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C. Oliveira
#1 THE BOYBAND SERIE
I. A Estrela de Julian
Para todos aqueles que se arriscam a sonhar e para minha própria
estrela — minha querida tia. Sinto sua falta.
Copyright © 2020 C. Oliveira
— Querida, eu preciso que você levante seu rosto e que não se mexa.
— A voz gentil de Lucia soou e Geovanna piscou — A maquiagem vai ficar
torta se você não achar um jeito de acalmar sua ansiedade.
Geovanna deu um meio sorriso, em um pedido silencioso de
desculpas e ergueu o rosto, assim como a sua maquiadora comandou e tentou
focar na entrevista que iria dar daqui a poucos minutos.
A nova estrela de Hollywood, é como a chamavam. A mulher
dispensava toda vez que a diziam isso, mas não podia deixar de sentir o
orgulho a preenchendo toda vez que ouvia como sua atuação era tão bem
criticada, abriu um pequeno sorriso ao lembrar de como sua vida tinha
mudado drasticamente desde que aceitou fazer parte da série. Geovanna
piscou e afastou os devaneios quando Lúcia emitiu um som de reprovação,
mais uma vez a mulher tinha pendido sua cabeça para baixo, a atrapalhando
novamente.
— Perdão — Geovanna pediu, mordendo os lábios pintados de
vermelho. Ela olhou para sua imagem no espelho diante de si e sorriu.
Um pedaço de mal caminho, sua melhor amiga diria. Geovanna tinha
que concordar. Não era mais a menina inocente que um dia foi. Não sabia se
aquilo era exatamente uma coisa boa ou não.
— Dez minutos! — O assistente de um daqueles diretores havia
entrado no camarim e anunciado. Isso fez com que Lucia rapidamente
terminasse toda sua obra prima.
Os olhos castanhos sábios da mulher se iluminaram quando Geovanna
ficou pronta.
— Sempre magnífica — Piscou e foi a deixa para a brasileira sair
rapidamente, seguindo para o centro, onde ocorreria sua entrevista. Suas
assistentes acompanhavam seus passos enquanto ela cantava baixinho uma
música para se acalmar.
Parou atrás das cortinas e suspirou, erguendo a cabeça e pronta para
também interpretar quando exigisse dela.
— Geovanna del Reiz!
Ela sorriu quando pôs seus pés no pequeno palco e acenou para
plateia.
— Acorda, corno.
Definitivamente, não era a voz de Dante, a primeira coisa que Julian
gostaria de ouvir ao acordar. Principalmente quando o chamava de corno.
— Pelo que eu me lembre... O único que levou um par de chifres foi
você. — Acusou Julian, com a voz abafada pelo travesseiro.
O pequeno desafio do homem o rendeu um murro em seu braço
esquerdo.
Julian ergueu os olhos, encontrando o amigo o encarando do lado
oposto no seu quarto. Os braços musculosos cruzados e uma feição
sarcástica, apoiando o pé atrás do corpo na parede, esperando que o homem
finalmente se levantasse de sua cama.
— Deus... — Julian murmurou, esfregando os olhos, tentando adaptá-
los a claridade — Poderia ter acordado com uma visão mais bonita.
Dante, em sua resposta, somente deu de ombros.
— Sou tudo o que você tem para te acordar.
— É isso o que significa estar no fundo do poço?
Uma risada saiu de seus lábios e novamente, deu de ombros. Julian o
odiava.
— Eu vou deixar você se arrumar e te arrasto para fora desse quarto
se você não descer daqui a vinte minutos. — O seu amigo avisou — E apenas
um lembrete: ser corno é mais do que ter sido traído, é também um estado de
espírito. O corno que habita dentro de meu corpo, também habita em você.
Mas que?
Julian apenas jogou — ou tentou — um travesseiro em sua direção.
Dante desviou com uma facilidade de que mostrava que o homem que estava
na cama não fora o único que teve essa reação e saiu do quarto sorrindo e
assobiando.
Uma semana havia passado e Julian podia jurar que poderia perder o
controle a todo momento em que o seu amigo mencionava as conversas que
havia tendo com Geovanna del Reiz, sobre todos os detalhes sórdidos que o
homem definitivamente não pedira e não queria saber.
Então, sim. Diabos, Julian estava prestes a surtar com tudo a sua volta
zumbindo como se nada mais além da menção do seu nome fosse importante.
O que era muito frustrante para ele. Vinte e dois anos e sonhando
como se fosse um maldito adolescente. Não importa quantas vezes suas fãs
de fato falavam que ele agia como um.
De todos os homens da boyband, Julian era o que mais mantinha
contato com elas nas redes sociais, então consequentemente ele, de alguma
maneira, também ficava sabendo das notícias, das opiniões — boas ou ruins
— delas sobre as músicas e os conteúdos que ele e os seus amigos
publicavam. Então sim, Julian sabia boa parte do que suas queridas fãs
falavam sobre ele.
Inferno, algumas coisas ele tinha que fechar os olhos e não explodir
com ninguém. Aí estava algo que elas também falavam sobre ele: como o
fato dele ser um pouco esquentadinho demais.
Ele não podia discordar disso. Mas ei, também estava treinando para
melhorar isso. Por esse motivo, preferia ficar mais na sua do que interagir e
isso não era bem um problema que ele achava que precisava mudar. Não, era
um homem que apreciava sua própria companhia quando necessitava ficar só.
Além disso, muitas vozes o confundiam.
Novamente, não era um problema quando tirava seus minutos
preciosos longe de todos. Havia aprendido há um tempo atrás que ficar um
pouco sozinho não era algo que deveria ser considerado uma dificuldade
dentro do seu processo de autoaceitação e evolução como uma pessoa melhor
— também havia aprendido isso com o tempo e para sua família e fãs
principalmente — porque muitas vezes era necessário se afastar de não tão
boas influências.
Oh. Julian achava que tinha um bom dedo para escolher as pessoas
que queria ao seu lado.
Isso foi antes de... bem, tudo.
— O que você ‘tá fazendo, cara?
Julian gostava de ficar sozinho. Mas isso era quase impossível quando
tinha Adrian Flores morando com você.
— Bem, eu quase achei que pudesse aproveitar um tempo de
qualidade assistindo uma série sem ser incomodado por algum de vocês. —
Julian disse, semicerrando os olhos para a figura de seu amigo que agora
estava confortavelmente sentado ao seu lado.
A resposta de Adrian foi apenas um sorriso genuíno e mover sua mão
para a grande vasilha que continha pipoca da qual estava no colo de Julian.
— Pensei em fazer um programa de casal para apenas nós dois... —
Adrian disse, com um sorriso inocente no rosto — Sabe, assistir um filme
juntos, comer doces, ficar de mãos dadas, etc.
Julian franziu o cenho.
— Nós não somos um casal, Adrian.
O homem ao seu lado fez um bico, fingindo-se de triste.
— Mas muitas fãs pensam que sim... — Ele disse e apontou um dedo
em direção a Julian — Não estrague nosso bromance, amor.
Isto realmente era um fato. Julian não podia contabilizar o quanto
montagens ele era marcado no Instagram e Twitter com ele e Adrian sendo
um casal. Muitas montagens deles se beijando. Por Deus, isso era quase um
incesto.
— Bem, eu acho que eu preferia morrer do que ter um relacionamento
com você.
— Isso doeu! — Adrian pôs uma mão sobre seu peito, teatralmente.
Julian deu de ombros indiferente, seus lábios erguendo-se levemente.
— Isso por que eu seria o bonito da relação? — Continuou.
— Não, — Julian disse, sorrindo — porque você seria o que me
botaria um par de chifres.
Adrian fez um som de engasgo ao mesmo tempo que ria.
— Oh, querido, Julianzito, nenhuma mulher roubou o meu coração.
— Provocou — Mas sério, eu seria o bonito da relação.
Julian não se opôs a isso: Adrian tinha na cabeça que nunca iria
namorar apenas por namorar. E acreditava convictamente na teoria das almas
gêmeas.
Porém, sua tese de ter alguém no mundo que era sua metade da
laranja não o impedia de ser um baita de um mulherengo quando queria.
Enquanto não acha a pessoa certa, se divertia. E muito.
Julian dizia isso porque seu quarto era do lado do seu.
Irritante.
Santiago surgiu no cômodo, com dois pratos com suas panquecas
vegetarianas e sentou-se ao lado de Adrian.
— Todos sabem que eu sou o mais bonito da banda — disse, sorrindo
digno de abertura dos jornalistas da previsão do tempo.
Adrian ergueu as sobrancelhas, debochando da fala do amigo.
— Por que vocês estão me olhando assim? É verdade, o visual badboy
me dá um charme a mais.
Julian soltou um riso. Não podia negar isso, mas é claro que o visual
que seu amigo se referia era apenas uma fachada;
— Você poderia sair, por favor? — pediu Adrian, se dirigindo a
Santiago — ‘Tá meio que atrapalhando o programa de casal meu e do Julian
aqui.
O homem revirou os olhos.
— Por Deus, — Implorou — não me deixe sozinho com ele.
— Assim você me magoa, Julianzito… — Adrian disse, afinando a
voz.
— É, não magoa o seu namorado, cara! — Santiago alfinetou com um
sorriso arrogante estampado no seu rosto.
Os dois homens somente receberam um dedo do meio em resposta.
Mas sinceramente, Julian tinha certeza de uma coisa: preferia ficar grudado e
amordaçado por dia, meses ou tempo que for com Adrian do que ter ouvido a
frase que Diego anunciou ao entrar no mesmo ambiente que eles. E ter que
aceitar.
— Espero que vocês não estejam fedendo... — Diego disse, ficando
de frente aos três amigos que estavam sentados no sofá — Pois eu tenho um
encontro com Geovanna e suas amigas! — Seu sorriso se tornou mais largo
— E vocês vão comigo.
Oh, não.
Inferno.
CAPITÚLO SEIS
— Então quer dizer que você fugiu por que estava com medo do que
ia fazer se ficasse mais perto do mexicano quente e gostoso? — Carol
perguntou olhando para Geovanna como se fosse seu próximo experimento.
Geovanna respirou fundo, tirando o sanduíche que estava na mão da
sua amiga e dando uma longa mordida.
— Eu não disse nada disso! — Se defendeu.
— Mas foi o que eu entendi.
— Então sugiro que volte para aulas de interpretação. — Sorriu.
Carol a olhou como se ela tivesse lhe dado um tiro.
— Você é cruel, loirinha. — Ela disse, movendo-se para mais perto
da amiga com uma expressão de ataque no rosto — Uma coisa baixinha e
cruel.
Geovanna revirou os olhos, dando outra longa mordida no sanduíche,
tentando descontar toda a frustração que estava sentindo no momento.
— Por que você ainda está aqui me atormentando, Carolina?
A mulher balançou os ombros.
— Não tem nada de produtivo para fazer... — Explicou, sorrindo —
Tirar sarro de você me parece uma boa alternativa, não acha?
— Na realidade, não.
— Que pena. Agora me conta com mais detalhes sobre Julian e o
calor muy latino y — Fez uma pausa balançando as mãos para se abanar,
exagerando na sua atuação — caliente que ele transmite e faz você tremer.
— Carolina! — Ela a repreendeu — Já te falei que não tem nada para
você falar... desse jeito. Malicioso.
— Gata, se você chega de um lugar com um homem daqueles que
apesar de aparentar ser muito sonso não deixa de ser extremamente quente
desta maneira que você chegou... alguma coisa rolou. Mesmo que seja um
flerte — ergueu as sobrancelhas — ou um tocar... — fez uma pausa e sorriu
— já sei! Aconteceu que nem aqueles romances literários que os personagens
que ao se tocarem, explodem com a eletricidade dos corpos.
Geovanna gemeu.
— Ele fez suas pernas tremerem, não fez?
O inferno que tinha. E como tinha...
— Eu adoro quando isso acontece nos livros! — Continuou Carol
com entusiasmo.
— Para com isso! — Implorou.
— Aí. Meu. Deus. — Carol disse pausadamente com os olhos
arregalados, soltando uma gargalhada alta depois, — Ele fez!
Silêncio.
— Dá pra você parar? — Geovanna implorou novamente.
— Você não aguenta a verdade, Geovanna! Fraca.
Embora, ela realmente fosse, não ia dar gostinho para a sua amiga
ganhar naquela mini disputa quase ridícula. Então, optou pelo o que lembrou.
— Ok, já que estamos falando sobre verdades aqui... Onde você
estava quando eu paguei aquele vexame horroroso na festa? E o mais
importante, para onde você sumiu quando eu cheguei aqui?
O rosto pálido de Carol ficou imediatamente vermelho como tomate.
— Hum?
Geovanna semicerrou os olhos, sabia muito bem quando a amiga
queria desconversar de algo que a deixava incomodada e a julgar como
Carolina estava mais interessada em verificar o seu cabelo fio por fio, ela
sabia que estava certa em sua suposição.
— Carolina... Onde você estava?
— Eu? — A mulher responde de forma muito estridente para ser
considerado discreto — Não sei do que você tá falando.
— Bom, se você quer que eu confesse algo, melhor você começar a
falar também.
— Ahá! — Bateu as mãos juntas — Então você tem alguma coisa
para confessar.
Geovanna ergueu as sobrancelhas, risonha.
— Você é péssima em desconversar, sabe. Eu, definitivamente, não
vou cair nessa te conheço demais para isso.
Carolina bufou.
— Não há nada demais. Eu juro. Apenas uma mulher de vinte e três
anos solteira arranjando uma boa foda.
Interessante. E de fato, Geovanna não lembrava que sua amiga havia
feito sexo casual além das suas recaídas com seu ex-namorado.
Era um pouco estressante testemunhar, de qualquer forma.
— Com quem?
— Oh, não me olhe assim, Geovanna... — Ela apontou para o seu
rosto — Com esses estúpidos olhos castanhos. Você sabe que eu odeio isso
se torna equivalente ao um coelho fofo e eu somente penso em chutá-la.
Geovanna solta uma risada, incapaz de segurar ao visualizar a feição
do rosto de sua totalmente emburrada como uma criança que acabou de
quebrar seu melhor brinquedo.
— Ei, quem tem reações agressivas com excesso de fofura é você.
Não tenho culpa nisso. Agora me responda, sua raposa manipuladora.
Carol a olhou, analisando se seria considerado seguro o suficiente
contar o que estava escondendo.
— Ninguém em especial, Sherlock Holmes. Encerre sua investigação,
ela é irritante.
E com isso, o seu corpo moveu-se para fora para sua cama,
caminhando em direção a porta para saída do quarto de sua amiga.
— Covarde! — Geovanna a acusou vendo sua amiga caminhar muito
rapidamente para ser discreto. Que péssima tentativa de disfarçar.
De longe, ouviu a risada de Carol. Ela balançou a cabeça em negação
pois não acreditava de nenhuma maneira que o homem que Carolina tinha
tido relações era ninguém especial, conhecia sua amiga bem o suficiente que
não iria para cama com homens dos quais não conhecia mesmo que pouco.
Geovanna bufou, afastando os pensamentos da vida sexual de sua amiga, ela
já era maior de idade e sabia muito bem com quem deveria ou não ter
relações.
Ela alcança o celular que estava esparramado na sua cama e mordeu
os lábios, checando o último chat que tinha tido brevemente com Julian, se
amaldiçoando em cogitar em mandar mensagem para o homem, numa
desculpa estúpida apenas para conversar mais com ele. Deuses, só de lembrar
o que algumas ações dele poderiam fazer com ela... Geovanna imediatamente
saiu do chat, rodando seus olhos por qualquer conversa não lida que lhe
bloqueasse.
Geovanna ignora o embrulho no estômago quando vê a mensagem
que ela tanto temia.
Mãe: por que não estou recebendo notícias suas?
Ela solta um suspiro cansado, passando as mãos pelos seu rosto, sem
nenhuma vontade de responder sua própria mãe.
Geovanna: estou muito cansada. Podemos nos falar amanhã?
Não demora muito para receber sua resposta.
Mãe: sim, eu sei. Podemos. Seu irmão está com saudades.
O coração de Geovanna quebra cada vez mais. Seu irmão. A relação
das duas nunca fora muito íntima, então não se surpreende em ver que sua
mãe o menciona, mas não fala sobre ela.
Geovanna sabe que seu irmão está com saudades — ele é a única
coisa da qual ela sente que abandonou com seu tempo de atriz a exigindo
tanto. A resposta que a manda é curta e rápida e sua mãe não manda mais
nada, ambas sabem que é mais saudável desta maneira, levando em conta que
toda vez que decidem ter uma conversa civilizada, acaba se finalizando com
gritarias e palavras das quais podem machucar — e muito.
Mas ninguém precisava saber o quão Geovanna se sentia despedaçada
a cada briga.
Ela era boa demais em manter as aparências. Era o que fazia, afinal de
contas.
Fazia apenas dez minutos que Julian havia entrado naquele quarto
com a bolsa de gelo e já queria fugir dali.
Não por motivos de não gostar dali. Oh, não. Ele gostava. Até mais do
que deveria ser aceito para alguém como ele.
E Geovanna não estava facilitando.
— Sabe, a culpa disso estar acontecendo é meio que sua — murmurou
ela.
Julian ergueu uma sobrancelha, divertindo-se. Ele precisa pensar em
qualquer coisa que não fosse na pequena exibição que sua queda o tinha
proporcionado.
Deuses, ele era um canalha. A mulher havia caído na sua frente e a
única coisa que dividia sua mente com a preocupação era a saliência de seus
seios do qual foi enviada como um presente do inferno para torturá-lo.
— Ah. Foi mesmo, huh?
Ela assentiu, de olhos fechados. Julian não era tonto o bastante para
não ter percebido que ela evitava seu olhar.
— Sim. Se não tivesse me assustado, isso não teria acontecido.
— De fato.
— Então você concorda que se você não tivesse me assustado, eu não
teria caído e estaria agora sofrendo as consequências de ter um homem de
quase dois metros no meu quarto me olhando como se eu fosse um palhaço?
Julian queria corrigi-la, dizendo que não tinha dois metros. Ele estava
completamente ciente de seus um metro e oitenta e nove, quem tinha quase
dois metros era Santiago, mas ele se conteve porque perto dela não parecia ter
nenhuma diferença.
A garota era uma anã.
— Não, eu concordo que você não teria caído se tivesse prestado
atenção.
Geovanna abriu os olhos, mas tinha uma fúria neles que ele não
estava a fim de cutucar, mas algo... querendo sua atenção implorava com que
ele o fizesse.
— Oh, você não disse isso.
— Disse sim, estrelinha.
— Eu te mandei não mais me chamar assim!
Julian sobe os ombros.
— Fazer o que? Nunca fui o mais exemplar em seguir comandos.
Ela revirou os olhos.
— Você é tão clichê.
— E você gosta, certo? — Lançou um sorriso, aproveitando que tinha
os olhos cor de café sobre ele.
Ele podia ser tímido muitas vezes, mas não era ingênuo de não saber
o que algumas ações dos quais ele oferecia — como um simples sorriso —
poderia provocar no corpo de uma mulher.
Principalmente no de Geovanna.
Ela se assemelhava a uma pequena presa, indefesa para ele. Porque
por mais que ela tentasse erguer um muro de segurança em torno dela, ele
sabia que ela facilmente tentada a eletricidade que ocorria ali.
Julian não ousou se perguntar se ela sabia do que havia acontecido
com ele, mas pelo jeito que ela agia, poderia supor confortavelmente que sim.
E droga, não sabia se aquilo podia ser bom ou não. De qualquer maneira,
agradecia como ela não queria forçar nada, mesmo sabendo da rápida atração
que tinha se desenvolvido sobre os dois.
Porque em menos de três dias, eles haviam se encontrado duas vezes
— e agora com esta, três — mas muito mesmo antes disso, ele não conseguia
tirar seu nome da cabeça e muito menos no pensamento de como seria beijá-
la.
Seus amigos provavelmente riram dele. E ela estava certa, ele era um
clichê.
Mas, sua língua estava coçando para provocá-la, para dar os — quase
— inocentes flertes que oferecia e tocá-la...
— Na verdade, não. — Ela o respondeu, erguendo o queixo e uma
postura quase convincente — Eu acho o clichê chato.
— Se fosse chato, não existiriam clichês. E não continuariam a
consumir conteúdos clichês. Séries, filmes, músicas... — Contrabateu.
Julian percebeu que algo passou em seus olhos, próximo a
concordância, mas que logo foi escondida por ela.
— Talvez... — Cedeu.
A risada escapa dos lábios de Julian. Ela era teimosa, tinha que
reconhecer aquilo.
— Mas então… — Geovanna limpa a garganta, tirando a bolsa de
gelo de sua cabeça — O que você veio fazer aqui, afinal de contas?
Oh. Aquele ponto.
Haviam ocorrido tantas coisas que Julian quase esqueceu do motivo
de estar lá.
Ele leva a mão para o bolso de trás de seu jeans e tira algo pequeno e
vermelho.
— Isso é seu, certo?
Geovanna arregala os olhos e aproxima-se dele, pronta para pegar o
que ele havia mostrado.
— Minha carteira! — seu rosto mostra confusão — Eu não verifiquei
minha bolsa quando cheguei e muito menos depois disso, apenas pensava que
ainda estava lá.
— Helena a achou jogada na frente da porta de casa... — ele explica,
sorrindo — Parece que alguém tinha muita pressa para ir embora...
O rubor espalha-se pelo rosto da mulher e Julian fica realmente
dividido no que foca: em sua provocação diante dela ou em como ficava
bonita com suas bochechas coradas.
O pensamento de como ficaria depois de lhe dar prazer foi
rapidamente implantado em sua cabeça como chiclete e ele sentiu seu pau
ficando... animado. Julian piscou, tentando afastar esses tipos de pensamento
e trazer as memórias de sua avó de pijama.
— E-eu... — Limpou a garganta novamente e olha para o chão,
envergonhada — Não era pressa. Eu só fui descuidada e desastrada, não é
bem uma novidade isso. Para ninguém.
Isso deveria o convencer. Mas não conseguiu e por isso a deu um
sorriso convencido.
— Relaxa, estrelinha, ninguém está acusando ninguém aqui. — Ele
disse, ainda sorrindo — Mas de qualquer jeito, eu vim lhe entregar sua
carteira. Porque sou um cavalheiro.
— Tenho umas dúvidas. — disse o confrontando, cruzando os braços
— Agora... me dê. Já que você veio para isso.
Julian sorriu quase cruelmente quando uma ideia lhe ocorreu.
— Venha pegar… — A desafiou.
Geovanna se aproximou e quando ela finalmente estendeu as mãos
ansiosas para pegar a sua carteira que estava nas mãos do homem, ele ergueu-
a para o alto.
— O que é isso? — indagou, tentando alcançar — Para, Julian! Me
devolva.
Ele fez um beicinho.
— Poxa, mas cadê o obrigado? Por favor? Sabe... as antigas boas
maneiras.
Geovanna semicerrou seus olhos, uma leoa que tinha sido cutucada
por vara.
E ele queria não ter gostado tanto da visão quanto havia.
— Por favor, você pode me devolver? Você tá parecendo uma
criança.
— Nop! — Negou se divertindo — Só porque você me chamou de
criança.
A mulher grunhiu, optando por desferir tapas na barriga dele.
— Me devolva verme mexicano insuportável!
Julian abriu-se, gargalhando alto.
— Você é criativa, estrelinha… — disse, descendo a mão e a dando o
que tanto almejava, ela pegou rapidamente.
— Desnecessário. Você foi completamente desnecessário.
— Mas foi tão divertido que não poderia ter sido melhor.
— Fale por você! — Ela disse, tirando as mechas que haviam caído
de seu penteado enquanto estava na luta que ela mesma havia criado com o
abdômen dele — Agora que eu já divertir você e que já me entregou o que
devia... pode ir embora.
Ele, ao invés de se dirigir a porta, caminhou e se acomodou no sofá
que tinha no seu quarto.
— Ansiosa para me ver longe, huh?
Geovanna olhou cada movimento seu desde que havia se movido para
o sofá ao invés da porta, o analisando.
— Só não vejo o porquê de você continuar aqui, eu não sou tão mal
educada desse jeito... — Abandonou as mãos como se fosse um caso do qual
ela não dava tanta importância — Aliás, como você entrou aqui?
— Sua amiga me deixou entrar, enquanto estava se preparando para
sair.
Os olhos cor de café de Geovanna se arregalaram.
— Ela provavelmente esqueceu que você poderia ser um assassino em
série. Homens muito bonitos sempre tem um segredo sujo desse jeito.
Julian ergueu a sobrancelha. Aquela tarde só melhorava.
— Eu sou muito bonito, huh?
Ela o ignorou.
— Isso é impossível… — murmurou.
Julian deu uma risada baixa e suave.
— Tão impossível que cá estou. No seu quarto.
— Só mostra o quanto você é espaçoso.
— Corrigindo: o quanto eu aprecio sua companhia. Mas sim, minha
mãe sempre me disse isso.
Geovanna sentou-se novamente sobre a cama, atenta a cada palavra
que o homem à sua frente estava querendo dizer. Julian — que sempre
achava um pouco invasivo demais as pessoas querendo saber sobre sua
família — sorriu, achando graça na curiosidade da mulher, ele tinha que fazer
um lembrete a si mesmo de que ela já fora sua fã.
— Sua mãe está certa. — Ela disse.
Ele tinha que considerar-se agradecido por ela está tão receosa na
conversa com os dois, não parecia querer o forçar a falar mais do que gostaria
ou que se sentisse confortável.
Isso só lhe mostrou que Geovanna passava era verdadeiro: ela tinha
uma personalidade gentil e não queria perder a essência do que disso, ela era
contagiante e de um coração bom. Muito bom, na concepção de Julian.
— Sim, ela provavelmente está certa também em que eu não ligo o
suficiente para ela.
Geovanna franziu o cenho, escolhendo as palavras que usaria com
muito cuidado.
— E por que você não está ligando para ela?
A pergunta não era para obter respostas para ela, era pra ajudar a
encontrar as dele.
Julian subiu os ombros enquanto suspirava, avaliando sua resposta.
— Acho que eu não tenho a mesma paciência que eu tinha e que de
certa forma, ao me sufocar com tantas perguntas, ela me lembra algo que não
queria trazer para o meu presente... — ele respondeu a olhando, gostava de
olhar para as pessoas quando estava conversando, para ver suas reações.
Principalmente em assuntos delicados como este.
E ele foi sincero em sua resposta.
— Acho que todos trazemos algo que não gostamos do nosso passado
para o presente. — Sua voz soou gentil e acolhedora, Julian sentiu que estava
conversando com sua psicóloga..., mas ele não tinha vontade de beijar ela, no
entanto — Por que como vamos ter um futuro sem o que nos tornaram
pessoas que somos agora? Você entende o que eu estou tentando dizer?
Julian assentiu, a incentivando a continuar. Ela ficou lívida.
— Somos prisioneiros do nosso passado se continuarmos a evitá-los
como se ele fosse um monstro que vivesse debaixo de nossas camas. Não
somos mais as mesmas pessoas de um mês atrás e muito menos de anos, o
que fazemos com o que já fizemos é o que nos molda: ao invés de temer algo
que já se foi a tempos... — ela respirou fundo, como se absorvesse também as
palavras que estava falando — deveríamos moldar ele.
— Como assim, “moldar’’?
Ela sorriu, um pouco triste demais para a pessoa que Julian via tão
radiante.
— Transformar em algo bom, conviver com o medo, com nossos
erros. Nos tornar pessoas que aprenderam com erros e não pessoas que estão
destinadas a cometê-los novamente.
A finalização da fala de Geovanna fez erguer um silêncio confortável
entre os dois, ela sabia que Julian estava tentando absorver as palavras. Era
necessário.
— Além disso, - Ela acrescentou sorrindo de uma forma mais
verdadeira. Julian gostou de ver aquele sorriso mais do que o normal — não
acho que sua mãe merece arcar com as consequências de seus medos e
traumas, por mais que ela o sufoque.
— Acho que você tem razão. — Admitiu ele.
Geovanna se levantou da cama aparentemente mais entediada do que
se lembrava.
— Eu sempre tenho. — Deu de ombros — Quer ficar para comer a
incrível lasanha gelada de ontem que a Letícia preparou? Podemos conversar
mais sobre isso também sabe, eu sou bem eclética e cheia de conteúdo.
Julian sorriu. Ela tinha razão, sempre o surpreendendo.
E ele gostaria tanto de conhecer essa caixinha de surpresas que ela
demonstrava ser.
Sendo assim, ele ficou.
CAPÍTULO ONZE
Infelizmente, isso não foi o suficiente para manter a sua cabeça ali, a
promessa foi quebrada porque continuou se repetindo. Durante toda aquela
reunião.
E só capaz de perceber que de fato, havia terminado, quando recebeu
uma cotovelada de Santiago, que estava ao seu lado.
— Que porra foi essa, Julian? — sussurrou, mantendo o tom de voz
baixo para apenas os dois.
— Eu não sei! — Exasperou. — Minha cabeça só não estava ali hoje,
ok? Sem sermão.
Os olhos cinzentos de Santiago podiam perfurar o corpo de Julian
pela intensidade que estava passando.
— Vai ser pior quando estivermos só com a Sophie, você sabe.
Julian sabia disso, mas seu amigo estava argumentando como se ele
pudesse, ao menos, controlar para onde seus pensamentos iam...
— Eu sei, ursinho.
Santiago deu meia volta no seu corpo, virando-se para a frente do
mexicano, sua feição fechada de despontamento pior do que quando ele
chamou sua atenção.
— Seu idiota. Só as nossas fãs podem me chamar assim. — Se
defendeu.
Um sorriso se formou nos lábios, lembrando de todos os momentos
em que leu tweets das fãs falando de Santiago com esse apelido brega, sem
falar dos gritos nas portas de hotéis. Elas eram, verdadeiramente,
encantadoras; disso ele não tinha nenhuma dúvida.
— E, não pense que você está conseguindo desviar do assunto me
colocando na jogada, camarada. — Continuou recuperando a pose
descontraída — O que te deu?
Julian considerou contar o que estava acontecendo na sua mente
fodida. Realmente, considerou falar que Geovanna del Reiz tomava conta dos
seus pensamentos cada vez mais, cada vez que trocavam mensagens e cada
vez que ela lhe lançava o sorriso mais bonito que já vira na sua vida.
Seria bom desabafar com alguém.
E, definitivamente, Julian escolheria Dante ou Santiago para isso.
Eles eram bons ouvintes e conselheiros melhores ainda, sem falar que... eles
tinham uma maturidade de lidar muito melhor nesses assuntos do que Diego
e Adrian. Não que ele quisesse desmerecer, de algum jeito ou tipo, seus
amigos, mas... os dois sempre evitavam falar de suas experiencias amorosas
pessoais, eles preferiam guardá-las e substituir por um bom humor que Julian
sabia que não seria capaz de fazer.
Mas, ao mesmo tempo, que seria bom e até mesmo uma limpeza para
sua alma, falar sobre esse assunto com outra pessoa... de certa forma, Julian
não conseguia se desfazer da ideia de que falar disso em voz alta, o tornaria
real. Suas paranoias e pensamentos pervertidos podiam continuar consigo
sem enlouquecer ninguém mais com uma atração boba. E, além disso,
Santiago é extremamente com sua saúde mental depois de que tudo
aconteceu.
Ele sabia que talvez possa piorar as coisas.
De certa forma, equilibrando os prós e contras, não era muito certo
falar dessa situação além da sua melhor amiga: a paranoia.
— Nada, cara. — Pousou a mão sobre o ombro do homem, dando
uma tapinha — Eu estou bem, só alguns pensamentos sobre minha família,
mesmo.
Santiago o olhou desconfiado. Eles não tinham muita diferença de
altura, mas o homem o olhando daquele jeito fazia Julian se sentir muito mais
inferior do que realmente era.
— Certeza? Nada de Olivia?
Como Julian pensava...a preocupação sempre nítida. Não reclamava
disso — pelo o contrário, se sentia feliz que os amigos se preocupassem tanto
com ele, mesmo que o sufocassem demais com seus questionamentos. Porque
querendo ou não, seus amigos estiveram mais próximos naqueles momentos
torturantes, muito mais do que até mesmo sua família.
— Sim. — Confirmou. — Certeza. E quanto a Olivia... todo dia eu
lembro dela, cara. Mas eu estou bem. Um passo de cada vez, certo?
Julian não havia mentido nisso — todo dia lembrava dela, mesmo que
o domínio de seus pensamentos estivesse em outra pessoa no momento, ele
sempre lembraria de sua tempestuosa Olivia.
Santiago assentiu, os olhos brilhando de orgulho dele, passando a mão
pelo seu cabelo loiro que o estilo com over sempre o fazia lembrar de algum
modelo famoso.
— Estou orgulhoso de você, cara.
Ele sempre falava isso; toda vez que Julian estava mal, quando
pensava que não conseguiria passar por aquela crise, por aquele momento,
mas no entanto, sempre superava, ele chegava ao seu lado, o confortava e
dizia “estou orgulhoso de você, cara’’, as mesmas palavras, toda vez. Julian
nunca havia falado o quanto aquela frase significava para ele, o que
representava em sua vida, tanto as palavras, tanto quanto o conforte e
lealdade que seu amigo o dava quando necessitava. Nunca fora alguém que
deixa seu orgulho para pedir desculpas, ficava aliviado quando não precisava
falar.
Não precisava pedir. Santiago estava lá. Sempre esteve.
E Julian esperava que ele soubesse o isso significava.
— Obrigado — respondeu, simplesmente.
Os dois caminharam juntos pelo resto daquele corredor, em silêncio.
Não precisava de nenhuma outra palavra. A amizade dos dois era a mais pura
demonstração de amor e lealdade que poderia ter surgido durante todos esses
anos em que trabalharam juntos.
Julian não podia esperar ou ter melhores pessoas ao seu redor.
Geovanna não respondeu. Ao invés disso, ela estava ligando para ele.
Julian tentou ignorar a ansiedade que preencheu seu corpo, mas não foi capaz
de esboçar o sorriso em saber que ela estava ligando para ele.
Minha nossa. Ele era um bobo.
Realmente. Um bobo — como Adrian dissera a ele.
— Ligou só para me responder, Estrelinha?
A risada abafada dela soou pelo celular.
— Não fique tão convencido, faz mal para pele.
— Responda a minha pergunta, Estrelinha. Não fuja dela.
Um suspiro alto escapou de Geovanna.
— Não planejava escapar, de nenhuma forma... — Ela fez uma pausa,
procurando as palavras. — Eu não devo? Desejar isso?
Julian sabia que ela estava referindo a chamá-la para sair de isso.
— Não é uma escolha sensata, não.
— Bem, eu sempre fiz muitas escolhas sensatas na minha vida, talvez
eu possa abrir exceção para uma escolha ruim.
Ele balançou a cabeça, em negação. Como se ela pudesse ver como
ele estava tentando dizer para ela não ir mais fundo nisso.
Fechou os olhos, se sentindo o homem mais hipócrita do mundo, há
minutos atrás ele só pensava nela e em falar com ela, não seria justo com
nenhum dos dois se pedisse para usar um freio invisível.
— Bom, nem eu.
Péssima escolha, Julian. Péssima, horrível, terrível, horrorosa.
— Exceto que — Continuou. — Eu já fiz muitas escolhas erradas.
— Não espero que não tenha. Detestaria se fosse muito certinho.
Julian gargalhou.
— É verdade, esqueci que você é louca pelos personagens bad boys
de seus livros que tem muito sexo.
— Para!
— Você está vermelha, não está?
— Não — respondeu, com um decimo de sua voz bem mais fina do
que realmente era.
— Está, sim. — Argumentou Julian, entre risadas.
— Ok. — Bufou. — Talvez eu goste de caras com o histórico
traumático, coração destruído e jaquetas de couro.
Julian sorriu. Ele de fato, tinha um histórico que não era leve.
— Agora entendo porque eu era seu favorito!
Geovanna se engasgou.
— Nós tínhamos combinado de nunca mais falar sobre isso, Julian
Romero.
Uh.
O jeito que ela anunciou o seu nome foi apreciado.
Foi... sexy?
Julian nunca imaginou que ouvir seu nome seria tão bonito ou se um
dia, sairia de uma maneira tão sensual como saiu da boca de Geovanna.
Olivia quase não o chamava de Julian — ela optava por apelidos fofos
e carinhosos.
— Não. Eu combinei de nunca falar sobre aquela noite, mas se você
perceber bem, não estamos. Só estou citando algo dito por você própria, não
fique tanto na defensiva, não é algo para se envergonhar.
Dessa vez, foi a vez de Geovanna gargalhar.
— Você é cheio de si, caro Julian.
— Eu tento... moro com outros quatro homens que são tanto ou mais
do que eu, preciso me manter bem comigo mesmo, sabe.
— Entretanto, eles são bons amigos.
Julian lembrou do acontecimento mais cedo, com Santiago o
apoiando e ele lembrando do quanto é bom ter sua companhia.
— Sim, eles são. — Concordou — Sou grato por ter eles.
— Eu realmente entendo, me sinto do mesmo jeito com as meninas.
— Elas são suas amigas há muito tempo?
— Sim, Malu desde o ensino médio. Letícia e Carol desde a
universidade, mesmo que eu não tenha a terminado.
— Você sente saudade dessa sua vida normal, estudando e etc.?
Houve uma pequena pausa antes de Julian voltar a ouvir a voz dela
novamente.
— Às vezes, sim. É muita pressão para uma pessoa nova, mas não
trocaria por nada, estou vivendo meu sonho, isso é mais do que importante
para mim.
Ele a entendia. Ambos estavam vivendo seus sonhos, mas a fama
sempre vinha com um preço a se pagar. A cada passo que dava para o
reconhecimento de seus trabalhos, mais difícil ficava de lidar.
Não era estranho para ele a entender — poucas coisas ele não
conseguia entender da mulher com quem falava, seus corações batiam na
mesma sintonia e o guiavam na mesma direção. Disso, ele não tinha nenhuma
dúvida. Seja romanticamente ou não, eles sempre conseguiam se entender,
como se tudo o que vivessem, estava acontecendo com ambos. Isso não
mudaria tão cedo; o companheirismo e o alivio de ter quem poder conversar e
saber que aquela pessoa saberia.
Saberia o que estava acontecendo.
— Ei, Julian? — Chamou Geovanna após ele ficar em silencio com
seus pensamentos.
— Hum?
— Eu fico feliz por Diego me convidar porquê... sem ele, eu não
conheceria você. Eu sou grata a isso.
O coração de Julian parecia que ia sair da sua boca. Ele pigarreou.
— E por ser uma intrometida?
Ela riu, suavemente.
O coração dele ainda batia em um frenesi maluco.
— E por ser uma intrometida.
CAPÍTULO QUINZE
No dia seguinte, havia uma verdade irreparável que nunca poderia ser
contestada: Geovanna estava perdendo a cabeça.
Ouvindo a voz de Alexis murmurando a música favorita dela quando
estava feliz, ela pôs seus pés em seu chão frio do seu quarto, tentando sair do
aperto de seu irmão mais novo, que estava dormindo tranquilamente na cama.
Ele havia se esquivado durante a madrugada, querendo dormir com ela.
Geovanna não conseguiu negar, nunca negaria algo para seu irmão,
principalmente quando ele tinha os olhos — tão parecido com os dela —
começando a brilhar, em uma sugestão de lágrimas.
Ela abriu a porta, saindo de fininho em direção à música e encontrou
suas amigas — literalmente todas as quatro que estavam em sua casa —
assistindo o videoclipe na TV de Latin Spice, uma das favoritas dela.
E ali, com o ombro encostado na parede, os braços cruzados e os
olhos focados nos cinco homens cantando. Quando o zoom focou em Julian,
o coração de Geovanna solavancou. Ela piscou, sentindo um frio no
estômago ao lembrar da conversa que os dois tiveram ontem à noite.
Eles fizeram um acordo silencioso, não precisava com todas as letras,
para ambos saberem que estavam atraídos um pelo o outro. Mas, entretanto,
não tocaram mais no assunto depois que Geovanna desligou.
Foi ali, naquela chamada e naquele momento, em que somente via a
imagem dele, relembrando de sua voz e de suas palavras, ela concluiu que
estava perdendo a cabeça.
E o coração estava se entregando tanto quanto.
Geovanna não mentiu em nada do que dissera na noite passada,
esperava que Julian havia entendido a mensagem claramente: ela queria sair
com ele. Queria conhecê-lo — de verdade. Todas suas peculiaridades, não
como fã, mas como algo... a mais.
Mas não iria apressá-lo e nem nada, não gostaria que colocassem
pressão sobre ela com isso, então não iria fazer o mesmo. Julian já tinha
idade o suficiente para tomar decisões em sua vida, ele demonstrara que
estava tão interessado quanto ela — mas, até que ponto isso não era apenas
impulsividade?
— Está em que mundo, Geovanna?
A mulher piscou quando voltou dos seus devaneios com a voz de
Malu.
— Bom dia, meninas — desejou docemente, olhando para as quatro
mulheres que estavam a encarando. — Onde está minha mãe?
— Saiu, Geo. — Letícia disse, mordendo os lábios.
Nenhuma surpresa. Era capaz de deixar seu irmão ali e sumir por
semanas.
E ela até preferia se fosse assim, nunca fora íntima de sua mãe, mas
quando alcançou a fama, tudo piorou, e não apenas uma ou duas coisas — e
sim, absolutamente tudo.
Geovanna nunca fora de guardar rancor de alguém na sua vida, não
importava o quão mal esta pessoa tinha feito a ela, mas ela guardava mágoa e
decepção do jeito que sua mãe a criou, até quando ela começou a pensar por
si mesma.
— Não estou surpresa.
Ela se encaminhou para a cozinha, na intenção de fazer o café da
manhã de seu irmão porque sabia que nada do que as suas amigas tinham
preparado, até então, serviria para ele. Ele era extremamente exigente na
escolha da sua alimentação, no entanto, e ela o amava em cada detalhe. Ele
era naturalmente saudável; bem, depois de ver como as comidas da qual ele
se alimentava antigamente eram produzidas.
Um pequeno ser de nove anos quando decidiu ser vegetariano. Sua
mãe havia sido contra — é claro — mas Geovanna havia amado como ele
havia tido essa decisão. Sem precisar de ninguém o dizendo o que fazer, sem
manipulações. Apenas uma decisão dele.
André era seu maior orgulho.
Claro que não poderia ter um minuto de paz naquela casa, nem de
descanso para seus pensamentos por amis melancólicos que eles fossem,
porque quando Alexis adentrou o cômodo, fazendo com que fosse impossível
Geovanna não olhara.
Sabia de que todas as suas amigas, as únicas das quais ela não
conseguia mentir de nenhuma forma era Malu e Alexis. Malu porque tinha
um tom de voz e uma diplomacia do qual coagia as pessoas a confessarem
seus maiores segredos sem nenhum medo, Alexis tinha um dom mais oposto;
ela tinha uma força, um tom do qual obrigava a pessoa a falar. Era estranho,
como estar sobre hipnose.
— Tem algo que me deseja falar? — Ela perguntou docemente, os
olhos verdes piscando.
Mas Geovanna conhecia sua amiga bem o suficiente para saber que
Alexis Marie não era exatamente a pessoa mais doce do mundo.
Na verdade, elas eram amigas porque elas conseguiam ser quase o
oposto uma da outra. Era um pouco engraçado, até. Mas, apesar de todas as
diferenças, elas conseguiam ter algumas coisas em comum: uma era a
confidente da outra.
— Não — respondeu Geovanna, sorrindo — Eu deveria ter?
Os ombros de Alexis murcharam.
— Não sei...
Geovanna balançou a cabeça, em negação, enquanto cortava os
pedaços das frutas favoritas de André.
— Fale logo o que você precisa, Lexi.
— Ok. — Suspirou. — Eu meio que, sem querer, totalmente sem
querer, ouvi sua conversa com o Julian ontem.
O que?
— Você fez o que?!
Os olhos verdes de Alexis se arregalaram, dando a ver todas as linhas
amareladas douradas que possuíam.
— Calma, em minha defesa, foi totalmente sem querer.
Ela não tinha nem como culpar sua amiga. Não havia nada demais, de
qualquer jeito.
— Bom... e?
— Bem... — Era uma das raras vezes que Geovanna via Alexis ficar
sem o que dizer e se enrolar em falar algo. — Ouvi o que você disse, Geo.
Por que não contou para ninguém que está se apaixonando por esse homem?
— sussurrou a última parte.
Bom, agora era Geovanna que não sabia o que falar. Não tinha o que
falar, na verdade. O que teria? Eles não tinham nada demais. Nada de
profundo e não foi como se eles tivessem falado como se amam.
Porém, a constatação de Alexis deixou ela estática. Nunca havia
chegado nesse ponto, no que estava florescendo dentro de si mesma. Todos
esses sentimentos conflituosos... nunca havia sido muito boa para definir
quaisquer que fossem — ela preferia apenas viver e esperar que o futuro lhe
fornecesse a resposta. Geovanna não seria a pessoa que se descabelaria por
estar apaixonada.
Mas não havia pensado nisso, pensado na situação que estava se
desenrolando com Julian.
— Eu não...
— Não comece. — Alexis a interrompeu, erguendo a mão para a
silenciar. — Eu te conheço mais do que você pensa, Geovanna. Você é mais
transparente que água, então quando eu digo que, você está se apaixonando
por ele, é porque está.
— É só que tudo é tão novo... — Tentou argumentar. — Somente nos
livros que nós lemos é que o casal protagonista se apaixona rapidamente.
— É um começo, querida. — Acariciou o ombro da amiga que estava
em sua frente. — Uma paixão pode se iniciar de vários jeitos, a atração entre
vocês é evidente. Eu não estou te dando um ultimato, eu estou dizendo que
isso é um começo de um sentimento seu, algo que possa ser mais do que uma
paixão platônica ou atração sexual.
Geovanna piscou. Não estava pronta para discutir sobre isso e agora
só desejava que Alexis e sua sinceridade a deixasse um pouco de lado,
porque as palavras poderiam ser mais profundas do que sua amiga pensava.
Felizmente, o universo parecia estar com pena dela, porque naquele
exato momento uma versão masculina e infantil de Geovanna surgiu na
cozinha, esfregando os olhos e bocejando.
— Bom dia, mana. — Anunciou um André sonolento. — Você
preparou meu café da manhã?
Geovanna sorriu, indo em sua direção e depositando um beijo em sua
testa — ainda sob o olhar atento de Alexis —, agradecendo por ele estar ali.
E o amando ainda mais por o ajudar a sair daquela conversa estranhamente
constrangedora.
E por este motivo, quando o abraçou, segurou forte em seu pequeno
corpo, como se fosse seu colete salva vidas do que ela poderia fazer com
aquela nova descoberta que sua amiga despejou sobre seu colo.
Mais tarde, naquele mesmo dia, Geovanna mandou mensagem para
Julian. Ela não sabia o porquê, não sabia se era por causa da sua confissão no
telefone na noite passada, no tom de voz dele confirmando que ele tinha a
mesma vontade dela, ou se era por tudo o que Alexis a falara na manhã.
Passara o dia todo inquieta e agradeceu a Deus por não ter nenhuma
cena para gravar naquele dia porque ela sabia que seu rendimento ia cair
consideravelmente.
Não era só ela que havia percebido sua ansiedade estar grave naquele
dia — suas amigas todas haviam a cutucado, querendo saber de algo, do que
a estava incomodando. Alexis não, já que ela tinha as cenas para gravar.
O universo estava mesmo com pena da situação dela. Nunca lembrou
de ter sorte na vida.
Então, depois de seu irmão de doze anos brigar com ela porque ela
estava o incomodando; se viu deixando-o assistindo com suas amigas e ao
sentar na borda da sua cama, pegando o celular e digitando mensagens para o
mexicano mais sexy do mundo segundo a revista ela mesma.
Geovanna: você está livre hoje?
Não demorou muito para se ter uma resposta, quase como se ela não
fosse a única que estivera ansiosa durante aquele dia.
Julian: depende.
Se você acha que aguentar a briga de seus colegas de banda por qual
série vamos assistir na Netflix hoje uma ocupação
Então sim, eu estou ocupado
Geovanna: bom, sua sorte que eu realmente não considero
Julian: o que sobra... estou totalmente livre
Geovanna: ótimo
Quer sair?
Julian: nossa, estrelinha
Não imaginava que você estava tão afim de mim assim
Conversamos sobre isso ontem e hoje você já me convidou pra sair
Hm... sua espertinha
Geovanna: eu realmente quero mandar você para um lugar muito
feio agora
Julian: ;( (
Malvada
Geovanna: VOCE QUER OU NÃO?
Ops, foi mal. Caps. saiu ligado
Julian: acho que valeu a pena, eu realmente imaginei você gritando
e minha resposta pra você é sim
sempre vai ser sim
em menos de 40 minutos, estou aí
melhor deixar a porta do seu quarto aberta :)
Quando entrou em sua casa, ela estava silenciosa — um dos dias raros
— e Julian não pode explicar o quanto estava grato por isso.
Ele não avistou ninguém na sala e nem na cozinha, mas sabia que
pelo menos dois dos quatro homens estavam ali, então ele se encaminhou
para o quarto do amigo que nunca negaria nada do que ele pedisse.
Não quando ele estivesse com cara inchada, parecendo um morto
vivo, pelo menos.
Julian subiu todos os degraus e bateu na porta do quarto do amigo,
esperando a resposta.
— Pode entrar! —A resposta saiu abafada de dentro.
Os olhos castanhos de Diego se arregalaram e sua testa estava
franzida quando notou que era Julian — e sua horrível — aparência que
estava batendo em sua porta.
— Devo chamar a ambulância?
Ele apenas sacudiu a cabeça, ainda parado, olhando para o chão,
como se tivesse acabado de sair de uma experiencia de morte.
— Cara, você está bem? — Diego quase nunca demonstrava
seriedade em algum assunto, mas todos eram como as quatro mães de Julian
— eu estou começando a ficar preocupado, o que eu posso fazer para ajudar
no que raios você se meteu?
Julian apreciava a lealdade de Diego como tudo, se não estivesse
horrível como se a realidade não estivesse o atingido ainda, teria ficado feliz
e com o coração quente devido à preocupação.
Mas tudo o que ele pensava era nela. Ele precisava visitá-la.
Olivia.
— Você está com o carro disponível?
— Claro.
— Preciso de uma carona... — Ele limpou a garganta, imaginando
que seria bom dar uma, ao menos, breve explicação para onde Diego iria
levá-lo. — Preciso visitá-la. Por favor.
Olivia Quentin
1997-2018
Amada filha & irmã.
Julian tirou as flores que estavam murchando na lapide de sua ex-
namorada e as trocou por um novo conjunto de margaridas — suas flores
favoritas.
O percurso até ali tinha sido silencioso. Talvez silencioso demais.
Diego não forneceu nenhuma pergunta quando disse que queria visitar
Olivia no cemitério, apenas parou na floricultura favorita dela quando Julian
o pediu e o levou ao lugar. Ele estava calado, dando ao amigo o silencio e o
espaço necessário que queria e necessitava.
Sabia que se Julian pudesse vir sozinho, ele viria. Então não tinha
necessidades de o pressionar com perguntas das quais ele também sabia que
só iria piorar sua ansiedade.
— Oi. — O homem começou sentindo sua garganta arranhar. Tinha
meses que não ia ali — Hoje foi... estranho, Olivia. Eu estou me apaixonando
por uma mulher, realmente estou. Ela me faz feliz, me faz sentir leve, assim
como você fazia me sentir no começo do namoro. Eu sei que não fui bom o
suficiente para você, saiba que eu trocaria de lugar naquele dia. Deveria ser
eu. — Fungou — Droga.
Ele sentiu uma mão em seu ombro, como conforto. E não precisava se
virar para saber que era Diego, tampouco se importava de ele estar ouvindo
sua confissão na frente do tumulo de sua ex-namorada morta.
— Eu senti culpa. — Continuou. — Uma maldita culpa por estar me
sentindo tão feliz com outra mulher quando você está aqui, nesse lugar, morta
por minha culpa. Eu poderia listar tantos motivos para ela se manter afastada
de mim, Olivia. Eu não a mereço. Não quando tudo o que eu fiz com você, eu
me culpo todo santo dia, espero que você entrará naquela casa, sorrindo e
nada aconteceu. Ele e você não morreram. Mas não posso, porque tudo foi
real. E o que me resta é arcar com isso.
Ele respirou fundo, buscando forças para continuar agradecendo que a
mão de Diego ainda se mantivesse forte em seu ombro.
— Geovanna é uma luz, Olivia. Você a teria adorado. Ninguém pode
simplesmente não gostar dela porque ela é a própria personificação do sol.
Todos se movem ao redor dela, buscando seu sorriso, buscando seu abraço e
seus beijos. Eu sou um. Ela é... uma luz nesse ano que eu passei na escuridão
depois do que aconteceu com você. — Suspira fundo, tentando continuar —
Eu só... tenho tanto medo de perdê-la, de causar isso. Não posso deixar que o
mundo fique sem ela, não posso deixar de que uma estrela tão brilhante se
apague.
Ele tocou na lapide, nas palavras ainda muito visíveis e desejou que
fosse ele.
Como todo dia desejava.
— Eu espero que você esteja em um bom lugar, Olivia. Eu espero que
você esteja feliz, como você queria que eu a fizesse. Sinto muito se não fui
capaz.
Julian se levantou, limpando a sujeira de seus jeans e sorriu,
visualizando uma Olivia feliz antes de sua prematura morte.
— Vamos para casa, Julian. — Diego anunciou, como demanda.
E ele o seguiu, sentindo o aperto de seu coração se afrouxar, depois de
finalmente ter despejados as palavras que precisava. E olhando para trás,
somente uma vez, para a lápide da mulher que se tornara sua um dia, antes de
tudo ruir, ele decidiu o que fazer com Geovanna. Com sua estranha conexão.
Ele se afastaria.
A manteria longe; dele, de seus problemas, de acabar que nem Olivia,
de um futuro triste.
Geovanna era sol, luz. Ele não precisava disso.
Ele precisava arcar com suas consequências — Olivia havia morrido
por causa dele, em sua cabeça ele merecia muito mais do que ficar longe da
sua nova paixão.
CAPÍTULO DEZESSETE
E com a oferta, ela viera. Sempre estava ali, a casa de Julian tinha
meio que virado a segunda casa dela.
Aquela semana que Julian estava tendo com Geovanna poderia se
classificar claramente como os melhores dias da sua vida desde que ela havia
ficado extremamente confusa e difícil de se lidar.
Geovanna era o ar fresco que precisava depois de se afogar em culpa
e ressentimento durante muito tempo. O sol e luz que poderia iluminar cada
canto de escuridão do coração mais cheio de magoa e dor que existisse.
Bastava deixá-la entrar.
No caso, era ele que entrava. Diversas vezes. Até seus corpos se
cansarem e eles dormirem fazendo carinho um no outro, sempre abraçados,
os olhos nunca deixando seus rostos. A ligação que existia ali, o carinho e a
compreensão poderiam ser mais fortes do que qualquer sexo violento que ela
pedira para ele nos dias que se passaram depois daquela tarde em sua casa.
Ele, quando pensava que conhecia cada mania sua de cor, conseguia
ser surpreendido quando ela mudava seus hobbies do momento ou voltava a
sua atenção para algo que a interessasse ao ponto de pesquisar absolutamente
sobre isso. Julian achava cada detalhe encantador, mesmo que ela achasse
que fosse um dos defeitos que faziam parte dela. Sinceramente, não se
importava; tudo isso reforçava que a só a tornava mais interessante.
Julian estava bem. Feliz.
— Fecha a boca com esse sorriso gigante. Vai acabar entrando mosca.
— Diego o avisara quando ele não estava fazendo nada demais a não ser
repassar todos os dias que estava tendo ao lado da mulher do qual estava
irrevogavelmente. Planejava contar em breve, se seus planos contribuíssem.
Pena que nem sempre se pode reconhecer quando o universo próprio
faz planos para eles.
No dia seguinte, quando acordou, preparando os planos do próximo
encontro com Geovanna — ele estava fazendo isso, todo dia tinham uma
atividade diferente, mesmo que fosse ficar na casa um do outro, apenas
curtindo a presença um do outro, ele gostava de proporcionar ideias de
encontro com ela, porque queria. Ele gostava de a conhecer, fingindo que
eram apenas duas pessoas normais, sem fama atrás deles — foi interrompido
por um Dante e Santiago sérios na sua porta.
Ele franziu o cenho, estranhando aquela cena.
— Posso ajudá-los, rapazes? — Provocou.
Santiago coçou a nuca, evitando olhar para seu rosto.
— Nós precisamos conversar, Julian. — Dante disse, com a voz
receosa, porém firme.
— O que aconteceu?
— Temos visitas. — Avisou.
Porra.
Somente naquele instante, a ficha caiu.
— Que dia é hoje? — Não tinha se preocupado com datas
ultimamente, mas naquele dia, ele errara em não estar preparado.
— Nove de setembro...
Julian fechou os olhos, xingando o universo e todos os seres que
aparentemente tomavam conta de sua vida. Não era certo tirar a felicidade
momentânea que estava sentindo, o relembrando de seu maior fracasso.
— Ela está lá embaixo, Julian — avisou Santiago.
Ele se virou para seus amigos, sabendo que eles tinham vindo em seu
encontro para tentar acalmá-lo se algo de ruim estivesse acontecendo, ou até
mesmo, reconfortá-lo se fosse necessário.
Não importa quais decisões ferradas haviam tomado na sua vida;
sempre tivera seus amigos quando necessitasse.
— Vamos lá.
Se fosse para enfrentar o seu maior medo e a personificação do seu
fracasso, que fosse agora.
No dia seguinte, ela estava mais do que pronta para fazer seu passeio
diário com Bran quando recebeu a ligação de Thomas. Franziu o cenho, mas
atendeu a chamada.
— Oi. Tudo bem, Tommy?
Ela realmente estava preocupada — Thomas odiava falar por ligação
— e pelas suas ultimas noticias, ele havia estado muito ocupado visitando a
família do namorado no Canadá.
— Oi! Ainda bem que você me atendeu!
Não parecia desesperado ou triste, então a preocupação aliviou-se.
— Do que você precisa?
— Hum... — Limpou a garganta. — Eu preciso que você vá no set de
The Last Light.
— Mas por quê? — perguntou, confusa.
— Geovanna, eu terminei meu namorado. — Ele fungou.
— O que? Mas o que aconteceu?
— Ele me traiu, amiga.
Geovanna só ficou mais confusa. Conhecia os dois para saber o
suficiente que nenhum faria algo desse jeito. Principalmente, Jeremy; ele
quase criava um altar de adoração a Thomas.
— Isso é muito estranho — comentou. — Nunca imaginei que ele
seria capaz de algo tão nojento quanto traição.
— Nunca ponha a mão no fogo pela índole de ninguém! — Ele avisou
e suspirou. — Eu só preciso que você vá buscar alguns papeis para mim no
set, por favor?
Sim, fazia sentido. Jeremy era o maquiador deles, se Thomas
precisava de algo de lá, provavelmente não queria ver o namorado — ou o ex
namorado — tão cedo.
— Claro, Tommy! Pode deixar.
FIM
PRÓXIMO LIVRO
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AGRADECIMENTOS