele, depois de alguns segundo
ele finalmente acerta fechar ambas as alças e para meu completo choque…
ele beija minha coxa.
— Seu tarado! — digo furiosa e, claro, ele trata de sair de perto de mim.
— Como você ousa?
— Eu estava perto demais para perder a oportunidade. — Landon dá de
ombros, inocentemente. Depois dá a volta por mim e me abraça por trás. —
Feliz aniversário! Espero que goste do presente. — Estreito os olhos para ele,
me afasto e pego a caixa que ele deixou sobre a cama.
É uma caixa de madeira escura, com entalhes antigos, dentro há uma
tiara muito bonita, e que também parece ser antiga. Ela é prata com folhas e
flores entrelaçadas com pedras incrustadas.
— É linda, Landon! Mas não posso aceitar, eu…
— Foi da minha bisavó, ela pediu que ficasse comigo até que eu
encontrasse a mulher que deveria usá-la e com toda certeza é você. A mãe da
minha filha, a mulher que virou minha vida de cabeça para baixo e que eu
amo. E não aceito devolução.
— Tem certeza de que quer que eu fique com ela? — Landon assente
com a cabeça e eu agradeço mais uma vez.
Depois descemos para jantar, que é calmo até demais…
São dez da manhã e aqui estou com meus três filhos quem além de
cheios de terra, estão muito contentes, o que é muito bom. Elisa se juntou a
nós, e os outros membros da família aos poucos vão chegando. Landon e
Marc viajaram na quinta à noite para visitarem suas mães e devem chegar
daqui a pouco para comemorarem comigo.
— Você está encantadora de mãe natureza — Ethan diz debochado.
Mostro o dedo do meio para ele, escondido das crianças é claro. — Eu trouxe
um presente para você. Quer ajuda pra levantar?
— O que você acha, babaca? — Rindo, Ethan me ajuda a levantar, lavo
as mãos na bacia com água ao meu lado, seco-as e pego o presente que ele
segura. É uma manta lilás pequena e uma manta vinho longa.
— Para o inverno, uma para você e outra para o bebê que está vindo —
ele diz com as mãos nos bolsos.
— Ah, Ethan! São lindas! Obrigada. Só não vou te abraçar porque estou
toda suja. Pode entregar para Mônica guardar para mim?
— É claro. — Ethan pega seus presentes e depois beija minha testa. —
Cuidado para eles não regarem seus pés — ele diz piscando para mim e
correndo antes que eu possa jogar areia nele.
É nesse momento que Landon aparece, ou melhor, é nesse momento
que eu o vejo parado me observando.
— Chegou cedo… — É tudo que consigo dizer.
— Pois é, mas de alguma maneira ele sempre chega antes de mim. O
que estão fazendo? — ele pergunta se aproximando e colocando a mão em
minha barriga, e nossa filha chuta ao sentir sua presença.
— Eu ganhei uma árvore das crianças, e ela é filha da árvore que tem na
frente da casa dos meus pais, então vamos plantá-la com o intuito de que
sempre nos lembraremos que esse foi meu presente de primeiro dia das mães.
Eu achei muito criativo. — Olho para Landon que está me observando de um
jeito diferente. — O que foi?
— Você está tão linda toda suja de terra… que eu quero muito te beijar.
— Estreito os olhos, já que, desde que eu machuquei certa parte dele, não
resisti a provocá-lo, mas pelo visto não é obra disso.
— Onde está meu presente? — pergunto para mudar de assunto.
— Está bem na sua frente — ele diz sedutor.
— Impossível! Só aceito se vier com um belo laço, senão, não vale —
digo dando as costas para ele.
— É porque eu tenho um plano — ele diz sorrateiro.
— É mesmo? E que plano é esse? — pergunto, agora preocupada com
suas ideias libidinosas.
— Só mais tarde! — ele diz beijando minha barriga e entrando em casa.
— Mãe, você acha que cavamos fundo o bastante? — Alec pergunta
curioso.
— Será que colocamos bastante terra? Talvez devêssemos ter colocado
vitamina para que ela cresça mais rápido — diz Alice pensativa.
— Eu acredito que está muito bom! Essa areia é bem escura. — É a vez
de Elisa dar seu ponto de vista.
Só Aria permanece em silêncio, ela olha de mim para a pequena árvore
e vice-versa, olha para o céu e depois de fechar os olhos por alguns minutos…
— Devemos pôr água, mas não muita. E mãe, como vai ser quando
ficar frio? Ela vai morrer? — Seus olhos cinza esperam ansiosos por uma
resposta positiva.
— Eu não entendo muito de flores, nem nada disso, minha área é
advocacia e fotografia. Mas, segundo a Mônica, o buraco foi feito no tamanho
certo, a terra é de ótima qualidade e só precisa colocar água na medida certa.
Não Aria, ela não vai morrer, vamos cuidar bem dela. Agora vamos todos
subir e tomar banho! Está quase na hora do almoço. — Eles ficam tristes por
terem que sair da sujeira em que estão, ganho um abraço de cada um e fico
mais suja ainda, mas fazer o quê? Marc é o último a chegar.
— Nossa! O que você está tentando fazer? Virar semente? — ele diz
sorrindo.
Dou de ombros inocentemente e quando ele se aproximou de mim,
passo as mãos sujas em seu rosto.
— Bem melhor! Ficou até mais bonito. — Marc estreita os olhos para
mim e só faço rir de sua cara mal-humorada. Ele e Miranda estão se
estranhando mais do que de costume.
Subo para tomar banho com Miranda atrás de mim, ela me ajuda a tirar
sutiã e a blusa, porque com minha barriga cada vez maior fica difícil fazer
coisas simples. Isso me lembra a saudade que estou de estar no escritório.
— Você devia tirar Landon do castigo, já o machucou o bastante. — Ela
tira sarro de mim.
— Você devia perdoar o Marc, dormir com ele e acabar com esse seu
mau humor, porque você também já o machucou fisicamente o bastante —
digo mostrando a língua para ela.
— Dormir com ele não é má ideia — ela diz pensativa.
— Sua tarada! Você e Landon deveriam ser irmãos! Só pensam nisso,
até parece que não tem outra coisa para fazer na vida…
— Uau! Alguém ficou chateada. Mas isso é algo muito importante,
sabia? — ela diz para me irritar.
— Não, não sabia. Agora voltando ao assunto Marc, eu o vi com um
sutiã seu ontem, um vermelho que eu te ajudei a escolher. Será que ele está
fazendo alguma simpatia? — Miranda fica vermelha de raiva.
— Como assim?! Aquele… Aquele… Imbecil.
Começo a rir e tomo meu banho, nada como irritar a melhor amiga para
nos sentirmos alegres. Nós podemos, outras pessoas não.
A casa está cheia, todas as mães já receberam seus presentes (eu dei
para Mônica uma coleção nova de jardinagem, para Lena uma coleção de
culinária e para Denise uma camiseta de melhor mãe. Eu sou péssima para
escolher presentes, eu sei).
Landon, Marc e Sam estão discutindo algo sobre política, Eric e Alec
discutem táticas de jogos, Alice, Aria e Elisa montam um quebra-cabeça de
castelo. As mulheres da casa estão todas reunidas na cozinha, penso que é
para experimentar alguma comida, já que tenho notado que estão sempre
juntas, mas não, estão assistindo um vídeo de um cara de sunga dançando.
— Que bonito! Mães de família assistindo essas coisas em pleno dia das
mães! — Todas se assustam, pois não me viram entrar.
— Eu sou solteira — Miranda diz sorridente.
— Vou fingir que acredito nisso! Eu estou com fome, tem alguma coisa
que eu possa experimentar? — Lena sorri e coloca em um prato um pedaço de
torta de legumes. Elas voltam a assistir ao vídeo e eu começo a comer.
Vinte minutos depois estamos todos sentados à mesa, comendo, e você
esperaria que estaríamos todos em silencio, mas é muito diferente, estão todos
falando ao mesmo tempo e um termina a frase do outro.
Alec rouba beterraba do meu prato e Aria pega os bolinhos de arroz,
Alice está me observando e faço sinal para ela pegar o que quer, o que era a
banana empanada. Sendo assim, volto a encher meu prato.
O restante do almoço continua assim, um interrompe o outro, ou
termina a linha de raciocínio, espero ansiosa a sobremesa que não me
decepciona e como tudo que contém chocolate.
Eric e Mônica resolvem ir descansar, assim como Lena. As crianças,
junto com Marc, Sam e Denise fazem um acampamento na sala para ver
filmes.
— Eu preciso ir, vou viajar amanhã cedo e quero dormir um pouco.
Você sabe como eu fico tenso antes de viajar, e tem a cirurgia que vou fazer
depois de amanhã. Estava tudo ótimo, Char. — Ethan sorri e observa a
bagunça na sala.
— Obrigada por ter vindo, sei que está cansado. Boa viagem e venha
me ver assim que chegar. Vai dar tudo certo na cirurgia, você é incrível e sabe
o que está fazendo. — Puxo-o para um abraço, que ele aceita.
— Obrigado por ainda ter fé em mim.
— É isso que as pessoas que se importam fazem. Bom descanso. Se
precisar conversar, é só me ligar. — Beijo seu rosto e, depois de dar tchau
para todos, Ethan vai embora.
Fico observando-o entrar no carro e depois se afastar do meio fio, Ethan
continua bonito e muito simpático, ele vai encontrar alguém que valha a pena
em breve, sei que vai.
— Pronta para o seu presente? — Landon pergunta em meu ouvido, me
assustando.
— Você não vai me enganar. Sei muito bem dos seus planos libidinosos,
Doutor Tarado. — Cruzo os braços na frente do peito, que, devo dizer, estão
enormes.
E hoje é dia de… mais aniversário! Chegou o dia de Alice e por isso
quem vai entretê-la serei eu. Comprei uma sapatilha roxa e outra verde para
ela de presente. Caminho devagar até seu quarto e abro a porta com cuidado,
depois me sento ao seu lado na cama.
Alice se parece muito comigo, mas o nariz é de Ana, algo que só noto
agora, seu cabelo é do tom do meu e tem algumas sardas aparecendo sobre o
nariz, mas são bem clarinhas.
— Bom dia, minha bailarina! — Beijo sua testa e Alice abre os olhos e
sorri para mim. — Feliz aniversário! E você tem dois presentes para abrir,
antes que seus irmãos apareçam — digo piscando para ela.
Alice se senta na cama e me abraça apertado, ou melhor, o máximo que
ela consegue com minha barriga no caminho, depois pega os embrulhos e os
abre com cuidado. Então vê as duas sapatilhas e seus olhos brilham de alegria.
— São lindas, mamãe! Não vejo a hora de poder usá-las. Clara ia ficar
apaixonada. Eu sinto falta dela, e a senhora tinha razão, Elisa tem seu próprio
lugar em meu coração, assim como a Clara sempre vai ter. — Coloco seu
cabelo atrás da orelha e sorrio para ela.
— Na maioria das vezes as mães acertam, mas não é sempre. — Ela me
abraça novamente e então o quarto se enche de pessoas, Aria pula entre nós
duas e Alice a recebe sorrindo, Alec beija minha barriga e depois se joga em
cima das irmãs. Deixo os três no emaranhado deles e os observo da porta.
Miranda passa por mim sorrindo e, depois de beijar Alice e parabenizá-
la, deixa que eles voltem a se aglomerar novamente.
— Eu lembro quando éramos assim… Um tempo muito bom… — ela
diz pensativa.
— Quando era assim? Até hoje você invade meu quarto e se joga em
cima de mim! — Ela me abraça apertado e saímos do quarto.
— Você já sabe onde vai levá-la? — Miranda pergunta ainda grudada
em mim.
— Sim, eu sei. Ela vai gostar, vou pegá-la depois da escola e voltamos
às quatro da tarde como o combinado, Elisa vai junto. — Miranda assente
com a cabeça e garante que vai cuidar de tudo.
— A temática é bailarina, disso eu entendo! — ela diz pulando de
alegria. Essa é a Miranda que eu conheço.
Meia hora depois, Marc leva Alice, Alec, Aria e Elisa para a escola,
enquanto eu, Miranda, Mônica e Lucia começamos a trazer a decoração.
Bom, elas trazem, eu só organizo.
Meio dia, Marc e eu pegamos os quatro na escola, depois ele nos deixa
no shopping (não sou muito fã de compras, mas…) e leva Alec para casa.
— Bem, por onde vamos começar? — pergunto para as duas.
— Sutiãs e vestidos? — Elisa diz entusiasmada.
— Eu quero um collant e um tutu mãe — Alice diz sorridente.
Assim, saímos pelo shopping atrás de tudo que elas lembram que
querem, depois de comprar sutiãs resolvemos que é hora de almoçar e elas
decidem que querem pizza.
Fazemos nossos pedidos e nos sentamos em uma mesa no canto.
— Mãe, posso fazer uma pergunta? Sobre meninos. — Alice está sem
jeito e com as bochechas coradas, assim como Elisa.
— Bom, eu não sou um gênio nessa questão, mas se eu puder ajudar é
só perguntar. — Vou tentar ser um pouco mais romântica, não que eu não
seja, é claro.
— Por isso queremos falar com você, tia, porque a tia Miranda é
muito… romântica? Já você é mais simples nisso tudo. — Elisa acha minha
relação com homens simples? Eu me considero uma mina esquecida no
deserto. Faço sinal para elas perguntarem à vontade.
— Tem um menino na minha sala, ele se chama Eric, como o vovô, mas
ele é muito… arrogante. Ele disse que eu era bonita e perguntou se eu iria
querer fazer o trabalho com ele, mas minha dupla é a Elisa e eu disse não,
então ele falou que meu cabelo é de bruxa e que sou estranha. Mãe, ele gosta
de mim? — Minha vontade é de descobrir o telefone do pai dessa criança e ter
uma longa conversar com ele! Onde já se viu? Onde esse pirralho pensa que
vive?
— Não, ele não gosta de você, na verdade ele é idiota, por isso não dê
importância para ele, Alice. O garoto certo deve estar mais perto do que você
imagina e uma hora ele sai da casa dele. Eu vou dizer algo e quero que as
duas prestem muita atenção. Homens não são melhores do que nós mulheres,
são iguais, por isso não aceitem menos do que serem bem tratadas. Mulheres
merecem respeito e ponto final, e qualquer um que não faça isso não merece
nem bom dia. E nisso sua tia Miranda vai concordar comigo, na verdade ela
diria até mais coisas, mas essa será uma conversa para outro dia, por enquanto
basta ignorar.
— Eu passei por algo igual na minha outra escola, mas minha mãe disse
que isso é algo bom — Elisa diz com os olhos cheios de lágrimas. Essa
mulher é idiota?
— Elisa, tem mulheres que não sabem como é ser bem tratada, e por
isso esquecem que elas merecem respeito mesmo assim. Existem homens
ruins e os bons em todo lugar, mas isso não os torna os reis do mundo e nós
temos, sim, que impor respeito. Mulher nasceu para estar e trabalhar onde ela
quiser. Por isso, não aceite menos de ninguém, você é linda, é simpática,
inteligente e a pessoa certa vai ver isso. E quanto aos outros? Se eles não
respeitam quem dizem amar, como vão respeitar aqueles ao seu redor? Mas
não se preocupe, você tem muitas mulheres fortes na família e logo vai
entender melhor o que estou dizendo. — Ambas assentem com a cabeça e as
pizzas chegam.
Comemos e conversamos sobre livros, eu tenho lido bastante e elas
falam sobre balé, isso é bom, saímos da nevoa tenebrosa que se alojou em
nossas cabeças alguns minutos atrás.
Voltamos às compras e às quatro horas Landon me liga avisando que
será ele a vir nos buscar, sendo assim nos dirigimos até o estacionamento,
onde ele nos espera.
— Eu precisei vir ao shopping também. Olá, meninas. Feliz aniversário,
Alice! Eu fui te dar os parabéns, mas você tinha saído para uma tarde das
meninas. — Ele se abaixa e ganha um abraço de ambas, que parecem bem
derretidas.
— Oi, Landon, e obrigada por nos dar uma carona. Agora entrem no
carro e coloquem o cinto. — Landon abre a porta para mim e me ajuda com o
cinto, depois verifica as meninas e só então entra no carro.
A casa está o maior silêncio e tudo fechado, quando abro a porta com
Alice à minha frente, Alec e Aria aparecem no centro da sala e todos cantam
parabéns, a casa está cheia de suas amigas e da família, ela vira e me abraça
apertado, depois abraça os irmãos.
Landon está cheio de sacolas atrás de mim e Marc vem ajudá-lo, e os
dois sobem as escadas com as sacolas que peço para serem colocadas no meu
quarto.
— E então? — Miranda diz batendo o quadril no meu.
— Foi bom, rimos bastante, mas temos um problema chamado
“meninos”. — E com isso dito resolvemos que em breve teremos uma longa
conversa com as duas.
Recebo muitos elogios das amigas de Alice, assim como Miranda, que
se senta com elas e dá dicas de maquiagem, roupas e, claro, meninos.
Encontro Alice parada no meio da cozinha, com um copo de
refrigerante na mão.
— Algum problema? — Ela se vira assustada e faz que não com a
cabeça.
— Você pode me contar tudo o que quiser, e eu sei que tem algo errado,
meu amor. — Alice tenta negar, mas acaba desistindo.
— Eu estava pensando na minha mãe, eu não quero esquecer ela, mas…
É como se fosse isso que está acontecendo. — Abro os braços e ela corre até
mim.
— Você nunca vai se esquecer dela, eu prometo isso. Agora vamos
comemorar porque é isso que ela iria querer. — Alice me abraça apertado e,
depois de chorar um pouco, ela abre um lindo sorriso e me oferece o primeiro
pedaço de bolo.
Saímos da cozinha e a ajudo a cortar o bolo, recebo o primeiro pedaço e
depois me sento ao lado de Aria.
— Você não quer bolo? Está uma delícia.
— Não, eu comi muito docinho, vou deixar para mais tarde — ela diz
pensativa. — Mãe, posso pedir uma coisa? — Estou realmente começando a
ficar preocupada com esses começos de frase.
— Claro que sim. — Ofereço bolo para ela que sacode a cabeça em
negação.
— Podemos fazer minha festa à fantasia? E pode não ser aqui? — Eu
não tinha pensado nessa possibilidade, mas é uma ótima ideia.
— É claro que podemos! É uma ótima ideia, meu amor — digo
puxando-a para o meu colo.
Aria acaba dormindo e eu peço mais bolo, Alec está em uma discussão
séria com Elisa e Alice está contando algo sobre a nossa ida à praia de muito
tempo atrás.
— Eu beijei o Marc e agora estou com raiva, o quão insano isso é? —
Miranda diz desabando ao meu lado.
— É muito insano, mas se tratando dessa família, bem normal. — E
assim nós enceramos o aniversário de Alice que dura até bem tarde, o que
significa que vai até as nove da noite…
Retiro o que eu disse sobre um aniversario à fantasia ser uma boa ideia!
Nada me serve e eu não gosto muito disso, mas… ser mãe é isso.
Alice e Elisa serão bailarinas, Aria é uma abelha. Por que, eu não sei.
Alec será o capitão América. Eric e Mônica são o casal dos Flintstones, Marc
é o Superman, Landon eu ainda não sei. Denise é bailarina também, Sam está
de Hulk (passei duas horas ajudando Denise a deixá-lo verde) e Miranda… é
o capeta, mentira, é um anjo, só que a cor é vermelha e não branca.
Acordei Aria com muitos beijos e cosquinhas, mas isso não diminuiu
sua alegria em ter uma festa à fantasia. Alice e Alec estão muito empolgados
também.
Sabe o que ela me disse?
— Mamãe, você vai ser uma linda mulher maravilha! E eu gostei muito
do presente. — Dei para Aria um jogo de quebra-cabeça com castelos de todo
o mundo.
— Nem pensar! Eu serei um feijão, já decidi! — falo beijando sua testa
e deixando que os irmãos a mimem um pouco.
Prefiro me arrumar diretamente na casa de Landon, porque, sim, a festa
será aqui. Estou começando a tirar a blusa quando ele entra.
— Você não fez isso! Ele é meu herói favorito da DC! Isso não é justo!
— digo jogando um travesseiro nele.
— Eu sou o Batman, todo mundo gosta dele! Menos o Marc, mas ele é
louco — Landon diz transtornado. — E você? Qual sua fantasia? — Ele me
observa.
— Eu ainda não decidi, tenho duas opções, estou esperando Miranda
para vir me ajudar — brigo, batendo na mão dele que vai para ver o que tinha
sobre a cama.
— Landon, para fora! E eu ainda não acredito que você está fantasiado
de Batman e Marc de Superman. — Isso me deixou chateada também, mas
Miranda está em um elevado padrão de irritação com eles.
Landon sai do quarto e começamos nossa briga outra vez. Por fim,
decidimos que eu serei uma fada, meu vestido, sandália e tiara são verdes.
Colocamos presilhas pequenas de folhas no meu cabelo, Miranda faz minha
maquiagem verde, até orelhas arrebitadas eu tenho.
Quando terminamos, me olho no espelho e estou parecendo uma fada
mãe-natureza. Miranda diz que estou maravilhosa e minha filha parece
concordar já que está pulando em minha barriga.
— Obrigada — digo abraçando minha amiga emburrada. O dia no
escritório não foi fácil, sei que como estou longe tudo tem estado nas costas
dela e de Sam, não vejo a hora de voltar para equilibrar as coisas.
Assim que descemos, avisto Ethan entrar de Gavião Arqueiro e começo
a rir. Pelo menos ele não está acabando com as minhas fantasias.
— Você está incrível! — ele diz estendendo a mão para mim, que eu
aceito e ele me rodopia.
— Eu acho que eles regaram o meu pé — digo piscando para ele que ri
se lembrando que foi uma frase dele.
— Vou procurar a aniversariante. Eu trouxe um quebra-cabeças
especial, roubei do meu pai, é bem antigo. — Dou um beijo em seu rosto e o
deixo seguir seu caminho.
— Vou está linda de ninfa da natureza — Landon diz ao meu lado.
— Eu sou uma fada, uma fada mãe-natureza — digo irritada. —
Superman, será que você pode dar uma surra no Batman por mim? — Marc
sorri ao meu ouvir.
— Eu posso sim! — ele diz ao puxar uma das asas de Miranda.
— Mãe! Olha o que eu ganhei! Um quebra-cabeças antigo do tio Ethan.
Vai ficar junto com o que você me deu hoje. E mãe, você está tão linda! —
Aria diz abraçando minhas pernas.
— Você que é a abelha mais linda que eu já vi! — Aliso seus cabelos.
— Uau! Mãe, você está tão bonita! — Alec diz emocionado.
— Ah, você é que está lindo! Sabe como eu amo o Capitão América! —
Isso o faz sorrir de orelha a orelha.
— Mãe, você está maravilhosa! Eu gostei da maquiagem — Alice diz
passando a mão em minha barriga.
— Você está encantadora de bailarina com essa tiara de cisne. Eu
gostei. — Pisco para ela, que está muito feliz.
Depois de tantos elogios a mim, chega a vez de Miranda que está
prestes a dar um soco em Marc, mas as crianças o salvam a tempo.
A festa não está cheia como foram a de Alice e Alec, isso se deve ao
círculo pequeno que Aria tem, mas vai mudar em breve, logo ela fará novas
amizades.
Chega a hora do parabéns e Aria faz questão que eu esteja grudada ao
lado dela, e quero dizer realmente isso, porque é só eu ir para o lado que ela
me puxa de volta para ficar grudada nela. Aria apaga as velas e, juntas,
cortamos a primeira fatia de bolo que vai para mim e a segunda, para
Miranda.
Enquanto todos voltam a comer, eu aproveito para me sentar no sofá
que está vazio. Landon se senta ao meu lado e me entrega um prato com
doces e outro com salgadinhos que eu coloco no braço do sofá.
— Você está bem? — ele pergunta, observando-me.
— Eu aceito uma massagem nos pés. — Com um sorriso ele tira meu
sapato e começa a massagear meus pés inchados.
— Mãe? Você está bem? — Faço que sim com a cabeça. — Então por
que está fazendo esses sons? — Aria está realmente preocupada.
Abro os olhos, que não notei que estavam fechados, e avisto mais três
fadas e uma abelha atrás dela.
— Suas amigas vieram! Ah, é só dor nos pés, está tudo bem. Quer
sentar aqui comigo e com Landon? — Ela faz que sim com a cabeça e dou um
espaço para ela.
— Eu te amo, mamãe. Eu amo você também — ela diz para minha
barriga. Depois se ajeita ao meu lado e acaba pegando no sono.
— Ela está crescendo rápido e a fala está perfeita — Landon diz,
observando-nos.
— Ela nasceu pouco antes de Dakota, me lembro de vigiá-la quando
minha filha se foi, elas eram tão parecidas… — digo alisando o cabelo de
Aria. — E sim, ela está crescendo muito rápido.
Lembro de colocá-las juntas na cama e observá-las com Ana. Elas
seriam melhores amigas hoje e passariam por tudo juntas, mas a vida quis
diferente.
Volto a comer meus salgadinhos e vejo Miranda e Alice nos
observarem. Mando beijos para elas, que sorriem e voltam a conversar com
Elisa.
O tempo está passando rápido, e eles estão crescendo mais rápido ainda.
Alec agora tem nove anos, Alice, doze e Aria, cinco, cada um passando por
uma fase diferente.
Descobrindo o mundo do seu próprio jeito. E sempre juntos, eles podem
até tentar se afastar, mas não conseguem. Porque além de irmãos, eles são
amigos.
Às dez da noite já estão todos deitados, mas não consigo dormir, já virei
de um lado para o outro e nada de o sono vir, é quando ouço um barulho na
porta e depois Miranda aparece.
— Posso dormir aqui hoje? — Sorrio para ela e levanto a coberta.
Miranda entra e fecha a porta com cuidado, depois se deita ao meu lado e me
abraça do jeito que consegue. — Não vejo a hora de ver o rostinho dessa
menina linda! Será que ela vai se parecer com Landon? — Miranda pergunta
com a mão sobre minha barriga, minha filha chuta para mostrar que está
ouvindo.
— Eu não sei, vamos ter que esperar para ver. Que bom que você está
aqui, eu não estava conseguindo dormir. Estou preocupada com você Mi, e
com Marc também, os dois estão perdendo o brilho, e por quê? Orgulho?
Sejamos realistas, vocês tentaram andar separados, mas não conseguiram,
então não seria melhor tentar de novo? — Eu sei que minha relação com
Landon não é das mais fáceis, nós brigamos, nos “amamos” e depois
voltamos a nossas vidas, mas quem sabe em breve poderemos seguir juntos.
— Eu sei, mas… fizemos tanta besteira, Char, que agora isso pesa para
nós dois, ou talvez esteja pesando só para mim, eu não sei. Quando estou com
ele, é maravilhoso, mas ao mesmo tempo é como se eu estivesse sempre me
lembrando do que aconteceu, e querendo ou não afetou você e Landon.
Fomos nós dois que fizemos esse estrago em um relacionamento perfeito, fui
eu que estraguei tudo, por culpa de um idiota que nunca se importou
realmente comigo. — Coloco minha mão sobre a dela em minha barriga.
— Ainda dá pra concertar, Mi, sei que vocês podem fazer isso, mas se
chegar em um ponto que realmente não der mais, é melhor sentar com ele e
dizer que tem certeza que acabou. Eu vou estar do seu lado, não importa sua
escolha.
— Eu sei, e é isso que me dá esperanças de que tudo isso vai passar e
virá um tempo melhor.
Eu realmente espero por esse tempo melhor, porque, sinceramente? Já
estávamos enroladas o suficiente antes de tudo isso. Nenhuma de nós
procurou o amor, ele simplesmente caiu no nosso colo, e o quão raro é isso?
Foi uma segunda chance para nós quatro e nós erramos e acertamos, mas de
maneira alguma o amor nos tornou fracos, acredito que nos tornou muito mais
fortes e que com ele nós evoluímos muito mais.
Capítulo 32
Um mês depois…
Estou sentada na calçada desde que Landon esteve aqui mais cedo e
disse que precisa ir para a casa dos pais… Por causa de Marine. O bebê dela
nasceu há algumas semanas, é um menino. Richard foi o nome escolhido.
Nas últimas semanas eu e Landon estávamos entrando nos eixos, vamos
dizer assim, já conseguíamos sentar juntos no sofá sem brigar, e ele passava
quase todo o tempo falando com minha barriga, o que era até engraçado.
Mas agora ele se foi de novo… E eu estou aqui de novo, pensando em
quando vamos ter paz o bastante para poder respirar sem a sombra de nada
nos rondando.
— Mamãe? — Alice senta-se ao meu lado. — Ele vai voltar?
Puxo-a para perto de mim, Alice passa seus braços ao redor de minha
barriga e beijo sua cabeça, depois penso em uma resposta, e a resposta é sim,
Landon vai voltar. Ele não aguenta ver o tempo passar sem estar por perto.
— Sim, ele vai voltar em breve, eu prometo. — Alice assente com a
cabeça e me abraça mais forte.
— E se ele não voltar? — Alec pergunta triste na porta.
— Sente aqui. — Alec se senta do meu outro lado. — Ele vai voltar,
mas caso isso não aconteça, seremos nós seis e ponto. Chegamos até aqui sem
ele, não foi? — digo o abraçando também.
— Mas com ele ficou mais… divertido? — Aria diz aparecendo
também, faço sinal para ela se juntar a nós e ela se senta entre minhas pernas.
— Landon tem alguns problemas para resolver, mas mesmo que eu e
ele não nos acertemos, ele sempre será da família e nunca vai virar as costas
para vocês — digo, puxando-a para o abraço coletivo.
Estamos assim quando Sam vem buscá-los para ir a um jogo de
Handebol do ensino médio, me despeço deles e mais uma vez digo que vai
ficar tudo bem. Sam me dá um olhar chateado, beija minha testa e entra no
carro onde Elisa já está, ela manda beijos para mim e eu o retribuo.
Suspiro cansada, minha barriga está enorme e hoje não acordei num
espírito muito bom, tive outro sonho daqueles e acabei não dormindo o resto
da noite.
Levanto-me com um pouquinho de dificuldade ao mesmo tempo em
que Miranda encosta o carro no meio fio.
— Meus pais estão em casa? Você está bem? — ela diz ao sair do carro.
— Seu pai saiu com Marc para ver alguma coisa na clínica, sua mãe
está com Lena escolhendo uma receita de bolo de cenoura ou banana, e eu?
Estou… não sei, sinceramente, não sei como eu estou. — Miranda me abraça
apertado.
— Nós já enfrentamos coisa pior, não é mesmo? E estamos aqui. —
Assinto com a cabeça e entramos em casa.
Ethan ontem atendeu uma menininha que nasceu com uma falha no
coração, foi feita uma cirurgia e, quando ele passou pela porta de minha casa,
eu senti e pude comprovar que finalmente ele se perdoou.
Marc e Miranda estão em guerra constante. Olivia está saindo com
Jonas, culpa de Marc, e Miranda queria arrancar os olhos dele quando soube.
Mônica está cada dia mais forte e eu agora estou ajudando-a com o
jardim. Eric passa muito tempo com Alec em seus treinos de Handebol, Lena
e Aria estão sempre escolhendo receitas, Alice e Elisa estão treinando todo
dia para uma apresentação especial para Clara. Lucia, mãe de Marc chega
daqui a algumas semanas.
Por falar em Aria, ela não gagueja mais, a não ser que fique nervosa,
portanto ela ainda faz tratamento com a fonoaudióloga.
O cansaço está me vencendo, então aviso Miranda que vou dormir um
pouco, mas peço que ela não me deixe dormir demais.
E assim eu subo as escadas, mas ao invés de ir para meu quarto, vou
para o de minha filha, está tudo pronto esperando por ela, os tons de lilás com
roxo em toda a decoração… O guarda-roupa arrumado…
Está tudo pronto para sua chegada, daqui algumas semanas completo
nove meses, será parto normal, a não ser que algum exame nas próximas
semanas mude as coisas.
Finalmente vou para meu quarto e me deito em minha cama muito
confortável, meu celular apita indicando uma mensagem. É de Landon.
“Marine perdeu a cabeça, só isso explica a confusão que ela fez. Minha
mãe está em pânico. Eu te amo.”
Não estou triste pela razão que o fez ir, nem por ele ter ido, eu faria a
mesma coisa, mas é que hoje o dia não começou bem.
É como se eu pudesse sentir uma tempestade com raios e ventos fortes
chegando e não posso fazer nada para evitar.
Vou dormir para ver se quando eu acordar de novo tudo estará melhor.
Landon não voltou ainda, mas liga todos os dias, o problema que nem
todo dia estou disposta a conversar com ele, o que se tornou um problema
para Miranda e Marc.
Mônica saiu com Aria cedo para ir à fonoaudióloga, Alice e Alec estão
na escola. Em casa estamos eu, Ethan que veio me ajudar com as aulas de
respiração e Lena.
Essas aulas me fazem pensar em cachorros nadando, não sei por quê.
Ethan se esforça, mas até ele acha engraçado, porque é meio ridículo, mas diz
a enfermeira que me faz fazer esses exercícios que isso ajuda muito com as
contrações.
Estamos na sala agora e Ethan está massageando meus pés, o que eu
agradeço muito, já que eles se parecem com os pães crescidos que Lena faz.
— Eu quero dormir um pouco. — Levanto os pés do colo de Ethan.
Caminho para a escada e Ethan vem atrás de mim, e penso em como essa
escada é exaustiva.
— Você devia ter casado comigo, não com ele, e então você teria menos
dores nos pés! — Ethan diz sorrindo para mim.
Quando vou responder a campainha toca e Lena vem atender, reviro os
olhos para Ethan e espero. Para minha surpresa, é a polícia pedindo para falar
comigo.
Desço os dois degraus que havia subido e caminho até a porta.
— Posso ajudar? — pergunto ao policial que primeiro olha minha
barriga e depois para Ethan.
— Charlotte Evans? — confirmo e ele pede para entrar e depois pede
que eu me sente, não estou gostando nada disso, mas sento-me mesmo assim.
— Kalebe Manson fugiu do presídio e viemos avisar que estamos procurando
por ele, mas ainda assim é melhor tomar cuidado.
— Já tem alguma pista de onde ele possa estar? — Ethan conversa com
o policial enquanto eu estou em choque.
Kalebe fugiu… Ainda estou processando essa informação quando
Miranda entra porta adentro dizendo que já avisou a escola. Os três estão
discutindo sobre possíveis rotas e coisas assim quando Lena me entrega um
copo de água.
Eu sei para onde Kalebe vai… Ele virá atrás de mim.
A dor em meu peito é muito forte, saber que Mônica não poderia
sobreviver com o tiro que levou quebra o restante do meu coração.
— Onde está o documento, Charlotte? — Kalebe grita para mim.
— Na casa de praia, está na casa de praia — respondo sentindo-me fora
de meu corpo.
Kalebe fica em silêncio e penso em tudo que aconteceu nos últimos
meses. Jared e Ana morreram…
— Você os matou, não foi? — Estou tão entorpecida com tudo que
aconteceu que é como se estivéssemos em câmera lenta.
— Sim, fui eu. Mandei cortar o freio do carro em que eles estavam,
depois liguei e disse que ia passear com as crianças, assim ele teve que vir
rápido demais para casa… E o fato de eu ter pagado para outro carro cortar a
frente dele foi muito esperto de minha parte. Ela não tinha o direito de deixar
tudo para você! Eu que sou o irmão dela! Eu! Mas ela sempre preferiu você e
sua família a mim. — Kalebe soca o volante com raiva.
Eu devia ter notado que alguma coisa estava errada, mas eram tantos
problemas a serem resolvidos que não tive tempo para pensar nisso. Agora faz
todo o sentido.
Ele aumenta velocidade, embora eu duvide muito que eles venham atrás
de nós para onde estamos indo.
Coloco a mão em minha barriga e as lágrimas escorrem grossas por
meu rosto. A expressão de Aria ao me vir ir buscá-la, o choro de Miranda, a
morte de Mônica, tudo está saindo de mim em lágrimas.
Alice, Alec, Aria, meus filhos… Eu não me despedi deles.
Lembro do papel que Kalebe tanto quer… É um documento de uns três
anos atrás onde Jared deixou tudo em meu nome, e Ana também.
Provavelmente Kalebe já vinha os perseguindo naquela época.
Havia outro documento sem validade, onde dizia que todo patrimônio
do casal ficava para seus filhos, e por isso Kalebe tanto quis a guarda das
crianças. Por isso o outro documento que Miranda encontrou meses depois
me uniu a Landon, dizendo que eu deveria me casar para assumir o
patrimônio até as crianças serem maiores de idade, falso também.
O único válido é o que está na casa da praia, e como Kalebe descobriu
isso? Eu não sei, já que eu mesma me surpreendi com esse achado.
Ele está acelerando cada vez mais, enquanto fala sozinho. Pega outra
rota, uma que vai por uma estrada de terra, fica mais longe, mas também
quem passaria por ali? Ainda mais de noite. O que torna ainda mais difícil de
a polícia nos rastrear a tempo.
As lágrimas pararam, mas a dor não. A dor nunca vai embora, ela
apenas adormece, esperando o momento de atacar com toda sua força.
Eu não sei como o dia de hoje vai terminar, o que eu sei é que não me
arrependo de nada que fiz pelas pessoas que tanto amo e que chamo de
família. Fiz o melhor que pude, ou pelo menos acho que fiz. Quando todos
esses eventos começaram em minha vida, eu estava perdida, ou pensei que
estava, agora não tenho tanta certeza.
Tudo acontece tão rápido que eu não saberia dizer o que exatamente
acontece, o que sei é que o carro está na estrada e no minuto seguinte estamos
descendo uma encosta.
As coisas dentro do carro voam, os vidros quebram, eu grito, mas
Kalebe não responde. Nosso carro ainda está dando cambalhotas quando
minha visão fica escura e não vejo mais nada.
Deixe-me ir… Não parece mais uma escolha e sim algo planejado
desde o começo.
Epílogo
Há algo apitando perto de minha cabeça, alguém está falando, mas não
consigo ouvir direito. Meu corpo dói, tudo em mim dói.
— Já chegamos ao o hospital, querida, falta pouco.
Ouço portas abrirem e depois o barulho de mais vozes, não consigo
abrir os olhos nem falar, minha mente está perdida, não sei onde estou…
— Ela está perdendo muito sangue.
Mais vozes e, depois, mais nada, sou sugada para a escuridão
novamente.
Não sei quanto tempo passou, mas ouço vozes diferentes, uma criança
ao fundo e mais vozes. Pergunto-me onde estou e o que aconteceu, mas não
chego à conclusão alguma, minha mente não consegue funcionar.
— Charlotte! Charlotte! Você precisa aguentar só um pouco mais, por
favor!
— O senhor precisa se afastar — diz outra voz.
— Rápido, estamos a perdendo! Precisamos tirar a criança ou nenhuma
delas vai sobreviver…
Charlotte… Eu conheço essa voz… Estou com frio, muito frio.
— Charlotte!!!! — a pessoa grita mais uma vez e de repente eu sei
quem está me chamando. Landon.
Landon Cass.
Lembro de Alice, Alec e Aria… E Aurora. Nossa filha. É a última
imagem que vem à minha mente, todos juntos.
Eu queria poder…
Charlotte.
Pedir ajuda não é vergonha, nem te torna uma pessoa fraca. Pessoas que
sofrem de depressão não têm o mesmo tipo de consciência e pensamento que
uma pessoa sã. Seja compreensivo. Seja paciente. Seja amigo.
Ninguém pede para estar doente.
A ideia deste livro surgiu inicialmente para falar sobre família, mas ele
tornou algo muito maior e pude inserir muitos assuntos, um deles sendo a
depressão, uma doença que vem atingindo cada vez mais pessoas pelo mundo.
Deixarei aqui alguns números telefônicos e alguns sites para ajudar
quem tem depressão, ou algum outro tipo de transtorno, mas também para
quem tem vontade de entender melhor as pessoas que sofrem deste mal.
Centro de Valorização à Vida: 188 (funciona vinte e quatro horas).
Site: https://www.cvv.org.br/
Em casos graves, ligue para o 192 (SAMU) ou o 193 (bombeiros).
O CAPS funciona nos municípios (acredito que quase todos devem ter)
que é o Centro de Atenção Psicossocial. É pronto atendimento.
Conheça um pouco sobre ele: http://www.saude.gov.br/noticias/693-
acoes-e-programas/41146-centro-de-atencao-psicossocial-caps
Para saber mais sobre transtornos: https://vitaalere.com.br/sobre-o-
suicidio/prevencao/
Agradeço à Day Fernandes, que me forneceu os sites, números de
telefone e esclarecimentos.
Depressão é uma doença séria, então a trate como trata outras doenças.
Ela é uma doença que mata milhões de pessoas por ano. Então pense antes de
dizer que é frescura, que passa sozinho. Seja solidário, tenha empatia.
Obrigada por terem lido “Deixe-me Ir…” Obrigada por passarem o
tempo de vocês com a Charlotte e sua família imperfeita. Quero agradecer às
minhas leitoras, às minhas amigas que tanto insistiram nessa história comigo,
que me ajudaram a construi-la. Vocês são incríveis, mesmo sofrendo com a
minha veia assassina. Esse livro foi escrito em um momento muito difícil, um
momento em que eu estava em um mundo como o da Charlotte, cinzento e
sem vida. E vocês tornaram tudo mais fácil. Obrigada!
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