Nenhuma parte desta obra pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização da autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n° 9.610/98, punido pelo artigo 184 do Código Penal. Sumário Título Copyright Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Epílogo Dedicatória Agradecimentos Suas mãos fortes agarram minha carne e apertam, nossos corpos se movem juntos, meu corpo conhecendo cada pedaço de seu corpo firme e definido. Abro os olhos e vejo seus lábios, a boca entreaberta, o queixo quadrado e a barba por fazer. E a máscara prateada que cobre seu rosto. Tento ver melhor seus olhos apesar da pouca luz do quarto, e... — Ellah! Ellah! Acorde! Duas mãos se plantam em meus braços e me sacodem, por fim, os dedos magros parecem perfurar minhas costelas e sou obrigada a abrir os olhos. — Erin! Pare com isso! — ralho contendo a gargalhada. — Cócegas nunca falham! — observa satisfeita. Esfrego os olhos e me sento na cama, minha irmã mais nova usa tranças adoráveis e me estende um papel. — Você está atrasada, o papai já vai levar as cartas para o Papai Noel e você não fez o seu pedido. Apresse-se. — Foi por isso que você me acordou? Minha irmã de sete anos parece decepcionada por meu desapontamento, então preciso fingir que um pedido ao Papai Noel é muito importante. — Obrigada, Erin Belmont, você salvou o meu natal, me dê esse papel. Seu sorriso aparece e ela me estende uma folha enfeitada e um lápis. — Vejamos, o que posso pedir. O emprego com o novo sócio do papai, claro. Dizem que ele é introspectivo, grosseiro e não gosta de fazer favores, talvez eu precise de um milagre natalino. Começo a escrever isso, tenho certeza que sim, mas o que está escrito quando observo o papel é outra coisa.
Reencontrar o homem do clube noturno.
— Não! Como isso aconteceu?
— Que homem e que clube? Você foi nadar à noite? — Erin pergunta com seus olhos castanhos crescidos no meu papel. — Fui! Claro! Escrevi errado, você tem outro papel? Ela revira os olhos e tira do bolso um monte deles. — Eu sabia que você faria isso, você pensa demais, Ellah! Agora escreva logo que quer um namorado e me dê seu pedido antes que o papai saia. — Ok! Pedir um namorado não seria má ideia, parece que também precisarei de um milagre quanto a isso. Não precisamente um relacionamento em si, já tive alguns e todos terminaram porque eu não tenho paciência para relacionamentos. E todos eles me disseram que minha impaciência se deve ao fato de eu não ter sentimentos. Então é isso, nunca me apaixonei. Às vezes sinto-me ansiosa em tomar um pote de sorvete enquanto choro de dor por alguém que tem o poder de me ferir, porque eu sinto algo por ele, mas nunca senti nada além de tesão por ninguém. Eu poderia pedir qualquer uma dessas três coisas, mas qual delas? Até parece que esse pedido será entregue ao Papai Noel, entidade, que vai me atender. — Quer saber? Vou fazer três pedidos. — Você não pode fazer três pedidos! É contra as regras! — Erin ralha irritada. — Contra as regras de quem? — Do Papai Noel, acha que ele é seu funcionário? — Ele só trabalha uma vez por ano, vai superar isso. Pronto, esses são meus pedidos, coloca no envelope e entrega logo para o papai. Ela lê o que escrevi e revira os olhos.
Querido Papai Noel
Aí vai meus pedidos 1 – Reencontrar o homem do clube noturno 2 – Conseguir a vaga com o sócio do papai 3 – Me apaixonar
Contrariada, Erin deixa meu quarto e leva minha cartinha para
o Papai Noel. — Faça o seu melhor, velhinho — desafio voltando a dormir.
— O quanto a tatuagem dele era estranha? — Nina pergunta
ao telefone, enquanto confiro meu visual impecável antes de ir conhecer o velhote chato e antiquado, vulgo sócio do meu pai. — Do tipo muito estranha, era brega. Um coração torto, provavelmente desenhado por um tatuador de cinco anos, sobre o peito esquerdo. — Ew! Um coração sobre o coração? Quando você disse que era brega, não estava brincando! — Nina, e aquele segurança que nos deixou entrar? Você o conhece, certo? Ele não saberia dizer quem era o homem com a máscara prateada no quarto número cinco? — Se eu perguntar algo assim para ele, nunca mais me deixará entrar lá. — Azar o seu! Pergunte! — De jeito nenhum! É isso o que eu ganho por levar você para um pouco de diversão! Nunca se apaixonou na vida e resolve fazer isso por um desconhecido mascarado de um clube noturno só porque ele fode bem. Fecho meus olhos e me lembro de suas mãos grandes segurando minha carne, do corpo esculpido, do membro rijo e avantajado... — Ellah? Está me ouvindo? Eu disse que o encontrar é impossível, meu bem. O Maskerade é um clube de sexo secreto, nenhuma identidade é revelada, as máscaras não podem ser tiradas lá dentro fora do quarto secreto, e você não o convidou a ir até lá. — Eu sei, você repetiu essas regras umas vinte vezes, eu poderia recitá-las. Não o chamei porque ele poderia rejeitar, afinal ele claramente é um frequentador assíduo daquele lugar, tem bastante experiência e eu fui só uma menina em suas mãos. E sequer provei aqueles lábios, que eram tudo o que eu podia ver do seu rosto, porque é contra as regras nos quartos privados beijo na boca, pela garantia do segredo da identidade de seus clientes. Apenas indo ao quarto secreto, e o clube só possui dois desses, é que as máscaras podem ser retiradas, caso os clientes queiram se revelar. Então eles têm que deixar o clube depois disso. — O que você vai fazer? — Nina, a responsável pela minha paixonite impossível pergunta. — Agora? Impressionar o velhote sócio do papai. Depois das festas de fim ano? Voltar ao Maskerade até reencontrá-lo. Vou ficar experiente o bastante para chamá-lo ao quarto privado. — Assim que eu gosto. Vá impressionar seu velho, vou ficar procurando tanquinhos com tatuagens escrotas por aqui. Vamos torcer que eu tenha alguma sorte. Encerro a ligação e confiro meu visual mais uma vez. Cachos perfeitamente alinhados em um rabo de cavalo perfeito. Um vestido leve, não curto nem comprido, não decotado, mas ressaltando minhas curvas. Quase nada de maquiagem. Só preciso sorrir e ser a filha que meu pai espera que eu seja para o velhote me achar adorável. — Você consegue, Ellah Belmont. Seja adorável uma vez na vida! Você consegue.
Caminho elegante e devagar sobre minha sandália de dedos,
até pensei em complementar meu look com um sapatinho de salto baixo, mas não quero que o velhote saiba que me vesti para impressioná-lo. Então estou de sandália de dedos, um vestido leve, uma garota comum na casa do pai antes das festas de fim de ano. Ouço o som de conversas da área da piscina e me encaminho para lá. Erin nada na piscina e acena para mim enquanto desço as escadas. Avisto papai à mesa, ele sorri, um gesto rápido de cabeça confirmando que me vesti adequadamente. Há um homem ao seu lado, mas é Renato, o contador, então onde está o velhote? — Aqui está seu presente de natal antecipado, pequena Erin — uma voz grave diz atrás de mim assim que termino de descer os degraus. As coisas acontecem tão rápido, ao mesmo tempo, como que em câmera lenta. Erin emite um gritinho estridente de felicidade e corre para deixar a piscina em direção ao seu presente. Viro-me para trás curiosa e há um homem abaixado tirando algo de uma caixa. É um cachorro. Um filhote. Ele o coloca no chão e se levanta. E então tudo desanda. O homem diante de mim é muito bonito, tem os cabelos um pouco compridos, bagunçados de uma maneira charmosa, a barba por fazer contém alguns fios grisalhos, e o corpo... O corpo é forte e definido e bem ali sobre seu peito esquerdo, a tatuagem brega de coração. Quem mais no mundo faria uma tatuagem estranha como essa exatamente nesse lugar? Meu coração acelera de repente quando ele olha diretamente para mim, viro-me para correr covardemente, mas tropeço em algo e caio na piscina com as pernas para cima. Maldita hora em que decidi colocar um vestido rodado. Papai, o contador e o homem do clube noturno acabaram de ver minha calcinha e algumas coisas mais. Fico de pé na piscina após cuspir a água que entrou por todos os buracos possíveis do meu rosto. Vejo Erin dobrando a barriga de rir enquanto segura nos braços um filhote de pug. Foi nessa coisa pequena que tropecei. Papai e Renato vêm correndo até a borda da piscina, mas é ele, o bom fodedor do clube noturno, que se aproxima das escadas e me estende a mão. Meu cérebro entra em parafuso quando vejo sua mão estendida. “O que ele está fazendo aqui?” “Como ele me encontrou?” “Ele sabe quem eu sou?” Claro que não sabe quem eu sou! Estávamos de máscaras! Eu usava uma máscara negra de cisne, floreada por penas, todo meu rosto estava coberto, exceto a boca, que é para onde ele olha fixamente. Disfarço, desvio meu rosto para papai com um sorriso e digo: — Estou bem, o cachorrinho se embolou nos meus pés. — Sinto muito por isso, acho que o libertei da caixa no momento errado — ele diz e sua voz grave parece atingir lá dentro dos meus ouvidos, me levando de volta a como ele falava sacanagens no meu ouvido sussurrando na outra noite. — Venha, irei ajudá-la. — Eu consigo sozinha, valeu — respondo desviando de sua mão, deixando a piscina. — Papai, vou me trocar e espero que seu sócio compreenda meu pequeno incidente e não se chateie por eu não tomar café da manhã com vocês. Assim que estiver seca e vestida, eu volto para conhecê-lo. Papai tem um sorriso no rosto, mas é Erin, portadora de más notícias quem diz: — Mas você já o conheceu, esse é o tio Rocco, o sócio do papai. E ele me deu uma cachorrinha de presente. Devagar, giro meu corpo em direção a ele e não acredito que o homem que me fodeu em um clube noturno seja o sócio careta do meu pai. Não faz sentido, não há a menor chance, isso não pode ser real. Ele estende a mão de novo em minha direção, um sorriso de lado, os olhos passeando por meu corpo e diz: — Agora imagino que vá tocar a minha mão. É um prazer conhecê-la, Ellah. Seu pai me falou muito sobre você. Forço num sorriso que não deve ter funcionado, já que claramente ele quer rir e toco sua mão. — O prazer é meu Sr. Villani. Espero que ele tenha dito apenas coisas boas. — Ah, sim, com certeza. Mas nada como uma primeira impressão, não é mesmo? Como se a humilhação em que me encontro já não fosse suficiente, Erin escolhe este momento para abrir a boca e dizer quase aos gritos, como se tivesse tido uma ideia excelente: — Já sei! Vou chamar essa coisinha linda de Tombo! A encaro chocada e ela faz um gesto negativo com a cabeça. — Tombo não, afinal ela é uma menina, será Queda. — Erin, este não é um nome adequado a um presente que... — É um nome bastante pertinente, pequenina. Queda, sempre que a chamarem perto de uma visita, terão que explicar este momento — o bom fodedor aprova, provocando-me. Ele está mesmo se divertindo com isso? — Erin, venha, me ajude a escolher uma roupa, vamos. — Você vai usar o que eu escolher? — Claro que sim, querida, vamos. — Posso levar a Queda? — Pode levar essa coisinha linda e fofa que você não vai chamar de queda — insisto, pegando sua mão e a arrastando com a coisa pequena a tiracolo até meu quarto. Passo a próxima hora tentando fazer Erin mudar de ideia, oferecendo até mesmo minha maleta de maquiagem a ela caso mude o nome da cachorra, mas depois de sessenta minutos de tortura e barganha, o máximo que consigo da minha irmã, cujo sangue é o mesmo teimoso que o meu, é uma promessa de que vai pensar. E ainda sou obrigada a descer para o almoço trajando a roupa que ela escolheu: um vestido da minha adolescência, puído e desbotado pelo tanto que o usei. Ele é vermelho, estampado de bolas bancas, e quando digo bolas, quero dizer que não são bolinhas. Erin acha que me pareço a uma árvore de natal enfeitada.
Desço até a área gourmet atrás da casa do meu pai, todos já
estão à mesa agora, e, graças aos céus, o sócio do papai não está. Talvez tenha ido embora. Sorrio mais tranquila e quando me aproximo da mesa, uma rajada de vento me envolve. Há algo que esqueci de mencionar sobre este velho vestido vermelho de bolas, ele possui a cintura bem marcada e é bastante rodado. Quando digo bastante, digo muito mesmo. Assim que o vento sopra minhas pernas, a saia do vestido se agita para cima, revelando-as. Imediatamente a seguro na frente, para não dar mais uma visão da minha calcinha ao meu pai e o contador, mas precisaria de quatro mãos para cobrir minha retaguarda. É quando escuto um assovio baixo e uma mão grande e quente pousa logo acima da minha bunda. Fico paralisada onde estou, incapaz de encará-lo. — Acho que você não aprendeu a lição sobre vestidos no dia de hoje, Ellah. Não que eu ache ruim, você com certeza tem uma bela coleção de calcinhas — ele diz baixinho aproximando-se. Papai está entretido em uma conversa com Renato e Sheila, nossa governanta e me viro para o safado embutido furiosa. — O que você acha que... De repente, sua mão quente deixa o telhado da minha bunda, e ele segura meu rosto com as duas mãos, puxando minha cabeça em direção a sua. Mais estranho é o que ele faz a seguir: o safado embutido cheira meu cabelo. — O que vocês estão fazendo? — Erin pergunta e ele me solta repentinamente. Parece confuso e atordoado. — Nada demais, pequenina, só estava sentindo o cheiro do shampoo da sua irmã. Acho que o conheço. Acho que já o senti antes. Minhas pernas paralisam e desvio meu rosto do seu. Ele está me olhando de forma estranha, observadora demais, como se buscasse algo. Não é possível que ele tenha me reconhecido pelo cheiro do meu cabelo, certo? Não, não pode ser! Então minha mente é tomada por lembranças dos nossos corpos entrelaçados enquanto eu montava nele e meu cabelo se soltou do coque que havia feito, caindo como uma cascata de cachos negros ao redor do seu rosto. Ficamos assim por um bom tempo. Ficamos assim por tempo o suficiente para ele gravar o cheiro do meu shampoo? Merda! Viro-me e vou direto até a mesa, me sento entre Sheila e Renato, embora deteste me sentar ao lado dele e sua mão boba, e o safado continua me observando atentamente quando se senta de frente para mim. E, como sempre, se não estivesse ruim o bastante, papai abre um sorriso e me comunica como se tivesse me feito um enorme favor: — Ellah, convidei o Rocco para passar o fim de ano conosco na casa da serra. Assim, ele poderá conhecê-la melhor. E ele aceitou, não é maravilhoso? Olho imediatamente para ele, que sorri, o queixo apoiado nas mãos cruzadas sobre a mesa. Parece genuinamente contente ao dizer: — Estou ansioso em conhecê-la melhor, Ellah. Você parece bem interessante. — Muito obrigada, Papai Noel! — ralho baixinho. Sim, fui eu que pedi para reencontrar o homem do clube e conseguir a vaga com o sócio do meu pai na mesma carta, indo contra as regras do Papai Noel de um pedido apenas, mas ele não precisava ter transformado dois pedidos em um só. Não mesmo. — Aqui está — a pequenina diz, estendendo-me um envelope vermelho. — Tem certeza que consegue entregar a tempo para os duendes? Eu prometi a Ellah que a carta dela seria entregue a tempo, mas o papai não esperou. Seus olhos suplicam que eu garanta que a carta de natal de sua irmã será entregue a tempo ao Papai Noel. Sorrio. Sinto falta de mentir para uma criança no final do ano. — Eu prometo, pequena Erin, que o pedido da sua irmã estará nas mãos do Papai Noel hoje mesmo. Ela sorri, aliviada, depois revira os olhos. — Ela fez três pedidos, não acho que o Papai Noel vá atendê- la. Espero que ele escolha um deles para dar a ela, de preferência o do namorado, ela está precisando de um. — É mesmo? Sua irmã não tem namorado? — Não. Papai diz que é porque ela é desagradável e estabanada. — De repente arregala os olhos e parece arrependida. — Mas não diga a ele que eu disse isso, ela está se esforçando para você gostar dela e ela conseguir a vaga. — Pode deixar, não vou dizer nada. — Mas você gosta dela, certo? Esqueça o que eu disse sobre ela ser desagradável. Ela é muito legal. Sorrio de sua tentativa de me enganar e finjo cair nela. — Tendo uma irmã adorável como você, tenho certeza que sim. Eu gosto dela, não se preocupe, pequenina. Ainda que ela seja uma abusada que faz três pedidos ao Papai Noel. Ela se afasta finalmente, liberando-me para o almoço, mas estou curioso demais para seguir em frente, então confirmo que ninguém está olhando e abro o envelope. Ele está fechado apenas com uma fita adesiva colorida, que não adere quase nada ao papel. Pego o papel dentro e vejo uma letra caprichada e os três pedidos de Ellah Belmont.
Querido papai Noel
Aí vai meus pedidos 1 – Reencontrar o homem do clube noturno 2 – Conseguir a vaga com o sócio do papai 3 – Me apaixonar
Clube noturno... a filha desagradável do meu sócio acaba de
ficar mais interessante. Então ela frequenta esse tipo de lugar. Coloco a carta no bolso e vou em direção a área gourmet, onde Enrico e Renato me aguardam, ao longe avisto alguém de pé, cachos negros incontroláveis voando ao vento e, logo mais abaixo, uma bunda durinha enfeitada por uma calcinha fio duplo vermelha. Paro alguns segundos para admirar a vista diante de mim. Sim, Ellah é gostosa, não que eu tenha algum direito de reparar nisso. Mas uma vez que planeja ser agradável comigo para me enganar, não será pecado brincar um pouco com ela. Aproximo-me por trás e assovio pouco antes de plantar a mão logo acima da sua bunda, perto o bastante para meu dedo mindinho descansar logo acima do morro redondo, segurando a saia que levantava com o vento. — Acho que você não aprendeu a lição sobre vestidos no dia de hoje, Ellah. Não que eu ache ruim, você com certeza tem uma bela coleção de calcinhas — observo. Consigo ouvir sua respiração irritada e vejo a forma como ela cerra as mãos em punhos. Sim, ela se irrita fácil. Vira-se em minha direção quando o vento agita seus cabelos e seu movimento faz com que eles sejam lançados em meu rosto. E então sinto. O cheiro de seu cabelo. A textura. — O que você acha que... — sua bronca morre quando seguro seu rosto com as duas mãos e a aproximo para sentir melhor esse cheiro. Sim, não estou maluco! É o mesmo cheiro. Não só o cheiro do cabelo é igual, como a textura, peso, os cachos. Consigo senti-los cobrindo meu rosto enquanto ela cavalgava gostoso no meu pau. — O que vocês estão fazendo? — a voz da pequenina afasta os pensamentos pervertidos que estavam me tomando e solto sua irmã, observando-a detalhadamente. A altura não é a mesma, mas ela usa sandálias de dedo agora, a garota da outra noite usava uma sandália de salto, a diferença de tamanho pode estar aí. — Nada demais, pequenina, só estava sentindo o cheiro do shampoo da sua irmã. Acho que o conheço. Acho que já o senti antes. Observo seu rosto em busca de sua reação, mas ela apenas se vira e vai para a mesa. Ela disse na carta ao Papai Noel que quer reencontrar o homem do clube noturno, então frequenta esse tipo de lugar. Será possível que ela tenha sido a mulher da outra noite? Depois de tudo o que me aconteceu, finalmente decidi tentar seguir em frente. Riccardo Razo, meu amigo de faculdade, é o dono do Maskerade, um clube de sexo secreto. Nunca antes havia tido curiosidade sobre seu negócio até aquela noite em que finalmente fui conhecê-lo. Estava bebendo no bar enquanto mulheres seminuas circulavam à minha volta, quando a vi. A linda mulher de pele morena em um vestido negro. Possuía lábios carnudos em um vermelho tentador e um corpo com tantas curvas que foi impossível não me imaginar derrapando nelas. Ela estava acompanhada de outra mulher e foram em direção ao corredor dos quartos abertos. Ficou um tempo assistindo os casais que gostam de se exibir então decidi tentar a sorte. Tirei a gravata que estava usando, já que o tema do clube é sempre um baile de máscaras, passei por ela e a deixei em sua mão, como um convite, segui direto pelo corredor e adentrei o corredor dos quartos privados. As quatro primeiras portas estavam fechadas, o que significava que estavam ocupados, mas a quinta estava aberta. Entrei no pequeno quarto, sentei-me sobre a cama e esperei. Pouco depois ela entrou no quarto com a gravata nas mãos e fechou a porta atrás de si. Assim, sem planejar, por um tesão inesperado, tive uma noite louca de sexo com uma desconhecida. Uma noite maravilhosa, para ser sincero. Se ela for mesmo a mulher daquela noite, tem uma tatuagem em um local peculiar, que eu não conseguiria confirmar na filha do meu sócio a menos que a visse nua e pudesse tocá-la. Se ela for mesmo a mulher daquela noite, definitivamente darei a vaga que Enrico tanto quer que eu dê a ela. Uma mulher que não teme seus desejos e se aventura em seu prazer é sempre uma mulher a ser admirada.
Chego cedo à casa de Enrico na manhã seguinte, há três
carros aqui para nos levar a famosa casa da serra da família Belmont. Sheila, a governanta da família coordena os funcionários para que guardem as malas e confirmo que irei em meu próprio carro. Sim, estou seguindo em frente, eu prometi fazer isso e apenas por isso aceitei esse convite. Se fosse por minha escolha preferiria passar mais um natal e ano novo sozinho na minha casa enchendo a cara. Mas está na hora de parar de fugir da minha promessa. Vitória não deve estar nada feliz comigo agora. Entro na casa para ajudar as filhas de Enrico com suas malas, quando sem querer, o escuto conversando com Ellah, embora não os esteja vendo do corredor onde me encontro, sei que é ela pelo teor da conversa. — Você precisa se esforçar mais, não causou uma boa impressão caindo daquele jeito nos primeiros segundos. — Mas a culpa foi dele! Quem dá um cachorro de presente para uma criança que nem conhece? — Alguém que sabe dar presentes — Enrico responde. — Escute, Ellah, o que estou fazendo por você, nunca fiz por ninguém. Seu tio insistiu quando Pietro se formou que eu desse a ele um cargo importante na empresa e sabe que o fiz começar de baixo, como qualquer funcionário com o currículo que ele possuía. Nunca cedi a nenhum parente ou amigo, nunca permiti na minha empresa que o parentesco beneficiasse alguém. Agora, estamos falando de Rocco Villani, um gênio editorial. Tive a chance de ser seu sócio nesse novo negócio e estou passando por cima do que defendi a vida inteira pedindo um favor a ele que nunca fiz por ninguém. Espero que entenda o quanto estou sacrificando por você! Há alguns segundos de silêncio e a voz da garota é mais baixa e dócil ao responder: — Pai, então por que não desistimos? Isso o incomoda e não causei uma boa impressão, vamos deixar isso para lá. — Claro, maravilhoso! E você começa como assistente em outra editora qualquer, pode ser? É o que quer? Porque é o que merece com sua qualificação, mas sei que é capaz de muito mais do que isso. — Não acho que ele vá ceder e me dar a vaga. — Então convença-o. O sucesso é feito das oportunidades que você aproveita. Ele estará conosco pela próxima semana, tudo o que tem que fazer é mostrar a ele que pode se arriscar com você, que é competente e capaz. — Eu conseguiria fazer isso se estivéssemos em uma viagem de trabalho, mas nas festas de final de ano? Como vou falar de negócios com ele em pleno natal? — Não fale, apenas mostre a ele que é alguém confiável, gentil e solícita. Uma risada debochada escapa dela, o que me surpreende. — Tudo bem o confiável, mas gentil? Solícita? Você quer que eu engane o homem em pleno natal. — Eu quero que você se comporte como deve perante seu provável chefe, acha que é possível? Você não tem que casar-se com ele, tampouco começar uma amizade, mas tem que ter uma boa relação com seu futuro patrão. — Prometo tentar. — Nada disso, não tentamos nada. Você vai ter uma boa relação com ele e pronto. Não espere que apenas os outros lutem pelo seu futuro, filha. Você é quem deve fazer isso. Apenas seja menos você e mais como você acha que eu gostaria que fosse. Na dúvida, pense em como sua mãe agiria, está bem? Afasto-me voltando pelo corredor, sentindo que essa viagem de repente ficou mais interessante. Então ela vai tentar ser legal comigo para que eu dê a vaga de editora chefe a ela, quando há muitos outros candidatos mais adequados ao cargo, apenas porque ela é a filha do sócio. Vai me adular e ser gentil comigo para isso, então posso realmente testá-la. Vamos ver se Ellah Belmont consegue mesmo ter um bom relacionamento com seu futuro chefe, ou se é desagradável, como a irmã disse. Para completar, posso usar esta viagem para descobrir se ela é a mulher daquela noite no clube, não que eu queira tê-la de novo, ou algo assim, agora sei quem ela é, jamais tocaria na filha do meu sócio, ainda mais tão jovem. Apenas para saber se foi com ela que fodi. Ellah usa um tênis, short e uma camiseta cujo decote me desconcerta por alguns segundos. Por sorte não sou o único, Renato Mendes, o contador de Enrico também não consegue tirar os olhos dela. Erin entra no carro onde o pai irá e Ellah se prepara para fazer o mesmo, mas digo: — Quer ir no carro comigo, Ellah? Assim pode me contar suas expectativas começando em uma editora já em um cargo importante. Ela me lança um olhar desconfiado e não parece nada disposta, mas Enrico praticamente salta de seu carro, guiando a filha em direção ao meu. — É uma excelente ideia! Claro que ela quer! É impressão minha ou ela está revirando os olhos para mim? E ainda fez beicinho irritado? Seguro o riso e abro a porta do carro para que entre. Assim que ela se acomoda a fecho, e me surpreendo com Renato abrindo a porta de trás, carregando sua mochila. — Vou com vocês também, assim usamos apenas dois carros. Não há motivos para recusar seu pedido, isso apenas me impedirá de perguntar o que quero perguntar diretamente, ainda assim, posso tirar proveito dessa pequena viagem e de uma Ellah ansiosa em me agradar.
Estamos já na BR quando olho para o lado, diretamente para o
seu decote tentando encontrar qualquer sinal de uma tatuagem. Há uma grande fila de carros indo em direção a serra por conta dos feriados, o que me permite olhar para ela por tempo o suficiente. O suficiente inclusive para ela perceber para onde estou olhando, já que em determinado momento, meus olhos se desviam do V entre seus seios para um dedo do meio com uma unha comprida em minha direção. Sorrio. Ela tem um jeito estranho de adular seu futuro chefe. — Então, Ellah, por que acha que pode começar sua carreira já no cargo de editora chefe, sem passar antes pelos cargos menores? — pergunto. — Porque não me sairia bem tendo que obedecer a ordens. Minha cabeça gira em sua direção tão rápido, que acabo fazendo o mesmo com o volante, voltando com o carro para minha pista a tempo de evitar um pequeno acidente. O motorista ao lado, em quem quase bati buzina e diz algo que sequer escuto. — Você fez estágio? — Sim, claro. — Imagino que não tenha sido como chefe. — Não foi. — Teve problemas com seus imediatos? — Eu não chamaria de problemas — responde vagamente. — Ela se saiu bem, quiseram contratá-la definitivamente quando acabou, mas ela disse que só aceitava se fosse como chefe do homem que foi seu chefe durante o estágio. Obviamente eles não aceitaram e ela deixou a empresa — Renato responde, delatando-a. A observo e ela apenas dá de ombros. Não se defende, não mostra seu ponto, não há qualquer explicação. Não parece alguém disposta a me adular por um cargo que almeja, mas como não a conheço não posso ter certeza. Quando finalmente o carro anda, notamos o carro de Enrico parar em um posto, o sigo e vemos Erin descer e encarar meu carro, esperando alguma coisa. — Vou acompanhar Erin ao banheiro — Ellah explica. — Eu vou ficar aqui mesmo, no carro, embora queira muito uma bebida gelada — comento e ela me observa por algum tempo antes de deixar o carro. — Não vai mesmo comprar sua bebida? Provavelmente não vamos parar até chegarmos à serra — Renato observa. — Não, Ellah a trará para mim. Ele fica em silêncio, depois cai na gargalhada. — Ellah? Não conte com isso, vá comprar sua bebida. Viro-me no assento observando-o. — Você a conhece há muito tempo? — Desde que tinha quinze anos, quando comecei a trabalhar com Enrico. — Gosta dela desde então? Ele disfarça, pigarreia, ajeita a gravata borboleta que não faço ideia porque está usando em uma viagem de fim de ano e nega. — Não, isso começou há uns dois anos, quando ela se formou na faculdade. — E você percebeu que ela se tornou uma mulher bonita ou que ela seria uma esposa perfeita? Você sabe, ela é filha do seu chefe, afinal. Ele não parece ofendido por minha pergunta. — As duas coisas. Ela é simplesmente perfeita para mim. — Por que a chamam de desagradável? Ela não me parece ser ruim. — Ah, isso é porque ela não se esforça para agradar ninguém além de sua irmã e pai. E não se esforça mesmo, nem um pouco. — Ele parece pensar e completa: — Tampouco para ser simpática. Ela não é do tipo a quem você possa pedir ajuda, em todo caso. E é direta demais, diz o que as pessoas não gostam de ouvir, por isso a chamam de desagradável. Bobagem, na minha opinião, apenas tem um gênio difícil. Ela só precisa ser domada. Seus olhos brilham quando ela retorna com uma garrafa de água nas mãos. Sorrio satisfeito, então ela vai mesmo tentar me agradar. Ela se senta ao meu lado, coloca o cinto, o carro de Enrico arranca e ela me observa. Espero que me dê a garrafa, mas ela a abre e bebe a água. — Não trouxe isso para mim? — pergunto incrédulo. — Não, por que eu traria algo para você? Por acaso é uma criança? Vá até lá e compre sua própria bebida. Vejo Renato rindo pelo retrovisor e arranco com o carro. Definitivamente, Ellah Belmont não está tentando me agradar. Será que ela não quer de verdade a vaga? Desde que deixamos a loja de conveniência, o homem ao meu lado não diz uma palavra. Também não está mais furtivamente tentando ver meus seios através do decote da camiseta. O sol está forte lá fora, o trânsito, apesar de estar fluindo continua intenso e é do lado dele que o sol está batendo. Ele pode estar mesmo com sede. A contragosto, abro a garrafa e a estendo entre nós dois. — Eu coloquei a boca aqui, se você não se importar com a minha baba, pode ficar com o resto — ofereço. Ele me olha finalmente, tem um sorriso no rosto, abre a boca para responder, mas parece ponderar, olha pelo retrovisor e não diz nada, aceitando a água. O que quer que fosse responder, desistiu por causa de Renato. Ele bebe a água toda de uma vez e me estende a garrafa vazia. — Obrigado, eu acho — diz. — Não se acostume. — Me fale mais sobre você, Ellah, por exemplo, o que faz para se divertir? — Bem, eu gosto de patinar, sair com minha amiga, ir ao cinema, essas coisas. — Não, me refiro a noite. Como você se diverte à noite? — Acho que não entendi bem sua pergunta — retruco, temendo estar entendendo sim o que quer saber. — Quais lugares você frequenta para se divertir à noite? Pubs? Bares? Clubes noturnos, talvez? O observo em choque e Renato sai em minha defesa. — Ellah em clubes noturnos? Que disparate! Ela é uma garota de família, jamais frequentaria tais lugares! O carro parou de novo por conta do trânsito de forma que Rocco pode olhar fixamente para mim agora, é o que está fazendo e preciso que ele pare. — Desculpe, pensei que fosse o que os jovens fazem hoje em dia — defende-se. — Não os jovens de respeito — completo. — Mas eu desculpo, me esqueço que você é tão mais velho. É compreensível sua confusão. Ele ri baixinho, deve ter na casa dos quarenta anos, pouco mais. O corpo forte e definido o faria parecer mais jovem não fosse essa barba com fios grisalhos que o tornam sexy, porém mais velho. Nem por isso menos tentador, infelizmente. Os olhos escuros se fixam em mim, descem lentamente do meu rosto para meu decote. — E você possui alguma tatuagem? Merda! Ele olhar para os meus seios e perguntar isso não pode ser coincidência. Esse babaca não pode ter me reconhecido mesmo pelo cheiro do cabelo, que nível de obsessão é esse? — Não — respondo olhando-o nos olhos. — Você faz perguntas estranhas — Renato observa. — Não sei mais conversar com jovens, eu acho. Bem, dizem que alguns deles são capazes de mentir olhando nos seus olhos, então, se eu achar alguma tatuagem escondida na Srta. Ellah Belmont, saberei que ela é um desses. Abro a boca em choque e ele está sorrindo amplamente, não acreditou na minha resposta e ainda está me desafiando. — Ah, se alguém é capaz de mentir olhando na sua própria alma, esse alguém com certeza é a Ellah. É fria o bastante para isso — Renato acusa. — Quem foi que te perguntou? Fica na sua! — Encaro então o homem sexy e curioso que ainda sorri para mim. — E você, chega dessa entrevista, concentre-se no volante, já que no momento é o motorista, a fila andou. Ele olha para a frente e arranca com o carro e começo a pensar o que fazer para evitar Rocco Villani pelos próximos dez dias. Não posso ficar com a vaga na editora, isso ficou claro no segundo em que vi a tatuagem estranha em seu peito e soube quem era. Mas se ele está disposto a passar as festas de fim de ano conosco e não com sua família, provavelmente está disposto a me dar essa vaga. Preciso convencê-lo de que sou uma péssima escolha e fazê-lo nunca mais querer me ver de novo. Ainda bem que sou mestre nisso.
Finalmente chegamos a São Roque de Minas, um verdadeiro
paraíso no interior de Minas Gerais, normalmente a pouco mais de quatro horas da capital. Foi aqui onde meu pai cresceu, é um lugar lindo, pois é cercado por serras e cachoeiras. A casa da família é uma construção colonial antiga cuja vista de sua fachada é complementada pelas serras atrás de si, e todo o verde à sua volta. É deslumbrante! Até mesmo Rocco Villani olha surpreso e admirado por algum tempo a fachada da casa e a beleza do lugar em si. Meu pai está entretido com os funcionários que nos aguardavam e me aproveito que não está prestando atenção. Rocco tira minha mala do carro e digo: — Ah, que gentileza a sua carregar minha mala — ele me observa apenas, não há o que dizer quando Sheila e Laura, a cozinheira, estão por perto. — Que bom que está aqui e é tão forte e gentil! Ele tem um sorriso e assente, pegando minha mala. Rapidamente dou a ele mais duas malas, e não digo nada, deixo que ele carregue. Ele me segue pela escadaria de entrada carregando todo o peso sozinho e tento nem reparar como seus braços são mesmo fortes e seus músculos parecem ressaltar com a força que está fazendo. Ele deposita as malas na sala de entrada e dou tapas leves em seu ombro. — Ah, pode levá-las ao meu quarto, por favor. Fica no terceiro andar. — No terceiro andar? — repete incrédulo. Assinto, como se não fosse nada demais e começo a subir as escadas, ele me segue carregando tudo. Em suas costas há uma mochila bem cheia que imagino ser sua bagagem. Paramos na porta do meu quarto, ele está vermelho, posso jurar que está até mesmo suado, a respiração acelerada e sequer consegue manter-se de pé. Não faço ideia de quantos livros Erin enfiou em sua mala, mas ele a carregou também. — Agradeço sua gentileza, Sr. Villani. Na verdade, apenas esta mala é minha, as outras são da Erin, que dorme no quarto ao lado e da Sheila. Bem, havia me esquecido, mas ela fica lá embaixo. Pode descer com ela de novo se quiser. Ele se prosta de pé em um segundo e dá um passo em minha direção. Está claramente irritado. — Está dizendo que essas três malas não são suas? — Claro que não! Por que eu traria todo o meu guarda-roupa se tenho roupas aqui? — Não pensou em me dizer isso antes de me fazer carregá- las? — sua mandíbula está travada, as mãos cerradas em punhos. — Até pensei. Mas você estava lá, então achei que poderia carregar as malas de todas as mulheres da casa. Se ele me der qualquer vaga depois dessa, pode ser santificado. — Sua... Vejo papai subir a escadaria e mais do que depressa seguro a mão de Rocco, um sorriso de gratidão no rosto e digo mais alto, cortando seu xingamento: — Muito obrigada pela gentileza, Sr. Villani, o senhor é realmente forte! Não precisava ter o trabalho de subir com a mala da Sheila também, ela costuma ficar no primeiro andar, mas foi muito gentil da sua parte! Ele me olha confuso, mas entende quando papai diz: — Vejo que estão se conhecendo melhor. Minha filha é uma mulher grata, Rocco, verá que o que fizer por ela sempre será reconhecido. Gratidão foi um dos valores que mais prezamos em passar a ela. — Tenho certeza que sim — ele responde com um sorriso que me assusta. — Pena que seja tão mal-humorada. Não sei se seria interessante uma editora chefe que não sabe sorrir ou ser gentil. — O que está fazendo? — pergunto baixinho aproximando-me dele. — Mal-humorada? Ellah geralmente é bem-humorada — papai defende. — Jura? Não quis conversar comigo no carro, respondeu o que eu perguntava com mentiras e se recusou a me fazer um simples favor quando pedi. Não posso desmenti-lo, mesmo porque, não está mentindo. Encaro papai que parece ainda mais vermelho do que Rocco após subir três lances de escada com três malas pesadas. — Foi só o cansaço da viagem — digo defendendo-me. — Me perdoa se dei a impressão de ser mal-humorada, Sr. Villani. — Ela está disposta a compensá-lo pelo mal entendido. — Papai insiste — Estou? Então estou — concordo. Rocco sorri, um sorriso vitorioso que detesto imediatamente. — Bom, neste casso, estava pensando em conhecer a vila pela qual passamos um pouco antes das serras, me parece bonita e pitoresca. Como nunca estive por aqui, seria bom ter uma guia. — Ela vai com você, não vai, filha? — Claro! Eu acompanho você. — Por que não descansa um pouco da viagem? O trânsito estava cheio e demorou o dobro do tempo que levaria, descanse um pouco e depois é só bater na porta dela, que ela o acompanhará — papai sugere e sorrio, confirmando. Então Rocco faz a última coisa que pensei que faria. Olha para a porta ao final do corredor, do quarto ao lado do meu. — Este quarto está vago, Enrico? Eu poderia ficar nele? É que estou realmente cansado para carregar minha mochila pesada para outro quarto. — Sim, claro. Todos os quartos da casa foram preparados para nossa chegada, este é o andar da família, mas você é como da família, pode ficar aí. — Obrigado — ele diz a papai e pisca para mim. Droga! E assim minha pequena travessura se volta contra mim. Papai se afasta para ver Erin e vou entrar em meu quarto, quando ele diz baixinho: — Adoro desmascarar mentirosos. Adoro mesmo. Se eu fosse você manteria sua porta trancada. Então se afasta e entra no quarto ao lado. Esse natal vai ser mais difícil do que eu havia imaginado. Quando escuto as batidas na porta cruzo os braços e espero para ver se ele terá mesmo a audácia de tentar abri-la. Mas ele não o faz. Provavelmente só estava blefando para me assustar. Pego minha Shoulder Bag e abro a porta. Rocco usa uma camisa polo vinho que parece justa demais ao peito forte e aos braços montanhosos. Este homem possui mais serras que São Roque de Minas. Ele me observa preguiçosamente e aprova o short jeans curto que uso com coturnos. — Vai ficar parado aí avaliando meu visual ou podemos ir? — pergunto. — Não estou avaliando seu visual, só comparando o tamanho e as curvas com o de uma mulher que conheci outra noite. Sinto-me tensa imediatamente e o empurro, passando por ele. — Não me compare com suas mulheres! Vamos logo antes que eu mude de ideia! — Como se você tivesse essa opção — provoca, mas finjo não ter ouvido.
Vamos caminhando, já que o centro da cidade, onde ficam os
bares, restaurantes, praças e toda agitação, não fica tão longe. Além do mais, não quero ficar presa em um carro sozinha com ele. Caminhamos pelas ruas tranquilas, cumprimentamos as pessoas que cruzam nosso caminho. Há essa magia em cidades de interior, as pessoas se cumprimentam, elas se enxergam, não importa onde esteja aqui, se vir alguém, deve sorrir e cumprimentar. Realmente adoro isso! — O local mais famoso daqui é o Parque Nacional Serra da Canastra, e é realmente deslumbrante! É onde está a nascente do Rio São Francisco e há várias cachoeiras maravilhosas. Você precisa ir lá. — É arriscado irmos nessa época do ano? — Não se não estiver chovendo. — Isso significa que vai me levar até lá? — provoca, parado em frente a um bar que tem algum movimento. A música alta que vem lá de dentro me faz ter que responder mais alto. — Claro, se o senhor quiser! Não é como se eu tivesse opção. — E se eu te desse opção? — Não o levaria a lugar nenhum — respondo prontamente, mas isso faz seu sorriso aumentar de tamanho. Ele cruza os braços avaliando-me e o movimento faz seus braços, já montanhas firmes destacadas pela camisa justa, parecerem ainda maiores. — Então que bom que você não tem opção. Podemos ir amanhã de manhã? — Claro, mestre — retruco com ironia e agora seu riso é audível. Ele entra no bar e só me resta segui-lo. O bar é um dos principais points da cidade e já estive aqui outras vezes, principalmente quando Nina vem conosco em algum feriado. Ele possui a fachada simples, pintada de preto, mas são as portas de madeira, o deck enfeitado com postes de luz de madeira e os tijolinhos logo abaixo do nome do bar que dão um charme à sua aparência. Rocco observa um pouco lá dentro, mas como eu, prefere sentar-se no deck, onde o vento fresco da noite de dezembro parece aliviar a tensão que sinto pela maneira como seus olhos me escrutinam o tempo todo em busca da minha verdade. — O que mesmo você disse que faz para se divertir? — insiste quando as bebidas são servidas. — Um monte de coisas, não vou ficar repetindo feito um papagaio. — Então um clube noturno não está entre os lugares onde você se diverte. — Quando diz clube noturno está se referindo a boates? Porque se for... — Faço-me de inocente. — Estou me referindo a clubes de sexo. Lugares onde você respira prazer a cada passo. Não frequenta esses lugares? Por que as palavras sexo e prazer saindo da boca dele fazem os pelos do meu braço se arrepiarem? De repente as luzes de natal da decoração do bar são ligadas logo acima das nossas cabeças e agradeço internamente que isso tenha me dado uma desculpa para fugir de sua pergunta. Observamos admirados toda a cidade se acendendo, São Roque de Minas capricha na decoração natalina, Erin e eu adoramos passear pelas ruas à noite avaliando as decorações e escolhendo nossas preferidas. Fazíamos isso com a mamãe antes dela morrer. — Você não respondeu minha pergunta — ele insiste e quando olho em sua direção, seus olhos negros estão cravados em mim. — Não, não frequento clubes de sexo. Ele se debruça sobre a pequena mesa, ficando tão próximo ao meu rosto, que posso jurar sentir seu hálito de menta e álcool. — Tem certeza? — Acho que eu saberia se meu corpo estivesse por aí frequentando casas de prazer. Com toda certeza eu saberia. — Mas admitiria? — O quê? Quero rir e odeio isso! Preciso convencê-lo que não sou a mulher com quem ele transou loucamente em uma noite misteriosa em um clube secreto de prazer, pois se ele souber quem sou, se ele abrir a boca sobre isso ao meu pai, temo que ele não sobreviveria para absorver a ideia da filha frequentando esse tipo de lugar. De repente uma cadeira é arrastada perto de nós e Renato praticamente enfia o rosto na curta distância entre o rosto de Rocco e o meu. — Vocês saíram para beber e nem me chamaram. — Não sabíamos que queria vir — Rocco explica endireitando seu corpo. — E eu nem queria estar aqui, então não me cobre nada — respondo. Renato e Rocco começam uma conversa sobre a cidade, as casas, a vista, o ar mais limpo, o céu mais estrelado, ainda que muitas luzes natalinas pisquem logo abaixo. O tempo vai passando e não sei quantos copos já bebi, mas começo a vagar meus olhos na camisa vinho, nos botões abertos revelando um peitoral firme. Pior é quando fecho os olhos, porque consigo ver meus seios deslizando por esse peitoral enquanto sou preenchida por ele. Levanto-me de repente afastando os pensamentos e os dois olham para mim confusos. — Vou ao banheiro — digo afastando-me. Entro no bar, observo os homens presentes, não poderia apenas ignorá-los, mas nenhum parece tão interessante quanto o Sr. Devasso e irritante lá fora. Vou ao banheiro e jogo uma água no rosto, porque parece que estou quente. Deve ser a bebida. Embora não seja fraca para bebidas em geral, não gosto muito de beber. Meus prazeres são outros. Quando me aproximo de novo da mesa, disposta a avisar que fiz minha parte e estou de partida, uma mão enlaça minha cintura e um bafo de cachaça fala na minha cara: — Está sozinha esta noite, delícia? Tento me desvencilhar do grandalhão cheio de dedos para ao menos ver seu rosto, mas ele não me dá essa oportunidade. Ouço o barulho da cadeira sendo arrastada e vejo Rocco aproximando-se de nós. — Ela não está sozinha, está comigo. Solte-a. O grandalhão olha para ele, para mim e ri. — Você é o quê? O tio protetor dela? Seu pai? Prometo cuidar bem da sua menina. Rocco tem um sorriso tranquilo e cruza os braços. — Se não tirar a mão da minha mulher agora, não posso garantir que sairá do corpo dela ilesa. O grandalhão ri, desafiando Rocco e aperta ainda mais os dedos em minha pele, mas dura segundos antes de Rocco acertá-lo em cheio no rosto. Ele me solta e Rocco pega sua mão, virando-a para trás em uma posição que o faz gritar. — Vamos ver o que posso fazer com sua mão para que se lembre que não tem o direito de tocar uma mulher sem o consentimento dela. — Porra! Me solta! Rocco gira ainda mais o pulso dele e o grandalhão cai de joelhos, gritando mais alto. A música parou, as pessoas estão à nossa volta assistindo o espetáculo e estou estarrecida vendo esse homem com tanta calma e classe me defendendo. “Se não tirar a mão da minha mulher agora...” Minha mulher. Acho que estou excitada também. Definitivamente estou com problemas. — Porra, cara, cadê seu espírito natalino? — o grandalhão implora. — Está certo, estamos na época da compaixão e amor, não é? Vou ser legal com você, mas lembre-se dessa lição. — Eu vou lembrar! — ele confirma aflito. Penso que Rocco apenas irá soltá-lo e ele até começa a fazê- lo, mas parece mudar de ideia, pega o mindinho e o gira rápido, o homem grita, Rocco o solta e pega minha mão. Grita por sobre o ombro: — Vou tirá-la daqui para o caso de os amigos dele aparecerem, por favor pague a conta, Renato. Saímos sem esperar resposta, andando apressados e sequer consigo processar tudo o que aconteceu. Ele me guia por qualquer direção e acabo puxando seu braço e guiando-o até uma praça, enfeitada com luzes de natal e vazia agora. — Por que saímos correndo? Você não está errado! — Porque em cidades pequenas como esta, é possível que em minutos um grupo de amigos ou parentes do babaca aparecesse para vingá-lo. — Ah! Bem, obrigada por isso. — Eu não tinha certeza se você queria ser defendida, não me pareceu estar gostando do toque dele, mas desde que a conheci, não me pareceu gostar de realmente nada. É difícil saber. Se ele soubesse do que eu gostei. — A minha cara de prazer e de raiva são iguais. — Deus me livre! — provoca e sorri. Por que o sorriso dele é tão bonito, cercado por essa barba bem feita com fios grisalhos? Acabo sorrindo de volta. 0 clima entre nós parece mais tranquilo, leve de alguma maneira. Talvez possamos apenas conversar e voltar para a casa sem maiores problemas. Mas quando ele abre a boca, solta: — Clube Maskerade, dia 16 deste mês. A gravata, a música, era você naquele clube, no quarto 5, naquela noite, não era? Seus olhos estão fixos em mim e sou pega tão de surpresa que meu cérebro parece travar. Ele dá um passo em minha direção, suas mãos passeiam por meus braços levemente, me causando arrepios e mal consigo respirar pela maneira como está me olhando agora. — Me diz se foi você a mulher com quem transei naquela noite. Foi você que me deixou duro em segundos e trepou tão gostoso no meu pau que quase me fez tirá-la daquele lugar e pegá- la para mim? Era você, Ellah, naquela noite fodendo comigo enquanto o mundo lá fora não existia? Sua voz é baixa, assim como suas palavras. Ele não joga limpo. Minhas pernas parecem bambas e se eu já estava excitada antes, agora estou quase perdendo o controle e pulando sobre ele. Preciso de todo um autocontrole que nem sei de onde tiro para dar um passo atrás e negar. — Não fale esse tipo de coisa comigo, não te dei tal liberdade. Não sei com quem você transa nos clubes noturnos que frequenta, mas com certeza não foi comigo. Ele baixa as mãos e olha em meus olhos. — Olha pra mim e diz que não era você. — Não era eu. Nunca transamos e você é maluco. Ele assente. — Me desculpe então. Pela insistência e, principalmente, pelas palavras sujas. Não vai se repetir. — Espero mesmo que não. Ele se vira e leva as mãos à cabeça e pergunto como quem não quer nada. — Por que você quer tanto encontrar uma mulher com quem transou em um clube noturno? Não transa com muitas mulheres em lugares assim? Por que quer encontrar essa? — Não é nada demais. Bem, ela foi diferente, mas não posso explicar isso para você, porque prometi não falar mais esse tipo de coisa — responde e começa a andar. Corro atrás dele imediatamente. — Mas agora fiquei curiosa. — Sinto muito, não vou quebrar minha palavra e voltar a falar coisas baixas com você. — Só me explica porque ela foi diferente. — Para isso teria que usar palavras sujas. Ele sequer olha em minha direção, segue direto, olhando para a frente, a voz desapontada, envergonhada talvez. O tom firme, não vai me dizer. E eu preciso saber. Vou andando atrás dele pensando em uma maneira de fazê-lo falar. Insisto por todo caminho até chegarmos ao quarteirão da casa do meu pai. Subindo a ladeira avistaremos a casa, e não terei mais a oportunidade de perguntar a ele, visto que seu interesse por mim acabou completamente agora que aceitou que não sou a mulher do quarto 5 do clube noturno. Sem saída, seguro sua mão. Ele estranha minha atitude, mas para, olhando finalmente em meus olhos. — Desculpe insistir. Odeio ficar curiosa. Não vou dormir e você está no quarto ao lado, com certeza não o deixarei dormir. Serei desagradável e não quero ser mais desagradável do que tenho sido com você. — O que você quer? — pergunta, parece estar achando graça. — Por que essa mulher especificamente foi diferente? Você não pode começar uma história dessas e não terminar. É crueldade. Faço um beicinho e ele sorri, os olhos fixos nos meus lábios, mas cede. Esse beicinho sempre funciona. — Porque a foda foi... o que fizemos foi... droga! Não há como dizer isso sem palavras baixas, carregadas de erotismo e termos inapropriados, então vou dizer apenas que foi muito bom. Fizemos muita coisa, mas há uma que não fizemos. Quero encontrá-la para fazer essa coisa específica, depois disso ela pode sumir. Ele se vira e volta a andar, mas isso não é uma resposta. — Você está brincando? O que não fizeram? — Que diferença faz se nem sabe o que fizemos? Merda! Merda! Entramos em casa e o sigo como um cachorrinho escada acima. Detesto estar tão desesperada por essa resposta a ponto de correr o risco, mas não há nada que eu possa fazer para aplacar minha curiosidade. Ele está prestes a entrar em seu quarto, quando me enfio em sua frente, impedindo-o de abrir a porta, me recostando nela. — Que coisa não fizeram? Não me conte coisas pela metade, não faça isso comigo. Ele tem um largo sorriso agora, está sendo malvado de propósito, mas tudo bem, talvez eu mereça, uma vez que estou mentindo descaradamente para ele desde que fomos formalmente apresentados. Ele olha para trás, para o corredor, checando se há alguém que possa nos ouvir. Ele vai me dizer. Um sorriso já brota em meu rosto e espero impaciente quando ele planta a palma da mão na porta, ao lado do meu rosto e aproxima o corpo do meu. Fala baixinho, devagar, tão perto que minha respiração se mistura com a sua. — Minha boca esteve em cada pedaço do corpo delicioso dela, menos em seus lábios. Não nos beijamos e parece que faltou isso para encerrarmos o nosso ato, entende? Então quero achar essa mulher para beijá-la, para devorar sua boca e sugar sua língua e então encerrarmos esse ato do jeito como devíamos ter encerrado. Não sou capaz de respirar. Olho para seus lábios e quero que ele faça isso. Ele está certo, não nos beijamos. Tudo o que eu vi de seu rosto, o que sonhei dele nos dias que se seguiram ao que fizemos foi sua boca, e como eu quis senti-la na minha! Ainda quero, percebo. Me preparo para receber o beijo que vai incendiar minha alma quando ele abre a porta atrás de mim e caio para trás, me desequilibrando. Ele me segura sem muita vontade, apenas evitando a queda e diz sem olhar para mim: — Pergunta respondida, vá dormir. — O quê? — estou atordoada, meio tonta e com a respiração errática olhando para ele. Ele ri então, uma risada baixa, gostosa, preguiçosa. — Quer terminar aquela noite, Ellah? Vamos fechar essa porta, eu beijo sua boca e acabamos com isso. Não procuro mais você, seguimos nossas vidas e esqueço daquela noite, quer terminar isso do jeito certo? Meus olhos piscam incontrolavelmente, como uma boneca com defeito. — Não pense que me engana, não acredito nem por um segundo que não era você. De repente começo a rir, a gargalhar. Deixo seu quarto rindo, devo estar parecendo louca, mas é assim que me sinto. Entro em meu quarto, bato a porta e quando vou passar a chave, não o faço. — O que você está guardando para mim, querido Papai Noel preguiçoso? Esta manhã, Ellah me acompanhou até o Parque Nacional da Serra da Canastra, e, como prometeu, é mesmo um local maravilhoso. Além de vermos a nascente do Rio São Francisco e vários animais silvestres, onde a vista alcança é belo de parar as palavras. Inclusive, preciso admitir, minha guia turística mal- humorada. Ellah também é admirada por onde passa, embora não parece dar-se conta disso. Estamos agora na Cachoeira dos Rolinhos que, apesar do nome engraçado, é mais um lugar esplêndido. A água desce em cascatas sobre as pedras, não possui uma queda longa ou brusca, como as que passamos antes, mas uma queda suave, como ondas banhando os paredões rochosos por onde ela desce, desaguando em um poço comprido. Estou nadando na água gelada com outros banhistas e meus olhos se desviam para cima, para Ellah me observando atenta. Estive ansioso em vê-la de biquíni e flagrar pelo menos um traço da tatuagem sob o seio direito, mas ela disse que não estava disposta a entrar na água gelada da cachoeira, principalmente nesta época do ano, quando estão mais frias, de forma que não tirou a roupa o suficiente para sanar minha curiosidade em momento algum. Será que estou alucinando e ela não é mesmo a mulher do quarto 5 no clube noturno? Sem chance! É ela, tenho certeza! A maneira como ficou curiosa e mexida quando falei disso ontem à noite foi prova suficiente. Só preciso tirar sua máscara, derrubar sua mentira, encerrar isso e seguir em frente. Porque é o que pretendo fazer, não vou mesmo ter algum relacionamento sexual com a filha do meu sócio vinte anos mais nova. Me pego rindo ao constatar que estou sentindo falta de sua companhia mal-humorada e das respostas ácidas. De forma que deixo a água gelada e os olhares femininos interessantes e volto ao mirante para apenas admirar a vista ao lado dela. — Gostou? — ela pergunta um tempo depois. — Bastante. Acredito que este se tornou um dos meus lugares favoritos no mundo. Seus olhos descem para meu peito, para a tatuagem de coração em meu peito. — Essa tatuagem estranha tem uma história? — Nenhuma que eu queira compartilhar com minha guia desagradável. Ela revira os olhos e vira-se voltando por onde viemos. — Que seja! O sol já vai se pôr, você me prendeu por toda a tarde, está bom para você ou preciso passar a noite à sua disposição também? — É uma possiblidade? Espero uma resposta ácida ou uma negativa, mas ela ri. Uma risada leve e gostosa, me olha de lado, provocante e não responde nada. E algo em mim se agita com sua primeira bandeira branca desde que começamos isso. Por algum motivo, sinto-me feliz por essa pequena conquista.
A casa da família Belmont possui uma piscina grande o
bastante à disposição, mas os membros dela não parecem com a disposição de usá-la, de forma que me pego agora encarando-a ao cair da noite, pensando em uma maneira de ver Ellah em roupas íntimas em busca de sua tatuagem. Se ela for a mulher da outra noite, e tenho quase certeza que é ela, sabe quem eu sou. Minha tatuagem é diferente e visível, estou em desvantagem aqui. Talvez eu pudesse me esgueirar em seu quarto enquanto ela toma banho e observá-la sem que ela perceba... de jeito nenhum! Não tenho mais quinze anos, o que está havendo comigo? Preciso convencê-la a me mostrar seus seios, ou vê-los de algum modo que ela esteja ciente de que os estou vendo. Não percebo minha pequena companhia até a voz de Erin soar ao meu lado, dando-me um susto. — Este natal não será tão feliz quanto os outros. É uma pena que você tenha vindo justo nesse. A observo curioso, vejo os cabelos negros em tranças mescladas de rosa. Ela possui a mesma pele morena e os olhos redondos e vivos da irmã. — Por que acha que não será um natal feliz? — Papai Noel não virá este ano. — Não? Por que ele cometeria tamanha maldade? Tenho certeza que você foi uma boa menina. — Bem, ainda que eu me comporte mal de vez em quando, ele deveria vir, quer dizer, se ele realiza os desejos da Ellah, ele realiza os desejos de todos. Me pego rindo baixinho e ela continua. — Eu queria vê-lo. Sei que ele não é descuidado, faz isso a vida toda e não vai permitir que uma criança o veja. Mas ele aparece nas casas das minhas amigas da escola. — Ele aparece? Você não disse que ele não seria tão descuidado? — Sim, sei que não. Então acredito que o que elas viram tenha sido um de seus ajudantes. Você sabe, deve estar velho demais para ficar descendo por telhados e chaminés. Mas ele nunca enviou um ajudante à minha casa e eu fico de olho esperando vê-lo. Acho que sou esquecida por ele. — Ah, pequenina, o que é isso? Está duvidando da magia do natal? Seus olhinhos se enchem como ameixas em minha direção e um sorriso doce surge em seu rosto. — Você está certo! Tudo pode acontecer no natal, afinal é a data mais especial e mágica do ano! Venha, Queda, vou te dar papá. Ela pega a pug nos braços e corre para dentro de casa e percebo como estou encrencado. Talvez precise da ajuda de Ellah para salvar o natal de sua irmã. Volto para dentro de casa e logo na cozinha encontro Laura, a jovem cozinheira. Ela deve ter na casa dos trinta, tem cabelos curtos em um ruivo vibrante e é muito bonita. Sorri ao me ver e olho em volta, Ellah está aqui, cozinhado algo, o que me deixa confuso. — Você está cozinhando? O que está cozinhando? — Nada que seja da sua conta — é sua resposta. Laura sorri e responde por ela, aproximando-se mais do que o necessário de mim para isso. Diz praticamente em meu ouvido: — São rabanadas. Ela faz para a Erin desde o ano passado, desde que a Sra. Vitória se foi. A menina não gostou das minhas, mas gosta das da irmã. Observo Ellah que revira os olhos pela cozinheira faladeira e, a bem da verdade, o cheiro tomando o ambiente está maravilhoso. — Não estou mais em horário de trabalho — Laura diz de repente e a observo confuso. — Se quiser dar uma volta pela cidade, moro aqui desde que nasci, posso levá-lo a lugares que nem imaginaria conhecer. Sou pego de surpresa pelo convite. Não é que me desagrade, é que ao invés de respondê-la, meus olhos se desviam na direção da garota cozinhando tão perto de nós, que sequer olha de volta. Está pouco se lixando se saio com sua cozinheira ou não, claro. Abro a boca para declinar o convite, quando Ellah o faz: — O Rocco está cansado, Laura. Passou o dia nadando e fazendo trilhas. Ele já é mais velho, não tem tanta disposição quanto os garotos com quem você sai. — Sinto-me ofendido por sua resposta e ela parece perceber, pois diz antes que eu a retruque: — Ela é ninfomaníaca. Penso que está brincando e quando olho para Laura, ela tem a boca e olhos abertos, em choque. — Você está inventando isso? — pergunto. — Isso o quê? Sua idade? Ou seu cansaço? — brinca como se não houvesse dito nada demais. — Eu já vou indo, até amanhã Srta. Ellah, Sr. Villani — Laura diz sem graça e desaparece. — Que porra foi essa? Ela é mesmo ninfomaníaca? — Quem sabe? Você queria descobrir? Achei que queria negar seu convite, mas não sabia como, então devolvi o favor que me fez ontem à noite no pub. Não devia? Porque ainda dá tempo de alcançá-la. Ela se vira para trás, tentando pegar uma garrafa de vinho da prateleira mais alta da pequena adega acima da cristaleira. Fica na ponta dos pés e não chega nem perto de alcançar. Aproximo-me por trás dela, encosto meu corpo ao seu, pressionando-a contra a cristaleira e estico o braço alcançando a garrafa. — Você não estava me devendo favor algum, apenas ficou com ciúmes. Como ficou o dia todo das mulheres me olhando. — Não sentiria ciúmes de você nem se fôssemos casados. Já está velho. Pego a garrafa e entrego em suas mãos, abrindo espaço suficiente para que ela gire seu corpo em direção ao meu, ainda assim, estamos bem próximos. — Estranho, eu havia entendido que você deveria ser gentil comigo. Que deveria me mostrar que é gentil, confiável e solícita para conseguir a vaga. Não foi isso o que prometeu ao seu pai? Ela arregala os olhos escuros e adoro tê-la desarmado. — Como sabe disso? — Eu posso ter ouvido o acordo desonesto de vocês. Ouvimos passos e o latido de Queda, rapidamente ela pega minha mão e me guia por uma porta lateral. A fecha e estamos em uma despensa. Não é espaçosa o suficiente para nós dois. A iluminação vem de uma janela bem grande na parede ao fundo, de forma que consigo vê-la. Continuamos bem próximos por conta da falta de espaço e ela diz baixinho ao ouvirmos latidos na cozinha. — Não deixe o papai saber que você ouviu isso, ele ficaria muito envergonhado. Não é do feitio dele pedir favores assim, ele... — Eu sei, também ouvi essa parte. Não pretendo envergonhar seu pai de maneira alguma. Ela parece soltar o ar que estava prendendo. Estamos tão próximos que sinto o movimento de seu corpo quando o faz. — Não espere um pedido de desculpas — é tudo o que diz. — Não esperava uma vez que não está sendo gentil, solícita, sequer educada comigo. O que houve no meio do caminho? Desistiu da vaga? — Talvez. — É mesmo? Posso saber por quê? — Meu chefe seria um velho insistente, chato e depravado. Precisa de mais motivos? — Não costumo falar de assuntos pessoais e sequer olhar duas vezes para minhas funcionárias, aquelas que não comi em um clube de sexo, quero dizer. — Não foi comigo que você transou. Por que não supera isso? — Porque seu cheiro ficou em mim por mais de vinte e quatro horas. — Então porque uso o mesmo shampoo de alguém que você fodeu serei sempre perseguida? — Sempre é um exagero. Eu nem pretendia procurá-la, calhou de você literalmente cair diante de mim então fiquei curioso. Uma vez que eu provar que é você essa mulher, irei esquecê-la. Ela dá uma risadinha debochada. — Suas palavras não condizem com seu desespero em encontrá-la. Parece mais que está apaixonado. — Eu não me apaixono, como você bem lembrou a cada par de horas no dia de hoje, já estou velho para essas coisas. — Mas ela marcou você. Demoro um pouco a responder, quase posso sentir sua tensão. Por fim, dou de ombros, não vejo tão bem seu rosto, mas espero que esteja confusa agora. — Na verdade não. Você está certa, acho que estou exagerando nisso. Não preciso encontrá-la. Deixa pra lá, não é importante. — O quê? Você passou os últimos dias me atormentando por causa dela e agora diz que não é importante? — Estava entediado, pareceu uma diversão descobrir se você era ela, mas já se tornou cansativo. — Entediado? Está dizendo que a mulher que deixou seu cheiro em você por mais de um dia, a quem você almeja beijar, não passa de um passatempo? Observo seu rosto, não o vejo completamente, mas vejo o brilho irritado de seus olhos. — Por que está tão irritada se você nem é ela? Ela gagueja, mas se recompõe em segundos e responde. — Por sororidade. Rio baixinho. — Você é uma péssima mentirosa. Em um movimento a tenho em meus braços e mordisco seu pescoço, ela se deixa cair sobre meu corpo, rendendo-se completamente a mim. — Agora eu beijo você e isso acaba. Você não foi qualquer uma, Ellah, foi deliciosa, extraordinária. Eu a senti ainda por dias depois daquela noite, ainda que jamais pretendesse procurá-la ou vê-la de novo. — Eu não sou essa mulher — insiste com a voz carregada de desejo. — Eu poderia desmenti-la se a fodesse aqui e agora. — Então faça o teste — desafia Ela é a filha do meu sócio. Claro que não irei fodê-la na despensa de sua cozinha. Lógico que não. De maneira alguma. Suas mãos passeiam por meu peito e abdome e no segundo seguinte, as minhas se plantam em sua bunda e minha boca suga a pele de seu pescoço subindo até a sua boca. No segundo em que nossos lábios se tocam, a porta da despensa é aberta e nos afastamos em um pulo. Ela batendo na prateleira atrás de si e eu derrubando um pote de algum grão que cai se espalhando pelo piso. — O que vocês estão fazendo? — uma Erin desconfiada pergunta olhando de mim para a irmã. — Procurando açúcar para as rabanadas — Ellah responde prontamente. Ela continua nos observando e sorri. — Você já está fazendo rabanadas? Quantas poderei comer? Não posso sair daqui. Uso uma calça de moletom que não vai esconder minha ereção. Encaro Ellah afoito e aponto para baixo quando tenho certeza que Erin não está olhando, tentando ficar o mais afastado da luz da cozinha possível. Ellah olha na direção que aponto e sorri. A maldita sorri. Lambe os lábios e deixa a despensa tirando a irmã da cozinha. E essa maldita ereção não me deixa dormir a noite toda. Ela está no quarto ao lado. Sendo ou não a mulher da outra noite, está disposta a foder comigo e é uma tortura saber que a meia parede dessa ereção, está o que pode saciá-la. É vinte e quatro de dezembro e tenho pouco tempo. Preciso salvar o natal da pequena Erin, embora ache quase impossível conseguir isso tão em cima da hora. Acabei me esquecendo de pedir a ajuda de sua irmã na noite anterior, então vou atrás dela agora. Ela está na sala de jantar tomando o café da manhã com Renato. Escuto a voz dele chamando por ela e o som da cadeira sendo arrastada quando se junta a ele. Entro na cozinha e pego uma xícara de café. A sala de jantar é anexada a cozinha, não dá para vê-la daqui, mas fica logo na lateral, sem uma parede inteira separando os cômodos, de forma que é possível ouvir claramente o que está sendo dito lá. — Não entendo porque é tão fria e antipática com Rocco, Ellah. Não sabe o sacrifício que seu pai está fazendo para que consiga a vaga na editora — Renato ralha. — Acredite, Renato, eu sei. Apenas por isso prometi a ele que tentaria. — Mas não parece estar tentando. Sequer parece suportá-lo. — Talvez eu não queira essa vaga — ela diz surpreendendo- me. — Enrico jamais aceitaria isso. — Eu também sei disso. Minhas vontades e as dele nunca são as mesmas, mas são sempre as vontades dele que faço. — Bom, neste caso, tenho uma proposta para te fazer. Case- se comigo. Quase engasgo com o café quente e sou descoberto por eles. Quase mesmo. Deixo a xícara sobre a pia e aproximo-me a passos leves observando-os. Ellah tem o cenho franzido e Renato está de costas para mim. — Você bebeu? — ela diz enfim. — Estou falando sério, Ellah. Você se casa comigo e não precisará trabalhar. Seu pai é antiquado vai aceitar que você ficará em casa por conta dos filhos. Ela revira os olhos e emite um grunhido em reprovação. — Não será de verdade. Não se você não quiser. Nós nos casamos, você se torna independente e depois que nos separarmos seu pai não vai mais manter você em suas rédeas. Não será mais sua menina, será uma mulher divorciada. Uma adulta aos olhos dele. Espero que ela ria na cara dele, que negue imediatamente, mas ela não o faz. Está apenas olhando para ele sem reação. Não será de verdade? Ela está mesmo caindo nessa? Eles se casam e as ações dela na empresa do pai também serão dele. Ainda que seja falso, ele entra pra família, ela não está mesmo percebendo esse golpe? Não consigo mais ficar parado. Entro de uma vez na sala de jantar e me aproximo dela. — Bom dia pra vocês, Ellah, temos um problema sobre o natal de Erin e não tenho que resolvê-lo sozinho. — Que problema? — pergunta, mas percebo que está atordoada. — Venha comigo! — A pego pela mão e a arrasto escada acima até seu quarto. Entramos e só então a solto. — Você não está pensando em aceitar esse absurdo, não é? — pergunto tão logo fecho a porta atrás de mim. Ela me observa confusa, depois, cruza os braços na defensiva. — Por quê? Quer me fazer uma proposta melhor? — O quê? Ela sorri e maldição! Seu sorriso é lindo! Descruza os braços e me observa de um jeito preguiçoso, como que apreciando cada detalhe onde seus olhos alcançam. — Isso é um golpe — explico. — Ele quer entrar para a família, quer suas ações. Achei que deveria saber. Ela revira os olhos então, o que acho graça. — Acha que não percebi isso? Além do mais, não preciso de um homem para ser independente. Só fiquei chocada porque ele teve a audácia de tentar me passar a perna! O Renato! Aquele bobão que frequenta minha casa todos os finais de semana e feriados! Ele achou mesmo que eu... Dou dois passos largos em sua direção, a puxo pela cintura e a beijo. É um erro, tenho ciência disso, mas acho que estávamos com esse beijo entalado desde o primeiro dia. Seus lábios cheios se moldam aos meus, sua língua envolve a minha. Ela não é do tipo que espera ser dominada. Sua língua invade minha boca de volta, seus braços estão ao redor do meu pescoço e nossos corpos se tocam como se pudessem tornar-se um só. É gostoso, é arrebatador sentir meu peito acelerar e meu corpo todo reagir a um simples beijo depois de todos esses anos. Interrompo o beijo e acaricio seu rosto, a pele macia sob meus dedos. Seus olhos lânguidos pelo desejo, provavelmente nada diferentes dos meus. — Se você fosse dez anos mais velha, eu teria uma proposta muito melhor para te fazer. Ela envolveria nós dois nus, muitos beijos como esse, noites em claro e minha boca em cada centímetro desse seu corpo tentador. A observo, agora que a euforia do seu corpo tão perto está passando, consigo me concentrar mais no que importa. A parte do erro que estou cometendo. — Mas infelizmente você não é. É uma menina. Irresistível e única, ainda assim, nova demais para alguém como eu. — Não espero um pedido de casamento, Rocco, quero seu prazer — retruca. — Qual das duas opções seria pior caso eu te oferecesse? Prendê-la a alguém tão mais velho ou usá-la sem nenhuma promessa? Ela dá um passo para trás, quebrando nosso contato. — Você está certo, mas não sou eu que sou jovem demais, é você que é velho demais se pensa assim. E não é de idade, mas velho de alma, de desejos, de sonhos, de vontades... — Isso foi um erro, Ellah. Seu olhar agora é ferido e detesto isso. — Você ainda estar no meu quarto é um erro — diz e some para dentro do banheiro. É minha deixa para ir embora, entendo.
Enquanto dirijo até a vila próxima em busca da fantasia para
salvar o natal da pequena Erin, não consigo deixar de sentir sua irmã mais velha em meus lábios. Nem de deixar de ouvir suas palavras repetidamente em minha mente, acusando-me de algo que percebo com assombro, é completamente verdade. Sou velho de sonhos e desejos. Me aposentei deles há tempo demais. Estou jogada sobre a cama há longos trinta minutos o que, para alguém tão agitada quanto eu, é muita coisa. Ainda sinto seus lábios nos meus, suas mãos grandes com posse sobre minha pele e não ajuda saber em detalhes tudo o que ele sabe fazer na cama. Encontro-me em um estado febril que, ao invés de passar com a mágoa por seu fora, só fez aumentar com minha irritação. Jovem demais! Quando me comeu no clube não se preocupou com minha idade! Acima dos dezoito servia. Como ele pode ser tão antiquado? Ele frequenta clubes de sexo! Jovem demais! Tenho vinte e três anos! O que ele considera jovem demais? Um homem de trinta que mora com os pais ou uma mulher de vinte que tem sua independência? Não que eu tenha tido coragem de sair de casa, meu pai teria um troço, mas apenas para ilustrar que ser jovem demais é questão de interpretação. — Ridículo! E por que caralho eu quero chorar? Por que sua rejeição dói? Eu queria mesmo afastá-lo de mim, devia era estar feliz! De repente a porta do meu quarto é aberta e uma Erin afoita com olhos molhados vem até mim. — Ellah, me ajude! A Queda passou pela cerca para a casa dos Bento! Tentei passar também para buscá-la, mas é pequena demais! — Acalme-se, pegue um petisco que ela goste e a atraia de volta. — Não! Você não está entendendo! Ela foi lá para trás e sumiu! — Merda, Erin! Levanto-me e descemos as escadas pulando degraus e correndo como se a vida da pug fofa da minha irmã dependesse disso. Neste caso, acho que depende. O muro que separa nossa propriedade da propriedade dos Bento é alto, além do pequeno buraco por onde a pug passou, não há qualquer espaço para passarmos para resgatá-la. Os Bento não vieram para casa este fim de ano, nem mesmo Elias, o caseiro, está aqui. Sei porque Laura me contou que ele está na capital por conta do tratamento da esposa. Ninguém virá abrir os grandes portões de ferro da frente da casa para nos ajudar. De quatro na grama, observando por um buraco que cabe apenas minha mão, não avisto a pug em lugar nenhum. A propriedade dos Bento tem um adendo em comparação a nossa, um rio passa aos fundos dela. Se a pug cair nele... não quero nem pensar. — Ellah! Pule o muro! Pega minha Queda! Por favor! — A culpa é sua por colocar esse nome nela! Troque o nome dela e pulo o muro — tento. A resposta da minha irmã é um choro mais alto, estridente. — Tudo bem! Vou entrar e pegar a Queda antes que ela caia no rio, já que a dona dela a deu esse nome que é quase uma sina. — Cair no rio? Ela pode cair no rio? Acho que minha irmã não havia considerado essa possibilidade e agora está mais desesperada do que antes. O muro é cercado por Unha de Gato, uma planta trepadeira que claramente não está sendo aparada. Tento escalá-la, mas os galhos me arranham, está alta o bastante para minha mão sumir entre as folhas verdes quando tento alcançar o muro. — Vejamos, quando era adolescente e vinha aqui com a Nina, havia três buracos no muro que usávamos para escalar e fugir para nadar no rio quando os Bento não estavam. Onde ficavam? Vou apalpando entre as plantas, mas tenho uma vaga noção de onde pulei esse muro inúmeras vezes, não demoro a encontrá- los. Tenho dificuldade por conta da Unha de Gato, mas acabo usando-a para me segurar e, pouco depois, estou pendurada no muro. Minhas mãos se apoiam por cima dele e levantar meu corpo para pular para o outro lado é a parte mais difícil, quase impossível, o que me lembra que preciso voltar a praticar boxe urgente. Consigo pular ganhando alguns arranhões, meu pé tem um choque quando caio do outro lado, mas vou correndo assim mesmo chamando a contragosto o nome absurdo da pequena e fofa pug. — Queda, vem aqui pra titia! Queda, querida, venha, amor, sabe que temos uma história! Quedaaaaaa! Ouço o latido da pug e a coisa pequena vem trotando em pulinhos fofos, abanando o rabinho em minha direção para o meu alívio. A pego nos braços e grito assim que me aproximo do muro: — Está tudo bem, Erin! Ela está bem. Vá para o buraco por onde ela passou, irei passá-la de volta pra você. Segure-a firme. — Tudo bem — minha irmã chorona responde. Acaricio a pug, (sempre irei chamá-la por esse nome) para que não se assuste e a passo pelo buraco. Erin a pega e começa a me agradecer. E agora vem a parte mais difícil: pular de volta. Primeiro, caminho a longa propriedade até a entrada para ter certeza que o portão está trancado e não há como abri-lo para sair deste lugar como uma pessoa normal. Vejo a câmera de segurança ligada e aceno, balbuciando para que os Bento vejam quando vierem ao interior: — Saudade de vocês, apareçam! Ah, e da próxima vez deixem uma chave sob o capacho. Obrigada. Espero que eles entendam já que a câmera de segurança deles não reproduz som. Sim, eu pulava bastante mesmo o muro deles, mas eles sempre me adoraram. Encontro de novo os buracos e subo por eles, tenho ainda mais dificuldade na hora de passar o muro e o impossível acontece: meu coturno fica preso na maldita Unha de Gato no momento em que passo a primeira perna para o lado da minha casa. — Está de brincadeira! — reclamo. — O que houve? — Erin pergunta. — Meu pé está preso, vá chamar papai, ou Renato. Peça a eles que tragam uma escada. — Se eles estivessem aqui acha que eu teria pedido a sua ajuda? — Garota! Para de ser abusada ou jogo esse cachorro de volta nesse quintal! Então vá chamar o Sr. Idoso que te deu essa coisa, você devia ter pedido ajuda a ele, para começar. — Foi o primeiro a quem procurei, também não está. — Sabe, Erin, você não está me ajudando em nada! Apoio as duas mãos no muro e tento puxar o pé preso. É ridículo que esteja preso do lado da minha cassa, não do lado dos Bento. Passo assim mesmo e tento alcançar com o pé livre o segundo buraco do muro, mas não dá certo e acabo pendurada de cabeça para baixo, as costas batem nas Unhas de Gato e praguejo tanto, que terei que colocar no mínimo cem reais no pote de palavrão da Erin. — Erin! — Estou indo buscar ajuda! — grita e sai correndo. Enquanto isso fico aqui, no sol, a blusa cobrindo meu rosto, de cabeça para baixo, perigando cair de cabeça a qualquer momento. Não há qualquer lugar onde eu possa apoiar os braços para evitar essa queda e rezo que não passe minha véspera de natal no hospital da cidade. É quando escuto passos e alguém corre em minha direção. Tiro a blusa do rosto e é Rocco. Claro, quem mais seria? Não vou pedir a ajuda dele. Não vou mesmo. Prefiro cair de cabeça no chão. — O que temos aqui? — pergunta divertido. — Vaza, idoso! Está tudo sob controle! — Acho que em menos de um minuto você vai cair de cabeça. A grama aqui não está tão alta para amortecer a queda, não sei, mas acho que não está tudo sob controle. — Onde está seu espírito natalino? — reclamo vendo-o de cabeça para baixo de forma que meus olhos estão na direção do volume em sua calça. Preciso segurar o riso ao constatar isso. Ele se aproxima para me ajudar, até segura meus ombros, mas parece mudar de ideia. De repente, sinto-o tocando meu sutiã. — O que está fazendo? — pergunto alarmada. — Desmascarando uma mentirosa. — Você disse que eu cairia de cabeça em menos de um minuto, não é hora para isso! — Não haverá hora melhor do que essa. Se continuar se mexendo assim, vai cair em dez segundos. Fico totalmente parada enquanto sinto seus dedos, dedos que conheço muito bem, se adentrando debaixo do meu sutiã e não há absolutamente nada que eu possa fazer para impedir que ele veja o cordão com três pequenos corações que tenho tatuado sob o seio direito. Ele solta uma risada alta quando constata que esteve certo o tempo todo. — Muito prazer, Srta. do quarto 5, pequena mentirosa. — Me tira logo dessa merda! Minha pressa nem se deve mais ao fato de que o sangue já desceu pra minha cabeça e sinto que ela irá explodir, ou que posso cair com ela a qualquer momento e realmente ela irá explodir. Ela se deve ao calor de seus dedos atrevidamente passeando pela tatuagem logo abaixo do meu seio e do quanto isso está arrepiando meu corpo. Isso não é hora de ficar excitada. É triste ser safada! — O que vocês estão fazendo? — a voz estridente de Erin nos pega de surpresa e Rocco dá um pulo tirando a mão do meu seio de uma vez. Meu pé se solta de onde esteve preso e ele me segura antes que minha cabeça exploda. Mas acho que de todo jeito ela irá explodir, porque ele sabe quem eu sou e vai contar tudo para o meu pai.
Após eu estar devidamente vestida e na vertical de forma
correta, ele se certifica que estou bem e faz piada: — Então você queria se socializar com as trepadeiras? Reviro os olhos e minha irmã defende: — Queda passou por um buraco no muro para o lado de lá. Se Ellah não pulasse para resgatá-la, ela podia cair no rio. — Ah, sinto muito, achei que fosse apenas uma traquinagem sua — diz desculpando-se. — Ao contrário do que pensa, não sou criança. E, por causa disso, não irei agradecê-lo. Tento sair de fininho, mas ele segura meu braço, andando atrás de mim, falando baixinho no meu ouvido para que Erin não escute: — Então a filha de respeito da família Belmont frequenta clubes de sexo. O que será que vou fazer com essa informação? — O que você quer? — pergunto entendendo o tom de chantagem. — Eu deixaria passar se fosse a filha de outro amigo, mas não quando a filha é uma mentirosa. — O que você quer? Escolha e me dê uma lição, Sr. Idoso que me fodeu no clube em que fui. Ele apenas ri, nada afetado por minha ameaça. — Vamos ver qual será seu presente de natal este ano, Ellah, você foi uma menina travessa — diz e se afasta sumindo para dentro da casa com uma sacola da loja de fantasias.
Fico na cozinha com Erin enquanto ela janta e come muitos
rabanetes. Ela costuma comer mais cedo, pois não fica acordada até meia-noite. Embora ela esteja falando sobre algo que acontece na casa de suas amigas, minha cabeça está no homem que pode contar ao meu pai que sua filha amada e mimada é uma safada. Estou realmente em pânico por isso. Por fim, escuto o que Erin está dizendo. — Você me ouviu? Os ajudantes dele são vistos pelas outras crianças, mas ele nunca mandou alguém até minha casa para que eu visse. — Ele quem? — O Papai Noel! Ela está falando do fato de não ter alguém vestido de Papai Noel para que ela veja e acredite na magia do natal e me sinto uma irmã relapsa. Por que não obriguei Renato a fantasiar-se? É quando um barulho chama minha atenção e uma mão coberta por uma luva branca, cujo corpo não aparece, me chama com o dedo indicador. Por mais bizarro que isso possa parecer, acho que sei do que se trata. Aproximo-me de um Rocco deliciosamente vestido de Papai Noel. Não há uma barriga redonda e sim uma camisa apertada o bastante para admirar a barriga tanquinho que esse senhor possui. As calças vermelhas do bom velhinho estão bem recheadas com suas coxas grossas e nem vou comentar o volume no meio. O verdadeiro saco do Papai Noel definitivamente está aqui. — O Papai Noel é uma santidade ou algo assim? — pergunto devaneando. — O quê? — É pecado desejar o Papai Noel? Sua resposta é um sorriso e preciso me controlar para parar de flertar com ele, afinal ele me deu um fora e está me chantageando. — Espere dez minutos e finja ajudar Erin a se deitar. Ela deve me ver deixando seu presente sob a árvore, mas não a deixe chegar perto ou descobrirá que sou eu. A guie imediatamente escada acima. Invente algo para que ela suba sem se aproximar. — Não se preocupe, eu sei inventar histórias. — E qual inventará ao seu pai se eu contar a ele os lugares que você frequenta? Lá se foi toda a graça desse homem vestido de Papai Noel. Meu natal está mesmo fadado a não ser feliz. Isso é que dá ser travessa! — Aquela que começa com o fato de que foi você quem me fodeu quando estive lá. — Isso até pode deixá-lo abalado, afinal, somos sócios. Mas eu fodi uma desconhecida que usava uma máscara. Era uma mulher qualquer que eu não conhecia. Já você... fodeu um cara em um clube de sexo. — Filho de uma puta! — Tenho certeza que ofender o Papai Noel na véspera do natal é crime. Faça sua parte, docinho, depois eu farei a minha. Apenas por Erin atendo ao seu pedido, caso contrário, pegaria esse saco vermelho que está em sua mão e o sufocaria com ele. Papai aparece com Renato a tiracolo e levo um susto, meu coração acelera e já quero começar a chorar e implorar clemência, mas Rocco deposita a mão em meu ombro impedindo-me de fazer qualquer coisa e diz: — Esperem lá fora, ela não pode vê-los. Então papai e Renato dão a volta e respiro aliviada. Vou até a cozinha e ajudo Erin a guardar a louça na pia. Ela já esfrega os olhinhos desanimados e a guio devagar em direção as escadas que ficam na sala de estar onde há a árvore de natal. Vamos caminhando devagar quando ela para de repente e emite um grito surpreso. — Ellah, você pode ver isso? — Posso ver o quê? Ela aponta desesperada em direção a árvore. A mantenho a uma distância segura para que não reconheça Rocco. — O Papai Noel. Seu ajudante. Ele está aqui. Está deixando meu presente. Você não pode vê-lo? Olho na direção que ela aponta e o que vejo é a bunda durinha e grande demais para um homem do chantagista Rocco enquanto ele está abaixado deixando algo sob a árvore. — Eu não o vejo, acho que adultos não podem vê-lo, meu amor. Mas ele não pode saber que você o viu ou será repreendido. Vamos, vamos subir devagar para que ele não seja punido. Ela sobe na ponta dos pés e faço o mesmo, os três lances de escada. E enquanto a ajudo a vestir seu pijama natalino e penteio seus cabelos, mantém um sorriso enorme no rosto. O maior sorriso que já vi em seu rosto desde que a mamãe morreu, eu acho. Maior até do que quando ganhou a pug. — Papai Noel lembrou-se de mim. Esse é um dos dias mais felizes da minha vida inteira! — Quer que eu fique com você? — Não precisa, vou dormir logo para acordar cedo e ver qual é o meu presente. Que pena que você cresceu, Ellah, ser criança é mágico! — Disso eu tenho certeza. Boa noite, meu bem, tenha bons sonhos. A deixo ali e sinto vontade de registrar sua felicidade para mostrar a papai. Detesto ter que agradecer ao homem que preciso odiar pela felicidade nos olhos e lábios da minha irmã. Mas ele não está à mesa conosco. A meia-noite chega, brindamos, comemos e ele não aparece. Sinto-me irritada que tenha preferido a solidão do que nossa companhia. — Seu sócio não vem cear conosco? — pergunto a papai. — Não tenho certeza que virá, mas tenho certeza que está se esforçando para vir. O que ele fez pela sua irmã... nem tenho palavras. Reviro os olhos. — Qualquer um de vocês dois podia ter feito isso. — Mas não fizemos. Ele é muito bom com crianças, sabia o presente perfeito para ajudar com a solidão dela em casa e salvou seu natal com algo simples que jamais pensaríamos. Foi um excelente pai. — Não é tão bom assim se preferiu passar o natal conosco do que com a família dele — alfineto. — Ele não tem mais família — meu pai responde com uma voz triste. — Como assim? — A mulher tinha câncer. Um tumor. Descobriu ao engravidar e se levasse a gestação adiante não sobreviveria, mas ela quis ter a criança porque suas chances de sobreviver eram pequenas. Teve a Vitória saudável inicialmente, mas aos seis anos ela também desenvolveu câncer. Leucemia, se não me engano. Lutou por dois anos e faleceu, três anos atrás. Desde então Rocco se manteve afastado, recluso em sua casa sem ver ou falar com ninguém. Faz pouco tempo que voltou à vida, que voltou a sair, comprou a editora que estava fechando as portas e aceitou minha ajuda. Acho que este é o primeiro natal depois da perda da filha que ele sai de casa. Levo a mão ao peito ao sentir meu coração doer. Meus olhos estão cheios. Sua filha tinha o nome da minha mãe. — Ele viveu por aquela criança, fazia de tudo por ela. Até mesmo um desenho feito por ela ele tem tatuado no corpo. O coração estranho, torto, que parece ter sido feito por um tatuador de cinco anos. Realmente foi desenhado por uma criança e agora parece fazer todo sentido. De repente parece a tatuagem mais linda do mundo. Pego um prato e sirvo um pouco de cada coisa. — Vou levar algo para ele. Se estiver no quarto, talvez não queira sair. Pode não estar pronto para socializar em datas tão familiares, assim pelo menos não sentirá fome. Papai e Sheila concordam e vejo Renato observando-me como se eu tivesse três cabeças. — Nunca a vi fazer nada por ninguém além da sua família — comenta. — Você não passou tempo o suficiente perto de mim então. Boa noite para vocês, feliz natal — digo afastando-me, mas acho que depois disso, ninguém terá um natal exatamente feliz.
Bato na porta e não há resposta, então a abro devagar, dando
tempo para que me mande sair. Ele está sentado sobre a cama olhando pela janela. Ainda está vestido de Papai Noel embora não use mais a barba, porém agora está descalço e tem a camisa aberta, revelando o peito desnudo. — Olá, você está bem? — pergunto. Ele observa o prato na minha mão e franze o cenho. — Você não colocou um laxante ou algo assim nessa comida, não é? Por Deus, Ellah, é natal! — Claro que não, deixa de ser ridículo! — Então por que me trouxe isso? — Porque você não desceu para cear conosco e achei que poderia estar com fome. Ele me observa confuso. Por que as pessoas sempre me olham assim quando sou gentil? — Está me adulando para que eu não conte nada ao seu pai? — Se eu quisesse adulá-lo para isso viria até seu quarto nua, não carregando um prato de comida. Ele ri, uma risada baixa, leve. Não se move para pegar o prato da minha mão, apenas me observa. Observa meus olhos. Desvio meu rosto, mas acho que percebeu que estive chorando. — Então seu pai andou contando a você coisas sobre mim. — Por que veio para cá se não queria passar o natal acompanhado? — Porque prometi que viveria. Toda a magia acontece no natal, não é o que dizem? Você pode se ferrar o ano todo, neste dia, algo mágico vai salvar você de toda merda. — Veio esperando por isso? — Sim. — Não está com fome? — pergunto, insistindo no prato que trouxe. Tiro a tampa que coloquei para cobri-lo tentando que o cheiro e a aparência da comida o façam animar-se. Ele se levanta finalmente. Pega o prato da minha mão, depositando-o sobre a cômoda e diz: — Obrigado por isso, Ellah, de verdade. — Não foi nada. Quer que eu te faça companhia ou prefere comer sozinho? — Estou faminto, mas minha fome não pode ser saciada sozinho. Não entendo sua resposta e ele caminha até a porta, trancando-a. — Não vou contar nada a seu pai. — Em troca de quê? — De nada. Não é da minha conta, apenas gosto de irritá-la. Sinto-me surpresa. — Mas gostaria de pedir um presente de natal ainda que você me odeie agora. Quero repetir o que fizemos naquela noite, no quarto 5. Desta vez, vendo seu rosto e beijando seus lábios. Faça amor comigo, Ellah, me dê esse presente de natal. Ele se aproxima devagar. Será que querer sentar no Papai Noel é pecado? — Aqui? — Por que não? Porque meu pai está em casa... porque é a casa dele... a quem quero enganar? Ele se aproxima, mas passa direto por mim, sentando-se. Me viro em sua direção e o observo atentamente. A roupa vermelha, o gorro na cabeça, a camisa aberta e o peito firme à vista. A calça justa em suas coxas e o volume. — Você foi uma boa menina, Ellah? — pergunta lento, rouco, provocante. — Nego com a cabeça e ele sorri. — Apenas meninas travessas podem se sentar aqui — diz batendo em suas pernas. — Que bom que sou travessa então — digo. — Tire a roupa e venha, sente-se no meu colo e faça seu pedido ao Papai Noel. Começo a tirar a camisa que uso. Em seguida, tiro a saia, deixando-a cair por minhas pernas. Seus olhos acompanham cada movimento meu com admiração. Paro as mãos no fecho do sutiã e o observo. — Sim, minha menina, tire-o. Quero seus seios livres. O tiro e também a calcinha. Ele passa a língua pelos lábios e algo parece pulsar dentro de mim. Caminho devagar, mantendo a sandália de salto e paro diante dele. Ele segura minha mão, com a mão livre, passeia a ponta dos dedos por minha pele. — Tão linda! Naquela noite tudo o que eu queria era ir a um lugar mais reservado com você para vê-la exatamente assim. — Eu também — confesso. Ele levanta o quadril da cama, baixando a calça e vejo sua ereção. Consigo senti-lo dentro de mim. Nunca esqueci como é tê-lo me preenchendo. Eu realmente memorizei cada segundo daquela noite e minha memória afetiva dela talvez seja a mais detalhada que tenho da vida toda. Seus dedos passeiam por minhas pernas e tocam meu centro. Ele me deixa molhada em instantes, tocando-me com maestria, não com pressa demais, nem tão forte, mas em um ritmo em que sinto que posso me perder a qualquer momento, de pé aqui, diante dele enquanto ordenha o próprio membro e me leva junto. Quando o prazer é tanto que começo a perder o equilíbrio, ele para. Olha em meus olhos e pede baixinho: — Sente-se no seu Papai Noel, menina travessa. E eu me sento. Passando as pernas em volta das suas, me deixo sentar em seu membro rijo e grosso, sentindo-o me preencher aos poucos, até o fundo, por completo. Um gemido alto me escapa quando me acomodo em seu colo. Seus braços me cercam e ele me move, encostando meus seios ao seu peito, movendo o membro dentro de mim. É tão bom que abocanho seu ombro para conter os gemidos. — O que quer de presente, minha menina travessa? — pergunta em meu ouvido, a língua torturando-o deliciosamente. — Um orgasmo. Não! Dois. Três, se você quiser. — Como na outra noite. Olho em seus olhos e compreendo de uma maneira completa o que vejo em sua expressão. O desejo, a urgência, a saudade. — Me beija — ele pede e atendo, colando nossos lábios e enquanto nossas línguas se envolvem, apoio meus pés na sandália de salto e cavalgo sobre ele, sentindo-o me preencher e deixar, me completar e abandonar. A cada vez que subo e desço por seu membro, o quero mais. Mais forte, mais dentro, mais vezes. Meus seios deslizam por seu peito firme, suas mãos se agarram em minha bunda ajudando meus movimentos. Nossas bocas se encontram em gemidos e beijos quentes. Quando estou prestes a me perder ele me beija, abafando os gemidos, a lamúria. Seus braços me cercam prendendo-me a ele e tenho uma sensação de pertencimento avassaladora enquanto gozo em seu membro plantado todo dentro de mim. Não me lembro bem dos meus natais quando era criança. Mas tenho certeza que sentar no colo do Papai Noel nunca foi tão bom! Abro os olhos sentindo o sol sobre meu rosto e seguro a tempo sua mão, quando está prestes a deixar a cama. — Onde está indo, fugitiva? — pergunto sonolento. — Não posso acordar na cama com você, Sr. Villani. Vou correr até meu quarto e fingir ter acordado lá. Sorrio observando sua pele morena sob o sol, os lábios cheios, os cabelos cacheados desgrenhados depois de tudo o que fizemos nesta cama a noite toda. É manhã de natal, a primeira em que não estou sozinho na minha bolha de conforto depois de tudo, então foda-se! Não quero pensar nas consequências do que fizemos. Ela se veste enquanto a admiro. — Cada pedaço de você é incrivelmente belo — confesso e ela sorri sem graça, o que me surpreende. Acho que ainda não a havia visto sem graça. Com certeza não ficou assim enquanto me chupava poucas horas atrás. Ela deixa o quarto na ponta dos pés e começo a dar-me conta que o que pedi foi uma noite. Um presente, nada mais. Porque não tem que ser nada mais do que isso, certo? Se contarmos com a noite no clube, já foram duas. Neste caso, qual o problema de serem três ou quatro? Se já serei punido por um erro, melhor me esbaldar dele enquanto posso. Tomo o café da manhã depressa e espero por ela, mas ela não desce para tomar café da manhã conosco. Apenas Renato e eu estamos acordados, ainda é cedo e é manhã de natal. Há um sol forte lá fora, diferente do clima mais fresco de antes, quando passei o dia em cachoeiras. Hoje sim seria um bom dia para nadar. — Hoje é um bom dia para nadar — minhas palavras ecoam na voz dela, quando aproxima-se usando uma saída de banho branca cobrindo o corpo e pega apenas um pão de queijo da mesa, beberica um café rapidamente e afasta-se. Termino o café o mais rápido que posso, tentando não parecer suspeito e vou para a piscina atrás dela, mas ela não está aqui. Está parada recostada ao muro onde esteve pendurada de cabeça para baixo ontem. Sorrio ao me aproximar. — O que está fazendo? — Pensando em quem irá me salvar caso dê errado. — O quê? Ela aponta para cima. — Do outro lado do muro é a propriedade dos Bento. A família não vem para cá há um tempo, então está descuidada. Ao fundo da propriedade deles, corre um rio. Observo seu corpo delicioso coberto por uma saída de banho. — Vai pular o muro e nadar no rio? — Ela assente. — Sozinha? — Só se você não quiser vir comigo. Você disse uma noite, me pediu um presente. Talvez não queira pular o muro como um moleque e ir nadar em um rio comigo. Pelados — finaliza e enfia as mãos e os pés entre as trepadeiras, conseguindo subir no muro. Ela o escala e para lá em cima. — O que foi? Não quer fazer isso ou está velho demais para pular um muro? — Sua atrevida! Vou fazê-la engolir suas palavras ofensivas junto com minha porra. — Então venha. Tateio o muro entre as trepadeiras e encontro buracos. Ela pula para o outro lado ele escalo o muro sem dificuldade, agradecendo por ser praticante assíduo de CrossFit. A sigo até a parte de trás da propriedade que está coberta por mato e parece ser bem grande. O rio ao fundo pode ser visto logo ao longe. Ele corre sumindo de vista, mas uma parte dele se aglomera em um poço, cujas pedras no fundo podem ser vistas sem dificuldade. A água é transparente. O barulho da água correndo, pássaros cantando, as serras atrás da propriedade e todo o verde à sua volta tornam este, um cenário memorável. Ainda assim meus olhos se focam ansiosos na mulher ao meu lado, esperando vê-la de biquíni. Algo que me negou por todo o dia das cachoeiras. Ela tira a saída branca revelando sua pele morena aos poucos. Vejo as panturrilhas, as coxas e a bunda cheia e durinha sem nada entre as bandas. Ellah está nua. Joga a peça para o lado e mergulha no rio. Começo a tirar minha roupa enquanto a vejo nadar. Pulo nu no rio também, apesar do sol forte, a água é gelada. Um choque atinge meu corpo, passando em seguida, quando a alcanço e ela se encaixa em meus braços. — Podemos ser pegos aqui? — pergunto sentindo seu corpo nu tocando em cada centímetro do meu corpo. — Com certeza! Está com medo? — Estou excitado. — Isso é justamente o que eu queria ouvir. A beijo, calando-a e nos perdemos sob a água quando ela passa as pernas ao redor do meu corpo e a penetro. Nossas bocas não se desgrudam, as línguas não se deixam e nossos corpos se conectam em êxtase. É tão bom estar dento dela assim! Livre, puro, sem nada entre nós, sabendo que estamos seguros. Claro, essa segurança não existe do lado de fora dessa água, pois, podemos ser pegos. Mas esse risco só me faz penetrá-la mais forte e mais rápido para que se perca comigo e possamos recomeçar. Estamos boiando nus na água, quando pergunto a ela: — Sua cozinheira é mesmo ninfomaníaca? Ela solta uma risada gostosa. Gosto da risada dela, de alguma forma me faz querer rir também. — Você está interessado nela, Sr. Villani? — Meus olhos nunca estiveram em outra mulher além de você desde a noite 16 deste mês. Gostaria de vê-la agora, mas sinto que está sorrindo. — Não, esse é nosso código. Papai costuma vir aqui com funcionários de sua empresa, amigos empresários e seus filhos. Laura e eu temos um gosto parecido para homens, então combinamos um código absurdo caso uma estivesse prestes a invadir a gaveta da outra. Se eu quero alguém que tem interesse em mim de volta, digo que ela é ninfomaníaca para essa pessoa se ela der em cima dele. Ela faz o mesmo quando a situação é inversa. Funciona, você ficou bastante chocado. Minha risada acaba afundando meu corpo na água, e posso finalmente observar seu corpo nu boiando sob o sol. — Então estava apenas me marcando como seu? Seu corpo relaxado fica totalmente retesado, e afunda na água também. Olha em meus olhos e sua expressão é diferente, me observa entre confusa e divertida. Depois de um tempo, diz: — Merda. Sim, o marquei como meu. — E como você sabia que eu tinha interesse em você de volta? — Não sabia. O que eu sabia era que você não ia ficar com ela. E antes que pense que agi por ciúmes, nós transamos naquele clube noturno, portanto, você já estava na minha gaveta quando pisou aqui. — Justo. Já que me contou algo a seu respeito, devo contar algo também. — Ela me observa ansiosa. — Quando aquele babaca a pediu em casamento, eu fiquei louco. Tive medo que aceitasse e juro que se você considerasse essa ideia, a sequestraria e levaria para longe até fazê-la repensar. Ela espera que eu continue, mas não posso dizer a conclusão disso. — E antes que eu pense que estava com ciúmes, você sentiu- se assim porque... — insiste, esperando que eu conclua com uma explicação lógica, como ela. — Porque eu estava mesmo com ciúmes — admito. Ela sorri, mas um sorriso contido, seus olhos se desviam dos meus e parece uma menina feliz com um presente. — Você é linda! — digo de repente. — Não só por sua aparência, esses cabelos cheios tão bonitos ou seu corpo delicioso. Sua personalidade é linda. É diferente e única. Você é surpreendente, nunca sei o que esperar e gosto disso. Gosto de provocá-la e descobrir como você reage às emoções que posso fazê-la sentir. Gosto de me surpreender por sua ousadia e cinismo. Você me faz querer estar ao seu lado. Ela fica tão quietinha e séria, apenas olhando-me de volta, e penso que disse algo que a chateou. Mas então ela vem em minha direção, um sorriso vai surgindo em seu rosto até aproximar-se e me beijar de leve nos lábios. — Ninguém nunca disse gostar de mim assim. Juro. Nem mesmo minha mãe. As pessoas gostam de mim apesar da minha personalidade, não por causa dela. — A incomoda que eu goste? — Me assusta e me agrada. Mais me agrada, na verdade. Porque sei que se alguém pode gostar de mim assim, o problema das pessoas que não gostam está nelas. Só se vive uma vez, não quero perder meu tempo me esforçando para agradar quem não faz nada para ser agradado, sorrindo para quem não me faz bem ou fingindo ser gentil e amigável quando meu humor está péssimo. Não quero viver fingindo ser nada. Gosto de ser exatamente como estou me sentindo, mas as pessoas não veem isso com bons olhos. Sou sempre mal-humorada, desagradável, preguiçosa e antipática. — Você é mesmo tudo isso que disse — confirmo e ela ri, então a beijo. — A diferença é que não esconde ser assim. Por mais descarada que seja, você é alguém em quem se pode confiar de olhos fechados. Ficamos mais algum tempo no rio conversando sobre a vida, manias, defeitos, vontades. Ela ressalta o quanto estou me perdendo dessa parte e sei que está certa. E é só uma menina, infelizmente sua personalidade única e incompreendida ainda vai mudar. A vida se encarregará disso. Ainda assim é bom estar com ela, falar com ela, transar com ela. Até mesmo rir com ela. Espero que o homem que cruzar seu caminho quando estiver mais velha e for o alvo de seus sentimentos sinceros, perceba o presente que terá nas mãos.
Erin está no chão da sala, cercada por caixas, todas abertas,
os olhinhos brilhando enquanto pega tudo o que ganhou e explica para mim e Ellah o que são e como ela gostou. — O que você pediu ao Papai Noel este ano, Erin? — Ellah pergunta. — Não foi para você arrumar um namorado de novo — ela responde com uma careta. — Mesmo porque não funcionou no ano passado. O que pediu? Ela deixa a boneca que tinha na mão de lado e sorri sonhadora para a irmã. — Para ele me fazer modelo. — Modelo? — Sim, como a Gisele Bündchen. Não vejo modelos negras como nós com frequência. As influencers que acompanho não possuem minha cor, não que eu me importe, mas seria legal alguém como eu para acompanhar. Então eu quero ser essa pessoa. Quero ser uma modelo mundialmente famosa, linda e glamorosa como a Gisele Bündchen, tendo a minha cor. E todas as meninas do mundo inteiro vão achar a cor da nossa pele maravilhosa. — Sempre soube que você iria além, minha irmã. Com sua beleza e determinação, tenho certeza que vai conseguir — Ellah incentiva. — Na verdade, se quiser começar, há um livro infantojuvenil que será publicado pela editora em breve, sobre uma pequena guerreira que percorre os quatro cantos do mundo em busca das relíquias de seus ancestrais para libertar sua tribo de uma maldição. Essa pequena guerreira é negra como você, linda como você, forte como você e determinada. Ainda não encontramos uma modelo para a capa do livro então se você tiver interesse... Não consigo concluir a frase porque ela se levanta com a boca aberta. — Eu tenho. Com certeza eu tenho. — Ótimo! Quando voltarmos vou combinar tudo com seu pai para que faça as fotos. — Jura? Vou mesmo ser modelo? — Sim, se é o que quer fazer, claro que vai. Ela me abraça contente. — O Papai Noel nunca foi tão rápido! Não realizou meu pedido ano passado, porém este ano realizou os dois de uma vez. Ellah a observa confusa e a pequena emenda: — Por ser meu primeiro contratante, não vou contar ao papai que vocês dois estão namorando. — O quê? — Ellah e eu perguntamos ao mesmo tempo. Ela olha de um para outro com um sorrisinho travesso e estranhamente nenhum de nós desmente essa ideia. Espero Ellah explicar que não estamos em um relacionamento ou algo do tipo, mas ela parece deixar para lá. Fica mais um pouco brincando com a irmã, depois sobe para se trocar.
Passo a tarde pensando no que Erin disse e na reação, ou
falta de reação de Ellah. Sei que não pensa que estamos em um relacionamento, ela é livre, quer viver seu prazer, não cobra ou oferece nada além disso. Mas o incômodo que tenho sentido desde a afirmação de Erin continua aqui, de forma que acabo entrando em seu quarto sem bater na porta. Ela está deitada sobre a cama com um livro em mãos. O deixa de lado quando me vê e seu sorriso é grande e lindo. — Você entrou mesmo sem bater. — E você não trancou a porta. — Não podemos transar agora, é de tarde. — Não vim aqui para isso — respondo com um sorriso quando ela parece desapontada. — Então o quê? Ela se senta na cama e me sento ao seu lado, olhando para a porta de seu banheiro. — O que Erin disse mais cedo... — Não se preocupe, ela não vai dizer isso ao papai. — Mas você não a desmentiu. — Se eu tentasse só a faria continuar falando disso, tentaria argumentar o que viu ou ouviu para provar que está certa e estamos mentindo. A melhor maneira de pará-la era ignorá-la. Depois vamos embora, não nos veremos mais e eventualmente ela entenderá que não somos um casal. Consigo compreender o que está dizendo e faz todo sentido. Ellah conhece a irmã muito melhor do que eu, sabe como agir com ela. — Então não considerou nem por um segundo que pudéssemos ser um casal? — Não quando você disse que só tinha propostas a me fazer se eu fosse dez anos mais velha. Eu entendi que o que estamos fazendo é um erro para você. Que está fazendo assim mesmo porque não conseguiu evitar, mas vai se punir por isso. Então não espero nada além do seu corpo nu no meu, esta noite e nas próximas que virão. Não vou esperar nada além disso. — Você está certa. Em tudo o que disse. Mas não pense que quando a toco me sinto errado, porque não sinto. Estar com você é como estar no paraíso, por isso não pude resistir. Por isso estou disposto a encarar qualquer punição. Ficamos em silêncio um tempo, depois ela se move na cama, vira-se sentando-se de frente para mim. Diz com a voz mais baixa: — Eu fico decepcionada por não poder esperar nada mais de você. Viro-me em sua direção também, nossas pernas se tocando. — Fica? Você queria esperar mais de mim? — Não! Mas queria poder esperar. Sorrio, ela sorri de volta. O pior dessa conversa estranha é que entendo o que quer dizer. Ela queria ser uma opção para mim ainda que não fosse, mas saber que poderia ser. Eu queria que ela fosse uma opção, embora isso a tornaria imediatamente a única. — Você é jovem demais. — Você que é velho demais. — Não tenho mais tempo para me apaixonar e planejar um futuro a dois, Ellah. Também não tenho mais paciência para isso. — E eu planejo futuro a dois há muito tempo. Mesmo que ele nunca se concretize. — Planeja? — Por que está surpreso? Acha que quero passar o resto da vida frequentando clubes de sexo? — O que você planeja? — Um marido bem-humorado... você sabe, se ele for como eu... Uma risada me escapa e ela continua. — E filhos. Quero pelo menos dois, e que nasçam próximos um do outro. Meus pais tiveram a Erin quando eu já era velha demais para aproveitá-la. Ainda assim nosso elo é tão forte e bonito! Se tivéssemos idades parecidas seríamos as melhores amigas uma da outra. Quero que meus filhos tenham um ao outro enquanto crescem, assim não crescerão sozinhos como eu. Talvez duas meninas, eu gostaria. — Serão duas pequenas megeras? — provoco. — Só se elas tiverem sorte. — Sou obrigado a concordar. Não achei que pensasse nesse tipo de coisa. Para quando planeja isso? — Para o próximo natal se eu estiver entediada... — Sorrio. — Para quando o pai bem-humorado delas aparecer. E eu estiver consolidada na minha área. Não começando como sua editora chefe, mas como a assistente de algum outro babaca. — Está me chamando de babaca? — Você é um homem que desistiu de viver, então sim, babaca. — Agora você já sabe a história da tatuagem, pode entender porque desisti de fazer planos. — Na verdade não sei, sei por alto sobre o que houve com sua família. Sinto muito por suas perdas, sequer consigo imaginar o que tem passado. Quer me contar a história toda? Por que deixou sua filha tatuá-lo? Nunca pensei que sentiria vontade de contar a história apenas para compartilhá-la, sem ser obrigado a isso. Mas está acontecendo agora. Talvez por não querer sair de perto dela agora. Talvez porque estou curioso em como ela vai reagir a ela. — Minha filha tinha leucemia, estava em estágio avançado e o tratamento era cansativo e doloroso e ela não aguentava mais. Então um dia pedi que ela fizesse um desenho. Disse que eu guardaria para sempre esse desenho e ela desenhou esse coração. — Toco a tatuagem sobre a camisa que uso. — A linha é torta porque havia um acesso em sua mão dificultando seus movimentos. Então fui lá e tatuei sobre o coração seu desenho. Depois mostrei a ela e expliquei que ela sempre estaria comigo, na minha pele, sobre o meu coração, não importa onde estivesse. Ela entendeu a permissão para partir. Consigo vê-la claramente naquele momento em que viu a tatuagem. — Ela ficou maravilhada, riu alto como não fazia há muito tempo. Mostrou aos coleguinhas da oncologia que eu havia tatuado seu desenho. Eles disseram que ela era uma artista. Foi uma de suas melhores noites desde que tudo havia piorado. E poucos dias depois ela partiu. Eu deixei que fosse. — Porque a amava demais para vê-la sofrer — ela diz e assinto. Meus olhos estão cheios e meu peito se aperta. Aquele aperto que esteve nele nos últimos três anos. O que me faz perceber que ele não estava aqui nos últimos dias. Não estava desde a viagem para cá. Observo a menina ao meu lado que chora baixinho, emocionada. — É um risco que você vai correr se quiser ter filhos — digo sentindo-me péssimo por isso. — Vou correr muitos outros riscos também, eu sei. Mas não vou deixar de sonhar pelos riscos. — Você deixa quando não é mais só um risco. — Então se voltasse no tempo, não a teria? Escolheria não ser pai? A primeira imagem que vem à minha cabeça com sua pergunta é da minha filha sofrendo na oncologia infantil de um hospital. Mas só as primeiras. Todas as outras são de seus sorrisos, os primeiros passos, primeiras palavras. Suas apresentações de balé, as histórias mirabolantes que criava e contava para mim antes de dormir. Os abraços quando estava com sono, com medo, com frio ou doente. Os abraços mais fortes quando ganhava uma medalha na escola ou fazia um novo amigo. — Eu escolheria tê-la, sem dúvidas. Ela foi a melhor coisa da minha vida. — Acho que sua resposta é tudo o que precisa para entender que não pode deixar de sonhar. Espero que um dia se dê conta disso. Não respondo, mas ela não espera por isso, ao invés, vai até a porta e a tranca, então vem até mim e me abraça. Seus dedos acariciam meus cabelos enquanto ela me conforta da dor das lembranças. Não dizemos nada por um bom tempo, o sol vai embora, a noite cai, o quarto vai sendo banhado na penumbra e continuo aqui, em seus braços. E então me sinto bem. Me sinto leve, com saudades da minha Vitória, mas feliz por tê-la tido. Afasto-me de Ellah e aperto seus dedos com carinho. — A que horas você vai para o meu quarto? — Quem disse que vou para o seu quarto esta noite? — Se você não for eu virei para o seu. — Não, Erin dorme aqui do lado, eu vou para o seu. — Vou esperá-la ansiosamente. E espero. Os últimos dias passaram como um borrão. Tão rápidos e quentes, que lamento ser trinta de dezembro e termos só mais dois dias aqui. Em dois dias iremos embora e, provavelmente, só verei o homem entrando furtivamente em meu quarto em plena tarde, nas poucas ocasiões comemorativas da editora em que meu pai é sócio. E seremos como dois estranhos então. — O que está fazendo? — pergunto vendo-o sem camisa, aproximando-se com malícia nos olhos. — Vim convidá-la a ir beber comigo mais tarde, no pub. — Precisava vir sem camisa? — Algum problema? A estou distraindo? Um suspiro exasperado sai da minha boca e desisto da fingir repreendê-lo — Você me distrai mesmo quando está vestido. Seu sorriso está ali e adoro vê-lo tão leve. — Se você dissesse não, eu faria outra proposta. Por isso estou sem camisa. Observo vagarosamente seu abdome desnudo, prestando atenção aos poucos pelos entre as montanhas de seu corpo. Minha paisagem preferida deixou de ser as serras atrás da casa e se tornou as montanhas do abdome de um homem. O quanto será que estou ferrada? — Só temos mais dois dias — ele diz e me surpreendo que esteja lamentando antecipadamente a nossa despedida, como eu. — Ellah, tem que contar ao seu pai a proposta que Renato te fez. Ele vai julgar o risco que havia nela, mas precisa dizer a ele. — Eu sei, papai confia muito nele, assim que voltarmos à capital eu vou contar. — Você disse a ele que não quer a vaga de editora chefe na minha editora. Eu pretendo dá-la a você, mas só se você quiser. — Pretende? — pergunto quase aos gritos. Se ele me der essa vaga nos veremos todos os dias. Porém, ele será meu chefe, apenas. Por que ainda insisto nesses lampejos de esperança de que teremos algo além do que estamos vivendo aqui? — Pense bem se você a quer ou não. Pese suas possibilidades. Você disse que quer começar do começo, mas ainda seria um começo se você não fez isso antes. Apenas seria um grande começo. Dou um passo em sua direção e passeio a unha por seu peito firme. — Você vai me comer na sua sala escondido se eu aceitar? Ele ri alto. Parece pensar no assunto e responde: — Agora que você colocou deste modo, há um risco. Bem grande. — Significa que logo no início da minha carreira serei demitida por transar com o chefe? — Não quando o chefe estará mais do que satisfeito por transar com você. — Eu vou pensar sobre isso. Não sobre transar com o chefe e acabar minha carreira recém-iniciada, mas sobre um grande começo. Ele parece sem graça por eu estar falando sério e arqueio as sobrancelhas, confusa. — Ellah, claro que não farei nada que você não queira, principalmente no ambiente de trabalho. Tampouco farei algo que possa prejudicar sua carreira. Mas se você vai ficar o dia todo perto de mim, todos dos dias, precisa não ser você se quiser manter uma distância segura. Dou um passo atrás observando-o. — Como assim? — Se agir assim, descarada e atrevida, direta e provocante o tempo todo, vou comer você. Esteja ciente. Ele está mesmo falando sério. Não há um sorriso brincalhão quando diz isso, e sim apreensão por como irei reagir. — Então está mesmo me oferecendo um emprego com benefícios? — Se você considera assim, acho que me sinto aliviado. — Quantas mulheres na sua editora têm benefícios com o chefe? — Não seja atrevida. — Então não seja vago. Ele sorri. O maldito está sorrindo. — Você é mesmo ciumenta, só para constar. Nenhuma. Não me envolvo com ninguém, eu sequer tenho amigos. Para ser honesto, costumo trabalhar de casa, vou começar a frequentar presencialmente a editora a partir de janeiro. Então não conheço quase ninguém que trabalha lá. Mas se conhecesse, posso garantir que nenhuma outra mulher teria esse tipo de benefícios comigo. Só você me faz agir por impulso e desejo desse jeito, só você me faz agir como adolescente e ouvir apenas meu pênis ao invés da razão. E, pensando bem, agora que colocou assim temos que considerar que eu sou o mais velho, portanto, o responsável aqui. Não deveria ter feito essa proposta. Detesto quando ele começa a pensar demais. — A está retirando? Porque se estiver não quero trabalhar na sua editora. — Só vai aceitar uma vaga que a beneficiará se meu pênis vier no pacote? — Obviamente. Editoras existem muitas, um chefe gostoso como você, nenhuma delas terá. Funciona, a tensão deixa suas feições e ele está rindo, respira fundo. — Por que eu sei que está errado e mesmo assim continuo fazendo? — Isso não significa que esteja agindo como um adolescente, apenas como alguém que não nega seus desejos, que se importa com seu prazer. Não é errado ou imaturo como você pensa. — Quando você fala assim eu quase me sinto adulto de novo. — Rocco... — Faça isso de novo — me interrompe de repente. — Isso o quê? — Chame o meu nome. Você só me chama de chefe, safado, pervertido, querido ou Sr. Villani. Me chama assim de novo e vamos ver o quanto posso ser adulto e responsável perto de você. O observo com um sorriso, ele sorri de volta, me desafiando. — Eu quero todos os seus benefícios, Rocco. Espero que ele deixe o quarto, já que estamos no meio da tarde e ele não devia estar aqui, para provar que ainda é responsável. Mas o que ele faz é vir em minha direção e me beijar. E me beijar com desejo, posse, luxúria. Ele me prende em seus braços e sinto sua ereção despontando através da bermuda que usa. Nossas línguas se encontram e gemo em sua boca, o que o faz pressionar meu corpo contra a parede atrás de mim. De repente escuto passos no corredor e ele se afasta de supetão, porém está excitado, sua ereção será visível para qualquer um que entrar aqui. Abro a porta do closet e o enfio nele segundos antes de Erin abrir a porta. — Ellah, o papai mandou você descer... — ela para de falar e me observa confusa. — Tudo bem, já estou indo. — O que há com você? — Como assim? — Está agitada e descabelada. — Meu cabelo é rebelde. — Não é, não! Você está bem? Vou ficar melhor assim que você der o fora daqui. — Estou bem, querida, vou me trocar e descer. — Tudo bem, vou esperá-la. — Mas espere lá embaixo — decreto guiando-a porta afora pelos ombros. — Posso escolher sua roupa? — De maneira alguma. — Chata! — reclama e vai pelo corredor. Volto para dentro do quarto, tranco a porta e abro a do closet. Rocco tem uma expressão fechada e braços cruzados quando me encara. — Olhe só para mim, quarenta e quatro anos nas costas, escondido em um closet como um adolescente. — Mas o que é a vida sem emoção? Não importa a idade — defendo nosso desejo incontrolável. — Ellah... — Sinto muito por isso, jovenzinho. Agora, se não der um passo fora desse closet em dois segundos, vou me ajoelhar e chupá-lo aí dentro mesmo. Ele está surpreso, depois, respira fundo e cede. — Venha aqui, me chupe aqui dentro e vou guardar outra lembrança de ter me escondido aqui. — Como queira, Sr. Villani. Ele ri e cumpro o que prometi, enchendo a boca com seu membro e tirando dele todas as preocupações acerca da nossa idade, do nosso desejo e do quanto estamos dispostos a nos arriscar por ele. Mas quem muito se arrisca...
É a noite de ano novo. Observo o look que usarei esta noite
sobre a cama, Erin exclama admirada ao ver o vestido de alças, decote profundo, acinturado e de saia longa, com uma abertura na perna esquerda. Ele é todo coberto por outro vestido de renda que brilha levemente por seus strass prateados. — Você vai ficar maravilhosa nesse vestido! — ela diz admirada. — Você acha? Obrigada, minha querida. — O tio Rocco vai se apaixonar ainda mais quando a vir. — Erin, sobre isso, não estamos apaixonados. Por favor, meu bem, não repita algo como isso, está bem? Ela parece confusa. — É claro que estão! Ele sorri quando te vê sem motivo nenhum só que porque te viu, estamos falando de você, quem fica feliz por te ver? — Sai do meu quarto, pirralha. Ela segura a pug que se esbaldava no meu tapete e sai do quarto rindo. Meu telefone toca em seguida e atendo Nina, sentindo falta de sua voz. — E aí? Alguma novidade sobre o gostoso da tatuagem escrota? — Não fale assim da tatuagem dele! Há um motivo nobre e lindo para tê-la feito. — Então você o encontrou? Dou-me conta que não tenho dividido nada do que tem acontecido na minha vida com minha melhor amiga. Desde os meus doze anos, quando nos conhecemos, nunca houve algum garoto por quem tenha me interessado que ela não tenha ficado sabendo. — Ai, Nina, estou ferrada! — Por quê? Conte tudo. — Eu o encontrei, ele está aqui, ele é o sócio do meu pai. — O seu futuro chefe? — ela grita. — Sim e... ele me reconheceu, quer dizer, nos reconhecemos. Foi complicado no início, mas acho que estou apaixonada por ele. Ela desliga a ligação na minha cara. Pouco depois, liga de vídeo. — Miga, comece do começo, não me atropele desse jeito. Eu sumo por uma semana e você está apaixonada pelo seu futuro chefe? — Que também é o homem com quem fodi no clube noturno, e também é o sócio do meu pai e também é o convidado dele para as festas de fim de ano. — Ellah Belmont quando foi que você ficou tão interessante? Vamos, me conta tudinho. Você não sai desse quarto enquanto eu não souber de tudo. Ajeito os travesseiros do outro lado da cama, me ajeito recostada neles e conto à minha melhor amiga como me apaixonei em nove dias.
A noite caiu e me encontro em frente ao espelho de corpo
inteiro avaliando o vestido desta noite. Um frio na barriga enquanto giro observando minha imagem. Será que ele vai gostar? Merda! Nunca antes me vesti para agradar alguém além de mim mesma. O mais alarmante em estar fazendo isso agora, é a ansiedade de sua aprovação. Então é assim estar apaixonada. Será que esse frio na barriga será constante? Em coisa tão banais como que roupa usar? Confiro a maquiagem, coloco uma presilha de strass prendendo uma parte dos cabelos cacheados compridos, um colar prateado e um brinco argolado com strass prateado, combinando com o colar e as pedras de strass do vestido. Só preciso me calçar e estarei pronta. Já são quase dez da noite, eu deveria ter descido mais cedo para acompanhar Erin enquanto comia, mas fiquei ocupada demais me arrumando para agradar um homem. — O que você está fazendo, Ellah? — pergunto a mim mesma. Pego a sandália prateada de salto alto e a colo no chão à minha frente, subindo nela. A porta do meu quarto é aberta e Rocco entra. Ele está lindo! Usa uma camisa de linho branca, cujos primeiros três botões estão abertos, revelando o peitoral firme. Os cabelos, mais compridos desde que nos conhecemos, são fios negros com toques grisalhos charmosos. A barba, hoje bem aparada, quase não exibe os fios grisalhos. Usa uma calça caqui azul escura e, o que me faz abrir um sorrio, coturnos azul marinho, combinando com a calça. — Só porque hoje não estou usando coturnos. Mas ficaram ótimos em você — comento. Ele não diz nada, está olhando para mim minuciosamente. Aproxima-se devagar, a passos lentos, as mãos nos bolsos da calça, preguiçosamente. Dá a volta por meu corpo e para à minha frente. De repente, ajoelha-se diante de mim e fecha minhas sandálias. Seus dedos brincam em minhas pernas, tocando de leve a pele, e meu coração parece saltar. Quando se levanta, me olha mais uma vez de cima a baixo e diz, a voz baixa, crua: — Você está maravilhosa! Muito linda mesmo. — Obrigada. — É difícil não sonhar olhando para você assim — confessa. — Por que você tenta? — pergunto quando o que queria dizer é “por que não me pede em namoro e para de fugir?” ou “por que não se permite ter sentimentos por mim?” Mas apenas o afastaria se perguntasse qualquer uma dessas coisas. — Porque é ainda mais difícil quando os sonhos chegam ao fim. — Todo fim é difícil. É só não deixar chegar ao fim. Ele apenas sorri, aquele sorriso triste de quando vai se esconder nas lembranças. Não precisa dizer em voz alta o que sei que está pensando: nem sempre o fim está em nossas mãos. Ele é prova disso. Dou um passo em direção ao espelho para avaliar a sandália no pé, quando ele segura minha mão e me puxa de encontro ao seu corpo. Seu braço contorna minha cintura e ele respira meu cheiro afundando o rosto no meu pescoço. O arrepio percorre meu corpo e sua boca passeia pela pele provocando. — Está linda demais mesmo — diz baixinho. Então me beija, lento no começo, com cuidado para não nos bagunçarmos. Mas esse cuidado cessa em segundos. Sua mão se enfia na abertura do vestido e aperta minha bunda. Um gemido me escapa e ele grunhe em minha boca. Me aperta ainda mais contra seu corpo e estamos quase sem ar. — Você vai estragar minha maquiagem — aviso em sua boca. — É só um beijo — diz antes de sua outra mão se aventurar por baixo da saia do vestido e ele me suspender do chão. Passo as pernas em volta do seu corpo, cruzando os pés e ele volta a me beijar, me encostando à parede. Seu corpo pressionado ao meu, suas mãos segurando com força minha bunda, sua língua me fazendo gemer em sua boca. Sinto-me viva, acesa, em chamas, alagada, fora de mim e sem a menor vontade de descer para cear com outras pessoas. Só quero ficar aqui com ele. É quando o risco que temos provocado por todos esses dias cobra seu preço. A porta do meu quarto é aberta, e embora ele não costume fazer isso, desta vez ele fez. Papai está aqui. — O que está acontecendo aqui? Rocco me solta rapidamente, meus pés mal se firmam no chão e encaro um senhor com poucos cabelos brancos e pele morena, de feições severas e olhos assustados. Olhos fixos no homem ao meu lado. — Pai, eu... — começo a dizer, mas Rocco fala mais alto. — Eu não sei como me desculpar por isso, Enrico. Não há desculpas. Eu sinto muito, foi um erro estúpido. Olho para ele imediatamente, não acreditando no que acabou de dizer. — Vocês dois estavam... — meu pai começa, mas não consegue concluir a frase. — O que é isso? O que há entre vocês? — Nada — Rocco diz. — Nada sério. Foi só um homem velho agindo como um adolescente cheio de hormônios. Eu usei sua filha para me distrair, não sei dizer o quanto sinto. A culpa não foi dela, é uma menina, eu não devia ter feito isso. Mal consigo ouvir o que meu pai diz a ele depois disso, sei que está dando um sermão, algo sobre o ter recebido em sua casa como parte da família, sobre a confiança que depositou nele, mas minha mente ainda está em suas palavras frias, envergonhadas. Ele é um homem, não um adolescente. Não diria qualquer coisa sem pensar por ter sido pego, ele enfrentaria como eu estava disposta a fazer. Tudo o que está dizendo com calma, olhando nos olhos do meu pai, é a verdade de como se sente. Estava se distraindo comigo esse tempo todo. Não era nada sério, nada importante. Um homem velho agindo como um adolescente. Escuto apenas a última coisa que Rocco diz: — Eu nunca mais me aproximarei da sua filha, Enrico. Você tem a minha palavra. Simples assim, ele me descarta. Então deixa o cômodo sem sequer olhar para trás. O vejo passar pela porta e olho para meu pai, meus olhos já turvos, tentando muito não chorar diante dele. — Você me decepcionou muito, Ellah, me decepcionou. Erin está acordada, ela é quem viria chamar você, imagine se ela encontra essa cena? Você sequer me ouviu chamar. Nem teve o cuidado de trancar a porta, quando se tornou tão descuidada? Tão desrespeitosa! — Sinto muito por desapontá-lo — consigo dizer, embora minha voz soe embargada. — Vá embora. Vamos ter uma ceia de ano novo em paz sem nenhum de vocês dois aqui. Assinto e ele deixa o quarto. E assim que ele fecha a porta atrás de si, desabo. Então assim é se apaixonar. É uma merda. Por que mesmo eu quis passar por isso? É um sentimento, como é possível doer? Como posso estar sentindo essa dor no corpo? Na pele? Como posso estar fraca para levantar da cama? É só um sentimento. Tão rápido quanto surgiu, deve ir embora. Só vai doer hoje, amanhã apenas sentirei raiva do homem por quem estou apaixonada. Um belo presente de natal, esse. Os dias perderam de novo a graça, mas de uma maneira diferente. É diferente quando pareciam estar melhores, mais alegres e de repente não estão mais. São como eram antes desse final de ano, antes dessa viagem e de tudo o que houve nela, mas não exatamente iguais. Porque aqui em meu peito agora, há algo que há anos não existia: esperança. Porque deito a cabeça no travesseiro agora e sonho. Com ela. Sonho até mesmo acordado. Porque voltei a desejar algo com tudo de mim, e esse desejo está vivo, o que me faz pensar que não é impossível, o que não me permite apenas superá-lo. Sinto-me miserável. Nem tive coragem de olhar em seus olhos. Sequer me despedi da mulher em quem passei aqueles dias. Da mulher de quem fui mais íntimo nesses últimos anos, de todas as formas possíveis, e rompi tudo sem olhar em sua direção. Sinto-me culpado. Ela deve me odiar agora. Ela merecia mais do que isso. Nunca respondeu nenhuma das flores com pedidos de desculpa que mandei a ela, mas sei que ela merecia um pedido de desculpas decente. O elevador abre as portas e respiro fundo. Pensei que quando este momento chegasse, de voltar a viver como Vitória pediu, minha dificuldade seria conviver de novo com uma rotina normal, sair, trabalhar, voltar para cassa, uma vida normal quando não a tinha mais. Mas voltei a viver em São Roque de Minas e não foi nem um pouco difícil me esgueirar para o quarto ao lado, pular o muro, nadar no rio, dividir histórias. Estar aqui na editora agora é apenas o segundo passo. Ellah tornou o primeiro passo fácil e prazeroso. Uma mulher sorri quando me aproximo. Levanta-se e me estende a mão. — Olá, Sr. Villani, sou Anália, sua secretária. Trabalhamos juntos há algumas semanas, conversando apenas por e-mail. — Me chame de Rocco, por favor, Anália. — Tudo bem. Ela me mostra minha sala, explica como organizou tudo para que eu me sinta mais confortável e me passa a agenda do dia. Terei uma reunião de apresentação em pouco tempo. É eficiente e direta. — Obrigado, Anália. Você pode trazer os originais em que estivemos trabalhando nas últimas semanas, por favor? — Claro! — concorda, mas continua aqui, parada, me observando. — Algum problema? — Eu procurei fotos do senhor na internet e não achei nenhuma. O senhor aparenta bem mais jovem e é muito bonito. “Quantas mulheres na sua editora têm benefícios com o chefe?” A pergunta dela volta à minha mente e sinto sua falta. Reviraria os olhos se estivesse aqui, diria algo absurdo para marcar- me como dela, talvez. Com certeza afastaria a sorridente Anália de olhar-me como está olhando e fazer esse tipo de comentário. — Acho melhor você me chamar de Sr. Villani, Anália, já que confundiu chamar-me pelo primeiro nome como permissão para ter intimidade. Não temos. Ela abre a boca sem graça, mas assente e deixa a sala, indo buscar os originais. O mesmo acontece mais uma vez, alguns dias depois, com a editora chefe interina. Passamos horas demais juntos e, em uma noite, ficamos até mais tarde. Ela sugere que terminemos o trabalho em uma cafeteria na esquina e aceito. Estou mesmo exausto precisando de cafeína. Sentamo-nos frente a frente e fazemos o pedido, mas antes que cheguem sinto a ponta de seu scarpin em minha perna. Ela sorri amarelo e se desculpa. Volto o olhar para o iPad em minha mão, onde analiso as anotações do revisor e os cafés são servidos. Quando vou pegar minha xícara, ela faz o mesmo, tocando meus dedos. A observo e ela sorri: — Desculpe, estava prestando atenção ao laptop. Deixo o iPad sobre a mesa, sentindo-me cansado e ela faz o mesmo. — O que você quer, Lúcia? Por que tem encontrado motivos para me tocar nos últimos dias? Ela engasga com o café e me observa assustada. Por fim, pergunta: — Rocco, você não me acha atraente? — Não. Ela abre a boca em choque. — Não se sinta ofendida. Não tem a ver com você, provavelmente é atraente, mas não para mim. O problema está em mim, no entanto. — Você está muito apaixonado, não é? Tão apaixonado por alguém que sequer olha à sua volta. Essa mulher tem muita sorte. — Não estou apaixonado, não tenho mais idade para essas coisas — retruco. Chega o dia da sessão de fotos de Erin e faço Anália adiar todos os compromissos da manhã afim de acompanhar a sessão. Em parte, porque sinto saudades da pequenina, mas o principal motivo é que Ellah virá com ela. É claro que virá, Ellah participa ativamente da vida de Erin, como sua mãe faria. E estou contando os segundos para vê-la. Ando de um lado a outro ansioso, meu peito parece apertado, o corpo agitado. Até a respiração fica alterada constantemente. Finalmente ela chega, mas quem está com ela é Sheila, a governanta. Sorrio desapontado para a pequenina ao constatar que Ellah não vem. A sessão dura pouco mais de três horas, em que garanto que Erin não se canse e se divirta, mas ela leva jeito. As fotos parecem estar ficando ótimas e ela está feliz. Quando termina vou até ela que me abraça sorridente. — Obrigada, tio Rocco. De repente, se afasta, observando-me como se tivesse feito algo errado, então faz um beicinho e cruza os braços como se estivesse irritada. — E Queda? Como está? — Crescendo. E virando uma bolota, está difícil carregá-la no colo. — E seu pai? — Trabalhando. — Por que parece irritada comigo? — Porque estou. Não posso gostar de você, é difícil, porque você é legal e me deu a Queda, mas você fez a minha irmã chorar. Não posso gostar de quem faz a Ellah chorar. — Eu fiz sua irmã chorar? — Muito. E ela também não mora mais com a gente e não a vejo todos os dias. Não mora mais com o pai, o quanto está abalada a relação deles? E provavelmente não tem recebido minhas flores. Será que ela sabe que tentei, ainda que covardemente, me desculpar? — Você não gosta mais da minha irmã? Parecia gostar tanto dela! — Gosto, eu gosto muito da sua irmã! Não quero que ela chore. Ela respira, como se se sentisse aliviada e volta a sorrir. Seu sorriso se parece com o de Ellah e isso faz meu coração acelerar de repente. — Ufa! Então posso gostar de você de novo. Ela está trabalhando em uma editora. Papai ficou furioso, por isso ela saiu de casa. — Está trabalhando em outro lugar? Como ela se atreve? — Você não sabe? Ela é atrevida. Mamãe sempre a chamava assim. Sheila a chama, percebo que vira o rosto para mim, fez isso todas as vezes que tentei falar com ela, tomou as dores de Ellah, claro. Erin me abraça antes de ir e diz: — Se você gosta dela, vá dizer a ela. O que está esperando? — Eu vou, pequenina.
Volto à editora, à minha sala, e peço ao RH que envie o e-mail
de contratação para Ellah. Mas então dou-me conta que isso é ridículo. Eu devo oferecer esta vaga a ela, então cancelo a ordem e escrevo eu mesmo um e-mail. Lembro-me de nossa conversa, onde ela disse que só aceitaria a vaga se viesse com benefícios e algo lá dentro de mim tem esperanças que, se ela aceitar, é porque também estará me aceitando de volta. Não há uma resposta dela, até pensei que ela responderia, talvez pudéssemos nos encontrar e esclarecer as coisas antes de seu começo na editora, talvez quisesse deixar claro que não tocarei nela e que vamos separar o pessoal do profissional e isso significaria que terei que lutar por ela. Isso não me impediria. Mas ela não respondeu. Volto para casa ansioso em dormir e acordar para saber se estará lá amanhã às onze, como solicitado no e-mail. Algo em meu peito diz que sim, ela estará lá, poderei vê-la de novo, estar com ela, ouvir sua voz. Um sorriso teima em ficar em meus lábios por essa possibilidade. Será que ela vai entender que esse e-mail foi o meu pedido de desculpas? Pego o porta-retrato com a foto de Vitória na cabeceira da cama e digo, olhando para a pequena que se parece tanto comigo. — Você pediu para eu viver, eu demorei a tentar fazer isso e não posso dizer que já estou fazendo. Mas estou tentando, filha. Dei dois passos, isso é alguma coisa, certo? O que você quis dizer com “viva”? Para eu sair de casa? Ter uma rotina? Trabalhar, comer me divertir? Porque posso fazer tudo isso sem, de fato, sentir-me vivo. Mas sabe uma coisa engraçada, Vic? Sinto-me vivo com uma pessoa. Mesmo quando estamos apenas deitados conversando. Será que era esse tipo de “viva” que você queria? Devolvo a foto à cabeceira e tento dormir, ansioso pela manhã. A manhã chega, mas na hora marcada, não posso estar no RH, como gostaria. Surge uma emergência e estou em uma reunião com um autor, seu agente, Lúcia e a tradutora que começou a trabalhar na obra e está questionando demais a cultura local da cidade citada pelo autor. Isso acabou por irritá-lo e estamos tentando acalmar os ânimos, ouvindo os dois lados. São onze horas e dois minutos agora, Ellah deve estar no RH, penso em inventar algo para deixar esta sala só para conferir se está lá mesmo, mas me controlo. É quando a porta da sala de reuniões é aberta e ela entra. É linda, está ainda mais linda do que eu me lembrava. Levanto-me assim que a vejo, mas ela faz um gesto para que fique onde estou. Estende um papel em minha direção. — Sério isso? Um e-mail formal como meu chefe? E você achou que eu ficaria feliz e aceitaria a vaga eternamente grata ao homem que não teve a coragem de olhar nos meus olhos antes de ir embora? — Ellah, podemos conversar em outro lugar — digo indo em sua direção, mas ela não permite que eu me aproxime. Atrás dela está Anália, em pânico por não ter conseguido impedi-la, balbuciando desculpas. — Não! Não vamos mais conversar, em lugar nenhum! O que tenho para dizer posso dizer na frente de todos, não sou covarde como você! O que você tem a dizer não me interessa! Você me deu a vaga depois de tudo, e achei que deveria vir aqui e dizer pessoalmente que não aceito. Não quero sua vaga, obrigada. Não quero trabalhar ao lado de um covarde. — Ellah... — Fique onde está! Foi tão fácil para você dizer que não foi nada, só uma diversão, um erro estúpido, coisa de moleque. E virar as costas sem olhar nos meus olhos ou se despedir. — Não foi fácil… — Pareceu. Bem fácil. — Isso foi uma tentativa de te pedir desculpas — digo apontando para o e-mail impresso em sua mão. — Péssima tentativa, mas vou poupá-lo de tentar de novo, não vai adiantar. Nem tente. Você jurou ao meu pai que não voltaria a me ver, mas quebrou sua palavra, é mesmo um covarde. — Sim, eu sou. Seus olhos estão cheios e odeio isso. — Sinto muito por ser um covarde, por ir embora sem me despedir e sem amparar você e por não saber te pedir desculpas. Ela assente. — Vamos encerrar tudo isso aqui, você estava certo quando disse que é mais difícil quando chega ao fim. Ao contrário de você, estou dizendo adeus olhando nos seus olhos. Ao contrário de você, não precisei mentir para o meu pai nem para mim mesma sobre o que aconteceu. É uma pena que eu tenha me apaixonado por um covarde. Adeus, Rocco, não tente mais me pedir desculpas, me deixe em paz. Ela me entrega o e-mail impresso, se vira e deixa a sala. E permaneço aqui parado, vendo-a sumir pelo corredor depois de ter essa conversa na frente de todos. E isso pouco me importa, me importa o que ela disse. Está apaixonada por mim. Ao contrário de mim não mentiu para si mesma negando isso. E eu tenho mentido sobre isso esse tempo todo. Menti para seu pai, consequentemente, para ela. Menti para mim mesmo, porque estou perdidamente apaixonado por ela. Peço licença as pessoas na sala, que me olham entre chocadas e divertidas e vou direto à Metalúrgica Belmont. Não tenho hora marcada, mas Enrico Belmont me recebe, como achei que faria. A constatação do que sinto por ela me toma mais a cada minuto que passa, me sinto amedrontado, mas também me sinto vivo. Sou guiado até a sala onde já estive outras vezes enquanto negociamos nossa sociedade. Sento-me na mesma cadeira onde já me sentei, espero não encontrar o mesmo olhar encorajador nos olhos do meu sócio desta vez, e não encontro. Agora ele não é meu sócio, é o pai da mulher que amo. — Aconteceu algo, Villani? — chama-me pelo sobrenome. — Eu vim aqui pedir desculpas. — Pelo que desta vez? — Porque vou faltar com a minha palavra. Desculpe, mas não posso ficar longe da sua filha. E começamos uma longa e verdadeira conversa sobre tudo o que irei enfrentar agora que vou lutar por ela de todas as maneiras possíveis. A Casa do Romance Editorial não é bem o lugar onde eu me imaginava trabalhando, pois só publica romances. É o que mais amo ler, de forma que é muito fácil me distrair no trabalho. Aqui, sou a assistente do Bruno Soares, o editor chefe. Ele me pede cerca de dez cafés por dia e garante que serei assim em poucos anos. Começar por baixo deixou meu pai furioso, ou isso, ou ainda a decepção por me flagrar dando uns amassos no sócio mais velho dele. Bem, nossa relação nunca mais foi a mesma, mas assumo que a maior parte da culpa é minha. Nossa relação ótima era uma farsa. Eu não finjo ser ou sentir nada para agradar ninguém, exceto ele. E fingir ser e sentir foi o que mais fiz por ele desde que minha mãe se foi. Acho que chegou um ponto em que nos perdemos porque não deixei mais que ele me conhecesse. Estou morando temporariamente na casa de Nina, sair da casa do meu pai era algo que eu já queria fazer, mas ele nunca permitia. Desta vez ele permitiu. Estou procurando um lugar para morar, enquanto isso, Nina tem me aturado com meus potes de sorvete, músicas melosas e suspiros em sua casa. Pois é, o que sinto não passou no dia seguinte. A raiva que esperava sentir veio, mas não fez o amor sumir, pelo contrário, parece que quanto mais o odeio, mais sinto sua falta. Vê-lo de novo foi uma péssima ideia. Pensei que talvez não estivesse conseguindo superá-lo porque não dissemos de verdade adeus, não houve um fim. Em um minuto estávamos nos beijando, prestes a tirar nossas roupas e no minuto seguinte eu não era nada além de um erro estúpido para ele. Não houve um encerramento. Esta manhã fui lá e encerrei tudo. Falei o que sentia, disse adeus, disse o quanto ele é covarde. Sim, ele tinha que saber disso. Então por que ainda estou apaixonada por ele? Deixo o expediente ao final do dia, Bruno ao meu lado. Meu chefe está na casa dos trinta, troca de namorada como troca de roupa e nem é atraente, tampouco gentil com suas namoradas. É um típico babaca. Nina diz que ele é apenas normal como qualquer outro homem. Isso meio que me desespera, não quero me apaixonar por um homem normal. Quero alguém excepcional, que ame intensamente, que foda do mesmo jeito, que se arrisque, que cuide. Eu quero os mocinhos dos livros que ando lendo. Definitivamente trabalhar nessa editora não está me fazendo bem. — Quer ir ao Starbucks comigo, Ellah? — Bruno tenta, passando os braços por meus ombros. Abro a boca para negar, como todos os dias desde que comecei a trabalhar aqui, quando meus olhos são atraídos para o outro lado da rua. Para o homem de camisa social e calça caqui vermelhas e coturno preto recostado no trenzinho da alegria. Levo as mãos à boca completamente chocada. A editora em que trabalho fica próxima a Praça da Liberdade, que em época natalina, possui um passeio turístico por Belo Horizonte em um ônibus semelhante a um trem, chamado Trenzinho da Alegria. Não sei como Rocco conseguiu isso, ainda mais no final de janeiro, mas o trenzinho está aceso com suas luzes de led coloridas enquanto ele espera por mim parecendo o próprio Papai Noel. Todas as pessoas agora olham para a cena confusas, já que o natal já passou. — Não posso, Bruno, acho que terei que dar um passeio. Atravesso a rua e me aproximo tentando muito segurar o riso, mas a cena diante de mim é ridícula. — Por que você está aqui? — pergunto. — Por causa disso — diz estendendo um papel. O pego da sua mão e me surpreendo ao constatar o que é:
Querido papai Noel
Aí vai meus pedidos 1 – Reencontrar o homem do clube noturno 2 – Conseguir a vaga com o sócio do papai 3 – Me apaixonar
— Como isso foi parar com você?
— Você demorou a escrever os pedidos e seu pai não esperou. Erin não queria que soubesse então eu prometi que entregaria sua carta aos duendes do Papai Noel a tempo por ela. Só não imaginei que seria eu a realizar seus três pedidos. Observo os pedidos e constato que ele está certo. Todos os meus pedidos se resumiam a ele. — Papai Noel preguiçoso — ralho com a entidade. — Mas eu não cumpri esses pedidos do jeito certo, errei feio no desfecho, por isso estou aqui. Quer dar um passeio comigo? — Não quero, não. O observo e entendo o quanto está fazendo por isso. — Você não tem opção — diz segurando minha mão, guiando- me para o trenzinho. Seu toque me faz querer chorar, me toma de uma emoção que nunca havia sentido. Como voltar para um lugar reconfortante, ou estar finalmente em paz. Sentamo-nos lado a lado e ele não parece disposto a soltar minha mão, então o faço, antes que seu toque me tome por completo e eu não seja mais capaz de odiá-lo. — Eu fui ver o seu pai hoje — ele diz. — Me desculpei por quebrar minha palavra, eu disse a ele que não posso ficar longe de você. — Você apareceu aqui assim, com essa coisa colorida vestido quase de Papai Noel para realizar esses desejos do jeito certo? — Ele assente. — Não precisa. O natal já passou, não dá mais tempo. — As datas passam, os sentimentos não. Estou aqui porque você estava certa, eu estive covardemente mentindo para todos à minha volta, inclusive para mim mesmo. Eu menti para as mulheres da empresa que deram em cima de mim. — Você o quê? Que palhaçada é essa? Está aqui para dizer que é disputado? O que pretende com isso? Sinto-me tão irritada, que meu corpo parece aquecer, enquanto ele tem um sorriso tranquilo. — Eu nunca reparei nelas, perguntaram se estou apaixonado por alguém. Se estou tão apaixonado a ponto de nem enxergar outra pessoa e eu disse não, eu não me apaixono. Eu menti. Estou perdidamente apaixonado por você. E descobri hoje quando você gritou isso na minha cara na sala de reuniões, na frente dos funcionários da editora. Foi um baque. Sorrio. Ele sorri de volta. Não posso esconder como meu coração erra batidas e meu corpo parece mole porque ele disse essas palavras. — Me perdoe por fazê-la chorar. Nunca mais quero fazer isso. — Eu o desculpo... — olho bem em seu rosto tão bonito, como eu senti sua falta! Mas ele está certo, me fez chorar. Muito. Me fez perder noites de sono e toda a alegria por dias a fio. Não é uma palavra que vai consertar isso. — Sr. Villani. Fique com sua consciência tranquila, e me deixe em paz. Levanto-me e puxo o cordão de parada. Passo por ele para descer onde quer que esteja. Meu telefone começa a vibrar no bolso e antes que eu o atenda, Rocco diz mais alto: — Estive com seu pai hoje, contei a ele sobre a proposta do Renato, já que você não o fez. Olho para a tela do celular e é meu pai. — Você o quê? Por que fez isso? — Porque gosto de você e costumo cuidar daquilo que amo. Pisco os olhos aturdida, o trenzinho para e desço, por sorte encontro um táxi e o pego em direção a casa do meu pai. Finalmente vamos ter uma conversa.
Papai me espera em seu escritório, usa o robe xadrez
enquanto fuma um charuto, sentado atrás de sua mesa de madeira rústica, não sorri ao me ver, mas também não tem a expressão carrancuda de antes. Aponta a cadeira em frente a ele para que eu me sente, e diz: — Por que não contou sobre a proposta do Renato? — Eu ia contar após o ano novo para que não ficasse um clima pesado na serra. — Que ironia não é mesmo? — Acabei esquecendo depois. Não tenho certeza se havia maldade em sua proposta ou apenas tentou me ajudar. — De qualquer forma, o homem que frequenta nossa casa desde que você era uma menina jamais poderia ter feito uma proposta dessas a você. Foi uma traição a mim, além do mais, Rocco está certo, seria um golpe. Se vocês se casassem, ele entraria para a família, quando eu não estivesse mais aqui, poderia facilmente roubar você. De tudo o que ele disse apenas uma frase fica em minha cabeça. — Rocco está certo? Quando ele voltou a ser chamado pelo primeiro nome? — Você está apaixonada por ele, logo, esse relacionamento será inevitável. Melhor evitar a fadiga de tentar odiá-lo aceitando-o de uma vez. Além do que, você me dá muito trabalho e ele está disposto a assumi-lo. — Como é? Por acaso eu sou uma empresa? Meu pai sorri, parece cansado, mas contente. Acho que não o vejo assim há anos, muitos anos. Desde antes da morte da minha mãe. Desde antes de ela adoecer. — Você foi flagrada pelo seu pai em uma situação constrangedora, mas estava ali partida ao meio porque ele a rejeitou. Quando olhei para você naquela noite tudo o que vi foi uma mulher apaixonada sofrendo por ser abandonada. Você nunca esconde o que sente, isso ficou nítido. Por isso a mandei embora, esperava que se encontrassem na saída, ele lhe ofereceria uma carona e teriam tempo suficiente para se resolverem até chegarem à capital. — Arregalo os olhos chocada com seu plano. — Mas você demorou demais a sair. — Ei, eu estava aos prantos. — Por que não chorou deixando a casa? — Pai, que conversa é essa? Não ficou furioso por eu estar com seu sócio vinte anos mais velho do que eu? — Não. Filha, Rocco é um homem decente. Enquanto casado, se dedicava e amava a mulher, fez o mesmo pela filha e depois se fechou para o mundo. Eu o entendo, sabe? Sei como é se sentir perdido. Me senti assim quando sua mãe morreu, mas eu tinha você e a Erin, dois motivos para continuar. Ele tinha a filha, mas quando ela também se foi, não tinha mais um motivo pra continuar. Nenhum. Então veio você. E por você ele aceitou passar as festas de fim de ano acompanhado quando há muito não fazia. Por você, ele se aventurou em um relacionamento. Ainda que acreditasse não ser nada sério. Não seria fácil para ele admitir que se apaixonou de novo e se arriscar outra vez conhecendo a dor da perda. Qualquer um sentiria medo. Não esperava que nossa conversa fosse por esse caminho, que meu pai entendesse e defendesse Rocco. Menos ainda que me fizesse também o entender. — Não, pai, não me faça ter compaixão dele. — Ele está apaixonado por você, Ellah. Isso não ficou claro? Veio aqui hoje me dizer que a ama, que vai fazer o possível para ficar com você. Ele tem seus medos em relação ao que já viveu e em relação a diferença de idade de vocês, ainda assim está disposto a tentar. Como homem eu diria que o que ele sente é bem mais forte do que sequer se deu conta. Que fofo seu jeito antiquado de vim pedir a permissão do meu pai para se envolver comigo! De contar seus medos em relação a nós dois a ele. Não deve ter sido fácil se abrir assim, ele se fechou por tempo demais. E só descobriu que está apaixonado por mim esta manhã, em tão pouco tempo fez tudo isso. — Você está mesmo trabalhando como secretária de Bruno Soares? — assinto e sua expressão descontente aparece. Ahá! Eu sabia que ela apareceria em algum momento. — Pai, eu não queria começar como editora chefe, não queria aquela vaga. Eu quero começar do começo, quero chegar a editora chefe porque mereci estar ali, não porque meu pai é o sócio do dono. Não é certo e eu carregaria para sempre a sombra do seu nome nos meus passos, sem saber o quanto do que alcancei foi mérito meu. — Então por que aceitou fazer isso? — Porque o senhor disse que estava se sacrificando por mim e já havia pedido o favor ao Rocco. O que mais eu poderia dizer? — Ah, minha filha, quando você cresceu tanto? Você assumiu o lugar da sua mãe, cuida da Erin como se fosse ela, também cuida de mim melhor do que eu cuido de você. Tudo bem, comece do começo, não precisamos ter pressa. Eu queria deixá-la em uma posição boa e confortável caso algo acontecesse comigo. Mas você estará nesta posição não importa onde trabalhe porque você é madura e responsável. — Obrigada, pai. — Renato será demitido. Confesso que fui pego totalmente de surpresa quando Rocco me contou. Eu já havia percebido alguns olhares dele em sua direção, mas pensei se tratar de uma paixonite boba. Jamais pensei que ele seria tão calculista e ousado. — Se o senhor prefere assim eu confio no seu julgamento. — Acredite, eu o conheço o suficiente para saber que não foi uma oferta de ajuda, e sim uma tentativa de golpe. Ainda bem que Rocco a defendeu. Reviro os olhos, não preciso de um homem me defendendo. Eu ia me lembrar de contar isso em algum momento, tenho certeza. — Vá ver a Erin, está abatida desde que se mudou. Assinto, levantando-me para deixar o escritório, mas antes vou até ele e o abraço. Que bom que nos reencontramos! Que bom mesmo! Parece que estou bem mais leve agora. Quando me viro para sair ele diz: — Quanto ao Rocco, estamos falando de um homem mais velho, não um moleque como os caras com você se envolve. Um homem que já perdeu o bastante e que a ama, então se você decidir dar uma chance, esteja ciente que ele espera algo realmente sério, Ellah. — Eu sei, pai, por que todos vocês acham que não faço planos para o futuro? Ele sorri e dá de ombros. — E por caso você faz? — Você se surpreenderia — retruco deixando o escritório.
A semana passou voando e em cada dia dela recebi algo
diferente de Rocco na editora. Primeiro, o buquê de rosas brancas e vermelhas com um cartão de desculpas. Depois, a caixa de vinho Merlot e duas taças sugestivas. O terceiro presente foi um vestido maravilhoso, ousado e único que não podia ser mais a minha cara. Hoje, esperei ansiosa seu presente o dia todo, mas ele não veio. Porém, quando deixo a editora, está me esperando do outro lado da rua, recostado em seu carro desta vez, não na Carreta Furacão. — Não está vestido de Papai Noel hoje? — Não, mas posso me vestir se for sua fantasia outra vez. — O que quer aqui, Rocco? Merda, o chamei pelo primeiro nome. — Te dar uma carona para casa — responde com um sorriso enorme por meu vacilo. Aceito a carona, estou cansada. Não só do trabalho, mas de tentar fugir do que sinto. Infelizmente Nina mora perto, ele me faz poucas perguntas no caminho. — Pretende continuar morando com sua amiga? — Não, estou procurando um lugar para morar. — Seu pai lidou bem com isso? — Bem seria uma afirmação muito forte, digamos que ele está lidando com isso o que é mais do que eu esperava. — Então sua relação com ele está melhor? — Nunca esteve tão boa, para ser sincera. — Fico feliz. Ele estaciona o carro em frente ao prédio onde moro agora e me despeço, mas ele desce também. — Vai me fazer esperar até o próximo natal? — pergunta. — Você desistirá bem antes disso. — Achei que me conhecesse melhor. — Boa noite, Rocco. Obrigada pela carona. Entro no prédio e subo no primeiro elevador. Entro em casa, tiro os sapatos que estão me matando. Nina está assando uma pizza no micro-ondas como temos feito desde que vim morar aqui. Todo dia prometemos começar a comer direito, mas nunca cumprimos. A campainha toca e volto para trás para abrir a porta, Rocco está aqui. Ele entra no apartamento sem ser convidado, observando tudo à sua volta. — Ei, o que está fazendo aqui? Ele vai em direção a Nina e a cumprimenta. Minha amiga fica de boca aberta olhando para ele. — Vim ver como e onde você mora, se está dormindo bem, comendo direitinho. Pelo cheiro acredito que não. — O quê? Agora vai agir como meu pai? — Jamais levando em conta o quanto quero te comer. Olho para Nina que tem a boca aberta e assente para mim aprovando-o. — Rocco, o que está fazendo aqui de verdade? — Eu costumo cuidar do que gosto, Ellah, me preocupo com você. E também porque não me deu a chance de entregar o presente de hoje. Ele se aproxima e me entrega um envelope amarelo. Dentro dele há uma única chave e um papel com um endereço. — O que é isso? — Eu não me apaixono — ele diz olhando para mim. — Não me apaixonava mesmo quando era jovem. Só me apaixonei uma vez e sabe o que aconteceu? Eu me casei com essa mulher e foi para sempre. E eu estou apaixonado por você. Preciso respirar algumas vezes até meu coração voltar as batidas normais. — Está me pedido em casamento? Ele parece pensar. — Praticamente. Estou dizendo que a amo e te pedindo uma chance, já que você me ama de volta. Eu sou mais velho do que você, mas é mais do que isso, como você mesma disse, sou muito mais cansado do que você. Cansado de sonhar, de amar, de ceder aos meus desejos e de fazer planos. Por você eu fiz tudo isso desesperadamente nesses últimos dias. Eu quero uma família com você, quero ser o pai daquelas pequenas megeras que terão seu temperamento horrível, e descontar todo o cansaço que me darão na mãe delas à noite. Parece que não sinto mais o chão sob meus pés, tenho certeza que não estou de pé agora. — O que estou pedindo, Ellah, é que dê uma chance para o que sentimos. Quero viver tudo com você e quero viver agora, intensamente e da melhor maneira que pudermos porque o nosso tempo é finito. Se podemos fazer tudo o que queremos não há porque não fazer, então estou pedindo que venha morar comigo, como minha mulher. — O quê? Minha boca está aberta em choque, observo o envelope em minhas mãos e compreendo, é a chave de sua casa e o seu endereço. — Você pode pensar com calma, também pode recusar, o que vou entender. Mas caso você recuse, esteja ciente que irei insistir e insistir e fazer o impossível até que mude de ideia. Fui covarde em não dizer isso quando devia ter dito na primeira vez, mas não cometerei esse erro de novo. Ele se vira então para Nina, também de boca aberta e olhos cheios nos observando atenta. — Eu amo a sua amiga. — Eu tenho certeza que sim — minha amiga concorda. — Pense com calma, vou esperar por você todos os dias — diz. Aproxima-se mais de mim e beija minha testa carinhosamente. Então se vira para deixar o apartamento. Que merda estou fazendo? O que eu estou fazendo? Meu cérebro entra em uma guerra de pensamentos e possibilidades e motivos pelos quais eu não devia fazer isso, mas foda-se! Nosso tempo é limitado, se podemos fazer, por que não fazer? Corro até ele na porta, seguro sua mão e digo: — Me ajude com a mala. — Você está indo comigo? — a surpresa e esperança em seus olhos é justamente o que sempre quis enxergar neles. O sorriso no meu rosto é involuntário e incontrolável. — Claro! Já que você é tão forte e está aqui para carregar o peso. Ele me prende em seus braços e sua boca toma a minha em segundos. Como eu senti falta disso! De tudo isso! Seu cheiro, seus braços, seu calor, sua boca sobre a minha. Meu corpo o reconhece instantaneamente, corresponde e implora por ele. É difícil nos afastarmos e só o fazemos quando o micro-ondas apita, a pizza está pronta, mas quem sente fome uma hora dessas? Junto minhas coisas agradecendo a Nina a hospitalidade e vamos para sua casa. Estou curiosa em conhecer o lugar onde ele se escondeu quando perdeu tudo, em conhecer onde irei viver agora, se Deus quiser, para sempre. Mas a saudade fala mais alto e começamos nossos primeiros minutos nesta casa sem roupa nos braços um do outro. ALGUNS ANOS DEPOIS...
Sento-me sobre a grama verdinha, o céu escuro anuncia uma
possível chuva, observo algumas crianças correndo em volta e me concentro no retrato do pequeno anjo que se parece tanto comigo. — Olá, Vitória, como tem passado, minha filha? Não tenho vindo muito aqui nos últimos anos e sinto por isso, mas acho que quando deixou aquela cartinha de natal na cabeceira do seu leito pedindo para eu viver, era justamente isso o que estava pedindo ao Papai Noel. Eu consegui, minha filha, eu tenho vivido. Tenho vivido tudo aquilo que achei que nunca mais viveria. Eu me apaixonei de novo, planejei uma vida a dois de novo, dividi minha casa, meus dias, meus sonhos e até meu amor outra vez. Você estava certa, minha menina, eu tinha que viver e fico feliz por ter realizado seu último pedido de natal. Papai sente sua falta. Todos os dias. Espero que esteja bem, meu anjo. Eu amo você. Levanto-me, deixo os girassóis, as flores preferidas dela sobre seu túmulo, e volto para a casa. Às vezes a gente cai fundo, o fim vem abruptamente, o fim daquilo que amamos, que vivemos, do que nos mantém bem. É difícil sair de um buraco após o fim. Mas enquanto o coração bate não é o fim definitivo. Enquanto ele bater, haverá a chance de um recomeço. Tudo o que precisamos fazer é dar o primeiro passo.
Observo as luzes natalinas tomando a cidade. O carro está na
garagem, as luzes acesas, as portas abertas. Com certeza as malas pesadas estão lá dentro para eu carregar e me pego rindo disso. Agnes é a primeira a me ver, a caçula estava escondida dentro do carro, mas salta dele para correr até mim e a carrego nos ombros de volta para dentro de casa, onde uma Naomi em pânico procura por ela. — Onde você se meteu, sua pestinha? — Naomi ralha com a irmã mais nova. — No carro — ela diz com uma risadinha, como se fosse uma excelente ideia. — Naomi, quando for brincar de pique-esconde com sua irmã, lembre-se de trancar todas as portas. Minha filha de seis anos assente, concordando. — Agnes é muito criativa. — E bastante perigosa. Naomi é três anos mais velha do que a irmã, esperou por ela ansiosamente e cuida dela desde que a pequena Agnes nasceu. As duas são inseparáveis e possuem personalidades diferentes. Agnes é agitada e barulhenta, Naomi é inteligente e sensível. Ambas são mal-humoradas, diretas e impertinentes como a mãe. Eu as amo. Tornam meus dias cheios e alegres, cansativos e surpreendentes, enquanto a mãe delas torna minhas noites quentes, aconchegantes e completas. Encontro Ellah fechando sua mala enorme no quarto e ela já tem aquele sorriso travesso. — Que bom que você é um senhorzinho bem forte. — Vou te mostrar o senhorzinho, sua atrevida! — As crianças estão acordadas. Além do mais estamos indo para a casa do meu pai, mantenha seu pau quietinho pelos próximos dez dias. — Vai sonhando, já combinei tudo com Sheila, nós ficaremos no quarto dela, no primeiro andar, é o único lá de baixo. As crianças ficarão lá em cima, no terceiro o mais longe possível de nós. — Mas e se Agnes tiver um pesadelo? — Naomi cuidará dela. E Erin estará no quarto ao lado de olho. — Mas... — Amor, nada de mas... ainda precisamos tentar um menino e se demorarmos, não terei mais vitalidade para cuidar dele, quer cuidar de uma criança com seu gênio sozinha? — Deus me livre! E você, marido, está bem longe de perder a vitalidade, não me venha com desculpas. Sorrio e a abraço por trás, sentindo o cheiro de seu cabelo. — Eu te amo — digo a ela. — Eu também te amo — ela diz.
Chegamos à casa da serra e Naomi se pendura em Erin,
enquanto Queda vem toda assanhada cumprimentar Ellah. A pequenina não é mais pequenina, é adolescente agora, é modelo e uma influencer com mais de um milhão de seguidores. Minha cunhada está cada dia mais linda! Naomi provavelmente é sua maior fã. Enrico tem todos os cabelos e a barba bem brancos agora e brinco com ele que está encolhendo mais a cada ano. A editora está crescendo cada vez mais, e tornou-se recentemente a segunda maior editora do país. Depois que as crianças dormem, quando estamos jantando, Enrico dá de uma vez o presente de natal que preparou para Ellah. Eu o tenho ajudado nele há algum tempo. — Filha, você tem crescido na sua carreira consideravelmente rápido e me sinto muito orgulhoso da mulher que é, muito mesmo. Já vai ser promovida a editora chefe! Além de ser uma mãe incrível! Então eu decidi este ano, te dar como presente de natal as minhas ações da Editora Asas. A partir de agora, você será a sócia do Rocco na editora. Ellah está boquiaberta e emocionada com o presente do pai. Ela me observa surpresa e brinco: — Vamos morar e trabalhar juntos? Não sei se posso sobreviver a isso. — E nos dois lugares eu vou mandar em você — ela retruca arrancando risadas. — Vai sonhando! É verdade o que dizem, coisas mágicas acontecem no natal. Dedico este conto a Ellah Castro, que como a nossa Ellah, tem uma personalidade única e encantadora, ao contrário dela, no entanto, super bem-humorada e divertida. Obrigada por tantos anos de carinho e apoio, por ter sido minha garota propaganda na bienal e por sonhar esse sonho comigo. Que seus natais sejam sempre repletos de magia. A Deus, primeiramente, por mais um desafio vencido. Só Ele acompanha cada segundo da luta, mas Ele é quem me faz vencê-la. Agradeço a minha família, especialmente Aninha, Dani e Sheila. A Maria Rosa e seu pequeno Rafael, desejo a vocês um natal maravilhoso! A Julia, Iandra, Gisele, Nayara e Andrea por todo carinho e apoio diariamente. Ao meu quarteto preferido: Pri, Lethy, Bete e Dri. As minhas meninas do Wattpad pelo carinho sempre! A Cleidi Alcântara por nunca se esquecer de mim, pela amizade e amor. E ao Mô, saudade de vocês. As minhas meninas do grupo do zap, amo todas vocês. Especialmente essas faladeiras: Drika, Adriana Brasil, Thaty, Jenn, Roberta, Paty, Taty, Erica, Alinne, Andreia, Emilene, Erika, Camila, Xanda, Kehry, Jheniffer, Nete, Andrea, Hanna, Gil, Aline, Aysham, Thais, Franciara, Pretinha, Flávia, Emanuela, Luh, Duda, Baby, Raisa, Danny, Grazy, Chanlene e Larih. A essas pessoas que me fazem continuar e acreditar sempre. Vocês são a minha magia do natal o ano todo: Cristiane Navarro, Josy Roque, Larissa Ligoski, Sergio Henrique, Shirley Nonato, Ellen Souza, Amanda Pessoa, Milla Cardoso, Deise Cristiane, Babi Restani, Iza Rodrigues, Morgana Priesnitz, Clecia Maria, Gervandia Bomfim, Jessica Coriolano, Mayra Provin, May Lopacinski, Maristela Estrela, Ingryd Oliveira, Di Fernandes, Gisele Aquino, Luzyana de Paula, Marleide Maiara, Carla Mocker, Celle Moratelli, Gildeane Melo, Nath Gomes, Rosana Fulber, Deisy Paulo, Thamara Cassia, Siddy Martins, Jaqueline Batista, Daisy Budin, Bia Tomaz, Carla Carvalho, Amanda Moretam, Michele Cerqueira, Estefane Barbosa, Lidiane Nunes, Nazira Nascimento, Eliana Silva, Layane Rocha, Rosangela Nielsen, Taiane Gouveia, Cielly Moraes, Simenya Elayne, Katriane Moreira, Cláudia Costa, Jessika Barbosa, Tathiane Nascimento, Erica Gomes, Katia Maria, Lilian Curi, Jessica Cavalini e Aline Souza. E a esse perfis essenciais que nos ajudam e inspiram: @livros.romances.e.mais.livros, @dea_calves, @lethy.literando, @priscillasantosbooks, @jheni_literaria, @lendocom_josyaneroque, @umcapituloevoudormir, @nayara_spl17, @driliteraria, @leiturasdalari_, @falaliteraria, @somais1leitora, @liesurtei, @livroscomromance, @escritoporduda, @leiturasdaline, @annabiacc, @alivreiracatharina, @safada.leitora e @euleitoraassidua.
A você que leu este conto, desejo um natal repleto de magia e
amor, e um novo ano de esperanças renovadas e conquistas alcançadas. Muito obrigada por chegar até aqui!