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Copyright © 2021 Bianca Brito

Italiano Protetor

Capa: Will Nascimento


Revisão: Gabriela Servo
Diagramação: Gabriela Servo e
GL Editorial

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Esta obra literária é ficção.
Qualquer nome, lugares, personagens e
incidentes são produto da imaginação do
autor. Qualquer semelhança com pessoas
reais, vivas ou mortas, eventos ou
estabelecimentos é mera coincidência.
Esta obra segue as regras do
Novo Acordo Ortográfico.

Produzido no Brasil.
SUMÁRIO
Vale a pena viver a vida correndo
com medo?
Essa é a pergunta que deve rodar
na cabeça das pessoas que têm medo de
enfrentar seus obstáculos mais obscuros
e vivem presos em um mundo de ilusão.
Por vezes acontecem coisas nas nossas
vidas que deixam marcas, marcas
profundas que podem te perseguir
quando você menos espera. Será que
custa muito dar um basta em tudo e dizer
que é hora de ser feliz? Não posso
responder essa pergunta. E você?
Andrea Giardino foi expulso de
sua casa em Riomaggiore, no litoral
norte da Itália, aos 16 anos, quando seus
pais descobriram sua preferência por
meninos. Mesmo jovem demais, ele
decidiu ganhar o mundo e foi parar na
Rússia sobre a influência de um amigo e
da promessa de um bom emprego.
O que ele não sabia era que sua
vida estaria nas garras da máfia Russa.
Após 10 anos de muito sofrimento e
lutar, o menino da pequena na comuna da
Itália conseguiu fugir de uma vida
miserável e voltar para o seu país.
Chegando aqui, ele teve a sorte de
conhecer Francesca Aandreozzi, uma
incrível senhora que o ajudou muito
nessa nova caminhada e continua o
fazendo.
Para ele, Nonna Francesa, como
ela gosta de ser chamada, é o seu
Ângelo di Luce que o deu as duas coisas
que ele não tinha há muito tempo: amor e
uma vida. O que Andrea não sabe é que
o que abandonou voltará para atormentá-
lo e Nonna fará de tudo para o ajudar.

Enzo Aandreozzi é um notório


CEO das empresas Aandreozzi SPA. Ele
comanda a primeira filial localizada em
Milão. Enzo ficou no comando após a
partida de seu irmão mais velho,
Filippo, para o Brasil. Assim como
todos os homens Aandreozzi, Enzo não é
um homem que se deve brincar, quando
quer algo, vai atrás sem pedir
permissão, muito menos perdão.
Sua família é o seu bem mais
precioso. Ele faz de tudo para que todos
fiquem bem e protegidos. Enzo vê seus
dois irmãos Filippo e Lucca caídos no
amor e acha que isso não existe para ele,
pois ele nunca se apaixonou e corre o
mais longe possível dessa
possibilidade. Claro que ele apoia os
irmãos e fica muito feliz por eles terem
alguém para amar.
As coisas começam a mudar
quando sua Nonna pede para ele dar
proteção a uma pessoa de sua alta
estima. Mesmo contra vontade, Enzo não
se vê negando nada a sua tão amada
Nonna. O que Enzo não sabe é que ele
se encantará pelo jovem com aparência
de um anjo caído.
Um homem marcado pela dor e
outro marcado pela descrença. Será que
juntos eles podem encontrar o que tanto
esperam da vida? Será que o nosso
italiano protetor conseguirá não se
encantar pelo doce olhar de anjo do
nosso Andrea? Não faço ideia, mas de
uma coisa eu sei... Quando o amor vem é
impossível dizer não!
Dez anos atrás

Eu amo morar em Riomaggiore.


Aqui é uma pequena cidade com bem
poucos habitantes. Muitos a consideram
como um pequeno paraíso e eu não
posso deixar de afirmar que essas
pessoas falam a verdade. Tudo é lindo e
familiar, sendo assim, posso te garantir
que amo, amo de verdade o meu
pequeno e pitoresco lar. Acabei de sair
do mar com Papa. Desde pequeno eu
amo ir pescar com ele, para mim isso
sempre foi uma grande aventura.
— Vamos lá, filho, não fique
parado e venha ajudar seu pai aqui —
Papa grita chamando minha atenção.
— Desculpe, Papa, eu estava
distraído — respondo imediatamente,
sentindo meu rosto aquecer.
— Sempre vivendo no mundo da
lua, Capitano (Capitão) — diz ele, me
fazendo soltar um som frustrado.
— Não me chame assim, papai —
falo e corro para ajudá-lo a carregar os
caixotes com peixes frescos que
acabamos de pegar.
— Quando você era criança
adorava esse apelido, não seja um chato
e o aceite — papai diz, me cutucando de
modo brincalhão.
— Isso, papai! Quando eu era
pequeno eu gostava, agora não —
resmungo arrancando uma gargalhada
dele.
— Quem disse que você cresceu?
Você continua pequeno, meu filho —
papai diz me provocando e, se eu não o
amasse tanto, o jogaria nessas águas
geladas.
— Eu vou ser grande! Você vai
ver só, vou ser tão alto quanto você —
falo firme e ele me olha com carinho.
— Não importa se você é grande
ou pequeno, meu filho. O que importa é
a grandeza que você tem no seu coração,
sendo assim, você será um homem
incrível — fala papai, fazendo meu
coração bater forte no peito.
— Quero ser um homem tão
grandioso quando o senhor é — falo,
abaixando minha cabeça e me sentindo
envergonhado.
— Você será um homem melhor
que eu, Capitano — diz papai, me
fazendo soltar um som sofrido e
envergonhado.
— Pare com isso — peço em um
tom de lamento.
— Deixe de reclamar e vamos
logo com isso. Sua mãe disse que se
você se atrasar novamente para a escola,
ela vai arrancar minhas bolas.
Estremeço e papai faz o mesmo,
pois mamma pode ser doce, mas muitas
das vezes ela dá medo.
— Não queremos irritar a
mamma, não é? — pergunto sorrindo e
ele assente.
— Definitivamente eu não quero
isso — papai fala fazendo uma careta
que me faz cair na gargalhada.
Meus pais são os melhores pais
que um filho poderia querer. Eu sou um
cara de sorte, pois os tenho na minha
vida. Vicenzo e Sílvia Giardino são
simples e fascinantes. Meu pai é
pescador. Ele disse que é uma profissão
que o seu pai ensinou a ele e que tem
muito orgulho do que faz. Eu sempre
achei incrível. Minha mãe é dona de
casa. Ela diz que prefere cuidar de nós e
que foi uma opção dela e é feliz assim.
Eu os amo demais e tenho muito medo
de que um dia eu falhei com eles, na
verdade, eu tenho um segredo que não
sei se sou capaz de compartilhar com
eles.
Depois de ajudar papai a
descarregar todos os peixes do barco,
ele me dá alguns para que eu leve para
mamãe, e assim faço. Saio correndo
para não me atrasar para ir à escola.
Estou no meu segundo ano do colegial e
não vejo a hora de acabar logo. Ao
chegar em casa, guardo os peixes e
como não avisto minha mãe, vou direto
tomar banho. Me arrumo, desço na
cozinha para pegar uma maçã e quando
estou saindo de casa, mamãe me para.
— Ei, mocinho, por que não come
direito? Uma maçã não vai te dar
sustento — reclama mamãe e faço de
tudo para não revirar os olhos.
— Não posso me atrasar, Mamma.
Não se preocupe com isso — falo,
avançando para dar a ela um beijo na
bochecha.
— Sua irmã saiu cedo hoje
dizendo que tinha coisas para fazer —
resmunga mamãe e eu fico quieto.
— Ela naturalmente deve ter
coisas para fazer, mamãe — argumento e
ela assente.
— Tudo bem, vá logo e vê se
você e Lea comem direito — diz ela e
dou outro beijo em sua bochecha antes
de sair.
Minha irmã Lea é um ano mais
velha que eu, sempre fomos muito
próximos, mas ultimamente ela anda
meio estranha e nem para mais em casa.
Eu estou sempre tentando encobri-la
para que nossos pais não vejam o tanto
que ela anda ausente. Não sei o que ela
deve estar fazendo, mas posso apostar
que deve ter algum garoto no meio desse
seu sumiço todo.
Falar de garoto me faz lembrar de
um carinha que conheci há poucos dias,
conheci não, só o vi de longe. O
pensamento me faz abrir um sorriso
involuntário. Não, eu não posso pensar
nessas coisas. Não posso ficar pensando
em meninos, isso é errado, eu acho...,
mas ele é tão bonito. Ah! Esqueci isso,
Andrea, você tem aula!
O dia de aula hoje é incrivelmente
chato. Quando chega a hora do intervalo
vou ver se encontro minha irmã. Não
preciso procurar muito, pois ela está
sentada em um dos bancos com suas
amigas. É incrível como nós nos
parecemos, muita gente acha que somos
gêmeos. Puxamos nossa aparência de
nossa mãe, pois somos baixos, loiros,
com olhos verdes. Já nosso pai é alto,
de cabelos cor de areia e olhos cor de
avelã. Dizem que sou um menino muito
bonito, que tenho uma beleza delicada e
que posso ser confundido com uma
menina facilmente. Deve ser por causa
do meu cabelo comprido, que não faço
questão de cortá-lo.
— Lea, por onde andou? Mamãe
estava perguntando por você — falo
chamando a atenção de minha irmã, que
para de conversar com suas amigas.
— O que você disse a ela? —
pergunta minha irmã.
— Nada, e eu não poderia dizer,
já que não faço ideia por onde você
anda — falo em tom baixo e ela solta um
som irritado.
— Droga! Não vejo a hora de
terminar logo a escola e sumir daqui. —
Minha irmã disse com desgosto me
fazendo estremecer.
— Não fale assim, Lea! Mamma
só está preocupada com você — falo em
tom firme e ela revira os olhos.
— Quando é que nossa mãe não
está preocupada? — debocha ela.
— Tudo bem, Lea, só vá para
casa cedo — peço cautelosamente e
percebo que ela não gosta.
— Você não manda em minha
vida, Andrea, por isso vá cuidar da sua
vida e esqueça a minha — Lea fala de
um jeito que dói muito em mim.
— Tudo bem, irmã, faça como
quiser — murmuro cabisbaixo e saio.
Ao me afastar, posso ainda ouvir
as risadas das amigas de Lea e isso me
fez andar mais rápido. Nunca fui um
menino de ter amigos. Tenho muita
certeza de que todos devem me achar
estranho por ficar só, mas infelizmente
sofri muito quando era mais novo por
causa da minha aparência “delicada” e
resolvi ficar o mais distante possível de
confusão.
Quando a aula acaba, procuro
pela minha irmã novamente para irmos
para casa, mas não a encontro em lugar
algum. Por isso resolvo dar um
mergulho no mar antes de ir para casa.
Já disse que amo o mar? Para mim
não existe coisa mais relaxante que dar
um mergulho nessas águas salgadas. Em
algum momento do meu dia eu tenho
esse encontro solitário com o mar. Aqui
posso pensar nos meus medos e me
permito por tudo de lado para somente
pensar em minha existência.
Fico observando as ondas
baterem nas pedras por um tempo e
decido tirar minhas roupas e cair no
mar. Nado bastante até que sinto meus
músculos começarem a protestar. Com
isso saio da água e vou buscar as minhas
roupas. Quando estou me vestindo, ouço
um barulho que faz com que me assuste.
— Quem está aí? — pergunto
olhando para trás.
— Me desculpe, eu não tinha a
intenção de te assustar. — Ouço uma voz
grave com um forte sotaque que faz os
pelos do meu pescoço se arrepiarem.
Viro minha cabeça em direção à
voz e não posso conter o arregalar de
olhos. Nesse momento eu não posso
deixar de me sentir estranhamente
nervoso, pois na minha frente está o cara
que eu venho observando por um tempo.
Não sei de onde ele é, mas
definitivamente ele não é daqui.
Ele é bem mais alto que eu, tem
cabelos loiros cortados baixos nas
laterais e um pouco maior na parte de
cima, sua pele clara carrega um tom
avermelhado, provavelmente do sol
daqui, tem um corpo forte e uma
aparência jovial, mas aparentemente ele
é mais velho que os meus 16 anos e está
me olhando de um jeito muito intenso.
— Tudo bem, eu já estava de
saída — murmuro apressadamente.
— Não precisa ir embora por
minha causa — ele diz, me dando um
sorriso e me fazendo sentir algo
estranho.
— É… é que… é que eu
realmente tenho que ir — gaguejo
ridiculamente e posso ver seu sorriso
aumentar.
— Isso é uma pena. Eu gostaria de
te conhecer melhor — fala e arregalo
meus olhos novamente.
— Eu realmente tenho que ir —
falo passando por ele e sinto uma mão
me puxar pelo braço.
— Alguém já disse que você é
uma criatura estupidamente bela? —
pergunta ele e isso me fez sentir muito
envergonhado.
— Você pode, por favor, me
soltar? — pergunto baixo, sentindo
minhas bochechas esquentarem.
— Me diga seu nome, moy
golubushka (Minha pequena pomba)? —
diz ele. Eu franzo o cenho quando não
entendo o que ele diz.
— O que isso significa? —
pergunto curioso.
— Isso é irrelevante ainda, mas
vamos lá, me diga seu nome — pede ele,
pegando nos dedos os meus fios de
cabelo que estavam emaranhados no
meu rosto e olhando com admiração.
— Meu nome é Andrea. Agora
que já sabe, eu tenho que ir — falo
apressadamente e ele abre um sorriso
largo.
— Nome lindo você tem. Gostaria
de te ver hoje à noite. Estou voltando
para casa, mas antes quero conhecer
você — ele diz e me sinto confuso.
— Por que você quer me
conhecer? — pergunto, me sentindo
ainda mais nervoso.
— Sua inocência é cativante.
Apareça logo mais à noite e vamos nos
conhecer — fala e logo em seguida me
puxa pela nuca para beijar meus lábios.
— Doce, como eu imaginei — diz
baixo, me encarando como um sorriso
de tubarão.
— Por que fez isso? — pergunto,
colocando a mão nos meus lábios, que
estão formigando com o beijo. Meu
primeiro beijo.
— Não se esqueça de aparecer,
golubushka. — Depois disso, ele
começa a se afastar.
Fico encarando esse homem
estranho e misterioso que me deu o meu
primeiro beijo. Esse mesmo homem que
há poucos dias eu venho sempre
observando. Nunca imaginei que ele
poderia falar comigo e ainda mais me
beijar. E a realidade bate em mim agora.
Eu gosto de meninos de verdade, ele me
beijou e eu gostei muito. Dio! Como eu
vou contar isso aos meus pais? Será que
eles vão me amar se eu for gay? O que
eu vou fazer? Não, eu não posso ficar
pensando nessas coisas, tenho que ir
para casa.
Sentado na mesa com minha
família, observo que meus pais estão
conversando animadamente, mas a
minha mente está no beijo de mais cedo.
Não posso controlar, e não consigo
parar de pensar no quanto eu gostei e
que no fundo minha mente está dizendo
para eu me afastar daquele homem. Papa
sempre diz que as pessoas sempre
devem ouvir o seu sexto sentido e meu
sexto sentido está me mandando ficar
longe, mas estou muito curioso.
— Andrea!
Desperto dos meus pensamentos
pela voz de meu pai.
— Desculpe, Papa. O que o
senhor estava dizendo? — pergunto
olhando na sua direção.
— No que estava pensando, mio
amore? — pergunta minha mãe
sorridente.
— Como certeza é alguma garota
— diz meu pai e eu posso ouvir um
bufar de Lea.
— Meu garotinho ainda não está
namorando. Essas meninas de hoje em
dia são tudo pervertidas. Não há mais
respeito — diz mamãe descontente.
— Oras, deixe disso, Sílvia!
Nosso filho está na fase de namorar. Isso
não inclui você, Lea — diz papai e Lea
fica irritada.
— Por que Andrea pode tudo e eu
não posso? Isso não está certo! — minha
irmã fala com raiva e me encara. Eu me
encolho na cadeira.
— Papai e mamãe, não há
namoradas para mim, então, por favor,
não vamos falar sobre isso — falo na
intenção de encerrar o assunto.
— Tudo bem, Capitano! — diz
papai sorridente.
— Mamma, já pensou se eu posso
sair hoje à noite com Graziela? —
pergunta Lea com esperança.
— Já disse a você que essa
cidade está cheia de turistas e que é
perigoso ficar saindo à noite — papai
diz em um tom firme.
— Poxa, papai! Eu pedi já há um
tempo para ir e hoje é o dia — fala
minha irmã com uma expressão chorosa.
— Vicenzo, podemos deixá-la ir
se ela for com seu irmão. Assim um vai
proteger o outro — intercede nossa mãe
e papai volta seus olhos para mim.
— Você irá com sua irmã,
Andrea? — pergunta papai e eu afirmo
que sim, mesmo sabendo que não
poderei ir me encontrar com o homem e
vai ser melhor assim.
— Isso não é justo! Eu fui a
convidada e não ele! — minha irmã diz
irritada.
— Se não for com seu irmão,
você não vai — papai diz em um tom
decisivo e com isso Lea afirma com a
cabeça.

E agora estou me sentindo


desconfortável nessa festa cheia de
gente. Minha irmã não me fala nenhuma
palavra desde o momento que papai
impôs que eu deveria vir com ela, e
quando chegamos ela sumiu e me deixou
sozinho. Não estou me sentindo à
vontade nesse lugar e estaria muito
contente se estivesse na minha cama,
pronto para ir dormir, já que amanhã irei
para o mar com papai.
— Você veio, golubushka — diz
uma voz, me fazendo saltar de susto.
— Eu... — Perco a fala ao olha
para o homem.
— Sabia que você viria. Agora
vamos ali ficar um pouco mais à
vontade. — Com isso ele vai me
arrastando, sem querer ouvir meus
protestos.
— Não... Eu não posso — falo
tentando puxar meu braço do seu aperto
firme.
— Vamos ali. Estou louco para
pôr minhas mãos em você — diz ele de
um jeito embriagado e eu entro em
alerta.
— Eu nem sei seu nome —
consigo falar e ele me dá um sorriso que
faz meu corpo arrepiar.
— Sua inocência é tão fascinante,
nunca vi isso antes, ainda mais na vida
que tenho — divaga ele, pegando
novamente em uma mecha do meu
cabelo.
— O quê? — pergunto, sem
entender.
— Você já deu um beijo de
verdade? — pergunta ele e eu abaixo a
cabeça, envergonhado. — Então vou te
mostrar como se faz.
Seu tom carregado por um sotaque
forte me fez ficar paralisado. Eu não
sabia o que fazer. Nunca fiquei tão perto
de outro homem dessa maneira, de forma
tão íntima. E antes que eu possa pensar
no que fazer, ele já está com a sua boca
na minha. Não é um beijo carinhoso,
como eu imaginei que seria o meu
primeiro, mas tem uma sensação boa, eu
acho, mesmo com o gosto amargo da sua
bebida alcoólica. Ele me puxa para seus
braços fortes de um jeito que me deixa
muito desconfortável, mas eu não vou
dizer nada, pois não quero acabar com o
momento.
— Oh, meu Deus! O que é isso?
— A voz de Lea faz com que eu me
afaste do homem rapidamente.
— Lea? — falo confuso ao ver
minha irmã nos encarar com espanto.
— Vocês se conhecem? —
pergunta o homem com um sorriso.
— Que porra está acontecendo?
Qual o seu problema, seu pervertido?
Andrea sempre soube que você era um
falso, mas agarrar o meu namorado, isso
eu não posso aceitar. Tenho nojo de
você! — diz Lea e eu olho para o
homem sem entender e ele olha para
minha irmã com uma expressão
divertida.
— Irmã, não é nada disso que
você está pensando — tento falar, mas
ela começa a rir de maneira assustadora.
— Além de ser uma bicha nojenta,
é um filho da puta fingido.
Me espanta o linguajar que nunca
ouvi minha irmã falar.
— Não fale assim, irmã — peço
sentindo lágrimas embaçando minha
visão.
— Não me chame assim, sua
bichinha asquerosa! — grita Lea com
asco. — E você! Você disse que queria
ficar comigo! — Lea diz, chorosa, para
o homem.
— Nunca disse isso. Você deve,
com certeza, estar me confundindo com
alguém — diz o homem com um sorriso
divertido.
— Como você pode falar uma
coisa dessas — diz minha irmã, soltando
um soluço.
— Não fale assim com a minha
irmã — falo com o homem, que me
encara contente.
Não me chame assim, seu
pervertido. Eu queria que você nunca
tivesse nascido. Eu odeio você, Andrea!
— Lea diz, me causando uma grande dor
no peito e sai correndo.
— Espera aí, Lea! — grito
tentando ir em direção à minha irmã,
mas um braço me impede.
— Deixe-a se acalmar. Depois
vocês conversam — o homem diz e eu
me solto do seu aperto.
Procuro minha irmã por toda a
festa e não encontro. Desisto e resolvo
voltar para casa para esperar por ela.
Estou me sentindo tão mal pelo que
aconteceu. Não consigo parar de pensar
nas palavras de ódio que saíram da boca
da minha irmã. Eu tenho que me resolver
com ela. O problema é que, ao chegar
em casa, minha vida desmorona mais
uma vez. Ao abrir a porta, vejo minha
mãe sentada no nosso sofá pequeno
abraçada a uma Lea muito chorosa e
meu pai está andando de um lado para o
outro com uma expressão sombria no
rosto.
— É verdade? É verdade o que
sua irmã acabou de nós dizer? —
pergunta meu pai de um modo que nunca
falou comigo.
— O que... — estou prestes a
falar, mas minha irmã grita e me
interrompe:
— Não minta para os nossos pais!
Você estava lá na festa se agarrando com
um homem, um homem mais velho! —
diz minha irmã e meu coração dói como
nunca doeu na vida.
— Fale a verdade. Você estava
com um homem hoje à noite? —
pergunta meu pai novamente e eu olho
para minha mãe, que desvia os olhos.
— Sim, um homem me beijou —
falo, soltando um suspiro triste. Meu pai
me encara como se nunca tivesse me
visto na vida e logo sua expressão passa
a ser de pura raiva.
— Saia! — diz meu pai e eu dou
um passo para trás.
— Papa? — pergunto sem
entender.
— Eu quero que você saia dessa
casa! Aqui não é lugar para pervertidos
— diz meu pai com raiva e essa raiva é
toda direcionada a mim.
— Por favor, Papa, não faça isso
comigo. Eu não tenho para onde ir —
imploro e choro copiosamente. —
Mamma? — Olho para minha mãe, que
nem sequer me olha e continua a chorar
com Lea.
— Eu não quero mais saber. Saia
daqui, mas saia agora — diz meu pai
com raiva e faço o que foi perdido, saio
correndo e sem olhar para trás.
Sem destino, vou para o único
lugar que pode me acalmar no momento.
Meu coração está doendo muito, de um
jeito que nem consigo respirar. Sento-me
em frente ao mar e choro por toda a dor
que estou sentindo. Não sei o que será
de mim agora. Estou perdido.
— O que será de mim agora? —
pergunto rouco pelo choro e olho para o
mar.
— Finalmente te achei! — diz
uma voz que já é conhecida por mim. —
O que aconteceu com você? Encontrou
sua irmã? — pergunta ele, me fazendo
chorar mais ainda.
— Eu não sei o que fazer — falo
e ele se senta ao meu lado.
— Não se preocupe, golubushka,
eu vou cuidar muito bem de você — fala
de maneira sombria, passando o braço
pelos meus ombros.
— Por que você vai me ajudar?
Eu ainda nem sei seu nome — falo e
limpo as minhas lágrimas.
— Logo você saberá tudo sobre
mim. Amanhã o levarei comigo — diz
ele com firmeza e eu assinto sem
entender.
O que eu não sabia era que esse
nome iria me assombrar por toda a
minha existência. Que essa dor que estou
sentindo agora não se compara a dor da
minha sobrevivência, minha dor se
tornou a minha maior fonte de vida.
Levanto-me abruptamente da cama
com os olhos arregalados e o coração
batendo descontroladamente dentro do
peito. Passo as mãos trêmulas pela
minha testa suada e tento de todas as
maneiras me acalmar. É sempre assim,
todas as vezes que eu durmo tenho os
mesmos pesadelos, com isso, acordo
tentando saber onde eu estou. O
ambiente está bem escurecido por causa
das cortinas blecaute que coloquei no
meu quarto, o único luxo que fiz um
grande esforço para ter, sendo assim,
será impossível saber se já anoiteceu.
Respiro fundo e olho por todo canto
para ter total certeza de que estou
sozinho e que não há o que temer.
Pego meu celular e vejo que já
está quase no meu horário de sair.
Respiro novamente e vou até minha
cama tirar os lençóis suados de mais um
descanso recheado de imagens
indesejadas. Vou até a lavanderia e
coloco minhas roupas sujas no lugar
para que amanhã, que é meu dia de
folga, eu possa lavar tudo. O meu
estômago dá um belo aviso que está na
hora de me alimentar, por isso caminho
direto para a cozinha na intenção de
preparo algo para comer antes de ir me
arrumar para ir à boate.
Descalço, sentindo o frio da
cerâmica no piso e com somente uma
calça de pijama, sinto meu corpo
estremecer ao abrir a geladeira. Tiro os
ingredientes para fazer um sanduíche
simples e acabo soltando uma risadinha
ao imaginar Francesa me vendo comer
um sanduíche no lugar de uma refeição
completa. Ela não cansa de me alerta
que estou magro e necessito comer
comida boa. Sempre que ela aparece por
aqui traz comida para alimentar uma
multidão.
Francesa Aandreozzi é como um
anjo iluminando minha vida. Quando eu
achei que pessoas boas não existissem,
ela surgiu para me mostrar que em uma
pequena, bem pequena parte da
humanidade, o bem pode existir, sim. Eu
tive que ver tanta coisa feia nesse mundo
para que hoje um anjo pudesse me
estender à mão e me ajudasse a ter a
vida que sempre sonhei e nunca pude ter.
Balanço minha cabeça para dispersar
esses pensamentos e sinto meu celular
vibrar. Olho para o identificador e o
nome de Fran aparece.
— Verde ou azul? Preciso que
você escolha — pede Francesa, me
fazendo rir.
— O que é isso? — pergunto
colocando o celular no ombro e indo
terminar meu sanduíche.
— A cor do vestido que vou usar
hoje para sair com Lorenzo. Estou
fazendo uma votação, escolha a sua cor
— pede ela, me fazendo ficar confuso.
— Você está fazendo uma votação
para qual cor de vestido usar? —
pergunto em um tom divertido.
— Sim, só está faltando você.
Coloquei uma votação em aberto no
grupo da família e todos já escolheram,
está faltando meu pupilo — Francesa
fala e me sinto curioso para saber mais
sobre a família dela, que me parece bem
unida, mas logo afasto esse pensamento.
— Qual cor está ganhando no
momento? — Encho meu copo com suco
e bebo um gole.
— Luna, Enzo e Luigi escolheram
azul. Lucca e Luti escolheram o verde.
Já Filippo disse que prefere preto, ou
seja, ele é um bastardo sombrio —
reclama Francesa com desgosto.
— Como anda o namoro? —
pergunto após dar uma mordida no meu
sanduíche.
— Como tem que ser, ele me
come, eu gosto e ficamos felizes — fala
ela como quem não quer nada e eu cuspo
o pedaço que estava na minha boca.
— Caspita! Por que você fala
essas coisas? — pergunto limpando
minha bagunça.
— Deixe de ser um puritano! Você
não sabe o que é foder, não? — ela
pergunta, me fazendo rir.
— Por vezes eu tenho pena de
Lorenzo. Você faz o pobre de gato e
sapato — falo e ela faz um som de
desgosto.
— Nunca mais vou ser subjugada
por homem nenhum! Se ele achar ruim
que pegue seus panos de bunda e vá
embora — diz Francesca e eu caio na
risada.
— Seu filho parou de implicar
com Lorenzo? — pergunto, curioso,
voltando a comer meu sanduíche.
— Parou, na verdade, ele parou
mesmo quando eu ameacei sair da
mansão. Em um instante ele soube fica
quieto — responde ela em forma de
resmungo.
— As histórias da sua família me
divertem — revelo sem querer.
— Você é muito bem-vindo para
conhecer todos eles, se quiser, mas
sempre foge de mim quando eu chamo
para os eventos — diz ela em um tom
zangado e eu respiro fundo.
— Fran, você sabe que eu não vou
me sentir bem no meio de sua família.
Eu… eu… — tento falar, mas as
palavras não querem sair.
— Eu sei, querido. Não precisa
falar mais nada — responde ela e eu
assinto, por mais que ela não possa ver.
— Tenho muito trabalho hoje lá na
boate. Vai ter uma festa de divórcio e
tenho certeza de que vai estar cheio hoje
— mudo de assunto, a fazendo rir.
— Esse povo não tem o que
inventar. Festa de divórcio? Daria tudo
para ver, mas vou estar ocupada essa
noite — diz ela em tom brincalhão e eu
rio.
— Sei bem o seu “vou estar
ocupada” — digo e ela solta uma
gargalhada.
— Nem queira saber. Dea, eu já
ia esquecendo — Francesa diz,
chamando minha atenção.
— Vai ter uma corrida de carro
que eu vou daqui 15 dias e quero que
você vá comigo — fala ela, sem me dar
jeito de dizer não.
— Você não está perguntando,
isso porque você quer que eu vá. Você
sabe que eu não sou um aventureiro —
lembro a ela, que ri, contente.
— Sei, mas eu preciso de você
para poder filmar a minha aventura.
Não tem como negar nada a ela.
— E quem vai tomar conta…
Ela me interrompe fazendo um
barulho de estrangulamento:
— Se você estivesse perto de
mim, eu te daria uma tapa. Deixe a boate
com a Fanny, ela sempre está fazendo
queixa de que você vive enfurnado
naquela boate, só vive para trabalhar —
diz Francesca e eu reviro os olhos.
— Fanny fala demais — resmungo
descontente.
— Ela fala, porque assim como
eu, ela se importa contigo.
— Tudo bem, nós vamos para
essa sua corrida.
— Você sabe como aceitar um
convite — diz ela, se despedindo logo
em seguida.
Após a ligação, eu termino de
comer o meu sanduíche. Vou até a
cozinha, lavo e guardo os pratos que eu
sujei. Eu sou uma pessoa muito
organizada e muita das vezes essa minha
organização irritou pessoas que eu não
deveria irritar.
Solto um suspiro longo e acabo de
limpar a cozinha. Ao caminho do meu
quarto, penso em quantas vezes
Francesca me convidou para os eventos
que tem com sua família e todas elas eu
sempre, sempre procuro me esquivar ao
máximo.
Sei que a família dela é muito
incrível. Só pelas histórias que ela me
conta, eu sempre acabo entre muitas
risadas, mas lidar com uma família tão
unida como a de Francesa é como abrir
um buraco muito grande de uma ferida
que nunca será cicatrizada. Eu sinto uma
falta tão grande da minha antiga vida,
vida essa que eu acordava todo dia bem
cedo para ir pescar com meu pai. Ou das
muitas vezes que me senti amado e
cuidado por minha mãe me lembrando
de lanchar e muitas vezes de tomar
banho para limpar meu corpo sujo de
areia da praia. Meu Deus! Lembrar
dessa época em que eu era feliz,
inocente e tinha amor e proteção dos
meus pais é muito doloroso.
Hoje em dia eu sou diferente, me
sinto como um robô que é programado
para só existir. Já chorei, sofri, senti
dor, fui derrotado, moldando, tudo isso
em vários anos de puro sofrimento que
passei na Rússia.
Olhando para o Andrea do
passado, percebo nitidamente que
sobrou pouca coisa dele. Eu nunca quis
deixar de ser quem eu era, mas a vida
ensina e ela me ensinou da maneira mais
dura que alguém pode ser ensinado, mas
não é por ter passado por várias
provações que vou ter que fazer a vida
dos outros infelizes. Muito pelo
contrário, e eu agora só quero ter uma
vida. Ter a vida que me foi roubada há
dez anos.
Balanço cabeça para me distrair
desses pensamentos tão mórbidos. Tiro
toda minha roupa e vou tomar um banho.
Quando eu voltei para a Itália, fiz
questão de cortar meu cabelo. Eles
estavam à altura do quadril e a primeira
coisa que fiz foi cortar até a altura do
ombro, mas agora eles estão até um
pouco maiores e isso me irrita um
pouco, pois meus cabelos também me
trazem recordações nada boas. Depois
do banho, enrolo a toalha na cintura e
vou pegar uma roupa na cômoda, tiro
uma calça jeans desgastada e um blusão
de manga comprida, porque aqui em
Milão está fazendo muito frio.
Ao sair de casa, vejo minha
vizinha Marietta. Ela está sempre na
janela, faça chuva ou faça sol. Passo por
Marietta, aceno e sigo meu caminho.
Prefiro ir até a boate a pé, já que é dois
quarteirões daqui de casa. Essa é a
graça de morar perto do trabalho, você
sempre pode ir andando e a parte chata é
só aturar o frio congelante que está
fazendo, mas fora isso está tudo bem.
Chego ao Il Piecere e Seduzindo
Club e antes de abrir a porta, respiro
fundo. Tenho certeza de que há muita
coisa em que trabalhar hoje, o que é
muito bom para mim. Porque quando
estou trabalhando, minha mente fica
focada e não me permito pensar em
outras coisas. Coisas que faço questão
de deixar no passado. Assim que passo
pela porta, tiro o meu casaco grosso,
olho para o salão e vejo Fanny falando
alguma coisa com Louis, o nosso barman
principal.
— Isso não poderia ter
acontecido, Lou! Esses champanhes já
deveriam ter chegado — Fanny fala com
seu rico sotaque angolano, que acho
fofo.
— O que está acontecendo? —
pergunto e ao me ver, ela e Louis
respiram de modo aliviado.
— O pedido daqueles
champanhes cheios de frescuras que a
anfitriã da festa pediu até agora não
chegou — Fanny reclama e eu olha para
Louis.
— Já ligaram para o distribuidor?
— pergunto e eles negam. — Então, é
isso que você vai fazer, Louis, ligue
para eles e pergunte sobre as bebidas.
— Farei isso! — diz ele com seu
sorriso cheio de covinhas.
— E diga que pelo atraso, nós
esperamos que as bebidas estejam
refrigeradas — ressalto e ele sorri
novamente, assentindo.
— Não sei o que seria das nossas
vidas sem você, Andrea — Fanny diz
em um tom dramático e eu reviro os
olhos.
— O seu problema é que quando
algo acontece, você fica muito agitada.
Aprendi que tem certas coisas que
acontecem e que é melhor manter a
calma — falo e ela me encara com uma
expressão pensativa.
— Às vezes você é tão misterioso
e esse seu jeito me deixa curiosa. Sabe
que pode conversar comigo, se quiser,
não sabe? — Sorrio para minha
subgerente e assinto.
Fanny é uma pessoa maravilhosa.
A conheço há alguns meses e posso
dizer com toda certeza que trabalhar
com ela é incrível. Fanny veio da
Angola e decidiu fazer da Itália sua
casa.
Ela é linda com seus cabelos
negros presos em pequenas tranças
afros, como Fanny mesma me ensinou,
que vão até a sua cintura.
É uma mulher negra, de olhos cor
de avelã, sorriso sincero, pequena e
cheia de piercing. Sim, Fanny tem
piercing nas orelhas, nariz, lábios,
sobrancelha, e entre outros lugares que
eu não gostaria de ver. Apesar de ser
uma pessoa maravilhosa, ela tem um
gênio muito forte e não dá confiança a
qualquer pessoa com facilidade. Gosto
disso nela.
— Você fala de mim, mas é tão
misteriosa quanto eu — falo pegando a
prancheta de sua mão e ela dá de
ombros.
— Uma mulher tem que ter seus
mistérios — Fanny diz, jogando suas
tranças com desdém.
— E quem sou eu para dizer o
contrário — murmuro olhando as
anotações na prancheta e sinto um
cutucão na minha cintura. — Isso dói! —
reclamo e ela dá uma gargalhada.
— Você é muito sério e triste, sua
áurea é muito pesada — Fanny diz de
supetão, me assustando.
— Você não deveria falar essas
coisas do nada para as pessoas —
resmungo sem olhar na sua direção.
— Esqueci-me de dizer que às
vezes você pode ser um chato — diz ela,
frustrada. — Falando de mulher, onde
está a chefe? — pergunta Fanny falando
de Francesa e mudando de assunto.
— Ela foi a um jantar com
Lorenzo. Não acredito que venha aqui
hoje — respondo e Fanny assente com
tristeza.
— Eu também queria estar longe
daqui. Esse lugar mais tarde vai estar
um inferno — diz ela descontente.
— E é esse inferno que sustenta o
nosso emprego — falo divertido e ela
revira os olhos.
— Quem dá uma festa de
divórcio? — Fanny pergunta levantando
as mãos para cima.
— Pessoas que têm dinheiro e
querem um pouco de diversão nas suas
vidas — responde Louis vindo em nossa
direção. — Pronto, já liguei e eles
pediram desculpas pelo atraso.
— Obrigado, Lou, você é um
herói — Fanny diz dando um soquinho
no braço de Louis.
— Você poderia ser um pouco
mais delicada — Louis diz esfregando o
braço com uma cara sofrida.
— Vocês homens são tão frescos
— resmunga Fanny, se afastando de nós.
— Vou trabalhar que ganho mais.
— Eu também, tenho que deixar
tudo pronto para o preparo dos drinks
— Louis diz e vai seguido em direção
ao balcão de bebidas.
Louis é o nosso barman principal,
digo isso porque temos alguns que
trabalham para nós em alguns eventos
grandes, mas Louis é o que realmente
fica conosco. Dono de uma beleza
impressionante, com seus cabelos
cacheados castanhos, sorriso fácil com
covinha na bochecha, corpo atlético e
simpatia espontânea. Ele faz sucesso
com os clientes que frequentam
assiduamente o lugar. Não tenho do que
reclamar das pessoas que trabalham no
clube, eles são boas pessoas.
O que é o caso dos nossos dois
garçons, Amauri e Paul. Eles são
namorados, universitários e muito
eficientes. Eles são tão diferentes um do
outro, mas suas diferenças os tornam
pessoas ainda mais incríveis. Por
exemplo, Amauri é pequeno, e adora
usar roupas justas, salto alto, além de
mudar a cor de cabelo com frequência.
Na última noite eles estavam azuis, mas
quem sabe ele não resolve mudar?
Amauri gosta de usar maquiagem
e as usa como um profissional, de um
jeito que as mulheres que frequentam o
lugar gostam de pedir dicas para ele.
Paul é totalmente ao contrário de
seu namorado. Ele é calado, alto, careca
e forte. Não podemos esquecer de
ciumento e louco, absolutamente louco
por Amauri. Eles me contaram que se
conheceram na faculdade e que Amauri
foi vítima de agressão por alguns alunos
homofóbicos. O próprio Amauri conta
como Paul confrontou os caras, dando
uma surra neles e os pondo para correr.
O brilho nos olhos dele ao contar o
heroísmo de seu namorado é
impressionante. Eles agora dividem um
apartamento juntos e trabalham aqui
para ajudar a apagar as contas. Falando
neles, eles acabaram de chegar.
— Salut, petits papillons d'amour.
(Oi, pequenas borboletas do amor) —
Amauri diz com o seu jeito alto astral de
ser.
— Nunca entendo a sua grande
disposição o tempo todo — Paul diz
derrotado e Amauri faz um gesto de
desdém.
— A vida já é pobre e sem graça
muitas vezes, mas eu posso trazer um
pouco mais de cor para os outros —
Amauri diz e é arrebatado por Paul.
— Nada para os outros, tudo que
você tem que dar é para mim — diz Paul
grudando seus lábios nos de Amauri.
— Esses dois já começaram a se
agarrar? Mal chegaram! — Fanny diz
indignada, fazendo o casal se separar.
— Désolé, mon ami — Amauri
diz limpando o batom dos lábios de seu
namorado.
— Fala em italiano ou na minha
língua natal. Palhaçada! — reclama
Fanny, me fazendo soltar um riso curto.
— Ele disse: Desculpa, minha
amiga — respondo e ela cerra os olhos
na minha direção.
— Um poço de mistério você,
Andrea — Fanny diz e eu fecho o
sorriso.
— Vocês chegaram cedo hoje —
falo olhando para o casal.
— Estamos com tempo livre e
resolvemos vir mais cedo para ajudar no
que falta — Amauri diz olhando por
todo o salão.
— Ele me forçou a vir mais cedo
para decorar Deus sabe o que mais —
Paul diz com uma grande carranca.
— Você está reclamando porque
eu tirei sua bunda gostosa do sofá —
Amauri diz, dando uma averiguada
descarada na bunda do namorado.
— Eu estava assistindo a reprise
do jogo do Juventus — explica Paul
como se isso explicasse tudo.
— Nossa, eu não acredito que
perdi esse jogo — lamenta Louis,
iluminando Paul, que vai contente até o
barman falar sobre o jogo.
— Homens vendo outros homens
correr atrás de bola. Nunca vou entender
isso e você, Mau? — Fanny pergunta a
Amauri, que solta um suspiro dramático.
— Nunca vou entender a dinâmica
masculina — diz ele e eu não posso
deixar de soltar um sorriso.
— Onde estão os meninos? Até
agora eles não chegaram — pergunto,
me referindo aos dançarinos da casa.
— Nunca vi um lugar para ter
tanto deus grego. Meu Paul que não me
ouça, mas eu ainda fico de queixo caído,
babando como um sem noção quando
vejo esses homens dançarem — Amauri
sussurra para que Paul não ouça.
— Nem me fale! Só um que eu
não quero perto de mim. Sujeito
abusado! — Fanny reclama e Amauri ri,
divertido.
— Você fala isso porque sabe que
o pobre Nero é apaixonado por você —
Amauri diz, cutucando Fanny com o
cotovelo.
— De onde você tirou que
aquele… aquele… Argh! Que Nero
gosta de mim? — Fanny diz irritada e eu
não posso deixar de levantar a
sobrancelha em questionamento.
— Os olhares de cachorrinho
abandonado que ele te dá cada vez que
você é grossa com ele já dizem tudo —
Amauri diz e eu não tenho como
discordar.
— Está explícito para quem
quiser ver — falo e ela me olha sem
acreditar.
— Matias é louco por você e
você nunca deu bola — diz ela e eu
reviro os olhos.
— Eu e Matias? Isso nunca irá
acontecer — falo com indiferença.
— Eu ainda vou fazer de você
meu — Matias diz atrás de mim e eu me
vejo ficar rígido.
Olho para trás e vejo Matias
sorrir para mim com seu jeito
pretensioso que me irrita. Logo atrás
dele está Nero, que está com os olhos
grudados em Fanny. Junto deles estão
Nick, Austin e Romeo. Só um idiota não
vê como esses homens são bonitos, cada
um de uma beleza diferente. Matias é
moreno, com um corpo musculoso e
bronzeado. Seus olhos são de verdes
acinzentados bem diferente, seus
cabelos são escuros e ele anda sempre
com um sorriso de predador, o que deixa
as clientes enlouquecidas. Mas o que
tem de beleza tem de pretensioso e isso
me irrita.
Nero foi o que mais me
surpreendeu, pois apesar do seu corpo
alto e forte, olhos azuis e cabelos
grandes selvagens, ele é totalmente doce
e gentil. Nunca ouvi Nero sendo
grosseiro em algum modo. Diferente de
Austin, que é egocêntrico, mimado e tem
um complexo de superioridade. Austin
tem uma beleza clássica como de uma
realeza inglesa, tem cabelos loiros bem
arrumados, corpo magro e atlético, um
sorriso bonito. Já ouvi várias vezes as
pessoas o chamarem de príncipe quando
dança.
Nicanor ou Nick, como ele
prefere ser chamado, tem um estilo nerd
chique. Ele tem a aparência de um
professor. Seus cabelos e olhos
castanhos, sua barba por fazer, óculos de
grau, junto com um corpo bonito é um
pacote e tanto. Nick tem uma namorada
insuportável que sempre está por aqui
procurando algum tipo de problema, mas
o nosso professor de verdade é Romeo.
Ele é de um carisma inigualável, mais
baixo que os outros. Sua pele negra,
olhos cor de mel e sorriso com um toque
de malícia fazem uma combinação
perfeita. Resumindo, todos são muito
bonitos.
— Já disse a você que isso nunca
vai acontecer — falo com uma
expressão fechada.
— Olá, minha deusa, como você
está? — Nero pergunta à Fanny e eu
posso ver Amauri dar uma risadinha e
Fanny o olhar com raiva.
— Já falei para você não me
chamar assim, eu estava mais tranquila
sem a sua presença — Fanny responde e
sai apressada levando Amauri junto com
ela.
— Vou estar na minha sala
resolvendo algumas coisas. Desço daqui
a pouco para ver como andam as coisas
por aqui — falo para os dançarinos, que
concordam.
Matias vai falar mais alguma
coisa, mas eu levanto a mão, impedindo
que ele fale, depois me viro e vou em
direção às escadas que dão para minha
salinha. Preciso de um tempo só.
A minha sala é pequena. Só tem
uma mesa de madeira escura, uma
cadeira um pouco mais confortável e um
sofá no canto, onde tem uma janela que
eu posso ver tudo o que está
acontecendo lá embaixo. Sento-me na
minha cadeira e tiro meus sapatos.
Gosto de ter contato com o chão frio,
essa sensação me faz relaxar um pouco.
Ligo o notebook e vou olhar as planilhas
com as contas da boate. Não sou nenhum
contador ou coisa parecida, Francesca
tem quem faça as contas do lugar, mas eu
aprendi a mexer em algumas coisas.
Após um tempo, sinto uma
dorzinha de cabeça chata, então fecho os
olhos e colo minha testa na mesa.
Automaticamente minha mente voa para
lugares do passado que eu gostaria
muito de esquecer. Minha vida nesses 10
anos na Rússia não foi um mar de rosas.
Eu tive que lutar e lutar de todos os
jeitos e maneiras para poder estar vivo.
Não, eu não posso pensar nessas coisas,
eu não posso me dar ao luxo de lembrar
da dor que carrego comigo. Vou
trabalhar que é melhor e assim paro de
pensar.
Coloco meus tênis de volta,
prendo meu cabelo em um coque alto e
folgado. Descendo as escadas, já dá
para ouvir os gritos animados de Fanny
e Amauri. Esses dois quando se juntam
não é possível desgrudar, e pelo som
ligado tenho certeza de que os meninos
estão ensaiando.
Romeo é um ótimo professor de
dança. Ainda me pergunto o que faz com
que ele ainda dance em boate, porque eu
sei que fora daqui ele é muito bem
requisitado, mas uma vez, quando Fanny
pergunta a ele o porquê de ele ainda
estava aqui, ele sorriu e disse que as
pessoas são legais.
— Olha só os passos novos que
Romeo está fazendo, Dea — Fanny grita
assim que me viu.
— Não precisa gritar, Fanny —
falo em um tom não tão sério, mas não
dá certo.
— Você deveria ser uma bicha
mais sorridente — Amauri alfineta e
Fanny ri.
— Tenho que concordar com
você. Ele é tão lindo — Fanny diz e eu
não posso deixar de revirar os olhos.
— Eu nunca disse que era gay,
vocês estão vendo coisas demais — falo
tentando não rir.
— Ora, borboleta loira, não
esconda suas asas da gente. Estou me
sentindo ofendida! — Amauri diz
gesticulando.
— Você tem a aura colorida, não
minta para nós. Está vendo isso, Amauri,
ele quer mentir para nós — Fanny diz
fazendo drama e Amauri começa a fingir
choro.
— Estou me sentindo muito
traída… Você não pode sair do vale! —
brinca esse louco e eu começo a rir.
Desde que Francesca chegou com essa
onda de vale, eles não param de falar.
— Vocês são dois malucos! —
falo e vou até onde Louis está
preparando sua bancada com as coisas
que vai usar para fazer os drinks.
— Vai uma bebida aí? — pergunta
Louis e eu nego.
— Você sabe que eu não tomo
bebida alcoólica — falo, me sentando
na cadeira alta.
Tem todo um motivo para eu não
tomar álcool. A última vez que bebi, fui
forçado a fazer coisas que eu não queria
e com isso eu acabei passando por algo
que não desejo a ninguém. Usaram a
minha bebedeira para se aproveitar do
meu corpo, fizeram de tudo o que
queriam comigo enquanto eu gritava e
pedia para que parasse.
Eu era novo e muito inocente,
confiavam fielmente no homem que me
levou embora. Às vezes quando sinto o
odor de alguma bebida muito próxima a
mim, sinto ânsia de vômito e a partir do
momento que comecei a trabalhar aqui,
eu tive que me controlar.
— Chefe! Andrea! — chama
Louis, me acordando dos pensamentos
sóbrios.
— Desculpe, eu estava distraído
— falo tentando sorrir.
— Percebi isso, mas também
percebi que você estava com uma
expressão muito dolorosa. Aconteceu
algo? — Louis pergunta e eu toco em
seu ombro.
— Não, não aconteceu nada. Eu
estava aqui pensando como aqueles dois
falam besteira — digo apontando para
Fanny e Amauri e isso faz Louis rir.
— E como falam, mas não
vivemos sem eles — Louis diz e eu
confirmo.
— Tira o olho que aquele
pequeno em uma calça muito colada e
salto alto é meu — Paul diz com uma
expressão irritada e Louis levanta os
braços em sinal de rendição.
— Você está me olhando como se
fosse me dar um soco — Louis diz e
Paul cerra os olhos.
— Sim, se você continuar a olhar
o traseiro do meu marido — Paul diz e
Louis ri baixinho.
— Eu achei que vocês fossem
namorados, meu amigo — diz o barman
rindo feliz. Às vezes acho que ele gosta
de provocar Paul.
— Namorado, marido são meros
nomes. Moramos juntos, não moramos?
Então ele é meu marido — diz Paul de
cara feia.
— Concordo com você, Paul —
falo e ele assinto rapidamente.
Nesse momento, Amauri chega
com Fanny reclamando que está com
fome, que deveríamos comprar alguma
coisa. Gosto da ideia, porque eu comi
somente um sanduíche antes de vir para
cá. Não sou de sentir muito fome, mas
tenho que me alimentar. Vou até o palco
onde estão Romeo, Nero e Austin e
pergunto se eles também querem comer
e Matias, que está nos fundos, grita que
sim. Nossa, ele sabe ser inconveniente.
Fanny diz que vai comigo, assinto
gostando da companhia e quando Nero
diz que também quer vir com a gente,
Fanny olha para o pobre homem com
cara feia. Isso o faz desistir da ideia na
hora, balançando a cabeça
negativamente. Me pergunto o porquê de
Fanny não dar uma chance a Nero. É
nítido para quem quiser ver o quanto ele
está apaixonado, mas essa mulher dura
na queda não quer saber. No caminho até
uma cantina onde vende umas coisas
bem gostosas, tenho a sensação de que
tem alguém nos seguindo.
— O que foi? — pergunta Fanny e
eu nego com a cabeça.
— Não foi nada, só uma sensação
ruim — falo e olho para trás novamente.
— Você tem muito disso? —
pergunta Fanny e eu olho para ela sem
entender.
— Muito disso o quê? — continuo
sem entender.
— Sentir as coisas, essas coisas
que nós não explicamos — diz ela e eu
nego.
— Eu deixo essas coisas para
você, obrigado — falo e ela sorri, me
distraindo.
— Você tem que acreditar mais
nas coisas, sabe — Fanny diz e eu
respiro fundo.
— Vamos lá, Fanny, esse assunto
de novo, não — falo, me sentindo
cansado e ela assinto.
— Tudo bem, tudo bem, não está
mais aqui quem falou — diz ela e eu
afirmo.
Chegamos na cantina e
compramos os lanches para todos. No
caminho de volta, eu tenho a mesma
sensação de estar sendo ridiculamente
observado. Não pode ser, não tem como
ninguém me encontrar aqui, faço de tudo
para permanecer no escuro para que eles
não me encontrem. Não faço questão de
sair por aí me exibindo para quem
quiser ver, mas tem certos momentos que
há necessidade para sair. Droga! Isso
não pode acontecer comigo. Se ele me
encontrar eu estou perdido.
— Dea, você está ouvindo gritos?
— Fanny pergunta quando estamos na
frente da boate. Presto atenção no som e
tenho quase certeza que sim.
— Sim, vamos! Acho que aqueles
dois sem noção estão brigando
novamente — falo com uma expressão
fechada e Fanny morde os lábios.
— Esses dois estão sempre
fazendo isso e eu nunca entendo —
Fanny diz e eu olho para ela com a
sobrancelha arqueada.
— Seria muita surpresa que eles
não brigassem, o único que evita briga
aqui é Nero — falo caminhando
apressadamente para dentro da boate.
Em cima do palco está Austin e
Nick quase saindo aos socos, só não
está acontecendo ainda porque Romeo
está segurando Nick e Nero está
segurando Austin. Reviro os olhos,
coloco as sacolas em cima de alguma
mesa e vou em direção a eles. Pergunto
o que houve dessa vez, mas eles gritam
tanto que fica impossível ouvir como
isso aconteceu.
— Khvatit, vy dvoye! (Chega,
vocês dois!) — Merda! Falo em russo
novamente e eu não gosto disso, mas
pelo menos eles param. — Quero saber
o que houve dessa vez — peço e eles
olham para o outro com raiva.
— Esse filho de uma cadela acha
que é melhor que todo mundo — Nick
diz entre dentes e Austin ri.
— Eu não acho, seu otário, eu
sou! — Austin diz e eu sinto uma
pontada forte na cabeça.
— O que desencadeou essa briga?
Vamos lá, eu quero a verdade ou a casa
ficará com o dinheiro que vocês dois
conseguirem com a dança de hoje à noite
— falo e os dois me olhando
espantados.
— Você não faria isso, faria? —
pergunta Nick.
— O que você acha, Nicanor? —
pergunto e ao falar o nome dele, ele me
olha com uma cara azeda.
— Oh, sim, esse loirinho faria.
Ele é tão excitante — Matias diz, vindo
sem camisa na minha direção.
— Acho melhor você ficar fora
disso — peço e ele sorri para mim.
— Preocupado comigo, loirinho?
— pergunta ele e eu me sinto
estupidamente enojado com o seu tom.
— Essa sorte você não tem,
Matias — diz Fanny rindo e Matias olha
para ela irritado.
— Quem te chamou na conversa,
sua criatura irritante? — pergunta
Matias e Nero olha para Matias.
— Não fale assim com a Fanny!
— diz ele em um tom baixo e bem
irritado e Fanny não gosta.
— Não pedi nenhum advogado.
Saia do meio, seu selvagem! — Fanny
diz apontando para Nero e eu sinto pena
do rapaz.
— Cadê seu coração, donna? —
Ouço Amauri perguntar e a resposta de
Fanny o fez dar uma gargalhada
estrondosa, que só Amauri sabe dar.
— Parem! A conversar aqui é com
esses dois — falo apontando para
Austin e Nick. — Se não falarem, eu vou
ter que falar com Francesca — ameaço e
os dois arregalam os olhos.
— Não, obrigado! Aquela mulher
me dá medo! — Austin diz passando as
mãos no cabelo.
— Deixa isso para lá, Andrea,
está tudo bem — Nick fala nervoso e eu
tenho vontade de rir. Todos eles
respeitam muito Francesa.
— Tudo bem, então vão comer
alguma coisa, que daqui a pouco é hora
da apresentação de vocês — falo saindo
do palco.
— Você vai passar o óleo em mim
hoje? — Matias pergunta sorrindo de
modo sedutor e eu respiro fundo.
— Ostav' menya v pokoye! (Me
deixe em paz!) — murmuro enquanto me
afasto.
Eu realmente não gosto de falar
em russo. Me lembro de quando eu era
obrigado a falar em Russo, eu não podia
falar uma palavra na minha língua natal
e isso me matava. E se minhas emoções
estão confusas, eu sempre estou falando
em Russo e isso me irrita profundidade.
Esquecendo essa merda toda, vou atrás
de Fanny para lancharmos e ajustar as
últimas alterações para a festa de hoje à
noite na boate.
Quando todos se alimentam bem,
os meninos vão para os camarins, que
ficam no fundo do palco e eu, Fanny,
Amauri e Paul ficamos no salão. Como a
dona da festa quer que todo o
ordenamento seja vermelho, é assim que
fazemos para ela. As mesas têm arranjos
com rosas vermelhas, as taças para os
champanhes são do mesmo tom e
Amauri ajeitou o palco com algumas
decorações de coração partido que eu
particularmente achei interessante e
tenho certeza de que a dona da festa vai
gostar.
Ao cair da noite, subo para trocar
de roupa, pois todos aqui devem se
vestir a caráter para essa festa. Prefiro
colocar uma calça jeans preta, uma
camisa vermelha e um blazer também
preto. Deixo meus cabelos soltos caídos
na frente dos ombros e me sinto pronto.
Desço já vendo Amauri passar
segurando uma bandeja com várias
taças. Ele está usando um short de paetê
vermelho, uma blusa preta e um salto
vermelho altíssimo. Ainda me pergunto
como ele consegue usar esse troço sem
cair.
Passo por algumas mulheres que
estão sentadas bastante sorridentes
esperando o início dos shows. Vejo
Fanny com um vestido vermelho colado
e curto. Pela sua cara desagradável ao
descer o vestido ela está odiando usá-lo.
Ela percebe que eu estou olhando e faz a
maior cara de sofrimento. Paul e Louis
estão usando somente calça vermelha e
uma gravata borboleta. As mulheres
tentam passar a mão neles, mas eles
recusam com educação, tudo isso é obra
de Amauri, tenho certeza.
— Socorro aqui, Andrea! — diz
Paul e eu dou de ombros.
— Reclame com seu namorado
depois — falo e ele respira fundo.
— Ele está adorando os elogios
dessas mulheres com o salto e a
maquiagem — Paul diz olhando a
expressão sorridente do namorado.
— Sim, ele adora isso! Olha lá,
mas uma te chamando — falo assim que
vejo uma loira apontar para Paul.
— Eu quero morrer! – resmunga
ele e eu abro um sutil sorriso.
— Morre depois do evento! —
lembro tentando não rir.
— A divorciada está chegando,
Dea! — diz Fanny apressada.
— Vou recebê-la na entrada e
você fica de olho nos garçons novatos e
depois vai lá atrás ver se os meninos
estão arrumados — falo e ela assinto.
— Pode deixar! — responde e eu
vou até a entrada da boate.
— Seja muito bem-vinda, senhora
De Pauli! Essa noite é para o seu prazer!
— falo o mais sério e sensual que eu
consigo ser e ela abre um grande
sorriso.
— Como você é lindo, meu
jovem. Muito obrigada pela recepção. E
tenho certeza de que vou aproveitar
muito, não é mesmo, meninas? — grita
colocando sua mão direita no meu rosto
e as mulheres que vieram com ela
começam a gritar também, com isso todo
mundo grita junto. Dio, que gritaria!
Levo a senhora De Pauli para sua
mesa especial bem de frente para o
palco e em poucos minutos que ela está
acomodada e com o copo de champanhe,
o show começa. Hoje quem está
prestando a entrada dos shows é uma
mulher chamada Dália, que é amiga de
Fanny. Ela é uma mulher com uma
presença forte e sedutora. Anda com
seus sempre macacões de couro, seus
cabelos escuros que vão até a cintura,
seus lábios em um batom vermelho
sangue, seus olhos exóticos que eu nem
sei definir a cor direito fazem um
contraste incrível. Ela inicia as
apresentações chamando Nero ao palco.
— Deuses! Às vezes tenho
vontade de esganar essas caras — Fanny
diz irritada quando chega perto de mim.
Seus olhos vão direto para palco onde
Nero está vestido de pirata a encarando
enquanto rebola seus quadris. —
Babaca! Por que ele tem que ficar
olhando para mim?
— Por que ele quer você? — falo
e ela me olha de cara feia.
— Não comece com isso de novo!
— resmunga Fanny e eu tenho que rir.
— Dê uma chance ao pobre Nero,
olha aquela carinha — brinco e ela me
olha maliciosamente.
— Dou uma chance a Nero se
você der uma chance a Matias — diz ela
e eu não disfarço meu descontentamento.
— Não compare Nero com Matias
— falo em um tom sério e ela respira
fundo.
— Verdade, mesmo assim que não
o quero. Nem ele e nem ninguém — diz
ela em um tom que não está aberta a
mais conversar. — Estou voltando ao
trabalho.
E com isso ela sai, me fazendo
acompanhar seus movimentos. Não sei o
que se passa com Fanny, mas coisa boa
com certeza não é, mas quem sou eu
para falar nada sobre o passado dos
outros, o meu é um total desastre, cheio
de dor e sofrimento. Balanço a cabeça
ao ouvir os gritos ensandecidos das
mulheres presentes. O próximo a entrar
no palco é Austin vestido de cupido.
Pouco tempo depois é a vez de Romeo e
Nick. Eles estão vestidos de gladiadores
e encenam uma luta no palco que acaba
com as cuecas cheias de euros. Não só
eles, mas todos os outros.
Agora é a vez do astro da casa.
Não, isso não é uma brincadeira. Matias
é reconhecido por toda a mulherada. E
por mais que eu o ache nojento e
totalmente sem noção, tenho que admitir
que o desgraçado dança muito bem. Só o
seu sorriso de lado faz com que muitas
invadam o palco durante sua
performance. E confesso que, controlar
todas elas, é cansativo! Solto um suspiro
frustrado quando ele sorri para mim e
pisca um olho. Dou as costas e saio do
meu lugar perto da mesa da senhora De
Pauli.
Finalmente mais um show é feito
com sucesso e mais uma cliente que
decide fazer sua festa aqui está muito
satisfeita, saindo daqui bêbada e feliz. E
agora só resta tirar algumas coisas do
lugar para que a equipe que faz a
limpeza venha amanhã. Já sem o blazer,
com a calça jeans dobrada até o joelho e
meu cabelo preso em um coque frouxo,
vou fechando o caixa.
— Vai para casa, Dea, amanhã
tem como você terminar isso aqui — diz
Fanny e eu respiro fundo.
— Você está morto em pé, fofo —
Amauri diz concordando com Fanny.
— Tudo bem, tenho que ir para
casa mesmo — falo e eles assentem.
— Você deveria ter aceitado a
carona de Matias — Amauri diz e eu
olho de cara feia.
— Não, não mesmo — falo e eles
dão risada.
— Saia daqui chefe, amanhã tudo
estará aqui — Louis diz com seu grande
sorriso simpático.
— Se você quiser, eu e meu
sovertão podemos te dar uma carona.
Não é, meu cheiroso? — Amauri
pergunta a Paul, que afirma.
— Claro, com certeza! – responde
ele prontamente, mas eu nego.
— Fico agradecido, mas não há
com que se preocupar. Eu moro bem
perto — respondo, me levantando para
pegar meu casaco e cachecol.
Após me despedir de todos, sair
da boate e passar pelos seguranças na
porta, um se prontificou a vir comigo,
mas eu nego. Gosto de andar na
escuridão da noite, mesmo nesse frio
absurdo, para poder espairecer um
pouco a mente.
Quando falta uma quadra para
chegar na minha casa, vejo dois carros
pretos grandes frearem abruptamente ao
meu lado. Deus, não, não, por favor,
não! Meus olhos ficam arregalados
porque eu sei o que está prestes a
acontecer e eu estou com medo. Vejo a
porta traseira abrir e uma das pessoas
que jurei nunca mais ver na minha vida
sai do carro.
— Vy deystvitel'no dumayete, chto
budete pryatat'sya vechno? (Você
realmente achou que iria se esconder
para sempre?) — pergunta um dos
homens que mais odeio nesse mundo.
Continuo a olhar para o homem na
minha frente imaginando se agora será o
fim da minha vida.
ENZO AANDREOZZI

Saio do carro fechando meu


sobretudo, que cobre meu terno cinza
chumbo da Armani. Timóteo vem atrás
segurando a minha maleta e assim que se
aproxima, ele a passa para mim. Nem
sequer passo meus olhos nele, pois ele
sabe muito bem o que deve fazer no
momento que chegamos à empresa. Aqui
eu sou o poder, eu mando e desmando
em tudo e todos, se não for assim, as
coisas não andam como tem que ser e
isso só gera mais estresse para minha
vida. Não sou adepto a estresse! E
pessoas que me causam estresse
desnecessário eu mando embora, comigo
é simples e fácil.
Começo a andar para a entrada da
empresa, a construção de estilo clássico
que fiz questão de deixar do mesmo
modo que Babo construiu com seu
sangue e suor. A única coisa que tive
que fazer foi a modernização do
ambiente externo, porque ninguém
merece subir tantas escadas para chegar
à presidência, como era antes de Filippo
e eu assumirmos os negócios daqui em
primeira instância. Vou caminhando até
o meu elevador privativo e ouço alguns
murmúrios de Buongiorno, signor
Aandreozzi.
Continuo meu caminho sem olhar
para os lados e vou direto para o
elevador. Chegando ao meu andar vejo a
minha secretária levantar-se de forma
apressada. Quando ela me vê faz
questão de começar a falar seja lá que
merda for, mas passo direto para minha
sala. Como todos os dias, Timóteo fica
na porta atento a tudo e a todos que
rodam por aqui, enquanto Cyro fica do
outro lado, perto do elevador. Cyro é
uma nova adição que Nardelli me
recomendou, um ragazzo sério e de
poucas palavras, bem do jeito que gosto
e para mim se encaixa bem.
Após tirar o sobretudo grosso,
abro os botões do blazer do terno e me
acomodo na minha confortável poltrona.
Respiro fundo e já começo a ligar meu
notebook e tirar alguns documentos que
eu tenho que olhar. Antes que eu dê
conta do que está acontecendo, a porta
da minha sala é aberta e minha
secretária entra toda sorrisos.
— Eu por algum acaso disse que
você poderia entrar? — pergunto sem
olhar, mas sei que seu sorriso morre no
rosto.
— Desculpe-me, senhor, eu
pensei que poderia entrar — diz ela e eu
descanso meus cotovelos na mesa.
— Pensou errado, senhorita
Roccato — falo sério e é nítido quando
ela engole em seco.
— Eu realmente…
Levanto minha mão, a fazendo
parar.
— Não estou com vontade de
ouvir suas desculpas, mas já que está
aqui, fale minha agenda de hoje — peço,
pegando meus óculos de grau. Observo
seu olhar abobado na minha direção e
contenho um revirar de olhos.
— O senhor tem uma reunião às
09h30min e a tarde um almoço com um
cliente antigo — diz ela, nervosa, e eu
assinto.
— Tudo bem. Se é só isso, pode
ir — falo, a despachando com a mão,
mas lembro de algo. — Senhorita
Roccato!
— Sim, senhor? — pergunta ela e
um pequeno sorriso surge nos seus
lábios.
— Não esqueça que eu sou o
chefe, não o contrário. Você é uma ótima
secretária, mas não é insubstituível.
Agora pode ir — falo e ela sai da minha
sala com pressa.
E eu não estou mentindo quando
eu digo que a senhorita Roccato é uma
ótima secretária. Ela fala algumas
línguas que é preciso para trabalhar em
uma empresa como essa e nunca foi
insuficiente, mas como nada é perfeito
nessa vida, eu sei que ela supre algum
sentimento por mim, sentimento esse que
eu não tenho intenção de retribuir.
Luna já disse várias vezes que não
gosta dela. Nunca entendi bem o motivo
desse desagrado de minha irmãzinha,
mas eu sempre fico de olho e se a
senhorita Roccato vacilar, ela com
certeza irá embora em dois tempos. Não
gosto de perder tempo.
Passo um pouco da minha manhã
afundando em alguns documentos de
suma importância e quando está perto do
horário da reunião, sigo meu caminho
até a sala de reuniões. Como eu sou
sempre o primeiro a chegar, acomodo-
me na cadeira à espera dos outros
componentes para essa reunião. Não
gosto de me atrasar e com certeza odeio
que se atrasem.
— Já está aqui? Bom dia! — diz
Vinícius, o meu diretor financeiro, e vou
confessar que sinto uma enorme vontade
de dar uma grande resposta, mas prefiro
ficar quieto, pois ele é um insignificante.
E com isso mais pessoas vão
entrando como Fabrizio, o meu diretor
geral, que é uma pessoa agradável e seu
pai é um grande amigo do meu pai e
procuro não me envolver muito.
Fabrizio, de tempos em tempos, me
chama para tomar alguma bebida, mas
não gosto de misturar as coisas.
Nossos pais podem ser amigos,
mas isso não quer dizer que eu queira a
sua amizade. Mais outros chegam e
podemos finalmente começar essa
reunião. O tema principal são os
contratos para as novas construções que
a empresa fará em Atena, na Grécia.
— Esse contrato é muito
importante para nossa empresa, gostaria
de tomar a frente dessas construções —
diz Betina, a engenheira geral da
empresa.
— Mas o nosso CEO já está
fazendo isso, então não há razão para
você querer fazer essa viagem — diz
Fabrizio em seu tom sempre calmo.
— Mas eu quero que o meu nome
seja o principal citado nessa obra — diz
ela no seu tom arrogante.
— Deixe de ser uma pessoa
egocêntrica, Betina — resmunga
Vinícius.
— Você está me ofendendo! —
diz ela com raiva para Vinícius.
— Uma cobra peçonhenta como
você não deveria ser tão sensível —
rebate Vinícius, deixando Betina mais
irritada.
— Cale a boca, seu maledetto,
ainda me pergunto por qual razão Enzo
colocou você como diretor financeiro —
Betina diz com raiva e Vinícius ri.
Continuo a observá-los para saber até
onde eles irão com essa infame
discussão.
— Você não sabe dos meus
encantos, querida — ele responde com
deboche.
— Pessoas, por favor — pede
Fabrizio, mas os dois não dão ouvidos e
continuam com a discussão.
O tempo inteiro eu permaneço
calado observando as barbaridades que
saem da boca desses dois, que só andam
brigando sempre que tem uma
oportunidade, mas hoje eu não estou no
clima para aturar essas coisas e como eu
disse antes, eu odeio tudo que me causa
estresse. Levanto-me abruptamente da
minha cadeira e bato com toda a força
na mesa, o barulho é tão grande que faz
todos pularem de susto, menos Fabrizio,
que continua com sua calma de sempre.
— Calem as suas malditas bocas!
— falo, ficando ereto para fechar os
botões do meu terno.
— Mas como… — tenta falar
Betina, mas eu a olho com toda frieza do
meu ser.
— Eu mandei calar a boca!
Betina, todo mundo sabe o quão
desagradável você é e não precisa abrir
a boca para isso. Primeiro, não será seu
nome que estará em qualquer lugar e sim
o meu, pois isso aqui é meu – falo
bastante controlado, a deixando
assustada.
— Só dei minha opinião — diz
ela, tentando recuperar seu tom
arrogante, mas comigo não.
— Se quer seu nome em obras, dê
o fora da minha empresa e abra a sua.
Fora isso você fará aquilo que eu
permitir que você faça, mas as coisas da
Grécia são comigo. Será que estamos
entendidos? — pergunta rudemente e ela
engole em seco.
— Sim, Enzo — resmunga a
contragosto.
— Para você eu sou Senhor
Aandreozzi, não temos e nunca vamos
ter intimidade — falo e rodeio a mesa
para começar a sair, mas paro. —
Vinícius, a reunião não é lugar de briga
de colegiais. A próxima você está fora.
— Sinto muito, chefe! — diz ele e
eu saio da sala sem olhar para trás.
Volto para a minha sala e antes de
entrar, peço um café para a minha
secretária, que me encara com um
grande sorriso, como se estivesse pronta
para o trabalho. Pessoas que fingem
felicidade o tempo todo me irritam!
Começo a novamente trabalhar e quando
a secretária traz o que pedi, bebo meu
café preto com uma pitada de canela, do
jeito que eu gosto. Encostando minhas
costas na poltrona, olho para as fotos
que tem na minha mesa. E uma foto me
chama a atenção e faz a porra de um
sorriso pequeno surgir nos meus lábios.
A primeira foto é onde estou com
os meus irmãos. Filippo fazendo uma
cara irritada para Lucca por ele ter
falado algo no seu ouvido que Filippo
não gostou nada. Luna está nas minhas
costas gargalhando e apontando o dedo
para Lucca, que faz uma cara de medo
digna de cinema. E eu estou com um
grande sorriso tendo meus olhos tapados
pela mão de Luna, que fez isso e nem se
deu conta. Só com a minha família eu
consigo ser tão aberto. Somente com
eles me sinto à vontade para ser eu
mesmo.
E agora com o aumento dessa
família a cada dia que passa, as coisas
estão se tornando mais interessantes.
Filippo e Lucca com homens do bem que
os amam de verdade. Luti é carinhoso e
muito maduro, de um jeito que por vezes
me assusta, por ser assim em tão pouca
idade. Luigi é um homem responsável e
centrado, mas, sendo sincero, ele tinha
que ser assim porque ter um Lucca na
vida é trabalhoso. E o mais
impressionante é que eu tenho esses dois
estranhos como irmãos e os acolhi na
minha vida com facilidade, pois sei que
eles amam e cuidam daqueles que eu
faço de tudo para ver bem.
E o que falar dos meus sobrinhos,
aquelas pequenas miniaturas de gente
grande com fortes personalidades. Eu
enxergo muita coisa de Luna em
Eduarda, com aquele jeito de pessoa
fofa, atenciosa, mas pode muito ser
pretensiosa e chantagista quando quer.
Pietro é muito arteiro e ele tem algumas
coisas de Lucca, como sua grande
capacidade de tirar as meninas do sério.
Samantha é outra criatura incrível. Ela
tem um jeito meio despojado que sempre
tem uma boa resposta para tudo,
inteligente que só e cuida de Isabel, a
caçula do meio Aandreozzi, que acabou
de completar nove meses, com muito
esmero e fora que é a minha parceira de
confidências.
Um toque no meu celular me
desperta dos pensamentos e ao ver o
nome de Sam na tela, eu nem me
surpreendo, pois ela sempre está me
ligando.
— O que foi que seu pai
desmiolado fez agora? — pergunto
assim que atendo.
— Para minha sorte ele ainda
não fez nada, tio Zuco — responde me
chamando pelo apelido que Luna me
chama desde pequenina.
— Então o que devo a honra da
ligação? — falo e ela solta um som
ofendido do outro lado.
— Eu não posso só querer falar
com o meu tio amado, não? — pergunta
ela com um tom debochado.
— Sei que você me ama muito,
mas reclama muito. Então fala logo! —
peço e ela dá um risinho.
— Quero fazer um grande pedido
— fala ela e eu já estranho.
— Não sei por qual razão, mas eu
sinto que aí vem bomba para o meu lado
— falo e já sinto uma pontada no
coração.
— Deixa de drama, tio, nem
parece que é o adulto aqui — ela diz
com um tom sincero. — Eu quero que o
senhor tire da cabeça de minha Nonna
Ariana que eu deveria usar vestido no
casamento de meus pais. Eu odeio
essas coisas cheias de não me toque.
Eu odeio rosa!
Eu não posso segurar a risada.
— Você vai ficar tão linda e
delicada de vestido, minha sobrinha —
brinco com um tom sério e sei que ela
está irritada.
— Não diga isso, tio, minha
última salvação vai ser o tio Filippo.
Meus pais estão se fazendo de surdos e
afirmaram que não querem se envolver
com as mulheres da família, pois são
assustadoras — diz Sam e eu engulo em
seco.
— Tenho que concordar com eles,
elas dão muito medo — falo sentindo
meu corpo estremecer.
— Vocês são tão medrosos, vou
ter que falar com o mais sério de todos
— ela diz se referindo a Filippo e eu
não tenho como não soltar um som
debochado.
— Se você quiser tentar, vá em
frente, mas saiba que ele também tem
medo — falo e ela solta um suspiro.
— Eu estou perdida! — Sam diz,
derrotada.
— Vai ficar linda de vestido rosa!
— falo e ela grunhe, deixando a ligação
muda. — Sam? Sam?
— Ela jogou o celular no sofá e
saiu pisando duro. Você também se
recusou? — Luigi pergunta com ar de
riso.
— Claro, eu tenho amor a minha
vida! — falo com meu cunhado e franzo
o cenho.
— O casamento é meu com seu
irmão e eu faço questão de aceitar tudo
— brinca Luigi.
— Não sei como vocês aguentam
tudo isso — falo sem entender e ouço
um suspiro do outro lado.
— Eu amo seu irmão e me
casaria com ele amanhã mesmo se
possível, mas decidimos esperar Isabel
crescer mais um pouco para a
cerimônia. E se para me casar com ele
eu tenha que aceitar aquela patrulha
de mulheres animadas, então é isso que
farei — Luigi diz, me deixando feliz por
ele amar meu irmãozinho a esse ponto.
— Fico feliz em ouvir isso. Cuide
de meu irmão, só isso e você me terá
sempre como um irmão — falo sério
para não restar nenhuma dúvida.
— Farei o meu melhor e quem
sabe em breve não será o seu
casamento — Luigi diz e eu faço uma
cara azeda.
— Vocês continuam com essa
ideia? Eu já disse que isso não vai
acontecer — respondo prontamente e ele
ri.
— Nunca diga nunca, eu também
achei que nunca iria ser amado, mas
olha onde estou agora — Luigi diz em
um tom sério e eu tento não revirar os
olhos, mas é inútil.
— Não queira comparar, uma
coisa não tem nada a ver com a outra —
falo em definitivo. Ao fundo eu ouço um
choro alto.
— Acho que tenho que atender
uma pessoinha impaciente. Ouviu daí?
— pergunta Luigi e eu sorrio.
— Claro, vai ver o que aquela
pequena gritadora quer — falo e sei que
ele sorri.
— Em breve estaremos aí em
Milão para a cerimônia — lembra
Luigi e outro grito de Isabel é ouvido.
— Agora me deixa ir.
Nos despedimos e eu desligo a
ligação. Vejo que está na hora do
almoço e como eu terei que sair, vou ter
que adiantar tudo logo. No caminho até
o local do almoço fico pensando na
minha conversa com Luigi. Ainda não
entendo o motivo das pessoas da minha
família não perceberem que o que eu
digo é a mais pura verdade quando eu
digo que esse tipo de amor não é para
mim. Tentei várias vezes me apaixonar
por alguém, mas em todas as tentativas
eu só senti indiferença. Claro que eu
saio e fodo, fodo demais até e gosto de
sexo um pouco mais pesado, mas sexo é
algo fisiológico e eu nunca senti
nenhuma conexão com alguém. Aquela
conexão que eu sei que existe, não sou
nenhum idiota. Sei que o amor existe,
vejo isso todos os dias quando vou à
casa de meus pais ou até mesmo nas
nossas diversas reuniões familiares.
Gosto de ver o modo feliz que meus
irmãos agem quando estão próximos dos
seus parceiros, a troca de carinho deles
e os olhares apaixonados quando eles
acham que ninguém está olhando. Tudo
isso eu observo atentamente, mas eu
nunca, nunca tive uma conexão com
ninguém. Nunca senti que poderia ser
mais aberto com outro ser que não fosse
os membros da minha família. Até com
Kay eu sou mais acessível. Vocês não
conhecem Kay? Não se preocupem, logo
vocês o conhecerão.
Não gosto das outras pessoas,
elas são falsas, amargas, fingidas e não
me passam confiança. Não gosto de me
aproximar e nunca tive vontade e anseio
por essa aproximação com alguém. Por
isso eu sempre disse que não namoraria
ninguém, fora que eu também não estou à
procura de romance. Lembro-me de uma
mulher na época da faculdade que
ansiava por um relacionamento comigo.
Eu não conseguia sentir nada por ela,
para mim estava tudo no vazio. E
quando eu fui sincero, percebi que ela
não gostou nenhum pouco. A maluca me
chamou de frio, distante, amargo, cruel e
entre outras coisas. Depois disso, nem
desejo eu senti por ela.
O almoço ocorre sem muitos
transtornos e assim que volto para o
escritório, falo que não quero ser
incomodado em hipótese alguma,
portanto, volto ao trabalho me
desligando do mundo lá fora. Passo a
tarde inteira trabalhando, até o horário
de ir embora chegar e eu continuo
trabalhando, mas não me importo muito
com isso, já que hoje não vou jantar na
casa dos meus pais. Sim, eu faço
questão de jantar com eles todas as
noites, primeiro porque a comida de lá é
excelente e segundo porque eu não tenho
ninguém que trabalhe lá em casa. Elas
sempre se demitem. Nunca entendi isso.
— Para casa, senhor? — pergunta
Timóteo no tom sério.
— Não, vamos direto para o
ginásio hoje — falo entrando no carro
para ir embora.
— Como quiser, senhor —
responde ele e quando ele e Cyro entram
no carro, meu celular começa a tocar.
— Aandreozzi — respondo
grosseiramente.
— É assim que atende seus
amigos? — pergunta Nardelli de modo
rude.
— Não sou uma pessoa de amigos
e acho que só existe você, mas eu posso
facilmente mandar você ir se foder —
falo de modo direto e ele solta um
resmungo.
— Foda-se, Enzo! — grunhe
Nardelli e eu continuo sério.
— Você nunca liga assim, então
deve ter acontecido alguma coisa. O que
houve? — pergunto logo, porque eu
odeio perder tempo e pelo que o
conheço, ele também é assim.
— Precisamos conversar, mas
essa conversa é confidencial e tem que
ser pessoalmente — diz ele rudemente e
eu respiro fundo.
— Você pode ir lá em casa para
conversarmos — falo interessado no
assunto. Ele nunca ligaria se não fosse
sério.
— Hoje eu não posso, estou
pronto para ir a uma missão — diz ele
e eu ouço um barulho de uma arma
destravando.
— Que seja, então depois nos
vemos.
— Nem uma boa sorte, Nardelli?
— Você é bom no que faz, então
se morrer será por burrice
— Bastardo!
— Sei que você me ama.
— Nem em seus piores pesadelos!
É a última coisa que escuto antes
de desligar a ligação. Fico tentando
encontrar na minha cabeça o motivo
para Nardelli fica preocupado, porque
ele me ligar antes de uma de suas
missões é uma raridade, a não ser
quando precisa de um bom atirador,
mesmo assim, eu senti um tom de
preocupação no seu tom de voz, seja o
que for, estarei aqui e pronto.
Após um bom e pesado
treinamento com os homens da minha
segurança, compro uma pizza na minha
pizzaria favorita. Se Mamma souber que
eu deixei de jantar lá para comer pizza
tenho certeza de que ela me mataria.
Chego em casa e a primeira coisa que
faço é assobiar. Sem demora, vejo um
pequeno peludo vindo na minha direção.
Esse é kay, meu filhote de cachorro,
dado a mim com muito carinho e
gozação por meu cunhado Luti. Digo
gozação, pois Kay é um pequeno
yorkshire terrier e no primeiro momento
que eu olhei para a pequena bola de
pelo, falei que era cachorro de mulher, o
que rendeu boas risadas entre meus
irmãos e cunhados.
— Desculpe por dizer que você
era filhote de mulher, amigão. Sei que
você é muito macho como seu pai aqui
— falo, levantando Kay na direção do
meu rosto e recebo uma lambida no
nariz.
— Sem demonstrações de afeto,
nós somos machos. Esqueceu? — falo
sério e ele continua a balançar o seu
rabo. — Você não tem salvação, Kay.
Vamos assistir ao jogo, amigão, com
direito a cervejas e pizza. Não é coisa
de macho? — pergunto e sua resposta é
um latido curto. Bom garoto!
Coloco Kay no chão e sigo até a
minha cozinha muito limpa, que com
certeza foi o pessoal de Mamma que a
deixou assim. Pego umas cervejas e vou
em direção à sala de cinema. Olho para
baixo e Kay está me seguindo como um
bom companheiro canino que é. Acho
que por hoje não preciso de mais nada.
A questão é que sinto que a partir de
amanhã a minha vida vai mudar muito.
— Vy deystvitel'no dumayete, chto
budete pryatat'sya vechno? (Você
realmente achou que iria se esconder
para sempre?) — pergunta um dos
homens que mais odeio nesse mundo.
Meu corpo inteiro começa a
tremer de medo e nervoso. Sai da
Rússia jurando que nunca mais iria
deixar com que esses filhos de uma puta
nojentos pusessem os olhos em cima de
mim novamente, mas falhei
miseravelmente. O homem na minha
frente é nada menos que Fyodor
Sokolov, um dos homens mais
desprezíveis e cruéis que eu tive o
desprazer de cruzar. Ele é o executor do
homem que acabou com minha vida e me
quebrou em vários pedaços inúteis da
pessoa que sou hoje.
Olho para seus olhos negros
cheios de maldade, sua expressão
sempre fechada de quem está pronto
para te matar a qualquer momento é um
complemento perfeito de um grande
assassino que eu sei e tive provas
visuais que ele é.
Olho para os lados à procura de
uma brecha em que eu possa correr e
sumir, mas seus olhos de falcão, como
ele mesmo gosta de ser chamado, faz
com que isso se torne difícil. Vejo
Fyodor fazer sinal para mais dois
homens tomarem a frente das minhas
rotas de fuga, dois dos homens que eu
conheço também e que são uns
completos cachorrinhos adestrados pelo
comando do seu dono.
— Não tem para onde correr, e
não pense nisso, porque vai ser pior
para você — fala ele e um arrepio de
puro medo toma conta de meu corpo.
— O que vocês querem de mim?
— pergunto e agradeço por minha voz
sair sem gaguejar.
— Não se faça de idiota, você
sabe muito bem o que queremos com
você — diz ele com sua frieza
assassina.
— Então vieram aqui para me
matar, porque só assim serão capazes de
me levar embora daqui — falo, me
sentindo enjoado.
— Vejo que esse tempo longe fez
com que se tornasse mais ousado, mas
não se preocupe, o nosso chefe vai te
amansar novamente — Fyodor diz entre
dentes.
— Eu não quero mais saber
daquela vida, eu estou livre — falo e ele
solta uma risada de escárnio.
— Pensei que nesse tempo em que
esteve na família iria saber que não
existe liberdade, principalmente para
você, sua putinha — cuspe ele com
ódio.
— Não me chame assim, seu
bastardo! — grito cerrando os punhos.
— Cadê seus brinquedos?
Sabemos que você as trouxe contigo —
pergunta ele e eu engulo em seco
Tinha decidido há muito tempo
que aqui eu não iria sair com nenhuma
das minhas facas. Que são as únicas
coisas úteis que eu aprendi no tempo
que morava na Rússia. O maldito que
me levou embora, quando eu tinha 16
anos, inocente, e estava devastado e sem
nenhuma perspectiva de vida, fez
questão que eu aprendesse a arte das
facas para seu uso próprio, mas eu não
queria mais carregar esse passado tão
sombrio e sendo assim eu jurei não mais
usar essas armas, que ao mesmo tempo
em que são meus refúgios, são meus
pecados também. A única coisa que eu
posso fazer nesse momento é correr, não
posso permitir que ele possa me pegar.
— Você correu! Podem deixar que
eu pego essa putinha — Fyodor diz e o
medo toma conta de mim, me fazendo
correr mais.
Não posso deixar que ele encoste
suas mãos sujas em mim. Se eu voltar
para Rússia, não sei se eu continuarei
vivo por tanto tempo como eu consegui
nesses dez anos massacrantes. Então a
minha única alternativa é correr o
máximo que minhas pernas suportam.
Encontro um beco que eu sei que dará
para outra rua, então me aventuro a
seguir por esse caminho. No escuro da
noite calma de Milão eu vejo o lugar
certo para onde devo ir e continuo a
correr sem olhar para trás. Minha
corrida é parada abruptamente por uma
grande pancada que me faz cair para trás
em um baque muito forte.
Sinto minhas costas baterem no
chão e a falta de ar se faz presente, a
pancada que recebi acertou meu
diafragma. Estou acostumado a dor, mas
não a asfixia, com certeza. Enquanto eu
tento respirar, ouço passos calmos se
aproximando e uma grande sombra paira
sobre mim. Tento empurrar meu corpo
para trás, mas recebo um chute com
força no rosto, me fazendo bater a
cabeça no chão. Deitado no chão, sou
puxado de forma brusca pela gola do
meu casaco e o rosto de Fyodor paira
sobre o meu.
— Você achou mesmo que iria
fugir de mim? Acho que você continua
sendo a mesma criatura inocente de
sempre — diz ele, me acertando um
soco. Meu corpo chacoalha, mas não
vou ao chão porque Fyodor ainda me
segura pela gola com uma mão.
— Me deixe ir! — falo com
dificuldade, mas ele me puxa ainda mais
para cima.
— É uma pena que eu nunca pude
te pegar para mim, vadiazinha, mas o
chefe nunca iria permitir, ele gosta do
seu brinquedo — sussurra ele no meu
ouvido.
— Como ele conseguiu me
encontrar? — pergunto e ele solta um
som de desdém.
— O chefe só deixou você achar
que estava livre, mas você é muito burro
se achou que isso seria verdade —
responde Fyodor com asco na voz. —
Estou aqui para te dar uma pequena
lição, para você aprender que não se
deixa a família sem estar morto — diz
ele e eu nego rapidamente.
— Eu não faço parte disso, eu
nunca quis isso para minha vida. Ele
sempre me obrigou! — falo tentando
lutar para me soltar, mas é em vão.
— Você fez o juramento, você
pertence ao Bratva! — fala Fyodor e
lambe o filete de sangue no canto da
minha boca. Que nojo! — Lembre-se o
que pode acontecer com as pessoas que
você se importa, elas sempre podem
parar no caixão.
— Ty gryaznaya svin'ya! (Seu
porco imundo) — brando com ódio e ele
ri.
— Bladovat! (Prostituta). É isso
que você sempre vai ser — diz Fyodor e
cospe em mim antes de começar a me
chutar.
Me encolho para tentar impedir os
golpes, mas o desgraçado não me dá
descanso. Após alguns golpes, ele me
fala algumas coisas que eu não consigo
entender e vai embora, me deixando
jogado no chão, ferido, sujo, com medo
e humilhado. Eu terei que ir embora
novamente, não posso continuar aqui,
terei que fazer minhas malas e parti da
cidade, país, continente. Não sei, tudo
que sei é que não posso continuar aqui!
Não faço ideia do tempo que
estou deitado no chão nesse beco
estreito, no frio congelante que está
fazendo, mas eu não consigo me
levantar, não consigo me mexer.
Meu corpo dói e isso não é o que
me incomoda mais e sim a apreensão de
sair desse lugar para encontrar aqueles
filhos da puta me esperando em algum
lugar, por mais que eu saiba que eles
não fariam isso, mas o medo de por
outras pessoas inocentes em perigo, é
maior que minha urgência de sair daqui.
Depois de um tempo, levanto-me
do chão, segurando na parede para me
equilibrar e soltando um urro de dor.
Começo a andar devagar para o caminho
de casa. Tenho que me limpar, arrumar
as malas e ir embora daqui. Com essa
decisão em mente, continuo a andar.
Chego em casa e faço um esforço muito
grande para tirar o meu casaco. Após
resmungar de dor, vou ao banheiro
limpar minhas feridas e tomar um banho.
Ao chegar, acendo a luz e tomo um susto
com minha aparência, meu rosto tem
alguns hematomas se formando, meus
lábios estão roxos por ter ficado exposto
no frio por muito tempo. Respiro fundo,
porque chorar é uma coisa que
desaprendi a fazer há muito tempo.
Saio do banheiro esquecendo o
que eu queria fazer antes de olhar para a
minha imagem destruída. Vou até
debaixo da minha cama, tiro uma mala, a
jogando na cama. Tenho que começar a
me preparar para partir, tenho certeza de
que eles sabem onde eu moro e não
posso permitir que eles me peguem.
Começo a cambalear em direção à
minha cômoda e antes que eu consiga
abrir a primeira gaveta, caio no chão,
sendo levado para a escuridão.
Ouço uma voz longe e essa voz eu
conheço muito bem, a voz aumenta o tom
gradativamente e meu corpo é
chacoalhado. Abro meus olhos tentando
me situar do que está acontecendo, mas
minha cabeça dói.
— Dio Santo! Andrea, olhe para
mim! — A figura me segurando é
Francesa e eu olho para ela e vejo
preocupação estampada no seu rosto.
— Fran? — pergunto, confuso, e
ela respira de forma aliviada.
— Que inferno foi que aconteceu
com você? Quem te fez isso!? —
pergunta ela e eu arregalo os olhos.
— Eu tenho que sair daqui! —
solto e percebo que estou deitado em
uma cama de hospital. — Como eu vim
parar aqui?
— Voando que não foi! — retruca
ela, me olhando descontente.
— O que foi? — pergunto,
confuso.
— Eu é que pergunto o que foi
que aconteceu! Ligo para você e nenhum
sinal de vida, descido ir à sua casa e
quando chego lá te encontro desmaiado
no chão. E para completar vejo que o
bonitinho iria embora sem me dar a
porra de uma explicação — diz ela
cerrando os olhos na minha direção.
— Sinto muito por você me ver
nessa situação — falo abaixando a
cabeça.
— Pouco me importa o modo que
eu te vejo, Andrea. Lembre-se que eu já
te vi de um jeito muito pior — Francesa
diz, cruzando os braços.
— Eu sei disso, mas dessa vez
você não pode me ajudar — falo mais
firme e ela me dá um forte tapa no
braço. — Ai!
— Isso é para você parar de se
fazer de otário, acho que você ainda não
sabe com quem está falando. Então me
deixa te explicar, eu sou uma foda de
mulher feroz. Desembucha!
Olho para a melhor pessoa que já
cruzou na minha vida, a mulher que eu
devo tudo e respiro fundo.
— Eu não posso mais deixar você
se arriscar por mim. Prefiro ir embora
antes… — Minha fala é interrompida
por mais um tapa forte. — Aí, milost'!
(Misericórdia) Você me bateu de novo?
— Claro! Isso é para você parar
de ser besta! — resmunga ela e a olho
atentamente.
— Eu agradeço por tudo que você
fez e faz por mim, mas eu não posso
permitir que você se envolva nisso —
falo em um tom sério e ela ri. Sim, a
senhora Francesa Aandreozzi ri muito.
— Você é um grande tolo se pensa
assim! Entenda, meu garoto, que eu estou
envolvida desde quando meus olhos o
viram. Não me trate como uma simples
velhinha indefesa, porque eu estou muito
longe de ser — diz ela de modo sério e
frio após seu sorriso sumir.
— Eu sei disso, mas não é justo!
Você faz tanto por mim, me deu onde
morar, com o que trabalhar, me deu um
motivo para continuar vivo — falo entre
dentes encarando minhas pernas. Estou
cravando minhas unhas na lateral das
coxas por dentro do lençol.
— Eu decido o que é justo. Agora
me fale quem foram os putos que fizeram
isso com você — pede ela e eu afirmo.
— Quando sai da boate depois do
show da noite, fui abordado por dois
carros pretos… — conto a ela tudo o
que aconteceu na noite.
Francesca ouve tudo que eu digo
atentamente e sua cara de raiva e
infelicidade se faz presente. Descobri
que não gosto de ver essas expressões
nela, sempre a vejo ostentando um
sorriso leve de mulher que está bem
consigo mesmo, mas seus olhos refletem
o quão poderosa e forte essa senhora
pode ser. Nunca conheci meus avós e ao
ver Francesca falar com tanto carinho de
seus netos, sinto um pouco de inveja. Já
cheguei até a desejar que ela fosse
minha avó, mas foi pura fantasia de
minha cabeça. Termino o meu relato e
ela vai ficar em frente à janela que tem
no quarto.
— O que os russos acham que
podem conseguir aqui? Eles estão
perdendo o senso? — pergunta
Francesa, mas tenho a sensação de que
não foi comigo.
— Você não sabe como eles são
poderosos — falo com raiva e ela solta
um som descontente.
— E você não sabe quão
poderosa eu posso ser! — fala em um
tom a sério.
— Seria melhor que eu saísse
daqui, fosse para longe. Tem você, o
pessoal da boate e eu não quero ninguém
sendo machucado por minha causa —
falo me sentindo muito irritado e
Francesa nem olha na minha direção.
— Chega de fugir! Você passou
sua vida inteira passando por coisas que
ninguém deseja passar, sei que você me
contou tudo e respeito isso — diz
virando a cabeça na minha direção e eu
arregalo os olhos —, mas já está na hora
de enfrentar, mesmo que aconteça
alguma coisa, lutar é necessário.
— Fran, você teria capacidade de
enfrentar uma das famílias Bratva? —
pergunto e ela sorri de modo debochado.
— Minhas capacidades estão
além da sua imaginação — brinca ela e
nesse momento um médico entra no
quarto. — Vou ficar até você ser
atendido. Depois preciso sair, mas logo
mais, eu estou de volta.
— Tudo bem! — falo em um tom
baixo.
— Se você continuar com essa
ideia de fugir, eu arranco suas bolas
miúdas. A boate precisa de gerência e
esse é o seu trabalho — diz ela
apontando para mim e sai do quarto logo
em seguida.
O médico conversa comigo sobre
meus ferimentos, que não foram muito
graves, e diz que o meu desmaio foi
devido à hipotermia. Pergunto quando eu
poderia sair daqui lugar, pois eu não
gosto de hospitais, mas ele diz que
precisa fazer mais alguns exames. Solto
um som frustrado ao comer a comida
sem graça daqui, mesmo eu não
gostando de comer muito, tenho que
admitir que essa comida passa de
horrível. Na verdade, eu estou me
sentindo agoniado e medroso, duas
coisas que não gosto de estar sentindo.
Não sei quando eu adormeci, mas
acordo ouvindo vozes. Abro meus olhos
e na minha frente está Fanny, Amauri e
Francesa conversando animadamente,
enquanto Paul está encostado na parede
sem tirar os olhos do seu namorado.
Esses três juntos é como acionar uma
bomba atômica que a qualquer momento
pode ser explodida. Mexo-me na
intenção de sentar e eles percebem que
eu acordei e vêm na minha direção.
— Menino, a nossa chefe suprema
acabou de nos contar que você foi
atacado por um assediador maluco —
Amauri diz colocando sua mão no
coração. Olho para Francesca sem saber
o que fazer e ela afirma com a cabeça.
— Eu sempre te digo para não
sair sozinho de madrugada, mas você
nunca me ouve — Fanny reclama com a
cara enfezada.
— Eu sei, foi tudo muito rápido.
Quando me dei conta eu estava aqui no
hospital — falo, me sentindo mal por
mentir para essas pessoas tão boas.
— De agora em diante eu e meu
sorvetão vamos te levar para casa. Não
é, querido? — pergunta Amauri olhando
para Paul, que assente com um pequeno
sorriso.
— Não vamos mais deixar você
sair da boate sozinho — Paul responde
para a felicidade de Amauri.
— Esses dois são tão enjoativos
— reclama Fanny.
— Você que está sem amor no
coração, ragazza — brinca Amauri e
Fanny o empurra de leve.
— Olha isso, Sorvetão, ela quer
me derrubar. Eu sou praticante uma diva
do mundo real e não posso cair do salto
— diz ele levantando o pé e batendo no
salto.
— Isso mesmo, querido! — diz
Paul, fazendo Fanny e Francesca rirem.
— Você está falando isso porque
nunca viu meus netos com seus maridos
— Francesa diz revirando os olhos.
— Maridos? Todos gays? —
pergunta Amauri chamando atenção de
Fanny também.
— O mais velho e o do meio são
do Vale, mas o resto ainda não sabe. Se
sabem, ainda não contaram à Nonna aqui
— Francesa fala e seu rosto do nada de
ilumina.
— Questa è meraviglia pura! (Isso
é pura maravilha!) Virou meu sonho
conhecer todos eles — Amauri diz em
um tom sonhador e Paul faz um som de
asfixia.
— Deixa eu te contar um segredo,
finocchio (bicha). Eles não querem te
conhecer! — Fanny diz, deixando
Amauri fazer uma cara dramática.
— Você é uma sem coração! —
diz Amauri.
Eles continuam brincando, mas a
minha atenção está em Francesa, que
está com um sorriso misterioso no rosto
e o celular no ouvido. Vejo ela
conversar com a pessoa do outro lado
da linha e fazer uma cara de entediada,
mas depois fica séria e ordena que a
outra pessoa venha aqui no hospital. O
que será que ela está planejando?
— O que você fez? — pergunto
fazendo todos se calarem e Francesca
sorrir largamente.
— Eu achei a resposta para os
nossos problemas — diz ela misteriosa.
— Mais o que especificamente
você fez? — pergunto desconfiado e ela
dá de ombros.
— Não me questione! Viu minha
idade? Eu sou uma senhora de idade,
sabe — diz ela e eu mordo o lábio
inferior com força.
— Nunca devemos ir contra as
coisas que a diva suprema diz —
Amauri diz e Fanny solta um
“Maccolona” (Puxa saco).
Não sei o que ela está planejando,
mas pelo que eu já conheço sobre essa
mulher, sei que não vai ser uma coisa
que eu vá gostar nem um pouco. Depois
de um tempo ouço umas batidas na porta
e Francesca manda quem quer que seja
entrar. E… puta que pariu! Não pode
ser! Ela não faria isso, faria?
O homem que passa pela porta
tem a sua expressão séria, porte
dominante e de presença forte. Desde a
primeira vez que pus meus olhos nele,
ele fez meu coração dar uma balançada
que eu nunca achei que fosse capaz de
sentir.
Quando o vi naquela boate, no dia
da despedida de solteiro de um dos
netos de Francesca, foi como ver uma
perfeita obra de Michelangelo. Ele é a
personificação de tudo que um dia o
jovem Andrea de Riomaggiore poderia
querer, mas infelizmente esse Andrea
não existe mais e tudo o que restou foi a
casca de uma pessoa que eu já fui. E só
de pensar nisso eu cerro os dentes.
Enzo Aandreozzi olha por todo o
lugar e quando seus olhos castanhos
param em mim de modo analítico, eu
engulo em seco, aperto minhas unhas
novamente na perna e prendo a
respiração. Sinto minhas bochechas se
aquecerem e me assusto, abaixando a
cabeça rapidamente. Faz anos que eu
não me sinto dessa maneira, não consigo
olhar para o grande e muito lindo
homem na minha frente. Sinto-me
confuso e eu não gosto de me sentir
assim.
Deus o que está acontecendo
comigo? O que esse homem é para mim?
ENZO AANDREOZZI

O dia de hoje é especialmente


monótono, bem do jeito que eu gosto.
Nada acontece de muito importante na
empresa. Não tenho nenhuma reunião
que me proporcione estresse, porque
como eu sempre digo: eu odeio me
sentir estressado! Decido sair mais cedo
da empresa para ir à casa de meus pais.
Chegando nela, vejo que Lorenzo está
preocupado porque Nonna saiu e não
deu notícias. Se fosse outra pessoa, com
certeza estaria muito preocupado, mas
aprendi que Nonna é a mulher mais
perspicaz que existe e que com certeza
deve estar resolvendo ou arranjando
algum problema.
O almoço é somente na companhia
de Lorenzo, que está usando o escritório
da casa para poder ver alguns papéis do
seu restaurante que fica em Chicago. Em
uma dessas nossas conversas aleatórias
descobri, que ele vai deixá-lo sobre a
responsabilidade de seu neto. Após o
almoço sou surpreendido pelo toque do
meu celular e minha surpresa é grande
quando vejo que é Nonna quem está me
ligando.
— Nonna, onde a senhora está?
— pergunto assim que ela atende à
ligação.
— Preciso que você venha me
encontrar na clínica de Vitório, aquele
antigo amigo de seu avô.
Estranho ouvi esse pedido de
Nonna, ela nunca quer ir naquela clínica.
— A senhora está machucada? O
que aconteceu, Nonna? — pergunto
nervoso e ela faz um som com a boca.
— Não aconteceu nada comigo,
você deve ter assustado Lorenzo — diz
ela irritada e eu olho para Lorenzo, que
está branco como papel.
— Relaxe, homem, Nonna está
bem — falo com ele, que demonstra
alívio em sua respiração.
— Grazie Dio! — diz ele fazendo
o sinal da cruz.
— Viu que eu disse? Pela foda de
Madalena!
Balanço minha cabeça
negativamente
— Nonna, o que está
acontecendo? — pergunto sério e ela
solta um som irritado.
— Eu preciso de uma grande
ajuda e só você pode fazer isso por
mim. Então venha logo! — manda e eu
respiro fundo, tentando me acalmar.
— Estou a caminho! — digo,
desligando a ligação logo em seguida.
— Eu vou com você! — diz
Lorenzo e eu somente assinto com a
cabeça.
Saio da casa dos meus pais
agradecendo por eles não estarem em
casa, pois se Babo sabe que Nonna está
na clínica de Vitório ele é o primeiro a
querer saber o que houve. É muito
difícil a nossa família ir nessa clínica, a
não ser quando temos algo para fazer em
segredo para não deixar nenhum registro
e é por isso que a clínica dele funciona.
Nonna diz que essa clínica foi feita com
o dinheiro de meu avô, que não podia ir
a hospitais e precisava de bons
profissionais para cuidar dos seus
soldados feridos. Então para Nonna ir
para lá, com certeza ela quer que algo
fique em segredo. Agora sim eu estou
preocupado.
Demoro pouco tempo para chegar
e a primeira coisa que vejo quando
começo a entrar na clínica é o próprio
Vitório. Vitório encara Lorenzo,
percebendo que ele está comigo e com
certeza deve ligar os pontos de que ele é
o namorado de Nonna. Muitas vezes eu
já me peguei rindo com esses amigos
que minha avó tem na vida, tudo um
bando de homens sem noção. Pergunto
onde ela está e ele me indica o quarto.
Quando ele fala para uma enfermeira me
acompanhar, eu digo diretamente que
não a necessidade e sigo meu caminho
rapidamente.
Chegando de frente para o quarto
ouço algumas risadas e arqueio a
sobrancelha. Olho para Lorenzo, que dá
de ombros e me incentiva a bater na
porta. Ouço a voz de Nonna me
mandando entrar e assim faço. A
primeira coisa que eu vejo são três
pessoas que eu nunca vi na vida de pé
ao lado de uma cama hospitalar. A
mulher é negra, muito bonita, o homem
ao seu lado é magro, sem nenhuma
grama de músculos no corpo e… Nossa!
Ele está de cabelos azuis, usando
maquiagem e salto alto, esses dois me
olham boquiabertos e eu não entendo o
porquê. O outro homem é grande, forte
como a estrutura de um trator e careca.
Ele me olha com raiva e vai de encontro
ao sujeito magro, o puxando para si.
Certo, não entendi nada!
Desvio meus olhos e eles param
na criatura mais linda que já vi na minha
vida. Doce Jesus! Passo meus olhos por
toda a extensão da criatura sentada na
cama hospitalar e o que eu vejo me
agrada de um jeito que nada nunca me
agradou. Seu corpo pequeno é tão magro
que está precisando se alimentar mais,
seus cabelos dourados que recaem sobre
os ombros parecem pequenos fio de
ouro. Seus olhos estão arregalados e eu
não consigo decifrar qual a cor exata
deles, seu rosto tem traços finos e
delicados, quase femininos, mas sei que
a criatura que está me encarando é um
homem. Um belo homem!
Assim que percebe que eu estou o
encarando, ele desvia os olhos,
rapidamente abaixando a cabeça, mas
não antes de eu ver uma profunda
tristeza que existe neles. Ao continuar
olhando para ele percebo os
machucados ao redor do seu rosto
bonito e isso me irrita. Não sei o
porquê, mas isso me irritando
profundamente, pois ninguém tem o
maldito direito de machucá-lo dessa
maneira. Porra! De onde diabos isso
veio? Eu não admiro homens assim e
muito menos me preocupo com seu bem-
estar. Foda-se!
— Já estava na hora, você
demorou — Nonna diz, me despertando
dos devaneios malucos que eu estava
tento.
— Não, não demorei! — falo
voltando meus olhos para Nonna.
— Que seja! Você assustou o
pobre Lolo. Vem cá — chama Nonna e
Lorenzo vai ao seu encontro. Faço de
tudo para não revirar os olhos para
esses dois se abraçando.
— Nonna, o que a senhora queria?
Eu tenho coisas para cuidar — falo com
uma expressão séria e ela faz um gesto
de desdém.
— Eu não ligo para o que você
tem a fazer, Zuco! — ela diz e eu nego
respirando fundo. — Vocês queriam
conhecer um dos meus netos e esse aqui
é Enzo — Nonna diz sorrindo em
direção as pessoas de pé ao lado da
cama.
— Eu acho que perdi a
capacidade de respirar. Ai! Desculpa,
Sorvetão! — grita o homem de cabelos
azuis.
— Se comporte! — diz o outro
homem com a voz grave.
— Essa família só tem gente
bonita ou é impressão minha? —
pergunta a mulher e eu continuo a olhar
sem expressão.
— Não liguem para o Enzo, ele é
tímido com quem não conhece — Nonna
diz e ouço um risinho de Lorenzo.
— Podemos conversa por um
momento, Nonna? — Olho para o
homem da cama e volto a olhar para
Nonna, que está sorrindo largamente.
— Claro que sim, meu neto! —
diz feliz e eu não entendo o motivo da
sua felicidade.
Sigo para fora do quarto e fico
encostado na parede esperando por
Nonna. Por que eu estou tão irritado por
ver aquele homem machucado? Eu nem
sequer o conheço para ter essa reação.
Tudo o que eu sei é que a sua beleza
delicada me chamou atenção e isso não
pode acontecer. Isso é loucura, eu nunca
achei um homem assim tão… tão…
atraente? Merda! Assim que Nonna sai
do quarto, eu estranho por Lorenzo não
estar com ela.
— Cadê o Lorenzo? — pergunto e
ela solta uma respiração forte.
— Ficou no quarto, prefiro ter
essa conversa a sós com você. — Nonna
está séria e isso me faz entrar em alerta.
— Certo, me diga o que está
acontecendo — peço e ela me olha por
um momento. Assinto.
— Você viu aquele jovem rapaz
que está machucado? — pergunta Nonna
e só de lembrar dos seus machucados eu
cerro os punhos. — Seu nome é Andrea
Giardino, ele morava no litoral quando
criança e foi abandonado por sua família
quando descobriram que ele é gay. Ele
conheceu um russo filho da puta que o
levou para Moscou e lá ele ficou por 10
anos passando por coisas que eu não
desejo para meu pior inimigo — Nonna
diz e logo após seu corpo estremece,
naturalmente lembrando-se de algumas
coisas.
— E ele fugiu de lá, estou certo?
— pergunto analisando o que Nonna
acabou de me falar.
— Como você sabe que ele fugiu?
— pergunta ela e eu respiro fundo.
— Nonna, a senhora conhece
muito bem a minha inteligência e não
queira fazer menos de mim. Estamos
falando de um ex-membro da Bratva,
estou correto? — pergunto com uma
expressão séria e ela olha para o lado
por um tempo.
— Eu sei e te conheço bem
demais — diz ela e eu assinto.
— A senhora está se envolvendo
com o Bratva, nunca tivemos problemas
com os russos — lembro e ela me olha
irritada.
— Mas eu não posso permitir que
aquele garoto volte para as garras
desses filhos da puta doentes — diz ela
entre os dentes e eu continuo
observando.
— Tem certeza de que pode
confiar nesse garoto? — pergunto e ela
afirma com a cabeça.
— Eu encontrei aquele rapaz em
uma situação nada bonita, o dei um
trabalho, um lugar para morar e vou
continuar a fazer tudo o que eu puder
para ajudá-lo e protegê-lo. Ele é com
certeza um bom menino, muito sofrido,
mal um menino — diz ela e posso ver
lágrimas se formarem nos seus olhos.
— Está chorando, Nonna? —
pergunto segurando seu rosto.
— Não, quem está chorando aqui?
— diz ela, nervosa, se afastando de
mim.
— Confio cem por cento naquilo
que a senhora acredita, mas tem uma
coisa que está me incomodando — falo
chamando sua atenção.
— O quê? O que foi? — pergunta
e eu cruzo os braços, a encarando
atentamente.
— A senhora me parece bem
encaminhada com relação a esse rapaz,
então por que me chamou? — pergunto e
um pequeno sorriso surge nos seus
lábios. Coisa boa não vem por aí.
— Eu preciso que Andrea fique
com alguém e não vejo outra pessoa
melhor para esse trabalho que você —
diz ela e eu me assusto com o pedido.
— Não, a senhora não está me
pedindo isso — nego com a cabeça, não
acreditando o pedido que Nonna acabou
de me falar.
— Claro que eu estou! Ele foi
abordado pelos russos ontem à noite e
eles estão querendo brincar com sua
cabeça — Nonna diz, chamando minha
atenção.
— Como assim? – pergunto,
curioso.
— Eles o agrediram e o deixaram
lá. Por que fazer isso ao invés de levá-
lo logo de vez? – Nonna pergunta e eu
cerro a mandíbula.
— Eles estão querendo mexer
com sua cabeça. Filhos da puta! — digo
entre dentes e Nonna assente.
— Isso mesmo, ele já tinha
achado que estava livre, mas agora eles
estão de volta — Nonna explica e eu
afirmo com a cabeça.
— Por que tem que ser eu? —
pergunto lembrando dos olhos
assustados e corpo frágil daquele rapaz.
— Porque eu confio e acredito em
você, porque você é minha família —
diz ela e eu olho com os olhos
atravessados.
— Isso é golpe baixo, Nonna —
falo, a fazendo andar na minha direção.
— Eu sei, mas uma senhora pode
usar todas as suas armas. — Pisca um
olho e coloca a mão no meu ombro. —
Faça isso por mim, proteja Andrea. Ele
é um bom rapaz e tenho certeza de que
você vai perceber isso também.
— Ele está sabendo dessa sua
ideia? — pergunto passando o braço no
corpo de minha vovó.
— Não, isso é que vai ser o
complicado — diz e eu olho para ela
sem entender.
— Nonna! A senhora sabe que eu
não tenho paciência para essas coisas e
se estou fazendo isso é pela senhora —
falo com uma expressão séria e ela
afirma.
— Deixa comigo, você ainda vai
gostar muito desse trabalho — diz ela
com uma expressão misteriosa e eu a
olho sem entender. — Não me olhe com
essa cara, eu sinto algo. — Dá uma
risadinha.
— A senhora ainda vai fazer com
que eu me arrependa disso — falo,
soltando a respiração.
— Duvido muito! — diz ela com
um pequeno sorriso e anda na frente em
direção ao quarto.
Entramos no lugar e meus olhos
viajam diretamente para o rapaz loiro
que está sorrindo de alguma coisa que
Lorenzo está dizendo. Sinto algo
estranho ao observar seu pequeno
sorriso direcionado a outra pessoa, não
sei explicar o que é isso, mas é muito
estranho. Quando seus olhos caem sobre
mim seu sorriso fecha e eu me sinto
irritado, mas eu realmente não sei por
que estou me sentindo irritado. Dio, isso
está tão confuso! Observo Nonna chegar
perto dele e tocar sua pequena mão, ela
diz algo no seu ouvido e ele me olha
com suas bochechas ficando vermelhas
novamente. Isso é porra de gracioso!
Que inferno!
Nonna fala com as outras pessoas
presentes no quarto que precisa
conversar com Andrea. Eles
prontamente entendem e começam a se
despedir. Observo a interação dele com
os outros com atenção, ele me mostra
ser uma pessoa muito reservada e
atenciosa. Continuo a ver como a
mulher, que ainda não sei o nome, fala
com ele sobre tomar mais cuidado e
como o homem de cabelos azuis fala
apontando para mim e seu namorado não
gosta nem um pouco. Contento-me em
permanecer quieto com minha expressão
fechada, mas por dentro estou revirando
os olhos.
— Como vamos abrir a boate só
daqui a dois dias acho que posso ficar
com você se quiser — diz a mulher para
Andrea, que dá um pequeno sorriso
quase imperceptível e nega. Bom!
— Não há necessidade, estarei em
casa e bem — fala ele em um tom baixo
e ouvir sua voz aquece algo mim. O que
é isso?
— Você sempre pode ficar
comigo e com o bebezão — diz o cara
de cabelos azuis. Olho para os dois e me
vejo apertando a mandíbula. Não
mesmo!
— Não se preocupem, ele vai
estar muito bem — Nonna diz olhando
para mim e depois para as pessoas.
— Obrigado pela preocupação e
carinho de vocês — agradece ele com
uma expressão mais séria.
— Você é nosso amigo — diz a
mulher e observo a expressão surpresa
atravessar o rosto de Andrea.
— Isso mesmo, pequena
Borboleta! — confirma o cara de
cabelos azuis e Nonna ri disso.
Eles terminam de se despedir e
saem logo em seguida. Ficamos eu,
Nonna, Lorenzo e Andrea no quarto.
Vejo quando Andrea diz baixinho que
queria ir para casa e Nonna afirmar que
logo ele será liberado. Percebo que a
aproximação dos dois é bastante intima
e se fosse em outro momento e com
outra pessoa eu com certeza não estaria
gostando dessa aproximação. Pois
Nonna é minha, de meus irmãos e mais
ninguém, mas com esse homem loiro
deitado na cama eu não me importo
mesmo, acho que é porque eu vejo que
ele realmente precisa.
— Andrea, eu queria falar algo
importante com você — diz Nonna a ele
e eu continuo onde estou.
— Pode falar, Fran — diz ele
prestando atenção.
— Você não pode ficar sozinho,
você precisa de proteção. Se fosse em
outros tempos eu com certeza tomaria a
frente, mas eu não sou mais aquela
jovem aventureira. — Nonna solta um
riso amargo.
— Não se preocupe com isso,
Fran, eu posso me virar — ele diz com
firmeza e Nonna nega com a cabeça.
— Não, eu não posso permitir que
você fuja. Sei que você pretende ir
embora e isso eu não posso permitir,
jurei te proteger e é isso que farei — diz
ela com uma expressão séria e ele a olha
com atenção.
— O que você está querendo
dizer? — pergunta ele e essa é minha
deixa.
— A partir de hoje você ficará
sobre a minha responsabilidade — falo
e seus olhos saltam na minha direção.
Ele me olha por um tempo e depois
começa a negar com a cabeça.
— Não, não, senhor. Obrigado
pela oferta, mas eu não vou aceitar —
diz ele com firmeza e eu tenho vontade
de rir de sua confiança.
— Eu não perguntei, eu estou
afirmando que hoje você está sobre a
minha proteção — falo novamente e ele
dessa vez fica irritado. Dio, ele é fofo!
— Não, eu não vou! — fala ele
entre os dentes e eu observo seu rosto
que tem mais medo que raiva
expressado. Ele tem medo de mim, será?
Acho que não!
— Andrea, por favor, isso é para
o seu bem. Chega de correr! — Nonna
diz em um tom baixo
— Desculpe, mas isso não vai
acontecer. Eu... Eu não posso! — diz ele
e seu corpo começa a tremer.
— Andrea, querido, se acalme —
pede Nonna, mas não adianta muito para
acalmá-lo. Olho para minha avó pedindo
permissão e ela assente.
Aproximo-me do seu leito e
coloco minha mão no seu ombro, fico
parado sem falar nada e só dou um
pequeno aperto tranquilizador. Ao sentir
o meu toque seu corpo para de tremer e
ele olha diretamente nos meus olhos,
mas se assusta quando eu sustento o
olhar e desvia novamente. Não quero o
assustar, só de pensar nessa
possibilidade meu estômago embrulha,
principalmente quando eu penso no que
ele com certeza passou.
— Andrea, você confia em minha
Nonna? — pergunto em um tom baixo e
calmo e ele assente. — Fale!
— Sim, ela é o meu anjo —
sussurra ele e eu olho para minha
Nonna, que está abraçada a Lorenzo me
observando lidar com seu amigo.
— Isso é muito bom, se você
confia tanto em minha Nonna sabe que
ela está querendo o seu bem. Não sabe?
– pergunto com firmeza e ele afirma. —
Agora olhe para mim! — mando no
mesmo tom e ele levanta a cabeça.
— Eu não posso deixar que meus
problemas encontrem com vocês — fala
ele com um pouco mais de firmeza e eu
tiro a mão do ombro, a posicionando na
sua nuca, me aproximando um pouco
mais. Merda, péssima ideia.
— Não importa, quando nós
Aandreozzi prometemos proteção não
falhamos no trabalho e eu prometo que
irei proteger você com minha vida se
assim for necessário. Entendeu? —
pergunto e ele assente me olhando com
suas bochechas vermelhas de vergonha.
— Fale, por favor!
— Sim, eu entendi! — diz ele e eu
afirmo com a cabeça, soltando o aperto
na sua nuca rapidamente.
— Isso é bom, você vai ficar a
partir de hoje na minha casa — falo
sério e ele arregala os olhos em direção
a Nonna, que sorri e assente. — Não
adianta falar nada, você vai morar
comigo.
— Isso com certeza é o melhor,
meu querido. Confio no meu neto e
ficarei mais aliviada se você confiar um
pouco — diz Nonna e eu agradeço
mentalmente pelo seu incentivo.
— Não quero abandonar minha
casa, é perto da boate — diz ele em um
tom de desafio. Acho que estou sendo
testado aqui.
— Sempre existem carros como
meio de transporte, mas se você não
quiser morar na minha casa, eu posso ir
para a sua. Você escolhe! — falo com
firmeza e ele morde os lábios com força,
os deixando mais vermelhos que o
normal. Bons lábios! Espera, de onde
isso saiu? Balanço minha cabeça e volto
minha atenção a ele.
— Tudo bem, eu preciso sair
daqui — diz ele, cruzando os braços e
virando a cabeça para não me olhar
mais.
— Irei ver sua liberação — falo e
viro para sair com um pequeno sorriso
surgindo, mas balanço a cabeça,
voltando a ficar no meu modo habitual.
— E minhas coisas? — pergunta
ele antes que eu posso abrir a porta do
quarto, paro e olho para trás.
— Não se preocupe, iremos
passar na sua antiga casa para recuperar
seus pertences. — Com isso, saio do
quarto sentindo que eu posso finalmente
respirar um pouco melhor.
Não sei o que está havendo
comigo, mas a única coisa que eu
entendo é que ficar perto daquele
ragazzo não vai ser uma tarefa muito
fácil. Tem algo nele, não sei se é no seu
olhar, na sua expressão séria e cautelosa
ou simplesmente o conjunto de algo
delicado que precisa de proteção, que
está me deixando de modo estranho. Não
sei e não quero descobrir, tudo que eu
sei é que tenho que arrumar uma maneira
de ajudá-lo e é isso que irei fazer. Não
por ele e sim por Nonna. Vejo pelo
canto do olho Timóteo me observar
atentamente, falo para ele conseguir a
libertação do paciente com Vitório e
após assentir, ele vai fazer o que pedir.
Aproveito que estou sozinho
novamente e ligo para minha secretária
afirmando para cancelar toda a minha
agenda de hoje. Espero pela sua
confirmação da tarefa e desligo a
ligação antes que ela tente perguntar se
aconteceu alguma coisa. O que ela só
ousou a fazer uma vez, coisa que me
deixou muito irritado, já que eu não
devo explicação da minha vida a
ninguém. Timóteo volta com a liberação
de Andrea e assim que eu entro no
quarto novamente ele já está de pé e
arrumado para sair. Com ele de pé eu
posso ver como sua altura é bem inferior
à minha e como seu corpo está magro e
muito frágil para um homem adulto.
— Já podemos ir? — pergunta
Nonna e eu desvio meus olhos do
homem na minha frente.
— Sim, a senhora vai conosco?
— pergunto e ela nega.
— Vou arrumar um quarto para
Andrea, já que você não tem ninguém
que cuide daquela casa — resmunga
Nonna e permaneço do jeito que estou.
— Não posso fazer nada se elas
se demitem — digo simplesmente e
Nonna me olha com deboche.
— Elas não te suportam e fora que
você só vai para lá para dormir —
Nonna fala e eu olho para ela sem
entender.
— Eu sou o mais calmo de meus
irmãos, não entendo o motivo deles
sempre ficarem com suas governantas e
eu não — falo ignorando o riso de
Lorenzo.
— Vamos lá, você quer saber, não
é? — Afirmo e ela começa: — Filippo é
um bastardo que não fala muito e Rita
está acostumada com isso, Lucca brinca
até com o vento que passa e Margô quer
roubá-lo de mim, Luna é agradável e
muito exigente. Mas você? Você é
bagunceiro e muito chato. — Olho para
minha Nonna ofendido e ela me olha
com desafio.
— Não sei de onde a senhora
tirou isso — falo e recebo um soco no
ombro forte. Nossa, ela é muito forte!
— Tadinho de Andrea, vai sofrer
morando com esse sujeito — diz Nonna
puxando Lorenzo com ela para fora do
quarto. Lembro que tem um
desconhecido no ambiente olhando para
mim com curiosidade e eu dou um
pigarro.
— Vamos? Vou te levar para
buscar suas coisas — falo e ele assente
sem falar nada.
Espero ele passar por mim e meus
olhos malditos e insensíveis vão direto
para sua bunda. Ele é magro, mas seu
jeans na parte traseira fica muito bem
preenchido. Quando foi que eu observei
a bunda de outro homem? Nunca! Isso
não está certo! Desvio meus olhos
apressadamente para cima e vou na
frente para a saída, o carro já está nos
esperando e assim que entramos Andrea
diz o endereço a Cyro.
A viagem é curta e logo o carro
para em um pequeno edifício de
construção antiga. Saio do carro e
Andrea vem logo em seguida, ele. Olha
para o prédio e para os lados soltando
uma pequena respiração. Subo junto
para que ele possa pegar suas coisas,
mas ao chegar à porta vejo que algo está
errado. Faço sinal para Timóteo, que
assente puxando sua arma e puxo Andrea
para trás de mim.
— O que está acontecendo? —
pergunta ele, assustado.
— Arrombaram a porta, eles
ainda podem estar lá dentro — falo
pegando meu celular e chamando mais
homens.
— Não, eles não podem! — fala
ele nervoso e sai de trás de mim.
— Foda! — falo entre dentes e
vou atrás dele, que entra no pequeno
apartamento às pressas.
O estado do lugar está totalmente
degradante, móveis foram cortados e
quebrados, cadeiras estraçalhadas, uma
pequena televisão em perda total, mas o
que me chama atenção é a frase escrita
na parede da sala com letras bem
grandes: "Не убегай от нас!" Que quer
dizer: Não fuja de nós!
Ao olhar para essa frase uma
raiva fora de sério toma conta de mim.
Andrea está na minha frente olhando
para frente com os olhos vidrados na
parede. Quando seu corpo começa a
tremer novamente, eu fico sem saber o
que fazer. Será que eu devo abraçá-lo?
Olho para a minha sala destruída
e sinto como se eu tivesse levado um
soco no estômago. Tudo isso aqui eu
consegui aos poucos por trabalhar quase
um ano na boate.
Eu jurei que iria refazer minha
vida, que ia tentar esquecer todas as
coisas ruins que aconteceram comigo.
Dediquei-me ao máximo para ser
alguém novamente e não o brinquedo de
um gângster maldito que fazia o que bem
entendia comigo. Não, eu tentei ser mais
de mim, mas agora tudo está destruído.
Incomoda-me saber que eu não
sou ninguém e que minha vida, vontades
e desejos sempre foram subjugados. Não
posso permitir me deixar abater por
essas coisas, mas também não posso
usar as pessoas para ter algum tipo de
ajuda. Sei que no coração de Francesa
ela só pensa em me ajudar, mas levantar
a cabeça e ler a frase escrita na minha
parede faz com que eu tenha mais
certeza de que eu não posso aceitar essa
ajuda. Cerro os punhos, fecho meus
olhos com força e sinto novamente meu
corpo começar a tremer
involuntariamente, estou tentando mais
uma dessas crises e…. Não! Sinto seu
toque, sinto a quentura da palma da sua
mão no meu ombro e isso não é bom.
— Acalme-se, você está bem e
nada irá te acontecer — diz cada
palavra com firmeza e eu sinto o meu
corpo estúpido relaxar.
Esse homem tem alguma
influência sobre mim, eu soube desde o
momento que eu o vi na boate. Tem algo
nesse homem que me leva para um lugar
onde eu nunca estive, seus olhos
castanhos são como um bálsamo que me
traz calma e segurança. Seu toque é
calmo e firme, sua presença é forte, só
que não me traz medo, isso é
completamente diferente, totalmente
diferente e eu não posso permitir sentir
dor novamente. Sinto meu corpo ficar
rígido e eu me afasto rapidamente do seu
toque, levanto a cabeça e encontro seu
rosto confuso, mas ele não fala nada.
— Tudo limpo, senhor! — diz o
segurança que eu ainda não sei o nome,
mas ele é muito sério e profissional.
— Certo — responde e volta seus
olhos na minha direção novamente. —
Você tem alguma coisa de valor que eles
possam ter levado? — pergunta e
automaticamente me vem algo em mente.
— Merda! — falo baixo e corro
em direção ao meu pequeno esconderijo.
— Andrea? — chama Enzo
Aandreozzi atrás de mim e sem olhar
para trás abro um pequeno espaço na
parede.
— Está aqui! — murmuro
aliviado, pegando minha bolsa
escondida.
— O que você tem aí? —
pergunta Enzo e eu engulo em seco.
— Não é nada de muito
importante — falo e ele continua a me
encarar sério e arqueia a sobrancelha.
— Se eu vou levar você para
minha casa carregando uma sacola preta
eu preciso saber o que contém nela —
diz ele em um tom firme e eu fico
paralisado sem saber o que dizer.
— Eu não posso! — falo em um
tom baixo, mas ele continua a me
encarar. — Eu jurei não mais mostrá-las
— murmuro olhando para a bolsa preta.
— Deixe que eu pego, então —
fala ele estendendo a mão. Ele não pode
ver o que tem aqui. O que ele vai pensar
de mim? — Deixe-me ver!
Mesmo relutante, eu entrego a
bolsa. Meu medo de que ele abra e veja
o que está dentro é muito grande, pois
desde que sai da Rússia eu não olho as
coisas que tem dentro da bolsa. Tudo
que tem ali dentro mostra uma parte de
mim que eu quero esquecer, coisas que
me trazem lembranças muito ruins que
vivi naquele inferno, tendo de fazer
coisas ruins para continuar vivo. Viro a
cabeça para o lado na intenção de não
ver a sua reação ao abrir a minha bolsa.
— Aqui, tome! — diz ele
estendendo a bolsa para mim do mesmo
modo que eu a dei.
— Mas como? — pergunto com
uma expressão confusa.
— Só queria saber mais sobre
você — diz ele simplesmente com sua
expressão fechada e eu fico mais ainda
sem entender.
— Espera aí, você estava me
testando? — pergunto e ele assente.
— Precisava saber se você
poderia ser alguém em que eu posso
confiar. No momento nós não confiamos
um no outro, confiança é algo de extrema
importância para mim — diz ele
seriamente, me fazendo pegar a sacola.
— Entendo — falo baixo e ele
nega.
— Não, você ainda não entende,
mas quem sabe no futuro. Você me olha
esperando que algo de ruim venha de
mim, mas te garanto que isso não vai
acontecer — ele diz rudemente e eu
engulo em seco.
— Não é isso… — tento falar,
mas ele já está virando de costas.
— Arrume suas coisas, temos que
sair daqui o mais rápido possível — diz
ele e sai logo em seguida.
Fico parado olhando suas costas
largas cobertas por um terno azul
marinho enquanto ele se afasta. Esse
gesto dele me deixa confuso e ao mesmo
tempo aliviado. Não estou preparado
para me expor assim para um homem
que acabei de conhecer pessoalmente,
mas não só isso, um homem que mexe
com meu interior de um jeito que
nenhum homem mexeu. Tenho que tentar
ficar o mais afastado possível dele, até
eu conseguir entender o que está
acontecendo.
Respirando fundo, vou até meu
quarto e vejo tudo caindo aos pedaços,
minhas roupas jogadas no chão, o
colchão cortado em vários lugares, meu
abajur e minha cortina blecaute
quebrados no chão. Balançando a
cabeça, começo a pegar as minhas
roupas do chão com um pouco de
dificuldade e coloco tudo em cima da
cama, mesmo agoniado por não poder
estar arrumando as roupas antes de
guardá-las, tenho que deixar isso passar.
Após pegar minhas roupas, vou até meu
pequeno banheiro e vejo que tem uma
palavra escrita na parede: Golubushka.
Abaixo minha cabeça para
desviar o olhar dessa palavra que tanto
odeio, aperto a pia com força e controlo
a minha respiração. Era assim que o
maldito me chamava, essa palavra tão
infame que eu odeio com todas as
minhas forças.
Consigo me controlar e começo a
pegar minhas coisas de higiene pessoal.
Não posso me deixar levar. Faz muitos
anos que eu não sei o que é derramar
uma lágrima, mesmo que eu queira, não
irei conseguir, então só me resta tentar
continuar a viver com esse aperto no
peito e o medo de ser lavado novamente
para Rússia.
Pego um elástico e prendo meu
cabelo em um coque alto e frouxo, já
que estou sentindo dor de cabeça da
pancada que levei.
— Andrea? — Ouço a voz firme e
cautelosa do outro lado da porta.
— Estou saindo! — falo pegando
minhas coisas e abrindo a porta do
banheiro. Seus olhos ficam presos em
meu rosto, passando pelos meus cabelos
presos. Sinto meu rosto esquentar e
desvio o olhar.
— Você está pronto? — pergunta
ele após dar um pigarro.
— Sim — falo o vendo olhar para
dentro do banheiro e ele aperta a
mandíbula com força.
— Vamos andando! — diz Enzo
entre os dentes, abrindo passagem para
eu passar. — Deixe que eu levo, você
está machucado — diz ele com uma
expressão fechada, me impedindo de
levar a minha mala e bolsa.
Na minha sala vejo várias pessoas
tirando todas as coisas quebradas do
caminho. Lanço um olhar questionador
para o neto de Francesca e ele diz para
eu não me preocupar, que tudo estará de
volta no lugar. Dou de ombros e sigo ele
até a saída do meu prédio. Vejo dona
Marietta olhando atentamente para tudo
que está acontecendo do outro lado da
rua. Dou um leve aceno para ela, que
acena de volta, mas ao olhar para o
rosto sério do homem ao meu lado, ela
para de acenar rapidamente, o olhando
assustada.
Entro no carro, me sentando o
mais próximo da janela que eu consigo.
Deito minha cabeça no banco e fecho os
olhos. Sinto seus olhos sobre mim e eu
continuo do mesmo jeito, evitando o
máximo encontrar seu olhar. Ainda estou
pensando no seu ato de não abrir a
minha sacola. Enzo poderia muito bem
fazer o que bem entender e eu não iria
questionar, já que ele está fazendo um
favor para sua avó sem nem ao menos
me conhecer, mas ele não fez e isso
chamou minha atenção. Ninguém nunca
respeitou a minha vontade e Enzo
Aandreozzi fez isso.
Abro os olhos e vejo que
chegamos a um enorme edifício,
passamos direito, entrando na garagem.
Observo que entramos por uma
passagem privativa. Meus olhos se
arregalam com a quantidade de carros
que vejo, não só carros esportivos têm
nesse lugar e sim vários SUVs, uma
moto incrível e jipe que sempre sonhei
em ter. Saio do carro e minhas pernas
ganham vida para ir em direção ao jipe
preto fosco, muito lindo. Passo mão pelo
capô e me assusto ao ouvi sua voz atrás
de mim.
— Esse jipe eu ganhei após uma
aposta com meu irmão mais novo — fala
Enzo olhando para o carro atentamente.
— Um bonito carro, acho que seu
irmão deve sentir falta dessa máquina —
falo ignorando que ele está do meu lado.
— Duvido muito, o pequeno
bastardo sempre o pega quando está
aqui — fala fazendo um som com a
boca.
— Você e seus irmãos são
próximos? — pergunto e acho que vejo
um pequeno sorriso se formar nos seus
lábios.
— Você não sabe o quanto.
Vamos! — chama ele e eu o sigo, mas
não antes de dar uma última olhada no
carro.
Vou com ele até o elevador e
subimos em total silêncio, olho para trás
e vejo um dos seguranças levando as
minhas bagagens. Ao abrir as portas de
aço sou surpreendido quando Enzo se
abaixa e pega no colo uma pequena bola
de pelos. Ele fala com o cãozinho de um
jeito leve e totalmente descontraído, me
vejo admirando a cena sem conseguir
piscar os olhos. O que mais me chama
atenção é o seu lindo sorriso, ainda não
tinha o visto sorrir e é a coisa mais
surpreendente de se ver.
— Você foi um bom garoto hoje,
Kay? Tem que ser! — brinca Enzo,
recebendo lambidas do cachorro.
— Vejo que chegaram. —
Francesca aparece com um largo
sorriso. Enzo percebe que eu estou ao
seu lado e fecha o sorriso na hora.
— Sim, Nonna, a senhora poderia
mostrar o lugar para Andrea? —
pergunta ele e tanto Francesca como
olhamos para ele sem entender.
— Vai a algum lugar? — pergunta
ela e não vou mentir e dizer que não
estou curioso, porque estou.
— Sim, tenho que acertar umas
coisas, mas voltarei logo para casa e
todo o lugar será protegido — fala ele,
ainda acariciando o pequeno cão.
— Com a segurança daqui eu
tenho noção de que está tudo em ordem,
mas eu quero saber se há algum
problema. Há? — pergunta Francesca,
se aproximando.
— Não, tudo que vou fazer é
interno. Tenho que acertar umas coisas e
arrumar um segurança para Andrea —
diz como se eu não estivesse aqui e eu
não gosto.
— Não preciso de um segurança
particular — falo de modo sério e ele
olha para mim por um tempo e nega.
— Isso está fora de
questionamento, sua segurança está em
minhas mãos e eu sei bem o que faço —
responde Enzo e eu cerro os olhos na
sua direção.
— Não preciso de uma pessoa
atrás de mim o tempo todo! — falo entre
dentes e percebo que o infeliz esconde
um sorriso atrás do cachorro.
— Sua irritabilidade é adorável,
mas isso está fora de questão — diz
voltando a me encarar. — Nonna, vou
tomar banho e logo estou saindo. Vai ter
uma comida gostosa aqui? — pergunta
para Francesca, que olha para nós dois
com um largo sorriso.
— Estou fazendo o risoto à
milanesa que você tanto gosta — diz e
dessa vez Enzo não esconde o sorriso.
— A senhora é a melhor, Nonna, a
melhor de todos os tempos! — fala ele
sério, soltando o cachorro e indo em
direção à Francesca, à beijando
docemente na bochecha.
— Eu sou sua única avó, seu
idiota! — diz, dando a ele um tapa com
uma agressão fingida. Enzo sussurra
algo no seu ouvido e ela cai na
gargalhada. — Não, eu amo todos vocês
igualmente — responde ela rindo.
— Que mentira! — resmunga
Enzo, saindo correndo logo em seguida,
mas não antes de levar uma sapatada nas
costas. — Inferno de senhora da mira
boa!
— Você teve a quem puxar, seu
bastardo! — diz ela indo buscar seu
sapato. — E não pense em ir atrás de
alguma cagna! — grita e eu não contenho
o franzir de cenho.
Observo a cena na minha frente
me perguntando como seria novamente
ter uma família. Minha mente voa
automaticamente para as brincadeiras
que meu pai fazia com minha mãe,
coisas que ela sempre ficava muito
irritada. Lembro-me do som dá risada
grossa de meu pai e isso só me faz
lembrar o quão sozinho eu estou. Posso
até não chorar, mas a dor no peito eu
com certeza consigo sentir e ela é forte e
constante.
— Andrea! — chama Francesca,
me acordando dos pensamentos.
— Sim? Desculpe, eu estava
distraído — falo tentando sorrir.
— Você não estava com a cara
muito boa. Está sentindo dor? —
pergunta Francesca e eu faço sinal com a
mão.
— Não, não é nada. Eu estou bem
realmente — falo rapidamente e ela me
encara por um tempo.
— Você sabe que pode falar
comigo o que quiser, não sabe? —
pergunta ela e eu assinto.
— Claro que eu sei, Fran! — diz
prontamente e ela dá um pulo.
— Tenho que olhar a panela,
venha comigo e depois eu te mostro o
lugar — fala e eu assinto, seguindo-a até
a cozinha.
— Ele não tem ninguém para
cuidar da casa? — pergunto olhando por
toda cozinha muito linda e bem
equipada.
— Não! Aquele infeliz lindo
como o pecado pode ser um demônio
quando quer — resmunga Fran e eu não
contenho o pequeno sorriso. — Você
está rindo, mas ainda não viu como ele
é.
— Eu estou rindo do modo que
você falou. — Dou de ombros, me
sentando no banco alto. — Onde está
Lorenzo?
— Mandei ir para o inferno! —
falo irritada e eu viro a cabeça para
encará-la melhor.
— Você brigou com o pobre
homem de novo? — pergunto e ela nega.
— Acredita que aquele velho sem
noção ficou chateado por eu não ter
contado o que está acontecendo para
ele? — diz ela com o ar de indignação.
— Posso compreender Lorenzo
— solto e ela para de cortar os tomates
e olha para mim.
— Por que você está defendendo
aquele velho safado? Você tem que me
apoiar! — diz ela apontando a faca na
minha direção e eu sorrio.
— Não entendo muita coisa sobre
relacionamentos, mas acho que quando
duas pessoas estão juntas devem dividir
seus problemas. Acredito que ele te
conta tudo, ou eu estou enganado? —
falo pegando um pedaço do tomate e
colocando na boca.
— Pensando por esse lado é
verdade, mas acho que estou acostumada
a fazer as coisas da minha maneira. —
Fran ficou com uma expressão pensativa
e eu assinto.
— Dê um desconto a ele, acho
que ficou preocupado — falo e ela cerra
os olhos na minha direção.
— Vamos ver! E você o que achou
de Enzo? — pergunta diretamente, me
fazendo engasgar.
— O quê? Por que essa pergunta?
— pergunto, prendendo a respiração, e
ouço um riso vindo dela.
— Oh, nada sabe, só não queria
que você morasse com alguém que não
fosse com a cara — diz ela e eu solto a
respiração.
— Ainda acho que não preciso
disso, eu posso muito bem cuidar de
mim — falo em um tom baixo e sinto um
pedaço de tomate bater na minha testa.
— Não fale besteiras e nem tente
sair daqui, aqui você está seguro. Ouviu
bem? — pergunta e eu assinto limpando
a sujeira do tomate. Sinto algo nos meus
pés e vejo o pequeno cachorro e sorrio.
— Pode pegar. Nunca vi bichinho
que goste tanto de um colo — diz
Francesca apontando para o cãozinho.
Abaixo-me um pouco, o puxando
para meus braços. Vejo seu pequeno
rabo balançar animado. Passo a mão de
sua cabeça até o resto do seu corpo
pequeno. Sinto seus pelos macios na
minha mão e não resisto, dando um beijo
na sua cabeça. Seu cheiro de shampoo
canino misturado com um perfume
masculino que pude sentir hoje o dia
inteiro é uma boa mistura, uma que me
faz cheirá-lo novamente. Desde pequeno
sempre quis ter um cachorro, mas como
minha mãe era alérgica, eu nunca pude.
Lembro-me de brincar com os filhotes
de alguns amigos de escola que eu tinha
contato quando criança, mas nunca pude
ter um para brincar e ficar comigo.
— Você é a coisinha mais linda!
Como é o nome dele, Fran? — pergunto
coçando seu queixo.
— Seu nome é Kay — diz uma
voz grossa atrás de mim e meu corpo
fica rígido. — Estou saindo, volto mais
tarde — diz e eu assinto, mas ao virar
para trás, Kay morde um punhado do
meu cabelo.
— Aí, garoto! — falo com o
cãozinho preso no meu cabelo. Ouço a
risada alta de Fran e uma mão grande
tomar conta de minha cabeça.
— Fique quieto que eu já tiro —
murmura Enzo e eu engulo em seco ao
sentir o seu corpo bem próximo. — Kay,
você não está me ajudando. Solta,
garoto! — ele diz com firmeza, fazendo
Kay soltar meu cabelo.
— Obrigado — falo olhando nos
seus olhos, ainda sentindo sua mão
alisar meu cabelo, mas ele tira
rapidamente.
— Tudo bem, estou saindo — fala
ele e sai da cozinha no mesmo instante.
Sinto o rastro do seu perfume e fecho os
olhos.
— Espaventoso! (Medroso) —
sussurra Francesca e eu olho para ela
sem entender.
— Falou alguma coisa, Fran? —
pergunto e ela nega rapidamente.
— Eu? Não, nada! — diz ela.
Estranho, mas deixo para lá. — Vamos
conhecer o lugar e eu vou te mostrar
onde vai ser seu quarto.
Assinto, me levantando com Kay
no colo. Sigo Francesca por todo lugar e
ela vai me mostrando tudo, a sala de
estar que eu já havia passado, o
escritório de Enzo, onde ela diz ser um
dos lugares que os homens da família
adoram perder seu tempo, a sala de
cinema, uma grande biblioteca, que eu
fico de olhos arregalados e juro que irei
voltar aqui.
Ainda na parte de baixo vamos à
área da academia e piscina. Percebo que
a academia é bem espaçosa e daria
muito bem para eu treinar, caso eu não
tivesse jurado que nunca mais iria fazer
o que fazia antes. Subimos as escadas e
vejo um vasto corredor, onde ela diz que
é onde fica o quarto dos irmãos. Olho
para ela sem entender.
— Cada um dos quatro filhos de
Arianna e Donatello possui em suas
casas ou apartamentos quartos para
acomodar todos os irmãos. Mesmo
quando todos estão aqui, eles preferem
ficar na mansão, incluindo o próprio
Enzo. Eles sempre têm um quarto aqui
no lugar de Enzo — diz ela e eu acho a
coisa mais estranha e fascinante.
— Eles são realmente muito
unidos, não é? — pergunto sentindo Kay
querer descer do meu colo e eu o solto,
o fazendo correr para outra escada.
— Muito! Eles são o
complemento um do outro. Você ainda
vai conhecê-los e tenho certeza de que
vai se surpreender — diz Fran e eu
permaneço quieto.
— Onde Kay está indo? —
pergunto apontando para outra leva de
escada.
— Com certeza para o quarto de
Enzo, onde fica o seu quarto também —
diz ela e eu nego.
— Eu posso ficar muito bem no
quarto dos empregados, não há
necessidade disso — falo e ela me olha
de cara feia.
— Não fale besteiras e vamos
logo conhecer seu quarto — diz ela e eu
respiro fundo.
Subimos mais umas escadas e
vejo Kay parado de frente a um quarto
onde a porta está aberta. Minha
curiosidade aguça para querer ver o
quarto de Enzo, mas eu contenho esse
pensamento absurdo que cruza meu
caminho. O quarto que agora será meu é
absurdo de lindo, há uma cama bem
espaçosa, uma janela grande de vidro,
tudo muito bonito. Vejo também o closet
onde minhas malas já estão esperando
para que sejam desmontadas. O banheiro
também é espaçoso, contendo uma
grande banheira que vou gostar de estar.
— Acho que vou deixar você se
situar por aqui e vou para casa.
Qualquer coisa é só ligar — diz
Francesca e eu assinto.
— Vou ficar bem, eu prometo —
falo e ela assente.
— Sei que vai, acredite quando eu
digo que você está em ótimas mãos —
diz ela e afirmo.
Após a saída de Fran, eu tiro
minha roupa, ficando só de cueca, solto
os cabelos, aproveitando que não tem
ninguém em casa. Vou até o closet e
arrumo todas as minhas coisas em
perfeitos modos e assim que vejo tudo
no lugar, olho para minha bolsa preta.
Sento-me no chão, cruzando as pernas,
decidindo se abrirei a bolsa ou não.
Penso melhor e me levanto, a colocando
em um lugar escondido na parte funda do
closet. Vou ao banheiro, arrumo meus
materiais de higiene e decido tomar um
banho. Aproveito a água deliciosa que
sai da ducha e lavo meus cabelos.
Acabo o banho, coloco uma calça
de moletom e uma camiseta velha e solto
um bocejo. Acho que tirar um cochilo
vai ser de bom tamanho.
Foi isso que pensei antes de
adormecer e ter pesadelos absurdos
sobre o meu passado, o qual eu prefiro
morrer a continuar me lembrando.
— Falta muito para chegarmos?
— pergunto olhando as ruas da cidade
em que eu vou começar uma vida nova.
— Não, golubushka (Pequena
Pomba), logo você será preparado para
sua nova vida aqui comigo. — Ele me
puxa para seus braços e beija meus
lábios. Tento retribuir o beijo da minha
maneira, espero está fazendo certo. —
Você ainda tem muito que aprender.
— Você vai me ensinar? —
pergunto, me sentindo envergonhado e
ouço um riso rouco.
— Você não sabe das coisas que
estou preparando para você — diz ele,
passando o dedo no meu rosto, e eu
sorrio largamente, mas depois meu
sorriso fecha. — O que foi, golubushka?
— Será que um dia eu vou poder
ver meus pais? Será que eles vão me
perdoar? — pergunto sentindo as
lágrimas inundarem meus olhos. Vejo
quando ele fecha a cara e solta uma
respiração.
— Eles não te querem mais, você
agora pertence a mim. Eles te acham
uma criatura desprezível e nojenta. E
quando não queremos mais as coisas que
nos dão trabalho descartamos — diz ele,
me fazendo chorar mais ainda.
— Eles vão me perdoar, eu sei
disso — sussurro, me encolhendo no
banco do carro.
— Pobre criança! Não se engane,
você não vai mais voltar — diz ele com
um sorriso perverso e um frio toma
conta da minha espinha.
— O que você quer dizer com
isso? É claro que eu vou voltar, você me
prometeu isso! — falo nervoso, sentindo
minhas mãos começarem a suar de
medo.
— Não, criança tola, você não vai
voltar — diz ele sorrindo e saindo do
carro.
Sinto meu corpo ser puxado para
fora do carro e um homem com uma cara
maligna me olha atentamente. Começo a
tentar me soltar, grito de puro desespero
para ser solto, mas o aperto no meu
braço é muito forte. Ouço ele falar com
o homem com expressão maligna na sua
língua, que eu não entendo nada, mas ele
me segura com mais força. Prendendo
meus dois braços e imobilizando minhas
pernas, eu fico de frente ao o homem que
eu pensei que gostava de mim. Ele me
dá um soco forte no estômago, me
fazendo perder o ar, puxa meu cabelo,
me fazendo olhar para seus olhos azuis
gélidos.
— Aqui você vai aprender a fazer
o que eu quiser que você faça. E a sua
primeira lição é não mais chorar. Odeio
lágrimas! — diz ele com um tom
maligno e eu começo a me debater.
— Me deixe ir, eu quero ir para
casa! — grito em plenos pulmões e ele
me dá uma série de tapas no rosto,
fazendo minha boca sangrar muito.
— Calado, golubushka! Você pode
ser um bom menino se não gritar — diz
ele com um grande sorriso. — Leve ele
para o quartinho, tire sua roupa, e faço o
procedimento de iniciação — diz ele
para o homem.
— Afirmativo, chefe! — diz o
homem maligno na minha língua com um
forte sotaque e eu posso sentir o seu
sorriso. Ele começa a me puxar com
força e eu caio no chão.
— Fyodor! — chama e o homem
que está me segurando para de andar. —
Não esqueça que com esse você não
pode brincar.
— Sim, senhor! — diz com raiva
e sai me puxando.
Começo a chorar mais ainda
quando sou levado para um pequeno
espaço onde tem correntes presas no
teto, um pedaço fino de colchão, um
penico de aço. Me encolho para trás
pedindo para não ficar aqui e sou jogado
no chão sujo.
Fyodor me manda tirar a roupa e
eu grito que não vou fazer isso, mas ele
sorri de modo perverso e caminha em
minha direção. Ele diz que não me
baterá no rosto para não deixar seu
chefe chateado, pois eu sou muito lindo,
mas o resto do corpo está liberado.
Ele me bate muito, conseguindo
me deixar mole no chão e com isso se
aproveita para tirar minha roupa.
Quando me vê nu, um balde de água
congelante é jogado com força no meu
corpo. Pulo de susto, o que causa o riso
de Fyodor, meu corpo começa tremer
muito e eu tenho certeza de que irei
morrer.
Passos dias por vários martírios.
Sinto fome, sede, cansaço. Peço para
morrer várias vezes. São surras
diferentes a cada dia. Chicotes, bastões,
até mesmo com as próprias correntes.
Algumas vezes o médico vem
curar meus ossos quebrados e
ferimentos na intenção de não me deixar
marcado, ordens de seu chefe. Choro
muito, mas enfim chega o dia que as
lágrimas não saem mais e é aí que
recebo o meu primeiro gesto de
bondade.
— Vy golodny? (Você está com
fome?) — pergunta a mulher que está
limpando minha sujeira, mas eu não
entendo uma palavra, então ela faz sinal
com a mão.
— Sim, muita! — respondo
roboticamente e ela assente, puxando um
pedaço de pão do bolso.
— Vot, poyesh'! (Aqui, come!) —
diz ela colocando o pedaço de pão na
minha mão, me mandando colocar na
boca.
— Obrigado! — falo na minha
língua e ela me observa, naturalmente
sem entender uma palavra e quando me
vê comer, abre um sorriso com seus
dentes amarelados. Nos assustamos com
a porta sendo aberta, vejo a pobre
mulher abaixar a cabeça e fazer sinal
para mim.
— Olha o que temos aqui. Como
você está, minha pombinha? — pergunta
o homem que mais odeio no mundo e eu
não respondo nada. Ele se aproxima, me
dando um tapa forte, com isso o pedaço
de pão que eu estava na mão cai no
chão. — Chto eto? (O que é isso?) —
pergunta ele com ódio e vejo a mulher
se encolher no canto e balançar a cabeça
negativamente.
— Não, não a culpe, é minha
culpa! — falo com dificuldade, me
arrastando com a corrente prendendo
meus pés.
— Já que a culpa é sua, eu acho
que posso te dar uma lição, certo? —
pergunta e eu assinto. — E depois disso
você fará o que eu quiser que você faça
— fala e eu confirmo novamente.
— Certo! — falo e ele abre um
sorriso de puro terror. Puxando a mulher
pelos cabelos, ele a coloca na sua
frente. Observo com os olhos
arregalados quando ele puxa uma faca,
colocando na direção do pescoço da
mulher. — Não, por favor, não faça isso!
Não!
— Essa é a primeira morte
causada por você, golubushka. — Vejo
com olhos arregalados quando ele passa
a faca no pescoço da mulher, que está
com seus olhos vidrados em mim. Eu
posso ver o seu medo e sua angústia. E
principalmente sua vida sendo apagada
de seus olhos.
— NÃO! NÃO! NÃO! Para, por
favor! — grito em plenos pulmões, me
debatendo como um louco.
— Andrea, acorde! — Sinto uma
voz forte e suave me chamando. —
Andrea, sou eu, Enzo! Acorde! — Abro
os olhos e vejo os olhos castanhos, não
azuis gélidos, e sim castanhos me
encarando.
— Enzo? — pergunto confuso e
ele assente.
— Sim, sou eu. Você está seguro e
está em casa, você está comigo — diz
ele e eu olho por todo o lugar tentando
me situar.
— Eu estou bem — murmuro e
vejo Enzo afirmar com a cabeça.
— Sim, você está — diz ele e eu
sinto meu corpo indo em direção ao seu,
me aninhando totalmente ao seu corpo
forte, me sentindo protegido.
— Isso é bom, isso é muito bom
— falo sentindo o cheiro que emana do
seu corpo e ao fazer isso meus olhos se
arregalam e eu me afasto rapidamente.
Que vergonha!
— Quer conversar sobre isso? —
pergunta após um pigarro e eu olho para
ele por um momento, negando a sua
oferta.
— Obrigado, mas não quero
lembrar disso agora — falo e ele
assente.
— Por que você não vai se
refrescar para jantarmos? — pergunta
levantando da cama e aí percebo que ele
está usando uma camisa preta simples e
uma calça jeans.
— É... Acho que eu preciso disso
— falo sentindo meu corpo todo
molhado de suor.
— Vá, vou esquentar a comida da
Nonna para nós dois. Você quer? —
pergunta ele, se preparando para virar e
sair.
— Sim, acho que estou com fome
— falo sentindo meu estômago
resmungar.
— Certo, estou lá embaixo — fala
e sai logo em seguida.
Assim que vejo a porta do quarto
ser fechada, eu me levanto da cama.
Ainda posso sentir meu coração batendo
forte no peito. O cheiro do perfume de
Enzo continua no quarto e eu balanço a
cabeça para dispersar o cheiro delicioso
que nunca senti na vida e levanto da
cama tirando a camisa ensopada de suor.
Tenho pesadelos sempre, mas esse
é o que mais me atormenta porque me
sinto culpado com o que aconteceu com
aquela mulher, que só pensou em
alimentar um menino de 16 anos. Ela viu
que eu tinha dias sem ser alimentado
direito. Que tipo de monstro faz isso,
matar uma inocente?
Vou ao banheiro e após tirar o
restante de minha roupa, entro debaixo
do chuveiro. Deixo a água quente cair no
meu corpo e tento deixar esses
pensamentos longe de minha mente.
Encontrar com Fyodor desencadeou as
minhas piores lembranças e isso não é
bom. Saio do banho e olho meu corpo nu
no espelho, passo meus olhos por todo
meu corpo e fora os muitos hematomas
causados por Fyodor, vejo também
algumas poucas cicatrizes
esbranquiçadas de um passado ruim.
Aquele desgraçado fazia questão
de não machucar em lugares visíveis
porque ele dizia que minha beleza
deveria ser mantida. Pelo menos ele não
me obrigou a fazer aquela maldita
tatuagem que mostra a sua lealdade ao
Bratva. Eu o odeio!
Enxugo meu corpo inteiro e saio à
procura de algo para vestir. Coloco uma
calça jeans e um blusão antigo e saio
ainda com os cabelos úmidos. Ao
chegar na parte de baixo, vejo Enzo
sentado no chão brincando com Kay.
Não consigo deixar de observar com ele
é sério, mas não um sério sombrio e
obscuro, ele é um sério daqueles que sua
presença se faz presente e que as
pessoas perdem tempo somente para
observá-lo. Seu rosto másculo com uma
mandíbula forte coberta com uma barba
por fazer, seus olhos lindos que se
fecham sempre que ele sorri de modo
verdadeiro. Coisa que só o vi fazendo
com Francesca e Kay.
— Oh, você já desceu! — diz ele,
colocando Kay no chão, que vem direto
para mim.
— Sim, terminei o banho agora —
falo me abaixando para fazer um carinho
em Kay. — Fofo você!
— Não, nada de fofo! Esse é um
cão de macho, não é mesmo, Kay? —
Enzo pergunta enquanto levanta do chão
e Kay dá um latido.
— Pode ser, mas ele é fofo —
falo e solto um pequeno riso. Levanto a
cabeça e percebo Enzo me encarando.
Minhas bochechas estúpidas ficam
quentes e eu abaixo o olhar. Porra!
— Vamos jantar? Estou com fome
e louco para comer o risoto de Nonna —
diz ele de modo sério e eu afirmo.
Carrego Kay comigo e vou
andando para a cozinha, passando na
frente de Enzo. Observo o lugar e
percebo que ele realmente precisa ter
alguém para cuidar da casa e já que ele
está fazendo esse favor para sua avó em
me aceitar ficando na sua casa e
atrapalhando sua privacidade, por que
não eu mesmo cuido da casa? Eu gosto
de deixar as coisas organizadas, sei
cozinhar, sei fazer tudo que deve ser
feito em uma casa e fora que isso vai me
fazer bem. Gosto de me sentir útil.
Enquanto Enzo está pegando os pratos
para usarmos, tomo coragem para falar
com ele, mas quando ele levanta os
olhos na minha direção, faz um som
descontente e eu não entendo nada.
— O que foi? — pergunto curioso
e ele entorta a boca.
— Por que não secou seus
cabelos? — pergunta ele sério e fico
sem o que dizer.
— O quê? — pergunto com uma
expressão confusa e ele balança a
cabeça.
— Você deveria secar seus
cabelos, porque o tempo está muito frio
e você pode pegar um resfriado — Enzo
diz sem olhar para mim, me deixando
muito surpreso.
— Não… não precisa se
preocupar — falo e ele para pôr um
momento e volta a colocar o prato na
minha frente.
— Não é uma opção, vou mandar
trazer para você uma daquelas coisas
para você secar os cabelos — fala
rudemente e abre a geladeira. — Quer
uma cerveja? — pergunta e eu nego
rapidamente.
— Já disse que não há
necessidade, mas se você quer fazer
isso, então me deixe fazer algo por você
— falo de meu modo tranquilo.
— E o que seria isso? — pergunta
ele e começa a se debater na cozinha
sem saber o que fazer. Eu me levanto da
cadeira alta e mesmo com as mãos
suadas e trêmulas, coloco a mão no seu
ombro. Seus olhos vão direto para onde
minha mão está, me fazendo tirar
rapidamente. — Sente-se que eu vou
fazer isso — falo e ele me olha por um
tempo e depois assente.
Sem falar nada, eu lavo minhas
mãos e começo a montar o lugar para
comermos. Coloco os pratos, talheres,
copos, abro o forno e já vou tirando a
travessa cheia com o risoto que
Francesca fez. E pelo cheiro incrível
tenho absoluta certeza de que isso aqui
está uma delícia. Sinto seus olhos
pesados em cada movimento que eu
faço, sei que ele deve estar se
perguntando como eu devo saber onde
tudo está, mas eu pude observar todos os
movimentos que Fran fez enquanto
estava aqui.
Após estar tudo no lugar fico me
debatendo se devo me sentar ao seu
lado, mas Enzo resolve esse impasse
puxando o banco para mim. Sento-me,
me sentindo bastante desconfortável de
estar ao seu lado, mas ele finge que eu
não estou e começa a se servir. O
observo colocar uma grande quantidade
no prato e soltar um som alto de
apreciação quando prova a primeira
garfada.
— Doce inferno! Isso aqui está
divino, Nonna, a senhora se superou —
diz ele com os olhos fechado e me vejo
parecendo um sem noção admirando sua
expressão de contentamento. — Não vai
comer? — pergunta me assustando.
— Sim, vou, sim! — falo
apressadamente, colocando um pouco da
comida no prato.
— Só vai comer isso? — fala do
nada e eu olho para o meu prato e
depois afirmo. — Você deveria comer
um pouco mais, seus remédios são
fortes.
— Remédios? Eu não estou
tomando remédio — falo e ele bebe um
gole de cerveja.
— O médico passou remédio para
você de dor. Achei que já estava
tomando — ele diz voltando a comer e
eu respiro fundo. Como dizer a ele que
não estou sentindo dor e que esses
machucados não são nada?
— Eu estou bem. Esses
machucados não foi nada demais e fora
que eu realmente estou bem — falo me
sentindo todo atrapalhado e Enzo não
fala nada.
— Que seja, mas coma um pouco
mais você está muito magrinho — fala
ele com uma expressão fechada,
voltando a comer sua comida de bom
agrado.
— Enzo! — chamo depois de
comer algumas garrafas e ele volta os
olhos na minha direção novamente.
— O que foi? — pergunta e eu
engulo em seco.
— Como eu estava falando antes,
já que você não tem ninguém que cuida
de tudo por aqui, eu posso fazer isso —
falo e ele nega.
— Não, você está aqui para ser
protegido e não para ser meu empregado
— nega e eu respiro fundo, me sentindo
irritado.
— Mas eu quero fazer isso, na
verdade, eu vou fazer isso — falo com
firmeza e ele nega novamente.
— Não, isso não vai acontecer.
Mamma sempre manda alguém limpar a
casa — fala ele e eu me levanto do
banco com as mãos para cima.
— Mas eu posso… — começo a
falar, mas ele me interrompe.
— Você não está aqui para ser
meu empregado — diz ele rudemente,
me chateando mais um pouco.
— Você é muito arrogante e
teimoso, já disse que vou fazer. Da ya
budu! (Vou fazer, sim!) — falo e viro às
costas para sair. Nossa, ele me tira do
sério!
— Andrea! — chama ele e eu viro
abruptamente.
— O quê!? — falo irritado e vejo
um sorriso discreto no seu rosto.
— Venha comer, por favor! — Oh,
eu tinha esquecido da comida. — E você
pode fazer o que quiser, se isso está bom
para você.
— Sim, está ótimo! — falo
tentando não sorrir.
— Dio santo, isso não vai prestar!
— diz em um tom baixo, balançando a
cabeça negativamente.
Volto a comer e quando me vejo
saciado, levanto e começo a tirar a
mesa, já que Enzo já acabou de repetir
seu terceiro prato. Antes de levantar-se
e sair, Enzo me diz que estará no
escritório para resolver um problema e
que eu estou livre para ir para onde eu
quiser. Depois que ele sai da cozinha, eu
solto uma forte respiração e abaixo a
cabeça. Eu não acredito que eu grito
com ele, e ainda por cima ele achou
engraçado isso. O que há de tão
engraçado em me ver irritado? Se fosse
outra pessoa, eu poderia ter levado um
soco, mas ele é tão estranho. Continuo a
lavar os pratos para guardar e tento
esquecer da forte presença do neto de
Francesca.
Após terminar de limpar a
cozinha, deixando bem limpinha e
organizada, do jeito que tem que ser,
fico parado no meio da sala sem saber o
que fazer. Nos dias em que a boate não
abre, eu sempre estou tentando encontrar
alguma coisa para assistir na minha
antiga televisão, mas hoje eu realmente
não sei o que fazer.
Acatando o que Enzo me disse, eu
vou até a biblioteca. Ao entrar no lugar
eu puxo o ar para sentir o cheiro dos
livros. Passo pelas estantes e algo me
chama atenção: em um canto do lugar
tem uma prateleira cheia de discos de
vinil. Tem várias bandas italianas que eu
gosto bastante, alguns rocks clássicos,
só coisa boa e de qualidade.
Tiro minhas mãos das coisas dos
outros e saio rapidamente da biblioteca.
A última vez que mexi com algo que não
me pertencia fiquei quase uma semana
sem conseguir andar direito. Então é
melhor não mexer, não conheço Enzo
direito e vai que ele não gosta que
mexam nas suas coisas. Melhor
prevenir!
Saio da biblioteca e vou direto
para meu quarto, tiro a roupa que estou e
fico somente com o meu blusão de frio e
cueca. Estou me sentindo agitado demais
e tem uma coisa que eu sei que pode me
acalmar.
Merda! Eu disse que não iria mais
mexer nas minhas armas, mas eu preciso
delas para me situar e pensar direito na
minha vida. Verifico se a porta está
trancada e vou até o closet, tirando
minha sacola do fundo do armário. Vou
com ela até a frente da grande janela e a
coloco no chão. Sento-me com as pernas
cruzadas de frente para a sacola e a
abro, deixando minha respiração ficar
controlada.
Tenho vários tipos de facas, mas
da bolsa eu tiro meus dois punhais,
minhas facas de dois gumes, minhas
duas karambits. Elas têm o cabo preto e
as lâminas douradas e são as que eu
mais usava. Olho para elas e as
lembranças do meu mestre vêm à tona.
Lembro quando ele me presenteou
com as facas e eu fiz de tudo para
recusar, mas ele disse que elas eram
douradas como a cor dos fios do meu
cabelo. O modo que ele me tratava como
seu filho, os conselhos que ele me dava
e como era importante sua companhia,
mesmo que no momento eu não quisesse
falar ou ver ninguém. Ele era uma
pessoa maravilhosa e com certeza fez
muita falta quando aquele monstro…
não! Chega de pensar nessas coisas, eu
preciso ter uma vida. Eu preciso viver e
eu não sei nem por onde começar.
Não sei quanto tempo eu fico
sentado admirando e amolando as
lâminas mortais das minhas armas, mas
estou com muita sede e preciso de um
copo de água. São exatamente duas da
manhã e eu tomo um susto por perceber
que eu fiquei esse tempo todo distraído
com minhas armas. Pelo horário sei que
Enzo deve estar dormindo, então eu
resolvo ir buscar a água do jeito que
estou, já que vai ser bem rápido.
Desço as escadas rápido, tentando
não fazer nenhum barulho. Vejo Kay
atrás de mim balançando o rabo e me
abaixo sorrindo para pegá-lo. Fazendo
carinho na orelha de Kay, eu chego à
cozinha, mas a visão que eu vejo me faz
engolir em seco. Parado de costas para
mim bebendo leite direto da garrafa está
Enzo. Ele usa uma simples e muito justa
cueca branca. Meus olhos passeiam por
toda extensão do seu corpo e sinto meu
corpo esquentar. Quando ele vira de
frente para mim, toma um pequeno susto.
— Me… me desculpe, eu não
sabia que você estava aqui — falo me
odiando por gaguejar e ele assente. Seus
olhos estão intensos quando me analisa
de cima a baixo. Eu estou usando
somente um blusão cinza de manga
comprida e uma cueca preta. Vejo seus
olhos fixarem nas minhas pernas, me
fazendo abaixar a blusa rapidamente.
— Não foi nada, estou indo
dormir — diz ele entre dentes depois de
acordar dos pensamentos. Quando ele
passa por mim de maneira rápida, Kay
se mexe para descer e seguir seu dono.
Sinto meu pênis ficar muito duro
ao lembrar da imagem de Enzo na
cozinha de cueca. Deus, por que isso
está acontecendo com ele novamente? É
a mesma coisa quando eu o vi dançando
na boate naquela noite.
ENZO AANDREOZZI

Não sei que inferno está


acontecendo comigo, mas eu só sei de
uma coisa, que eu preciso fugir. Sim,
podem me chamar de covarde que eu
não vou ligar muito para isso, mas ficar
naquele apartamento com aquele homem
loiro, com traços delicados que mais
parece um anjo não está dando certo
para mim. Vê-lo usar aquele blusão
infeliz com somente uma porcaria de
cueca curta preta mexeu comigo. Porra,
como mexeu comigo! E agora eu estou
saindo cedo de casa após marcar uma
viagem para Grécia às pressas. Vou
aproveitar essa viagem curta para
esfriar minha cabeça e meu pau, porque
esse maldito não quer respeitar minha
vontade de não ficar duro a cada vez que
olho para aquele ragazzo.
Isso não está normal, isso não está
nada normal. Eu não sou gay e nunca
tive desejos por outro homem e olha que
eu tentei. Não fiquem tão surpresos, eu
já confidenciei aqui que eu gosto muito
de foder e muito para ser mais exato.
Acho que esse é o mau dos hormônios
dos Aandreozzi. Babo está sempre
brincando que nós sempre estamos à
procura de aliviar as loucuras dos
nossos hormônios. Eu, é claro, acho isso
muito nojento porque eu sei que ele está
falando de fazer essas coisas com a
minha linda Mamma. Eca! Voltando ao
sexo, porque lembrar de Mamma e Babo
juntos não é legal.
Eu tentei uma vez ficar com um
homem na boate, tudo isso porque meu
amigo Nardelli é bissexual e sempre
está com um rapaz no seu colo falando
putarias. Nardelli só não fica com uma
porta porque é dura e seu pau não vai
entrar. Bastardo infeliz! Sei que ele é
desse jeito, mas esconde uma grande dor
no seu interior com o assassinato de sua
ex esposa e filho, mas Nardelli é assunto
para outra ocasião.
Cheguei a beijar o sujeito, não
vou mentir e dizer que o beijo foi ruim,
mas eu já tive melhores e quando ele
veio me apalpar, o empurrei longe, o
mandado sair de perto, mas esse Andrea
é uma coisa totalmente diferente, só de
olhar para seu rosto bonito, tocar no seu
corpo, ver como ele fica bem com um
sorriso no rosto ou até mesmo como ele
fica sexy de cabelos preso... Estão
vendo como eu estou falando coisas
malucas? Esse não sou eu!
O pior de tudo é que eu me sinto
um monstro por estar pensando nessas
coisas absurdas com um homem que
deixa nítido nos seus olhos que sofreu
muito. Não sou um idiota, sei que ele
deve ter passado por coisas muito ruins
na Rússia, coisas que deixaram
cicatrizes profundas no seu interior.
Chegar em casa ontem depois de ficar
um tempo com meus homens montando
uma boa segurança para ele e ouvir seus
gritos sofridos enquanto dormia foi
terrível, me senti impotente por querer
ajudar e não saber como. Vejo Timóteo
parado de frente ao carro e quando ele
me vê, pega a minha mala das minhas
mãos.
— Cyro já está sabendo que é ele
que ficará com Andrea? — pergunto
abrindo a porta do carro.
— Sim, senhor, ele já está em
prontidão — responde ele e eu assinto
entrando no carro em seguida.
— Isso é bom. Não quero erros,
Timóteo. Você sabe que eu não suporto
erros, Andrea tem que ser muito bem
protegido — falo com minha expressão
fechada olhando pela janela enquanto o
carro ganha vida.
— Sei muito bem disso, senhor —
diz e eu afirmo.
— É bom que saiba mesmo.
Agora vamos pegar logo esse avião —
falo e ele assente sem falar mais nada.
No caminho até o aeroporto, eu
fico falando com minha secretária pelo
telefone, informando que ela deverá
cancelar cada uma das minhas reuniões
e as mais importantes deverão ser
passadas para o Fabrízio. Mesmo
Fabrízio sendo a calmaria em pessoa ele
é ótimo para lidar com certos tipos de
reuniões, com certeza as minhas
reuniões importantes estão em boas
mãos. Percebo que a intrometida da
minha secretária querer saber mais da
minha viagem e eu desligo a ligação
antes que eu a mande perturbar o diabo.
Assim que finalizo a ligação, faço
o envio de uma mensagem para Mamma,
pedindo para que ela compre um
daqueles troços que seca cabelo. Peço
para que ela dê a algum dos meus
seguranças, mas como a conheço bem
sei que ela mesma vai levar o aparelho.
Espero que Mamma não assuste o meu
hóspede.
Durante o percurso minha mente
viaja novamente ao meu hóspede.
Espero que Cyro efetue um bom
trabalho, pois se isso acontecer será
mais uma bunda que irei chutar para
longe. Eu sei que deveria ter acertado
com Andrea sobre a sua segurança
como, por exemplo, o seu horário de
trabalho. Essas boates fecham muito
tarde da noite e com certeza ele terá que
ver seu horário em favor da sua
segurança. Não quero mais vê-lo
machucado como ele já está, só de
pensar nos seus machucados cerro os
punhos me sentindo irritado.
Durante a viagem eu fico
trabalhando com afinco nos meus
projetos. Gosto do trabalho que eu faço
e trabalhar é bom que você não pensa no
seu pau duro querendo foder. Acho que
vou procurar algum lugar para que eu
possa relaxar um pouco. A chegada em
Atenas é bem tranquila e eu vou direto
para o hotel. Sinto falta de Kay, a última
vez que eu vim eu o trouxe comigo, mas
eu não queria deixar meu hóspede, que
parece gostar muito da companhia de
meu cachorro, sozinho naquele
apartamento tão grande. Meu celular
toca e o nome de Eros aparece na tela.
— As notícias correm nesse lugar
— falo de modo frio e ouço uma risada
rouca do outro lado.
— Kalós írthate píso (Bem-vindo
de volta) — diz ele e eu reviro os olhos.
— Vamos lá, você sabe que odeio
sua língua — falo e ele ri novamente.
— Qual o seu problema com o
grego? Então, vamos falar inglês! — diz
ele e eu tiro minha gravata.
— Não gosto, simplesmente isso
— falo tirando os meus sapatos.
— Alguma mulher da Grécia
quebrou seu coração e você ficou com
raiva da língua por que o faz lembrar
dela? — pergunta ele e eu olho para o
celular de cara feia.
— Não temos intimidade para
esses assuntos, mas acho melhor você
parar de ler romances — falo
lembrando que na nossa última reunião
ele disse que gostava de ler esses livros.
— Não fale mal dos meus livros
— diz ele e eu reviro os olhos. —
Vamos sair para tomar uns drinks mais
tarde. O que você acha? —
Penso por um momento e como eu
estou precisando sair resolvo aceitar.
— Tudo bem, mas só preciso de
um lugar para aliviar o estresse — falo
diretamente, pois eu não sou homem de
rodeios.
— Sei um lugar ótimo para te
levar — fala ele e eu me vejo já sem
vontade de sair.
— Vejo você mais tarde. —
Desligo a ligação logo em seguida.
Eros Russelos é um homem muito
rico, que possui uma grande petrolífera
aqui na Grécia. Seus negócios expandem
por toda a Europa. Nos conhecemos
nesses muitos momentos de jantares e
encontros beneficentes. Não, não somos
amigos e meu caso com ele é
estritamente profissional, mas ele
sempre está tentando uma aproximação
comigo. Só que não vai acontecer da
maneira que ele quer e minha intenção é
somente fazer negócios e fim de papo,
mas como Babo mesmo já disse: Por
vezes é importante os deixar achar uma
coisa, mas para nós a intenção é
totalmente contrária. Sim, meu pai é um
incrível homem de negócios e muito
maledetto quando quer.
Após a ligação com Eros eu entro
no banheiro com a maior intenção de
tomar banho, mas o meu pau não tem
esse mesmo pensamento já que está
rígido e muito dolorido. Olho para
minha ereção com um certo desgosto e
me recuso a me masturbar. Eu não sou
nenhum adolescente que não sabe
controlar seus hormônios enfurecidos.
Deixando minha vontade de gozar de
lado, eu inicio meu banho e assim que
fecho os olhos lembro automaticamente
da imagem de um certo loiro de corpo
magro, olhos verdes ou azuis, eu ainda
não consegui decifrar, cabelos… oh,
merda, aquele maldito cabelo brilhante!
Assim vai ser impossível não me
masturbar. Minha ereção dói feito o
inferno.
Aperto meu pau com força, me
sentindo irritado por ter que fazer isso.
Fecho meus olhos e tento me concentrar
em outra coisa. Penso na última mulher
que levei para cama, uma morena linda
de olhos verdes, uma bela bunda pronta
para receber uns tapas até deixá-la
vermelha e quente, mas além de não
sentir vontade nenhuma, minha ereção
vai embora. Que porra é essa? Olho
para baixo desacreditado e balanço a
cabeça negativamente, com certeza tem
alguma coisa de errado comigo. Foda-se
meu pau! Foda-se a morena! Foda-se
tudo! Sentindo-me muito irritado,
termino meu banho e vou de toalha
mesmo fazer o pedido no hotel de algo
para comer.
Assim que meu pedido chega,
abro a porta do jeito que estou e é uma
mulher que traz o carrinho com a
comida. Ela olha descaradamente para
meu corpo quase desnudo e morde os
lábios, até que ela é bonita, mas só pelo
simples fato de ser loira já me fez dar a
gorjeta e fechar a porta com força.
Como toda a minha comida, que estava
muito gostosa por sinal, e quando estou
pronto para dar uma descansada antes de
sair, vejo meu celular tocar novamente.
— Oi, Sam! — falo, me deitando
na cama.
— Oi, tio Zuco. Aconteceu
alguma coisa? — pergunta ela e eu
arregalo os olhos.
— Não, marrentinha, não
aconteceu nada. Por que a pergunta? —
pergunto após dar um pigarro.
— Nada demais, a voz do senhor
está estranha — diz ela e eu posso
ouvir a confusão na sua voz.
— Não, querida, está tudo bem.
Você não sabe onde estou. Advinha? —
falo porque sei que essa criatura é
curiosa.
— Onde? Fala logo, tio! — diz
ela, muito empolgada.
— Estou na Grécia! Lembra
daquele lugar bonito que eu te disse que
tinha vários Deuses incríveis? —
lembro a ela da conversa que nós
tivemos quando eu fui lá em Chicago.
— Lembro, sim, isso é tão legal!
O senhor prometeu levar eu e meus
primos — diz Sam com a voz mais séria.
— Eu sei, mas vocês ainda estão
tendo aulas e eu vim às pressas — solto
e ela fica quieta por um tempo. — Sam?
— Estou aqui! Cadê o Kay? —
pergunta de supetão.
— Ele ficou em casa dessa vez,
como eu disse foi uma viagem rápida —
falo sentindo falta de casa já.
— Papai Lucca! — grita Sam, me
fazendo ter que afastar o celular do
ouvido.
— Sam? Por que está chamando
seu pai? — pergunta e ela me ignora.
— O que foi, marrentinha? —
Ouço a voz de meu irmãozinho um
pouco distante e já faço cara feia. O que
essa menina está aprontando?
— Estou falando com tio Enzo e
ele está muito estranho — diz ela para
o pai, me ignorando totalmente.
— Será que ele está precisando
de uma reunião dos irmãos Aandreozzi?
— pergunta Lucca com um tom de voz
fingindo maldade. Isso faz sua filha rir.
— Tenho quase certeza, papai —
diz ela e eu bufo irritado. — Bye titio,
estou passando para o adulto. Eu ainda
não tenho idade para entender a
cabeça louca de adultos. — E com isso
eu posso ouvir a risada alta de Lucca.
— Dio! Minha filha é muito
incrível, não é? — diz meu irmão em
um tom orgulhoso. — O que está
acontecendo com você?
— Nada! Não tem nada
acontecendo comigo! — falo entredentes
e ele faz um som desgostoso. — Sam
estranhou porque eu viajei sem Kay.
— Você nunca sai do país sem o
seu cachorro de macho — Lucca fala
rindo e depois para abruptamente.
— O que foi? — pergunto
irritado.
— Espere um momento, vou ligar
para os outros dois. Eles vão gostar de
saber disso.
Sento-me na cama após soltar uma
forte respiração e fico esperando Lucca
ligar para o resto dos irmãos. Merda, eu
estou tão fodido! Não tem nada de
errado comigo, não é? Perder a ereção é
normal, nunca aconteceu comigo, mas
isso deve ser normal, não é? Não
importa, porque não tem nada de errado
comigo, eu sou a porra do mesmo Enzo
Aandreozzi de sempre, mas vai ser bom
falar com eles, pelo menos um assunto já
vai ser discutido, que são os Russos.
— Você já viu que horas são? —
pergunta Filippo com seu jeito rude de
ser.
— Não importa, nosso irmão está
estranho. Minha filha está preocupada
e fez o pedido da ligação dos irmãos —
Lucca diz com certa empolgação.
— O que você tem, Enzo? —
Filippo pergunta e eu reviro os olhos.
— Eu já disse que não está
acontecendo nada. Não tem nada de
errado, por que tudo tem que estar
errado? — pergunto me sentindo
irritado.
— Tem certeza, irmão? — Ouço a
voz de minha sorellina.
— Inferno, sim! — falo e ela não
gosta.
— Olha como fala comigo seu
bastardo! Eu arranco suas bolas e faço
você engolir cada uma delas temperadas
com sal — diz ela e eu não posso deixar
de rir.
— É impressão minha ou
sorellina está naqueles dias que não
podemos dizer? — pergunto fazendo
Filippo e Lucca responderem ao meu
tempo:
— Com toda certeza! — Os dois
dizem e eu rio com a irritação de Luna.
— Vão se foder! — diz ela com
raiva. — Não tente reverter a conversa,
Zuco.
— Também acho! Conte-nos a
razão de viajar às pressas para Grécia e
a razão de ter deixado Kay em casa. Seu
cachorro muito grande está em tudo —
Lucca diz e eu mordo a mandíbula com
força.
— Não fala assim de Kay, vocês
sabem que ele é... — Paro e os três
completam.
— Um cachorro de macho! —
dizem e eu dou um pequeno sorriso.
— Bem, como eu disse antes, eu
tive que vir — falo sem muito interesse.
— Você está com a voz de quando
Nonna leiloou seus cartões de
jogadores. Você lembra disso, Luna? —
Lucca pergunta rindo e Luna ri também.
— E como eu lembro, eu nunca o
vi tão irritado — Luna diz e bufo
novamente.
— Corta fora a merda, Enzo! Não
escondemos nada uns dos outros e você
não vai ser o primeiro a fazer isso. Fala
logo! — Filippo diz frio, com um tom de
voz forte.
— Eu sei, mas realmente não é
nada demais e eu vou falar — digo, não
me sentindo tão irritado como antes.
— Já não era hora — resmunga
Luna.
— Há quase dois dias atrás
Nonna me pediu para cuidar de um
amigo dela que eu não fazia ideia de
quem era. O ragazzo passou dez anos
nas mãos de uma das famílias Bratva,
mas conseguiu fugir e voltar para Itália.
Ele é o gerente daquela boate que ela
comprou — falo fazendo Lucca e Luna
ter suas reações, menos Filippo, que
continua quieto.
— Eu o conheço, na verdade o vi
atrás de vídeo chamada com Nonna. E
tenho que dizer que ele é lindo —
Lucca diz e eu dou um soco na mesa.
— Posso continuar a falar? —
peço entre dentes, sentindo uma puta
raiva.
— Santo Deus, eu não estou
acreditando! — Luna exclama surpresa.
— Não acredita em quê? —
pergunto desconfiado.
— Nada, irmão, continue falando
— ela diz, parando de falar
rapidamente.
— No hospital ele estava
machucado, muito assustado e querendo
fugir, mas nós conhecemos Nonna e
quando ela gosta de uma pessoa, ela
quer lutar por ela. Seu apartamento foi
todo destruído, eles estão querendo
brincar com ele, antes de fazer o que
querem realmente fazer. E agora ele está
na minha casa — conto e eles ficam
mudos por um tempo.
— Você tem certeza de que ele
não é um aproveitador que só quer nos
usar? Eu não vou permitir… — Filippo
começa a falar e eu o paro.
— Não fode, Filippo! Não sou
uma criança. Eu vejo o sofrimento nos
seus olhos e seus pesadelos são
horríveis. É muito difícil de presenciar
— falo, me sentindo angustiado por
saber que ele pode continuar a ter esses
pesadelos e eu não vou estar lá. Que
merda de sentimento é esse?
— Então, você está fugindo dele!
— exclama Lucca e eu franzo o cenho.
— Não! Claro que não, por que
faria isso? Ele é estupidamente bonito,
frágil. Não poderia me fazer nada. Por
que eu fugiria? — pergunto assustado.
— Vamos ter que adiantar nossa
viagem. Lucca e Luna, façam o mesmo.
Nosso irmão precisa de nós — Filippo
diz, me deixando confuso.
— Estou fazendo isso já. Na
verdade, eu já deveria estar aí, porque a
Mamma está me enchendo os ouvidos —
Lucca diz, cansado, e eu sinto certa pena
dele.
— Sim, estou fazendo isso
também — Luna diz e eu nego.
— Não que eu não esteja com
saudades de vocês, mas eu não estou
entendendo nada aqui. Estou bem e logo
estou voltando para casa — falo na
defensiva e eles não respondem nada.
— Tudo bem, irmão, mas nós
estamos adiantando a viagem do mesmo
jeito. Essa conversa tem que ser
pessoalmente. Tenho que ir. Meu marido
está acordando — diz Filippo,
começando a se despedir.
— Manda um beijo na boca de
Luti por mim — Lucca provoca e
Filippo rosna, me fazendo rir.
— Eu vou quebrar seus dentes,
seu bastardo! — Lippo diz, com raiva.
— Tudo bem. Eu acho Andrea
lindo, posso muito bem me aproximar
dele — Lucca diz e eu cerro os punhos.
— Filippo tem razão, Lucca. Você
fala muita merda — resmungo, com
raiva.
— A coisa está ficando séria! —
Luna diz, com espanto, fazendo Lucca e
Lippo afirmarem.
— Amo vocês! Enzo, não esqueça
que estamos aqui, se quiser conversar.
Para tudo e por tudo! Filippo diz e eu
engulo em seco.
— Sempre! — Luna, Lucca e eu
falamos ao mesmo tempo, antes de cada
um desligar a ligação.
Fico deitado na cama olhando
para o teto do grande quarto de hotel e
minha cabeça se transforma em um
turbilhão. O que está havendo comigo?
Eu nunca defendi ninguém,
principalmente defender dos meus
irmãos. Todo mundo sabe que Filippo
não gosta de Nardelli e não faz questão
de esconder, mas eu nunca falei nada na
intenção de defender Nardelli, para
mim, tanto faz como tanto fez, mas ver
Filippo falar de Andrea como se ele
pudesse ser um vilão, eu não gostei. Não
sei se é porque eu vejo sofrimento e dor
nos seus olhos ou se eu já o quero
protegido independentemente do que
seja.
Resolvo mandar uma mensagem
para Eros cancelando a minha saída com
ele. A minha cabeça está uma puta
confusão e sair assim não vai ser legal.
Para dispersar alguns pensamentos da
cabeça, eu decido começar a trabalhar.
Coloco uma calça jeans e me sento na
sala de descanso do quarto com o
notebook ligado e os óculos na cara.
Adianto muitas coisas que para mim
estavam ficando pendentes. Só paro
realmente quando percebo que os meus
olhos estão bastantes esgotados e que eu
preciso dormir.
— Mas já vai embora, pensei que
você fosse ficar mais tempo — Eros diz
quando vem me encontrar na pista de
voo.
— Sim, tenho coisas para
resolver. Já fiquei aqui tempo demais —
falo, porque dois dias para mim já basta.
— Você cancelou a nossa saída
naquele dia e eu esperarei até a
próxima, conheço um lugar ótimo — diz
ele e eu fecho a expressão.
— Não, não tenho interesse em
sair, minha vinda aqui foi a trabalho —
respondo e ele ri.
— Você fala como um homem
casado — Eros diz, me irritando.
— Não, isso não vai acontecer.
Você que é o casado mais promíscuo que
já vi — falo, tentando controlar meu
temperamento.
— Me casei por obrigação e não
por amor, não amo minha esposa e ela é
uma grande megera — diz ele soltando
um suspiro triste.
— Se não quer mais, separa,
simples assim — falo e ele nega com a
cabeça.
— Se fosse algo simples já teria
feito, mas não importa eu estou sempre
me divertindo por aí — Eros diz com
um grande sorriso e eu me contenho para
não revirar os olhos. Esse assunto não
me interessa!
— Certo, tenho que ir — falo
seguindo meu caminho e ele me chama.
— Enzo! — Viro para o encarar.
— Qualquer dia desses irei a Itália.
Depois de assentir a contragosto,
entro no jatinho, olhando novamente
para o relatório que Cyro fez dos dias
que estive fora. É complicado e irritante
saber que Andrea não tem horários na
sua vida.
Que pessoa não tem uma rotina?
Pelo o que Cyro disse, ele vai
para a boate no período da tarde e lá
fica até às cinco horas da manhã.
Será que ele não preza pela sua
saúde?
Pensei em ligar várias vezes para
saber como andam as coisas e
principalmente saber sobre Kay, mas
preferi não fazer nada. Entretanto, agora
estou voltando para casa e minha
primeira parada vai ser nessa maldita
boate.
Acordar o dia seguinte após ter
aquele encontro na cozinha com Enzo é
um pouco perturbador, mas eu não posso
evitar a realidade que eu realmente vi
aquele homem só de cueca na cozinha e
passei praticamente a madrugada inteira
pensando no seu corpo forte exposto e
como o modo que ele me olhou foi
quente. Quente de um jeito que ninguém
nunca me olhou, pois a maioria dos
olhares desejosos que se voltam para
mim são nojentos e asquerosos. Mas
com ele foi diferente, eu me senti
diferente. Sendo que, pela primeira vez
em toda minha vida, eu não consegui me
sentir como um simples objeto sujo.
Me sento da cama e a primeira
coisa que eu vejo é Kay deitado junto
comigo, mas precisamente no outro
travesseiro. Dou uma risada por saber
que ele é um pequeno fugitivo, ele
levanta a cabeça e vem todo manhoso se
arrastando na minha direção. O pego no
colo e dou um beijo na sua cabecinha
peluda e cheirosa que está com um forte
aroma do perfume de Enzo. Olho para
Kay sem entender e balanço a cabeça
por pensar que Enzo deve ter o colocado
aqui.
Vou tomar um banho e como hoje
é meu dia de folga resolvi começar a
cuidar desse grande lugar. Quando eu
estava escovando os dentes parei para
ficar me olhando no espelho, nunca
gostei da imagem que reflete nele.
Sempre achei que se eu não parecesse
tanto com minha mãe eu não poderia
atrair aquele maldito homem.
Suspirando e volto a escovar meus
dentes e dei uma leve risada ao ver que
Kay está puxando a bainha da minha
tolha.
— Não faça isso Kay! — peço e
ele se senta, me encarando. — Você é
um bom garoto, um verdadeiro bom
garoto — falo e ele balança o rabo. —
Vamos lá garoto, vamos fazer o café da
manhã para seu dono.
Falo colocando a minha escova no
suporte e indo direto para o closet,
coloquei uma calça jeans velha, uma
camisa que já deveria ter ido para o
lixo, mas eu gosto porque ela é a
primeira que eu comprei com meu
dinheiro, então eu gosto muito dela.
Após estar devidamente vestido ando
descalço pelo chão frio da casa de Enzo,
gosto muito desse contato com a frieza
do chão. Chegando à sala vejo um
homem no fundo da sala, tenho quase
certeza de que o vi ontem dirigindo o
carro de Enzo. Ele é muito alto, pelo
terno que está usando dá para ver que
ele deve ser muito forte, seus cabelos
são loiros escuros e seus olhos são cor
de avelã.
— Onde está Enzo? — pergunto e
ele vira na minha direção.
— O senhor Aandreozzi teve que
fazer uma viagem com urgência, mas
estará aqui em breve — diz ele e eu não
posso deixar de ficar decepcionado.
— Oh, tudo bem! Como é seu
nome? — pergunto curioso.
— Meu nome é Cyro, e eu estou
responsável pela sua segurança — diz e
eu não posso evitar de fazer uma careta.
— Tudo bem, é um prazer te
conhecer — falo calmamente e ele
assente.
— Você deve ser Andrea, estou
certa? — pergunta uma voz feminina e
eu me viro rapidamente para ver quem é.
Na minha frente está uma mulher
belíssima, sua expressão mostra
curiosidade, mas também uma doçura
que só uma mãe de verdade pode ter.
Assusto-me ao perceber como Enzo
parece com essa mulher, seus cabelos
longos e olhos castanhos, seu grande
sorriso que realmente lembra muito o
sorriso que Enzo dar em poucas vezes
que ele estava muito distraído, ela com
certeza é a sua mãe. Puxando um pouco
a memória tenho quase certeza de que já
a vi na boate, no dia da despedida de
solteiro. Se eu não estou enganado.
— Oh querido, não fique tão
assustado. Eu sou a mãe daquele sem
noção que viajou e te deixou aqui
sozinho — diz ela, andando até o sofá e
pegando uma sacola e me entregando,
mas não antes de pegar Kay no colo. —
Que surpresa você não ter ido com
Enzo, bolinha linda — brinca a mãe de
Enzo com Kay.
— O que é isso? Quer dizer, é um
prazer conhecer a senhora — digo,
querendo me chutar por falar assim com
ela.
— Tudo bem meu lindo, isso aqui
é o secador que meu filho pediu para
comprar e eu não tinha noção para quem.
Até que vi você de cabelos molhados,
Enzo tem um sério problema em não
querer ver ninguém doente — fala ela,
rindo do que diz, e eu continuo a olhar
para a sacola.
— Ele comprou mesmo —
murmuro e sinto uma mão tocar meu
braço.
— Claro que sim, se um dos meus
filhos fala que vai fazer uma coisa. Pode
ter certeza de que vão fazer — diz ela e
eu olho, vendo seu sorriso.
— Obrigado, eu disse a ele que
não precisava. Ainda mais fazendo com
que a senhora comprasse isso — falo,
me sentindo envergonhado.
— Mais veja, eu estou sempre por
aqui. Limpando a sujeira daquele ser
humano imundo — diz ela como se não
fosse nada.
— Como a senhora sabia meu
nome? — pergunto e quero me dar um
tapa na boca por ser um idiota.
— Nonna, ela me contou um
pouco sobre você — fala ela e eu
abaixo a cabeça, mas uma mão
carinhosa a levanta. — Não se
envergonhe daquilo que não teve culpa,
você foi e é uma vítima. Eu já estive no
seu lugar e sei como foi difícil para
superar o que me aconteceu.
— Como? — me espanto. — A
senhora já foi... — tento perguntar com
os olhos arregalados, mas nada sai. Ela
olha para mim e suspira.
— Sim e foi o momento mais
horrível na minha vida, mas foi lá que
encontrei o meu grande amor. Ele cuidou
de mim e tenho certeza de que meu filho
vai cuidar de você — diz ela com um
largo sorriso cheio de mistério e eu não
entendi o sentido que ela queria falar.
— A senhora não acha que eu
posso ser um charlatão? — pergunto,
engolindo em seco.
— Você é? — pergunta séria e eu
nego rapidamente. — Então aí está!
Confio em Nonna, ela é como uma mãe
para mim.
— Faz tempo que não sei o que é
ter uma mãe — solto sem querer e ela
me surpreende com um abraço.
A sacola caiu da minha mão ao
ser abraçado. Fiquei um tempo parado
sem saber o que fazer me perguntando se
eu deveria ou não retribuir o abraço.
Essa senhora que não me conhece está
aqui me acalentando, um acalento de
mãe, e eu não sei o que devo fazer. Sem
perder mais tempo passo os meus braços
ao redor do seu corpo e sinto um cheiro
leve e reconfortante que só uma mãe
pode ter. Dio, isso é tão bom! A mãe de
Enzo é uma mulher especial, eu sinto
que ela é muito especial.
— Reconheço a dor quando vejo,
mas saiba que você não precisa carregar
tudo sozinho se não quiser — sussurra
ela no meu ouvido.
— Obrigado! — é tudo o que
consigo dizer.
— Eu trouxe cannoli doce para
você e Enzo, mas como ele viajou, vai
ficar tudo para você e faça questão de
jogar isso na cara dele quando ele voltar
— diz ela saindo do abraço enquanto
enxuga os olhos.
— Ele gosta de cannoli? —
pergunto rindo da careta que ela faz.
— Enzo gosta de comer, tudo que
tem comida ele gosta — diz ela me
fazendo rir. — Tenho certeza de que ele
já está te enchendo o saco para comer.
Estou errada?
— Não, senhora — falo e ela
nega.
— Nada de senhora, por favor, eu
sou Arianna. — Pisca um olho e eu
afirmo. — Então vem, vamos comer e
conversar um pouco.
— Tudo bem! — falo pegando a
sacola do chão e colocando no sofá.
Depois eu levo para cima.
Chegamos na cozinha e o cheiro
de café dominou todo o lugar. Quando eu
vou começar a pegar os utensílios, a
senhora Aandreozzi não permite,
dizendo para deixar com ela. Nunca
entendi o que há com as mulheres e as
cozinhas, elas nunca permitem que
ninguém se intrometa quando elas estão
por perto, minha mãe pelo menos era
assim. Se algum de nós nos aventurasse
a ficar na sua cozinha era uma grande
luta. Nossa, lembro de minha mãe e olho
para a mãe de Enzo que nem me
conhece, mas está pensando em cuidar
de mim. Isso é tão estranho!
— A senhora não tem problema
com seus filhos se casando com outros
homens? — pergunto me sentindo
curioso e ela me analisa por um tempo.
— Primeiramente, nada de
senhora! E a resposta para sua pergunta
é: não. Eu nunca tive essa
problematização por saber quem meus
filhos amam, para mim e o meu marido o
mais importante é o amor. E se eles
estão amando e sendo amados, eu sou a
mulher mais feliz do mundo — diz,
colocando uma xícara do café na minha
frente. — Por que a pergunta, querido?
— Tomo um gole do delicioso café e
penso no que dizer.
— Meus pais não aceitaram
quando eu afirmo que gostava de
meninos. Eles me chutaram de suas
vidas — falo, tentando não encarar sua
fase.
— Sinto muito pelo o que
aconteceu com você, não posso falar por
seus pais, mas para mim nunca foi um
bicho de sete cabeças. Você já procurou
entrar em contato com eles? — ela
pergunta e eu nego rapidamente.
— Não! Não quero fazer isso,
sinto muita falta deles e só queria saber
se eles estão bem. Só isso — falo o
mais sincero possível.
— Você é um bom filho — diz ela
em um tom de admiração e eu dou de
ombros.
— Não, não sou e eu, às vezes,
sinto que falhei com eles — falo e ela
segura meu queixo com firmeza.
— Você não falhou com ninguém,
você era a criança que precisava de
orientação e infelizmente eles não
souberam lhe dar — afirma ela e eu olho
nos seus olhos, vendo uma verdade no
que ela diz. — Vamos falar de coisas
boas — diz ela, indo abrir uma vasilha
para tirar o cannoli. — Como é
gerenciar aquela boate? Don ficou louco
quando soube que a mãe tinha comprado
uma — diz e eu dou um pequeno sorriso.
— É muito cansativo, mas lá tem
pessoas que me ajudam bastante. Às
vezes, os rapazes brigam por besteira,
mas é só saber lidar — falo e mordo o
cannoli, gemendo de apreciação. —
Nossa, isso aqui está bom!
— Grazie, dolce ragazzo!
(Obrigada, doce menino!) — diz ela, me
fazendo rir.
— Francesca me falou que o seu
filho mais novo vai se casar — falo e
um grande sorriso surge nos seus lábios.
— Sim, meu menino vai se casar
daqui a poucos dias. Está tudo uma
loucura, mas as mulheres dessa família
estão muito empenhadas para que tudo
fique perfeito — diz ela, empolgada. —
Você está mais que convidado, esteja
ciente disso.
— Eu? Mas eu nem conheço os
noivos — lembro, bebericando o café.
— Não se preocupe com isso,
logo você vai conhecer todo mundo —
diz com um olhar conhecedor.
— Por que diz isso? — pergunto
com curiosidade, porque eu não sei o
que faria eles quererem me conhecer.
— Só porque você está morando
com o irmão deles e isso já é um grande
indício para eles virem te conhecer —
diz como quem não quer nada, como se
estivesse falando a coisa mais normal
do mundo.
— Oh, eu não sabia! — falo,
engolindo em seco.
— Não precisa ficar com essa
cara, meu querido, eles são como o pai
deles. Assustadores por fora, mas são
uns completos doces quando conhecem a
pessoa — ela diz e eu não fico
tranquilo.
— Se você diz – falo em um tom
baixo e ela dá um risinho.
— Espero que você entre para a
família – diz ela baixo, se virando para
pegar algo, olho na sua direção com uma
expressão confusa.
— O que disse? – pergunto e ela
dá um risinho, dizendo que não é nada
demais. Dou de ombros e volto a comer.
Fujo o tempo inteiro de todos os
eventos que Francesca me chama, na
intenção de não ter aproximação com
essa família. Família essa que eu tinha
certeza de que só tinha pessoas
incríveis, a prova das minhas suspeitas
está bem na minha frente, porque
Arianna Aandreozzi é uma mulher
maravilhosa, tanto por fora quanto por
dentro. Conhecê-la me fez ter a maior
certeza de como eu sinto por não ter os
meus pais por perto e ter todos esses
irmãos presentes e tão unidos, como
parecem ser, vai me mostrar o quanto a
minha irmã foi desagradável comigo,
irmã essa que eu amava
incondicionalmente e foi a que mais me
machucou. Eu estou tão perdido.
Arianna se despediu de mim,
dizendo que tinha coisas do casamento
ainda para ver e que logo seu marido
estaria a sua procura. Ela também me
falou que tinha uma loja de perfumaria e
quando me disse o nome eu não contive
a surpresa, porque essa marca é
conhecida no mundo inteiro. Quando
expressei minha surpresa, ela somente
deu uma batidinha envergonhada no meu
ombro e disse que não era tudo aquilo.
Além de ser uma ótima pessoa é
humilde, um grande complemento para
uma grande mulher. Observei aquela
grande mulher ir embora e eu me senti
feliz só por ter conversado um pouco
com ela.
— Kay, vamos procurar o que
fazer nesse lugar! — falo olhando para o
pequeno cachorro.
— Senhor, se quiser sair é só
falar que estamos à sua disposição —
diz uma voz grave e eu reconheço como
a de Cyro.
— Não se preocupe, eu vou ficar
por aqui mesmo. E, por favor, não me
chame de senhor — falo em um tom
calmo e ele assente.
— Sendo assim, estarei na área de
baixo, se quiser falar comigo na cozinha
tem um telefone que dá direto para nosso
ramal — diz Cyro de modo sério e
profissional.
— Muito obrigado! — falo e ele
assente, virando para ir até o elevador.
— Agora é somente eu e você,
Kay! — falo soltando um longo suspiro.

Dois dias se passaram e eu não


estou conseguindo dormir direito, mas
não é por causa dos meus pesadelos que
estão sempre presentes na minha vida e
sim pelos sonhos que estou tendo com
Enzo. O lado bom é que as lembranças
ruins do meu passado diminuíram um
pouco, mas o lado ruim é acordar com
uma ereção pensando no corpo nu de
Enzo. Não consigo tirar da minha
memória de como ele fica bem somente
de cueca branca, e o que mais me irrita e
me deixa desconcertado é que eu vejo
constantemente homens quase pelos, mas
nenhum me deixou do jeito que ele me
deixa. Sonhar com um homem totalmente
impossível para mim não é uma coisa
legal, isso é certo.
Agora eu estou na boate tendo que
aturar Fanny e Amauri me perguntando
por que estou tendo uma escolta para vir
à boate. E o pior de tudo é não saber o
que dizer a eles, mas dizer que eu estou
sendo protegido pelo neto de Francesca
porque estou fugindo da máfia Russa não
é uma opção. Enquanto estou arrumando
as coisas no salão para o show que
vamos ter hoje à noite. Olho para a
entrada e vejo Nick entrar com Melissa,
e pela cara dos dois a conversa não está
sendo a das mais agradáveis.
— Chegou o casal totalmente sem
noção! — resmunga Fanny e eu dou um
suspiro porque sei o que está por vir.
— Até que essa cretina tinha
demorado uns dias para aparecer — diz
Amauri, olhando o casal com cara
azeda.
— Não sei quantas vezes eu vou
ter que dizer que não quero você mais
nesse lugar. Não está vendo que isso
aqui é um lixo! — exclama Melissa,
balançando os braços de um jeito
nervoso.
— Mel, por favor, estamos no
meu local de trabalho e aqui não é lugar
para isso — diz Nick com um tom baixo,
mas aparenta estar irritado.
— Eu não quero saber, é bom que
esse aí te demita — diz, apontando para
mim com desdém.
— Olha aqui, cara de pato ruivo,
acho melhor você falar direito com o
nosso chefe! — Amauri se exalta e
Fanny já cruza os braços olhando
Melissa com raiva.
— Obrigado Amauri e Fanny, mas
podem deixar comigo — falo de modo
sério e calmo.
— Desculpa por isso, Andrea —
pede Nick e eu assinto, mas direciono
meus olhos para a sua namorada.
— Melissa, aqui não é lugar para
você ficar fazendo esse tipo de coisa —
falo olhando sério para ela.
— Não, aqui é lugar para fazer
putaria e você servir de cafetão para o
meu namorado — diz ela com raiva e
Nick arregala os olhos.
— De onde você tirou isso, Mel?
Por Deus, eu sou dançarino da casa,
aqui não existe isso. — Nick fica
surpreso com que sua namorada fala.
— Peço que retorne o mesmo
respeito pelo qual eu estou falando com
você. Suas atitudes não são aceitas aqui.
– Fito Melissa me sentindo irritado e ela
cruza os braços em desafio.
— Se você acha que pode me tirar
daqui está enganado — diz ela em um
tom de desafio.
— Algum problema aqui, senhor?
— pergunta Cyro, fazendo Melissa
arregalar os olhos de surpresa.
— Não Cyro, a senhorita já está
de saída — falo calmo e ela fez uma
cara azeda.
— Está vendo como eu sou
tratada pelas pessoas que você diz que
são seus amigos, Nicanor? — pergunta
ela começando um choro fingido.
— Vá embora Mel, eu tenho
trabalho a fazer. E pode ter certeza de
que eu não vou ser demitido por causa
de você — diz Nick, pedindo licença e
indo para os fundos.
— Volte aqui, Nicanor! — grita
ela, mas Nick está longe.
— Como você pôde ver, Nicanor
trabalha aqui porque quer e você está
totalmente errada com suas hipóteses. Se
retire, por favor, pois temos um lugar
para organizar — falo e antes que ela
diga alguma coisa, Cyro toma frente,
incentivando-a sair.
— Mulherzinha desagradável!
Vem cá, onde foi que você me arranjou
esse pedaço loiro? — pergunta Amauri
se referindo a Cyro.
— Eu ouvi isso e não estou
gostando — fala Paul, que está perto de
um Louis bastante sorridente.
— Você adora estragar com as
coisas, Sorvetão! Mas eu te amo! — diz
Amauri, indo até seu namorado.
— Esses dois formam um casal
estranho e totalmente agradável — sorri
Fanny ao ver o casal aos beijos.
— Tenho que concordar com
você, mas vamos trabalhar que falta
pouco para abrir a boate — falo e ela
assente.

A noite foi agitada, muitos homens


e mulheres presenciando o show dos
meninos. Estou pensando em fazer algo
diferente que vai além dos shows deles
e assim a boate vai poder abrir mais
vezes na semana e dar um bom lucro.
Mas para isso eu vou ter que conversar
com Francesca, ela adora ideias novas e
está sempre disposta a ouvir. Estou
vestido de calça jeans, camisa verde e
blazer preto e vou aproveitar que os
shows de hoje estão perto do fim e vou
dar uma passada do nos camarins.
Chegando lá vejo Nick de cabeça baixa
pensando na vida, decido que é melhor
não atrapalhar. Do outro lado vejo Dália
aos beijos com Austin, espero que ela
saiba o que está fazendo porque Austin
não é uma pessoa que possa se
apaixonar.
E Dália com toda a sua pose de
mulher fatal, não está menos suscetível a
não cair pelo loiro com rosto de
príncipe encantado, mas com um
coração tão obscuro quanto os dos
vilões. Sou sincero ao dizer que ele é
realmente desagradável. Vejo também
Fanny conversando com Nero que
gesticula e tenta fazer com que a mulher
com gênio ruim presta atenção nele. Um
dia vou tentar conversar a sério com
Fanny sobre isso, tenho quase certeza
que um dia desses ela vai ceder, e
pensar nisso me faz rir.
— Seu sorriso é a coisa mais
linda de se ver, mas tenho certeza de que
ouvi seu gemido no meu ouvido é
melhor — diz Matias se materializando
na minha frente, usando somente uma
pequena tanga e corpo molhado de suor.
— Sai da minha frente, eu tenho o
que fazer — falo, me sentindo nervoso
com sua aproximação, algo que está se
tornando pavor.
— Até que dia você vai conseguir
evitar que me quer assim como te quero?
— pergunta ele e eu posso sentir minhas
costas batendo na parede.
— Não vou falar de novo, Matias.
Ubiraysya ot menya! (Se afasta de mim!)
— falo me sentindo totalmente enojado.
O cheiro do seu corpo suado está
entrando nas minhas narinas e isso é
sufocante.
— Me dê um beijo, um simples
beijo — diz ele, colocando suas duas
mãos na parede abaixando a cabeça de
encontro com a minha.
— Net! Otpustite menya! (Não!
Me deixe ir!) – falo em russo sem
conseguir me controlar, sentindo meu
corpo começar a tremer.
— Se você aproximar esses seus
lábios imundos dele, pode ter certeza de
que em seguida seu corpo estará sem a
cabeça. Portanto, se afaste dele
imediatamente ou eu vou acabar com
você. — A voz de Enzo se faz presente e
eu posso respirar tranquilo.
Não sabia o quanto eu sentia
saudade de ouvi-lo e isso é totalmente
estranho, pois só de escutar sua voz eu
posso sentir que estou seguro.
ENZO AANDREOZZI

Desço do avião e a primeira coisa


que eu faço é mandar me levarem direto
para a boate que Andrea trabalha.
Primeiro de tudo eu quero ver como é
esse lugar, observar direto a
vulnerabilidade que ele deve ter naquele
lugar que é aberto ao público. Sei que
fui precipitado em viajar assim sem
antes conversar com Andrea sobre como
deve agir para sua segurança, não sou
homem de falhar nas minhas promessas,
mas como ele eu sinto que é diferente
mate-lo seguro é minha total prioridade.
Eu estou em um turbilhão de sentimentos
estranhos.
Chego em frente ao lugar e vejo
de cara dois seguranças que eu conheço
dos treinamentos que fizeram comigo.
Lembro perfeitamente de liberar dois de
meus homens para Nonna, porém, não
fazia ideia de que ela iria colocá-los
como seguranças do lugar. Assim que eu
saio do carro eles me reconhecem de
imediato e eu afirmo com a cabeça,
passando por ambos. A primeira coisa
que eu vejo no lugar é a pouca claridade
e as mesas lotadas de pessoas gritando
coisas bastante obscenas e meus olhos
vão direto para o palco onde tem um
homem dançando praticamente pelado,
cerro os punhos e aperto meu maxilar
com força. Procuro por um pequeno
loiro passando meus olhos com firmeza
por todo o lugar e não o encontro. Isso
só piora a minha irritabilidade e eu nem
sei o porquê.
Inferno!
Timóteo se aproxima de mim e
aponta para onde Cyro está, vou
decidido a questionar o que ele está
fazendo aqui e não no lugar onde ele
com certeza deveria estar. Mas ele me
afirma que Andrea se encontra nos
fundos onde ficam os camarins. Cyro
ainda aponta para os lugares
estratégicos onde ele colocou mais
homens e eu afirmo sem falar mais nada,
pois minha atenção maior está em
procurar o paradeiro do pequeno loiro.
Percebo que o show fajuto que estava
acontecendo encerrou e sigo meu
caminho para o lugar que eu conheci há
um ano quando vim aqui.
Passando pelo corredor algo me
faz parar rapidamente e ao prestar mais
atenção percebo que o que me fez parar
foi justamente a voz de Andrea em um
tom assustado. Merda, será que já
conheço até seu tom de voz? Não
importa! Vou andando com passos
rápidos e a cena que vejo me faz querer
ter minha arma nesse momento para
poder acertar um tiro preciso na cabeça
do bastardo que está praticamente nu e
bloqueando a passagem de Andrea.
Daqui dá para ver o quanto Andrea está
assustado se esquivando de suas
investidas e mesmo que não estivesse eu
já estaria lá o tirando. E é isso que irei
fazer, ao chegar mais perto ouço a
Andrea falar em Russo mandando o filho
da puta o soltar.
— Se você aproximar esses seus
lábios imundos dele, pode ter certeza de
que em seguida seu corpo estará sem a
cabeça. Portanto, se afaste dele
imediatamente ou eu vou acabar com
você — falo com ódio, sentido um frio
tomar conta da minha espinha.
— Não está vendo que estou tento
uma conversa particular aqui? — diz o
filho da puta com um sorriso largo, me
fazendo querer quebrar sua cara.
— Estou vendo que se você não
liberar a passagem de Andrea nesse
momento, eu vou quebrar suas duas
pernas — falo entredentes, percebendo
que o corpo de Andrea está tremendo
novamente.
— Quem é você e como ousa me
ameaçar? — pergunta o puto, me
causando mais ódio, mas neste momento
Andrea precisa sair daqui. Não gosto de
vê-lo tão amedrontado.
— Andrea, abra os olhos e venha
aqui — peço com a voz firme e calma.
— Duvido que ele vá, já que nós
somos íntimos — diz o filho da puta
rindo, mas eu tento permanecer calmo
para não assustar Andrea, que mais
parece um pequeno filhote assustado.
— Andrea? — chamo novamente
e seus olhos se abrem. — Venha! —
Estendo minha mão e ele aproveita que
o bastardo está distraído para vir na
minha direção.
Acomodei seu corpo tremendo
entre meus braços e dei um aperto
calmante. Senti seu coração batendo
mais forte e seu rosto estava enterrado
no meu peito. Dio mio, ele se encaixa
perfeitamente nos meus braços de um
jeito que chega ser totalmente
reconfortante. Aperto mais seu corpo
contra o meu e abaixo minha cabeça em
direção aos seus cabelos sentindo a
fragrância floral deliciosa. A partir do
momento que sinto seu corpo totalmente
calmo me afasto por um momento e
levanto sua cabeça o fazendo olhar nos
meus olhos. Como no inferno ele pode
ser tão lindo? Eu estou tão, tão fodido.
— Você está bem agora, anjo? —
pergunto e ele continua a me encarar.
— Onde você estava? — pergunta
em forma de sussurro e eu me derreto
por dentro.
— Eu estava na Grécia a trabalho,
mas estou de volta — falo em um tom
baixo e ele assente.
— Tudo bem! — diz ele com as
bochechas vermelhas eu não contenho
meu impulso, o puxando nos meus
braços novamente.
— Vá com Cyro que eu vou
terminar uma coisa aqui — falo e faço
sinal para Cyro se aproximar.
— Mas eu ainda tenho que fechar
a boate — fala ele arregalando os olhos
e eu nego.
— Não anjo, tenho certeza de que
outro pode fazer isso — falo levantando
minha cabeça e a mulher negra que
conheci na clínica afirma com a cabeça,
mesmo nos olhando sem entender nada.
— Tudo bem então, mas não vai
ser todo dia que você vai me tirar do
trabalho — diz ele sério e eu juro que
quero rir, mas me contenho. Por mim ele
nem pisa mais aqui!
— Certo, agora vá com Cyro —
falo, soltando um pigarro e ele afirma.
Soltei ele meio relutante e o
observei passar na frente de Cyro e
andar até a saída do lugar. Assim que
ele saiu voltei meu olhar para o
maledetto que estava me olhando com
raiva. Vi pelo canto dos olhos mais
alguns homens também com pouca roupa
aparecerem e minha irritabilidade só fez
aumentar. Que inferno de lugar é esse?
Mas esse não é o questionamento que
tenho que fazer agora. Avanço com
passadas rápidas e precisas até o filho
da puta o batendo com força na parede,
o puxei de volta e fiz o mesmo
movimento. Ouço os homens gritarem e
avançarem para me tirar de cima do
puto, mas a mulher negra e Timóteo os
impedem.
— Nunca mais, nunca mais em sua
maldita vida inútil, assuste Andrea
daquele jeito — falo, o vendo
cambalear pela batida de sua cabeça na
parede.
— Você não é ninguém, você acha
que pode me impedir de tê-lo se ele
quiser — fala ele tentando se recuperar
e eu cerro os punhos, sentindo minha
unha perdurar a carne. Minha vontade de
esmagar sua cara com vários socos é
muito grande.
— Você disse certo, se ele quiser.
Coisa que não vai acontecer, então fique
longe dele — falo apontando o dedo na
sua direção.
— E se eu não quiser? —
pergunta o bastardo e percebo que ele
quer avançar em mim.
— Eu faço você querer, pode
apostar sua vida nisso — falo
entredentes.
— Por que essa importância toda
com Andrea? — pergunta ele sem
esconder sua irritação.
— Não te devo explicações, mas
uma coisa que eu posso lhe dizer é que
ele é MEU. E o que é meu ninguém deve
ousar tocar — respondo, o vendo me
olhar sem acreditar e tenho que
confessar que nem eu estou acreditando
no que acaba de sair da minha boca.
Mas foda-se, depois eu tento
entender.
— Vai se foder, seu idiota
presunçoso! — grita ele, tentando vir
para cima de mim.
— Não tente fazer o que acha que
pode fazer. Pode ter certeza de que você
vai se arrepender — digo em um tom
frio, pois eu não quero iniciar uma briga
no estabelecimento de Nonna, ela me
mataria.
— Está correndo de levar uma
surra? — ele questiona e eu reviro os
olhos.
— Só não quero que minha Nonna
veja a sua boate e seu dançarino
quebrado. E se você ficar na sua, tenho
certeza de que seu corpo continuará
intacto – respondo, o deixando mais
ainda irritado.
— Vamos lá Matias, não vamos
procurar briga com o neto da nossa
chefe. E fora que você está sem razão,
como pode ficar pressionando o Andrea
assim — diz um homem alto e forte com
cabelos longos. – Vamos, ainda temos o
show de finalização — diz de modo
calmo e vai puxando o tal Matias, que
vai passando por mim e me olhando com
raiva. Ainda sinto que ele vai me dar
muito trabalho.
— Lembre-se de não encostar
mais em Andrea ou eu não vou ser tão
solidário como estou sendo agora – falo
sério e ele ainda tentou avançar, mas foi
impedido.
— Isso foi realmente quente! —
Disse uma mulher vestida de couro
passando a língua sobre os lábios
carregados de batom vermelho.
— Tira o olho cadela! — Disse a
mulher negra empurrando a outra. Sem
me importar com os olhares sobre mim
eu fui até ela.
— Como é seu nome? — Pergunto
sério e ela me encarou.
— Fanny. — Responde e eu
assinto.
— Parece que você fica
responsável do lugar quando Andrea não
está. Estou certo? — Pergunto e ela
assente.
— Isso mesmo eu sou a
subgerente. — Responde ela e eu
assinto.
— Ótimo, estou levando Andrea
para casa. — Falo virando para sair,
mas uma mão pegou meu pulso e eu
olhei para sua mão com uma expressão
sombria e ela soltou automaticamente.
— Cuide de meu amigo, tudo
bem? — pede em um tom calmo e eu
relaxo, assentindo.
Sai da boate não gostando nada de
ter Andrea nesse lugar. Inferno! Minha
vontade era dizer a ele para nunca mais
voltar aqui, mas sei que dizer isso é
totalmente errado, ele não é nada meu
para eu falar uma coisa dessas e mesmo
que fosse eu não teria o direito. Cheguei
na porta e vejo o meu carro estacionado
no meio fio com Cyro e mais um
segurança protegendo a porta. Cyro abre
a porta para que entre no carro, mas
antes de entrar tenho uma sensação
estranha de estar sendo observado, olho
por toda a rua e não vejo nada que me
fizesse entrar em alerta. Mas sei que
estou sendo observado e eu tenho que
tirar Andrea daqui com urgência.
Entro no carro e a primeira coisa
que vejo é o pequeno loiro dormindo
profundamente. Observo atentamente
cada traço do seu belo rosto
adormecido, seus lábios rosados com
uma pequena abertura, seus cílios
grossos, os fios rebeldes tomando conta
da metade de sua face. Levanto a mão
para tirar os fios do seu rosto e aperto
minha mão com força tirando essa ideia
absurda que surgiu na minha cabeça.
Viro minha cabeça para a janela e
respiro fundo, pensando no que está
acontecendo comigo. Não entendo essa
minha raia possessiva com relação a
ele, e muito menos como posso dizer
que ele é meu. Sinto-me tão confuso,
muito porra de confuso.
Sinto o carro parar e volto meus
olhos novamente para o homem
adormecido ao meu lado. Me aproximo
um pouco e faço o que queria fazer a um
tempo atrás, passo minha mão pelo seu
rosto tirando os fios de ouro. Deus me
perdoe se eu tiver me aproveitando de
seu sono para fazer isso, mas é
impossível de resisti.
— Anjo? — Chamo e me assusto
com o que falo, solto um pequeno
arranhar na garganta. — Andrea acorde!
— Oi? Hum? — Ele desperta
devagar e seus olhos sonolentos recaem
sobre mim. — Chegamos? — Pergunta e
eu afirmo, me afastando rapidamente.
— Vamos subir, lá você vai
dormir. Podemos conversar amanhã. —
Falo saindo do carro.
— Se você quiser podemos
conversar agora. Disse ele assim que
saiu do carro.
— Não, isso pode ser conversado
amanhã. — Falo tentando não o encarar.
— Está com fome? Posso
preparar algo para você comer se quiser
— diz ele em um tom baixo e eu fiquei
tentado a aceitar, mas eu prefiro não.
— Agradeço a sua preocupação,
mas eu vou dormir. — Agradeci e assim
que o elevador abriu, ele passou na
frente.
— Tudo bem então. Buona notte,
Enzo. — Com isso saiu rápido em
direção às escadas.
— Buona notte, Ângelo. —
Murmurei e senti algo na minha perna
me acordando dos pensamentos. — Ei
garotão! Andrea cuidou de você? —
Brinquei com Kay que estava muito feliz
em me ver.
— Eu sei carinha, também senti
falta do meu filho. — Falo aceitando as
lambidas no meu rosto.
Coloquei minha pasta em cima do
sofá e já fui tirando minha roupa.
Ficando somente com a calça social,
deixei tudo na sala e fui andando para a
cozinha descalço, não gosto muito de
ficar descalço só que é bem melhor que
ficar com aquele sapato infeliz me
apertando. Abro a geladeira tentando
achar a sobra de alguma coisa, mas para
minha tristeza não acho nada, fico com a
geladeira aberta tentando ver o que
comer.
— Eu sabia que você estava com
fome. Sai daí que vou fazer algo rápido
para você — disse Andrea na entrada da
cozinha com os braços cruzados.
— Bem, acho que estou com
fome. — Falo coçando a cabeça e vi seu
pequeno sorriso.
— Senta-se aí e deixa-me cuidar
disso — diz ele entrando na cozinha
usando uma calça de moletom cinza e
uma camisa branca. Vi ele olhar para
mim por um tempo e depois desviar.
— Obrigado! — Falo sério e ele
fez um gesto com as mãos. — Você vai
comer também, certo? — Pergunto e ele
assente sem me olhar.
— Não é nada demais e sim eu
vou comer também — diz ele e eu
afirmo tentando não olhar para ele nesse
exato momento que está prendendo o
cabelo. Dio, por que eu acho isso sexy?
— Agora eu entendo por que
Francesca e Arianna dizem que você é
bagunceiro. Nossa, você acabou de
deixar a sala a maior bagunça. — Ele
disse distraído pegando os ingredientes
de dente da geladeira.
— Você conheceu Mamma? —
Pergunto curioso e ele confirma.
— Sim, ela é uma pessoa incrível
— diz ele em um tom calmo olhando
para mim.
— Sim, ela é! — Minha
curiosidade para saber o que eles
conversaram é grande, mas prefiro não
perguntar.
— Você não machucou Matias,
machucou? — Pergunta ele de repente e
eu cerrei os olhos na sua direção.
— Matias é o bastardo que estava
te assustando? — Pergunto e ele assente
sem em olhar. — Por que você está
querendo saber se ele está machucado?
Está com pena? — Pergunto rudemente
me sentindo irritado.
— O que? Não! Claro que não! É
porque ele é o preferido entre os
meninos e ele machucado a noite de
shows pode ser fraco. — Falou ele sério
e tranquilo como sempre quando
conversa.
— Vontade que de quebrar ele no
meio não me faltou, mas preferi não
fazer isso. — Falo com sinceridade e
ele parou o que estava fazendo e olhou
para mim.
— Por que você fez isso por
mim? Não que eu não esteja agradecido,
mas eu sempre consegui sair dar
investidas de Matias. — Falou ele e eu
me levantei da cadeira.
— Ele sempre está tentando algo
com você? Que filho da puta! —
Pergunto indignado e Andrea nega.
— Isso não é nada, não sei que
deu nele hoje. Mas vou ter uma conversa
séria com ele. — Falou ele indo para o
fogão.
— Acho bom mesmo porque se
ele continuar com isso eu vou acabar
com ele. — Falo entre dentes e Andrea
parou por um tempo.
— Por que você se importa? —
Oh doce Jesus! Essa pergunta de novo?
Minha vontade é de dizer novamente que
ele é meu, mas acho que vou assustá-lo
ou eu vou ficar mais confuso que já
estou.
— Bem, porque eu não quero ver
você assustado daquela maneira. —
Falo tentando ser o mais conveniente
possível.
— Entendo. — Responde ele
simplesmente voltando a sua atividade.
— Queria falar com você sobre a
sua segurança durante o seu tempo no
trabalho. — Falo chamando sua atenção.
— Aquele lugar é aberto ao público,
então a probabilidade de alguma coisa
acontecer é bem grande.
— Você acha que eles podem
destruir a boate? — Pergunta ele
assustado e eu nego.
— Não me importo nem um pouco
com a destruição da boate, ela pode ser
consertada. Já você? Você não é algo
que eu queria ver machucado. — Falo e
ele me olhou por um tempo, eu sustentei
o olhar, mas ele se esquivou.
— Tudo bem, eu entendo. Você
quer garantir a sua avó que eu vou estar
bem. — O que? Olhei para ele confuso.
— Aqui, fiz duas grandes
omeletes para você, já que sei que você
vai comer — diz ele apressadamente.
— Obrigado! — Murmurei
sentindo o aroma gostoso da omelete.
Ele assente e se sentou para
comer também, mas o dele era muito
menor que os meus dois. Fiquei tentado
a colocar mais um pedaço no seu prato,
mas eu não quero parecer um
inconveniente. Assim que terminarmos
de comer Andrea limpou a cozinha
rapidamente e subiu para dormir. Fui
para o meu quarto tomar um belo banho
para poder dormir, essa viagem por
mais rápida que fosse ela me cansou
bastante. Após o banho me deito na
cama com meu cãozinho e acabo
adormecendo.
Acordo no meio da noite ouvindo
lamentamos sofridos, Kay está de pé na
minha cama em alerta olhando para a
porta. Fico parado um momento até que
eu ouço novamente os lamentos e
levanto apressado porque eu sei de onde
vem esse som. Corri para o quarto de
Andrea com Kay no meu encalço. Ao
abrir a porta o vejo se debater na cama,
com os olhos apertados com força e o
corpo muito suado.
— Anjo? Ei anjo acorde, é só um
pesadelo você está bem. — Falo, me
sentando na cama e colocando a mão na
sua testa. Continuou a chamá-lo em tom
baixo até que ele desperta com os olhos
arregalados.
— Enzo? — Pergunta atordoado e
olhar para seu rosto sofrido me corta
por dentro.
— Sim, anjo sou eu! — Sussurrei
e ele se jogou nos meus braços por
impulso. Sensação boa!
— Eu não quero mais ter esses
pesadelos, dói muito. Não aguento mais
isso, me ajude, por favor! — Pediu ele
em um tom muito baixo e eu tive que me
esforçar para ouvir.
— Estou aqui e não vou sair. —
Falo e afastei seu corpo do meu. Ele me
olhou por um tempo sem entender e eu
rodei a cama indo para o outro lado.
— Mas o que… — Disse ele
meio sonolento, mas se calou quando eu
me deitei na cama.
— Vem, vou te ajudar. — Falo
com uma expressão séria e ele me olhou
envergonhado, mas eu estava com sono
então o puxei para deitar também e bem
próximo a mim. — Pronto assim está
bom, vamos dormir — digo e espero-o
se acomodar direto.
— Obrigado! — Disse ele
baixinho e eu olhei na sua direção e
assinto.
— Oh Kay, vem garoto! — Falo
ouvindo o choramingar de Kay que não
consegue subir em uma cama tão grande.
— Agora sim! Vamos dormir! — Falo
nervoso e vi o safado do Kay se
aproximar de Andrea é já começar a
dormir. Sem vergonha!
Observei Andrea cair no sono
profundo e fiquei me perguntando por
que diabos eu estou fazendo isso,
decidido a não pensar demais resolvo ir
dormir também.
Graças a Deus eu acordei
primeiro que Andrea, passei um tempo
contemplando sua beleza torturadora de
pau. Sim, porque meu pau está duro
como pedra e eu decidi correr para o
meu quarto e bater uma como um
maldito pervertido. Fiz minha higiene,
me arrumei para ir à academia e ao
olhar para o meu celular vejo que tem
uma ligação de Nardelli. O que esse
sujeito quer comigo uma hora dessas?
Retorno a ligação e ele disse que
estava vindo usar minha academia e que
só tinha esse momento para falar
comigo. Primeiro o mandei ir à merda e
depois disse que ele podia vir, vai ser
bom bater em alguém que sabe lutar.
Assim que ele chegou os seguranças o
mandaram direto para a minha
academia. Trocamos cumprimentos e
iniciamos um aquecimento básico.
— Então fala logo o que você
queria falar comigo. — Falo com toda
minha seriedade enquanto estávamos
trocando golpes.
— Você tem certeza de que quer
falar sobre isso enquanto lutamos? —
Pergunta ele arqueando a sobrancelhas.
— Eu estou perguntando não
estou? — Rebati e ele me acertou um
soco e isso me irritou.
— Olha a boca filhote! — Disse o
filho da puta e eu devolvi o soco.
— Filhote é meu pau! Às vezes eu
me pergunto por que eu ainda falo
contigo. — Falo entre dentes e ele deu
de ombros.
— Me faço a mesma pergunta. —
Retrucou me fazendo desviar.
— Fala logo que porra está
acontecendo. — Falo e ele assente.
— Como você mesmo sabe, até
hoje não conseguimos capturar Frank o
ex-capanga do seu tio Paolo. E eu fique
sabendo que ele está reunindo a
Finastella novamente — disse Nardelli
sem rodeios é um ódio fora do normal
toma conta de mim e eu descontei nos
golpes.
Como esse filho da puta ousa
voltar? Uma merda quando vem, não
vem sozinha vem totalmente
acompanhada. Não basta ter que cuidar
dos russos que querem tirar Andrea de
mim e agora vou ter que averiguar esse
assunto da volta de Frank Attenezi. Mas
seja o que for que esse maledetto esteja
querendo tenho certeza de que nós da
família Aandreozzi vamos cuidar dele.
— Esse assunto não é seu, sugiro
que você e sua tropa de agentes de
merda fiquem longe disso. — Falo e ele
me olhou irritado.
— Se você acha que vou ficar de
fora você está enganado. — Cuspiu
Nardelli.
— Seja como for só não cruze
meu caminho, sabe que posso ter um
respeito por você, mas os limites ainda
existem. — Falo e ele assente.
— Eu sei bem! — Disse ele
tentando me golpear mais eu fui mais
rápido.
— Está ficando velho! —
Lembrei ele ficou mais puto.
— Vou te mostrar o velho seu…
— Ele foi interrompido com a presença
de um pequeno loiro.
— Oh, me desculpe eu não sabia
que estava acompanhado. Cyro me disse
que estava aqui — disse Andrea sem
jeito lindo como sempre usando calça
jeans e regata, com seus malditos
cabelos presos com uns fios soltos na
frente. Percebi que o bastardo do
Nardelli o encarava descaradamente e
isso me irritou profundamente.
— Não tem problema, quem é
você? — Pergunta Nardelli e sem
pensar muito lhe acertei um chute forte
na panturrilha o fazendo cair com tudo
no chão.
— Oh! — Disse Andrea de olhos
arregalados vendo Nardelli cair. Eu
continuei a olhar como se nada tivesse
acontecido.
— O que veio me perguntar,
Anjo? — Foda-se! O chamo como eu
quiser.
— Eu fiz o café da manhã, vim te
avisar — disse ele e minha expressão
suaviza.
— Logo estarei lá. — Falo
esperando que ele saísse logo, sua
beleza é muita e Nardelli é um puto.
— Certo! — Disse e quando
estava saindo voltou apontando para o
homem caído e gemendo de dor. —
Coloca mais um lugar na mesa? —
Pergunta e eu nego rápido.
— Não, ele já está indo embora.
— Falo entre os dentes e Andrea deu de
ombros e seguiu o seu caminho.
— Que diabos foi isso Enzo? —
Pergunta Nardelli e eu apontei o dedo
para ele.
— Para te lembrar que mesmo
sem nunca ter dito, que ele está fora dos
limites para qualquer um. — Falo com
ódio e saindo logo em seguida, porque
eu tenho um café da manhã para tomar.
Acordei hoje com uma sensação
incrível de leveza, eu nunca tinha
dormido mais de duas horas sem ter
pesadelos com as coisas que
aconteceram comigo na Rússia. Mas a
presença de Enzo me acalma e me deixa
em segurança até dos meus sonhos
turbulentos. Minha vontade era de
encostar meu corpo no seu grande e
forte, me agarrar a ele durante a noite e
sentir seu cheiro, mas isso seria
totalmente errado. Errado porque ele
nunca permitiria que um sujeito sujo
como eu fizesse qualquer movimento
sobre ele. Mas porcaria, eu queria
muito. Queria de um jeito que eu nunca
quis nada na minha vida, eu me sinto tão
mal com relação a isso.
Desejar as coisas que eu quero
com ele é tão equivocado de minha
parte, pois sei que Enzo só faz essas
coisas por mim por causa da promessa
que fez a Francesa e ter essa certeza é
como levar o soco no estômago. Nunca,
nunca em todos meus 26 anos de vida eu
tive vontade de beijar uma boca tão mal
como eu quero beijar Enzo. Deus, eu
acho que se isso é tão sem sentido, já
que eu jurei nunca mais deixar outro
homem tocar meu corpo. Mas estar perto
dele é como quebrar todas as barreiras
protetoras que eu projetei sobre meu
corpo.
Isso não pode acontecer, eu não
posso em permitir me apaixonar por
Enzo. Ele não merece que uma pessoa
como eu tenha qualquer querer em
relação a ele. Eu sou sujo, meu corpo é
sujo, eu fiz coisas ruins, eu fui forçado a
ser como eu sou. Prefiro continuar a me
comportar como um robô que sabe suas
atividades e as efetua sem precisar ter
sentimentos. Eu preciso ser assim! Mas
inferno se isso não é terrível, aquele
homem é uma coisa de outro mundo de
tão perfeito, ninguém no mundo deveria
ser assim. Aprendi com minha vida que
algumas pessoas são ruins e ferem as
pessoas se lhe dão a chance, mas Enzo é
diferente. Ele consegue ser tão
cuidadoso, seu abraço é tão incrível e
acolhedor. Chega, tenho que parar de
pensar!
— Andrea! — Ouvi a voz de Enzo
e meu coração foi em disparada.
— Sim? — Pergunta sentindo meu
rosto esquentar.
— O que foi que aconteceu? Você
estava em outro mundo, te chamei várias
vezes e você não ouviu. — Disse ele me
analisando e eu nego.
— Não foi nada, eu estava
pensando que tenho que ir à boate hoje.
— Falo rapidamente e ele fechou sua
expressão.
— Vai averiguar aquele dançarino
sem noção? — Pergunta irritado e eu
olhei sem entender.
— Quem? Matias? — Pergunto
confuso e Enzo esfregou a mão no rosto.
— Olha, eu não gosto daquele
homem. Ele me parece ser um bastardo
sem noção. — Falou ele soltando uma
forte respiração.
— Não se preocupe, eu sei cuidar
de Matias. Ele não vai me importunar
mais. — Falo, me sentando para poder
tomar café.
— Não confio, mas acho melhor
ele te ouvir para preservação de sua
vida. — Enzo disse apertando o maxilar.
Olhei para ele que agora estava
tomado banho, com seus cabelos
úmidos, vestindo uma bermuda de
moletom e uma camiseta. Tentei não
olhar para o seu rosto bonito e másculo
com sua sempre expressão séria, mas fui
infeliz e acabei olhando-o por tempo
demais. Acordei do que eu estava
fazendo quando ele virou a cabeça me
perguntando se eu estava querendo
perguntar alguma coisa, mas eu nego
rapidamente voltando atenção à comida
que estava na minha frente. Fiquei
tentado a perguntar o porquê ele não
convidou seu amigo para tomar café
conosco, mas prefiro ficar quieto.
— Eu vou à boate com você hoje.
— Disse Enzo me surpreendendo.
— Mas por quê? — Pergunto
após engolir o pedaço da minha torrada.
— Porque eu preciso melhorar a
segurança do lugar. — Falou ele e eu
assinto.
— E como você pretende fazer
isso? — Falo entregando a ele um
pedaço de croissant.
— Tem Nutella? — Pergunta ele
olhando na mesa.
— Não, procurei porque vi que
você gosta e não achei. — Falo e ele fez
um bico sem perceber. Droga, que lindo!
— Tenho que comprar, se Luna
estivesse aqui diria que a Nutella não
pode faltar. — Disse ele distraído e eu
sem querer fechei a cara. — O que foi?
— Nada, não tem nada. Você
deveria ter falado com sua namorada
para comprar sua Nutella. — Falo sem
interesse sentindo um gosto amargo na
boca.
— Luna não é minha namorada, eu
nunca tive namorada. Luna é minha
sorellina, minha irmãzinha caçula. —
Falou ele, me deixando totalmente
constrangido.
— Oh, entendo! — Falo sobre a
respiração.
— O que foi? Você ficou estranho
de repente. — Disse Enzo e eu nego.
— Não é nada, você ainda não
disse quais vão ser as medidas de
segurança. — Falo mudando o rumo do
assunto.
Enzo olhou para mim por um
tempo e depois ele começou a falar o
que ele pretendia fazer. Eu sou o gerente
do lugar, Francesca não se envolve
muito nas coisas que eu faço lá, mas
querendo ou não eu ainda sou seu
subordinado e tenho que estar sempre
ciente de tudo. Gosto muito do meu
trabalho, foi através dele que eu
descobri que eu posso sim ser uma
pessoa que pode se cuidar
financeiramente, graças aquele lugar eu
recuperei um pouco da minha força para
tentar fazer algo dar certo. E dá muito
certo, aquela boate está sendo
classificada como o melhor lugar para
entretenimento daqui e descobri isso
através de Amauri, que chegou na boate
dizendo isso em plenos pulmões.
— Então vou averiguar de perto a
equipe da instalação de mais câmeras,
junto com todos os meus homens que
ficaram fazendo a segurança do lugar. —
Disse ele de modo sério e preciso.
— E você tem certeza de que as
pessoas que trabalham lá vão estar
seguros? — Pergunto e vi ele soltou uma
respiração forte.
— Todo mundo estará em
segurança enquanto estiver no local. —
Falou ele pausadamente.
— Enzo… tem outra coisa que eu
queria falar com você. — Falo meio
receoso.
— Pode falar comigo o que você
quiser, Andrea. — Disse ele em um tom
firme e eu engoli em seco.
Mas quando eu iria criar coragem
para agradecer por ele ter se
preocupado em me ajudar ontem à noite,
apesar de que isso não é nenhuma
responsabilidade sua e que ele fez isso
por ser uma pessoa boa. Sendo assim a
única coisa que tenho que fazer é
agradecê-lo. Mas quando eu estava
quase falando vejo o número de Louis
piscando na minha tela. Para Lou ligar
para mim, com certeza deve ser algo
relacionado à boate, sendo assim é
importante. Pedi licença a Enzo e fui
atender a ligação.
— O que foi que aconteceu Lou?
— Pergunto já me preparando para
algum problema.
— Chefe, eu acabei de receber a
ligação de uma das pessoas que fazem a
limpeza do lugar e ele me disse que teve
um problema com os refrigeradores das
bebidas. — Falou Lou com uma voz de
pura chateação.
— Mas como isso é possível?
Você faz a vistoria todos os dias. O que
houve de diferente? — Pergunto
confuso.
— Não sei, você não acha que
isso é culpa minha? — Pergunta ele e eu
fiquei confuso.
— Que culpa você tem Lou? Eu te
conheço há um tempo e sei que você é
responsável. — Lembrei e ouvi uma
respiração de alívio.
— Obrigado, Dea! Eu juro que
achei que você iria brigar comigo. —
Falou ele e eu dei um pequeno sorriso.
— Não teria por que eu fazer algo
assim já que não foi sua culpa. — Falo o
acalmando.
— Posso chamar um amigo meu
para dar uma olhada nos refrigeradores
para ver o que há. — Sugeriu Louis e eu
pensei por um tempo.
— Isso seria muito bom, acho que
devo chegar mais cedo hoje. — Falo e o
barman confirma.
— Já liguei para Fanny e ela
também estará lá.
— Isso vai ser bom, até mais
tarde Lou.
— Tudo bem chefe, até. — Com
isso desliguei a ligação e voltei para
tirar a mesa, mas a carranca no rosto de
Enzo me fez parar.
— O que foi? — Pergunto e ele
nega com a cabeça.
— Não é nada! — Disse ele de
modo grosseiro e eu continuei confuso.
— Com certeza tem alguma coisa,
mas se você não quer dizer tudo bem. —
Falo dando de ombros e ele apertou
mais o maxilar.
— Eu não sei o que é isso! —
Falou ele e eu continuei sem entender.
— Isso o que? — Sussurrei ao vê-
lo levantar da cadeira e vir na minha
direção com o olhar de pura
determinação.
— Isso aqui, eu não sei o que eu
estou sentindo no momento que eu vejo
você conversar tão à vontade com outro
homem. Eu realmente não sei o que está
acontecendo é isso está me irritando
muito. — Falou ele em um tom baixo e
fervoroso, senti-o passar o dedo no meu
rosto e eu fechei os olhos. — Você é tão
estupidamente lindo. — Ele murmurou
entre dentes.
— O que? — Sussurrei olhando
diretamente nos seus olhos e a sua
aproximação fez meu coração bater, mas
não de medo e sim de excitação.
— Tem algo em você, não sei o
que é. — Disse ele me aproximando
mais. Fiquei olhando em seus olhos que
tem o castanho mais incríveis que já vi.
— Eu preciso… — Disse ele olhando
para minha boca, passando seu polegar
grosso no meu lábio inferior me fazendo
arfar.
— Precisa de quê? — Pergunto
sentindo minhas pernas ficarem fracas.
— Inferno! — Disse arregalando
os olhos por um momento e se afastando
de mim o mais rápido possível. — Me
desculpe... Eu não sei o que deu em
mim, vou subir para trocar de roupa. —
Voltou a sua forma séria de sempre.
— Tudo bem. — Falo me sentindo
triste de repente.
Enzo saiu me deixando ofegante,
coloquei minhas duas mãos em cima do
balcão da companhia. Tentando
controlar minhas pernas fracas e meu
coração acelerado continuei a tentar
respirar melhor, sinto o meu pau duro
pressionando contra o zíper da calça e
solto um gemido sofrido baixo. O que
estava prestes a acontecer aqui? Será
que ele iria me beijar? Não, não é
possível, não tem condições de isso
acontecer. Eu nunca mais permiti que
outra pessoa beijasse meus lábios e com
isso eu sofri vários tipos de coisas
ruins. Sei que Enzo não iria fazer isso,
mas será que se ele quisesse eu iria
gostar? Meu Deus! Eu estou me sentindo
tão perdido agora.
Quando consigo meu nervosismo
e principalmente a minha ereção, eu vou
ajeitar a cozinha tentando não pensar no
que acabou de acontecer. Assim que
tudo está limpo e organizado do jeito
que tem que ser, subo para o quarto e me
troco. Coloco uma camisa de manga
comprida amarelo claro, pelo menos eu
acho que é amarela, uma calça marrom
clara, meus tênis, uma jaqueta jeans e
para concluir uma touca. Ajusto
perfeitamente a touca na minha cabeça,
para não deixarmos fios em uma
desordem gritante, quando me vejo
pronto vou até a porta, solto umas
respirações fortes e saiu do quarto.
Descendo as escadas já vejo Enzo
de costas no meio de uma ligação que
parece ser bastante importante. Ele não
está usando seus ternos muito caros
hoje, o que para mim é uma grande
surpresa. Enzo vira na minha direção e
eu posso ver como ele fica bem em um
jeans preto, um suéter vermelho escuro,
bota preta e para completar um casaco
de preto está descansando no seu braço.
Seus olhos estão presos em mim o tempo
todo que está falando no celular me
deixando totalmente sem jeito, desvio
minha atenção para Kay que vive
balançando o seu pequeno rabo de
felicidade.
— Você está pronto, Anjo? —
Pergunta ele distraído enquanto olhava
para tela do celular. Cada vez que ele
me chama assim eu fico em uma
confusão de sentimentos, mas com
certeza me faz sentir bem.
— Sim! Kay vai com a gente? —
Pergunto quando reparei a corrente na
mão de Enzo.
— Ele tem que ir ao veterinário. –
Enzo diz de uma maneira de quem não
gosta de fazer isso.
— Você não gosta de levar Kay no
veterinário, por quê? — Pergunto
curioso e ele ficou surpreso com minha
pergunta.
— Não gosto de pessoas
estranhas com meu cachorro. Simples
assim! — Disse ele carrancudo.
— Mas eu sou uma pessoa
estranha que fica com seu cachorro. —
Soltei sem conseguir me conter e ele me
olhou com um olhar duro.
— Você não é mais estranho, pelo
menos não para mim e muito menos para
Kay. — Disse ele com firmeza fazendo
minhas bochechas ficarem quentes. —
Vamos!
— Vamos Kay, você deve ficar
uma graça com lacinhos. — Falo
fazendo Enzo para de andar
bruscamente.
— Nada de laços! Ele é muito
macho, não fofo! — Disse ele entre
dentes e eu tentei disfarçar o riso.
— Tudo bem, mas que ele iria
ficar… — Estava falando enquanto
passava o nariz na cabeça de Kay.
— Não diga fofo, não faça isso.
— Resmungou e eu dei um riso curto.
— Certo! — Falo e levantei Kay
na direção do meu rosto. — Não mais
fofo, Kay. — Brinquei e vi Enzo
balançando a cabeça negativamente.
— Vou ter que passar na empresa
rápido e você vai comigo. — Disse ele
e eu arquei a sobrancelha.
— Eu posso ir para a boate e nos
encontramos lá. — Lembrei e ele soltou
um suspiro forte.
— Vamos juntos! — Disse ele de
modo que o assunto tinha encerrado.
A viagem até a empresa foi
rápida, mas antes paramos em uma
grande clínica veterinária para deixar
Kay. Tentei não rir quando Enzo
praticamente ameaçou o pobre rapaz da
recepção, ele disse que se acontecesse
algo com seu cachorro ele iria fechar o
lugar e que nada de laços e frescuras em
Kay. Enzo falou de um jeito que o pobre
homem ficou branco de medo, com as
mãos tremendo, e para tirar Kay das
mãos de Enzo foi o mais complicado,
porque o pobre estava muito nervoso.
Então eu resolvi o problema tirando Kay
dos braços de Enzo e levando para o
rapaz. Coitado!
E agora estou aqui subindo o
elevador com Enzo, porque ele não
queria que eu ficasse na recepção
esperando. Assim que as portas se
abrem vejo como esse lugar é lindo,
bem moderno mais um toque de clássico
que deixa o ambiente harmonioso.
Caminhamos em direção a uma mulher
morena de cabelos longos, seus olhos
são escuros e ela olha de modo bobo e
apaixonado para Enzo. Quando Enzo
está perto passa por ela sem falar nada e
quando isso acontece ela tenta disfarçar
a sua irritação, mas para mim que estava
a observando atentamente ela não foi
rápida o suficiente.
— Vou ficar aqui fora te
esperando. — Falo alto enquanto ele
estava abrindo a porta de uma sala, que
com certeza deve ser a sua. Ele para e
olha na minha direção.
— Tem certeza? — Pergunta ele
sério cerrando os olhos.
— Sim Enzo, eu vou estar aqui
sentado te esperando. — Falo apontando
para um sofá.
— Aqui na minha sala também
tem um sofá. — Disse de modo
grosseiro. Vi sua secretária arregalar os
olhos e depois ficar com uma expressão
irritada.
— Mas eu vou ficar ali te
esperando. — Falo de um modo que ele
não me questionasse.
— Você é que sabe, só não saia
daí. — Falou ele irritado e eu assinto.
— Sim chefe! — Tentei brincar,
mas o olhar da sua secretária estava
sobre mim me fez parar.
— Muito engraçado, anjo. —
Murmurou ele irritado e entrou na sua
sala.
Olhei para Cyro e Timóteo que
estavam encarando a minha cena com
Enzo com uma expressão leve, primeira
vez que os vejo com uma expressão leve
desde que eu os conheci. Dando de
ombros sem entender nada eu viro para
ir até o sofá de couro, mas uma mão
segura meu pulso. Viro automaticamente
para ver uma mão fina com as unhas
pintadas de vermelho sangue apertando
meu pulso. Levanto meus olhos e vejo o
olhar interrogativo da secretária de
Enzo.
— Quem é você? — Pergunta ela
com raiva e eu não entendi nada.
— Não gosto de ser tocado dessa
maneira, então, por favor, me solte. —
Falo com uma expressão fechada, mas
meu tom de voz está tranquilo.
— Eu te fiz uma pergunta, eu
conheço a família de Enzo e você com
certeza não faz parte dela. Quem é você?
— Pergunta novamente e vi pelo canto
do olho Timóteo se aproximar.
— Está tranquilo aqui, rapazes.
— Falo me soltando do aperto
facilmente.
— O que é isso? — Pergunta a
secretária olhando para os seguranças.
— Você quer saber quem eu sou?
— Pergunto alisando o lugar que está
com marcas de unhas no meu pulso.
— Enzo não fala com ninguém
desse modo e eu quero saber sim. —
Disse ela voltando seu olhar para mim
assustada.
— Eu não sou ninguém! E vou te
dar um conselho, procure não fazer isso
novamente porque tem pessoas que não
toleram esse tipo de atitude. — Falo
calmo e percebi que pela sua expressão
confusa ela não entendeu o que eu quis
dizer.
— Você está me ameaçando? —
Pergunta com deboche e eu nego
rapidamente.
— Não, só te dei um conselho. —
Falo e porta foi aberta abruptamente e
Enzo saiu.
— O que está fazendo aí senhorita
Roccato? Por que não atendeu ao
telefone? — Enzo pergunta irritado e ao
vê-la perto de mim ele cerrou os olhos.
— Andrea? — Pergunta vindo à minha
direção com os olhos no meu pulso
avermelhado.
— Desculpe Enzo, eu estava
conversando e me distrair. — Disse sua
secretária sorrindo largamente para ele
que nem deu para ela um segundo olhar.
— O que aconteceu com seu
pulso? — Pergunta ele puxando meu
pulso para sua direção, vi sua secretária
olhar assustada.
— Nada demais, acho que apertei
com força. — Falo e pelo canto dos
olhos vi Cyro e Timóteo balançar a
cabeça negativamente.
— Por que você fez isso? —
Pergunta Enzo e eu já estava começando
a me sentir nervoso, já que sou um
péssimo mentiroso.
— Você já acabou o que tinha que
fazer? — Pergunto tirando meu braço de
sua mão.
— Não queira mudar de assunto!
— Disse ele e eu dei um pequeno
sorriso.
— Já disse que não foi nada. —
Falo e ele assente desconfiado.
— Vou acreditar em você dessa
vez, vamos que você tem que ir para
aquele lugar. — Disse ele irritado.
— Sim, tenho coisas para
resolver na boate. — Enfatizei a palavra
boate. Virei para ir até o elevador, mas
parei quando Enzo olhou para trás.
— Volte para seu posto senhorita
Roccato, da próxima vez que me chamar
pelo meu nome novamente te mandarei
para longe. Não gosto de intimidades,
porque eu sou o chefe. — Enzo disse de
modo frio e vi sua secretária engoli em
seco e depois assinto.
Sei que deveria contar a Enzo
sobre o que acabou de acontecer com a
sua secretária, mas eu não quero ser o
causador da demissão de ninguém. Eu
realmente não sou ninguém na vida dele,
então não tenho o que falar nada. É
melhor fingir que nada aconteceu.
Confesso que até senti um pouco de pena
do modo apaixonado que ela olha para
ele e ele não lhe dar nem um pouco de
confiança.
Esquecendo do que aconteceu a
pouco com a senhorita Roccato, Enzo e
eu saímos do prédio da empresa.
Quando estamos esperando o carro
chegar uma mulher para na minha frente
fazendo meu sangue gelar, porque eu
com certeza a reconheceria em qualquer
lugar.
— Não, não pode ser! Andrea é
você? — Pergunta a mulher e eu fiquei
petrificado, olhando para ela com olhos
arregalados.
Há dez anos eu achava que nunca
mais olharia para esse rosto novamente,
o rosto da pessoa que achei que fosse
ser a minha família para sempre, mas na
verdade ela ocasionou a minha dor.
Pensando nisso eu continuo petrificado
ao encarar Lea Giardino, a minha irmã.
— Que porra está acontecendo?
Qual seu problema seu pervertido?
Andrea sempre soube que você era um
ridículo, mas agarrar o meu namorado
isso eu não posso aceitar. Tenho nojo de
você! — Disse Lea e eu olhei para o
homem sem entender e ele olhou para
minha irmã com uma expressão
divertida.
— Irmã não é nada disso que você
está pensando. — Tentei falar mais ela
começou a rir de maneira assustadora.
— Além de ser uma bicha nojenta
é um filho da puta fingindo. — Me
espantei pelo linguajar que nunca ouvir
minha irmã falar.
— Não fale assim, irmã. — Peço,
sentindo lágrimas embaçando minha
visão.
— Não me chame assim, sua
bichinha asquerosa! — Grita Lea com
asco. — E você! Você disse que queria
ficar comigo! — Lea disse chorosa para
o homem.
-Nunca disse isso, você deve com
certeza está me confundindo com
alguém. — Disse o homem com um
sorriso divertido.
-Como você pode falar uma coisa
dessas. — Disse minha irmã soltando
um soluço.
-Não fale assim com minha irmã.
— Falo com o homem que me encarou
contente.
-Não me chame assim seu
pervertido. Eu odeio você Andrea! —
Lea disse e saiu correndo.
As lembranças daquela noite
terrível da minha vida voltam com tudo
para me assombrar. É impossível
confundi a mulher na minha frente,
apesar de estar um pouco mais velha os
nossos traços continuam bastante
similares. Sim, não tenho dúvidas essa
aqui na minha frente é minha irmã Lea, a
mesma irmã que me repudiou e se fez de
vítima para influenciar meus pais a nem
sequer me ouvirem. Com os olhos
arregalados estudo os traços de
confusão no rosto dessa mulher que um
dia eu amei na vida. Dou um passo para
trás e sinto uma grande mão tomar conta
das minhas costas.
Olho para cima para encontrar o
olhar interrogativo de Enzo. Eu engulo
em seco e olho novamente para Lea que
agora olha para Enzo com interesse
totalmente desnecessário. Ao perceber
isso sinto meus sentimentos de surpresa
e medo mudarem automaticamente para
uma raiva, raiva essa que eu não sinto há
um tempo. Há muito tempo eu jurei que
se um dia eu encontrasse com algum
parente meu eu iria mostrá-los que não
sou mais aquele Andrea inocente, não
esse Andrea se foi. Eles me chutaram
quando eu tinha 16 anos, no relento da
noite e eu inocente acreditei em quem
não deveria, mas agora não mais.
Respirando fundo e secando minhas
mãos suadas no meu jeans na intenção
de me acalmar, olho novamente para
Lea.
— Andrea? — Pergunta Enzo com
a preocupação evidente no rosto.
— Estou bem, Enzo. – Falo e ele
me olhou por um tempo para se
certificar e assente.
— Então é você mesmo! —
Sussurrou Lea desacreditada e eu após
está mais calmo voltei minha atenção a
ela.
— Sim, sou eu. — Falo sério e
ela arregalou os olhos.
— Por onde você andou? O que
esteve fazendo esse tempo todo? —
Pergunta ela atordoada e eu olhei para
Enzo novamente, mas ele continuava
impassível.
— Minha vida não é de seu
interesse. — Falo e ela cerrou os olhos
na minha direção.
— Como você ousa falar uma
coisa dessas? — Pergunta ela em um
tom ofendido fingido.
— Da mesma maneira em que eu
fui posto para fora de casa após sua
conversa com as pessoas que se diziam
meus pais. — Falo sentindo meu peito
doer, mas eu continuei a olhando sério.
— Como você pode falar assim
de nossos pais? — Pergunta ela em
confusão.
— Não meus pais, eu perdi os
meus a dez anos atrás. — Falo sentindo
minha garganta fechar e senti a mão de
Enzo no meu pescoço para me dar força
para continuar. Observei os olhos de
Lea parar na direção da mão de Enzo.
— Eu disse, eu disse que eles não
deveriam se importar de ter colocado
uma bichinha nojenta como você para
longe de nossas vidas. — Disse ela com
seu rosto mascarando raiva e nojo.
— Que seja, essa é a verdade,
pois a bichinha nojenta morreu há muito
tempo. — Falo em um tom sem emoção.
— Não, esse não é você! — Disse
ela negando com a cabeça.
— Isso você está certa, o Andrea
que você conheceu não existe a um bom
tempo. — Falo novamente e ela deu uma
risada.
— Você sempre foi uma putinha!
— Vociferou ela.
— Acho melhor você dosar suas
palavras! — Enzo disse não escondendo
sua irritação.
— Não sei quem é você, mas seja
quem for esse daí deve estar te
enganando. Sabia que ele roubou o meu
namorado? — Disse Lea lembrando do
Russo e meu corpo começou a tremer
automaticamente.
— Se você soubesse quem é o
homem que você achava que era seu
namorado. — Falo sentindo meu corpo
ficar tenso. Olhei para ela e pela sua
expressão tenho certeza de que jamais
esqueceu esse acontecimento
desprezível da minha vida.
— Aquele homem iria ficar
comigo se não fosse por você. —
Acusou Lea e meu corpo começou a
tremer mais forte.
— Fácil, anjo! Eu estou aqui, se
concentre nisso, certo? Respira! — Enzo
tomou meu corpo em um abraço e
sussurrou no meu ouvido.
Meu corpo foi se acalmando
mesmo depois de me lembrar das
promessas que aquele homem tinha feito
para o pobre Andrea que morava em um
vilarejo e adorava pescar e tomar banho
de mar. Não esse menino se foi, após as
mortes, os toques indesejados no meu
corpo, as surras que faziam minha pele
sangrar. Tudo isso e muito mais fizeram
com que aquele Andrea morresse cada
dia mais dentro de mim. Lea não sabe do
que ela está falando, ela não sabe de
tudo o que poderia acontecer com ela.
Com o corpo de Enzo pressionando ao
meu consigo realmente me acalmar e
voltar a minha atenção em Lea.
— Obrigado. — Falo com Enzo e
ele assente e pude ver ele mordia o
maxilar com força.
-Você não tem que passar por
isso! – Disse ele com ódio direcionado
a Lea.
— Você está enganando mais um
homem com essa sua cara fingida de
menino bom. — Disse Lea com nojo.
— Não sei e não faço questão de
saber quem você é, mas eu sugiro que
você pare de falar. Sua voz e você por
completa estão me irritando. — Enzo
disse em um tom gélido e vi Lea ficar
assustada.
— Podemos ir? — Pergunto a
Enzo que me olhou por um tempo
ignorando a presença de Lea.
— Claro que sim, anjo. Você está
bem? — Pergunta ele preocupado e eu
assinto. Voltei minha atenção a Lea, pois
eu precisava falar mais alguma coisa.
— Se eu fosse uma pessoa de
coração ruim eu iria desejar mil vezes
que fosse você a pessoa que tivesse
chamado a atenção daquele homem, mas
eu não sou assim. Você continua sendo a
mesma pessoa pobre de espírito que o
Andrea jovem veio conhecer da maneira
mais dura possível. E hoje em dia isso
não quer dizer mais nada para mim, pois
eu deixei de ser o seu irmão mais novo
há uma década. — Falo em um tom
calmo e controlado e Lea me olhou
como se não acreditasse.
— Você está se achando superior
a mim? Eu sou uma advogada de
sucesso, com certeza sou muito mais que
você um dia poderia ser. — Disse ela
entre os dentes e vi Enzo cerra os
punhos e eu coloquei a mão no seu peito
pedindo silenciosamente que ele
deixasse comigo, e para minha surpresa
ele assente.
— Não vou dizer que fico feliz
por você, porque na verdade eu não
sinto nada, mas acho que essa conversa
já deu. — Falo e vi quando Timóteo
abriu a porta do carro para mim e Enzo
entrarmos.
— O que é isso? — Lea olhou
para o carro e olhou para mim com a
inveja nítida nos olhos.
— Estamos saindo já, Timóteo. —
Disse Enzo entre dentes me puxando em
direção ao carro.
— Sim, senhor Aandreozzi. —
Disse Timóteo com um aceno de cabeça.
Lea ao ouvir o nome de Enzo arregalou
os olhos em surpresa e me olhou com
mais raiva ainda.
— Eu odeio você, seu pervertido.
— Disse Lea e eu pude ouvi-la
nitidamente.
— Sinto muito por você Lea,
porque ao contrário de você eu não sinto
mais nada. — Disse e entrei no carro.
Assim que Enzo entra no carro e
as portas são fechadas eu fecho os olhos
com força e pressiono as duas mãos na
cabeça. Meu Deus! Passaram-se tantos
anos e aquela mulher que antes era
minha irmã mais velha, a pessoa que
quando era criança adorava correr pela
areia de pés descalços comigo, que se
sentava no barco do nosso pai
esperando que ele nos levasse para
alguma pesca. Eu não consigo acreditar
que ela continua sendo a mesma pessoa
odiosa que eu conheci naquela noite
fatídica. Dio, isso dói!
Assusto-me quando sinto meu
corpo ser arrastado. Fico sem acreditar
que Enzo me colocou no seu colo e sem
dizer nada ele me aperta nos seus
braços. Esse contato é tão incrível, tão
calmamente que me deixa entorpecido.
Meu corpo se sente tão bem com o seu
toque nas minhas costas que me encolho
nos seus braços para receber todo esse
acalento, que não a nada sexual
envolvido, todo o seu toque e na pura
intenção de fazer com que eu me sinta
protegido.
— Por que você faz essas coisas
comigo? — Pergunto incapaz de segurar
minha boca.
— Porque eu quero e sei que você
precisa. — Disse curto e grosso.
— Mas você não precisa fazer
isso. — Lembrei e ele cheirou minha
cabeça.
— Eu sei, mas eu não faço nada
que eu não queria fazer. — Disse ele e
eu assinto.
— O que está acontecendo
conosco? — Pergunto em um tom baixo.
— Quando eu descobri você vai
ser o primeiro a saber, anjo. — Disse
ele e eu respirei fundo.
— Você vai me contar sobre
aquela mulher? — Pergunta ele e meu
corpo ficou rígido. — Ei, está tudo bem.
Você não precisa falar se não quiser.
— Não, está tudo bem. Eu só não
gosto de lembrar. — Falo e tentei sair
do seu colo, mas ele não deixou.
— Fique! Só, fique! — Disse ele
em um tom forte e calmo.
— Mas… — Sussurrei e ele me
apertou um pouco mais forte.
— Me fale sobre a mulher. —
Pediu novamente e eu confirmo.
— Ela se chama Lea Giardino a
minha irmã mais velha. Na noite que eu
fui expulso de casa foi quando ela me
viu beijar o… beijar o filho de uma das
famílias Bratva. — Falo e senti Enzo
ficar tenso.
— Ele beijou você! — Enzo disse
em um rosnado.
— Sim, o pior é que ele estava
tendo algum envolvimento com minha
irmã e eu não fazia ideia. Ele foi o
primeiro homem que me fez ter certeza
de que eu era gay. — Revelei sentindo
um gosto ruim na boca.
— Você era apenas um bambino.
— Enzo disse com raiva e eu afirmo.
— Lea me disse coisas horríveis
naquela noite, mas eu achei que depois
que de conversarmos tudo iria se
acertar. — Falo e senti o braço de Enzo
me envolvendo e eu relaxei.
— Mas não foi como você
imaginou. — Afirma Enzo e eu assinto.
— Quando eu cheguei em casa vi
Lea chorando sentada no sofá com minha
mãe a abraçando e meu pai de pé me
olhando com raiva e nojo. Eu nunca
tinha visto ele me olhar de outra maneira
que não fosse carinhosa e isso me
chocou. Mas assim que eu confirmo que
tinha beijado um homem ele me colocou
para fora de casa. — Falo sentindo meu
peito doer com a lembrança de minha
mãe virando a cara para mim.
— E você saiu à noite sem ter
para onde ir e aquele maledetto filho de
uma puta se aproveitou disso.
Desgraçado! — Enzo disse com ódio e
eu levantei a cabeça para encará-lo.
— Sim, mas eu fui um tolo por
acreditar que iria conseguir um emprego
e depois de um tempo voltar. — Falo e
senti Enzo me afastar para poder encarar
meu rosto.
— Você não foi tolo, você era
apenas uma criança que estava sofrendo
e um filho da puta se aproveitou disso.
— Enzo disse com fervor para que eu
acreditasse nas suas palavras.
— Você não me conhece direito.
— Murmurei e ele me fitou por um
tempo.
— Sim, não te conheço, mas eu
sou um homem que confia nos seus
instintos. — Enzo falou e pude sentir
minhas bochechas ficarem vermelhas. —
Adorável! — Disse passando o polegar
na minha bochecha.
Sinto o toque sutil na minha pele e
fecho meus olhos. Seu toque é tão bom
que me faz pensar em coisas que não
deveria pensar, como por exemplo, a
minha vontade de me aproximar e grudar
os meus lábios no dele. Não sou um
homem que gosta de toques íntimos ou
beijos, todos que eu tive que dar na
minha vida foram forçados, mas com
Enzo eu sinto meu corpo querer fazer
isso de bom grado, sinto que pode ser
algo especial. E daí vem o meu erro,
isso não vai acontecer, eu não posso
pensar em querer essas coisas, tudo o
que ele está fazendo por mim é
totalmente atencioso, mas não posso
permitir sentir algo.
Tomo um susto com os meus
pensamentos e abro os olhos. Enzo me
encara como se não entendesse o que
está acontecendo e eu me afasto dele.
Sento-me mais próximo da janela
sentindo meu coração bater muito forte
no peito, não olho para o lado para
encontrar com os olhos de Enzo, mas eu
sei que ele está se questionando o que
deve ter acontecido. Fico feliz por ele
não tocar no assunto e quando vi
tínhamos chegado à clínica veterinária
para buscar Kay. Assim que Enzo desce
para pegar Kay eu pude respirar um
pouco mais aliviado devido ao seu
afastamento, não sei o que está
acontecendo entre nós, mas seja o que
for, só pode ser coisa da minha cabeça.
Acordo dos pensamentos quando
vejo Enzo entra no carro com a cara feia
e resmungando baixinho alguma coisa
que não consegui ouvir. Observo-o
levantar Kay na sua direção e falar algo
com o cachorro que lambeu seu nariz.
Quando ouvi o que ele estava
reclamando comecei a rir discretamente,
pois ele estava brigando porque Kay
estava com um laço azul na cabeça.
— Como você ficou fofo, Kay. —
Falo prendendo o riso e Enzo me olhou
ofendido.
— Você viu o que fizeram com o
meu filho? Isso é um absurdo! — Enzo
disse com ódio e eu rir.
— Mas olha só Enzo, ele ficou
muito… — Ele me interrompeu fazendo
som de engasgo.
— Não chame o meu cão de fofo,
Andrea. Não faça isso! — Resmungou
ele e eu olhei para Kay.
— Claro que faço! Olha só essa
carinha, Enzo. — Brinquei e ele cerrou
os olhos.
— Você também não ajuda. —
Falou e eu dei de ombros. — Acredita
que eles falaram que não foi informado
que não deveriam colocar adereços no
meu cão. Como não? Tive vontade de
enforcar aquele palerma do
recepcionista.
— Você está fazendo uma grande
tempestade. Ele está muito lindo e
cheiroso. — Cheirei os pelos macios
Kay.
— Não importa, vou tirar isso
dele. — Falou e foi tentar pegar Kay de
meus braços, mas eu virei de lado.
— Não Enzo! Você não pode fazer
isso, olha essa carinha. — Brinquei e vi
a veia da sua testa saltar.
— Andrea! — Ele disse em um
tom de advertência e eu tentei não rir.
— Por favor? — Falo fazendo a
minha melhor cara de cachorro que caiu
da mudança.
— Você tem sorte que eu não
resisto a um pedido seu. — Resmungou
ele ficando mais sério que nunca.
— Viu que você pode ser
maleável? – Brinquei e em um forte
impulso o puxei lhe dando um beijo na
bochecha. Enzo se assustou com meu ato
e eu também, mas ele limpou a garganta
e enfezou a cara novamente.
— Não pense que você vai
sempre me dobra, não pense nisso! –
Disse ele apontando o dedo na minha
direção e eu dei um sorriso largo.
— Jamais pensarei uma coisa
dessas. Não é Kay, fofo! – Falo e Enzo
rosnou novamente, mas vi um sorriso no
seu rosto.
Tentando não rir continuei a
brincar com Kay, a cara que Enzo está
fazendo só por causa do laço azul que
Kay está na cabeça é muito hilária.
Chegamos à boate e assim que entro
Amauri dar um grito de felicidade
quando me vê com Kay no colo e vem
dando pulinhos para ver o cachorro.
Enzo quando vê isso balança a cabeça
negativamente fazendo o pobre Amauri
esmorecer de sua felicidade. Ele
pergunta se o pessoal da instalação de
segurança chegou a Fanny e ela assente
indicando onde estão. E assim ele sai
andando com toda sua seriedade, como
se conhecesse o lugar por completo.
— Que bebê mais lindo e fashion!
— Disse Amauri assim que Enzo sumiu
de vista e isso me fez rir.
— Por favor, não fale isso na
frente de Enzo. — Falo e ele ficou
confuso.
— Mas ele é tão fofinho! — Disse
Fanny vindo fazer carinho em Kay.
— Outra coisa que jamais se deve
dizer. — Brinquei afirmando com a
cabeça.
— Menino o que foi que deu no
boy? Eu soube da reivindicação dele em
você e estou chocado. Quando foi que
você começou um romance com aquele
Deus grego? — Pergunta Amauri e eu
olhei para ele sem entender.
— Como assim? O que você está
querendo dizer? — Pergunto curioso e
vi quando Fanny e Amauri se olharam
entre si.
— Você e o neto da chefa não
estão juntos? — Pergunta Fanny e eu
nego rapidamente.
— Por que vocês estão fazendo
essa pergunta? — Pergunto me sentindo
nervoso de repente.
— Fanny me disse que na outra
noite ele disse com todas as letras para
Matias ficar longe porque você era dele.
— Amauri disse e eu arregalei os olhos,
olhei para Fanny que estava afirmando
com a cabeça.
— Não… não, vocês devem ter
entendido errado. — Falo sentindo meu
coração bater mais forte. Droga!
— Eu ouvi com todas as letras, o
homem estava furioso. — Fanny disse e
eu olhei na direção que Enzo saiu.
— Tenho certeza de que não foi
isso que ele queria dizer. — Respondo
me sentindo entristecido.
— Você está falando isso porque
não viu as coisas que eu vi. — Fanny
resmungou por eu não acreditar no que
ela está dizendo.
— Eu adoraria ver todo esse mar
possessivo. Fico todo molhado quando
meu sorvetão está assim. — Amauri
disse se abanando.
— Você é muito safado. — Fanny
disse empurrando Amauri.
— Cuidado comigo, mon ami. Eu
sou delicado. — Disse ele e Fanny
revirou os olhos. Sinto alguém se
aproximar, olho para o lado e vejo Louis
se aproximar com uma expressão feliz
no rosto, como sempre.
— Está tudo resolvido com os
refrigeradores? — Pergunto para Louis
que sorriu mais ainda.
— Sim chefe, tudo na mais
perfeita ordem. — Responde Louis e
passou o braço pelo meu ombro e esse
ato me deixou rígido por um tempo.
— De quem é esse cachorrinho
lindo? — Brincou ele passando o dedo
no queixo de Kay.
— Esse aqui é… — Ia falar, mas
uma voz grave se fez presente. Olhei
para frente e vi Enzo olhando para Louis
com a uma cara nada boa.
— Não é da sua conta, acho
melhor você se afastar. — Enzo disse
em um tom frio e isso fez Louis se
afastar rapidamente.
— Isso é realmente quente! —
Falou Amauri e foi arrebatado por Paul.
— Acho melhor você não falar
essas coisas para outros homens, Mau.
— Disse Paul e saiu arrastando um
Amauri muito sorridente.
— Desculpe, eu não sabia. —
Disse Louis olhando assustado de mim
para Enzo.
— Não importa! — Disse ele
entre dentes me puxando na sua direção.
— Acho que já estamos prontos para ir.
— Enzo disse eu olhei para ele confuso.
— Mas eu ainda tenho que olhar
as coisas no escritório. — Falo
passando Kay para ele e pude perceber
que ele continuava a encarar Louis de
cara feia.
-Não precisa, eu posso ir para
casa sozinho e pare de olhar para Louis
você está o assustando. — Falo sem
entender por que ele está o olhando
daquela maneira.
— Eu vou com você. — Decidiu
ele e eu o encarei por um tempo.
— Pode fazer o que tem que fazer
lá no escritório que eu termino as coisas
aqui por baixo e já sairemos. — Disse
Fanny empurrando um Lou muito
assustado para longe.
— Obrigado, Fanny! — Falo mais
alto, pois ela estava se distanciando. E
ela fez um sinal de positivo.
Fui para o escritório com Enzo no
meu encalço. Assim que entramos na
minha sala ele olhou para tudo com
atenção, obviamente ele não encontrou
nada de muito atrativo, já que aqui não
tem nada demais. Mesmo assim ele
soltou Kay no chão e ficou olhando com
atenção. Mesmo me sentindo estranho
com sua presença, peguei os documentos
que eu já deveria ter averiguado há um
tempo. Para minha surpresa senti Enzo
se aproximar e me perguntar se eu
queria sua ajuda, mesmo eu não dizendo
nada ele se prontificou a me ajudar. Ter
esse homem tão perto de mim é
totalmente calmamente e desconfortante
ao mesmo tempo. Ele é tão inteligente,
resolve tudo com tanta precisão que me
deixou boquiaberto.
Assim que tinha tudo resolvido,
descemos para encontrar o lugar já
vazio. Não entendi por que Fanny não
veio falar comigo que já estava saindo,
mas confio e sei que ela me ajuda muito
por aqui. Como hoje a boate não vai
abrir, fechei todo o lugar, mas não antes
de Enzo me ensinar a ativar todas as
câmeras e alarmes de segurança.
Estou saindo com Enzo até que
uma movimentação de carros me chama
atenção, vejo Enzo gritar comigo para ir
até ele, mas eu estou muito ligado ao ver
Fyodor sair de um dos carros com armas
em punho atirando sem nem pensar nas
consequências. O que é isso? Me
pergunto olhando para frente assuntado
com que está presta a acontecer.
— ANDREA! PARA O CHÃO,
AGORA! — Grita Enzo me fazendo
acordar e eu protegi Kay com meu
casaco indo para o chão, mas eu não fui
rápido o suficiente porque meu braço
acabou de ser atingido.
— Senhor, temos que levá-los
para o carro! — Ouvir a voz de
Timóteo.
— Uma porra que vou, me dar
uma arma! — Grita Enzo de volta e eu
tentei levantar a cabeça do chão para
procurá-lo.
— Nem ouse levantar-se, Andrea!
— Disse ele e eu voltei a me escolher
no chão ao ouvir o barulho alto de balas
atingindo os prédios e lataria de carro.
— Cyro, fique com Andrea!
— Sim, senhor! — Disse ele e vi
um sapato preto perto de minha cabeça
— O reforço está chegando,
senhor. — Disse outro homem que não
reconheci a voz.
— Acho bom! — Disse ele com
fervor e ouvi vários sons de armas
sendo destravada.
— Enzo, por favor, não se
machuque! — Murmurei me sentindo
mau pelo o que está acontecendo. Meu
braço está sangrando bastante, mas a dor
é praticamente banal para mim.
— Eu vou te matar seu careca
filho da puta! — Enzo disse com ódio,
naturalmente falando de Fyodor.
Barulhos e mais barulhos e tiros
foram ouvidos. Quando ouvi mais carros
de aproximar fiquei com medo que
sejam mais soldados Bratva, mas para
minha felicidade são os homens que
Enzo chamou. Depois de um tempo senti
que meu corpo estava sendo puxando
para cima e o meu perto em Kay foi
solto. Olhei para cima e vi que Enzo
estava me carregando no colo, enquanto
andava apressadamente.
— Porra, você foi atingido Anjo!
— Disse ele irritado me apertando no
seu braço.
— Não é nada demais. — Falo
fraco naturalmente pela perda de sangue.
— Não diga besteiras, vamos
logo com isso! — Grita Enzo nervoso e
o carro pegou velocidade.
— Cadê Kay? — Pergunto em
forma de sussurro.
— Ele está bem, mas agora de
preocupe com você. Vou cuidar você
meu anjo! — Disse ele e eu senti um
beijo na minha testa.
Não sei quando eu apaguei, mas o
despertei quando o carro parou
bruscamente e ao olhar na janela vejo
que estou na garagem de Enzo. Ele me
leva carregado pelo elevador e quando
digo que posso andar ele não me dar
ouvidos. Assim que a porta do elevador
é aberta vejo quatro pessoas olhando
para nós com atenção e preocupação,
olho para cima e o alívio de Enzo ao ver
essas pessoas é nítido na sua expressão,
mas logo volta a ficar sério quando olha
para meu braço.
— O que aconteceu Enzo? —
Pergunta o homem mais forte de cabelos
negros e olhos muito claros.
— Os russos, foi isso quando
aconteceu. — Enzo disse com raiva.
— Primeiro de tudo temos que
cuidar dele. — A mulher disse em um
tom calmo, mas forte.
— Esses filhos da puta não sabem
como quem está ligando. — Disse o
outro homem que se não me engano é o
Lucca.
— Sim, eles não sabem. Fico feliz
por estarem aqui irmãos! — Disse Enzo
e foi à única coisa que ouvi antes de
desmaiar.
ENZO AANDREOZZI

Olho para o corpo amolecido de


Andrea com os olhos arregalados,
levanto seu tronco para poder ouvir
mais nitidamente seus batimentos
cardíacos e solto uma respiração de
puro alívio por ouvir que seu coração
está batendo forte e constante. Olho para
meus irmãos e todos eles estão com uma
expressão de pura preocupação no rosto,
peço a Luna para ligar para Vitório e ela
faz uma careta em questionamento, mas
não pergunta nada. Assim que ela pega o
celular para fazer a ligação levo Andrea
para o meu quarto.
Chegando lá o deito na cama e
quando eu penso em sair para buscar
toalhas para ajudar no estancamento do
sangue, vejo Filippo estendendo-as para
mim. Sem falar nada eu pego as toalhas
e começo a pressionar no braço
atingindo de Andrea. Aperto meu
maxilar com força por saber que esses
filhos da puta sabem que ele agora não
está desprotegido e vão caí com força
total para cima. Eles que venham, vou
matar cada um deles! A raiva que estou
sentindo agora é tão grande que eu não
estou conseguindo pensar direito. Porra!
Não gosto de ver esse sangue cobrindo o
corpo de meu anjo.
— Vamos irmão, vamos deixar o
médico cuidar dele. — Ouvi a voz
calma de Lucca e virei a cabeça para
encontrar Vitório no quarto segurando
uma maleta.
— Eu não vou deixá-lo sozinho.
— Falo de modo grosseiro e senti meu
corpo ser puxado.
— Você aqui não vai ajudar em
nada, vá tomar um banho que vamos te
esperar lá embaixo no escritório. —
Filippo disse de modo sério segurando
minha cabeça.
— Mas ele precisa de mim. —
Falo em um tom baixo e raivoso.
— Sim, tenho certeza de que ele
vai precisar, mas agora você precisa se
acalmar. — Luna disse se aproximando.
— Vamos lá irmão! — Lucca
disse e eu assinto.
Olhei novamente para o corpo de
Andrea desmaiado, o enfermeiro que
veio com Vitório já estava pairando
sobre ele. Um forte aperto no peito me
fez querer pegar minha arma e sai à caça
desses russos filhos da puta. Tenho que
procurar saber o que eles estão
pretendendo fazer e assim que descobri,
eu com certeza vou sair à procura deles
e os exterminar, pois aqui não é o lugar
para russos sujos e malditos. Sinto uma
mão apertar meu ombro e olho para
Filippo que assinto me incentivando a
sair do quarto para que os profissionais
cuidem de tudo. Vejo Vitório se
aproximar e o puxo para que ele fique na
minha frente.
— Cuide dele como se sua vida
dependesse disso. — Falo em um tom
baixo e sombrio e vi o velho sorriu.
— Todos os quatro são tão
parecidos com o avô de vocês. — Disse
Vitório e eu fiz careta ao ouvir o que ele
disse.
— Não me importa o que você
acha, cuide de Andrea! — Falo com
raiva e ele respirou fundo.
— Farei o meu o possível. —
Disse ele e eu cerrei os olhos para o
velho.
— Você fará o seu melhor! —
Falo e ele assente. — Estaremos no
escritório.
— Deixe que ele faça o eu
trabalho. — Filippo disse eu confirmo.
Sai de perto de Andrea e fui até o
meu banheiro, tirando toda minha roupa
vejo minha camisa manchada com o
sangue dele. Aperto minha camisa com
força e não consigo parar de me sentir
impotente por ele está machucado e eu
não pude fazer nada para impedir. Sei
que eu não teria como adivinhar que eles
poderiam fazer aquilo, mesmo assim não
consigo tirar esse sentimento do meu
peito. E tenho total certeza de que minha
maior angústia é por ver Andrea
machucado, não gostei de vê-lo dessa
maneira, ele já deve ter passado por
muita coisa e ser machucado novamente
não é uma opção. Quero vê-lo bem, isso
é o mais importante para mim.
Termino meu banho, coloco uma
calça jeans e uma camisa preta e desço
para encontrar com meus irmãos, por
que sei que eles têm muitas coisas para
me perguntar e eu com certeza tenho
muitas coisas para querer falar com
eles. Além de serem meus irmãos,
aqueles três são meus melhores amigos e
eu preciso tirar essa dúvida que ronda
minha vida desde o momento que pus
meus olhos naquele pequeno loiro.
Assim que chego ao escritório vejo
Filippo sentado no grande sofá
conversando com Lucca e assim que me
ver entrar eles encerram a conversa.
Luna está sentada em uma das poltronas
com Kay no seu colo.
— Como você está Irmão? —
Pergunta Luna e eu balancei a cabeça.
— Irritado e confuso, mas eu
estou bem. — Respondo e todos
assentem.
— Vai nos contar o que está
acontecendo com você e aquele
Ragazzo? — Filippo pergunta e eu olhei
por um tempo.
— Não adianta dizer que não está
acontecendo nada, nós podemos ver. —
Lucca enfatizou e eu respirei fundo.
— Eu não sei dizer, vocês sabem
que eu nunca me importei com ninguém
além dos membros dessa família. —
Falo nervoso, me sentando na minha
cadeira e colocando as mãos na cabeça.
— Ei, não estamos aqui para te
julgar ou o que quer que seja, vamos te
ajudar Irmão. — Luna disse calmamente
e eu levantei a cabeça.
— Conte-nos o que você sentiu
quando viu Andrea pela primeira vez.
— Filippo pediu sério e eu pensei por
um tempo.
— Ele estava machucado e a
primeira coisa que pensei foi que ele era
a criatura mais linda que já vi. Não
gostei de ver os seus machucados,
queria encontrar quem fez isso com ele a
acabar com sua vida. Encantei-me com a
cor de seus cabelos dourados, seu jeito
calmo e sério de falar. Seus olhos
assustados esperando que eu possa vir te
machucar são massacrantes para mim.
— Falo sem conseguir me conter e vi
meus irmãos me olhar cada um com um
sorriso no rosto.
— Ele sofreu muito no tempo que
ficou preso a Bratva. — Lucca disse e
eu cerrei os olhos na sua direção.
— Como você sabe disso? —
Pergunto rudemente e ele levantou as
mãos em sinal de rendição.
— Calma ao tigrão! Antes de
virmos para cá Nonna disse que se por
algum a caso nos tratássemos seu
protegido grosseiramente ela iria nos
matar, pois ele já sofreu o suficiente de
uma vida inteira. — Lucca disse e eu
relaxei.
— Até nossa mãe está encantada
com Andrea. Estou louca para conhecê-
lo melhor. — Luna disse sorrindo
lindamente e eu assinto.
— Enzo! — Chamou Filippo e eu
voltei meus olhos para ele. — Você sabe
o que está sentindo por Andrea, só não
quer admitir ainda.
— O que você está dizendo? —
Pergunto confuso e ele deu um sorriso
pequeno quase imperceptível.
— Quando conheci o meu Bello
me senti da mesma maneira. A confusão
dos seus sentimentos é totalmente
normal, somos feitos do mesmo material
e a desconfiança vem em primeiro lugar.
Mas pense direito e reflita de verdade o
que você sente por aquele homem. Sinta
irmão, faça isso por você e por ele
também. — Disse Filippo com firmeza e
eu parei estático por um tempo.
O que eu sinto por Andrea? Porra!
Eu quero protegê-lo com minha vida,
adoro olhar para o seu sorriso porque é
a coisa mais radiante que já vi. Seu
cheiro é a coisa mais deliciosa que já
pude sentir, seus olhos que mudam de
cor e dependendo da luz que reflete
sobre ele é incrível de se ver. O modo
que seu corpo pequeno, em contraste
com o meus de 1,93 de altura, se encaixa
perfeitamente meu. Doce Jesus! Olho
para meus irmãos com os olhos
arregalados e todos eles assentem me
dando a certeza do que está
acontecendo. Eu estou completamente e
irrevogavelmente apaixonado por
Andrea, meu anjo, meu pequeno loiro.
— Eu estou apaixonado por ele!
— Sussurrei e ouvi o grito de Luna.
— Ganhei! — Grita ela se
levantando para fazer uma dancinha
ridícula me deixando confuso.
— Merda, sorellina! — Disse
Lucca com cara feia pegando sua
carteira.
— Pare de reclamar e pague logo.
— Filippo disse pegando sua carteira
também.
— Espera aí! Vocês fizeram uma
aposta? — Pergunto eles riram.
— Claro! Eu fui a ganhadora, eu
sou demais! — Luna disse feliz
abraçando Kay.
— Que tipo de aposta foi essa? —
Pergunto já me sentindo irritado.
— Não fique irritado irmão, você
estava demorando demais para entender
seus sentimentos. Todo mundo já sabia
menos você. — Lucca disse
descontraído e eu fiquei sem entender
novamente.
— Como assim todo mundo já
sabia? — Pergunto olhando para
Filippo.
— Você nunca aceitaria ficar com
alguém na sua casa e depois daquele
telefonema sabíamos que você estava
desenvolvendo sentimentos por ele. —
Filippo disse sério e eu balancei a
cabeça desnorteado.
— Fora que Mamma sabia que
sua preocupação com Andrea era mais
um indício. — Luna disse e Lucca
confirma.
— Eu já sabia, por que não tem
como não se apaixonar por aquela coisa
pequena e fofa. — Lucca disse em um
tom provocador e eu cerrei o maxilar.
— Sugiro que não fale sobre ele
desse modo, não faça isso Irmão, para o
seu bem. — Ameacei e ele soltou uma
gargalhada.
— Eu sempre disse que você ia
ser o pior de todos. Ainda bem com essa
de “Isso não é para mim” ou “Não vai
acontecer” — Luna brincou e eu nego.
— Mas eu nunca achei que fosse
gostar de alguém. — Murmurei me
sentindo envergonhado.
— Essas coisas só acontecem
irmão, e quando acontece não tem mais
volta. — Filippo disse e soltei um
suspiro.
— De que foi essa maldita
aposta? — Pergunto novamente me
sentindo derrotado.
-Nós apostamos que você não
demoraria nem uma hora para admitir
que finalmente se apaixonou. — Lucca
resmungou e Luna deu língua para ele.
— Eu disse que em menos de uma
hora, já Lucca disse que depois de duas
horas e Filippo foram três horas. Eu
conheço meus irmãos. — Luna disse
feliz e eu balancei a cabeça
negativamente.
— Seus bastardos! – Murmurei
derrotado.
— Também te amamos, Zuco! –
Luna e Lucca disserem junto e Filippo
só afirma com a cabeça.
Eles ficaram falando entre si
sobre essa aposta e minha cabeça
começou a divagar. Fico me perguntando
como vou fazer para poder me
aproximar de Andrea, ele um homem
que nitidamente foi abusado. Como
posso me aproximar de uma pessoa que
pode escapar por entre os meus dedos a
qualquer momento? Agora tenho total
clareza que eu realmente o quero para
mim, além de me sentir atraído
fisicamente pelo seu corpo pequeno de
pele pálida, cabelos loiros caídos nos
ombros. Merda! Só de lembrar me sinto
excitado de repente. Foda-se! Eu não
sou um homem delicado, nunca soube
ser delicado e Andrea merece toda a
delicadeza que alguém pode ter. Agora
tenho total certeza de que ele é meu e os
sentimentos que estou sentindo por ele
só está crescendo.
— Enzo! — Filippo me chamou
em um tom forte e eu pude acordar dos
pensamentos.
— Sim? — Pergunto e ele franziu
o cenho.
— O que houve? Você ficou
pensativo demais por um tempo. —
Filippo disse me analisando.
— Eu estou fodido, isso sim!
Muito fodidamente fodido. — Falo e vi
Lucca e Luna tentando não rir.
— Por que você diz isso? —
Pergunta Lippo e vi ele olhar para os
outros dois de cara feia. — Vocês dois
podem parar?
— Desculpe, mas é que é muito
engraçado ver o senhor “Isso não é para
mim”, dessa maneira. — Lucca brincou
e eu joguei a primeira coisa que achei na
minha mesa nele.
— Stronzo! (Imbecil) — Falo
irritado.
— Volte a falar, irmão. — Disse
Luna dando uma tapa na cabeça de
Lucca.
— Não faço a menor ideia de
como chegar até ele. — Soltei e vi os
três me olharem com confusão. —
Andrea acha que eu só o aceitei na
minha casa por causa de Nonna, ele
pode achar que eu só o quero por causa
disso. Porra! Ou até achar que quero
brincar com ele. — Falo me sentindo
nervoso.
— Enzo, você tem que ser sincero
com ele. — Filippo disse simplesmente.
— Sim, diga a ele como você está
se sentindo em relação a ele, mas
cuidado para não o assustar. Diga de
uma maneira que ele possa entender e
não fuja de você. — Lucca disse e todos
concordaram.
— Isso é tão complicado. — Falo
puxando meus cabelos e senti uma mão
na minha cabeça.
— Ninguém disse que seria fácil
irmão, mas você tem certeza de que o
quer tê-lo ao seu lado? — Luna pergunta
docemente e eu assinto rapidamente.
— Uma foda de certeza! — Falo
sério e ela sorriu largamente.
— Então você sabe muito bem o
que fazer. — Disse ela e me abraçou em
seguida. — Estou tão feliz por você.
— Grazie, Sorellina! — sussurro,
retribuindo o abraço.
— Você sabe que sempre pode
contar com a gente. — Lucca disse e
Filippo afirma com a cabeça.
— Nunca duvidei disso! — Falo
com fervor.
— Onde estão todos? — pergunto,
estranhando eles estarem sozinhos.
— Todo mundo está esperando
por você e Andrea na mansão. —
Filippo disse e eu isso não me deixou
bem um pouco surpreso.
— As crianças estão loucas para
ver o tio Zuco — Luna diz e eu dou uma
risada.
— Claro, eu sou o melhor tio
deles — falo em um tom mais leve.
— Claro, você prometeu uma
viagem a eles. Não sei como você vai
fazer isso com várias crianças. — Lucca
disse revirando os olhos. — E tem que
levar Isabel também, seus dentes estão
nascendo com força total e Luigi, eu e
Gio precisamos dormir.
— Confio minha vida a você, mas
se você for levar meus filhos nessa
viagem acho melhor cuidar deles ou eu
mato você. — Filippo disse com um tom
de ameaça.
— Com certeza! Não, Isa é toda
de Ursão. Ela adora esse tio todo
peludo. — Brinquei e Filippo me olhou
com raiva.
— Vai se foder! — Disse ele
irritado e eu dei risada.
— Ele está caído no amor,
podemos dizer que ele já está fodido. —
Luna disse e eu olhei para ela sem
acreditar.
— Enzo, agora eu realmente
posso dizer que você está pagando a
língua. Enzo se apaixonou! — Lucca
disse e eu não pude não rir de sua
idiotice.
Após os risos de pura gozação
com a minha cara começamos a falar
sobre os acontecimentos de hoje na
boate de Nonna. Ainda não estou por
dentro dos danos que aqueles filhos da
puta fizeram, mas tenho pessoas
trabalhando nisso, minha preocupação
maior foi com Andrea que estava
sangrando nos meus braços. Mas tenho
certeza de que logo eu receberei o
relatório de como está o lugar e
mandarei que arrumem tudo do jeito que
era antes. Paramos de conversar quando
ouvimos uma batida na porta, Timóteo
aparece dizendo que o doutor deseja
falar comigo e eu falo para ele mandar
Vitório entrar.
— Olá Vitório, algum problema
com Andrea? — Pergunto em prontidão
e ele nega.
— Será que podemos falar em
particular? — Pergunta ele e eu nego.
— Não há necessidade disso,
pode falar. — Falo e ele entrou mais
escritório.
— O paciente não teve nenhum
dano preocupante, devido a perda de
sangue ele ficou fraco, mas o ferimento
foi limpo. — Vitório diz e eu posso
respirar com um certo alívio.
— Isso é bom! — falo para
ninguém em específico.
— E há outra coisa que eu queria
falar com você. — Disse o médico e eu
assinto.
— Não sei se você está ciente,
mas o corpo daquele ragazzo tem marcas
de ferimentos antigos e posso dizer que
até por cirurgia ele foi submetido. —
Vitório disse com curiosidade e eu
cerrei o maxilar.
— Ele não teve uma vida fácil e
isso é tudo que posso dizer. — Falo
entre dentes e vi que meus irmãos
também não estavam gostando dessa
conversa.
— Mas… — Levantei a mão
impedindo que ele falasse.
— Obrigado por ter vindo aqui e
cuidado de Andrea. — Falo e ele me
olhou por um tempo e balançou a
cabeça.
— O que será que ele quis falar?
— Pergunta Lucca assim que a porta foi
fechada.
— Não sei, mas isso é um
particular de Andrea. Se ele um dia
quiser me contar sobre as coisas que ele
passou eu estarei aqui para ouvi-lo. —
Falo seriamente e eles assentem.
— Você faz bem, a confiança é a
chave de um bom relacionamento. —
Filippo lembrou e todos nós assentimos.
— Pode ter certeza de que quando
ele se sentir seguro vai conversar com
você. — Lucca disse e eu o olhei por um
tempo.
— Se ele me aceitar na sua vida.
Porra, eu nunca pensei que estaria nessa
situação. — Falo derrotado e eles riram.
— Isso são coisas que não
sabemos explicar – Filippo resmungou e
eu assinto.
— Acho que foram as promessas
de Mamma. — Brincou Luna e eu
arregalei os olhos.

— Nem brinca com uma coisa


dessas. — Falo nervoso.
— Acho que vou levar Kay
comigo. — Lucca disse de supetão
enquanto brincava com o meu cachorro.
— Não comece com suas
provocações, idiota! Você já tem aquele
vilão. — Falo e ele soltou uma
gargalhada.
— Deixe o cachorro de macho do
nosso irmão. — Filippo disse com sua
carranca, mas sabia que seu tom estava
de gozação.
— Eu deveria ter sido filho único.
— Brinquei vendo Lucca piscar para
mim, Luna soltar beijo e Filippo revirar
os olhos.
— Também te amamos. —
Disseram juntos e eu sorri largamente.
— Eu sei! — Falo com desdém e
eles negaram com a cabeça.
Estamos conversando e minha
vontade de subir para ver Andrea era
muito grande, mas preferi ficar aqui e
deixá-lo dormir. Saímos do escritório e
fomos para sala, meus irmãos disseram
que deveríamos ir para casa dos nossos
pais porque não aguentam mais controlar
a todos que querem conhecer Andrea.
Dio, esse povo todo vai assustar o meu
pequeno loiro.
Entramos em alerta quando
ouvimos um grito alto, meu coração
pulou na batida quando eu me situei que
aquele grito era de Andrea. Meus irmãos
me encararam com um misto de surpresa
e solidariedade, incentivando para que
eu fosse logo acalmá-lo. Sem perder
tempo corri para o andar de cima, e ao
entrar no quarto vejo Andrea preso em
mais um dos seus pesadelos.
— Anjo! Anjo, eu estou aqui. —
Me sento na cama e com cuidado para
não mexer no seu braço ferido o puxei
para meus braços. — Andrea, acorde!
— Imediatamente seus lindos olhos
cristalinos se abriram e ele me olhou
atentamente.
— Ele não pode te ferir. — Disse
ele em um tom sofrido.
— Quem não pode me ferir, anjo?
— Pergunto e ele me se aconchegou a
mim com o corpo tremendo.
— Fyodor, ele não pode te
machucar como me machucava várias
vezes. — Disse ele em um tom de voz
trêmulo. E eu me senti confuso por não
saber quem era esse tal Fyodor.
— Andrea, olhe para mim. —
Peço, levantando seu rosto e me vi
perdido na dor que ele estava
carregando. — Ninguém vai me
machucar, eu vou estar bem e vou cuidar
de você.

— Eles podem e se isso acontecer


eu vou acabar destruído, mas destruído
que já estou. — Andrea disse baixinho e
sem pensar em mais nada aproximei seu
rosto no meu, colando nossas testas.
— Me dê liberdade para cuidar
de você, por favor. Deixe-me tirar sua
dor, deixe-me mostrar o que é viver de
verdade. Eu prometo que vou fazer o
meu melhor, o melhor por nós dois. —
Sussurrei me sentindo embriagado com
seu cheiro.
— Mas como? — Pergunta ele e
eu não pude mais me controlar, sendo
assim colei meus lábios nos seus.
Andrea ficou parado por um
tempo sem saber o que fazer e não perdi
tempo, pois eu precisava prová-lo.
Provoquei a abertura de sua boca e
assim que o caminho foi livre iniciei um
beijo profundo o fazendo suspirar.
Quando sua língua tímida se entrelaçou
com a minha soltei um gemido rouco de
pura apreciação. Afastei seu corpo
parando o beijo e me encantei com seus
lábios inchados e suas bochechas
vermelhas causadas pelo meu beijo. O
puxei novamente segurando seus cabelos
pela nuca e o beijei novamente com
mais fervor, o fazendo ter certeza de que
era ele que eu queria.
Doce menino Jesus, beijar ele é
como me perder em uma fantasia onde
eu nunca mais vou querer voltar para a
realidade. Espero que ele não me afaste,
pois eu jamais conseguirei deixá-lo ir.
Acho que estou sonhando. Com
certeza eu devo estar no melhor sonho
da minha vida, porque não tem nenhuma
maneira de Enzo está me beijando. Eu
me sinto tão bem que se for um sonho, eu
não faço nenhuma questão de acordar.
Suas mãos grandes segurando meu
cabelo e minha cintura possessivamente
enquanto controlava o beijo, beijo esse
que me faz viajar em um mar de
sensações que nunca foi tão intensas
para mim. Enzo explora cada canto de
minha boca e seu gosto está preso em
mim de um jeito que me faz querer
provar mais e mais. Nunca fui beijado
de um jeito tão delicado e forte ao
mesmo tempo, ele vai parando um beijo
com leves mordidas nos meus lábios
inferiores e selinhos curtos.
Após nos afastar somente para
que possamos encarar um ao outro, sinto
nossas respirações aceleradas. Olho
ansiosamente para seus olhos castanhos
e selvagens, já esperando que ele se
afaste abruptamente e diga que isso que
acabou de acontecer foi um erro, um
erro que jamais irá voltar a acontecer.
Era o que eu deveria estar fazendo, eu
deveria afastar ele de mim enquanto a
tempo, tempo para esse sentimento que
habita em mim não cresça. Não quero e
não posso me deixar ser machucado, não
sei se suportaria carregar mais uma dor.
— Seja o que for que você esteja
pensando, tire isso de sua mente agora
mesmo. — Enzo sussurrou me
assustando.
— Como você sabe o que eu estou
pensando? — Pergunto abaixando minha
cabeça, mas ele a suspendeu para que eu
não desviasse o olhar.
— Você é a pessoa mais
transparente que eu conheço. Posso ver
através de seus olhos lindo. — Enzo
disse me fazendo sentir exposto.
— Tem coisas sobre mim que não
quero que você veja ou saiba. — Falo e
ele nega.
— Não me importo com isso,
saberei aquilo que você quiser que eu
saiba. — Falou ele com confiança e eu
tentei sair do seu aperto.
— Não faça isso, continue onde
está quero segurar você. — Enzo pediu
em um tom forte e eu assinto.
— Você não entende Enzo. —
Falo cabisbaixo e ele me olhou com
confusão.
— O que você quer dizer com
isso? — Pergunta ele e eu engoli em
seco.
— Isso entre nós não pode
acontecer. — Falo e ele me soltou
instantaneamente.
— Por que você está falando
isso? — Pergunta ele rudemente e eu
respirei fundo.
— Você não merece uma pessoa
como eu na sua vida. Eu deveria ter
saído daqui quando percebi que eu
estava tendo sentimentos por você. —
Falo me sentindo angustiado. Senti meu
corpo ser levantado e quando vi eu
estava sentado no colo de Enzo com o
rosto de frente para o dele.
— Jamais diga essas coisas sobre
você e nem ouse se afastar de mim.
Entendeu? — Pergunta ele com firmeza
com seus olhos perfurando os meus.
— Mas você jamais vai entender.
— Falo sério e ele nega.
— Me faça entender! — Pediu ele
e eu o olhei com descrença.
— As pessoas nunca entendem o
que os outros podem fazer para poder
sobreviver. Elas nunca entendem! —
Falo sentindo meu peito doer com o
vazio.
— Eu não sou um bom homem,
Andrea! Então eu posso entender você,
mesmo sem você nunca ter me contado
nada. — Enzo falou com fervor e eu o
olhei sem entender.
— Você é sim um bom homem,
você cuida de mim de um jeito que
ninguém jamais cuidou. — Falo com
confusão e ele nega.
— Não, eu não sou. Eu faço de
tudo, tudo mesmo para proteger as
pessoas que eu amo. Nunca me
arrependi de tirar a vida de pessoas que
tentaram machucar os meus. Não tenho
pena e muito menos compaixão. —
Falou ele fazendo meus olhos se
arregalaram surpresa pelo seu tom de
voz sombrio, mas tudo que eu vejo nos
seus olhos o bom homem que eu sei que
ele é.
— Eu sou danificado, Enzo. Eu
estou totalmente quebrado. — Falo e ele
respirou fundo.
— Eu vou te ajudar a se curar.
Andrea você não vai estar mais sozinho,
eu venho com um grande pacote de
pessoas incríveis e totalmente
intrometidas que vão querer sempre te
roubar de mim. — Resmungou Enzo me
fazendo rir.
— Sua família? — Pergunto com
um pequeno sorriso e ele assente.
— Sim, eles sabem que eu estou
caído por você. Totalmente caído e não
tem maneira no inferno que eu vá me
afastar de você. — Disse ele e eu o
olhei por um tempo.
— Não quero envolver sua
família nessa minha vida tão complexa.
Eu não vou ser deixado assim tão fácil.
— Falo e ele me fitou com raiva.
— Esses filhos de uma puta
podem tentar, mas eu sou um
Aandreozzi. — Lembrou Enzo com
convicção. — Então você aceita ser
meu? — Pergunta ele e eu senti meu
coração bater forte.
O que Enzo está me propondo é
algo que eu jamais poderia imaginar que
poderia acontecer comigo. Desde o
momento que pus meus olhos nesse
grande homem naquela noite na boate eu
sabia de alguma maneira que ele mexia
comigo. Mas eu não posso permitir que
o maldito do chefe da família Bratva
descubra o quanto esse homem na minha
frente se tornou importante para mim.
Não posso permitir, porque todas as
pessoas que eu considerei importante
ele matou. Matou de um jeito frio e
totalmente perverso, deixando saber que
estava fazendo isso por culpa minha.
Enzo não pode ser uma dessas pessoas,
eu já perdi demais e não posso me
permitir sentir algo para depois ser
brutalmente retirado de mim.
— Responda-me Anjo. — Pediu
novamente e senti minha boca ficar seca
de repente.
— Enzo, é perigoso para você
ficar perto de mim. Não posso
permitir… — Tentei falar mais ele me
calou com outro beijo.
Esse beijo foi forte e totalmente
punitivo Enzo queria me passar uma
mensagem é essa mensagem foi passada
com sucesso. Com esse beijo ele está
assinalando o homem forte que ele é,
coisa que eu nunca pude dizer o
contrário, pois reconheço sua força,
reconheço o poder emana dele. Afasto o
beijo rapidamente quando sinto algo
duro pressionar na minha bunda, olho
para Enzo assustado e sinto vontade de
me chutar por sentir medo. Enzo pede
para que eu respire fundo e me afasta um
pouco de sua ereção, peço desculpas
para ele, mas como um bom homem que
é somente balança a cabeça
negativamente e diz que está tudo bem e
me pede perdão pelo acontecido. Deus,
esse homem realmente existe?
— Desculpa… eu… eu... —
Gaguejei envergonhado pela minha
atitude e Enzo nega novamente.
— Estou aqui, anjo. Não se
desculpe por algo que você não pode
controlar. Lembre-se que estou aqui e
vou cuidar de você agora. — Disse ele
com tranquilidade e eu o abracei.
— Eu sou uma carga muito
grande. — Confessei e ele riu.
— Uma foda de carga linda que
vou fazer questão de manter o olho. —
Brincou e eu sorrir.
— Falando assim até parece que
eu sou o mais admirável do homem. —
Falo é Enzo me encarou como se não
acreditasse o que eu acabei de falar.
— Andrea? Você é a criatura mais
linda que já vi. — Falou e eu sei que
fiquei vermelho.
— Você tem certeza de que quer
fazer isso? — Pergunto e ele assente. —
Eu acho que me encantei por você desde
a primeira vez que te vi na boate. —
Confessei e um pequeno sorriso surgiu
nos seus lábios.
— Então quer dizer que você me
viu tirando a roupa? — Enzo pergunta e
eu me engasgar com a saliva. — Ei anjo,
está melhor? — Enzo Pergunta
preocupado ao me ver tossir.
— Estou! Você não pode falar
essas coisas assim do nada. —
Murmurei e ele riu baixinho.
— Não tem problema nenhum
gosta de me ver tirar a roupa. —
Brincou e eu nego com a cabeça.
— Vejo todo dia homens tirando a
roupa. — Falo com desdém e Enzo
aprofundou uma carranca.
— Não gosto disso! Vou mandar
Cyro levar uma venda para quando
aqueles bastardos começarem a tirar a
roupa ele colocar em você. — Enzo
começou a divagar com uma expressão
pensativa e eu dei uma tapa no seu
ombro, me assustando com meu ato em
seguida.
— Desculpe, Enzo… — Não
terminei de falar porque Enzo me parou
com o dedo indicador.

— Anjo, não tenha receios


comigo. Você tem liberdade para ser
você mesmo, eu quero que você seja
você mesmo. Entende? — Ele disse de
modo sério e eu olhei para ele com
encantamento. — Voltando a parte da
venda eu acho… — Começou ele mais
foi a minha vez de interromper.
— Não comece com isso! Imagina
só que horror o gerente andar de venda
por causa do meu… — Olhei para ele
sem saber o que ele era meu e vi um
largo sorriso na sua boca.
— Oh sim, o seu namorado. Eu
sou seu namorado. Pode falar, anjo —
Disse ele em alto e bom som.
— Meu namorado? — Sussurrei
desacreditado.
O Andrea de Riomaggiore
sonhava em um dia encontrar alguém
legal para namorar, mas hoje em dia eu
nunca imaginei que um dia isso fosse
acontecer na minha vida. Olho para
Enzo sem conseguir acreditar no que ele
acabou de falar, ele franze o cenho sem
entender por que eu estou olhando para
ele. Eu nunca fui namorado de ninguém,
sempre fui forçado a fazer tudo o que fiz
na minha vida e a palavra namorado tem
um grande significado para mim, isso
quer dizer que eu não vou ter um dono
que vai mandar e desmandar nas minhas
vontades. Não, eu vou ter um
companheiro e isso é muito para mim,
pois esse homem lindo que está na
minha frente quer ser meu namorado.
— Anjo? O que foi, eu falo algo
ruim? — Pergunta Enzo com aflição e eu
nego rapidamente.
— Não, você nunca diz algo ruim
para mim Enzo. — Falo e ele assente.
— Mas o que aconteceu? Você
está com uma expressão estranha. —
Disse ele e eu tentei sorrir.
— Você quis dizer isso mesmo?
— Pergunto e ele ficou com uma
expressão pensativa.
— Dizer o que? Que eu sou seu
namorado? — Balancei a cabeça
confirmando e ele sorriu.
— Claro que sim, eu sou um
homem de família. Para ficar comigo
tem que ter um relacionamento, apesar
de eu nunca ter tido um. — Enzo disse
de modo sério e isso em rendeu um riso.
— Não acredito que nunca teve
um relacionamento. Você é tão… tão…
sei lá. — Falo e fui deitado na cama
sentindo o ferimento do meu braço doer,
o que me rendeu uma careta.
— Te machuquei? Puta merda! Me
desculpe anjo. — Enzo disse com uma
cara de assustado.
— Não, só fui um puxar, nada
demais. — Falo e ele me analisou por
um tempo e depois assente.
— Tudo bem. — Falou ele e
juntou nossos lábios novamente,
iniciando um beijo leve e muito bom. —
Beijar você é tão diferente. — Disse me
deixando sem graça.
— Não di… — Iria expor minha
vergonha, mas paramos abruptamente
com um barulho alto.
— Lucca seu infeliz, você pisou
no meu pé. — Disse a voz de uma
mulher muito irritada.
— Fala baixo, sorellina! — A voz
de um homem se fez presente e depois
um barulho que parecia um tapa. —
Porra, mulher!
— O que diabos vocês dois estão
fazendo aí? — Pergunta uma voz
masculina grave com raiva. Olhei para
Enzo sem entender e ele está com uma
expressão bem feia no rosto.
— Enzo? — Pergunto e ele se
levantou da cama.
— Só um momento anjo, vou por
uns inconvenientes para fora. — Disse
ele entre dentes e eu olhei sem entender.
— Quem está aí? — Pergunto com
curiosidade.
-Meus irmãos, mas também
conhecidos como pessoas mortas. —
Enzo disse enquanto caminhava até a
porta do quarto.
Observei Enzo caminhar e dei um
pulo quando percebi que ele tinha
acabado de dizer que seus irmãos
estavam do outro lado da porta. Procurei
por minhas roupas, mas olhando para os
lados não as encontrei, com certeza elas
devem ter sido destruídas para poder
fazer o atendimento médico. Entro nos
lençóis e ouço a voz irritada de Enzo no
corredor sendo acompanhada por mais
duas, a voz da mulher diz nitidamente
que quer saber se eu estou bem, mas
Enzo diz que eu preciso descansar. Um
pequeno sorriso surgir nos meus lábios
porque mesmo ele irritado o carinho na
voz para falar com os irmãos é bem
claro.
Me levanto da cama e vou até o
closet de Enzo rapidamente, procuro por
uma camisa dele e encontro uma preta, a
visto percebendo que ela bate na altura
do meu joelho. Também não é de
estranhar já que eu tenho 1,65 e
comparado ao que penso ser 1,90 de
Enzo, as roupas dele ficaram bem
grandes em mim. Espero que ele não
brigue comigo por ter pegado as coisas
dele, não tenho a intenção de deixá-lo
chateado. Balanço a cabeça ainda sem
acreditar na conversa anterior que tive
com ele, para falar a verdade eu nem
estou acreditando que ele me beijou. E
esse beijo mexeu muito, muito mesmo.

— Você está sendo um bastardo,


só queremos ver se nosso cunhado está
bem. — Disse uma voz divertida que
acho ser a de Lucca. O conheço de uma
videochamada que fiz com Francesca.
— Tenho que concordar com Luc,
você está sendo um bastardo. — Uma
mulher falou e com certeza desse ser
Luna, que só vi uma vez, mas Francesca
está sempre falando dos seus netos então
é como se eu os conhecesse.
— Me ajude aqui Lippo! — Pediu
Enzo com raiva.
— Eu não, você está me pagando
por você ajudar eles dois a me atazanar
quando conheci o meu marido. — Ele
responde de modo rude. Fui caminhando
até a porta onde Enzo impedia a
passagem das pessoas e ao me ver Enzo
arregala os olhos.
— Anjo, você deveria estar
deitado! — Disse ele largando a porta e
vindo à minha direção.
-Isso aqui não foi nada, eu estou
bem. — Falo e ele me acomodou nos
seus braços. — Peguei uma blusa sua,
tudo bem? — Murmurei e ele assente.
— Claro, você pode usar o que
quiser. — Enzo disse me fazendo
encará-lo. Como pode um homem ser tão
diferente?
— Cadê seu celular, Luna. Temos
que guardar esse momento, nosso Zuco
está apaixonado. — Me afastei do
aperto de Enzo me sentindo
constrangido, mas ele me pegou
novamente.
— Você é um idiota, Lucca. —
Enzo resmungou fazendo os outros
rirem.
— Já que você é um sem noção e
não nos apresenta nosso cunhado eu vou
tomar a frente da situação. — Luna disse
dando um passo para frente sorrindo
largamente para mim. — Oi Andrea, eu
sou Luna, aquele retardado sorrindo é
Lucca e o enfezado com cara de bunda é
Filippo. — Olhei para todos e assinto,
mas desviei rapidamente quando vi o
rosto impassível de Filippo.
— Bem-vindo a família, cunhado.
Estamos muito contentes por Enzo, que
finalmente se deixou ser encantado por
alguém. — Luna disse me tirando dos
braços de Enzo para me abraçar. —
Vamos cuidar de você! — Sussurrou
Luna no meu ouvido me causando
surpresa.
— Não machuque o braço dele,
Luna. — Resmungou Enzo e Luna se
afastou para olhar para ele com cara
feia.
— Deixe de ser uma besta! —
Reclamou ela me fazendo rir.
— Eu com certeza não sou uma
criatura frágil feita de vidro. — Falo
fazendo Luna e Lucca rir.
— Vamos nos dar bem, cunhado!
— Lucca disse me deixando sem jeito.
— Como sabe, eu sou o mais lindo e
encantador dessa família. Tentei roubar
Luti do Ursão ali, mas ele não me quis e
você vai ser minha nova conquista. —
Piscou Lucca e Enzo saltou em cima
dele o fazendo desviar caindo na risada.
— Eu vou matar você! Vou falar
com Luigi para ele procurar novas
adições. — Enzo disse e vi Filippo dar
um sorriso pequeno ao ver a cara
fechada de Lucca.
-Luigi é meu! Meu e somente meu!
— Lucca disse entre dentes nos fazendo
rir.
— Mas que besteira irmãozinho,
Luigi irá expandir seus horizontes. —
Filippo disse impassível e vi Lucca
fazer um som de pura irritação.
— Ele não está louco! Olha essa
conversa não é legal. — Resmungou
Lucca descontente e Luna foi até ele.
— Luigi jamais faria uma coisa
dessas, não é verdade seus bastardos?
— Luna pergunta com um olhar matador
para Enzo e Filippo.
— Claro, sorellina! — Os dois
disseram juntos, vi Lucca respirar
aliviado e depois abrir um sorriso.
— Bem-vindo, Andrea! Espero
você se sinta à vontade com a nossa
família. — Filippo disse me deixando
surpreso. — Não me olhe com essa cara
de espanto, não sou o mais comunicativo
ou sensível nessa família, mas eu estou
feliz pelo meu irmão também.
— Um grande Ursão cheio de
amor. — Enzo brincou com Filippo me
fazendo olhar para ele rapidamente e
percebi a troca de olhar entre eles.
Coisa que só quem é muito próximo para
entender.
Observando esses irmãos eu senti
uma coisa que a um longo tempo eu não
sentia. Esperança! Sim, esse contato de
amor e fraternidade entre eles é a coisa
mais incrível que alguém pode
presenciar de perto, e eu me sinto bem
por poder está sendo aceito aqui mesmo
que ninguém aqui me conheça por
inteiro. Nossa, pensar neles me
conhecendo de verdade me dar um frio
na barriga de puro medo, e se eles não
conseguirem entender que tudo o que fiz
foi porque eu fui forçado, se acharem
que eu posso machucar Enzo
propositalmente, se… Os seis rondam
minha cabeça que me faz perder
totalmente o meu senso de realidade,
sinto duas mãos grandes me segurou
pelo ombro e vejo o corpo de Enzo
tomar a frente do meu campo de visão.
— Seja o que for que esteja
rondando sua cabeça, pare. Só pare! —
Disse ele me fazendo encará-lo com
surpresas.
— Mas eu… — Ele me
interrompeu balançando a cabeça e
aconchegou meu corpo no seu.
— Você é muito transparente, meu
anjo. Não pensem em nada, pode ser? —
Enzo pediu e um relutantemente afirmo.
— Tudo bem, farei o meu melhor.
— Disse em um tom baixo e vi seus
irmãos me encararem pensativos. Lucca
franzi o cenho quando pega seu celular
que está tocando.
— Oi amore! — Diz ele sorrindo.
— Já vamos levar Enzo e seu namorado
para a mansão. Estamos aqui o
conhecendo. Certo, elas já vão dormir?
Sam se recusa a dormir sem antes ver o
tio palerma? — Lucca disse com cara de
desdém e vi Enzo abrir um largo sorriso.
— Não tenha ciúmes, Sam me
ama. Assim como meus outros
sobrinhos. — Enzo disse em um tom que
nunca o ouvir falar, leve e descontraído.
E eu gostei de ver ele assim.
— Cala a boca seu bastardo! —
Luna disse irritada e Filippo balançou a
cabeça.
— Reconheça Luna que eu sou o
tio preferido de todos. — Provocou
Enzo e Luna o olhou sem emoção.
— Você é Lucca compra essas
crianças. — Resmungou ela cruzando os
braços.
— Vamos, não é? Tenho que
colocar minhas filhas para dormir.
Filippo, seu Bello disse que se você não
aparecer ele vai vir, porque ele também
que conhecer Andrea. — Lucca disse
guardando o celular.
-Por que ele falou com você e não
comigo? — Pergunta Filippo pegando o
celular e Lucca riu.
-Na verdade ele grita por cima de
Luigi. Lá se foi o Luti tímido, daqui uns
tempos vai ser você Andrea. — Lucca
disse me deixando sem jeito.
— Eu não sou tímido. — Falo
sério e senti minhas bochechas
esquentarem. — Tudo bem, acho que um
pouco.
— Então vamos? Estou com fome!
— Luna disse segurando a barriga
ampla.
— Vamos para você conhecer o
resto dos integrantes dessa família? —
Enzo pergunta e eu engulo em seco,
assentindo logo em seguida.

— Eu acho que sim. — Falo e ele


sorriu.
— Não fique nervoso, tenho
certeza de que todos vão te adorar. —
Enzo beija minha testa e eu tento sorrir.
— Vamos subir para você pegar suas
coisas.
— E você? — pergunto e ele
nega.
— Não há necessidade, temos
roupas na casa de Mamma — Enzo diz
apontando para os irmãos que assentem.
Subir com Enzo até meu quarto e
antes de fazer uma pequena mala eu fui
tomar um banho. Eu estava sujo devido
às coisas que aconteceram naquela
tarde, tinha resto de sangue no meu
corpo e ver isso estava me incomodando
bastante. Durante o banho me peguei
sorrindo ao lembrar do meu beijo com
Enzo, nunca imaginei que aquele homem
que conheci a alguns dias atrás, com sua
expressão sempre séria, fosse um
homem doce com as palavras e
principalmente com seus toques. Nunca
tive toques tão bons quanto os que Enzo
me proporcionou.
Balançando a cabeça saio do
banho, fui até o closet e coloquei uma
calça jeans, uma camisa de manga
comprida cinza com cuidado para não
abrir os pontos do braço, arrumei
algumas roupas na sacola, prendi meu
cabelo e quando estou virando para
pegar meu tênis vejo Enzo parado na
porta me olhando, dou um pulo de susto
colocando a mão no peito. Enzo vem
sem falar uma palavra e me dá um beijo
na testa.
— Desculpe-me por ter te
assustado meu anjo, você estava tão
concentrado que não quis te atrapalhar
— Diz ele abaixando para selar nossos
lábios. Um beijo doce e calmo, Enzo
aprofunda o beijo me fazendo suspirar
em contentamento.
— Beijar você é muito bom! —
Sussurrou ele com nossos lábios juntos.
— Nunca achei que beijar fosse
tão bom. — Confessei e ele me olhou
docemente.
— Nem eu! — Disse e ficou sério
de repente. — Vamos indo meu anjo?
— Tem certeza de que quer que eu
vá, eu posso ficar aqui. — Falo nervoso
e ele parou por um tempo.
— Tenho toda certeza do mundo.
Você faz parte de mim agora Andrea.
Entendeu? — Pergunta ele e eu afirmo.
— Então vamos a família Aandreozzi
está louca para conhecer o meu
namorado. — Disse ele sério e eu não
pude evitar o sorriso.
— Namorado? — Pergunto e ele
riu baixo.
— Sim, eu fui pedido em namoro
hoje. Você acredita, anjo? — Enzo disse
na maior cara de pau e eu balancei a
cabeça negativamente.
— Vou calçar o tênis. — Falo e
ele me deu um beijo curto.
Enzo teimou em me ajudar a
calçar o tênis, isso porque ele disse que
era para não pressionar demais o meu
ferimento no braço. Mesmo relutante eu
não pude deixar de aceitar sua ajuda,
depois de quase morrer de vergonha ao
ver Enzo se abaixar para me ajudar
saímos do quarto. Fomos todos juntos
para os carros e mais alguma escolta de
segurança, não contive em não me senti
mal por pensar que essa segurança toda
era por minha causa, mas Luna disse que
cada saída que os irmãos saem juntos
tem que ser assim porque os inimigos se
aproveitam dessa oportunidade que
todos estão juntos. Entendi o que ela
quis dizer e aproveitei a viagem
admirando como eles se provocam o
tempo todo.
Nunca poderia imaginar que ter
todos os netos de Francesca em um lugar
só, era tão diferente de tudo aquilo que
eu poderia imaginar.
A viagem foi rápida onde me vi
rindo das coisas que Lucca falava para
provocar Enzo e Filippo, os dois mais
sem paciência que pode existir.
Chegamos a uma enorme casa, mesmo
com todo o tamanho a visão familiar se
faz presente. Não há quem diga que
nesse lugar não habita uma grande
família. Senti meus pés ficarem presos
no chão ao sair do carro, mas Enzo me
beijou e disse que tudo estaria bem.
Respirei fundo e me deixei ser guiado
por ele, quando as portas foram abertas
um casal estava a nossa espera. A
mulher eu conheço muito bem, pois ela
foi doce comigo na última vez que nos
vimos, o homem estava com uma
expressão séria, a mesmo que Enzo e
Filippo usam sempre, não tem como não
dizer que não seja o pai deles.
— Estávamos ficando
preocupados, o jantar está esperando
por vocês. — Arianna disse e me
surpreendi ao ver o sorriso curto do pai
de Enzo na direção do seu filho, que
retribuiu o sorriso na mesma
intensidade.
— Sinto muito nos atrasar para o
jantar mamma, mas tivemos um
imprevisto. — Enzo disse chamando
minha atenção.
— O que houve? — Sua mãe
pergunta e veio me cumprimentar com
um abraço. — Fico feliz em te ver por
aqui, meu querido. — Disse e eu assinto
sem jeito.
— Ele vai estar muitas vezes por
aqui, mamma. — Luna disse fazendo sua
mãe olhar para ele em questionamento.
— O que quer dizer? — Arianna
pergunta e uma voz muito conhecida por
mim está presente.
— Seu filho tapado descobriu que
está apaixonado por Andrea. Puta
merda, já não era sem tempo! —
Francesca disse com um grande sorriso.
— Também não precisa falar
assim comigo, nonna. — Enzo
resmungou e sua mãe foi o abraçar.
— Eu estou tão contente por você
meu filho. Está vendo isso, Don? —
Arianna pergunta ao homem que estava
atrás com um sorriso.
— Estou sim, minha flor. Nunca
nos conhecemos meu jovem, mas minha
mãe sempre fala de você. — Donatello
disse e eu me vi ficando nervoso.
— É uma grande honra conhecer o
senhor. — Falo me sentindo feliz por
não gaguejar.
— Não precisa de tanta
formalidade, já que agora você faz parte
da família. Estou certo, filho? —
Donatello pergunta e Enzo me puxou na
sua direção.
— Com certeza, Babo. — Disse
ele dando um beijo na minha boca e me
deixando surpreso.
— Esse momento precisa de uma
foto, eu iria emoldurar. — Disse um
homem um pouco mais alto que eu, indo
em direção a Filippo. — Oi amor! —
Disse ele sendo recepcionado com um
beijo.
— Deixe de graça, Luti. — Enzo
disse me apertando nos seus braços e eu
fiz uma careta por causa do braço. —
Desculpe-me anjo, eu esqueço de seu
braço.
— Tudo bem, não teve nada
demais. — Falo e ele nega com a
cabeça.
— Não diga isso, você tem um
ferimento de bala no braço. — Enzo
disse passando a mão na cabeça e ouvi
um som irritado de Francesca.
— Esse filho de uma cadela já
está mostrando as caras? — Ela
pergunta com raiva e eu afirmo
cabisbaixo.
— Acho que a frente da boate foi
danificada, amanhã irei lá. — Falo e ela
apontou o dedo na minha direção.
— Não comece, não ligo para a
boate e sim para você. — Disse ela me
fazendo assinto.
— Eu sei, mas aquele lugar é
importante para você. — Falo e ela
nega.
— A sua vida é muito mais
importante, ainda mais agora que você
faz parte da família. Dio, como eu
sempre quis isso! — Falou Fran me
fazendo cerrar os olhos na sua direção.
— Você planejou isso quando me
fez ficar na casa de Enzo? — Pergunto
não ligando para o olhar avaliador de
Enzo.
— Não sei, quem sabe! — Disse
ela dando de ombros.
— Mamma sempre aprontando. —
Donatello disse recebendo um olhar
mortal de Fran.
— Está com vontade de levar
umas bifas? Minha mão está coçando
para lhe acertar uns tapas nessa sua
bunda murcha. — Disse Fran fazendo
todo mundo prender o riso por respeito
a Donatello.
— Precisamos de uma reunião
amanhã, quero ficar a par de tudo. —
Donatello disse e Enzo afirma
seriamente.
— Tio Zuco! — Donatello iria
falar mais alguma coisa, mas foi
interrompido pelo coro de vozes infantis
correndo em direção a Enzo.
— Que saudades de vocês! —
Enzo disse com um lindo sorriso
enquanto se abaixava para falar com as
crianças.
Três crianças incrivelmente lindas
vieram sorridentes abraçar Enzo. Parei
para admirar a cena me sentindo
encantado de como ele dava atenção a
todos os três, prestando a atenção em
tudo o que eles estavam falando
minuciosamente, Enzo abraçava e
brincava com as crianças de modo tão
leve que me surpreendeu de verdade.
Tinha uma garotinha de cabelos longos
lisos e olhos bem azuis que contava as
novas artimanhas do garotinho ao seu
lado de cabelos castanhos claros e olhos
da mesma tonalidade. Mas o que me
chamou mais atenção foi o modo sério e
encantador que uma outra garotinha de
cabelos longos negros e cacheados
conversava com ele, era como se fossem
grandes amigos e isso com certeza me
deixou fascinado.
Sempre amei crianças, quando
morava no vilarejo vivia brincando com
os filhos mais novos dos outros
pescadores, muitas das vezes eu servia
de babá para eles quando seus pais
precisavam de alguma folga, era bom e
eu ainda ganhava um trocado. Essa
lembrança me fez rir, mas meu sorriso
foi logo apagado quando eu lembrei de
moy mal'chik (meu garoto). Viktor
sempre foi e sempre vai ser o meu
garotinho, e sua lembrança faz meu peito
sangrar.
Minha vida na Rússia foi um
carrossel de pura tristeza e sacrifícios,
mas eu tive alguns momentos bons e
Viktor com certeza me trouxe alguns
nomes bons. Sua mãe era uma mulher
que foi forçada a casar e dar um
herdeiro para aquele monstro e após
meses do nascimento de Viktor ela se
suicidou, pois não suportou um terço do
que aquele homem é capaz de fazer. Não
posso culpá-la por ter feito o que fez, eu
muitas vezes tentei, mas o desgraçado
nunca permitiu que eu morresse. E agora
fico me perguntando como deve estar o
meu garotinho que cuidei desde que
tinha 3 anos de idade. Juro que tentei
trazer ele comigo, porém minhas
condições naquela época eram muito
pouco favoráveis para sua
sobrevivência.
Olho novamente para Enzo,
tentando esquecer as lembranças que me
assombram dia a dia e vejo o seu
sorriso sincero e olhar de pura alegria e
questionamento para as crianças. Nunca
vi um homem tão poderoso ficar tão à
vontade no meio de tanta criança, um
homem que quando conheci estava muito
sério e muito fechado, que me assustou
de modo louco onde pensei que ele
poderia me machucar a qualquer
momento. Mas esse Enzo na minha frente
é totalmente diferente, e essa diferença é
encantadora. Sinto um braço rodear
minha cintura e ao olhar para o lado
vejo Francesca sorrir para mim.
— O que te levou para longe
daqui e depois de trouxe de volta? —
Pergunta e eu a olhei com um sorriso
triste.
— Lembrei de Viktor. —
Confessei e ela suspira.
— Você sabe que não teve culpa
por deixá-lo. Já conversamos sobre
isso. — Me lembrou e eu assinto.
— Eu sei, mas fico imaginando
muitas coisas. — Sussurrei e ela assente
novamente.
— Posso imaginar, Dea. Mas tente
viver o agora, estou muito feliz por você
ter permitido que meu neto tentasse. —
Disse ela me cutucando e eu dei um
pequeno sorriso.
— Acho que seu neto por ser um
pouco persuasivo como você. —
Brinquei e ela soltou uma gargalhada.
— É de sangue. Esse sangue é
foda! Estou muito orgulhosa de vocês
dois. — Piscou um olho me deixando
sem graça.
Senti algo puxar minha blusa e ao
olhar para baixo me assusto quando vejo
um garotinho me olhar com curiosidade,
o mesmo garotinho que estava a poucos
minutos com Enzo em uma conversa
animada. Um sorriso sai da minha boca
quando eu o vejo fazer sinal com a mão
para que eu me aproxime dele. Faço o
que foi pedido e ele pega nos meus
cabelos com curiosidade.
— Você é o namolado do meu tio
Zuco? — Pergunta ele em outra língua e
eu não entendi.
— Eu não entendi. — Falo e olhei
para o marido de Filippo que se
aproximava sorrindo.
— Ele está perguntando se você é
namorado do tio Zuco. — Luti disse
apontando para Enzo que olhou na nossa
direção.
— Bem...eu… — Gaguejei e vi
Enzo dar uma risada.
— Eu o pedi em namoro e ele até
agora não aceitou. — Enzo disse e eu
olhei para ele sem entender.
— Mas foi você mesmo que se
pediu em namoro. — Falo confuso e vi
os membros da família rirem alto.
— A pessoa usa as armas que tem,
soldado. — Brincou ele e veio na minha
direção com as duas meninas.
— Meu filho pode ser um pouco
inconveniente, acho que ele deve ter
puxado isso ao outro pai. — Luti disse
um pouco mais alto e eu pude ouvir um
resmungo.
— Não minta Bello, eu não sou
assim. Esse Ursinho está aprendendo
muita coisa errada com Lucca. —
Filippo disse e Luti deu uma risada.
— Estou ouvindo você falar mal
de mim, logo eu o mais lindo dessa
família. — Lucca apareceu com um
homem alto ao seu lado e uma bebezinha
no colo.
— Seja um pouco mais humilde,
Miele! — O seu parceiro disse e ele deu
de ombros.
— Fala inglês tio, Andrea? — A
garotinha de cabelos cacheados pergunta
e eu me vi ficar surpreso.
— Tio Andrea? — Sussurrei sem
acreditar e olhei para Enzo que estava
afirmando com a cabeça.
— Claro que sim, tio Zuco disse
que você era seu namorado. — A
garotinha de olhos claros disse em um
italiano quase perfeito.
— Sim, ele acabou de dizer isso e
estamos felizes por ter um novo tio. Eu
sou Samantha, mas pode me chamar de
Sam. — Disse ela e como eu estava
abaixado por causa do garotinho ela me
surpreendeu com um abraço. Acomodei
seu corpo pequeno com um cheiro de
criança e respirei fundo.
— Muito bom te conhecer, Sam.
— Falo após soltar um arranhar curto de
garganta.

— Cuide de meu titio, ele pode


ser um tapado bagunceiro, mas é meu
melhor amigo. — Sam sussurrou no meu
ouvido me pegando de surpresa.
— Pode deixar, pequena. — Falo
e ela sorriu largamente. Logo após foi a
vez da garotinha de olhos claros.
— Eu sou Eduarda, mas pode me
chamar de Duda, tio Andrea. — Disse
ela com um sorriso tímido, muito
diferente de Sam que tem um olhar
traquino.
— Você é muito linda, Duda. Na
verdade, vocês são lindos. — Falo e o
garotinho deu um tapa de leve na sua
testa.
— Puxa, eu sou burro! — Disse
me fazendo rir do seu modo de falar,
mesmo que eu não tenha entendido. —
Tio, eu sou Petro! Não! Eu sou... Pi…
Como fala papai? — pergunta ele. Luti
riu.
— Pietro, é assim que fala meu
ursinho. — Luti disse com carinho e o
filho afirma.
— Isso, eu sou Pietro. — Disse
ele com um largo sorriso por ter dito
certo e em italiano.
— Muito prazer senhor Pietro! —
Brinquei arrancando um sorriso dele.
— Olha só, Anjo. Essa aqui é a
caçula da família Aandreozzi, Isabel.
Diz oi, Isa. — Enzo disse beijando as
bochechas rosadas do bebê.
— Ei, Isa, você é o bebê mais
lindo que já vi. — Falo segurando sua
mão roliça depois de me levantar do
chão.
— Eu sou Luigi Pierre, noivo
desse convencido aqui e pai dessas duas
belezas, que dão muito trabalho. —
Disse o homem alto ao lado de Lucca.
— E eu sou, Giovanna, a mãe das
meninas e amiga desses dois aqui. —
Disse uma mulher de cabelos castanhos
e olhos verdes sorrindo na minha
direção. E eu rapidamente a
cumprimentei também.
— Papai Lucca dá muito mais
trabalho que eu e Bel juntas. — Sam
disse cruzando os braços.
— Prazer em te conhecer, Luigi e
Giovanna. Vejo que essa família é
realmente do modo que Francesca
sempre descreveu. — Falo me sentindo
leve por estar perto deles.
— De que modo meu anjo? —
Enzo pergunta e eu olhei para todos e
depois para ele.

— Únicos! — Falo essa simples


palavra que resumia as pessoas que
estão na minha frente.
— Você fala isso porque ainda
não viu os cachorros. — Disse Duda
apontando para Kay que estava
brincando junto com um buldogue e um
Husky siberiano. Vi a cena em que o
pequeno Kay tentava se esquivar do
Husky, enquanto o buldogue continuava
deitado.
— Lucca, seu vilão é um sem
noção igual a você. Se ele machucar
meu cachorro eu te mato. — Enzo
ameaçou e Lucca deu de ombros
— Deixa seu cachorro de lacinhos
ser feliz, tendo a alegria de brincar com
meu Loki. — Lucca provocou fazendo
Enzo se irritar.
— Não diga isso de Kay ele é…
— Enzo ia falar, mas todos falaram ao
mesmo tempo.
— Um cachorro de macho! —
Após falar todo mundo caiu na risada,
até Isabel está batendo palmas de
felicidade. Eles realmente são únicos!
— Bem, bem vamos jantar.
Estamos todos com fome e tenho certeza
de que Andrea precisa descansar um
pouco. — Arianna disse chamando a
atenção de todos.
— Eu estou morrendo de fome. —
Enzo disse com uma cara sofrida.
— Quando você não está com
fome meu filho? — Pergunta Arianna a
Enzo.
— Quando Luna está presente,
pois ela come mais que todo mundo. —
Provocou ele e Luna deu dedo para ele.
— Isso Babo não vê. Viu isso
Babo? Sua princesinha fazendo gestos
obscenos. — Lucca disse fazendo o pai
dele balançar a cabeça negativamente.
— Vai… vai procurar o que fazer,
seu idiota! — Luna disse e foi até o pai
que lhe deu um beijo na testa.
— Vocês são umas crianças! —
Filippo disse rudemente e foi
caminhando para fora da sala.
— Espera aí Ursão, volta aqui! —
Enzo disse e antes de ir até Filippo com
os outros três irmãos ele voltou e me
deu Isabel. — Segura sua sobrinha,
anjo! Vou atrás do Urso resmungão.
Com isso ele colocou Isabel no
meu colo. Foi atrás de Filippo com
Lucca e Luna no seu encalço. Olhei para
Isabel no meu colo e ri quando ela
tentou colocar os meus dedos na boca,
dei um beijo na sua testa e reparei que
Francesca estava me olhando com um
sorriso no rosto sem deixar esconder seu
contentamento. Ela sempre quis que eu
viesse conhecer sua família, mas eu
sempre me vi negando, pois eu achava
que poderia me fazer mal ficar perto de
uma família tão bonita e unida como a
dela, mas foi o contrário, estou me
sentindo bem. Estar perto deles é muito,
muito bom.
Arianna lembrou que eu estou com
o braço ferido e tirou Isabel de meus
braços para que não abrisse os pontos,
mesmo eu não querendo tirar essa
coisinha fofa dos meus braços percebi
que Ariana está certa. Fomos todos em
direção a sala de jantar, Luiz Otávio se
aproximou de mim com Pietro no colo e
engatamos uma conversa, na qual ele me
disse que a sua despedida de solteiro foi
lá na boate e eu pude finalmente lembrar
de onde eu o tinha visto pela primeira
vez. Deixei escapar que ele estava um
pouco diferente, coisa que o fez rir e
afirmar dizendo que é o efeito
Aandreozzi na vida das pessoas.
— Tenho que concordar com
você, Luti. — Disse Luigi com um
sorriso de lado.
— Temos o dia todo de amanhã
para conversar, fui com sua cara
Andrea. — Disse Luti e vi Luigi afirmar.
— Também gostei de todos vocês!
— Falo com um pequeno sorriso ao
sentir uma mão se apossar da minha.
Olho para o lado e vejo Sam e Duda
conversando entre si enquanto Sam
segura minha mão.
— Não se importe se ficamos de
gozação com Enzo, não é nada
relacionado a você. — Luigi disse e Luti
riu.
— Como assim? — Pergunto e
Fran apareceu na nossa linha de visão.
— Enzo dizia que o amor não era
para ele e agora olha só como estamos.
— Fran disse me deixando sem graça.
— Eu não vou ligar não. — Falo
sentindo meu rosto esquentar.
— Acho bom, porque nós nunca
paramos uma zoação. — Fran disse
fazendo Luigi e Luti afirmar.
Chegamos na sala de jantar e eu
pude ver como esse lugar é grande,
principalmente a mesa que é gigante com
mais de vinte lugares. Nossa, ela além
de ser enorme com certeza foi feita sob
encomenda. Ao ver minha cara
espantando pelo tamanho da mesa
Donatello deu um sorriso curto e disse
que ela ainda ficava maior, caso a
família venha a aumentar com o passar
do tempo. Cada um foi se sentando nos
seus respectivos lugares, os irmãos
apareceram e foram se sentar com seus
parceiros e filhos, Enzo chamou-me a
atenção para sentar-me ao seu lado e eu
fui sem questionar. Quando dei a volta
na mesa e chegue perto de Enzo, ele
disse no meu ouvido que agora eu
ficaria sempre perto, só por ele falar
isso senti meu coração bater forte no
peito.
Durante o jantar a conversa foi
bem agradável, onde cada um contava
como estava suas vidas e as empresas
que cada um comandava. Reparei que
Filippo cortava com atenção a carne do
prato de Pietro enquanto conversava,
Luigi alimentava Isabel que estava mais
entretida em tentar tirar a colher de sua
mão, Lucca era despachado por Sam que
afirmava que ele estava de olho na sua
comida o que fazia ele rir. Luna
conversava animadamente com
Giovanna e Luti sobre o casamento que
iria acontecer em poucos dias. Me vi
parado admirando todos, mas a luta de
Enzo para pegar a travessa com batatas
cozidas me chamou a atenção e eu fui
pegar para ele e servi-lo como faço
todos os dias.
— Obrigado, meu anjo! — Disse
ele e eu afirmo.
— Quer que eu pegue o molho?
— Pergunto e ele nega.
— Não, você tem que comer. Sua
comida está intocável no prato. — Disse
ele sério apontando para meu prato.
— Verdade, mas eu já vou
começar a comer. E pare de reclamar
que eu não como. — Falo sério também
e ele soltou um bufo indignado.
— Mas você realmente não come.
— Disse e eu olhei para ele com os
olhos cerrados.
— Você que come demais! —
Falo e ele sorriu.
— Como mesmo, gosto de comer
meu, anjo. — Disse ele e me
surpreendeu com um beijo rápido. — E
farei você gostar também. — Lembrou e
eu nego tentando esconder o sorriso.
Observei Enzo voltar a comer
balançando a cabeça negativamente,
quando eu estava prestes a comer vi que
a família inteira tinha parado para nos
observar. Cada um deles olhava para
mim e Enzo com atenção e com uma
expressão satisfeita no rosto, eles
pararam quando Enzo pergunta o que
estava acontecendo e todos voltaram a
comer, mas não antes de me deixarem
confuso e sem jeito. O jantar foi
tranquilo ficamos conversando coisas
triviais enquanto tomávamos um café,
mas as crianças estavam praticamente
dormindo na mesa e os casais subiram
para colocá-los na cama.
— Vamos dormi também, meu
anjo? — Enzo pergunta levantando e
estendendo a mão para mim.
— Oh sim, vamos! — Falo
sentindo meu cansaço.
— Ele ainda está muito cansado
da perda de sangue que teve hoje. —
Explicou Enzo a família e eu afirmo.
— Obrigada pelo jantar e por
essa incrível recepção, Arianna e
Donatello. — Falo educadamente e ela
se levantou para me abraçar.
— Vá dormi meu querido, você
está morto nos seus pés. — Brincou ela
e eu afirmo.
— Dea, amanhã temos coisas para
acertar. — Disse Fran com um sorriso
cheio de mistérios e eu afirmo.
— Não quero nem imaginar. —
Falo e ela me deu um beijo na bochecha.
— Cuide bem desse menino,
Enzo. Isso não é um aviso é uma
ameaça, se não fizer eu corto seu pau
fora. — Fran disse me fazendo arregalar
os olhos.
— Nonna! — Enzo disse em um
tom sofrido.
— Boa noite a vocês dois e até
amanhã. — Disse Donatello e eu sorri
em agradecimento.
— Vamos meu anjo você precisa
descansar e eu também. Vamos Kay! —
Chamou Enzo e Kay apareceu com seu
rabo balançando.
Fomos em direção as escadas e eu
sei que essa noite eu vou dormir bem,
pois tenho Enzo ao meu lado e ele é meu
bote salva-vidas. Sempre me resgatando
dos pesadelos ruins com as piores
lembranças que alguém pode ter.
Enzo me indicou a localização do
seu quarto e eu entrei, ao entrar no lugar
percebi que era totalmente diferente do
quarto da sua casa. Ele é amplo com
uma grande cama no centro, uma
prateleira com livros variados. Mas o
que mais me chamou a atenção foram
fotos que tinha nas paredes. A maioria
delas são momentos engraçados que ele
teve com os irmãos, uma específica é
com Lucca carregando Luna no colo e
ela estava olhando para frente de cara
feia. Senti a presença de Enzo atrás de
mim e ele sorrindo me contou que nesse
dia Luna tinha marcado para pular de
paraquedas com Nonna, mas eles
apareceram e impediram que ela
cometesse a loucura.
— E ela parou com a ideia de
pular de paraquedas? — Pergunto
curioso e vi Enzo fechar a cara.
— Não, ela adora essas coisas. O
que nos deixa bem loucos de
preocupação. — Responde ele me
fazendo rir.
— E você não gosta de esportes
radicais? — Pergunto e ele passou os
braços na minha cintura.
— Não, meu tipo de esporte é
outro. — Disse descendo em direção ao
meu pescoço e senti meu corpo ficar
rígido. Enzo percebeu e se afastou
beijando minha testa. — Desculpe, anjo.
— Pediu ele com um sorriso triste.
— Enzo eu… — Queria falar, mas
seu dedo indicador me impediu e depois
um beijo curto.
— Vou tomar um banho, fique à
vontade, anjo. — Disse ele e após me
dar mais um beijo na testa.

Observei Enzo ir em direção ao


banheiro e assim que a porta foi fechada
eu me sentei na ama soltando uma longa
respiração. O que posso fazer para não
me encolher a cada vez que Enzo fala ou
faz algo que eu sei que pode levar para
uma conexão mais sexual? Eu não tenho
culpa de me sentir assim, não que eu
esteja projetando o que aquele maldito
fez comigo em Enzo. Jamais faria isso,
pois eu sei que eles são homens
totalmente diferentes, tanto fisicamente
quanto no seu jeito de agir. Enzo é um
homem bom, que tem uma base sólida de
uma família incrível e tenho certeza de
que irá me tratar bem, mas eu nunca tive
uma experiência boa.
Todas as vezes que fui para a
cama com alguém eu fui forçado a isso.
Minha primeira vez foi algo
traumatizante, meu corpo já foi vendido
a homens sujos que só queriam provar
um pouco do brinquedo do seu chefe.
Dio, só de lembrar dessas ousadias eu
sinto um nó no meu estômago que me faz
querer colocar todo o jantar para fora.
Mas eu respiro fundo e vejo que isso
não vai acontecer novamente, eu estou
livre, eu sou um homem livre para fazer
o que bem entender, o comando da
minha vida está em minhas mãos e só eu
sou capaz de controlar. E o que eu
realmente quero de verdade é Enzo, não
quero me sentir inferior a ele, eu quero
ser dele, mas quero que ele seja meu
também.
Sinto um cheiro delicioso de
banho recém tomado assim que a porta
do banheiro é aberta e Enzo sai sem
camisa com uma calça de moletom
pendendo nos quadris. Essa é
definitivamente uma visão de tirar o
fôlego, Enzo é um homem de tirar o
fôlego. Ele me vê parado olhando e fala
que o banheiro está livre, eu desvio o
olhar correndo e me levanto para ir
tomar um banho antes de me deitar
também. Aproveito que estou no
banheiro e penso no que dizer a Enzo
quando eu sair daqui, por que eu sei que
uma explicação eu terei que te dar por
ser um homem tão estranho.
Saiu do banheiro e percebo que eu
tinha esquecido de trazer uma roupa
para trocar. Decidi sair de toalha para
pegar um short leve para dormir, ao sair
vejo Enzo folheando um livro sentado na
cama com as costas para a cabeceira.
Mesmo sabendo que seus olhos estão em
mim eu vou até minha sacola pego uma
cueca e o meu short. Quando estou
pronto para vestir ouço um gemido
angustiado de Enzo.
— Anjo, ver você assim é um
pecado, mas ver você trocar de roupa é
um sofrimento. — Disse Enzo com toda
sua seriedade.
— Oh, desculpe! — Falo e ele
nega.
— Não peça desculpas, parece
que eu virei um tarado. — Enzo disse
em tom baixo e eu acho que ouvi errado.

— O quê? — Pergunto para saber


se eu ouvi direito.
— Coloque sua roupa meu anjo.
— Disse Enzo desviando da minha
pergunta.
— Enzo você quer me falar algo?
— Pergunto cerrando os olhos na sua
direção. E ele nega com a cabeça
levantando o livro para tampar seu rosto
e isso me fez rir.
Dando de ombros ainda rindo da
atitude de Enzo eu tirei a toalha e
coloquei a cueca, quando eu estava
pegando o short parei quando vi Enzo
me olhando pelo canto do livro. Soltei
uma risada alta e fechei minha boca com
a mão para parar a risada mais
horrorosa da minha vida. Sim, sabe
aquelas risadas que se você não se
controla sai como uma britadeira
engasgada? Pelo menos foi essa
descrição que Francesca deu na última
vez que ela me fez rir desse jeito. Tomo
um susto quando eu sinto meu corpo ser
puxado em direção a cama e assim que
minhas costas descansam no colchão o
corpo forte e grande de Enzo paira sobre
o meu.
— Sua risada é a mais feia e
adorável que existe. — Disse ele
tirando os fios do meu cabelo do meu
rosto.
— Adorável não é uma palavra
que define a minha gargalhada. — Falo
passando minha mão no seu cabelo e o
vi fechar os olhos.
— Tudo em você é adorável,
anjo. — Falou ele abrindo os olhos, me
deixando sem jeito.
— Enzo eu gostaria de falar com
você. — Disse e ele me olhou por um
tempo.
— Se for para pedir para eu me
afastar de você, saiba… — Puxei sua
cabeça e colei nossos lábios o fazendo
arregalar os olhos com minha atitude.
Iniciamos um beijo e no início ele
foi doce e calmo, onde Enzo explorava
minha boca com calma, me deixando
saborear o delicioso mentolado que está
na sua boca. Mas logo o beijo se tornou
selvagem, onde tinha mordidas e
chupões que me fizeram estremecer.
Senti o membro duro de Enzo encostar
no meu também duro e somei um arfar
afetado desviando do seu aperto e
principalmente do beijo. Sentamo-nos na
cama com a respiração acelerada, passo
a mão no rosto me sentindo frustrado e
olho para Enzo que está ajeitando seu
pau duro na calça. Olho para ele em
aflição, tentando falar algo, mas nada sai
no momento.

— Ei anjo, não fica com essa


cara. Está tudo tranquilo por aqui. —
Disse Enzo se aproximando de mim
novamente e eu nego.
— Não, não está! Eu quero você,
mas eu ainda não estou pronto para ter
você. — Disse me sentindo triste de
repente.
— Eu gosto de você, gosto do
Andrea envergonhado, do modo sério
que você fica quando está concentrado
no trabalho, como você gosta de cuidar
de mim mesmo que ache que eu não
perceba. Ainda tem sua risada horrorosa
que me encantou. — Enzo falou
levantando meu rosto na direção do seu.
— Você realmente não se importa
que eu não consiga fazer sexo com você
ainda? — Pergunto concentrado no
castanho dos seus olhos.
— Vou ter um caso sério de bolas
azuis? Vou, mas é a vida! — Brincou
Enzo e depois ficou sério novamente. —
Eu me apaixonei por você e não pelo
possível prazer que podemos ter juntos,
Andrea. — Sem pensar duas vezes me
joguei nos seus braços o abraçando o
mais forte que eu pude.
— Obrigado por ser tão
humanamente diferente. — Falo
enterrando meu rosto no seu pescoço.
— Não anjo, eu sou um homem
comum não sou feito de nada diferente.
— Disse ele passando sua mão grande
na minha cabeça.
— Você se engana, o homem que
eu achei que um dia tinha gostado me
usou das piores formas possíveis. —
Falo e Enzo afastou meu corpo para me
encarar.
— O que você quer dizer com
isso? — Pergunta ele e eu respirei
fundo.
— Eu não consigo contar isso a
ninguém, mas se você quer algo comigo
você tem que pelo menos começar a
saber o porquê que eu sou assim. —
Falo e Enzo nega.
— Eu não preciso saber dessas
coisas, Andrea. Eu sei que eu quero
você e pronto. — Enzo disse de modo
impassível.
— Só me ouça tudo bem? — Peço
e ele afirma. — Quando eu fui embora
para a Rússia eu realmente pensei que
iria conseguir um emprego para depois
voltar para casa e conseguir o perdão
dos meus pais. Mas como você deve
saber não foi isso que aconteceu. O
homem que me levou com ele no
primeiro dia me trancou em um
quartinho por dias, o lugar era pequeno,
escuro e sujo então eu perdi totalmente a
noção de tempo. Quando sai descobrir
que tinha se passado quase 4 meses de
surras e humilhações, tudo isso para que
eu nunca mais derramasse uma lágrima,
essa foi sua primeira iniciação. Não
chorar e não sentir! — Parei de falar
quando Enzo levantou da cama
abruptamente e começou a andar de um
lado para o outro com os punhos
cerrados.
— Ele torturou você por quase 4
meses para que você não chorasse e não
sentisse dor? — Pergunta Enzo com
ódio e eu afirmo. — Filho da puta
doente, se eu encontro com esse sujeito
eu vou exterminar sua vida suja do
planeta.
— Eu estou te contando isso, mas
não para você se pôr em perigo. Mesmo
que infelizmente eu já tenha feito isso
quando eu me deixei ser protegido por
você e sua família. — Falo de modo
sério e Enzo cerrou os olhos na minha
direção.
— Não diga isso como se eu não
pudesse me defender, Andrea. Saiba que
eu estou muito além do que você possa
imaginar. — Falou ele de modo
grosseiro e eu assinto. — Você não
chora? — Pergunta um pouco mais
calmo e eu nego.
— Não, faz muito tempo que não
consigo derramar uma lágrima sequer.
— Falo calmo e Enzo respirou fundo. —
Posso continuar? — Enzo afirma com a
cabeça, caminhou até mim, sentou-se na
cama me colocando para sentar-me na
sua frente, colando minhas costas no seu
peito.
— Sei que você precisou de muita
coragem para estar me falando essas
coisas, Anjo. Então coloque para fora.
— Disse Enzo dando um beijo na minha
cabeça e cheirando meus cabelos.
— Quando eu já estava curado de
todos os machucados que havia sofrido
por Fyodor e antes que você me
pergunte quem é Fyodor, é aquele
homem que provocou aquele ataque na
frente da boate. — Falo de uma vez e
senti um braço de Enzo apertar ao meu
redor, mas preferi ignorar. — Fyodor é
o executor do homem que me levou, não
me pergunte o nome dele agora, pois só
de falar o nome dele me faz mal.
— Tudo bem anjo. — Falou Enzo
entre dentes.
— A sua segunda iniciação foi a
pior coisa que eu poderia imaginar… —
Minha cabeça viajou para longe
enquanto eu contava para Enzo.
Estou sentado no meu novo quarto
sem saber o que pensar. Despois da
morte da senhora humilde que me deu
algo para comer, Fyodor apareceu e me
levou para o que parecia uma clínica
médica. Fiquei lá por um tempo curando
todas as minhas feridas, enquanto o
médico me curava eu preferi ficar quieto
sem esboçar nenhum tipo de
curiosidade, porque sabia que qualquer
tipo de questionamento eu poderia voltar
para aquele lugar sujo.
— Você deu sorte meu rapaz, não
há nada de muito preocupante em você.
Você vai curar perfeitamente. — O
médico com cara de louco falou e eu
sequer olhei na sua direção.
- Você não fala? — Pergunta ele e
eu virei minha cabeça para encará-lo,
mesmo vendo com dificuldade com um
olho só.
— A última pessoa que eu falei
teve a garganta cortada. — Depois disso
ele não falou mais comigo e só curou
meus ferimentos.
Os dias se passaram e eu
continuei na ala médica de um lugar que
eu não fazia ideia de onde era. E para
falar a verdade eu nem tinha intenção de
saber também. Assim que meu corpo
estava totalmente recuperado Vladimir
apareceu para me levar para outro lugar.
Descobri mais para frente que Vladimir
seria a minha babá, o homem que me
vigiaria sempre para onde quer que eu
fosse. Sem falar nada me deixei ser
guiado por Vladimir para um dos
corredores do lugar imenso, que na
verdade era a casa do Russo. Andei
calmante sem perguntar nada tentando o
máximo agir como um boneco
programado que aceita seu destino.
Paramos em frente a uma porta de
madeira da cor preta e Vladimir me
incentivou a entrar. Quando abri a porta
do quarto, ele virou e foi embora sem
falar nada. Olhei por todo o lugar e fui
recepcionado por um quarto muito
bonito, uma beleza quase imperial e ao
olhar para o lado vejo o homem que me
assombra sentado em uma poltrona de
couro marrom segurando um copo com o
que parecia ser alguma bebida
alcoólica. Assim que o vejo um medo
fora do comum toma conta do meu corpo
me fazendo abaixar a cabeça e fechar os
olhos com força.
— Agora sim, você está
parecendo a minha golubushka. — Disse
ele se levantando da poltrona com o
copo na mão e vindo na minha direção.
— Senti sua falta, você sentiu a minha?
— Pergunta ele e eu não falo nada. Mas
ao não falar nada eu recebi um tapa forte
no rosto que me fez cair.
— Fiz uma pergunta a você e
quando eu lhe fizer uma pergunta
responda. — Disse ele em um tom leve
me puxando para cima.
— Eu senti sua falta. — Cuspi a
mentira com um gosto amargo na boca.
Dessa vez ele puxou o meu cabelo com
força para trás.
— Jamais minta para mim
golubushka. De você quero só verdades,
você é minha coisinha especial. —
Disse ele com ódio e um olhar louco. —
Diga a verdade, você sentiu minha falta?
— Não, nunca sentiria sua falta.
Eu quero distância de você. — Falo sem
emoção e ele sorriu largamente.

— Isso mesmo, não quero ter que


ficar te machucando sempre. — Disse
ele passando a mão áspera no meu rosto.
E minha barriga começou a embrulhar
de puro nojo.
— O que você quer? — Pergunto
engolindo em seco e ele me soltou,
bebendo todo o líquido no seu copo.
— Vou começar a sua segunda
iniciação, essa é para te provar que
você me pertence. Eu vou ter você por
completo e te ensinar a ser o meu
bichinho de estimação e minha melhor
arma. — Disse ele e eu arregalei os
olhos assustado por não entender o que
ele estava querendo dizer. — Não me
olhe com essa cara, minha pequena
pomba eu vou te ensinar tudo.
Começando pela vodca, nunca em
hipótese alguma deve-se negar uma
dose. — Ele disse e encheu um segundo
copo com a bebida.
— Eu não bebo! — Falo e ele
parou e respirou me olhando com ódio.
— O que eu falei sobre negar? —
Ele fez um som descontente e se
aproximou trazendo o copo na minha
direção. — Vamos, beba, pombinha! —
Nego novamente e ele me deu uma
pesada no estômago. — Eu não quero te
bater, portanto beba! — Mandou e me vi
ficando imóvel.
Sem falar nada ele foi me
forçando a beber aquele líquido odioso
que a cada vez que descia na minha
garganta queimava e me fazia engasgar.
A cada vez que ele me obrigava a beber
mais e mais eu sentia que meu corpo
estava ficando mais leve, minha visão
estava ficando embaçada e eu não tinha
mais controle sobre o meu corpo.
Lembro perfeitamente da sua voz
risonha dizendo que eu teria que me
acostumar a beber para não ter que ficar
vulnerável muito cedo. E que estava
fazendo isso para que eu não sentisse
quando ele começasse a brincar comigo.
Naquele momento eu não tinha
entendido, mas quando o vi tirar a roupa
ficando só de cueca eu tive a certeza de
que o que aquele “brincar” significava.
— Consegue tirar sua roupa,
golubushka? — Disse ele e eu tentei sair
do lugar, mas acabei caindo no chão. —
Tão desastrado, venha aqui Pombinha.
Vou deixar você se senti melhor ainda.
Tentei, juro que tentei fugir, mas o
corpo não responde aos meus comandos.
Meu corpo foi carregado até a cama e
sem que eu pudesse impedir minha
roupa foi toda tirada, estou nu sendo
virado de bruços e recebendo lambidas
e mordidas muito fortes em todo meu
corpo. Tento gritar, tento pedir socorro
mais nada adianta, pois a cada vez que
eu tento recebo um soco na cabeça que
me faz ver estrelas. Meu corpo é
violado e eu sou incapaz de ter qualquer
reação, nem um grito sai de minha
garganta, não, eu não sinto mais nada.
— PARA! — Enzo fala e sinto seu
corpo rígido me virando de frente para
lhe encarar. — Para meu anjo, eu não
posso mais ouvir. Por favor, para! —
Ele pede encostando sua testa na minha.
— Mas eu preciso te dizer que a
culpa não é sua por me afastar. — Falo
calmo e ele me abraçou forte.
— Você também não tem culpa,
você é um sobrevivente. Nada mais! —
Falou Enzo e eu aceitei seu abraço.
— Mas eu poderia… — Tentei
dizer, mas Enzo esmagou sua boca na
minha.
— Você era somente uma criança
meu anjo. Olhe para mim, Andrea! —
Mandou e eu fiz o que ele pediu. —
Você não teve culpa, você era somente
uma criança. Meu anjo, meu pequeno
loiro você nada mais é que um homem
forte. — Olhei para ele por um tempo
sem acreditar.
— Mas eu ainda não te contei
tudo. — Falo e o vi balançar a cabeça.
— Não sei se estou pronto para
ouvir tudo o que você tem a me dizer,
Andrea. Eu só tenho vontade de matar a
todos que lhe causaram dor e eu prometo
a você que eu não serei uma dessas
pessoas. — Enzo disse e eu nego.
— Você não me machucaria, vejo
isso nos seus olhos. — Afirmo e ele
assente.
— Jamais! Eu me apaixonei por
você, anjo. Por você inteiro, até mesmo
por esse passado sombrio, pode ter
certeza de que foi você todo. — Enzo
disse e me beijou logo em seguida.
— Vamos dormi anjo, você está
cansado com o que aconteceu hoje e seu
braço precisa ser curado. — Enzo disse
e se levantou para apagar a luz.
— Tem certeza de que não quer
conversar? — Pergunto pela última vez
e ele afirma.
— Tenho sim, vamos deixar esse
assunto para depois. Eu já estou
sentindo raiva demais por essa noite. —
Enzo disse sério e eu me deitei.
Observei Enzo tirar Kay do chão e
colocá-lo na cama com a gente.
Deitamo-nos um de frente para o
outro, fiquei observando o rosto bonito
de Enzo enquanto ele brincava com o fio
do meu cabelo. Sentindo que estávamos
muito separados e que eu estava
realmente precisando de sua
aproximação, deitei minha cabeça no
seu peito pegando-o desprevenido, olhei
para cima e Enzo sorriu e beijou minha
testa. Ele me pergunta se não estava
machucando meu braço e eu nego
rapidamente para ele não me tirar do
lugar em que eu estava. Sei que as
coisas que eu vivi são pesadas e falar
machuca muito, mas eu pude tirar um
pouco do aperto que senti quando me vi
a vontade para contar a Enzo. Se ele me
quer, ele deve saber que caminhos eu
percorri para ser o homem quebrado que
sou hoje.
— Você é especial, Enzo
Aandreozzi. — Falo e ele nega me
apertando mais no seu abraço.
— Não meu anjo, você que é! —
Disse ele e sentindo o seu cheiro
gostoso o sono foi começando a me
pegar levemente. — E eu vou fazer tudo
que estiver ao meu alcance para cuidar
de você. Essa é minha promessa. —
Depois disso eu caí num sono profundo
sem a companhia dos meus sempre
pesadelos assustadores.
Acordo no dia seguinte e percebo
que Enzo não está na cama, olhei para o
relógio e com certeza já passou da hora
de se levantar. Preciso ir até a boate
hoje para poder ver como estão as
coisas por lá para poder abri-la amanhã.
Sento-me na cama e não posso evitar de
olhar para o lado que Enzo dormiu e um
súbito mal-estar tomou conta de mim,
pensar que ele deve ter se assustado
com as coisas que eu lhe disse e preferiu
se afastar. Mas logo o mal-estar passa
quando eu vejo uma nota direcionada a
mim, descansando no criado mudo.

Desculpe não poder acordar com


você, mas eu tive que ir cedo para a
empresa.
Alguns problemas aconteceram
por lá e só eu posso pôr ordem.
Não esqueça de tomar seu café e
descansar, logo eu estarei de volta.
Seu Enzo.

Obs.: Nonna estava aos cochichos


com os irresponsáveis do Luti, Luna,
Lucca e até Gio. Seja o que for não faça
nada com essas pessoas, eles são
loucos!

Rindo bastante com a nota que


Enzo me deixou eu fui até o banheiro
com a intenção de tomar um banho.
Lavei meus cabelos ainda com um
sorriso no rosto pensando nas coisas que
estão acontecendo tão rápido na minha
vida, não posso acreditar que eu
consegui contar a alguém aquilo que
aconteceu comigo. Nunca consegui falar
sobre isso, muito menos com Francesca
pessoa que eu considero como uma
grande amiga e que me ajuda em tudo
nessa minha nova caminhada. Mas com
Enzo foi diferente e ao me abrir para ele
eu não fui julgado ou questionado eu fui
acolhido. E essa sensação é
esmagadora.
Saio do banheiro com uma toalha
amarrada na cintura e outra presa na
cabeça. Vou até minhas coisas e não
encontro minha sacola, com o cenho
franzido vou até o closet de Enzo e vejo
lá minhas roupas junto com as dele. Será
que ele que colocou aqui? Balançando a
cabeça para tirar essas ideias loucas eu
pego uma calça jeans e uma blusa de
manga comprida, quando estou
devidamente vestido ouço batidas na
porta. Vou descalço e com a toalha na
cabeça abri a porta e me surpreendo ao
ver Francesca, Luti, Lucca, Giovanna
com Isabel no colo e Luna segurando
uma bandeja de café da manhã.
— Bom dia cunhadinho, tivemos
ordens para alimentar você. — Luna
disse sorrindo para mim e eu dei
passagem para ela entrar.
— Bom dia gente, eu já estava
descendo. — Falo e dei um beijo em
Francesca.
— Fizemos isso de propósito
porque queríamos compartilhar com
você nossos planos. — Luti disse com
um sorriso cheio de mistério.
— Por que eu estou sentindo que
isso não é bom? — Pergunto olhando
para cada um.
— Porque definitivamente se
falarmos isso na frente dos mal-
humorados da família, não vai dar certo.
— Lucca disse com um largo sorriso.
— Esse seu sorriso me dá medo.
— Disse Giovanna e Lucca ampliou
mais o sorriso.
— Deixe de coisa que você vai
gostar do que quer que seja que vamos
planejar. E ainda vai ter uma noite
sozinha sem as crianças. — Lucca
piscou um olho e Giovanna levantou
Isabel na direção do seu rosto.
— Desculpe minha filha, eu te
amo muito, mas eu preciso de uma noite
selvagem. — Giovanna disse fazendo
todo mundo rir.
— E eu preciso de um sexo
selvagem com o meu Ursão. — Luti
disse fazendo Francesca piscar um olho
para ele.
— Esse é o melhor aluno que eu
poderia ter na minha vida. Que orgulho!
— Fran disse enxugando uma lágrima
inexistente.
— Eu estou me sentindo muito
perdido no momento. — Falo e Luna me
puxou em direção a mesa onde colocou
a bandeja.
— Vem, senta-se aqui! Começa a
tomar seu café que vamos te contar o
que queremos fazer. — Luna disse e eu
assinto.
Fiz o que Luna falou, sentei-me na
mesinha que tem aqui no quarto que eu
não tinha percebido na noite de ontem.
Antes de começar a comer o banquete
que tinha nessa bandeja eu tirei a toalha
da cabeça, assim que me vi livre da
toalha Luna me pergunta se ela poderia
pentear meus cabelos, a pergunta dela
com os olhos brilhando me surpreendeu
e quando eu afirmo, ela deu um gritinho
feliz e foi em busca do pente. Quando
Luna voltou iniciamos a conversa onde
eu me vi muito curioso para saber o que
estava acontecendo.
— Sim, o que está rolando? —
Pergunto e peguei um pedaço de maçã
para dar a Isabel.
— Se ela se sujar você vai
limpar! — Ameaçou Giovanna e eu
afirmo.
— Bem, o que está acontecendo é
que você agora faz parte do Clã
Aandreozzi, e devido a isso você tem
saber que sempre vamos aprontar para
podermos ter um sexo quente depois. —
Francesca disse me fazendo engasgar
com o suco de laranja.
— Fran! — Peço em sinal de
sofrimento e todos riram.
— Relaxe Andrea, eu é que estou
triste por não ter ninguém para provocar.
— Giovanna disse revirando os olhos.
— Sinto muito por você Gio, mas
fora o papo da incrível foda estamos
planejando a despedida de solteiro de
meu cunhado mais convencido do
mundo. — Luti disse e Lucca soltou
beijo para ele. — Então estamos aqui
para você nos ajudar a planejar essa
nossa saída.
— Eu? — Pergunto confuso.
— Sim, você faz parte de nós
agora. — Lucca disse sorrindo enquanto
Isabel tentava enfiar o pedaço de maçã
babada na sua boca. — E nonna já me
deu ideia de onde vai ser a minha
despedida.
— Onde? — Pergunto olhando de
Francesca para Lucca.
— Na corrida de carro que eu te
chamei para ir comigo para filmar. —
Francesca disse e meus olhos se
arregalaram. — Não olhe com se eu
fosse louca, vai ser a melhor despedida
de solteiro de todos os tempos.
— Isso eu tenho certeza! — Luna
disse com uma voz de pura excitação.
— Vocês têm certeza disso? —
Pergunto me sentindo meio receoso.
— Com toda a foda certeza! —
Responderam todos em uníssono me
fazendo rir.
— Tu bem então, vamos ao
planejamento. — Falo dando de ombros.
— Mas antes vamos te dar um
banho de loja. Arianna já está lá
embaixo distraindo Donatello, para
podermos conversar em paz e depois de
seu café vamos as compras! —
Francesca disse me deixando sem jeito.
— Mas eu não preciso disso… —
Estava falando, mas o riso de Luti me
fez parar.
— Não adianta se esquivar meu
querido, todos nós passamos pelas
compras das mulheres Aandreozzi e com
você não seria diferente. — Luti disse e
eu só pude aceitar.
ENZO AANDREOZZI

Acordei hoje sentindo um calor


muito bem-vindo em cima de mim, olhei
para o lado e tive a visão do mundo,
meu pequeno loiro adormecido. Ele
estava em um sono calmo e profundo me
fazendo sentir bem por ele não está
sendo atormentado por seus pesadelos
terríveis. Lembrar de seus pesadelos me
faz ir novamente para a noite anterior em
que Andrea se abriu para mim,
revelando coisas que… Nossa, só de
lembrar um ódio fora do comum me
consome. Ainda não consigo acreditar
que ele passou por tudo isso e ainda por
cima consegue ser tão puro de coração.
Porque Andrea Giardino é uma pessoa
doce e por mais que tenha sofrido o que
sofreu sua essência permanece intacta.
Ontem eu não tive condições de ouvir
tudo o que ele queria me dizer, pois só
de ouvir aquilo eu me senti mal.
Andrea não mereceu os abusos
que sofreu, na verdade ninguém merece
passar por esse tipo de coisa. Isso é tão
sujo, pessoas que fazem isso e sentem
prazer no sofrimento dos outro merecem
morrer e eu serei esse homem que
exterminarei aquele filho da puta russo
da face da terra. Todo o sofrimento que
ele causou ao meu anjo eu o farei pagar
com o seu sangue, não descansarei até
que ele esteja muito longe de colocar
suas mãos imundas em Andrea
novamente. E vou começar por aquele
careca dos infernos, vou sair a sua caça
e só me contentarei quando o ver
estripado da maneira que ele merece ser.

Respirando fundo dando um beijo


de leve nos lábios de Andrea, ele se
mexe um pouco e eu prendo a respiração
para não o acordar e solto novamente
quando vejo que ele continua a dormir
pacificamente. Levanto-me da cama,
abro a porta para Kay sair e vou tomar
um banho, já que tenho que ir a empresa.
Acabo meu banho e saio para ir em
direção ao closet, mas paro
imediatamente quando vejo a bolsa de
Andrea em cima de uma poltrona. Dando
de ombros eu a pego e tiro todas suas
poucas roupas e as coloco junto das
minhas, acho que assim vai ficar muito
melhor. Fiquei satisfeito com a minha
arrumação e fui colocar um dos meus
muitos ternos que deixo aqui na casa de
mamma.
Para quem não sabe, mamma
adora comprar nossas roupas e como eu
sempre vivi mais na mansão da família
do que no meu próprio apartamento,
mamma sempre deixa roupas minhas
aqui. Não só a minha como da família
inteira, o bom é que eu nunca preciso
levar bagagem quando vou para casa de
algum dos meus irmãos, tenho tudo lá.
Mamma além de gostar muito de
comprar coisas para nós ela sabe todo o
nosso estilo, eu amo muito Dona
Arianna por causa disso, ela é uma mãe
da porra!
Após me arrumar dou mais uma
olhada em Andrea e desço para a
cozinha onde eu sei que já tem gente
tomando café da manhã. E para mim não
é surpresa quando vejo Babo, Filippo,
Luigi e até Lorenzo que eu não tinha
visto ontem sentados à mesa
conversando.
— Buon giorno, famiglia — falo,
me sentando perto de Lorenzo. — Ei,
não te vi ontem. — Falo com Lorenzo
que sorriu.
— Eu estava viajando cheguei
hoje pela manhã. — Disse ele e eu
confirmo. — Estou sabendo que o
bichinho do amor finalmente te pegou.
Parabéns! — Lorenzo disse e eu cerrei
os olhos na sua direção.
— Até você, Lorenzo? —
Pergunto e ele deu de ombros.
— É sempre bom lembrar como
você pagou com a língua. — Disse
Filippo e eu apontei a faca na sua
direção.
— Você já foi menos idiota. —
Resmunguei e ele arqueou a
sobrancelha.
— Você e Lucca são os piores e
eu não quero tirar o lugar de vocês. —
Filippo disse e vi Luigi tentar disfarçar
a risada.
— Você deveria defender seu
noivo que não está nem aqui para se
defender. — Falo e quando Luigi
começaria a falar a voz de Lucca foi-se
ouvida.

— Buongiorno, famiglia e uomo


innamorato. (Bom dia família e homem
apaixonado.) — Lucca disse risonho me
irritando.
— Por que você não vai se foder?
— Pergunto e Lucca riu mais ainda.
— Porque estou com fome quem
sabe depois eu não vá. — Lucca disse e
piscou maroto para Luigi que teve a
decência de ficar sem graça.
— Lucca! — Repreendeu Luigi e
meu irmão foi até seu lado e lhe deu um
beijo.
— Vocês não comecem a brigar na
hora do café da manhã, porque a mãe de
vocês irá acabar com vocês. —
Lembrou Babo e todos engolimos em
seco.
— Está indo para a empresa? —
Pergunta Filippo e eu afirmo.
— Sim, tenho coisas para
resolver por lá. — Falo e Filippo
assente.
— Vou ficar com as crianças,
porque Bello disse que iria sair. E o
pior é que ele não me quer lá. —
Resmungou Filippo me fazendo rir.
— Só Luti mesmo para domar
essa fera. — Luigi disse e eu tive que
concordar.
— Isso nunca existiu, ninguém
manda em mim. — Filippo disse com
uma carranca.
— Se você está dizendo. — Falo
tentando não rir e isso só irritou mais o
meu irmão.
— Você já está nesse caminho
meu irmão, não tem para onde correr. —
Filippo disse para mim e eu fechei meu
sorriso rapidamente.
— Nem vou falar mais nada. —
Falo de cara feia e todo mundo riu.
— E onde está meu cunhado? —
Lucca pergunta.
— Ele está dormindo e vê se
vocês o deixam dormir. — Falo e ele me
olhou ofendido.
— Você faz tão pouco de mim
irmão! Como pode achar que eu
acordaria meu cunhado. — Lucca disse
com o maior drama.
— Isso é porque você e Luna
fazem. Perdi as contas de quantas vezes
vocês acordaram Bello. — Filippo
resmungou e eu assinto.
— Tudo bem, pode ser que eu
tenha feito isso algumas vezes, mas a
Luna é pior. — Lucca disse e parou de
falar quando Luna apareceu com Sam.
— Pare de mentir Lucca! Bom
dia! — Luna disse após beijar a testa de
Papai. Sam também deu bom dia e se
sentou em uma cadeira próxima a mim.
— Bom dia marrentinha! — Falo
lhe dando um beijo na cabeça.
— Filha, dormiu bem? — Lucca
pergunta e Sam nega.
— Não, porque eu fui inventar de
dormir com o senhor e fui amassada a
noite toda. — Sam disse fazendo todos
rirem.
— Isso aconteceu para te conter,
porque de madrugada seu pé estava
praticamente na boca de seu pai Luigi.
— Lucca disse e Luigi confirma.
— Samantha se mexe muito na
cama? — Pergunto cutucando Sam com
o dedo.
— Mexer não meu cunhado, ela
faz acrobacias! — Luigi disse e Sam fez
um bico enorme. — Mas eu te amo filha.
— Brincou ele fazendo Sam rir.
— Bom dia! — Olhei para o lado
e vi Luti se aproximando com Pietro e
Duda.
— Acordei com uma fominha
louca. — Pietro disse passando a mão
na barriga pequena.
— Deixa de ser guloso Pê! —
Disse Duda bagunçando os cachinhos do
irmão. Eles vieram e falaram com cada
um de nós é depois se sentaram.
— Lucca tudo certo para a nossa
reunião? — Luti pergunta a Lucca que
sorriu largamente.
— Eu estou dentro! — Luna disse
e eu assim como Filippo, Luigi e Babo
cerramos os olhos na sua direção.
— Só falta Nonna e Giovanna. —
Lucca disse como quem não quer nada.
— Que tipo de reunião estamos
falando? — Luigi pergunta olhando para
seu noivo com interesse.
— Nada demais! Nada demais
mesmo, coisas para acertar. E vamos
levar Andrea conosco. — Lucca disse
me fazendo respirar fundo.
— Sim, temos que conhecer o
novo membro dessa família, sabe. —
Luti disse na maior cara de pau.
— Vocês… Argh! — Rosnei e vi
Filippo negar com a cabeça.
— Nem tente falar nada meu filho
que é pior. — Babo disse e eu tive que
concordar.
— Vai ser ótimo, Luigi fica com
as meninas, Ursão fica com as crianças.
— Luti disse e quando Filippo ia falar
alguma coisa ele levantou a mão. —
Nem tente, Ursão! — Disse ele e eu não
pude deixar de rir.
— Eu vou ficar com meu tio hoje!
— Decretou Sam e meu sorriso fechou
na hora.
— Mas eu vou para o escritório,
marrentinha — Lembrei a ela que deu de
ombros.
— Melhor que ver meu papai
Luigi tentando não deixar Bel ir atrás
dos cachorros. — Ela disse e o próprio
Luigi deu risada.
— Mas é complicado,
principalmente depois que ela começou
a engatinhar. Lá em casa é somente Loki,
mas aqui tem Amora e Kay, assim
realmente sua irmã não vai querer parar
nunca. — Luigi disse e Lucca concordou
com ele.
— Já que você quer ir com seu tio
vamos subir para você trocar de roupa.
— Lucca disse e Sam afirma.
Observei os dois saírem da sala
de jantar, Sam ia resmungando dizendo
que quer usar o um blusão que Lucca
comprou, mas ele disse que era melhor
não. Daí resultou nos dois correndo pela
casa e mamma reclamando dos dois que
ficaram quietos na hora. No café da
manhã continuamos a conversar sobre
coisas triviais, assim que terminei de
comer falo um pouco sobre o que
aconteceu na frente da boate de Nonna.
E como já era de se esperar a comoção
das pessoas na mesa foi geral, por mais
que eles tenham conhecido Andrea agora
minha família não quer que o meu anjo
passe por esse tipo de situação
simplesmente por ele ser parte de nós
agora.
Samantha desceu vestindo uma
calça preta, um blusão cinza de capuz,
botas pretas e o seu cabelo solto.
Simplesmente linda e totalmente com
seu estilo, fico muito surpreso como ela
desde novinha já tem essa personalidade
forte e própria. Ela veio até mim
sorridente me desarmando a cada vez
que eu vejo um sorriso de um sobrinho
meu, pergunto a Duda ou a Pietro se eles
queriam ir também, mas os dois negaram
dizendo que ficar na empresa era chato.
Dei um beijo em cada e antes de sai
peço para mamma levar um café da
manhã até meu anjo. Ela riu carinhosa e
disse para eu ir para empresa tranquilo
que Andrea estava em boas mãos,
quando eu vi o sorrisinho sem noção de
Luti, Luna e Lucca eu subi correndo e
deixei um bilhete para ele só por
precaução deixando mais um beijo de
leve na sua testa.
No caminho até a empresa eu fui
ensinando o básico de italiano a Sam
que me disse com toda a sua marra que
já estava indo para aulas de línguas.
Pergunto se ela estava gostando e ela me
disse que ela gosta mais do português,
que assim pode estar sempre de papo
com seus primos. Cheguei na minha sala
e já vejo a Senhorita Roccato de olhos
arregalados querendo falar comigo, mas
entrei na minha sala a informando que
depois eu a chamaria. Quando deixei
minhas coisas na mesa corretamente e
acomodei minha convidada em uma das
poltronas com o seu celular, eu chamei a
senhorita Roccato para entrar.
— Bom dia senhor, Aandreozzi.
— Disse ela sorridente e olhou para
Samantha ainda sorrindo que não
esboçou nem um pouco de simpatia.
— Bom dia senhorita, Roccato,
algo de importante que a senhorita
queira tratar comigo? — Pergunto e ela
olhou para Sam por um tempo e voltou
seus olhos para mim.
— O senhor tem uma reunião
antes do horário do almoço. Tentei
desmarcar essa reunião, mas a mulher
insistente disse que o conhecia e tinha
algo importante para tratar. — Disse a
senhorita Roccato com uma expressão
séria.
— Não gosto dessas coisas! —
Enfatizei e ela me olhou com satisfação.
— Ela pelo menos deixou o nome? —
Pergunto me sentindo irritado.
— Sim, ela disse que se chamava
Lea Giardino. — O sobrenome Giardino
é o mesmo que o de Andrea e o
reconhecimento bateu rapidamente.
— Receberei essa mulher aqui
hoje, mas nunca em hipótese alguma
você me incomode novamente para
marcar uma reunião com ela. — Falo
cerrando meus punhos com força.
— Eu a achei uma pessoa muito
exigente. — Senhoria Roccato disse que
eu respirei fundo.
— Senhorita, eu não pedi sua
opinião, portanto ela não me interessa.
— Falo e ela fez uma cara de triste e
depois sorriu de novo mexendo no
cabelo.
— Mais alguma coisa? —
Pergunto e lá nega.
— Não senhor, todos os
documentos estão na sua mesa. Se o
senhor quiser eu posso ficar fazendo
companhia a essa lindinha lá fora para
não incomodar o seu trabalho. — Minha
secretária disse de modo prestativo. —
Vai querer ficar comigo? — Pergunta a
Samantha que já estava fazendo a maior
cara de desgosto.
— Não! — Responde a
marrentinha fechando o sorriso de minha
secretária.
— Pode ir, senhorita Roccato. —
Mandei e ela assente saindo logo em
seguida.
— Essa sua secretária gosta de
você. — Sam soltou assim que minha
secretária saiu.
— De onde você tirou isso, Sam?
— Pergunto interessado no que ela tinha
a dizer.
— Eu que sou criança percebi
isso, tio. Ela olha para o senhor tipo
aquelas moças do filme melosos que
mamãe Gio assisti. — Sam disse
fazendo cara de nojo e isso me fez rir.
— Espero que daqui uns anos
você não faça essa cara para esses
moleques. — Resmunguei e ela nega
rapidamente.
— Meninos são chatos! Já basta
meus pais, meus tios e meus avôs. —
Disse ela me fazendo rir.
— Você é uma criatura que tem
resposta para tudo. — Falo ela deu um
largo sorriso para mim, enquanto
cruzava as pernas na poltrona em que
estava sentada.
— Tio, posso te falar uma coisa?
— Pergunta Sam enquanto eu colocava
meus óculos de grau.
— Claro que pode Sam, você
pode me falar o que você quiser. —
Falo prestando atenção na sua expressão
envergonhada.
— O senhor acha errado eu ter
pedido para Giovanna ser minha mamãe
também? — Samantha pergunta me
pegando totalmente de surpresa. Esqueci
o que eu deveria fazer e fui até minha
sobrinha, me agachei na sua frente e a fiz
me olhar.
— Não querida, de onde veio
essa pergunta? — Pergunto e ela deu de
ombros.
— Não sei, eu fiz essa mesma
pergunta aos meus pais antes de falar
com Gio. — Sam disse e eu assinto.
— E tenho certeza de que Luigi e
Lucca disseram a mesma coisa. — Falo
com firmeza e ela assente.
— Papai Lucca me pergunta se eu
gostava de ter dois papais e eu disse que
sim, mas eu nunca tive uma mamãe e
acho que fiquei meio com inveja de Bel
porque ela tinha e eu não. — Sam contou
e meu coração ficou apertado nesse
momento.
— Não há diferença entre você e
Isabel, você sabe disso não sabe? —
Pergunto sorrindo ao vê-la revirar os
olhos para mim.
— Claro que sei titio, papai Luigi
fala isso todo dia e depois fala que me
ama me enchendo de beijos. Sei lá, acho
que papai é carente as vezes. — Sam
disse de modo pensativo me fazendo rir.
— Deixe seu pai ser um pouco
carente, Marrentinha. — Brinquei e ela
sorriu.
— Eu deixo, acho que até gosto.
— Falou ela sorrindo, mas depois o
sorriso fechou. — Mamãe Gio já cuida
de mim como uma mãe, então eu só
perguntei se eu poderia chamá-la assim.
Entendeu?
— Claro que entendi, mas deixa
eu te dizer que isso jamais vai ser
errado. Vocês são uma família, e o que
acontece entre a nossa família não é
errado, tenho certeza de que Gio se
sente honrada por ter você como filha
também, por que você é nossa
marrentinha e muito especial para todos
nós. — Falo olhando nos seus olhos
negros e ela confirma.
— Ela chorou, papai Lucca
chorou, papai Luigi fingiu não chorar e
Bel grita sem entender nada. Foi
engraçado. — Lembrou Samantha me
fazendo rir.
— Seus pais são uns loucos. —
Falo e Sam cruzou seus bracinhos.
— Não loucos, meio estranhos,
mas não loucos. — Sam disse com cara
emburrada e eu lhe dei um beijo e um
abraço apertado.
— Você é a Marrentinha mais
esperta que eu conheço. — Falo e ela
nega com o sorriso pequeno. — Vou ver
uns documentos, se quiser aceitar o
convite de minha secretária pode ir.
— Não, aquela mulher tem cara
de falsa. Obrigada, mas vou ficar
assistindo vídeo no YouTube. — Sam
disse negando com a cabeça me fazendo
rir.
Sentei-me na minha mesa e antes
de começar a trabalhar voltei meus
olhos para minha sobrinha. Sam é tão
pequena, mas já passou por tanta coisa,
como perder o pai e a avó, sem falar na
mãe biológica que não houve canto que
encontrassem a mulher quando Lucca e
Luigi lutavam para concluir a adoção de
Sam. Fico feliz por Giovanna ter esse
amor maternal com Sam, porque tanto
Gio quanto Sam merecem isso. Gio que
meus pais praticamente a tem como
filha, já que os filhos da puta dos seus
pais não querem mais saber dela, a
desprezando como se despreza um
material desgastado. Fodam-se eles
porque foram eles que perderam uma
boa filha e netas lindas.
Respiro fundo e volto aos meus
trabalhos, de tempo em tempo eu chamo
a atenção de Sam para falar alguma
coisa, ela nem me dá bola já que está
entretida com seus vídeos. Quando
chegou perto do horário de almoço a
minha secretaria informou que a
senhorita Giardino já estava à minha
espera e saber disso me fez ficar com
raiva instantaneamente. Primeiro porque
essa mulher me mostrou ser uma criatura
desprezível que machucou e machuca o
meu anjo, e segundo porque eu odeio ser
incomodado por pessoas que desprezo.
Chamo Timóteo para que ele fique com
Sam enquanto eu ouço seja lá o que essa
mulher quer falar comigo.
Assim que Sam sai da minha sala
eu mando que a irmã de Andrea entre.
Ela entra na minha sala olhando por todo
o lugar com atenção e se eu não estou
enganado com um interesse que para
mim é totalmente desnecessário. A vejo
se aproximar da minha mesa estendendo
a mão para me cumprimentar e eu
somente olhei para sua mão sem me
levantar na minha poltrona, quero
mostrar que sua visita aqui é totalmente
indesejada. Respiro profundamente já
me preparando para o que essa mulher
irá falar e eu não queira avançar no seu
pescoço.
— Senhorita Giardino, não sou
um homem de perder tempo. Como pode
ver eu tenho uma empresa para
comandar, seja o que for que você
queira me dizer diga logo por que meu
tempo é curto e para você ele é
praticamente inexistente. — Falo
diretamente a vendo arregalar os olhos
assustada com o meu modo de falar, mas
eu realmente não me importo.
— Você nem me conhece, como
pode falar algo assim? — Pergunta ela e
eu fiz o meu melhor para não revirar os
olhos.
— Não conheço e não tenho muito
interesse em conhecer. — Falo de modo
rude cruzando minhas mãos em cima da
mesa.
— Isso com certeza foi o Andrea
que deve ter falado coisas que nunca
existiu. Não acredite… — A interrompi
levantando minha mão para fazê-la parar
com a merda.
— Se você veio aqui para falar
mal do meu namorado, sugiro que dê
meia volta e saia. — Falo apontando
para a porta e vi a raiva atravessar seu
rosto.
— Namorado? Andrea está
namorando um dos maiores empresários
de toda Europa? — Murmurou a irmã de
Andrea para si mesma.
— Qual o motivo por ter marcado
uma reunião comigo, senhorita
Giardino? — Pergunto em um tom frio,
ignorando o murmurar da mulher na
minha frente.
— Eu queria saber o que aquele
sujeito pretende fazer já que andou
sumido por tanto tempo e não deu sinal
de vida aos nossos pais. E como você é
a pessoa mais próxima dele, preferi vir
aqui perguntar. — Ela disse e eu nego
com a cabeça desacreditando de tudo o
que eu acabei de ouvir. — Meus pais
nunca mais foram os mesmos depois que
ele se foi e eu não quero que ele se
aproxime deles. — Continuou a falar me
deixando irritado.
— É isso? — Pergunto sério e ela
afirma criando mais firmeza.
— Não quero que Andrea entre
em contato com os nossos pais. Isso não
fará bem a eles, pois Andrea os magoou
muito. — A irmã puta de Andrea disse e
eu cerrei os punhos e mordi meu maxilar
com força.
— Que tipo de pessoa você acha
que está lidando? — Pergunto sem
conter a minha raiva e isso a deixou
assustada. Bom!
— O que? Eu não entendo! —
Disse ela confusa e eu levantei da
cadeira colocando minhas duas mãos na
mesa para inclinar meu corpo.
— Você vem na minha empresa,
tomar a porra do meu tempo que eu
poderia estar fazendo algo de útil. Vem
se fazer de vítima na simples intenção
de falar mal do MEU namorado. Isso
mesmo, MEU! Nada do que sair de sua
boca vai me provar o contrário da
pessoa que é Andrea. — Falo
caminhando até a porta.
— Você não está entendendo… —
Voltei meu olhar frio na sua direção à
fazendo ficar quieta imediatamente.
— Para você nunca será você, não
me trate como se fossemos íntimos
porque não somos. — Falo abrindo a
porta e chamando Timóteo para dentro.
— Leve essa mulher para fora e avise na
recepção que sua presença não é bem-
vinda.
— Sim, senhor! — Timóteo disse
e Sam entrou na minha sala novamente.
— O quê? — Ouvi a voz chata e
ofendida da irmã de Andrea.
— Está fazendo o que ainda na
minha sala? — Pergunto com ódio e ela
se levantou para sair e quando ela
estava perto Timóteo levantou a mão
para pegar seu braço e ela deu um passo
para trás.
— Se algum dos seus
subordinados tocar em mim eu vou te
processar. — Ela disse com raiva
passando por mim.
— Senhorita Giardino? —
Chamei a fazendo me encarar. — Sugiro
que não faça isso, pois uma coisa que eu
gosto muito nessa vida é destruir
pequenos vermes insignificantes.
Entro na minha sala, esquecendo
que poucos segundos atrás eu estava
querendo avançar no pescoço da irmã de
meu anjo. Enquanto eu me acalmava
sinto uma mãozinha tocar meu pulso,
olho para baixo e vejo Sam me olhar
com a melhor cara de quem está com
fome, dou uma risada esquecendo
totalmente a minha irritação e falo com
ela que já estamos indo para casa
almoçar. Coisa que eu também estava
louco para fazer e fora que quero muito
matar as saudades de meu pequeno
loiro, mas ao pensar em Andrea eu fico
sério novamente porque eu sei que terei
que falar com ele o que sua irmã veio
fazer aqui. E sei que isso vai deixá-lo
abalado, mas não quero esconder nada
dele.
O almoço na casa na mansão foi
meio estranho porque estava faltando
meu namorado, mamma, Luna, Luti,
Lucca, Nonna e Giovanna. Liguei para
Andrea assim como eu vi Filippo ligar
para Luti e Luigi para Lucca, o
engraçado foi que todos eles falaram a
mesma coisa que resolveram almoçar
em um restaurante e que mais tarde
estavam de volta. Fiquei com uma
grande pulga atrás da orelha e me vi
tentando não ir ver se Andrea estava
bem no meio daquele povo louco, mas
como é a primeira vez dele tento uma
total interação com a minha família eu
preferir engoli essa vontade e deixar
seguir. Voltei para a empresa deixando
Sam em casa na intenção de distrair
minha cabeça.
Mas ao cair da noite a coisa
começou a ficar um pouco mais
preocupante e meu desespero começou a
bater forte quando cheguei em casa e
não vi o meu namorado lá. Pergunto a
Babo se eles tinham aparecido em casa
e a resposta foi uma carranca
monstruosa e um negar com a cabeça,
olhei para Felipo e sabia que ele estava
querendo fazer a mesma coisa que eu.
Peguei meu celular rapidamente e
comecei a discar para Cyro, olhei para o
lado e vi Babo, Filippo, Luigi e Lorenzo
fazendo a mesma coisa.
— Onde vocês estão? — Pergunto
entre dentes assim que Cyro atendeu.
— Senhor, não tenho certeza se o
senhor vai querer saber. — Disse Cyro
com uma voz séria me fazendo trincar o
maxilar e ao fundo ouvir um barulho alto
de motores de carro e gritos.
— Só diga! — Mandei e ouvi um
respirar fundo.
— Em uma corrida de carro
clandestina. — Cyro disse, eu apertei a
ponta do meu nariz para me conter.
— Me passe à localização que
estou chegando. — Falo e assim que
ouvi um “Sim, senhor” eu desliguei a
ligação.
— Não sei vocês, mas eu vou
atrás de meu marido. — Filippo disse
entre dentes.
— Não tem motivo no inferno que
não me faça ir atrás de Andrea. —
Afirmo e vi Lorenzo confirmar.
— Lucca não perde por esperar.
— Luigi disse carregando Isabel.
Pedimos a Elisa uma das mais
antigas mulheres que trabalham aqui em
casa para ficar com as crianças e fomos
todos nós atrás daquelas pessoas que
amamos, mas temos uma incrível
vontade de enforcá-los nessa noite.
Andrea tem que me dar uma incrível
desculpa por se pôr em perigo em uma
porra de pista clandestina de corrida de
carro.
Como Luti mesmo disse mais
cedo que eu não teria como me esquivar
das compras que Arianna e Francesca
organizaram, e ele estava totalmente
certo. Sim, após o café da manhã saímos
todos juntos para essas compras que
para mim foram intermináveis, tentei me
esquivar de todas as maneiras, coisa que
não resultou em nada já que foram
várias peças de roupas que compraram
para mim que eu estava em tempo de
ficar zonzo. O mais interessante nessa
manhã foi como percebi o quanto essas
pessoas são agradáveis, conversei
bastante com Luiz Otávio e Giovanna
que me contaram um pouco sobre suas
vidas.
Descobrir que Luiz Otávio
começou o seu relacionamento com
Filippo aos 19 anos, que ele era garçom
de um restaurante quando se conheceram
foi algo instantâneo em que ele sabia
que tinha se apaixonado pelo seu Ursão,
como ele mesmo disse. Ele é uma
pessoa muito prestativa e doce, sempre
procurando saber minhas opiniões em
casa coisa que eles conversavam, na
verdade não só ele é assim e sim todos.
Porque por mais que eu não o conheça
há muito tempo e não saber nada de suas
vidas, eles faziam questão de me
explicar cada detalhe para que eu não
me sentisse excluído. Como foi o caso
de Giovanna, pois eu fiquei meio sem
entender a relação dela com Luigi e
Lucca. Mas a própria falou que ela era a
mãe das meninas e amiga do casal,
Arianna ainda disse que tinha adotado
Giovanna como filha que sim ela é parte
família, deixando a pobre mulher aos
prantos de felicidade.
O dia foi meio cansativo pelo
tanto de lugar que Arianna e Francesca
nos fizeram andar. Almoçamos todos
juntos em um restaurante muito bom que
eu nunca tinha visto, para falar a
verdade eu já tenho um ano que moro
aqui e ainda não tinha nem conhecido a
cidade direito. Sempre morei no
vilarejo, fui parar na Rússia, Milão
propriamente dito, eu nunca conheci,
portanto aproveitei esse passeio para
conhecer melhor a cidade em que eu
moro. Mais tarde quando já tínhamos
comprado tudo o que elas achavam
muito necessário, eu achei que iríamos
embora, mas eu estava muito enganado.
— Temos que arranjar um lugar
para podemos nos arrumar, se formos
para casa agora não vamos poder sair
sozinhos. — Lucca disse e vi Luna e
Luti confirmando.
— Sim, se eu for para casa agora,
será muito difícil Ursão me deixar sair
sem querer vir atrás. — Luti disse e
Luna riu.
— Difícil é uma palavra muito
bondosa meu cunhado, isso seria uma
atividade impossível. — Luna lembrou.
— Estou morrendo de saudades
das minhas pequenas, mas preciso de
selvageria hoje. — Giovanna disse nos
fazendo rir.
— E vamos ter querida Gio. Com
certeza vamos ter! — Francesca disse
me fazendo temer.
— O que vamos fazer então? Eu
preciso de um banho e Andrea precisa
trocar esse curativo. — Arianna disse
sorrindo para mim e eu retribuir.
— Podemos fazer tudo isso lá na
Boate, podemos tomar banho e nos
arrumar lá. Fanny hoje está na frente das
coisas e eu realmente preciso ir ver
como anda tudo por lá. — Falo e todos
me olharam.
— Isso é uma ótima ideia! —
Luna disse com um sorriso malicioso.
— Ainda mais que eu vou poder ver
aqueles dançarinos lindos.
— Isso é uma ótima ideia
realmente. — Giovanna disse no mesmo
tom que Luna.
— Sem extrema alegria para ver
um monte de homem pelado irmãzinha.
— Lucca disse com uma carranca.
— Deixe de ciúmes querido
irmão! — Luna disse alisando o rosto de
Lucca e ele cerrou os olhos na sua
direção.
— Tenho que concordar! —
Giovanna disse me fazendo rir.
— Olha, eu acho que meu ursão
dá de dez a zero em todos aqueles
homens, mas olhar não tira pedaço.
Tira? — Luti pergunta com desdém.
— Tira se estamos falando de um
Aandreozzi. — Francesca brincou fazer
todo mundo rir e eu fiquei confuso.
— Eles são ciumentos mesmo? —
Pergunto e Luti afirma.
— Você não faz ideia amigo
Andrea, não faz ideia! — Luti disse e eu
nego com a cabeça.
Entramos no carro e fomos direto
para a boate, como está no final da tarde
é bem provável que todos já estejam se
preparando para os shows. Fiquei
confuso que quando o carro parou na
frente do lugar que até ontem estava
destruída, agora está como se nada
tivesse acontecido. Isso prova que Enzo
deve ter mandando que realmente
arrumasse tudo por aqui, e tenho que
confessar que isso só aqueceu meu
coração me fazendo sentir sua falta. Ao
passar pela porta da Boate a primeira
pessoa que nos vê é Amauri, o seu grito
espantado chamou a atenção de todos e
em poucos segundos ele já estava
correndo para abraçar Francesca.
— Minha rainha, quando tempo
que não aparece por aqui! — Disse ele
aos sorrisos para Francesca.
— Mau Mau sua cadela
flamejante, você está mais incrível que
nunca. E esse cabelo roxo? — Pergunta
Francesca a ele que pegou logo nos
cabelos.
— Pintei hoje, ficou divino não
foi? Meu sorvetão disse que essa cor me
deixa fofo, mas eu disse a ela que eu sou
sexy e não fofo. — Amauri disse
fazendo beicinho.
— Sorvetão é uma besta! —
Francesca disse fazendo Amuri rir.
— Está vendo isso, Sorvetão? —
Grita Amauri apontando para Paul que
levantou a mão em sinal de rendição.
— Não te chamo mais de fofo,
querido! — Disse Paul sério e Amauri
riu. — Olá chefe, chefa e pessoal! —
Paul diz sério e todos assentem.
— Oh, sinto muito pessoal, eu
estava aqui tão feliz com a presença da
minha rainha e me distraí. Eu sou
Amauri, um garçom, mas fora isso sou
maquiador, estilista, consultor ou
qualquer coisa que vocês quiserem. —
Amauri se apresentou me fazendo
balançar a cabeça negativamente.
— Dio! Você é eletrizante, gostei
de você! Eu sou Luna, esses aqui são
Lucca meu irmão, Arianna minha mãe,
Giovanna minha irmã, Luti meu cunhado
e Andrea você com certeza já conhece,
mas é sempre bom dizer que ele é meu
cunhado. — Luna disse piscando para
mim e outro grito de Amauri foi-se
ouvido.
— Fanny! — Amauri grita e
Fanny apareceu correndo toda assustada.
— O que foi? Quem morreu? —
Fanny pergunta com os olhos
arregalados.
— O nossa Borboleta loira está
namorando. Isso não é surpreendente?
— Amauri disse e Fanny me olhou
espantada, mas logo um sorriso surgiu
nos seus lábios. — Sem contar que
estamos diante da família mais badalada
de toda a Itália. É muita emoção em um
dia só!
— Prazer conhecer todos vocês,
estamos com saudade de você, chefa. —
Fanny disse fazendo Fran rir e todos
assentirem. Depois olhou na minha
direção. — Quando você iria nos
agraciar com essa notícia? — Fanny
pergunta colocando a mão na cintura.
— Pare com isso vocês dois, e eu
não vou dizer nada a vocês. — Falo
sério, mas senti minha bochecha
esquentar.
— Tão envergonhado esse
menino. Está vendo isso, Fanny? —
Amauri falou arqueando a sobrancelha.
— Gostei do estilo de vocês dois.
— Lucca disse de supetão deixando
Fanny e Amauri surpresos.
— Tenho que concordar que seu
sotaque é conhecido. De onde você é?
— Luti pergunta a Fanny.
— Obrigada. — Fanny agradeceu
e depois sorriu para Luti. — Eu sou de
Angola.
— Que ótimo, logo eu vi conheço
uma menina lá na faculdade que também
é angolana por isso reconheci. — Luti
disse fazendo Fanny rir.
— Vão ficar para o show? —
Amauri pergunta e Luna nega.
— Não, vamos para a despedida
de solteiro de meu irmão, mas o lance
vai ser meio explosivo. — Luna disse
misteriosa.
— Sim, vai ser a melhor. —
Lucca responde com um sorriso
predador.
— Quero ficar selvagem! —
Giovanna disse e eu não pude deixar de
rir, porque ela fala isso o tempo todo.
— Posso te ajudar com isso! —
Amauri se prontificou deixando os olhos
de Giovanna brilhando.
— Isso vai ser ótimo, já que
iremos nos arrumar aqui. — Fran disse
para a felicidade de Amauri.
— Vocês fiquem bem aí que eu
vou ver como andam as coisas por aqui.
— Falo e senti uma mão no meu braço.
— Nada disse meu querido, você
vai tomar um banho para poder trocar o
curativo. — Arianna disse maternal.
— Curativo? Você está ferido,
Dea? — Fanny pergunta e vi a
preocupação no seu rosto enquanto
procurava por meu corpo.
— Não foi nada que você possa
se preocupar. — Falo o mais
conveniente possível, mas não sei se ela
aceitou muito bem.
Ficamos conversando por um
tempo até que fomos todos nos arrumar
para sairmos. Fomos aconselhados por
Francesca a desligar nossos celulares
para o caso de tentarem falar com a
gente, achei isso meio extremo, pois eu
sei que Enzo ficará bastante preocupado,
mas eu sei que estamos cercados por
seguranças e espero que nada demais
aconteça. Enquanto eu estava indo a um
dos camarins para tomar um banho, vi
alguns dos dançarinos e um deles foi
Matias que quis avançar para falar
comigo, mas levantei a mão e nego com
a cabeça. Não estou com vontade de ter
uma conversa com ele agora, deixarei
para outro dia. Dia esse que farei o
possível para que ele entenda de uma
vez que nada irá acontecer entre nós.
Depois de terminado meu banho,
feito uma limpeza no meu ferimento e
deixado Arianna fazer um curativo, vi
que ela tinha trazido roupas para eu me
vestir, sem que eu pudesse falar nada ela
apontou para a roupa e saiu afirmando
que iria se arrumar também. A minha
roupa era basicamente calça jeans
escura, uma camisa azul marinho,
jaqueta de couro preta muito linda e bota
de combate. Vestida a roupa deixei meus
cabelos soltos e sai para me encontrar
com o resto do pessoal, Fanny quando
me viu deu um assobio e eu nego com a
cabeça me sentindo sem graça. Do lado
de Fanny estava Luti e Lucca
conversando com Louis e Paul, assim
que me viu chamou para que eu me
aproximasse.
— Está muito bem cunhado. —
Lucca disse e eu dei um pequeno
sorriso.
— Olha só quem fala, você está
muito bem também — falo e ele dá uma
risada.
— Isso é o amor que nos deixa
assim. Bem! — Piscou para mim e eu
abaixei a cabeça.
— Não fique com vergonha
cunhado, isso é incrível. — Lucca disse
e eu confirmo.
— Não ligue senhor, Aandreozzi.
O nosso Andrea nunca foi muito de
conversa, mas é uma ótima pessoa. —
Louis disse em minha defesa e eu olhei
para ele sem acreditar.
— Não deixe nunca meu irmão
ouvir você falar uma coisa assim. —
Lucca disse sério e Louis olhou sem
entender.
— Ouvir o quê? — Louis
pergunta olhando de Lucca par mim.
— Você usando esse termo
possessivo com relação ao seu anjo. —
Lucca continuou sério e eu vi o pobre
Louis engolir em seco.
— Não, já que ele pode ser pior
que Paul. — Louis disse e Paul soltou
um resmungo.
— Então quer dizer que Zuco já
anda tendo acessos de ciúmes gratuitos?
— Luti disse com malícia e Fanny
confirma.
— Não sei de onde vocês tiraram
isso… — Parei de falar quando vi Fran,
Arianna, Luna e Giovanna vindo até nós.
— Mas essas mulheres
Aandreozzi são o poder. — Luti disse
com um grande sorriso.
— Eu tenho que concordar. —
Soltei ao ver o quão lindas elas estão.
Todos nós estamos com alguma
peça de couro. Mas essas mulheres
estão esbanjando sensualidade e
simpatia, Francesca usa um vestido
preto, salto alto não tão alto preto e um
casaco de couro. Arianna é um pouco
mais conservada, usa uma saia cintura
alta de couro que vai até abaixo do
joelho, colada nos seus quadris estreitos
e delicados, uma camisa de manga longa
e um casado. Giovanna está usando um
vestido branco com uma jaqueta de
couro preta e um sapato alto matador.
Luna está usando calça de couro preta
colada e uma jaqueta estilo de corrida
também preta, e uma bota de salto alto.
Sim, eu acho que ela vai correr.
— Estamos muito dark hoje, mas
estamos incríveis. Só faltou o chicote!
— Francesca disse fazendo-nos rir.
— Se quiser eu te empresto o
meu. — Amauri disse malicioso.
— Não preciso querido, tenho
uma coleção! Basta Lolo me deixar
bater naquela bunda velha dele. —
Francesca disse vendo a cara de enojada
dos netos. — Não me olhem assim, eu
gosto de uma inovação.
— Informações demais Nonna! —
Lucca disse e Fran revirou os olhos.
— Vamos indo que essa noite vai
ser um sucesso. — Fran disse e todos
nós assentimos.
O caminho até o lugar onde iria
ser a tal corrida de carro foi um pouco
mais demorado. E eu entendi bem o
motivo, pois o lugar é bem mais
afastado da civilização e de dentro do
carro dá para ver a quantidade de carros
tunados e pessoas que estão presentes.
Saímos do carro tendo a companhia dos
seguranças olhando tudo com atenção
averiguando a segurança do ambiente,
assim que deram o aval fomos de
encontro com a aglomeração de pessoas.
Quatro carros estão na linha de largada
para iniciar a corrida, o ronco dos
motores faz a galera gritar, olho para o
lado e a empolgação de todos é
impressionante. Luna fala sobre a
corrida principal e vejo o brilho nos
seus olhos.
— Eu preciso disso, vou fazer
com que Alejandro faça as negociações
para eu fiquei com a corrida principal.
— Luna disse sorrindo.
— Como assim, corrida
principal? — Luti pergunta gritando
assim que os quatro carros saíram em
largada.
— É muito simples, está vendo
aquele Dodge Charger? — Luna disse
apontando para o carro preto com
detalhes vermelhos no farol.
— O que tem aquele carro? —
Giovanna pergunta apreensiva.
— Nada demais, quero ele para
mim e vou acertar para que o dono dele
corra comigo para eu ficar com o carro.
— Luna disse docemente dando de
ombros.
— Como pode ter certeza de que
você vai ganhar? — Pergunto sem
conseguir me conter.
— Eu nunca perco, meu cunhado.
— Disse e piscou um olho.
Vimos o segurança que ela chama
de Alejandro caminhar até o dono do
carro que Luna tanto quer e falar algo.
Ele olha com interesse para o nosso
grupo e depois afirma com a cabeça
como se concordasse com algo que
Alejandro tenha dito. Tiro meus olhos da
negociação e vejo outro tipo de
negociação, Francesca foi até um outro
homem que estava fazendo apostas e
falou algo que o fez rir, vi quando ela
tirou uma nota de dinheiro da bolsa e
deu para o homem. Quando ela se
aproximou eu pergunto o que houve, mas
ela sorriu e disse que a melhor coisa
nesses eventos é a adrenalina de ver o
povo perdendo dinheiro nas apostas,
porque ela sabe que sua neta vai ganhar.
Estava tão distraído que não vi o homem
do carro conversando no meio do nosso
grupo.
— Quem aqui deseja me desafiar?
— Ele pergunta olhando para Lucca.
— Não me olhe assim, porque
dessa vez não sou eu. — Lucca disse
sério.
— Se não é você quem pretende
fazer essa loucura? — O homem
pergunta com toda altivez.
— Se é loucura eu não sei, mas
que vai ser divertido eu acho que sim.
— Luna disse parando na frente do
homem que olha para ela de cima a
baixo mordendo os lábios.
— E a gostosa está achando que
isso aqui é salão de beleza? — O
homem pergunta fazendo Luna rir
debochada.
— Não, eu realmente sei onde
estou e tenho a certeza de que vou
ganhar de você. — A confiança no que
Luna falou fez com que o homem
arregalasse os olhos e depois a
encarasse com raiva.
— Acho melhor a princesa voltar
para casa, porque aqui não é seu lugar.
— Ele disse e Luna deu mais um passo
para frente, fazendo todos nós entramos
em alerta.
— Está com medo de que eu fique
com seu lindo carro? Mas eu o quero
tanto para dar de presente ao meu
irmãozinho aqui que vai se casar. Você
não acha que será um ótimo presente de
casamento? — Luna pergunta fazendo o
homem rir.
— Você não sabe com quem está
brincando. — Avisou o homem. — Você
com essa certeza que vai ganhar, mas
onde está seu carro?
— Não seja por isso, só estava
esperando você perguntar. — Luna disse
sorrindo largamente enquanto apontava
para o Aston Martin GT, branco com
detalhes laranja. — Aquele ali é o meu
xodó, acredita que o meu Babo me
ajudou a dar uma turbinada nele?
— Ela sempre foi a garotinha do
papai. — Lucca disse com uma
indignada fingida.
— Não seja tão ciumento meu
filho, quando sua irmã ganhar aquele
carro ali você ficará mais feliz. —
Arianna disse para o espanto do homem.
— E a Nonna aqui vai ser a
primeira a andar, ainda mais com o
bolso cheio de euros que vou ganhar por
cima desse bundão. — Francesca soltou
nos fazendo rir.
— Vocês estão de brincadeira
com a minha cara? — O homem
pergunta entredentes.
— Não sei, quem sabe. Não é
mesmo Andrea? — Luti pergunta com os
braços cruzados e os olhos cerrados na
direção do homem.
— Sim, ele só vai saber se aceitar
o desafio. — Falo sério e calmo.
— O que vai ser? Minha família
está muito ansiosa. — Luna disse e o
homem olhou novamente para o carro.
— Você vai se arrepender,
dondoca! Vou te mostrar que não se deve
desafiar um homem de verdade. — O
homem disse e saiu sem dizer mais
nenhuma palavra.
— Tem certeza de que vai fazer
isso, Luna? — Giovanna pergunta com
aflição.
— Toda a foda de certeza. —
Disse ela caminhando decidida até seu
carro.
Luna entrou no carro com uma
máscara de pura determinação no rosto.
Quando o carro do seu adversário fica
ao lado do seu carro, todos nós nos
aproximamos para ver tudo com mais
nitidez, olho para o lado e vejo que
todos estão com uma expressão de pura
determinação e esperança de que Luna
vai ganhar essa corrida e a única coisa
que eu posso fazer é confiar que a mais
nova da família irá ganhar mesmo. Foi
dada a largada e os carros saíram
cantando pneus e levantando poeira. Os
grita de Giovanna e assobios de Luti
eram contagiantes, Lucca estava sério
olhando os carros se afastarem,
enquanto Arianna e Francesca rezavam
em tom baixo.
Um movimento me chamou a
atenção quando vejo Cyro olhando para
mim enquanto falava no celular, mesmo
de longe eu sabia que ele estava falando
com Enzo. Soltei um forte suspiro
porque eu sei que quando eu chegar em
casa eu vou ter que ouvir de Enzo. Dei
de ombros e voltei a minha atenção a
pista de corrida na espera de Luna.
Vimos os faróis dos carros apontando de
longe e a gritaria familiar começou,
todos nós torcendo para que seja Luna a
ser a vencedora deste desafio. E a nossa
alegria foi tremenda quando o seu Aston
Martin passou na linha de chegada. Sinto
alguém me abraçar e pular de felicidade
e essa pessoa é Francesca.
— Porra! É disso que as mulheres
Aandreozzi são feitas! Ela ganhou! —
Francesca grita me fazendo rir.
— Sim! Ela ganhou! — Confirmo
rindo.
— Essa é minha bambina, ecco!
— Arianna grita em alegria.
— Ganhei! — Luna grita feliz
saindo do seu carro. Ela veio até nós e
abraçou a mãe e depois fizemos um
abraço coletivo.
— Agora você tem que buscar o
meu presente. — Lucca lembrou e Luna
afirma feliz.
— Sim! — Ela disse e viramos
para encarar o adversário de Luna, mas
ele estava com uma cara muito feia e
sendo acompanhado por alguns homens
também mal-encarados.
— Não sei de onde você é, mas o
meu carro você só leva a força. — O
homem disse fazendo os outros
assentirem.
— Não sabia que iríamos ser
recepcionados com um desafio desses.
— Ouvi a voz de Enzo e virei
imediatamente assustado com sua
presença.
E ele não estava sozinho,
Donatello, Filippo, Luigi e Lorenzo
estavam juntos e todos com uma
carranca no rosto. Acho que eles não
estão felizes.
Continuo a olhar para eles sem
saber o que fazer. O clima aqui está
completamente pesado e o adversário de
Luna continua a nos encarar com raiva e
com o sentido de procurar uma guerra
por ter pedido a corrida para uma
mulher. Olho para Enzo que retorna meu
olhar e vem sem nem piscar para minha
direção e me dá um beijo forte nos
lábios, afirmando que mais tarde
iríamos conversar, mas agora iria
resolver esse problema. Assim como
Enzo veio na minha direção, Filippo
agarrou Luti pela cintura e falou algo no
seu ouvido o deixando vermelho e
mordendo os lábios, Luigi fez a mesma
coisa com Lucca, só que segurou na sua
nuca enquanto falava e Lucca estava
com um sorriso safado no rosto enquanto
afirmava, seja lá o que Luigi esteja
falando.
— O que está acontecendo aqui?
— Donatello pergunta enquanto
segurava sua esposa e puxava Giovanna
e Luna na sua direção.
— Nossa garotinha ganhou a
corrida e esse palerma não quer assumir
que é um puto que perde para mulheres.
Machista do caralho! — Francesca disse
irritando o adversário de Luna mais
ainda.
— Olha só sua velhota, acho
melhor você ficar fora disso. — Ele
grita deixando todos nós com raiva.
— Velhota é a puta que lhe pôs no
mundo, seu filhote de satanás! —
Francesca disse indignada e eu não pude
evitar de rir.
— Você está rindo de que sua
bichinha loira? — Um outro homem
pergunta me fazendo fechar o sorriso
rapidamente e o encarar com seriedade.
— Está falando comigo? —
Pergunto irritado e ele assente.
— Acho melhor você não usar
esses termos com o meu namorado. —
Enzo disse em um tom sombrio.
— Não acredito que me deixei ser
vencido por uma vagabundinha que tem
a família repleta de veados. Olha só
pessoal, as bichinhas acham que
podem…. — Nem vi quando Enzo saiu
de perto de mim e derrubou o adversário
de Luna com um soco só.
— Odeio pessoas que me causam
estresse e você foi um deles. — Enzo
disse em tom frio enquanto olhava para
o homem no chão.
— Peguem eles pessoal! — O
homem grita e foi aí que tudo começou.
— Mio Dio, essa é a melhor
despedida de solteiro de todas! —
Lucca disse com um largo sorriso. Ele
conseguiu desviar de um homem forte
que veio na sua direção e acertar um
chute forte o fazendo cair de cara no
chão.
— Santo Dio, Lucca! Ainda
vamos conversar sobre essa sua
despedida. — Luigi disse enquanto dava
um mata-leão em outro cara.
Olhei para Luti e Filippo que
lutavam lado a lado e mesmo de longe
pude ver o olhar de preocupação de
Filippo ao ver Luti trocar socos com um
homem mais alto que ele. Luti girou
rápido dando uma bela rasteira no
sujeito, se levantando logo em seguida
para socar fortemente fazendo o homem
desmaiar. Vejo Donatello correndo em
direção ao carro que Luna ganhou e tirar
um dos homens a força do lugar do
motorista e acertar sua cabeça na porta,
para a felicidade de Luna que tinha
acabado de derrubar um homem que foi
na sua direção. Francesca está com um
pedaço de madeira, que não sei de onde
saiu, batendo em quem quer que tente se
aproximar de Lorenzo que é totalmente
avesso a violência.
Ouço Enzo gritar meu nome, viro
a cabeça correndo na sua direção e ele
diz para eu correr. Fico novamente sem
entender até que vejo correndo na minha
direção um homem com uma pequena
faca na mão, tenho vontade de rir pelo
clichê da vida, mas me contenho em
esperar que o homem venha até mim.
Jurei que não lutaria mais, mas olhando
para essa família lutando juntos lado a
lado para proteger uns aos outros faz
com que essa minha promessa se torne
inválida. Se eu quero ser o parceiro de
Enzo, se eu quero aceitar
verdadeiramente o sentimento que temos
um pelo outro eu tenho que ser o Andrea
por completo e protegê-lo assim como
eu sei que ele vai me proteger.
Espero o homem armado com algo
que parece uma faca de caça ficar bem
próximo a mim e quando ouço o grito
assustado de todos, eu procuro não tirar
minha atenção do meu agressor.
Desviando meu corpo esquio
rapidamente o deixo acertar o ar e com
o meu braço que não está machucado eu
tiro a faca da sua mão, tão rápido e
preciso que faz com que ele olhe para
suas mãos assustado sem entender o que
está havendo. Como minha intenção não
é ferir e nem o matar, acerto o cabo da
faca um ponto exato na sua nuca o
deixando cair desacordado no chão.
Desvio meus olhos do homem que eu
acabei de derrubar e olho para onde
Enzo está. Enzo está tão distraído com o
meu feito que não percebe o adversário
de Luna com uma arma apontada para
suas costas.
— Enzo! — Grito com olhos
arregalados, mas ele não entende o que
eu tento dizer e só me resta uma
alternativa. Olho rapidamente para a
faca na minha mão e sem pensar duas
vezes miro na mão do filho da puta
apontando uma arma para o meu
namorado e lanço com toda a
experiência e agilidade que adquiri
nesses anos. O adversário de Luna dá
um forte de grito de dor e segura sua
mão ensanguentada enquanto a arma cai
no chão.
— Esse é o meu querido menino
especialista em facas. — Ouvi
Francesca falar com um ar de orgulho e
senti o meu corpo ser abraçado.
— Andrea! Você está bem meu
anjo? — Pergunta Enzo me abraçando
forte.
— Você é quase baleado nas
costas e ainda me pergunta se eu estou
bem? — Olhei para Enzo sem acreditar.
— Você é mais importante, você
está bem? — Afirmo ainda sem
acreditar e ele se mostra aliviado. —
Nossa, você é muito rápido! — Enzo
disse se dando conta do que acabou de
ver.
— Sim eu sou, isso é um
problema para você? — Pergunto sem
conseguir me conter e ele me olhou com
estranheza.
— O que? Você ser o amigo
especialista em facas que Nonna sempre
diz? — Pergunta Enzo sorrindo e eu
olhei para Francesca que piscou para
mim. Voltei minha atenção a Enzo e
assinto.
— Não, você tem problema em
estar namorando um sniper? — Enzo
pergunta e eu arregalei os olhos. — Sim
anjo, aqui nessa família todos temos
nossas especialidades. Olhei para todos
os presentes e cada um afirma sorrindo.
— Estamos em falta de um lutador
de armas brancas. — Lucca disse com
um sorriso sádico.
— Não ligue para o sádico da
família. — Luna disse negando com a
cabeça.
— Você ser um lutador ou não,
para nós isso não quer dizer nada. O
importante é fazer parte dessa família.
Nunca iria usar suas habilidades contra
sua vontade. Capisce? — Filippo disse
abraçado ao seu marido e vi que seu pai
está se aproximando e confirma.
— Somos somente uma família
que cuida uns dos outros. — Donatello
disse entregando a chave do carro a
Luna. — Aqui está o seu prêmio,
querida.
— Grazie Babo, mas eu ganhei
para dar de presente ao noivo. — Luna
disse e jogou a chave para Lucca.
— Eu tenho a melhor irmã piloto
de fuga que alguém pode ter. — Lucca
disse feliz e Luigi nega.
— Tem certeza de que quer dar
esse carro ao seu irmão? — Luigi e
Luna confirmaram.
— Não vejo a hora de levar
minhas filhas para darem um passeio
nessa máquina. — Lucca disse excitado
com a hipótese.
— Você nunca vai colocar nossas
duas filhas nessa coisa veloz. Não tente!
— Giovanna disse fazendo Lucca
murchar sua felicidade.
— Mas Gio, eu não vou andar em
alta velocidade. — Lucca se explicou e
eles começaram uma discussão muito
engraçada.
— Enzo? — Olhei para cima para
ver Enzo olhando para os homens que
nós derrubamos com ódio.
— Você poderia ter se machucado
com toda essa confusão. — Enzo disse
irritado.
— Mas Enzo tudo está bem agora.
— Falo em um tom calmo e ele nega.
— Não, não está. — Disse ele
entre dentes.
— Vamos para casa, preciso ter
uma conversa com meu marido. —
Filippo disse de modo rude.
— Entendi perfeitamente. —
Donatello falou e vi Luigi confirmar
também.
— Vamos! — Enzo fala sério e eu
assinto.
Fomos todos em direção aos
carros. Lucca, Luigi e Giovanna foram
no carro novo e Luna preferiu ir junto no
carro com os pais deixando que seu
segurança levasse o seu carro. Andei
calmamente até um dos SUVS e assim
que entrei esperei um tempo até que
Enzo entrou também para seguirmos
viagem. Assim que ele entrou no carro
eu esperei que ele falasse algo, mas tudo
que ouvi dele foi o silêncio. E esse
silêncio é agoniante, porque por mais
que Enzo seja um homem sério, ele
sempre conversou tranquilamente e
agora ele não diz nada me deixando
assustado e preocupado para saber o
que está passando na sua cabeça.
A chegada a mansão foi rápida e
totalmente silenciosa, Enzo saiu do
carro e nem sequer me esperou já foi
seguindo direto para dentro. Algo não
está certo! Tomo um susto quando vejo
Filippo carregando Luti pelo ombro,
eles passam por mim e eu posso ver o
rosto de Filippo totalmente irritado, mas
ao olhar para Luti ao invés de ver
apreensão eu consigo ver um sorriso
safado e isso me deixa totalmente
encabulado. Subo as escadas após o
casal sumir do meu campo de visão, mas
antes de chegar até o quarto de Enzo
vejo o outro casal se atracando no
corredor. Lucca cessa o beijo que Luigi
está lhe dando prendendo suas costas na
parede, ele sorri para mim saindo do
colo de seu noivo e entrando no quarto.
Balançando a cabeça
negativamente eu seguro a maçaneta da
porta soltando uma respiração forte
antes de encarar Enzo. Ao entrar no
quarto o vejo andando de um lado para o
outro, usando somente uma calça jeans
nos quadris estreitos. Quando ele me vê
posso ver nos seus olhos castanhos um
desejo selvagem, com dois passos eu já
estou sendo carregado por Enzo
enquanto sua boca avança na minha com
um beijo forte me desequilibrando
totalmente. Sua língua explorava minha
boca fazendo seu gosto explodir no meu
paladar, sua mão grande passeava por
toda extensão da minha coluna parando
na minha bunda, apertando forte me
fazendo soltar um gemido. Quando dei
por mim Enzo tinha parado o beijo e me
colocado no chão novamente.
— Desculpe-me anjo, mas se eu
ficar aqui eu posso fazer algo que…
não... droga! — Enzo disse e eu pude
sentir meu coração acelerado no peito.
— Enzo, o que foi? — Pergunto
sentindo meus lábios inchados.
— Eu tenho que sair daqui anjo,
será que você entende? Não ver você o
dia todo, ficar preocupado me
perguntando onde você estava e depois
ver você usando aquela faca para me
proteger…. Foi demais! — Enzo disse
em um tom sofrido.
— Mas… você não está
chateado? — Pergunto inseguro.
— Longe disso meu anjo, tudo o
que eu quero agora e te possuir por
inteiro, mas eu tenho que te respeitar. —
Enzo disse colocando uma mecha do
meu cabelo atrás de minha orelha e seu
toque fez minha pele se arrepiar.
— Oh! — Foi tudo que saiu de
minha boca e eu quis me chutar por isso.
— Vou estar lá embaixo e depois
eu subo para dormir com você. — Enzo
beijou meus lábios docemente e virou
para sair.
Sem pensar na força do meu ato
eu segurei a mão de Enzo o impedindo
de abrir a porta. Olho diretamente nos
seus olhos e sei que o que estou prestes
a fazer pode mudar totalmente o rumo do
nosso relacionamento. Sou um homem
quebrado que nunca sentiu desejo para
com outro homem, pois todos os homens
que passaram na minha vida forçaram os
seus desejos sobre mim é isso me tirou
algo que eu nunca nem cheguei a ter.
Mas com Enzo é diferente, eu sou um
Andrea diferente, eu quero ser dele por
completo, quero me sentir amado e
desejado do jeito certo e tudo isso eu
quero com ele.
— Não, fique! — Peço em um tom
fraco e inseguro.
— Andrea, você não sabe o que
está me pedindo. — Enzo disse e eu
confirmo com a cabeça.
— Eu sei sim e eu quero você
também Enzo. Por favor me faça seu! —
Falo com um pouco mais de confiança.
— Doce Jesus! — Enzo disse
entre dentes e em poucos segundos eu já
estava novamente em seus braços. —
Tem certeza? — Pergunta e eu assinto.
— Sim, por favor! — Falo e ele
me encarou por um tempo antes de
avançar sua boca na minha novamente.
Saí do colo de Enzo e o observei
tirar a sua calça jeans ficando só de
cueca com um volume bem atrativo na
frente e minha boca enche d'água na
simples intenção de sentir seu gosto, ele
percebe que eu estou olhando e dá um
sorriso de lado. Engulo em seco e sinto
minhas mãos começarem a tremer
quando Enzo pede permissão para tirar
minha roupa, assim que eu confirmo ele
tira cada peça distribuindo beijos na
minha testa, rosto, ombro e boca, com
isso sem perceber eu já estou só de
cueca também na sua frente. Pego a
última gota de coragem que eu tenho no
meu corpo e puxo Enzo para que ele
sente na beira da cama, ele me olha com
surpresa quando eu me ajoelho na sua
frente e seguro a barra de sua cueca, os
olhos de Enzo se arregalam, mas eu
ignoro fazendo o que eu realmente quero
fazer.
— Anjo, não precisa fazer isso.
— Enzo disse, mas meus olhos estavam
focados no grande e grosso pau
pulsando na minha frente e com uma gota
perolada de pré-sêmen na ponta.
— Eu sei, mas eu quero. — Falo
segurando o pau de Enzo passando meu
dedão na sua glande para espalhar o
pré-sêmen em toda a glande, adorei
fazer isso porque o gemido que ouvi sair
dele foi o mais atrativo.
— Isso é maldade! — Enzo disse
com um tom sofrido carregado de desejo
e isso me fez bem. Sim, muito bem!
— Espero me sair bem. — Falo
baixo e senti meu rosto ser puxado.
— Tudo o que você quiser fazer
comigo eu vou adorar, porque é você
que está aqui. Eu sou seu! — Enzo disse
com firmeza e eu acreditei nas suas
palavras.
— Bom saber. — Falo e sem
conseguir me conter liberei meu rosto da
mão de Enzo para começar a chupar o
seu pau.
Passei a língua por toda extensão
e quando a rodei por toda a glande vi os
olhos de Enzo virarem para trás e ele
espalhar mais as pernas para me dar
passagem. Me sentindo excitado só por
ver sua cara de contentamento eu
comecei a chupar toda sua extensão até
onde a minha garganta conseguia. O
gemido animalesco de Enzo me fez
querer mais, suas mãos com os nós dos
dedos embranquecidos de tanto apertar
os lençóis com força. Eu posso ser uma
pessoa que não teve boas experiências,
mas experiente com certeza eu sou e
com Enzo eu tenho a segurança de
mostrar o que eu sei fazer.
— Anjo, sua boca é uma delícia.
Dio mio! Ah… cazzo! — Enzo disse
balançando os quadris. — Anjo, não
quero gozar na sua boca. Pare! — Enzo
falou mais eu continuei.
Estiquei meus braços e abri a
gaveta do criado mudo, sei que lá tem
tudo o que eu vou precisar porque
Francesca fez questão de dizer isso.
Vasculho a gaveta e pego o tubo de
lubrificante e o pacote de camisinhas.
Ao ver as coisas em minhas mãos Enzo
me puxa para cima e diz que agora era
sua vez. Sinto meu coração bater mais
forte quando minhas costas batem no
colchão, Enzo sussurra no meu ouvido
que vai cuidar de mim da maneira que
eu devo ser cuidado. Ele distribui beijos
no meu pescoço alcançando minha boca,
aceito seu reino sem nem pestanejar,
mas quando sinto minha cueca sendo
tirada meu corpo fica rígido. Enzo sorri
para mim dizendo que era para eu nunca
tirar meus olhos dos seus.
— Olhe nos meus olhos e veja o
quanto eu me importo com você, o
quanto estou apaixonado por você e o
quanto eu vou te fazer feliz. — Enzo
disse olhando nos meus olhos enquanto
falava cada palavra.
— Eu vejo… oh. — Murmurei ao
sentir os lábios de Enzo nos meus
mamilos quando ele começou a me
estirar.

— Você vai ser meu? — Enzo


pergunta com a voz carregada de tesão.
— Da ... Der'mo! Akh! (Sim…
Porcaria! Ah!) — Falo me assustando ao
falar em Russo, mas Enzo sorriu.
— Acho sexy você falando em
Russo, gosto disso meu anjo. — Disse
ele alcançando minha boca novamente.
— Isso é bom! Nossa… Isso é
muito… ah! — falo sem conseguir me
conter ao sentir os dedos dele dentro de
mim.
— Se entregue a mim anjo. Só a
mim! — Seu tom possessivo ao invés de
me assustar me excitou ainda mais. Meu
pau está tão duro, como nunca esteve na
vida.
— Enzo, por favor! — Peço ao
sentir beijos molhados no meu pescoço
e seus dedos trabalhando no meu
estiramento.
— Por favor o que, Anjo? —
Pergunta o sacana e eu olhei para ele
sério.
— Eu quero você! — Falo
soltando uma respiração ofegante.
— E você vai ter — Enzo disse
saindo de cima de mim e ficando de pé.
Sentindo o meu corpo quente e
virei para ficar de quatro, mas meu
corpo foi carregado me assustando
totalmente. Sem falar nada, Enzo se
deita na cama e diz que quem vai
comandar o show essa noite será eu. Eu
estou no comando de toda a situação, ao
ouvir ele falar isso meu peito se enche
ainda mais de amor por ele. Ele está me
dando o controle da situação, eu não
posso acreditar nisso. Deixando a minha
surpresa de lado inclino para frente na
intenção de beijá-lo, durante o beijo
sinto a mão de Enzo apertar os meus
cabelos da nuca enquanto eu encaixo
minha abertura no seu pau já coberto
com a camisinha.
Doeu um pouco já que tinha mais
de um ano que não fazia sexo, mas foi
tudo bem. Sentei lentamente
aproveitando a queimação e o gemido
de puro prazer de Enzo. Espalhei minhas
mãos no seu peitoral largo e comecei a
me movimentar, jogando a cabeça para
trás quando senti a mão grande e forte de
Enzo no meu pau. Eu nunca tinha sentido
algo tão intenso em toda minha vida e
quando acelerei os movimentos Enzo se
sentou na cama rodeando seu braço na
minha cintura e sua outra mão estava
entrelaçada nos meus cabelos, os
puxando fortemente para trás.
O som de nossos corpos se
chocando, o cheiro forte de sexo no ar e
nossos gemidos eram uma combinação
perfeita para que eu chegasse ao
orgasmo pintando o peito de Enzo com o
meu esperma. E com isso levei Enzo
logo em seguida, ainda pude sentir a
quentura do seu esperma ao preencher a
camisinha.
— Dio, isso foi… Nossa isso foi
foda! — Enzo disse abraçando meu
corpo. — Você está bem meu anjo?
— Sim, eu estou bem. — Falo me
deixando ser abraçado por ele.
— Tem certeza? E seu braço? —
Pergunta levantando minha cabeça de
seu ombro.
— Eu juro que estou bem, estou
mais que bem Enzo. — Falo com toda a
sinceridade que há em mim.
— Acredito em você, obrigado
por confiar em mim. — Enzo disse
beijando meus lábios docemente.

— Obrigado a você por me


mostrar como é ser amado. — Falo e ele
sorriu.
— Sim, isso é porque eu te amo.
— Confessou ele aquecendo o meu
coração.
— Eu também te amo. — Falo em
um tom baixo.
— Muito bom, porque eu não te
deixo ir de jeito nenhum. Agora vamos
nos limpar que eu quero te abraçar.
Sai do seu colo, vi quando ele
descartava a camisinha e fui caminhando
até o banheiro, mas minha ida foi
interceptada quando Enzo me carregou
pelo ombro e saiu correndo comigo.
Rindo entramos no chuveiro e tomamos
nosso banho tranquilamente enquanto eu
contava a Enzo como foi meu dia com
sua família. Ele riu quando eu disse
como Luna enfrentou o seu adversário
para poder correr. Banho finalizado
fomos nos deitar para dormir, mas tinha
algo faltando.
— Enzo, está faltando uma
pequena bola de pelos fofa. — Falo e
Enzo me olhou de cara feia.
— Kay não é fofo, ele é macho
igual ao pai. — Disse ele e eu revirei os
olhos. Enzo se levantou da cama e foi
até a porta, ao abrir o pequeno Kay
passa a toda velocidade.
— Agora sim, vamos dormir
garoto. — Falo colocando Kay na cama.
— É loucura ter ciúmes do meu
próprio cachorro? — Enzo pergunta e eu
ri alto.
— Deixa de conversa e venha
dormir, querido. — Falo me assustando
com o modo descontraído que eu falo.
— Você pedindo assim nesse tom
mandão eu vou sim. — Enzo disse me
abraçando por trás. — Não pense muito,
anjo. Deixe as coisas acontecerem. —
Disse no meu ouvido e eu afirmo com a
cabeça.
— Boa noite, querido. — Falo em
tom baixo e Enzo me apertou um pouco
mais.
— Durma bem meu anjo.
E isso foi a última coisa que eu
ouvi ante de cair em um sono leve nos
braços do homem de verdade que meu
coração se apaixonou.
ENZO AANDREOZZI

Acordo com uma incrível


sensação de calor próximo a mim, olho
para frente e vejo o corpo de Andrea
alinhado ao meu. Aperto mais seu corpo
e cheiro seus cabelos loiros que eu
sempre achei parecido com fios de ouro,
mas olhando de perto assim na claridade
da manhã eu tenho certeza de que são.
Andrea vai acordando
vagarosamente, soltando uns sons
preguiçosos e isso me faz rir. Espero
que depois a nossa incrível noite de
ontem o nosso relacionamento fique
mais sólido e que ele possa confiar que
o que nós temos juntos é muito bom. E o
quanto mais sólido o nosso
relacionamento ficar melhor, pois
mesmo nunca estando com um homem na
vida, eu sei que é com ele que eu quero
ficar.
— Vamos lá anjo, acorde! — Falo
em um tom baixo e Andrea soltou uma
risada.
— Não quero não, me deixa ficar
aqui para sempre. — Andrea falou em
um tom manhoso e isso me rir.
— Seria tão bom ficar aqui para
sempre, mas infelizmente eu estou
morrendo de fome. — Falo o fazendo
virar abruptamente para me encarar e
seus cabelos tomaram a maior parte do
seu rosto.
— Quando você não está com
fome? — Pergunta ele e eu tirei os
cabelos do seu rosto o puxando para me
beijar, mas ele desviou. Olhei para ele
com estranheza e ele sorriu sem graça.
— Bafo da manhã? — Disse ele, mas
saiu como uma pergunta confusa. Soltei
um bufo de indignação e o beijei.
— Acostume-se a me beijar em
qualquer momento, mesmo que seja com
um bafo. — Falo entre beijos e isso o
fez rir mais.
— Você é tão intenso Enzo
Aandreozzi, não sei se consigo dar
conta. — Falou ele e dei de ombros.
— Acho que é o charme
Aandreozzi, mas tenho certeza de que
você dá conta. Porque se não for assim
acho que outra pessoa dá conta por
você. — Falo e ele me olhou com o
cenho franzido.
— Nem brinque, porque tenho
certeza de que você não vai querer que
eu vá atrás de ou… — Não deixei ele
terminar e alcancei sua boca.
— Jamais! Sabe, eu tenho esse
lance de possessividade em alta em
mim, acho que isso não vai acontecer.
— Falo e ele assente com um olhar
maroto.
— Eu nem tinha percebido isso.
— Fala com desdém e isso me fez negar
com a cabeça.
— Mas hoje tem uma certa pessoa
que acordou engraçadinho. — Falo o
puxando para cima e assim eu pude ver
de mais perto o quanto ele é lindo.
— Não, eu acordei hoje mais
confiante que a vida pode ser boa. Basta
ter as pessoas certas na sua vida. —
Andrea disse com sinceridade e isso
bastou para ter certeza de que o nosso
relacionamento pode se tornar mais
firme.
— É bom ouvir isso, é muito bom
ouvir de verdade. — Falo sério e ele
ficou vermelho.
— Eu estava me sentindo muito
perdido e confesso que ainda estou, mas
eu vou tentar superar as coisas que me
aconteceram aos poucos.
— E você vai superar, tenho
certeza de que você vai. Não só porque
estou pensando em como será nosso
relacionamento no futuro, mas sim
porque você é o homem mais forte que
eu já conheci. — Lembrei e ele olhou
como se eu tivesse perdido a cabeça.
— Como você pode dizer que sou
forte se eu... se eu não impedir muitas
coisas que me aconteceram. — Ele falou
se atropelando com as palavras.
— Eu já disse e repito que o que
aconteceu com sua vida não foi sua
culpa. Olhe para mim, anjo. — Peço
quando noto que Andrea desvia o olhar
e ele fez. — Você é forte sim! Você
conseguiu sobreviver, sabe o quanto é
difícil sobreviver a um inferno? E você
conseguiu isso, não sei se eu seria capaz
de suportar tudo o que você suportou,
então sim, você é o homem mais forte
que conheço.
— Obrigado! — Disse ele em tom
baixo.
— Não me agradeça por dizer a
verdade, eu sempre vou ser sincero com
você. — Falo com firmeza e ele me
olhou por um tempo.
— Lembra quando fomos ao meu
apartamento pegar minhas coisas e você
viu minha sacola preta? — Andrea
pergunta sem jeito e eu arregalei os
olhos.
— Não me diga que você esconde
ossos naquela bolsa! — Exclamo
dramático e ele me olhou com expressão
séria.
— Sério isso? — Pergunta ele e
eu o puxei para um abraço apertado.
— Você fica tão lindo quando não
ri de minhas piadas. — Brinquei e ele
me empurrou rindo.
— Vamos falar sério aqui, por que
isso foi sem graça. — Disse ele e eu
sorrio.
— Está certo senhor seriedade,
continue com o que estava dizendo. —
Falo e Kay começou a arranhar a porta
para sair. — Tirei Andrea de cima de
mim e fui abrir a porta para Kay, quando
voltei para cama percebi que Andrea
estava olhando para meu corpo e quando
viu que eu percebi seu olhar em mim ele
ficou vermelho. — Pode olhar, eu sou
seu querendo ou não.
— Você gosta de me deixar sem
graça. — Disse ele e eu afirmo.
— Tenho quase certeza que sim.
— Respondo me deitando na cama. —
Continue a falar sobre a sua sacola preta
assustadora. — Peço, cruzando os
braços atrás da cabeça.
— Eu tinha certo receio de te
mostrar o que tinha dentro, mas você já
me viu ontem em ação. E eu percebi que
ao ver sua família um defendendo o
outro que eu poderia fazer isso também.
Eu posso usar minhas habilidades para
proteger as pessoas que eu gosto. —
Falou ele com firmeza acreditando nas
suas palavras.
— Confesso que fiquei surpreso e
excitado vendo você com uma faca na
mão, mas nunca iria usar você ou suas
habilidades.
— Eu sei, eu sei disso agora.
Quando chegarmos em casa eu vou te
mostrar minhas facas. — Disse ele e eu
arregalei os olhos.
— É isso que tem na bolsa? —
Pergunto e ele assente. — Tudo bem,
vamos ver um lugar para você treinar.
Se quiser é claro.
— Eu quero muito, me sinto
diferente agora. — Confessou me
deixando feliz.
Vi-me sorrindo com o que ele
acabou de dizer, pois eu sei que sou uma
das razões por ele está se sentindo
assim. Não estou falando isso por que
estou achando que sou a melhor e mais
importante pessoa na vida dele, que só
eu posso faze-lo se sentir bem, muito
pelo contrário, estou feliz por ele estar
assim. Quero o meu Andrea livre do
peso que ele carrega do seu passado,
paro para ver o sorriso no seu rosto,
gosto da expressão tranquila que ele está
neste momento. Dio é tão incrível esse
sorriso! Não gosto de lembrar das
coisas que ele passou, não gosto de ver
o seu rosto mascarado com medo ao
pensar que a qualquer momento ele pode
ser atacado. Não, não quero vê-lo triste
e sério o tempo todo, gosto da leveza no
meu Andrea.
E para ver essa leveza sempre
presente, eu vou fazer o que for preciso.
Vou fazer de tudo para que ele sempre
fique bem, mesmo que para isso eu tenha
que suar e lutar com quem for. Porra, eu
nunca tive medo de nada e não vai ser
agora que vou ter. Se for precisar
derramar sangue daqueles que querem
tirar Andrea de mim é isso que vou
fazer, e ser por algum momento ele
fraquejar serei a fortaleza por nós dois.
Isso me faz lembrar da visita
desagradável que tive no meu escritório
com a irmã vaca dele. Merda! Não
queria ter que contar isso, mas aquela
visita foi muito estranha. Era como se
ela quisesse que os pais de Andrea
jamais pudessem se aproximar do filho,
como se ela repudiasse a ideia da
aproximação deles com Andrea.
— Enzo! — Chamou Andrea me
tirando dos pensamentos.
— Estou lembrando que tenho
algo para te contar. — Falo e isso fez
entrar em alerta.
— Aconteceu alguma coisa? —
Ele pergunta em alerta.
— Eu recebi ontem a visita se sua
irmã na empresa. — Falo e a expressão
dele mudou de assustada a desgostosa.
— O que ela foi fazer lá? —
Pergunta ele seriamente. — Não, não
responda! Ela foi lá falar o quanto eu
sou uma puta e que era para você se
afastar de mim. Estou certo?
— Eu realmente não me importo
com o que quer que ela fale sobre você.
A única coisa que me chamou a atenção
era o modo como ela queria que você
não se aproximasse de seus pais. Isso
para mim foi estranho. — Falo e sua
expressão suavizou um pouco, mas a
preocupação estava presente.
— O que você quer dizer com
isso? Você acha que deve estar
acontecendo alguma coisa com os meus
pais? — Pergunta ele com a nítida
preocupação de filho.
— Não sei te dizer, mas eu não
sentir algo bom. Estou sempre seguindo
o meu instinto e algo me diz que você
deveria ir ver seus pais, isso se você
quiser é claro. — Falo e Andrea me
olhou nervoso.
— Como posso encarar meus pais
depois de todos esses anos, não sei
Enzo. — Andrea disse temeroso e eu
pude compreendê-lo perfeitamente.
— Anjo, eu não estou dizendo
para você largar toda sua vida e ir atrás
de seus pais, sei que deve ser difícil
para você ter sido rejeitado por eles,
mas já se passaram tanto tempo. Você
não tem curiosidade de saber como eles
estão? — Pergunto e ele respirou fundo.
— Todos os dias que eu acordo e
penso neles, todo o dia quero saber se
eles estão seguindo a vida bem, ou se
meu pai ainda pesca. Sei lá, mas é tão
difícil! — Ele disse em um tom tão
perdido que eu não pude resistir em
puxá-lo para meus braços.
— Eu sei, entenda que eu só
queria te dizer o que aconteceu e o que
eu penso sobre isso, mas eu entendo
perfeitamente se você não quiser saber.
— Falo e ele se deixou ser abraçado.
— Vou pensar sobre isso, juro que
vou pensar. Sinto falta deles, mas eu não
sei como eu serei recebido. — Andrea
disse e eu senti um aperto por dentro.
— Então você já pensou em lhes
fazer uma visita? — Pergunto e ele
afirma.
— Assim que eu pisei em solo
italiano eu tive essa vontade, daí eu
lembrei que eles não me quiseram mais
e eu desfiz essa vontade na hora. —
Confessou ele e eu afirmo.
— Seja o que quer que você tenha
decidido eu vou estar ao seu lado. Vou
com você lá, a menos que você não
queira. — Disse e ele levantou a cabeça
para me encarar.
— Você faria isso por mim? —
Pergunta e eu soltei um som ofendido
aprofundando uma carranca.

— Você não sabe da terça metade


daquilo que eu faria por você, Anjo! —
Disse com firmeza e ele me encarou por
um tempo.
— Eu amo você! — Disse e sem
pensar duas vezes o puxei para meu
colo, olhei diretamente nos seus olhos e
coloquei minha mão na sua nuca,
puxando levemente seus cabelos.
— Você não sabe como é bom
ouvir isso, anjo! — Falo e ele continuou
a me encarar.
— Por quê? — Pergunta em forma
de sussurro.
— Porque tenha a foda certeza de
que eu te amo na mesma intensidade,
senão mais. — Assim que terminei de
falar grudei nossos lábios em um beijo
forte e possessivo. Eu amo beijar
Andrea, amo a sensação de seus doces
lábios rosados nos meus, de como
nossas línguas duelavam e o seu gosto
que está se tornando um vício.
— Temos que descer para o café
da manhã — Andrea disse entre beijos.
— Café da manhã? O que é isso?
— Pergunto e assim que fechei minha
boca meu estômago roncou.
— Sua fome sabe o que é café da
manhã muito bem. — Andrea disse e se
soltou de mim. — Vamos lá querido,
depois quem sabe… — Disse ele dando
de ombros e se levantando da cama.
— Quem sabe o quê? — Pergunto
ansioso é isso fez o rir.
— Não sei, não sei de verdade.
— Brincou Andrea correndo para o
banheiro e eu sem perder tempo corri
atrás dele.
Tomamos o nosso banho e esse foi
o banho mais demorado que já tomei na
vida. Para falar verdade eu não consegui
resistir ao ver o copo de meu Anjo
molhado, foi muita tentação para um
homem só. E o mais incrível é que
Andrea não tem noção do quão
fodidamente sexy ele é. A minha vontade
de grudar o rosto dele no box no
banheiro, puxar seu cabelo para trás e
foder aquele traseiro lindo e apertado
foi muito grande, mas sei que as coisas
com ele não pode ser assim, meu anjo
precisa de carinho e confiança. E farei
de tudo para dar isso a ele, pois ele
merece ser adorado. Após o banho
descemos para encontrar a família no
café da manhã.
— Bom dia, família! — Falo
sorrindo e dou um beijo em Mamma e
Babo.
— Vejo que acordou hoje de bom
humor, meu filho. — Babo disse com um
sorriso curto.
— Claro, assim como o resto dos
casais da casa. — Nonna disse e vi meu
anjo ficar sem graça ao meu lado.
— Fran! — Andrea disse em tom
sofrido e Nonna riu. Puxei ele para se
sentar ao meu lado.
— A partir do momento que esse
relacionamento foi consumado, devo
exigir que me chame de Nonna. —
Nonna disse para Andrea e eu fiquei
com pena do meu anjo que estava
morrendo de vergonha.
— O que é consumado? —
Pergunta Duda a Filippo que se engasga
com o café.
— Viu só isso, Nonna? — Filippo
pergunta sério e Nonna deu de ombros.
Ele se virou para Duda que ainda tinha
uma expressão curiosa no rosto. —
Filha, consumar é o mesmo que realizar
algo. Será que você pode me entender?
— Sim Babo, obrigada. — Duda
disse docemente e Filippo soltou uma
respiração.
— Será que posso perguntar o que
tio Zuco realizou com tio Dea? —
Samantha pergunta e essa é a vez de
Luigi se engasgar.
— Não filha, com certeza você
não pode perguntar. — Lucca disse
enquanto dava tapinhas nas costas de seu
noivo. E Sam deu de ombros voltando a
comer seu café da manhã.
— Já imagino quando essas
meninas crescerem e começarem a
namorar. — Giovanna disse enquanto
limpava a boca de Bel.
— Quem vai namorar aqui? Onde
já se viu isso! — Falo olhando para
minhas garotinhas que estavam
distraídas com algo que Pietro estava
falando.
— Você acha que as meninas vão
ser pequenas para sempre? — Andrea
pergunta e Luti, Giovanna e Luna
concordaram com ele.
— Se depender deles, nem eu vou
me casar nessa vida. — Luna resmungou
e Andrea me olhou com espanto.
— Verdade? — Pergunta e Luti
riu.
— Dea, você ainda não sabe
como eles são ciumentos com essa
sorellina. — Luti disse fazendo todos
rirem menos eu, Lippo e Lucca.
— Não é isso, só a achamos nova
demais para essas coisas. — Lucca nos
defendeu e eu tive que confirmar.
— Na verdade eles não querem
vê-la crescer. – Giovanna disse e Luna
fez toque com ela.
— Isso serve para senhorita
também senhorita Giovanna. Não
esqueça que você é nossa irmã também.
– Lucca disse com uma carranca e Gio
olhou para ele sem acreditar.
— Mas eu já sou mãe! – Gio disse
e eu nego com a cabeça.
— Isso não quer dizer nada. –
Falo pegando sem olhar na direção das
duas
— Resumindo, eles são uns
bastardos — Luna resmunga e Gio
confirma.
— São os bastardos que nós
amamos. — Luti disse e Andrea
confirma ao meu lado sem perceber, não
consegui aguentar e o puxei para lhe dar
um beijo.
— Vou aproveitar logo e falar que
hoje é a última prova dos ternos e
vestidos do casamento. — Mamma disse
e todos nós assentimos.
— Oh meu Deus lá vai vovó
Arianna me forçar a usar aquele vestido.
— Sam reclamou e todos na mesa riram
do seu desespero. E assim continuamos
o nosso café da manhã em família.

O dia do casamento de Lucca e


Luigi finalmente chegou, a agitação da
casa é uma coisa de louco, mas toda
essa agitação é para que o casamento de
meu irmãozinho e Luigi saia perfeito.
Estivemos toda uma preocupação com a
segurança, principalmente depois do que
aconteceu com o casamento de Filippo,
em que Paolo invadiu a cerimônia e
ainda levou meu irmão com ele. Se
depender de nós nada irá acontecer
nessa cerimônia de agora, estamos
preparados para que nada aconteça.
Aumentamos consideravelmente o
número de homens para fazer a
segurança, eles foram altamente
orientados que ninguém que não seja
convidado não será permitido, esses
homens são plenamente capacitados e se
algo surgir o primeiro a fazer é agir para
depois perguntar.

A família fez uma reunião para


fazer todos os acertos da segurança do
casamento e eu aproveitei a
oportunidade para contar o que Nardelli
tinha me dito há alguns dias. Ao ouvirem
que Frank estava tentando reerguer a
Finastella, a comoção na família foi
geral. Luti de todos nós foi o mais
agitado, ele falava que o que Frank fez
ao seu marido não vai ficar impune e
que ele estava esperando ansiosamente
para que seus caminhos se cruzem
novamente. Luti que é uma pessoa
incrivelmente doce estava com ódio no
olhar, e esse ódio era todo direcionado
ao homem que tinha torturado Filippo.
Por incrível que pareça e para a nossa
imensa surpresa a pessoa que acalmou
Luti foi Andrea. Não faço ideia do que
eles conversaram, pois o meu anjo levou
Luti para um canto e falou coisas para
meu cunhado que o acalmaram
rapidamente. Quando Luti estava mais
calmo e sentado todo encolhido no colo
de meu irmão, vi o olhar agradecido que
Filippo deu a Andrea o deixando sem
graça.
Esquecendo o fato de ter Frank
novamente para nos atazanar e a
possibilidade da volta da Finastella, os
preparativos para o casamento ocorreu
tudo bem. Os convidados que moram em
outro país como o pai, o tio e os amigos
de Luigi, foram chegando com o passar
dos dias e o primeiro a chegar foi Beto.
Ele chegou há uns dias e já foi pegando
uma ligeira amizade com Andrea que me
assustou e me deixou com um puto
ciúmes, mas Andrea disse que Beto era
um tipo de pessoa que tem uma
personalidade cativante que atrai com
que as pessoas queiram sua amizade.
Entendo o que meu anjo disse, por que
por mais que eu não queria convívio
com outras pessoas, com Beto é
diferente.
Beto é praticamente da família e
nem é considerado como um convidado,
isso são palavras dele não minha, mas a
presença de Beto é um tanto legal, por
que ninguém é tão corajoso para
enfrentar Filippo e Nardelli em uma
brincadeira como ele faz diversas vezes.
Como agora mesmo que Beto está
sentado ao lado de Nardelli perguntando
por que Filippo não gosta dele. E isso
está fazendo com que Nardelli o olhe
com raiva.
— Saia de perto de mim. —
Nardelli disse entre os dentes e Beto fez
um gesto de desdém.
— Não faça isso comigo, já disse
que quero ser seu amigo. Gosto de você!
— Beto disse e eu rir da cara odiosa
que Nardelli está fazendo.
— Ao contrário de mim que até
sua voz me irrita. — Nardelli disse e
isso fez Beto sorrir largamente.
— Vamos lá, me conte o que foi
que aconteceu para você e Filipitito se
odiarem. — Beto insiste e Nardelli me
encarou pedindo ajuda.

— Não olhe para mim, velho, me


deixe fora disso. — Falo virando para
Andrea arrumar a minha gravata
borboleta.
— Fica quieto, Enzo! — Disse
Andrea e isso me fez o olhar com
atenção. — Se eu te olhar por muito
tempo, posso te agarrar aqui mesmo na
frente das pessoas. Você está lindo nesse
smoking. — Brinquei e Andrea me deu
uma tapa no braço.
— Nem comece com isso, você já
me fez atrasar. Espero que Arianna não
acabe nos matando. — Meu anjo disse e
isso me fez rir.
— Pouco provável que ela te
mate, ela vai me matar afirmando que
tudo é culpa minha. Essa Mamma é tão
do seu time. — Resmunguei porque tudo
o que eu disse é a mais pura verdade.
— Quem diria que você estaria
namorando, Enzo. Primeiro porque você
era o cara que sempre disse que não
queria nada com ninguém. — Nardelli
disse e eu fechei a cara.
— Tenho que concordar com
você, Nardelito. — Beto disse e foi a
vez de Nardelli fechar a cara.
— Se eu fosse você eu parava de
brincar, tentar uma conversa, ou até
abrir esse sorriso maldito na minha
direção. Entenda que eu não vou com
sua cara. — Nardelli disse entre os
dentes e levantou ajeitando seu terno. —
Vou estar na capela, Enzo. — Com isso
ele saiu batendo o pé em direção aos
fundos da casa.
— Oh cara, eu realmente gosto
dele. Ei Nardelito, me espere! — Grita
Beto correndo atrás de Nardelli.
— Esse Beto é muito engraçado.
— Andrea disse enquanto balançava a
cabeça.
— Insistente! Essa é a melhor
palavra para Beto. — Falo e Andrea
continuou a rir. Passo o braço na sua
cintura e o puxo colando nossos corpos.
— Vai casar comigo um dia?
— Você se casaria com alguém
como eu? — Pergunta ele e nos seus
olhos eu vi uma tristeza que me
incomodou bastante.
— Alguém que amo? Porque é
isso que você é para mim, o homem que
eu amo. Então sim, eu me casaria com
você sem pensar. — Falo e ele deu um
sorriso pequeno.
— Você faz com que eu me sinta
especial. — Andrea disse me abraçando
forte.
— Isso é porque você é, meu
anjo. Você é o meu alguém especial. —
Retribui o abraço na mesma intensidade
e depois afastei seu corpo do meu, pois
eu seria capaz de mostrar a ele o quando
ele é especial para mim, mas não temos
tempo para isso já que está perto de
acontecer cerimônia. — Bem, me deixa
ir ver Lucca, ele se faz de forte, mas
tenho certeza de que está bastante
nervoso.
— Tudo bem, vou ver se estão
precisando de alguma ajuda. — Andrea
disse antes de nos beijarmos e seguimos
caminhos diferentes.
Segui até o lugar que eu sei que
vou encontrar Lucca e ao chegar lá
franzo o cenho quando vejo que Filippo
e Luna estão lá, mas todos estão sérios e
com uma expressão pensativa no rosto.
Pergunto automaticamente o que está
acontecendo, mas Luna balançou a
cabeça e se encostou na mesinha que
tinha no canto. Olhando para ela com
atenção vejo que está usando um vestido
da cor claro, que se não me engano já
ouvi ela falar que é estilo sereia, e esse
vestido é lindo e realça bastante a sua
beleza. Filippo está vestido igual a mim,
com um smoking preto e uma flor branca
no bolso. Lucca assim como Luigi vai
usar branco, e tenho que confessar que
estou feliz ao perceber que de fato meu
irmãozinho vai se casar e com alguém
digno para tê-lo.
— O que foi que aconteceu? —
Pergunto novamente, fechando a porta
atrás de mim.
— Lucca está preocupado porque
Laila não veio para o seu casamento. —
Filippo disse e Luca fez um som de
irritação.
— Não é só porque ela não veio,
mas sim porque eu tenho certeza de que
algo está acontecendo e ela não me disse
o que é. — Lucca disse e eu parei um
momento.
— Como você sabe que ela não
vem? — Pergunto e ele apontou para o
arranjo de flor descansando na mesa.
Fui até o vaso e peguei o bilhete que
tinha ali.
Desculpe por não poder
comparecer ao seu casamento, você foi
e sempre será o meu único e amigo
verdadeiro. Desejo a você e Luigi uma
vida iluminada e cheia de amor.
Amamos vocês
Laila e Justin.
— Poucos dias antes de eu vir
para cá Laila me comunicou seu aviso
prévio. — Lucca disse e Luna arregalou
os olhos conosco e quisesse falar algo,
mas nada saiu. — No início eu achei que
era algo referente a Justin, mas parece
que não. E eu não sei o que há com ela,
não posso ajudar alguém sendo que eu
não sei o que se passa. — Lucca disse
em um tom frustrado.
— Luc, vamos lá irmão, eu sei
que você está chateado com isso, mas
esse é o seu casamento. O seu casamento
com o homem que você ama. — Falo
fazendo Filippo e Luna concordar
comigo.
— Verdade irmão, sabemos que
você é um grande amigo é que está
preocupado, mas hoje é o seu dia e de
Luigi. — Filippo disse com seu sempre
tom sério.
— Sim irmão, vamos casar você e
seu amor primeiro e depois veremos o
que aconteceu. — Luna disse e Luc
respirou fundo.
— Vocês estão certos! Obrigado
irmãos, por tudo. — Lucca disse e sorri
para ele tocando em nossas tatuagens no
ombro.
— Para tudo e por tudo. — Eu,
Filippo e Luna falamos ao mesmo
tempo.
— Sempre! — Lucca responde
com carinho.
Muitas pessoas vieram prestigiar
o casamento deles e uma específica me
pegou totalmente desprevenido, essa
pessoa foi Ricco Chávez. Ele está no
ciclo de amizade de meu irmão e mesmo
eu não gostando muito desse sujeito sei
que com relação à Lucca seus
sentimentos de amizade parecem ser
verdadeiros, pelo menos ele nunca fez
nada contra meu irmão e se fizer nós
acabamos com sua vida em um piscar de
olhos, simples assim. Tem outras
pessoas como Christian que está com o
seu namorado sentado em uma das
fileiras como o convidado, assim como
Lucca exigiu a eles, assim como Daren e
sua namorada Helena a antiga
enfermeira de Luigi. Orazio o pai de
Luigi está sentado com Sávio seu irmão
e Giovanna.
Algumas pessoas da boate como
Fanny, Amauri com seu namorado Paul e
o barman, que se não me engano, se
chama Louis se fez presente também.
Uma coisa que percebo os olhos de
Chávez em direção a Louis com um
nítido interesse, mas isso não é uma
coisa que me interesse no momento. O
que me interessa está sentado ao meu
lado, Andrea está concentrado em tudo e
depois de ter ido ajudar minha mãe com
Deus sabe o que ele se acomodou ao
meu lado.
A cerimônia foi simplesmente
linda. Luigi entrou na pequena capela na
família Aandreozzi sendo acompanhado
por Sam, que estava linda com um
vestido branco, fiquei me perguntando
como minha mãe conseguiu dobrar a
pequena marrenta, mas ao olhar para
seus pés coberto por tênis me deu a
nítida ideia de como Mamma conseguiu
convencê-la. Já Lucca entrou carregando
a pequena Isabel, que estava à coisa
mais linda, e ao chegar de frente para
Luigi eles trocaram um olhar apaixonado
e ficaram de frente para o padre, o
mesmo padre fujão do casamento de
Filippo, com suas filhas lhes fazendo
companhia durante a cerimônia. A cada
palavra que o padre falava para Luigi e
Lucca me fez sentir bem por saber que
meu irmãozinho estava do lado do
homem que ele ama e que esse homem
vai cuidar dele e de minhas sobrinhas
com muito amor e dedicação.
Durante o beijo do casal eu olho
para cada membro da família e cada um
está expondo sua felicidade nas suas
faces. Mamma, Luna, Giovanna e até
Nonna estão chorando emocionadas. Já
Babo, Lorenzo, Lippo e eu estamos com
um sorriso no rosto de contentamento
por saber que Lucca está feliz. Não
importa o que seja, mas para nós o
importante é que cada um esteja bem e
feliz independente com que quer que
seja ou até mesmo sozinhos.
— Te amo de verdade. — Ouço
Andrea falar e olho nos seus lindos
olhos azuis.
— Eu sei meu anjo e eu fico feliz
por ter o seu amor e saiba que eu te amo
também — Falo e Andrea aproximou
seus lábios nos meus, deixando um beijo
casto.
Seu beijo esquentou meu coração
fez sentir que posso ser o homem que ele
merece que eu seja.
— Dea! — Ouvir a voz de Romeo
me chamar e parei o que eu estava
conversando com Paul e virei para te
encarar.
— Sim, Romeo? — Pergunto
prendendo meu cabelo.
— Será que você poderia ver a
nova minha coreografia com Matias para
a despedida de solteira de hoje? —
Pergunta Romeo enxugando o suor na
sua testa.
— A festa da filha do primeiro-
ministro? — Pergunto e ele assente
sorrindo.
— É que essa festa é de uma
pessoa importante, então eu achei que
uma coreografia nova poderia ser uma
boa ideia — Romeo disse e eu sorri em
agradecimento.
— Isso seria ótimo realmente.
Obrigado! — Agradeci e o vi ficar sem
graça.
— Pronto para ver? — Romeo
pergunta e assim que assinto ele chamou
por Matias.
A música começou a tomar e os
dois começaram nas suas posições, me
sentei em uma das cadeiras próximas ao
palco e vi quando Amauri e Louis se
aproximavam também, sorri para os dois
e voltei meus olhos para os dois
dançarinos da casa. Os olhos de Matias
estão bastante intensos na minha direção
enquanto modelava seu corpo no ritmo
da dança, soltei um bufo curto e
indignado com a sua ainda cara de pau
em dar em cima de mim. Mesmo eu
tendo uma conversa com ele sobre me
deixar em paz porque eu estava com
Enzo. E mesmo que não estivesse, eu
não ficaria com ele.
Só de pensar em Enzo minha
mente viaja automaticamente já que não
o vejo o dia todo, isso porque ele se
levantou cedo para ir a empresa e eu
tive que vir trabalhar na boate para que
a festa de hoje saia o mais impecável
possível. Faz duas semanas após o
casamento de Lucca, casamento esse que
foi muito lindo e me fez conhecer as
pessoas dessa família. Família que está
me recebendo de braços abertos e me
faz sentir parte de uma família
novamente, faz tanto tempo que eu não
sei o que é pertencer a um lugar e eles
fazem com que me sinta à vontade para
ser eu mesmo. E agora que todos
voltaram para suas vidas posso sentir o
peso da falta que fazem, imagino a
sensação que Enzo tem a cada vez que
tem que se despedir de seus irmãos e
seus sobrinhos. Porque falta deles eu
com certeza estou sentindo.
Isso não quer dizer que só porque
eles foram embora eu perdi o contato
com eles, muito pelo contrário, Luti me
liga de vez em quando e nós
conversamos bastante. Descobri em Luiz
Otávio um grande amigo e quero fazer
questão de cultivar essa amizade, mas
não é só com ele a minha aproximação,
Luna e Lucca também. Acredita que
Lucca me ligou enquanto estava na sua
lua de mel? Nesse dia ele ainda colocou
Luna, Luti e Giovanna na ligação e eu
não posso negar que foi muito engraçado
o ouvir dizer como Luigi ficou irritada
com uma mulher que estava pedindo o
número de Lucca enquanto esperava por
Luigi no bar de hotel.
Balanço a cabeça negativamente
rindo, feliz de como a minha vida está
diferente ultimamente. Volto meus olhos
para a coreografia dos dois e confesso
que está muito boa, mesmo não estando
prestando muita atenção. Sinto um
movimento atrás de mim e olho para o
lado vendo os olhos assustados de
Amauri e o afastamento repentino de
Louis, fico sem entender o que está
acontecendo até que eu sinto meu corpo
sendo puxado bruscamente e uma boca
invadir a minha. Solto um grito de
protesto, mas o cheiro único do perfume
de Enzo invadiu minhas narinas e meu
corpo relaxou automaticamente.
Aceito o beijo de um grado
permitindo que a língua de Enzo invada
a minha boca. Nossas línguas começam
a duelar em um ritmo gostoso e
possessivo de um jeito que só Enzo é
capaz de fazer. Seu gosto é tão bom que
faz com que eu sinta minhas pernas
fraquejarem, mas antes que eu possa cair
sinto seu braço forte rodear a minha
cintura, puxando meu corpo mais ainda
de encontro ao seu. Terminamos o beijo
e eu podia sentir meu rosto vermelho de
vergonha, mas Enzo me abraçou forte e
beijou minha testa.
— Olá meu anjo! Sentiu
saudades? — Enzo pergunta com um
sorriso de lado e isso me deixou mais
sem jeito ainda.
— O que… O que faz aqui? —
Pergunto me forçado a forma uma
palavra.
— Vim matar a saudade do meu
namorado. — Enzo destacou a palavra
namorado olhando fixamente para o
palco.
— Não cara! — Ouvi Romeo
falar, mas eu não virei para saber com
quem era.
— Agora eu entendi, esse beijo
foi tipo uma marcação de território? —
Pergunto irritado tentando afastar do seu
aperto, mas ele não estava me soltando.
— Não, esse beijo é porque eu
realmente senti sua falta. — Disse ele
beijando a ponta do meu nariz.
— Só isso? — Pergunto cerrando
os olhos na sua direção.
— E pode ser porque eu não gosto
de ver o meu namorado olhando para
homens dançando, ou seja, lá o que for
que eles estejam fazendo. — Enzo disse
na maior cara de pau.
— Você viu como eles são
quentes juntos? — Amauri disse e eu
enterrei minha cara no pescoço de Enzo.
— Você não pode achar outros
homens quentes, Mau! — Reclamou
Paul.
— Vamos lá Sorvetão! Não vai
me dizer que você também não achou?
— Amauri pergunta e Paul soltou um
som irritado.
— Sim, eles ficam bem juntos. —
Ouvi a voz de Louis e um gritinho feliz
de Amauri.
— Viu isso, Lou concorda
comigo! — Amauri disse feliz e eu parei
de me esconder e virei para eles.
— Vocês podem, por favor, parar
de falar como se nós não estivéssemos
aqui? — Falo irritado e Amauri fez um
gesto de desdém.
— Não seja tão chato! — Ele
disse fazendo Enzo prender o riso.
— Você pode, por favor, me
ajudar? — Pergunto indignado e Enzo
deu de ombros.
— Sinto muito, anjo, mas ele é
meio que engraçado. — Enzo responde e
eu soltei o ar pelo nariz.
— Vamos subir para podermos
conversar. — Falo pegando sua mão e
virando para subir as escadas.
— Não precisa se apressar,
podemos cuidar de tudo aqui. — Amauri
disse fazendo Louis rir.

— Pode deixar! — Enzo disse


tentando ficar sério e isso rendeu uma
tapa no seu peitoral. — O que? —
Pergunta fingindo inocência.
— Pare com isso! — Falo
sentindo minhas bochechas esquentarem.
— Ele é adorável quando cora.
Foi uma pena Fanny se atrasar hoje, ela
perdeu um show e tanto — Amauri disse
e eu saí puxando Enzo.
Chegamos ao meu escritório e
antes que eu pudesse perguntar se ele
queria beber alguma coisa, sua boca já
estava grudada na minha me fazendo
suspirar de contentamento. Não posso
negar que a minha relação com Enzo
cresce a cada dia que se passa, e eu não
poderia me sentir mais feliz e leve. Leve
de um jeito que nunca estive em toda
minha vida, pois ele me passa tanta
segurança, nos seus braços eu me sinto
perdidamente seguro e sei que posso
confiar nele. Posso confiar no
sentimento que sentimos um pelo outro,
pois mesmo sabendo que foi algo
rápido, mas é algo verdadeiro que não
chega mais a me assustar.
— Eu realmente senti sua falta. —
Enzo disse após pararmos de nos beijar.
— Mas nos vimos ontem à noite.
— Falo e ele deu de ombros.
— Não importa, não acordei com
você e vou trabalhar até tarde. — Enzo
disse e eu franzi o cenho.
— Algo de errado? — Pergunto e
ele nega passando a mão na minha
bochecha.
— Só finalização de um grande
projeto, mas nada com o que você tenha
que se preocupar. — Enzo disse eu
assinto.
— Tudo bem! Eu também estou
trabalhando muito hoje. — Falo e ele me
olhou esperando por mais respostas. —
Tem uma despedida de solteiro da filha
do ministro e tudo tem que sair perfeito.
— Falo e Enzo revirou os olhos.
— O ministro é um pau de pessoa
e sua filha é muito chata. Praticamente a
filha enjoadinha do papai. — Enzo disse
e eu arregalei os olhos.
— Você conhece o ministro e sua
filha? — Pergunto e ele deu de ombro
novamente como se isso não fosse nada.
— Sim, faço muitos projetos e
participo de muitos jantares chatos,
conheço esse pessoal muito bem. Além
do mais a filha dele estudou no colegial
com Lucca e se não me falha a memória
ele colou chiclete no cabelo da menina.
— Enzo disse rindo e eu não aguentei e
comecei a rir.

— Como vou olhar para a cara


dela hoje à noite? Não duvido que Lucca
tenha feito isso. — Falo rindo e parei
quando peguei Enzo me olhando com
contentamento.
— Gosto de ver você mais à
vontade. — Disse Enzo e eu escondi
meu rosto no seu peito.
— Gosto de estar assim também e
tudo isso graças a você e sua família. —
Falo e ele levantou o rosto para me
encarar.
— Não meu anjo, tudo isso é
graças a você, você não pode deixar que
seu passado dite o seu presente e futuro.
E fora que eu adoro ver esse sorriso no
seu rosto. — Enzo disse e eu revirei os
olhos.
— Você sempre tem que me
deixar sem graça? — Pergunto e ele
sorriu relaxado.
— Sim, gosto de ver o vermelho
nas suas bochechas isso é sexy feito o
inferno. — Enzo disse e eu arregalei os
olhos.
— Enzo! — O repreendi e ele
sorriu largamente.
— Acostume-se anjo, pois se eu
não estivesse quase me atrasando para
uma reunião eu com certeza estaria
dobrando você nessa sua mesa. — Enzo
sussurrou no meu ouvido e os pelos do
meu corpo se arrepiaram com o ar
quente sendo soprado no meu ouvido.
— Eu… Eu não posso fazer essas
coisas no escritório! Nem pense nisso!
— Falo e ele me abraçou.
— Vamos ver isso depois meu
anjo, vou te mostrar que posso fazer o
que eu quiser. — Disse ele se afastando
de mim e ajeitando seu terno.
— Você… Você… Argh! — Falo
sentindo o desconforto do meu pau duro
na cueca.
— Também te amo e é uma pena
que eu não possa te ajudar com isso. —
Disse apontando para minha virilha,
antes de sair do meu escritório.
Encostei na borda da minha
pequena mesa respirei fundo para tentar
acalmar o desejo que Enzo causou em
mim, é engraçado como a pouco tempo
atrás eu odiaria qualquer gesto sexual na
minha direção, mas com Enzo tudo é
diferente, com ele eu sou uma pessoa
diferente. Para falar a verdade eu
pensava que nunca mais seria capaz de
encostar em outra pessoa, porque tudo o
que vi nessa vida foi dor e sofrimento,
os atos sexuais que fizeram comigo
foram violentos, brutais e totalmente
desumanos. Nunca achei que o sexo
poderia ter o outro lado, o lado doce,
amoroso, calmo, lento, e além de tudo
prazeroso, e eu sei disso hoje em dia
através de Enzo, ele me mostrou que
posso ser amado de várias maneiras e eu
só tenho a agradecer e amá-lo na mesma
intensidade.
Soltou uma risada baixa e vou ao
banheiro antes de descer para continuar
o meu trabalho, após usar o banheiro
desço e dou logo de cara com Amauri,
que está muito animado com as roupas
que ele quer que Paul, Louis e outros
garçons vistam. Pergunto a eles se Fanny
já chegou e Paul disse que sim e que ela
estava na parte de trás guardando suas
coisas. Segui o caminho que Paul me
indicou e quando eu estava virando para
entrar no corredor dos camarins parei
quando ouvi a voz exaltada de Fanny
falando com Nero.
— Eu não vou ficar com você
Nero, sugiro que você desencante para o
meu lado. — Fanny disse entre dentes.
— Como se isso fosse fácil, eu
gosto de você! Gosto não, eu sou
apaixonado por você Fanny! — Nero
disse em um tom sofrido.
— O que você acabou de dizer?
— Fanny pergunta assustada.
— Isso mesmo que você acabou
de ouvir, eu estou apaixonado por você.
— Neto disse em um tom mais forte.
— Não… não pode ser, você não
pode estar falando sério. — Fanny disse
com as palavras cortadas de uma
maneira atordoada.
— Mas é a mais pura verdade
Fanny, eu nunca mentiria para você. Não
sou um falso. — Nero disse e ouvi um
arrastar de pés.
— Não chega perto de mim, por
favor. — Fanny disse se afastando
enquanto Neto se aproximava com
passos curtos.
— Meu ouça, por favor, só me
ouça. — Neto pediu e vi quando Fanny
se encolheu e nega com a cabeça.
— Você não entende, nunca vai
entender. Eu não posso e você não pode
se apaixonar por uma pessoa como eu.
— Fanny disse com a voz rouca de quem
está prestes a chorar.
— Por quê? Fanny me diga por
que fala essas coisas. — Neto pediu
chegando mais perto e Fanny o
empurrou.
— Não! Não chega perto! —
Pediu ela é foi minha vez de interferir
antes que as coisas fiquem
incontroláveis.
— Nero? — Chamei e ele virou
para me encarar.
— Eu preciso falar com ela. —
Disse ele e eu nego, lhe dando um
sorriso triste.
— Eu sei, mas agora tenho certeza
de que não é o momento. Pode deixar
que eu vou falar com ela e te prometo
que ela vai ficar bem. — Falo e ele
olhou para Fanny que continua encolhida
sem olhar para lugar nenhum.
— Eu só queria entendê-la. —
Nero disse em um tom baixo e eu
coloquei minha mão no seu ombro.
— Tenho certeza de que vai, mas
só se ela quiser. Entende? — Pergunto e
ele afirma. Nero saiu após lançar um
último olhar para Fanny.
Cheguei perto de Fanny e ela se
encolhe como se sentisse dor e eu dou
um passo para trás evitando o máximo
de encostar nela, pois eu tenho quase
certeza de que sei o que ela pode ter
passado. Ela levanta a cabeça para me
encarar e vejo que seus olhos estão
carregados de uma tristeza crua e essa
tristeza me toca bastante, porque pouco
tempo atrás essa mesma tristeza movia a
minha vida. Algo toca meu coração e no
fundo eu sei que preciso ajudar Fanny,
pois ela é a pessoa mais próxima de
amiga que tenho nessa vida e mesmo
depois de tanto tempo a afastando sem
querer sua amizade, percebo que dessa
vez ela está precisando de um amigo. E
por que esse amigo não pode ser eu?
Falo com Fanny em tom baixo e
peço para que ela venha comigo até um
dos camarins e ela faz justamente o que
peço sem questionar ou tentar me
afastar. Chegando lá peço que ela se
sente em uma das cadeiras enquanto eu
vou buscar algo para ela beber, não
demoro a buscar uma garrafa d'água
para fazer com que ela se acalme antes
de conversar comigo, se assim ela se
sentir à vontade para fazer e eu espero
que sim, pois quero ajudá-la no que
puder. Ela bebe uma boa quantidade de
água e eu respiro fundo pronto para
iniciar a conversa.
— Sei que não nos conhecemos a
muito tempo e que eu sempre fujo de
nossas conversas, mas quero que você
saiba que se você quiser conversar
comigo eu estou a sua disposição. —
Falo em um tom calmo e ela olhou para
baixo.
— Eu gosto de Nero, mas eu não
posso me dar a liberdade de me
envolver com ele. — Fanny disse me
deixando surpreso.
— Você gosta dele? Mas…, mas
eu não entendo, juro que achei que você
não quisesse nada com ele. — Falo
desnorteado e ela deu um sorriso curto.
— Olhe bem para aquele homem,
como uma pessoa em sã consciência não
iria querer ficar com ele? Nero é todo
construído em músculos, mas seu
coração é muito doce. — Fanny disse
com o olha longe e um pequeno sorriso.
— Se você gosta dele, por que não lhe
dar uma chance. Eu não entendo. — Falo
e vi o momento que sua expressão ficou
séria e ela nega com a cabeça.
— Você não entenderia, eu não
sirvo para alguém como Nero. Eu sou…
não você não entenderia. — Disse ela
com firmeza apertando a garrafa com
força. — Ele pode fazer melhor que
isso.
— Se eu te fizer uma pergunta
você me responde sim ou não. Não a
necessidade de explicações ou qualquer
coisa que seja. Tudo bem? — Pergunto e
ela afirma. Olhei nos seus lindos olhos
escuros e soltei a respiração antes de
falar. — Fanny, você sofreu abuso? —
Pergunto e por um momento seus olhos
se arregalaram de surpresa, mas logo o
reconhecimento caiu sobre ela.
— Não me diga que você
também… não pode ser! — Disse ela e
eu assinto me sentido mal por fazer com
que minha mente viajasse para onde não
deveria.
— Sim Fanny, não é algo que eu
fale para as pessoas, por que o que eu
passei é muito pesado. Por tanto eu
entendo, eu entendi rapidamente diante o
seu afastamento de Nero. — Falo e ela
abaixou a cabeça. — Olha, eu sei que é
doloroso passar por essa situação, mas
garanto a você que ter alguém na nossa
vida nos apoiando é muito melhor, digo
isso por experiência própria. Eu não
permitia que ninguém entrasse, mas
depois que Enzo e surgiu na minha vida,
as coisas estão melhores para mim, no
meu interior. Quem sabe se com você e
Nero… — Fanny cortou o que eu estava
falando quando ficou de pé e começou a
chorar.
— Para mim isso nunca iria
acontecer! Você não entende! — Fanny
disse com os punhos cerrados.
— Por que você fala isso? —
Pergunto olhando na sua direção e ela
estava de costas para mim.
-Eu sou soro positivo! Isso
mesmo, eu tenho HIV! — Fanny disse
virando para me encarar e eu fiz de tudo
para permanecer do mesmo modo que eu
estava. Mas confesso que o que ela me
falou me surpreendeu totalmente. —
Foi… foi meu padrasto que fez isso
comigo, aquele filho da puta me deixou
tendo que lutar com esse vírus maldito
pelo resto da minha vida.
— Fanny… — Comecei a falar
mais ela levantou a mão me fazendo
parar.
— Eu sempre gostei muito de
viajar, quando meu pai morreu deixou a
mim e minha mãe em uma situação
financeira boa. Então eu decidi que
assim que completasse a maior idade eu
ia viajar, iria conhecer os lugares. Um
tempo depois da morte de meu pai,
minha mãe conheceu um homem e em
pouco tempo eles já estavam casados.
Quando ele começou a morar com a
gente eu percebi seus olhares, seu
sorriso malicioso na minha direção,
quando minha mãe não estava por perto
ele tentava me tocar. — Fanny
estremeceu e voltou a falar. — Eu estava
fora em uma viagem quando recebi um
telefonema do hospital, eles disseram
que minha mãe estava hospitalizada,
então eu corri, mas quando cheguei lá
minha mãe já tinha falecido. Fui em casa
para me preparar para o velório e foi
quando o desgraçado…. ele fez… —
Não a deixo terminar e a abracei com
força.
— Sinto muito! — Foi à única
coisa que eu disse enquanto ela chorava.
— Não foi sua culpa, Fanny! — Foi o
que Enzo me disse eu quero passar isso
para ela também.
— Despois que aconteceu isso eu
descobri que estava infectada, mas eu
não iria deixar que aquele porco
acabasse com minha vida. Eu tomo
todos os meus remédios, faço
exercícios, eu me cuido. Vim para Itália,
eu não tinha nada lá na Angola que me
prendesse, daí surgiu Nero e eu não
posso permitir que ele… não é melhor
assim. — Fanny disse enxugando o
rosto.
— Não, você não pode se privar
de ser feliz. — Falo e ela deu um
sorriso sem graça. – Os médicos dizem
que você pode ter uma vida normal, não
é verdade? – Pergunto e ela afirma
mordendo os lábios
— Sim, mas se é para evitar com
que Nero fique doente como eu, então
sim eu posso me privar dessa felicidade.
— Fanny disse e a porta foi aberta
abruptamente e Nero estava olhando
para Fanny com determinação. De onde
ele surgiu?
— Você não pode escolher as
coisas por mim, eu disse que te amava.
Não sei o que você entende por amor,
mas para mim ele é mais precioso que
qualquer coisa. — Fanny iria falar, mas
Nero cortou com um som irritado que
até eu me surpreendi. — Sei que sou
errado por ouvir atrás da porta, mas eu
queria saber o que minha mulher tinha. E
foda-se! Eu quero você, você já era
minha antes mesmo que eu soubesse por
tudo o que você passou e agora não tem
jeito. — Nero disse e com passos largos
ele estava perto de Fanny que o olhava
sem entender.
— Você estava ouvindo atrás da
porta? — Fanny pergunta e Nero bufou
negando com a cabeça.
— Eu disse que você era minha
mulher e tudo o que você ouviu foi isso?
— Nero pergunta e Fanny deu de
ombros. — Desculpa, mas você é minha
e faça o favor de não me afastar mais,
porque eu vou cuidar de você, meu
chocolate. — Com isso Nero iniciou um
beijo que no início Fanny ficou quieta,
mas depois as coisas foram ficando mais
quentes.
— Bem, acho que essa é minha
deixa. — Falo meio constrangido e
saindo deixando o casal mais à vontade.
Sorrindo ao ver o casal que
provavelmente vão se acertar, fecho a
porta do camarim e vou para o salão
ajeitar os últimos preparativos para
show de hoje. Tento despistar Amauri
quando ele pergunta por Fanny e porque
ela não vem ajudar, mas acho que
consigo essa tarefa quando eu começo a
falar sobre Francesca. Sim, é só falar de
Francesca que Amauri fica empolgado
perguntando quando a sua Deusa vai
aparecer para nos prestigiar. Com isso a
conversa foi para o casamento de Lucca,
Amauri diz o quanto achou tudo perfeito,
como as pessoas estavam lindas, que
chorou quando o casal estava falando
seus pequenos votos. E eu tenho que
concordar com ele, pois eu também
achei tudo bastante lindo.
Com isso o dia foi passando
rápido e quando nos demos conta já
estava quase na hora da despedida de
solteira da filha do Ministro. Subir para
o meu escritório na intenção de tomar
um banho, coloquei um dos ternos lindos
e bem alinhados que Arianna comprou
para mim e eles me deixam mais formal.
Ainda fico sem graça quando penso
sobre as compras que ela fez, mas a
minha vergonha ficou muito maior
quando Enzo e eu chegamos em casa e
vimos o closet do quarto dele repleto de
coisas minhas, tentei tirar e colocar tudo
no quarto em que eu estava hospedado,
mas Enzo do jeito dele disse que se eu
fizesse isso ele ficaria naquele quarto
minúsculo comigo, que para mim de
minúsculo não tem nada. Ainda dou
risada da cara vitoriosa que ele fez ao
perceber que desisti e resolvi ficar com
ele no seu quarto.
Rindo eu balanço a cabeça e dou
uma última olhada no espelho, deixei
meu cabelo preso e olhando para o meu
rosto posso ver que as sobras escuras
debaixo dos meus olhos desapareceram,
minha expressão é mais leve, de um
jeito que a muito tempo eu não via, para
falar verdade eu odiava me olhar no
espelho, mas agora com um aspecto
melhor posso ver que aos poucos posso
voltar a ser o Andrea de antes, antes de
tudo de ruim que aconteceu comigo.
Saiu do meu escritório e vou
direto para o salão na intenção de
recepcionar a dona da festa, pouco
tempo depois um grupo de mulheres
muito bem-vestidas entra pela porta
sendo ovacionada por todas as pessoas
presentes, que são todos convidados
pela noiva. Aproximo-me com um
sorriso profissional da loira com um
vestido curto colado no seu corpo
perfeito e um véu curto na cabeça.
Assim que ela percebe a minha
aproximação, dar um largo sorriso e
olha de cima a baixo me avaliando.

— Buona sera, signorina


Martarelli. Che tu e le tue madrine siate
benvenuti! (Boa noite, senhorita
Martarelli. Que você e suas madrinhas
sejam muito bem-vindas!) — Falo no
meu melhor tom simpático e ela sorriu e
lançou na minha direção deixando dois
beijos na bochecha.
— Sei un vero cutie! (Você é uma
verdadeira gracinha!) — Disse ela me
fazendo ficar sem graça.
Sinto que estou sendo observado,
instintivamente olho para trás do grupo e
dou de cara com minha irmã Lea. Será
que ela é uma das madrinhas? Ela me
encara com ódio e isso faz com que meu
sorriso caia um pouco, mas
automaticamente lembro que esse aqui é
o meu trabalho, esse aqui é o lugar que
eu gerencio e eu tenho que continuar a
fazer o meu trabalho. Volto meus olhos
para a pessoa que deve ter toda a minha
atenção e dou um sorriso de lado
chamando um dos garçons, que está de
calça preta e gravata borboleta,
ostentando seu físico muito bem
cuidado.
— Daniel, leve essas belas moças
para a sua mesa especial. Daqui a pouco
passarei por lá. — Falo com os garçons
que estendeu o braço para a senhorita
Martarelli, que foi com muito bom
grado.
Todas seguiram seu caminho ao
lado de Daniel, percebi que tinha
algumas das amigas da senhorita
Martarelli que ficava passando a mão no
peitoral de Daniel, o deixando sem
graça. Meu braço é puxado e eu reviro
os olhos por saber que isso estava
prestes a acontecer, olho para Lea que
solta farpas com os olhos e seu maxilar
está cerrado com força.
— O que você faz aqui? Sempre
soube que você era sujo, mas prostituto
é novidade. — Lea diz e dessa vez quem
está com raiva sou eu.
— Se eu fosse você tiraria suas
mãos de mim! Está vendo aqueles
homens grandes de terno? — Apontei
para o lugar onde Cyro está e Lea olhou
na direção que apontei e Cyro já estava
colocando a mão onde estava sua arma.
— Bem, aquele ali é Cyro, meu guarda
costas. – Falo e ela me soltou
rapidamente.
— Andrea você é… — Lea
começa a falar, mas eu não a deixo
completar.
— Para! Esse aqui é meu
ambiente de trabalho e se você quer
continuar onde está e não sendo chutada
para fora, sugiro que você faça o favor
de calar sua boca e sair da minha frente.
Entenda, eu não ligo para sua existência,
então, por favor, me retorne o favor de
não ligar para minha. — Falo e soltei
sai deixando Lea para trás.
Tenho certeza de que essa noite
maldita está longe de acabar,
principalmente com a presença
indesejada de Lea.
A noite está sendo sufocante, não
posso acreditar na minha má sorte ao
saber que Lea é uma das amigas íntimas
da filha do ministro. Fico me
perguntando a todo momento como elas
se conheceram, e não é de me espantar
que minha irmã tenha esse tipo
importante de amizade, pois quando
morávamos no litoral ela convivia com
muita gente com condições financeiras
bastante elevadas, em um nível
totalmente diferente de nós. Talvez fosse
esses tipos de convívio que fez com que
minha irmã mudasse de um dia para o
outro o seu jeito de tratar a mim e
nossos pais. Ela começou a querer mais
dinheiro do que nosso pai dava para nós
dois durante o mês, ou brigava quando
nossa mãe queria comprar coisas para
ela, afirmando que tudo que nossa mãe
escolhia era de mau gosto, do jeito mais
grosseiro e autoritário que poderia
existir.
Não sei o que pensar e para falar
a verdade não tenho intenção de pensar
em muita coisa relacionada a Lea, ela
parou de ser algo importante para mim
no momento que me disse coisas
horríveis. Mesmo depois de todo esse
tempo ainda é nítido a raiva que ela tem
por mim, de tempos em tempos mesmo
ocupado coordenando toda a boate para
que a noite saia perfeita, sinto seus
olhos de raivosos na minha direção,
consigo de verdade sentir o peso do seu
olhar e isso me incomoda, mas não ao
ponto de que faça com que eu queira
ficar escondido bem longe de suas
vistas.
Não!
Isso não vai acontecer, pois tenho
trabalho para fazer e um lugar para
administrar. Respiro fundo tentando me
acalmar e vou fazer uma visita na mesa
da noiva.
— Boa noite senhoritas, gostaria
de saber como está sendo a noite de
vocês? — Pergunto no meu melhor
sorriso profissional.
— Está tudo muito incrível e
todas nós queremos que nossa amiga
tenha uma noite fora do comum! —
Disse uma morena e todas as outras
soltaram um grito animado, mesmo Lea é
claro que me olhando com seus olhos
avaliadores.
— Se for assim não precisa se
preocupar que a nossa intenção é fazer
com que a noiva se divirta — falo e a
noiva se levanta para ficar na minha
frente.
— Por que não se senta conosco?
Soube que você é irmão de Lea, isso é
uma grande surpresa — diz Beatrice
Matarelli com uma empolgação causada
nitidamente pelo álcool. Olho para Lea
arqueando a sobrancelha e ela desvia o
olhar com irritação.
— Sinto muito, mas eu estou
trabalhando para que tudo sai em
perfeitas condições para vocês e suas
amigas. — Falo tentando me livrar de
seu abraço.
— Sim é uma pena, mas sabe o
que é uma grande pena? — Pergunta e eu
nego rapidamente. — É saber que minha
melhor amiga tem um irmão tão fofinho e
nunca ter conhecido. — Disse a noiva e
eu me senti estupidamente
desconfortável.
— Obrigado! — Agradeci o
elogio por educação.
— Seus pais são pessoas bem
pobres e ainda bem que sua irmã não
puxou a essa coisa de se acostumar com
a pobreza litorânea, ela sempre quis
mais. E pelo visto você também. —
Disse ela me causando horror, mas eu
disfarcei com minha cara impassível.
— Andrea deve ter trabalho fazer,
não é mesmo Andrea? — Lea pergunta
entre dentes.
— Deixa disso Lea, você já me
escondeu demais que tinha um irmão. E
nem pense que eu vou esquecer. — A
noiva disse a Lea que pela cara não
gostou de ouvir o que ouviu.
— Não fale assim Bea, eu te disse
que Andrea e eu não nos falávamos a um
tempo. — Lea explicou em um tom mais
calmo para sua amiga e olhou para ela
com curiosidade.
— Mas agora tenho certeza de que
vão se acertar, não é verdade? —
Pergunta Beatrice e um embrulho no
estômago tomou conta de mim ao ver o
olhar enojando de Lea na minha direção.

— Tenho trabalho a fazer, daqui a


pouco começa o outro show e uma
especial para você senhorita Matarelli.
— Falo chamando sua atenção.
— Um show especial? —
Pergunta ela entusiasmada esquecendo a
conversa anterior.
— Sim! Dois dos nossos
dançarinos irão fazer uma coreografia
exclusiva para você. — Disse fazendo
elas e suas amigas gritarem.
— Isso é tão legal! — Uma das
garotas falou levantando a taça com
champanhe.
— Claro minha querida, eu sou a
filha de um dos homens mais
importantes do país e é claro que tudo
para mim deve ser exclusivo. —
Beatrice Maratelli disse com toda
arrogância fazendo sua amiga murchar
na poltrona.
Agradeci aos céus quando a
cortina se fechou e uma música lenta
começou a tocar indicando que um novo
show iria começar, sem perder tempo
virei e comecei a ir em direção ao bar,
pois eu preciso de um copo de água com
urgência. Chegando lá eu não precisei
dizer nada a Louis e um copo d'água já
estava na minha frente antes que eu
pudesse me sentar no banco. Bebi um
gole e encostei minha cabeça no balcão
frio. É incrível como essa noite mal
começou e já está conseguindo me
deixar totalmente exausto. Não sei como
vou fazer para suportar o restante da
noite. Sinto uma mão tocar no meu
ombro e dou um pulo de susto, olho para
o lado e vejo Fanny rindo da minha cara
assustada e se senta ao meu lado no
banco que está disponível.
— Se está sorrindo do susto que
me deu isso prova que seu humor está
bom. — Falo e ela assente virando o
rosto para frente.
— Sim, eu só queria aproveitar
que está sozinho para agradecer por ter
me ouvido e não me julgado pelas
coisas que conversamos mais cedo. —
Falou ela e eu respirei fundo.
— Não há o que agradecer Fanny.
Acho que isso nos faz amigos, certo? —
Falo em um tom de graça e ela me olhou
com o cenho franzido.
— Eu achei que já fossemos, mas
você nunca me deu essa liberdade. —
Falou ela e eu voltei a beber minha
água.
— Nunca dei muita abertura para
as pessoas entrarem na minha vida. Você
consegue me entender? — Pergunto e ela
sorriu para Louis quando colocou um
coquetel na sua frente.
— Está sem álcool isso aqui? —
Grita ela e Louis assente soltando um
beijo na sua direção. — Voltando a
nossa conversa, sim eu posso te
entender. Antes que vir para cá e até
mesmo antes de começar a trabalhar
aqui eu era assim, mas depois fui
deixando as pessoas se aproximarem
mais.
— Menos Nero. — Lembrei e ela
afirma.
— Sim, menos ele. — Disse e
olhou para o palco onde ele estava se
apresentando no momento. — Mas me
arrependo bastante de não ter lhe dando
uma oportunidade mais cedo, acho que
eu tinha vergonha de falar a minha
situação a ele, mas ele me surpreendeu
sendo muito maduro. — Declarou Fanny
e nesse momento Nero olhou na sua
direção e piscou um olho.
— Ele gosta de você! — Falo a
deixando sem graça.
— É o que ele diz e eu vou
acreditar. — Disse e me cutucou
chamando minha atenção quando olhei
para o outro lado.
— O que foi? — Pergunto e ela
apontou com a cabeça para a mesa da
noiva.
— Quem é a louca que só está
olhando para você com raiva? —
Pergunta Fanny e eu revirei os olhos.
— Você percebeu isso? —
Pergunto derrotado e ela assente.
— Aquela ali é minha irmã, Lea
Giardino. — Falo e Fanny arqueou a
sobrancelha em questionamento. — Sim,
e antes que me pergunte. Não, eu não
sabia que ela iria vir, e sim ela me
odeia, mas é uma longa e cansativa
história.
— Se você quiser eu posso dar
uma bifas na piranha! — Fanny disse me
fazendo soltando uma risada curta.
— Não tem necessidade disso,
mas obrigado. — Falo rapidamente e ela
deu uma olhada do mal para Lea que
desviou o olhar da nossa direção.
A noite turbulenta passou
demoradamente, mas felizmente chegou
o horário do último show. Que é
justamente a apresentação nova que
Matias irá apresentar junto com Romeo,
confesso que não prestei muita atenção
quando eles me mostraram, mas o pouco
que vi posso afirmar que será um grande
sucesso e que a noiva irá gostar muito.
Sinto meu celular tocar e ao olhar o
visor não reconheço o número, por isso
ignoro a chamada e volto minha atenção
a duas pessoas que estão entrando na
boate.
Um pequeno sorriso se forma nos
meus lábios ao perceber que uma delas
é Enzo, mas meu sorriso cai um pouco
quando vejo que ele não está sozinho.
Mesmo de longe percebo que esse
homem é tão alto quanto Enzo e seu
corpo é um pouco mais largo, assim que
eles chegam perto vejo que o homem
tem cabelos bem escuros cacheados e
olhos azuis acinzentados intensos.
Minha curiosidade é muito grande
para saber quem é esse homem que está
acompanhando o meu namorado, mas
antes que eu possa perguntar ou
cumprimentar quem quer que seja Enzo
me arrasta para seus braços e me dá um
beijo de tirar o fôlego. Sinto o cheiro do
frescor de sua pele e ao rodear os
braços no seu pescoço percebi que seus
cabelos estão úmidos, provando assim
que tomou banho recentemente.
Terminamos o beijo e quando meus pés
tocam o chão novamente percebo que
tinha muitos olharem sobre nós,
principalmente o do homem que veio
junto com Enzo e para completar o meu
desconforto ele está sorrindo para nós.
— Já está pronto para irmos? —
Pergunta Enzo, mas antes que eu posso
responder o homem fala na frente.
— Não vai me apresentar o seu
namorado, Enzo? — Pergunta o homem
com um tom leve e Enzo soltou um som
irritado.
— Não se depender de mim. —
Falou ele e eu belisquei sua barriga. —
Ai anjo! — Disse ele entre dentes e seu
amigo sorriu.
— Vejo que o que tem de belo tem
que feroz. — O homem disse com um
forte sotaque que eu não sei de onde é
me deixando sem graça e Enzo o
olhando com irritação.
— Não faça elogios ao meu
namorado, eu não gosto dessa
intimidade. — Enzo disse com grosseria
e eu para evitar qualquer briga
desnecessária por causa do ciúme
preferi intervir.
— Olá meu nome é Andrea e você
é? — Pergunto estendendo a mão, mas
Enzo a pegou fazendo seu amigo rir. —
Pare com isso! — Falo entre dentes e
ele bufou indignado me apertando mais
nos seus braços.
— Meu nome é Eros Russelos,
prazer em te conhecer. — Disse ele
apertando minha mão oferecida. — Ele
é sempre ciumento assim? — Pergunta
com graça apontando para Enzo.
— Você não faz ideia do quanto.
— Falo fazendo Eros soltar uma risada
alegre.
— Sempre o vejo muito fechado e
frio, é bom vê-lo apaixonado. — Eros
disse e eu olhei para trás para encarar
Enzo, que me deu um beijo na testa.
— Não liga para esse grego sem
noção, anjo. Ele lê muito livros de
romance. — Enzo disse com mau humor
e eu voltei meus olhos para Eros.

— Gosta de livros? — Pergunto e


ele sorriu.
— Sim! — Disse com leveza na
voz e apontou para Enzo — Não sei qual
é o seu problema com o romance em si.
— Eros disse e Enzo deu de ombros.
— Nada contra, mas pelo pouco
que te conheço, sei que você romantiza
tudo. — Enzo disse carrancudo enquanto
passava a mão nos fios soltos do meu
cabelo.
— Você fala de mim, mas é muito
mais romântico que qualquer outra
pessoa que eu conheço. — Eros disse
olhando para Enzo com os braços
cruzados.
— Que seja, meu anjo é especial.
— Enzo sussurrou no meu ouvido
deixando os pelos do meu corpo
arrepiado.
— De onde você é Eros? Pelo
sotaque sei que não é daqui. — Pergunto
tentando me desviar da provocação de
Enzo.
— Não acredito que você nunca
falou para seu namorado sobre mim,
Enzo. — Eros disse e vi Enzo revirar os
olhos.
— Não é como se você fosse algo
importante. — Falou ele me deixando
horrorizado e com isso minha reação foi
dar uma cotovelada na sua barriga. — O
que? É verdade isso! — Disse alisando
a barriga com cara de dor.
— Não liga, ele pode ser um
pouco… — Tentei achar uma palavra,
mas Eros sorrindo falou na minha frente.
— Grosseiro! — Disse ele eu não
pude fazer nada a não ser concordar. —
Respondendo sua pergunta, eu sou de
Atenas na Grécia e vir acertar algumas
coisas de trabalho com Enzo.
— Sim, nós estávamos em uma
longa e chata reunião e quando disse que
viria a boate ele se prontificou a vir
junto. — Enzo disse e eu concordei.
— Aqui é uma boate de mulheres,
será que Enzo te falou? — Pergunto e
Eros fez um gesto de desdém.
— Não me importo, na verdade,
eu só queria ver algo diferente. —
Responde ele olhando para os lados
com atenção. — É você que é o Dono? –
Pergunta e eu nego.
— Não, a dona do lugar é
Francesca, a Nonna de Enzo. — Falo e
vi o momento certo que Eros arregalou
os olhos com surpresa.
— Sua avó é dona de uma boate
de mulheres? — Eros pergunta com uma
curiosidade.
— Você não tem ideia de como é
minha Nonna! — Enzo resmungou e eu
não pude deixar de rir baixinho.
— Por que você fala assim? —
Eros pergunta franzindo o cenho. —
Naturalmente eu posso imaginar uma
vovó italiana que gosta de fazer doces e
ser uma senhora muito amável. — Eros
disse com um tom sonhador e vi o
quando Enzo olhou para ele como se
estivesse louco.
— Nonna Francesca está muito
longe de ser assim, muito longe mesmo.
— Enzo disse balançando a cabeça
negativamente.
— Estou curioso então para
conhecer sua avó. — Eros disse e Enzo
respirou fundo.
— Tenho certeza de que ele vai
adorar te conhecer. — Falo rindo
porque eu sei muito bem como Fran
pode reagir, principalmente por Eros ser
um homem com certa beleza e parecer
ser uma pessoa tranquila.
— Muita intimidade… — Enzo
estava falando, mas foi interrompido
quando algo branco se jogou nos seus
braços.
— Quanto tempo que eu não te
vejo Enzinho, você continua um gato
como sempre foi. — A voz de Beatrice
Matarelli me acordou do susto e eu
percebi que foi ela que passou por mim.
Fiquei sem entender por um tempo
o que estava acontecendo e olhei para
Eros que estava com o cenho franzindo,
naturalmente pela surpresa que teve
assim como eu. Nenhum de nós estava
esperando que uma pessoa fosse nos
empurrar, mas agora que o susto inicial
passou eu posso olhar direito para cena
patética na minha frente.
A filha do ministro está totalmente
agarrada a Enzo em um abraço de urso,
enrolada nele como algum inseto chato
que gruda e não quer mais soltar, aperto
meu maxilar e cerrou os punhos ao me
senti desconfortável com o ato dessa
mulher petulante. Olho para Enzo que
ainda está com uma cara de grande
surpresa, e ao ver minha cara de
desagrado ele puxa Beatrice sem um
mínimo de delicadeza quase a fazendo
cair no chão e só não caiu porque Lea
estava por perto e a segurou. Lea olha na
minha direção e me dar um sorriso
debochado por perceber que eu não
gostei do que vi.
— Nossa Enzinho precisa dessa
ignorância? — Diz ela me deixando
mais irritado do que eu já me encontro.
— Beatrice, sugiro que você não
encoste em mim. Nunca te dei qualquer
liberdade para isso, peço que não
misture as coisas. E meu nome é Enzo!
— Enzo fala friamente e ela dramatiza
colocando a mão no peito.
— Como você pode falar isso, eu
sou amiga de seu irmão e nossos pais
são amigos. Nos conhecemos a muitos
anos. — Disse ela sem entender o
porquê Enzo a tratou dessa maneira.
— Isso para mim não quer dizer
nada, não gosto de pessoas me tocando.
Principalmente se uma pessoa estiver
bêbada e perder o limite de suas
atitudes. Lucca nunca foi com sua cara.
— Enzo fala e ela dar um sorriso e dá
um passo na sua direção, mas eu sou
mais rápido e fico na frente de Enzo.
— E eu não gosto quando agarram
o meu namorado desse jeito. — Falo e
ela deu um passo para trás com
surpresa. Ela olha de mim para Enzo, e
faz uma cara como que o que saiu de
minha boca fosse loucura.
— Namorado? — Pergunta ela a
Enzo que ao invés de dar uma resposta
ela, ele somente me puxou para trás
passando o braço na minha cintura.
— Algum problema? — Pergunto
não gostando do tom enojado que ela
falou a palavra namorado.
— Você ainda pergunta? Claro
que tem um problema! Todos os
problemas do mundo para ser mais
exata! O que está havendo com esses
homens de classe hoje em dia? Estão
todos se sujando dormindo com homens?
— Pergunta sem fazer qualquer sentindo,
falando tão alto que chamou a atenção
de todos na boate. — Por que você não
me contou Lea?
— Porque eu tenho vergonha de
admitir que esse sujeito seja um
veadinho sem noção que está
manipulando um homem importante
como Enzo Aandreozzi. — Lea disse na
maior cara sínica. A vontade que eu
tenho nesse momento é de avançar no
seu pescoço, mas tenho que ficar calmo
porque aqui é meu ambiente de trabalho.
— Não sabe a minha decepção
quando eu vi nos sites de fofocas quando
anunciaram que os herdeiros Aandreozzi
estavam se casando com homens. Nossa
isso é tão nojento! — Beatrice disse e
cuspiu no chão na direção do meu pé. —
Eu ainda tinha esperança por você Enzo,
você deveria se envergonhar! — Ela
disse e vi Enzo a olhar de um jeito que
se olhar matasse ela com certeza já
estava morta. Ele deu um passo para
frente e o gelo sombrio que saia de sua
voz fez com que qualquer um se
amedrontasse.
— Ouça bem o que eu vou dizer
sua insignificante. Nunca! Nunca em
toda sua existência você ouse falar da
minha família dessa maneira, não me
importo o que falem sobre mim, mas
falar desse modo grotesco sobre as
pessoas que eu amo é passar dos limites.
Não sei quem você é, mas uma coisa eu
digo, se falar ao assim sobre eles
novamente eu destroço com você! —
Ele disse e cada palavra que sai de sua
boca era pingando ódio.
— Você não pode falar assim
comigo, eu sou a filha do ministro. E
logo me casarei com um dos homens
mais influentes. — Disse ela com uma
arrogância sem sentido e vi pelo canto
dos olhos como minha irmã estava
gostando de tudo isso.
— Enzo, deixa! — Falo e ele me
olhou por um tempo até que concordou.
Sei muito bem como ele e o seus irmãos
não gostam quando os outros ofendem o
nome de sua família. E não quero vê-lo
chateado.
— O que você acha que vai fazer?
— Lea pergunta com deboche e eu olhei
para Cyro e fiz o sinal para ele e os
outros seguranças se aproximarem.
— Eu quero que você senhorita
Matarelli e o resto de suas
acompanhantes saiam daqui! — Mandei
e elas arregalaram os olhos com
surpresa.
— O que? Como? — Beatrice
pergunta sem entender o olhou para
minha irmã.
— Você não pode fazer isso! —
Lea grita com indignação.
— Tanto eu posso como eu já
estou fazendo. — Falo sério e calmo,
assentindo para que os seguranças
segurem o braço delas.
— Me solta seu brutamontes!
Você sabe quem eu sou? — Beatrice
disse para Cyro que nem lhe deu um
olhar. Minha irmã estava sendo levada
por Timóteo
— Você está se achando
importante demais Andrea, um dia sua
casa pode cair e ele vai ver o ser
desprezível que você é. — Lea disse
apontando para Enzo que a olhou
impassível.
— Isso não vai acontecer e eu te
garanto senhorita Giardino. Minha
família e eu amamos Andrea. — Enzo
disse beijando minha cabeça e eu sorri.
— Obrigado querido. — Falo
com um sorriso discreto.
— Não por isso, meu anjo. —
Responde ele deixando minha irmã e
suas amigas sem acreditar.
— Esse lugar é onde as pessoas
são aceitas, onde elas podem ser aquilo
que elas quiserem. — Falo e olhei para
Fanny que estava presa nos braços de
Nero, depois meus olhos foram para
Amauri que estava encolhido no abraço
de Paul. — Não existe nada vergonhoso
em amar alguém, seja qual for o seu
sexo, suas condições financeiras, sua
cor da pele, seu jeito de se vestir ou por
qualquer outra coisa que o faça ser
diferente dos demais. O vergonhoso é
ser pobre de espírito e ruim de coração,
portanto, vocês não são bem-vindas
aqui. — Falo e fiz sinal para que eles
tirassem essas pessoas desprezíveis
daqui. Quando eles estão andando em
direção à saída me lembrei de algo e
grito para que Timóteo parasse antes de
pôr Lea para fora.
— Espera um momento Timóteo!
— Falo e ele virou Lea na minha
direção.
— Entenda irmã, uma família me
jogou fora quando eu tinha apenas 16
anos, mas agora com 26 eu tenho uma
família que me acolheu do jeito que sou.
— Falo e ela me olhou com irritação
tentando se soltar do aperto do
segurança.
— Muito bem Dea! — Grita
Fanny e soltou um longo assobio. — Me
solta Nero, eu já disse que não vou dar
na cara daquela coisinha mais.
— Você viu como a pequena
borboleta loira é incrível, Sorvetão? —
Pergunta Amauri em um tom emocionado
e isso me fez rir.
— Nossa isso foi bem legal. —
Eros disse me olhando com admiração
me deixando sem graça.
— Sim foi, mas tira o olho que já
tem dono. — Enzo disso me arrebatando
na sua direção, ele segurou meu rosto
com as duas mãos e deixou um beijo
doce nos meus lábios. — Você
realmente foi incrível meu anjo.
Obrigado!
— Só fiz o que deveria fazer, não
gosto de gente com esse tipo de atitudes
e fora que a presença de minha irmã
aqui não estava me fazendo bem. —
Falo em tom baixo e Enzo me abraçou.
— Em casa vamos conversar mais
sobre isso, tudo bem? — Pergunta e eu
assinto.
— Como a noite foi encerrada
mais cedo, acho que vou lá em cima
ajeitar algumas coisas para podermos ir
embora.
— Quer que eu vá com você? —
Pergunta e eu nego.
— Não, não a necessidade. Fique
aqui com seu amigo que em um instante
eu estou de volta.
Deixe Enzo no bar com Eros e
segui meu caminho para meu escritório,
antes de subir as escadas fui parado por
Fanny e Amauri que expressaram sua
surpresa e irritação por como essa noite
terminou, durante toda a conversa senti
meu celular tocar novamente e ignorarei
como das outras vezes. Após conversar
com eles fui para o escritório e dei uma
checada em alguns documentos que
devem ser assinados por mim, estava
concentrado em terminar o que tinha que
fazer que não me dei conta de que o meu
celular estava tocando novamente. Olhei
para a tela soltando um som irritado por
ser um número desconhecido e resolvi
atender para que a outra pessoa do outro
lado possa me deixar trabalhar em paz.
— Sim! — Atendi colocando o
celular no ombro para poder segurar
uma pasta que estava colocando no final
da mesa.
— Da última vez que nos falamos
você não me desrespeitava dessa
maneira, golubushka. Acho que a sua
fuga te deixou esquecer o modo
respeitoso de agir com seu marido. —
Essa voz? Não pode ser!
Não, não, não pode ser! Isso não
pode estar acontecendo comigo. Isso não
pode acontecer novamente, ele não pode
estar falando comigo, eu não suporto
ouvir sua voz, ele me enoja, me faz senti
medo e ao mesmo tempo desperta o
homem sem emoção que ele mesmo
construiu dentro de mim. Não! Como ele
sabe meu número? Como pode? Sinto
minhas mãos tremerem, sinto um gelo na
minha espinha, e tudo isso por ouvir o
som desprezível de sua voz.
— Está emocionando em ouvir
minha voz e é por isso que está calado,
pombinha? — Ele solta um som, o
mesmo som quando ele está feliz com
algo. — Pois bem, eu só queria te dizer
que suas férias acabaram e que está na
hora de voltar para casa.
— O… O quê? — Falo baixo sem
conseguir assimilar.
— Não se preocupe, golubushka.
Estou chegando para você! — E com
isso a ligação se encerra.
Olho para tela do meu celular sem
acreditar no que acabei de ouvir, meu
corpo está gelado e sem saber como agir
ao saber que ele… Ele, Maxim
Konstantinov está vindo ao meu
encontro.
ENZO AANDREOZZI

Meu dia foi uma verdadeira


merda cansativa, a única coisa que
quero nesse momento é ir para casa com
o meu anjo, fazer amor com ele e dormir
agarradinho ao seu pequeno corpo. Mas
como nada nessa vida é perfeito eu
tenho que estar aqui olhando para a cara
de Eros, que está bem empolgado
conversando sozinho. Sozinho sim,
porque não estou disposto a ficar
ouvindo o que ele fala, já passei tempo
demais em reuniões com ele para estar a
ponto de querer estrangulá-lo.
— Enzo, você está me ouvindo?
— Eros pergunta com o cenho franzido.
— Não! — Falo sem desviar
meus olhos da janela fechada do
escritório de Andrea.
— Você realmente está
apaixonado por aquele rapaz. Não é
verdade? — Eros falou e isso chamou
minha atenção para olhar na sua direção.
— Sim, eu faço tudo pelo meu
anjo. — Falo sério e Eros assente e
bebericou um pouco de sua bebida.
— Eu sempre achei que amor de
verdade só existia nos livros. Nunca
consegui amar minha esposa e tenho
certeza que ela tão pouco me ama. —
Eros disse e tenho certeza de que pude
sentir sua tristeza mesmo ele tentando
esconder atrás de um sorriso.
— Sei que não é da minha conta,
mas por que continua com esse
casamento já que você não está feliz? —
Pergunto sem conseguir me conter.
— Você deve saber como são as
famílias que fazem com que a união de
duas pessoas seja somente por
interesses mútuos? — Disse ele em um
modo mais sério e eu assinto.
— Sim eu conheço, mas essa
realidade é totalmente diferente da
minha. Meus pais jamais casariam seus
filhos por qualquer ganho pessoal. —
Falo e por um breve momento vi o
espanto no seu rosto antes de virar e
olhar em direção ao escritório de
Andrea.
— Então eles não se importam
que você seja gay? — Pergunta e eu
parei um momento.
Nunca me classifiquei gay ou
bissexual, para falar a verdade, para
mim isso não importa. A única coisa que
verdadeiramente importa é o quão feliz
estou com Andrea é o como estar ao seu
lado me deixa completo. Nunca tive
interesse por outros homens, mas para
falar a verdade, os meus interesses nas
mulheres eram puramente carnais. Sinto-
me até meio canalha em admitir que só
as fodia e quando percebia que não iria
passar disso, as deixava saber que de
mim não teria nada. Agora tenho a
certeza que se para estar com o meu anjo
é ser gay. Então vamos lá... eu sou gay!
— Sim, eles não se importam que
seus filhos amem, se casem e construam
família com outros homens. — Falo sem
paciência e Eros seu uma risada
espantada.
— Nossa... Isso é... Uau! — Eros
disse e dei de ombros.
— Não é uma grande coisa. —
Falo revirando os olhos para essa
besteira.
— Eu adoraria conhecer sua
família. — Disse ele e eu fechei a cara
automaticamente.
— Não somos amigos, Eros! —
Falo entre dentes e ele sorriu.
— Somos sim e só você que não
quer aceitar. — Disse ele e eu nego, me
levantando logo em seguida.
— Vou buscar Andrea para irmos
embora, vejo você amanhã na reunião.
— Falo e Eros assente.
— Vou terminar minha bebida e
vou embora. — Responde ele bebendo e
observando a boate com atenção.
— Não me importo. — Falo e
segui meu caminho até as escadas.
Passo por alguns dos seguranças e
vejo em um canto que Cyro está
conversando com Timóteo. Assim que
eles notam minha presença acenam e diz
que Andrea continua no escritório. Paro
na porta e bato algumas vezes, mas não
ouço a resposta para que eu possa
entrar. Sinto os pelos da minha nuca se
arrepiar ao perceber que algo não está
bem. Abro a porta sem me importar e
assim que entro no escritório passo o
olho por todo o lugar é não vejo nada
que possa ser considerado de perigoso.
Procuro por Andrea e é o encontro
sentado atrás de sua mesa em um estado
catatônico.
Sinto meu coração acelerar ao
perceber que algo não está normal com
ele. Andrea está com os olhos vidrados
na parede, seu corpo está rígido como se
estivesse esperando por algo muito
ruim, mas o que mais me chama a
atenção é no celular que está na sua mão
e o aperto forte que ele está dando ao
aparelho. Os nós de seus dedos estão
brancos e ele não reagiu em nenhum
momento que entrei. Não consigo me
conter e vou em direção ao meu anjo, ao
ver de perto o seu rosto espantado e
paralisado, tento fazer com que ele saia
desse estado. E principalmente
descobrir o que fez ele chegar nesse
estado.
— Anjo! Anjo sou eu. — Falo em
um tom baixo puxando a cadeira para
colocá-la na minha frente.
— Andrea, fale comigo. O que
aconteceu meu anjo? — Pergunto
tentando fazer com que ele pelo menos
olhe na minha direção, mas isso não
acontece.
— Ele está vindo até mim. —
Disse e ele em um tom baixo, baixo de
um jeito que tive que me esforçar muito
para ouvir.
— Anjo, quem é ele? Andrea,
querido, olhe para mim. Por favor... —
Falo no mesmo tom para não o assustar.
Não resistir ao vê-lo por tanto
tempo parado, como se estivesse
esperando pela pior tragédia da sua vida
vir a acontecer. Ajoelhei-me na sua
frente, segurei seu rosto com minhas
duas mãos e encostei meus lábios no
dele. No primeiro momento meu anjo
ficou quieto, mas o reconhecimento veio
logo em seguida e em poucos segundos o
ouvi suspirar, passar o braço por cima
do meu ombro e me apertar com mais
precisão. Aprofundei o beijo ficando
feliz quando Andrea saiu do estado
catatônico e me corresponde com a
mesma intensidade. Dio santo, como eu
amo beijá-lo!
— Enzo, sinto muito! — Foi à
primeira coisa que disse assim que nos
afastamos do beijo.
— Andrea o que aconteceu? —
Pergunto olhando nos seus lindos olhos.
— Eu ainda não sei direito, ainda
estou sem entender o que acabou de
acontecer. — Falou e pude ouvir o medo
na sua voz.
— Você demorou a descer e
quando chego aqui, te encontro em um
estado paralisado. Diga-me anjo, o que
fez você ficar dessa maneira? —
Pergunto de forma mais firme e ele
respirou fundo.
— Hoje à tarde eu estava
recebendo ligações de um número
desconhecido, mas achei que fosse
alguém que ligou errado. Quando subir
para o escritório ele tocou novamente e
eu atendi, mas preferia não ter feito isso.
— Andrea disse olhando para longe e o
fiz olhar para mim novamente.
— Quem foi? — Pergunto entre
dentes, com raiva, já imaginado quem
fosse o filho da puta.
— Maxim Konstantinov, ele disse
que estar vindo até mim. — Seu corpo
estremeceu assim que ele falou o nome
do russo. Não precisou ser um
superinteligente para saber de quem se
trata.
Eu que estava de joelhos de frente
para Andrea, me levantei com toda a
força e virei de costas para que Andrea
não veja a raiva que estou sentindo
nesse momento, raiva essa que não é
pouca e me faria matar a primeira
pessoa que me olhasse de cara feia.
Quem esse maledetto pensa que é? Para
ligar para o meu homem e ainda por
cima o atormentar com mentiras.
Sim, mentiras!
Porque eu jamais deixarei que o
bastardo leve Andrea de mim. Foda-se!
— Eu vou matá-lo! — Falo de
modo sombrio.
— NÃO! — Ouvi o grito de
Andrea e logo em seguida senti ele me
abraçar por trás. — Não Enzo, não
chegue perto dele. Maxim é a
personificação do mal e eu jamais vou
querer que você se machuque. — Sentir
suas mãos tremendo quando passava
sobre o meu peito.
— Você faz pouco de mim,
quando teme dessa maneira. — Falo de
modo frio, não gosto realmente que ele
queira que me esconda desse sujeito.
— Você não entende Enzo. —
Disse e se afastando de mim. Virei para
encará-lo e tenho certeza, não sei como,
mas acho que ele ainda não me falou
tudo.
— O que você ainda não me
disse? — Pergunto direto o fazendo
arregalar os olhos.
— O quê? — Pergunta nervoso e
isso só me fez estreitar os olhos na sua
direção.
— Você! Você está me
escondendo algo. O que é? — Pergunto
com um tom que mostrava que eu não
estava gostando disso.
— Eu não... Enzo eu... — Disse
ele nervoso e eu nego com a cabeça.
— Só derrame, Andrea! — Peço e
ele afirma.
— Ele me chamou de algo que eu
tinha apagado totalmente da minha
memória. Caspita, como não me lembrei
disso! — Disse Andrea fechando os
olhos com força.
— Fala! — Peço e ele abriu os
olhos nervoso.
— Marido. – Falou me olhando
com medo e eu entendi perfeitamente só
pelo uso da palavra o que ele estava
tentando dizer. — Ele me chamou de
marido e eu tinha apagado de minha
mente sobre... — Andrea parou de falar
assim que levantei a mão para fazê-lo
parar.
— Vamos para casa! — Falo sem
demonstrar qualquer emoção, virando
logo em seguida para ir até a porta.
— Mas... Enzo, nós temos que
conversar. — Andrea disse com olhos
arregalados.
— Temos, mas não aqui e não
agora. — Falo sentindo um gosto
amargo na minha boca. — Estou no
carro te esperando.
Sai do escritório de Andrea e fui
direto em direção até a saída. Percebi
que Timóteo veio me seguindo e Cyro
foi esperar por Andrea para poder
acompanhá-lo. Enquanto eu estava
caminhando não pude tirar a palavra
"marido" da minha cabeça. Não sei para
alguns, mas para minha família o
casamento é algo muito importante,
podemos não demonstrar muito, mas
somos religiosos e acreditamos na união
de suas pessoas que se amam através do
matrimônio. Pelo menos foi algo que
meus irmãos e eu aprendendo desde
pequenos e era até engraçado como
nonna nos fazia ir para a missa de
domingo quando éramos mais não novos
e nem ela mesmo aguentava ficar por
muito tempo. A palavra "marido" vem
me assombrar novamente. Porra! Andrea
é meu e não de nenhum filho da puta
russo.
Chegando do lado de fora vejo
que os carros já estão à nossa espera.
Entro e fico à espera de Andrea terminar
o que tiver que fazer no seu local de
trabalho. E enquanto isso eu vou
processando a informação e que meu
lindo namorado é casado. E casado com
o homem que fez atrocidades com ele,
com certeza esse casamento foi mais
uma das coisas que Andrea fez sendo
forçado por aquele sujeito, que eu não
conheço, mas tenho muita vontade de
matá-lo. E não ficarei bem até matá-lo
com minhas próprias mãos. Sinto um
movimento no carro e nem preciso virar
a cabeça para saber que é o meu anjo
que entrou.
Durante a viagem ficamos
calados, nós dois estamos muito
concentrados em nossos pensamentos
para querer falar algo. Aprendi desde
cedo que quando se conversa com raiva
coisas boas não podem ser ditas, então é
sempre bom esfriar a cabeça antes que
palavras que você não queria dizer
escapem de sua boca. E Andrea não
merece receber a bomba de raiva que
está explodindo no meu peito, porque se
tem alguém vítima nisso tudo, essa
pessoa certeza é ele. Mesmo sabendo
disso tudo eu não consigo não sentir o
maldito ciúmes, por ele não ser o meu
marido e sim de outro.
Chegamos em casa e fomos
recebidos pela felicidade sincera de
Kay. Vi pelo canto do olho o sorriso
curto e lindo que Andrea deu assim que
recebeu uma lambida no nariz. Peguei-
me admirando essa cena tão fofa e meu
peito se apertou com o amor ao ver essa
cena. Andrea olhou na minha direção e
abaixou a cabeça, sem falar nada ele
deixou Kay no chão e foi em direção as
escadas. Observei o meu anjo subir e
pude perceber a tristeza que emanava
nele como ondas grossas. Segurei meu
cachorro no colo e alisei sua cabeça
enquanto me sentava no sofá.
Não demorou muito tempo eu vi
Andrea descer vestindo somente uma
camisa minha e o com o cabelo preso no
alto da cabeça, indo em direção a
cozinha. Por que ele tem que ser tão
gostoso? Santa merda da provocação!
Meu pau acordou com a visão do seu
traseiro balançando enquanto andava em
direção a cozinha.
— Acho que ele não sem noção o
quando ele é sexy. Foda-se, ele é meu,
porra! — Falo em um tom baixo e deixei
Kay no chão.
— Vou lembrar ao meu anjo a
quem ele pertence. — Falo com
determinação tirando meus sapatos, logo
em seguida a jaqueta e camisa. Ficando
somente de calça jeans.
Fui em direção a cozinha, e a
visão que eu tive logo de cara me fez
morder os lábios com força para não
soltar um gemido. Andrea estava
curvado de frente à geladeira aberta,
enquanto pegava algo embaixo.
Passando os olhos por toda a cozinha
vejo que ele está separado alguns
ingredientes para fazer algo para nós
dois comermos. O vejo fecha a
geladeira com o pé, porque suas mãos
estão ocupadas e assim que ele vira para
ir até o balcão me vê parado e congela
no lugar. Caminho devagar na sua
direção o fazendo olhar para o meu
peito nu, fico contente com o movimento
que faz ao engolir em seco.
— Enzo! Estou fazendo algo para
comer. Está com fome? — Pergunta
nervoso e eu assinto sem falar nada.
— Vamos conversar agora? Você
sabe que precisamos falar sobre isso,
você tem que entender que eu não tive a
intenção de te enganar ou... — Ele parou
de falar quando me aproximei colocando
o dedo na sua boca para fazê-lo parar.
— Não fala agora, anjo! —
Sussurrei olhando diretamente para sua
boca rosada.
— Oh! — Disse quando o puxei
grudando nossas bocas. Ouvi as coisas
que estavam na sua mão cair no chão.
— Não me importa o que você fez
quando não estava comigo, mas agora
você é meu e isso não vai mudar. —
Falo com nossas bocas juntas e enfiei a
mão por dentro da camisa que ele está
usando.
— Ah, eu te amo! — Disse assim
que minha mão foi parar na sua incrível
bunda.
— Eu sei bebê, e eu quero te
ouvir falar isso muitas vezes.
Principalmente quando eu estiver
enterrado no seu traseiro gostoso. —
Falo o beijando avidamente enquanto
explorava sua abertura apertada com
meu dedo na superfície, massageando
com calma e isso o fez gemer baixinho
para mim.
— Eu quero você! — Disse ele
dando o impulso para passar suas pernas
na minha cintura.
— Não precisa pedir demais,
anjo, eu já sou seu e você me tem
quando quiser. — Falo com voz rouca
passando minha barba por fazer no seu
pescoço.
— Vamos subir! — Pediu ele e
nego dando um sorriso de lado.
— Está na hora de explorar mais
o nosso lar. — Falo apertando sua bunda
com força e isso o fez suspirar.
Com Andrea preso na minha
cintura, fui até o balcão e com uma mão
afastei as coisas que ele tinha colocado
para cozinhar. O coloquei sentado,
explorei mais um pouco sua boca e fui
desabotoando os botões com precisão,
mas nunca deixando de beijá-lo, pois
beijar Andrea é como uma maldita droga
que nunca consigo ter o suficiente.
Assim que o deixei livre da camisa, tirei
minha boca da sua e chupei seu mamilo
pequeno e rosado. Seu arfar foi a
indicação perfeita para ter certeza que
eu estava fazendo a coisa certa. Chupei
o outro mamilo com força, descendo
logo em seguida para o caminho de sua
barriga, admirei sua cueca cinza onde
estava escondendo uma ereção furiosa
de meu anjo. Sem perder tempo e com
uma ideia na cabeça tirei sua cueca,
deixando seu pau pular para fora me
dando uma bela saudação.
— Enzo, você não precisa fazer
isso. — Andrea me olhou alarmado
percebendo o que eu estava prestes a
fazer.
— Eu quero e quero muito, então
se eu fizer algo errado me avisa. — Falo
olhei para seu rosto corado, contornado
pelo seu cabelo bagunçado o deixando
mais lindo e sexy que já é.
— Você sabe que... Oh! —
Andrea soltou assim que eu passei a
língua pela cabeça brilhante e rosada do
seu pau.
O sabor do seu pré sêmen
explodiu na minha boca e o seu gosto
era bom, tão bom que eu não fazia ideia
que poderia ser assim. Não resisti e
chupei com mais vontade, fazendo
aquilo que gosto que façam comigo.
Olhei para cima pegando os olhos de
Andrea grudados em mim, dei uma
piscada e isso o fez gemer jogando a
cabeça para trás. Explorei seu corpo
com minha mão enquanto trabalhava no
seu pau, meu dedo foi até seu ânus.
— Lubrificante! Precisamos de
lubrificante, Enzo, por favor. Ah... eu
não quero gozar agora, por favor,
querido. — Andrea disse em desespero
e imediatamente vi a garrafa de azeite.
— Vamos fazer um bom uso do
azeite, meu doce. — Falo com meu
melhor sorriso de predador.
— Não... Você não vai! — Disse
ele e eu sorri mais ainda.
— Observe! — Respondo
pegando o azeite e colocando nos dedos.
— Estou explodindo para tê-lo e você
não faz ideia do quanto. — Murmurei
enquanto posicionava os dedos no seu
buraco.
— Oh, Enzo! — Disse ele
descendo o corpo quando empurrei logo
dois dedos no seu canal.
— Quente e apertado, como eu
amo! — Falo sentindo o puxar do meu
próprio pau que estava preso na calça
jeans ainda, doido para se libertar.
Quanto mais explorava seu canal
com os meus dedos, mais necessitado
ficava para tê-lo para mim. E assim
mostrar tanto para mim quanto para ele o
quanto ele é amado e desejado por mim.
O passado não é importante, o nosso
presente é o melhor e o futuro está a
nossa espera e basta aproveitarmos tudo
o que a vida tem a oferecer. Quando vi
que já era o bastante, desci Andrea do
balcão e o fiz ficar de frente para o
balcão. Tirei minha calça e cueca, usei
um pouco mais do azeite no meu pau,
olhei para cima e vi Andrea olhar para
meu pau com ansiedade.
— Olhe para frente, curve seu
corpo gostoso e segure firme, querido.
— Falo a voz rouca de excitação,
ficando satisfeito quando ele fez o que
pedi.
— Por favor! — Pediu Andrea na
posição que falo. Avancei posicionado
meu pau na direção de seu ânus.
— Não precisa implorar por algo
que já é seu. Vou te foder muito bebê,
foder com força. — Beijei atrás de sua
orelha, chupando-a logo em seguida.
Isso foi bastante para Andrea
arquear mais para mim e aproveitei a
deixar e me encaixei por completo no
seu buraco apertado. Dei um primeiro
impulso e soltei um gemido rouco e
feroz. Delícia! Segurei o balcão na
mesma direção que a mão de Andrea e a
cada estocada, me via querendo mais e
mais dele. Isso tudo é tão louco, tão
louco que não me faz querer parar
nunca. Tirei meu pau e o virei para me
encarar, o carreguei no colo enterrando
meu pau logo em seguida, fui em direção
a parede mais próxima e continuei meus
movimentos. Nunca posso obter o
bastante, é incrível como sempre quero
e posso ter mais dele.
— Vou gozar! Tenho certeza de
que vou gozar. — Andrea disse
escondendo seu rosto na curva do meu
pescoço.
— Então goze, bebê! — Falo
puxando seu cabelo para levantar sua
cabeça e beijá-lo como gosto.
Segurando com firmeza nos seus lindos
cabelos.
Mais algumas estocadas e pude
sentir o líquido quente sujando nossas
barrigas. Ao ver meu anjo em seu
orgasmo chamando meu nome, não pude
resistir indo logo em seguida. Ficamos
parados olhando um para o outro,
palavras não eram necessárias, pois nos
seus lindos olhos verdes eu via o quanto
ele me ama e espero que ele esteja
vendo nos meus o quanto o amo na
mesma intensidade. Com meu anjo no
colo, subir para o quarto na intenção de
ir direto para o banheiro. Tomamos
banho juntos e lá sem falar nada
exploramos o corpo um do outro.
Terminamos o banho, colocamos nossas
cuecas e levei Andrea para o quarto.
— Onde você pensa que vai? Eu
preciso fazer algo para você comer. —
Disse ele e eu o coloquei na cama lhe
dando um beijo na testa.
— Fique aqui amor, vou pegar
algo para comermos e volto. — Falo e
ele me olhou um tempo antes de
suspirar.
— Eu sinto muito por não ter
lembrado desse fato horrível de minha
vida. Se você quiser posso ir embora e
não vou te dar trabalho com relação a
isso. — Disse ele e isso me fez rir.
— Não importa, amor. Já disse
que isso não é relevante para mim,
principalmente que tenho certeza em te
fazer ficar viúvo. — Falo passando a
mão no seu rosto lindo. — E nem pense
em sair daqui — acrescento. — Se fizer
isso, eu vou atrás de você.
— Eu te amo! — Fala deixando
meu coração aquecido.
— Eu também te amo, anjo. —
Falo beijando seus lábios. — Fica aqui
que já volto. Procura algo bom para
assistirmos.
Falo e sair do quarto logo em
seguida, fui até a sala resgatar meu
celular que havia deixado lá. Peguei
meu celular e fui até a cozinha pegar
algo para mim e meu anjo comer, mas
antes resolvi ligar para a pessoa que
pode me dar informações sobre Maxim
Konstantinov. Abri a geladeira, tirei as
coisas para falar fazer uns sanduíches.
— Por que está me ligando uma
hora dessas? — Pergunta Nardelli com
uma voz sonolenta.
— Preciso e pedir um favor. —
Falo direto e Nardelli soltou um
resmungo.
— E isso não poderia ser feito
pela manhã? — Pergunta Nardelli
grosseiramente.
— Não, porque é algo do seu
interesse também. — Falo em um tom
sério e comecei a montar os sanduíches.
— Isso agora me interessou, por
tanto fale logo — ordena ele e eu revirei
os olhos.
— Todo mundo sabe que você não
faz nada que não seja do seu interesse,
velho. — Falo e ele soltou uma risada
curta.
— Como se você fosse diferente
seu, babaca. — Nardelli disse e eu nego
com a cabeça.
— Foda-se, Nardelli! — Falo
com desdém.
— Não, obrigado. Você já tem seu
loirinho. — Nardelli disse e o modo que
ele chamou meu anjo me irritou.
— Não o chame assim, para você
é Andrea! — Falo irritado e o idiota riu
mais.
— A possessividade é triste vindo
de você. Mas vamos logo, me diga o que
quer. — Nardelli pediu.
— Maxim Konstantinov, esse
nome é estranho para você? — Pergunto
e Nardelli ficou quieto por um tempo.
— Não acredito que você está se
metendo com ele. Você tem noção quem
ele é? — Pergunta Nardelli e eu soltei
um som de frustração.
— Não, mas acredito que você
vai me dizer. Mande-me um relatório
com as informações. — Do outro lado
da linha pude ouvir o som desgostoso
que Nardelli está fazendo.
— Não sou seu empregado,
Aandreozzi. Nunca se esqueça disso. —
Ele disse eu tive vontade rir de seu tom
irritado.
— Vai fazer isso por mim, velho?
— Pergunto sem paciência.
— Vou, mas você sabe que vou
querer algo em troca. E quero saber
como você começou a se envolver com
Konstantinov. — A voz dele dizia que
não levaria merda de mim.
— Vou pensar, velho. —
Desliguei a ligação logo em seguida.
Preciso me adiantar para poder
alimentar o meu anjo, depois da noite
turbulenta que tivemos. E eu como seu
homem farei de tudo para que ele fique
bem.
Terminei de fazer os sanduíches,
peguei na despensa um saco de batata
chips sabor cebola, que sei que meu
anjo gosta. Quem gosta de uma coisa
dessas? Balançando a cabeça
negativamente coloco tudo em uma
bandeja e subo em direção ao quarto.
Chegando lá dou um sorriso ao ver que
Andrea está assistindo tv com Kay
dormindo no seu colo, assim que ele me
vê dá um sorriso tímido e arregala os
olhos ao ver a bandeja.
— Quem vai comer isso tudo? —
Pergunta e eu olhei para pilha de
sanduíches e latas de refrigerante.
— Nós! Quem mais? — Falo me
aproximando mais.
— Querido, você sabe que não
como tudo isso. — Disse colocando Kay
de lado e dobrando as pernas.
— Não tem problema, eu como
por você. — Falo e ele começou a rir.
— Como se eu já não soubesse
disso. — Disse ainda rindo e eu dei de
ombros.
— Você que come muito pouco e
eu tenho que te socorrer. — Disse em
uma indignação fingida.
— Se você está dizendo, quem
sou eu para dizer o contrário. —
Brincou e eu sorri para ele.
— Vamos comer! — Falo, me
sentando ao seu lado, enquanto a
bandeja estava na nossa frente. — O que
está assistindo?
— Sei lá, uma série nova aí. —
Responde abrindo sua batata chips de
cebola. E eu enruguei o nariz quando o
vi comer.
— O que foi? — Pergunta sem
entender.
— Amor, isso é ruim! — Falo e
ele revirou os olhos.
— Oh, cala a boca! — Disse e
voltou a comer.
— Mesmo você sendo um grosso,
saiba que te adoro. — Resmunguei
comendo meu sanduíche e isso o fez rir.
— Que coisa fofa e sensível! —
Disse se jogando nos meus braços e
beijando minha boca.
— Primeiramente, eu não sou
fofo. Segundamente, sua boca tem gosto
dessa coisa horrível. — Brinquei o
afastando de mim e isso o fez rir demais.
Continuamos a brincar um com o
outro e quando terminamos de comer, fiz
Andrea ir correndo escovar os dentes
enquanto eu levava as coisas para a
cozinha. Voltei correndo fui ao banheiro
também, chegando no quarto Andrea já
estava me esperando com um ar
sonolento. Me deitei ao seu lado o
puxando para junto de mim e isso o fez
relaxar automaticamente nos meus
braços. Fiquei muito puto quando soube
que ele é casado com aquele russo
enviado dos infernos, mas percebi que
isso não é nada comparado a o quanto
sou feliz e posso fazê-lo feliz também.
Cheirei seus cabelos e o abracei mais
forte, para ter a certeza que ele ainda
estar perto de mim.
— Enzo? — Pergunta ele
sonolento.
— O que foi anjo? — Pergunta
com a voz abafada por estar cheirando
seus cabelos.
— Eu não quero mais ter medo!
— Disse ele e isso me fez franzir o
cenho.
— O que quer dizer? — Pergunto
com cautela e percebi que ele estava
mais desperto. Andrea virou de frente
para mim e pude ver a determinação nos
seus olhos.
— Não quero mais me esconder
por medo, não quero que as outras
pessoas possam me controlar pelo
medo. Pelos menos não por minha causa.
— Falou ele e eu assinto com a cabeça.
— Entendo, mas você está falando
isso por causa do russo? — Nega
rapidamente e eu continuei a olhá-lo
com atenção.
— Também, mas não é só isso!
Quero lutar com minhas armas
novamente, mas não na intenção de
servir de boneco para ninguém. Quero
lutar por mim, por nós. — Falou e não
pude deixar o orgulho preencher meu
peito. — Vou começar pelos meus pais!
Sim, quero encontrá-los. — Essa parte
me surpreendeu totalmente
— Você tem certeza de que quer
fazer isso? — Pergunto e ele afirma
rapidamente.
— Sim, tenho certeza! Já está na
hora de ter esse encontro com eles, não
faço ideia como vai ser, mas eu quero
isso. — Falou e eu o puxei em um
abraço apertado, terminei o abraço e o
coloquei deitado no meu peito.
— Eu vou estar com você, não
vou deixá-lo fazer isso sozinho. — Falo
e ele levantou a cabeça me olhando com
surpresa.
— Você vai comigo até
Riomaggiore? — Achei graça pela sua
expressão surpresa.
— Claro que sim, não deixaria
você sozinho nisso. Fora que gosto de
pilotar de vez em quando. — Falo e ele
arregalou os olhos.
— Você vai pilotar? — Pergunta e
eu assinto.
— Meu helicóptero está
precisando de um uso, estou o deixando
meio que abandonado. — Brinquei e
Andrea assente ainda sem acreditar.
— Tudo bem então, só por você
estar ao meu lado eu já me sinto melhor.
— Afirma ele e eu beijei seus lábios.
— E com relação a seu
treinamento, vamos começar amanhã.
Então sugiro que você durma um pouco,
pois vou dizer a Cyro para não pegar
leve com você — falo, fazendo com que
ele se sente na cama rapidamente.
— Cyro? Eu vou treinar com
Cyro? Você sabe muito bem que meu
treinamento é com facas? — Pergunta
sem entender.
— Claro que sei, bebê. Mas pode
ficar tranquilo, porque todos os meus
homens sabem lidar com diversos
treinamentos. — Respondo e ele me
olhou como se estivesse com vergonha
de perguntar algo. — Pode perguntar o
que quiser, não fique sem jeito.
— É que bem... É que achei que
seria você que iria estar comigo. —
Andrea disse mordendo o lábio inferior.
— Sim eu poderia, mas armas
brancas não é minha especialidade. E
fora que a dois fatores principais para
não ser eu. — Falo e ele me olhou com
atenção.
— Quais são? — Pergunta
rapidamente.
— Primeiro de tudo, ver você
suado e usando suas armas vai me
deixar com muito tesão. — Falo e ele
revirou os olhos me dando uma tapa no
peito. — E segundo, que é nosso
costume treinar com os guarda costas,
assim o laço de confiança fica mais forte
e ele vai saber como te proteger melhor.
— Falo com uma expressão séria para
que não houvesse dúvidas.
— Entendo e isso me parece bom.
— Disse e eu o puxei para se deitar
novamente.
— Então vamos dormir, temos
muito o que fazer amanhã. — Falo e ele
assente. Estamos tão cansados que
caímos no sono logo em seguida.
O dia seguinte começou como eu
estava planejando, assim que acordamos
colocamos nossas roupas para treinar e
descemos para a academia. Andrea
estava levando uma sacola preta nos
ombros, onde ele me falou que estavam
todas as suas armas dadas pelo seu
mestre. Mestre esse que pelo modo de
falar deu para ver que é uma pessoa
muito querida, e quando perguntei por
onde andava esse homem vi a uma
expressão triste tomar conta do seu
rosto. Não precisou me dizer muito para
eu saber que seu mestre não estava mais
entre nós. Para ver um pouco do brilho
nos seus olhos voltar, peço a ele que
mais tarde pudesse me contar um pouco
mais sobre seu mestre. E isso foi o
bastante para vê-lo sorri.
Chegamos à academia e a
primeira coisa que fiz foi conversar com
Cyro, enquanto Andrea estava um pouco
distante conversando com Timóteo e se
alongando. Falo com Cyro qual era o
objetivo de todo o treinamento, pois não
quero que reste dúvida do quanto tenho
certeza de que Andrea precisa disso.
Mas isso não quer dizer que mesmo
pedindo a Cyro para não pegar leve com
meu anjo eu permita que o machuque
muito, além do que o treinamento exige.
Por isso ameacei o matar muito
lentamente, caso ele faça algo muito
grave com meu anjo. Cyro é um homem
muito bem treinado e competente, então
eu sei que vai fazer um bom trabalho.
Após minha conversa com o
segurança de Andrea, fomos correr um
pouco na esteira para dar uma aquecida
no corpo. Terminado a aquecimento fui
com Timóteo para uma extremidade da
academia para darmos uma treinada em
confronto direto, dois que é a
especialidade de Filippo e vê-lo lutar é
como observar um confronto brutal de
socos e chutes. Estava treinando na
intenção de me desligar de Cyro e
Andreas, mas minha curiosidade venceu
e dei uma pausa com Timóteo para
observar o meu anjo. Só que eu não
estava preparado para a visão que
estava diante dos meus olhos, me vi
estupidamente boquiaberto nesse
momento.
Andrea, meu pequeno anjo, está
sem camisa, com seu cabelo longo preso
puxado em um coque para cima muito
bem amarrado. Em suas mãos estão duas
facas Filipinas, que também são
chamadas de karambit. Seus movimentos
são rápidos, precisos e muito letais,
letais de um jeito que se ele estivesse
em uma luta real o seu adversário
estaria no chão morto em pouco minutos.
Ele rodopiava as facas nas mãos com
uma precisão impressionante.
Durante o pouco tempo que os
observo, Cyro já foi desarmado e
jogado no chão com uma entrada de
golpes finais perfeitos várias vezes.
Daqui dá para ver como Cyro está
frustrado por ser derrotado, mesmo
assim vejo a admiração que está
sentindo por Andrea ser ágil do jeito
que é. Não é para menos, pois eu me
encontro do mesmo jeito. O que muda é
que meu pau está duro, ao ver os
movimentos sexy e mortais de meu anjo.
— Vamos lá Cyro! Se eu quisesse
estaria cortando sua carótida. —
Brincou Andrea e Cyro soltou um bufo.
— Não se ache muito, senhor. —
Disse Cyro enxugando o suor.
— Com todo o respeito senhor
Aandreozzi, mas ele é muito bom. —
Timóteo disse fazendo com que eu me
sentisse mais orgulhoso no momento.
— Eu sei... — Respondo
distraidamente.
— Pode vir Cyro! — Andrea
chamou e daqui pude ver o brilho dos
seus olhos e o vermelho ostentando sua
bochecha.
— Você está muito contente pelo
que posso ver. — Cyro disse referindo
um golpe certeiro em Andrea que
sacudiu a cabeça e sorriu novamente.
— Acho que sim! — Disse com
desdém e como um passo de mágica,
estava com a faca na orelha de Cyro.
Sexy pra caralho!
— Os treinos acabaram por hoje!
— Falo em um tom sério e preciso.
— Mas o quê? — Disse Andrea
olhando na minha direção sem entender.
Não falo nada e caminhei até ele
determinado e o carreguei no colo.
— Não... Enzo! — Grita ele, mas
eu já estava andando para fora da
academia.
Fui com Andrea no meu ombro,
passei pela sala com meu namorado
escandaloso me ameaçando o tempo
todo. Uma figura enxugando a mão em
uma toalha de prato na porta da cozinha
chamou minha atenção. Mamma assim
que nos viu começou a rir, mas não fez
nada para parar minha caminhada e isso
me deixou feliz, soltei um beijo para ela
e subi as escadas. Andrea avistou a
senhora Arianna e começou a gritar para
ela que o socorrer, mas como uma boa
mãe que é não se envolveu. Mamma é a
melhor, porra! Chegando no quarto o
levei direto para o banheiro.
— Você não sabe o quão sexy
estava, todo suado, sem camisa, usando
aquelas malditas facas. — Falo o
colocando no chão, passei minha mão no
seu rosto corado.
— Não sei, será que você vai me
mostrar? — Pergunta ele mordendo os
lábios e isso fez meu pau saltar dentro
do short.
— Tenha a fodida certeza de que
vou sim! — Falo o puxando para um
beijo devastador.
Terminamos o banho após um
sexo duro e relaxante. Coloquei um
terno preto da Gucci, já que logo após o
café da manhã vou para o escritório.
Achei engraçado ao ver Andrea
levantando os pés para poder me ajudar
com a gravata e assim que finalizou seu
trabalho lhe dei um beijo no nariz. Lá na
cozinha abracei minha linda mamma e a
enchi de beijos por ser essa mãe foda,
que prepara o café para seu filho e
genro.
— Buon giorno, la mamma più
bella del mondo. (Bom dia, mamãe mais
linda do mundo.) — Falo e ela sorriu
com carinho.
— Buon giorno, figli miei. (Bom
dia meus filhos.) — Disse nos
abraçando. — Vi que estavam se
divertindo muito essa manhã. — Piscou
um olho para Andrea que ficou sem
graça.
— Seu filho que não tem jeito. —
Andrea disse fazendo mamma rir.
— Meus filhos com certeza
puxaram muita coisa do seu pai. —
Mamma disse e eu não contive a franzir
de cenho, pois sei bem o que ela quer
dizer.
— Por favor, não mamma, ainda
nem tomei meu café da manhã. — Falo e
ela riu com alegria.
— Não seja por isso, o café já
está na mesa. — Disse ela apontando
para a mesa.
— Não precisava se dar o
trabalho Arianna. — Andrea disse e eu
o deixei falando com mamma e fui
sentar-me à mesa para começar a comer.
— Nenhum trabalho, gosto de
cuidar de vocês. — Eles se
aproximaram e se sentaram também. —
Eu vim aqui para falar com vocês, que
eu consegui uma pessoa para cuidar da
casa.
— Não gosto de pessoas
desconhecidas na minha casa, mamma.
— Resmunguei e mamma soltou um som
frustrado.
— Eu posso continuar cuidando
da casa, se assim for melhor. — Andrea
disse e mamma nega rapidamente.
— Enzo, deixe de ser um tolo
antissocial. — Ela disse com uma
expressão séria olhando para mim. Mas
logo voltou seu olhar para meu anjo. —
Dea, você trabalha a noite e eu sei como
esse lugar é grande. Acho que você pode
ter alguém aqui para te auxiliar. —
Pensando por esse lado mamma está
certa.
— Se for para dar menos trabalho
ao meu anjo, então para mim é válido.
— Falo mordendo um pedaço do rolinho
de canela. — Não quero me envolver
nessas coisas de contratação, isso é
muito chato.
— Não fale de boca cheia! —
Ralhou mamma e eu assinto engolindo
minha comida. — Se é assim acho que
eu a Andrea podemos conversar sobre
isso.
— Por mim tudo bem. — Andrea
disse bebendo um pouco do suco.
Terminei meu café da manhã, fui
ao quarto terminar de me ajeitar e pegar
minha pasta, antes de sair me despedir
de meus dois amores e sai. Chegando na
empresa já fui recepcionado com o
lembrete da reunião com Eros,
aproveitei para falar com senhorita
Roccato a vinda de Nardelli.
A reunião passou rapidamente,
apesar das brigas de Vinicius e Betina.
Depois que ameacei pôr os dois para
fora da empresa com um belo chute na
bunda, eles pararam e focaram somente
na reunião com Eros, que riu das brigas
dos dois. Percebi que Eros e Fabrizio
estavam se dando muito bem, posso até
não ser próximo a Fabrizio, mas sei que
ele é um cara fácil de falar. Tenho quase
certeza de que eles podem ser amigos
mais para o futuro, ou o que quer que
seja. Não me importo com isso!
— Estou viajando hoje à noite, foi
bom vir aqui, mas tenho que ir à
empresa. Problemas de última hora. —
Eros disse quando estávamos saindo da
sala de reuniões.
— Faça uma boa viagem! —
desejo por educação.
— Seu namorado havia me
convidado para jantar, mas infelizmente
não vou poder ir. — Eros diz e estreito
os olhos na sua direção.
— Não gostei dessa intimidade
não. — Falo irritado e isso fez com que
o bastardo risse.
— Você é muito ciumento Enzo.
— Brincou ele e eu continuei a encará-
lo de cara fechada.
— Que seja, tenho coisas para
fazer. — Falo já virando para sair.
Deixando Eros para trás segui
meu caminho até minha sala. Enquanto
esperava Nardelli aparecer com as
informações que eu havia pedido
resolve ligar para Filippo e contar o que
estava acontecendo. Mesmo não
demonstrando surpresa pelo tal
casamento de Andrea com aquele
psicótico russo, Filippo somente me
pergunta se eu pretendia deixar Andrea.
Fiquei com raiva por ele me fazer esse
tipo de pergunta e rebate questionando
que se fosse Luti no lugar de meu anjo.
O que ele faria? E a sua resposta foi
direta sem nem ao menos pensar: "Eu o
deixaria viúvo." Foi impossível não
imaginar a cara que meu irmão mais
velho estaria fazendo ao falar, e isso me
fez rir. Minha conversa foi interrompida
com a batida na porta e logo em seguia
minha secretária entrou.
— O senhor Nardelli está aqui
para vê-lo. — Senhorita Roccato disse
com um sorriso largo.
— Pode mandá-lo entrar. —
Respondo voltando minha atenção a
Filippo. E nesse momento Nardelli
entrou usando sua cara amarrada de
sempre.
— O que esse homem vai fazer
aí? — Lippo pergunta e eu revirei os
olhos.
-Vai me ajudar com informações
que preciso. — Disse simplesmente.
— Você sabe que não é preciso
pedir nada a esse Agente de merda. —
Lippo disse e isso me fez rir.
— Isso é ciúmes? — Brinquei e
ouvir um rosnado de meu Irmão. —
Rosnando assim você parece um urso de
verdade.
— Vai se foder, seu bastardo! —
Disse ele entre dentes.
— Também te amo irmão, mas eu
vou ter que ir. — Falo e Filippo suspira
do outro lado da linha.
— Tudo bem, se cuida Enzo e não
confia muito nessas informações. Vou
fazer minhas averiguações daqui. —
Filippo disse e desligou a ligação em
seguida.
— Maledetto! Ele e seu costume
de não se despedir. — Resmunguei
olhando para o celular.
— A mocinha agora vai me dar
atenção? — Nardelli pergunta se
acomodando mais na cadeira a minha
frente.
— O que você tem para mim? —
Pergunto logo, por que não gosto de
perder tempo.
— Vou logo dizer que não estou
gostando disso. Esse russo pertence a
uma das famílias Bratva, que é
considerada uma das mais perigosas. —
Disse Nardelli e eu assinto encostando
minhas costas na minha poltrona.
— Eu não me importo com isso,
ele quer o que meu e eu não vou permitir
que ele atormente o meu anjo. — Falo
de modo frio e isso rendeu um suspiro
de Nardelli que jogou uma pasta na
minha frente.
— Konstantinov chegou à Itália na
noite de ontem, essa é a foto dele com o
seu executor Fyodor. — Rangi os dentes
quando vi um loiro vestido terno e com
algumas tatuagens saindo pela gola da
camisa, ao lado de um careca em uma
conversa séria. O mesmo careca que
estava envolvido no tiroteio em frente à
boate de nonna.
— Filhos da puta! — Disse com
ódio olhando para a imagem na minha
frente. — Então é esse filho da puta que
destruiu a vida de Andrea. — Falo e
Nardelli assente.
— Há rumores que a família
Konstantinov estaria querendo implantar
a venda de suas armas aqui, mas nada
está confirmado. — Nardelli disse, mas
eu não me importo muito com o que ele
queira fazer contando que ele fique
longe do meu anjo.
— Algo mais para acrescentar?
— Pergunto de modo sombrio ainda
olhando para foto.
— Espero que você não queira ir
atrás desse homem. — Nardelli falou e
isso foi o suficiente para eu o levantar a
cabeça na sua direção.
— Se você soubesse onde está o
assassino de sua mulher e filho, duvido
que você não iria atrás dele. — Falo e
isso foi o suficiente para deixar Nardelli
me olhar com ódio.
— Não use isso comigo,
Aandreozzi. — Alertou e se levantou
logo em seguida. — Espero que não faça
nada que possa se arrepender, o meu
favor está feito.
— Obrigado por isso. — Falo e
ele caminhou para a porta, mas quando
estava saindo o chamei o fazendo parar
sem olhar na minha direção.
— Sinto muito. — Isso foi tudo
que falo que o fez suspirar.
— Só... Só não fale mais sobre
isso. — Disse ele engolindo em seco e
por um momento me arrependo de ter
dito o que disse. — Proteja suas costas!
— Sempre, velho! — E com isso
ele saiu da minha sala.
Olhei novamente para imagem do
russo em minhas mãos e fiz uma
promessa silenciosa que iria fazê-lo
pagar pelo o que ele fez com Andrea.
Tudo que peço que ele nunca cai da
loucura de querer passar por cima, pois
ele vai descobrir algo não muito bonito
em mim. Pois eu protejo o que amo e
Andrea eu amo com todo o meu ser.
O medo absurdo que estava
sentindo a poucas noites atrás na boate
ao ouvir a voz de Maxim passou, mas
isso não quer dizer que estou totalmente
indiferente aos perigos que corro por
saber que ele está perto, perto o bastante
para que nossos caminhos se cruzem.
Não, eu não sou louco ao pensar que
estou livre de ser encontrado e forçado a
ter a vida que tinha antes. Mas Enzo, ele
me faz sentir bem e protegido mesmo
que seja quando estou nos seus braços,
sentindo calor do seu corpo. Ele foi
capaz de não me julgar e ficar comigo
mesmo assim, quando contei que
realmente sou casado.
Só de lembrar de como foi esse
casamento me embrulha o estômago.
Maxim estava decidido que precisava se
casar, já que a mãe de Viktor havia
falecido e ele precisava de algum troféu
bonito e submisso em suas mãos
manchadas de sangue. E como eu já era
o seu brinquedo, por que não me tornar
um brinquedo acorrentado com uma
aliança recheada de milhões em
diamantes. Meu Deus, isso é tão doente!
Maxim me tinha como um boneco em
suas mãos e me sinto enojado por ter
aceitado tudo isso, por medo de ser
morto antes de conseguir sair das suas
garras doentias. Me casei com um
verdadeiro monstro, que me estuprava
sempre que estava cheio de tesão ou
vodca, que me emprestava aos seus
inimigos na intenção de que eu os
matasse a sangue frio.
Sim, era isso que eu era. Um
simples boneco controlado e que era
letal com uma faca, mas só para aqueles
que eu era obrigado a matar. Nossa, por
diversas vezes que Konstantinov me
obrigava a dormir com ele, eu me
imaginava cortando sua garganta
lentamente. Enquanto me sujava com seu
sangue morno, me via sorrindo de alívio
por saber que tinha acabado com todo
aquele tormento. Mas nada daqui era
possível quando estava diante dele,
sendo observado por aqueles olhos
azuis mortos e loucos. Maxim
Konstantinov é o pesadelo que sempre
tive incapacidade de lutar contra. Ele
tinha o poder de me destruir, e tudo
através de uma fala ou até mesmo do seu
olhar doentio.
Fico me perguntando como
poderia ter me esquecido desse fato
horrendo da minha vida. Fiquei me
atormentando a toda vez que Enzo não
estava presente, me perguntando como
ele pode me aceitar dessa maneira e me
amar assim mesmo. Mas depois da
conversa esclarecedora que tive com
Arianna e Francesca, Francesca não
Nonna. Sim, ela não me permite chamá-
la de outra maneira. Depois da conversa
me senti um pouco melhor. Elas me
disseram para parar de me atormentar,
pois as coisas que passei nas mãos
daquele lunático fazem com que minha
cabeça queira apagar muitas coisas. E
Arianna confirma a través de lágrimas
que ela pagou muita coisa que Paolo, o
falecido irmão de Donatello, fez com ela
quando se viu em suas mãos.
— Você está muito distraído hoje.
— Disse Cyro me tirando dia
pensamentos conflituosos. Estamos
treinando sozinhos essa manhã, Enzo
teve que sair cedo para resolver algo,
pois vamos viajar hoje.
— Não se ache muito só porque
conseguiu me jogar no chão. — Falo
enquanto me levantava do chão.
— Está pensando na viagem? —
Pergunta Cyro e eu nego.
— Na verdade estou pensando em
muitas coisas, mas não nessa viajem. —
Confessei estremecendo logo em
seguida.
Após começar esse treinamento
com Cyro todas as manhãs, nosso
relacionamento meio que mudou um
pouco. Estamos mais livres para
conversar um com o outro, penso que
isso deve ser uma parte da confiança
que o treinamento ajuda a estabelecer,
que Enzo me falou anteriormente. Seja o
que for isso é muito bom, porque Cyro é
um cara legal e fácil de conversar. Tão
fácil que muitas das vezes me via
falando com ele sem pensar e tenho
certeza de que isso o fez querer
conversar de volta.
— Seja o que for me deu abertura
para chutar seu traseiro. — Disse ele
pulando enquanto mexia o pescoço.
— Não se acostume muito, você
sabe que não é sempre que isso
acontece. — Falo tranquilo e isso o fez
dar um pequeno sorriso.
— Acho que estou sendo muito
mole com você. — Disse em um tom de
falsa zanga. — Não esqueça que quando
estiver em frente ao seu adversário, não
se deixe ficar distraído.
— Sim, eu sei e isso não vai
acontecer. — Respondo e ele assente
seriamente.
— Por hoje está bom, quando o
senhor voltar de viagem vamos pegar
mais pesado. — Cyro lembrou e eu
assinto.
— Você e Timóteo vão voar com
a gente? — Pergunto e Cyro me encarou
negando com a cabeça.
— Não, nós vamos na frente para
ajeitar a segurança do lugar onde vão
ficar. — Responde ele me deixando
surpreso.
-Então nos encontramos lá. —
Falo me despedindo do meu segurança
que assente logo em seguida.
Sair da academia e passei pela
sala onde Kay estava deitado
tranquilamente como se o mundo a
melhor coisa do mundo. Fiquei tentado a
pegá-lo e abraçá-lo forte, mas eu não
posso fazer isso molhado de suor. Enzo
me mataria, já que Kay foi ontem para o
pet shop tomar banho para ir conosco.
Mesmo acostumado com o amor que
Enzo tem com Kay, ainda me pego rindo
das maluquices dele ao ameaçar o pobre
recepcionista do pet shop com fortes
recomendações para não pôr laços em
seu "cachorro de macho", ainda tenho
pena do pobre rapaz. Balanço a cabeça
rindo e faço um carinho em Kay.
— O senhor vai querer que seu
café seja servido agora? — Ouvi
Cecília falar e dei um pulo de susto.
— Santo Deus! — Falo com a
mão no coração.
— Sinto muito senhor, não foi
minha intenção. — Disse Cecília
nitidamente envergonhada.
— Não foi nada, acho que ainda
estou me acostumando a ter uma voz
feminina presente na casa. — Falo a
tranquilizando e ela confirma sem falar
nada.
Cecília é uma mulher com
quarenta anos que Arianna veio trazer
para que trabalhasse aqui. Ela é uma
mulher de boa aparência, mas que anda
sempre muito simples até no modo de
falar. Arianna disse que ela apareceu no
seu trabalho perguntando se precisava
de alguém para fazer a limpeza do lugar,
mas como o seu quadro de funcionários
já é bem extenso ela lembrou que aqui
precisava de alguém e resolveu ajudar a
mulher a arrumar um emprego. Após
conversar com ela soube do seu
desespero, por ter dois filhos e um
marido desempregado para manter, sem
nem pensar lhe dei o emprego. Já que
Enzo não quer se envolver nessas
coisas, e tenho certeza de que ele
assustaria a pobre mulher na entrevista
mais do que já faz nesses poucos dias
que ela começou o trabalho aqui.
— Vou tomar um banho e logo
estou de volta. — Falo e ela trocou os
pés como se quisesse perguntar algo.
— Pode perguntar, Cecília. — A
encorajei para que fale o que quer que
seja.
— O senhor Aandreozzi vai tomar
café também? — Pergunta com receio.
— Não, será só eu. Não precisa
pôr a mesa, vou comer na cozinha
mesmo. — Disse e ela franziu o cenho,
mas não falou nada.
Subi para o quarto e olhei minha
mala e a de Enzo pronta para viagem.
Soltei a respiração ao imaginar como
será que está minha cidadezinha que
tanto amei. E principalmente como vai
ser ver meus pais depois de tanto tempo.
Tento de todas as formas não pensar
muito sobre isso, mas tem momentos que
me vejo indo bem longe e formando
cenas na minha cabeça e muitas dessas
cenas são com meus pais me olhando
enojados. Às vezes penso em desistir de
tudo isso e continuar com minha vida,
mas eu preciso fazer isso por mim. Não
dá mais para viver assim, preciso ver
como eles estão e conscientemente matar
a saudade que escondo no fundo do meu
peito.
Deixando minhas malas de lado,
tiro minha roupa e vou direto para o
banho. Lavo meus cabelos com calma e
durante o banho vou fazendo uma nota
mental de agradecer a Enzo por ter
colocado minhas armas em um lindo
suporte lá na academia. Quando cheguei
hoje pela manhã vi que minhas facas
velhas e novas estavam prontamente
arrumadas para meu bel prazer e Cyro
disse que Enzo que mandou fazer aquilo.
Enzo às vezes consegue me surpreender
e muito. Saio do banho e vou com uma
toalha amarrada na cintura e no cabelo
pegar uma roupa simples para usar.
Sinto meu celular tocar e meu
corpo fica rígido por um momento.
Fecho os olhos e respiro fundo, vou até
o aparelho e olho a tela meio receoso,
mas me tranquilizo ao ver o número de
Fanny piscar na tela. Sem perder tempo
com tolices, atendo a ligação
rapidamente.
— Dea, estava fazendo o quê que
não atendeu logo? — Fanny pergunta e
eu revirei os olhos.
— Não sou obrigado a te falar
isso. — Disse e ouvi o riso de Nero do
outro lado.
— Está rindo de que, seu
selvagem? — Fanny pergunta e isso me
fez rir.
— Sinto muito meu docinho. —
Nero disse em um tom doce e risonho.
— Não precisa ficar me
agarrando, Nero! Homem mais meloso
esse, viu. — Resmungou Fanny de um
jeito que estava gostando da atenção de
Nero.
— Você gosta disso que eu sei,
então pare de reclamar. — Mandei e ela
soltou um bufo indignado.
— Sabe, você deveria ser meu
amigo. Esse foi o acerto. — Disse ela
me fazendo rir.
— Não seja tão durona o tempo
todo Fanny, eu sou seu amigo. —
Brinquei e isso a fez rir. — Qual o
motivo da ligação? Aconteceu algo?
— Não, não aconteceu nada. Só
queria saber como você está antes da
viagem. — Fanny disse num tom leve.
— Eu estou bem, vai ser difícil
encontrar com os meus pais depois de
todo esse tempo, mas eu vou ter Enzo
comigo. — A lembrei e ela confirma.
— Isso eu sei, mesmo assim é
complicado. — Olhei para minha mala
novamente e assinto.
— Sim, muito complicado. Mas
eu tenho que fazer isso. — Disse com
determinação.
— Tenho certeza de que seja o
que for que aconteça, você vai ser forte
e superar. — Fanny disse me deixando
contente.
— Sim, eu vou. Obrigado pela
preocupação. — Agradeço e Fanny
soltou um som de desdém.
— É isso que os amigos fazem,
ficam preocupados com as loucuras que
seus amigos fazem. — Disse ela e eu
franzir o cenho.
— Você acha que é loucura eu
querer me encontrar com meus pais? —
Pergunto com certo receio.
— Não estou falando nesse
sentido, era somente modo de dizer. —
Fanny disse com firmeza. — Tenho
certeza de que você não faria isso se
realmente não estivesse pronto.
— Não tenho tanta certeza de que
estou tão preparado, mas vou mesmo
assim. — Falo com um tom forte e isso
rendeu um riso de Fanny.
— É assim que se fala! E não
fique preocupado com a boate eu vou
dar conta para você. — Disse ela e eu
não pude deixar de ficar agradecido.
— Você é ótima! — Soltei e isso
rendeu um riso fácil.
— Sei disso, quando você chegar
vamos ver um aumento de salário para
mim. — Fanny disse e eu revirei os
olhos.
— Não seja tão convencida! —
Meu celular deu sinal que tinha outra
chamada só que de vídeo. — Fanny vou
ter que desligar, tenho outra chamada
aqui.
— Tudo bem, Dea. Faça uma boa
viagem, com seu namorado gostosão. —
Do outro lado da linha pude ouvir que
Nero não gostou nem um pouco do que
ela falou.
Desliguei a ligação de Fanny e
atendi a chamada de vídeo logo em
seguida. Assim que a imagem na tela
abriu pude ver que era uma conferência,
onde estava Lucca, Luti, Luna e
Giovanna. Senti-me feliz por poder vê-
los, mesmo com pouco tempo de
convivência essas pessoas se tornaram
mais que especial para mim. Luti estava
sem camisa e com Pietro no colo que
estava dando tchau para mim e eu
retribui sorrindo para o pequeno. Lucca
estava de terno, obviamente ainda
trabalhando na empresa. Luna está com a
maior cara de sono e pelo que vejo ela
ainda está na cama. Giovanna está
sentada do lado de fora da casa com
Isabel dormindo no colo.
— Você fica tão doméstico com
essa toalha na cabeça. — Lucca disse
chamando minha atenção.
— Sei que você não queria usar
essa palavra doméstico. — Brinquei
conhecendo o jeito de Lucca.
— Ele está com medo de Zuco,
que ameaçou cortar suas bolas se ele
ficasse de graça para o seu lado. —
Luna disse bocejando logo em seguida.
— Não se pode ameaçar as joias
da família, com o que Luigi iria brincar?
— Disse ele maliciosamente.
— Não seja um pervertido! —
Reclamou Gio.
— Olha papai, tio Lui blinca de
bola com tio Luc. Você e Babo não
blincam de bola, pelo menos eu nunca
vi. — Pietro disse virando a cabeça
para encarar Luti que estava muito
vermelho. Isso rendeu umas boas
gargalhadas de todos.
— Sempre soube que Ursão não
era bom de bola. — Brincou Lucca
ainda rindo e Luti olhou para tela de
cara feia.
— Não me faça responder essa
pergunta a você, Lucca. — Avisou Luti e
isso me fez rir.
— Não caia nas suas provocações
Luti. — Falo e Luti revirou os olhos.
— Fácil para você falar Dea, já
que é o mais tranquilo de nós. —
Resmungou Luna e os outros assentem.
— Eu sofro com esse sujeito em
casa, vou me mudar para casa dos seus
pais. — Gio brincou e Lucca fez um
bico bobo.
— Você não faria isso, você não
nos abandonaria. — Lucca disse e Gio
respirou fundo.
— Não porque tenho duas filhas
com você e ainda preciso que perca
algumas noites comigo. Luigi também é
de grande serventia. — Giovanna disse
e Lucca franziu o cenho.
— Fora as brincadeiras.
Resolvemos ligar para você para te
desejar sorte nessa sua viagem. — Luti
disse e meu coração se aqueceu.
— Sabemos que não vai ser fácil
para você, depois de tudo que passou.
— Luna disse e Gio confirma.
— Mas quero que saiba que
independente de qualquer coisa, digo
qualquer coisa, você sabe que somos
sua família. — Lucca disse e eu respirei
fundo.
— Não se esqueça disso, porque
essa família sabe como acolher e eu sou
a prova disso. — Gio piscou sorrindo e
eu assinto olhando para a tela com
carinho.
— Eu não sei o que dizer, tenho
certeza que dizer obrigado não é o
suficiente. Mesmo assim obrigado. —
Falo me sentindo bem por tê-los na vida.
— Nada de agradecimentos,
família é para essas coisas. — Luna
disse carinhosamente.
Continuei a conversar com eles
enquanto descia para comer alguma
coisa. Descobri que Sam e Duda
estavam na escola e que Pietro ficou em
casa porque estava meio febril. Isso foi
o bastante para que todos ficassem
preocupados, mas Luti garantiu que não
era nada demais e que já tinha levado o
ursinho ao médico. Luna está
reclamando dos trabalhos finais da
faculdade e Gio estava esperando Bel
ficar um pouco maior para poder
arrumar um trabalho. Encerramos a
ligação quando cada um tinha que
resolver as suas coisas e não pude
deixar de ficar feliz por eles me
considerarem parte da família. Nunca
imaginaria que um dia iria ter isso na
vida.
Um pouco mais tarde Enzo chegou
em casa sendo acompanhado por Nonna.
Ele disse que estava tudo pronto para a
nossa ida, que logo estávamos saindo de
casa. Comecei a ficar nervoso, mas
Nonna começou a puxar assunto tentando
me distrair e isso funcionou. Nonna
estava revoltada porque queriam
colocar ela na fila preferencial de algum
estabelecimento comercial e ela não
gostou nem um pouco.
— Agora veja só! Eu estava
tranquilamente na minha fila e a moça
chega toda sorridente dizendo que eu
poderia ir para a fila preferencial. —
Disse ela e Enzo começou a rir.
— A senhora fez o quê? —
Pergunta ele e eu me vi ficar
interessado.
— Disse a ela que não precisava
disso. Mas ela não me ouviu, porque
continuou a insistir. — Nonna
resmungou descontente.
— Você não fez nada com a pobre
mulher, fez? — Pergunto e ela me olhou
com deboche. — Sim, você fez!
— A mandei ir se foder! E ainda
afirmo que mesmo tento minha idade
estava muito mais firme que ela e ainda
tinha certeza de que transava mais que
ela. — Enzo se engasgou com a água que
estava bebendo e fez cara feia.
— Informações demais Vovó! —
Disse ele sob a respiração.
— Eu nem me surpreendo mais
contigo. — Falo balançando a cabeça.
— Se a pessoas não está querendo
ir para fila preferencial tolerar os
resmungos de velhos chatos, ela não
tinha nada que se meter. — Nonna falou
como se não fosse nada.
— Mais você não é uma velha?
— Enzo pergunta o que rendeu uma bela
tapa.
— Eu sou uma senhora gostosa de
idade avançada. Existe certa diferença
nisso aí. — Responde ela com
superioridade e voltou sua atenção para
mim, mudando sua expressão para
determinada. — Olha, sei que está
viajando daqui a pouco. Então quero que
saiba que você me ligue caso os seus
pais sejam uns paus. Eu vou lá por um
pouco de juízo neles, nem que seja na
pancada.
— Tão doce essa mulher! —
Levantei e lhe dei um abraço. —
Obrigado por isso, mas eu sei que
sempre tenho um lugar para voltar. —
Sussurrei no seu ouvido e ela me
abraçou mais forte.
— Cuide do meu menino, Enzo!
— Disse se afastando para pegar a
bolsa.
— Claro Nonna, ele é meu! —
Disse Enzo com determinação.
— É assim que gosto. Estou
saindo agora. — Disse e foi embora
logo em seguida, sendo levada por
Sergei.
-Eu a amo, mas ela me dar muito
trabalho às vezes. — Enzo disse me
puxando para o seu colo, deixando um
beijo na minha cabeça. — Está pronto
para isso? — Pergunta e eu nego.
— Não, mas vamos fazer isso. —
Falo e ele assente.
A viagem de helicóptero foi muito
perfeita, vim todo o caminho
observando a paisagem perfeita que a
Itália tem a oferecer. E olhar para Enzo
pilotando é uma das coisas mais
perfeitas de se observar. Ele é muito
eficiente, e sério quando está pilotando.
Não me contive e fiquei boa parte da
viagem o admirando como um belo
perseguidor, esquecendo totalmente da
paisagem. Chegamos em Riomaggiore e
eu pude sentir um peso no meu coração,
ao ver como isso aqui não mudou em
muita coisa e que eu realmente sentia
falta dessa cidade. Saímos do
helicóptero e lá já estavam Cyro e
Timóteo nos esperando desembarcar.
— Fez uma boa viagem senhor?
— Timóteo pergunta e Enzo afirma.
— Foram tudo como os
conformes. — Enzo responde e eu
cumprimentei os dois.
— Vamos fazer o que agora? —
Pergunto nervoso e Enzo olhou para mim
com doçura.
— O que você quer fazer agora,
anjo? Ainda temos dois dias aqui, por
tanto não se apresse. — Disse ele e eu
puxei a respiração sentindo o aroma de
meu antigo lar.
— Eu quero ver o mar. — Falo
finalmente e Enzo assente.
— Então vamos até o mar. —
Disse e mandou os nossos seguranças
levarem nossas coisas para o hotel que
vamos ficar e deixar um carro para
usarmos, mas eu disse que não precisava
de carro, pois poderíamos ir andando.
Enzo assente e se deixou ser guiado por
mim.
Andei pelas suas de minha antiga
cidade e foi impossível não lembrar do
Andrea mais jovem e inocente correndo
por todo o lugar. Indo atrás de seu pai
nas pescas e ajudando sua mãe com o
peso das compras que ela fazia no
mercado. Passei por algumas pessoas
conhecidas, mas preferir não falar com
ninguém. Porque como a cidade é
pequena tenho certeza de que a minha
vinda poderia chegar aos ouvidos de
meus pais antes que eu fosse até eles. A
todo o momento da caminhada, percebi
que Enzo olhava tudo com muita
atenção.
— Esse lugar é realmente
pitoresco e muito bonito. — Disse ele e
eu dei um sorriso de lado.
— Não acredito que nunca veio
aqui. — Falo e ele afirma.
— Eu também não, já ouvir falar,
mas nunca tive a curiosidade de
conhecer. — Falou ele olhando na minha
direção.
— Obrigado por estar aqui
comigo. — Agradeço e ele sorriu.
— Eu não estaria em outro lugar,
amor. Eu vou aonde você for. — Falou e
me puxou pelo ombro.
Continuamos a andar até que vejo
do outro da rua o mesmo mercadinho
que minha mãe mandava eu vim comprar
as coisas, para ela preparar o almoço ou
a janta. Peguei-me sorrindo ao perceber
que esse lugar não mudou em nada e que
tudo permanece do mesmo jeito que
sempre foi e é por causa de sua
identidade que Riomaggiore é um lugar
bastante procurado por turistas de todo o
mundo. Algo muito familiar chama
minha atenção, me fazendo parar de
andar. Enzo fala comigo, mas eu não
consigo respondê-lo.
Minha atenção está na mulher
loira saindo do mercadinho com uma
grande sacola de comprar em mãos, ela
olhar para trás e fala algo, sorrindo logo
em seguida. Um sorriso tão familiar e
tão terrivelmente doloroso de se
lembrar, ela sente que está sendo
observada e olha na minha direção. Ela
aperta os olhos como se quisesse ver
direto e depois os arregala quando o
reconhecimento cai sobre ela. Sua
sacola escapa de suas mãos, caindo no
chão espalhando todas as suas compras
na calçada. Ela dar um passo para frente
com uma mão levantada e outra na boca
tentando conter seu susto. Meu peito dói
e faço de tudo para impedir meus pés de
avançar, mas não consigo ser tão forte,
não consigo conter a saudade que sinto e
vou olhá-la um pouco mais de perto.
— Andrea, é você? — Pergunta
com a voz tremula. — Meu filho, é
você?
— Sim mamma, sou eu! — Falo
engolindo em seco, tentando não
fraquejar. Mas eu não estava preparado
para o que minha mãe fez a seguir. Ela
se jogou nos meus braços soltando um
choro forte e sofrido, me abraçando com
toda a força com seus braços magros.
— Sinto muito meu filho, por
favor, perdoe a mim e ao seu pai. Nós
nunca, nunca deixamos de te amar ou
quer que você voltasse para casa. —
Disse minha mãe com sofrimento e eu
não soube como reagir a isso.
Desviei os meus olhos atordoados
de minha mãe e olhei para Enzo. Ele
sorriu para mim e assente, como se
soubesse de algo que eu não sei. Mas
era nítida a força que ele estava me
dando nesse momento, somente por estar
aqui.
Abraço minha mãe sem saber o
que fazer ou como agir. Estou me
sentindo muito confuso no momento,
porque nunca imaginei que isso poderia
acontecer. Todas as vezes que me
imaginava tendo algum encontro com
meus pais só poderia supor que seria
ignorado e descartado novamente, mas
pelo visto nada disso vai acontecer.
Lembro-me dos olhos chorosos de
minha mãe ao olhar para mim naquela
noite, da voz firme e muito chateada de
meu pai me perguntando se sou gay.
Nossa, isso tudo está tão forte na minha
mente que eu poderia jurar que isso não
aconteceu a dez anos atrás e sim a
poucos dias. Porque a dor nunca foi
embora, ela só me castigou ao longo
desse tempo. Mas agora é hora de
colocar tudo em pratos limpos.
Enterro meu nariz nos cabelos
loiros muito parecidos com os meus,
inalo profundamente e sinto meu coração
bater mais forte no peito. Esse cheiro me
lembra casa, me traz paz e me ajuda a
saber que eu ainda sou eu mesmo e que
nada de ruim que me aconteceu vai
mudar isso. O calor do seu abraço é
reconfortante e é um lugar que nunca
quero deixar. Meu Deus, como senti
falta! Afasto o abraço e olho nos seus
olhos, minha mãe me olha com
expectativa e um pouco de receio e dou
um pequeno sorriso para ela saber que
está tudo bem.
— Eu… Eu não posso acreditar
que é você! — Disse ela nervosa
passando a mão no meu rosto.
— Sim mamma, pode acreditar,
sou eu. — Falo e ela deu um largo
sorriso.
— Seu pai vai ficar tão contente
ao te ver. — Disse ela e eu olhei meio
duvidoso.
— A senhora acha mesmo? —
Pergunto com receio.
— Sim! Tenho muita certeza. Eu
conheço aquele homem ele vai adorar
ter o seu capitano de volta. — Mamma
disse o meu antigo apelido e eu não
pude deixar de sorrir.
— Capitano? — Pergunta Enzo
me olhando com ar de riso e eu estreito
meus olhos em sua direção.
— Esse era o apelido que o pai
dele o chamava a cada vez que ele se
prontificava a ir com ele para o barco.
— Mamma disse distraidamente ainda
passando a mão no meu rosto, mas caiu
em si e virou-se para Enzo. — Quem é
você?
— Desculpe, não fomos
apresentados. Meu nome é Enzo
Aandreozzi. — Disse Enzo estendendo a
mão na direção de minha mãe que a
agarrou rapidamente.
— Enzo é o meu namorado. —
Soltei logo para não restar dúvidas. Ela
me olhou por um breve momento e
voltou seus olhos para Enzo com
atenção.
— Prazer em te conhecer, Enzo.
Eu sou Silvia. — Disse minha mãe com
educação.
— O prazer é todo meu, senhora.
Agora sei onde seu filho puxou tanta
beleza — Enzo disse sério olhando para
minha mãe e isso a deixou
envergonhada.
— Oh, grazie! — Disse sorrindo
sem jeito.
— Tem certeza de que está tudo
bem? — Pergunto me sentindo cauteloso
e minha mãe olhou para mim.
— Tudo bem o quê, filho? —
Pergunta e eu apontei de mim para Enzo.
Sua expressão amoleceu e me olhou com
arrependimento cru no seu rosto.
— Sim, filho! Aprendi muito
nesses anos que você não estava com a
gente. E não importa quem você ame, o
importante é que esteja bem. — Mamma
diz me surpreendendo e isso faz meus
olhos arregalarem.
— Eu não posso acreditar, isso é
muito bom. — Falo distraidamente e
minha mãe me alcançou novamente.
— Você não sabe como foi
doloroso para gente sem sua presença.
Nos arrependemos tanto, Andrea. — Ela
disse e me abraçou.
— Eu também senti saudades mãe,
pode acreditar em mim. — Falo com um
som sufocado.
— Bem, vamos para casa! Seu pai
vai ficar muito feliz em te ver e tenho
uma surpresa para você lá. — Disse ela
sorrindo lindamente.
— Surpresa? — Pergunto com o
cenho franzido e ela assente.
— Algo que você sempre me
pediu, mas infelizmente você não teve a
oportunidade de ter. Pelo menos até
agora. — Disse ela e eu continuei sem
entender.
Mamma me soltou com um pouco
de relutância, como se estivesse com
medo de que eu sumisse bem diante dos
seus olhos. Quando ela foi pegar sua
sacola que havia caído no chão, Enzo já
tinha pegado e disse que iria levar, para
Mamma não precisar carregar peso.
Olhei para ele e quando percebeu que eu
estava encarando, sorriu e voltou sua
atenção para minha mãe novamente. Me
sinto tão feliz por Enzo estar aqui
comigo que eu não consigo descrever
em palavras. O modo cordial que está
lidando com minha mãe, a deixando
encantada me faz revirar os olhos. Até
parece que ele quer conquistá-la,
deixando assim sua pose de homem
sério e intocável.
Caminhamos juntos pelas ruas,
minha mãe não desgruda do meu abraço
e me olha a cada segundo com um olhar
avaliativo, mas não pergunta nada. E
agradeço aos céus por isso, porque
estou organizando as minhas ideias e
ainda tentando me acostumar com a
ideia de que não sou mais odiado por
meus pais. Fico me perguntando como
será rever meu pai, que para mim
sempre foi um homem forte, muito
amoroso e brincalhão com a família.
Tenho medo, medo de sentir a dor que
senti quando fui embora de casa. Estou
tão distraído que não vejo quando
paramos em frente a uma pequena casa,
a mesma casa que vivi os melhores anos
de minha vida. Anos esses em que o
jovem Andrea não sabia o que era dor e
sofrimento de verdade.
— Seu pai não vai acreditar
quando pôr os olhos em você. —
Mamma disse pegando as sacolas de
Enzo e abrindo a porta de casa.
— Você não vem? — Pergunta
minha mãe quando viu que eu não estava
lhe seguindo.
— Nós já vamos, a senhora pode
ir na frente. — Enzo pediu e eu o
agradeci mentalmente.
— Aconteceu algo? — Sim,
muitas coisas! Mas eu não falaria isso
para ela.
— Não, está tudo bem. Vamos
entrar logo em seguida. — Enzo disse
novamente de modo sério e minha mãe
respirou fundo.
— Tudo bem, vou ver por onde
anda Vincenzo. — Minha mãe disse
entrando logo em seguida, me deixando
a sós com Enzo.
Sem falar nada Enzo me leva aos
seus braços, enterrei meu rosto no seu
pescoço, inalando seu cheiro único e
amadeirado. Puxando mais uma
profunda respiração eu pude ir
relaxando os meus músculos rígidos e
controlar as batidas fortes do meu
coração. Estou sentindo um turbilhão de
emoções dentro de mim e só a
aproximação de Enzo é capaz de me
fazer respirar novamente. Nos afastamos
e ele segura meu rosto entre as mãos.
— Se você quiser podemos ir
embora. Basta só você me dizer, anjo.
— Disse ele com firmeza e eu nego.
— Não, eu tenho que enfrentar
isso! — Falo e ele me olhou com
adoração.
— Você é forte meu anjo. Mais
forte que você possa imaginar. — Disse
ele e eu desviei os olhos, mas ele me faz
o encarar novamente.
— Não sou! Eu sei que não sou,
mas eu quero ser. — Falo e ele nega me
abraçando.
— Não diga isso! — Pediu ele
com firmeza.
— Você vai estar lá comigo? —
Pergunto em forma de sussurro.
— Eu vou estar com você,
Andrea. Eu sempre vou estar com você.
Lembre-se que você é meu, assim como
eu sou seu. — Enzo disse olhando nos
meus olhos e só pude ver verdade em
casa palavra.
— Vamos fazer logo isso! — Falo
e pude ver um pequeno sorriso em Enzo.
— É assim que se fala! Qualquer
coisa vamos para o hotel e depois para
casa. Onde é o seu lugar — Enzo afirma
e eu não pude deixar de sorrir. — Não
vou deixar ninguém, nem mesmo seus
pais te machucarem. Nunca esqueça que
você é meu para proteger!
— Eu sei disso e só posso dizer
que te amo. — Falo solenemente e ele
me deu um beijo forte.
Entramos na pequena casa dos
meus pais e assim que passo os olhos no
local, lembranças tomam conta de minha
mente e sinto uma forte dor no peito.
Logo de cara dá para ver a sala de estar,
onde minha pequena família e eu nos
sentamos para assistir algo na televisão
ou simplesmente passar o tempo
conversando. Muitas das vezes mãe
ficava sentada bordando suas toalhas,
coisa que era seu grande passatempo. As
lembranças são tão fortes que sinto uma
forte dor no peito, quero chorar, mas o
choro nunca vem e a dor no peito
permanece. Sinto a mão de Enzo no meu
ombro, olho para cima e posso ver nos
seus olhos a força que ele está querendo
me passar. E eu só posso agradecer, pois
não saberia dizer o que seria de mim se
ele não estivesse aqui.
Ouço vozes no fundo da casa,
tenho uma vontade súbita de sair
correndo. Mas isso não vai acontecer,
pois eu tenho que enfrentar o que quer
que aconteça. Posso ouvir a voz nítida
de meu pai, perguntando a minha mãe
quem estava na casa, mas não consigo
ouvir a sua resposta. Não preciso
esperar muito e meu pai aparece na sala,
ele olha na minha direção com os olhos
arregalados em descrença e
inconscientemente eu dou um passo para
trás procurando conforto em Enzo. Meu
pai não mudou muito, somente ganhou
algumas linhas de expressões devido ao
tempo e o desgaste do sol diário devido
a sua profissão. Ele olha para minha
mãe, que já está chorando de novo, e
assim que ela assente em confirmação
ele dá um passo para frente.
Um passo vira dois e logo estou
sendo puxado em direção aos fortes
braços do homem alto que é meu pai.
Ele me aperta em um forte abraço como
se não acreditasse no que está diante dos
seus olhos. E eu? Bem, no primeiro
momento fiquei paralisado sem saber o
que fazer, mas assim que senti o perfume
tão conhecido para mim, meu corpo
relaxou e se deixou ser abraçado. Deus,
como eu senti falta! Senti muita falta dos
meus pais, meus amados pais.
— Eu não acredito que você está
aqui meu garotinho. — Meu pai disse
com a voz rouca de choro.
— Papa! — Falo de olhos
fechados.
— Andrea, meu capitano! — Ele
fala me apertando mais forte. — Sinto
muito pelo que fiz a você, meu filho. Eu
te procurei tanto, por tanto tempo. Nunca
me cansei de tentar de achar, mas
infelizmente vi que você não estava mais
aqui.
— O… O senhor me procurou? —
Pergunto após me afastar do seu abraço.
— Sim! — Disse ele com firmeza
enxugando os olhos. Olhar para seu
rosto vermelho e choroso me assustou
um pouco. — Assim que você saiu
naquela noite eu vi o erro que cometi e
fui atrás de você.
— Verdade, Dea! Seu pai e eu nos
arrependemos tanto daquilo e eu mais
ainda por não o impedir. — Mamma
disse me fazendo desviar os olhos de
meu pai por um instante.
— Mas Lea disse… — Falo meio
confuso e olhei para Enzo que só de
ouvir o nome de minha irmã fechou sua
expressão.
— Lea? Você viu sua irmã?
Quando? — Minha mãe pergunta
confusa.
— Me encontrei algumas vezes
com Lea em Milão, não foi dos
encontros mais agradáveis. — Falo me
sentindo mais confuso que já estava.
— A filha de vocês nunca deixou
de atacar Andrea e mostrar o desagrado
de vocês com relação a ele. — Enzo
disse com sua voz séria de quem não
aceitaria merda de ninguém.
— Não vemos, falamos ou
ouvimos falar da sua irmã a um tempo.
— Meu pai disse e minha mãe confirma.
— Mas quem é você? — Pergunta
apontando para Enzo.
— Enzo Aandreozzi, namorado de
seu filho. — Enzo disse fazendo meu pai
me encarar por um tempo e eu confirmo
me aproximando mais de Enzo.
— Espero que você esteja
tratando meu filho bem, senhor
Aandreozzi. — Papa disse apontando
para Enzo e isso me deixou assustado.
— Não me olhe assim, Andrea.
Minha falta de entendimento ao saber
que não escolhemos quem amamos me
fez ter você longe de nós, mas hoje em
dia eu sei e não cometerei esse erro
novamente. — Meu pai disse me
deixando muito confuso e feliz.
— Eu não sei o que dizer, eu não
esperava. — Falo sentindo Enzo me
abraçar pela cintura.
— Nós sabemos disso e estamos
muito felizes por você estar aqui para
que possamos fazer diferente agora. —
Minha mãe falou indo de encontro ao
meu pai.
Ainda não consigo acreditar que
isso é verdade, que as duas pessoas que
me colocaram para fora a dez anos atrás,
são as mesmas pessoas que estão na
minha frente. É impossível dizer o que
estou sentindo nesse momento, depois de
tantos anos, de tantos sofrimentos, de
achar que eu tinha os magoado por não
ser o que eles queriam. Mas tudo o que
Lea jogou na minha cara era mentira.
Das vezes que nos encontramos e ela
deixou claro que nossos pais tinham
nojo e vergonha de mim eram mentiras!
— Por onde você andou? — Papa
pergunta me olhando atentamente e eu
engoli em seco.
— Bem… — Fui interrompido
pela presença de uma pequena figura
com cabelos cor de areia e olhos verdes
lindos.
— Mamma, Papa quem é esse? —
O menino pergunta apontando para mim
e eu arregalei os olhos ao perceber que
ele estava falando com meus pais.
— Vem aqui, Otto! — Papai
chamou e eu não pude deixar de franzir
o cenho.
— Lembra quando eu disse que
tinha uma surpresa para você, Andrea?
— Mamma pergunta e eu assinto sem
tirar os olhos do pequeno.
-Esse aqui é Otto, ele foi um bebê
tardio e uma grande surpresa para mim e
sua mãe. — Papa disse carregando o
pequeno no colo.
— Mas como é possível? Lembro
que eu estava sempre pedindo um irmão
para vocês e Mamma sempre dizendo
que não podia. — Falo me sentindo
encantado pelo pequeno.
— Eu o considero um grande
milagre. Descobrimos minha gravidez
bem tarde e logo após de você ter
partido. — Mamma disse olhando para
mim com cautela.
— Isso é incrível! — Murmurei
sem acreditar.
— Você está feliz? Não está
ressentido que depois do que fizemos
com você, nós tivemos outro filho? —
Papa pergunta e Otto me olhou por cima
do ombro dele.
— Não! Isso jamais iria
acontecer, eu não sou assim. — Me
aproximei de meus pais e passei a mão
nos cabelos de meu irmãozinho. — Olá
Otto, é muito bom te conhecer. — Ele
levantou a cabeça e me olhou com
atenção.
— Oi… Você vai gostar de mim?
— Ele pergunta e eu afirmo
rapidamente. — Porque minha irmã diz
que eu nunca deveria ter nascido.
— O que? Lea disse isso a ele?
— Pergunto com os olhos arregalados e
meus pais assentem. — Não sou igual a
ela! Estive fora por muito tempo e agora
quero poder te conhecer. Tudo bem para
você, Otto?
— Sim, eu vou gostar de ter um
irmão. — Disse ele sorrindo largamente.
Voltei a atenção para os meus pais.
— Ela foi embora de casa assim
que terminou o colegial e sabemos dela
poucas vezes durante esse tempo. A
reação dela quando soube da minha
gravidez foi a pior possível. — Mamma
disse e começou a chorar.
— Sentimos a sua falta a cada
momento e nos arrependemos de ter
dado ouvido a cada coisa absurda que
sua irmã falou. Sinto muito, filho. —
Papa disse e eu dei um pequeno sorriso
desconfortável.
— Então foi por causa daquela
mulher sem caráter que tudo isso
aconteceu. — Enzo disse com raiva e eu
respirei fundo.
— Isso agora não importa, tudo
que quero é poder viver novamente. —
Falo e meus pais me olharam sem
entender.
— Você vai meu anjo, eu estou
aqui para garantir isso. — Enzo disse
enchendo meu peito de calor.
— Eu sei que sim querido. —
Falo sorrindo para o homem que me dá
tanta força. Dei um novo sorriso para
meu irmão caçula, ainda sem acreditar
que meus pais tiveram outro filho.
— Seus olhos! — Minha mãe deu
um passo à frente e segurou meu rosto
com as duas mãos. — Não vejo mais o
brilho nos seus olhos como antes, algo
está muito diferente e errado com você.
— Ela disse com firmeza.
— Mamma, estou feliz que vocês
continuam a me amar. E não quero falar
sobre o passado agora. — Falo e ela
continuou a me olhar com firmeza.
— O que houve com você? Por
favor meu filho me diga. — Pediu ela e
eu fechei os olhos por um momento.
— Eu vou contar a vocês, mas por
favor não na frente dele. — Olhei para
Otto e Papa entendeu.
— Vamos todos nos sentar! —
Papa falou após mandar meu irmão
inocente para o quarto.
Após a saída de Otto, fomos todos
nos sentar nos simples e confortáveis
sofás dos meus pais. Enzo se sentou ao
meu lado com sua incrível postural de
homem intocável, meus pais se sentaram
na nossa frente esperando ansiosamente
para saber o que vou contar a eles. Sinto
o nervosismo tomar conta de mim,
porque não podia contar tudo o que eu
passei durante esses dez anos. Por mais
que eles tenham me mandado embora,
nenhum pai e mãe deveria saber de
certas atrocidades que os filhos fizeram
para poder sobreviver. Meus pais são
pessoas simples, que vivem desde
sempre nesse pequeno vilarejo e não
estão prontos para saber que eu matei,
sofri abuso entre muitas coisas nas mãos
da máfia. Isso é demais para eles.
— Sei que vocês lembram do
homem que Lea citou a dez anos atrás.
Homem esse que ela jurava que era seu
namorado e eu tinha o seduzido. Essa
parte da sedução nunca aconteceu. —
Falo sentindo meu rosto enrubescer.
— No dia que sua irmã chegou
falando horrores de você, tudo que
podemos ouvir era que você estava com
outro homem. — Mamma disse e eu
assinto.
— Fico envergonhado pelo modo
que lidamos com isso, principalmente
eu. — Papa falou e eu assinto.
— Antes de mais nada queria
falar que naquela época eu ainda estava
me descobrindo e foi um choque para
mim quando aquele maldito homem me
beijou. — Falo e fechei os olhos pelas
memórias daquela noite.
— Andrea, você não precisa falar
se não quiser. — Enzo sussurrou no meu
ouvido ao me confortar.
— Eu preciso pôr para fora! Eu
preciso disso. — Falo sobre a
respiração e Enzo apertou minha mão.
— O que ele tem? Você está bem,
filho? — Meu pai pergunta e Enzo
tomou a iniciativa.
— Vocês estão sem ver ou ouvir
falar de Andrea a muito tempo e o que
ele tem guardado não é uma coisa fácil
de falar. — Enzo disse com uma leve
irritação e eu apertei sua mão na minha.
— Eu não fazia ideia do quão
ruim era esse homem, mas o medo de
ficar só fez com que eu acreditasse que
ele iria me ajudar ao me levar com ele
para a Rússia. — Falo olhando para
minha mão entrelaçada a de Enzo.
— Rússia? Você estava na
Rússia? — Meu pai pergunta confuso e
eu assinto.
Foi então que contei a eles de
forma resumida as coisas que eu passei
na Rússia. Jamais teria coragem de
contar cada coisa que tive que fazer, mas
contei que estava nas mãos da máfia e
que um incrível anjo de luz negra me
salvou de todo aquele sofrimento. Ao
falar sobre Francesca foi impossível não
ostentar um sorriso no rosto, ela me
salvou, ajudou a me reerguer e me deu a
oportunidade de saber que ainda existia
amor. Amor esse que encontrei com
Enzo, que mesmo do seu jeito
controlador, ciumento e cabeça dura me
ajuda a ser o Andrea que quero e
preciso ser. Contei ao meus pais que
depois de tantas provações eu estou de
pé e pronto para tê-los na minha vida.
— Dio mio! Me sinto tão culpada
por tudo que você passou. — Mamma
chorou e foi abraçada por meu pai.
— Eu não sei o que dizer. — Meu
pai falou e sua cara demonstrava o
quanto ele estava se sentindo culpado
também.
— Não se sintam culpados, pois
eu nunca os culpei. — Falo me sentindo
sufocado. Eu preciso de ar!
— Andrea, você está sentindo
alguma coisa? — Enzo pergunta e eu não
sabia responder.
— Eu preciso… Eu preciso
respirar! — Falo me jogando nos seus
braços, apertando com força a sua
camisa.
— Vem, vamos sair! — Enzo
disse me levantando com ele.
— Não! Você não pode levar
nosso filho de nós! — Meu pai disse
levantando em um pulo e isso fez Enzo
me apertar mais.
— Senhor, não irei entrar em um
confronto com o senhor. Mas preciso
tirá-lo daqui. — Enzo disse irritado.
— Querido, deixe ele cuidar de
nosso menino. Tenho certeza de que
quando estiver melhor, ele vai voltar
para nós. — Minha mãe disse e eu
queria abrir a boca para agradecer, mas
eu me sinto em tempo de explodir.
— Obrigado, senhora! — Enzo
disse entredentes.
— Leve-o para ver o mar, isso
sempre o acalmou. — Ouvi meu pai
falar e Enzo assente.
***
Não sei quando saímos da casa
dos meus pais, ou quando eu comecei a
caminhada com Enzo. Mas quando dei
por mim estava sentindo o cheiro
maravilhoso de maresia, o som incrível
e calmante das ondas batendo nas
rochas. Abro meus olhos e sinto meu
peito doer de saudade. Saudades do
lugar que eu amava estar, saudades do
meu tempo de aprendiz de pescador.
Sem pensar em nada tiro meus sapatos
para sentir a areia nos meus pés, abaixo
meu corpo para tentar respirar o máximo
de ar que eu conseguir.
— Eu… preciso! — Falo
sufocado sem saber o que fazer.
— O que meu amor? O que você
precisa? — Enzo pergunta e eu abri a
boca várias vezes sem saber o que dizer.
— Enzo, por favor, dói! — Falo
com os punhos fechados na direção do
peito.
— Andrea, olhe para mim! —
Pediu e eu olhei sem ao menos titubear.
— Chore! Você precisa pôr para fora
tudo de ruim aí dentro. Chore meu anjo!
— ordena ele e eu nego.
— Eu não sei como! Por favor
Enzo, eu não sei… — Falo sentindo meu
corpo começar a tremer.
— Sabe, você sabe! Andrea, sinta
sua dor, ponha tudo para fora. Eu estou
aqui para te segurar, você é meu. —
Falou ele com firmeza.
Engoli em seco sentindo meus
olhos começarem a arder. Arder de um
jeito que eu não lembrava mais o que
era ou como era. E com isso o choro
veio, foi difícil, mas ele veio com força.
Um choro triste, que estava estrangulado
a muito tempo, soltei um grito alto
quando senti as lágrimas molharem meu
rosto. Eu estou chorando novamente! Eu
consegui!
— Dói tanto! É tanta dor! Faz
parar Enzo, por favor. — Peço
soluçando alto, deixando que o amor da
minha vida sustentasse o meu corpo.
— Só deixe ir, bote para fora.
Mostre que quem manda no seu corpo é
você, tire sua dor através do desabafo.
Estou aqui para você!
E eu chorei, chorei tudo que tinha
que chorar, chorei por todos os anos de
sofrimento e dor que me fizeram passar.
Chorei pela felicidade que encontrei
quando achei que isso nunca fosse
possível. Chorei sabendo que eu ainda
sou humano, que ainda tenho condições
de sentir que estou vivo e não sou
boneco de ninguém. Não sei por quanto
tempo estive chorando, mas o que eu não
sabia era que minha batalha estava
apenas começando e coisas ruins sempre
vem quando a gente menos espera.
Sinto uma leveza no meu corpo
que a muito tempo eu não conseguia
sentir. Tudo agora parece se encaixar
bem, minha mente está mais clara do que
nunca e consigo dizer abertamente que a
dor que pesava no meu peito se foi.
Tudo isso graças ao choro forte e
descontrolado que saiu de mim. Pensei
que nunca mais iria poder sentir as
lágrimas molhando o meu rosto, pensei
que não conseguiria mais retornar aos
meus sentimentos humanos de pesar, mas
consegui. Eu consegui sentir novamente
e tudo isso é graças a Enzo. É incrível a
capacidade que ele tem de recuperar o
Andrea que a muito tempo tinha sido
colocado em um lugar bem profundo
dentro de mim. Maxim me quebrou em
vários pedaços, ele tirou tudo de mim e
a muitos anos me deixei levar por todas
as atrocidades e não queria mais voltar
atrás.
— Você está bem agora? — Enzo
pergunta me trazendo novamente a
realidade.
— Sim, e tudo isso graças a você.
— Falo com a voz rouca de choro.
— Não anjo, tudo isso é você.
Não eu ou qualquer outra pessoa. Você!
— Disse Enzo me abraçando forte.
— Eu tinha esquecido como é ter
o meu corpo novamente. — Falo e Enzo
me virou para lhe encarar.
— O que você quer dizer com
isso? — Ele pergunta e por um tempo
fiquei o encarando.
Durante a minha crise de choro eu
não tinha percebido que Enzo tinha
sentado em frente ao mar, me levando
para que eu pudesse me sentar no seu
colo. Estou agora sentado em frente ao
homem que amo, tomando coragem falar
tudo aquilo que ficou preso em mim. Eu
preciso dizer a ele o quanto eu o amo e
como ele está me fazendo sentir vivo de
novo.
— Durante todo esse tempo eu
nunca consegui me sentir livre. — Falo
sentindo meus olhos começarem a arder.
— Eu deixo você se sentir preso?
— Enzo pergunta me analisando
profundamente e eu ri negando com a
cabeça.
— Não, muito pelo contrário.
Você é a pessoa que está me salvando,
você está tirando as minhas correntes
sem nem perceber. — Falo e ele franziu
o cenho. Levantei minha mão e tracei os
dedos nos vincos de sua testa.
— Não estou entendendo, aonde
você quer chegar, anjo? — pergunta ele
e eu respirei fundo antes de limpar
minhas lágrimas.
— Eu estava preso aqui. — Falo
colocando a mão no peito. — A cada
vez que minhas emoções viravam um
turbilhão enlouquecido eu me fechava e
deixava ir sem me importar. Era assim
que eu fazia depois que Maxim me
torturou, me impedindo de chorar
porque o choro era uma fraqueza
desnecessária.
— Aquele filho de uma puta! —
Enzo disse entre dentes.
— Então eu aprendi a não chorar
ou demonstrar fraqueza para ele. Mas
fazer isso por muitos anos estava me
deixando mal, eu queria muito, mas não
conseguia. — Parei de falar e olhei
diretamente nos olhos de Enzo. — Você
me fez sentir novamente. Eu nunca vou
deixar de agradecer e te amar por me
ajudar a ter a libertação que eu tanto
precisava.
— Eu já disse que você é meu e
nada vai mudar isso. — Enzo disse me
fazendo rir.
— Até com essa sua
possessividade eu não vou deixar de te
amar. — Falo rindo me deixando ser
abraçado por ele.
— O que você acha de irmos
tomar um banho de mar? — Enzo me
surpreendeu com sua pergunta.
— Eu vou adorar. — Falo já
levantando e tirando areia da minha
mão. — Bem, acho melhor você tentar
me alcançar.
— O quê? Andrea, volte aqui! —
Grita Enzo, mas eu já estava distante.
Corri até a água sentindo o vento
batendo no meu rosto, era uma sensação
tão boa, uma sensação de que eu estava
de volta ao meu lar. Lar esse que eu
nunca deveria ter saído. Continuei a
correr e antes que eu pudesse alcançar a
água meu corpo foi puxado para cima e
eu soltei um grito alto. Mesmo com o
susto o sorriso nunca deixou o meu
rosto, porque eu sabia que estava nos
braços dele. Ficamos na água por um
tempo, nadamos, mergulhamos,
brincamos de um jeito que nunca achei
que fosse possível. Saímos da água na
intenção de irmos para o hotel, já que a
noite estava chegando e com ela o frio.
Chegamos no hotel, o único hotel
reservado e muito luxuoso aqui em
Riomaggiore. Muitas pessoas ficaram
nos olhando de forma inquisitiva, pois
estávamos descalços, molhados e cheios
de areia.
Chegamos no quarto e a primeira
coisa que fizemos foi correr para um
banho quente e relaxante. Enzo cuidou
de mim com muita delicadeza, lavando
meus cabelos e meu corpo deixando-o
leve. Assim que ele terminou eu me
virei para retribuir o favor e paraliso
logo em seguida quando vejo uma
enorme ereção. Sinto uma enorme
vontade de sentir seu gosto e não perco
tempo me ajoelhando na sua frente,
levando seu pênis a minha boca. Enzo
deu um passo para trás de surpresa e
apoiou as mãos no boxe embaçado do
banheiro.
— Isso… Assim mesmo! Chupe
meu pau, coloque até o fundo nessa sua
boca gulosa. Ah… — Enzo disse
agarrando meu cabelo com força.
Chupei com mais força, passando
a língua molhada por todo o
comprimento até alcançar suas bolas
firmes. Chupei uma e depois a outra,
soltando para fazer um som forte. As
pernas de Enzo tremem quando eu
alcanço novamente o seu pau grosso e
delicioso. Sou puxado para cima
sentindo minha boca ser invadida por
um beijo devastador e virando de frente
para o boxe. Após o beijo meu corpo é
virado bruscamente de frente para o
boxe, solto um gemido alto quando sinto
dedos acariciar a superfície do meu
ânus.
— Era isso que você queria, não
era, anjo? Você queria me ver perdendo
o controle. — Enzo disse no meu ouvido
fazendo minha pele arrepiar.
— Sim! Foda-me! É isso que eu
quero, é isso que eu preciso. Preciso de
você, Enzo. Eu sempre vou precisar de
você. — Falo rapidamente e os dedos
voltaram com força só que dessa vez
escorregadios.
— Gosto disso, gosto de ter você
assim nos meus braços. — Seus dedos
começam a me alargar e eu não consigo
deixar de gemer. — Sim, quero ouvir
você! Deixe-me te ouvir, anjo!
— Droga! Ah… assim! — Peço e
Enzo me deu.
— Desculpe meu amor, mas isso
vai ser rápido. — Enzo disse com a voz
carregada de tesão.
— Por favor, eu estou pronto! —
peço com sofrimento.
Senti seu pau alinhar no meu ânus
e quando dei por mim ele já estava todo
encaixado. Antes de começar a se
mover, Enzo deixou beijos molhados e
mordidas no meu pescoço e orelha.
Empurrei para trás indicando para que
ele pudesse se movimentar e assim ele
fez. A cada estocada forte meu corpo era
jogado para frente, só não bati no boxe
porque Enzo me segurava, cravando
seus dedos no meu quadril. Uma mão
soltou meu quadril e foi direto para meu
cabelo me deixando cego de desejo.
— Eu… eu estou quase. Eu vou
gozar, mais forte! — Falo e ele foi mais
forte.
— Goze para mim bebê,
massageie seu pau para eu ver. — Pediu
Enzo e comecei a me masturbar.
Pouco tempo depois eu estava
gozando em todo o boxe, pintando-o
com meu sêmen, senti meu corpo ficar
mole e Enzo me prendeu para eu não
cair. Enzo veio logo depois soltando um
urro animalesco, e deixava seu peso
sobre mim. Depois que nossos nervos se
acalmaram terminamos nosso banho, nos
vestimos com roupas confortáveis e
pedimos comida. Porque as emoções do
dia tinham nos deixado famintos. Nossa
comida chegou e o cheiro estava me
matando, deixando minha boca
salivando. Sentamo-nos na mesa e
começamos a comer nosso filé.
— Isso aqui está com uma cara
ótima. — Falo pegando os talheres.
— Sim, mas tenho certeza de que
você está falando isso porque nunca
comeu o meu filé. — Enzo disse
chamando minha atenção.
-Você cozinha? — Pergunto
espantado.
— Claro que sim! Mamma e
Nonna ensinaram a mim e aos meus
irmãos a arte da culinária. — Falou ele
com sua expressão séria que tanto
admiro.
— Até mesmo, Filippo? —
Pergunto comendo um pouco da
deliciosa comida.
— Sim, é engraçado vê-lo na
cozinha. Mas ele cozinha sim. — Disse
ele com um pequeno sorriso.
— Tenho certeza de que você e
Lucca não o deixam em paz quando ele
está cozinhando. — Falo e Enzo cerrou
os olhos na minha direção.
— Você está muito na defensoria
de meu irmão, isso não é legal. — Disse
Enzo com ciúmes.
— Deixe de ciúmes, só estou
dizendo a verdade. — Falo e ele sorriu.
— É engraçado ver ele todo
vermelho, com as veias saltando quando
está irritado. – Enzo diz e eu mordi os
lábios.
— Você também fica desse jeito
quando está irritado. — Lembrei e ele
me olhou seriamente.
— Que seja! — Resmungou e
voltou a comer. Tão sensível esses
Aandreozzi. — Quem te ensinou a
cozinhar? — Pergunta Enzo e eu sorri.
— Minha mãe, ela tentou ensinar
a Lea, mas ela não quis. — Falo e só de
lembrar de minha irmã sinto um mal-
estar.
— Pensa em ir vê-los amanhã? —
Enzo pergunta e eu assinto rapidamente.
— Sim, quero tentar recuperar o
laço que uma vez foi perdido. Sinto falta
de ter meus pais por perto, por isso eu
quero tentar passar o máximo de tempo
com eles e esquecer tudo de ruim que
passou. — Falo e senti a mão de Enzo
tomar a minha.
— Isso é muito bom meu anjo. —
Falou dando um aperto confortante.
— Amanhã quero estar com eles,
está bem para você? — Pergunto e ele
assente.
— Sim, se você quiser que eu não
vá eu ficarei bem aqui te esperando. —
Enzo falou e eu olhei para ele sem
entender.
— Enzo eu… eu… — Tentei
falar, mas ele sorriu e colocou a mão
nos meus lábios.
— Andrea, eu quero que você
possa passar um tempo com seus pais
quero que você reconstrua os laços com
eles. Não se preocupe, eu vou ficar bem,
eu vou aproveitar e vou responder
alguns e-mails. — Disse Enzo me
fazendo arregalar os olhos.
— Eu não sei o que dizer. —
Murmurei emocionado.
— Só tenho um pedido a te fazer.
— Falou e eu o olhei com atenção. —
Quero que Cyro vá com você, eu
poderia deixar ele lá sem você saber.
Mas prefiro que você saiba.
— Tudo bem, sei que é para
minha segurança. — Respondo o fitando
visivelmente aliviado.
Após o delicioso jantar ficamos
conversando por um tempo, a nossa
conversa era principalmente sobre a
minha infância. Onde Enzo está muito
curioso para saber como era a vida no
litoral, mas a conversa foi interrompida
quando nós dois caímos no sono. No dia
seguinte acordei primeiro que Enzo, fui
me arrumar com roupas leves com que
eu tivesse uma grande mobilidade.
Minha intenção é fazer algo que eu não
faço a muito tempo e eu nem sei se
conseguirei lembrar de tudo que
aprendi, mas tentarei de qualquer forma.
Antes de sair mandei uma mensagem
para Cyro, porque se Enzo pediu para eu
ter segurança irei fazer o que ele me
pediu.
Saio do hotel e vou direto ao meu
destino, é estranho estar aqui depois de
todo esse tempo, mas é um estranho
bom. Cheguei no local desejado e de
longe posso ver meu pai desamarrando
as cordas do barco, corri na sua direção,
assim que ele me viu deu um largo
sorriso me pedindo para ir puxar a
âncora que já iríamos sair. Não perdi
tempo e fui fazer aquilo que ele pediu,
em pouco tempo estávamos em alto mar
prontos para trabalhar. Meu pai disse
que ele tem um ajudante, mas hoje o
rapaz não pode vir por que estava com
um grande resfriado. Foi muito bom
passar esse tempo com ele, eu me senti
fazendo parte da família novamente e
pudemos conversar bastante e voltar a
nos conhecer.
— Foi um ótimo dia de trabalho
não foi mesmo, Capitano? — Disse meu
pai segurando meu ombro.
— Eu tinha esquecido como era
bom fazer isso. — Confessei e meu pai
me olhou com tristeza.
— Todo dia que eu vinha
trabalhar não tinha um dia que eu não me
lembrasse do meu melhor ajudante. —
Disse ele e isso me fez sorrir.
— Eu também senti falta de você,
Papa. — Falo com verdade e ele me
abraçou.
— Sua mãe está muito feliz que
você está de volta para nós. — Falou
aquecendo meu coração.
— É bom estar de volta
novamente. E agora eu ainda tenho um
irmão, ele tem uma cara de menino
esperto. — Falo me lembrando do
rostinho lindo de Otto.
— Sim, ele é uma criança muito
boazinha, para falar a verdade ele me
lembra muito você quando era pequeno.
— Disse ele arrumando os peixes para o
transporte.
— Mas na aparência ele lembra
muito o senhor, eu puxei mais a Mamma.
— Falo e ele me olhou de cima a baixo.
— Até a altura é de sua mãe,
como eu suspeitava você não cresceu
muito. — Disse ele e quando viu minha
cara feia começou a gargalhar.
— Isso é golpe baixo, muito
baixo. — Falo apontando na sua direção
e isso o fez rir mais.
— Vamos lá pequeno homem. —
Disse ele e eu olhei com indignação.
— Papa! — Grito e ele balançou
a cabeça rindo.
— É bom ter você de volta meu,
filho. — Falou me deixando sem graça.
— É bom estar de volta, pai. —
Respondo sem olhar na sua direção, mas
eu sabia que ele estava sorrindo.
Terminamos de arrumar toda a
pesca para levarmos para a distribuição.
Assim que tudo está pronto e o trabalho
finalizado percebi que meu pai estava
apertando as costas com cara de dor.
Quando pergunto se ele estava bem, ele
somente sorriu e disse que era coisa da
idade, mas eu não deixei de ficar
preocupado. Porque meu pai trabalhou a
vida inteira nesse trabalho cansativo e
pesado e tenho certeza de que seu corpo
não está mais aguentando todo esse
esforço. Fomos para casa e a primeira
coisa que minha mãe fez foi mandar nós
dois irmos direto tomar um banho, pois
o fedor do peixe estava a deixando
doida.
— Você vai morar aqui com a
gente? — Uma voz infantil me pergunta
e eu virei para olhar Otto atrás de mim.
— Ei, Otto, por que você está me
fazendo essa pergunta? — Pergunto
enrolando ainda mais a toalha no quadril
para poder me abaixar na sua direção.
— Não sei… eu só queria saber.
— Disse com uma expressão
envergonhada.
— Entendi, e a resposta para isso
é não. Eu moro em outra cidade que é
onde eu trabalho. — Falo e o vi
mordendo o lábio inferior.
— Papa e Mamma estão mais
felizes desde que você apareceu, você
não é igual àquela outra que os faz
chorar. — Otto disse e eu sei muito bem
de quem ele está falando.
— Fico muito triste que Lea tenha
feito nossos pais ficarem tristes, mas eu
prometo que não farei isso. —
Respondo com firmeza e ele assente.
— Eu sei disso. — Disse ele me
olhando com atenção.
— Como você sabe disso? —
Pergunto bagunçando seu cabelo.
— Não sei, acho que só sei
mesmo. — Otto deu de ombros e saiu
correndo.
Balancei a cabeça dando um
pequeno sorriso, Otto realmente parece
ser um bom menino e isso me deixa
contente. Vejo uma antiga roupa minha
deixada no banheiro, fico meio
desconfiado se iria servir, mas para
minha surpresa serviu perfeitamente.
Isso prova que meu corpo não mudou
desde que eu tinha 16 anos. Após me
vestir fui encontrar com minha mãe na
cozinha e ao vê-la de costas cortando
vegetais para fazer o almoço, cheguei
mais perto e a abracei com carinho.
— Você comeu alguma coisa antes
de ir para o barco com seu pai? —
Pergunta após me dar um beijo na testa.
— Não, mas eu acho que a senhor
irá fazer isso. Estou certo? — Pergunto
pegando um pedaço de cenoura.
— Pode apostar nisso senhor,
você é como seu pai que eu tenho que
olhar o tempo todo se está se
alimentando. — Disse ela apontando na
minha direção com a faca. — Ali, deixei
algo para você comer.
— Obrigada, Mamma, a senhora
continua mandona como sempre. — Falo
brincando e ela me olhou de cara feia,
mas logo um sorriso surgiu nos seus
lábios.
— Por que não chama seu
namorado para almoçar com a gente? —
Mamma pergunta me fazendo engasgar.
— Tem certeza disso? —
Pergunto limpando a boca.
— Claro que sua mãe tem certeza
queremos conhecer melhor a pessoa que
está fazendo nosso filho feliz. — Papa
disse entrando na cozinha. — Ele está te
fazendo feliz, não é? — Pergunta com
seriedade e eu assinto rapidamente.
— Com certeza, Enzo e o resto de
sua família são ótimas pessoas. —
Respondo com carinho.
— Então faça isso, chame o seu
namorado para que possamos o
conhecer. — Mamma disse voltando a
cortar os vegetais, mas não antes de me
olhar com carinho.
Liguei para Enzo assim que
terminei de comer e a primeira coisa
que ele me pergunta foi se eu estava bem
ou se aconteceu alguma coisa. Sorri com
seu jeito preocupado com o meu bem-
estar e o convidei para vir aqui na casa
de meus pais. Enzo não conseguiu
esconder a surpresa na voz e disse que
logo estará aqui. Menos de meia horas
depois ele tinha chegado e eu fui
correndo para recebê-lo.
— Ei querido, fico feliz que tenha
vindo. — Falo com um largo sorriso e
ele me puxou para seus braços.
-Acordei e não vi você na cama,
se levantou muito cedo? — Pergunta
após me dar um selinho demorado.
— Sim, fui pescar com meu pai.
— Disse contente e ele deu um pequeno
sorriso.
— Então quer dizer que você
voltou a ser o Capitano de seu pai. —
Afirma Enzo alisando meu rosto e eu
fechei os olhos para receber o carinho.
— Você não tem noção de como
eu senti falta de ir pescar. — Falo após
um longo suspiro.
— Posso imaginar, agora vamos
que eu tenho uns sogros para
impressionar. — Enzo disse me fazendo
rir.
— Está querendo ser um bom
genro, senhor Aandreozzi? — Pergunto
em um tom de falsa acusação.
— Claro! Eu já sou um ótimo
genro, eles que precisam saber disso. —
Enzo disse e partimos para ir de
encontro com a minha família.
Infelizmente o dia da partida
chegou, e o meu coração está partido
por ter que me afastar da minha família
justamente quando estamos juntando os
cacos que os fatos da vida fizeram
questão de quebrar. Mas a vida tem que
continuar e tanto Enzo quanto eu temos
responsabilidades e não podemos ficar
distantes por tanto tempo. Não posso
deixar Fanny com toda a
responsabilidade da boate, pois esse
cargo é meu e por mais que ela faça um
ótimo trabalho, eu simplesmente não
posso faltar e deixar tudo nas suas
costas. E Enzo que comanda aquela
grande empresa, também não pode
deixar de lado os seus projetos e ficar a
minha mercê. Apesar de dizer que não
tinha problema se eu quisesse continuar
a passar um tempo com meus pais e
irmãozinho.
Falando em meu irmão, ele é um
menino adorável. Tão adorável que me
corta o coração ter que deixá-lo,
passamos algumas horas conversando
onde ele me contou sobre a sua escola e
as revistas em quadrinhos que adora ler.
Fiz uma promessa que quando voltasse
para uma próxima visita eu traria mais
algumas revistas. Enzo também ficou
bastante próximo de meu irmão, eles
conversaram sobre esportes e sua louca
vontade de ter um cão de estimação eu
fiquei paralisado com a seriedade de
Otto ao conversar com Enzo. Para
incrementar a amizade se formando entre
eles, Enzo mandou que Timóteo
trouxesse Kay do hotel para que Otto
pudesse conhecê-lo. E não foi só meu
irmãozinho que ficou encantado com ele,
minha mãe adorou o pequeno peludo.
Meu irmão é um garoto bastante
inteligente, que dará aos nossos pais
muito orgulho.
— Tem certeza de que você não
pode ficar mais um pouco? — Otto
pergunta com Kay no colo quando
começamos a dizer que era hora de
irmos.
— Sim, Otto, seu irmão e eu
temos trabalho a fazer. — Enzo
responde ao meu irmão se abaixando
para ficar na sua altura.
— Eu sei, meu irmão me disse,
mas eu ainda tinha esperança. — Otto
disse envergonhado e Enzo bagunçou o
seu cabelo.
— Você é um bom menino, Otto e
prometo que não vamos demorar. —
Falo me abaixando para ficar na mesma
posição que Enzo.
— Próxima vez vamos acertar
para que vocês possam conhecer a
minha família. — Enzo disse olhando
para meus pais que assentem.
— Eu vou poder conhecer os seus
sobrinhos? — Enzo contou a Otto sobre
as crianças Aandreozzi e meu irmão
ficou curioso para saber mais sobre
eles.
— Claro, você deve ter cuidado
com Samantha, ela é uma criatura muito
marrenta. — Enzo brincou e pelo olhar
arregalado de meu irmão, tenho certeza
de que ele acreditou.
— Não fale isso, Enzo! — Dei um
empurrão nele que o levou a contrair a
boca em um sorriso pequeno. — Não
leve a sério o que ele falou, Sam é uma
garotinha com um jeito encantador. Não
só ela, mas Pietro, Eduarda e Isabel.
— Devem ser crianças lindas. —
Mamma falou sorrindo para nós.
— Sim, elas são realmente. —
Enzo disse com carinho ao lembrar das
crianças.
— Tudo bem, eu vou sentir
saudades de vocês, mas sei que vamos
nos ver logo. — Otto disse alisando o
pelo de Kay.
— Você vai sentir mais saudades
de brincar com Kay que eu sei. —
Brinquei e meu irmão riu.
— Sim e você vai sentir saudades
de ir pescar com Papa. — Otto disse e
eu sorri afirmando.
-Claro, eu gosto de pescar. Você
que prefere os quadrinhos. — Ele deu
de ombros.
-Vamos sentir saudades, vamos
sentir saudades dos dois. — Papa disse
tentando não chorar, mas sei que ele
quer. Papa é uma manteiga derretida.

Meus pais ficaram encantados


com Enzo, mesmo com seu jeito sério e
contido no início, ele soube fazer com
que meus pais ficassem muito próximo a
ele. Mamma não aguentou de felicidade
quando viu que Enzo gosta muito de
comer, ela começou agradando-o com
lanches deliciosos que só minha Mamma
sabe fazer. Outra coisa que deixou não
só minha mãe mais o meu pai feliz, foi o
jeito protetor que Enzo tem comigo e
agora com Otto. Após uma longa
conversa entre ele e meu pai sobre quais
são suas intenções comigo, coisa que eu
achei absurdamente ridículo e
desnecessário, eles ficaram felizes com
o amor e carinho que Enzo demonstrou
por mim.
Levantei-me e fui abraçá-los, a
primeira que eu alcanço foi minha mãe.
A acomodei nos meus braços e ao vê-la
chorar eu comecei a chorar também, é
tão bom poder compartilhar esses
sentimentos novamente e principalmente
com ela. Me afastar fisicamente
novamente está sendo mais difícil para
mim do que imaginei, passei alguns dias
com eles, mas esses dias não vão suprir
os anos que achei que eu tinha os
decepcionado, que não era o filho que
eles queriam. Agora me sinto feliz por
saber que eles me aceitam de verdade e
aceitam o homem que escolhi amar.
— Promete que vai ligar para
mim sempre? — Mamma pergunta
enxugando meu rosto.
— Sim, eu prometo. Mas a
senhora tem que me prometer que vai me
visitar também. — Falo e ela mordeu os
lábios.
— Não sei não meu filho, eu
nunca saí daqui. — Disse ela
envergonhada e eu sorri.
— Esse é o momento de conhecer
outros lugares e eu vou fazer de tudo
para te mostrar. — Dei uma piscadela e
ela me deu um tapa fraco no ombro.
— Não precisa se incomodar com
a gente, meu filho. Siga sua vida e
trabalhe bastante para sua felicidade. —
Mamma disse me abraçando novamente.
— Vocês nunca deram incômodo
para mim, temos que recuperar nosso
tempo perdido. — Falo e meu pai veio
me abraçar logo em seguida.
— Foi muito bom ter meu
Capitano, nem que seja por alguns dias.
— Meu pai falou em um tom
emocionado.
— Eu sempre serei seu Capitano,
Papa. Pescar com o senhor sempre foi o
meu melhor divertimento. — Falo o
fazendo rir.

— Mesmo sendo um baixinho,


você tem um grande coração. — Brincou
meu pai fazendo todos rirem.
— Papa! — Falo com uma raiva
fingida sentindo meu rosto aquecer.
— Um dos meus esportes
favoritos é ver sua cara sem graça. —
Enzo disse e meu pai assente sorrindo. E
isso foi o bastante para me deixar ainda
mais envergonhado.
— Chega vocês! — Grunhi pelos
seus risos.
— Quero falar algo a você. —
Mamma disse chamando minha atenção.
— Lea, sua irmã. — Respirou fundo
antes de continuar.
— Mamma, eu não sei onde está
Lea. Sempre que nos encontramos é por
acaso e ela não deixa de demonstrar o
quanto me odeia. — Falo diretamente
sentindo uma tristeza tomar conta de
mim.
— Você não sabe o quanto eu
sinto muito por sua irmã ser desse jeito.
Sinto que falhei com ela de alguma
maneira e eu não sei o que fazer com
esse ressentimento que ela carrega por
nós. — Mamma falou e foi abraçada por
Papa.
— Não se sinta assim, posso dizer
que todo mundo tem falhas e que
ninguém é perfeito. Mas isso não
justifica o comportamento de Lea, ela
está com muito rancor no coração. —
Falo e Enzo se juntou a mim.
— Não se preocupem com o filho
de vocês, que eu farei o possível para
que ele fique bem. — Enzo disse de
forma firme.
— Nós sabemos que sim. — Papa
responde com seriedade.
Após as despedidas saímos da
casa de meus pais com a promessa de
que o mais cedo possível estaríamos de
volta ou até mesmo os buscando para
passar um tempo conosco. Voltamos
para o hotel para que pudéssemos ir de
encontro ao heliporto, nossas coisas
serão mandadas por nossos seguranças e
eu peço a Enzo para levar Kay conosco.
Ele me olhou por um tempo e depois
assente, me deixando feliz por não ter
que lutar por isso.
Chegamos no heliporto e lá estava
o helicóptero a nossa espera, Enzo fez
todo o procedimento antes da decolagem
e quando foi autorizado partimos logo
em seguida. O céu estava tranquilo, sem
nenhuma aparência de que iria chover e
então relaxei no banco. Não me canso de
dizer como é interessante ver Enzo
pilotando, olho com bastante admiração
a cada movimento que ele faz ao
controlar o helicóptero e isso é
fascinante. Estávamos sobrevoando
sobre alguma ilha, e isso prendeu
totalmente minha atenção. Enquanto eu
estava distraído com a paisagem, ouço
Enzo me chamar calmante.

— Anjo, quero que você fique


calmo e faça tudo o que eu te pedir. —
Enzo disse e meus olhos se arregalaram
com a frieza em suas palavras.
— Enzo, o que está acontecendo?
— Pergunto nervoso e ele nega com a
cabeça.
— Eu vou precisar que você fique
calmo, se isso não acontecer eu posso
perder o foco, que é pilotar com
segurança. — Ele chamou minha atenção
com firmeza e eu respirei fundo.
— Certo, o que você precisa de
mim? — Pergunto após me acalmar.
— A outro helicóptero vindo em
nossa direção e eu não acho que isso
seja uma mera coincidência. — Enzo
disse apertando a mandíbula com força.
— Tem certeza de que pode ser
alguma armadilha? — Pergunto
mantendo a calma.
— Afirmativo! Eu sinto isso,
todos os meus instintos estão me dizendo
para ter cuidado. — Ele disse sem tirar
os olhos da frente.
— Diga o que quer que eu faça!
— Peço e ele me olhou por um tempo
antes de assentir.
— Na parte de trás tem uma
mochila, lá tem armas e eu quero que
você pegue para nós. — Assinto e
apertei Kay no colo lembrando que ele
estava comigo.
— E Kay? — Pergunto e ele
olhou para o pequeno conjunto de pelos
no meu colo.
— Tire as armas da bolsa e o
coloque dentro. Faça isso rápido, eles
estão se aproximando.
Imediatamente eu olhei pela
janela e lá estava outro helicóptero bem
atrás de nós, tentei olhar com mais
afinco para ver se conseguia identificar
quem estava atrás de nós. Mas eu não
precisava pensar demais, pois eu sabia
quem era e o que queria. Tirei o cinto e
corri para a parte de trás do pequeno
espaço do helicóptero, achei
rapidamente a mochila que Enzo me
disse. Voltei para o banco da frente
tirando de dentro da bolsa duas Glocks
pretas que Enzo pediu para que
colocasse no seu colo, elas eram lindas,
mas não era o momento de admirar
armas. Dentro da mochila tinha mais
duas armas e minhas duas adagas,
peguei as adagas e olhei para Enzo que
continuou sério olhando para frente.
Assim que tirei todas as armas da
mochila, coloquei Kay com cuidado.
Seja o que for que vá acontecer, não
pretendo deixar que um animal indefeso
se machuque. As coisas aconteceram de
uma forma perturbadoramente rápidas,
tudo que eu sei era que estava indo
perguntar a Enzo o que fazer a seguir,
mas um barulho alto na traseira do
helicóptero me fez cair com tudo no
chão. O helicóptero deu outro
solavanco, o grito de Enzo perguntando
se eu estava bem me tirou do estupor.
— Andrea! Andrea, você está
bem? — Grita Enzo novamente e eu
assinto.
— Sim, o que vamos fazer? —
Pergunto olhando para a janela e vendo
que o outro helicóptero estava ao lado
do nosso com a porta lateral aberta.
— Quero que você sente
novamente no banco e coloque o cinto.
— Enzo pediu apertando o controle com
força.
— Eles estão querendo nos matar!
— Falo alto sentindo meu sistema
nervoso trabalhando intensamente.
— Não, eles estão fazendo com
que percamos a altitude. Eles querem me
forçar a descer o helicóptero e estão
conseguindo isso. — Enzo falou entre
dentes.
— Está caindo? Porra! — grito,
segurando a poltrona com força.
— Perdemos a maior parte
eletrônica, estou fazendo tudo
manualmente. — Enzo disse com ódio,
segurei Kay firmando ainda mais meu
aperto na poltrona.
Não, não, não isso não pode estar
acontecendo, eles não podem mexer com
minha vida novamente. Logo agora que
eu estava reestruturando a confiança em
mim, nas coisas que eu ainda pretendo
fazer na vida, a minha aproximação com
os meus pais e o mais importante de
tudo. Justo no momento que acredito que
o amor ainda existe, que existem
pessoas que querem o bem dos outros e
os protegem com a própria vida. Eu não
quero mais ser controlado e ter nojo de
mim mesmo.
— Enzo, estou com medo. — Falo
sentindo meu corpo tremer.
— Eu sei meu anjo, farei de tudo
para que nada de ruim te aconteça. —
Disse ele com firmeza e eu nego
rapidamente.
— Não é comigo que estou
preocupado, não quero que nada
aconteça com você. — Declarei e ele
me olhou por um tempo.
— Escute bem o que eu vou dizer.
— Disse ele segurando o controle e
apertando os lábios. — Eu vou colocar
esse helicóptero no chão em segurança.
Vou matar cada filho da puta que está
tentando tirar você de mim e levar nós
dois em segurança para casa.
— Como vamos para casa, isso
aqui é no meio do nada? — Pergunto
sentindo o helicóptero perder ainda mais
altitude.
— Eu já mandei um sinal de alerta
para a torre e sempre tenho um telefone
via satélite. — Ele apontou com o
queixo para o aparelho no suporte ao
seu lado.
— Eles… eles devem me querer.
— Falo desnorteado.
— Andrea! Eles só te levarão se
eu morrer, e eu não vou deixar isso
acontecer. — Enzo disse com frieza e eu
tentei ficar quieto para que ele se
concentre. — Estamos quase
aterrissando, se prepare para o impacto.
Enzo fez o possível e o
impossível para que a nossa
aterrissagem fosse com menos impacto,
mesmo assim a gravidade estava contra
nós e vi quando o helicóptero começou a
rodar no ar e começar a cair entre as
árvores. Meu corpo foi jogado com
solavancos fortes, algo bateu no meu
peito me fazendo gritar em desespero e
quando o vidro da janela quebrou ao
meu lado senti a ardência no meu rosto
dos pequenos cortes que foram feitos,
mas uma forte pancada na minha cabeça
me fez apagar imediatamente. Não sei
quanto tempo estava desacordado, mas a
voz de Enzo me trouxe novamente a
realidade.
— Anjo, vamos anjo acorde.
Preciso nos tirar daqui. — Enzo disse e
abri os olhos para ver seu rosto
manchado de sangue.
— Você está ferido! — Falo em
um tom de voz baixa e ele segurou minha
mão.
— Eu sei, mas isso agora não
importa, o que importa é tirar você
daqui. Vamos anjo, eles estão vindo! —
Enzo disse apressadamente e meu corpo
entrou em alerta, mas ao me mexer meu
corpo doeu por inteiro.
— Puta merda! Acho que minha
perna está machucada. — Falo entre
dentes e ele olhou para baixo.
— Temos que conseguir um lugar
para nos esconder e depois averiguar os
nossos ferimentos, mas acho que não
deve ser nada muito grave. — Disse ele
me ajudando a sair do helicóptero
destruído.
— Tudo isso graças a você, se
não fosse sua excelente pilotagem
estaríamos mortos. — Falo me sentindo
muito orgulho do meu homem.
— Obrigado, mas fiz o que tinha
que fazer. — Disse ele me carregando
no colo.
— Me solte, acho que consigo
andar e você também está machucado.
— Falo descendo do seu colo sentindo
uma forte dor, mas segurei minha dor e
fiquei de pé. — Kay! Onde está Kay?
— Aqui está ele! — Disse
levantando a mochila e a cabecinha de
Kay estava para fora. — Esse é um
verdadeiro cachorro de macho, ele ficou
quieto no meio dessa bagunça. — O
orgulho estava presente na voz de Enzo.
— Sim, ele é um bom garoto. —
Falo sentindo meu corpo dolorido.
— Deixe que eu te carregue,
assim vamos andar mais rápido. — Enzo
pediu novamente e eu nego. Ele parou
como se estivesse ouvido algo atrás de
nós é fez sinal para seguirmos. — Temos
que sair daqui!
— Sim, vamos! — Começamos a
andar com um pouco de dificuldade por
causa de nossos machucados e quando
estamos um pouco mais distantes dos
destroços ouvindo passos mais perto de
nós e um grito em Russo fez com que
parássemos de andar.
— Bol'she ne shag! (Nem mais um
passo!) — Um tiro em uma árvore perto
de mim acompanhada pela voz de
Fyodor me fez parar.
— Você não quer fazer isso! —
Enzo disse em russo com um tom frio
virando logo em seguida.
— Você não tem ideia do quanto
foi divertido ver vocês caindo. —
Fyodor disse e meus olhos ficaram
arregalados quando vi Enzo apontar a
arma na direção de Fyodor e mais três
dos seus capangas.
— Seu doente filho da puta,
poderíamos estar mortos! — Grito
irritado e Fyodor me olhou com
surpresa.
— Então quer dizer que a cadela
do chefe sabe latir. — Brincou esse
homem nojento.
— Vocês não sabem com quem
estão brincando, sugiro que nos deixem
em paz e saiam daqui. — Enzo disse
com ódio e isso só divertiu o executor
de Maxim.
— Você está muito confiante para
um homem que está machucado. —
Fyodor falou analisando Enzo de cima a
baixo. Tive muita vontade de ver
também, mas não queria tirar os olhos
de Fyodor.
— Eu não vou com você, por
favor vá embora. — Peço, sentindo
minha voz tremer um pouco.
— Se fosse por mim você já
estaria morto a muito tempo, mas o chefe
quer o seu brinquedo de volta. — Disse
Fyodor olhando para mim com ódio e
interesse.
— Você não vai levar Andrea de
mim! — Enzo disse apontando a arma
para Fyodor que fez um gesto e quatro
homens surgiram atrás de nós.
— O que… O que é isso? —
Pergunto e os três homens atacaram
Enzo o desarmando com rapidez e lhe
jogando no chão com uma forte pesada
nas costas. Seu corpo bateu com tudo no
chão eu me encolhi com o som. —
PARA! Tentei ir em direção a ele, mas
um dos homens me prendeu.
— Eu não vou deixar você levá-
lo! — Enzo disse com força, tentando se
levantar, mas os homens não deixaram.
— Estou com muita vontade de
dar um tiro na sua cabeça, mas o chefe
diz que ele mesmo quer matá-lo por
tocar na sua cadela. — Fyodor disse
com um olhar desprovido de qualquer
sentimento.
— Eu é que quero pôr as mãos
nesse filho da puta doente. — Enzo
disse e cuspiu uma boa quantidade de
sangue.
— Enzo, pare, você está
machucado. — Peço tentando me soltar
do aperto do homem.
— Não vou permitir que te levem
de mim! — Enzo disse conseguindo
golpear um dos capangas de Fyodor.
— Derrubem ele, agora! —
Mandou Fyodor e eu comecei a gritar
em desespero.
— Não! Para, não façam isso, por
favor! — Grito angustiado vendo quatro
homens batendo em Enzo com vários
socos e chutes.
Vejo o amor da minha vida
apanhar sem que eu pudesse fazer nada,
mesmo que eu lute para me soltar, lance
meu corpo para todos os lados para
tentar me soltar do aperto desse filho da
puta. Mesmo com o corpo todo
machucado, Enzo evita alguns golpes e
ataca de forma rápida, mas ele não é
capaz de lidar com todos esses homens e
ainda mais com seu corpo machucado do
jeito que está. E quanto mais ele luta
mais os homens batem com mais afinco.
Vejo Kay se aproximar de Enzo, não sei
como ele conseguiu se soltar, mas ele
rosna para os agressores e quando tenta
morder um dele é chutado com força.
Seu pequeno corpinho bate com força
em um tronco de árvore, caindo no chão
soltando um gemido sofrido logo depois.

— Não, para com isso. Enzo! —


Grito angustiado. — Seu doente você
machucou um cãozinho.
— Tudo depende de você, pare de
lutar e venha conosco e ninguém mais
será ferido. — Fyodor disse e eu olhei
para o corpo muito machucado de Enzo
no chão.
— Eu vou com você! Eu vou, mas
parem com isso. — Grito com raiva me
recusando a chorar na frente de Fyodor.
— Andrea, não! Não faça isso! —
Enzo disse tossindo e cuspindo sangue.
— Por favor, não me impeça de
impedir que você se machuque mais. —
Falo estremecendo quando um dos
agressores de Enzo pisou no seu
pescoço.
— Você não tem esse direito,
Andrea! — Enzo disse com a voz
sufocada.
— Tenho sim! Tenho todo o
direito de te proteger, assim como eu sei
que você virá para mim. – Assim que
terminei de falar, Fyodor me deu um
forte tapa no rosto me fazendo perder o
equilíbrio.
— Não diga coisas como essas a
esse italiano, por que irei matá-lo agora
mesmo. — Fyodor disse em um tom de
aço.
— Não, eu disse que vou com
você. Não o machuque mais. — Peço
com fervor e ele deu um sorriso
macabro na minha direção.
— Você está fazendo a melhor
escolha, por isso que eu sempre tive
vontade de tê-lo para mim. — Fyodor
passou os dedos pela minha bochecha e
eu consegui desviar o máximo que
consegui, mesmo estando preso.
— Não coloque suas mãos sujas
nele seu bastardo! — Enzo grita com
uma fúria assassina e recebeu um chute
no rosto em seguida.
— Para com isso, eu disse que
irei com vocês! Não façam isso! —
Implorei tentando ao máximo fazer com
que eles me ouvissem.
— Pequena cadela, sempre se
apegando as coisas. Será que você
nunca aprende? — Fyodor pergunta
irritado.
— Como você nos encontrou? —
Pergunto tentando mudar o foco de sua
atenção de Enzo sangrando no chão.
— Foi fácil na verdade, porque
você nunca ficou fora do nosso radar. O
chefe sabia que você iria vir até sua
família e não demorou muito para isso
acontecer. — Fyodor falou como se isso
não tivesse importância.

— Minha família? Vocês andam


vigiando a minha família? Não, vocês
não podem machucá-los. — Falo
nervoso olhando para Enzo que estava
imobilizado.
— Sua família não tem nenhum
significado para o chefe, ele quer você
de volta. Isso é tudo. — Fyodor disse e
eu assinto.
— Tudo bem, podem me levar. Eu
não vou tentar fugir, portanto, não
machuquem mais a Enzo e não envolvam
a minha família nisso — falo com
firmeza e ele nega.
— Você não dá as cartas aqui,
cadela! — Fyodor diz e me dá um soco.
— ANDREA! — Enzo grita e
assim que fiquei totalmente ao domínio
de Fyodor, os outros capangas soltaram
Enzo.
— Sinto muito por isso, sinto
muito por envolver você nisso. — Falo
sentindo meu coração ficar ainda mais
em frangalhos. — Deixe com que eu me
despeça dele — peço a Fyodor, que me
olha com raiva.
— Os amantes querem fazer uma
despedida? Não cadela, isso não vai
acontecer. Não esqueça quem é seu dono
e ele está te esperando. — Fyodor disse
colocado a mão em volta no meu
pescoço e apertando muito forte.
— Solta ele, seu filho da puta! —
Enzo diz e tentou se levantar, mas cai
logo em seguida.
— Por favor, Enzo, fique bem. Ti
voglio tanto bene (eu te amo tanto) —
murmuro e depois fui arrastado por
Fyodor.
— Acho que você não precisa
estar acordado para poder apreciar a
viagem. — Fyodor disse e eu arregalei
os olhos para a seringa que estava na
sua mão.
— O que você vai fazer? Não!
Não faz isso! — Senti a picada no meu
pescoço e logo em seguida meu corpo
ficou mais pesado.
— Durma bem, cadela! — Fyodor
disse e eu caí na escuridão logo em
seguida.
Vou recobrando a consciência aos
poucos e sento que meu corpo está sobre
algo macio, mesmo com os olhos
fechados posso dizer que estou em uma
cama. Tento abrir os olhos para
encontrar Enzo e as lembranças vem
com tudo na minha cabeça. O som do
helicóptero caindo, Enzo me ajudando a
sair, Fyodor e seus homens nos
encontrando, o corpo muito machucado
de Enzo no chão e som do pequeno
corpo de Kay indo de encontro ao tronco
da árvore. Será que ele está vivo? Será
que ele conseguiu socorro? Deus, ele
não pode morrer! Sento meu corpo em
um pulo, com minhas mãos tremendo
muito e o corpo suado. Um movimento
chama minha atenção me fazendo
congelar.
— Demorou muito para acordar,
golubushka. Eu estava ficando
preocupado. — Essa voz! Eu conheço
essa voz que assombra meus
pensamentos.
— Maxim! — Sussurro seu nome
fechando os olhos e os punhos com
força.
— Deixe-me olhar para você,
senti sua falta e é bom tê-lo de volta em
casa. — Sinto a cama afundar ao meu
lado e o cheiro do seu perfume tomar
conta do meu nariz. Isso me faz querer
vomitar. — Abra os olhos, golubushka!
— ordena ele em um tom frio, com uma
doçura fingida.
— Maxim, por favor… —
Arregalei os olhos quando ele grudou
sua boca na minha. O afastei
rapidamente e vomitei tudo que estava
no meu estômago ao lado da cama.
Assim que terminei de vomitar nossos
olhos se encontraram e o olhar de
desagrado nos seus olhos frios como
gelo me fizeram arrepiar de medo.
— Isso são lágrimas? -Pergunta
ele passando o polegar nos meus olhos.
— O que fizeram com você minha
pombinha? Você esqueceu o que eu te
ensinei?
— Não, Maxim eu lembro de cada
detalhe. — Falo tentando ao máximo não
fraquejar nas mãos desse doente.
— Isso é bom, golubushka. Odeio
ter que te machucar, mas infelizmente
isso vai ter que acontecer, para você
aprender a não mais deixar sua família.
— Disse ele abraçando meu corpo que
continuou imóvel. — Viktor sentiu muito
sua falta, nós passamos muito tempo
juntos tentando não falar sobre sua falta.
— Oh meus Deus! Viktor, o que
esse homem fez ao meu menino?
— Viktor! Onde ele está? —
Pergunto sem conseguir me conter.
— Não se preocupe com ele
agora, nosso filho está bem. Depois de
seu castigo, vamos poder ser uma
família novamente. — Disse ele
sorrindo com seu melhor sorriso
psicótico. — É bom ter o meu marido de
volta, acho que vamos nos divertir
bastante, golubushka.
Um frio tomou conta da minha
espinha, porque eu sabia o que estava
perto de vir. Tudo o que tenho que fazer
é ficar vivo para poder conseguir sair
daqui é dessa vez, tirar o meu menino
das garras desse homem horrendo.
FILIPPO
AANDREOZZI

— Vamos embora, Ursinha! Você


sabe que seu Babo não gosta de se
atrasar. — Bello grita para nossa menina
que ainda estava se arrumando.
— Tudo bem, Bello, ainda temos
tempo. — Falo folheando o jornal.
— Você é muito molenga com
esses ursinhos. — Bello disse e eu
cerrei os olhos na sua direção o puxando
para o meu colo logo em seguida.
— Aí, seu bruto! — Reclamou
Bello e eu o beijei.
— Sim, mas sou o seu bruto. —
Falo com meus lábios colados nos seus.
— Ainda bem que você sabe
disso, senhor Aandreozzi. —
Resmungou meu Bello colocando os
braços no meu pescoço.
— Nem se eu estivesse louco eu
esqueceria disso, Bello. — Passei meu
nariz no seu pescoço e ele se encolheu
sentindo cócegas.
— Vocês dois já estão namolando
de novo? — Ouço a voz do meu filho e
isso faz Luti rir.
— Quem está namorando aqui,
Ursinho? Seu pai que é um grosso. —
Bello disse saindo do meu colo ainda
rindo e indo terminar de arrumar a
mochila de Pietro.
— Até parece que vamos
acreditar nisso, não é verdade, Pê? —
Duda chegou parando ao lado do irmão.
— Já que todos estão prontos,
vamos logo! — Disse levantando do
sofá e colocando meu terno.
— Pai, por que o senhor só usa
pleto? — Pietro fez uma das muitas
perguntas. Essa fase das perguntas é
terrível.
— Porque eu gosto, filho. —
Respondo e ele soltou um som
indignado.
— Eu espelava que o senhor iria
dizer que era o Batman. — Pietro disse
e eu olhei para ele por um tempo antes
de negar com a cabeça.
— Você tem que parar de ficar tão
próximo de seu tio Lucca. Ele é um
sujeito irritante e está influenciando
demais meu ursinho. — Resmunguei
irritado e isso fez Bello rir e dar um
beijo na bochecha do nosso filho.
— Deixe meu cunhado em paz!
Tenha um ótimo dia de trabalho, amore.
— Luti disse levantando seus pés para
alcançar minha boca. Depois do beijo
voltou sua atenção às crianças. — E
vocês se comportem e tenham uma boa
aula.
— Eu sempre me comporto,
papai. — Duda reclamou como uma
garota crescida e eu não gosto disso.
Não quero que ela cresça!
— Eu sei Ursinha, mas é sempre
bom lembrar. Amo vocês! — Bello
disse quando nós entramos no elevador
para irmos direto até a garagem.
Dio, como eu amo aquele ragazzo!
Meu casamento com Bello é perfeito,
claro que temos algumas brigas,
principalmente porque meu Bello é um
sujeito muito teimoso e totalmente
avesso a sua segurança. Às vezes, tenho
muita vontade de esmagar seu lindo
pescocinho de tanta preocupação que ele
me faz passar, mas sempre que brigamos
o sexo fica mais selvagem e eu adoro
poder fazer coisas perversas com ele.
Só de lembrar sinto meu pau se
contorcer na cueca. Eu o amo como um
louco e fico muito satisfeito com a
família que formamos juntos. Nossos
filhos são os melhores presentes que a
vida pode nos dar, eles são meus tudo e
por minha família eu sou capaz de
qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo.
No carro Elijah vai seguindo o
caminho até a escola das crianças,
enquanto nós vamos conversando sobre
coisas cotidianas. Sou um homem de
poucas palavras, acho que nunca vou
conseguir mudar esse meu jeito, mas
com as minhas crianças e meu marido, é
impossível ser tão frio. Eles aquecem o
meu coração de tal forma que nunca
achei que alguém algum dia poderia
conseguir.
Chegamos na escola das crianças
e saí do carro para levá-las até a
entrada, gosto de fazer isso para
averiguar por mim mesmo o perímetro
do lugar, apesar de que os meus homens
sempre fazem isso os seguranças das
crianças estão sempre por perto. Mesmo
assim não tenho total confiança em
deixar a segurança deles nas mãos dos
outros.
Me despeço de Pietro com um
beijo na cabeça e tento fazer o mesmo
com Duda, mas ela fez uma careta e
disse em: Vergognati, papà! Desde
quando minha princesa tem vergonha de
me dar um beijo? Doce Jesus! Estou tão
fodido com o crescimento de minha
filha. Depois do choque volto meu olhar
para ela que está com os olhos cerrados
para uma das mães que está muito
interessada na minha presença. Ignoro a
mulher sem noção e me divirto
internamente quando Duda abraça minha
cintura ainda olhando feio para a mulher.
Balançando a cabeça negativamente lhe
dou o beijo que queria dar antes e a
mando ir para aula. Não tem como não
chegar à conclusão de que a
possessividade está presente em todos
da família.
A manhã na empresa foi como
qualquer outro dia, recebi uma ligação
de Roberto que me passou relatórios
sobre a filial da empresa que está em
Portugal. Apesar de achar Beto uma
pessoa muito inconveniente que me faz
querer socá-lo com toda a força por ser
irritante, tenho que confessar que ele é
muito competente no trabalho que lhe foi
dado. Acompanho não só seu trabalho,
mas o seu rendimento na faculdade e
tanto em um quanto no outro ele é
devidamente eficiente. Enxerguei algo
naquele sujeito irritante e eu não estava
errado. Durante o meu horário de
trabalho recebo uma ligação de Babo,
olho o visor com o cenho franzido e
atendo imediatamente. Papai não iria
ligar no meu horário de trabalho se não
fosse algo de extrema importância.
— Babo! — Atendo e ouço sua
respiração profunda do outro lado.
— Filippo, preciso de você e seus
irmãos em casa. — Meu pai disse em
um tom firme e sério fazendo os pelos
de minha nuca se arrepiarem.
— Qual a seriedade? — Pergunto
com meu corpo ficando rígido.
— Enzo, seu helicóptero saiu do
radar. — Babo disse e fechei os olhos.
— Porra! — Falo com raiva. —
Já encontraram sua localização? As
buscas já iniciaram? — Pergunto já
chamando minha secretária para que
preparem o jatinho.
— Seu irmão mandou um pedido
de socorro e sabemos onde
possivelmente o helicóptero está. —
Babo disse e ouvi vozes do outro lado.
— O senhor está indo fazer o
resgate? — Pergunto colocando o
celular no viva-voz e pegando minhas
coisas.
— Sim, sei que só chegará aqui
em algumas horas. Estou… — A voz de
Babo saiu rouca.
— O senhor não está com um bom
pressentimento? Entendo e logo estarei
aí, me deixe a par da situação. — Falo
pronto para desligar a ligação, mas meu
pai me fez parar.
— Ligue para Lucca, sua mãe já
falou com Luna e ela está vindo. Te amo
filho. — Papai disse me fazendo
assentir, mesmo sabendo que ele não iria
ver.
— Também te amo, Babo. — Falo
com firmeza e desligamos a ligação.
Inferno! O que será que aconteceu
para que o helicóptero de Enzo tenha
caído? Sim, tenho certeza de que ele
caiu, porque Enzo não iria mandar um
pedido de socorro se não fosse algo
sério. Todo os nossos meios de
transporte passam por uma avaliação
muito minuciosa e não tem como ter
acontecido alguma pane no sistema.
Apesar de que coisas ruins
simplesmente acontecem, mesmo quando
estamos preparados ou não para que
elas aconteçam. Não acredito que isso
seja algo aleatório, não posso fazer
suposições, mas é isso que sinto.
Eu envio uma mensagem para
Bello pedindo para que ele pegue as
crianças e vá para o aeroporto. Sua
resposta é curta e precisa confirmando
que iria fazer o que eu pedi, isso prova
o quanto ele confia que eu não pediria
algo assim se não fosse de suma
importância. Após falar com meu
marido falo com a senhorita Oliveira
para remarcar minhas reuniões e deixar
o diretor geral saber que estarei ausente.
Assim que termino ligo para Lucca,
quando eu já estou entrando no elevador
junto com Elijah, ele atende à ligação.
— Oi, Lippo! — Ele atende
imediatamente me deixando aliviado por
saber que está bem.
— Algo aconteceu com Enzo,
temos que ir para casa. — Falo
diretamente porque não gosto de fazer
rodeios.
— O quê? Como? Ele está
machucado? E Andrea? — Lucca me
encheu de perguntas que eu não sei
responder.
— Não sei ainda o que aconteceu
de fato, estou saindo daqui agora. —
Falo e sua respiração do outro lado
ficou mais rápida.
— Caspita Lippo, o que será que
aconteceu? — Lucca pergunta em um
tom baixo.
— Só sei dizer que o seu
helicóptero saiu do radar e Babo disse
que Enzo mandou um pedido de socorro.
— Falo com clareza ainda tentando
entender.
— Puta merda! Estou fazendo a
solicitação agora do meu jatinho, vou
pegar Gio e as crianças para irmos.
Luigi já está aqui comigo. — Lucca
disse com sua voz ganhando um tom
mais firme.
— Faça isso, Bello também já
deve estar a caminho para pegar as
crianças. Tenho que ir, te encontro em
algumas horas. — Falo desligando logo
em seguida.
Segui meu caminho até o
aeroporto sentindo uma fria
preocupação tomar conta de mim.
Procuro não pensar muito no que pode
ter acontecido ao meu irmão, mas é
impossível não me sentir absurdamente
preocupado com seu bem-estar. Meus
irmãos são uma das minhas maiores
fontes de alegria e companheirismo, se
algo acontece com algum deles
acabamos nos desestabilizando. E
perder a estabilidade não é algo que se
deve fazer em momentos de tensão.
Sinto que algo não está bem, mas só vou
ter certeza quando estiver lá. Chego no
aeroporto e vou acertar as coisas para o
meu voo, assim que todos os trâmites
foram acertados vejo que Bello e as
crianças já estão à minha espera.
— Sinto muito, não deu para
trocar de roupa, precisamos sair. —
Falo após dar um beijo em Bello.
— Tudo bem, no carro sempre
tem alguma mala com troca de roupa. —
Lembrou Bello e eu assinto indo dar um
beijo em cada um dos meus ursinhos.
— É sempre bom estar preparado.
— Falo e ele sorriu, mas logo seu
sorriso caiu. — O que houve?
— Algo aconteceu com Enzo e
Andrea, e eu não sei ao certo. — Falo e
Luti arregalou os olhos em choque.
— Será que eles estão bem? —
Pergunta Bello e eu nego.
— Babo está indo agora ao seu
resgate. — Respondo e ele acenou com
o rosto pensativo.
— Pelo menos saberemos onde
eles estão e tenho certeza de que eles
devem estar bem. Vocês Aandreozzi
sempre são ótimos em imprevistos. —
Bello disse e tenho certeza de que ele
deve estar querendo me acalmar.
— Vamos, o jatinho já está pronto.
— Chamei Bello e fiz sinal para as
crianças que estavam conversando com
um dos seguranças.
A viagem foi tensa, não pude
evitar a tensão, principalmente quando
Luna me ligou avisando que Enzo foi
encontrado, mas Andrea estava longe de
ser visto. Minhas suspeitas foram
esclarecidas e tudo indica que os Russos
começaram a fazer seu movimento.
Tenho certeza de que eles foram os
causadores da queda do helicóptero e do
sumiço de Andrea, mas tudo isso só
poderá ser verdadeiramente correto
quando Enzo falar. Coisa essa que
poderá demorar um pouco, já que Luna
disse que ele foi imediatamente para o
hospital porque estava muito machucado
e não só ele como o pobre Kay.
Chegamos em Milão após horas
de viagem e peço a Bello para ir para
casa com as crianças enquanto iria no
hospital ver o que estava realmente
acontecendo. Pensei que iria lutar para
vir comigo, mas ele foi compreensivo e
disse que iria esperar por notícias. Fui
direto para a clínica e assim que vejo
Mamma e Nonna sentadas em uma das
poltronas vou direto falar com elas.
Assim que Mamma me vê levanta e vem
ao meu encontro, assim que me abraça
chora copiosamente.
— Mamma, onde está Enzo? —
Pergunto e ela se afastou enxugando o
rosto.
— Ele ainda está sendo atendido,
não sei ao certo onde seu pai o
encontrou. Andrea ele… — Ela tentou
falar, mas o choro não a deixou terminar.
— Ele está muito machucado,
aqueles filhos da puta o quebraram sem
dó nem piedade. — Nonna disse com
raiva e os olhos cheios de lágrimas, ela
foi confortada por Lorenzo que estava
ao seu lado.
— Foram os russos, não foram?
— Pergunto friamente e Nonna soltou
um som irritado.
— Tenho uma foda certeza de que
foram, não tem como ter sido outra
pessoa. Eles levaram o pobre Andrea,
vai saber o que aquele russo psicopata
deve estar fazendo com ele. — Nonna
disse me olhando fixamente.
— Vamos encontrá-lo, Nonna, a
senhora sabe que vamos fazer o possível
e o impossível. — Falo em um tom
obscuro, tomado por muito ódio desses
filhos da puta desprezíveis.
— Eu sei e eu não duvido nem um
pouco de sua palavra. — Nonna disse
com fervor.
— Cadê o papai e Luna? —
Pergunto ainda acalmando minha mãe.
— Luna foi levar Kay para o
veterinário, ela foi no resgate com seu
pai. Ela disse que Enzo não ficaria feliz
se soubesse que seu cachorro não
recebeu atendimento. — Mamma disse e
eu assinto.
— Vou atrás de Babo. Fique aqui
vocês duas, Lucca já deve estar a
caminho. — Peço e elas assentem.
Fui atrás de meu pai e o encontrei
andando de um lado para o outro em
frente a uma porta. Quando ele me viu
não poupou detalhes sobre o resgate,
disse que tinha encontrado os destroços
do helicóptero e não muito longe ele
avistou Enzo todo machucado,
segurando o pequeno corpo peludo de
Kay. Meu pai disse que o rosto e o
corpo de meu irmão estão repletos de
hematomas, hematomas não só feitos
pela queda, mas que também foram
infligidos por socos e chutes. Uma onda
obscura tomou conta de mim, quase me
deixando cego de raiva por saber que
meu irmão estava indefeso e lutando
para que não levassem seu namorado.
Coisa que aconteceu e foi inevitável.
Algum tempo depois ouço passos
apressados na nossa direção e ao olhar
para o lado vejo Lucca, Luigi, Luna e
Bello.
— Como ele está? — Lucca
pergunta sem fôlego.
— Ainda não sabemos, estamos
esperando pelo médico. — Babo disse
assim que abraçou meu irmão mais
novo.
— E Andrea, sabem o que
aconteceu? — Luigi pergunta olhando
para nós com expectativa.
— Nonna tem certeza de que os
Russos o levaram. — Luna disse com o
rosto mascarado de tristeza.
— Eu vou arrancar as vísceras
desses criminosos do caralho. — Lucca
disse com os punhos cerrados.
— Calma aí Luc, não podemos
fazer nada agindo pela emoção. A
primeira coisa que devemos fazer é
saber para onde o levaram. — Bello
disse me enchendo de orgulho pela sua
calma.
— Sim, Bello você está certo.
Enzo vai querer procurar Andrea, assim
que ele achar que pode. — Lembrei e
eles assentem.
— Sabemos por onde começar a
procurar? — Luigi pergunta e eu assinto.
— Irei ligar para Nardelli, porque
pelo que fiquei sabendo ele estava
dando algumas informações para Enzo.
— Falo com meu tom indiferente e todos
os olhos se voltaram na minha direção.
— Você vai procurar um homem
que você não gosta para pedir ajuda? —
Luna pergunta com cautela.
— Você já deveria saber,
sorellina, não importa os nossos gostos
e desgostos quando estamos dispostos a
proteger a família. — Lembrei e ela
assente rapidamente.
— Vamos começar com isso
então. — Lucca disse distraidamente.
— Qual a notícia de Kay, ele vai
ficar bem? — Bello pergunta a Luna que
suspira antes de falar.
— Sim, o veterinário disse que
Kay machucou a pata traseira, mas vai
ficar bem. — Disse ela deixando todos
nós aliviados.
— Menos uma preocupação para
meu filho. — Babo disse e todos nós
afirmamos.
— Donatello? — A voz de Vitório
se fez presente chamando a atenção de
todos.
— Como ele está? — Babo
pergunta sem conseguir esconder sua
preocupação.
— Ele está bem apesar dos
ferimentos feios, teve algumas costelas
trincadas, pancadas fortes e constantes
na cabeça. Ele está bem, chegou a
acordar e a chamar por alguém. —
Vitório disse com seu tom profissional.
— Andrea, esse era o nome que
meu irmão estava chamando, estou
certo? — Pergunto e Vitório assente.
— Podemos vê-lo? — Luna
pergunta ansiosa.
— Sim, vocês podem entrar, mas
não podem demorar. Ele precisa
descansar. — Vitório aconselhou e nós
entendemos muito bem.
Após a saída de Vitório, Babo
pediu licença e disse que iria atualizar
Mamma sobre o que Vitório falou.
Fomos liberados para entrar no quarto
de Enzo e quando meus olhos batem no
seu corpo adormecido uma raiva quente
toma conta de mim. Ao olhar para o lado
vejo que Luna e Lucca estão com a
mesma raiva. Tudo isso ao ver o rosto
inchado e quebrado de Enzo, os
bastardos desgraçados não pouparam na
agressão contra ele. Luigi abraça Lucca
e Bello abraça Luna lhes dando conforto
e eu me aproximo da cama para ficar
mais perto de meus irmãos.
— Sei que quando acordar vai
nos contar o que aconteceu e seja o que
for que você decidir saiba que seus
irmãos estarão aqui para você. Iremos
até o fim com você e iremos trazer o seu
amor de volta. — Sussurrei no seu
ouvido com seriedade.
— Andrea, não vá! — Sussurrou
Enzo me deixando sem acreditar.
— Vamos trazê-lo de volta para
você, irmão. — Murmurei no seu
ouvido.
— Para tudo e por tudo. — Lucca
disse do outro lado da cabeceira da
cama hospitalar que nosso irmão está.
— Sempre! — Dissemos nós três
juntos e eu voltei meus olhos a Enzo.
Não importa o que aconteça ou o
perigo que vamos enfrentar. Enzo nunca
estará sozinho, pois nós vamos estar lá
para lhe ajudar.
Estou tão desnorteado, não tenho
nenhuma noção de onde estou ou quanto
tempo se passou desde que fui levado
para longe de Enzo. Oh Enzo, como será
que você está? Será que sua família o
encontrou? Será que... será que seus
ferimentos foram muito ruins. Será que
me culpa pelo acontecido? Ele e sua
família deveriam porque tudo isso que
aconteceu foi por minha causa, se eu não
me deixasse levar pela ilusão que um
dia eu poderia estar bem longe das
garras desse doente lunático. Mas não
foi isso o que aconteceu e acabei
esquecendo o quão louco Maxim
Konstantinov pode ser. Doente ao ponto
de começar suas vontades loucas e
desprovidas de qualquer sentido.
Ainda estou preso em um
grandioso e luxuoso quarto, mas dessa
vez me curando não só das feridas
provocadas pela queda do helicóptero
como também pela surra que esse russo
filho da puta me deu quando viu
lágrimas saindo dos meus olhos. Maxim
me bateu muito, foram socos, chutes,
para mostrar como tenho que ser de
acordo ao que ele quer. Ele é
definitivamente um porco imundo sem
coração. E o mais engraçado é que ele
sempre vem trazer minhas refeições e
agi como se fosse o melhor homem do
mundo, expressando como estava
sentindo minha falta e como me ama.
Muito doente, muito doente mesmo!
— Vamos lá, minha pombinha,
coma mais um pouco. — Disse ele
levando a colher cheia de sopa até meus
lábios.
— Não tenho fome. — Falo
virando meu rosto agora não encarar
seus olhos doentes.
— Não seja assim, preciso que
fique forte e sadio. Tenho planos para
nós, planos muito bons. — Maxim disse
passando o dedo no meu rosto e somente
seu toque é capaz de fazer com que meu
estômago embrulhe.
— Deixei com que você se
divertisse sem minha presença e é assim
que você retribui minha boa vontade? —
Maxim disse entre dentes virando meu
rosto para encará-lo.
— Me deixe ir! — Falo o fazendo
rir.
— Que marido eu seria se
deixasse o amor de sua vida ir assim?
Não seja um tolo, pombinha. — Disse
ele sorrindo largamente.
— Eu não quero nada com você,
nunca quis e nunca irei querer. Deixe-me
viver a vida que você tomou de mim por
um longo tempo. — Reunir a coragem
que não sabia que tinha e fiz esse
pedido. Ele olhou como se ponderasse o
meu pedido.
— Você quer me deixar? E se
fizesse isso aonde você iria? Não diga,
tenho certeza de que iria correr para
aquele italiano. — Disse ele virando o
rosto e agarrei sua mão que estava
segurando a bandeja de prata.
— Não, eu não iria para lugar
nenhum. Eu sumiria de sua vista, não
ficaria com ninguém. — Falo
rapidamente apertando sua mão e ele
olhou por um tempo para minha mão até
que começou a rir.
— Quem você está querendo
enganar, golubushka? — Pergunta ele
com uma risada fria.
— Eu não estou... — Calei
imediatamente quando a bandeja de
prata atingiu meu rosto me fazendo cair
para trás. Sinto a quentura da sopa
derramada no meu colo.
— Eu te ensinei mais que isso!
Não torne a ser aquele garoto inútil,
porra! O que há com você? Você deveria
ser agradecido a mim por ter deixado
você ficar tanto tempo afastado,
praticamente de férias enquanto estava
sendo fodido por um italiano de merda.
É isso que você quer? Quer ser fodido
por esse italiano? — Maxim fala em um
tom baixo e frio, arrepiando minha
espinha com seu tom psicótico.
— Não... não. — Falo e ele fez
um som de desdém.
— Vou mandar alguém vir te
ajudar a tomar um banho e arrumar essa
bagunça. Mais tarde estarei de volta. —
Ele disse arrumando seu terno. — Você
ouviu o que falei? — Pergunta ele se
aproximando.
— Sim. — Respondo sentindo
minha boca cortada, o lado do meu rosto
em que foi atingido pela bandeja está
doendo muito.
— Sim o quê? — Ele pergunta em
um tom obscuro e eu estremeci.

— Sim senhor. — Disse com a


cabeça baixa e ela sorriu.
— Muito bem golubushka. Muito
bem! — Disse isso e saiu do quarto logo
em seguida.
O choro veio abafado, uma
vontade louca de gritar em plenos
pulmões o quanto o odeio. Encolhi meu
corpo muito machucado e choro com
tudo que há em mim. Sei que não
deveria fazer isso, mas é graças ao amor
da minha vida que eu pude voltar a
desabafar o meu sofrimento e não vou
deixar com que Maxim manipule minhas
emoções.
Dói, dói tanto, dói até a minha
alma de tanta saudade que sinto de Enzo,
minha vida ao seu lado era tão calma e
ótima. Sinto falta do seu toque, dos seus
beijos, do modo doce e muitas das vezes
sexy e selvagem com que fazíamos amor.
Fico me perguntando como seria minha
vida se não tivesse o encontrado. Tenho
certeza de que quando Maxim me
encontrasse e voltaria a ser o mesmo de
antes, mas agora que descobri o que é
ser um ser humano novamente eu jamais
me deixarei ser manipulado. Faço isso
por mim e por Enzo, porque quero ser
digno para ele.
Enzo deve estar bem, sinto que ele
está bem. Ele tem que estar bem! Sua
família nunca o deixaria só sem precisar
de ajuda. Sou uma dessas coisas ruins e
tóxicas que apareceu na vida de Enzo,
porque se não fosse assim ele não
estaria passando por isso. A família
Aandreozzi só tem pessoas de bom
coração e eles vão cuidar de Enzo. Logo
vai parecer como se eu nunca tivesse
passado por sua vida. É isso, não deve
ter mais jeito e tenho certeza de que
assim será melhor.
Dio, a quem estou querendo
enganar! Isso jamais aconteceria, ele é
muito teimoso para não querer fazer
algum tipo de loucura e tentar ser um
herói. Mesmo eu querendo fingir que
Enzo não me ame e que depois de toda
essa merda ele vai querer manter
distância de mim, sei que não é bem
assim. E antes que ele venha até mim,
tenho que sair daqui. Não posso deixar
com que se machuque.
Assusto-me quando vejo a porta
do quarto ser aberta, mas relaxo meu
corpo um pouco quando vejo duas
enfermeiras que já tiveram aqui antes
para cuidar dos meus ferimentos. Logo
atrás delas estão dois grandes capangas
de Maxim para se certificar dos
cuidados que elas vão fazer.
Eles me pegam no colo de modo
grosseiro e me levam para o banheiro, lá
elas sem falar nada começaram a cuidar
de todos os ferimentos e quando todos
foram cuidados elas pedem para que eu
vá até para a banheira. Os dois capangas
saem, mas tenho certeza de que estão na
porta prontos para agir se caso for
necessário. Elas me ajudam a tomar o
maldito banho que arde todos os cantos
do meu corpo. Vejo a sacola que elas
trouxeram com os suprimentos aberta e
nela encontro uma tesoura.
— Chy ya vstala, sér? (Consegue
se levantar, senhor?). — Pergunta uma
delas e deu para perceber que elas são
ucranianas.
— Da vse v poryadke. (Sim, está
tudo bem.) — Respondo em Russo e
elas entenderam.
Levantei com cuidado da banheira
e elas me ajudaram a colocar uma calça
de moletom e uma camisa simples.
Quando estava perto de terminar de me
vesti, fingir uma tonteira jogando meu
corpo para cima da bolsa delas. Elas
ficaram desesperadas para que eu não
caísse no chão e foram me segurar.
Aproveitei esse momento de distração e
peguei a tesoura que estava exposta,
pronta para que eu a pegasse. Coloquei
rapidamente no meu bolso quando os
capangas apareceram, eles me pegaram
e levaram de volta para a cama.
Respirei aliviado quando elas
saíram do quarto e não deram conta que
estava faltando uma tesoura na bolsa.
Percebi que o quarto estava limpo, sem
toda aquela bagunça da sujeira que
Maxim provocou mais cedo. Os
capangas saíram também me deixando
sozinho no quarto, mas tenho certeza de
que eles estão fazendo a guarda na porta,
a mando de seu chefe.
Comecei a pensar em vários
modos de como escapar daqui, mas
primeiro tenho que saber onde estou.
Tentei ver atrás da janela, para ter uma
noção de onde eles me trouxeram, mas
de nada adiantou. Porque as janelas
foram cobertas com algum tipo de
proteção que deixa a visibilidade do
lado de fora impossível.
No dia do acidente de helicóptero
Fyodor me manteve dormindo por um
longo tempo e quando acordei dei logo
de cara com Maxim, me encarando como
se o seu brinquedo favorito estivesse
novamente em suas mãos. Não mais, e
agora tenho que fazer o possível e do
impossível para sair daqui. Cansei de
ter medo desses russos loucos, não serei
mais o seu brinquedo. Enquanto estava
afundado nos meus pensamentos de
como sair daqui, não percebi que
alguém tinha entrado no quarto. Mas a
figura que aparece na minha frente faz
meu coração cantar de saudades.
— Viktor, é você mesmo? —
Sussurrei e ele continuou a me olhar sem
esboçar nenhuma reação.

— Então você voltou! — Exclama


e seu rosto não demonstrava nenhuma
emoção de quem estava feliz em me ver,
muito pelo contrário.
— Viktor, você não sabe o quanto
senti sua falta. — Falo tentando o
alcançá-lo, mas ele deu um passo para
trás.
— Mentira! Tudo o que sai de sua
boca são mentiras! — Viktor disse com
seu rosto vermelho de raiva. Aquilo foi
como se desse um soco no meu
estômago, pois ele nunca falou comigo
com tanta hostilidade.
— Por que você diz isso, Vik? —
Pergunto sentindo minha garganta
começar a arder.
— Não me chame assim! Não,
nunca mais me chame assim, você não
tem esse direito. — Grita ele irritado e
quando tentei o alcançar mais uma vez
ele deu dois passos para trás.
— Viktor por favor, não faça isso.
Eu senti tanto sua falta. — Falo sentindo
meus olhos encherem de lágrimas.
— Você me abandonou, você
disse que nunca iria me deixar, que iria
ser nós dois. — Viktor disse e percebi
que ele queria chorar, sei disso porque
desde pequeno a ponta do seu nariz fica
vermelha. E mesmo agora com seus 13
anos, ele não mudou isso.
— Não diga isso, eu tentei te
levar comigo, mas foi impossível.
Nunca iria abandonar meu filho aqui. —
Falo tentando fazer com que ele me
entendesse, mas ele nega com a cabeça.
— Mentira! Você me abandonou.
Você fez igual a ela. — Viktor disse
"ela" se referindo a sua mãe falecida.
— Viktor vem aqui, querido.
Deixe-me te explicar algumas coisas.
Vem aqui. — Chamei e ela nega
rapidamente.
— Eu estava aqui com ele, você
não sabe como ruim ele pode ser quando
você não está por perto. Ele dizia que
era minha culpa, que tudo era minha
culpa. — Viktor disse chorando e isso
me faz chorar também, porque entendo
sua dor.
— Izvinite, moy mal'chik, mne
ochen' zhal'. Prosti, papa. (Sinto muito
meu menino, eu sinto tanto. Desculpe o
papai.) — Falo e aproveitei que ele
estava parado e sem ligar para minha
dor no corpo o puxei para os meus
braços.
— Papa, ty tozhe menya pokinul.
(Papai, você também me deixou.) –
Sussurrou meu garotinho enquanto o
abraçava com força.
— Eu queria tanto te levar
comigo, passei por muitas coisas e
estava decidido a te ter de volta. —
Falo e ele me afastou abruptamente.
— Não posso mais acreditar nas
coisas que você fala. Eu estava aqui
com ele, enquanto você estava longe.
Foi ruim, mas não tão ruim do que não
ter a única pessoa que se importava
comigo — Disse ele indo para a porta.
— Juro que pensei em você todos
os dias e me sentia culpado por não ter
conseguido o levar comigo. — Falo
tentando fazer com que Viktor
acreditasse nas minhas palavras.
— Todos os dias imaginava você
vindo me tirar daqui, mas você nunca
veio. — Viktor disse e eu pude ver a
tristeza nos seus olhos.
— Por favor Vik, não vá. — Pedir
ele nega.
— Não posso e não quero, se meu
pai descobre que estou aqui receberei
punição. — Disse ele com expressão
séria.
— Tudo bem então vá para que
Maxim não te machuque. — Falo
exasperado quando ouvi a palavra
punição sair da boca de Viktor. — Te
amo, meu menino.
— Não, você não ama. — Disse
ele e saiu logo em seguida em deixando
em pedaços.
Fechei os olhos, sentindo a culpa
por ter deixado meu filho me corroer, eu
deveria ter elaborado direito a minha
saída daqui para que pudesse levá-lo
comigo. Não posso imaginar o que
Maxim fez com Viktor enquanto eu
estava longe, apesar de que muitas das
vezes Viktor passava por muitas coisas
mesmo com a minha presença, mas tinha
momentos em que eu fazia de tudo para
desviar a atenção do monstro dele.
Maxim começou a treiná-lo desde
cedo, ele dizia que o futuro dessa
família Bratva era sua responsabilidade
de fazer com que Viktor fosse o melhor.
Nunca entendi esses mafiosos filhos de
uma puta que fazem isso com crianças,
eles são apenas crianças e não devem se
envolver com essas coisas.
Viktor sempre foi o único pedaço
feliz que preenchia minha vida quando
vim para Rússia. Ele sempre foi um
lindo e bom menino, sempre obediente
fazendo de tudo para que eu não ficasse
triste ou para que seu pai não fosse
agressivo com ele. Doía meu coração
quantas vezes ele apanhava sem motivo
algum, na verdade, Maxim dizia que isso
o deixaria forte.
E Viktor aguentava tudo sem dizer
nada e eu sempre estava disposto para
lhe dar o amor, amor esse que ele
definitivamente só recebeu através de
mim. Com o passar dos anos em que foi
crescendo, Viktor foi perdendo seu
brilho de criança e vendo ele agora
sério do jeito que está me corta por
dentro.
Não sei quanto tempo fiquei me
martirizando pelas palavras duras de
Viktor e de como perdi o meu garotinho,
mas quando dei por mim um grupo de
pessoas estavam entrando no quarto para
arrumar a mesa para o jantar. Jantar que
tenho certeza de que terei uma
companhia totalmente desagradável.
Engoli em seco e peguei
cuidadosamente a tesoura que tinha
escondido no bolso e coloco embaixo
dos travesseiros. Assim que o grupo vai
embora, após montar a mesa com as
nossas refeições, Maxim entra com sua
arrogância de sempre, vestindo um dos
seus impecáveis termos da cor clara.
Ele vem na minha direção e sem falar
nada me coloca sentado na sua frente.
— Vamos comer, pombinha. Eu
tive um dia chato, torturei algumas
pessoas que acham que podem estar
acima de minha autoridade e isso é
cansativo. — Maxim fala como se não
fosse nada e continuei sem falar.
— Soube que Viktor desobedeceu
a minha ordem de não vir até você.
Acho que vou ter que te ensinar a não
andar me desobedecendo. — Maxim
falou chamando minha atenção e meu
coração gelou.
— Não, ele não fez nada. — Falo
e isso rendeu um riso diabólico de
Maxim.
— Sabia que se falasse de nosso
filho, você falaria comigo. Detesto falar
sozinho. — Maxim disse apontando a
faca na minha direção e eu assinto.
— Tudo bem, eu falo com você,
mas não faça nada com Viktor. Ele só
veio me ver e não fez nada. — Falo
rapidamente e Maxim em olhou com
desgosto.
— Você sempre foi muito mole
com aquele garoto, nunca gostei disso. –
Maxim disse me fazendo torcer as mãos
no meu colo.
— Ele é só uma criança. – Falo
sem consegui me conter e Maxim me
olhou de um jeito que arrepiou os pelos
da minha nuca em sinal de aviso.
Preciso abrandar mais.
— Gostava mais quando você não
falava muito, você agora está sendo
impertinente. — Maxim disse
descontente e eu arregalei os olhos.
— Sinto muito. — Disse contido e
ele sorriu.
— Não via agora de trazer você
de volta para casa. — Maxim disse e
apertei os punhos.
— Onde estamos? — Pergunto
com um tom de voz calmo e baixo.
— Em Moscou, onde mais
estaríamos? Odeio a Itália, nunca gostei
e tive que vir por sua causa. — Maxim
disse após cortar seu bife com raiva.
Saber disso me fez mal, muito mal. Mas
não vai me impedir de tentar sair daqui.
— Posso saber quando chegamos
aqui? — Pergunto e ele me olhou
friamente.
— Não, o que importa é que
estamos em casa e você não vai mais
sair. Essa é sua casa! — Disse ele
dando um soco na mesa e todas as
coisas pularam com o impacto.
— Da! — Falo o fazendo assinto
satisfeito com a minha resposta.
— Yesh'te skoro! (Coma logo!) —
Comandou ele apontando para o prato.
Tentei comer, mas não consegui e isso
foi o suficiente para fazê-lo levantar da
mesa. — Estou cansado de sua
insubordinação.
— Net! Não por favor. — Falo
assim que meu corpo foi puxado e
jogado na cama.
— Tenho que te mostrar
novamente que seu corpo me pertence,
para que você pare de ser tão
desobediente. Eu mando e você faz sem
questionar, era assim antes e vai ser
sempre assim. — Maxim foi tirando sua
roupa com irritação, revelando suas
tatuagens que tanto odeio.
— Eu... — Tentei falar, mas ele
me bateu.
— Calado! Eu estou irritado
porque você cortou seu lindo cabelo e
eu não vou poder o puxar como quero.
— Disse Maxim de um jeito duro.
— Não faz isso – peço com medo
e ele me deu outra tapa me jogando de
costas na cama.
— Você não diz o que eu devo ou
não fazer. Tenho certeza de que esqueceu
quem é seu dono, a quem você deve
obediência. — Maxim disse prendendo
meus braços acima da cabeça.
Ele tentava alcançar minha boca,
mas eu virava o rosto fugindo de suas
investidas. Quanto mais lutava para me
sair, mas me via preso em seus braços.
Maxim conseguiu alcançar minha boca,
enquanto ele tentava a todo custo me
força para que eu correspondesse o seu
beijo, mais com vontade de vomitar
ficava. Quando conseguir me soltar e
afastar o seu corpo do meu, não
consegui conter o vômito e coloquei
tudo o que não tinha no estômago para
fora. Isso foi o bastante para deixá-lo
louco, Maxim grita com irritação aos
quatro cantos como o meu ato era
desrespeitoso. Seu ódio era tão grande
que fiquei com muito medo. Corri fora
de seu alcance e ele conseguiu me
segurar, me virando rapidamente de
barriga para baixo.
— Senti falta desse seu corpo,
golubushka. — Sua voz escorria desejo
enquanto tirava minha calça.
— Me solte, porra! — Falo
chutando com minhas pernas.
— Estou gostando desse seu lado
selvagem, isso me excita. — Disse ele
dando um riso mal e meu corpo
estremeceu.
— Você não vai me forçar, eu não
posso permitir isso. — Falo entre dentes
alcançando o lugar que deixei a tesoura.
— Não finja como se não gostasse
do meu toque. — Ele disse e eu chutei
seu rosto. — Você fez isso? Não
acredito! — Ele disse com frieza, me
virando para frente.
Quando fui virado a tesoura já
estava em minhas mãos, agarrei-a com
firmeza que meus dedos envolta do aço
estavam doendo. Eu estava decidido a
acabar com sua vida miserável mesmo
que seja com uma simples e medíocre
tesoura, mas não seria tão fácil. Assim
que ele viu que eu tinha uma tesoura na
mão seu rosto marcava descrença e pura
loucura. Sempre tive pavor de estar
perto desse homem, pois ele é realmente
a pessoa mais doentia que cruzou minha
vida miserável. Mas agora tem que ser
diferente, estou diferente e vou mostrá-
lo o quão forte o meu espírito se tornou.
Tentei acertá-lo, mas meu corpo
estava fraco e em todas as vezes que
movimentava a tesoura para que ele
acertasse o seu peito, ele conseguia
desviar e segurar minha mão. O tirei de
cima de mim com um chute e isso
somente o fez rir. Ele avançou
novamente conseguindo acertar o soco
no meu rosto, fingir que estava
cambaleando e quando ele se aproximou
fui o mais rápido que me corpo estava
permitindo, enfiando a tesoura no seu
ombro.
Foi gratificante ver o sangue
desse homem desprezível escorrer por
todo o seu terno caro que tanto odeio.
Aproveitei sua surpresa com minha
atitude e corri para a porta, assim que
abri percebi que os homens que estavam
protegendo a porta não estavam lá. Com
certeza eles devem ter saído a mando de
Maxim, o grande bastardo não gosta de
seus homens muito próximos quando ele
está comigo.
Mesmo com o meu corpo todo
quebrado corro como se minha vida
dependesse disso. E o mais engraçado é
que realmente depende. Tento encontrar
Viktor, fazendo de tudo para que não me
vejam. Já deixei o meu menino aqui uma
vez e não farei a segunda,
definitivamente isso não é uma opção.
Não conheço o lugar e fica difícil saber
com exatidão para onde ir, ainda mais
um lugar tão grande como esse.
— Onde pensa que vai, minha
pombinha? — Congelo no meio do
corredor e fechei os olhos com força.
— Não! — Falo virando para
encará-lo agora sem a tesoura no seu
ombro.

— Muito corajoso de sua parte


ferir o seu marido, será que você tem
coração? — Pergunta ele com um
sorriso diabólico estampado no rosto.
— Eu... eu vou embora daqui. —
Falo dando um passo para trás e isso o
fez rir ainda mais.
— Peguem-no! — Disse Maxim
com o rosto sério, assim que ele fechou
a boca dois homens enormes me
seguraram.
— Me solta! Não! — Tentei me
livrar de suas agarras, mas nada foi o
suficiente.
— Papa! — A voz chorosa e
assustada de Viktor me fez olhar na sua
direção.
— Eu estou bem, querido, tudo
vai ficar bem. — Falo tentando ser
convincente, mas no fundo eu sabia que
não estaria nada bem.
— Poderia ser tudo diferente
minha doce pombinha, mas você
preferiu ser difícil. — Maxim disse se
aproximando de mim balançando a
cabeça negativamente. — Vou arrumar
essa bagunça que você fez em mim e
logo irei ao seu encontro. E vamos
brincar até nos cansarmos.
— Tirem-no daqui e levem para o
outro quarto. — Maxim disse e eu fui
arrastado pelos seus homens. Olhei para
Viktor que tentou vir na minha direção,
mas foi impedido por Maxim que
segurava seu pescoço em um aperto
firme.
Fui levado para um quarto nos
fundos, muito diferente do quarto
anterior em que estava, esse é bem
pequeno, abafado, onde não há uma
mínima condição de alguém ficar. Isso
porque o cheiro de sangue velho está
presente por todo o lugar. Sou amarrado
por correntes presas ao teto, minha
roupa é arrancada do meu corpo, me
deixando totalmente à mercê de seus
atos. Quando Maxim chegou sem mais
nenhum vestígio do ferimento que lhe
causei o meu desespero começou,
principalmente quando que em suas
mãos tinha um grosso chicote de açoite.
— Vamos brincar muito, eu queria
fazer diferente, mas você me provocou.
— Maxim disse passando o cabo do
chicote no meu peito nu.
— Eu odeio você, odeio você
com cada força do meu ser. Um dia
ainda irei te matar com minhas próprias
mãos, não importa o tempo, mas sua
morte virá de mim. — Fale com ódio e
cuspo no seu rosto, isso rendeu que ele
começasse a rodear meu corpo me
olhando com atenção e interesse. Sem
falar uma palavra ele começou a açoitar
minas costas e fiz de tudo para não o
mostrar como isso doía feito o inferno.
— Você é meu, não pertence a
mais ninguém além. — Ele falava
enquanto eu sentia o estalar do chicote
nas minhas costas.
— Não, eu me pertenço e meu
coração pertence a uma pessoa em
especial. E sei que ele está vindo até
mim, então sugiro que se prepare. —
Falo reunindo a força que eu não sabia
que ainda tinha.
— Cale a boca! — Grita ele
descendo a mão com mais força.
— Eu sei que ele está vindo para
mim, tenho fé em Enzo. Eu nunca
deixarei de ter fé nele. — Murmurei e
logo grito de dor.
Após algumas horas de dores
massacrantes eu apaguei. Mas senti a
consciência voltando, assim que um
barulho alto de exploração chegou aos
meus ouvidos. Tento abrir os olhos, mas
não consigo e a barulho de passos,
gritos e mais explosões me fazendo
querer chorar por saber que ele veio.
Sim, eu sei, meu coração sabe que é ele.
Enzo veio me tirar daqui
ENZO AANDREOZZI

Quando acordei na cama de


hospital eu não senti dor e muito menos
senti que estava vivo. Para falar a
verdade eu não sentia nada, e isso me
fez ficar olhando para o teto. Tentei falar
com a minha família e aceitar que eles
estavam felizes por eu estar a salvo,
tudo isso era uma merda para mim. Tudo
o que eu conseguia pensar deitado
naquela maldita cama era no rosto
assustado é choroso do meu Anjo.
Ainda não consigo acreditar que
aqueles bastardos desgraçados tiveram
coragem de derrubar o meu helicóptero
e levaram o meu namorado de mim. Eles
não têm a mínima noção do monstro
terrível que acordaram, a fúria assassina
que tomou conta de mim é assustadora,
assustadora para aqueles que me tiraram
Andrea. Tudo o que eu pensava enquanto
estava deitado naquela cama fodida era
como iria fazer para que todos eles
estivessem mortos.
Tentei a todo custo sair da cama,
mas o meu corpo ainda não estava
correspondendo aos meus desejos, a
única coisa que eu queria era sair,
carregar minha bolsa com armas e ir
atrás deles, caçar, atacar, mutilar e matar
todos eles. Cada pedacinho dos
integrantes da máfia Russa, a começar
por aquele careca do caralho o tal do
Fyodor. Enquanto eu estava no meu mar
de autopiedade e desespero, percebi que
meus irmãos estavam muito agitados,
eles respeitavam a minha vontade de não
querer falar, mas a agitação deles estava
mexendo comigo. E foi aí que eu me
toquei que estava sendo egoísta e que
não era somente eu que estava com raiva
pelo o que aconteceu. Foi aí que fui
surpreendido com a entrada de Nardelli
no quarto e olhei sem entender por um
tempo.
— Então você acordou? —
Pergunta Nardelli com seu ar arrogante
de sempre.
— E então, você conseguiu o que
te pedi? — Filippo pergunta e Lucca
veio me ajudar a sentar.
— Com quem você acha que está
lidando? — Pergunta Nardelli olhando
com irritação para Filippo que
permaneceu com sua expressão séria.
— Agora não é o momento para
brigas ou discussões. Estamos
precisando ficar unidos para conseguir
bolar um plano para salvamos Andrea.
— Luigi disse com os braços cruzados e
todos afirmaram.
— O quê? Eu não… — Fiquei
aturdido olhando para todos no
ambiente. Senti um estalo na minha testa
e foi o suficiente para que eu arregalasse
os olhos.
— Você realmente achou que não
estaríamos fazendo o possível e o
impossível para poder trazer Andrea de
volta para casa? — Luna pergunta com
os olhos cerrados na nossa direção.
— Já estávamos tentando ver o
que fazer, para que quando você
acordasse iniciarmos o nosso plano de
ataque. — Lucca disse trazendo um
pouco de água para que eu bebesse.
— Não sei o que dizer. — Me
senti culpado por ser egoísta.
— Não precisa dizer nada, só
fique mais forte para sairmos daqui. —
Luna disse com um tom acolhedor e eu
assinto.
— Enquanto você estava aí com
seus pensamentos assassinos vorazes
estávamos pensando em algo. — Luti
disse com um pequeno sorriso no canto
dos lábios.
— E é por isso que Filippo me
chamou? — Nardelli disse do outro lado
do quarto.
— Você o chamou? — Pergunto
com a voz rouca e meu irmão mais velho
deu de ombros.
— Sim, o chamei e não faça disso
uma grande coisa. — Filippo disse
sendo ele mesmo.
— Já que é assim vamos
começar? — Luigi pergunta e olhei para
todos agradecidos antes de assinto.
E foi aí que tive a certeza de que
eu nunca estaria sozinho nessa vida. Que
sem a minha família eu não sou nada,
pois eles me ajudam mesmo quando
estou me sentindo um total inútil e não
tenho como dizer o quanto sou
fodidamente agradecido por pertencer a
essa família. Todos eles estão aqui para
me ajudar a trazer de volta para casa o
homem por qual me apaixonei, o homem
que está preso nas garras de um doente
capaz de fazer qualquer coisa para ter o
controle total dele.
Não, eu não estou sozinho e isso é
fantástico. Tento me recompor respiro
fundo e olho para Lucca que está me
encarando com a cabeça inclinada
pronto para perguntar o que tenho, mas
quando balancei a cabeça que estou bem
ele voltou a atenção para a conversa que
estava acontecendo bem diante de nós.
E foi nesse mesmo quarto de
hospital, que começamos a bolar um
plano para o resgate de Andrea.
Nardelli começou dizendo que já estava
investigando os russos a um tempo e que
tem certeza do local que eles estão
instalados e onde basicamente é o lugar
onde todas as armas traficadas por eles
devem estar. A primeira coisa é saber se
realmente Andrea está neste lugar e nos
preparar para chegar com cautela para
que ninguém escape. Cada um de nós
opinou como seria a melhor forma de
ataque e é claro que Nardelli estava
pensando em chamar ajuda oficial para
isso, mas fui curto e grosso em
dispensar esse tipo de coisa. O que
deixou Nardelli muito puto, mas o
estado de espírito dele é o que menos
importa para mim.
— Não, isso não vai acontecer.
Você está aqui por ser um amigo e se
quiser colocar os federais nisso não vai
dar certo. — Falo irritado apertando os
punhos nos lençóis.
— Você sabe quantas coisas
ilícitas eu estou fazendo para poder te
ajudar? — Nardelli pergunta e vi no
canto do olho que Filippo queria falar,
mas nego o impedindo.
— Sei disso e agradeço muito
toda a sua ajuda e você sabe que não
importa que foda suja aconteça contigo
eu vou estar lá para te apoiar. — Falo
sentindo minha cabeça começar a doer.
— Eu sei porra, eu sei! Mas você
terá que me dar algo em troca. —
Apontou Nardelli e isso deixou o clima
do quarto pesado.
— Seu filho da puta! Meu irmão
está tentando recuperar o homem que
ama e você aqui querendo algo em troca.
— Filippo disse entre dentes avançando
em direção a Nardelli, mas Luti o
impediu.
— Calma lá Lippo, não vá
começar uma briga aqui no hospital —
Luti intervém e eu o agradeço
mentalmente por isso.

— Eu sei que não é hora para


isso. Mas ele pode ser um fodido
bastardo quando quer. — Filippo disse
abraçando o marido e ver essa cena me
fez desviar os olhos. Daria tudo para ter
o meu anjo aqui comigo.
— Acho que vocês não
entenderam a gravidade do problema
que temos nas mãos. Lidar com esses
russos não é brincadeira, só estou
querendo pedir ajuda. — Nardelli disse
com uma expressão séria.
— E nessa brincadeira vamos
todos presos, uma maravilha. — Luna
resmungou.
— Eu não posso ter os federais na
minha cola, eu não sou um homem que
respeita limites. — Lucca disse fazendo
todos nós olharmos na sua direção.
— Nós sabemos disso! —
Dissemos ao mesmo tempo e isso o fez
dar de ombros.
— Não importa! Nada disso
importa, a única coisa que quero é
resgatar o meu Andrea de lá. O tempo é
precioso e estamos perdendo tempo
falando um monte de merda — falo
friamente chamando a atenção de todos.
— Zuco está certo, temos que nos
adiantar e se tivermos que fazer isso
temos que fazer isso já — Luna diz em
definitivo e todos assentem.
— Vamos invadir aquele maldito
lugar e tirar meu anjo de lá são e salvo
— falo com firmeza.
— Lembre-se que eles podem não
estar lá. — Nardelli lembrou e todos o
olharam com fúria e ele levantou as
mãos em sinal de rendição. — Eu só
estava lembrando.
— Sabemos disso, mas não vai
me impedir de continuar procurando.
Ele é meu e o lugar dele é em meus
braços. — Disse o fazendo entender que
estou pronto para qualquer coisa.
— Vamos trazer ele de volta e
pode contar comigo — Nardelli diz
carrancudo e eu respiro com mais
tranquilidade.
— Enzo pegue leve, lembre-se
que você tem que se recuperar logo. —
Luigi disse em um tom de aviso e eu
afirmo agradecido.
— Eu sei, quero sair daqui logo.
— Reclamei e Luna passou a mão no
meu peito.
— Babo está conversando com
Vitório para ele te liberar. — Filippo
disse e eu olhei para ele por um tempo e
seus olhos azuis me davam a força que
eu precisava.
Nardelli se despediu de todos e
saiu pronto para pegar as informações
que precisávamos para invadir o lugar
que a máfia russa está fazendo suas
negociações aqui na Itália. Logo após
sua saída, Mamma entrou juntamente
com Nonna, só de olhar para o rosto de
minha Nonna pude ver o quanto ela
também está preocupa com Andrea. Ela
que foi a pessoa que o ajudou e tomou
uma bonita amizade, com o garoto
perdido que tinha caído após passar por
um tormento durante muitos anos de sua
vida.
Nonna olhou nos meus olhos e me
fez jurar que iria trazer Andrea de volta,
assinto sentindo um nó formar na minha
garganta e a abracei. Não sabia se eu
estava a confortando ou era o contrário,
mas me senti bem dentro desse abraço.
Fiquei satisfeito ao ver a porta
abrir e Babo entrar com Vitório, o olhar
desgostoso no rosto do médico me deu a
ideia o quão insatisfeito ele estava por
me liberar. Todos saíram do quarto para
que ele me examinar, assim que terminou
de me averiguar por completo ele tentou
fazer com que eu permanecesse na
clínica por um tempo. Mas eu estava
muito longe de aceitar qualquer tipo de
merda, porque eu tenho um objeto em
mente e ficar aqui internado não é uma
delas.
Foda-se tudo!
Quando me vi livre da burocracia
médica meus irmãos me ajudaram a
trocar de roupa e em poucos minutos eu
já estava fora daqui.
Decidi não ir para casa dos meus
pais como Mamma sugeriu, voltei para
casa e ao chegar lá não me deparar com
a presença de meu anjo foi massacrante.
Me acostumei a tê-lo por perto
reclamando de como sou bagunceiro, de
olhar para seu lindo corpo vestindo
somente minha camisa, que fica mais
parecendo um vestido de tão baixinho
que ele é. Aperto o meu peito ao sentir
saudades do jeito fofo que ele amarra o
cabelo quando está indo para a cozinha
preparar algo para comermos.
Inferno, anjo!
Eu nem ao menos queria te abrigar
aqui quando Nonna pediu e agora me
vejo como um inútil patético sentindo
falta de pequenos jeitos seus. Quando
foi que me apaixonei tão rápido em tão
pouco tempo? Parece surreal admitir,
mas eu sou um fodido apaixonado.
— Olha quem está aqui, Zuco? —
Luna fala trazendo Kay no seu colo com
a perna engessada.
— Kay! Pobre Kay, sinto muito
garoto você se machucou tentando
proteger a mim e Andrea. — Falo
tristemente pegando meu cachorro no
colo.
— Ele foi um ótimo cão e o
veterinário disse que em pouco tempo
estaria livre desse gesso. — Lucca disse
sorrindo para mim e eu assinto.
— Isso é bom, ele foi forte. —
Falo alisando sua pequena cabeça.
— Sim, um legítimo cachorro de
macho. — Filippo resmungou fazendo os
outros rirem.
— Até que enfim você reconheceu
a firmeza do meu cão. — Reclamei em
um tom leve e Filippo me olhou com
descrença.
— Não seja um bastardo por isso.
— Apontou ele e eu dei de ombros. O
clima da minha sala de estar estava
ameno e do nada ficou mais rígido.
— Você tem certeza de que
consegue lutar? — Luigi pergunta e eu
afirmo sem pensar duas vezes.
— Tenho toda a foda certeza do
mundo! — Falo com raiva e ele assente
olhando para Filippo.
— Bem, porque eu acabei de
receber a localização de Nardelli. —
Meu irmão mais velho disse me
passando o celular. Dei Kay a Luti para
que ele o colocasse na sua cama e voltei
minha atenção ao celular.
— Então é aqui que eles estão? —
Pergunto para ninguém aparente. —
Vamos, vamos ficar prontos! — diz, se
levantando do sofá e saindo para trocar
de roupa e pegar as armas.
Subi para o meu quarto e fui
direto para o closet, me vesti com uma
calça cargo preta, minha blusa preta,
coloquei minhas botas e desci para
poder pegar minhas armas. Na minha
academia tem um compartimento onde
coloco todas as minhas armas, fui
preocupado achando que tinha perdido
aquelas que meu pai me deu no acidente
de helicóptero, mas parece que não.
Estavam aqui, a minha espera. Olhei
para trás e lá estava Cyro e Timóteo
afirmando com a cabeça que estavam
por perto, os agradeci mentalmente por
trazê-las com eles. Já que eu estava
desmaiado e não lembro muito bem do
meu resgate. Tudo que lembro é de
acordar no hospital com minha família e
a certeza que tinham levado o meu anjo.
Vesti meu coldre para acomodar
as duas armas negras da família,
coloquei também um coldre com uma
arma pequena na perna juntamente com
uma adaga. Peguei a mala onde estava o
meu melhor rifle o Cheyenne Tactical
M-200, respirei fundo e abri na intenção
de dar uma inspecionada. Estou o
levando porque eu sou bom nisso e se eu
tiver condições de usá-la, farei sem
hesitar. Esse rifle me permite ter uma
boa visão e tem uma precisão
impressionante, preciso ter o melhor
equipamento em mãos, para me sair o
melhor possível.
Após ter tudo o que preciso em
mãos saio e vou ao encontro dos meus
irmãos, como poderia imaginar eles já
estavam prontos a minha espera. Eu,
Filippo, Lucca, Luna, Luti e Luigi vamos
no mesmo carro, com a Luna na direção
é claro. Mais quatro carro estão
seguindo a gente e neles tem os nossos
seguranças.
Chegamos no endereço que
Nardelli falou e olhando de fora parece
um simples casarão recém reformado.
Se eu não soubesse que lá está
preenchido por bandidos russos que
vieram tirar o meu anjo de mim,
passaria batido sem sombra de dúvidas.
Resolvi deixar o rifle de lado já que eu
não teria uma boa visualização para
poder usá-lo, mas tenho certeza de que
não me faltará oportunidades. Dentro do
carro passo todas as informações
necessárias aos homens, aumentando
assim a nossa força tática e saio do
carro sendo seguido por meus irmãos e
cunhados.
Vejo Filippo indicar a Elijah para
mandar homens ao redor do perímetro.
Como eu não estava com muita vontade
de perder tempo andei até a porta da
frente, ouvi as vozes de Luna e Luti me
pedindo para esperar, mas eu estava
com uma meta em mente: matar todos
que aparecerem na minha frente e
recuperar Andrea. Dei dois tiros na
maçaneta e abri a porta com um
empurrão, logo de cara encontrei três
homens e eles se assustam com minha
presença, não dei tempo para se
recuperarem e sai logo atirando mirando
no meio de suas testas com precisão.
Após a invasão começou a
loucura sangrenta, mais homens foram
aparecendo na tentativa de nos derrubar.
O riso de Lucca me fez olhar na sua
direção e ele estava desviando de uns
dois homens, enquanto atirava
diretamente na sua boca, ele olhou para
mim piscou um olho e limpou o sangue
de sua testa. Louco! Senti alguém se
aproximando e agachei virando de
costas atingindo o bastardo logo em
seguida. Essa minha virada deu tempo
de ver Luigi e Luna lutando em uma boa
sincronia, Luigi usou seu corpo para
impulsionar minha irmã para que ela
derrubasse os inimigos logo a frente.
— Porra, esse é meu! — Ouvi
Lippo gritar e ir apressadamente para
um homem grande. Com facilidade ele
prendeu o sujeito em um aperto forte,
quebrando seu pescoço logo em seguida.
— Enzo! — Luti me chamou e
olhei na sua direção, ele levantou a mão
para que eu esperasse um momento e
deu uma rasteira em um dos caras
atirando no seu peito assim que o
maldito atingiu o chão. — Vai procurar
Andrea, temos a situação aqui. — Disse
ele e eu assinto.
Atirei em alguns bastardos
enquanto corria para o andar de cima do
casarão. Não posso ter uma briga para
valer, já que minhas costelas ainda estão
fodidas, mas a minha mira continua
impecável como sempre. Abrir cada
maldita porta que encontrei pelo
caminho, mas de nada adiantou todos os
lugares estavam vazios. Desci
novamente e vi a confusão de gritos,
corpos caindo, lutas acontecendo e tiros
sendo disparados.
Não fiquei para ajudar minha
família, eu tinha que encontrar Andrea,
mas algo me impediu ou melhor alguém
me impediu. Parado na minha frente
apontando uma arma está Fyodor o
careca filho de uma cadela que levou o
meu anjo de mim.
— Ora, ora o que temos por aqui.
Será que toda essa barulheira é culpa
sua? — Fyodor pergunta e eu franzi os
lábios sentindo muita raiva.
— Onde ele está? — Pergunto
dando um passo para frente e Fyodor
nega.
— Ele quem? Você deve ser mais
específico. — Fyodor pergunta com o
mais puro cinismo.
— Não queira brincar comigo seu
fodido pedaço de merda. Onde está
Andrea? — Grito com ódio fazendo o
fodido rir.
— Não me diga que você está
dando uma de príncipe encantado,
tentando resgatar a sua donzela indefesa.
Ou você quer dizer prostituta assassina
de luxo. — Sua voz saía com irritação e
isso foi o bastante para me deixar no
auge.
— Você vai me dizer onde ele
está, eu vou tirar essa informação nem
seja na marra. — Falo guardando minha
arma.
— Você quer brincar mano a mano
comigo? Tem certeza disso? Da última
vez foi você quem ficou sangrando no
chão. — Avisou Fyodor e eu soltei um
riso sem humor algum.
— Da última vez eu estava em
desvantagem, dessa vez é diferente. E
fora que foram seus homens e não você.
— Falo o vendo guardar a sua arma
também.
— Você está pedindo por sua
morte seu italiano de merda. — Fyodor
disse me fazendo querer revirar os
olhos.
— Não, você é quem está
querendo morrer. — Falo avançando na
sua direção com uma grande
determinação.
Começamos a lutar e mesmo com
o meu corpo machucado dando a Fyodor
uma grande vantagem sobre mim. A
minha raiva e desgosto eram tão grandes
que entorpeceu qualquer dor que
poderia sentir no meu corpo. Então o
ataquei com tudo, socos, chutes fortes
que alçaram seu estômago o fazendo
quase cair, mas ele se recuperou com
facilidade. Defendeu alguns golpes e
tive que reconhecer que o filho da puta
sabe lutar muito bem, eu não estava
conseguindo nada aqui.
Não posso perder tempo, tenho
que descobrir para onde levaram
Andrea, porque sei que aqui é perda de
tempo. Desviei de um avanço de Fyodor,
aproveitei a oportunidade e dei um chute
nas suas costas. Assim que o vi
cambaleando peguei minhas duas armas
e tirei nas suas panturrilhas. Seu grito de
dor foi como músicas aos meus ouvidos.
— Zopa! (Filho da puta!) — Grita
ele caído no chão.
— Não xingue minha Mamma, ele
é praticamente uma santa. — Falo me
aproximando dele colocando o pé com
força em cima da sua ferida aberta.
— Eb tvoju mat! (Vá se foder!) —
Disse Fyodor entre dentes.
— Não obrigado, não quero que o
meu pau caia. — Falo com desdém
aproveitando ao ver ele gemer de dor.
— Você nunca vai encontrá-lo, ele
está no lugar onde ele nunca deveria ter
saído. — Disse ele rindo logo em
seguida me deixando irritado.
— Então o seu chefe bastardo o
levou. Obrigada pela informação, mas
eu vou precisar de um pouco mais que
isso. — Falo o fazendo desmaiar logo
em seguida por uma forte coronhada na
cabeça careca.
— Enzo! — Ouço vozes
chamando meu nome, viro para
encontrar meus irmãos me olhando com
preocupação.
— Encontrou? — Filippo
pergunta e eu nego antes de desviar o
olhar.
— Não se preocupe, Enzo. Vamos
encontrá-lo e trazê-lo para casa. — Luna
disse e eu assinto.
— Assim espero irmãzinha. —
Falo soltando um suspiro.
— E esse cara aí? — Lippo
pergunta olhando para Fyodor.
— Executor de Maxim, o mesmo
que derrubou o helicóptero e levou
Andrea. — Falo chutando o outro
desacordado.
— Disgraziato! (Desgraçado!)
Vou adorar poder brincar com ele um
pouco, será que posso? — Lucca
pergunta com interesse.
— Tudo bem, eu só preciso de
informações. O mais rápido possível. —
Falo sentindo um gosto amargo na boca.
— Sua morte é minha, não tire isso de
mim. — Avisei apontando um dedo na
sua direção e ele assente.
— Com certeza, irmão. É sua
vingança, um direito seu. — Lucca disse
e Filippo deu um passo em direção a
Fyodor.
— Vamos levá-lo para
interrogação. — Filippo colocou Fyodor
no ombro e foi em direção a saída.
— Temos mais alguns que
conseguimos levar para interrogatório.
Alguém vai dizer para onde Andrea foi
levado. — Lucca garantiu e eu balancei
a cabeça em confirmação.
— Sim, vamos fazê-los falar. —
Falo com determinação e com isso
saímos do local.
Levamos os nossos prisioneiros
para um lugar onde temos total
discrição, um lugar onde ninguém
poderá ouvir os gritos de dor. Chegando
lá recebi uma ligação de Cyro afirmando
a quantidade de feridos e mortos que
deixamos, mandei com que ele
acionasse a limpeza e levasse os nossos
homens machucados para a clínica.
Não sei quantas horas ficamos
tentando fazer com que esses homens
dessem alguma informação, mas nenhum
deles estava abrindo a boca em especial
Fyodor que foi acordado com uma forte
corrente elétrica atingindo seu corpo
molhado. Sim, Lucca sabe como
“brincar” com os nossos inimigos.
Depois de algumas horas Timóteo me
chamou afirmando que tinha conseguido
quebrar um cara, ele era novo
aparentava ter no máximo uns 20 anos e
nós aproveitamos disso.
— Diga, diga para onde Maxim
levou Andrea — peço em um tom
controlado e ele nega.
— Você não entende — responde.
— Se eu contar, estou morto —
acrescenta, cansado e com o rosto
inchado.
— Você que não está entendendo,
sua morte aqui é certa, mas o modo que
você vai morrer é o que define nossa
conversa. — Falo o fazendo arregalar os
olhos.
— Não, eu não posso. — Ele
disse e eu soquei seu rosto mais algumas
vezes e fui pegar o alicate.
— Eu não quero fazer isso, mas
você não me dá escolha. Me diga onde
está seu chefe e não vou arrancar suas
unhas. — Falo olhando para o alicate
com uma análise crítica.
— O quê? Não! Eu falo, eu conto
tudo que sei. Depois disso você pode
me matar. — O sujeito disse e eu
assinto.
— Vai depender do que você tem
a me dizer, informações aqui são
preciosas. — Ressaltei e ele assente
soltando um suspiro.

E então ele soltou, ele disse tudo


aquilo que eu precisava saber. Disse
como ajudou Fyodor a tirar Andrea de
mim, foi aí que eu lembrei que foi ele
quem chutou meu pobre Kay. Saber
disse foi o suficiente para eu querer
ainda mais sua morte, mas eu precisava
ouvir o que ele tinha a dizer. O rapaz
disse que sabia que seu chefe estava em
Moscou e que se não fosse pelo ataque
de hoje ele estaria indo para lá.
O fiz me dizer corretamente onde
ficava o lugar onde Maxim estava
mantendo meu anjo e ele me contou tudo
o que precisava. Assim que ele terminou
de falar cumprir com o que disse e lhe
dei dois tiros no peito. Deixei o corpo
morto para ser cuidado pelos meus
homens e fui até onde Fyodor estava.
Não posso dizer que fiquei satisfeito
com o que estou vendo, por que eu não
estou para torturas do mesmo jeito que
Lucca. Que devo dizer, está fazendo um
trabalho sem igual no puto russo.
— Pode deixar comigo Luc! —
peço e ele me olhou com manchas de
sangue no rosto.
— Sim? Conseguiu o que
precisava? — Pergunta ele e eu assinto.
— Sim, eu consegui. Agora só
preciso conversar com esse moribundo
— peço e Lucca solta um suspiro.
— Tudo bem, admito que não
estava conseguindo nada com esse cara.
Ele é duro na queda. — Lucca
resmungou e eu nego. — Foi um prazer
poder treinar uns novos métodos com
você, Fyodor.
— Espero que tenha o ajudado. —
Disse ele com sarcasmo tossindo
sangue.
— Oh cara, se você não fosse um
bandido raptor de cunhado eu poderia
conversar mais contigo. — Lucca disse
dando as costas para Fyodor. — Não
demore irmão, está quase na hora dos
seus remédios.
— Certo! — Falo o vendo sair me
deixando sozinho com Fyodor.
— Então você conseguiu o que
queria de algum fraco sem noção. —
Fyodor disse fracamente e posso ver
direito o estrago que Lucca fez nele.
— Sim, você preferiu ficar todo
mutilado ao invés de contar o que eu
precisava saber. — Falo dando de
ombros.
— Eu não sou um fraco, nunca iria
trair o meu chefe dessa maneira. —
Falou ele num tom agitado, mas seu
corpo está bem fraco pela perda de
sangue.
— Sabe, não estou aqui para
averiguar quem é o mais forte ou quem é
o cervo mais legal. — Disse indo até a
mesa onde Lucca deixou suas
ferramentas, lá encontrei uma faca. —
Para ser sincero eu estou aqui para fazê-
lo pagar por todas as atrocidades que
fez ao meu Andrea.
— Seu Andrea? Ele nunca foi seu,
meu chefe nunca deixaria você ficar com
ele com facilidade. Tem que pagar para
ter um pedaço daquele traseiro apertado.
— Fyodor disse tentando me deixar
irritado e ele alcançou seu objetivo.
— Digo “meu” não querendo o
prendê-lo como escravo como seu chefe
doente faz. Esse “meu” se refere ao
amor que ele me doou, assim como doei
o meu para ele. Eu pertenço a ele e ele
se doou para mim sem que eu precisasse
o obrigar. Ele me ama porque comigo é
livre, mas você é muito burro para
entender isso. — Falo me aproximando
calmante.
— Você é muito patético! Patético
principalmente ao achar que mesmo
sabendo onde sua prostituta está você
vai conseguir tirá-lo de lá. — Fyodor
disse rindo e eu rodei seu corpo. Assim
que fiquei de encontro com seu corpo de
costas, amarrado na cadeira, coloquei a
faca no seu pescoço.
— Não importa como vou fazer, o
que importa é que irei trazer Andrea
para casa. E você Fyodor? Você não vai
estar aqui, sabe por quê? Porque vai
estar no inferno, mas não se preocupe
porque logo seu chefe lhe fará
companhia. — Falo em forma de
sussurro no seu ouvido e cortei sua
garganta.
— Até mais, Fyodor! — Observo-
o se engasgar em seu próprio sangue
antes de morrer.
Deixei o corpo morto de Fyodor e
fui para fora tentando respirar um pouco
de ar. Eu não posso fraquejar agora, não
posso me deixar abater agora. Eu tenho
uma missão, e farei o possível para
cumpri-la. Sinto uma mão no meu ombro
e me volto para encontrar Filippo me
olhando com preocupação.
— Você está bem? — pergunta
sério, sem esconder sua preocupação.
— Não, não estou. Só quero ir
para Moscou e trazê-lo para casa —
falo cansado e Filippo assente.
— Você não está sozinho. —
Disse ele apontando para frente e lá
estava meus dois irmãos e meus dois
cunhados. — Você vai para Moscou e
seremos suas costas.
— Obrigado — é tudo o que digo
e sinto um nó na minha garganta, mas eu
me recuso a chorar. Irei chorar, mas de
felicidade quando meu anjo estiver nos
meus braços.
ENZO AANDREOZZI

Meus irmãos não me deixaram


ficar em casa, como eu estava
planejando. Eles ficaram firmes que eu
deveria ficar junto a família, abraçar
meus sobrinhos, que estavam sentindo
saudades de mim, e esperar até tivermos
as informações necessárias para ir a
Moscou. Não lutei porque eu sabia que
estava realmente precisando disso,
precisando de contato com pessoas que
me amam. Antes de ir para casa de
nossos pais, fomos na minha casa para
tomar banho e trocar de roupa. Seria
impossível chegar lá sujos de sangue e
luta dos nossos inimigos.
Durante o banho coloquei a
cabeça na parede e deixei a água correr
pelo meu corpo cansado e dolorido. Sei
que não foi minha culpa, mas sinto que
falhei com meu anjo. Eu deveria ter
impedido que ele fosse levado, minha
mente analítica sabe que eu não teria
condições físicas para fazer isso, mas o
meu coração não deixa com que eu não
sinta a culpa de não o ter nos meus
braços.
Terminei meu banho e saí do
banheiro, fui direto para o closet para
não cair na tentação de olhar para cama
que compartilho com Andrea e chorar
como um bebê fodido, abraçado ao seu
traseiro. Mas não, isso não vai
acontecer. Coloquei uma calça de
moletom cinza, uma blusa cinza, calcei
um chinelo e estava pronto para sair
daqui. Fomos o caminho inteiro em
silêncio, e eu só podia agradecer por
isso, porque minha cabeça não parava
de pensar em muitas coisas. O meu
pensamento principal era o que iria
fazer quando me deparasse com Maxim,
como o mataria lentamente com minhas
próprias mãos. Só o simples pensando
desse bastardo encostando suas mãos no
meu anjo, faz meu corpo estremecer de
ódio. Estava tão absorto em
pensamentos que não vi que estávamos
em frente a mansão.
— Vamos, Zuco! — Luna chamou
e eu saí do carro.
— Você sabe como Sam só fala
do tio Zuco. Isso é chato pra caralho! —
Lucca resmungou e isso me fez olhar na
sua direção.
— Ei amor, não sinta ciúmes isso
é baixo até para você. — Luigi disse e
Lucca resmungou ainda mais.
— Oh, cale a boca! — Lucca
disse e Luigi riu.
— Não seja assim irmãozinho,
todos meus sobrinhos me amam muito.
Superem isso. — Falo com desdém e
senti todos os olhares sobre mim.
— Bastardo convencido! –
Filippo com seu modo rude balançou a
cabeça negativamente.
— O que é isso Ursão, você tem a
sua princesa preferida. Ainda não sei
como você consegue fazer Isabel parar
de chorar com tanta facilidade. — Luti
disse e todos nós afirmamos o que
deixou Lippo puto.
— Não dê algo para eles me
encherem o saco, Bello. — Apontou
meu irmão mais velho fazendo seu
marido rir.
— Tão sensível esse Ursão. —
Luna disse e isso lhe rendeu um olhar
mal de Lippo.
Sei o que eles estão fazendo isso
está realmente sendo bom para mim.
Meus irmãos e cunhados estão me
distraindo de toda essa merda que me
rodeia e eu agradeço aos céus por tê-los
tão perto e tão dispostos a me ajudar e
aliviar um pouco. Gosto de estar com as
crianças, elas são tão puras, livres da
maldade do mundo e são a melhor opção
para mim no momento. Não posso me
deixar afundar em tristeza, porque isso
não ajuda em nada e não vou ter o
Andrea desse jeito.
— Até que enfim vocês chegaram,
eu já estava ficando muito preocupada
com os meus bebês. — Mamma disse
vindo na minha direção. — Já tomou seu
remédio, querido?
— Não Mamma, preferi comer
alguma coisa antes. — Falo esperando
que ela me avaliasse por completo.
— Deixamos de ser bebês a muito
tempo, Mamma. — Luna disse fazendo
mamãe cerrar os olhos na sua direção.
— Não para mim, porque vocês
serão sempre os meus bebês. Todos
vocês! — diz ela olhando para Luti e
Luigi, que não ousam responder, só
assentem.
— Sim, Mamma! —
Respondemos juntos e isso a deixou
feliz.
— Conseguiram o que queriam?
— ela pergunta com o rosto sério e nós
assentimos. — O fizeram pagar por
terem levado o nosso Andrea? Então
isso está bom para mim — diz e
podemos ver fogo nos seus olhos.
— Ele foi levado para Moscou,
Mamma. — Falo e ela me olhou com
tristeza.
— Isso era de se esperar meu
filho. Agora é só se prepararem e botar
aquele lugar abaixo para trazê-lo para
casa. Não quero ver tristeza nessa casa e
sim trabalho em conjunto para que isso
aconteça logo. — Mamma disse com
determinação e isso foi o suficiente para
me fazer relaxar um pouco.
— E é isso que vamos fazer. —
Filippo disse me olhando com
determinação.
— Eu não esperava menos de
vocês. — Mamma disse e colocou a
mão na cintura. — Vamos logo jantar,
vocês devem estar morrendo de fome.
Mamma é uma força da natureza,
ela e Nonna são as duas mulheres que
mesmo depois de viverem um inferno
nunca se deixaram abater por isso. Elas
seguem a vida sendo forte por elas e por
toda a família. Seguimos Mamma até a
sala de jantar e todo o resto da família
já estavam à nossa espera. Samantha foi
a primeira a vir falar comigo, ela foi
impedida por seus pais de se jogar nos
meus braços porque meu corpo ainda
está bastante maltratado. Depois foi a
vez dos ursinhos, beijei cada um deles
prometendo que depois iríamos assistir
algum filme. Falo com Giovanna que me
deu um sorriso triste passando Isa para
meu colo. Sei que ela está muito triste
pelo o que aconteceu com Andrea, por
que de uns tempos para cá eles estavam
muito amigos.
— Logo ele vai estar de voltar,
Gio. — Falo com firmeza e ela respirou
fundo.
— Sei disso, você não vai
descansar até que ele esteja em casa. —
Disse ela e sua confiança me fez bem.
— Pegaram alguns filhos a puta
de jeito? — Nonna pergunta me fazendo
virar na sua direção.
— Sim, principalmente o tal
Fyodor. — Disse entre dentes e ela deu
um sorriso mau.
— Menos uma corja! Aquele foi o
careca de merda? — Pergunta ela e eu
assinto rapidamente. — Bom, muito
bom!
Nos acomodamos todos a mesa e
começamos a nos servir. Esse jantar em
família foi diferente dos outros, os
nossos jantares são bastante falantes
onde um está provocando o outro o
tempo todo. E esse foi diferente, todos
estavam comendo quietos, tirando Isabel
que fazia seus barulhinhos fofos de
bebê, isso mostrou o quanto todos
estavam apreensivos com o que
aconteceu. E não é para menos, porque
todos sabem o que Andrea passou
durante dez anos com aquele russo e
estão com medo, mas não dizem nada.
Após o jantar as crianças subiram com
os pais para escovarem os dentes antes
de irem dormir. E eu aproveitei a deixa
para subir para o meu quarto também.
Deitei a minha cabeça no
travesseiro e foi impossível não deixar
as malditas lágrimas saírem livremente,
as mesmas lágrimas que eu estava
tentando a todo custo não derramar
durante o dia todo. Olhando para esse
quarto a minha maior lembrança é que
foi aqui onde fizemos amor pela
primeira vez. Dio isso saiu brega, mas
foda-se! Sei que o remédio que tomei
logo fará efeito, mas isso não me
impedirá de botar para fora tudo o que
está entalado. Caspita! O que eu daria
para que isso fosse só um fodido
pesadelo, o que eu não faria para abrir
os olhos e ver ele deitado do outro lado
da cama. Isso é uma merda! Saio dos
meus pensamentos quando vejo a porta
no meu quarto sendo aberta e as crianças
entrando, cada um vestindo seus
respectivos pijamas.
— Zio, viemos ficar com você. —
Duda disse e eles juntos se aproximaram
da cama.
— Isso mesmo, papai Lucca diz
que dormir abraçado comigo sempre o
deixa mais tranquilo. — Sam disse com
Isabel no colo e eu me apressei a tirá-la
de lá.
— Seu pai é um aproveitador de
abraços. — Resmunguei e ela revirou os
olhos.
— Eu sei, mas ele é o meu papai
carente. O que eu posso fazer? — Disse
ela e isso me fez dar uma risada baixa.
— O senhor vai deixar a gente
ficar aqui. — Pietro pergunta já subindo
na cama.
— Claro, eu realmente estou
precisando desses abraços quentinhos,
sabe. — Brinquei e eles me encararam
com firmeza. Como se fosse uma tarefa
muito importante.
— Também sentimos saudades do
tio Dea — Duda diz, se deitando ao lado
de seu irmão.
— O tio é bom com a gente e nem
liga quando Bel suja ele de fluta. —
Pietro disse e eu sorri beijando a sua
cabeça.
— Vamos nos deitar e ver como
nos acomodar todos juntos? — pergunto
e cada um assente.
Samantha se deita ao meu lado e
Isabel fica babando meu queixo, dando
umas mordidinhas bem doloridas. Fiquei
conversando com as crianças, que me
contaram várias coisas sobre o dia a dia
e principalmente coisas que seus pais
fazem. E foi aí que fiquei sabendo que
Lucca brigou com um colega de Sam que
estava a irritando na escola por causa do
seu cabelo volumoso. Que eu
particularmente acho a coisa mais
encantadora. E Duda me ressaltou como
é chato que suas amigas fiquem falando
que seus pais são lindos, e isso me fez
rir porque adoraria ver a cara de Lippo
quando descobrir isso.
Pietro e Isabel bem, eles não
aguentaram ficar acordados e logo
estavam dormindo. Pouco tempo depois
de algum bate papo as meninas também
se entregaram ao sono, vejo a porta de
meu quarto ser aberta e Lucca coloca a
cabeça para dentro. Filippo estava logo
atrás dele com os braços cruzados. Fiz
sinal para que Lucca viesse pegar Isa
para que no meio da noite ela não se
machucasse, ela é muito pequenina.
Assim que ele fez isso com todo o
cuidado do mundo, virei para eles com
um sorriso agradecido e soltei um
“obrigado” e os dois partiram me
deixando com meus adorados sobrinhos.
E por mais que eu estivesse me sentindo
uma merda, me senti acalentado com a
presença desses seres lindos.

Finalmente! Finalmente estou na


Rússia, esses dias de espera estavam me
matando lentamente. Eu não estava mais
suportando o fato de não poder fazer
nada, enquanto Andrea estava longe.
Mas esses dias de espera foram
essenciais para que todo o nosso plano
fosse muito bem formulado, na intenção
de que nada desse errado dessa vez.
Dessa vez eu só saio desse país fodido
com o meu anjo nos braços, não importa
o que tenha que fazer, as barreiras que
terei que passar, os filhos da puta que
terei que matar. Andrea vai para casa
comigo hoje! Durante esses dias
Nardelli me apareceu com uma ótima
notícia, tudo isso porque ele procurou
informações de um agente da Interpol na
intenção de confirmar a localização de
Maxim.
E realmente bateu com o que o
homem que capturei disse. Após saber
disso Filippo me surpreendeu
aparecendo com a planta arquitetônica
do lugar. Lembro-me de arregalar os
olhos com aquelas folhas em mãos e ele
somente deu de ombros e disse que
estava cobrando alguns favores. Isso foi
tão certo a se fazer e eu fiquei
imensamente feliz com isso.
Trabalhamos muito em nosso
plano e descobrimos que poderíamos
fazer tudo com o máximo de precisão
possível. Agora aqui estou eu armado
até os dentes, pronto para começar a
atacar com tudo. O lugar onde Andrea
está sendo mantido é bem afastado, e
muito bem protegido. Vejo homens
fazendo patrulhas, observo
atenciosamente cada ponto específico
para que eu possa estourar suas cabeças
sem chamar atenção dos homens que
estão dentro.
— Eu vou na frente com Timóteo
e falo no rádio para que os outros
avancem. — Falo e Babo segurou meu
antebraço me parando antes que eu
começasse a andar.
— Não pense em entrar naquele
lugar sozinho. Estamos aqui por uma
razão, por favor não faça algo estúpido.
— Babo disse me olhando fixamente.
— Seguirei o plano, Babo. —
Falo com firmeza e ele relaxou seu
aperto.
— Atire naqueles filhos da puta e
os tire do nosso caminho. — Babo disse
e isso me deu mais um incentivo.
Todos já estavam em suas
posições, somente esperando a minha
confirmação para que pudessem entrar.
Cada um de nós vamos invadir esse
lugar em cinco grupos diferentes com
homens suficientes a nossa disposição, o
primeiro grupo entrará pelo lado oeste
da propriedade e ele é composto por
Filippo e Luti. O segundo grupo ficou
com Lucca e Luigi e eles estão
responsáveis por fazer uma pequena
distração com bombas, coisa que meu
irmãozinho adora. O terceiro grupo está
Nardelli e Cyro onde ficaram com o
leste da propriedade. Nardelli apareceu
no jatinho, afirmando que estava sendo
um civil e não um agente, e ainda teve a
audácia de dizer que gostava do anjinho.
Isso quase me fez voar no seu pescoço,
mas eu me acalmei porque toda ajuda é
importante.
O quarto grupo ficou com Babo e
Luna, é incrível como Babo ainda tem
toda a disposição para esse tipo de
coisa até os dias de hoje, ele é ótimo
com armas e tenho certeza de que puxei
a ele nesse aspecto. E o quinto e último
grupo sou eu e Timóteo, vamos ser os
primeiros a avançar silenciosamente e
cautelosamente para abater os porcos
vigilantes do lugar. Todos nós estamos
vestidos de preto, sendo o mais discreto
possível na noite gelada como o inferno
aqui em Moscou.
Vejo três homens de costas para
mim, miro minha arma com silenciador
nas suas cabeças e atiro. Eles caem no
chão e corro com meu segurança para
tirar seus corpos de vista. Enquanto
estou abaixado vejo Timóteo entrar em
alerta e atirar duas vezes, ele olha para
mim em confirmação e vai tirar os
corpos do campo de visão.
O trabalho foi rápido e logo eu
estava dando a confirmação para o
grupo de Lucca. Ele terminou se
posicionou e deu o aval para o grupo de
Nardelli se preparar. Assim que
Nardelli ficou na sua posição, foi a vez
do grupo de Filippo e Babo. Lucca
começou com a distração e explosões
ensurdecedoras de bombas foram
ouvidas na ala sul do lugar. Isso foi o
bastante para vários homens armados
saírem da casa, atacamos sem pensar
duas vezes. Gritos de dor de lados
diferentes da propriedade me deram a
indicação de que os outros grupos
estavam lutando também. Atirei em cada
homem que vi na minha frente e aqueles
que conseguiam desviar de mim Timóteo
os derrubava.
— Enzo, eu estou avançando para
o segundo andar da casa. — Lucca disse
no rádio.
— Procure em todos os quartos
— mando e ouço-o confirmar.
— Tem muitos, eles não param de
aparecer. — Luti disse e eu parei para
desviar de dois caras que avançaram
para cima de mim.
— Encontrar Andrea está em
primeiro lugar. — Falo e Filippo
confirma por Luti.
— Sabemos disso. — Disse meu
irmão mais velho e eu consegui derrubar
o primeiro cara, acertando um tiro na
sua barriga.
— O que fazemos com os
empregados? Encontramos algumas
aqui. — Luna pergunta e fui me defender
do chute do segundo russo.
— Você e Babo tiram elas daí,
levem para fora do lugar. Matem cada
um que tentar impedir. — Disse entre
dentes quando senti uma forte pesada
nas minhas costas.
— Certo! — Ele responde em
prontidão.
— Cyro foi abatido! — Grita
Nardelli e olhei para o homem na minha
frente com irritação.
— Ele está morto? — Pergunto e
consegui atingir o puto e assim que ele
cambaleou atirei no seu peito.
— Não, mas a situação não é
legal. — Nardelli resmungou e eu
respirei fundo indo em direção ao
homem que atirei na barriga.
— Tire-o daí. — Falo e olhei
para o homem no chão se contorcendo.
Sentei-me em seus quadris o
imobilizando, enfiei dois dedos na sua
ferida e isso o fez gritar. — Onde está o
seu chefe? E onde ele colocou Andrea?
— Porra! — Grita o homem e eu
forcei ainda mais o seu ferimento.
— Não me faça perder tempo,
porra. Fala logo sua boceta inútil! —
Falo com ódio e ele riu com os dentes
manchados de sangue.
— Morra seu italiano de merda!
O chefe já está chegando com mais
homens — diz ele cuspindo no meu
rosto. Vi que com ele eu não conseguiria
nada, por isso atirei na sua garganta.
— Temos uma ideia onde ele
possa estar, Enzo — Babo diz, me
fazendo entrar em alerta. — Estamos
indo na frente. — Falo sabendo que
tínhamos que nós apressar.
Babo me falou a localização e a
esperança me aqueceu por dentro, fiz
sinal para Timóteo me seguir e ele o fez.
Enquanto estamos correndo para o lugar
mais alguns homens apareceram para
tentar impedir, mas Filippo tomou a
frente da luta. Agradeci com um aceno,
mas não antes de ver ele e seu marido
lutando juntos em uma boa sincronia.
Durante a minha corrida para o
local, aproveitei para recarregar minha
arma pela terceira vez e com elas em
punho encontrei com Luna de frente para
uma porta de aço aberta. Olhei para ela
que estava com os olhos lacrimejados,
não pedi tempo a perguntar qual o
problema, porque no fundo eu sabia que
o que eu iria ver não ia ser bonito.
— Foda sagrada! Oh, meu anjo.
— Sussurrei com os olhos arregalados
com a visão que estava na minha frente.
E essa visão é totalmente perturbadora.
— Temos que tirá-lo daqui e
rápido! — Babo grita chamando minha
atenção.
Fui em direção ao meu anjo muito
machucado e ao chegar perto vejo como
a situação é mais grave do que eu pensei
no primeiro momento. Suas costas estão
mutiladas com sangue seco por todo o
ferimento aberto. Seus cabelos loiros,
estão sujos em um emaranhado no seu
rosto, sua pele que antes era branca está
com manchas roxas por todo o lugar.
Engoli em seco ao perceber que tentar
mexer nele poderá fazer com que ele
sinta uma dor demoníaca.
— O que ele fez com você meu
amor. Bastardo sem escrúpulos! — Diz
com raiva enquanto virava o rosto dele.
— Enzo, Enzo você veio mesmo?
Enzo é você? — Andrea murmurou
fracamente.
— Sou eu sim meu anjo. Vou te
tirar daqui. — Falo sentindo meu peito
doer.
— Eu lutei, não deixei que ele me
usasse mais. Eu lutei por mim e por nós.
— Mesmo fraco ele conseguiu colocar a
mão no meu rosto.
— Eu sempre soube que você era
um lutador, amor. Agora fique quieto que
vou te tirar daqui. — Pedi e ele
arregalou os olhos me olhando com
desespero. — Anjo o que foi?
— Viktor! Você tem que ir até ele!
Onde está Viktor? — Ele pergunta em
desespero tentando se levantar, mas
soltou um grito de dor.
— Viktor? Quem é esse? —
Pergunto olhando para ele com atenção.
— Ele… ele é meu… meu filho.
Por favor Enzo, eu não posso o deixar
aqui novamente. — Andrea diz em
desespero e eu o acalmei colocando a
mão na sua cabeça. Olhei para meu pai
que confirma com a cabeça.
— Sim, sim meu anjo eu vou até
Viktor e vou trazê-lo até você. — Falo
entre dentes quando o senti estremecer
de dor.
— Eu vou procurá-lo com você!
— Luna diz atrás de mim e eu assinto.
— E eu levo meu genro para fora
daqui. — Babo diz com seriedade. Babo
olhou para Alejandro e Timóteo pedindo
apoio e eles entraram em prontidão.
— Babo. — Chamei com a voz
sufocada o fazendo olhar nos meus olhos
com firmeza.
— Andrea faz parte da família,
ele é família. Protegemos a família. —
Papai diz me fazendo entender e eu
assinto.
— Você vai ficar bem, amor. Logo
voltarei para você. — Beijo sua testa
sem ligar para a sujeira e Babo toma
frente o pegando no colo com muito
cuidado, para não o machucar mais.
— Vamos Luna! — Chamei
destravando minhas armas e a observei
fazer o mesmo.
Segui caminho deixando o meu
homem para trás e confesso que isso foi
a coisa mais difícil de fazer, mas eu
sabia que ele estava em ótimas mãos.
Quem mais eu confiaria sua vida se não
fosse ao meu pai? Pergunto pelo rádio
se alguém viu algum garoto, mas
ninguém soube dizer e eu não faço a
mínima ideia de como é a aparência do
garoto. Se não me falha a memória
Andrea já me falou sobre e todas as
vezes é com um extremo carinho.
Não posso falhar com meu anjo,
já fiz isso uma vez e não vou tornar a
repetir meu erro. Percebi que o número
de inimigos diminuiu
consideravelmente, tanto que não tenho
muitas interrupções pelo caminho, nada
que um tiro muito bem direcionado não
resolva. Parei em frente a uma grande
porta e chutei com força a fazendo abrir.
— Viktor, você está aqui? —
Pergunto em russo olhando para uma
sala que aparenta ser um escritório.
— Já procuramos em muitos
lugares e nem sinal dele. — Luna diz e
um movimento chamou minha atenção.
Ao lado de um armário estava uma
figura menor e me deu a certeza de que
achei quem eu estava procurando.
— Não vamos machucá-lo, na
verdade, queremos te tirar daqui. —
Falo para que ele percebesse que eu
tinha o encontrado. Me assustei quando
ele saiu do lado do armário com uma
arma na mão.
— Quem é você? O que quer
comigo? Se quiser me sequestrar sinto
dizer, mas eu não tenho nenhum valor
perante o meu pai. — Ele disse me
surpreendendo com a arma apontada na
direção da minha cabeça.
— O quê? — Pergunto confuso e
depois nego com a cabeça. — Abaixe
essa arma, garoto!
— Não te conheço, então porque
abaixaria minha arma. — Tenho que
confessar que esse garoto tem um fogo
nele.
-Não é nada disso, estou aqui a
mando de Andrea, ele quer te levar
daqui. — Falo o nome de Andrea e isso
foi o suficiente para ele me olhar em
choque.
— Papa? Você conhece o Papa?
— Pergunta ele com os olhos duvidosos.
— Sim, ele está muito machucado
e se recusa a sair daqui sem você. Venha
comigo, por favor. — Pedi batendo o pé
nervosamente.
— Você não pensa em machucá-
lo, não é? — Seus olhos estavam
perdidos e isso foi o suficiente. Me
aproximei e tirei a arma de suas mãos.
— Não, nunca faria isso. Eu cuido
e protejo aqueles que amo. — Falo e ele
me olhou com o cenho franzido.
— Você ama o meu papa? —
Pergunta e assinto o puxando comigo.
— Como a minha própria vida,
agora vamos sair daqui. — Falo o
colocando entre mim e Luna.
— Maxim, ele está vindo! —
Viktor soltou e apontou para a janela.
Fui até lá e alguns carros estavam
chegando e uma incrível chuva de balas
começou. Tirei meu colete e coloquei
em Viktor.
— Babo, conseguiu tirar Andrea
da casa? — Pergunto pelo rádio olhando
para um Viktor apreensivo e uma Luna
pronta para guerra.
— Sim, ele está muito fraco filho,
não faça nada imprudente. Andrea
precisa ver o médico com urgência. —
Respondo fundo e olhei novamente para
fora.
— Vou levar Viktor até vocês e
vou… — Disse entre dentes eufórico
para ir ao encontro do desgraçado russo.
— Não, Enzo! Não faça isso,
você pode conseguir sua vingança
depois. — Filippo disse com seriedade
pelo rádio.
— Filippo tem razão, Lucca levou
um tiro. — A voz aflita de Luigi me fez
entrar em alerta.
— Ele está bem? — Luti pergunta
após puxar o ar.
— Sim, mas temos que sair daqui.
— Luigi falou e eu apertei os punhos.
— Vamos embora! — Falo e ouvi
Filippo dizer para começar a trazer os
carros.
Comecei a tentar sair com Luna e
Viktor, tentando dispersar de minha
mente a vontade de ir à caça de Maxim e
fazê-lo pagar por toda a merda que ele
fez ao meu anjo. Ele está lá, está tão
perto, está perfeitamente a alguns metros
de mim. Quero tanto sua morte, quero de
um jeito que meu corpo está rígido, mas
eu sei que agora não é o momento
porque o estado de Andrea é muito
delicado e fora que não sei como
realmente é a gravidade do ferimento de
meu irmão.
Troco socos com alguns homens
que tentam me impedir de sair, enquanto
Luna faz a segurança de Viktor que segue
nossos comandos sem pestanejar.
Consegui chegar do lado de fora da casa
e falo no rádio a nossa localização.
Tiros foram jogados na nossa
direção me abaixei levando Viktor junto
a mim, levantei minha cabeça para
avaliar a situação e foi aí que nossos
olhos se encontraram. Eu sabia dentro
do meu ser, eu sabia que estava cara a
cara com Maxim Konstatinov. Ele sorriu
para mim, um sorriso mais doentio que
já vi na minha vida. Retornei seu olhar,
mas tenho certeza de que consegui
expressar através dele o ódio tóxico que
sinto por ele. Fiz uma promessa
mentalmente que a aproxima vez que
nossos caminhos se cruzassem, um de
nós sairia morto e esse alguém com a
foda certeza de que não sou eu. Nossos
olhares foram cortados quando o grande
SUV preto parou na nossa frente,
levando tudo pela frente. E isso incluía
o corpo de Maxim e seus capangas.
— Vamos Enzo, entre! — Filippo
disse com pressa e eu levantei
carregando Viktor.
— Vamos, vamos, vamos! — Falo
assim que Luna, Viktor e eu entramos.
— Onde está Andrea? —
Pergunto olhando para Luti pelo
retrovisor.
— Ele está no carro atrás de nós.
Não se preocupe ele está bem —
Filippo garante com sua atenção voltada
para a estrada.
— Quero ver o meu papa —
Viktor diz e eu olho na sua direção.
— Ele está bem machucado, mas
tem médicos esperando para cuidar dele
— falo com Viktor, que assente voltando
seus olhos para fora do carro.
— Eu disse coisas ruins a ele
quando o vi, me sinto muito culpado por
isso. — Ele disse sem me encarar,
coloquei a mão na sua perna e isso o fez
se esquivar do meu toque.
— Sei que você não deve ter dito
isso para vê-lo machucado, então
quando você o vê é só pedir desculpas.
— Falo e ele abaixou a cabeça.
— Sim, mas eu ainda não confio
em você. — Disse ele me olhando pelo
canto dos olhos.
— Tudo bem, o importante é que
saiba que agora eu vou cuidar de você e
Andrea e nada de ruim vai acontecer a
nenhum dos dois. — Falo com firmeza.
Ele me olhou e posso ver a descrença
cravado no seu rosto.
Quando estávamos muito distantes
da propriedade de Maxim e com a
certeza de que não estávamos sendo
seguidos, Filippo parou o carro. Desci
do veículo levando Viktor comigo e fui
até o carro de trás. Abri a porta e lá
estava o meu anjo deitado sendo coberto
por um lençol branco para cobrir sua
nudez. Não perdi tempo e entrei no
carro, carregando meu anjo nos meus
braços, tendo a certeza de que ele está
aqui comigo.
— Enzo? Você o achou? —
Andrea pergunta abrindo seus olhos
inchados.
— Sim meu anjo, eu o encontrei.
Ele está aqui. — Falo ainda sentindo
meu corpo tenso.
— Papa! — Viktor disse choroso.
— Isso é bom, isso é muito bom.
Agora tenho os dois homens que mais
amo ao meu lado. — Ele deu um sorriso
pequeno e vi as lágrimas caírem ao lado
do seu rosto.
— A equipe médica já está
aguardando Andrea e Lucca. — Babo
disse e eu assinto.
— Lucca está muito machucado?
— Pergunto com preocupação.
— Levou um tiro na barriga,
nossa preocupação é que tenha atingido
algum órgão vital. — Babo disse sem
esconder a sua aflição.
— Tudo vai dar certo, já estamos
chegando. — Falo entre dentes e Babo
confirma. Voltei meus olhos para meu
anjo e beijei sua têmpora.
— Vamos para casa, meu anjo. E
dessa vez vou cuidar melhor de você. —
Falo e olhei para Viktor que segurava a
mão de Andrea. — Vou cuidar dos dois!
Assim que chegamos na pista de
voo, saí do carro com o anjo nos braços.
Foi uma ideia fantástica de Mamma
pedir uma equipe médica para Vitório e
agora Lucca e Andrea estão sobre os
cuidados deles. Respirei aliviado que
estava a um passo para ir para casa,
assim que o jatinho ganhou vida. Percebi
que Viktor estava ao meu lado e foi aí
que caiu a ficha que eu estava
começando uma família. E que esse
garoto agora estava sobre a minha
responsabilidade também.
Meu corpo inteiro dói, tento me
mexer e meu corpo não responde aos
meus comandos. Tento abrir os olhos,
mas a claridade faz com que minha
cabeça doa, fecho rapidamente e respiro
fundo. Tentei mais algumas vezes até que
consegui mantê-los abertos, olho para o
teto branco e posso imaginar que estou
em algum hospital ou clínica. Viro minha
cabeça para o lado e um alívio imenso
toma conta de mim, ao ver Viktor
adormecido na cama ao lado.
Dio mio, não posso acreditar que
estamos finalmente fora das garras
daquele lunático. Principalmente por
Viktor crescendo no meio de tanta
maldade, ele é apenas uma criança e não
merece passar por essa situação desde
sempre. Estou tão agradecido a Enzo,
não sei como é possível, mas acho que o
amo mais ainda do que já o amo. Eu
devo tudo a ele, devo a minha vida é a
vida do menino que pode não ser meu
filho biológico, mas é meu de coração.
Viktor sempre vai ser o meu menino,
meu filho.
Tento mexer minha mão, mas sinto
algo a prendendo, fazendo com que eu
não consiga alcançar meu objetivo. Olho
para baixo e lá está ele, Enzo está
sentado em uma cadeira muito
desconfortável, segurando minha mão
em um bom aperto. Naturalmente com
medo que eu escape ou fuja enquanto ele
está dormindo.
Homem tolo!
Durante o tempo que estive longe,
eu só pensava em poder tocar seu rosto
novamente, sentir o cheiro de sua pele,
ver seu lindo sorriso quando termina de
comer algo que está muito gostoso. E
agora estou de volta e parece tão surreal
que ele está aqui. Ele foi até mim, me
tirou do meu tormento e eu não sei como
farei para agradecê-lo por isso. Juro que
pensei que fosse morrer sem antes poder
agradecê-lo por tudo de bom que ele fez
para mim. Seu amor me transformou em
um homem mais forte, posso afirmar que
sou uma pessoa novamente por sua
causa. Por causa do amor que ele me
mostrou ainda que existe.
— Você está acordado, nossa,
amor você acordou. — Enzo disse
piscando os olhos várias vezes para
espantar o sono.
— Sim, querido. — Falo em um
tom de voz rouca, sentindo minha
garganta arder.
— Água, você precisa beber água.
— Disse ele levantando rapidamente e
indo encher um copo de água.
— Obrigado! — Agradeci após
beber um pouco.
— Eu senti tanto sua falta, você
não sabe o quanto. — Enzo disse e
posso ver seus olhos marejados.
— Eu também senti a sua falta. —
Falo e ele aproximou seu rosto do meu.
— Nunca mais anjo, nunca mais
eu vou permitir que te levem de mim. —
Enzo disse com uma voz firme e uma
expressão séria.
— Sim meu amor, eu não penso
em sair do seu lado também. —
Confessei e ele beijou meus lábios
rachados.
Quando senti o toque delicado dos
seus lábios nos meus, nenhum dos dois
conseguiu segurar o choro. Percebi ali
mesmo que esse choro era de alívio,
alívio por estar nos braços um do outro
novamente. Mesmo com o meu corpo
todo mutilado, não resistir ao desejo de
corresponder ao beijo apaixonado que
Enzo estava me dando. Valeu a pena
lutar, o sentir nos meus braços, vejo que
realmente eu lutaria muito mais se eu
pudesse.
Não poderia permitir que Maxim
encostasse suas mãos imundas em meu
corpo. Meu corpo e principalmente meu
coração pertencem a uma única pessoa,
a mesma pessoa que está chorando de
alívio e saudades. Agradeço a Deus por
estar vivo para poder sentir o que estou
sentindo agora.
— Foda-se, eu odeio chorar! —
Enzo disse grudando nossas testas.
— Um dia uma pessoa me disse
que chorar era bom para desabafar,
então não se reprima, porque graças a
você eu nunca mais farei isso. — O
lembrei e isso o fez rir.
— Usando minhas palavras contra
mim, anjo? — Enzo pergunta sarcástico
e eu assinto.
— Pode apostar sua bunda linda
que sim. — Falo de modo brincalhão e
ele nega.
— Nonna está te influenciando
demais, isso não é bom. — Disse ele
com uma negação fingida.
— Eu não sei como agradecer a
você e sua família por ter nos tirado de
lá. — Falo apontando para Viktor
adormecido.
— Não agradeça, porque você é
da família. Quer dizer… vocês são da
família. — Ele disse olhando para
Viktor e eu pisquei por um momento.
— Você quer dizer que… — Parei
de falar e ele respirou fundo.
— Que eu vou aceitar Viktor? —
Pergunta ele e eu o olhei querendo ouvir
sua resposta.
— Claro que sim, jamais
rejeitaria o filho do meu homem. Viktor
agora faz parte da família, você é minha
família então consequentemente ele está
incluído no pacote. — Enzo disse de
modo sério e eu mordi os lábios.
-Eu não posso te forçar a aceitar
isso, Enzo. — Falo e vi Enzo começar a
resmungar.
— Você não está me forçando a
nada, anjo. Eu adoro criança, sempre
adorei e para falar a verdade eu sempre
quis ter um filho. — Enzo disse de modo
envergonhado.
— Você quer ter um filho? Sério?
— Pergunto atordoado e ele me olhou
confirmando com a cabeça.
— Um filho não anjo, acho que
quero mais. Esse garoto não teve muito
amor e companhia além de você. —
Enzo disse.me assustando totalmente.
— Oh meus Deus, você está
falando sério? — Pergunto espantado
com essa revelação.
— Sim, mas esse não é o melhor
momento para falarmos sobre isso.
Primeiro eu tenho que conquistar esse
garoto. — Enzo disse olhando pensativo
para Viktor me fazendo assinto.
— Creio que isso não vai ser algo
fácil. — Revelei soltando a respiração.
— Durante o caminho para cá,
percebi que ele é muito desconfiado. Ele
não falou muito e ficou o tempo inteiro
perto de mim. — Enzo disse e isso
quebrou meu coração.
— Posso imaginar, mas eu amo
esse garoto e farei de tudo para que ele
se abra um pouco para a nova vida. —
Falo e Enzo se aproximou se sentando
na ponta da cama.
— Você não está sozinho, você
nunca vai estar sozinho. Pode sempre
contar comigo, somos família anjo. —
Enzo disse fazendo os meus batimentos
cardíacos acelerarem.
— Viktor passou por muita
violência nas mãos do pai, para ele é
difícil acreditar em bondade. Mesmo
que muitas vezes eu fizesse de tudo para
que ele acreditasse. — Falo e quando
tentei me mexer senti uma dor absurda
nas costas.
— Anjo? Você não deve se mexer.
— Enzo disse preocupado. — Vou
chamar o Vitório — diz ele, se
levantando e indo até a porta.
— Espera, Enzo! — Pedi, mas ele
já estava saindo porta a fora.
— Papa? — Viktor me chamou em
um tom baixo e eu sorri na sua direção.
— Está acordado a muito tempo?
— Pergunto em russo e ele abaixou a
cabeça e assente.
— Vem aqui, Vik! — Chamei e
ele saiu da cama que estava e veio na
direção da minha.
— Sinto muito pelas coisas ruins
que falo para o senhor naquele dia. —
Ele disse e isso me deixou feliz.
— Você está desculpado, meu
rapazinho. Mas você tem que saber que
eu queria muito, muito mesmo ter o
trazido comigo na primeira vez. — Falo
tentando fazê-lo entender e eu respirou
fundo.
— Eu agora sei papa, aquele
homem o Enzo, ele me falou isso
também. — Viktor disse e isso me
surpreendeu.
— Ele disse? — Pergunto e ele
afirma.
— No avião eu estava com medo,
então ele começou a conversa comigo.
Ele.me disse muitas coisas e uma dessas
coisas era como você ficou triste por eu
não estar ao seu lado. Por isso me
desculpa, papa. — Viktor disse e vi a
pontinha do seu nariz ficar vermelha.
— Não chore Vik, agora está tudo
bem. Vamos ficar juntos. — Falo e ele
continuou a olhar para baixo.
— Papa, você está com aquele
cara, não é? — Viktor pergunta e eu
segurei sua mão.
— Viktor, olhe para mim. — Pedi
e ele levantou o olhar. — Enzo é
diferente de Maxim, ele me ama e eu o
amo muito. Então querido você pode
confiar, porque eu confio muito nele.
— Será que… será que o que ele
estava dizendo é verdade? Ele vai
querer ficar comigo também? — Viktor
pergunta nervoso apertando minha mão.
— Tenho certeza de que sim, Enzo
e sua família são pessoas incríveis. São
o tipo de pessoa que dão amor, carinho
sem você ao menos pedir. — Revelei e
ele me olhou choroso.
— Eu apontei uma arma para ele,
acho que ele vai achar que eu sou ruim
como Maxim. — Viktor disse e isso me
fez sentir uma pontada no peito.
— Ouça-me bem, Viktor, você
nunca será igual a aquele homem. Você
entendeu? — Pergunto seriamente e ele
assente.
— Eu sei papa. — Ele disse com
as lágrimas escorrendo na bochecha.
— Se você apontou aquela, arma
foi para se defender. E Enzo deve saber
disso, então não tem por que se
preocupar. — Falo e a voz de Enzo nos
fez paralisar.
— Nunca o julgaria por tentar se
defender, Viktor. Aquele lugar estava um
caos e você fez bem em estar preparado.
— Enzo disse de modo sério se
aproximando de nós. Viktor olhou para
Enzo e desviou o olhar, voltando seus
olhos para baixo.
— Olha para mim, Viktor. —
Pediu Enzo e curvou o corpo para que
seus olhos ficassem em direção ao de
Viktor. — Sinto muito por todas as
coisas ruins que você teve que
presenciar na sua vida, mas agora quero
que você possa contar comigo.
— Por que você faria isso? —
Viktor Pergunta e percebi pelo seu olhar
que saiu sem querer. E isso fez Enzo dá
um pequeno sorriso.
— Porque eu amo o seu papai ali.
E consequentemente quero que você dê a
oportunidade para que no futuro eu
possa ser seu pai. Quero te ensinar as
coisas boas do mundo, quero te fazer um
homem de bem. Vou dar a você uma
família de verdade, isso eu posso te
garantir. — Enzo disse e foi impossível
não me emocionar com suas palavras.
— Então meu menino, o que você
acha? — Pergunto e ele voltou seu olhar
para mim.
— Acho que eu posso fazer isso.
— Ele me deu um sorriso pequeno e eu
retribui. — Mas você tem que me
prometer nunca machucar o meu papa,
ele já foi muito machucado. — Viktor
disse com uma seriedade surpreendente
para Enzo.
— Jamais faria isso ao seu pai e
muito menos a você. Então você me
aceita na sua vida, pequeno homem? —
Enzo estendeu a mão para Viktor.
— Sim, mas ainda não sei se
consigo te chamar de pai. — Resmungou
Viktor aceitando o aperto de mão
fazendo eu e Enzo rir.
— Oh garoto! Eu vou conquistar
esse seu coração desconfiado. — Enzo
brincou piscando um olho.
— Faça seu melhor! — Viktor deu
de ombros e Enzo o puxou para um
abraço.
— Acho que vou adorar ter um
filho como você. — Enzo disse
carinhosamente abraçando o meu
menino. Viktor ficou muito rígido no
primeiro momento e depois foi
relaxando o corpo se deixando ser
abraçado.
— Quero estar nesse abraço
também. — Choraminguei e isso fez
Enzo se afastar de Viktor rindo, mas ele
não deixou Viktor ir muito longe. Uma
batida na porta chamou nossa atenção.
— Espera que eu não esteja
atrapalhando, mas tenho um certo
paciente para conferir. — Doutor
Vitório entrou sorrindo no quarto.
— Sim doutor, pode ficar à
vontade. — Falo com um pequeno
sorriso.
— Fico feliz que você esteja
acordado e bem. — Ele disse e eu
assinto devagar.
— É bom estar de volta e eu
quero ficar bom logo para ir para minha
casa. — Falo olhando para Enzo
abraçado a Viktor.
— Sim, meu anjo, sua casa. —
Enzo confirma me deixando feliz.
— Então vamos logo com os
exames. — Vitório disse sorrindo
também.
Vitório chamou mais algumas
pessoas de sua equipe e logo eu estava
fora do quarto em que estava. Eles
fizeram vários tipos de exames em mim,
alguns que me deixaram extremamente
cansado, mas isso é tudo para o meu
bem. Para que eu possa sair daqui logo e
ir para casa, não vejo a hora disso
acontecer.
Quero saber como vai ser
adaptação de Viktor a sua nova vida
como Enzo vai lidar com mais uma
pessoa dentro de casa. Até mesmo Kay,
nem cheguei a perguntar a Enzo como
estava o nosso pequeno cão. Sim nosso,
porque não tem como eu não considerar
Kay como meu também. Aquele
cachorrinho ganhou meu coração muito
rápido, sendo assim Enzo que se importe
porque Kay também é meu.
Eu estava tão feliz por ter Enzo e
Viktor ao meu lado que agora me dei
conta que não cheguei a perguntar se
alguém se feriu durante a tentativa de me
resgatar. Para falar a verdade eu não
lembro muito bem da noite do resgate,
sei que vi Donatello e Luna antes de
Enzo chegar. Depois disso acho que meu
corpo não suportou e se deixou ir pelo
cansaço e dor.
Dor essa que não foi pouca, a
surra que Maxim me deu foi uma das
piores que recebi. Isso prova o quanto
ele estava irritado pela minha atitude de
confrontá-lo, já que eu nunca tive essa
atitude e sempre deixei ele fazer o que
queria comigo por medo. Não teria
como não sentir medo com 17 anos,
recebendo lições de como agir, como
liberar meu corpo para aceitar tudo o
que ele queria fazer comigo. Mas
acabou, agora eu não sou mais aquele
homem, sou diferente e tenho um homem
incrível ao meu lado.
Após todo os exames, e muitos
outros procedimentos que eu tive que
passar. Senti que meu corpo estava
muito cansado, mas fiz de tudo para
continuar acordado. Queria poder
perguntar tudo a Enzo, quero saber o que
aconteceu com Maxim e se houve algum
ferido. Quero saber também o que
vamos fazer para a mudança de Viktor,
meu pobre menino está vestindo uma
roupa que deve ser de Enzo.
Porque aquela calça de moletom e
camisa são muito grandes para seu
corpo. Percebi que chegamos no quarto
e a primeira pessoa que vejo sorrindo
com a minha chegada é Francesca ou
melhor Nonna. Porque se eu a chamar de
Francesca agora ela pode me matar.
— É tão bom ter o seu traseiro de
volta para onde nunca deveria ter saído.
— Nonna disse e isso me fez rir.
— É maravilhoso ver você
novamente, Nonna. — Falo meio
atordoado e ela me deu um beijo na
testa.
— Fiquei tão preocupada com
você, Dea. — Ela disse passando a mão
na minha cabeça.
— Estou em casa agora e ainda
lhe trouxe um bisneto. O que acha disso?
— Pergunto e isso a fez sorrir contente.
— Você sempre me
surpreendendo, mas não só eu que estou
feliz, Arianna também. Olha ali, a
mulher está em tempo de sufocar a pobre
criança.
— Você não é muito diferente
dela, tenho certeza. — Falo observando
Arianna, Enzo, Viktor, Lorenzo e
Donatello. Arianna está abraçando
Viktor que olha para meus sogros com
curiosidade. Ela percebe que estou
olhando e vem na minha direção.
— Oh, meu querido, é tão bom ter
você de volta. Sentimos tanto sua falta.
— Disse ela chorando e beijou minha
testa. — E ainda me traz um neto, é
muita emoção para meu coração.
— Não faça a emotiva Arianna,
quando meu filho está comendo essa sua
b… — Nonna disse e Lorenzo foi mais
rápido lhe dando um beijo na bochecha
a fazendo calar.
— Mamma, Nonna! — Enzo e
Donatello gritaram ao meu tempo.
— Tão frescos! — Resmungou ela
e voltou seus olhos para Viktor que
estava nos braços de Arianna. — Saiba
que você está entrando em uma família
de frescos meu neto. Por isso pode ir me
chamando de Nonna.
— A senhora vai assustar o
menino, Nonna. — Enzo disse em
sofrimento e Nonna cerrou os olhos na
sua direção.
— Ele já tem que se acostumar,
não me irrite Enzo. Eu ainda tenho um
belo soco. — Ela disse fazendo Viktor
prender o riso.
— Eu sei bem disso, Nonna. —
Enzo revirou os olhos e bagunçou os
cabelos de Viktor.
— Não ligue para ela, acho que
vamos ter que colocá-la em um asilo
mais rápido que imaginamos. —
Donatello disse no ouvido de Viktor,
mas que foi alto o suficiente para que
todo ouvissem.
— Oras seu… Você e sua bunda
murcha, colada nas costas tente fazer
isso comigo para você ver. — Nonna
disse irritada indo em direção a
Donatello, mas Lorenzo impediu.
— Ele está brincando querida, seu
filho jamais faria isso. — Lorenzo disse
no seu tom calmo de sempre.
— Não te pergunto nada, não o
defenda! — Nonna disse irritada e isso
fez todo mundo rir até mesmo Viktor.
— Vá dormir meu anjo, estou
percebendo que você está muito
cansado. — Enzo disse passando a mão
nos meus cabelos.
— Mas tenho tanto o que
perguntar. — Sussurrei e ele sorriu
docemente para mim.
— Eu sei e quando você acordar
estaremos aqui. — Enzo disse e eu
respirei fundo olhando nos seus olhos.
— Vou levar Viktor comigo nós
precisamos comprar roupas para ele. É
inacreditável ele ficar usando a roupa de
Enzo. — Arianna disse e eu olhei para
Viktor que confirma
— Acho que ele vai gostar disso,
não é verdade? — Pergunto me sentindo
sonolento.
— Sim, senhora Arianna disse
que eu vou gostar de ver a cidade. Eu
nunca sair assim. — Ele disse e abaixou
a cabeça.
— Vai ser muito bom, quando eu
estiver melhor vamos sair juntos. Eu,
você e Enzo. — Prometi e ele olhou
para Enzo que assente.
— Sim, vamos fazer vários
programas juntos. — Enzo confirma o
que eu disse e me vi totalmente
esgotado. — Descanse meu anjo, você
está em casa. — Com isso caí em sono
profundo.
Algo me trouxe de volta a
realidade, solto um longo bocejo e olho
ao redor do quarto. Me surpreendendo
quando vejo que o quarto está cheio de
gente, fico quieto para que eles não
percebam que acordei e os observo
atentamente. No qual está Filippo em um
canto com Luti na sua frente, preso nos
seus braços, Luna está conversando com
Giovanna em um tom baixo, quase como
se uma estivesse sussurrando no ouvido
da outra.
Enzo está conversando com
Nardelli, e ele é a pessoa que mais me
surpreendeu com a presença. Me sinto
tão feliz por todos eles estarem aqui e
tenho certeza de que eles foram
essenciais na minha volta para casa. E
não existem palavras que eu possa dizer
que expressem a minha gratidão a essas
pessoas. Pessoas essas que me
conhecem a pouco tempo, mas que
fizeram de tudo para me tirar do inferno.
Eu os amo, amo cada um deles com suas
personalidades tão diferentes.
— Você poderia falar mais baixo
ou vai acordar o meu anjo. — Enzo
avisou a irmã que deu dedo para ele.
— Eu estou falando como aqui?
Você acha que sei usar libras? — Luna
disse irritada e isso fez Luti rir.
— Cara, Lucca faz falta aqui. —
Ele disse e isso me fez franzir o cenho.
— Onde estão Lucca e Luigi? —
Pergunto atraindo a atenção de todos.
— Anjo, você acordou! — Enzo
disse vindo na minha direção. — Como
está se sentindo? — Pergunta com
preocupação.
— Eu estou bem, mas agora
responda minha pergunta. — Pedi e ele
olhou para o outros.

-No dia da invasão duas pessoas


ficaram feridas Cyro e Lucca. —
Filippo disse e eu arregalei os olhos.
— Oh Deus! Eles estão bem? Não
foi nada de grave, não é? — Pergunto
preocupado e Filippo nega com a
cabeça.
— Cyro passa bem, a bala que
ficou alojada foi retirada. Agora ele está
dormindo em algum lugar aqui. — Luna
disse e isso me acalmou.
— E Lucca ele… — Enzo parou
de falar quando a porta foi aberta e um
Lucca vestindo uma camisola hospitalar
entrou, junto com ele está Luigi.
— Lucca pare de andar assim,
você acabou de ser operado. — Luigi
reclamou e Lucca levantou a mão.
— Eu perdi um baço Luigi, não é
como se eu passasse por um transplante
de coração. Acalma o coração meu
amor. — Lucca disse de modo
desinteressado.
— Lucca, você veio o caminho
inteiro mostrando sua bunda. Sem se
importar! — Grunhiu Luigi puxando os
cabelos.
— Relaxe amor, os enfermeiros
podem ter visto minha bunda, mas meu
coração é todo seu. — Brincou Lucca e
isso irritou mais ainda seu marido.
— Lucca o que faz fora do seu
quarto? Você foi operado seu bastardo!
— Giovanna disse entre os dentes e
todos estavam concordando com ela.
— Eu estava lá, mas me senti
muito solitário, quero contato com a
família. — Ele disse fazendo beicinho.
— Você fica patético fazendo esse
bico. — Enzo apontou e Lucca cerrou os
olhos na sua direção.
— Eu sou lindo, porra! Qualquer
ofensa que saia dessa sua boca é
puramente sua inveja falando. — Lucca
disse dando de ombros e se curvou
fazendo careta.
— Está vendo aí seu maldito,
você não deveria estar correndo o
hospital inteiro. — Filippo disse
rudemente e foi ajudar Luigi a levar
Lucca para a cama ao lado da minha.
— Eu pedi para que me
trouxessem para cá, assim eu faço
companhia ao meu cunhado. — Ele
disse sentindo dor e voltou sua cabeça
na minha direção. — Como você está
Dea? — Pergunta ele e eu sorri.
— Eu estou bem doído, mas bem.
E parece que você também passou por
maus bocados. Sinto muito por isso. —
Falo me sentindo culpado e ele fechou a
expressão.
— Não se culpe por algo assim,
você é um irmão para mim agora. E fora
que estou acostumado a isso. — Ele
disse tentando aliviar minha culpa.
— Isso mesmo Andrea, nada de se
sentir culpado. Somos sua família e
faríamos tudo novamente. — Luti disse e
todos assentem.
— Meu marido que gosta de ser
demais, nesses momentos eu juro Lucca,
vou surrar essa sua linda bunda se me
aprontar mais dessas. — Luigi avisou e
isso fez Lucca rir.
— Como se uma surra na bunda
não fosse acabar em sexo, quente e
suado. — Lucca provocou e os seus
irmãos ficaram enojados.
— Cala a boca seu bastardo! —
Enzo, Filippo e Luna disseram ao
mesmo tempo.
— Eles sempre fazem essa coisa
de falar juntos? — Nardelli pergunta e
olhei para Luti, Luigi e Gio.
— O tempo todo! — Falamos ao
mesmo tempo e começamos a rir.
— Só tem maluco nessa família.
— Nardelli disse negando com a
cabeça. — É bom ver você novamente
anjinho, mas tenho que ir.
— Já disse para não o chamar
assim! Vou socar sua cara, seu velho
pervertido. — Enzo disse com raiva e
Nardelli levantou as mãos tentando não
rir.
— Enzo, pare com isso! — O
repreendi e ele continuou a olhar para
Nardelli, mas não falou mais nada. —
Obrigado por toda sua ajuda, Nardelli.
— Agradeci de coração e ele assente
sem jeito.
— Não foi nada. Tenho que ir! —
Disse e foi em direção a porta.
— Estranho, homem estranho. —
Lucca disse e isso fez com que todos
rissem, menos Filippo.
— Ainda não gosto dele. —
Filippo disse e Luti lhe deu um tapa.
— Você não gosta dele porque
tem ciúmes de seu irmão. Assuma,
Ursão! — Luti disse e Enzo foi até
Filippo que estava carrancudo.
— Eu sou seu irmão favorito,
estou comovido com seu amor. — Enzo
abraçou o irmão e foi empurrado.
— Vai se foder bastardo! —
Filippo disse olhando o irmão com
raiva.
— Um amor bruto, mas ainda sim
é amor. — Luna confirma e Enzo
massageou o lugar dolorido.

— Eu sou o mais injustiçado


nessa família. — Enzo disse de modo
dramático e eu revirei os olhos.
— Não faz isso Enzo, drama é
baixo até para você. — Falo e ele me
deu um beijo de surpresa.
— Você está muito espertinho
para o meu gosto. — Disse ele me
olhando amorosamente.
— Estou louca para conhecer
Viktor, é tão bom ter mais um integrante
na família. — Giovanna disse e eu sorri
para ela.
— Acho que ele vai adorar fazer
parte dessa família. — Falo e ela sorriu
para mim.
— Eu vou ser o tio favorito dele,
Enzo roubou minha filha de mim. Nada
mais justo se eu roubar seu filho
também. — Lucca disse e vi Luigi negar
com a cabeça.
— Você é muito sem noção,
Lucca. — Filippo disse irritado.
— E você não consegue viver sem
mim. — Lucca apontou e como fez força
para fazer o movimento, ele se curvou
de dor.
— Fica quieto meu cunhado, nós
temos que sair daqui logo. — Avisei e
ele sorriu para mim.
— É bom ter você de volta,
Andrea. — Luna disse com seus olhos
marejados. Olhei para todos os
presentes e fixei meu olhar no homem
que amo.
— Eu sei… é maravilhoso voltar
para casa também. — Falo emocionado
e senti um beijo na minha testa. Não
precisei virar para saber que Enzo
estava tão emocionado quanto eu.
Finalmente estou saindo desse
hospital, não estava mais aguentando
ficar me sentindo um inválido. Claro que
a todo momento o quarto estava cheio de
pessoas da família, principalmente com
o Lucca se instalando na cama ao lado
da minha, mas nada se compara a estar
em casa. Eu preciso esquecer tudo isso
que aconteceu, tenho que tirar da minha
mente a queda forçada do helicóptero, e
o pior de tudo, tenho que esquecer o meu
encontro desagradável com Maxim.
Enzo contou algo que me deixou
bastante surpreso, nunca poderia
imaginar que Fyodor está morto e foi
morto pelas mãos de Enzo. Eu sei que
não deveria, mas sinto um alívio muito
grande por não ter que nunca mais olhar
para a cara daquele homem desprezível.
Homem esse que nunca escondeu o seu
desagrado ao me ver, e que se tivesse
tido permissão ele iria com certeza usar
o meu corpo.
A única coisa engraçada com a
morte de Fyodor foi a forma que Lucca
me contou como torturou o bastardo.
Lucca falava com tanta empolgação sem
perceber a minha cara assustada. Se não
fosse por Luigi acho que ele estaria
falando sobre isso até agora. Estremeço
e balanço a cabeça negativamente, meu
cunhado com aquele rosto lindo não
parece ser tão perverso.
No tempo que continuei internato
me surpreendi com a visita do pessoal
da boate, e percebi que estava sentindo
muita falta dessas pessoas assim que
meus olhos bateram neles. Fanny estava
muito chateada por ficar sabendo eu que
estava nesse estado a pouco tempo, ela
chegou me perguntando se não era uma
amiga boa o suficiente para não saber
que seu amigo passou por um acidente
de helicóptero. Não consegui segurar a
risada e a acalmei falando que estava
bem, mas não acho que fosse o
suficiente para acalmar aquela mulher.
Fanny veio acompanhada por
Nero, Amauri, Paul e Louis. Ela ainda
disse que os dançarinos queriam vir
fazer uma visita também, mas ela achou
melhor não deixar. Quando pergunto o
motivo, ela cruzou os braços e olhou
ameaçadoramente para Enzo, que deu de
ombros sem se incomodar com o olhar.
Percebi que Enzo ainda tem muito
ciúmes dos dançarinos e Fanny achou
melhor evitar qualquer tipo de mal-estar.
Mesmo assim foi divertido tê-los por
perto. Amauri começou a contar como a
vida noturna estava triste sem a minha
presença linda e fascinante, palavras
dele não minha, e é claro que Paul não
gostou nem um pouco de ouvir o que seu
parceiro falou.
Louis disse com seu jeito
amigável e confiável de ser como estava
feliz que eu estava bem. E pergunta
quando eu iria voltar para a boate, por
que as coisas andavam muito mais
rápidas com a minha presença. Isso foi o
suficiente para Fanny avançar em Louis
que começou a rir, mas Nero foi rápido
o suficiente para prender sua namorada
furiosa nos braços. A visita deles foi
refrescante, mesmo assim estou louco
para voltar para casa, para o meu
trabalho e fazer uma nova rotina agora
incluindo Viktor nessa minha vida
corrida.
Não sei como vai ser ter que
cuidar de tudo isso, mas apesar de todo
o trabalho vai ser gratificante. Nunca
imaginei que ter uma família só minha,
com um homem que amo e um filho que
sempre cuidei e amei poderia ser tão
bom. Não vejo a hora de pôr as mãos na
massa.
Falando em Viktor parece que ele
está se adaptando muito bem a Enzo,
mas vejo que ele ainda está se
resguardando bastante, principalmente
com o resto da família. E não é por
causa da língua estrangeira sua falta de
comunicação, porque o ensinei a língua
italiana desde novinho, mas Viktor nunca
foi um menino muito falante e tenho
certeza que conhecer os Aandreozzi
deve ter sido um choque de informação
para ele, já que todos são tão falantes e
agradáveis. Meu menino nunca viu
pessoas assim, e sei que vai ser um
pouco difícil para ele se acostumar.
— Podemos ir embora agora? —
Pergunto após terminar de me arrumar
com a ajuda de Enzo.
— Anjo, você tem que se acalmar.
— Brincou Enzo terminando de amarrar
o cadarço do meu tênis.
— Eu sei que estou parecendo
uma criança birrenta no momento, mas
eu realmente quero ir para casa. — Falo
fazendo Enzo olhar para cima com um
olhar risonho.
— Você é a criança birrenta mais
linda que já vi. — Disse ele e eu olhei
para o lado, sentindo minha bochecha
ficar vermelha.
— Não tente me deixar sem graça,
Enzo, eu ainda quero muito sair daqui.
— Resmunguei sem encará-lo e senti ele
segurar meu rosto.
— Nada mais me fará feliz do que
levar você para nossa casa. — Enzo
disse e seu tom me fez cerrar os olhos.
— Por que acho que tem um
“mas” nesta frase? — Pergunto e ele
sorriu de lado.
— Devem ser porque nós não
vamos para a nossa casa. — Disse ele
de modo aleatório.
— Como não? Aonde nós vamos?
E Viktor, está esquecendo dele? —
Pergunto atordoado e ele nega.
— Jamais vou esquecer de Viktor,
anjo. Nós simplesmente vamos ficar na
casa de meus pais por enquanto. — Enzo
disse e eu confirmo com a cabeça
devagar.
— Não precisa me dizer nada,
tenho certeza de que Arianna e Nonna
não querem que eu permaneça sozinho
com esses ferimentos ainda cicatrizando
e querem cuidar de mim. — Falo rindo
da cara de desagrado de Enzo.
— Sim, elas duas praticamente me
obrigaram a isso, e quando eu disse que
era capaz de cuidar de você. Nossa… a
cara que elas fizeram foi de arrepiar. —
Enzo disse seu corpo estremeceu.
— Sabe o que acho mais
interessante? — Pergunto rindo e ele
nega. — Você e seus irmãos são adultos
e não tem medo de nenhum perigo, a não
ser de sua Mamma e de sua Nonna. Eu
acho isso fascinante.
— Acredite quando eu digo que
elas sabem ser assustadoras quando
querem. — Enzo disse apontando um
dedo na minha direção.
— Pode ter certeza de que eu
acredito, cara grande. — Brinquei e ele
nega.
— Vamos para casa, tem pessoas
nos esperando e tenho certeza de que
você vai ficar feliz. — Enzo disse de
modo enigmático.
— Fora a sua família existe mais
alguém nos esperando? — Pergunto
curioso.
— Quando chegarmos lá, você irá
ver. — Enzo disse e eu fiz minha melhor
cara de cachorro que caiu da mudança.
— Não adianta fazer essa cara, você só
vai saber quando chegamos.
— Você é mau! — Murmurei e ele
beijou minha cabeça.
— Você não sabe o quanto meu
anjo. — Sussurrou ele com a cara
enterrado nos meus cabelos.
Saímos do hospital, mas não antes
que eu agradecesse a Vitório e toda a
sua equipe por todo cuidado que tiveram
comigo. Cumprimentei Timóteo e
pergunto como Cyro estava, ele me
responde que Cyro estava bem e louco
para voltar ao trabalho. Lembrei a
Timóteo que não deixasse Cyro voltar
ao trabalho sem que ele estivesse cem
por cento saudável e ele assente me
deixando mais calmo por saber que o
meu segurança, que é um ótimo
profissional e uma ótima pessoa tem
pessoas cuidando dele. Seguimos
caminho para a enorme mansão dos
Aandreozzi e minha curiosidade para
saber quem estava nos esperando foi
muito grande, mas como eu sabia que
Enzo não iria me dizer preferi poupar
meu fôlego e não perguntar mais.
Entramos pelos portões e mesmo dentro
do carro vejo Viktor esperando a nossa
chegada na porta.
— Vamos descer, Anjo. — Enzo
disse eu confirmo rapidamente.
— Sim, parece que ele ficou nos
esperando. — Falo soltando um suspiro.
— Sim, ele queria vir comigo,
mas as crianças pediram para ele ficar.
Mas agora acho que eu deveria ter o
levando comigo. — Enzo disse e posso
ver pelo seu rosto como ele está se
sentindo culpado.
— Pode demorar um pouco, mas
tenho fé que ele vai se acostumar com
todo mundo. — Falo olhando pela janela
observando atentamente Viktor.
— Sim anjo, tenho certeza disso.
E vamos fazê-lo entender que vamos
sempre está lá por ele. — Enzo disse
calmamente e eu assinto.
— Acho que as crianças são as
que mais o assustam. Ele nunca ficou
perto de outra criança, Maxim nunca
nem mesmo o permitiu sair de casa e ir
para escola. — Falo em frustração e
senti a mão de Enzo segurar a minha.
— Vamos cuidar desse lindo
bambino. Juntos! — Olhei nos olhos de
Enzo e vi a verdade estampada lá.
— Sim e obrigado por isso. —
Agradeci e ele nega.
— Somos uma família certo?
Então é isso que a família faz, por isso
não precisa de agradecimentos. — Enzo
disse e saiu do carro, me ajudando a sair
logo em seguida.
— Você está bem papa? — Viktor
pergunta vindo apressado na minha
direção.
— Sim Vik, estou bem e feliz por
estar em casa. — Falo passando a mão
na sua cabeça.
— É aqui que vamos morar? —
Ele pergunta olhando de mim para Enzo.
— Não, nós temos nossa casa,
mas vamos ficar aqui por enquanto, que
seu papa ainda está ferido. — Enzo
disse e Viktor assente abaixando a
cabeça.
— Por que a pergunta Vik, não
está gostando de ficar aqui e conhecer
todo mundo? — Pergunto e ele arregalou
os olhos.
— Não! Não é isso, é por que…
porque eu… — Ele tentou falar, mas
abaixou a cabeça e olhei diretamente
para Enzo.
— Sei que pode ser um pouco
difícil para você ficar rodeado de tanta
gente, mas sabia que nós vamos esperar
o seu tempo. Todas aquelas pessoas lá
dentro são sua família agora e se eles
estão muito perto de você é porque
querem te conhecer. — Enzo disse e eu
agradeci a ele mentalmente por ter
tomando a iniciativa.
— Fico me sentindo mal por ser o
mais velho das crianças e não consegui
me socializar com eles. — Viktor disse
em frustração e isso me fez sorrir.
— Entendo você e tenho certeza
de que logo você será como um grande
irmão mais velho para eles. — Falo o
fazendo me olhar com dúvida.
— Eu nem sequer consigo
conversar normalmente com eles,
imagine ficar próximo assim. — Viktor
disse e foi a vez de Enzo rir.
— Você vai garoto, vá por mim.
Aqueles pequenos monstros precisam de
alguém como você no grupo. — Enzo
brincou com Viktor e percebi que seu
corpo ficou mais relaxado.
— Vamos entrar que estou curioso
para saber que está me esperando. —
Falo apressadamente e Viktor me olhou
com o cenho franzido.
— Mas você não contou a ele que
os… — Viktor ia dizer, mas Enzo o
impediu.
— Surpresa Viktor, não estrague a
surpresa. — Enzo piscou um olho e
Viktor entendeu.
— Tudo bem então! — Viktor
disse dando de ombros.
Seguimos os três juntos para a
porta da mansão, e assim que entrei não
vi nada de diferente. Fomos andando até
chegar na grande sala de estar e do
corredor já é possível ouvir a conversa
dos membros da família. Como não
posso andar muito rápido por causa dos
ferimentos nas minhas costas, vou
andando em passo curto e ainda com a
ajuda de Enzo e Viktor.
Não tinha notado como Viktor está
ficando muito alto, ele ultrapassou
minha altura a um tempo e para um
quase adolescente ele está crescendo
bastante. Tiro minha atenção de Viktor
assim que chegamos na sala e lá estão
todos à minha espera, incluindo os meus
pais e meu irmãozinho Otto. Olho para
Enzo com os olhos questionadores e ele
assente com a cabeça confirmando que o
que estou vendo não é uma ilusão.
— Meu filho, o que aconteceu
com você? — Mamma disse e veio na
minha direção com os olhos marejados.
Sei que ainda estou com o rosto inchado
e com alguns hematomas roxeados por
todo meu corpo, mas vê minha mãe
comovida sobre isso me faz ver que a
visão não deve ser muito legal.
— Eu estou bem mãe, o pior com
certeza já passou. — Falo e ela me
abraçou sem que eu esperasse. Nesse
momento uma dor absurda tomou conta
de mim e não pude evitar e gemer.
— Andrea! — Enzo me tomou nos
braços assim que minha mãe me soltou
assustada.
— O que aconteceu? Eu o
machuquei? — Ela pergunta em
desespero.
— O que acontecendo meu filho?
— Meu pai pergunta olhando para Enzo
e para mim.
— Eu estou bem, está tudo bem.
— Falo tentando sorrir, mas as minhas
costas estávamos ardendo e repuxando
bastante.
— Não, não está. Você sempre faz
isso, papa. — Viktor disse seriamente e
a atenção de meus pais foram para
Viktor.
— Papa? Quem é essa criança,
Andrea? Não lembro de você ter falado
sobre ele. — Meu pai pergunta sem
entender. Viktor agiu instintivamente e
ficou atrás de Enzo.
— Primeiro vocês têm que saber
que Andrea está com as costas muito
machucadas, a senhora não o machucou
propositalmente. Foi um erro meu não
ter alertado — Enzo disse seriamente
olhando para minha mãe que soltou uma
respiração. — Depois vamos falar tudo
o que aconteceu, e isso inclui Viktor.
Mas posso dizer de imediato que ele é
filho de Andrea, o que o torna
automaticamente meu também.
— Filho? Mas como não nos
disse sobre isso? — Mamma disse
emocionada tentando olhar para Viktor
que ainda estava escondido nas costas
de Enzo.
— Eu prometo contar tudo a
vocês com calma, e Vik é realmente meu
menino. — Falo e meus pais aceitaram
isso por um momento.
— Por que não vamos todos nos
sentar? É muito bom poder receber a
família Giardino aqui. — Arianna se
aproximou com a sua hospitalidade de
sempre. –Você está bem, Dea? –
Pergunta minha sogra e eu sorri
confirmando.
— Sim, vocês chegaram a pouco
tempo, tenho certeza de que devem estar
cansados. — Nonna disse me
surpreendendo, porque ela nunca deixou
de expressar o seu desagrado por meus
pais.
— Estamos felizes por poder ver
nosso filho depois do acidente. —
Mamma disse desviando seus olhos de
mim para olhar para minha Sogra.
— É uma boa oportunidade para
nos conhecermos. — Donatello disse
chamando a atenção de meu pai.
-Você está muito machucado. Tem
certeza de que está bem, irmão? —
Pergunta de Otto chamou minha atenção.
— Sim irmãozinho, eu estou bem.
— Respondo e ele me olhou por um
tempo.
— Tio Andrea, estávamos com
saudades. — Sam e as outras crianças se
aproximaram de nós.
— Eu também estava morrendo de
saudades de vocês. — Olhei para Duda,
Pietro e Sam com carinho.
— Quando senhor não estiver
mais dodói vamos blincar, não é
vedade? — Pietro disse e eu assinto
sorrindo para ele.
— Sim querido. — Respondo o
deixando feliz.
— Tio, será que podemos levar
Otto e Viktor para conhecer o lago? —
Duda pergunta e eu olhei para Otto que
estava com os olhos brilhando de
curiosidade, mas Viktor continuou
olhando para o lado.

— Bem, se Otto e Viktor quiserem


eles podem ir sim. Acredito que meus
pais não vão brigar se ele for com você.
— Falo e posso sentir que minhas costas
já não estão mais tão doloridas.
— Você vai querer conhecer a
casa dos nossos nonni (avós), Otto? É
muito legal! — Duda pergunta se
aproximando de meu irmão.
— Sim, eu quero, mas antes tenho
que falar com os meus pais. — Otto
disse com seu sorriso muito parecido
com o de nosso pai e Duda confirma.
— Você vem com a gente Vik? —
Sam pergunta a Viktor o fazendo olhar
na nossa direção.
— Eu acho que quero ver como
papa está. — Ele disse e isso apertou
meu coração.
— Eu estou bem meu amor, foi só
um pequeno contratempo. — Falo e ele
me olhou com dúvida.
— Entendo que você e seu pai
sempre cuidou um do outro, mas se você
quiser ir com seus primos eu prometo
que vou cuidar dele. O que acha? —
Enzo falou segurando nos ombros de
Viktor.
— Tudo bem, então acho que vou
com os meninos. — Viktor falou me
deixando feliz e esperançoso.
— Podem ir, mas não demorem
porque logo a avó de vocês vai querer
servir o almoço. — Enzo disse e Sam
fez um som descontente.
— Esses adultos vivem sempre
estragando com a diversão das crianças.
— Sam reclamou revirando os olhos.
— O que disse marrentinha? —
Luigi apareceu olhando fixamente para a
filha.
— Eu? Nada demais papai Luigi,
nada demais mesmo. — Disse ela e
olhou para Viktor.
— Marrentinha, marrentinha não
sei o que faço com você. — Luigi disse
em uma reclamação fingida.
— Só em ame muito papai e isso
está bom para mim. — Disse ela
fazendo Enzo rir.
— Eu disse que eles precisavam
de alguém como você, por tanto vai lá e
evite que eles façam besteira. — Enzo
disse Viktor de modo que todos
ouvissem.
— Eu sou muito forte e plotejo
todo mundo. — Pietro disse segurando a
mão de Viktor que ficou parado olhando
as suas mãos juntas.
— Sim ursinho, você é forte como
seu Babo. — Luti disse vindo na nossa
direção junto com Filippo.
— Vamos logo Pê e Vik antes que
eles nos impeçam. — Sam chamou os
meninos e Pietro saiu puxando Viktor.
— Aonde eles vão? — Filippo
pergunta olhando para as crianças com
atenção.
— Estão indo mostrar o lago para
Otto e Viktor. — Falo sentindo meu
corpo cansado.
— Quem é Otto? — Luigi
pergunta e Enzo se prontificou a
responder.
— Otto é o irmão caçula de
Andrea. Vocês se lembram que eu
mandei buscá-los? — Enzo lembra e
eles assentem.
— Então seus pais já chegaram?
Vamos lá, vamos nos apresentar. — Luti
disse com uma expressão ansiosa.
— Vou buscar Isabel para Gio
poder tomar um banho e descer. Fora
que tenho que ajudar Lucca a descer, ele
pode ser um teimoso às vezes. — Luigi
resmungou descontente indo em direção
as escadas.
— Eu entendo muito bem, Lui. —
Luti disse olhando para o marido que
levantou as mãos em sinal de rendição.
— Eu não fiz nada, não falo nada,
estou quieto aqui. — Filippo disse
rudemente e Luti revirou os olhos.
— Agora, mas esses filhos de
Don e Arianna podem dar muito
trabalho. — Luti disse e isso eu tive que
confirmar.
— Concordo plenamente. —
Ressaltei vendo o olhar ofendido de
Enzo e Filippo.
— Mal cheguei aqui e já escuto
uma afronta contra a minha pessoa. —
Luna disse rindo balança a cabeça. —
Mamma está chamando todo mundo,
inclusive Dea que precisa tomar os
remédios.
— Então vamos, é bom que você
precisa sentar meu anjo. — Enzo disse
em um tom preocupado.
— É tão lindo ver nosso Zuco
nesse modo delicado e amoroso de ver a
vida. O amor é lindo não é verdade? —
Lucca disse chamando nossa atenção.
Olhamos na sua direção e ele está
descendo as escadas com cuidado.
— Fottiti bastardo! (Bastardo do
caralho!) — Resmungou Enzo. — Luigi
subiu para te ajudar a descer seu
bastardo, está fazendo o que aqui sem
ele? — Enzo pergunta com irritação.
— Ele foi até mim? — Lucca
pergunta sem entender e todos nós
afirmamos. — Que seja, eu não sou um
aleijado. — Lucca piscou um olho.
— Lucca, sempre sendo um
inconsequente. — Filippo disse do seu
modo sério indo ajudar o irmão a descer
as escadas.
— Se quiser me levar no colo eu
não vou me importar nem um pouco,
Ursão. — Lucca disse e Filippo o olhou
com fúria.
— Não abuse da sorte seu idiota.
— Enzo disse em um tom de aviso.
-Meus irmãos mais velhos são tão
doces. — Lucca disse fazendo Filippo e
Enzo soltar um suspiro.
Fomos ao encontro de meus pais,
meus sogros e Nonna. Aproveitei a
oportunidade para se sentar ao lado de
minha mãe que me deu um pequeno
sorriso preocupado e apertou a mão que
lhe ofereci. Arianna e Donatello fizeram
as apresentações de seus filhos, vi a
curiosidade e admiração de meus pais
ao olhar para os filhos do casal
Aandreozzi.
Realmente eles são quatro
pessoas que chamam a atenção no
primeiro olhar, Filippo com seu jeito
sério apresentando seu marido, Luti foi
educado e tímido. Lucca sorriu para
meus pais, dizendo que também está
casado e com duas filhas. Logo Luigi
apareceu carregando Isabel no colo tão
linda que fez minha mãe ficar com os
olhos brilhando. Quando meu pai
pergunta se Luna também estava casada,
seus irmãos e pai negaram rapidamente
dizendo que ela era muito nova para
isso. O que fez Luna se irritar e meu pai
rir em entendimento.
Giovanna apareceu e foi também
apresentada aos meus pais, Lorenzo que
estava no comando da cozinha hoje, veio
avisar que o almoço estava sendo
servido. E Nonna aproveitou o momento
para apresentar o seu namorado e chefe
de cozinha a todos. Após toda a família
Aandreozzi ser apresentada, Giovanna
se prontificou a ir chamar as crianças e
assim que elas voltaram começamos o
almoço em família.
A comida feita por Lorenzo estava
deliciosa, no início do almoço senti que
meus pais estavam se sentindo muito
envergonhados por todo o luxo que
essas pessoas possuem. Mas apesar dos
Aandreozzi serem muito ricos eles são
pessoas muito simples, e foi um alívio
ver que meus pais perceberam isso e
deixaram a vergonha de lado. Viktor
estava ao meu lado na mesa e apesar de
não falar nada, ele observava todos com
muita atenção.
Peguei algumas vezes minha mãe
olhando de mim para Viktor, mas tentava
disfarçar a sua curiosidade. Estava
decidido que assim que acabasse o
almoço eu iria chamá-la para conversar
e contar um pouco sobre Viktor. E foi
isso mesmo que fiz, como eu tinha
acabado de almoçar e tinha tomado o
remédio. Pedi a minha mãe que me
ajudasse a chegar ao quarto, assim que
chegamos fui direto para cama e me
deitei de lado, porque era a única
posição para mim no momento.
— Você está bem meu filho? —
Minha mãe pergunta e eu olhei para ela.
-Sim Mamma, estou bem. — Falo
e soltei um suspiro. — Sei que a senhora
tem muitas perguntas.
— Não meu filho, seus sogros
conversaram comigo e seu pai. Estou
muito chocada com as coisas que você
passou, sei que eles não nos disseram
tudo, mas tenho certeza de que foram
eles que o trouxeram de volta para casa.
— Mamma disse me surpreendendo.
— Sim mãe, se não fosse por
Enzo e sua família, não sei o que seria
de mim e Viktor. — Soltei um suspiro
cansado.
— Então Viktor é filho do monstro
que seduziu sua irmã e levou você? —
Minha mãe pergunta com cautela e meu
corpo ficou rígido.
— Ele pode ser o pai dele
biológico, mas Viktor é meu filho. —
Falo com o corpo rígido.
— Entendo meu querido, você que
cuidou e deu amor a esse menino. — Ela
disse e eu relaxei fechando os olhos.
— Sim Mamma, desculpa não ter
contado a vocês sobre ele antes. — Falo
meio sonolento e senti sua mão passar
por minha cabeça.
— Tudo bem, meu lindo filhinho,
agora eu tenho um neto. Queria tanto que
nossa família volte a ser como antes. —
Mamma disse chorosa.
— Lea não quer saber de nós
Mamma. — Sussurrei fechando os olhos
aproveitando do seu carinho.
— Tentarei fazer sua irmã
perceber que ela está errada, vou trazer
Lea de volta. — Mamma disse deixando
um beijo no rosto, mas eu acho que o
sono deve estar me fazendo ouvir
coisas. Não ouço mais nada, pois o sono
me levou de vez.
Sinto algo me acordar um tempo
depois, abro meus olhos e vejo uma
cabeleira loira na minha frente. Dou um
sorriso sonolento ao perceber que essa
cabeleira pertence a Viktor, uma forte
respiração atrás de mim chama minha
atenção. Viro meu corpo com cuidado e
vejo Enzo dormindo tranquilamente do
meu outro lado. Respiro fundo me
sentindo mais protegido que nunca ao
lado desses dois, estou feliz em ainda
estar vivo e faço de tudo para assim
continuar. É hora de mostrar ao mundo
quem é o Andrea de verdade.
— Anjo? — Enzo me chama e eu
sorriu para ele.
— Estou bem amor, volte a
dormir. Vou estar aqui quando vocês
acordarem. — Falo e Enzo voltou a
fechar os olhos.
— É bom que seja verdade, meu
anjo. — Disse e voltou a dormir.
Sim, é hora de deixar de ser o
Andrea quebrado, olhar no espelho e
não ter vergonha da imagem refletida.
Por eles e principalmente por mim
também.
Quase três semanas se passaram
depois que fui levado para Rússia e hoje
estou voltando ao trabalho. Preciso
voltar a trabalhar e como os meus
ferimentos estão quase todos
cicatrizados, então não vejo qual o
motivo de não começar a trabalhar.
Apesar que Enzo está firmemente
insistindo para que eu continue em casa
até a próxima semana, mas isso não vai
acontecer. Eu realmente preciso fazer
meu trabalho, voltar a treinar com tudo
que há em mim e, quando quem sabe,
está preparado de corpo e alma para o
que Maxim deve estar preparando.
Não sou ingênuo em pensar que
tudo está bem e que vou viver minha
vida tranquila, sendo que aquele
lunático ainda pode vir com tudo na
intenção de me amedrontar e me
desestruturar. Não, isso não vai
acontecer, por isso jurei que me tornaria
mais forte, estaria pronto para o que
quer de ruim que possa acontecer. Estou
cansado de ser aquele ser frágil que
todos precisam proteger, dessa vez vai
ser diferente, quero ser alguém com que
eu posso me orgulhar.
Balanço a cabeça enquanto coloco
minha roupa e penso nessas semanas que
se passaram. Meus pais e Otto ainda
estão conosco, só que dessa vez estamos
na casa de Enzo, quer dizer, nossa casa.
Da última vez que Enzo me ouviu
falando que aqui era sua casa, nós
tivemos uma pequena discussão, isso
porque por mais que Enzo deixa
explícito que tudo que é dele é meu, eu
ainda me sinto incomodado com isso,
mas o amo.
E se para estar com ele é ter que
compartilhar tudo até mesmo seus bens,
que seja, não vou ficar batendo a cabeça
com isso. No futuro espero fazer muitas
coisas, tanto para ele quanto para Viktor.
Lembrar de Viktor me faz dar um
pequeno sorriso, porque estou vendo
que o meu menino está tentando se abrir
para o seu novo mundo. Enzo se
prontificou a levar minha família e
Viktor para dar um passeio por toda
Milão, infelizmente eu não pude ir por
causa dos meus ferimentos, mas o brilho
nos olhos de Viktor ao me contar as
coisas novas que ele tinha visto foi a
melhor coisa a ser visto.
E isso me deixa feliz, muito feliz
para ser mais exato. Viktor não é de
falar muito, mas está deixando aos
poucos os outros se aproximarem dele.
E graças a isso Enzo esteve conversando
comigo com relação a colocar Viktor
para estudar em uma escola, mas esse
assunto ainda me deixou receoso. Viktor
nunca frequentou uma escola antes, sua
vida foi viver trancado na fortaleza de
Maxim sem contato nenhum com mais
ninguém a não ser a mim, os capangas e
os funcionários na casa. Acho que uma
escola pode assustá-lo, mesmo assim
conversei com Enzo e disse que teremos
que mostrar essa opção a Vik e se ele
quiser tentar, por mim está tudo bem.
Otto também é uma ótima
companhia para Viktor, como ele é um
menino muito calmo que percebe
facilmente a limitação que Viktor tem em
se comunicar, estou pensando seriamente
em convencer meus pais a saírem de
Riomaggiore e ficar por aqui com a
gente. Assim que sabe Otto também
poderá ter um futuro muito melhor do
que na pequena vila.
— O que tanto você pensa, anjo?
— De frente para o espelho vejo Enzo
vindo na minha direção.
— Nada demais, estou aqui
pensando em pedir para que meus pais
fiquem aqui. — Falo e Enzo abraçou
minha cintura e colocou seu queixo em
cima da minha cabeça.
— Isso seria muito bom, você
teria seus pais por perto e Viktor uma
boa companhia. — Enzo disse com o seu
rosto pensativo.
— Sim, pensei sobre isso
também. Agora que as crianças voltaram
para suas casas, não quero mais ver Vik
solitário. — Falo soltando um suspiro.
— Entendo isso anjo, mas ele tem
a nós, ele não vai estar solitário. —
Enzo piscou um olho e isso o deixou
mais bonito.
— Isso é verdade, só que nós dois
trabalhamos. E mesmo que nós dois
tenhamos nos acostumamos com esse
horário louco de se ver, Viktor é uma
criança, e uma criança que precisa de
orientação. — Falo fazendo Enzo
apertar seus braços na minha cintura.
— Vamos saber dar certo, vamos
poder ver o que é melhor para nossa
família. — Enzo disse e eu assinto me
virando para ficar de frente.
— Você já tem que ir para
empresa? — Pergunto e ele confirma.
— Sim, mas eu te vi parado com a
uma expressão pensativa fiquei curioso
para saber o que se passava. — Enzo
disse e isso me fez rir.
— Quero penetrar até nos meus
pensamentos, senhor Aandreozzi? —
Brinquei levantando os pés para
alcançar a boca a sua boca.
— Você já sabe nem da terça
metade, anjo. — Enzo sussurrou de
modo rouco e não suportei e iniciei um
beijo feroz. Enzo retribuiu o beijo com a
mesma intensidade me deixando duro e
pronto para avançar mais ainda.
— Anjo… anjo eu… — Enzo
tentou falar mais eu estava muito afoito
para continuar o nosso beijo. Eu preciso
dele, sinto falta do seu toque.
— Você está me matando, Enzo.
Nossos beijos se encaixam tão bem. —
Falo o puxando pelo seu terno azul,
Enzo se soltou do meu aperto e eu fiquei
o olhando sem entender.
— Andrea temos que parar, você
ainda está se recuperando. — Enzo
disse engolindo em seco.
— Enzo, eu estou bem. — Falo
desnorteado olhando nos seus olhos
castanhos duvidosos.
— Não meu anjo, você ainda está
em recuperação e eu não quero te
machucar. — Enzo falou e olhei para
baixo vendo sua enorme ereção se
destacar na sua calça.
— Não tem com o que você se
preocupar, querido, eu estou bem. —
Falo levantando a mão para alcançar sua
ereção, mas ele se afastou aflito. Vejo
nos seus olhos famintos que ele me quer,
mas o que está o impedindo?
— Tenho que ir a empresa, anjo.
— Enzo disse saindo do closet
apressadamente.
— Enzo! — Chamo, mas ele está
longe de minhas vistas.
Fico parado como um idiota
tentando entender o que acabou de
acontecer aqui, mas nada de muito
concreto surgiu na minha mente. Desde o
momento que não sinto mais dor nas
minhas costas ou em qualquer outro
lugar no qual fui atingido, eu tento a todo
custo provocar Enzo para que possamos
fazer amor.
Antes eram pequenas investidas,
mas que não estavam fazendo com que o
meu objetivo fosse alcançado. Ele está
sempre com os olhos grudados em mim,
como um gavião a caça de sua presa,
mas por mais que eu tente, ele sempre
está se esquivando de mim. Sua
desculpa é que ainda estou em
recuperação e que ele não quer me
machucar. Jesus Cristo, isso está me
deixando muito confuso, porque nem
quando contei que tinha sido abusado
sexualmente ele se comportou dessa
maneira, me evitando a todo custo, mas
agora é diferente e eu não sei o que está
acontecendo. Ultimamente tudo o que
penso é no toque de Enzo no meu corpo,
na sua expressão sexy e selvagem
quando possui meu corpo.
Assim não dá para continuar,
tenho que descobrir o que há de errado.
Nunca vou aceitar que outra pessoa que
não seja Enzo toque no meu corpo
novamente. E se ele não me quiser mais,
tenho certeza de que não conseguiria
esse tipo de aproximação com mais
ninguém. Pertenço a Enzo de corpo e
alma e ele tem que saber disso, antes
que eu comece a pensar e muitas loucas.
Acabo de me arrumar com uma calça
jeans, um suéter vermelho, um tênis
esporte fino. Prendo meu cabelo na parte
de cima com um coque folgado e deixo o
restante solto e pronto.
Ainda falta uma coisa, vou até
meu compartimento secreto que Enzo
preparou e pego minhas duas facas
Filipinas, também conhecidas como
karambit, após prendê-las em um
suporte discreto na cintura, vejo no
espelho se está tudo perfeito. E sim,
tudo nos conformes! Pego o meu casaco
e saiu do quarto pronto para esse dia,
desço as escadas para encontrar minha
mãe falando no celular do outro lado da
sala, ela parece estar falando em um tom
baixo e isso aumenta minha curiosidade.
Assim que ela sente que alguém está se
aproximando ela desliga a ligação.
— Mãe, algum problema? —
Pergunto me aproximando dela que força
um sorriso.
— Não, meu querido, está tudo
bem. — Ela disse rapidamente e faço de
tudo para não franzi o cenho.
— Vi que a senhora estava
falando no celular e me pareceu
nervosa. — Falo sem conseguir me
conter e ela nega com a cabeça.
— Ah! Eu estava falando com seu
pai, você sabe como ele fica empolgado
quando alguém o chama para uma
pescaria e não quero que ele canse
demais seu sogro. — Mamma disse e
isso me deixou mais desconfiado ainda.
— Donatello e Papa sabem muito
bem o que fazem, não precisa se
preocupar, Mamma — falo, trazendo-a
para um abraço.
— Eu sei, mas é impossível não
me preocupar com vocês. — Disse ela e
tenho a sensação de que não quis falar
de papai.
— Seria bom que a senhora
viesse comigo para a boate. O que acha?
— Pergunto e isso a fez sorrir.
— Só se for para deixar seu pai
louco. Ele ainda não se acostumou que
você trabalha em uma boate que tem
homens tirando a roupa. — Mamma
falou e essa foi a minha vez de rir.
— Não só o papai, mas o Enzo
ainda não se adaptou muito bem a isso
também. Todo o dia ele pergunta se é
isso mesmo que eu quero. — Falo e ela
passou a mão no meu rosto.
— É bom ver que você tem uma
pessoa que se importa ao ponto de sentir
ciúmes de você. — Mamma falou e eu
soltei um suspiro.
— Mesmo eu achando que ele
passa dos limites, como por exemplo no
outro dia que ele ameaçou o novo
segurança por estar olhando demais para
mim. — Falo negando com a cabeça e
ela beijou minha testa.
— Mas ele te ama, não é
verdade? — Pergunta e eu a olhei por
um tempo antes de assinto.
— Então isso é o que importa. —
Ela disse em um tom doce.
— Onde estão os meninos? —
Pergunto após respirar fundo.
— Eles estão no escritório de
Enzo, devem estar com algum livro nas
mãos. — Mamma disse fazendo querer
ir lá e me despedi, mas não quero tirar a
concentração dos garotos.
— Diga a Viktor que se ele
precisar de algo é só ligar para o meu
celular. — Pedi a Mamma que confirma.
— Acho que vou ajudar Cecília
com os afazeres, aqui não tem nada para
fazer. — Mamma disse e eu lhe dei um
último abraço.
— Tudo bem, mas a senhora sabe
que não há necessidade de fazer nada.
— Falo e vi Cyro aparecer na frente do
elevador. — Tenho que ir mamãe.
— Tenha um bom dia querido. —
Disse ela e eu sorri, antes de virar e ir
em direção de Cyro.
— Senhor! — Cumprimentou
Cyro me deixando entrar no elevador
— Você está completamente
recuperado, Cyro? — Pergunto e ele
assente.
— Sim senhor, estou bem e pronto
para trabalhar. — Disse ele e eu respirei
fundo.
— Eu também Cyro, eu também.
— Falo ele permaneceu calado. — Fico
feliz que você esteja bem.
— Obrigado senhor, fiz o meu
trabalho já estou acostumado. — Disse
ele e isso chamou minha atenção.
— Tudo bem, mas não posso
deixar de me sentir culpado. — Falo e
ele nega com firmeza.
— Não senhor, meu dever é
prezar pela sua segurança e da família.
Faria tudo de novo, se fosse possível.
— Disse ele olhando para frente como
um bom profissional.
— Obrigado! — Falo e percebi
que ele ficou vermelho, mas seu rosto
continuou sério.
Entramos no carro e pude
perceber que já tinha um outro homem
na direção a nossa espera. Olhei para
Cyro esperando que ele falasse quem
era o homem e assim ele fez. Fui
apresentado a Oliver, ele era um dos
seguranças de Nonna Francesa, mas foi
transferido para trabalhar com Cyro na
minha segurança. Posso imaginar o que
o pobre homem deve ter passado nas
mãos de Fran, essa mulher sempre
estava tentando fugir dos seus
seguranças o que me fez rir várias vezes.
Chegamos na frente da boate e
assim que Cyro fez menção de sair do
veículo eu pedi para que ele ficasse,
Oliver saiu do carro entendo
perfeitamente que eu precisava falar
com Cyro a sós.
— Cyro, preciso te pedir algo. —
Soltei e ele assente com a cabeça.
— E o que seria senhor? —
Pergunta Cyro me olhando pelo
retrovisor.
— Preciso que você vigie a minha
mãe, mas isso tem que ser feito por
você. — Falo e ele me olhou por um
tempo.
— Posso perguntar o motivo
senhor, acha que sua mãe pode colocá-lo
em perigo? — Cyro pergunta e eu
arregalei os olhos.
— Deus não! Ela não faria algo
assim. — Falo rapidamente e ele
continuou a me olhar.
— Então qual o motivo senhor?
Estou perguntando para poder averiguar
a situação. — Disse ele e eu entendi
perfeitamente.
— O caso é que tenho medo de
que ela se ponha em perigo ao procurar
minha irmã. Não que eu ache que Lea
fosse fazer algo a nossa mãe, mas quero
saber imediatamente se elas se
encontrarem. — Falo e Cyro assente.
— Será que o senhor
Aandreozzi… — Sabia o que Cyro iria
perguntar por isso o impedir.
— Enzo não sabe, peço que não
diga nada por agora. Porque pode ser
coisa de minha cabeça e não quero
preocupá-lo — digo, fazendo Cyro
expressar sua preocupação.
— Não falarei nada por agora
senhor, mas também é meu trabalho
informar tudo ao senhor Aandreozzi —
Cyro diz com confiança e eu assinto.
— Eu sei disso, pode deixar que
eu mesmo falarei com Enzo. — Disse
forçando um sorriso e abri a porta do
carro. — Obrigado por isso, Cyro.
— Somente fazendo meu trabalho,
senhor. — Percebi que ele iria dar um
pequeno sorriso, mas seu
profissionalismo impediu.
Entrei na boate e a primeira coisa
que vejo e que todos estavam à minha
espera com um cartaz de boas-vindas
sobre suas cabeças. Tomei um susto no
primeiro momento e logo me veio um
largo sorriso ao perceber que todos
estavam sentindo minha falta. Amauri foi
o primeiro vindo saltitante na minha
direção com seus enormes saltos altos e
seu cabelo, agora, amarelo.
Ele fez questão de dizer que eu
estava lindo e corado, isso foi o
suficiente para Paul arrastá-lo para seus
braços, mas não antes de lhe dar um tapa
no traseiro e dizer para se comportar e
não agarrar outro homem, mesmo que
esse homem seja eu. Fanny veio
trazendo um bolo nos braços, quando
pergunto o motivo do bolo, ela disse que
era para aceitar e não fazer perguntas.
Assinto rapidamente e lhe dei um
beijo na bochecha, a deixando
totalmente sem graça. Louis e dos
dançarinos me deram boas-vindas
também. E quando Matias veio com seu
papo sedutor, cortei imediatamente
afirmando que se ele se aproximasse não
seria bonito e dessa vez ele perderia o
pau. Isso foi o suficiente para fazê-lo
arregalar os olhos e se afastar
rapidamente da minha linha de visão.
Olhei para os lados e todo estavam me
olhando como se me visse pela primeira
vez, mas isso não chegou a me
incomodar. Uma risada alta chamou
minha atenção é essa risada eu conheço
muito bem, ela é melodia e rouca, mas
muito feminina.
— A cada dia que passa meu
orgulho pelos meus netos só aumenta. —
Nonna sorriu para mim e isso me fez
sorrir de volta.
— Veio ver como anda os
negócios, Nonna? — Pergunto indo na
sua direção e lhe dando um bom abraço.
— Não meu querido, vim somente
esclarecer algumas coisas. — Disse ela
com seriedade me deixando sem
entender.
— Quer subir para falarmos no
escritório? — Pergunto e ela nega
passando mão no meu peito.
— Não há necessidade Dea, aqui.
— Ela passou para mim uma pasta de
documentos.
— O que é isso? — Pergunto
olhando para Francesca sem entender.
— Abra, Déa! — Ela mandou e eu
fiz depois de ver o seu sorriso
carregado de mistério. Folheto os
documentos da pasta e olhei para
Francesca assustado.
— Fran, o que é isso? — Pergunto
engolindo em seco.
— Oras bobinho, é isso mesmo
que você está vendo. — Disse Nonna
me deixando mais confuso.
— Continuo sem entender. —
Sussurrei e ela colocou a mão no meu
ombro.
— Pessoal, a partir de hoje o
proprietário da Il Piecere e Seduzindo
Club, é o nosso Andrea. Espero que
vocês continuem a fazer o ótimo
trabalho que estão fazendo. — Bom a
Francesa disse deixando todo mundo
surpreso.
— Fran, por que está fazendo
isso? — Pergunto sentindo um nó na
minha garganta.
— Mesmo antes de você entrar
para família eu já iria passar a boate
para você. Quero viver o resto da minha
vida sem muita preocupação, nada
melhor do que deixar minhas
preocupações para os meus netos. E
você é minha família, Andrea. —
Francesa disse me deixando muito
emocionado.
— Eu não posso aceitar isso, é
muito Fran! — Falo tentando passar as
pastas para ela.
— Primeiro você deve me chamar
de Nonna, eu sou sua Nonna. E segundo
que não tem escolha, ou você aceita ou
você aceita. — Ela disse fazendo o resto
do pessoal rir.
— Você tem noção do que você
está fazendo? Enzo está sabendo disso?
Será que ele… — Comecei a perguntar,
mas parei quando ela levantou a mão
indicando para parar de falar
imediatamente.
— Não faça isso, você já me
conhece muito bem e sabe que eu não
faço nada para puxar saco de ninguém.
Foda-se os cuzões! Você cuida muito
bem desse lugar, todo mundo aqui te
respeita e sabe do seu potencial. A única
coisa que quero de você é que cresça
ainda mais. — Nonna disse e foi
impossível não deixar as lágrimas
caírem.
— Eu não sei como agradecer a
você, você sempre foi e sempre vai ser
um anjo na minha vida. — Falo e
percebi que ela também está
emocionada, mas como sempre quer
manter a pose de durona fingiu não ser
nada.
— Me agradeça cuidado bem
daquele bastardo do meu neto e me
dando mais bisnetos. — Disse ela
fazendo gestos de desdém.
— Se ele permitir, farei o meu
possível. — Falo com sinceridade e ela
me abraçou. Mas logo se separou de
mim e respirou fundo olhando por todo
lugar.
— Acho que vou ficar por aqui
um pouco mais, Lolo viajou, Arianna
está muito focada em uma nova
fragrância e meu filho quer ser devorado
por algum peixe em conjunto com seu
pai. Então não me resta outra opção. —
Ela disse para a felicidade de Amauri
que começou a dar pulinhos.
— Minha senhora suprema ficará
conosco! Isso é muita felicidade para
mim. — Amauri disse de modo
dramático e isso fez Francesca rir.
— Mau, você sabia que encontrei
um brinquedo erótico novo naquele
lugar que te falei antes. Você lembra? —
Nonna pergunta e os olhos de Amauri
começaram a brilhar.
— Donnez-moi toutes les
informations que j'aime. (Me passe toda
a informação minha adorada.) —
Amauri disse em francês saindo de
braços dados com Nonna.
— Ne sois pas si, mon ami. (Não
seja por isso, meu amigo.) — Responde
ela para a felicidade de Amauri.
— Não esqueça do seu trabalho,
Mau! — Fanny grita e Amauri virou, lhe
mostrando a língua. — Infantil! — Fanny
resmungou e voltou seu olhar na minha
direção, mas eu estava muito vidrado
olhando para o presente surreal que
acabei de ganhar.
— Ainda não posso acreditar que
ela fez isso. — Murmurei e senti o toque
do ombro de Fanny no meu.
— Ela fez isso porque você é um
homem confiável e um beijo bom
profissional. — Fanny disse e pude
enxergar sinceridade no seu olhar.
— E como é que fica agora? —
Pergunto atordoado e ela abriu um largo
sorriso.
— Vamos colocar esse lugar para
bombar mais ainda, tenho certeza de que
você deve estar cheio de ideias. —
Fanny disse e cerrei os olhos na sua
direção.
— Como você sabe disso? —
Pergunto e ela revirou os olhos.
— Porque você tinha me dito
antes de viajar que queria discutir
algumas coisas sobre a boate com
Francesca, mas agora quem tem que
decidir tudo isso é você. — Fanny
apontou me fazendo lembrar das ideias
que tive a um tempo.
— Sim, agora eu me lembro
perfeitamente. Sendo assim amanhã
vamos ter uma reunião, porque quero
sua opinião. — Falo e ela me olhou
assustada.
— Eu? Mas por que eu? —
Pergunta e essa foi a minha vez de
brincar com ela.
— Bem, se agora eu sou o chefe,
tenho certeza que preciso de um gerente.
E quem melhor que você? — Soltei e fui
andando para o centro do salão.
— Chefe, volta aqui! Me conta
isso direito, esteja avisado que quero
um aumento! — Grita Fanny me fazendo
rir.
— Vamos comer bolo e pare de
gritar! — Respondo no mesmo tom e vi
no canto do salão Nero rindo da sua
namorada.
A amanhã na boate foi tranquila,
Nonna Francesca continua com a gente e
está muito atarefada vendo os novos
movimentos dos dançarinos. Austin,
Nero, Romeo, Nick e Matias já estão
acostumados a fazer suas danças para
Nonna. Com ela o ambiente sempre ficar
mais animado e todos esses grandes
homens a admiração e respeitam. Chega
a ser fofo o modo que cada um a trata,
por mais que de fofura Nonna Francesca
não se identifica de modo nenhum.
Trabalhei muito com Fanny pegando
informações sobre o andamento da boate
enquanto estive esse tempo fora. Foi
muito trabalho para ela lidar, mas fiquei
sabendo que ela teve uma ajuda extra
que Nonna havia enviado. Mesmo assim,
Fanny não deixou de fazer um trabalho
incrível. Agora que a boate está no meu
nome, coisa que ainda vai custar muito
para assimilar, vou tentar pegar as
minhas ideias para que essa boate
cresça muito mais.
Continuo a trabalhar como um
louco para recuperar o tempo perdido,
mas minha cabeça se distrai com o
pensamento em Enzo. Ainda quero muito
saber o porquê dele está me evitando,
várias coisas absurdas passam pela
minha cabeça, e logo me dou um tapa
imaginário no rosto por pensar tanta
bobagem. Desde o momento que decide
não mais viver sobre o reflexo do meu
passado, penso em firmar ainda mais o
amor que sinto por Enzo.
Eu confio tanto no nosso
relacionamento, confio tanto no
crescimento que estava tendo juntos
depois de toda essa bagunça. Que tudo o
que quero no momento é me derreter em
seus braços. Solto um suspiro e tomo um
leve susto quando sinto alguém sentar
próximo a mim.
— Derrama! O que está tanto de
afligindo? — Nonna Francesca pergunta
e eu desviei o olhar para todo o lugar
menos nela.
— Não tem nada me afligindo,
está tudo bem. — Falo tentando o
máximo ficar tranquilo.
— Meu pequeno Andrea, você
pode enganar qualquer pessoa, mas a
mim Nonna Francesca também
conhecida como “A melhor observadora
de todos os tempos” você não vai
enganar. — Ela disse em um tom
misterioso e isso me fez rir.
— Obrigado pela incrível
observação “Observadora de todos os
tempos”, mas nada está acontecendo
aqui. — Esquivei e ela fez um som
desgostoso.
— Faltou dizer “A melhor”, mas
dessa vez posso deixar passar. — Ela
disse olhando para suas unhas
compridas e muito bem-feitas.
— Que seja Fran, já disse que
está tudo bem. — Falo e me arrependi
quando seus olhos astutos estavam
cerrados na minha direção. E logo o vi
conhecimento caiu na sua expressão.
— Meu doce pedaço de menino
cheio de tesão, você não vai fugir da
vovó aqui. — Ela disse rindo e eu
engoli em seco. Sim, seu sorriso era
macabro.
— Você sabe que te amo, te
idolatro para ser mais exato, mas eu não
vou falar sobre isso com você. –
Apontei negando com a cabeça
rapidamente e ela fingiu inocência.
-Vamos fingir que eu não sei que
você está com a expressão: “Quero um
pau socado no meu rabo”. Por tanto diga
logo o que está nessa sua cabeça loira.
— Disse algo me fazendo arregalar os
olhos.
— Eu não acredito que você disse
isso. — Falo me sentindo envergonhado
e ela fez um gesto de desdém.
— Querido, comigo a coisa é
mais sem rodeios mesmo. Deixa-me ver
se consigo adivinhar o que você está
passando. — Ela falou e ficou seus
olhos em mim. — Você passou um
momento bem ruim e todos nós sabemos
disso e agora você quer muito que meu
neto te meta o…. — Olhei para ela com
sofrimento e ela parou de falar o que
pretendia.
— Mio buon dio! Como você
sabe disso? — Sussurrei e ela deu
risada.
— Você acha que é o primeiro que
passou por isso nessa família? Não,
amor você não é! Por exemplo, Luti teve
uma gripe forte uma certa vez e estava
louco para trepar, mas seu Ursão estava
achando que o seu Bello iria morrer. Ah!
E teve Luigi que estava desesperado por
uma boa transa, mas quando Luigi tinha
machucado a perna mesmo depois que
ele tinha parado de usar a bengala Lucca
o evitou como se cães do inferno
estivessem mordendo sua bunda. —
Disse ela de modo cúmplice. — O que
estou querendo dizer é que esses caras
Aandreozzi tem toda aquele modo de
não querer machucar mais o que está
machucado.
— Mas eu estou bem, estou
perfeitamente bem já. — Falo e tenho
certeza de que meu tom soou como um
adolescente.
— Quer um conselho dessa
senhora aqui? — Pergunta ela segurando
minha mão e eu assinto mordendo os
lábios.
— Aproveite que Enzo está na
empresa e não tem como fugir, balance
esse seu lindo traseiro na sua frente.
Duvido que o grande cachorrão consiga
resistir a esse belo pedaço de bife. —
Nonna disse com um sorriso mau.
— E o pedaço de bife sou eu?! —
indago, a fazendo dar uma piscadela.
— Um ótimo pedaço de bife para
ser mais exata. O que está esperando?
Vai logo! — ordena ela, me fazendo
levantar em um pulo.
— Você tem certeza disso? —
Pergunto mordendo os lábios e Nonna
me enxotou com a mão.
— Vai! Você está perdendo tempo
aqui. — Ela disse com indignação e isso
me rendeu um largo sorriso.
— Obrigado, você tem os
melhores conselhos! — Exclamo
deixando um beijo na sua bochecha.
— Sei que sim, agora vai embora!
— Disse e eu não pensei duas vezes
antes de virar para sair, mas parei
quando ela me chamou. — Andrea! —
Virei a tempo de segurar uma garrafa
pequena de lubrificante que ela jogou na
minha direção. Olhei para Nonna com
um misto de vergonha e susto.
— É sempre bom andar
preparada, nunca se sabe quando
podemos foder, não é verdade? Ainda
mais eu uma velha senhora que não tem
mais os hormônios em dia, o lubrificante
ajuda que é uma maravilha. — Disse ela
me deixando muito envergonhado agora.
— Lembre-se sexo anal e igual a litros
de lubrificante, esteja sempre
preparando.
Arregalei meus olhos com o que
Nonna Francesca acabou de gritar para a
boate inteira ouvir. E me vi virando
rapidamente para ir direto para a saída
do lugar, me sentindo muito, muito,
muito mortificado no momento. Peço a
Cyro que me leve até a empresa de Enzo
e comunico que ele não deve alertar
Timóteo, por se se assim for ele pode
avisar a Enzo e estragar o meu plano
feroz.
Buon Dio!
Eu não acredito que eu acabei de
pensar nisso. Chego na empresa e subo
com Cyro que sem fazer muito alarde da
minha presença.
Chego na área da presidência e
tento não me perder com a beleza
sofisticada do lugar. Lembro onde fica a
sala de Enzo e sigo meu caminho,
observo que sei secretaria macabra não
está na sua mesa, dou de ombros e
respiro fundo do antes de bater na porta.
Bato várias vezes e não ouço resposta.
— Timóteo, Enzo está em alguma
reunião? — Pergunto e ele franziu o
cenho.
— Não senhor, ele está na sua
sala. Nós sabemos que quando as
persianas estão fechadas, não devemos
incomodá-lo. — Observo que as
persianas estão fechadas, mas algo me
diz que tem alguma coisa errada.
— Enzo, sou eu! Posso entrar? —
Chamei batendo novamente na porta.
Tento mais uma vez e continuo a sentir
que algo não está bem.
— Timóteo, tem como arrombar a
porta? — Pergunto aflito e ele assente.
— Faça isso, não se preocupe que
depois me acerto com Enzo, mas sinto
que algo não está certo.
— Certo senhor! — Timóteo diz e
puxo minhas duas facas e às giro
posicionando corretamente na minha
mão.
Timóteo olhar na minha direção e
após a minha confirmação ele dar dois
tiros na fechadura. Sem perder tempo
dou um chute na porta e grito no nome de
Enzo, olho por toda a sala e meu
coração para quando volto meus olhos
na direção da sua mesa de trabalho.
Sacudo a cabeça tentando assimilar o
que estou vendo diante de mim e quando
percebo que não é uma ilusão meu
coração afunda. Enzo está sentado na
sua poltrona, com sua secretária sentada
no seu colo de calcinha e sutiã. Ela olha
na nossa direção com a cara de surpresa
fingida que existe no mundo, mas eu sei
melhor, por que seu sorriso convencido
me faz ter vontade de furar seus olhos.
— Enzo! — Engasgo quando vejo
seus olhos olhando na minha direção,
mas o que me intriga é que não vejo um
homem que acabou de ser pego em
flagrante. Não, o que vejo nos seus
olhos é diferente disso, eles estão
pesados e sonolentos. E o principal de
tudo, sua face máscara o puro alívio ao
me ver.
Agora a pergunta que não quer
calar: Que diabos está acontecendo
aqui?
ENZO AANDREOZZI

Admito vergonhosamente que


estou fugindo de Andrea. Me diz como
posso resistir aqueles doces lábios
rosados e inchados após o nosso beijo
enlouquecedor, esses mesmos lábios que
seria adoráveis em torno no meu pau.
Não, não tem como resistir a toda
estrutura sexy do corpo delgado de meu
anjo.
Foi muito difícil ver Andrea
machucado daquela maneira e não quero
correr o risco de machucá-lo ainda
mais. Isso porque o desejo que sinto por
ele está me queimando por dentro, me
consumindo de um jeito muito
atormentador e tenho medo de provocar
mais algum dano. Os rasgos nas suas
costas foram muito profundos, aquele
bastardo russo fez questão de machucá-
lo sem dor nem piedade. E tudo que
menos queria no seu tempo de
recuperação era mostrar o quanto eu
estava com saudades de poder tocá-lo
sem restrições.
Andrea deve achar que não
percebo as suas malditas provocações,
mas eu vejo e vejo de um jeito que tenho
de correr para um banho frio. Quando
voltamos para nossa casa, Andrea ficou
decidido a me deixar com um fodido
tesão dos infernos. Sim, porque ele
começou a andar pelo nosso quarto
somente de cueca apertada, secando seu
lindo cabelo como se nada no mundo o
abalasse. Ou quando colocava sua mão
boba no meu pau, no momento que eu me
deitava na cama para dormir e eu na
minha inocência achando que ele já
estava adormecido.
Puta santa merda, uma grande
besteira, eu devo dizer. E hoje foi a gota
d'água para mim, nossos beijos estão
mais quentes que de costume e eu tive a
noção que se eu não desse aquilo que
nós dois estamos precisando, as minhas
bolas viraram pedra e caíram.
Estremeço com esse pensamento
de perder minhas bolas e volto ao plano
que estou arquitetando a um tempo.
Quero levar meu anjo para uma noite
inesquecível, a melhor noite que ele vai
ter em toda sua vida. Quero lhe
presentear com o meu amor e toda a
minha devoção e para completar a noite,
saciar o nosso desejo. Eu o amo tanto,
tanto que chega a doer e nada melhor
que uma noite a sós, com um belo jantar,
vinho, lençóis amarrotados pelos nossos
corpos suados e cansados. E é pensando
nisso que começo a fazer ligações para
que essa noite possa ser perfeita. A
única coisa boa de ser um homem de
negócios fluente é que tudo pode ser
arranjado com o máximo de precisão. E
quero que tudo saia realmente perfeito.
— Senhorita Roccato, ligue para
Leonel Piersanti para confirmar a nossa
reunião. — Falo com minha secretária.
— O senhor Piersanti o design de
joias? — Pergunta ela com um tom de
voz estranho.
— Sim, esse mesmo? — Falo
distraído enquanto vasculhava algo no
meu celular.
— O senhor tem uma reunião com
ele, mas por quê? — A pergunta da
senhorita Roccato saiu sussurrada.
— Senhorita Roccato, quem tenho
ou deixo de ter reuniões não lhe diz
respeito. A próxima pergunta pessoal
que me fizer, a colocarei para fora da
empresa. — Falo irritado tentando a
todo custo não ficar sem uma secretária
hoje.
— Me desculpa pelo
inconveniente, senhor. — Ela disse e em
última baixo.
— Me traga um café. — Peço
antes de encerrar a ligação.
Voltei ao meu trabalho porque
quero sair mais cedo daqui e não é
porque eu sou o CEO que vou ficar
deixando essas merdas de papeladas se
acumularem. Estou muito ansioso para
saber como ficou as nossas alianças,
quero ver a cara de Andrea quando eu
lhe fizer o pedido de casamento. Sei que
eu poderia esperar mais um pouco até
que todo o problema do russo fosse
resolvido, mas eu não quero.
Andrea já sofreu por tanto tempo
sem ter uma vida para viver, para mim o
casamento é uma confirmação de amor, é
um ato de companheirismo e só os
casais que realmente são maduros o
suficiente podem trabalhar para que o
relacionamento continue cheio de amor e
respeito. Santa porra, quem poderia
imaginar que eu estaria tão nervoso com
pensamento em me casar com alguém
que amo, ou até mesmo me casar um
dia? É tudo tão surpreendente. O toque
do meu celular me tira dos meus
devaneios e dou um pequeno sorriso ao
ver o nome de minha irmãzinha.
— O que devo a honra, sorellina?
— Pergunto relaxando na minha
poltrona.
— Como você pôde fazer algo
assim, Zuco? Eu pensei que fossemos
próximos, mas agora vejo que você não
me valoriza tanto assim. — O tom do
drama fingido de Luna me faz revirar os
olhos.
— Nem vou me dar ao trabalho de
responder a isso ou perguntar o porquê
desse dramalhão todo. — Falo fazendo
minha irmãzinha dar risada.
— Você deveria ter vergonha
nessa sua cara limpa. — Luna disse e
nessa hora a senhorita Roccato entra na
minha sala para me servir o café.
— Você vai fazer o grande pedido
a Andrea é eu nem vou estar presente
para ver a reação do meu cunhado. Isso
é tão injusto, sabe. — Reclamou Luna
me fazendo respirar fundo.
— Algo mais, senhor? —
Pergunta a senhorita Roccato e eu nego
indicando que ela saísse de minha sala.
— Já disse a você que odeio essa
sua secretária? — Pergunta Luna me
fazendo passar a mão no rosto. Tomei
um gole do café e senti que o gosto
estava mais forte que o costume, mas dei
de ombros e continuei a tomar.
— Sim, você não esconde isso de
mim, mas também nunca me falou o
motivo. — Apontei e se eu conheço
minha irmã sei que deve estar revirando
os olhos.
— Não precisa de um motivo
específico, chame isso de intuição se
você quiser. — Falou e ela e eu
confirmo.
— Pensando bem, acho que já
está na hora de ouvir sua instituição. —
Deixei escapar e Luna fez um som de
engasgo.
— Tenho a sensação de que você
vai fazer o certo, mas não vamos falar
sobre a vaca da sua secretária. Quero
saber sobre o pedido. — Luna disse
apressadamente, voltando ao nosso
assunto anterior.
— Quero que esse momento seja
especial, precisamos de um tempo só
nosso. Você entende, sorellina? —
Pergunto em um tom baixo e ela soltou
um suspiro.
— Lógico que eu entendo irmão,
você não sabe o grau da minha
felicidade ao ouvir isso vindo de você.
— Luna disse em um tom apaixonado.
— Eu sei disso, sorellina. —
Respondo feliz por saber disso.
— Você não contou mesmo a
Mamma e a Nonna sobre os seus
planos? — Luna pergunta com um tom
risonho e isso me fez gemer em
frustração.
— Não, não mesmo. Se eu fizesse
isso essas duas não me deixaria em paz
e iria querer organizar tudo. Então não,
quero deixar tudo do meu jeito e quando
ele disser o “Sim” elas irão saber. —
Falo e meu corpo estremeceu, porque
sei que elas não vão gostar de ser às
últimas a saber.
— Nunca imaginei que você
fazendo algo assim. — Confessou Luna
do outro lado da linha.
— Logo do seu irmão que disse
nunca iria se apaixonar? — Pergunto
brincando e isso a fez rir.
— Não, não só por isso, mas sim
porque você é meu irmão e quero ver
sua felicidade. Mas saiba que nós
sempre vamos lembrar que você era o
homem que dizia que NUNCA iria se
apaixonar. — Luna enfatizou o nunca me
fazendo revirar os olhos.
— Quem precisa de inimigos
quando se tem você, Lucca e Filippo
como irmãos. Não é verdade? —
Pergunto e ela soltou um “Uhum”.
— Deixe disso porque você sabe
que nós te amamos. — Luna disse e eu
sei que jamais poderia duvidar disso.
— E eu amo vocês também, mas
agora tenho que voltar ao trabalho. —
Me despedi de Luna e voltei minha
atenção aos meus afazeres.
Algum tempo depois a minha
secretária apareceu trazendo o senhor
Leonel Piersanti, já tivemos uma reunião
antes que escolhi o projeto e agora
quero ver como ficou o trabalho e se eu
gostar do que vejo pagarei o preço que
for. Leonel é um homem que leva muito
a sério o seu trabalho e pelo seu nome
ser reconhecido por toda a Europa que o
escolhi. Nós iniciamos a reunião e sem
muita enrolação Leonel me entregou o
trabalho finalizado.
Eu estava tão focado em averiguar
o trabalho de Leonel que não percebi
que a senhorita Roccato estava ainda
presente na minha sala, olhando
fixamente para minhas mãos. Respirei
fundo e a coloquei para fora da minha
sala, mas não antes de ouvi-la oferecer
café para mim e Leonel. Assinto
bastante irritado e esperei que ela
saísse.
Terminei os meus negócios com
Leonel e posso afirmar que o seu
trabalho ficou esplêndido, só espero que
Andrea aceite o meu pedido e que use
sempre essa joia tão perfeita que será o
símbolo do nosso amor. Eu estou sendo
tão piegas, mas quando se está
apaixonado acho que é permitido se
comportar como um bundão às vezes.
Respiro fundo e pisco meus olhos várias
vezes, porque estou começando a me
sentir estranho.
Para ser mais honesto, acho que
estou me sentindo estranho desde o
momento que comecei a minha reunião
com Leonel. Não sei o que há de errado
com meu corpo, sinto ele começar a
formigar e minha boca ficar muito seca.
Balanço a cabeça para tentar me livrar
desse mal-estar, mas de nada adianta.
Bato a mão pela minha mesa na intenção
de encontrar meu celular ou até mesmo
se levantar da poltrona, mas meu corpo
não responde.
— Finalmente fez efeito, eu não
posso acreditar. — Ouvi a voz da minha
secretária, tento a todo custo perguntar o
que inferno está acontecendo, mas as
palavras simplesmente não saem.
— Eu não queria ter que fazer
isso com você Enzo, mas você me
forçou. Logo eu que sempre te amei,
sempre fiz de tudo para chamar sua
atenção. E o que recebi em troca? Diga,
o que? — Disse ela enquanto fechava as
persianas da minha sala e trancava a
porta.
— Desculpe, sei que você não
pode falar, não é verdade? Agora não
vai ter ninguém para nos incomodar, seu
chefe de segurança não entraria sem a
sua permissão. Então acho que temos um
tempo para nós dois. — Seu tom era tão
casual que começou a me deixar
bastante aflito, porque percebi que meu
corpo está totalmente à sua mercê. Como
porra isso aconteceu?
— Agora vamos poder conversar
direito e tenho certeza de que você vai
perceber o quanto me ama. Sim, sim sei
que vai ver isso. — Ela disse indo na
minha direção com um sorriso largo que
para mim estava mais para alucinado
que outra coisa.
— V… Você… — Tentei falar e
quando mais eu tentava mais a minha
língua embolada.
— Não tente falar meu amor,
poupe suas forças. — Minha secretária
colocou a mão no meu rosto e colocou
um beijo nos meus lábios. Meu corpo se
arrepia inteiro com nojo.
— Você é tão lindo e sexy, desde
a primeira vez que te vi me apaixonei
perdidamente. Eu sempre fiz de tudo
para que você notasse o quão eficiente
eu era e me quisesse para ser sua
mulher. — Ela passava a mão pelo meu
tórax e tudo que eu queria fazer era
quebrar todos os seus dedos. Puta dos
infernos!
— Mas aí veio aquele sujeito e eu
sabia que alguma coisa estava errada
com ele. Você! Logo você se deixou ser
manipulado e seduzido por aquelezinho,
ela me avisou, mas eu ainda tinha
esperanças. Como você pôde fazer isso?
Como pode fazer algo tão sujo, esses
veados deveriam morrer. — Ela falava
com tanto ódio e loucura que seu rosto
começou a ficar vermelho.
— Mas agora é diferente, agora
você é meu e eu faria tudo para poder
mostrar a esse intruso no nosso amor o
quanto você é meu. Ah! Eu posso gravar
para mostrá-lo, o que você acha? — A
cachorra falou colocando a mão no
queixo, fazendo a cara pensativa mais
podre que já vi na vida.
— Eu… eu vou… Eu vou matar
você! — Consegui falar com muito
esforço e isso me rendeu um tapa na
cara.
— Como ousa falar algo assim
para a mulher da sua vida? — ela diz
com raiva e tudo o que eu mais quero
agora é sentir o estalo do seu pescoço na
minha mão, enquanto apertava com toda
a força que existe no meu corpo. — Eu
estive relutante para aceitar a ajuda, mas
ela disse que assim conseguiria te
mostrar o meu amor. E que a droga que
ela me deu iria ajudar. Parece que ela
estava certa. — Isso foi o suficiente
para despertar ainda mais minha
curiosidade.
Então quer dizer que essa puta
sem noção não está sozinha nisso. Quem
é essa “ela” que essa vagabunda tanto
fala?
Como pude me deixar ser pego
nesse tipo de situação? Será que estou
perdendo o jeito?
Porra!
Eu tento me mexer a todo custo,
mas o meu corpo ainda não me
responde. Porra, eu sou um Aandreozzi!
Eu não sou pego nessas armações
doentias, sou treinando para não ser
surpreendido, eu faço a ordem no meu
mundo e está assim desse jeito está me
matando. Sempre admirei a senhorita
Roccato pela sua eficácia no trabalho,
percebi seus olhares admirados e
sonhadores na minha direção, mas nunca
dei qualquer indício que poderia
acontecer algo entre nós.
Mantive o relacionamento mais
restrito possível, sendo assim não
entendo por que ela está neste momento
tirando seu vestido, se sentando no meu
colo usando somente calcinha e sutiã de
renda branca. Batidas na porta me fazem
ficar calmo, porque assim vou poder
sair dessa situação vergonhosa.
— Enzo, sou eu! Posso entrar? —
Conheço essa voz, essa voz que tanto
amo. Sim meu anjo entre aqui e tire essa
vagabunda de cima de mim.
— Como é possível! Você marcou
de se encontrar com essa bicha ladra de
homem foi? — Minha secretária
pergunta puxando meu rosto para lhe
encarar. — Quero olhar bem para sua
cara, quando ele perceber que você
escolhe a mim. Você escolheu a mim,
não foi? — Pergunta ela e nesse
momento ouvi o som de dois tiros sendo
disparados. Ela soltou meu rosto e
imediatamente minha cabeça se virou e
eu pude ver nitidamente meu anjo
aparecendo.
— Enzo! — Não, não, não eu
conheço esse tom de voz. É o mesmo
tom de voz de alguém que acabou de ser
ferido. Não meu anjo olha para mim, não
vai embora! Eu nunca faria algo assim
com você.
— O que vocês estão fazendo
aqui? Isso é um absurdo! — O tom de
indignação de minha secretária fez o
meu anjo dar um passo para frente e
olhar fixar seus olhos em mim. Ele
franziu o cenho e a realidade caiu sobre
ele.
— O que você fez? — Andrea
falou em um tom frio voltando sua
cabeça em direção a senhorita Roccato.
— O que você fez com Enzo? — Ele
correu na nossa direção e puxou ela de
cima de meu colo. O som do corpo seu
corpo batendo no chão foi como música
nos meus ouvidos.
— Enzo? Oh Deus o que essa
doente fez com você? — Sinto o corpo
de meu anjo pairando sobre o meu e
tudo o que mais queria agora era
enterrar minha cabeça no seu pescoço.
— Senhor? — Chamou Timóteo e
Andrea virou o rosto para olhar na sua
direção.
— Não a deixe sair daqui, tenho
que conversar com ela. — Andrea falou
e se eu pudesse ter uma ereção, juro que
estaria bem duro nesse momento. — Vou
tirar você dessa situação, amor.
— Cyro, deixe Timóteo apontar a
arma para essa… para essa mulher e
chame uma ambulância. — Andrea disse
e quero tudo, menos ir parar em uma
clínica.
— Ca… Cas… Casa. — Falo
fazendo Andrea sorri para mim. Ele é
tão lindo.
— Sim amor, para casa então. —
Falou ele deixando um beijo nos meus
lábios. — Sinto muito por sequer pensar
que você poderia fazer algo assim com o
nosso relacionamento. Mas agora não é
hora para isso, eu tenho uma conversa
com a sua secretária. Já volto!
— Me deixem sair daqui! —
Grita minha secretária e vi o exato
momento que meu anjo a tirou dos
braços de Timóteo e a segurou pelo
pescoço. Tão pequeno e ao mesmo
tempo tão feroz.
— O que você deu a Enzo? Por
que você fez uma coisa dessas? —
Andrea pergunta e eu me assustei com o
seu tom calmo.
— Eu o amo, ele deveria estar
comigo, mas aí surgiu você no meu
caminho. Tenho nojo de gente do seu
tipo. — Disse ela é isso rendeu um riso
sem humor de Andrea.
— Você drogou o MEU Enzo e
ainda acha que o ama? Não seja
ridícula! Deixa-me te contar uma coisa,
eu não me importo com seu ódio, não me
importaria muito menos se você tentasse
algo contra mim. Mas nunca, em
hipótese alguma você deveria ter
mexido no meu namorado. Isso que você
ouviu, ele é MEU namorado. E deixe-me
falar outra coisa, ele nunca poderia amar
alguém que não fosse eu. — Andrea
falou e eu daria tudo para poder ver de
perto essa cena.
— O que você vai fazer com essa
faca? — Ela pergunta em um tom
assustado, me deixando mais curioso.
Ele fica sexy empunhando suas facas.
— Isso aqui? É isso que você está
perguntando? Esses são os meus
brinquedos e eu adoraria poder matá-la
usando isso, mas tenho outros planos
para você. — Andrea disse enquanto eu
lutava para continuar acordado, mas
meus olhos estão ficando mais pesados
ainda.
— Chamem Nardelli, não quero
essa vadia morta. Acho que ela
apodrecendo em uma cela de prisão é
mais produtivo. — Andrea disse me
deixando mais orgulhoso que nunca.
— Enzo deveria ser meu! —
Minha ex-secretária/vaca louca falou
entre dentes e eu estaria rindo se
pudesse.
— Isso nunca iria acontecer e
sabe por quê? Porque ele nunca te quis!
E eu vou te dar um aviso, se um dia você
sair da cadeia, porque com certeza você
vai, e cruzar o nosso caminho pode ter
certeza de que viva você não vai
continuar. — O aviso de meu anjo foi a
última coisa que ouvi antes de deixar a
escuridão me levar.
Acordo em um sobressalto,
respiro várias vezes para tentar acalmar
meu coração, mas de nada adianta. Tive
um sonho horrível, sonhei que tinha sido
drogado da forma mais ridícula possível
e que minha secretária era a resposta
disso. Balanço a cabeça e dou um pulo
quando sinto uma mão alcançar o meu
peito. Olho para baixo e vejo Andrea me
olhar com seus lindos olhos verdes,
franzi o cenho por ter esquecido que
estava em casa. Ele começa a me
perguntar se estou bem, se estou
sentindo alguma coisa e daí o
reconhecimento cai em mim. Eu
realmente fui drogado, filha da puta!
— Enzo, me responda. Você está
bem, querido? — Andrea pergunta se
aproximando mais de mim.
— Sim anjo eu estou bem, mas o
que diabos aconteceu? — Pergunto me
sentindo confuso e ele respirou fundo.
— A biscate da sua secretária te
drogou. — Ele disse eu confirmo
devagar.
— Isso eu me lembro, mas como
você ficou sabendo? O que aconteceu
depois? — Pergunto e ele passou a mão
na minha cabeça.
— Fui lá na empresa para te fazer
uma visita e percebi que sua sala estava
trancada, Timóteo disse que você não
estava em nenhuma reunião. Então
resolvi fazer a minha surpresa mesmo
assim, só que eu te chamava e você não
respondeu. — Ele disse e posso ver
pesar expressado facilmente no seu
rosto.
— E você mandou que abrissem a
porta. — Falo e ele assente. — E
quando você entrou lá viu que minha
secretária estava indecentemente em
cima de mim.
— Sim Enzo, não sei descrever o
que senti quando te vi naquela situação.
A primeira coisa que me veio na cabeça
foi que… — Ele me olhou
envergonhado e eu me afastei dele com
os olhos arregalados.
— Não me diga que… Eu lembro
de ver nos seus olhos a decepção
estampada lá. — Sussurrei levantando
da nossa cama e fixei meus olhos nele.
— Enzo você tem que entender
que qualquer pessoa poderia achar
estranho. — Andrea disse e foi como
receber a porra de uma rasteira.
— Você está esquecendo que eu
porra não sou qualquer um, sabe. Como
você poderia sequer imaginar algo
assim? — Pergunto atordoado passando
a mão no rosto.
— Eu sei, sinto muito por isso.
Convenhamos que ela é uma mulher
muito atraente e você estava me
evitando e eu não… — O interrompi
dando uma risada sem humor.
— E quando você viu aquela cena
degradante achou que tinha encontrado o
motivo por eu estar te evitando. Foda-
se! — Nego com a cabeça e fiquei de
costas para ele.
— Estou muito envergonhado por
pensar algo assim. — Confessou ele e
eu não virei para te encarar
— O que aconteceu com minha
ex-secretária? — Pergunto no meu tom
sério.
— Ela foi elevada por Nardelli,
foi presa em flagrante. — Seu tom era
baixo e eu respirei fundo.
— Eu tinha planeado uma noite
inesquecível para nós dois. Eu estava
deixando tudo pronto para quando
chegasse o momento eu iria te sequestrar
no seu trabalho e iríamos aproveitar só
nós dois. — Falo e virei para encarar
seu rosto choroso.
— Eu iria adorar ter essa noite
inesquecível com você, Enzo. — Disse
ele se aproximando com cautela.
— Sei que deveria ter me livrado
da senhorita Roccato a um tempo,
sempre percebia suas investidas, mas eu
não estava querendo ter um dor de
cabeça para encontrar uma nova
secretária. — Cerrei os punhos com
raiva.
— Você jamais imaginaria que
algo assim poderia acontecer. — Andrea
falou e eu olhei estranho para ele.
— Não! Eu devo saber, não sou
feito de um material para que essas
coisas passem por mim assim. — Falo
indignado e Andrea engoliu em seco.
— Você é humano Enzo, assim
como eu que pensei em um milésimo de
segundos que você poderia estar tendo
um caso com sua secretária. — Andrea
disse e eu alcançou seu corpo segurando
seus braços.
— Como você pode pensar algo
assim, anjo? — Pergunto em um tom
magoado e ele se soltou passando os
braços na minha cintura.
— Sinto muito, amor. Acho que
estava muito frustrado. — Pediu ele me
abraçando com força, respirei fundo e
coloquei minha cabeça na sua,
retribuindo o abraço.
-Estava frustrado com o que? —
Pergunto e ele levantou a cabeça
mordendo os lábios.
— Você me evitando, eu cheio de
cicatrizes profundas, elas não são algo
bonitas de ser ver. Sei lá, eu só não
estava gostando de ser evitado. —
Cerrei os dentes com força e me afastei
novamente. — Enzo, aonde você vai?

Andrea pergunta quando me viu


caminhar até o nosso closet. Sem falar
nada para ele procuro uma caixa que eu
havia deixado guardada especialmente
para usar nessa noite, mas que
infelizmente não pude ter a
oportunidade. Volto para o quarto e
Andrea continua no mesmo lugar que o
deixei, ele me olha como se tentasse
entender o que estou pensando. Oh meu
anjinho, não tente adivinhar o que estou
pensando em fazer com você. Já
aguentei tempo demais e agora não estou
mais propício a esperar.
— Enzo o que você vai fazer? —
Andrea pergunta e deixei um beijo casto
na sua boca.
— Estou cansado de ver pessoas
tentando tirar você de mim. Vou te fazer
meu e dessa vez não vou devagar, não
vou parar, só quero ouvir você implorar
por mais. — Sussurrei passando a mão
levemente nas suas costas.
— Eu… quero isso. Faça o que
quiser, eu preciso — diz ele me dando
aval e eu aproveito a oportunidade para
fazê-lo ficar de pé de costas para mim.
— Você confia em mim, Andrea?
— Pergunto beijando seu pescoço e
ombro. Ele assente e soltou um suspiro,
com essa confirmação fui até a caixa e
tirei uma venda e um par de algemas.
— O que você… — Ele iria
perguntar, mas o impedi. Coloquei a
venda nos seus olhos.
— Confiança meu anjo! — Falo
em um tom rouco e tirei sua camisa.
Olhei para suas cicatrizes rosadas e fui
traçando beijo por toda suas costas, isso
foi o suficiente para fazê-lo gemer
baixinho.
— Confio em você amor, eu
confio em nós. — Disse ele me
deixando feliz, mas não ao ponto de
evitar que eu colocasse seus braços para
frente prendendo seus pulsos com as
algemas.
— As deixei folgadas, mas se
machucar você me fala. Tudo bem? —
Pergunto e vi ele passar a língua nos
lábios ressecados. Esse gesto o deixou
mais sexy que nunca.
Olhei para o meu anjo preso e
vendado, não posso contar as vezes que
quis fazer isso com ele, mas sabia das
suas limitações antes e nunca quis forçar
nada a ele. Mas agora, agora é diferente.
Comecei beijando seus lábios com
cuidado e fui gradativamente
aumentando a intensidade do beijo.
Parei o beijo ouvindo um som frustrado
sair de sua boca, mas não liguei e fui
descendo beijo pelo seu pescoço até
chegar no seu mamilo pequeno e lindo.
Sem nem pensar duas vezes puxei com
os meus dentes e isso foi o suficiente
para Andrea perder o equilíbrio e gemer
alto. Dei uma risada rouca evitando que
meu anjo caísse no chão.
— Isso é muita maldade, eu acho
que vou estourar. — Andrea murmurou
com um tom de voz excitado.
— Eu nem comecei ainda, meu
anjo. — Falo e o carreguei até nossa
cama. O posicionei de modo que ele não
se machucasse.
— Enzo, eu quero te tocar. —
Choramingou Andrea e eu fiz um som
com a língua.
— Você quer meu anjo, mas isso
não vai acontecer agora. Essa é minha
vez de fazer experimentos em você. —
Falo colocando seus braços atrás da
cabeça e fui descendo beijos por todo
seu corpo.
Tirei sua calça de moletom e sorri
com satisfação quando vi que meu
pequeno loiro estava sem cueca. E lá
estava seu pau me presenteando com
gotículas de pré-sêmen na pontinha,
pronto para ser retirado com a minha
língua. E assim fiz, rodeie a língua no
pau lindo de meu anjo fazendo ele arfar
de susto e tesão. O seu sabor é coisa de
outro mundo, eu poderia ficar aqui o
sugando o tempo todo, mas tenho outra
coisa para fazer no momento.
— Espero que suas costas estejam
realmente curadas meu anjo, porque
estou muito longe de acabar com você.
— Falo passando a língua por suas
bolas rosadas.
— Ah, Enzo isso é… oh meu
Deus! Que delícia! — Andrea gemeu
enquanto chupava suas bolas.
Abandonei seu pau e suas bolas e
sem que desse tempo para que ele
resmungasse, puxei suas pernas para
cima, bem na direção de seus braços
presos nas algemas fazendo com que seu
lindo e perfeito traseiro ficasse ao meu
dispor. É uma cena incrível de se ver,
seu doce traseiro a minha disposição me
dando a visão do seu buraco doce
esperando por mim. Sem perder tempo
passei a língua no seu buraco pulsante,
mas não parei por aí. Chupei,
provoquei, mordi, enfiei minha língua
me aproveitando dos sons que Andrea
está fazendo.
— Você tem um gosto tão bom,
meu anjo. — Falo com minha cara
enterrada na sua bunda.
— Oh… eu não sei se posso
aguentar. Enzo, eu preciso gozar. —
Andrea disse em forma de delírios.
— Anjo, não grite tanto, você
pode assustar a todos. — Falo no meu
melhor tom de seriedade e isso o fez
gemer mais.
— Por favor, Enzo, me fode! Eu
preciso que você envie seu pau enorme
em mim e que me foda. — Andrea pediu
e eu nego, lhe dando um tapa estalado no
seu traseiro.
— Você ainda não vai ter o meu
pau, não até você aprender a confiar em
mim. — Falo e não dei oportunidade
para ele responder e intensifiquei as
investidas da minha língua no seu
buraco.
Tateei a cama procurando a caixa
e quando finalmente encontrei,
abandonei sua bunda e fui direto para
seu pau, voltando a chupá-lo com gosto,
pois o seu sabor é de enlouquecer.
Peguei a garrafa de um óleo lubrificante
especial que encontrei e derramei nos
meus dedos, quando enfiei o primeiro
dedo na sua bunda Andrea gozou na
minha boca. Deixei com que ele gozasse
e engoli tudo o que ele estava disposto a
me dar no momento, mas se ele está
achando que acabou. Está muito, muito
enganado. Virei seu corpo levantando
seu quadril, fazendo ele me apresentar
sua bunda. Tão lindo!
— Será que você consegue gozar
mais uma vez, anjo? — Sussurrei no seu
ouvido enquanto enfiava dois dedos na
sua bunda.
— Isso é impossível, não Enzo.
Eu nem sei como ainda estou cheio de
tesão, mesmo depois de ter gozado
agora. — A sua voz carregada de
desespero me deixou satisfeito.
— Não vamos saber se não
testamos não é verdade meu anjo? —
Pergunto ele soltou um suspiro.
— Eu sou todo seu, faça o que
quiser! — Responde ele me fazendo
rosnar em contentamento. — Ah porra, o
que é isso? — Andrea pergunta em um
grito quando eu alcancei sua próstata.
-Acho que encontrei! — Falo e
uma vontade louca de substituir meus
dedos por meu pau tomou conta de mim.
— Eu preciso meter em você, anjo.
— Faça isso, faça logo isso! —
Andrea disse empurrando seu traseiro
para trás.
Sem perder tempo tirei o restante
de minha roupa e empinei mais ainda o
traseiro de Andrea para cima. Pincelei
meu pau no ânus esticado e rompi sua
entrada, respirei fundo para não gozar
tão rapidamente e fui me acomodando
ainda mais dentro do seu quente,
escorregadio e apertando buraco.
Puxei meu quadril para trás e bate
com toda a vontade que eu estava no
momento, o gemido alto de Andrea foi o
que me deu mais um incentivo a da
continuidade as minhas estocadas fortes.
Isso é tão gostoso! Está dentro dele é
algo que não sei descrever, meu coração
está tão acelerado, eu quero mais. Tirei
sua venda e soltei o seu cabelo, o puxei
pelo cabelo fazendo com que suas costas
colassem no meu peitoral.
— Você gosta disso não é meu
anjo? — Pergunto no seu ouvido sem
parar com os minha estocadas.
— Sim, por favor, sim! Me dê
tudo! Oh... — Pediu ele e eu virei seu
rosto para atacar sua boca.
— Eu vou gozar dentro de você,
vou te encher com meu esperma. Você
quer isso, não quer? — Pergunto entre
dentes.
— Sim! — Disse ele tentando
alcançar seu pau mesmo com as mãos
algemadas, mas eu não permiti.
— Você não vai se tocar, quero
que goze assim. — Falo o colocando
novamente de quatro.
Posicionei meu pau para que
minha glande batesse na sua próstata
incontáveis vezes. Andrea se contorcia e
gritava de prazer, mas eu não estava
satisfeito, porque eu quero que ele goze
assim. Enterrei ainda mais minhas mãos
no seu cabelo e aumentei a velocidade
das minhas investidas. Não posso
aguentar mais e por isso gozei duro,
gozei como nunca gozei na minha vida.
E sem que eu desse conta o meu anjo
estava gozando também. Dei um beijo
nas suas costas e observei se o tinha
machucado, mas não ele está bem.
Peguei a chave das algemas e abri
massageando seus pulsos avermelhados.
— Te machuquei, bebê? —
Pergunto e ele não mexeu um centímetro
do seu corpo.
— Acho que nunca vou conseguir
me mexer. — Andrea disse com a cara
enterrada no colchão.
— Claro que vai! — Falo, me
deitando na cama e puxando seu corpo
para cima do meu.
— Isso foi… Nossa eu nem sei
descrever. — Andrea disse e eu tirei os
fios bagunçados da sua testa suada.
— Desculpe se fui muito intenso
com você. — Pedi e ele me olhou com
uma expressão séria.
— Você nunca me machucaria,
amor e obrigado por isso. Sinto muito
por ter pensado que você, você sabe. —
Ele disse envergonhado e eu assinto.
— Não tem problema algum meu
anjo, eu amo você e você em ama. Acho
que só isso importa. — Falo e isso me
rendeu um belo sorriso dele.
— Sim eu te amo muito,
principalmente se você fizer isso mais
vezes. — Brincou ele e eu nego rindo.
— Acho que eu criei um monstro.
— Resmunguei e ele se aconchegou em
mim.
— Nada disso, você está me
moldando para você. — Disse ele
deixando um beijo no meu peito.
— Sim, acho que sim. Amanhã
vamos resolver tudo o que tem que
resolver, mas agora eu só quero essa paz
aqui com você no nosso quarto. — Falo
e ele respirou fundo.
— Por mim tudo bem. —
Responde ele e fechei os olhos
aproveitando do calor do seu corpo.
ENZO AANDREOZZI

Despertei de um sono tranquilo,


após ter uma incrível noite com meu
anjo e a primeira coisa que sinto é o seu
corpo firme em cima do meu. Olho
atentamente para cada traço do seu rosto
e respiro fundo. São tantas coisas que
estão acontecendo que me deixando
fodidamente irritado, parece que o
universo está conspirando contra o meu
relacionamento com Andrea. Primeiro
vem esse maldito russo infernizando as
nossas vidas e tento a audácia de tirar o
meu Anjo de mim. Ainda estou
inconformado por não poder ter dando
um jeito de acabar com sua vida
miserável, mas tenho certeza de que
logo colocarei minhas mãos naquele
bastardo e ele vai poder pagar por tudo
de ruim que fez a Andrea e a Viktor.
Estou contando os dias para esse fodido
encontro e vou ter certeza de que Maxim
Konstantinov seja enviado para um
encontro com o Capeta. Onde é
verdadeiramente seu lugar.
E agora vem a vadia da minha
secretária, me pegando totalmente
desprevenido. Eu odeio ser pego de
surpresa e odeio ainda mais está
vulnerável. E essa filha da puta fez com
que me sentisse assim, nunca imaginei
que algo dessa magnitude pudesse
acontecer. Eu poderia estar morto! Sim,
porque qual seja o inferno que essa puta
colocou no meu organismo poderia ter
me deixando mal. Tenho que conversar
com Vitório e descobri corretamente o
que ela me deu para ter me deixado
daquela maneira. Aquilo era algo novo,
diferente e estou muito curioso para
saber do que se trata. Meu corpo ficou
imóvel, mas eu estava consciente do que
estava acontecendo e conseguia sentir
tudo. E só de lembrar do toque nojento
daquela mulher em mim, sinto vontade
de socar alguma coisa. Mas agora não é
o momento para isso, tenho o dia inteiro
para cuidar de minha família e resolver
toda essa confusão.
— Ei anjo, temos que acordar —
falo em um tom baixo para não o
assustar.
— Não, me deixe dormir mais um
pouquinho. Tivemos um sexo muito
gostoso e cansativo. — Ele falou
sonolenta e eu pulei em cima dele.
— Então quer dizer que você teve
um sexo alucinante, isso é bom, não é?
— Pergunto e ele abriu os olhos.
— Não seja um convencido Enzo.
— Disse ele e isso me fez rir.
— Me deixe ser convencido um
pouco mais, vamos lá me deixe. — Falo
salpicando beijos no seu rosto.
— Eu ainda não acredito no que
aconteceu ontem. — Andrea disse me
fazendo respirar fundo.
— Nem eu meu anjo, fui pego de
surpresa tanto quanto você. — Falo e
ele passou a mão no meu rosto.
— Quando a equipe de Vitório
chegou, tudo o que eu queria era que
você ficasse bem. Foi aterrorizante vê-
lo daquela maneira Enzo, Viktor ficou
bem assustado também quando viu você
chegar em casa sendo carregado por
uma maca. — Andrea disse eu arregalei
os olhos.
— Eu tinha esquecido de Viktor,
eu não deveria ter pedido para vir para
casa. — Fechei os olhos com força.
— Você lembra de tudo o que
aconteceu? — Meu anjo pergunta e eu
afirmo.
— Era terrível tentar me mexer e
não consegui. Nossa eu nunca mais
quero experimentar essa sensação. —
Meu corpo estremeceu e Andrea me
abraçou.
— Ainda bem que Nonna
apareceu lá na boate e me incentivou a ir
até você. — Andrea disse me apertando
nos seus braços.
— Nonna? Como assim? —
Pergunto sem entender e isso o fez rir.
— Você sabia que Nonna passou a
boate para meu nome? — Pergunta ele e
isso me fez arquear a sobrancelha.
— Sério? Isso é bem legal, anjo!
Eu poderia imaginar que Nonna faria
algo assim, ela nunca escondeu o quanto
você era bom em administrar aquele
lugar. — Soltei balançando a cabeça.

— Eu ainda não consigo assimilar


isso direito, mas tudo bem. Eu aceitei o
presente e vou trabalhar muito duro. —
Disse ele me fazendo passar a mão nos
seus cabelos.
— Tenho certeza de que sim, mas
agora me conte o que Nonna tem a ver
com sua ida lá na empresa.
E foi aí que ele me contou o
quanto estava pensativo, tentando
entender por que eu estava o evitando,
isso em rendeu mais algumas
explicações para que ele tivesse certeza
de que eu não estava o evitando. Tudo o
que eu menos queria nessa vida era que
em um momento de tesão eu pudesse
machucá-lo ainda mais. Andrea disse
que entendeu e que não pensa mais sobre
isso, para o bem-estar da minha
sanidade mental. Foi então que ele me
contou como Nonna o incentivou a ir à
empresa para que pudéssemos
conversar. Mas esse “conversar” eu sei
bem como é, e tenho certeza de que eu
iria adorar essa atitude mais ativa do
meu anjo. Ele é tão sexy! Mas
infelizmente nada ocorreu como o
planejado, meu jantar romântico com
direito a pedido de casamento e o meu
ajo sendo selvagem. Não posso negar
que isso me deixa bastante irritado.
— Aquela vadia! Se não fosse
pela loucura dela, eu poderia ver o meu
anjo sendo selvagem. — Resmunguei
levando um tapa no peito.
— Você poderia ter sido morto e
tudo o que você pensa é em mim sendo
selvagem? — Andrea pergunta me
olhando com descrença.
— Não posso evitar, só esse
pensamento me deixa louco. — Falo e
Andrea nega com a cabeça.
— Enzo! — Ele me repreendeu
me fazendo rir. Joguei ele na cama e
fiquei entre suas pernas.
— Não sei se disse obrigado
ontem, mas gostaria que você soubesse
que se não fosse por você aparecer, só
Deus sabe o que aquela maluca iria
fazer. — Falo com toda sinceridade
olhando para seus lindos olhos.
— Eu que estou feliz por ter sido
o único a te tirar daquilo. — Sua
expressão suavizou me fazendo respirar
fundo.
— Estou muito irritado por não
ter me livrado o quanto antes dela. —
Falo sentindo a raiva beirando em mim.
— Entendo, já deu para perceber
que você não gosta de ser pego em
certos tipos de situações. — Andrea
disse passando os dedos pelo meu
cabelo.
— Não, não mesmo! —
Resmunguei fechando os olhos,
aproveitando o carinho que ele estava
me dando.

— Acho que é hora de nos


levantarmos, tenho que ver Viktor que
ficou bem preocupado com você. E
tenho certeza de que sua família já deve
estar a par do que aconteceu. — Andrea
me lembrou e eu arregalei os olhos.
— Sim, vamos então! — Falo, me
levantando da cama, trazendo Andrea
junto comigo.
Fomos tomar banho juntos e tive
que me segurar para não avançar em
Andrea. Ver a água passar pelo seu
corpo e não poder fazer nada é
agoniante. O surpreendi quando ele
começou a lavar o cabelo e eu tomei a
frente para fazer esse serviço, esfreguei
o shampoo no seu couro cabeludo
fazendo meu anjo gemer de puro prazer.
Isso foi o suficiente para me deixar
incrivelmente duro, Andrea deu um
sorriso quando percebeu que meu pau
estava cutucando seu lindo traseiro e me
fez a caridade de se ajoelhar na minha
frente, colocar me pau choroso na sua
boca e sugar até a consciência de mim.
Fanculo Dio! Que delícia! Após um
trabalho excepcional com a boca, meu
anjo levantou e foi a minha vez que
retribuir o favor. Adoro vê-lo entregue
ao prazer desse jeito, é porra
gratificante.
Saímos do banho e ajudei Andrea
a secar o cabelo, fomos até o closet e lá
peguei uma calça jeans, uma camisa de
manga comprida azul, puxando as
mangas até o cotovelo, calcei minha
bota e separei minha jaqueta de couro.
Porque hoje passarei o dia com a minha
família, levarei Andrea e Viktor comigo
hoje para almoçar juntos e aproveitar
um pouco o dia. Enquanto Andrea estava
colocando sua roupa, contei a ele sobre
os meus planos e ele adorou a ideia, ele
ainda me pergunta se seria possível
passar na boate para que ele pudesse
resolver um pequeno problema. Assim
que Andrea terminou de se arrumar
descemos para tomar café. Não me
surpreendi nem um pouco ao ver
Mamma, Nonna e Babo vindo na minha
direção, eles não esconderam suas
preocupações ao me ver.
— Oh bambino mio, eu soube do
que aconteceu. Estive tão preocupada
com você, mas seu pai conversou com
Vitório e ele disse que está tudo bem
com você. — Mamma disse me
abraçando forte após me fazer curvar
para que ela olhasse por todo meu rosto,
para garanti por si mesma que eu estava
bem.
— Estou bem Mamma, não se
preocupe. — Falo tentando tirar suas
preocupações.
— Fico feliz em saber disso. E
você, meu querido. — Mamma disse
virando para Andrea. — Obrigada por
tirar meu filho das mãos daquela cadela
louca. — Andrea sorriu com suas
bochechas vermelhas e se deixou ser
abraçado por Mamma.
— Eu não faria outra coisa,
Arianna. — Responde ele enchendo meu
peito de orgulho.
— Ainda estou muito curioso para
saber como meu filho se deixou ser pego
dessa maneira. — Gemo ao ouvir as
palavras de Babo e passei as mãos no
rosto em sinal de frustração.
— Babo, eu ainda estou irritado
com isso. — Falo irritado e Babo
colocou a mão no meu ombro.
— Infelizmente desgraças
acontecem Enzo, não há como prever
essas coisas. — Babo disse com um tom
sério que só ele pode ter.
— Não fiquem tão preocupados,
olhe para cara bem fodida de Enzo e
Andrea e vocês vão ver que está tudo
bem. — Nonna disse com um sorriso
predador e eu olhei para ela com
sofrimento.
— Nonna! Mamma! — Babo e eu
falamos ao mesmo tempo, o que só
resultou ela fazer um gesto de desdém.
— Estou certa, não estou Dea? —
Ela piscou um olho para Andrea e tenho
certeza de que pela sua expressão
mortificada ele está muito
envergonhado.
— Enzo? — Ouvi a voz de Viktor
e virei para encontrá-lo carregando Kay
com ele.
— Olá pequeno homem! — Falo e
ele me olhou como se quisesse perguntar
algo. — Eu estou bem Vik, tudo está
bem agora. — Seu corpo relaxou e ele
veio em direção a Andrea.
— Bem… é que você… você
chegou ontem em uma maca. — Ele
disse mordendo os lábios e Kay estava
se contorcendo do seu colo para vir na
minha direção.
— Entendo que você deve ter
ficado assustado ontem, mas pode ficar
tranquilo que está tudo bem. — Falo em
um tom tranquilizante ele assente.
— Vem cá amigão! — Peguei Kay
o deixando todo eufórico. — Calma aí
amigão, você está muito feliz em me ver.
— Brinquei com meu cachorro e isso fez
Andrea rir.
— Onde está Otto e meus pais? —
Andrea pergunta.
— Estamos aqui filho! — A mãe
dele responde e eu virei para
cumprimentar os três.
— Vamos tomar um café juntos em
família. O que acham? — Mamma
pergunta e meu estômago não pode
deixar de ficar feliz.
— Ainda bem, porque estou
morrendo de fome. — Falo passando a
mão na barriga.
— Diga uma novidade Zuco. —
Nonna disse deixando um forte tapa na
minha bunda.
— Nossa, Nonna, isso doeu! —
Grito sentindo o ardor na minha bunda.
— Não seja um bebê chorão! —
Resmungou ela e eu olhei para Andrea e
Viktor que estavam se controlando para
não rir. Cerrei os olhos para eles e nego
com a cabeça.
Fomos todos tomar um farto e
delicioso café da manhã. Eu estava com
tanta fome que comi tudo o que estava
disponível na minha frente, algumas
vezes peguei os olhos de Andrea na
minha direção, mas eu estava com muita
fome para ser romântico agora. Acho
que essa fome toda deve ser porque
ontem eu perdi o jantar e agora minha
fome triplicou.
Durante o café contei mais ou
menos o que aconteceu a todos,
respeitando a presença das crianças a
mesa. Meus sogros ficaram muito
assustados com o que contei, mas eu os
tranquilizei afirmando que o filho deles
estava lá para mim, quando eu mais
precisei. Isso foi o suficiente para que
eles olhassem Andrea com mais respeito
e admiração.
Senti meu celular tocando e como
eu já estava satisfeito, pedi licença e me
levantei da mesa. Disse a Andrea que eu
estaria no meu escritório e que quando
Viktor e ele estiverem prontos nós
iremos sair. Chegando no meu escritório
dou uma olhada no meu celular e vejo
muitas chamadas não atendidas, algumas
sendo dos meus irmãos, outras de
Fabrízio, o meu Vice-presidente da
empresa, e de Nardelli. Optei por ligar
para Fabrízio primeiro e atualizar a ele
o que aconteceu, pedi que ele ficasse a
frente hoje e que mandasse cancelar as
reuniões que minha presença fosse
indispensável. Não gosto de fazer isso,
mas hoje não tenho cabeça para cuidar
da empresa. Hoje o dia vai ser para
Andrea e Viktor. Quando terminei de
falar com Fabrízio liguei para Filippo,
que atendeu no primeiro toque.
— Que porra fodida foi essa que
aconteceu, Enzo? — Filippo pergunta
sem rodeios.
— Olá irmão mais velho como
está? Luti e meu sobrinhos como vão?
— Falo em um tom sarcástico e isso foi
o suficiente para ele grunhir do outro
lado da minha.
— Corta fora a merda Enzo! Que
diabos aconteceu? — Ele pergunta e eu
revirei os olhos.

— Estou bem Filippo, foi uma


merda que aconteceu, mas estou bem.
Tenho certeza de que Babo já deve ter
dito. — Falo em um tom sério.
— Sim, ele me disse, mesmo
assim fiquei preocupado. — Ele falou e
eu soltei uma confirmação. — Vou
conectar os outros, está todo mundo
preocupado com você.
— Sim, sim vamos falar juntos.
Porque assim falo de uma vez só. —
Falo esperando que os outros
conectarem a chamada.
— Enzo, você está bem? — A voz
de Luna chamou minha atenção.
— Sim sorellina, está tudo bem,
eu realmente estou bem. — Ouvi um
suspiro do outro lado da linha.
— Eu estava quase pegando e
jatinho e indo aí, mas Mamma e Babo
disseram que você estava bem e que
Dea estava cuidando de você. — Lucca
disse e só pelo seu tom dá para sentir
sua preocupação.
— Não tem por que vocês
pararem suas vidas por causa disso, eu
realmente estou bem. Fui pego de
surpresa, para o meu ódio, mas estou
bem. — Falo e fazendo Luna e Lucca
rirem.
— O que aconteceu com aquela
mulher? Ela deve pagar pelo o que fez a
você. — Filippo pergunta com ódio e os
risos cessaram rapidamente.
— Andrea mandou chamar
Nardelli e ela foi levada em custódia.
— Respondo apertando os punhos.
— Isso é bom! — Resmungou
Filippo.
— Lembre-me de agradecer ao
meu cunhado por salvar seu traseiro
estúpido. — Lucca disse me fazendo
franzir o cenho.
— Eu nunca gostei daquela
mulherzinha, se meus olhos baterem nela
alguma vez eu vou desossar seu corpo.
— Luna disse em um tom sombrio.
— Sorellina, isso foi meio que…
uh... assustador. — Lucca disse e eu
concordei rapidamente.
— Não gosto de saber que
mexeram com os meus irmãos. — Luna
disse e tenho certeza de que ela está
dando de ombros.
— Compreensível, sorellina! —
Responde Lippo a Luna.
— Realmente compreensível,
porque fazemos de tudo para que nossa
família fique bem e longe do perigo. —
Falo feliz por ter essa relação tão
próximo com eles.
— Se cuide aí Enzo e não esqueça
que estamos aqui se precisar. Foda-se,
somos uma equipe! — Lucca disse e eu
assinto.
— Pode deixar, não deixarei que
nenhum fodido de merda me pegue
desprevenido. — Confirmo com
seriedade.
— Para tudo e por tudo. — Os
três falaram me fazendo dar um sorriso
pequeno.
— Sempre seus bastardos! —
Respondo e após falar um pouco mais
deligamos a ligação.
Uma batida na porta chamou
minha atenção e Mamma e Babo
entraram no escritório para se
despedirem de mim. Eles me fizeram
prometer ir com Andrea e Viktor nesse
final de semana para o almoço. Mamma
disse que está levando minha sogra e
Nonna para fazer umas compras e Babo
me disse que gosta da companhia de meu
sogro e irá salvar o pobre homem do
tormento das compras. Isso rendeu a ele
um belo tapa atrás da cabeça, prendi os
lábios para não rir da situação.
Fico feliz em ver que meus pais e
os pais de Andrea se dão bem, ter uma
família unida é tudo o que mais
prezamos e tê-los junto a nós é o certo
de qualquer maneira. E parece realmente
que meu pai gosta da companhia do meu
sogro, já que essa é a segunda vez que
os dois fazem um programa juntos.
Quando meus pais foram embora para
efetuar os seus planos, me adiantei a
ligar para Nardelli.
— Nardelli. — Ele disse assim
que atendeu a ligação.
— Onde você levou minha ex-
secretária? — Pergunto evitando
qualquer maldito rodeio.
— Olha se não é Enzo
Aandreozzi, o mesmo cara que foi
drogado pela secretaria gostosa. —
Nardelli disse com graça me fazendo
querer socar sua cara presunçosa.
— Não seja um filho da puta seu
velho bastardo! — Disse entre dentes e
ele soltou uma risada rouca.
— Desculpe-me Enzo, mas eu não
pude evitar. — O bastardo disse e tenho
certeza de que ele não está arrependido.
— Você é muito sem noção para
estar arrependido. — Falo irritado.
— É verdade, mas vamos logo ao
assunto. — Disse ele deixando a voz
mais grave.
— O que vai acontecer com
aquela mulher, espero que ela continue
presa. Não medirei esforços para que
isso aconteça. — Falo com os punhos
cerrados.

— Entendo e fico satisfeito por


finalmente os Aandreozzi deixarem que
a polícia faça o seu trabalho. —
Nardelli disse e eu tentei não revirar os
olhos.
— Eu poderia resolver isso
facilmente, mas Andrea achou que a
cadeia era melhor para essa safada. —
Falo e Nardelli soltou um som
desgostoso.
— Seu anjinho sabe das coisas
Enzo, acho que você deveria fazer como
ele e confiar mais na polícia. —
Nardelli disse me deixando irritado.
— Não porra o chame assim! —
Disse entre dentes e o bastardo frio deu
uma risada de escárnio.
— Que seja! Sua ex-secretária foi
presa em flagrante e como eu não faço
parte desse departamento, passei o caso
para um cara da força que eu conheço.
— Nardelli disse e isso me deixou mais
relaxado. Nardelli pode ser um
bastardo, mas é a porra de um bom
agente e se ele confia nesse cara, então
deve valer a pena.
— Seu namorado e seguranças já
deram o depoimento do que aconteceu,
mas você deve ir ao distrito policial e
deixar o seu também. — Continuou
Nardelli.
— Farei isso! — Respondo
prontamente.
— Então está tudo nos conformes.
Tenho que ir, porque estou no meio de
um caso de merda. — Nardelli disse e
antes que ele pudesse desligar a ligação
o chamei novamente. — O quê?
— Obrigado seu velho estúpido!
— Agradeci e ouvi sua risada do outro
lado.
— Você está me devendo mais
uma Aandreozzi. — Disse ele me
deixando irritado.
— Seu merda! — Desliguei a
ligação e virei para encontrar Andrea
parado na minha frente.
— Você e Nardelli tem a amizade
mais esquisita que já vi. — Andrea
disse negando com a cabeça.
— Esse velho não é meu amigo!
— Resmunguei e Andrea sorriu
docemente. — Está pronto para ir, meu
anjo?
— Sim amor, Viktor foi pegar o
casaco e já podemos sair. — Andrea
disse e fui em sua direção.
— Então vamos! — Falo
deixando um beijo nos seus lábios
gostosos.
Nós três saímos de casa e a nossa
primeira parada foi na clínica de Vitório
e lá ele tirou um pouco mais do meu
sangue para olhar se a substância que a
vadia usou em mim já tinha saído
totalmente do meu organismo. Conversei
um pouco com ele sobre essa droga, ele
me afirma que nunca tinha visto por aqui
esse tipo de droga e que a composição
de sua fórmula é muito diferente. Achei
aquilo totalmente estranho e deixei que
Vitório continue a sua pesquisa.
Saímos da clínica de Vitório e
fomos direto para o distrito policial,
assim que dei o meu nome um detetive
chamado Samuel Moretti foi chamado
para me receber. Tenho que admitir que
esse homem na minha frente é um sujeito
bonito, ele tem um corpo bem
construído, uns dez centímetros a menos
que os meus 1,90 e tantos, seus olhos e
cabelo preto, barba cheia e serrada
fazem um complemento bom nele.
— Você deve ser Enzo
Aandreozzi, estou certo? — Pergunta ele
e eu assinto.
— Isso mesmo, estou aqui para
dar o meu depoimento. — Falo
aceitando a mão que o detetive Moretti
estendeu na minha direção.
— Certo, isso é muito bom. —
Ele voltou seus olhos para Andrea
dando um sorriso brilhante até demais e
estendeu a mão. — Bom te ver
novamente senhor Giardino.
— Sim detetive Moretti, ontem foi
um dia bem cheio. — Andrea responde e
eu cerrei os dentes.
— Vocês se conhecem? —
Pergunto tentando parecer casual, mas
não sei se está funcionando.
— Sim, ele foi lá em casa
ontem… — Interrompi Andrea com um
limpar de garganta.
— O detetive Moretti foi ontem na
nossa casa? — Pergunto engolindo o
meu desconforto por esse homem que
nem conheço está tão à vontade com o
meu namorado.
— Sim Enzo, você estava em casa
dormindo e como eu não queria deixá-lo
sozinho o detetive fez o favor de
aparecer lá em casa para pegar o meu
depoimento. — Explicou Andrea e eu
assinto rapidamente olhando fixamente
para o detetive que continuava a olhar
para o que é meu. Mais tarde vou querer
saber direito porque ele não me contou
essa parte.
— Para mim não foi problema
algum, foi muito esclarecedor conversar
com você. — O detetive Moretti disse e
eu cravei as unhas na palma da minha
mão.
— Amor, porque você não vai
para a boate. Você adianta seu trabalho
por lá enquanto dou meu depoimento
aqui. — Falo com Andrea tirando a
atenção do detetive em cima do meu
namorado.
— Sim Papa, quero conhecer seu
trabalho. — Viktor falou me deixando
feliz. Esse é o meu garoto!
— Tem certeza de que não quer
que a gente espere por você? — Andrea
pergunta e eu nego.
— Não querido, Cyro vai te levar
e nos encontramos depois para almoçar
e ir em um passeio com Vik. O que
acha? — Pergunto e ele assente me
deixando me preocupado em atacar o
detetive e ir preso logo em seguida.
— Acho que está bom para mim.
— Andrea disse inocentemente. Oh meu
anjo, como pode ser tão lindo?
— Vik, cuide de seu pai por mim
tudo bem? — Pedi e ele assente com
uma expressão séria.
— Pode deixar! — Responde ele
fazendo Andrea olhar para nós dois sem
acreditar.
— Vocês dois são inacreditáveis!
Vamos lá Vik, você vai gostar de
conhecer o espaço. — Andrea disse
para Viktor e veio na minha direção me
dando um beijo no rosto. — Até daqui a
pouco! — Segurei seu braço evitando
que ele se afastasse.
— Até daqui a pouco anjo. —
Falo dando um beijo não seus lábios.
Sem me importar com seus olhos das
pessoas na nossa direção. Que se fodam,
ele é meu! — Agora vá! — Observei
Andrea e Viktor saírem do prédio e
voltei minha atenção ao detetive.
— Vocês estão… é… estão juntos
há muito tempo? — Pergunta o detetive
e o olhei com frieza.
— Meu relacionamento com meu
futuro marido não lhe diz respeito.
Sugiro que faça seu trabalho e pegue
logo o meu depoimento, assim eu
poderei voltar para minha família o mais
rápido possível. — Falo de modo rude e
conciso para não restar dúvidas.
— Sim, sim claro. Vamos por
aqui, senhor Aandreozzi. — O detetive
disse tentando voltar a ser profissional.
— E detetive? — Chamei o
fazendo parar de andar e olhar na minha
direção.
— Sim! — Falou ele e o encarei
friamente.
— Eu sei que Andrea tem uma
beleza encantadoramente incrível, mas
lembre-se que ele é meu e é assim que
vai continuar a ser. — Falo o deixando
atordoado por um tempo e logo ele se
recompôs voltando a ser o detetive do
meu caso.
Segui o fodido detetive e contive
a vontade de socá-lo por olhar Andrea
daquele jeito retardado. Quanto antes
terminar esse inferno mais cedo eu vou
poder voltar para Andrea e Viktor.
Saio do distrito policial com
Viktor e peço a Cyro que me leve para a
boate. Durante o caminho fico
imaginando o que fez Enzo mudar de
ideia tão repentinamente, pois, de
acordo ao nosso plano, era para nós três
ficarmos juntos, mas ele simplesmente
mudou de ideia. Seja o que for tenho
certeza de que ele vai me dizer, e tenho
certeza de que ele vai me perguntar o
motivo de não ter contado que o
Detetive Moretti foi na nossa casa. Eu
estava tão preocupado com ele, tentando
ficar a todo tempo ao seu lado que não
me lembrei sobre esse assunto,
simplesmente o fato foi esquecido
rapidamente e foi nele que os meus
pensamentos estavam. Detetive Moretti
foi um bom profissional me fazendo
perguntas essenciais para que ele
começasse com as investigações. Nosso
encontro foi rápido e na intenção de ser
um bom anfitrião fiz questão de convidá-
lo para um café. Não posso negar que
ele é um homem de boa aparência, mas
ninguém se compara ao meu Enzo. Só
tenho olhos para ele e ninguém mais.
— Papa, não acredito que você
não percebeu que Enzo ficou com
ciúmes de você e o detetive. — Viktor
disse em russo e eu virei olhei para ele
sem entender.
— De onde você tirou isso Vik?
— Pergunto no mesmo idioma negando
com a cabeça.
— Está a bem na cara isso Papa.
Tenho certeza de que Enzo estava
querendo bater no detetive pelo modo
que ele estava te olhando. — Vik disse
com uma expressão séria.
— Como? Vik, acho que você está
enganado. — Falo dando uma risada
leve, mas parei quando vi que Vik
continuava a me encarar seriamente.
— Papa, por favor, como o senhor
não viu isso. — Viktor disse e eu franzi
o cenho.
— Então foi por isso que ele me
pediu para ir na frente. — Falo em um
tom baixo e Vik confirma.
— Eu ainda o ajudei, aquele
detetive estava te olhando estranho. —
A firmeza no tom de Viktor me fez olhá-
lo com um sorriso.
— Não me diga que está com
ciúmes. Você está? — Cutuquei sua
barriga o fazendo se afastar de mim.
— Eu não, mas acho legal a
maneira que Enzo não deixa que esses
homens fiquem olhando para você. —
Viktor disse dando de ombros.
— Mio Dio eterno, cosa farò con
voi due? (Meu Deus eterno, o que farei
com vocês dois?) — Falo fingindo
desespero e isso fez ele dar um pequeno
sorriso.
Fico pensando no que Viktor
acabou de me falar, não é possível que
eu não tenha percebido que Enzo ficou
com tanto ciúme do detetive. Ouso me
defender da minha falta de percepção,
porque eu não me importo se as outras
pessoas me olham com admiração, e eu
nunca me importei com esses olhares.
Enzo pode ter ciúmes e odiar esses
olhares, mas eu nunca iria deixar que
qualquer um se aproximasse de mim
com segundas intenções. Pelo menos não
mais, já que vivi na Rússia sendo um
troféu em plena exibição de Maxim.
Com isso eu aprendi a ignorar olhares
de admiração direcionados a mim, antes
eu me olhava no espelho e tudo que via
era uma máscara feia e odiosa de uma
pessoa totalmente quebrada. Hoje em
dia reconheço que tenho uma beleza que
atrai atenção, pelos meus traços finos e
quase femininos, mas eu realmente não
me dou um grande olhar.
Chegamos na boate e a única
pessoa que se encontrava no momento
era Fanny, pois foi ela que me relatou o
problema e logo depois de resolver o
que tiver que resolver, chamarei ela
para podermos conversar sobre os meus
planos futuros para a boate. Apresentei
orgulhosamente Viktor como mio
bambino, o que deixou Fanny muito
surpresa. Ela me lançou aquele olhar
típico de quem tem muitas perguntas, dei
de ombros a ela e disse tranquilamente
que poderíamos falar mais tarde.
Apresentei a boate a Viktor junto com
Fanny e pelos seus olhos posso ver que
ele gostou muito do que está vendo. Ele
me fazia poucas perguntas e eu, é claro,
respondo com muita alegria.

Após uma bela vistoria no lugar,


sentamos nós três para que Fanny e eu
pudéssemos começar a trabalhar. Viktor
como sempre ficou quieto ouvindo
atentamente, mas em momento algum
falou uma única palavra, ele estava bem
próximo a mim mostrando realmente o
garoto tímido que sempre foi.
Aproveitei que eu e Fanny estávamos
afundados sobre assuntos destinados
exclusivamente a boate e contei meus
planos de uma grande reforma no clube,
para que ele não seja somente um clube
de mulheres e sim algo a mais, algo
novo e diferente. Algo que chame a
atenção de diferentes pessoas.
— Deixe ver se eu entendi, você
quer que a boate deixe de ser somente
um clube de stripper? — Fanny pergunta
e eu afirmo.
— Sim Fanny! Podemos estipular
um dia específico para ter esse show de
mulheres, mas acho que outros shows
podem ser apreciados aqui também. —
Falo me sentindo empolgado com essa
hipótese.
— Entendo, e o que você
realmente quer fazer do lugar? —
Pergunta ela e pude ver a centelha de
interesse nos seus olhos.
— Temos tantas pessoas que são
boas em diversos tipos de coisa.
Talentos nesse mundo aí a fora, quero
que esses talentos venham parar aqui. —
Falo já visualizando os planos que tenho
para esse lugar.
— Acho que isso pode ser muito
bom, podemos sair da nossa zona de
conforto e tentar algo a mais. — Fanny
disse e eu confirmo.
— Sim! Podemos reservar um dia
para que seja específico dos meninos,
mas podemos atrair novos artistas
talentosos. Atrair novos públicos. —
Falo e Fanny deu um largo sorriso.
— O clube tem dinheiro o
suficiente para a reforma — Fanny
lembra e eu afirmo.
— Isso mesmo, poderíamos
fechar por um tempo, fazer uma grande
reforma sem precisar parar os
pagamentos dos funcionários. — Falo e
ela cruzou os braços e encostando suas
costas no encosto da cadeira.
— Isso realmente pode dar certo,
tendo uma boa jogada de marketing pode
dar certo sim. — Fanny disse e isso me
deixou mais empolgado ainda.
— Eu estava pensando em falar
com Nonna Francesca sobre isso, mas
agora que ela deixou tudo comigo. —
Dei de ombros e Fanny soltou uma
risada.
— Eu nunca te vi tão empolgado e
falante desse jeito. — Fanny disse e isso
me deixou meio que envergonhado.

— Quero que as coisas sejam


diferentes de agora em diante. — Dei de
ombros e ela suspira.
— Confesso que estou achando
isso incrível. — Disse ela com um
sorriso de lado. — Temos que pensar e
procurar por aquela pessoa que poderia
abrir as portas para os novos shows na
casa. — Fanny disse e isso me deixou
confuso.
— O que você quer dizer? —
Pergunto curioso e olhei para Viktor que
pela sua expressão ele também estava
curioso.
— Sim Dea, precisamos chamar a
atenção de alguma maneira. A pessoa a
abrir os shows deve ser incrível e
surpreendente. — Fanny disse pensativa
e Viktor falou algo que não conseguimos
ouvir direito.
— O que querido? Eu não ouvi. –
Falo e ele me olhou por um tempo.
— Pode ser você Papa. — Ele
falou de novo e eu paralisei na hora.
— Como querido? — Fanny
pergunta a Vik que apontou na minha
direção.
— Papa canta! Ele nunca cantou
aqui não? Lá na Rússia… — Viktor
falou e eu soltei um som sufocado
chamando a atenção dos dois.
— Não Vik, por favor não me
lembre disso. — Falo e ele me olhou
assustado. — Não querido, não estou
brigando com você, eu só não queria que
ninguém soubesse disso.
— Entendo papa, mas o senhor
canta muito bem. Lembro de Maxim
mandando você cantar nas festas. —
Viktor disse em Russo e Fanny franziu o
cenho.
— Sim meu menino, infelizmente
ele me ouviu cantar para você e ficou
me obrigando a fazer isso para me expor
para seus aliados. — Expliquei a Vik
que balançou a cabeça confirmando.
— Eu não estou entendendo uma
palavra que vocês estão dizendo. —
Fanny disse com uma carranca.
— Sinto muito Fanny. — Olhei
para minha, agora, gerente e ela deu de
ombros.
— Estou mais interessada em
ouvir você cantar. — Soltou ela e eu dei
uma risada sem humor.
— Não, isso não vai acontecer.
Eu não canto. — Falo e ela me encarou
como se não estivesse desistindo.
— Seu garoto não iria mentir, por
tanto quero ouvir você cantar. — Fanny
disse e eu continuei a negar.
— Não, eu não posso fazer isso.
Simplesmente não posso. — Falo
nervoso e ela respirou fundo.
— Vamos lá, só tem nós três aqui
e seu segurança, mas ele não conta. O
homem parece uma estátua. — Fanny
disse depois de olhar em direção a
Cyro.
— Não, não estou fazendo isso.
— Falo e ela segurou minha mão.
— Você disse que queria que as
coisas fossem diferentes, então mostra
para mim o que Viktor acabou de dizer.
— Fanny disse eu mordi os lábios
inferiores.
— Eu não sei, não tenho boas
recordações. — Deixei escapar e um
arrepio ruim tomou conta do meu corpo.
— Faça novas lembranças Déa.
Eu estou deixando a porcaria do meu
passado para trás, sabe. Acho que seria
bom você fazer isso também. — Ela
disse apertando sua mão na minha.
— Acho que você pode estar
certa, posso tentar, mas não sei se vou
conseguir. — Falo em um tom baixo e
Fanny se levantou apressadamente da
cadeia.
— Vamos ver o que podemos
fazer por você. — Disse ela correndo
para o fundo do salão.
— Desculpe-me Papa! — Pediu
Viktor e eu dei um sorriso triste para
ele.
— Não querido, acho que tenho
que fazer isso para me ajudar um pouco
mais. — Falo e dei um beijo na sua
testa.
— Aqui! Suba aqui Déa! — Fanny
me chamou colocando o microfone na
frente do palco.
— Precisa disso? — Pergunto
atordoado e ela confirma.
— Suba aqui e me mostre do que
você é capaz. — Brincou ela e eu
respirei fundo e subir no palco.
Parei na frente e respirei fundo,
minhas mãos estão suadas e tremendo,
mas isso é algo que Fanny está certa. Eu
decidi deixar aquele Andrea sofrido e
pobre de espírito para trás, tenho que
esquecer as coisas ruins que passei,
tenho que tirar de minha mente todas as
vezes que sofri calado sem nem ao
menos conseguir chorar. Não, eu não sou
mais esse homem, eu decidi fazer o
melhor por mim e minha família. E
quando era mais novo, eu adorava
cantar, adorava ficar em frente ao mar,
respirar aquele ar de pura maresia e
cantar. Mas eu não conseguia mais, o
único que me ouvia cantar era Viktor e
quando Maxim me pegou cantando foi
terrível. Ele me fez odiar algo que
quando menino adorava.

Abro meus olhos e olho


diretamente para Viktor e penso em uma
música. Desde a primeira vez que ouvi
essa canção, eu não consegui tirá-la da
cabeça e agora ela se encaixa tão bem
no momento que estou vivendo. Ela é tão
linda e me faz pensar em todos os
momentos felizes que estou vivendo
agora, com Enzo na minha vida me
fazendo perceber que ainda estou vivo e
pronto para aceitar todo amor que ele
pode me dar. Sim, eu canto e uma
lágrima escorreu do meu olho.
“...Tão cansado dessa solidão
Parece tanto um desperdício de
fôlego
Tanto que eu preciso dizer
Tanta coisa para tirar do meu
peito
Eu estou esperando
pacientemente, mesmo que o tempo
esteja passando lentamente
Eu tenho uma vaga e eu queria
que você soubesse
Que você é aquela que foi feita
para mim
Uma estranha distante que eu
vou completar
Eu sei que você está aí, estamos
destinados um ao outro
Portanto, mantenha sua cabeça
levantada e faça isso para mim…”
(Make It to me — Sam Smith)

Assim que abro meus olhos vejo o


homem que amo parado na frente do
palco, me olhando com surpresa e a
mais pura e verdadeira adoração que
alguém pode sentir por outra pessoa.
Meus olhos ficam presos em Enzo que
sobe no palco e passa a mão no meu
rosto tão delicadamente que me faz
fechar os olhos. Sou arrastado para um
forte abraço e enterro minha cabeça no
seu peito sentindo seu cheiro delicioso.
Abro meus olhos e vejo Fanny limpando
os olhos e Viktor deu um pequeno
sorriso. Enzo afasta nossos corpos por
um momento na intenção de grudar
nossas bocas juntas, iniciando um beijo
doce e apaixonado.
— Acho que me apaixonei por
você um pouco mais, Anjo. — Disse ele
com a boca grudada na minha. — A cada
dia que passa você me mostra como
você é a criatura mais surpreendente que
existe.
— Não era para você ver isso. —
Falo envergonhado e ele me olhou como
se fosse louco.

— Anjo, sua voz é… Deus, ela é


tão linda e rouca. — Enzo me abraçou
mais forte.
— Por favor, pare de me deixar
sem jeito. — Falo dando um tapa de
leve no seu braço.
— Estou falando a verdade, anjo.
Me sinto até meio ciumento por não
saber que você tinha essa voz linda.
Andrea, você nunca se quer cantou no
chuveiro. — Enzo disse e isso me fez
rir.
— Isso é uma longa história,
amor. Juro que lhe contarei tudo hoje
quando você me mostrar o quanto me
ama. — Falo e ele arqueou a
sobrancelha.
— Sim? E como eu farei isso? —
Pergunta Enzo e eu dei de ombros.
— Não sei, pode ser depois que
você me fizer gozar. — Sussurrei no seu
ouvido e ele apertou meus braços com
força.
— Não me faça estragar os planos
de hoje, por ter que levá-lo para casa.
— Enzo disse entre dente e seus olhos
estavam puro fogo.
— Não amor, não vamos estragar
o dia de hoje. — Falo e Enzo soltou um
suspiro.
— Dea, você é ótimo! Que voz
incrível! — Fanny disse me deixando
vermelho.
— Não é para tanto Fanny, pelo
amor de Deus. — Falo e Enzo me
ajudou a descer do palco.
— Eu disse. — Viktor falou e
Enzo olhou na sua direção.
— Você sabia que seu pai
cantava? — Enzo pergunta a Viktor que
deu de ombros e Enzo bagunçou seu
cabelo.
— Dea temos que colocar essas
ideias em prática para já. — Fanny
disse e eu afirmo.
— Podemos ver direito, fazer uma
reunião e chamar um arquiteto. — Falo e
ela deu uma olhada no lugar.
— Está pensando em reformar,
meu anjo? — Enzo pergunta chamando
minha atenção.
— Sim amor, parece que Fanny
gostou das ideias que tenho para o lugar.
— Falo e Enzo arqueou a sobrancelha.
— Você está esquecendo que seu
namorado é dono de uma empresa de
construção? — Enzo disse eu arregalei
os olhos.
— Nossa, eu tinha esquecido.
Sinto muito, por isso. — Disse passando
a mão no seu peito.
— Não tem problema anjo,
podemos ver seus planos e a empresa
fica responsável pela reforma. — Enzo
disse com seriedade e eu sorri.
— Você faria isso? — Pergunto e
seus olhos fecharam nos meus.
— Eu faria qualquer coisa por
você anjo. — Confirma ele fazendo meu
coração bater descontrolado.
— Vocês dois são muito melosos!
— Exclama Fanny chamando nossa
atenção.
— Se você não é carinhosa com o
seu namorado, eu não posso fazer nada.
— Brinquei com ela que deu um sorriso
mau.
— Meu carinho vem de outras
formas. — Fanny disse e eu nego com a
cabeça.
— Acho melhor irmos almoçar,
depois disso podermos ir assistir um
filme. O que acha Viktor? — Enzo disse
olhando no relógio.
— Acho bom para mim. — Vik
disse e eu olhei na sua direção.
— Acho uma ótima ideia, acho
que terminamos por hoje Fanny. — Falo
e Fanny pegou os papéis na mesa.
— Tudo bem para mim também.
Vou para casa, porque aquele Selvagem
não sabe mais onde fica sua casa e só
quer ficar na minha. — Disse Fanny se
afastando de nós.
— Como foi o depoimento, amor?
— Pergunto e Enzo fechou a cara.
— No caminho até o restaurante
eu posso te dizer como foi com aquele
detetive de merda. — Enzo disse com
uma expressão séria.
Entramos no carro e durante todo
o trajeto até o restaurante, Enzo ficou
com uma expressão nada boa. Tentei
perguntar a ele se tinha acontecido
alguma coisa de grave, mas ele nega
rapidamente. Fiquei até com medo de
que a sua ex-secretária possa ter saído
da prisão, mas parece que não foi isso
que aconteceu, e ficar no escuro está me
deixando mais nervoso que nunca. Amo
Enzo, mas as vezes tenho vontade de lhe
dar uns tapas. Chegamos a um lindo
restaurante tradicional e pelo o que pude
ver Enzo conhece o dono do lugar, por
que assim que colocamos os pés no
lugar uma mesa já estava pronta para
nós.
— O que o detetive Moretti fez
para você? — Pergunto curioso assim
que nos acomodamos na mesa e ele
apertou o maxilar.
— Fora o fato que ele estava de
olho no que é meu? — Pergunta Enzo e
eu olhei sem entender. — Não me olhe
com se você não soubesse o que estou
falando.
— Tudo bem, mas você sabe que
eu só tenho olhos para você. — Falo
casualmente abrindo o cardápio.
— Eu sei anjo, mas isso não me
faz querer furar os olhos dos bastardos.
— Enzo grunhiu e eu assinto rindo.
— Você está se estressando
demais. — Brinquei e ele me olhou
ofendido.
— Vou fingir que não ouvi você
dizer isso, Anjo. — Apontou Enzo
pegando seu cardápio.
— Sim querido, me diga o que
mais aconteceu no depoimento. — Pedi
ele abaixou o cardápio.
— Aquele filho de uma cadela
começou a fazer suas perguntas inúteis e
depois de um tempo ele praticamente
disse que eu de esperanças a senhorita
Roccato. Você acredita? — Enzo
pergunta entre dentes.
— Ele fez isso? — Pergunto
achando isso estranho.
— Sim, parece que aquele maluca
disse que tínhamos um caso de anos e
que ela perdeu o juízo quando descobriu
que eu estava em um relacionamento. —
Enzo disse friamente e senti a irritação
tomar conta de mim.
— Сука! (Vadia) — Soltei em um
tom baixo. — Não acredito que essa
mulher teve a audácia de mentir assim.
— Falo irritado.
— Meu relacionamento com ela
era estritamente profissional, nunca em
hipótese alguma iria fazer algo com ela,
mesmo que você não estivesse na minha
vida. — Enzo disse de modo sombrio e
eu assinto.
— Eu sei disso, amor. — Falo
tentando o acalmar.
— Mas aquele detetive maldito
estava testando minha paciência. —
Enzo disse soltando um suspiro
frustrado.
— Ainda não temos uma
avaliação definitiva da droga não é
verdade? — Pergunto chamando sua
atenção.
— Não, mas por que essa
pergunta? — Enzo franziu cenho.
— Porque acho muito estranho
tudo isso Enzo. Você não acha? — Falo
me sentindo cansado de repente.
— Sim anjo, mas tenho certeza de
que seja o que for vamos resolver.
Juntos. — Ele olhou de Viktor para mim
e nós assentimos.

Fizemos nossos pedidos e


tentando esquecer a nossa conversa
anterior, hoje não é um dia de ficar nos
martirizando com essas coisas ruins que
aconteceram nas nossas vidas. Sendo
assim começamos a fazer planos para
um futuro não muito distante, Enzo
comentou que tinha prometido aos seus
sobrinhos uma viagem com eles. Isso foi
o suficiente para chamar toda a atenção
de Viktor, meu menino pode ser calado e
até um pouco distante, mas não consegue
esconder que gosta de estar perto das
crianças. Enzo expressou seus planos de
levar as crianças na Grécia, e agora foi
a minha vez de gostar do andamento da
conversa. A Grécia é conhecida pelas
lindas praias e eu confesso que adoraria
ver cada uma delas.
Após o almoço delicioso e leve
fomos os três fazer um passeio, Viktor
estava muito concentrado observado
tudo com bastante entusiasmado. Mais
tarde naquele dia levamos ele para o
cinema, os dois ganharam de mim na
decisão do filme e fomos assistir um
filme da Marvel de super-heróis.
Revirei os olhos para a escolha do filme
e me vi tendo que acompanhar esse dois
nessa sessão, mas levar Viktor para ter
novas experiências é gratificante. Sendo
assim não foi uma tortura total, mas
afirmo que não prestei muita atenção no
filme. No final do dia fomos para casa,
percebi que Vik estava bem-casado e
satisfeito por passar o dia comigo e
Enzo. E somente isso me deixou bastante
feliz, e pronto para encerrar o dia de
hoje.

Acordo no dia seguinte senti o


meu pau muito duro, solto um gemido
rouco ao sentir algo molhado e quente
em torno dele. Abro meus olhos devagar
e vejo Enzo entre minhas pernas,
chupando meu pau como se fosse a
melhor coisa que ele já provou na vida.
A visão na minha frente é muito
excitante e me livra de qualquer resto de
sono que eu poderia vir a ter. Me
contorço na cama e paro de evitar o
gemido alto que sai da minha garganta.
Ter a boca de Enzo no meu pau é como
ir ao céu, ele brinca com minhas bolas
pesadas e eu aperto as mãos nos lençóis.
— Enzo, Enzo, Enzo… se você
continuar assim eu vou gozar. — Avisei
arqueando as costas.
— Não queremos que isso
aconteça não é mesmo, meu anjo? —
Enzo pergunta de modo sedutor.
— Eu quero você Enzo e quero
você agora. — Falo gemendo ao sentir a
língua dele rodeando meu pau.
— Você está se tornando uma
coisinha exigente, senhor Giardino. —
Enzo disse abrindo bem minhas pernas.
— O que... o que você vai fazer?
— Pergunto desnorteado e ouvi um
barulho da tampa do lubrificante.
— Vou dar aquilo que nós dois
queremos. Oh querido, estou louco para
enterrar meu pau em você. — Enzo disse
e senti seu dedo molhado e escorregadio
invadir meu buraco.
— Sim, sim, sim… faça isso
agora! — Me contorci sentindo prazer
pela sua invasão.
— Estamos apressados hoje, sim?
— Enzo disse e senti seus dedos me
esticando.
Enzo voltou a chupar meu pau
enquanto ia me abrindo com seus dedos.
Ele abandonou meu pau e foi subindo
beijos na minha barriga, me provocou
com sua língua no meu umbigo, mordeu
meus mamilos. Ele mordiscou, lambeu,
maltratou eles ao seu bel prazer, subiu
beijos nos meu pescoço me deixando
aquecido e necessitado. Eu não estava
aguentando mais, eu estava totalmente
pronto para ele, mas a sua vontade de
me torturar é maior que qualquer coisa.
— Estou pronto Enzo! — Falo
com a voz rouca.
— Tem certeza meu amor,
podemos ficar aqui até que você esteja
pronto. — Provocou Enzo e eu olhei
para ele com raiva.
— Se você não colocar seu pau
em mim agora, eu mesmo vou fazer. —
Falo irritado e isso o fez rir.
— O que você estava dizendo,
querido? — Enzo tirou seus dedos da
minha entrada e provocou com sua
glande.
— Isso mesmo… oh, porra! —
Senti meu corpo ser invadido pelo seu
grosso pau.
— Tão bom, tão delicioso, tão
apertado e tão meu. — Enzo disse
invadindo sua boca na minha.
Uma mistura de sensações
interessante e incrivelmente prazerosa
tomou conta de mim, com o corpo
grande de Enzo pressionado ao meu,
seus movimentos fortes e precisos no
meu buraco esticado, seus beijos que
devoram meus lábios é o complemento
para me deixar louco de tesão. Enrolei
minhas pernas nas suas costas, cravei
minhas unhas não seus braços e deixei o
prazer me levar. Grito ao sentir sua
glande bater na minha próstata, é uma
coisa tão incrível que comecei a ver
estrelas. Pouco tempo depois eu já
estava pronto para gozar.
— Goze para mim meu anjo, me
dê o seu prazer. — Enzo disse no meu
ouvido e meu olhos rolaram para trás da
cabeça.
— Enzo... eu vou… ah... eu vou...
— Gozei fartamente e Enzo veio logo
em seguida gritando meu nome. Ficamos
parados por um tempo até que senti Enzo
sair de mim, meus olhos estão tão
pesados de sono que não percebi que
Enzo tinha levantado da cama e trouxe
uma toalhinha para me limpar.
— Bom dia, meu anjo. — Ele
beijou meus lábios de continuei com os
olhos fechado. Tão cansado!
— Bom dia, meu amor. —
Resmunguei meio distante e fui tentar
levantar.
— Não anjo, volte a dormir. Mais
tarde nos vemos, te amo. — Enzo disse
e não sei o que veio a seguir, por que eu
acabei caindo no sono novamente.
Algumas horas depois acordo me
sentindo revigorado, olho por todo o
quarto a procura de Enzo, mas eu sei que
ele não está por perto e tenho certeza de
que ele deve ter ido para a empresa.
Levanto da cama e me encolho um pouco
ao sentir o meu traseiro maltratado, isso
é a prova que eu não estava sonhando e
que tive um belo ‘bom dia” de meu
Enzo. Vou direto tomar um banho quente
e relaxante, lavo meus cabelos e sorrio
ao lembrar de Enzo. Ele é tão… sei lá,
não sei o que falar. Só posso dizer que
ele é um homem incrível, em todo os
sentidos da equação. Termino meu banho
e com a toalha na cintura vou escovar
meus dentes e secar o meu cabelo.
Quando estou caminhando até o closet
vejo meu celular tocar no criado mudo.
Atendo sem olhar a tela e tomo um susto
com a pessoa do outro lado da linha.
— Senhor? — A voz de Cyro me
deixa assustado.
— Cyro, aconteceu algo? —
Pergunto nervoso.
— O senhor me pediu para que
vigiasse sua mãe. Ela saiu sozinha hoje
pela manhã e resolvi segui-la. — Cyro
disse fazendo meu corpo endurecer.
— Minhas suspeitas estão certas,
não estão? — Pergunto com um tom de
voz frio.
— Sim senhor, ela acabou de se
encontrar com a sua irmã. — Cyro disse
e eu passei a mão na cabeça.
— Tudo bem, me diga o endereço
que estou chegando. — Pedi e ouvi a
excitação de Cyro do outro lado.
— Senhor eu não posso… —
Cyro começou a falar, mas eu não o
deixei terminar.
— Corta essa Cyro, só me diga o
lugar e estarei aí. Não se preocupe, eu
tenho você para proteger minhas costas.
— Falo para aliviar a tensão.
— Certo senhor, mandarei o
endereço por mensagem. — Cyro disse
e não despedimos.
Olhei rapidamente a mensagem de
Cyro apertei o celular entre meus dedos
com força. Acho que é hora de um
pequeno encontro em família.
Me levanto da cama em um pulo e
vou direto para o closet. Troquei de
roupa rapidamente e coloquei o meu
suporte com algumas das minhas facas.
Nunca se sabe quando podemos usá-las
e eu não quero ser pego desprevenido
nunca mais. Tento não pensar como vai
ser esse encontro com Lea e minha mãe,
mas é quase impossível. A última vez
que estivemos juntos foi quando Lea
contou aos nossos pais que eu era gay e
eles me mandaram embora. Não é algo
bom de se lembrar, porque por mais que
eu tenha perdoado e acreditado que
meus pais se arrependem de terem me
tirado das suas vidas, aquela dor sempre
vai estar presente e não é algo que posso
fazer. Porque foi a partir disso que meu
inferno de vida começou. Claro que eu
sei que eles não tiveram culpa do que
aconteceu comigo, mesmo assim, é
difícil de esquecer.
Assim que estou pronto, desço as
escadas e vejo meu pai sentado no sofá
com Viktor e Otto. Congelo no lugar e
observo os três atentamente, Viktor está
em um canto do sofá com Kay no seu
colo e Otto conversa animadamente com
meu pai, não é preciso ser um expert
para saber que eles devem estar fazendo
planos para o dia. Fico me perguntando
se Papa sabe sobre esse encontro de
Mamma com Lea, minha irmã pode ter
os defeitos que tiver, mas ela sempre vai
se a filhinha deles e isso não há como
negar e muito menos discutir. Queria
tanto que a minha pequena família fosse
unida como a família de Enzo, que eu e
minha irmã pudéssemos nos dar bem e
ser parceiro um do outro, mas não é isso
que acontece. Quando vejo Enzo,
Filippo, Lucca e Luna juntos é como
abrir os olhos para a possibilidade de
que irmãos com personalidades tão
diferentes podem sim se dar bem e
podem sim ser o apoio um do outro.
Coisa que com a minha irmã isso nunca
vai acontecer.

— Oi filho, vai a algum lugar? —


Me surpreendendo com a pergunta de
meu pai.
— Sim, vou na rua rapidinho
resolver algo. — Tentei falar o mais
casual possível.
— Podemos ir com você? — Otto
pergunta apontando para Viktor.
— Não fratellino, o que eu vou
fazer vai ser coisa rápida. — Falo
descendo as escadas indo em direção a
Otto e bagunçando seu cabelo.
— É porque Vik me contou que
conheceu seu trabalho e eu também
queria ver. — Otto explicou e eu olhei
para Vik sorrindo.
— Você disse isso, moy mal'chik
(Meu menino)? — Pergunto arqueando a
sobrancelha e Vik deu de ombros
continuando a fazer carinho em Kay.
— Acho que gostei de ir lá e
queria mostrar a Otto também. —
Explicou Viktor e eu fui até ele e dei um
beijo na cabeça.
— Um dia eu vou levar os dois
comigo, combinado? — Os dois
assentem e eu olhei para meu pai que
sorria.
— Onde está Mamma? —
Pergunto e Papa revirou os olhos.
— Ela disse que tinha que
comprar algumas coisas e saiu logo
cedo. — Papa responde e eu engoli em
seco.
— Tudo bem, vou sair e daqui a
pouco eu volto. — Falo e me despedi de
todos.
Oliver já estava a minha espera
com o carro e eu tenho certeza de que
foi Cyro que mandou, não perdi tempo e
pedi para que ele fosse o mais rápido
possível. Durante o trajeto fiquei me
questionando se deveria ou não ligar
para Enzo, tenho certeza de que ele
ficará muito chateado por eu não ter
contado nada, mas eu não tive condições
de falar com ele. Não imaginei que esse
encontro ia ser tão rápido. Minha cabeça
se distraiu totalmente depois do que
aconteceu entre Enzo e sua ex-
secretária, sendo assim eu tinha
esquecido de contar a ele sobre os meus
planos de seguir minha mãe. É tão
estranho pensar que eu mandei seguirem
minha mãe, é como se eu estivesse a
traindo de qualquer maneira, mas eu não
posso deixar que Lea a engane
novamente ou até mesmo a deixe em
perigo por qualquer outro motivo.
Chego no lugar que Cyro me
indicou e vejo que é uma pequena
cantina tradicional, Oliver me aponta o
carro em que Cyro está e eu saio
apressadamente indo em direção a ele.
Não quero que elas me vejam antes que
eu possa conversar com Cyro. Assim
que entro no carro ele me atualiza sobre
as duas, e do lugar em que ele está
posso ver nitidamente elas conversando
e gesticulando uma com a outra. Não
consigo ver suas expressões, mas tenho
certeza de que não deve ser uma das
melhores, principalmente a de Lea. Olho
meu celular novamente e me pergunto se
deveria falar com Enzo, mas decido não
fazer. Tenho que aprender a fazer as
coisas por mim, não posso mais ficar
dependendo totalmente dele ou de
qualquer outra pessoa. Essa briga é
minha, esse confronto é somente meu e
eu espero que ele não fique muito
chateado quando descobrir.
Antes de sair do carro de Cyro eu
amarro meu cabelo no alto da cabeça e
verifico novamente minhas facas.
Costume, nada mais. Ando casualmente
até a cantina e tento não chamar muita
atenção para mim, assim que me
aproximo da mesa onde as duas estão
Lea é a primeira a me ver. E é assim que
vejo o ódio cru nos seus olhos verdes,
sua carranca irritada se aprofunda mais
ainda a cada passo que dou em direção a
elas. Observo que Mamma chama a sua
atenção tentando segurar suas mãos que
está com os punhos cerrados, mas ela se
afasta rapidamente do seu toque sem
tirar os olhos de mim. Isso deve ter
alertado nossa mãe que vira a cabeça e
congela ao me ver. O sangue foge
totalmente do seu rosto e ela fica muito
pálida.
— Mamma, Lea. — Falo calmante
e me sento em uma das cadeiras
disponíveis.
— O que você faz aqui? — Lea
pergunta entre dentes e eu dei de
ombros.
— Estava passando e vi vocês
duas aqui e vim cumprimentá-las. —
Falo tentando parecer relaxado.
— Você disse a ele não foi? —
Lea pergunta a nossa mãe que continuou
sem reação.
— Não Lea, Mamma não me falou
que estaria encontrando você, foi
puramente ocasional. — Falo e virei
para Mamma.
— A senhora está bem? —
Pergunto e foi aí que ela despertou do
seu estupor.
— Andrea o que faz aqui? Por
favor, não me diga a mesma coisa que
disse a sua irmã. — Mamma pediu em
um tom baixo e eu respirei fundo.
— Tudo bem Mamma, sinto muito,
mas eu mandei que seguissem a senhora.
— Falo e minha mãe arregalou os olhos
e depois me olhou com mágoa.
— Por que você faria algo assim?
— Pergunta ela com um tom magoado.
— Sinto muito, mas a senhora
estava muito estranha e eu tive medo por
sua segurança. — Falo e ela nega com a
cabeça.
— Me encontrar com sua irmã é
está em perigo? Ela é minha filha
também. — Minha mãe disse eu assinto
engolindo em seco.
— Claro, mas coisas ruins
acontecem o tempo todo. — Olhei para
Lea e ela retribuiu o olhar lascivamente.
— Eu só queria unir nossa família
novamente, queria que Lea ficasse com a
gente. — Mamma falou com esperança
olhando para minha irmã.
— Não seja uma estúpida! Isso
nunca vai acontecer, não com essa bicha
com vocês. — Cuspiu Lea deixando
Mamma em choque.
— Lea não fale dessa maneira do
seu irmão. — Mandou nossa mãe com
seu melhor tom de comando e isso só fez
Lea rir.
— A muito tempo que você não
manda mais em mim e não vai receber
agora que vai voltar a mandar. — Lea
disse de forma irritada e desrespeitosa.
— Eu não vou dizer que entendo o
seu ódio por mim Lea, mas os nossos
pais não têm culpa de sua amargura. —
Falo sentido minha irritação nas
beiradas.
— Não tem culpa? Eles têm toda
a culpa! Não fale comigo se soubesse
algo de mim seu pervertido que gosta de
pau. — Lea disse batendo na mesa.
— Lea! — Repreendeu nossa mãe
e ela revirou os olhos.
— Para com isso, não vai
funcionar. — Lea disse com desdém.
— Você é minha filha, nós te
amamos, mas nunca conseguimos
entender o porquê desse seu afastamento
de nós. — Mamma disse e isso foi o
suficiente para despertar mais irritação
em Lea.
— Você quer saber mesmo mãe?
Você quer realmente saber o porquê eu
tenho asco de estar perto de vocês?
Tudo bem então. — Ela olhou para mim
por um tempo e voltou sua atenção a
nossa mãe. — Tudo isso é por causa
dele. — Ela apontou para mim e eu
franzi o cenho.
— Não seja uma cadela estúpida
Lea, eu nunca te fiz nada. Pelo contrário,
eu só queria ser seu irmão. — Rebati e
isso foi um suficiente para ela se irritar
ainda mais.
— Foda-se! Eu odeio você, eu
sempre odiei você e o modo que nossos
pais te tratavam. Você sempre foi o filho
querido para eles, eu sempre tive inveja
do modo em que você era tratado. Eles
sempre te amaram mais! — Lea disse e
Mamma colocou a mão na boca.
— Não Lea, você está errada. Seu
pai e eu amamos os dois por igual,
nunca existiu preferência para nós. Nós
amamos vocês dois, você sempre foi um
pouco mais difícil de lidar do que
Andrea, mas nós a amamos da mesma
maneira. Vocês são meus filhos
queridos! — Mamma disse com o ar
choroso.
— Mentira! Tudo isso é mentira,
eu via a diferença, eu sentia a diferença.
— Lea disse negando com a cabeça.
— A diferença estava nessa sua
cabeça louca. Eu sempre fiz de tudo
para nos aproximar, mas você nunca
quis. — Falo e ela deu um sorriso frio.
— Você e eu sempre fomos
diferentes Andrea, você sempre gostou
daquela vida medíocre em que
vivíamos, mas eu não. Eu sempre quis
mais e quando tive a oportunidade de
ter, você tirou de mim. — Ela apontou
com rancor e eu olhei para ela sem
entender.
— Que diabos você está falando?
— Pergunto atordoado.
— Você roubou o homem que eu
amava, você seduziu o meu homem com
esse seu jeito bicha de ser e tirou ele de
mim. — Olhei para Lea enojado.
— Você não sabe a merda que
você está falando. — Nego com a
cabeça me sentindo muito mal por ela.
— Isso não aconteceu Lea, seu
irmão nos contou o que houve. —
Mamma tentou falar, mas Lea não
escutou.
— Não acredito que você vai
ficar do lado dessa bicha, eu te contei o
que aconteceu naquela noite e agora
você prefere ficar ao lado dele. — Ela
disse com um tom de mágoa, mas para
mim foi pura enganação.
— Seu pai e eu vemos o quanto
você estava chateada naquele dia,
ficamos com você. Mas nós
arrependemos de ter feito o que fizemos
com Andrea. — Mamma disse e ela
voltou seus olhos na minha direção.
Estou cansado de ouvir a mesma
coisa vindo de Lea. Ela não sabe que
tipo de vida maldita eu tive, ela não faz
ideia de como foi difícil ter que ficar
todos aqueles anos ao lado daquele filho
da puta doente e sem coração. Como é
ter que suportar sentir seu corpo ser
invadido contra sua vontade e senti nojo
de si mesmo a cada vez que olhava para
o reflexo seu corpo. Ter que suportar a
maneira nojenta que os associados de
Maxim me olhavam como se eu fosse um
pedaço de carne premida, e depois que
alguns desses homens tocavam o meu
corpo eu tinha que cortar sua garganta de
ponta a ponta. Tudo bem, essa parte de
ter que matá-los foi mais fácil para mim
do que eu poderia imaginar, mesmo
assim tudo isso me mudou. Vi pessoas
que me ajudaram morrer na minha frente,
passei fome, sede, dor, e muitas outras
coisas que Lea não poderia imaginar. E
ver ela me odiar por isso me deixa
furioso.
— Para de falar essa besteira Lea,
você não sabe a merda que está saindo
de sua boca. — Falo com um tom frio.
— Eu não sei? Você tem certeza?
— Pergunta Lea amargurada. — Eu sei o
que vi e até hoje eu tenho pesadelos
sobre você em cima de meu namorado.
— Oh meu Deus, quantas vezes
vou ter que dizer que eu não estava
dando em cima daquele doente? Ele me
beijou! Ele tirou tudo de mim Lea, pare
de ser uma lesada iludida. — Falo com
raiva e meu corpo começou a tremer.
— Mentira! Eu vi, eu sei o que vi.
— Lea disse balançando a cabeça
negativamente.
— Não o que você viu, mas o que
você inventou nessa sua cabeça imunda.
— Disse entre dentes.
— Por favor, parem de brigar. Eu
só queria que nós fossemos uma família
unida. — Mamma disse e Lea voltou a
rir.
— Que bela família iríamos fazer.
O que a senhora ainda quer? Que
voltemos todos para aquele vilarejo
nojento? Ou quem sabe irmos pescar
como uma família simples e sorridente
de pescadores inúteis? Pare de se iludir,
essa família nunca vai existir e isso é
culpa de vocês por preferirem ele a
mim. — Lea disse e eu não suportei
mais, puxei minhas duas adagas e cravei
elas na mesa muito próxima de Lea. Isso
foi o bastante para assustar tanto
Mamma quanto ela.
— Cala essa sua boca maldita!
Você é podre por dentro, todo o seu
interior é escuro e nojento. Era você que
deveria ser estuprada por Maxim, era
você que deveria dormir com velhos
asquerosos e ter que aprender a matar
cada um deles. Era você, Lea, que
deveria ver pessoas inocentes morrer,
você é somente você deveria aguentar as
punições de Maxim. — Falo com um
tom baixo, frio, olhando nas profundezas
dos seus olhos.
— Oh meu Deus, Andrea. —
Soluçou minha mãe, mas eu não me virei
para encará-la.

— Não se engane em achar que eu


sou o mesmo Andrea de antes. Todas as
porcarias que eu passei me mudaram,
hoje em dia eu sei o que a morte é e não
me importo nem um pouco com ela. Até
pouco tempo atrás eu não sabia o que
era chorar, essa foi uma das lições de
Maxim, mas Enzo me mostrou o que é
ter emoção de novo. Só que mesmo
chorando e desabafando a escuridão
ainda está em mim. E eu me acostumei
com ela, Lea. — Seus olhos foram para
a faca que estava bem na sua frente.
— Você vai me matar com essas
faquinhas? Você vai mostrar a nossa mãe
sem importância o quanto me odeia
também? — Lea pergunta e eu sorri. Sim
eu sorri, e foi um sorriso frio.
— Não, eu não odeio você e acho
que já te disse isso. Para falar a verdade
eu não sinto nada por você. Hoje eu
estou feliz, tenho um homem que amo,
um filho lindo, uma família grande e
acolhedora. E o mais importante, tenho
meus pais novamente. E você Lea, o que
você tem além do ódio e inveja? —
Pergunto em um tom baixo e gozador.
— Sua felicidade não vai durar
por muito tempo e eu vou fazer questão
de que isso aconteça. — Lea disse e
isso chamou minha atenção.
— Você pensa em fazer algo
contra mim, minha irmã? — Falo irmã
com um tom enojado. — Eu entendi sua
ameaça Lea, mas deixa eu te falar uma
coisa. Seja o que for que vir na minha
direção eu vou superar. Eu sou forte
agora, nada vai mudar isso. — Tirei as
facas da mesa e voltei a me sentar.
— Andrea, você está se gabando
por ter nossos pais novamente e nem
sabe que eles estão mentindo para você
esse tempo todo. — Lea disse e eu olhei
para minha mãe no mesmo momento.
— Lea, pare com isso. Lea não!
— Minha mãe disse assustada e vi nos
seus olhos a súplica.
— O que ela está dizendo
Mamma? — Pergunto tentando não me
descontrolar.
— Isso é fácil de se resolver.
Você prefere contar a ele ou eu conto
Mamma? — Lea pergunta
tranquilamente bebendo a sua água.
— Lea não faça isso, você me
prometeu. — Mamma já estava
chorando muito.
— O que está acontecendo aqui?
O que estão me escondendo? —
Pergunto com irritação.
— Posso ver que você realmente
não sabe, mas eu farei questão de te
contar. Quando você roubou o meu
namorado e foi embora com ele, eu
estava grávida. — Olhei para Mamma
com os olhos arregalados e ela abaixou
a cabeça continuando a chorar.
— O que você quer dizer com
isso? Grávida? Onde está a criança? —
Pergunto sem entender se realmente eu
queria saber a resposta.
— Essa é a melhor parte! Sabe o
garoto que nossos pais dizem que são
seus? Sim, Otto não é mesmo? Ele é o
meu filho! — Lea disse me deixando
totalmente sem reação.
— Mamma? — Chamei, mas seus
olhos continuaram voltados para o chão.
— Bela família essa nossa não é
mesmo Andrea? Ela é baseada em
muitas mentiras. Principalmente você e
essa sua mentira sobre Maxim. — Lea
disse, mas eu estava muito confuso.
— Seu filho? — Pergunto sem
conseguir me conter.
— Sim, eu não quis ficar com ele
quando nasceu, por que ele não parece
com o homem que eu amo. Então
simplesmente o deixei com os meus
pais, você não sabe como é difícil
esconder uma gravidez. — Lea disse
levantando da cadeira e pegando a sua
bolsa. — Ainda vamos nos ver Andrea.
— Lea disse, mas eu não lhe dei um
segundo olhar porque estava focado no
que ela acabou de dizer.
Otto é seu filho e não dos meus
pais, como eles me fizeram acreditar.
Mas por que mentir assim? Por que não
me contar que ele era filho de Lea, meu
sobrinho? Olho novamente para minha
mãe, mas ela continua a chorar e isso me
irrita. Ela tem que pelo menos encontrar
meu olhar e dizer alguma coisa. Merda!
Minha mãe tem que desmentir Lea, dizer
alguma coisa que possa confirmar que
tudo o que saiu da boca sorridente de
Lea era mentira. Otto não merece o
fardo de ser filho de Maxim
Konstantinov, já basta Viktor. Caspita!
Viktor e Otto são irmãos, agora tudo está
tão atrapalhado na minha cabeça. Como
meus pais esconderam algo assim de
mim? Será que eles pensaram que eu iria
julgá-los ou qualquer coisa do tipo.
— Andrea… — Mamma ia
começar a dizer, mas eu me levantei.
— Vamos Mamma, em casa
podemos falar sobre isso. Tenho muitas
perguntas. — Falo com calma abrindo
minha carteira, tirando algumas notas e
jogando na mesa.
— Sim meu filho. — Murmurou
minha mãe e eu a puxei colocando meus
braços ao redor do seu corpo.
Saímos do lugar e fui levando
minha mãe comigo direto para o carro
de Cyro. Ele olhou para mim pelo
espelho retrovisor e assente. Seguimos
para casa e a todo momento minha
cabeça não parava de pensar no meu
confronto com Lea. Como ela pôde
deixar seu filho assim com os nossos
pais? Não posso julgar quando uma mãe
não tem condições de criar um filho e
resolve dar para adoção, mas a minha
maldita irmã com certeza deve ter tido o
apoio dos nossos pais e não quis saber
da criança. Justamente porque ele não se
parece como ela queria. Que motivo
mais ridículo. Como ela pode ser tão
sem coração? Olho para Mamma que
está com os pensamentos distantes,
olhando diretamente para fora da janela.
— Por que a senhora e papai não
me contaram a verdade? — Pergunto
sem conseguir me conter e isso foi o
suficiente para chamar sua atenção.
— Otto pode ser meu neto, mas
nós o criamos como filho. Sei que pode
parecer estranho, mas não queríamos
que ele crescesse sabendo que a sua mãe
é do jeito que é. — Mamma falou com
calma e já não chorando como antes.
— Entendo, mas a senhora não
acha que eu poderia saber disso. Que o
menino que eu pensava ser meu irmão na
verdade é irmão do meu filho? — Acho
que meu tom saiu um pouco duro demais
porque Mamma se encolheu.
— Sim, acho que você pode ter
razão, mas nós não queríamos que Otto
soubesse da verdade. — Mamma disse
em um tom baixo.
— Mãe, depois de tudo o que
passamos. A senhora olhou para mim e
disse que tinha me dado algo que eu
sempre quis ter. Um irmão, que na
verdade é meu sobrinho. — Lembrei a
ela sem me conter.
— O que você queria que eu e seu
pai falasse Andrea? Nós somos os pais
de Otto e acabou. — Mamma disse com
firmeza e eu assinto.
— Eu realmente entendo isso,
entendo que vocês são os pais que Otto
ama e respeita. Não julgo o que fizeram,
mas espero que vocês saibam que um
dia Otto pode descobrir. — Falo
virando minha cabeça para olhar a rua.
— Você está dizendo que irá
contar a Otto? — Ela pergunta e eu olhei
para ela indignado.
— Não é meu segredo para
contar, Mamma. Só estou dizendo que a
verdade sempre aparece, nós querendo
ou não. — Falo desviando meus olhos
novamente.
— Seu pai sempre quis contar a
Otto, mas eu sempre evitei fazer isso. —
Confessou Mamma e eu assinto.
— Talvez seja hora de ver o que
pode ser melhor para Otto. Eu sei que
você e Papa fizeram e fazem de tudo por
ele, mas um dia ele vai deixar de ser
criança e a mentira dói mais quando não
existe mais inocência em nossas vidas.
— Falo com firmeza e ela assente
enxugando as lágrimas.
— Desculpe por mentir para
você. — Pediu Mamma e eu nego com a
cabeça.
— Você e Papa fazem o melhor, já
passei por muita coisa nessa vida para
ter que ficar julgando os outros. Mesmo
que sejam meus pais. — Dei um sorriso
amarelo para ela e desviei o olhar.
— Senhor! — Chamou Cyro e
foquei minha atenção nele.
— Sim Cyro? — Pergunto e vi
pelo retrovisor que sua expressão estava
rígida. — Está acontecendo algo?
— Estamos sendo seguidos
senhor. — Ele disse e eu assinto
rapidamente. Virei para minha mãe que
estava assustada.
— Não se preocupe mãe, Cyro
vai nos tirar disso. Não é verdade? —
Pergunto sentindo o carro ganhar mais e
mais velocidade.
— Andrea, o que está
acontecendo. Quem está nos seguindo?
— Minha mãe pergunta sem esconder o
seu medo. Olhei para Cyro e ele nega
com a cabeça sem saber quem é que está
fazendo isso.
— Não sabemos mãe, mas não se
preocupe porque logo iremos para casa.
— Falo com a voz firme e segurei sua
mão.
— Como estamos Cyro? Qual é o
carro? — Pergunto sem me dá ao
trabalho de virar a cabeça para olhar
pelo vidro traseiro.
-Oliver acabou de dizer que é um
Hummer preto, senhor. Ele está logo
atrás de nós, Oliver e eu estamos
tentando o despistar para levarmos você
é a senhora Giardino em segurança em
casa. — Cyro disse eu assinto sentindo a
mão trêmula e fria de minha mãe apertar
a minha com força.
— Tudo bem, nos tire daqui. —
Pedi a Cyro que assente e começou a
falar com Timóteo.
Foi aí que eu percebi que estava
em uma grande enrascada, mas não
porque tem um carro nos perseguindo e
sim porque se Cyro está em
comunicação com Enzo ele obviamente
vai saber o que está acontecendo. Meu
celular começar a tocar, mas eu ignoro a
ligação quando vejo o Hummer se
aproximar bastante de nós. Sei que o
SUV de Oliver está bem há nossa frente,
sendo assim estávamos com um pouco
de desvantagem. Cyro acelera mais o
carro e começa a fazer movimentos
arriscados na pista, fazendo
ultrapassagens muito perigosas e mesmo
assim o Hummer está na nossa cola.

— Senhor? — Olhei para Cyro e


ele me passou o celular sem olhar para
trás, muito focado na estrada. — Acho
que o senhor deve atender.
— Enzo? — Pergunto e Cyro
assente. Respirei fundo e olhei para o
celular.
— Oi amor. — Atendi mordendo
os lábios me preparando para o que vem
a seguir.
— Oi amor? Oi, porra, amor? É
tudo o que você tem a me dizer? Onde
você foi? Quem inferno está te
seguindo? — Enzo pergunta com raiva e
posso ouvir sua respiração ofegante do
outro lado da linha.
— Eu obviamente não sei quem
está me seguindo Enzo. Podemos falar
quando eu chegar em casa? — Pergunto
e ele soltou um grunhido.
— Não porra! Não desligue a
essa maldita ligação. — Enzo disse
entre dentes.
— Amor, por favor, não fique
assim. Logo estou chegando em casa. —
Falo em um tom calmo tentando o
acalmar também.
— Claro que você vai estar em
casa, estou mandando reforços agora
mesmo. Nenhum filho da puta vai tirar
você de mim, Andrea. — Dei um
pequeno sorriso ao ouvir o que ele
acabou de me dizer.
— Sim? — Pergunto e olhei para
trás, mas nenhum sinal do Hummer.
— Claro, porra! Nada mais
acontece com você, jamais vou permitir
Anjo. — Enzo disse entre dentes.
— Nossos homens estão
chegando, senhor. — Cyro disse e eu
olhei para trás vendo mais carros se
aproximando. E novamente sem nenhum
sinal do Hummer de antes.
— Ótimo, então vamos para casa.
— Falo soltando um suspiro.
Não demorou muito e já estamos
entrando na garagem do nosso prédio,
antes que eu pudesse sair do carro a
porta foi aberta e Enzo me puxou para
fora me envolvendo em seus braços
fortes. Ele olhou para cada parte do me
corpo dizendo o quanto estava com
medo de que algo pudesse acontecer.
Tentei o máximo fazer com que ele se
acalmasse afirmando que eu estava bem
e que nada iria acontecer. Procurei por
minha mãe, mas ela não estava em lugar
nenhum. Timóteo disse que ela havia
pegado o elevador, sendo assim fiz Enzo
me soltar para que pudéssemos subir e
conversar com meus pais. Quando
cheguei em casa vejo meus pais
discutindo em um tom baixo.

— Ele sabe sobre Otto, Vicenzo.


— Mamma disse e Papa arregalou os
olhos.
— Mas como? — Papa pergunta e
eu fui me aproximando, Enzo tentou me
impedir, mas eu pedir para ele esperar
um momento.
— Lea me disse, Papa. — Falo
finalmente e Mamma olhou na minha
direção.
— Nós estamos indo para casa.
— Ela disse e eu a olhei sem entender.
— Tudo isso por que eu descobri
sobre Otto? — Pergunto e ela nega.
— Não, aqui está muito perigoso.
Agora mesmo fomos perseguidos de
carro, esse homem… Ele é perigoso. E
eu não posso deixar Otto perto dele. —
Ela falou com firmeza e saiu correndo
em direção as escadas.
— Andrea o que está
acontecendo? — Enzo me pergunta e eu
fiquei sem saber o que responder.
— Muitas coisas aconteceram
hoje Enzo, mas uma delas é que Otto é
filho de Maxim com Lea. — Falo me
sentindo muito cansado de repente.
— Mas o quê? Como? Que porra
é essa? Seus pais estão indo embora? —
Enzo pergunta tentando entender essa
merda toda.
— Parece que sim e eu não estou
impedindo-os. — Viro em direção ao
amor da minha vida, querendo muito
estar em seus braços. — Você pode, por
favor, mandar alguém levá-los em
segurança?
— Sim, claro anjo. — Enzo disse
rapidamente.
— Estarei no nosso quarto
esperando por você, lá eu te contarei
tudo o que aconteceu — falo e saio,
deixando Enzo para trás, na esperança
de que logo ele irá me encontrar.
Eu realmente só quero que isso
tudo acabe logo, preciso de um pouco de
paz.
ENZO AANDREOZZI

Vejo Andrea indo em direção ao


nosso quarto e fico parado sem saber o
que fazer. Tento entender o que está
acontecendo, mas nada está muito
organizado na minha mente. Acho que
tinha ouvido que Otto é filho do Maxim
e da louca da irmã de Andrea. Foda-se!
Que merda é essa? Minha maior vontade
é largar tudo e ir conversar com o meu
anjo, a expressão do seu rosto foi de
pura tristeza e tudo o que eu quero agora
é colocá-lo no meu colo e dizer que tudo
iria ficar bem. Mas antes de fazer isso
vou até meus homens e peço para que
eles providenciem a ida dos meus
sogros. Ainda não entendi o que levou a
mãe de Andrea a querer ir embora
assim, sem mais nem menos. Eles
estavam indo tão bem, não faço ideia do
que se passa pela cabeça deles nesse
momento.
Cyro e Oliver me contam o que
aconteceu, eles disseram que um simples
Hummer os seguiram a todo momento
desde que Andrea tinha saído do lugar
com a sua mãe. Pergunto se conseguiram
ver quem estava no volante, mas os dois
negaram. Quando eu ouvi de Timóteo o
que estava acontecendo meu corpo
inteiro parou, eu só conseguia pensar
que Andrea estava sendo tirado de mim
novamente. Foi um puta alívio quando vi
o nosso carro chegando na garagem,
tudo o que eu mais queria era sentir seu
corpo e ver que estava tudo bem. Tenho
tanto medo de perdê-lo que chega a ser
uma dor física, mas farei o possível para
protegê-lo. Vejo meus sogros e Otto
descendo as escadas trazendo suas
bagagens e os seguranças foram ajudá-
los.
— Os meus homens irão levá-los
em segurança. — Falo em um tom
neutro.
— Não tem por que se preocupar
conosco. — A mãe de Andrea disse,
mas seus olhos não encontraram os
meus.
— Sim, eu tenho. Vocês são os
pais do meu homem, sendo assim fazem
parte da família. — Fui curto e grosso e
vendo meu tom ela olhou em nossa
direção.
— Você deve estar pensando que
sou uma mãe muito egoísta. — A
senhora Giardino disse eu seu marido
segurou seu braço.
— Sílvia, por favor. — Ele disse
e ela não lhe deu ouvidos.
— Não posso deixar que esse
perigo chegue para Otto, ele é muito
novinho. — Ela disse passando a mão
na cabeça do garoto que estava com a
cabeça abaixada.
Posso entender o que ela quer
dizer, sempre pensamos na segurança
das crianças em primeiro lugar. Quando
meus irmãos e eu éramos pequenos era
muito complicado para Papa nos
proteger de tudo, principalmente da
Finastella. Mas acho que eles estão
cometendo um erro ao sair daqui, mas
não quero força nada a ninguém.
— Mamma eu não quero ir
embora. — Otto disse em um tom baixo,
chamando minha atenção.
— Não fale assim, você não está
com saudades de casa? — Pergunta ela
e ele se soltou dela e foi até o meu
sogro.
— Podemos vir novamente
depois, tudo bem assim? — O pai de
Andrea disse ao garoto que soltou um
suspiro.
— Sentirei saudades de meu
irmão e de Vik. — Otto disse e eu cerrei
os punhos.
— Respondendo sua pergunta
anterior senhora Giardino. — Tirei meus
olhos de Otto e olhei fixamente para a
mãe de Andrea. — Eu não tenho que
achar nada, tudo o que me importo na
verdade é com o bem-estar de Andrea.
— Isso em deixa realmente muito
aliviado, você irá cuidar dele? —
Vicenzo me pergunta e assinto.
— Com a minha vida. Nada irá
chegar até seu filho. — Respondo
diretamente e ele assente.
— Eu não queria que ele soubesse
dessa maneira, eu me sinto como se
tivesse traído ele. — Meu sogro disse e
eu assinto.
— Eu ainda não sei bem o que
está acontecendo, mas uma coisa eu sei.
Andrea é a pessoa mais forte que já vi
na vida e seja o que for ele vai superar.
E eu estarei ao seu lado. — Nesse
momento eu percebi que a mãe dele não
escondia o desconforto com as minhas
palavras.
— Eu só queria a família unida
novamente. — Murmurou ela e eu
revirei os olhos.
— Nós não podemos ter tudo o
que queremos. — Falo não quero mais
ficar nessa conversa, tudo o que quero é
ver meu anjo.
— Diga a ele que nós o amamos,
não somos perfeitos, mesmo assim nós o
amamos. — Vicenzo disse e sua esposa
assente.
— Ele sabe disso. — Falo e senti
um corpo pequeno abraçar minha
cintura. Olhei para baixo e vi Otto com
o rosto enterrado no meu paletó.
— Eu vou sentir sua falta também,
Enzo. — Isso fez meu coração apertar,
me livrei do seu aperto forte e agachei
na sua frente.
— Eu também vou garotinho, mas
sempre podemos ter um tempo para ver
a família. Não é verdade? — Ele
assente limpando os olhos. — Então
estamos acertados. — Baguncei os seus
cabelos e vi seu sorriso doce. Tão doce,
nada como seus pais biológicos, ainda
bem.
— Está tudo pronto senhor. —
Oliver disse e eu assinto.
— Espero que vocês façam uma
boa viagem. — Falo apertando a mão do
meu sogro.
— Ligarei em breve. — Ele disse
e eu assinto.
A mãe de Andrea estava grudada
novamente em Otto, mesmo assim falou
comigo. Depois que eles foram embora
a primeira coisa que fiz foi correr para o
meu quarto, eu precisava ver o meu anjo
com urgência. Parei na porta do quarto e
fiquei surpreso com a visão na minha
frente. Andrea estava sentado no chão,
sem camisa, com um tapete estendido na
sua frente, nesse tapete estavam todas as
suas facas, adagas e punhais. Mas a
minha surpresa não foi essa e sim o
modo de pura concentração que ele se
encontrava, amolando suas facas como
se estivesse em transe. Nunca tinha o
visto dessa maneira, nunca o vi com uma
expressão tão pacífica. Isso é
assustador, assustador porque eu não
tenho noção do que está passando pela
sua cabeça agora. Jurei que iria
encontrá-lo na cama chorando, não sei,
mas o que estou vendo aqui com certeza
nunca passou pela minha cabeça.
— Elas já foram? — Andrea
pergunta sem tirar seus olhos do que
estava fazendo.
— Sim, eles acabaram de sair. –
Respondo quase hipnotizado.
— Sinto muito se estou fazendo
uma bagunça no quarto, mas eu
precisava relaxar minha mente. —
Andrea disse em um tom baixo.
— Não tem o que se preocupar,
anjo. Você está bem? — Pergunto e ele
nega.
— Não, amor, eu não estou nada
bem. — Disse ele de modo simples e
isso apertou meu coração.
— Quer conversar? Estou aqui
por você. — Falo e ele respirou fundo.
— Sim, quero conversar. É tão
bom ter você por mim. — Andrea disse
e continuou a passar calmamente a
lâmina da faca na grande pedra de
amolar.
— Por que você nunca fez isso
antes? – Minha pergunta foi o suficiente
para fazer Andrea parar e olhar na
minha direção.
— Não sei, meu mestre dizia que
fazer isso ajudava a acalmar a mente. E
acho que não precisei disso até agora.
— Andrea disse dando de ombros.
— Vem cá anjo! — Chamei e ele
se levantou rapidamente do chão vindo
correndo até mim. O embalei nos meus
braços cheirando sua cabeça logo em
seguida.
— Eu pensei que poderia ser o
bastante para eles, mas acho que não sou
bom o bastante. — Andrea disse, eu o
afastei do meu corpo e o fiz olhar nos
meus olhos.
— Não diga algo assim, você
sempre vai ser bom o bastante para o
quem quer que seja. — Falo de forma
dura para que ele entenda.
— Eu realmente posso entender
por que eles não querem que Otto sabia
que é filho de Lea, mas esconder isso de
mim por todo esse tempo é um pouco
difícil de engolir. Estou errado em
pensar assim? — Ele me pergunta e vi
nos seus olhos o desespero.
— Claro que não Andrea, tenho
certeza de que você está pensando em
Viktor. — Falo e ele soltou uma forte
respiração.
— Sim, meu menino esteve com o
irmão todo esse tempo e nenhum deles
sabia o que um significativa para o
outro. — Andrea disse negando com a
cabeça.
— Isso ainda é meio que surreal
para mim. — Engoli em seco por pensar
em Otto sendo filho de Maxim.
— Entendo perfeitamente o que
você quer dizer. — Falou ele e nos
sentamos na cama. — Vou te contar tudo
o que aconteceu.
Foi aí que ele começou a me dizer
que tinha pedido a Cyro para vigiar sua
mãe, porque ele estava sentindo que ela
estava estranha e sempre fazia questão
de falar algo sobre Lea. Claro que não
gostei de ouvir isso, não gostei da
possibilidade de Andrea não querer ou
confiar em mim para falar sobre essas
coisas. Acho que fui muito transparente
com o que estava sentindo, por que ele
tratou logo de dizer que queria me
contar, mas como os acontecimentos ele
acabou esquecendo. Relaxei um pouco,
mas não totalmente e continuei a ouvi-lo
falar sobre o encontro com Lea e sua
mãe. Ainda não consigo entender como
sua irmã pode o odiar tanto, as coisas
que ela disse a ele me deixaram muito
irritado. Andrea me revelou como o
afastamento dos pais, com medo pela
segurança de Otto, o deixou muito
infeliz, e eu posso entender a sua
infelicidade. Mesmo com o alvo sobre
nossas cabeças a segurança das pessoas
que amamos vem em primeiro lugar e
jamais iríamos deixar que algo
acontecesse com Otto.
— Sei que foi difícil para você,
anjo. Não podemos esquecer que hoje
também tinha um carro te perseguindo.
— Falo após Andrea expor todo o seu
pensamento.
— Sim, mas eu não faço ideia de
quem é. — Falou ele e eu arquei a
sobrancelha.
— Você e eu sabemos muito bem
que poderia ser, anjo. Ele não iria
deixar de retaliar ou quer você de volta.
— O lembrei rangendo os dentes. —
Não vou deixar esse filho da puta tirar
você de mim.
— Enzo, se acalme, nada vai
acontecer. Podemos nos proteger contra
seus ataques. — Andrea disse tentando
me acalmar.
— Sempre podemos lutar meu
anjo, mas só de pensar na
possibilidade… — Parei de falar
quando a boca de Andrea se encontrou
com a minha.
— Sabe o que vamos fazer? —
Ele pergunta com a sua boca colada na
minha e eu nego rapidamente. — Vamos
viver nossas vidas, Enzo. Se meus pais
decidiram ir embora, tudo bem. Depois
podemos conversar e nos acertar, mas
agora tudo o que quero é não pensar em
nada mais. — Finalizou Andrea é em
seguida avançou em um doce beijo.
— Podemos fazer isso, anjo. —
Murmurei e voltamos a nos beijar.
— Vou fazer um almoço para nós
três, vou conversar com Viktor sobre a
partida de Otto e meus pais. — Andrea
disse mordendo os lábios.
— Você vai dizer a Viktor sobre
Otto ser seu irmão? — Pergunto curioso
e ele nega.
— Ainda não, mas acho que uma
hora isso vai ter que acontecer. Não sei
como meus pais vão proceder com Otto,
mas o meu… nosso garoto tem direito de
saber. — Andrea disse com a decisão
estampada no rosto.
— O que você decidir eu estarei
junto contigo quando chegar a hora. —
Falo e ele deu um sorriso pequeno.

Quase uma semana se passou


desde o dia que os pais de Andrea foram
embora e até hoje não conseguimos
entrar em contato com eles, Andrea está
preocupado com a possibilidade de que
eles cortarem os laços com ele
novamente. Mas sinto que não é isso,
algo está me dizendo que não é bem
assim e eu respeito muito meu sexto
sentido. Conversei com meu pai e meus
irmãos sobre tudo o que aconteceu e
eles concordaram comigo em aumentar
ainda mais a segurança, principalmente
a de Andrea e Viktor. E é claro que ele
não gostou muito disso, mas não há nada
que me faça facilitar que esse russo filho
da puta leve o meu anjo de mim
novamente. Algo não está bem e eu não
sou fácil de me enganar com relação a
isso. Mandei hoje alguns dos meus
homens averiguar se os pais de Andrea
estão bem ou se é como Andrea pensa
realmente.
Agora estou na empresa tendo que
resolver algumas coisas com relação a
todas as obras sendo efetuadas para
Eros. O grego apesar de estar um pouco
afastado continua a insistir em que
Andrea e eu fossemos passar uma
temporada por lá. Comecei a pensar
nessa hipótese, mas com tudo
acontecendo prefiro esperar um pouco
antes de me aventurar em uma viagem
com Vik e Andrea. Muitas coisas
aconteceram durante essa semana, como
por exemplo a ligação do detetive
Moretti informando que minha ex-
secretária havia sido encontrada morta
na cela em que estava. Saber disso me
deixou muito transtornado e comecei
novamente a questionar sobre o trabalho
da polícia, mas Nardelli tomou a frente
sobre todo o caso e disse que logo me
daria um aval de toda essa merda.
Só de lembrar disso meu sangue
ferve e balanço a cabeça tentando
dispersar esses pensamentos da minha
cabeça. Não gostei de saber sobre a
morte da senhorita Roccato, justamente
porque eu sabia que ela estava
escondendo alguma coisa. Estou me
sentindo tão sobrecarregado, mas não
cheguei a falar isso com ninguém. Mas
por mais que eu não tenha dito nada,
meus irmãos estão vindo para cá. É
engraçado como nós quatro sentimos
quando um de nós precisa do outro. E
mesmo silenciosamente eu só tenho a
agradecer por isso. Durante a semana
inteira Andrea treinou como se não
houvesse amanhã, fiquei fascinado com
cada movimento seu que estava dando
muito trabalho a Cyro de acompanhar.
Meu anjo está descarregando suas
frustrações nos seus treinamentos e até
Viktor está indo junto com o seu pai.
Sinto meu celular tocar, olho para a tela
e vejo o nome de Lucca.
— Por que você está me ligando?
— Pergunto assim que atendi a ligação.
— É assim que fala com o seu
lindo irmãozinho? — Lucca disse e eu
revirei os olhos.
— Você não deveria estar em um
avião seu lesado? — Pergunto tentando
me situar com os papéis na minha mesa,
ficar sem secretária não é coisa boa.
— Eu acabei de chegar, estou aqui
no seu apartamento com Andrea. —
Lucca responde e isso me deixou
bastante surpreso.
— Pensei que você estaria
chegando à noite. — Falo e ele soltou
um suspiro.
— O que posso fazer se nasci
prematuro. — Lucca disse e eu soltei um
bufo.
— Você não nasceu prematuro
Lucca. — Lembrei tentando não rir das
suas maluquices.
— Que seja, é um modo de dizer
que sou ansioso. — Lucca disse e ouvi
uma briga do outro lado da linha. — Sai
daqui Luna, eu não vou te dar meu
celular.
Porra, me deixa falar com Zuco.
— Luna disse com um grunhido.
— Vou dizer a Babo que sua boca
anda muito suja. — Lucca brincou com
nossa irmã e ouvi um barulho de estalo
de tapa. — Isso foi sorellina!
— Zuco! Zuco! — Luna disse
apressadamente.
— Luna, eu estou te ouvindo. Às
vezes acho que você e Lucca nunca vão
crescer. — Resmunguei apertando meus
olhos.
— Fale isso por Lucca, ele é um
idiota. — Disse ela respirando com
dificuldade.
— Não me diga que você está
correndo de Lucca com o celular dele.
— Eu poderia rir se não achasse isso
trágico.
— Como você sabe? — Ela
pergunta rindo.
— Porque eu os conheço. — Falo
simplesmente e ela riu mais ainda. —
Por que ligou sorellina?
— Liguei para pedir que você
traga pizza para o jantar. — Luan disse e
eu franzi o cenho.
— Por que vocês não preparam
suas próprias pizzas? — Pergunto
curioso.
— Estamos em uma pequena
disputa no vídeo game. Na verdade, foi
Déa que pediu para você pegar, ele
disse que não ligou porque não quer
perder para Giovanna. Aqueles dois são
muito competitivos. — Luna disse como
se estivesse contando um segredo.
— Eu ouvi isso Luna, deixa eu
chutar o traseiro de Gio que nós
conversamos. — Andrea grita e eu não
pude deixar de sorrir.
— Vai sonhando com isso,
boneca! — Gio exclama em revolta.
— Vocês estão viciando o meu
namorado no vídeo game? — Pergunto
rindo, eu queria estar em casa agora.
— Longe disso, as coisas
começaram inocentemente e agora
estamos em uma bela disputa. — Luna
disse com desdém.
— Pode deixar que vou comprar
as pizzas e levar para vocês. — Falo
por fim e minha irmã fez um som
confirmando.
Desliguei a ligação e voltei a
trabalhar, mas a minha cabeça estava na
bagunça que deve estar acontecendo no
meu apartamento. Comecei a me
perguntar por que eu não estou lá e
decidi mandar o trabalho ir para o
inferno e arrumei minhas coisas.
Informei a Timóteo que estaríamos
saindo daqui em poucos minutos. Liguei
para a pizzaria que tanto gosto e
encomendei algumas pizzas que sei que
todos gostam. Quando eu estava saindo
do escritório com Timóteo na minha
cola recebo outro telefonema.
— Aandreozzi. — Disse sem
olhar para o número na tela.
— Senhor, estamos na casa dos
seus sogros. — Reconheci a voz de
Edgar, um dia homens que trabalham
para mim.
— Pode falar Edgar! — Mandei
em um tom firme.
— Algo não está bem senhor, a
casa está toda escura e não há ninguém
no local. — Edgar disse e eu cerrei os
punhos.
— Você tem certeza disso? —
Pergunto entre dentes.
— Sim senhor, não há ninguém
aqui. — Edgar isso eu apertei o celular
com força.
— Tudo bem, volte para cá
imediatamente. Vou precisar de todos os
homens aqui. — Dei a ordem e não
esperei ele responder.
Avisei a Timóteo o que estava
acontecendo e pedi para ele reunir todo
os homens e esperar por minhas ordens.
Não sei como vou falar isso com
Andrea, só espero que ele não sinta
culpado por o que quer que tenha
acontecido com seus pais. Inferno! Sei
que isso tem dedo de Maxim, mas como
ele chegou até os pais de Andrea? Esse
russo estúpido sabe muito bem como
mexer com Andrea, parece que ele gosta
de ter o poder sobre a destruição das
pessoas e uma dessas pessoas é Andrea.
Meus pensamentos são interrompidos
quando ouço som de carros freando na
garagem da empresa. Tudo aconteceu
muito rápido e vejo vários homens saem
de SUVS com armas pesadas e abrem
fogo contra nós.
Corro para trás do carro na
intenção de me proteger da chuva de
balas. Ouço a voz de Timóteo pedindo
para que eu continue agachado, mas isso
não vai acontecer. Eu não vou me
esconder e deixar que esses putos
chegam até mim. Puxo minhas duas
armas do coldre e miro no primeiro
filho da puta que vejo. A quantidade de
meus homens é muito inferior, mesmo
assim continuamos a atirar. Vejo alguns
dos meus seguranças caírem mortos no
chão e isso me incentiva ainda mais a
atirar nesses bastardos. A possibilidade
de uma luta corpo a corpo é muito
escassa, as suas armas são de alto
calibre impossibilitando a aproximação.
Tiro meu paletó para que assim eu tenha
mais mobilidade, troco o cartucho das
minhas armas e continuo a atirar e me
proteger com o carro.
— Eles são muitos, senhor, temos
que tirá-lo daqui. — Grita Timóteo por
cima do barulho ensurdecedor de tiros.
— Não sei se vai ser possível,
olha essa porra! Eles estão vindo com
tudo. — Grito de volta mirando em um
ruivo que segurava uma M16. – Morra
seu puto!
— Eu posso dar cobertura e o
senhor corre para o SUV do lado. —
Timóteo disse e eu nego.
— Não vou deixar vocês para
trás, não há garantia. — Falo atirando
com tudo que há em mim.
— Temos que tentar senhor. —
Timóteo disse e eu pensei nessa
possibilidade.
— Sabemos que não vou
conseguir chegar naquele veículo antes
que eu seja atingido na cabeça — Falo
em sinal de frustração. Nessa hora
Timóteo se posicionou para atirar, mas
fomos surpreendidos com homens atrás
de nós. Levantei minha arma para atirar,
mas levei um tiro no ombro direito
deixando uma das minhas armas caírem.
Merda!
— Bros'te srazu, ya dumayu, vy
dolzhny prinyat' svoyu sud'bu. (Desista
de uma vez, acho que você deveria
aceitar seu destino.) — Uma voz falando
em russo falou e meu corpo ficou rígido.
— Isso não vai acontecer seu
bastardo. — Grito com ódio.
— Yesli ty khochesh' etogo,
otlichno so mnoy. (Se você quer assim,
tudo bem.) — A voz disse e vi o
momento em que seus homens
avançaram na minha direção.
Eu me esquivei e conseguir atirar
na sua cabeça, mesmo com a mão
esquerda. Mas eu estava perdendo
bastante sangue e meus reflexos
começaram a ficar mais lentos. Timóteo
também lutava ao meu lado e quando dei
por mim estava sendo jogando no chão.
Tentei me soltar de todas as maneiras,
mas os homens me seguraram com força.
Um loiro apareceu na minha linha de
visão, ele deu um sorriso cheio de
dentes e pressionou seu pé no meu
ferimento. Rangi os dentes para não
gritar e o filho da puta soltou uma risada
psicótica. O reconhecimento caiu em
mim rapidamente e eu arregalei os
olhos, eu sei quem é esse homem.
— Poka my ne vstretimsya. (Até
que enfim nos encontramos) — Maxim
disse e logo em seguida me deu um soco
na mandíbula, me fazendo ver a
escuridão.
Acordei desorientado sentindo um
jato forte de água na minha cara,
comecei a sufocar e tento passar a mão
no meu rosto para tirar a água dos meus
olhos, mas sinto minhas mãos presas em
grossas correntes ligadas ao teto.
Percebo que estou sem camisa, descalço
com meus pés fixo a uma grande poça
d'água. Meu braço dói como uma cadela
e faço de tudo para não demonstrar
fraqueza. Um riso chama minha atenção
e olho diretamente para Maxim, é um
pecado que Viktor pareça tanto
fisicamente com esse maldito.
— Eu estava ficando preocupado,
você não acordava. Sinto muito pela
hospitalidade. — O bastardo disse e
tudo o que queria era estar desamarrado
para socar sua cara.
— O que você quer seu filho da
puta? — Pergunto sem controlar meu
ódio.
— Eu quero muitas coisas para
falar a verdade. Mas agora quero
realmente fazer você pagar pela morte
de Fyodor, isso não pode ficar impune.
Eu perdi um homem leal, e ele fazia
parte da família Bratva. — Maxim disse
e eu cuspi no chão, mostrando o quanto
eu me importava com o fodido de
Fyodor.
— Aquela careca do caralho
recebeu o que merecia. — Disse dando
um sorriso frio.
— Isso foi rude de sua parte. —
Ele disse e fez sinal para os homens que
estavam na porta. — Traga-o para mim.
— O que você vai fazer? —
Nesse momento Timóteo apareceu todo
machucado e ensanguentado, sendo
arrastado por dois homens.
— Soube que esse é o seu homem
de confiança. Seu chefe de segurança,
estou certo? — Maxim disse segurando
os cabelos de Timóteo, puxando sua
cabeça para trás.
— Solte-o! Solte-o agora mesmo,
seu problema é comigo. — Grito
exasperado vendo o olhar de Timóteo
em mim. Eu sabia o que seus olhos
queriam dizer, mas eu nego com a
cabeça, controlando o grito que queria
sair de minha garganta.
— Foi uma honra trabalhar para o
senhor e sua família. — Timóteo disse e
eu comecei a gritar.
— Cale a boca Timóteo, esse
bastardo vai te soltar. — Falo tentando
me soltar das correntes.
— Eu não teria tanta certeza. —
Maxim pegou uma faca de caça e
apontou na minha direção. — Não leve
para o lado pessoal, eu tenho que
retaliar de vez em quando.
— Adeus senhor! — Nesse
momento Maxim passou a lâmina no
pescoço de Timóteo de forma lenta e
muito dolorosa. Vi o meu chefe de
segurança engasgar-se com seu próprio
sangue e cai morto aos meus pés.
— Seu bastardo! Eu vou matar
você! — Disse sentindo meu corpo
tremer de ódio.
— Não faça promessas que você
não pode cumprir. Ainda bem
começamos, sabia que fiquei um tempo
tendo que me curar por sua causa.
Aquele carro que me atropelou me
irritou bastante. — Maxim disse
negando com a cabeça.
— Eu deveria ter ficado e te
matado naquele dia, seu filho da puta.
Você tem que pagar por tudo que fez a
Andrea. — Falo cuspindo meu ódio.
— Foi até bom você ter falado da
minha pombinha. Ele tem um corpo de
matar, não é verdade? Me deixa duro só
de pensar. — Maxim me provocou e eu
tentei me soltar novamente das
correntes.
— Você pode fazer o que quiser
comigo, mas você nunca terá Andrea. —
Falo entre dentes e ele soltou uma
risada.
— É aí que você se engana. O que
será que minha pombinha vai achar se eu
disser que planejei um encontro em
família? — Maxim pergunta e a
realidade caiu em mim como uma pedra
gigante.
— A família de Andrea! Você está
com a família de Andrea! Onde eles
estão? O que você fez? — Pergunto meu
corpo ficando rígido.
— Eu? Eu não fiz nada, tudo isso
é culpa de Andrea. Ele não deveria ter
me deixado, ele é meu marido você
sabia? – Maxim disse em um tom de
surpresa fingida e eu grito em um tom
raivoso.
— Foi muito fácil ter sua atenção,
italiano. Eu tinha certeza de que quando
perseguisse o carro de Andrea você
estaria vulnerável. – Maxim disse em
um tom casual e eu cerrei os olhos.
— Então foi realmente você. –
Confirmo com um rosnado e ele assente
sorrindo friamente.
— Não foi exatamente eu, mas
Lea me ajudou com isso. É engraçado o
que uma mulher desesperada por um pau
pode fazer. – Tentei não parecer
surpreso quando ele falou o nome de
Lea e foquei em adquirir informações
sobre os pais de Andrea
— Onde eles estão? — Pergunto
em um tom sombrio.
— Não se preocupe com eles,
estão sendo bem recebidos. — A porta
se abriu novamente e a irmã de Andrea
entrou. Maxim estendeu a mão para a
vadia e ela veio de bom agrado. Cagna!
— Você conhece Lea, não
conhece? Você não sabe a minha
surpresa quando nos encontramos e ela
me fez algumas revelações. — Ele disse
dando um beijo nos lábios de Lea. —
Ela me confidenciou que tivemos um
filho, nunca imaginei ter outro filho além
de Viktor, então você ver a minha
surpresa. Diga a ele o que você e a
secretária dele são grandes amigas. —
Olhei para Lea sem entender.
— Foi você? — Pergunto sem
reconhecer minha voz. A vagabunda deu
de ombros como se não fosse nada.
— Sim, queria que a bicha do meu
irmão pensasse que você estava o
traindo. Não foi difícil manipular aquela
mulher, ela estava muito apaixonada. —
Lea disse olhando diretamente para
mim. – Foi uma pena que meu não deu
certo, Maxim me ajudou com a droga
por isso ela teve morrer.
— Eu e Andrea, nós nos amamos
demais para que uma coisa infantil
dessas funcionasse. – Falo de modo
relaxado para que eles vejam que não
fui afetado pelas suas revelações. Fiquei
sem ar quando senti um forte soco no
meu estômago.
— Minha pombinha não te ama.
— Maxim disse friamente e eu o olhei
nos olhos.
— É aí que você se engana, ele
me ama de uma maneira que você nunca
vai saber como é. — Falo e recebi mais
socos na minha barriga e rosto.
— Chega! É hora de fazer contato
com a única pessoa que falta para essa
reunião. — Maxim tirou um celular do
bolso externo no paletó e percebi que
era o meu celular.
— Não você não… — Parei de
falar quando ouvi a voz de Andrea pelo
alto falante.
— Oi amor, você está demorando
com nossa pizza. Algo aconteceu? Amor,
não diga que vai ficar até tarde na
empresa. — Meu coração gelou ao ouvir
a voz doce do meu anjo, falando comigo
com tanto amor e intimidade.
— Se eu soubesse que iria ser
recepcionado com tanto carinho, teria
ligado antes. — Maxim disse em um tom
doentio.
— Ma… Maxim? — Andrea
pergunta com a voz trêmula.
— Sentiu minha falta, golubushka?
— Maxim pergunta e isso foi o
suficiente para me preocupar com
Andrea.
Isso não pode estar acontecendo,
ele não pode fazer isso com Andrea. Só
espero que Andrea continue sendo forte,
porque não sei se tenho muito tempo.
Meu corpo está totalmente
paralisado, minha respiração está presa
na garganta e tenho certeza que estou
perto de ter um ataque de pânico. E tudo
isso está acontecendo desde o momento
que ouvi a voz de Maxim, vindo
diretamente do celular de Enzo. Como
isso é possível? Como esse homem
conseguiu o celular de Enzo? Minha
cabeça está tão confusa e eu não estou
conseguindo me concentrar no que ele
está falando. Engoli em seco e tento
fazer com que o meu corpo não entre em
colapso, preciso descobrir o que está
acontecendo e o mais importante de
qualquer coisa. Preciso saber se Enzo
está bem. Tento responder algo a
Maxim, mas a minha voz ainda não sai e
percebo que minhas mãos estão
tremendo muito. Vejo um movimento na
minha frente, percebi que Luna e Lucca
pairam na minha frente querendo saber o
que está acontecendo. Olho para eles e
nego com a cabeça afirmando que não é
Enzo, Luna faz sinal para que eu coloque
o celular no viva-voz. E assim faço, não
posso mais perder tempo.
— Golubushka? Será que eu
consegui deixá-lo sem voz? — Maxim
pergunta novamente com a voz de puro
sarcasmo.
— Maxim! — Falo dessa vez
entre dentes. — Por que você está com o
celular de Enzo? — Pergunto já
esperando pela resposta, mas ela é tão
óbvia que sinto meu intestino torcer.
— Engraçado você perguntar
minha pombinha, o italiano e eu estamos
tendo um grandioso bate papo. —
Maxim disse e eu fechei os olhos com
força.
— Você não fez isso! — Falo com
raiva e senti uma mão apertar meu
ombro. Olho para trás e vejo Luigi
assinto com a cabeça me dando força
para continuar.
— Claro que eu fiz, não duvide de
mim golubushka. — O doente de merda
teve a audácia de me repreender.
— Vamos cortar a merda, porra!
Solte Enzo, porque ele não tem nada a
ver com os nossos problemas. — Grito
exasperado e ouvi uma risada de
Maxim.
— Não seja um insolente! Ele
usou o seu corpo delicioso e nem ao
menos pediu permissão. Eu sou seu
marido e mereço o devido respeito. —
Maxim disse e eu tranquei os dentes.
Vejo Luna e Lucca no telefone
tentando não falar alto para não alertar
Maxim, dá para ver como os dois estão
frenéticos e muito irritados. Tenho
certeza de que eles já estão se
reorganizando para saber o que diabos
aconteceu com Enzo. Não consigo
entender os que eles estão falando, por
que toda a minha concentração está em
Maxim e em saber como vou tirar Enzo
dessa situação. Ele jamais deveria
passar por isso, o homem que amo não
deveria estar nas mãos de Maxim.
O problema desse russo psicótico
é comigo, eu o irritei e mexi com esse
doente. Cabe a mim tirar Enzo disso e
resolver toda essa merda. Jurei que não
me deixaria sentir mais medo, pensei
que ele já tinha feito tudo de ruim
comigo e que nada mais poderia me
deixar assustado. Mas…, mas pensar na
possibilidade de Enzo está nas mãos
desse louco é muito, muito assustador.
Chega de sentir medo! Esse é meu mais
novo lema, e não vou voltar atrás. Vou
tirar Enzo dessa situação e vou trazê-lo
para casa, nem que eu tenha que morrer
no processo.
— O que você quer, Maxim? O
que você quer para soltar Enzo? —
Pergunto com a voz neutra e apertei os
punhos com força.
— Oh! Isso é muito simples para
ser mais exato. — Maxim disse e ouvi
um barulho de corrente elétrica
acompanhado por um grito e esse grito
eu conheço bem. É Enzo, o meu Enzo!
— O que você está fazendo
porra? — A pergunta saiu como um grito
e a risada do filho da puta fez ver
vermelho.
— Nada demais. Enquanto
estamos nos acertando estou observando
meus homens brincarem com esse
italiano. — Maxim disse e minha pernas
fraquejaram.
— Diga o que você quer, diga e
eu vou fazer tudo o que você quiser. —
Falo e vi que os irmãos de Enzo
arregalaram os olhos e negar com a
cabeça. E os ignorei e voltei a minha
conversa com Maxim.
— Quero um encontro em família,
você nunca me apresentou seus pais. Por
isso resolvi fazer isso por mim mesmo.
— Ouvi isso me fez parar.
— O que você quer dizer? —
Pergunto atordoado.
— Seus pais também participaram
da nossa reunião, é claro, sendo assim o
único que falta é você. — Maxim disse
e minha cabeça girou com o que ele
acabou de dizer. Ele está com os meus
pais e Otto? Não, não é possível!
— Você está com os meus pais
também. — Confirmo e todos pararam
para me olhar.
— Sim, isso não é ótimo? —
Maxim falou satisfeito consigo mesmo.
— O que você quer que eu faça?
— Pergunto com a voz sem emoção.
— Andrea não! Não faça isso
porra! — Enzo grita e eu segurei meu
peito, tentando acalmar meu coração
dolorido. Assim que ele parou de gritar
eu ouvi outro som de corrente elétrica.
Deus, esse fodido está o machucando
muito.
— Muito simples golubushka.
Daqui a alguns minutos um carro está
esperando por você do outro lado da
rua. Essa vai ser sua carona até mim. —
Maxim disse com orgulho e eu ignorei
meu estômago embrulhando.
— Se eu fizer isso, você vai ter
que deixar Enzo e minha família ir. —
Falo na tentativa de negociar, mas se
conheço bem Maxim. Isso foi uma
tentativa em vão.
— Os termos poderão ser
acertados quando você chegar aqui. —
Maxim disse e eu assinto mesmo que ele
não pudesse ver.
— Farei isso. — Falo tentando
controlar minhas emoções borbulhantes.
— Venha sozinho golubushka,
qualquer sinal de que está sendo
seguido. A primeira coisa que farei é dá
um tiro na cabeça de seu amado
italianinho. — Maxim disse e desligou a
ligação logo em seguida.
— Você não vai fazer isso
sozinho! Enzo mataria a gente se nós
permitirmos isso. — Lucca disse com
irritação e eu nego seriamente.
— Não tem conversa Lucca, eu
estou fazendo isso. Ele tem Enzo e
minha família, eu não tenho escolha. —
Falo me sentindo derrotado por dentro,
mas não é hora para lamentação.
— É loucura e foda de perigoso
isso Andrea! — Lucca tentou novamente
e eu olhei nos olhos.
— Você sabe que não tem como
me convencer do contrário, não é
verdade? — Pergunto e vi seus ombros
caírem.
— Nós entendemos você Andrea,
nós queremos recuperar Enzo também.
Mas não podemos permitir que você se
ponha em perigo. — Luna disse e eu
passei a mão no rosto.
— Eu coloquei Enzo e meus pais
nessa situação e eu tenho que resolver.
— Falo exasperado e Luna segurou
meus ombros.
— Não diga um absurdo desses
porra! — Ela disse entre dentes e isso
me assustou. — Você não fez nada,
aquele fodido fez e não você. Se você
acha que vai estar sozinho nessa você
está totalmente enganado. — Nesse
momento a porta foi aberta e Filippo
entrou junto com Luti, as crianças, seus
pais e Nonna. Luti fala algo no ouvido
de Eduarda e ela assinto pegando Pietro
pela mão e saindo da sala correndo.
Eles sabem!
— Como essa merda aconteceu?
— Filippo pergunta entrega dentes e
Lucca responde.
— Os filhos da puta russos
armaram uma emboscada na garagem
subterrânea da empresa. Acabei de
saber. — Lucca disse levantando o
celular.
— Agora não é momento para
desespero, cada minuto conta e não
podemos perder tempo. — Luti disse e
meu sogro confirma.
— Temos um resgate para
planejar em pouco tempo e uns russos
para exterminar. Temos que ser rápidos.
— Luigi disse e Filippo passou a mão
na cabeça.
— Não vou deixar que nenhum
fodido fique vivo para contar história.
Eles têm que saber que mexeram a porra
da família errada. — Filippo disse e
percebi a fúria nos seus olhos.
— Tenho que trocar de roupa. —
Falo apressadamente olhando no
relógio. — Se vamos fazer isso, não
podemos esquecer que vou ser levado
daqui a poucos minutos.
— Como assim levado? — Nonna
pergunta e eu olhei nos seus olhos.
— Maxim quer que eu vá sozinho.
— Dei de ombros e ela cerrou os olhos
na minha direção. — Não me olhe
assim, você bem sabe que tenho que
fazer isso.
— Não sozinho, você tem essa
família inteira nas suas costas. — Nonna
disse e Arianna estava ao seu lado.
— Ninguém aqui é sozinho, somos
uma família para tudo e por tudo. —
Ariana falou com fervor e olhou para
seus filhos, os três assentiram sem
pestanejar.
— Não, nunca sozinho. — Falo
para eles e assim que eles assentiram eu
corri para a academia de Enzo. Posso
ouvi-los organizando um plano rápido,
mas eu tinha que agilizar o meu lado.
Cheguei na academia porque
sabia que ali teria tudo o que poderia
precisar. Paro quando vejo Cyro à minha
espera, nós não precisamos dizer nada
um com o outro por que sabemos o que
cada um está pensando nesse momento.
Ele está ao meu lado, ele vai me ajudar
com qualquer merda que eu jogar no seu
colo. E isso me faz perceber que esse
homem que me conhece há tão pouco
tempo, tem alguma fé em mim. E isso me
dar mais um pouco de força, força para
finalizar toda essa bagunça que Maxim
fez na minha vida.
Vou até os compartimentos na
academia e tiro de lá uma calça cargo
preta, que Enzo mandou fazer parecida
com a dele. Pego também uma camisa
cinza de manga comprida, mas antes de
colocá-la peço a Cyro que me ajude a
amarrar os suportes das facas nos meus
braços, peito e cintura. Foda-se se eu
não vou armado até os dentes!
Cyro me olha por um tempo e diz
que eles poderiam tirar minhas facas de
mim e sugeriu que eu colocasse minhas
facas Filipinas nas laterais de minhas
botas. Como elas são pequenas e
difíceis de serem detectadas, eles
poderiam deixar passar despercebido.
Gostei imediatamente da ideia e fiz o
que ele disse, terminei de amarrar as
botas de combate pretas e coloquei cada
Karambit em uma bota. Amarrei meus
cabelos em um coque samurai bem
apertado. Todo esse processo durou
poucos minutos e eu estava pronto para
sair e enfrentar o que quer que venha até
mim. Quando estava saindo da academia
vi Viktor encostado na parede com as
mãos no bolso. Fui até ele sem fazer
muito alarde e assim que nossos olhos
se encontraram vi medo cravado nele.
— Acho que não preciso
perguntar se você ouviu o que está
acontecendo, preciso? — Pergunto e ele
nega.
— Eu não consigo parar de me
sentir mal pelo o que está acontecendo
com Enzo. Eu queria poder… — Não o
deixei terminar a frase e o abracei forte,
sem saber se estava o consolando ou a
mim mesmo.
— Você não pode fazer nada, meu
menino. Você é apenas uma criança. —
Falo e ele deu um aperto forte na minha
camisa.
— Eu também sei lutar, papa. Eu
posso fazer algo. — Viktor disso com
determinação e isso cortou meu coração.
— Você pode fazer, mas nada que
possa te trazer algum perigo. — Falo e
ele me olhou com dúvida, respirei fundo
e continuei. — Tenho certeza de que
Nonna Arianna e Francesca vão precisar
de ajuda com os menores. Você pode
ajudar com isso, não pode? — Pergunto
e ele mordeu os lábios.
— Eu já matei antes, papa. Posso
fazer isso de novo, por Enzo. — Viktor
disse e eu segurei sua nuca em um aperto
forte e consolador.
— Você tem que ser criança, nada
de perigo para você Vik. Enzo me
mataria se algo lhe acontecesse. — Falo
e ele deu um pequeno sorriso.
— É bom saber que mais alguém
se preocupa comigo. Eu nunca tive isso
vindo, além de você — Viktor disse e eu
respirei fundo.
— Sim meu menino, já deu para
perceber que Enzo ama você também,
assim como eu. — Falo e ele abaixou a
cabeça mordendo os lábios.
— Você vai trazê-lo para nós,
papa? — Vik pergunta e isso fez o meu
interior esquentar.
— Sim, farei o possível e o
impossível. Enzo nos pertence e seu
lugar é com a gente. — Disse com
determinação e dei um beijo na testa no
meu menino antes de voltar para a sala.
Pisquei quando vi movimento de
pessoas na minha sala de estar. Todos
estão trabalhando assiduamente para que
tudo saia bem e que possamos trazer
tanto Enzo quando minha família para
casa em segurança. Olhei para o relógio
e vi que ainda tinha poucos minutos,
percebi que as crianças estavam bem
longe de minhas vistas. Naturalmente
elas devem estar com Giovanna e
Arianna. Percebo que Nonna está em
uma discussão acalorada com Donatello,
porque ela também quer participar do
confronto, mas parece que ele está
inflexível. Os quatro “L” da família
Luigi, Luti, Luna e Lucca estão com
roupas trocadas, prontos para a luta e a
rapidez deles me deixa um pouco
surpreendido. Filippo está conversando
com Elijah, Alejandro, Christian e Cyro
que se juntou a eles. Nessa hora sinto
falta de Timóteo e espero que ele
estejam bem, assim como Enzo. Faço
uma oração silenciosa para todos
aguentem mais um pouco.
— Andrea! — Meu sogro chama
minha atenção e vem até mim com uma
maleta na mão.
— Senhor? — Pergunto e ele
coloca a mão no meu ombro.
— Sei que você está ficando sem
tempo, então vou ser rápido. — Disse
ele olhando nos meus olhos e vi seus
olhos azuis ficarem rígidos. — Você é
uma parte de minha família então eu não
poderia deixar de te dar isso. — Ele
passou a maleta para mim e eu olhei sem
entender.
— O que é isso? — Pergunto
curioso e ele me incentivou a abrir a
maleta. O que tinha dentro fez meus
olhos se arregalarem. Descansando no
suporte da maleta estão duas facas
Karambit é uma arma Glock de alto
calibre.
— Esse é um dos rituais de
passagem de cada um que entra nessa
família. — Ele disse com satisfação.
Tirei de dentro as duas facas Filipinas
totalmente negras, no cabo tem um
brasão com o A de Aandreozzi nele.
Muito lindas! Tenho certeza de que na
arma também tem o brasão. É uma pena
que estou sem tempo para olhá-las com
mais atenção.
— Estou sem palavras. — Falo
engolindo em seco.
— Não diga nada, só vá lá e nos
dê tempo para chegar até você. Não
vamos deixá-lo sozinho nisso. —
Donatello disse e eu assinto
rapidamente.
— Aqui Andrea! — Filippo veio
até mim com dois pequenos dispositivos
na mão.
— E isso o que é? — Pergunto
olhando para um ponto cor de pele e
outro de metal. O de metal parecia uma
pequena moeda, só que mais fino.
— Esse aqui é para nossa
comunicação, vamos estar todos ligados.
— Apontou para o dispositivo cor de
pele, que ele mesmo fez questão de
colocar no meu ouvido. — Esse aqui
você coloca no sapato, é um dispositivo
para rastrear.
— Às vezes acho que somos uns
bandos de espiões. — Luigi disse e Luti
confirma.
— Esses Aandreozzi ainda me
surpreendem. — Luti disse e eu não
pude deixar de concordar. Troquei as
facas que já estavam nas minhas botas
pelas as que Donatello me presenteou e
coloquei o dispositivo.
— Acho que estou pronto! —
Falo com firmeza e eles assentiram.
— Não esqueça que jamais
deixaremos você sozinho, estaremos
logo atrás de você. — Luna disse e eu
balancei a cabeça rapidamente.
— Vá pegá-los tigre! — Lucca
disse com firmeza e fui caminhando até
o elevador.
Minhas pernas estavam se
movendo sozinhas a partir do momento
que entrei no elevador. Não consigo
parar de pensar em tudo isso que está
acontecendo. Fico imaginando as coisas
grotescas que Maxim e seus homens
devem estar fazendo com meu Enzo e
isso é o suficiente para me fazer entrar
um colapso nervoso. Paro
instantaneamente e me dou um tapa no
rosto. Não! Não posso pensar que vou
encontrar o corpo frio e morto de Enzo
quando eu chegar lá, isso não é bom
para mim. Tenho que me concentrar em
todas as formas que eu poderia matar
Maxim. Sim, isso mesmo! Ele vai
morrer pelas minhas mãos, ele vai pagar
por tudo de ruim que fez na minha vida.
E principalmente ele vai pagar por
existir nesse mundo. Chegando no
saguão do prédio vejo três SUVs
esperando por mim estacionados do
outro lado da rua.
Respiro fundo com determinação
e vou até eles, antes que eu pudesse me
aproximar mais do carro alguns homens
armados saem. Eles olham por todos os
lados e me puxando em direção ao
carro. Cyro está certo, porque a
primeira coisa que eles fazem é me
revistar por completo. As facas que
estavam nos meus braços, peito, cintura
e até mesmo nas pernas são tiradas de
mim. Eles me olham com ódio e eu
somente dou de ombros, é melhor não
abrir a boca. Um capuz preto é colocado
na minha cabeça e sou jogando no carro
com muita força. Agradeço a Deus por
esses bastardos não serem inteligentes e
atentos o suficiente para olhar na minha
bota.
Não sei quanto tempo durou a
viagem porque não presto muito atenção
nesse tempo, minha cabeça está um
turbilhão, mas assim que o carro freia eu
sou puxado para fora. Eles me fazem
andar com o capuz ainda na cabeça,
tropeço algumas vezes e sou puxado
com brutalidade. Um deles diz: “Vamos
sua puta!” em russo e eu cerro meus
dentes.
Eles me fazem andar um pouco
mais e ouço uma porta de ferro ser
aberta. Nesse momento meu corpo
inteiro ficar rígido porque sei o que está
por vir. Sou empurrado mais uma vez
para andar, ando uns dez passos e sou
forçado a parar novamente, o capuz é
tirado da minha cabeça e pisco algumas
vezes para me acostumar com a forte luz
do lugar. Sinto um forte cheiro metálico
de sangue, suor e urina, a mistura
nauseante dos odores é tão forte que
ardem meu nariz. Meus olhos estão se
acostumando com toda essa claridade e
é nesse momento que ouço meu nome ser
chamado em forma de um sussurro
sofrido e minha cabeça se move
rapidamente porque reconheço a voz de
meu pai.
Fico horrorizado ao ver meu pai
segurar minha mãe e Otto nos seus
braços compridos e fortes, seu rosto tem
alguns hematomas que me faz cerrar os
punhos de raiva. Mamma e Otto
levantam a cabeça e choram ao me ver,
Otto tenta vir até mim, mas uma arma
paira sobre eles. Dou um passo para trás
ao ver quem está apontando a arma para
os meus pais. Nem em um milhão de
anos eu imaginaria que Lea poderia ter
coragem de fazer algo assim. Um forte
ódio me consome, tento ir em direção a
eles, mas os homens de Maxim me
impedem.
— Lea! Como você pode fazer
algo tão terrível com os nossos pais?
Você está louca sua vagabunda? —
Pergunto espumando de raiva, o seu
sorriso debochado me faz avançar
novamente, mas é impossível.
— Eu não posso ficar repetindo a
mesma coisa para sempre Andrea. Isso é
cansativo. — A vagabunda disse e eu
apertei os dentes.
— Você está apontando uma arma
para as duas pessoas que mais te amam
na vida. Sua fodida de merda! — Falo
ensandecido com a cena na minha frente.
— Eles não me amam, sendo
assim eu não me importo com o destino
deles. — Lea deu de ombros e eu daria
tudo para alcançar minha faca para
acertar no meio dos seus olhos.
— Não me importo com você ou
qualquer um deles. Meu desejo é matá-
lo, mas tenho certeza de que logo sua
hora vai chegar. — Lea disse e eu cerrei
os punhos, cravando ainda mais as unhas
na palma da minha mão.
— Lea, ainda há tempo para você
tirar nossos pais daqui. Olhei para Otto,
ele é seu filho. — Nessa hora Otto se
encolhe no colo do meu pai. O coitado
já deve estar sabendo dessa parte triste
de sua vida, pobre garoto.
— Cala a boca Andrea, sua voz
me irrita. Você deveria estar sofrendo,
eu fiz de tudo para ver você sofrer, mas
nada parece adiantar. — Lea disse
coçando a cabeça com a arma, andando
de um lado para outro. — Até aquela
imprestável da secretaria não serviu de
nada. — Isso chamou minha atenção.
— Foi você? — Pergunto sem
conseguir me conter. Agora tudo está
fazendo sentido, Lea estava ajudando
Maxim a foder com minha vida.
Desgraçada!
— Adoro uma boa briga familiar,
eu poderia ficar aqui olhando essa
infame discussão por um longo tempo.
Mas eu tenho outros planos. — A voz de
Maxim me fez desviar os olhos da louca
da minha irmã.
E foi nesse momento que olho na
sua direção, mas meus olhos não
estavam em Maxim e sim no corpo
estendido de Enzo. Oh meus Deus, Enzo!
Ele está desacordado, seus braços estão
puxados para cima com seus pulsos
presos por correntes presas no teto de
puro concreto. Seu corpo está muito
machucado, com pontos escuros de
queimadura e manchas roxas de
contusões. Sua cabeça está pendurada
para frente e vejo sangue por todo lado
do seu corpo, me sinto enojado com o
que vejo na minha frente. Passo os olhos
por todo seu corpo, procurando por mais
ferimentos, mas ele está com a sua
calça. A mesma calça que ajudei a
escolher hoje pela manhã. Seus pés
descalços estão nadando em uma poça
de sangue e é aí que me assusto.
Timóteo! Não, Deus não! Ele não está…
oh porra! Timóteo está morto aos pés de
Enzo.
— O QUE VOCÊ FEZ SEU
FILHO DA PUTA DOENTE! — Grito
tentando me soltar dos seus homens.
— Andrea! Andrea se acalme,
você tem que continuar calmo. Sabemos
da sua localização. — Ouço a voz forte
de Filippo saindo do dispositivo e
lembro que não estou sozinho.
— Ele matou Fyodor, só retribuir
o favor. Nada demais realmente. —
Maxim disse chutando o corpo de
Timóteo.
-Não faça isso, porra! Oh Deus
Timóteo! Por que você o matou? —
Disse sentindo meu sangue ferver.
Timóteo não merecia essa morte tão
cruel, Enzo não merecia ver essa cena
tão bárbara.
— Porra! — Ouvi algumas vozes
praguejar no meu ouvido.
— Solte Enzo Maxim! Eu estou
aqui, você conseguiu o que queria. Então
você pode soltá-lo. — Falo de modo
controlado tentando fazer com que ele
me ouça.
— Você realmente acha que vou
soltar o seu amante? — Sua risada
maligna fez meu intestino torcer. — Na
verdade eu te chamei aqui para se
despedir de todas essas pessoas.
— O que você quer dizer? —
Pergunto assustado.
— Sim, você tem que entender
que seu lugar não é aqui. Nada melhor
que corta os laços permanentes que te
prendem aqui, não é verdade? — Maxim
falou com um sorriso frio.
— Não! Deixe minha família fora
disso, seu filho da puta. Solte-os! Solte
todos eles e eu posso ir com você onde
você quiser. — Falo e nesse momento as
pálpebras de Enzo tremeram e ele abriu
os olhos inchados.
— Anjo! — Murmurou ele e meu
coração quebrou.
— Estou aqui amor, vou te tirar
aqui. Eu prometo. — Falo alto para
Enzo ouvir minha voz. Nesse momento
vi Maxim pegar um bastão de choque e
colocar na barriga de Enzo.
— Ah…! — Grita Enzo e seu
corpo começou a tremer.
— PARA! POR FAVOR, PARA
COM ISSO! VOCÊ VAI MATÁ-LO! —
Grito em fúria e consegui me soltar dos
homens. Quando eles fizeram menção de
vir até mim, eu joguei meu corpo de
lado chutando o primeiro homem na
mandíbula e o segundo veio até mim,
mas Maxim grita para seu capanga parar.
— Você não está permitindo falar
com esse italiano dessa maneira. Você é
meu! — Maxim disse com ódio e eu
engoli em seco vendo Enzo desmaiar
mais uma vez.
— Como assim Maxim? O que
você quer dizer com isso? — Lea disse
de forma histérica, não dei a ela um
segundo olhar porque eu estava
totalmente focado em Enzo.
— Será que você não percebeu
que somente te usei para que eu pudesse
ganhar tempo e jogar um pouco com a
minha pombinha. É tão difícil entender
isso? — Maxim informou a Lea com um
tom debochado.
— Você disse que me amava. —
Lea disse atordoada e eu poderia revirar
os olhos por causa da sua tolice.
— Só existe uma pessoa no meu
coração e esse alguém é a minha
pombinha. — Maxim responde
docemente para Lea e eu poderia
vomitar nesse momento.
— Então eu isso! Você me usou e
tudo por causa dessa bicha pervertida.
Você disse que ele tinha te seduzido e
que nunca tinha me esquecido. Nós
fizemos amor e você disse o quanto eu
era linda, que minha beleza era muito
superior a dele. — Lea disse com raiva
e isso foi o suficiente para fazer Maxim
rir.
— Tola! Foder eu fodo qualquer
um, não sou muito exigente. — Maxim
deu de ombros e nesse momento Lea
apontou a sua arma na minha direção.
Ótimo, agora ela quer me matar!
— Lea, eu não tenho nada a ver
com o que esse homem disse. Eu o odeio
com todo o meu ser, sendo assim eu
nunca poderia querer ficar com ele. —
Falo em um tom baixo levantando as
mãos.
— Você merece morrer, sua bicha!
Eu quero ver sua morte. — Lea disse
pronta para atirar, mas minha mãe grita
saindo do aperto de meu pai e parou na
frente de Lea, levando um tiro que veio
diretamente de Maxim. O russo doente
olhou para mim com um sorriso.
— Não foi minha culpa, ela veio
do nada. Eu não ia deixar sua irmã atirar
em você. — Maxim falou e olhei para
minha mãe que caiu com o lado direito
sangrando muito.
— Oh Deus Mamma! — Grito e
corri em direção a minha mãe caída no
chão.
— Você ia atirar em mim? — Lea
pergunta assustada a Maxim, mas meu
foco estava em minha mãe agora.
— Eu não poderia deixar ele
matar a minha filha. Ela pode ter
defeitos, mas ainda é minha filha. —
Minha mãe disse assustada e eu assinto.
— Pai, tire a camisa e faça
pressão aqui no ferimento. — Grito
exasperado para meu pai que estava
olhando vidrado para minha mãe. Otto
estava encolhido no chão sujo, seu
corpo pequeno não para de tremer.
— Sílvia! — Ele caiu em si e
veio ao seu socorro tirando a camisa e
fazendo o que mandei.
— Tudo por sua culpa! Tudo isso
é sua culpa! — Lea disse fervendo de
ódio. Só deu tempo de ouvir o som alto
de três tiros e Lea cair morta no chão.
— Isso já estava ficando chato. —
Maxim com desdém.
— Meu Deus, Lea! — Papai disse
em um choro sufocado e o pobre Otto
grita com medo e desespero.
— Vo… você a matou. —
Confirmo desviando a atenção do corpo
morto de Lea. Foram dois tiros no peito
e um certeiro na cabeça, seus olhos
estão abertos revelando o horror do
momento. E o mais triste disso tudo é
que não sinto nada com relação a sua
morte.
— Andrea, estamos nos
preparando para entrar. Em poucos
segundos estamos invadindo com tudo e
levando cada filho da puta que estiver
de pé. — Donatello disse e fechei os
olhos por um momento. A primeira coisa
que tenho que fazer é tirar Maxim de
perto de Enzo.
— Sabe Maxim, você realmente
não tem ideia do quanto eu tenho nojo de
você. — Falo deixando minha mãe aos
cuidados de meu pai e ficando de pé. —
Senti você tocando no meu corpo foi a
coisa mais nojenta e asquerosa que me
aconteceu.
— Cale a boca! Você está
esquecendo com quem está falando? —
Todo o traço de riso no rosto de Maxim
caiu e ele veio na minha direção.
— A cada vez que você falava
perto de mim e me chamava de
pombinha eu tinha vontade de cortar sua
língua fora. — Assim que ele chegou
mais perto me acertou um tapa no rosto
com as costas da mão.
— Eu vou ter que te ensinar
novamente a como ser dócil e obediente.
Assim que eu matar seus pais e aquele
ali, nós vamos embora para casa. —
Maxim disse segurando meu pescoço
com força, cortando totalmente o ar dos
meus pulmões.
— Vo… você pode tentar. — Falo
com dificuldade e um riso escapou de
mim. — Eu não sou mais sozinho
Maxim, você não vai poder mais tirar
nada de mim, muito menos o homem que
amo.
O lugar estremeceu por um
momento e barulhos altos de explosão e
tiros foi-se ouvido. Gritos e lamentamos
chegaram aos meus ouvidos, Maxim me
olhou sem entender por um breve
momento, até que a realidade caiu sobre
ele. Sim, filho da puta! A cavalaria está
chegando. Maxim puxou novamente sua
arma, mas eu fui mais rápido e comecei
a lutar com ele para tê-la. Consegui tirá-
la do seu poder exatamente quando dois
dos seus homens avançaram na minha
direção, levantei a arma e atirei sem
nem pensar. Assim que vi os corpos dos
homens baterem no chão, joguei a arma
o mais distante possível. Voltei minha
atenção a Maxim que está a indo até o
corpo desmaiado de Enzo. Não, você
não vai! Puxei minhas duas e novas
facas Karambit e corri para alcançá-lo.
Usei todo o peso do meu corpo para lhe
dar uma pesada no meio das costas, ele
caiu com um baque forte no chão.
— Você nunca mais vai me
ameaçar, ou a qualquer pessoa que me
importo e amo. — Falo em um tom frio
chutando sua cabeça com força.
— Senhor! — Cyro grita do outro
lado da porta e quando respondo ele a
derrubou. — Aqui! — Ele disse e jogou
meus dois punhais na minha direção.
Nossa sincronia é tão perfeita que os
cabos dos punhais caíram perfeitamente
na minha mão. Treinamos muito essa
pegada.
— Chame seus homens para
tirarem minha família e Enzo daqui. —
Terminei de falar e Filippo entrou
acompanhado de Lucca.
— Dio, Enzo! — Lucca disse em
um lamento e eles avançaram para tirar
Enzo das correntes.
— Puta merda, Timóteo! — Cyro
disse em um tom sentido.
— Vamos tirar a mãe de Andrea
daqui ela está sangrando muito. — Ouvi
a voz de Luna e agradeci a Deus por tê-
los aqui.
Fui surpreendido quando Maxim
se recuperou do chute que lhe dei, o
deixando totalmente atordoado. Ele
conseguiu me puxar com força o
suficiente para que meu corpo caísse no
chão. Não lhe dei tempo para se
vangloriar do que fez comigo e voltei a
ficar de pé e foi até que o nosso
confronto corpo a corpo se iniciou.
Como o corpo de Enzo estava sendo
removido das correntes, minha mãe
sendo levada juntamente com meu pai e
Otto. Eu foquei toda a minha atenção em
Maxim, ele conseguiu tirar os punhais de
minha mão no momento da queda. Todo
ou qualquer movimento do galpão
perderam totalmente meu foco, toda a
minha atenção estava em Maxim e na
minha sede de vingança. Ele conseguiu
me acertar alguns socos, que me fizeram
cambalear, vi no canto do olho alguém
tentar interferir, mas foi impedido. Me
recuperei rapidamente indo pegar meus
punhais, assim que os tive nas mãos
olhei para Maxim.
— Agora vou te mostrar o
verdadeiro monstro que você criou. —
Falo e o desgraçado riu.
— Vocês todos vão morrer, eu vou
matar cada um de vocês. — Maxim
disse ainda rindo.
— Às vezes é importante
perceber quando perdeu. — Falo e ele
fez um gesto de desdém.
— Você deveria ter visto como
esse italiano foi valente a cada vez que
eu eletrocutada seus miolos. Ou até
mesmo quando cortei a garganta do seu
homem de confiança. Aqui é olho por
olho. — Maxim disse e ouvi alguns sons
de desgosto.
— Anjo… Anjo… — A voz de
Enzo chamou minha atenção e meu
coração pulou na batida.
— Não vai ser dessa vez. – Falo
recuperando minha faca do bolso e
jogando na mão de Maxim quando
percebi que ele estava tentando pegar a
sua arma e apontar em direção a Enzo
que agora estava recebendo os
primeiros socorros por Filippo e Lucca.
Aproveitei essa distração e usei a
minha agilidade e baixa estatura para
chegar até a seus membros inferiores.
Posicionei os meus punhais e fui
cortando cada ligamento importante das
suas pernas, impossibilitando assim
qualquer movimento. Ainda insatisfeito
fui cortando cada fragmento de seu
corpo com pequenos cortes, os
grunhidos de dor que saiu de sua boca
eram como músicas para os meus
ouvidos. Cada corte era para retribuir
toda dor e sofrimento que esse filho da
puta me causou. Meu corpo trabalhava
sozinho e a cada vez mais eu me
contentava com o trabalho que eu estava
fazendo. Decidindo que era hora de
acabar de uma vez por todas com todo
esse sofrimento, joguei seu corpo
imóvel, mas ainda vivo no chão.
— Você está se divertindo,
golubushka? — Maxim pergunta em um
tom baixo e eu nego, me sentando em
seus quadris.
— Não, mas acho que posso ficar
satisfeito quando você finalmente
morrer. Mas antes leve tudo o que vou te
dizer para o inferno Maxim e lá tente
refletir tudo isso que ouvir saindo de
minha boca. – Falo aproximando meu
rosto ainda mais do seu. – Eu sou um
homem apaixonado e feliz, nada do que
você fez comigo durante esses anos vão
me impedir de continuar feliz e
apaixonado. O meu único agradecimento
a você é pelo meu filho Viktor e a
escuridão que você implantou em mim.
Porque essa escuridão é uma parte
importante de mim, parte essa que vou
usar sem restrição para salvar a minha
família e o homem que amo. Sendo
assim morra sabendo que o que você me
fez não vai mais me desestruturar. Adeus
Konstantinov! — Falo passando as duas
lâminas dos punhais no seu pescoço ao
mesmo tempo. E foi a sua vez de testar
como é engasgar-se com o seu próprio
sangue.
— Andrea, acabou filho. — A voz
de Donatello me fez tirar os olhos do
corpo morto de Maxim. — Enzo precisa
de você, ele disse que só sai desse lugar
com você. – Eu estava hipnotizado ao
ver a morte do homem que mais odeio
de perto e acordei imediatamente com o
que meu sogro acabou de falar.
— Enzo! Oh porra, Enzo amor. —
Levantei correndo largando tudo que
está em minha mão e fui até o meu amor.
— Anjo… — Sussurrou Enzo que
estava deitado no chão.
— Oi meu amor, estou aqui. —
Falo em um tom baixo passando a mão
nos seus cabelos molhados
— Você fez isso anjo, acabou! —
Enzo disse abrindo os olhos e eu só
pude ver orgulho estampado nele.
— Sim amor, estamos livres para
sermos felizes. — Falo sentindo a
realidade cair em mim, lágrimas de
felicidade e alívio molharam minha
face.
— Não querendo atrapalhar, mas
temos que levar Enzo para o hospital. —
Luna disse em uma voz chorosa.
— Espera! — Enzo disse tentando
segurar meu braço.
— Sim querido, estou te ouvindo.
— Falo e mesmo todo ferido eu pude
ver amor nos seus olhos.
— A muito tempo eu queria te
pedir uma coisa, mas passamos por tanta
coisa que a oportunidade fugiu, mas
quero que saiba que tinha feito todo um
planejamento para que tudo saísse com
perfeição. — Enzo falou devagar
molhando os lábios secos.
— Enzo podemos falar depois,
você tem que ir para o médico. — Tentei
e ele nega rapidamente.
— Cansei de esperar, cansei de
deixar que os outros fodam o meu
caminho. — Enzo disse com irritação e
logo seus olhos amolecerem. — Anjo,
eu amo muito você, nunca pensei que
poderia chegar a amar alguém do jeito
que te amo.
— Eu sei, eu também te amo,
Zuco. — Ele sorriu ao me ouvir chamá-
lo pelo seu apelido.
— Você aceita se casar comigo?
— Enzo pergunta e meus olhos se
arregalaram. — Se você não me disser
sim rapidamente eu posso sangrar até a
morte. — Um pânico caiu sobre mim e
eu confirmo rapidamente.
— Sim Enzo! Deus todo
poderoso, é claro que me caso com
você. Você é meu e eu sou seu. — Falo e
biquei meus lábios nos seus.
— Agora que meu anjo aceitou
ser meu marido, acho que vocês podem
me levar, preciso de alguns reparos. —
Enzo disse desmaiando logo em seguida.
— Inferno sim! Vamos tirá-los
daqui. — Filippo disse não escondendo
seu alívio.
— Seja mais uma vez muito bem-
vindo a família Aandreozzi, Andrea. —
Donatello disse enquanto eu observava
Filippo e Luigi levar Enzo desacordado,
Luigi e Luti seguiram o ajudando.
— Eu não poderia fazer parte de
família melhor. Obrigado. — Falo
olhando para todos eles com muito
carinho e admiração.
Antes de sair do local dei um
último olhar para o corpo morto de
Maxim. Enfim meu sofrimento realmente
acabou e eu não me sinto nem um pouco
culpado por tirar a vida de um bastardo
sem coração. Agora o que me resta é
cuidar do meu homem e seguir com a
nossa felicidade.
ENZO AANDREOZZI

— Você tem certeza de que


consegue se vestir sozinho? — Andrea
pergunta pela quinta vez e eu fiz de tudo
para não revirar meus olhos.
— Sim meu anjo, eu juro a você
que estou bem. — Falo de modo calmo e
ele mordeu os lábios.
— Sei que posso estar parecendo
um louco preocupado, mas eu não quero
que você se machuque. — Meu anjo
disse me fazendo dar um pequeno
sorriso
— Não irei me machucar, estou
bem realmente. — Falo e ele assente.
— Sei que você está querendo
muito sair do hospital, mas você teve
duas paradas cardíacas Enzo. Eu… eu
só… — Andrea fechou os olhos e eu
respirei fundo.
— Anjo, vem cá. — Chamei e ele
veio sem nem pestanejar. Mesmo com o
ombro imobilizado eu manobrei com
cuidado encaixando Andrea no meu
peito.
— Eu não quero que mais nada de
ruim aconteça com você, Zuco. Juro que
não estou tentando ser um louco
psicótico. — Disse ele com a voz
abafada pela roupa hospitalar.
— Entendo anjo, se as posições
fossem invertidas eu estaria da mesma
maneira, acho que até estaria pior. —
Enterrei meu rosto nos seus cabelos, me
deliciando com o seu perfume que tanto
me acalma.
— Eu não queria que nada disso
tivesse acontecido, me sinto tão culpado
por ter trazido Maxim para sua vida. —
Andrea disse e meu corpo ficou rígido
na mesma hora.
— Não diga besteiras! — Falo em
um tom profundo. — Você é a principal
vítima nessa história toda.
— Não consigo pensar dessa
maneira. — Murmurou Andrea e eu
apertei mais seu corpo ao meu.
— Pois deveria. Porra! Você
deveria e muito. Nada disso foi sua
culpa, você salvou a minha vida, você
lutou com aquele fodido por você, por
mim e por nós. — Falo entre dentes e
ele soltou um suspiro.
— Estou tão feliz que você está
bem, Zuco. — Ele disse e eu fechei os
olhos.
— Adoro quando me chama
assim, isso nos torna ainda mais íntimos.
— Confessei e ele levantou a cabeça
para me encarar, seu pequeno sorriso
aqueceu meu coração.
Durante uma fodida semana eu
estive aqui no hospital, sendo
monitorado dia a dia por Vitório e toda
a sua equipe. Parece que os ferimentos
que aquele russo filho da puta fez
comigo foi bem pior do que eu podia
imaginar. Lembro perfeitamente do dia
em que Andrea estava sobre o corpo de
Maxim, cortando sua garganta. Fecho
meus olhos e ainda posso ver
nitidamente a cena de desenrolar bem
diante dos meus olhos. Andrea estava
tão fodidamente incrível naquele
momento, tudo que eu conseguia pensar
era que meu anjo tinha vindo por mim,
que ele se tornou um homem forte e
feroz e estava se libertando dos seus
demônios. Aquilo foi de tirar o fôlego,
eu só poderia agradecer a Deus por
estar consciente para desfrutar daquele
momento. Mas o que eu não sabia era
que assim que fiquei inconsciente as
coisas não estariam tão bem com o
interior do meu corpo.
Não me lembro muito do que
aconteceu, fui informado por Vitório que
além de ter perdido sangue bastante
considerável, por causa da bala que
havia me atingido no braço, meu
coração não estava respondendo muito
bem. Ele afirma que a intensidade das
correntes elétricas no meu corpo
obstruiu alguns vasos sanguíneos que
mesmo pequenos foram suficientes para
me deixar muito fodido, claro que ele
não usou essas palavras, mas esse sou
eu e não vou ficar dosando palavras.
Tive duas paradas cardíacas e a segunda
foi o suficiente para que Vitório
pensasse que não voltaria a vida. Vitório
disse abertamente que foi um verdadeiro
milagre que eu não tive danos cerebrais
após a minha última parada, no qual
demorou alguns minutos para que eu
voltasse a vida. Depois de todo esse
martírio, quando eu finalmente acordei
após três dias minha família e Andrea
estavam lá por mim. Foi sufocante olhar
para eles e ver a dor e o medo de quase
me perder.
Nós, os Aandreozzi, estamos
acostumados a enfrentar inimigos, levar
tiros, proteger aqueles que amamos, mas
nunca e em hipótese alguma estamos
preparados para perder algum de nós.
Sendo assim foi nítido nas suas
expressões faciais o quanto todos eles
estavam se sentindo aliviados e
contentes por eu estar bem. Meu anjo
estava aos prantos, ele dizia o quanto me
amava e que ele iria me proteger do
mundo se assim fosse preciso. Achei
muito fofo e um pouco exagerado da sua
parte, mas se isso tirando a preocupação
de sua mente, então eu estaria aceitando
tudo. Falar em morte me faz lembrar
imediatamente da morte terrível que
Timóteo sofreu. Lembrar disso faz meu
corpo tremer de raiva e culpa, mas não é
esse sentimento que o meu chefe de
segurança precisa e sim da minha eterna
gratidão.
Timóteo estava ao meu lado por
mais de cinco anos, não posso negar a
confiança que eu havia depositado nele.
Ele era um bom homem e um
profissional fora do comum, sua morte
não é uma coisa aceitável para mim
ainda. Perder um bom homem daquela
maneira tão fria, foi incrivelmente
terrível de se ver. Timóteo, Elijah,
Christian e Alejandro começaram a
trabalhar para nós ao mesmo tempo, eles
serviram juntos e formaram uma
empresa especializada em segurança. E
assim que entrevistei Timóteo, sabia que
era ele que protegeria minhas costas,
não havia dúvida nisso. Mas agora ele
se foi e isso me deixa tão fodidamente
chateado que não sei realmente
expressar. Uma das primeiras coisas que
fiz quando me vi longe da inconsciência
foi pedir um enterro digno para ele, mas
assim que Elijah me confidenciou o
desejo de Timóteo por ser cremado me
fez relaxar um pouco. E como Timóteo
era órfã, os seus três amigos ficaram a
cargo de presta o último desejo ao meu
confiável chefe de segurança e amigo.
— O que tanto pensa, amor? —
Andrea pergunta em um tom baixo.
— Não morte de Timóteo, as suas
últimas palavras vão me assombrar para
sempre. — Murmurei e Andrea me deu
um beijo no maxilar.
— Entendo perfeitamente o quão
difícil isso tudo é. — Andrea disse em
um tom baixo e eu confirmo.
— Olhar diretamente nos seus
olhos e vê que ele estava honrado por
trabalhar comigo. Nossa, anjo… eu não
sei. — Falo entre dentes.
— Sei o que você está passando,
mas tenho certeza de que você vai
superar isso. Nós dois juntos vamos
poder superar tudo aquilo que aquele
maledetto causou. — Andrea disse com
firmeza e eu assinto a contragosto.
— Como está sua mãe? —
Pergunto mudando um pouco de assunto.
— Fisicamente ela está bem,
Vitório disse que foi a melhor coisa ela
ter vindo para o hospital rapidamente.
— Meu anjo disse e posso ver a tristeza
nos seus olhos.
— Tem um “mas” não é verdade?
— Pergunto vendo seus ombros caírem.
— Mas ela não está sabendo lidar
com a morte de Lea muito bem. A única
pessoa que ela realmente quer perto é
meu pai. Papai disse que ela se culpa
pela morte de Lea, ela acha que se fosse
uma boa mãe nada disso teria
acontecido. Tentei vê-la, mas achei
melhor não, quando ela estiver bem acho
que poderemos conversar. — Andrea
deu de ombros e eu quero a todo custo
tirar essa sua tristeza.
— Anjo, ela está de luto pela
filha, tenho certeza de que logo esse
afastamento vai passar. — Falo e ele
mordeu os lábios assentindo.
— Não consigo sentir nada com
relação a morte de Lea, mas sinto pelos
meus pais. — Ele disse me fazendo
passar a mão no seu rosto.
— Sua irmã escolheu esse
destino, anjo. – Falo e ele confirma.
— Não sei como uma pessoa
pode ser tão cega por um homem como
Maxim. Ela estava o ajudando, Enzo, e
nunca vamos saber por quanto tempo. —
Andrea falou com uma irritação.
— Não deixe isso vir até você,
anjo. Acabou! Eles não estão mais
vivos, acabou. — Puxei seu corpo
novamente juntando nossas bocas.
— Eu estou tão aliviado por causa
disso. — Ele murmurou com os nossos
lábios juntos.
— Eu sei, ainda não acredito que
você aceitou se casar comigo. —
Brinquei e ele mordeu meu lábio
inferior com força.
— Você praticamente me induziu a
dizer sim. — Disse ele rindo.
— Claro, anjo, um homem pode
usar as armas que for para que o amor
da sua vida aceite ser seu para sempre.
— Falo passando a língua pelos seus
lábios.
— Eu nunca diria não a você,
amor. Estamos ligados para sempre,
independentemente de qualquer coisa.
Eu sou seu! — Andrea disse e ouvi isso
me fez fechar os olhos em puro deleite.
— Estou louco para chegar em
casa para poder colocar a minha aliança
no seu dedo. Mostrar a todos esses
filhos da puta que você é meu. —
Murmurei avançando em um beijo
gostoso e feroz.
— Possessivo, hein? — Pergunta
Andrea rindo enquanto eu beijava seu
nariz.
— Por você? Você não faz ideia
do quanto. — Confirmo e ele afastou
nossos corpos.
— Eu também sou louco por você,
amor. Mas agora acho melhor você
trocar de roupa para irmos para casa. —
Andrea em lembrou e eu não estive mais
feliz em ouvir essas palavras.
Mesmo com todos os meus
protestos Andrea me ajudou a me vestir.
Não pude reclamar muito, pois eu estava
gostando bastante das mãos de meu anjo
em mim. Vitório apareceu para
confirmar a minha liberação no momento
que eu já estava totalmente vestido,
agradeci ao velho médico por salvar
minha vida e segui Andrea na intenção
de sair logo desse lugar. Odeio hospital,
mas parece que quanto mais eu odeio,
mais as minhas visitas a este maldito
lugar ficam mais frequentes. Espero que
agora eu e meu anjo possamos ter uma
vida tranquila, porque isso é tudo o que
mais quero nessa vida. Ao chegar ao
carro tive mais um reconhecimento que
não veria Timóteo, praguejei
mentalmente e cumprimentei Cyro e
Oliver. Preciso parar de pensar nisso e
seguir minha vida, mesmo sabendo que
ninguém conseguirá ocupar o lugar de
Timóteo na equipe.
Durante a viagem até em casa meu
celular tocou me surpreendendo, olhei
para tela e vi que era Nardelli que
estava ligando. Olhei para Andrea
tentando fazer como que ele me diga
para não atender o velho, mas quando o
meu anjo deu de ombros e me incentivou
a atender vi que eu estava sozinho nessa.
Como eu já poderia imaginar, Nardelli
não estava muito feliz com o
desenvolvimento das coisas com a máfia
russa, mas não era algo que eu poderia
fazer por ele. Babo disse que assim que
tinha me recuperando de Maxim ele
ligou para Nardelli para contar o que
aconteceu, parece que o meu velho
amigo não gostou de não está sendo o
último a saber. Mas Babo não comeu a
sua merda e afirma a ele que poderia
resolver tudo se assim ele continuasse a
ser um insignificante.
Nessa hora eu rir um pouco, já
que meu corpo doía como uma cadela,
mas agora Nardelli agradeceu dizendo
que estávamos realmente livres da
Bratva. Parece que nenhuma das
famílias tomará partido pela morte de
Konstantinov, a morte de Maxim ficou
por isso mesmo. O que é bom, já que
não queremos esses russos mais por
aqui. Saber disso só me deu mais alívio,
tanto porque Viktor e Andrea estavam
livres para seguir com suas vidas. Eles
já passaram por muito nesse país e eu
seria louco em deixar que eles
voltassem para ele lugar. Foda-se! Nem
por cima do meu cadáver. Tenho toda a
intenção de me casar com Andrea e
adotarmos Viktor como nosso. Assim
que terminei a ligação com Nardelli
percebi que tínhamos chegado em casa.
Não me surpreende ao ver toda minha
família a minha espera assim que as
portas do elevador se abriram.
— Já estávamos achando que
você estava gostando de ficar com a
equipe de Vitório. — Lucca disse em um
tom de deboche e Filippo lhe deu um
tapa trás da cabeça.
— Você estava aqui todo
preocupado querendo ir para o hospital,
para saber se Enzo estava bem. —
Filippo disse em um tom sério.
— Ei Ursão, você não estava
muito longe disso. — Luti disse e meu
irmão lhe lançou um olhar sujo.
— Bello! — Lippo disse entre
dentes, mas isso só fez Luti rir.
— Fico feliz que vocês me amem
tanto, estou realmente tocado. — Falo
no meu melhor tom fingido. André me
ajudou a chegar até o sofá e isso foi o
suficiente para Luna sentar-se ao meu
lado.
— Você está bem, Zuco? — Luna
pergunta apertando minha mão.
— Sim sorellina. — Disse
docemente para minha irmãzinha.
— Filippo, sugiro que você não
bata no meu marido. — Luigi disse com
uma carranca e Lucca, que estava sendo
acariciado pelo mostrou a língua para
Filippo que revirou os olhos.
— Controle esse bastardo da boca
grande então. — Filippo responde e vi
meu anjo rir.
— Sinto muito Luigi, mas acho
impossível alguém controlar Lucca. —
Andrea disse entrando na brincadeira e
eu não pude deixar de sorrir.
— Você está malditamente certo
anjo lindo. — Lucca piscou um olho e
isso foi o suficiente para me fazer
rosnar.
— Lucca! — Repreendeu Luigi
avançando sua boca na de meu irmão.
Isso rendeu uma careta enjoada minha,
de Lippo e Luna.
— Vão transar no quarto de
vocês! — A voz de Nonna não foi o
suficiente para fazer esse dois pararem
de se pegar. — Alguém me arrume uma
mangueira para tirar esses dois cães no
cio de perto um do outro. — Nonna
disse e todo mundo começou a rir
— Não há necessidade disso
Nonna. — Luigi disse indo em direção
de Nonna e lhe dando um beijo na
bochecha.
— Tão doce e tão safado esse
Lui. — Brincou Nonna batendo cílios.
— Você está bem, Zuco? —
Pergunta Nonna e eu assinto puxando
Andrea para meu colo. — Não quero
ver a bunda de nenhum de vocês
machucado por um longo tempo, estão
me ouvindo? — Todos nós assintamos
incapazes de dizer algo a Nonna.
— Ainda mais a bunda cabeluda e
encrenqueira de Ursão, não é mesmo
Nonna. — Eu disse rindo fazendo
Filippo me falou um olhar mortal.
— Bastardo! — Lippo disse entre
dentes.
— Sua bunda também não está
fora dos limites, Zuco. Ela é grande e
dura, uma verdadeira beleza de se ver.
— Olhei mortificado para minha avó.
— Tenho que concordar, uma
verdadeira beleza de se ver. — Andrea
disse fazendo todos rirem.
— Anjo! — Falo apertando seu
corpo no meu e isso foi o suficiente para
fazê-lo rir mais.
— Desculpe-me amor, mas só
confirmo o óbvio. — Disse Andrea e eu
nego com a cabeça.
— Onde estão as crianças? —
Nonna ia começar a dizer, mas Giovanna
apareceu carregando Isabel e as
crianças estavam vindo atrás dela.
Assim que elas me viram vieram saber
como eu estavam.
— Agora é hora de Bel ficar com
o tio Lippo, ela estava te chamando, meu
caro. — Giovanna colocou Isabel no
colo de Filippo e virou para mim. —
Que bom que você está bem Enzo.
— Obrigado Gio. — Agradeci a
ela e virei para as crianças que me
olharam com expectativa. — Podem
perguntar. — Falo rindo com seus olhos
curiosos.
— Vedade que o senhor bligou
com o homem mau? — Pergunta Pietro
pergunta e Andrea saiu do meu colo para
dar espaço para as crianças.
— Na verdade foi o seu tio Dea
que lutou com o homem mau. Você
precisava ver como ele é bom nisso. –
Contei apontando para Andrea e Pietro
olhou para Dea com admiração.
— Que legal! Tio Dea também é
um super helói. — Pietro disse e as
meninas soltaram um som de pura
frustração. Agora a atenção dele estava
em Andrea, ele se sentou no colo de
Andrea e os dois começam a conversar.
— Tio o senhor não pode se
machucar assim, sabe. Quem mais me
ajudaria com o meu dois pais? — Sam
pergunta com as duas mãos na cintura.
Fofa!
— Sinto muito marrentinha, sei
que sua vida sem mim não será possível.
— Falo levantando o punho para que ela
batesse e assim ela fez.
— Grazie a Dio! — Ela disse em
italiano me deixando surpreso. — Estou
aprendendo bem, não estou? — Pergunta
ela tentando piscar um olho, mas ela
meio que piscou os dois.
— Sim, eu só tenho sobrinhos
inteligentes. — Falo e olhei para Duda
que sorriu lindamente para mim.
— Eu como aprendi o italiano a
mais tempo ensino a Sam. Não é
verdade? — Ursinha pergunta a Sam que
confirma.
— Sim, quando não quer ser um
mandona é bom aprender contigo. —
Marrentinha disse e ursinha cerrou os
olhos na sua direção.
— Eu não sou mandona. —
Reclamou Duda e Sam revirou os olhos.
— Sim, sim certo. — Sam disse
com desdém e meu coração se encheu
mais de amor por elas. Olhei para trás e
lá estava Otto todo envergonhado.
— Otto! — Chamei e ele olhou na
minha direção. — Vem cá bambino. —
Andrea me disse que Otto estava muito
traumatizado com tudo o que aconteceu e
me corta o coração vê a tristeza no seu
rosto.
— Que bom que você está em
casa. — Otto disse em um tom baixo, ele
olhou diretamente para o chão e eu fiz
questão de levantar sua cabeça para que
ele olhasse nos meus olhos.
— Obrigado, Otto. — Falo e
passei a mão na sua cabeça. — Gostaria
de saber se você está gostando de estar
aqui. Sei que não é a mesma coisa que
estar em casa, mas saiba que aqui
também é sua casa, sua família. – Disse
com firmeza olhando nos seus olhos que
encheram de lágrimas não derramadas.
— Eu sei disso, mas ainda estou
triste por saber que sou filho de… que
não sou filho dos meus pais. — Otto
disse soltando um soluço, o puxei para
os meus braços.
— Não diga isso, doce criança.
Eles são sim seus pais, os pais não são
sempre perfeitos, nunca poderiam ser,
mas você é amado, sabia disso. Você vai
ficar aqui por um tempo e eu vou adorar
te ter por perto, vamos poder passar um
tempo juntos e você vai poder conhecer
Viktor um pouco mais. — Falo passando
a mão nas suas costas.
— Sim, eu gostei de saber que ele
é meu irmão. — Otto disse timidamente.
— Posso imaginar e vai ser bom
para vocês dois. Irmãos devem ser
sempre a âncora um do outro. — Falo
direcionando meus olhos para os meus
irmãos sentindo uma felicidade por tê-
los comigo.
— Sim, acho que isso vai ser
bom. — Otto disse com um pequeno
sorriso. Procurei Viktor por todo o lugar
e franzi o cenho.
— Onde está Viktor? — Pergunto
a Otto que mordeu os lábios.
— Ele preferiu ficar no quarto. —
Otto disse e vi os olhos de Andrea em
nós.
— Mas por quê? — Andrea
pergunta e Otto olhou para ele e depois
para mim.
— Não sei, mas acho que ele está
triste pelo o que aconteceu. Ele diz que
gostou de saber que somos irmãos, mas
ele está raiva e triste pelo o que
aconteceu com Enzo. — Revelou Otto e
vi Andrea começar a levantar, mas o
impedi.
— Tudo bem se eu for? —
Pergunto ao meu anjo que deu um
sorriso singelo e assente.
— Isso seria muito bom. —
Andrea disse calmamente e eu me
levantei do sofá.
Andei sem pressa e antes que eu
pudesse chegar até às escadas vi
Mamma me olhando com atenção. Ela
veio até mim, me deu um beijo maternal
e disse para fazer o que tinha que fazer.
Amo o modo como Mamma sabe as
coisas certas a se falar o tempo todo, ela
consegue enxergar tudo através de mim e
de meus irmãos. Espero do fundo do
meu coração que no futuro eu possa ser
assim com os meus filhos. Sim, filhos!
Porque eu quero ter uma grande família
com o meu anjo. Subir as escadas com
cautela e fui em direção até o quarto de
Vik. Não precisei bater, pois a porta
estava aberta e lá estava ele sentado na
cama, com as costas pressionadas na
cabeceira, com a cabeça baixa e
abraçando suas pernas. Quando ele
percebeu que não estava mais sozinho,
levantou a cabeça e nossos olhos se
encontraram.
— Posso entrar? — Pergunto após
um raspar de garganta.
— Enzo? Sim, claro. — A
surpresa na sua voz é nítida. Sentei-me
na cama e coloquei minha mão na sua
perna.
— Vai me dizer o que está
passando na sua cabeça? — Pergunto
diretamente em um tom baixo.
— Não tem nada. — Ele tentou se
esquivar, mas eu não estava aceitando
isso.
— Vamos Vik, você pode me falar
o que você quiser, estou aqui para te
ouvir. Me diga o que tanto te aflige. Eu
quero ser seu amigo. — Falo e ele me
olhou aflito.
— Você não deveria fazer algo
assim. — Sussurrou Viktor e eu o olhei
sem entender.
— O que você quer dizer? —
Pergunto já imaginando sua resposta.
— Você deveria me odiar! Eu sou
filho do homem que te causou dor, você
não deveria querer nada comigo. Na
verdade, você deveria me querer bem
longe. — Viktor disse entre dentes e
ouvi isso me cortou o coração em
fodidos pedaços.
— Isso jamais iria acontecer. —
Falo negando com a cabeça e ele
levantou a cabeça para me encarar.
— Mas como… Eu sou um
Konstantinov também. — Vi que ele
estava em ponto de chorar, então eu teria
que fazê-lo entender de uma vez por
todas.
— Não Viktor! Os erros e
maldades daquele homem nunca vão
refletir em você. Você não é filho
daquele homem, não você não é. E sabe
por? — Pergunto e seus lábios
inferiores começaram a tremer enquanto
ele negava.
— Net! (Não) — Ele disse de
modo rouco.
— Porque você é meu filho, se
assim que você me aceitar é claro. Eu
vou cuidar, te proteger e te amar de uma
maneira que você nunca foi amado.
Quero te dar meu nome, quero que você
se sinta orgulhoso por pertencer a essa
família. — Falo com firmeza sentindo a
emoção do momento me dominar.
— E eles vão me aceitar? — Ele
pergunta em tom baixo deixando
algumas lágrimas escaparem e eu sorri
segurando sua nuca.
— Você não percebeu, Vik?
Assim como eu, todos aqui já te
aceitaram como membro dessa família a
muito tempo. — Falo vendo-o quebrar
bem diante dos meus olhos.
— Eu quero isso, eu quero uma
família. Eu quero você e Papa. — Ele
disse com os punhos cerrados e eu o
puxei para um abraço, suas mãos
apertaram com força minha camisa.
— Vy uzhe moy syn, Viktor. (Você
já é meu filho, Viktor.) — Falo em russo
e seu corpo relaxou.
— Da! (Sim) — Confirma ele de
modo sério, mas choroso. Passei a mão
na sua cabeça, beijei sua testa e sorri
para ele.
— Bem, sugiro que você vá lavar
esse rosto e desça para comer com todo
mundo. Se sua avó te pegar desse jeito
vai achar que fiz algo e tenho certeza de
que ela vai remar no meu traseiro. —
Falo com o rosto sério e ele me deu um
pequeno sorriso.
— Babushka (vovó) dá medo. –
Confirma Viktor aquecendo meu
coração.
— Sim, sim então sugiro que vá
logo. — Falo e ele deu um pulo da
cama.
Observei Viktor correndo para
fora do quarto e soltei uma forte
respiração. Sei que temos ainda muito
chão pela frente, mas eu estou pronto
para quando ele se sentir realmente
parte de mim. Sei que tudo tem seu
tempo e nada me fará mais feliz quando
ele começar a me enxergar como pai.
Sei que a vida que ele teve não foi nada
fácil, mas eu adoraria mostrar um novo
mundo para ele, quero ser aquele que
ele vem pedir conselhos e reclamar
sobre suas amarguras. Nunca fui o
homem mais paciente do mundo, mas
por ele eu serei. Quero que ele me veja
como um amigo, amor não vem sob
pressão. Uma ideia me sugeriu e eu bate
as mãos no bolso da minha calça
pegando meu celular.
— Geia sou, den nomízate óti tha
me tilefonoúsate. (Olá, não imaginei que
estaria me ligando.) — Eros disse e
resistir a vontade de revirar os olhos.
— Como vai Eros? Gostaria de
saber se o convite para visitar as ilhas
gregas ainda está de pé. — Fui direto
porque realmente enrolação me irrita.
— Oh, isso é maravilhoso. É
claro que está de pé. Eros disse em um
tom leve.
— Então será que poderia ser
arranjado uma grande casa para mim e
minha família? — Pergunto já
imaginando a euforia de todos.
— Sua família? Pensei que seria
somente você e seu amado. — Eros
disse com cautela.
— Não, quero toda a família. Será
que pode ser arranjado? Minha família é
grande.
— Claro que sim, ficarei feliz em
hospedar vocês em minha ilha. — Ouvi
o riso na sua voz.
— Depois podemos nos acertar,
mas estaremos aí o quanto antes.
— Quanto isso fique
despreocupado, Enzo. Seja meu
convidado. A casa está livre para vocês.
— Eros disse e logo após desligamos a
ligação. Cheguei até a sala e vi que
todos estavam reunidos, fiz um barulho
com a garganta chamando a atenção de
todos.
— O que foi meu filho? — Meu
pai pergunta.
— O que vocês acham de passar
uns dias nas ilhas gregas? — Pergunto e
todos me olharam por um tempo.
— Acho que uma viagem será
muito bem-vinda depois de tudo isso. —
Mamma disse sorrindo e todos
concordaram.
— Maravilha! Nada melhor que a
Grécia para me tirar da miséria. Vamos
Lolo, vamos fazer as malas. — Nonna se
levantou com Lorenzo.
— Uma viagem? — Não percebi
Andrea se aproximando, mas ele já
estava rodeando os braços na minha
cintura.
— Sim anjo, você está
interessado a ver as melhores e mais
lindas ilhas do mundo? — Pergunta
olhando nos seus lindos olhos
sorridentes.
— Eu não poderia escolher lugar
melhor para estar. — Andrea disse e eu
colei nossos lábios.
No dia seguinte estávamos
desembarcando na Grécia, depois que
eu falo sobre a viagem todo mundo
começou a se organizar para que
pudéssemos sair de casa no mesmo dia,
na intenção de chegar o mais cedo
possível na Grécia. As crianças foram
as que mais ficaram empolgadas com
essa mudança de planos de última hora,
não pude deixar de sorrir com Sam e
Duda falando o quanto queria tomar
banho de mar, em Pietro dizendo que
ele, Otto e Vik iria jogar bola na areia.
Fomos surpreendidos com os
helicópteros que Eros disponibilizou
para nós, ele disse através de uma curta
ligação que para chegar até a ilha seria
muito necessário. E ele não estava
brincando, porque quando vimos lugar
de tirar o fôlego, meio escondido atrás
das colinas eu pude entender o que ele
queria dizer.
É incrível como Eros conseguiu
em tão pouco tempo acertar a nossa
vinda para cá, não posso negar como
esse lugar é fodidamente lindo. A casa é
enorme, arejada, com traços tradicionais
gregos, mostrando cada detalhe dessa
cultura tão rica e totalmente diferente da
minha. Nós instalamos após uma breve
refeição feita pelas funcionárias de Eros
e adormecemos para nós prepararmos
para o dia seguinte.
Acordei desorientado por estar
em um lugar diferente e procurei por
Andrea no outro lado a cama, mas seu
lugar estava frio. Prova que ele levantou
a um tempo. Ouvi risadas vindas do lado
de fora e sai da cama indo em direção a
grande janela que tinha no quarto. Lá
embaixo estava Andrea sorrindo
alegremente para as crianças que
corriam pela areia com os cachorros.
Amora, Loki e Kay se divertiam com as
crianças e Andrea olhava atentamente
para cada um deles. Se eu não já
soubesse que o amava a um tempo, hoje
eu teria a certeza.
Fiz minha higiene pessoal e fui até
minha mala pegar a caixinha onde
descansava o par de alianças. Dei um
pequeno sorriso e sair do quarto. Ao que
parece eu era o único que ainda estava
adormecido, Luti estava tentando fazer
meu marido mal-humorado sair para
caminhar na praia, Luigi e Lucca
estavam admirando a pequena Bel que
estava usando um biquíni igual ao da
mãe, Luna estava comendo uma torrada,
que fiz estão de passar por ela e roubar
o seu deleite. E é óbvio que isso irritou
minha sorellina, mas eu fiz minha melhor
cara de debilitado e ela bufou saindo de
perto de mim.
— Ainda acho que vocês nunca
vão crescer. — Mamma resmungou e
Babo deu uma risada curta.
— Você adora quando eles são
assim, Bel fiore. — Babo disse
carinhosamente e ela sorriu.
— Sim querido, eles são a melhor
parte de nós dois. — Mamma disse com
amor.
— Pode ter certeza disso, mio
amore. — Babo bicou seus lábios com o
de Mamma e isso aqueceu meu coração.
— Lorenzo, não me venha com
essa porcaria. — Nonna resmungou e
passou por mim pisando duro.
— France, você quer fazer topless
e isso não posso aceitar. — Lorenzo
reclamou e eu dei uma risadinha.
— Eu sou muito gostosa e meus
peitos nem são caídos para minha idade.
Sente só. — Nonna disse e eu saí pela
porta, não muito a fim de ver até onde
isso ia dar.
Passei os olhos pela ilha e vi o
meu anjo sentado na areia olhando para
a água. Daqui eu posso ver claramente
como ele está pensativo, mas totalmente
relaxado. Andrea sempre disse que a
praia o deixava calmo, que era a melhor
parte de morar em Riomaggiore e agora
eu posso ver perfeitamente o que ele
quis dizer, pois ele está com uma
expressão tão leve que faz meu coração
acelerar. Me aproximei com cautela
para não o assustar, assim que ele notou
minha presença me deu um lindo sorriso.
— Acordei sem você, não sei se
gosto disso. — Brinquei e ele me ajudou
a sentar para que ele pudesse se sentar
na minha frente.
— Sinto muito por isso, mas esse
lugar é tão fantástico que meio que
fiquei empolgado. — Se desculpou meu
anjo e isso me fez rir.
— Tudo bem anjo, só senti sua
falta. — Disse beijando sua cabeça.
— Você está bem amor? Seu
ombro está doendo muito? — Andrea
pergunta virando a cabeça para me olhar
com preocupação.
— Eu estou bem, então não se
preocupe muito, certo? — Ele soltou
uma respiração e se encostou em meu
peito.
— Isso é bom, é bom está aqui
com você e nossa família. — Andrea
disse e eu olhei para as crianças
brincando. Lembrei-me das nossas
alianças e tirei do bolso.
— Você esqueceu de algo na
minha mão. — Falo e Andrea me olhou
com confusão.
— E o que poderia ser? —
Pergunta e eu coloquei na sua frente a
caixinha aveludada. — Sério? — Seus
olhos se arregalaram e eu assinto.
— Abra e veja por si mesmo. —
Pedi e ele engoliu em seco. Andrea tirou
a caixinha da minha mão e assim que viu
o par de alianças olhou na minha
direção com carinho.
— São lindas, muito lindas. —
Ele tirou a aliança menor de ouro
branco, elas são lindas e se destacam
facilmente. — Não há como as pessoas
não saberem que eu fui verdadeiramente
tomado.
— Essa é a intenção, todo mundo
saberá que você pertence unicamente a
mim. — Peguei a aliança de sua mão e
coloque no seu dedo, dando um beijo
logo em seguida. Andrea pegou a minha
dentro da caixinha e fez o mesmo. —
Você é o meu para toda eternidade, anjo.
— Otets! (Pai) — Ouvir a voz de
Viktor e viramos para vê-lo sem camisa
na nossa frente. — Os meninos estão
ansiosos para ir para água, será que
posso levar? — Ele pergunta olhando
diretamente para mim e eu fiquei sem
reação.
— Ei amor, Vik está falando
contigo. — Andrea chamou minha
atenção sorrindo e isso me fez acordar.
Tenho que responder ao meu filho.
— Er… Claro filho, garanta que
vocês fiquem na nossa direção. — Falo
sentindo meu coração em um ritmo
acelerado.
— Diga isso a Sam, está muito
empolgada. Spasibo, otets! (Obrigado,
pai!) — E com isso ele saiu correndo
em direção aos outros. Fiquei o
observando como um falcão, não quero
que nada aconteça a ele.
— Eu sabia que ele só precisava
de tempo. Ele te ama, Enzo. — Andrea
disse beijando meus lábios com carinho.
— Eu não poderia amar vocês
dois mais do que já amo. — Confessei e
isso o deixou vermelho e esse tom
combina tão bem nele.
A confiança de Viktor e Andrea
tem mim me dar força para ser o melhor
para eles. Sempre.
Seis meses depois

Minha vida não poderia estar


mais corrida, são tantas coisas que tenho
que resolver que as vezes tenho a
impressão de que vou enlouquecer, mas
eu gosto de toda essa loucura.
Finalmente a boates está totalmente
reformada, a estrutura do lugar está tão
incrível, eu sabia que a empresa de meu
marido fazia um trabalho incrível, mas
eu não sabia do quanto. Ops! Eu não
cheguei a contar que Enzo e eu nos
casamos? Sinto muito, isso foi um erro
terrível. Três meses depois da nossa
incrível viagem em família na Grécia,
Nonna Francesca e Ariana fizeram todas
as preparações para o meu casamento
com Enzo. Não pude ficar mais feliz por
elas juntamente com minha mãe,
Giovanna, Luna e Amauri organizaram
toda a cerimônia. Foi tudo tão íntimo,
somente com nossas famílias e pouco
amigos, dizemos nossos votos e todas as
palavras foram ditas com muito amor,
mas esse foi o dia que me tornei Andrea
Giardino Aandreozzi. Sim, eu queria
deixar o meu sobrenome junto com o de
Enzo, meu nome é uma parte importante
de mim e não queria descartá-lo.
Falando em minha família, meus
pais continuam morando em
Riomaggiore vivendo suas vidas
tranquilas, tentei a todo custo persuadi-
los para ficarem aqui, mas eles negaram
qualquer oferta. Antes deles voltarem
para casa pudemos ter uma conversa
franca, onde Mamma se desculpou mais
uma vez comigo por tudo o que passei,
ela teve noção que a morte de Lea não
foi sua culpa e que os pais podem dar
amor e suporte, mas o caminho que os
filhos devem escolher cabe a eles e a
mais ninguém.
Tudo o que Lea fez foi porque
quis, tendo uma visão totalmente
distorcida da vida, assim Mamma e
Papa não tiverem qualquer
responsabilidade pelo seu
comportamento. Eles a amaram demais
isso é um fato, assim como sei que eles
também me amam e para mim isso é
mais que válido. A minha surpresa
maior nisso tudo foi que Otto quis ficar
comigo e Enzo, ele disse aos meus pais
que queria viver conosco, me deixando
muito emocionado.
Otto ficando aqui foi realmente
uma surpresa e uma surpresa muito bem-
vinda, nunca iria forçar nada com
relação a isso, mas eu já havia pensado
nisso a um tempo. Acho que assim como
Viktor, ele merece ter uma boa formação
escolar. Sendo assim matriculamos os
dois na escola que Enzo e seus irmãos
estudaram, o nome Aandreozzi pesou
muito e eles foram aceitos rapidamente
sem nos preocupar que estávamos no
meio do ano do ano letivo. Parece que
os dois gostaram do lugar e mesmo
Viktor nunca tendo estado em um colégio
antes, ele está se adaptando muito bem.
Viktor continua sendo um menino
calado, mas a tristeza e medo que ele
sempre mostrava, hoje em dia não existe
mais. Sua relação com sendo Enzo
cresceu de tal maneira que um não vive
longe do outro por muito tempo, tanto
que quando Otto vai final de semana
ficar com meus pais e Viktor vai junto,
Enzo está sempre no telefone com nosso
menino. Chega a ser engraçado às vezes,
mas amo-os muito para me perturbar ou
ter ciúmes.
— Senhor? O senhor vai querer
tomar café? — Ouvi Cecília falando
comigo e virei para encará-la.
— As crianças já desceram Ceci?
— Pergunto e ela nega.
— Não senhor. – Responde
prontamente e fixou seus olhos em mim.
– Não sei como agradecer ao senhor por
toda a ajuda com a minha família. —
Cecília agradeceu novamente e eu
revirei os olhos.
— Ceci, já conversamos sobre
isso. Então é melhor parar por aí, seu
marido precisa de trabalho e seus filhos
estudar. Não foi nada demais, realmente.
— Falo e ela me deu um sorriso tímido.
— O senhor realmente é o anjo
que o senhor Aandreozzi fala o tempo
todo. — Ele disse e isso me fez rir.
— Não leve a sério o que sai da
boca de Enzo, isso é só o amor falando
demais. — Pisquei um olho na sua
direção e ela riu baixinho.
Após meus sogros derem a mim e
a Enzo uma extravagante, mas muito
linda e clássica mansão de presente de
casamento, eu não poderia deixar
Cecília no cargo que estava. Um dia
antes de nossa mudança eu conversei
com Cecília de peito aberto e descobri
que mesmo com esse jeito dela tímido
de ser, ela é um doce de pessoa. Ao me
confidenciar os seus problemas
familiares, que se resumia a ter um
marido em reabilitação por ser um
viciado em jogos de azar, que não
conseguia emprego em lugar nenhum
pela sua fama. Conversei com Enzo e
decidi transformá-la em nossa
governanta e seu marido ficou
responsável pela manutenção do lugar.
Pedimos para que eles morassem em
uma pequena casa no fundo da
propriedade, junto com seus filhos que
estão estudando em uma boa escola.
Nossa relação com Cecília e Joseph, seu
marido, é muito confortável, pois eles
são uns bons funcionários.
— Papa! — Viktor desceu as
escadas e veio na minha direção.
— O que foi? Você e Otto não
estão atrasados para a aula não? —
Pergunto olhando meu relógio.
— Eu disse isso a Otto, mas ele
insiste em pegar o livro que dedushka
(vovô) Dom deu a ele. — Vik disse
seriamente e eu rir.
— Tenha paciência com seu
irmão, você sabe que ele não fica sem
seus livros. — Falo tentando ajeitar seu
cabelo, mas ele desviou.
— Não faz isso papa. E eu sei
como Otto é com seus livros. — Seus
lábios pressionaram em uma linha fina.
— Vem cá, você agora que está
perto de fazer 14 anos e está todo nessa
altura vai começar a dizer que está com
vergonha de mim? — Brinquei, mas vi
meu erro porque o corpo de Viktor ficou
rígido.
— Tenho orgulho de ser seu filho
e de otets. — Ele disse com nervosismo
e eu soltei um suspiro.
— Eu sei meu menino, eu estava
brincando. — Falo passando a mão no
seu peitoral.
— Tudo bem papa. — Murmurou
Vik e eu dei um pequeno sorriso para
ele.
— Ei vocês dois, o que fazem aí?
Filho, você não deveria estar na escola?
— Enzo apareceu vindo da direção do
seu escritório.
— Culpa de Otto, pai. Eu não
gosto de me atrasar. — Viktor disse
ouvimos passos corridos na escada.
— Não corra na escada, Otto! —
Enzo e eu dissemos ao mesmo tempo.
— Sinto muito Enzo e Dea. —
Otto teve a decência de parecer
envergonhado.
— Tudo bem garoto, mas não
corra para não se machucar. — Enzo
disse e Otto balançou a cabeça
confirmando.
— Podemos ir agora? — Viktor
pergunta a Otto que levantou o livro
mostrando ao irmão.
— Aqui, eu encontrei! — Otto
disse com um largo sorriso e Vik nega
com a cabeça.
— Eu vou levar vocês. — Enzo
disse aos meninos e voltou sua atenção
em mim. — Eu já estava a caminho da
empresa quando lembrei que tinha
esquecido uns documentos, mas agora
tenho que ir.
— Tudo bem, vamos almoçar
juntos hoje? — Pergunto passando a
mão na sua barba por fazer.
— Sim, e quando sair da empresa
vou ver a sua apresentação. — Enzo
disse e eu revirei os olhos.
— Você já me viu cantar muitas
vezes, Enzo. — Falo e ele bicou seus
lábios nos meus.
— Não importa é sempre bom ver
você em cima do palco, me deixa muito
orgulho e as pessoas ficam com muita
inveja de mim, porque só eu o tenho. —
Enzo sussurrou no meu ouvido e meu
corpo se arrepiou inteiro.
— Pai! — Viktor chamou da
entrada.
— Acho melhor você ir, nós
temos um adolescente muito pontual nas
nossas vidas. — Brinquei fazendo Enzo
dar risada.
— Sim, sim percebi isso. Até
mais tarde anjo. — Ele me beijou e eu
correspondo com avidez.
— Até mais tarde marido. — Me
soltei do seu aperto e vi Enzo ajustar o
volume na sua calça. Observei eles
saírem porta a fora soltando um suspiro
de contentamento, sentir Kay começar a
arranhar minha perna e eu o trouxe para
o meu colo.
— O que acha de eu levar você
para tomar um banho Kay? — Ele
começou a lembrar minha cara. — Será
que Enzo enlouqueceria se eu te vestisse
de rosa?
— Oh sim, ele enlouqueceria! Ele
ia dizer assim: Kay é um cachorro de
macho e cachorros de macho não usam
lacinhos fodidos de rosa. — Tentei ao
máximo imitar a voz de Enzo e ouvi uma
risada rouca vinda do canto da grande
sala.
— Realmente senhor, o senhor
Aandreozzi não iria ficar feliz. — Cyro
disse e eu dei de ombros.
— Eu sei e acho que por isso que
vou fazer. — Soltei uma risada e Cyro
nega com a cabeça.
Aproveitei que Cyro estava
presente e o obriguei a vir até a cozinha
comigo para tomarmos um café. Claro
que ele tentou questionar o meu pedido,
mas eu não permitir qualquer tipo de
escape dele. Olho para Cyro e ainda
posso sentir o incômodo pela morte de
Timóteo, até hoje Enzo não quer saber
de ter outro segurança, mas querendo ou
não um dia ele vai ter que aceitar. O
nosso mundo é muito perigo para
renunciar a um bom segurança olhando
por ele, mas ainda estou esperando seu
tempo. Não vou e não quero brigar com
ele por causa disso, e seus irmãos
pensam da mesma maneira.
Após o meu café da manhã passei
o dia inteiro mergulhado em documentos
e contratos da boate. É fantástico
crescimento do lugar, antes que só
atendia um público específico, hoje em
dia a boate é vasta em nível de
entretenimento. Claro que tem um dia
específico para o famoso show de Nero,
Austin, Romeo, Nick e Matias, que
parou completamente suas investidas em
mim e eu soube por Louis que ele estava
em um romance com o novo barman.
Voltando para a boate, fora o show dos
meninos, tem também apresentações de
novos artistas e sempre quem abre a
nova apresentação sou eu. Eu me
apresentei na abertura da boate e desse
dia em diante os frequentadores parecem
gostar de minha voz. Quando não está
acontecendo nenhum desses shows o
lugar fica voltado somente a ser uma
boate com uma grande e pulsante pista
de dança.
Olhei para o relógio e vi que
estava quase perto da hora do almoço,
dei uma bela alongada e subir para
tomar um banho e trocar de roupa.
Chegando no banheiro eu olhei para o
meu reflexo e um singelo sorriso surgiu
mostrando o quanto eu estava realmente
bem e feliz. Ainda tenho as mesmas
cicatrizes deixadas por todo o tormento
que passei naqueles anos, preso a
Konstantinov, mas elas não me
incomodam mais. Elas mostram o quanto
eu lutei para que hoje esse sorriso esteja
no meu rosto e a felicidade espreitando
sempre a minha nova vida de casado
com o homem que roubou metade de
minha alma para si, no bom sentido é
claro. Antes eu olhava para esse homem
loiro de cabelos longos e senti nojo e
muita tristeza. Agora? Agora eu só vejo
a mais pura e doce felicidade.
Tomo meu banho e vou direto para
o closet caçar algo para usar, como amo
um bom jeans eu não hesito em pegá-lo.
Coloco uma camisa simples de botão e
um blazer, penso em colocar meus
velhos par de tênis all star, mas prefiro
o esporte fino, amarro meu cabelo, que
agora já passa do ombro, em um coque
folgado, coloco a fragrância que minha
sogra fez especialmente para mim e
estou pronto. Aviso a Cyro que estou
pronto para sair e quando chego na
estrada ele já está a minha espera.
Durante a ida até a empresa sinto meu
celular recebendo várias notificações,
quando vejo que se trata do grupo da
família um leve arrepio passa pela
minha espinha. A última coisa que teve
tanta conversa assim foi uma foto que
Nonna tirou de Beto só de cueca. Bem,
eu não preciso dizer que os homens
ciumentos e possessivos dessa família
não ficaram muito felizes. Nesse dia
Enzo realmente me mostrou que eu
deveria ver somente ele de cueca e
ninguém mais, confesso que adorei cada
momento.

Filippo: Nonna a senhora tem


que parar de mandar fotos de homens
para o meu marido.
Luti: Que é isso Ursão, eu só
tenho olhos para você. ����
Nonna: A vida eu tão curta, por
que não apreciar as beldades da vida?
#queromaisbundas. ��
Luigi: Nonna a senhora está
querendo que eu mate seu neto?
Lucca: Eu sou inocente de todas
ou qualquer acusação. ��
Gio: De por mim pode continuar
mandando, estou muito feliz com seu
acervo Nonna. ��
Luna: Concordo com você, Gio!
��
Eu: Nonna está com uma coleção
completa no seu celular. Não é mesmo
Fran? Kkkk...
Enzo: E como diabos você sabe
disso, anjo?
Eu: Ops!
Donatello: Mamma, a senhora
está provocando os meninos
novamente?
Nonna: Está fazendo o que aqui
encosto? Eu não tinha te tirado do
grupo? ��
Arianna: Eu coloquei o meu Dom
novamente. ��
Nonna: Ele está sendo removido
agora.
Donatello foi removido

Continuei rindo até que percebi


que estava em frente a empresa,
agradeci a Cyro e sair do carro. As
pessoas me cumprimentam com todo o
respeito por ser marido do chefe e eu
retribuo os cumprimentos indo direto
para o elevador. Chegando no andar de
Enzo, dou logo de cara com algo
colorido sentado à mesa como
assistente, dou um breve sorriso e sigo
para falar com Amauri que me
abandonou e começou a trabalhar para
Enzo.
Na verdade, tudo isso começou
como algo passageiro, por que eu estava
realmente preocupado com Enzo ficando
tanto tempo sem secretária, ele
reclamava tanto que estava me deixando
louco. E como a boate estava em
reforma Amauri se prontificou a ser
assistente de Enzo temporariamente, mas
parece que o Mau gostou do trabalho
que se tornou algo permanente. E até
Paul está estagiando no setor jurídico da
empresa, Amauri disse que é bom ter o
seu Sorvetão por perto.
— Onde está meu marido, Mau?
— Pergunto e seu rosto se iluminou ao
me ver.
— Minha linda borboleta, veio
levar o senhor carrancudo para um
passeio? — Amauri pergunta ficando de
pé nos seus enormes saltos alto e vindo
me abraçar.
— Carrancudo? Aconteceu
alguma coisa na empresa? — Pergunto
observando como o cabelo laranja
combina com ele.
— Não que eu sabia, deixo todas
essas pessoas sobre os meus olhos
felinos feroz. Nada de bagunça! —
Amauri disse e isso me fez rir.
— Sei bem como é essa sua
ferocidade. — Falo ainda rindo.
— Meu Sorvetão adora, você
sabe como esse homem é louco por mim.
— Amauri disse de modo convencido e
eu confirmo.
— Sim, me diga o que deixou ele
assim? — Assim que terminei de falar a
porta da sala de Enzo foi aberta, seus
olhos pousaram em mim e eles estavam
estreitos.
— Acho que você já vai
descobrir. — Amauri disse em um tom
conspiratório e eu fui puxado para os
braços de Enzo.
Ele não me deu tempo de emitir
qualquer palavra e foi logo fechando sua
porta e me impressionando contra ela.
Sua boca estava na minha me beijando
com força, ele sugou minha língua e
brincou com ela me fazendo gemer e
ficar com as pernas fracas. Beijar Enzo
é a coisa mais deliciosa que existe no
mundo, seu gosto me deixa louco.
Abracei seu pescoço ficando na ponta
dos pés, aprofundando ainda mais o
beijo. Quando nós dois precisamos de
ar, nos afastamos ofegantes, Enzo
mordeu meu lábio inferior com força e
colou nossas testas.
— Não gosto de saber que meu
marido conhece o acervo de fotos de
minha avó pervertida. — Enzo disse e
eu comecei a rir.
— Pelo amor de Deus, Zuco. Era
só uma pequena provocação.
— Ainda não gosto disso. —
Disse a contragosto e eu escondido meu
rosto no seu pescoço.
— Vamos almoçar, amor. Você
tem que voltar a trabalhar e eu tenho que
ir para a boate. — Falo de modo calmo
e ele revirou os olhos.
— Você tem que parar de me
deixar louco, você é tão foda de lindo
que me faz querer tê-lo olhando somente
para mim o tempo todo. — Enzo
resmungou se afastando de mim e
arrumando seu terno da Gucci.
— Sim, sim vamos senhor
possessivo. — Falo fazendo Enzo me
olhar de modo presunçoso.
— Vai dizer que se eu ficar
olhando fotos de outras mulheres e
homens você vai deixar? — Enzo
pergunta e uma irritação fora do comum
tomou conta de mim.
— Não brinque com isso, você é
meu! — Falo apontando o dedo na sua
direção e ele sorriu largamente.
— Foi isso o que eu pensei, anjo.
Foi exatamente isso que eu pensei. —
Ele passou os braços na minha cintura e
seguimos para fora de sua sala.
Me despedi brevemente de
Amauri que prometeu estar na boate hoje
à noite com Paul. Enzo e eu fomos parar
em um pequeno e acolhedor restaurante,
durante o almoço ficamos conversando
sobre tudo, mas principalmente sobre os
meninos. A um tempo chegamos a um
denominador comum que ambos
queremos ter mais filhos, mas vamos
esperar um pouco mais para colocar
mais uma criança nas nossas vidas.
Nosso casamento ainda é novo e temos
uma longa vida pela frente. Quando
terminamos o almoço Enzo me deixou na
boate e foi direto para a empresa porque
tinha uma videoconferência importante
que não poderia ser deixada nas mãos
de Fabrízio.
— Sério! Isso aqui está uma
loucura. Eu preciso desse carregando de
whisky para ontem! — Assim que passei
pela porta da boate ouvi os gritos de
Fanny falando no telefone.
— Você acha que eu devo
resolver isso para ela? — Louis
pergunta se aproximando de mim e eu
assinto.
— Faça isso por favor, acho que
ela está muito estressada. — Falo em um
tom baixo e ele sorriu.
— Nero tem uma mão cheia com
essa angolana. — Louis brincou e eu
assinto rindo.
— Ele gosta muito de ter essas
mãos cheias. — Respondo e Lou
continuou rindo.
— Vou salvar o pobre homem da
raiva assassina de Fanny. — Lou disse e
foi até Fanny pegando o celular de sua
mão e se afastou para conversar com o
distribuidor.
— Ei, o que há com você? —
Falo colocando a mão no seu ombro,
ouvi seu suspiro.
— Para falar a verdade nem eu
sei direito. — Resmungou Fanny.
— Você acha que precisa dar um
descanso da boate? Acha que o trabalho
pode estar te deixando muito cansada?
— Fanny arregalou seus lindo olhos
escuros.
— Não! Eu amo meu trabalho,
Dea. Está aqui é maravilhoso. —
Responde Fanny rapidamente.
— Então o que está se passando?
— Pergunto e ele me olhou angustiada.
— Eu estava arrumando as coisas
de Nero, já que o infeliz resolveu morar
no meu apartamento. E quando eu estava
lá mexendo nas suas meias, eu encontro
uma caixinha. — Fanny disse passando a
mão no rosto.
— O que tinha na caixi… —
Minha voz morreu e eu arregalei os
olhos olhando para Fanny. — Não!
Sério?
— Sim, e eu estou aqui toda
angustiada sem saber o que fazer. —
Fanny disse e eu ri.
— Você realmente pensando em
dizer não ao pobre rapaz, está? —
Pergunto fazendo ela me lançar um olhar
zangado.
— Não faria isso com aquele
Selvagem. Eu o amo muito e é claro que
eu aceitaria me casar com ele. — Fanny
disse em um tom firme.
— Isso é a coisa mais doce e
amável que você já me falou, minha
vida. — A voz chorosa de Nero se fez
presente e Fanny revirou os olhos após
se recuperar do susto inicial.
— Não comece a fazer caso sobre
isso. — Fanny disse e foi arrastada para
os braços de Nero.
— Eu estava com tanto medo de te
pedir em casamento e você me rejeitar.
— Nero disse e Fanny puxou seu cabelo
com força. — Aí minha vida!
— Isso é para você deixar de ser
um idiota! É óbvio que eu não te
rejeitaria, seu selvagem. — Fanny disse
e Nero a beijou apaixonadamente.
Abandonei o casal e subir para o
meu escritório, estou tão feliz por Fanny
e Nero. Fanny passou por muita tristeza
na sua vida e ter o amor de Nero é uma
coisa muito boa para ela. É nítido para
quem quiser ver que aquele homem é
louco por ela e faz de tudo para que ela
esteja bem. Soltei uma forte respiração e
comecei a trabalhar, a boate está indo
tão bem que às vezes me assusto como
ela se tornou mais popular, mas com
essa popularidade toda o trabalho
aumenta também. Fiquei tão absorto no
trabalho e nas coisas que tinha que
resolver para hoje à noite que quando
percebi já estava a hora de me arrumar
para a apresentação. Me vesti com uma
camisa branca, terno de três peças azul
da Armani, meus sapatos sociais pretos,
deixei meu cabelo solto o deixando livre
por cima dos ombros.
Fui para os fundos e lá encontrei
Fanny conversando com o rapaz que irá
se apresentar nessa noite. Seu nome é
Juan Martinez, ele é um lindo mexicano
que Fanny encontrou fazendo
apresentações nas ruas de Milão,
quando ouvi sua voz soube que o queria
se apresentando aqui imediatamente. Fui
até ele e o acalmei, afirmando que todos
iriam amá-lo. Deixei Juan com Fanny,
subir no palco e me sentei no banco de
madeira logo em frente, lembro que na
reabertura da boate eu estava muito,
muito nervoso, mas descobri que alguém
me acalma instantaneamente e esse
alguém é com certeza o meu marido
lindo e sexy. Assim que as luzes do
palco focam em mim, olho para os
músicos confirmando com a cabeça.
Vejo Enzo sentado no espaço que fiz
somente para ele, nossa família e os
amigos mais próximos. Ele estava
falando com Nardelli, mas quando a
música começa seus olhos estão
vidrados em mim. Dou um sorriso de
lado e mergulho nas notas musicais.
“Velas acesas, vermelho rubi
Folhas estão caindo da cama
Passe seus dedos pelo meu cabelo
Eu sei o que você está pensando,
me leve lá
Você me hipnotiza com o seu
toque
E eu nunca consigo ter o suficiente
de você, é verdade
E em qualquer lugar você quer ir
Minha mão é só sua para segurar,
oh você sabe
Estou tão obcecado com o jeito
que seus lábios
Beije-me como um louco, oh você
me surpreende
Quando você entra na sala, me faz
perder
Sim, eu sou uma bagunça, garota,
eu confesso, eu estou tão obcecado,
yeah…” (Obsessed — Dan + Shay)
Terminei a música sendo muito
aplaudido, agradeci e apresentei Juan
para todos os presentes. Assim que sai
do palco Enzo estava à minha espera,
seus olhos estavam mais escuros que o
de costume e eu poderia ver o fogo
ardente através deles. Engoli em seco
senti meu corpo inteiro vibrar em
expectativa, porque eu sabia o que
estava vindo logo em seguida. Enzo
estendeu a mão para mim e eu a agarrei
sem nem ao menos pestanejar. Ouvi
alguém me chamar, mas eu já estava
sendo arrastado por Enzo indo em
direção ao meu escritório. Esperei que
ele me atacasse imediatamente, mas ele
caminhou até a minha mesa.
— Você sabia que iria me
provocar com aquela música, não sabia
anjo? — Enzo pergunta em um tom
rouco encostando de modo relaxado na
borda da mesa.
— Sim, eu sabia. — Falo de
maneira ansiosa.
— O que você quer? — Pergunta
ele e seu tom de voz fez o meu pau
engrossar mais.
— Quero você! — Respondo
prontamente apertando meus punhos, eu
estou louco para tocá-lo.
— Tem certeza? — Enzo pergunta
tirando com calma sua jaqueta de couro,
camisa branca e botas. Ficando só de
calça jeans rasgada e pés descalços,
esse homem é tão gostoso que até seus
pés são sexys. — O que você quer fazer,
anjo?
— Eu quero te tocar, por favor
Enzo, deixe-me tocá-lo. — Falo com os
dentes cerrados.
— Tenho algo melhor em mente.
— Ele abriu um sorriso feroz. — Tire a
roupa amor! — Mandou Enzo.
— Sim! — Falo em um tom
necessitado. Tirei cada peça de roupa,
ficando só de cueca. Enzo mordeu os
lábios e soltou um gemido ao me ver
despido.
— Vem aqui, anjo. — Chamou ele
entre dentes e eu fui.
Enzo avançou com sua boca na
minha, nossas línguas duelavam em um
beijo intenso e cheio de tesão, ele
abandonou minha boca e foi direto para
o meu pescoço, com o seu aperto firme
nos meus cabelos ele foi chupando,
dando pequenas mordidas que fizeram
meu corpo inteiro se arrepiar. Ainda
com as mãos de Enzo emaranhadas no
meu cabelo, fiquei de joelho, abri sua
calça jeans tirando seu pau, que tanto me
deixa louco, para fora. Olhei para ele e
seu um sorriso de lado, seus olhos
estavam presos em mim enquanto eu
massageava seu membro lindo. Puta
merda como eu amo esse homem! Sem
perder tempo engoli seu pau por inteiro,
sem me importar com o desconforto que
sua glande fez no fundo da minha
garganta.
— Isso meu anjo! Sim, porra, sim!
Coloque sua boquinha ambiciosa no meu
pau e chupa. — Gemeu Enzo e isso me
deu mais ânsia de continuar a fazer o
que estava fazendo.
— Delicioso! — Murmurei com a
boca cheia e muito ocupada.
— Oh… isso! — Enzo disse
balançando seus quadris para me
acompanhar com os movimentos.
Brinquei com suas bolas pesadas,
passando o dedo na costura sensível.
Continuei a chupar e lamber seu pau,
porque para mim o seu gosto é melhor
que qualquer doce. Umedeço o meu
dedo indicador com saliva e passei pela
sua abertura, Enzo pressionou mais o
seu aperto no meu couro cabeludo e eu
ousei a penetrar um dedo no seu canal.
Vi meu marido jogar a cabeça para trás
soltar um urro feroz enquanto derramava
seu esperma quente na minha garganta.
Maravilhoso!
— Anjo? Que foi isso? — Enzo
pergunta tentando recuperar o fôlego.
— Ótimo, não é? — Falo e ele
assente voltando a me beijar.
— Preciso te preparar porque eu
fodidamente preciso está dentro de
você. — Enzo disse e eu assinto
gemendo com expectativa.
— Eu já estou pronto para você.
— Falo arfando quando ele apertou
meus mamilos.
— O que você andou aprontando
meu doce anjo. — Enzo disse me
curvam na minha mesa.
— Passei o dia ansioso para te
sentir dentro de mim. — Falo em um tom
baixo. Enzo foi deixando rastros
molhados nas minhas costas até chegar
na base da minha bunda.
— Merda santa! Jesus fodido
Deus! — Enzo disse assim que viu o
plug anal enterrado em mim.
— Enzo, por favor, eu acho que
vou estourar. Eu preciso de você. Ah…
merda! — Falo assim que ele começou a
empurrar o plug em mim.
— Tão fan-porra-tástico meu
anjo. Isso é tão incrível. — Enzo disse e
eu soltei um gemido sofrido.
— Amor, me foda! — Supliquei e
meu lindo marido rosnou.
— Não precisa pedir demais,
anjo. Eu sou seu e faço tudo por você.
— Enzo disse tirando o plug de mim.
— Sim! Oh porra! — Falo quando
senti seu pau invadir o meu canal
esticado e lubrificado.
— Gostoso! Muito gostoso meu
anjo. — Enzo disse e eu apertei mais as
mãos na borda da mesa.
Seus movimentos começaram
lentos, me maltratando, tirando minha
mente totalmente do controle. Quando
seus movimentos começaram a se
intensificar, Enzo colou seu peitoral
esculpido nas minhas costas. Nossos
corpos suados estavam em uma
sincronia perfeita, sua respiração
ritmada no meu ouvido estava me
fazendo ficar mais louco para chegar a
minha libertação. Eu precisava gozar e
queria que Enzo gozasse também. Ele
sabia disso então colocou a mão no meu
pau e começou a me masturbar. Não
consegui aguentar por muito tempo e
acabei gozando duro, com mais alguns
movimentos Enzo veio logo em seguida.
— Isso foi… Nossa! — Enzo
disse tirando seu pau de mim nos
arrastando para o sofá.
— Somos muito bons juntos. —
Falo com a respiração pesada.
— Sim meu anjo, nós realmente
somos incríveis juntos. — Responde de
modo calmo e amoroso.
— Consegue nos ver separados
em algum momento das nossas vidas? —
Pergunto e Enzo me puxou para que
nossos olhos se encontrassem.
— Não, não vai acontecer. — Ele
disse e isso me fez dar um sorriso.
— Essa era a mesma frase que
você dizia aos seus irmãos quando ainda
achava que o amor não era para você.
— Falo passando o meu nariz
carinhosamente pelo seu rosto.
— Eu estava tão fodidamente
errado. A melhor coisa que me
aconteceu foi ter caído de amor por
você, anjo. — Confidenciou ele e eu
senti minha garganta arranhar.
— Me sinto da mesma maneira.
Te amo muito! — Disse fazendo Enzo
sorrir lindamente.
— Eu sei e eu te amo mais ainda
por isso. — Responde aconchegando
nossos corpos.
A vida é infinitamente boa, mas
ter amor e carinho por todo o caminho é
muito melhor. E eu não posso estar mais
agressivo por ser tão amado.

FIM/FINE/KONETS
FILIPPO
AANDREOZZI

Os Aandreozzi também fazem


compras!

Assim que levanto da cama já


consigo ouvir as conversas no andar de
baixo, estamos passando umas
miniférias no litoral paulista e toda
família está reunida. Olho no relógio e
solto um suspiro alto, cheguei de
madrugada de uma viagem a Portugal e
tudo o que mais queria quando chegasse
em casa era me arrastar para cama e
senti o cheiro delicioso que só o meu
Bello pode ter. Mas não foi bem isso
que aconteceu, assim que cheguei em
casa, tirei a roupas me joguei na cama e
apaguei. Agora eu não sei se tenho
condições de enfrentar o dia e
principalmente meus irmãos.
— Ursão! Acorde! Nonna está
mandando a gente ir ao mercado. —
Ouço a voz de Lucca e vou pisando duro
até a porta.
— O que você quer? — Pergunto
entre dentes e vejo o bastardo me dar um
sorriso largo.
— Muito mal-humorado Ursão,
quem puxou suas bolas enquanto você
estava dormindo? — Lucca pergunta
entrando no meu quarto sem ser
convidado.
— Lucca, eu poderia lhe dar um
soco hoje. — Avisei irritado.
— Pode? Duvido muito disso,
você me ama demais para fazer isso. —
Lucca disse rindo e eu bufei indo para o
banheiro.
— Vá embora! – Mandei, mas ele
fez o contrário vindo atrás de mim.
— Nonna e Mamma realmente
pediram para nós irmos fazer compras.
A casa está vazia. — Lucca falou da
soleira da porta e eu comecei a escovar
os dentes.
— Lippo já acordou? — Enzo
pergunta em voz você alta.
— Estamos aqui no banheiro. —
Lucca grita em resposta e eu respirei
fundo.
— Não te convidei em momento
algum para estar aqui. — Resmunguei
com a boca cheia de pasta.
— Ele está irritadiço hoje? —
Enzo pergunta a Lucca rindo.
— Sim, acho isso fascinante. E
você? — Lucca pergunta e eu não virei a
cabeça para encarar esses dois idiotas.
— Você é um bastardo sem noção.
— Enzo apontou e eu concordei com
isso.
— Vocês dois podem dar o fora
do meu quarto, porra! — Falo com raiva
e os dois reviraram os olhos.
— Acho melhor você adiantar,
Mamma quer fazer o almoço. — Enzo
apontou apertei a mandíbula.
— Por que vocês dois não vão
sem mim? Por que alguém não vai fazer
as compras malditas? — Pergunto
exasperado indo colocar uma roupa.
— Qual a graça de ir sem você?
— Lucca não me deu tempo de
responder. — Rita está de férias, Margô
ficou em Chicago, Cecília está em Milão
e Dulce está com a família. Até os
seguranças foram dispensados.
— Resumindo, só tem a família
aqui mesmo. — Enzo disse rindo.
— Merda! — Resmunguei
pegando uma calça, mas Lucca riu.
— Se eu fosse você, com o calor
infernal que está fazendo, usaria uma
bermuda. — Enzo disse puxando Lucca
com ele para fora do quarto.
Sem me importar com o que Lucca
disse continuei a colocar minha calça
jeans preta e uma camisa cinza leve. Sai
do quarto tentando me sentir pronto para
começar o dia, a primeira coisa que fiz
foi ir até meus filhos. Eles ficaram
felizes em me ver, já que estive longe
deles por 3 dias, ainda fico chocado
como o tempo passa rápido e as
crianças estão crescendo muito rápido.
Duda e Pietro estavam com os primos
Samantha, Otto, Viktor, eles estavam
prontos para um passeio com Babo e
Lorenzo. Pergunto por Isabel, mas eles
disseram que estava com a mãe em
algum lugar. Não vi Bello em lugar
nenhum, coisa que achei estranho, mas
deixei isso ir por enquanto e fui à
cozinha tomar um café. Preciso de
cafeína para começar o dia.
— Até que enfim você levantou,
aqui está a lista de compras. — Mamma
disse me passando uma lista gigante.
— A senhora tem noção que só
vamos ficar aqui por alguns dias? —
Pergunto aceitando o café que Nonna
estava me dando.
— Vocês comem como um bando
de monstros, então isso aqui é só um
aperitivo. — Nonna disse em um tom
debochado.
— Enzo come mais que todo
mundo. — Aprontei e Luna entrou na
cozinha rindo usando uma saída de praia
por cima de um lindo maiô preto.
— Você não acha isso muito
transparente, não sorellina? — Pergunto
seriamente e ela revirou os olhos.
— Estamos na praia. — Ela disse
irritada como se isso dissesse tudo.
— Onde anda meu marido? —
Pergunto e Mamma apontou atrás de
mim. Olhei para trás e Luti estava me
olhando com um lindo sorriso.
— Ei meu Ursão, senti saudades.
— Bello falou me fazendo abrir os
braços para lhe receber. Bello não
hesitou e me abraçou forte.
— Ciao amore mio bellissimo —
Enterrei a cabeça no pescoço do meu
Bello, sentindo sua fragrância única.
Avancei um beijo delicioso no meu
marido lindo, feliz por estar em casa e
nos seus braços.
— Vocês podem se agarrar depois
das compras. É inaceitável foder com
fome. — Nonna disse e eu gemi em
frustração.
— Buon Dio, nonna! — Falo
frustrado e ela fez um gesto de desdém.
— Você não sabe como é terrível
tirar esperma seco do mármore. —
Todos olharam horrorizados para
Nonna.
— Como a senhora sabe disso?
— Luti pergunta atordoado.
— NÃO! Não precisa explicar! –
Falo rapidamente para minha avó que
deu de ombros. – Vamos fazer essas
benditas compras. — Levantei trazendo
meu marido comigo.
— Você esqueceu da lista, meu
filho. — Mamma disse e eu olhei para
lista em sofrimento.
— Tem certeza de que precisa
disso tudo Mamma? — Pergunto fazendo
Nonna ficar irritada.
— Precisa sim! E não esqueça do
papel higiênico extra, Lorenzo está com
dor de barriga. — Nonna disse e eu
prendi os lábios com força para não rir.
— Isso verdadeiramente não
precisa ser tido, Nonna. — Bello disse
também prendendo o riso.
— Nós também vamos! — Lucca
chegou com Isabel presa no seu peito
pelo transporte de bebê e Luigi
segurando a bolsa.
— Não, vocês não vão atrás de
mim com um bebê. — Reclamei
ferozmente.
— Claro que vamos! Giovanna
está naqueles dias e morrendo de cólica,
ficamos responsáveis por Bel. Não é
coisa gorducha do papa. — Lucca disse
brincando distraidamente com o bebê.
— Nós também! Minha Nutella
não pode faltar e meu anjo é um bom
conhecedor de peixes. — Enzo disse
com os braços rodeados na cintura de
Andrea.
— Se você quiser eu posso ficar
com, Bel. — Andrea se prontificou e a
expressão de alívio de Lucca foi
instantânea.
— Eu não iria colocar esse
canguru, o negócio é desconfortável e
Luc já estava me tirando do sério de
tanto reclamar. — Luigi disse recebendo
um soco de meu irmão.
— Eu não sou um chorão! —
Disse Lucca irritado.
— Sim, você é! — Eu, Enzo e
Luna dissemos ao mesmo tempo.
Saímos em dois carros, tudo isso
para que todo mundo pudesse ir para o
maldito mercado. Eu estava dirigindo
com Luti ao meu lado e Luna no banco
de trás, mexendo distraidamente no
celular. Assim que estacionei o carro já
tive muita vontade de dar meia volta
para sair do local. Saio do carro para
dar de cara com um casal brigando
enquanto coloca suas compras no porta-
malas, pela gritaria dá para entender que
a mulher está irritada com o marido que
esqueceu de pagar a conta do cartão de
crédito e ela teve que pagar com o dela.
Balanço a cabeça negativamente e
entrelaçando os dedos de Bello com os
meus. Esperamos Enzo estacionar o
carro dele e assim que eles saíram
entramos no local.
— Você já fez compras em um
mercado alguma vez, Lippo? — Luti
pergunta preocupado.
— Não aqui, mas lá na Itália já. –
Menti descaradamente com uma
expressão séria e Luti engoliu em seco
olhando para Andrea e Luigi.
— Algum de vocês já foi em
algum mercado? — Luti fez a pergunta
olhando para Enzo, Lucca e Luna. Todos
eles deram de ombros.
— Eu compro em lojas roupas,
será que serve? — Luna pergunta e
Lucca assente concordando com nossa
sorellina, não passou despercebido o
olhar chocado de Luti, Andrea e Luigi.
— Dio ci aiuti! (Que Deus nos
ajude!). — Bello murmurou e eu olhei
para lista.
Farinha de trigo
Manteiga
Macarrão Garofalo “Elas
esqueceram que não estamos em Milão?
Não deve ter essa massa aqui, caspita!”
Arroz para risoto
Molhos de tomate “Por que elas
não fazem um caseiro?”
Creme de leite
Azeite de oliva
Café de Moka “Aqui é o Brasil!
Pelo amor de Deus!”
Queijo parmesão em pedaços
“Como é?”
Ovos
Tomates frescos
Soltei um som de frustração ao ler
a nota de Nonna ao lado da palavra
“fresco” ela diz assim: “Se chegarem
aqui com tomates amassados eu vou
fazer guerra de tomate na cara de
vocês!” Senti um arrepio tomar conta do
meu corpo, mas ignorei chamando meus
irmãos para dividir o que cada um vai
comprar, sendo assim elaborei um modo
simples de ataque. Deixei Lucca e Luigi
responsáveis pelos produtos de limpeza,
Andrea e Enzo foram para as carnes,
Luna foi pegar os legumes, verduras e
frutas e para finalizar Bello e eu ficamos
com o restante.
— O que acha que compramos um
vinho, Ursão? — A pergunta sussurra de
Bello me deixou em alerta.
— Você quer tomar vinho, amore?
— Pergunto de modo rouco e ele assente
mordendo os lábios ficando vermelho de
vergonha.
— Sabe como é né, você ficou
esses dias fora e eu quero passar uma
noite com você. — Bello disse olhando
que iogurte iria pegar, não resisti e fui
curvando meu corpo sobre o dele.
— E essa nossa noite seria, como
se diz... Íntima? — Pergunto de modo
rouco e Bello soltou um gemido sofrido.
— Aqui não Lippo! — Bello
disse saindo das minhas investidas.
— Senti saudades, amor. — Falo
soltando um suspiro forte.
— Eu sei, eu estava do mesmo
jeito. — Bello disse e eu tive que
ajustar o meu pau que estava
engrossando.
— Luna! Você vai precisar de
tampão também? — Lucca grita em um
dos corredores e tenho certeza de que
todo o mercado ouviu.
— Lucca! Cale essa boca maldita!
— Luna grita com ódio.
— É só uma pergunta! Giovanna
disse que mulheres precisam dessas
coisas. — Passei a mão no rosto
cansado. Por que eles têm que ser
assim?
— Vem aqui miele! — Luigi
surgiu para salvar o dia.
— Aqui estão o salmão, as
costelinhas e o peito de frango. —
Andrea apareceu colocando as coisas no
carrinho. — Enzo está trazendo o filé e
mais algumas carnes.
— Quem deu a Bel esse biscoito?
— Luti pergunta limpando a boca de
Isabel que estava totalmente suja.
— Enzo! — Andrea disse entre
dentes. — Ele fez isso porque não é ele
que está ficando todo sujo. — Andrea
resmungou descontente, mas beijou a
testa de Bel que assim que me vi abriu
os braços para que eu a pegasse.
— Não vou fazer isso garotinha,
mesmo que eu te ame muito. — Falo
seriamente para minha sobrinha bebê
que me deu um sorriso de 4 dentes.
— Acho que já peguei tudo que
Mamma e Nonna pediram. — Luna disse
colocando os sacos com frutas, verduras
e alguns legumes no carrinho.
Alho
Cebola
Pimentão
Tomates (Do jeito que Nonna
queria.)
Cebolinhas
— O que é isso? — Pergunto
apontando para um troço verde.
— Eu acho que é couve. — Luna
responde e Luti fez um som de asfixia.
— Isso aqui é rúcula! — Luti
disse me fazendo revirar os olhos.
— É tudo folha. — Resmunguei
deixando Luna concordar comigo.
— Terminamos aqui! — Lucca e
Luigi vieram colocando as suas coisas
no carrinho.
— Vocês viram o preço do maior
pote de Nutella? È troppo caro! (Está
caro demais!) — Enzo veio segurando o
pote e isso fez Bello rir.
— Relaxe cognato! — Luti disse e
Enzo nega com a cabeça.
— Comprou os morangos que te
pedi Luna? — Lucca pergunta fazendo
uma cara safada enquanto olhava para o
seu marido.
— Eu não vou te perguntar o que
você vai fazer com os morangos. —
Luna disse e Luigi tentou esconder o
sorriso.
— Você realmente não vai querer
saber. — Luigi disse e Luna fez uma
careta.
Uma mulher morena, usando um
pequeno short jeans rasgado, mostrando
suas costas musculosas, uma blusa
regata mostrando sua barriga e foi
impossível não olhar para o piercing
que ela ostentava no umbigo. Ela olhou
lascivamente para mim, Enzo, Lucca e
Luigi. Senti uma pancada bem dolorida
na minha costela e olhei para Luiz
Otávio procurando respostas, mas ele
me olhou com raiva.
— Olá! — A mulher disse
olhando para mim e mordendo os lábios,
franzi o cenho e a ignorei. Seu rosto
iluminou quando viu Isabel.
— Oh que linda, essa bebê é sua?
Onde está a mãe? — Uma mulher
pergunta a Andrea indo diretamente com
as mãos nas bochechas gordinhas de
Isabel, mas meu cunhado desviou.
— Não senhora, esses são os pais
do bebê. — Andrea falou devagar com
um português muito ruim. A mulher
olhou para Isabel e depois para Lucca e
Luigi.
— O bebê não tem mãe? Que
absurdo! — Ela olhou rapidamente em
volta vendo Enzo segurar Andrea pelo
quadril e eu fazendo o mesmo com Luiz
Otávio. — Vocês são gays? — O
sussurro horrorizado da mulher me fez
querer revirar os olhos, mas continuei
impassível.
— Sim! São todos gays e o que
você tem a ver com isso? Sai daqui e vá
tomar parte da sua vida medíocre! —
Luna disse com raiva, isso fez a mulher
se assustar e sair correndo
— Tão feroz essa sorellina! —
Enzo disse e Luna deu um sorriso frio.
— Odeio marmaglia (ralé)
homofóbica! — Minha irmãzinha
resmungou. Fomos para o caixa e
começamos a passar as compras, não
vejo a hora de terminar com essa merda.
Não sei como tem gente que gosta de
fazer esse tipo de coisa.
— Acho que já acabamos… —
Luigi não terminou a frase porque nesse
momento entrou quatros bandidos de
merda, armados, encapuzados e
ameaçando os clientes do mercado. O
lugar se tornou uma bagunça, pessoas
correndo e se escondendo nos
corredores, mulher gritando de medo,
crianças chorando enquanto seus pais
sussurram para elas se acalmarem.
— Bora, bora, bora porra! Todo
mundo para o chão! — Grita um dos
bandidos e eu olhei para minha família
com muita raiva.
— Por que sempre atraímos esses
tipos de merda? — Pergunto e eles
deram um sorriso de lado.
— Para adoçar nossos dias
tristes? — Lucca pergunta rindo.
— Você gosta dessa merda, eu
não! — Apontei para ele e isso chamou
a atenção dos bandidos.
— Cês tão achando que são quem,
bando de filho da puta? Pro chão! —
Ignoramos os bandidos e continuamos a
conversar.
— Vamos fazer alguma coisa? Eu
realmente quero ir para casa. — Enzo
disse de modo relaxado.
— Isabel já está ficando chateada.
— Andrea disse tentando acalmar Bel
que estava fazendo bico de choro.
— Vou começar a pipocar a
cabeça de vocês! — O bandido apontou
a arma para Andrea e Isabel, mas meu
cunhado não comprou sua merda e foi
rapidamente tirando uma das suas facas
pequenas e jogou na mão do bandido, o
desarmando totalmente.
— Non minacciare un bambino,
stronzo! (Não se ameaça um bebê, seu
puto!) — Andrea disse irritado.
Foi aí que a merda fodida
começou. Luna estava se esgueirando até
os bandidos e aproveitou a distração de
Andrea para desarmar dois dos caras, os
movimentos de minha irmã pegou os
caras desprevenidos. Luti e Enzo ficou
fazendo a guarda de Andrea que estava
com Isabel presa nele. Sendo assim eu e
Lucca avançamos, deixei Lucca ir atrás
do cara que estava tentando recuperar a
arma, que Andrea o fez perder, e fui
direto para o outro que estava ainda
armado. Pela sua cara de lerdo deu para
notar que eles eram amadores e não
estavam preparados para qualquer
contratempo. Peguei isso e usei para o
meu bem, imobilizei o braço que ele
segurava a arma, virei seu braço
abruptamente ouvido o estalo dos ossos.
Acho que quebrei. Assim que ele deixou
a arma cair, grita de dor e começou a
chorar.
— Foi uma péssima ideia
escolher justamente esse mercado para
assaltar. Mal dia para você, maledetto!
— Falo com ódio acertando um forte
soco da sua mandíbula o deixando
desacordado.
— Uma pena que isso foi rápido.
— Lucca disse em um tom triste.
— Vou juntar as armas e dar para
o gerente. — Luigi disse rindo das
loucuras do seu marido.
— Aqui está o dinheiro. — Disse
com uma carranca pegando o dinheiro na
minha carteira e dando para a mulher do
caixa que me olhava boquiaberta.
— Sim... sim senhor. — Ela
pegou as notas com as mãos tremendo.
— Não esqueça de chamar a
polícia para aqueles caras. — Falo
rudemente apontando para os bandidos
desacordados, que Lucca e Enzo
estavam colocando juntos e ela assente.
— Vamos Ursão! — Bello disse e
dei uma última olhada pelo mercado.
Todos estavam olhando para nós com
várias expressões, mas as principais são
de agradecimento. Doce Jesus, só parem
com isso!
— Sim Bello, espero que nunca
mais Nonna e Mamma inventem de me
mandar ao mercado. — Falo com
desgosto e isso fez Luti parar após
aproximar nossos corpos e beijar meus
lábios.
— Tenho certeza de que isso não
vai acontecer tão cedo. — Ele disse
docente e eu respirei fundo.
— Espero que sim, porque eu
odeio essa merda. — Falo fazendo meus
irmãos concordarem.
— Nós também! — Luna, Lucca e
Enzo disseram ao mesmo tempo.
E foi assim que aconteceu a nossa
primeira, e se Dio quiser, a última ida
ao mercado. Tenho que dar mais valor a
Rita, minha governanta, ela é uma
guerreira.
15 anos depois

ENZO AANDREOZZI

Para um homem que dizia aos


quatro ventos que nunca iria se
apaixonar, eu posso dizer que eu sou o
homem mais fodido de apaixonado que
existe nesse mundo. E foda-se se eu não
sou o homem mais realizado e feliz que
existe nesse mundo. E toda essa
realização vem através do meu marido
lindo que tem o rosto tão angelical, que
faz qualquer arcanjo chorar se inveja.
Sim, Andrea e eu estamos juntos a tantos
anos, mas esses anos só fizeram com que
o meu amor e admiração por ele só
crescesse. É até engraçado pensar em
como nossa vida é tão bem encaminhada
do jeito que é, temos alguns
contratempos, mas nada muito grave.
Continuamos a trabalhar no que nos faz
bem, a empresa da família aqui em
Milão cresce a cada dia e Andrea se
tornou um renomado dono de casas de
shows na Europa. Não existe aquele que
não ouça o nome Andrea Aandreozzi e
não saiba que é ele quem comanda os
shows por aqui.
Eu só consigo sentir orgulho e
felicidade da nossa vida, do nosso
casamento e dos nossos filhos. Dio! E
por falar em filhos, é impossível não
fazer com que a minha mente vá logo em
direção aos nossos meninos. Viktor está
atualmente com 28 anos, é um homem
impiedosamente responsável, linha dura
quando tem que ser, e principalmente
protetor com todos nós. Meu filho mais
velho pode ser muito fechado e eu
poderia até dizer que ele é misterioso do
jeito dele, mas eu não tenho do que
reclamar. Após a vida que ele levou, eu
tenho certeza de que as cicatrizes ainda
não foram totalmente curadas. Confesso
que isso me deixa um pouco
desconfortável, porque eu queria poder
tirar todas as lembranças ruins do meu
filho, poder mostrar mais a ele o quanto
eu sou abençoado por tê-lo como o meu
filho, meu herdeiro.
Espero que Vik saiba de todo o
amor que sinto por ele, eu realmente
espero. Agora eu não posso citar o meu
filho mais velho e não acabar citando
Otto também. Por mais que ele não leve
o meu sobrenome, oficialmente falando,
mas eu o tenho como meu filho também.
Otto sempre foi um rapaz muito
estudioso, que vivia com o rosto
enterrado em algum livro e papeando
sobre assuntos muito sérios e literários
com o meu Babo. E hoje em dia não está
diferente, ele além de continuar
estudioso ele é o homem mais doce e de
bom humor que conheço. É bem difícil
não encontrar um sorriso fácil e
verdadeiro no rosto de Otto e isso é uma
das coisas que me deixa mais tranquilo.
E fora que, ele se parece tanto
fisicamente com Andrea que assusta o
inferno fora de mim.
Andrea e eu somos muito felizes
com esses dois rapazes incríveis, mas
quando completamos um ano de
casamento sentimos a necessidade de
aumentar a família e daí que vieram os
gêmeos. Sim, porra, gêmeos! Foi uma
verdadeira luta para encontrar a mulher
ideal para gestar o nosso bebê, mas
quando finalmente encontramos tivemos
a grande surpresa que teríamos não um
bebê, mas sim dois. Naquela época foi
um misto de felicidade e desespero, mas
que no fim deu tudo certo e os gêmeos
Gian e Enrico estão aí para alegrar mais
ainda nossas vidas e me deixar maluco a
cada dia. Sério! Eu não estou brincando,
esses meninos são uns furacões em
figura de adolescentes e adoram entrar
em uma confusão atrás da outra. Eu digo
direto ao meu anjo que se nesses doze
anos das suas existências, que se eu não
fiquei louco ainda eu não mais ficarei.
Ou será que sim?
— Enzo! Enzo, acorde, caramba!
— Ouço a voz de Amauri me chamar e
nego com a cabeça.
— O que diabos está fazendo na
minha sala? — Pergunto após sair do
estupor.
— Porque eu sou o lindo do seu
assistente executivo! — Amauri revira
os olhos e eu cerros a minha mandíbula.
— E porque não bateu na porta,
maledetto? — Pergunto irritado e o
infeliz fez um gesto de desdém.
— Isso são meros detalhes que
não condiz com a fase da nossa amizade
e convivência. — Amauri fala e eu nego
com a cabeça resignado.
— Que amizade, Amauri? —
Pergunto apertando a ponta do meu nariz
e ele me dar um sorriso brilhante.
— Et qui serait plus mon ami? La
nôtre est évidente! (E qual seria mais
meu amigo? A nossa é óbvio!) —
Amauri diz em francês e eu respiro
fundo me encostando da minha poltrona.
— Não sei de onde você tirou
isso, mas tudo bem. — Falo mexendo
em minha mesa.
— Isso é rude até para você, anos
servindo a você com maestria e assim
que você me retribuiu? — O tom
dramático de Amauri não foi o suficiente
para que eu olhasse na sua direção.
— Tão maestria que você escapa
dos seus serviços quando bem entende e
vai viajar com a minha Nonna. — Falo a
contragosto e o infeliz deve a decência
de rir.
— Minha vida sendo seu braço
direito, casado com meu Sorvetão e
tendo um casal de filhos para educar me
cansa, sabe. Às vezes é preciso
espairecer e a minha rainha maior sabe
exatamente como fazer isso. — O cara
de pau disse e eu respirei fundo.
— O que exatamente você veio
fazer aqui, Amauri? — Pergunto
controlando a minha irritação e ele deu
um pulo que fez destacar o seu cabelo,
agora, preto com mechas verdes.
— Ah sim! Eu vim trazer uns
novos projetos para você ver. — Ele
disse e isso chamou minha atenção.
— Esse foi o que estava
esperando? — Pergunto pegando a pasta
na sua mão.
— Sim, sim, como eu sabia que
você estava muito ansioso para pôr as
mãos nesse projeto. Assim que ele veio
para mim eu o trouxe. — Amauri disse e
eu assinto.
— Sim, isso é realmente o que eu
queria. – Averiguei os desenhos e
minhas mãos e Amauri arqueou a
sobrancelha para mim.
— Como é que diz? — Ele
pergunta cruzando os braços e fazendo
um barulho irritante com seus saltos.
— Como diz o que? — Pergunto
entre dentes e ele fez um gesto com as
mãos para que eu prosseguisse.
— O que é que se diz quando uma
pessoa especial como eu, faz algo
incrível para você? — Amauri pergunta
novamente e eu soltei um som irritado.
— Che diavolo Amauri! (Que
diabos Amauri!) — Exclamo o fazendo
dar um pulo. — Obrigado, está bom
assim? – Pergunto sarcástico e ele deu
um largo sorriso.
— Sabe Enzo Aandreozzi, sua
vida profissional é muito melhor comigo
ao seu lado. — Amauri disse e eu cerrei
os punhos.
— Continue acreditando nisso e
sua demissão não tardará a chegar. —
Ameacei e ele deu uma risada divertida.
— Você fala isso a anos para
mim, e isso só se tornou uma promessa
vazia, mon ami! — Amauri disse e foi
caminhando em direção a porta da minha
sala.
— A próxima vez que vir aqui,
não esqueça de bater no caralho da
porta. — Mandei e ele fez que sim com
a cabeça.
— Como você quiser, chefe! —
Ele acenou e saiu logo em seguida.
Xingo baixinho e voltou a minha
atenção aos projetos em minha mesa,
eles estão do jeito que eu queria e isso
me deixa bastante satisfeito. Amauri fez
bem em trazê-los para mim, mas isso eu
jamais irei admitir em voz alta,
principalmente na presença desse
assistente executivo intrometido. Foda-
se! Eu tenho que concordar que Amauri
é o melhor funcionário que eu poderia
querer, após aquele desastre de anos
atrás com a senhorita Roccato, eu nunca
imaginei que poderia confiar mais em
alguém para o cargo. Mas daí veio
Amauri, com a sua maquiagem
extravagante, seus saltos altos e cabelos
que mudam de cor a cada estação ou
estado de humor. Então sim, ele
realmente foi adquirindo o meu respeito
com o seu trabalho em saber o que eu
preciso exatamente. E apesar de ser um
infeliz inconveniente, ele é muito bom
em trabalhar ao meu lado.
Andrea, Fanny e Amauri são
muitos amigos, e muitas das vezes eu me
vejo no meio deles e de Nonna Francesa
tendo que aguentar seus espíritos
excitados e felizes. Caspita, eles me
cansam as vezes! Mas como eu tento ser
um bom marido para o meu anjo, que
passou por muita coisa ruim nessa vida.
E que agora ele tem a mim, nossa
enorme família e nossos amigos para
deixar os seus dias meus leves. Sendo
assim, por ele eu aceito qualquer coisa,
mas que para falar a verdade eu aprendi
até mesmo a gostar desses seres felizes
em algumas ocasiões. Não sempre, é
claro, algumas poucas, bem poucas, na
verdade. Saio dos pensamentos e deixo
o projeto de lado para atender a ligação
de meu anjo.
— Oi anjo, aconteceu alguma
coisa? — Falo assim que atendo a
ligação.
— Oi amor, eu não queria te
preocupar, mas acho que aconteceu sim.
— Andrea fala e posso ouvir sua voz
ofegante.
— Como assim aconteceu algo? O
que está havendo Andrea? — Pergunto
já sentindo meu corpo entrar em alerta.
— Ei Zuco, se acalme! — Meu
anjo fala em tom calmo.
— Anjo, amor, você que me disse
que algo aconteceu, lembra? — Pergunto
e ele soltou uma respiração.
— Sim, sim, me desculpe por
isso, eu acabei de descer do helicóptero
e estou meio abafado, só isso. — Ele
disse eu soltei uma respiração de alívio.
— Como foi sua viagem para
Roma? — Pergunto realmente
interessado.
— Foi tudo bem, amor, mas tarde
podemos falar sobre minha viagem. Mas
agora… — Ele fez um mistério e eu
entrei em alerta novamente.
— Sim anjo, o que foi que
aconteceu. — Pergunto tentando
controlar meu temperamento.
— Foram os gêmeos! — Assim
que Andrea falou dos meus dois
pestinhas eu fecho os olhos com força.
— O que inferno eles aprontaram
agora? — Pergunto ao meu marido que
soltou um som sofrido.
— Eu não sei, Zuco. O pessoal da
escola não quis me dizer pelo telefone.
— Andrea disse e eu podia sentir a
preocupação na sua voz.
— Ei anjo, se acalma, se fosse
algo realmente muito grave já
saberíamos. — Tentei acalmá-lo mesmo
sabendo que por dentro eu estou tão
preocupado quanto ele.
— Pode ser, amor, pode ser. —
Andrea disse em dúvida.
— Estou saindo daqui e vou
encontrá-lo na escola dos garotos. —
Falo já levantando da minha poltrona e
pegando meu paletó.
— Sim, por favor! — Andrea
disse sem esconder sua felicidade em
saber que não estará sozinho.
— Ei anjo, eles são nossos filhos,
não se esqueça disso. — Lembrei a ele e
posso visualizar seu sorriso, mesmo
sabendo que estamos distantes.
— Eu jamais iria me esquecer
disso, meu amor. — Suas palavras me
aqueceram por dentro.
— Até daqui a pouco, anjo! —
Me despedi desligando a ligação logo
em seguida.
Não perdi tempo e já fui ligando
para Oliver para que ele ficasse ciente
de que estaríamos saindo logo em
seguida. Ao passar pela sala de Amauri
eu o chamei, afirmando que não voltaria
mais hoje e que era para ele segurar as
coisas por aqui. Sair da empresa
ansioso para saber o que diabos os meus
filhos aprontaram dessa vez. Esses dois
estão querendo me fazer envelhecer
mais rápido do que eu gostaria. Mamma
fala que eles são a minha cópia em vida,
coisa que eu não concordo, pois eu não
me lembro de ter entrado em tanta
confusão quando mais novo. Quando
falo isso com Mamma, Babo me lançou
um olhar cético e disse que não havia
dúvidas que Gian e Enrico puxaram a
mim, tanto na aparência quanto no jeito
de ser. Um absurdo isso, um verdadeiro
absurdo! Eles devem ter puxado a
Lucca, que é o mais encrenqueiro da
família.
Chego na escola dos meninos e a
primeira coisa que vejo é que o meu
anjo, meu lindo e perfeito marido, está a
minha espera. Eu não perco tempo em ir
à sua direção e assim que me aproximo
perto o suficiente eu o arrasto para os
meus braços. Fodido Deus! Eu nunca
irei me cansar de ter Andrea em meus
braços, ele é tão meu que eu nem sei se
consigo explicar direito. É um
sentimento tão avassalador que me faz
perder totalmente o sentido. Eu não pude
vê-lo hoje o dia todo, porque ele saiu
mais cedo pela manhã e a falta que ele
me fez o dia inteiro está sendo
substituída pelo beijo que estou te
dando. Um beijo quente e cheio de amor,
amor esse que faço questão de
demonstrar de todas as formas
possíveis.
— Olá amor, eu sei que você
sentiu minha falta. — Andrea disse após
separarmos nossos lábios.
— Sinto muito, eu não consegui
resistir a você. Você está tão lindo nesse
terno de negócios. — Falo beijando o
topo da sua cabeça.
— Não seja uma besta, Enzo! —
Andrea me dar um tapa sem força no
peitoral.
— Só estou falando a verdade,
anjo. — Olho admirando os fios
rebeldes dos seus cabelos que
escaparam do seu coque alto.
— Vamos! Temos que ver o que
aconteceu com Gian e Enrico! —
Andrea lembra saindo dos meus braços.
— Você está certo, vamos lá! —
Falo seriamente entrelaçando nossas
mãos.
Ao entrarmos na escola eu posso
sentir os olhos das pessoas em nossa
direção. Ainda não consigo entender o
que tanto eles têm para olhar, eu sei que
meu marido é um ser lindo, que minha
presença pode ser um pouco intimidante.
Principalmente quando temos dois
seguranças grandes protegendo nossas
costas, como Oliver e Cyro, que ainda
efetuam seus trabalhos com bastante
competência. Mas de qualquer modo
isso não faz com que as pessoas que nos
rodeiam encarnem a gente como se
fôssemos seres de outra galáxia. Idiotas,
isso que eles são! Chegamos na sala do
diretor da grande escola e o homem nos
recebe com todo o respeito, mostrando
bastante profissionalismo.
— Senhores, por favor, queiram
se sentar. — O diretor apontando
algumas poltronas para nós, mas não
perdemos tempo com isso.
— O que aconteceu com os
nossos filhos? — Pergunto sem querer
perder tempo.
— Será que vocês aceitam uma
xícara de café ou chá? — O homem de
meia idade pergunta e nós negamos
rapidamente.
— Obrigado por isso, mas não
podemos perder tempo com tamanha
formalidade. — Meu marido fala com
uma expressão séria.
— Tudo bem, senhores já que
querem ir direto ao assunto tudo bem
por mim. — O diretor disse soltando
uma forte respiração.
— Sim, preferimos assim! —
Falo com minha expressão dura e ele
assente.
— Bem, o que aconteceu foi que
os filhos de vocês entraram em uma
briga feia com os alguns alunos do
ensino médio. — O diretor disse e eu
franzi o cenho.
— Ensino médio, mas eles são do
sétimo ano. Não são? — Pergunto
confuso e o diretor confirma mais uma
vez.
— Isso também foi uma surpresa
para mim, eles não querem dizer o que
aconteceu de fato e eu esperei que vocês
como pais, pudessem tirar algo deles. —
O diretor nos olhou com expectativa e
eu voltei meus olhos para Andrea.
— Quero ver os meus filhos! —
Andrea disse irritado e o diretor
arregalou os olhos.
— Claro, claro! — Ele disse
rapidamente e pegou o telefone para
discar. — Tragam os alunos Enrico e
Gian para a minha sala. — O diretor
disse e em poucos minutos a porta foi
aberta e uma jovem ragazza fez com que
meus filhos entrassem na sala.
— Papa, Babo! — Eles disseram
em uníssono e correram até nós. Gian
veio para mim, enquanto Enrico foi
diretamente para Andrea.
— O que diabos aconteceu com
vocês dois? Como assim vocês brigaram
com garotos mais velhos que vocês?
Deixem-me ver esses rostos! — Andrea
desatou a falar puxando os meninos para
que ele pudesse olhar seus machucados.
— Ai papai! — Gemeu Gian
quando Andrea virava seu rosto.
— Devagar Babo, isso realmente
machuca! — Enrico disse quando eu
levantei sua blusa e encontrei um
hematoma feio.
— Quem foram os marmocchi
mais velhos que fizeram isso com
vocês? — Pergunto percebendo que o
meu tom de voz saiu mais frio do que
deveria.
— Não Babo, já passou, deixa
isso para lá! — Gian disse com os olhos
arregalados olhando para o irmão
idêntico a ele.
— Nada disso Gian, o Pai tem
que saber que os idiotas do ensino
médio estavam fazendo bullying com a
gente por sermos iguais. — Enrico
explicou e isso fez Gian se encolher.
— Como é? — Andrea pergunta e
olhou em direção ao diretor. — O
senhor sabia que isso estava
acontecendo na sua escola? — Meu anjo
pergunta em fúria e o diretor nega
arregalando os olhos.
— Não, eu realmente não sabia,
mas temos que levar em consideração
que os filhos de vocês deixaram cinco
dos alunos do ensino médio desmaiados.
— O diretor disse fazendo os gêmeos
revirarem os olhos.
— Eles começaram atacando meu
irmão, nós só nos defendemos. — Gian
disse dando seu melhor olhar inocente e
Enrico mordeu os lábios para não rir.
Vejo que Andrea está agitado ao meu
lado, então tomo uma decisão.
— Olha Diretor, estamos levando
os nossos filhos para casa. — Falo em
um tom que mostrava que não haveria
mais conversa de minha parte.
— Mas senhores Aandreozzi,
temos que averiguar todo o ocorrido já
que as crianças se puseram a falar
agora. — O diretor disse e eu nego com
a cabeça.
— Vamos levar nossos meninos
para se consultar com o médico da
família, mas estaremos aqui amanhã
para resolver. E eu espero que os outros
alunos possam estar presentes também.
— Falo seriamente e o diretor respirou
fundo.
— Acho que isso é justo, já que
os outros também não estão em
condições de falar. — O diretor olhou
de Enrico para Gian e depois assente.
— Em casa vamos conversar
sobre tudo o que aconteceu, eu vou
querer saber de tudo. Ouviram bem? —
Andrea disse firmemente com os gêmeos
que morderam os lábios com força e
assentiram.
— Sim Papa! — Eles disseram
em uníssono e baixaram a cabeça.
Andrea e eu levamos as crianças
para casa, lá ligamos para o médico da
família, Ruggero Sanna, que ficou no
lugar de Vitório quando velho médico
decidiu se aposentar. Depois de todos os
procedimentos feitos por Ruggero, ele
passou alguns medicamentos para os
gêmeos, afirmando que eles tinham
pequenas contusões e nada com que se
preocupar seriamente. Ao ouvir isso
meu anjo e eu ficamos mais tranquilos, e
com isso podemos entrar em uma longa
conversa com os gêmeos. Eles disseram
tudo o que estava acontecendo com os
meninos mais velhos e como eles faziam
questão de fazer brincadeiras com
relação a semelhança deles. Ficamos
bastante irritados com o que eles
relataram, mas também não deixamos
passar o nosso desagrado por eles terem
deixado cinco colegas, mesmo que eles
sejam uns idiotas, desacordados.
Ainda não consigo acreditar que
existam seres humanos tão idiotas ao
ponto de procurar brincadeiras tão
infantil pelas diferenças dos outros. Isso
aconteceu com os meus filhos, mas tenho
certeza de que deve acontecer com
outras crianças pelo mundo a fora e
muito deles não sabem se defender e
muitas das vezes continuam a sofrer com
essas pessoas. Deixo Andrea com os
meninos e desço para ir em direção ao
meu escritório, mas quando estou quase
passando pela porta ouço meu celular
tocar.
— Oi Luna, o que devo a ligação?
— Pergunto assim que atendo a ligação.
— Espera aí Zuco! — Ouço ela
falar e em poucos segundos ela conecta
os nossos outros irmãos a chamada. —
Pronto estamos todos na linha.
— Ei Zuco do meu coração! —
Lucca fala e eu não resisto ao revirar de
olhos.
— O que você quer, Luc! — Falo
sem esconder o meu cansaço.
— Aconteceu alguma coisa
irmão? — Filippo falar rapidamente ao
perceber o meu desânimo.
— Andrea e eu acabamos de
trazer os gêmeos para casa, após uma
briga na escola. — Contei dos meus
irmãos e eles ouviram atentamente.
— Eu não consigo entender como
essas escolas ainda deixam que esses
tipos de situações aconteçam no
ambiente escolar. — Filippo disse entre
dentes fazendo Lucca e Luna concordar.
— Lembro-me quando Justin
ainda era criança e as outras crianças
ficaram o deixando desconfortável por
ele ser cego. — Luna lembrou com
irritação.
— Pietro e Duda também
passaram por essa situação, mas por ter
dois pais. Minha vontade era rasgar
aquela escola ao meio. — Filippo
relatou com ira.
— Samantha também passou por
uma situação assim, mas ela mesma
resolveu. — Lucca disse com orgulho e
eu não pude deixar de rir ao lembrar da
Marrentinha.
— Acho que com relação a isso
nossos filhos são parecidos. Os meus
encrenqueiros deixaram cinco alunos do
ensino médio desacordados. — Falo e
isso fez os meus irmãos caírem na
risada, menos Filippo.
— O quão cedo às pessoas
perceberem, sejam jovens ou não, que
não se deve mexer com o Aandreozzi é
melhor. — Filippo disse em tom sério e
satisfeito.
— E os gêmeos eles estão bem,
Zuco? — Pergunta Luna preocupada.
— Sim, eles estão! Esses meninos
estão me deixando velho muito cedo. —
Brinquei e ouvir um som de desdém de
Lucca.
— Você e Filippo já são coroas,
meu irmão! — Lucca disse fazendo eu e
Lippo soltamos um rosnado irritado.
— Idiota! — Nós dois falamos em
uníssono.
— Otets! — A voz de Viktor
chama minha atenção e eu olho para ele
surpreso.
— Vik, eu não sabia que você
estava vindo. — Dei um sorriso para o
meu filho mais velho e ele tentou sorrir,
mas foi sem sucesso.
— Podemos conversar, pai? —
Ele disse apontando para o celular que
ainda estava no meu ouvido.
— Claro, claro! — Falo
rapidamente percebendo o desconforto
de Vik. — Irmãos, tenho que ir, Vik
apareceu de surpresa. Acho que quer
conversar comigo! — Falo e os meus
irmãos concordaram e foram se
despedindo. Continuo a olhar para
Viktor e posso perceber que o seu corpo
está rígido.
Não sei por que, mas tenho a
sensação de que eu não vou gostar do
conteúdo dessa conversa nem um pouco.
VIKTOR AANDREOZZI

Olho fixamente para o meu pai e


tento encontrar coragem para iniciar a
nossa conversa. Ele ainda fala algo na
ligação com os meus tios, mas eu não
consigo me concentrar no que quer que
seja que eles estão falando. Eu devo
admitir que eu estou me sentindo muito
nervoso, eu não sei o que pode
acontecer assim que eu abrir a minha
boca fodida e revelar a ele as coisas que
estão acontecendo comigo. Eu o respeito
tanto, tenho tanto amor por ele e pelo
meu Papa que só consigo sentir medo.
Sim, medo de que eles não me
compreendam e me joguem para fora da
família. Mas eu tenho que fazer isso, o
cerco está se fechando. E meus pais não
deveriam ter que lidar com nada, eu sou
um homem adulto, tenho 28 anos e sei
exatamente o que fazer da minha vida.
Mas foda-se jesus se não é difícil
estar aqui agora. Meu pai Enzo me
adotou como seu filho, me deu um nome
com que eu possa me orgulhar. Nome
esse que eu bato no peito e faço de tudo
para trazer o máximo de respeito
possível. A família Aandreozzi
acolheram a mim e ao meu Papa, mesmo
sabendo das coisas ruins que fizemos.
Eu ainda consigo me lembrar de cada
coisa absurda que vivi na Rússia, e não
foram coisas bonitas, nunca foram
coisas bonitas. Desde novo eu sei o que
é ser um monstro, eu tive que aprender a
ser assim e tive um professor tão
monstruoso que às vezes eu fecho os
olhos e consigo visualizar o seu sorriso
macabro na minha direção. Maxim
Konstantinov deixou na minha alma algo
que não desejo para o meu pior inimigo.
E é por ter essa marca até os dias
de hoje que eu sempre farei de tudo para
proteger e preservar a integridade física
e mental dos meus pais, dos meus
irmãos e de toda a minha família.
Principalmente dele, quer dizer, não! Eu
não posso ir por esse caminho, a anos
que eu tenho de lidar com isso e ainda
não cheguei a uma merda de um
denominador comum. Então não, eu não
posso ir por esse caminho. Der'mo! Só
de pensar no mal que alguém pode fazer
a algum da minha família, aos meus
irmãos e aos meus pais eu só consigo
pensar na morte e destruição dessas
pessoas. Gian e Enrico são apenas
crianças, que estão chegando à
adolescência agora e eu detestaria vê-
los levando a vida que levei antes de ter
meus pais ao meu lado. E Otto? Porra!
Otto é muito bondoso para ter sangue em
suas mãos, então sim, eu os protegerei
com minha alma se for possível.
— Viktor, filho! — Meu pai
chama dando um passo na minha
direção.
— Oi pai, me desculpa, eu estava
com os pensamentos longe. — Relaxo
meu tom de voz e ele sorrir.
— Eu percebi isso. — Ele fala e
vem até mim, colocando a mão no meu
ombro.
— O que faz em casa cedo? Eu
passei na empresa e Amauri disse que
você saiu e não voltaria hoje. —
Lembrei e ele arqueou a sobrancelha.
— Por que você não me ligou
diretamente? — Pergunta meu pai. Meu
corpo endureceu novamente.
— Eu já estava aqui em Milão,
então eu decidi que deveria te ver
pessoalmente. — Falo rapidamente e
pude sentir os olhos de meu pai em mim.
— Certo! — Ele disse de modo
estranho.
— O que aconteceu? — Pergunto
tentando retardar um pouco o assunto
que tenho para tratar.
— Foram os gêmeos, eles… —
Eu não deixei meu pai terminar e já fui
logo querendo saber.
— O que houve com os meninos?
É algo sério? Onde eles estão, pai? —
Pergunto sem esconder o meu desespero
e meu pai deu um sorriso calmo e me
impediu de ir até meus irmãos caçulas.
— Viktor, se acalme! — Meu pai
mandou e eu respirei fundo fechando os
olhos. — Seus irmãos estão bem, eles
somente tiveram uma briga na escola
com os meninos mais velhos que eles.
— Meu pai disse e eu abrir meus olhos
agora encará-lo.
— E ele não estão machucados?
— Pergunto seriamente e papai assente.
— Sim, mas nada de muito grave,
para falar a verdade os outros meninos
ficaram mais fodidos depois de tudo. —
Meu pai disse dando de ombros e eu
franzi o cenho.
— Como assim? — Pergunto
curioso e pude ver o pequeno sorriso de
meu pai.
— Os malandros deixaram seus
atacantes desmaiados depois a briga. —
Mesmo sem querer foi impossível ouvi
isso é não deixar um pequeno sorriso
escapar dos meus lábios.
— Eu sei que é errado, mas eu
gostei de saber disso. — Falo sem
esconder o meu orgulho dos pequenos,
que nem são mais tão pequenos assim.
— Você gosta por que é um dos
que treina eles, ou você acha que eu não
sei? — Meu pai pergunta cruzando os
braços e eu levanto as mãos em sinal de
rendição.
— Culpado confesso! — Falo
levemente e papai caiu na risada.
A risada leve de meu Otets fez
com que uma coisa boa esquentasse o
meu interior. As pessoas dessa família
podem não ser sociais com as outras
pessoas, mas quando se trata de do
nosso núcleo familiar a história é bem
diferente. Acho que eu aprendi muito
disso com eles, principalmente meu tio
Filippo, eu não gosto das pessoas. Para
fazer a verdade eu não me importo nem
um pouco com as suas existências, mas
se eles são parte de mim as coisas são
totalmente diferentes. Sei que sou um
homem difícil de lidar, eu não sou um
idiota tive uma boa educação, mas
também não sou aquele que confiará e
permitirá que mais alguém venha e foda
comigo e com os meus. Se isso
acontecer eu sou capaz de tudo para
acabar com o mundo se for preciso.
— Viktor, sinto que você está
enrolando com que quer me dizer. —
Meu pai falou diretamente e sem rodeios
e eu abaixei a cabeça por um tempo.
— Eu realmente estou, pai, mas
eu… — Parei de falar quando vi a porta
do escritório de meu pai se abrir e meu
Papa Andrea entrar.
— Amor, os meninos… — Ele
parou e virou a cabeça ao me encontrar
parado aqui. — Filho, eu não sabia que
você viria. — Papa disse com um largo
sorriso.
— Oi Papa! — Falo e abro os
braços para te receber.
— Você está com uma carinha de
cansado, por que não sobe toma um
banho e eu vou te levar algo para comer,
o que acha? — Papa pergunta
atenciosamente e eu passei a mão na sua
cabeça.
— Estou bem, papai, não se
preocupe. — Falo sentindo um gosto
estranho do desconforto na boca.
— Não você não está, algo não
está certo. Você sente isso Enzo? —
Papa virou a cabeça em direção ao meu
Otets.
— Sim meu anjo, eu realmente
sinto. — Ele disse num tom escurecido.
— Viktor veio aqui nos falar algo, mas
ainda não conseguiu. — Ele disse e meu
Papa levantou a cabeça para me encarar.

— O que está acontecendo, moy


mal'chik (meu menino)? — A
preocupação de Papa faz meu coração
bater forte.
— Papa, sente-se com o Otets que
eu irei falar. Eu não iria esconder nada
de vocês, pelo menos não mais. —
Minha voz saiu rouca e o sotaque russo
se aprofundou.
— Mas o que está… — Papa
começou novamente, mas meu pai Enzo
interveio.
— Venha aqui anjo, o nosso filho
vai nos dizer o que quer que seja e não
esconderá nada, não é Viktor? — A voz
de meu pai me fez encolher um pouco.
— Sim, eu não irei esconder nada.
— Concordei com firmeza e ele assente.
O contraste entre meus dois pais é
realmente incrível, enquanto no meu pai
Enzo é um homem alto, com um porte
físico grande e marcante, o seu tom de
pele é um bronzeado. Que faz com que
seus cabelos e olhos castanhos, cinza
nas laterais, se destaquem mais e mais.
Já o meu pai Andrea é pequeno, ele e
Otto tem praticamente a mesma altura,
mas não se engane com sua altura,
cabelos loiros compridos e rosto
angelical. Porque eu tenho que dizer que
meu pai é tão letal que chega a ser
assustador. Chega de tanta enrolação,
chegou a hora de contar a eles o que
exatamente está acontecendo.
— Papa, Otets, inicialmente eu
queria que vocês pudessem me perdoar
por estar a tanto tempo escondendo isso
de vocês. Eu fiz isso, mas foi para a
segurança da família. — Falo
seriamente e pude ver que seus cenhos
estão franzidos em confusão.
— Saber que você está
escondendo algo de nós me deixa muito
puto, mas seja como for nós somos seus
pais e te amamos. — Meu pai Enzo
disse e eu apertei o encosto da cadeira
com força.
— Isso é a mais pura verdade,
meu menino. Diga logo! — Papa disse e
eu soltei uma respiração forte.
— A algum tempo atrás a Bratva
está atrás de mim, mas eu fiz de tudo
para ignorá-los do meu caminho. —
Falo rapidamente e pude ver meus pais
ficarem assustados.
— Viktor! — Meu papa disse
assustado e meu pai Enzo o abraçou.
— Continue Viktor! — Otets disse
entre dentes. Coloco uma máscara firme
no meu rosto e continuo a falar com
meus pais.
— Antes eram mensagem sutis,
coisas sem muita importância, eu estava
totalmente disposto a ignorar e seguir
minha vida. Meus negócios em Nova
York estão indo muito bem, como vocês
mesmo sabem, mas as coisas começaram
a mudar e se tornar um pouco mais
incomoda. — Respirei fundo e
pressionei minha mandíbula com força.
— A alguns dias atrás eu recebi
fotografias de Otto, que de início eu
achei meio estranho, mas nada que me
fizesse querer preocupar vocês. Só que
as fotos nunca paravam de aparecer, eu
entrei em contato com Otto pedindo para
ele vir para casa por que Riomaggiore
não é segura.
— Filhos da puta! Se eles fizerem
alguma coisa com vocês ou meu marido
eu vou destruí-los. — Otets disse entre
dentes e eu nego com a cabeça.
— Pai, você tem que confiar em
mim quando eu digo que eles não
querem nada com o meu irmão ou com o
papa. O foco principal deles sou eu, mas
como eu estava os ignorando eles
tentaram me alcançar de alguma
maneira. E essa maneira é o Otto. —
Deixei minha raiva sair, porque eu não
estava mais aguentando segurar. — Eu
não tenho mais nada de tão valioso na
minha vida do que vocês, minha família,
e foi por isso que eu decidi ceder a
Bratva. Eles querem que eu tome a
frente da família Konstantinov, porque é
uma família antiga e eles não querem
perder. Eu… eu vou tomar a frente
disso! — Falo de vez e pude ouvir o
som espantando de meu pai Andrea.
— Viktor não! Você não pode
fazer uma coisa dessas, meu filho. —
Em dois tempos meu Papa estava
apertando suas mãos fortemente nos
meus braços. — Seu pai e eu fizemos de
tudo para que você ficasse o mais longe
de tudo aquilo, não Vik, não vá. — O
desespero na expressão de meu Papa
cortou meu coração em pedaços.
— Papa, eu tenho que proteger a
nossa família, nós somos fortes, mas
contra a Bratva inteira não teremos
chances. Eu sou seu filho, eu fui talhado
de algo diferente, eu sou diferente por
sua causa e de Otets. Mas… — Minha
voz escapou de mim e pude sentir uma
mão forte segurar meu ombro.
— Você tem necessidade de algo
a mais, não é? — Otets disse e eu baixei
a cabeça concordando levemente.
— Eu vou proteger vocês, não
vou deixar que nada possa vir até vocês.
— Falo seriamente trazendo meu pai
menor aos meus braços.
— Não precisamos que você se
sacrifique por nós, Vik. Esse é o deve
dos pais e não o contrário, mas se você
acha que não tem outra opção, eu confio
no seu julgamento. — As palavras de
confiança de meu pai chegaram a mim e
eu não pude deixar de me sentir um filho
da puta amaldiçoadamente sortudo.
— Não foi isso que eu quis para
você, eu nunca quis isso agora você,
moy mal'chik. — Papa fungou com seu
rosto colado no meu terno.
— Eu sei disse Papa, mas as
vezes as coisas não acontecem como
planejamos. Eu sou parte de… bem, eu
tenho o sangue de um Konstantinov. —
Falo irritado entre dentes.
— Não! Você é o meu filho e de
ninguém mais, você entende Viktor? —
Otets pergunta e eu dou um curto sorriso.
— Eu sei disso! — Falo e ele
respira de forma aliviada. — Meu maior
medo na verdade não é ter que lidar com
a máfia russa e sim o que vocês
poderiam pensar de mim. — Confessei e
os dois me olharam como se não
acreditasse nas minhas palavras.
— Não seja um idiota, você é e
sempre será o maior orgulho da família
Aandreozzi. Eu, seu papa, seus avós,
seus tios, primos e irmãos te amamos.
— Meu pai disse com tanta firmeza e
verdade que eu o trouxe para um abraço.
— Não quero nunca decepcionar
vocês. Sinto muito por não ter falado
sobre isso antes. — Me desculpei com
sinceridade e meus pais se afastaram.
— Tudo bem, eu não estou
gostando nada disso, mas não irei te
abandonar a mercê desses fodidos. —
Otets disse entre dentes e eu assinto.
— Quando você vai se encontrar
com eles? — Papa pergunta interessado
e eu nego.
— Não pense nisso, papa, o
senhor não pode ir comigo. — Apontei o
óbvio e ele revirou os olhos.
— Infelizmente eu sei disso, eu
matei Maxim e mais ninguém. — Papa
disse com segurança.
— Sim, nossa sorte foi que eles
nunca gostaram de Maxim. — Lembrei e
ele concordou.
— Como vai ser de agora em
diante? — Meu pai Enzo pergunta e eu
nego.
— Eu não sei ao certo, terei meu
encontro oficial com a família amanhã.
— Só de falar sobre isso sinto meu
interior esfriar.
— Certo! — Ele disse com raiva.
— Viktor, fique para o jantar e
depois você pode ir pegar o jatinho para
voltar para Nova York. — Papa pediu
com expectativa. Tenho certeza de que
ele fará de tudo para me fazer desistir
disso, mas não tenho mais nenhuma
alternativa.
— Claro, papa, eu ainda quero
conversar com os gêmeos sobre a briga.
— Falo de forma sutil e ele assente com
a cabeça como se estivesse perdido.
— Eu vou… eu tenho que ir... —
Ele apontou para fora do escritório e
saiu logo em seguida. Fiquei olhando-o
se afastar e não pude deixar de me sentir
culpado por deixá-lo dessa maneira.
— Ele vai saber lidar com isso.
— Meu pai Enzo disse olhando para
fora do escritório e eu voltei meus olhos
na sua direção. — Seu Papa e eu não
somos inocentes, filho, sabemos que
uma hora ou outra a Bratva viria até
você. Assim como a Finastella veio por
mim e meus irmãos, mas só que a
Finastella é um nada em comparação a
máfia russa. — Ele disse e eu cerrei os
punhos.
— Eu odeio isso! — Soltei com
raiva e ele colocou as mãos em meu
ombro novamente.
— Queria te pedir três coisas. —
Ele parou por um tempo e meus olhos
encontraram os seus olhos castanhos. —
Primeiro eu gostaria que você entrasse
em contato comigo sempre, segundo
quero que em qualquer sinal de perigo
saiba que vamos estar lá por você em
dois tempos. E terceiro e não menos
importante, você pertence à família
Aandreozzi é mais nenhuma outra. Você
está entendo? — Sua pergunta saiu como
se não restasse dúvidas e eu confirmo.
— YA nikogda etogo ne zabudu,
otets! (Jamais esquecerei disso, Pai!) —
Falo firme e ele me puxou para um forte
abraço paternal.
— Eu não faço ideia de como
contar isso a família. Estou fodido! —
Ele divagou a contragosto e eu não tive
mais o que dizer sobre isso.
Passei o restante daquele dia na
mansão dos meus pais em Milão, fiquei
um tempo com meus irmãos caçulas e
eles me distraíram bastante de toda a
minha merda. Eu sou o irmão mais velho
desses dois e seja como for eles sempre
me ouvem. E foi por isso que quando
eles me contaram o que aconteceu na
escola eu estava pronto para aconselhá-
los da melhor maneira possível.
Ainda me assusto como eles
cresceram tão rápido, eles que quando
eram pequenos viviam grudados em mim
de um jeito que ninguém era capaz de
tirar. E posso confessar com tudo em
mim, que mesmo eu sendo do jeito que
sou eu adorava e adoro tê-los por perto.
Gian e Enrico são umas coisinhas
agitadas, mas tão família quando
qualquer um de nós. Durante a minha
estadia em casa eu pude sentir os olhos
de meus pais em mim o tempo todo.
Posso sentir as suas preocupações, mas
eu não posso mudar as coisas. Não
agora, pelo menos.
Entrei no jatinho logo cedo e
quando cheguei em Nova York, Nastka e
Mikhail já estavam a minha espera.
Conheço esses dois irmãos a muita há
anos, nós éramos próximos quando eu
estava na Rússia e assim que a Bratva
entrou em contato comigo eles vieram
livremente dispor dos seus serviços
para mim. Ainda não sei se posso
confiar neles, mas não consigo explicar
o sentimento de segurança que esses
dois me passam. Os irmãos Griboedov
são um exemplo de tudo o que há de
mais estranho na vida, eles são letais e
respiram máfia desde que foram
colocados nesse mundo. A família
Griboedov serviu a família Konstatinov
por muitas décadas, sendo assim eles se
predispuseram a oferecer a suas vidas e
armas a mim. No carro eu olho
rapidamente em direção a eles, mas
desvio os olhos quando sinto meu
celular chamar.
— Chto sluchilos', boss? (O que
houve, Chefe?) — Nastka pergunta em
russo e eu prendo meus olhos nela.
— Nada que te diga respeito,
sim? — Pergunto e ela abaixou a cabeça
em sinal de respeito.
— Sim, senhor, desculpe minha
indiscrição. — Se desculpou ela e eu
assinto. Vejo que o carro parou em
frente ao prédio da Bratva, localizada
em Manhattan.
— Podem sair, irei logo em
seguida. — Mandei indicando a saída
para os dois e ele fazem exatamente o
ordenado.
— Como quiser, chefe! —
Mikhail dar um sorriso assustador e
sádico e eu me esforço para não revirar
os olhos. Quando os dois estão longe do
meu veículo eu corro para atender a
ligação.
— Aqui é Viktor! — Falo já
esperando a enxurrada de xingamentos
que não tarda a acontecer.
— Que porra é essa Vik? — Duda
grita do outro lado da linha.
— Onde diabos você está Viktor?
— Dessa vez foi Samantha.
— Nós acabamos de ficar
sabendo, você não sabe o caos que está
a família. — Pietro disse e eu respirei
fundo.
— Pessoal se acalmem, meu
irmão irá explicar tudo. — Otto disse
nervoso.
— Fica impossível se acalmar
quando sabemos que Viktor está
cedendo a Bratva. — Duda disse com
irritação.
— Você não sabe o que está
falando, Eduarda. — Vociferei entre
dentes.
— Claro que sabemos que você
está fazendo isso para nossa segurança,
mas podemos enfrentar essa merda, Vik.
— Sam disse em desespero.
— Eu não posso conversar agora.
— Soltei rudemente e todos soltando um
som de irritação do outro lado da linha.
— Justin, nos ajude aqui, fale algo
para o nosso primo desistir disso. —
Pietro disse e eu fechei os olhos com
força. Oh porra não, não faça isso!
— Pessoal, esperem um pouco!
— Justin disse e só de ouvir a porra da
sua voz meu coração acelerou de uma
forma que me causou dor.
— Obrigado Jus! — Otto
agradeceu e eu engoli
desconfortavelmente.
— Eu conheço Viktor e tenho
certeza de que ele sabe o que está
fazendo. Estamos todos preocupados
aqui, mas…, mas eu confio nele. —
Justin parou por um tempo e eu apertei a
o celular com força suficiente para ouvi-
lo trincar um pouco. — Vik, eu confio
em você e saiba que vamos estar aqui
por você, não importa o que. — Oh
droga! Eu não estou preparado para
ouvir isso dele.
— Khorosho, spasibo! (Certo,
obrigado!) — Fui sucinto com as minhas
palavras, eu não podia correr o risco de
falar para ele que eu… não!
— Que merda Vik, me desculpe!
Justin está certo, porra! — Duda disse
soltando um som sufocado. — Se você
fizer alguma besteira ou alguém vir a te
machucar nós vamos chutar algumas
bundas. Ouviu bem? — Era como se eu
tivesse ouvido meu tio Filippo falar
agora mesmo.
— Estarei seguro, não se
preocupem. — Respondo duramente e
eles confirmaram.
— Merda, eu vou adorar ter essa
máfia fodida na mira da minha arma. —
Pietro disse e Samantha foi logo
concordando com ele.
— Ninguém irá fazer nada, estou
logo avisando. Eu sei que que estou
fazendo, a segurança da família vem em
primeiro lugar. — Comandei e eles
ficaram em silêncio.
— Você está certo, irmão. Estou
feliz que a nossa família agora sabe o
que está acontecendo com você. Eu não
aguentava mais o segredo. — Otto disse
aliviado e eu nego com a cabeça.
— Eu poderia ficar sem
comunicação por uns dias, mas garanto
que logo entrarei em contato. — Me
despedi e quando ia desligar a voz de
Justin chamou minha atenção.
— Vik eu… — Ele começou a
falar e eu não deixei terminar.
— Uvidimsya pozzhe! (Até logo
mais!) — Desliguei a ligação r em
consequência desliguei o meu celular
também.
Antes de sair do carro eu chequei
minhas armas, assim que a averiguação
está completa eu as guardei no coldre.
Sair do carro e lá estava Nastka e
Mikhail a minha espera, fecho o botão
do meu paletó negro e olho em direção a
Dominik, meu chefe de segurança
polonês, que está ao meu lado desde que
eu tinha 20 anos.
— Se você quiser desistir de
fazer minha segurança, essa é a hora. —
Falo ao sair do carro sem olhar em
direção a Dominik.
— Sempre estive ao seu lado,
senhor, isso não mudará agora. — Ele
responde com seu profissionalismo de
sempre.
— Bom! — Falo simplesmente
fazendo Mikhail e Nastka se
posicionarem aí meu lado.
— Chegou a hora, chefe, vai ser
bom trabalhar ao seu lado. — Mikhail
falou tirando um pirulito da boca e
sorriu de modo divertido.
— Cala a boca seu idiota de
merda! — Natska grunhiu para o irmão
que deu de ombros.
— Minha irmãzinha sempre sendo
amável. — Resmungou ele voltando a
chupar seu pirulito.
Que a merda comece, mas espero
que todos saibam que eu posso ser pior
que Maxim Konstatinov. Mas só quando
se tratar da proteção da minha família...
minha família Aandreozzi.

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