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Um romance new adult de

C. Oliveira
#1 THE BOYBAND SERIE
I. A Estrela de Julian
Para todos aqueles que se arriscam a sonhar e para minha própria
estrela — minha querida tia. Sinto sua falta.
Copyright © 2020 C. Oliveira

Capa: Danny Albuquerque.


Revisão: Maria Eduarda & Lara Silva (Englantine)
Diagramação: Lara Silva.

Todos os direitos reservados.


Sumário
PLAYLIST
EPÍGRAFE
PROLÓGO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPITÚLO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO CATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
EPÍLOGO
PRÓXIMO LIVRO
AGRADECIMENTOS
PLAYLIST

O livro tem uma playlist oficial disponível no Spotify!


Somente basta procurar por ‘’a estrela de julian soundtrack’’, em letras
minúsculas.
Kiss You — One Direction
Tu Luz — CNCO
Someone To You — BANNERS
Tattoo — Rauw Alejandro
As Long as You Love Me — Backstreet Boys
Caramelo — Ozuna
Liquid Dreams — O-Town
I Want You Back — *NSYNC
Please Don’t Go — Joel Adams
Beside You — 5 Seconds Of Summer
Si Estoy Contigo — Camilo
I Found You — The Wanted
EPÍGRAFE

‘’ Agora é tudo que temos. Sem promessas e arrependimentos.’’


— Mamma Mia (2008)
PROLÓGO

"Geovanna del Reiz, atriz brasileira desconhecida, entra para o elenco de


The Last Light, série sobrenatural da Goldnet. A série já conta com nomes
renomados como Thomas Porter, Justin Colloway e Sydney Park."
"The Last Light estreia nessa quinta-feira (08/03) na Goldnet! Venha
conferir."
"Crítica recebe The Last Light com 8.7"
"Conheça a atriz brasileira que surpreendeu com sua atuação na nova série
da Goldnet, Geovanna del Reiz!"
"Acho que só foi questão de muito esforço e talento de todos as pessoas que
fizeram parte da construção" diz Geovanna del Reiz sobre o sucesso de The
Last Light."
"O sucesso de Geovanna del Reiz. A ex-estudante de História que veio para
ficar na indústria cinematográfica"
"Justin Calloway e Geovanna del Reiz. Amigos ou algo a mais? Venha
conferir as fotos dos dois!"
"Geovanna foi uma boa surpresa." Diz Sydney Young sobre a colega de The
Last Light."
"Geovanna del Reiz entra para o elenco de ‘Os Mistérios da Muralha’ filme
produzido por Megan Silles e estrelado por Tommy Star."
"Geovanna del Reiz é indicada quatro vezes no Emmy 2018"
"Estrelas de The Last Light, Thomas Porter e Geovanna del Reiz, são vistos
em uma instituição contra a prostituição infantil. Eles não quiseram falar
sobre o que fizeram, mas a instituição recebeu uma generosa doação durante
todos os meses que os dois visitaram. Acompanhe todas as instituições que os
atores auxiliam."
"Aniversário de 21 anos da atriz Geovanna del Reiz conta com nomes
prestigiados do cinema. Confira quem estava com o nome garantido na
lista."
"Geovanna del Reiz entra para o elenco das adaptações do livro
universitário de hóquei mundialmente famoso’’
"Geovanna del Reiz é a vencedora do Emmy de Atriz Revelação"
"Conheça a vida que Geovanna del Reiz levava antes de virar a atriz em
ascensão da Goldnet"
"Sucesso! Geovanna del Reiz é cotada para mais três filmes dentro da
Goldnet"
"A princesa da nova geração de Hollywood confessa seu amor fangirl"
"Venha conhecer a boyband latina: Latin Spice, que Geovanna del Reiz é
fã!"
‘Os conheço desde os meus 18 anos’ confessou Geovanna del Reiz sobre ser
fã da boyband latina, Latin Spice"
CAPÍTULO UM

— Querida, eu preciso que você levante seu rosto e que não se mexa.
— A voz gentil de Lucia soou e Geovanna piscou — A maquiagem vai ficar
torta se você não achar um jeito de acalmar sua ansiedade.
Geovanna deu um meio sorriso, em um pedido silencioso de
desculpas e ergueu o rosto, assim como a sua maquiadora comandou e tentou
focar na entrevista que iria dar daqui a poucos minutos.
A nova estrela de Hollywood, é como a chamavam. A mulher
dispensava toda vez que a diziam isso, mas não podia deixar de sentir o
orgulho a preenchendo toda vez que ouvia como sua atuação era tão bem
criticada, abriu um pequeno sorriso ao lembrar de como sua vida tinha
mudado drasticamente desde que aceitou fazer parte da série. Geovanna
piscou e afastou os devaneios quando Lúcia emitiu um som de reprovação,
mais uma vez a mulher tinha pendido sua cabeça para baixo, a atrapalhando
novamente.
— Perdão — Geovanna pediu, mordendo os lábios pintados de
vermelho. Ela olhou para sua imagem no espelho diante de si e sorriu.
Um pedaço de mal caminho, sua melhor amiga diria. Geovanna tinha
que concordar. Não era mais a menina inocente que um dia foi. Não sabia se
aquilo era exatamente uma coisa boa ou não.
— Dez minutos! — O assistente de um daqueles diretores havia
entrado no camarim e anunciado. Isso fez com que Lucia rapidamente
terminasse toda sua obra prima.
Os olhos castanhos sábios da mulher se iluminaram quando Geovanna
ficou pronta.
— Sempre magnífica — Piscou e foi a deixa para a brasileira sair
rapidamente, seguindo para o centro, onde ocorreria sua entrevista. Suas
assistentes acompanhavam seus passos enquanto ela cantava baixinho uma
música para se acalmar.
Parou atrás das cortinas e suspirou, erguendo a cabeça e pronta para
também interpretar quando exigisse dela.
— Geovanna del Reiz!
Ela sorriu quando pôs seus pés no pequeno palco e acenou para
plateia.

Julian fechou os olhos e suspirou pesadamente quando as mãos de


Adrian não paravam quietas, fazendo qualquer barulho que tivesse
oportunidade. Deuses, ele só queria dormir... aparentemente não seria
possível com Adrian batendo nos lugares e Diego cantando desafinado de
propósito ao seu lado. O homem passou os olhos pelo carro e tentou focar no
que seus amigos estavam fazendo para não morrer de tédio até chegar ao
aeroporto.
Santiago, estava com a boca aberta e babando levemente, com um
tapa olho de dormir que tinha uma cor de rosa claro muito feminina para ser
dele e ridículos desenhos de flamingos, então a conclusão de Julian foi que
deveria ser de uma das duas mulheres que entraram no seu quarto de hotel na
noite passada. Enquanto é, claro, a cama do mexicano era mais vazia e fria do
que imaginava. Fechou os olhos quando tudo isso caminhava para seus
pensamentos com sua ex que fez questão de deixar um estrago no coração e
na insegurança do cantor Julian Romero — o que seus melhores amigos
faziam questão de lembrá-lo era que ele não precisava dessa merda em sua
cabeça.
É claro que eles falavam isso, pensou Julian com amargura, ninguém
passou pelo o que eu passei.
Exceto, talvez, Santiago. Talvez seja por isso que ele ergueu uma
faixa ridícula de badboy, como se alguém acreditasse nessa merda. Por Deus,
o cara chorava com comercial de manteiga e era somente necessário um
animal fofo aparecer em sua frente para desmanchar toda a imagem do
personagem que dizia ser. Julian revirou os olhos com seus pensamentos e
sorriu minimamente. Que baita boyband eles formavam.
— Tudo bem aí, cara? — Julian se virou e encontrou os olhos de
Dante numa análise detalhada sobre suas ações — Sabe, você estava quase
falando sozinho...
Julian esboçou um sorriso debochado em sua direção e não falou
nada.
Dante pareceu achar resposta o suficiente para sua pergunta porque
apenas deu de ombros e voltou a mexer no seu celular e o homem voltou seus
olhos para as ruas ensolaradas de Los Angeles. Havia apenas alguns dias que
a turnê mundial da banda tinha finalizado, mas a presença da banda ainda era
necessária na cidade para terminar as estúpidas entrevistas das quais ele
sempre se esforçava para não dormir e não demonstrar o quão canalha podia
ser para suas queridas fãs.
— Deus, por que ‘tá demorando tanto para chegar na nossa casa? Não
me lembrava do caminho do aeroporto até lá ser tão longo. — Adrian
reclamou, enquanto Diego ria baixinho de seu amigo. Santiago continuava
dormindo.
— Você reclama muito. — Julian murmurou, ainda com os olhos na
janela do carro, reconhecendo as ruas do qual passava.
Adrian emitiu um ruído indignado e o homem finalmente olhou,
somente para revirar os olhos com seu amigo imitando uma criança com
braços cruzados e cara emburrada, seus olhos verdes cintilantes arregalados.
— Você é uma criança ou algo do tipo? — Provocou.
Em resposta, ele apenas arregalou mais os olhos. Não sabia como era
possível.
Diego gargalhou alto.
Como sempre. Ele era um saco de risadas. O que era, muitas vezes,
insuportável.
— E você, meu caro, — Ele apontou seu dedo para o homem — é
chato demais. Parece velho. Supera, cara.
No momento em que Julian iria rebater, Santiago tirou seu tapa olho
de cor rosa claro, o jogando para ao lado do seu corpo, irritado. Seu corpo
musculoso ereto e os olhos azuis acinzentados levemente vermelhos de sono.
— Um homem não pode ter um mísero descanso em paz depois de
tanto trabalho — disse, visivelmente chateado e quase gritando.
— Não quando tem nós por perto. — Apontou Adrian com uma voz
que parecia que estava anunciando a descoberta do ano.
Seu ponto não deixava de ser verdade.
— Somos seus presentes e sua maldição, cara. — Continuou.
Julian sorriu, Diego e Adrian riram alto e Dante tirou os olhos do
celular, balançando a cabeça em negação para seus amigos, enquanto
Santiago continuava a murmurar reclamações, ainda chateado, alegando que
estava tendo um sonho maravilhoso com Angelina Jolie antes da risada de
foca engasgada de Diego o tivesse interrompido.
Os homens ficaram imediatamente calados e cessaram suas
discussões quando o motorista avisou que estavam chegando em suas casas e
que logo precisariam sair do veículo. Julian colocou seus óculos escuros e seu
boné, se preparando para a gritaria que teria que enfrentar com os fãs que
provavelmente já estavam os esperando.
— Você quer ajuda para acordar de vez? — Diego ofereceu o seu
melhor sorriso angelical para Santiago, mostrando a mão já preparada como
oferta.
Santiago semicerrou os olhos. — Se você ousar me dar um tapa, eu te
dou um soco.
Adrian tossiu, disfarçando uma risada enquanto ele colocava seus
próprios óculos escuros.
— Ninguém vai dar tapa ou soco em ninguém aqui. — Dante avisou,
seu rosto sério, passando sua mão pelos cachos tão negros quanto sua cor de
pele escura — Agora, crianças... Vamos.
A gritaria já estava cada vez mais próxima e Julian quase ficou cego
quando abriu a porta do veículo e teve o flash das câmeras de seus fãs em sua
cara, mas de qualquer jeito, colocou um sorriso no rosto e acenou para vários.
E tirou fotos com outros.
Ele ouviu seu nome. Como sempre.
As mãos o puxando para mais perto, sendo afastadas pelo segurança
que os acompanhava. Mesmo assim, fazia um esforço a mais para se
aproximar e tirar a selfie que tantas pediam.
Ele estava longe de ser o favorito enquanto sabia que suas fãs ficavam
fascinadas com os olhos verdes e a feição angelical de Adrian, ou o carisma
contagiante de Diego que trazia uma boa combinação com os olhos cor de
jabuticaba, e até mesmo os músculos de Santiago com seus quase 1,90m, e
tinha aquelas que ficavam fascinadas com o sorriso carinhoso e o charme
indescritível de Dante.
Piscou os olhos quando uma fã o puxou e ele ofereceu um sorriso
gentil para mesma, lutando contra o cansaço que já estava quase dominando
seu corpo e mente. Ele só queria sua cama. E já estava ficando incomodado
com o tanto de flash que eram distribuídos sua direção.
Precisava ficar em pé ali um pouco mais — só um pouco mais. Então,
enquanto sorria, posava e acenava para suas fãs, tentou o seu máximo.
Apenas para mais um pouco e ele poderia se jogar em sua cama e talvez dar
um trago até que estivesse tão chapado e pudesse dormir sem pesadelos. Por
mais que ele estivesse tentando se livrar dessa parte de sua rotina.
Mas ele não conseguia.
Ainda não.
Aos poucos, sua terapeuta o dizia. Então ele iria aos poucos.
Até sua manager tirá-los dali, com voz grossa e feição de quem não
estava para brincadeira. Apesar disso, Diego foi o último a sair da multidão
de fãs, ainda esbanjando um sorriso animado. Deus, Julian não sabia como
ele conseguia ficar tão energético sem nenhuma substância ilícita correndo
pelo seu sangue.
— Julianzinho.... — Começou Diego com a voz provocativa e
debochada — Você perdeu a morena espetacular que tinha naquela multidão
— disse, erguendo os olhos e gesticulando para onde ele tinha saído.
Julian se permitiu rir baixinho. Tinha que saber que alguma mulher
estava envolvida nisso. Atrás dele, Santiago deu um tapa na nuca do seu
amigo.
— Será que você só pensa com a cabeça de baixo?
Diego o olhou indignado.
— Por que vocês me odeiam tanto? — Ele indagou e esticou o lábio
inferior, reproduzindo um biquinho que muitas fãs poderiam considerar fofo.
Julian achou nojento. E feio.
— Se matem sozinhos e eu vou para minha incrível cama que está me
esperando. — Ele disse e abandonou seus amigos, ainda discutindo entre si.
Seus pés cansados se moveram com mais lentidão do que ele
esperava. Mas, ele lembrou a si mesmo: um passo de cada vez.
Quando se jogou na cama, ele fechou os olhos em um suspiro de
cansaço, largando sua mala por qualquer espaço disponível no apartamento.
Ele poderia ter um orgasmo de tanto prazer quando sentiu que poderia,
finalmente, descansar.
Seu celular vibrou e ele soltou um xingamento, o tirando de sua calça.
Diego: já ‘tá batendo uma?
Inacreditável.
Revirou os olhos e digitou uma resposta rápida, mandando o amigo
para o inferno e estava quase desligando o celular quando a notícia chegou às
suas notificações, mencionando o nome da boyband do qual ele e seus
amigos faziam parte. Ele ergueu as sobrancelhas, interessado.
Ao terminar de ler a notícia, um pouco mais sensacionalista do que
imaginava, possuía um sorriso no rosto. Quase sentiu vontade de sair do
quarto e contar para seus amigos...
Mais tarde, o subconsciente cansado de Julian o avisou.
De fato, mais tarde seria. Ele somente precisava fechar os olhos mais
um pouco...
— Geovanna del Reiz — Estalou o nome na língua.
E soou como doce.
CAPÍTULO DOIS

Geovanna quase levantou as mãos e agradeceu aos céus quando


entrou no elevador que levaria para seu apartamento, tirou os óculos escuros
e finalmente pensou que logo poderia tirar os saltos que já a incomodavam
mais do que ela podia descrever. O elevador abriu e ela se deparou com o
corredor vazio, para sua felicidade. Andou em passos rápidos em direção a
cobertura que dividia com sua amiga e colega de elenco, a doce e gentil
Alexis Marie.
O apartamento cheirava a bolo de chocolate.
Geovanna sorriu, jogando os saltos em algum lugar do cômodo e
seguiu em direção ao magnífico cheiro que estava impregnado por todo lugar,
encontrando sua amiga muito concentrada no celular ao chegar na cozinha. A
mulher ergueu as sobrancelhas diante da bagunça que o lugar estava
provavelmente tendo trigo até nas paredes.
— Wow — Geovanna disse, passando a mão pela bancada — que
furacão passou por aqui?
Alexis levou um susto, quase derrubando o celular que estava em suas
mãos e desequilibrando-se devido a presença da loira, que agora estava com
um sorriso no rosto, ainda procurando se algo estava quebrado.
— Geo! — Alexis exclamou, seu rosto cor ouro marrom estava
levemente vermelha pela surpresa — pensei que você ia para o estúdio depois
da entrevista.
Geovanna deu de ombros. Adiou os compromissos, não iria a
qualquer outro lugar que não fosse sua casa.
— Não estava com vontade. — E ela realmente não estava.
Alexis ergueu suas sobrancelhas escuras, mas escolheu não opinar
nada sobre o porquê de ela não ter ido para o estúdio de gravações. Porque, é
do conhecimento geral que os cenários dos filmes viraram o habitat natural
da loira, tem vezes que ela costuma madrugar e somente voltar no momento
em que ela percebe que está bom o suficiente — o que é difícil, muito difícil
— ou quando o café e energéticos não fazem mais efeito em seu corpo e
precisa imediatamente dormir em sua casa e não na cadeira de seu camarim.
Era no mínimo estranho a loira não estar onde sempre a viam. Mas
hoje, não.
— Baita entrevista que você deu hoje... — A mulher a sua frente
comentou.
Foi a vez de Geovanna erguer as sobrancelhas, divertida.
— Ah, é? Fiz algo de errado?
Geovanna nunca fazia algo de errado. Ninguém a obrigara, ninguém a
comandava. Ela só era muito certinha para cometer deslizes dos quais os
paparazzi matariam para conseguir e vender por uma baita nota. Na verdade,
a mulher estava considerando que eles achavam que ela era entediante
demais.
Ela levantava as mãos para o céu todo dia por isso.
Não que ela não fosse perseguida. Ela era. Muito. Mas por sua curta
experiência dentro da indústria cinematográfica sabia que ainda era
abençoada por ter traços da sua vida mantidos um pouco mais normais do que
muitas celebridades.
Como seu amigo, Thomas Porter. O cara era um sucesso. E muito
gostoso. As fãs de The Last Light eram completamente loucas por seus
cachos louros e olhos verde esmeralda. O tanquinho também atraía bastante
admiradoras. E admiradores.
Deus abençoe sua genética.
— Por Deus, você ainda não viu? — A voz de Alexis fez Geovanna
voltar a realidade e balançar a cabeça negativamente para sua amiga que
sorriu ao receber a resposta da loira — Nossa! Está em todo maldito lugar.
‘’Geovanna del Reiz anuncia seu amor de fangirl’’ — Leu em voz alta, a voz
transbordando sarcasmo — ‘’Conheça Latin Spice, a boyband latina que
roubou o coração da princesa da Goldnet’’ — Alexis teve a audácia de soltar
um pequeno riso quando terminou de ler o último título.
Por Deus.
Ela ia se enfiar no próximo buraco que visse na rua depois dessa.
Alexis abriu uma gargalhada, provavelmente vendo sua cara de
desespero. Geovanna semicerrou os olhos em sua direção, num óbvio olhar
que dizia: ei, isso não é engraçado.
— Preciso fazer uma ligação — murmurou, movendo-se do cheiro
magnífico que vinha do forno e indo em direção de seu quarto e seu refúgio.
Minutos depois, seu banho foi interrompido pelo toque frenético de
seu celular, revelando as mensagens atrasadas de seu grupo.
Carol: alguém avisa para Geovanna que ela acabou de anunciar que
foi uma fangirl e agora a internet está surtando com isso?
Malu: sem tempo, irmão
Let: ela vai surtar... ansiosa
Malu: cada um com seus micos né haha
Let: cobra!!!!
Malu: a naja falando
Carol: uma pior do que a outra
Todo mundo sabe que eu sou a mais santa daqui
Malu: nem vc acredita nisso
Let: meu deus quem é que aguenta vcs
Insuportáveis
Carol: assim vc me magoa, Letícia
Geovanna abriu uma gargalhada alta, lendo as mensagens de suas
amigas e clicou com ícone de ligação em grupo. Não demorou muito para
Carolina atender e seu rosto aparecer na tela do celular, ainda com cara de
sono, o cabelo castanho preso e com um pão com manteiga na sua boca.
— Que horas são no Brasil? — A mulher indagou, vendo sua amiga
ainda tomando o café.
— Uma da tarde — Carol a respondeu, ainda com o pão na boca —
Por quê?
Previsível.
— E você ‘tá tomando café agora? — perguntou, ainda risonha.
Carolina abriu uma careta para a mulher do outro lado da tela do
celular.
— Sim. E daí? — A desafiou — Qual é o problema, Geovanna?
— Nenhum, amiga.
— Acho bom, pois uma estudante de medicina também merece uma
folga e acordar tarde quando não tem um segundo para respirar — Carol
desatou a falar, ainda erguendo o pão como fosse um microfone exclusivo.
Geovanna piscou.
— Okay... — Começou devagar e suas outras amigas finalmente
atenderam a chamada, revelando o rosto sério de Malu, usando os óculos
quadrado de aro preto que raramente usava, os olhos levemente puxados
castanho claro cansados atrás das lentes. O rosto de Letícia era o mais distinto
das aparências cansadas das mulheres, o cabelo castanho dourado estava solto
e o rosto estava maquiado — Graças a Deus. Só vi as mensagens de vocês
agora.
— Oi, amiga! Que saudades! — Malu se manifestou, o sorriso
enorme. As sardas em volta de seu nariz e abaixo dos olhos destacavam-se no
seu rosto, com a tonalidade oliva de sua pele. — E sim, você fez a internet
surtar.
— ‘Tá em todo lugar! — Letícia fala, parecendo mais animada do que
as outras — Você se declarou oficialmente uma spicer.
Geovanna franziu a testa, seu belo rosto transformando-se numa
careta automática. Definitivamente não queria que tivesse tido esse alcance.
— Não foi minha intenção... — Ela começou, mas foi interrompida
pela voz de Letícia, indignada por ela querer se desculpar.
— Geovanna, você é famosa. Tudo o que você fala, uma hora ou
outra vai causar esse tipo de comoção. Principalmente quando você é uma
atriz que está sendo requisitada em todo lugar.
— Ela está certa. — Concordou Malu, aprovando o comentário da
amiga.
— A princesa de Hollywood... — Carol acrescenta, com um sorriso
de orgulho em seus lábios.
O coração da mulher derrete.
Suas amigas estavam certas, como quase sempre elas estavam, mas
tinha uma permissão por surtar porque a sua parte fangirl era algo somente
seu que quase ninguém sabia. Ela fez questão de apagar todas suas trajetórias
na internet, incluindo o fã-clube que tinha para a boyband Latin Spice desde
os seus dezoito anos e ficou cuidando por dois anos. E continuava
acompanhando, mesmo de longe.
— Imagina quando o fandom descobrir quem é o favorito dela… —
Continuou Letícia.
Geovanna semicerrou os olhos. Ela viraria lanche para o hate e os
ciúmes das fãs da boyband.
— Vai ser hilário! — Concorda Carolina, numa mordida entre outra,
interessada em imaginar sua amiga nessa situação.
A mulher tinha quase certeza que não acharia que seria hilário. Nem
as fãs.
Tem algumas que literalmente levam a sério o significado de
fanáticas.
— Nem ouse a falar nada! — Geovanna ergueu a voz firme, num tom
de ameaça que sabia que nenhuma dali tinha medo.
— Às vezes nem acredito que nossa melhor amiga é uma das mais
famosas da atualidade... — Malu comentou, pensativa — Quer dizer, quantas
chances tem disso acontecer sem que seja numa fanfic ou filme?
Nenhuma, quis dizer Geovanna, quase nenhuma chance de isso
acontecer na vida real. Mas aconteceu. Com ela. E bom, lá estava ela...
esperava não decepcionar o universo com a chance que lhe foi dada.
Ela ia fazer valer a pena.
Geovanna del Reiz não seria mais uma moda momentânea.
A mulher sorriu e voltou sua atenção a conversa com suas mulheres,
enquanto andava pelo quarto, caçando o script de um novo filme que tinham
mandado para ela olhar, já que o papel de protagonista havia sido oferecido a
ela.
— Estou com saudades de vocês. — Confessou ela, fazendo biquinho
para a tela de seu celular.
Carol riu baixinho e Letícia revirou os olhos.
— Nós estamos ainda estudando. — Quem resolveu falar foi Malu,
com seu tom tranquilizador — Quer dizer, Letícia e Carol estão. Eu, por
enquanto, apenas estou procurando trabalho.
— Fico de férias em uma semana. — Anunciou Letícia, feliz demais
com a notícia que ela estava dando.
— E eu daqui uns quatro dias, eu acho. Já finalizei todas minhas
avaliações. — Carol disse, o pão tinha acabado e agora estava tomando seu
café na xícara que as quatro tinham uma igual. Uma caneca de acrílico branca
que tinha várias fotos delas no desenho.
O peito de Geovanna ficou quente e sua animação subiu, começando
a imaginar suas amigas ao lado dela na cidade. Alexis era maravilhosa, mas
nada era comparável a ter suas melhores amigas. Ela poderia apresentá-los,
podiam sair...
— Então, venham para cá. Eu pago! — Ofereceu Geovanna com os
olhos brilhando. Malu mordeu o lábio, pensativa. Letícia aparentemente ficou
satisfeita com seu convite.
— Finalmente os mimos por ter amiga famosa e rica! — Carol
comemorou.

Horas depois de ter terminado a conversa com suas amigas Geovanna


acordava de um descanso que sua mente e corpo necessitavam quando
recebeu a menção no Twitter do perfil da Latin Spice, a fazendo ficar
desperta quase imediatamente. Piscou, atordoada.
Agora eles sabiam quem era ela. Não que fizesse alguma diferença.
Seu sonho de adolescente nunca seria realizado, relembrou a pequena
voz em sua cabeça, enquanto Geovanna olhava para o tweet com o coração
batendo forte e os olhos quase lacrimejando.
Um dia, ela teve os seus posters na parede. Agora, ela sabe que, as
pessoas têm os dela em suas paredes.
Geovanna suspirou, colocando a mão sobre o peito, numa tentativa
quase ridícula de desacelerar o mesmo. Ela queria gritar. Ainda tinha o
sentimento genuíno de uma fã e não o ia perder tão facilmente.
Ela se jogou na cama e com um gritinho de felicidade, sorrindo,
desejou que os conhecesse e que todos seus sonhos adolescentes se tornassem
reais.
CAPÍTULO TRÊS

Julian olhava com descrença e tédio para a brincadeira bizarra de luta


de braços entre Santiago e Diego, enquanto Adrian comia uma barra de
chocolate que havia escondido de todos seus colegas e Dante... bem, ele não
estava à vista. Provavelmente resolvendo algo com Sophie, a manager. Ele
era o mais responsável, então havia uma concordância silenciosa que seria ele
a que ter que resolver as burocracias.
— Vocês não têm nada melhor para fazer? — Julian indagou.
Diego o olhou e franziu o cenho, como estivesse pensativo sobre algo.
— Nah! — O respondeu, dando de ombros e voltando a se concentrar
no amigo que estava em sua frente.
— Tédio. — Santiago o respondeu, em um tom de encerramento e foi
o suficiente para Julian se calar.
Julian bufou.
— Você reclama demais, velho rabugento! — Foi a vez de Adrian
falar — Fica quieto e aproveita o show do Diego perdendo miseravelmente
para o Santiago.
— Ei! Eu ganhei cinco quilos de músculo durante essa turnê! — diz
Diego, orgulhoso, dando uma tapa leve em seu braço flexionado e erguido.
Silêncio.
Santiago revirou os olhos, mordendo os lábios para não rir.
— Vamos logo, cabrón! — diz Santiago, já apoiando o braço dele na
mesa, com a palma aberta — O quanto mais rápido isso terminar, mais cedo
você me deixa em paz.
Realmente.
Antes de aceitar essa brincadeira estupida, Diego estava seguindo o
amigo por cada canto possível do cômodo onde eles estavam esperando para
serem chamados para sua entrevista. Fora que, ter Diego no seu pé não é algo
que alguém queira — até mesmo Santiago que tinha uma paciência de ouro e
não se chateava com quase nada. Porém, quando ficava bravo... Diego
provavelmente era o culpado por causar o estresse do homem de quase um
metro e noventa de altura. O cara se esforça para ser insuportável. E a sua
tortura vai de não calar a boca até não dar privacidade a ninguém nem mesmo
no banheiro.
Adrian riu baixinho. Ele não ficava atrás quando o assunto era
infernizar alguém até ela perder o último senso de paciência e juízo.
Felizmente, quando Diego ia aceitar a mão estendida de Santiago,
Dante abriu as portas da pequena sala, com um olhar perdido que logo se
transformou em confuso quando viu seus amigos se preparando para uma luta
de braços. Ele abriu a boca para falar algo, mas desistiu no caminho, dando
os ombros, como já estivesse se acostumado com as ações dos homens.
E já estava mesmo. Cinco longos anos aos seus lados proporciona
isto.
— Sophie pediu para irmos! — Avisou, com um tom que Julian sabia
que ele usava somente com seu filho de três anos.
E com eles.
Os homens levantaram-se, chegaram como estavam suas aparências e
em seguida, seguiram Dante pelo corredor afora.
— E agora na The Now, vamos receber com muitos aplausos a maior
boyband latina da atualidade, seu hit Uma Noche Conmigo chega a 2 bilhões
de views no YouTube e eles acabaram que chegar da sua turnê. Com vocês,
Latin Spice!
Julian piscou devido a luminosidade no palco, tentando acostumar
seus olhos com as grandes luzes do estúdio que agora se viraram para ele e
para seus amigos. Em seguida, abriu um sorriso alegre em direção a plateia,
certificando-se que não teria margem de erros essa noite nesta entrevista. Ele
seria amável e sociável.
Por algum motivo, ele sabia que tinha que ser assim. Já bastava o
quanto havia vacilado com sua equipe.
A plateia levantou-se e começou a aplaudir de pés, sendo incentivados
pelos homens que agora acenavam e alguns arriscaram em passar perto, com
a intenção de abraçar ou pegar na mão de alguma fã. Após sentarem e a
plateia se acalmar, Jonathan Thompson se virou para eles com uma expressão
impressionada com o sucesso dos homens mais novos que estavam em sua
frente.
— Uau! — exclamou — Isso que é sucesso, pessoal!
Os garotos riram e como sempre, a risada de Diego se prevaleceu,
ainda tímidos por não esperarem essa recepção.
Julian sabia do porquê ele estar tão impressionado. Inferno, até
mesmo ele não havia se acostumado. Escondeu o sorriso arrogante que
insistia em se formar em seus lábios numa intenção ousada de dizer que sim,
eles tinham talento para chegarem ali. Não importava sua nacionalidade. Ou
o quão eles eram novos.
Eles nunca mais seriam subestimados novamente.
A conversa fluía bem e os homens estavam animados, respondendo às
perguntas sobre suas novas músicas, a recepção pela crítica de seu novo
álbum e como tinha sido a sensação de estar numa turnê tão grande como
estava sendo. Julian estava animado, gostava do jeito que sua carreira estava
indo. Esperava alcançar muito mais.
— E vocês tem planos para terem turnês ainda maiores? — Jonathan
perguntou, a voz esganiçada que Julian estava começando a detestar com um
tom desacreditado que eles conseguiriam ter turnês com um planejamento
ainda maior do que foi a última.
E a última foi... sensacional. Mais do que Julian conseguia imaginar
quando cantava com seu avô na adolescência.
— Definitivamente, não planejamos parar essa dinâmica tão cedo! —
Diego se pronunciou e os outros quatro concordaram.
— Eu acho que estamos indo no caminho certo! — Dante continuou
— Além que esse sempre foi nosso sonho, e agora, mais do que nunca,
estamos vendo isso realmente bombar.
— Incrível! — Jonathan disse, com um sorriso no rosto.
Forçado, adicionou Julian mentalmente.
Continuaram a conversar, até o ponto que Jonathan perguntou se eles
tinham alguma celebrity crush, os meninos mencionaram as mesmas que suas
fãs já estavam cansadas de saber. Adrian mencionava Selena Gomez com
brilho nos olhos. Ele provavelmente poderia abrir um curso sobre ela e
ministrar todas as aulas muito bem.
— Bom, mas vocês sabem de alguma celebridade tendo crush em
vocês, rapazes? — Jonathan perguntou em tom irônico, prestes a começar
uma brincadeira.
Diego automaticamente abriu um sorriso largo e malicioso.
Um lampejo de lembrança veio na mente de Julian e ele quase abriu o
mesmo sorriso que seu amigo deu, se controlando para não fazer.
Geovanna del Reiz. Julian molhou os lábios, relembrando.
Ele ainda não havia contado para seus amigos na intenção de alguma
forma egoísta guardar esse pequeno segredo para si. Ele também não havia
mencionado sobre procurar tudo sobre ela que havia na internet durante a
madrugada.
— Não! Você vai contar para nós? — perguntou Diego, entrando na
brincadeira do apresentador.
Como sempre, o mais sociável. Nada abalava a confiança de Diego
Benitez em frente às câmeras.
Os homens em sua volta riram — enquanto Julian forçou um sorriso
largo — e o apresentador riu brevemente, mas ele assentiu, dizendo que tinha
uma surpresa para eles, citando todos os famosos que os tinham mencionado.
— Mas aparentemente, ontem à noite saiu a entrevista com a nova
queridinha da Goldnet e Hollywood, aliás sua série The Last Light está em
todas as mais assistidas em dez países por três semanas consecutivas! —
Gritos e palmas foram ouvidos no auditório, fazendo os homens, menos
Julian, se questionarem a razão de ainda não haviam ouvido falar sobre ela.
— Vocês conhecem, não é? A protagonista é brasileira!
O interesse rapidamente surgiu em cada um dos meninos da boyband,
mas obviamente, interno. Eles adoravam as brasileiras.
— Vamos assistir um vídeo, garotos?
Eles assentiram.
O vídeo que apareceu no telão do estúdio prendeu a atenção deles,
nele mostrava duas pessoas, um casal. Ambos estavam fazendo entrevista
para promover a série The Last Light. A garota, de cabelos dourados, do qual
continha tinha um sorriso mais tímido era a brasileira e Julian logo
reconheceu, prestando atenção em cada palavra que saia de sua boca que
tinha um formato infernal de coração.
A atriz dizia que era muito fã de Latin Spice desde os seus dezoito
anos, logo se intitulando spicer. Quando foi perguntada sobre quem a mais
interessava, ela fugiu da resposta verdadeira dizendo que eram todos. Julian
abriu um sorriso mínimo quando viu que até mesmo debaixo da maquiagem,
ela corava.
O vídeo terminou sob aplausos da plateia e sorrisos contidos nos
rostos dos meninos. Eles não podiam demonstrar demais.
— Vocês já assistiram The Last Light, meninos? — Jonathan
perguntou.
Todos negaram, dando a desculpa que não tinham muito tempo livre
durante a turnê e que agora iriam dar chance a série da Goldnet. Mas pelo
sorriso malicioso de Diego, Julian tinha quase a bendita certeza de que essa
seria a última vez que Geovanna era uma desconhecida para eles.

— Meu Deus! — murmurou Diego, quando os cinco homens saíram


do estúdio e finalmente se encontravam dentro do carro — Que entrevista foi
essa?
Julian sabia para qual caminho ele estava os levando.
— Uma normal, Diego — falou, ainda emburrado o suficiente para
não deixarem saber o quão incomodado estava com esse interesse importuno
de seu amigo sobre uma atriz que ele não fazia nem ideia de quem era além
do que havia pesquisado na internet.
O homem podia jurar que ouviu Adrian sussurrando ‘’rabugento’’.
Julian o olhou tempo suficiente apenas para fazê-lo calar.
— Nada a ver. Diego gostou da brasileira! — Dante anunciou, com
um sorriso zombeteiro no rosto.
Deus.
— Uau. Diego gostando de mulher bonita... — Julian resolveu optar
pelo sarcasmo — Isso é quase uma inédito.
Dante aparentou ter ficado ofendido demais.
— Nossa... Enfia o seu deboche na bunda. — Reclamou.
— Parece uma delícia.
Adrian gargalhou, — Sabia que você curtia essas coisas, Julian.
Dante riu enquanto Julian fazia questão de oferecer o dedo do meio
para seu amigo como o homem maduro de vinte e dois anos que era.
— Calem a boca. — Diego mandou, muito concentrado em algo que
via no seu celular — Eu achei o Instagram dela e... Droga, caras. Acho que
estou tendo sintomas de amor! — Anunciou, com a mão teatralmente sobre
seu peito.
O inferno que está. As palavras pareciam queimar a garganta de
Julian querendo externalizá-las.
— Pelo amor de Deus! — Lamentou Santiago.
— Não quero uma palavra. Essa mulher… — Apontou Diego para o
perfil do Instagram que estava aberto no seu celular — É Deus.
Julian revirou os olhos.
Adrian tossiu, engasgando-se.
— Que frescura! — Opinou.
— Se eu não tivesse acostumado, — Santiago começou,
provavelmente ainda lamentando estar preso com os quatro idiotas. — Eu já
teria te mandado para o inferno.
Eu também, Julian pensou ao sorrir diante da fala de seu amigo.
Diego apenas o olhou ofendido.
— Tanto faz. Eu a segui.
Julian o olhou, tentando decifrar se o amigo estava blefando.
— A menina vai surtar! — Dante acrescentou.
Julian resolveu-se calar, tentando ignorar o fato de que se Diego
estivesse interessado em Geovanna, ele não tinha a menor chances com a
dona dos cabelos dourados e sorriso gentil.
Deus. De onde estavam vindo esses pensamentos?
O homem, então, focou eles em um lugar muito mais importante: sua
música. Havia começado um rascunho no dia anterior. Mas mesmo enquanto
ficava em silêncio, deixando Dante, Adrian e Diego os preencher com
comentários sobre as fotos da atriz brasileira, podia sentir o olhar
questionador de Santiago sobre ele.
Como tudo a sua volta, Julian também o ignorou.
CAPÍTULO QUATRO

‘’Boyband Latin Spice reage a entrevista da atriz brasileira


Geovanna del Reiz’’
Geovanna podia jurar que ia morrer a qualquer momento.
É isso.
Ela estava morrendo.
A mulher teve certeza de que estava indo para o além, quando não
somente esta notícia foi de grande impacto como também quem havia a
seguido em seu perfil do Instagram.
Diego Benitez.
Por Deus, ela conseguia sentir seu coração quase saltando do seu
peito.
— Geovanna, eu estou começando a me preocupar — murmurou
Alexis, com os olhos verdes a analisando — Devo chamar a ambulância?
A voz de Alexis estava distante para a mulher enquanto ela assistia o
vídeo que continha o título.
Meu Deus, ela nunca havia gostado tanto do seu nome quanto como
gostou dele saindo das bocas dos homens que ela era fã há tanto tempo.
— ‘Tá entrando em estado catequético? — Alexis indagou.
Geovanna piscou e olhou para ela, sua amiga mantinha uma feição
zombeteira na qual dizia que sabia exatamente por que a loira estava naquele
estado. E que se divertia demais com a situação.
Sinceramente, Geovanna não se importava. Estava feliz demais para
lidar com as provocações de sua amiga.
Alexis era, sem dúvidas, uma das pessoas mais fantásticas que a
brasileira havia conhecido, mas não podia evitar de admitir o quão ela
poderia ser um pé no saco muitas das vezes. Não era exatamente sarcasmo
que ela usava como barreira e sim indiferença. Como se não se importasse
com muitas coisas.
Geovanna tinha sorte de ser uma das coisas das que ela se importava.
Se não fosse, ambas não estariam morando juntas. E a convivência não seria
saudável, pois nem mesmo todos os colegas da série aguentavam muito a
indiferença fria que Alexis Marie Witlock esbanjava. Mesmo assim, é uma
das melhores atrizes da geração. Não precisava de estatuetas de premiações
do quais eram estruturalmente racistas para todos saberem disso.
Mas não era o foco agora. Geovanna apenas se limitou a dar de
ombros para a sua amiga e balbuciar que estava bem, para em seguida, pegar
seu celular e digitar imediatamente para suas amigas.
Geovanna: vcs todas viram?
Não demorou muito para a atriz receber sua resposta e o grupo ficar
agitado.
Carol: quem vc acha que somos?
Mas é claro que todas vimos
Malu: e eu amei hahahahahah
Letícia: GEOVANNA ELES SABEM DE VOCÊ!
Carol: já pode providenciar os encontros deles com suas amigas
maravilhosas
Ou seja, nós
Malu: já to toda arrepiada
Geovanna suspirou. Deus, ela quase não podia acreditar que isso
estava acontecendo.
CAPÍTULO CINCO

— Acorda, corno.
Definitivamente, não era a voz de Dante, a primeira coisa que Julian
gostaria de ouvir ao acordar. Principalmente quando o chamava de corno.
— Pelo que eu me lembre... O único que levou um par de chifres foi
você. — Acusou Julian, com a voz abafada pelo travesseiro.
O pequeno desafio do homem o rendeu um murro em seu braço
esquerdo.
Julian ergueu os olhos, encontrando o amigo o encarando do lado
oposto no seu quarto. Os braços musculosos cruzados e uma feição
sarcástica, apoiando o pé atrás do corpo na parede, esperando que o homem
finalmente se levantasse de sua cama.
— Deus... — Julian murmurou, esfregando os olhos, tentando adaptá-
los a claridade — Poderia ter acordado com uma visão mais bonita.
Dante, em sua resposta, somente deu de ombros.
— Sou tudo o que você tem para te acordar.
— É isso o que significa estar no fundo do poço?
Uma risada saiu de seus lábios e novamente, deu de ombros. Julian o
odiava.
— Eu vou deixar você se arrumar e te arrasto para fora desse quarto
se você não descer daqui a vinte minutos. — O seu amigo avisou — E apenas
um lembrete: ser corno é mais do que ter sido traído, é também um estado de
espírito. O corno que habita dentro de meu corpo, também habita em você.
Mas que?
Julian apenas jogou — ou tentou — um travesseiro em sua direção.
Dante desviou com uma facilidade de que mostrava que o homem que estava
na cama não fora o único que teve essa reação e saiu do quarto sorrindo e
assobiando.

Minutos depois, Julian tomava seu café um tanto quanto irritado,


encarando o amigo que estava em sua frente, feliz e presunçoso enquanto
anunciava que seu nome e o nome de Geovanna estava nos trend topics do
Twitter, sendo muito comentado pelos seus usuários.
Julian se mexeu desconfortável em sua cadeira, ciente do olhar de
Santiago sobre ele, porque sabia que estava sendo tudo menos discreto
enquanto lançava olhares de raiva para Diego. Fechou os olhos, tentando
recuperar sua respiração. Uma das muitas falhas dele era ser tão expressivo.
Não era bom para ninguém e principalmente não para ele.
— Sophie disse que continua como um dos assuntos mais comentados
em vários países só eu dar follow nela. — Diego continuava a falar.
Até mesmo Dante já estava cansado de tanto que o amigo se gabava
pelo revirar de olhos que ele lançou.
— Deus, como vocês são chatos! — comentou Santiago, dando fim a
falação desenfreada que ocorria — Tem alguma coisa além de você e da
Geovanna que Sophie avisou, Diego?
Diego enrijeceu a coluna, percebendo — talvez tarde demais — que
estava falando demais. Ele tomou um gole de café, molhando os lábios para
responder ao porto-riquenho.
— Não. Sem compromissos por enquanto.
A partir daquele momento, Julian jurou que podia sentir seu corpo
que antes estava desconfortável e ereto finalmente cedendo. O homem teve
esperanças que a bronca não verbal que Santiago havia dado a Diego seria
suficiente para não mencionar mais ela durante o café da manhã, e ele
finalmente poderia terminar de engolir os ovos mexidos quase intocados que
estavam em sua frente sem ter vontade de mandar o amigo para o inferno por
algo que, nem mesmo Julian, podia explicar de querer. Mas, inferno, como
ele queria.
No entanto, foram somente esperanças de que acabaria pois no
instante que ouviu o celular de Diego vibrar e ele soltar uma exclamação,
acabou o pequeno descanso para Julian.
Diego soltou um palavrão e Adrian, com aqueles olhos verdes
límpidos, o olhou com curiosidade e interesse.
Não pergunte, Adrian. Julian implorou mentalmente.
— O que aconteceu? — Adrian perguntou, a curiosidade
transbordando em sua voz. Julian exasperou esperando.
— Bom, eu tenho o número da consagrada agora, seus invejosos! —
Com um sorriso largo, Diego estufava o peito — E eu já estou indo mandar
mensagem para ela...
— Cara! — Adrian exclamou, os olhos verdes arregalados — Como
assim?! Você contratou alguém para conseguir o número dela? Eu não sabia
que você poderia ir tão longe, cara. Isso não é legal.
Dante e Santiago olharam para Adrian como se tivesse nascido uma
segunda cabeça nele, enquanto Diego tentava entender. Julian soltou uma
risada baixa.
Deus, Adrian às vezes podia ser um pouco mais lerdo do que o
costume.
— É sério! — continuou o mais novo — Eu não acredito que você
contratou um hacker para conseguir o número dela.
— O que…? — Diego balançou a cabeça incrédulo com a acusação
de seu melhor amigo — Não! Ela me deu. Eu pedi no direct.
Silêncio e Julian quase conseguia ouvir as engrenagens do cérebro de
Adrian funcionando.
— Oh. Então eu acho que ela é — Fez sinal com os dedos ao lado da
cabeça — doidinha.
— Doida ela seria de perder um pitelzinho como eu. — Dando uma
volta, Diego apontou para si mesmo.
— Só se for daqueles piteis velhos e moles. — Provocou Julian, com
um sorriso sarcástico no rosto.
Os homens na mesa romperam em risadas altas, Adrian havia tirado o
celular para gravar a reação ofendida de Diego e ria mais alto de todos.
— Invejoso! — Diego disse apenas ao sair da mesa.
Talvez eu seja.

Uma semana havia passado e Julian podia jurar que poderia perder o
controle a todo momento em que o seu amigo mencionava as conversas que
havia tendo com Geovanna del Reiz, sobre todos os detalhes sórdidos que o
homem definitivamente não pedira e não queria saber.
Então, sim. Diabos, Julian estava prestes a surtar com tudo a sua volta
zumbindo como se nada mais além da menção do seu nome fosse importante.
O que era muito frustrante para ele. Vinte e dois anos e sonhando
como se fosse um maldito adolescente. Não importa quantas vezes suas fãs
de fato falavam que ele agia como um.
De todos os homens da boyband, Julian era o que mais mantinha
contato com elas nas redes sociais, então consequentemente ele, de alguma
maneira, também ficava sabendo das notícias, das opiniões — boas ou ruins
— delas sobre as músicas e os conteúdos que ele e os seus amigos
publicavam. Então sim, Julian sabia boa parte do que suas queridas fãs
falavam sobre ele.
Inferno, algumas coisas ele tinha que fechar os olhos e não explodir
com ninguém. Aí estava algo que elas também falavam sobre ele: como o
fato dele ser um pouco esquentadinho demais.
Ele não podia discordar disso. Mas ei, também estava treinando para
melhorar isso. Por esse motivo, preferia ficar mais na sua do que interagir e
isso não era bem um problema que ele achava que precisava mudar. Não, era
um homem que apreciava sua própria companhia quando necessitava ficar só.
Além disso, muitas vozes o confundiam.
Novamente, não era um problema quando tirava seus minutos
preciosos longe de todos. Havia aprendido há um tempo atrás que ficar um
pouco sozinho não era algo que deveria ser considerado uma dificuldade
dentro do seu processo de autoaceitação e evolução como uma pessoa melhor
— também havia aprendido isso com o tempo e para sua família e fãs
principalmente — porque muitas vezes era necessário se afastar de não tão
boas influências.
Oh. Julian achava que tinha um bom dedo para escolher as pessoas
que queria ao seu lado.
Isso foi antes de... bem, tudo.
— O que você ‘tá fazendo, cara?
Julian gostava de ficar sozinho. Mas isso era quase impossível quando
tinha Adrian Flores morando com você.
— Bem, eu quase achei que pudesse aproveitar um tempo de
qualidade assistindo uma série sem ser incomodado por algum de vocês. —
Julian disse, semicerrando os olhos para a figura de seu amigo que agora
estava confortavelmente sentado ao seu lado.
A resposta de Adrian foi apenas um sorriso genuíno e mover sua mão
para a grande vasilha que continha pipoca da qual estava no colo de Julian.
— Pensei em fazer um programa de casal para apenas nós dois... —
Adrian disse, com um sorriso inocente no rosto — Sabe, assistir um filme
juntos, comer doces, ficar de mãos dadas, etc.
Julian franziu o cenho.
— Nós não somos um casal, Adrian.
O homem ao seu lado fez um bico, fingindo-se de triste.
— Mas muitas fãs pensam que sim... — Ele disse e apontou um dedo
em direção a Julian — Não estrague nosso bromance, amor.
Isto realmente era um fato. Julian não podia contabilizar o quanto
montagens ele era marcado no Instagram e Twitter com ele e Adrian sendo
um casal. Muitas montagens deles se beijando. Por Deus, isso era quase um
incesto.
— Bem, eu acho que eu preferia morrer do que ter um relacionamento
com você.
— Isso doeu! — Adrian pôs uma mão sobre seu peito, teatralmente.
Julian deu de ombros indiferente, seus lábios erguendo-se levemente.
— Isso por que eu seria o bonito da relação? — Continuou.
— Não, — Julian disse, sorrindo — porque você seria o que me
botaria um par de chifres.
Adrian fez um som de engasgo ao mesmo tempo que ria.
— Oh, querido, Julianzito, nenhuma mulher roubou o meu coração.
— Provocou — Mas sério, eu seria o bonito da relação.
Julian não se opôs a isso: Adrian tinha na cabeça que nunca iria
namorar apenas por namorar. E acreditava convictamente na teoria das almas
gêmeas.
Porém, sua tese de ter alguém no mundo que era sua metade da
laranja não o impedia de ser um baita de um mulherengo quando queria.
Enquanto não acha a pessoa certa, se divertia. E muito.
Julian dizia isso porque seu quarto era do lado do seu.
Irritante.
Santiago surgiu no cômodo, com dois pratos com suas panquecas
vegetarianas e sentou-se ao lado de Adrian.
— Todos sabem que eu sou o mais bonito da banda — disse, sorrindo
digno de abertura dos jornalistas da previsão do tempo.
Adrian ergueu as sobrancelhas, debochando da fala do amigo.
— Por que vocês estão me olhando assim? É verdade, o visual badboy
me dá um charme a mais.
Julian soltou um riso. Não podia negar isso, mas é claro que o visual
que seu amigo se referia era apenas uma fachada;
— Você poderia sair, por favor? — pediu Adrian, se dirigindo a
Santiago — ‘Tá meio que atrapalhando o programa de casal meu e do Julian
aqui.
O homem revirou os olhos.
— Por Deus, — Implorou — não me deixe sozinho com ele.
— Assim você me magoa, Julianzito… — Adrian disse, afinando a
voz.
— É, não magoa o seu namorado, cara! — Santiago alfinetou com um
sorriso arrogante estampado no seu rosto.
Os dois homens somente receberam um dedo do meio em resposta.
Mas sinceramente, Julian tinha certeza de uma coisa: preferia ficar grudado e
amordaçado por dia, meses ou tempo que for com Adrian do que ter ouvido a
frase que Diego anunciou ao entrar no mesmo ambiente que eles. E ter que
aceitar.
— Espero que vocês não estejam fedendo... — Diego disse, ficando
de frente aos três amigos que estavam sentados no sofá — Pois eu tenho um
encontro com Geovanna e suas amigas! — Seu sorriso se tornou mais largo
— E vocês vão comigo.
Oh, não.
Inferno.
CAPITÚLO SEIS

As amigas de Geovanna haviam chegado há alguns dias e ela podia


respirar novamente porque estava cercada com o amor e proteção delas; ela
odiava admitir, mas sabia que era um pouco carente demais e precisava de
atenção das suas melhores amigas. Então, pensando bem, definitivamente
estar em frente da balada privada de Los Angeles, que normalmente
Geovanna ia com seus colegas de elenco, para um encontro com Diego
Benitez — e seus amigos — era a sua ideia de como seria seu sábado.
Deuses, onde é que ela estava com a cabeça quando aceitou esse
convite? Sabia com todos seus instintos que não sairia coisa boa dali.
Sabia que era errado cogitar mesmo que minimamente sair com Diego
não estando realmente interessada nele. Mas suas amigas insistiram e ela não
sabia lidar muito bem com a pressão que foi colocada contra ela para aceitar
esse convite.
E talvez, pensar que não seriam somente os dois teria aumentado sua
vontade em aceitar o convite que fora feito a ela. E talvez, só talvez, a
presença da pessoa do qual ela realmente queria sair teria a motivado ainda
mais. Geovanna não seria tão hipócrita de negar isso nem que fosse somente
para si mesma.
Então, por este motivo, talvez mais mesquinha do que gostaria e por
uma versão dela mesmo como uma menina de dezoito anos, a era fangirl que
tinha dentro de si, havia se vestido para pronta pra matar. Somente gostaria
que alguém a lembrasse que não poderia consumir muito álcool se não ele
seria o motivo que a mataria. Provavelmente de vergonha.
— Terra chamando Geovanna.
Ok, talvez tenha sido mais influenciada com seus pensamentos do que
imaginava. Mas não tinha importância.
Os olhos castanhos de Malu a encaravam, a questionando o que ela
estava pensando.
— Geovanna?
— Hum?
— Nós chegamos. — Avisou ela.
Sem resposta.
Carol e Malu soltaram uma risada. Somente elas duas que tinha tido a
disposição de acompanhá-la.
— Você está pensando neles, não é?
Geovanna mordeu os lábios, olhando para o ambiente pela janela do
carro.
— Ei, — Sentiu a mão de Malu tocar-lhe a sua — vai dar tudo certo.
Sem nervosismo. Você é Geovanna del Reiz, garota.
— Você tem razão.
— Claro que eu tenho.
Lentamente, saiu do carro com suas amigas atrás dela. Quando elas
entraram na boate e se aproximaram do grupo de amigos, ela só conseguiu
pensar e exigir para si mesma que não ia pagar muito mico com eles ali.
Quem se aproximou primeiro foi Carol que parecia decidida em aprontar algo
e depois pôr a culpa na bebida — ela era tão fraca para bebida quanto
Geovanna, era engraçado quando ambas já estavam animadas e no mesmo
ambiente — abriu os braços para cumprimentar os meninos, fazendo uma
análise minuciosa em Diego de baixo pra cima quando chegou sua vez,
sorrindo de lado para o que estava vendo. Carol era muito mais perigosa do
que todos imaginavam quando ela dava esse tipo de sorriso. Por alguma
razão, ele aparentou gostar e por minutos, Geovanna não existia.
Graças a Deus. Geovanna quase fez uma dança de comemoração
porque sabia que não teria problema para fugir agora.
— Uau, vocês realmente vieram, achei que iam dar um bolo nas
nossas expectativas. — Diego disse, com um sorriso de lado, mostrando a
covinha que tinha.
Se ele entendeu o duplo sentido da frase, resolveu não falar nada.
As mulheres a sua frente sorriram, as três continham sorrisos lupinos
demais para serem considerados dóceis.
— Meu Deus, você é ainda mais bonita pessoalmente! — Diego disse,
mantendo o sorriso no seu rosto, provavelmente pensando que estava sendo
muito sedutor.
Geovanna notou quando Julian subiu os olhos imediatamente para ver
a reação dela e recebeu apenas um sorriso gentil, quase gritando desinteresse.
— Obrigada, Diego. — A mulher manteve seu tom gentil, querendo
dar seu aviso ao homem.
Ela foi salva pela risada estridente de Adrian, percebendo como o seu
amigo falhou na arte de sedução. Ele, ao que parecia, estava se deliciando
com a vergonha alheia do qual Diego estava indiretamente passando.
— Vamos nos sentar, garotas. — Dante convidou.
E elas foram. Perderam a noção do tempo quando estavam
conversando, apenas se divertindo por estarem juntos.
Ao longo da noite, Geovanna notou algumas coisas: Carol e Diego
exalavam tensão sexual.
Adrian ainda não podia beber por não ter vinte e um anos, então ele
tinha ido apenas para servir como carona para os amigos, coincidentemente
Malu havia se dado muito bem com ele, já que não tinham parado de
conversar desde que foram colocados um do lado do outro. Santiago
mantinha-se de expressão fechada, com uma energia sexual tão forte que a
mulher tinha vontade de sentar em seu colo e pedir para ser beijada, tocada
ou qualquer coisa que envolvesse seu corpo sobre o dela — e cada vez que a
sua pequena amiga queria pensar por ela, resolvia pedir um drink diferente —
e já Dante... ele havia saído da mesa que seus amigos estavam há um bom
tempo atrás, aproveitando muito bem o olhar feminino que atraía. Do mesmo
modo que os homens eram únicos de seu jeito, Geovanna não se
impressionou a ver que Julian era do mesmo jeito que sempre demonstrava
ser: levemente sarcástico, com o olhar de desdém para tudo que não fosse sua
preciosa cerveja que estava em sua frente e quase tão fechado quanto
Santiago.
Diferentemente de Santiago, a expressão sempre desinteressada de
Julian fazia que Geovanna sentisse vontade de bater no mesmo.
Tecnicamente, havia ido apenas para ter a chance de vê-lo mais de
perto. Para conhecer o verdadeiro Julian. Não podia dizer que não tinha se
decepcionado. Mas não podia fingir que não tinha visto as pequenas olhadas
de esguelha do qual o homem direcionava para ela e que ele pensava que
tinha passado despercebido.
Não comigo, Julian. Geovanna não segurou seu sorriso.
— Estamos indo dançar. — Avisou Malu, puxando Carol para si e
buscando uma resposta dela.
Geovanna apenas assentiu e ergueu seu copo com uma marguerita
quase pela metade.
Os olhos de Malu se passaram para a única pessoa que havia restado
na mesa: Julian e os voltou para sua amiga, o questionamento se ela iria ficar
bem explícito neles. Ela novamente apenas assentiu.
— Oi. — A loira disse em direção de Julian, aproveitando a dose de
coragem que ainda tinha, olhando para as figuras de suas amigas afastando-se
e se misturando dentro da confusão de corpos;
Ele ergueu os olhos pra ela, seus olhos mais escuros do que ela podia
se lembrar, provavelmente observando seu estado pré-bêbada. A mulher sabia
muito bem que mesmo no escuro, dava pra ver que seu rosto estava corado
com — finalmente — seu olhar sobre ela.
— Oi. — Ele disse, o tom mais rouco do que ambos esperavam que
saísse.
Geovanna se assustou um pouco com o tom de sua voz, todos os
meninos eram mais extrovertidos e a atriz se sentiu imediatamente acolhida
com eles, apesar dos flertes sem graça de Diego, mas Julian... ainda parecia
querer repeli-la.
Os dois apenas se encararam por alguns minutos, em silencio. E ela
notou que ele estava do jeito que mais gostava: os cachos negros em
evidência, sem nenhum acessório para escondê-los e a barba por fazer, os
vários colares em volta de seu pescoço se destacando por causa da camisa
social semiaberta.
— Tem algum problema com o fato de estar aqui?
Ele demorou um minuto olhando para sua cerveja antes de respondê-
la.
— Exceto que eu preferia estar em lugar menos barulhento e sozinho
assistindo qualquer porcaria na TV... não, nenhum.
— E comigo?
Sim, ela se amaldiçoou no instante em que essas palavras saíram da
sua boca por soarem extremamente infantis e mesquinhas. Soou que queria
de qualquer jeito que ele a olhasse e não era bem assim.
Julian a deu um meio sorriso quase maldoso, passando seus olhos
pelo corpo dela, demorando-se no decote de seu vestido — ela estaria
mentindo se dissesse que não era essa a reação que esperava ao escolher o
belo modelo azul marinho — e nas suas pernas expostas.
Jesus, me ajuda aqui.
— Definitivamente, não.
Geovanna engoliu em seco, sentindo-se muito mais exposta do que
ela esperava com sua resposta.
— Então, por que você está assim?
O homem franziu o cenho levemente, tentando conter o sorriso diante
da pergunta aleatória da mulher em sua frente.
— Como assim?
Geovanna semicerrou os olhos em sua direção com o tom da voz; não
mais rouca ou que mostrasse desinteresse, mas de divertimento.
Ela balançou os ombros.
— Todos estão se divertindo... provavelmente Dante já foi embora
com aquela ruiva fantástica que eu o vi beijando, próximo do banheiro
feminino. — Ela entortou o nariz — Foi bem explícito. Mas no fim, você
nem saiu da mesa.
Julian abriu, outra vez, lentamente um sorriso. Ela cruzou as pernas
ao sentir um fio de eletricidade do seu corpo reagindo a aquele sorriso. Era
ridículo ficar assim com tão pouco.
— Não me importo muito com o que meus amigos fazem ou não. E
você está na mesa agora enquanto suas amigas estão dançando... —E ele
apontou. Talvez mais rude que ela esperava.
— Queria conversar com você.
— Bem, você está.
Que cara chato. Geovanna bufou, tomando mais um grande gole de
seu drink.
— Desperdício meu, aparentemente.
Para sua surpresa, o homem soltou uma risada baixa, como tivesse
dado trabalho em escondê-la.
— Concordo, não sou uma ótima companhia, estrelinha.
— Estrelinha?
O sorriso dele aumentou. Isso fez Geovanna associá-lo ao gato
sorridente de Alice no País das Maravilhas.
— É, não é você que é a nova estrela de Hollywood? Digo, todo
mundo só comenta sobre você, sabe... — Ele fez uma pausa, a encarando
daquele jeito que a fez corar novamente — Sem falar que você realmente
parece uma estrela com esse cabelo dourado e tal.
Geovanna apenas o observou continuar sua cerveja, esperando que ele
dissesse alguma coisa a mais porque, por algum motivo, não conseguia
associar o apelido com algum elogio ou um ataque sarcástico. Sem falar que
falou dela no diminutivo.
Ela odiava quando associavam a sua pessoa com qualquer coisa no
diminutivo.
Bonitinha, fofinha, baixinha...
Argh.
— Sim. Estrela. Não estrelinha. Sem diminutivo.
Julian sorriu e Geovanna tinha certeza de que ele estava se divertindo
percebendo que não gostava do seu novo apelido. Distraidamente, ele afastou
o cacho que estava caindo em seu rosto e é claro que ela acompanhou o
movimento com muito mais atenção do que deveria.
Talvez tivesse um fraco por mãos. E Julian Romero tinha mãos muito
bonitas.
Mulher, foco! Seu subconsciente gritou.
Foco!
— Ah, estrelinha combina com você.
Geovanna emitiu um som quase horrorizado.
— Eu não gosto.
O homem deu de ombros.
— Eu gosto. — Ele se aproximou, o corpo dela imediatamente emitiu
vários alertas vermelhos — Estrelinha. — Soprou.
Argh!
Sem esperar para aumentar aquela briga estúpida, Geovanna pegou
seu drink e se levantou, indo procurar suas amigas, ouvindo a risada alta
soando atrás dela.
— Adorei a conversa, Estrelinha!
Desgraçado debochado.

Alguns minutos depois, depois de copos virados, a atriz se sentia feliz


até demais, com tudo rodando a sua volta. Sabia muito bem que era idiotice
ter bebido mais do que seu limite a alertava que ela podia dar conta, mas era
quase impossível.
Julian a irritara. Aquele grande — literalmente — irritante. E atraente.
E muito sarcástico. Mas muito lindo, também... e desinteressante,
completamente desinteressante.
E, infelizmente, ela não sabia lidar muito bem com raiva.
Principalmente quando as pessoas as tratavam com tanta indiferença quanto
Julian Romero a tratara.
Suando, ela tinha acabado de dançar até se sentir melhor, e Diego era
seu parceiro nisso, antes de sumir misteriosamente, provavelmente fazendo o
que os homens que não irritavam as mulheres que estavam ao seu lado
faziam. Geovanna se viu, totalmente bêbada, andando até Julian quando o
viu.
Ele estava parado no bar ao lado de Adrian e Santiago, e agora havia
substituído a cerveja por uma garrafinha de água e surpreendente estava com
o olhar focado nela.
Oh, oh.
Quem ele pensava que era para a olhar assim?
Provavelmente tinha uma expressão quase assassina no seu rosto, pois
observou ele abrir um sorriso mais do que satisfeito. Ela sabia que estava
completamente louca quando chegou e apoiou suas mãos e sua camisa e o
puxou para mais perto dela. O homem agora tinha seus olhos arregalados a
sua atitude.
— Oi. — Ela disse.
— Oi. — Ele engoliu em seco.
— Tenho um segredo para te contar… — A voz saía dura e com
dificuldade, a garota se aproximou ainda mais e de um jeito muito
embargado, falou — O meu favorito é você, sabia?
Ele sabia do que ela se referia.
Geovanna achou que os olhos do homem à sua frente iam sair do seu
rosto de tão abertos. Ela achou uma boa ideia continuar a falar. Muito.
— É sério, você é um gostoso, sabia? Nossa senhora, eu já sonhei que
estava transando com você, sabia disso? — Seu subconsciente implorava para
ela parar, mas Geovanna queria continuar — Nossa, eu daria muito para
você. Nossa, porque você é uma delícia e...
Mas não deu tempo de ela completar porque quando sentiu sua
barriga embrulhar e se sentir enjoada era tarde demais e logo, ela havia
vomitado no sapato do homem à sua frente.
Oh, Deus.
Ela estava muito ferrada.
CAPÍTULO SETE

Julian estava considerando não olhar para ninguém hoje, ao sair da


cama. Principalmente quando os acontecimentos da noite passada rodavam
pela sua cabeça.
Ergueu-se lentamente e xingou baixinho, sentindo a dor de cabeça
quase insuportável, como estivesse martelando seu crânio.
Sim, foi uma péssima decisão se levantar. Mas agora, não importava
mais.
Exigiu de si mesmo que continuasse e fosse buscar remédio que
estava na cozinha e tentar procurar onde estavam o resto de seus amigos. Ele
lembrava brevemente que estava sóbrio o suficiente que depois do pequeno
acidente que veio com a confissão de bêbada de Geovanna, a simples
recordação o fez sorrir minimamente.
Não esqueceria o que ela o disse tão cedo. E nem no quão irritada ela
tinha ficado quando começou a chamá-la de estrelinha. Julian normalmente
não se dava o trabalho de irritar alguém propositalmente, poucas pessoas o
interessavam a ponto de ele erguer um dedo de esforço. Mas Geovanna? Ele
sentiu por todo o seu corpo o quanto havia chegado perto para provocá-la.
E ele adorou a sensação, era quase como sair de um lago congelado e
finalmente senti os raios de sol sobre seu corpo. O esquentando. Ele não tinha
mentido sobre ela realmente parecer uma estrela, entretanto. No final da
noite, Julian havia concluído que Geovanna del Reiz era uma estrela: daquele
tipo que mesmo de longe, nunca deixava de brilhar. E por algum motivo, não
conseguia tirar o sorriso do seu rosto enquanto tateava nos armários pelo
remédio.
— Procurando comida?
Julian ergueu os olhos para a voz e encontrou Dante com a mesma
roupa de ontem, apesar de ter passado uma noite muito boa — com certeza,
melhor do que a dele que se resumiu em deixar a mulher que havia vomitado
nele em sua casa e limpar-se do vômito — estava aparentando não estar
muito feliz.
— Remédio. — Apontou para a caixa que segurava — Chegou agora?
— Sim. — Bufou — Quer comida?
— Aqueles ovos mexidos com verdura que só você sabe fazer?
Dante semicerrou os olhos em sua direção, ambos sabiam não era só
ele que sabia fazer e soltou uma risada.
— Às vezes, eu acho que você é mais meu filho do que Miguel.
Julian sorriu, ele adorava o pequeno Miguel Reyes que gritava com
seu pai toda vez que ele não lhe dava atenção e tinha uma paixão por
Santiago, era bizarro como eles eram melhores amigos. As vezes isso rendia
uma eterna briga sobre quem era o melhor tio.
— Onde você estava? — Desconversou Julian, porque sabia que
Dante não estava bem.
Ele não o olhou quando respondeu.
— Por aí… — Limpou a garganta — Toma seu remédio, cara.
— Claro, mas eu acho melhor você começar a fazer meus ovos
mexidos antes que seus outros filhos não tão educados como eu acordem.
— Bom, Diego não está em casa. Nem Santiago.
Não lembrava que o sumiço de Diego havia se estendido tanto e
lembrava claramente de Santiago dizendo que iria ficar na boate depois de tê-
lo ajudado a colocar Geovanna dentro do táxi, com suas amigas a
acompanhando, então não se surpreendeu em saber que apesar de serem onze
horas da manhã, não havia chegado na casa.
Julian não falou nada sobre os possíveis esquemas que seus amigos
poderiam estar envolvidos porque já estava acostumado com as grandes
noites que quase nunca acabavam deles. Ele também não falou nada aos
movimentos quase robóticos de Dante, com um olhar distante.
Uma coisa que ele havia aprendido com esses últimos anos fora que
quando uma pessoa não estava pronta para conversar sobre algo não deveria
pressioná-la e conhecia seu amigo o suficiente pra saber que ele apreciava
muito sua privacidade. Julian era capaz de dar isso a ele.

— Como foi a noite limpando o vômito de sua roupa, Julian?


Ele revirou os olhos em direção de Adrian, escolhendo comer mais
uma colherada do café da manhã que Dante havia preparado — este estava
ocupado demais rindo da reação do mais novo para ousar mandar.
— Cala a boca, pirralho. — Resmungou.
— Uau, que maduro. — Adrian deu pequenos tapas em seu ombro —
Estou orgulhoso, cara.
Julian o olhou com sua costumeira feição de desdém.
— Você ouviu toda a conversa, não ouviu?
O sorriso do homem se tornou quase maníaco de tão grande.
— Oh, sim. Foi uma das grandes diversões da minha noite, sabe. Não
é todo dia que isso acontece e... Ela não estava fazendo questão em sussurrar
nada.
— É... — Murmurou, passando a mão livre na lateral de sua cabeça
— Não sei como falar com ela depois disso...
— Podemos começar com algo tipo… — Adrian sugeriu e limpou a
garganta, se endireitando em sua cadeira — Querida, acho que ninguém
vomitou em minhas roupas como você.
Dante cuspiu seu café, rompendo em uma gargalhada.
— Você é inútil, Adrian. — Julian resmungou.
— Já me disseram coisas piores.
— Não há dúvidas sobre isso. — Dante disse, zombeteiro.
Adrian o lançou um sorriso.
— Fofo. — E se virou para Julian — Mas sério, o que você vai fazer?
Ele deu de ombros.
— Sei lá. O que eu devo fazer?
— Não sei a resposta para isso, mas com certeza deve ser alguma
coisa.
— Definitivamente. Não sei o que ela te falou antes de... bem, você
sabe, mas você deveria chamá-la — Dante opinou.
— Oh. — Adrian soltou um risinho, se divertindo ao lembrar do que
tinha ouvido — foram coisas bem... interessantes, com certeza.
Julian o chutou por debaixo da mesa, enquanto Dante os olhava com
curiosidade.
— Eu luto por um dia que você se cale e eu possa ouvir, finalmente, o
silêncio.
— Do que vocês estão falando? — Dante perguntou.
— Eu falo! — manifestando-se Adrian ergueu a mão — Você não vai
acreditar cara... aquele monumento de mulher estava confessando o amor
erótico que tinha pelo nosso amigo aqui.
Isso fez Dante erguer as sobrancelhas, interessado.
— Pois é… — Continuou — Ela confessou que já teve aqueles tipos
de sonhos com ele, — gargalhou — se soubesse que ele é tão inativo, nem
pensaria assim.
— Ei! — Retrucou, Julian — inativo?!
— Não quero machucar sua masculinidade, mas...
— Acho que é um pouco tarde demais para não querer machucar
minha masculinidade.
— Cara, — Adrian pousou uma mão sobre o ombro de Julian — eu só
estou dizendo o que nós vemos...
— Então vá para p...
— Tá bem, tá bem. Chega, crianças. — Dante interrompeu — Não
vamos falar sobre o quão nosso amigo está sendo ou não ativo sexualmente.
É um assunto que, definitivamente, não deveria ter em pauta no café da
manhã. Não concordam?
— Então… — continuou — Eu quero saber por que você ainda não
falou nada, o que o pirralho disse só faz a situação mais constrangedora,
talvez seja bom você a tranquilizar.
— Uau… — exasperou Adrian, forçando um tom impressionado —
Você sabe mesmo usar as palavras, cara.
Dante revirou os olhos e levantou-se da mesa, se dirigindo para seu
quarto, murmurando como eles eram irritantes e nunca aceitavam seus
conselhos.
Julian o deixou, assim como deixou Adrian falando sozinho, mais
preocupado em absorver as palavras que seu amigo havia dito.
Provavelmente Geovanna não estava esperando sua mensagem depois do que
havia acontecido.
Não, ele tinha certeza que ela estava tentando encontrar formas de
nunca mais vê-lo em sua vida, não que ele a conhecesse profundamente para
definir suas futuras ações, mas Geovanna del Reiz não era bem uma caixinha
de mistérios, na verdade, ela era bem expressiva no que estava sentindo e ele
não precisava de anos para perceber isso. Tinha visto, de forma muito
degustadora, como ela apertou as pernas, em como seu rosto ficou vermelho
na mínima aproximação em sua direção. Suas expressões só foram
confirmadas com seu desabafo de bêbada.
Seria hipócrita dizer que ele mesmo não havia se segurado o máximo
possível, seu amigo estava interessado nela. Pelo menos, estava. Mas como
sempre, o interesse de Diego havia se dissolvido da mesma maneira que
álcool evaporava.
Sem pensar muito no que estava fazendo, alcançou seu celular e a
mandou mensagem. Mesmo que o quisesse longe por orgulho ou vergonha...
Julian queria bem ao contrário disso.
Julian: hey
É o julian
Como você tá?
Geovanna: quase morta
Julian: ótimo, isso significa que você pode sair hoje à tarde para
tomar um café?
Geovanna: com algumas condições
Julian soltou um riso baixo, se sentindo como um adolescente bobo.
Julian: diga, estrelinha.
CAPÍTULO OITO

— Estrelinha. Mi casa és su casa.


Geovanna fez questão de fuzilá-lo com os olhos quando retirou os
óculos de sol antes de passar por Julian e entrar em sua casa do qual dividia
com seus amigos.
— Bonita casa.
E sim, ela não fazia a mínima ideia do porquê tinha aceitado o convite
que recebeu dele a convidando para tomar algo em sua casa, principalmente
depois dos acontecimentos da noite passada do qual ela queria poder esquecer
como foi humilhante. Não somente o vômito foi um tiro em seu ego e
orgulho, mas o que ela havia falado para ele antes...
Deuses, queria poder se esconder em um poço e nunca mais voltar
para cima. Mas Malu foi bem convincente dizendo que nada poderia ficar
pior se ela aceitasse o convite no mesmo momento em que recebeu.
Geovanna sabia bem que poderia, sim. Mas, pelo menos, estaria
bonita, então vestiu seu melhor vestido florido, que Carol sempre lhe disse
que a fazia parecer um anjo e veio para sua morte.
A morte de seu orgulho.
— Não posso deixar de notar o tom de surpresa, Estrelinha.
Ela deu de ombros, tentando ignorar a parte de seu corpo que não
sabia se ficava irritada, envergonhada ou atraída por tudo que Julian Romero
exalava.
— É uma surpresa, na verdade. Não imaginei que vocês fossem
organizados.
Julian riu e Geovanna ergueu uma sobrancelha, curiosa.
— Bom, alguns são. Não conte com Adrian e é claro, também temos
duas empregadas que vem a cada três dias já que nossas mães sempre vêm
nos visitar.
Fofo.
— E Diego?
E essa era a parte fã de Geovanna assumindo.
Julian a olhou, franzindo o cenho, não aparentando gostar do interesse
dela em saber de seu colega.
— Na verdade, ele é um dos mais chatos para organização, não gosta
nada de ter algo sujo por aí.
— Sério?
Geovanna não podia deixar de se surpreender, tudo em Diego Benitez
exalava que ele era um cara muito despreocupado com qualquer coisa.
Principalmente em atividades dentro de casa.
— Por que o interesse, Estrelinha? Se quiser, posso chamar Diego
para se juntar a nós em nossa conversa. — Julian indagou, com as mãos em
sua cintura, a olhando com um sorriso de desdém em seu rosto.
Sem se aguentar, Geovanna riu. E alto. E continuou a rir toda a vez
que olhava para o homem em sua frente e ele estava vermelho, prestes a
explodir a qualquer momento.
— Vamos lá.
Julian parecia querer discordar. Deuses, ela nunca havia o visto tão
indignado com algo.
— Me siga. — Resmungou, passando em sua frente.
Com prazer.
— O que? — Julian perguntou, virando-se.
Geovanna piscou, percebendo que havia feito: falado seus
pensamentos muito mais alto do que pensava ou do que queria.
— Hein? Não, não. Estava falando sozinha. — Ela forçou um sorriso.
Ele não falou nada por um tempo, continuando a olhá-la, tentando
encontrar pistas de que estava escondendo algo e ela já estava começando a
ficar impaciente.
— Sim? Quer tirar uma foto, também? — perguntou, fechando o
sorriso e dando uma volta de seu corpo.
Julian agora tinha um sorriso malicioso e seus olhos brilhavam
quando ela voltou a encará-lo.
— Não é necessário.
E deu as costas, assobiando.
Geovanna soltou o ar que não percebera que estava guardando,
limpando o suor de suas mãos na lateral de seu vestido e andando atrás da
montanha de músculos do sr. Romero sou-gostoso-e-sei-disso que estava
usando uma regata branca que mostrava todo o seu resultado do tempo
utilizado na academia, pensando que talvez ele a mataria de insuficiência
respiratória se a olhasse daquele jeito novamente.
Julian adentrou a cozinha e ela o seguiu, forçando os seus pés a
pararem quando viu uma silhueta jovem e de cabelo ruivos como fogo ser
abraçada por ele.
— Geovanna, essa é Helena. Ela trabalha com a mãe aqui uma vez
por mês.
Helena lançou um olhar de reconhecimento, com os olhos arregalados
rápido. Fechando a expressão, ela apenas deu um sorriso tímido antes de
estender a mão para Geovanna.
— Prazer em conhecê-la, senhorita. Seja bem-vinda, estarei
disponível para o que vocês desejarem.
Geovanna sorriu gentilmente e assentindo, murmurando em
concordância, apenas observando o jeito que Helena não a olhava
diretamente e de como o rosto dela estava da cor de seu cabelo quando saiu
do abraço de Julian. Ela sentiu sua língua coçar, apostava que se suas amigas
estivessem aqui, iriam notar o mesmo.
— Quantos anos ela tem? — Geovanna perguntou, após os dois se
sentarem na pequena mesa que tinha no jardim.
Ela sabia que os homens eram ricos, mas não tanto. A casa deles se
assemelhava a uma mansão de tão grande, suspeitava que quando amigos
eram tão próximos e tinham uma convivência tranquila, não havia motivos de
se separar e pagar uma montanha de dinheiro apenas para ficar sozinhos. Se
bem que, com o tamanho dessa casa, qualquer um podia ter seu momento de
solidão quando quisesse.
Julian, ao seu ver, havia ficado confuso com sua pergunta.
— Helena. — Ela esclareceu, tomando um gole do suco que havia
sido deixado na mesa.
— Ah! — Ele a imitou, pegando um pedaço do brownie — Ela tem
mais ou menos nossa idade, tem vinte anos. Assim como Adrian.
— Hum... — murmurou — Ela gosta de você.
Julian a deu um sorriso quase doce.
— Eu sei.
Geovanna parou o pedaço de brownie no ar, surpresa pela confissão.
Ela piscou, tentando absorver.
— Como?
Ele estalou a língua, dando de ombros.
— Ela nunca escondeu, sabe. E além do mais, o que eu não percebo,
Dante e Santiago percebem... e me contam.
Ela gargalhou. Isso era a cara deles.
— Eu não a culpo. Tenho esse peso nos meus ombros de ter nascido
terrivelmente sexy. — Continuou, Julian.
— Oh, claro. Imagino como deve ser terrível para ela conviver com
toda essa sensualidade... e ego.
— A autoestima veio depois de muitas aulas de como se tornar o
homem mais sexy do mundo com Diego. — Ele deu de ombros, sorrindo.
Geovanna teve de se segurar para não falar que funcionou pois Julian
Romero realmente havia parado na lista de homens latinos mais sexys na
edição deste ano — Tome bastante suco — Ele a instituiu, fechando o tópico
anterior da conversa — Sabe, depois de ontem seu corpo deve estar
precisando de bastante líquido.
— Nós combinamos com duas condições para eu vir aqui esta tarde…
— Ela avisou, semicerrando os olhos — Uma: não falar da noite de ontem e
duas: não falar sobre o que eu fiz ontem.
Julian levantou as mãos, em sinal de rendição.
— Eu não estou falando nada sobre ontem... Só estou falando para
você beber água e não ficar mal. Ninguém quer isso, quer?!
— Não — disse entredentes.
— Então concordamos com isso. Vamos, beba.
— Você é um pé no saco.
Ele sorriu, daquele jeito que Geovanna não queria que ele o fizesse
porque era irritantemente bonito.
— Um pé no saco muito gostoso... — Julian acrescentou.
Em resposta, ela bebeu todo o conteúdo do copo de suco, ignorando o
olhar de Julian sobre ele.
Humpf. Ela realmente não precisava disso depois do que havia feito,
falado... Geovanna fechou os olhos, afastando as lembranças da noite
anterior.
Segundo ela mesma, se ignorar os acontecimentos o suficiente, eles
param de existir. Pelo menos, para você.
— Você gosta de se gabar, também.
— Apenas estou repetindo suas palavras, Estrelinha.
Ela revirou os olhos.
— Pare de me chamar assim.
— Desculpa, esse serviço está temporariamente indisponível, tente de
novo daqui a alguns anos.
Geovanna mordeu os lábios, tentando evitar o sorriso que estava
tentando sair deles.
— Esse apelido é meio ridículo.
Julian a lançou um olhar inquietante, aproximando sua mão para
pegar um dos fios de cabelo dela, o enrolando no dedo. Geovanna se
parabenizou pela força que teve em não desviar de seu toque quando sentiu
seu corpo se arrepiar. Sua boca estava seca com a aproximação.
— Eu já disse a você, Estrelinha... — Ele ergueu os olhos para seu
rosto, distraindo-se na boca dela mais tempo que os dois consideravam ser
saudável — Combina com você.
Julian limpou a garganta e se afastou, enrijecendo sua costa após
notarem que ambos estavam grudados em olhar um para si durante minutos.
E realmente estavam.
Ele era quente como inferno e ela sabia disso, o pior era sabe-lo e ter
que se controlar para não agir como uma adolescente com os hormônios
desenfreados porque se tinha uma coisa que estava no conhecimento dela era
sobre como Julian Romero não era o cara que esperaria ou gostaria desses
atos não pensados. Ele também não era o cara mais agradável para se ter um
tesão sem controle.
Geovanna baixou os olhos para seus sapatos, sentindo seu rosto ficar
quente tanto quanto estivesse dentro de um vulcão. Ela lembrava de como os
boatos chegavam a ela quando era fã de Latin Spice e se recordava de cada
detalhe do relacionamento mal sucedido do homem à sua frente que até hoje
ninguém sabia dar muitos detalhes de como fora. Ela lembrava dele quase
destruído após o fim de seu noivado e daquele incidente que ninguém falava
sobre.
— Está quente hoje... — Ele murmurou, abandonando-se com sua
camisa.
Aquilo a divertiu. Ele estava tão afetado pelas ações de seus corpos
quanto ela.
— Sim. Demais.
Após o silencio constrangedor, ambos se focaram em comer tudo que
tinha na mesa preparada para eles, evitando de se tocarem. Era até meio
idiota como estavam fazendo de tudo para não ter um movimento em falso,
mas...
Cada cuidado era pouco.
Principalmente quando os cachos de Julian estavam, de repente,
ótimos para se tocar, quando ela precisava se esforçar muito para esquecer os
segundos eternos em que os olhos do homem focaram em sua boca.
— Geovanna! — Dante exclamou sorridente, sua pele negra
brilhando por causa do suor, entrando na cozinha — Que bom ver você aqui!
— Ele passou os olhos nos dois, percebendo a estranha tensão que estavam
compartilhando — Estou interrompendo algo?
— Não! — disseram em uníssono.
Dante ergueu as sobrancelhas.
— Ceeeeeerto... — Limpou a garganta — Imagino que tenha vindo
até aqui para conversar com Julian sobre ontem.
Julian o olhou enfurecido e Geovanna sorriu, confusa.
— Como assim?
Demorou um pouco para Dante perceber que havia algo ainda não
falado entre os dois.
— Oh, hum, vejo que ainda não conversaram sobre isso.
— Não, — disse Geovanna um pouco irritada — porque combinamos
que não íamos dizer nada sobre o que aconteceu ontem. Certo, Julian?
E ele, no entanto, estava prestes a correr da cozinha, se pudesse.
— Certo — Piscou, um sorriso vacilante.
— Acho que eu vou para o quarto, acho que Santiago quer minha
ajuda para escrever uma canção. — Dante disse, com um sorriso vergonhoso.
— Com certeza ele deve querer. — Concordou Julian, uma expressão
irritada estampando seu rosto, seu maxilar travado.
— Bom, fique à vontade, Geovanna — disse, afastando-se.
— Obrigada, Dante. — Ela agradeceu para a silhueta que estava
quase correndo para fora. Tinha quase certeza que não tinha a ouvido. —
Julian? — Geovanna indagou, o olhando.
— Sim, Estrelinha? — A atendeu, sorrindo.
— Então? Não vai falar nada?
Ele bufou.
— Olha, não era para ser bem assim, eu lhe chamei para conversar
sobre isso apenas para te livrar da culpa e da vergonha que você deveria estar
sentindo. Nada demais. E olha, eu também gostei de saber que você tinha
sonhos eróticos comigo… — Ele sorriu — É, definitivamente, algo incomum
para se falar no nosso primeiro encontro, mas...
— Não estávamos em um encontro. — Ela interrompeu, vermelha.
Ele piscou e abanou a mão, como isso fosse apenas um detalhe
desnecessário.
— De qualquer modo, não era para deixar sem rumo ou
envergonhada. — Ele continuou — Pelo contrário, estrelinha. Juro por minha
família.
Geovanna suspirou e passou a mão por seu cabelo.
— Tudo bem, não deveria estar tão irritada por algo insignificante. De
qualquer jeito, já passou. Tudo isso. Até os sonhos.
Mentirosa.
Muito mentirosa.
— Até os sonhos? — Ele indagou, mais ofendido do que gostaria.
— Sim. — Ela respondeu, como se fosse óbvio — Só foi uma fase de
fã. Não acontecerá mais.
Julian balançou a cabeça e fez uma expressão impressionada, com um
ar debochado que Geovanna quis esmurrá-lo.
— Bem, de qualquer jeito... — Ela continuou, se levantando — Estou
indo embora. Obrigada pelo lanche de tarde, eu realmente estava precisando
disso.
— Claro — disse, levantando-se com a mulher — Se estiver tudo
certo...
— Está — ela afirmou, rápido demais.
Geovanna queria sair daquele ambiente quente o mais rápido possível.
— Certo... — Ele disse — Eu posso te acompanhar até a porta,
então...
Ela imediatamente negou com a cabeça, sorrindo forçado.
— Não precisa, eu lembro do caminho.
Julian a olhou, semicerrando os olhos e coçando sua nuca. Geovanna
o tinha observado o suficiente para lembrar que isso era um sinal de que
estava envergonhado.
— Me deixe chamar Helena… — Ele insistiu.
— Julian… — Ela pôs a mão em seu ombro para acalmá-lo e logo
tirou, sentindo a maldita fornicação em sua palma — Não precisa, de
verdade. Está tudo bem.
Os ombros do homem pareceram murchar.
— Você que sabe, Estrelinha.
Geovanna assentiu, sorrindo. Ela aproximou-se dele para depositar
um beijo em sua bochecha e se afastou, rápido demais.
A mulher não era inexperiente e nem santa, mas perto dele, quase
podia ser. Algo que definitivamente não estava nos planos dela.
Como havia chegado a isso?
Não haviam tido quase nenhuma real conversa, apenas diálogos
curtos e aleatórios, com frases que se assemelhavam a flertes, mas não, não
era. Porque era perigoso demais.
O motivo? Ainda desconhecido. Sem falar na mudança de
personalidade de Julian que a irritava mais do que poderia colocar em
palavras.
— Obrigada, Julian. E nunca mais me chame assim.
E com passos vacilantes, Geovanna saiu. Seguindo o caminho que
lembrava que Julian havia a guiado, ela não olhou para trás para ver sua
reação, só queria fugir dali. Acenou para Helena quando a encontrou na sala,
entretida em seu celular, a porta parecendo mais longe do que imaginava.
E quando conseguiu girar a chave de seu carro, ela partiu, respirando
fundo, ignorando todas as sensações que estava recebendo e os gritos de sua
subconsciência a chamando de covarde.
Ela não precisava disso a avisando. Porém, ainda era confortável
demais estar na sua zona de conforto.
CAPÍTULO NOVE

— Então quer dizer que você fugiu por que estava com medo do que
ia fazer se ficasse mais perto do mexicano quente e gostoso? — Carol
perguntou olhando para Geovanna como se fosse seu próximo experimento.
Geovanna respirou fundo, tirando o sanduíche que estava na mão da
sua amiga e dando uma longa mordida.
— Eu não disse nada disso! — Se defendeu.
— Mas foi o que eu entendi.
— Então sugiro que volte para aulas de interpretação. — Sorriu.
Carol a olhou como se ela tivesse lhe dado um tiro.
— Você é cruel, loirinha. — Ela disse, movendo-se para mais perto
da amiga com uma expressão de ataque no rosto — Uma coisa baixinha e
cruel.
Geovanna revirou os olhos, dando outra longa mordida no sanduíche,
tentando descontar toda a frustração que estava sentindo no momento.
— Por que você ainda está aqui me atormentando, Carolina?
A mulher balançou os ombros.
— Não tem nada de produtivo para fazer... — Explicou, sorrindo —
Tirar sarro de você me parece uma boa alternativa, não acha?
— Na realidade, não.
— Que pena. Agora me conta com mais detalhes sobre Julian e o
calor muy latino y — Fez uma pausa balançando as mãos para se abanar,
exagerando na sua atuação — caliente que ele transmite e faz você tremer.
— Carolina! — Ela a repreendeu — Já te falei que não tem nada para
você falar... desse jeito. Malicioso.
— Gata, se você chega de um lugar com um homem daqueles que
apesar de aparentar ser muito sonso não deixa de ser extremamente quente
desta maneira que você chegou... alguma coisa rolou. Mesmo que seja um
flerte — ergueu as sobrancelhas — ou um tocar... — fez uma pausa e sorriu
— já sei! Aconteceu que nem aqueles romances literários que os personagens
que ao se tocarem, explodem com a eletricidade dos corpos.
Geovanna gemeu.
— Ele fez suas pernas tremerem, não fez?
O inferno que tinha. E como tinha...
— Eu adoro quando isso acontece nos livros! — Continuou Carol
com entusiasmo.
— Para com isso! — Implorou.
— Aí. Meu. Deus. — Carol disse pausadamente com os olhos
arregalados, soltando uma gargalhada alta depois, — Ele fez!
Silêncio.
— Dá pra você parar? — Geovanna implorou novamente.
— Você não aguenta a verdade, Geovanna! Fraca.
Embora, ela realmente fosse, não ia dar gostinho para a sua amiga
ganhar naquela mini disputa quase ridícula. Então, optou pelo o que lembrou.
— Ok, já que estamos falando sobre verdades aqui... Onde você
estava quando eu paguei aquele vexame horroroso na festa? E o mais
importante, para onde você sumiu quando eu cheguei aqui?
O rosto pálido de Carol ficou imediatamente vermelho como tomate.
— Hum?
Geovanna semicerrou os olhos, sabia muito bem quando a amiga
queria desconversar de algo que a deixava incomodada e a julgar como
Carolina estava mais interessada em verificar o seu cabelo fio por fio, ela
sabia que estava certa em sua suposição.
— Carolina... Onde você estava?
— Eu? — A mulher responde de forma muito estridente para ser
considerado discreto — Não sei do que você tá falando.
— Bom, se você quer que eu confesse algo, melhor você começar a
falar também.
— Ahá! — Bateu as mãos juntas — Então você tem alguma coisa
para confessar.
Geovanna ergueu as sobrancelhas, risonha.
— Você é péssima em desconversar, sabe. Eu, definitivamente, não
vou cair nessa te conheço demais para isso.
Carolina bufou.
— Não há nada demais. Eu juro. Apenas uma mulher de vinte e três
anos solteira arranjando uma boa foda.
Interessante. E de fato, Geovanna não lembrava que sua amiga havia
feito sexo casual além das suas recaídas com seu ex-namorado.
Era um pouco estressante testemunhar, de qualquer forma.
— Com quem?
— Oh, não me olhe assim, Geovanna... — Ela apontou para o seu
rosto — Com esses estúpidos olhos castanhos. Você sabe que eu odeio isso
se torna equivalente ao um coelho fofo e eu somente penso em chutá-la.
Geovanna solta uma risada, incapaz de segurar ao visualizar a feição
do rosto de sua totalmente emburrada como uma criança que acabou de
quebrar seu melhor brinquedo.
— Ei, quem tem reações agressivas com excesso de fofura é você.
Não tenho culpa nisso. Agora me responda, sua raposa manipuladora.
Carol a olhou, analisando se seria considerado seguro o suficiente
contar o que estava escondendo.
— Ninguém em especial, Sherlock Holmes. Encerre sua investigação,
ela é irritante.
E com isso, o seu corpo moveu-se para fora para sua cama,
caminhando em direção a porta para saída do quarto de sua amiga.
— Covarde! — Geovanna a acusou vendo sua amiga caminhar muito
rapidamente para ser discreto. Que péssima tentativa de disfarçar.
De longe, ouviu a risada de Carol. Ela balançou a cabeça em negação
pois não acreditava de nenhuma maneira que o homem que Carolina tinha
tido relações era ninguém especial, conhecia sua amiga bem o suficiente que
não iria para cama com homens dos quais não conhecia mesmo que pouco.
Geovanna bufou, afastando os pensamentos da vida sexual de sua amiga, ela
já era maior de idade e sabia muito bem com quem deveria ou não ter
relações.
Ela alcança o celular que estava esparramado na sua cama e mordeu
os lábios, checando o último chat que tinha tido brevemente com Julian, se
amaldiçoando em cogitar em mandar mensagem para o homem, numa
desculpa estúpida apenas para conversar mais com ele. Deuses, só de lembrar
o que algumas ações dele poderiam fazer com ela... Geovanna imediatamente
saiu do chat, rodando seus olhos por qualquer conversa não lida que lhe
bloqueasse.
Geovanna ignora o embrulho no estômago quando vê a mensagem
que ela tanto temia.
Mãe: por que não estou recebendo notícias suas?
Ela solta um suspiro cansado, passando as mãos pelos seu rosto, sem
nenhuma vontade de responder sua própria mãe.
Geovanna: estou muito cansada. Podemos nos falar amanhã?
Não demora muito para receber sua resposta.
Mãe: sim, eu sei. Podemos. Seu irmão está com saudades.
O coração de Geovanna quebra cada vez mais. Seu irmão. A relação
das duas nunca fora muito íntima, então não se surpreende em ver que sua
mãe o menciona, mas não fala sobre ela.
Geovanna sabe que seu irmão está com saudades — ele é a única
coisa da qual ela sente que abandonou com seu tempo de atriz a exigindo
tanto. A resposta que a manda é curta e rápida e sua mãe não manda mais
nada, ambas sabem que é mais saudável desta maneira, levando em conta que
toda vez que decidem ter uma conversa civilizada, acaba se finalizando com
gritarias e palavras das quais podem machucar — e muito.
Mas ninguém precisava saber o quão Geovanna se sentia despedaçada
a cada briga.
Ela era boa demais em manter as aparências. Era o que fazia, afinal de
contas.

No dia seguinte, Geovanna estava determinada a esquecer todos os


efeitos que Julian Romero causava. Ela até mesmo estava sorrindo para o
mesmo sol de sempre de Los Angeles — porque obviamente nunca deixava
de ser ensolarado naquela cidade de grandes oportunidades.
Preparou sua rotina de relaxamento, tentando-se manter positiva. O
primeiro passo era ter um banho com o seu sabonete favorito de erva doce e
óleo corporal de girassol. O segundo, passar o dia fazendo skin care e
cuidando da sua pele. Ela conseguia se distrair com isso se fosse
acompanhado de uma boa maratona de filmes ou séries com muitas besteiras
fritas.
Oh, ela ia conseguir esquecer aquele estupido sorrisinho convencido
que fazia seu corpo ficar mole. Besteira. Coisa fácil demais até para uma
pessoa altamente emocionada como ela.
Além do mais, não iam se ver tão cedo já que acabou os laços os
ligando.
Ela suspirou feliz, com um sorriso no rosto ao vestir seu robe e ao
enrolar seu cabelo debaixo de uma toalha, satisfeita com o resultado que viu
em frente ao espelho. Geovanna deu uma piscada para o seu reflexo,
assobiando a melodia de Liquid Dreams enquanto saia do banheiro. Ela
sempre foi fã de boybands, não importava quantos anos tinha
Então, não era uma surpresa em se descobrir extremamente fã de O-
Town quando via seus vídeos musicais passarem naquela pequena caixa que
era a televisão da casa quando sua mãe colocava e ao crescer e descobrir o
mundo fantástico de homens dançando e cantando juntos.
— Você está cantando O-Town?
O susto com a voz que infelizmente poderia decorar se quisesse foi
tanto que a próxima coisa que notou foi a dor com o choque que sua cabeça
fez no chão ao escorregar.
— Deus, isso dói — reclamou, levando a mão para cima em direção a
cabeça, verificando se estava intacta ou se estava sangrando.
Geovanna odiava ver sangue.
O rosto masculino bronzeado com a barba por fazer e os olhos
castanhos tão claros que poderiam ser considerados cor de avelã que agora
exibiam uma feição de preocupação surgiu sob a vista da mulher.
— Hum... você ta bem? — perguntou.
— Olha bem para mim, Julian. Eu pareço estar bem?
Um sorriso malicioso ocupou o lugar da preocupação.
— Eu acho que além da queda e de seu robe está aberto exibindo... —
limpou a garganta — muita pele de seus seios, você parece estar bem.
Geovanna arregalou os olhos e imediatamente desceu os olhos para
seu corpo. Ele estava malditamente certo — seu robe estava ligeiramente
aberto, quase mostrando seus mamilos, ela levou as mãos para o tecido
escondê-los e baixou a perna que estava erguida.
— Quer ajuda? — Julian perguntou, risonho.
Ela o fuzilou com os olhos e gemeu, sentindo a cabeça doer de
verdade depois do choque.
— Ou, eu realmente estou falando sério. — Ele fechou sua expressão,
franzindo o cenho — Quer ajuda?
Hesitante, Geovanna aceitou a mão estendida que ele oferecia e
levantou-se do chão, lembrando de ainda apertar o robe sob seu corpo para
acabar não exibindo nada muito além do mais de novo.
— Você está com dor em algum lugar?
Geovanna gemeu, sentando-se na cama, evitando olhar para o rosto de
Julian, porque sabia que provavelmente ia se arrepender imediatamente se
fizesse isso. E o pior, ela não poderia ignorar a vergonha que estava
passando.
— Cabeça — respondeu, apenas.
Julian deu um suspiro.
— Ok, eu vou procurar gelo para colocar e você pode se, hum, trocar.
A fala hesitante de Julian fez Geovanna sorrir minimamente. Ela
podia notar a timidez.
— Certo, eu não vou fazer isso porque você mandou — esclareceu —
mas sim porque estou com dor e você é o culpado disso.
Julian soltou uma risada em suas costas. Ela ainda não havia virado
para trás.
— Minha culpa? — indagou, a voz sarcástica fez Geovanna revirar os
olhos — Quer saber? Não responde agora. Vou cuidar de procurar o gelo,
você se vista e depois coloque a culpa em mim em tudo o que queira.
A porta bateu e ela virou a cabeça em direção a mesma, respirando ar
que estava guardando com a presença um pouco mais intimidante do que se
lembrava que Julian passava. Principalmente estando no seu quarto. Oh,
aquele lugar se tornava realmente pequeno demais.
Não deu espaço para a vergonha da queda e da exibição a atingir
enquanto se vestia, se preocupando apenas em focar na dor que estava
sentindo. Automaticamente, ela quis chamar Carolina para ajudá-la com seus
conhecimentos de três anos da faculdade de medicina do qual fazia o que fez
a questionar onde estavam as amigas para autorizar um homem —
principalmente se esse homem fosse Julian — a entrar no seu quarto.
As possibilidades só fizeram aumentar a dor latejante na sua cabeça,
então resolveu deixar aquele tópico para outra hora — apenas naquele
momento. Todo mundo sabia que Geovanna del Reiz não era uma pessoa que
se esquecia destas questões tão cedo.
Ao subir a calça de moletom, ela ouviu a batida em sua porta e uma
parte automática bem mais estúpida do que a que a comandava fez com que
ela corresse as mãos por suas roupas e cabelo, tentando-se arrumar da melhor
maneira possível.
Ridícula, Geovanna. Você é extremamente ridícula.
— Posso entrar? — a voz abafada de Julian soou atrás da porta.
Geovanna respirou fundo, olhando como fosse a abertura do inferno e
tentou se controlar, seus batimentos cardíacos principalmente.
— Sim — a voz dela saiu falha.
MALDITOS HORMÔNIOS!!!!!!!!
Sim, malditos hormônios.
Quando Julian entrou pela porta com um sorriso de lado, mostrando-
se mais aliviado por ela estar bem — pelo menos aparentemente — ela pode
olhar direito para o homem. Ele estava com um boné preto, deixando seus
cachos escondidos e uma roupa simples: jeans e camisa branca simples.
Mas, deuses, Geovanna podia sentir sua pele se incendiar e ela quis
calar o calafrio que sua barriga transmitiu.
Ela estava completamente ferrada.
E a culpa era de Julian Romero.
CAPÍTULO DEZ

Fazia apenas dez minutos que Julian havia entrado naquele quarto
com a bolsa de gelo e já queria fugir dali.
Não por motivos de não gostar dali. Oh, não. Ele gostava. Até mais do
que deveria ser aceito para alguém como ele.
E Geovanna não estava facilitando.
— Sabe, a culpa disso estar acontecendo é meio que sua — murmurou
ela.
Julian ergueu uma sobrancelha, divertindo-se. Ele precisa pensar em
qualquer coisa que não fosse na pequena exibição que sua queda o tinha
proporcionado.
Deuses, ele era um canalha. A mulher havia caído na sua frente e a
única coisa que dividia sua mente com a preocupação era a saliência de seus
seios do qual foi enviada como um presente do inferno para torturá-lo.
— Ah. Foi mesmo, huh?
Ela assentiu, de olhos fechados. Julian não era tonto o bastante para
não ter percebido que ela evitava seu olhar.
— Sim. Se não tivesse me assustado, isso não teria acontecido.
— De fato.
— Então você concorda que se você não tivesse me assustado, eu não
teria caído e estaria agora sofrendo as consequências de ter um homem de
quase dois metros no meu quarto me olhando como se eu fosse um palhaço?
Julian queria corrigi-la, dizendo que não tinha dois metros. Ele estava
completamente ciente de seus um metro e oitenta e nove, quem tinha quase
dois metros era Santiago, mas ele se conteve porque perto dela não parecia ter
nenhuma diferença.
A garota era uma anã.
— Não, eu concordo que você não teria caído se tivesse prestado
atenção.
Geovanna abriu os olhos, mas tinha uma fúria neles que ele não
estava a fim de cutucar, mas algo... querendo sua atenção implorava com que
ele o fizesse.
— Oh, você não disse isso.
— Disse sim, estrelinha.
— Eu te mandei não mais me chamar assim!
Julian sobe os ombros.
— Fazer o que? Nunca fui o mais exemplar em seguir comandos.
Ela revirou os olhos.
— Você é tão clichê.
— E você gosta, certo? — Lançou um sorriso, aproveitando que tinha
os olhos cor de café sobre ele.
Ele podia ser tímido muitas vezes, mas não era ingênuo de não saber
o que algumas ações dos quais ele oferecia — como um simples sorriso —
poderia provocar no corpo de uma mulher.
Principalmente no de Geovanna.
Ela se assemelhava a uma pequena presa, indefesa para ele. Porque
por mais que ela tentasse erguer um muro de segurança em torno dela, ele
sabia que ela facilmente tentada a eletricidade que ocorria ali.
Julian não ousou se perguntar se ela sabia do que havia acontecido
com ele, mas pelo jeito que ela agia, poderia supor confortavelmente que sim.
E droga, não sabia se aquilo podia ser bom ou não. De qualquer maneira,
agradecia como ela não queria forçar nada, mesmo sabendo da rápida atração
que tinha se desenvolvido sobre os dois.
Porque em menos de três dias, eles haviam se encontrado duas vezes
— e agora com esta, três — mas muito mesmo antes disso, ele não conseguia
tirar seu nome da cabeça e muito menos no pensamento de como seria beijá-
la.
Seus amigos provavelmente riram dele. E ela estava certa, ele era um
clichê.
Mas, sua língua estava coçando para provocá-la, para dar os — quase
— inocentes flertes que oferecia e tocá-la...
— Na verdade, não. — Ela o respondeu, erguendo o queixo e uma
postura quase convincente — Eu acho o clichê chato.
— Se fosse chato, não existiriam clichês. E não continuariam a
consumir conteúdos clichês. Séries, filmes, músicas... — Contrabateu.
Julian percebeu que algo passou em seus olhos, próximo a
concordância, mas que logo foi escondida por ela.
— Talvez... — Cedeu.
A risada escapa dos lábios de Julian. Ela era teimosa, tinha que
reconhecer aquilo.
— Mas então… — Geovanna limpa a garganta, tirando a bolsa de
gelo de sua cabeça — O que você veio fazer aqui, afinal de contas?
Oh. Aquele ponto.
Haviam ocorrido tantas coisas que Julian quase esqueceu do motivo
de estar lá.
Ele leva a mão para o bolso de trás de seu jeans e tira algo pequeno e
vermelho.
— Isso é seu, certo?
Geovanna arregala os olhos e aproxima-se dele, pronta para pegar o
que ele havia mostrado.
— Minha carteira! — seu rosto mostra confusão — Eu não verifiquei
minha bolsa quando cheguei e muito menos depois disso, apenas pensava que
ainda estava lá.
— Helena a achou jogada na frente da porta de casa... — ele explica,
sorrindo — Parece que alguém tinha muita pressa para ir embora...
O rubor espalha-se pelo rosto da mulher e Julian fica realmente
dividido no que foca: em sua provocação diante dela ou em como ficava
bonita com suas bochechas coradas.
O pensamento de como ficaria depois de lhe dar prazer foi
rapidamente implantado em sua cabeça como chiclete e ele sentiu seu pau
ficando... animado. Julian piscou, tentando afastar esses tipos de pensamento
e trazer as memórias de sua avó de pijama.
— E-eu... — Limpou a garganta novamente e olha para o chão,
envergonhada — Não era pressa. Eu só fui descuidada e desastrada, não é
bem uma novidade isso. Para ninguém.
Isso deveria o convencer. Mas não conseguiu e por isso a deu um
sorriso convencido.
— Relaxa, estrelinha, ninguém está acusando ninguém aqui. — Ele
disse, ainda sorrindo — Mas de qualquer jeito, eu vim lhe entregar sua
carteira. Porque sou um cavalheiro.
— Tenho umas dúvidas. — disse o confrontando, cruzando os braços
— Agora... me dê. Já que você veio para isso.
Julian sorriu quase cruelmente quando uma ideia lhe ocorreu.
— Venha pegar… — A desafiou.
Geovanna se aproximou e quando ela finalmente estendeu as mãos
ansiosas para pegar a sua carteira que estava nas mãos do homem, ele ergueu-
a para o alto.
— O que é isso? — indagou, tentando alcançar — Para, Julian! Me
devolva.
Ele fez um beicinho.
— Poxa, mas cadê o obrigado? Por favor? Sabe... as antigas boas
maneiras.
Geovanna semicerrou seus olhos, uma leoa que tinha sido cutucada
por vara.
E ele queria não ter gostado tanto da visão quanto havia.
— Por favor, você pode me devolver? Você tá parecendo uma
criança.
— Nop! — Negou se divertindo — Só porque você me chamou de
criança.
A mulher grunhiu, optando por desferir tapas na barriga dele.
— Me devolva verme mexicano insuportável!
Julian abriu-se, gargalhando alto.
— Você é criativa, estrelinha… — disse, descendo a mão e a dando o
que tanto almejava, ela pegou rapidamente.
— Desnecessário. Você foi completamente desnecessário.
— Mas foi tão divertido que não poderia ter sido melhor.
— Fale por você! — Ela disse, tirando as mechas que haviam caído
de seu penteado enquanto estava na luta que ela mesma havia criado com o
abdômen dele — Agora que eu já divertir você e que já me entregou o que
devia... pode ir embora.
Ele, ao invés de se dirigir a porta, caminhou e se acomodou no sofá
que tinha no seu quarto.
— Ansiosa para me ver longe, huh?
Geovanna olhou cada movimento seu desde que havia se movido para
o sofá ao invés da porta, o analisando.
— Só não vejo o porquê de você continuar aqui, eu não sou tão mal
educada desse jeito... — Abandonou as mãos como se fosse um caso do qual
ela não dava tanta importância — Aliás, como você entrou aqui?
— Sua amiga me deixou entrar, enquanto estava se preparando para
sair.
Os olhos cor de café de Geovanna se arregalaram.
— Ela provavelmente esqueceu que você poderia ser um assassino em
série. Homens muito bonitos sempre tem um segredo sujo desse jeito.
Julian ergueu a sobrancelha. Aquela tarde só melhorava.
— Eu sou muito bonito, huh?
Ela o ignorou.
— Isso é impossível… — murmurou.
Julian deu uma risada baixa e suave.
— Tão impossível que cá estou. No seu quarto.
— Só mostra o quanto você é espaçoso.
— Corrigindo: o quanto eu aprecio sua companhia. Mas sim, minha
mãe sempre me disse isso.
Geovanna sentou-se novamente sobre a cama, atenta a cada palavra
que o homem à sua frente estava querendo dizer. Julian — que sempre
achava um pouco invasivo demais as pessoas querendo saber sobre sua
família — sorriu, achando graça na curiosidade da mulher, ele tinha que fazer
um lembrete a si mesmo de que ela já fora sua fã.
— Sua mãe está certa. — Ela disse.
Ele tinha que considerar-se agradecido por ela está tão receosa na
conversa com os dois, não parecia querer o forçar a falar mais do que gostaria
ou que se sentisse confortável.
Isso só lhe mostrou que Geovanna passava era verdadeiro: ela tinha
uma personalidade gentil e não queria perder a essência do que disso, ela era
contagiante e de um coração bom. Muito bom, na concepção de Julian.
— Sim, ela provavelmente está certa também em que eu não ligo o
suficiente para ela.
Geovanna franziu o cenho, escolhendo as palavras que usaria com
muito cuidado.
— E por que você não está ligando para ela?
A pergunta não era para obter respostas para ela, era pra ajudar a
encontrar as dele.
Julian subiu os ombros enquanto suspirava, avaliando sua resposta.
— Acho que eu não tenho a mesma paciência que eu tinha e que de
certa forma, ao me sufocar com tantas perguntas, ela me lembra algo que não
queria trazer para o meu presente... — ele respondeu a olhando, gostava de
olhar para as pessoas quando estava conversando, para ver suas reações.
Principalmente em assuntos delicados como este.
E ele foi sincero em sua resposta.
— Acho que todos trazemos algo que não gostamos do nosso passado
para o presente. — Sua voz soou gentil e acolhedora, Julian sentiu que estava
conversando com sua psicóloga..., mas ele não tinha vontade de beijar ela, no
entanto — Por que como vamos ter um futuro sem o que nos tornaram
pessoas que somos agora? Você entende o que eu estou tentando dizer?
Julian assentiu, a incentivando a continuar. Ela ficou lívida.
— Somos prisioneiros do nosso passado se continuarmos a evitá-los
como se ele fosse um monstro que vivesse debaixo de nossas camas. Não
somos mais as mesmas pessoas de um mês atrás e muito menos de anos, o
que fazemos com o que já fizemos é o que nos molda: ao invés de temer algo
que já se foi a tempos... — ela respirou fundo, como se absorvesse também as
palavras que estava falando — deveríamos moldar ele.
— Como assim, “moldar’’?
Ela sorriu, um pouco triste demais para a pessoa que Julian via tão
radiante.
— Transformar em algo bom, conviver com o medo, com nossos
erros. Nos tornar pessoas que aprenderam com erros e não pessoas que estão
destinadas a cometê-los novamente.
A finalização da fala de Geovanna fez erguer um silêncio confortável
entre os dois, ela sabia que Julian estava tentando absorver as palavras. Era
necessário.
— Além disso, - Ela acrescentou sorrindo de uma forma mais
verdadeira. Julian gostou de ver aquele sorriso mais do que o normal — não
acho que sua mãe merece arcar com as consequências de seus medos e
traumas, por mais que ela o sufoque.
— Acho que você tem razão. — Admitiu ele.
Geovanna se levantou da cama aparentemente mais entediada do que
se lembrava.
— Eu sempre tenho. — Deu de ombros — Quer ficar para comer a
incrível lasanha gelada de ontem que a Letícia preparou? Podemos conversar
mais sobre isso também sabe, eu sou bem eclética e cheia de conteúdo.
Julian sorriu. Ela tinha razão, sempre o surpreendendo.
E ele gostaria tanto de conhecer essa caixinha de surpresas que ela
demonstrava ser.
Sendo assim, ele ficou.
CAPÍTULO ONZE

Thomas Porter estava muito sorridente quando Geovanna o avistou,


entrando no set das gravações de The Last Light.
— Como eu estava sentindo saudades de você. — Ele murmurou
entre o abraço.
Geovanna sorriu quando eles se afastaram, olhando bem para o
homem à sua frente. Os cabelos louros e os olhos verdes sempre o deram uma
característica angelical, mas, na verdade, Thomas era bem ao contrário disso,
com uma língua afiada e venenosa, muita gente do elenco não gostava dele
de verdade.
— Desculpa te abandonar. — Ela disse, encaixando o seu braço com
o dele. — Mas não foram nem duas semanas inteiras, sabe.
— Foi o suficiente para planejarem minha morte dentro deste
hospício. — Ele resmungou. — E você sabe como só você e a Alexis que me
amam aqui.
— Isso não é verdade. A Sydney gosta de você, também.
— Não. — Balançou a cabeça. — Ela me suporta.
— Assim como eu e Alexis. — Geovanna disse, sorrindo.
Thomas parou de caminhar e a olhou.
— Chega. Já matei a saudade, você pode ir embora.
Geovanna gargalhou.
— Calma, loirinho. Estava brincando, nós realmente amamos você,
sabe disso e além do mais, eu tenho duas cenas para gravar hoje. Não posso ir
embora assim.
— Megera.
— Olha a língua, Tommy. — Ela o advertiu, sorrindo.
Thomas lhe ofereceu o dedo do meio e continuou a falar sobre o que
havia acontecido enquanto voltavam a caminhar, mas a atenção dela foi
rapidamente desviada quando seu celular que estava no bolso do jeans
vibrou. Ela sorriu quando percebeu de quem era a mensagem.
Julian: feliz uma semana, hey!!
Sem se conter, Geovanna riu baixinho, ignorando o olhar confuso de
seu amigo sobre ela.
Geovanna: então você realmente está contando quanto tempo
estamos conversando?
Isso é fofo.
Julian: não fique tão emocionada, foi a lasanha gelada e alguns
traumas dos quais eu compartilhei que me fizeram achar você razoavelmente
legal para se conversar.
A mulher mordeu a bochecha, bem consciente que seus olhos estavam
brilhando para seu celular, mas ela estava focada lembrando de que após
Julian sair da sua casa, há uma semana atrás depois de compartilhar pedaços
da lasanha do qual ela prometera, ele havia mandado mensagens para ela... e
nunca mais haviam parado. Os dois conversavam sobre tudo, sobre a mídia
estar sempre em cima de ambos, sobre seus amigos, suas aspirações artísticas
e as manias estranhas que possuíam.
Era estranho conversar com ele ao mesmo tempo que fluía tão
naturalmente, que era fácil demais confessar até alguns medos para ele. Quer
dizer, não que ela fosse algum livro fechado. Ela não tinha medo de contar
sobre eles, mas Julian sim, porque nunca ousou falar novamente da sua
família depois do momento de desabafo que teve no quarto de Geovanna.
Pelo menos de uma coisa, ela sabia: o passado de Julian parecia ser
bem mais complicado do que havia vazado pela mídia.
Geovanna: você é tão previsível
Julian: eu te desejo feliz uma semana de conversa e você me
responde desse jeito?
Me odeia, estrelinha?
Geovanna: pensava que já tínhamos concordado que eu não gosto
desse apelido
Julian: bem, você decidiu isso sozinha e não gosta. E eu adoro.
Estrelinha.
Imagine que eu estou piscando os olhos agora.
Geovanna: vamos voltar ao tópico de você ta contando os dias que
estamos nos falando
Julian: Você pode ser cansativa e repetitiva quando quer
Geovanna: fofo
Julian: meu pau
Geovanna: ele também parece ser fofo
Julian: chega. Estamos terminando de conversar aqui.
Tchau.

Geovanna gargalhou, sem conseguir se controlar.


— O que você está vendo aí pra ficar rindo feito boba desse jeito? —
Thomas perguntou, curioso.
Ela piscou, encarando seu amigo que estava com a testa franzida em
sua direção.
— Oi?
— Você me ouviu.
— Ouvi, mas não entendi, você está falando que eu estou do mesmo
jeito que você quando Jeremy manda mensagem para você?
— Então tem pau envolvido?
— De jeito nenhum. Eu só estou falando como você fica bobo quando
seu namorado vem agradar você.
— Geovanna, você pode enrolar todos, exceto eu. O que você estava
fazendo? Vendo o que?
— Alguns memes. — Deu de ombros, guardando o celular na calça
novamente.
Thomas balançou a cabeça, os fios lisos de seu cabelo caindo sobre
seu rosto.
— Nunca vou entender a quão boa atriz você é sendo uma péssima
mentirosa desse jeito.

Geovanna caminhou silenciosamente para o elevador, ansiosa para


chegar ao seu apartamento e finalmente ter um pouco de silêncio para si
mesma, além de que tinha que aproveitar o bom tempo que ainda a havia com
suas amigas.
O dia no set tinha sido mais corrido do que ela imaginara e já estava
de noite quando finalmente pode ir embora para sua casa, não após de ter que
fazer uma promessa de dedinho com Tommy que ela não iria o abandoná-lo e
teria um bom jantar com ele e seu namorado. Isso depois dele a ajudar a
escapar dos flertes quase inapropriados de Justin, — ele precisava entender
de que Geovanna odiava isso dentro do seu lugar de trabalho. Principalmente
quando não estava interessada e já havia repetido isso tantas vezes que
perdera a conta.
A mulher suspirou, inclinando seu corpo para baixo e retirar os saltos
altos eu já estavam a machucando, soltando um suspiro baixo ao realizar o
ato, caminhando em direção à sua casa, quase fazendo uma prece silenciosa
ao pensar em sua cama quentinha.
No entanto, Geovanna franziu o cenho quando abriu a porta e se
deparou com uma Letícia com feição receosa.
— Let? — indagou. — O que você está fazendo?
Letícia mordeu o lábio inferior, os olhos azuis baixos.
— Eu juro que tentamos impedir...
O sinal vermelho apitou na cabeça de Geovanna e ela, ficou
imediatamente em alerta.
— Impedir o que?
A mulher não precisou responder. Porque no final do corredor, uma
figura alta com expressão entediada estava a esperando.
Os saltos vermelhos e a roupa de ótimo estado, poderiam ser até
melhores as que Geovanna usava no dia-a-dia. O coração dela pesou a
perceber quem era, e de certa, sentiu seu corpo tremer ao se deparar com
aqueles olhos verdes que a analisavam ansiosamente que ela sempre tivera
tanto medo....
— Mãe — disse ela à saudando, dando um olhar para Letícia, ainda
petrificada no chão, que poderia cuidar disso sozinha. — Não sabia que
começou a fazer visitas sem avisar agora.
Ana torceu o lábio.
— Sou sua mãe.
Geovanna a devolveu um sorriso falso.
— Mas eu sou bem grandinha agora e prezo pela minha privacidade...
e odeio que venham me visitar sem me consultar.
— Se você está desconfortável, seu irmão e eu podemos ficar em um
hotel durante nossa estadia. — Debochou.
Ela precisou de muito autocontrole de sua língua — que estava
coçando para responder — para não passar dos limites.
— Não seja dramática. — Balançou as mãos no ar. — Mesmo com as
meninas aqui, o apartamento é enorme. Não faltará espaço para você e para o
meu irmão.
A mulher a sua frente assentiu.
— Vi que você estava sendo muito comentada recentemente por
causa da sua última entrevista...
— Não. — Ela a interrompeu. — Não ouse opinar minha carreira. Ou
o que eu ando ou não divulgando. Já conversamos sobre isso.
— Mas! — Ela esbravejou. — Eu continuo tendo uma palavra nisso.
— Você perdeu o poder dessa palavra há muito tempo.
Ana piscou, cambaleando pelo impacto do tom da voz que sua filha
usou.
— Eu só quero o seu bem, Geovanna.
Geovanna engoliu em seco, suspirando. Ela não podia chorar em um
momento daqueles. Não queria.
— Não. — Ela balançou a cabeça, engolindo em seco. — Você só
quer que eu ponha dinheiro na sua conta todo dia. Quer a boa vida que eu
posso oferecer.
— Você está me desrespeitando!
— Embora, não estou mentindo, estou? — Arfou. — Eu estou muito
cansada agora, Ana. Não tenho condições de lidar com você.
A mulher lhe deu espaço, se afastando.
— Pergunte para Alexis sobre seu quarto com o André — disse, a
olhando pela última vez.
A porta bateu em suas costas, fazendo Geovanna suspirar de alívio ao
se deparar sozinha desde que chegou em sua casa. Suas mãos foram de
encontro com seu celular no bolso que estava vibrando.
Toda a confusão com a sua mãe a deixava desconexa deste mundo.
Julian: eu não quis dizer que estamos encerrando a conversa no
sentido literal
To ficando preocupado se você entendeu desse jeito

Geovanna sorriu e apertou o celular contra o peito.


Geovanna: infelizmente não estou em um dos melhores humores hoje
Julian: você de mau humor? Que grande novidade
Geovanna: é sério, ok
Amanhã nós conversamos
Julian: espera 40 minutos.
Geovanna:???????
Julian??????????
JULIAN!
CAPÍTULO DOZE

Julian sorriu — ou tentou — do jeito mais charmoso que lembrava


quando a porta do apartamento abriu e os olhos tão escuros que poderiam ser
considerados negros o encarou.
— Julian Romero. — Carol disse, lhe dando espaço para entrar. — O
que devo a honra de sua visita?
Ele engoliu em seco, para alguém que era tão pequena, Carolina
poderia lhe causar mais medo que homens de quase dois metros de altura.
Julian ergueu o pacote que estava segurando.
— Emergências para uma jovem donzela triste.
Carol semicerrou os olhos, alternando o olhar para o pacote e para o
rosto dele.
— Isso é... batata frita?
Assentiu, sorrindo. Isso talvez tenha feito o coração duro dela
amolecer um pouco pois ela retribuiu o sorrindo, desmanchando sua pose.
— Fico feliz, Julian. Ela está precisando.
— Eu sei.
Ela ergueu a sobrancelha, um pouco chocada.
— Ela... te contou?
— Não exatamente. — Deu de ombros. — Ela somente disse que
estava com um péssimo humor e nem deu bola para minha provocação. Para
mim, isso é um belo sintoma de estar ruim.
Carolina piscou, meio sorrindo.
— Fiz errado? — perguntou, vacilando na confiança intacta que tinha
até alguns minutos atrás.
Ela negou, balançando a cabeça.
— Não! Claro que não, tem razão em vir até aqui, só estou um pouco
surpresa. Mas, continue porque você sabe o caminho. Só vá em direção a ela
antes que a razão dela mal apareça.
Sua confusão foi imediata, mas resolveu não falar nada e só caminhou
para o seu destino.
Quando Julian abriu a porta do quarto da mulher, esperando fazer
uma boa surpresa para ela, não esperava encontrá-la com uma camisola azul
curta como o inferno.
— Julian! — Ela exclamou, levantando-se da cama.
Péssima decisão. Péssima decisão.
O olhar do homem foi imediatamente para as pernas desnudas e quase
se virou para sair fora daquele quarto quando notou o decote. Ele piscou,
sentindo-se muito sufocado.
— Você está bem?
A voz dela parecia longe demais. Inalcançável demais.
— Estou. — Limpou a garganta, mantendo os olhos para qualquer
lugar do quarto que não fosse na mulher. — Eu, huh, trouxe uma coisa para
você.
Foi difícil não reparar nela enquanto se aproximava mais e mais.
Ele ergueu o pacote na sua frente, a fazendo parar para sua caminhada
em direção a ele.
— Pegue.
Ela franziu o cenho, confusa, posicionando suas mãos em sua cintura.
— Por que você está desse jeito?
Ele bufou.
— Você sabe o porquê. — Desdenhou.
— Eu sei?
— Sabe, sim.
— Para de ser idiota. — Agora tinha raiva na voz dela.
Julian a encarou, fazendo questão que ela notasse que seus olhos
pousaram em vários pontos que a camisola deixava descoberto. Demorou-se
muito nas dobras da parte em cima e no que mostrava, cada pequeno espaço.
Quando ele voltou para olhar o seu rosto, ele estava mais vermelho do que a
cor de um tomate.
— Para de me olhar assim!
— Você me perguntou o porquê eu estar agindo assim. Aí está a
resposta.
Ela ainda estava confusa.
— Por causa da minha camisola?
— Por causa da sua minúscula camisola. Você não tem algo que te
cubra, não?
A confusão no rosto de Geovanna passou para indignação e Julian
começou a considerar se não estava agindo por impulso.
Ele não era um adolescente mais, por Deus.
— Eu estou na minha casa... onde só tem outras mulheres morando
aqui, exceto meu irmão de catorze anos e definitivamente, eu não planejava
ter nenhuma visita em meu quarto sem convites. Hoje, aparentemente,
anunciaram o dia de virem para minha casa sem me consultar.
Aquilo o incomodou e o tesão foi rapidamente substituído por
preocupação.
— OK, você tem razão. Seu quarto, sua privacidade. Sinto muito por
não te avisar antes.
Geovanna amoleceu.
— Está tudo bem, eu gostei da surpresa.
Os dois sorriram. E ficaram assim, durante um bom tempo sorrindo
um para o outro, isso quase o fez esquecer do que estava na frente de Julian.
Quase.
— Agora, por favor, coloque algo para se cobrir. Eu estou me
sentindo como um adolescente.
O sorriso de Geovanna aumentou.
Aquela grande peste que foi designada apenas para o deixar mais
louco do que já era, estava sorrindo porque sabia o que estava acontecendo
com ele. Sabia o que o seu corpo — ou toda ela — podia fazer e causar nele.
Um teste divino. Julian tinha certeza disso.
Ou infernal, tanto faz.
Aparentemente, Geovanna podia causar as duas coisas nele e o mais
fodido era que ele estava tão malditamente ansioso para conhecer o que cada
detalhe o causava.
— Isso te deixa desconfortável? — Apontou para si mesma.
Ela só poderia estar brincando, certo? Não era possível alguém ser tão
cínica assim.
Certo?
— Não. — Mentiu. — Se você quiser, pode ficar até nua que não me
incomodarei ou ficarei desconfortável.
— Hm, você tem razão. — Ela sorriu maliciosamente — Eu posso.
Os olhos de Julian quase saltaram do rosto quando percebeu o
movimento que estava fazendo na barra de sua camisola, a puxando mais
para cima.
— Como você não está desconfortável...
Certo. Esse era o limite de Julian.
— Inferno, Geovanna! — Esbravejou, esfregando a mão em sua nuca.
— Dá para parar, por favor?! Eu vim na intenção de te alimentar e oferecer
um ombro amigo e não te perder o pouco autocontrole que eu tenho.
O sorriso de Geovanna era tão grande que estava quase para rasgar
seu rosto.
— Você é tão doce, Julian.
Ele revirou os olhos.
— Sim, agora dá para parar?
— Ok, Senhor Autocontrole, estou colocando um moletom. É bom o
suficiente para você?
Só que não era o suficiente. O moletom podia cobrir a parte superior
de seu corpo, mas as pernas continuavam lá. Torneadas e bronzeadas.
Muito mais musculosas do que ele imaginava.
— Você faz academia?
Geovanna franziu o cenho, confusa.
— As pernas. — Explicou, apontando seu dedo para elas.
— Sim, mas é só para praticar as cenas de ação que tem na série. —
Deu de ombros. — Nada de mais.
Realmente, não era nada de mais.
Em geral, Geovanna era pequena e pouco musculosa, mas ficava tão
acentuado nela que Julian se perguntara por que não tinha notado antes nas
fotos que havia visto dela na internet. Não que ele fosse um stalker, mas na
primeira vez que ouviu seu nome e fora pesquisar...
Não queria ser clichê — mais do que já era — mas aquela ligação que
sentiu quando ouviu seu nome... aquela sensação de seu estômago estar se
revirando por dentro quando a viu chegando à boate, para um encontro com
um dos seus melhores amigos, foi e ainda é difícil de explicar. Ela era linda e
isso é fato, mas para Julian ela parecia a personificação da divindade e isso
era mais difícil de se falar do que qualquer coisa.
Porque ele se lembrava dela. Lembrava das sensações que ela já lhe
causara.
E Julian sentia vontade de morrer. Mais uma vez.
— Obrigada — disse ela, com um sorriso tímido no rosto. Nem se
assemelhava que era a mesma que estava prestes a tirar a roupa na frente dele
somente para provocá-lo.
A essa altura, ele achava extremamente contagiante as facetas dela.
Ele a devolveu uma piscadela.
— Você estava precisando — explicou.
Ela concordou com um aceno de cabeça.
—É verdade. Eu realmente estava, mas não sabia que você ia se dar
ao trabalho de ir comprar meu hambúrguer favorito com as minhas sagradas
batatas-fritas a essa hora da noite. Você não precisava.
Desse jeito, parecia que ele tinha feito a coisa mais romântica do
mundo. Talvez para ela fosse e Julian sabia o quão clichê podia ser.
Ele gostava disso. De ser piegas.
— Assim parece que eu fiz algo impossível. — Ele disse, franzindo
cenho.
Ela riu, suavemente, deslizando-se para o pequeno sofá que tinha na
frente de sua cama. O mesmo que ele havia sentado para apenas provocá-la.
Julian sorriu com a lembrança, a imitando e sentando-se ao seu lado.
Geovanna tinha os olhos brilhando quando desembrulhou o pacote e
se deparou com a batata com bacon e cheddar. Suas favoritas.
Sim, Julian também havia guardado o que ela lhe dissera entre as
inúmeras mensagens que os dois estavam trocando durante a última semana.
Ele lembrava de suas preferências, lembrava dela lhe dizer que nunca se
cansaria de batata. Também lembrava que suas flores favoritas são girassóis
— algo que sempre o lhe fazia sorrir porque tudo o que ela gostava era
associado ao sol, a estrela mais brilhante — e que seu signo era aquário,
também lembrava que sua série favorita era Game Of Thrones e ela era a
louca dos musicais da Broadway — citou Hamilton e Moulin Rogue em suas
mensagens mais do que poderia contar — e...
Julian freou os pensamentos. Deus, ele estava se tornando um
obcecado com apenas uma semana.
Era quase impossível não ser, no entanto. O fato de associar a
Geovanna a uma estrela não era só por causa de sua aparência e seu sucesso,
mas sim também, ao fato de sempre estar iluminando qualquer lugar com sua
presença. Toda vez que ela falava, todos paravam.
Não era justo ser assim.
Sabia que ela não era perfeita, todos os humanos não são. Algum erro
ela tinha, assim como ele, assim como seus amigos e as amigas dela, mas não
podia deixar de associar Geovanna del Reiz como algo perto disso.
Ele engoliu em seco, percebendo para onde seus pensamentos
estavam indo e sentindo seu coração martelar. Julian se obrigou a se manter
forte.
Era mais difícil do que imaginava. Até porque ele estava ali, do lado
dela, rindo como ela, não tinha nenhuma vergonha de comer na sua frente
como se fosse um monstro enjaulado que estava comendo finalmente depois
de anos.
Ótimo, outra coisa que ele não deixará de notar. Grunhiu
internamente.
— Você vai me contar o que aconteceu pra te deixar assim? —
Resolveu abordar o tópico que estava hesitando.
Geovanna parou a batata que ia para sua boca no ar.
— Problemas familiares — disse, somente. A voz baixa.
Ugh. Ele entendeu a mensagem subliminar na frase. Não era da conta
dele e ele não devia fazer tais perguntas.
Não seria ele que ia falar sobre como percebera que a presença de sua
mãe poderia ter sido uma das influências dela estar agindo assim, insegura e
carente. Como se somente aquela presença foi o essencial para que ela
desmoronasse.
Não seria ele. Não agora.
Mais tarde. Quando ela lhe confiasse para contar sobre o que
acontecia entre elas.
— Ok. Entendi. Mas agora, você está melhor?
Ela sorriu, o olhando e Julian se sentiu derreter quando os olhos dela
continuaram a brilhar.
— Sim, Julian. Obrigada.
Ele passou o braço ao redor do seu ombro e ela nem hesitou ao se
encostar em seu peito e descansar sua cabeça ali.
— De nada, Estrelinha. Tudo para te ver sorrir.
Geovanna ergueu o rosto para encarar ele, sorrindo.
E foi bem ali, com ela direcionando o sorriso para ele e se
aconchegando em seu peito e brincando com as batatas das quais trouxera
para ela que ele entendeu.
Que sim, Geovanna era boa demais para ele.
Mas ele era egoísta demais para deixá-la ir.
Não ela.
CAPÍTULO TREZE

Quando Geovanna pensou em sair com suas amigas para um


restaurante próximo e aproveitar suas respectivas companhias, ela não
imaginou que teria que aguentar paparazzis fofoqueiros na frente de seu
prédio. Não tantos como ela estava vendo agora.
Sim, ela já havia enfrentado multidões como essas e não estava com
medo ou algo do tipo, mas sim surpresa por estarem lá, naquele momento.
E, até perceber a dimensão do que aquela loucura de gritos e flashes
se tratavam, ela cogitava em até acenar e dar um belo de bom dia para todos,
ninguém sairia ferido.
— Geovanna, conta como está sendo ser cotada para atuar com
Helena Adams?
Bem, como diabos eles tinham descoberto isso?
Havia um contrato de sigilo.
Agora não importava mais.
— Geovanna, você está namorando Diego Benitez?
Ela piscou.
— O que Julian Romero estava fazendo aqui ontem?
Outro piscar.
Não, eles não poderiam estar falando disso.
Eles não tinham o maldito direito.
O que há agora? Eles estavam vigiando seus passos vinte e quatro
horas, de repente?
Quando Julian viera a noite passada em seu apartamento, preocupado
com seu bem estar e trazendo algo que sabia que ela nunca iria recusar,
estranhara logo de início. Nunca imaginou que o homem do qual a primeira
conversa fora cheia de sarcasmo e desdém, que havia vomitado após
confessar que tinha sonhos imorais com ele e logo após vomitado seria o
mesmo que chegara em sua casa às dez e meia da noite apenas no intuito de a
fazer se sentir melhor.
E ele fez, com seu humor que raramente mostrava às outras pessoas,
com ela fingindo que não percebia quando seu olhar se desviava para suas
pernas — não, ela se divertira particularmente quando isso acontecia. Mas no
final e conclusivo, eles tiveram uma longa e boa noite do qual a faz quase
esquecer que o motivo de estar tão chateada ainda estar na mesma casa do
que ela.
O cujo dito motivo a fez várias perguntas depois que o homem saiu,
questionando quem ele era e o que fazia porquê de alguma forma nem mesmo
suas amigas conseguiram segurá-la. Provavelmente, durante esta manhã ela já
tinha descoberto até mesmo o número de seu documento.
— Vocês estão namorando?
Geovanna arfou. Foi quando sentiu o aperto da mão de Letícia se
tornar mais forte e a puxar para fora daquelas perguntas insistentes.
Se você me perguntasse isso quando fosse adolescente, eu diria que
sim, sussurrou Geovanna internamente.
Os pés de Geovanna se fincaram no chão, ainda tentando absorver as
palavras que estavam sendo ditas, principalmente porque elas simplesmente
não paravam. Eles continuavam a fazer perguntas relacionadas a ela e Latin
Spice.
— Vamos embora, Geo — murmurou Letícia, com sua mão a
puxando para fora da multidão.
E a mulher quase não fora. Ela quase virou para o paparazzi para
respondê-lo. Foi tão próximo de se descontrolar — algo que não era comum
para ela.
Mas foi um fio de sanidade que a fez voltar para si. Para o que estava
acontecendo.
Ela piscou, finalmente deixando com que sua amiga a tirasse dali.

Dentro do carro, as unhas azuis cintilantes tamborilavam.


— Você está bem?
Geovanna ergueu o rosto para o encontrar o olhar caridoso de Malu
sobre ela, os olhos levemente repuxados — herança indígena — um pouco
arregalados, esperando com que desabafasse.
Um fato sobre Malu: ela era recém formada em psicologia, era
apaixonada pela área. Mas acontece que, sem perceber, todos se tornavam
seus pacientes pois ela lhes julgava e conversava como se fosse uma consulta.
Era engraçado na maioria das vezes que ela fazia isso
inconscientemente, porém podia ser um pouco invasivo tanto quanto.
— Estou bem — respondeu, simplesmente.
Ela resolveu firmar seus olhos na longa paisagem da qual estavam
passando.
— Se quiser, nós podemos cancelar hoje — sugeriu, Letícia.
Geovanna fechou os olhos, suspirando profundamente. A última coisa
da qual queria era não ter aproveitado enquanto suas melhores amigas
estavam com ela, — algo que mal acontecia desde que se tornara atriz —
então encarou as feições preocupadas de Carol, Malu e Letícia, piscando.
Os seus lábios se abriram em um enorme sorriso, daqueles que só ela
sabia fazer, daqueles que mostravam que ela estava bem, que poderia seguir
com isso. E Geovanna sabia disso também.
— Vocês estão loucas? Nunca que eu iria deixar vocês se divertindo
sem mim, não está aberto para negociações.
As três amigas aliviaram suas expressões, assentindo e dando a
energia que ela tanto precisava.
— Ótimo, já estava pensando que teria que chamar algum cara
bronzeado, com ombros largos, sorriso bonito, cabelos cacheados e olhos
castanhos para te alegrar novamente — alfinetou, Carol.
Geovanna estreitou os olhos para a fala da amiga, notando o sorriso
de diversão que ela tinha no rosto.
— Esse cara parece muito um que pisou em casa ontem, não é? —
Letícia a ajudou.
Víboras. As duas. Eram víboras.
Ela não respondeu.
— Acho que o nome dele seria Julian Romero... — Malu continuou.
Geovanna ergueu a sobrancelha, ainda com os olhos nos vidros do
carro, olhando a movimentação. Traidora!
— Como um príncipe encantado que traz as rosas que no caso foram
batatas fritas. — Carol se divertia, mordendo os lábios.
— Sabe Deus o que eles fizeram dentro daquele quarto sozinhos
durante horas. — Letícia comentou, fingindo-se de pensativa — Mas se bem
que eu não ouvi nenhum barulho estranho...
— Eles podem ser silenciosos — decretou, Carolina.
Malu estava rindo.
Pronto. Já deu. Acabou.
— Ok, chega! — Rugiu Geovanna. — Vocês são três cobras
venenosas. Não tem mais nada para fazer do que falar de quem aparece na
minha casa para me visitar? Ele é um amigo e amigos fazem isso. Caladas.
Carol não se deu o trabalho de esconder a risada.
— Nós só queremos saber o que aconteceu para aquele homem estar
em casa àquela hora.
Geovanna sacudiu os ombros.
— Foi o que ele disse para você.
— Mas e depois? — Carol insistiu.
— Meu Deus, vocês querem se juntar aquela multidão de paparazzis
para saber o que estava fazendo comigo também?
Carol piscou, percebendo que talvez não tenha sido a hora certa para
insistir naquele assunto.
— Desculpa, Geo. — Quem se manifestou foi Malu. — Hora errada
de conversar sobre isso, só estávamos querendo animar mais porque você
está uma bela merda, querida.
Geovanna esboçou um sorriso.
— Não duvido.
— Mas ei, é sério, Julian é uma figura de importância na sua vida
desde... bem, nossa adolescência. Quando surtávamos por música nova, por
cada foto — continuou sorrindo amigavelmente. Ugh, Geovanna odiava
como ela dava um sorriso e ela já tinha vontade de contar até sobre o que
havia escondido bem dentro de sua alma. — Não queremos que você se sinta
pressionada ou algo do tipo.
Ela sabia disso.
Droga, ela sabia muito disso.
— Além disso... foi fofo — disse Carol, brincando com as
sobrancelhas.
Letícia gargalhou.
— Ninguém imaginava que isso ia acontecer... tipo, estamos falando
de Julian Romero, então além da nossa curiosidade óbvia, nós sabemos o que
significa para você.
Sim, elas sabiam.
Aquelas três mulheres que, de algum jeito, eram completamente
distintas umas das outras, em seus modos de agir, pensar, vestir também eram
as pessoas que mais se completavam de diversas maneiras.
Elas ajudaram Geovanna em seus piores momentos e a apoiaram nos
melhores. Podia sim, estar noventa por cento das pessoas contra os
idealismos e os sonhos dela, mas não as amigas. Nunca elas.
— Eu sei, amo vocês. Demais.
As três assentiram e sorriram. Era tudo o que precisava.

Em meios as risadas de Letícia e Carolina, enquanto Malu ia no


banheiro do restaurante, Geovanna resolveu checar seu celular, já que ele não
parava de vibrar dentro de sua bolsa.
E não ficou surpresa quando viu que era o grupo de seus colegas de
trabalho de The Last Light que estavam bombardeando seu celular com
mensagens.
Justin: acabei de ver o site de notícias da saída horrível da
Geovanna da casa dela
Alguém sabe se ela tá bem?
Alexis M.: não se preocupe, Justin. Vc não vai precisar usar seu
cavalo branco e ir salvar ela
Justin: você é tão desagradável
Alexis M.: tenho a mesma opinião sobre você
Tommy: tá tendo briga? Legal!
Syd: aposto que o Justin só tá mandando essas mensagens pra saber
a mesma coisa que os paparazzis: se ela tá namorando julian romero ou não
Alexis M.: HHAHAHAHHAHHA BOA SYDNEY!
Tommy: cada vez melhor
Justin: eu poderia estar muito bem preocupado com ela, todos
sabemos como é difícil enfrentar uma horda de paparazzis quando não está
pronto
Syd: até que poderia, mas a gente te conhece bem demais para supor
isso

Geovanna revirou os olhos.


É claro que Sydney e Alexis estavam certas. O interesse de Justin nela
não era um segredo para ninguém, até porque ele não fazia questão de
esconder que queria sair com ela. E que ficava cada vez mais frustrado toda
vez que ela recusava.
Não era nada pessoal, até porque Justin Colloway poderia conquistar
qualquer um com seus pequenos sinais espalhados pela nuca e peitoral, os
olhos cor de âmbar gentis e o sorriso galanteador, ela só não era uma dessas
pessoas.
Até porque ela preferia sorrisos maliciosos cheio de sarcasmo e olhos
cor caramelo. E cachos. Ela gostava de cachos.
Muito.
Geovanna: estou bem e não estou namorando.
Tópico encerrado.
Syd: eu consegui ouvir o suspiro de alivio do Justin daqui
Tommy: impressionante pois eu também
Alexis M.: eu também
Justin: vão se ferrar

A mulher mordeu os lábios para não rir.


Ela fingia que não era com ela o interesse dele e o evitava que ficasse
envergonhado diante as brincadeiras dos colegas.
Além de que era infinitamente melhor fingir que nada estava
acontecendo com ela. Evitava com que ela realmente precisasse dar uma
resposta a todas suas tentativas de chamá-la para sair. E tentar explicar.
Não sabia como ele reagiria com a recusa direta. Nunca demonstrou
ter interesse nele. Mas sabia que, ele continuava sendo um homem. E nem
todos aceitariam de um bom modo alguém do qual estava depositando todos
seus esforços por quase dois anos o rejeitar. Ela não estava disposta a ver
isso, também.
Era um pouco covarde porque sabia de seus direitos plenamente, mas
não deixava de ter medo.
— Você está bem? — Letícia perguntou, os seus olhos azuis fincados
nela.
Geovanna sempre a achou linda.
Deu de ombros.
— Você sabe que sim — respondeu, sorrindo e guardando o celular.
— A Bianca ainda está falando contigo?
Talvez tenha sido aleatório jogar o assunto da última namorada de
Letícia, mas desde que suas amigas chegaram, elas nunca tocaram no nome
dela. Ou o que tinha acontecido.
— Não. — Se encolheu e Geovanna se amaldiçoou por ter começado
aquele assunto, sabia que era complicado para Letícia falar sobre a única
pessoa do qual amou romanticamente. — Mas já era esperado...
Ela sorriu e apertou forte a mão de sua amiga.
Letícia não era de falar muito; sempre guardava as mágoas e dores
para si mesma e Geovanna sabia que isso só faz dela uma bomba relógio.
Então, ela fazia o que sabia: se postava ao lado dela e ofereceria seu ombro
amigo, para tudo o que ela precisasse. Para desabafar, gritar e chorar.
— Talvez você encontre alguma diversão para seu coração aqui —
sugeriu, ainda sorrindo.
Ela estava brincando, é claro. A dor que experimentou não seria
curada tão facilmente.
— Talvez. — Concordou, devolvendo o seu sorriso.
— É assim que eu gosto. — Anunciou Malu, ao se aproximar da
mesa. — Quando estamos unidas, nada é impossível.
Carolina ergueu os olhos para a amiga.
— Só talvez criar juízo.
— O que? Para que temos a Geovanna?
E elas riram. Se aproximando, uma da outra, passando os braços pelos
ombros para se abraçarem.
Malu tinha toda a razão.
CAPÍTULO CATORZE

Julian piscou, mal ouvindo o que Adrian estava dizendo.


A banda estava reunida com o produtor musical naquela tarde para
definir como se encerraria as últimas entrevistas após a turnê e como ficaria
as férias de cada um.
Mas, para o azar de seus colegas, Julian estava sendo estritamente
antiprofissional. Porque nenhum dos pensamentos estava sendo dirigidos a
eles e ao produtor que não parava de falar na sua frente. Estavam sendo
dirigidos a uma pessoa em especial.
Poderia se dizer mais principalmente nela e no que podia fazer.
A noite inteira tinha ao mesmo tempo que uma benção, um desafio e
um teste do inferno para ele manter seu autocontrole. Veja bem, Julian não
era uma pessoa que tinha um autocontrole excepcional, ele normalmente agia
sem pensar nas suas ações que viriam depois. Mas, com Geovanna era bem
mais difícil do que lidar com qualquer pessoa que já estava acostumado ao
jeito que ele era.
Sem falar que, nunca mais chegou a segunda base depois de Olívia.
Não era justo que logo quisesse libertar suas vantagens sobre Geovanna, do
qual imaginava que ela merecia gentileza. Ele não seria gentil.
Julian, havia tido somente uma mulher de modo mais íntimo do que
apenas encontros fracassados que mal chegavam a ter um beijo ou a conexão
necessária — ele, pelo menos, achava — que daria aos dois confianças para
subir em direção a um quarto. Não, ele, de fato, só havia testado e conhecido
certas necessidades quando estava com Olívia.
E eles haviam praticado. Muito. Em sua justificativa, ele meio que
precisava.
Se fechasse bem os olhos, Julian poderia se lembrar com todos os
detalhes de como havia sido a primeira vez com ela, como fora sentir tremer
sobre e abaixo dele... os olhos cinzas arregalados o perturbavam, os cabelos
castanhos....
Nem um pouco parecidos com os que agora acompanhavam os seus
sonhos mais profundos.
Ele poderia culpar na quantia de tempo que não estava fazendo tais
coisas, mas nunca fora assim. Não era algo que pudesse morrer se não o
realizasse. Igual Diego.
Diego nunca escondeu o quão mulherengo era. A sua lábia sempre
conquistava quaisquer mulheres do qual estivesse interessado — ou quase,
ele lembrava bem de uma que ele estava louco, não parava de falar, mas no
final ela estava interessada por Santiago. No dia seguinte, Diego o acusou de
traição por ter nascido, em suas palavras, baita de um gostoso loiro.
Julian simplesmente não era um Diego.
Não sabia se ficava feliz ou triste com este fato.
— Julian, porra!
Fodeu.
Ele ergueu o rosto para a voz que o despertou de seus pensamentos
que estavam indo até mesmo em direção a outros universos, mas não estavam
naquele ambiente. Em uma reunião importante.
Dante o olhava como se quisesse o matar. Provavelmente queria
mesmo.
— Sim?
Teve a cara de pau em ousar perguntar isso, não antes de limpar a
garganta.
Em sua resposta, o homem apenas balançou a cabeça, em negação
com a decepção expressiva por sua fata de atenção.
Julian iria colocar aquilo na conta de Geovanna. Ela era a culpada, ela
que o fizera encaminhar os pensamentos dos homens a todas aquelas
memórias e considerações com seus olhos cor-de-café, boca carnuda e rosada
e aquelas pernas que Deus teria que o perdoar por tudo o que já imaginou
fazendo.
Talvez isso o fizesse dele um pervertido.
— Perdoe-nos se estamos atrapalhando os seus pensamentos, sr.
Romero.
Oh, deuses.
Aaron estava muito puto com ele.
— Não vai se repetir. — Prometeu, sorrindo ladino.
— Eu espero, por seu próprio bem.
Ele não iria fazer nada com Julian, certo?
Bem, de qualquer maneira, o mexicano esperava que estivesse certo,
que Aaron não ia usar aqueles enormes músculos em cima dele.
Mas de qualquer jeito, ainda ficou com medo.

Infelizmente, isso não foi o suficiente para manter a sua cabeça ali, a
promessa foi quebrada porque continuou se repetindo. Durante toda aquela
reunião.
E só capaz de perceber que de fato, havia terminado, quando recebeu
uma cotovelada de Santiago, que estava ao seu lado.
— Que porra foi essa, Julian? — sussurrou, mantendo o tom de voz
baixo para apenas os dois.
— Eu não sei! — Exasperou. — Minha cabeça só não estava ali hoje,
ok? Sem sermão.
Os olhos cinzentos de Santiago podiam perfurar o corpo de Julian
pela intensidade que estava passando.
— Vai ser pior quando estivermos só com a Sophie, você sabe.
Julian sabia disso, mas seu amigo estava argumentando como se ele
pudesse, ao menos, controlar para onde seus pensamentos iam...
— Eu sei, ursinho.
Santiago deu meia volta no seu corpo, virando-se para a frente do
mexicano, sua feição fechada de despontamento pior do que quando ele
chamou sua atenção.
— Seu idiota. Só as nossas fãs podem me chamar assim. — Se
defendeu.
Um sorriso se formou nos lábios, lembrando de todos os momentos
em que leu tweets das fãs falando de Santiago com esse apelido brega, sem
falar dos gritos nas portas de hotéis. Elas eram, verdadeiramente,
encantadoras; disso ele não tinha nenhuma dúvida.
— E, não pense que você está conseguindo desviar do assunto me
colocando na jogada, camarada. — Continuou recuperando a pose
descontraída — O que te deu?
Julian considerou contar o que estava acontecendo na sua mente
fodida. Realmente, considerou falar que Geovanna del Reiz tomava conta dos
seus pensamentos cada vez mais, cada vez que trocavam mensagens e cada
vez que ela lhe lançava o sorriso mais bonito que já vira na sua vida.
Seria bom desabafar com alguém.
E, definitivamente, Julian escolheria Dante ou Santiago para isso.
Eles eram bons ouvintes e conselheiros melhores ainda, sem falar que... eles
tinham uma maturidade de lidar muito melhor nesses assuntos do que Diego
e Adrian. Não que ele quisesse desmerecer, de algum jeito ou tipo, seus
amigos, mas... os dois sempre evitavam falar de suas experiencias amorosas
pessoais, eles preferiam guardá-las e substituir por um bom humor que Julian
sabia que não seria capaz de fazer.
Mas, ao mesmo tempo, que seria bom e até mesmo uma limpeza para
sua alma, falar sobre esse assunto com outra pessoa... de certa forma, Julian
não conseguia se desfazer da ideia de que falar disso em voz alta, o tornaria
real. Suas paranoias e pensamentos pervertidos podiam continuar consigo
sem enlouquecer ninguém mais com uma atração boba. E, além disso,
Santiago é extremamente com sua saúde mental depois de que tudo
aconteceu.
Ele sabia que talvez possa piorar as coisas.
De certa forma, equilibrando os prós e contras, não era muito certo
falar dessa situação além da sua melhor amiga: a paranoia.
— Nada, cara. — Pousou a mão sobre o ombro do homem, dando
uma tapinha — Eu estou bem, só alguns pensamentos sobre minha família,
mesmo.
Santiago o olhou desconfiado. Eles não tinham muita diferença de
altura, mas o homem o olhando daquele jeito fazia Julian se sentir muito mais
inferior do que realmente era.
— Certeza? Nada de Olivia?
Como Julian pensava...a preocupação sempre nítida. Não reclamava
disso — pelo o contrário, se sentia feliz que os amigos se preocupassem tanto
com ele, mesmo que o sufocassem demais com seus questionamentos. Porque
querendo ou não, seus amigos estiveram mais próximos naqueles momentos
torturantes, muito mais do que até mesmo sua família.
— Sim. — Confirmou. — Certeza. E quanto a Olivia... todo dia eu
lembro dela, cara. Mas eu estou bem. Um passo de cada vez, certo?
Julian não havia mentido nisso — todo dia lembrava dela, mesmo que
o domínio de seus pensamentos estivesse em outra pessoa no momento, ele
sempre lembraria de sua tempestuosa Olivia.
Santiago assentiu, os olhos brilhando de orgulho dele, passando a mão
pelo seu cabelo loiro que o estilo com over sempre o fazia lembrar de algum
modelo famoso.
— Estou orgulhoso de você, cara.
Ele sempre falava isso; toda vez que Julian estava mal, quando
pensava que não conseguiria passar por aquela crise, por aquele momento,
mas no entanto, sempre superava, ele chegava ao seu lado, o confortava e
dizia “estou orgulhoso de você, cara’’, as mesmas palavras, toda vez. Julian
nunca havia falado o quanto aquela frase significava para ele, o que
representava em sua vida, tanto as palavras, tanto quanto o conforte e
lealdade que seu amigo o dava quando necessitava. Nunca fora alguém que
deixa seu orgulho para pedir desculpas, ficava aliviado quando não precisava
falar.
Não precisava pedir. Santiago estava lá. Sempre esteve.
E Julian esperava que ele soubesse o isso significava.
— Obrigado — respondeu, simplesmente.
Os dois caminharam juntos pelo resto daquele corredor, em silêncio.
Não precisava de nenhuma outra palavra. A amizade dos dois era a mais pura
demonstração de amor e lealdade que poderia ter surgido durante todos esses
anos em que trabalharam juntos.
Julian não podia esperar ou ter melhores pessoas ao seu redor.

Quando ele chegou em casa, foi como um adolescente ansioso, fazer a


primeira coisa que imaginou que faria quando tivesse sozinho: conversar com
Geovanna.
Julian: então
Geovanna: meu deus
O que aconteceu?
Julian: o que? Por que você acha que aconteceu alguma coisa?
Aconteceu alguma coisa COM VOCE?
Geovanna: não, só achei que vinha uma conversa séria com um
começo desses
Julian: você tem razão
Geovanna: o que aconteceu, julian?
Julian: vim denunciar abandono
Geovanna: abandono?
Julian: sim, você não tá acompanhando o que eu tô escrevendo?
Enfim, sim. abandono
IMPERDOÁVEL
Geovanna: oh Deus...
Quem abandonou você?
Pra eu lembrar de brigar com ela porque você ta me irritando
Julian: VOCE
Geovanna: eu??????????
Julian: sim, não me manda mensagens há dois dias
Eu noto isso, sabe
Geovanna: diagnóstico: carente demais
E eu trabalho, sabe?
Julian: e daí?
Geovanna: julian, estou revirando os olhos para você nesse exato
momento
Julian: falando sério aqui, estrelinha
Eu gosto demais da sua companhia
Fiquei talvez mal acostumado em conversar contigo todo dia
Geovanna: eu também gosto da sua companhia
Julian: eu fico feliz por você ser uma grande intrometida e ter
iniciado aquela conversa na boate
Geovanna: acho que Diego é o grande vencedor para isso
Ele que me convidou pra sair, afinal
Julian: porque vc sempre volta nesse tópico? Quer sair com ele de
novo?
Geovanna: por deus, dá pra sentir seus ciúmes através da tela de um
celular
Julian: ciúmes?
Hahahahahahaha
Não exagere
Geovanna: é, sabe... se você queria que eu não tivesse saído com ele
(ou nunca mais saia) é só agir
Julian: agir como?
Geovanna: me convidando pra sair :)
Julian: você quer que eu faça isso, certo?

Geovanna não respondeu. Ao invés disso, ela estava ligando para ele.
Julian tentou ignorar a ansiedade que preencheu seu corpo, mas não foi capaz
de esboçar o sorriso em saber que ela estava ligando para ele.
Minha nossa. Ele era um bobo.
Realmente. Um bobo — como Adrian dissera a ele.
— Ligou só para me responder, Estrelinha?
A risada abafada dela soou pelo celular.
— Não fique tão convencido, faz mal para pele.
— Responda a minha pergunta, Estrelinha. Não fuja dela.
Um suspiro alto escapou de Geovanna.
— Não planejava escapar, de nenhuma forma... — Ela fez uma pausa,
procurando as palavras. — Eu não devo? Desejar isso?
Julian sabia que ela estava referindo a chamá-la para sair de isso.
— Não é uma escolha sensata, não.
— Bem, eu sempre fiz muitas escolhas sensatas na minha vida, talvez
eu possa abrir exceção para uma escolha ruim.
Ele balançou a cabeça, em negação. Como se ela pudesse ver como
ele estava tentando dizer para ela não ir mais fundo nisso.
Fechou os olhos, se sentindo o homem mais hipócrita do mundo, há
minutos atrás ele só pensava nela e em falar com ela, não seria justo com
nenhum dos dois se pedisse para usar um freio invisível.
— Bom, nem eu.
Péssima escolha, Julian. Péssima, horrível, terrível, horrorosa.
— Exceto que — Continuou. — Eu já fiz muitas escolhas erradas.
— Não espero que não tenha. Detestaria se fosse muito certinho.
Julian gargalhou.
— É verdade, esqueci que você é louca pelos personagens bad boys
de seus livros que tem muito sexo.
— Para!
— Você está vermelha, não está?
— Não — respondeu, com um decimo de sua voz bem mais fina do
que realmente era.
— Está, sim. — Argumentou Julian, entre risadas.
— Ok. — Bufou. — Talvez eu goste de caras com o histórico
traumático, coração destruído e jaquetas de couro.
Julian sorriu. Ele de fato, tinha um histórico que não era leve.
— Agora entendo porque eu era seu favorito!
Geovanna se engasgou.
— Nós tínhamos combinado de nunca mais falar sobre isso, Julian
Romero.
Uh.
O jeito que ela anunciou o seu nome foi apreciado.
Foi... sexy?
Julian nunca imaginou que ouvir seu nome seria tão bonito ou se um
dia, sairia de uma maneira tão sensual como saiu da boca de Geovanna.
Olivia quase não o chamava de Julian — ela optava por apelidos fofos
e carinhosos.
— Não. Eu combinei de nunca falar sobre aquela noite, mas se você
perceber bem, não estamos. Só estou citando algo dito por você própria, não
fique tanto na defensiva, não é algo para se envergonhar.
Dessa vez, foi a vez de Geovanna gargalhar.
— Você é cheio de si, caro Julian.
— Eu tento... moro com outros quatro homens que são tanto ou mais
do que eu, preciso me manter bem comigo mesmo, sabe.
— Entretanto, eles são bons amigos.
Julian lembrou do acontecimento mais cedo, com Santiago o
apoiando e ele lembrando do quanto é bom ter sua companhia.
— Sim, eles são. — Concordou — Sou grato por ter eles.
— Eu realmente entendo, me sinto do mesmo jeito com as meninas.
— Elas são suas amigas há muito tempo?
— Sim, Malu desde o ensino médio. Letícia e Carol desde a
universidade, mesmo que eu não tenha a terminado.
— Você sente saudade dessa sua vida normal, estudando e etc.?
Houve uma pequena pausa antes de Julian voltar a ouvir a voz dela
novamente.
— Às vezes, sim. É muita pressão para uma pessoa nova, mas não
trocaria por nada, estou vivendo meu sonho, isso é mais do que importante
para mim.
Ele a entendia. Ambos estavam vivendo seus sonhos, mas a fama
sempre vinha com um preço a se pagar. A cada passo que dava para o
reconhecimento de seus trabalhos, mais difícil ficava de lidar.
Não era estranho para ele a entender — poucas coisas ele não
conseguia entender da mulher com quem falava, seus corações batiam na
mesma sintonia e o guiavam na mesma direção. Disso, ele não tinha nenhuma
dúvida. Seja romanticamente ou não, eles sempre conseguiam se entender,
como se tudo o que vivessem, estava acontecendo com ambos. Isso não
mudaria tão cedo; o companheirismo e o alivio de ter quem poder conversar e
saber que aquela pessoa saberia.
Saberia o que estava acontecendo.
— Ei, Julian? — Chamou Geovanna após ele ficar em silencio com
seus pensamentos.
— Hum?
— Eu fico feliz por Diego me convidar porquê... sem ele, eu não
conheceria você. Eu sou grata a isso.
O coração de Julian parecia que ia sair da sua boca. Ele pigarreou.
— E por ser uma intrometida?
Ela riu, suavemente.
O coração dele ainda batia em um frenesi maluco.
— E por ser uma intrometida.
CAPÍTULO QUINZE

No dia seguinte, havia uma verdade irreparável que nunca poderia ser
contestada: Geovanna estava perdendo a cabeça.
Ouvindo a voz de Alexis murmurando a música favorita dela quando
estava feliz, ela pôs seus pés em seu chão frio do seu quarto, tentando sair do
aperto de seu irmão mais novo, que estava dormindo tranquilamente na cama.
Ele havia se esquivado durante a madrugada, querendo dormir com ela.
Geovanna não conseguiu negar, nunca negaria algo para seu irmão,
principalmente quando ele tinha os olhos — tão parecido com os dela —
começando a brilhar, em uma sugestão de lágrimas.
Ela abriu a porta, saindo de fininho em direção à música e encontrou
suas amigas — literalmente todas as quatro que estavam em sua casa —
assistindo o videoclipe na TV de Latin Spice, uma das favoritas dela.
E ali, com o ombro encostado na parede, os braços cruzados e os
olhos focados nos cinco homens cantando. Quando o zoom focou em Julian,
o coração de Geovanna solavancou. Ela piscou, sentindo um frio no
estômago ao lembrar da conversa que os dois tiveram ontem à noite.
Eles fizeram um acordo silencioso, não precisava com todas as letras,
para ambos saberem que estavam atraídos um pelo o outro. Mas, entretanto,
não tocaram mais no assunto depois que Geovanna desligou.
Foi ali, naquela chamada e naquele momento, em que somente via a
imagem dele, relembrando de sua voz e de suas palavras, ela concluiu que
estava perdendo a cabeça.
E o coração estava se entregando tanto quanto.
Geovanna não mentiu em nada do que dissera na noite passada,
esperava que Julian havia entendido a mensagem claramente: ela queria sair
com ele. Queria conhecê-lo — de verdade. Todas suas peculiaridades, não
como fã, mas como algo... a mais.
Mas não iria apressá-lo e nem nada, não gostaria que colocassem
pressão sobre ela com isso, então não iria fazer o mesmo. Julian já tinha
idade o suficiente para tomar decisões em sua vida, ele demonstrara que
estava tão interessado quanto ela — mas, até que ponto isso não era apenas
impulsividade?
— Está em que mundo, Geovanna?
A mulher piscou quando voltou dos seus devaneios com a voz de
Malu.
— Bom dia, meninas — desejou docemente, olhando para as quatro
mulheres que estavam a encarando. — Onde está minha mãe?
— Saiu, Geo. — Letícia disse, mordendo os lábios.
Nenhuma surpresa. Era capaz de deixar seu irmão ali e sumir por
semanas.
E ela até preferia se fosse assim, nunca fora íntima de sua mãe, mas
quando alcançou a fama, tudo piorou, e não apenas uma ou duas coisas — e
sim, absolutamente tudo.
Geovanna nunca fora de guardar rancor de alguém na sua vida, não
importava o quão mal esta pessoa tinha feito a ela, mas ela guardava mágoa e
decepção do jeito que sua mãe a criou, até quando ela começou a pensar por
si mesma.
— Não estou surpresa.
Ela se encaminhou para a cozinha, na intenção de fazer o café da
manhã de seu irmão porque sabia que nada do que as suas amigas tinham
preparado, até então, serviria para ele. Ele era extremamente exigente na
escolha da sua alimentação, no entanto, e ela o amava em cada detalhe. Ele
era naturalmente saudável; bem, depois de ver como as comidas da qual ele
se alimentava antigamente eram produzidas.
Um pequeno ser de nove anos quando decidiu ser vegetariano. Sua
mãe havia sido contra — é claro — mas Geovanna havia amado como ele
havia tido essa decisão. Sem precisar de ninguém o dizendo o que fazer, sem
manipulações. Apenas uma decisão dele.
André era seu maior orgulho.
Claro que não poderia ter um minuto de paz naquela casa, nem de
descanso para seus pensamentos por amis melancólicos que eles fossem,
porque quando Alexis adentrou o cômodo, fazendo com que fosse impossível
Geovanna não olhara.
Sabia de que todas as suas amigas, as únicas das quais ela não
conseguia mentir de nenhuma forma era Malu e Alexis. Malu porque tinha
um tom de voz e uma diplomacia do qual coagia as pessoas a confessarem
seus maiores segredos sem nenhum medo, Alexis tinha um dom mais oposto;
ela tinha uma força, um tom do qual obrigava a pessoa a falar. Era estranho,
como estar sobre hipnose.
— Tem algo que me deseja falar? — Ela perguntou docemente, os
olhos verdes piscando.
Mas Geovanna conhecia sua amiga bem o suficiente para saber que
Alexis Marie não era exatamente a pessoa mais doce do mundo.
Na verdade, elas eram amigas porque elas conseguiam ser quase o
oposto uma da outra. Era um pouco engraçado, até. Mas, apesar de todas as
diferenças, elas conseguiam ter algumas coisas em comum: uma era a
confidente da outra.
— Não — respondeu Geovanna, sorrindo — Eu deveria ter?
Os ombros de Alexis murcharam.
— Não sei...
Geovanna balançou a cabeça, em negação, enquanto cortava os
pedaços das frutas favoritas de André.
— Fale logo o que você precisa, Lexi.
— Ok. — Suspirou. — Eu meio que, sem querer, totalmente sem
querer, ouvi sua conversa com o Julian ontem.
O que?
— Você fez o que?!
Os olhos verdes de Alexis se arregalaram, dando a ver todas as linhas
amareladas douradas que possuíam.
— Calma, em minha defesa, foi totalmente sem querer.
Ela não tinha nem como culpar sua amiga. Não havia nada demais, de
qualquer jeito.
— Bom... e?
— Bem... — Era uma das raras vezes que Geovanna via Alexis ficar
sem o que dizer e se enrolar em falar algo. — Ouvi o que você disse, Geo.
Por que não contou para ninguém que está se apaixonando por esse homem?
— sussurrou a última parte.
Bom, agora era Geovanna que não sabia o que falar. Não tinha o que
falar, na verdade. O que teria? Eles não tinham nada demais. Nada de
profundo e não foi como se eles tivessem falado como se amam.
Porém, a constatação de Alexis deixou ela estática. Nunca havia
chegado nesse ponto, no que estava florescendo dentro de si mesma. Todos
esses sentimentos conflituosos... nunca havia sido muito boa para definir
quaisquer que fossem — ela preferia apenas viver e esperar que o futuro lhe
fornecesse a resposta. Geovanna não seria a pessoa que se descabelaria por
estar apaixonada.
Mas não havia pensado nisso, pensado na situação que estava se
desenrolando com Julian.
— Eu não...
— Não comece. — Alexis a interrompeu, erguendo a mão para a
silenciar. — Eu te conheço mais do que você pensa, Geovanna. Você é mais
transparente que água, então quando eu digo que, você está se apaixonando
por ele, é porque está.
— É só que tudo é tão novo... — Tentou argumentar. — Somente nos
livros que nós lemos é que o casal protagonista se apaixona rapidamente.
— É um começo, querida. — Acariciou o ombro da amiga que estava
em sua frente. — Uma paixão pode se iniciar de vários jeitos, a atração entre
vocês é evidente. Eu não estou te dando um ultimato, eu estou dizendo que
isso é um começo de um sentimento seu, algo que possa ser mais do que uma
paixão platônica ou atração sexual.
Geovanna piscou. Não estava pronta para discutir sobre isso e agora
só desejava que Alexis e sua sinceridade a deixasse um pouco de lado,
porque as palavras poderiam ser mais profundas do que sua amiga pensava.
Felizmente, o universo parecia estar com pena dela, porque naquele
exato momento uma versão masculina e infantil de Geovanna surgiu na
cozinha, esfregando os olhos e bocejando.
— Bom dia, mana. — Anunciou um André sonolento. — Você
preparou meu café da manhã?
Geovanna sorriu, indo em sua direção e depositando um beijo em sua
testa — ainda sob o olhar atento de Alexis —, agradecendo por ele estar ali.
E o amando ainda mais por o ajudar a sair daquela conversa estranhamente
constrangedora.
E por este motivo, quando o abraçou, segurou forte em seu pequeno
corpo, como se fosse seu colete salva vidas do que ela poderia fazer com
aquela nova descoberta que sua amiga despejou sobre seu colo.
Mais tarde, naquele mesmo dia, Geovanna mandou mensagem para
Julian. Ela não sabia o porquê, não sabia se era por causa da sua confissão no
telefone na noite passada, no tom de voz dele confirmando que ele tinha a
mesma vontade dela, ou se era por tudo o que Alexis a falara na manhã.
Passara o dia todo inquieta e agradeceu a Deus por não ter nenhuma
cena para gravar naquele dia porque ela sabia que seu rendimento ia cair
consideravelmente.
Não era só ela que havia percebido sua ansiedade estar grave naquele
dia — suas amigas todas haviam a cutucado, querendo saber de algo, do que
a estava incomodando. Alexis não, já que ela tinha as cenas para gravar.
O universo estava mesmo com pena da situação dela. Nunca lembrou
de ter sorte na vida.
Então, depois de seu irmão de doze anos brigar com ela porque ela
estava o incomodando; se viu deixando-o assistindo com suas amigas e ao
sentar na borda da sua cama, pegando o celular e digitando mensagens para o
mexicano mais sexy do mundo segundo a revista ela mesma.
Geovanna: você está livre hoje?
Não demorou muito para se ter uma resposta, quase como se ela não
fosse a única que estivera ansiosa durante aquele dia.
Julian: depende.
Se você acha que aguentar a briga de seus colegas de banda por qual
série vamos assistir na Netflix hoje uma ocupação
Então sim, eu estou ocupado
Geovanna: bom, sua sorte que eu realmente não considero
Julian: o que sobra... estou totalmente livre
Geovanna: ótimo
Quer sair?
Julian: nossa, estrelinha
Não imaginava que você estava tão afim de mim assim
Conversamos sobre isso ontem e hoje você já me convidou pra sair
Hm... sua espertinha
Geovanna: eu realmente quero mandar você para um lugar muito
feio agora
Julian: ;( (
Malvada
Geovanna: VOCE QUER OU NÃO?
Ops, foi mal. Caps. saiu ligado
Julian: acho que valeu a pena, eu realmente imaginei você gritando
e minha resposta pra você é sim
sempre vai ser sim
em menos de 40 minutos, estou aí
melhor deixar a porta do seu quarto aberta :)

Geovanna se olhou pela milésima vez antes de sair do banheiro, ainda


conferindo se estava bonita o suficiente para aquele momento. Suspirou
quando viu uma pequena espinha nascendo no lado direito da sua bochecha.
Não se considerava uma pessoa extremamente vaidosa, mas talvez estivesse
mais nervosa do que o comum, já conhecia esse sentimento — o que Julian
podia trazer para ela.
Então, quando abriu a porta e se deparou com um Julian Romero
transparecendo estar tão nervoso quanto ela, esperou alguns minutos antes de
agir. Ela definitivamente não esperava encontrar ele naquele jeito, mas
considerou que ele escondeu razoavelmente bem quando substituiu a feição
de pânico por um sorriso carregado de sarcasmo.
Bom, Julian. Muito bom, mas não bom o suficiente para esconder de
imprensou Geovanna retribuindo um sorriso calmo, do qual não mostrava
nenhum desespero.
Ela concluiu que dois poderiam jogar este jogo de aparências.
— Ok. Que bom que veio. — A garota falou, sua voz bem diferente
do que da última vez que ela falou diretamente com ele, do qual estava com
ela rouca e grogue.
Merda.
Isso ela não conseguia esconder.
Limpou a garganta e lhe deu espaço para o homem entrar.
— Eu falei que viria. — Ele se virou para ela, sorrindo. — Eu não sou
de mentir.
As bochechas da loira ficaram automaticamente vermelhas, não
estava esperando esse tipo de resposta, do qual sua mente encaminhou
imediatamente para suas últimas conversas; Da sua boca, saiu um riso baixo e
tímido.
— Tenho certeza que não. — Ela resolveu responder. Isso tirou um
outro sorriso largo de Julian.
Os dois sentaram e se encaminharam para o sofá da sala — Geovanna
tinha garantido pessoalmente que os dois estivessem juntos naquela tarde,
sem família e sem amigos curiosos — e ficaram extremamente e
curiosamente bem confortáveis com a presença um do outro, mas isso não era
exatamente uma novidade. Depois do dia da conversa mais rude do que ela
esperava que tivesse quando falasse com Julian pela primeira vez, os dois
realmente tinham um jeito harmônico de levar suas conversas, de se abrirem
um com o outro.
Você queria está se abrindo de outra maneira, sussurrou a voz do
lado promiscuo da mulher.
Geovanna se engasgou, ignorando os olhares de confusão de Julian
sobre ela.
— Está tudo bem? — questionou.
Ela piscou, dessa vez, conseguindo se controlar e de enfiar os seus
pensamentos mais pervertidos para o fundo da sua mente. Oferecendo um
sorriso, ela fingiu que nada aconteceu.
— Tudo ótimo.
De qualquer jeito, Geovanna não podia ignorar o fato que Julian não
parava de olhá-la, de uma maneira que poderia ser até admiração; ele tinha o
rosto e suas expressões leves, como se tivesse se desprendido de tanta coisa
enquanto conversava com ela. Era fofo, infelizmente, não pode controlar suas
bochechas pegarem fogo enquanto percebia que os olhos castanhos do
homem não estavam fixos na TV que estava rolando Harry Potter e o
Prisioneiro de Azkaban — e é claro que essa escolha havia sido dela.
No entanto, nenhum dos dois chegara a conversar o que era realmente
importante. No fim, ninguém tinha uma palavra para descrever, do mesmo
jeito que não queriam acabar com aquele pequeno espaço de paz, sem
cobranças. A tensão era tão palpável que poderia ser tocada. Se alguém
estivesse com eles, poderia se sentir nauseado.
Geovanna molhou os lábios e olhou para a direção de Julian e ele
vendo que foi pego no ato criminoso, desviou os olhos e tentou se focar no
filme. Oras, era por isso que tinha vindo até ali. Quer dizer, não exatamente,
mas... Geovanna engoliu uma risada e optou por apenas sorrir.
— Posso perguntar algo para você? Aviso que vai ser uma pergunta,
curiosidade de uma fã. — Ela resolveu quebrar o silencio.
Ele a olhou com o cenho franzido e concordou com a cabeça.
— Qual casa de Hogwarts você pertence?
Julian riu.
— Qual você acha que é?
Geovanna o olhou, fingindo pensar sobre o assunto.
— Obviamente, Sonserina.
— Acertou — disse Julian sem um pingo de surpresa na voz — Acho
que eu transpareço bastante isso, não é mesmo?
Geovanna apenas assentiu, gargalhando.
— Suas fãs sofrem.
— Eu que sofro.
— Suas fãs também.
— Ok, talvez você tenha razão. — Deu de ombros. — Eu tento ser
próximo o máximo que posso, mas às vezes não tenho paciência o suficiente
para ignorar algumas coisas.
Ela não podia nem ao mesmo falar que ele estava errado — algumas
fãs realmente passavam dos limites do razoável e sensato.
— Oh. Eu sei.
Julian riu do olhar julgador que ela estava tentando dá-lo.
— E qual é sua casa?
— Lufa-Lufa. — A loira disse com um orgulho na voz, estufando o
peito.
Julian fez cara de nojo e recebeu uma tapa leve em seu ombro.
— Sonserinos não fazem o estilo de lufanas. — Ele apontou, sorrindo,
sabendo o significado da frase.
— Talvez não..., mas talvez, alguns valham a pena.
Ele engoliu em seco.
— Eu não sou bom, Geovanna.
Aquilo apertou o coração dela; a forma como ele se enxergava. A
forma que ele se julgava bom ou não para as outras pessoas.
— Bem, eu realmente não estou interessada em saber suas aflições de
badboy com o coração destruído.
— Oh, sim. esqueci dos seus livros, estou te lembrando os
personagens deles, huh?
— Você não faz ideia. Chega a ser irritante.
Ele riu, a tensão no ambiente diminuindo.
Os dois, brincando, não perceberam que a aproximação de ambos
estava bem mais curta do que antes. E continuaram assim, até que os seus
rostos estivessem quase se tocando. Seus braços próximos e a conversa fluía,
poucas vezes prestavam atenção no filme. Nem estavam tendo isso como
exatamente uma necessidade. O homem já estava sem seu moletom, apenas
com a camisa que estava por baixo e a calça jeans. De vez em quando, Julian
tocava o braço da mulher. E ela tentava, com todas as suas forças, não
mostrar a surpresa com os seus pequenos toques.
O momento foi interrompido quando o filme terminou, tirando ambos
da bolha que estava presos. Ela olhou para a tela, franziu o cenho e voltou a
olhar o homem que estava na sua frente e que ainda não havia tirado os olhos
da mesma.
— Não percebi que mal prestamos atenção no filme. — Ela disse.
— Bem, eu estava prestando atenção mais em você para ser exato.
Aquilo a pegou desprevenida.
Diabos, o que?
Ela piscou e o encarou. Os olhos de Julian pareciam arder de tão
escuros, quando ainda mantinha seus olhos vidrados em cada movimento que
a loira fazia.
Ela sentiu seus mamilos se enrijecerem com o olhar que ele a dava —
como se fosse a devorar. No entanto, ela não se pousaria se fosse isso o que
ele queria fazer.
Mas sua língua coçava, ela tinha e devia falar sobre o acordo
silencioso que o fizeram horas atrás.
— Julian... — Ela começou, quando cada luz vermelha em sua cabeça
apitava diante a aproximação mais do que perigosa deles. — Eu preciso saber
uma coisa.
Ele assentiu. Os olhos ainda intercalando para sua boca e sobre o que
ele conseguia ver com a camisa branca fina do qual ela estava usando.
Provavelmente, não tinha sido uma boa ideia a usar esta tarde.
— Você quis mesmo dizer aquelas palavras ontem à noite?
Os lábios do homem esboçaram um sorriso, se divertindo com a
pergunta dela. Mas sinceramente, Geovanna não ligou, estava aliviada em
fazer esta pergunta. Estava realmente com muitas questões sobre os dois,
principalmente para ele, que aparentemente era um homem que ainda estava
sendo torturado pelo seu passado. Porém, está fora a que saiu de sua boca no
momento.
Ele focou seu olhar sobre o dela. De repente, mais sério do que o
momento de desejo que estavam tendo um pelo outro, levantando sua mão
para acariciar o segurar o queixo da mulher.
— Eu tenho certeza de cada palavra do qual eu falei ontem,
Estrelinha... — Ele tirou sua mão de seu queixo e a levou até a bochecha
dela, a acariciando. Geovanna fechou os olhos com o toque. — Todas as
palavras. Agora, tenho a mais fodida certeza ainda.
Geovanna assentiu, ainda de olhos fechados, sentindo sua mão
continuando a acariciar todos os traços de seu rosto.
— Que bom. Eu não quero que você seja coagido por uma atração,
Julian.
Ele sorriu e bufou. Geovanna sentiu seu hálito sobre seu rosto.
— Eu realmente não quero falar sobre isso agora.
Ela abriu os olhos, tendo consciência do que vinha a seguir.
— O que você quer falar, então?
— Nada. Eu quero fazer, no entanto, algo que eu tenho tido vontade
de fazer há muito mais tempo do que você imagina.
E com isso, ela observou Julian molhando os lábios e quando
começou a distribuir carícias no braço da garota, que permanecia imóvel
sobre suas ações, consciente de que a tinha, mordeu seus lábios para não
soltar um gemido de satisfação sentindo a boca de Julian sobre sua pele.
A mão do homem subiu as carícias de seus braços para sua nuca, o
segurando. Ela suspirou. E foi o suficiente para abrir a brecha que ele queria
para avançar, sua boca encostou no seu ombro e fez o trajeto dele até o
queixo, suspirando sobre a boca dela. O aperto da mão em sua nunca.
Seus lábios se tocaram. Um simples selinho. Apenas um tocar de
lábios e Geovanna precisou engolir gemido quando finalmente suas bocas se
tocaram.
— Puta merda. — Julian xingou, ainda com os lábios sobre os dela.
Deus, ela não sabia o quanto estava querendo aquilo.
Não sabia o quanto ele estava querendo aquilo. Porque o simples
tocar, o fez arquear seus dedos que estavam em sua nunca, em seus cabelos e
o puxar, a fazendo tombar com a cabeça, dando espaço para ele beijá-la.
Ele poderia fazer o que quisesse com ela. Bem ali. Naquele momento,
que ela não iria reclamar — bem pelo o contrário. Ela talvez seria capaz de
chorar de felicidade.
Assim como Bella Swan em Amanhecer.
Ok, esperava não chegar naquele ponto.
A boca de Julian moveu-se sobre a dela, em um beijo rápido e íntimo,
com a lentidão que a fez pousar as mãos em sua camisa e o puxá-lo mais para
si, mas tão cedo quanto começou, foi da mesma forma que acabou, porque
ele abaixou sua boca, distribuindo os beijos sobre sua clavícula e pescoço.
— Deuses, Geovanna. — Ele gemeu sobre — Você é doce. E tão
gostosa.
Ela abriu os olhos e capturou o olhar sobre ela.
— Então não pare. — Mandou.
— Não acho que serei capaz disso. Não agora. Não depois disso...
você é perigosa para mim, Geovanna. Você é viciante.
E quando, ela estava prestes a subir em seu colo e avançar, somente
avançar... foi interrompido com um gritinho de susto sufocado de Alexis
quando viu os dois naquela intimidade.
Geovanna abriu os olhos e se deparou com uma Alexis de olhos
arregalados e mão sobre a boca e suas amigas atrás dela. Carol e Letícia
carregavam sorrisos maliciosos e Malu estava tão surpresa com o que estava
vendo — talvez porque André estava do seu lado, pronto para soltar uma
risada alta — e no sobre seu pescoço, Julian bufou e escondeu seu rosto na
curva. Geovanna sorriu para seus amigos falsamente.
Ela não tinha um minuto de sorte na vida.
CAPÍTULO DEZESSEIS

Julian saiu daquela posição lentamente, não querendo quebrar o


contato que estava tendo com a mulher do qual estava tendo um desejo
desenfreado há dias, semanas.
A mente dele estava uma merda. Uma bagunça total. Ele não
conseguia respirar agora que o desejo havia ido embora, se sentindo uma
bosta, com a culpa o sobrecarregando... levantou-se e pegou a jaqueta que
estava jogada no chão do sofá.
Aquele sofá nunca mais seria o mesmo, não depois de ter sido palco
daquele momento mais íntimo do que imaginavam ter sido do qual ambos
tinham compartilhado.
E Julian havia adorado — cada maldito segundo do que que
aconteceu.
Dos suspiros e gemidos de Geovanna, do sabor que era sua boca sobre
sua pele, dos olhos fechados e a boca vermelha entreaberta... de como seu
estômago se contraiu, como se estivesse soltando fogos nela, quando a
beijou. Não fora selvagem e definitivamente, não matou a vontade que ele
tinha de esmagar seus lábios sobre os dela. Mas havia sido íntimo, pessoal.
E ele era um merda por ter gostado tanto. Definitivamente, um merda.
Foi por isso que, após ter colocado sua jaqueta, sua mente desligando-
se do que Geovanna estava falando para suas amigas e seu irmãozinho —
este parecia devidamente assustado com o que tinha acabado de presenciar;
ou pelo o que ele não tinha, porque se demorassem mais um pouco... Julian
não sabia o que ele e Geovanna haviam feito naquele sofá, definitivamente
mais do que um beijo e caricias.
Julian limpou a garganta e não olhou para ninguém quando disse; —
Preciso ir. — Ele fechou os olhos, com força, não queria olhar para
Geovanna quando disparasse a sair daquela casa. — Nos falamos mais tarde.
Ele foi fraco, porque ele olhou para ela. Ele viu que o seu rosto
demonstrava confusão e despontamento.
Droga. Seu coração latejou, prestes a quebrar quando notou seus
olhos cor de café brilharem.
— Tudo bem. — Foi o que ela disse, a voz triste.
Você precisa me odiar, Geovanna. Não posso fazer isso.
Sinto muito, sinto muito, sinto muito...
Ele não parou de se sentir pior do que já estava quando bateu a porta
atrás dele. Não parou de se sentir pior quando pegou um táxi e o deu o
endereço de sua casa. Não parou de sentir pior quando reconheceu que o
sentimento do qual estava nutrindo por Geovanna podiam ser mais do que
atração sexual. Não parou de se sentir pior quando o rosto de Olivia surgiu
em sua mente; ela chorando e gritando com ele.
Sinto muito, Geovanna. Sinto tanto.

Quando entrou em sua casa, ela estava silenciosa — um dos dias raros
— e Julian não pode explicar o quanto estava grato por isso.
Ele não avistou ninguém na sala e nem na cozinha, mas sabia que
pelo menos dois dos quatro homens estavam ali, então ele se encaminhou
para o quarto do amigo que nunca negaria nada do que ele pedisse.
Não quando ele estivesse com cara inchada, parecendo um morto
vivo, pelo menos.
Julian subiu todos os degraus e bateu na porta do quarto do amigo,
esperando a resposta.
— Pode entrar! —A resposta saiu abafada de dentro.
Os olhos castanhos de Diego se arregalaram e sua testa estava
franzida quando notou que era Julian — e sua horrível — aparência que
estava batendo em sua porta.
— Devo chamar a ambulância?
Ele apenas sacudiu a cabeça, ainda parado, olhando para o chão,
como se tivesse acabado de sair de uma experiencia de morte.
— Cara, você está bem? — Diego quase nunca demonstrava
seriedade em algum assunto, mas todos eram como as quatro mães de Julian
— eu estou começando a ficar preocupado, o que eu posso fazer para ajudar
no que raios você se meteu?
Julian apreciava a lealdade de Diego como tudo, se não estivesse
horrível como se a realidade não estivesse o atingido ainda, teria ficado feliz
e com o coração quente devido à preocupação.
Mas tudo o que ele pensava era nela. Ele precisava visitá-la.
Olivia.
— Você está com o carro disponível?
— Claro.
— Preciso de uma carona... — Ele limpou a garganta, imaginando
que seria bom dar uma, ao menos, breve explicação para onde Diego iria
levá-lo. — Preciso visitá-la. Por favor.
Olivia Quentin
1997-2018
Amada filha & irmã.
Julian tirou as flores que estavam murchando na lapide de sua ex-
namorada e as trocou por um novo conjunto de margaridas — suas flores
favoritas.
O percurso até ali tinha sido silencioso. Talvez silencioso demais.
Diego não forneceu nenhuma pergunta quando disse que queria visitar
Olivia no cemitério, apenas parou na floricultura favorita dela quando Julian
o pediu e o levou ao lugar. Ele estava calado, dando ao amigo o silencio e o
espaço necessário que queria e necessitava.
Sabia que se Julian pudesse vir sozinho, ele viria. Então não tinha
necessidades de o pressionar com perguntas das quais ele também sabia que
só iria piorar sua ansiedade.
— Oi. — O homem começou sentindo sua garganta arranhar. Tinha
meses que não ia ali — Hoje foi... estranho, Olivia. Eu estou me apaixonando
por uma mulher, realmente estou. Ela me faz feliz, me faz sentir leve, assim
como você fazia me sentir no começo do namoro. Eu sei que não fui bom o
suficiente para você, saiba que eu trocaria de lugar naquele dia. Deveria ser
eu. — Fungou — Droga.
Ele sentiu uma mão em seu ombro, como conforto. E não precisava se
virar para saber que era Diego, tampouco se importava de ele estar ouvindo
sua confissão na frente do tumulo de sua ex-namorada morta.
— Eu senti culpa. — Continuou. — Uma maldita culpa por estar me
sentindo tão feliz com outra mulher quando você está aqui, nesse lugar, morta
por minha culpa. Eu poderia listar tantos motivos para ela se manter afastada
de mim, Olivia. Eu não a mereço. Não quando tudo o que eu fiz com você, eu
me culpo todo santo dia, espero que você entrará naquela casa, sorrindo e
nada aconteceu. Ele e você não morreram. Mas não posso, porque tudo foi
real. E o que me resta é arcar com isso.
Ele respirou fundo, buscando forças para continuar agradecendo que a
mão de Diego ainda se mantivesse forte em seu ombro.
— Geovanna é uma luz, Olivia. Você a teria adorado. Ninguém pode
simplesmente não gostar dela porque ela é a própria personificação do sol.
Todos se movem ao redor dela, buscando seu sorriso, buscando seu abraço e
seus beijos. Eu sou um. Ela é... uma luz nesse ano que eu passei na escuridão
depois do que aconteceu com você. — Suspira fundo, tentando continuar —
Eu só... tenho tanto medo de perdê-la, de causar isso. Não posso deixar que o
mundo fique sem ela, não posso deixar de que uma estrela tão brilhante se
apague.
Ele tocou na lapide, nas palavras ainda muito visíveis e desejou que
fosse ele.
Como todo dia desejava.
— Eu espero que você esteja em um bom lugar, Olivia. Eu espero que
você esteja feliz, como você queria que eu a fizesse. Sinto muito se não fui
capaz.
Julian se levantou, limpando a sujeira de seus jeans e sorriu,
visualizando uma Olivia feliz antes de sua prematura morte.
— Vamos para casa, Julian. — Diego anunciou, como demanda.
E ele o seguiu, sentindo o aperto de seu coração se afrouxar, depois de
finalmente ter despejados as palavras que precisava. E olhando para trás,
somente uma vez, para a lápide da mulher que se tornara sua um dia, antes de
tudo ruir, ele decidiu o que fazer com Geovanna. Com sua estranha conexão.
Ele se afastaria.
A manteria longe; dele, de seus problemas, de acabar que nem Olivia,
de um futuro triste.
Geovanna era sol, luz. Ele não precisava disso.
Ele precisava arcar com suas consequências — Olivia havia morrido
por causa dele, em sua cabeça ele merecia muito mais do que ficar longe da
sua nova paixão.
CAPÍTULO DEZESSETE

Já fazia duas semanas que Julian não retornara as mensagens de


Geovanna — nem ao menos as ligações.
No primeiro dia, ela ficou desesperada. No segundo e terceiro, ela
estava preocupada. No quarto e quinto, não se concentrava nas cenas que
tinha que gravar, porque estava passando mil e uma teorias sobre o que havia
acontecido com Julian. No começo da segunda semana, quando havia
percebido que ele estava mais do que bem por causa das entrevistas que a
banda havia dado, Geovanna ficou furiosa.
As mensagens que tinham um tom de preocupação, o dizendo que
precisava saber o que estava acontecendo, adquiriram um tom de raiva e
começaram a se transformar em xingamentos dos mais diversos tipos.
Ela não havia dado a mínima importância se ele havia lido alguma.
Pelo menos ainda não a tinha bloqueado, não até hoje. No início da
terceira semana, Geovanna começou a perceber que havia sido bloqueada. E
foi aí que as coisas começaram a ficar fora do controle.
Letícia e Carol não estavam mais na casa dela, haviam ido embora na
noite passada — e ela ficou mais desamparada depois disso — para resolver
os últimos agendamentos de suas respectivas universidades, mas voltariam
logo, para seu aniversário que ocorreria um dia depois do Natal. Malu havia
ficado, já que tinha uma grande vontade de abrir seu consultório na mesma
cidade da amiga apenas para ficar mais próxima dela.
Geovanna havia chorado quando ela havia contado suas ideias.
Sim, um maldito homem, fez isso com ela.
E antes, a vontade do qual tinha, de puxar ele pra si, arrancar suas
roupas, o beijar descontroladamente... havia passado, e agora, somente restara
a vontade de gritar na cara dele, cuspir em sua comida, dar tanto tapa em seu
rosto que sua mão tivesse adormecido por este motivo.
Ela estava começando a odiá-lo. Com todas suas forças.
Não sabia que um sentimento poderia mudar tanto. Mas havia.
E ela só queria o caçar até o inferno e o obrigar a contar o que diabos
aconteceu para que ele se afastasse dele. Para que não respondesse suas
mensagens, para que não tivesse mal olhado em seu rosto da última vez que
eles se viram — quando se beijaram — e ele fora embora, batendo a porta.
Ela pensava que era vergonha, sabia que ele era tímido. Até mandar
várias mensagens e ser ignorada, até começar a ligar para ele e ser recusada.
Então, quando seu irmão entrou pela porta de seu quarto, enquanto ela
tentava estudar as suas falas para sua próxima cena, se surpreendeu com a
hesitação que estava clara em seu jovem rosto.
— Tudo bem, André? — questionou, doce.
Ao invés de respondê-la, ele se encaminhou para a cama de sua irmã e
se sentou, abraçando forte o boneco que carregava.
— Eu que devo perguntar. Você está bem, irmã?
A pergunta surpreendeu Geovanna, que logo se aninhou para mais
perto dele, trazendo-o para um abraço de lado.
— É claro que eu estou bem, maninho. — Mentiu, sorrindo da
maneira mais convincente que sabia fazer — Por que a pergunta?
Ele sacudiu os ombros magros.
— Vou embora hoje com a mamãe, mas não queria te deixar sozinha
triste.
Ela sentiu que seu coração tivesse derretido.
— Não se preocupe comigo. Eu prometo que estou bem.
André não aparentava estar muito convencido do que sua irmã estava
lhe falando porque ergueu as sobrancelhas — claras como as dela — em sua
direção.
— De dedinho?
Ele agachou o dedinho mindinho que ele a oferecia com o dela. Uma
promessa de irmãos.
— De dedinho!
Os dois se abraçaram e Geovanna o apertou, como se ele fosse
desaparecer assim que saíssem daquele mundinho no abraço que eles criaram.
Geovanna o considerava a pessoa mais importante do mundo em sua
vida, faria o de tudo para sempre proporcionar ao pequeno e inocente irmão
as melhores coisas do mundo. Incluindo um ambiente saudável e amoroso,
sempre levava isso em conta quando conversava com sua mãe. Não queria
que ele fosse negligenciado por ela da mesma maneira que a própria
Geovanna fora.
Seu irmão merecia o mundo. E se fosse por ela, o daria.
— Agora, chega. Me conta se você está lendo os livros que eu
comprei. — Fugindo da desconfiança do irmão e afastando as lagrimas que
estavam caindo em seu rosto, moveu a conversa para o que ele mais gostava:
livros.
Ele abriu um sorriso enorme e Geovanna soube que tinha ido pelo
caminho certo. Daria a sua vida por aquele sorriso.
Quando André nasceu, ela soube que ele seria seu melhor amigo e
protegido. Aquele que sempre iluminaria seu caminho.
E em momentos como aquele — que ela se sentia perdida —, ele
estava em sua cama, despejando pensamentos e críticas muito avançadas para
uma criança de doze anos, cuidando dela. E ele nem ao menos sabia.
Não importava o quão estivesse triste e destruída, se seu irmão
continuasse a guiando para continuar a ser uma boa pessoa, ela saberia que
continuaria seguir.

Geovanna estava bem.


Quer dizer, quase o suficientemente bem. Quando as suas gravações
pendentes se finalizaram e só restara ela, Malu e Alexis naquela casa. Sem
crianças para cuidar e sem nenhuma notícia de suas outras amigas porque
elas estavam ocupadas, Geovanna começou a se ver mais paranoica.
Sua ansiedade não a deixava descansar. A cada momento, surgia
duvidas e questionamentos que não estavam nem pertos de ser respondidos
que Julian a deixara.
Era fácil substituir toda a confusão que estava sentindo por raiva.
Porque pelo menos, desse jeito, ela não teria que o preocupar, exigindo
respostas.
Respostas pelo o que, sua boba? Vocês só se beijaram.
Argh. Geovanna a odiava — a parte pegajosa que tinha em sua mente,
trazendo suas inseguranças de volta para a superfície.
— Cala a boca. — Resmungou. Para si mesmo.
Louca.
— Falou alguma coisa, Geo?
Ela ergueu os olhos para o rosto de Malu, que estava a questionando.
Ela fez de novo — falou muito alto.
— Não. Tudo em ordem.
— Certeza?
Franziu o cenho, se fingindo de desentendida. Sabia para onde Malu
queria a encaminhar e definitivamente não estava afim de mandar a sua
melhor amiga para o inferno para procurar saber da vida amorosa dos
demônios e ser terapeuta do próprio Diabo.
Um fato rápido de Geovanna: ela havia ficado desesperadamente sem
o que fazer depois que a casa tinha esvaziado e seu próximo trabalho
demoraria para iniciar as gravações. Então estava se ocupando com séries e
filmes. A dessa semana foi Lúcifer.
— Você sabe o que eu quero falar, mocinha. Não adianta fugir do
assunto, é mais inteligente que isso.
Bufou.
— Alguém já te falou sobre você ser insuportável?
Malu riu, se aproximando de Geovanna no sofá, abandonando as
canetas e o caderno que tinha em seu colo.
— Sim. — A puxou para um abraço. Geovanna ficou imóvel, Malu
odiava contato físico. — Você mesma, boba.
Ela piscou, semicerrando os olhos.
— Você... está me abraçando?
— De fato, estou.
— Por que você está me abraçando?
— Porque eu te amo.
— Sim, mas odeia contato físico. Por que está me abraçando?
Ela abriu uma carranca no rosto, frustrada.
— Eu só estou tentando criar um ambiente que você se sinta
confortável, Geovanna! — Explodiu, finalmente se afastando. — Eu sei que
você adora contato físico, eu estou te dando, para se sentir mais à vontade
para me contar as coisas.
Geovanna piscou.
— Você é uma coisinha muito esperta.
— É, eu sei.
— Mas não funcionou.
— Infelizmente, estou ciente disso também. Mas agora a dúvida é se
você vai me contar o que está acontecendo por bem ou por mal, ou seja, pode
me contar enquanto só está nós duas aqui e Alexis está no mercado ou... —
Levantou o dedo, tentando soar ameaçadora. — Eu te infernizo até me contar.
Todo santo dia.
Mas, no entanto, Geovanna achou graça na situação.
— Malu, você é muito preguiçosa para isso.
— Cuidado, as palavras podem machucar.
Ao menos, ela conseguiu fazê-la rir.
— Mas é sério. — Continuou. — Eu quero que você conte o que está
acontecendo. Você nunca foi de esconder as coisas quando está triste, eu não
quero que ache que deve. Eu estou aqui, sabe. Para tudo o que você quiser
conversar, desabafar, gritar; de qualquer maneira, eu estou aqui. E não vou
embora.
Aquilo foi o suficiente para puxar um ponto sensível dentro de
Geovanna porque assim que Malu terminou de falar, ela começou a chorar —
desesperadamente — como se fosse uma criança pequena que havia acabado
de bater a cabeça.
Malu piscou, sem saber como reagir a amiga chorando em sua frente.
— Geovanna...? — Chamou.
Ela fungou. Deuses.
— Desculpa, eu estou me sentindo sem o que fazer essas últimas
semanas, tudo parece estar bem, mas ao mesmo tempo, tudo confuso. Me
desculpa, eu estou chorando por nada, eu só quero descontar o que minha
cabeça vem martelando o quão mal estou me sentindo.
— Oh, querida... — A abraçou verdadeiramente, a sacudindo como se
fosse uma boneca. — Eu sei o quão você pode deixar suas inseguranças a
comandarem, por isso quis ressaltar que eu continuo aqui.
— Obrigada, Malu.
— Hey, garota. Te amo.
E ficaram desta maneira durante a tarde toda. — Sua amiga a
embalando. Malu fizera tudo, até as únicas comidas que fazia sem queimar
ou transformar em algo não-comestível, ou seja, pipoca doce. As coisas
melhoraram quando Alexis chegou e tomou conta da cozinha.
— Está se sentindo melhor? — Alexis tomou a frente quando Malu
fora resolver seus próprios problemas, ainda deixando uma Geovanna
chorosa para trás.
Ela respirou fundo antes de responder sua amiga.
— Acho que sim. — Deu de ombros.
Alexis tombou a cabeça para o lado, observando a mulher e suas
feições.
— Eu sei que isso tem a ver com o Julian. Mesmo que você não tenha
falado nada sobre ele.
O coração de Geovanna palpitou forte ao ouvir o nome dele — de
fato, não havia falado sobre nada do que tinha acontecido. Depois do flagra
do beijo dos dois ali naquele mesmo lugar, ela havia se retirado
silenciosamente e somente oferecido respostas ao seu irmão, que pareceu se
contentar com o que ela estava dizendo após oferecer um bom lanche
altamente gorduroso para ele.
Suas amigas haviam tentado conversar com ela, curiosas. Mas,
Geovanna achava que, com o desanimo dela sendo cada vez mais notável
durante os dias que se passaram, elas decidiram em conjunto, se silenciar
sobre o assunto; algo que a atriz agradecia imensamente.
— Você tem razão... é sobre ele. Nós estávamos bem, Lexi.
Conversávamos todo dia sobre tudo, havia química entre nós — suspirou. —
Acho que sempre teve. Desde o primeiro dia.
— Mas, química e atração sexual não é o suficiente. — Concluiu. —
O que aconteceu?
— Para falar a verdade... eu não faço a mínima ideia. De verdade. Ele
simplesmente parou de conversar comigo.
— Que filho da puta. — Rosnou. — Está certo que nenhum dos dois
tinham nada de confirmado ou sério, mas poderia ter dado um aviso, certo?
Geovanna sacudiu a cabeça, assentindo, concordava com todas as
palavras da sua amiga.
— Não tem nada que você saiba que o deixou assim? Traumatizado?
Oh, droooooooooga.
Ela era uma estupida. Meu Deus, como não havia associado os
eventos? Há dois anos e meio, Julian havia perdido sua namorada em um
terrível acidente de carro. Geovanna se lembrava que na época, havia
acompanhado como os anos não pareciam acompanhá-lo. Ele sempre estava
extremamente chateado na maioria do tempo. Shows haviam sido cancelados
e a última vez que voltou para um palco foi em sua última turnê.
Fazia sentido, no entanto. Ele ficar afastado dela.
Justo agora.
— Merda. — Xingou — Merda, merda, merda.
Alexis parecia mais confusa ainda com sua reação.
— O que? Geovanna, se comunique comigo!
— Eu... — Passou as mãos pelo cabelo, nervosa. Não sabia o que
faria, mas estava disposta a tentar. — Eu não sei o que fazer, Alexis. Preciso
conversar com ele cara a cara.
— Ok... — Franziu o cenho. — Então, vamos em sua casa.
Os saltos de Geovanna estrelaram quando ela desceu do carro e se
encaminhou para a porta da casa, que Julian dividia com os amigos.

Sua presença imediatamente foi aceita quando os seguranças do


grande portão a pediram para dizer seu nome. Alguém a aceitou. E
infelizmente, ela sabia que não tinha sido Julian.
— Vamos encarar a porta do cara do qual você está apaixonada não
vai adiantar de nada. — Alexis disse, irritada.
Geovanna deixou-se dar um sorriso em sua direção, quando falou que
não conseguiria ir para o lugar do qual as duas agora estavam, não imaginou
que Alexis prontamente se voluntariasse para acompanhá-la. De qualquer
modo, estava feliz por não estar sozinha naquele momento.
— Eu sei. — Concordou.
E bateu.
Mas nenhuma das mulheres estavam preparadas para serem recebidas
por um Santiago Villaverde seminu, apenas com uma toalha enrolada em sua
cintura, com o cabelo loiro pingando água.
A boca de Geovanna se abriu, chocada com a visão — deliciosa —
inesperada.
— Posso ajudá-las? — perguntou Santiago, exibindo um sorriso
devasso em seus lábios.
A atriz podia jurar que ouviu escapar um gemido baixo de sua amiga
que estava grudada em sua nuca, atrás dela.
— Nós... Hum... — Limpou a garganta. — Boa tarde, Santiago.
Podemos entrar?
Ele passou as mãos por seu cabelo ralo.
— Claro, Geovanna. Você sempre é bem-vinda aqui. — E ele olhou
para quem a estava acompanhando, seu sorriso se arrastando e se tornando
maior. — E claro, você também...
Geovanna ergueu a sobrancelha pelo interesse obvio que o homem
deixou por sua amiga apenas com um olhar.
— Alexis. Alexis Marie. — Completou.
— E você também, Alexis. — Piscou e deu espaço para as duas
entrarem.
A mulher suspirou. Ela estava dentro. Precisava seguir o que ela viera
fazer.
Santiago a estava olhando, provavelmente curioso com o que ela
estava arriscando, seus próximos passos..., mas também, havia uma satisfação
ali — em seus olhos — como se estivesse quase aliviado por ela procurar o
que todos sabiam que viera.
— Ele está em casa? — perguntou, baixinho.
Alexis moveu a mão sobre seu braço e a confortou.
— Sim. O que você pensa em fazer? — O tom de voz dele era mais
sério e não havia mais a diversão.
— Eu preciso... conversar com ele. Você pode me levar até onde ele
está?
Santiago assentiu, lentamente. Os olhos cinzas tempestuosos grudado
em suas reações.
— Eu vou levá-la. Alexis pode esperar na cozinha.
— Não se preocupe comigo — sussurrou Alexis para sua amiga. —
Faça o que veio fazer. Lembre-se de quem é.
As duas entrelaçaram suas mãos. Geovanna se sentia fraca, quase
imponente de ser tão suscetível em um conflito simples de resolvê-la.
— Venha comigo, Geovanna. — Santiago a convidou, movendo-se.
A última vez que estivera ali foi com ele — e esperava que não
tivesse sido a última.
CAPÍTULO DEZOITO

Julian realmente pensava que poderia curtir o fundo do poço e sua


miséria que completava sua estupidez sozinho.
Realmente achava que conseguia ter pelo menos alguns bons
momentos sem nenhum homem querer derrubar sua porta, exigindo com que
ele conversasse. Ele gostava mais quando Diego estava ali, sua companhia
era silenciosa e acolhedora — algo que nem combinava com a sua
personalidade alegre e sempre tão tagarela — e somente o convidava para
jogar videogame. Julian aceitava toda vez. E os dois ficavam calados durante
todas as partidas, as vezes Santiago ou Dante deixavam comidas como mães
corujas e as vezes Adrian se juntava a eles. Mas, quando estava sempre com
Diego, todos tinham que ficar calados.
— Já disse que não estou com saco para conversar com nenhum de
vocês hoje! — Julian o expulsou quando escutou as batidas, sem se dar o
trabalho de erguer os olhos do celular para a porta.
— Que bom que você está com o celular funcionando, isso prova que
o block foi intencional.
Julian se sentiu afundar.
Meeeeeeeeeeeeeeeeeeeeerda.
Se sentou, totalmente ereto na cama, quase derrubando o celular em
seu rosto pelo susto quando escutou a voz de Geovanna dentro do cômodo.
E droga, ela estava linda. Como se ela pudesse não ficar e ele
realmente não queria dar atenção ao cansaço que tinha em seu rosto.
— Geovanna. — Ele constatou, surpreso.
— Esse é meu nome.
Piscou, respirando fundo e tentando se adaptar a imagem da mulher
de braços cruzados na sua frente, parecendo ser capaz de o decapitar apenas
com as mãos.
— O que você está fazendo aqui?
O rosto dela ficou vermelho. Infelizmente, não era por motivo de
timidez. Ela estava brava — muito brava.
— Tentando falar com você! — Descruzou os braços e começou a
andar de um lado para o outro no quarto, de repente mais desesperada do que
como chegou. — O que você esperava que eu fizesse, seu cretino?
— Me esquecesse — disse, com sinceridade.
Os olhos que ele tanto adorava observar se arregalaram.
— O que? — sussurrou, chocando-se com a honestidade que ele
ofereceu na sua resposta. — Você queria que eu te esquecesse?
— Isso...
— E concluiu que a melhor maneira de fazer isso era não me
retornando, me deixando ficar preocupada com você e depois não o bastando,
começar a bloquear meu número e meu perfil de todas as redes sociais que
você tem?
Wow. Ela falando assim soara mais imbecil do que quando ele
planejou.
— Eu meio que achei que sim.
— Covarde?
Se ele não tivesse sentado, teria cambaleado com o tom de voz que
ela usou.
— O que?
— Você ouviu. Covarde.
Julian sabia que ela deveria estar brava, nenhuma mulher ficaria
satisfeita do modo do qual ele decidiu levar a situação adiante. Sabia também
que, Geovanna não era uma das pessoas mais calmas do mundo. Mas aquilo
ali, o que ele estava vendo... ela estava mais do que brava. Se houvesse como
ter poderes, Julian nem estaria mais existindo só pelo olhar que ela estava lhe
lançando.
— Você tem razão. — Concordou ele, com um manear de cabeça.
Geovanna apertou suas mãos em punhos.
— É só isso que você tem a dizer?
Julian engoliu em seco, preferindo levantar-se para não sentir tão
imponente com a mulher em pé a sua frente.
— É só o que você vai conseguir, Geovanna — disse, com
dificuldade, ainda mais quando registrou a decepção que ela demonstrou e
rapidamente escondeu.
— Você é inacreditável. Sério. — Ela riu amargamente, passando as
mãos pelo cabelo, suspirando. — Por que você fez isso?
Honestidade. Ela queria somente honestidade.
— Eu tinha que fazer...
— Porra nenhuma! — Explodiu.
— Geovanna... você não entende...
— Sim, eu entendo. — Ela praticamente voou para cima dele, Julian
deveria tá feliz por estar sentindo-a tão próxima de seu corpo, mas ao invés
disso estava tentando pensar em como negaria algo a ela, como fugiria dela
— Você está fugindo de mim por causa de uma merda do seu passado. E
Deus! — Exclamou. — Isso é um saco.
Os ombros de Julian murcharam. Ele também sentia que isso era um
saco.
— Eu retiro o que eu estive falando sobre adorar o drama no livro
quando o casal se separa, na vida real é totalmente uma droga e eu nunca
mais quero experimentar isso.
Mais forte do que a sua culpa e consciência, ele só queria enterrar seu
rosto no pescoço da mulher na sua frente, a acariciar e acalmar. Nunca tinha
sentido tanta necessidade em apenas tocar alguém.
— Você vai ficar calado aí? — Resmungou ela.
Ele se engasgou com uma risada.
— Sinto muito, Geovanna. Nunca quis que você estivesse se sentindo
tão frustrada.
— Mas ainda assim, continua fazendo isso.
Ele já estava ficando impaciente. Era a primeira reação dele durante
essas semanas que havia trancado como um morto vivo dentro de seu quarto.
Não reagia, porém ela estava tirando reações dele a força.
— É diferente. Eu preciso, Geovanna. Não importa o que diz ou o que
pensa sobre o que eu vivi e o que eu passei, você continua sem saber nem
metade da porra do que aconteceu — bradou.
Ela piscou, se afastando, diante ao tom de voz dele.
— Era isso o que você queria, não era? Que eu reagisse. Eu estou.
Porra, mulher, você sabe que estou sofrendo tanto quanto você?
Geovanna ofegou, abrindo a boca para dizer algo, mas Julian não a
deixou. Agora, ele estava se sentindo realmente como estivesse sangue
correndo em suas veias.
— Eu não quero me afastar de você, inferno. Eu quero estar contigo,
vinte e quatro horas por dia. Quero te ver ao acordar e ao dormir, quero além
de tudo, conhecer todas as suas manias, seus mínimos detalhes. — Esfregou
as mãos no rosto, nervoso. — Mas eu não posso! Não posso te trazer para
isso. — Apontou para si mesmo. — Para a confusão que eu sou. Não posso
cometer os mesmos erros que eu cometi!
Deus.
Julian pode sentir que o seu quarto havia diminuído pelo menos pela
metade de tão apertado que sentia que estava. Ele fechou os olhos,
percebendo a burrada que havia feito em desabafar toda a merda que havia
pensando e sentindo durante essas semanas.
— Desculpe por gritar — pediu, se afastando do olhar dela sobre ele
— Você realmente me tirou do sério.
Geovanna, no entanto, ao que se notava, tinha entrado em estado
catequético.
Julian estralou dois dedos em frente ao seu rosto, tentando acordá-la
de onde ela estava.
Ela limpou a garganta, maneando a cabeça.
— Tudo bem, hum... — Geovanna sorriu levemente — Você falou
muitos não’s.
O mexicano não conseguiu esconder o sorriso que seus lábios se
formaram com a sua fala.
— É, acho que falei.
Não houve um momento nem para Julian assimilar os segundos de
paz que vieram após isso porque no mesmo instante, Geovanna se jogou em
seus braços, rodeando os seus em seu quadril e apoiando a cabeça no peito do
homem.
Ela respirou aliviada quando ele passou os seus próprios braços ao
redor dela e a trouxe mais para perto.
— Eu senti saudades — sussurrou, a voz abafada.
Julian encostou sua cabeça na dela, também suspirando alto.
Finalmente a tinha. Não iria para nenhum lugar com aquele acolhimento, não
pensava em nada a não ser ficar grato pelo sentimento de pertencimento que,
respirando o perfume de Geovanna, sentindo seu coração bater sobre o dele,
estava sentindo.
— Não vá embora — pediu ela, baixinho.
Ele fechou os olhos com força. O que faria a partir dali? Tinha
provado a si mesmo durante as três semanas das quais não haviam se falado
que ele sentira tantas saudades dela que era quase impossível de se colocar
em palavras. E nada do que havia a falado era mentira, tinha certeza em todas
as palavras que saíram da sua boca.
Esperava que o universo não estivesse o manipulando.
Esperava que Deus não estivesse brincando com seu coração
novamente.
Esperava que ela nunca fosse embora.
Mas ao mesmo tempo, sabia que se a trouxesse para a sua confusão,
ambos iam sair machucados. Havia tentado não ser egoísta, havia tentado
pensar em como não suportaria ver-la sofrendo, principalmente se fosse por
sua culpa.
— Por favor. — Ergueu o seu olhar para ele e a decisão estava feita
dentro de seu coração.
Que se dane. Julian iria aproveitar cada segundo daquela mulher ao
seu lado. Iria gastar tudo o que restara de bom dentro dele para fazer-la feliz,
confiante. Ele não desperdiçaria uma linha do tempo que os dois teriam.
Lentamente, ele aproximou seu rosto ao dela e pressionou seus lábios
sobre os dela. Pertencimento.
— Eu não vou a lugar nenhum, Geovanna — disse, baixinho.
Os dois ficaram ali; em seu aconchego, se alinharam sobre a cama
dele e ficaram deitados, em silêncio. Julian nunca deixava de a tocar — com
suas mãos e boca —, apenas a leve e doce carícia que queria a cobrir depois
do tempo que passaram afastados, por mesmo que os dois quisessem algo a
mais em uma eventual hora, aquele não era o momento certo.
Por burrice dele, como a mulher bem sustentou.
Deuses, ele sabia. Se fosse por momentos como aquele, nunca a
deixaria escapar. Ela era preciosa demais; sabia disso.

Após a amiga de Geovanna bater na porta, gritando que ela havia a


abandonado por causa de pau, a loira imediatamente se afastou e se moveu
para fora da cama.
Ela bufou, com a impaciência da amiga que agora batia sem parar.
— Já vai, inferno! — Geovanna respondeu, zangada. E se virou para
ele, com ainda os olhos queimando — E vê se me desbloqueia, idiota.
Ele riu e ela capturou a boca dele com um beijo rápido, disparando
para fora do quarto.
Julian se sentiu imediatamente mais vazio e solitário do que em anos.

Julian: desbloqueada, estrelinha (:


Geovanna: você é um idiota
Julian: autch?
Geovanna: eu ainda estou com raiva de você
Julian: o que eu posso fazer para me redimir?
Geovanna: não sei, foram três semanas...
Julian: certo. Melhor você abrir a porta de sua casa agora
Geovanna: o que você fez??
Julian: abra a porta e verá
Geovanna: ok, indo
AI MEU DEUS
Ok, uma cesta com meus chocolates favoritos não é uma má ideia
para começar a se desculpar
Julian: feliz que você tenha gostado, estrelinha
Geovanna: eu senti saudades disso
Julian: da última vez que eu chequei, você achava esse apelido
ridículo
Geovanna: acho que foi o tempo que se passou e tal. Eu ainda acho
ridículo.
Julian: certo.
Geovanna: é sério. Ridículo.
Julian: tudo bem.
Geovanna: ok, é ridículo
Julian: durma bem com os chocolates, estrelinha
Geovanna: não esqueça que você ainda me deve
Julian: isso não é possível
Amanhã terá mais quando você decidir para onde vamos (:
CAPÍTULO DEZENOVE

— Você chegou cedo — Geovanna disse assim que abriu a porta de


seu apartamento naquela tarde.
Julian sorriu.
No dia anterior, quando se reconciliariam, houve um clima de paz e
carinho que ela, estranhamente, esperava ter desde que começou a se
relacionar mesmo que não romanticamente com ele.
Julian ainda escondia coisas que ela não sabia se saberia que iria
perdoar. Não queria julgar cedo, mas também não era ingênua de pensar que
ele queria ou pudesse compartilhar tudo o que tinha se espreguiçado dentro
de suas maiores inseguranças e criado raízes dentro dele.
Geovanna sabia — e o esperaria. Só desejava que ele não a afastasse
de novo. Pelo o contrário, queria que ele a pegasse pela sua mão e nunca mais
soltasse. Para qualquer maneira, desejo, dor e medo; que ele nunca mais
soltasse sua mão.
— Eu disse que viria cedo.
— É, você disse.
Julian arqueou as sobrancelhas e exibiu uma feição de diversão.
— Você não vai me deixar entrar?
Ela piscou, começando a perceber como estava: apoiada na sua porta,
com um sorriso bobo e provavelmente com olhos mais brilhantes que já
tivera ao olhar para alguém.
Ele riu ao perceber a confusão, enquanto ela limpava a garganta e lhe
dava espaço para entrar.
— Você estava com uma expressão bem engraçada.
Bastardo. Possivelmente nunca iria esquecer aquele pequeno
momento de guarda baixa que infelizmente deixara transparecer.
— Aposto que estava. — Entortou a boca, em desagrado.
Julian, no entanto, aparentemente estava realmente se divertindo com
sua situação.
— Apesar de eu gostar muito de te ver emburrada. — Se aproximou,
ainda com as mãos em seus bolsos, com uma expressão felina no rosto. —
Você pode vir aqui? Eu meio que estou com saudade da sua boca.
Geovanna era patética. Realmente, patética; porque no exato
momento que ele dissera estas palavras, ela foi. Se jogando nos braços do
homem que estava apaixonada.
Ele pressionou os lábios sobre os dela, a segurando com seus braços.
Geovanna pensou seriamente que seria capaz de tudo enquanto tivesse
aqueles braços a rodando, mantendo-se firme em seu corpo. Ela estaria bem,
se fosse assim.
— Nós vamos aonde? Me mandou mensagem para vestir uma roupa
leve, mas eu realmente não consegui pensar em nada do lugar que queira me
levar — questionou Julian, ao se separar.
Ela, ainda firme em seu abraço, sorriu sapeca.
— Eu tenho certeza de que você vai adorar, mexicano.
— Hum, eu gosto que nós estejamos começando a usar apelidos
carinhos aqui.
— Só estou te chamando pelo o que você é. Um homem mexicano.
— Mas a sua voz definitivamente fica mais sensual quando me chama
deste jeito.
Ela inclinou a cabeça para o lado, avaliando a expressão séria fingida
dele.
— Existe tal coisa?
— Pode apostar, Estrelinha.
Oh.
Foi aí que ela entendeu o seu ponto.
— Sabe de uma coisa? Comecei a entender isso.
Julian riu, inclinando-se para beijar seu pescoço. Aparentemente era
uma região da qual ele gostava bastante.
— Nós poderíamos ficar somente aqui... e não ir para nenhum lugar.
— Sugeriu ele.
— Não, Julian. Vai ser por um bom motivo.
Ele bufou e continuou a beijá-la.
— Eu acho que conheço uma maneira de te convencer...
Fechou os olhos, sentindo seu corpo despertar diante das insinuações
que o homem estava a dando. Ela queria tanto quanto ele, ou até mesmo,
muito mais do que ele. Mas naquele momento, precisava o levar para um
lugar especial.
Ela não o afastou, no entanto. Só mais um pouquinho, prometera a sua
consciência.
Julian continuou a descer sua boca para baixo, brincando e
mordiscando seus ombros e clavícula. O aperto de suas mãos se tornou mais
forte quando percebera o prêmio que estava diante de sua boca.
O decote da regata que Geovanna usava naquele momento era bem
evidente e aberto. Perfeito para ele descer sua língua.
— Estrelinha... você me proporciona cada surpresa agradável.
Naquele momento, foi o click que ela precisava para o afastar, saindo
do seu abraço com suas mãos e boca extremamente perigosas para a sanidade
da loira.
— Disse alguma coisa de errado? — Ele perguntou, tentando
esconder a chateação por ela ter terminado seu parque de diversões.
Que fofo.
— Não — suspirou, tentando recuperar o folego. — Eu quero tanto
quanto você, mexicano. Mas eu realmente preciso te levar neste lugar e eu sei
que se iniciarmos algo agora, não vamos sair tão cedo daqui.
Julian concordou, tentando ajeitar calça. Era cômico a situação, e
Geovanna fingiu que não notou a grande protuberância que estava mais do
que evidente.
— Tudo bem, Estrelinha. — Bufou. — Eu só preciso de um banheiro
antes, caso você não tenha notado, me deixou um pouco... cheio.
Geovanna precisou morder os lábios para não explodir em uma
gargalhada alta.
— Tudo bem, é no corredor ao lado do meu quarto. Conhece o
caminho.
— Certo. Obrigado.
No mesmo momento em que ele não estava mais perto o suficiente
para ouvi-la, a mulher começou a rir desesperadamente do olhar suplicante
que ele a deu antes de se encaminhar para o banheiro.
Julian Romero, o que eu devo fazer com você?
— Você me trouxe para um abrigo de animais? — Exclamou Julian,
surpreso.
Geovanna piscou e o olhou atentamente, em busca de alguma pista
que denunciasse que ele não havia gostado da sua surpresa.
— Sim... — disse cautelosa. — Você não gostou?
Ele riu, desacreditado, balançando a cabeça.
— Você ficou maluca, Geovanna?! — exclamou, se aproximando e
abraçando forte — Eu amei para caralho.
Ela soltou um suspiro, de alivio. Sorrindo com a reação.
— Só não entendi o porquê estamos aqui agora. — Continuou, com o
cenho franzido.
— Uma vez... você comentou comigo aquela história sobre só ter tido
um cachorro e ele ter morrido ainda novinho... — Ela começou, pegando sua
mão e entrelaçando seus dedos nos dele, lembrando do que ele havia falado
com ela, sobre seu desejo de tido mais tempo com seu pequeno filhote —
Então, antes de você ser um completo babaca comigo. — Apertou seus dedos
com força, ignorando o gemido de dor que ele deixou escapar. — Eu já
estava planejando te trazer aqui...
Ele sorriu. E Geovanna interpretou aquele sorriso como a luz do
mundo.
— Oh, Estrelinha. — Distribuiu pequenos beijos estalados por todo o
seu rosto, a deixando quase que molhada. — Eu não te mereço.
— Eu concordo. — Brincou. Mas a preocupava que ele achasse que
merecesse tão pouco, tão pouca felicidade.
— Podemos dizer que é uma concordância universal.
— É, sim. Agora, vamos entrar?
— Sim! porra, estou muito ansioso!

Ao entrar naquele abrigo, Geovanna e Julian foram imediatamente


atendidos pela amiga de Malu que tinha repassado a informação para ela. A
atriz ficara grata com a discrição que prometeu ter e o cuidado para isso não
vazar para a impressa, não que quisesse ter que esconder alguma coisa de
alguém perante a situação dos dois. Mas realmente, não era nada legal ter
pessoas invadindo sua privacidade e correndo atrás de cliques de qualquer
forma que rendesse um bom dinheiro no final.
Os dois foram encaminhados para um grande corredor, com várias
jaulas de todos os tipos.
Ariadne, a mulher que estava os atendendo, contava como a maioria
dos animais haviam parar ali — por denuncia de abandono ou de maus-
tratos.
Julian tinha a mesma expressão de Geovanna; a de dor por ter que
ouvir tantas histórias tristes de seres tão inocentes e a de amor cada vez que
parava para brincar com algum animal que o chamava atenção, o que
basicamente, ocorria muitas paradas para acariciar algum.
Era adorável. Uma parte de Julian que ela sabia que existia, mas que
ele raramente a demonstrava; preferindo ser a pessoa desinteressada e
sarcástica que todos pensavam que era. Não que aquelas duas características
não fizessem parte dele — elas faziam — mas ele tinha uma escolha básica.
Ou mostrava que ele também tinha um coração machucado diante a todos os
tormentos dos quais experimentou ou mostrava uma pessoa que não se
importava com nada.
Mas ele não conseguia manter aquela fachada por muito tempo. Não
com ela ao seu lado, pelo menos. Geovanna tinha acabado de se dar uma
estrela de boa analise de comportamento mentalmente enquanto o olhava
carinhosamente brincar com um pequeno poodle.
— Seu namorado é muito amoroso com eles, aposto que vai cuidar
bem de quem ele escolher. — Ariadne comentou, ao seu lado.
Geovanna não se deu ao trabalho de a corrigir.
— Sim. — Concordou, animada. — Também acho.
O grito agudo os chamou atenção e Ariadne nem a olhou quando
colocou seus pés para correr em direção ao grito que agora estava fazendo
todos os cachorros uivarem, de irritação ou de companheirismo.
O casal-não-casal a seguiu. Julian segurando forte sua mão.
Ah, mais um detalhe que ela havia fotografado mentalmente e
guardado para si: ele não a deixava. Havia sempre um toque e mais toques,
puxando-a para si. Mesmo que se tivesse câmeras ali, não seria um obstáculo
para Julian, ele estava bastante empenhado em sentir sua pele.
Os três encontraram o causador do pânico: uma ninhada de filhotes de
labradores. Extremamente pequenos.
— Oh, isso não é algo muito másculo de dizer, mas eu acho que eu
vou chorar se ele chorar de novo. — Julian comentou, fungando.
Geovanna teve que se segurar para não gargalhar novamente da piada
que estava sendo esse dia com aquele homem.
— Olha como eles são pequenos!
Na pequena cama improvisada, tinha cinco cachorros de diversas
cores choramingando. Eles pareciam recém nascidos.
— Ah... eu devia saber — comentou Ariadne, se inclinando para
afagar os filhotes. — Eles são os recém nascidos de hoje, estão
choramingando porque querem comida e estamos com dificuldade em
encontrar uma cadela adulta que os alimente.
— O que aconteceu com a mãe deles? — Julian perguntou, se
aproximando.
— Ela morreu no parto.
Geovanna levou a mão no coração, sentindo o baque.
— Oh, meu Deus — comentou.
— Sim. — Continuou Ariadne, os olhando com ternura .— Ela já
estava muito idosa quando nós a resgatamos da rua... ela havia sido
abandonada por sua dona.
As lagrimas já desciam quentes no rosto de Julian e Geovanna. Ela
teve que se segurar para não chorar mais.
— O que vocês vão fazer com os filhotes?
Ariadne deu de ombros.
— O de sempre. Cuidar deles o máximo que pudermos. Vamos
conseguir. — Se levantado, bateu a poeira de sua calça e os olhou. — Vocês
já decidiram qual vão levar? Se quiserem, posso levar para uma área onde
temos os mais bem saudáveis.
Geovanna piscou. Já havia se decidido.
— Não precisa. — Foi a vez dela de se agachar diante os pequenos
filhotes e se aproximar de um com a pelagem bege — oi rapaz ou moça...
você vem comigo.
Julian, em seu encalço, se aproximou de um do qual tinha a pelagem
negra, passando o dedo sobre o focinho, o filhote pareceu gostar porque
imediatamente parou de choramingar.
— E eu com este aqui.
Eles se entreolharam e sorriram, felizes com suas escolhas.

Quando os dois saíram do abrigo, com os dois cachorros debaixo de


seus braços, estavam se sentindo mais felizes do que nunca. Bem, pelo menos
Geovanna, estava. Era uma conquista ver Julian se soltar tanto quanto fora
naquela tarde.
Ela só tinha visto ele tão desinibido em suas conversas por
mensagens. E Deus, como ela estava gostando de vê-lo assim.
Geovanna entrou em seu carro no banco do motorista, do mesmo jeito
que havia vindo, já sabendo que Julian não iria dirigir. Ela não entendia o
porquê, entretanto.
Julian se acomodou no banco do passageiro com os dois filhotes sobre
seu colo, os acariciando como um papai babão.
— Vamos parar em uma loja para comprar as coisas necessárias para
esses campeões aqui?
— Não antes de passar no veterinário, para tomar as precauções
certas.
— OK. Certo. Eu concordo com isso, eles estão morrendo de fome.
— Baixou o olhar, triste e falou baixinho na direção deles. — Aguentem
firmem, caras. Só mais um pouquinho.
Geovanna balançou a cabeça, sorrindo.
— Veja só. — Ele comentou — Estamos começando bem como pais
de primeira viagem.
— Também acho. Levando em conta que temos filhos há somente
trinta minutos.
— Cara, nós somos muito bons.
— E você é um papai babão.
Ele deu de ombros, seu semblante distante e sério de repente,
oferecendo-a um sorriso tímido.
— Sempre quis ser pai.
Algo no tom de voz dele fez Geovanna não continuar aquele tópico.
Era como se fosse quase doloroso demais falar aquilo; ela entendia que ele
estivesse tentando fortemente. Então somente assentiu e continuou dirigindo,
em silencio.
Ela não comentou que também tinha o sonho de engravidar, sua vida
fora criar André basicamente. Não tinha nenhum medo em criar o seu filho,
desta vez.
Mas de qualquer jeito, não era o momento para continuar aquele
tópico. Para falar sobre aquilo. Julian, ao se ver, estava quase em conflito,
fechando os olhos e os abrindo de forma rápida pensando que ela não o
estava o observando de esguelha.
Porém, não houve comentários.
O caminho fora do mesmo jeito que Geovanna imaginou que seria se
deixasse aquela conversa morrer: silencioso. Eles só começaram a se falar
quando ela estacionou no veterinário conhecido.
— Acho que devemos nomear ele de Estrela da Noite.
— Ele? — perguntou, feliz por Julian ter iniciado algum tipo de
diálogo.
— Sim. — Concordou, sério — Olha para esse carinha aqui, é claro
que ele é macho.
Bem, Julian não podia estar tão errado.
O filhote que ela escolhera, o de pelagem bege, com orelhas maiores
do que os seus irmãos, era o macho. Ele estava estranhamente quieto quando
o veterinário o analisava.
— Bom, acho que vou chamar ela de Estrelinha, então — comentou,
o mexicano, ao sair do consultório.
Geovanna achei engraçado a situação.
— Qual é a sua com esse negócio de "estrelas"? Alguma mania
estranha que devo saber?
— Uh, não. Só na cama, talvez. — Piscou.
Ela estreitou os olhos em sua direção. Os flertes e as palavras de
conotação sexual estavam de volta.
— Mal posso esperar, senhor Romero.
Julian grunhiu e ao perceber que o havia, tampou com suas mãos as
orelhas do filhote que ele carregava.
— Geovanna, não está vendo que esse é um lugar inapropriado para
isso? Estamos na frente de crianças! Sua pervertida.
— Você que começou. — Deu de ombros. — Além do mais, você
meio que não pode dar o nome para esta linda criança o meu apelido.
Ele grunhiu mais uma vez - dessa vez, de irritação. Mas ela estava
muito grata por ele não ter mais o olhar de melancolia que havia tido minutos
antes. Não sabia se ele poderia aceitar sua ajuda para melhorar — isso
supondo que ela saberia como fazer aquilo passar.
— Vamos logo. Precisamos cuidar de Arya e Bran.
Geovanna piscou, reconhecendo os nomes.
— Arya e Bran?
Ele balançou os ombros, como se não fosse tão importante.
— Sim. Não são da sua série favorita, Game Of Thrones? Achei que
ficaria feliz em nomeá-los com os nomes dos caçulas Stark.
— Não é isso! — Ela exclamou, rindo. — Como você sabe os nomes
deles? E de que casa são?
Julian pareceu envergonhado, coçando sua nuca.
— Cuidado ao dirigir e olhe para frente, por favor.
— Julian… — pediu.
— Presta atenção na estrada, Estrelinha.
— Por favor!
Ele bufou, tentando esconder o sorriso.
— Não é nada de mais. Eu assisti depois que você falou tão bem da
série. Eu nunca havia assistido, então foi bom você mencionar e falar tão bem
dela, no ponto certo, sabe? Enfim.
— E…?
— E, o que?
— Parece que tem mais na história.
Julian se silenciou, pensando se varia a pena contar mais do que sua
explicação.
— Queria te fazer feliz, assistindo algo que você gosta. Também
assisti Moulin Rogue, um dos seus musicais favoritos. Não somente te fazer
feliz, queria saber do porquê serem seus favoritos, o que te agradava tanto...
O coração de Geovanna gelou, a sensação de estava prestes a sair do
seu corpo a preencheu. Aquilo significava muito mais do que uma declaração
com palavras grandes e diretas. Ele tinha feito aquilo para satisfazê-la. De
alguma forma, ele queria conhecer o que a fazia feliz.
Deus, ele nunca tinha tido uma aparência tão sensual quanto estava
tendo naquele carro agora. Sorte que eles tinham seus filhos para cuidar, que
dormiam tranquilamente no colo de seu novo pai babão, porque se não
tivesse aquelas duas bolhas de pelo como obstáculos… a mulher pensava
seriamente em transar com ele no carro.
Só sairia um pouco da estrada… ela conhecia um lugar…
— Geovanna! — Julian exclamou, a avisando e tirando de seus
pensamentos perigosos sobre o levar para uma estrada deserta e montá-lo. —
O sinal tá verde!
Bem, não seria agora. Infelizmente.
Ao chegar na casa do homem, com dois cachorros embaixo dos
braços do casal e vários acessórios e mantimentos necessários para eles
dentro de sacolas, a casa virou uma festa.
Aparentemente, todos os integrantes da boyband estavam ali —
menos Diego, para o alívio de Geovanna que nunca mais o havia visto depois
da boate —, então todos amaram a surpresa que Julian e ela haviam feito.
Arya não tinha somente um pai babão. Tinha mais quatro. Todos pareciam
que tinham recebido o presente mais importante do mundo.
— Oi, Geovanna! — Adrian, finalmente, foi o primeiro a falar com
ela após todos os homens darem atenção ao casal de filhotes.
— Oi. — Acenou, rindo da situação do qual estava presenciando.
Santiago e Dante também a cumprimentaram, mas de longe, nem
sequer se movendo para tirar os seus novos afilhados de seus colos.
Era uma cena engraçada de ser ver — quatro homens enormes, com
músculos de sobra, exclusivamente lindos de morrer e atraentes para
caramba, agindo como fossem quatro crianças ao ver os filhotes. E um pouco
encantador, também. Apostava que suas fãs matariam para ver aquilo.
Se sentia abençoada.
— Hey.
A voz suave de Julian a despertou, fazendo com que ela tirasse os
olhos daquele cenário. Virou seu corpo, dando de cara com um homem a
olhava como se tivesse conquistado a lua e as estrelas.
— Oi — disse ao se aproximar e enlaçar seus braços no pescoço dele.
Julian suspirou de alivio, satisfeito em tê-la em seus braços. Ele
encostou sua testa na dela e sorriu.
— Obrigado por hoje, minha estrelinha.
Minha. A garganta de Geovanna arranhou. Era ridículo o que uma
palavra que normalmente estava denotando sentimento de posse estava
fazendo o coração dela dar cambalhotas.
— De nada.
— Não, é sério. — Suspirou, tentando buscar um ar para começar a
falar. — Hoje foi um dos melhores dias que estou experimentando desde há...
bem, muito tempo. Eu me sinto somente assim completo quando estou no
palco. você me deu um pouco de ar puro que nem sabia que estava
procurando.
Geovanna se inclinou para depositar um beijo estalado em sua
bochecha.
— Só estou devolvendo o que você me trouxe, Julian.
Eles sorriram, um para o outro e absorveram a bolha que tinham
criado ao redor deles, indiferente para qualquer outro acontecimento que os
rodava, apreciando as palavras sinceras que haviam sido proferidas naquele
momento.
— Eu tenho que me desculpar por agir daquele jeito depois do
abrigo... meu pensamento estava longe.
— Ei, por favor. Você tem seus próprios demônios, eu não vou o
comandar a expulsá-los imediatamente. A única coisa que eu posso te
oferecer é tempo e compressão.
A mão de Julian moveu-se para seu rosto e afastou o cabelo loiro dela
que caia em seu rosto, colocando-o para trás da sua orelha.
— É tudo o que eu preciso. E de você.
— Bem, sorte sua que eu estou com tempo livre.
Ele riu, acariciando a sua bochecha com seu polegar.
— Estava pensando... muitos daqueles cachorros adultos nunca vão
ser adotados.
— É verdade.
— Acha que a gente dá conta de mais um?
Geovanna riu brevemente, se divertindo.
— Você acabou de adotar dois cachorros e já quer mais um?
— Tecnicamente, eu adotei um e você outro. Mas sim, inferno, eu
quero. Eu não imagino o quão ruim deve ser se sentir abandonado como
aqueles cachorros estão se sentindo, me deu um aperto no coração de ter que
escolher somente um enquanto queria pegar o máximo que eu posso. —
Arfou, irritado consigo mesmo — eu poderia pegar mais quatro, um para
cada homem dessa casa. Ou cinco e dar um para Helena e sua mãe.
Oh, Deus.
— O que você acha? — perguntou ele.
Bastava olhá-lo bem para saber o quão aquilo era importante para ele.
— Eu acho uma ótima ideia.
Atrás deles, Adrian gritou: — Eu também concordo!
Os dois se viraram, apenas para ver os homens, segurando os filhotes
em seus colos e os assistindo.
— Hm... licença? — pediu Julian.
Dante deu de ombros, Santiago continuou a acariciar o cachorro,
como se não tivesse ouvido uma palavra que saiu da boca do seu amigo,
Adrian abriu um sorriso largo.
Julian bufou e se afastou lentamente, de muito mau grado, de
Geovanna.
— Ok, seus vagabundos.
No próximo instante, Julian começara a falar sobre o que eles
precisavam fazer para cuidar do casal de filhotes. Seus amigos pareciam o
ouvir atentamente e querer ajudar. Pela breve experiencia com a boyband, era
a primeira vez que Geovanna via os outros homens estarem respeitando e não
zoando algo que Julian dizia.
Mais uma vez, ela não conseguia parar de se divertir com toda a
situação do qual estava presenciando.
Após os homens saírem, com tudo que Julian e Geovanna havia
trazido para eles e os filhotes em seus braços como se fossem bebes
humanos, acenando rapidamente para a mulher que estava sentada apenas
observando-os, Julian a olhou e respirou fundo.
— Nossa, finalmente — murmurou, tomando conta de seus corpos
para beijar. — Acho que você tem algum tipo de droga. E eu aqui, querendo
me livrar de qualquer coisa que me viciasse...
Geovanna deitou-se sobre o sofá confortável do qual estava sentada e
deixou Julian colocar seu peso sobre ela.
— Continue.
Ele riu.
— Estrelinha, não acho que serei capaz de continuar a falar alguma
coisa quando você está desse jeito, tão entregue para mim. Digo, porra. Nem
o homem com o maior autocontrole pode suportar essas coisas.
— Então acho melhor você começar a me beijar, Julian Romero.
— Acredite em mim, é o que eu planejo.
Então por uma eternidade, eles se beijaram. As suas bocas movendo-
se com pressa, as línguas explorando o máximo que podiam.
As pernas de Geovanna estavam levantadas, postas do lado do corpo
de Julian, enquanto as mãos do homem estavam sob sua cabeça, qualquer um
que entrasse naquele momento, poderia ver cada detalhe da sua calcinha.
Extremamente vermelha.
Quando Geovanna ergueu o quadril para cima, chocando-se com a
ereção do homem, ele rugiu e afastou-se.
As pálpebras fechadas e os olhos baixos, com desejo, denunciaram o
que estavam prestes a fazer.
E não tinha nenhum medo sob isso.
— Vamos para o quarto. — Decretou.
Quando Julian levantou-se e estendeu a mão para ela, não houve
nenhuma hesitação ao aceitá-la.
CAPÍTULO VINTE

Geovanna e Julian entraram no quarto do homem com os pés quase


tropeçando. Os dois se olharam e deram um riso baixo para tentar esconder a
timidez que se instalava no cômodo entre os dois. O efeito da bebida que os
dois tiveram de beber já estava saindo de seu corpo, porém a adrenalina ainda
estava ali. O desejo e a vontade de estar ali era evidente e quase palpável.
Nos dias anteriores, com todos aqueles flertes e toques, Geovanna
esperava que quando — finalmente — estivessem juntos, eles poderiam se
libertar, acabando com toda aquela tensão que estava começando a dar dor
em ambos. Ela sabia que ele a queria.
O frisson que tinham experimentado até aquele momento era, no
mínimo, magnético. Seus corpos praticamente rugiam para que ficassem mais
próximos.
A partir daquele momento, Julian surpreendeu Geovanna expressando
seu medo em como não seguir o que fazer, a seguir. Ela sabia que ele não era
virgem, por Deus, não era nem ingênua ao pensar que sua timidez tinha
relação com falta de experiencia. Claro que não, enquanto ele a beijava,
parecia mais preocupado em experimentar cada parte de seu corpo e
conseguir satisfazê-la. Porém o homem não teve nem tempo para processar e
ter medo do que faria a seguir porque Geovanna foi bem mais rápida,
assumindo o controle daquela típica situação. Suas mãos se direcionaram
para o pescoço exposto de Julian e seu ombro, em forma de apoio. Julian
arfou de surpresa quando os lábios da garota que estavam tocando os seus, se
intensificou.
Por vez, só deixou ela o comandar. Ela não tinha palavras para
descrever o quanto gostava que ele a dava liberdade para Geovanna explorar
o corpo dele do jeito que gosta. O deixando seguir pelas suas linhas e por
suas experiencias.
— Você gosta do controle, não é mesmo? — Provocou, roçando a
boca sobre a sua orelha.
As mãos do homem firmaram-se no quadril dela, tão próximos que
seus corpos estavam quase se fundindo. Entretanto, mesmo estando sentindo
a respiração um do outro sobre seus rostos, não era o suficiente. Geovanna
queria as mãos dele em todo seu corpo e ela mesma queria explorar o seu.
Ela se afastou para olhar para o homem que estava em sua frente:
boca entreaberta e um pouco inchada depois da sessão dos beijos e os olhos
escuros.
E riu, quase baixo demais. A voz falha, sem forças.
— Muito. — Admitiu — Veja bem... os homens tendem a sempre
assumir o controle, como se... — Traçou uma linha com suas unhas,
cravando-as em seu ombro, ignorando o chiado que ele fez. — O sexo fosse
alguma prova das suas masculinidades. Mas eu gosto de mudar as posições,
um pouco.
Ela sorriu, parecendo mais maldosa e perigosa do que todas aquelas
semanas que Julian havia a conhecido. E deu de notar isso apenas no olhar
surpreso que ele a lançou. Mas, para seu benefício, substituiu a expressão por
uma espécie de fascínio.
— Ei. — Desceu suas mãos para sua bunda, apertando e a trazendo
seu corpo para ele, fazendo com que ela enroscasse na enorme confusão que
ele estava tendo debaixo da calça. — Eu não estou reclamando. Pelo o
contrário, Estrelinha. Isso só me faz ficar mais duro.
Eu estou vendo, cara. Geovanna quis rir com a pressão que estava
sentido. Entretanto, engoliu em seco e ficou especialmente concentrada
trabalhando em desabotoar a camisa do homem em sua frente.
Deus, ela queria agir que nem um animal e simplesmente rasgá-la.
— Ah, sim?
Pelo olhar de caçador que Julian a lançou, disposto a brincar, também.
Suas mãos que estavam espalhadas sobre suas nádegas, tomaram outras
direções; seu corpo se curvou um pouco para baixo, ajoelhando-se.
— O que você está fazendo? — perguntou, ansiosa. Ele sorriu.
— Eu devo agradecer a você por usar esse incrível vestido, está
facilitando minha vida.
— Hm, de nada?
Julian riu, ainda ajoelhado e com o rosto erguido em sua direção. Suas
mãos começaram a acariciar suas pernas, subindo para os seus joelhos, numa
caricia lenta e torturante.
— Gosta disso? — Provocou.
Apenas um manear de cabeça foi a resposta dele. Enquanto suas mãos
continuavam subindo e subindo... até dançar com seus dedos na borda do
vestido.
Geovanna arfou. Julian umedeceu os lábios, subindo ainda mais, até
sentir o tecido da calcinha que ela usava em seus dedos. De um modo que de
nenhuma maneira era sua primeira vez naquilo, ele brincou com ela, a
descendo pelas pernas e jogando em qualquer lugar daquele cômodo.
— Você não vai precisar disso. — Salientou ele.
Maldito. Torturador. Bastardo.
— Julian... — Gemeu.
— Quieta, Estrelinha. Estou trabalhando em algo.
Geovanna soltou um gemido alto quando sentiu os dedos do homem
fazendo carinho em sua boceta, a cobrindo com sua mão. Seu corpo arqueou,
esperando. E não foi nada decepcionante quando ele a penetrou, brincando de
uma forma muito perversa com seu clitóris.
— Estrelinha, eu nem preciso fazer nada, você está inteiramente
molhada.
— Julian...
— Deus, você não sabe o quanto isso é torturante.
— Então pare de brincar!
O sorriso dele se alargou, parecendo se divertir da situação dela,
enquanto penetrava com mais um dedo. Ele estava certo — não tinha
nenhuma dificuldade. Seus dedos deslizavam para dentro dela, enquanto
brincava com seu ponto mais sensível.
— Você quer gozar na minha mão, Estrelinha?
Fodidamente, sim.
Julian não esperou sua resposta, ainda brincando com seus dedos
afundados, dançando e acariciando-a. seu rosto estava erguido,
provavelmente, pensou Geovanna, gostando da de vê-la com a cabeça
tombada para trás, os olhos fechados e as mãos em seus ombros os apertando,
não importando se estava o machucando. Julian também não ligava.
Gostava de vê-la desta maneira, tão desinibida.
— Julian! — Exclamou, quando ele fazia movimentos circulares em
seu clitóris, o estimulando.
— Você não me respondeu. Quer?
— Caralho, sim!
O grito veio com a onda de prazer que a arrebentou, fazendo ela
apertar ainda mais os ombros de Julian, procurando onde se apoiar quando
sentiu o tremor tomar conta de seu corpo, deixando-a com a sensação de
fogos de artificio em seu ventre, amolecendo todos seus sentidos.
— Caralho, Geovanna. — Ele se ergueu do chão, a segurando — Essa
foi a coisa mais bonita que eu já vi.
Ela conseguiu esboçar um sorriso enquanto ele afastava os fios de
cabelo que caiam em seu rosto suado e a beijava.
Geovanna não sabia para onde aquele homem inseguro de seus
movimentos havia parar. Não sabia, também, por qual se sentia mais atraída.
De forma predatória e esquecendo toda sua insegurança, ela o
empurrou para a cama no meio do quarto, aproveitando que êxtase estava
saindo de seu corpo, reconhecendo a necessidade de ter mais. Julian apenas
obedeceu, a observando quando ela pôs suas pernas e torno do corpo dele, se
sentando em seu colo. Ele sorria sentindo a pele nua dela encostar em seu
corpo.
Suas mãos foram para a borda de sua calça do qual tinha intenção dela
mesma tirar, mas foi surpreendida pelas mãos de Julian sobre elas, do qual
ainda olhava fixamente para seu rosto. Nenhum sorriso estava visível mais.
Somente seus olhos
— Não — disse com a voz rouca que Geovanna nunca imaginaria
ouvir saindo da boca dele. — Eu tiro. — Decretou.
Geovanna precisou esconder a surpresa em seu rosto, mas apenas
assentiu e o deixou. Ela engoliu em seco quando as mãos quentes dele
seguraram a barra de seu vestido e a passou por sua cabeça, tirando e jogando
para algum lugar do quarto, do mesmo modo que havia feito com sua
calcinha. Ela ficara ali, para o que ele quisesse fazer com ela. Pelo menos,
naquele momento. Não teve vergonha nenhuma quando ficou exposta da
cintura para baixo, ainda tendo seu sutiã preso em seu corpo — começou a se
sentir incomodada com isso —, sentada em colo dele. Ele a apertou sob seus
braços.
— Você é tão linda. — Soprou — Cada detalhe seu é lindo,
Estrelinha. — Suas mãos ainda passeavam pela sua costa nua quando ele se
inclinou e mordiscou seu pescoço — E eu estou me sentindo o homem mais
sortudo do mundo neste momento.
Não teve nem tempo para processar como aquele toque e suas
palavras soaram sexy para ela quando a boca do homem se ocupou sobre sua
pele. Beijos foram distribuídos por toda parte de sua clavícula e busto. Ele foi
ousado quando seus dedos estranhamente abeis — descobrira cedo — se
direcionaram ao feche de seu sutiã.
Quando o sutiã foi retirado, a garota avançou e o beijou com
voracidade. Ambos se entregaram no beijo, com pressa e desejo. Com
Geovanna ainda sobre o corpo do homem e com seu busto totalmente nu,
sentiu seus seios enrijecerem, eles sendo esmagados no peito dele, deixando
escapar um suspiro em sua boca.
Julian pegou o corpo de Geovanna com suas mãos urgentes, sua boca
ainda explorava seu pescoço enquanto ela tinha sua cabeça tombada para trás,
as mãos ainda fincadas no ombro dele, na esperança do mesmo não a deixar
cair ou desabar com o corpo fraco. Ele, gentilmente, a tirou de seu colo,
erguendo seus corpos, apenas para colocá-la na cama. Então, ela sentou e
assistiu a forma hipnotizante da qual ele tirava sua calça.
Jesus Cristo.
Minha nossa senhora.
Quando ele ficou apenas de cueca boxer, mostrando o pau quase
furando o tecido da cueca, ela arquejou. O cara era grande.
Com a visão que estava tendo, foi difícil não salivar de desejo.
Quando já não tinha nem um resquício de roupas em nenhum dos
corpos dos dois e suas preliminares haviam sido exploradas, era mais do que
os dois aguentavam, eles queriam seus corpos se fundindo, não mais nenhum
desvio. Teriam tempo para se explorarem sexualmente outra vez, mas
naquele momento, tudo o que era necessário era ela sentir ele dentro dela. O
mais fundo que pudesse.
Julian tirou sua mão onde estava apoiada — entre as pernas da mulher
— e foi a procura de camisinha. Geovanna sentiu o coração dar vários
solavancos quando ele a olhou deitada e exposta na cama com a mais ternura
genuína, mesmo com todo o desejo o rodando. Mais além disso, havia
determinação ali. Ele a queria. E ela também.
Da maneira mais louca possível. Uma daquelas que fazem seu
coração palpitar quando sente sua presença ou imagina os dois juntos. O
aperto em seu peito lhe era familiar... ela já ouvia lido tantos livros sobre
aquela mesma descrição.
Geovanna pousou as mãos no ombro do homem quando ele se
inclinou sobre o seu corpo, já preenchido com preservativo e numa conversa
silenciosa, o ajudou a terminar a ação. O gemido que soltou quando sentiu se
prolongou durante toda aquela noite, quando sentiu ele penetrá-la.
Seu corpo arquejou. Não evitando o pequeno grito que saiu de sua
boca, incapaz de conter.
Julian xingou, sem se mover. Apenas disfrutando da sensação de —
finalmente — poder ter ela para ele. Da forma mais intima que seu corpo
conhecia.
— Finalmente. — Ele sussurrou, sorrindo levemente.
Geovanna segurou o rosto dele em suas mãos, querendo passar tudo o
que estava sentindo através de seu olhar.
— Finalmente. — Concordou, retribuindo.
Os dois pressionaram seus lábios um no outro quando ele começou a
preenchê-la, tirando e colocando, do modo mais sensível possível, tentando
encontrar um ritmo para eles.
— Mais... — pediu. Estava viciada, queria mais e mais.
E ele a deu. Metendo mais forte, puxando seus gemidos de prazer, de
puro êxtase, apreciando a forma como via ela revirar os olhos e gritar por seu
nome, o trazendo mais para si. O pau de Julian continuava dentro dela.
— Goze para mim, Estrelinha. — Dessa vez, foi ele que pediu.
Grogue de prazer, tanto quanto ela.
E ela também o deu o seu pedido, seu corpo tremulo, abaixo do dele.
Entretanto, ele não havia demorado depois disso. Rugindo seu nome. Como
uma oração de adoração.
Os dois em sua bolha, apenas se beijando, fazendo caricias e sentindo.
Suspiros e gemidos. Toques. Beijos. Mãos quentes. O prazer preenchendo-os.
Suor escorrendo por seus corpos...
Finalmente, o desejo e o frisson que haviam sentido deste o primeiro
dia que se viram. Os olhares trocados, os flertes descarados... não haviam
ficado somente naquela posição, Julian e Geovanna estavam mais do que
satisfeitos em conhecer seus corpos de todas as maneiras possíveis, até eles
não aguentarem mais de cansaço.
Na manhã seguinte, Geovanna acordou com o homem nu dormindo
serenamente, ainda a abraçando forte, os lençóis sobre seus corpos.

Geovanna desceu as escadas e foi em direção a cozinha da pousada,


ouvindo as risadas altíssimas de Diego e Adrian. Quando chegou no cômodo,
Julian estava de costas lavando louça, Adrian dedilhava o violão que tinha
consigo em seu colo e enquanto isso… Dante estava digitando em seu
celular, com seu café da manhã em sua frente, sobre a mesa. Santiago não
devia estar acordado ainda.
Os homens, tinham seu próprio meio de comunicação. Enquanto uns,
preferiam o silencio, outros estavam rindo alto e falando como fora a noite
anterior.
Era harmonioso como eles se completavam.
Geovanna passou por Helena, que estava muito concentrada em fazer
o café da manhã para seus chefes, e ousou a mão em seu ombro, dando um
sorriso gentil e a mulher lhe devolveu, não guardando nenhuma magoa do
que parecia seu eterno crush estar ficando com ela.
Imediatamente, houve um silencio entre os cinco, começando a
perceber quem estava na cozinha deles e como estava vestida. Ela sorriu
preguiçosamente, ignorando o fato de estar apenas com sua calcinha e um
moletom grande que havia achado no guarda roupa de Julian. Ele fora
extremamente fofo, deixando bilhete e a lembrando que ela tinha toda a
liberdade para que o que tivesse ou quisesse fazer.
Houve um assovio baixo que Geovanna não olhou para trás para ver
quem havia soltado, mas concentrada no homem que estava sem camisa,
exibindo sua costa larga e cheia de marcas. Deus, ela parecia uma
adolescente.
Diego mandou uma piscada para mesma quando seus olhares se
cruzaram, a deixando mais confortável ainda. Tinha medo de haver um clima
estranho quando desceu para encontrar a banda do que ficante-não-
namorado-mas-quase-um-namorado fazia parte.
A loira se aproximou, sorrateiramente do homem e o abraçou,
passando as mãos pelo seu tronco e encostando a sua cabeça em sua costa.
— Bom dia — murmurou, baixinho.
Geovanna o sentiu sorrindo e seu corpo virando para encontrar o rosto
dela. Sorriu quando o viu, mais maravilhada do que aqueles momentos
íntimos que ambos tiveram na noite e madrugada. Ele suspirou, abrindo um
sorriso de satisfação.
— Bom dia. — E sem se importar com a pequena plateia que os
observavam como se fossem um filme de romance interessante, se inclinou
para beijá-la.
Mas ela tinha que dizer, era difícil. Principalmente porque parecia que
tinha virado uma festa com o beijo. Ela tentou ignorar todos os sons que eles
faziam, focando na sensação daqueles lábios sobre os dela.
— Eles crescem tão rápido! — Diego gritou, imitando uma voz bem
mais afinada.
Geovanna se afastou para vê-lo. Todos tinham um sorriso no rosto,
aliviados e satisfeitos. Julian passou o braço sobre seu corpo, a abraçando de
lado.
— Você não era assim comigo, Julian! — Adrian disse, o acusando,
dessa vez, forçando uma voz chorosa. — Nunca tive essas demonstrações de
afeto quando tínhamos um romance...
— Nós nunca tivemos um romance, Adrian. — Julian disse. Ela o
olhou para ver se ele havia ficado bravo ou irritado, mas seu rosto havia uma
expressão de diversão perante seus amigos e os comentários que eles estavam
fazendo.
Geovanna gargalhou, aliviada e confortável com o clima que tinha
naquela cozinha. Os dois continuaram abraçados e Julian ofereceu o café da
manhã que tinha deixado para mesma: panquecas, ovos fritos e café. Ela
sorriu, mesmo sabendo que não tinha sido ele que fez. Lembrou de agradecer
a Helena pela maravilha matutina que oferecera.
— Está com fome, Geovanna? — Dante perguntou, gentil.
— Lógico. — Adrian respondeu em seu lugar, sorrindo malicioso —
Sexo dá fome, não é, galera?
Geovanna se engasgou.
— Você é muito idiota! — Santiago se manifestou, depositando um
tapa na nuca do homem, ignorando o miado de sofrimento que ele emitiu
depois.
— Mesmo que dê... Pirralhos não falam sobre sexo. — Dante avisou.
— Eu não sou pirralho!
— Pirralho, para mim, é menor de vinte e um. E olhe só, você é. —
Julian entrou na pequena discussão de seus amigos. Todos pareceram
concordar, menos o próprio Adrian, que ficara emburrado ao decorrer de
todas as zoações.
Geovanna riu, achando graça e se divertindo de como era a
convivência entre os homens. Ela esperava passar muitas mais manhãs como
aquelas. E tardes. E noites.
— Desculpa por eles — pediu Julian, sussurrando ao pé de seu
ouvido.
Ela deu de ombros, preocupada em comer o que tinha em seu prato.
— Eu não ligo. — Sorriu, entrelaçando seus dedos aos deles — Gosto
bastante disso.
E ao concluir com o sorriso que o homem lhe ofereceu, ela havia dito
a coisa certa. Aqueles quatro homens faziam parte de sua família e mesmo
que ele não falasse muito sobre isso, Julian os amava. Muito.
Um a um, foram percebendo que tinham que dar espaço para o novo
casal instalado ali. Foram saindo, de fininho, dando qualquer desculpa sobre
ter que se arrumar, ou quaisquer coisas do tipo. Todos os quatro haviam
parado e lhe dado um abraço rápido na loira.
Ela achou a coisa mais fofa do mundo. E aos beijos, quando
finalizaram suas refeições, Geovanna e Julian planejavam como passar essa
tarde para aproveitar a recente vontade de toques e carinhos e a intimidade.
— Eu pensava que você tinha me abandonado quando eu acordei. —
Geovanna disse, arrancando um sorriso tímido de Julian.
— Não seria capaz de fazer isso. Sinto essa urgência em ficar com
você o tempo todo. — Admitiu enquanto analisava seu rosto ao falar sobre
aqueles sentimentos que mesmo Geovanna percebia que deviam tá se
movimentando dentro dele. — E eu não tenho mais medo, não quando te
tenho ao meu lado. Não quero deixar isso como apenas uma foda.
— Nunca fomos apenas uma foda. — Apontou ela.
— Não, nunca fomos — disse sorrindo. — Geo, eu tenho esse desejo
desde a primeira vez que eu te vi. — Franziu a testa, como se lembrasse de
algo e retornou sua fala — Na verdade, desde antes. Quando eu te via na
série.
Com a risada abafada e tímida de Julian, Geovanna ergueu o seu
queixo para que ele retornasse a voltar para seu rosto, felina.
— Quando me via na série, é?
Ele assentiu, de repente, muito sério.
— Só de falarem seu nome, eu ficava meio... arrepiado. Como se meu
corpo soubesse. Entende?
— Sim, Julian. Eu entendo. Mas ei, que bom... pois eu já sou
totalmente entregue a você. Todo o meu ser e eu acho que no fundo, estava te
esperando.
Com suas testas encostadas, uma na outra, ele disse: — Eu também
estava esperando por você.
CAPÍTULO VINTE E UM

Julian: estava pensando aqui...


Geovanna: oh, meu deus
Isso nunca é um bom sinal
Julian: ei. CUIDADO COM AS PALAVRAS
Elas podem machucar os mais sensíveis, sabe?
Geovanna: pensava que o mais sensível era o Santiago
Julian: eu realmente posso competir com ele quando quero
Geovanna: eu realmente não estava interessada em ter mais um
drama queen na minha vida, mas aí vc apareceu
E aliás, o Santiago fica melhor assim
Julian: pq a minha garota tá falando do meu colega de banda
mesmo?
Geovanna: ele é mais alto e mais gostoso que você
Julian: não consigo colocar em palavras em como isso me ofendeu
principalmente quando não foi ele que tez tão bem
Geovanna: detalhes...
e o que você quis dizer em me chamando de minha garota?
Julian: pensava que fosse obvio
Geovanna: as vezes eu posso ser lenta
Julian: e ridícula
Mas eu gosto de você mesmo assim, estrelinha
Geovanna: eu meio que tbm gosto de vc, julian
Agora me diz o que vc estava pensando quando me mandou msg
Julian: essa pergunta é muito boa
Eu estava pensando em você
As vezes nua
As vezes com roupa... depende
Geovanna: e você quer dizer o que com isso?
Julian: quer vir aqui?
Podemos nos beijar muito
Depois eu posso te fazer gemer e apreciar o som magnifico que sai da
sua boca
Depois de fodemos pela metade da casa, a gente pode pedir comida
mexicana pq vc odeia sushi

E com a oferta, ela viera. Sempre estava ali, a casa de Julian tinha
meio que virado a segunda casa dela.
Aquela semana que Julian estava tendo com Geovanna poderia se
classificar claramente como os melhores dias da sua vida desde que ela havia
ficado extremamente confusa e difícil de se lidar.
Geovanna era o ar fresco que precisava depois de se afogar em culpa
e ressentimento durante muito tempo. O sol e luz que poderia iluminar cada
canto de escuridão do coração mais cheio de magoa e dor que existisse.
Bastava deixá-la entrar.
No caso, era ele que entrava. Diversas vezes. Até seus corpos se
cansarem e eles dormirem fazendo carinho um no outro, sempre abraçados,
os olhos nunca deixando seus rostos. A ligação que existia ali, o carinho e a
compreensão poderiam ser mais fortes do que qualquer sexo violento que ela
pedira para ele nos dias que se passaram depois daquela tarde em sua casa.
Ele, quando pensava que conhecia cada mania sua de cor, conseguia
ser surpreendido quando ela mudava seus hobbies do momento ou voltava a
sua atenção para algo que a interessasse ao ponto de pesquisar absolutamente
sobre isso. Julian achava cada detalhe encantador, mesmo que ela achasse
que fosse um dos defeitos que faziam parte dela. Sinceramente, não se
importava; tudo isso reforçava que a só a tornava mais interessante.
Julian estava bem. Feliz.
— Fecha a boca com esse sorriso gigante. Vai acabar entrando mosca.
— Diego o avisara quando ele não estava fazendo nada demais a não ser
repassar todos os dias que estava tendo ao lado da mulher do qual estava
irrevogavelmente. Planejava contar em breve, se seus planos contribuíssem.
Pena que nem sempre se pode reconhecer quando o universo próprio
faz planos para eles.
No dia seguinte, quando acordou, preparando os planos do próximo
encontro com Geovanna — ele estava fazendo isso, todo dia tinham uma
atividade diferente, mesmo que fosse ficar na casa um do outro, apenas
curtindo a presença um do outro, ele gostava de proporcionar ideias de
encontro com ela, porque queria. Ele gostava de a conhecer, fingindo que
eram apenas duas pessoas normais, sem fama atrás deles — foi interrompido
por um Dante e Santiago sérios na sua porta.
Ele franziu o cenho, estranhando aquela cena.
— Posso ajudá-los, rapazes? — Provocou.
Santiago coçou a nuca, evitando olhar para seu rosto.
— Nós precisamos conversar, Julian. — Dante disse, com a voz
receosa, porém firme.
— O que aconteceu?
— Temos visitas. — Avisou.
Porra.
Somente naquele instante, a ficha caiu.
— Que dia é hoje? — Não tinha se preocupado com datas
ultimamente, mas naquele dia, ele errara em não estar preparado.
— Nove de setembro...
Julian fechou os olhos, xingando o universo e todos os seres que
aparentemente tomavam conta de sua vida. Não era certo tirar a felicidade
momentânea que estava sentindo, o relembrando de seu maior fracasso.
— Ela está lá embaixo, Julian — avisou Santiago.
Ele se virou para seus amigos, sabendo que eles tinham vindo em seu
encontro para tentar acalmá-lo se algo de ruim estivesse acontecendo, ou até
mesmo, reconfortá-lo se fosse necessário.
Não importa quais decisões ferradas haviam tomado na sua vida;
sempre tivera seus amigos quando necessitasse.
— Vamos lá.
Se fosse para enfrentar o seu maior medo e a personificação do seu
fracasso, que fosse agora.

Quando desceu as escadas, percebeu que não tinha sido rápido o


suficiente porque Diego havia sido o primeiro. E isso não era nada bom.
— Você não está sendo justa! — Rugiu Diego para a figura pequena e
de expressão indiferente que o encarava como se fosse um pedaço de bosta na
rua.
— Eu estou? você é tão imprestável quanto Julian! Se dizia seu
melhor amigo, mas não pôde salvá-la.
— Ficou louca? Não tinha como salvá-la! Sua filha entrou naquele
carro depois de tentarmos a impedir.
A mulher não se deixava abalar com o enorme homem que estava
brigando com ela.
— Diego. — Julian o chamou, tentando parar aquela briga antes que
fosse muito longe e eles dissessem palavras que machucariam mais do que
aquelas. — Pode ir para cozinha? Tenho que conversar com a Sra. Quentin.
Amesty Quentin virou seu olhar para ele e se fosse possível, saíra gelo
de seus olhos castanhos avelã, da mesma cor que sua tinha. Quando estava
viva.
Diego murchou os ombros, percebendo que agora seria a batalha que
Julian sempre enfrentava, mesmo com a repulsa de Amesty nele, não era para
Diego que ela reservava todo o ódio que tinha naquele coração, toda magoa e
rancor.
— Já estou indo. — Deu-se por vencido, não antes de olhar para a
mulher de cabelos grisalhos e ser a vez dele de reservar o rancor que tinha e
praticamente rugir as palavras — Você pode culpar o Julian o quanto for,
mas cá entre nós, sabemos quem mais teve culpa na morte de Olivia. Não foi
eu, muito menos Julian. Foi a mãe que ela, quando precisou, a expulsou de
casa. Foi a mãe que fingia que sua própria filha não existia. Então poupe-nos
do seu discurso para cima do meu amigo, velha hipócrita.
E saiu do cômodo, levando consigo Santiago e Dante, deixando uma
mulher de cinquenta e pouco anos com os olhos brilhando e um Julian
impactado com as palavras que seu amigo vociferou.
Não era uma novidade que os dois tiveram seus dissentimentos e
Diego, conhecendo Olivia bem mais antes do que Julian, não apenas sabia o
que acontecia na casa dela, como também já presenciara diversas vezes.
Julian havia ficado com uma mulher que estava tentando superar e seguir em
frente com o descaso de sua mãe.
Amesty se recuperou rapidamente, vestindo a máscara de indiferença.
— Vejo que seus amigos nunca aprenderam os modos. — Sua voz era
tão gélida quanto sua voz.
Julian deu de ombros.
— São mais do que meus amigos e você sabe muito bem disso. Minha
família são eles.
— Se Olivia não tivesse morta, você teria outra família. Ela e seu
filho se tornariam sua família.
O homem sentiu seu coração se relembrar da dor que fora perder sua
namorada e o filho que estava carregando dentro de seu ventre. As imagens
ficaram turvas novamente, o aperto se intensificando.
— Por favor, não fale deles — pediu, com a voz falha.
Ela riu, amarga.
— Você merece qualquer coisa que esteja sentindo?
— O que, raios, você está fazendo aqui?
Ela analisou as suas unhas, sentando-se no sofá como se tivesse sido
convidada.
— Eu vi uma recente matéria sobre você. Sobre estar namorando uma
atriz famosa.
Uma ruga surgiu no rosto de Julian. Não sabia que já tinham notícias
acontecendo e rolando sobre ele e Geovanna.
— E...?
— Eu vim pedir, como mãe, para deixar essa menina em paz.
Só podia ser brincadeira.
— Desculpe?
— Sim. Você vai acabar com a vida desta garota como acabou com a
da minha filha.
Como Julian não a respondeu, ela continuou a falar.
— Se não fosse por você, eu ainda teria uma filha e um neto...
— Depois da morte dele, você o deseja? Pelo que eu me lembro bem,
você a expulsou de sua casa quando Olivia descobriu que estava grávida.
— Ela só tinha dezenove anos! — Berrou, saindo da indiferença para
raiva — Outra coisa que você foi o culpado! Ela era nova, não merecia ter um
filho seu somente porque não se cuidou ao ponto de não usar preservativo.
— Você ficou maluca se pensa que eu não usei preservativo de
propósito!
— E não foi? Todo dia seu namoro estava indo para o buraco, como o
verme que você é! Vocês brigavam e eu que tinha que consolar minha filha
chorando.
Uma risada forçada saiu da garganta de Julian.
— Tá de brincadeira?! Seu consolo era brigar mais ainda com ela! Ela
corria para se abrigar na casa de Diego por causa das suas atitudes
mesquinhas e egoístas! Nunca pensou na sua filha direito, nunca a considerou
uma filha para vim chorar nos meus pés, me perseguindo como uma pulga e
gritando que eu sou o culpado de tudo.
— Se você não fosse por você, ela não teria entrado naquele carro!
Vocês estavam brigando! É tudo sua culpa, seu moleque infantil! Gritou em
sua cara que não queria aquele filho.
Julian sentiu como se tivesse sido esfaqueado.
— Sua culpa! — Ela repetia e gritava quando fora para cima dele.
Não chegou a desferir nenhum tapa porque Dante fora o mais rápido,
agarrando seu corpo envelhecido e a afastando de Julian enquanto ele estava
petrificado. As palavras de Amesty rodando sua cabeça.
— Chega! — Bradou Dante ao soltar a mulher — Você vai embora
desta casa imediatamente ou serei forçado a chamar o hospital, alegando que
ficou maluca. Nunca mais encoste o pé nesta casa ou vamos para o tribunal.
você conseguiu atormentar meu amigo por quase três anos, isso termina aqui.
Amesty piscou, furiosa. Mas com passos firmes, foram embora.
Julian caiu no chão. Ainda tentando colocar seus pensamentos em
ordem.
— Julian, cara... — Dante começou ao se aproximar, mesmo sendo
repelido — Não deixa essa velha maluca colocar essas coisas na sua cabeça.
você não foi o culpado pela morte de Olivia e muito menos vai ser
responsável por algo de ruim se acontecer com a Geovanna.
Ele piscou, ainda encarando o chão que Amesty tinha pisado
anteriormente. Não importava o que Dante estava dizendo para ele, a velha
poderia ser tudo mas tinha uma razão naquilo — ele realmente tinha uma
parcela de culpa na morte de Olivia, ao dizer que não queria o filho que ela
estava carregando dele e ao deixá-la entrar naquele carro depois de uma briga
que aconteceu entre os dois.
Julian se levantou, de repente, parecendo mais confiante do que fora
em semanas.
— Julian! — Dante o chamou enquanto ele estava saindo porta afora
da casa, com passos firmes e pensamentos nebulosos — não vá fazer merda
com que se arrependa depois!
Mas ele não ligava. Naquele momento, estava agindo como o Julian
de antigamente que fazia tudo no calor do momento, sem se importar com as
consequências de suas ações.

Quando Julian saiu do carro, com a visão turva de lagrimas, tentou se


manter são. Ela não poderia ver aquela sua expressão, só tornaria mais difícil.
Se dirigir para o apartamento de Geovanna naquela tarde fora mais
difícil do que ele poderia colocar em palavras. Estava partindo seu coração,
mas naquele momento, já tinha a decisão tomada.
Geovanna atendeu a porta com um sorriso largo que logos se
desmanchou ao ver como estava o estado dele. Pelo visto, não estava
escondendo muito bem.
— Julian? O que aconteceu? — Sua voz soou doce e preocupada.
Ele fechou os olhos, aproveitando a última vez que iria ouvir aquele
seu tom de voz usado para conversar com ele.
— Nós precisamos terminar... qualquer coisa que tenha se iniciado
entre nós.
A expressão no rosto dela foi da mais pura confusão.
— Que?
— Você entendeu.
— Não, não entendi. — Balançou a cabeça. — Que merda é essa? O
que você está pensando?
— Desculpa, Geovanna — pediu, sincero.
Geovanna riu, debochando.
— Enfia suas desculpas na puta que pariu! — Rugiu. — Você não
passa de um covarde, se escondendo em erros passados, que ao invés de
tentar mudar, fica estacado neles.
Deu um passo para trás, com o peso das palavras que ela lhe lançou.
Presumiu que mereceu.
— Sinto muito.
— Você só sabe falar essa merda. Acha que tudo vai se resolver. —
Respirou fundo, tentando controlar a respiração — Você me prometeu que
não ia embora.
Caramba. Ele só queria estender suas mãos e a trazer para seu corpo, a
abraçar e beijar pela última vez. Firmou suas mãos ao lado do seu corpo,
fechando-as em punho.
— Eu não queria que fosse assim... mas eu preciso.
Ela apenas o olhou, firme, mordendo o lábio. Prestes a gritar com ele
ou a chorar.
— Se você sair por essa porta... — Ela balançou a cabeça, a voz
embargada — Não se importe em voltar. Nunca mais.
Julian então a olhou e tentou memorizar cada detalhe de seu rosto. Os
olhos castanhos cor de café escuros dos quais ele tanto gostava, estava
assistindo que como estavam avermelhando, o cabelo loiro escuro selvagem,
caindo em cascata. Ele adorava passar sua mão ali. As bochechas elevadas
que ela não gostava, mas Julian achava lindo. As sardas em seu nariz e
abaixo dos olhos. A boca naturalmente rosada.
Ele era apaixonado por tudo.
— Sinto muito.
E não virou para trás enquanto saía, para ver aquela mulher
desmoronar, porque ela não podia saber, mas ele havia acabado de deixar seu
coração ali. Junto às lagrimas.
CAPÍTULO VINTE E DOIS

DOIS MESES DEPOIS.


Geovanna suspirou, respirando o clima agradável da Nova Zelândia,
mais precisamente da cidade de Auckland, pela última vez. O gostinho de
fuga estava acabando.
— Precisa de ajuda, Geovanna? — Yanna, uma das maquiadoras do
set de seu novo filme a questionou, com sua voz doce.
Ela apenas sorriu em resposta para sua pergunta.
— Não, querida. Estou bem. — A tranquilizou.
— Esses dois meses passaram rápido...
Bom, pelo menos para alguém. Para Geovanna, cada segundo foi
torturante.
Se aquele momento da sua vida pudesse ter uma trilha sonora, as
cenas das quais ela sentia uma solidão esmagar seu peito e as lagrimas
descerem por seu rosto quando ela não precisava fingir ser um pequeno raio
de luz alegre nas filmagens — ou seja, quando estava sozinha em seu quarto
de hotel — seriam embaladas com One of Us, precisamente igual a como
Amanda Seyfriend interpretou Mamma Mia 2. Era até irônico de ter
características semelhantes a atriz.
De uma maneira mais ridícula do que queria se permitir, chegou a
pensar se o que não deve ser nomeado estaria se sentindo como ela: como se
uma parte dela tivesse morrido no momento em que ele saiu por aquela porta.
Por muita sorte, naquele mesmo dia, ela aceitou a proposta de filme
em que as filmagens seriam o mais longe de tudo o que estava acontecendo.
Embarcou para Nova Zelândia, para gravar um romance dois dias depois.
Veio a calhar que sua personagem era completamente chorona porque ela não
precisou mentir em nenhuma das cenas em que estava com o coração partido.
E, agora, depois de dois meses, estava indo embora, para sua casa.
De volta para o que ela somente estava adiando. Pelo menos, ia ficar
mais tempo com sua filha. A filhote que já não era tão pequena assim mais,
Arya.
— Você quer uma carona, Geovanna?
Ela apenas se virou para o homem mais perfeito que poderia ter
existido em sua vida, mas de qualquer jeito, não era quem ela queria, então
ele se tornava chato e estranhamente normal.
Phillip Brislow era o típico galã de cinema. Alto, olhos claros e
cabelo escuro, pele clara e um sorriso branco e alinhado. Ele era quase
perfeito demais.
No começo das gravações, ele havia investido em Geovanna, usando
todo seu arsenal de charme que tinha em seu estoque. Mas não tinha surgido
nenhum efeito. Ela não havia sentido arrepios pelo seu corpo quando ele a
tocava, não havia tido a necessidade de conversar com ele e muito menos
havia sentido as malditas borboletas no estomago quando o via. E ela o via.
Muito.
Principalmente sem camisa.
No começo, as suas amigas haviam incentivado a ela tentar a alguma
coisa, para tentar fazer-la esquecer daquele homem. No entanto, Geovanna
estava muito no fundo do poço para sequer pensar em outro homem daquela
forma. Não conseguia fazer isso. Não quando seu coração já pertencia a uma
pessoa.
Ela era leal — até o fim.
E era meio que impossível não compará-lo ao homem que estava no
outro país, Phillip não tinha olhos cor caramelo, cabelos cacheados, sotaque
mexicano e o pior de tudo — não a chamava de estrelinha, na verdade, ele
parecia excelente em apenas a chamar de Geovanna, o que era chato.
— Sim. você vai para Los Angeles também, certo?
— Isso mesmo.
Com o tempo, ao menos, tinham se tornado bons amigos. Phillip
havia se tornado seu confidente de seus sentimentos tumultuados e secar
muitas das lágrimas que caiam dolorosamente... e até mesmo de ser aquele
que levou comida quando estava soluçando como uma criança durante o
intervalo de almoço entre as cenas. Então sim, Geovanna estava perguntando-
se por que não estava deixando-o curar todas as feridas das quais ainda
rasgavam seu coração?
Não seria justo. E Geovanna não seria uma filha da mãe com ele, não
mais ainda. Por Deus, ela tinha seus limites.
Mas o mais correto seria que seu coração já tinha um nome cravado
nele.
— Eu estou ansioso para conhecer suas amigas. — Continuou.
— Eu também. Elas são ótimas, as melhores pessoas que eu conheço.
— Bom, se você está falando... eu não desconfio. Vamos, temos que
chegar cedo ao aeroporto.

Quando o carro de seu amigo estacionou na frente de sua casa, ela


quis chorar. Deuses, que vergonha de ser uma tremenda chorona. Se já era
antes, depois de tudo, ela conseguia atingir um ápice. Geovanna del Reiz,
uma vergonha a si mesma.
Com certeza, a personagem de um livro de romance seria bem mais
forte emocionalmente do que ela.
— Tem certeza de que quer entrar? Não quer dar uma volta antes de
encarar a realidade? Talvez tomar um milkshake... — Phillip a sugeriu, doce.
Era uma boa oferta, mas...
Ela balançou a cabeça em negação, ainda olhando para o prédio
através da janela do carro.
— Já faz dois meses. — Sorriu, melancólica — Uma hora teria que
voltar para a bagunça que minha vida se tornou.
Phillip suspirou, parecendo triste por sua persistência.
— Então, tudo bem. Venha, vou te ajudar a levar as malas.
— Uma ajuda como essa pode ser aceita.
— Pelo menos algo você me deixa realizar.
Os dois saíram dos carros, ambos segurando as malas de Geovanna,
detestava ser muito exagerada, mas não tinha como evitar: ela gostava de
estar preparada para tudo. Bom, quase tudo.
Sua caminhada, porém, foi interrompida quando um homem de quase
dois metros de altura, vestido dos pés à cabeça de preto fazendo um belo
contraste com seu cabelo loiro dourado surgiu em sua frente, ele semicerrou
os olhos azuis e abriu um largo sorriso quando reconheceu Geovanna.
— Santiago! — Ela exclamou, surpresa. Gostava dele, apesar de ser
amigo do homem que quebrou o seu coração e esses detalhes sórdidos — O
que você está fazendo aqui? — questionou quando ele a soltou de um abraço
do qual ela teve que ficar na ponta dos pés para alcançar seu pescoço. Mesmo
assim, não conseguiu.
— Bem, eu vim deixar o Bran na sua casa, ele estava em casa esses
dias. — Coçou a nuca, aparentemente desconfortável em estar contando algo
que poderia ser considerado notícias de seu amigo.
Ela forçou um sorriso e desviou os olhos de seu rosto, pousando no
pequeno cachorro que estava em uma coleira da qual ele estava puxando.
Geovanna não mentiu, ele realmente era um pequeno cachorro. Dessa vez,
sorriu verdadeiramente.
— Quem é esse aqui?
Santiago corou, pegando o seu cachorro do chão e trouxe para seu
peito, acariciando sua cabeça e suas orelhas enormes totalmente peludas.
— É um Papillon? — Phillip perguntou, falando pela primeira vez
desde que Geovanna fez a parada abrupta. Tola, percebeu que tinha até
esquecido de sua presença próxima a ela.
Santiago o olhou pela primeira vez, também. Ele não estava muito
contente com o que viu, porque vestiu a máscara de badboy que Geovanna
via a usando com pessoas que não eram seus amigos. Os olhos semicerrados,
maxilar trancado, postura de desdém e indiferença.
Ela percebeu que ele e Julian tinham expressões semelhantes quando
queriam dar a entender que não estavam a fim de conversar. Os dois podiam
ser bem fiéis aos seus personagens.
— Não sei, acho que é uma mistura, de qualquer forma, não me
interessa. — Deu de ombros — E quem é você?
— Phillip Brislow. — Estendeu a mão, esperando que o homem a
pegasse, mas ele apenas se limitou a acenar com a cabeça e mostrar seu
cachorro ocupado em suas mãos. Phillip recuou e limpou a garganta — Sou
amigo da Geovanna, trabalhamos juntos na gravação de um filme em
Auckland.
Santiago arqueou uma sobrancelha, claramente desinteressado.
Constrangedor.
— Então... — Geovanna pigarreou, chamando a atenção de seus
amigos — Onde você o arranjou?
O cachorro latiu, aparentemente feliz pela atenção da conversa está
nele.
— Ela, na verdade — Santiago afagou suas orelhas — O nome dela é
Katara. Não é mesmo, filha?
Era no mínimo, fofo e engraçado, um homem daquele tamanho tendo
uma cadela tão pequena que a chamava de filha numa voz de bebe.
— Ninguém quis ela por ela já ter cinco anos. — Continuou olhando
para sua filha no colo. — Mas quando eu a vi, fiquei pensando que eu não ia
me perdoar por deixar ela sozinha ali. E na verdade, eu fui por sua causa...
Fui ao abrigo em que você e o Juli... — Ele parou, arregalando os olhos após
perceber que ia dizer o nome do seu amigo e fingiu uma tosse. — Onde você
adotou Bran e Arya.
Geovanna ficou um instante em silencio, apreciando o cuidado de
Santiago e estava realmente feliz por sua história com Katara até ele tocar no
nome de Julian.
Ela suspirou, sentindo-se pesada.
— Acho que é hora de você descansar, Geovanna. — Phillip cortou
aquele momento.
Estava no automático quando assentiu. Ergueu a cabeça e encontrou a
feição do colombiano preocupada.
— Foi ótimo te ver, Santiago. Realmente estava com saudade. —
Tentou o tranquilizar. — Mas agora preciso descansar. Estou morta.
Ele pareceu aceitar suas desculpas.
— É claro. — Deu um sorriso de lado. — Foi ótimo te ver também,
Geovanna.
Santiago se inclinou e depositou um beijo em sua testa, ao que
parecia, querendo verificá-la de que estava bem e uma mensagem delicada de
que se precisasse de algo, estaria presente. Nunca viu um lado tão doce
quanto aquele que a estava demonstrando e ficou feliz por se preocupar com
sua saúde emocional. Geovanna não duvidava de que se pedisse para dar uns
bons murros em Julian para descontar toda sua raiva, ele os daria. Sorrindo.
Ele saiu sem oferecer um adeus a Phillip — que ficou indignado com a falta
de educação — e levando Katara, ainda grudada em seu peito.
Passou por sua cabeça em como ele a levava em sua moto, já que não
tinha carro.
Ao entrar no elevador, Geovanna dispensou Phillip. Podia levar as
malas sozinha, por Deus. Além do mais, já tinha usufruído de sua bondade.
Ele se despediu, a beijando na bochecha e sorrindo como se estivesse
esperado o tempo todo para tocá-la.
Ela sorriu e se afastou, grata por estar um pouco sozinha depois de
tantos pensamentos conflituosos.
Felizmente ou infelizmente, não durou muito pois assim que colocou
os pés dentro de seu apartamento foi recebida por uma Malu e Alexis de
braços abertos e muitos beijos.
Ela riu da surpresa, nenhuma das duas era muito fã de contato.
Principalmente os abraços fortes que estavam a dando. Mas havia uma
exceção.
Até Bran resolvera se juntar a festa, latindo feliz por sua dona estar de
volta em casa. Geovanna o abraçou como se fosse um bicho de pelúcia e o
levou para dormir em seu quarto na própria pequena cama que havia
comprado e enviado para seu apartamento.
Ele estava gordo e grande, nem parecia que tinha apenas dois meses.
E Geovanna nunca se sentira tão agradecida por ter ouvido seu coração e o ter
tirado do abrigo. Porque mesmo depois de um banho caloroso que durou por
volta de quarenta minutos e sua pele já tinha se enrugado por tanto tempo que
passara dentro da banheira, ainda se sentia um tanto quanto solitária naquele
quarto, com muitas memorias, então Bran havia subido em sua cama após ela
decidir que precisava de um descanso.
E ela o teve, abraçada com seu pequeno cachorro que aparentemente
sabia que tudo o que ela precisava era de um abraço até adormecer.
E talvez batata frita. Mas isso seria resolvido mais tarde.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS

Julian estava ocupado com os fones de ouvido e os olhos fechados na


cama quando Arya sobe, o lambendo no rosto, amassando todos os papeis
dos rascunhos de música das quais ele vinha tentando compor desde dois
meses.
— Boa garota — murmurou, a afagando. — Você quer alguma
comida, sim?
Aquela cadela foi a melhor coisa que decidira ter em sua vida.
Diego interrompe a interação dos dois quando abre a porta e entra no
seu quarto de forma abrupta.
— Mas que merda, cara? — Resmunga Julian, sentando-se na cama.
O amigo enruga o nariz e o olha sério.
Será que ele tinha feito alguma coisa? Não lembrava de ter feito algo
errado ou roubado a refeição que Diego mantinha separada porque tinha
certas preferencias.
— Você! — Ele rugiu e apontou o dedo na cara de Julian — A gente
parou por aqui! Ninguém mais aguenta te ver nessa cama como... sei lá! —
Ele fungou — E meu Deus, está fedendo esse quarto. Algo misturado a suor
de covarde. Parece mijo.
Julian arqueou as sobrancelhas. Não esperava menos, Diego tinha
sido sempre paciente com quase tudo o que acontecia na vida dele, ao
contrário de Santiago que realmente não se importava com as dificuldade e
situações, Diego apenas encarava como piada. Poucas vezes ele tinha visto os
seus amigos perderem a paciência.
Concluiu que dois meses eram o suficiente para arrancá-los do lado
“sempre contigo, irmão’’ para o “você é um estupido’’
Já que foram essas exatas palavras que todos haviam falado para ele
quando chegou em sua casa depois de terminar tudo com Geovanna. Ou pelo
menos, tentar afastá-la.
Sem falar do soco que Dante lhe dera. Aquilo foi meio desnecessário.
Mas tudo bem, sentira que foi o que Geovanna quis fazer com ele.
E não seria ele de reclamar das consequências de perder aquela
mulher.
— Somente Arya entra nesse ninho de rato porque ama o dono, é
mais do que eu posso dizer durante dois meses. — Continuou rugindo.
— Não está fedendo a mijo. — Defendeu Julian, somente.
Diego expressou uma faceta de nojo.
— Há muitas pessoas que podem discordar desta informação.
— E eu falaria que não tem nada a se preocupar porque eu e meu
quarto nem estamos ótimos.
— E então eu defenderia que o dono do quarto tem família e amigos
que se preocupam com ele. — Ele fez uma pausa, de repente cansado — Eu
fiz uma promessa com sua mãe, você sabe. Eu como o mais velho, deveria
estar cuidando do seu bem estar.
Julian suspirou. Ele pegou pesado.
— Olha, cara. — Diego moveu-se para sentar-se ao seu lado na cama
— Você fez uma burrada enorme. Está na hora de consertar isso.
Bom, ele meio que estava esperando que um dos seus amigos tentasse
intervir na sua maneira de abordar a situação dele com Geovanna. Mas não!
Realmente passava, muito obrigado, de nada.
Julian sacode a cabeça com veemência.
— Não... — Suspira novamente. — Somente... não. Eu não quero
falar sobre isso, Diego.
— Bem, você precisa saber que, mesmo que não queira conversar
sobre algo, seus pedidos serão realizados. Cara, você ta agindo como uma
verdadeira marica.
— Tudo bem, eu aceito ser uma marica, sem problemas.
Silencio. A abordagem não estava funcionando e Diego sabia.
Ele se levanta, com um discreto sorriso no rosto.
— Ok. Então é aqui que você se despede de ter sua loirinha ao seu
lado.
Espera. O que?
— Do que você está falando?
Diego dá de ombros, se abaixando para brincar com Arya.
— Santiago foi deixar Bran na casa da sua dona com Alexis e Malu...
e bem, ele chegou aqui dizendo que teve que encontrar Geovanna com um
belo espécime masculino.
— Espécime masculino? — Repetiu Julian.
A imagem do ator australiano do qual vira em sites de notícias rodava
a cabeça do homem.
— Isso.
— Você nunca falou deste jeito para referir aos homens.
— Bem, ninguém merecia.
— E este... amigo de Geovanna merece?
— Mais do que você. — Provocou.
— Saia.
Diego sorriu largo, mostrando todos os dentes.
— Ficou nervosinho?
— Saia, Diego! — Rugiu.
— Ok! — Levantou as mãos em forma de rendição — Mas saiba de
uma coisa: enquanto você está se lamuriando por falta de opção porque uma
velha que não sabe de nada da sua vida falou que deve abandonar a única
coisa que te fez feliz durante quase três anos... — Estreitou os olhos. — Ela
está sofrendo também, mas diferentemente desta situação de dá vergonha,
existem outros homens que também apreciam o quão ela é especial.
Julian fechou os olhos e sentiu sua garganta arranhar. Não tinha
intenção de causar tanta besteira quando foi guiado pela impulsividade.
O que Diego estava falando não deixava de ser verdade; ele não era
um homem ciumento, mas virou um monstro para si mesmo enquanto estava
de olho nas notícias sobre Geovanna e aparecia sempre seu colega de
trabalho junto a ela. Sim, ele sabia de quem o amigo estava falando. O odiou
durante dois meses.
Porque ele podia estar do lado dela. Podia a abraçar.
E Julian tinha que depositar raiva em alguém além de si mesmo pela
própria estupidez.
— Seja quem for. — Julian ergueu o rosto e teve certeza de que seu
rosto estava com lágrimas contidas porque Diego pareceu surpreso — Ela
está melhor com alguém que a saiba amar do jeito que merece.
Diego balançou a cabeça, ainda com a mão em seu quadril. Se não
conhecesse bem seu amigo, poderia ter até medo de como ele o olhava agora.
As tatuagens em todo seu corpo o realmente deixavam com cara de malvado.
— Julian — disse com uma voz que se assemelhava com a que usava
para brincar com o filho de Dante. — Essa pessoa é você. Só basta você
mesmo aceitar isso.
— Por que você acha que eu seria essa pessoa?
Diego pousou a mão em seu ombro, mais manso do que quando tinha
entrado em seu quarto e lhe deu um sorriso de conforto.
— Porque você a ama o suficiente para deixá-la ir. Porque você sabe
que ela merece a felicidade.
As palavras de Diego entraram profundamente dentro de Julian.
Sentiu que, talvez tivesse esperança. Não fez oposição contra o fato dele ter
dito que a amava. Não era nenhuma novidade e tivera dois meses para sentir
que cada parte de seu ser estava sendo destruída sem senti-la perto de si.
Sentia saudades de a beijar. Ou de apenas a olhar, fazendo coisas aleatórias.
Ela era a visão que gostaria de desenhar em sua mente todos os dias.
Porra.
Mas não sabia se seria egoísta o suficiente para correr atrás dela
depois de tudo.
— Diego... — Começou a questionar.
— Não, cara. — O interrompeu. — Chega disso. Você merece a
felicidade tanto quanto ela. O passado não é um monstro de vocês mais.
Julian relembrou das palavras que Geovanna havia o dito quando
brevemente falou um pouco sobre os conflitos de seu passado e sua família.
Diego estava alheio a tudo isso, mas não deixava de ter depositado
uma faca em seu peito apenas com algumas palavras.
— Escuta. — Ele continuou — Está na hora de encarar seus medos,
Julian. Eles só fazem com que você continue perdendo as coisas mais
importantes da sua vida. Você vai se deixar ser um eterno prisioneiro de erros
dos quais não podia prever? Cara, a morte da Olivia não foi sua culpa. Se foi
sua, também foi minha, também foi daquela velha jararaca. — Entortou o
nariz, lembrando da mãe de sua melhor amiga — Olivia era minha melhor
amiga. Eu divido a culpa com você, Julian. Por favor, por mim e por ela, não
se perca.
Julian engoliu em seco, subitamente sem palavras.
— Bem, eu adorei o discurso de Diego, mas quando vamos planejar a
humilhação de Julian para o perdão da loirinha?
Ele tirou os olhos do amigo que estava ao seu lado e ergueu os olhos
para a voz, encontrando todos seus amigos em pé na porta de seu quarto.
Santiago impaciente, Dante sorrindo e Adrian... parecia muito emocionado.
Julian gargalhou, levantando-se para abraçar os seus irmãos.
— Se você fizer merda — avisou Santiago. — Dante vai te dar um
murro novamente, só porque não sou um cara que curte violência.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO

A semana da que passou após a chegada de Geovanna correra de


modo bem característico do que se pode falar de “bem’’. Ela se enfiou em
trabalhos e qualquer tipo de ocupação que fizesse sua mente parar de reviver
momentos específicos.
Ela, no fim, passou o seu tempo decidindo-se entre várias escolhas de
filmes das quais tinham sido enviadas para sua casa enquanto estava fora e
estudando roteiros, quando não estava focada nesta tarefa, preocupava-se em
ir passear com Bran, ou quando suas amigas estavam em casa, passava um
bom tempo com suas amigas apenas desfrutando de estarem juntas, isso a
relembrou de quando Julian a tinha afastado na primeira vez.
E isso a deixou com raiva. Que tipo de mulher havia se tornado?
Nunca fora uma pessoa muito festeira — reconhecia isso. Mas desta
maneira? Caramba. Então, ela concluiu que precisava de algo: ficar muito
bêbada com suas amigas e fazer tudo que queria fazer sóbria porem poderia
colocar a culpa no álcool depois.
— Não. — Malu disse quando Geovanna falou sobre sua genial ideia.
— O que?! Por quê? — questionou, frustrada.
Elas poderiam lhe dar licença? Estava tentando ser imprudente uma
vez na vida. Queria viver seu luto de quase relacionamento certo dessa vez.
— Você não é assim. — Apontou Alexis, concordando com Malu.
— Só se vive uma vez! — Defendeu.
As duas se entreolharam e começaram a gargalhar. Caralho, que tipo
de amigas ela mantinha contato para si?
Geovanna se sentou entre elas, de braços cruzados e bufando.
— Ei. — Malu a chamou, trazendo em um abraço de lado. — Está
tudo bem você querer vivenciar o seu... — Franziu os lábios, procurando uma
palavra boa o suficiente para definir.
— Luto? — Sugeriu.
— Não seria a palavra mais adequada, mas... pode-se usar. Até
porque agora já deu, querida. Ele já a machucou. Luto só se for pela vida
maravilhosa que ele perdeu a afastando.
Alexis gargalhou ao seu lado.
— Não leve a mal, Geo — diz. — Eu o adoro e tenho certeza que o
motivo do termino de vocês não foi algo superficial, mas ele foi um idiota e
você não merece um pingo de infelicidade nesta vida, já a teve demais.
— Não foi um termino até porque não tínhamos nada — disse,
baixinho.
— Ah, querida, vocês tinham algo, sim. Não oficializado, com
certeza. Mas não deixava de ter alguma coisa. Olhe para o seu estado, você
ainda está apaixonada por esse homem.
Geovanna apoiou a cabeça no ombro de Malu, fechando os olhos.
— Sim, estou.
— E tá tudo bem, viu? Não precisa ficar se martirizando por isso.
Essas coisas acontecem. Você não precisa se culpar.
— E não estou.
Era a verdade; ela poderia se arrepender de muitas coisas, mas não se
arrependia de ter experimentado aqueles dias ao lado de Julian. Ela mantinha
algo em sua mente que preferia viver esses poucos momentos de alegria e
paixão do que solidão e comodidade com medo de sofrer.
Ela poderia estar sofrendo agora, despedaçada e um pouco sem rumo.
Mas iria se reerguer. Não seria refém disto.
Um dia, essa dor que estava experimentando seria uma boa
experiencia. Guardaria consigo.
— Eu sei que não, você sempre foi assim. Nunca recuou em
momentos como esses; sempre se afunda, não tem medo dos seus
sentimentos. Contigo é zero ou cem. E eu te admiro muito por isso. — Malu
diz.
Geovanna a deu um sorriso vacilante, sentindo seus olhos começarem
a lacrimejar.
— Um dia. — Prometeu. — Você não vai ter medo quando sentir
algo forte por alguém, Maria Luísa. E eu vou ter muito orgulho quando
começar a abrir seu coração de verdade — se virou para Alexis que ouvia
calada — E você também, Lexi. Sem medos de compromisso.
Alexis sorriu, apertando a mão da amiga. Mas, desviando o olhar para
longe, como se as palavras que Geovanna estivesse a prometendo, lembrasse
de alguém específico.
— Eu sei — disse, apenas.
Bran, que estava extremamente calado, aos seus pés e se aproveitando
do tapete extremamente fofo que ela havia comprado no início dessa semana
só porque viu que o seu cachorro gostava, latiu. Quase que concordando com
tudo o que havia sido falado e virou sua cabeça para frente novamente,
concentrado em deitar-se e dormir.
Geovanna sorriu com a cena.
As três se calaram e se fecharam em seus próprios pensamentos, com
os olhos fixos na TV do qual estava passando algum filme de romance
natalino aleatório, mas com a cabeça bem longe.
Normalmente, Geovanna prestaria atenção ali pois adorava filmes de
romance natalino da mesma maneira que adorava boybands, mas no
momento, sua curiosidade a cutucava, desejando saber como, do outro lado,
Julian estava lidando com a situação.
De qualquer maneira, não interessava. Havia acabado.

No dia seguinte, ela estava mais do que pronta para fazer seu passeio
diário com Bran quando recebeu a ligação de Thomas. Franziu o cenho, mas
atendeu a chamada.
— Oi. Tudo bem, Tommy?
Ela realmente estava preocupada — Thomas odiava falar por ligação
— e pelas suas ultimas noticias, ele havia estado muito ocupado visitando a
família do namorado no Canadá.
— Oi! Ainda bem que você me atendeu!
Não parecia desesperado ou triste, então a preocupação aliviou-se.
— Do que você precisa?
— Hum... — Limpou a garganta. — Eu preciso que você vá no set de
The Last Light.
— Mas por quê? — perguntou, confusa.
— Geovanna, eu terminei meu namorado. — Ele fungou.
— O que? Mas o que aconteceu?
— Ele me traiu, amiga.
Geovanna só ficou mais confusa. Conhecia os dois para saber o
suficiente que nenhum faria algo desse jeito. Principalmente, Jeremy; ele
quase criava um altar de adoração a Thomas.
— Isso é muito estranho — comentou. — Nunca imaginei que ele
seria capaz de algo tão nojento quanto traição.
— Nunca ponha a mão no fogo pela índole de ninguém! — Ele avisou
e suspirou. — Eu só preciso que você vá buscar alguns papeis para mim no
set, por favor?
Sim, fazia sentido. Jeremy era o maquiador deles, se Thomas
precisava de algo de lá, provavelmente não queria ver o namorado — ou o ex
namorado — tão cedo.
— Claro, Tommy! Pode deixar.

— Ele falou que o Jeremy o traiu? — Alexis questionou, pela


milésima vez, no carro.
Geovanna revirou os olhos e virou a esquina, com seu carro, entrando
no estacionamento de The Last Light após passar pelo portão de
identificação.
— Sim. Respondendo à pergunta que você já me fez milhares de
vezes.
Alexis cruzou os braços.
— Isso é tão estranho.
— Foi o que eu achei, também. — Concordou. — Não esperava isso
de Jeremy, mas afinal, ele é homem. Obrigado por me acompanhar, aliás.
A sua amiga apenas assentiu e ficou em silencio. Geovanna desligou
o carro, e tirou o cinto de segurança, passando os olhos rapidamente no
espelho de cima para verificar como estava. Nenhum paparazzi precisava
saber que ela não estava dormindo bem o suficiente há meses. O batom
vermelho estava bem destacado em seus lábios, forte e cor de sangue, do jeito
que ela usava quando estava precisando de uma armadura.
As duas desceram do carro e foram em direção ao pequeno teatro que
tinha ali exclusivo para cenas especificas da série.
— Thomas cada vez mais relaxado em deixar contratos e roteiros em
um espaço que tá tendo gravações o tempo todo — comentou entrando no
espaço.
Ela acendeu o flash do celular quando percebeu que estava muito
escuro.
— Nossa, faz um tempo que ninguém vem aqui, não é? — Alexis
perguntou, irritada.
As duas, seguiram no escuro, guiadas apenas pelos seus celulares
quando, no meio do caminho, as luzes para o palco foram acessas revelando
cinco sombras de pessoas de cabeça baixa e parados nele. Semicerrou os
olhos, devido a luminosidade brusca.
— O que é isso? — Cochichou para Alexis.
Os acordes soaram pelo local e o coração de Geovanna palpitou
quando reconheceu os acordes de I Want You Back.
Ela sentiu que ia vomitar no momento em que ouviu a voz de quem
estava puxando a música. E alerta de spoiler: não era o Justin Timberlake.
Geovanna olhou para sua amiga ao seu lado e ela estava com a boca
tão entreaberta quanto ela própria.
As luzes foram acessas em suas totalidades e Latin Spice saiu do
escuro vestindo camisas de basquete exatamente iguais às que NSYNC
usavam no vídeo em que Geovanna mostrou para Julian.
E falando no próprio diabo, ele estava no centro, seus olhos focados
nela.
— Ai, meu Deus. — Alexis sussurrou, atônita.
Sim. Ai, meu Deus. porque eles realmente estavam preparados para
aquela performance, dançando a coreografia da música e deixando somente
Julian cantar enquanto puxavam o coro.
Só podia ser uma brincadeira de muito mal gosto.
Julian não tirava os olhos dela, principalmente quando cantava o
refrão e ela não sabia se tinha vontade de beijá-lo ou espancá-lo até a morte.
Deus, ela estava tão puta!
E ao mesmo tempo, boba. Porque eram as boybands favoritas dela.
Eram, também, as músicas favoritas. E claramente, serviram muito com o
proposito porque a mensagem através delas era clara.
Quando a música terminou, depois da clássica cambalhota introduzida
por Dante e Santiago, ela esperava que aquela palhaçada tivesse fim. Mas foi
mais uma vez surpreendida quando mesmo suando e ofegantes, técnicos
vieram ao seu encontro, deixando cinco pedestais de microfones e casacos
pretos. Eles os vestiram rapidamente.
— A produção está por trás disso também — comentou, Alexis com
um tom de voz impressionado.
Geovanna a lançou um olhar fulminante. Não era com músicas —
mesmo que fossem aquelas das quais ele estava apresentando — que certo
mexicano ia ter o seu perdão tão facilmente.
Os técnicos se foram no mesmo momento que a melodia de As Long
as You Love Me preencheram o teatro.
Um grito foi engasgado por ela. Isso era quase doloroso. E como na
última música, Julian foi o único que teve um solo enquanto seus amigos
apenas continuavam com o coro.
Se ela não estivesse brava, notaria que a voz dele era incrível. Que
seus agudos atingiam a nota perfeita, que também, transmitia a emoção
necessária enquanto cantava. E que os seus amigos estavam muito
engraçados fazendo a dancinha padrão atrás dos seus microfones que
Backstreet Boys haviam dominado ao longo dos seus anos.
Alexis não se importou em ser delicada porque estava rindo baixinho
atrás de si. Ela própria mordeu os lábios, balançando a cabeça com a visão
que estava tendo.
A música finalizou e um silencio agoniante se instalou.
Julian tomou a frente, descendo o palco e parando a poucos metros
dela e jogando o paletó preto do qual estava usando.
— Quanto tempo vocês ensaiaram essas músicas? — Ela resolveu
quebrá-lo.
— Uma semana.
Ela piscou. Isso dava no mesmo dia que havia chegado em Los
Angeles e havia se encontrado com Santiago no saguão de seu prédio.
— Sinto muito. — Julian disse, apenas.
Ela fechou os olhos, sentindo a garganta arranhar. Já tinha ouvido
aquilo de sua boca.
— É só isso que você tem a me dizer?
Ele a deu um sorriso triste.
— Não. Mas nada do que eu dizer aqui vai ser o suficiente para
expressar o quanto eu estou arrependido de tudo o que eu fiz a você,
Geovanna. — Suspirou. — Mas acredite em uma coisa: eu fiz pensando que
era o melhor para você. Eu já machuquei muito uma mulher do qual eu amei,
não queria experimentar isso novamente.
Ela engoliu em seco, deixando com que ele continuasse.
— Eu pensava que era o melhor para nós dois, sabe. Uma vez... —
Ele apertou os olhos fortemente, como buscasse forças para continuar. — Eu
tive uma pessoa incrível do meu lado, ela estava gravida de dois meses
quando eu falei que não queria aquele filho, nós éramos tão novos, a banda
estava começando a ter realmente frutos de nosso trabalho duro... discutimos
tanto naquele dia. Lembro de cada detalhe até hoje. Dos seus olhos tristes, de
sua mão pousada na barriga. — Balançou a cabeça — Eu me arrependo
daquele dia tanto. Não tive oportunidade de dizê-la que assim que saiu pela
porta, percebi que estava sendo errado. Caramba, era meu filho!
Geovanna precisou se apoiar em uma das poltronas para não cair,
chocada com o que Julian estava falando. Percebeu, tarde demais, que não
tinha mais ninguém ali além dos dois.
— Naquele dia, Geovanna, eu perdi o amor da minha vida e meu filho
por não pensar no que eu estava falando, por ser impulsivo, por ser, além de
tudo, egoísta. Só teve um dia que eu me senti assim novamente e foi no dia
que eu tive que terminar tudo com você.
— Por que você fez isso, Julian? — perguntou, a voz falha. E tinha
certeza de que estava chorando, mas realmente não se importava com isso.
— Porque o passado voltou para mim novamente naquele dia. Eu
passei quase três anos da minha vida recluso de tudo e de todos, me
recusando a ser verdadeiramente feliz por achar que era a punição que eu
merecia por deixar minha namorada gravida entrar naquele carro. Eu não
merecia a felicidade e continuando não merecendo. Então eu te afastei,
porque é isso que eu faço quando vejo que estou chegando a isso: sendo feliz.
— Ele inclinou a cabeça para baixo, a olhando no fundo dos olhos com um
sorriso brincando em seus lábios. — E você é isso, Geovanna. A felicidade
pura.
Geovanna soluçou e deixou Julian se aproximar mais, tão perto que
seus narizes se tocavam.
— Eu estou apaixonado por você. — Julian moveu sua mão para o
rosto dela, o segurando. — Você está me ouvindo? Eu estou apaixonado por
você. Por seu sorriso, seu abraço, seu beijo. Por seu gosto ridículo para
musicais e boybands. — Ambos riram entre as lagrimas que agora ele
também derramava. — Eu estou apaixonado até por aquele barulho que você
faz quando está dormindo.
— Eu não faço nenhum barulho!
Ele ergueu a sobrancelha, em desafio.
— Faz sim, Estrelinha.
Estrelinha.
— Só quando estou muito cansada.
— Certo. Tudo bem. — Riu, baixo. — Eu sou apaixonado por você.
Eu nunca mais te quero fazer sofrer. Eu não entendia isso agora, mas entendo
agora; depois que nossas vidas se cruzaram, quase nada pode ser capaz de me
tirar de seu lado.
— Eu tenho medo, Julian. — Confessou, — Eu entendo tudo pelo o
que você passou, mas eu realmente tenho medo de você me afastar
novamente...
Julian encostou sua testa na tela, sua mão ainda segurando seu rosto e
suspirou.
— Eu senti tanta saudade sua. Você não sabe o quanto. Eu nunca mais
serei capaz de te afastar de mim. Não importa quantas vezes o passado bata
na minha porta para dizer o quão idiota eu fui uma vez. Estrelinha, — Beijou
o canto de sua boca — Você é mais importante do que tudo. Me deixe
consertar todas as burradas que eu cometi tentando fazer o certo, me deixe te
amar de verdade, me deixe te mostrar a felicidade.
Ela não disse nada, enquanto ele continuava distribuindo beijos em
seu rosto, como se quisesse guardar cada sensação de a ter novamente.
— Então, me deixe ser sua parceira. — Ela pediu, erguendo seu rosto
para olhá-lo bem, puxando sua camisa e colando mais seus corpos — Quando
estiver se sentindo o peso em suas costas, o aliviar. Me deixe ser a luz que
você precisa em tempo de tanta escuridão.
Ele a pegou pelos braços e a deu um abraço forte, acariciando sua
costa.
— Você já é. Me perdoa se te fiz achar algo diferente.
Ambos compartilharam um sorriso do qual podia ter muitos
significados naquele momento. O de companheirismo e do amor que sentiam
um pelo outro.
Julian a deu um beijo, sem línguas, da mesma maneira que havia
iniciado seu primeiro beijo, mas desta vez, demorando-se. Geovanna estava
contente em apenas sentir seus lábios colados um no outro.
— Eu prometo nunca mais fazê-la derramar uma lágrima. E ei, eu
cheguei a uma conclusão.
— Qual?
— Você é como o sol, Geovanna. Dourada e brilhante, minha estrela.
Mas para você aparecer, nasceu outra que sempre nos vigiará, feliz. Olivia é
uma pequena estrela no céu. Minhas estrelas.
EPÍLOGO

DOIS ANOS DEPOIS.

Os flashes quase cegaram os olhos de Geovanna quando ela se


encaminhou para onde os entrevistadores de dezenas de jornais e revistas de
fofoca estavam a esperando. Ela posou mais algumas vezes para as dezenas
de câmeras que estavam apontadas para seu rosto. Uma profissional.
Ela sorriu uma última vez e foi atender as almas fofoqueiras do país,
se posicionando e agindo de modo gentil e simpático.
Não estava fingindo — ela gostava de oferecer as revistas desde que
continuasse e mantivessem os limites brandos. Sua gentileza acabaria na hora
que não gostasse de alguma pergunta que a fizessem, que ninguém invadisse
seu espaço nos termos de privacidade: era fácil. Queria conseguir dinheiro
através dela? Ok, ela o daria. Mas teria que a respeitar — infelizmente não
era sempre assim.
— Geovanna! Você está deslumbrante! — Uma jovem mulher
assumiu as perguntas.
Ela gostava quando eram outras mulheres fazendo perguntas, se sentia
bem mais confortável durante as breves conversas.
Geovanna a deu um sorriso com o que ela a dissera, agradecendo e
recordando que era exatamente a mesma coisa que Julian falou ao ver com o
vestido dourado... logo depois de ter ameaçado em tirá-lo se não saíssem
imediatamente.
— Então, como está se sentindo com a estreia do primeiro filme que é
produzido e protagonizado por você?
Seu trabalho e não vida pessoal. Geovanna gostava disso.
— É inacreditável! Quando Julian e eu começamos esta ideia, não
passava de uma brincadeira entre nós dois pela nossa própria história, não
estávamos pensando em realmente colocar em prática. Mas, quando ele
acordou no outro dia, só olhou para mim e disse “vamos fazer isso’’ — Riu,
impossível de controlar a felicidade que estava sentindo — Desde daquele
dia, ele foi totalmente ao contrário de desistir. No final, deu tudo certo.
O romance que os dois haviam produzido e dirigido era algo muito
conhecido pelos dois: quando uma atriz mundialmente famosa conhecia e se
apaixonava pelo integrante de uma boyband latina, do qual fora fã, uma vez.
Mais flashes. Mais perguntas desenfreadas.
— Como se sente realizando isso junto a ele? — Um homem próximo
ousou perguntar.
O coração de Geovanna aqueceu, recordando de todos os momentos
que passou ao lado de Julian, na construção de algo realizado por eles,
baseado na história deles, feito para eles.
Não podia se sentir mais feliz. Ela costumava ter medo de que ele
sempre fugisse dela. Geovanna não iria mentir — tinha dias ruins. Dias com
quais ele se retraia, se fechava para si — mas ela o esperava. E ele sempre a
buscava.
Aqueles dias — os que antecediam o aniversário de morte de Olivia e
durante ele — eram os mais horríveis. A culpa o inundava, mesmo que ele
ainda estivesse lutando contra ela, mesmo que estivesse tentado deixar para
trás... não dava. Mas a sua namorada entendia, ela somente pegava em sua
mão e o segurava forte, sussurrando ‘’um passo de cada vez’’. E era
exatamente isso; um passo, uma vitória. Um tormento tão forte como este,
não poderia ser ignorado para sempre, sempre deixava um pedaço em si.
Os dois ficavam em silencio. Geovanna ousando ser apenas a muleta
para os piores dias dele, como ele era para os dela.
Confidentes, companheiros, amigos, amantes.
A relação dos dois poderia ser definida com essas quatro palavras. E
ela, Geovanna, o amava tanto; com seus traumas e tudo.
— Cada vez mais feliz. — Sorriu largo — Não vou mentir, parece
que eu estou dentro dos meus maiores sonhos, daqueles que eu esperava o
meu amor chegar. Felizmente, ele chegou.
— Então, dois anos de namoro. Você conhece o definir com uma
palavra? — A primeira entrevistadora continuou aparentando estar levemente
desconcertada e sonhadora.
Geovanna tombou a cabeça para o lado, pensando em algo que
poderia definir Julian Romero. O seu Julian.
— Acho que sim... — Ela suspirou, não tinha mais nada do que se
assemelhasse aquilo, não tinha como. — Ele é o amor da minha vida. Minha
alma gêmea.
Veja bem, ela acreditava nisso com toda a sua paixão.
Depois de ter concedido mais um pouco de curiosidades sobre o seu
filme, intitulado “A Estrela de Juan’’ e sobre o que as pessoas precisariam
saber para estarem preparadas ao assistir ao filme, falou mais um pouco sobre
seu relacionamento — completamente tedioso, mas sabia que grandes portais
sempre queriam saber sobre a vida amorosa dos famosos, então apenas
respondeu brevemente — e sobre seus próximos trabalhos, ela resolveu sair
dali e ir para onde o seu namorado a estava esperando.
Após dar a entrevista que precisava, ela o encontrou próximo do
tapete onde estava. A esperando. Logo, não conseguiu disfarçar o sorriso
enorme sorriso que o esboçou assim que viu, não conseguiu diminui-lo
enquanto se encaminhava para sua direção. Ele retribuiu e ao chegar
próximo, a envolveu com seus braços em um abraço forte. Geovanna se
sentiu incrivelmente acolhida e protegida quando estava dentro daqueles tipos
de abraços que a dava, seus carinhos desmanchavam qualquer tipo de medo
que estava tendo.
— Você foi ótima. — Julian sussurrou em seu ouvido, a elogiando
com um sorriso tímido.
Droga. Ela adorava seus sorrisos; do mais cafajeste ao mais tímido
que ele conseguia dar.
Geovanna moveu-se a mão esquerda para encaixar na dele,
entrelaçando seus dedos nos dele. Julian apertou forte, depositando um beijo
casto nas mãos que estavam juntas. A sua mão direita subiu para seu rosto, o
acariciando com seu polegar.
A mulher tinha certeza de que tinha vários paparazzis adorando
aquele momento porque ainda estavam em um lugar visível para todos, mas
sinceramente? Não se importava com nada, naquele momento. Seus olhos
brilhavam o olhando com toda a atenção do mundo.
— E você está um gostoso com esse terno — disse, com um sorriso
de satisfação. — Nada disso seria possível sem você... obrigada por está
comigo.
— Bom, obrigado pelo elogio — disse, o polegar de sua mão que
estava sobre sua bochecha ainda dando leve carícias. — Mas eu tenho que
discordar, estrelinha. É obvio que seria capaz, porque você é mais talentosa
do que acha. E é incrível. Eu só te dei uma ajuda extra. Mas você é mais do
que autossuficiente, Geovanna e merece cada elogio e reconhecimento pelo
seu trabalho.
O seu coração derreteu. Ela o amava tanto.
— Eu te amo — disse, com sua voz rouca.
Ela era uma chorona. Mas não se envergonhava. Quando o homem da
sua vida falava exatamente o que ela precisava; exatamente o que fazia que
seria resposta para sua insegurança ir embora.
Geovanna não era nem de perto, uma pessoa perfeita. Tinha medos,
inseguranças, guardava rancor cedo demais, as vezes descontava nas pessoas
quando estava irritada e não gostava de dizerem que ela estava errada —
apesar de assumir quando estava. Mas Julian poderia montar um altar
dizendo que era.
Julian sorriu e assentiu.
— É, eu sei.
O homem aproximou seu rosto do dela, pressionando seus lábios
sobre sua boca, a dando um beijo casto e lento, sem a urgência e a selvageria.
Um sentimento de tranquilidade e paz pairavam sobre os dois. O beijo não
moveu suas mãos; elas continuavam entrelaçadas.
Podem dizer que os dois estavam pouco se lixando para os flashes que
agora disparavam sobre os dois, registrando aquele momento, eles estavam
prestes a contar como os dois se envolveram para milhares de pessoas através
de uma experiencia cinematográfica. Então, sinceramente, que se danem.
Geovanna faria questão de comprar as revistas que iriam colocar suas fotos
ali e colocar em sua parede.
— Eu também te amo. — Continuou ele ao se afastar, com a voz
calma. Os olhos estavam brilhando, e exibiam um amor tão grande quando a
olhava que não deixava vestígio para ela desacreditar de suas palavras. A
pequena bolha que tinham criado entre eles. — E eu estarei aqui, para você.
Sempre.
— Você promete? — perguntou.
Ele soltou uma risadinha.
— Eu prometo. Você promete não se cansar de mim?
— Se você continuar fazendo aquilo que você sabe fazer com a
língua...
Julian fingiu uma expressão escandalizada, deixando a mão que
estava sobre sua bochecha, descer pelo seu quadril e apalpar brevemente sua
nádega.
— Você é uma pervertida, Estrelinha.
Ela piscou, inocentemente.
— Não foi eu que acabei de apalpar sua bunda aqui.
— Bem, agora. Você é a líder de beliscar minha incrível bunda. —
Ela não tinha como negar isto; a dele era maior do que a dela, perfeitamente
redonda e malhada. — Mas chega de conversas sexuais aqui, não estou com
muito autocontrole. Principalmente nesse vestido, você está exatamente igual
ao uma estrela. Não poderia ser diferente.
Ela olhou ao redor, saindo a conversa não-tão-privativa que ambos
estavam tendo. Algumas pessoas pareciam estar impacientes com sua
demonstração de afeto, outras pareciam esperar que eles tirassem suas roupas
e começassem a transar ali.
Geovanna enrugou o nariz. Nunca ia se acostumar com a estranheza
das pessoas ricas e famosas.
— Acho melhor entrarmos...
Ele riu, assentindo, percebendo o mesmo que ela.
— Pronta para compartilhar nossa história? Mesmo cheia de falhas?
Ela sorriu, apertando sua mão; era a resposta que precisava. Sim,
sempre.
Os dois. Até quanto suas vidas durassem.

FIM
PRÓXIMO LIVRO

Acompanhe as redes sociais para receber notícias dos próximos livros


da série THE BOYBAND e todas as notícias.
Ao ir diretamente no perfil do Instagram, haverá uma surpresa para os
leitores dos quais desejam saber o nosso casal protagonista do próximo livro,
incluindo uma cena inédita e marcadores.

Acompanhe!

Twitter: @STheBoybandBR
@auclaraescreve
Instagram: @coliveiraescreve
AGRADECIMENTOS

Para começo de conversa, esse livro teve mais dimensões do que eu


imaginava. Sério, tudo aqui começou sem pretensão nenhuma.
Não consigo colocar em palavras o quanto eu sou grata a cada um que
chegou até aqui. Existem pessoas das quais, estavam nessa jornada junto a
mim mesmo quando este livro ainda era somente uma ideia de fanfic.
Devo agradecer aos todos meus leitores de TNS, também. Ao longo
dessa primeira fase, nunca fui tão bem acolhida com algo que eu tivesse
escrito: uau. As pessoas realmente gostavam do que eu as estava
apresentando. Saibam vocês que eu nunca esqueci de nenhuma mensagem de
incentivo, nenhum elogio, nenhuma dedicação que vocês me trouxeram. Ao
grupo no twitter, que sempre me apoiou muito mais do que pessoas que eu
conheço há anos. Larissa (clarete stan), Reh, Bea, Carolina, Polly, Kami,
Carol, Thai, Cília, Vicky (que não chegou desde quando era mato mas foi
mais do que importante), Raquel, Julia (não somente uma), Camilla, Dani,
Anna, Laura, Luana (todas elas)... eu lembro de cada uma que esteve
comentando e interagindo desde o primeiro capítulo. E muitas outras garotas
que vivenciaram isso comigo... que me apoiaram, mesmo sem me conhecer.
Eu sou tão grata a isso, porque também sem isso, nunca teria chegado aonde
cheguei. Então, dedico este livro a vocês — viúvas de TNS.
A Vivian, Beatriz e Kamilla que foram minhas inspirações para as
personagens deste livro, porque eu apenas as apresentei uma ideia e foram as
mais animadas em me fazer continuar a publicar cada virgula que eu
produzia. Vocês merecem ter um lugar guardado neste livro. Obrigada por
estarem desde o começo comigo, me incentivando, e as vezes acreditarem
mais em mim do que eu mesma.
A Geovanna, minha amiga que nunca saiu do meu lado, que ganhou
seu nome.
A minha família que quando soube que eu iria publicar um livro
começaram a tratar do assunto como se eu estivesse inventando a cura de
alguma doença.
Maria Eduarda e Lara (leiam os livros dela!) que me ajudaram na
revisão sem custo. Vocês foram um passo importante para eu chegar até aqui.
Não somente Lara me ajudou com a revisão, mas também a diagramação e eu
sou muito grata por ela.
E teve tantas outras amigas que, me motivaram, leram, me
incentivaram. Eu estou aqui, hoje. Por elas. Não há duvidas sobre isso.
Obrigada.

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